EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO
SECUNDÁRIA EM PERNAMBUCO
atores políticos e a interiorização
dos ginásios públicos
(1948-1963)
Kalline Laira Lima dos Santos
Kalline Laira Lima dos Santos é gradua-
da em História pela (UPE) e mestra em
Educação pela (UNESP).
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
Este livro é fruto de vários encontros.
O primeiro deles foi no chão da minha
escola, durante o Ensino Médio, onde
ouvi, pela primeira vez, que era possível
alunos e alunas de Escolas Públicas in-
gressarem no Ensino Superior. Portan-
to, a História foi o caminho, a escolha.
Nesse caminho, carrego o compromisso
com a história e a educação, que cons-
titui um campo de pesquisa atravessado
por vivências teóricas, pessoais, coletivas
e princípios sociais. No sentido de com-
preender e interpretar acontecimen-
tos e histórias sobre a escola secundá-
ria em Pernambuco particularmente da
sua pressão social para a ampliação de
vagas em ginásios públicos, aponto os
seguintes questionamentos neste livro:
Como ocorreu o processo de expansão
do primeiro ciclo do ensino secundá-
rio público em Pernambuco? Como os
atores políticos estaduais, municipais e
federais atuaram na criação desses esta-
belecimentos de ensino? Quais foram as
políticas de nanciamento para a criação
desses ginásios? Como diz Marc Bloch
(1997,p. 17): “não é verdade que, para
agir avisadamente, é necessário, pri-
meiro, compreender?”. Assim, este livro
busca compreender o papel do Estado no
processo de democratização da escolari-
zação na sociedade pernambucana.
EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO SECUNDÁRIA EM PERNAMBUCO
Kalline Laira Lima dos Santos
EXPANO DA EDUCAÇÃO SECUNRIA EM
PERNAMBUCO:
Atores Políticos e a interiorização dos ginásios públicos
(1948-1963)
Kalline Laira Lima dos Santos
Kalline Laira Lima dos Santos
EXPANO DA EDUCAÇÃO SECUNRIA EM
PERNAMBUCO:
Atores Políticos e a interiorização dos ginásios públicos
(1948-1963)
Ma
rília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2021
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Cláudia Regina Mosca Giroto
Au
xílio Nº 0798/2018, Processo Nº 23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
Santos, Kalline Laira Lima dos.
S237e Expansão da educação secundária em Pernambuco: atores políticos e a interiorização dos
ginásios públicos (1948-1963) / Kalline Laira Lima dos Santos. Marília : Oficina
Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2021.
173 p.: il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-207-9 (IMPRESSO)
ISBN 978-65-5954-208-6 (DIGITAL)
1. Educação História. 2. Ginásios (Escolas secundárias). 3. Ensino secundário
Pernambuco 1948-1963. I. Título.
CDD 370.109
Copyright © 2021, Faculdade de Filosofia e Ciências
E
ditora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - c
ampus de Marília
DOI http
s://doi.org/10.36311/2021.978-65-5954-208-6
As entidades do tempo que fecundam que enchem e que de
alguma forma nos ajudam a crescer e parir as palavras.
Siglas e Abreviações
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Nacional de Educandários Gratuitos
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Social Democrático
UDN
União
Democrática Nacional
P
L
Partido
Liberal
PR
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Republicano
PDC
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Democrata Cristão
INEP
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira
DEPE
Divisão
de Estudos Educacionais
CONDEPE
Comissão
de Desenvolvimento do Nordeste
CBPE
Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais de
Pernambuco
CONDEPE
Comissão de Desenvolvimento Econômico de
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SUDENE
Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste
ALEPE
Assembleia
Legislativa de Pernambuco
CADES
Campanha
de Aperfeiçoamento do Ensino Secundário
DEM
Departamento
do Ensino Médio
DEPE
Diretória
Educacional de Pernambuco
CBPE
Centro
Brasileiro de Pesquisas Educacionais
CNEC
Campanha
Nacional dos Educandários
Sumário
Apresentação........................................................................11
Prefácio | Rosa Fátima de Souza Chaloba.................................15
Introdução............................................................................21
Capítulo 1 | Debate Político Educacional da Educação
Secundária no Estado de Pernambuco (1950-1960)...............33
Capítulo 2 | Disputas em Torno da Criação dos Ginásios
Públicos em Pernambuco.....................................................67
Capítulo 3 | A Atuação dos Munícipios na Criação de Ginásios
e a Questão do Financiamento............................................103
Conclusão..........................................................................149
Referências.........................................................................153
11
Apresentão
Este livro é fruto de vários encontros. O primeiro deles foi no chão
da minha escola, durante o Ensino Médio, onde ouvi, pela primeira
vez, que era possível alunos e alunas de Escolas Públicas ingressarem no
Ensino Superior. Portanto, a História foi o caminho, a escolha. Nesse
caminho, carrego o compromisso com a história e a educação, que
constitui um campo de pesquisa atravessado por vivências teóricas,
pessoais, coletivas e princípios sociais. Quando pensamos o itinerário da
História da Educação no Brasil nos últimos anos, é notável o aumento das
pesquisas nesse campo. A Nova História Cultural teve uma contribuição
importante nesse avanço. No culo XX, houve uma mudança de
perspectiva da história tradicional para a nova história. Peter Burke, na
obra A escrita da história: novas perspectivas, trata de novas ideias que se
iniciaram na França, com a revista Annales: Écomies, Societés, Civilisations.
Com essa nova perspectiva de fazer história que viabilizasse o
interior, e não mais totalizante, com foco nas diversas ações humanas ,
foi possível recuperar acontecimentos e histórias que estavam recobertas na
poeira do tempo (BURKE, 1992). Esse novo modo de fazer história
baseado nos percursos epistemológicos, teóricos e metodológicos da Nova
História Cultural, abriu novas possibilidades e diálogos com outros
campos de estudos, tais como as Ciências Sociais e a Antropologia e a
política, para as pesquisas em história da educação, resultando em
produções com olhares diversos de objetos estudados. Esse processo ganha
impulso a partir dos anos 1990, com a ampliação dos temas, objetos e
12
fontes, marcados pelos estudos culturais e sociais, pela história das
instituições, das práticas escolares e da cultura material.
O movimento que ocorreu a partir dessas transformações
metodológicas possibilitou novos olhares para a História da Educação
brasileira. O que estava recôndito, emerge ao “sótão”. Foram com essas
novas possibilidades que emergiram no campo de estudos historiográficos
da educação que me levaram às pesquisas que atualmente desenvolvo. A
pesquisa ora apresentada neste livro foi defendida no Programa de Pós
Graduação em Educação da FCC/UNESP no ano de 2021, outono
pandêmico. Segue um caminho trilhado desde a iniciação científica.
Em 2015, ainda estudante do Curso de História da Universidade
Estadual de Pernambuco, campus Petrolina, participei como Bolsista de
Iniciação Científica do projeto
Os arquivos escolares como fonte de
pesquisa para a História da Educação
1
, no qual realizei o levantamento, a
higienização, a catalogação e a digitalização de fontes documentais de
instituições escolares públicas e privadas do sertão do São Francisco, no
estado de Pernambuco, abrangendo a segunda metade do século XX. É
nesse momento que começa meu trânsito no campo da pesquisa,
constituindo minhas leituras e me aproximando das discussões teóricas e
metodológicas da História da Educação. A incursão nesse campo foi um
ponto necessário que me inquietou fazendo refletir criticamente a
necessidade de investigar o processo educacional em suas diversas
manifestações, e compreender de que maneira a educação servia a uma
sociedade, como não podemos desprendê-la do contexto histórico geral,
na sua concomitância nas relações que os sujeitos estabelecem ao produzir
sua existência.
13
Nesse sentido, as leituras sobre o campo no grupo de pesquisa
contribuíram para minha formação e meu encontro com os estudos sobre
a Educação Secundária
2
, além de constituir, nesse espaço, amigos e colegas
trabalhando em pesquisas da nossa região. O resultado foi meu trabalho
de conclusão de curso sobre o primeiro ginásio industrial da cidade de
Petrolina (PE), intitulado Do Ginásio Industrial de Petrolina à Escola
Marechal Antônio Alves Filho: vestígios da Cultura Escolar (1960-1970), sob
orientação da Profª Drª Virgínia Ávila, no qual analisei os vestígios da
cultura escolar presentes nas fichas de matrículas e fichas antropométricas,
bem como dados concernentes às festas e atividades culturais presente na
história da escola.
Desse modo, pude submergir nos estudos sobre a educação
secundária, com trabalhos voltados ao ginásio, estudos esses que buscam
analisar a constituição do ensino secundário em diversas regiões do Brasil,
tais como Barroso (1998), Dallabrida (2001), Nunes (1979), Silva (1969)
e Souza (2008), no sentido de compreender e interpretar acontecimentos
e histórias sobre a escola secundária no Brasil. O problema de pesquisa foi
se construindo a partir de algumas questões. A principal se refere às lacunas
de pesquisas sobre a educação secundária no estado de Pernambucano,
especialmente no que diz respeito à constituição de políticas para criação e
financiamento do ensino de nível ginasial público no estado, e, depois,
compreender qual foi o papel do Estado no processo de democratização da
escolarização na sociedade pernambucana.
15
Prefácio
A investigação histórica sobre a expansão do ensino secundário é,
sem dúvida, uma temática de enorme atualidade, uma vez que o ensino
médio, originado das transformações institucionais do secundário,
continua sendo um dos maiores problemas educacionais do país.
É justamente dessa atualidade que se nutre este livro de Kalline
Laira Lima dos Santos, cujos méritos aliam trabalho minucioso de
levantamento e reunião de fontes, rigor analítico e interpretação instigante.
Revisitar velhos temas é sempre um desafio, pois exige o
alargamento do questionário e a adoção de uma perspectiva inovadora.
Obviamente, o tema da expansão do ensino exige a análise do crescimento
do número de matrículas e escolas, da atuação estatal e dos particulares e,
ainda, o refinamento sobre o atendimento por regiões, sexo, raça, entre
outras categorias. Mas essas características gerais relevantes, algumas
encontradas nas escassas estatísticas sobre a educação brasileira no século
XX, têm se mostrado insuficientes para se compreender a dinâmica política
e social implicada na expansão das oportunidades educacionais. É nessa
direção, que se pauta este livro, cuja tônica é apreender como ocorreu a
ampliação do número de ginásios públicos no estado de Pernambuco no
período da redemocratização do país (1948-1963) a partir do processo de
interiorização regional das escolas. Qual foi a atuação dos atores políticos?
Quais foram as políticas de interiorização do ensino e de financiamento?
Para responder essas questões, a autora mergulhou na histórica política
https://doi.org/10.36311/2021.978-65-5954-208-6.p15-20
16
pernambucana e mobilizou nos mais diversos arquivos indícios preciosos
reunidos em fontes diversas.
Mas, se é fato que houve um importante crescimento do
secundário nesse período, isso longe esteve da democratização.
Etapa intermediária entre o ensino primário e o superior, a partir
da década de 1930, o secundário de cariz humanista e de cultura geral foi
normatizado em dois ciclos. Pela Reforma Francisco Campos, realizada em
1931, o ciclo fundamental (5 anos) e o complementar (2 anos); e, pela
Reforma Capanema (1942) em ciclo ginasial de 4 anos de duração e o ciclo
colegial de 3 anos.
Em 1933, havia 66.000 alunos no ensino secundário no Brasil.
Cerca de duas décadas depois, em 1952, esse número elevou-se para
466.000 alunos e, em 1961, atingiu a cifra de 991.000 estudantes (SILVA,
1969, p. 312). Todavia, o aumento significativo de matrículas verificados
nessas décadas ocorreu mantendo desigualdades regionais e diferenciações
internas da rede escolar. De acordo com Schwartzman et al (2000), em
1939, havia 629 estabelecimentos de ensino secundário no Brasil, sendo
530 particulares e 99 públicos. Quase um terço das escolas estava no estado
de São Paulo (196) que detinha também, a metade das escolas públicas do
país, isto é, 43 estabelecimentos. Nessa linha de argumentação, vale
destacar mais alguns dados.
Em 1945, a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos publicou
um levantamento realizado pela Divisão do Ensino Secundário do
Departamento Nacional de Educação, responsável pela administração
desse ramo de ensino no país. Havia em todo o território nacional 538
ginásios e 289 colégios, totalizando 827 estabelecimentos. A maior rede de
escolas secundária encontrava-se nos estados de São Paulo (230), Minas
Gerais (137), Distrito Federal (92) e Rio Grande do Sul (75). O estado de
17
Pernambuco contava com 37 escolas secundárias, sendo 20 ginásios e 17
colégios, a maioria mantidos pela iniciativa particular (O ENSINO
SECUNDÁRIO NO BRASIL..., 1945, p. 282).
Jayme Abreu, técnico da Divisão Nacional de Educação, em um
minucioso estudo apresentado no Seminário Interamericano de Educação
Secundária, realizado em Santiago do Chile em janeiro de 1955 assinalou
como essa multiplicação acelerada da população discente transcorria em
meio ao anacronismo e ao tradicionalismo conservador das instituições de
ensino secundário e em meio à enorme estratificação dos estudantes. Nas
palavras do autor:
A escola secundária brasileira apresenta, em 1954, uma matrícula geral
de 535.775 alunos, espalhados por 1.771 estabelecimentos de ensino,
à base de dados do Serviço de Estatística do Ministério da Educação e
Cultura, que passamos a citar. Tomando por base o recenseamento de
1950, pode-se estimar a população brasileira de 12 a 18 anos, em 1954,
em torno de 9 milhões e 100 mil habitantes. Assim, dessa população
teoricamente em idade de frequentar a escola secundária, cerca de 6%
nela estaria matriculada (ABREU, 1955, p. 43)
Ainda de acordo com Jayme Abreu (1955), o maior número de
matrículas concentrava-se no ciclo ginasial (85,7% dos matriculados). Nas
escolas públicas em número de 435, encontravam-se matriculados 26,8%
do alunado secundarista (143.465 alunos) enquanto o maior número de
estudantes estava na rede particular que compreendia 1.336 escolas
(73,2% dos estudantes, compreendendo 392.310 matriculados). A maior
parte dessas escolas estavam situadas nas capitais e núcleos urbanos maiores
dos respectivos estados e somente 20% dos alunos concluíam o segundo
ciclo (curso colegial).
18
Apesar da expansão ocorrida no período, um pequeno número de
adolescentes e jovens brasileiros, em sua maioria do sexo masculino,
tinham acesso ao secundário em meados do século XX, o que tem levado
os historiadores da educação a reafirmarem o caráter elitista desse ramo de
ensino antevisto nessa minoria de estudantes, geralmente pertencentes a
grupos sociais de maior poder aquisitivo, matriculados, em boa parte, em
instituições privadas e nos poucos colégios públicos.
A explicação para essa diferenciação regional requer o ajuste da
lente de análise para as políticas educacionais empreendidas pelos governos
dos estados brasileiros. Foi exatamente esse o redirecionamento adotado
neste livro, que conduz o leitor para os meandros dos tortuosos caminhos
da difusão do secundário no estado de Pernambuco. Não por acaso, como
mostra a autora, a luta pelos ginásios nessa unidade da federação iniciou
pelos estudantes e com a criação da Campanha do Ginasiano Pobre. A
imprensa, também, teve um papel relevante, publicizando as demandas
populares e engrossando as reivindicações para uma ação mais efetiva do
poder público estadual. As disputas políticas foram intensas,
especialmente, para a interiorização dos ginásios públicos. A atuação do
Estado se fez presente, mas cautelosa, por meio de convênios, subvenções
e auxílios. Na ausência de políticas públicas, avançou a iniciativa
particular, especialmente o trabalho das congregações religiosas; porém,
surpreendentemente, destaca-se a diligência do poder público municipal
criando e mantendo ginásios para os munícipes como estratégia política de
forçar a estadualização. Nesse sentido, o estudo evidencia como a iniciativa
municipal sobrepujou a estadual, pois, em 1964, havia 234 unidades de
ensino secundário de ciclo ginasial em Pernambuco (187 particulares, 31
municipais, 15 estaduais e 1 federal). Por todas as razões já assinaladas, o
livro de Kalline Laira é uma importante contribuição para a historiografia
da educação secundária brasileira e pernambucana.
19
Tive a satisfação de orientar a dissertação de mestrado que deu
origem a este livro. Não posso, portanto, deixar de mencionar as
qualidades dessa jovem pesquisadora que soube tão bem conciliar sua
sólida formação em História com as perspectivas de produção do
conhecimento histórico em educação. Qualidades evidenciadas no apreço
pelo arquivo, na dedicação aos estudos e na determinação em superar
obstáculos e limites.
Expansão da educação secundária em Pernambuco: atores políticos e a
interiorização dos ginásios públicos (1948-1963), de Kaline Laira Lima dos
Santos convida-nos a conhecer a história do ensino secundário e a refletir
sobre o difícil acesso dos adolescentes e jovens de camadas populares à
escolarização de nível médio neste país. Além disso, o livro nos sensibiliza
para a temática das desigualdades educacionais levando-nos a ponderar
criticamente sobre a conquista histórica do direito à educação e, nesse
momento sombrio da vida nacional, nos conclama para a importância da
defesa intransigente da democracia e da educação pública.
Rosa Fátima de Souza Chaloba
Campinas, julho de 2021. Inverno marcado por ameaças à democracia,
obscurantismo político e pela tragédia humanitária de mais de 549 mil mortos
pela Covid-19, que assola o país.
20
Referências
ABREU, J. A educação secundária no Brasil (ensaio de identificação de
suas características principais). Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos,
Rio de Janeiro, v. 23, n. 58, p. 26-104, abr./jun., 1955.
O ENSINO SECUNDÁRIO NO BRASIL em 1945. Revista Brasileira
de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. 6, n. 17, p. 283-308, nov.
1945.
SCHWARTZMAN, S.; BOMENY, H. M. B ; COSTA, V. M. R.
Tempos de Capanema. Rio de Janeiro: Paz e Terra; São Paulo: Edusp,
2000.
SILVA, G. B. A Educação Secundária (perspectiva histórica e teoria). São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. (Atualidades Pedagógicas, v.
94).
21
Introdução
Ao tratar do caso específico de Pernambuco, é digno de nota que
outros estudos no campo da História da Educação e das instituições
educacionais apresentam um panorama do processo de expansão do
ensino secundário na região Nordeste, mas, ainda são poucos os trabalhos
que tratam da questão de Pernambuco no seu desenvolvimento
educacional.
Em Pernambuco, algumas pesquisas realizadas contribuem
bastante para uma tentativa de compreensão historiográfica da educação
pernambucana: Barroso Filho (2008); Souza (2005); Menezes (2015); Leal
(2017). Dediquei-me à revisão bibliográfica, investigando como a
temática vem sendo representada nos estudos historiográficos em
Pernambuco e sua contribuição para a História da Educação Brasileira. O
principal estudo referente ao ensino secundário em Pernambuco, que dará
o tom aos demais estudos apresentados, refere-se à tese de Geraldo Barroso
Filho, especificamente sobre o Ginásio Pernambucano, mas que,
sobretudo, apresenta um panorama da educação pernambucana nos anos
1950. Trata-se da pesquisa Formando individualidades condutoras: o
Ginásio Pernambucano nos anos 50 (BARROSO, 1998), na qual o autor
fez uma revisão da literatura
1
contemporânea do ensino secundário como
3
O Ginásio Pernambucano é uma tradicional instituição de ensino médio localizado na cidade do
Recife, Estado de Pernambuco. Fundado em 1825, é o mais antigo colégio do país em atividade.
Ele foi criado por decreto do presidente provincial José Carlos Mairink da Silva Ferrão, com o nome
de Liceu Provincial de Pernambuco. Em 14 de maio de 1855, mudou de nome para Ginásio
22
tema geral, apresentando um quadro de estudo assinalando a tendência
prevalecente do ensino médio de todo o país. Nos anos 1950, o ensino
particular era responsável por 80% das matrículas do ensino secundário
existente no país. Segundo Barroso Filho (2008), o acesso aos estudos pós-
primários era, na prática, um privilégio daqueles que podiam pagar
mensalidades escolares. Àqueles que não dispunham de condições para se
sustentar em escolas privadas, restava ou prestar concurso de admissão
aos poucos ginásios gratuitos então existentes, ou postular bolsas de
estudo para frequentar escolas particulares sem pagar (ou pagando
mensalidades menores). Apesar dos reclames pela maior presença do
Estado na expansão da oferta de vagas em escolas públicas secundárias, esse
papel era muito tímido.
Pernambuco seguia a tendência no país no que se refere à oferta
escolar, praticamente monopolizada pela iniciativa privada ou mantida por
uma diversidade de ordens religiosas, ou mesmo pelo próprio município.
Os estabelecimentos de ensino público mais antigo de Pernambuco eram
o Ginásio Pernambucano (GIP)
3
e a Escola Normal de Pernambuco
4
,
Pernambucano. Em 1893, no governo de Alexandre José Barbosa Lima, recebeu o nome de
Instituto Benjamin Constant, porém, voltou rapidamente à antiga denominação. Em 1942, passou
a ser chamado Colégio Pernambucano e, logo em seguida, Colégio Estadual de Pernambuco. Em
1974 por decreto do governador Eraldo Gueiros Leite voltou à antiga denominação de Ginásio
Pernambucano.
4
A Escola Normal Oficial de Pernambuco foi inaugurada em 1865, hoje denominada Escola Sylvio
Rabello. A Escola recebeu diversos nomes ao longo da sua trajetória. Ficava localizada nas
dependências do Ginásio Pernambucano. No período do Estado Novo, com a intervenção em
Pernambuco, de 1930 a 1947, o interventor general Dermeval Peixoto acatou a ordem da Lei
Orgânica pelo Decreto n. 8.530, de 2 de janeiro de 1946, passando a Escola Normal para o Instituto
de Educação. A criação do Instituto de Educação de Pernambuco ocorreu pelo Decreto-Lei 1.448,
de 3 de setembro de 1946.
23
instituições cuja origem remonta ao período imperial, destinadas como
símbolo de tradição escolar centenária, voltados à “formação humanista
das individualidades condutoras”, que estavam distantes da população
interiorana.
De acordo com Barroso Filho (2008), o marco simbólico do início
da expansão do ensino público secundário no estado de Pernambuco é o
ano de 1949, quando começaram a funcionar, instituídas pela Lei nº 406,
de 28 de dezembro de 1948, as primeiras turmas noturnas do Ginásio
Pernambucano, então denominado Colégio Estadual de Pernambuco. A
abertura de cursos noturnos foi uma forma de atender aos apelos da
população pernambucana por maior oferta de ensino gratuito sem a
construção de novos edifícios. Além disso, essa estratégia se tornou uma
maneira de atender a segmentos específicos (alunos trabalhadores) para
escapar de eventuais críticas sobre o favorecimento a setores privilegiados.
O autor mostra, como no final da década de 1950 e no decorrer dos anos
1960, a existência de ginásio na localidade era considerado um privilégio
de algumas poucas cidades de maior porte. O ginásio era considerado um
símbolo de prestígio e poder político da cidade; uma conquista, uma meta,
uma representação de evidente “progresso” e “desenvolvimento”. Em
síntese, a pesquisa desse autor possibilita-nos uma ampla compreensão da
situação educacional em Pernambuco e como foi construído um
imaginário social em torno das possibilidades de ascensão social por meio
do ensino secundário, dos próprios interesses políticos-eleitorais, entre
outros fatores que conjugaram a uma pressão pela popularização/
massificação do ensino.
Nota-se, também, a influência do estudo do Barroso Filho (2008),
pois a maioria dos pesquisadores que já trataram do tema utilizaram-no
como referência, não somente pelas questões relacionadas ao Ginásio
24
Pernambucano, mas por suas contribuições em relação às políticas
educacionais e sociais e o contexto sociocultural de Pernambuco referente
a meados do século XX.
Pode-se perceber que não há estudos específicos tratando da
atuação dos atores políticos para a compreensão da expansão dos ginásios
públicos, assim como não há discussões aprofundadas sobre o processo de
criação dos ginásios, sobre projetos de leis, decreto-lei, políticas de
financiamento do ensino secundário. Nesse sentido, com as lacunas
apresentadas nas pesquisas já desenvolvidas, procurou-se preencher as
dúvidas suscitadas na investigação.
A delimitação temporal apresentada abrange o período entre 1948
a 1963, iniciando com os primeiros debates levados a termo na Assembleia
Legislativa do Estado de Pernambuco sobre a criação de ginásios gratuitos,
tendo como pauta de discussão o convênio estabelecido entre os governos
Federal e Estadual de Pernambuco para a criação do primeiro ginásio
público no interior desse estado. O período recobre as quatros primeiras
legislaturas da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe),
caracterizada pelo pluripartidarismo, quando se verifica uma intensa
intervenção dos deputados na vida política. Partindo dessa problemática
do ensino secundário, particularmente da sua pressão social para a
ampliação de vagas em ginásios públicos, apontamos os seguintes
questionamentos: Como ocorreu o processo de expansão do primeiro ciclo
do ensino secundário público em Pernambuco? Como os atores políticos
estaduais, municipais e federais atuaram na criação desses estabelecimentos
de ensino? Quais foram as políticas de financiamento para a criação desses
ginásios? Como diz Marc Bloch (1997, p. 17): “não é verdade que, para
agir avisadamente, é necessário, primeiro, compreender?”.
25
Por uma História Política na História da Educação: entre a cultura
política e o campo político
De acordo com os preceitos estabelecidos por Certeau (1982), é
necessário que o historiador primeiramente estabeleça as fontes,
reordenando os documentos de forma coerente, dando um novo sentido
ao conjunto o que ele chama de “operação historiográfica”. Toda
pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção
socioeconômica, político e cultural. É em função deste lugar que se
instauram os métodos, os documentos e as questões propostas, que se
organizam constituindo uma escrita histórica. Constituir uma Nova
História Política na História da Educação possibilita ampliar os modelos
interpretativos, referenciais teóricos, objetos de investigação, as fontes
documentais e as metodologias de pesquisa, como também possibilita
formular um outro olhar para as políticas públicas de educação no nosso
país.
A Nova História Política relaciona-se com os fatos sociais, e a
educação é uma dimensão na qual perpassa por determinações políticas,
econômicas, sociais e culturais, que é atravessada pelo campo político. Os
debates acerca da História Política não são recentes. A maior contribuição
para a década de 1930 ocorreu quando a Écolle des Annales propôs a
substituição da história política factual, centrada nas batalhas e suas
grandes personagens, por uma história-problema, dialogando com outras
disciplinas, como as Ciências Sociais, ampliando seu objeto e analisando
diversos aspectos da vida humana. A crítica ao Positivismo, entre outros,
mostrou que o espaço social não determina limites a serem investigados
pelo historiador. Esse novo paradigma proposto pela terceira geração dos
Annales resultou nas fontes históricas que também se ampliam em
26
quantidade e forma de acordo com os novos interesses. Rémond
5
(2003)
obteve sucesso com a história política contemporânea, inaugurando a
“história cultural do político”. A ambição des Annales de construir uma
História da totalidade, levou os estudos da história política ao ostracismo.
