Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0039/2022
Processo Nº 23038.001838/2022-11
Stelamary Aparecida Despincieri Laham
Carlos da Fonseca Brandão
(Organizadoras)
As políticas públicas
educacionais no contexto dos
estudos comparados
As políticas públicas educacionais no contexto dos estudos comparados
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As políticas públicas educacionais no
contexto dos estudos comparados
Organizadores
Stelamary Aparecida Despincieri Laham
Carlos da Fonseca Brandão
Organizadores
Stelamary Aparecida Despincieri Laham
Carlos da Fonseca Brandão
As políticas públicas educacionais no contexto dos
estudos comparados
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2025
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS – FFC
UNESP - campus de Marília
Diretora: Dra. Ana Clara Bortoleto Nery
Vice-Diretora: Dra. Cristiane Rodrigues Pedroni
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Edvaldo Soares
Franciele Marques Redigolo
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
Henrique Tahan Novaes
Aila Narene Dahwache Criado Rocha
Alonso Bezerra de Carvalho
Ana Clara Bortoleto Nery
Claudia da Mota Daros Parente
Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Pedro Angelo Pagni
Auxílio Nº 0039/2022, Processo Nº 23038.001838/2022-11, Programa PROEX/CAPES
Parecerista: Ione da Silva Cunha Nogueira - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS - Câmpus de
Três Lagoas (CPTL)
Capa: Imagem gratuita Pixabay
Ficha catalográfica
_______________________________________________________________________________________
P789 As políticas públicas educacionais no contexto dos estudos comparados / Organizadores: Stelamary
Aparecida Despincieri Laham, Carlos da Fonseca Brandão. – Marília : Oficina Universitária ; São Paulo :
Cultura Acadêmica, 2025.
149 p. : il.
CAPES
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-617-6 (Impresso)
ISBN 978-65-5954-618-3 (Digital)
DOI: https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-618-3
1. Educação – Políticas públicas. 2. Professores – Educação continuada. 3. Educação comparada.
4. Alfabetização – Educação infantil. 5. Ensino à distância. 6. Gestão democrática. I. Laham,
Stelamary Aparecida Despincieri. II. Brandão, Carlos da Fonseca. III. Título.
CDD 378.4
_______________________________________________________________________________________
Catalogação: André Sávio Craveiro Bueno – CRB 8/8211
Copyright © 2025, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - Campus de Marília
Sumário
Prefácio | Patrícia Damiance............................................................................7
Apresentação | Stelamary Aparecida Despincieri Laham..................................9
Capítulo 1 - Educação Comparada: Princípios e Conceitos...........................11
Flávia Oliveira de Assis Lourenço
Carlos da Fonseca Brandão
Capítulo 2 - A Educação Infantil no Brasil: Uma Análise Comparativa com
Currículo da Infância na Itália.......................................................................27
Graziela Cristina de Oliveira Holmo
Capítulo 3 - Alfabetização no Estado de São Paulo: descrição e análise do
“Programa Ler E Escrever”............................................................................41
Fernanda Gonçalves Gomes
Capítulo 4 - Avaliações Externas em Larga Escala na Educação Básica em
análise: a proposta do Saeb............................................................................61
Michele de Lourdes Alves Madureira
Carlos da Fonseca Brandão
Capítulo 5 - Análise Comparativa do Sistema Nacional de Avaliação.............79
Chelsea Maria de Campos Martins
Carlos da Fonseca Brandão
Capítulo 6 - Gestão Democrática da Escola Pública: Propostas, Desafios E
Possibilidades................................................................................................97
Mariana Aparecida de Almeida Laurentino
Carlos da Fonseca Brandão
Capítulo 7 - Educação a Distância no Brasil e em Portugal: Um Estudo
Comparado Baseado na Teoria Crítica da Sociedade....................................115
Stelamary Aparecida Despincieri Laham
Carlos da Fonseca Brandão
Sobre os autores...........................................................................................145
7
PREFÁCIO
Inicialmente, para o desenvolvimento deste prefácio, destaco a sensi-
bilidade humana e a relevância científica da chamada do Programa de Pós-
graduação em Educação da UNESP Marília, que oportunizou visibilidade e
reconhecimento para jovens mestres e doutores egressos do Programa, entre
os anos de 2016 e 2020, por intermédio da publicação dos resultados de suas
pesquisas em livros, capítulos de livros ou coletâneas organizadas por docen-
tes ou por docentes com discentes.
O Programa mostrou-se sensível a duas das diversas dificuldades en-
frentadas pelos recém-mestres e doutores brasileiros: ser reconhecido social
e academicamente como uma pessoa capaz de contribuir com a produção
científica nacional, e alcançar um espaço de divulgação da sua voz e dos re-
sultados de suas pesquisas.
Acredito que toda pessoa que ingressa em um Programa de Pós-
graduação stricto sensu carrega consigo a coragem e o desejo de desvelar uma
realidade com o intuito não somente de compreendê-la, mas de problemati-
zá-la, denunciá-la e – com mais coragem ainda - transformá-la.
A chamada garante a concretização desse desejo e vai além! Permite que
jovens egressos do Programa de Pós-graduação em Educação revistem as suas
obras, qualificando a sua produção e refinando os seus pensamentos sobre os
seus objetos de pesquisa, que, no caso deste livro, possuem densidade teóri-
ca e social, como: gestão da escola pública, currículo escolar, alfabetização,
avaliações externas em larga escala na educação básica, sistema nacional de
avaliação e educação a distância.
A temática principal da Coletânea e a perspectiva teórica-metodológica
adotada expõem o compromisso ético-político dos autores, que também são
atores educacionais, com a educação brasileira e com a operacionalizam das
políticas públicas da área e das direta e indiretamente relacionadas à área.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-618-3.p7-8
8
O grupo de autores convergem na crítica ao modo como as políticas
educacionais se expressam na escola e nas modalidades de ensino, e apresen-
tam um olhar curioso e crítico para as políticas de outros países. Ainda que
jovens pesquisadores, a crítica se faz perceptível em suas obras, bem como o
comprometimento com a reprodução do método comparativo.
O método e os referencias da Educação Comparada foram adquiridos,
quase que exclusivamente pelos egressos autores, no Coletivo de Pesquisadores
em Políticas Educacionais (COPPE), grupo de pesquisa liderado pelo orga-
nizador da obra prof. Dr. Carlos da Fonseca Brandão, do qual eu participo.
Não tenho dúvidas de que a participação no Coletivo e a condição de
aluno regular do Programa de Pós-graduação em Educação inspirou e mobi-
lizou cada um dos autores dos capítulos a conceber e executar suas pesquisas.
Não tenho dúvidas também que a chamada, que originou esta coletânea,
contribuiu amplamente com formação continuada dos jovens mestres e dou-
tores da comunidade unespiana, pois os trabalhos foram intensos, desde a
publicação da oportunidade.
Como já mencionado, reiterando e finalizando este texto, todo jo-
vem mestre e doutor deseja e é capaz de contribuir com a ciência brasileira.
Oportunizar vez, dar voz e garantir espaço para que o pós-graduado divulgue
seus resultados de pesquisa é responsabilidade dos aparelhos formadores.
Um viva à chamada, uma boa leitura e um olhar sensível e generoso
para aqueles que estão ingressando na ciência.
Patrícia Damiance
Abril de 2024.
9
APRESENTAÇÃO
A coletânea “As políticas públicas educacionais no contexto dos es-
tudos comparados” reúne resultados de pesquisas desenvolvidas no âmbi-
to do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Faculdade de
Filosofia e Ciências (FFC), UNESP, Campus de Marília, na linha de pesquisa
de Políticas Educacionais, Gestão de Sistemas e Organizações, Trabalho e
Movimentos Sociais entre os anos de 2019 e 2023. Elas foram desenvolvi-
das no âmbito do Grupo de Pesquisa Coletivo de Pesquisadores em Políticas
Educacionais (COPPE) os quais investigam a política educacional, a partir
da educação básica até o ensino superior, tanto em nível nacional quanto em
nível internacional, por meio do referencial teórico e metodológico proce-
dente dos estudos e pesquisas de Educação Comparada (EC).
As reflexões sobre a educação comparada possibilitam subsídios teóri-
cos para conhecer e experienciar diferentes sistemas de ensino e realidades
educativas. Dessa forma, os textos apresentados procuram abordar alguns as-
pectos dos estudos educacionais comparados em contexto de globalização,
tendo como objetivo perceber as mudanças que ocorreram e estão ocorrendo
em diferentes realidades nacionais e internacionais, como é o caso das mu-
danças relativas às políticas educacionais.
Nesse sentido, este livro responde à necessidade que se evidenciou a
partir de reflexões sobre o contexto educacional nacional e internacional,
cada vez mais marcado por influências externas de programas de promovidos
por órgãos nacionais e agências internacionais os quais produzem impactos
nas políticas educacionais. Ou seja, as organizações internacionais de nature-
za intergovernamental e de cooperação econômica regional Organização das
Nações Unidas (ONU), Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO), Fundo Monetário Internacional
(FMI), Banco Mundial, Organização para Cooperação e Desenvolvimento
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10
Econômico (OCDE), por exemplo, incrementaram, sobretudo nas últimas
décadas, a internacionalização das questões educativas, gerando repercussões
nas políticas educacionais dos países periféricos e semiperiféricos.
Ao todo, contém 7 capítulos que versam sobre os temas: a metodologia
da Educação Comparada, avaliações externas, programas de alfabetização,
educação infantil, educação a distância e gestão democrática da educação.
Assim sendo, as análises apresentadas neste livro reafirmam a preocu-
pação dos autores com temáticas pautadas em políticas educacionais que con-
tribuam com a produção no campo da educação comparada.
Stelamary Aparecida Despincieri Laham
11
Capítulo 1
EDUCAÇÃO COMPARADA:
PRINCÍPIOS E CONCEITOS
Flávia Oliveira de Assis LOURENÇO 1
Carlos da Fonseca BRANDÃO 2
Resumo
O presente trabalho é um recorte da dissertação de mestrado que versa
sobre questões da formação continuada de professores do ensino fundamental
em um estudo comparativo, tendo como base o “Programa Nacional de Ensino
de Português” (PNEP), em Portugal, e o “Programa Letra e Vida”, no Estado
de São Paulo. O objetivo do recorte aqui proposto é tratar da metodologia
adotada na pesquisa. Discorreremos sobre a Educação Comparada quanto a
seus princípios e conceitos, sobre a Educação Comparada como disciplinas
no Brasil. Traremos ainda da Educação Comparada na visão contemporânea
e por fim trataremos da evolução e os métodos da Educação Comparada. Os
procedimentos compreenderam pesquisa bibliográfica e pesquisa documen-
tal. Concluímos que a Educação Comparada como procedimento e método
comparativo, tem a finalidade de utilizar os dados levantados para descrever as
relações entre elementos comparáveis. Concluímos ainda que o método com-
parativo é ideal para cotejamento entre sistemas de ensino.
1 Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educação da UNESP - Presidente Prudente.
E-mail: flavia.lourenco@unesp.br
2 Professor Adjunto do Departamento de Educação da UNESP - Assis e do Programa de Pós-
graduação em Educação da UNESP - Marília. E-mail: carlos.brandao@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-618-3.p11-26
12
Palavras-chave: Educação Comparada, Comparação, Método Comparado.
Conceitos da Educação Comparada.
Introdução
O ato de comparar sempre esteve presente na sociedade. Desde os
tempos mais remotos, os indivíduos já utilizavam da comparação em seus
relacionamentos, em um processo quase que inerente ao ser humano. Na so-
ciedade contemporânea, o desenvolvimento global e o encurtamento das dis-
tâncias entre as nações, por meio das tecnologias, favoreceu o ato de compa-
rar e o tornou cada vez mais necessário para a construção do conhecimento.
Conhecer o outro, entre outros aspectos, leva você a se conhecer por inteiro.
No presente trabalho, trataremos dos conceitos e princípios da
Educação Comparada (EC)3, com o objetivo de expor de maneira clara e
concisa algumas características que permitem ao leitor uma assimilação mais
objetiva do campo de estudo. Apresentaremos aspectos conceituais e episte-
mológicos que nortearam a construção da EC como metodologia, utilizando
como referência autores especialistas nesse campo e, ainda, um breve relato
da EC como disciplina no Brasil e por fim faremos uma exposição sobre uma
visão contemporânea dessa matéria.
Educação Comparada: princípios e conceito
Como metodologia científica de pesquisa, a EC surgiu com o desenvol-
vimento científico, a expansão escolar e, evidentemente, com o surgimento dos
sistemas de ensino. Contudo, há indícios dessa matéria já na Antiguidade, pois
alguns autores realizaram comparações que permitiram distinguir a educação
ateniense da espartana e a grega da egípcia e da persa (FERREIRA, 2008).
Cabe ressaltarmos, entretanto, que os estudos sistemáticos surgiram
efetivamente após a ampliação dos sistemas de ensino, pois estes são o objeto
de estudo da EC e seu objetivo é compreender a dinâmica desses sistemas
educacionais ou de fatos relacionados a eles por meio da comparação, com a
finalidade de encontrar convergências e/ou divergências em suas estruturas.
3 Tendo em vista as repetidas vezes que esse vocábulo será empregado, onde se lê EC, leia-se Educação
Comparada.
13
A EC pode ser definida, ainda, como uma área da ciência que trata de
forma mais complexa da percepção das transformações educacionais ao redor
do mundo. Ou seja, não é um ato superficial de comparar sistemas de ensino
com a intenção de transpor o sistema de um país para outro, mas, um estudo
epistemológico de ações educacionais em todo o seu contexto.
Embora, como dito anteriormente, o ato de comparar sempre estivesse
presente nas ações humanas, baseando-se em fatos empíricos, a EC, como
área científica, surgiu no século XIX e foi adotada pela primeira vez pelo fran-
cês Marc-Antoine Jullien4, em 1817, com Esquisse et vues préliminaires d’un
ouvrage sur l’éducation comparée, obra que consagrou Jullien como pai da EC
(BORTOLETTO, 1972).
Segundo Bortoletto (1972), o francês Jullien foi o primeiro a usar o
vocábulo EC e sugere, em seu livro, a criação de uma comissão que teria a
responsabilidade de reunir dados e produzir um quadro comparativo para
expor a situação educacional nas diferentes nações europeias. O questionário
proposto por Julien tinha o objetivo de agrupar dados de uma maneira que
permitisse relacionar, comparar e, assim, ter elementos para uma conclusão,
sobre os fatos suscitados. Contudo, era um estudo muito ousado para a épo-
ca, pois exigia uma equipe internacional, e seu livro foi praticamente esque-
cido até o final da Segunda Guerra (BORTOLETTO, 1972).
O conceito de EC foi, ao longo do tempo, sendo alternado por diferen-
tes estudiosos. Jullien o considerava como um conceito positivista, por julgar
que o método científico poderia ser aplicado a questões das áreas sociais e das
humanidades e, assim, favorecer a ciência da educação (KALOYIANNAKI;
KAZAMIAS, 2012).
De acordo com Kandel (1961, p. 28), o sentido da EC está indissociá-
vel ao autoconhecimento, isto é, aprender mais de seu próprio país, “[...] O
estudo torna o educador ‘mais habilitado a perceber o espírito e a tradição
do sistema educacional do seu próprio país”, conquanto este não seja o único
objetivo da EC, já que, ainda segundo Kandel, também provoca sensibilidade
4 Marc-Antoine Jullien “[...] foi jornalista, publicista, político, militar, prisioneiro, homem viajado,
dedicando grande parte das suas reflexões, mormente após a capitulação de Napoleão Bonaparte,
a assuntos educativos sob a influência das teorias pedagógicas dos suíços Pestalozzi, Fellenberg e
Pére Girard e do ensino mútuo do inglês Bell (ROSSELLÓ, 1943) [...]” (CORREIA; MADEIRA;
CARUSO, 2017, p. 7).
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aos problemas comuns e foca nos meios distintos de resolução deles.
Lourenço Filho (1961, p. 19) conceitua, de maneira geral, a EC como
“[...] parte do exame de unidades complexas do processo educacional que são
os sistemas de ensino; esses sistemas se apresentam como conjuntos de aspec-
tos morfológicos e funcionais inseparáveis [...]”. Ainda segundo o autor, os
sistemas de ensino são mecanismos com características próprias que possuem
explicação prática que permite investigá-los esclarecendo suas ações educati-
vas; assim, possibilita questionamentos mais detalhados dos sistemas de ensi-
no, isto é, já colocando-os em plano de valores filosóficos e de ações políticas.
Kandel foi professor emérito do Teachers College da Columbia University
e fundador dos estudos comparados nesta Universidade. Desse modo, com
propriedade, refere-se à EC como:
O principal valor, portanto, do estudo da educação comparada é que des-
de que adequadamente abordado, trata êle dos “princípios fundamentais
e promove a aquisição de um ponto de vista filosófico”, analisando os
problemas de educação e proporcionando assim maior compreensão dos
mesmos. O estudo torna o educador “mais habilitado a perceber o espírito
e a tradição” do sistema educacional de seu próprio país. Estas são con-
tribuições que não se podem desprezar numa época em que a tendência
característica de todos os estudos profissionais é a especialização intensa.
Desde que a educação de uma nação tem suas Raízes tão profundamente
enterradas em sua tradição cultural, é tão intensamente colorida pelo pa-
drão de cultura e, ao mesmo tempo, reflete suas esperanças para o futuro,
não podem ser rejeitados aquêles de seus aspectos que vitalizam o trabalho
do especialista (KANDEL, 1961, p. 28).
O pensamento supracitado de Kandel sobre a capacidade de a EC pos-
sibilitar uma visão mais ampla, especialmente de elementos internos, pois
enquanto se olha para o outro, percebe suas próprias características, e essa é
uma grande contribuição do estudo comparado.
Hans (1971), ao definir o objeto da EC, explica que a primeira tenta-
tiva de determinar um ponto de vista mais amplo foi feita por Sir Michael
Sadler5, que defendia que para estudar os sistemas estrangeiros de educação,
5 Sir Michael Ernest Sadler, inglês foi “[...] autoridade de renome mundial em educação secundária
e campeão do sistema de ensino público inglês. [...] Em 1895, Sadler deixou Oxford para se tornar
15
é preciso se atentar para os fatores externos à escola, tendo em vista que estes
são mais importantes que os internos. Sir Sadler faz uso de uma metáfora –
“[...] uma criança tendo colhido uma flor de uma planta e algumas folhas de
outra ao passar por um jardim espera obter uma planta viva ao enterrá-las
juntas [...]” (SADLER, 1900 apud HANS, 1971, p. 5) – para explicar que
não é possível usar os sistemas educacionais de outros países indistintamente.
Sadler observa, ainda, que os sistemas nacionais de educação são organismos
vivos e possuem características próprias.
Educação Comparada como disciplina no Brasil
A EC esteve à margem da academia por um longo período e, comu-
mente, é vista como menos importante por pesquisadores pelo fato de não
possuir raízes sólidas e apontada como incapaz de resolver seus próprios con-
flitos, sobretudo por sua fragilidade de princípios e conceitos.
Rejane de Medeiros Cervi, doutora em EC, publicou, em 1986, um
artigo intitulado “Significado Curricular da Educação Comparada”, no qual
apresenta inúmeras contribuições sobre o assunto e recupera a tese de livre-
-docência da professora Maria Aparecida Bortoletto, defendida em 1972,
pela Universidade de São Paulo (USP), que tem como objeto de estudo a “A
Educação Comparada no Brasil” e promove um resgate do início da disciplina
de EC no Brasil. Nesse contexto, Bray, Adamson e Mason (2015) ratificam que
a EC, além de outras características, pode ser instituída como disciplina.
Segundo Bortoletto (1972), no Brasil, a EC foi introduzida como
disciplina em 1932, por meio do Decreto nº 3.818, na criação da Escola
de Professores no Distrito Federal, por Anísio Teixeira. A EC teve a pri-
meira oportunidade de se despontar como disciplina na seção ou área de
Administração Escolar e, também, na secção de História e Filosofia da
Educação. Só então, a EC foi configurada como uma disciplina de primeiro
plano. A professora salienta, ainda, que Anísio Teixeira, motivado pela orga-
nização americana Teacher College, produziu uma renovação nos métodos de
formação de professores, momento que introduziu a disciplina de EC.
diretor de Pesquisas Especiais e Relatórios do Departamento de Educação do governo. Nesse posto,
ele construiu uma enorme literatura sobre educação comparada, criando quase sozinho um novo
ramo do estudo da educação” (SIR..., 2020).
16
Em 1939, a disciplina de EC foi legitimada com a exigência curricular na
Secção de Pedagogia da Faculdade Nacional de Filosofia; nessa época, as aulas
eram ministradas por Gustavo Lessa. A expansão da disciplina se deu por meio do
Decreto-Lei nº 1.190, de 4 de abril de 1939, em que ficou instituído um padrão
normativo para paridade dos cursos de Pedagogia em todo o Brasil, alargando,
assim, a inserção da disciplina de Educação Comparada no meio acadêmico.
Bortoletto (1972, p. 49) resgata, também, a proposta de disciplina que
nunca chegou a concretizar, como a de Sampaio Dória, a quem nomeia como
possível precursor da EC no Brasil”. A disciplina em questão faria parte do
curso da Faculdade de Educação, intitulada “Sistemas Antigos e Modernos
em Educação”, e tinha como objetivo expor as práticas educativas dos siste-
mas de ensino antigos e contemporâneos da humanidade.
No estado de São Paulo, a disciplina de Educação Comparada se con-
solidou efetivamente em 1933, segundo Cervi (1986, p. 37):
[...] o marco o pedagógico da EC no Estado de São Paulo se consolidou
da instalação da disciplina no plano dos estudos teóricos da Secção I –
Educação, do curso de formação de professores primários do Instituto de
Educação “Caetano de Campos” e, também, no último ano dos cursos
especiais de formação de professores secundários, com o nome de “Ensino
Secundário Comparado”, daquele mesmo Instituto a partir de 1933.
Com a criação da Universidade de São Paulo e a respectiva integração do
instituto de Educação “Caetano de Campos” à sua estrutura, em 1934, a
EC foi relacionada com a 5ª Cátedra, combinada à Estatística.
Ainda conforme Cervi (1986), no estado do Paraná, sua consolida-
ção aconteceu um pouco mais tarde por conta da referida equiparação à
Faculdade Nacional de Filosofia e, assim, a EC foi introduzida na Faculdade
de Filosofia, criada em 1938, equiparada em 1939.
Apesar disso, foi breve a vida da obrigatoriedade da EC no Brasil. A
uniformidade com a Faculdade Nacional de Filosofia, exigida pelo Decreto-
Lei nº 1.190/39, de que a disciplina se estendia por todo país, foi derrubada
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 (Lei nº 4.024).
Em seu artigo 9º, a LDB estabeleceu o currículo mínimo. Por intermédio do
Parecer nº 251, fixou os conteúdos programáticos dos cursos de Pedagogia
em 1962, nos quais a EC não tinha mais seu espaço garantido.
17
Outros dois pareceres comprometeram ainda mais a estabilidade da
EC como disciplina curricular: o parecer nº 252/69 fixou o currículo mí-
nimo de Pedagogia e o parecer nº 632/69 definiu o conteúdo específico da
Faculdade de Educação. Cervi (1986) lembra que os Pareceres que serviram
para derrubar a Educação Comparada foram ironicamente baseados em estu-
dos comparados para amparar sua argumentação.
Tendo o Parecer nº 252/69 estabelecido, por questão de economia, o
currículo mínimo exigido por lei, o ensino da EC foi mantido apenas nas
Universidades Públicas mais antigas e em algumas instituições menores isola-
das. As instituições superiores nem aludiam à disciplina de EC, nem ao me-
nos de maneira eletiva. Os trabalhos acadêmicos, as revistas e os periódicos
foram, nesse momento, a fonte que jorrava EC, ainda que de maneira não
tão expressiva. Os estudos comparativos que vinham das universidades eram
muito distintos, isto é, derivavam de diversas fontes educacionais como: esta-
tística, didática, história, filosofia e administração.
Pedro L. Goergen escreveu um artigo intitulado “Educação Comparada:
uma disciplina atual ou obsoleta?”, publicado em 1991 na revista Pro-Posições,
por meio do qual trouxe muitas contribuições sobre o contexto da disciplina
no Brasil e nos países sul-americanos. Já de início, o autor ressalta que, assim
como no mundo contemporâneo, houve uma crescente internacionalização
do saber, e na educação há interesses nas políticas educacionais de outros paí-
ses, mas a disciplina que cuida de fazer esse trabalho comparativo, e oferecer
informações vem sofrendo uma crescente desvalorização por ser considerada
vazia e obsoleta.
É um paradoxo pensar que em um momento em que o conhecimento é
tão difuso, um momento em que nunca se pôde saber tanto sobre outros po-
vos e, sobretudo, usar esse conhecimento para o bem, a disciplina que cuida
desse campo ainda seja desprestigiada como ciência.
Como o estudo da educação comparada procura descobrir as fôrças que
fazem com que o sistema educacional de uma nação seja diferente do de
outra, preocupa-se mais com a “forma” e menos com os pormenores que
constituem um sistema nacional de educação. Dispõe-se a encontrar as ex-
plicações de determinada “forma” no padrão de cultura e na tradição que
moldaram a concepção e o modo de vida de um povo, nas e nos ideais que
18
definem seus objetivos políticos, nas relações do indivíduo com o Estado
e suas instituições sociais e culturais e na natureza do próprio Estado. É
esta maneira de tratar o assunto que nos leva a examinar as raízes do sis-
tema educacional de nosso próprio país. A comparação ajuda a esclarecer
as semelhanças e as diferenças entre os diversos sistemas de educação. Ao
mesmo tempo, produz certa sensibilidade para os problemas comuns e
para as diferentes formas em que são resolvidos sob diferentes condições
nacionais (KANDEL, 1961, p. 29).
A professora Rejane Cervi (1986) destaca alguns empecilhos para que
a EC se estabeleça no meio acadêmico, pois esta requer certas exigências que
dificultam significativamente seu desenvolvimento, como, por exemplo: a ne-
cessidade de docentes qualificados em uma vasta área do conhecimento, em
termos culturais e científicos; atuação multidisciplinar e, com isso, trabalho em
equipe; suporte documental e bibliográfico corpulento, importado e constante-
mente atualizado; domínio de línguas estrangeiras. Cervi lembra, ainda, que se
não bastassem os requisitos supramencionados, a EC ainda está em constante
discussão teórica. Seriam estes relevantes problemas para o estabelecimento da
EC enquanto disciplina do currículo escolar nas universidades.
Embora, no Brasil, não haja condições favoráveis como nos Estados
Unidos, onde existem centros de investigação com estrutura física e de pes-
soal capacitado, fatores que favorecem o desenvolvimento de um bom tra-
balho, a Educação Comparada precisa sair de seu estado de letargia, pois se
convencidos da importância de estudos comparados, é preciso encontrar ca-
minhos para oportunizar as investigações na área, tanto no ponto de vista do
ensino, com a formação de especialistas, como no ponto de vista de pesquisas
para subsídios na política e nos planejamentos educacionais.
Educação Comparada: visão contemporânea
António Nóvoa (2018) produziu um artigo que traz a EC ressigni-
ficada. O autor português lembra, no preâmbulo do texto, do desprestígio
já sofrido pela EC e aponta que ela deve se dedicar mais às diferenças e à
compreensão dos elementos comparados; para ele, as dissimilaridades devem
ser o foco central dos estudos comparados. Nóvoa defende, ainda, que a EC
deve ser marcada por três gestos: distanciamento, intercessão e comunicação
19
e ressalta, também, que a nova visão faz parte do conhecimento e que a repe-
tição de dados já relatados não tem fundamento.
O texto traz, na primeira parte, motivos que levaram ao desencanto
da EC no decorrer dos anos, são eles: acreditar que os dados poderiam ser
transportados indistintamente; supor que a ciência poderia definir o rumo de
tudo na educação; julgar que a comparação não se afirmou como ciência da
diferença, antes se tornou a ciência da homogeneização; acreditar que as leis
podem ser generalizadas sem levar em consideração o contexto na qual estão
inseridas; comparação vista como prescritiva, ou seja, pode ditar modelos a
serem seguidos (NÓVOA, 2018).
Nóvoa lembra que, no século XX, sobre a influência do Pisa, a EC
ganhou força. O autor critica os métodos de comparação utilizados pelo pro-
grama, que usa a mesma métrica para países tão distintos. Os resultados do
Pisa geram ações governamentais, especialmente dos países que tiveram baixa
colocação no programa, com o intuito de reproduzir as ações que suposta-
mente levaram alguns países a níveis mais altos. Para Nóvoa (2018), o ato
descrito aponta para uma das “desilusões” da EC, que é pensar que há solução
para todos os problemas educacionais.
Por fim, após enfatizar repetidamente que a EC deve ser repensada,
no sentido de priorizar as diferenças e os fatos, o autor português finaliza seu
texto trazendo uma reflexão sobre a significância de se ver os fatos sob outras
perspectivas: “Ver o universo com os olhos de outra pessoa, de cem pessoas –
talvez esta citação pudesse ser adoptada como lema da educação comparada
(NÓVOA, 2018, p. 29).
O texto de Nóvoa traz reflexões muito pertinentes para o contexto
atual da sociedade. O autor mostra que a EC presta grande utilidade aos
fins a que se propõe. Contudo, precisa ser repensado em alguns conceitos já
enraizados, olhar mais para as dissimilaridades e se abrir para problemáticas,
sem se preocupar em medir sistemas como métricas homogêneas e solucionar
problemas próprios com recursos alheios.
Evolução dos estudos da Educação Comparada
Ao longo de sua trajetória, a EC passou por diversos períodos e foi con-
siderada de maneira distinta por diferentes autores, possuindo, assim, várias
20
abordagens e muitos conceitos. Para Bonitatibus (1989), a EC pode ser ca-
racterizada por periodização pautada em construções teóricas de determina-
dos comparatistas, tais como: Schneider (1966), Noah e Eckstein (1970),
Vexliard (1970) e Márquez (1972).
Schnneider (1966), em sua obra La pedagogia comparada: su história,
sus princípios u sus métodos, apresenta a EC em duas fases: assistemática ou
pré-cientista e sistemática ou científica. A primeira fase – período pré-cientí-
fico – foi assim estabelecida por tratar o objeto de estudo de maneira casual,
ou seja, sem se preocupar como as normas e com o rigor científico, ao passo
que a fase sistemática se caracteriza por tratar o objeto de maneira cientí-
fica, isto é, com rigor de métodos, buscando a especificidade dos sistemas
(BONITATIBUS, 1989).
Alexandre Vexliard, em Pedagogia comparada, de 1970, apresenta a EC
em quatro fases. A primeira fase, denominada “estrutural”, é representada pela
Esquisse de Jullien. Vexliard (1970) afirma que nesta fase já se encontram elemen-
tos “arquitetônicos” e princípios metodológicos que perduram até o presente.
