Rodrigo D. F. Passos & Alexandre Fuccille (Org.)
não tem se mostrado ecaz para debelá-la e a perspectiva futura parece ser
um longo período de estagnação.
O epicentro da crise situa-se no núcleo do sistema
1
. A ruptura da
cadeia especulativa formada a partir dos títulos imobiliários norte-ameri-
canos trouxe à tona as fragilidades do sistema nanceiro internacional. A
drástica redução da liquidez no mercado mundial tem decorrência da crise
nanceira desdobrou-se e acentuada redução da acumulação de capital. A
economia global enfrentou forte recessão em 2009. A crise não foi mais
profunda em virtude do desempenho positivo das economias em desenvol-
vimento, embora elas também tenham desacelerado com a crise
2
. Também
foi fundamental a ampla ação do Estado na economia, evitando, prova-
velmente, uma depressão semelhante à da década de 1930
3
. Na Grande
Depressão, o capital nanceiro foi colocado de joelhos dada a magnitude
da destruição do capital ctício, o que abriu espaço, depois da derrota do
nazi fascismo, para a “reestruturação keynesiana” do capitalismo. Na crise
1
Nos anos 1990, o sistema capitalista enfrentou uma série de crises em sua periferia, quais sejam: México em
1994, Asiática e, 1997, Russa em 1998, Brasil 1999 e Argentina 2000. Embora graves, estas crises não chegaram
a abalar o capitalismo global, mas denotaram a intensicação da instabilidade sistêmica na fase de hegemonia do
capital nanceiro. Ver a respeito, entre outros, Chesnais (2005) e Harvey (2011).
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Os países desenvolvidos foram duramente atingidos pela crise. Cresceram apenas 0,5, em 2008, e sofreram
forte retração de 3,2% do PIB, em 2009. Enquanto isso, os países em desenvolvimento cresceram 2,6%, em
2009, depois e terem crescido 6,1%, no ano anterior, e 7,4% em média na fase de expansiva 2003-2007, o que
indica que estes países não caram imunes à crise mundial. Cabe destacar o crescimento da China. Esse desem-
penho dos países em desenvolvimento impediu uma crise de grandes proporções. A momentânea e vacilante
recuperação a partir de 2010 também dependeu do desempenho dos países em desenvolvimento, em particular
da Ásia, que cresceram 9,5%. O bom desempenho desses países, sobretudo o da China, contribuiu por meio
de sua elevada demanda por matérias primas para estimular outras economias periféricas, como as da América
Latina (FMI, 2012, p. 2).
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Estimam-se os desembolsos com resgates de bancos, planos de investimentos, estímulos scais, estímulos ao
consumo, investimentos em obras públicas etc. pelas principais economias do mundo em 11trilhões de dólares
do início da crise até março de 2009. O plano norte-americano, anunciado ainda no governo Bush, previa
dispêndios da ordem de 860 bilhões em estímulos para a economia e socorro aos bancos. Para União Europeia
estimam-se que os dispêndios alcançaram cerca de 260 bilhões de dólares no enfretamento imediato da crise
(BLACKBURN, 2008; DOWBOR, 2009). Paralelamente a essas medidas, o Federal Reserve (FED), em um
contexto de baixa inação, injetou enormes quantidades de moeda na economia com o objetivo de animá-la
e desvalorizar o dólar, contribuindo assim para melhorar as contas externas norte-americanas e desvalorizar os
passivos em dólares. O Banco Central Europeu resistiu, inicialmente, a essa política, só com o agravamento da
situação passou a agir de forma mais ampla. Os efeitos dessas medidas foram pouco signicativos em termos de
reanimar a economia, o que denota a profundidade dos problemas do capitalismo e a insuciência dessa política
em uma economia globalizada, onde o capital desloca-se com facilidade para regiões que apresentem maior
rentabilidade. Os países em desenvolvimento também adotaram políticas econômicas anticíclicas. Cabendo
destaque para a China. A manutenção de elevados níveis de crescimento econômico neste país foi fundamental
para amenizar a crise econômica mundial. O governo chinês implantou um programa de incentivo ao consumo
e aos investimentos, voltado para o mercado interno, orçado em 585 bilhões de dólares. Os governos latino-
-americanos também adotaram uma série de medidas para enfrentar os impactos da crise mundial.