Entretanto, na década de 1950, os estudos de René Rémond sobre a
direita francesa, nos séculos XIX e XX, analisando discursos, modos de
expressão e comportamento dos políticos romperam com essa perspectivas
factual. Ainda foi preciso mais duas décadas para que as pesquisas, que
seguiam a linha proposta por mond, se renovassem. Essas renovações
teóricas ultrapassaram os limites da
2
História Política e atingiram o campo
da História Cultural.
Adotei a premissa de que, para analisar a atuação dos atores
políticos e a política de expansão dos ginásios, seria necessário conhecer
como funciona o campo político, isto é, seu conjunto de formalidades,
rituais, regras e conceitos. Ou seja, na convergência entre a Nova História
Cultural e a Nova História Política, está a categoria utilizada para esta
pesquisa: cultura política. De acordo com as análises da Ângela de Castro
Gomes (2007), esse conceito permite “explicações/interpretações sobre o
comportamento político de atores individuais e coletivos, privilegiando
suas percepções, suas lógicas cognitivas, suas vivências, suas sensibilidades”.
Dentro dessa categoria, recorre-se ao conceito de campo político proposto
por René Rémond (2003) dialogando com a perspectivas de campo
5
Grupo de pesquisadores da Fondation Nationale des Sciences Politiques, cuja especialização no
campo da História Política vem de longa data. Assim, parece curioso que, somente nos anos 1980,
esse grupo realize uma espécie de manifesto com a publicação do livro Por uma História política, de
Rene Rémond, em favor de seu campo de pesquisas, embora ele rejeite o termo já na Introdução”.
Ao contrário, Rémond pretende que o livro seja uma “afirmação coletiva, feita numa etapa do
caminho. RÉMOND, R. (org.). Por uma história política. Rio de Janeiro: UFRJ/FGV, 2003.
27
bourdieusiana. Essa abordagem permite compreender as articulações
geradas pelos sujeitos e instituições nas políticas de financiamentos dos
ginásios e suas propostas de criações. Tal interpelação busca uma
compreensão articulada entre o campo político e o social, gerando análises
com os fatos sociais e culturais sobre as questões educacionais da sociedade
brasileira.
Para Rémond (2003), a política não se resume ao Estado e suas
instituições, mas constitui as massas e as demais organizações da
sociedade civil. A história política é como uma zona de conexão com
o todo social. Para o autor, o político não constitui um setor separado: é
uma modalidade da prática social, é compreendê-lo como fenômeno
social, no qual ele se liga por mil vínculos, por toda espécie de laços a todos
os outros aspectos da vida coletiva. Não existe um limite de fronteira. O
campo político tem caráter plural e possibilita uma integração com outros
setores da sociedade. Ele pode suscitar uma legislação, interferir na ciência,
e ter implicações na cultura e educação, segundo o jogo de interesses, e por
relações de poder no interior das elites políticas regionais. Segundo Réne
Rémond (2003, p. 24):
À medida que os poderes públicos eram levados a legislar,
regulamentar, subvencionar, controlar a produção, a construção de
moradias, a assistência social, a saúde pública, a difusão da cultura, esses
setores passaram, uns após os outros, para os domínios da história
política. Com isso desabou a principal objeção a esse tipo de história:
como sustentar ainda que o político não se refere às verdadeiras
realidades, quando ele tem por objetivo geri-las? A prova disso está na
atração cada vez maior que a política e as relações com o poder exercem
sobre agrupamentos cuja finalidade primeira não era, contudo,
política: associações de todos os tipos, organizações socioprofissionais,
sindicatos e igrejas, que não podem ignorar a política.
28
Na perspectivas bourdieusiana, o campo político é um espaço
social multidimensional de relações político-sociais entre esses atores; a
ação dos agentes (deputados estaduais, partidos políticos, Poder Executivo,
líderes políticos locais, etc.) que compartilham interesses em comum e
disputam objetivos específicos, conforme sua posição na estrutura do
campo de forças, contribui para a conservação ou a transformação de sua
estrutura (BOURDIEU, 2011, p. 56). A história política não se fecha por
si mesma, ela estabelece ligações com o econômico, o cultural e o
ideológico e educacional. Segundo Bourdieu (2011, p. 1999):
Assim, o fato de o campo político ser autônomo e ter sua lógica própria,
lógica que está no princípio dos posicionamentos daqueles que nele
estão envolvidos, implica que existe um interesse político específico,
não automaticamente redutível aos interesses dos outorgantes do
mandato. Há interesses que se definem na relação com as pessoas do
mesmo partido ou contra as pessoas dos outros partidos. O
funcionamento do campo produz a espécie de fechamento.
Utilizo e penso o conceito de “interiorização” como resultado do
campo político, sendo o próprio termo um conceito político que ocorre
em confluência com as transformações econômicas, sociais e culturais,
tendo em vista a reestruturação territorial do município, resultante da
intensificação das atividades socioeconômicas. Portanto, a interiorização é
resultado de um desenvolvimento regional, implicado em uma política
pública de interiorização que os políticos utilizavam como um discurso na
defesa regional, utilizando artifícios políticos ideológicos para legitimar a
adoção de políticas, seja por meio da criação de projetos de leis, programas
e convênios de financiamento educacional proposto pelo jogo político.
29
As análises realizadas nos pronunciamentos dos deputados na
Assembleia Legislativa, na defesa de seus projetos de leis para a criação dos
ginásios públicos, fizeram perceber o discurso da interiorização da elite
política pernambucana. Por ser um grupo heterogêneo, buscou-se
estabelecer relações de pertencimento e sociabilidade, de acordo com o
campo de forças que esses sujeitos integravam, seus compartilhamentos e
interesses que apoiassem suas ações e propostas para a educação. Havia
uma aliança formada por grupos do mesmo partido compartilhando
desejos ideológicos, que simpatizavam por serem da mesma área regional e
defendiam o interesse do seu “quociente eleitoral nas zonas”. Do outro
lado dessa dinâmica política, havia o poder Executivo constituindo sua
política de educação para o desenvolvimento, estabelecendo convênios
com o município, poder federal e organismos internacionais.
A renovação historiográfica da Nova História Política contribuiu
também para uma inovação nos documentos, ampliando e enriquecendo
os estudos do campo educacional. Essa ampliação de abordagem, objetos
e fontes colaborou para consolidar a História da Educação como um
complexo (elástico) e fecundo campo de investigação.
[...] aproximação cada vez mais fecunda com a disciplina de história,
seja pelo exercício de levantamento, organização e ampliação da massa
documental a ser utilizada nas análises, seja pelo acolhimento de
protocolos de legitimidade da narrativa historiográfica (FARIA FILHO
et al., 2004, p. 139).
A Nova História Política dispõe de grandes massas documentais
passíveis de quantificação, tais como projetos de lei, dados eleitorais e
partidários, trabalhando na duração, apoderando-se dos fenômenos mais
30
globais, procurando nas profundezas da memória coletiva, nas estruturas
sociais, e de habitus, possibilitando esta pesquisa por conter diversas fontes
possíveis de analisar e reconstituir por meio delas uma História Política
da Educação em Pernambuco, análoga com a configuração estatal e suas
implicações nas políticas educacionais, especialmente na criação de
ginásios de primeiro ciclo públicos.
Fez-se um levantamento na Assembleia Legislativa de
Pernambuco, obtendo-se acesso aos projetos de leis, decretos de leis e anais
da Câmara, sendo possível realizar um mapeamento de quantos projetos
de leis foram propostos pelo Poder Legislativo e decretos de lei do Poder
Executivo durante os anos 1948 a 1963. A natureza dos projetos era
diversa, sendo que muitos dos projetos se destinavam a subvenções, bolsa
escolar, crédito à Prefeitura para manutenção do ginásio, construção e
implantação dos ginásios e leis de gratuidade ao ensino secundário no
Estado de Pernambuco.
No Arquivo Público de Pernambuco, fez-se a coleta das mensagens
de governadores envolvendo diversos aspectos da administração pública,
constituindo relatórios de governo na área da Saúde, Educação,
Agricultura, balanços de governo. Segundo Araújo (2012), as mensagens
podem ser compreendidas como uma modalidade de discurso político, que
está inerentemente implicado com o poder, seja estadual ou federal, sendo
uma expressão de prática social. Neste estudo, serão utilizadas as
mensagens dos respectivos governos: Alexandre Sobrinho PSD (1950);
Etelvino Lins PSD (1955); Cordeiro Farias PSD (1959); Cid Feijó
PSD (1962).
Na Biblioteca Nacional Digital (Hemeroteca), obteve-se acesso ao
Diário Oficial de Pernambuco, os periódicos: Diário de Pernambuco, Jornal
o Pequeno e Jornal da Manhã periódicos de circulação da época. Foram
31
utilizados Anuários Estatísticos do Brasil, Anuários Estatísticos de
Pernambuco, documentos administrativos e pedagógicos, relatórios da
diretoria de ensino e Sinopses Estatísticas do Ministério da Educação. Foi
consultada também a documentação do Centro de Pesquisas Educacionais
de Pernambuco, sendo utilizado o periódico Cadernos de Educação, no qual
eram publicados os projetos desenvolvidos sobre a educação
pernambucana, tal como a legislação do período, de modo a compor um
amplo e diversificado conjunto de documentos.
O livro divide-se em três capítulos. Apresenta-se no primeiro
capítulo o debate do acesso ao ensino secundário de primeiro ciclo em
Pernambuco e as primeiras ações do Estado para suprir as reivindicações
que a sociedade demandava para a ampliação das oportunidades
educacionais; uma seção específica trata da Campanha dos Educandários,
movimento importante de iniciativa de estudantes secundaristas que
constituiu a criação do primeiro ginásio gratuito “noturno”, além dos
apontamentos acerca da lentidão na expansão do ensino secundário em
Pernambuco comparada com outros estados do Brasil.
No segundo capítulo é realizada uma análise das discussões e dos
argumentos propostos pelos deputados, por meio do debate no campo
político para a criação dos ginásios e o processo de interiorização, com
destaque para o protagonismo dos atores políticos na apresentação dos
projetos de leis de criação dos ginásios. O terceiro capítulo examina o
protagonismo da atuação dos municípios na criação e manutenção de
ginásios. A análise coteja propostas regionais, como o zoneamento para o
desenvolvimento educacional das regiões pernambucanas, levando em
conta os dados orçamentários destinados à educação pública em
Pernambuco, e a discriminação de subvenções durante os governos que se
estabeleceram no estado, além das parcerias com órgãos internacionais para
32
viabilizar verbas para o sistema educacional. Por fim, apresento as
considerações que a pesquisa possibilitou sobre a questão da expansão dos
ginásios e a atuação que o campo político instituiu na sua ação em diversos
níveis administrativos, contribuindo assim para a História da Educação
brasileira, como para os estudos ainda iniciais da História do Ensino
Secundário em Pernambuco.
33
Capítulo 1
Debate Político Educacional da Educação Secundária no
Estado de Pernambuco (1950-1960)
O ensino secundário no Brasil, até a promulgação da Lei de
Diretrizes e Bases n.º 4.024/61, foi um curso de cultura geral e
humanística, com um rígido sistema de provas e exames que mantinha sua
seletividade, reservada a certas categorias sociais e constituía um caminho
natural e praticamente exclusivo para o ensino superior; um filtro da
discriminação econômica, impedindo que os filhos das classes mais
modestas tivessem acesso ao ensino pós-primário público. A revolução de
1930
6
, com a vitória de Getúlio Vargas, direcionou no seu plano de
governo uma preocupação com o modelo de educação brasileira, uniforme
e rígido de formar uma elite intelectualmente sofisticada, resultando na
criação de um sistema educativo centralizador. Valores como nacionalismo
e conservadorismo foram impregnados, com influência da Igreja Católica.
Em 1930, foi criado o Ministério da Educação, sendo denominado
Ministério da Educação e Saúde Pública, um dos primeiros atos do
Governo Provisório de Vargas (1930-1934).
Os principais políticos protagonistas do seu governo foram os
ministros da educação Francisco Campos e Gustavo Capanema. No
espectro que rondava as transformações no Brasil, com Getúlio Vargas no
34
poder, fez-se uma nova constituição elaborada por Francisco Campos,
isto é, um golpe de Estado em 10 de novembro de 1937. Segundo
Valdemar (1952), esta Carta foi imposta ao país sem consulta, com pretexto
de “aperfeiçoar” as instituições, conjurar o “perigo comunista” e “realizar
a república”: na verdade, eliminou a vida partidária e instaurou um
personalismo despótico, montado em uma burocracia formidável.
Considerada uma “deformação democrática”, reduzido a pedestal para um
superpresidencialismo, cercado de “eminências pardas”
3
e oligarquias
oscilantes, órgãos novos, siglas (inclusive o Departamento Administrativo
do Serviço Público - DASP), invenções terminológicas e experiências
administrativas concentradas em torno da hegemonia do Executivo.
Na esfera educacional, a Constituição de 1937 a retrocedeu, à
medida que se vinculou a educação a valores cívicos e econômicos. Não
houve preocupação com o ensino público, sendo o primeiro dispositivo
dedicado a estabelecer a livre iniciativa. A centralização foi reforçada não
pela previsão de competência material e legislativa privativa da União
em relação às diretrizes e bases da educação nacional, sem referência aos
sistemas de ensino dos estados, como pela própria rigidez do regime
ditatorial. Segundo Pompeu (2005, p. 71), a Carta priorizou a escola
particular, “criando um verdadeiro hiato entre o ensino dos pobres, classes
6
Movimento armado iniciado no dia 3 de outubro de 1930, sob a liderança civil de Getúlio Vargas
e sob a chefia militar do tenente-coronel Pedro Aurélio de Góis Monteiro, com o objetivo
imediato de derrubar o governo de Washington Luís e impedir a posse de Júlio Prestes, eleito
presidente da República em 1.º de março. O movimento se tornou vitorioso em 24 de outubro e
Vargas assumiu o cargo de presidente provisório em 3 de novembro do mesmo ano. As mudanças
políticas, sociais e econômicas que tiveram lugar na sociedade brasileira no pós-1930 fizeram com
que esse movimento revolucionário fosse considerado o marco inicial da Segunda República.
Disponível
em:
https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeirarepublica/REVOLU%C3%87%C3%83O%20
DE%201930.p
df
35
menos favorecidas e o ensino daqueles que podem pagar as classes mais
favorecidas”. A gratuidade foi tratada como uma exceção a quem poderia
alegar ser pobre na forma da lei; aos outros que não pudessem alegar
escassez de recursos, seria cobrada uma contribuição mensal”.
O atraso e a desigualdade educacional brasileira são um reflexo das
políticas educacionais com viés elitista, conservador e seletivo, além da
preponderância do ensino confessional na educação brasileira que
perdurou por décadas em nossa sociedade. Segundo as reformas que foram
instituídas ao ensino secundário, de Francisco Campos (1931) e Gustavo
Capanema (1942), elas reforçaram a dualidade quanto à formação
profissionalizante e à função de formar uma sólida cultura geral, elevando
a consciência patriótica e humanística e preparatória ao ensino superior.
Na organização do ensino secundário estabelecida pela Reforma de
Francisco Campos (1931), vários decretos efetivaram a legislação
educacional, que estruturou e centralizou para a administração federal os
cursos superiores, o ensino secundário e o ensino comercial (ensino
profissionalizante). Essa reforma se restringiu aos níveis de ensino
secundário e superior, os mais procurados pelas elites, não contemplando
o ensino primário ou elementar e o ensino normal, que permaneceram da
alçada dos estados. O Decreto n.º 21.241, de 14 de abril de 1932,
consolidou as disposições sobre a estruturação do ensino secundário
(BRASIL, 1932).
Segundo Souza (2008), o ensino secundário teve sua duração
estendida para sete anos, divididos em dois ciclos. O primeiro, de cinco
anos, era o ensino secundário fundamental, cujo conteúdo enciclopédico
revelava o objetivo de “formação do homem para todos os grandes setores
da atividade nacional”. O outro objetivo era preparar candidatos para o
ensino superior, sendo inerente ao segundo ciclo (o curso secundário
36
complementar), de três anos, dividido por sua vez em três seções, cada
uma correspondente a um grupo de cursos superiores: engenharia e
agronomia; medicina, odontologia, farmácia e veterinária; direito e
educação (depois filosofia), ciências e letras. De acordo com Cunha
(1999), a intenção dessa estruturação era que o ensino secundário deixasse
de ser restrito ao caminho da universidade, atribuindo uma finalidade
educativa geral, porém, mesmo com essa proposta, sua estrutura
continuava sendo um ensino especial, com um currículo fixo e
enciclopédico que não representavam a realidade das camadas populares
no Brasil, mas priorizava uma minoria com condições econômicas e
sociais privilegiadas, contudo, o Brasil mantinha um dualismo essencial
em todas as suas iniciativas educacionais.
Essa tendência da dualidade ganhou maior destaque com a
instituição das Leis Orgânicas do Ensino Secundário de 1942, estabelecido
pelo ministro Gustavo Capanema. O texto da lei explicitava que o ensino
secundário destinava-se às elites condutoras do país e um ensino
profissionalizante destinado à formação da classe trabalhadora, antes da
aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, a Lei Orgânica
do Ensino Secundário (Decreto-Lei n.º 4.244 de 09/04/1942), que
estruturou o ensino no Brasil durante vinte anos.
É que o ensino secundário se destina à preparação das individualidades
condutoras, isto é, dos homens que deverão assumir as responsabili-
dades maiores dentro da sociedade e da nação, dos homens portadores
das concepções e atitudes espirituais que é preciso infundir nas massas,
que é preciso tornar habituais entre o povo (BRASIL, 1942, p. 1).
37
A educação nesse período ocuparia um lugar de destaque dada a
complexidade da sociedade urbano-industrial que estava se consolidando;
a politização frente às questões educacionais foi acompanhada no sentido
de “criar um ensino mais adequado à ‘modernização’ do país, com ênfase
na capacitação para o trabalho e na formação das ‘elites’” (MORAES,
2000, p. 133). A nova elite econômica que emergiu no Brasil seguiu os
modelos do passado, assenhoreando-se do poder político, traduzindo seus
privilégios em leis. O próprio processo de crescimento do ensino estava
ligado a causas sociais e econômicas. Embora o período do Estado Novo
não seja o marco temporal inicial da pesquisa, para fins de um melhor
entendimento sobre as implicações entre a expansão do ensino secunrio
no país e o modelo de educação desenvolvido, interessa abordar esse
período.
No mesmo ano, ocorreu o fim do Estado Novo, com Getúlio
Vargas (1930-1945) sendo forçado a deixar o governo, possibilitando uma
reorganização do bloco político no país. Surgiram novos partidos, com
destaque para a União Democrática Nacional (UDN), congregando a elite
nacional e parte das classes médias urbanas; o Partido Comunista Brasileiro
(PCB), que voltava à legalidade; o Partido Social Democrata (PSD),
composto de grandes fazendeiros e da alta burguesia industrial e financeira,
e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), constituído pelos sindicatos de
trabalhadores que mantinham relação com Vargas. Formaram-se chapas e
se apresentaram os seguintes candidatos à presidência da República: Eurico
Gaspar Dutra, pela coligação PTB-PSD; Yêdo Fiúza, pelo PCB; e o
Brigadeiro Eduardo Gomes, pela UDN. Paralelamente à campanha
eleitoral, crescia um movimento apoiado por Getúlio conhecido por
“Queremismo”, que propunha a continuação de Vargas na presidência até
que fossem realizadas eleições parlamentares e formada uma Assembleia
Constituinte que decidiria qual seria o sistema de governo a ser adotado
38
no Brasil, bem como as regras para a escolha do novo presidente.
Ocorreram novas eleições para Presidente da República, ganhando o
general Eurico Gaspar Dutra, que governou de 1946 a 1951, iniciando a
fase da História brasileira denominada República Populista
7
, que se
estendeu até 1964, quando se iniciou o Regime Militar.
Como afirma Gomes (2007) a denominação de um período
populista foi marcada por uma intensa participação política da sociedade
(todos os segmentos integrados), em uma colisão ideológica que tinha
como pano de fundo o contexto da Guerra Fria. O cenário político
brasileiro se dividiu em dois grupos: os progressistas, que defendiam o
nacionalismo econômico, restrição ao capital estrangeiro, intervenção do
Estado na economia, ampliação de políticas sociais e uma desvinculação
da política externa dos EUA. De outro, havia os conservadores, que
defendiam a não intervenção do Estado na economia, a liberdade do
capital estrangeiro no Brasil e o combate à reforma agrária. Assim, todos
os governos do período foram marcados pela disputa entre progressistas e
conservadores, com um pluripartidarismo expresso nos embates.
Essas remodelações políticas na sociedade brasileira tiveram
reflexos na educação e novas disputas estavam postas no campo
educacional em várias regiões do país; elas refletiam os interesses ligados
às disputas entre o capital nacional e estrangeiro. Em 1946, o Brasil editou
sua quinta Constituição republicana
8
, os debates educacionais que
constituíram as polêmicas na Constituinte tiveram vários vieses,
atravessados pela luta social em curso, de ordem políticas, sociais e
ideológicas, resultando em um debate e consenso ideológico permitindo
a aplicação dos dispositivos legais. As discussões apresentadas estavam
pautadas em problemas educacionais vinculados à religião e à escola
particular, com destaque para questões como a laicidade do ensino, a
39
liberdade do ensino oficial e a responsabilidade do Estado. Na
Constituinte, Agamenon Magalhães (PSD) presidiu a Comissão
Constitucional e a Subcomissão de Ordem Econômica e Social juntamente
com Arruda Câmara (PDC), sendo as correntes conservadoras da educação
que representavam os interesses da Igreja Católica e dos particulares. O
texto constitucional aprovado é um documento político que não teve
maiores inovações. Voltou-se, de certa forma, a 1934. Segundo José
Murilo de Carvalho (2002, p.34):
A Constituição de 1946 manteve as conquistas sociais do período
anterior e garantiu os tradicionais direitos civis e políticos. Até 1964,
houve liberdade de imprensa e de organização política. Apesar de
tentativas de golpes militares, houve eleições regulares para presidente
da República, senadores, deputados federais, governadores, deputados
estaduais, prefeitos e vereadores. Vários partidos políticos nacionais
foram organizados e funcionaram livremente dentro e fora do
Congresso, à exceção do Partido Comunista, que teve seu registro
cassado em 1947. […]. Foram mais de dez anos de intensa luta
política que poderiam ter resultado na consolidação democrática, mas
que terminaram em derrota dos herdeiros de Vargas e também do
primeiro experimento democtico da história do país.
Oliveira (1996, p. 164) comenta que “O Texto de 1946 é limitado
em relação a uma série de questões fundamentais para construir uma
sociedade democrática, mas é preciso reconhecer que foi sob sua vigência
que vivemos quase vinte anos de democracia”. A Constituição de 1946
aprovada trouxe princípios importantes para a educação. No que se refere
à questão das verbas e à responsabilidade do Estado na estruturação e
manutenção do sistema de ensino, estabeleceu como responsabilidade da
40
União “legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional”. Essa
determinação foi influenciada pela Carta Brasileira da Educação
Democrática, aprovada na Conferência Brasileira de Educação, realizada
no Rio de Janeiro de 22 a 28 de junho de 1945, organizada pela Associação
Brasileira de Educação (ABE), considerando a educação democrática
“fundada no espírito da liberdade e no respeito à pessoa humana, assegura
a expansão e expressão da personalidade, proporcionando a todos
igualdade de oportunidades, sem distinção de raças, classes ou crenças, na
base da justiça social e da fraternidade humana, indispensáveis a uma
sociedade formada pelo espírito de cooperação e do conhecimento”
(BRASIL, 1946)
Para dar cumprimento aos dispositivos constitucionais de 1946,
uma comissão de educadores, nomeada pelo governo, elaborou um
anteprojeto de lei que, transformado em projeto em 1948, após tramitar
quase treze anos no Congresso Nacional, deu origem à conhecida LDB
4.024/61 (GARCIA, 1980, p. 132), debate que será travado entre a escola
pública e a escola privada pela hegemonia no campo do ensino.
(...) o direito de todos à educação, obrigatoriedade e gratuidade do
ensino primário. Esses princípios progressistas, no entanto, não
garantiram a universalização sequer da escola primária para todas as
crianças brasileiras, ou seja, a sequência de reformas que vimos,
especialmente nos seus aspectos mais democráticos, pouco saía do
papel. Aliás, um traço recorrente das políticas educacionais brasileiras:
incorporação de princípios democráticos que não chegam a serem
postos em prática. A Constituição de 1946, por outro lado, previu,
pela primeira vez, a elaboração de uma lei específica para a educação
brasileira: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que viria a
ser aprovada apenas em 1961. (GARCIA, 1980, p.141).
41
Das disposições sobre educação foram alteradas as normas
programáticas para a descentralização dos encargos educacionais que se
concentravam na União, passando para os Estados e Distrito Federal,
reconhecendo assim, explicitamente, os sistemas estaduais de ensino. A
Constituição possibilitou aos estados poderem organizar, eles próprios,
seus sistemas de ensino, dentro de um sistema estadual com autonomia
pedagógica. No texto da Constituição estava previsto que:
Art. 169. Anualmente, a União aplicará nunca menos de dez por
cento, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nunca menos
de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenção e
desenvolvimento do ensino.
Art. 170. A União organizará o sistema federal de ensino e o dos
Territórios.
Parágrafo único. O sistema federal de ensino terá caráter supletivo,
estendendo-se a todo o país nos estritos limites das deficiências locais.
Art. 171. Os Estados e o Distrito Federal organizarão os seus sistemas
de ensino.
Parágrafo único. Para o desenvolvimento dêsses sistemas a União
cooperará com auxílio pecuniário, o qual, em relação ao ensino
primário, provirá do respectivo Fundo Nacional.
Art. 172. Cada sistema de ensino terá obrigatoriamente serviços de
assistência educacional que assegurem aos alunos necessitados
condições de eficiência escolar. (BRASIL, 1946).
O contexto político internacional provocado pela Guerra Fria
influenciou as decisões políticas do período. O alinhamento do governo
de Eurico Gaspar Dutra por uma posição com as diretrizes dos EUA
resultou no rompimento de relações com a URSS, indicando assim sua
42
política em direção a uma aliança conservadora, e economicamente liberal.
O campo educacional foi refletido pelas dicotomias políticas do período.
Segundo Vieira (2002, p. 2007):
Assim, não é de se estranhar a convivência entre tendências
conservadoras e liberais, traço marcante do debate traduzido na
Constituição de 1946. Tal característica também se manifesta na longa
tramitação do primeiro projeto de Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), cuja versão final é aprovada em 1961.
Do início até meados do século XX, grande parte da população
brasileira ainda era analfabeta. Em 1900, a população brasileira era de
17.438.434, sendo que 65,3% daqueles que tinham 15 anos ou mais
não sabiam ler e escrever. Em 1950, a população havia crescido para
51.944.397 habitantes. Entre os indicadores educacionais, a taxa de
analfabetismo, em 1940, conforme os censos demográficos, era de 56% da
população brasileira com mais de 15 anos de idade. Esse percentual
diminuiu para 50,5%, em 1950, e 39,6% em 1960 (IBGE, 1950a). Um
dos aspectos que mais marcaram o sistema educacional, a partir de
1950, foi a expansão geral do ensino. No Brasil, as matrículas de ensino
primário e de ensino médio, entre 1920 e 1960, ultrapassaram os índices
de crescimento populacional. Mesmo com esse crescimento, o acesso à
escolarização era limitado para a população.