A segunda fase – período dos “inquiridores” – abrange de 1830 a 1914,
neste período, “[...] inquiridores, em geral comissionados por seus gover-
nantes, percorrem a Europa e os Estados Unidos com a missão de estudar os
sistemas de ensino em vigor” (VEXLIARD, 1970, p. 17). Os levantamentos
feitos serviam de base para reformas projetadas.
A terceira fase – período de sistematizações teóricas – aconteceu por
volta de 1920-1940. Essa fase foi de extrema importância para a Educação
Comparada, pois foi quando surgiram importantes contribuições por no-
mes como Kandel, Hessen, Schneider, Hands, embora muitas dessas obras só
puderam ser publicadas depois de 1940. Essa fase se caracteriza, ainda, por
elementos imprescindíveis para o crescimento da matéria com: instituições
permanentes, anuários e revistas, reuniões e congressos (VEXLIARD, 1970).
A quarta fase – indicada como “quarto período” – teve início após a
Segunda Guerra Mundial e, segundo Vexliard (1970), pode ser chamada de
prospectiva. Isso significa que “[...] os estudos comparados, em nosso domí-
nio, sobretudo após 1955 são voltados para o futuro” (VEXLIARD, 1970,
p. 17), tendo como objeto a tentativa de previsão de como será o futuro em
detrimento de observação histórica dos sistenmas de ensino.
21
Diogo Márquez, com a obra Ángel, Educación Comparada: teoría y me-
todologia, de 1972, apresenta a EC em quatro períodos. O primeiro é o Pré-
Científico, descrito por comparações casuais. Os relatos de viagens e as compa-
rativas de pensadores como Platão e Aristóteles se enquadram nesse período.
O segundo, é o Período Científico, marcado por Marc Jullien como momento
em que o pai da EC propõe “tabelas comparativas” (BONITATIBUS, 1989).
O terceiro período, denominado Analítico-Explicativo, tem suas ações
baseadas especialmente na história e busca entender a construção dos siste-
mas de ensino. Por fim, o quarto período – Comparativo, para Márquez, se
destaca por suas comparações alicerçadas na história. Essa fase esteve sobre
forte influência das ciências sociais (BONITATIBUS, 1989).
Por fim, Noah e Eckstein (1970), em La ciência de la educación com-
parada, descrevem que a EC é constituída por cinco etapas. A primeira,
denominada “Relatos de Viajantes”, período que foi motivado pela curio-
sidade, trabalhos subjetivos, perspectiva cultural do observador que não
necessariamente era um educador. Na segunda etapa, a dos “Empréstimos
Educacionais”, as pessoas relacionadas ao Governo e/ou à educação eram en-
viadas a outros países com a intenção de recolher dados que pudessem servir
de ações em seus sistemas de ensino. Essa etapa se distinguia da anterior por
ter métodos mais sistemáticos (BONITATIBUS, 1989).
A terceira etapa, denominada “Educação Internacional”, se caracteriza-
va pelo intercâmbio educacional, mas não mais com a intenção utilitarista da
fase anterior, a motivação agora estava na “superação de barreiras”. A quarta
etapa, da “Força e Fatores”, exigia mais atenção às teorias, análise da relação
entre educação e sociedade, contexto histórico utilizado para caracterizar as
transformações dos sistemas. Fase em que os comparatistas se utilizam de mé-
todos quantitativos, emprestados das ciências sociais. Nesse período, adotam
a modalidade determinista.
A quinta e última fase de Noah e Eckstein – “Explicação pelas Ciências
Sociais” –, assim como a etapa anterior, utiliza-se de métodos quantitati-
vos adotados nas ciências sociais e busca atender aos métodos científicos;
adotada sobretudo por Noah e Eckstein, mas também por autores funda-
mentalistas que trabalham com técnicas estatísticas e testagem de hipóteses
(BONITATIBUS, 1989).
22
Métodos da Educação Comparada
A Educação Comparada não pode ser definida por pressupostos cien-
tíficos predefinidos, como toda ciência, com objeto, método e campo de
pesquisa determinados. Não há consenso entre os comparatistas quanto à
definição desses conceitos e, por essa razão, a matéria torna-se tão complexa.
Podemos apontar, aqui, alguns elementos que ratificam essa falta de con-
senso como, por exemplo, o fato de ser a EC um campo multidisciplinar,
o que possibilita que haja pesquisadores formados por ciências e métodos
distintos; desse modo, a comparação tem significados diferentes para cada
comparatista.
Existem, ainda, fatores importantes que corroboram com a inexistência
de pressupostos científicos definidos, como o fato de ser a EC uma disciplina
um tanto quanto recente, pois, muito embora tenha surgido no século XIX,
foi apenas no século passado que se desenvolveu efetivamente com pressu-
postos epistemológicos, o que a torna uma disciplina em desenvolvimento.
Conquanto a afirmação que postamos não tenha a intenção de tornar o
texto prolixo, é necessário enfatizar que a EC tem deixado de lado a tentativa
de definir uma metodologia única, como tem feito desde que se firmou como
disciplina acadêmica, e passa a admitir que a abundância metodológica seja a
peculiaridade que valoriza o campo.
Para além da metodologia que adotamos nesta dissertação e que apre-
sentaremos mais adiante, existem outras perspectivas metodológicas que me-
recem destaque por terem sido muito bem recebidas no meio acadêmico.
Entre esses modelos, vale ressaltarmos o cubo, de Bray e omas, modelo
organizado em múltiplos níveis, criados em 1990.
23
Figura 1 - Cubo referencial para análises na educação comparada
Fonte: Bray e omas (1995, p. 475 apud BRAY; ADAMSON; MASON, 2015, p. 35).
O cubo possui três faces que apresentam aspectos geográficos, demo-
gráficos e educacionais. Na perspectiva geográfica, ele traz níveis que vão do
macro ao micro, referentes a regiões mundiais, continentes, países, provín-
cias, distritos, escolas, sala de aula, chegando até ao indivíduo. Na perspectiva
demográfica populacional, não há referência de lugar, os eixos são: etnia, faixa
etária, religião e gênero. Na terceira face do cubo, a perspectiva é sobre ques-
tões educacionais e sociais, como: currículo, métodos de ensino, finanças,
estruturas administrativas, mudanças políticas e mercado de trabalho (BRAY;
ADAMSON; MASON, 2015).
O cubo de Bray e omas representa a evolução da Educação
Comparada, pois esta vem, ao longo dos anos, desenvolvendo elementos
mais sólidos e complexos. O cubo ressalta a importância de uma análise em
vários níveis como forma de obter resultados mais fundamentados.
Um ponto que foi enfatizado mais do que qualquer outro no artigo de Bray
e omas foi o apelo para que as análises em estudos comparativos fossem
conduzidas em múltiplos níveis para torná-las mais holísticas e multifaceta-
das. Os autores notaram que grande parte das pesquisas se restringia a um só
nível, negligenciando desta forma, como os padrões nos níveis mais baixos
dos sistemas educacionais são moldados pelos padrões existentes nos níveis
acima deles e vice versa [...] Bray e omas sugeriram que os pesquisadores
24
deveriam, pelo menos, reconhecer formalmente, as limitações das suas foca-
lizações e a influência mútua de outros níveis sobre os fenômenos educacio-
nais alvos do seu interesse. (BRAY; ADAMSON; MASON, 2015, p. 36).
Na visão supracitada, os autores salientam que expor as ideias em múl-
tiplos níveis é uma forma abrangente de pesquisa e, embora não haja muitos
consensos entre os pesquisadores de EC, como mencionado anteriormente, a
necessidade de níveis de pesquisa mais amplos é consenso entre eles.
Considerações Finais
A EC como metodologia científica originou-se com o surgimento
dos sistemas ensino, contudo, há sinais dessa matéria desde a antiguidade.
Observamos ser a EC um método apropriado para o cotejamento entre pro-
gramas educacionais por ser um campo multidisciplinar, ou seja, pode abarcar
diversas disciplinas de maneira que a comparação possui significados distintos.
A EC possui grande utilidade aos fins a que se propõe. Ainda existem
caminhos a ser percorridos enquanto metodologia, conquanto a EC auxilia
principalmente no repensar os próprios sistemas, proporciona uma reflexão
dos fatos sobre outras perspectivas, olha para a dissimilaridade sem considerar
os sistemas de ensino como um modelo uniforme e corrobora na solução de
problema olhando para o outro e para si.
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25
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26
VEXLIARD, A. Pedagogia Comparada. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1970
27
Capítulo 2
A EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL:
UMA ANÁLISE COMPARATIVA COM
CURRÍCULO DA INFÂNCIA NA ITÁLIA
Graziela Cristina de Oliveira HOLMO 6
Resumo
A presente pesquisa teve como objetivos conhecer, registrar e analisar
os aspectos referentes às indicações legais para a Educação Infantil no Brasil e
na Itália, a partir da investigação de cunho comparativo, com base na análise
documental. Justifica-se a importância do estudo para que a Base Nacional
Comum Curricular possa ser compreendida de forma a realmente atender as
especificidades da educação infantil, enquanto espaço de promoção de de-
senvolvimento humano. Para tanto, foram analisados entre outros, os seguin-
tes documentos legais: a Base Comum Curricular Nacional para a Educação
Infantil no Brasil (2017) e as Indicações para o Currículo da Infância na
Itália (2012), que trouxeram em seu bojo indicações significativas no que se
refere a essa etapa da Educação Básica. Por meio dos referidos documentos,
foi possível traçar pontos de semelhanças e de diferenças acerca do trabalho
pedagógico na Educação Infantil. A respeito das semelhanças pode-se inferir
que ambos adotam posições de uma política social global; às formas de or-
ganização do currículo é posta a partir de campos de experiências e direitos
de aprendizagens. Por outro lado, observa-se que a forma de organização do
6 Programa de Pós-Graduação em Educação/PPGE/UNESP/Marília/SP/Brasil/Graziela Cristina de
Oliveira Holmo/graziela.holmo@edu.assis.sp.gov.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-618-3.p27-40
28
tempo, do espaço e os tipos agrupamentos em relação à idade das crianças
são bastante diferentes de um país para o outro, ou seja, no Brasil as crianças
de 0 a 5 anos, são agrupadas por faixa etária de forma homogênea em séries
distintas, enquanto que na Itália as crianças compreendidas de 3 a 6 anos são
agrupadas em um único agrupamento que tem o ciclo de três anos. Assim,
enquanto no Brasil ainda se discute a implantação e elaboração dos currículos
nos níveis municipais e estaduais, pois a Base acabou de ser homologada, a
implantação já ocorrida desde 2012 das Indicações na Itália, se ocupa atual-
mente com discussão de ampliação do atendimento das escolas da primeira
infância para faixa etária de 0 a 2 anos. Entende-se, porém, que há ainda
muito a avançar em relação a esta temática, tendo em vista o papel nuclear
da Educação Infantil nas sociedades que buscam uma educação de efetiva
qualidade, mais humanizada, menos “adultocêntrica”.
Palavras-chave: Educação Infantil. Currículo. Educação Comparada.
Introdução
O tema Educação Infantil, parte relevante da formação humana, vem
ao longo do tempo ganhando reconhecimento de sua importância para a
educação. As primeiras considerações de criança como ser individual e, poste-
riormente, ser dotado de individualidade e de direitos remonta ao séc. XVIII7.
Os conceitos de infância e de criança, bem como o lugar ocupado
por ela nas relações sociais, permeiam discussões que abrangem o campo do
Direito, da Sociologia e da Pedagogia. Assim, seu reconhecimento perpassa
pela concepção que se tem de criança e de infância, a partir de indagações
como: Qual é a ideia que se tem de infância? Como deve ser desenvolvido
o trabalho para essa faixa etária? Como se organiza o currículo na Educação
Infantil? Qual referencial teórico respalda o trabalho pedagógico a ser reali-
zado com as crianças pequenas? O que respalda o trabalho docente para as
crianças da Educação Infantil?
Essas reflexões, sempre presentes na trajetória profissional da autora,
desde sua experiência como docente de Educação Infantil e, posteriormente,
7 ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. 2ª ed. Rio de Janeiro: LCT, 1981.
29
como diretora de escola e atualmente como supervisora de ensino, responsável
pela organização da Educação Infantil em um munícipio do Oeste Paulista.
Durante seu percurso profissional deparou-se com questões ligadas tanto ao
reconhecimento do direito dessas crianças à educação, quanto à obrigatorie-
dade de formação específica para este nível de ensino, percebendo a existência
de entraves existentes em ambos os aspectos. Tais percepções sempre a insti-
garam, impulsionando-a para um estudo e uma reflexão mais aprofundados
desta problemática, buscando referenciais teóricos que pudessem levá-la a
uma melhor compreensão acerca da área.
Neste sentido, verifica-se que o atendimento à primeira infância no
Brasil foi reconhecido como direito após a segunda metade da década de
1980, a partir de políticas educacionais oriundas da aprovação de legisla-
ções que visavam garantir o direito à infância. Entre essas legislações estavam
a Constituição Federal de 1988; o Estatuto da Criança e do Adolescente8
(ECA); e, mais especificamente em relação à educação, a aprovação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional9 (LDB), que passou a reconhecer a
educação infantil como primeira etapa da educação básica. Tais indicações
legais foram ao encontro das garantias infantis contempladas nas propostas
pedagógicas e curriculares para a infância.
Nesse cenário, a educação surge como um dos principais mecanismos
para reverter um quadro que, até 1988, estava ligado ao assistencialismo.
Observa-se o quanto as legislações trouxeram mudanças significativas, em es-
pecial para a Educação Infantil, desde os Referenciais Curriculares Nacionais
para a Educação infantil (RCNEI)10 perpassando pelas Diretrizes Curriculares
Nacionais para Educação Infantil (DCNEI)11 e, a medida mais recente, a
Base Comum Curricular Nacional para a Educação Infantil (BNCC)12.
Assim, ao iniciar no Programa de Mestrado em Políticas Públicas da
Universidade Estadual Paulista, Campus UNESP / Marília, a autora pode
vislumbrar a possibilidade de aprofundar esse estudo, despertando a curiosi-
dade em saber quais são as orientações legais relacionadas à educação infantil
8 Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8069 de 13/07/1990.
9 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9394/96 de 20/12/1996.
10 BRASIL, 1998.
11 BRASIL, 2009.
12 BRASIL, 2017.
30
em contextos distintos e se o panorama referente à educação infantil seria
semelhante em dois países distantes e se haviam pontos de divergência entre
as concepções de infância.
Nesse sentido, a pesquisadora fora impulsionada tanto pelas discus-
sões feitas nos encontros do Grupo de Pesquisa Coletivo de Pesquisadores
em Políticas Educacionais (COOPE/UNESP-Marília), em educação com-
parada, quanto pelas discussões referentes à publicação da BNCC, buscan-
do compreender o que referendou sua elaboração e como se configuram as
orientações legais para a educação infantil em outra realidade.
A autora constatou preliminarmente que esse documento recebeu inú-
meras influências das pesquisas e das legislações italianas, e por esse motivo
optou por realizar o estudo aqui apresentado adotando como referencial meto-
dológico a Educação Comparada, por meio da análise de documentos criterio-
samente selecionados: a BNCC para a Educação Infantil, aprovada em 2017 e
as Indicações para o currículo da Infância na Itália, sancionado em 2012.
Discussões dessa natureza evidenciam os estudos que antecederam a
publicação da BNCC. O currículo na Educação Infantil tornara-se lócus de
disputa de diversos discursos, que criaram certas formas de ser e se inserir na
sociedade. Muitas dessas discussões figuram em diferentes formas de análi-
se e pesquisa, em busca da compreensão de como o currículo da Educação
Infantil está disposto, quais ideias sobre ele são incidentes e a verificação da
trajetória de elaboração do documento aprovado.
A primeira versão da BNCC, apresentada em 2015 para apreciação
da comunidade, deu origem à segunda versão apresentada em junho 2016
e encaminhada para a análise de especialistas presentes em seminários por
todo o país. Após as apreciações, o documento foi finalizado e sua terceira
versão foi aprovada em 2017, tendo como foco central orientar os currículos
de todo o país.
Considerada como marco importante em toda sua trajetória de ela-
boração para Educação Infantil, a BNCC (2017) foi aprovada e passou a
indicar as orientações legais para a Educação Infantil; motivo pelo qual
foi selecionada como uma das fontes para o estudo que aqui se apresenta.
Nessa perspectiva, as reflexões e análises ora expostas dão ênfase à forma
como o currículo da Educação Infantil é apresentado na BNCC e visam
31
compreender, registrar e analisar quais as referências a sustentaram e quais
são as proposituras nela presentes.
A escolha do documento italiano se ampara nos apontamentos de au-
tores como: Arce (2012); Barros, Constantino, Colombani e Barbosa (2012);
Finco, Barbosa, Faria (2015); Lima, Machado, Marsiglia e Pina (2017); que
relatam estratégias de atendimento à infância desenvolvidas na Itália e nor-
teadoras das propostas e metodologias implementadas no Brasil.
Marcondes (2005) e Carvalho (2014) indicam meios de conduta me-
todológica para levantamento de dados, buscando “identificar os temas recor-
rentes, as semelhanças e também a dissimilaridades e particularidades nacio-
nais”. Esses autores buscam advertir a respeito da fragilidade da realização de
análises descontextualizadas e de críticas produzidas fora de contexto quando
um pesquisador se propõe a realizar uma investigação de análise comparativa.
Destaca-se que tanto no Brasil quanto na Itália, as formas de organiza-
ção da Educação Básica para cada nível de ensino se dão de maneira diferen-
ciada. Assim, na pesquisa aqui apresentada buscou-se delimitar como foco do
estudo a educação infantil; apontando como problema de pesquisa suas indi-
cações legais, detectando a existência de pontos em comum e ou divergentes
e as possíveis lacunas existentes nos documentos legais analisados de maneira
aprofundada, como forma recíproca de contribuição para a área da educação.
Desse modo, o problema que move o estudo aqui apresentado está
centrado nas indicações legais para organização desse nível de ensino, por
intermédio da análise documental. A partir dessa delimitação, elaborou-se a
pergunta central da investigação: Existem pontos comuns referentes às indi-
cações legais para a Educação Infantil no Brasil e na Itália, cuja análise possa
contribuir reciprocamente aos seus sistemas educativos?
Na perspectiva da educação comparada, a presente pesquisa teve como
objetivos conhecer, registrar e analisar os aspectos referentes às indicações
legais para a Educação Infantil no Brasil e na Itália, com base na análise do-
cumental. Com esse propósito, foram traçados os três objetivos específicos,
sendo o primeiro deles o de analisar os documentos legais vigentes e recentes
no Brasil e na Itália para esse nível de ensino, comparando-os; o segundo pro-
põe a identificar os pressupostos dessas indicações para a Educação Infantil
efetivadas no Brasil e na Itália, a partir da implantação das suas respectivas
32
leis e o terceiro e último objetivo busca identificar, selecionar e relacionar os
aspectos comuns e/ou divergentes da legislação brasileira e italiana, referentes
à Educação Infantil.
Cabe ressaltar a dificuldade em realizar uma análise comparativa entre
diferentes contextos tendo em vista diferenças históricas e sociais. Para isso,
faz-se necessário conhecer essas realidades, por meio de diferentes leituras e
da interpretação de documentos legais. Tal dificuldade é um dos fatores de
limitação desta pesquisa, pois há ainda uma significativa diferença na forma-
ção docente em diferentes níveis da Educação Básica; o que impulsionou a
pesquisadora a delimitar este estudo ao âmbito da Educação Infantil.
Destaca-se, ainda, que em tese os países pesquisados organizam esse
nível de ensino por faixas etárias diferentes. Na escola italiana, a Educação
Infantil conhecida como creche/jardim da infância13, os níveis de escolari-
dade são organizados em apenas um ciclo que vai dos três aos seis anos de
idade. Já no sistema educacional brasileiro, a escola de Educação Infantil está
organizada de zero aos cinco anos de idade.
Em relação à análise documental, os documentos selecionados para a
pesquisa aqui apresentada foram analisados tendo em vista a orientação do
trabalho docente; além da seleção dos princípios educativos, dos direitos de
aprendizagens, dos campos de experiências e das relações que estabelecem para
o desenvolvimento dos educandos. A escolha pela educação comparada tem o
intuito de aprofundar o conhecimento de si e do outro, como aponta Franco:
[...] O princípio da comparação é a questão do outro, o reconhecimento
do outro e do eu pelo outro. A comparação é um processo de perceber
diferenças e semelhanças e de assumir valores nessa direção de reconhe-
cimento mútuo. Trata-se de entender o outro do eu e, por exclusão, de
perceber a diferença” (FRANCO, 1992, p. 14).
Considerando os diferentes contextos que permeiam o sistema edu-
cacional do Brasil e da Itália, e que trazem à tona divergências econômi-
cas, sociais, culturais e geográficas; Carvalho (2014) destaca que a Educação
Comparada coloca seus pesquisadores diante de novos desafios, a proposição
de um sistema para o outro, não significando uma mera transposição, mas
13 asilo nido/ scuola della infanzia.
33
tendo como objetivo a descoberta das funções que a escola, enquanto estru-
tura social desempenha em cada um dos países analisados.
O estudo comparativo adotado como metodologia nessa pesquisa foi
realizado a partir das quatro etapas apontadas por Bereday (1972), sejam elas:
a descrição, a interpretação, justaposição e, por fim, a comparação de dados.
Na fase da descrição, como recomenda Bereday (1972), buscou-se analisar
os documentos legais para o levantamento dos dados pedagógicos relativos
às escolas da Itália e do Brasil. Em seguida, na etapa da interpretação, foram
analisados os dados pedagógicos, contextualizando-os em seus aspectos his-
tóricos, políticos, sociais e econômicos.
Partindo-se da hipótese de que a BNCC sofreu influência das concep-
ções presentes nas indicações italianas, passou-se à justaposição, levantando-
-se semelhanças e diferenças presentes nos dois documentos e selecionando
possíveis critérios de comparabilidade.
Na etapa voltada à comparação simultânea, foram descritas as infor-
mações de um dos países analisados, buscando evidenciar que a referência de
um país provoca, simultaneamente, a comparação com outro; retomando-se,
então, o objetivo deste estudo, comprovando-se a hipótese inicialmente le-
vantada e concluindo-se a pesquisa.
Referencial Teórico e Metodológico da Pesquisa:
a Educação Comparada
Esta pesquisa segue a metodologia proposta por Bereday (1972), a qual
define seu método de análise comparada em quatro passos ou etapas, nomea-
das como descrição, interpretação, justaposição e comparação simultâneas, as
quais serão apresentadas a seguir.
Bereday (1972) indica que a descrição, consiste na coleta sistemática
de informações referentes ao objeto de estudo, seguida da interpretação e
análise dos dados coletados, depois a justaposição que estabelecerá uma vista
simultânea a respeito das semelhanças e diferenças. Esses passos dão suporte
para a realização da comparação, último passo ou etapa. Nesse sentido, esse
estudo se organiza a partir dos passos ou etapas de análise comparativa pro-
postas por Bereday (1972). Objetivando propiciar a visualização do método
criado por Bereday (1972), a figura 1 traduz o enfoque do autor:
34
Figura 1- Passos ou etapas de análise comparativa:
Fonte: BEREDAY, 1972, p. 59
Segundo Bereday (1972), a figura acima apresentada demonstra de
forma abrangente, um método possível de relacionar as diversas variáveis
implicadas nos estudos diferentes comparados. A próxima seção apresenta
a operacionalidade desse método a partir do objeto de pesquisa selecionado
por este estudo.
A Operacionalidade do Método de Educação Comparada
A partir do esquema proposto por Bereday (1972, p. 75), ilustrado
na figura 1, em relação à operacionalidade do método, o pesquisador deve
seguir uma sequência de passos, iniciado pela descrição do objeto de estudo a
ser comparado. Nesta pesquisa foram selecionados os seguintes documentos
oficiais: Base Nacional Comum Curricular para Educação Infantil (BRASIL,
2017) e Indicações Nacionais para o Currículo da Escola da Infância e do
Primeiro Ciclo de Instrução (ITÁLIA, 2012).
35
Em linhas gerais, tais documentos têm servido para orientar o currícu-
lo da Educação Infantil nos dois países e têm propiciado discussões, reflexões
e reformulações ao longo das últimas décadas, procurando estabelecer uma
pedagogia propícia ao ensino das crianças pequenas. Esses documentos ofi-
ciais apresentam como princípio desenvolver a identidade e autonomia das
crianças. A partir dessas determinações oficiais a Educação Infantil deve pro-
mover um ambiente acolhedor e estimulante, considerando a criança como
centro e os professores como mediadores de seu desenvolvimento, na com-
preensão de suas emoções e de seu tempo, propiciando novas experiências.
A hipótese dessa pesquisa é que as normativas curriculares dos dois países
apresentam muitas similaridades quanto às indicações para construção curri-
cular das escolas.
Nessa direção, apresentou-se o documento de cada país em capítulos
distintos buscando desta forma, descrever e interpretar o que, consequen-
temente, levará à operacionalidade do método, pois uma vez estabelecida a
comparabilidade inicial entre os documentos, examinando o material relativo
de cada país com a finalidade de catalogar, lado a lado, os dados coletados,
procura-se encontrar semelhanças e diferenças, abrindo dessa forma cami-
nhos para formulação de uma hipótese preparatória para comparação final.
Para ilustrar a operacionalização do método de estudo comparado utilizado
nesta pesquisa, a partir de Bereday (1972), a figura a seguir sintetiza a traje-
tória realizada:
36
Figura 2- Passos realizados a partir do modelo de BEREDAY (1972)
Fonte: elaborado pela autora adaptado do modelo de BEREDAY, 1972, p. 89.
Segundo Bereday (1972), quando delimita as fronteiras do tema, o
pesquisador deixa claro o percurso a ser descrito, se obriga primeiramente a
tabular os dados pedagógicos para cada país, seguido da interpretação con-
templada em seus diferentes aspectos (histórico, político, econômico e social)
colocando-os lado a lado para determinar-lhes a comparabilidade, o levanta-
mento da hipótese e finalmente a comparação.
37
Considerações Finais
A pesquisa aqui apresentada foi resultado da análise comparativa entre
a BNCC para a Educação Infantil no Brasil e as Indicações Nacionais para o
Currículo da Infância na Itália e utilizou o método da Educação Comparada
de acordo com os passos propostos por BEREDAY (1972).
Partimos para comparar o documento oficial para Educação Infantil no
Brasil (BNCC) e as Indicações Nacionais na Itália (Indicações Italianas), foi pos-
sível afirmar que a BNCC se assemelha muito ao documento italiano, tanto no
que tange às concepções de criança e de infância, quanto à organização curricular
em campos de experiência que objetivam o desenvolvimento de competências.
Algumas divergências também foram encontradas nos documentos
analisados. Nesse sentido, é preciso ressaltar que, na Itália, as Indicações
Italianas foram elaboradas para o atendimento das crianças de 3 a 6 anos, en-
quanto no Brasil a matriz da BNCC para Educação Infantil é proposta para
as crianças de 0 a 5 anos, sendo que, apesar dos dois documentos (BNCC e as
Indicações Italianas) possuírem as mesmas funções no contexto da Educação
Infantil, tais documentos abrangem faixas etárias um pouco distintas.
Também é possível afirmar que tanto na BNCC quanto nas Indicações
Italianas, foram propostos cinco “campos de experiências” para o desenvolvi-
mento do trabalho com a Educação Infantil. As nomenclaturas dos campos
são exatamente iguais, conforme podemos observar no quadro 5 de nossa pes-
quisa (p. 96), com exceção, do último campo que, na BNCC é nomeado de
“Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações e nas Indicações
Italianas é apresentado como “Conhecimento de mundo”.
No entanto, a concepção dos campos acima citados, em ambos os do-
cumentos (BNCC e Indicações Italianas), mesmo que com nomenclaturas
diferenciadas, se referem às experiências de exploração do entorno da criança,
levantando hipóteses e consultando diferentes fontes para obtenção de res-
postas às indagações das crianças. Portanto, o fato de terem nomenclaturas
diferentes não se traduz em dois campos diferentes de situações de aprendiza-
gens, mas sim refletem uma aproximação entre eles.
No que diz respeito às competências, é possível identificar as apro-
ximações, uma vez que na BNCC é proposto o desenvolvimento de dez
38
competências gerais”, ao passo que nas Indicações Italianas são propostas
oito “competências chave”, competências essas definidas pelo Parlamento
Europeu, para o desenvolvimento das crianças.
Em termos de conteúdo, consideramos que as dez competências pro-
postas pela BNCC (denominadas “competências gerais”) são corresponden-
tes às competências propostas nas Indicações Italianas (denominadas “com-
petências chave”). Observa-se que as duas últimas competências apresentadas
na BNCC como sendo as competências “valorização e utilização de conhe-
cimento” e a competência “exercício da curiosidade intelectual” podem ser
consideradas como uma espécie de desdobramento das oito “competências
chave” presentes nas Indicações Italianas.
No entanto, assim como Ariosi (2019), percebemos que nas Indicações
Italianas o foco é sempre o desenvolvimento da criança, enquanto, na BNCC,
o foco recai mais nos conteúdos e na progressão da criança em sua vida esco-
lar, o que pode vir a demonstrar uma certa centralidade no currículo e não no
desenvolvimento da própria criança.
Para concluir há de se ressaltar que no documento brasileiro (BNCC),
são apresentados seis “direitos de aprendizagens”. Tais direitos se referem às
ações de conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se, o que
pode ser entendido como o objetivo de garantir à criança a realização da vi-
vência da infância nos espaços da Educação Infantil. Nas Indicações Italianas
não há menção à “direitos de aprendizagem”, nem à alguma outra situação
que se assemelhe.
Diante de todas essas considerações, é necessário observar que a
Educação Infantil teve um grande avanço a partir das discussões realizadas
após promulgação da Constituição Federal de 1988. Desde então, aconte-
ceram muitos debates e discussões para esse nível de ensino que permitiram
diferentes reflexões, as quais permearam a construção da BNCC e, mais re-
centemente, a homologação da mesma em 2017.
Referências
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41
Capítulo 3
ALFABETIZAÇÃO NO ESTADO DE SÃO
PAULO: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO
“PROGRAMA LER E ESCREVER”
Fernanda Gonçalves GOMES 14
Resumo
Uma temática recorrente nos estudos educacionais se baseia em um
sério problema nacional, que é a tentativa de erradicação do analfabetismo
no Brasil. Mediante o conhecimento da realidade educacional brasileira e dos
indicadores nacionais e regionais, o governo federal e os demais entes têm
feito sucessivos movimentos na busca por melhorias nos índices da alfabeti-
zação, com o aporte de políticas e projetos que culminaram na elaboração de
diferentes programas. A presente pesquisa tem por objetivo realizar a descri-
ção e análise do “Programa Ler e Escrever” [PLE]. A fim de obter resultados
e generalizações que permitam o aprofundamento do conhecimento sobre
este programa.
