100 anos de Florestan Fernandes: legado de ciência e militância

Autores

Marcelo Augusto Totti (ed)
https://orcid.org/0000-0002-5188-5983

Palavras-chave:

Fernandes, Florestan, 1920-1995, Sociologia - Brasil, Educação, Ativistas políticos, Socialismo, Capitalismo, Instituto Superior de Estudos Brasileiros

Sinopse

Florestan Fernandes completaria 100 anos em 2020. Filho de Maria Fernandes imigrante portuguesa que veio trabalhar nas lavouras brasileiras, conheceu as agruras da vida desde sua infância, segundo suas próprias palavras nunca teria se tornado o sociólogo que se foi, sem sua origem “plebeia” e sua socialização pré e extraescolar. Essa aprendizagem sociológica se iniciou aos 6 anos de idade quando precisou ganhar a vida como adulto, trabalhando como engraxate. Mas eu diria que ela é anterior, sua mãe desiludida com o trabalho nas lavouras do interior paulista decide se mudar para a capital e passa a trabalhar como doméstica na casa da família Bresser. Grávida de Florestan, Hermínia Bresser de Lima que seria a madrinha de Florestan, de origem abastadas e com hábitos requintados recusava a chamá-lo pelo nome de Florestan, nome de origem
alemã fruto de um personagem de uma ópera de Beethoven, não era um nome para um filho de uma lavadeira, assim a
madrinha “rebatiza-o” chamando-o de Vicente. Florestan vivenciara outra experiência sociológica, que é o preconceito das elites brasileiras para com o povo brasileiro oriundo das classes subalternas. Tal preconceito, Florestan estudou de forma mais aprofundada em suas pesquisas sobre as relações raciais e a inserção do negro na sociedade de classes, identificando as origens históricas e estruturais do racismo no Brasil que remontam à nossa herança de um passado escravocrata.

Enfrentou as dificuldades como grande parte da população brasileira, trabalhou como garçom no bar do Bidu, lia atrás do balcão nos momentos de menor movimento, o que despertou o interesse de professores frequentadores do local. O incentivo dos professores que ali frequentavam rendeu frutos, realizou os estudos no antigo curso de madureza e através de um desses frequentadores desse bar conseguiu um emprego em uma empresa de produtos químicos, possibilitando melhores condições socioeconômicas.

As dificuldades para o jovem de origem “plebeia” não se resumiriam aí, o desafio de entrar no ensino superior era algo muito distante. A recém-criada Universidade de São Paulo, pública e gratuita, era uma alternativa. Criada pelas elites e para as elites, a entrada de estudante trabalhador com formação em curso de madureza contrastava com o tom aristocrático e erudito dos professores e dos estudantes da elite paulista. Para sanar o que denominou de um déficit cultural empreende uma rotina monástica de estudo que incluía leituras em bondes, bancos de praças e permanecendo até o apagar das luzes na biblioteca municipal.

A aprovação no vestibular não foi das mais fáceis, com uma banca composta por dois professores franceses, com prova oral em francês de um livro de um sociólogo francês, parecia uma barreira quase intransponível para o egresso do curso de madureza. Florestan lia em francês e conhecia bem o livro de Durkheim Da divisão do trabalho social e pede para realizar a prova em português, os arguidores acharam a situação inusitada, mas acatam o pedido do candidato que é aprovado (dos 29 concorrentes apenas 6 foram aprovados).

Florestan Fernandes não foi apenas um sobrevivente, foi um vencedor! Remou contra a maré em mares turbulentos, enfrentou temas e pesquisas pouco afeitos em sua época na sociologia, imprimiu um modelo de ciência sociológica colocando a sociologia ao lado dos problemas reclamados pela sociedade. Lutou pela escola pública, pela universidade pública, esteve ao lado dos deserdados da terra, militante socialista, seu mandato como deputado funcionava como uma forma de tribuno da plebe: uma voz para aqueles que não tem voz.

Em uma sociedade como a brasileira marcada por graves problemas estruturais, de desigualdades étnicas, raciais e sociais, as ideias e os escritos de Florestan Fernandes são mais que necessários e se mantém vivos na luta dos trabalhadores, na Escola Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra que leva seu nome, nas escolas públicas, nas universidades públicas, nos debates e esse livro pretende ser mais uma contribuição para manter a chama de suas ideias acesa, que iluminam o caminho de um passado obscuro e guiam para um futuro alternativo de utopia e de esperança para a sociedade brasileira.

FLORESTAN FERNANDES, Sempre Presente! 

Selo Editorial:

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Biografia do Autor

Marcelo Augusto Totti

É sociólogo e docente do Departamento de Sociologia e Antropologia da Unesp de Marília, líder do grupo de pesquisa: “Intelectuais, esquerdas e movimentos sociais” e pesquisa temáticas relacionadas ao pensamento social brasileiro.

Adelar João Pizetta

Graduado em Pedagogia pela Fundação de Ensino do Desenvolvimento do Oeste, Chapecó/SC (1982), Mestrado e Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor da UFES/CEUNES, em São Mateus, no Departamento de Educação e Ciências Humanas (DECH) e Colaborador/Educador da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF).

