Dongo-Montoya, A.O.; França, C.A.P.R.; Bataglia, P.U.R.
no momento em que chegam ao abrigo, vão tomando contato com elas aos
poucos, no dia-a-dia. Três participantes relataram, paralelamente às regras
gerais da casa, sobre a construção das regras pelas crianças/adolescentes
com nossa participação (como relatado no capítulo 4), um deles referindo-
-se à sua participação nessa construção (Participante 2). Notamos que as
regras construídas pelas crianças/adolescentes ainda não eram de conheci-
mento da maioria dos funcionários, levando-nos a concluir que não havia
participação destes, nem no cumprimento nem na observação. Quanto a
isso, o Participante 2 explica:
[...] então a regra está existindo agora, que foi posto na parede, isso aí é muito
importante, mas aquilo tudo tem que ser lmado e por em outra parede tam-
bém, não é só ali dentro da sala, tem que ser ali, tem que ser aqui, tem que ser
lá em cima, para que todo mundo fale “Oh, você está fugindo da regra”, isso
é muito vago, só ali dentro daquela sala, eu acho que tem que ter um jeito da
gente fazer do lado de fora nem que se mandar ampliar [...]
A importância que esse participante atribui à regra é a possibi-
lidade de constante vigilância, por esse motivo, acredita que uma cópia
deveria ser distribuída para todo o ambiente do abrigo. Porém, vemos a
relevância do conhecimento dos demais funcionários a respeito dessas re-
gras, para haver a participação de todos nesse processo de regulação, de
maneira que o funcionário não seria o detentor do poder, mas, juntamente
com a criança/adolescente, se submeteria também à regra. No caso da não
observância às regras que guardam nesse local um poder quase mítico,
a consequência apontada pelos participantes é quase sempre direcionada
para a punição das crianças/adolescentes faltosas e ainda para aqueles que
transferem a responsabilidade. Um exemplo que resume bem a ideia desse
grupo de respostas é o seguinte:
[...] eles vão perdendo o que eles gostam, têm que perder, alguma coisa têm
que fazer, por exemplo, nós fomos ao Hopi Hari [parque de diversões no
interior de São Paulo], a diretoria no início disse que todos deveriam ir ao
Hopi Hari, aí viu que deu trabalho, o Paulo fez o show lá, eles não cumpri-
ram a regra que prometeram, então não é assim, por exemplo, domingo vai
ter o passeio. O que está acontecendo agora? Eles não vão, o Participante
4 escolheu quem ia tomar sorvete com ele. Não é que escolheu, foram os
melhores, e isso afeta eles, sabe, tirar uma coisa de que gosta. Então colocou
a regra na parede, eu acho importante, tem que ter uma consequência, se
você não cumprir. É a vida que a gente está ensinando para os meninos, lá