Palavras-chave: Alfabetização. Programa para alfabetização. Programa Ler e
Escrever.
14 Doutoranda em educação pela Universidade do Estado de São Paulo – UNESP. Marília-SP-Brasil-
fernanda.g.gomes@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-618-3.p41-59
42
Introdução
A presente pesquisa sobre o “Programa Ler e Escrever”, utilizado no
Estado de São Paulo, surgiu ao desenvolver leituras sobre a alfabetização e
observar que o processo do ensino da leitura e escrita no Brasil adquiriu
uma maior força no século passado, quando foi promulgada a Constituição
Federal brasileira em 05 de outubro de 1988 e, alguns anos mais tarde, foi
sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional, sendo a Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996, as que concederam uma maior impor-
tância aos processos de alfabetização na medida em que definiram princípios
educacionais importantes, tais como a busca pela universalização do ensino e
a obrigatoriedade e gratuidade da Educação Básica no Brasil15.
Como justificativa deste trabalho, consideramos que a alfabetização é
um sério problema social no Brasil e, ainda hoje, os níveis de analfabetismo
são bastantes elevados. As seguidas avaliações de larga escala têm mostrado
isso e, portanto, escolhemos duas propostas de projetos de alfabetização e,
consequentemente, de combate ao analfabetismo para analisarmos de for-
ma comparativa. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a
sanção da LDB em 1996, ocorre, ainda que de maneira desigual, uma maior
valorização das necessidades infantis, que no âmbito educacional, significa,
entre outras coisas, alfabetizar nossas crianças na idade esperada, isto é, nos
anos iniciais do ensino fundamental.
Os níveis do analfabetismo no Brasil eram alarmantes em todo o país
e, de forma a auxiliar na erradicação do mesmo, criou-se alguns programas
destinados a melhoria dos níveis de alfabetização, o do estado de São Paulo
então, foi o “Programa Ler e Escrever” [PLE], implementado na rede estadual
do Estado de São Paulo desde 2007.
Historicamente, deu-se início ao “Programa Ler e Escrever” – PLE16
- com o objetivo de sanar uma deficiência existente nos níveis de alfabe-
tização na cidade de São Paulo, posteriormente, sendo utilizado em nível
estadual. Entre as políticas construídas, o PLE surge como o material que
15 Apesar das inúmeras modificações sofridas pela LDB em seus 25 anos de existência, essa ênfase nos
processos de alfabetização permanece inalterada, entre outros motivos, pelo fato de ainda termos
um índice expressivo de analfabetismo (BRANDÃO, 2018).
16 A partir de aqui iremos utilizar PLE para se referenciar ao “Programa Ler e Escrever”.
43
será utilizado diretamente entre professor e aluno, em sala de aula. Para isso,
algumas ações foram estabelecidas previamente, as quais contextualizaremos
neste momento.
Programa Ler e Escrever
O PLE surgiu depois do “Programa Letra e Vida”, como continuidade
e ampliação, porém, é tido como um programa mais abrangente e completo.
Em 2006, o programa foi implementado apenas no município de São Paulo,
com o objetivo de aumentar os índices de alfabetização nos anos iniciais do
Ensino Fundamental. O programa municipal contempla três projetos, a sa-
ber: Toda Força ao 1º Ano (TOF); Projeto Intensivo no Ciclo I (PIC) e Ler e
Escrever em todas as áreas do ciclo II. Com base no objetivo do projeto, que
direciona a alfabetização, espera-se que:
[...] ao final deste ano, nossos alunos do 1º ano atinjam a meta de ler e es-
crever. Acreditamos também que, ao seguirem para o 2º ano sabendo ler e
escrever eles iniciarão um novo ciclo no Ensino Fundamental, formado por
alunos que têm prazer em ler, encaram os desafios de escrever e acreditam
em sua capacidade de estudar e aprender. (SÃO PAULO, 2006b, v. 3, p. 4).
Trataremos adiante, mais expansivamente, dos projetos direcionados à
alfabetização no ciclo I do Ensino Fundamental. Mas, ainda sobre a contex-
tualização da elaboração do PLE, vale mencionar que, em 2007, o programa
é ampliado a nível estadual, com a meta de abranger todas as escolas estaduais
que tenham o ciclo I do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano), por meio da
Resolução SE nº 86, de 19/12/2007 (SÃO PAULO, 2007a).
Essa medida é tomada com o intuito de solucionar as dificuldades
apresentadas pelos alunos do ciclo I do Ensino Fundamental em relação às
competências da alfabetização, expressas nas avaliações externas; também, ha-
via a necessidade de que todos os alunos do ciclo I do Ensino Fundamental
fossem inseridos no programa, uma vez que a defasagem de leitura e escrita
estava presente em todos os anos do ciclo I do Ensino Fundamental, deficiên-
cia constatada através dos resultados das avaliações realizadas em larga escala,
44
especialmente pelo SARESP17 e pela Provinha Brasil18.
Assim, podemos dizer que o PLE se constitui em uma política pú-
blica, com um conjunto de linhas de ação articuladas, a fim de promover a
alfabetização de todas as crianças durante o ciclo I do Ensino fundamental,
matriculadas na rede estadual de ensino, bem como garantir a recuperação da
defasagem constatada nos alunos dos outros anos do mesmo ciclo.
O PLE inclui formação, acompanhamento, elaboração e distribuição
de materiais pedagógicos e outros subsídios, para alcançar seus objetivos, a
saber: dar suporte aos coordenadores na formação de seus professores; apoiar
professores alfabetizadores que atuam até o final do 2º ano do ciclo I; criar
condições nas salas de aulas, recuperando a dimensão pedagógica.
O coordenador pedagógico tem o papel de orientar os professores e
também de formá-los, no caso de uma nova demanda. Para este fim, sema-
nalmente, devem ser propostos encontros desse profissional com a equipe
docente. No PLE, eles passam a denominar o coordenador pedagógico como
professor coordenador com as seguintes funções:
- ampliar o domínio dos conhecimentos e saberes dos alunos, elevando o
nível de desempenho escolar evidenciado pelos instrumentos de avaliação
externa e interna;
- intervir na prática docente, incentivando os docentes a diversificarem
as oportunidades de aprendizagem, visando à superação das dificuldades
detectadas junto aos alunos;
- promover o aperfeiçoamento e o desenvolvimento profissional dos pro-
fessores designados, com vistas à eficácia e melhoria de seu trabalho. (SÃO
PAULO, 2007b, p. 1)
Com isso, o coordenador passa a ter um papel que vai além de orien-
tação, ele também se torna um articulador pedagógico, uma vez que os
17 SARESP – Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo – fornece
indicadores de extrema relevância para subsidiar o monitoramento das políticas públicas de
educação, bem como o aprimoramento e/ou monitoramento das ações e projetos em andamento.
Fonte: https://saresp.fde.sp.gov.br/
18 A Provinha Brasil é uma avaliação diagnóstica das habilidades relativas à alfabetização e ao
letramento em língua portuguesa e em matemática desenvolvidas pelas crianças matriculadas no
segundo ano do ensino fundamental das escolas públicas do país. Fonte: http://portal.mec.gov.br
45
conteúdos pedagógicos são acompanhados por ele, fazendo com que o pro-
grama seja aplicado na sala de aula, para que se atinja os objetivos propostos
pelo PLE.
Além da formação pedagógica pela qual o coordenador é responsável,
a importância do conhecimento da comunidade em que ele será aplicado é
de total relevância, haja vista que cada coordenador tem seu ponto de vista e
precisa compreender a realidade da escola. Na perspectiva de Aranha (1996),
os cursos de formação são generalizadores, partindo de um total desconheci-
mento individualizado de quem utilizará posteriormente esse conhecimento
e, por isso, muitas vezes, um curso de formação não atinge os objetivos espe-
rados, em relação a isso, Mello considera que:
[...] no que se refere à prática docente, suponho que o despreparo e a
insegurança técnica estão na raiz da dissimulação, da estratégia de culpar
a vítima e ao mesmo tempo amá-la sem nada poder fazer de objetivo para
evitar-lhe o peso do fracasso. Uma melhor capacitação do professor per-
mitiria, no mínimo, eliminar essa hipótese. Sem ela, pouco se pode afir-
mar com segurança, acerca de sua disponibilidade e vontade política para
mudar a escola. Caso essa hipótese se sustentasse, e creio que se sustenta-
ria, pois é também minha aposta, vejo na capacitação profissional o ponto
crítico a partir do qual imprimir um caráter político à prática docente para
esse professor. Porque o saber fazer constituiu uma das necessidades ime-
diatas para sua imagem de profissional, para uma percepção mais crítica e
menos assistencialista do valor do seu trabalho. (MELLO, 1982, p. 146).
O trecho supracitado nos leva a repensar sobre os motivos pelos quais
os objetivos de muitos programas que foram implementados não terem sido
alcançados. Muitas vezes, a justificativa de um professor malformado fica
subjetiva, propõe-se novas formações, sem analisar a necessidade da comuni-
dade escolar ou se a formação que será oferecida suprirá as lacunas que exis-
tem na formação desses profissionais. Gatti, Esposito e Silva (1993) também
discorrem sobre a realidade da escola e a importância de se considerar isso
como relevante.
Mas a realidade é que há em cada escola, nas salas de aula, não um esta-
do abstrato construído em ser, mas pessoas particulares, seres concretos
diante dos outros, na qual a vida se constrói com carne, suor e sangue, nas
46
relações vividas por aqueles que creem que a cidadania se constrói, conhe-
cimento se partilha e constrói, que transformações fazem parte da vida e
são possíveis. (GATTI; ESPOSITO; SILVA, 1993, p. 43-44).
Por isso, a coordenadora é orientada por seus superiores a fim de passar
para os professores de sua unidade escolar, de forma direcionada a sua reali-
dade. Somente contextualizando o programa com a vivência de cada comu-
nidade, poderão ser obtidos os objetivos esperados.
Juntamente com a formação e a orientação dedicada pela equipe ges-
tora do programa aos coordenadores, o PLE conta também com um mate-
rial didático denominado “Guia de Planejamento e Orientações Didáticas”.
Cada professor tem direito a um exemplar deste Guia e, para cada aluno, é
disponibilizado uma versão adaptada.
Segundo o caderno de Orientações curriculares disponibilizado pela
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (2008), todo esse movimento
foi criado para a melhoria da escrita e da leitura dos alunos no período da
alfabetização, pois, por meio do Sistema de Avaliação do Ensino Básico –
Saeb 2003 –, foi diagnosticado que havia escolas com até 30% dos alunos
sem leitura e escrita de forma convencional. Portanto, por intermédio desse
projeto foram criadas estratégias de aprendizagem com o objetivo de reverter
esses índices de analfabetismo e repetência que ocorriam no ciclo I.
Algumas ações que eram sistematicamente desenvolvidas juntamente
às DEs, em relação à preparação, seleção e distribuição de materiais didáti-
cos, contemplavam: orientações curriculares do estado de São Paulo; guias de
planejamento e orientações didáticas para o professor alfabetizador; caderno
de planejamento e avaliação do professor alfabetizador; livros de texto para o
aluno; materiais impressos; entre outros produtos que ficariam à disposição
da utilização em sala de aula, a fim de realizar as atividades propostas no ma-
terial do Ler e Escrever.
Com esse conjunto de ações, buscava-se criar uma estrutura adequa-
da para que o aluno tivesse melhores condições para o desenvolvimento da
aprendizagem, despertando interesse na leitura por intermédio de materiais
adequados para a idade de cada um. Além disso, a formação de professores,
que é de total relevância para a proposta do programa, deveria estar coerente
com suas práticas pedagógicas. Para tanto, propunha-se encontros quinzenais
47
com coordenadores; semanais com as equipes de formadores e pedagógica
da coordenadora de ensino e normas pedagógicas da SEE, para supervisão
do trabalho desenvolvido; além das visitas às DEs, a fim de manter estreito o
relacionamento e acompanhar o desenvolvimento em âmbito geral.
Projeto Intensivo no Ciclo I
O PLE é composto por três projetos, sendo eles: Toda Força ao 1º Ano
(TOF); Projeto Intensivo no Ciclo I (PIC) e ler e escrever em todas as áreas
do ciclo II. Entretanto, focamos nos projetos que são direcionados ao Ciclo
I, pois estima-se que nela seja desenvolvida a alfabetização na idade esperada,
ou seja, até o segundo ano do Ensino Fundamental. Neste momento, portan-
to, explanaremos sobre o Projeto Intensivo no Ciclo I.
O Projeto Intensivo no Ciclo I (PIC)19 tem como objetivo reorganizar
a estrutura de funcionamento das classes de 4º ano do ciclo I. Para isso, o
programa desenvolve as seguintes ações: encontros de formação com todos os
profissionais envolvidos; recuperação da aprendizagem (PIC) nos 4º e 5º anos;
a contratação de “aluno pesquisador” que auxiliaria o professor do 1º ano; um
aluno pesquisador”, que auxiliaria o professor do 1º ano e o professor do PIC,
tendo direito à Bolsa Alfabetização; elaboração e distribuição de materiais didá-
ticos estruturados para professores e alunos do 1º ao 5º ano; materiais comple-
mentares, tais como acervo literário, a fim de estimular a leitura dos alunos e o
acompanhamento institucional sistemático às DEs para que pudessem verificar
o desenvolvimento do trabalho que estava sendo realizado.
O principal objetivo do PIC é garantir que nenhuma criança conclua
o ciclo I do Ensino Fundamental sem ter domínio da leitura e da escrita.
Desse modo, forma-se uma turma especial, com professores especificamente
treinados para esse trabalho, na qual estariam matriculados os alunos do 4º
ano do ciclo I que não pudessem prosseguir na sala regular, uma vez que seu
processo de alfabetização ainda estava inacabado.
O PLE em todas as áreas do ciclo II almeja que os professores deem
continuidade ao trabalho desenvolvido no ciclo I, no que diz respeito à leitura
19 A partir de agora, quando nos referirmos ao Projeto Intensivo no Ciclo I, utilizaremos o acrônimo
PIC.
48
e à escrita, preocupando-se com a interpretação e compreensão textual.
No PIC, durante todas as áreas do ciclo II, os objetivos deixam claro
que os alunos repetentes seriam direcionados a recuperar o que ficou defasa-
do na escrita e na compreensão leitora. O programa ainda estipula a quanti-
dade de aulas que será destinada para esta finalidade, bem como o formato da
organização do ambiente, acreditando que, assim, esses alunos tenham uma
nova oportunidade de desenvolver essa questão.
O material traz atividades prontas para que o educador apenas as exe-
cute, criando, desse modo, um ‘engessamento’ na forma de abordar deter-
minados assuntos, uma vez que tomar a realidade da criança como ponto de
partida é fundamental, dando significado para o aluno e, consequentemente,
despertando o interesse da formação do conhecimento.
Segundo as orientações curriculares do Estado de São Paulo (2008),
o material do PLE foi pensado por um núcleo da gestão da educação – su-
pervisores, diretores e coordenadores – tendo como objetivo provocar um
efeito multiplicador, ou seja, se deu certo em uma escola, julgam conveniente
ampliar para todas as demais. Ainda que haja a formação nas escolas, du-
rante os Horários de Estudo (HE), realizada pelo coordenador pedagógico,
entendemos que cada profissional tem seu olhar e sua maneira de conduzir
a situação, haja vista que se pode realizar tudo do modo como o material
propõe, ignorando a realidade da escola, ou é possível também adaptar para
a realidade da comunidade que a escola atende.
Assim, como observamos anteriormente, o material propõe atividades
para que o educador apenas as execute, entretanto, na formação recebida
anteriormente, é evidente que há a possibilidade de escolha do coordenador
e educador, para que sejam selecionadas as atividades mais condizentes com
a realidade da clientela atendida naquela unidade escolar. Uma vez que apli-
car o conteúdo sem uma contextualização, leva o trabalho do professor a se
tornar apenas mecanizado, não trazendo significado para o aluno e, logo, não
despertando o seu entendimento instigando-o a participar da construção do
seu conhecimento.
49
O Projeto Toda Força ao 1º ano – Guia para o planejamento do
professor alfabetizador
Como nosso trabalho tem o foco no processo da alfabetização que o
programa propunha como atividade principal, ainda que haja outros mate-
riais dispostos pelo PLE, selecionamos o material disponibilizado pelo pro-
grama, como norteador para o professor alfabetizador utilizar, denominado
comoProjeto Toda Força ao 1º ano – Guia para o planejamento do profes-
sor alfabetizador”.
Utilizando como fonte bibliográfica o material disposto pelo PLE para a
utilização no 1º ano do Ensino Fundamental (2006), como forma de Guia para
o planejamento do professor alfabetizador, “Projeto Toda Força do 1º ano”,
o material do projeto é composto por três volumes, no contexto do PLE, di-
recionado explicitamente para o primeiro ano, visando orientar o professor
alfabetizador responsável por aquele ano. O primeiro volume é referente ao 1º
bimestre, o segundo volume ao 2º bimestre, e o terceiro e último volume, ao
3º e 4º bimestres. Apesar do material ser autoexplicativo, com capítulos que
orientam como utilizar o Guia, os professores alfabetizadores recebem forma-
ção adequada da equipe responsável por essa etapa, a fim de alcançar o objetivo
de iniciar a alfabetização nesse ano letivo (SÃO PAULO, 2006a).
No início do material, um dos itens dedicados a orientar o professor
traz as concepções da alfabetização, isso demonstra que o projeto considera
a diferença entre os novos professores, formados em turmas recentes, e os
professores formados há mais tempo. A atualização das concepções atuais
possibilita a reformulação dos conceitos educativos e a atualização na ma-
neira de ver e lidar com a alfabetização. Uma vez que o aluno tem
contato com a língua escrita antes de participar do ambiente escolar, adquirir
a leitura deve ser uma prática com significado para ele, pois além de ler, ele
precisa compreender e interpretar o que está escrito e essa tarefa não pode ser
minimizada ao simples ato de codificar e decodificar letras e sinais.
O Guia traz como sugestão em suas metas que devem ser alcançadas
naquele ano letivo, a utilização da conversação para que os alunos possam
perceber itens da nossa língua. Como por exemplo, realizar um convite, man-
dar um recado ou pedir uma informação; quem em resumo, compreende
50
o trabalho dos diferentes gêneros textuais, com os quais eles terão contato
posteriormente na língua escrita.
Outro item relevante que o material oferece, em relação à construção
do discurso que será utilizado na escrita em um período posterior, é a elabo-
ração de um diálogo coerente, que seja contextualizado com o tema proposto
pela professora, tais como responder a questões com o conteúdo presente na
conversa, respeitar as pessoas que apresentem pontos de vista diferentes sobre
o mesmo assunto, dentre outros (SÃO PAULO, 2006a).
Também, após uma leitura coletiva, o aluno pode recontar a história
oralmente, para aprender a selecionar aspectos relevantes da história necessá-
rios para a compreensão, com isso, ir se apropriando de características essen-
ciais na construção de um texto.
Construir uma conversa pautada em informações seguindo alguma
instrução que o professor já tenha passado anteriormente surge como outra
atividade proposta para que o aluno compreenda que ele pode construir
uma narrativa, seja oral ou escrita, a partir de dados obtidos em algum
outro momento, ou seja, que é possível ter e utilizar referências de apoio.
O programa também propõe incentivar e oportunizar a participação dos
alunos em atividades sociais e culturais – saraus literários, recitais de poe-
mas, entrevistas, entre outros – que utilizem linguagem formal e, com isso,
permitir que os alunos observem que há diferentes formas para se expres-
sar. A efetivação desse conhecimento deve ser mediada pelo educador, até
mesmo sob a forma de escriba, para que os alunos possam ir criando esse
conhecimento sistematicamente.
O material Toda Força ao Primeiro Ano (2006) também destaca a
importância de que as crianças tenham espaço para expressar sentimentos,
experiências, ideias e opiniões, possibilitando assim, que aprendam a cons-
truir uma narrativa sistematizada com os elementos necessários para maior
compreensão do leitor ou ouvinte, uma vez que esses itens estão incluídos na
narrativa. Após adquirir esse conhecimento, é um caminho já iniciado para
transpor a narrativa para a escrita (SÃO PAULO, 2006a).
O material estabelece metas que devem ser alcançadas durante a cons-
trução da leitura da criança do 1º ano, tais como: após realizar uma leitura
pelo aluno ou pelo professor, conversar sobre ela; promover uma explicitação,
51
um confronto de opiniões e estimular interpretações ou sentimentos expres-
sados pelos alunos.
Coloca, ainda, a importância de o professor realizar uma leitura literária
todos os dias, mostrando para as crianças que a leitura integra a rotina da escola
e também vai integrar a vida deles, deixando claro que a literatura não será uti-
lizada somente no ambiente escolar, mas sim para a vida cotidiana de cada um.
Com a aquisição da leitura, ainda que de palavras, frases ou pequenos
textos, é interessante que o professor promova leituras em voz alta, para que
um aluno ajude o outro nos momentos que demonstrar dificuldades. A lin-
guagem que utilizam entre eles, muitas vezes, pode fazer mais sentido que a
de um adulto. A leitura individual e silenciosa também pode antecipar uma
leitura coletiva, para que o aluno perceba sua autonomia na compreensão
daquela leitura.
O material Toda Força ao 1º Ano traz, também, algumas metas para a es-
crita dos alunos, para que construam a prática escrita e alcancem esses objetivos
até o fim do ano letivo. Entretanto, ainda que alguns alunos estejam alfabéticos
durante o processo e outros ainda não, ou seja, estejam em diferentes níveis do
processo de aprendizagem, é necessário que o professor tenha atenção e incen-
tive um “intercâmbio entre os alunos não-alfabéticos e os alfabéticos, já que,
dessa forma, o processo de aprendizagem de ambos poderá se beneficiar com
essa troca de experiências” (SÃO PAULO, 2006a, v. 1, p. 29).
Outro item importante é que os alunos ditem para que o professor
escreva na lousa o que eles dizem. Durante essa atividade, o professor atua
como um modelo escritor, que vai explicitar aos alunos alguns comporta-
mentos, tais como:
- as intencionalidades da escrita conforme os propósitos do autor e o
destinatário;
- a seleção do gênero e do portador de acordo com a situação comunicativa;
- as opções e adequações linguísticas em função do gênero em foco;
- a necessidade de rever aquilo que já foi escrito durante o processo de
elaboração do texto etc. (SÃO PAULO, 2006a, v. 1, p. 29).
Durante essa atividade, o aluno constrói subjetivamente o conteúdo
que será escrito, baseando-se apenas no discurso, não precisando se preocupar
52
com o sistema de escrita. Essa atividade proporciona satisfação e significado à
criança ao ver que o que ela diz pode ser transformado em texto.
Como orientações didáticas relacionadas à aprendizagem da escrita, o
material traz alguns itens, como o desenvolvimento de atividades para que os
alunos aprendam as letras do alfabeto, a ordem alfabética, a diferença entre
tipos de escrita; a utilização do alfabeto móvel com as crianças para a mon-
tagem de novas palavras a partir de letras que elas já reconheçam; o plane-
jamento de situações nas quais as crianças tenham a necessidade de colocar
as letras em ordem alfabética; o trabalho com o sistema alfabético a partir
de palavras que já sejam do convívio da criança, como os nomes de cada
um, nome de marcas no rótulo de itens que eles tragam de casa, títulos de
histórias e músicas que eles conheçam, cartazes expostos na sala de aula; e
a escrita conjunta de pequenas frases sobre itens que lhes sejam relevantes
(SÃO PAULO, 2006a).
Utilizando o professor como escriba, a fim de demonstrar o comporta-
mento e os devidos cuidados que o escritor possui no momento de transpor a
fala para a escrita, podendo ser uma história contada por apenas um aluno e
todos os demais auxiliando na construção dessa narrativa, adquirindo, assim,
os itens relevantes que compõem um texto que o leitor possa compreender.
Para finalizar é importante propor uma revisão coletiva do texto escrito pelo
professor, para que os alunos observem que todos devemos rever e observar se
a produção está de acordo com o modelo esperado para aquele gênero textual.
A atividade de realizar leitura coletiva de textos elaborados por autores
reconhecidos também é indicada, a fim de que os alunos observem como
o autor realiza a descrição dos personagens, dispõe os diálogos, usa letras
maiúsculas ou minúsculas em determinadas situações, organiza a pontuação,
entre outros detalhes da escrita. Ainda segundo o material Toda Força ao 1º
ano, cabe salientar que todas essas características da escrita precisam ser enfa-
tizadas pelo professor, para que o aluno passe a olhar esses itens em todos os
textos que for realizar a leitura.
Ainda no material Toda Força ao 1º Ano – Guia do professor alfa-
betizador, encontra-se um capítulo denominado “Alfabetizar e avaliar”, que
explica e orienta o profissional docente quanto à sondagem.
53
A sondagem é um dos recursos de que o professor dispõe para conhecer
as hipóteses que os alunos ainda não alfabetizados possuem sobre a escrita
alfabética e o sistema de escrita de uma forma geral. Ela também represen-
ta um momento no qual os alunos têm a oportunidade de refletir sobre
aquilo que escrevem, com a ajuda do professor. (SÃO PAULO, 2006a, v.
1, p. 35).
Trata-se de uma atividade de escrita orientada pelo professor, consti-
tuída por uma lista de palavras conhecidas pelos alunos e que deve, necessa-
riamente, ser seguida pela leitura do aluno indicando exatamente o que ele
escreveu. Assim, por meio da leitura é que o professor poderá observar se o
aluno estabeleceu conexão entre o que escreveu e aquilo que leu em voz alta.
As sondagens são realizadas no início do ano letivo, pois constituem o
ponto de partida para o desenvolvimento do trabalho do professor. Essa ava-
liação diagnostica a situação do aluno naquele momento, dando a oportuni-
dade para o professor de construir uma ponte do conhecimento prévio deste
aluno com o conhecimento que deverá ser adquirido ao fim do bimestre ou
do ano letivo (SÃO PAULO, 2006a).
A sondagem passa a ser um documento da sala, um mapeamento de
níveis de conhecimento, pois, geralmente, há diversos níveis em uma mesma
sala de aula, e, assim, o professor poderá planejar como direcionar o anda-
mento das aulas a fim de alcançar o objetivo da alfabetização de toda a turma.
Há alguns critérios que devem ser seguidos para a realização dessa ava-
liação e um deles é que as palavras devem fazer parte do vocabulário cotidiano
dos alunos. Além disso, a lista deve ser composta por palavras monossilábicas,
dissilábicas; trissilábicas e polissilábicas. O ditado deve ser iniciado pela pa-
lavra polissílaba, depois a trissílaba, a dissílaba e, por último, a monossílaba.
Após o ditado das palavras, o professor deve ditar uma frase que contenha
ao menos uma palavra da lista, a fim de observar se o aluno escreve a palavra
da mesma maneira como escreveu na lista. Também é importante que as
palavras pertençam ao mesmo campo semântico, por exemplo: mortadela;
presunto; queijo; pão; o menino comeu queijo (SÃO PAULO, 2006a).
Em relação ao ditado, o Guia também traz algumas orientações, tais
como não silabar no momento do ditado, para que o aluno construa a palavra
segundo o seu entendimento; utilizar um papel sem pauta para a realização,
54
assim poderá observar o alinhamento e a direção da escrita do aluno; observar
as reações que os alunos têm enquanto escrevem e anotar caso eles digam algo
em relação a achar difícil, fácil, complicado, ou qualquer outro tipo de sen-
timento. Quando o aluno ainda não é alfabético e utiliza outras letras e for-
mação silábica para representar a palavra que o professor ditou, é importante
que o professor registre, quando ele realizar a leitura, qual sílaba/palavra se
refere ao registro indicado, a fim de, posteriormente, ao analisar a sondagem,
distinguir a estratégia utilizada por ele.
O material traz dicas para a construção da prática docente, tais como:
ler em voz alta diariamente textos aos alunos, variando o gênero textual; pro-
por que eles realizem uma leitura coletiva com o auxílio do professor, inicial-
mente as letras do alfabeto, depois a leitura de algum cartaz exposto na sala
de aula, como a lista dos nomes dos amigos, que são palavras pertencentes ao
cotidiano deles; proporcionar o acesso dos alunos a revistas, livros e jornais
semanalmente na biblioteca, para que criem familiaridade com esse material
de leitura; ler semanalmente um texto informativo a eles e; uma vez ao mês
trabalhar um texto instrucional, como regras de jogos ou receitas culinárias.
Vale salientar que, sempre que for realizar uma leitura instrucional ou infor-
mativa, deve ser apresentado uma cópia para cada aluno para que ele saiba de
onde foi retirado o texto e aquela leitura faça sentido para ele.
No tocante às práticas docentes em relação à escrita, as dicas que o ma-
terial traz são: diariamente escrever o próprio nome e a data; semanalmente
registrar conjuntamente na lousa uma lista de palavras que tenha significado
para os alunos, como por exemplo os nomes dos colegas de sala, organizan-
do alfabeticamente e as datas de nascimento, podendo assim elaborar uma
agenda de aniversários, uma lista com os dias da semana, dos meses, títulos
de histórias ou músicas, entre outros; escrever semanalmente e coletivamente
na lousa, tendo o professor como escriba, uma carta ou bilhete, direcionado
a algo que eles possam, até mesmo, pesquisar em casa e trazer o resultado no
outro dia; também escrever a rotina do dia na lousa, ajudantes do dia, nomes
das duplas de trabalho, título do texto que será lido. Todos esses registros de
escrita realizados pelo professor servem como modelo de “escritor” para os
alunos que ainda estão observando como realizar a escrita.
55
Considerações finais
A presente pesquisa teve por objetivo estudar e analisar uma temática
que, primeiramente, era uma inquietação pessoal e de grande relevância so-
cial, uma vez que a apropriação da alfabetização leva o indivíduo à criação de
identidade social, formando um cidadão que pode tornar-se argumentativo,
crítico e reflexivo de sua realidade na sociedade. Por isso, os índices que re-
fletiam a existência de muitas crianças não alfabetizadas na idade esperada
nortearam nosso trabalho.
A fim de auxiliar na promoção de uma educação de qualidade, foram
criados programas destinados à melhoria dos índices da alfabetização e, no
presente estudo, selecionamos o “Programa Ler e Escrever”, em São Paulo
para analisar, conhecer a elaboração, os objetivos, as metas, os materiais e as
metodologias desse programa.
O PLE foi implementado inicialmente no município de São Paulo no
ano de 2006, porém, em 2007, após observarem as melhorias alcançadas atra-
vés dele, a Secretaria Estadual da Educação, decidiu expandir o programa para
todo o Estado de São Paulo com o objetivo de melhorar os índices de alfabe-
tização expressos, entre outros parâmetros, nas notas das avaliações externas.
