
Kleber Cecon; Reinaldo S. Pereira e Ubirajara R. de A. Marques [Eds.]
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que foi proposto para participar da academia, mas não foi efetivado, foi
Johannes Kepler (Drake, 1999, p. 140).
Pode-se dizer que a Accademia dei Lincei, depois de ter sido quase
destruída pela perseguição exercida pelo pai de Cesi18, tornou-se depois de
pouco tempo uma das mais poderosas e bem relacionadas sociedades de
sua época. O número de membros da organização só cresceu e chegou a
atingir a marca de 32 membros ativos19 (Ornstein, 1924, p. 74). O Lince
foi caçado, ferido e agonizou, porém sobreviveu, ganhou força, adquiriu
novos membros, tornou-se forte. Estava na hora de mostrar suas garras,
atacar o Cérbero e olhar para o céu.
5. Os olhos dos linces voltados para o céu: o telescópio
Galileu Galilei foi provavelmente o mais famoso membro da
Accademia dei Lincei. Quando foi convidado para fazer parte da academia
ele já era muito conhecido devido às suas observações dos céus. No início
do século XVII, na região dos Países Baixos, havia sido desenvolvido e dis-
18 Na verdade, dependendo da interpretação, esse pode até ter sido o caso. Ornstein, por exemplo, afirma que
a sociedade foi efetivamente desfeita, “mas em 1609 eles foram reorganizados em larga escala” (Ornstein,
1928, p. 74). O mesmo afirma Rossi: “[A] família de Cesi era contra sua participação no grupo, e então
ele foi dissolvido. A academia foi revivida, entretanto, em 1609” (Rossi, 2001, p. 195). Nesse caso, parece
mais razoável a interpretação de Drake, o qual afirma que pela situação em que a academia se encontrava,
ela deveria ter colapsado. Ainda assim, ela sobreviveu e continuou seu propósito (Drake, 1999, p. 127).
Essa interpretação parece estar totalmente de acordo com as informações apresentadas por Freedberg, que
não fala nem em quebra, nem em dissolução, mas num período difícil em que as atividades da academia
continuaram e que, para todos os fins, ela continuou existindo mesmo em circunstâncias extremamente
desfavoráveis (Freedberg, 2002, p. 69-73). Heckius, em 1606, chegou a retornar em segredo algumas vezes
para alguns encontros em Roma, mas sempre fugia novamente, totalmente alucinado e paranoico. Cesi
mudou de ambiente de Roma para Nápoles. Stelluti tinha mudado para Parma e ia e voltava de Fabriano,
sua cidade natal. De Filiis ficou a maior parte do tempo em Ferni, antes de sua morte. A situação era
incômoda, mas eles continuaram nesse período suas pesquisas em história natural, “especialmente em
fósseis, fungos, e plantas, observando e coletando o máximo que podiam” (Freedberg, 2002, p. 101).
19 Eis a lista completa: Federicus Caesius, Joannes Eckius, Franciscus Stellutus, Anastasius de Filiis, Joannes
Baptista Porta, Galilaeus Galilaeus, Joannes Terrentius, Joannes Faber, eophilus Molitor, Antonius Persius,
Philesius Porta Costantius, Nicolaus Antonius Stelliola, Fabius Columna, Didacus de Urrea Conca, Angelus
de Filiis, Lucas Valerius, Joannes Demesianus, Marcus Velserus, Philippus Salviathus, Cosmus Rodulphius,
Vincentius Mirabella, Philippus Pandolfinus, Virginius Caesarinus, Joannes Ciampolus, Carolus Mutus,
Claudius Achillinus, Cassianus Puteus, Josephus Nerius, Franciscus Barberinus, Marius Guiduccius, Caesar
Marsilius, Justus Riquius. Esta lista foi extraída do Catálogo em latim com os nomes originais dos 32
membros da Accademia dei Lincei (Pirro, 2005, p. 219-221).