Práticas
morais na
escola
Rita Melissa Lepre
Patrícia Unger Raphael Bataglia
Eduardo Silva Benetti
Ligia Serrano Lopes
(Organizadores)
a construção da
autonomia moral
Práticas morais na escola: a construção da autonomia moral Rita Melissa Lepre; Patrícia Unger Raphael Bataglia
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes (Org)
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Práticas
morais na
escola
a construção da
autonomia moral
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2025
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Práticas
morais na
escola
a construção da
autonomia moral
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Copyright © 2025, Faculdade de Filosofia e Ciências
Ficha catalográfica
P912 Práticas morais na escola : a construção da autonomia moral / Rita Melissa Lepre ... [et al.]
(organizadores). – Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2025.
276 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-584-1 (Impresso)
ISBN 978-65-5954-585-8 (Digital)
DOI: https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8
1. Educação moral. 2. Prática de ensino. 3. Autonomia em crianças. 4. Jogos educativos. 5.
Cooperação (Psicologia). 6. Administração de conflitos. I. Lepre, Rita Melissa. II. Bataglia, Patrícia
Unger Raphael. III. Benetti, Eduardo Silva. IV. Lopes, Ligia Serrano. CDD 370.114
Telma Jaqueline Dias Silveira –Bibliotecária – CRB 8/7867
Imagem capa: https://stock.adobe.com/br - Arquivo "AdobeStock_415599254". Acesso em 28/03/2025.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives
4.0 International License.
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Vice-Diretora
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Conselho Editorial
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Franciele Marques Redigolo
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Parecerista
Profa. Dra. Luciana Aparecida Nogueira da Cruz
Docente do Departamento de Educação do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
(IBILCE) - UNESP/campus de São José do Rio Preto.
Campus de Marília
A todos os professores que fazem do ato de educar
uma educação de valor
“Posição não dogmática, mas serena,
firme, de quem se encontra em permanente
estado de busca, aberto à mudança,
na medida mesma que, de há muito
deixou de estar demasiado
certo de suas certezas.”
(Paulo Freire)
Sumário
Prefácio 9
Apresentação 15
A roda de conversa como prática moral na educação infantil 19
Conflitos hipotéticos na educação infantil: o que pensam as
crianças?
35
Justiça restaurativa na escola: uma alternativa para
consolidação de uma convivência ética e desenvolvimento da
autonomia moral das crianças
51
Jogos cooperativos e a moralidade infantil: um olhar sobre as
práticas morais na perspectiva docente
69
O uso de sequências didáticas voltado à educação em valores
na formação continuada de professores da educação infantil:
relato de práticas morais
93
O acolhimento como prática moral na educação infantil: a
roda do abraço com as crianças
109
O Role-Playing como prática moral na escola: relatos de
experiências com crianças e com adolescentes
127
A vivência de algumas práticas morais no ensino fundamental I:
pressupostos teóricos e práticos
145
A caixa de cartas e o mapa de mim: práticas reflexivas voltadas
ao desenvolvimento moral e à promoção da convivência ética
na escola
163
Relato de experiência: colaboração entre as habilidades sociais
e a educação em valores morais
179
Autoavaliação como prática moral no ensino médio: relato
de experiência voltada para a educação em valores no ensino
de química
199
Prática moral na formação de estudantes de medicina e
enfermagem: uma revisão de literatura
215
Dados dos Autores 267
9
Prefácio
Todas as vezes que me deparo com casos que envolvem crianças,
adolescentes e mesmo adultos cometendo infrações graves, violências, in-
dignidades, desrespeitos aos outros, me pergunto como foi a construção de
sua personalidade. Afinal, todos foram crianças e passaram, anos e anos,
por várias situações que possibilitaram, nas muitas formas de interações
com seu meio, um certo tipo de desenvolvimento.
Faço essa pergunta ao considerar, por exemplo, os relatados dos mui-
tos ataques às escolas brasileiras que ocorreram nesses últimos vinte e dois
anos e, principalmente, nos dois últimos anos, e que foram cometidos por
39 estudantes e ex-estudantes, na maioria menores de idade, em 376 esco-
las, com 40 vítimas fatais e 102 feridos (Vinha et al., 2023).
Ora, estamos falando de crianças e adolescentes e devemos nos ques-
tionar: quem foram? Como se construíram? Que oportunidades tiveram?
Como foi seu ambiente social, emocional e moral? Essas pessoas poderiam
ter sido diferentes? E, principalmente, o que foi a escola em suas vidas?
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p9-14
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
10
Ainda considerando esses exemplos dos ataques às nossas escolas, os
estudantes que os cometeram foram descritos por Vinha e colaboradoras
(2023, p. 13) como “[...] jovens que demonstravam gosto pela violência e
culto às armas de fogo”, aderiam a valores opressores, como os de misogi-
nia, racismo, nazismo, manifestavam ausência de sentido de vida e falta de
perspectiva de futuro. Esses indivíduos frequentemente buscavam perten-
cimento, reconhecimento e valorização em grupos online de comunidades
tóxicas que se caracterizam por conteúdos de ódio. Além disso, as autoras
destacaram que para todos os autores desses crimes, a escola foi “palco de
sofrimento”, ou seja, lugar em que sofreram bullying, injustiças, humilha-
ções, exclusão, de modo que a violência contra a escola e seus ocupantes
apareceu como uma forma de vingança.
Frente a esses casos e tantos outros em que pessoas agem de modo
destrutivo em relação às outras, nossas perguntas sobre como suas perso-
nalidades e seus ambientes se construíram são sempre urgentes. São per-
guntas que nós, psicólogos, pedagogos, educadores, não podemos deixar
de fazer a todo tempo. E quem acredita em educação, acredita em possibi-
lidades de mudança e de outras construções possíveis de pessoas para que
sejam éticas: solidárias, respeitadoras, justas, enfim, sensíveis às próprias
necessidades e as de outros como seres humanos. Esse deve ser um prin-
cípio último da educação. A este princípio, muita ciência foi e está sendo
construída e nos dá respostas eficazes.
Sabemos, por quase um século de estudos em Psicologia da
Moralidade, desde os trabalhos iniciais de Jean Piaget (1977) e tantos ou-
tros que se seguiram, que nos tornamos morais por um conjunto de fatores
que têm, como ponto principal, as interações sociais que vivemos. Ora,
essas interações são tão diversas quanto todos os ambientes que frequenta-
mos e que na atualidade alcançam não só o ambiente físico da casa, da es-
cola, do grupo de amigos, como o virtual, nas comunidades online e todos
os tipos de acesso, mensagens, jogos e artefatos da internet, cuja extensão e
alcance escapam a qualquer tentativa de controle seja de pais, de educado-
res, ou demais autoridades que pretendam exercer influência na educação
de crianças e jovens.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
11
Nesse quadro atual, nunca se tornou tão importante como agora
uma educação para a autonomia. Ou seja, aquela educação que auxilie na
construção de pessoas capazes, por si próprias, de decidir racional e mo-
ralmente que valores seguir em função tanto do bem-estar próprio como
dos demais. Pessoas que se mantenham íntegras e coerentes com seus prin-
cípios morais apesar de todo o “enxame” (Bauman; Donskis, 2014) de
solicitações, seduções, propagações de ideias, tentativas de cooptação, ou
mesmo ameaças e sofrimentos que podem vir de todo lado e que por vias
online transpassam qualquer limite.
Como educar pessoas assim? Como educar para a autonomia? E, so-
bretudo, como tornar a escola, espaço de mais longa convivência de nossas
crianças e jovens entre si, um ambiente o mais propício para essa educação?
Longe de depender apenas de boa vontade e melhores intenções,
temos visto concretamente com escolas brasileiras que uma educação para
a formação de personalidades éticas, que tenham como centrais valores
morais como a justiça, o respeito, a solidariedade, o diálogo como forma
de resolução de conflitos, depende de saberes teóricos e técnicos muito
bem fundamentados (Menin et al., 2013).
O presente livro organizado por Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger
Raphael Bataglia, Eduardo Silva Benetti e Lígia Serrano Lopes pretende
dar respostas atuais, eficazes e claras à meta de uma educação para a auto-
nomia dando inúmeros exemplos de práticas morais. E faz isso abordando
desde a Educação Infantil até a formação de universitários e profissionais, o
que o torna uma ferramenta útil para professoras e professores da Educação
Infantil à formação universitária.
As autoras e os autores dos capítulos são profissionais seja em
Educação, Psicologia ou outras formações em ciências humanas, mestran-
das(os), doutorandas(os), professoras(es) universitárias(os). Destaca-se que
a grande maioria dos relatos se constitui de experiências levadas pelas(os)
autoras(es) em sala de aula; o que lhes dá um valor de efetividade maior.
São apresentadas experiências de práticas morais que se iniciam para crian-
ças a partir de 2 anos de idade, o que mostra que essas situações podem e
devem ser inseridas na vida escolar desde muito cedo. Como diria Piaget
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
12
(1968), se autonomia é um fim da educação, também deve ser seu meio;
e esse caminho pode e deve ser construído na escola desde as primeiras
interações das crianças entre si, com as(os) professoras(es), com as rotinas
escolares, com as regras.
Os procedimentos adotados e ilustrados neste livro baseiam-se for-
temente em práticas morais e têm como um dos autores mais citados Josep
Maria Puig (1998, 2004). As práticas morais aqui desenvolvidas consistem
em formas ritualizadas, rotinizadas e frequentes que possibilitam tanto o
autoconhecimento e o autocuidado - práticas de reflexividade - como a
resolução de situações moralmente relevantes em que podem participar
indivíduos interagindo cooperativamente - práticas de deliberação.
Destaco a criatividade e variedade das práticas morais que são des-
critas nesta obra e que possibilitam a docentes o planejamento bem es-
truturado de suas rotinas escolares. Na Educação Infantil, por exemplo,
comparecem práticas na roda de conversa entre crianças e sua professora
nas quais reconhecem e falam sobre sentimentos; no acolhimento à escola
com roda de abraço com expressões de afeto; em jogos que primam pela
cooperação ao invés da competição; em pequenas histórias para resolução
de conflitos com role-playing, reflexão e verbalizações sobre os diferentes
papéis dos envolvidos na situação e argumentação sobre formas de solução.
No Ensino Fundamental, ilustram-se rotinas estabelecidas para a autor-
reflexão com exercícios, por exemplo, sobre “mapas de mim” (Tognetta,
2020), com reflexões sobre os próprios valores e sentimentos; ou que bus-
cam o desenvolvimento de habilidades sociais com destaque para a em-
patia e a assertividade; ou com reflexões em diários sobre a identidade e
vivências na própria classe de alunos. No Ensino Médio, a autoavaliação é
utilizada por um professor de Química para seus alunos num curso técnico
de informática para que se atribuam notas; há também um exemplo de
role-playing com base em uma peça de teatro em uma aula de Literatura.
Finalmente, discute-se, com bom levantamento bibliográfico, os caminhos
e dificuldades do desenvolvimento do julgamento moral na formação em
Enfermagem e em Medicina.
Cada capítulo com a descrição de práticas para o desenvolvimento
moral é composto, também, de uma parte inicial em que se dá suporte te-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
13
órico bem fundamentado. Como vimos, as obras de (Puig, 1998; Araújo;
Puig; Arantes, 2007; Garcia; Puig, 2010; Puig, 2004) são as referências
principais. Mas há colaboração de pesquisadoras atuais, dentre as quais,
destacamos Rita Melissa Lepre, Luciene Regina Paulino Tognetta e Patrícia
Unger Raphael Bataglia.
Concluo recomendando a leitura desta obra principalmente por
educadoras e educadores que tenham compromisso com uma educação
para a autonomia moral, com a certeza de que encontrarão aqui guias mui-
to claros e eficazes para a introdução das práticas morais no dia a dia da
escola.
Maria Suzana de S. Menin
RefeRências
ARAÚJO, U. F. de; PUIG, M. J. ARANTES, V. A. (org.). Educação em valores:
pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2007.
BAUMAN, Z; DONSKIS, L. Cegueira moral: a perda da sensibilidade na
modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2014.
GARCÍA, X. M.; PUIG, J. M. As sete competências básicas para educar em valores.
São Paulo: Summus, 2010.
MENIN, M. S. S.; BATAGLIA, P. U. R.; ZECHI, J. A. M. (org.). Projetos bem-
sucedidos de educação em valores: relatos de escolas públicas brasileiras. São Paulo:
Cortez, 2013.
PIAGET, J. Observações psicológicas sobre la autonomia escolar. In: PIAGET, J;
HELLER, H. (org.) La autonomia em la escuela. Buenos Aires: Losada, 1968.
PIAGET, J. O julgamento moral na criança. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
PUIG, J. M. A construção da personalidade moral. São Paulo: Ática, 1998.
PUIG, J. M. Práticas Morais: uma abordagem sociocultural da educação moral. São
Paulo: Moderna, 2004.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
14
VINHA, T.; GARCIA, C.; NUNES, C. A. A.; ZAMBIANCO, D. P.; MELO, S. G.;
LAHR, T. B. S. et. al. Ataques de violência extrema em escolas: causas e caminhos.
São Paulo, D3e, 2023. Disponível em: https://d3e.com.br/wp-content/uploads/one-
page_2310_ataques-escolas-brasil.pdf. Acesso em: 20 jun. 2024.
TOGNETTA, L. R. P. Coragem, moleque. Mapa de Mim. Americana: Adonis, 2020.
15
Apresentação
É com profunda alegria e satisfação que apresentamos os textos dos
capítulos do livro “Práticas Morais na Escola: a construção da autonomia
moral”. Temos estudado o conceito de práticas morais com elevado inte-
resse a partir do livro do Professor Josep Maria Puig “Práticas Morais - uma
abordagem sociocultural da educação moral” (2004) e sempre pensando
em formas de materializar esse conceito nas práticas educativas, visando
uma práxis transformadora. Os autores dos capítulos são pesquisadores
atentos à necessidade de buscarmos formas de atuar na construção de uma
relação entre educador e educando que favoreça a autonomia moral além
da autonomia intelectual.
As práticas morais aqui abordadas, algumas delas procedimentais e
outras substantivas, propiciam essa construção. Uma prática moral pro-
cedimental propõe modos de condução com um resultado moralmente
valioso (Puig, 2004). Tais práticas podem envolver exercícios com imagem
corporal, autoavaliação, análise dos próprios sentimentos (como algumas
práticas de reflexividade) ou também, resolução de conflitos, discussão de
dilemas e sobre currículos (como as práticas de deliberação). As práticas
substantivas, por outro lado, envolvem cursos de ação que expressam va-
lores e requerem virtudes (Puig, 2004). Elas estão presentes na realização
de projetos com valores específicos, formação de grupos de trabalho com
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p15-17
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
16
interesses especiais (como nas práticas de virtude) ou aprendizagem do uso
de normas (como as práticas normativas).
Puig (2004) ainda chama a atenção para que as práticas sejam per-
sistentes, repetidas e não ocasionais. Que sejam intencionais, conscientes,
realizadas coletivamente e que sejam direcionadas para a construção de
projetos para o desenvolvimento do grupo.
Os autores relatam aqui atividades com jogos, role-playing, sequên-
cias didáticas em uso desde a Educação Infantil até o Ensino Superior.
Vemos nisso uma grande oportunidade para que novos estudos se realizem,
ampliem as reflexões e, por assim dizer, contagiem positivamente outros
educadores para que transformem suas práticas.
Não podemos continuar persistindo em modos de educar presos
ao tradicionalismo e a ideias ultrapassadas que vejam na transmissão de
conteúdos o grande objetivo da educação. A educação deve transformar,
modificar, criticar e as experiências aqui relatadas e discutidas mostram a
potencialidade das práticas morais nessa direção.
A importância científica deste livro reside na sua capacidade de
oferecer uma base teórica sólida e propostas práticas para educadores que
buscam promover a autonomia moral nas escolas, fornecendo estratégias
pedagógicas que incentivam os estudantes a se tornarem agentes críticos
e responsáveis em suas ações e decisões. Ao fazer isso, o livro contribui
para a consolidação de um campo de estudo essencial dentro da educação
moral e ética, abrindo novas perspectivas para a formação de cidadãos
éticos e conscientes.
Do ponto de vista social, o livro se destaca por sua relevância em
tempos de crescente complexidade moral e ética nas sociedades contem-
porâneas. Ao promover a autonomia moral nas escolas, os educadores têm
a oportunidade de formar sujeitos capazes de tomar decisões conscientes
e justas, promovendo um ambiente escolar mais inclusivo, respeitoso e
democrático, o que contribui, não apenas para o enfrentamento dos desa-
fios éticos da vida em sociedade, mas também para a construção de uma
cultura de paz e respeito mútuo.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
17
Assim, “Práticas Morais na Escola: a construção da autonomia moral
se apresenta como uma leitura indispensável para educadores, pesquisado-
res e todos aqueles comprometidos com a formação integral do ser huma-
no, destacando-se como uma obra que alia teoria e prática em prol de um
objetivo maior: o desenvolvimento moral e ético dos sujeitos.
As organizadoras e o organizador desta coletânea desejam que os
leitores se inspirem nessas experiências para que elas se multipliquem.
Boa leitura!
PUIG, J. M. Práticas Morais: uma abordagem sociocultural da educação moral. São
Paulo: Moderna, 2004.
18
19
A roda de conversa como prática
moral na educação infantil
Kelly Regina CONDE 1
Ieda Alves LUGLI 2
Luciana Aparecida Nogueira da CRUZ 3
1 intRodução
De acordo com Piaget (1994), a criança, ao nascer, encontra-se na
anomia, pois o bebê ainda não tem as condições cognitivas necessárias para
compreender o que se deve ou não fazer, tampouco entender as regras so-
ciais de seu entorno. Esta situação se modifica quando a criança inicia sua
entrada no mundo da moralidade.
Mais tarde, a criança começa a perceber a si mesma e aos
outros, percebe também que há coisas que podem ou não ser
feitas, ingressando no mundo da moral, das regras, tornando-se
heterônoma, submetendo-se àquelas pessoas que detêm o poder.
Na heteronomia, a criança já sabe que há coisas certas e erradas,
mas são os adultos que as definem, isto é, as regras emanam dos
mais velhos (Vinha; Tognetta, 2009, p. 529).
Mestra em Ensino e Processos Formativos pela UNESP/Ibilce - São José do Rio Preto-SP; Coordenadora
Pedagógica de uma escola de Educação Infantil da Rede Municipal de São José do Rio Preto; kelly.conde@
unesp.br.
Doutoranda em Educação pela UNESP/Marília; Professora PEB I – Educação Infantil na Prefeitura
Municipal de São José do Rio Preto; ieda.alves@unesp.br.
Doutora em Educação pela UNESP/PPGE; Docente no Departamento de Educação da UNESP/Ibilce -
São José do Rio Preto-SP; luciana.cruz@unesp.br.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p19-34
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
20
Na moral heterônoma, a criança não compreende o sentido das re-
gras, mas as obedece porque respeita a fonte delas, ou seja, segue as ordens
dos pais e das pessoas que são significativas para ela. Dessa maneira, temos
que o controle das ações da criança é essencialmente externo. A criança
teme a autoridade, a perda de afeto, de proteção ou da confiança daqueles
que a amam, sendo por isso que os obedece. Ademais, pode haver também
o medo de castigos, de censura ou mesmo de ser abandonada.
Quando o desenvolvimento moral for bem-sucedido, o controle so-
bre as ações irá se tornando cada vez mais interno, por meio do autocon-
trole. Desse modo, a obediência às normas não dependerá mais do olhar
de adultos ou de outras pessoas, pois haverá espaço para o surgimento da
tendência moral autônoma.
Quando a criança se encontra na heteronomia moral, para legitimar
uma regra basta que esta seja enunciada por uma autoridade, pois ela deve
ser obedecida. Já na autonomia moral, a legitimação das regras está ligada
à esfera racional, sendo que, por meio de interações com o meio, o sujeito
supera a moral da obediência a uma instância superior e externa, passando
a submeter as normas e princípios morais ao crivo da inteligência.
La Taille (1998, in Puig, 1998, p. 10) afirma que as pesquisas de Piaget
[...] o convenceram de que os valores e as regras passam pela
consciência e de que é justamente a qualidade da assimilação
racional destes que determina morais diferentes: a moral é
heterônoma quando as regras são meramente legitimadas em
função do prestígio de quem as impõe e entendidas ao pé da
letra, e a moral é autônoma quando tais regras são claramente
compreendidas no seu espírito e legitimadas em razão de contratos
feitos entre pessoas que se concebem como Livres e iguais. Do
ponto de vista educacional, em vez de propor uma pedagogia moral
que privilegie a influência do adulto sobre a criança (assimetria
que gera, justamente, a heteronomia). Piaget aconselha promover
relações de cooperação entre as crianças, relações que promovem a
descentração (e, em decorrência, maior apropriação racional) por
serem baseadas no diálogo e no acordo.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
21
É na relação com os outros que a criança começa a vivenciar a ne-
cessidade de obediência a certas regras, mas é também por meio dessas
relações que se tem a oportunidade de superar a heteronomia, alcançando
aspectos da autonomia moral. Em outras palavras, a necessidade moral
surge da relação com os outros e, dependendo da qualidade destas relações
– da maneira como ocorrem as interações – a criança será conduzida à
heteronomia ou à autonomia.
Como afirma Piaget (1994, p. 155),
Ora, sem relação com outrem não há necessidade moral: o
indivíduo como tal conhece apenas a anomia e não a autonomia.
Inversamente, toda relação com outrem, na qual intervém o
respeito unilateral, conduz à heteronomia. A autonomia só aparece
com a reciprocidade, quando o respeito mútuo é bastante forte,
para que o indivíduo experimente interiormente a necessidade de
tratar os outros como gostaria de ser tratado.
Para que a autonomia moral seja de fato possível, é necessário agir
independentemente de pressões exteriores. Vale ressaltar, no entanto, que
autonomia não deve ser confundida com individualismo ou com uma
ideia de liberdade para agir como cada um bem entende. Na autonomia,
ao contrário disso, é necessário coordenar diferentes fatores ao decidir agir
de uma maneira que beneficie a todos os envolvidos - considerando as
diferenças, os direitos, os sentimentos e as perspectivas, tanto de si mesmo
quanto dos outros.
Neste contexto, podemos entender a escola como um ambiente
onde ocorrem as relações de troca por meio de interações das crianças
com outros sujeitos iguais a ela. Na família, por outro lado, as relações são
predominantemente coercitivas, tendo maior predominância do respeito
unilateral. A escola, sendo um ambiente social de convivência tão amplo
e complexo, possibilita a reflexão sobre as regras (morais) pelas crianças, o
que proporcionará os primeiros pensamentos sobre como deverá agir em
determinadas situações, levando em consideração aquilo que acha melhor
para si e para os outros, podendo construir uma relação de respeito mútuo.
Desse modo, na relação com o outro, poderão ser criadas as condições para
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
22
a autonomia. No entanto, apesar de as escolas serem capazes de proporcio-
nar este desenvolvimento, elas não o garantem, uma vez que o ambiente
sociomoral pode não contar com práticas que contribuam para a autono-
mia sendo que, muitas vezes, são estabelecidas nestes ambientes relações
que reforçam tanto o conteúdo moral instituído que há pouco ou nenhum
espaço para o aparecimento da reciprocidade e a reflexão sobre as condutas
éticas – prevalecendo a obediência cega às normas (Vinha, 2000).
A maneira como o professor se relaciona com seus alunos – e como
incentiva os próprios alunos a se relacionarem entre si – caracterizará o
modo como a criança perceberá as regras morais, podendo refletir sobre
essas regras ou apenas obedecê-las. Toda escola, por meio da prática de seus
professores, ensina valores e educa moralmente, ainda que muitas vezes não
se tenha plena consciência de como isso está sendo feito e para qual tipo de
desenvolvimento se está contribuindo (heterônomo ou autônomo).
Os professores comunicam continuamente mensagens sociais
e morais enquanto dissertam para as crianças sobre regras e
comportamentos e enquanto administram sanções para o
comportamento das crianças. Portanto, a escola ou a creche não
são e não podem ser livres de valores ou neutros quanto a esses. Por
bem ou por mal, os professores estão engajados na educação social
e moral (Devries; Zan, 1998, p. 35).
O estímulo à reflexão incentiva a internalização e a construção do
sentido e da importância das regras para a vida social, favorecendo o de-
senvolvimento da autonomia moral. No sentido oposto, a escola poderá,
também, reforçar a moral heterônoma que é transmitida a priori pelos pais
e pela sociedade em geral – a moral da autoridade – que deve ser obedecida
independentemente de seu conteúdo ou motivos. Portanto, é essencial que
se tenha clareza de quais práticas são adequadas ao desenvolvimento da
autonomia moral e quais são aquelas que devem ser evitadas.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
23
2 as Rodas de conveRsa na educação infantil
As conversas em roda não são uma invenção escolar e permeiam as
práticas sociais e culturais muito antes de serem vistas como processos for-
mativos, seja como momento de confraternização entre conhecidos ou fa-
miliares, como momento de desabafo ou comunhão. A conversa partilha-
da por diferentes pessoas esteve sempre presente na vida em comunidade,
apesar de parecer estar quase desvanecendo com os adventos da tecnologia,
da comunicação digital e do afastamento físico das pessoas, estabelecidos e
legitimados pela contemporaneidade, sendo as cadeiras na calçada progres-
sivamente substituídas pelos grupos do WhattsApp.
Ainda assim, as rodas de conversa se fazem presentes quando há ne-
cessidade de tomadas de decisões ou trocas entre membros de variados
grupos. Na educação escolar e nos processos formativos em geral, a sua
importância e eficácia, por sua vez, vem sendo cada vez mais reconhecida
e enfatizada.
Como aponta Warschauer (2004, p. 15):
A Roda não é uma técnica que possa ser reproduzida independente
da sensibilidade, do envolvimento das pessoas e da paixão pelos
conhecimentos, nem foi inventada recentemente. Trabalhos
comunitários e iniciativas coletivas, das mais diversas naturezas, se
desenvolvem de maneira semelhante há muito tempo. Comunidades
indígenas, reuniões familiares, mutirões para a construção de casas
populares são alguns exemplos. Na educação, Célestin Freinet e
Paulo Freire desenvolveram abordagens específicas com princípios
semelhantes, seja por intermédio das atividades colaborativas das
classes de Freinet, registradas no “Livro da Vida”, seja nos “Círculos
de Cultura”, utilizados no método freiriano de alfabetização.
Na educação escolar formal, no entanto, perspectivas de homoge-
neização e organização de espaços, tempos e currículos sem oportunidades
para a manifestação das diferenças e singularidades dos sujeitos fizeram
com que a roda estivesse por muito tempo pouco presente nas rotinas das
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
24
salas de aula, uma vez que esta deve visar a autonomia e as concepções
anteriores estavam a serviço da heteronomia.
A concepção de criança descrita na Base Nacional Comum Curricular
- BNCC (Brasil, 2017) é a de um ser observador, questionador, que levan-
ta hipóteses, conclusões e faz julgamentos, construindo conhecimentos e
valores por meio de ações e interações com o mundo físico e social. Por
isso, é necessário que haja intencionalidade educativa em todas as práticas
pedagógicas da Educação Infantil, seja na creche ou na pré-escola.
Essa intencionalidade consiste na organização e proposição, pelo
educador, de experiências que permitam às crianças conhecer a si e
ao outro e de conhecer e compreender as relações com a natureza,
com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas
práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se),
nas brincadeiras, nas experimentações com materiais variados, na
aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas (Brasil,
2017, p. 39).
Faz parte do trabalho do educador refletir, planejar, selecionar, or-
ganizar e mediar a aprendizagem, conduzindo as práticas e interações de
maneira a garantir situações que sejam capazes de promover o desenvolvi-
mento pleno das crianças. Neste contexto, a roda de conversa (ou simples-
mente a hora da roda) é uma atividade extremamente importante na rotina
de uma sala de aula, especialmente no que se refere ao desenvolvimento da
autonomia moral, apesar de também ser imprescindível ao desenvolvimen-
to cognitivo. De acordo com DeVries e Zan (1998, p.115),
O objetivo primordial da hora da roda é promover o raciocínio
social e moral. Este objetivo leva o professor construtivista a
construir um senso de comunidade atuante entre as crianças,
incentivá-las ao autogoverno e envolvê-las para que pensem sobre
questões sociais e morais específicas.
O momento da roda deve promover um senso de pertencimento
ao grupo ao mesmo tempo em que também seja possível reconhecer a
individualidade de cada um através da troca de opiniões e experiências, ne-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
25
gociações, planejamento e tomadas de decisões em conjunto, além de mo-
mentos de partilha e comunhão, como ocorre com as músicas, literatura e
brincadeiras que também podem ser propostas nestes momentos. Apesar
de servir a diversos conteúdos e objetos de aprendizagem, a roda tem como
objetivo principal o desenvolvimento intelectual, social e moral ao promo-
ver a autorregulação, a cooperação e a coordenação de perspectivas.
Parece bastante óbvio dizer que a fala é o elemento principal das
rodas de conversa, mas há ainda a essencial necessidade de escuta ou da
observação dos gestos e demais maneiras de comunicação e expressão das
crianças. Além disso, não basta apenas falar e ouvir, mas é necessário que
haja a intenção genuína de conectar-se com os outros, por meio da partilha
deste singular momento de troca e relação entre as pessoas.
A linguagem, ou a comunicação em aspectos mais amplos, adquire
nestes momentos o papel essencial de aproximar o professor de seus alu-
nos, bem como as próprias crianças entre si, construindo uma ponte entre
aquele que fala e aquele que escuta. Em outras palavras, podemos dizer que
conversar é uma maneira de relacionar-se com o outro:
Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através
da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última
análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de
ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim
numa extremidade, na outra apoia-se sobre o meu interlocutor.
A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor
(Bakhtin, 1999, p. 113).
Embora o professor de bebês e de crianças pequenas tenha como seu
principal papel o de comunicar, estando grande parte do tempo falando ao
conduzir a roda, para as crianças, a escuta é inicialmente a principal habili-
dade a ser desenvolvida. No entanto, à medida que as crianças vão se apro-
priando mais da fala e conseguindo comunicar-se melhor com o professor
e umas com as outras, a escuta também vai adquirindo maior importância
para o professor, podendo haver efetivamente a troca e o diálogo.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
26
A conversa - que nem sempre precisa ser apenas verbal, mas consti-
tui-se amplamente deste modo - aparece nestas práticas como um caminho
para a aprendizagem e a reflexão:
No contexto da Roda de Conversa, o diálogo é um momento
singular de partilha, porque pressupõe um exercício de escuta e
fala. E na percepção de que uma roda de conversa agrega vários
interlocutores, os momentos de escuta são mais numerosos
que os momentos de fala. As colocações de cada participante
são construídas a partir da interação com o outro, sejam para
complementar, discordar, sejam para concordar com a fala
imediatamente anterior. Conversar, nesta acepção, remete à
compreensão de mais profundidade, de mais reflexão, assim como
de ponderação, no sentido de melhor compreensão de franco
compartilhamento (Moura; Lima, 2014, p. 5).
É neste contexto de proporcionar a relação e a troca com os outros
que a roda assume o importante papel de tornar possível o desenvolvimen-
to da autonomia moral.
3 Pticas moRais nas Rodas de conveRsa
Nas salas de aula da Educação Infantil, a roda de conversa deve cons-
tituir-se como uma atividade permanente da rotina diária, acontecendo
todos os dias e dependendo das necessidades e objetivos do professor pode
ocorrer mais de uma vez ao dia. As práticas elencadas aqui foram utilizadas
pela autora em uma sala de aula de Educação Infantil (com crianças de
3-4 anos de idade) na cidade de São José do Rio Preto - SP. As rodas eram
realizadas diariamente após o momento de entrada das crianças (rodas de
organização da rotina e para o desenvolvimento de conteúdos cognitivos)
e ao final do dia (rodas de avaliação), além de haver rodas de leitura, dis-
cussão de problemas individuais e regras de convivência, de acordo com os
objetivos diários. A seguir, descrevemos algumas práticas realizadas nestas
rodas de conversa.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
27
3.1 objetivos cognitivos das Rodas de conveRsa
Segundo DeVries e Zan (1998, p. 116), “[...] o primeiro objetivo
cognitivo para a hora da roda é promover o desenvolvimento geral do ra-
ciocínio e da inteligência”. Além de coordenar os momentos de fala e de
escuta, a hora da roda é um excelente momento para trabalhar conteúdos
lógico-matemáticos e linguísticos de maneira contextualizada e significati-
va para as crianças.
Em nosso caso, a primeira roda do dia era constituída da contagem
dos alunos presentes e ausentes no dia, a observação do clima (temperatura
e se o dia seria ensolarado, nublado ou chuvoso) e do dia no calendário e
a organização da rotina diária com a apresentação das atividades a serem
realizadas no dia.
Sabendo que o controle heteronômico imposto pelos adultos às
crianças resulta em falta de reflexão tanto nos aspectos morais quanto inte-
lectuais, é preciso promover também o raciocínio ativo das crianças sobre
os conteúdos que esperamos que elas aprendam. Por isso, as rodas que
visam o desenvolvimento cognitivo também promovem a interação entre
as crianças e a reflexão para que se chegue a determinada conclusão. No
caso da contagem de alunos presentes, por exemplo, houve casos em que as
crianças sugeriram a contagem de si mesmas – utilizando seus corpos – ou
a contagem de suas mochilas, sendo ambas as maneiras testadas e verifi-
cadas como possíveis maneiras de solucionar o problema. Ao observar as
imagens da rotina, as crianças também faziam relação entre as palavras ali
escritas e a imagem, além de compartilharem seus próprios pensamentos
sobre padrões que encontravam – como a descoberta de uma letra de seu
nome em uma palavra da rotina ou a observação de que uma outra criança
também tem a mesma letra inicial em seu nome.
Na visão construtivista, como salientam DeVries e Zan (1998), a
moralidade e a inteligência são transformadas em vias interconectadas.
Uma vez que não é possível influenciar uma sem influenciar a outra, argu-
mentamos que a vida em uma sala de aula moral promoverá o desenvol-
vimento intelectual das crianças. Por isso, o respeito às ideias e hipóteses
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
28
das crianças também está presente nas rodas em que os objetivos não são
especificamente do âmbito moral, valorizando sempre a reflexão e a consi-
deração de diferentes perspectivas para que ocorra a aprendizagem.
3.2 objetivos moRais das Rodas de conveRsa
Quando as rodas de conversa têm por objetivo o desenvolvimen-
to da autonomia moral, devem promover o descentramento das crianças,
mostrando a existência de outras perspectivas, que devem ser conciliadas
com as suas próprias pensando em um bem maior - o do grupo. Preocupar-
se uns com os outros leva a considerações sobre equilíbrio e justiça na co-
munidade, abrindo caminho para a empatia, a responsabilidade e a ética.
Enquanto participam do estabelecimento de regras, da administra-
ção de problemas da classe, da proposta e escolha entre opções para
a atividade da classe e da tomada de outras decisões, elas aprendem
numerosas lições de democracia. As crianças aprendem que todas
as vozes têm uma chance de ser ouvidas, que nenhuma opinião tem
mais peso do que outra e que têm o poder de decidir o que ocorre
em sua classe. As crianças praticam o respeito e a cooperação mútua
enquanto trabalham juntas, escutam umas às outras, trocam opini-
ões, negociam problemas e votam para tomar decisões que afetam
todo o grupo (Devries; Zan; 1998, p. 116).
Com esta perspectiva, exemplificamos a seguir alguns tipos de roda
especificamente pensadas para o desenvolvimento moral, envolvendo as
atividades de confecção de combinados, discussão de situações-problemas,
votações e expressão de sentimentos.
3.2.1 combinados da tuRma
O estabelecimento de regras que nortearão os comportamentos das
crianças se dá a partir da necessidade de sentirem-se bem umas com as
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
29
outras em um ambiente compartilhado. Por isso, envolver as crianças neste
processo contribui para uma atmosfera de respeito mútuo e colaboração.
Para que isso ocorra, o professor ou a professora pode apresentar um deter-
minado problema que esteja ocorrendo na turma a fim de que as crianças
pensem em possíveis maneiras de solucioná-lo.
Com o grupo de crianças citado neste trabalho, a professora per-
cebeu que as crianças tinham dificuldades para se expressar verbalmente
(mesmo que a maior parte das crianças falasse muito bem), sendo que
frequentemente reagiam chorando ou agredindo os colegas frente a algum
conflito ou dificuldade. Com isto em mente, na roda para a confecção dos
combinados da turma, a professora pediu a ajuda das crianças para resol-
ver alguns problemas que estavam acontecendo e que estavam deixando
muitas delas tristes, chateadas ou machucadas. As crianças imediatamente
concordaram que havia muito choro e irritação, dizendo inicialmente que
não pode bater” ou “não precisa chorar”. Partindo destas falas, a professo-
ra indagava o que poderia ser feito, então, já que bater machuca e não con-
seguimos entender o que as crianças querem. Foram se aproximando de
formulações como “precisa falar o que quer”, “tem que pedir” e finalizaram
com o enunciado “QUANDO QUISER ALGUMA COISA, VAMOS
USAR AS NOSSAS PALAVRAS”.
Como se tratava de crianças bem novas, o tempo de duração das
rodas era de cerca de vinte minutos. Os combinados foram sendo formu-
lados um por dia, sempre sendo trazidos à roda problemas que as crianças
deveriam solucionar pensando em como agir para que a sala de aula fosse
um ambiente mais agradável para todos.
3.2.2 votação
A questão principal da votação é a definição pelo professor de quais
temas são apropriados para que as crianças votem. Temas nos quais haja
discordância e que envolvam todo o grupo são propícios a serem bons ob-
jetos de votação. Em contrapartida, fatos não são passíveis de votação (não
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
30
é possível votar para saber se alguém está certo ou errado sobre algo), assim
como assuntos que não envolvam todo o grupo. Além disso, quando não
for possível executar algum dos possíveis resultados da votação, também
não deve-se incluí-lo como opção. Deve-se cuidar também para que as
crianças entendam o método de votação e o que acontecerá ao final dela,
respeitando o resultado sem ofender os que tinham outra preferência.
A professora do nosso exemplo propôs, em determinado dia, uma
votação para decidir qual seria a leitura do dia na roda. Havia apenas duas
opções de histórias que as crianças já conheciam e estavam familiarizadas.
Para garantir que todos compreendessem quais eram as opções e em qual
tinham votado, a professora colocou os dois livros apoiados na lousa e cada
criança era chamada, seguindo a sequência da roda, para fazer um risco na
lousa acima do livro de sua preferência. Antes de iniciar a votação, a profes-
sora afirmou que só um dos livros seria lido dessa vez e que seria aquele que
o maior número de crianças escolhesse. Em seguida, perguntou o que eles
iriam sentir se o seu livro fosse escolhido, obtendo respostas como “vou
ficar feliz”. Em contraposição, perguntou o que sentiriam se seu livro não
fosse o escolhido, obtendo as respostas de que ficariam tristes. Desse modo,
a professora disse que algumas crianças ficariam felizes e outras tristes ao
mesmo tempo e que, por isso, deveriam pensar em como deveriam reagir
ao final da votação. Algumas crianças sugeriram que abraçassem os colegas
que ficassem muito tristes e que todos batessem palmas para os que vota-
ram no livro escolhido. As sugestões foram acolhidas pelo grupo e, mesmo
que algumas crianças tenham chorado e demonstrado tristeza após a de-
finição do livro escolhido (contando os votos acima de cada livro e vendo
qual era a maior quantidade), as crianças concordaram com a escolha ao
final da votação e prosseguiram com a leitura do livro escolhido.
3.2.3 situões-PRoblemas
O grupo pode ser visto como um auxílio para resolver problemas
envolvendo alguma criança em particular, se essa desejar ajuda. Problemas
que envolvam todo o grupo também podem ser abordados, buscando solu-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
31
ções que beneficiem a todos. Também podem ser trazidas à tona situações
que as crianças tenham percebido em histórias de literatura infantil ou
fatos que tenham acontecido e as deixado incomodadas.
Uma das crianças da turma aqui relatada disse à professora que sem-
pre perdia os brinquedos que trazia de casa no “Dia do Brinquedo” e que
sua mãe ficava brava com ela. A professora perguntou se podia falar sobre
este problema (que também acontecia com outras crianças) na roda de
conversa para obterem ajuda e ela aceitou. Na roda, as crianças sugeri-
ram que a colega guardasse tudo na mochila quando acabasse de brincar,
que levasse só um brinquedo ou que não levasse mais nenhum. Ela disse
que ficaria triste se só ela não tivesse brinquedo naquele dia e preferiu a
opção de guardar assim que acabasse de brincar. As demais crianças tam-
bém consideraram importante sempre guardar os brinquedos para que
não perdessem e sugeriram que fosse criado mais um combinado, que va-
lia para todos os brinquedos da sala, não só o que eles traziam de casa:
“QUANDO ACABAMOS DE BRINCAR, TEMOS QUE GUARDAR
OS BRINQUEDOS.
Em uma outra roda, as crianças se queixavam de uma criança em
particular que sempre as empurrava nos momentos de brincadeira. Tirando
o foco da criança em questão, a professora perguntou às crianças o que po-
demos fazer quando alguém nos incomoda ou machuca. Algumas crianças
sugeriram “bater nele também”, “falar pra ele parar”, até que uma delas
sugeriu que deveriam “se defender”. As crianças passaram a pensar sobre o
que seria essa defesa e, com ajuda da professora, chegaram à conclusão de
que deveriam colocar as mãos em frente do corpo e dizer “para” ou “assim
não” para o colega, sem machucá-lo, mas sem deixar que os machucassem
também. As crianças decidiram testar essa solução quando fossem brincar
no pátio e relataram na roda seguinte que isso ajudou, mas que ele ainda
não havia parado. Combinaram então que, quando isso não funcionasse,
deveriam chamar a professora para ajudar.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
32
3.2.4 exPRessão de sentimentos
Algumas vezes também utilizadas como “rodas de avaliação”, esse
tipo de roda tem como objetivo nomear e expressar sentimentos, contri-
buindo para a autorregulação e reflexão sobre a perspectiva dos outros. São
entendidas como rodas de avaliação quando as crianças são convidadas a
contar como se sentiram durante o dia, o que houve de bom e ruim, o que
gostaram e não gostaram, havendo a comparação de diferentes pontos de
vista. Geralmente é realizada no fim das aulas.
Na turma citada aqui, a roda final do dia contava com o relato das
crianças do que mais gostaram no dia e do que não gostaram. Em dias
específicos, com o objetivo de nomear e aprofundar a discussão sobre al-
gum sentimento específico, a professora mostrava a imagem de um emoji
caracterizando um sentimento e perguntava às crianças qual era aquele
sentimento e quem tinha se sentido assim naquele dia. Em um dia em
que foi apresentado o emoji da raiva, a professora perguntou quem havia
sentido raiva naquele dia e por que, uma criança respondeu que sentiu
raiva quando um colega pisou no seu pé. O colega rapidamente disse que
foi sem querer e o primeiro disse “mas doeu”. A professora perguntou se a
raiva já havia passado e a criança respondeu que sim. Quando perguntado
sobre o que fez para a raiva passar, a criança disse “fui brincar”. A profes-
sora perguntou o que podemos fazer quando sentimos raiva e as crianças
deram sugestões como “beber água”, “respirar bem fundo”, “contar até 10”
– essas sugestões já haviam sido vistas em um livro de literatura infantil
apresentado anteriormente pela professora à turma. O colega que havia
pisado no pé da primeira criança foi encorajado a reparar a sua ação, uma
vez que o que fez causou dor, mesmo sem intenção. Perguntado sobre o
que o colega poderia fazer para que se sentisse melhor, sugeriu um carinho
no pé, o que o colega atendeu.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
33
consideRações finais
Ao longo deste trabalho, observamos como as ações do professor de-
finem o tipo de ambiente sociomoral que será estabelecido na sala de aula,
proporcionando o desenvolvimento da autonomia moral ou a manutenção
da heteronomia.
As rodas de conversa são um importante instrumento de consolida-
ção das práticas morais, uma vez que, acontecem diariamente e com pro-
pósitos diferentes, sempre proporcionando interações entre os membros
do grupo.
Seja para desenvolver aprendizagens promotoras de habilidades
cognitivas, seja para desenvolver autonomia moral, as rodas explicitam as
concepções do professor, que age de maneira a garantir a participação e
autoria, acreditando na capacidade das crianças de refletir sobre os diversos
aspectos de sua experiência e relações com os outros para criar hipóteses e
tomar decisões.
Quando colocadas em situação de participação nas decisões e na
busca de soluções, as crianças sentem-se inseridas e responsáveis pelas suas
ações e pelo ambiente em que estão inseridas. Por isso, é preciso que o pro-
fessor tenha clareza de seus objetivos e planeje situações que privilegiem a
troca de experiências e opiniões, promovendo o diálogo e a reflexão.
Ainda assim, é preciso estar atento às necessidades das crianças
e ao próprio manejo do tempo e do interesse nos assuntos abordados.
Quanto mais novas são, menos tempo as crianças conseguem manter-se
atentas e envolvidas em uma única proposta, por isso é importante ter
diversos momentos em que a roda seja possível e que a mesma possa ser
interrompida e continuada em outros momentos. Ao trazer para a roda
as experiências e necessidades das próprias crianças, maiores são as chan-
ces de que elas vejam significado, sintam necessidade de contribuir com
as soluções dos problemas.
Práticas como as apresentadas aqui levam em conta o papel ativo da
criança na construção de seus conhecimentos, considerando-as capazes de
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
34
desenvolverem-se cognitiva e moralmente por meio de suas próprias refle-
xões, com a condução respeitosa e afetuosa de um professor consciente de
seu papel na educação moral de seus alunos, proporcionando um ambiente
sociomoral positivo e favorável ao desenvolvimento da autonomia.
RefeRências
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília,
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PIAGET, J. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994.
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para a educação pós-moderna. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 13-23.
35
Conflitos hipotéticos na educação
infantil: o que pensam as crianças?
Ieda Alves LUGLI 1
Kelly Regina CONDE 2
Luciano Cássio LUGLI 3
1 intRodução
Os conflitos interpessoais são inerentes à vida humana e, apesar
de serem considerados negativos por gerarem confrontos e frustrações,
são favoráveis à aprendizagem de valores sociomorais, uma vez que são
essenciais para a melhoria da convivência no contexto escolar. Segundo
Curbelo (2005, p. 42), “O conflito está presente no primeiro e no último
ato de nossa vida, no nascer e no morrer, ao criar algo e ao mantê-lo. Os
mais pessimistas diriam que estamos destinados a eles”. Nesse sentido,
o conflito é natural e inevitável nas relações sociais, é uma situação pro-
blema, um desafio a ser enfrentado, refletido e solucionado pelos seres
humanos. Para Delval (2006), as situações conflituosas são tão naturais
quanto a força da gravidade.
Mestra pela UNESP/IBILCE/PPGEPF; Doutoranda pela UNESP/FFC/PPGE (Professora PEB I –
PMSJRP/SP Educação Infantil; ieda.alves@unesp.br)
Mestra pela UNESP/IBILCE/PPGEPF (Coordenadora Pedagógica – PMSJRP/SP de Educação Infantil;
kelly.conde@unesp.br)
Doutor pela USP/EESC; Doutorando pela UNESP/FC/PPGEDC (Pesquisador Senior – IIT Istituto
Italiano di Tecnologia/Itália; lc.lugli@unesp.br)
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p35-50
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
36
É importante elucidar que o termo “conflito” vem do antigo latim:
conflictus, tem o sentido de choque/confronto e está relacionado a for-
ças contrárias para um embate e enfrentamento. Os conflitos interpesso-
ais ocorrem em interações sociais de oposição, desacordo ou frustração e
podem estar presentes tanto em situações individuais quanto coletivas e
em diferentes contextos sociais (Vicentin, 2009). Além disso, estimulam
a expressão de emoções e sentimentos que muitas vezes são desagradáveis,
tendo como consequência reações violentas pela falta do desenvolvimento
de estratégias assertivas de resolução, por parte dos envolvidos.
Partindo dessa perspectiva, na concepção construtivista existem dois
tipos de conflitos, o primeiro chamado de intraindividual, que se manifes-
ta no interior do sujeito, (envolvendo sentimentos opositores que dificul-
tam a tomada de decisão) e o segundo, o interindividual, que transcorre de
modo exterior ao sujeito (se refere aos desentendimentos entre as pessoas).
Devries e Zan (1998) apresentam exemplos bem elucidativos do que
seria cada tipo de conflito na prática. No que diz respeito ao conflito inte-
rindividual, é possível constatá-lo em uma disputa por objetos entre crian-
ças. Já o conflito intraindividual, seria análogo ao que acontece com uma
criança que vê sua sombra refletida na parede. A princípio, ela acredita que
ao passar por outra parede, conseguirá visualizá-la novamente, mas quando
sua hipótese não é validada, isso faz com que a criança fique confusa, geran-
do assim, um conflito interno. Vale destacar que o conflito interindividual
pode gerar um conflito intraindividual, abrangendo processos cognitivos
e morais, como a elaboração de estratégias de negociação e a compreensão
de como elas interferem nas relações interpessoais (Devries; Zan, 1998).
Para as pesquisadoras Vinha e Tognetta (2009), os conflitos inter-
pessoais são considerados benéficos para o desenvolvimento humano. Por
meio deles, os processos de autorregulação e equilibração são ativados e, a
partir do momento em que as interações sociais se desequilibram, os su-
jeitos são convocados a refletirem sobre a reconstituição da reciprocidade.
De acordo com Leme (2004), situações conflitantes são capazes de
mobilizar recursos cognitivos e afetivos, ou seja, envolvem a razão e a emo-
ção. Com isso, muitos sujeitos, mesmo que apresentem um bom desenvol-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
37
vimento cognitivo para a resolução de conflitos, nem sempre dispõem de
habilidades afetivas, uma vez que as relações interpessoais são permeadas
por sentimentos e ações.
Nesse sentido, os conflitos podem ser tanto construtivos como des-
trutivos para o desenvolvimento. São considerados destrutivos, quando
suscitam a violência e permanecem sem solução, comprometendo o pro-
cesso de desenvolvimento. Porém, passam a ser construtivos quando pro-
movem o autoconhecimento e a compreensão da perspectiva do outro, de
modo que os sujeitos constituam formas mais elaboradas para a resolução
dos conflitos (Shantz; Hartup, 1992).
De acordo com Cerezo (2010), o conflito tem função socializadora,
pois incorpora muitas intencionalidades e valores positivos, sendo o motor
de mudança pessoal e social, estimula o interesse e a curiosidade, favorece
o autoconhecimento e o conhecimento do outro, contribuindo para o es-
tabelecimento de identidades pessoais e de grupo. Além disso, promove a
aprendizagem de novas formas de resolução de problemas, possibilitando a
construção de relações mais respeitosas.
Diante do exposto, depreende-se que os conflitos são essenciais para
a construção da autonomia moral dos sujeitos, pois através deles é possível
aprender sobre regras, valores e o reconhecimento dos sentimentos. Com
isso, é indispensável que desde a primeira infância, as crianças aprendam a
lidar com os conflitos, visto que eles fazem parte da gênese humana.
Assim, se faz necessário resgatar o que os documentos oficiais trazem
a respeito da infância e das relações interpessoais no contexto escolar. As
Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI) (Brasil,
2009) entendem a criança como
[...] um sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações
e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal
e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa,
experimenta, narra, questiona e constrói sobre a natureza e a
sociedade, produzindo cultura.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
38
Tendo em vista que a criança aprende por meio das interações e
brincadeiras, não se pode negar a importância das relações no processo de
aprendizagem das crianças. À vista disso, a LDB (9394/96) em seu artigo
29.º destaca que a “Educação Infantil, primeira etapa da educação básica
tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos
de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, comple-
mentando a ação da família e da comunidade” (Brasil, 1996).
Em consonância, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) afir-
ma que “Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas
com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos,
a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emo-
ções” (Brasil, 2017).
Partindo desta perspectiva, o contexto escolar por ser considerado
um ambiente socializador, favorece a ocorrência de conflitos em maior
proporção, uma vez que é neste espaço que as crianças iniciam suas primei-
ras interações sociais, diferentemente do que estão habituadas no contexto
familiar. É neste espaço que começam a aprender a coordenar diferentes
pontos de vista e compreender a diversidade, sejam relacionadas a cultura,
etnia e religião.
Segundo Tognetta e Lepre (2022, p. 39), “A escola é por excelência
um espaço privilegiado de convivência com a diferença, condição necessá-
ria para que crianças e adolescentes possam se desconcentrar de si e, com
isso, avançar em suas perspectivas éticas”. Contudo, para que a escola con-
tribua com a formação ética das crianças, é preciso pensar na formação
dos profissionais da educação e na construção de um currículo pautado na
convivência. O trabalho com a convivência precisa ser estudado, planejado
e refletido do mesmo modo que fazem com os conteúdos escolares.
Diante disso, a finalidade deste artigo é compartilhar uma prática
sobre conflitos hipotéticos na Educação Infantil, desenvolvida por Lugli
(2018) e que teve como participantes, crianças de 4-5 anos de escolas pú-
blicas do município de São José do Rio Preto/SP. Com o objetivo de com-
preender o que pensam as crianças a respeito de conflitos que se asseme-
lham aos vivenciados por elas no contexto escolar.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
39
2 PRocedimentos de inteRvenção dos conflitos
Com base na concepção construtivista, é possível encontrar dife-
rentes procedimentos para o trabalho com os conflitos e a convivência
na escola.
Primeiramente, é preciso que o educador saiba como mediar e es-
tabelecer uma comunicação assertiva e respeitosa com as crianças. Nesse
sentido, é importante que se utilize uma “linguagem descritiva”, que é uma
“Forma de comunicação que consiste em apresentar os fatos como são,
isto é, como o próprio nome diz, descrever ações, fatos e sentimentos, sem
emitir julgamentos” (Wrege et al., 2014, p. 125). Este tipo de comunica-
ção envolve cuidado e respeito e se a finalidade é construir relações mais
respeitosas, as palavras proferidas pelo educador devem ser pensadas, pois
o uso de ameaças e acusações provocam sentimentos negativos e reforçam
a heteronomia.
De acordo com Vinha (2000), a opinião do adulto tem muita im-
portância para a criança e interfere em seu autoconceito, pois muitas vezes
tende a tomar para si a imagem que o adulto faz dela, por isso, é preciso ter
prudência para não julgar a personalidade ou caráter do sujeito.
Vale destacar que a linguagem descritiva apresenta duas estratégias: a
“Escuta Ativa” e a “Mensagem Eu”. Na primeira, é necessário que o profes-
sor escute atentamente o problema relatado pelas crianças. Após o término
das explicações, o professor deve repetir de maneira resumida o que foi
dito, de modo que fique compreensível. Posteriormente, é importante que
as crianças sejam encorajadas a reconhecerem seus sentimentos e terem a
oportunidade de nomeá-los. Neste momento, o educador deve agir com
neutralidade, sem emitir julgamentos ou defender algum lado. Muitas ve-
zes é necessário usar uma linguagem não verbal para validar as ações das
crianças (abraçar, olhar nos olhos, balançar a cabeça ou sorrir), a fim de
fomentar a reparação (Gordon, 1974).