É importante dizer que tanto o PLE não partiu do zero, mas tive re-
ferências em outros projetos que já vinham sendo desenvolvidos pelas secre-
tarias de educação de seus estados, por exemplo, no estado de São Paulo, o
“Programa Letra e Vida” já era uma tentativa de solucionar os problemas com
alfabetização, por isso julgamos conveniente a contextualização da elaboração
de cada um deles, realizada nos capítulos deste trabalho.
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61
Capítulo 4
AVALIAÇÕES EXTERNAS EM LARGA
ESCALA NA EDUCAÇÃO BÁSICA EM
ANÁLISE: A PROPOSTA DO SAEB
Michele de Lourdes Alves MADUREIRA 20
Carlos da Fonseca BRANDÃO21
Resumo
O presente artigo apresenta-se a partir de um recorte da dissertação
de Mestrado em Educação que, por meio da metodologia da Educação
Comparada, buscou analisar comparativamente os princípios e critérios
orientadores das propostas de avaliações externas em larga escala que inci-
dem nas escolas de educação básica do Brasil e de Portugal. Paralelamente,
para este artigo nosso objetivo está em discorrer a respeito das avaliações
externas enquanto política educacional, apontando os conceitos que a per-
meiam, os posicionamentos no meio acadêmico e analisando especificamente
o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) a partir da metodologia
da Educação Comparada e da coleta de dados provinda de um levantamento
bibliográfico na literatura. Diante das informações coletadas compreende-
mos que a avaliação externa em larga escala na educação básica brasileira é
uma política pública educacional que divide opiniões estando longe de ser
20 Programa de Pós-Graduação em Educação/PPGE/UNESP/Marília/SP/Brasil/Michele.madureira@
unesp.br
21 Professor Doutor Adjunto do Departamento de Educação da UNESP - Assis e do Programa de
Pós-graduação em Educação da UNESP - Marília. E-mail: carlos.brandao@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-618-3.p61-77
62
um consenso no meio acadêmico, ao mesmo tempo o estudo expôs que as
referidas avaliações disponibilizam relatórios diagnósticos necessários para o
monitoramento e acompanhamento do sistema educacional.
Palavras-chave: Educação; Educação Comparada; Avaliações Externas em
Larga Escala; Brasil; SAEB.
Introdução
Ações comparativas sempre permearam o cotidiano da humanidade,
antecedendo decisões e tomadas de atitudes voltadas para o avanço socio-
cultural, político, profissional, educacional, entre outros. O interesse por
buscar feitos em outras nações com intuito de solucionar problemas pon-
tuais fez com que os estudos comparados se tornassem emergentes no final
do século XVIII.
Nessa mesma época, segundo Bereday (1972, p. 30) “surgiu a necessi-
dade de explorar sistematicamente a qualidade das escolas estrangeiras como
meio de avaliar o sistema educacional próprio”. Desde então os estudos com-
parados se fazem presente no contexto escolar, uma de suas vertentes pode-
mos verificar no que tange às políticas públicas educacionais de avaliação
externa em larga escala que concentra e disponibiliza dados comparativos de
parâmetros locais, regionais e até mesmo internacionais.
O estudo segue amparado pela metodologia da Educação Comparada
que se apresenta como aliada na busca de políticas educacionais mais efi-
cientes e positivas, com aporte no Método Comparado em Educação,
proposto por Bereday (1972, p. 59) que prevê quatro etapas: “primeiro a
descrição, coleta sistemática de informações [...]; a seguir, a interpretação,
análise em termos das ciências sociais, depois a justaposição, vista simultâ-
nea dos vários sistemas para determinar o quadro em que compará-los; e,
por último a comparação [...]”.
Realizamos um levantamento bibliográfico relacionado à Avaliação
Externa em Larga Escala na educação básica enquanto Política Pública
Educacional, trazendo na perspectiva de alguns autores, o contexto de seu
surgimento, os conceitos que a permeiam e o posicionamento crítico no meio
acadêmico e, por fim, analisando sua ocorrência no contexto brasileiro.
63
Avaliações Externas em Larga Escala uma Política Pública Educacional
Para iniciar nossa discussão acerca das Avaliações Externas em Larga
Escala que ocorrem no contexto escolar, particularmente na educação bási-
ca, tendo em vista que é o recorte analisado no presente artigo, é necessário
compreendermos que elas são ações políticas denominadas como Políticas
Públicas, especificamente Políticas Educacionais.
As ações políticas que são implementadas para enfrentamento de algum
problema de ordem pública na sociedade são denominadas como Políticas
Públicas. De acordo com Fernandes (2018, p. 20), Políticas Públicas são
processos mais ou menos complexos, participados e articulados, que nor-
malmente se traduzem em ações destinadas a resolver problemas dos cidadãos
e das sociedades num determinado domínio”.
As Políticas Públicas estão presentes em todos os setores e podem se
apresentar de diversas formas, como: “programas públicos, projetos, leis,
campanhas publicitárias, esclarecimentos públicos, inovações tecnológicas e
organizacionais, subsídios governamentais, rotinas administrativas, [...] entre
outros” (Sechi, 2013, p. 11).
Cada setor público tem sua própria vertente de Política Pública. No
setor educacional elas recebem a denominação de Políticas Educacionais e
são, de acordo com Saviani (2012, p. 7) “decisões que o Poder Público, isto
é, o Estado, toma em relação à educação”.
Na concepção de Mainardes (2006, p. 55), a política educacional deve
ser um processo político “multifacetado e dialético”, requerendo, portanto,
uma articulação entre as perspectivas “macro e micro”, ou seja, que deve ser
analisada associando as concepções dos propositores de política conjunta-
mente à dos profissionais que atuam dentro da escola e vivenciam essas polí-
ticas na prática, participando de sua constante recriação.
Nosso levantamento bibliográfico nos leva a um recorte temporal na
década de 1990, quando as Políticas Educacionais sofreram grandes reestru-
turações por consequência de reformas impulsionadas pela agenda econômi-
ca globalizada. Nessa época muito se falava em reorganização social baseada
na lógica empresarial com competitividade e em contexto de mercado.
64
Organismos internacionais como Banco Mundial, Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),
Organização Mundial do Comércio (OMC) e Organização para a Cooperação
e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre outras, influenciaram,
orientaram e até mesmo financiaram a propositura das Políticas Educacionais
em países que estavam buscando o desenvolvimento, sendo o Brasil um des-
ses países (Mota Junior; Maués, 2014).
Aconteceram eventos mundiais na década de 1990 que tiveram rela-
ções diretas com as Políticas Educacionais implementadas em diversos países,
um desses eventos foi a Conferência Mundial sobre Educação para Todos22,
oportunizada pela parceria entre o Fundo Internacional de Emergência das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a UNESCO, o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Banco Mundial. Na
ocasião estavam cerca de 150 países incluindo o Brasil que era um dos que
apresentava a maior taxa de analfabetismo do mundo e que ficou incumbido
de desenvolver ações e políticas educacionais para a superação de tamanha
defasagem (Frigotto; Ciavata, 2003).
As organizações internacionais estavam envolvidas diretamente com
o compromisso de melhorar a qualidade da educação básica mundial. A
Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL) publicou, em
1990 e 1992, dois documentos intitulados Transformación productiva com
equidade23” e “Educación y conocimiento: eje de la transformación productiva
com equidade24”, tais documentos analisavam os contextos educacionais nos
países da América Latina e Caribe, dimensionando a urgência de reformas e
superação das problemáticas enfrentadas.
Entre 1993 e 1996, por meio dos estudos da Comissão Internacional
sobre Educação para o Século XXI e a publicação do Relatório Delors25, que
22 Posteriormente à Conferência, foi redigida a Declaração Mundial sobre Educação para Todos,
trazendo um plano de ação para a superação de necessidades básicas de aprendizagem que se
encontravam numa situação de grande preocupação.
23 Ver:https://www.cepal.org/es/publicaciones/13113-transformacion-productiva-equidad-la-tarea-
prioritaria-desarrollo-america-latina
24 Ver:https://www.cepal.org/es/publicaciones/2130-educacion-conocimiento-eje-la-transformacion-
productiva-equidad
25 Ver: http://dhnet.org.br/dados/relatorios/a_pdf/r_unesco_educ_tesouro_descobrir.pdf
65
trouxe um diagnóstico mundial, a UNESCO e o Banco Mundial traziam
novamente para a pauta a necessidade de reformas nos sistemas educacionais.
A educação era tida como o “instrumento fundamental” que iria contribuir
para superar os desafios que se apresentavam, uma vez que estaria diretamen-
te ligada ao desenvolvimento dos indivíduos (Frigotto; Ciavata, 2003, p. 99).
O Banco Mundial também publicou o documento Prioridades y estra-
tégias para la educación26, em 1995. Os objetivos, assim como nos demais
documentos supracitados direcionavam para melhorar a qualidade da edu-
cação, eliminando o analfabetismo, aumentado a eficácia, fazendo recomen-
dações diretas que trariam impacto na forma como ocorria a administração
escolar, inclusive enfatizando como um dos desafios a serem desenvolvidos
para a melhoria da educação básica a ênfase na avaliação da aprendizagem.
O que se viu nessa época foi um movimento mundial ocasionando
reformas educacionais ao redor do mundo, ao que Oliveira (2000, p. 77)
denomina como “agenda mundializada” que trazia consigo “procedimentos e
valores do mercado para o interior do sistema educativo”.
As reformas educacionais direcionaram diversas proposituras de
Políticas Públicas nesse setor, sendo uma delas a Avaliação Externa em Larga
Escala que trazia consigo um conjunto de conceitos que a amparavam, dos
quais falaremos na seção seguinte.
Avaliações Externas em Larga Escala: conceitos e posicionamentos
Ao realizarmos nossa pesquisa, foi possível encontrar na literatura di-
versos autores que discorrem acerca das Avaliações Externas em Larga Escala,
seus conceitos e posicionamentos críticos. Optamos por trazer em nosso le-
vantamento bibliográfico autores que produziram pesquisas significativas e
que são referências para a temática em questão, como: Oliveira (2000), Lima
(2015), Pestana (2016), Sá (2009), Dias Sobrinho (2012), Lima (2005),
Afonso (2009), Afonso (2018), entre outros.
Segundo Pestana (2016, p. 74), “os processos de avaliação educacio-
nal destacam-se como meio privilegiado de geração de informações do tipo
26 Prioridades e estratégias para a educação. Pode ser acessado em: https://documentos.bancomundial.
org/es/publication/documents-reports/documentdetail/715681468329483128/prioridades-y-
estrategias-para-la-educacion-examen-del-banco-mundial
66
requerido por essa forma de fazer política educacional”. É notório que seus
diagnósticos e indicadores subsidiam políticas educacionais com intuito de
promover a melhoria da qualidade educacional.
O contexto em que se inserem as Avaliações Externas em Larga Escala
envolve uma gama de conceitos, no presente estudo abordaremos: qualidade,
eficiência, eficácia, autonomia, responsabilização e prestação de contas (ac-
countability), por serem os que mais reincidem na nossa pesquisa.
Ao refletirmos acerca da “qualidade”, nos deparamos com os estudos
de Dias Sobrinho (2012, p. 22) que alerta para o cuidado em não deturpar
seu significado e vinculá-la a “serviços isolados e independentes”. Para esse
autor, a qualidade educativa deve estar relacionada a “critérios de excelên-
cia, cientificidade e relevância social” e não deve ser associada a “orientação
mercadológica”.
Já para Lima (2015, p. 1342) o conceito de “qualidade” recebe in-
fluência dos “modos de gestão privada e empresarial” e demonstra subordi-
nação a “metas quantificáveis”, a “comparações de performance” e induz a
competitividade”.
Indo numa interpretação semelhante, Sá (2009, p. 93) discorre que a
qualidade” está diretamente ligada a uma “visão mercantil” que faz com que
haja uma “adaptação às novas condições de mercado”. Seguindo seus apon-
tamentos, o autor diz que a “qualidade” tem sido vista como uma “espécie
de amuleto capaz de esconjurar a crise que recorrentemente se abate sobre
a educação: bastará invocá-la (nas suas diferentes combinações) para que,
como por magia, uma aura de bondade envolva as propostas que a invocam”.
No que se refere à “eficiência e eficácia”, Lima (2005) relata em seus
estudos que o setor público iniciou um processo de mudança de foco se ade-
quando cada vez mais ao que o mercado propunha com seus princípios com-
petitivos em busca de mais eficiência. A ideia impregnada consistia no fato de
que quanto mais se compete, mais se progride economicamente, reduzindo
custos, melhorando sua eficiência e, consequentemente sua eficácia.
Seguindo seus apontamentos, Lima (2005, p. 82-83) discorre
que a educação estava sendo integrada a essa “indústria de serviços, num
mercado de fornecedores de competição”, tendo que “adaptar seus me-
canismos de funcionamento” para, com isso, “aumentar sua eficiência,
67
promovendo a “homogeneidade a partir dos valores da eficácia, da adaptação
e da competitividade”.
Quanto ao conceito de “autonomia”, observamos que este é com-
preendido como uma certa emancipação das instâncias menores (Estados e
Municípios) para com a maior (União), permitindo que todas possam tomar
decisões mais pontuais que lhes favoreçam em seus contextos, no entanto,
Lima (2015, p. 1341) frisa que cada setor hierárquico precisa permanecer
subordinado ao que ele denomina de “administração fortemente centrali-
zada”, esta irá solicitar “prestação de contas” e inferir “responsabilização
a quem convier, uma vez que quanto maior for a autonomia, maior será a
reponsabilidade.
Nesse sentido, Oliveira (2000, p. 84,88) aponta que a transposição de
responsabilidades fez com que a União se isentasse de possíveis fracassos, ao
mesmo tempo centralizou em si o monitoramento dos resultados provindos
da Avaliação Externa em Larga Escala, o que lhe dava um poder inspetivo e,
portanto, de “controle remoto” do produto do sistema.
Os conceitos de “prestação de contas”, “responsabilização” e “accoun-
tability” estão de certa forma interligados. Ao ter sua “autonomia” validada,
cada repartição hierárquica precisará prestar contas e se responsabilizar pelos
resultados obtidos. Segundo Afonso (2018, p. 11) a “responsabilização deve
estar relacionada com a avaliação e com a prestação de contas, ainda que
muitas vezes ela constitua uma mera consequência latente (ou implícita) da
avaliação e/ou da prestação de contas”.
Em outro estudo, Afonso (2009) diz que accountability é um processo
complexo que vai além de uma simples prestação de contas. Inicia-se com o
levantamento de informações na recolha de dados, exigindo-se justificativas e
sendo concluída com a responsabilização. O autor dispõe uma ilustração das
dimensões de um modelo de accountability a partir de uma avaliação anterior
(ex-ante) e posterior (ex-post):
68
Quadro 1 - Dimensões de um modelo de Accountability
Fonte: Afonso (2009, p. 60)
Afonso (2018, p. 12) sintetiza que “em qualquer modelo de accounta-
bility, há sempre formas de responsabilização, isto é, consequências – e essas
consequências podem ser positivas ou negativas, materiais ou simbólicas, im-
plícitas ou explícitas”.
Conforme observamos por meio dos conceitos que permeiam o con-
texto das Avaliações Externas em Larga Escala, percebemos que essa perspec-
tiva de responsabilização, tem gerado debates na comunidade acadêmica e
educacional, que estão longe de ser um consenso. Entre os posicionamentos
contrários encontram-se argumentos como:
A responsabilização de professores e escolas pode levar a medidas punitivas
injustas, como a perda do emprego [...]; 2) as avaliações em larga escala
interferem na autonomia dos docentes influenciando até mesmo a forma
como os conteúdos são ensinados; 3) Provas padronizadas e rankings incen-
tivam a competição entre escolas e alunos [...] gerando processos de ensinar
para os testes [...]; 4) [...] não consideram fatores externos que podem afetar
o desempenho dos alunos [...] como ansiedade, por exemplo; 5) [...] o
afunilamento curricular, levando os professores a ensinar somente os con-
teúdos cobrados nas provas [...]; 6) as avaliações são parciais, normalmente
realizadas para poucas disciplinas curriculares [...]; 7) produzem injustiças
relativas à bonificação de professores e premiação das melhores escolas [...];
8) a pressão por melhoria de resultados [...] podem ter influência negativa
sobre professores e alunos [...]; 9) [...] ao se sentirem pressionados pela si-
tuação de avaliação, podem sofrer problemas de saúde [...]; 10) na busca por
melhores resultados, podem induzir o aumento da desigualdade [...] (Bauer;
Alavarse; Oliveira, 2015, p. 1375-1376).
69
Os mesmos autores constataram em suas pesquisas que há divergência
de opiniões e destacam alguns posicionamentos favoráveis e positivos que
compreendem que as Avaliações Externas em Larga Escala:
1) Definem padrões e expectativas para o aprendizado dos alunos, poden-
do servir para orientar o trabalho das escolas [...] servem, assim, de guia ao
planejamento dos professores, dando-lhes pistas sobre o que e quando en-
sinar aos alunos [...]; 2) [...] geram informações que ficam disponibiliza-
das para os professores e as escolas, podendo apoiar a tomada de decisões
[...]; 3) Produzem, para comunidades, informações sobre a qualidade do
ensino nas escolas [...]; 4) Fariam com que professores e alunos buscassem
melhorar seu desempenho [...]; 5) Teriam potencial para manter professo-
res e escolas responsáveis pelo aprendizado de todos os alunos, à medida
que os informam acerca dos alunos que não estão aprendendo conforme
o esperado [...] (Bauer; Alavarse; Oliveira, 2015, p. 1377).
Há ainda os posicionamentos considerados como parciais, que consi-
deram o potencial e utilidade das referidas avaliações no estabelecimento de
Políticas Educacionais de melhoria, mas questionam alguns de seus critérios
como os “rankings estimulando a competição entre escolas e redes de ensino
e seu entendimento como indicador único e principal de qualidade de ensino
(Bauer; Alavarse; Oliveira, 2015, p. 1367).
Diante do exposto, compreendemos os conceitos que permeiam as
propostas de Avaliações Externas em Larga Escala, visualizando-as como
Políticas Educacionais que estão presentes em diversos países e que buscam
coletar diagnósticos, disponibilizando um considerável banco de dados para
serem utilizados em prol da melhoria da educação.
No cenário brasileiro, as Avaliações Externas em Larga Escala na edu-
cação básica estão presentes no Sistema de Avaliação da Educação Básica
(SAEB) do qual analisaremos na sequência.
Avaliações Externas em Larga Escala – O SAEB
A proposta inicial de um Sistema Nacional de Avaliação brasileiro
surgiu em 1988, com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e
da Organização dos Estados Americanos (OEA), procurando “responder às
70
demandas do Banco Mundial no sentido de desenvolver uma sistemática de
avaliação [...]” (Brasil, 1992, p. 6).
Oficialmente criado, a partir da Portaria nº 1795, de 27 de dezembro
de 1994, o SAEB foi instituído prevendo a busca pela qualidade da educação,
conforme previsto na Constituição Federal de 1988, artigo 206º, inciso VII,
quando direciona que os princípios da educação se baseiam, entre outros, na
garantia do padrão de qualidade” (Brasil, 1988).
Fazem parte da base legal do SAEB, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB)
nº9394/96, que cita em seu artigo 3º, inciso IX, a “garantia da qualidade de
padrão de qualidade” e no artigo 9º, inciso VI que visa “assegurar processo
nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e
superior [...] objetivando a definição de prioridade e a melhoria da qualidade
do ensino” (Brasil, 1996).
O SAEB também está preconizado na Lei nº 13005/2014, do Plano
Nacional de Educação (PNE) na meta 7, que objetiva “fomentar a qualida-
de da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do
fluxo escolar e da aprendizagem [...] (Brasil, 2014). A proposta original do
SAEB pretendia
possibilitar a avaliação dos resultados de políticas e estratégias educacio-
nais, quer as explícitas em Planos ou Programas, quer as implícitas na
própria atuação dos sistemas educacionais. Tratava-se, em última instân-
cia, de avaliar a situação, as estratégias e os resultados dos sistemas edu-
cacionais, abordando-se as diversas questões relativas à universalização e
à qualidade do ensino, à competência pedagógica e à gestão do campo
educacional. (BRASIL, 1992, p. 6).
Ao longo dos anos, o SAEB passou por diversas reformulações, algu-
mas delas merecem destaque, como a edição de 1995 em que se passou a
adotar a Teoria de Resposta de Item (TRI), em que o desempenho é conta-
bilizado por meio da resposta da habilidade do estudante e das características
dos itens. A edição de 2005 com a introdução de um segmento censitário.
A de 2013 incorporando a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) e a
de 2007 que apresentava o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) (INEP, 2021, p. 2-3).
71
O IDEB foi criado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (INEP), este índice representa a qualidade educacional brasileira a
partir da análise de dois indicadores: as informações relacionadas ao fluxo escolar
(aprovação, retenção e/ou abandono), que são fornecidos pelo Censo Escolar e
o diagnóstico obtido pelas avaliações externas que dispõe sobre a evolução da
aprendizagem e são fornecidos pelo SAEB. De posse desses dois parâmetros, cal-
cula-se o IDEB das escolas de cada município, estado e regiões brasileira.
Desde sua instituição, o IDEB está presente em todas as versões do
SAEB. Tendo em vista que o presente artigo faz parte da dissertação de mes-
trado finalizada no ano de 2022, aqui nos debruçamos na versão do SAEB
aplicada no ano de 2019, que segundo a Portaria nº 366, de 29 de abril de
2019, dispõe em seu artigo 2º que o SAEB é “composto por um conjunto de
instrumentos, sendo os testes cognitivos e os questionários aos participantes,
que disponibiliza diagnósticos a partir de dados estatísticos e evidencias a
respeito da qualidade na educação (Brasil, 2019).
Conforme a metodologia adotada, para a Dissertação de Mestrado do
qual o presente artigo está relacionado foi a Educação Comparada, tendo sido
utilizado o método proposto por Bereday (1972) que prevê quatro etapas:
Descrição, Interpretação, Justaposição e Comparação, traremos deste ponto
em diante, conforme MADUREIRA (2022), os dados referentes ao SAEB
que, após passar pelas três primeiras etapas acima descritas foram definidos
como as categorias que englobam a estrutura, planejamento, implementação
e gestão do referido Sistema de Avaliação.
Tais categorias compreendem: surgimento, objetivos, obrigatorieda-
de (escolas e alunos), público-alvo (abrangência), alunos com necessidades
educacionais especiais, cronograma de aplicação, órgãos responsáveis, ins-
trumentos de aplicação, formulação de itens, tipologia de itens, caderno de
provas, material de apoio, divulgação do caderno de provas e do material de
apoio, tipos de correção, relatórios e ranking, educacional (MADUREIRA,
2022, p.124).
O surgimento do SAEB se deu oficialmente no ano de 1994, em todas
as edições os objetivos permaneceram os de monitorar e acompanhar a qua-
lidade do Sistema Educativo, produzindo informações do desempenho edu-
cacional e disponibilizando dados e relatórios para uso em planejamentos.
72
No que se refere à obrigatoriedade, temos que as escolas públicas são
obrigadas a participar do SAEB, salvo em alguns critérios de exclusão, como
por exemplo, escolas com menos de dez alunos nas turmas avaliadas. A obri-
gatoriedade não se estende às escolas privadas e nem aos alunos, não lhes
imputando qualquer sanção em caso de ausência.
Como o estudo se delimitou na faixa etária que contempla dos 6 aos
10 anos de idade, o Público-alvo analisado direciona para os anos/séries que
são finais de ciclo, ou seja, 2 º ano do Ensino Fundamental 1, em que está
prevista a conclusão do ciclo de alfabetização e o 5 º ano que é o ano/série em
que se encerram os Anos Iniciais do Ensino Fundamental 1.
A aplicabilidade do SAEB prevê a participação dos Alunos com
Necessidades Educacionais Especiais, desde que estejam registrados no
Censo Escolar, garantindo assim que haja suporte para a realização. Os su-
portes oferecidos são para deficientes auditivos, cabendo à escola disponi-
bilizar profissional especializado, e deficientes visuais, em que são enviadas
provas ampliadas.
O Cronograma de Aplicação referente a edição de 2019, concebe que o
SAEB seja aplicado a cada dois anos. Na categoria de análise Órgãos Responsáveis,
a pesquisa encontrou como resultado que o INEP é o órgão responsável pelo pla-
nejamento, elaboração e toda a organização das avaliações externas.
Quanto aos Instrumentos de Aplicação, o SAEB está pautado nos
testes cognitivos e nos questionários socioeconômicos. Os testes cognitivos
apresentam-se nas avaliações de aprendizagem que abrange as áreas de Língua
Portuguesa e Matemática, estando em fase amostral a ampliação para as áreas
de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. Os questionários socioeco-
nômicos são direcionados aos alunos e professores das turmas avaliadas, aos
diretores de escola e aos responsáveis nas Secretarias Municipais e Estaduais.
Partindo para a Formulação de Itens, o documento que norteia o es-
tudo da comissão que elabora os itens é a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) e as matrizes de referência, ambos os documentos se voltam para
as competências e habilidades estimadas para cada ano de escolaridade, se
subdividindo em descritores que delimitam qual habilidade será medida nos
testes. Já no que diz respeito à Tipologia de Itens, o SAEB prevê itens de
múltipla escolha contendo quatro ou cinco alternativas de resposta em que
73
apenas uma é a correta. Na edição recorte desse estudo, foi realizada de forma
amostral algumas questões de resposta construída direcionadas aos alunos do
2 º ano do Ensino Fundamental 1.
O SAEB prevê um conjunto de questões dispostos em um Caderno
de Provas, a título de exemplificação, as turmas de 5 º ano receberam um
caderno de provas que continha quatro blocos de onze questões cada, sendo
dois blocos de Língua Portuguesa e dois blocos de Matemática.
São disponibilizados manuais dos aplicadores como Material de
Apoio para todos os profissionais que irão aplicar a avaliação. Neste manual
há orientações de como se dará todo o processo e qual o papel do aplicador
durante a avaliação. Nosso estudo verificou que não há nenhuma Divulgação
dos Cadernos de Provas e dos Materiais de Apoio utilizados no SAEB.
A Correção das provas é feita de forma terceirizada, em que o Ministério
da Educação contrata uma empresa especializada que se encarrega de toda a
logística de aplicação, correção e tabulação dos dados. A metodologia ado-
tada para a correção se baseia na escala de proficiência e seus níveis. Após a
correção, os dados são dispostos em Relatórios. Todas as escolas que tiveram
80% da participação dos estudantes receberão seus relatórios, assim como
todos os municípios e Estado que alcançaram 50% de participação. Tais do-
cumentos são disponibilizados na internet sob duas formas: o Boletim da
Escola e o Painel Educacional.
No Boletim da Escola encontram-se os níveis de proficiência das tur-
mas e o mapeamento da unidade escolar demonstrando sua evolução e o
IDEB ao longo dos anos. No Painel Educacional encontra-se o mapeamento
de todo o cenário educacional brasileiro: dados das matrículas, contextos so-
cioeconômicos, indicadores escolares, resultados das aprendizagens por mé-
dia das proficiências de cada município e Estado brasileiro.
Nossa última categoria de análise refere-se ao Ranking Educacional. O
Ministério da Educação, através do INEP, elabora o IDEB pautado nos resul-
tados das avalições e no fluxo escolar. Esse é o indicador de qualidade educa-
cional, está previsto no PNE e possui metas para alcance ao longo dos anos.
Ainda que o MEC não preveja uma divulgação pautada em ranqueamento,
é possível analisar as tabelas de resultado de forma a dispor do maior para o
menor e assim obter um Ranking Educacional das instituições escolares.
74
Considerações Finais
As avaliações Externas em Larga Escala contidas nos Sistemas de
Avaliação da Educação, objetos do presente estudo, estão presentes nos mais
diversos países e buscam oferecer subsídios e dados que giram torno do mo-
nitoramento da qualidade da educação ofertada, bem como da prestação de
contas e responsabilização.
Amparados pela busca bibliográfica realizada, e pela metodologia da
Educação Comparada presente neste estudo, observamos que a proposta im-
plementada pelo referido sistema avaliativo divide opiniões e está longe de
ser um consenso.
Consideramos que se faz necessário o levantamento dos diagnósticos
obtidos por meio dessas avaliações, uma vez que eles impulsionam a propo-
situra de Políticas Educacionais pertinentes, entretanto, isoladamente, tais
diagnósticos não garantem a qualidade da educação ofertada. Dessa forma,
compreendemos que a macropolítica e a micropolítica devem coexistir na
amplitude e individualidade da complexidade educacional e na busca da me-
lhoria pretendida.
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79
Capítulo 5
ANÁLISE COMPARATIVA DO SISTEMA
NACIONAL DE AVALIAÇÃO
Chelsea Maria de Campos MARTINS27
Carlos da Fonseca BRANDÃO28
Resumo
Este artigo analisa a estrutura organizacional do Sistema Nacional
de Avaliação, em larga escala da educação básica – da Argentina avaliação
ONE/APRENDER e do Brasil Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (SAEB). A metodologia adotada foi a educação comparada de Bereday
(1972), em nossas conclusões, destacamos as principais semelhanças e dife-
renças entre os dois sistemas.
Palavras-chave: Educação Comparada. Sistema Nacional de Avaliação.
SAEB. ONE/APRENDER
Introdução
Originalmente esta pesquisa foi a tese intitulada “ARGENTINA E
BRASIL: uma análise comparativa do Sistema Nacional de Avaliação” - defen-
dida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual
27 Doutora em Educação - Programa de Pós-Graduação em Educação/PPGE/UNESP/Marília/SP.
E-mail: chelsea.c.martins@unesp.br.
28 Professor Doutor Adjunto do Departamento de Educação da UNESP - Assis e do Programa de
Pós-graduação em Educação da UNESP - Marília. E-mail: carlos.brandao@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-618-3.p79-95
80
Paulista (UNESP), campus de Marília-SP, sob a orientação do professor
doutor Carlos da Fonseca Brandão. Esta tese foi proveniente de reuniões do
grupo de pesquisa “Coletivo de Pesquisadores em Políticas Educacionais
(COPPE)29, sendo significativo as pesquisas desenvolvidas pelos membros
do COPPE, uma vez que investigam a política educacional, a partir da edu-
cação básica até o ensino superior, tanto em nível nacional quanto em nível
internacional, por meio do referencial teórico e metodológico procedente dos
estudos e pesquisas de Educação Comparada (EC).