43
Tabela 1 - Indicadores demográficos e econômicos e taxa de alfabetização (1900-
1950)
Tabela 2 - Evolução do crescimento populacional e da escolarização. População de 5 a
19 anos (1920-1950)
Nesse mesmo período, as taxas de matrículas e os anos de
escolaridade média eram menores que os apresentados por países vizinhos
como Argentina ou Bolívia (KANG, 2011). Sem dúvidas, houve
mudanças na política educacional na passagem entre os distintos regimes,
o Estado Novo e a República Populista de Getúlio. Entretanto, a
persistência do atraso educacional brasileiro e uma minoria tendo acesso à
escola foram os fatos mais marcantes ao longo de todo o período. Nos anos
1950, o país passou por uma euforia modernizadora, com esperanças de
um futuro de “progresso”, superação do passado agrário e oligárquico.
Segundo Barroso Filho (2008, p. 12),
44
[...] convencidos da inevitabilidade do progresso industrial e da
necessidade de democratizar a sociedade brasileira, os missionários do
desenvolvimentismo esforçaram-se para fazer da educação escolar
espelhado nos “países mais adiantados”a alavanca para a instauração
de um futuro pleno de novidades positivas, um futuro moderno. E a
educação escolar era apresentada como um fator decisivo para a
superação da pobreza, da ignorância e do “atraso”. [...].
A escola era difundida como uma forma para superar os muitos
desequilíbrios econômicos e sociais do país. O resultado dessa propaganda
gerou uma atmosfera entre os setores sociais para a ampliação da oferta do
ensino secundário no país. O discurso político, modernizador e
civilizador de que uma escolarização mais prolongada seria a solução não
apenas de futuras mudanças econômicas e sociais, mas asseguraria o acesso
aos desejados postos de trabalho intelectual foram legitimados. Assim, os
anos da “República Populista” foram um tempo privilegiado para
observar os dilemas que emergiram no processo de expansão da escola
secundária, principalmente o confronto entre essa tradição elitista e as
pressões pela sua democratização (BARROSO FILHO, 2008). Os anos
1950 tiveram novos direcionamentos para o ensino secundário, com a
criação da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino
Secundário (Cades), cuja criação objetivava promover as medidas
necessárias à elevação do nível e à difusão do ensino secundário no país.
Para Nunes (1979, p. 48),
o ensino secundário crescia desigualmente em todo o país, sendo
conduzido, no seu alargamento, pela iniciativa particular. A ação
privada, no que diz respeito à generalização do ensino secundário, foi
45
preponderante até meados dos anos 60, embora de modo não tão
marcante como nos anos 40.
Segundo os dados estatísticos de matrícula do ensino secundário, este
ramo do ensino médio teve um aumento de fato entre os anos 1950 e 1960,
preponderantemente, a expansão foi promovida pela iniciativa privada com o aval
constitucional, como já mencionado na Constituição de 1946, realizando-se com
a ausência de uma política educacional voltada para a expansão do ensino
secundário. De acordo com o Capítulo II, do Título VI consagrado à educação e
à cultura, propôs no Art. 167 que: “O ensino dos diferentes ramos será ministrado
pelos poderes públicos e é livre à iniciativa particular, respeitadas as leis que o
regulem. Assim, legitimando a atuação do poder privado.
Tabela 3 - Dados estatísticos da matrícula do ensino secundário
Fonte: Adaptado de BRASIL (1949/1965).
A escola secundária brasileira apresentava, em 1954, uma matrícula
geral de 535.775 alunos, espalhados por 1.771 estabelecimentos de ensino,
conforme dados do Serviço de Estatística do Ministério da Educação e
Cultura. Tomando por base o recenseamento da década de 1950, pode-se
estimar a população brasileira de 12 a 18 anos em torno de 9,1 milhões de
habitantes. Assim, dessa população, teoricamente em idade de frequentar
a escola secundária, cerca de 6% nela estaria matriculada. Em muitas
cidades brasileiras, sentia-se a necessidade de implantar o ensino
secundário e/ou de ampliar a sua oferta. Num estudo sobre a educação
secundária no Brasil, publicado em 1955, Jayme Abreu, utilizando dados
46
do relatório O ensino, o trabalho, a população, a renda evolução em um
decênio, realizado pela CAPES em 1954 verificava que o crescimento de
matrículas do curso em questão, no período de 1933 a 1954, atingira
490% (INEP, 1955, p. 14). No entanto, esse aumento gradativo do ensino
secundário não significava uma real democratização escolar. Além desse
fato, persistiam os altos índices de reprovação e evasão, ou seja, um ensino
marcado pela seletividade (SOUZA, 2008).
A Tabela 4 apresenta como estavam distribuídas às entidades
mantenedoras do ensino secundário no Brasil, entre 1954 e 1958,
apontando o protagonismo do ensino particular como mantenedor do
ensino ginasial no país.
Tabela 4 - Ensino Secundário segundo as entidades mantenedoras no Brasil
Em 1954, foi criado o Fundo Nacional de Ensino Médio, com a
finalidade de auxiliar o desenvolvimento do ensino secundário, apoiando
47
os estabelecimentos privados por meio de financiamento de bolsas de
estudo e, em 1959, teve início uma campanha liderada pelos liberais em
defesa da escola pública (apoiada por intelectuais, estudantes e
sindicalistas), culminando com o Manifesto dos Educadores mais uma vez
convocados, que se opunha às posturas elitistas dos católicos, responsáveis
pela maioria dos estabelecimentos privados de ensino (SOUZA, 2008, p.
65). Esse manifesto propunha que os recursos públicos fossem utilizados
unicamente nas escolas públicas e também requeria fiscalização estatal para
as escolas privadas. O cenário educacional precisava ser remodelado para
atender à demanda reivindicada pela real democratização do acesso ao
ensino pós-primário e o governo, nesse sentido, tomou duas tendências
como alternativa para a expansão. Segundo Abreu (1955, p. 10), a posição
oficial se destacou em:
a) a de expansão da rede escolar secundária oficial;
b) a de expansão da rede escolar secundária através de auxílios do poder público,
sob forma de bolsas a alunos, suplementação de vencimentos de professores,
cursos de aperfeiçoamento, auxílios e subvenções a estabelecimentos
secundários, estímulo à instituição de “Fundações mantenedoras de escolas
secundárias, com a conjugação de recursos públicos e particulares.
De acordo com Souza (2008), devido a intensa expansão do
secundário nas décadas de 50 e 60 os problemas desse ramo de ensino
tiveram que ser reformulados. A crítica de intelectuais e educadores em
relação a desordenada expansão sem um comprometimento da qualidade
do ensino foi tema de um debate promovido por Anísio Teixeira e
Florestan Fernandes na década de 1950. A reflexão deles estava centrada
na necessidade de relacionar educação e desenvolvimento; além disso,
48
criticavam o modelo de escola existente no país, baseado no
conservadorismo e no privilégio das elites “[...] divorciada do ambiente,
neutra diante dos problemas sociais e dos dilemas morais dos homens,
incapaz de integrar-se no ritmo de vida de uma civilização em mudança”.
Como dizia Florestan Fernandes (1996) a defesa da escola pública e
gratuita para toda população, independentemente da sua origem social dos
alunos visando à construção de um Brasil desenvolvido e democrático,
foram bandeiras levantadas por esses educadores também. Em
Pernambuco essa luta foi travada inicialmente pelas ações dos estudantes
secundaristas, juntamente com a imprensa, reivindicando mais celeridade
do poder público na responsabilidade em assumir criação de escolas
gratuita.
1.1 A Campanha do Ginasiano Pobre: uma iniciativa de Pernambuco
A problemática do acesso ao ensino secundário no Brasil não se
limitava apenas à questão da desigualdade inter-regional, haveria também
a predominância de instituições privadas legitimando politicamente as
ausências de um projeto político nacional para a difusão do secundário.
Não havia entre os Poderes Públicos uma proposta definida e lúcida de
atendimento das necessidades educacionais de que o país estava
precisando.
Pernambuco não se diferenciava dos outros estados brasileiros
quanto à baixa quantidade de estabelecimentos de ensino secundário,
especialmente os públicos, que tinham oferta muito restrita. Em 1945,
segundo os dados da Divisão do Ensino Secundário, havia em todo o país
548 ginásios e 289 colégios, totalizando 827 estabelecimentos.
49
Pernambuco era um dos estados nordestinos com maior índice de
estabelecimentos ginasiais (BRASIL, 1959). Porém, a região Nordeste
sofria com o espectro da desigualdade prevalecente no país. Segundo
Geraldo Bastos Silva (1969), num estudo pioneiro sobre a expansão do
ensino secundário no Brasil, assinalou a necessidade de considerar as
diversidades regionais ligadas, entre outros aspectos, ao desenvolvimento
econômico e social do país, especialmente por ser o Brasil um país que
apresentava, tanto em educação como em outros setores, acentuadas
desigualdades internas.
Algumas explicações sobre esse grau de desigualdade se referem a
um contexto de descentralização da arrecadação fiscal e de
responsabilidade de investimento educacional no nível dos estados.
Regiões exportadoras de café como era o caso da região Sudeste
dispunham de um volume maior de recursos, possibilitando maior
investimento em educação. O Nordeste, com suas produções de açúcar,
algodão e tabaco, tinha receitas limitadas, inviabilizando grandes
investimentos em educação.
Tabela 5 - Ensino secundário no Nordeste (1945)
Fonte: Adaptado de INEP (1945).
50
Assim, na ausência de políticas públicas que buscassem redistribuir
a educação de forma mais igualitária entre as regiões, a desigualdade
regional prevaleceu. As regiões com maiores estabelecimentos educacionais
durante as décadas de 1950 e 1960 concentravam-se na região Sudeste-Sul
do Brasil. Em 1954, São Paulo tinha 456 escolas de nível ginasial, sendo
198 públicas; Minas Gerais tinha 369 unidades escolares; as regiões Norte
e Nordeste tinham números restritos comparados às outras regiões, sendo
a maioria particulares confessionais. De acordo com Silva (1969, p. 45),
60% da matrícula total do ensino secundário e 56,4% do total de
estabelecimentos para esse nível de ensino estavam concentrados na
região Sudeste, com maior percentagem de população urbana e com
predomínio da indústria, além da agropecuária e extração. o
Nordeste (com economia predominantemente ancorada na
agropecuária e na extração), concentrava em apenas 18,37% da
matrícula total no secundário e 20,85% dos estabelecimentos de ensino
secundário do país. Números que se aproximam dos apresentados pela
região Sul, mas que revelam a baixa oferta desse nível de ensino no
Nordeste quando se considera o contingente demográfico das duas
regiões: 31,6% no Nordeste, contra 16,73% na região Sul, que no
período era, ainda, mais urbanizada.
Como bem assinala Barroso Filho (2008) em meados do século xx,
a educação escolar era apresentada como um fator decisivo para a
superação da pobreza, da ignorância e do “atraso”, sendo propagandeada
como uma espécie de remédio para superar os muitos desequilíbrios
econômicos e sociais do país. Nesse sentido, o ensino secundário
despontou-se como um tipo de escolaridade imprescindível para a ascensão
social, resultando em pressão social para a sua ampliação.
51
O ensino particular era responsável por 80% das matrículas do
ensino secundário existente no país, por isso Barroso Filho (2008), tem
razão ao afirmar que o acesso aos estudos pós-primário era, na prática, um
privilégio daqueles que podiam pagar mensalidades escolares. Àqueles que
não dispunham de condições para se sustentar em escolas privadas, restava
ou prestar concurso de admissão aos poucos ginásios gratuitos então
existentes, ou postular bolsas de estudo para frequentar escolas particulares
sem pagar (ou pagando mensalidades). Apesar das reivindicações de grupos
da sociedade civil de maior presença do Estado na expansão da oferta de
vagas em escolas públicas secundárias, esse papel era muito tímido.
É interessante trazer nesta seção a iniciativa proposta pelos
estudantes de Direito residentes na Casa dos Estudantes de Pernambuco,
os quais se uniram motivados pela luta em defesa da expansão dos cursos
secundários criando a Campanha do Ginasiano Pobre
9
, pressionando os
Poderes Públicos e a sociedade no sentido da democratização do acesso a
esse vel de escolaridade. Segundo Souza (2005), com o
desenvolvimento dessa Campanha, os estudantes exerceram um papel
social bastante significativo na história da escola secundária
pernambucana; tal movimento surgiu em 1943, em Pernambuco.
Conforme já foi mencionado, no final dos anos 1940, teve início o longo
processo de tramitação da LDB, no qual houve intensos debates sobre as
questões referentes ao social e a educação na sociedade brasileira, sendo um
período de muita efervescência no estado de Pernambuco em torno da
expansão dos cursos ginasiais.
A pressão para acesso à educação era emergente tanto para as
camadas da classe média, como para as classes populares, que viam no
ensino secundário prestígio e ascensão social. A situação que se apresentava
em Pernambuco era delicada, provocando até mesmo greve dos alunos
52
secundaristas, como ocorrida em 1945, ocupando a manchete dos jornais:
“Terminou a greve dos estudantes secundários com enfrentamento da
polícia” (TERMINOU A GREVE..., 1945). A greve, além de protestar
contra a majoração dos preços do ensino, também tinha como pleito à
gratuidade do ensino secundário, uniformidade dos livros para que fossem
reaproveitados a limitação das reformas que geravam confusão no ensino
ministrado nas escolas.
O protagonismo dos estudantes pernambucanos em defesa da
ampliação de oportunidades educacionais no secundário foi notável. Além
do movimento da Campanha do Ginasiano Pobre; outro grupo de
estudantes criou em 1948 o Conselho da União dos Estudantes
Secundários de Pernambuco, que se propôs a instalar o Congresso Anual
de Estudantes Secundários, cujo objetivo era defender os interesses da
classe em prol de ações de acesso ao ensino secundário e eleger a nova
diretoria daquele órgão, seguindo as atribuições a ela conferidas pelos
estudantes. Importante destacar que os jornais foram um campo de
estratégia para a legitimação do campo educacional.
A fundação da Campanha do Ginasiano Pobre aconteceu no dia
29 de julho de 1943, sendo a primeira reunião realizada na Casa do
Estudante de Pernambuco, momento em que a ditadura imperava com os
princípios do nacionalismo na educação, refletindo as transformações
operacionalizadas no país com o intuito de atender a industrialização e o
novo Estado autoritário. O movimento fundamentava-se em ideias
patrióticas e foi constituído com outros setores da sociedade pernambucana
(comerciários, industriários, políticos, etc.). A propósito, Vieira (2007)
afirma que as políticas podem-se manifestar em qualquer nível, e não
apenas no âmbito do governo central, isto é, ela está presente também na
criação de sociedades em redes para estabelecer uma ação. Nesse caso, a
53
rede de agentes que mobilizou a ação tinha como proposta iniciar o acesso
ao ensino secundário gratuito, e seu idealizador, Tiago Gomes, baseou-se
nos pensamentos de John Gunther e no trabalho de Haya de La Torre
10
.
Na ocasião, a oferta escolar em Pernambuco seguia a tendência no
país, ou seja, era monopolizada pela iniciativa privada mantida por uma
diversidade de ordens religiosas, ou em alguns casos pelo município
cobrando taxas de matrículas para a sua manutenção. A precariedade de
escolas secundárias públicas se efetivava na oferta dos únicos
estabelecimentos de ensino público mais antigos de Pernambuco, o
Ginásio Pernambucano e o Instituto de Educação de Pernambuco,
consideradas instituições tradicionais e centenárias.
Se tratando de ações iniciais para divulgação da Campanha, de
acordo com o relatório das reuniões da CGE, destaca inicialmente, o
Teatro do Estudante de Pernambuco
11
como veículo de propaganda da
incipiente Campanha, sob a responsabilidade e direção de Joel Pontes e
Severino Florencio Teixeira, estudantes secundaristas. O teatro realizava
apresentações pelo interior do estado disseminando as ideias cenegistas. No
entanto, essa atuação foi breve, pois em 1945, devido ao seu
desenvolvimento o teatro passou a ser um movimento autônomo sob a
direção dos Diretórios Acadêmicos, posteriormente sob a direção de
Hermilio Barbosa Filho.
A fundação do primeiro ginásio gratuito dessa associação ocorreu
em agosto de 1944, com a instalação do Ginásio Castro Alves. Esse ginásio
iniciou seu funcionamento em uma sala, cedida pelo Sindicato dos
Contabilistas de Pernambuco, onde não havia cadeiras nem carteiras, razão
pela qual os alunos assistiam às aulas de pé (RELATÓRIO..., 1950). Com
a precarização da estrutura, os estudantes recorreram ao interventor
Agamenon Magalhães e, como este não concedeu financiamento,
54
obtiveram auxílio do Dr. Valdemar de Oliveira, cedendo trinta
tamboretes. A campanha sem apoio do Estado seguiu a propagação pelo
interior do estado, obtendo auxílio financeiro com as apresentações
teatrais. Foram além, estenderam-se para João Pessoa, no estado da
Paraíba, onde o teatro o obteve o mesmo êxito, mas recebeu auxílio do
interventor Rui Carneiro, oferecendo dois mil cruzeiros. A atividade
cultural como forma de divulgação não se restringiu apenas ao teatro,
mensalmente era divulgado o Boletim da Campanha, com a colaboração
dos intelectuais Gilberto Osorio, Arnobio Graça, Valdemar de Oliveira,
Ascenso Ferreira e Aníbal Bruno.
Depois da criação, era necessária a oficialização do estabelecimento
de ensino e instalações dignas de modo a oferecer meios adequados ao
ensino do curso ginasial. Portanto, em 1945, setenta alunos preparados
para se submeterem aos exames de admissão esperavam o reconhecimento
do educandário. No mesmo ano, seguiram para o Rio de Janeiro os
estudantes Felipe Tiago, Gomes Genivaldo Wanderley e Suarez Gomes
Lopes, a fim de conseguirem apoio das autoridades do Ministério da
Educação, onde tiveram um encontro com Gustavo Capanema para o
reconhecimento oficial do Ginásio, mas não obtiveram êxito. Mesmo sem
reconhecimento oficial, foram realizados os exames de admissão e teve
início a primeira série, no prédio do Instituto Pernambucano. O
movimento teve apoio de muitos homens públicos, atores políticos,
comerciantes, industriais e educadores. É importante destacar que a criação
desses ginásios era uma constituição privada e pública, pois haviam
associados que contribuiam com valores mensais para a Campanha.
O relatório do V Congresso Nacional da CNEG, historiando esses
fatos, diz que, partiram para o Rio, em janeiro de 1946, em um navio de
terceira classe, os acadêmicos Felipe Santiago Gomes, José Guimarães e
55
Martins. Já agora traziam a declaração do professor Aluízio de Araújo,
Diretor do Colégio Osvaldo Cruz
12
que, atendendo aos anseios do
estudante Cauby de Oliveira, o professor cedia o prédio à noite para o
funcionamento do Ginásio Castro Alves. Assim, o primeiro Ginásio
Gratuito de Pernambuco começou a funcionar oficialmente. Nesse mesmo
ano de 1946, a Campanha dos Ginásios Populares passou a denominar-se
de Campanha Nacional de Educandários Gratuitos. Em 1954, a CNEG
contava com 87 Ginásios funcionando regularmente, reconhecidos pelo
Governo Federal, distribuídos por vários estados.
Tabela 6 - Estabelecimentos de Ciclo Ginasial no Brasil
Fonte: Adaptado de PERNAMBUCO (1954a).
56
O estado de Pernambuco foi o marco inicial da Campanha surgida
em 1943, com esforço da comunidade estudantil pernambucana com
associação de outras entidades da sociedade, entretanto, em comparação
com outras Unidades da Federação, os estabelecimentos ginasiais se
desenvolveram pouco nessa unidade da federação. Em Pernambuco, estava
em funcionamento, de acordo com o relatório citado acima, em sete
ginásios da campanha, compreendendo 825 alunos matriculados.
Tabela 7 - Ginásios da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos em
Pernambuco
Fonte: Adaptado de PERNAMBUCO (1954b).
Desde os anos 1940, pode-se perceber que a luta em Pernambuco
pela expansão da escola secundária emerge no seio das classes populares.
Na opinião de Barroso (1998, p. 45), “a iniciativa da Campanha de
Educandários Gratuitos (depois Campanha Nacional de Escolas da
Comunidade) CGP é apenas um dos episódios de um elenco de
tentativas de aproximar as camadas populares da escola média e
secundária”. Essas escolas se caracterizavam pela precariedade: “[...] a
maioria não era reconhecida, os seus professores não tinham registro e
recebiam salários irrisórios; a maioria absoluta era de escolas noturnas
funcionando em prédios cedidos por grupos escolares” (BARROSO
57
FILHO, 2008, p. 66). Essas escolas se espalharam por todo o Brasil,
chegando a constituir 257 unidades (a maioria ginásios secundários) em
todo o território nacional.
A dinâmica de ampliação dos ginásios da CENEG ocorrido em
outros estados, não foi bem sucedido em Pernambuco. Tendo em vista que
os ginásios da Campanha eram constituídos por diversos atores que eram
associados da entidade como também instituições envolvidas sendo elas,
privadas e religiosas. Segundo Bourdieu (1983), os campos são formados
por agentes, que podem ser indivíduos ou instituições, os quais criam os
espaços e os fazem existir pelas relações que estabelecem. Essa pequena
expansão dos ginásios da Campanha em Pernambuco pode ser apontada
como consequência de uma forte ação política do governo do Estado, dos
convênios estabelecidos com a União na criação de ginásios, como também
do outro lado, tínhamos as subvenções disponibilizadas para as prefeituras
dos ginásios municipais criados no interior. Portanto, podemos inferir que
as ações da Campanha não prosseguiram devido à disputa entre os campos.
1.2 A expansão em circuito: os primeiros acordos
A expansão dos ginásios em Pernambuco envolve diversas
instâncias a serem compreendidas. Tratava-se de um desejo do imaginário
social de ascensão na educação dos filhos? Criava-se para uma educação de
formação profissional? Estabeleceu-se com a crescente necessidade do
ensino primário? A História da Educação brasileira ainda não conseguiu
esclarecer as lacunas que nossa educação ainda carrega, além das grandiosas
diferenças regionais que nosso país constitui e suas desigualdades
alimentadas por décadas na sociedade por ausência de políticas e reformas
58
educacionais. A expansão dos ginásios em Pernambuco foi um processo
que ocorreu tardiamente, comparado a outros estados brasileiros e contou
com a participação de vários atores políticos e sociais, destacando-se a
Campanha dos Educandários Gratuitos e a atuação expressiva dos
municípios.
Com o fim do Estado Novo, o cenário político de Pernambuco
estava inserido em reajustamentos, como a mudança de regime político,
a predominância política dos “coronéis” presente em um modelo
democrático ainda frágil em meio à persistência de dispositivos ditatoriais
e às práticas autoritárias. A cristalização do Estado Novo ainda ressoava na
sociedade pernambucana.
De 1945 até 1948
13
, o governo de Pernambuco esteve muito
instável; passaram pelo Palácio do Campo das Princesas quatro
governadores: José Neves, José Domingues da Silva, Amaro Gomes
Pedrosa e Otávio Correia de Araújo. A situação financeira do estado era
muito difícil, o orçamento foi deficitário em vários anos, com
enfrentamento de problemas sociais, como a seca, e sem apresentação
de planos educacionais (ANDRADE, 1999, p. 34).
Durante a interventoria do José Neves Filho (1946), foram instituídos no
Ginásio da Escola Normal Oficial os cursos clássico e científico, além da
criação da Faculdade de Filosofia nos moldes da congênere nacional, com
o objetivo de preparar candidatos ao magistério Secundário ou Normal.
Segundo o interventor, a proposta de criar esses estabelecimentos era de
que a educação tinha função de exercer “à pesquisa nos diversos
domínios culturais”, além da qualificação de trabalhadores intelectuais
para o exercício das altas atividades culturais de ordem desinteressada ou
técnica (ANDRADE, 1999, p. 48).
59
Na década de 1940, Pernambuco contava com 2.878.000 de
habitantes, predominando uma população jovem. Estimava-se que havia
781.722 pessoas de 0 a 9 anos de idade; de 10 a 19 anos esse número era
649.298; de 20 a 29 anos existiam 465.957 pessoas (IBGE, 1950a ).
Tratava-se portanto, de um estado visivelmente jovem, com acesso escolar
restrito ou inacessível para boa parte da população.
Ao se tratar de transformações na escolarização, Pernambuco
buscou acompanhar o debate travado no final dos anos 1940 e início dos
anos 1950 em torno da euforia modernizadora, como forma de combater
o “atraso, a ignorância e o rural” que o país passava e deveria superar ao
levantar o lema de progresso e desenvolvimentismo.
Apesar do discurso populista de modernização, a realidade
educacional era outra, os altos índices de analfabetismo da população
pernambucana que não sabia ler nem escrever, segundo dados do
recenseamento geral, era de 1.690.422 (IBGE, 1950b).
A população escolar primária no Brasil em 1949 seguia
aproximadamente de seis a sete milhões. Infelizmente, a matrícula nas
classes primárias era pouco superior a quatro milhões. Havia um deficit
que precisava ser erradicado, sendo necessário um sistema escolar que
abrangesse toda uma vida escolar. Havia estados que não atendiam
teoricamente a 75% de sua população em idade escolar; outros
apresentavam déficit teórico entre 60 e 70%; poucos estados apresentavam
deficits inferior a 50%. Minas Gerais e Bahia, por exemplo, teoricamente,
apresentavam, cada um, 400 mil crianças fora das escolas; Pernambuco,
mais de 200 mil; Ceará e São Paulo, cerca de 200 mil cada um (INEP,
1949).
A discussão sobre a atenção que o Governo deveria dar aos
problemas educacionais no país foi intensa no final dos anos 1940. A
60
elaboração de um projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional foi postulada como uma proposta que definiria a política
educacional no país. Era necessária uma melhoria na oferta escolar, como
também diretrizes para os Estados seguindo uma política educacional. Na
mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da
República, General Eurico Gaspar Dutra, na abertura da sessão legislativa
em 1948. Ele assinalava que:
É forçoso reconhecer, porém, que nesse aumento de iniciativas, a
participação dos empreendimentos oficiais foi mínima, cabendo à
cooperação privada mais de 80% do total de escolas e alunos.
Cumpre, ainda, corajosamente registrar que, pela extensão e
variedade de aspectos sociais que apresenta o Brasil, ou órgãos federais,
excessivamente centralizados, não raro exerceram, até 1946, com sua
atitude predominantemente fiscalizadora, ação de completo
desestimulo (BRASIL,1948).
O projeto de ampliação da rede escolar no Brasil, apresentado pelo
Ministério da Educação, sob a direção de Clemente Mariani, propôs, em
parceria com o INEP, que em fins de 1949 o governo deveria ter
financiado a construção de 6.120 prédios escolares para as zonas rurais;
220 grupos escolares para os distritos e vilarejos; dez internatos rurais. Essa
proposta melhoraria o quadro educacional de alguns Estados.