Em continuidade, na segunda estratégia, “Mensagem Eu”, a situação
de conflito refere-se ao adulto, ou seja, entre o adulto e a criança. Neste
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
40
caso, o adulto deve verbalizar o que sente de maneira adequada e sem ofen-
sas ou até mesmo sem abuso de poder. De modo que o diálogo seja recí-
proco, pois tanto o adulto como a criança, podem relatar seus sentimentos,
sejam eles: raiva, tristeza, alegria, entre outros.
Ao fazer uso desses procedimentos, o educador conseguirá articular,
de forma assertiva, os diferentes pontos de vista, de modo que os envolvi-
dos passem a resolver seus conflitos de maneira respeitosa e colaborativa.
Partindo dessa perspectiva, é importante salientar que os conflitos
acontecem diariamente e é imprescindível que o educador faça a mediação
com embasamento e não pelo senso comum, pois assim como os conte-
údos acadêmicos exigem estudo, as questões morais também precisam de
preparo e intencionalidade.
Dessa forma, o educador pode realizar propostas para construir, jun-
tamente com as crianças, reflexões acerca dos conflitos. Por esse motivo, o
uso de conflitos hipotéticos é uma excelente ferramenta para desenvolver
nas crianças estruturas cognitivas e afetivas que auxiliarão na resolução de
seus próprios conflitos.
De acordo com as autoras Sastre e Moreno (2002), os professores
podem fazer uso de histórias e debater com as crianças a respeito das
ações dos personagens, dos sentimentos que estão em jogo, bem como
das relações interpessoais que fazem parte do enredo. A partir daí, as
crianças são levadas a criar diferentes soluções para um mesmo conflito.
Os recursos a serem utilizados podem ser diversos: um trecho de um fil-
me, uma história, um conflito cotidiano adaptado, uma tirinha de gibi,
fantoches, entre outros.
De maneira semelhante, temos o trabalho com os “Dilemas mo-
rais”, que são situações em que ocorrem o levantamento de diferentes pers-
pectivas, direitos e reivindicações (Devries; Zan, 1998). Segundo Bataglia
(2014), os dilemas morais colocam os sujeitos em conflito entre princípios
ou ideais importantes e opostos. Esta metodologia ativa envolve a discussão
de dilemas que colocam os participantes na posição de protagonistas e o
professor é o mediador que garante que as regras, a liberdade de expressão
e o respeito sejam mantidos. Este método faz uso de histórias semirreais
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
41
que possibilitam discussões. Primeiramente, o dilema é apresentado pelo
mediador, em seguida os valores são clarificados e as indagações são levan-
tadas da história. De modo geral, o ponto central é a reflexão do sujeito na
tomada de decisão.
Em suma, é possível encontrar na literatura outros procedimentos
que entendem os conflitos como oportunidade para o desenvolvimento da
moralidade autônoma das crianças, mas neste artigo, o foco será voltado
para os conflitos hipotéticos.
3 Relato de uma PRática com conflitos hiPotéticos
A prática que será apresentada, fez parte da pesquisa realizada por
Lugli (2018), que desenvolveu uma investigação acerca dos conflitos inter-
pessoais na Educação Infantil, de modo a compreender quais os conflitos
eram os mais recorrentes e quais as concepções das crianças e dos professores
sobre os conflitos hipotéticos apresentados. Porém, o que será apresentado
neste artigo, é apenas um recorte dos dados coletados pela pesquisadora.
O estudo transcorreu em duas escolas municipais da cidade de São
José do Rio Preto/SP. Em cada escola, duas turmas participaram da pes-
quisa, totalizando 4 turmas (duas da 1.ª Etapa e duas da 2.ª etapa) com 40
crianças de quatro a cinco anos de idade.
A prática realizada foi por meio de entrevistas individuais, seme-
lhantemente ao método clínico proposto por Jean Piaget (1994), que de
maneira resumida, é um procedimento de investigação que busca compre-
ender a estrutura do pensamento infantil.
Segundo Delval (2002), neste método o pesquisador permanece diante
do sujeito a ser entrevistado, observa, estuda e interage com ele. Envolvendo
assim, o sujeito em uma situação problema por meio de perguntas.
Para a realização das entrevistas foram elaboradas histórias conflituo-
sas, com base nas observações dos conflitos mais recorrentes nas turmas: os
de disputa por objetos, agressão física, provocação, entre outros.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
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42
Posteriormente, Lugli (2018) desenhou os personagens e considerou
importante dar vida a eles, utilizando a técnica de Stop motion, que consiste
em uma animação feita com o uso de uma máquina fotográfica ou câmera
do celular e um computador.
A primeira história trata-se de um conflito de disputa por objeto,
seguida de agressão física. Já a segunda refere-se a uma provocação, seguida
de uma agressão verbal.
Vale destacar que as duas histórias apresentam versões femininas e
masculinas, pois a pesquisadora considerou importante não ter nenhum
tipo de interferência nas respostas por conta do gênero.
Na sequência será possível ler as histórias apresentadas às crianças na
entrevista e ter acesso ao link para visualizar as versões animadas.
Figura 1 - História- Disputa por objeto e agressão física - Versão feminina4.
Fonte: Lugli (2018). Disponível em: https://youtu.be/QFRIr4agoEA
Júlia estava brincando com seu ursinho de pelúcia. Logo, chega Mariana
e o pede emprestado.
Júlia diz:
__ Não vou emprestar! Eu estou brincando!
Versão masculina disponível em: https://youtu.be/jY_8_UorDq0
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
43
Mariana fala:
__Ah, é!? Você vai me emprestar sim!
Mariana imediatamente dá um tapa em Júlia e toma o ursinho de suas
mãos. Júlia começa a chorar...
A professora logo se aproxima e pergunta:
__ O que está acontecendo por aqui?!
Mariana diz que Júlia não quis emprestar o ursinho e por isso resolveu
tomá-lo. Júlia complementa dizendo que a colega lhe bateu. A professora
decide que nenhuma das duas ficará com o ursinho e resolve guardá-lo.
Após a visualização da história, as crianças respondiam as perguntas
abaixo:
Questões da entrevista - Disputa por objeto e Agressão física - (ver-
são feminina):
1. O que aconteceu na história?
2. Como Júlia se sentiu quando Mariana lhe bateu?
3. Como Mariana se sentiu quando Júlia disse que não emprestaria
o ursinho?
4. Quem está mais errada, Júlia que não quis emprestar o ursinho
ou Mariana que bateu? Por quê?
5. Como elas poderiam ter resolvido?
6. Você acha que a professora fez o certo ao guardar o brinquedo?
Por quê?
7. A professora poderia ter agido de outro modo?
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Figura 2 - História- Provocação e Agressão verbal - Versão Masculina.
Fonte: Lugli (2018).
Disponível em: https://youtu.be/kCeq_Jyu6Uw
Versão feminina disponível em: https://youtu.be/f6Y67g7eeyU
Carlos começou a cutucar os ombros de João.
João diz:
__ Pare de me cutucar, você está me irritando!
Carlos continua....
João grita:
___Seu chato! Para de me cutucar, você não entendeu, seu burro?!
A professora logo se aproxima e pergunta:
__ O que está acontecendo aqui?!
João diz:
__ Ele não me deixa em paz, professora!
A professora diz:
__ E você acha que é xingando que se resolvem as coisas?
João tenta falar:
___ Mas professora, ele me cutucou…
A professora não deixa João terminar de falar e diz:
__ Chega! Os dois vão para a diretoria agora, pois estão atrapalhando
a aula!
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
45
Questões da entrevista - Provocação e Agressão verbal - (versão
masculina):
1. O que aconteceu na história?
2. Por que João xingou Carlos de chato e burro?
3. Como Carlos se sentiu quando João lhe xingou?
4. Como João se sentiu quando Carlos lhe cutucou?
5. Quem está mais errado, Carlos que cutucou ou João que xin-
gou? Por quê?
6. Como eles poderiam ter resolvido?
7. Você acha que a professora fez o certo ao mandá-los para a dire-
toria? Por quê?
8. A professora poderia ter agido de outro modo?
As entrevistas foram realizadas na sala de informática e cada criança
foi entrevistada individualmente. A sessão durava em torno de 10 minutos
e cada criança assistia a uma história e, por esse motivo, metade das crian-
ças assistiram à história de disputa por objeto e a outra metade à história
de provocação.
No momento das sessões, as crianças assistiram à animação pelo
computador e foram convidadas a dizer o que entenderam. Quando era
necessário, as crianças assistiam ao vídeo novamente.
Em seguida, a pesquisadora utilizava o roteiro de questões para guiar
o bate-papo, que foi flexível para facilitar a comunicação com as crianças.
Ao final, as entrevistas foram transcritas para que pudessem ser analisadas
e, com isso, foi possível verificar o juízo das crianças sobre os conflitos
hipotéticos.
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Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
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4 análise das entRevistas
A partir das análises dos dados coletados nas entrevistas, foi possível
identificar que as crianças consideravam sempre o sujeito que apresentava a
conduta agressiva o mais culpado. Como no caso da história, em que uma
criança bate na outra, pelo fato dela se negar a emprestar um brinquedo.
Neste conflito, 67% das crianças consideraram que a pessoa mais errada
da história foi a que bateu. No entanto, apesar de terem consciência de
que um ato agressivo é algo errado, Selman e Schultz (1990) afirmam que
as crianças pequenas utilizam estratégias físicas e impulsivas para resolve-
rem seus conflitos, pois se encontram no nível inicial (0) de negociação
interpessoal, no qual o sujeito apresenta ações egocêntricas e não percebe
diferenciação entre outros pontos de vista.
Figura 3 – “Quem foi mais errado na história?” – História de Disputa
por Objeto.
Fonte: Lugli (2018).
na entRevista...
Rick - Ao ser questionado sobre como resolveria o conflito da história
de disputa por objeto seguido de agressão física, nos disse: “Eu iria
pedir por favor e conversaria com o amigo para dividir o brinquedo
comigo!” Na pergunta sobre o personagem mais errado da história,
respondeu: “O errado foi o que bateu, é feio bater!” (Lugli, 2018).
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
47
Já a segunda história que envolve a provocação, seguida de agres-
são verbal, 65% das crianças consideraram a criança que xingou a mais
errada. Com isso, é possível constatar que para a maioria, a agressão
verbal é considerada a mais errada, mesmo que a reação tenha surgido
após uma provocação.
Figura 4 – “Quem foi mais errado na história?” – História de
Provocação.
Fonte: Lugli (2018).
Na sequência, as crianças também foram questionadas sobre como
resolveriam esses conflitos e a estratégia de resolução mais mencionada foi
a dependente, que é a opção de chamar um adulto para resolver o conflito
por eles. No entanto, um fato muito intrigante foi que as crianças não
escolheram as estratégias: impulsiva e agressiva. Contudo, na prática, elas
são as mais utilizadas por elas.
na entRevista...
Pesquisadora:
__ Quem foi o mais errado na história?
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Mari:
__ A menina que xingou, porque é falta de educação xingar!
Pesquisadora:
__Como você resolveria este conflito?
Mari:
__ Eu chamaria a professora!
Pesquisadora:
__ O que a professora deveria fazer?
Mari:
__ Chamar a diretoria! (Lugli, 2018).
De modo geral, esses resultados validam os estudos de Piaget (1994)
quando ele diz que as crianças têm a intenção de cumprir as regras que mui-
tas vezes são estabelecidas, porém são externas a sua consciência e, por esse
motivo, não conseguem modificar o seu comportamento por completo.
Para Piaget (1994, p. 23), “[...] toda moral consiste num sistema de
regras, e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o
indivíduo adquire por essas regras”. Partindo deste pensamento de Piaget, o
mais importante é compreender os motivos que levam uma pessoa a respei-
tar uma regra. Será que é por medo ou por realmente fazer sentido?
Enfim, nem sempre o juízo condiz com a ação, isto é, nem sempre o
que pensamos, fazemos de fato.
consideRações finais
Diante da prática apresentada, é possível depreender o quanto é ne-
cessário trazer para o contexto escolar, reflexões acerca dos conflitos, bem
como das relações interpessoais. Por meio das discussões morais é possível
contribuir para o desenvolvimento do raciocínio moral das crianças.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
49
A prática moral realizada é apenas o início de muitas outras práticas
que podem ser desenvolvidas. A partir de uma prática individual, o profes-
sor pode desenvolver momentos de discussões em pequenos e grandes gru-
pos. Nesse sentido, fazer uso de situações hipotéticas, possibilita às crianças
desenvolverem o pensamento sobre suas ações e fomenta a previsibilidade
de situações futuras. Tudo isso vai contribuir na tomada de decisão frente
às mais diversas situações de conflito.
É importante salientar que apenas práticas pontuais não são sufi-
cientes para o desenvolvimento da moralidade infantil. É preciso que o tra-
balho com as questões morais faça parte do currículo da escola. Que sejam
desenvolvidas diferentes propostas de maneira contínua, a fim de que as
crianças aprendam a conviver de maneira mais harmoniosa e cooperativa.
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51
Justiça restaurativa na escola: uma
alternativa para consolidação de uma
convivência ética e desenvolvimento
da autonomia moral das crianças
Evanileide Patrícia Lima FIGUEIRA 1
Patrícia Helena da SILVA 2
Rosângela Cândida da Silva SANTOS 3
1 intRodução
A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, cujos ei-
xos norteadores do currículo são brincadeira e interação (Brasil, 2010),
concebe que o desenvolvimento da criança enquanto sujeito integral deve
contemplar as dimensões física, afetiva, cognitiva, linguística, ética, esté-
tica e sociocultural por meio de práticas que se efetivam a partir de “[...]
relações sociais que as crianças desde bem pequenas estabelecem com os
professores e as outras crianças, e afetam a construção de suas identidades
(Brasil, 2009, p. 6).
Doutoranda pelo Programa de Pós- Graduação em Educação na UNESP/ Câmpus Marília. Membro do
GEPEDEME. Exerce, atualmente, o cargo efetivo de Diretor de Escola na Prefeitura Municipal de São José
do Rio Preto. evanileide.lima@unesp.br.
Graduada em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Atualmente, é Professora
de Educação Básica I na Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto. rosangela.candida@educacao.
riopreto.br
Graduada em Pedagogia e Educação Especial. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional.
Atualmente, é Professora de Educação Básica I na Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto. phsilva@
educacao.riopreto.br.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p51-68
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
52
Do mesmo modo, a dimensão moral compõe a integralidade da
criança e deve ser acolhida no desenvolvimento do trabalho educativo,
pois o professor nas relações estabelecidas com as crianças, assim como
na aplicação de sanções aos comportamentos, transmite mensagens so-
ciais e morais e influenciam de forma significativa a sua formação moral
(Menin, 1996).
Porém, apesar do desenvolvimento moral comparecer nas práticas
educativas como um currículo implícito ou mesmo oculto, restrito na
maioria das escolas ao cumprimento de normas e regras vinculados ao con-
trole dos comportamentos das crianças (DeVries; Zan, 1998), este deve
assumir intencionalidade e planejamento, pois tal aspecto vincula-se à for-
mação de sujeitos autônomos moralmente, com capacidade de governar a
si próprio (Piaget, 1994), considerando o outro em suas decisões, sendo
este o sujeito almejado pelas escolas na construção de uma sociedade justa
e democrática. Tais considerações reflete as ideias defendidas por Oliveira
(2012) quando dispõe sobre o desenvolvimento do trabalho educativo
com vistas à formação para cidadania:
[...] ser cidadão significa ser tratado com urbanidade e aprender a
fazer o mesmo em relação às demais pessoas, ter acesso as formas
mais interessantes de conhecer e aprender a enriquecer-se com a
troca de experiências com outros indivíduos. Isso implica tomar
consciência de problemas coletivos e relacionar a experiência da
própria comunidade com o que ocorre em outros contextos. A
educação para cidadania inclui aprender a tomar perspectiva do
outro [...] e ter consciência dos direitos e deveres próprios e alheios
(Oliveira, 2002, p. 50).
Assim, a criança ao ingressar na escola, amplia sua rede de relações
e interações, o que faz com que esse espaço educativo assuma um papel
importante no desenvolvimento da autonomia moral, haja vista que “as
interações sociais, possibilitadas pela convivência cotidiana na escola, for-
talecem o estabelecimento de relações interpessoais fundamentais para a
construção da moralidade” (Lepre, 2023, p. 222). Nessas condições, a es-
cola se apresenta como o primeiro espaço coletivo a ser vivenciado pela
criança, favorável à convivência com seus diferentes pares, e participação
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
53
em situações-problema necessárias para que construam valores, princípios
e normas (Piaget, 1994).
A interação, segundo DeVries e Zan (1998), tem um papel prepon-
derante no desenvolvimento moral da criança, pois é através dela que ad-
quire a consciência sobre as regras, assim como constroi a consciência e a
diferenciação de si mesma e dos outros, a depender da qualidade do am-
biente sociomoral em que estão inseridas. Por ambiente sociomoral, este
consiste na “rede de relações interpessoais composta pelo relacionamento
da criança com o professor, com outras crianças, com os estudos e com as
regras” (DeVries; Zan, 1998, p. 17). Conforme as autoras:
Dependendo da natureza do ambiente sociomoral geral da
vida de uma criança, ela aprende de que forma o mundo das
pessoas é seguro ou perigoso, carinhoso ou hostil, coercivo
ou cooperativo, satisfatório ou insatisfatório. No contexto
das atividades interpessoais, a criança aprende a pensar em si
mesma como tendo certas características em relação aos outros.
Dentro do contexto social envolvendo os objetos, a criança
aprende de que forma o mundo dos objetos é aberto ou fechado
à exploração e experimentação, descoberta e invenção (DeVries;
Zan, 1998, p. 51).
Nesse sentido, como acentuam Lepre e Oliveira (2016), o adulto
tem papel essencial no estabelecimento do ambiente sociomoral no qual as
crianças estão inseridas e a depender da qualidade das relações que estabe-
lecem com elas, podem colaborar para a sua permanência na moral hete-
rônoma ou para o seu avanço para autonomia, e o modo como enfrentam
os problemas e os conflitos.
Piaget (1994) as divide em dois tipos: coação e cooperação. A co-
ação é o tipo de relação que se baseia no respeito unilateral, cujas regras
são obedecidas pelo medo da punição ou perda do amor, sendo alguns
exemplos, citados por DeVries e Zan (1998), o uso da ameaça de perder
recreio ou parque às crianças que não tiveram bom comportamento, assim
como a prescrição das regras pelo adulto, na qual resta a criança apenas se-
gui-las. Nessa relação, os conflitos são assimilados como problemas a serem
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
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evitados, cuja centralidade do professor em sua resolução se dá por meio
de implementação de mais regras e medidas punitivas (Vinha; Licciardi,
2011, p. 30).
Já na cooperação, as relações se baseiam no respeito mútuo em am-
bientes democráticos, na qual as regras são construídas coletivamente, as
crianças têm oportunidades de pensar e cooperar, realizam trocas efetivas
com seus pares e são encorajadas a resolver seus conflitos pelo diálogo e a se
autorregularem. Os conflitos, nesse contexto, ocorrem pela possibilidade
das crianças interagirem e são acolhidos como oportunidades e não como
ameaça à ordem.
Ao colocarmos em evidência o desenvolvimento moral do sujeito
pela ótica das relações e interações, compreendemos com Piaget (1994)
que este não se consolida por meio de discursos, sermões, lições ou teoria,
mas pelas experiências de vida comum. Como sublinha Vinha (2000):
[...] a moralidade não é ensinada diretamente, pois é construída
pelo sujeito. Não existe um momento específico em que se trabalha
a educação moral. Será durante a convivência diária com o adulto,
com seus pares, com os problemas com os quais se defronta, e
também experimentando, agindo, que a criança irá construir seus
valores, princípios e normas morais (Vinha, 2000, p. 167).
Tais experiências só ocorrerão em um ambiente estimulador e coo-
perativo, com relações pautadas no respeito mútuo, reciprocidade e per-
meado pelo respeito aos interesses e necessidades das crianças, incentivo às
interações entre os pares, reflexão sobre as regras e participação nas decisões
e situações-problema (Vinha, 2000; DeVries; Zan, 1998). Esse cuidado
com o ambiente escolar no qual as crianças estão inseridas, dentro da bus-
ca por ambientes mais justos, democráticos e cooperativos, reconhece a
Justiça Restaurativa como um apoio ao alcance desse objetivo por meio de
suas práticas restaurativas (Queiroz, 2019).
Assim, o presente trabalho apresenta um relato de experiência com a
mobilização de estratégias de Justiças Restaurativas possíveis de serem rea-
lizadas numa Escola Municipal de Educação Infantil, no município de São
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
55
José do Rio Preto, interior de São Paulo, sendo tais estratégias vinculadas
ao Projeto Pedagógico que acolhe o conflito como inerente às relações e sua
mediação como recurso indispensável à formação moral do sujeito.
Tal percurso será composto pela breve explanação sobre a compre-
ensão assumida pela escola sobre o desenvolvimento moral, a percepção da
Justiça Restaurativa como alternativa para a consolidação da convivência
ética e desenvolvimento moral e, por fim, o relato das experiências desen-
volvidas com a comunidade escolar e as crianças de 03 a 04 anos de idade
pertencentes às turmas do Maternal 2, no ano de 2022.
2 desenvolvimento moRal do sujeito: a comPReensão como
Ponto de PaRtida
Concordamos com DeVries e Zan (1998, p. 50) quando ponderam
que o entendimento da vida moral da infância baliza a percepção sobre os
comportamentos esperados das crianças em termos de moralidade, pois
[...] ajuda-nos a reconhecer o desenvolvimento moral e a formular méto-
dos apropriados de apoio ao desenvolvimento”. Nesse sentido, o percurso
trilhado pela equipe escolar da Escola Municipal onde se consolidou a
prática apresentada neste trabalho, teve como ponto de partida a realização
de estudos que oferecessem suportes ao desenvolvimento de práticas favo-
ráveis ao desenvolvimento moral da criança e estratégias adequadas para
mediação de conflitos, tão evidentes nas relações das crianças com seus
diferentes pares e em situações vivenciadas durante a rotina.
Para a realização dos estudos, desenvolvidos inicialmente em Horário
de Trabalho Coletivo (HTPC, PPM) e, posteriormente, nos Horários de
Leitura (HL) foram escolhidas duas obras. “O educador e a Moralidade
Infantil” de Telma Vinha (2000), com a seleção do capítulo 1 do “Quadro
teórico” intitulado “O Desenvolvimento da moralidade segundo Jean
Piaget”. Também “A ética na Educação Infantil” de Retha DeVries e Betty
Zan (1998) que, partindo de uma visão construtivista, oferecem aportes
teóricos e práticos que orientam para o estabelecimento de alternativas co-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
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operativas condizentes com as especificidades e necessidades das crianças,
em prol do desenvolvimento de sua autonomia moral. Discorremos de
forma breve sobre o estudo da teoria de Piaget sobre o desenvolvimento
moral que embasa as discussões de ambas as obras.
Piaget (1994), ao buscar compreender o desenvolvimento da mora-
lidade, realizou estudos cujo interesse estava direcionado para a compreen-
são da evolução da prática e da consciência das regras, de modo a revelar os
princípios que orientam a ação e acessar como as pessoas raciocinam frente
aos conflitos, problemas e assuntos relacionados à moralidade, já que, se-
gundo o autor, “[...] toda moral consiste num sistema de regras e a essência
de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire
por essas regras” (Piaget, 1994, p. 23).
Vinha (2000, p. 73), ao tratar sobre a evolução das regras e destacar
que a compreensão e vivência das mesmas passa pela construção por parte
das crianças, explica que em sua obra “O juízo moral na criança”, Piaget
(1994) apresentou os resultados de sua pesquisa sobre a evolução da prática
e da consciência das regras, a partir de um jogo de bolinhas, identificando
três estágios, assumidos por meio da observação das atitudes dominantes
observadas nos sujeitos em determinadas idades, sendo eles a pré-morali-
dade, a heteronomia e a autonomia moral.
No estágio da pré-moralidade, até três anos de idade, a regra é
motora e as crianças nessa idade não compreendem-na, nem mesmo
a necessidade de sua existência, não percebendo a obrigatoriedade em
cumpri-la. Esse estágio é o da anomia, compreendido como a ausência
da consciência sobre as regras, cujas ações são motivadas pela necessidade
e interesses próprios.
A heteronomia, que vai dos 3 aos 5 anos em média, configura-se
como o estágio da submissão ao adulto, sendo este considerado a fonte
das regras, ficando essas externas ao sujeito. Considerada como o “estágio
egocêntrico das regras” (Vinha, 2000, p. 74), a criança percebe que há
coisas certas ou erradas, no entanto, é governada pelos adultos com quem
convive, ou seja, as regras emanam dos mais velhos, consideradas sagradas
e sem possibilidade de serem alteradas. Segundo Piaget (1994, p. 18):
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
57
As primeiras formas de interpretação (assimilação) que a criança
faz da moral adulta são decorrências das estruturas mentais que
possui. Estas ainda não lhe permitem uma apropriação intelectual
racional do porquê das regras: portanto, a criança acredita serem
boas porque impostas por seres vistos como poderosos e amorosos
(os pais). O que opera na hetoronomia é o egocentrismo da prática
das regras, sendo estas percebidas como algo sagrado e imutável.
O pensamento infantil, presente nesse estágio, dificulta a genera-
lização das regras pela criança, para outras situações, estando ausente a
consciência das mesmas. Portanto, “[...] na heteronomia (ser governado
por outrem), a criança já sabe que há coisas certas e erradas, mas são os
adultos que as definem [...] a consciência é submetida a palavra do adulto
(Vinha, 2000, p. 54).
Num estágio mais avançado, da autonomia moral, a partir dos 7 a
8 anos, a criança começa a atribuir um novo sentido à norma, percebendo
sua necessidade, cuja obrigatoriedade passa pela percepção da importância
das regras para a organização das relações, sendo fundamentadas pelo res-
peito mútuo, reciprocidade e cooperação. Nesse estágio, a consciência das
regras desloca para a compreensão dessas como “[...] um acordo, um com-
binado do grupo e que é válida pelo fato de que foi elaborada por todos
(Vinha, 2000, p. 79).
Em seus estudos sobre o desenvolvimento da moralidade, Piaget evi-
denciou que o desenvolvimento da autonomia moral, será alcançado por
meio das oportunidades que forem dadas às crianças de discutir, combinar,
elaborar regras, trocar diferentes pontos de vistas, num ambiente democrá-
tico e livre de coerção, pois como acentua Vinha (2000, p. 88):
Para a criança ter a possibilidade de ir construindo gradualmente sua
autonomia moral (governar-se a si mesma), faz-se necessário que ela
conviva com adultos, num ambiente em que exista o respeito mútuo,
e, portanto, a autoridade do adulto seja mínima. Visto que as raízes
da autonomia moral encontram-se nas relações democráticas, esse
ambiente deve propiciar trocas sociais entre pares, oportunidades
de crianças assumirem pequenas responsabilidades e de tomar
decisões, discutir seus pontos de vista, expressarem livremente seus
pensamento e desejos, investigar e estabelecer relações.
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Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
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DeVries e Zan (1998), com vistas a pensar quais condições são mais
adequadas para que a criança alcance a autonomia moral, trazem em sua
obra efetivas contribuições para os aspectos que configuram o self de um
ambiente sociomoral, realizando discussões que consolidam o princípio
norteador da obra, que é a consideração que o ambiente sociomoral deve
ser cultivado a partir do respeito contínuo pelo outro nas diferentes rela-
ções estabelecidas.
As autoras, ao acolherem o conflito intra e interpessoal nas suas
discussões, o fazem por considerarem o papel que assumem no desen-
volvimento da autorregulação tanto no domínio intelectual quanto no
domínio sociomoral. Conforme as autoras, “[...] o ambiente sociomoral
mais desejável é aquele que promove, em termos ótimos, o desenvolvi-
mento da criança – social, moral, afetivo e intelectual” (DeVries; Zan,
1998, p. 12).
O percurso formativo trilhado com as referidas obras ofereceu um
conjunto de aportes teóricos e práticos dos quais os professores puderam
cultivar e refletir em suas práticas e reforçaram nosso entendimento de que
é na Educação Infantil que a criança deve ampliar a sua experiência no
mundo das regras e evoluir da condição de heteronomia para autonomia
(Piaget, 1994) e que a qualidade das interações ali oportunizadas interfe-
rem diretamente sobre o desenvolvimento moral (Vinha, 2000).
Para além dos aspectos apresentados, os conhecimentos acessados
sobre o desenvolvimento moral da criança mobilizaram a equipe a refletir
sobre ações e estratégias que contribuíssem para a qualificação do convívio
escolar e estabelecimento do ambiente sociomoral cooperativo, reconhe-
cendo nessa atividade colaborativa a Justiça Restaurativa como uma possi-
bilidade de trabalho na etapa de ensino de 0 a 3 anos.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
59
3 justiça RestauRativa na educação infantil: desafios e
Possibilidades
A Lei Municipal n.º 12.977 (São José do Rio Preto, 2018), que ins-
titui no âmbito do Município de São José do Rio Preto, a Política Pública
de Justiça Restaurativa e dá outras providências, aborda os princípios, va-
lores e práticas da Justiça Restaurativa como política pública no apoio às
reflexões e às ações quanto aos aspectos da convivência, dos conflitos, das
violências e da cultura da paz.
Assim, a Justiça Restaurativa se constitui como um conjunto orde-
nado e sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias,
que visa à conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais e so-
ciais motivadores de conflitos e violências, que geram dano, concreto ou
abstrato, e comprometem a convivência social (Brasil, 2016).
A Resolução n.º 225/2016 do CNJ (Brasil, 2016) apresenta como
princípios da JR: a corresponsabilidade, a reparação dos danos, o atendi-
mento às necessidades de todos os envolvidos, a informalidade, a volunta-
riedade, a imparcialidade, a participação, o empoderamento, a consensua-
lidade, a confidencialidade, a celeridade e a urbanidade, dialogando.
Destarte, compreendemos que é possível articular os princípios, va-
lores e práticas da Justiça Restaurativa a outras ações concomitantes no
cotidiano escolar (Morisson, 2005; Nunes, 2016), presentes em outros
documentos e legislações educacionais vigentes com foco nos aspectos da
convivência ética, respeitosa e democrática.
Nesse sentido, o olhar para os problemas de convivência em ins-
tituições escolares, suas formas de prevenção sugeridas e comprovadas
pela ciência em educação e a atuação dos pares e dos adultos na inter-
venção requerem pensar como compreendemos as relações humanas
na escola, quais princípios orientam essa convivência e quais caminhos
desejamos percorrer.
Assim, a Proposta Educativa da Escola Municipal reconhece os
conflitos como oportunidades para aprendizagem e desenvolvimento e o
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cotidiano escolar como espaço de construção de alternativas pedagógicas
decorrentes da responsabilidade da escola na formação ética e moral dos
sujeito, sendo apresentados nesse espaço algumas vivências com práticas
restaurativas pelas crianças e comunidade.
4 Relato de exPeRiência com Pticas RestauRativas
4.1 cíRculos RestauRativos e assembleias com a equiPe e famílias
Ao longo do ano de 2022, foram realizados na Escola Municipal
Processos Circulares para fortalecer os espaços de escuta, fala e participação
efetiva, valorizando a contribuição dos diferentes membros para dialogar
sobre as demandas, conflitos e vivências presentes no coletivo da escola.
No primeiro Processo Circular realizado, família e escola refletiram juntas
sobre “O que é preciso para a parceria escola e família dar certo?” e inau-
guravam a caixa de sugestões para os próximos encontros.
No que se refere à disposição do círculo para organização do diálogo,
Pranis (2010, 2011) ressalta que tal disposição das pessoas na integração
do círculo transmite a mensagem aos participantes de que todos são rele-
vantes na discussão, o que o torna inclusivo e igualitário, colaborativo para
despertar o senso de comunidade.
Ao acolhermos a caixa de sugestão como recurso ao centro para le-
vantamento de assuntos de interesse da comunidade, aprimoramos os es-
paços dialógicos de cooperação entre todos os membros da comunidade
escolar, fortalecendo, assim, os espaços de reivindicação das necessidades,
bem como sugestões e reclamações, que colaboram para a qualificação das
vivências e a transformação das relações (Nunes, 2016).
Foram realizadas Assembleias Escolares com a equipe escolar para
tratar de temáticas relacionadas ao convívio entre os respectivos pares e
entre esses e a equipe gestora e PPP. Nessas vivências, os pares dos dife-
rentes segmentos elaboravam as regras de convivência de forma coletiva e
colaborativa.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
61
Figura 1 - Assembleia Escolar
Fonte: Arquivo da gestora Figueira (2022).
Para desenvolver o sentimento de pertencimento e senso de comu-
nidade no ambiente escolar, a partir do fortalecimento de diferentes ações
e espaços de escuta e fala, a escola se mobilizou na abertura de espaços
interativos, dialógicos e acolhedores a toda comunidade escolar, de forma
individualizada ou coletiva.
Tais abordagens refletem as ideias defendidas por Salmaso (2016),
quando considera a importância das instituições, a partir do trabalho com
a Justiça Restaurativa, ao repensarem e reformularem suas práticas e modos
de se relacionar, abrindo espaços para que as pessoas tenham vez e voz,
participando ativamente do estabelecimento das normas que organizam a
convivência escolar, fortalecendo, pois, o ambiente democrático e desen-
volvendo o sentimento de pertencimento.
As experiências oportunizadas para os adultos, educadores e pares
mais experientes ao se relacionarem com as crianças, possibilitam que res-
signifique o olhar para os conflitos além de inferirem, por meio dessas
experiências, a coordenação do ponto de vista com o outro, de forma coo-
perativa e por meio de respeito mútuo, sendo este o caminho possível para
o desenvolvimento da autonomia moral.
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4.2 vivências cooPeRativas e democRáticas com cRianças do
mateRnal i e ii
A prática implementada nas turmas do Maternal II, com crianças
de 3 e 4 anos, na Escola Municipal de Educação Infantil de São José do
Rio Preto se deu em um ambiente diversificado e inclusivo e teve como
objetivo promover a resolução pacífica e mediadora dos conflitos como
oportunidade de aprendizagens para as crianças, cultivar o senso de res-
ponsabilidade e empatia entre os colegas, melhorar a comunicação entre
todos, assim como exercer o direito de escolha.
Em 2022, o ano letivo iniciou com as salas referências numerosas,
nas quais os conflitos eram frequentes e manifestados de diversas formas,
tais como na disputa por brinquedos, uso do espaço com utilização de
ações que dificultava os diálogos, e oferecia riscos à integridade física ao
arrastar cadeiras e correr descontroladamente pela sala e nos momentos
de refeições.
Essa dinâmica dificultava a realização de propostas como leitura,
contação de histórias, brincadeiras e outras atividades planejadas. Com
base nos estudos realizados sobre desenvolvimento moral e princípios da
Justiça Restaurativa, conforme previsto no PPP, foram realizadas algumas
práticas restaurativas que ofereciam possibilidade de trabalho junto às
crianças, como as rodas de conversa, estabelecimento de combinados com
a colaboração das crianças e mediação de conflitos.
O estabelecimento de tais práticas restaurativas é considerado po-
tenciais ao desenvolvimento da autonomia das crianças, pois oferecem
a elas a oportunidade de tomar decisões, pensar concretamente sobre as
consequências de suas ações sobre o outro independentemente de puni-
ção ou recompensa e leva a criança a pensar e refletir através de debates
e de diálogos.
Desse modo, apresentamos nesse espaço algumas vivências da turma
do Maternal II, com descrição do trabalho realizado com a utilização dos
princípios da Justiça Restaurativa para qualificar as relações e colaborar
para o desenvolvimento moral das crianças, pois o trabalho com a Justiça
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
63
Restaurativa fortalece “[...] princípios e práticas de uma escola democrá-
tica, comprometida com a formação para a cidadania, com o desenvolvi-
mento da autonomia moral e mediada por processos metodológicos ativos
[...] (Queiroz, 2019, p. 70).
Ao assumirmos a roda de conversa como uma prática restaurativa,
cabe esclarecer que o círculo não é assumido pela sua dimensão restaurati-
va, haja vista que o trabalho está sendo realizado com crianças ainda na fase
do egocentrismo, com a dificuldade ainda presente em articular seu ponto
de vista com o do outro (Vinha, 2000). Mas, sim, pela rica oportunidade
de participarem de vivências democráticas que despertem nas crianças o
senso de comunidade e de pertencimento ao grupo (Lepre; Oliveira, 2016,
p. 100).
Desse modo, conforme relato das professoras do Maternal II, as ro-
das de conversa foram intencionalmente planejadas para que as crianças
pudessem expressar seus sentimentos e ideias e pensar em outras formas de
resolver conflitos de maneira pacífica, assim como o que poderiam realizar
para melhorar a convivência da turma, usando exemplos do cotidiano de-
las, como compartilhar brinquedos, escolher o que estava disponível para
brincar, usar a fala para se comunicar.
Tais estratégias refletem na prática os estudos de DeVries e Zan
(1998) quanto à realização da roda de conversa como espaço importante
para o avanço na descentração e caminhar para a autonomia moral, haja
vista que:
[...] as interações sociais entre as crianças a partir da hora da roda
pode ajudá-las a controlar seus impulsos, internalizar regras, ser
sensível à opinião do outro, desenvolver a comunicação para
compreender sentimentos e conflitos e alcançar a satisfação
emocional (Lepre; Oliveira, 2016, p. 99).
Para organizar as relações, foi construído em conjunto com as crian-
ças uma lista de combinados (com professor escriba), partindo das situa-
ções vivenciadas pelas turmas do Maternal II, que precisavam ser organi-
zadas, cujas cartas ficaram fixadas na sala, na altura das crianças, e eram
regularmente revisitadas e discutidas com a turma sempre que houvesse
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
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necessidade. As crianças eram partícipes ativas na tomada de decisões e nas
discussões à medida que enfrentavam diversas situações.
A lista de combinados foi incorporada à rotina, dentro de sua di-
mensão interacional (Oliveira, 2012), servindo como suporte para orga-
nizar as relações. No acompanhamento, as crianças iam removendo ou
adicionando combinados conforme consideravam pertinentes e de acor-
do com as sugestões das crianças mediante necessidade resgatada a partir
de suas vivências no coletivo da turma. Por exemplo, se algo já não fazia
sentido para o grupo, ou seja, a situação que motivou a regra já estava
organizada, a professora discutia com as crianças a retirada da lista de
combinados, assim como novo acréscimo, se houvesse necessidade. Para
DeVries e Zan (1998):
Enquanto participam do estabelecimento de regras, da administração
de problemas da classe, da proposta e escolha entre as opções para
a atividade da classe e da tomada de outras decisões, elas aprendem
numerosas lições de democracia. As crianças aprendem que todas
as vozes têm uma chance de ser ouvidas, que nenhuma opinião
tem mais peso do que outras e que têm o poder de decidir o que
ocorre em sua classe. As crianças praticam o respeito e a cooperação
mútua enquanto trabalham juntas, escutam umas às outras, trocam
opiniões, negociam problemas e votam para tomar decisões que
afetam todo o grupo (DeVries; Zan, 1998, p. 116).
Figuras 2 e 3 - Participação das crianças no estabelecimento, discussão e
interação com os combinados da turma
Fonte: Arquivo da professora Cândido (2022).
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
65
A partir do acompanhamento do trabalho realizado pelo gestor, as-
sim como pelas professoras, por meio da avaliação contínua a partir de
observação e registros diversificados (fotos, vídeos, registros reflexivos), foi
possível verificar que as práticas cooperativas assumidas com as turmas co-
laboraram para melhorar as relações e comunicação entre as crianças. As
crianças participaram da organização do espaço após as brincadeiras, exer-
ciam a escolhas e passaram a utilizar mais a fala com o colega para solicitar
um brinquedo ao invés de tomar das mãos dos colegas; nos momentos de
leitura, escolhiam se queria permanecer naquele espaço participando da
proposta, ou se queriam ocupar outro espaço da sala de referência e entre
elas mesmas recorriam ao cartaz de combinados para dialogar com algum
colega que infringiu a regra.
Por meio dessas vivências, foi observada melhora significativa na di-
nâmica da turma, uma vez que as crianças demonstraram maior capacida-
de de resolver conflitos de maneira pacífica, utilizando a linguagem e os
combinados como orientação.
consideRações finais
Aos termos como pressuposto que a escola precisa ser um lugar onde
se promova tanto a educação intelectual quanto a moral, compreendemos
que esta se configura como um espaço aberto à gestão de conflitos, que
desenvolverá em suas questões cotidianas a Justiça Restaurativa como al-
ternativa potente e viável para a consolidação de um ambiente sociomoral
cooperativo, da participação democrática e do protagonismo na formação
da personalidade ética dos estudantes.
Nessa perspectiva, compreendemos que as práticas restaurativas
nos levam a lidar com os conflitos de forma diferenciada, pois têm como
pressuposto o rompimento com os tradicionais padrões punitivos e o
acolhimento dos conflitos como oportunidades de mudança e de apren-
dizagem, ressaltando os valores da inclusão, do pertencimento, da escuta
ativa e da solidariedade.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
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Ao promover os processos circulares e as assembleias, buscando di-
álogo para reconhecer os conflitos e problemas a serem resolvidos, sem
julgamentos prévios, com a abertura de espaço de voz e participação de
todos, promove-se a corresponsabilização e a validação de condutas éticas
e respeitosas em espaços democráticos, que contribuem para a qualificação
das relações a serem estabelecidas com as crianças.
Nesse sentido, o trabalho com a Justiça Restaurativa na escola se
apresentou como uma alternativa potente ao objetivo de apropriação pe-
los diferentes adultos que compõem a rede de relações da criança na
Unidade Escolar da consolidação de uma convivência ética em prol do
desenvolvimento da autonomia moral das crianças, oportunizando a elas
momentos de protagonismo, expressão de seus sentimentos e falas na
roda de conversa, elencando combinados pertinentes na turma como
forma de garantirmos a mediação dos conflitos a fim de avançarmos na
convivência ética e respeitosa.
A Justiça Restaurativa ao assumir as sanções por reciprocidade, sem
a intencionalidade de punir ou culpabilizar, mas de restabelecer as relações
e a compreensão pelas partes envolvidas no conflito num espaço dialógico,
se apresenta como viabilizadora do desenvolvimento moral por meio de
suas ações, valores e princípios, que rompem com o paradigma punitivo
e apresenta um novo paradigma que possibilita as práticas interventivas
democráticas nas escolas.
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Práticas morais na escola:
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Jogos cooperativos e a moralidade
infantil: um olhar sobre as práticas
morais na perspectiva docente
Eduardo Silva BENETTI 1
Jamily Soler do Nascimento AGUIAR 2
1 intRodução
Ao longo dos séculos, estudiosos buscam compreender o desenvolvi-
mento da moralidade humana, diversos campos de estudo como Filosofia e
Sociologia também buscam suas respostas para o tema, mas foi com Jean Piaget
em “O Juízo Moral na Criança” (1932/1994) que nos foi apresentado um es-
tudo empírico demonstrando como as crianças se desenvolvem moralmente.
Nesse sentido, Jean Piaget foi um grande expoente para a Psicologia
Moral, pois seu livro até os dias atuais é base para outros tantos estudos no
campo da moral, o que demonstra a sua importância. Contudo, a busca
pelo conhecimento da gênese da moralidade não se encerra em Piaget, já
que outros autores, como Vinha (2000), Brotto (2013), Buxarrais (2020),
Lepre e Ferreira (2020), entre outros, que continuam suas pesquisas no
campo da moralidade.
Doutorando em Psicologia pela Unesp – Assis. Mestre em Docência para Educação Básica – Unesp, Câmpus
de Bauru, Membro do GEPEDEME - Professor de Educação Física e Pedagogo, Professor Recreacionista
na Secretaria Municipal de Catanduva–SP. E-mail: eduardo.benetti@unesp.br,
Pedagoga pela Unesp - Marília, professora do 4.º ano do Ensino Fundamental ciclo I no Colégio John
Kennedy, em Cafelândia. Psicopedagoga Clínica e Institucional pelo Indep. Discente do curso de Psicologia
pelo UniSALESIANO e membro do grupo de pesquisa GEPEDEME na UNESP de Bauru. E-mail:
jamilyaguiar942@gmail.com.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p69-91
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
70
Para além dos estudiosos e corroborando com os mesmos, não po-
demos desconsiderar a legislação brasileira, como a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB, 1996) e seu artigo 29 que define que a
Educação Infantil tem por finalidade o desenvolvimento integral da crian-
ça e considera todos os seus aspectos, ou seja, físico, psicológico, intelectu-
al, social e acrescentamos aqui, moral, uma vez que este aspecto, por vezes,
é deixado de lado para se dar maior atenção ao desenvolvimento cognitivo.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2018) tam-
bém traz, em suas competências gerais da Educação Básica, itens que
vão alinhar o papel da educação e o desenvolvimento moral na escola.
Contudo, foi Piaget (1994) quem primeiro afirmou que a escola se torna
um excelente espaço para o exercício da moralidade, implicando, logica-
mente, na compreensão do desenvolvimento da criança e da sua moral,
bem como da possibilidade de participar ativamente de situações que real-
mente possam exigir reflexões críticas e a tomada de consciência acerca do
cotidiano escolar (Piaget, 1977).
Outro ponto importante é o papel do professor neste processo de
descentração da criança, a qual é a capacidade de perceber o ponto de vista
de outras pessoas, dessa forma, conseguindo refletir de forma crítica, en-
volvendo seus valores e pensamentos com aqueles externos a seu, fazendo
parte da tomada de decisão sua. Nesse sentido, o professor, de forma inten-
cional, pode atuar na construção de um ambiente moral, em que a crian-
ça se sinta parte das tomadas de decisões da sala, ouvindo e tendo a fala
acolhida, levando ao coletivo sugestões e propostas a serem decididas co-
operativamente. Através dessa construção cooperativa aluno/professor, se
fomenta o respeito mútuo e, consequentemente, a autonomia das crianças.
Dessa forma, o presente trabalho busca apresentar um relato de ex-
periência através da reaplicação adaptada do e-book Jogos Morais (Benetti,
2023) na Educação Infantil, com crianças da etapa obrigatória, ou seja,
na faixa etária de 4 anos a 5 anos e 11 meses, conforme a BNCC (Brasil,
2018). E tem como objetivo observar se os mesmos resultados encontrados
a partir de um novo contexto escolar.
A metodologia utilizada foi o método clínico piagetiano (Piaget,
2005) e a pesquisa descritiva (Gil, 2017) com a utilização de uma histo-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
71
rieta moral, através da qual fizemos uma roda de conversa sobre o que foi
apresentado, registrando as impressões e falas das crianças. Foram realiza-
dos um total de sete encontros ao longo de quatro semanas e adaptamos
a sequência didática do e-book supracitado. O objetivo tem como respal-
do a hipótese levantada na dissertação “Jogos Cooperativos e a Percepção
da Justiça Retributiva em crianças da Educação Infantil”, a qual se tinha
como hipótese o potencial dos jogos cooperativos na construção de valores
morais e no desenvolvimento da moralidade infantil. Assim, o presente
relato não visa a ação das crianças em si, mas sim, a percepção dos profes-
sores acerca do possível desenvolvimento moral e da construção de valores
morais. Portanto, para que houvesse fidedignidade ao relato, registramos
as impressões iniciais e finais dos professores sobre possíveis implicações
positivas ou não da aplicação dos jogos cooperativos.
Através deste relato, conclui-se que a prática moral por meio de jo-
gos cooperativos potencializa situações de cooperação, desenvolvimento de
capacidade dialógica, sensação de pertencimento, bem como a construção
de valores morais como generosidade, amizade e reciprocidade entre to-
dos, possibilitando que os professores também revissem suas práticas para
fomentar um ambiente sociomoral, em que o respeito mútuo prevaleça.
2 o jogo PaRa Piaget
O jogo é uma das manifestações mais antigas da cultura, talvez até
anteceda mesmo a cultura em si (Huizinga, 2000). Neste sentido, é possí-
vel conjecturar que o jogo é uma atividade humana e através dele que o ser
humano se ressignifica e dá significado às coisas que estão inseridas em seu
meio (Huizinga, 2000).
No que tange à infância, é através do jogo e suas diversas manifes-
tações culturais que a criança interage com o mundo, cria e recria novas
formas de interagir, constrói novos conhecimentos e desenvolve os diversos
aspectos de sua vida.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
72
Assim como nós inventamos, criamos, transformamos e/ou
reproduzimos uma infinidade de jogos e brincadeiras, também
somos inventados, (re)criados, transformados por eles. Nesse
sentido, o valor do jogo (assim como de outros elementos da
cultura) para nossa aprendizagem e desenvolvimento é inestimável
(Sommerhalder; Alves, 2011, p. 12).
Isso posto, é na Educação Infantil (EI) que os jogos são utilizados
de forma mais efetiva e é através desta ação intencional que possibilita-se
à criança interagir com diferentes elementos do mundo, incorporando-os
culturalmente (Friedmann, 2012). É por meio dos jogos e da ludicidade
na EI que a criança terá condições de desenvolver os aspectos cognitivos,
motores, sociais, afetivos e morais (Benetti, 2023).
Nesse mesmo propósito, a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC, 2018) contribui a essa perspectiva da ludicidade inerente aos jo-
gos quando define os eixos estruturantes da EI, ou seja, as interações e as
brincadeiras, englobando os jogos em si.
Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e
as competências gerais da Educação Básica propostas pela BNCC,
seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento asseguram, na
Educação Infantil, as condições para que as crianças aprendam
em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em
ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se
provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados
sobre si, os outros e o mundo social e natural (Brasil, 2018, p. 37).
Dessa forma, o jogo se faz presente na vida da criança e é por ele que
podemos compreender suas manifestações no meio. Para Piaget (1978), o
jogo favorece o desenvolvimento dos esquemas mentais, sua socialização,
de forma ativa, através de sua ação motora.
Piaget também traz importantes contribuições ao universo infantil
ao pensar a estrutura dos jogos, sendo eles, o jogo de exercício, o jogo
simbólico e o jogo de regras, sobre o qual nos deteremos brevemente em
sua explicação.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
73
Os jogos de exercício, na visão piagetiana, são aqueles jogos despro-
vidos de qualquer regra, imperando a ação motora do sujeito.
[…] não supõem qualquer técnica particular: simples exercícios,
põem em ação um conjunto variado de condutas, mas sem
modificar as respectivas estruturas, tal como se apresentam no
estado de adaptação atual. Logo, somente a função diferencia esses
jogos, que exercitam tais estruturas, por assim dizer, em vazio, sem
outra finalidade que não o próprio fazer do funcionamento (Piaget,
1978, p. 144).
Para Piaget, à medida que a criança se desenvolve, passa para o jogo
simbólico. “O jogo simbólico, dessa forma, acontece na possibilidade de
evocar elementos que não existem naquele espaço, mas que estarão presentes
no ato de jogar da criança” (Benetti, 2023, p. 21-22), ou seja, o jogo sim-
bólico implica que haja representação mental de um objeto ausente, criando
uma comparação entre o elemento dado e o imaginado (Piaget, 1978).
O próximo jogo que Piaget define é o chamado jogo de regras.
Esse jogo permite situações de troca de informações a partir do diálogo
e da aceitação de novos pontos de vista ao estabelecer as relações sociais
(Maurício et al., 2020).
Nos jogos de regras, há características de regras herdadas cultural-
mente, ou seja, regras que são invariáveis, mas há também as regras que
podem ser modificadas pelo consenso do grupo, uma vez que “[...] o jogo
de regras é a atividade do ser socializado” (Piaget, 1978, p.182).
Os jogos de regras contêm, como propriedades fundamentais de seu
sistema, as duas características fundamentais de seu sistema, as duas
características herdadas dos jogos anteriores. Neles, [...] a repetição
dos jogos de exercício corresponde à regularidade, graças à qual
esses jogos se constituem em formas democráticas de intercâmbio
social entre crianças ou adultos. Regularidade porque o “como fazer
do jogo” é sempre o mesmo, até que se modifiquem as regras. Na
condição de invariante do sistema, pede consideração recíproca de
todos os participantes do jogo, sendo a transgressão das regras uma
falta grave, que perturba o sentido do jogo (Macedo, 1995, p. 8).
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
74
Dessa forma, o jogo de regras permite que todos possam posicio-
nar-se ante uma regra e a possibilidade de mudá-la em prol do coletivo,
ou ainda, questionando ações que violem o jogo. Nesse sentido, “o jogo
de regras favorece a cooperação entre os indivíduos, ao permitir que o
sujeito submeta suas ações às normas do grupo. É por meio da troca de
pontos de vista com outras pessoas que ocorre progressiva descentração
[...]” (Maurício et al., 2020, p. 147-148).
O jogo de regras permite que o coletivo possa, a partir da compreen-
são das regras, refletir sobre determinadas situações existentes no decorrer
do jogo e refletir, por meio da troca de pontos de vista, se são coerentes ou
não, dessa forma, favorecendo essa descentração. Portanto, a partir dessa
progressiva descentração, a criança passa a compreender novas perspecti-
vas, pensar a partir de outros pontos de vista e autorregular suas ações.
A partir dessas reflexões acerca dos jogos na perspectiva piagetiana,
refletiremos sobre os jogos cooperativos e seus impactos no desenvolvi-
mento da criança.
2.1 jogos cooPeRativos
Tendo em vista a sociedade atual e a competitividade que está incuti-
da em seu meio, seja na obtenção de melhores vagas no mercado de traba-
lho, seja no ambiente escolar e o favorecimento do individualismo acadê-
mico, refletiremos um pouco acerca dos jogos cooperativos e como podem
influenciar no desenvolvimento dos mais diversos aspectos da criança.
Tal como foi posto, a sociedade impõe uma competitividade muito
grande para a inserção no mercado de trabalho, essa imposição reverbera
também na educação, muitas vezes fomentado pelo próprio professor, uma
vez que ele já define quem é o mais hábil, mais capaz e esperto. Essa situ-
ação cria sensações de impotência e desestímulo ante aos outros, uma vez
que compreendem que seus esforços podem ser inúteis, já que são menos
capazes (Nerviz; Silva, Sanzovo, 2019).
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
75
Indo para uma direção oposta, temos a cooperação, esta por sua vez,
não visa imprimir um vencedor em detrimento de perdedores, nem tam-
pouco destaca quais são os mais hábeis, mas reúne em um grupo pessoas
com diferentes capacidades e juntas, atuam em função de um objetivo
comum. Portanto, “A cooperação, com efeito, é um método característico
da sociedade que se constrói pela reciprocidade dos trabalhadores [...]”