Também informamos, não investigamos os resultados de aprendizagem
da avaliação externa em larga escala, em vista disso, o objetivo foi evidenciar
a contribuição sobre análise comparativa dos pontos de convergências e de
divergências da organização estrutural do Sistema Nacional de Avaliação da
América do Sul, entre os países - Argentina e Brasil, porque consideramos
que o estudo sobre o Sistema Nacional de Avaliação possui vasta produção
acadêmica, tanto no Brasil como na Argentina, quanto à evolução avaliativa
de aprendizagem do estudante. Ainda, segundo a documentação legal so-
bre avaliação em larga escala (aprendizagem), de cada país, narra, como foco
principal, que os resultados avaliativos de aprendizagem propõem-se contri-
buir na identificação de melhoria da educação pública ofertada.
Compreendemos que este monitoramento avaliativo iniciou-se na
década de 1990, com a influência dos organismos internacionais como a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento
(BIRD), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial no processo de reformas
educativas, provocou uma série de transformações nas relações socias e de po-
der, inclusive na educação que foram denominadas de processo de democra-
tização do sistema de ensino, uma vez que este processo pressupunha o acesso
de todas as camadas da população ao ensino público. Consequentemente,
junto às reformas educativas desencadearam o monitoramento dos resultados
da educação pública, em especial, da educação básica, por meio da avaliação
29 Na introdução da tese “ARGENTINA E BRASIL: uma análise comparativa do Sistema Nacional
de Avaliação” apresentamos as pesquisas concluídas de EC (tese e dissertação) e defendidas pelos
membros do grupo de pesquisa COPPE, no período de 2020 e 2023.
81
externa em larga escala, conforme contribuições de LIBÂNEO (2008).
Da mesma forma, é importante lembrar que a partir da Conferência
Mundial de Educação para Todos, realizada em março de 1990, em Jontiem, na
Tailândia, e na Declaração de Nova Delhi de dezembro de 1993 de atendimento
à demanda de universalização da educação pública, uma série de políticas foram
desencadeadas para garantir o cumprimento das metas nestas conferências.
Isto posto, compreendemos que na década de 1990, as reformas educativas
da América Latina e a avaliação dos sistemas de ensino desenrolam-se agregadas à
educação e à economia e deram-se influenciadas pelo modelo neoliberal.
Referencial teórico de Educação Comparada
A partir dos estudos de literatura sobre EC, distinguimos várias abor-
dagens metodológicas comparatistas para o desenvolvimento do nosso estu-
do, assim, reproduzimos esses momentos reflexivos, porque contribuíram na
busca do instrumento adequado ao objetivo da pesquisa.
Inicialmente, o autor Nóvoa (2009), ao defender sua tese de cartogra-
fia, estabeleceu a tríade – o outro, o sentido e os limites – representando o
delinear de pesquisa e Franco (2000) acrescentou a compreensão do reconhe-
cimento dos diferentes espaços culturais nos estudos de EC.
O texto “Comparações entre lugares” direcionou que o foco de análise
comparativa, unidade de análise ou unidade estudada precisa responder as
indagações de “quem” ou “o que” será objeto da pesquisa e, ainda podem ser
unidades observacionais ou explicativas (MANZON, 2015), relembramos
a nossa questão norteadora: “Quais são os pontos de convergências e os de
divergências entre o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica da
Argentina e do Brasil?”.
Outro método comparatista que colaborou no processo de escolha pela
facilidade ilustrativa foi o “Quadro Referencial para Análises na Educação
Comparada” de Bray e omas (1995), representado no formato de um cubo
(Figura 1), com a proposta de abordagem tridimensional de categorização e
análise das dimensões geográfica/espacial, agrupamentos demográficos e as-
pectos da educação e da sociedade. Assim, a pesquisa pode ser mapeada de
acordo com conjecturas investigadas nos campos macro ou micro do sistema.
No caso da tese a análise ocorreu no campo macro.
82
Figura 1 – Cubo de Bray e omas
Fonte: (BRAY; THOMAS, 1995, p.475).
Assim, utilizando o cubo de Bray e omas (1995), o mapeamento
do estudo está representado no nível geográfico, nível 2, países (Argentina e
Brasil), na correspondência aos grupos demográficos: outros grupos (política
pública educacional) e nos aspectos da educação e sociedade: avaliação nacio-
nal externa em larga escala.
O Quadro 1 de Berg-Schlosser (2001) apud Manzon (2015) permitiu
clareza na visualização e perceptibilidade do resultado da análise comparativa.
Quadro 1 – Análise de estudos de caso comparados
Sistemas mais se-
melhantes (SMS)
Sistemas mais
diferentes (SMD)
Resultados mais
semelhantes (RMS) (RMS) – (SMS) (RMS) – (SMD)
Resultados mais
diferentes (RMD) (RMD) – (SMS) (RMD) – (SMD)
Fonte: (BERG-SCHLOSSER, 2001, p. 2430 apud MANZON, 2015, p. 128).
Para Bereday (1972) a EC é composta por 4 etapas, as duas primei-
ras etapas, descrição e interpretação, representam o processo metodológico
83
inicial de adquirir familiaridade e conhecimento com o sistema de educação
ou com a temática do estudo comparado. Em seguida, no processo de análise,
com as etapas de justaposição e comparação, caracterizam os estudos compa-
rativos propriamente dito.
Diante do exposto, a abordagem do método de EC proporciona a exis-
tência de multiplicidade de caminhos teóricos e autores comparatistas para a
aplicabilidade em um estudo comparativo.
Nesta pesquisa optamos pelo procedimento metodológico fundamen-
tado por Bereday (1972) na análise comparativa. Também, efetuamos a lei-
tura do estudo utilizando o Quadro de Berg-Schlosser (2001) apud Manzon
(2015) para análise do sistema nacional de avaliação, em relação aos pontos
de aproximação e distanciamento, na Argentina e no Brasil.
Argentina e Brasil: pontos de convergências e divergências
Ambos os países estão localizados na América do Sul, sendo a Argentina
o segundo país em extensão territorial e o Brasil o primeiro em extensão ter-
ritorial desse continente. Outro dado de aproximação, os dois países foram
colonizados, a Argentina pelos espanhóis e o idioma oficial é o espanhol e o
Brasil pelos portugueses e o idioma oficial é o português.
Igualmente, os países vivenciaram períodos ditatoriais, mas consegui-
ram a volta da redemocratização, restabelecendo a República Constitucional
na Argentina e no Brasil a República Federal. Portanto, os dois países encon-
tram-se em regime democrático, com previsão de eleição para presidente bem
semelhante, com mandato de quatro (4) anos e direito a reeleição.
Os símbolos nacionais argentinos são caracterizados na bandeira na-
cional, no escudo nacional e no hino nacional (Decreto nº 10.302/1944 e
suas alterações [ARGENTINA, 1944]) e os símbolos nacionais brasileiros
caracterizados na bandeira, no hino nacional, nas armas (brasão) e no selo
nacional (BRASIL, 1988).
Em relação à distribuição territorial, pode-se afirmar que representa
mais um ponto de convergência entre os países, pois são divididos de maneira
muito semelhantes: Argentina é organizada em 23 províncias e Buenos Aires
é cidade autônoma (representa a capital) e o Brasil estruturado em 26 estados
e Brasília é o distrito Federal, representando a capital brasileira.
84
No que diz respeito ao Sistema Nacional de Educação, em ambos os
países iniciaram por caminhos diferentes, enquanto a Argentina originou-se
a partir da Lei nº 1.420 de 1884 a traçar o atendimento para a educação
primária, o Brasil com a criação do Ministério da Educação e Saúde, em
1930 iniciou o movimento de construção do Sistema de Ensino. pode-se
considerar que, em ambos o Sistema Nacional de Educação representa ponto
convergente, porque a estrutura organizacional é semelhante (Quadro 2).
Quadro 2 – Organização do Sistema Nacional de Educação
ARGENTINA BRASIL
Organização do Sistema Nacional de Educação
Lei Federal
de Educação
(LFE), Lei
nº 24.195,
de 14 de
abril de
1993
Educação
Inicial
Educação
Geral Básica
Polimodal
Educação
Superior
Educação
Pós-gradu-
ação
Lei Federal
nº 4.204,
de 20 de
dezembro
de 1961
Educação
Pré-primária
Educação
Primária
Ensino Pri-
mário
Ensino
Médio (Gi-
nasial e/ou
Colegial)
Ensino
Superior
Lei de
Educação
Nacional
(LEN), lei
nº 26.206,
de 27 de
dezembro
de 2006
Educação
Inicial
Educação
Primária
Educação
Secundária
Ensino
Superior
Lei Federal
nº 5.692, de
11 de agosto
de 1971
Ensino de 1º
grau
Ensino de 2º
grau
Ensino
Supletivo
Ensino
Superior
Lei nº
9.394, de 20
de dezem-
bro de 1996
Educação
Infantil
Ensino Fun-
damental
Ensino
Médio
Ensino
Superior
Fonte: Elaborado pela autora (2023).
85
A Lei Federal de Educação (LFE), Lei nº 24.195, de 14 de abril de
1993 é considerada um marco da transformação educativa30 na Argentina,
porque é a primeira lei que estabeleceu a estrutura do Sistema de Ensino e
implementou o Sistema Nacional de Avaliação e no Brasil, a Lei nº 9.394, de
20 de dezembro de 1996 é considerada legislação flexível e inovadora em sua
organização curricular (educação básica31). Também, ambas as legislações, ar-
gentina e brasileira, estabelecem a parceria de responsabilidade educacional,
entre o Estado Nacional e a família.
Outra divergência significativa para o processo de aprendizagem está
previsto na LFE/1993, sendo:
oferecer 6 meses de estágio para os estudantes a partir de 16 anos,
ampliando o conhecimento do mundo do trabalho além do âmbi-
to escolar;
consta o Plano Social Educativo que oferece subsídios (bolsas e
materiais escolares) para os estudantes mais carentes bem como as
reformas nas instituições.
Neste sentido, em ambos os países, a legislação que direciona as diretri-
zes da base nacional da educação básica sendo relevante para a normatização
do Sistema Nacional de Ensino, caracterizando-se mais um ponto de conver-
gência (Quadro 3).
Também, é convergente a divisão das etapas de ensino, a Argentina
oferece educação inicial, educação primária e educação secundária – LEN
de 2006, correspondente à educação básica. De maneira semelhante com as
etapas da educação básica brasileira, a saber, educação infantil, ensino fun-
damental e ensino médio – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
- LDB de 1996 (Quadro 2).
Pode-se considerar que existe aproximação do Sistema Nacional de
Ensino (Quadro 3), correspondente a última legislação vigente – Argentina
com LEN/2006 e Brasil com a LDB/1996, no que diz respeito a questão
do tempo escolar, correspondendo o tempo escolar obrigatório a partir de
quatro (4) anos até 17 anos de idade.
30 Lembrando que após o período ditatorial (década de 1970) aconteceu o Congresso Pedagógico
Nacional que discutiu a educação escolar com a sociedade em geral. Este congresso contribuiu com
as normas estabelecidas na LFE/1993.
31 Cf. LDB/1996, Capítulo II - Da Educação Básica, Seção I - Das Disposições Gerais (artigos 22 até 28).
86
Entretanto, a Argentina faz divisão diferenciada para a estrutura acadê-
mica (estrutura curricular) referente ao ensino primário e secundário, possi-
bilitando que cada província determine o tempo escolar, podendo ser seis (6)
anos de duração para o ensino primário e seis (6) anos para o ensino secun-
dário ou sete (7) anos para o ensino primário e cinco (5) anos para o ensino
secundário. Portanto, na distribuição (divisão curricular) representa ponto
de divergência significativo, porque, mesmo com essa organização curricular
distinta entre as províncias é possível, em nível nacional, aplicar a avaliação
externa em larga escala
Quadro 3 – Escolaridade obrigatória
ARGENTINA BRASIL
Estudo comparativo
Lei de Educação Nacional
(LEN), Lei nº 26.206, de 27
de dezembro de 2006
Lei nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996
(LBD/1996)
Escolaridade Obrigatória: 4
anos a 17 anos
Escolaridade Obrigatória: 4
anos a 17 anos
Educação
Inicial
45 dias até 5
anos
4 e 5 anos
obrigatório
Educação
Infantil
Creches ou
entidades
equivalentes
até 3 anos
4 e 5 anos
obrigatório
Educação
Primária
6 a 11 anos Ensino Fun-
damental 6 a 14 anos
7 a 12 anos
Educação
Secundária
12 a 17 anos Ensino
Médio 15 a 17 anos
13 a 17 anos
Fonte: Elaborado pela autora (2023).
Em relação a origem do Sistema Nacional de Avaliação são divergentes,
porque a Argentina instituiu a sistematização, por meio de legislação educa-
cional (LFE de 1993), que corresponde no Brasil à LDB. Entretanto, o Brasil
iniciou o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) no ano de 1990,
sendo sua criação publicada a partir da Portaria nº 1.795 de 1994.
87
Importante destacar a divergência singular, a Argentina define o
Conselho Nacional de Qualidade da Educação (artigo 98) (ARGENTINA,
2006), no âmbito do Ministério da Educação da Nação (MEN), com pro-
posituras dos resultados avaliativos e organizacional do processo avaliativo,
bem como na divulgação e utilização das informações geradas na avaliação
externa em larga escala. O Brasil não possui definido um conselho com essas
características, apenas anuncia os objetivos em âmbito da política nacional de
avaliação da Educação Básica: “[...] avaliar a qualidade, a equidade e a eficiên-
cia da educação praticada no país em seus diversos níveis governamentais”,
conforme artigo 2º da Portaria nº 250 de 2021 (INEP, 2021).
Outra divergência, em relação a nomenclatura da avaliação. Argentina
iniciou o sistema nomeando a avaliação de Operação Nacional de Avaliação
(ONE), em 2016 alterou a nomenclatura para Dispositivo Nacional de
Avaliação de Aprendizagem (APRENDER). Em vista disso, efetivou poucos
ajustes no sistema nacional de avaliação, mantendo a continuidade do pro-
cesso avaliativo. Já o Brasil, em cada edição tem a inclusão no SAEB, com
novidades como, por exemplo, as avaliações Avaliação Nacional da Educação
Básica (ANEB), Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC),
Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) e em 2018 do modelo de avalia-
ção da Educação Infantil, portanto, o sistema nacional de avaliação brasileiro
apresenta oscilações na sistematização organizacional avaliativa, caracterizado
por introduções em cada edição do SAEB. No que diz respeito as mudanças
de nomenclaturas da avaliação em ambos os países, estas são divergentes.
Ainda, o Brasil, em 2019, extinguiu as siglas ANEB e ANRESC e man-
teve apenas a sigla SAEB para essas avaliações. ANA passou a ser realizada no
2º ano do Ensino Fundamental. Na Educação Infantil, aconteceu avaliação
(questionários eletrônicos), em caráter de estudo-piloto. Já a Argentina efeti-
vou adequação a partir da LEN de 2006 no Sistema Nacional de Avaliação,
mas manteve a proposta da ONE na avaliação APRENDER.
88
Quadro 4– Sistema Nacional de Avaliação: categorias de comparação
ARGENTINA BRASIL
Categorias de comparação
Avaliação Nacional Educação
Primária e Secundária
Avaliação Nacional da
Educação Básica
Início: 1993 Início: 1990
Objetivo: garantir a qualidade
da formação ministradas nos
diferentes ciclos mediante ava-
liação permanente do sistema
educacional.
Objetivo: avaliar a qualida-
de, a equidade e a eficiên-
cia da educação praticada
no país em seus diversos
níveis governamentais.
Público-alvo: estudantes da
Educação Primária e Secun-
dária.
Público-alvo: estudantes
da Educação Básica.
Participação: obrigatória para
às escolas públicas e amostral
escolas privadas.
Participação: obrigatória
para às escolas públicas e
amostral escolas privadas.
Área do conhecimento
avaliada: Linguagem (leitura e
escrita), Matemática, Ciên-
cias Social, Ciências Natural,
Educação Cidadania, Produção
Escrita.
Área do conhecimento
avaliada: Língua Portugue-
sa, Matemática, Ciências
da Natureza e Ciências
Humanas.
Critério: Testes Referenciados
por critérios (PRC).
Critério: Teoria de Reposta
ao Item (TRI).
Devolutivas: relatório geral,
por região, província e escola.
Devolutivas: relatório
geral, estado e escola.
Responsável: Ministério da
Educação, Ciência e Tecnolo-
gia.
Responsável: Ministério
da Educação.
Elaboração da avaliação: NAP. Elaboração da avaliação:
INEP.
Site avaliação nacional:
https://www.argentina.gob.ar/
educacion/evaluacion-e-infor-
macion-educativa
Site avaliação nacional:
https://www.gov.br/inep/
pt-br/areasdeatuacao/ava-
liacao-e-exames-educacio-
nais/saeb
Fonte: Elaborado pela autora (2023).
A primeira categoria – início – é divergente, mesmo considerando que
ambos os Sistemas Nacionais de Avaliação iniciaram na década de 1990.
Entretanto, Argentina instituiu a avaliação ONE em 1993, em dezembro do
89
mesmo ano aplicou avaliação e o Brasil iniciou o SAEB em 1990, contudo, a
regulamentação do SAEB ocorreu, somente, em 1994 (Quadro 4).
Na segunda categoria – objetivo, nota-se a divergência entre os objetivos,
porque para a Argentina o resultado é utilizado para direcionar a formação e
prática docente, os projetos e programas educacionais, bem como os próprios
métodos de avaliação entre outras variáveis (art. 95) (ARGENTINA, 2006).
No caso do Brasil o resultado é utilizado para subsidiar o monitoramento e
o aprimoramento de políticas públicas da educação básica. Entretanto, em
2021, uma população de referência (escolas com menos de 10 alunos matri-
culados no ensino fundamental e médio, turmas multisseriadas, turmas de
educação de jovens e adultos, classes ou escolas de Educação Especial) foi des-
considera no SAEB, conforme o artigo 6º da Portaria nº 250 (INEP, 2021),
mesmo constando no objetivo do SAEB, a questão de equidade.
Em relação ao público-alvo, representa mais um ponto de convergên-
cia, pois a participação na avaliação é para os estudantes de anos de conclusão
do ensino primário e secundário na Argentina e na mesma régua no Brasil
para os estudantes do ensino fundamental e médio, também são avaliadas as
turmas de alfabetização. Importante destacar em ambos os países, no período
da aplicação da avaliação, a presença do estudante não é obrigatória.
Outra categoria de aproximação é a questão de participação, em ambos
os países a obrigatoriedade de participação abrange às escolas do sistema de
ensino público, com avaliações censitária e amostral. Entretanto, avaliação é
amostral para às escolas privadas.
No que diz respeito a área do conhecimento avaliado, representa
ponto divergente, porque a Argentina avalia o conhecimento sobre a educa-
ção cidadania e o Brasil não avalia essa área de conhecimento.
Também muito semelhante o critério argentino PRC e o brasileiro TRI
no alinhamento do desenho curricular de cada país.
Pode-se considerar mais uma categoria de aproximação, as devolutivas
da avaliação ONE/APRENDER e SAEB, porque os relatórios são semelhan-
tes e possibilita a comparação da escola em relação ao país, a região, ao esta-
do/província e município/cidade.
A responsabilidade principal pelo Sistema Nacional de Avaliação repre-
senta mais um ponto de aproximação, sendo em ambos o órgão máximo da
90
educação, na Argentina o Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia e no
Brasil o Ministério da Educação.
Em ambos os países, são semelhantes, pois existe órgão responsável
pela elaboração da avaliação. Na Argentina é o Núcleo de Aprendizagem
Prioritário (NAP) que utiliza o currículo de base comum do país nos cri-
térios avaliados e no Brasil é o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) que elabora avaliação de acordo com a
Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Em relação a publicidade das informações à sociedade civil, bem como
para o Sistema Nacional de Ensino em ambos os países, os sites da Avaliação
Nacional são semelhantes na disponibilidade dos resultados das avaliações e de-
mais informações (relatórios) sobre essas avaliações em larga escala (Quadro 4).
Ainda, ambos os países apresentam mais uma aproximação, pois a
Argentina e o Brasil participam desde a primeira edição das avaliações:
avaliações regionais do Estudo Regional Comparativo e Explicativo
(ERCER) – edições 1997, 2006, 2013 e 2019;
avaliação internacional do Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes (PISA) – edições 2000, 2003, 2006, 2009, 2012, 2015
e 2018.
Quadro 5 – Análise de estudos de caso comparados
Sistemas mais se-
melhantes (SMS)
Sistemas mais
diferentes (SMD)
Resultados mais
semelhantes
(RMS)
Público-alvo
Participação
Critério
Devolutivas
Responsável
Elaboração da
avaliação
Site
Início
Objetivo
Área do conheci-
mento avaliado
Resultados mais
diferentes (RMD)
Fonte: (BERG-SCHLOSSER, 2001, p. 2430 apud MANZON, 2015, p. 128).
Por fim, analisando as categorias elencadas (Quadro 5), fazendo a com-
paração simultânea, contudo utilizando o quadro de Berg-Schlosser apud
91
MANZON (2015), para melhor visualização do leitor sobre os resultados do
estudo comparativo da pesquisa.
Pode-se afirmar, conforme o Quadro 5, o resultado do estudo apon-
tou mais pontos convergentes na estrutura organizacional entre os Sistemas
Nacionais de Avaliação – da Argentina e do Brasil, isso significa que os
Sistemas apresentaram mais resultados semelhantes (RMS) para as categorias
comparadas. Portanto, pode-se considerar em ambos os países, a estrutura
organizacional dos Sistemas Nacionais de Avaliação, são sistemas mais seme-
lhantes (SMS).
Entretanto, no contexto da política avaliativa externa em larga escala
subsiste divergências significativas como, por exemplo, a Argentina possui o
Conselho Nacional de Qualidade da Educação para subsidiar e propor ajus-
tes no sistema nacional de avaliação e faz divisão diferenciada para a estrutura
acadêmica (estrutura curricular) da educação primária e secundária, sendo
definida por cada província (artigo 32) (ARGENTINA, 2006).
Considerações finais
Pode-se afirmar que o Sistema Nacional de Avaliação permitiu ponde-
rar-se sobre a importância da responsabilidade e função de avaliação externa
em larga escala, porque essa analisa a base curricular comum de um Sistema
Nacional de Ensino, uma vez que a avaliação, nos países alvo do estudo, é
obrigatória para o Sistema de Ensino Público (escolas públicas).
Foi identificada a necessidade de conhecer o contexto histórico
do Sistema Nacional de Ensino, porque ele abarca o Sistema Nacional de
Avaliação. Esta etapa auxiliou o entendimento, primeiramente, da história
de cada Sistema de Ensino, bem como a sua estrutura organizacional, contri-
buindo para apropriar-se da avaliação externa em larga escala.
É importante lembrar qual foi a abrangência do estudo comparado
entre os Sistemas Nacionais de Avaliação. Isto posto, a análise do estudo com-
parado foi direcionada para as etapas – educação primária e secundária na
Argentina e a educação básica (ensino fundamental e médio) no Brasil, por-
que representa a etapa do ensino obrigatório em ambos os países.
Em ambos os países – a educação infantil no Brasil e a educação inicial
na Argentina – essa etapa de ensino é obrigatória. Entretanto, na Argentina
92
a educação inicial ainda não consta testes e ou questionário no Sistema
Nacional de Avaliação. Em 2018, o Sistema Nacional de Avaliação brasileiro,
na etapa da Educação Infantil ocorreu aplicação amostral de questionários
para os secretários municipais de educação, diretores e professores.
As avaliações externas em larga escala ONE/APRENDER e o SAEB
demonstraram mais pontos de convergência (Quadros 4 e 5), ou seja, são se-
melhantes na organização estrutural, no entanto, não são plenamente iguais.
Também, ambos os países são respaldados por legislação quanto à siste-
matização dessa avaliação, bem como a responsabilidade principal, a respeito
do Sistema Nacional de Avaliação, cabe ao órgão máximo da educação, para
a Argentina é o Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia e para o Brasil
é Ministério da Educação.
Importante destacar que Argentina estabeleceu o Conselho Nacional
de Qualidade da Educação, no âmbito do Ministério da Educação Ciência e
Tecnologia, para contribuir com o processo do Sistema Nacional de Avaliação.
Esse conselho é composto pelos representantes do referido Ministério, do
Conselho Federal de Educação, do Congresso Nacional, das organizações tra-
balhistas e de produção e organizações sindicais de professores com estatuto na-
cional, instituindo a participação de representantes diversos da educação para
exercer as funções desde as escolhas dos critérios e modalidades nos processos de
avaliação do Sistema Nacional de Educação, emitir pareceres sobre a temática,
com direito de propor propostas e estudos ao Ministério. Nota-se que Argentina
apresenta organização mais democrática e participativa no contexto do Sistema
Nacional de Avaliação, bem diferente do contexto avaliativo brasileiro.
Em ambos os países existe aproximação do órgão responsável pela elaboração
da avaliação externa em larga escala – Argentina é o NAP e no Brasil é o INEP.
Divergência expressiva é o uso dos resultados da avaliação externa em
larga escala. Argentina direciona o resultado para o contexto de ação na polí-
tica educacional uma vez que utiliza para a formação e prática docente, para
os programas educacionais e até mesmo nos próprios métodos de avaliação
entre outras variáveis (art. 95) (ARGENTINA, 2006).
No Brasil o resultado da avaliação em larga escala é utilizado para sub-
sidiar o monitoramento e o aprimoramento de políticas públicas da educação
básica, conforme artigo 2º da Portaria nº 250 (INEP, 2021). Entretanto, na
93
mesma portaria, no artigo 6º, uma população de estudantes é excluída do
Sistema Nacional de Avaliação, representando os estudantes que mais pre-
cisam de ações de equidade e de estudos para atender essa demanda, mas o
próprio sistema avaliativo desqualifica-os.
Por fim, em nossa pesquisa constatamos que os Sistemas Nacionais de
Avaliação são mais semelhantes, com resultados semelhantes. Embora con-
tendo semelhanças significativas na estrutura organizacional, não se pode di-
zer que existe igualdade no contexto da política avaliativa externa em larga
escala entre a Argentina e o Brasil.
Após concluir a pesquisa, sublinho as minhas impressões sobre o
Sistema Nacional de Avaliação que trazem à tona a questão de avaliar a
base curricular comum de um Sistema Nacional de Ensino, a necessidade
de enxergar as falhas administrativas, pedagógicas e financeiras existentes no
Sistema Nacional de Avaliação como, por exemplo, a constante modificação
avaliativa em cada edição do SAEB, portanto, representando a descontinui-
dade organizacional na companhia de uma proposta avaliativa reducionista
e com imprecisões na comunicação ou interação entre a escola (contexto mi-
cro) com a política educacional avaliativa (contexto macro).
Daí a necessidade de comunicação assertiva entre os contextos – mi-
cro e macro, da definição de avaliação padronizada em consonância com a
base curricular comum da educação básica, sem alterações em cada edição
no Sistema Nacional de Avaliação, em razão de que mudanças na educação
demora no mínimo uma década para processar-se.
Parafraseando Bereday (1972), assim como o Sistema Nacional
de Avaliação deve fornecer subsídios do Sistema Nacional de Ensino, o
Ministério da Educação precisa conhecer a constituição dessa sistematização
para redirecionar a política educacional pública.
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23-62.
97
Capítulo 6
GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA
PÚBLICA: PROPOSTAS, DESAFIOS E
POSSIBILIDADES
Mariana Aparecida de Almeida LAURENTINO 32
Carlos da Fonseca BRANDÃO 33
Resumo
Este artigo constitui-se de um recorte de uma pesquisa de Mestrado em
Educação do PPGE, UNESP/Marília, cujo objetivo principal foi comparar as
propostas de gestão democrática da escola pública no Brasil e em Portugal, por
meio do estudo da literatura, normativos e documentos escolares de cada país.
No entanto, para este artigo nos propomos a discutir as propostas, desafios
e possibilidades de Gestão democrática a partir da literatura brasileira. Para
tal objetivo, utilizamos a metodologia da Educação Comparada (BEREDAY,
1972), que nos permite compreender nosso objeto de pesquisa, a partir dos
seus diferentes aspectos, destacando as semelhanças e diferenças existentes entre
os países. Dessa forma, diante dos inúmeros desafios urgentes e emergentes da
escola pública, acreditamos que a gestão democrática das escolas se apresenta
como elemento de apoio para o encaminhamento das suas soluções.
Palavras-chave: Gestão democrática. Brasil. Escola pública.
32 Programa de Pós-Graduação em Educação/PPGE/UNESP/Marília/SP/Brasil/ma.laurentino@unesp.br
33 Professor Doutor Adjunto do Departamento de Educação da UNESP - Assis e do Programa de
Pós-graduação em Educação da UNESP - Marília. E-mail: carlos.brandao@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-618-3.p97-114
98
Introdução
Nossa discussão se apresenta a partir do método comparado em
Educação, proposto por Bereday (1972), com destaque para o contexto bra-
sileiro. A título contextual, nossa opção metodológica nos permite discutir
nosso objeto de pesquisa a partir dos seus diferentes aspectos, sobretudo,
compreender que ele se encontra nas questões educativas, porém não cons-
trói-se somente nela.
Dessa forma, alinhando-nos a Bonitatibus (1989, p. 81) compartilha-
mos da ideia de que “[...] o impacto da educação está fortemente condicio-
nado pelo contexto social, político e econômico, em que se insere o sistema
escolar”, portanto, as pesquisas e estudos voltados para a solução ou, então,
reflexão dos problemas inerentes à escola não podem negligenciar os diferen-
tes contextos que influenciam o fazer e o saber educacional.
De modo a esclarecer como o uso da expressão gestão democrática das
escolas surge no país, nossa discussão é sobre a visão de alguns autores brasi-
leiros, entre eles, Paro (1998; 2000a; 2001; 2002), Libâneo, Oliveira e Toschi
(2012), Souza (2006; 2009; 2017), Sander (2009) e Vieira (2007) no que se
refere a definição de gestão democrática, aos desafios de efetivar essa forma de
gestão e aos princípios que organizam e orientam a prática democrática nas
escolas. A opção pelo estudo das obras destes autores, se justifica a medida
que ao realizarmos nosso levantamento bibliográfico, verificamos que estes
autores produziram uma quantidade expressiva de obras acerca da temática
em questão, além disso, são reconhecidos como referências bases para as pes-
quisas e estudos sobre a gestão.
A gestão democrática na literatura: propostas
A ideia de gestão democrática da escola pública no Brasil, tão pro-
pagada nos discursos políticos e normativos educacionais, possui diversas
interpretações, as quais são caracterizadas de acordo com perspectivas teó-
ricas e ideais metodológicos. Diante disso, nos propomos, aqui, apresentar
as diferentes visões sobre essa forma de gestão, destacando as semelhanças e
diferenças entre os autores da área.
Nesse sentido, entendemos que os objetivos estabelecidos, a estrutura
99
organizativa e a posição política e social deixam clara a concepção de gestão
adotada por uma escola. Para Libâneo (2001, p. 100) “O modo como uma
escola se organiza e se estrutura tem um caráter pedagógico, ou seja, depende
de objetivos mais amplos sobre a relação da escola com a conservação ou a
transformação social”.