Nestes poucos anos do Distrito Federal ao Amazonas, de Minas ao Rio
Grande do Sul, em todos os Estados, em todos os territórios, estendem
construções financiadas pelo governo federal: somam 6.160 escolas, e
mais 1.500 serão distribuídas em 1950. E como faltem professores, em
número aproximado de cem mil, o INEP estuda, ao lado das escolas
61
rurais e dos grupos, o auxílio que deve ser dado para construção de
escolas normais, especialmente na zona rural (INEP,1949b, p. 289).
Em nível estadual, no caso de Pernambuco, esses programas de
ampliação dos prédios escolares efetivaram-se em vários acordos
estabelecidos durante o ano de 1948. O marco de uma política educacional
para a expansão dos ginásios oficiais no interior de pernambucano é
estabelecido pelo acordo firmado entre os Governos do Estado e da União
na oportunidade da visita do Presidente da República a Pernambuco, em
3 de julho de 1948, e os debates políticos que seriam travados pelos atores
político , em conjunto com as ações propostas pela atuação dos municípios.
O primeiro acordo, datado de 12 de janeiro, foi firmado entre o
Governo do Estado e o Ministério da Educação para a criação de cem
prédios escolares para a educação primária. O ministro da Educação,
Clemente Mariani, juntamente com o deputado Jarbas Maranhão, assinou
esse acordo credenciado pelo Governo de Pernambuco, assegurando a
concessão de Cr$ 60 mil o custo de cada prédio. Nesse acordo, exigia-se
que os prédios fossem construídos nos municípios indicados no mapa geral
que o Instituto de Estudos Pedagógicos (INEP) elaborava, tomando como
referência o deficit da população em idade escolar.
É interessante observar que os acordos estabelecidos sobre a
educação em Pernambuco constituíam um movimento bilateral, isto é, o
debate sobre a expansão dos ginásios pressupunha crescimento do ensino
primário no estado. Em 1945, havia em Pernambuco 37
estabelecimentos de ensino secundário, sendo 20 unidades com o curso
ginasial e 17 com o curso ginasial e colegial, de domínio particular
62
distribuídos no interior, mas com concentração na região metropolitana
(O ENSINO SECUNDÁRIO NO BRASIL, 1945).
O clima de fermentação política que se instaurou durante esse
período em torno do movimento em defesa da criação de ginásios públicos
foi intenso, e estava associado a sendo um projeto de nação, no qual a
educação desempenhava papel fundamental, isto é, ela poderia inserir o
povo na cultura nacional em consonância com o projeto
desenvolvimentista. A oportunidade para a implantação do ginásio no
interior mobilizou a classe política, que também se aproveitava para
transformar essa pauta como estratégia eleitoral mobilizando os
municípios que necessitavam dos ginásios. Embora Barroso Filho (2008)
tenha estabelecido como marco da expansão dos ginásios a abertura dos
cursos noturnos no Instituto de Educação e no Colégio Estadual, em 1949,
considera-se que neste estudo outro marco relevante foi entre o governo
estadual e a União, pois possibilitou a ampliação das oportunidades de
escolarização para parte da população que ansiava por vagas gratuitas no
curso ginasial.
Em relação ao ensino secundário, o acordo concedia o auxílio para
a construção de três edifícios destinados ao ensino normal a serem
estabelecidos nos municípios de Afogados da Ingazeira, Floresta e
Salgueiro. Tais recursos eram destinados à instalação de Escolas Normais
Rurais funcionando sobre o regime de internato e externato, mantendo
ainda Cursos Práticos de Comércio. O acordo previa também um
montante de Cr$ 600 mil para construção de um prédio destinado ao 1.º
ciclo do curso secundário, no interior do estado. O ginásio deveria ser
instalado em uma área de 250 mil metros quadrados, construído de acordo
com as especificações e plantas do Ministério da Educação e manter
também um curso Prático de Comércio (PERNAMBUCO, 1951).
63
Pode-se dizer assim, que o início da expansão dos ginásios em
Pernambuco foi feito articulações políticas, somavam-se às verbas da
Campanha Nacional do Educandário Gratuito a contribuição do poder
estadual e o convênio com o Ministério, além da contrapartida das
prefeituras e as contribuições até financeiras da sociedade civil. Por
exemplo, a Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG) que
passou a receber auxílio por meio da Lei Federal n.º 1.490 de 1951. Em
Pernambuco o Ginásio Olavo Bilac de instituição mantenedora privada e
religiosa estava entre os educandários que receberam verba do governo
federal.
Art. 1.º É concedido à Campanha Nacional de Educandários
Gratuito com sede na cidade de Recife, Estado de Pernambuco, o
auxílio de Cr$ 1.770.000,00 (um milhão, setecentos e setenta mil
cruzeiros) destinado a custear a manutenção dos seguintes
estabelecimentos de ensino:
h) Ginásio Olavo Bilac, em Sertânia, Estado de Pernambuco.
50.000,00 (PERNAMBUCO, 1951, n.p.).
14
Em 1948, também foi criada a Lei n.º 372/1948 de autoria do
deputado José de Pontes Vieira (PSD), estabelecendo o regime de
subvenção aos estabelecimentos de ensino secundário e normal localizados
nos municípios do interior do estado. O regime de subvenção visava
preservar os educandários no seu aparelhamento eficiente, fazendo-os
manter gabinete médico e dentário, biblioteca, cooperativa, de consumo,
etc. Metade da soma fixada pelo governo deveria ser empregada em
matrículas gratuitas a candidatos de comprovada pobreza. Não era um
regime comum de subvenção, mas um convênio para a realização de
64
determinadas obras que o Governo do Estado considerasse mais necessária
para o melhoramento e aperfeiçoamento dos ginásios do interior do estado.
Dos estabelecimentos favorecidos pela Bolsa Escolar prevista na lei,
foi celebrado um a cordo especial com: o Ginásio de São José (Nazaré da
Mata), o Ginásio de Caruaru, o Ginásio Regina Coeli (Limoeiro), o
Ginásio de Limoeiro, o Ginásio Santa Cristina, todos de instituição
particular, e o Ginásio Municipal de Barreiras de iniciativa da prefeitura
do município de Barreiras na região da zona da mata.
No mapa a seguir (Figura 1), tem-se a ilustração da distribuição de
escolas secundárias públicas ginasiais no estado de Pernambuco até 1948,
a compreendendo os dois ginásios no interior do sertão, no município de
Serra Talhada e Sertânia, e as duas instituições na região metropolitana do
Recife (Colégio Estadual Pernambucano e Instituto de Educação). A
iniciativa de criação dos primeiros ginásios públicos no interior gerou
polêmicas levando deputados e representantes locais de vários municípios
disputarem a instalação deles em suas localidades, propondo
requerimentos e projetos de lei a respeito da localização do ginásio com o
Ministério da Educação.
65
Figura 1 - Municípios pernambucanos com ginásios públicos em 1948
Fonte: Da autora.
Nunes (2000) afirma que, no estado de São Paulo às populações
urbanas das classes médias pressionaram os líderes políticos populistas
obrigando-os a institucionalizar os movimentos reivindicatórios,
transformando a abertura de ginásios públicos em bandeira de luta nas
câmaras estaduais e municipais. Em Pernambuco ocorreu algo semelhante,
as décadas de 1950 e 1960 foram marcadas por um avanço nas políticas de
financiamento da educação secundária nesse estado e por ações do Poder
Legislativo, como mostram os dados estatísticos analisados no capítulo
seguinte.
No levantamento realizado na Alepe, foi possível encontrar 35
documentos referentes a projeto de lei, decreto-lei relacionados à criação
de ginásios, entre os anos de 1948 a 1963. Dos 35 projetos, sete foram
proposto pelo Poder Executivo e 26 foram apresentados pelo Legislativo.
Consegui ter acesso a 19 projetos de leis, sendo possível analisar as
justificativas e a autoria. Tais projetos foram debatidos e aprovados, sendo
de naturezas diversas, como a criação de cursos ginasiais, subvenções,
bolsas-escola e abertura de crédito para prefeituras manterem os ginásios
66
municipais, além de convênios com a União. Essa diversidade de propostas
permite inferir que não havia um tipo de política pública destinada à
educação do ensino secundário. Isso se dava também por ausência de um
projeto educacional nacional que estabelecesse diretrizes gerais. Somada a
essa ausência, havia forte influência de uma política coronelista e a
influência da Igreja Católica atuando no campo educacional.
O que é evidente na questão pernambucana é o hibridismo de
ações políticas que destinadas à educação, eram compostas por vários atores
envolvidos na criação dos ginásios, com tons diferentes, efetivados de
acordo com o programa de governo de cada representante. De acordo com
Bourdieu (1983), o que determina o campo é a dinâmica utilizada por
meios diferenciados conforme a estrutura do campo de forças. Destaco a
participação estratégica da imprensa, agente do campo político em divulgar
à população as discussões em torno das criações dos ginásios, como
mostrando também o debate em torno da importância educacional para
o município. Nessa diversidade de ações, o ginásio era o objeto de disputa
política.
67
Capítulo 2
Disputas em Torno da Criação dos Ginásios Públicos em
Pernambuco
Quando pensamos na esfera política, nos atores e instituições é
necessário compreender a dimensão social que eles estabelecem e como as
ações que eles exercem no seu campo político refletem no espírito público.
Segundo Rémond (2003), o campo político é o lugar de gestão da
sociedade, é ele que dirige, em parte, as outras atividades, define seu status,
regulamenta seu exercício, ou seja, é o ponto para onde incide a maioria
das atividades sociais. Não há fronteiras fixas, ele absorve a esfera privada,
pública, religiosa, educacional e cultural. O campo político é uma
extensão da coletividade territorial, que não se limita ao Estado, mas
também a outros setores que o integram.
As ações que ocorreram para a criação dos ginásios em Pernambuco
contaram com o político, e com os projetos de leis apresentados pelos
deputados na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Como já foi
mencionado anteriormente, o ano de 1948 teve uma importância
significativa para os primeiros debates em torno do convênio firmado entre
o Estado e a União, sob o governo de Barbosa Lima Sobrinho (PSD) que
deu bastante ênfase na educação e saúde. Havia influência do debate
68
nacional instituído pelo ministro da Educação, Clemente Mariani, sobre a
reforma geral da educação inspirado em doutrinas sociais. Sendo assim, em
Pernambuco pautou-se nas questões regionais e educacionais, seja por
influência política ou pressão da população.
Segundo Santos (1994), a literatura política produzida sobre
Pernambuco, em quase toda a sua totalidade, tem chamado a atenção para
a existência de um padrão político bipartidário e um comportamento
eleitoral marcado por uma clivagem ideológica. Pernambuco é dotado de
uma tradição política bipolar, ou seja, as disputas eleitorais majoritárias
ocorreram frequentemente entre dois partidos políticos que centralizavam
entre si o jogo eleitoral.
O confronto bipartidário, e a predominância de dois partidos no
estado foi apontado como um fenômeno que surgiu especialmente a partir
de 1946, quando o país, após o fim do Estado Novo varguista, ingressou
na sua fase de redemocratização. Nesse período, o confronto ocorreu entre
o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional
(UDN), que representavam interesses oligárquicos e lutaram pela
conquista da maioria absoluta dos votos. Sob a liderança de Agamenon
Magalhães, o PSD dominou o poder em Pernambuco.
Em relação à clivagem ideológica, Azevedo (1990) esclarece que
ela se encontra presente na competição democrática regional desde o final
da década de 1950, quando o estado passou por um período político e
socialmente agitado com a emergência dos movimentos camponeses e a
inclusão, na agenda política, da questão desenvolvimentista, nacionalista e
reformista. Segundo Hippolito (1985, p. 37):
69
O PSD foi o mais importante partido do regime da Constituição de
1946 (mil novecentos e quarenta e seis). Por sua atuação e influência
na própria dinâmica do processo político, pode-se dizer que o PSD deu
o tom da política brasileira do período. Este partido teria sido a espécie
centro de estabilidade do sistema partidário pluralista, entre as forças
centrípetas da União Democrática Nacional (UDN) e do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). O PSD constituía um partido de
coronéis do Agreste e do Sertão, em oposição à UDN, com os barões
do açúcar, usineiros e senhores de engenho da Zona da Mata e Litoral,
além da aristocracia tirada do poder pela revolução de
30.
Pernambuco, no início da década de 1950, sofreu mudanças
em diversas áreas, como a política, a econômica e a cultural.
Com a tomada de posse de Barbosa Lima Sobrinho
15
(1948),
depois de um ano de enfrentamentos para assumir o cargo de
governador, o Estado se viu caminhando para uma instabilidade
administrativa.
A predominância da “política dos coronéis”
16
em um modelo
democrático ainda frágil era presente nas estruturas sociais da sociedade
pernambucana; a população altamente analfabeta, com uma população de
3.395.766 habitantes, vivia uma crise sócio econômica decorrente da seca
e dificuldade energética. Além disso, nessa década, a economia
pernambucana já não ocupava a posição que a fazia enquanto Província
nos séculos anteriores um dos esteios da nação. A economia urbano-
industrial oferecia um novo suporte à produção cultural e os arautos do
Brasil moderno exigiam uma nova cultura, uma nova educação, uma nova
escola (BARROSO FILHO, 2008).
Em mensagem apresentada a Alepe em 1950, Barbosa Lima
Sobrinho destacou a reorganização educacional levada a termo pelo seu
governo com destaque para a criação da Secretaria de Educação e Cultura,
70
pela Lei n.º 466, de 22 de abril de 1949 resultado do desmembramento
da antiga Secretaria de Saúde, Educação e Cultura. No documento, ele
sinaliza as dificuldades em nível de estruturamento dos órgãos.
Se há setor que muito se desenvolveu em Pernambuco foi o da
Instrução Pública. A princípio, estava subordinado à Secretária do
Interior; depois, viu-se que não era possível permanecer ligado a essa
secretaria, de tal modo os problemas se acumularam e foram se
tornando cada vez mais complexos. Impõe-se, deste modo o
desmembramento dos serviços, com a criação da Secretaria de Saúde e
Educação. Mas foi uma solução provisória, pois tanto a parte de Saúde
Pública quanto a de Educação só fizeram aumentar de importância e
extensão, sobretudo depois de novos serviços decorrentes dos
convênios federais. A exposição de motivos enviada à Assembleia
Legislativa mostrou que depois de termos instalado a Inspetoria de
Instrução Pública, passado em seguida pela Diretória cnica e
finalmente pelo Departamento de Educação, os serviços não se
organizaram conforme convinham as prementes necessidades da
população e aos imperativos da moderna ciência pedagógica
(PERNAMBUCO, 1950).
O ensino secundário esteve no centro dos debates sobre a
ampliação da escolarização e dos discursos de progresso social por meio da
educação. As articulações iniciadas em torno da interiorização da educação
em Pernambuco se travariam a partir das batalhas políticas para a criação
do Ginásio de Sertânia, localizado na cidade de Sertânia na zona do
sertão pernambucano, significando uma longa espera para o ensino
público secundário no interior.
71
As determinações políticas, acompanhadas do discurso populista,
ampliaram o debate educacional, especificamente na criação de ginásios.
O programa de governo de Barbosa Lima (PSD) tinha como propósito
desenvolver o nacionalismo e a defesa das classes menos favorecidas; a
representação de um ginásio era sinônimo de prestígio, discurso veiculado
por uma modernização na sociedade brasileira e potencializada nos
discursos dos parlamentares. Nesse sentido, é possível compreender que os
assuntos educacionais se enquadram em movimentos político-sociais; a
escolarização durante décadas no Brasil tinha como principal discurso o
progresso, conjugado com a nacionalidade e a civilização letrada.
O convênio firmado entre o Governo Federal e o Estado de
Pernambuco para a criação de um ginásio obteve notoriedade na
Assembleia possibilitando a atuação dos deputados por meio dos
requerimentos e projetos de lei. Os requerimentos era uma proposição
realizada pelo parlamentar, por escrito ou verbalmente, eram apresentados
ao Plenário ou pelas Comissões. Como se pode acompanhar abaixo no
discurso proferido pelo deputado José Pontes Vieira de Menezes (PSD),
requerendo a criação do ginásio para Caruaru.
[...] o meu requerimento visa apresentar uma sugestão ao sr.
Governador, no sentido de que o município de Caruaru seja escolhido
para sede do ginásio oficial. Em referente convênio associado entre
o Governo do Estado e a União ficou estabelecido uma verba de
Cr$ 600.000.00 para construção do primeiro ginásio oficial do interior
de Pernambuco, e eu reivindico para a minha terra, para a cidade de
Caruaru, o centro do agreste pernambucano, a localização desse
estabelecimento de ensino, que não há de servir somente ao município,
mas irá servir a toda uma região do agreste de Pernambucano
(DIÁRIO OFICIAL DE PERNAMBUCO, 6 de julho de 1948a).
72
No acordo previsto para a criação do ginásio, deveria ocorrer no
município de Sertânia, pelo fato dessa localidade atender dois critérios:
deficit educacional e população com mais de 15 mil habitantes. Estes
critérios eram determinados pelo Instituto de Estudos Pedagógicos
(INEP), exigindo que os prédios fossem construídos nos municípios
indicados no mapa geral, elaborado pelo INEP. No entanto, ao invés de
seguir o acordo, os deputados passaram a reivindicar que o ginásio fosse
criado não em Sertânia, mas em suas zonas eleitorais, apoiando-se para tal
feito nas entidades sociais. Segundo Dias e Espinosa (2012), as posições
dos atores políticos na tomada de decisão interferiu diretamente na
sociedade.
A disputa em torno do ginásio contou com a participação de
agremiações partidárias. Por um lado, a Coligação Democrática por
Pernambuco, composta pelos partidos UDN, PL e PR; reunindo
deputados vinculados aos interesses industriais cujas zonas eleitorais se
concentravam na região da Zona da Mata. Do outro lado, o PSD, com
bancada coronelista e aproximações políticas nos Governos Estadual e
Federal. Havia ainda os professores e padres que atuavam na discussão da
educação, aliados ao Partido Democrata Cristão (PDC), que tinha
como deputada Maria Elisa Viegas de Medeiros, figura importante na
administração do Centro de Professorado Primário de Pernambuco.
A defesa da instalação do Ginásio em Caruaru era justificada pela
localização geográfica regional, isto é, pelo fato de Caruaru estar no Agreste
pernambucano, e ser polo economicamente potencializador e próximo à
capital. Outro argumento utilizado era o fato dessa região constar com
um grande número de escolas, condição tida como “privilegiada”.
Deputados contrários rebateram tal argumento. Eles diziam que havia
outros municípios desprovidos de escolarização que necessitavam de um
73
ginásio para a formação da sua “mocidade”. Na discussão da Comissão de
Educação e Cultura o deputado Edson Moury Fernandes, do Partido
Republicano (PR), rebateu a reivindicação citada acima pelo deputado
Pontes Vieira para a cidade de Caruaru. Apresentando o requerimento
juntamente com a Coligação Pernambuco, sugerindo a instalação do
ginásio em Alagoa de Baixo
17
:
O Sr. Moury Fernandes (Pela ordem) Sr. Presidente: adiantarei às
palavras do deputado Pontes Vieira o seguinte: na zona sertaneja
cidades inteiramente desprovidas de estabelecimentos secundários e a
instalação desse colégio poderia ser feita numa dessas cidades
sertanejas. Caruaru tem o seu estabelecimento secundário em pleno
funcionamento num edifico mais ou menos compatível com as suas
necessidades. Essa é a verdade (DIÁRIO OFICIAL DE
PERNAMBUCO, 1948b).
A discussão seguiu com o deputado Nilo Coelho (PSD), que
advertiu aos deputados sobre as determinações do convênio estabelecido,
com base nas diretrizes do Inep:
O SR. Nilo Coelho(Pela ordem) Sr. Presidente, desejava dar um
esclarecimento rápido à casa. É que em conversa particular com o
Ministro da Educação, tive um informe que, pode ser que tenha
entendido mal, como sempre costuma acontecer, mas eu entendi que
a localização tanto das escolas rurais como dos três ginásios e das duas
escolas normais obedecerão apenas à fornecidas pelo I.B.G.E.
O SR. Diocleciano Pereira Lima V. Excia., me permite um aparte? O
SR. Nilo CoelhoPois não.
74
O SR. Diocleciano Pereira Lima Mas isso não impede que a
Assembleia sugira ao Governador uma outra localização.
O SR. Nilo Coelho Será uma sugestão imperante. Estou dando a
Casa uma informação à guisa de esclarecimento; não é oficial, mas essa
localização obedece a dados federais. Aliás, as escolas rurais já
distribuídas, não tiveram influência do Executivo Estadual (DIÁRIO
OFICIAL DE PERNAMBUCO, 1948c).
Na esteira do pensamento de Bourdieu (1983) sobre o campo político, o
teor de um discurso político depende das lutas simbólicas que ocorrem
entre os agentes desse campo. No caso da disputa pela localização do
ginásio é produto de uma necessidade interna, conjugada com o papel
do “político” e conforme as necessidades externas do campo político.
Assim, a legitimidade de um discurso político não depende do seu
conteúdo em si, mas de seu poder simbólico. Nesse debate proposto pelos
deputados, o poder é a capacidade de conquistar sua zona eleitoral, por
meio de medidas educacionais para a região e sua população. Em torno do
ginásio havia uma luta simbólica que instituía a necessidade de expansão
da escolarização por agentes políticos, não apenas do poder Legislativo,
mas também do Executivo.
A política de expansão dos ginásios e a atuação do estado na criação
deles constava também na apresentação da mensagem de 1950 pelo
Presidente Eurico Gaspar Dutra, tinha como proposta de instituir uma
campanha incentivadora de ampliar a rede de escolas secundárias, em
colaboração com o Congresso Nacional e os Poderes Públicos e dinamizar
o ensino:
75
[...] a realização deste imperativo democrático de elevada significação
social exigirá a atuação decidida dos Poderes Públicos, tanto de forma
direta, pela criação de ginásios e colégios federais, como indireta e
supletiva, mediante convênios com os poderes estaduais e municipais,
bem como entidades particulares. Além disso, far-se-á mister reajustar
as finalidades de nossas escolas secundárias e os seus programas às novas
realidades sociais que estamos vivendo. Será necessário dar- lhes maior
amplitude, maior flexibilidade e um sentido social mais compreensivo
e dinâmico (BRASIL, 1948b).
Segundo Dias e Espinosa (2012) tais medidas resultaram, num
exercício fundamental de descongestionamento do centro, de crescimento
e maturidade dos governos estaduais e, em menor medida, nos governos
municipais. Conclui-se que o governo federal legitimava a participação
indireta de entidade na criação de escolas, haja vista que estava previsto na
Constituição a descentralização do ensino secundário, abrindo espaço para
o sistema particular atuar com os convênios estabelecidos com municípios
e estados.
Em tese, a dinâmica proposta possibilitaria uma maior ação que
favorecesse o desenvolvimento regional e local, assim garantindo que
houvesse maiores políticas governamentais e educacionais. Ocorre, que o
Brasil apesar de ter iniciado um processo democrático, algumas regiões
estavam refém do centralismo regional, como o caso de Pernambuco, com
o coronelismo e sua dominação na esfera institucional, disputando as
relações políticas ou dialogando com outras redes (igreja e meios de
comunicação).
A imprensa em Pernambuco, tendo o Diário de Pernambuco como
o mais antigo periódico de circulação na época, atrelava-se aos discursos
defendidos no campo político, mas com uma posição crítica sobre a
76
situação educacional. Nas duas matérias publicadas na seção “Pela
Assembleia”, o jornal destacava a disputa pela criação do primeiro ginásio
no interior, evidenciando o debate dos deputados para suas regiões
trazendo dois textos de opinião: “Puxa-puxa” e “Ginásio Ambulante”. O
primeiro trata especificamente da localização: “Uns queriam em Caruaru,
outros em Sertânia, alguns em Palmares, estes em Limoeiro, aqueles em
Arcoverde, e assim por diante” (PUXA..., 1948).
Como atesta o jornal havia uma divisão de opiniões, resultado de
um sistema de disputa entre os parlamentares, instituído pelas políticas
populistas. Por outro lado, havia uma discussão mais sistêmica que baseava
tratar a criação do ginásio pautada em critérios de necessidades técnicas e
conveniência assinalando que a assistência educativa e sanitária deveria
obedecer a estudos criteriosos, e não o “puxa-puxa” entre a Zona da Mata
e o Sertão. A carência de escolas públicas de nível secundário e as
dificuldades de escolarização da população pernambucana no interior
do estado eram tão grandes que o deputado Metodio Godoy (PSD) chegou
a propor uma saída mirabolante. O segundo artigo publicado no jornal
intitulado o “Ginásio Ambulante” proposto buscava estabelecer uma
educação itinerante pelo interior de Pernambuco: (...) um ginásio
ambulante, com motor a óleo de caroço de algodão e possa se locomover durante
o ano todo através da mata, do agreste e do sertão (GINÁSIO..., 1948).
A instalação de um ginásio no interior representava um enorme
benefício às populações que enfrentavam muitas dificuldades para arcar
com os custos de manutenção dos filhos na capital ou em outras cidades.
O que se pode depreender nessa matéria jornalística é uma necessidade de
acesso à escola que gerava discussões até inimagináveis como a de um
“ginásio ambulante”, mas que refletia a ausência de políticas educacionais
à educação pernambucana no final dos anos 1940.
77
A disputa narrativa dos deputados tinha o apoio do jornal que pode
ser visto também como elemento do campo político. Diversas matérias
foram publicadas criticando veementemente a carência de escolarização
para os pernambucanos, constituindo, assim, uma frente de oposição ao
governo de Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho (PSD). Ainda em
relação ao convênio do ginásio, o jornal destaca outra questão, isto é, a
dificuldade em estabelecer uma articulação política que viabilizasse um
plano estadual de educação para dar acesso a toda a população sem
escolarização. Isso fica evidente nas práticas políticas populistas e
coronelista imbricadas no discurso dos atores políticos. Ver:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-
biografico/alexandre-jose-barbosa-lima-sobrinho.
4
15
Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho nasceu em Recife. Era bacharel em Direito e Jornalista.
Dedicou-se como colaborador em 1917 no Diário de Pernambuco, no Jornal Pequeno e,
principalmente, no Jornal de Recife. Ingressou na vida política em 1934, vinculando-se ao Partido
Social Democrático (PSD) de Pernambuco. Foi deputado federal em outubro de 1934. Em maio
de 1938, Barbosa Lima Sobrinho assumiu a presidência do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA).
Em março de 1945, em pleno processo de redemocratização do país, Barbosa Lima Sobrinho tomou
parte na elaboração do primeiro programa do PSD e, ao lado de Agamenon Magalhães, participou
ativamente dos trabalhos de criação do partido em Pernambuco. Foi governador em Pernambuco,
ficando no cargo de 1948 a 1951. (CPDOC).
Ver: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/alexan
4
dre-jose-barbosa-lima-
sobrinho.
16
Victor Nunes Leal foi o criador do termo, em 1948, no livro “Coronelismo, Enxada e Voto”.