(Piaget, 1998, p.141), ou seja, a cooperação é pautada no desenvolvimento
do respeito mútuo entre todos os envolvidos, consequentemente na as-
sunção de diversos pontos de vista que colaboram para um senso comum
coletivo. Ainda segundo o mesmo autor,
[...] a cooperação é condição do verdadeiro pensamento: no
primeiro, trata-se do indivíduo renunciar a seus interesses próprios
para pensar em função da realidade comum e, no segundo, o
hábito de colocar-se do ponto de vista dos outros leva a inteligência
a adotar a atitude, própria do espírito científico desde suas
formas mais simples, que consiste em dissociar o real das ilusões
antropocêntricas (Piaget, 1998, p. 142-143).
A partir do ato de deixar a competitividade e assumir uma conduta
cooperativa, o grupo passa a utilizar a inteligência como forma de resolução
de situações problemas, deixando de lado a ideia de ser melhor que o outro
para serem melhores juntos em relação a um dado objetivo estabelecido.
Nesse sentido, os jogos cooperativos, segundo Piaget (1978), são ati-
vidades que enfatizam a cooperação e o trabalho em equipe, em oposição
à competição. Mediante tais ações, é possível trabalhar com questões rela-
cionadas à interação social na aprendizagem, a fim de incentivar os partici-
pantes a trabalharem juntos e alcançarem um objetivo comum.
O jogo cooperativo tem como característica a corresponsabilidade
em desenvolver habilidades sociais e aprimorar as relações interpessoais
(Brotto, 2013). Através do jogo cooperativo, podemos desenvolver valores
morais, como a confiança, respeito mútuo e solidariedade.
Cooperação, confiança e respeito mútuo parecem ser um dos
alicerces principais para a coevolução humana. No entanto,
precisamos reaprendê-los praticando esses valores por meio de
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
76
nossos sentimentos, pensamentos, atitudes e relacionamentos
cotidianos (Brotto, 2013, p. 56).
Portanto, é importante destacar que o jogo cooperativo não tem
vencedor e perdedores, nem tampouco imposição de uma autoridade, há
o cooperar no sentido mais lógico da palavra, ou seja, cooperar é trabalhar
conjuntamente com o outro. Assim, “[...] a cooperação é um processo de
relação interpessoal e, antes de mais nada, um fator que influencia o desen-
volvimento social, moral e cognitivo[...]” (Araújo, 1996, p. 103).
Dessa forma, o jogo cooperativo exerce uma dupla função, que é
o da ludicidade, do divertimento, bem como o desenvolvimento da mo-
ralidade e da construção de valores morais que implicarão nas ações dos
seres humanos envolvidos. E quando pensamos na educação infantil, es-
tamos convergindo ao disposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Brasil, 1996), em seu artigo 29, que dispõe o seguinte:
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica,
tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até
seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual
e social, complementando a ação da família e da comunidade
(Brasil, 1996).
Logo, a cooperação possibilita o desenvolvimento integral da crian-
ça, em especial, quando a escola possibilita um ambiente sociomoral em
que a criança possa vivenciar experiências nas quais ela colocará sua mora-
lidade em questão.
Embora os jogos cooperativos tenham como objetivo o trabalhar
com o outro, de nada servirá se o professor não estiver alinhado a uma
proposta pedagógica intencional que contemple tais aspectos, é necessário
que os professores estejam engajados com a educação moral das crianças
(DeVries; Zan, 1998).
Quando os professores estão engajados no desenvolvimento integral
da criança, essas, por sua vez, tornam-se confiantes e dispostas agir e refletir,
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
77
já que não há um posicionamento de coação para com elas, possibilitando
o desenvolvimento de admiração, carinho e respeito mútuo entre todos.
A confiança mútua é mais provável de ocorrer quando as
pessoas são positivamente orientadas para o bem-estar do outro.
E o desenvolvimento dessa orientação positiva é incentivada
pela experiência da cooperação bem-sucedida. A cooperação
exige confiança porque, quando alguém escolhe cooperar,
conscientemente coloca seu destino parcialmente nas mãos dos
outros (Orlick, 1989, p. 31).
Assim sendo, a prática com os jogos cooperativos, segundo Brotto
(1997, 2013), intenciona promover a partilha, o encorajamento, a união
e reforça a ideia de confiança em si e nos demais participantes, a fim de,
posteriormente, desenvolver a autonomia moral. Tais posicionamentos po-
dem levar à reflexão em relação à importância dos jogos cooperativos como
proposta pedagógica, a fim de corroborar para que hábitos de socialização
e cooperação ocorram desde a infância.
3 o desenvolvimento moRal na cRiança
A sociedade é regida por leis que promulgam o bem comum, tais
leis visam assegurar os direitos sociais e individuais e para Piaget (1994, p.
23), “Toda moral consiste num sistema de regras, e a essência de toda mo-
ralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas
regras”, assim, o indivíduo não deixa de seguir as regras, mas o faz sem que
haja imposição ou coação para se fazer.
Piaget foi pioneiro ao elaborar sua pesquisa empírica retratada em
seu livro “O Juízo Moral na Criança (1994), pois descreve a compreensão
da regra nos jogos de bolinha de gude e pique esconde. Foi através desse
estudo que Piaget encontrou três estágios, sendo eles: a anomia, a hetero-
nomia e a autonomia.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
78
A anomia se dá até por volta dos dois anos até os quatro anos, em
que não há normas ou regras, apenas regularidades espontâneas, não sen-
do sentidas pelas crianças como obrigatórias, ou seja, as regras derivadas
da moral não estão associadas. São regras de conduta, por assim dizer (La
Taille, 2006).
À medida que a criança passa a estabelecer as relações interindividuais
com adultos significativos para elas, como pais ou professores, por exemplo,
as normas passam a ser sentidas como obrigatórias, devido à relação de
respeito e/ou temor da criança em relação a este adulto. Há, portanto, a
moral da heteronomia, na qual a norma que dita à consciência do sujeito,
se ele deve fazer algo ou não, provém da relação com o outro.
A criança no estágio da heteronomia “[...] está presa à regra por não
conceber o princípio moral que lhe dá sentido” (La Taille, 2006, p. 98),
ou seja, há um dever implícito em segui-la sem questionar. Destaca-se que
Piaget também chamava a heteronomia de moral do dever, uma vez que é
correto seguir as regras impostas por alguma figura de autoridade.
À moral de heteronomia e do dever puro corresponde,
naturalmente, a noção de expiação para aquele cuja lei moral
consiste, unicamente, em regras impostas pela vontade superior
dos adultos dos mais velhos, é claro que a desobediência dos
pequenos provoca a cólera dos grandes, e esta irritação se concretiza
sob a forma de um sofrimento qualquer e “arbitrário” infligido ao
culpado (Piaget, 1994, p. 176).
Nesse estágio, as crianças, quando indagadas sobre quais tipos de
sanções seriam adequadas, tendem a ser rígidas, optando por castigos fí-
sicos. Cabe aqui uma reflexão, uma vez que o professor engajado com o
desenvolvimento moral na Educação Infantil pode aproveitar para favore-
cer a reflexão das crianças em buscar formas mais justas de se restaurar as
relações sociais, afastando as sanções expiatórias e buscando a reciprocida-
de como proposta.
Por volta dos oito, nove anos, em seu estudo sobre as regras do jogo,
Piaget (1994) descobriu que a criança é capaz de seguir regras comuns as
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
79
de seus companheiros e que há uma correspondência evidente entre o mo-
mento que ela começa seguir efetivamente as regras ou mudá-las sem que
isso seja desrespeitoso, ou seja,
[...] Ela deixa de aceitar automaticamente os valores estabelecidos
pelos outros e começa a avaliar as ações, considerando o que é
correto ou não e o efeito de suas ações sobre os outros, e deste
modo, inicia a construção de um conjunto de normas próprias
(Oliveira et al., 2022, p. 371).
Dessa forma, a criança passa pela descentração, momento no qual
ela passa a compreender novos pontos de vista e raciocinar de forma
mais abrangente a partir dessas novas informações que lhe são postas.
“Precisamente, o conceito de autonomia concebe que a pessoa é capaz de
defender os seus próprios critérios sem ser influenciada pela opinião da
maioria ou pela pressão daqueles que têm mais poder de um certo ponto
de vista” (Buxarrais, 2020, p. 18).
Segundo Tognetta (2003, p. 31), “[...] só é capaz de coordenar pon-
tos de vista aquele sujeito capaz de se descentrar, o que significa, de fato,
um pensamento capaz de justapor-se a outro, de ir e vir, utilizando-se de
um instrumento cognitivo, chamado reversibilidade”. Portanto, para que
se possa alcançar a autonomia moral, o sujeito deve ter condições cogniti-
vas para atingir o estágio de reversibilidade, que condiz com o operatório
formal, na qual, a criança tem capacidade fazer deduções e trabalhar e ela-
borar hipóteses mais elaboradas a partir do pensamento lógico do abstrato
(Piaget, 1990).
Dessa forma, é a partir das relações sociais, em especial as pautadas
no respeito mútuo e na cooperação, que permitirão com que o sujeito
possa avançar no desenvolvimento moral, consequentemente, atingir sua
autonomia. E em se tratando de ambiente escolar, o professor tem fun-
damental importância, pois a partir de sua intencionalidade pedagógica,
ele pode promover um ambiente sociomoral que favorecerá atitudes de
cooperação e de respeito mútuo.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
80
Feitas as considerações acerca do desenvolvimento moral na perspec-
tiva piagetiana, passaremos ao relato de experiência.
4 o Relato de exPeRiência
O presente relato surgiu de um convite feito pela diretora da UE
de uma Escola Municipal de Educação Infantil de uma cidade do interior
paulista em que um dos autores trabalha. Tal fato se deu por haver aplicado
uma Sequência Didática (SD) que futuramente viria a se tornar o Produto
Educacional denominado “Jogos Morais”. Vale destacar que este produto
é parte do processo de defesa do Mestrado Profissional em Docência para
Educação Básica - FC - UNESP, do câmpus de Bauru–SP.
Devido aos bons resultados obtidos na época, surgiu a oportunidade
pedagógica de reaplicar, de forma adaptada, ou seja, não seguimos nem a
quantidade de atividades contida no e-book, nem a sequência apresentada
no mesmo.
Foram convidadas duas salas da etapa obrigatória, uma com crianças
de 4 anos e a outra, com crianças de 5 anos, cujas definições são, Pré-I e
Pré-II. Para a aplicação, definimos um total de sete encontros, sendo dois
por semana, excetuando a última.
Todos os encontros eram iniciados com uma roda de conversa, em
que todos poderiam falar, depois partíamos para as atividades, retornando
com a roda de conversa, momento em que eram retomadas algumas situa-
ções ocorridas durante o jogo para problematizar a discussão.
As atividades escolhidas foram: “Olha o tubarão”, “História da ser-
pente”, “Me abraça 1 e 2”, “Ajuda-Ajuda”, “Ajuda-Ajuda Corrente”, “Jogo
do Adivinha”, “Jogo dos Iguais” e “Casa/Terremoto”. Em todos os encon-
tros, fizemos rodas de conversa para iniciar e finalizar as atividades. Todas
foram retiradas do e-book Jogos Morais3 (Benetti, 2023).
https://www.calameo.com/books/0071500595f5dd8a073b5
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
81
No primeiro encontro, foi feita uma apresentação geral do que iría-
mos fazer durante o período de quatro semanas e convidamos as crianças a
participarem. Todas aceitaram. Deixamos claro também, que a participa-
ção não seria obrigatória e que a qualquer momento, poderiam sair, obser-
vando também a rotina e espaços utilizados, de forma que não estivessem
afastados da turma e nem sozinhos, garantindo assim o direito de escolha
em participar e resguardando a segurança de cada criança. De início, apre-
sentamos uma historieta moral para que pudéssemos ter uma compreensão
maior sobre o que as crianças entendem respeito da temática e seus juízos.
Ao final, retomamos a historieta.
A historieta moral que aborda a noção de justiça foi retirada do livro
“O Juízo Moral na Criança” (1994), que se segue:
Um menino brincava em seu quarto, enquanto seu pai trabalhava
na cidade. Depois de algum tempo, teve vontade de desenhar.
Mas não tinha papel. Lembrou-se então que na escrivaninha de
seu pai havia belas folhas brancas numa gaveta. Foi sorrateiramente
procurá-las, encontrou-as e tirou todas. Quando o pai voltou,
verificou que a gaveta estava em desordem e acabou por descobrir
que haviam roubado o papel. Foi, logo em seguida, ao quarto do
menino e viu no chão todas as folhas rabiscadas com lápis de cor.
Então, muito zangado, deu uma boa surra no menino.
b) Eu vou contar agora uma história, que é quase a mesma, mas
não totalmente (repetimo-la em traços gerais, salvo a última frase),
pois, aqui acaba de outra maneira. O pai não o puniu. Explicou-
lhe apenas que não estava certo. Disse-lhe: Quando vocês não está,
quando vai à escola, se eu roubasse brinquedos de seu armário, você
não gostaria. Então, quando eu não estiver, você não deve nunca
mais roubar meu papel. Isso não me agrada. Não é bonito fazer
isso. Agora, estes dois meninos, depois de alguns dias, brincavam
cada um em seu jardim. Aquele que fora punido estava em seu
próprio jardim e aquele que não fora punido também brincava em
seu próprio jardim. Então, cada um encontrou um lápis de cor. Era
o lápis de cor do pai deles. Lembraram-se imediatamente de que o
pai dissera, ao meio-dia, que perdera o lápis de cor na rua e estava
aborrecido, porque não poderia mais achá-lo. Pensaram então
que, se escondessem o lápis de cor, ninguém saberia de nada e não
haveria punição. Muito bem! Um dos dois guardou para si o lápis
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
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de cor e o outro o levou ao pai. Adivinhe qual foi que o devolveu:
será que foi aquele que fora bem punido devido ao papel ou aquele
ao qual apenas foi explicado? (Piaget, 1994, p. 171).
Seguiremos para a abordagem metodológica utilizada.
5 metodologia
O referido relato de experiência tem como base metodológica as pes-
quisas descritivas que são “[...] aquelas que visam descobrir a existência
de associações entre variáveis [...]” (Gil, 2017, p. 42). Nesse sentido, tal
enquadramento se dá através da hipótese de que uma proposta pedagógica
intencional e sistematizada, baseada em jogos cooperativos, obterão os mes-
mos resultados encontrados na pesquisa de mestrado “Jogos Cooperativos
e a percepção da Justiça Retributiva em crianças da Educação Infantil”
(Benetti, 2023).
Para com as crianças, utilizamos o método clínico piagetiano (Piaget,
2005), que é um método elaborado por Piaget, na qual ele utiliza a obser-
vação, argumentação e contra-argumentação a partir das historietas mo-
rais. Esse método foi apresentado aos professores, de forma que pudessem
também contribuir com seus pontos de vista acerca das atividades e ações
das crianças.
A proposta deu-se inicialmente a partir de um convite da diretora da
instituição de Educação Infantil, localizada na periferia de uma cidade do
interior paulista, em que foram convidadas duas salas, sendo uma de crian-
ças de 4 anos, com 18 alunos e a outra, com crianças de 5 anos, com 16
alunos, denominadas Pré-I e Pré-II, totalizando 34 alunos participantes.
A proposta foi incluída na rotina dos alunos a partir do primeiro
encontro, havendo assim, concordância dos docentes e, principalmente,
das crianças. Os encontros aconteceram duas vezes por semana, às terças e
quartas-feiras, com duração média de 90 minutos, totalizando sete encon-
tros ao longo de quatro semanas.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
83
A coleta de dados se deu através do relato dos possíveis avanços no
desenvolvimento moral das crianças, bem como na construção de valores
morais universalmente desejáveis, a partir da perspectiva do professor.
As análises foram realizadas a partir do relato dos professores sobre
as implicações pedagógicas do projeto, observando conteúdos como: so-
cialização, construção de valores morais, expressões afetivas espontâneas,
cooperação e resolução de conflitos de forma não violenta.
6 Resultados e discussões
Para a apresentação dos resultados e discussões, preservando a
identidade dos professores, destacamos como Professor 1 o docente res-
ponsável pelas crianças de 4 anos e Professor 2 aquele responsável pelas
crianças de 5 anos.
A primeira atividade após a roda de conversa e a utilização do méto-
do clínico piagetiano foi o jogo “Olha o Tubarão”, jogo esse que se utiliza
diversos bambolês e é solicitado que a criança se desloque, ao sinal do
professor, cada um deve entrar em um bambolê, em cada nova rodada, um
bambolê é removido, obrigando que dividam espaço. Isso acontece até que
sobre um só e todas as crianças cooperem para estarem dentro do bambolê.
Durante a primeira impressão sobre os jogos cooperativos, o Professor 2
destaca que embora as crianças apresentem um raciocínio mais elaborado,
ainda demonstram atitudes que divergem de suas respostas.
Observa-se nesta etapa que, os alunos da sala conseguem conceituar
a cooperação e os jogos cooperativos como sendo em suas palavras:
que um ajuda o outro, que é realizado em equipe, que todos
ganham, que não tem perdedor, porém, eles apresentam ainda
dificuldade de assimilar esses conceitos na prática, pois mostram
características de competitividade em praticamente todas as tarefas
nas brincadeiras e até mesmo do cotidiano, como, por exemplo, ao
sentar-se à mesa do refeitório existe uma certa disputa pelos lugares
mais à frente, ao recolher brinquedos ou objetos, um quer pegar e
guardar mais que o outro (Professor 2).
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
84
Essa observação converge com os encontrados de Piaget, quando o
autor destaca que somente a partir do pensamento reversível, permitindo
que a criança saia do pensamento egocêntrico e assuma novos pontos de
vista, consequentemente, reflita sobre estes (Tognetta, 2003).
Em relação à historieta, as crianças mais velhas respondiam de forma
mais elabora em relação aos mais novos, porém, apresentavam comporta-
mentos mais inconstantes. Isso foi destacado também pelos Professores 1 e
2, convergindo em um mesmo ponto.
Já em nosso segundo encontro, a atividade foi a brincadeira cantada
“História da Serpente” que tem como objetivo cantar a música “Essa é a
história da serpente, que desceu do morro para procurar um pedaço do seu
rabo. Ei, você também, faz parte do meu rabão!” e ao sinal do professor, a
criança deve passar por baixo das pernas e segurar na camiseta do amigo,
formando assim uma grande serpente. E a pedido das crianças, repetimos
jogo do encontro anterior. Durante um dos jogos, foi percebido um con-
flito entre duas crianças, nesse momento, os retiramos e pedimos para que
tentassem resolver o conflito de forma não violenta. Após alguns minutos,
ambos retiraram as acusações e afirmaram que havia sido uma trombada e
não agressão deliberada.
Nesse sentido, o Professor 1 destaca a construção de um ambiente
mais amigável e cooperativo.
Foi estabelecida uma relação de confiança e parceria e também um
clima descontraído, proporcionando o fortalecimento do grupo e a
empatia entre eles (Professor 1).
Diversos estudos apontam que as relações sociais e o ambiente so-
ciomoral saudáveis contribuem para o desenvolvimento moral das crianças
(DeVries; Zan, 1998, Vinha; Tognetta, 2009). Tais estudos apontam para a
necessidade de experiências e vivências que possam proporcionar reflexões
críticas às crianças, “Aliás, é preciso que a criança possa ter experiências
de vida social para aprender a viver em grupo e a escola é um local muito
apropriado para essa vivência” (Vinha; Tognetta, 2009, p. 529).
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
85
Em nosso terceiro encontro, tivemos como proposta os jogos “Me
Abraça 1” e “Me abraça 2”, sendo o primeiro um tipo de pega-pega em
que para se salvar, precisa abraçar o amigo, quando se é pego, sai da brinca-
deira, o segundo é uma versão cooperativa, em que não há exclusão e sim
alternância dos pegados. Esclarecemos que as crianças que não se sentissem
confortáveis com o abraço, poderiam dar as mãos, respeitando assim o
limite pessoal de cada aluno.
No primeiro momento, foi constatado aquilo que Piaget (1994) des-
tacou como regra motora, em que a criança brinca sem a preocupação com
as regras, mas após a primeira parte, destacaram que não é interessante ficar
de fora e a dinâmica excludente da brincadeira. Já na versão cooperativa,
houve uma maior presença do entendimento da regra.
O Professor 2 destacou a presença da afetividade na dinâmica com-
portamental das crianças e como isso influência na acolhida de outros alu-
nos que eventualmente estão desconfortáveis frente uma brincadeira ou
regra desconhecida.
O que se mostra interessante é que eles estão aparentando mais
afetividade nas atividades e brincadeiras desconhecidas e até mesmo
maior frequência de acolhimento de alunos que acabam não se
inserindo nas brincadeiras de forma espontânea (Professor 2).
Ao desenvolver o conceito de cooperação, a criança não vê mais o ou-
tro como um competidor, mas como alguém que compartilha dos mesmos
objetivos para ganharem juntos, essa tomada de consciência permite a crian-
ça desenvolver afetos que antes estavam obscurecidos na dinâmica competi-
tiva (Brotto, 2013). Para Piaget (2014), o valor dos sentimentos pressupõe
condições básicas que irão intervir nos mecanismos cognitivos da criança.
Nosso quarto encontro teve como atividades o “Ajuda-Ajuda” e
duas variações, sendo uma com deslocamento sentado e o “Ajuda-Ajuda
Corrente”. As duas primeiras atividades consistem basicamente em pegar
a criança e ela passar a ajudar, até que o último seja pego, passando a ser
o novo pegador. Já o “Ajuda-Ajuda Corrente”, tem como dinâmica que,
ao pegar uma criança, essa lhe dá a mão, formando uma corrente. A brin-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
86
cadeira pode ou não ser feita com a música “A corrente, pega gente, quem
tem medo, sai da frente”. Durante a roda de conversa inicial, notou-se uma
participação argumentativa muito maior e o ordenamento ao se pedir a
palavra, demonstrando crescente respeito pela fala dos demais.
O Professor 1 destacou que o comportamento das crianças ao longo
dos dias também mudou, persistindo atitudes mais cooperativas e de res-
peito entre todos.
Os alunos compreendem-se sempre como parceiros, e nunca como
adversários. Isso estimulou a participação de todos e o respeito às
diferenças (Professor 1).
O desenvolvimento do respeito mútuo, por meio de uma proposta
cooperativa, estabelece regras preestabelecidas por meio da reciprocidade,
ou seja, a criança passa a considerar pontos de vista, sentimentos e desejos
e seus companheiros (Vinha, 2000).
Utilizamos o “Jogo do Adivinha” para nosso quinto encontro. Essa
atividade consiste em contar a história do Pinóquio e questionar quais fo-
ram os atos errados da personagem, argumentando a cada resposta. Após
isso, utilizamos diversas imagens para que eles apontassem quais atitudes
eram consideradas corretas e quais não. Nesse sentido, o Professor 2 traz
um importante relato de uma mãe sobre a atitude de seu filho.
Uma mãe relatou na reunião que seu filho havia dito que era preciso
comprar um estojo para sua escova de dentes, pois os professores
estavam pedindo, logo em seguida ele desmentiu e disse que não
eram os professores que estavam pedindo, mas, ele queria, pois
tinha visto o de alguns amigos (Professor 2).
Lepre e Ferreira (2020) destacam que a mentira na fase da heterono-
mia é compreendida pela criança como algo errado, devido à repreensão
dos adultos, entretanto, o reconhecimento da mentira, dar-se-á por meio
das relações de cooperação. Isso reforça que um ambiente sociomoral, com
uma proposta cooperativa intencional e sistematizada, favorece a descen-
tração e a compreensão das regras sem ser por meio da coação.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
87
Já com o “Jogo dos Iguais”, durante a roda de conversa, destacamos
que embora sejamos diferentes em diversas coisas, todos nós temos senti-
mentos e emoções, o que difere é o que gera cada um deles. A partir disso,
as crianças são dispostas uma ao lado da outra e a cada pergunta, se ela
correlacionar como sim, dá um passo à frente, se ela achar que não, um
passo atrás. Exemplificando: Pergunta-se, quem fica com saudade dos pais
e/ou responsáveis enquanto está na escola?
Durante um questionamento do Professor 1, sobre qual seria a ati-
tude a ser tomada quando se percebe um amigo triste, houve uníssono em
dizer que deveria alegrá-lo, completando este questionamento, o Professor
2 perguntou como, nesse momento já houve um maior titubear, momento
em que responderam que seria legal chamar para brincar.
Nesse sentido, um ambiente sociomoral, que permite que haja ações
espontâneas das crianças, facilitará atitudes morais de solidariedade, coo-
peração e respeito (DeVries; Zan, 1998). Todavia, o titubear pode sugerir
que não haja espaço para o agir espontâneo da criança, nem tampouco,
intencionalidade pedagógica em oferecer tais momentos.
Quando um ambiente tende a ser coercitivo, há o fenômeno cha-
mado desengajamento moral, na qual, quando uma atitude não moral é
validada por uma pessoa de respeito, no caso, o professor, tende a ser aceito
como verdade pelos alunos, ou seja, se não existe o exemplo, nem tam-
pouco, momentos para exercer atitudes que coloquem o desenvolvimento
moral à prova, a criança compreenderá que não é preciso ser respeitoso e
solidário com o outro (Bandura; Azzi; Tognetta, 2015).
Em nosso último encontro, utilizamos o jogo “Casa/Terremoto”,
que similar ao “Olha o Tubarão”, as crianças precisam se deslocar livre-
mente quando ouvirem o comando Casa, já quando ouvirem o comando
Terremoto, devem entrar em um bambolê. No mesmo sentido, remove-se
um bambolê por rodada, até a necessidade de todos se organizarem para
estar em um único bambolê.
Durante a roda de conversa, foi explicado que seria o último encon-
tro, havendo muitas expressões de afetividade e pedidos de continuação.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
88
Enquanto acontecia a atividade, as crianças sugeriram outras brincadeiras
e pediram para se repetir outras que já foram feitas durante os encontros.
Destaca-se que o Professor 2, ao perceber um desentendimento, cha-
mou as duas crianças no particular para resolver, permitindo que houvesse
uma resolução a partir do diálogo, mediado por ele, sem o uso de coação.
Mostrando que os professores também podem assumir um papel coopera-
tivo, de respeito mútuo para com seus alunos.
Ambos os professores envolvidos destacaram importantes avanços
no desenvolvimento moral das crianças:
Os alunos passam a observar a importância das resoluções de
conflitos para uma convivência amigável. Houve diminuição de
comportamentos como: enganar ou trapacear para tirar vantagem
(Professor 1).
As crianças demonstram nesse momento, terem internalizado que
o diálogo deve ser a primeira alternativa para se resolver conflitos,
além de se preocuparem em sempre dizer a verdade, eles também
estão demonstrando valorização à participatividade, ou seja, estão
mais ativos durantes as conversas e questionamentos, e ainda fazem
questão de participar e se envolver de alguma forma até mesmo na
montagem das atividades (Professor 2).
Tais avanços pautam-se na intencionalidade pedagógica promovida,
reforçando o que DeVries e Zan (1998) e Piaget (1994) afirmaram o de-
senvolvimento moral da criança está pautado na qualidade das relações so-
ciais que ela tem, dessa forma, o professor é responsável por tal construção
de um ambiente sociomoral. É importante ressaltar que a moralidade não
é desenvolvida por sermões e censuras, é acontece por meio dos exemplos
e experiências no ambiente em que a criança está inserida (Vinha, 2000).
consideRações finais
O presente capítulo trata-se de um relato de experiência com jogos
cooperativos, promovido em uma escola municipal de educação infantil,
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
89
com crianças de 4 e 5 anos, a convite da direção da escola. Ocorreram sete
encontros, ao longo de quatro semanas, nos quais, utilizamos jogos coope-
rativos retirados do e-book Jogos Morais (Benetti, 2023).
Ao longo dos encontros, foi possível constatar, através do relato dos
professores, que as crianças passaram a ter comportamentos mais coope-
rativos, buscando soluções não violentas, bem como um aumento das ex-
pressões de afeto e respeito entre todos.
Os professores relataram também que houve relativa melhora no co-
tidiano escolar, como aumento das sugestões pelos alunos, reconhecimento
de condutas consideradas inadequadas pela própria criança. Pode-se des-
tacar as atitudes de afetividade entre as crianças e para com os professores.
Portanto, o presente relato corrobora com os dados encontrados por
Benetti (2023), reforçando a importância de um ambiente sociomoral,
pautado em uma proposta pedagógica intencional e sistematizada, através
da cooperação. Bem como que, se não houver continuidade dessa intencio-
nalidade, muito provavelmente, haverá reforço da heteronomia na criança,
dificultando, assim, seu desenvolvimento moral em direção à autonomia.
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93
O uso de sequências didáticas
voltado à educação em valores na
formação continuada de professores
da educação infantil: relato de
práticas morais
Priscila Caroline MIGUEL 1
Patrícia Unger Raphael BATAGLIA 2
1 intRodução
Ao pensarmos uma Sequência Didática, devemos esclarecer, antes
mesmo de conceituá-la, que a fazemos como proposta e como exercício
de reflexão dos educadores e não como um modelo a ser seguido sem um
olhar crítico. Cabe ao professor utilizar esse instrumento como base de
suas reflexões e adaptá-lo a suas práxis, contextualizando à sua realidade
pedagógica, como bem nos alertam Silveira e Lepre (2022).
Doutoranda em Educação com Bolsa CAPES/PROEX pela Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho
– UNESP/Câmpus de Marília e Mestra em Educação pela mesma universidade. Atualmente, é Docente
Bolsista no Curso de Pedagogia da FFC e vinculada ao GEPPEI – Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia
Moral e Educação Integral. Possui graduação em Psicologia pela UNIMAR – Universidade de Marília/SP.
E-mail: priscilacarolinemiguel@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1499-9196.
Professora Associada da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP/Câmpus de Marília e
Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da mesma universidade. Atualmente, é
Líder do GEPPEI – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral e Educação Integral, cadastrado no
CNPq. E-mail: patricia.bataglia@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2575-3020.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p93-107
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
94
Segundo Almeida (2015), a Sequência Didática na Educação Infantil
além de ser uma forma organizada sequencialmente para desenvolver sa-
beres, tem a tendência de estruturar um trabalho mais organizado e mais
pertinente à criança de hoje que tem contato com inúmeras fontes, “[...]
mas que não tem trabalho estruturativo no sentido de dar organicidade a
tudo que ela vê, consome, sente e faz o dia inteiro” (Almeida, 2015, p. 72).
Isso posto, a Sequência Didática é uma forma de organizar o planejamento
semanal da rotina das crianças, assim como de organizar o desenvolvi-
mento delas a partir de conhecimentos que se ampliam empiricamente e,
paulatinamente, vão se tornando grandes fontes de percepções múltiplas.
Goergen (2007) retrata que as crianças passam muito tempo de suas
vidas nas escolas de Educação Infantil, local no qual os processos de desen-
volvimento, a maneira de pensar e emitir juízos de valores, seus conceitos e
representações, sua sensibilidade, atitudes e comportamentos são constituin-
tes de suas identidades e suas diferenças. Para auxiliar nesse processo, consi-
deramos que o trabalho com Sequência Didática é uma possível ferramen-
ta, pois estimula a intencionalidade e o planejamento do professor voltado
a essa finalidade, além de se constituir em práticas morais que objetivam a
construção de valores e o desenvolvimento da autonomia moral.
Araújo (2013) entende a Sequência Didática como uma forma de
planejamento e organização por parte do professor de atividades que pre-
tendem ensinar através de núcleos temáticos e procedimentais. Já Zabala
(1998) menciona que a Sequência Didática é
[...] um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas
para a realização de certos objetivos educacionais, que têm um
princípio e um fim conhecido tanto pelos professores como pelos alunos
[...]” (Zabala, 1998, p. 18, grifos do autor).
Por sua vez, a Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2017)
apresenta a ideia de um aluno ativo e protagonista na construção de seu
conhecimento e traz dez competências gerais que devem ser trabalhadas
desde a Educação Infantil, com o objetivo da formação de valores morais,
conhecimentos e habilidades para a constituição de um sujeito autônomo,
criativo, crítico, reflexivo e cooperativo (Silveira; Lepre, 2022).
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
95
O planejamento por Sequência Didática se dá, então, através da sis-
tematização do trabalho docente, um ponto comum entre os pesquisado-
res referenciados, com o objetivo de ajudar a criança a desenvolver compe-
tências e habilidades que deem sentido para a efetivação do seu processo de
aprendizagem. Sob o olhar de crescimento pedagógico, a orientação para o
uso do termo “Sequência Didática” nos planejamentos de aulas dos profes-
sores torna-se um ganho, porque tem a premissa de garantir uma maciça
participação dos alunos durante as aulas (Almeida, 2015).
A Sequência Didática é formada por atividades que podem ser de-
finidas como os “meios” usados pelo professor com o objetivo de que o
aluno vivencie as experiências necessárias ao desenvolvimento de compe-
tências e habilidades, fazendo com que a aprendizagem seja significativa
por valorizar a investigação, a integração, a cooperação e incentivar a ação
do aluno. Estimula a cooperação entre o grupo (alunos (as) e professor(a))
e busca o desenvolvimento de habilidades como características básicas do
processo de aprendizagem. Silveira e Lepre (2022) ressaltam que a SD3 é
mais do que um instrumento que tem a função de organizar uma aula, pois
pode ser também uma condução metodológica embasada em teorias do
desenvolvimento e da aprendizagem.
A Sequência Didática deve, então, ser planejada pelo professor, de
forma que trate cada conteúdo de maneira específica e singular, dando
oportunidades ao aluno de desenvolver sua autonomia para que empregue
seus próprios mecanismos na construção e reconstrução do seu conheci-
mento e arquitetar formas para a resolução e formulação criativa de pro-
blemas. Para Almeida (2015, p. 73), “[...] criar uma Sequência Didática é
programar situações e circunstâncias em que o estudante realmente cons-
trua seu conhecimento”. Sendo assim, a finalidade é possibilitar ao aluno
a construção de seu conhecimento articulando diversas teorias didáticas.
No caso da experiência aqui relatada, a Sequência Didática tem por
objetivo propiciar a construção de um ambiente sociomoral, no qual as
crianças são imersas em uma atmosfera moral que estimule a convivência
ética, o respeito ao outro, o diálogo como facilitador da resolução de con-
flitos, a generosidade e a justiça, entre outros valores.
A Sigla SD refere-se à Sequência Didática.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
96
Segundo García e Puig (2010), são necessárias sete competências
fundamentais para a construção de valores no âmbito escolar: ser você
mesmo (valorizar a construção da identidade da criança e o professor (a)
influencia no desenvolvimento dos alunos, por exemplo); reconhecer o
outro (daí a importância de se propiciar condições para a superação do
egocentrismo); facilitar o diálogo (sem se esquecer de que os conflitos,
mesmo na Educação Infantil são oportunidades de aprendizagem); regular
a participação (interagir nas atividades pode ser uma experiência moral);
trabalhar em equipe, fazer escola (implica em conscientizar-se da impor-
tância das iniciativas individuais para a melhoria de uma escola e avaliar
sua influência na formação moral de seus alunos) e estimular para que a
escola trabalhe em rede.
Dessa forma, educar em valores não é uma ação isolada da família,
da escola ou do professor - mas um esforço em rede, a partir de
reflexões básicas sobre o que é uma vida boa e como viver essa
vida boa, com base no reconhecimento do outro como sujeito que
pensa, sente e se situa no mundo, exercitando a empatia, o respeito,
o cuidado e a justiça (Silveira; Lepre, 2022, p. 254).
Sendo assim, García e Puig (2010) salientam que a preparação para
se educar em valores trata-se, inevitavelmente, de um paradoxo: por um
lado, todos os (as) professores (as) estão aptos para educar em valores, pois
são pessoas e cidadãos. E para tanto, não existem especialistas e nem sabe-
res específicos. Por outro, existe um consenso sobre a necessidade de uma
preparação para se educar em valores. Os autores admitem que: [...] “não
se pode improvisar nem esquecer a coordenação entre os professores” [...]
(Garcia; Puig, 2010, p. 9-10). Coadunamos com a ideia e acrescentamos
que todos podem educar em valores e, todos estão educando, mas na prá-
tica trabalhando com a formação tanto inicial (no Curso de Pedagogia,
por exemplo) bem como continuada de professores, sentimos que é funda-
mental preparar-se e pensar em intervenções que realmente sejam práticas
morais, sem cair na mecanização do procedimento.
Destaque-se que a formação de professores que estamos oferecendo
só faz sentido à medida que repensamos os propósitos e métodos utilizados
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
97
para atingir tais objetivos no ato de educar, já que a educação como cons-
trutora da autonomia, em dimensões cognitivas e morais, não tem sido o
enfoque da maioria das escolas atualmente.
Para DeVries e Zan (1998), algumas pessoas acreditam que a escola
não deveria estar preocupada com a educação social e moral, mas, sim,
com o ensino de temas acadêmicos ou na promoção do desenvolvimento
intelectual, visão esta que traz à tona o seguinte problema: a escola influen-
cia o desenvolvimento social e moral de seus alunos, quer queira ou não. O
fato é que as escolas não são e não podem ser livres de valores ou neutros
quanto a esses, pois assim como as autoras acima referenciadas, acredi-
tamos que, seja para a heteronomia ou para a autonomia, os educadores
estão engajados na educação social e moral de seus educandos.
De acordo com Piaget (1994), o desenvolvimento moral pode ado-
tar as seguintes tendências: depois de uma fase pré-moral ou anomia, é
possível que o sujeito desenvolva uma consciência heterônoma e depois
disso, uma consciência autônoma. Na heteronomia, a criança baseia seus
juízos em um respeito unilateral e os adultos são vistos como autoridade
e fonte de regras e proibições. Aqui, as origens da moralidade estão no
respeito que é dirigido aos adultos, levando a uma moral da obediência, de
adesão a regras fixas e determinadas por outrem. Já, na autonomia, as re-
lações antes unilaterais são transformadas em respeito mútuo, baseando-se
na reciprocidade e justiça. Sendo assim, as mudanças no nível cognitivo da
criança, desde o egocentrismo até o perspectivismo, junto com a alteração
das relações sociais, da coação à cooperação, culminam na base para expli-
car a transposição dos juízos morais heterônomos aos autônomos.
Conforme a Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2017), é
na interação com os pares e com os adultos que as crianças constroem um
modo peculiar de agir, sentir e pensar e começam a descobrir que existem
outros modos de vida, pessoas diferentes que por sua vez, possuem outros
pontos de vista. Concomitante à sua participação em relações sociais e de
cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e senso de auto-
cuidado, de reciprocidade e de interdependência com o meio. Por isso,
é preciso que haja a criação de oportunidades para que as crianças en-
trem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
98
vida, diferentes atitudes, etc., pois a partir dessas experiências, elas podem
ampliar o modo como percebem a si mesmas e aos outros, valorizar sua
identidade, respeitar ao outro e reconhecer as diferenças que possuímos
enquanto seres humanos.
Vale ressaltar que se desejamos sujeitos, de fato, autônomos moral-
mente falando, precisamos de formações continuadas dos educadores, no
nosso caso, da Educação Infantil, para que eles tenham maior conheci-
mento da Educação em Valores, do desenvolvimento moral infantil em
uma perspectiva construtivista e da utilização de Sequências Didáticas
como uma possibilidade metodológica para o enriquecimento de sua prá-
tica pedagógica.
Placco e Silva (2015) reforçam que a discussão sobre formação do-
cente é antiga e ao mesmo tempo, atual: é antiga, pois é uma preocupação
presente em toda a nossa História da Educação e atual, porque tem se
apresentado como um ponto a ser levado em conta em discussões sobre
qualidade de ensino, evasão e reprovação, além de significar uma amplia-
ção do universo cultural e científico daquele que ensina, considerando as
necessidades e exigências culturais e tecnológicas da sociedade.
No entanto, quando dizemos “formação de professores”, nos vem
à mente: “o que é formar?” O “formar” envolve proporcionar referências
e parâmetros e autores como Placco e Silva (2015) colocam que há várias
dimensões do formar, sendo elas: a) dimensão técnico-científica: envolve os
conhecimentos técnico-científicos relacionados à sua área; b) a dimensão
da formação continuada: o profissional deve continuar pesquisando e crian-
do espaços para um conhecimento inter e transdisciplinar; c) a dimensão
do trabalho coletivo e da construção coletiva do projeto pedagógico: o traba-
lho educativo deve ser em cooperação; d) a dimensão dos saberes para ensi-
nar: abrange os conhecimentos produzidos pelo professor sobre os alunos,
objetivos educacionais e compromissos como cidadão e profissional; e) a
dimensão crítico-reflexiva: implica em conhecer sobre o próprio funciona-
mento cognitivo e habilidade de autorregulação e por fim f) a dimensão
avaliativa: refere-se à capacidade avaliativa do professor em relação à sua
prática, o sistema escolar ou a escola em que trabalha.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
99
Como início da nossa formação continuada, intitulada “Formação
de professores da Educação Infantil sobre Sequências Didáticas para tra-
balhar com Valores Morais” realizamos, no primeiro encontro presencial,
com a presença de 40 (quarenta) professores e professoras, coordenadoras
pedagógicas da Educação Infantil e a Secretária Municipal da Educação,
uma formação em serviço cujo objetivo foi apresentar os resultados dos
questionários via Google Forms referentes à aplicação de cinco histórias do
valor respeito, que foram adaptadas da Escala de Valores Sociomorais, dis-
cussão sobre como a criança pode superar o egocentrismo, o que é uma
Sequência Didática e uma proposta que aborda o valor respeito, com pers-
pectivas a descentração, etc.
Elaborada por estudiosos e estudiosas da Psicologia do
Desenvolvimento Moral, a Escala de Valores Sociomorais visa possibilitar
a identificação não só dos valores mais presentes em escolares, mas também
as variáveis (que podem ser sociais e situacionais) influenciáveis na cons-
trução deles, como características sociais e pedagógicas das escolas e dos
professores, nível educacional e socioeconômico dos sujeitos, série escolar,
idade, gênero dos alunos, entre outras (Tavares; Menin, 2015).
A importância de se mensurar valores morais se dá pelo fato de que
eles são, portanto, os investimentos afetivos que aplicamos em regras, prin-
cípios, sentimentos, ou ações consideradas, na maioria das culturas, boas
ou justas (Tavares; Menin, 2015). Sendo assim, o instrumento foi constru-
ído de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (Brasil,
1998) que colocaram a ética como um dos temas transversais na educação.
Os valores como respeito, justiça, solidariedade e diálogo, de acordo com
os PCNs foram os mais significativos para o desenvolvimento moral de
crianças e adolescentes.
Os pesquisadores e as pesquisadoras responsáveis pela construção do
instrumento entenderam que o diálogo é mais um operador do que um
valor moral e, por isso, adotaram em seu lugar o valor da convivência de-
mocrática. A Escala foi pensada para sujeitos do Ensino Fundamental em
diante, além de professores e gestores, mas Miguel (2021) fez uma adapta-
ção do instrumento, em forma de pranchas de desenhos, para crianças da
Educação Infantil, trabalhando em especial o valor respeito.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
100
A Escala é composta de um questionário com histórias-problemas
envolvendo os valores respeito, justiça, solidariedade e convivência demo-
crática. Tais histórias terminam com uma frase a ser completada ou uma
questão sobre o que se deveria fazer, seguidas de cinco alternativas de res-
postas. O participante deve ler o item e escolher uma das alternativas. Três
delas são favoráveis ao valor e duas contrárias a ele, ou seja, baseada em um
contravalor (Tavares; Menin, 2015).
Logo depois, fizemos uma discussão sobre o egocentrismo, que con-
siste na incapacidade de ver o mundo sob outro ponto de vista que não o
seu, uma característica presente nas crianças da faixa etária de 5 a 7 anos
em média, público-alvo da Sequência Didática construída. Colocamos
em pauta a questão de que os(as) educadores(as) podem auxiliar nesse
processo através de atividades cooperativas, rodas de conversa, jogos que
provoquem a reflexão sobre a descentração e a utilização de Sequências
Didáticas, como a que propusemos na formação.
Para Puig (2004, p. 55), “[...] as práticas [morais] são um conceito
que designa fenômenos diretamente observáveis que expressam um senti-
do cultural e moral [...]”, isto é, elas nos falam daquilo que os educadores
e alunos fazem na escola de forma conjunta e buscam pela tomada de
consciência dos protagonistas. Tais práticas são cursos de acontecimentos
organizados, rotineiros e educacionais, assim como o uso de Sequências
Didáticas, objeto central da nossa formação continuada de educadores,
aqui relatada.
Nosso enfoque nas formações foi de que o uso de Sequências
Didáticas e o trabalho com Educação em Valores não devem ser pontuais
e, sim, fazerem parte do planejamento escolar como um todo, inclusive
nos projetos político-pedagógicos e nos planos de ensino.
Por fim, educar moralmente ou em valores, vai além de uma ação
pedagógica, pois consideramos que esse é um compromisso a ser assumido
pelo professor e pela escola, já na Educação Infantil, objetivando a cons-
trução de uma sociedade mais justa, democrática e generosa. O enfoque
do nosso trabalho é o valor respeito, mas devemos considerar que o diálogo
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
101
é o método mais eficaz para a Educação em Valores e as práticas morais
devem acontecer diariamente.
Não se trata aqui de um aprendizado pela repetição, mas sim práti-
cas que provoquem nas crianças a tomada de consciência, que só é possível
quando eles são capazes de refletir sobre suas ações. Essa é uma tarefa, da
qual, nós educadores, não podemos nos esquivar. “O exercício ético está nos
acordos diários que são estabelecidos e reafirmados a cada situação (La Taille,
2009) e a conversação é a ferramenta que dispomos para a construção destes
acordos e sua manutenção ou mudança” (Hoppe; Santos, 2021, p. 718).
2 metodologia
As ações do projeto de formação continuada que estão sendo im-
plementadas, constituem no que Puig (1995) chama de aprendizagem em
serviço, que diferente da proposta educativa tradicional, os envolvidos en-
frentam as necessidades reais da comunidade escolar com o objetivo de
criarem soluções e aprenderem. Dentro dessa metodologia, temos as ne-
cessidades ou desafios cívicos, o serviço à comunidade e a aprendizagem
em conteúdos, competências e valores. Ao relacionar a aprendizagem a
um contexto real, a aprendizagem em serviço qualifica os envolvidos para
avaliarem os problemas da comunidade e resolvê-los, possibilitando a in-
terconexão entre teoria e prática.
Estão sendo oferecidas formações acerca da Educação em Valores e
da elaboração de Sequências Didáticas mensalmente em uma cidade do
interior paulista com aproximadamente 16.000 habitantes, com duração
de duas horas, nas quais cada ator do ambiente escolar é sujeito ativo e, por
conseguinte, transformador de sua realidade interna e externa. Participam
dos encontros cerca de 40 (quarenta) profissionais que atuam em uma
escola municipal de Educação Infantil, que trabalha com crianças de 4 e 5
anos, em média.
Temos como objetivos: realizar encontros de formação presenciais
no Horário de Estudos Coletivos (HEC) entre equipe escolar e universi-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
102
dade afim de capacitar os profissionais para a elaboração de sequências di-
dáticas, que evidenciem a Educação em Valores pautada na Base Nacional
Comum Curricular; ampliar os espaços de partilha de experiências para
o aporte teórico, uma vez que acontecem as formações e os educadores já
inserem em suas práticas, além de trazerem relatos de suas experiências; fo-
mentar discussões que levem a reflexões sobre a prática docente e oferecer
subsídios teóricos as questões levantadas pela equipe, como mais recente-
mente surgiu a importância da discussão sobre a conduta dos educadores
na resolução de conflitos entre as crianças, já que muitas vezes, alguns dos
profissionais relataram que “resolvem” a situação por ser algo de solução
imediata e pela dificuldade bem como a falta de formação no sentido de
propiciar um ambiente que promova a construção da autonomia moral e
não a manutenção da heteronomia.
Esse estudo de abordagem qualitativa é caracterizado por uma pes-
quisa-ação, pois “[...] além de compreender, visa intervir na situação, com
vistas a modificá-la. O conhecimento visado articula-se a uma finalidade
intencional de alteração da situação pesquisada [...] (Severino, 2016, p.
127). Ao mesmo tempo, em que estamos realizando um diagnóstico e a
análise de uma determinada situação, levamos aos educadores envolvidos
em nossas formações propostas de mudanças que possam aprimorar as prá-
ticas analisadas. Complementando a ideia de pesquisa-ação, Schön (2000)
salienta que tal pesquisa usada no âmbito educacional é uma estratégia
para o desenvolvimento de professores e pesquisadores de forma que eles
possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e, em consequên-
cia, a aprendizagem de seus alunos, seguindo o ciclo: planejar-agir-moni-
torar-avaliar-planejar, o que favorece a formação de profissionais críticos e
reflexivos, inclusive em relação às suas práticas.
3 Resultados e discussão
Por se tratar de uma formação de professores em andamento, os re-
sultados preliminares reforçam a nossa ideia inicial de que trabalhos e pes-
quisas na Educação Infantil que abordem o desenvolvimento da moralida-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
103
de infantil em uma perspectiva construtivista e a Educação em Valores são
de grande valia, já que alguns professores e professoras relataram não terem
recebido tais orientações em suas formações de base. O que nos mostra a
importância de que tais assuntos sejam tratados e constem no currículo dos
Cursos de Licenciatura, em especial o de Pedagogia.
Percebemos também a falta de estudos que abordem o uso de
Sequências Didáticas como uma possibilidade para se trabalhar o desen-
volvimento moral (incluindo a construção dos valores morais como, por
exemplo, o respeito), já que estamos fazendo uma busca em banco de peri-
ódicos e identificamos uma escassa produção de pesquisas na área.
Identificamos também que ainda há a ideia de que a formação de
valores deveria ser papel apenas da família, o que nos revelou a necessidade
de que trabalhemos para que essa concepção seja repensada, pois a escola
pode e deve trabalhar para a construção de um ambiente sociomoral que
propicie condições para a formação de sujeitos, realmente autônomos, mo-
ralmente falando.
Outra ideia que apareceu e precisamos trabalhar foi a confusão do
termo “autonomia moral” com independência, pois ouvimos relatos de
professores que os alunos não conseguem nem amarrar o cadarço sozinhos,
por exemplo, e por isso não são autônomos. No exemplo citado, cabe es-
clarecer que amarrar o tênis sozinho é uma atitude de independência dessa
criança e não uma ação de autonomia moral.
Por outro lado, precisamos destacar o empenho da gestão escolar em
colocar em prática junto aos educadores os conteúdos trabalhados e também
o interesse desses profissionais em uma educação que seja de fato integral, isto
é, que considere que além dos aspectos cognitivos, a afetividade, o desenvolvi-
mento moral, o desenvolvimento motor que estão acontecendo junto ao pro-
cesso de aprendizagem. A criança é mais do que um indivíduo cognoscente.
Acreditamos que apesar de o modelo de formação dos professores
da Educação Infantil ainda ser pautado na racionalidade técnica, e na ne-
cessidade de superação do binômio educar-cuidar cujo maior obstáculo
é a ausência de reconhecimento social e profissional de tais professores
no Brasil, precisamos deixar de lado a ênfase na dicotomia teoria-prática
e, assumirmos modelos formativos que enfatizem reflexões sobre a práti-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
104
ca docente, para melhor articular uma base teórica educacional que assu-
ma de fato as complexidades que a própria prática pedagógica nos impõe
(Azevedo, 2013).
Colocando-nos agora como formadoras de professores, temos sen-
tido a necessidade de um perfil de professor(a) de Educação Infantil, que
seja capaz de atender e mais do que isso, “enxergar” a criança de forma
integrada, ou seja, reconhecer que nesta educação o cuidado está implícito,
mas temos o educar, independentemente de sua faixa etária. Isso significa
romper de vez com a visão histórica e institucionalizada desse segmento de
ensino que, assumiu por muito tempo um caráter assistencialista.
Em se tratando da proposta ser o relato de práticas morais bem-su-
cedidas, entendemos que esta seja porque além de propiciar a formação
continuada dos educadores, eles têm concomitantemente aplicado os con-
teúdos com as crianças e percebemos que isso não está acontecendo de
forma mecanizada, além de termos conseguido sensibilizar a comunidade
escolar para a relevância do trabalho que envolva a Educação em Valores,
evidentemente, em uma perspectiva científica, isenta de lições de moral e
democratismo, quando o discurso é democrático, mas as ações não. É pre-
ciso, então, que a Educação em Valores envolva procedimentos democrá-
ticos e estratégias que possibilitem a construção de indivíduos autônomos.
Por fim, ao final das formações continuadas aqui relatadas, espe-
ramos alcançar os seguintes resultados com os participantes dos encon-
tros: maior apropriação teórica de como e quando elaborar Sequências
Didáticas; construção de Sequências Didáticas com foco em Educação em
Valores; construção de valores a serem trabalhados com os estudantes, tais
como: respeito, solidariedade, convivência democrática e justiça. As ava-
liações quanto às formações serão qualitativas e baseadas nas narrativas dos
participantes durante os encontros.
consideRações finais
Vivemos momentos em que as “enfermidades” da sociedade brasi-
leira refletem em ações violentas no âmbito escolar. Onde deveria impe-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
105
rar o amor, respeito e empatia, infelizmente parece imperar o ódio, a não
aceitação às diferenças e, mais do que isso, a incapacidade de ver o mundo
sob outro ponto de vista que não o seu. Será isso reflexo de um histerismo,
discursos de ódio, “ausência” da família, ou falta de formação adequada?
Ainda vemos, infelizmente, profissionais da Educação com o pensa-
mento de que a Educação Moral e em Valores é papel da família, apenas.
Porém, quer queira ou não, nós influenciamos os nossos alunos, moral-
mente falando, a todo tempo. E será que estamos preparados para isso?
Assistimos entristecidas às escolas investindo em detectores de me-
tais, vigilantes (inclusive armados), cursos de defesa pessoal, etc., recursos
esses que tornam a escola um ambiente coercitivo e reforça a heteronomia
de nossos alunos, quando na verdade deveríamos promover de fato uma
educação para a autonomia moral, que só é possível em um ambiente em
que a coação dá lugar a cooperação e as relações são realmente democráti-
cas. Autoridade não é e não pode ser confundida com autoritarismo.
Mediante o exposto, apontamos como imprescindível a elaboração
(ou reorganização) de políticas públicas que vão na contramão das mais
recentes medidas adotadas, em larga escala, a fim de evitar atos como os su-
pramencionados, mas que visam o desenvolvimento da autonomia -prin-
cipalmente da moral - de educadores e educandos, cujo objetivo é uma
Educação Moral e em Valores, refletida e embasada cientificamente.
Coadunamos com as ideias de Ostetto (2011) de que as teorias e os
fundamentos pedagógicos oferecem aos professores da Educação Infantil
uma aproximação das crianças, mas nada substituirá o encontro com
esses universos, ou seja, a magia e o encanto que eles nos proporcionam.
