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de Pesquisa Paideia, da Unicamp, ressalta que a atuação da losoa foi mais
acadêmica, do que propriamente política, isto é, frente ao congresso brasi-
leiro30. Para ele, a atuação da comunidade losóca gerou, principalmente,
“[...] eventos, publicações e pesquisas de mestrado, doutorado e monograas
de conclusão de curso sobre o tema do ensino de Filosoa sob os mais varia-
30 Alves (2007) pode ter razão quando compara os esforços das comunidades e associações dos
sociólogos e a comunidade losóca na luta pela aprovação de ambas as disciplinas. Lejeune
Carvalho, no II Simpósio Sul-Brasileiro de Ensino de Filosoa, faz uma contundente crítica à
participação dos lósofos pelo retorno da disciplina de losoa e de sociologia.“[...] Curso de
Filosoa – sabemos que a mobilização dos cursos, sejam os professores como os estudantes, foi
pequena. E sabemos ainda que existem muito mais cursos de losoa que os nossos 65 de CS
no país. Mesmo a ANPOF, a nossa equivalente da ANPOCS, nem sequer foi localizada e não
conseguimos discutir com eles a possibilidade mínima de assinarem nosso manifesto nacional em
apoio à nossa luta. É preciso registrar que, com poucas exceções, essa luta nacional cou circunscrita
a umas poucas, ainda que pequenas, entidades representativas de sociólogos. Isso porque os lósofos
e professores de losoa não possuem entidades representativas. Assim, carecemos, durante todas
as idas a Brasília, de um interlocutor na área de losoa e mesmo de seus cursos que formam
professores. Até hoje, sequer sabemos quantos são esses cursos e quantos prossionais formados
existem. Soubemos, pela imprensa, diversas vezes, que os lósofos professores de losoa
realizavam aqui e ali congressos nacionais e internacionais no Brasil, envolvendo até mesmo cinco
mil prossionais. Nós sociólogos nunca reunimos mais de mil colegas em congresso. No entanto,
desses congressos de losoa não resultaram ação prática e concreta na luta e no engajamento
pela aprovação do Projeto. Quem sabe daqui pra frente (Carvalho, 2002, p. 552). Importante
contextualizar que as armações de Carvalho referem-se à primeira tentativa de aprovação do
Senado, cujo projeto de lei seria, posteriormente, vetado pelo presidente da República. No decorrer
da luta, houve participações da comunidade losóca mesmo na luta institucional, conforme os
relatos do professor Emmanuel Appel (Langón et al, 2013/2014). Mesmo assim, por mais que
reconheçamos certo descaso da comunidade losóca em geral em relação ao ensino de losoa,
conforme já mencionamos anteriormente, discordamos de Alves (2007) e de Carvalho (2002) no
que se refere ao conceito de política. Isso porque consideramos as iniciativas feitas pela comunidade
losóca, especialmente dos lósofos da educação e os professores de losoa da educação básica,
como uma forma de política, no caso, uma política-losóca, que se dividiu em iniciativas em
defesa pelo retorno da losoa à educação básica, e também em iniciativas acadêmicas voltadas à
construção de um campo, imprescindíveis para cultivar o ensino de losoa como uma tradição
escolar no Brasil. Parece-nos nítida a importância que essas iniciativas acadêmicas proporcionaram
à implementação da disciplina no cenário escolar, visto que muitos dos debates e pensamentos
que são hoje referências para pensar o ensino de losoa e a formação de professores adquiriram
seus primeiros contornos na efervescência acadêmica da primeira década. Assim, acreditamos que
o lugar da losoa na educação básica só pode ser garantido com a construção de uma cultura
de pesquisa na área, sem deixar de lado a luta em defesa do espaço institucional na escola como
disciplina, tal como é feito nos dias de hoje diante dos efeitos da Base Nacional Comum Curricular.