Entende-se coronelismo como resultado da superposição de formas desenvolvidas do regime
representativo a uma estrutura econômica e social inadequada (…) o coronelismo é, sobretudo um
compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a
decadente influência social dos chefes locais, notadamente, os senhores de terras.
Ver LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no
Brasil. 2. ed. São Paulo: Alfa e Ômega, 1975.
17
Distrito criado com a denominação de Alagoa de Baixo, pelas leis provinciais nº 93, de 04- 05-
1842, e 639, de 03-06- 1865, lei municipal nº 52, de 03-08-1892, subordinado ao município de
Cimbres. Pelo Decreto-Lei estadual n.º 952, de 31-12-1943, o município de Alagoa de Baixo
passou a denominar-se Sertânia O topônimo Sertânia significa: “CIDADE SERTANEJA”. O
TOPÔNIMO original era: “ALAGOA DE BAIXO”.
Ver https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/pernambuco/sertania.pdf.
78
Figura 2 - Noticiário Pela Assembleia
A disputa pelo primeiro ginásio no interior acabou sendo
solucionada com a escolha de serem instalados um em Sertânia e outro
ginásio em Serra Talhada, vinculado à verba federal do acordo firmando
79
entre a União e o Estado. Conforme a mensagem do governador, foi
disponibilizado, no ano de 1948, o auxílio financeiro de Cr$
1.200.000.00 para a construção dos dois prédios escolares nesses dois
municípios (PERNAMBUCO, 1951). O governador Etelvino Lins de
Albuquerque, que esteve no poder entre dezembro de 1952 e janeiro de
1955, priorizou a questão educacional no Estado. Ele se preocupou com
o enorme deficit escolar existente no interior e na capital, configurado no
número insuficiente de professores, prédios escolares e materiais didáticos.
Para superar essas deficiências estruturais da educação, foram firmados
acordos entre o Governo do Estado e a União, por meio do INEP,
possibilitando a construção de Grupos Escolares Rurais, Escolas Típicas
Rurais, Escolas Regionais, em todo o Estado, instalados de preferência em
municípios onde não havia escolas em número suficiente
(PERNAMBUCO, 1955). Portanto, a educação ocupava um espaço
privilegiado no rol de ações e intervenções do governo estadual e, no
campo político que se desenhava em Pernambuco.
2.1 Os projetos de leis e a interiorização dos Ginásios em Pernambuco
O debate político dos parlamentares entrecruzou outros moldes
políticos para instituir uma política de criação dos ginásios, a exemplo, os
projetos de lei de criação, subvenção e auxílio. Os projetos de lei eram
distribuídos às comissões conforme os assuntos de que tratavam, no caso,
chama-se comissão de mérito, ou seja, a Comissão de Educação, Cultura e
Saúde. Além dela, havia duas com função de análise, as comissões de
Finanças e de Constituição e Justiça. Os projetos que tramitaram pela
Alepe tratavam de diversas naturezas. Em especial no final da década de
80
1940, teve apresentação de seis projetos com desdobramento dos debates
em torno do ginásio público.
Como resultado de alguns deles, destaca-se a Lei n.º 372, de 24 de
dezembro de 1948, que estabeleceu o auxílio do governo estadual para que
os municípios criassem ou mantivessem ginásios com a colaboração, ou
não, da iniciativa particular, sendo uma política de assistência escolar que
estabelecia normas de subvenção e auxílio aos estabelecimentos de ensino
secundário e normal nos municípios do interior do estado, como também
o aparelhamento eficiente, fazendo-os manter gabinete médico e dentário,
biblioteca, cooperativa de consumo, etc. Metade da soma fixada pelo
governo deveria ser empregada em matrículas gratuitas a candidatos de
comprovada pobreza. Por outro lado, os estabelecimentos teriam que
provar estarem em regime preliminar ou permanente de situação
financeira precária.
Essa lei visualizava uma assistência para atender aos interesses dos
estabelecimentos particulares em manter suas escolas secundárias. Uma
política velada legitimada com a política nacional de subvenções e auxílios,
como se pode ver nos artigos instituídos:
ART. 1.º Fica estabelecido o regime de subvenção aos
estabelecimentos de ensino secundário e normal, localizados em
municípios do interior sob inspeção preliminar ou permanente dos
governos da União e do Estado.
ART. 2.º – Os estabelecimentos de que trata o artigo anterior sccerão
organizados nos termos da legislação federal como ginásios ou colégios
e como escolas normais do primeiro ou do segundo ciclo.
ART. 3.º O estabelecimento de ensino que pretender o regime de
subvenção deverá formular o seu pedido ao Governo do Estado,
acompanhado dos seguintes documentos:
81
1.1.1 Prova de que se acha em regime de inspeção preliminar ou
permanente; [...] (PERNAMBUCO, 1948a).
Segundo Santos e Chaloba (2020), os efeitos dessa medida foram
ressaltados pelo governador Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho em
mensagem apresentada à Assembleia Legislativa, em 15 de março de 1951,
na qual registrava as escolas favorecidas com subvenções do Estado:
Ginásio São José, no município de Nazaré da Mata; Ginásio de
Caruaru, sediado no município do mesmo nome; Ginásio Regina Coeli e
Ginásio de Limoeiro, no município de Limoeiro; Escola Normal Rural
Santa Maria, no município de Timbaúba; Prefeitura Municipal dos
Barreiros, e o Colégio Santa Sofia, no município de Garanhuns. Os
acordos previam a subvenção para Bolsa Escolar e manutenção dos ginásios
do interior de Pernambuco. O ensino secundário era particularmente
atraente para as camadas médias da sociedade, as mais sensíveis aos apelos
do desenvolvimentismo, especialmente se ele multiplicasse as ocupações
estáveis no aparelho estatal. O acesso à escolarização ainda era um fator
predominantemente para uma minoria. Pensar o acesso aos estudos pós-
primários era um distanciamento ainda profundo da população menos
favorecidas (BARROSO FILHO, 2008).
A educação no governo de Barbosa Lima Sobrinho ocupou espaço
de disputas e intervenções tanto do Governo Estadual como do Poder
Legislativo. A política pernambucana se desenhava por meio das questões
educacionais, em interface com o governo federal, e acompanhando as
transformações sociais de renovação e modernização na educação
brasileira. Mostrava-se que havia uma disputa de política expansionista em
contraste com a predominância da força das escolas particulares
confessionais monopolizadas no estado.
82
Além da questão da apresentação dos projetos de leis para criação
dos ginásios, entrou em discussão entre os parlamentares o Projeto de Lei
n.º 205, de 25 de junho de 1949 apresentado pelo deputado José Pontes
Vieira de Menezes (PSD). Este projeto propunha a gratuidade do ensino
público nos seguintes termos: “os ensinos primários, secundário, normal
técnico profissional mantidos pelo Estado, pelos municípios e por
particulares em escolas, colégios, ginásios ou institutos serão inteiramente
gratuitos em todo o estado de Pernambuco, a partir de janeiro de
1950”. A lei oportunizava a gratuidade do ensino mantido por internatos,
estabelecimentos de ensino religioso e cursos de aperfeiçoamento,
emergência ou supletivo mantido por particulares, ou instituições
(PERNAMBUCO, 1950).
O projeto de lei proposto em Pernambuco pode ser considerado
uma tentativa de avanço no acesso à escolarização, mas provocou uma
intensa discussão sobre seus objetivos reais, especificamente a manutenção
dos estabelecimentos particulares, como se pode acompanhar no debate da
Comissão de Saúde e Educação e Cultura discutindo sobre os pontos de
vista constitucional e econômicos do projeto.
O sr. Luiz de França Por particulares? Como nós vamos estabelecer
normas para o ensino particular?
O sr. Luiz de França É muito elevado o projeto do deputado Vieira
de Menezes, porque com as verbas precárias que o Estado tem ele
pretende pagar até o ensino feito pelos institutos particulares. É uma
reforma radical, a que pretender aquele deputado.
O sr. Afonso Ferraz - É uma reforma radical, V. Excia. diz bem, mas o
projeto cria rendimentos ao custeio das despesas (DIÁRIO OFICIAL
DE PERNAMBUCO, 1949a).
83
O projeto era composto de 36 artigos que versavam sobre
reestruturação dos quadros de professores (art. 9.º); criação de um
Conselho de Ensino do Estado (art. 11); e a criação de uma “Taxa de
Ensino” (art. 26).
ART. 9.º O Estado diligenciará junto aos poderes legislativos e
executivo municipais no sentido de concertar uma remuneração tanto
quanto possível uniforme ao seu professorado.
ART. 11 Para exato cumprimento das disposições expressas nesta lei,
fica criado o Conselho de Ensino do Estado composto de dez
membros, sendo 1 pai de aluno, 1 uma mãe de aluno, 1 diretor de
estabelecimento secundário particular, 1 diretor primário particular, 1
diretor da escola profissional, 1 médico especializado, 1 técnico de
educação, 1 professor do Secretário de Educação e Saúde do Estado e
do diretor de Educação do Estado.
ART. 26 Fica criada a “Taxa de Ensino” de Cr$ 1,00 que incidirá
em forma de estampilha, sobre quaisquer papéis ou documentos,
mesmo que estes sejam anexados a processos que transitarem em
repartição cartório ou autarquia estadual, devendo a estampilha se
oposta aos mesmos papéis e documentos (PERNAMBUCO, 1949b).
A previsão legal do projeto foi colocada em pauta, haja vista
que, em síntese, previa a estatização do ensino, sem exclusão do ensino
particular. A proposição do deputado Afonso Ferraz, relator do parecer,
justificou que o projeto não vigorava, referindo-se ao regime: “o nosso
regime não admite, quando declara ser livre, a iniciativa particular do
ensino, respeitadas as leis que o regulem Constituição Federal ( art. 167) e
Constituição Estadual (art. 138).
84
O sr. Afonso Ferraz A reforma pretendida pelo deputado Vieira de
Menezes não se enquadra nos princípios reguladores da espécie
estabelecidos pela Carta Magna federal, no seu art. 168, por isso que
não pode ser aplicada em Pernambuco, como em nenhum outro
Estado da Federação (DIÁRIO OFICIAL DE PERNAMBUCO,
1949c).
Outro ponto em relação ao projeto referia-se à taxa de ensino sobre
mercadorias (cigarros, charutos, refrigerantes, joias e artigos de perfumaria)
que se estabeleceria para a arrecadação de recursos que entrariam em vigor
no orçamento de 1950. Isso significava o aumento do Imposto de Vendas
e Consignações, o que Pernambuco já havia vivenciado em anos anteriores,
ocasionado pela crise que o governo passava. A propósito, o deputado
Pedro Pontes foi taxativo: “A taxa de ensino proposta pelo deputado Vieira
de Menezes, ilustre membro da coligação Pernambucana, é simplesmente
escorchante, além de inconstitucional, quando cobra ad- valores sobre o
preço de utilidades e mercadorias” (DIÁRIO OFICIAL DE
PERNAMBUCO, 1949d). O debate que ocorreu na Assembleia em torno
dessa proposta de lei gerou dois conflitos nas discussões na comissão: o
primeiro em relação a um aumento do imposto para exercer a taxa de
ensino e segundo que a constituição estadual já instituía a gratuidade do
ensino, apesar de não ser regulamentada. Portanto, havia uma
convergência entre os deputados na aprovação dessa lei. Como podemos
ver no parecer apresentado pelo deputado Mário Melo, integrante da
Comissão de Saúde e Educação:
agricultura e a pecuária, receio que a providência da gratuidade do
ensino, na forma prevista pela proposição legal, em tela redunde em
queda a nossa produção naquelas atividades. Precisamos de escolas,
85
mas de Escolas Rurais, por todos os recantos do território do Estado,
com professorado apto e bem remunerado, de modo que cada uma
delas seja um verdadeiro centro de formação de cidadãos capazes, ativos
e úteis nos moldes adotados pelo IX Congresso Brasileiro de Educação.
O mal de certos homens públicos é pretender incitar a
administração pelo fim, ou seja, por onde deveriam acabar. Em um
Estado como o nosso, cujo nível de alfabetização excede de 28,3%, um
dos mais baixos do Brasil, já se preverão estabelecer a gratuidade do
ensino para todos os cursos antes de fazer a alfabetização da sua
população escolar. Reconheço a boa vontade do ilustre autor do
projeto de lei n.º 47, mas entendo que a reforma pretendida não se
enquadra na legislação brasileira vigente (DIÁRIO OFICIAL DE
PERNAMBUCO, 1949d).
A proposta dessa lei inviável foi mais uma tentativa dos deputados
em proporcionar a gratuidade do ensino em Pernambuco. As críticas dos
deputados e a não aprovação desse projeto certamente estava na previsão
legal, que segundo a Comissão de Saúde e Educação não era garantia de
transformação da realidade, a qual necessitava de um conjunto de fatores
que contribuíssem para essa transformação. A eficácia legal é possível
quando um conjunto de ações extra e intraescolares ações
governamentais, sociais e de organização interna do processo educativo
em prol de objetivos que tenham o compromisso de interferir no contexto
existente, ou seja, a legislação só será eficaz se as pessoas envolvidas no
processo estiverem realmente comprometidas com a sua aplicação.
A democratização do acesso ao conhecimento não se encontra
apenas na capacidade de obter conhecimento, mas também criar
condições individuais e coletivas para o desenvolvimento da consciência
sobre a realidade social, enxergando-nos como sujeitos históricos, e
86
exercendo a cidadania, realidade ainda distante das décadas de 1950 e
1960.
Dessa maneira os atores políticos eram peças fundamentais para
realizar a contrapartida financeira dos auxílios para os estabelecimentos,
instituindo projetos de leis para as escolas de seus campos eleitorais. Por
exemplo, a Lei n.º 284, de 21 de outubro de 1948, estabeleceu auxílio ao
Ginásio Municipal 3 de Agosto, da cidade de Vitória de Santo Antão,
Zona da Mata: “Art. 1.º
Fica o Governo do Estado autorizado a conceder
um auxílio de cento e cinquenta mil cruzeiros ao Ginásio Municipal 3 de
Agosto, estabelecimento de ensino secundário oficial, da cidade de Vitória
de Santo Antão” (PERNAMBUCO, 1948b, p. 285). Na mesma data, foi
promulgada a Lei n.º 289, autorizando o Estado a conceder auxílio ao
Ginásio de Limoeiro: “Art. 1.º
Fica o Poder Executivo autorizado a
conceder um auxílio de vinte e cinco mil cruzeiros ao Ginásio de Limoeiro
ocorrendo a despesa por superavit do atual orçamento”
(PERNAMBUCO, 1948b, p. 286).
Outras iniciativas nessa mesma direção foram instituídas em
Palmares e Arcoverde, conforme consta no apêndice. A campanha de
interiorização se verificava com os discursos proferidos pelos deputados,
que utilizavam argumentos exaltando a excelência da cidade, apresentando
o orçamento de arrecadação que ela disponibilizava e demonstrando que a
Câmara Municipal já projetava discutir em breve um Projeto de Lei
prestando o mesmo auxílio. Dos 29
18
Projetos que tramitaram na
Assembleia Legislativa, no período de 1948 a 1963, se referiam a nove
ginásios na Zona da Mata; dez no Agreste; quatro no Sertão e seis na
capital, ou em municípios da região metropolitana. O Agreste e a Zona da
Mata foram as regiões mais privilegiadas na criação de ginásios e atuação
política de fomento da expansão escolar. Pode se dizer, portanto, que o
87
regionalismo foi um dado importante para compreender as políticas do
ensino público em Pernambuco, haja vista que os critérios econômicos
para levar o ginásio à região eram argumentos frequentemente utilizados
nas defesas dos Projetos de Leis. Entretanto, essa prática gerou uma posição
contrária por alguns deputados na Comissão de Educação e Saúde, como
se pode observar no pronunciamento do deputado Osvaldo Lima Filho,
do Partido Social Democrático (PSD), em referência ao posicionamento
de deputados em defesa da criação das escolas em determinados
municípios, ressaltando a arrecadação municipal e a posição geográfica
estratégica da localidade.
5
Não se trata aqui de interesses regionais, puramente locais, de
pequenos municípios. Nós aqui, não iríamos reivindicar uma medida
legislativa dessa natureza para um município pequeno, como por
exemplo, Belo Jardim, que é aquele que represento, quando o
município de Caruaru tem maiores possibilidades e poderia prestar
maiores serviços (DIÁRIO OFICIAL DE PERNAMBUCO, 1948d).
O intenso debate dos anos 1950 vai se travar a partir de disputas
previstas nos projetos de lei pelos deputados. A característica dos
argumentos será protagonizada com o regionalismo local e a ausência de
políticas, como se pode observar na justificativa do projeto de lei
autorizando a abertura de um crédito especial à construção do prédio do
Ginásio de Ouricuri, com população de 37.201 habitantes, contando com
apenas 17 alunos no curso secundário. É digno de nota que já havia uma
disposição de auxílio federal de Cr$ 200,000.00, destinado a auxiliar
a construção do ginásio embora essa quantia fosse considerada
18
Ver apêndice.
88
insuficiente. Na justificativa do projeto de lei apresentado pelo deputado
Felipe Coelho da Coligação Pernambucana podemos observar essa prática:
Encravado no alto sertão do Araripe, é o município de Ouricuri o mais
populoso e melhor servido por estradas, centralizando as atividades
comerciais de Bodocó, Exu, Araripina e Parnamirim, cujo acesso dado
às boas condições das vias de comunicações, torna-se fácil e rápido. O
único Ginásio mais próximo da Região do Araripe está situado no
ribeirinho município de Petrolina, distando duzentos e quarenta
quilômetros, para as cidades mencionadas, ou locar-se para as cidades
do Crato do vizinho Estado do Ceará onde existe um ginásio. Pode-se
diante desta demonstração, aquilatar as dificuldades que os pais de
famílias numerosas, enfrentam quando tentam educar um filho. [...]
que a edificação de um Ginásio na cidade de Ouricuri, afim-de
possibilitar ensino aquecível aos habitantes, marcando uma nova era de
progresso, constituindo uma fonte inexpugnável na lapidação das
inteligências anominais, submersas nas travas do analfabetismo
(PERNAMBUCO, 1953).
O discurso do progresso estava atrelado a uma necessidade de
prevalecer o status quo da formação de uma elite condutora, tendo em
vista que o sertão tinha um índice alto de analfabetismo. Também era uma
das regiões com maiores deficiências educacionais, além de sérias
dificuldades econômicas ocasionadas pela seca e pelo mandonismo
político.
Esse conflito da política educacional, provocado por uma
descentralização da responsabilidade de providenciar o ensino, resultou na
dinâmica de uma contrapartida de recursos para sanar a ausência do ensino
gratuito, sendo possível analisar pela diversidade dos projetos que foram
sendo apresentados (auxílios, subvenções e criação). Nesse campo da
89
contrapartida, havia uma teia de atores deputados; prefeitura (Poder
Executivo) e o ensino particular (monopolizador da educação). As
autoridades municipais eram sujeitas às pressões locais da população, que
consequentemente instituía uma pressão na representação regional na
Assembleia Legislativa que, por meio dos projetos de lei, era levado ao
debate para o Governo Estadual.
As ações dos deputados não cessavam, suas mobilizações em prol
de levar ginásios para o interior, utilizando a dimensão simbólica de regiões
desprivilegiadas pelo governo, era um discurso necessário e utilizado nas
relações de forças que eram estabelecidas no campo político. No discurso
do Deputado Diomedes Gomes (UDN), como de outros, confirma-se essa
prática política. Na defesa da gratuidade e criação de ginásios públicos para
sua zona eleitoral o Deputado Diomedes Gomes além de apresentar o
Projeto 110/1948, no que se refere a criar o primeiro ginásio oficial no
interior de Sertânia, apresentou o Projeto 112/1948 que previa o
encapamento do Ginásio Olavo Bilac da mesma cidade. No debate
realizado na Comissão de Educação ele apresenta:
O encapamento do Ginásio “Olavo Bilac” de Sertânia e a sua
transformação em Ginásio Estadual, é uma medida inadiável que trará
incalculável benefícios à mocidade estudiosa de toda região sertaneja.
Sabemos que, entre nós, o ensino é livre a iniciativa particular, mas nos
seus diferentes ramos compete aos poderes públicos ministrá-lo. A
nossa Carta Estadual, no seu artigo 136 assegura que o ensino em todos
os seus graus, mantido pelo Estado, será inteiramente gratuito. O
ensino secundário oficial gratuito em Pernambuco, até agora, não
saiu da Capital. O interior do Estado sempre esquecido e abandonado,
tem recebido apenas, a ajuda do Estado com a concessão de bolsas
escolares, o que representa uma gota d’água no oceano, das nossas
necessidades educacionais. Sertânia, graças aos auxílios concedidos
90
pelo Governo Federal, possui atualmente um prédio modelar para
instalação do seu Ginásio, o qual dentro de pouco tempo estará dotado
de todo equipamento necessário ao seus funcionamento. E não seria
perfeitamente justo que o Governo do Estado indo ao encontro da boa
vontade do Governo da União e dos anseios das populações do baixo
sertão do Brasil, instalasse ali o ginásio (DIÁRIO OFICIAL DE
PERNAMBUCO, 1953).
Segundo Barreto (2006), todo o processo noticioso está envolto em
implicações sócio- político-econômicas diversas e complexas. Toda essa
teia que se estabelece entre jornal/jornalismo e poder agrega interesses de
parte a parte. Apesar disso, nesse tipo de relação ocorre um movimento que
liga essa conjunção ao ato social e ao ato político, ao partilhar crenças e
valores comuns. O jornalista pode privilegiar pronunciamentos de alguns
deles em detrimento dos demais, dilatando as tensões entre as micro
relações do jogo político. Os deputados pernambucanos apropriaram-se da
imprensa para legitimar sua posição. Como podemos observar na
justificativa do projeto para a criação do ginásio no município de Surubim,
na Zona da Mata, proposto pelo Deputado Heráclio Rego (PSD), no qual
ele traz uma matéria escrita pelo jornalista surubinense João Domingo
Fonseca, publicado no Jornal Pequeno
19
Está em andamento a ideia da construção de um Ginásio na cidade de
Surubim. Mais algum tempo e teremos o educandário em
funcionamento. Porque a turma da minha terra quando dispõe a fazer
uma coisa faz mesmo. [...] Deve contar com o apoio do Poder Público.
Não só o Poder Público Municipal, como o do Estado e da União.
Felizmente ai estão os representantes dos municípios da Assembleia
Estadual, que não descuram dos seus deveres para com a coletividade
surubinense. Barbosa e Antônio Heráclio, militando em partidos
91
opostos. [...] O Ginásio onde a sua mocidade, como a dos municípios
vizinhos possam fazer o curso sem as despesas que o tornam muitas
vezes inacessíveis aos menos afortunados. Não me canso de dizer que
Surubim está fadado a ser um dos principais municípios do Estado de
Pernambuco. Isso porque o seu povo tem uma capacidade de trabalho
verdadeiramente admirável e que bem a terra (PERNAMBUCO,
1954a).
A imprensa pernambucana exerceu papel de reivindicação e crítica,
por meio da publicação de matérias jornalísticas. Dessa forma e como
elemento do campo político, acarretando implicações no seu
cumprimento com o tratamento das notícias, além da representação
do cidadão comum frente ao Estado. Essa relação política com a imprensa
era uma das estratégias que possibilitou o levante do debate na sociedade
pela ampliação à educação, como uma marca territorial dos políticos e da
imprensa com a sociedade.
Na perspectivas de ações entre o município e as representações
políticas na Câmara Legislativa, temos o Projeto 58/1954 do Deputado
Rinaldo Alves (Coligação por Pernambuco) que propunha auxílio a
Prefeitura na criação do Ginásio em Paulista. Na sua justificativa, o
deputado utiliza-se da Constituição de Pernambuco para argumentar a
necessidade do Estado prestar auxílio aos municípios.
A Constituição do Estado prevê, no seu artigo 141, que: “Com o
auxílio dos municípios beneficiados, o Estado deverá criar nas cidades
de populações superior a 15.000 habitantes, estabelecimentos oficiais
de ensino secundário”. A cidade de Paulista enquadra-se nesse
dispositivo constitucional. Conforme apurou o Censo de 1950, o
Município do Paulista possui na sua exígua área territorial (212 km2),
48.103 habitantes, dos quais, dada a concentração industrial, 25.592
92
residem na sede do Município. (...) Consoante o preceito
constitucional acima citado, a iniciativa da criação de um Ginásio
deveria caber ao Estado; desde, porém, que a Municipalidade chamou
a si a construção do edifício, nada mais natural, mais justo e mais
lógico do que o Estado auxília-lá nesse objetivo que é, realmente, de
grande alcance para elevação do nível cultural das novas gerações
daquele próspero Município (PERNAMBUCO, 1954b).
O deputado Rinaldo Alves (PTB) foi vereador da cidade de
Paulista na década de 1940 e representava os sindicalistas da cidade. De
fato, Paulista era o maior centro fabril do estado, por isso o argumento
econômico se justificava. Nessa dinâmica de criação e legitimação dos
atores para levar ginásios as suas regiões de reduto eleitoral, constituiu um
campo de articulações entre os representantes nas câmaras estaduais e
municipais das regiões. A contribuição do município, isto é, a
contrapartida, foi uma estratégia para criações, manutenções e instalações
dos ginásios.
O movimento por ginásios foi um movimento dinâmico,
claramente visível nas criações de projetos de leis e políticas destinadas ao
interior pernambucano. Mas nos anos 1950 ocorreram diversas
transformações educacionais no estado. No governo de Osvaldo Cordeiro
de Farias (1955- 1958), foi criado o Ginásio de Jaboatão, estabelecimento
de ensino público, instalado no município vizinho ao Recife que iniciou
suas atividades letivas em fevereiro de 1954.
No ano seguinte, o Governo do Estado baixou o Decreto n.º 263,
de 21 de janeiro de 1955, autorizando o funcionamento de cursos de
ensino gratuito, 1.º ciclo na capital e no interior subordinados à Secretaria
de Estado dos Negócios de Educação e Cultura. Foi criado também o
Ginásio do Beberibe, no Recife, em funcionamento no Grupo Escolar
93
Pedro Celso. Em 1956, foi criado o Ginásio Estadual D. Vital, no subúrbio
de Casa Amarela. Os estabelecimentos que foram criados no Recife não
dispunham de prédios próprios, por isso funcionavam em grupos
escolares, ou estabelecidos no Colégio Estadual do Recife, conjugado com
o Instituto de Educação e dispunha de 22 salas de aulas e 23 grupos
escolares. No início dos anos 1960, o Governo fez obras de ampliação para
a instalação de quatro novos colégios e mais dez ginásios.
Figura 3 - Instituto de Educação e Colégio Estadual de Recife
Fonte: Pernambuco (1959).
A criação desse estabelecimento e outros que se seguiram estavam
ligados às transformações do panorama socioeconômico do estado. Em
1957, a matrícula dos estabelecimentos públicos de ensino secundário,
atingiu o número de 6.585 alunos. Esse período também foi marcado pela
instituição de um Departamento de Ensino Médio na Secretaria de
94
Educação do Estado de Pernambuco, o DEM, que passou a coordenar,
inspecionar e orientar técnica e administrativamente os estabelecimentos
estaduais de ensino secundário, normal, industrial e artesanal; indicando,
assim, a importância maior que o secundário foi progressivamente
adquirindo no âmbito do sistema público de ensino.
