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Marcos Antonio Alves, Maria Claudia Cabrini Grácio, Daniel Martínez-Ávila (Org.). Informação, conhecimento
e modelos. Coleção CLE, v. 78, pp. 221-238, 2017.
[...] se é verdade que alguns conhecimentos derivam da experiência,
alguns há, no entanto, que não têm essa origem exclusiva, pois pode-
remos admitir que o nosso conhecimento empírico seja um composto
daquilo que recebemos das impressões e daquilo que a nossa faculdade
cognoscitiva lhe adiciona [...] (KANT, 1965, p. 5).
Aos conhecimentos não originados da experiência, Kant atribui
uma origem a priori, noção fundamental da doutrina concebida como sín-
tese entre o racionalismo e o empirismo. Ao distinguir os dois elementos
do ato cognitivo, a matéria, proveniente da experiência e a forma, derivada
do pensamento, Kant reconhece não existir conhecimento sem interven-
ção da experiência e tampouco sem as formas a priori. Desse modo, o
conhecimento tem duas origens: a primeira, a que recepciona as represen-
tações, ou seja, a sensibilidade; a segunda, a faculdade de conhecer um ob-
jeto, quer dizer, o entendimento. “Pela primeira, os objetos nos são dados e
pelo segundo, são concebidos.” Intuição e conceitos constituem, em Kant,
os elementos de todo o nosso conhecimento e, consequentemente, nem
conceitos, sem uma intuição de certa maneira correspondente a eles, nem
intuição sem conceitos podem fornecer um conhecimento. Na verdade,
a intuição não pode ser senão sensível, ou seja, contém somente o modo
como somos afetados por objetos. Já o entendimento é a faculdade de pen-
sar o objeto da intuição sensível. Assim concebidos os elementos, infere-se
que, sem sensibilidade, nenhum objeto nos seria dado e, sem entendimen-
to, nenhum objeto seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios,
intuições sem conceitos são cegas. [...] (KANT, 1965, p. 27).
A originalidade da noção kantiana reside na função atribuída ao
a priori, como condição de todo o conhecimento objetivo, embora não
se constitua um campo ou domínio à parte do conhecimento. O mérito
kantiano, na concepção de Fougeyrollas (1992, p. 195), foi ter superado o
ceticismo empirista e o dogmatismo racionalista. O processo de conheci-
mento cientíco, longe de se reduzir às sensações, conforme o empirismo,
ou aos conceitos, de acordo com a concepção dos racionalistas, engloba
uma colaboração permanente das sensações, as quais preenchem os con-
teúdos, e dos conceitos, que determinam as formas deste conhecimento.
A conguração das duas posições, racionalismo e empirismo, cujos
pontos de partida para alcançar o conhecimento seriam a razão ou os sen-