Embora com a origem remota da democracia no Brasil, devemos nos
atentar não somente à sua conotação etimológica de “governo do povo” ou
numa versão mais formal, como “vontade da maioria”, e sim, “em seu signi-
ficado mais amplo e atual de mediação para a construção da liberdade e da
convivência social, que inclui todos os meios e esforços que se utilizam para
concretizar o entendimento entre grupos e pessoas, a partir de valores cons-
truídos historicamente” (PARO, 2001, p. 10).
De modo geral, Paro (1987) defende a ideia de que independente do
uso do termo administração ou gestão, o que se deve destacar é em função de
qual objetivo esta administração/gestão existe. Em uma de suas entrevistas34 o
autor discute essa relação, afirmando utilizá-las como sinônimos35, pois o que
deve importar é a sua efetivação nas escolas, para tanto, o autor define esta
categoria como “utilização racional de recursos para a realização de fins deter-
minados. Assim pensada, ela se configura, inicialmente, como uma atividade
exclusivamente humana, já que somente o homem é capaz de estabelecer
livremente objetivos a serem cumpridos” (PARO, 1987, p. 18-19).
Nesse viés, a gestão democrática da escola pública é entendida como
mediação para alcance dos objetivos fins da escola. O seu caráter mediador
se dá por meio das “atividades-meio”, ou seja, atividades de direção escolar,
secretaria, de assistência aos alunos e pais, zeladoria e vigilância, assim como
pelas “atividades-fim”, compreendida como a relação de ensino e aprendiza-
gem (PARO, 2001). No entanto, o autor acrescenta que,
[...] embora toda administração tenha a característica básica de mediação,
não significa que toda administração seja idêntica. Precisamente por ser
34 Gestão Escolar Democrática - Prof. Vitor Henrique Paro (Entrevista completa) Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=WhvyRmJatRs. Acesso em 14 out. 2021.
35 Em nosso texto tratamos as expressões administração e gestão como sinônimos no Brasil, todavia
ao tratar dessa categoria optamos pela expressão gestão democrática da escola pública, tendo em
vista a sua presença nas leis educacionais nacionais brasileiras.
100
mediação a determinado fim, a administração tem que adequar-se (nos
métodos e nos conteúdos de seus meios) ao objetivo que pretende alcan-
çar, diferenciando-se, portanto, à medida que se diferenciam os objetivos
(PARO, 2001, p. 95, parênteses no original).
Nessa perspectiva, Libâneo (2001, p. 78) acrescenta que a ação de
gestão é representada pela discussão coletiva e o cumprimento das decisões
tomadas, refere-se também à “atividade pela qual são mobilizados meios e
procedimentos para se atingir os objetivos da organização, envolvendo, ba-
sicamente, os aspectos gerenciais e técnico-administrativos. Nesse sentido, é
sinônimo de administração”.
A gestão democrática da escola pública como demonstra ser na visão
de Souza (2006),
[...] pode ser compreendida como um processo político, de disputa de po-
der, explicitamente ou não, através do qual as pessoas que agem na/sobre
a escola pautam-se predominantemente pelos seus próprios olhares e in-
teresses acerca de todos os passos desse processo, com vistas a garantir que
as suas formas de compreender a instituição e os seus objetivos prevaleçam
sobre os dos demais sujeitos, ao ponto de, na medida do possível, levar os
demais sujeitos a agirem como elas pretendem (SOUZA, 2006, p. 113).
Diante disso, em outra obra, o autor acrescenta que esse processo po-
lítico ao qual se refere à gestão democrática da escola pública, possibilita que
as pessoas que atuam na/sobre a escola identificam problemas, discutem,
deliberam e planejam, encaminham, acompanham, controlam e avaliam o
conjunto das ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola na busca
da solução daqueles problemas” (SOUZA, 2009, p. 125).
Outra característica observada sobre a gestão, é que ela representa a
materialização dos interesses e anseios da sociedade, que são transformados
em políticas públicas educativas, as quais, de acordo com Vieira (2007, p.
59), envolvem “três dimensões: o valor público, as condições de implemen-
tação e as condições políticas”, respectivamente referem-se ao sentido e à
necessidade da política para a sociedade, possibilidade de alcance e cumpri-
mento das ideias e aceitação política. Muitas propostas para a educação não
são possíveis de se concretizar, pois esbarram nessas condições, inibindo a
101
consolidação de políticas que poderiam colaborar com a qualidade da edu-
cação ofertada aos alunos.
A gestão democrática das escolas públicas, segundo Ferreira e Sturmer
(2010, p. 156), “é uma forma contemporânea de administração educacional
que seduz pelas suas promessas de igualdade e solidariedade na escola, inte-
gração escola-comunidade”. No entanto, este termo ainda recebe algumas
críticas, pois o associam com “governo dos alunos”, tendo em vista a defesa
pelas necessidades e interesses de toda equipe escolar, em especial, a dos alu-
nos, segmento central no desenvolvimento e cumprimento da prática demo-
crática nas escolas.
Nessa esteira, o autor entende que concepção democrático-participa-
tiva, defendida como a concepção mais próxima dos princípios e práticas de
gestão democrática da escola pública, pois,
[...] baseia-se na relação orgânica entre a direção e a participação do pessoal
da escola. Acentua a importância da busca de objetivos comuns assumidos
por todos. Defende uma forma coletiva de gestão em que as decisões são
tomadas coletivamente e discutidas publicamente. Entretanto, uma vez
tomadas as decisões coletivamente, advoga que cada membro da equipe
assuma sua parte no trabalho, admitindo-se a coordenação e a avaliação
sistemática da operacionalização das decisões tomadas dentro de uma real
diferenciação de funções e saberes (LIBÂNEO, 2001, p. 98).
A gestão democrática na literatura: desafios
Contudo, compreender o que é e como se constrói a gestão democrá-
tica da escola pública, requer também a compreensão sobre seus desafios,
ou seja, as dificuldades enfrentadas na falta de condições de implementação
e colaboração. Diante disso, destacamos algumas visões dos autores da área
sobre possíveis obstáculos para a construção dessa forma de gestão nas escolas
públicas. Nesse sentido, certos de que a prática participativa é considerada
um dos princípios mais importantes para a consolidação da gestão democrá-
tica, devemos, segundo Paro (1998, p. 18-19, grifos do autor), nos atentar
em compreender como ocorre esse processo de participação, pois “se a parti-
cipação depende de alguém que abertura ou que permite sua manifestação,
102
então a prática em que tem lugar essa participação não pode ser considerada
democrática, pois democracia não se concede, se realiza: não pode existir
ditador democrático’”.
Além disso, destacamos a necessidade de refletir sobre como originou
a democracia nas escolas públicas e como ela se encontra atualmente, tendo
em vista que “ela se efetiva como um conjunto de regras que estabelecem a
lógica da representação, considerando que não é possível todos discutirem e
decidirem tudo todo o tempo” (SOUZA, 2009, p. 132). Diante disso, cabe a
reflexão sobre como esses processos de tomadas de decisão, necessários para a
construção de uma gestão democrática, poderiam ocorrer de modo que não
se caracterizem como mais um empecilho para a escola resolver, e sim, um
meio para facilitar o trabalho dela.
Nessa perspectiva, podemos identificar algumas críticas sobre a reali-
dade democrática nas escolas públicas, pois “[...] desde quando a democracia
foi elevada à condição de melhor forma de governo possível (ou da menos
má) o ponto de vista a partir do qual os regimes democráticos passaram a ser
avaliados é o das promessas não cumpridas” (BOBBIO, 1986, p. 20, parên-
teses no original).
Paro (2001) tece sua crítica sobre a visão tradicionalista que se tem
sobre a gestão da escola pública, pautada em uma administração empresarial
capitalista, que acredita que “[...] basta a introdução de técnicas sofisticadas
de gerência próprias da empresa comercial, aliada a treinamentos intensivos
dos diretores e demais servidores das escolas, para se resolverem todos os pro-
blemas da educação escolar” (PARO, 2001, p. 96).
Silva Júnior (2002, p. 202, aspas no original) em sua obra faz uma dis-
cussão sobre os interesses que estão por trás da inclusão do adjetivo “demo-
crática”, automaticamente acrescido à expressão gestão, como determinação
legal e um jogo conceitual/intencional “os adjetivos ‘democrática’ e ‘partici-
pativa’ sobrepõem-se ao adjetivo ‘pública’ que melhor indicaria o sentido da
administração ou da gestão pretendida”.
A gestão democrática na literatura: possibilidades
Ademais, evidenciamos que os autores brasileiros também apresentam
em suas obras as possibilidades de efetivar essa gestão democrática nas escolas
103
por meio dos seus princípios36 desse modo, apresentamos os princípios identi-
ficados na literatura, destacando o que os autores compreendem como devem
ser promovidos nas escolas e quais os desafios que cercam essa normatização.
É sabido que não existe um método pronto para consolidar a gestão
democrática nas escolas e que ela se constrói no cotidiano, na prática escolar.
Nessa perspectiva, Paro (1998) defende que na construção da democratização
da escola pública, torna-se necessária a adoção de algumas medidas na sua
estrutura político-administrativa, incentivando e viabilizando por meio de,
[...] processos eletivos para escolha dos dirigentes escolares; conselhos de
escola formados pelos vários segmentos da unidade escolar (pais, alunos,
professores, funcionários) e com efetiva função política de direção da
escola; grêmio estudantil; associação de pais, professores e funcionários,
como fóruns de constante discussão dos múltiplos interesses, bem como
outros recursos institucionais que facilitem o permanente acesso de todos
os interessados aos assuntos que dizem respeito à vida da escola (PARO,
1998, p. 79-80).
Alinhado à ideia de Paro (1998) e, considerando a prática da gestão
democrática como um processo político, a qual possui como base primordial
a participação efetiva de todos os envolvidos, Souza (2006) acredita que a
gestão da escola pública, de modo a atender as necessidades e especificidades
de uma gestão democrática deve basear-se,
[...] no diálogo, na alteridade e no reconhecimento às especificidades téc-
nicas das diversas funções presentes na escola, tem como base a partici-
pação efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar, o respeito
às normas coletivamente construídas para os processos de tomada de de-
cisões e a garantia de amplo acesso às informações aos sujeitos da escola
(SOUZA, 2006, p. 130).
O trabalho da gestão escolar existe em função do seu objetivo princi-
pal, no entanto, compromete-se com o cumprimento de objetivos indiretos à
36 A opção pela palavra “princípios”, ao tratarmos das formas de efetivar a gestão democrática nas
escolas se deve ao campo semântico que a palavra faz parte, ou seja, entre os diferentes sentidos,
destacamos que ele pode significar “o que serve de base a alguma coisa; causa primeira, raiz, razão
Disponível em: https://www.google.com/search?q=princ%C3%ADpios. Acesso em: 18 out. 2021.
104
prática de ensino e aprendizagem, responsabilizando-se conjuntamente com
a organização do trabalho coletivo, com as qualificações, formação e plane-
jamento do educador, com as relações humanas, administração dos recur-
sos materiais e avaliação da ação escolar (LIBÂNEO, 2001). A este respeito,
destacamos alguns dos princípios37 mais discutidos na literatura brasileira
que demarcam as práticas democráticas dentro das escolas públicas, são eles:
democratização das informações/trabalho coletivo, participação, autonomia,
órgãos colegiados (Conselho de escola e de classe, APM e Grêmio estudantil)
e seleção dos diretores de escola.
Entre os princípios mais comumente discutidos na literatura brasileira,
cabe destacar a necessidade do amplo acesso às informações para a real demo-
cratização da gestão escolar, haja vista que para haver um trabalho coletivo,
é necessário o conhecimento acerca do fenômeno em discussão, suas contra-
dições e principais elementos que o cercam. Assim, “A democratização da
informação envolve o acesso de todos às informações, canais de comunicação
que agilizem o conhecimento das decisões e de sua execução” (LIBÂNEO;
OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 461).
Para os autores, ao buscar a construção de uma escola democrática,
é preciso que os dirigentes se atentem aos mecanismos de mudança de prá-
ticas, buscando sempre deixar claro o que “[...] esperam da inovação que
querem introduzir, mediante formas participativas de discussão e de tomadas
de decisão. Ao mesmo tempo, devem considerar as inseguranças, as dificul-
dades, o medo de cometer erros com que as pessoas enfrentam a inovação
(LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 533). Nesse sentido, desta-
ca-se a necessidade de compartilhar entre a equipe escolar (entendida aqui,
como todos os profissionais da educação, alunos e famílias), sobre o como e
o que se pretende alcançar a partir da construção de uma escola democrática,
de modo que tenham claro o real significado da sua importância para a qua-
lidade da escola pública.
Quanto ao princípio da participação na construção de uma gestão de-
mocrática da escola pública, podemos perceber que ele é o mais citado nas
obras dos autores brasileiros, ao se tratar da democratização da gestão. Isso
se justifica, pois após o artigo 14 da LDB/96, grande parte dos normativos
37 Os princípios citados foram selecionados a partir da literatura aqui apresentada.
105
nacionais, estaduais e municipais ao se tratar da gestão democrática, ime-
diatamente referem-se à participação, seja ela dos profissionais da educação
na elaboração do PPP das escolas ou da equipe escolar (professores, equipe
gestora, alunos, funcionários e famílias).
Nessa esteira, Riscal (2009), considera ainda que a concepção de gestão
democrática possui diferentes definições e formas de implementação, pois
o fato de a legislação em vigor determinar de forma veemente que a gestão
da educação deve ser democrática obrigou a maioria dos sistemas de ensino,
municipal, estadual e federal a adotar, de forma mais sutil ou mais expressiva,
mecanismos de participação da população” (p. 74).
Nessa perspectiva, podemos perceber que participação da comunidade
escolar, pode referir-se à “intervenção dos profissionais da educação e usuá-
rios (alunos e pais) na gestão da escola” (LIBÂNEO, 2001, p. 113, parênte-
ses no original). O autor ainda acrescenta dois sentidos dessa participação:
o primeiro “como meio de conquista da autonomia da escola [...] consti-
tuindo-se como prática formativa, como elemento pedagógico, metodológi-
co e curricular” e outro sentido de participação apontado pelo autor repre-
senta “processo organizacional em que os profissionais e usuários da escola
compartilham, institucionalmente, certos processos de tomada de decisão
(LIBÂNEO, 2001, p. 113).
De acordo com o autor supracitado, a participação é um dos princípios
mais importantes para a democratização da escola, pois defende a qualidade
da educação oferecida e a relação entre todos os segmentos da escola.
A participação é o principal meio de se assegurar a gestão democrática da
escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no pro-
cesso de tomada de decisões e no funciona mento da organização escolar.
Além disso, proporciona um melhor conhecimento dos objetivos e metas,
da estrutura organizacional e de sua dinâmica, das relações da escola com
a comunidade, e favorece uma aproximação maior entre professores, alu-
nos, pais (LIBÂNEO, 2001, p. 79).
No entanto, a participação só se torna efetivamente democrática quan-
do os sujeitos da escola, na possibilidade de participar, têm livre abertura para
expor suas ideias e dúvidas, sem distinção dos demais. Para Gadotti (1994,
106
p. 2) “participar da gestão significa inteirar-se e opinar sobre os assuntos que
dizem respeito à escola, isso exige um aprendizado que é, ao mesmo tempo,
político e organizacional”. Para o autor, a gestão democrática não é a solução
de todos os problemas da escola, contudo possui provas teóricas e experimen-
tais de que ela é essencial à qualidade da educação.
Gohn (2011) baseada na concepção democrática de participação, en-
tende que participar na gestão das escolas públicas é, ao mesmo tempo, divi-
dir responsabilidades com a comunidade educativa. Desse modo, defende a
ideia de que o tema da participação,
[...] é uma lente que possibilita um olhar ampliado para a História.
Nesse olhar, observamos que as questões envolvidas no universo da par-
ticipação são muito mais antigas que a própria formulação do conceito.
O entendimento dos processos de participação da sociedade civil e sua
presença nas políticas públicas nos conduz ao entendimento do proces-
so de democratização da sociedade brasileira; o resgate dos processos
de participação leva-nos, portanto, às lutas da sociedade por acesso aos
direitos sociais e à cidadania. Nesse sentido, a participação é, também,
luta por melhores condições de vida e pelos benefícios da civilização
(GOHN, 2011, p. 16).
Expostas algumas considerações sobre o sentido de participação de-
mocrática, avançamos para a sua importância na democratização da gestão.
Nesse sentido, a partir dos autores estudados, pudemos perceber que a par-
ticipação como mecanismo para a construção da prática democrática nas es-
colas públicas brasileiras, constitui-se como elemento primordial, tendo em
vista que o envolvimento de toda a comunidade escolar nas tarefas e funções
da escola contribui significativamente na sua dinâmica na medida em que, ao
se responsabilizarem por parte das obrigações da escola, logo, estarão respon-
sabilizando-se pelo ensino e pela aprendizagem das crianças.
Segundo Paro (2001), para que as instituições escolares possam am-
pliar o número e a qualidade da participação das famílias, é preciso que a
educação escolar tenha maior proximidade com a educação familiar, cujo
diálogo, respeito e conhecimento em ambos os lados possam fazer parte da
relação escola e família. Nesse contexto,
107
[...] a participação da população na escola ganha sentido, assim, na forma
de uma postura positiva da instituição com relação aos usuários, em espe-
cial aos pais e responsáveis pelos estudantes, oferecendo ocasiões de diá-
logo, de convivência verdadeiramente humana, em suma, de participação
na vida da escola [...] mostrando-lhes quão importante é sua participação
e fazendo uma escola pública de acordo com seus interesses de cidadãos
(PARO, 2001, p. 98).
Libâneo (2001, p. 114) acredita que para tornar essa participação da
comunidade mais efetiva na escola, é necessário que eles se sintam “respon-
sáveis pelas decisões que os afetam num âmbito mais amplo da sociedade”,
ou seja, incluí-los nos processos decisórios da escola, deixando clara a impor-
tância da sua participação para a melhoria e desenvolvimento da instituição,
bem como tornar acessível as informações, o conhecimento e a avaliação dos
serviços escolares.
Nessa perspectiva, indo ao encontro de Freire (2004), acreditamos e
defendemos a construção de uma escola pública democrática, a partir do to-
mar parte, isto é, de fazer da escola “sua” responsabilidade sem medir esforços
para contribuir com o que for necessário.
Tudo o que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vivem em
torno da escola, e dentro da escola, no sentido de participarem, de toma-
rem um pouco o destino da escola na mão, também. Tudo o que a gente
puder fazer nesse sentido é pouco ainda, considerando o trabalho imenso
que se põe diante de nós, que é o de assumir esse país democraticamente
(FREIRE, 2004, p. 7).
Ainda que a participação dos profissionais da educação seja indispen-
sável às tarefas escolares, acreditamos que para a democratização da gestão da
escola, é preciso superar a ideia de participação somente destes, limitando-se
aos mandos e comandos do Estado, é preciso,
[...] envolver principalmente os usuários e a comunidade em geral, de
modo que se possa produzir, por parte da população, uma real possibili-
dade de controle democrático do Estado no provimento de educação es-
colar em quantidade e qualidade compatíveis com as obrigações do poder
público e de acordo com os interesses da sociedade (PARO, 2001, p. 97).
108
Outro princípio fortemente citado nas pesquisas e estudos sobre a ges-
tão democrática é o da autonomia escolar, o qual representa um dos princí-
pios mais relevantes na e para a democratização da gestão, já que a possibilita
a “livre escolha de objetivos e processos de trabalho e a construção conjunta
do ambiente de trabalho” (LIBÂNEO, 2001, p. 80). Acrescentando a essa
ideia, o autor ressalta que a autonomia escolar está no poder decisório da
escola sobre suas ações e organização, bem como na independência da admi-
nistração de seus recursos financeiros, administrativos e pedagógicos.
A autonomia no cotidiano das escolas, representa o poder de decidir
os rumos da instituição, definindo seu projeto pedagógico, traçando o seu
próprio caminho, administrando seus recursos financeiros, pedagógicos e
administrativos. Ainda que a escola dependa funcionalmente das políticas
públicas, cabe ao poder central responsabilizar-se pela validade autônoma
das instituições, ao passo que a autonomia não pode ser apenas um discurso
político, segundo o qual o Estado se exime das suas responsabilidades com a
escola e declara autonomia à elas, porém sem condições financeiras, humanas
e materiais (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012).
Acreditamos que essa falsa autonomia, representada pela transferência
de responsabilidades do Estado para as escolas, configura-se como um meca-
nismo de monitoramento do próprio Estado sobre os municípios, pois,
[...] o Estado, ao mesmo tempo em que define prioridades e metas, mo-
nitora os resultados, conforme as orientações do novo modelo gerencial.
Portanto, as propostas de descentralização e autonomia atuais têm mais a
ver com a transferência de encargos de uma esfera para a outra ou com a
terceirização’, como preferem alguns, do que propriamente ampliação do
poder de decisão, mantendo-se a tendência centralizadora (CARVALHO,
2011, p. 15, aspas no original).
No que se refere aos órgãos colegiados da escola, são considerados ele-
mentos essenciais na construção de uma gestão democrática, todavia, a ga-
rantia apenas da sua existência normativa tampouco garante a sua validade,
tendo em vista que são órgãos de representação participativa e, como vimos
anteriormente, a participação da comunidade e das famílias ainda se apresen-
ta como uma falácia na escola.
109
Em síntese, o Conselho de Escola ou Conselho Escolar, configura-se
como órgão deliberativo, consultivo, avaliativo e fiscalizador, compete “[...]
discutir a proposta pedagógica da escola, a qualidade do ensino, o Currículo,
apontar falhas e buscar soluções conjuntas para os problemas” (DALBERIO,
2008, p. 6). Por meio da participação da comunidade escolar, discute-se, im-
plementa-se, acompanha-se, avalia-se todas as decisões sobre a vida da escola.
No que se refere o funcionamento e objetivo desse conselho, destacamos que
ele é considerado um instrumento de democratização devido à sua compo-
sição, que conta com a participação de diferentes membros da comunidade
escolar cuja função é o debate e a construção do saber.
Em contrapartida, a estrutura atual dos órgãos colegiados das escolas re-
presenta uma distorção da sua real função. Paro (1998, p. 102) evidenciou que o
Conselho de Escola do modo como está organizado atualmente “[...] fica, quase
sempre, na dependência da vontade política do diretor para funcionar adequada-
mente, de maneira a servir como veículo de democratização da escola”.
O Conselho de Classe é um órgão muito associado ao anterior, Dalberio
(2008, p. 7) acredita que existe um equívoco no seu uso e compressão, pois
ele “deve representar um apoio, uma estratégia de ação, na qual todos se
reúnem tendo em vista a melhoria dos resultados do processo de ensino”.
É muito comum a confusão sobre o sentido desse órgão nas atividades da
escola, contudo, é neste espaço que são discutidos e pensados, métodos para
proporcionar melhores condições de ensino e aprendizagem, bem como rever
atitudes e soluções a respeito da vida escolar dos alunos.
A APM representa outro órgão colegiado da escola, que auxilia na gestão
das atividades escolares (administrativas e financeiras), com o auxílio de pais, pro-
fessores e funcionários. Sem fins lucrativos, ela é uma entidade jurídica a qual
apoia financeiramente a gestão escolar, gerando recursos e aplicando-os. Segundo
Paro (2000), na escola pública, a APM é uma das formas de garantia de ação
coletiva, o autor ressalta que ela é uma instituição auxiliar, de caráter obrigatório,
que tem como finalidade colaborar no aprimoramento do processo educacional,
na assistência à escola e na integração família, escola e comunidade.
O Grêmio Estudantil representa outro órgão de participação, porém
voltado para a formação civil e política dos alunos. Dalberio (2008) ressalta
que este órgão deve ser ainda mais difundido nas escolas, devido ao próprio
110
sentido da sua existência, pois já que a escola existe em função da formação,
desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, nada mais justo que propiciar
espaços para que estes possam experienciar a vida em sociedade, vivenciando
essas situações no espaço da escola. Nesse sentido, o autor, acredita que “a
escola existe para ele, para sua boa formação em todos os aspectos. Precisa
aprender também a ler criticamente o seu mundo, conhecer e reivindicar seus
direitos, cumprir conscientemente os seus deveres e aprender a ser cidadão
(DALBERIO, 2008, p. 7).
E por fim, outro princípio orientador das práticas de gestão democráti-
ca das escolas públicas brasileiras, muito comum nos textos e discussões entre
autores, refere-se à seleção dos diretores de escola, em especial, seus diferentes
meios de acesso ao cargo evidenciados no país. No Brasil, o centro das dis-
cussões e decisões na escola está concentrada na figura do diretor, sendo ele
o responsável último legal por tudo e todos na instituição. Por tudo isso, a
profissão de diretor de escola recebe inúmeras críticas, desde a forma como
ele é admitido ao cargo até à sua função, tida como preposto do Estado. De
acordo com Paro (2011, p. 44), para a escolha dos diretores escolares existem
três modalidades mais utilizadas, quais sejam: a “nomeação pura e simples
pelo poder executivo, concurso público, e eleição pela comunidade escolar”.
No Brasil essas diferentes modalidades, são representadas segundo
Vieira e Vidal (2015, p. 27) pela predominância de “seleção 9,7%, eleição
19,9% e seleção mais eleição 13,2%, indicação técnica 11,4%, indicação po-
lítica 21,7% ou outra forma de indicação 12,8%”, isso indica que grande
parte das escolas públicas brasileiras tem seus diretores escolares indicados ora
por questões técnicas ora por questões políticas.
Essa posição expressiva nos dados das autoras aponta para uma defesa
da figura do diretor como um continuum do Estado, o qual deve obedecer
e cumprir cegamente aquilo que seu superior estabelece, caso contrário, por
indicação ele assume o cargo, por indicação ele também poderá ser substi-
tuído. Paro (2011) tece sua crítica sobre a admissão destes profissionais por
nomeação/indicação do poder executivo, pois o candidato é escolhido não
pela sua capacidade, experiência ou conhecimento, e, sim, pela afinidade com
o partido, trazendo como embasamento o critério político-partidário.
Quanto à escolha por concurso público, Paro (2011, p. 46) faz a crítica
111
sobre essa modalidade, pois entende que ela “tem como justificativa a pretensa
imparcialidade presente no critério técnico, aferido em exames, que não favorece
ninguém pessoalmente, mas visa selecionar de forma objetiva os que provarem
possuir os conhecimentos exigidos”. O autor considera que nessa modalidade o
critério mais valorizado é o conteúdo técnico dos candidatos, desconsiderando
outros aspectos de suma importância para o cargo de diretor escolar.
A opção pela seleção de diretores por meio das eleições é considerada
a melhor entre as modalidades mais citadas, pois atende aos princípios de-
mocráticos, ao mesmo tempo em que valoriza os interesses dos usuários da
escola. Ledesma (2008, p. 37) evidencia que a opção pelas eleições de dire-
tores vem “[...] sendo identificada como mecanismo que visa superar formas
tradicionais e clientelistas de indicação dos dirigentes”, ainda muito presentes
nos estados brasileiros.
No entanto, diante do contexto político o qual estamos inseridos, ve-
mos que a democracia e autonomia nas escolas públicas vêm se perdendo em
meio as novas reformas e políticas públicas para a educação, representadas
pelas imposições conservadoras do atual governo, as quais tendem a favo-
recer a militarização das escolas, com controle ideológico, redução do papel
do Estado, reformas econômicas e administrativas, as quais reproduzem um
desmonte da educação pública induzindo assim à privatização dos serviços
públicos. Desse modo, chamamos a atenção, para as faltas de políticas públi-
cas que garantem de fato, condições de funcionamento dessas instituições e
portanto, validem a democracia e autonomia das escolas públicas brasileiras.
Considerações Finais
Sob o olhar da literatura brasileira, observamos que a gestão demo-
crática é a melhor forma de conduzir as instituições escolares. Não obstante,
ainda que a efetivação da gestão democrática nas instituições escolares en-
contre-se a mercê das políticas, vimos na literatura a valorização dos atores
escolares, ao destacarem as ações democráticas desenvolvidas pelas escolas
públicas brasileiras, mesmo em contexto adverso. Além disso, observamos
uma preocupação em oferecer às instituições escolares um suporte teórico
sobre suas decisões, na indicação de meios e alternativas de apoio, para irem
além do cumprimento das determinações legais.
112
A defesa por uma gestão democrática da escola pública, é uma posição
comum entre os políticos, teóricos e profissionais da educação, mesmo por-
que ela possui características importantes na luta pelos direitos da sociedade,
bem como pela qualidade da educação. Além disso, a gestão com princípios e
ideais democráticos nas escolas, garantem uma liberdade crítica de expressão,
onde os envolvidos têm abertura para expor suas ideias, angústias e defender
aquilo em que acreditam. Dessa forma, diante dos inúmeros desafios urgen-
tes e emergentes da escola pública, acreditamos que a gestão democrática das
escolas se apresenta como elemento de apoio para o encaminhamento das
suas soluções.
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115
Capítulo 7
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL
E EM PORTUGAL: UM ESTUDO
COMPARADO BASEADO NA TEORIA
CRÍTICA DA SOCIEDADE
Stelamary Aparecida Despincieri LAHAM 38
Carlos da Fonseca BRANDÃO39
Resumo
O capítulo que se segue, apresenta os resultados de uma pesquisa de
doutorado e está inserida no Programa de Pós-Graduação em Educação da
Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (UNESP) Campus de Marília, na linha de pesquisa
de Políticas Educacionais, Gestão de Sistemas e Organizações, Trabalho e
Movimentos Sociais. O presente texto apresenta um estudo comparado e
internacional tendo como polos de comparação a Universidade Virtual do
Estado de São Paulo (Univesp) no Brasil e a Universidade Aberta de Portugal
(UAb), de Portugal. A partir da perspectiva da Teoria Crítica da Sociedade,
da abordagem crítica da educação comparada, da reflexão sobre a educação
a distância inserida em uma sociedade globalizada e neoliberal, buscamos
como objetivo verificar em que medida os sentidos e significados revelados
38 Professora Doutora – Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA – Assis. E-mail:
stelamary.laham@fema.edu.br
39 Professor Doutor Adjunto do Departamento de Educação da UNESP - Assis e do Programa de
Pós-graduação em Educação da UNESP - Marília. E-mail: carlos.brandao@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-618-3.p115-143
116
acerca da EaD nessas instituições, indicam as tensões e contradições no pro-
cesso de implantação e operacionalização dos cursos, que se aproximam ou
distanciam da racionalidade tecnológica. Para isso, foi realizado um estudo
descritivo de abordagem qualitativa com base na pesquisa bibliográfica e do-
cumental por meio da Educação Comparada. Os instrumentos de coleta de
dados utilizados foram: levantamento de revisão bibliográfica que trata dos
aspectos históricos e legais da educação distância em Portugal e no Brasil, do-
cumentos oficiais das instituições, documentos oficiais de órgão do governo
dos dois países, documentos oficiais de organismos internacionais que versam
sobre o tema. O referencial teórico para análise teve como base os concei-
tos de racionalidade tecnológica e pensamento unidimensional de Herbet
Marcuse. Como resultado evidenciamos que a EaD, nas instituições pesqui-
sadas, fortemente associadas às tecnologias digitais da informação e comuni-
cação, apresentam marcas da racionalidade tecnológica, e que quanto mais se
aproximam das características da globalização e o neoliberalismo impostos à
educação, imputam aos indivíduos o pensamento unidimensional.