As transformações em Pernambuco se intensificam em 1958, sendo criado
o Ginásio de Aplicação da UFPE, estabelecimento de referência
educacional no Recife, com os novos métodos pedagógicos que estavam
em circulação, as chamadas classes secundárias experimentais. De acordo
com Cunha e Abreu (1963), a iniciativa da criação de “classes secundárias
experimentais” no sistema nacional de ensino secundário representou um
esforço engenhoso da administração escolar para renovar o ensino, a
despeito da legislação uniforme e imprópria que o disciplinava. As “classes
experimentais” constituíram, primeiro, uma lição de liberdade pedagógica,
liberdade que se disciplina pela experiência e pelo saber da experiência
resultante e, como consequência, a diversificação e a adaptação dos cursos
ao progresso pedagógico e às condições locais e de magistério de cada
escola. Foi criado também o Centro Regional de Pesquisas Educacionais
do Recife, por meio da portaria do INEP, em 3 de outubro de 1957, tendo
Gilberto Freyre assumido a direção dessa instituição alguns dias após sua
criação. Apesar da expansão ocorrida durante a década de 1950, para
Barroso Filho (2008), a situação do ensino secundário pernambucano
continuava muito precária:
[...] Pernambuco estava muito distante de possuir uma rede pública de
ensino secundário. A expansão da rede primária atuava como fator de
pressão para implementação de uma efetiva rede de escolas públicas
capaz de cobrir as necessidades de escolarização média da população
do Estado, mas as ofertas existentes resumiam-se a um pequeno
95
número de estabelecimentos oficiais que abrigavam uma população
escolar ínfima diante do conjunto das crianças e adolescentes em idade
de frequentar esse nível de ensino (BARROSO FILHO, 2008, p. 103).
Em 1957 a matrícula do ensino secundário atingiu o número de
6.585 alunos apesar da lenta criação de ginásios pelo estado. No quadro
abaixo podemos observar o movimento de matrícula nos
Estabelecimentos de Ensino Médio, mantidos pelo Estado no quadriênio
de 1959-1962.
Tabela 8 - Estabelecimentos de Ensino Médio em Pernambuco
Fonte: PERNAMBUCO (1963).
Apesar da lenta expansão na criação de ginásios existia uma
relativa quantidade de alunos no ensino secundário, como a tabela mostra
que esse aumento só vai ocorrer no início da década de 1960, quando o
governador Cid Sampaio (UDN) tratou de implementar uma expansão
mais expressiva do ensino secundário. Houve, assim, uma preocupação da
Secretaria de Educação e Cultura em organizar a administração para o
enfrentamento das necessidades da educação em Pernambuco.
96
A atividade educacional em Pernambuco, particularmente em Recife,
no interior da disputa política, ocasionada pelo movimento de classe, se
torna o eixo de toda uma luta polarizada entre um projeto social de
tendência popular e outro modernizante. Torna-se um campo de
batalhas que demonstra o jogo de interesses políticos subjacente a toda
ação social, consequentemente, a ação educativa seja entendida como
elemento do processo de organização de massas e política (educação
extraescolar), seja como escolarização .O projeto político proposto por
Cid Sampaio (1959-1962) para a educação foi pautado em uma
educação modernizante, com seu plano de industrialização
acompanhando as políticas do Governo Federal, e forte inclinação para
o ensino técnico-profissional. Apesar da inserção de Cid Sampaio na
aliança, com a qual tinha propostas educacionais populares, que o
elegeu como governador, ele se distanciou do projeto político inicial
da Frente de Oposição (SOUZA, 1989, p. 39).
O Nordeste, desde o ano de 1958, passava por mais uma seca, e o
governo de Pernambuco teve que realizar a abertura de um crédito
extraordinário para sanar as despesas com um plano voltado ao amparo das
populações atingidas. A estiagem se prolongou, tendo a necessidade de
ampliar maiores recursos. Dado esse contexto, os recursos do governo
estadual nas limitadas possibilidades financeiras da Secretaria, e em face da
ausência de maiores recursos do Governo do Estado, a gestão de Cid
Sampaio teve um corte de 50% no orçamento, direcionando, assim, suas
ações com recursos federais e o alinhamento com órgãos internacionais,
como a Aliança para o Progresso, por meio de acordos do MEC/USAID.
Entre os anos 1958-1964, Pernambuco vivenciou uma crise
orgânica polarizada nos projetos políticos de duas frentes na disputa pelo
controle ideológico. Durante o governo de Cid Sampaio, ocorreu uma
multiplicação de ligas camponesas em Pernambuco e o aumento do
97
número de choques entre trabalhadores e pequenos proprietários com
latifundiários. Politicamente foi um período de intensos conflitos. Foi
criada a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE)
20
, uma forma de intervenção federal no Nordeste com o
objetivo de promover e coordenar o desenvolvimento da região. O
primeiro secretário da autarquia foi o economista Celso Furtado. Dois
fatos relevantes determinaram a imediata criação do órgão: a seca de 1958,
que aumentou o desemprego rural e o êxodo da população, e a série de
denúncias que revelaram os escândalos da “indústria das secas”: corrupção
na administração da ajuda dada pelo Governo Federal por meio das frentes
de trabalho, existência de trabalhadores fantasmas, construção de açudes
nas fazendas dos “coronéis”, etc.
206
(SOUZA, 1989).
O Nordeste, como outras regiões do país, passava por uma onda
de planejamento e políticas de desenvolvimento regional, havendo, a
necessidade de criar um órgão que pudesse organizar e planejar as
atividades econômicas. Portanto, a criação desse órgão reuniu movimentos
da sociedade civil, como o Congresso de Salvação do Nordeste (1955), a
Conferência Nacional dos Bispos do Nordeste (Campina Grande-1956),
o Encontro de Salgueiro e o Segundo Encontro dos Bispos do Nordeste
(Natal- RN,1959) refletia o grau de insatisfação em relação à política do
Governo Federal para a região Nordeste. Com a criação da SUDENE,
houve mudanças estruturais no Estado de Pernambuco; a modernização e
20
O governo de Juscelino Kubitschek criou, no âmbito do Conselho de Desenvolvimento, o Grupo
de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (1956) que, liderado por Celso Furtado,
elaborou o documento “Uma política de desenvolvimento econômico para o Nordeste”,
apresentado ao Presidente Juscelino Kubitschek em 1959. Este documento propiciou a criação de
um outro Conselho, o de Desenvolvimento Econômico do Nordeste Codeno (1959). Em paralelo
foi enviado um projeto de lei de criação da SUDENE. Ela iniciou sua atuação devidamente
institucionalizada e politicamente estruturada, a partir de dezembro de 1959, e absorveu o
patrimônio constituído pelo acervo do Codeno. Ver (NASCIMENTO, 2011).
98
o desenvolvimento econômico nortearam o plano educacional no estado
durante a gestão de Cid Sampaio.
Houve uma ação mais efetiva e direta do governo estadual,
resultando no aumento de ginásios estaduais criados por decretos-lei. No
que diz respeito à educação média em 1959, registrou-se a criação de um
estabelecimento de 2º ciclo do ensino normal, e ainda medidas para
ampliação dos Ginásios Estaduais de Beberibe e Casa Amarela, ambos
localizados no Recife, ao mesmo tempo, em que eram organizados os
Ginásios Estaduais de Olinda, Caruaru, e Joaquim Nabuco no Recife,
efetivamente criados pelos Decretos 489, 488 e 490, de 2 de fevereiro de
1960 (PERNAMBUCO, 1963). Na mensagem do governador, de 1963,
consta a criação de ginásios estaduais no estado:
a) Criação do Ginásio Estadual “Aníbal Fernandes”, em um dos
bairros mais populosos do Recife (Santo Amaro);
b) Funcionamento dos Cursos Clássicos e Científicos do Ginásio
Estadual “Joaquim Nabuco” no Recife;
c) Inauguração do novo prédio do Ginásio Estadual de Garanhuns
funcionava como o título de Ginásio do Arraial no mesmo município;
d) Funcionamento do Ginásio Estadual de Salgueiro no
sertão pernambucano; [...] (PERNAMBUCO, 1963).
De acordo como os dados do Departamento do Ensino Médio,
foram criados doze ginásios durante o governo de Cid Sampaio e isso
ocorreu devido aos recursos que seu governo obteve. Em relação aos
ginásios, a maioria funcionava em grupos escolares. Abaixo segue a relação.
99
Tabela 9 - Ginásio e Colégios Públicos instalados no Quadriênio 1959/1962
Cid Sampaio alinhou a questão da educação com o
desenvolvimento de uma infraestrutura econômica que pudesse
desenvolver as atividades, seja de educação, saúde, etc. Portanto, seu
governo dispôs da criação em ampla escala de escolas em todos os níveis,
buscando conciliar com a ideia de desenvolvimento integral do Estado,
que abrangia os aspectos econômico e o social, considerando que a
escolarização era um processo de preparação do homem para o trabalho.
A partir desse prisma os investimentos se deram com vistas à ampliação do
ensino profissional, criação de escolas artesanais.
A Secretaria de Educação optou por fazer funcionar os Ginásios
Industriais como estabelecimentos anexos aos Ginásios Acadêmicos,
evitando a duplicação de despesas. Durante seu governo também é criado
o Programa de Emergencial elaborado e executado pelo ex-ministro Darcy
Ribeiro dando origem a um convênio firmado com o governo federal e
100
estadual, destinando a quantia de Cr$ 132.632.000,00. Esse recurso levou
o Estado de Pernambuco a terminar construções que estavam paralisadas,
criar ginásios estaduais, custear cursos de treinamento de professores leigos,
investir em projetos de alfabetização e na educação rural. Apesar do
quantitativo de ginásios estaduais ter aumentado durante esse governo, eles
se concentraram na região da capital do estado. Em 1962 existiam quinze
ginásios municipais no estado de Pernambuco, desse total apenas dois
estavam na região da capital, o Ginásio Municipal de Paulista e o Ginásio
Municipal de Igarassu.
Os demais estabelecimentos estavam distribuídos pelo interior,
em sua maioria na zona da Mata e do Agreste.
Figura 4 - Ginásios Públicos em Pernambuco (1963)
Neste sentido, podemos caracterizar a predominância de
estabelecimentos de nível municipal do que estaduais. Essa dinâmica se
deve às ações dos representantes locais e as relações políticas que se
estabeleceram entre os atores políticos, entidades sociais, e as Prefeituras
que possibilitaram a estruturação do aspecto educacional dos municípios.
101
Além disso, vale ressaltar a influência desses atores junto à sociedade civil.
Assim, a legitimidade política e moral, em confluência com a igreja,
conjugavam esse campo político em Pernambuco estabelecendo relações
de dominação e interdependência política, como as unidades políticas,
municipal, estadual por meio da composição do jogo político. A
interiorização desses ginásios ocorreu em consonância de dois ritmos:
econômico e social, sob a face do populismo e do argumento regional.
103
Capítulo 3
A Atuação dos Munícipios na Criação de Ginásios e a
Questão do Financiamento
A atuação do Poder Público estadual na expansão dos ginásios deu-
se mediante a subvenção e auxílios aos ginásios do interior. As subvenções
destinadas aos estabelecimentos se estenderam principalmente a ginásios
municipais, criados e mantidos pelas prefeituras ou por fundações e
autarquias. É relevante ressaltar a importante participação das
municipalidades pernambucanas na escolarização do nível secundário, pois
havia um forte movimento de autonomia municipal, realizado por meio
da contrapartida que as autoridades locais realizavam para aquisição de
recursos. Mas, para além dessa colaboração dos municípios, é interessante
analisar duas tendências da Política Financeira para a educação em
Pernambuco: primeiro considerando as três esferas administrativas:
federal, estadual e municipal; segundo, é que podemos inferir que o
programa de zonas educacionais que foi estabelecido no final dos anos de
1950 se constituiu como um plano para definir recursos para a educação
pernambucana. Portanto, são dois elementos fundamentais para orientar a
adequada compreensão dos dados que apresento sobre a educação
secundária em Pernambuco. Claro, alertando para os limites desses
elementos, e os entraves entre o regional e o interior. Dois conceitos que
se convergem geograficamente, mas que possuem características distintas.
104
O regional possui um aspecto de uma determinada região com
propriedades específicas, como dados demográficos e econômicos. O
interior é uma representação e se constitui como o espacial e o político.
Em Pernambuco eles foram estabelecidos para pensar o aspecto
educacional.
Para a análise do planejamento regional da educação em
Pernambuco, vale destacar o documento Programação Educacional
21
elaborado em 1959 pelos pesquisadores da Divisão de Estudos
Educacionais DEPE
22
, órgão vinculado ao Centro Regional de Pesquisas
Educacionais de Recife, em conjunto com a Secretaria de Educação de
Pernambuco. Esse estudo baseou-se nos estudos do Pe. Lebret
23
apresentado ao CONDEPE
24
para pensar o planejamento regional do
estado.
7
21
Sobre esses estudos desenvolvidos pelos pesquisadores do Centro de Pesquisas Educacionais de
Recife, não encontrei experiências como a de Pernambuco em outros estados.
22
Divisão de Estudos Educacionais, coordenado pelo Prof. Carlos Frederico Maciel, com a
assistência da Prof.ª Zaida Maria Costa Cavalcanti e Prof. Israel Guimarães Cardoso.
23
Pe. Lebret, foi um economista e religioso católico dominicano francês, liderou o movimento
Economia e Humanismo e criou um centro de pesquisas econômicas que reuniu intelectuais, leigos
e clérigos, e tornou-se um importante centro de reflexão sobre o planejamento urbano, a
reconstrução do parque industrial e o desenvolvimento na França do pós- Guerra. Durante o
governo do general Oswaldo Cordeiro de Farias, em 1954, a Comissão de Desenvolvimento
Econômico de Pernambuco (antiga Codepe) convidou o Padre Lebret a apresentar alternativas para
o desenvolvimento industrial do Estado. Essa pesquisa resultou na formulação do primeiro relatório
com vistas ao planejamento estratégico para a instalação de indústrias em Pernambuco e no
Nordeste. Resultante de um levantamento diagnóstico e prescritivo acerca das potencialidades
econômicas da região, o relatório, de 1954, apresentava uma perspectiva inaugural ao tratar da
necessidade de formulação de uma política nacional de desenvolvimento regional (GODOY, 2015).
24
Em 1952 foi criado a Comissão de Desenvolvimento do Nordeste - CONDEPE, órgão
consultivo do Governo Estadual e de assistência às iniciativas de desenvolvimento econômico e
modernização do Estado de Pernambuco. Foram assim iniciados os estudos sobre ocupação
territorial ordenada, espacialização de atividades econômicas e a criação de cidades polos.
105
Os Centros Regionais eram subordinados ao Centro Brasileiro de
Pesquisas Educacionais - CBPE, organizados segundo planos de trabalho
aprovados após avaliação de comissão do INEP, executados sob regime de
financiamento especial e convênios com governos ou entidades públicas
ou privadas. A ideia era favorecer as ações do CBPE em grande extensão
do território brasileiro para realização de pesquisas, desenvolvimento de
cursos e experimentos capazes de subsidiar políticas públicas para o que
Anísio Teixeira chamava de reconstrução educacional do país (MEUCCI,
2015).
A proposta dos centros era a de ampliar a pesquisa na área das
ciências sociais e da educação. Essa parceria seria efetiva para a realização
de uma política educacional, na qual a escola atuasse de fato como um
fator de mudança social.
O fundamento desta desejada parceria entre ciências sociais e educação
era a formulação da necessidade de ajustar o sistema educacional às
condições de existência e às exigências de desenvolvimento econômico
social e cultural das diversas regiões do país. Havia, pois, uma
percepção de que se estava diante de uma oportunidade histórica de
transformação da sociedade brasileira que, não obstante, exigia uma
compreensão e um ajuste exitoso entre as expectativas e metas do
campo educacional com as particularidades sociais e culturais regionais
(MEUCCI, 2012, p. 98).
O período que se segue à queda do Estado Novo e se prolonga pela
década de 1950 foi de grande efervescência político-cultural no Recife,
destacando-se o ambiente cultural, alinhado à euforia democrática. Nos
anos 50, as ideias propugnadas pelos urbanistas traduziram, entre outros,
os preceitos do Movimento de Economia e Humanismo que estão
106
apresentados no estudo de Lebret. Desde os anos 1930 já havia uma
discussão sobre a organização urbana, mas foi na década de 1950 que se
intensificou o movimento de modernização de Pernambuco. Esse
movimento integrava o debate acerca do regional e do popular que se
tornaram duas perspectivas presentes no contexto intelectual da época.
Dando ênfase à ideia de que o povo deveria estar integrado às expressões
da cultura e do saber. Concomitantemente às novas expressões
culturais, o cenário político dos anos 1950 foi marcado por debates
centrados nas questões das disparidades regionais, do subdesenvolvimento
da região Nordeste e da necessidade de reformas sociais, ou seja, os
intelectuais buscavam propagar e difundir ideias cujo efeito fosse a reversão
da situação predominante de miséria e de atraso regional. Segundo Pontual
(1999) entre os eventos técnicos e políticos realizados nessa década, teve
destaque o Congresso de Salvação do Nordeste que ocorreu em 1955, cujo
ideário desenvolvimentista, presente no conteúdo programático do
Congresso, encontra-se nos trechos mais eloquentes da Carta de Salvação
do Nordeste:
As condições de retardamento do Nordeste mantém em planos
inferiores de vida todos os habitantes. Num quadro de calamidades
naturais periódicas, grande número de problemas estava o
desenvolvimento da região. Vive o nordestino uma situação de
dificuldades, que não se coaduna com seu espírito de iniciativa e
capacidade de trabalho. Ao flagelo das secas juntam-se os males do
latifúndio, quase sempre improdutivo, as deficiências de transportes, a
dispersão da população, o analfabetismo, as endemias e carências
alimentares […] (PONTUAL, 1999, p. 15).
107
O governo vendo a necessidade do impacto da industrialização que
deveria acontecer no estado, resolveu-se por meio do CONDEPE, solicitar
um estudo da economia de Pernambuco, incluindo a apresentação de
sugestões quanto à localização de novas indústrias no estado. Em agosto
de 1954, Lebret permaneceu quinze dias em Pernambuco. Como afirma
Pontual (1999), era necessário definir diretrizes relativas à localização das
estruturas econômicas e educacionais, desde à localização dos
equipamentos e quadros de vida, às densidades e deslocamentos
populacionais que eram regras respectivas para os dois diferentes tipos de
ordenamento e controle no primeiro orientações de procedimentos e
modos de fazer; no segundo, eram determinações do que fazer, objetivadas
em relações e dimensões.
Com base nesse ordenamento e no estudo realizado por Lebret, a
pesquisadora Zaida Cavalcanti realizou uma pesquisa na qual ela
apresentou os critérios definidos para organizar as áreas de programação
educacional em Pernambuco. Os critérios que a pesquisadora levantou
foram: dados de população global, população urbana, densidade
demográfica, receita tributária municipal, receita arrecadada pelo Estado
no município e “giro comercial”. Deve-se ressaltar que foram delimitados
critérios para explicar metodicamente como se baseava essa distribuição
entre as zonas. Em uma classificação estabelecida no estudo realizado e
publicado no Caderno Educação (1960) pela pesquisadora Zaida
Cavalcanti os municípios foram pensados em áreas econômicas-financeiras
homogêneas em Pernambuco apresentando assim estruturas regionais para
organizar as áreas de programação educacional.
A proposta de uma programação educacional delimitada em zonas
no estado baseada em um planejamento social, nos possibilita pensar em
um projeto de reordenamento espacial para expandir a escolarização nas
108
áreas a partir de critérios sócio-econômicos, tendo em vista que o
zoneamento é um instrumento que visa determinar uma gestão de serviços
e espaços, estabelecendo critérios por quem implanta (ALMEIDA, 2017).
É possível relacionar esse plano com a argumentação dos deputados nas
justificativas de criação dos ginásios expostos nos Projetos de Leis. Como
mencionado no capítulo anterior, observamos que no discurso dos
deputados, estava sempre presente a representação da região de maior
desenvolvimento do estado, comprovados por dados demográficos e
econômicos. Consequentemente, esse zoneamento educacional havia
sendo representado em um comportamento político regional que se
estabelecia em um campo de disputas entre o regional desenvolvimentista
e uma política de interiorização da escolarização pelos atores políticos em
Pernambuco.
É possível compreender que houve um projeto de planejamento
quanto ao sistema educacional das zonas, que se definia a partir do
conceito de interiorização e o regional, no qual se manifestavam pelas
relações de poder, econômicas e sociais. Esses direcionamentos se
relacionavam com uma noção de modernização, na qual estava subjacente
à articulação saber-poder no estado. Dessa maneira, pode-se dizer que a
política de zoneamento em Pernambuco pretendia realizar a integração
educacional no planejamento econômico-social e cultural do estado.
As especificidades regionais de Pernambuco e sua representação
como metrópole regional do Nordeste criava a necessidade de agrupar
territorialmente o estado considerando as características geográficas que
resultavam no efeito de espacializar e planejar suas áreas de serviços,
indústrias e educação. Segundo Pe Lebret (1954, p. 56), a ideia de
zoneamento era a de realizar uma desconcentração desses serviços em torno
109
de Recife, com o objetivo de refluxo para outras regiões
concomitantemente a um projeto urbanístico de modernização.
Na ponderação apresentada pela pesquisadora Zaida Cavalcanti sobre certa
dificuldade em delimitar os municípios que seriam referências em cada
zona, no plano proposto pela autora ela indica duas cidades da Zona da
Mata e duas cidades do Sertão. No que se refere à Zona da Mata, em
termos econômico-sociais, existia uma confluência em determinar se as
cidades Nazaré ou Timbaúba seria um polo educacional, tendo em vista
que as duas estavam localizadas próximas uma da outra, porém Nazaré
constituía um ponto rodoviário, um núcleo de supervisão educacional que
congregava também um projeto de Faculdade de Filosofia. No caso da
zona denominada Sertão, as cidades Sertânia e Petrolândia estavam
contempladas no zoneamento, porém não eram consideradas cidades de
referência, pois dependiam de cidades-polos da zona do Agreste. As
cidades-polo consistiam em localidades onde havia maior escolarização,
como era o caso da cidade de Caruaru, Limoeiro, Garanhuns e Arcoverde,
localizadas na zona do Agreste, e que recebiam por sua relevância alunos e
alunas das cidades circunvizinhas. Na figura 5, abaixo, podemos observar
em ordem classificatória as zonas prioritárias por grupos para o
zoneamento educacional seguindo o estudo socioeconômico realizado pelo
Pe. Lebret.
110
Figura 5 - Áreas e zonas para Programação Educacional - Classificação de Municípios
Prioritários
Fonte: Cadernos Região e Educação (1960).
De acordo com pesquisadora Cavalcanti (1960), compunha o
grupo I municípios prioritários para o ensino colegial, ginasial, centros de
juventude e centros politécnicos. O grupo II compreendia municípios com
mais de 100.000 habitantes; o grupo III incluía as capitais de zonas
educacionais; o grupo IV os municípios Grande Recife e outros que não
111
eram capitais das zonas, mas eram importantes. Chama particular atenção
à classificação do grupo V, o qual, segundo a pesquisadora, abarcaria as
capitais de zonas que não eram importantes. Essa definição gerou
incômodo, pois insere algumas cidades em uma categoria de menor
importância. Quais critérios foram utilizados para apresentar essa
indicação? O que significava? Seriam cidades menos desenvolvidas? Devia-
se à densidade populacional baixa? O que levou esse grupo de municípios
a ficarem de fora de um planejamento educacional que possibilitava acesso
a recursos para a escolarização? Esses municípios eram dependentes de
outros núcleos, onde havia um desenvolvimento educacional melhor?
Uma possível hipótese para esses questionamentos refere-se à
política desenvolvimentista para os municípios que estava sendo elaborada
por meio desse zoneamento, tratando-se em critérios de desenvolvimento.
Assim, é possível pensar que não eram municípios que poderiam dispor
de um polo educacional com condições estruturais necessárias, como
também, é importante lembrar que havia municípios que estavam no que
chamavam de “Polígono da seca”, a exceção de Barreiros que estava
localizada na Zona da Mata. Portanto, não podemos inferir apenas ao
critério econômico, tendo em vista que a região açucareira que estava
localizada na Zona da Mata era considerada economicamente
desenvolvida. Sendo assim, é necessário realizar uma análise dos dados
educacionais tanto do ensino primário, como do ensino secundário, para
pensar se havia demanda do ensino nesses municípios.
Na tabela 10 fica evidenciado como a zona do Agreste foi uma das
áreas de maior desenvolvimento educacional. A capital dessa zona era
Caruaru, cidade que possuía o maior índice de escolas do Estado de
Pernambuco. No que se refere ao ensino primário, a Zona da Mata ficava
atrás do Sertão, sendo uma região de potencial econômico pela sua
112
produção canavieira e industrial em comparação com a economia
predominantemente agrícola do sertão. O que nos leva a questionar
novamente a afirmação de Cavalcanti (1960), ao afirmar que cidades do
Sertão estabelecidas no grupo V não tinham importância.
Tabela 10 Dados Gerais
Ensino Primário em Pernambuco 1955 Unidades Escolares PúblicasZonas
regionais
Fonte: PERNAMBUCO (1953).
Tabela 11 - Ensino Primário - Dados dos Municípios do Grupo V – 1955
No que se refere ao ensino secundário no grupo V, chamamos
atenção para a cidade de Sertânia, escolhida para sediar o primeiro ginásio
oficial do interior em 1948, no convênio estabelecido entre o Ministério
da Educação e o governo do estado, citado no capítulo anterior. Vale
relembrar que tal escolha desencadeou intensos debates sobre os critérios
da localização do ginásio, pois Sertânia não era considerada ideal para a
113
criação de um estabelecimento desse tipo, devido aos limites de seu precário
desenvolvimento. Além do Ginásio Estadual de Sertânia, a cidade tinha o
Ginásio Olavo Bilac que fazia parte da Campanha do Ginasiano Pobre.
Em Barreiros o ensino secundário de caráter público só se efetivou com os
esforços da prefeitura para a criação, em 1955, do Ginásio Municipal, por
força da Lei 2.180, na qual concedia auxílio e subvenção anual para
manutenção de despesas. Em 1957, por ações municipais, temos a criação
do Ginásio Municipal de Araripina. No Sertão, municípios como Floresta
e Afogados da Ingazeira, até o final dos anos 50, não contavam com
nenhum estabelecimento de ensino secundário gratuito, registrando tão
somente o ensino particular religioso.
Frente a tal realidade, pode-se refletir que esse grupo de
zoneamento foi negligenciado pela proposta de política de programação
educacional. Por outro lado, vale assinalar os esforços municipais, as ações
da localidade que visavam estabelecer um desenvolvimento educacional
para a sua respectiva região. Isso porque, os atores políticos com as
representações locais buscavam uma forma de acesso escolar para a
população. É preciso, portanto, pensar que os municípios que foram
estabelecidos como capitais de zonas não importantes tenham tido outro
movimento educacional, outra política pública.