Anderson Deo

Doutor em Ciências Sociais. Docente do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UNESP/Marília. Pós-Doutorado na Università Degli Studi di Urbino “Carlos Bo”. Líder do Grupo de Pesquisa – Núcleo de Estudos de Ontologia Marxiana-Trabalho, Sociabilidade e Emancipação Humana (NEOM/CNPq).

Angélica Lovatto

Doutora em Ciências Sociais (PUC-SP). É professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unesp-Marília e do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas, onde coordena o Grupo de Pesquisa CNPq Pensamento Político Brasileiro e Latino-Americano (PEPO). Integrou a Comissão de Altos Estudos do Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985) - Memórias Reveladas (Arquivo NacionalRJ), de 2014 a 2016.

Caio Navarro de Toledo

Doutor em Filosofia pela Unesp, professor aposentado do Departamento de Ciência Política da Unicamp. Foi coordenador do Cemarx e autor de Iseb: fábricas de ideologias e Governo João Goulart e o golpe de 64, além de autor de inúmeros artigos e capítulos de livros sobre o Iseb e o pensamento político brasileiro.

Debora Mazza

É docente do Departamento de Ciências Sociais na Educação e do Programa de Pós-Graduação da Unicamp onde foi diretora associada da Faculdade de Educação. Possui pós doutorado em Sociologia pelo Laboratoire Genre, Travail e Mobilité (GTM), e pós doutorado em Sociologia pelo Centre de Recherche sur le Brésil Contemporaim (CRBC), Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), ambos em Paris- França e Doutorado em Ciências Sociais. É bolsista produtiva pelo Cnpq e publicou o livro A produção sociológica de Florestan Fernandes e a problemática educacional.

Francisco Luiz Corsi

Possui graduação em Economia pela Universidade de São Paulo(1984),
graduação em Ciências Sociais pela USP, mestrado em Ciência Econômica pela Unicamp (1991), doutorado em Ciências Sociais pela Unicamp (1997) e pós-doutorado pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas(2011). Atualmente é Professor Assistente Doutor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Membro de corpo editorial do Mundo e Desenvolvimento, da Universidade Federal de Pernambuco e Membro Associado do Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica.

Haroldo Ceravolo Sereza

Graduado em comunicação social - habilitação em jornalismo pela ECAUSP e Doutor em Literatura Brasileira pela USP Dirige o site Opera Mundi desde 2010. É editor da livros da Alameda Casa Editorial desde 2004. Autor dos livros “Florestan - A inteligência militante” (Boitempo, 2005), “À Espera da Verdade - histórias de civis que fizeram a ditadura militar” (Alameda, 2016) e “Trinta e tantos livros sobre a mesa” (Oficina Raquel, 2018). Professor convidado do programa de pós-graduação em Literatura da Universidade Federal de São Carlos

Maria Selma de Moraes Rocha

Possui graduação em História pela Universidade de São Paulo (1985), mestrado em História Econômica pela Universidade de São Paulo (1996) e doutorado em História Social (2015), pela FFLCH/USP. Foi docente da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e diretora da Fundação Perseu Abramo (2003-2010).

Paulo Henrique Martinez

Professor Associado na Universidade Estadual Paulista (UNESP) Departamento de História da Faculdade de Ciências e Letras de Assis. Com mais de 300 publicações em diferentes modalidades de produção bibliográfica e técnica, publicou o livro Florestan ou o sentido das coisas.

Paulo Henrique Fernandes Silveira

Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Docente e pesquisador na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Faz parte do grupo de pesquisa Direitos Humanos, Democracia, Política e Memória, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e coordena o grupo de estudos sobre Educação, Filosofia, Engajamento e Emancipação, vinculado à FEUSP.

Roberto Leher

Professor Titular da Faculdade de Educação e do Programa de PósGraduação em Educação da UFRJ e bolsista produtividade nível 2 do Cnpq. Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (1998), desenvolve pesquisa em políticas públicas em educação. Coordena o Coletivo de Estudos em Marxismo e Educação - COLEMARX. Pesquisador do CNPq e colaborador da Escola Nacional Florestan Fernandes, foi reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (julho de 2015 a julho de 2019).

Marcos Tadeu Del Roio

Formado em História e Ciências Sociais pela FFLCH-USP, em nível de bacharelado e licenciatura. Fez o Mestrado em Ciência Política no IFCH-UNICAMP e o doutorado em Ciência Política na FFLCH-USP. Prof. Titular de Ciências Políticas da UNESP-FFC.

Publicado

November 3, 2022

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Detalhes sobre o formato disponível para publicação: E-book

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Co-publisher's ISBN-13 (24)

978-65-5954-298-7

Date of first publication (11)

2022

Detalhes sobre o formato disponível para publicação: Impresso

Impresso

Co-publisher's ISBN-13 (24)

978-65-5954-297-0

Date of first publication (11)

2022