AGUILAR, S.L.C.; CORSI, F.L.J.;
PIRES, M.C. (Org.)
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segunda sugestão mais incisiva da frente única por parte do Comintern,
uma vez mais, não teve sucesso em perceber as particularidades chinesas
e foi proposta a união do PCCh justamente com Jiang Jieshi, de novo.
As orientações do Comintern acabaram por trazer mais descontenta-
mento para Mao Zedong e seus seguidores, e por consequência, maior
conança na estratégia revolucionária baseada no campo (FAIRBANK e
GOLDMAN, 2007, p. 260).
Ainda que, de acordo com Deutscher (1969, p. 151), Stálin tenha
fechado os olhos para aspectos da condução da revolução na China, as dife-
renças ideológicas foram se acentuando ao longo do tempo. No decorrer da
construção da RPC, Mao buscou utilizar suas próprias estratégias também
para a organização económica
3
. Além da visão soviética na condução da fren-
te socialista, os objetivos centrados na expansão e contenção na Europa trou-
xeram para Mao uma percepção de ameaça advinda de Moscou. Quando a
Alemanha Ocidental passou a se armar, a resposta soviética veio sob a for-
ma do Pacto de Varsóvia, o que desagradou ainda mais aos líderes chineses
(KISSINGER, 2011) pelo claro papel preponderante dos soviéticos dentro
da instituição. A China, na ocasião, não aderiu ao Pacto como membro per-
manente, mas apenas como observador. Kissinger armou que já no nasci-
mento do Pacto os chineses não tinham a conança necessária nos soviéticos,
o que se pode comprovar com o envio de Zhou Enlai para a Conferencia de
Bandung e não para o encontro de fundação do Pacto
4
.
Ainda de acordo com Kissinger (2011, p. 185), a experiência his-
tórica chinesa de maneira geral, e em particular a experiência do PCCh na
Grande Marcha e na Guerra Civil contra os nacionalistas e os estrangeiros,
3
São exemplos da experiência idiossincrática chinesa o Grande Salto adiante (1958-62), quando o governo
concentrou seus esforços na produção de aço nas comunas populares, e a organização das fábricas durante a
Revolução Cultural, já após a ruptura sino-soviética, quando houve a tentativa de se fazer uma planicação mais
atenta às necessidades das unidades produtivas. Sobre o tema ver: (PEDROZO, 2012) (BETTELHEIM, 1979)
4
Lüthi (2007, p. 489) tem uma visão ligeiramente distinta, pois considera que havia relativo interesse por parte
dos chineses no Pacto de Varsóvia, sobretudo entre os anos de 1955-57. Porém, a armação das ideias maoístas
sobre estratégia, e a opção econômica do Grande Salto Adiante distanciaram os interesses de ambos os países e,
por consequência, da possibilidade a aproximação no Pacto de Varsóvia: “Communist China’s association with the
Warsaw Pact Organization was Always under the sway of its relationship with the Soviet Union, which, in the form
of Sino-Sopviet aliance, pre-dated the multilateral aliance. Being the hinge between the two, Moscow, since 1955,
pondered closer cooperation, possibly even a merger. Until late 1957, the People’s Republic of China seemed to be
ready to integrate gradually, but Mao’s launching of the Great Leap Forward (1958-60) and the Soviet-American
Rapprochement undermined any military and political cooperation. In 1961, the Chines leader exploited the
Soviet-Albanian split for his domestic needs; as a result, China’s institutional relations with the WPO were cut.