[...] “Para uma prática educativa que pretenda respeitar o tempo da in-
fância, é fundamental olhar as crianças, os movimentos dos grupos; um
olhar disponível, receptivo, que vê e ouve além do aparente”[...] (Ostetto,
2011, p. 161), ou seja, é preciso, sim, fornecer às crianças os conteúdos
propostos para as suas faixas etárias, mas também colocá-los em contato
com os valores morais como respeito, justiça, paz, solidariedade, equi-
dade, pois como nos ensina La Taille (2013, p. 15-16, grifos do autor),
eles “[...] nos remetem a deveres por intermédio dos quais se expressam
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
106
o respeito pela dignidade alheia e o reconhecimento da necessidade de
respeitar seus direitos [...]”
Sendo assim, não há o desenvolvimento da cidadania e da autono-
mia moral possível se não houver o desenvolvimento e o fortalecimento do
senso moral. E é para isso e por isso que estamos caminhando.
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a construção da autonomia moral
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108
109
O acolhimento como prática moral
na educação infantil: a roda do
abraço com as crianças
Maria Carolina Canale Sanches RODRIGUES 1
Daniele Pavan MARTINS 2
Rita Melissa LEPRE 3
1 intRodução
A etapa inicial da Educação Básica é a Educação Infantil que, confor-
me a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) (Brasil,
1996), tem como objetivo “o desenvolvimento integral da criança de até 5
(cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, com-
plementando a ação da família e da comunidade” (Redação dada pela Lei n.º
12.796, de 2013) (Brasil, 2013). É nesse momento que as crianças, possi-
velmente pela primeira vez, se afastam do ambiente familiar ao ingressar na
escola de Educação Infantil e intensificam suas interações sociais.
Neste sentido, o acolhimento às crianças se apresenta como uma ação
de grande importância nesta etapa escolar. O acolhimento na Educação
Infantil refere-se ao conjunto de práticas e atitudes que visam receber, in-
Mestra em Educação no Programa de Pós-Graduação em Docência para a Educação Básica FC/Unesp,
Câmpus de Bauru. Professora Especialista e coordenadora de área da Educação Infantil / SME de Bauru.
E-mail: maria.carolina.rodrigues@educa.bauru.sp.gov.br
Mestra em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Docência para a Educação Básica FC/Unesp,
Câmpus de Bauru. Agente de Desenvolvimento Infantil/ CCI Unesp, Câmpus de Bauru. E-mail: daniele.
martins@unesp.br
Doutora em Educação. Professora Associada da Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências,
Departamento de Educação/Bauru. E-mail: melissa.lepre@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p109-125
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
110
tegrar, educar e cuidar das crianças de forma individualizada, mas também
coletiva, e respeitosa. Envolve a criação de espaços e ambientes afetivos,
estimulantes e seguros, nos quais as crianças se sintam valorizadas, com-
preendidas e aceitas. Essa abordagem reconhece a singularidade de cada
criança, suas necessidades, interesses e potencialidades, e busca promover
sua autonomia, autoestima e bem-estar emocional, social e cognitivo.
A organização do trabalho pedagógico do professor, o que inclui
o planejamento, é de grande importância para a preparação, execução
e avaliação de ações de acolhimento na Educação Infantil. Para tanto, é
necessário que este trabalho se apoie na ação praxiológica que envolve a
teoria, a prática e as crenças (Formosinho, 2014), que leve a uma prá-
xis docente acolhedora que reconheça e respeite as singularidades de cada
criança, suas necessidades emocionais e sociais, suas formas de expressão e
aprendizagem. Os professores precisam estar atentos às formas diferentes
de manifestação das crianças, valorizando suas experiências prévias, seu
processo de desenvolvimento e aprendizagem e estimulando sua autono-
mia e autoestima.
Outra questão importante neste processo de acolhimento é a
família da criança, que, ao chegar à instituição de Educação Infantil
para deixar seu filho, procura um ambiente seguro, saudável,
aconchegante e acolhedor. O sentimento de insegurança em ter
que deixar a criança em um espaço novo, com adultos e crianças
desconhecidos, é muito forte (Burg, 2012, p. 92).
O acolhimento é ação pedagógica indispensável no processo de
adaptação das crianças e famílias à escola de Educação Infantil. Segundo
Motta (2014), a ideia de adaptação, que muitas vezes submete a criança a
um determinado modelo educacional e organizacional, foi sendo, progres-
sivamente, substituída pela de acolhimento.
A adaptação deve ser encarada não apenas como um período no
qual a criança deve se adaptar às novas rotinas, mas como um
momento de conhecimento e reconhecimento de sujeitos sócio-
histórico-culturais que se encontram num espaço institucional. A
acolhida à criança e às famílias deve se pautar na escuta sensível a
esses sujeitos com o objetivo de informar as instituições quanto
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
111
a possíveis necessidades de reorganização de tempos, espaços e
relações, no intuito de melhor atender às expectativas e necessidades
dos sujeitos que acorrem à instituição (Brasil, 2009, p. 31).
Motta (2014) destaca que, na área educacional, o termo acolhimen-
to foi, aos poucos, se desvinculando da palavra “adaptação” e assumindo
um novo espaço como conceito que operacionaliza práticas pedagógicas
diversas. Essa construção teve influência do modelo italiano de pré-escola
baseado na experiência de Reggio-Emília, que define o conceito de “inseri-
mento” como o processo de acolhida da criança e de sua família na institui-
ção educativa e não está limitado a um período temporal (Motta, 2014).
Tal conceito, que se aproxima muito de acolhimento, tem como base a
Pedagogia Relacional e da Participação (Formosinho, 2014) que se apoia,
também, em preceitos do interacionismo ao dialogar com grandes autores
da primeira metade do século XIX e do século XX, buscando evidenciar os
movimentos de construção-reconstrução da Pedagogia.
Dentre as teorias interacionistas que consideram o processo de de-
senvolvimento integral das crianças, a Epistemologia Genética de Jean
Piaget e, mais especificamente, seus estudos e pesquisas acerca da morali-
dade humana, expressas em seu livro pioneiro na área “O juízo moral na
criança” (Piaget, 1932/1994), ocupam lugar de destaque e são nossa opção
teórica para este artigo e para o diálogo com a questão do acolhimento na
Educação Infantil. Embora Piaget não tenha se dedicado diretamente a
este tema, suas pesquisas ressaltam a importância de um ambiente escolar
que proporcione experiências de interação social, respeito mútuo, coopera-
ção e resolução de conflitos. Esses elementos são fundamentais para o de-
senvolvimento moral das crianças, pois permitem que elas experimentem
diferentes situações e reflitam sobre suas próprias ações e as consequências
delas para si e para os outros.
Para Piaget (1994), as crianças entre zero e quatro/cinco anos, em
média, estão em um momento de anomia, no qual não se importam com
as regras sociais e agem movidas pelo seu próprio interesse, que se ancora
em seu pensamento egocêntrico. No entanto, por meio de certas regulari-
dades e vivências, e mesmo que ainda preponderantemente pela ação, em
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
112
um ambiente coletivo pautado em práticas morais cooperativas, elas dão
início a descentração, ou seja, começam a perceber o ponto de vista do
outro, gênese da construção do juízo moral. Neste processo construtivo da
moralidade, a ação intencional e planejada do professor é fundamental e
práxis voltada a uma educação integral que considere os valores e vivências
morais se faz imprescindível se o que se deseja seja a promoção do desen-
volvimento de sujeitos éticos, solidários, justos e cooperativos.
O objetivo deste artigo, nesta direção, é o de apresentar e analisar
uma prática moral com a Roda do Abraço no acolhimento às crianças em
um Centro de Convivência Infantil de uma cidade do interior paulista,
visando interações que auxiliem na promoção do desenvolvimento moral.
A Roda do Abraço foi a prática moral adotada pela professora da sala do
Infantil II, composta por crianças entre dois anos e dois anos e quatro
meses, como uma ação permanente, realizada em roda, que remete a uma
prática educativa que deve fazer parte do cotidiano escolar e que se confi-
gura como uma das mais importantes para a construção de um ambiente
cooperativo (DeVries; Zan, 1998; Vinha, 2000) que fortaleça os vínculos
afetivos e sociais
2 a gênese do desenvolvimento do juízo moRal na cRiança e a
educação em valoRes na educação infantil
A moralidade é uma dimensão do desenvolvimento humano integral
e não se configura como uma competência humana isolada do funciona-
mento psíquico do sujeito. Concordamos com La Taille (2007, p. 32) que
Se for verdade que a moralidade não consiste numa competência
humana isolada, se for correto afirmar que ela participa, ou pode
participar da construção de si mesmo, estudá-la significa, sim,
contribuir para o entendimento do ser humano como um todo.
Aceito isto, há, sim, contribuição das teorias de Psicologia Moral
para o entendimento do desenvolvimento humano.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
113
Dentre as teorias que compõem o escopo da Psicologia Moral, os
estudos e pesquisas pioneiros sobre o tema, do epistemólogo genebrino
Jean Piaget (1896-1980), ocupam a base dos conhecimentos nesta área.
Piaget (1932/1994) reuniu suas pesquisas acerca do desenvolvimento mo-
ral na criança em seu livro “O juízo moral na criança”, publicado no ano
de 1932.
Em suas pesquisas, Piaget descobriu um caminho psicogené-
tico no desenvolvimento do juízo moral. Segundo o autor, os indiví-
duos nascem pré-morais, ou na anomia, momento que perdura até os
quatro, cinco anos, sem consciência moral, os bebês e as crianças bem
pequenas não conhecem as regras do ambiente em que vivem (Vinha,
2000). Nesse período, em que conforme ocorre o desenvolvimento
da inteligência, também na perspectiva da epistemologia genética,
as crianças agem apenas pela necessidade de satisfazer suas vontades e
prazeres, característica marcante do estágio sensório -motor (zero a até
dois anos) e do pensamento egocêntrico.
Com o desenvolvimento progressivo da inteligência, transição sen-
sório-motor para o pré-operatório, entrelaçado com o crescimento da
criança, surgimento das funções simbólicas e com as formas de relaciona-
mento da criança com o mundo e com os adultos, ela passa a interiorizar
as normas, por meio das regularidades e interações. Vinha (2000) descreve
que ela transfere a vontade de realizar apenas as suas necessidades e vonta-
des, para se submeter a realizar as necessidades do adulto.
Desse modo, conforme vai crescendo, ao interagir basicamente
com a família, a criança começa a perceber a si mesma e aos
outros, percebe também que há coisas que podem ou não ser feitas,
transformando a anomia em heteronomia, ou seja, se antes não
havia regras, agora a criança é de certa forma governada e dirigida
pelos adultos (Vinha, 2000, p. 54).
A heteronomia é o momento da regra absoluta, do realismo moral
(Piaget, 1932). As regras aqui, passadas pelo adulto, possuem um caráter
de valor absoluto e sagrado para criança como “[...] uma primeira forma
de controle normativo e, de constituir também, a consciência, ainda que
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
114
rudimentar, do dever” (Vinha, 2000, p. 54). Vale ressaltar, que, mesmo
que a criança perceba a regra vindo do outro e a obedeça, ela ainda age
pela ação e pela consciência externa, do próprio adulto, portanto ainda não
alcançou a moralidade, ainda há um grande caminho a ser percorrido para
a autonomia moral.
A autonomia moral é alcançada somente no início da adolescência
(Piaget, 1994) e, aqui, já existe a consciência das regras, do sentimento
moral em relação ao outro e ao mundo, da busca pelo bem coletivo, em
relações baseadas no “respeito mútuo, reciprocidade e cooperação” (Vinha,
2000, p. 88).
Para a criança ter a possibilidade de ir construindo gradualmente
sua autonomia moral (governar-se a si mesma), faz-se necessário
que ela conviva com adultos, num ambiente em que exista o
respeito mútuo, e portanto, a autoridade do adulto seja mínima.
Visto que as raízes da autonomia moral encontram-se nas relações
democráticas, esse ambiente deve propiciar trocas sociais entre pares,
oportunidades de crianças assumirem pequenas responsabilidades
e de tomar decisões, discutir seus pontos de vista, expressarem
livremente seus pensamentos e desejos, investigar e estabelecer
relações (Vinha, 2000, p. 88-89).
O caminho para a construção e promoção da autonomia moral deve
ser construído e pautado em um ambiente com práticas morais consoli-
dadas e a escola deve ter essa promoção pautada com intencionalidade. A
criança da Educação Infantil, ainda está no início dessa caminhada, por-
tanto, ao propiciar práticas de vivência de respeito mútuo, cooperação e
reciprocidade, o professor estará promovendo essa construção.
Muitas são as possibilidades de trabalho, de forma intencional e pla-
nejada na Educação Infantil para essa promoção, o professor precisa enten-
der que a criança, mesmo que na anomia ou início da heteronomia, “[...]
aos poucos vai descentrando-se, num processo de construção, de interação
dela com o meio em que vive, em que ela descobrirá ou outros, as regras
que regem as relações sociais” (Vinha, 2000, p. 92).
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
115
Para tanto, uma educação integral que considere e inclua os valores
morais, a partir da proposição de um ambiente sociomoral, se faz funda-
mental. A Educação em Valores é aquela voltada à construção intencional
da autonomia dos estudantes, de forma ativa e coletiva; para tanto todos os
aspectos da realidade escolar são importantes: as interações, os ambientes,
os conteúdos, as relações interpessoais, etc.
A Educação em Valores tem como finalidade a promoção da cons-
trução da moralidade autônoma. Tornar-se um ser autônomo requer a
participação ativa do sujeito em próprio desenvolvimento moral. As di-
mensões cognitivas, afetivas e morais são indissociáveis e fundamentais no
processo de ensino e aprendizagem (Lepre, 2021).
Neste processo de intencionalidade, relataremos uma prática moral,
com aporte nos estudos de Jean Piaget, que além de propiciar esse ambien-
te favorável para a reciprocidade, respeito mútuo e cooperação, também
auxilia o professor em um ambiente mais acolhedor para a criança bem
pequena, no seu processo de acolhimento e vínculo afetivo nos primeiros
anos escolares.
3 a Roda na educação infantil: momento que Possibilita o
acolhimento como PRática moRal
A roda é um momento importante na rotina da Educação Infantil.
A rotina é vista como a espinha dorsal, a parte fixa do cotidiano da insti-
tuição de Educação Infantil, em que está implícita uma noção de espaço
e de tempo” (Buss-Simão; Mafra-Rebelo, 2019, p. 253). A roda é muito
mais do que a disposição física das crianças e do professor em círculo, uma
vez que pode se configurar como um importante instrumento pedagógico
para a promoção do desenvolvimento integral das crianças. Para DeVriès e
Zan (1998, p. 115), “[...] o objetivo da roda é promover o raciocínio social
e moral”, levando a construção do senso de comunidade, sensação de per-
tencimento ao grupo e consciência do outro por meio da descentração ao
considerar pontos de vista do outro.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
116
DeVries e Zan (1998) consideram a hora da roda como a atividade
mais importante em termos de atmosfera, sociomoral por ser o
momento em que o educador proporciona a participação das crianças
nas decisões e no planejamento diário; compartilham experiências,
descobertas e sentimentos; elaboram regras que afetam seus modos
de convivência em grupo; trabalham o conhecimento social e
científico; discutem os problemas da turma e dilemas sociomorais;
ouvem histórias; cantam, etc (Lepre; Oliveira, 2016, p. 100).
A prática da “hora da roda” é parte fundamental e recorrente em
muitas instituições de Educação Infantil, no entanto, é frequentemente
conduzida de maneira superficial e incipiente. Muitas vezes, a roda se li-
mita apenas à realização da chamada, estabelecimento da rotina diária e
seleção do “ajudante do dia”, transformando-a em um mero procedimento
burocrático. É essencial ressaltar que este momento oferece uma oportuni-
dade valiosa para promover a interação social, o desenvolvimento emocio-
nal e cognitivo das crianças. Portanto, é importante que a “hora da roda
seja intencional, planejada e conduzida de forma significativa, incorpo-
rando atividades que estimulem a criatividade, a expressão individual e a
colaboração entre os participantes (Lepre; Oliveira, 2016). A roda também
proporciona um ambiente sociomoral propício ao acolhimento de todas
as crianças.
O acolhimento é parte integrante e indissociável da Educação
Infantil, com a finalidade de incluir a criança no ambiente escolar coope-
rativo, pautado em valores sociomorais. Os profissionais dessa etapa sabem
que o acolher é uma tarefa desafiadora, tanto para os próprios professores
como para os familiares, mas principalmente para as crianças, que ainda
se sentem inseguras e sofrem, em sua maioria, com a separação familiar.
Dessa forma, pensar e planejar atividades com vistas para tal acolhimento
é de extrema importância, fortalecendo o vínculo afetivo tanto com a pro-
fessora como com seus pares.
Em um ambiente pautado em valores sociomorais, onde as relações
são influenciadas em vivências de cooperação, respeito mútuo e diálogo,
a roda se torna uma das principais práticas experienciadas e planejadas
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
117
(DeVries; Zan; 1998; Vinha; 2000). Dentre as atividades em roda, a Roda
do Abraço foi escolhida como prática moral a fim de propiciar a acolhida/
inserimento das crianças no início do ano letivo. A Roda do Abraço, con-
cebida como uma prática moral, auxilia a criança em seu processo de au-
torregulação e fortalecimento de vínculos, já que a afetividade se encontra
em evidência nessa atividade. Lembrando que, para Piaget (2014) a afeti-
vidade age como um gatilho para os processos de construção das crianças,
tanto em relação a si, quanto ao mundo e ao outro.
Nos países latino-americanos o abraço é concebido como uma forma
de expressar afeto, conforto e solidariedade e vai além de uma simples de-
monstração de carinho; se revestindo como uma expressão cultural rica em
significado e simbolismo. O abraço pode desempenhar papel fundamental
na construção de relações interpessoais éticas e no fortalecimento dos laços
comunitários, possibilitando o desenvolvimento da empatia, a promoção
da cooperação e da solidariedade, o cultivo do respeito e da tolerância e o
fomento do bem-estar social individual e coletivo.
4 Relato e análise de uma exPeRiência com a Roda do abRaço
como PRática moRal
Uma vez que as práticas designam aquilo que as pessoas fazem,
uma de suas primeiras características é sua visibilidade e, portanto,
a possibilidade de observação e relato por parte dos pesquisadores e
de qualquer outra pessoa que simplesmente se detenha a contemplá-
las (Puig, 2004, p. 55).
A Roda do Abraço é realizada com o aporte da música folclórica
infantil “Se eu fosse um peixinho, soubesse nadar, eu tirava (a professora
chama uma criança pelo nome) do fundo do mar! “A criança chamada se
levanta para abraçar a professora e os colegas. Essa música faz parte do
rico folclore musical brasileiro e é frequentemente cantada em brincadeiras
infantis, sendo transmitida de geração em geração. Embora sua origem
não possa ser atribuída a um único autor, ela reflete a criatividade e a
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
118
imaginação presentes na cultura infantil brasileira. É importante registrar
que o desejo e a disposição da criança para abraçar deve ser respeitada e o
professor precisa oferecer outras opções, como dar um aperto de mão, um
toque, um beijo, um sorriso, etc.
A prática moral com a Roda do Abraço que relataremos a seguir foi
desenvolvida junto às crianças, entre dois anos e dois anos e quatro meses,
de um Centro de Convivência Infantil do município de Bauru–SP. A roda
foi intencionada e conduzida pela professora da turma que utilizou, como
aporte teórico, a Educação em Valores na perspectiva da Epistemologia
Genética de Jean Piaget e estudos desenvolvidos junto ao Grupo de Estudos
e Pesquisas em Desenvolvimento Moral e Educação (GEPEDEME), da
Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Bauru/SP.
A seguinte intervenção pedagógica foi desenvolvida durante a adap-
tação/acolhimento/inserimento com o intuito de um planejamento volta-
do à rotina como ferramenta para a promoção do juízo moral em crianças
de Educação Infantil. Essa rotina foi apresentada à criança a fim de pro-
mover a construção de um ambiente sociomoral, alicerçado em valores
e ações como cooperação, diálogo, respeito mútuo nas interações e nas
resoluções de conflito, com o propósito de oferecer experiências que auxi-
liam na construção de sua autonomia moral. Tal intervenção está descrita
no e-book “Uma Rotina de Valor”4 elaborado como produto educacional
desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Docência para a
Educação Básica, UNESP/Bauru, pela autora Maria Carolina Canale
Sanches Rodrigues, sob a orientação da Professora Dr.ª Rita Melissa Lepre.
O início do ano letivo é sempre um desafio para as crianças, uma vez
que permaneceram trinta dias em férias, usualmente no convívio com a fa-
mília, e, com frequência, enfrentam a troca de professores no ano seguinte,
o que se configura uma situação complexa para os pequenos, no que se re-
fere à construção de novos vínculos. Neste sentido, as crianças precisam de
uma recepção mais acolhedora, afetiva e harmoniosa. Essa recepção precisa
ser intencionada e planejada para que as crianças se sintam seguras em um
ambiente sociomoral afetivo, alegre e envolvente.
Disponível em: https://www.graduseditora.com
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
119
No primeiro dia de realização da Roda do Abraço, as crianças de-
monstraram não conhecer a atividade e ficaram um pouco agitadas, porque
pareciam estar com saudade de seus colegas e desejavam mesmo abraçá-los.
Desta forma, quando uma criança era chamada para se levantar e dar o
abraço, as outras também se levantavam, o que gerou abraços coletivos na
primeira semana. Foi possível observar que apesar da professora ter conver-
sado com as crianças e explicado a regra de cada uma deve levantar quando
chamada, o desejo das mesmas foi imperioso e moveu suas ações que foram
acolhidas pela professora. Após os abraços, a professora perguntava como
cada um se sentiu durante a vivência e, neste início, indagou porque abra-
çaram mais de uma criança. Algumas respostas foram: “Eu queria abraçar
os meus amigos” (criança participante); “Eu queria abraçar o (nome do
colega) e o (nome do colega)” (criança participante); “Eu queria abraçar
todos os amigos” (criança participante). É importante lembrar que, se-
gundo Piaget (1994), as crianças pequenas encontram-se na anomia, ou
seja, as regras ainda não se configuram como um regulador importante das
relações interpessoais e suas vontades assumem papel central na motivação
de suas ações. No entanto, a regularidade de ações pautadas em regras
coletivas, combinadas com as crianças, abrem um cenário de vivências im-
portantes para a gênese da moralidade.
Na segunda semana, as crianças começaram a interagir com menos
impulsividade e mais espera e passaram a aguardar seus nomes serem cha-
mados. No entanto, a professora fez uma intervenção propondo uma dis-
cussão com o grupo sobre o desejo e a possibilidade de integrarem, para
além dos abraços em cada um, o abraço coletivo, como havia ocorrido, de
forma incidental, na primeira semana. As crianças gostaram muito da ideia
da inserção do abraço coletivo como uma ação da roda, uma vez que se
sentiram cocriadores da brincadeira e respeitados e ouvidos pela professo-
ra. A participação das crianças na construção das regras é fundamental para
o entendimento de que são partícipes da elaboração das normas sociais,
ainda que não tenham consciência de tais regras.
Na terceira semana as crianças já demonstraram maior facilidade
em expressar suas emoções por meio do abraço e começaram a incor-
porar as regras e o modus operandi da roda. Atualmente, as crianças se
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
120
abraçam também em outros ambientes, como um ato de generosidade
espontânea, sem a intervenção direta da professora. É possível observar,
depois das três primeiras semanas, abraços no parque, como forma de
comunicação e troca de afetos, assim como após o compartilhamento de
brinquedos e brincadeiras.
Como vimos, a roda é uma atividade interativa, realizada diariamen-
te com os objetivos sociomorais e cognitivos. A questão moral trabalha-
da em roda envolveu de início a questão da adaptação e acolhimento das
crianças com o intuito de desenvolver o sentimento de pertencimento e
inserimento no grupo. Isso trouxe segurança e um sentimento prazeroso
que estão buscando em outros locais que não, apenas, na Roda do Abraço.
É importante registrar que o grupo tem que ampliar seu ponto
de vista e levar em conta os sentimentos difíceis e modos de lidar com
eles. (DeVriès; Zan, 1998, p. 68). Sentimentos “difíceis” de lidar tam-
bém apareceram durante as rodas do abraço, como, por exemplo, crianças
que queriam a roda, mas não conseguiam abraçar os colegas, uma criança
que demonstrou dificuldade em abraçar o colega de frente, mas se deixava
abraçar de costas para o amigo, crianças que beijavam ao invés de abraçar,
entre outras expressões. Esses exemplos demonstram que as crianças estão
buscando apreender a atividade e, ao mesmo tempo, lidar com a exposição
de seus sentimentos.
Na última semana, a criança, que só abraçava de costas para os cole-
gas, cedeu e abraçou o amigo de frente. Essa atitude pode parecer pequena,
mas na visão pedagógica, isso demonstra que as situações morais vivencia-
das com a roda do abraço estão sendo assimiladas e incorporadas na rotina
do grupo, e proporcionando a segurança necessária para expressarem seus
sentimentos. O estabelecimento dessas relações permeadas pelo afeto da
roda do abraço é bem abrangente e alimenta seus desejos de carinho e
segurança para o tempo de permanência bem extenso de 10 horas, em sua
maioria, proporcionando a construção do desenvolvimento moral.
Neste sentido, concordamos que
As relações sociais podem ser construídas por vínculos de afeto
e confiança, nos quais a afetividade ocupa o lugar de uma fonte
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
121
energética da qual depende o funcionamento da inteligência.
Há que se considerar que existe uma indissolúvel relação entre
inteligência e afetividade, entre desejo e conhecimento, entre
desenvolvimento cognitivo e moral (Suardi; Becker, 2013, p. 55).
No Quadro 01, buscamos demonstrar, a partir de fotos, diferentes
momentos da Roda do Abraço que retratam evoluções nos comportamen-
tos das crianças.
Quadro 1 - Sequência temporal da Roda do Abraço
Primeira semana: Beijos e abraço de costas – Crianças conhecendo e experimentando
possibilidades na Roda do Abraço
Segunda semana: Crianças mais à vontade e Roda do Abraço mais organizada.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
122
Terceira semana: Abraços de frente e expansão das ações de carinho e generosidade para
além da Roda do Abraço
Fonte: Arquivo da pesquisadora
A Educação em Valores não pressupõe que as crianças alcancem au-
tonomia já na primeira infância, pois isso não será possível ainda, mas
essas experiências são o alicerce da construção da moralidade/autonomia.
Precisemos aqui, que não há construções sem antes o alicerce ter sido
construído, ou seja, as experiências sociomorais vividas pelas crianças en-
volvendo respeito mútuo, generosidade, reciprocidade e cooperação e o
mais importante componente nessa fase de adaptação é o sentimento de
pertencimento de grupo que a Roda do Abraço proporciona, pois tem o
poder de acalentar a criança e ampliar sua segurança, o que lhe permite ex-
perienciar todas essas atividades. Sem essa segurança afetiva, não se alcança
essas possibilidades de desenvolvimento. Esse sentimento antecede todas as
construções objetivadas.
consideRações finais
A autonomia moral pode ser alcançada, como possibilidade, no iní-
cio da adolescência, por meio de vivências e experiências morais bem suce-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
123
didas iniciadas já na primeira infância, sob a influência de interações pau-
tadas em ambientes sociomorais cooperativos. Nesse sentido, a Educação
Infantil se torna um local privilegiado para as práticas morais, de forma
intencional e planejada, com vistas ao desenvolvimento do juízo moral.
Assim, dentre as atividades cotidianas da Educação Infantil, a roda
se torna um dos momentos mais importantes e interativos, e não deve
assumir um papel secundário, se tornado apenas um aporte para chamada
ou músicas, mas atividade central com foco para o desenvolvimento da
promoção do juízo moral nas crianças pequenas.
Piaget (1896-1980) descreveu que a afetividade funciona como um
ponto de propulsão do desenvolvimento infantil, tanto cognitivo quanto
moral. Nesse sentido, pensar em atividades que promovam o desenvolvi-
mento integral na Educação infantil requer do professor um caráter de in-
tencionalidade em toda organização de seu trabalho, incluindo o processo
de inserimento das crianças pequenas no ambiente escolar.
A Roda do Abraço proporcionou um acolhimento bastante eficaz
no período de adaptação e inserimento das crianças no início do ano, ali-
cerçada no afeto demonstrado pelos colegas e pela professora, e se revelou
como uma prática moral na qual valores e virtudes se convertem em com-
portamentos (Puig, 2004). A vivência de práticas morais denota que com
certas regularidades experienciadas, as crianças pequenas demonstram o
início de sentimentos morais em suas ações, fortalecendo o vínculo de
pertencimento ao coletivo.
Para finalizar, podemos afirmar que o trabalho é possível e neces-
sário apesar dos entraves políticos de não reconhecimento da importân-
cia da Educação Infantil, negação da função de professor de Educação
Infantil e falta de recursos humanos nas escolas, para o desenvolvimento
das crianças a fim de subsidiar a construção de uma nova sociedade justa,
solidária e cooperativa.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
124
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O Role-Playing como prática moral
na escola: relatos de experiências
com crianças e com adolescentes
Fabiana Silveira FERNANDES 1
Lígia Serrano LOPES 2
Rita Melissa LEPRE 3
1 intRodução
A Educação Moral ou a Educação em Valores detém uma dimensão
formativa que atravessa o âmbito da educação e da personalidade, uma vez
que visa promover a formação integral do ser humano para que se construa
como um sujeito consciente, livre e responsável. Para Puig (1998a p. 14):
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Docência na Educação Básica da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP – Câmpus de Bauru –SP. Psicopedagoga Institucional e
Clínica, Graduada em Letras, Pedagogia e vinculada ao GEPEDEME – Grupo de Estudo e Pesquisa
em Desenvolvimento. Moral e Educação. Autora do relato de experiência 1 deste capítulo. E-mail:
fabiana.s.fernandes@unesp.br
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Docência na Educação Básica da Universidade Estadual
Paulista- UNESP – Câmpus de Bauru – SP. Neuropsicopedagoga Institucional e Clínica. Pedagoga.
Graduada em Letras e vinculada ao GEPEDEME – Grupo de Estudo e Pesquisa em Desenvolvimento
Moral e Educação. Autora do relato de experiência 2 deste capítulo. E-mail: ligia.serrano@unesp.br
Doutora em Educação, Livre-Docente em Psicologia da Educação. Professora Associada da Universidade
Estadual Paulista - UNESP, Faculdade de Ciências, Departamento de Educação, campus de Bauru. Líder
do GEPEDEME - Grupo de Estudo e Pesquisa em Desenvolvimento Moral e Educação. Orientadora das
duas pesquisas relatadas neste capítulo. E-mail: melissa.lepre@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p127-143
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
128
[...] a reflexão moral é uma tarefa pessoal e social que tem como
finalidade permitir que cada um, com seu modo de ser e de viver,
faça parte de sua coletividade. A educação moral associa-se à tarefa
de ensinar a cada um dos sujeitos e aos diferentes grupos humanos
a viver no seio de uma comunidade.
A educação moral envolve a formação de uma personalidade
consciente, livre e responsável capaz de enfrentar a indeterminação
humana e capaz de mover-se de forma equilibrada nos planos
pessoal e coletivo objetivando assegurar a criação devida viáveis,
pessoalmente desejáveis e coletivamente justas e livres.
Sendo assim, desenvolver práticas intencionalmente planejadas e
pautadas na Educação em Valores Morais no contexto escolar (e que dia-
loguem com o currículo) contribui para aprimorar nos estudantes - desde
a Educação Infantil até o Ensino Médio - recursos e capacidades morais
que os auxiliem a enfrentar crítica e criativamente os conflitos de valores
na vida em sociedade.
Vale ressaltar que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC,
2017) (Brasil, 2017) é o documento normativo que indica as aprendi-
zagens essenciais a serem desenvolvidas em todas as etapas da Educação
Básica e conforme os preceitos do Artigo 1.º da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) (Brasil, 1996), o ato educativo deve embasar-se
nos princípios éticos, políticos e estéticos que visam a formação humana
integral a fim de construir uma sociedade justa e democrática.
Ademais, é notória a prescrição, na LDB, de que ao longo das
etapas da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Médio), as áreas de conhecimento e o currículo estejam articulados e que
sejam desenvolvidas habilidades necessárias para a formação de atitudes
e de valores. A nona competência geral da Educação Básica enfatiza o
dever da escola: “Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos
e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro
(Brasil, 2017, p. 12).
Neste contexto, é notório o papel do professor como propositor e
mediador de práticas conscientes e sistemáticas, embasadas na clarificação
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
129
e na construção de valores morais, que proporcionem aos estudantes, por
meio de programas, atividades e experiências pedagógicas, o autoconheci-
mento, as experiências de dilemas, os juízos e os valores morais.
Logo, o presente capítulo tem como objetivo descrever e refletir so-
bre o uso do role-playing como uma das ferramentas para o desenvolvimen-
to do juízo moral a partir de relatos de experiências das pesquisadoras com
turmas formadas por crianças da Educação Infantil (de 4 a 6 anos) e por
adolescentes do Ensino Médio (14 e 15 anos), ou seja, compartilhar que é
possível o desenvolvimento de práticas morais e pedagógicas na Educação
Básica que promovam e estimulem a aquisição progressiva da moralidade a
fim de construir sujeitos éticos, autônomos e cooperativos.
2 Role-playing: uma inteRvenção educativa a favoR da
moRalidade
A Educação em Valores perpassa o âmbito do desenvolvimento hu-
mano e tem como finalidade a formação integral do sujeito por meio do
ensino transversal. Lepre e Arruda (2020) embasa-se nos estudos de Piaget
(1994) ao afirmar que educar moralmente consiste em proporcionar diver-
sas situações (no contexto escolar e nos diferentes níveis de escolaridade)
que estimulem a cooperação, a reciprocidade, o respeito mútuo e a autono-
mia. Tais objetivos somente serão atingidos no contexto escolar se a prática
pedagógica for intencional e planejada, ou seja, se visar uma prática moral.
Puig (2004, p. 63) também reitera que “[...] As práticas morais são
formas ritualizadas de resolver situações moralmente relevantes”. Isto sig-
nifica que cabe ao professor a busca pela Educação em Valores na Educação
Básica, além de ressignificar e conceber novas práticas adequadas a esse
propósito, ou seja, colocar os alunos - desde a Educação Infantil até o
Ensino Médio - como protagonistas na construção de valores durante o
percurso de seu desenvolvimento integral que, inevitavelmente, necessita
da interação com o meio e com os seus pares.
Conforme definem Araújo, Puig e Arantes (2007, p. 29),
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
130
[...] crianças e adultos constroem seus sistemas de valores dentro do
espectro de possibilidades que a natureza, a cultura, a e a sociedade
lhe oferecem, mas de forma não previsível. Família, escola, religião,
amigos, mídia, cultura, tudo parece influenciar esse processo.
Nota-se que a moralidade é construída a partir de nossas vivências e
a escola é um dos ambientes no qual devem ser proporcionadas situações
para o escolar vivenciar, aprender a cooperar, respeitar, tolerar e desenvol-
ver sua autonomia moral com seus pares, uma vez que pertencem a con-
textos e culturas diferentes.
Neste sentido, com o objetivo de desenvolver o juízo moral, o pla-
nejamento escolar também deve estar voltado aos valores como formar há-
bitos de convivência harmoniosa que contribua para os valores universais
como solidariedade, justiça, cuidado com o próximo, tão essenciais para
uma Educação Moral. É imprescindível que as práticas estejam voltadas
para a convivência social e harmoniosa.
Por isso, é possível inserir elementos para criar um currículo para a
Educação em Valores, dentre eles estão as atividades ou ferramentas como
o recurso do role-playing que pode ser usado em diferentes faixas etárias e
em diferentes momentos do desenvolvimento das práticas morais na escola.
O role-playing ou a dramatização desenvolve a capacidade do role-
-taking que é colocar-se no lugar do outro para resolver conflitos sociais
e morais; assumir, reconhecer e representar outros papéis; analisar, refletir
e, por isso, tal prática representa “[...] uma oportunidade para aprender a
adotar outros pontos de vista e demonstrá-los” (Puig, 1998b, p. 71).
Além de constituir-se uma prática que necessita de pessoas, que jun-
tas irão representar um problema moral, para desenvolver o role-playing é
necessário que o aluno esteja em outro papel social que lhe trará reflexões
e lhe promoverá conflitos internos. Após o jogo, todos do grupo refletem
sobre as possibilidades de resolução do problema.
Embora o conflito cognitivo possa surgir em situações da
vida cotidiana (conversas, debates ou busca de soluções para
problemas reais), também pode ser gerado de forma mais artificial
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
131
e intencional. Para consegui-lo, podem-se agrupar os alunos
com a intenção explícita de que discutam sobre um problema. A
discussão em grupo favorece o reconhecimento de pontos de vista,
interesses e opiniões distintas. A heterogeneidade de perspectivas,
assim como as diversas contribuições dos participantes, constituem
uma condição inestimável para o desenvolvimento do juízo moral.
Perceber a controvérsia ou o desacordo social que produzem as
diversas opiniões dos membros de um grupo, provoca o surgimento
de conflito sociocognitivo, ou heterogeneidade de respostas
para um mesmo dilema. Nessas situações, é possível esperar
uma progressiva elaboração coletiva de novos equilíbrios, assim
como uma interiorização do conflito sociocognitivo no âmbito
intrapessoal (Puig, 1998b, p. 67).
Por conseguinte, o role-playing é uma atividade que visa enriquecer
práticas em sala de aula e abrange desde crianças pequenas até as séries que
encerram a Educação Básica, ou seja, o Ensino Médio. Desde que o pro-
fessor desenvolva uma prática pedagógica com intencionalidade, poderá
aprofundar além dos conteúdos cognitivos a serem desenvolvidos curricu-
larmente em sala de aula, estimular o desenvolvimento do juízo moral dos
alunos. A seguir, vamos relatar exemplos de práticas que contribuem para
essa finalidade, realizadas com crianças da Educação Infantil e com ado-
lescentes do Ensino Médio em escolas do interior do estado e São Paulo.
3 o Role-playing como PRática moRal com cRianças da
educação infantil - Relato de exPeRiência 01
O primeiro estudo realizado utilizou-se do role-playing, de forma
intencional e sistemática para promover o desenvolvimento do juízo moral
em crianças entre quatro e seis anos, em uma escola de Educação Infantil
do interior paulista.
Para a realização da pesquisa, foi utilizada a pesquisa-ação, pois a
pesquisadora foi a professora da turma, assim a proximidade e a intera-
ção entre o grupo foram intensas, fato que permitiu a liberdade de atuar
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
132
como observadora atuante. A professora observadora iniciou a pesquisa
trazendo para o grupo um ambiente harmonioso, no qual todos tiveram a
liberdade de falar, o respeito ao ouvir e foi incentivado o “[...] fomentar as
competências dialógicas que predispõem ao acordo, ao entendimento e à
autodireção, assim como à tolerância e à participação democrática” (Puig,
1998a, p. 24). Para que houvesse essa liberdade e a participação de todos,
foram realizadas muitas interações com músicas cantadas e interpretadas,
jogos em grupo, de acordo com a idade das crianças a fim de que elas se
sentissem importantes e interagissem sem medo durante toda a pesquisa.
Após essa fase inicial, foi realizada a avaliação das necessidades do
grupo, de acordo com a idade, com a cultura na qual estavam inseridos e
também foram pensadas as problemáticas morais que eles possuíam naque-
la época. No segundo momento, foram levantados jogos adequados para a
realidade e que chamavam a atenção dos alunos bem como que os fizeram
refletir sobre valores morais vivenciados, favorecendo, assim, intencional-
mente as reflexões que possibilitaram conflitos de valor e transformaram as
vivências e crenças deles, com o objetivo de desenvolver cidadãos reflexivos
e conscientes que refletiam sobre um ambiente mais justo e igualitário.
Para este relato de experiência com o role-playing, citaremos três ses-
sões realizadas com as crianças e as construções efetivadas a partir delas.
O primeiro role-playing que descreveremos é o que denominamos como
A criança que quebra um brinquedo com intencionalidade”. Essa proble-
mática foi repetida duas vezes (2 cenas) e contou com três participantes
em cada cena, sendo os personagens: duas crianças que brincavam com
um boneco (crianças 1 e 2); a criança que quebrou o brinquedo com in-
tenção (criança 2); e uma criança que observou o ato e respondeu com a
atitude que acreditou ser a correta (criança 3). Nesta cena, foi necessária a
intervenção da pesquisadora para que não houvesse machucados durante a
cena, especialmente por ser um jogo no qual a criança está livre para solu-
cionar o problema de acordo como ela acredita que deve ser solucionado,
refletindo com as vivências individuais e como se sente em determinada
situação. Neste jogo, soluções agressivas foram apresentadas pelas crianças
e houve necessidade de intervenção direta da professora.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
133
A cena: As três crianças realizaram o role-playing e após a criança
2 jogar e quebrar o brinquedo, a criança 3 arrastou-a com força e
agressividade até a parede. A criança 1 também foi arrastada para o castigo,
pois na cena o brinquedo pertencia à criança 3. Ao ser questionada sobre a
resolução, esta disse que a criança quebrou o brinquedo dela e ele resolveu
o problema. Ressaltando para fins científicos, que a criança 3 vivenciou
maus tratos, sendo filho de dependentes químicos e mora atualmente com
os avós maternos.
Já na parte da votação com o grupo, eles escolheram castigar a crian-
ça, dizendo que quebrar o brinquedo de alguém era inaceitável. Porém,
houve um relato no final, de uma criança que chamou atenção de todos ao
dizer: - “Tá bom, então tem que explicar para o colega que não pode quebrar
o brinquedo”. A pesquisadora questionou: “E se ele continuar quebrando?”
A criança respondeu: “Aí tem que sair e encontrar outro amigo para brin-
car”. Mesmo sendo crianças de 5 anos, reflexões profundas aconteceram
durante toda pesquisa e esta foi uma delas, pois mostra a necessidade de
orientar o colega, porém se este não quer respeitar as regras, agressões não
se configuram a solução e, sim, a busca por outros amigos para continuar
a brincadeira.
Destaca-se, nesta pesquisa, a profunda reflexão que o jogo role-
playing impactou, mesmo nas crianças pequenas, pois trouxe conflitos de
valor após a fala da criança enquanto que todas as outras se silenciaram
pelo argumento, já que caso não ocorra, após o diálogo, uma solução,
é consenso buscar por outro amigo para brincar. Puig (1998b p. 86)
ressalta que:
[...] a compreensão crítica não é um exercício realizado por um
sujeito isolado. A compreensão é, antes de mais nada, uma
exigência que impõem os múltiplos pontos de vista distintos, que
convergem e julgam os conflitos de valor. A compreensão supõe
uma multiplicidade de perspectivas diferentes sobre o mesmo.
E, portanto, supõe também se comprometer em um processo de
diálogo entre diversos participantes. Finalmente, a compreensão
parte da complexidade sociocultural em que estão inseridos todos
os implicados em tal processo.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
134
A segunda sessão de role-playing foi intitulada “A criança que manda
nos outros” e teve como base o livro “O reizinho e ele mesmo” (Tognetta,
2014), da autora Luciene Regina Paulino Tognetta, que foi lido para a turma
pela professora e realizada a proposta do jogo. Essa problemática foi repetida
três vezes (3 cenas) e contou com quatro participantes em cada cena, tendo
como personagens: uma criança (criança 1) que é autoritária e acredita que
as pessoas são suas servas e com três crianças que são mandadas (crianças 2,
3 e 4) e podem ter alguma ação solucionadora.
A cena: A criança 2 chamava pelos amigos, dizendo: “Amigos, ve-
nham brincar comigo”. As crianças se aproximavam e começava a brinca-
deira. A criança 1, imediatamente chegava e dizia: “Parem, e vão pegar água
para mim, agora!”; a criança 2 respondia que não, e a criança 3 dizia que
contaria para a professora. A criança 1, se aproximava e encarava a criança
3, com postura de briga. A criança 2, ao ver a intimidação, dizia: “Não faça
isso com ela, isso é muito feio”. Então ela se aproximava da criança 2 e segu-
rava na cabeça dela para que ela olhasse nos olhos dela. A criança 3 dizia
novamente que chamaria a professora e que ele ficaria de castigo. A criança
1 respondia: ”Eu não vou ficar de castigo” e começava a segurar a cabeça
dos colegas com certa força..
Sempre que uma cena ameaçasse a integridade física do amigo, a
pesquisadora interrompia o jogo e intervinha no mesmo instante. A solu-
ção encontrada pelo grupo foi ameaçar a criança mandona e chamar uma
autoridade. Percebemos a dependência das crianças para com a figura do
adulto, para pensar e solucionar os problemas, havendo na pesquisa mo-
mentos que acontecem a reflexão e a ação assertiva e em outros momentos
a paralisação desta ação, o que é compreensível nesta faixa etária. Lepre e
Arruda (2020, p. 136) citam: “Pela perspectiva da Epistemologia Genética
de Jean Piaget, há um desenvolvimento da moral, com mudanças qualita-
tivas, em que o ser humano pode percorrer da anomia para a heteronomia,
chegando, possivelmente, à autonomia moral.” Ainda segundo os autores,
essa progressão do desenvolvimento do juízo moral necessita de práticas
com situações reais para que caminhem nesta evolução:
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
135
Para a construção da moral autônoma, a criança precisa de situações
reais que desafiem seu modo de pensar, e é imprescindível que ela
participe de experiências que causem o desequilíbrio cognitivo,
a fim de assimilar e acomodar novas formas de pensar e agir no
mundo social a partir de práticas cooperativas, dialogadas, reflexivas
e ativas (Lepre; Arruda, 2020, p. 13).
A seguir, será citado o último jogo realizado com esse grupo, que
foi: “A criança que furtava os objetos”. Este mostra o quanto as crianças já
refletiam em grupo sobre a melhor solução para todos. O jogo contou com
cinco participantes, tendo como personagens: uma criança (criança 1) que
furtava objetos e mais quatro crianças (crianças 2, 3, 4 e 5) que observavam
o furto e podiam ter alguma ação solucionadora.
A cena: A criança 1 entrava na sala e disfarçadamente colocava brin-
quedos e livros dentro da camiseta. A criança 2, ao ver, dizia: “Ei, amiga, não
pode fazer isso. Eu vou ligar para a polícia ou chamar a auxiliar para expulsar
você da escola. A criança 1 respondia: “É porque vou levar para minha casa”,
o que levou a criança 2 a dizer: “Você tem tudo na sua casa, porque eu já fui lá
e a criança 01 respondeu: “Eu queria levar para brincar com a minha Barbie”.
A criança 2 respondeu: “Mas não pode, as coisas da escola, são da escola. Pede
para sua mãe comprar o que você quer”. A criança 01 concordou e disse que
não faria mais aquilo. As outras crianças observaram o diálogo entre elas e no
final cruzaram os dedinhos como um acordo de paz.
Na votação com o grupo, eles imediatamente já disseram que essa
conclusão solucionou o problema e, sendo assim, já concordaram que ex-
plicar a situação para o outro seria possível de solucionar esse problema.
Ainda que nesta cena também persistiu a ameaça de recorrer a uma autori-
dade para resolver o problema, as crianças já conseguiram avançar e chegar
a um consenso entre elas.
O desenvolvimento das cenas de role-playing foi repleto de vivências,
sendo possível confirmar as características da heteronomia nas crianças ao
buscarem incessantemente por um adulto solucionador dos conflitos ou
por citações religiosas para justificar o comportamento dos colegas. Com o
avançar das atividades, no entanto, foi possível observar que começaram a
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
136
questionar qual seria a melhor solução para os conflitos vividos, buscando
a forma mais justa. Agiram nos jogos de forma mais assertiva e em diversos
momentos e, na reflexão com o grupo, chegaram a soluções morais, iden-
tificando valores.
Esse tipo de exercício torna-se especialmente apropriado, como
apontávamos ao referirmo-nos às finalidades da educação moral,
para construir a própria identidade moral; uma identidade
moral complexa, aberta e crítica, que se defina como espaço de
diferenciação e criatividade pessoal no âmbito dos valores. Um
espaço em que é possível o conhecimento de si mesmo, enquanto
clarificação daqueles aspectos que configuram a própria maneira
de ser, pensar e sentir. Um espaço em que o conhecimento de si
mesmo se estende também como construção de um modo de ser
pessoal que integre as experiências do passado e projete-se para o
futuro (Puig, 1998b, p. 36).
Fechamos o relato, apontando que o role-playing incentiva a capaci-
dade dialógica das crianças que passam a utilizar o diálogo como umas das
principais formas de solucionar possíveis conflitos. Fato este que confirma
o quanto são necessárias práticas voltadas ao desenvolvimento do juízo
moral para o bem pessoal e social.
4 Pticas moRais com adolescentes na aula de liteRatuRa
Relato de exPeRiências 02
É possível que o uso de ferramentas práticas na sala de aula, como
o role-playing, possa promover o juízo moral em adolescentes do Ensino
Médio especificamente na disciplina de Literatura? E “como” utilizar o
role-playing como uma das experiências práticas que permeiam o pro-
cesso de ensino e aprendizagem do juízo moral é o objeto de estudo da
pesquisa de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Docência para
Educação Básica da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (UNESP) - Faculdade de Ciências do Câmpus de Bauru–SP de
uma das autoras do capítulo.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
137
A pesquisa, até o momento da publicação do presente livro, encon-
tra-se em processo de coleta de dados, por pesquisa-ação e aplicação do
Produto Educacional em uma escola do interior de São Paulo. Por isso,
serão descritas partes das atividades como relato de experiências promisso-
ras desenvolvidas com adolescentes da 1.ª série do Ensino Médio, durante
estudo da peça teatral portuguesa de Gil Vicente (c1998) intitulada “Auto
da barca do inferno”.
O texto literário em pauta trata-se de auto que pertence ao período
do Humanismo literário, ou seja, época de transição entre a Idade Média e
início da Idade Moderna na Europa nos séculos XV e XVI. Ao estudar no
currículo o teatro vicentino, deparamo-nos com a visão religiosa da época
versus a busca humana pelo saber, pelo racionalismo e pela descentralização
do conhecimento.
O enredo trata da chegada de personagens alegóricas, que passam
uma a uma, diante de dois chefes que comandam uma barca que leva ao
Paraíso e outra que os conduzirá ao Inferno. Cada personagem chega carre-
gando um objeto que representa sua condição social da época. Eles tentam
convencer o barqueiro do Céu que são merecedores de em sua barca ser
tripulantes. A seguir, as personagens alegóricas do auto vicentino estudado:
ANJO: comandante ou arrais da barca do Céu; DIABO: comandante ou
arrais da barca do Inferno; FIDALGO: nobreza; ONZENEIRO: agiotas;
PARVO: bobo da corte, povo, pessoa simples; FRADE: representante do
clero e falsa fé; FLORENÇA: acompanhante do frade; BRÍSIDA VAZ:
cafetina e feiticeira; CORREGEDOR E PROCURADOR: Classe jurídi-
ca; ENFORCADO: símbolo da falta de fé e QUATRO CAVALEIROS: fé
cristã da época.
Ao solicitar a entrada na barca que leva ao Paraíso, vários aspectos
da conduta moral (ou da falta dela) da vida das personagens são expostas,
bem como suas fragilidades, aspectos de seus vícios e virtudes que repre-
sentam as instituições sociais às quais elas pertencem. Assim, o professor
de Literatura, para além do estudo dos aspectos do contexto histórico,
cronologia, enredo e características literárias, pode sobremaneira promover
um rico debate sobre dilemas morais que ampliam a reflexão dos adoles-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
138
centes sobre os princípios da moralidade, da reciprocidade, da empatia, da
resolução de conflitos e da justiça social.
Logo após realizado esse estudo descrito acima, e com o conhe-
cimento prévio dos alunos sobre o enredo da obra, serão propostas, na
pesquisa original, sequências didáticas desenvolvidas ao longo de 8 aulas.
Segue abaixo, porém, o relato de duas vivências realizadas com os alunos
tendo em vista as práticas morais.
a) Leitura Compartilhada e Roda de Conversa
Após a leitura individual da obra, em português europeu original,
foram realizadas três aulas específicas com leitura compartilhada de ex-
certos que ilustraram e caracterizaram cada uma das onze personagens do
auto, além dos aspectos específicos literários. Logo após, foi realizada a
roda de conversa com o momento de reflexões, exposição de ideias, parti-
lha entre os alunos sobre seus conhecimentos e suas apreensões da leitura.
Foi sugerido um roteiro de questões para permear a discussão mediada
pelo professor:
1. Podemos afirmar que o Anjo e o Diabo são representações das
metáforas do Bem e do Mal?
2. Vamos discutir sobre os objetos trazidos pelas personagens ale-
góricas? O que cada um dos objetos liga-os à categoria social à
qual eles faziam parte naquela época?
3. Por que a maioria das personagens primeiramente se dirigia à
Barca do Anjo que seria conduzida ao Paraíso?
4. Quais argumentos e quais personagens chamaram mais sua aten-
ção quando estas tentavam se defender das faltas que cometeram
e conseguirem embarcar com o Anjo?
5. Quais qualidades ou características definem aquelas poucas per-
sonagens que embarcaram com o Anjo? Justifique.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
139
6. Se você comparar essas personagens sociais às instituições ou ti-
pos sociais de hoje, à quem elas se assemelhariam? Os grupos,
após a discussão oral, responderam, via Google Forms, e regis-
traram as respostas elaboradas em comum acordo com os inte-
grantes. Durante a execução da prática, foi possível observar a
interação entre os estudantes, a escuta ativa e os contrapontos
levantados. As justificativas dadas na questão três levaram-nos a
concluir que os estudantes entendem que assim como as perso-
nagens da peça, grande parte da humanidade prima por susten-
tar a aparência, o próprio bem-estar e privilégios, ou seja, revelar
suas virtudes e sucumbir seus vícios. Por conseguinte, as práticas
morais proporcionam aprendizagens superiores àquelas planeja-
das, uma vez que de acordo com Puig (2004, p. 86),
[...] põem em jogo uma multiplicidade de motores de aprendizagem
que muito dificilmente podemos controlar (...) mas o primeiro
objetivo de um educador é não pôr em marcha um motor de
aprendizagem, e sim planejar uma prática significativa que,
seguramente, ativará vários dinamismos de aprendizagens” .
Assim, a leitura crítica compartilhada e a roda de conversa foram
práticas morais enriquecedoras para as conclusões dos alunos que jun-
tamente com a escrita fundamentada e, logo após o registro digital pelo
Google Forms, levaram-nos a opinar e a interpretar sobre as várias vozes
presentes no texto literário teatral, pano de fundo para discussão de temas
sobre moralidade. A polifonia presente no texto literário, de certa forma,
representa a diversidade de pensamentos e de interpretações que foram
experimentadas pelos alunos durante as práticas morais descritas acima.
b) Role-playing
Para a aplicação do exercício do role-playing, é indicado que o pro-
fessor siga os passos sugeridos por Puig (1998b), a saber: a criação de um
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
140
clima de grupo apropriado; a preparação da dramatização e assimilação dos
papéis; a realização da dramatização; a análise da dramatização e debate de
seus aspectos mais interessantes.