Palavras-chave: Educação Comparada. Educação a Distância. Educação
Superior. Teoria Crítica da Sociedade. Racionalidade Tecnológica.
Introdução
As relações entre os homens, o trabalho e a própria inteligência, se pau-
tam na mudança incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos
(THOMPSON, 2011). Assim, a era eletrônica, resultante das invenções tec-
nológicas, se impõe ao homem, transformando seus sentidos e seu pensa-
mento (BELLONI, 2001, p. 58). Sociedade do Conhecimento, Sociedade da
Informação, Sociedade em rede, são algumas denominações criadas e consolida-
das no imaginário social recente, para descrever o presente momento em que a
humanidade está imersa. Denominações essas que carregam em si, conceitos im-
buídos de ideologia. Independente do conceito que se adote, o fato é que novas
maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das comuni-
cações e informação por meio de tecnologias digitais cada vez mais aprimoradas.
Uma denominação que entendemos interessante apresentar é a de Mill
(2010, p. 29), o qual nomeia esse período contemporâneo de “Idade Mídia”.
117
Para esse autor, a comunicação em massa, cada vez mais rápida, alinhada aos
aparatos tecnológicos do estado capitalista neoliberal “[...] trouxe a possibi-
lidade de capilarizar a sociedade e colonizar a subjetividade de cada um dos
seus membros”, apresentada e posta em prática como “uma nova forma de
manipulação capitalista, mais perversa, apesar de menos agressiva aos indiví-
duos” (MILL, 2010, p.29). Corroborando com essa ideia, Belloni (2001, p.
54) argumenta que a novidade não mais reside na mecanização do trabalho,
como antes. Agora, a novidade passa pela mecanização da vida em geral, da
esfera privada da vida social: o lazer, a cultura, a vida doméstica. O que pre-
senciamos é uma era em que o capital faz uso das tecnologias de informação
e comunicação, e das as técnicas e tecnologias que estruturam as novas redes
comunicacionais, “para colonizar os indivíduos em si, estando interessados
nisso ou não”. Ou seja, por meio da tecnologia, emergem novas formas de
controle e coesão social cada vez mais eficazes, “uma vez que elas são também
mais agradáveis.
Diante desse cenário, é interessante considerar que, além disso, nos
últimos anos, o capitalismo conseguiu produzir um discurso tecnológico,
em que se disseminou certa obrigatoriedade na adoção das tecnologias di-
gitais. Esse movimento estimulou não apenas o desenvolvimento de novas
tecnologias de base informacional e comunicacional, mas também criou certa
necessidade” de incorporação dessas tecnologias nos diversos setores da eco-
nomia, e o setor educacional não poderia ser exceção. (MILL, 2010, p. 32).
É nesse sentido que Costa e Silva (2019, p. 6) trazem como um novo
conceito relacionado a educação o termo “novo neoliberalismo acadêmico”,
conceito este que segundo as autoras, “descreve a exacerbação das caracte-
rísticas historicamente registradas na mercantilização capitalista no ensino
superior.” Costa e Silva (2019) explicam que os organismos internacionais
moldaram as características do ensino superior de acordo com os ditamos do
neoliberalismo, criando políticas com promessa de serem inclusivas, como a
oferta de cursos em novas modalidades que seriam mais flexíveis, a cultura
do empreendedorismo nas universidades, difusão do gerencialismo e a preca-
rização das relações de trabalho nas instituições de ensino superior públicas.
Dessa forma, no contexto estrutural da mundialização do capital, o qual
determinou mudanças profundas no mercado mundial e em todas as esferas da
118
sociedade, as novas tecnologias de informação e comunicação são projetadas na
relação de produção capitalista. E nesse sentido, na área educacional, passam
a configurar as linhas que dão origem a uma geração da Educação a Distância
(EaD). É nessa fase contemporânea da EaD, marcada pelo redimensionamento
espaço-temporal do processo ensino-aprendizagem viabilizado por meio das
novas tecnologias de informação e comunicação, especialmente pelo uso do
computador pessoal e da internet, que essa pesquisa é delimitada.
A relação da expansão da modalidade de Educação a Distância com o
neoliberalismo, como uma proposta de para a orientação mercantilista do en-
sino, que enquadra a educação como um serviço a ser comercializado, não é
nova. Autores como Belloni (2001), Frigotto (2003), Mill (2006) e Nascimento
(2011) ressaltam que que as demandas atuais de educação foram formuladas a
partir de novas categorias – sociedade do conhecimento, qualidade total, edu-
cação para a competitividade, formação abstrata e polivalente. Nesse sentido,
Nascimento (2016, p. 26) destaca dentre essas novas categorias, a “sociedade
do conhecimento”, pois, segundo ele, é “usada pelos ideólogos do capital para
fetichizar” as novas tecnologias de informação e comunicação na medida que
alegam que é por meio dela que a informação e o acesso ao conhecimento
potencializam a vida em sociedade.” Essas concepções têm sido amplamente
difundidas no imaginário dos sujeitos sociais pela ideologia dominante e estão
presentes inclusive no âmbito acadêmico e institucional.
Medeiros (2019), ao realizar uma pesquisa comparada entre as for-
mas de gestão da Educação a distância dos Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia no Brasil, constatou por meio de questionários destina-
do aos gestores dessas instituições que, a ideia de EaD como “caminho sem
volta” é institucionalizada por esses profissionais dessas instituições. Nesse
sentido, para Medeiros (2019, p. 146), “a ideia de ‘caminho sem volta’ é par-
te de uma representação coletiva que associa a EaD às novas tecnologias e à
necessidade de se conformar com o que está posto, de se adaptar à realidade.
Os dados estatísticos sobre a educação a distância, nos últimos anos,
são reveladores. Costa (2010, p. 38), com referência a oferta de cursos na mo-
dalidade EaD, já apontava em sua pesquisa que, após 1996, houve um signi-
ficativo crescimento do setor privado na oferta de vagas no Ensino Superior,
sendo que, como ressalta a autora, foi à partir de 2000, com a publicação da
119
Sinopse Estatística da Educação Superior: 2000 pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) que pudemos ter a
ideia da ampliação da oferta de vagas especificamente na modalidade a dis-
tância e que essa, estava na esfera privada, gerando um aumento de 4.700%,
no período de 2001 a 2006.
Atualmente, com a publicação do Decreto Nº 9.057/2017, mudanças
na legislação brasileira sobre EaD, “facilitaram” ainda mais o aumento da
oferta de cursos na modalidade. Como consequência, a expansão do sistema
ocorreu pela multiplicação de estabelecimentos isolados e faculdades da ini-
ciativa privada, que se voltavam primordialmente para o ensino de gradua-
ção; e o setor público foi orientado a manter universidades que associassem
ensino, pesquisa e extensão. Em 2020 foi ofertado o total de 19.626.441
vagas de cursos de graduação no Brasil, das quais 68,9% a distância e 31,1%
presenciais. Além disso, 95,6% das vagas foram ofertadas na categoria pri-
vada, contra 4,4% ofertadas na categoria pública. Vale dizer que, do total
de vagas presenciais, 11,9% são públicas e 88,1% são privados; das vagas a
distância, 1,0% são públicas e 99,0% são privados.
Nosso interesse nessa pesquisa não esteve ligado aos cursos ofertados na
modalidade EaD na esfera privada, pois, o caráter mercantilista da educação
nessa categoria administrativa de oferta de cursos é fato. Porém, acreditamos
importante apresentar tais dados para confirmar que a introdução de meca-
nismos tecnológicos no processo formativo corresponde às exigências de uma
sociedade identificada nos ditames da produção econômica, nos âmbitos so-
ciopolítico e artístico-cultural, os quais exigem habilidades e competências
condizentes à racionalidade técnica.
O debate travado aqui, tem relação com as instituições de ensino supe-
rior públicas, devido ao caráter que se tem colocado como grande inovação
educativo-tecnológica representada pela EaD e seu potencial democrático de
acesso à universidade. Dessa forma, políticas educacionais atreladas aos meios
de comunicação representam ações nesse campo, como por exemplo, pode-
mos perceber na justificativa para a fundação da Univesp, a quarta universi-
dade pública do estado de São Paulo: Universidade Virtual do Estado de São
Paulo, criada em 2012. Segundo Vogt (2009, p. 7) é a resposta do governo
paulista a um enorme desafio: o de expandir o ensino superior gratuito por
120
meio da ampliação do número de vagas, utilizando metodologia inovadora,
que associa o uso intensivo das tecnologias de informação e comunicação às
práticas tradicionais do ensino presencial, sem descuidar do compromisso
com a qualidade na educação superior.
Assim, como isso se dá dentro da esfera pública, tendo em vista que, as
instituições de ensino superior que oferecem cursos a distância, tem em sua
concepção e missão explicitas, a democratização e universalização do ensino,
a formação para autonomia e formação integral do sujeito, tão necessárias a
sociedade emancipada. Quais são as formas reveladas na operacionalização
desses cursos que se aproximam ou distanciam desse caráter mercantil da
educação, tendo em vista características do sistema econômico dominante?
Que tipo de racionalidade está presente? É possível que instituições públi-
cas de ensino superior consigam se desvencilhar de retóricas hegemônicas,
cujas estratégias de ensino estão inseridas em uma racionalidade tecnológica40
adaptativa que obscurece a reprodução da desigualdade social?
As palavras de Mill (2010), exemplificam nosso entendimento:
[...] as tecnologias digitais trouxeram consigo inéditas possibilidades de
comunicação ou interação entre sujeitos, isto é, trouxe-nos novas pos-
sibilidades de experimentar os tempos e espaços, pois a experiência es-
paço-temporal dos homens depende do desenvolvimento tecnológico da
época considerada. Também no âmbito do trabalho e da educação isso é
verdadeiro. Cabe questionar se as inovações tecnológicas implicam, neces-
sariamente, inovações pedagógicas (MILL, 2010, p. 48).
A existência de uma relação direta entre mudança educacional e a in-
serção de novas tecnologias e mídias digitais, da forma como é divulgada
nas propostas de EaD de algumas Instituições de Ensino Superior (IES) no
Brasil, impede a ocorrência de posições críticas ou contrárias ao processo he-
gemônico característico da sociedade capitalista aprisionando o conceito de
tecnologia a uma forma de ideologia empenhada na dominação do homem e
que obscurece a reprodução da desigualdade social.
40 O conceito de “racionalidade tecnológica” adotado para o trabalho é cunhada por Marcuse e
será mais aprofundada na seção 4 Tecnologia: Emancipação ou controle, sendo um dos conceitos
centrais para pesquisa.
121
Acreditamos que para a compreensão dessa problemática é importante
considerar as conjunturas favoráveis à implantação de programas em EaD
na sociedade atual caracterizada pela força mercadológica, que confere um
ritmo de competitividade e readaptação aos grandes avanços tecnológicos
e, sobretudo, com a supervalorização da tecnologia, impõe uma tendência à
fetichização da técnica. Além de considerar a expansão da modalidade EaD,
nos últimos tempos, amparada pela regulamentação legal do poder público.
Nesse sentido a pesquisa foi realizada por meio de um estudo compara-
do entre as instituições de Ensino Superior de Educação a Distância públicas
Universidade Aberta do Brasil (UAB) de Portugal e a Universidade Virtual
do Estado de São Paulo (Univesp) do Brasil, a fim de evidenciar aproximação
ou distanciamento ao conceito de racionalidade tecnológica. Como polos
de comparação foram eleitas a Universidade Virtual do Estado de São Paulo
(Univesp) no Brasil e a Universidade Aberta de Portugal (UAB). Essa escolha
se deu em virtude de que ambas são as únicas instituições públicas41 desses
países que ofertam apenas cursos na modalidade a distância.
A instituição que representa o Brasil na pesquisa, como já explicitado,
é a Univesp, a qual é fundada em 2012, considerada como uma das metas
do governo do Estado de São Paulo na época, e vista como prioridade da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência. Criou-se então, em 20
de julho de 2012, sob a lei nº14.836, a Fundação Universidade Virtual do
Estado de São Paulo, a Univesp, como a quarta Universidade pública pau-
lista. Uma vez institucionalizada, a Univesp passa então a primar pelo uso
intensivo das TIC “para promover a evolução social do Estado, possibilitando
a universalização do acesso ao ensino superior público e a universalização do
acesso ao conhecimento na sociedade digital” (VOGT, 2013, s/p).
Para o outro polo de comparação, Portugal, tomamos como unidade de
análise a Universidade Aberta de Portuga, instituição de ensino superior, com
sede em Lisboa. De acordo com Costa (2005), a UAB de Portugal teve os
seus Estatutos aprovados em 25 de março de 1994, nos termos do Despacho
Normativo nº 197/94, o qual passou por um processo de revisão estatutária
41 Destacamos aqui o caráter público das instituições polos de pesquisa tendo em vista a gratuidade
da oferta de seus cursos. No Brasil, a instituição Univesp é pública e gratuita aos estudantes. Em
Portugal, a instituição UAB tem caráter público, porém, os alunos pagam um valor denominado
propina. Esse assunto será mais detalhado no decorrer do estudo.
122
em 2000/2001, sendo o regimento atual publicado no Despacho Normativo
nº 9/2002, de 14 de fevereiro.
Nesse contexto, o trabalho toma como base a Educação Comparada42,
utilizando o modelo comparativo de Bereday (1972). A proposta de um
estudo de cunho comparativo não é a de apontar modelos, mas de lançar
um olhar sobre o outro, compreendê-lo e buscar aprender com suas expe-
riências (FRANCO, 2000). Com relação a análise, este trabalho se apoia no
referencial da Teoria Crítica da Sociedade, mais precisamente os conceitos
de racionalidade técnica e de unidimensionalidade do pensamento de
Herbert Marcuse (2015). Assim, para empreender essa análise, a pesquisa
utiliza como referência bibliográfica principal o ensaio intitulado Algumas
implicações sociais da tecnologia moderna, publicado em 1941, e o livro
“O homem unidimensional”, publicado em 1964. Para além dessas referên-
cias, nos pautamos também em autores que clássicos e contemporâneos que
produzem sobre o tema.
Do ponto de vista da operacionalização da investigação, trata-se de
uma pesquisa de abordagem qualitativa, de natureza básica. Quanto aos ob-
jetivos ela se caracteriza como explicativa e quanto aos procedimentos ela
se apoia no levantamento bibliográfico e documental. Entretanto o uso do
enfoque qualitativo não inviabilizou a utilização de dados quantitativos que
serviram para dimensionar a situação empírica da EaD no Brasil e Portugal.
No estudo, para levantamento de dados, foram utilizados os seguin-
tes procedimentos: a) análise de documentos oficiais do governo brasileiro
e português; b) análise de documentos oficiais de organismos internacionais
com inserção na política educacional dos países em pauta; c) análise de do-
cumentos oficiais das instituições; d) coleta de dados estatísticos referentes à
EaD no Brasil e Portugal.
Acreditamos oportuno destacar que o caminho escolhido para realiza-
ção da pesquisa tem sua base na Teoria Crítica, porém, não temos o intuito de
descaracterizar a modalidade EaD como viável ou significante, pelo contrá-
rio. O motivo de tomar esse universo para análise foi pautado na construção
de uma pesquisa que aborda a EaD para além de suas questões aparentes,
42 As escolhas teórico metodológicas para pesquisa serão apresentadas e justificadas na Seção 2 desse
trabalho, denominada “Educação Comparada e o Percurso Metodológico”.
123
no que diz respeito a métodos e técnicas de ensino. Com efeito, procuramos
encaminhar uma abordagem do objeto que se inscreva numa racionalidade
científica problematizadora das certezas já consolidadas. É nesse sentido que
tal pesquisa se justifica. Esse fator adquire peso ao identificar qual perspectiva
de formação a EaD serve de instrumento e como os fundamentos da EaD se
relacionam com os fundamentos da educação profissional tecnológica, con-
siderando o projeto educativo defendido pelas instituições de educação supe-
rior polos de comparação.
Além disso, a relevância social da investigação sobre EaD se justifica,
na medida em que esse tema tem sido pauta de discussões científicas, que
abordam as questões educacionais na atual conjuntura brasileira, de tal forma
que se constitui objeto de estudo de várias linhas de pesquisa de programas de
pós-graduação, inspiração de temas para eventos e ponto de debate na legisla-
ção de ensino e na definição de políticas públicas nacionais e internacionais.
Educação Comparada e o percurso metodológico
Nesta pesquisa entende-se a Educação Comparada como uma dimensão
dialética, reafirmando os pressupostos de Carvalho (2014) de que nesta pers-
pectiva “as semelhanças e diferenças não seriam tratadas como estanques, como
cópia ou reprodução, mas como resultado da ‘relação dialética’ entre os níveis
global e local.” (CARVALHO, 2014, p. 137). Compreendemos que mesmo
existindo a necessidade de que para realizar um estudo comparado devamos
passar por uma fase de descrever, que também se relaciona intimamente ao co-
nhecer, a Educação Comparada não pode se restringir a apenas relatar algo que
aconteceu ou a apresentar os indicadores de um determinado processo.
Nesse sentido, não há a intenção de revelar modelos para serem imita-
dos ou recusados, e sim, a de buscar por meio da comparação uma identifi-
cação de semelhanças e diferenças e à sua interpretação a partir dos contextos
a que pertencem, e tentar trazer uma compreensão do fenômeno educativo
foco da pesquisa, de forma “que permita criar categorias férteis na apreensão
das peculiaridades dos processos de apropriação dos saberes e da intervenção
prática no campo educacional” (NÓVOA; CATANI, 2000, p. 1).
Dessa forma a Educação Comparada, então, fornece condições do sur-
gimento de problemáticas a serem discutidas, refletidas, visualizadas pelos
124
sistemas educacionais, promovendo trocas, abordagens científicas, demons-
trando sua colaboração para o debate científico e não apenas como fornece-
dora de parâmetros para decisões ou políticas públicas. Assim, destacamos a
importância da educação comparada nos processos analíticos, como forma
de compreender as questões educacionais em sua totalidade. Reconhecemos
também a complexidade da análise considerando a Educação Comparada
como parte do processo metodológico. Sendo assim, os nossos argumentos
estão ancorados essencialmente nas bases do materialismo histórico-dialético,
que se apresenta no histórico da Educação Comparada configurado na pers-
pectiva crítica (Nóvoa, 2009) desse campo do saber.
Para autores como Nóvoa (2009) e Ferreira (2008), a perspectiva críti-
ca na Educação Comparada desconsidera a vertente funcionalista, principal-
mente por considerarem que tal abordagem estaria ligada a uma ordem so-
cial injusta, fomentada especialmente pelos organismos internacionais sob os
países considerados de terceiro mundo. Nessa mesma perspectiva, Carvalho
(2014) entende que o enfoque materialista dialético oferece mais possibilida-
des de evitar uma análise unidimensional ao buscar as origens das diferenças
e semelhanças entre os países nos processos sociais e históricos. Para a autora,
nesse mesmo sentido: “[...] as diferenças e semelhanças são analisadas como
expressão não de partes isoladas e sim de uma totalidade, de uma realidade
social contraditória, cuja transformação pode se dar pela ação dos sujeitos
sociais.” (CARVALHO, 2014, p. 137). E ainda, que é “[...] necessário ana-
lisar as formas de vida que estão se opondo, os conflitos de ordem econômi-
ca, as relações de trabalho, de sobrevivência, os distintos princípios e valores
que envolvem todos os membros da sociedade e dão dinamismo à história.
(CARVALHO, 2014, p. 138).
Associada a essa escolha, toda a metodologia também precisa ser
condicionada a esse olhar epistemológico, o qual será a base para investi-
gação. (MAINARDES, 2017). Assim, o trabalho, fundamenta-se na Teoria
Crítica da Sociedade, em especial, no filósofo Hebert Marcuse. Em conse-
quência, para que a comparação não seja realizada superficialmente e esteja
ancorada nos pressupostos teóricos escolhidos, consideramos as categorias
do método materialista histórico-dialético norteadoras do processo analítico
comparativo.
125
No que diz respeito à levantamento de semelhanças e diferenças entre
as unidades de comparação, o método proposto por Bereday (1972) foi esco-
lhido, o qual se apresentou como sendo o mais apropriado para realização do
desenvolvimento e operacionalização da comparação.
O método sistematizado de comparação de Bereday (1972) é apresen-
tado pelo autor em seu livro clássico “O Método Comparativo na Educação”,
o qual determina quatro passos para se realizar um estudo comparado: des-
crição, interpretação, justaposição e comparação. Bereday (1972) indica que
a descrição consiste na coleta sistemática de informações referentes ao objeto
de estudo, seguida da interpretação e análise dos dados coletados. Em segui-
da, se daria a fase de a justaposição, a qual tem a função de estabelecer uma
visão simultânea a respeito das semelhanças e diferenças. O último passo, é o
da comparação, realizado com base nas anteriores. Esses passos dão suporte
para a realização da comparação, último passo ou etapa.
É importante frisar que o objetivo principal da escolha das etapas do
método comparativo é o de elaborar a descrição de forma clara, ordenada e
rigorosa. Essa fase da pesquisa requer uma visão sistemática, uma vez que
recolher esses dados implica que a coleta também seja antecedida e acom-
panhada de reflexões. Justificamos a escolha por entendermos que o modelo
proposto por Bereday (1972) mesmo na atualidade é um modelo frequen-
temente citado, sendo bastante profícuo para realização de comparação en-
tre apenas dois países, e que permite uma “[...] análise bastante profunda”.
(BRAY, ADAMSON e MASON, 2015, p. 458). Ainda, de acordo com Bray,
Adamson e Mason (2015) “o livro de Bereday fez uma grande contribuição
para essa abordagem analítica. Até hoje seu livro é leitura essencial em muitos
cursos sobre a educação comparada e ainda tem muito a oferecer.”. (BRAY,
ADAMSON e MASON, 2015, p. 28).
Assim, concluímos que em termos metodológicos, a presente pesquisa
apresenta como característica como dialética quanto à abordagem e compa-
rativa quanto à procedimento.
EaD e Tecnologia – Emancipação ou Controle
A Educação a Distância pode ser conceituada de formas diferen-
tes, porém, com muitas similaridades, destacam-se como características
126
fundamentais: o uso de recursos tecnológicos como mediadores do processo
ensino-aprendizagem, o tempo assíncrono entre os sujeitos e a irrelevância
da distância física entre eles. A configuração dessa modalidade de ensino tem
sido alterada, conforme os contornos sociais, econômicos e políticos no de-
correr da história. Mesmo que a EaD tenha se evidenciado nas últimas déca-
das, essa forma de ensinar e aprender não é recente. As primeiras experiências
foram bastante singulares, conforme destaca Peters (2009), pois de acordo
com este autor, uma das primeiras iniciativas que conhecemos foram as epis-
tolas do apóstolo Paulo, que enviadas como cartas às comunidades buscavam
ensinar aos cristãos como viverem. No entanto, a EaD se confirmou como
método de ensino promovido entre sujeitos localizados em lugares e tempos
distintos, no século XIX, quando o mundo do trabalho passou a exigir uma
qualificação dos trabalhadores, e os meios de comunicação e os de transporte
permitiram a troca de mensagens de forma mais regular.
Atualmente, a “geração internet” (PETERS, 2009) da EaD, normal-
mente, oferta seus cursos on-line em ambientes virtuais de aprendizagem em
que tarefas síncronas e assíncronas são comuns. Além disso, agrega materiais
áudio visuais e textuais, fóruns, chats, laboratórios virtuais, recursos abertos
de aprendizagem, jogos e redes sociais. As reformulações dessa geração, para
além do uso dos recursos digitais, referem-se aos modelos de aprendizagem
fundamentados na aprendizagem colaborativa em rede a qual, segundo Peters
(2009), a “geração internet” da EaD, carrega consigo os fundamentos da so-
ciedade pós-moderna.
Assim, contemporaneamente, a EaD tem como característica pro-
porcionar uma forma de educação, de processo de ensino e aprendizagem,
na qual, os sujeitos estão separados em tempo e espaço, mediados por tec-
nologias digitais de informação e comunicação. Essa característica da EaD,
de propiciar que pessoas diferentes, tenham acesso à mesma informação em
tempos e lugares diferentes, provoca uma mudança no “[...] arranjo educa-
cional se transforma e se revela cada vez mais alinhado com as determinações
da sociedade moderna. (MEDEIROS, 2019, p. 19). Nesse sentido, é impor-
tante estabelecer que a EaD como se configura na atualidade, alinhada ao
aumento exponencial da oferta de cursos nessa modalidade, está inserida no
contexto da Sociedade da Informação ou Sociedade do Conhecimento.
127
Acreditamos pertinente para nosso trabalho esclarecer os termos uti-
lizados para designar a sociedade contemporânea, visto que, Sociedade da
Informação ou Sociedade do Conhecimento43 passam a fazer parte tanto do
discurso social, quanto da produção científica sobre temas que versam sobre
a tecnologia, inclusive na Educação.
O termo Sociedade da Informação, segundo Burch (2005, p. 7), é
adotado pelas políticas neoliberais, estabelecendo vínculos com a globaliza-
ção por meio do fortalecimento das indústrias de comunicação, tornando a
informação como veículo primordial no estágio atual do capitalismo mun-
dial. A autora ainda faz uma diferenciação entre Sociedade da Informação
e Sociedade do Conhecimento, apontando que em sua concepção, o mais
adequado seria utilizar a denominação de Sociedade do Conhecimento, ex-
plicando que,
“‘sociedade da informação’ coloca a ênfase no conteúdo do trabalho (o pro-
cesso de captar, processar e comunicar as informações necessárias), e ‘socie-
dade do conhecimento’ nos agentes econômicos que devem possuir qualifi-
cações superiores para o exercício do seu trabalho” (BURCH, 2005, p. 4).
Porém, nosso entendimento é que tanto uma quanto outra defini-
ção estão ligadas ao ideário neoliberal, pois, as duas colocam no centro da
sociedade a força motriz no trabalho, mesmo que uma tenha a ênfase no
processo (sociedade da informação) e a outra coloque a ênfase no agen-
te do processo (sociedade do conhecimento). Essas denominações trazem
consigo ação ideológica advinda do Estado e do capital e são incorpora-
das à lógica dominante nos países periféricos, sustentada por um discurso
equalizador e inerentemente democrático do uso das novas tecnologias de
comunicação e informação. Nesse sentido, a formação do sujeito caminha
para uma tendência de adaptação a essa nova configuração do capitalismo
e das exigências do mercado.
43 Castells (1999) é um dos autores mais conhecidos e citados com referência a caracterização desse
paradigma do conceito da sociedade atual e o uso das tecnologias da informação. Ele ainda utiliza os
termos de Sociedade em Rede ou Sociedade Informacional, as quais são resultado da reestruturação
do capitalismo que se apresenta por novas facetas, dentre elas a diversificação das relações de
trabalho, aumento da concorrência econômica global, flexibilidade e descentralização das empresas.
128
Ou seja, existe em tempos de globalização, uma interdependência maior
entre a produção e aquisição de conhecimento e a economia. Portanto, se em
uma sociedade globalizada o conhecimento passa a ser uma matéria-prima
da economia, um novo tipo de trabalhador com um perfil de competências
múltiplas será necessário. Diante dessa realidade, as exigências do mercado
de trabalho são por um trabalhador que altamente qualificado, versátil, fle-
xível, capaz de atuar nas mais diferentes áreas, de acordo com a necessidade
do mercado e, acima de tudo, capaz de solucionar problemas. As mudanças
tecnológicas atuam de forma que as qualificações dos trabalhadores fiquem
defasadas em grande parte, a um ritmo cada vez mais rápido, diante dos apa-
ratos de informação que operam em tempo real.
Tal esforço de esclarecimento dos conceitos apresentados são no senti-
do de relacionar a Educação, mais precisamente a Educação a Distância nesse
contexto. Segundo Bastos e Lima (2020, p. 9), a EaD está inserida no “discur-
so da sociedade do conhecimento, ou sociedade da informação no sentido da
fetichização das tecnologias, entendidas como a-históricas segundo a ideologia
dominante[...].” Corroboramos com os autores no sentido de que a EaD a
partir do advento das novas tecnologias da informação, passa a se apresentar
como uma inovação, que pode garantir democratização do ensino, por meio de
novas formas de comunicação e interação entre professores e alunos, utilizando
às novas concepções de espaço e tempo na área educacional como sua função
estratégica. Esse é o discurso ideologia dominante que alimenta o fetichismo44
tecnológico, ou seja, se apresenta como resolução de “todos os problemas”.
Dessa forma, a EaD, nos tempos atuais, está diretamente relacionada à
tecnologia digital e muitas vezes, se apresenta determinada por ela. Buscamos
também a relação dessa modalidade de ensino com o neoliberalismo, pois,
esta modalidade enfrenta os dilemas da mercantilização da educação, que
subordina os interesses educacionais à lógica de mercado.
44 Tomamos como conceito de fetichismo, aquele cunhado por Marx como “fetichismo da mercadoria
o qual está diretamente ligado ao conceito de alienação. Para Marx, o fetichismo é a transferência
do foco da análise das relações sociais para as coisas em si, ou seja, é o modo pelo qual as formas
econômicas do capitalismo ocultam as relações sociais a elas subjugadas. Marx (MARX, 1998, p. 198).
129
A tecnologia e o Pensamento Unidimensional
Nossa estratégia é aproximar a questão da recente disseminação da
EaD alicerçada e orientada pela inserção de tecnologias digitais propostas
como ações pedagógicas estratégicas no processo de ensino e aprendizagem
aos conceitos de Marcuse e do pensamento unidimensional, em vez de tomar
especificamente a própria explicação da tecnologia como base principal. Ou
seja, para compreendermos a tecnologia relacionada a educação, precisamos
localizá-la em algo que vai além da própria tecnologia, essa essência está na
compreensão do mundo social do qual ela faz parte.
Dessa forma, nosso raciocínio é guiado pela convicção de que as ideias
centrais da teoria crítica sobre tecnologia oferecem uma base para refletir so-
bre as formas como os cursos de EaD são desenvolvidos na atualidade. Para
tanto, utilizamos os estudos de Herbert Marcuse sobre tecnologia, em especí-
fico os conceitos de racionalidade tecnológica e pensamento unidimensional.