Como nos lembra Bourdieu (1983), o campo político é
estruturado a partir das relações de poder, que se traduz em uma oposição
de forças, distribuídas entre posições dominantes e posições dominadas,
segundo o capital simbólico, econômico e cultural dos agentes e
instituições. Portanto, é considerável pensar que havia uma disputa de
forças entre esses sujeitos no que se trata de constituir uma escolarização no
interior de Pernambuco.
114
Na tabela 12 podemos observar que existiam outras forças em
disputa para expandir a escolarização em Pernambuco, isto é, o poder
político municipal, prefeitos e vereadores também participaram da luta
pela expansão do secundário por meio projetos de subvenção e auxílios.
Esse movimento se intensificou durante o governo de Cid Sampaio,
quando os ginásios receberam, por intermédio de um acordo entre a
Secretaria de Educação e Cultura e as Prefeituras Municipais, a abertura
de um crédito especial (Lei n.º 4.527, de 6 de novembro de 1962) para
subsidiar a manutenção dos ginásios municipais.
Tabela 12 - Ginásios no Interior de Pernambuco (1962)
115
Portanto, a pesquisa realizada pelo DEPE estava vinculada a uma
proposta de Política Pública que estava vinculada a uma Política
Governamental.
Assim, podemos deduzir que a educação em Pernambuco nos anos
50 e início dos 60 dispunha de dois elementos: o desenvolvimento regional
educacional por meio da proposta do programa de zoneamento e uma ação
estruturada pelo campo político de autoridade local versus o Poder
Executivo/Legislativo. Em 1963, foi estabelecida uma resolução
legitimando o estudo apresentado pelos pesquisadores do Centro de
Pesquisas Educacionais do Recife, instituindo em forma de lei o
zoneamento do Estado para fins de programação educacional por força
do art.131 da Lei Estadual 5.695, de 7 de novembro.
EMENTA: - Estabelece o zoneamento do Estado para fins de
promoção educacional nos termos do Art. 131. Da Lei Estadual 5695
de 7.10.63.
ART.2º- O Conselho Estadual de Educação utilizara a divisão
territorial estabelecida no artigo primeiro para efeito de elaborar os
planos relativos a escolaridade primária e média, incluindo a concessão
de bolsas de estado, bem como, educação supletiva de adolescentes e
adultos e formação de mão de obra.
Inciso 1º - Será estabelecido um programa de metas de escolaridade
nos diversos níveis de ensino para as diversas zonas e áreas
(PERNAMBUCO, 1963).
A proposta de uma política de zoneamento em Pernambuco foi
uma tentativa de planejamento e ordenamento educacional, com
pressuposto da formação espacial das cidades, na economia e no social,
116
influenciando a política educacional em Pernambuco. Ela possibilitou
pensar a oferta dos serviços educacionais para as regiões pernambucanas.
Esse planejamento de referenciar as zonas para criação de escolas, iniciado
nos anos 1960, seguiu fortemente com a instituição da resolução, sendo
referência no plano de serviços educacionais em Pernambuco. É possível
inferir que a constituição das zonas escolares e os níveis de ensino
determinados para cada região resultou em uma distribuição desigual nos
municípios, havendo um número maior de escolas nas Zonas da Mata e
do Agreste.
3.1 Ginásios Municipais em Pernambuco
Quando falamos de municipalização do ensino, podemos tomar
como um dos principais marcos históricos a defesa realizada por Anísio
Teixeira de que o município reuniria condições apropriadas para assumir
a gestão e a responsabilidade pelo ensino primário. Anísio Teixeira foi um
dos primeiros a elaborar uma proposta de política pública de
municipalização do ensino à época para o ensino primário. Castro (1999)
entende que Anísio Teixeira foi um dos principais intelectuais da educação
que se destacou na defesa do município como instância legítima para
assumir a educação, se posicionando de modo contrário à centralização
do poder educativo nas mãos da União, pois Teixeira entendia que:
a centralização, num país como o nosso, é uma congestão cerebral. Por
isso somos uma federação. Por isto, temos os municípios autônomos.
Ora, não é possível a federação política dos municípios, sem
equivalentes autonomias dos seus serviços de educação. [...]. E muito
do sentimento de impotência que vai pelo país, em relação à
117
possibilidade de resolver os seus problemas educativos, provém, a meu
ver, desse estrangulamento causado pela centralização federal
(TEIXEIRA, 1976, p. 184-185).
O processo político da constituição do Estado republicano
brasileiro pautou-se por um modelo de federação em que prevaleceram os
estados e não a União, dessa maneira, as tendências autônomas influíram
nos rumos da política educacional. O federalismo adotado no Brasil
consolidado com a promulgação da Constituição republicana em 1891, a
primeira da História da República no país, seguindo o modelo de
experiência norte-americana, é visto como sendo responsável pelo
aprofundamento do poder das oligarquias regionais, que tiveram sob seus
domínios responsabilidades e poderes decisórios que antes, mais
amplamente, dividiam com o poder central (MULLER, 2017, p. 194).
Dessa forma, o que ocorreu no Brasil foi uma descentralização
promovida pelo federalismo, em especial na Primeira República (1889-
1930), ampliando o poder dessas oligarquias utilizando o político-eleitoral
em contrapartida com a baixa ampliação dos direitos sociais durante esse
período, a exemplo das fraudes eleitorais, o coronelismo, o controle sobre
o voto exercido no plano municipal pelos líderes locais, e dos coronéis na
garantia e manutenção das oligarquias regionais no poder estadual. Essa
política foi chamada de política de governadores”, em Pernambuco
fortemente instituída pelos coronéis que estavam à frente da política local.
Nos anos 1950 a ação local foi protagonista no processo de expansão dos
ginásios que Pernambuco vivenciou. As prefeituras eram forçadas pelas
populações a criarem assim escolas secundárias. A demanda crescente
pelo ensino secundário, sobretudo pelo curso ginasial, somada à pressão
dos deputados que queriam atender as suas zonas eleitorais para garantir
118
seu prestígio político, apoiava as iniciativas municipais por meio de
projetos que auxiliavam a criação ou manutenção dos estabelecimentos de
ensino. Tendo em vista que a maioria deles funcionavam em grupos
escolares ou escolas reunidas, a exceção de outros que possuíam prédio
próprio custeado pela prefeitura.
Várias prefeituras após criado o Ginásio Municipal necessitavam
de recursos do estado ou entregavam a direção para uma instituição
religiosa ou particular. O discurso de expandir a rede de ginásios estava na
necessidade de democratizar o ensino e levar a instrução para a juventude
pernambucana, principalmente nas cidades onde a ausência educacional
era presente. Sobretudo, faço destaque para a quantidade de subvenções
que eram destinadas à manutenção desses ginásios. Isso pode ser visto na
justificativa do Projeto 148/1951 do Deputado José Mixto (UDN) que
estabelecia um auxílio anual ao Ginásio Municipal 3 de Agosto, no
município de Vitória de Santo Antão é:
A Prefeitura Municipal de Vitória do Santo Antão mantém o Ginásio
3 de Agosto pesando demasiadamente no seu orçamento, mas como se
trata de uma obra de grande relevância não tem sido negado o apoio
merecido. O prédio e as instalações pertencem a Prefeitura municipal
em que foram investidas grandes somas, mas muito embora sejam
demasiadamente pesadas as inversões de numerário, o desejo de servir
a coletividade não tem encontrado obstáculos. A Entidade mantém
numa matrícula de cêrca de 200 alunos no referido educandário mais
de sessenta alunos gratuitos reconhecidamente pobres e filhos de
funcionários, ou seja, quase um terço da matrícula (PERNAMBUCO,
1951).
119
Diante disso, Azevedo (1997) expressa que o comportamento dos
atores políticos, ao tomarem decisões que conduzem à sua definição e
formulação, estão se apoiando em algum tipo de definição social da
realidade, peculiar a determinados grupos. No caso da justificativa
apresentada pelo deputado, ele estava definindo a sua defesa em prol da
ação municipal alinhando-se a uma hegemonia de uma dada esfera de ão,
que estava na necessidade de subvenção ao ginásio municipal.
No final dos anos 50 o órgão de Assistência Educacional
25
às
Prefeituras Municipais teve uma maior atuação na administração do
governador Cid Sampaio. De acordo com a mensagem de governador, era
necessário criar um órgão para solucionar os problemas do deficit escolar:
Os problemas do déficit escolar e consequente índice de analfabetismo
reportam-se a épocas muito remotas, causados por fatores econômicos-
sociais e administrativos que não podem ser solucionados com a
necessária presteza, mas tenta o ASSEPRE dar soluções a esses
problemas, prestando às Prefeituras Municipais dentro do que permite
a Constituição Federal, respeitada a independência político-
administrativa, a necessária assistência técnico-pedagógica
(PERNAMBUCO, 1959).
Como ponto inicial do seu trabalho, o órgão entrou em contato
com as Prefeituras Municipais, estabelecendo com os prefeitos convênios
com a Secretaria de Educação, a fim de que pudesse a rede escolar
municipal beneficiar com a assistência. Em seguida, foram convocados os
Inspetores Orientadores do Interior, com o objetivo de realizar um
levantamento geral dos municípios com especial atenção para as condições
educacionais de cada um, por meio de um questionário para terem
conhecimento da situação geral do município, de modo a realizar a
120
aplicação de um mesmo plano de trabalho as localidades que apresentavam
condições de vida semelhante (PERNAMBUCO, 1959).
Durante o governo de Cid Sampaio o departamento investiu em
cinquenta municípios, planejando, orientando e colaborando com as
prefeituras para a ampliação na escolarização, o resultado dessas
articulações foi o aumento dos auxílios para assistência dos ginásios.
Segundo dados das Sinopses Estatísticas do Ensino Médio, é notável
o crescimento de escolas municipais no interior pernambucano. É
importante assinalar a diferenciação regional no processo de expansão, o
qual ocorreu privilegiando as regiões no interior com potência
economicamente favorável. A interiorização dos ginásios era resultado de
um discurso político que estava sendo acompanhada com as
transformações econômicas, sociais e culturais no estado. Apesar dessa
pequena ampliação na rede pública, a expansão da rede particular é
evidente nos dados apresentados na Tabela 14, os empasses entre o público
e o privado eram evidentes. Entre 1945 e 1964, houve um aumento de
6,4% da rede estadual, 13,2% da municipal e 80% da rede particular. A
predominância de estabelecimentos privados é superior em altos números.
Como podemos observar na tabela 13, os dados referentes ao ciclo ginasial
se destacam com a predominância dos ginásios municipais.
121
Tabela 13 - Discriminação por entidades mantenedoras do Ensino Secundário em
Pernambuco Ciclo Ginasial (1945-1964)
Os dados que são apresentados nesta pesquisa são aproximados,
tendo em vista as imperfeições encontradas em confronto com outras
fontes de dados estatísticos. Isso se verifica no sistema de organização
instituído pela Diretoria Geral de Estatísticas em estabelecer, com
ausências, um grau de dados que permitissem a elaboração de quadros
completos estatísticos do sistema escolar brasileiro no século XIX e início
do século XX (GIL, 2017). O Estado acompanhou as políticas de
transformações e modernizações dos dados educacionais para planejar as
ações e obrigar os atores políticos a se submeter a elas. Esse discurso foi
intenso nas décadas de 1930 e 1940 indicando a necessidade de se
conhecer os problemas do Brasil, e a estatística foi uma estratégia para
traçar diretrizes. Segundo Gomes (2007, p. 45):
Os Estados nacionais, quase sempre e quase desde sempre, precisaram
se informar sobre as características de seu território e de seu povo.
Quantificar, mensurar, mapear são operações que sustentam o
conhecimento da “realidade” e permitem traçar políticas, como a de
tributar e garantir a segurança, isto é, de exercer as tarefas próprias dos
Estados modernos. Para tanto, instituições específicas são necessárias.
122
As instituições que foram sendo criadas para atuar no campo
estatístico avançaram nas pesquisas sobre a escola, dados, pesquisas de
evasão, melhoramento nos padrões de mensuração, mas isso implicava
uma correlação com os Estados, suas instâncias regionais, dados que ficam
imprecisos quando se confrontam as fontes. A uniformização da estatística
da educação e seu aperfeiçoamento foi um processo de instabilidades.
Nesse sentido, centrar um quadro de quantidade de escolas, no caso de
Pernambuco, é se basear em aproximações. Dada a crítica à fonte, é preciso
pensar como o sistema organizacional de educação ainda precisa avançar
para compreender esse abismo existente na educação brasileira e no acesso
à escolarização por meio dos dados estatísticos.
Mais uma vez retomando às indicações de Bourdieu (1983), vale
ressaltar que campo é sempre caracterizado pelas lutas concorrenciais entre
os agentes, em torno de interesses específicos. Pernambuco avançou
gradualmente seus ginásios pelo interior, na relação estabelecida entre os
atores políticos estaduais e regionais, sendo exemplo disso a quantidade de
ginásios municipais pelo interior do estado. É expressiva a quantidade de
escolas nas regiões interioranas do Sertão, Zona da Mata e Agreste. A
interiorização resultou na configuração social e econômica pela qual a
cidade estava passando, portanto, a educação foi protagonizadora para se
inserir no desenvolvimento da sociedade pernambucana.
Recursos financeiros para o ensino ginasial
Não se pretende aqui realizar um estudo aprofundado sobre o
financiamento educacional no Estado de Pernambuco, mas apresentar um
levantamento inicial da distribuição dos subsídios educacionais para uma
123
educação gratuita e apontar as tendências da Política Financeira da
Educação no estado. Além de uma redistribuição de recursos
governamentais no setor educacional, é necessário dispormos de uma visão
sobre o crescimento dos gastos nessa área e nos diferentes níveis das esferas
administrativas. As dificuldades encontradas para reunir dados dos
recursos se dão na variação dessas distribuições, recorrendo a fontes
distintas de informação, como: desde dados orçamentários, nas mensagens
de governadores aos dados econômicos expressos nos anuários; além
desses, duas pesquisas realizadas pelo Centro de Pesquisas Educacionais do
Recife: “Levantamento dos Recursos Financeiros para Educação em
Pernambuco” de autoria dos pesquisadores Antônio Carolina Gonçalves e
Itamar de Abreu Vasconcelos, o estudo sobre “Levantamento bibliográfico
de Economia e Finanças Educacionais” da pesquisadora Myriam Brindeiro
de Moraes Vasconcelos. O levantamento dos gastos do governo permite
discutir as restrições existentes ao princípio da igualdade de oportunidades
educacionais e o caráter redistributivo dos gastos federais.
No que se refere às discriminações dos recursos no sistema
brasileiro, as despesas governamentais eram financiadas com recursos
orçamentários e, em outros casos, também eram utilizados recursos extra
orçamentários. No primeiro caso, a existência do vínculo garante a
utilização dos recursos arrecadados a partir de uma lei específica. Quando
não ocorre vinculação, o governo pode dispor dos recursos livremente, em
qualquer dos setores. Os recursos extraorçamentários provêm de receitas
que não estão consignadas no orçamento, como os fundos que eram
provenientes da Loteria Esportiva (a partir da receita líquida da exploração
da loteria que era destinada expressamente à educação).
Logo, como a maior parcela da receita tributária era arrecadada
pelo governo federal, as transferências da União para os Estados e
124
Municípios eram importantes para o financiamento das despesas destes
níveis de governo. Segundo Souza (1977), o que ocorria era uma
centralização excessiva da arrecadação tributária, sendo os principais
tributos de responsabilidade da União, como os Impostos de Renda, de
Produtos Industrializados e de Importação; dos Estados, o Imposto sobre
circulação de mercadorias; e dos Municípios, o Imposto Predial e
Territorial Urbano e o Imposto sobre serviços.
No Brasil, como informa Melchior (1975), algumas fontes de
recursos vinculados foram estabelecidas desde o século XVII como o
subsídio literário instituído em 1772 constituindo na primeira vinculação
que favoreceu a educação. Sua arrecadação efetuou-se para arcar com os
gastos do ensino, tornado público após a expulsão dos jesuítas pelo
Marquês de Pombal, em 1759. Em 1932, o Fundo de Educação e Saúde
foi constituído com a arrecadação da taxa de educação e saúde, que incidia
sobre qualquer documento obrigatoriamente selado. Seguindo, em 1942,
o Fundo Nacional do Ensino Primário, era baseado em um adicional de
5% sobre o Imposto de Consumo incidente das bebidas. para o Fundo
Nacional do Ensino Médio, criado em 1954, não foi atribuído fonte
tributária. Esse Fundo estabelecia:
Art. O Fundo Nacional do Ensino Médio, instituído pela Lei nº
2.342, de 25 de novembro de 1954, tem como objetivo concorrer para
a manutenção, o aperfeiçoamento, a difusão e a acessibilidade do
ensino de grau médio, contribuindo financeiramente, na estrita
medida das necessidades dos alunos, dos professôres e dos
estabelecimentos, para proporcionar maior número de oportunidade
educacionais, sem prejuízo da qualidade do ensino e da remuneração
do trabalho docente.
Art. Constituem recursos do Fundo Nacional do Ensino Médio:
125
- dotação orçamentária nunca inferior a 0,01 (um centésimo) da renda
do União resultante dos impostos;
- renda proveniente dos tributos federais que para êsse fim vierem a ser
criados;
- juros de depósitos bancários do mesmo Fundo.
Art.Os créditos orçamentários e adicionais destinados ao Fundo
Nacional do Ensino Médio serão, automaticamente, registradas Pelo
Tribunal de Contas e distribuídos ao Tesouro Nacional.
Art. Os recursos destinados ao Fundo Nacional do Ensino Médio
serão depositadas no Banco do Brasil Sociedade Anônima ou na Caixa
Econômica Federal do Rio de Janeiro, em conta especial à disposição
do Ministério da Educação e Cultura.
Art. Os recursos do Fundo Nacional do Ensino dio são
destinados
a) bôlsas de estudo aos adolescentes mais capazes, dentro os
necessitados;
b) subsídios para manutenção de estabelecimento de ensino
secundário, comercial e industrial, sob a forma de auxílio ao
próprio estabelecimento ou suplementação de salários de
professores;
c) contribuições a entidades públicas ou privadas, para promover a
difusão e o aperfeiçoamento do ensino de grau médio, inclusive
para ampliação e melhoria do aparelhamento escolar (BRASIL,
1954).
É evidente que o propósito do legislador, ao criar esses distintos
fundos estabelecidos nas constituições, foi exercer a sua ação supletiva de
forma a estimular e ajudar os Estados e os Municípios no cumprimento de
suas atribuições, como também de dar maior viabilidade a um plano de
assistência financeira para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento dos
126
sistemas estaduais de educação, sem prejuízo das obrigações da União.
Como também, fixar um percentual mínimo da receita tributária para ser
obrigatoriamente gasto em educação por determinados níveis
governamentais. Na constituição de 1934 era estabelecido um percentual
de 10% para a União e Municípios, e de 20% para o Distrito Federal e
Estados. Na Constituição de 1937 a obrigação foi retirada, voltando na
Constituição de 1946 quando estabeleceu um percentual relativo aos
municípios que passou a ser 20%. Com a Lei de Diretrizes e Bases em
1961, ampliou-se o percentual da União para 12%, mantendo nas demais
esferas administrativas os 20%.
Com a ampliação dessa política e da própria distribuição dos
recursos federais em parcelas iguais para os três veis de ensino, estava
determinante que a União reconhecia sua ação suplementar, mas não
desejava assumir a responsabilidade dos sistemas de ensino em seus três
níveis. Na verdade, a suplementação se dava em auxiliar os serviços locais
de educação, oferecendo ajuda maior, proporcionalmente, aos ensinos de
nível médio e superior.
A descentralização possibilitou uma maior responsabilidade dos
Estados e Municípios para garantir recursos ao sistema educacional, e a
dependência de auxílio e subvenções para as respectivas esferas
administrativas. Havia um conflito da política educacional provocado pela
descentralização da responsabilidade de providenciar o ensino, sem que
houvesse uma contrapartida de recursos. As controvérsias em relação ao
ensino público mostram o descompasso entre a descentralização nas
obrigações de providenciar os recursos e o excesso de centralização da
arrecadação tributária. Haja vista as disparidades econômicas no nosso país
e existindo uma desigualdade na distribuição, resultando na necessidade
dos Estados e Municípios organizarem seus financiamentos, mas
127
mantendo certa dependência de recursos da União por meio dos auxílios e
subvenções.
No caso de Pernambuco, a Constituição Estadual de 1947 previa:
SEÇÃO IV
Da elaboração do orçamento
Art.40 O orçamento será uno, incorporando-se à receita,
obrigatoriamente todas as rendas e suprimentos de fundos, e
incluindo-se discriminadamente na despesa as dotações
necessárias ao custeio de todos os serviços públicos.
Art. 41 Na organização e execução do orçamento serão
observadas as normas que seguem:
I- Destinação e aplicação obrigatórias das seguintes
percentagens mínimas, calculadas sobre o total da renda
tributária prevista do Estado:
b) vinte e cinco por cento (25%) à manutenção e
desenvolvimento dos seviços de instrução, educação e saúde
pública.
TÍTULO IV
Da família, da saúde e educação e da cultura
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕ1ES GERAIS
Art.132. O Estado manterá um sistema de ensino tão completo
quanto possível, abrangendo todas as modalidades e graus, e
128
observando o plano esboçado na Constituição Federal,
convenientemente adaptado às contingências locais, sempre que
as mesmas o exigirem.
Art.135. O Estado e os Municípios aplicarão nunca menos de
vinte e cinco por cento (25%) de sua renda ao serviço de
instrução e saúde pública, nos têrmos do artigo 11, nº I ,letra b.
Art. 136. O ensino primário, secundário e superior, mantido
pelo Estado, será inteiramente gratuito.
Art.137. Fica instituído o Fundo de Educação, que será regulado
por lei e administrado pelo Estado.
(Inciso) 1º. Para esse fim os Municípios cooperarão com o
Estado, estabelecendo convênios para a organização e
manutenção do sistema escolar, e regime comum de verbas
destinadas ao custeio dos serviços.
(INCISO )2º. A esse Fundo se acrescentará o auxílio que a
União conceder.
(inciso ) 3º Os recursos do Fundo de Educação serão aplicados
inclusive no fornecimento de material escolar a começas pelas
escolas rurais , na organização de bolsas de estudo, na assistência
médico-dentária, na instituição da merenda escolar e na criação
de colônias de férias
Art.141. Com o auxílio dos Municípios beneficiados, o Estado
deverá criar, nas cidades de população superior a quinze mil
(15.000) habitantes estabelecimentos oficiais de ensino
secundário.
Em relação ao Art. 135 da Constituição do Estado, estava
condicionada a determinação da União, no que se refere à obtenção do
auxílio. Sendo que o auxílio federal somente seria concedido no caso do
Estado e do Município destinarem no mínimo 20% dos seus recursos de
129
impostos ao ensino. De acordo com Teixeira (1962), o auxílio visaria
expandir o ensino a maior número de alunos e a melhorar a sua qualidade,
tendo sempre por base o custo do aluno. No caso da expansão da
matrícula, o auxílio seria o do custo total dos novos alunos; no caso de
melhoria do ensino, o auxílio seria um reforço a esse custo do aluno,
ajudando na elevação do nível e qualidade do ensino. No convênio a ser
assinado, seriam fixadas as condições para o recebimento do auxílio, bem
como as do empréstimo e equipamento, a ser amortizado com 20% dos
recursos despendidos pelo Município e pelo Estado, além dos 10% do
auxílio federal retido para esse fim.
Em Pernambuco, essa política de beneficiamento foi reforçada a
partir da criação de leis de assistência por meio de subvenção para as
escolas. Em 1948, como já foi citado no primeiro capítulo, foi estabelecido
um regime de subvenção aos estabelecimentos de ensino do interior, com
a Lei n.º 372 de 2 de dezembro. De acordo com a lei, metade da soma
fixada pelo governo deveria ser empregada em matrículas gratuitas a
candidatos de comprovada pobreza. Por outro lado, os estabelecimentos
teriam de provar acharem-se em regime de inspeção preliminar ou
permanente, em situação financeira precária e demostrar suas
possibilidades materiais e técnicas. Durante o governo de Barbosa Lima
Sobrinho (PSD) as iniciativas para criação de escolas secundárias públicas
se deu primeiramente com convênios estabelecidos com o Ministério da
Educação e os recursos destinados a bolsas escolares.
As relações estabelecidas entre o campo político na composição dos
atores e suas influências é exemplificado no caso da boa relação que Barbosa
Lima Sobrinho tinha com o governo federal, como também a influência
de Agamenon Magalhães sendo um dos promotores de sua campanha e
articulador do Partido Social Democrático (PSD). É possível questionar
130
que no campo político de articulações, a escolha de criar o primeiro ginásio
público no interior no Sertão tenha sido um meio populista do próprio
jogo político, sendo que Sertânia foi a cidade que Agamenon Magalhães
nasceu, e dos municípios no interior, era a zona eleitoral que detinha maior
apoio a ele.
Portanto, pode-se dizer que havia dois movimentos na política
financeira educacional em Pernambuco: a dependência das subvenções e
auxílios, e a atuação do município na criação dos ginásios. Pernambuco,
na década de 50, apresentava algumas deficiências econômicas, como
elevadas taxas de crescimento demográfico resultando em um movimento
migratório intenso, o fenômeno das secas, os males do latifúndio
improdutivo, as deficiências de distribuição de energia elétrica, o
analfabetismo e a mortalidade infantil. O Estado na sua política financeira
teve que exercer uma redução de recursos, em consequências desses
problemas sociais.
A estratégia foi a criação de um fundo, que fixava um percentual
mínimo da receita tributária para a obrigatoriedade nos gastos em
educação, tanto pelo governo federal, municipal e estadual. O subsídio
que o governo concedia era mediante o oferecimento de vagas gratuitas em
escolas públicas e de bolsas de estudo para que os alunos pudessem
frequentar o ensino particular. Essas bolsas de estudos eram distribuídas
aos alunos em zonas onde a oferta do ensino público era insuficiente.
As realizações na educação durante o governo de Etelvino Lins
(1952-1955) merecem destaque, no que se refere à composição de
financiamento do governo federal por força da verba orçamentária, como
também o orçamento do Estado. De acordo com os dados do
Departamento de Prédios Escolares, no governo Etelvino foram
mobiliados e construídos diversos estabelecimentos, tanto de nível
131
primário, secundário e normal, decorrentes dos acordos firmados com o
INEP. No que se refere a sua gestão, é importante destacar que sua política
de governo foi apenas uma continuidade das medidas de Agamenon
Magalhães
26
, devido a restrições financeiras no orçamento do Estado para
o ano seguinte ao início de sua gestão, que iniciou no ano de 1952.
O programa de governo de Etelvino Lins
27
(1952-1955) priorizou
a instalação e funcionamento dos ginásios subordinados ao Quadro
orçamentário n.º 919 Fundo Especial de Ensino, do Orçamento do
Estado, nos termos do artigo 9º, parágrafo únicas letras a e b da Lei nº
1.970, de 20 de novembro de 1954. O fundo criado pelo governador
Etelvino Lins dependia de recursos permanentes para a assistência escolar.
