A partir das mudanças vivenciadas por nós, em decorrência da pande-
mia de covid-19, alguns temas e assuntos em ascensão, como o uso das
Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs), passa-
ram a ter papel fundamental para encarar a nova realidade. Neste livro,
oferecemos uma perspectiva abrangente sobre como a tecnologia está
transformando os métodos de ensino e aprendizagem, enquanto tam-
bém destacamos a importância do engajamento humano no processo
educacional. Dessa forma, reunimos professores de diversos níveis de
ensino, os quais também são discentes do Programa de Pós-Graduação
em Educação da UNESP, campus de Marília, para discutirem acerca de
suas experiências e estudos, a partir desse novo viés. Conectamos saberes
a partir de práticas profícuas da Educação Infantil até experiências viven-
ciadas no Ensino Superior. Esperamos que a leitura deste livro colabore
para discussões e reexões acerca dos diversos potenciais apresentados,
ampliando as possibilidades de trabalho em atuações docentes, em busca,
sempre, de uma Educação de qualidade para nossos educandos.
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Professora Livre Docente em Língua In-
glesa pela UNESP. Professora Associada
junto ao Departamento de Letras Mo-
dernas da Faculdade de Ciências e Letras/
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP Campus de
Assis/SP e Professora e orientadora no
Programa de Pós-Graduação em Edu-
cação - UNESP - Campus de Marília /
e-mail: daniela.nm.garcia@unesp.br
Gabriela Pedroso Cardoso
Doutoranda em Educação/PPGE/Facul-
dade de Filosoa e Ciências / Universi-
dade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP /campus de Marília/SP/
Brasil /Mestra em Letras/Integrante do
Grupo de Pesquisa em Antropologia e
Educação (GPAE)/
E-mail: gp.cardoso@unesp.br
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Doutoranda em Educação / PPGE /
Faculdade de Filosoa e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP – campus de
Marília/SP/ Professora Coordenadora de
Educação Básica da rede estadual paulis-
ta / e-mail: yngrid.karolline@unesp.br
Isabelle Castilho
Mestranda em Educação / PPGE / Facul-
dade de Filosoa e Ciências / Universi-
dade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP / campus de Marília/SP/
Brasil / Agência de fomento CNPQ /
E-mail: isabelle.castilho@unesp.br
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0039/2022
Processo Nº 23038.001838/2022-11
Tecnologias na educação: explorando potenciais e conectando saberes
TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO:
EXPLORANDO POTENCIAIS E
CONECTANDO SABERES
Autores:
Carla Cristina Reinaldo Gimenes de Sena
Claudineia Peres Bertaglia
Daniel Vieira Sant’anna
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Daniele de Fátima Fuganholi A. Sant’anna
Douglas Cunha dos Santos
Gabriela Lima Fabris
Gabriela Pedroso Cardoso
Isabelle Castilho
Kalline Laira Lima dos Santos
Laura Rampazzo
Marcelo Palage Antonioli
Maria do Carmo Monteiro Kobayashi
Paulo Alexandre Filho
Rafael Franco Lobo
Vanessa de Almeida Laura
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Yuri de Lira Lucas
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Gabriela Pedroso Cardoso
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Isabelle Castilho
(Organizadoras)
TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO:
EXPLORANDO POTENCIAIS E CONECTANDO SABERES
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2024
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS – FFC
UNESP - campus de Marília
Diretora: Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora: Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Edvaldo Soares
Franciele Marques Redigolo
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
Henrique Tahan Novaes
Aila Narene Dahwache Criado Rocha
Alonso Bezerra de Carvalho
Ana Clara Bortoleto Nery
Claudia da Mota Daros Parente
Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Pedro Angelo Pagni
Auxílio Nº 0039/2022, Processo Nº 23038.001838/2022-11, Programa PROEX/CAPES
Parecerista: Profa. Dra. Micheli Gomes de Souza (Unesp - Assis)
Capa: Isabelle Castilho
Ficha catalográfica
______________________________________________________________________________________
T255 Tecnologias na educação: explorando potenciais e conectando saberes / Daniela Nogueira de Moraes
Garcia ... [et al.] (Organizadoras). – Marília : Oficina Universitária ; São Paulo :
Cultura Acadêmica, 2024.
173 p. : il.
Apoio: CAPES
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-512-4 (Impresso)
ISBN 978-65-5954-513-1 (Digital)
DOI: https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-513-1
1. Tecnologias de informação e comunicação. 2. Ensino – Meios auxiliares. 3. Tecnologia educacional.
4. Educação. I. Garcia, Daniela Nogueira de Moraes. II. Cardoso, Daniela Pedroso. III. Costa, Yngrid
Karolline Mendonça. IV. Castilho, Isabelle. V. Título.
CDD 371.39
______________________________________________________________________________________
Catalogação: André Sávio Craveiro Bueno – CRB 8/8211
Copyright © 2024, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - Campus de Marília
Dedicamos este livro àqueles que se envolveram ativamente
em sua construção, tornando-o tão singular e especial.
Dedicamos, ainda, a todos os professores, que fazem a
diferença em seus espaços, diariamente, sem as luzes de um
holofote e aos leitores que estarão dialogando conosco, por
meio das vozes aqui presentes.
“Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem apren-
der a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando
o sonho pelo qual se pôs a caminhar”.
Paulo Freire.
Sumário
PREFÁCIO..................................................................................................11
Profa. Dra. Vivian Nádia Ribeiro de Moraes-Caruzzo
APRESENTAÇÃO.......................................................................................15
Profª. Dra. Daniela Nogueira de Moraes GARCIA
Gabriela Pedroso CARDOSO
Yngrid Karolline Mendonça COSTA
Isabelle CASTILHO
LITERATURA E TECNOLOGIAS: PRÁTICAS DE LETRAMENTO
LITERÁRIO SUBSIDIADAS PELAS TECNOLOGIAS DIGITAIS.............19
Gabriela Miranda Lima FABRIS
Gabriela Pedroso CARDOSO
GAMIFICAÇÃO COMO METODOLOGIA ATIVA NO ENSINO DE
GEOGRAFIA...............................................................................................47
Yuri de Lira LUCAS
Carla Cristina Reinaldo Gimenes de SENA
ENSINO SUPERIOR E INTERNACIONALIZAÇÃO: A
TELECOLABORAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE
LÍNGUA INGLESA.....................................................................................63
Isabelle CASTILHO
ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA: O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO
NO ESPO FAMILIAR............................................................................77
Rafael Franco LOBO
OPERACIONALIZAÇÃO DAS PRÁTICAS TELECOLABORATIVAS:
PERSPECTIVAS E DESAFIOS....................................................................93
Douglas Cunha dos SANTOS
Daniela Nogueira de Moraes GARCIA
LEITURA E ESCRITA NA INTERFACE DA PANDEMIA: UM RELATO
DE EXPERIÊNCIA COM PROFESSORES DA REDE ESTADUAL
PAULISTA.................................................................................................113
Claudineia Peres BERTAGLIA
Paulo Alexandre FILHO
Yngrid Karolline Mendonça COSTA
O PAPEL DO PENSAMENTO COMPUTACIONAL NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: APLICAÇÃO DE ATIVIDADES PLUGADAS E
DESPLUGADAS.......................................................................................127
Daniele de Fátima Fuganholi Abiuzzi SANT’ANNA
Maria do Carmo Monteiro KOBAYASHI
Daniel Vieira SANT’ANNA
Vanessa de Almeida LAURA
O PODCAST COMO FERRAMENTA EDUCACIONAL NO ENSINO
SUPERIOR: EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS..........................................139
Kalline Laira Lima dos SANTOS
LÍNGUAS ESTRANGEIRAS PARA TODOS: UMA DISCUSSÃO SOBRE O
ALCANCE DO PROJETO TELETANDEM..............................................153
Marcelo Palage ANTONIOLI
Laura RAMPAZZO
SOBRE OS AUTORES...............................................................................171
11
PREFÁCIO
Profa. Dra. Vivian Nádia Ribeiro de Moraes-Caruzzo
No final do século XX, Pierre Lévy (1999) nos imbuia de clareza teó-
rica sobre como as tecnologias não deveriam/devem ser concebidas como
recursos, ferramentas ou mesmo modalidade(s) descolados da sociedade,
mas, sim, como parte intrínseca a ela. Desse modo, compreendemos que,
em uma relação simbiótica e experienciada em múltiplas linguagens, ou
semioses, sociedade e tecnologia interagem entre si e criam um movimento
constante de construção, desconstrução e reconstrução sociocultural.
Quando consideramos a Educação, à luz do pensamento de Lévy, a
concebemos, também, entrelaçada às tecnologias, concordando com Sataka
(2021) ao enxergá-las, em suas versões analógicas e digitais, como elementos
integrantes dos processos de organização social nos quais se baseiam a pro-
dução e reprodução do conhecimento. Nesse sentido, podemos remontar a
presença das tecnologias nas salas de aulas ao uso do giz e da lousa, consi-
derando todo seu percurso histórico-social até a contemporaneidade com as
Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC).
É preciso reconhecer, porém, que a adoção e a utilização das TDIC,
de forma planejada ou compulsória, vêm sendo deveras debatidas no século
XXI, sobretudo por conta dos rápidos e atuais avanços proporcionados pela
virtualidade e a interconectividade em rede. Assim, trabalhos e publicações
que versam sobre a temática têm oferecido insumos para discussões sobre
metodologias e práticas inovadoras, ao passo que, também, projetam luz
para reflexões realizadas por professores que atuam diariamente no campo
educacional e que enfrentam os desafios aos quais somos impostos em tem-
pos de (pós)modernidade e aprendizagem ubíqua (Santaella, 2018).