Empregamos como referência bibliográfica principal para compreensão dos
referidos conceitos, duas obras de Marcuse, sendo elas, o ensaio intitulado
Algumas implicações sociais da tecnologia moderna, publicado em 1941, e o
livro O homem unidimensional, publicado em 1964.
Marcuse é um filósofo do século XX, contemporâneo de um período
da História em que as tecnologias digitais, a internet e todo aparato45 tec-
nológico midiático e de comunicação utilizados atualmente na Educação a
Distância, ainda não existiam. Esse fato não invalida a escolha de sua teoria
para análise da presente tese, tendo em vista que Marcuse nos apresenta em
suas reflexões sobre tecnologia, “uma compreensão de estruturas e tendências
subjacentes do desenvolvimento socioeconômico e político contemporâneo
(Marcuse, 2015). Na verdade, acreditamos que as racionalidades científicas
e tecnológicas descritas por Marcuse se apresentam relevantes sobremaneira,
devido à rapidez das mudanças tecnológicas digitais, da desenfreada prolife-
ração das mídias e informações, e em consequência, o “desenvolvimento de
novas técnicas e formas de controle social” (Kelnner, 2015, p. 25). Pensar na
relação das contribuições de Marcuse para a análise da efetiva aceitação da
45 Utilizaremos nesse estudo o significado do termo “aparato” dado por Marcuse (2015, p. 77), o qual
designa as instituições, dispositivos e organizações da indústria social dominante”.
130
tecnologia na Educação, sua forma de incorporação como algo “sem volta”,
se mostra necessário e apropriado. Assim, acreditamos que a afirmação de
Marcuse em 1964, soa verdadeira nos dias de hoje:
A união de produtividade crescente e destrutividade crescente; o perigo
de aniquilação; a capitulação do pensamento e da esperança e o temor
ante as decisões dos poderes existentes; a preservação da miséria em face
da riqueza sem precedentes constituem a mais imparcial acusação (...) sua
[da sociedade] impetuosa racionalidade, que impele a eficiência e o cresci-
mento, é irracional em si mesma. (MARCUSE, 2015, p. 34).
Herbert Marcuse foi um dos primeiros pesquisadores a estudar os me-
canismos de dominação tecnológica e política que surgiram com o desenvol-
vimento da sociedade moderna. Ele realizou estudos para a compreensão das
mudanças da ciência e das tecnologias que transformaram a vida humana.
Autores como Kellner (1999), Monteiro (2017) e Delanty e Harris (2020)
afirmam que suas interpretações sobre o funcionamento das sociedades in-
dustriais avançadas, do desenvolvimento da técnica e da tecnologia, das im-
plicações sociais do desenvolvimento da tecnologia na sociedade moderna,
continuam importantes para a compreensão da sociedade contemporânea,
sobretudo no que diz respeito às contradições sociais.
Marcuse, em seus trabalhos, aponta que os indivíduos estão condena-
dos à unidimensionalidade das condições de existência, sejam elas objetivas
ou subjetivas, isso porque ele vê o capitalismo e o sistema de produção e con-
sumo os determinantes dessa situação. Essa pré-condição, inviabiliza a crítica
e não produz emancipação “[...] apenas aumenta a labuta pela existência,
reproduzindo um estilo de vida pautado na troca da liberdade pelo conforto
(MONTEIRO, 2017, p. 33).
Diante desse cenário é que Marcuse desenvolve os conceitos de racio-
nalidade tecnológica e pensamento unidimensional, ao longo de sua vida, de-
monstrando, deste modo, que os referidos conceitos não são fruto de preocu-
pações filosóficas restritas a uma época, mas atravessam grande parte da vida
desse filósofo, dedicada aos estudos de filosofia e crítica social. Para Marcuse
a questão primária se encontra no anúncio da liberação do trabalho aliena-
do mediante o desenvolvimento das forças produtivas e consequentemente a
131
constante automação da produção em sociedades de capitalismo avançado46.
O que se denuncia, entretanto, é a relação estreita entre ciência e capital em
detrimento do indivíduo, que, por sua vez, a partir do desenvolvimento da
ciência e tecnologia, realiza-se, mediante as condições de consumo e produ-
tividade crescente, numa condição subalterna frente ao aparato tecnológico.
A interpretação de Marcuse sobre o tema tecnologia não se dá de forma ma-
niqueísta, ou seja, avaliando-a, categoricamente, em termos de boa ou má.
O cerne do problema encontra-se na forma pela qual a ciência é concebida e
aplicada em sociedades de capitalismo avançado.
Assim, sendo os produtos tecnológicos produzidos nas condições do ca-
pitalismo, para Marcuse (2015) fica claro que a tecnologia não é neutra, mas
sim inserida nas relações sociais e nos sistemas de produção, a tecnologia como
tal não pode ser isolada do uso que faz; a sociedade tecnológica é um sistema de
dominação. Uma máquina pode ser neutra no sentido de que pode ser usada
para diferentes propósitos, mas está sempre localizada em um contexto social.
Ao possibilitar o progresso material, incluindo a melhoria da qualidade de vida,
a tecnologia produz uma nova falta de liberdade porque impede o indivíduo
de se tornar autônomo e o homem passa a se ver apenas em suas mercadorias.
Em última análise, a tecnologia leva à reificação e permite que o controle social
fique ancorado nas novas necessidades que o capitalismo produz.
A Educação A Distância no Brasil e em Portugal – a UNIVESP e a UAB
Como já explicitado, os polos de comparação eleitos foram a
Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) no Brasil e a
Universidade Aberta de Portugal (UAB). Essa escolha se deu em virtude de
que ambas são as únicas instituições públicas47 desses países que ofertam ape-
nas cursos na modalidade a distância.
46 Marcuse utiliza a expressão “sociedade industrial avançada” já no subtítulo de sua obra “O Homem
Unidimensional”, mas emprega também em suas obras, outros termos como “sociedade industrial
tardia”, “sociedade contemporânea avançada” ou mesmo “capitalismo tardio” como sinônimos.
47 Destacamos aqui o caráter público das instituições polos de pesquisa tendo em vista a gratuidade
da oferta de seus cursos. No Brasil, a instituição Univesp é pública e gratuita aos estudantes. Em
Portugal, a instituição UAB tem caráter público, porém, os alunos pagam um valor denominado
propina. Esse assunto será mais detalhado no decorrer do estudo.
132
A instituição que representa o Brasil na pesquisa, como já explicitado,
é a Univesp, a qual é fundada em 2012, considerada como uma das metas
do governo do Estado de São Paulo na época, e vista como prioridade da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência. Criou-se então, em 20
de julho de 2012, sob a lei nº14.836, a Fundação Universidade Virtual do
Estado de São Paulo, a Univesp, como a quarta Universidade pública pau-
lista. Uma vez institucionalizada, a Univesp passa então a primar pelo uso
intensivo das TIC “para promover a evolução social do Estado, possibilitando
a universalização do acesso ao ensino superior público e a universalização do
acesso ao conhecimento na sociedade digital” (VOGT, 2013, s/p).
Para o outro polo de comparação, Portugal, tomamos como unidade
de análise a Universidade Aberta de Portugal, instituição de ensino supe-
rior, com sede em Lisboa. De acordo com Costa (2005), a UAB de Portugal
teve os seus Estatutos aprovados em 25 de março de 1994, nos termos do
Despacho Normativo nº 197/94, o qual passou por um processo de revisão
estatutária em 2000/2001, sendo o regimento atual publicado no Despacho
Normativo nº 9/2002, de 14 de fevereiro.
Brasil e Portugal iniciaram a oferta de cursos a distância para formação
em nível superior, em momentos parecidos de suas histórias, mesmo que
em tempos diferentes. Portugal, logo após a Revolução dos Cravos de 1974,
período do início da redemocratização no país, cria em 1986 a Universidade
Aberta de Portugal (UAb). Nesse mesmo movimento, o Brasil, após a consti-
tuição de 1988, intensifica a oferta de programas de formação da sua popu-
lação por meio da modalidade a distância (como descrito na seção 3), culmi-
nando na criação da Universidade Aberta do Brasil em 2006, e em sequência,
da Univesp no Estado de São Paulo em 2012.
Outro fator que pode ser considerado como relevante neste período para
os dois países é a inserção deles em comunidades internacionais, a de Portugal
vem logo após a Revolução de 1974, em um momento em que está aconte-
cendo sua inserção à Comunidade Econômica Europeia (CEE), e que trazem
grandes desafios a este país em termos de se adequar às exigências desta nova
realidade. No Brasil, as discussões sobre a reforma têm início com a abertura
política que se dá com o fim do governo militar, no início dos anos 1980, e
a reforma vem quando se discute a implementação do Mercado Comum da
133
América do Sul (MERCOSUL), e da Área de Livre Comércio das Américas
(ALCA), no final da década de 80 e início dos anos 90 do século XX, o que
também traz exigências de melhoria em seus indicativos sociais e educacionais.
Nesse sentido, podemos identificar uma diferença tendo em vista a for-
ma como cada instituição inicia sua oferta de cursos em EaD. Portugal, por
meio da UAb, fundada em 1986, se vê inserida em uma geração da modalida-
de de ensino, na qual, não se utiliza tecnologias digitais, como a internet e os
ambientes virtuais de aprendizagem. Essa experiência, ao nosso entendimento,
permite a possibilidade de amadurecimento e maior reflexão sobre o processo
de oferta de cursos a distância, situação que a Univesp não pode usufruir, tendo
em vista sua recente implantação. Ou seja, a Univesp já “nasce” dentro de uma
geração da EaD completamente on-line. Uma experiência em que a comuni-
cação era menos imediata, com todos os entraves que puderam ser observados,
são a UAb a possibilidade de uma mudança de processo, não apenas com re-
lação ao uso das tecnologias, como também, com a forma de interagir com os
alunos. Essa é, ao nosso ver, uma análise importante, pois, pode influenciar a
forma como os agrupamentos de alunos são realizados hoje nas instituições,
bem como a própria relação desses alunos com os docentes.
Ainda em termos comparativos, identificamos que as instituições UAB
e Univesp possuem propostas pedagógicas como padrão de funcionamento
diferentes, sendo a UAB uma “organização de tipo virtual” e a Univesp uma
organização de “tipo central-polos.” De acordo com Mill (2012, p.83). Uma
organização de tipo virtual, “funciona quase que completamente em suportes
virtuais e sem significativo apoio presencial ao aluno e sem necessariamente
ser complementado por outras mídias físicas”, e uma organização de tipo
central-polos é “[...] estruturada a partir de uma central de concepção, pro-
dução e oferecimento dos cursos, em parceria com vários polos de recepção e
apoio presencial ao aluno.
Dedicado à circulação de materiais diversos e aos fluxos de informa-
ções, o sistema logístico de EaD influencia diretamente o modelo de atendi-
mento aos alunos, a concepção pedagógica, de personalização da formação e
de flexibilidade temporal, espacial e curricular, entre outros aspectos.
Esse tipo de similaridade quanto aos eixos de direção eleitos pelas ins-
tituições já era esperado tendo em vista o contexto em que estão inseridas
134
em seus países. O que se espera desvelar adiante é se esse discurso pautado
no ideário neoliberal, se materializa na manutenção e de desenvolvimento da
classe dominante, que, por sua vez, coaduna com o ideário neoliberal.
De acordo com os documentos oficiais das instituições para a compa-
ração dos modelos pedagógicos das universidades podemos observar, em jus-
tapondo os princípios norteadores das duas propostas de modelo pedagógico,
que o “aluno como centro do aprendizado”, a “interação” e “inclusão digitais
são pilares que se repetem nas duas instituições. Princípios como “ampliação
do ensino superior” e “formação para o exercício profissional” não se repe-
tem, porém, ao analisarmos o histórico das instituições e seus documentos
oficiais, encontramos os mesmos termos.
Identificamos que tanto a UAB quanto a Univesp não deixaram de
apresentar um discurso muito próximo, tendo em vista que são resultados
das diversas conferências internacionais sobre educação que vêm acontecen-
do desde a década de 1950 e das políticas econômicas adotadas pelos dois
países, e que são os fatores preponderantes na implantação dessas instituições.
Segundo Lima (2005) e Leher (2010) isso ocorre pelo fato de que a globa-
lização dos processos culturais e econômicos e o advento da “sociedade da
tecnologia e da informação”, centradas no neoliberalismo, apresentam novas
demandas ao processo de ensino operadas no capitalismo global.
Após partirmos da relação entre os eixos balizadores da proposta pe-
dagógica das instituições, nos debruçamos nos modelos pedagógicos de cada
universidade. Tanto o modelo pedagógico da Univesp quanto o da UAB são
padronizados para a graduação. Ou seja, todos os cursos e suas respectivas
disciplinas ou componentes curriculares devem seguir a mesma formatação.
De acordo com os documentos oficiais das instituições para a comparação dos
modelos pedagógicos das universidades evidenciamos em ambos, um grande
destaque na utilização das situações de aprendizagem mais comuns descritas
nas metodologias ativas, com uma ênfase no lema do “aprender a aprender”,
na busca pela autonomia do aluno e aquisição de habilidades e competências.
Nesse sentido, para Silva (2014), em sua análise realizada com base
na Teoria Crítica da Sociedade, essa concepção de aprendizagem autônoma
fomenta o enfraquecimento da subjetividade individual, uma vez que inibe
o surgimento de um indivíduo autônomo tendo em vista que a mediação é
135
guiada unicamente por uma racionalidade técnica. Em continuidade à aná-
lise, verificamos que os documentos que descrevem os modelos pedagógicos
de Brasil e Portugal, sendo o Plano de Desenvolvimento Institucional (SÃO
PAULO, 2018) e Modelo Pedagógico Virtual (UAB, 2018), respectivamen-
te, e justapormos as estratégias de trabalho docente ou estratégias de ensino
descritas, observamos similaridade e alinhamento com o referencial filosófico
e teórico adotado em seus projetos.
Observamos ao comparar as atividades de cunho teórico-prático des-
critas como balizadoras dos projetos pedagógicos dos cursos que tanto a
UAB quanto a Univesp propõem atividades baseadas nas metodologias ati-
vas. Segundo Leal e Sales (2021, p. 2), essa condução da ação educativa é
demandada aos professores das instituições e está na ordem do discurso de
inovação no ensino superior “[...] e têm como alvo fabricar estudantes ativas/
os, autônomas/os, empreendedores e competitivas/os a fim de atender ao
funcionamento da ‘sociedade da inovação’”.
Nessa direção, o conceber a Educação como a formação do indivíduo
para adquirir habilidades e competências liga-se à formação pelo princípio do
trabalho, que está circunstanciada pela forma esse assume na sociedade atual,
bem como pelos requisitos de formação impostos pelo capitalismo. É o que
podemos chamar, segundo Adorno (1995, p.33) de “racionalização progres-
siva”, ou seja, uma forma de instrumentalizar procedimentos da produção
industrial, o que para o autor, elimina da aprendizagem a real aquisição da
experiência no ofício”.
Nesse ponto é que identificamos esses fenômenos como marcas da ra-
cionalidade técnica nas instituições (MARCUSE, 2015), na medida em que
as práticas de formação as orientando para a exterioridade dos sujeitos, ou
seja, para a prática que deverão conhecer e manipular instrumentalmente e
investem nas práticas operacionalizadas em um curto espaço-tempo da for-
mação e na neutralidade dos sujeitos.
Apontamos dessa maneira que a similaridade encontrada evidencia
que, mesmo sendo essas instituições de caráter púbico, com finalidade pri-
meira de universalização e democratização do acesso ao ensino superior, as
marcas da globalização e do ideário neoliberal estão presentes e a serviço do
capital internacional, na medida em que as instituições se colocam na “[...]
136
função de articulador entre o discurso pedagógico e o cenário ideológico do
capitalismo contemporâneo.” (DUARTE, 2001, p. 69).
Ao justapormos as formas como as duas instituições organizam o tra-
balho docente, podemos observar que existe uma divisão entre o papel do
docente e de acompanhamento pedagógico, parcialmente semelhante nos
dois países. Tanto a UAB quanto a Univesp, além dos docentes, contam com
a figuras mediadoras no processo de ensino e aprendizagem, sendo elas tutor
na UAB e supervisor, facilitador e medidor na Univesp.
Porém, ao nos debruçarmos na comparação, podemos verificar que
existem diferenças marcantes na divisão de trabalho pedagógico entre as uni-
versidades, tendo em vista que, o profissional denominado como “o docente
nas instituições tem funções diferentes, as quais determinam diretamente a
relação professor-aluno.
Na Univesp, o quadro de docentes é composto por duas figuras, pro-
fessores responsáveis pela disciplina, e o professor autor conteudista (SÃO
PAULO, 2018 p. 62). Esses profissionais, não mantém contato com os alu-
nos, não há a interação direta entre esses sujeitos do processo educacional.
Para tanto temos mais três funções, ocupadas também por professores de
formação (UNIVESP, 2021), conforme exigido pela instituição em seus do-
cumentos oficiais, sendo eles os interlocutores do processo: supervisor, faci-
litador e medidor.
Na UAB, por sua vez, o professor docente é aquele que produz o mate-
rial didático da disciplina e realiza a mediação com os conteúdos na platafor-
ma virtual de aprendizagem da instituição. Nessa universidade, o docente é o
responsável pela sua turma até o número de 50 alunos. Diante desses dados,
inferimos que, existe uma fragmentação mais evidente na organização do tra-
balho docente na Univesp, em comparação com a UAB, o que acarreta uma
interação/relação também fragmentada entre professor-aluno.
Na perspectiva de Türcke (2010, p.90), as novas tecnologias permitem
a flexibilização de tempo e espaço e permitem às instituições manejo dife-
renciado na organização das ofertas dos cursos no que diz respeito à relação
de professores e alunos, porém, reforça a impossibilidade da realização da
proximidade humana”. Para o autor, quanto mais meios existirem na comu-
nicação, quanto mais interlocutores forem responsáveis pela comunicação e
137
interação mediada pelas tecnologias, não há o envolvimento necessário para
a construção das relações.
Em continuidade à análise das categorias comparativas elencadas para
essa pesquisa, chegamos à categoria da Comunicação, assim, buscamos ex-
trair dos documentos oficiais das instituições polos de pesquisa, a descrição
dos sistemas de comunicação que cada universidade utiliza na atualidade,
tendo em vista aspectos pedagógicos e de comunicação com público externo.
Ao justapormos os dados colhidos dos documentos analisados sendo eles o
Plano de Desenvolvimento Institucional da Univesp (SÃO PAULO, 2018) e
o Modelo Pedagógico Virtual (UAB, 2018).
Em termos de utilização de tipos de suportes de dispositivos de intera-
ção as instituições são semelhantes. Ambas possuem uma plataforma virtual
de aprendizagem, em que, por meio de atividades de caráter predominante-
mente assíncrono, desenvolvem as atividades do curso.
Em análise comparada dos dados colhidos, apesar de não ter condição
de verificar em que grau cada ferramenta é realmente utilizada e sua efeti-
vidade na comunicação, identificamos que ambas as universidades fazem a
mesma relação entre o aparato tecnológico, a interação e o papel dos agentes
do processo educativo (professores, alunos, tutores, mediadores, facilitadores,
supervisores). A relação é de que os meios digitais promoveriam a interação
entre esses agentes e todo processo de aprendizagem e estaria definida pela
mediação tecnológica, independente dos seus determinantes e da concepção
didático-pedagógica vivenciada pelos sujeitos.
Diante dos documentos oficiais das instituições analisadas e comparadas,
inferimos que tanto a Univesp quanto a UAB apresentam marcas de um o caráter
redentor ou fetichizado e unidimensional tanto a respeito da concepção da ferra-
menta tecnológica quanto de seus usos. Os modos de uso por alunos professores
das ferramentas tecnológicas nesses ambientes de aprendizagem digitais e o dire-
cionamento desse uso para o desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas,
não contemplam a reflexão sobre essa realidade em que estão submersos.
Embora a tecnologia em seu mais avançado modelo consiga simular a
não existência da técnica no processo de mediação, o diálogo via ambiente
virtual de aprendizagem pode ser prejudicado, caso não exista uma confron-
tação real de ideia, ou seja, caso o processo não se dê de forma dialética.
138
Considerações Finais
Esta pesquisa buscou em seu objetivo geral comparar as duas institui-
ções públicas de ensino superior, que ofertam cursos na modalidade a distân-
cia do Brasil e Portugal, com intuito de revelar suas semelhanças e diferenças
com intuito de verificar em que medida os sentidos e significados revelados
acerca da EaD indicam as tensões e contradições no processo de implantação
e operacionalização dos cursos, que se aproximam ou distanciam da raciona-
lidade tecnológica.
Consideramos interessante retomar que, o sentido de Educação
Comparada eleita para essa pesquisa, não buscou comparar hierarquicamen-
te as duas universidades, mas analisar e compreender sócio historicamente,
de maneira dialógica, a forma como os cursos de graduação na modalidade a
distância são oferecidos nas instituições.
A pesquisa está ancorada no entendimento de que, de acordo com a
Teoria Crítica da Sociedade, ao contrário da tecnologia romper com a alie-
nação, a globalização e suas instituições de poder, ela exerce um controle po-
deroso sobre os indivíduos. Esse controle apresenta a tecnologia e as formas
como elas são utilizadas, como um sutil mecanismo de domínio, com forte
pendor totalitário.
Essa realidade de um sistema totalitário é característica da sociedade uni-
dimensional, e é a forma suave dela exercer o poder que nos interessou nesse
estudo. Ainda segundo a teoria em pauta, essa racionalidade hegemônica, alia-
da ao desenvolvimento tecnológico e científico, avançando sobre os diferentes
indivíduos e grupos, apresenta-se como a suposta “verdade” e age dentro de
modo paradoxal, que controla as relações sociais de forma a entregar uma certa
liberdade que só é aceita se não colocar em risco a economia globalizada.
O que apresentamos como resultados são as marcas do sistema capita-
lista neoliberal identificadas nas duas instituições. A intenção do estudo não
era nesse momento, discutir aprendizagem efetiva potencializada pelos cursos,
e sim, verificar se, postas as condições do sistema capitalista globalizado para
educação, essas instituições se afastariam ou se aproximariam de uma visão
unidimensional. Nesse sentido, concluímos que há mais semelhanças do que
diferenças entre as instituições de ensino superior comparadas, com relação
139
às categorias eleitas para análise nesse trabalho. Inferimos que ao analisar-
mos as categorias de comparação, identificamos marcas de ações neoliberais
no interior dessas instituições, na oferta de cursos de graduação superior na
modalidade a distância e evidenciando que a EaD, nesse contexto, é utilizada
como ferramenta de permanência do status quo. Nesse sentido, ao contrário
da tecnologia romper com a alienação, vemos que a globalização e suas ins-
tituições de poder, exercem um controle poderoso sobre os indivíduos. Esse
controle apresenta a tecnologia e as formas como elas são utilizadas, como
um sutil mecanismo de domínio, com forte pendor totalitário.
O caminho percorrido por esse estudo, trouxe argumentos que susten-
tam essa afirmação, como a ideologia do progresso técnico, o fetichismo tec-
nológico e a sociedade do conhecimento, os quais, apontam que, esses meca-
nismos ideológicos, somados com a reestruturação do capital, viabilizaram a
massificação, a mercantilização e a consolidação da EaD, no ensino superior.
Nesse sentido, evidencia-se a necessidade de enfrentamento dessas questões,
com a finalidade de disponibilizar àqueles que perseguem o objetivo de uma
educação emancipadora, mecanismos de resistência, sempre focado na com-
preensão de que esse movimento deve acontecer a partir da contestação da
sua base causal.
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Antonio A. S. Zuin et al. Campinas: Unicamp, 2010.
145
SOBRE OS AUTORES
Carlos da Fonseca Brandão
Licenciado em Educação Física e Pedagogia, Mestre em Educação: História, Política,
Sociedade pela PUC - SP (1994), Doutor em Educação pela UNESP - Marília
(2000), Livre-docente em Estrutura e Funcionamento do Ensino Fundamental e
Médio pela UNESP - Assis (2006) e Pós-doutor pela Universidad Autónoma de
Barcelona - UAB (2011), pela Universitat Rovira I Virgili (2015) e pela Uppsala
Universitet (Suécia - 2017). Atualmente é professor adjunto do Departamento de
Estudos Linguísticos, Literários e da Educação da UNESP - Assis e do Programa
de Pós-graduação em Educação da UNESP - Marília. Foi Professor Visitante na
Universidade do Porto (Portugal - 2009), na Universidad de Granada (Espanha -
2009), na Universidad Nacional de Córdoba (Argentina - 2010), na Universidad
de Santiago de Compostela (Espanha - 2011), na Universidad de Santiago do Chile
(Chile - 2012), na Universidad Nacional de Cuyo (Mendoza, Argentina - 2013)
e na Universidad Nacional del Sur (Bahía Blanca, Argentina - 2018). Tem expe-
riência na área de Educação, atuando na docência e na pesquisa em política educa-
cional, educação comparada e internacional, controle das emoções e processos de
civilização. Possui livros publicados pelas editoras Avercamp, Autores Associados,
Edusc, Poiesis, UNESP e Vozes, entre outras.
Chelsea Maria de Campos Martins
Doutora em Educação (Unesp/Marília), Mestre em Educação Escolar
(Unesp/Araraquara), Licenciatura em Pedagogia Plena e Ciências Físicas e
Biologia (Faculdade de Educação São Luiz/Jaboticabal). Docente do Centro
Universitário Moura Lacerda e Supervisora de Ensino da Diretoria de Ensino
Região de Taquaritinga (SEDUC/SP). Atuando principalmente nos seguin-
tes temas: Política Pública Educacional, Administração Escolar, Formação de
Professor e Diretor Escolar.
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Fernanda Gonçalves Gomes
Doutoranda pela universidade estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –
UNESP. Mestre pela universidade estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho
– UNESP. Graduada em Pedagogia pela Universidade Paulista em 2018, com
duas especializações Lato Sensu na área de Gestão Escolar e Neuro psico-
pedagogia, Educação Inclusiva e Especial, em andamento, uma especializa-
ção Lato Sensu em alfabetização e letramento. Professora do ensino funda-
mental no município de Assis desde 2019. Áreas de pesquisas: Educação:
Políticas Públicas para Educação, Gestão Escolar Democrática e Avaliação na
Educação Especial
Flávia Oliveira de Assis Lourenço
Doutoranda em Educação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - Campus de Presidente Prudente. Linha de Pesquisa
Formação dos Profissionais da Educação, Políticas Educacionais e Escola
Pública. Mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - Campus Marília Linha de pesquisa Políticas Educacionais,
Gestão de Sistemas e Organizações, Trabalho e Movimentos Sociais (2022).
Graduada em Letras pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - Campus Assis (2011). Graduada em Pedagogia pela Universidade
Federal de São Carlos (2017). Possui Pós-Graduação Lato Sensu em
Psicopedagogia Institucional e Clínica. Professora titular da Secretaria
Municipal de Educação de Assis, atualmente atua como Assistente Técnico
Pedagógico na Secretaria Municipal de Educação de Assis. Membro do grupo
de pesquisa Coletivo de Pesquisadores em Políticas Educacionais - COPPE-
UNESP. Integrante da equipe do projeto do CNPq As diretrizes nacionais
curriculares para a formação do professor de Educação Básica nos países da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: uma análise comparativa.
Membro titular do Conselho Municipal de Educação de Assis. Membro su-
plente d Comitês de Ética em Pesquisa (CEP)
Graziela Cristina de Oliveira Holmo
Mestre em Educação pela UNESP-Campus de Marília. Possui graduação
em PEDAGOGIA - FACULDADES SÃO JUDAS DE PINHAIS (2002)
147
e graduação em Ciências com habilitação em matemática pela Fundação do
Município de Assis (1997). Atualmente é supervisora de ensino - Secretaria
Municipal de Educação de Assis. Tem experiência na área de Educação, com
ênfase em Educação
Mariana Aparecida de Almeida Laurentino
Graduada em Licenciatura em Pedagogia na Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (UNESP), campus de Presidente Prudente (2017).
Mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita
Filho” - Campus Marília. Atualmente é professora titular da Secretaria
Municipal de Educação de Marília e membro do grupo de pesquisa Coletivo
de Pesquisadores em Políticas Educacionais - COPPE-UNESP.
Michele de Lourdes Alves Madureira
Mestre Em Educação pela UNESP - FFC Marília/SP. Possui graduação em
PEDAGOGIA pelo Instituto de Ensino Superior COC (2009). Pós gradua-
da em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela Faculdade São Braz (2013)
e em Educação Especial Inclusiva com Ênfase na Deficiência Intelectual pela
Faculdade São Braz (2017). Tem experiência na área da Educação, com ên-
fase em ensino-aprendizagem. Atuou como professora eventual no municí-
pio de Paraguaçu Paulista (2011), em seguida como professora Efetiva no
mesmo município (2011-2014). Atualmente é Coordenadora Pedagógica da
PREFEITURA MUNICIPAL DE ASSIS - SP (2015 a dias atuais), membro
do grupo de pesquisa Coletivo de Pesquisadores em Políticas Educacionais
- COPPE-UNESP.
Stelamary Aparecida Despincieri Laham
Doutora em Educação pela UNESP campus de Marília, na linha Políticas
Educacionais, Gestão de Sistemas e Organizações, Trabalho e Movimentos
Sociais. Mestre em Educação Escolar (2016) pela UNESP campus de
Araraquara pela linha de Política e Gestão Educacional. Possui graduação em
Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista UNESP (2005) e Licenciatura
em História pela Universidade Estadual Paulista UNESP (1997). Pós-
graduada em Transversalidade e Interdisciplinaridade em Educação pela
148
UNOESTE-Universidade do Oeste Paulista (2003) e em Planejamento,
Gestão e Implementação de Educação a Distância pela UFF-Universidade
Federal Fluminense (2010). Tem experiência na área de Educação, com ên-
fase em Ensino-Aprendizagem. Atuou como Orientadora de Disciplina do
Curso de Graduação em Pedagogia da UNIVESP/UNESP-Universidade
Virtual do Estado de São Paulo, campus UNESP Assis. Participou da execu-
ção e implantação do Polo de Apoio Presencial de Tarumã EaD, do Sistema
Universidade Aberta do Brasil do Ministério da Educação e Cultura. Atuou
como coordenadora do Polo EaD do Sistema Universidade Aberta do Brasil
- UAB do Município de Tarumã-SP. É professora na FEMA - Fundação
Educacional do Município de Assis.
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno – CRB 8/8211
Normalização
Taciana Oliveira
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0039/2022
Processo Nº 23038.001838/2022-11
Stelamary Aparecida Despincieri Laham
Carlos da Fonseca Brandão
(Organizadoras)
As políticas públicas
educacionais no contexto dos
estudos comparados
As políticas públicas educacionais no contexto dos estudos comparados
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