Assim, os recursos para o ano de 1955 estavam aparelhados a suprir sua
vinculação a todos os graus do ensino público estadual. No orçamento
estava previsto: em Jaboatão Criação e instalação do Ginásio de Jaboatão,
despendida a importância de Cr$ 121.699,00, com aquisição do
mobiliário e do material de laboratório. Em Serra Talhada, o Ginásio
Municipal com 6 salas de aulas; e em Sertânia, custeio para acabamento e
instalação do Ginásio de Sertânia. No caso desta escola, houve recursos
tanto da União como do Estado (PERNAMBUCO, 1954).
Até o final dos anos cinquenta os investimentos educacionais em
Pernambuco seguiram em dualidade com a participação de orçamentos
tanto ao nível federal e estadual para criação de escolas. O governo de
Cordeiro Faria (1955-1958) teve que enfrentar o deficit da permanência
da população na escola, assim seu programa se dedicou à assistência por
meio de bolsas escolares, priorizando no plano de governo do quadriênio
o aumento do movimento de bolsas escolares para os mais carentes, em
decorrência da baixa conclusão do curso de ciclo ginasial pelos estudantes
132
do Estado. Na tabela 14 podemos observar o baixo número de conclusão
do ensino ginasial no Estado.
Tabela 14 - Dados gerais - Ensino Secundário em Pernambuco Ciclo Ginasial
Fonte: Adaptado de BRASIL (1950/1960).
Em relação à distribuição de bolsas escolares, os valores do quadro
15, abaixo, referentes às dotações orçamentárias demonstram aumento em
oferecer auxílio aos estabelecimentos de ensino secundário. As bolsas
escolares, desde 1948, faziam parte de uma política “compensatória” e, ao
mesmo tempo, um reforço legitimado pelos poderes públicos. O
protagonismo das escolas particulares como maiores entidades recebedoras
de recursos para oferecer escolaridade fica em evidência. Em Pernambuco
tivemos a Lei n.º 372 de 2 de dezembro de 1948 que estabeleceu auxílio
ou subvenções. Essa verba fazia parte da Diretoria de Assistência Escolar
da Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco - Fundo para o
Ensino, estabelecido na Constituição do Estado no art. 137, inciso 3.º. Os
convênios estavam relacionados a recursos do governo federal.
133
Tabela 15 - Verbas destinadas a Bolsas Escolares
Apesar da instituição de verbas fixas para a instituição das bolsas
escolares, os debates travados no poder legislativo requerendo mais auxílio
nessa categoria eram constantes. O discurso político e suas ações, com o
objetivo de ampliar as oportunidades de acesso à educação, centravam- se
na pobreza e na ausência de escolas públicas para as regiões mais carecidas
de educação. Por exemplo, no requerimento apresentado pelos deputados
Andrade Lima Filho, Nilo Pereira, José Mixto de Oliveira e Alcides
Teixeira da bancada do PSD, em 1954 constava a necessidade de 200
bolsas escolares.
A instituição da bolsa escolar, iniciativa a que, aliás, está ligado o
nome do atual governador, tem prestado relevantes serviços aos pais de
família pobres do Estado, pois graças a mesma, milhares de crianças
têm conseguido fazer seus estudos nos estabelecimentos de ensino desta
capital e do interior” (PERNAMBUCO, 1954b).
Partia-se do pressuposto de que se poderia resolver o problema da
pobreza apenas instituindo bolsas, mas, de fato, este discurso populista
veiculado pelos atores políticos frente à ausência de escolarização e suas
problemáticas regionais foi predominante. Não existia um planejamento
134
de permanência dos alunos nas escolas, para além da bolsa de estudos; além
disso, essas bolsas dependiam de renovação anual, o que nem sempre
ocorria pelos estabelecimentos que as demandavam. De acordo com os
dados levantados e apresentados na tabela 16, as subvenções recebidas
entre os anos 1957 e 1959 eram de vinculação orçamentária pública,
ficando o ensino particular como segunda entidade de maior recebimento
dos recursos. Não houve uma distinção específica de que categoria de
subvenção e auxílios, tendo em vista que existiam diversos ramos, desde a
bolsa escolar, auxílio para mobília, criação, material escolar, fardamento
etc. Segundo Muller (2017), com a adoção do federalismo e a ampliação
dos recursos que ficavam nas mãos dos Estados, o comportamento de cada
um em relação aos gastos com educação definiu os avanços na escolarização
como assinalado anteriormente. O governo de Cordeiro de Farias (1955-
1958) dedicou-se a uma política de ampliação dessa política
assistencialista.
Tabela 16 - Subveões e auxílios recebidos pelos estabelecimentos de Ensino
Secundário em Pernambuco
No final dos anos 1950, Pernambuco institui uma nova política
direcionada ao estado. O Brasil estava vivenciando o mais alto projeto
135
desenvolvimentista sob o governo de Juscelino Kubitschek, o chamado
“Brasil de JK”, cujo objetivo era levar desenvolvimento para todo território
brasileiro. E os estados acompanharam essa política, em especial
Pernambuco que teve várias transformações no final dos anos 50 e início
dos 60. A proposta de uma política regional e desenvolvimentista no
governo de Cid Sampaio (UDN) visava arrancar Pernambuco da
estagnação econômica e buscar mais recursos para a região Nordeste,
estabelecendo uma proposta de unificação entre os estados para dispor de
maiores investimentos. Criações de órgãos como CODENO, que
futuramente se tornou SUDENE, com o objetivo de criar um
planejamento regional que assegurasse uma programação de recursos
necessários para a integração do Nordeste no desenvolvimento nacional,
foi uma das modificações do chamado projeto nacional-
desenvolvimentista que ocorreu em Pernambuco.
Não havia apenas desigualdades educacionais. Existia um
problema regional, de disparidade no padrão de desenvolvimento entre as
regiões. O social e o educacional necessitavam se constituir juntos, abrir
escolas por critérios apenas políticos não assegurava um acesso à
escolarização, haja vista que os dados apresentavam uma baixa conclusão
do ano letivo, resultado da falta de políticas de permanência na escola.
Existiam regiões em Pernambuco cuja maioria das localidades ressentiam
de políticas sociais, isto é, dependiam de condições para atender uma
escola. Existiam deficiências estruturais como a carência de prédios
escolares e recursos humanos, além da evasão escolar e da repetência,
problemas decorrentes de origem socioeconômica dos alunos.
Em uma análise comparativa em relação a aplicação dos recursos
28
entre os governos, podemos inferir que no governo de Barbosa Lima
Sobrinho (1948-1951) e Etelvino Lins (1952- 1955), os investimentos
136
educacionais tiveram um aumento de 12%, no governo de Cordeiro Faria
(1955-1958) houve uma variação de 61,55% no aumento dos
investimentos educacionais. Portanto, entre 1950 e 1959 houve um
aumento de 5% nos investimentos na educação em Pernambuco. Mas, foi
durante o governo de Cid Feijó Sampaio (1959-1962) que ocorreu um
aumento em todas as áreas do investimento, incluindo a educação. Essa
transformação na ampliação educacional fica mais evidente quando
observamos a criação de ginásios estaduais por intermédio de decretos
governamentais e não apenas das ações dos deputados com seus projetos
de leis.
Tabela 17 - Despesas e Receitas, por Governo (1948-1963)
Fonte: Adaptado de BRASIL (1950/1960).
É importante destacar a aproximação que o Estado de Pernambuco
teve em 1962 com o governo norte americano por meio do Serviço
Educacional Aliança para o Progresso, durante a gestão de Cid Feijó
(1959-1962). A atuação da Aliança para o Progresso tinha em vista o
enfrentamento das manifestações sociais que ocorreram em Pernambuco
no início da década de 1960, a exemplo, as Ligas Camponesas
29
, avivando
o espectro da Revolução Cubana (PAGE, 1972). Portanto, o
assistencialismo dos EUA ao Nordeste, previa um controle interno dos
137
movimentos sociais que estavam ocorrendo em vários estados. Visando a
esse controle, vários programas foram criados, principalmente na área
social e educacional.
Em 1962 o secretário de educação e cultura de Pernambuco,
Lourival Vilanova, anunciou que o governo do estado estava próximo de
celebrar um acordo de combate e redução do analfabetismo. As reuniões
com funcionários da Embaixada norte americana e dos representantes do
Programa Ponto IV resultaram na aprovação “dos termos de um convênio
que estabelecesse um programa cooperativo de ação flexível e eficiente, a
fim de atingir aqueles objetivos”
30
(PERNAMBUCO, 1963).
O acordo no setor educacional estabeleceu financeiramente ao Estado a
importância de Cr$132.500.00 que deveria ser aplicada a construções
escolares e aquisição de mobiliário e equipamento escolar. Esse
convênio resultava em um fundo conjunto, no qual o governo de
Pernambuco deveria contribuir mensalmente com Cr$ 11.900.000,00.
Assim, foi elaborado um plano de construções escolares e instituído um
órgão de estudos, fiscalização e execução constituído por engenheiros e
técnicos da Comissão Coordenadora de Construções Escolares da Aliança
para o Progresso (PERNAMBUCO, 1963). Essa comissão estava
vinculada ao Departamento de Obras da Secretária de Viação. De acordo
com a mensagem do governador Cid Feijó Sampaio apresentado à
Assembleia Legislativa, esse programa havia propiciado um conjunto de
avanços no campo da educação:
Em menos de um semestre, através de uma ação intensiva, rápida e
sistematizada, houve a edificação de 60 salas de aula, ficando em
construção mais de 250 distribdas pela capital e interior do Estado.
Os programas de construção e aquisição de mobiliários são feitos
138
trimestralmente. O plano global prevê 1.200 salas de aula, obrigando-
se o governo norte americano, através da USAID, a inverter o
programa conjunto a soma de 1 milhão de dólares (PENAMBUCO,
1963).
Cid Fei Sampaio, por meio do Decreto n 752 de 27 de
agosto de 1962, autorizou a criação da Comissão Coordenadora de
Construções Escolares da Aliança para o Progresso, cuja finalidade era
acelerar “o volume dos serviços correspondente à execução do mencionado
programa e a necessidade do máximo aproveitamento do espaço de tempo
reservado à sua realização”. O decreto estabelecido consistia em uma
espécie de “plano de emergência” a ser concluído até o final do seu
mandato, (que ocorreria no início de 1963), prevendo a criação de 75 salas
de aula em todo o estado.
Ampliação de 7 salas do G.E. Olinto Victor, na Várzea; ampliação
de 6 salas no
G.E. Rigueira Costa; ampliação de 6 salas no G.E. Vidal de Negreiros;
ampliação de 6 salas do G.E. Dom Vital; e ampliação de mais 6 salas
no G.E. de Vitória de Santo Antão; construção de um grupo escolar de
10 salas em Caruaru; construção de um G.E. de 8 salas em Palmares;
construção de um ginásio de 10 salas em Jaboatão; e um outro ginásio
de 10 salas em Catende (PERNAMBUCO, 1963, grifos nossos).
A política de Cid Feijó Sampaio foi mais longe do que a de seus
antecessores e caminhou junto com a ideologia nacional
desenvolvimentista. Tal política previa o crescimento na produção
industrial, da infraestrutura de setores da educação, da saúde e da
assistência social, com a participação ativa do estado e com a participação
139
do capital estrangeiro; movimento que ocorreu em Pernambuco e no Brasil
com a atuação da Aliança Para o Progresso.
De acordo com os dados da pesquisa sobre levantamento dos
recursos financeiros para a educação em Pernambuco, entre os anos de
1958 a 1962, o estado situava-se no lugar privilegiado quanto às dotações
orçamentárias para a educação. A tabela 18 nos mostra a percentagem dos
Orçamentos para a Educação em relação aos Orçamentos Gerais, como
também o aumento sobre o ano-base (1958) e a percentagem desse
aumento. Em relação à percentagem, há uma evolução gradativa nas esferas
federal e estadual, na esfera municipal acréscimos e decréscimos.
Portanto, podemos assim aproximar uma situação favorável no que se
trata das verbas, isso não quer dizer que o Estado tenha chegado a uma
situação ideal nesse campo, mas que suas verbas educacionais estaduais
tiveram um aumento proporcional maior que as esferas municipais e
federais. E esse aumento se deve principalmente no governo de Cid Fei
Sampaio.
Tabela 18 - Percentagem dos Orçamentos para Educação em Relação aos Orçamentos
Gerais
140
(continuação)
Fonte: Anuário Estatístico de Pernambuco .
141
(conclusão)
142
Na tabela 21 que apresento sobre a discriminação orçamentária
para a educação ginasial, observei alguns aspectos nas leis que estabeleciam
os ginásios. Para compreender melhor o processo de financiamento,
realizei a categorização de dois termos (Subvenção e Auxílio). Na análise
das leis de criação dos estabelecimentos observei essa diferenciação, e
compreendi que havia uma certa hierarquização para aplicação dos
recursos. Os investimentos do Estado claramente foram uma vinculação
de recursos que predominou para criação das escolas. Mas, cabe explicar,
primeiramente, sobre a questão da subvenção e do auxílio no que se refere
a uma descentralização de verbas, uma vez que ocasionou em Pernambuco
uma política financeira baseada no hibridismo de verbas. Tanto o auxílio
como a subvenção eram decorrentes da Lei de Orçamentos (LOA)
destinadas a atender as despesas, sejam elas feitas pela União como pelo
Estado. Segundo a Lei nº. 1.493, de 13 de dezembro de 1951, instituída
pelo ente federativo:
Art. 1º A cooperação financeira proporcionada pela União à
instituições públicas, autárquicas, semi-estatais ou privadas far-se-á
mediante auxílios e subvenções, para o que haverá consignação própria
no Orçamento Geral da República.
Art. 2º Os auxílios serão concedidos em virtude de lei, decreto, tratado
ou convênio, para atender a ônus ou encargos assumidos pela União
para com instituições públicas, autárquicas ou semi-estatais.
Art. 3º As subvenções, ordinárias ou extraordinárias, serão concedidas,
independente de legislação especial, a instituições privadas de caráter
assistencial ou cultural, regularmente organizadas.
§ 1º As subvenções ordinárias, que serão concedidas anualmente, em
caráter continuado, terão por fim ajudar as instituições no custeio
normal de seus serviços.
143
§ 2º As subvenções extraordinárias, que terão caráter eventual e serão
concedidas sem prejuízo das subvenções ordinárias porventura
atribuídas às respectivas instituições, destinar-se-ão a realizações de
natureza especial e temporária, principalmente execução de obras,
melhoramentos e adaptações, aquisições de imóveis, instalações e
equipamentos (BRASIL, 1951).
Portanto, os auxílios consistiam em despesas decorrentes da Lei
Orçamentária (Federal ou Estadual) e eram destinados a auxiliar fundações
instituídas pelo Poder Público e entidades semi- estatais ou sem fins
lucrativos. Por sua vez, as subvenções diziam respeito as dotações
destinadas a cobrir instituições privadas de caráter assistencial ou cultural.
Os projetos de leis que foram apresentados à Assembleia Legislativa em
Pernambuco, se diversificaram em atender estabelecimentos particulares
via subvenções. De um lado, existiam as subvenções para estabelecimentos
criados por fundações e autarquias que realizavam o requerimento de
assistência para manutenção do estabelecimento com o critério de
matricular alunos bolsistas. E do outro, existiam escolas que eram
inteiramente gratuitas, mas foram criadas por entidade que não conseguia
arcar com as despesas, a exemplo das escolas municipais criadas resultantes
da ação da prefeitura que acabavam necessitando de auxílio. Por exemplo,
o caso do Ginásio Municipal de Palmares, para o qual a Lei nº 363, de 24
de dezembro, destinou verbas para a Prefeitura “art.1 o governo do Estado
fica autorizado a abrir um crédito especial de duzentos mim cruzeiros
destinado à criação de um estabelecimento de ensino secundário oficial na
cidade de Palmares”. O crédito que trata o artigo anterior se dado à
Prefeitura do referido município (PERNAMBUCO, 1948d).
É digno de nota que algumas escolas recebiam duas categorias de
despesas, auxílios e subvenções, como podemos observar em relação ao
144
Ginásio Municipal de Barreiros, cuja Lei nº 2169, de 3 de agosto de 1955,
concedeu subvenção e auxílio.
ART.1º- É concedida, em caráter permanente ao Ginásio Municipal
dos Barreiros, a subvenção anual de Cr$ 12.000,00, a qual deverá ser
discriminada em dotação própria no orçamento do Estado.
ART.2º - A subvenção acima será para efeito de pagamento, divida
em duodécimos e visa ressarcimento de parte das despesas de
manutenção a instituição beneficiária, cujo ensino que ministra é
inteiramente gratuito.
ART.3º - É também concedido ao Ginásio Municipal dos Barreiros, o
auxílio de Cr$200.000,00 para as despesas necessárias a melhoria de
suas instalações, ou ainda de adaptação ou aquisição de prédio
destinando ao seu funcionamento.
ART.4º - Para execução desta lei fica o Chefe do Poder Executivo
autorizado a aplicar no corrente exercício financeiro a importância de
Cr$320.000,00 por conta da consignação 919.8314- Fundo Especial
de Ensino da vigente lei orçamentária do Estado (PERNAMBUCO,
1955).
O avanço das políticas de financiamento são perceptíveis na tabela
21, a seguir, desde os convênios estabelecidos pelo MEC, órgãos
internacionais e recursos previstos na LOA, como a criação do Fundo de
Ensino.
145
Tabela 21 - Provimento das Verbas Educacionais dos Ginásios em Pernambuco
Fonte: Adaptado de ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE PERNAMBUCO.
146
(conclusão)
Elaborado pela autora (2021).
Fonte: Assembleia Legislativa de Pernambuco.
147
O investimento na criação de ginásios públicos pela ação do Poder
Executivo irá ocorrer no final dos anos 60 por meio dos decretos e dos
recursos do Fundo de Desenvolvimento Econômico. Esse fundo foi criado
pela SUDENE em parceria com o programa de desenvolvimento do
Nordeste. Com isso, sendo a educação o elemento determinante para o
desenvolvimento social e econômico, esse órgão não poderia deixar de
adotar as medidas possíveis para a execução de seus objetivos. A SUDENE
foi protagonista na constituição de técnicos educacionais que visavam
investir no planejamento da educação em Pernambuco até a década de
1980. A ação da autarquia não somente em Pernambuco, mais no
Nordeste, possibilitaria um grande avanço no campo social, no que diz
respeito à educação, e na economia.
Neste capítulo a intenção foi ressaltar as ações que possibilitaram a
constituição do ensino médio público no Estado de Pernambuco, a partir
do programa de zoneamento educacional, dos recursos vinculados pelo
Estado e da atuação do município. Foi possível identificar o hibridismo
tanto político como financeiro para a criação dos ginásios, adotado com o
objetivo de minimizar o hiato em relação às disparidades regionais e
localidades menos desenvolvidas. Pode-se, portanto, dizer que a ampliação
dos ginásios públicos no Estado de Pernambuco foi decorrente de diversas
ações levadas a termos atores sociais e políticos.
149
Conclusão
Pensar em acesso à escolarização a todos que constitui a nossa
sociedade é pensar em um projeto de país que busca democratizar e
desenvolver a cidadania. É indiscutível a relevância da educação e como ela
possibilita uma formação da consciência cidadã. Ela é garantia de
condições de vida melhor para a população e de desenvolvimento do país,
sendo uma das formas de realização de um ideal de democracia. A educação
é um processo contínuo que, nos torna sujeito de direito da sociedade.
Esses princípios são incontestáveis, mas para um país como o nosso, essas
definições almejadas ainda estão longe de se efetivarem. A história nos
mostra que as deficiências que acompanham a política educacional do
Brasil tem raízes que perpetuam até os dias de hoje. A educação foi
negligenciada desde os tempos coloniais. A perpetuação de diferenças tem
levado à identificação no país de diferentes “brasis” sem um projeto
nacional extensivo e eficiente para nossa escolarização. E esse problema
perpassa a ordem econômica, cultural e social, haja vista que nossa primeira
Constituição não incluía a escolarização dos escravos, afinal, o “Brasil”
permanecia na ordem mais atrasada de todas as nações.
Os primeiros debates do acesso ao ensino secundário de primeiro
ciclo em Pernambuco e os primeiros movimentos da sociedade em prol do
acesso à educação, com destaque para o protagonismo dos estudantes
secundaristas na pressão pelo ensino público que resultou nas primeiras
ações do Estado para suprir as reivindicações.
150
O caso de Pernambuco se inicia com os primeiros acordos em
prol da instalação dos primeiros ginásios gratuitos no interior do estado e
a atuação dos atores políticos nesse processo. Adotando-se a disputa dos
deputados por meio dos projetos de leis para criação das escolas em suas
regiões. Apesar dos projetos que buscavam uma escolarização de
acessibilidade por iniciativas dos atores políticos, da ação do município e
de entidades estudantis, Pernambuco teve atrasos consistentes em relação
à criação de escolas públicas de vel médio. A questão que norteou
os critérios para a expansão do ensino secundário se deu em torno das
representações em relação ao ensino secundário sendo o ginásio o símbolo
de desenvolvimento do município, um importante benefício para a
população, não precisando mais os adolescentes deslocarem-se até a capital
para estudar. Essa representação social em torno do secundário esteve em
interface com o campo político e nos discursos de interiorização. Os
interesses políticos, o jogo entre os agentes por trás do discurso de
interiorização se legitimou nas justificativas apresentadas nos projetos de
leis dos deputados para criação de ginásios. A questão de definição de
critérios para a expansão das escolas estavam postos no jogo político.
A dinâmica de expansão do secundário no Estado no final dos anos
1950 trouxe outro tom nas ações educacionais. Com o projeto de
desenvolvimento atrelado à educação, com o ideal nacional-
desenvolvimentista presente nos processos educacionais, os ginásios foram
sendo criados pelo Poder Executivo por meio de decretos-leis e utilizando
fundos de outros setores que atendiam o campo econômico,
especificamente no governo de Cid Feijó Sampaio. A atuação do
município nas ações de criações e manutenção dos ginásios, constituindo
assim, um número maior dessas escolas na esfera municipal do que na
estadual. Em se tratando do financiamento dessas escolas, pode-se falar de
hibridismo de políticas, pois, contou com a participação tanto de verbas
151
federais, como estaduais, além das mobilizações das Prefeituras, como
também a participação de órgãos internacionais, como a Aliança para o
Progresso.
A questão regional foi um fator determinante para os projetos de
criação dessas escolas, isso fica claro tendo em vista investimentos maiores
tanto na educação, quanto na saúde e na economia para a Zona da Mata e
do Agreste. A pesquisa apontou que o Estado procurou dentro das suas
limitações orçamentárias instituir verbas, convênios e subvenções para o
atendimento escolar, especialmente no início da década de 1960. Ao
término da pesquisa, retomo a questão inicial: existiu de fato uma
interiorização e democratização do ensino secundário no Estado de
Pernambuco no período da redemocratização política no país?
Como mencionei, a interiorização é um conceito resultado do
campo político. As análises realizadas com base nos pronunciamentos dos
deputados na Assembleia Legislativa, na defesa de seus projetos de leis para
a criação de ginásios públicos, possibilitaram perceber o discurso da
interiorização a qual resultou na configuração social e econômica pela qual
a cidade estava passando. Pode-se dizer que houve de fato uma ampliação
dos ginásios no interior, especialmente no Sertão, Zona da Mata e no
Agreste.
Porém, pelos dados examinados, em que pesem as tentativas
consideráveis de ampliação do ensino secundário público em Pernambuco,
é possível considerarmos esse aumento de oportunidades educacionais
como efetiva democratização do ensino ginasial. Tudo indica que a
expansão continuou nas décadas seguintes, mas ainda necessitamos de
estudos mais aprofundados sobre o tema. Mas, quando pensamos em
educação pública para o ensino médio de primeiro ciclo em Pernambuco
em meados do século XX, estamos falando de apenas 34 ginásios públicos
152
em funcionamento até 1963. A investigação realiada possibilitou perceber
que, tentar estabelecer uma compreensão da expansão dos ginásios
públicos pelas lentes teóricas da Nova História Política, é entender que o
campo político é um espaço social multidimensional de relações político-
sociais entre os atores, isto é, a ação dos agentes (deputados estaduais,
partidos políticos, Poder Executivo, líderes políticos locais, etc.)
compartilhavam interesses em comum e disputaram objetivos específicos.
O papel dos agentes que, em alguma medida, participaram do
esforço de ações para criação de ginásios públicos para Pernambuco.
Portanto, as percepções aqui desenvolvidas podem ser desdobradas em
outros questionamentos e novas pesquisas sobre a articulação política dos
envolvidos. Dialogando com as grandes linhas interpretativas
consolidadas, acerca da sociedade brasileira e do contexto pernambucano,
esperou-se ter contribuído para o debate historiográfico da Nova História
Política, assim como para a História da Educação no Estado de
Pernambuco.
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Correa de Araújo à Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco em
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Sampaio à Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco em 15 de
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PERNAMBUCO. Mensagem apresentada pelo Governador Cid Feijó
Sampaio à Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco em 15 de
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mai.2019.
171
Andice 1
Projetos de Leis 1948 a 1963
Fonte: Adaptado de Assembleia Legislativa de Pernambuco (1948-1961).
Pareceristas
Este livro foi submetido ao Edital 001/2021 do Programa de Pós-
graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, câmpus
de Marília e financiado pelo auxílio nº 0798/2018, Processo Nº
23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES. Contamos com o apoio
dos seguintes pareceristas que avaliaram as propostas recomendando a publicação.
Agradecemos a cada um pelo trabalho realizado:
Adriana Pastorello Buim Arena
Alberto Luiz Pereira da Costa
Alexandre Filordi de Carvalho
Américo Grisotto
Ana Claudia Saladini
Ana Maria Klein
Angelica Pall Oriani
Carlos Bauer
Carlota Boto
Celia Regina Rossi
Cinthia Magda Fernandes Ariosi
Claudia Cristina Ferreira
Cristina Maria Carvalho Delou
Daniel Ferraz Chiozzini
Domingos Leite Lima Filho
Erika Porceli Alaniz
Francismara Neves de Oliveira
Genivaldo de Souza dos Santos
Giza Guimarães Pereira Sales
Joana Tolentino
Jose Deribaldo Gomes dos Santos
Lalo Watanabe Minto
Lia Leme Zaia
Luciana Aparecida Nogueira da Cruz
Luciano Mendes de Faria Filho
Márcia Lopes Reis
Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes
Maria de Fatima Felix Rosar
Maria José Viana Marinho de Mattos
Maria Lucia Marques
Marta Sueli de Faria Sforni
Mauro Castilho Gonçalves
Nadia Aparecida Bossa
Nilza Sanches Tessaro Leonardo
Ofelia Maria Marcondes
Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues
Rita Melissa Lepre
Sandra Aparecida Pires Franco
Simone Wolff
Sonia Bessa da Costa Nicacio Silva
Virgínia Pereira da Silva de Ávila
Comissão de Publicação de Livros do Edital 001/2021 do
Programa de Pós-Graduação em Educação
da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, campus de Marília
Graziela Zambão Abdian, Patricia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo José Manzini e Rodrigo Pelloso Gelamo
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Normalização
Lívia Pereira Mendes
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro