144
O contexto do abrigamento O depoimento da assistente social do CRM
A assistente social da Casa
Brasilândia revela que a mulher é
encaminhada para o abrigo quando
a violência acontece de forma mais
grave, geralmente após muito tem-
po na situação de violência
Geralmente elas têm um histórico muito grande, de muito tempo de
violência. E quando chegou ao ápice ela já veio, fez e aconteceu, não teve
tempo de pensar se era isso que queria, se tinha outras formas de fazer.
Geralmente quando a violência acontece de uma forma muito grave, elas
são orientadas a vir para cá, para encaminharmos para um abrigo. Mas
eu penso que se tivesse um trabalho antes, se elas tivessem informações
dos serviços existentes, se no posto de saúde fosse orientada pelos pros-
sionais sobre o que é a violência doméstica, porque, e como ela acontece,
se tivesse sido encaminhada antes, por exemplo, de um serviço de saúde
para a gente, para fazer um acompanhamento, um fortalecimento, eu
acho que não teria tanta desistência.
Os motivos do abrigamento
O depoimento da assistente social sobre os motivos que levam as mulhe-
res a abrir mão de tudo e ir para a casa-abrigo
A assistente social da Casa
Brasilândia expressa sua opinião so-
bre o que motiva as mulheres a to-
marem a decisão de ir para o abrigo
O medo de morrer. E o medo de que aconteça alguma coisa com os
lhos. Eu penso que esse é um motivo muito forte. Acredito que é o
medo, quando já está no limite. Elas vão para o abrigo quando vêm que
já não tem mais saída, que não adianta fazer B.O., que não adianta mais
recorrer à família, elas sabem que realmente vai acontecer alguma coisa.
Os motivos do abrigamento O relato de Teresa conrma os motivos apontados pela assistente social
Apesar de o marido ter sido detido
e encontrar-se recluso, Teresa ainda
não se sentia segura, pois passou a
sofrer ameaça por parte da família
do marido.
Na delegacia o pai dele falou que ia fazer o que fosse, que ele ia sair de
lá. Que eu desse um jeito de sumir. O pai dele falou. A família dele falou
que não era porque ele tava preso, que as coisas não tavam boas pro meu
lado não. Da família, das irmãs...eu quei com medo...eu vou car aqui
na favela, num barraco, aí de noite vem um bota fogo, eu não sei o que
ele podia fazer. E eu sabia que eles iam me obrigar a retirar a queixa.
Tanto que até hoje eles me procuram...
O cerceamento da liberdade
feminina
O relato de Teresa sobre como o marido cerceava a sua liberdade
Aí ele não deixava eu sair de casa, não deixava eu ir na casa da minha
irmã, não deixava eu ir na casa de ninguém. Ficava atrás de mim. Eu não
podia ir levar as crianças sozinha na escola, eu não podia ir nem no bar
da esquina sozinha que ele ia atrás, chegou um dia que a pessoa parou
de trabalhar pra car dentro de casa. Ele cou dois meses sem trabalhar,
dentro de casa 24 horas. Até quando eu saia pra estender uma roupa ele
saía. A pessoa queria tá ali grudada. Eu não vivia mais, eu tava cando
louca, tava cando doente.
O cerceamento da liberdade
feminina
O Relato de Benedita sobre como o marido cerceava a sua liberdade
Benedita também teve sua liberda-
de cerceada pelo marido. O contro-
le era exercido via telefone.
Ele ligava 24 horas pra mim. Eu em casa, cuidando das crianças e ele -
cava ligando, ligando, ligando, até que falei um monte pra ele: poxa que
negócio é esse, ca me ligando direto, isso não é normal, eu falei pra ele.
De cinco em cinco minutos me ligando. Já tava me estressando, as vezes
já tá estressada em casa, com criança ali. Aí o marido ca ligando, pertur-
bando toda hora, aí não dá. [...] Ninguém merece, tá ligando 24 horas.
A violência institucionalizada O Relato de Teresa sobre o momento em que sofria violência em via
pública
Teresa teve que insistir muito para
que os policiais cumprissem a pri-
são em agrante prevista na Lei
Maria da Penha
Ela levou a viatura até lá e a polícia não queria levar ele. Porque eles
falaram pra ela que era briga de marido e mulher que eles não iam se
meter. O que eles iam fazer lá. Fui eu que quei insistindo muito, para
não me deixarem lá. Fiquei com medo deles irem embora e me deixar lá,
aí eu ia apanhar mais.