A “Conferência de Imprensa” é uma das variantes do role-playing
que pode ser usada tendo a peça “Auto da barca do inferno” como mote.
Para tanto, a atividade foi criada e organizada pela professora pesqui-
sadora da seguinte forma: Aluno A: Entrevistador; Aluno B: Fidalgo e
Aluno C: Sapateiro.
questões:
ALUNO A: Ilustríssimo Fidalgo de Portugal, fora acusado pelo Anjo
de cometer covardia contra os pequenos e pela nobreza muita tira-
nia. Como pode se defender Vossa Senhoria?
ALUNO B: Jogo Argumentativo (Fidalgo elabora a resposta
argumentativa)
ALUNO A: Sapateiro chega com formas, martelo e pregos, mas se
esquece que ser religioso mas roubar a quem vende não o livra do
inferno. Como você se defende se superfaturou tudo o que vende?
ALUNO C: Jogo Argumentativo (Sapateiro elabora a resposta
argumentativa).
Lançadas essas perguntas, os demais alunos foram divididos em
grupos e refletiram sobre argumentos acerca das personagens em sua
própria defesa e votaram se deveriam absolvê-las ou não, ou seja, se as
impediriam ou não de ir para a barca do inferno. Interessante observar
que essa atividade foi um exercício progressivo de descentração do sujeito
e também de escuta ativa, pois os estudantes esforçaram-se em colocar-se
no lugar do outro e experimentaram diferentes papéis muitas vezes até
mesmo contrários àqueles que acreditavam. Um dos alunos, no papel do
Sapateiro, por exemplo, não sustentou sua argumentação, uma vez que
seu senso de justiça impediu de colocar-se a favor da personagem à qual
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
141
deveria defender: o Sapateiro representava uma classe comercial corrupta,
que vendia a altos preços suas mercadorias de baixa qualidade, assim, o
aluno utilizou-se de contra-argumentação, ou seja, defendeu valores como
a igualdade, equidade e justiça, portanto não conseguiu representar o
contravalor da personagem do auto.
Como corrobora Puig (2004, p. 83):
Acreditamos que as práticas morais contribuem para o
desenvolvimento e a aquisição de cursos de acontecimentos
valiosos, capacidades morais, virtudes, conceitos de valor, e ideias
éticas no sentido de pertinência à coletividade e identidade pessoal.
Logo, pelas experiências nas aulas de Literatura, foi possível cons-
tatar que há a possibilidade planejada do professor promover a Educação
em Valores utilizando o texto literário nas aulas regulares do Ensino Médio
como uma prática transversal de ensino.
consideRações finais
O presente capítulo visa contribuir com relatos de boas experiên-
cias de professoras-pesquisadoras em Educação em Valores que alcançaram
crianças pequenas da Educação Infantil a jovens do Ensino Médio e que
sugeriram que é possível promover práticas sociomorais em sala de aula
por meio de um planejamento cuja intencionalidade abraça também os
objetivos do desenvolvimento do juízo moral a começar na primeira etapa
da Educação Básica. A Educação em Valores Morais, por meio de práticas
morais, pode e deve ser adotada desde a Educação Infantil até os Anos
Finais da Educação Básica, uma vez que a moralidade autônoma é uma
construção que depende de vivências constantes em ambientes sociomo-
rais. Não se trata de aprender sozinho, mas de aprender no coletivo, agin-
do, a partir de ambientes e situações sociomorais propostas pelo professor.
Destacamos também que o role-playing é uma prática eficaz para o
ensino transversal que desenvolve o diálogo, a escuta ativa, a empatia, o
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
142
respeito pela opinião do próximo e o poder viver diferentes papéis sociais
em perspectivas e pontos de vista diferentes. Sendo assim, concordamos
com Puig (1998b, p. 70) ao afirmar que o [...] desenvolvimento do ‘role-
taking’ ou capacidade de assumir outros papeis será uma das finalidades
básicas da educação moral”.
A Educação Moral ou Educação em Valores Morais na escola im-
plica na ação mediadora e interventiva do professor, portanto, uma for-
mação inicial e continuada que trate do tema é fundamental para que os
professores possam desenvolver práticas pedagógicas que se convertam em
práxis transformadoras. De acordo com Puig (2004, p. 87), é “[...] educar
o sujeito para que ele saiba usar bússola moral, que lhe indique a direção
correta em situações controvertidas ou instruí-lo para que conheça e saiba
utilizar um mapa moral”.
Diante da complexidade dos desafios éticos enfrentados pela socie-
dade contemporânea, a promoção da autonomia moral na escola, por meio
de diferentes práticas morais, torna-se uma tarefa de grande relevância.
Neste sentido, o role-playing se apresenta como uma ferramenta não penas
moral como também pedagógica promissora, capaz de engajar os alunos
na reflexão sobre questões morais e capaz de contribuir para a formação
de cidadãos éticos e responsáveis. No entanto, é necessário que futuras
pesquisas continuem a investigar os mecanismos pelos quais o role-playing
influencia o desenvolvimento moral dos indivíduos, a fim de aprimorar
sua aplicação no contexto educacional e obter novos resultados que pos-
sam ser compartilhados.
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144
145
A vivência de algumas práticas
morais no Ensino Fundamental I:
pressupostos teóricos e práticos
Bruna Assem Sasso dos SANTOS 1
Patrícia Unger Raphael BATAGLIA 2
1 intRodução
A Turma do Ventilador Quebrado (TVQ) foi uma turma de 5.º
(quinto) Ano do Ensino Fundamental no ano de 2022, de uma escola
municipal, que fica no interior do estado paulista, cujo município conta
com um pouco mais de 37 mil habitantes e fica situado a 330 quilômetros
da capital. Essa escola atende crianças, em média, de cinco a onze anos,
dependendo da época do ano, no período diurno (manhã e tarde), em salas
da primeira etapa do Ensino Fundamental, ou seja, do 1.º ao 5.º Anos.
No início do ano de 2022, na escola, no período da tarde, havia
duas classes de 5.º Ano, com uma média de 12 alunos por turma, haja
vista a quantidade de alunos público-alvo da Educação Especial (PAEE),
isto é, estudantes com deficiência, transtornos e altas habilidades (Brasil,
2008), com necessidades educacionais especiais (NEE), e contavam, in-
Pedagoga, Mestra e Doutora em Educação pela Faculdade de Filosofia e Ciências, da Univ. Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Câmpus de Marília. E-mail: bruna.sasso@unesp.br
Psicóloga, Mestra e Doutora em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
- USP. E-mail: patricia.bataglia@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p145-162
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
146
clusive, com o acompanhamento de professoras com especialização nessa
área, as quais realizavam o acompanhamento auxiliar e diário em sala de
aula às professoras tutoras e eram responsáveis pelos planos educacionais
individualizados (PEI), considerando as especificidades desse público, em
cada uma das duas turmas.
Dessa forma, a turma do 5.º Ano “D” da escola, na primeira semana
de aula, era composta por uma professora tutora, que é uma das auto-
ras do presente texto, bem como de uma auxiliar, professora da Educação
Especial, e de 10 aprendizes matriculados, entre eles um aluno com defici-
ência intelectual (DI) - com baixo coeficiente acadêmico -, um aluno com
transtorno do espectro autista (TEA) - nível 2 de suporte, e com hiperfoco
em caixas de som e algumas tecnologias -, outro com suspeita de altas habi-
lidades e superdotação, e ainda outros com queixas de desempenho abaixo
do esperado ao nível escolar, desde os anos anteriores, em áreas específicas
como Língua Portuguesa e Matemática.
Na segunda semana de aula com os alunos, mais um estudante com
diagnósticos de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade
(TDAH) e Transtorno de Oposição Desafiante (TOD), integrou a turma.
Assim como nas semanas seguintes, outras crianças foram se achegando,
ou por querência própria de mudar de turma, ou por transferência intra
ou intermunicipal, ou até mesmo pelo motivo mais desafiador do processo
que ocorreu em meados do mês de março do mesmo: a necessidade de unir
os dois 5.º Anos do período da tarde em uma única turma, com pouco
mais de 20 estudantes, sendo 7 deles PAEE.
Agora, então, apostamos no grande potencial para abordar a heteroge-
neidade presente nas salas de aula e a importância de novas estratégias para
fornecer equidade de condições para a aprendizagem a todos os alunos. O
presente capítulo tem como objetivo abordar aspectos de algumas das práti-
cas morais, de reflexividade e de deliberação, que se engendram nas explica-
ções descritas por Puig (2004) e que puderam ser vivenciados com a TVQ
no ano de 2022, para salientar a pertinência de tais ações para alcançar o
desenvolvimento integral de sujeitos heterogêneos (com ou sem deficiências,
transtornos e/ou altas habilidades) envolvidos no processo ensino-aprendiza-
gem, isto é, uma formação que contemple todos como capazes de aprender
e que visa não apenas as aquisições cognitivas, mas que, além disso, aborda
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
147
intencionalmente os aspectos moral e afetivo do desenvolvimento infantil,
considerando tanto sua gênese e estruturação como suas especificidades (in-
dividuais e coletivas), e que também são coerentes com os pressupostos da
teoria construtivista, os quais igualmente serviram de fundamentação para
a organização da prática educacional agora apresentada, considerada como
emancipadora e democrática, de maneira tal que proporcionou avanços no
sentido da autonomia (intelectual e moral) das crianças.
Na verdade, a reflexão de que a experiência aqui apresentada se cor-
relaciona às práticas morais retratadas por Puig, não foi a priori de suas
execuções, mas decorrente do envolvimento da professora e uma das auto-
ras nos encontros do Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia Moral e
Educação Integral (GEPPEI) da Unesp de Marília, que é coordenado pela
outra autora que contribui com a análise teórica de tais práticas.
2 algumas PalavRas sobRe as PRáticas moRais
Segundo Puig (2004), uma prática moral caracteriza-se como um
curso de acontecimentos em que participam vários indivíduos que intera-
gem cooperativamente em procedimentos rotinizados e frequentes buscan-
do a solução de problemas. Alguns aspectos importantes nessa definição:
ação cooperativa, rotina e frequência.
A ação cooperativa implica que não há um único idealizador da ta-
refa e os demais membros do grupo agem como executores. A prática é
constituída pelo grupo de modo solidário. Também é importante que não
se trate de um acontecimento único, mas que frequente, com periodici-
dade variável e estabelecida pelo grupo e também que siga procedimentos
que devem ser constantes.
Não temos a pretensão de abordar as práticas morais descritas por
Puig (2004) de modo geral, mas abordaremos especificamente as práticas
de reflexividade e de deliberação.
Assim, uma prática de reflexividade seria uma atividade de auto-
conhecimento e autocuidado. As práticas de reflexividade envolvem pro-
cedimentos como auto-observação, auto avaliação, auto exploração, que
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
148
resultam em uma maior consciência de si com o horizonte de construir um
valor de autenticidade, sinceridade e auto realização. São alguns exemplos
de práticas escolares de reflexividade: os trabalhos com a imagem corporal,
a análise de mudanças físicas e atitudinais, confecção de textos autobiográ-
ficos, dentre outras.
As práticas de deliberação se referem à forma de resolução de proble-
mas buscando o melhor modo de viver por meio de estratégias racionais.
Quando há um problema ou alguma situação que precise de uma decisão
coletiva, as práticas de deliberação como discussão, debate e clarificação de
valores são as mais produtivas, na medida em que encaminham soluções de
modo democrático e por serem assim, são respeitadas pelo grupo.
2.1 afinal, PoR que tuRma do ventiladoR quebRado?
O início do ano letivo se deu, ocorrendo nos dois primeiros dias le-
tivos reuniões administrativas e o planejamento pedagógico e na primeira
semana de aula com os estudantes, com o foco no acolhimento, primeiras
apresentações e construção de laços entre as professoras e os aprendizes.
A construção da identidade individual e coletiva é processual e precisa
ser significativa para os envolvidos se sentirem pertencentes a um grupo
(Devries; Zan, 2007).
Por isso, a professora tutora propôs, logo nos primeiros dias de aula,
o levantamento de ideias dos alunos acerca do possível nome para a tur-
ma que pertenciam, o qual os caracterizaria e seguiria até o final do ano;
e algumas sugestões surgiram, tais como: turma do ventilador quebrado,
turma do barulho, turma do coração e turma dos inteligentes. No dia 14
de fevereiro, houve uma votação às cegas, entre os estudantes, para decidir
o nome, e resultou no empate entre duas das possibilidades. Então, eles
levaram para a coordenadora pedagógica da unidade escolar, para decidir,
mas ela preferiu realizar um sorteio. Naquele instante, ficava definido que
o nome da turma seria: “Turma do Ventilador Quebrado”.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
149
Figura 1- identificação da sala da TVQ, realizada pelas crianças
(16/02/2022)
Fonte: Acervo pessoal.
Dias à frente, foi solicitado realizar com os alunos uma sondagem
(ou produção de texto para investigação), não tendo nenhum tema pre-
estabelecido pela Secretaria Municipal de Educação ou equipe gestora da
unidade escolar. Assim sendo, sugere aos alunos que elaborassem um texto
que apresentasse a TVQ a alguém que não conhecesse, nunca tivesse ouvi-
do falar ou não soubesse sobre o que andaram fazendo por lá...
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150
Figura 2 - Primeira produção individual de texto sobre a “nossa Turma
do Ventilador Quebrado” (22/02/2022)
Fonte: Acervo pessoal.
tRanscRição com alguns ajustes PaRa melhoR comPReensão:
Nossa Turma do Ventilador Quebrado
Na nossa sala é muito divertida [divertido] a [ah!] e o motivo pro
nosso nome “ventilador quebrado” é que a gente tava vendo o nome da sala
e tinha varias opição [várias opções], e o Gabriéu [Gabriel] falou na zueira
sala do ventilador quebrado” e a gente gostou de verdade, e foi o escolhido.
Ah, e o motivo também é que nosso ventilador não pega e a nossa prof é
muito daora e a gente, bom pelo menos eu né, a gente aprendeu mutipli-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
151
casão [multiplicação] em um jogo, mas o jogo ajudou a gente a aprender, e
as vezes saimos para qudra [quadra] pra fazer o jogo da bolinha, e a gente
rimuito [ri muito] e a prof quando tem tempo, le estoria [lê história] e é
muito divertido, a [ah] e a gente fez um alfabeto pro terceiro ano de cedo, e
temos nosso relogio [relógio] Nick. A gente escreveu pro terceiro ano escole
[escolher] o nome do nosso relogio e o escolido [escolhido] foi Nick, e temos
nosso grupo com 3 aou [e/ou] 4 participantes com os papeis do grupo “vo-
lume” - “tempo” - “portavoz” - “material” esses são os guardião [guardiões] e
essa é nossa escola. Tchau.
2.1.1 disPositivos Pedagógicos utilizados
Uma vez definido o nome da turma, ainda outras proposituras
foram-lhes apresentadas, como o “ruidômetro”, a escolha de um nome
para o mascote da turma (que era um cacto dançante de brinquedo, para
desenvolver o senso de responsabilidade), a definição e a atribuição de papeis
referentes à Aprendizagem Cooperativa (Morais et al., 2021), o início do
livro da vida da turma e o crachá para ida ao banheiro e beber água. Assim, a
partir daquele dia, por exemplo, não precisavam mais solicitar às professoras
autorização para irem ao banheiro e/ou beber água, desde que fizessem uso
do crachá da turma que lhes outorgava (caso estivesse pendurado), ou não
(se não estivesse, pois significava que alguém estava com ele fora da sala).
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
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152
Figuras 3 e 4 - Crachás para somente um aluno sair por vez e desempe-
nhar papeis nos grupos (09/02/2022)
Fonte: Acervo pessoal.
Pela primeira vez, após anos e anos de aprofundamentos e investiga-
ções sobre novas alternativas em educação, e de tentativas nos mais diver-
sos níveis de atuação enquanto pedagoga, seria a primeira vez que uma das
autoras efetivamente conseguiu vivenciar um sonho apenas vislumbrado
há um pouco mais de uma década: por exemplo, a organização da grade
curricular semanal, realizada pelos próprios estudantes (a qual ficará para
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
153
outra oportunidade de compartilhamento). Mas, entre as outras estratégias
almejadas e assumidas, apresentamos a seguir o ruidômetro, o livro da vida
e as assembleias de classe como exemplos para, enfim, tecermos algumas
reflexões sobre a vivência de práticas morais no Ensino Fundamental I.
2.1.2 o RuidômetRo como favoRecedoR da autoRRegulação
O ruidômetro (termômetro de ruído) é uma escala, com variação de
0 a 10, em que o nível:
- “zero”, significa silêncio;
- “um”, sussurro ou um nível bem baixinho;
- “dois”, nível baixo;
- “três”, um nível médio, um pouco mais elevado;
- “quatro”, um pouco mais alto;
- “cinco”, alto!
- Acima disso, cada vez mais intenso e insuportável para um ambien-
te agradável e confortável, até o limite que é o “dez”. Este, é comparável à
uma verdadeira explosão! E não é desejado por ou para ninguém...
Não há a necessidade (e nem coerência), por exemplo, o professor
solicitar silêncio o tempo todo, nas cinco horas de aula do dia, sem que os
alunos possam trocar ideias (nem quando estão na mesa da merenda), e
apenas respirar, porque senão morre” como infelizmente já vimos e ouvi-
mos em outros contextos...
É óbvio que, dependendo do momento e do espaço, existem os
níveis mais apropriados entre o zero e o cinco. Assim como “conversar em
nível de ruído 2”, após a realização de certa atividade individual (tal qual a
do cabeçalho, como era a realidade diária de nossa rotina), ou no momento
de trocar pontos de vista dentro dos grupos de trabalho, ou ainda em nível
3, durante o recreio. Realizar uma leitura compartilhada para a sala toda,
em nível 4 ou 5, e ouvir a explicação da professora em “nível de ruído 0”,
ou enquanto ainda realiza o registro de algo importante ou coisa assim.
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154
Há também os momentos especiais que requerem ainda mais de
atenção, que denominamos de “escuta ativa”, nos quais, além de “nível
de ruído 0”, são acompanhados de total atenção. Ou seja, é preciso largar
tudo: lápis, livros, papeis, objetos, entre qualquer outra coisa que possa
roubar a atenção e ter efetivamente uma escuta ativa.
Esse dispositivo se enquadra como de reflexividade tanto individual
como coletiva, uma vez que os sujeitos precisam analisar o ambiente (e a
atitude dos colegas) bem como fazer uma autoavaliação de sua postura e
volume de voz.
2.1.3 o livRo da vida como Relato sinceRo, Real e seguRo da
vida na sala de aula
O Livro da vida é uma técnica proposta pelo pedagogo e pedagogista
francês Célestin Freinet (1896-1966) a partir da qual, em um caderno da
turma, os alunos registram suas impressões e descobertas sobre si e sobre o
seu cotidiano escolar, por iniciativa própria e/ou de forma dirigida.
Figura 5 - Exemplo de um registro do “Livro da Vida
Fonte: Acervo pessoal.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
155
tRanscRição:
“Hoje começamos a aula calma mas... Logico que o J. tava fazendo
bagunça e falando auto fizemos o cabesario com letra de imprenssa e a
prof nos explico oque significa palindromo e ambigrama só que quando
alguem ia ler a losa que a prof pidiu falaram algo e a prof Bruna iper
mega legal foir embora e a prof Bruna chata chegou ela gritou TÃO
MAIS TÃO BRAVA NEM BRAVA ELA FICOU IRADA que certo al-
guem quase chorou e depois da prof Bruna perder a voz de tanto gritar
a prof de educação fisica chegou e fomos com o outro 5º ano voltamos
fomos pro recreio comemos voltamos a prof cantou uma musica que eu
gostei até mas... J. riu da musica que é para o 1º ano e prof iper mega
legal foi embora de novo e fez o maior estrondo na escola enteira e ficam
30 minutos ouvindo gritos da prof”.
Elencamos como importante apontar que a prática da estratégia com
o “Livro da vida” não teve como objetivo a correção ou até mesmo o tra-
balho das regras gramaticais, sintáticas ou semânticas, quer seja para os
conteúdos da Língua Portuguesa, elencados para a correção textual dos
estudantes em suas produções diárias, quer seja para estabelecer punições
por suas expressões ou exposições contrárias às dos adultos. Pelo contrá-
rio! Desenvolver um ambiente no qual os aprendizes se sentissem seguros
e confortáveis para se opor e até mesmo criticar, inclusive a postura da
professora…
2.1.4 as assembleias de classe como local de voz, escuta e
ResPonsabilidades
A realização de assembleias escolares (Tognetta; Vinha, 2007) é algo
que sempre fascinou a primeira autora, desde a sua formação inicial e o
envolvimento com novas alternativas em educação, no segundo ano de
graduação em Pedagogia, quando cursou disciplinas que abordaram temas
como: administração escolar, gestão cooperativa, autonomia dos estudan-
tes, etc. Porém, como propor isso na prática? E mais desafiador: como
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
156
iniciar um trabalho nesse sentido sem precedentes e em uma escola tipi-
camente tradicional, que preza pela transmissão de conteúdos e o respeito
unilateral à figura de autoridade do professor?
Mais especificamente durante o seu doutorado em Educação, quan-
do se envolveu com realidades que, de forma clara e verdadeira, desenvol-
viam a esmerada prática de assembleias, foi a partir do ano de 2019 que
começou a vivenciar experiências deleitosas neste sentido, tanto acompa-
nhando a constituição do Grêmio Estudantil em uma escola municipal de
Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIEF), situada na zona rural
de uma outra cidade do interior do estado de São Paulo, como colhendo
os dados empíricos nas duas escolas (uma na capital paulista e outra a 70
quilômetros da mesma capital) denominadas e reconhecidas como demo-
cráticas, que foram alvo de sua pesquisa (Sasso, 2022).
Chegou o momento, mais uma vez, embora de forma diferente, de
experimentar a democracia dentro da realidade da TVQ: com a vivência de
assembleias de classe, enfim!
Figura 6 - Segunda assembleia de classe da TVQ (21/02/2022)
Fonte: Acervo pessoal.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
157
Figuras 7 e 8 - Ata da primeira assembleia de classe da TVQ.
Fonte: Acervo pessoal.
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158
tRanscRição do texto da imagem 6:
“18\02\2022
Assembleia de classe
Começamos as 16h35 e formamos a mesa: comigo sendo o secreta-
rio, o V. fazendo as inscrições, e a E. como auxiliar.
Foi feita a votação e o 1.º envelope a ser aberto foi o azul (eu quero
saber). Encaminhamentos: ficou definido que teremos uma comissão de
pesquisadores constituída por 3 alunos.
Abaixo anexo os papeis lidos:
[início do texto do papel anexo]
E.
Eu quero saber porque tem Dois calendário na nossa sala
[fim do texto do papel anexo]
As 17h05 terminamos a assembleia e continuaremos da segunda. Eu
------- lavrei a presente ata e assino a seguir: (assinatura)”
tRanscRição do texto da imagem 7:
“21|02|2022
Recomeçamos a assembleia às 2:55pm. Decidimos que daqui 10
anos iremos ter encontro para relembrarmos os velhos tempos da escola.
A data definida foi 1º de maio, de 2032, a 19h00 no P. P. ou no BB P. O
assunto a seguir foi decidido que o envelope amarelo “eu critico” (seria o
lido). Encaminhamentos: organização de uma comissão para resolução de
conflitos. Do intervalo, que sera votada amanhã a 16h05.
[início do texto do papel anexo]
Eu critico os alunos que não respeita os colegas no intervalo.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
159
[fim do texto do papel anexo]
[início do texto do papel anexado abaixo]
Eu critico o ventilador quebrado não o nome da turma
[fim do texto do papel anexo abaixo]
As 15h25 finalizamos a assembleia. Eu --------- lavrei a presente ata
e assino a seguir: (assinatura)”.
3 algumas Reflexões sobRe a vivência de PRáticas moRais no
ensino fundamental i
A partir das vivências apresentadas, fora-nos possível contemplar
avanços tanto no estabelecimento de relações respeitosa entre iguais, e en-
tre eles e os adultos, ou no quesito da autonomia moral ou cognitiva (no
respeito às regras e/ou nas conceitualizações das crianças, em suas produ-
ções escritas, por exemplo).
A atividade de escolha do nome da turma foi uma prática delibera-
tiva que envolveu a elaboração de propostas, a escuta do outro e a decisão
coletiva por meio do voto.
O ruidômetro é uma atividade de reflexividade na medida em que
promove a autorreflexão, a consciência de si mesmo e a autorregulação em
relação a uma necessidade pessoal e também do grupo.
O Livro da Vida, como um espaço seguro e livre para relatos das
atividades do indivíduo e do grupo podem ser vistos como prática de refle-
xividade. O produto material expressa a autoconsciência e consciência do
funcionamento do grupo, reconhecimento do outro e por não haver crítica
negativa sobre o material produzido vemos a sinceridade e a transparência
fundamentadas na confiança construída entre os membros.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
160
As assembleias de classe são classicamente sabidas como prática de
deliberação e nessa experiência foi admirável como o grupo se apropriou
das rotinas e das estratégias para decidirem sobre os assuntos que lhes cabia.
consideRações finais
Pretendemos aqui apresentar um relato de experiência docente no
Ensino Fundamental I, com o objetivo de abordar aspectos de algumas das
práticas morais, de reflexividade e de deliberação descritas por Puig (2004).
Até o mês de março de 2022, a TVQ contou com a atuação, além da
professora tutora, de duas professoras da Educação Especial como auxilia-
res, sendo que, a partir do mês de abril, uma destas precisou ser remane-
jada para outra turma, a fim de cobrir a falta de mão de obra para atuação
com um aluno com TEA -nível 3 de suporte-, do 2.º Ano. Outrossim e,
indubitavelmente, citamos como imprescindível o apoio e a segurança en-
contrados na equipe gestora, sobretudo na figura desempenhada pela co-
ordenadora pedagógica da instituição que, com muita paciência e empatia,
sempre acolheu e possibilitou a realização das propostas de trabalho que
foram inovadoras naquela realidade escolar até então.
No mês de junho, os educandos organizaram a exposição de seus po-
emas concretos autorais, com direito à visitação dos alunos do 4.º Ano da
tarde, sessão de perguntas e tudo mais. Logo mais iniciaram os ensaios para
a festa junina, na qual também ocorreu envolvimento ativo dos estudantes
em toda a sua organização. No mês subsequente, houve o tradicional pe-
ríodo de recesso escolar e após o retorno, no mês de agosto, a notícia que
abalaria todo o andamento do trabalho desenvolvido até ali, até mesmo
referente à organização do grêmio estudantil.
No final do referido mês de agosto, a professora tutora recebeu a
aprovação em um concurso de provas e títulos para lecionar, pela primeira
vez, no ensino superior, a saber, na Unesp de Marília; e precisou, para tan-
to, dar a notícia mais dolorosa até ali, aos pequeninos.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
161
As diferentes estratégias necessárias para possibilitar que todos
os alunos, inclusive os estudantes PAEE, participassem integralmen-
te das oportunidades educacionais e com resultados favoráveis, tanto a
Aprendizagem Cooperativa como estratégias voltadas para uma Educação
Democrática, em que os educandos atuavam ativamente em seus proces-
sos de aprendizagem, apresentaram-se como possibilidades metodológi-
cas fecundas para o trabalho do pedagogo, atuante em classe regular com
estudantes com deficiência, transtornos e altas habilidades/superdotação,
principalmente na intencionalidade do trabalho docente para com o de-
senvolvimento moral infantil. Na Educação, é necessário aos educadores
realizar escolhas, assumir os riscos de cada uma delas, retomar (se preciso
for), avançar ou interromper, quando julgar importante; abrir ou fechar
brechas, e, assim, ir construindo suas práticas pedagógicas, pautadas em
princípios e normas que regerão a realidade, de maneira planejada, cons-
ciente, estruturada e política.
O anseio é que os exemplos recortados desse esforço por uma prática
indissociável com a teoria elencada, sirvam de inspiração para outras muitas
que ocorreram, ocorrem ou ocorrerão. Que consideram o ensino e a apren-
dizagem partindo do interesse, da necessidade e de situações significativas
daqueles que são o foco de todo o processo: as crianças! Experimentando,
dia após dia, o que é, realmente, ser protagonistas de suas trajetórias.
Acreditamos que, se oferecemos possibilidades para o relato, a dis-
cussão (no sentido de troca de pontos de vista), e a reflexão sobre as ações
realizadas, aproximar-nos-emos do objetivo tão popularmente dissemina-
do: uma convivência mais ética, justa, harmoniosa e embasada no respeito
e no amor.
RefeRências
BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional da Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, DF: MEC, 2008.
DEVRIES, R.; ZAN, B. A Ética na Educação Infantil: o ambiente sociomoral na
escola. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
162
MORAIS, A. de. et al. (org.). Aprendizagem cooperativa: fundamentos, pesquisas e
experiências educacionais brasileiras. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2021.
PUIG, J. M. Práticas morais: uma abordagem sociocultural de educação moral. São
Paulo: Moderna, 2004.
SASSO, B. A. Aquisição da escrita alfabética em escolas democráticas: implicações
epistemológicas e educacionais. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2022.
TOGNETTA, L. R. P; VINHA, T. P. Quando a escola é democrática: um olhar sobre
a prática das regras e assembleias na escola. Campinas: Mercado das Letras, 2007.
163
A caixa de cartas e o mapa de
mim: práticas reflexivas voltadas ao
desenvolvimento moral e à promoção
da convivência ética na escola
Tatiane C. do Espírito Santo NAKAHODO 1
Rita Melissa LEPRE 2
1 intRodução
O que são práticas reflexivas ou práticas de reflexividade? Segundo
Puig (2004), são práticas morais voltadas ao conhecimento e cuidado de
si e referem-se ao processo pelo qual os indivíduos se engajam em uma
análise crítica e deliberativa de suas próprias ações e valores morais, bem
como das normas sociais e culturais que os influenciam. Essa reflexão não é
apenas uma contemplação passiva mas, sim, um processo ativo que envol-
ve a análise das consequências éticas de possíveis ações e a consideração dos
princípios morais que guiam determinados comportamentos. “Podemos
afirmar que o sujeito deste tipo de prática é o “eu” de todos e de cada um
Mestre em docência para Educação Básica- Unesp- Bauru, pedagoga, membro do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Desenvolvimento Moral e Educação – GEPEDEME. E-mail: tatiane.nakahodo@unesp.br
Doutora em Educação, Livre-Docente em Psicologia da Educação. Professora Associada da Universidade
Estadual Paulista - UNESP, Faculdade de Ciências, Departamento de Educação, campus de Bauru. Líder
do GEPEDEME - Grupo de Estudo e Pesquisa em Desenvolvimento Moral e Educação. Orientadora das
duas pesquisas relatadas neste capítulo. E-mail: melissa.lepre@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p163-178
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
164
dos alunos da turma” (Puig, 2004, p. 102). Isso significa que práticas mo-
rais devem considerar o sujeito em construção e a articulação entre o olhar
subjetivo e o olhar objetivo que não separam o sujeito de seu meio socio-
cultural. Assim, este sujeito se constrói e se conhece de forma individual e
coletiva, buscando o melhor para si e para os outros.
As práticas morais reflexivas fazem parte das possibilidades de uma
Educação Moral ou em Valores que tem como objetivo o desenvolvimento
da autonomia dos estudantes. Puig (1998) aponta que a Educação Moral
não precisa ser uma imposição heterônoma de valores e normas de con-
duta e muito menos pode ser reduzida à aquisição de habilidades pessoais
para adotar decisões subjetivas, mas deve colaborar imprescindivelmente
com os estudantes para favorecer o desenvolvimento e a formação de todas
aquelas capacidades que influem no juízo e na ação moral, com o propósi-
to “[...] de que sejam capazes de orientar-se de forma racional e autônoma
naquelas situações em que lhes é apresentado um conflito de valor” (Puig,
1998, p. 18).
Piaget (1994) afirma que o sujeito tem papel ativo na construção
dos valores, nas normas de conduta, na convivência com os pares, com os
quais irá construir-se na interação com o meio formado por relações so-
ciais. Puig (1998) descreve que para se construir uma vida coletiva e justa é
preciso que se aprenda sobre a multiplicidade de pontos de vista, crenças e
maneiras de entender o que para o outro é uma vida feliz e justa. Isso inclui
o conhecimento de si e do outro e a reflexão sobre a própria moralidade.
Neste sentido, o objetivo deste artigo é relatar e refletir sobre o de-
senvolvimento de práticas de reflexibilidade com escolares de um 4.º Ano
do Ensino Fundamental, entre nove e dez anos, de uma escola da rede pú-
blica da cidade de Bauru–SP, nos anos de 2022 e 2023, tendo como funda-
mentação teórica os estudos e pesquisas de Janusz Korczak (1997) sobre os
direitos das crianças e de Jean Piaget (1994) sobre o juízo moral na criança.
As ações desenvolvidas tiveram como base a Caixa de Cartas, proposta por
Korczak (1997) e o “Mapa de Mim”, proposto por Tognetta (2020) e pelo
Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM), que tem
como fundamentação teórica as pesquisas de Piaget (1994) expressas em
seu livro “O juízo moral na criança”.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
165
A Caixa de Cartas é um dispositivo criado por Korczak, médico,
escritor, pedagogo e ativista social, mais conhecido como precursor do di-
reito das crianças devido à sua luta incansável por elas, sobretudo, como
diretor do orfanato “Lar das Crianças”, criado em 1912, em Varsóvia,
que transformou em uma verdadeira república de crianças. “Nele, conse-
guiu observá-las, ouvi-las e conversar com elas. Tornou-se um especialista
formado por verdadeiros especialistas em infância, as próprias crianças
(Marangon, 2019, p. 171-172). Devido à rotina agitada do orfanato, que
chegou a acolher cerca de 200 crianças, nem sempre era possível ofere-
cer atenção individualizada e paciente para cada uma delas, o que levou
Korczak, atento em suas observações diárias, a propor uma caixa na qual
elas podiam depositar cartas escritas com ou sem a ajuda de outras pessoas.
Essas cartas eram abertas em um momento de assembleia, com todas as
crianças em grupo e eram lidas com o assentimento das crianças.
A discussão coletiva era embasada nos sentimentos e questões expos-
tas e não nas crianças em si, respeitando cada uma delas e compreendendo
que o foco não era apontar um culpado ou responsável por alguma ação,
ou conflito específico, mas refletir sobre o que as ações realizadas podem
gerar no outro e no grupo como um todo.
O “Mapa de Mim” (Tognetta, 2020), por sua vez, é uma sequência
de atividades composta por três etapas: 1) Minha ilha: autoconhecimento;
2) O timoneiro em mar-aberto: linguagens e comunicação e 3) A bússola
para me guiar: valores e tem como objetivo a construção de um caminho
que possibilite o autoconhecimento, o olhar para o outro e a construção
de ações grupais. Está disponível para download no site da Editora Adonis3.
As práticas reflexivas relatadas e analisadas a seguir foram pautadas
nessas duas propostas e construídas pela pesquisadora responsável que tam-
bém era a professora da sala de aula na qual foram aplicadas. Para além da
apresentação das atividades desenvolvidas, faremos incursões teóricas sobre
os fundamentos do nosso trabalho de pesquisa-intervenção, na tentativa
de construção de um texto que revele o movimento da práxis pedagógica
realizada, na qual teoria e prática se relacionam dialeticamente e permitem
reflexões, autoavaliações e reconstruções constantes.
https://www.editoraadonis.com.br/livros/292/coragem-moleque
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
166
2 Relato e análise das vivências com as PRáticas Reflexivas a
PaRtiR da caixa de caRtas e do “maPa de mim
[...] Cada noite retirava um punhado de folhas de papel escritas
com uma letra desajeitada e, no silêncio do escritório, podia refletir
calmamente em tudo o que, na agitação do dia sobrecarregado
de trabalho, teria provavelmente me passado despercebido ou
que considerava pouco importante. [...] Talvez você encontre até
mesmo um poema não assinado. A criança teve uma ideia, passou-a
para o papel e, não sabendo o que fazer com aquilo, pôs na caixa de
cartas [...] (Korczak, 1997, p. 317).
É notório que o percurso das práticas reflexivas, aliadas à roda da
Caixa de Cartas e ao “Mapa de Mim”, se fez necessário, pois segundo
Gonçalves e Bueno (2022), para conseguir descentrar-se e olhar para o outro,
primeiramente é imprescindível que conheçamos a nós mesmos, sendo o
autoconhecimento a base para todo trabalho pautado no desenvolvimento
moral, segundo a teoria construtivista.
Gonçalves e Bueno (2022) reiteram, ainda, que se reconhecer em
uma construção que parte primeiro de quem se é, é possível pensar nas re-
lações com os pares nas suas relações sociais. Aqui, destacamos o contexto
escolar, com os colegas e os professores, em um ambiente que seja propício
a esse trabalho no qual a criança sente-se segura para falar sobre si e ser
escutada favorecendo sua autoestima positiva, levando-a a construir valores
positivos sobre si mesma, sobre os outros e a convivência.
Sendo assim, buscou-se por meio da aplicação da Caixa de Cartas
(Korczak, 1997) a possibilidade de se organizar o tempo do professor para
que os estudantes pudessem ter esse momento para dizer e ouvir sobre os
conflitos que aconteciam entre eles, contribuindo para a construção de
uma relação pautada na reflexão do impacto das nossas ações no outro, no
respeito mútuo, na cooperação, no diálogo, na escuta, no acolhimento e,
consequentemente, possibilitar avanços necessários em busca do desenvol-
vimento da autonomia moral (Piaget, 1994).
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
167
Todavia, este trabalho faz-se significativo se olharmos para os estu-
dantes, como descreve Tognetta (2003), como seres humanos que “não
são”, mas que “estão”, em que a construção de valores que desejamos é
um processo intrapessoal a esse desenvolvimento se realizando progres-
sivamente pela conservação de valores que têm origem nos sentimentos
que se manifestam nas diferentes situações que acontecem no decorrer da
vida. Para tanto, é relevante que esse estudante tenha a possibilidade de se
conhecer para que assim possa reconhecer o outro com suas singularidades.
Neste percurso, é importante possibilitar práticas reflexivas nas quais
eles possam perceber o quanto é necessária essa apropriação em um cami-
nho de ressignificações no plano mental. Nessa direção, como descrevem
Bataglia e Lepre (2022, p. 23), importa que busquemos instrumentos pe-
dagógicos que possibilitem a descentração dos sujeitos para que “[...] estes
exercitem a empatia e o respeito mútuo a partir da dupla perspectiva de
olhar a partir de si, considerando sua história e contexto e para além de si,
visando respeitar outros pontos de vista e condutas”.
A Caixa de Cartas de Janusz Korczak garante esses momentos mar-
cados na sala de aula, e conjuntamente com essa proposta que tem como
imprescindível a roda de conversa sobre as cartas depositadas pelos estu-
dantes, se fez essencial o alinhamento com outras práticas reflexivas que
oportunizassem o conhecimento sobre si, as emoções, a relação com o ou-
tro, quem o outro é e o reconhecimento dos valores importantes para a
construção de uma convivência ética do grupo neste espaço.
As rodas de conversa sobre as cartas depositadas na Caixa de Cartas,
durante a semana, aconteceram às quartas-feiras no período de duas aulas.
Inicialmente, as conversas ocorriam dentro da sala de aula e depois inter-
caladas com o ambiente externo. Durante as rodas, a pesquisadora abria a
Caixa de Cartas, descrevia a situação relatada e os envolvidos nas situações
diversas tinham a escolha de se pronunciar, compartilhando sentimentos e
emoções. Após isso, os demais estudantes podiam participar com sugestões
de soluções, exemplos sobre vivências parecidas e outros relatos que con-
tribuíssem para a reflexão e diálogo do grupo. Os estudantes se sentavam
em roda de forma que todos pudessem ver e ser vistos, evitando qualquer
sentimento de menos valia e havia um combinado de que aquele que de-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
168
sejasse participar do diálogo ou tivesse dúvidas sobre o que estava sendo
apresentado pelos colegas deveria levantar o braço e aguardar seu momento
de fala para fazer a pergunta.
Após essa parte de diálogo sobre as cartas, simbolicamente os estu-
dantes rasgavam a carta como simbologia do “conflito encerrado” sendo
perceptível a satisfação deles nesse momento. Em seguida, encerrava-se a
roda da resolução de conflitos e era realizada a apresentação da temática
e atividade proposta para o dia, cujo objetivo era construir com eles um
caminho concreto de conhecimento próprio e reconhecimento do ou-
tro, buscando a construção de um ambiente sociomoral afetivo na sala de
aula que possibilitasse o desenvolvimento moral dos estudantes. Assim, a
pesquisadora explicava os conceitos das temáticas e as atividades a serem
realizadas, utilizando recursos visuais como Power Point e Canva. Ela res-
pondia às dúvidas das crianças conforme surgiam, distribuía os materiais
impressos, mediava as reflexões propostas e mobilizava ações para que os
estudantes discutissem junto à professora sobre todo o percurso daquele
dia. Para além das discussões possibilitadas pela leitura das cartas, outras
práticas foram desenvolvidas e serão relatadas.
A primeira dinâmica proposta registrada como “Pote das emo-
ções” teve por base a atividade “Eu comigo mesmo” do “Mapa de Mim
(Tognetta, 2020), que objetivava reconhecer, nomear e expressar as emo-
ções por meio do desenho. A atividade solicitava aos estudantes que pen-
sassem em diferentes sentimentos no período pós-pandemia e que regis-
trassem as medidas proporcionais daquilo que sentiam naquele momento:
Figura 1 – O pote das emoções.
Fonte: Mapa de mim (Tognetta 2020) adaptado pela pesquisadora.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
169
Nessa atividade, foi interessante constatar a dificuldade dos estudan-
tes para distinguir o que eram sentimentos, o que eram emoções e o que
eram sensações fisiológicas. Frente a isso, para apresentar a atividade antes
de iniciá-la, foi proposta uma roda de conversa para verificar o que os es-
tudantes entendiam por sentimentos e algumas falas se destacaram, como
“Eu tenho sentimento de muito sono, depois da pandemia eu sentia muito
isso, agora melhorou”” e “eu não sei o que são sentimentos”. No acompa-
nhamento do grupo desde o início do ano de 2022 era possível observar o
quanto eles tinham dificuldades para reconhecer os sentimentos, as emo-
ções e saber explicar o que sentiam. Sendo assim, depois desta primeira
conversa, foi importante expor aos estudantes uma apresentação em slides
que explicava o que eram sentimentos e emoções e como tudo isso acon-
tecia dentro de nós. Após essa apresentação inicial, foi então proposta a
realização do pote dos sentimentos de cada um.
Constatamos, na realização da atividade, que conforme os estudan-
tes aprenderam a distinguir o que eram emoções do que era sentimentos,
iniciaram o desenho no pote dos sentimentos. Destacamos que a medida
que teve maior quantidade demarcada por eles foi “felicidade” e as medi-
das que tiveram menor quantidade demarcada nos potes foram respectiva-
mente “tristeza” e “raiva”. Verificamos também que alguns estudantes, em
sua maioria meninos, não concluíram a atividade porque não consegui-
ram nomear o que sentiam, mesmo após a roda de conversa e exposição
da explicação. Cabe destacar aqui que em recentes pesquisas de estudos
exploratórios com estudantes do ensino básico sobre a identificação de
sentimentos e emoções, como de Aparício et al. (2020), verificou-se que a
maior competência de identificação e diferenciação emocional acontece no
gênero feminino e que estas competências aumentam com a idade.
Constata-se assim, o quanto é urgente em sala de aula um trabalho
voltado para o conhecimento de si e do outro e, consequentemente, para
a convivência ética, por meio de propostas que valorizem a autorreflexão,
o diálogo e a escuta em um ambiente sociomoral cooperativo. Conforme
indicam Gonçalves e Bueno (2022), é preocupante a ausência de objetivos
claros sobre autoconhecimento para as crianças do 4.º e 5.º Anos como
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
170
constatado na pesquisa do Grupo de Ensino e Pesquisas em Educação
Moral (GEPEM) sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
(Brasil, 2018), no que tange à temática do conhecimento de si e do outro
para a convivência de crianças maiores, “[...] como se esta etapa já esti-
vesse consolidada, sabendo-se que esse é um caminho que será percorrido
por toda a vida do sujeito por meio de suas relações intra e interpessoal”
(Gonçalves; Bueno, 2022, p. 28).
Este trabalho que parte da sala de aula e que precisa estar na esco-
la, sendo um campo rico para atuar na formação do ser humano como
um todo, se faz imprescindível na caminhada em direção à Educação em
Valores, visto que precisamos possibilitar aos nossos estudantes o desenvol-
vimento do autoconhecimento para que saibam reconhecer suas emoções
e sentimentos, a fim de que lidem melhor consigo mesmos, desenvolvendo
o autocontrole e se relacionando de forma mais assertiva com o meio social
em que convivem.
Em continuação às práticas reflexivas que foram desenvolvidas na
sala de aula e que favoreciam o autoconhecimento, também trabalhamos
o registro da atividade “Planeta Eu I” do livro “Mapa de Mim” (Tognetta,
2020) que objetivava contribuir para o autoconhecimento refletindo sobre
o que pensam e gostam, conhecendo-se melhor e notando as diferenças
entre o que os colegas gostam e pensam.
A atividade solicitava aos estudantes que preenchessem uma lista
com itens que eles mais gostavam e itens que eles menos gostavam de dife-
rentes categorias e, após produzirem suas listas individualmente, escolhes-
sem uma dupla para compartilhar as anotações e comparar as respostas dos
itens. Vejamos a lista apresentada na Figura 02, na qual após a comparação,
as duplas escolheram o coração como símbolo que representasse os pontos
de afinidades.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
171
Figura 2 – Lista com itens de preferência das crianças
Fonte: “Mapa de Mim” (Tognetta, 2020, p. 21).
Tamanha foi a admiração de todos ao constatar que apesar das crian-
ças terem escolhido como dupla aqueles com quem tinham mais proximi-
dade, poucas foram as coincidências e que por mais que toda a turma ti-
vesse a mesma média de idade, que variava entre 9 e 10 anos, as diferenças
superam expressivamente as afinidades pessoais.
Vimos aqui a importância de se propor atividades que permitam aos
estudantes o autoconhecimento e o compartilhamento com o outro para
conhecerem-se a si mesmos, percebendo as diferenças e tomando consci-
ência do quanto são diferentes mesmo que considerando suas relações de
amizade muito próximas, pelo simples fato de serem humanos singulares.
Tognetta (2003, p. 167) afirma que “[...] talvez os maiores precon-
ceitos da humanidade sejam frutos, dentre outros motivos, da não experi-
ência em contrapor-se com o diferente”. Nesse sentido, Vidigal e Vicentin
(2012) apontam que o desenvolvimento moral só é possível quando per-
cebemos o outro e trabalhamos com as diferenças, sendo esse desenvolvi-
mento imprescindível para a formação da personalidade ética.
Para tanto, Puig (1998) destaca que uma ação educativa que busca
o desenvolvimento da moralidade só pode ser efetiva quando está siste-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
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172
matizada em uma educação moral como construção pessoal pautada na
realidade social. Sobre isso, Puig (1998, p. 15) discorre:
[...] a educação moral deve converter-se em um âmbito de reflexão
individual e coletiva que permita elaborar moral e autonomamente
princípios gerais de valor, princípios que ajudem a defrontar-
se criticamente com as realidades [...] deve ajudar a analisar
criticamente a realidade cotidiana e as normas sociomorais
vigentes, de modo que contribua para idealizar formas mais justas
e adequadas de convivência.
Entendemos, então, que é improvável desenvolver-se moralmente
sem antes conhecer-se a si mesmo, para então aprender a reconhecer o ou-
tro com suas singularidades e valores que podem não ser iguais aos meus,
mas que devem ser mutuamente respeitados.
Na sequência da apresentação das práticas reflexivas propostas, de-
senvolvidas na sala de aula concomitantemente à Caixa de Cartas, vere-
mos agora o registro da atividade sobre a construção dos valores morais.
Inicialmente realizamos um levantamento prévio sobre o conhecimento
dos estudantes sobre o que são valores morais, o que retornou resposta
unânime do grupo sobre desconhecer esse termo usado para nomear po-
sicionamentos e sentimentos que guiam nossas ações cotidianas. A fim
de esclarecer e informá-los a respeito dessa temática, a pesquisadora apre-
sentou uma sequência de slides que exemplificam e explicam o que são os
valores morais.
Nesse sentido, a atividade “A bússola para me guiar: valores” propos-
ta no livro “Mapa de mim” (Tognetta, 2020) foi readaptada nos slides de
apresentação do tema e teve por objetivo conhecer o que são valores morais
e pensar juntos sobre como eles são importantes para guiar nossas ações na
busca de uma boa convivência com os pares e com a própria construção
pessoal a fim de que se viva com satisfação.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
173
Figura 3 – Slides da atividade “A bússola para me guiar: valores
1 2 3
4 5 6
7 8 9
10 11 12
Fonte: “Mapa de Mim” (Tognetta, 2020, p. 35-36-41) adaptado em slides pela pesquisadora.
Como descrito nos slides, para a consolidação dessa atividade, ob-
jetivando a reflexão de forma individual e depois coletiva, a pesquisadora
propôs uma “dinâmica dos valores” na qual os alunos receberam uma folha
sulfite e elencaram 10 valores pessoais e 10 valores necessários no grupo.
Após elencar, precisaram escolher 5 valores de cada grupo e, finalmente,
selecionar um valor que para eles devesse constar na convivência.
Após decidirem individualmente o valor selecionado, foi registrado
na lousa a escolha de cada um e os valores que mais se sobressaíram na
atividade (fé, lealdade, amizade, igualdade, diálogo, força de vontade, em-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
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174
patia, bondade, paz, perdão, verdade, esperança e diálogo) foram selecio-
nados pelo grupo como os valores que deveriam guiar a turma na melhoria
da convivência naquele momento.
Figura 4 – Valores selecionados pelas crianças
Fonte: Adaptado de Mapa de Mim (Tognetta, 2020) imagem do arquivo pessoal da pesquisadora.
Objetivando a representação simbólica do grupo, como sugerido na
atividade “Árvore dos Valores” no “Mapa de Mim” (Tognetta, 2020, p.
31), foi proposto ao grupo a confecção da Árvore dos Valores do 4.º ano.
Para tanto, realizamos uma roda de conversa e os estudantes colaram os
valores morais que haviam elencado e que selecionaram como represen-
tativos do grupo e assinaram a árvore como símbolo do “compromisso
com o cultivo para colheita dos frutos”. Foi realizada uma discussão sobre
os valores e as virtudes a partir da afirmação de Comte-Sponville (1999),
citado no “Mapa de Mim”:
Não se trata de dar lições de moral, mas de ajudar cada um a se
tornar seu próprio mestre, como convém, e seu único juiz. Com
que objetivo? Para ser mais humano, mais forte, mais doce. Virtude
é poder, é excelência, é exigência. As virtudes são nossos valores
morais, mas encarnados, tanto quanto pudermos, mas vividos, em
ato (Comte-Sponville, 1999, orelha do livro).
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
175
Figura 05 – A árvore dos valores
Fonte: Adaptado de “Mapa de Mim” (Tognetta, 2020, p. 31).
As práticas reflexivas apresentadas ilustram a essencialidade de ações
democráticas que devem ser sejam proporcionadas de forma intencional
e planejada, voltadas para a construção de um ambiente que possibilite a
participação efetiva dos estudantes nos processos de autoconhecimento,
de reconhecimento do outro, dos valores que cada um traz consigo e da
importância de uma convivência ética pautada nos valores do grupo que
está inserido na sala de aula e na escola.
Tognetta e Lepre (2022) descrevem que para oportunizar aos estu-
dantes a vivência de valores sociomorais na rotina escolar é preciso que a
aula tenha a participação ativa deles, conjuntamente com um professor
mediador e argumentador, que os leve a desenvolver a percepção sobre o
que é uma convivência ética e a pensar diferentes formas de resolver seus
próprios conflitos, entendendo que cada um tem o seu valor humano.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
176
3 consideRações finais
A Caixa de Cartas e as atividades desenvolvidas e relatadas tinham
por objetivo oportunizar aos estudantes um encontro marcado com a mu-
dança necessária para que o ambiente da sala de aula pudesse se tornar para
além de um local de construção do conhecimento científico, um lugar de
acolhimento, de escuta, de diálogo, de reconhecimento dos sentimentos,
de conhecimento de si e do outro, de afetividade, solidariedade, de trocas,
de respeito mútuo e consequentemente de avanços em busca do desenvol-
vimento da moralidade autônoma.
As atividades que foram propostas partindo do material “Mapa de
Mim” (Tognetta, 2020) tiveram impacto significativo e positivo nos estu-
dantes, que puderam aprender mais sobre eles mesmos, sobre os amigos,
sobre conceitos que desconheciam como, por exemplo, “o que são senti-
mentos e emoções”, “linguagem descritiva e linguagem valorativa” e “o que
são valores morais”.
Tognetta (2003, p. 125) afirma que ao se oferecer condições neces-
sárias a esse desenvolvimento quando desejamos a formação de pessoas
éticas, encontramos a possibilidade de construção das virtudes, “[...] so-
bremaneira, a solidariedade que perpassa o desenvolvimento cognitivo,
moral e contemporaneamente como parte dessas necessidades humanas,
a afetividade”.
Essa construção significativa dentro da sala de aula inicia-se quando
buscamos um ambiente que passa a acolher o outro como ele é, valori-
zando seus sentimentos e sendo respeitado nisso, construindo juntos um
lugar onde cada um possa falar de si e ouvir do outro, permitindo que os
estudantes sintam-se cada vez mais pertencentes ao local e ao grupo em
que estão inseridos. Entendemos que as palavras-chave, que simbolizam
essa construção dentro da escola em busca de tornar possível e constante
esse trabalho na sala de aula, são: acolhimento, reconhecimento e perten-
cimento. Ademais, quanto mais os estudantes sentiam-se ouvidos, mais
se sentiam acolhidos; quanto mais tinham valorizados seus sentimentos e
eram respeitados nisso, mais se sentiam reconhecidos e quanto mais isso
acontecia, mais nítido era o sentimento de pertencimento do grupo.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
177
Considerando tudo o que vimos e sentimos nesta experiência for-
mativa, a partir de práticas morais, sugerimos o trabalho com a forma-
ção dos professores para que se sintam capacitados para atuar de forma
significativa, como agentes transformadores do ambiente escolar que se
inicia na convivência da sala de aula para que assim possam ressignificar a
forma como lidam com as divergências e colaborar de maneira efetiva no
desenvolvimento moral de seus estudantes, valendo-se de possibilidades,
como a Caixa de Cartas e o “Mapa de Mim”, como meios democráticos e
cooperativos de mediação da prática reflexiva na resolução dos conflitos.
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179
Relato de experiência: colaboração
entre as habilidades sociais e a
educação em valores morais
Bianca Vitti CINCOTO 1
Natália Bersan PERES 2
1 intRodução
No cenário contemporâneo das relações sociais, a questão dos valo-
res morais ocupa lugar de destaque. Em uma nova era tecnológica, na qual
as informações são acessadas e modificadas rapidamente; onde é possível
se esconder” atrás de uma tela de aparelhos eletrônicos; onde expor sua
possível opinião sobre qualquer tema para um grande público é feito de
forma rápida e muitas vezes sem consequências, encontramos alguns dos
fatores que contribuem para surgimento de discussões sobre quais são os
valores e regras morais que deveriam estar sendo considerados.
Contudo, esse tema não é atual, pois os estudos acerca do desenvol-
vimento moral dos sujeitos já vêm sendo pesquisado desde a Antiguidade,
Doutoranda no Programa de Psicologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho
– UNESP – Câmpus de Assis – SP. Pedagoga pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” – UNESP – Câmpus de Bauru – SP. Psicóloga pelo Centro Universitário do Sagrado Coração
– UNISAGRADO – Bauru/SP e vinculada ao GEPEDEME – Grupo de Estudo e Pesquisa em
Desenvolvimento Moral e Educação. E-mail: bianca.vitti@unesp.br;
Especialista em Educação Especial na Perspectiva Inclusiva pelo Curso de Lato Sensu pela Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Câmpus de Bauru – SP. Pedagoga pela Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Câmpus de Bauru – SP. Psicóloga pelo Centro
Universitário do Sagrado Coração – UNISAGRADO – Bauru/SP. E-mail: nataliabeperes@gmail.com.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p179-198
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
180
através de reflexões sobre como a Educação Moral se desenvolve, o que se-
ria um sujeito ético e moral, quais seriam as formas “corretas” de agir, além
de, qual seria o papel da escola e dos docentes em relação a essa construção
da Educação Moral na vida dos discentes (Lepre, 2019).
Em busca da análise desses questionamentos, destaca-se Piaget, re-
nomado psicólogo, que com suas mais diversas obras, dedicou-se a pesqui-
sar o desenvolvimento moral humano e suas relações.
Para Piaget (1994), a educação moral passa por dois processos re-
lacionais para o seu desenvolvimento, o de coação e de cooperação, em
que ambos possuem suas especificidades e importância. É na interação do
sujeito com o meio em que ele está inserido que ocorrem os mais diver-
sos processos de aprendizagem, sejam eles formais ou informais, intencio-
nal ou não intencional e é justamente nessas relações sociais que também
acontecem a construção da moralidade.
A coação seria o primeiro momento da relação do indivíduo com
ambiente social e as regras que nele permeiam, ou seja, é através da coação
que a criança terá noção sobre o bem e o mal, o certo e o errado, pois é
através dessa imposição de regras que ela começará a criar suas próprias
concepções, uma vez que, em um primeiro momento, elas ainda não as
compreendem e as cumprem muitas vezes pela obediência à autoridade
e/ou para não perderem um vínculo afetivo com o sujeito de autoridade
(Lepre, 2019; Lepre, 2006).
Já a cooperação ocorre quando a pessoa contribui para a formulação
das regras e seguem-nas por meio do respeito mútuo e da reciprocidade,
ou seja, quando as regras são criadas por um acordo coletivo e o sujeito
concilia as suas necessidades e perspectivas com as do seu entorno, sendo
o seu cumprimento e obediência uma escolha (Lepre, 2019; Alves, 2018;
Chiari, 2022).
Uma regra é um fato social, que supõe uma relação entre pelo menos
dois indivíduos. E esse fato social repousa sobre um sentimento
que une esses indivíduos uns aos outros, que é o sentimento de
respeito: há regra quando a vontade de um indivíduo é respeitada
pelos outros ou quando a vontade comum é respeitada por todos
(Piaget, 1998, p. 63).
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
181
Entretanto, Chiar (2022, p. 27) ressalta que:
A moral não é a própria regra, mas o produto de uma interação
social com o objetivo final de estabelecer a harmonia e o respeito
entre todos. A regra vem do respeito e de um contexto social entre
os indivíduos, mantém a relação de permanência dessa regra.
Nesse contexto, para Lepre (2006, 2019), o objetivo da Educação
Moral é auxiliar as crianças a alcançarem sua autonomia, contudo, segun-
do Piaget (1996), para isso, elas passarão por estágios anteriores de anomia
e heterônima, os quais estão diretamente ligados às relações de coação e
cooperação, de seu contexto. “A moralidade não pode ser imposta como
um decreto mas, sim, construída como um contrato” (Lepre, 2019, p.7).
Na anomia, o sujeito não possui consciência das regras, por isso não
as aplica, isto é, suas ações são determinadas por suas necessidades básicas
e por seu ambiente, não possuindo nenhuma concepção de que é correto
ou não, fazendo-as por “instinto” (Chiari, 2022, p. 29).
No estágio intermediário, de heteronomia, o indivíduo começa a
regular suas ações de acordo com as relações coativas do meio para cumprir
uma regra imposta pela autoridade, ou seja, existe uma relação de desi-
gualdade (como do adulto em relação à criança), na qual a criança respeita
as regras, obedece às ordens e comandos dos adultos por um sentimento
de temor e afeto, sendo um respeito unilateral, pois ela muitas vezes não
compreende o porquê está agindo daquela maneira, mas o faz pelo adulto
(Chiari, 2022; Oliveira, 2021).
Quando o indivíduo atinge o último estágio do desenvolvimento
moral, autonomia, ocorre a legitimação das regras, ou seja, o egocentris-
mo é deixado de lado para interpretar uma perspectiva do que é impor-
tante para “eu mesmo” mas também para o outro, é quando as relações
de cooperação acontecem e o indivíduo faz o que é moralmente esperado,
pois ele acredita ser o certo e não porque teria um possível rompimento
afetivo ou desrespeito de uma autoridade, ou seja, ele realiza o social-
mente esperado por escolha, pelo respeito por seus pares, por se perceber
como igual aos outros e por entender que cada um possui seu ponto de
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
182
vista próprio, sendo as regras construídas de forma colaborativa (Chiari,
2022; Oliveira, 2021).
Sendo assim, o desenvolvimento dos valores morais, que são “os
investimentos afetivos que colocamos em regras princípios, sentimentos
ou ações consideradas, na maioria das culturas, boas ou justas” (Tavares;
Menin, 2015, p. 9 apud Lepre, 2019), está diretamente relacionado às re-
lações do sujeito com seu ambiente e com seus pares, pois é através dessas
interações e experiências que ele conseguirá ter acesso às normas e regras
pré-estabelecidas e realizar o seu próprio juízo moral sobre elas, para então
atingir sua autonomia moral, através da cooperação e respeito mútuo.
Nessa perspectiva, destaca-se a importância do ambiente escolar para
a estimulação e desenvolvimento do juízo moral, uma vez que, a Educação
Básica preenche um grande espaço de tempo na vida de uma pessoa e é o
ambiente que em que o sujeito passa por diversos contatos e experiências
sociais, entretanto, reforça-se também o papel fundamental das famílias
em todo processo de desenvolvimento humano.
Nas escolas, a Educação Moral ou em Valores vem ganhando espa-
ço, porém ainda possui muito para evoluir e aperfeiçoar, principalmente
porque o desenvolvimento do juízo moral está em todas as relações, não
sendo possível ser trabalhado em apenas uma disciplina, mas sendo um
eixo transversal e até estruturante de todo o ambiente, ou seja, dentro e
fora das salas de aula, sendo praticado desde os docentes até os cargos ad-
ministrativos e de conservação, envolvendo toda a escola em um ambiente
sociomoral, “[...] que permita a construção da autonomia moral e intelec-
tual” (Lepre, 2006, p. 8; Lepre, 2019).
Logo, o desenvolvimento moral deve estar contemplado nos docu-
mentos escolares, desde os projetos políticos pedagógicos de cada institui-
ção, até os planejamentos, currículos e também aos documentos nortea-
dores da educação, na qual ela vem ganhando espaço, mesmo que ainda
timidamente.
Lepre (2019, p. 4) relata que, em 1997, ocorreu a primeira edição
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) voltados para o que hoje
chamamos de Anos Iniciais do Ensino Fundamental e que tem em sua
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
183
“[...] proposta central a construção da autonomia do educando, visando
o pleno exercício da cidadania”, e que deveria auxiliar os docentes em seu
trabalho, para oferecer aos alunos os conhecimentos para crescerem como
cidadãos e com consciência de seu papel social.
Em 2013, a formação ética dos sujeitos também apareceu nas
Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, que com-
põem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, visan-
do “[...] promover a educação para a mudança e transformação social”.
Em 2017, foi na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que esse de-
senvolvimento apareceu como um direito de aprendizagem ao longo da
Educação Básica, mesmo que de forma sucinta; destacando a atenção para
as competências nove e dez (Lepre, 2019, p. 5)
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a
cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e
aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade
de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades,
culturas e potencialidades, sem preconceito de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade,
flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com
base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e
solidários (Brasil, 2017, p. 8).
Logo, a escola deve ser um ambiente seguro e de estimulação para o
desenvolvimento do juízo moral, sendo o professor um grande auxiliador
no processo, que para além dos saberes teóricos, necessita mediar as situ-
ações cotidianas para incentivar a autonomia, a cooperação e o respeito e
não apenas a solução de problemas com o reforço da relação coativa pre-
sente na heteronomia.
Dito isso, Lepre (2006, 2019) ressalta que, para Piaget, os procedi-
mentos verbais (“lições de moral”) possuem poucos resultados na educação
moral, pois reforça soluções impostas pelos educadores, por meio da coação
e respeito unilateral. Entretanto, é através da participação ativa e de vivên-
cias morais, proporcionadas pelo ambiente escolar, que a educação moral
é mais efetiva, ou seja, que as crianças devem participar da construção de
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
184
valores, normas e experimentar situações de cooperação, respeito mútuo,
reciprocidade e democracia, para construir sua moralidade e autonomia.
Outro facilitador para o desenvolvimento da autonomia são os tra-
balhos em grupo (ou equipes), pois é o momento onde o sujeito tem que
sair do seu egocentrismo para discutir, ceder algumas ideias, trocar pontos
de vista, trabalhar junto, exercitando a democracia, reciprocidade e coope-
ração. Alves (2018, p. 71) exemplifica:
Quando propomos um trabalho em grupo na Educação Infantil,
solicitando que desenvolvam coletivamente as ações, vemos as
crianças, mesmo juntas, inclusive sentadas em círculo, realizar
as atividades isoladamente e com dificuldade para compartilhar
objetos. Em uma roda de conversa, na qual as regras são ouvir
o outro e esperar sua vez de falar, vemos as crianças pequenas
falando enquanto o outro fala, não observando o espaço de fala
do colega. Por outro lado, entre os maiores, encontramos uma
maior coordenação entre o eu e o outro: além de, geralmente,
conseguirem respeitar o espaço do colega, conseguem coordenar
sua própria ação com a do outro e, muitas vezes, isso acontece
independentemente do comando do adulto, quando são propostos
trabalhos em grupo.
Dessa forma, o papel da escola é estabelecer relações com caráter
central na construção da autonomia do sujeito, através de possibilidades de
experiências e descobertas dos alunos, pois o caminho para a autonomia é
uma construção, podendo até ocorrer de o sujeito regressas para a hetero-
nomia durante esse processo de consolidação (Lepre, 2006; Chiari, 2022).
Com base nessas informações, fica evidente o papel das interações
sociais para a Educação Moral em Valores, contudo, para se relacionar so-
cialmente, o sujeito também necessita desenvolver algumas habilidades,
ou seja, além do desenvolvimento moral pensado no desenvolvimento da
autonomia, é importante também na escola, o trabalho e estimulação das
habilidades sociais dos discentes.
O processo de cooperação no ambiente escolar, promove a reflexão,
resolução de conflitos e, principalmente, a construção das regras,
o que acarreta o desenvolvimento do respeito, da promoção da
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
185
igualdade de direitos e da responsabilidade social. Assim, fica
evidente, a importância da interação social desse indivíduo (Chiari,
2022, p. 40).
As habilidades sociais (HS) são um conjunto de comportamentos
sociais que um indivíduo possui em seu repertório para lidar com diferen-
tes situações interpessoais. Esses comportamentos podem ser habilidades
de comunicação, civilidade, enfrentamento assertivo, empatia, entre ou-
tros, e são aprendidos por meio de um processo contínuo de aprendizagem
que começa desde a infância e se estende por toda a vida (Pasche et al.,
2019; Silva et al., 2018; Piotto; Medeiros; Glidden, 2018).
A aquisição de HS bem desenvolvidas pode levar a interações sociais
mais satisfatórias, pois o indivíduo terá uma boa comunicação, desenvol-
tura e expressividade, além de contribuir com a competência social, o que
tornará sua convivência cotidiana mais agradável. A competência social é
um resultado positivo da posse de HS, que permite ao indivíduo utilizar
seus recursos internos (pensamento e sentimentos) e externos (aspectos so-
ciais e culturais) para atingir objetivos pessoais e promover relacionamen-
tos saudáveis e produtivos com outras pessoas (Silva et al., 2018; Santos;
Wachelke, 2019). Logo, as HS são comportamentos sociais considerados
mais adequados para cada situação em que o indivíduo está inserido e
devem considerar os padrões culturais dos diferentes contextos e situações
sociodemográficas (Piotto; Medeiros; Gildden, 2018), para proporcionar
um bom relacionamento entre os pares.
Dito isso, a aquisição das HS, assim como a da moralidade, é um
processo contínuo, que vai ficando cada vez mais completo e complexo, e
que é adquirida pelos meios formais e informais, por exemplo, na escola
e no cotidiano com os pais e outras pessoas da convivência. Pasche et al.
(2019) e Silva et al. (2018) apresentam pesquisas relevantes sobre o tema
da aprendizagem das HS nas escolas.
A primeira autora desenvolveu sua pesquisa intervindo com 10
crianças de 3.º Ano do Ensino Fundamental de uma escola pública do
Rio Grande do Sul, entre 7 e 9 anos de idade e com queixas de problemas
comportamentais, comunicação e interação entre os pares, que compro-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
186
metiam o processo de aprendizagem. Pasche (2019, p. 2) destacou ainda
que a falta de HS é um fator de risco para problemas de aprendizagem,
comportamentais e sintomas depressivos; e que “[...] o ambiente escolar
pode ser potencialmente favorável para o desenvolvimento de um reper-
tório habilidoso, pois, nesse contexto, o aluno experiencia uma integração
social com o meio, podendo desenvolver e aprimorar novas habilidades”;
além de relatar a importância de se trabalhar as emoções dos educandos e
exercitar as HS neles, pois, assim, poderão ter um caráter preditivo a pro-
blemas comportamentais e favorecer a construção do suporte social positi-
vo e melhor qualidade de vida.
Já o segundo autor, realizou uma revisão sistemática de artigos que
apresentavam intervenções em HS relacionadas ao bullying escolar, ou seja,
sua busca bibliográfica localizou 613 publicações, mas por conta de seus
processos de exclusões (de artigos que não contemplavam todas as exigên-
cias de inclusão para a pesquisa), o total final foi de seis artigos analisados.
Logo, Silva et al. (2018) apontaram que dificuldade de relacionamento
interpessoal é bastante presente nas escolas e o bullying seria a forma mais
frequente de situações de conflito assinaladas por violência no ambiente
escolar; um dos fatores que poderiam contribuir para o bullying seria as HS
pouco desenvolvidas, já que, a vítima “sinalizaria” aos agressores a ausência
de condições para autodefesa e o agressor poderia apresentar dificuldade de
lidar com desafios interpessoais e com a habilidade de empatia, as quais se
houvesse melhoria das HS poderiam reduzir as agressões.
Todavia, ao falar de desenvolvimento humano e contexto escolar,
não é possível desconsiderar as influências do meio externo ao indivíduo,
portanto, quando falamos em desenvolver e melhorar as HS dos educan-
dos, através de intervenções em espaços escolares, é necessário também
considerar as influências familiares (dos pais) e mais diretamente, na esco-
la, dos professores.
Logo, as HS, assim como o desenvolvimento da autonomia moral,
são muito importantes na formação dos professores, pois com elas é possível
afetar positivamente o ambiente escolar e o aprendizado dos alunos, uma
vez que, no contexto da educação, essas habilidades são essenciais para que
os professores estabeleçam um ambiente acolhedor e seguro, promovam
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
187
a participação ativa e o engajamento dos educandos, além de, favorecer
a cooperação e a consolidação da autonomia discente e na construção de
relações positivas entre todos os envolvidos no processo de ensino e apren-
dizagem (Justo; Andretta, 2020; Lepre, 2019). Piotto, Medeiros e Glidden
(2018) ainda apontam que alunos classificados com comportamentos ina-
dequados pelas professoras se autoavaliaram como “mais ou menos bons
em relação ao seu desempenho escolar e aqueles alunos considerados com
comportamentos mais adequados, se autoavaliaram “bons alunos”, sendo
que os educandos menos disciplinados, apresentaram maiores dificuldades
para solicitar auxílio dos colegas e fazer questionamentos, possivelmente
apresentando HS mais empobrecidas.
Dessa forma, um professor moralmente autônomo e com HS bem
desenvolvidas é referência/modelo para seus alunos, já que é capaz de se
relacionar positivamente com os colegas de trabalho e os educandos, com-
preende as suas demandas e possibilita o desenvolvimento pessoal e pro-
fissional deles, não estabelecendo uma relação coativa mas, sim, de cola-
boração mútua e participação ativa (Justo; Andretta, 2020; Lepre, 2006).
O mesmo ocorre com as relações familiares, em especial com os
pais, os quais são sujeitos de exemplo/modelo e ensino para seus filhos
desde o momento do nascimento. Eles são responsáveis por utilizar suas
próprias habilidades para ensinar aos filhos se expressarem, apontando
os comportamentos desejáveis e malquistos, de forma assertiva, sendo os
elogios e repreensões, fortes influenciadores nos comportamentos e de-
senvolvimento das crianças, principalmente durante os estágios de ano-
mia e heteronomia moral.
Segundo Santos e Wachelke (2019), pais socialmente habilidosos,
que com mais frequência cumprem promessas, concordam com o cônjuge,
estabelecem limites, expressam sentimentos e discriminam comportamen-
tos adequados, possuem filhos com mais HS ou sem indicativo de proble-
mas de comportamento; já pais que utilizam práticas educativas negativas
e coercitivas (principalmente diante de comportamentos inadequados),
possuem filhos com indicativos de problemas de comportamento interna-
lizante e externalizante. Além disso, apontam que um bom relacionamento
entre pais e filhos e o envolvimento nas atividades escolares, de lazer e
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
188
comunicação de qualidade, podem gerar um repertório de HS adequado
e diminuir índices de problemas de comportamento, ou seja, pais parti-
cipativos nas atividades diárias dos filhos e com uma boa comunicação
apresentam níveis de HS mais elevados. Ademais, apontou-se evidências
de melhoras nas HS após processo de intervenções.
Em especial, destaca-se a habilidade de empatia, a qual é muito im-
portante e necessária. Segundo Mandelli e Tonetto (2019), é uma habilida-
de fundamental para compreender e atuar sobre o contexto social em que a
pessoa está inserida, pois é a habilidade de compreender e compartilhar as
emoções, perspectivas e necessidades de outra pessoa, ou seja, é a capacida-
de de se colocar no lugar do outro, perceber e reconhecer seus sentimentos
e agir de forma sensível e compassiva em relação a eles e, no contexto esco-
lar, ela ajuda as crianças a se relacionarem harmoniosamente, criando um
ambiente de respeito e compreensão mútua, no qual os alunos conseguem
resolver conflitos de forma pacífica, lidar com as diferenças e estabelecer
amizades saudáveis, contribuindo inclusive para que não ocorra o bullying.
Logo, um déficit nas habilidades de empatia pode afetar as relações
interpessoais de um grupo, uma vez que existe uma certa incapacidade
de experienciar desconfortos perante a dor que pode vir causar em outra
pessoa, podendo não ocasionar dúvidas pelas suas ações. Nesse ponto, po-
de-se dizer que quanto melhor desenvolvida está a empatia, mais próximo
da autonomia moral o sujeito se encontra, pois “A autonomia só aparece
com a reciprocidade, quando o respeito mútuo é bastante forte para que
o indivíduo experimente interiormente a necessidade de tratar os outros
como ele gostaria de ser tratado” (Piaget, 1994, p. 155).
Desse modo, então, as HS estão sendo desenvolvidas constantemen-
te na vida dos educandos e elas sofrem influências do meio social e cultural
em que o indivíduo está inserido, podendo ser influências positivas ou
negativas, contudo, o bom desenvolvimento dessas habilidades só tende
a contribuir para as relações interpessoais do indivíduo e quanto melho-
res forem elas, maiores serão as oportunidades de vivenciar e consolidar a
Educação em Valores Morais, devendo ser a escola um espaço sociomoral,
propício para esses desenvolvimentos.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
189
Exposto isso, o presente capítulo busca apresentar uma experiên-
cia de formação, na qual foi realizada uma atividade, por estudantes de
Psicologia, em uma escola particular do interior do estado de São Paulo.
A instituição em questão, possui um programa voltado aos valores huma-
nos, isso é, momentos semanais que buscam discutir com os estudantes te-
mas relacionados ao respeito, amor, empatia, não violência, acolhimento,
igualdade, cooperação, entre outros, que são abordados de acordo com as
demandas trazidas pela turma e de forma a constituir-se um momento de
diálogo, reflexão, discussão e colaboração entre os estudantes; estando esse
objetivo presente no PPP e missão da instituição.
É válido reforçar que, para se Educar em Valores Morais, é necessário
não apenas uma aula ou momento mas, sim, que seja algo intrínseco na
instituição, que seja um ambiente sociomoral, no qual todos estão em-
penhados a colaborar com o desenvolvimento da autonomia intelectual
e moral dos discentes, visto que um ser humano “[...] passivo intelectu-
almente não será moralmente livre” (Piaget, 1998, p. 90). Além disso, a
Educação em Valores Morais deve ser prática constante e permeada por
planejamentos, objetivos, vinculada ao currículo, PPP e demais documen-
tos norteadores da educação e da instituição.
O presente relato de experiência de formação foi realizado com estu-
dantes do 3.º Ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com idades
entre 8 e 9 anos e teve o foco em influências do comportamento nas rela-
ções interpessoais, no desempenho social e escolar, ou seja, foram apresen-
tadas para os alunos duas situações em que deveriam analisar e discutir as
ações ocorridas para então aplicar o juízo moral e habilidades sociais, com-
preendendo como os personagens poderiam ter tido uma ação mais correta
e os sentimentos emergentes daqueles determinados comportamentos.
Assim, a atividade teve como objetivos principais: aumentar o reper-
tório de comportamentos assertivos; analisar e refletir sobre os comporta-
mentos e suas consequências; estimular trabalho em equipe; e aprimorar a
capacidade de comunicação.
A justificativa para sua aplicação está nos comportamentos mais as-
sertivos e atrelados ao juízo moral mais cooperativo, dentro do ambiente
escolar, os quais, auxiliam no desenvolvimento integral do aluno e em sua
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
190
passagem da heteronomia para a autonomia moral, sendo fundamental
não só na infância e no ambiente intramuros, mas também como um fator
determinante para o bem-estar global e o sucesso ao longo da vida.
Desse modo, apesar de ter sido uma intervenção pontual, possui
relevância para proporcionar novas experiências de aprendizagem com-
portamental e interação social aos estudantes, possibilitando o contato
entre as crianças, suas necessidades de aplicar o respeito mútuo, a de-
mocracia, cooperação, além de refletirem para aumentar a frequência de
comportamentos mais assertivos, ajudando-as na resolução de conflitos
presentes no cotidiano.
2 desenvolvimento
Foram apresentadas para os participantes duas histórias em qua-
drinhos com três momentos, que seriam equivalentes ao antecedente, ao
comportamento emitido e às consequências que ela produz. Em seguida,
foi solicitado que em grupos refletissem e discutissem para responder as
questões decorrentes dos acontecimentos nos quadrinhos, pensando em
comportamentos alternativos e em quais novas consequências poderiam
ocorrer diante do mesmo antecedente.
2.1 mateRiais
Histórias em quadrinhos coloridas com espaço para responder ques-
tões reflexivas sobre o comportamento das personagens e lápis.
2.2 Realização da atividade
Inicialmente, foi realizado um breve momento para criação de vín-
culo entre os estudantes e os aplicadores e, em seguida, foram fornecidas as
orientações sobre a atividade planejada.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
191
Foram organizados 4 grupos com os alunos, ficando: 3 grupos com
3 crianças e 1 grupo com 4, para discutirem e observarem as histórias em
quadrinhos que lhes foram entregues, a fim de discutirem e gerarem refle-
xão sobre os comportamentos das personagens, sua função e consequências.
Na primeira atividade, foi possível ver a Magali mordendo uma me-
lancia; posteriormente, a Mônica tirava a melancia dela bruscamente e no
terceiro quadrinho a Magali chorava. As perguntas decorrentes desse qua-
dro eram: 1 - converse com seus amigos sobre a atitude da Mônica; 2 - O
que vocês teriam feito no lugar da Mônica?; 3 - Qual seria a atitude da
Magali se a Mônica não puxasse a melancia dela?
Na segunda atividade, era possível ver o Cebolinha fazendo bolhas de
sabão que tiravam sarro da Mônica e ela muito brava, com seu coelhinho na
mão. O segundo quadrinho representava a Mônica batendo no Cebolinha
e o terceiro quadrinho apresentava o Cebolinha no chão machucado,
vendo estrelas” e a Mônica saindo brava. Os questionamentos sobre essa
tirinha eram: 1 - Converse com seus amigos sobre a atitude da Mônica e do
Cebolinha; 2 - O que você teria feito no lugar da Mônica? ; 3 - Qual seria
a reação do Cebolinha se a Mônica tivesse conversado com ele?
Após o término da atividade, os participantes compartilharam suas
respostas com a sala toda.
3 Resultado e discussão
Os estudantes conseguiram se organizar para trabalhar em equipes,
discutindo suas opiniões a respeito dos comportamentos expostos nos qua-
drinhos e surgiram descrições de comportamentos que eles compreendiam
como sendo mais adequado para a situação, refletindo sobre suas possíveis
consequências. As respostas obtidas foram diversas.
No primeiro momento, os grupos tiveram a oportunidade de pen-
sar sobre a situação e sugerir um novo comportamento de forma indivi-
dual para os colegas, entretanto, ao final, eles entraram em um acordo
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
192
sobre qual resposta escreveriam na folha. Essa organização grupal se deu
pelos próprios participantes ressaltando que essa dinâmica de trabalho
em equipe contribui para o desenvolvimento da autonomia moral, uma
vez que foi necessária a criação de regras de forma cooperativa e de res-
peito mútuo, as quais foram seguidas por escolha própria, para que con-
seguissem realizar a atividade, além do aparecimento das habilidades so-
ciais de comunicação, enfrentamento assertivo, respeito, expressividade,
etc. (Pasche et al., 2019; Silva et al., 2018; Piotto; Medeiros; Glidden,
2018; Lepre, 2019; Alves, 2018).
Vale ressaltar que cada grupo teve um líder e que alguns participan-
tes possuíram mais dificuldades em conseguir esperar sua vez de falar e
colaborar com as discussões do grupo, pois não queriam perder algumas
de suas ideias em prol das do restante dos colegas, o que provavelmente
demonstra uma heteronomia moral mais presente por parte desses partici-
pantes (Lepre, 2019; Alves, 2018; Chiari, 2022).
Durante a atividade, destaca-se um grupo de alunos que chegou à
conclusão que foi errado a Mônica ter tirado a melancia da Magali e, con-
sequentemente, um comportamento mais assertivo seria o de conversar
com ela, conscientizando-a de que não deveria comer em excesso, pois se
importava com sua saúde. A consequência seria que a Magali não ficaria
tão triste, pois entenderia que era para o seu bem e sua amiga estava preo-
cupada. Outro grupo, diante da mesma situação, disse que a solução era a
Mônica ter comprado 2 melancias, porém se ela tivesse deixado a Magali
comer toda aquela, teria quebrado os dentes, mas se a Mônica não tivesse
tirado a melancia, ela não iria chorar.
Nos casos citados, percebe-se o aparecimento da habilidade de em-
patia, na qual a comunicação assertiva e o respeito seriam a chave para
exemplificar para a Magali o sentimento de preocupação com ela e a rele-
vância de suas emoções e sentimentos, com atitude sensível e compassiva
(Mandelli; Tonetto, 2019). Entretanto, principalmente no segundo relato,
percebe-se a confusão do grupo sobre o que seria o mais correto fazer: aju-
dar a amiga e deixá-la triste ou deixá-la se machucar, mas comer feliz, além
de, a solução ter sido apenas dar uma melancia também para a Mônica
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
193
para que não houvesse briga entre elas pois também surgiu a hipótese de
que a Mônica fez de propósito, para ela comer a melancia.
Outra situação que gerou certa instabilidade emocional em uma aluna
foi quando seu colega ao dar sua contribuição disse que jogaria a melancia
na cabeça da Magali, a aluna não concordou com o possível comportamento
do colega e chorou, pois na opinião dela esse é um tipo de comportamento
que não pode ser realizado, então eles conversaram e entraram em consenso
de que comportamento violento não é adequado para situação.
Nesse relato, verifica-se que ocorreu um déficit nas habilidades so-
ciais dos dois participantes, já que antes de conseguirem se acertar, gerou
uma discussão e um sentimento de frustração por não conseguirem ser ou-
vidos e entendidos um pelo outro, ou seja, faltou repertório de competên-
cias sociais para lidar com diferentes situações interpessoais e resolução de
conflitos de forma saudável. (Silva et al., 2018; Santos; Wachelke, 2019),
além de, pelas falas dos participantes, existe a hipótese de que a aluna está
transacionando entre a autonomia e a heteronomia, enquanto o seu colega
possui uma heteronomia moral mais presente, ou seja, respeitando mais as
regras sociais por uma coação do que pela cooperação (Lepre, 2019; Lepre,
2006; Chiari, 2022; Alves, 2018; Oliveira, 2021).
Em relação ao quadrinho do Cebolinha tirando sarro da Mônica,
a discussão também foi intensa entre os participantes, mas respeitosa e
colaborativa.
Muitos participantes falaram que a atitude da Mônica de bater no
Cebolinha estava correta, uma aluna descreveu que “se ele fez coisa errada
tinha que apanhar”, igual “o pai fazia com ela”. Nessa situação, pode-se
observar a generalização dos comportamentos, por meio do modelo apre-
sentado pelo pai, a criança observa os comportamentos em uma situação e
generaliza em outros contextos, além de Santos e Wachelke (2019) reforça-
rem a influência dos pais em relação ao comportamento dos filhos, em que
pais socialmente habilidosos tendem a ter filhos competentes socialmente
e os com práticas educativas negativas apresentarem filhos que podem vir a
ter problemas de comportamento. Destaca-se ainda a presença da hetero-
nomia moral e da relação de coação, uma vez que a autoridade (nesse caso
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
194
o pai) exerce um papel de punição perante a um comportamento conside-
rado inapropriado, sugerindo que a criança mude sua ação por um senti-
mento de temor e perda de afeto, mas não por compreender e refletir sobre
o porquê não deve agir daquela forma (Oliveira, 2021; Chiari, 2022).
Em um dos grupos, ainda sobre o quadrinho do Cebolinha, ape-
nas um dos integrantes persistiu com a opinião de que a Mônica deveria
mesmo bater no Cebolinha, mesmo após a discussão e reflexão mútua e
então o grupo cedeu e escreveu na atividade “rachava a cabeça dele”, porém
quando ocorreu a discussão coletiva da turma, o aluno não quis comparti-
lhar sua ideia contrária ao restante dos colegas. Nesse caso, percebeu-se que
o participante havia concordado com o grupo sobre não ser certo bater no
colega, porém ele não queria ceder sua ideia inicial apresentando dificul-
dades em sua habilidade social de comunicação, no trabalho em equipe e
na democracia, prevalecendo o egocentrismo na discussão (Alves, 2018).
Entretanto, ressalta-se que o foco maior da segunda tirinha foi a rea-
ção da Mônica de bater no Cebolinha, com as respostas do que ela deveria
fazer para que ele não tirasse mais sarro dela, porém poucos comentaram
que a ação do Cebolinha estava tão errada quanto foi a resposta da Mônica
e como ela se sentiu em relação ao Cebolinha inicialmente.
Desse modo, através das respostas obtidas, reforça-se que as interações
sociais são a base para um bom convívio entre os pares, porém elas podem
ocorrer de maneiras mais saudáveis e com qualidade ou de maneira deficitá-
ria, o que dificulta e prejudica o convívio cotidiano do sujeito, entretanto, as
habilidades sociais podem contribuir para a melhor qualidade dessas relações
sociais (Pasche et al., 2019; Silva et al., 2018; Piotto; Medeiros; Glidden,
2018). Percebeu-se que, os participantes em questão, em sua maioria, es-
tão conseguindo utilizar suas competências sociais de forma proveitosa, com
desenvoltura, comunicação clara, enfrentamento assertivo, civilidade e em-
patia, porém ainda é preciso estimular essas habilidades para que elas sejam
realmente fixadas em seus comportamentos e utilizadas em suas ações diárias
(Silva et al., 2018; Santos; Wachelke, 2019).
Em relação ao desenvolvimento moral dos estudantes, de forma ge-
ral, eles possivelmente se apresentam na fase de heteronomia moral das
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
195
regras, onde reconhecem o que é certo ou errado e quais são (ou não) os
comportamentos socialmente aceitos, porém, diante de uma situação pro-
blema, provavelmente de imediato desempenharam um comportamento
equivocado, pois a maioria mudou sua opinião diante das situações após
o diálogo cooperativo com seus colegas. Outro exemplo foi o do grupo
que escreveu sobre a tirinha da Mônica com o Cebolinha que, após darem
bronca nele pela brincadeira de mal gosto, contariam para seus pais, de-
monstrando a coação da relação de desigualdade entre a criança e o adulto,
supondo que a criança só obedeceria às regras se fosse por intermédio de
alguém superior (seus pais) (Piaget, 1994; Oliveira, 2021; Chiari, 2022).
consideRações finais
Assim sendo, a Educação em Valores Morais está em um processo
de ascensão, principalmente no que diz respeito às ações cooperativas
dentro do ambiente escolar, o qual deve realizar seu papel de ser um
espaço sociomoral e voltado para a consolidação da autonomia do sujeito.
Contudo, como visto, a escola não é a única responsável pelo processo de
transição da heteronomia para a autonomia moral e no desenvolvimento
das habilidades sociais, pois apesar de ser uma grande influenciadora, pais,
familiares e as interações sociais (do meio em que o sujeito está inserido)
interferem intencional ou não intencionalmente nesse processo, o que
evidencia mais uma vez a responsabilidade da sociedade geral na formação
das novas crianças, principalmente também, com a necessidade e uma
atenção especial nas interações que ocorrem de forma on-line. Reforça-se
ainda, a importância da formação continuada de professores e de momentos
de formação em instituições de ensino, não só sobre o tema da Educação
em Valores Morais, mas também como práticas de enriquecimento teórico-
prático constante.
Durante a atividade, percebeu-se a participação ativa dos estudantes
em todo o processo e acredita-se ter sido possível contribuir (através das re-
flexões, interações, trabalho em equipe, discussões, etc.) para o aumento de
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
196
seus repertórios comportamentais mais assertivos diante das situações apre-
sentadas e nas prováveis situações que surgirão dentro e fora do ambiente
escolar, além de os participantes terem respeitado a colocação dos colegas e
chegarem em um acordo para escrever a resposta final na atividade.
Todavia, é clara a necessidade da continuação dos estudos a respeito
da teoria do Juízo Moral de Piaget e da teoria das Habilidades Sociais, pois
apesar de terem sido analisadas em conjunto nessa atividade, sabe-se de
suas limitações e prováveis lacunas, pois foi apenas um recorte de ambas as
teorias que foram direcionadas somente para uma atividade.
Ademais, acredita-se que essas teorias podem se complementar e
serem utilizadas concomitantemente para a melhor estimulação e desen-
volvimento da Educação em Valores Morais, uma vez que prezam pela
cooperação, pelo respeito, democracia, diálogo, reflexão e principalmente
por permitirem se colocar no lugar do outro e encontrar as melhores ações
para serem realizadas, sendo elas um equilíbrio benéfico das necessidades
do próprio sujeito e da sociedade; em que o ambiente escolar possa ser um
grande aliado no processo.
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199
Autoavaliação como prática
moral no ensino médio: relato de
experiência voltada para a educação
em valores no ensino de química
João Paulo Rodrigues da SILVA 1
Luciana Ramos Rodrigues de CARVALHO 2
Gabriela Briquezi de Souza Zan de MORAES 3
1 intRodução
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2018),
em consonância com a Constituição Federal (Brasil, 1988), a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996) e demais docu-
mentos norteadores produzidos a partir deste, estabelece que o Ensino
Médio, última etapa da Educação Básica, tem como principal objetivo
a formação de cidadãos plenos. Isso implica considerar que, para além
dos componentes disciplinares e cognitivos, é necessário trabalhar a di-
Mestre em Ciências. Professor de Química do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do
Tocantins - IFTO - Câmpus Dianópolis - TO e vinculado ao GEPEDEME – Grupo de Estudos e Pesquisas
em Desenvolvimento Moral e Educação. E-mail: joao.silva@ifto.edu.br
Doutoranda do Programa em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho
- UNESP - Câmpus de Assis - SP e vinculada ao GEPEDEME – Grupo de Estudos e Pesquisas em
Desenvolvimento Moral e Educação. E-mail: lrr.carvalho@unesp.br
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP - Câmpus de Assis - SP e vinculada ao GEPEDEME – Grupo de Estudos e
Pesquisas em Desenvolvimento Moral e Educação. E-mail: gabriela.bsz.moraes@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p199-214
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
200
mensão humana na constituição dos jovens na escola (Araújo; Arantes;
Pinheiro, 2020).
A esse respeito, Puig (1998a) destaca a contribuição do campo da
Educação em Valores na promoção do desenvolvimento integral dos sujei-
tos, apresentando uma teoria de construção da personalidade moral que,
segundo o autor, “é essencialmente um processo de construção de si mes-
mo” (Puig, 1998a, p. 19). Para tanto, Puig (2004) sugere a utilização de
ações organizadas, rotineiras e que ensinem a viver valores, denominadas
práticas morais. Entre elas, uma possível proposta é a Autoavaliação, uma
prática moral que convida o estudante à construção de sua personalidade
moral por meio de reflexões mediadas pelo professor.
Neste sentido, o presente artigo tem como objetivo relatar e refletir,
sobre a prática da autoavaliação com os estudantes de uma turma do segun-
do ano do Curso Técnico de Informática Integrado ao Ensino Médio do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO),
câmpus Dianópolis, no contexto do Ensino de Química, no primeiro bi-
mestre de 2023, tendo como corpus teórico, predominantemente, as obras
do autor catalão Josep Maria Puig.
2 a constRução da PeRsonalidade moRal
É comum encontrar textos nos quais ética e moral são tratadas como
sinônimos, pois ambos os conceitos têm a mesma raiz etimológica: hábito,
costume. Porém, é importante ressaltar que o conceito de moralidade não
é consensual, nem conclusivo.
A relação entre ética e moral se manifesta quando consideramos o
sentimento de obrigatoriedade criado pela autoimposição moral.
Nossas decisões são tomadas por meio de agregações entre aquilo
que é uma norma estabelecida pela sociedade (comprometida
com o bem coletivo) com o nosso projeto de vida. Escolhemos
um caminho ou outro, dependentes do sentido que damos a nossa
existência e a busca ou não por uma vida boa (Senne; Gomes,
2016, p. 4).
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
201
Ricoeur (1995) defende a ética como superior à moral, mas reconhe-
ce a necessidade da norma moral, ou seja, a moral que integra o coletivo,
pois o ser humano é passível de falhas e suscetível ao desejo egoísta. Assim,
a moral se torna uma condição necessária à ética, pois uma vida consi-
derada boa não necessariamente é uma vida digna (Frick; Souza, 2014).
Portanto, o dever, campo da moral, e a vida que almejamos, campo da
ética, têm uma relação intrínseca, e não devem ser desvinculados. O dever
que se desvincula da generosidade e da justiça não deve ser considerado
moral (Tognetta, 2008).
Os valores, que permeiam as relações sociais, “[...] só são conside-
rados morais se tiverem um compromisso com a construção de uma vida
boa para todos em instituições justas” (Senne; Gomes, 2016, p. 5). No en-
tanto, os valores são relativos e variam de acordo com o tempo e contexto
histórico. La Taille (2009) ressalta ainda que a formação de valores éticos
e morais depende, em grande parte, de uma motivação interna (sentimen-
tos). Dessa forma, a ação moral ocorre a partir do impulso presente nos
sentimentos que integram a personalidade do indivíduo.
Esse processo é complexo e possui diversos níveis, desde a aqui-
sição de convenções sociais até a configuração da própria consciência
moral autônoma. Esta põe em ação o juízo e a reflexão, e os comporta-
mentos e sentimentos são veiculados por mecanismos de ensino, que im-
pulsionam tanto o desenvolvimento pessoal quanto a transmissão social
dos conteúdos ditos morais (Puig, 1998a). Sendo assim, Senne e Gomes
(2016) afirmam que a moral é entendida como um processo de cons-
trução, tanto de valores, como de conhecimentos e comportamentos,
que está ligado diretamente com fatores externos e também internos ao
indivíduo. Relaciona-se com a racionalidade, porém também se liga com
elementos afetivos e internos.
Puig (1998a), em sua base metodológica, pensa o desenvolvimento
moral a partir das interações presentes na sociedade, ampliando a pers-
pectiva racionalista existente na concepção clássica do construtivismo.
Ele define a Educação Moral como um processo de construção de si
mesmo visando:
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
202
[...] formar uma realidade humana complexa que denominamos
personalidade moral; que implica trabalhar simultaneamente na
formação da consciência moral autônoma, no desenvolvimento de
suas capacidades ou procedimentos de reflexão e ação, e finalmente
na aquisição dos elementos substantivos que constituem a
identidade moral de cada indivíduo (Puig, 1998a, p. 149).
Na escola, a metodologia na construção de valores, segundo Candau
(2000), não pode ser reduzida a atividades isoladas, mas deve integrar as
várias dimensões da ação educativa. Ela não pode estar desvinculada das
práticas sociais e tem que se expressar em saberes e atitudes no exercício da
cidadania e do cotidiano em seus variados âmbitos. Deve, além disso, con-
duzir à autonomia moral que, segundo Puig (1998a), é o reconhecimento
da necessidade das normas morais da sociedade, sendo assim, a interioriza-
ção do que era exterior à consciência individual.
Nessa perspectiva, o autoconhecimento se mostra um caminho de
elevada importância para alcançar a autonomia, sendo este um proces-
so inacabado que implica em uma atividade de auto-observação e de an-
tecipação do futuro, além de uma construção de formas de ser queridas
(García; Puig, 2010). Há, nesse contexto, uma nova exigência ética, que se
articula com a comunicação e principalmente com o desejo de estabelecer
uma comunicação horizontal com o outro (Barrere, 2001).
A Educação Moral tem um viés de construção da personalidade mo-
ral, buscando superar a ideia de uma educação moral como adaptação ao
meio ou apenas reconhecimento dos próprios valores e aquisição de hábi-
tos virtuosos. Nesse aspecto, aborda uma formação que considera aspectos
do procedimento da reflexão, levando a uma formação humana complexa
(Puig, 1998a). Em síntese, a Educação Moral é definida como uma tarefa
que se realiza com ajuda, tanto dos pares como dos adultos, para que se
possa construir e elaborar estruturas da própria personalidade, permitindo
a integração no meio social e cultural de forma crítica.
A educação moral como construção reconhece o momento ou o
conteúdo socializador inerente à educação moral, mas considera impres-
cindível apontar a vertente crítica, criativa e autônoma da moralidade
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
203
(Puig, 1998a, p. 71). A moral necessita de autonomia da personalidade,
pois esta se relaciona com a criatividade moral e com a consciência pessoal.
Assim, na formação da personalidade moral se insere um processo de cons-
trução, em que estão presentes elementos socioculturais já existentes, que
apontam caminhos; porém, além disso, se caracteriza também como um
processo em que cada indivíduo intervém de forma autônoma, responsável
e criativa.
3 Pticas moRais
Como um gesto civilizatório, tanto no seio das famílias quanto
nas sociedades como um todo, cada uma a seu modo, as práticas mo-
rais sempre serviram como aprendizagem para a boa convivência coletiva.
Naturalmente, em tempos modernos, as práticas morais também são apli-
cadas aos ambientes educacionais, com o objetivo de propiciar no meio
escolar, ações que promovam a autonomia moral dos alunos, de maneira
que possam conviver e estabelecer relações sociais caracterizadas pela coo-
peração e harmonia.
Conforme citação de Puig (2004, p. 36), “[...] os alunos não são
inteiramente os produtores de seus atos, nem tampouco totalmente deter-
minados pelas forças sociais”. A prática moral não é entendida nem como
um processo individual de desenvolvimento de habilidades preexistentes,
nem um processo coletivo por meio do qual estruturas sociais determinam
e dão forma aos sujeitos. Os alunos devem ser definidos como sujeito mo-
rais, imersos em um meio sociocultural, ambiente necessário para a cons-
trução de suas condutas morais, bem como onde partilham suas condutas
com o meio. Desta maneira, a Educação Moral decorre da construção de
um ambiente educacional que expresse valores, conduzindo e envolvendo
os sujeitos que o frequentam.
Por seu turno, os docentes “[...] devem ser, talvez acima de tudo,
planejadores de práticas morais e construtores de meios educativos com
um claro conteúdo moral” (Puig, 2004, p. 12). É papel da prática pedagó-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
204
gica conceber ações que aperfeiçoem e se adaptem às situações específicas,
como também planejar ações no sentido de melhorar práticas herdadas,
trabalhando sobre o que se encontra incorporado.
Inegavelmente, as práticas devem ser entendidas tanto como pro-
duções culturais quanto realizações individuais, pois nesse espaço se dá
o cruzamento entre estruturas e agentes. Para Puig (2004, p. 58), uma
prática caracteriza-se como um “curso de acontecimentos” mais ou menos
estabelecido de antemão do qual participam vários indivíduos. Neste cur-
so, cruzam-se as ações dos diversos indivíduos participantes, estabelece-se
direção, ações são encaminhadas.
Naturalmente, como se contam uma variedade de ações, a prática
se faz complexa. A força educacional será alavancada pela interação dessas
ações e dos sujeitos envolvidos. Como as ações expressam e incorporam va-
lores, esses acabam por as definir. De acordo com Puig (2004, p. 60), “[...]
um caminho ou uma trilha de valores convertidos em comportamentos”.
As práticas também envolvem rotinização e cooperação, necessárias para a
aprendizagem e a convivência. Neste sentido, Puig (2004) ressalta que a
ação moral tem a ver com a construção de hábitos, os quais dependem de
repetição. Neste contexto, alunos e professores se envolvem como coparti-
cipantes de práticas morais caracterizadas por formas ritualizadas de lidar
com situações moralmente importantes.
Evidência Puig (2004) a necessidade de desenvolvimento sistemá-
tico de práticas morais no ambiente escolar, que precisam ser inseridas
permanentemente na rotina educacional, devendo operar de maneira
complementar às demais atividades escolares, caracterizando-se como
procedimentais.
Ainda segundo o autor, as práticas procedimentais propiciam auto-
nomia, investigação moral e imaginação, e são classificadas em dois tipos:
práticas de reflexividade e práticas de deliberação.
Ademais, as práticas de reflexividade possibilitam caminhos para o
autoconhecimento, a autoavaliação, enfim, a construção de si mesmo. Tais
práticas tanto servem como instrumentos para o autoconhecimento, como
podem propiciar que o sujeito se reconheça em sua singularidade, o que
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
205
é essencial “[...] para conduzir a própria vida em ambientes com menor
peso da tradição e, ao mesmo tempo, maior pluralidade de formas de vida
(Puig, 2004, p. 99).
Puig (2004) considera práticas escolares de reflexividade aquelas que
lidam com a imagem corporal, que analisam mudanças físicas e atitudinais,
como também a confecção de textos autobiográficos, entrevistas pessoais,
trabalho sobre situações de conflito em que os pontos de vistas e sentimen-
tos são expostos. O autor também cita exercícios de autorregulação, que
propiciam a organização psicológica e moral do sujeito, ao tomar maior
consciência de si mesmo, e auxiliam na composição do autoconceito, da
identidade do eu e do caráter como produto pessoal, “[...] que sintetiza os
diversos traços pessoais, atitudes, valores e hábitos em um modo de ser e
de se comportar que é próprio e característico de cada indivíduo” (Puig,
2004, p. 100).
No caso das práticas procedimentais de deliberação, segundo o au-
tor, estas propiciam a compreensão do outro. Por meio de argumentos
racionais, por meio da tomada de consciência, o sujeito elabora uma com-
preensão imparcial em face de questões morais que carecem de uma solu-
ção por meio do diálogo. Desta maneira, ocorrem trocas de pontos de vista
por meio da racionalidade dialogada que é um princípio da deliberação.
4 autoavaliação
No Brasil, a prática da autoavaliação ainda é pouco difundida na
rotina escolar do Ensino Médio. Muitos professores desconsideram essa
forma de avaliação, pois acreditam que o processo de ensino e aprendiza-
gem deve ser exclusivo do professor (Lopes, 2018).
No entanto, em conformidade com as diretrizes propostas pela
BNCC (Brasil, 2018a), concordamos com Fernandes (2008, p. 35) ao
afirmar que “[...] se quisermos sujeitos autônomos, críticos, devemos ter
consciência de que tal prática deve ser incorporada ao cotidiano dos plane-
jamentos dos professores, do currículo, por fim”.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
206
Nesse contexto, Régnier (2002) esclarece que o processo de autoa-
valiação vai além de promover autonomia e espírito crítico. Ele também
fomenta a autoformação, a autocorreção, o autocontrole, a autorregulação,
a responsabilidade, o aprender a aprender e o autoconhecimento. Assim, o
autor entende que:
A autoavaliação é um processo cognitivo complexo pelo qual um
indivíduo (aprendiz, professor) faz um julgamento voluntário e
consciente por si mesmo e para si mesmo, com o objetivo dum
melhor conhecimento pessoal, da regulação de sua ação ou de
suas condutas, do aperfeiçoamento da eficácia de suas ações, do
desenvolvimento cognitivo (Régnier, 2002, p. 5).
Nesse âmbito, de acordo com Grillo e Freitas (2010), a prática ava-
liativa deixa de ser centralizada no professor e passa a ser compartilhada
com o aluno. Isso favorece gradualmente sua autoestima, à medida que ele
desenvolve sua capacidade de tomar decisões sobre a aprendizagem. Assim,
tanto o professor quanto o aluno ensinam e aprendem em um ambiente de
troca mútua e confiança.
No entanto, esses autores ressaltam que a realização do processo de
autoavaliação contribuirá significativamente na formação do sujeito so-
mente se a reflexão for conduzida de forma sistemática pelo professor.
Adicionalmente, Grillo e Freitas (2010) salientam que autoavaliar também
não significa transferir para o aluno a responsabilidade, e sim, dividir com
ele o processo avaliativo.
À luz dessas considerações, ao abordarmos a proposta da autoavaliação
e sua significativa contribuição para a formação da personalidade moral do
indivíduo, reconhecemos que se trata de uma prática pedagógica centrada
na dimensão moral. Isso se deve ao fato de que ela não visa apenas à análise
objetiva do desempenho ou à avaliação de competências e habilidades, mas
também a reflexão e ao aprimoramento do caráter e dos valores morais.
Assim, de acordo com os pressupostos de Puig (2004), a autoavaliação
pode ser compreendida como uma prática moral.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
207
5 o contexto
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins
(IFTO), campus Dianópolis, está localizado no sudeste do Estado do
Tocantins, a 346 km da capital Palmas, próximo às divisas com a Bahia e
Goiás. Dianópolis possui uma população estimada de 17.739 habitantes
(IBGE, 2022) e os principais setores que movimentam a economia do
município e região são comércio, agropecuária e serviços.
O campus de Dianópolis foi estabelecido como parte da expansão
e interiorização da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica, visando superar desigualdades socioeconômicas regionais e
facilitar o acesso a cursos de formação profissional e tecnológica para me-
lhorar a qualidade de vida da população local.
Os cursos oferecidos pelo campus incluem os Cursos Técnicos de
Agropecuária e Informática, integrados ao Ensino Médio, bem como os
Cursos Superiores de Licenciatura em Ciências Biológicas, Licenciatura
em Computação e Bacharelado em Engenharia Agronômica. Além dis-
so, há uma pós-graduação lato sensu em Gestão e Tecnologia da Produção
Agropecuária.
Os Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC) são fundamentados na
legislação educacional brasileira, incluindo a Lei de Diretrizes e Base da
Educação Nacional (Brasil, 1996), as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio (Brasil, 2012), as
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Brasil, 2018b),
entre outras normativas. Com base nesse arcabouço legal, esses cursos são
orientados por princípios que priorizam a formação integral do estudante,
preparando-os para os desafios do mercado de trabalho e para uma cida-
dania plena.
Os currículos estão estruturados em várias etapas: a formação ge-
ral básica, que abrange as competências e habilidades da Base Nacional
Comum Curricular (Brasil, 2018a); a base profissional, que incorpora as
áreas técnicas temáticas do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (Brasil,
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
208
2021); os projetos integradores; e a base diversificada, composta por disci-
plinas que complementam o conhecimento curricular adaptado às deman-
das locais.
Na formação geral básica, mais especificamente nas Ciências da
Natureza e suas Tecnologias, encontra-se o componente curricular de
Química. É nesta disciplina que foi realizada a proposta de autoavaliação.
6 – autoavaliação como PRática moRal: Relato de exPeRiência
O professor da disciplina de Química da instituição, considerando
as diretrizes da BNCC (Brasil, 2018a), alinhadas aos objetivos estabeleci-
dos nos Projetos Pedagógicos de Curso (PPC), e sua preocupação com a
formação moral dos alunos, optou por implementar a prática da autoava-
liação no contexto do Ensino de Química. O docente começou a adotar
essa prática em todas as turmas do Ensino Médio desde 2015, quando
ingressou na instituição.
No entanto, para os propósitos deste estudo, delimitamos nosso
trabalho centrando o relato e reflexão apenas na experiência do professor
com uma turma de 21 estudantes do segundo ano do Curso Técnico de
Informática Integrado ao Ensino Médio do IFTO, no primeiro bimestre
de 2023.
Diante disso, é de nosso interesse refletir sobre as implicações da
prática da autoavaliação na formação integral dos alunos. Será que, de fato,
essa proposta favorece a reflexão, o autoconhecimento, a tomada de de-
cisões e a construção da personalidade moral? Nossa hipótese é que sim.
Acreditamos que essa prática avaliativa impacta positivamente a formação
dos estudantes, promovendo não só o avanço nos aspectos quantitativos
relacionados à avaliação objetiva, mas também nas demais capacidades ne-
cessárias para a construção do cidadão pleno, conforme os objetivos do
Ensino Médio estabelecidos pela BNCC (Brasil, 2018a). Dito isso, passa-
mos à descrição dos procedimentos envolvidos para a execução da proposta
elaborada pelo professor.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
209
Em conformidade com as recomendações de especialistas no campo
da Educação em valores, o docente de Química elaborou uma prática edu-
cacional de forma sistemática, adotando uma abordagem pedagógica pla-
nejada, intencional e explícita (Puig, 1998a, 1998b, 2004, 2007; García,
Puig, 2010; Arantes, Araújo, Puig, 2007; Tognetta, Lepre, 2022).
De acordo com o PPC do Curso Técnico de Informática Integrado ao
Ensino Médio, a avaliação da aprendizagem deve levar em consideração o
uso de uma variedade de instrumentos, sendo que a aprovação do estudante
no componente curricular ocorrerá com uma nota igual ou superior 60.
Dessa maneira, o professor atribuiu notas aos seguintes tipos de
avaliações: Prova Bimestral (60 pontos), Listas de Exercícios (10 pon-
tos), Atividade Avaliativa Experimental (20 pontos) e Autoavaliação (10
pontos).
A autoavaliação funciona da segunda forma: ao final do primeiro
bimestre do ano letivo de 2023, o professor reservou uma aula de 45 mi-
nutos para a realização da última atividade avaliativa. Durante essa sessão,
os alunos foram atendidos individualmente pelo docente, enquanto os de-
mais aguardavam sua vez na sala de aula.
Nesse diálogo, o docente tinha em mãos os resultados de todas as
avaliações do bimestre, além da frequência e observações referente ao com-
portamento, entre outros acontecimentos registrados sobre o discente.
A partir disso, o professor deu iniciou à prática da autoavaliação,
com a seguinte pergunta: “De acordo com seu comportamento e dedi-
cação na disciplina de Química neste bimestre, quanto você acredita que
merece, numa escala de 0 a 10 pontos?” Independentemente da pontua-
ção adotada pelo estudante, o docente questionou: “Por quê?” Com base
na resposta, o professor estabeleceu um diálogo, ouvindo a percepção do
jovem, buscando compreender as razões pelas quais o estudante atribuiu
uma determinada nota.
A partir desse ponto, serão apresentados os principais resultados ob-
tidos com o relato, bem como as reflexões orientadas pelos objetivos defi-
nidos previamente.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
210
7 PRinciPais Resultados e discussão
Durante a prática da autoavaliação realizada no primeiro bimestre
de 2023, pelos alunos do segundo ano do Curso Técnico de Informática
Integrado ao Ensino Médio, o professor observou que a maioria (85,7 %; n
= 18) demonstrou uma notável responsabilidade e honestidade na execução
da proposta. Eles atribuíram as notas de forma sincera e mostraram-se cons-
cientes de que um maior esforço pode resultar em um desempenho ainda
mais satisfatório no bimestre posterior. Como exemplo, destacamos os de-
poimentos de alguns alunos sobre sua experiência com a autoavaliação:
A autoavaliação é um método de avaliação diferenciado dos demais que
temos o privilégio de ter apenas na disciplina de química. Além de ser possível a
reflexão do aluno sobre todo o seu processo de estudos no decorrer do bimestre, os
alunos e o professor têm se beneficiado quanto a validação do esforço individual
de cada aluno por meio de uma pontuação. Particularmente, a autoavaliação
me dá a chance de melhorar minhas notas em química e me motiva a me
esforçar sempre mais na disciplina, para assim, poder atribuir uma melhor
pontuação ao meu esforço ao final do bimestre.”
“No meu ponto de vista, a autoavaliação bimestral é algo que agrega e
ajuda bastante o estudante. Muitas vezes não alcançamos uma nota alta, não
é por falta de estudo, mas envolve também problemas pessoais, então eu vejo
como algo de suma importância para nós alunos. Inclusive, a autoavaliação
já me ajudou demais. Porém, sempre temos que lembrar que precisamos ser
honestos na hora de nos avaliarmos.”
A prática da autoavaliação é uma forma muito relevante que propõe
ao aluno poder avaliar seu próprio desempenho. E é algo que dá a possibilida-
de de relatar nosso nível de conhecimento, assim como o esforço da parte dos
estudantes. Eu como aluna gosto muito desse método, pois não é todo dia que
o estudante está bem para realizar uma prova ou uma avaliação bimestral, e
acabamos por cometer pequenos erros na avaliação. Erros que não necessaria-
mente foram falta de interesse do aluno, mas sim um pequeno descuido. E para
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
211
mim a autoavaliação é muito importante neste quesito, de nos proporcionar
dar valor ao nosso esforço.”
A autoavaliação é uma prática muito importante, pois nos permite re-
fletir sobre nosso desempenho, identificar áreas de melhoria e reconhecer nossas
conquistas. É uma forma de autoconhecimento que nos ajuda a evoluir cons-
tantemente e não apenas um meio de receber nota no fim do bimestre.”
Os depoimentos mencionados anteriormente estão em consonância
com os pressupostos de Puig (1998a, 2004), ao reconhecerem a relevância da
autoavaliação como prática moral que expressa valores, como a honestidade,
responsabilidade, autoconhecimento, diálogo, autonomia e criticidade.
As demais respostas (14,3 %; n = 3) revelaram que os estudantes
estavam apenas preocupados com a nota, atribuindo um valor incompa-
tível com seu engajamento e desempenho na disciplina. No entanto, em
nenhum momento o docente afirmou que o aluno estava errado; ao con-
trário, através do diálogo, possibilitou a reflexão de forma que o próprio
estudante pudesse perceber seu equívoco.
Vale destacar que esse procedimento usado pelo professor está de
acordo com a teoria Puig (1998a, p. 75), que enfatiza a importância de
“[...] formar a consciência moral autônoma de cada sujeito e fazê-lo como
espaço de sensibilidade moral, de racionalidade e de diálogo [...]”, colo-
cando o aluno como protagonista de seu processo avaliativo. Segundo o
docente, esses alunos que foram incoerentes na atribuição das notas foram
receptivos à reflexão, reavaliando suas condutas e, ao tomarem consciência,
decidiram modificar suas notas por vontade própria para valores compatí-
veis com seu real aprendizado.
consideRações finais
Analisar os problemas morais de forma pessoal e coletiva, permi-
te que sejam melhor entendidos e muitas vezes possibilita sua resolução.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
212
Dessa forma, a construção da personalidade moral acontece a partir de um
processo de adaptação à sociedade e a si próprio, porém, esta construção
não deve se limitar apenas às pautas sociais e preferências pessoais.
É necessário que haja transmissão de elementos culturais e de valor,
porém, é imprescindível a formação de uma consciência moral autônoma,
fazendo, assim, um espaço de sensibilidade moral, diálogo e racionalidade,
para que isso seja, da vida moral, o último critério. “Por fim, a construção
da personalidade moral conclui com a construção da própria biografia
como a cristalização dinâmica de valores, como espaço de diferenciação
e de criatividade moral” (Puig, 1998a, p. 75). É construir uma vida que
valha a pena e que ofereça felicidade a quem usufrui dela.
No que tange às prática morais, Puig (2004) apresenta práticas que
nos permitiram refletir sobre a moral não apenas como um processo de
desenvolvimento ou socialização, mas que viabiliza uma intervenção peda-
gógica que compreenda a ação educacional como instrumento que propi-
cie estabelecer boas relações entre os alunos, relacionando currículo e mo-
ralidade. Neste sentido, foi possível conceber práticas que os professores
podem lançar mão para que a autonomia desejada seja construída.
As práticas morais têm como finalidade proporcionar aos alunos
modos de interagirem uns com os outros, considerando suas diferenças,
objetivando melhor convívio entre eles. Tais práticas devem ser desenvol-
vidas em ambientes que permitam a experimentação de situações que fa-
voreçam aos educandos construírem seus valores morais, momento em que
sua autonomia é exercitada, ao tomarem decisões coletivas, aprendendo o
respeito mútuo, de modo que tais práticas venham a se tornar intrínsecas
aos seus modos de viver e conviver.
Neste contexto, percebe-se como fundamental as condições do am-
biente escolar para que a elaboração de práticas morais tenha eficácia. “O
ambiente escolar influencia a maneira como os alunos se relacionam e li-
dam com seus conflitos interpessoais” (Tognetta; Vinha, 2007, p. 13).
Para que os alunos se desenvolvam e aprendam, entende-se como
crucial que eles se apropriem de práticas morais. O professor deve reconhe-
cer o potencial dos alunos e deve ter como objetivo constante a construção
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
213
da autonomia dos alunos. A prática da autoavaliação pelos próprios edu-
candos é de grande importância para ajudá-los a compreender e apropriar
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215
Prática moral na formação
de estudantes de Medicina e
Enfermagem: uma revisão de
literatura
Fernanda Moerbeck Cardoso MAZZETTO 1
Patrícia Unger Raphael BATAGLIA 2
Cristiane PAIVA 3
1 intRodução
Nos últimos tempos, quando se discute questões éticas na prática
clínica, tem-se dado importância a dois aspectos que apresentam o mesmo
objetivo: fazer com que os profissionais escolham o bem e, para outros, na
busca de procedimentos que asseguram que o escolhido seja conveniente
naquela determinada ação. Qualquer ação que leve a questões de caráter
técnicos” têm uma dimensão ética na medida em que muitos bens huma-
nos estão envolvidos e cada ação de natureza ética contém inúmeras aspec-
Pós- Doutorada em Educação pela Universidade Estadual Paulista de “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade
de Filosofia e Ciências(FFC), Marília/SP e Docente da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA)
Marília - SP, Departamento de Enfermagem, Marília/ SP, Brasil, E-mail: fernandamazzetto4@gmail.com
2 Professora Associada do Departamento de Educação e Desenvolvimento Humano e do Programa de Pós-
graduação em Educação pela Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Câmpus de Marília, São Paulo, Brasil. E-mail: patricia.bataglia@
unesp.br;
Docente pela Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (UNESP), Câmpus de Marília, São Paulo, Brasil. E-mail:paiva.alves@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-585-8.p215-265
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
216
tos técnicos que são condição necessária para a realização de uma boa ação.
Isso desperta a ação humana, na medida em que apresenta racionalidade,
intencionalidade e responsabilidade (Pastor, 2019).
A construção da identidade ocorre através de fases de socialização
que se associam durante o processo de desenvolvimento humano. Em
meio a esses momentos, o trabalho exerce posição central pelo qual o ho-
mem se reconstrói, devido às vivências, desafios e das relações estabelecidas
(Souza; Mendonça, 2017).
O trabalho se caracteriza como um meio de “ser” e de “estar com” o
outro, tendo como consequência difícil de experiências, que podem levar à
confrontação de problemas éticos. Nesse sentido, as vivências no contexto
de trabalho têm concepções ético-morais que repercutem individualmente
na construção de sua identidade e coletivamente no espaço organizacio-
nal, pois a expressão de sua concepção moral e de sua prática apresenta-se
no propósito. Ademais, as vivências dos enfermeiros promovem rupturas
identitárias, que prejudicam seus valores, causando sofrimento, inseguran-
ça e perda do protagonismo, além do desenvolvimento da imagem negati-
va de si mesmo (Caram; Brito; Peter, 2019).
Vivemos numa era em que surgem mais avanços em matéria de
cuidados de saúde, que geram inúmeros dilemas na relação terapêutica,
multiprofissionais, nas relações de processos de trabalho, morais e éticos,
como: controvérsias de opiniões e desrespeito em relação às ações para o
cuidar entre os profissionais de Saúde, falta de humanização e comunica-
ção violenta na relação com a pessoa que é cuidada, entre outras situações.
A Enfermagem embasa a sua prática na relação com o outro, pelo que o
momento importante da vida de um estudante de Enfermagem é o contato
com a pessoa doente, mediante a prática clínica. É neste instante que toma
consciência da profissão que escolheu e experiencia os primeiros dilemas
éticos na prática (Martins; Santos; Duarte, 2022).
Aliado a este evento, denota-se dificuldades por parte dos estudan-
tes de enfermagem em tomarem decisões e agirem de acordo com essas
providências. Esta capacidade, designada por competência moral, deve ser
intrínseca ao enfermeiro, pelo que, na formação pré-graduada do estu-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
217
dante de enfermagem, é importante enfatizar o desenvolvimento das suas
competências morais e profissionais (Martins; Santos; Duarte, 2022).
Alguns autores encontraram uma estagnação da competência moral
em estudantes de enfermagem (Buzgová; Sikorová, 2013) ou mesmo uma
diminuição da mesma, com a conclusão do curso (Oliveira, 2008) o que
leva a refletir sobre o que poderá ser feito no sentido de atormentar esta
tendência e promover o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo
e da capacidade para tomar decisões.
O ensino da Ética nas escolas de Enfermagem em nosso país tem se
caracterizado por uma visão deontológica, determinado por uma orienta-
ção prescritiva e normativa, restrita a um conjunto de normas e códigos
trabalhados teórica e abstratamente (Germano, 1993; Gomes, 1999).
A formação acadêmica e o trabalho dos profissionais de Saúde na
América Latina vêm sendo categoricamente abalados pela reorganização
dos sistemas de Saúde, pelas pressões para a alterações para a mudança da
Universidade e pelo processo de restabelecimento e desconcentração polí-
tico-administrativa do Estado. As atuações comuns que formam por um
conjunto de políticas públicas “globalizadas” combatem a diversidade de
respostas nos diferentes países, que se apresentam em muitas alternativas
de modelos de organização de cuidados à saúde, de fiscalização de merca-
dos de trabalho e de exercício profissional, de reexame da relevância social
da Universidade e de seus processos de formação profissional e de recom-
binar atores em novas vertentes de decisão em sistemas descentralizados
de gestão com múltiplos níveis de controle social (Almeida; Feuerwerker;
Llanos, 1999).
A educação ética embasada somente em discussões conceituais não
é suficiente para formar os profissionais que o momento atual exige. Um
novo paradigma em Saúde se estabeleceu na América Latina e tem-se dis-
cutido intensivamente a necessidade de mudança nas metodologias de for-
mação dos profissionais da saúde. Um novo modelo de saúde exige novos
sujeitos sociais, novas formas de prestação de serviços e novas maneiras de
formar os profissionais da área (Almeida; Feuerwerker; Llanos, 1999).
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
218
O perfil desejado dos egressos dos Cursos de Graduação em
Enfermagem, no Brasil, remete-se a um profissional capaz de intervir nos
serviços de saúde de baixa, média e alta complexidade. Por um lado, a
tecnociência centrada nos hospitais e nos centros de diagnóstico de alta
complexidade; por outro, a fome, a miséria, a injustiça, a corrupção polí-
tica, a alocação de recursos e a distribuição dos serviços de saúde colocam
o enfermeiro em um contexto dicotomizado, que exige desse profissional
senso crítico para tomar decisões éticas e morais (Ferreira; Ramos, 2006).
Os médicos vivenciam diariamente situações que envolvem dilemas mo-
rais/conflitos éticos: decisões complexas em pacientes terminais. E ainda
manipulação genética, tecnologias de reprodução assistida, iniquidades so-
ciais, violação de direitos de vulneráveis (Gontijo, 2021).
O predomínio da expertise técnica com mínimos e deficientes reto-
ques humanísticos inicia na graduação, motivada no avanço tecnológico e
na negligência de dois outros domínios da formação médica de qualidade:
a competência humanística e a competência moral (Rios, 2009).
No Brasil, o eixo da formação médica são as Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN) para o curso médico, na versão atualizada em 2014,
que reforçam a formação humanista e a atuação pautada em princípios
éticos, com responsabilidade social (Brasil, 2014a, 2014b). No plano in-
ternacional, o World Commission on the Ethics of Scientific Knowledge and
Technology - Comest e United Nations Educational, Scientific and Cultural
Organization - Unesco já recomendava, em 2003, o desenvolvimento nos
estudantes de habilidades de reconhecer e analisar questões de ordem ética
e ser capazes de alcançar a decisões sobre como agir eticamente. O do-
cumento, revisto em 2008, definiu como objetivos: desenvolver o inte-
resse em questões éticas, compreender criticamente buscando alternativas
e desenvolver a capacidade de análise ética e argumentação (UNITED
NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL
ORGANIZATION, 2003).
A literatura aponta o descompasso entre o idealismo inicial dos es-
tudantes de Medicina e o progressivo sentimento de quase cinismo e falta
de comprometimento com a pessoa, que são reduzidos a números ou “ca-
sos interessantes” a serem discutidos e abordados (Lindy, 2016; Batley et
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
219
al. 2016). Exposição ao sofrimento, sensação de impotência no cuidar e
alteração das expectativas durante o processo de formação resultam em re-
dução da empatia e contribuem para a desumanização da assistência (Dell
Amore Filho et al. 2018).
Em geral, o ensino superior tem sido confrontado com diversos de-
safios impostos pela sociedade contemporânea, que permeiam uma pro-
funda crise de valores. Nesse sentido, apesar da expectativa social em rela-
ção à idoneidade ética do médico, observa-se que o tema é negligenciado
durante os anos da formação universitária do estudante e mesmo em pro-
gramas de pós-graduação (Varela, 2013).
Apesar de a Problematização e a Aprendizagem Baseada em
Problemas serem citadas como modelos de ensino eficazes, para a forma-
ção moral é preciso que os educadores fundamentam sua prática em uma
determinada epistemologia ou teoria do conhecimento. Não basta adotar
metodologias e meios inovadores, se o docente não tiver uma concepção
pedagógica estruturada para fundamentar e direcionar sua prática educati-
va (Ferreira; Ramos, 2006).
Pensar em métodos e instrumentos de ensino implica uma reflexão
teórica consistente sobre o processo de aprender e, para tanto, os conceitos
centrais da Psicologia Genética de Jean Piaget são de grande contribuição.
O ser humano desenvolve formas de ação para conhecer alguma coisa, va-
riando desde formas externas e visíveis, quando manipula objetos e intera-
ge com a natureza, como internas e não visíveis, descritas como operações
mentais. Segundo a Psicologia, a conduta moral e a competência ética são
questões decorrentes do próprio desenvolvimento sociocognitivo do ser
humano no seu meio, na sua cultura. O julgamento moral e o comporta-
mento moral são uma questão de desenvolvimento cognitivo que necessita
de maturação biológica das estruturas mentais, assim como da qualidade
de interação do ser humano com o seu meio como desenvolvimento psi-
cossocial. Portanto, é possível compreender que a aprendizagem para o
desenvolvimento moral encontra fundamentos nas teorias psicológicas in-
teracionistas e socioculturais, por explicarem que as aprendizagens derivam
da interação entre o sujeito que aprende e o objeto do conhecimento, em
um determinado ambiente cultural (Piaget, 1932).
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
220
Jean Piaget é uma referência no que se refere ao desenvolvimento
moral, especialmente por ter implantado assuntos desenvolvimentistas
como forma de pesquisar sobre a moralidade humana, elencando estágios
para a construção moral. Ressalta-se que Piaget trouxe para a filosofia uma
importante contribuição, pois fez com que fossem realizadas pesquisas so-
bre como ocorre o desenvolvimento moral. Seu feito foi aplicar algo filosó-
fico no campo empírico (Sampaio, 2007).
Além de apresentar a construção moral dos indivíduos durante o pe-
ríodo da infância, o autor identificou duas formas de moralidade diferentes
que repercutem na vida moral adulta. O primeiro desses dois métodos é a
moral que surge por imposição ou por limitações impostas pelos adultos,
que leva à heteronomia moral e, por consequência, muitas vezes a pessoa
passa sua vida adulta sem conseguir ser autônoma em suas decisões morais.
A segunda forma de moralidade constituiu-se no apoio, fazendo emergir a
moral autônoma (Biaggio, 2006).
Nos estudos de Lawrence Kohlberg (1984) com a Teoria dos Níveis
de Desenvolvimento Moral, o desenvolvimento moral justapõe-se parcial-
mente à de Piaget, mas se desenvolve até a adolescência e a fase adulta.
O estudo de Piaget, nos campos da cognição (Piaget, 2010; 1976)
e da moralidade (Piaget, 1994), foi importante de fundamentação para
Kohlberg na elaboração de sua teoria. Kohlberg interessou-se pelo método
de entrevista sobre histórias-estímulo de Piaget, pois, em sua compreensão,
com ele se poderia estimar estruturas cognitivas mediante as produções
verbais espontâneas dos sujeitos, melhor dizer, perante entrevista. O méto-
do de Piaget, depois de sistematizado ao longo dos anos, ficaria conhecido
como método clínico piagetiano.
Kohlberg (1992), em seu doutoramento, acompanhou longitudinal-
mente uma amostra de 72 meninos brancos de classe média moradores da
cidade de Chicago e com idade entre 10, 13 e 16 anos, idades posteriores
às das crianças que colaboraram nos estudos do livro de 1932 de Piaget
(1994). Sua metodologia envolveu entrevistas e também teve somente o
juízo moral como objeto de estudo, porém, diferente de Piaget, utilizou
dilemas morais. A pesquisa apresentou a definição dos estágios de desen-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
221
volvimento moral que deu início a sua teoria e que seria validada, em es-
tudos posteriores.
O desenvolvimento moral de um sujeito, para a investigação do
Kohlberg (1992), analisa a qualidade do raciocínio simbolizado pelo juízo
que esse sujeito emitia diante dos dilemas morais que era confrontado na
entrevista. Como evidenciou, esses raciocínios se distribuem hierarquica-
mente de acordo com sua qualidade moral, como as tendências, na com-
preensão de Piaget, de heteronomia à autonomia.
Todavia, ainda que concorde com Piaget (1994), Kohlberg (1992)
considerou os conceitos de heteronomia e autonomia escassos para catego-
rizar os tipos de raciocínio moral dos adolescentes. Para ele, o percurso do
desenvolvimento moral é mais amplo e complexo, expondo-se, da mesma
maneira que o modelo de desenvolvimento cognitivo piagetiano (Piaget
2010; 1976), por meio da evolução em estágios. Desta maneira, enquanto
Piaget preparou somente tendências morais na averiguação com crianças,
Kohlberg (1992) as investigou de modo a estabelecer estágios de desen-
volvimento que vão à idade adulta, segundo os raciocínios expostos para a
resolver os dilemas morais em suas entrevistas.
Estudiosos que se aprofundaram na Teoria dos Níveis de
Desenvolvimento Moral demonstraram que os estágios representam ma-
neiras de pensar moralmente; desta forma, qualquer pessoa pode ser obser-
vada em qualquer um dos níveis determinados, por meio de suas soluções
e de suas justificativas. Os desfechos das pesquisas permitiram a Kohlberg
observar que, apesar de possíveis diferenças quanto à idade em que os in-
divíduos alcançam cada estágio, há um desenvolvimento universal de es-
tágios. Quanto à situação de raciocínio moral, não se nota diferenças de
cultura para cultura ou entre diferentes religiões e crenças (Biaggio, 2006).
O presente estudo se justifica pelo fato de educar em valores não
significa que os professores podem escolher atitudes aquelas a serem segui-
das pelos alunos. A competência moral compreendida como a capacidade
de julgar e tomar decisões segundo princípios internos é uma habilidade,
mais do que uma simples atitude, que pode e deve ser construída ao longo
da vida. Assim, a educação, formação moral deve ser entendida como um
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
222
processo que conduz o sujeito à reflexão sobre situações cotidianas, envol-
vendo dilemas morais (Gontijo, 2021).
E se a temática está presente nas diretrizes curriculares de ambos os
cursos, por que ao término de suas formações, os níveis de competência
moral, decaem? E quais os desafios que as instituições apresentam na apli-
cação de uma disciplina ou atividades no currículo, que possam aumentar
os níveis de competência moral no decorrer das séries e a preparação deste
profissional para o mercado de trabalho?
Como a pergunta de pesquisa deste estudo emergiu: Como a com-
petência moral está sendo aplicada na formação de graduação do médico e
do enfermeiro e quais os desafios e proposições para sua operacionalização
curricular, considerando as DCN?
2 objetivos
2.1 geRal
Compreender como a competência moral está sendo aplicada nos
currículos dos estudantes de Medicina e Enfermagem.
2.2 esPecíficos
Compreender quais as estratégias e/ou atividades docentes apli-
cadas nos currículos de formação profissional da área da Saúde
em relação à competência moral;
Identificar os desafios de se inserir e operacionalizar a competên-
cia moral como parte da grade curricular;
Identificar o nível de competência moral que estudantes de
Medicina e Enfermagem apresentam ao final de sua vida acadê-
mica e na vida profissional no mercado de trabalho.
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
223
3 método
A revisão de literatura na modalidade integrativa é um método de
estudo que tem como base a construção de uma análise ampla da literatura,
a fim de obter um melhor entendimento a respeito de um determinado
assunto de relevância clínica de uma particular área de estudo, baseando-
se em publicações anteriores. Desse modo, esse tipo de estudo permite a
formação de um corpo de conhecimento a partir da síntese do conteúdo já
produzido, fornecendo subsídios para a melhoria da assistência à saúde, além
de apontar lacunas de conhecimento que precisam ser complementadas
para a realização de novos estudos (Mendes; Silveira; Galvão, 2008).
Para a elaboração de uma revisão integrativa é preciso seguir seis
etapas, sendo elas: a identificação do tema e formulação da pergunta de
pesquisa, estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão, definição
das informações a serem extraídas dos estudos selecionados, avaliação dos
estudos incluídos, interpretação dos resultados e apresentação da síntese do
conhecimento (Ercole; Melo; Alcoforado, 2014).
A estratégia de busca foi realizada nas bases de dados Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde LILACS, , à Índice
Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud IBECS, Biblioteca Virtual en
Salud Enfermería | Enfermagem BDENF, à Biblioteca Virtual de Psicologia
INDEX DE PSICOLOGIA, SCIELO, National Library of Medicine
MEDLINE, WEB OF SCIENCE, SCOPUS, com os seguintes descri-
tores ((mh:(“Desenvolvimento Moral”)) OR (“DESENVOLVIMENTO
MORAL” OR “COMPETENCIA MORAL”)) AND ((mh:(“Pessoal de
Saúde” OR “MEDICOS” OR “ENFERMEIRO”)) OR ((PESSOAL AND
SAUDE) OR MEDICO* OR ENFERMEIR* OR ENFERMAGEM));
((mh:(“Desenvolvimento Moral”)) OR (“DESENVOLVIMENTO
MORAL” OR “COMPETENCIA MORAL”)) AND ((mh:(“Pessoal de
Saúde” OR “MEDICOS” OR “ENFERMEIRO”)) OR ((PESSOAL AND
SAUDE) OR MEDICO* OR ENFERMEIR* OR ENFERMAGEM)).
Foram utilizados como filtros, o período de 2013 a 2023 e como idiomas
o Português, Espanhol e Inglês. Como critério de inclusão, selecionou-se
artigos que respondessem à pergunta de pesquisa: “Como a competên-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
224
cia moral está sendo aplicada na formação de graduação do médico e do
enfermeiro e quais os desafios e proposições para sua operacionalização
curricular, considerando as DCN?”
Como critério de exclusão não foram selecionados teses, protocolos,
manuais e revisão de literatura. Também foram excluídas as publicações
que não responderam à pergunta de pesquisa. Na busca, apresentou-se as
seguintes citações nas bases de dados LILACS 120, IBECS 56, INDEX DE
PSICOLOGIA 04, SCIELO 82, MEDLINE 58, WEB OF SCIENCE 83
e SCOPUS 87.
Apresenta-se a seguir a estratégia de busca dos artigos selecionados,
segundo a Figura 1.
Figura 1 - Fluxo da informação com as diferentes fases de uma revisão
sistemática. (PRISMA) – GALVÃO; PANSANI (2015).
Identificação de estudos através de bases de dados e registros.
Descritores utilizados: Empatia e Profissionais da saúde e suas combinações em
português, espanhol e inglês.
Seleção
Registros identificados a partir
de base de dados:
Registros duplicados removidos:
Bde nf: (n=3) Bde
nf (n=56) Ibec s: (n=5) Ibec
s (n=18) Lila cs: (n=30) Lila
cs (n=120) Med line: (n=22) Med
line (n=58) Inde x Psicologia(n=04) Inde
Triagem
Artigos Selecionados
(n =44)
Artigos excluídos por se tratarem
de revisão sistemática
(n =10 )
Artigos avaliados pelo título e
resumo para elegibilidade
(n =35 )
Artigos excluídos por não se
relacionarem com a pergunta de
pesquisa (n =352)
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
225
Inclusão
Estudos avaliados para
elegibilidade.
(n =33 )
Estudos excluídos:
Baixa qualidade metodológica ou
alto risco de viés(n =8 )
Não relatam os resultados
relevantes para a pergunta de
pesquisa (n =100 )
Não investigam a intervenção ou
exposição de interesse (n =10)
Estudos incluídos na revisão
integrativa
(n =26)
Fonte: Page et al., 2021
4 Resultados
Selecionou-se a partir da pergunta de pesquisa e os objetivos deste
estudo 26 artigos. Dentre eles quanto à metodologia em (32%) n.8 preva-
lece a metodologia qualitativa. Em relação à categoria profissional que mais
prevalece dentre as publicações é a de enfermagem (60%) n.15, seguida de
(20%) n.5 de profissionais médicos, (12%) n.3 de educadores, (8%) n. 2
de odontólogos e (1%) n.1 de bioquímico. Quanto ao ano de publicação
em 2018 com (20%)n.5, 2017 com (20%) n.5, em 2022 com (16%) n4
e 2020 com (16%) n4, em 2013 com (12%) n3 em 2021 com (8%) n.2 e
2019, 2016 e 2004 com 1% n1 em cada ano. Em relação a revistas, com
40% n.10 os artigos foram publicados em revistas de Enfermagem, com
(25%) n.6 em revistas de Bioética, com (12%) n.3 em revistas Médicas,
com (8%) n.2 em revistas de Ciências da Saúde, cuidados em saúde e saú-
de pública e 1% n.1 em revista de Odontologia.
Foram selecionados 26 artigos e apresentamos a seguir um quadro
caracterizando-os, quanto a autoria e ano de publicação, título e revista,
amostra, objetivos e principais resultados.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
226
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Conclui-se que a enfermagem,
por natureza, a ciência do cuidar,
julgamos de extrema importância
investir na ética do cuidar,
direcionada para o respeito e
responsabilidade para com o outro.
Seja na análise de dilemas éticos
hipotéticos em contexto de sala de
aula ou na prática clínica com o
contacto com dilemas éticos reais, é
importante assegurar a construção
de uma competência moral e
profissional de excelência no futuro
profissional de enfermagem.
Detectaram-se escores de
competência moral baixos em todos
os períodos avaliados, com declínio
ou estagnação no decorrer do curso
e “fenômeno de segmentação
do teste, e não se identificou
correlação relevante das variáveis
sociodemográficas e acadêmicas.
Constatou-se que escores dos
períodos iniciais inferiores aos
descritos na literatura prévia podem
sugerir tendência geracional.
Objetivos
Apresentar uma reflexão
sobre o ensino da bioética
e a sua relação com o
desenvolvimento da
competência moral dos
estudantes de enfermagem,
assim como sugerir algumas
estratégias no ensino da
Bioética que potenciem a
formação de enfermeiros cada
vez mais competentes.
compara diferentes momentos
do curso, identificando
aspectos sociodemográficos
e acadêmicos relacionados a
essa competência e discutindo
a ferramenta de avaliação.
Amostra
Artigo de Reflexão
139 alunos do
primeiro período
(calouros), do quinto
período e do sexto
(último) ano.
Foram excluídos
indivíduos com idade
inferior a 18 anos.
Título/Rev
Educar para a bioética:
desafio em enfermagem
/ Educating for
bioethics: a challenge in
nursing /. Rev. bioét.
(Impr.) ; 30(3): 498-
504, jul.-set. 2022.
Competência moral e
formação médica na
contemporaneidade:
estudo brasileiro /
Moral competence and
medical education in
contemporary times: a
Brazilian study.
LILACS | ID:
biblio-1407265
Autoria/Ano
MARTINS, V; SANTOS,
C; DUARTE, I../2022
Docente de Enfermagem
CASTRO, M R; PEREIRA,
A. A; BATAGLIA, P U R
Rev. bioét. (Impr.) ; 30(3):
575-588, jul.-set. 2022.
tab, graf
Artigo em Português |
Universidade do Porto,
Faculdade de Medicina,
Porto, Portugal.
Artigo
1
2
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
227
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
A sensibilidade moral, pelo seu
caráter multidimensional, capacita
e habilita os enfermeiros para o
reconhecimento e enfrentamento
dos problemas éticos na prática
clínica e contribui para a tomada
de decisão justa e prudente, o
que repercutirá na qualificação da
assistência de enfermagem.
Objetivos
conhecer os principais
problemas éticos e como
estes são relacionados com
a sensibilidade moral em
enfermeiros atuantes em uma
Unidade de Clínica Médica.
Amostra
18 enfermeiros
atuantes em uma
unidade de clínica
médica,
pesquisa qualitativa,
do tipo exploratório-
descritiva,
desenvolvida em um
hospital universitário
do sul do Brasil,
Título/Rev
e ethical dimension
of problems faced
in general medicine:
relationship with
moral sensitivity /
Dimensão ética dos
problemas enfrentados
em ambientes de clínica
médica: relações com a
sensibilidade moral
Autoria/Ano
YASIN, J C M; BARLEM,
E L D; BARLEM, J
GT; SILVEIRA, R S
; DALMOLIN, G L;
ANDRADE, G B de. Rev.
latinoam. enferm. (Online)
; 28: e3309, 2020. graf
Artigo em Inglês | LILACS,
BDENF - Enfermagem |
ID: biblio-1126963
Artigo extraído da
dissertação de mestrado
“Sensibilidade moral de
enfermeiros de unidade
de internação clínica do
adulto”, apresentada à
Universidade Federal do Rio
Grande, Rio Grande, RS,
Brasil. Apoio Financeiro
do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq),
Processo 401582/2016-7,
Brasil.
Artigo
3
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
228
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Na prática profissional, a
Sensibilidade moral é parte
integrante do processo de tomada
de decisão ética nos serviços,
sendo essencial para o cuidado de
qualidade.
Objetivos
Compreender a prática
profissional do enfermeiro
e suas influências para
o desenvolvimento da
sensibilidade moral
Amostra
Participaram 14
enfermeiros/
Estudo qualitativo,
descritivo, realizado
entre novembro de
2015 e fevereiro de
2016, em unidades de
internação da clínica
médica, de dois
hospitais de grande
porte, localizados
em Belo Horizonte,
Minas Gerais.
Título/Rev
Professional practice of
nurses and influences
on moral sensitivity
/ Práctica profesional
del enfermero e
influencias sobre la
sensibilidad moral /
Prática profissional do
enfermeiro e influências
sobre a sensibilidade
moral
Autoria/Ano
MOREIRA, D A;
FERRAZ, C ML C;
COSTA, IP; AMARAL,
J M; LIMA, TT; BRITO,
M J M.
Rev. gaúch. enferm ; 41:
e20190080, 2020.
Artigo em Inglês | LILACS,
BDENF - Enfermagem |
ID: biblio-1101676
Escola Técnica Sandoval
Soares de Azevedo. Ibirité,
Minas Gerais, Brasil. b
Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG),
Escola de Enfermagem. Belo
Horizonte, Minas Gerais,
Brasil.
Artigo
4
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
229
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
A ética implica em reciprocidade,
em correspondência mútua. Assim,
se queremos que nossos alunos se
dediquem, devemos nos dedicar.
E se queremos que os docentes da
instituição da qual fazemos parte
se comprometam, devemos nos
esforçar para que a instituição com
todos se comprometa.
Objetivos
A análise se centra na ideia
hegemônica daética que
conforma certosentido para a
expressão “ética na formação”,
em contraposição ao que se
poderia denominar de uma
dimensão ética da educação”.
Amostra
Estudo reflexão
Título/Rev
Formação x educação,
Deontologia x ética:
repensando conceitos,
reposicionando
docentes / Training x
education, Deontology
x ethics: rethinking
concepts and
repositioning professors
Autoria/Ano
FINKLER, M;
NEGREIROS, D Pde.
Rev. ABENO ; 18(2): 37-
44, maio 2018.
Artigo em Português
| LILACS, BBO -
Odontologia | ID:
biblio-908569
PhD in Dentistry,
Department of
Dentistry, Graduate
Programs in Dentistry
and CollectiveHealth,
UFSC**Psychiatrist, MSc,
UFSC
Doutora em Odontologia,
Departamento de
Odontologia e Programas
de Pós-Graduação em
Odontologia e em Saúde
Coletiva da UFSC**Médico
psiquiatra, Mestre em
Ciências Médicas, UFSC
Artigo
5
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
230
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
espera-se que as definições de três
competências do âmbito moral
da enfermagem, contribuam a
propostas transversais que consigam
fomentar os valores e princípios da
profissão. Se espera que as definições
de três competências do âmbito
moral da enfermagem, contribuam
para propostas transversais que
consigam fomentar os valores e
princípios da profissão
Objetivos
apresentar uma análise do
êthos de enfermagem em base
aos fundamentos disciplinares
desta, a fim de propor uma
definição de competências
éticas para a formação em
enfermagem
Amostra
Reflexão teórica,
fundamentada
em uma revisão
de literatura da
especialidade, tanto
de enfermagem como
da ética
Título/Rev
Ethical competences
for the development
of nursing care /
Competências éticas
para o desenvolvimento
do cuidado em
enfermagem /
Competencias éticas
para el desarrollo del
cuidado en enfermería
Autoria/Ano
BRATZ, J K A;
SANDOVAL-RAMIREZ,
M.
Rev. bras. enferm ;
71(supl.4): 1810-1814,
2018.
Artigo em Inglês | LILACS,
BDENF - Enfermagem |
ID: biblio-958809
Fundaciòn Vidya, Center
for Interdisciplinary Studies.
Viña del Mar, Chile. II
Universidad Viña del Mar,
School of Health Sciences.
Viña del Mar, Chile.
Artigo
6
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
231
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Construíram-se três categorias:
Metodologias ativas como
estratégias ao desenvolvimento da
competência moral; Conhecimento
e o desenvolvimento do raciocínio
clínico como espaços motivadores da
competência moral; Atitude docente
como estratégia para o diálogo, a
empatia, o resgate de valores morais
e o desenvolvimento de habilidades
para o cuidar. A utilização de
estratégias e espaços para desenvolver
ações pedagógicas favorece a busca
do conhecimento, o raciocínio
clínico e a abordagem de aspectos
éticos e morais que colaboram para
o desenvolvimento da competência
moral dos estudantes de graduação
em Enfermagem
Objetivos
Identificar estratégias e
espaços utilizados por
docentes para promover
o desenvolvimento da
competência moral dos
estudantes de graduação em
Enfermagem.
Amostra
20 docentes de
enfermagem/
Pesquisa qualitativa,
desenvolvida com
20 docentes de
enfermagem,
Título/Rev
Teaching strategies:
promoting the
development of
moral competence
in undergraduate
students / Estratégias
docentes: promovendo
o desenvolvimento da
competência moral em
estudantes
Autoria/Ano
ENDERLE, C F;
SILVEIRA, RS;
DALMOLIN, G L;
LUNARDI, V L; AVILA, L
I; DOMINGUEZ, C C.
Rev. bras. enferm ;
71(supl.4): 1650-1656,
2018. tab
Artigo em Inglês | LILACS,
BDENF - Enfermagem |
ID: biblio-958802
Docente de Enfermagem
Universidade Federal de
Rio Grande. Rio Grande-
RS, Brasil. II Universidade
Federal de Santa Maria.
Santa Maria-RS, Brasil.
Artigo
7
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
232
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Acredita-se que a formação
acadêmica em enfermagem dedicada
à construção moral pode auxiliar na
constituição de um enfermeiro capaz
de cuidar de maneira humanizada.
Objetivos
Refletir sobre como a
construção moral do
estudante de graduação em
enfermagem pode fomentar a
humanização do cuidado
Amostra
Trata-se de uma
reflexão teórica
pautada em duas
diferentes correntes:
piagetina e a
kohebergina.
Título/Rev
Construção moral do
estudante de graduação
em Enfermagem
como fomento da
humanização do
cuidado / Desarrollo
moral del estudiantes
de postgrado en
Enfermería como
insentivo para
humanización de
la atención / Moral
construction of
undergraduate Nursing
students to promote
care humanization
Autoria/Ano
AVILA, L I; SILVEIRA,
RS ; FIGUEIREDO,
P P ; MANCIA, J R;
GONÇALVES, N G C;
BARLEM, J GT. Texto &
contexto enferm ; 27(3):
e4790015, 2018.
Artigo em Português
| LILACS, BDENF
- Enfermagem | ID:
biblio-962943
Docente de Enfermagem
Artigo
8
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
233
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
o estudo possibilitou compreender
que o pensamento crítico e o
pensamento ético/moral possibilitam
um agir competente, evidenciando a
necessidade de repensar os currículos
dos cursos de graduação em
enfermagem de modo a implementar
metodologias e estratégias ativas,
inovadoras e criativas de ensino,
a partir de um compromisso
assumido pelos docentes que, além
de estimular os discentes a refletir
crítica e moralmente, deverão
também incentivá-los a se sentirem
copartícipes do processo de ensinar
e aprender.
Objetivos
Refletir sobre a moral e o
pensamento crítico enquanto
competências a serem
desenvolvidas durante a
formação do enfermeiro
Amostra
Discute-se quatro
categorias temáticas
previamente
estabelecidas: a
ética e a moral
ou moralidade; o
desenvolvimento
moral, na perspectiva
de Kohlberg; uma
aproximação ao
pensamento crítico;
e a moralidade e o
pensamento crítico
competências a
serem desenvolvidas
durante a formação
do enfermeiro
Título/Rev
A moral e o
pensamento crítico:
competências
essenciais à formação
do enfermeiro /
Morality and critical
thinking: essential
competences in nurses
training / La moral y
el pensamiento crítico:
habilidades esenciales
a la formación del
enfermero
Autoria/Ano
DIAS, J A A; DAVID, H M
S L; RODRIGUES, B M
R DEUSDARÁ; PERES,
P L P; PACHECO, ST A;
OLIVEIRA, M S .
Rev. enferm. UERJ ; 25:
[e26391], jan.-dez. 2017.
Artigo em Português
| LILACS, BDENF
- Enfermagem | ID:
biblio-947758
Enfermeira. Doutoranda,
Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. Professora
Assistente. Universidade
Estadual do Sudoeste
da Bahia. Brasil. E-mail:
joanauesb@gmail.com
Artigo
9
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
234
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Os médicos estudados apresentaram
uma ampla gama de IC que foi
positivamente afetada pelas pós-
graduações realizadas. Os anos de
exercício profissional influenciaram
negativamente. Expandindo o
treinamento as oportunidades
durante a prática profissional
poderiam ter um efeito positivo no
MC medido pelo IC. conclusões O
IC dos médicos de dois hospitais,
segundo o teste de Lind CM, é num
valor médio, com amplitude ampla,
que parece ser afetado positivamente
pela pós-graduação e negativamente
pelos anos de prática profissional,
expandir oportunidades a troca e
o treinamento durante a prática
profissional poderiam ter um efeito
positivo na CM medida pelo IC.
Objetivos
Explorar e comparar o grau
de MC dos médicos no Chile;
identificar os fatores que
podem explicar as diferenças
e comparar os resultados
com aqueles publicados na
literatura que indicam IC em
torno de 20 para adultos..
Amostra
236 médicos de dois
centros médicos
que participaram
voluntariamente do
estudo. Além do
teste, os participantes
preencheram
um formulário
criptografado com
informações sobre
gênero, anos de
prática e pós-
graduação.
Título/Rev
Índice C en médicos
de dos centros
hospitalarios chilenos
según el test de
competencia moral de
Lind / Assessment of
moral competence of
physicians
Autoria/Ano
AGURTO, M; TELLO,
D; E, A; LARREA, R;
MINAEFF, T; MIRANDA,
A; PARODI, E; SALAS,
J M; VUKUSICH, A;
LLANOS, S; DAZA, P;
LÓPEZ, S.
Rev. méd. Chile ; 145(9):
1122-1128, set. 2017. tab,
graf
Artigo em Espanhol
| LILACS | ID:
biblio-902596
comité deontológico, clínica
dávila. santiago, chile.
educación, departamento
de Metodología de
investigación e informática
educacional, Facultad de
educación, universidad de
concepción. concepción,
chile.
Artigo
10
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
235
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Os enfermeiros apresentaram
uma média de sensibilidade moral
de 4,5 (de 7). As dimensões
com maior sensibilidade moral
foram: orientação interpessoal,
conhecimento do profissional,
conflito moral e significado moral.
Os enfermeiros do Rio Grande
do Sul apresentam uma moderada
sensibilidade moral, podendo isso
contribuir para a realização de uma
assistência de menor qualidade na
Atenção Primária à Saúde.
Objetivos
Caracterizar o perfil e
descrever a sensibilidade
moral dos enfermeiros da
Atenção Primária à Saúde.
Amostra
Participaram 100
enfermeiros da
Atenção Primária à
Saúde do Rio Grande
do Sul, Brasil./
estudo quantitativo,
transversal,
exploratório
descritivo.
Título/Rev
Moral sensitivity in
Primary Health Care
nurses / Sensibilidad
moral de enfermeros de
la Atención Primaria a
la Salud / Sensibilidade
moral de enfermeiros
da Atenção Primária à
Saúde
Autoria/Ano
NORA, C R DALLA; Z,
ELMA LCP; VIEIRA, M
M.
Rev. bras. enferm ; 70(2):
308-316, Mar.-Apr. 2017.
tab, graf
Artigo em Inglês | LILACS,
BDENF - Enfermagem |
ID: biblio-843651
Universidade Católica
Portuguesa, Instituto de
Ciências da Saúde, Porto,
Portugal. II Universidade
de São Paulo, Escola de
Enfermagem, Departamento
de Enfermagem Em Saúde
Coletiva. São Paulo-SP,
Brasil.
Artigo
11
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
236
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Verificou-se que os conteúdos
sobre Segurança do Paciente
são desenvolvidos no curso de
graduação, referentes a oito tópicos
citados no guia. Observou-se a
falta de conteúdos relacionados
aos tópicos “O que é a Segurança
do Paciente”, “Por que empregar
fatores humanos é importante
para a Segurança do Paciente” e
Aprender com os erros para evitar
danos”. Foi identificada a utilização
de diversas metodologias de ensino
e estratégias de avaliação, tanto
tradicionais quanto inovadoras.
Faz-se necessária a revisão do
projeto pedagógico do curso para
alinhar conteúdos, metodologias de
ensino e estratégias de avaliação e
favorecer o desenvolvimento pleno
dessa temática, tanto no curso de
graduação em Enfermagem quanto
nos demais cursos da área da Saúde.
Objetivos
Identificar os conteúdos
relacionados à Segurança
do Paciente contemplados
nas unidades curriculares
de um curso de graduação
em Enfermagem, segundo
docentes que nele atuam e
conhecer as metodologias de
ensino e avaliação utilizadas
Amostra
Realizado com 15
docentes do curso
de graduação em
Enfermagem de uma
instituição pública
brasileira, em 2014/
estudo de caso
descritivo,
Título/Rev
Ethics in nursing
education according to
the graduating nursing
la Brazilian public
institution / A ética na
formação do enfermeiro
segundo graduandos
de enfermagem de uma
instituição pública
brasileira
Autoria/Ano
RANUZI, C; ALMEIDA,
D V; CONTIM, D.
Mundo saúde (Impr.) ;
41(1): 116-121, Feb. 2017.
Artigo em Espanhol
| LILACS | ID:
biblio-907845
Universidade Federal de
São Paulo. São Paulo, São
Paulo, Brasil. II Centro
Universitário São Camilo.
São Paulo, São Paulo, Brasil.
Artigo
12
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
237
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Observou-se aumento do número
de oferta de disciplinas autônomas
de bioética nos cursos médicos e
que os temas mais abordados pelas
disciplinas são introdução à bioética
e princípios da bioética, relação
médico-paciente, aborto e eutanásia
Objetivos
é identificar se a disciplina de
bioética encontra-se na matriz
curricular, como é ministrada
e quais são os conteúdos
trabalhados nos cursos de
medicina do Brasil.
Amostra
Os dados foram
obtidos por pesquisa
de campo qualitativo-
descritiva, com dados
disponibilizados
nos sites oficiais
do Ministério da
Educação (MEC), da
Associação Brasileira
de Educação Médica
(Abem), das escolas
médicas do Brasil e
das Instituições de
ensino superior (IES)
que tinham cursos
de graduação em
medicina no Brasil
com conceitos 4 e 5
no Enade.
Título/Rev
Ensino de bioética nas
faculdades de medicina
no Brasil / e teaching
of bioethics in medical
schools in Brazil / La
enseñanza de la bioética
en las escuelas de
medicina en Brasil
Autoria/Ano
NEVES JÚNIOR, Wr A ;
ARAÚJO, L Z S ; REGO,
S.
Rev. bioét. (Impr.) ; 24(1):
98-107, jan.-abr. 2016. tab
Artigo em Português |
LILACS | ID: lil-781564
Doutorando
waldemarneves@hotmail.
com – Universidade Federal
de Alagoas (Ufal), Maceió/
AL. 2. Doutora laiszau@
uol.com.br – Universidade
de Ciências da Saúde de
Alagoas (Uncisal), Maceió/
AL, Brasil. 3. Doutor
starego@gmail.com – Escola
Nacional de Saúde Pública
Sérgio Arouca (Fiocruz), Rio
de Janeiro/RJ, Brasil.
Artigo
13
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
238
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Os resultados aqui discutidos
apontam diferentes concepções de
ética no ambiente acadêmico com
o predomínio do entendimento
deontológico, cujas consequências
no manejo dos conflitos éticos
cotidianos demandam atenção. O
embasamento no senso comum
e a ausência de intencionalidade
do corpo docente com relação
à formação ética dos estudantes
indicam como imperativa a
necessidade de se conhecer os valores
que vivenciam, de se entender
como ocorre o desenvolvimento
moral e de se aproximar de
um referencial bioético para
fundamentar e instrumentalizar o
fazer ético-pedagógico. Conclui-se
ser fundamental que individual
e coletivamente se assuma a
responsabilidade docente quanto
à dimensão ética da formação
profissional, para que esta seja
também uma possibilidade integral
do ser humano
Objetivos
Analisou a dimensão ética da
formação de profissionais de
saúde, mais especificamente
de Odontologia
Amostra
Foram realizadas
entrevistas com
docentes, observações
de atividades
acadêmicas e grupos
focais com alunos
de dois cursos de
graduação.
Título/Rev
Ética e valores na
formação profissional
em saúde: um estudo
de caso / Ethics and
values in professional
training in health: a
case study
Autoria/Ano
FINKLER, M; CAETANO,
J C; RAMOS, F RS.
Ciênc. Saúde Colet. (Impr.)
; 18(10): 3033-3042, Out.
2013. tab
Artigo em Português |
LILACS | ID: lil-686805
Programa de PósGraduação
em Odontologia,
Universidade Federal de
Santa Catarina. Campus
Universitário, Trindade.
88.040-970 - Florianópolis
SC. mirellefinkler@
yahoo.com.br 2 Programa
de PósGraduação em
Enfermagem, Universidade
Federal de Santa Catarina.
Artigo
14
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
239
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Em conclusão, é discutida a
importância da arbitragem política,
social e jurídica na codificação ética
desses dilemas e o papel do Estado
Democrático de Direito nessa
arbitragem.
Objetivos
Discute-se a emergência
de dilemas morais nas
práticas de saúde, tendo em
vista a acelerada transição
demográfica nos países
em desenvolvimento e os
crescentes custos dos sistemas
públicos de saúde
Amostra
Comentário
Título/Rev
Dilemas morais e
práticas de saúde
/ Moral dilemmas
and health practices
/ Dilemas morales y
practicas de salud
Autoria/Ano
GUIMARAES, R.
Rev. saúde pública ; 47(2):
425-429, jun. 2013.
Artigo em Português |
LILACS | ID: lil-685570
College of Law. e
Washington declaration
on intellectual property
and the public interest.
Washington (DC); 2011
[citado 2012 out 15].
Associação Brasileira das
Indústrias de Química
Fina, Biotecnologia e suas
Especialidades (Abifi na).
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Artigo
15
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
240
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Conclui-se que é preciso que a
prudência destes, esteja amparada
tanto no caráter ético pessoal,
quanto na análise dos casos éticos
em consonância com o modo
natural de agir da razão humana
A positiva entre a formação
da identidade profissional e o
desenvolvimento da moralidade
em estudantes de enfermagem
indica que, ao fortalecer os valores
profissionais dos estudantes, suas
competências morais podem
positivamente
Objetivos
Analisou-se a interioridade
mútua que existe em toda
ação humana entre sua
dimensão ética e técnica
e mais especificamente na
prática da saúde
investigar a relação entre
as competências morais e
a formação da identidade
profissional
entre estudantes de
enfermagem.
Amostra
Estudo Reflexivo
estudo descritivo-
correlacional
Título/Rev
Carácter ético y
prudencia: analisis del
acto humano en las
decisiones clínico-éticas
/ Ethical character
and prudence: analysis
of the human act in
clinical-ethical decisions
Is there a relationship
between moral compe-
tencies and the for-
mation of professional
identity among nursing
students?
Autoria/Ano
PASTOR, L M
Cuad. bioét;30(99): 149-
156, mayo-ago. 2019.
Departamento de Biología
Celular e Histología.
Facultad de Medicina,
IMIB-Arrixaca, Regional
Campus of International
Excellence Campus Mare
Nostrum, Universidad de
Murcia, Murcia, Spain.
bioetica@um.es
HAGHIGHAT, S
B, FARIBA RANJBAR,
H .Haghighat et al. BMC
Nursing (2020) 19:49
Web of Science
Mental Health Research
Center, Psychosocial Health
Research Institute, Iran
University of Medical
Science, Shahid Mansouri
st, Niyayesh St, Sattarkhan
Ave, Tehran 1445613111,
Iran Full list of author
information is available at
the end of the article
Artigo
16
17
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
241
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
A atitude em relação à privacidade
no SRS e o desenvolvimento moral
dos estudantes de enfermagem
precisam ser promovidos do
nível convencional para o pós-
convencional.
Tais conceitos se modificaram ao
longo da história, sendo necessário
conhecê-los, fazer uma reflexão
crítica sobre a finitude humana e
repensar as condutas nesse processo.
Objetivos
Comparar atitudes em
relação à privacidade em
sites de redes sociais (SRSs) e
desenvolvimento moral entre
graduandos de enfermagem e
publicitários
Objetivou-se refletir sobre a
prática assistencial do cuidado
ao paciente com doença
terminal sob a ótica da ética
e da moral
Amostra
Estudo transversal
realizado com
324 estudantes
de enfermagem
e 209 estudantes
de publicidade
selecionados
pelo método de
amostragem por
conveniência em
duas universidades da
Coreia do Sul.
Trata-se de estudo
teórico-reflexivo
Título/Rev
Attitudes toward pri-
vacy in social network
and moral development
of nursing students
Web of Science
Cuidados terminais:
reflexão filosófica sob
a ótica da ética e da
moral //Terminal care:
philosophical reflection
from ethical and moral
perspectives
Autoria/Ano
KIM, B H
NA, GYEONG-JU
Acta Paul Enferm. 2017;
30(2):197-203
Gyeong-Ju An Cheongju
University, 289 Daesungro,
Cheongwon-gu, Cheongju,
360-764 Korea. antheresa@
cju.ac.kr, antheresa@empas.
com
NOGUEIRA, V
P; FURTADO, M
A; GUEDES, M V
CAVALCANTE; F, M
C; MOREIRA, T M Ms;
PESSOA, V L M P Esc.
Anna Nery Rev. Enferm;26:
e20220054, 2022.
Universidade Estadual do
Ceará, Programa de Pós-
Graduação em Cuidados
Clínicos em Enfermagem e
Saúde. Fortaleza, CE, Brasil.
Artigo
18
19
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
242
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
A Ética do Cuidado permitiu
o desenvolvimento de quadros
conceituais que facilitam a
compreensão do cuidado de forma
universal, conferindo-lhe um
estatuto fundamental para a vida
em sociedade. Recuperar as virtudes
éticas para o cuidado no justo
equilíbrio com o dever, contribui
para que a enfermagem reavalie
o emocional na relação de ajuda
que estabelece com os doentes e as
comunidades.
Objetivos
Descrever a contribuição
da Ética do cuidado para o
profissional de enfermagem
Amostra
Reflexão teórica
que visa ampliar a
compreensão do
cuidado a partir
dos referenciais
conceituais e
epistemológicos
desenvolvidos pelos
autores revisados.
Título/Rev
Ética del cuidado y
cuidado de enfermería
/ Ética do cuidado e
cuidado de enfermagem
/ Ethics of Care and
Nursing Care
Autoria/Ano
YÁÑEZ FLORES, K; RI-
VAS RIVEROS, E; CAM-
PILLAY ,M
Enfermeria (Montev.);10(1):
3-17, jun. 2021.
Universidad de La Frontera.
Chile. Universidad de
Atacama. Chile
Artigo
20
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
243
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Observou-se o fenômeno da
segmentação moral, com melhor
desempenho no dilema do
trabalhador e do juiz, do que
no dilema do médico. Esses
resultados apontam para a
necessidade de refletir sobre as
estratégias curriculares que podem
ser implementadas para que os
profissionais de saúde melhor
desenvolvam a competência moral
e a tomada de decisão, permitindo
a prestação de cuidados de saúde
humanizados.
Objetivos
Este estudo foi desenvolvido
para determinar a influência
do ensino de bioética na
competência moral de
estudantes de medicina e
enfermagem
Amostra
Estudo longitudinal
utilizando o Moral
Competence Test
versão alargada antes
e depois da frequência
da unidade curricular
ética, em três escolas
de enfermagem e três
escolas de medicina
de Portugal
Título/Rev
e Teaching of
Ethics and the Moral
Competence of Medical
and Nursing Students
Autoria/Ano
MARTINS VSM, SANTOS
CMNC, BATAGLIA PUR,
DUARTE IMRF.
Health Care Anal. 2021
Jun;29(2):113-126. doi:
10.1007/s10728-020-00401-1.
Epub 2020 Sep 17.
PMID: 32944887
Centre for Research in Health
Technologies and Information
Systems (CINTESIS), University
of Porto, R. Dr. Plácido da
Costa, 4200-450 Porto, Portugal
126 Health Care Analysis (2021)
Department of Community
Medicine, Information and
Health Decision Sciences,
Faculty of Medicine, University
of Porto, Al. Prof. Hernâni
Monteiro, 4200-319 Porto,
Portugal.
Educational Psychology
Department, Faculty of
Philosophy and Science, São
Paulo State University, Av.
Hygino Muzzi Filho, 737- Bairro
Mirante, Marília, São Paulo,
Brazil
Artigo
21
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
244
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Os resultados do PIT
experimentaram um aumento da
sensibilidade moral nos alunos
do 4.º e 5.º ano seguido de uma
diminuição nos alunos do 6.º ano e
nos residentes. Nenhuma mudança
no estágio de desenvolvimento
moral foi observada. No entanto,
os resultados do DIT descrevem
uma mudança gradual e crescente
na tomada de decisões morais
em relação à eutanásia entre os
anos escolares. Não foi observada
aplicabilidade entre os experimentais
PIT e D Conclusão: A pesquisa por
aula deste estudo, que incorpora PIT
e DIT,
Objetivos
Este estudo visou 1)
Desenvolver um método
breve e objetivo de
avaliação da sensibilidade
e pensamento moral; 2)
Realizar bateria de testes do
Teste de Identificação de
Problemas (PIT) e do Teste
de Definição de Questões
(DIT) em estudantes de
medicina cursando ou
recém-formados (residentes);
3) Investigar mudanças na
sensibilidade moral e no
raciocínio entre os anos
escolares entre estudantes e
residentes de medicina
Amostra
Os sujeitos
consistiram em
559 estudantes
de medicina e
272 residentes
que se formaram
recentemente na
mesma escola de
medicina localizada
em uma área
urbana do Japão.
Aplicação de dois
questionásrios.
Título/Rev
e development of
a brief and objective
method for evaluating
moral sensitivity and
reasoning in medical
students.
Autoria/Ano
AKABAYASHI A,
SLINGSBY BT, Kai
I, NISHIMURA T,
YAMAGISHI A. BMC Med
Ethics. 2004 Jan 29;5:E1.
doi: 10.1186/1472-6939-
5-1.
PMID: 15005804
Department of Biomedical
Ethics, School of Health
Science and Nursing,
University of Tokyo
Graduate School of
Medicine, 7-3-1 Hongo,
Bunkyo-ku, Tokyo 113-
0033, Japan, 2
Artigo
22
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
245
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Os resultados suportam o
argumento de que ensinar
principialismo e aplicar um código
de ética sem contextualizá-lo coage o
aluno a se conformar sem questionar
suas crenças. Assim, a competência
ética entre as alunas de obstetrícia
pode ser descrita em termos de
cumprimento de princípios com
reflexão limitada sobre a situação
como um todo.
Objetivos
O artigo tem como objetivo
descrever a autoavaliação
da competência ética de
estudantes de obstetrícia e
contrastar os achados com o
conteúdo da instrução ética
recebida.
Amostra
Este estudo utilizou
um conjunto de
relatos de auto-
reflexão em que
as estudantes
de enfermagem
obstétrica narraram
suas experiências no
manejo de questões
éticas.
Título/Rev
Analysis of self-
evaluated ethical
competence of
midwifery students at a
selected nursing college
in the Free State.
Autoria/Ano
MPELI MR.
Curationis. 2018 Aug
29;41(1):e1-e9. doi:
10.4102/curationis.
v41i1.1925.
PMID: 30198296
School of Nursing, Faculty
of Health Sciences,
University of the Free State,
South Africa
Artigo
23
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
246
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Consideramos que o ensino da ética
poderá ter um papel crucial no
desenvolvimento da competência
moral e profissional do estudante
de enfermagem. São ferramentas
essenciais à prática clínica dos
enfermeiros a reflexão, o juízo
crítico e a tomada de decisão,
capacidades estas que poderão ser
desenvolvidas nas aulas de bioética
através da promoção da discussão
de dilemas éticos vivenciados na
prática clínica e de um ambiente de
aprendizagem onde o estudante se
sinta compreendido e estimulado
para desenvolver o seu pensamento
crítico reflexivo.
O programa Eureka, com regras de
funcionamento claras e constantes,
mentoria adequada e alunos bem
selecionados, constitui eficiente
ferramenta em nossa universidade,
contribuindo, assim, para a
formação de estudantes e médicos
mais motivados, preparados,
realizados e úteis à sociedade.
Objetivos
Este artigo pretende
apresentar uma reflexão
sobre o ensino da bioética
e a sua relação com o
desenvolvimento da
competência moral dos
estudantes de enfermagem,
assim como sugerir algumas
estratégias no ensino da
Bioética que potenciem a
formação de enfermeiros cada
vez mais competentes
São realizadas discussões
semanais sobre assuntos
práticos, morais e éticos
relacionados à profissão
médica. Os participantes
são mentorados por tempo
variável, eventualmente até
alguns anos após a graduação.
A atividade é voluntária para
mentora e mentorados.
Amostra
Reflexão sobre o
ensino da bioética e
a sua relação com o
desenvolvimento da
competência moral
dos estudantes de
enfermagem,
Relato de experiência
Título/Rev
Educar para a bioética:
desafio em enfermagem
Eureka: um programa
de mentoria de alunos
de Medicina com
engajamento e alta
adesão
Autoria/Ano
MARTINS, V ; SANTOS,
C ; DUARTE, I . Revista
Bioética Set 2022, Volume 30
Nº 3 Páginas 498 – 504
Universidade do Porto,
Faculdade de Medicina,
Porto, Portugal.
Médica. Este artigo
é baseado na tese de
doutoramento da primeira
autora, Vera Martins, cuja
realização foi orientada pela
coautora Ivone Duarte e
coorientada pela coautora
Cristina Santos.
SECCHI, L A A ; VIEIRA,
B A .
Revista Brasileira de
Educação Médica 2021,
Volume 45 Supl. 1 elocation
e123
Médica. Universidade
Federal da Grande
Dourados, Dourados, Mato
Grosso do Sul, Brasil.
Artigo
24
25
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
247
Quadro 1 - Caracterização dos artigos selecionados segundo a autoria e ano, título e revista, amostra, objetivos e principais resultados. Marília, SP, 2023.
Principais Resultados
Não houve diferença significante
entre homens e mulheres com
relação à competência de juízo
moral. A constatação de que
ocorre estagnação ou regressão da
competência de juízo moral no
transcurso da graduação médica deve
ser motivo de preocupação para os
professores e para os responsáveis
pelo planejamento curricular, no
sentido de buscar estratégias para
reverter o quadro.
Fonte: Elaborado pela autora
Objetivos
Compararam-se as turmas do
primeiro e do oitavo semestre
com relação ao escore C e
avaliou-se a influência de
fatores como idade e sexo
sobre a competência moral.
Amostra
Estudo de corte
transversal para
avaliar a competência
de juízo moral, com
a aplicação do Moral
Judgment Test (MJT)
proposto por Lind,
entre estudantes do
primeiro e do oitavo
semestre de uma
escola médica na
Região Nordeste do
Brasil
Título/Rev
Competência de juízo
moral dos estudantes de
medicina: um estudo
piloto
Autoria/Ano
FEITOSA, H N ; REGO, S
; BATAGLIA, P ; REGO, G;
NUNES, R
Revista Brasileira de Educação
Médica Mar 2013, Volume 37 Nº
1 Páginas 5 - 14
Universidade de Fortaleza,
Fortaleza, CE, Brasil;
Universidade Federal do
Ceará, Fortaleza, CE, Brasil;
de Universidade Federal do
Ceará, Fortaleza, CE, Brasil;
Universidade do Porto, Porto,
Portugal. II Fundação Oswaldo
Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
III Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho, São
Paulo, SP, Brasil. IV Universidade
do Porto, Porto, Portugal.
do Porto, Porto, Portugal.
II Fundação Oswaldo Cruz,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil. III
Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho, São
Paulo, SP, Brasil. IV Universidade
do Porto, Porto, Portugal.
Artigo
26
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
248
5 discussão
Partindo da análise dos 26 artigos selecionados, observou-se que
estes abordam sobre a preocupação das instituições superiores de ensino
que desenvolvem a formação do profissional de saúde, associado ao que é
preconizado nas diretrizes curriculares contemplando um profissional que
seja crítico- reflexivo e que possa transformar a sua prática profissional,
valorizando a integralidade do cuidado e visando as necessidades de saúde
das pessoas, família e comunidade. Com relação à formação deste estu-
dante, os estudos preconizam o desenvolvimento da competência moral
e formação médica e de enfermagem. Apresentam também que há um
desejo de compreensão dos docentes em relação à prática profissional do
enfermeiro e do médico, considerando uma avaliação por meio de testes
de competência moral e se influenciam a sensibilidade moral destes estu-
dantes na resolução de problemas na prática profissional. Como também,
se as estratégias docentes visam a promoção e desenvolvimento de ações de
competência moral nos estudantes.
Observou-se no presente estudo em relação aos resultados quantita-
tivos, quanto à metodologia destes artigos, que prevalece a qualitativa. Em
relação à categoria profissional é a de enfermagem, seguida dos médicos,
educadores e odontólogos. Quanto aos períodos de publicações que mais
prevaleceram, foram nos anos de 2018, 2017, e 2022. Em relação às revis-
tas, estes foram publicados em revistas de Enfermagem, Bioética, Médicas,
e de Ciências da Saúde.
E quanto às questões norteadoras, podemos considerar: Por que ao
término de suas formações durante a graduação, os níveis de competência
moral decaem? E quais os desafios que as instituições apresentam na apli-
cação de uma disciplina ou atividades no currículo, que possam aumentar
os níveis de competência moral no decorrer das séries e a preparação deste
profissional para o mercado de trabalho?
Vivemos numa época em que aparecem mais avanços em cuidados
de saúde, que alimentam inúmeros dilemas éticos. Associado a este fato,
apresenta-se dificuldade por parte dos discentes de enfermagem em toma-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
249
rem decisões e agirem de acordo com essas proposições. Esta capacidade,
também entendida por competência moral, deve ser pertencente ao en-
fermeiro, à vista, na formação do estudante de enfermagem, é importante
frisar a progressão das suas competências morais e profissionais (Martins;
Santos; Duarte , 2022).
As pesquisas relacionadas com este tema e com a possível associa-
ção que poderá existir entre o ensino da bioética e o desenvolvimento da
competência moral é ainda escasso. Alguns autores encontraram uma di-
minuição da competência moral em estudantes de Enfermagem (Buzgová;
Sikorová, 2013); (Martins; Santos; Bataglia; Duarte, 2020) ou mesmo
uma decadência da mesma, com a conclusão do curso (Oliveira, 2008), o
que leva a pensar sobre o que poderá ser feito no sentido de desagradar esta
tendência e propiciar o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo e
da capacidade para tomar decisões nos estudantes de Enfermagem.
A competência é como uma área de desempenho qualificado, apon-
tada é descrita pela sua intenção, função e significados (Benner, 2002). Um
estudo apresenta a forma de desenvolvimento de competências do enfer-
meiro, que compreende vários estágios que constituem e executam o desen-
volvimento de habilidades e julgamento clínico na práxis da Enfermagem
(Benner, 2002); (Benner; Tanner; Chesla, 2009). A “perícia clínica” é rea-
lizada quando os conhecimentos teóricos e práticos se associam e quando
o enfermeiro experiente tem propriedade para tomar decisões assertivas,
mesmo em situações de grande complexidade.
Os enfermeiros, devem ter um entendimento completo de como
melhor interagir com as pessoas aos quais prestam cuidados e devem ser ca-
pazes de associar a sua intuição com os seus conhecimentos teóricos e prá-
ticos para prestar cuidados de enfermagem de excelência (Benner, 2002);
(Benner; Tanner; Chesla, 2009). Portanto, de uma competência profis-
sional para a prática de Enfermagem de natureza mais técnica em que a
experiência de interatuar com os pacientes no ambiente clínico contribui
para o aumento da competência.
O conceito de competência moral estará mais relacionado com
teorias sobre o desenvolvimento do juízo moral, que é considerada uma
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
250
capacidade psicológica importante para a tomada de decisão e pode ser
entendida como a capacidade de resolver problemas e conflitos com base em
um princípio moral, por meio da deliberação e da discussão ao invés do uso de
força, poder ou violência (Lind, 2016). Nesta situação, competência moral
é a capacidade de avaliar várias situações e responder de acordo com os
princípios morais conhecidos ao longo da vida.
Há, no entanto, muitas abordagens sobre esta temática, com pes-
quisadores questionando que o indivíduo desenvolve as suas habilidades
morais e profissionais em paralelo ao longo da educação em Enfermagem
(Ranjbar et al., 2018) enquanto outros destacam a importância de de-
senvolver competências morais especiais para a profissão de Enfermagem,
como competência moral na mediação de vivências de estresse e na promo-
ção da expectativas positivas, mesmo em situações de grande adversidade
(Peter; Mohammed; Simmonds, 2015). Além do mais, a capacidade de
ensinar e supervisionar os estudantes é indicada como um dos desafios vi-
venciados pelos professores de enfermagem ao esforçar-se para melhorar a
competência moral dos enfermeiros na prática clínica (Solum et al.2016).
Outro significado de competência moral reservada à Enfermagem
concorda competência profissional com competência moral, e determina-a
como a habilidade de um enfermeiro de usar os valores profissionais de
Enfermagem, os princípios de ética e os padrões de enfermagem num am-
biente de trabalho favorável para pensar criticamente, tomar decisões éticas
ou morais e deliberar problemas na prestação de cuidados de competência
e éticos, assistindo às necessidades e satisfação dos pacientes na prática de
Enfermagem (Maluwa et al., 2019).
Visou-se conhecer os principais problemas éticos e como estes são
relacionados com a sensibilidade moral em enfermeiros atuantes em uma
Unidade de Clínica Médica. Verificou-se que os conflitos institucionais,
com o paciente e ou familiar e com a equipe foram relacionados como os
principais problemas éticos identificados pelos enfermeiros, sendo a per-
cepção e enfrentamento destes relacionados com a sensibilidade moral,
compreendendo duas categorias: vivenciando problemas éticos e relações
com a sensibilidade moral. A sensibilidade moral, pelo seu caráter mul-
tidimensional, capacita e habilita os enfermeiros para o reconhecimento
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
251
e enfrentamento dos problemas éticos na prática clínica e contribui para
a tomada de decisão justa e prudente, o que repercute na qualificação da
assistência de enfermagem (Yasin et al. 2020).
Um estudo compreendeu a prática profissional do enfermeiro e suas
influências para o desenvolvimento da sensibilidade moral. E emergiram
duas categorias: Prática profissional do enfermeiro: bens internos e exter-
nos e; Sensibilidade moral e a interface com a prática profissional de enfer-
meiros. O desenvolvimento da sensibilidade moral dos enfermeiros, sofre
influência de fatores relacionados à prática profissional, como as relações
interpessoais, a educação ética e as atividades de gestão. Na prática profis-
sional, a sensibilidade moral é parte complementar do processo de tomada
de decisão ética nos serviços, sendo importante para o cuidado de qualida-
de (Moreira et al. 2020).
Apresentou-se uma análise do êthos de Enfermagem em base aos
fundamentos disciplinares desta, a fim de propor uma definição de com-
petências éticas para a formação em Enfermagem. Sugeriu-se basear a for-
mação ética de estudantes de Enfermagem integrando competências éticas
disciplinares, bioéticas e cívicas, considerando algumas dimensões educa-
tivas que facilitem seu desenvolvimento. Os autores concluíram que as
definições de três competências do âmbito moral da Enfermagem, contri-
buam com as propostas transversais para fomentar os valores e princípios
da profissão (Bratz; Sandoval-Ramirez, 2018).
Identificou-se em um outro estudo que os professores, ao utilizarem
metodologias ativas de ensino, consideram a importância do conhecimen-
to como aliado ao desenvolvimento do pensamento clínico, diálogo e o
resgate dos valores morais, estão seguros para promover o desenvolvimento
da competência moral dos alunos. O desenvolvimento dessas estratégias
proporciona a construção de espaços que rompem com o ensino tradicio-
nal, estimulando os alunos a buscar novos conhecimentos e aprendizados,
aprofundando conteúdos apreendidos e enriquecendo a troca de saberes.
Os atos de ouvir, discutir, avaliar e dividir opiniões em busca do consen-
so, como enfatizado pelos docentes, permitem ao aluno desenvolver uma
conduta ética necessária para orientar suas ações e tomar decisões (Enderle
et al. 2018).
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
252
A caracterização do perfil e da sensibilidade moral dos enfermeiros
da Atenção Primária à Saúde, em um estudo, apresentaram uma média de
sensibilidade moral de 4,5 (de 7). As dimensões com maior sensibilidade
moral foram: orientação interpessoal, conhecimento do profissional, con-
flito moral e significado moral. Os enfermeiros do Rio Grande do Sul apre-
sentam uma moderada sensibilidade moral, podendo isso contribuir para
a realização de uma assistência de menor qualidade na Atenção Primária à
Saúde (Nora; Zoboli; Vieira, 2017).
Identificou-se os conteúdos relacionados à Segurança do Paciente
contemplados nas unidades curriculares de um curso de graduação em
Enfermagem, segundo docentes que nele atuam e conhecer as metodo-
logias de ensino e avaliação utilizadas. Concluíram que se faz necessária a
revisão do projeto pedagógico do curso para alinhar conteúdos, metodolo-
gias de ensino e estratégias de avaliação e favorecer o desenvolvimento ple-
no dessa temática, tanto no curso de graduação em Enfermagem quanto
nos demais cursos da área da Saúde (Bohomol, 2019).
Investigou-se em um estudo a relação entre as competências morais
e a formação da identidade profissional. As ferramentas de pesquisa fo-
ram um julgamento demográfico, moral Escala de Desenvolvimento para
Profissionais (MDSP) e Escala de Identidade Profissional para Estudantes
de Enfermagem (PISNS). Os resultados do estudo apreciaram que as com-
petências morais dos estudantes de Enfermagem estão relacionadas à for-
mação de sua identidade profissional (Sahar; Fariba; Hadi, 2020).
Um estudo comparou atitudes em relação à privacidade em sites
de redes sociais (SRSs) e desenvolvimento moral entre graduandos de
Enfermagem e publicitários. A atitude em relação à privacidade no SNS
e o desenvolvimento moral dos estudantes de Enfermagem precisam ser
promovidos do nível convencional para o pós-convencional. Este estudo
demonstrou, que a atitude em relação à privacidade nas redes sociais e o
desenvolvimento moral dos alunos de Enfermagem não são superiores aos
dos alunos de publicidade. Seu desenvolvimento moral estava localizado
no estágio 3, um nível convencional. Existe a necessidade de desenvolver
as estratégias para promover atitude em relação à privacidade e desenvol-
vimento moral para o estágio pós-convencional entre estudantes de enfer-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
253
magem, pois os enfermeiros devem usar as informações do paciente com
confidencialidade (Byoung; Kim; Gyeong-Ju, 2017).
Um estudo descreveu a contribuição da Ética do cuidado para o pro-
fissional de Enfermagem. A Ética do Cuidado permitiu o desenvolvimento
de quadros conceituais que facilitam a compreensão do cuidado de forma
universal, conferindo-lhe um estatuto fundamental para a vida em socie-
dade. Recuperar as virtudes éticas para o cuidado no justo equilíbrio com
o dever, contribui para que a enfermagem reavalie o emocional na relação
de ajuda que estabelece com os doentes e as comunidades (Flores; Rivas;
Campillay, 2021).
Apresentou-se reflexão sobre o ensino da bioética e a sua relação com
o desenvolvimento da competência moral dos estudantes de Enfermagem,
assim como sugerir algumas estratégias no ensino da Bioética que po-
tenciem a formação de enfermeiros cada vez mais competentes. Sendo a
Enfermagem, por natureza, a ciência do cuidar, julgamos de extrema im-
portância investir numa ética do cuidar, voltada para o respeito e respon-
sabilidade para com o outro. Seja na análise de dilemas éticos hipotéticos
em contexto de sala de aula ou na prática clínica com o contato com dile-
mas éticos reais, é importante assegurar a construção de uma competência
moral e profissional de excelência no futuro profissional de Enfermagem
(Martins; Santos; Duarte, 2022).
Descreveu-se a autoavaliação da competência ética de estudantes
de obstetrícia e contrastar os achados com o conteúdo da instrução ética
recebida. Os resultados suportam o argumento de que ensinar principia-
lismo e aplicar um código de ética sem contextualizá-lo coage o aluno
a se conformar sem questionar suas crenças. Assim, a competência ética
entre as alunas de obstetrícia pode ser descrita em termos de cumprimen-
to de princípios com reflexão limitada sobre a situação como um todo
(Mpeli, 2018).
Objetivou-se conhecer estratégias para o desenvolvimento da sen-
sibilidade moral na perspectiva dos enfermeiros que atuam em unidades
de terapia intensiva. O desenvolvimento da sensibilidade moral dos enfer-
meiros pode auxiliá-los no reconhecimento e enfrentamento de situações
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
254
eticamente inadequadas, de modo a favorecer o exercício da autonomia e
a capacidade de lidar com os conflitos éticos emergentes do contexto de
trabalho. Neste estudo, foi possível conhecer que priorizar espaços para
a reflexão e discussão coletiva nos ambientes de formação e atuação da
Enfermagem, oportuniza o fortalecimento de tomadas de decisões éticas,
coerentes, autônomas e eficientes (Tomaschewisk-Barlem et al. 2020).
Na educação médica, a ética tem sido abordada sob diversos aspec-
tos, como profissionalismo (Mahajan et al., 2016) ou como humanidades
médicas ou virtudes (Doukas; Mccullough; Wear, 2012), por exemplo,
altruísmo, integridade, empatia, advocate, respeito à privacidade e digni-
dade. Ou, ainda, segundo Eckles e colaboradores, honestidade, respon-
sabilidade, compaixão, respeito interprofissional, autovigilância (...). Para
outros autores, respeito, compaixão e honestidade, características fun-
damentais para qualquer moralidade e que todos os cuidadores médicos
profissionais são esperados para abraçar, fazem-nas aproximar da chamada
ética do cuidado (Castro; Pereira; Bataglia, 2020). Alguns pesquisadores,
ainda enfatizam a ampla diversidade e heterogeneidade de currículos e
conceitos ou valores avaliados que impediam conclusões sobre a qualidade
dos programas (Eckles et al. 2005).
Um estudo avaliou a competência moral de estudantes de Medicina,
comparou diferentes momentos do curso, identificando aspectos socio-
demográficos e acadêmicos relacionados a essa competência e discutin-
do a ferramenta de avaliação. Aplicou-se a versão estendida do Teste de
Competência Moral, de Lind, e questionário sociodemográfico-acadêmi-
co. Identificou-se escores médios baixos nos períodos avaliados, com mé-
dia do primeiro período superior aos demais e comportamento destoante
do “dilema do médico” em relação aos demais, independentemente do
período. Detectou-se escores de competência moral baixos em todos os
períodos avaliados, com declínio ou estagnação no decorrer do curso e
fenômeno de segmentação” do teste, e não se identificou correlação rele-
vante das variáveis sociodemográficas e acadêmicas. E por fim constatou-se
que escores dos períodos iniciais inferiores aos descritos na literatura prévia
podem sugerir tendência geracional (Castro; Pereira; Bataglia, 2022).
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
255
Identificou-se em um estudo se a disciplina de bioética se encontra
na matriz curricular, como é ministrada e quais são os conteúdos trabalha-
dos nos cursos de medicina do Brasil. Observou-se aumento do número de
oferta de disciplinas autônomas de bioética nos cursos médicos e que os te-
mas mais abordados pelas disciplinas são introdução à bioética e princípios
da bioética, relação médico-paciente, aborto e eutanásia. Identificou-se que
o currículo da maioria das matrizes curriculares está voltado para o aspecto
técnico da profissão, não dando a devida importância à formação ética
dos futuros médicos, o que torna necessária a adequação das faculdades de
medicina às recentes DCN do curso de medicina de 2014 (Neves Júnior,
2016). Analisou-se em um outro estudo a dimensão ética da formação de
profissionais de saúde, de Odontologia. Foram entrevistados docentes, e
feito observações de atividades acadêmicas e grupos focais com alunos de
dois cursos de graduação. A análise dos dados revelou elementos do currí-
culo oculto que influenciam a dimensão ética da formação. Os resultados
discutidos apontam diferentes concepções de ética no ambiente acadêmico
com o predomínio do entendimento deontológico, cujas consequências
no manejo dos conflitos éticos cotidianos demandam atenção (Martínez;
Estrada; Bara, 2002).
Cabe lembrar que no processo educativo que visa à formação integral
do ser humano, os objetivos diretamente abordados são os relacionados aos
conhecimentos e habilidades, mas que a sua finalidade é o aperfeiçoamen-
to das atitudes e do caráter, em outros termos, o desenvolvimento moral do
estudante (Gracia, 2001). Um método de análise de conflitos éticos, mas
que se constitui em um processo de autoeducação e autoanálise. Sendo ca-
paz de colaborar com a educação em valores, com a capacidade de escuta,
de diálogo e de compreensão e, consequentemente, com o próprio proces-
so de desenvolvimento moral, pode ser recomendado para os docentes que
já se saibam e se sintam responsáveis pela dimensão ética da formação dos
futuros profissionais (Finkler; Caetano; Ramos, 2013).
Discute-se a emergência de dilemas morais nas práticas de saúde,
tendo em vista a acelerada transição demográfica nos países em desenvolvi-
mento e os crescentes custos dos sistemas públicos de saúde. São focaliza-
das duas dimensões do cuidado à saúde que têm ocupado um lugar impor-
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
256
tante na geração desses dilemas: a tensão entre as estratégias comerciais que
contornam o mercado de produtos de saúde e a expansão do acesso a esses
produtos, por um lado, e o aumento da importância das tecnociências nas
práticas de cuidado à saúde, por outro (Guimarães, 2013).
Em um estudo se refletiu sobre a prática assistencial do cuidado ao
paciente com doença terminal sob a ótica da ética e da moral. Na época
dos filósofos gregos, a ética se baseava na busca pela felicidade; contudo,
com o advento do cristianismo, ela passou a ser vista como um dever. Pela
ótica de Kant, a ética e a moral são também um dever, um imperativo ca-
tegórico, e a questão da manutenção da vida deve ser perseguida, abrindo
espaço para a ocorrência de práticas de distanásia. Já para Hans Jonas, o
dever dos profissionais de saúde é considerar a qualidade de vida dos pa-
cientes mais do que a quantidade de vida, introduzindo conceitos dos cui-
dados paliativos. Tais conceitos se modificam ao longo da história, sendo
necessário conhecê-los, fazer uma reflexão crítica sobre a finitude humana
e repensar as condutas nesse processo (Nogueira et al. 2022).
Em uma época marcada pelo desenvolvimento de tratamentos ino-
vadores em saúde e pela necessidade dos profissionais de saúde lidarem com
os dilemas éticos decorrentes da prática clínica, este estudo foi desenvolvido
para determinar a influência do ensino de bioética na competência moral de
estudantes de medicina e enfermagem. Realizou-se um estudo utilizando
o Moral Competence Test versão alargada antes e depois da frequência
da unidade curricular ética, em três escolas de enfermagem e três escolas
de medicina de Portugal. Observou-se o fenômeno da segmentação
moral, com melhor desempenho no dilema do trabalhador e do juiz, do
que no dilema do médico. Esses resultados apontam para a necessidade
de refletir sobre as estratégias curriculares que podem ser implementadas
para que os profissionais de saúde melhor desenvolvam a competência
moral e a tomada de decisão, permitindo a prestação de cuidados de saúde
humanizados (Martins; Santos; Bataglia; Duarte, 2020).
A maioria das escolas de Medicina, no Japão, incorporou cursos
obrigatórios sobre ética médica. No entanto, não há meios estabelecidos
de avaliar a educação ética médica no Japão. Desenvolveu-se um método
breve e objetivo de avaliação da sensibilidade e raciocínio moral. Realizou-
Práticas morais na escola:
a construção da autonomia moral
257
se bateria de testes do Teste de Identificação de Problemas PIT e do Teste
de Definição de Questões DIT em estudantes de medicina cursando ou re-
cém-formados (residentes). Investigou-se mudanças na sensibilidade mo-
ral e no raciocínio entre os anos escolares entre estudantes e residentes de
Medicina. A pesquisa por questionário deste estudo, que incorpora PIT e
DIT, pode ser usada como um meio breve e objetivo de avaliar a sensibili-
dade moral e o raciocínio de estudantes de medicina no Japão (Akabayashi
et al. 2004).
A mentoria vem sendo utilizada como instrumento para o desen-
volvimento profissional e pessoal de estudantes de Medicina. Relatou-se
a evolução do grupo de mentoria de alunos de graduação em medicina
da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), que perdura por
longo tempo, com excelente aderência e amplo aproveitamento, e sa-
tisfação dos participantes com o processo. O programa de mentoria se
iniciou no quinto ano de existência do curso, encontrados e em contínua
atividade por mais de 15 anos. Há três anos, tornou-se projeto de ex-
tensão universitária. Neste estudo foram realizadas discussões semanais
sobre assuntos práticos, morais e éticos relacionados à profissão médica
(Secchi; Vieira, 2021).
Um estudo de corte transversal avaliou a competência de juízo mo-
ral, com a aplicação do Moral Judgment Test (MJT) proposto por Lind,
entre estudantes do primeiro e do oitavo semestre de uma escola médica
na Região Nordeste do Brasil. Na análise do desempenho dos alunos por
dilemas do MJT, observou-se o fenômeno da “segmentação moral” em
ambas as turmas, com melhor desempenho dos alunos no dilema do ope-
rário com relação ao dilema do médico. Entre alunos do mesmo semestre,
aqueles com idade mais avançada apresentaram níveis mais baixos de es-
core C quando comparados aos alunos mais jovens. Não houve diferença
significativa entre homens e mulheres com relação à competência de juízo
moral. A constatação de que ocorre estagnação ou regressão da competên-
cia de juízo moral no transcurso da graduação médica deve ser motivo de
preocupação para os professores e para os responsáveis pelo planejamento
curricular, no sentido de buscar estratégias para reverter o quadro.
Rita Melissa Lepre, Patrícia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes [Org.]
258
consideRações finais
Revelou-se que as publicações referentes ao tema são escassas, prevale-
cendo estudos qualitativos, publicados em revistas de Enfermagem, Medicina
e Ciências da Saúde e em relação aos anos de publicações foram 2016, 2017 e
2022. Os temas abordados vieram de encontro com as questões norteadoras,
sendo que a maioria dos estudantes de Enfermagem e Medicina apresentam uma
estagnação ou regressão na competência moral após serem expostos à educação
ética. Tais resultados podem indicar que mais atenção é dada à preparação téc-
nica dos alunos de medicina e enfermagem, colocando o julgamento crítico e a
tomada de decisão em segundo plano. Diante de um número crescente de dile-
mas éticos no cenário de prática é importante encontrar maneiras ou estratégias
de preparar os profissionais de saúde para tratar o paciente de forma integral,
em todas as dimensões, considerando suas necessidades de saúde individuais, o
bem-estar e a qualidade de vida do paciente, além de promover a humanização
da assistência à saúde. Consideramos também que o contato com os pacientes e
a discussão de dilemas éticos reais da prática clínica podem auxiliar os estudantes
de Medicina e Enfermagem a desenvolver sua capacidade de tomar decisões e
agir de acordo com elas. Pesquisas futuras relacionadas ao ensino da ética e ao
desenvolvimento da competência moral dos alunos de Medicina e Enfermagem
devem ser conduzidas com atenção aos currículos de ética, e devem incluir
estudos adicionais comparando diferentes métodos de ensino e seu impacto na
competência moral dos alunos e também o papel da clínica prática sobre a com-
petência moral dos alunos.
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266
267
Dados dos autores
Rita melissa lePRe
Psicóloga, Bacharel e Licenciada em Psicologia pela
Universidade Estadual Paulista (UNESP), câmpus de Assis.
Especialista em Neuropsicologia pelo Instituto de Psicologia
e Saúde Ampliatta. Mestra em Educação pelo Programa de
Pós-Graduação em Educação da UNESP, câmpus de Marília.
Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação
em Educação da UNESP, câmpus de Marília. Pós-Doutora em Psicologia do
Desenvolvimento pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Livre-Docente
em Psicologia da Educação pela UNESP, câmpus de Bauru. Atualmente, é Professora
Associada da Universidade Estadual Paulista, no Departamento de Educação, da
Faculdade de Ciências - câmpus Bauru. Docente permanente do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Faculdade de Ciências e Letras - UNESP/Assis e do
Mestrado Profissional em Docência para a Educação Básica da Faculdade de Ciências
- UNESP/Bauru. Tem experiência na área de Educação e Psicologia, com ênfase em
Psicologia da Educação, Psicologia da Moralidade e Psicologia do Desenvolvimento
e da Aprendizagem. Membro do Grupo de Trabalho (GT) - Psicologia e Moralidade
- da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP).
Líder do GEPEDEME - Grupo de Estudos e Pesquisa em Desenvolvimento Moral
e Educação (CNPq).
268
PatRícia ungeR RaPhael bataglia
Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (1986), mestrado em Psicologia Social
pela Universidade de São Paulo (1996) e doutorado em
Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (2001).
Possui livre docência em Desenvolvimento Moral na Criança
pela UNESP. Atualmente é docente e pesquisadora do
Departamento de Educação e Desenvolvimento Humano e do Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP, câmpus de
Marília. É líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia Moral e Educação
Integral, membro da Comissão de Ética do Conselho Regional de Psicologia de
São Paulo e é assessora científica da FAPESP. É membro do Grupo de Estudos de
Psicologia e Epistemologia Genéticas (GEPEGE) e do Grupo de Estudos Valores,
Educação e Formação de Professores. Tem experiência na área de Educação, com
ênfase na formação ética do profissional, atuando principalmente nos seguintes
temas: competência moral, ética profissional, desenvolvimento moral e bioética.
eduaRdo silva benetti
Doutorando no Programa de Pós-graduação em Psicologia
- UNESP/ Assis. Mestre em Docência para Educação
Básica, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Desenvolvimento Moral e Educação (GEPEDEME), possui
Graduação em Educação Física pelo Centro Universitário
Padre Albino (2005) e em Pedagogia pela UNIMES
(2016). Desempenhou a função de chefe de divisão técnico
pedagógico - Secretaria Municipal de Educação de Catanduva em 2020. Professor
Recreacionista da Prefeitura Municipal de Catanduva. Tem experiência na área de
Educação Física e Pedagogia, com ênfase em Educação. Participou, em 2019, do
Ciclo “Educar Hoje”, evento promovido pelo SESC, ao lado de nomes como Moacir
Gadotti e André Gravatá. Tem experiência com treinamento físico para crianças,
desenvolvimento infantil, educação infantil, atividades recreativas e lúdicas,
desenvolvimento neuromotor, desenvolvimento da moralidade na infância. Autor
do livro “Poemas Soturnos para tardes tristes”. Organizador do livro "Organização
do trabalho pedagógico na Educação Infantil: construindo e partilhando a práxis",
lançado em outubro de 2022.
269
lígia seRRano loPes
Mestranda no Programa de Pós-graduação em Docência para
Educação Básica da UNESP- câmpus de Bauru/SP. Membro
do Grupo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento
Moral e Educação (GEPEDEME). Possui graduação em
Letras Português/Inglês pela Universidade do Sagrado
Coração -USC (2000). Pedagogia pela Fundação Instituto
de Ensino de Osasco - FIEO (2020). Especialista em Teoria e Crítica Literária pela
UNESP - câmpus de Araraquara/SP (2002). Especialista em Metodologia do Ensino
na Educação Superior pela UNINTER de Curitiba (2011). Neuropsicopedagoga
Institucional (2020) e Neuropsicopedagoga Clínica (2023) pela CENSUPEG de
Joinville/SC. Revisora de língua portuguesa de obras científicas e acadêmicas.
bianca vitti cincoto
Doutoranda no Programa de Psicologia da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP – Campus
de Assis/SP; Mestre em Docência para Educação Básica, pela
UNESP - Campus de Bauru/SP; Pedagoga, pela UNESP –
Campus de Bauru/SP; Psicóloga pelo Centro Universitário
do Sagrado Coração – UNISAGRADO – Bauru/SP e
vinculada ao GEPEDEME – Grupo de Estudo e Pesquisa em Desenvolvimento
Moral e Educação. Atualmente atua como Diretora Pedagógica, em uma Instituição
de Ensino Particular, de Educação Básica.
E-mail: bianca.vitti@unesp.br
bRuna assem sasso dos santos
Doutora (2021) e Mestra (2016) em Educação, pelo Programa
de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Univ.
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, câmpus de Marília/
SP. Linha de Pesquisa: Psicologia da Educação, processos
educativos e desenvolvimento humano. Bolsa CNPq e CAPES,
respectivamente. Pedagoga (2012), com aprofundamento em
Educação Infantil, pela FFC-UNESP/Marília-SP, com bolsa
de Iniciação Científica da FAPESP. É membro, desde 2010, do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Epistemologia Genética e Educação (GEPEGE) e do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Psicologia Moral e Educação Integral (GEPPEI), desde 2021.
270
cRistiane Paiva alves
Terapeuta Ocupacional formada pela Universidade Estadual
Paulista (UNESP). Mestre e Doutora em Educação Especial
pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente
da UNESP, Câmpus de Marília, atuando na graduação em
Terapia Ocupacional e no Programa de Pós-Graduação
em Educação. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas
Psicologia Moral e Educação Integral (GEPPEI).
daniele Pavan maRtins
Mestre em Docência para Educação Básica Unesp
Bauru, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Desenvolvimento Moral e Educação (GEPEDEME), possui
graduação em Pedagogia pelo Instituto de Ensino Superior
de Bauru FATEP em (2006). Especialista em Gestão
Educacional, em Educação Infantil pela FATEP (2013),
em Psicopedagogia pela Faculdade São Luís (2012). Experiência como professora
do Ensino Fundamental. Atua como educadora infantil no Centro de Convivência
Infantil "Gente Miuda" da Unesp Campus Bauru.
Lattes: https://lattes.cnpq.br/7058696328697105
E-mail: daniele.martins@unesp.br
evanileide PatRícia lima figueiRa
Doutoranda pelo Programa de Pós- Graduação em Educação
na UNESP/ Marília. Mestra em Educação pelo PPG/
UNESP/ Presidente Prudente/SP. Possui Especialização em
Psicopedagogia Institucional (FALC,2010), em Educação
Infantil (UNESP,2016) e Coordenação Pedagógica (UFSCar,
2017). Graduada em Pedagogia (FIU, 2011) e em Matemática
(FUNEPE, 2007). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas
em Desenvolvimento Moral e Educação (GEPEDEME). Desempenhou a função
docente na Secretaria Municipal de Educação de Araçatuba/SP no período de 2003
a 2017 e exerceu o cargo de Coordenadora de CEIM no Município de Clementina
de 2014 a 2016. Atualmente, é Diretora de Escola na Prefeitura Municipal de São
José do Rio Preto/ SP.
271
fabiana silveiRa feRnandes
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Docência para
Educação Básica da UNESP, câmpus de Bauru/SP. Membro
do Grupo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Moral
e Educação (GEPEDEME). Possui graduação em Letras pela
Universidade do Sagrado Coração (2007), em Pedagogia pela
Anhanguera (2012). Especialista em Psicopedagoga Clínica
e Institucional pela Universidade Cândido Mendes (2014). Especialista em Gestão
Escolar: Administração, Supervisão e Orientação (2019). Atua como Psicopedagoga-
diretora na Clínica Apreender. Professora Especialista da Prefeitura Municipal de
Bauru. Palestrante em formação de professores.
feRnanda moeRbeck caRdoso mazzetto
Possui graduação em Curso de Enfermagem e Obstetrícia
pela Faculdade de Medicina de Marília (1987). Graduada
em Licenciatura em Psicologia pela Universidade de Marília
(1994) e em Formação de Psicólogo pela Universidade de
Marília (1995). Especialização em Enfermagem Obstétrica
e Obstetrícia Social na Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP) em 1988. Mestra em Enfermagem pela Universidade Federal de
São Paulo (2001) e possui doutorado pelo câmpus de Botucatu da Faculdade de
Medicina de Botucatu-SP. pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (2018). Atualmente, é docente da Faculdade de Medicina de Marília desde
1989. Tem experiência na área de Enfermagem, com ênfase em Enfermagem em
Saúde da Mulher, atuando principalmente nos seguintes temas: saúde da mulher,
enfermagem obstétrica, aleitamento materno, parto humanizado e climatério. Tem
experiência em atendimento clínico em Psicologia em preparação para parto de casais
grávidos e atendimento em Psicoterapia clínica na linha de Psicanálise. Contribui
como Tutora de Núcleo do Programa de Residência Multiprofissional integrado na
área de Materno Infantil de 2009 a 2018. É orientadora de Trabalho de Conclusão de
Residência Multiprofissional até os dias de hoje. Exerceu a Coordenação da Residência
Multiprofissional da área Materno Infantil. Pós- Doutorado do Programa de Pós
Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista de "Júlio de Mesquita
Filho" Faculdade de Filosofia e Ciências do Campus de Marília-SP em 2023. E
participa do Grupo de Pesquisa GEPPEI Da Universidade Estadual Paulista de"
Júlio de Mesquita Filho" da Faculdade de Filosofia e Ciências, câmpus de Marília/SP.
Orientadora da liga científica da Neonatologia da Faculdade de Medicina de Marília-
SP. Atualmente, cursa a especialização em formação em Psicoterapia Psicanalítica do
Grupo de estudos e núcleo de Psicanálise de Marília/SP e região.
272
gabRiela bRiquezi de souza zan de moRaes
É graduada em pedagogia pela Unesp de Bauru e
mestranda de Psicologia, na área de processos psicológicos
e desenvolvimento humano, pela Unesp de Assis.
Também é membro do Grupo de Pesquisas e Estudos em
Desenvolvimento Moral e Educação (GEPEDEME).
ieda alves lugli
Graduada em Pedagogia. Especialista em Fundamentos da
Educação e Educação Infantil. Mestra em Ensino e Processos
Formativos (UNESP/PPG-EPF, 2018. Doutoranda em
Educação (UNESP/PPG-E Faculdade de Filosofia e Ciências,
2022–2026). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Desenvolvimento Moral e Educação (GEPEDEME. Professora
PEB I na Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto/SP.
jamily soleR do nascimento aguiaR
Possui graduação em Pedagogia pela UNESP câmpus de
Marília/SP. Pós-graduada em Psicopedagogia Institucional
e Clínica pelo Instituto de Ensino e Capacitação. Pós-
graduada em Metodologia do Ensino na Educação Infantil,
pelo Centro Universitário Internacional. Atualmente,
cursa a graduação em Psicologia, no Unisalesiano, sendo
pesquisadora acadêmica no campo da Psicologia Escolar,
como pesquisadora voluntária e institucional junto ao Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica. Professora titular no Colégio John F. Kennedy, no 4º
ano do Ensino Fundamental ciclo I, na cidade de Cafelândia, estado de São Paulo
e membro do grupo de pesquisa no GEPEDEME na Unesp, câmpus de Bauru/SP.
273
joão Paulo RodRigues da silva
Licenciado em Química pela Universidade Federal de Viçosa
(UFV). Mestre em Ciências pela Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo (FFCLRP/USP). É Professor do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO),
câmpus Dianópolis. Membro do GEPEDEME - Grupo de
Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Moral e Educação
da UNESP/Bauru.
kelly Regina conde
Mestra em Ensino e Processos Formativos pela UNESP -
Ibilce (2019). Possui graduação em Pedagogia pela Faculdade
Faceres (2014), com especialização em Psicopedagogia
Clínica e Institucional pela FAMERP (2014). É
coordenadora pedagógica na rede municipal de São José do
Rio Preto/SP e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Desenvolvimento Moral e Educação (GEPEDEME).
luciana aPaRecida nogueiRa da cRuz
Psicóloga graduada pela Universidade Estadual Paulista -
câmpus de Assis/SP. Doutora e Mestra em Educação pela
UNESP de Marília/SP. Docente do Departamento de
Educação e do Programa de Pós-Graduação em Ensino e
Processos Formativos do Ibilce - UNESP, câmpus de São
José do Rio Preto/SP. Pesquisadora no grupo de pesquisa
Direitos Humanos, Educação e Diversidades e do Grupo
Desenvolvimento sociomoral de crianças e adolescentes, ambos cadastrados no
CNPq. Desenvolve pesquisas na área de Psicologia da Educação, voltadas para os
seguintes temas: desenvolvimento infantil; educação moral; formação de educadores
e vulnerabilidades do adolescente.
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luciana Ramos RodRigues de caRvalho
Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Psicologia
– UNESP, câmpus Assis/SP. Membro do Grupo de Estudos
e Pesquisas em Desenvolvimento Moral e Educação
(GEPEDEME). Possui graduação em Pedagogia pela
Universidade Norte do Paraná (2008). Especialista em
Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Norte
do Paraná (2010). Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela
Universidade Estadual de Londrina (2012). Mestra em Educação pela Universidade
Estadual de Londrina (2013) e, atualmente, é professora da rede municipal de
Londrina/PR.
luciano cássio lugli
BS em Eng. de Computação (2008) e BS em Eng. Elétrica
(2013). Especialista em Técnicas Pedagógicas de e-learning
no Ensino Superior. Especialista em Metodologia de
Ensino Pedagógico nas Engenharias (UNIP, 2012, 2013.
Mestrado em Engenharia Mecânica (USP/EESC, 2011).
Mestrado em Ensino e Processos Formativos (UNESP/
PPG-EPF, 2018). Doutorado em Engenharia Mecânica/Mecatrônica (USP/EESC,
2016). Doutorado em Educação para a Ciência (UNESP/PPG-EDC, 2021–2025).
Tem 5 Pós-Doutorados: 3 em IA/Machine Learning na robótica móvel (USP/
EESC, 2016–2018); 2 em IA/Machine Learning em modelos manipulativos e
controle cognitivo a robots sociais (Istituto Italiano di Tecnologia/Università di
Genova/UCSC, 2019 e 2020). Professor assistente e associado entre 2015/2017 na
Universidade de São Paulo / Departamento de Engenharia de Biossistemas (USP/
ZEB). Membro da IEEE e Supervisor da Seção Italiana para Inteligência Artificial
em Robots Humanóides do European Research Council (ERC), e membro do
Istituto Italiano di Robotica & Macchine Intelligenti I-RIM). É pesquisador pelo
Istituto Italiano di Tecnologia (IIT – Itália).
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maRia caRolina canale sanches
RodRigues
Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Docência para
Educação Básica da UNESP, câmpus de Bauru/SP. Membro
do Grupo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento
Moral e Educação (GEPEDEME). Possui graduação
em Pedagogia pela FC/Unesp (2010). Especialista em
Psicopedagogia Institucional pela UNIMES e Neuropsicopedagogia Institucional
e Educação Inclusiva pela Faculdade Única. Professora de Educação Infantil no
Sistema Municipal de Bauru desde 2012. Atualmente, coordenadora de Área da
Educação Infantil lotada no Departamento de Planejamento, Projetos e Pesquisas
Educacionais na Secretaria Municipal de Educação de Bauru/SP.
natália beRsan PeRes
Especialista em Educação Especial na Perspectiva Inclusiva
pelo Curso de Lato Sensu pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP – Campus de
Bauru/SP; Pedagoga pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho – UNESP – Campus de Bauru/SP;
Psicóloga pelo Centro Universitário do Sagrado Coração –
UNISAGRADO – Bauru/SP.
E-mail: nataliabeperes@gmail.com
PatRícia helena da silva
Possui Graduação em Pedagogia - licenciatura plena pela
União das Faculdades dos Grandes Lagos – UNILAGO
(2009). Graduação em Educação Especial pela Universidade
Federal de São Carlos – UFSCar (2023). Especialização
em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Centro
Universitário de Rio Preto - UNIRP (2012). Especialização
em Fundamentos da Educação pela Faculdade Campos
Elíseos – FCE (2013) e Especialização em Educação Inclusiva
pela Faculdade Campos Elíseos – FCE (2018). Atualmente, é
Professora de Educação Básica I na Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto/SP.
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PRiscila caRoline miguel
Doutoranda em Educação com Bolsa CAPES/PROEX pela
Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho – UNESP/
Campus de Marília e Mestre em Educação pela mesma
universidade. Atualmente é Docente Bolsista no Curso de
Pedagogia da FFC. Possui graduação em Psicologia pela
UNIMAR – Universidade de Marília/SP.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1499-9196.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1794678757923676.
E-mail: priscilacarolinemiguel@gmail.com
Rosângela cândida da silva santos
Possui graduação em Pedagogia - licenciatura plena pela
Faculdade de Educação, Ciências e Artes Dom Bosco
de Monte Aprazível – FAECA (2004). Especialização
em Psicopedagogia Clínica e Institucional: Educação e
Saúde pela Faculdade de Medicina de São José do Rio
Preto/SP– FAMERP (2013. Especialização em Educação
Empreendedora pela Universidade Federal de São João Del-Rei – UFSJ (2014) e
especialização em Educação Especial e Inclusiva pela Universidade Federal do ABC
– UFABC (2022). Atualmente, é Professora de Educação Básica I na Prefeitura
Municipal de São José do Rio Preto/SP.
tatiane cRistine do esPiRito santo
nakahodo
Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Docência para a
Educação Básica, Faculdade de Ciências - UNESP/ Campus
Bauru (2024. Graduada em Pedagogia pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Campus
Bauru (2021). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas
em Desenvolvimento Moral e Educação (GEPEDEME).
Tem experiência na área de Educação social e escolar, trabalhou de 2010 a 2018
em projetos sociais de Bauru em áreas de alta vulnerabilidade social com ênfase em
letramento e convivência social. Participou do Programa Residência Pedagógica,
cadastrado junto a CAPES (2018-2019) desenvolvendo projetos educacionais dentro
e fora da sala de aula. Atuou como professora da rede Estadual e como facilitadora da
Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), atualmente é professora na
rede Sesi no ensino fundamental I.
catalogação na Publicação (ciP)
Telma Jaqueline Dias Silveira
CRB 8/7867
noRmalização
Elizabete Cristina de Souza de Aguiar
Monteiro
CRB - 8/7963
caPa e diagRamação
Gláucio Rogério de Morais
PRodução gRáfica
Giancarlo Malheiro Silva
Gláucio Rogério de Morais
assessoRia técnica
Renato Geraldi
oficina univeRsitáRia
Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
foRmato
16 x 23cm
tiPologia
Adobe Garamond Pro
2025
sobRe o livRo
Práticas
morais na
escola
Rita Melissa Lepre
Patrícia Unger Raphael Bataglia
Eduardo Silva Benetti
Ligia Serrano Lopes
(Organizadores)
a construção da
autonomia moral
Práticas morais na escola: a construção da autonomia moral Rita Melissa Lepre; Patrícia Unger Raphael Bataglia
Eduardo Silva Benetti e Ligia Serrano Lopes (Org)
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