Com especial atenção aos últimos quatro anos, período em que (so-
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-513-1.p11-14
12
bre)vivemos a pandemia da covid-19, doença causada pelo vírus SARS-
-CoV-2, e que sofremos suas consequências enquanto sociedade global, tais
discussões se intensificaram, uma vez que as tecnologias digitais, apesar da
resistência de muitos, tiveram papel fundamental durante o confinamento
social (Paiva, 2020) e na instauração de um modelo de ensino remoto emer-
gencial que permitisse a manutenção, ainda que ressignificadas, das práticas
de ensino e aprendizagem. Tais circunstâncias obrigaram professores a adap-
tar suas práxis e, junto a alunos e gestores, a reconsiderar suas concepções
sobre tecnologias educacionais e sobre o uso de outras tecnologias, como
redes sociais, para fins pedagógicos.
Contudo, o uso das TDIC na Educação está longe de ser apenas mais
uma temática em voga. Projetando-se por meio de reflexões essenciais sobre
o fazer docente e as relações técnicas e, principalmente, humanas que são
estabelecidas entre professores e aprendizes, e desses sujeitos com ferramen-
tas e recursos, consigo e com o mundo, a discussão sobre o tema é basilar.
Afinal, ao admitir a sala de aula como espaço de interação social, desenvol-
vimento de competências e habilidades e de construção de conhecimentos
e pensamento crítico, podemos engendrar a adoção de TDIC como uma
aliada dos agentes dessas relações, permitindo-os ir além das práticas tradi-
cionais de ensino e implementar estratégias de otimização da aprendizagem,
considerando possibilidades de interação por meio de recursos tecnológicos.
Com esta obra, cuidadosamente organizada por Daniela Nogueira
de Moraes Garcia, Gabriela Pedroso Cardoso, Yngrid Karolline Mendonça
Costa e Isabelle Castilho, sentimo-nos convidados, enquanto leitores, a es-
tabelecer diálogo com outros participantes ativos dos processos educativos,
reconhecendo em nossa própria experiência enquanto alunos, docentes ou
gestores, possíveis lacunas de formação ou a ocorrência de compreensões
limitantes sobre as tecnologias que podem nos impedir de vislumbrar a fru-
tífera subversão da passividade na construção de relações de aprendizagem.
Para além de seu funcionamento como disparador para a autorreflexão, essa
coleção de trabalhos configura-se como um verdadeiro retrato que evidencia
como a escola e a universidade, enquanto microcosmos sociais, podem ser
transformadas pelas tecnologias ao mesmo que tempo que as transformam
e as ressignificam, demonstrando sua profunda e imbricada conexão com o
13
ser humano.
Assim, em Tecnologias na Educação: explorando potenciais e conectando
saberes, reconhecemos, a interlocução preciosa de educadores e gestores de
diferentes áreas, da Educação Básica ao Ensino Superior, que, por meio de
suas experiências, trazem ao centro da atenção, discussões teórico-práticas
que suscitam de forma exemplar a importância do olhar sensível e informa-
do do educador para as potencialidades das tecnologias digitais em ambien-
tes escolares. É, portanto, leitura sugerida e pertinente a todos.
Referências
LÉVY, P. Cibercultura. Tradução: Carlos Irineu da Costa. São Paulo:
Editora 34, 1999.
PAIVA, V. L. M. O. Tecnologia durante o confinamento. In: RIBEIRO,
A. E.; VECCHIO, P. M. M. (org.) Tecnologias digitais e escola: reflexões
no projeto aula aberta durante a pandemia. 1 ed. São Paulo: Parábola,
2020, p. 57-69.
SANTAELLA, L. Aprendizagem ubíqua. In: MILL, D. Dicionário crítico
de educação e tecnologias e de educação a distância. Campinas: Papirus,
2018, p. 44-46.
SATAKA, M. M. Análise do aplicativo Duolingo para aprendizagem
de língua espanhola: uma pesquisa narrativa. Dissertação de mestrado,
Universidade Estadual Paulista [UNESP], Araraquara/SP, Brasil, 2021.
15
APRESENTAÇÃO
Profª. Dra. Daniela Nogueira de Moraes GARCIA
Gabriela Pedroso CARDOSO
Yngrid Karolline Mendonça COSTA
Isabelle CASTILHO
Em um mundo de constante evolução, a educação permanece como
a base da nossa sociedade, uma vez que é por meio dela que se constrói o
alicerce para um futuro promissor. No entanto, é inegável que a educação
enfrenta desafios significativos neste século XXI, os quais exigem uma rea-
valiação profunda de nossas práticas e filosofias educacionais.
É fato que a ascensão das tecnologias transformou não somente a
maneira como nos comunicamos e interagimos, mas também a forma como
adquirimos conhecimento e desenvolvemos habilidades. Lidamos, hoje,
com textos multissemióticos e novos gêneros textuais (digitais ou não) que
trouxeram mudanças estéticas e, também, cognitivas, uma vez que deman-
dam novas estratégias de compreensão (Rojo, 2019).
A fim de contribuirmos com as reflexões acerca do tema, adentramos,
por meio dos artigos apresentados, no vasto território em que a educação e
as tecnologias se entrelaçam, explorando as fronteiras da aprendizagem no
cenário contemporâneo para (re)pensarmos algumas de nossas práticas do-
centes. Desta forma, elencamos experiências promissoras no uso das TICs
nos diversos níveis de escolaridade, apontando novos caminhos e reflexões.
Este livro é um convite para explorar as oportunidades e os dilemas
que a revolução digital trouxe para a educação e, juntos, refletirmos como
navegar com sabedoria nesse horizonte digital em constante expansão. Sen-
do assim, apresentamos os capítulos e o convidamos para a leitura desta
obra feita com muito carinho e dedicação.
16
No capítulo intitulado Literatura e Tecnologias: práticas de letramento
literário subsidiadas pelas tecnologias digitais, as autoras Gabriela Lima Fabris
e Gabriela Pedroso Cardoso retratam uma prática desenvolvida com alunos
do Ensino Fundamental de uma escola pública, visando o desenvolvimento
de atividades de letramento literário, por meio da abordagem da Leitura
Subjetiva, com o apoio das tecnologias digitais. As autoras reforçam a im-
portância da literatura no ambiente escolar, acolhendo as impressões e sub-
jetividades do leitor, a fim de que consigam promover reflexões acerca dos
trabalhos e, consequentemente, fortalecer a comunidade de leitores.
Yuri de Lira Lucas e Carla Cristina Reinaldo Gimenes de Sena dis-
cutem, em Gamificação como Metodologia Ativa no Ensino de Geografia, o
uso das metodologias ativas, especialmente da gamificação, no ensino de
Geografia. Os autores discorrem sobre pesquisas e práticas de sucesso sobre
o tema, destacando os pontos positivos dessa abordagem no cenário edu-
cacional e, também, trazem, à luz das discussões, algumas lacunas sobre o
tema, tais como os resultados a longo prazo, a falta de perspectiva docente,
dentre outros, oferecendo um panorama mais abrangente para futuras pes-
quisas na área.
Em Ensino Superior e internacionalização: a telecolaboração na forma-
ção de professores de língua inglesa, Isabelle Castilho aborda contribuições do
trabalho telecolaborativo com alunos de uma universidade do estado de São
Paulo, demonstrando como o uso das TDICs pode potencializar o apren-
dizado de outra língua e, além disso, a compreensão da cultura de seu in-
terlocutor, pois, nesse processo de ensino-aprendizagem, ambos os sujeitos
assumem o papel de professor e aprendiz de língua e cultura desconhecidas.
Rafael Franco Lobo discorre a respeito das ações promovidas pela es-
cola em que atuou como gestor no período da pandemia no capítulo Além
dos muros da escola: o processo de humanização no espaço familiar. Ressalta
como a tecnologia os auxiliou, ainda que muitos dos familiares não tivessem
acesso às salas de aula digitais. O WhatsApp tornou-se a maior ferramenta de
contato e, por meio dele, as ações pensadas pelos professores e gestores para
as crianças de berçário (público que atendia) ganharam a possibilidade de
se efetivarem. Além disso, o autor descreve sobre como as atividades servi-
ram de guia nesse momento da vida das crianças, bem como, o impacto da
17
formação dos pais sobre as concepções teóricas da escola na realização das
propostas em casa.
Douglas Cunha dos Santos e Daniela Nogueira de Moraes Garcia, no
capítulo intitulado Operacionalização das práticas telecolaborativas: perspec-
tivas e desafios, versam sobre ações telecolaborativas (o teletandem e a tele-
colaboração em inglês como língua franca/língua estrangeira) em um dos
campus da UNESP. Assim, delimitam as ações que vão desde a divulgação e
organização das sessões até os resultados e relatos dos alunos que participa-
ram dessa experiência, elencando benefícios da prática, tais como a aquisi-
ção de uma língua estrangeira, além do conhecimento cultural apreendido
durante o desenvolvimento das ações.
No texto Leitura e escrita na interface da pandemia: um relato de expe-
riência com professores da rede estadual paulista, de Claudineia Peres Berta-
glia, Paulo Alexandre Filho e Yngrid Karolline Mendonça Costa, os autores
discorrem a respeito do uso das TDICs por professores durante o período
pandêmico e da influência do ensino remoto emergencial sobre as meto-
dologias de ensinagem. Também, são apresentados relatos dos professores
sobre esse momento vivido e o respectivo impacto em suas práticas.
Em O Papel do Pensamento Computacional na Educação Infantil, de
autoria de Daniele de Fátima Fuganholi A. Sant’anna, Maria do Carmo
Monteiro Kobayashi, Daniel Vieira Sant’anna e Vanessa de Almeida Laura,
destaca-se a importância do Pensamento Computacional no contexto da
Educação Infantil. O trabalho reporta as ações envolvidas para a realização
do uso do Pensamento Computacional (PC), sendo estas: decomposição,
reconhecimento de padrões, abstração e os algoritmos. Dessa forma, apre-
senta-se o PC como uma abordagem capaz de desenvolver habilidades men-
tais extremamente importantes, como a reflexão e imaginação. Os autores,
também, compilam exemplos de atividades que integram o PC na Educação
Infantil, tanto com atividades que envolvem o uso da tecnologia quanto
sem o uso delas.
Kalline Laira Lima dos Santos, em seu texto intitulado O podcast como
ferramenta educacional no Ensino Superior: experiências formativas, compar-
tilha um relato de experiência com o uso de podcast como ferramenta de
ensino e aprendizagem em uma turma de Licenciatura em História, na
18
Universidade de Pernambuco, na disciplina de História Moderna. Nesta
experiência que retrata, como um processo formativo, a autora destaca os
desafios e benefícios da ferramenta junto às práticas pedagógicas conduzidas
no âmbito do Ensino Superior.
Na compreensão do Teletandem como um recurso de aprendizagem
de línguas a longa distância, em um formato de intercâmbio virtual, Marce-
lo Palage Antonioli e Laura Rampazzo, discorrem sobre o perfil acadêmico e
social dos estudantes de uma instituição federal de Ensino Superior no tra-
balho Línguas estrangeiras para todos: uma discussão sobre o alcance do projeto
Teletandem. Os autores analisam seu alinhamento com o projeto e os enca-
minhamentos que podem ser dados para que a proposta seja ampliada para
outros tipos de público e gere uma maior adesão, dentro da Universidade.
Esperamos que as reflexões aqui compartilhadas, em pesquisas e vi-
vências, possam conectar os saberes de autores e leitores, auxiliando do-
centes e pesquisadores na árdua e bela tarefa de educar e de explorar os
potenciais das tecnologias. Não percamos a esperança de unir forças e prá-
ticas pedagógicas com vistas a dias melhores e cenários educacionais menos
desafiadores. Tenha uma excelente leitura!
19
LITERATURA E TECNOLOGIAS: PRÁTICAS
DE LETRAMENTO LITERÁRIO SUBSIDIADAS
PELAS TECNOLOGIAS DIGITAIS
Gabriela Miranda Lima FABRIS
1
Gabriela Pedroso CARDOSO
2
Introdução
A leitura literária desempenha um papel fundamental no desenvolvi-
mento cognitivo, emocional e criativo das crianças. Além de proporcionar
o acesso a diferentes mundos e perspectivas, a literatura desperta a imagi-
nação, promove a empatia e estimula a reflexão crítica. No contexto edu-
cacional, a etapa do Ensino Fundamental desempenha um papel crucial na
formação de leitores competentes e apaixonados.
Com o advento da tecnologia digital e uma sociedade cada vez mais
voltada para o visual, é essencial encontrar estratégias eficazes para engajar
e envolver os alunos com a literatura. O estímulo ao hábito de leitura desde
os primeiros anos escolares é importante para a formação de leitores autô-
nomos e críticos, capazes de desfrutar e compreender a riqueza dos textos
literários.
No entanto, a literatura corre perigo (Todorov, 2009). Seja no am-
biente escolar, seja no reduto familiar, são frequentes os discursos de “os
1
Mestra em Letras / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP / campus de Assis / SP / Brasil / E-mail: gabrielamlfabris@gmail.com
2
Mestra em Letras e Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Marília / SP /
Brasil / Integrante do Grupo de Pesquisa em Antropologia e Educação / E-mail: gp.cardoso@
unesp.br
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-513-1.p19-46
20
jovens não leem mais” ou “essas crianças não saem do celular”. Preocupa-
ções como essas não são infundadas, visto que, de fato, pesquisas – como a
Retratos da Leitura no Brasil (Instituto Pró-livro, 2020) - relatam que, com
o passar dos anos, a tendência é a diminuição da frequência de leitura: no
Brasil, a partir dos 11 anos, as crianças começam a abandonar os livros.
Um dos motivos para esse abandono pode ser a chamada didatização
da leitura, ou seja, a maneira como a literatura é enfocada no ambiente es-
colar, a qual, muitas vezes, traz leituras repetidas ou abordagens que apenas
geram desinteresse e apatia dos alunos em relação às obras (Silva, 1984).
Muitas vezes, perde-se a oportunidade de ações significativas com as
obras literárias, pois foca-se em análises superficiais como espaço, tempo,
tipo de narrador ou ainda como pretexto para análises gramaticais. No En-
sino Médio, a problemática é ainda maior, visto que a literatura, frequente-
mente, apresenta-se, apenas, por meio das características das escolas literá-
rias, nomes dos autores, análises de métricas, rimas, dentre outras. Temos,
então, aulas sobre literatura e não de literatura (Rouxel, 2013), pois o con-
tato com o texto integral não é privilegiado.
Não é intenção deste trabalho questionar a relevância de análises de
obras literárias mais técnicas, mas sim, a predominância dessas, preterindo
abordagens que, comprovadamente, poderiam despertar o interesse da lei-
tura nesses jovens, favorecendo a criação do hábito de leitura, a formação do
gosto, o vínculo com as obras e, consequentemente, usufruir dos benefícios
– pessoais e educacionais – dessa prática, posto que a literatura é um direito
(Candido, 2017).
Pode-se destacar, entre as abordagens de ensino, a Leitura Subjetiva, a
qual considera que os alunos devem expressar suas impressões de leitura, os
sentimentos e descobertas proporcionados pela obra, sem que essas impres-
sões sejam deslegitimadas ou desvalorizadas.
Em seu ensaio canônico, O direito à literatura (2017), Antonio Can-
dido afirma que os bens incompressíveis não são somente os que asseveram
dignamente a sobrevivência física, como a saúde, a alimentação, a moradia,
a instrução, o amparo à justiça pública, mas também aqueles que garantem
a integridade espiritual, como o direito à crença, ao lazer, à opinião, à arte
e, portanto, à literatura.
21
Porém, alerta que, para pensarmos em direitos humanos, é necessário
reconhecermos que aquilo que consideramos indispensável para nós, é tam-
bém indispensável para o outro. Candido (2017, p. 193) associa tal direito
a uma sociedade justa, pois esta “pressupõe o respeito dos direitos humanos,
e a fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os
níveis é um direito inalienável”. Ressalta, ainda, a importância de que, em
sociedades desiguais como a nossa, haja esforço dos “governos esclarecidos
e dos “homens de boa vontade” para que a falta de oportunidades culturais
seja sanada.
Um ensino significativo das práticas de leitura torna-se ainda mais
evidente quando considerados os dados do Programa Internacional de Ava-
liação dos Estudantes - PISA 2018, os quais demonstraram que 50% dos
alunos avaliados não alcançaram o desempenho mínimo esperado em profi-
ciência leitora, fazendo com que o Brasil ocupe o 57º lugar, entre 77 países,
nesta categoria. Ou seja, considerando-se que a proficiência leitora é uma
habilidade essencial para que o ser humano possa agir com autonomia em
suas atividades diárias, é preocupante o quadro da proficiência leitora dos
jovens estudantes.
Soma-se a isso o fato de que as configurações da sociedade atual, per-
meada pelas tecnologias digitais, levaram, inclusive, a uma ampliação do
conceito de letramento em leitura, agora abrangendo “tanto os processos
básicos de Leitura quanto às habilidades de Leitura Digital de nível supe-
rior, ao mesmo tempo que reconhece que o letramento continuará a mudar
devido à influência de novas tecnologias e à mudança dos contextos sociais
(Leu et al., 2013, 2015 apud Brasil, 2018). Percebe-se, dessa forma, que, se
quisermos melhorar esse quadro, há a necessidade de que as atividades de
leitura na escola estejam adequadas à nova realidade.
Diante desses dados, enquanto professoras de Língua Portuguesa no
Fundamental II, buscamos alternativas para o desenvolvimento de ativida-
des literárias significativas para o perfil do alunado - pertencente à geração
Z, logo, conectado o tempo todo - tentando aliar as tecnologias às teorias
de ensino literário. Afinal, a Base Nacional Comum Curricular, doravante
BNCC (2018), aponta que a cultura digital e as culturas juvenis, dentre
outras diversidades, devem ser consideradas. Dessa forma, cabe ao professor
22
criar condições para que o encontro do aluno com a literatura seja uma
busca plena de sentido para o texto literário, para o próprio aluno e para a
sociedade em que todos estão inseridos” (Cosson, 2018, p. 29).
As atividades relatadas neste artigo foram desenvolvidas com base nos
pressupostos teóricos do letramento literário (Cosson, 2018), da Leitura
Subjetiva (Langlade, Petit, Rouxel, 2013; Petit, 2013; Rezende, 2013), dos
multiletramentos (Coscarelli, 2006; Rojo, 2012, 2019) e do letramento di-
gital (Xavier, 2011). O principal objetivo era desenvolver a prática da leitura
literária, acolhendo a subjetividade do leitor e, posteriormente, registrar es-
sas impressões em um diário de leitura. Além do diário de leitura, também
foi proposta a escrita de uma autobiografia do leitor, ou seja, uma reflexão
sobre o “eu leitor” e suas relações com a literatura. Para a etapa de produção,
foram utilizadas as plataformas Google Jamboard (para as autobiografias) e
Padlet (para os diários de leitura), com vistas ao desenvolvimento do letra-
mento digital.
Consideramos que os resultados do trabalho foram muito significa-
tivos, posto que muitos alunos participaram ativamente das práticas pro-
postas, realizando leituras, reflexões acerca dos trabalhos e desenvolvendo
produções bem elaboradas, fortalecendo a comunidade de leitores.
O letramento literário no Ensino Fundamental
Em uma das mais famosas citações sobre a importância da literatura,
Candido (2004, p.180) a considera como meio capaz de desenvolver em nós
a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos
e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante”. Essa ideia de mudan-
ças que a literatura pode fazer com os leitores vai ao encontro de uma das
concepções do historiador Roger Chartier (1990), quando nos afirma que o
ser humano é formado por suas representações, e que elas vão, ao longo do
tempo, no decorrer das experiências que esse indivíduo vive, sendo ressigni-
ficadas. Essas representações são a força social das percepções do mundo e é
a partir delas que o indivíduo se move no mundo.
Semelhante ao defendido por Candido, Cosson (2018, p. 23) enten-
de que o letramento literário é “uma prática social e, como tal, responsabili-
dade da escola”. A necessidade de ensino, também, está prevista na BNCC,
23
a qual elenca, entre as Competências Específicas de Língua Portuguesa para
o Ensino Fundamental, que:
9. Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desen-
volvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e ou-
tras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimen-
sões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial
transformador e humanizador da experiência com a literatura. (Brasil,
2018, p. 87 - grifos nossos).
Percebe-se que as expectativas de ensino da literatura no espaço esco-
lar previstas pela BNCC alinham-se ao defendido pelos estudiosos, ou seja,
um trabalho que consiga desenvolver o potencial humanizador da literatura
nos educandos. Contudo, na contramão do esperado, a escola, ao priorizar
o trabalho com a literatura por meio de infinitas fichas de análise, divisão
de leitura por faixa etária, dentre outros fatores, acaba por extinguir o entu-
siasmo dos alunos.
Esta, no entanto, não é uma problemática exclusiva do Brasil, como
pode ser visto na obra de Petit (2013, p. 57), a qual constatou que os alunos
franceses, também, se queixavam “das aulas em que se dissecam os textos,
das horríveis fichas de leitura, do jargão, dos programas arcaicos”. Rouxel
(2013, p. 192), também francesa, afirma que “o excesso de formalismo [...]
entrava todo e qualquer investimento fantasmático, ético e estético do leitor
como sujeito” e que o exercício escolar apresenta-se como “o fracasso pro-
gramado de um encontro cujas vítimas são o texto e o leitor”.
Entende-se o supracitado como uma didatização da leitura mal com-
preendida, na qual as práticas são pautadas em leituras repetidas, análises
superficiais das obras, apenas para cumprir o conteúdo exigido pelo profes-
sor, levando os discentes a lerem apenas aquelas obras que são consideradas
parte da matéria”.
Ressalta-se que, além deste, existem outros fatores dificultadores para
o desenvolvimento da leitura literária na escola, como, por exemplo, a quan-
tidade insuficiente de exemplares de cada obra, fazendo com que, muitas
vezes, os alunos tenham de dividir um livro – fato que pode comprometer a
qualidade da leitura, visto que cada pessoa possui um ritmo de leitura.
24
Ademais, quando pensamos no papel do docente nesse processo, é
preciso que se reflita acerca do como se ensinar a literatura na escola, “sem
transformá-la em um simulacro de si mesma que mais nega do que confirma
seu poder de humanização”. (Cosson, 2018, p. 23). Um dos caminhos pos-
síveis é o resgate da subjetividade do leitor, acolhendo suas impressões, emo-
ções, ideias, dentre outros, sobre a obra literária. Destaca-se, desta forma, a
Leitura Subjetiva - a ser discutida no próximo tópico - como abordagem de
ensino nas escolas.
A Leitura Subjetiva
A Leitura Subjetiva ressurgiu no cenário acadêmico com a realização
do colóquio intitulado Sujeitos leitores e ensino da literatura, na França, em
2004. A partir dos artigos apresentados no evento, foi publicado o livro
Leitura subjetiva e ensino de literatura (2013), organizado por Annie Rouxel,
Gerard Langlade e Neide Luzia de Rezende. Tais artigos abordam a tensão
entre direitos do texto e direitos do leitor, frisando a importância que a ex-
periência desta abordagem pode ter no ensino de literatura.
As práticas de leitura literária que dão espaço à Leitura Subjetiva, aco-
lhem as vivências, representações, memórias e processos do leitor, conside-
rando sua biblioteca vivida e sua afetividade, buscando uma relação mais
pessoal com o texto, pois como afirma Bayard (apud Langlade, 2013, p.
30), “somos sensíveis, em uma obra, primeiramente àquilo que nela nos
diz respeito”. Comumente, porém, a subjetividade é vista como um traço
negativo na leitura, pois considera-se que a implicação pessoal do leitor no
texto pode gerar “de erros de leitura a contrassensos” (Jouve, 2013, p. 53).
Para Langlade (2013, p. 30), no entanto, “as reações subjetivas, ao invés de
excluir as obras para ‘fora da literatura’, seriam, na verdade, catalisadoras de
leitura que alimentariam o trajeto interpretativo até sua dimensão reflexiva”.
Como discutido anteriormente, a escola tem, ao longo dos anos, ne-
gligenciado a efetiva leitura dos textos literários, bem como o diálogo entre
texto e leitor, ao privilegiar atividades focadas em aspectos formais dos tex-
tos, “como objetos analisáveis em si mesmos e para eles mesmos” (Langlade;
Rouxel, 2013, p. 22).
Para Rouxel (2013c, p. 196), importa, portanto, “recolocar o sujeito
25
no centro da leitura”, afinal “é ele quem imprime sua forma singular à leitu-
ra literária e ao texto”. A autora chama a atenção para o fato de que a aná-
lise dos discursos e das práticas experientes de grandes leitores, jornalistas
e escritores revela a importância da subjetividade no modo de ler um texto
e questiona, então, a pertinência de “privar a leitura literária escolar desse
traço distintivo que a liberta de toda e qualquer subjetividade em nome da
análise formal” (Rouxel, 2013c, p. 195).
Para fugir dos “demônios didáticos do formalismo” (Langlade; Rou-
xel, 2013, p. 22), é preciso que se considere a dimensão subjetiva da leitura
e as realizações dos sujeitos leitores, já que
A implicação do sujeito dá sentido à prática da leitura, pois ela é, ao
mesmo tempo, o signo da apropriação do texto pelo leitor e a condição
necessária de um diálogo com o outro, graças à diversidade das recepções
de uma mesma obra. Uma tal perspectiva [...] se contrapõe a uma tra-
dição escolar antiga, mas ainda ativa, e a uma desconfiança crônica das
teorias literatura diante dos leitores empíricos.
Langlade (2013, p. 29) fala em “leitor subjetivo”, também chamado
de leitor arcaico, construído pelas experiências de leituras fundadoras, lei-
turas da infância que permanecem ativas, leituras de intenso investimento
afetivo que revelam gostos ecléticos, leituras que levam marcas do desenvol-
vimento de uma personalidade e dos encontros da vida. O autor, ainda, cha-
ma a atenção para a perturbadora semelhança entre o vocabulário amoroso
e o vocabulário utilizado para falar dessas leituras: “encontro, encantamento
súbito, paixão”.
Importante observar que, no espaço da leitura, o leitor subjetivo coe-
xiste com o leitor experto, entendido como conhecedor das teorias literárias,
aquele que se utiliza das informações históricas, culturais, estilísticas etc.,
que carrega em sua biblioteca interior o saber conceitual, do qual se benefi-
cia oportunamente. Na prática, porém, a separação entre o leitor subjetivo
e o leitor experto não é tão nítida, pois os dois se misturam no momento da
leitura, no mesmo leitor (Langlade, 2013, p. 30).
Nesse contexto, também são importantes os conceitos de leitura uti-
lização e leitura interpretação (Eco, 2004). A primeira refere-se à esfera pri-
26
vada, à busca de significações para si e se origina da experiência de mundo
do leitor, limitada ao universo pessoal dominado por crenças, enquanto a
segunda está relacionada a uma atividade social que implica na busca por
uma significação consensual e repousa sobre um saber a respeito da litera-
tura. Enquanto utilizar é “sonhar com olhos abertos”, caracterizado pela
liberdade, interpretar está ligado à racionalidade, é uma atividade constrita
de pensar. A interpretação busca o equilíbrio entre direitos do texto e direito
do leitor (Rouxel, 2013, p. 153).
Conforme Rouxel (2013, p. 164), é indispensável que os alunos co-
nheçam as “regras do jogo” e saibam diferenciar utilização, espaço priva-
do, de interpretação, espaço social. Porém, entende que “afigura-se urgente
reensinar os alunos a utilizar o texto para si mesmos, para sonhar, para reen-
contrar o gosto pela leitura”.
Os diários de bordo destacam-se, nesse cenário, como um “espaço de
liberdade” para que os alunos registrem suas impressões pessoais a partir da
leitura utilização. O registro nos diários pode se realizar de diversas formas:
por meio da seleção de citações, paráfrases, reformulações, resumos, comen-
tários espontâneos ou até mesmo cópias que revelem os momentos signifi-
cativos das leituras (Rouxel, 2013a). Para Rouxel (2013a, p. 187)
Qualquer que seja a forma escolhida - cópia, paráfrase, metadiscurso,
escrita criativa, caligrafia, desenho… -, esses traços de leitura são o signo
de um engajamento literário muito pessoal. Eles resultam de uma leitura
subjetiva sem a qual não existe experiência literária. Eles mostram tam-
bém que esta última encontra sua realização na escrita ou na arte.
A autobiografia de leitor também é considerada um gênero importante
na construção identitária do leitor. Rouxel (2013b) aborda sua escolarização
e afirma que esse gênero, totalmente centrado na leitura, “abre a reflexão para
a importância que pode ter a literatura na formação de um indivíduo, para a
multiplicidade de modos de apropriação dos textos, para o lugar da subjetivi-
dade no sujeito que constrói o sentido. Não é de se surpreender que a escola se
aproveite desse gênero” (2013b, p. 67). Para a autora, aqueles que mantêm uma
relação privilegiada com a literatura - tal como os escritores - ao se descreverem,
dificilmente conseguirão fazê-lo sem destacar os textos que marcaram suas vidas.
27
Ora, se optar por práticas que valorizam a Leitura Subjetiva dos alu-
nos, como o registro nos diários de leitura e a escrita de uma autobiografia
de leitor, passa por considerar suas vivências, faz sentido que se utilizem
ferramentas que sejam caras a eles e façam parte de suas vidas, como aquelas
relacionadas às tecnologias.
O letramento digital
A revolução digital causada pela presença massiva das Tecnologias Di-
gitais no cotidiano trouxe diversas mudanças em várias esferas da sociedade.
Temos, por exemplo, as ações cotidianas que são feitas com um simples
clique” - tais como comprar comida, fazer uma transferência bancária ou
planejar uma viagem; o estreitamento das relações devido à fácil conexão
por meio das mídias e redes sociais; o surgimento de novas demandas e a
necessidade de desenvolvimento de novos conhecimentos para efetiva par-
ticipação no mundo.
As mídias sociais ganharam também a função de suportes e trouxeram
novos gêneros textuais (digitais ou não) como o post, podcasts, vlogs, textos
multimodais, o “chat, o hipertexto, a multimídia, a hipermídia, os banners
publicitários, a literatura digital em toda a sua diversidade e, provavelmen-
te, alguns outros que ainda não somos capazes de mencionar” (Coscarelli,
2006, p.65). Ademais, houve mudanças cognitivas e estéticas dos textos na
internet, que demandam novas estratégias de compreensão (Rojo, 2019).
A presença das telas e desses novos suportes e gêneros acarretou a
necessidade de inclusão de várias habilidades digitais como objetivos de
aprendizagem dos documentos oficiais, como pode ser observado na BNCC
quanto às expectativas de aprendizagem das Competências Específicas de
Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental:
3. Ler, escutar e produzir textos orais, escritos e multissemióticos que
circulam em diferentes campos de atuação e mídias, com compreensão,
autonomia, fluência e criticidade, de modo a se expressar e partilhar in-
formações, experiências, ideias e sentimentos, e continuar aprendendo.
10. Mobilizar práticas da cultura digital, diferentes linguagens, mídias e
ferramentas digitais para expandir as formas de produzir sentidos (nos
processos de compreensão e produção), aprender e refletir sobre o mun-
28
do e realizar diferentes projetos autorais.
(Brasil, 2018, p.87 - grifos nossos)
Essas novas mídias, suportes e gêneros possuem novas formas de re-
cepção, compreensão e produção, ou seja, as práticas pautadas nos letra-
mentos mais tradicionais - da letra, do papel, da leitura uniforme de cima
para baixo e da esquerda para a direita - já não são suficientes para a for-
mação efetiva dos indivíduos. Ou seja, “se a escola permanecer (obrigada
a) aderir às características do antigo mundo semiótico e social, haverá uma
lacuna cada vez maior de prática, compreensão e disposição ao conhecimen-
to” (Kress; Gillen e Barton, 2010, p. 7).
Na esteira das mudanças, novos conceitos também surgiram, como o
letramento digital, o qual, de acordo com Xavier (2011), é o “domínio de
funções e ações necessárias à utilização eficiente e rápida de equipamentos
dotados de tecnologia digital, tais como computadores pessoais, telefones
celulares” etc. Percebe-se, a partir desse excerto, que muito mais do que ape-
nas dominar o código escrito em ambiente digital, o letrado digital “[...] uti-
liza os recursos expressivos como imagens, desenhos, vídeos para interagir
com outros sujeitos” (p. 6).
Essas mudanças também podem ser observadas nos instrumentos ava-
liativos, tal como o PISA, cuja avaliação de proficiências em Leitura abran-
ge “tanto os processos básicos de Leitura quanto as habilidades de Leitura
Digital de nível superior” e também reconhece que este conceito está em
constante mudança, devido à influência de novas tecnologias e à mudança
dos contextos sociais (Leu et al., 2013, 2015 apud Brasil, 2018).
Percebe-se que as práticas escolares pautadas nas tecnologias digi-
tais não podem ser consideradas inovação, mas sim, necessidade. Cardoso
(2021) ressalta que, mesmo depois de 25 anos do surgimento dos conceitos
de multiletramento e das explanações acerca da necessidade de uma meto-
dologia de ensino voltada para as necessidades digitais, as práticas escolares
ainda não conseguiram adequar-se totalmente a essa nova configuração.
Dessa forma, reconhecendo a relevância dessas habilidades, desenvol-
vemos uma série de atividades com o objetivo de fomentar tanto o letra-
mento literário quanto o letramento digital.
29
A Escolha das obras literárias
A prática foi desenvolvida pelas autoras, ambas professoras de Língua
Portuguesa no Ensino Fundamental de escolas públicas. Sempre buscamos
desenvolver práticas de letramento literário com os alunos, principalmente
diante do crescente desinteresse deles pela leitura em geral. Como prática já
consolidada na sala de aula, uma vez por semana fazíamos a aula de leitura,
na qual eram desenvolvidas diferentes abordagens, tais como leitura livre,
leitura compartilhada, livros a escolha do leitor, livros orientados pela pro-
fessora, dentre outras.
No entanto, apesar das frequentes aulas, havia a sensação de que mui-
tos alunos, quando participavam da aula de leitura, apenas o faziam por
obrigação. No exercício da docência, principalmente no trabalho com a lite-
ratura, é comum a prática diária pautar-se, automaticamente, nas experiên-
cias e expectativas dos materiais já disponíveis e nas atividades então conhe-
cidas e desenvolvidas. Isso nos leva, de forma equivocada, a negligenciar o
diálogo com as teorias apresentadas na universidade, criando uma distância
entre o ambiente escolar e acadêmico
Sendo assim, buscando um melhor aproveitamento das aulas, recor-
remos às teorias de ensino literário, a fim de encontrar alternativas que pu-
dessem auxiliar no processo para, mais do que apenas realizarem as leituras
por obrigação, os discentes conseguissem, de fato, criar uma conexão com
a literatura.
Uma vez decidida a abordagem de trabalho com base na Leitura Sub-
jetiva, as obras foram minuciosamente escolhidas. O objetivo, inicialmente,
era apresentar obras de diversos gêneros, no entanto, devido à disponibili-
dade das obras na escola e também da interdisciplinaridade com História,
foram trabalhadas a História em Quadrinhos (HQ) e a narrativa.
A primeira obra selecionada foi a versão em quadrinhos do livro O
diário de Anne Frank, escrito por Mirella Spinelli. A escolha dessa obra se
deu para que os alunos pudessem aprender sobre o período da Segunda
Guerra Mundial e do Nazismo tanto pela visão histórica quanto pela visão
literária. Devido à quantidade de exemplares disponíveis na biblioteca da
escola, cada aluno recebeu um livro para fazer a leitura autônoma.
30
Após a leitura, por tratar-se da primeira vez que fariam esse tipo de
exercício/reflexão sobre a leitura, realizamos uma roda de conversa com
questões norteadoras como (i) o que você achou da leitura; (ii) como foi a
experiência de ler a história em quadrinhos?; (iii) quais sentimentos/emo-
ções a leitura te despertou?; (iv) você ficou com vontade de conhecer mais
sobre a história?; (v) depois dessa leitura, você acredita que vá ler outras
obras por conta própria?
Depois da discussão, pedimos que os alunos registrassem no caderno
suas considerações a respeito da leitura. Seguindo as recomendações de Lan-
glade (2013), orientamos que os registros sobre a obra poderiam ser feitos
como eles quisessem: escrevendo suas impressões, desenhando, anotando
frases que mais gostaram, fazendo vídeos etc.
A segunda leitura escolhida foi Venha ver o pôr do sol, de Lygia Fagun-
des Telles. A escolha dessa obra deu-se por dois motivos: o primeiro, pelo
fato de ser uma intertextualidade com o conto O barril de amontillado, de
Edgar Allan Poe, que também fora trabalhado nas nas aulas. Portanto, apro-
veitamos a oportunidade de trabalhar com os conceitos de intertextualida-
de, plágio, adaptação etc.. O segundo motivo foi pelo fato de ser uma obra
de suspense - que geralmente interessa aos adolescentes - e por proporcionar
a chance de discutir os abusos possíveis em relacionamentos, feminicídio,
dentre outros.
A terceira obra lida foi Um cinturão, de Graciliano Ramos. A leitura
dos clássicos, por vezes, é densa e desafiadora e pode se beneficiar da inter-
mediação do professor. Levar o cânone para a sala de aula, portanto, foi um
critério utilizado na escolha do texto para o desenvolvimento das atividades.
Neste conto, o narrador retrata o momento em que, ainda um meni-
no de quatro para cinco anos, é castigado fisicamente pelo pai por algo que
não fez, tendo ali, o primeiro contato de sua vida com a (in)justiça. Um cin-
turão traz uma temática fraturante (Ramos; Navas, 2015), a violência infan-
til, que, mesmo com tanto progresso no que concerne às leis de proteção às
crianças e aos adolescentes desde sua publicação em 1945, ainda permanece
absurda e dolorosamente atual.
Essas obras também foram escolhidas devido aos temas que trazem
- dor, morte, relacionamento abusivo etc -, pois tínhamos a expectativa de
31
demonstrar que a leitura seria capaz de despertar sentimentos e emoções.
As obras que abordam esses temas sensíveis recebem o nome de leitura fra-
turante. Quando falamos em temas fraturantes, “relacionamos as circuns-
tâncias de natureza delicada, uma vez que tratam, no geral, de sentimen-
tos ou situações alusivas à dor, morte, violência, abuso, raiva, entre outros
(Aguiar, 2022, p. 11).
A escola não pode fugir de temas dessa natureza, seguindo a lógica
negacionista de que, ao não se falar sobre o assunto, ele deixa de existir.
Seria, também, negar o potencial que a literatura tem de nos organizar e nos
libertar do caos “pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mun-
do” (Candido, 2012, p. 30)
Por fim, para finalizarmos o ciclo de leitura e a interdisciplinaridade
com História, selecionamos a obra O menino do pijama listrado. No entanto,
devido à aproximação do final do ano letivo, nem todos conseguiram ter-
minar a leitura do livro, portanto, quase não tivemos impressões de leitura
sobre ele.
O desenvolvimento das atividades
A autobiografia
Logo após darmos início à primeira leitura, começamos a trabalhar as
autobiografias.
A autobiografia de leitor é considerada um gênero importante na
construção identitária do leitor e sua escolarização é abordada por Rouxel
(2013b). Para a autora, aqueles que mantêm uma relação privilegiada com
a literatura - tal como os escritores - ao refletirem sobre suas vivências, es-
pecialmente com a literatura e ao se descreverem, dificilmente conseguirão
fazê-lo sem destacar os textos que marcaram suas vidas.
No entanto, ela afirma - e também foi comprovado nesta prática -
que, ao se usar o gênero para jovens leitores, conclui-se que, inegavelmen-
te, há dificuldades e desafios, pois elas podem revelar a leitura como um
sofrimento e evidenciar o caráter “obrigatório” da leitura escolar. Porém,
mesmo considerando as dificuldades, a prática é carregada de ensinamentos
para o professor e para o leitor em formação, uma vez que, ao projetar uma
imagem de si mesmo na consciência, a autobiografia torna-se um gesto de
32
construção ou afirmação da identidade do jovem leitor.
Segundo Cosson, há vários tipos de textos autobiográficos que podem
ser utilizados como parte das atividades de leitura: pode-se pedir que os alu-
nos destaquem um episódio de suas vidas e o relacionem com um episódio
do texto lido; pode-se, ainda, pedir que eles digam o que fariam se estives-
sem no lugar da personagem, dentre outros. Como se percebe, “há muitas
possibilidades de uso do princípio da autobiografia, isto é, atividades cujo
traço comum é a conexão que o leitor faz entre o texto e sua vida”. (Cosson,
2018, p. 134).
No caso da prática aqui relatada, o objetivo da autobiografia foi levar
os alunos - estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental - à reflexão sobre
seu percurso de leitor, lembrando das obras que costumavam ler, descreven-
do suas experiências - boas ou ruins - com a leitura.
Foram distribuídas aos alunos algumas perguntas norteadoras para
que eles pudessem refletir sobre o seu “eu-leitor”: 1. Quais são suas memó-
rias relacionadas à leitura, dentro e fora da escola? 2. Que livro/texto deixou
marcas? 3. Que sentimentos essas memórias despertam? 4. O que desperta
sua curiosidade? 5. Que tipo de leitor você é hoje? 6. Você gosta de ler? Por
quê? (Fabris, 2021, p.76).
Pedimos que escrevessem o texto no caderno para, posteriormente,
fazerem na plataforma destinada - neste caso, o Google Jamboard. O Jam-
board é definido pela própria Google (2023) como “uma tela inteligente”.
Este software - uma tela em branco - ficou conhecido durante o ensino re-
moto, pois permitia, durante as chamadas de vídeo pelo Google Meet, a cria-
ção coletiva de textos e, até mesmo slides, tornando as aulas mais dinâmicas
e permitindo a participação ativa dos alunos.
Optamos por ele pela oferta de recursos que, se comparados a outros
editores de imagem - tal como o Canva - são mais limitados, no entanto,
há uma interface fácil e intuitiva. Os alunos conseguiram fazer construções
bem elaboradas e deixaram o frame de acordo com seu gosto.
Durante alguns dias, as aulas foram desenvolvidas na sala de infor-
mática e, também, na sala de aula, pois era possível levar alguns laptops da
escola para que eles trabalhassem. No geral, a escrita da autobiografia foi
uma atividade individual, contudo, em vários momentos, presenciamos al-
33
guns colegas auxiliando outros - geralmente para dicas de como personalizar
o quadro.
Os diários de leitura
Diários de leitura são, como explica Cosson (2018), atividades inspi-
radas nos diários de bordo ou diários de campo, em que o professor orienta
o aluno a escrever um diário, registrando suas impressões sobre o livro du-
rante a leitura. Dentre as possibilidades de registro levantadas pelo autor,
destacam-se dois tipos na prática dos alunos: o diário de leitura (registros
feitos em casa ou na sala sobre a leitura) e o diário ilustrado (criado com
imagens relacionadas aos textos lidos ou desenhos realizados pelos alunos).
Vemos os diários de leitura como excelente ferramenta para aproxi-
mar os alunos da literatura, uma vez que, conforme exposto por Rouxel
(2013, p.156) “a leitura cursiva oferece ao leitor um espaço de liberdade: é
a função dos diários de leitura”. Os alunos são convidados a utilizar o texto,
fazendo-o brilhar em todas as suas ressonâncias”.
Desenvolver os diários de leitura não é abandonar o estudo da obra,
mas sim, acolher e dar espaço às impressões dos alunos, bem como auxiliá-
-los a enxergar que é a eles que a literatura se dirige por meio dos textos. Na
análise das autobiografias, percebemos que muitos desses jovens leitores não
tinham memórias de uma conexão mais profunda com obras lidas. É preciso
mostrar que o texto não é um objeto escolar cuja função é uma análise fria,
impessoal e esvaziada de significados.
Para o registro dos diários de leitura, foi utilizada a plataforma Padlet,
que, em linhas gerais, “permite que todos criem o conteúdo que pretendem,
quer se trate de um quadro de avisos rápido, de um blog ou de um portfólio
(Padlet, 2023) on-line que permite a exposição de textos, vídeos, imagens,
links etc. A vantagem é poder compartilhar as produções com um público
restrito (quando se deixa o mural privado) ou com o público geral (quando
se deixa o acesso aberto).
Há, ainda, o benefício de permitir o trabalho colaborativo, reações e
comentários nos materiais ali postados, além de ter ferramentas intuitivas
para a produção de conteúdo. A escolha pelo Padlet foi considerada um
acerto, uma vez que foi possível o desenvolvimento de várias habilidades
34
digitais durante a produção dos diários.
Ademais, tanto o Letramento Literário de Cosson (2018) quanto os
pressupostos da Leitura Subjetiva frisam a importância da formação de uma
comunidade de leitores na escola, resultante dos processos de leitura.
Percebemos que, ao produzirem seus diários, houve muita cooperação
entre os colegas, que sempre ajudavam aqueles que estavam com dificuldade
no processo, o que pôde colaborar para uma interação maior ainda entre os
leitores, pois, inevitavelmente, falavam sobre os textos lidos e suas impres-
sões a serem registradas.
Análise das autobiografias e dos diários de leitura
A análise dos materiais produzidos pelos alunos enquadram-se em
dois extremos: aqueles que gostam de ler e entendem a importância da lei-
tura, mas ainda assim consideram a leitura escolar desinteressante; e aqueles
que não apreciam a leitura de maneira alguma.
Os relatos confirmaram o que os dados de pesquisa demonstram: (i)
os alunos leem quando crianças, mas perdem o hábito com o passar do tem-
po; (ii) muitos não conseguem citar obras que “deixaram marcas”, ou seja,
não tiveram - ou não sabem identificar - uma relação pessoal, próxima e,
portanto, significativa com a leitura literária.
Constatamos, ainda, que muitos deles, apesar do hábito de leitura,
não se consideram leitores, pois leem obras consideradas “menores”. A esse
respeito, Lajolo (2018, p. 28) explana que a escola é uma instituição res-
ponsável pelo “endosso do caráter literário de obras que aspiram ao status
de literatura [...](e) é uma das maiores responsáveis pela sagração ou pela
desqualificação de obras e de autores”, ou seja, tem grande poder e influên-
cia na decisão do que “é bom” e o que não é; no que deve e o que não deve
ser lido.
No entanto, a cada dia, surgem as culturas juvenis contemporâneas:
cada vez mais hibridizadas, desterritorializadas e constituídas por multicul-
turalidades (Rojo, 2012). Essas novas culturas, mídias e gêneros requerem
novas éticas e estéticas, contribuindo para que a forma de trabalho com a
literatura também careça de transformações para que dialogue com as novas
gerações de leitores, os quais leem de várias formas e em diferentes suportes.
35
Esse olhar para as novas práticas de ensino quanto à literatura já tem seu
lugar inclusive na BNCC, a qual, no Ensino Fundamental:
apresenta propostas importantes no sentido de incentivar essas práti-
cas, a partir de uma perspectiva que leva em conta a particularidade
de leitura subjetiva do aluno e não apenas a de especialistas e do livro
didático; nesses documentos ganham legitimação as culturas juvenis e
multimodais, associadas às novas tecnologias, alterando bastante os hori-
zontes curriculares de todo o ensino básico. (Rezende, 2018, p. 96 apud
Cardoso, 2022, p. 13).
Dessa forma, percebe-se a necessidade de uma ampliação dos concei-
tos de literatura na esfera escolar, acolhendo as preferências e subjetividades
do alunado, trazendo para as aulas de leitura os best-sellers, os cânones, as
fanfics, as histórias em quadrinhos, dentre outros.
Esse afastamento em relação à literatura, ou seja, a ideia de que suas
subjetividades não são pertinentes no trabalho com a leitura, evidenciou-se
na produção dos diários. Muitos alunos fizeram resumos das obras, revelan-
do traços da ideia que eles têm sobre as atividades escolares com leitura, as
quais, no geral, não permitem a expressão de suas ideias.
No entanto, também deparamo-nos com alunos que conseguiram de-
monstrar a profunda conexão que desenvolveram com as obras. Quanto ao
tipo de registro realizado, tivemos os relatos escritos, alguns diários ilustra-
dos e, também, alguns vídeos que relacionam a temática da obra à realidade
vivida em nossa sociedade. A seguir, apresentamos alguns excertos das auto-
biografias, os quais ilustram os aspectos previamente levantados:
Tabela 1. Relatos de alunos sobre a relação com a leitura - autobiografia.
Não gosto de ler, não tenho relação com nenhum tipo de leitura, não tem
nenhum livro que marcou minha vida.
Eu sou uma pessoa que não pratico muito a leitura, não sou muito fã de ler
livros, mas se for alguma fanfic ou casos criminais, me interessa bastante. Me
considero um leitor preguiçoso.
Eu aprecio muito a leitura, gosto muito de ler, principalmente livros físicos,
gosto de sentir a textura do papel em minha mão, o cheiro da folha o
barulhinho que faz quando viramos a página, aprecio mais livros físicos, porém
já li alguns livros digitais.
36
Eu gosto de um livrinho que tenho desde pequeno chamado “Diário de um
banana”. A leitura me ajudou muito, eu não tinha amigos, tinha apenas o meu
livro, e eu gostava tanto, ele era o meu melhor amigo [...]
Fonte: Autoras, 2023.
Dentre os quatro relatos selecionados para a amostra, trouxemos
exemplos dos alunos que, ao avaliarem seu percurso literário, classificaram-
-se como “não leitores” e também não conseguiram identificar obras que
tenham marcado suas vidas. Este não é um relato isolado, o que confirma o
que foi anteriormente comentado de que, muitas vezes, a maneira como a
literatura é trabalhada no ambiente escolar é “sofrida” para os alunos e não
consegue produzir a transformação esperada.
Já o segundo, exemplifica os alunos que leem, sim, mas que, por não
serem tão assíduos ou por lerem obras não valorizadas pela esfera escolar,
acabam não se identificando como leitores. Percebemos a presença de novos
gêneros, tal como a fanfic - gênero que tem se popularizado entre esses jo-
vens -, mas que ainda não conseguiu adentrar os muros da escola.
O terceiro relato representa os alunos que sim, consideram-se leitores
e assumem sua paixão pela literatura. Este excerto, quase poético em sua
maneira de relatar o prazer de ler um livro, retrata a verdadeira conexão da
aluna com a literatura, ressaltando o poder transformador da prática, corro-
borando o exposto por Todorov (2009) de que a literatura pode “[...] em seu
percurso, nos transformar a cada um de nós a partir de dentro” (pp. 76-77).
Pode-se dizer que o mesmo fator humanizador ocorre com o quarto
relato, no qual o aluno revela sua conexão com a série de livros infanto-juve-
nil Diário de um banana. Ao destacar sua relação com a leitura, ele considera
que o livro foi seu amigo, ou seja, era por meio da leitura que ele encontrava
o conforto para suas dificuldades na adolescência.
Tabela 2. Relatos de alunos sobre a leitura na escola - autobiografia.
Minha memória com a leitura na escola é quando a professora passa a aula de
leitura. Um livro que me deixou marcas foi “Sherlock Holmes” que li na aula
de leitura e me desperta o sentimento de quanto mais eu leio, mais quero saber
o final.
37
[...] eu adoro e admiro muito essas aulas, porque além do fim didático que
ela nos proporciona (melhorar a leitura, a escrita etc), ela me promove uma
experiência pessoal muito especial porque [...] há momentos que eu paro,
escuto e penso: ela está lendo para mim! Isso é uma satisfação inesquecível, por
isso eu só tenho que agradecer essas aulas.
[...] amo leituras ao ar livre, então ler dentro da escola não me encanta muito,
porque além de ser um lugar fechado, também costuma ser barulhento.
[...] eu não leio muitos livros, porque não tenho tempo, com isso gosto muito
das aulas de leitura da professora. recentemente ela começou a ler para nós
o menino do pijama listrado”, o que eu achei simplesmente incrível. Minha
família não gosta muito de livros e histórias, por isso nunca tive alguém que
lesse para mim [...]
Fonte: Autoras, 2023.
As opiniões sobre as aulas de leitura na escola foram importantes para as
autoras, pois demonstraram que, apesar das dificuldades e resistências de grande
parte dos alunos, muitos deles gostavam dessas aulas, o que ofereceu um ânimo
a mais para continuar trilhando este caminho. Ademais, depois das devolutivas
deles, ficou mais fácil entender suas preferências e adequar as aulas para que
pudessem ser, de fato, significativas para a maior quantidade possível.
Como explicitado anteriormente, tínhamos diferentes abordagens de
leitura: obras escolhidas pelos alunos, leituras individuais, leituras em gru-
po, obras escolhidas pela docente etc., sendo assim, os relatos demonstraram
que não há um consenso entre os discentes, pois muitos disseram que não
gostam da leitura no ambiente escolar - devido ao barulho, por exemplo -,
enquanto outros preferiam as leituras individuais em que podiam escolher
suas obras e, conforme exposto pelo segundo e quarto relatos, alguns sen-
tiam-se encantados com o fato de ter um adulto lendo para eles.
Tabela 3. Registros do diário de leitura sobre “Venha ver o pôr do sol” - diário de leitura
Uma história intrigante, porque no começo você acha que é uma simples
história de amor, um encontro maravilhoso. Mas de repente, uma reviravolta
gigantesca que ninguém vai esperar. Eu amei o estilo da história, foi um
suspense maravilhoso. Recomendo para todas as pessoas que amam uma
reviravolta na história.
38
bom, quando a professora deu essa opção de leitura eu achei que iria ser uma
história de um casal apaçonado, o no princípio estava ate bom, mas do meio
pro final foi uma leitura que surpreendeu, foi uma viravolta chocante, achei
tudo muito bem talhado porem confesso que não é muito meu estilo de livro
pois gosto de leituras que eu possa entrar em meu mundo de fantasia, mas
mesmo assim consegui a leitura muito boa, vou ficar por aqui e espero que
vocês curtam meu diário de leitura.
eu não curto muito esses tipos de história, mas esse eu realmente gostei. ela é
um bom exemplo para adolescentes de hoje em dia que confia em qualquer um
que chama para conversar, seja por “redes sociais” ou em “lugares públicos”
Fonte: Autoras, 2023.
Os diários sobre essa leitura revelaram que os leitores se conectaram
com a obra, no sentido de relacioná-la à própria realidade, uma vez que,
como pode ser visto no terceiro excerto, concluiu que, na vida real, há mui-
tos riscos parecidos com o da história. Um dos diários, inclusive, foi feito
em forma de vídeo, no qual a aluna trouxe notícias e estatísticas sobre femi-
nicídio (temática principal do conto).
O segundo excerto é um exemplo das leituras que nos fazem “abstrair a
realidade” em um mundo imaginário - característica dos gêneros fantasia e fic-
ção, ou seja, o uso da literatura como refúgio. De acordo com Smith (2016 apud
Sousa, 2023, p. 1), essas leituras como refúgio são convidativas, pois “a literatura
pode oferecer um refúgio para aqueles que buscam escapar da realidade, bem
como um espaço para explorar questões complexas e perturbadoras”.
Tabela 4. Registros do diário de leitura sobre
“O diário de Anne Frank - em quadrinhos” - diário de leitura
Eu nao gostei desse livro, nunca gostei e ainda nao gosto, pelo simples fato
dela morrer em um campo de concentracao. Mais eu indico.... e um livro
interessante.
Minha opinião sobre o livro: é uma história interessante pois ela relata fatos
que aconteceram na vida real. É interessante ler para saber o que aconteceu há
anos atrás com com as pessoas judias, principalmente com as palavras de Anne,
porque o livro saiu do seu diário feito durante esse período. Foi uma história
que me chamou a atenção e com certeza por ser uma HQ fica mais interessante
de ler. Amei e recomendo muito.
39
Gostei muito da obra, principalmente por ser em quadrinhos, o que não deixa
a leitura tão tediante, e é possível imaginar-mos com mais clareza o que se
passava ao decorrer do livro.
Apesar de ser um acontecimento muito triste, é um livro muito interessante,
conseguimos ver o quanto era triste viver como um judeu naquela terrível
época, e que mesmo com tudo o que estava acontecendo Anne nunca deixou
de ter esperanças de que algum dia tudo se resolveria e a guerra teria fim.
Fonte: Autoras, 2023.
A respeito do Diário de Anne Frank, muitos alunos consideraram
bom o fato de a história ser em quadrinhos, pois, além de facilitar, deixava a
leitura mais dinâmica. Acreditamos que o fato de ser uma história real, com
uma menina que estava na mesma faixa etária dos alunos, e por ter tantas
tragédias e passagens tristes, faz com que muitos estudantes criem certa “re-
sistência” com a obra, alegando que não gostam do livro. Percebemos que
isso ocorre devido a todas as situações adversas e à morte da garota, não por
conta do conteúdo em si.
Tabela 5. Registros do diário de leitura sobre “Um cinturão” - diário de leitura
Não gostei desse conto pelo conteúdo, achei muito agressivo e traumatizante
por conta que a criança sofria agressão de seus pais e isso acabou prejudicando
ele até hoje no futuro. obs;não leria novamente
Essa leitura me despertou um sentimento de raiva, pois uma criança tão
pequena não merecia ser vítima de uma injustiça tão grande; Mas, infelizmente,
esse tipo de situação é cada vez mais comum, e acontece com crianças
pequenas, grandes e também não só com crianças, e infelizmente tem gente que
romantiza esse tipo de comportamento dos pais. Eu particularmente acho isso
ridículo, eu mesma já presenciei situações desse tipo, e descontar a raiva nos
filhos, não ajuda em nada, você não vai estar educando, mas sim traumatizando
e afastando seu filho de você.
40
Não gostei do texto ,pois não só me traz lembranças de toda a minha infância
como traz de volta o terrível sentimento de medo ,tristeza ,ódio e principalmente
o de traição e decepção ,como ela pode fazer isso comigo ,me senti tão traída
,desamparada como minha própria mãe pode prometer “Nunca vou deixar
de acreditar em você para acreditar em ninguém’ ,ela disse e eu me perguntei
[depois de 12 anos você só diz isso agora ?] ,mas eu estava enganada NADA
mudou ela continuava me batendo e me deixando marcas vermelhas nas pernas
[doía para andar mas eu não falava nada ,afinal ela iria fazer pior se eu dissesse
alguma coisa] ,a pior lembrança da minha infância toda era ouvir meus pais
gritarem ,gritavam comigo na maioria das vezes ,ou um com o outro ,mas eu
nunca tinha feito nada ,entre tanto sempre tinha alguém para dizer que tinha sido
eu e quando minha mãe via que eu não tinha culpa ela NUNCA pedia desculpa
,e eu perdi a confiança ,um ano eu escuto desculpa ,te amo e parabéns vindos
dela mas isso não apagou os 13 anos da minha vida me fazendo pensar que
não importava quantas notas 10 eu tirava nunca iria ser boa o suficiente e anos
depois eu li algumas histórias ‘’online’ que eu não sou inútil e que não preciso ser
perfeita para fazer meus pais gostarem de mim ,esse conto é uma grande injustiça
com a criança essa é minha opinião a respeito do mesmo.
Fonte: Autoras, 2023.
Na análise das autobiografias, percebemos que para esses jovens alu-
nos o cânone, no geral, antes do desenvolvimento das atividades, não dei-
xou grandes marcas, no entanto, é função da escola apresentá-lo e facilitar o
acesso do leitor a ele, posto que a literatura permite vivenciar outros univer-
sos e esse exercício de alteridade proporciona, no retorno a si, humanização,
afinal, “o que nos leva a ler um clássico [...] é a experiência estética que ele
proporciona e não simplesmente a história que ele conta (Cosson, 2018, p.
63 apud Fabris, 2021, p.81).
Esta premissa se confirma nos relatos dos diários de leitura, quando
analisamos a experiência de leitura dos alunos com as obras apresentadas. Per-
cebemos que muitos deles conectaram-se intimamente com a história nar-
rada, sentiram revolta, tristeza, injustiça pela situação do menino e, depois
disso, extravasaram seu sentimento por meio de suas palavras no diário.
Ademais, percebemos a importância do trabalho com os temas fra-
turantes no ambiente escolar, posto que é por meio da reflexão a respeito
destes temas que podemos formar cidadãos mais conscientes e com valores
humanistas, pois a literatura “longe de ser um simples entretenimento, uma
distração reservada às pessoas educadas, ela permite que cada um responda
melhor à sua vocação de ser humano” (Todorov, 2009, p.23).
41
Exemplos dos materiais produzidos
3
IMAGEM 1 - Exemplos de autobiografias produzidas pelos alunos
Fonte: Acervo pessoal das autoras. Material produzido pelos alunos.
3
Devido à limitação de espaço, não foi possível reproduzir, com qualidade, algumas imagens
dos trabalhos desenvolvidos. As imagens trazidas aqui buscam apresentar ao leitor um pouco
da estética desenvolvida pelos estudantes. No entanto, deixamos o Link de acesso aos trabalhos
aqui e, ao final do trabalho, um QR Code para acesso. Diários de leitura: https://padlet.com/
gpcardoso/di-rios-de-leitura-mbaj4tqznmq9xtep / Autobiografias: https://drive.google.com/
drive/folders/1LngmpuvFzgmHUGC7-SFuxC0SHg7ptyvb?usp=drive_link
42
IMAGEM 2 - Exemplos de diários de leitura produzidos pelos alunos
Fonte: Acervo pessoal das autoras. Material produzido pelos alunos.
A avaliação
A leitura literária escolar, como vem sendo realizada nas escolas, até
mesmo no momento da avaliação, reproduz a ideia de que a leitura válida é
apenas a do leitor experto, suprimindo toda manifestação do leitor subjetivo
ao demandar como avaliação “a simples reprodução da voz professoral, em
geral por meio de testes ou resumos que só comprovam o grau de memória
dos alunos” (Cosson, 2018, p.112).
Cosson (2018, p. 112) orienta “que o professor tome a literatura
como uma experiência e não como um conteúdo a ser avaliado” e frisa que
precisamos resistir à tentação de avaliar a performance do aluno a cada
momento ou valorizar com pontos cada atividade realizada” (Cosson, 2018,
p. 115). Ainda de acordo com o autor, “é importante que essa nota reflita o
processo de leitura como um todo e não apenas o resultado final” (Cosson,
2018, p. 114).
Uma vez que “o objetivo maior da avaliação é engajar o estudante na
leitura literária e dividir esse engajamento com o professor e os colegas - a
43
comunidade de leitores” (Cosson, 2018, p. 113), consideramos que todo o
processo de desenvolvimento da atividade - desde a leitura até a produção
dos diários e autobiografias - foi muito produtivo.
Avaliamos que os objetivos previstos foram alcançados, porém, ressal-
ta-se a importância da continuidade das atividades para que, cada vez mais,
esses jovens alunos possam estreitar a relação com a literatura.
Considerações finais
As atividades realizadas mostraram que valorizar a Leitura Subjetiva
dos alunos, acolhendo suas impressões, hipóteses, afetividades e memórias,
privilegiando a leitura utilização (Eco, 2004), enriquece e encaminha a in-
terpretação, ampliando horizontes e fortalecendo a comunidade de leitores.
Além disso, buscar a inclusão das tecnologias digitais também mos-
trou-se importante para o sucesso das atividades, visto que a maioria dos
discentes produziram materiais bem elaborados, demonstrando o empenho
na realização da tarefa, além da aprendizagem de algumas habilidades de
letramento digital.
Consideramos que as aulas de literatura precisam transitar entre as
preferências dos alunos - acolhendo as leituras de fanfics, best-sellers, dentre
outros - e as obras literárias, incluindo os cânones. Cosson (2018) ressalta
que a escola erra em “endeusar” os cânones, pois acaba gerando um “medo
e, consequentemente, um afastamento dos alunos em relação a essas obras.
Annie Rouxel (2013a, p. 169) aponta questões sobre “cultura literária” que
dialogam exatamente com o que pudemos verificar:
Mais do que referências clássicas, consagradas (escolares), os leitores
mencionam suas “paixões súbitas”, por obras descobertas mediante al-
guém próximo ou ao acaso da existência. Assim, mesmo se a “cultura
literária escolar” é mencionada nesses balanços, são as leituras da esfera
privada que são destacadas, o que convida a redefinir ‘cultura literária
em termos de espaço simbólico pessoal, caracterizado pela heterogenei-
dade das referências. As obras consideradas “menores” podem ter um
papel importante na vida de uma pessoa.
Portanto, salientamos que a Leitura Subjetiva é uma abordagem in-
44
teressante para o desenvolvimento do letramento literário (não apenas) no
Ensino Fundamental. Ressaltamos, ainda, que o uso das tecnologias, vi-
sando ao desenvolvimento do letramento digital, também teve um papel
importante para despertar o interesse do alunado. Dessa forma, concluímos
que acolher a subjetividade do leitor, bem como suas preferências literárias
e buscar, na medida do possível, incluir as tecnologias, mostra-se como um
caminho para uma reaproximação dos estudantes com a leitura.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular.
Brasília: MEC, 2018.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira. Brasil no Pisa 2018 [recurso eletrônico]. – Brasília: Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2020.
CARDOSO, G.P. O podcast nas aulas de Língua Portuguesa: práticas
de multiletramento na escola. Dissertação de Mestrado em Letras - Fa-
culdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista. Assis, 2021.
CARDOSO, G.P. #Booktok: do incentivo à leitura aos multiletramentos.
In: Jean Carlos da Silva Monteiro (Org.). Aprendizagens no TikTok:
Editora Mentes Abertas, 2022, v. 1.
CHARTIER, R. A História Cultural - entre práticas e representações,
Lisboa: DIFEL, 1990.
COSCARELLI, C. V. (Org.) Novas tecnologias, novos textos, novas
formas de pensar. Belo Horizonte: Autêntica, 2006, 43-50.
COSSON, R. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo; Contex-
to, 2018.
ECO, U. O leitor modelo (1979), cap. III In: ECO, U. Lector in fabula.
São Paulo: Perspectiva, 2004
FABRIS, G.M.L. Letramento literário em em uma sala inclusiva: uma
proposta de trabalho com o gênero conto. Dissertação de Mestrado em
Letras - Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista.
Assis, 2021.
GILLEN, J.; BARTON, D. Digital Literacies. Research briefing for the
45
TLRP-TEL (Teaching and Learning Research Programme - Technology
Enhanced Learning), 2010. London: London Knowledge Lab, Institute of
Education.
INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Retratos da leitura no Brasil. 5. ed.
11 set. 2020. Disponível em: https://prolivro.org.br/wp-content/
uploads/2020/09/5a_edicao_Retratos_da_Leitura_no_Brasil_IPL-com-
pactado.pdf. Acesso em 16/08/2023.
JOUVE, V. A. leitura como retorno a si: sobre o interesse pedagógico das
leituras subjetivas. In: ROUXEL, A.; LANGLADE, G. e REZENDE, N.
L. de (org). Leitura subjetiva e ensino de literatura. São Paulo: Alameda,
2013b. p. 53-65.
LANGLADE, G. O sujeito leitor, autor da singularidade da obra. In:
ROUXEL, A.; LANGLADE, G. e REZENDE, N. L. de (org). Leitura
subjetiva e ensino de literatura. São Paulo: Alameda, 2013b. p. 25-38.
LAJOLO, M. Literatura: ontem, hoje, amanhã. São Paulo: Editora
Unesp, 2018.
PETIT, M. Leituras: do espaço íntimo ao espaço público. São Paulo:
Editora 34, 2013.
RAMOS, A. M.; NAVAS, D. Narrativas juvenis: o fenômeno crossover nas
literaturas portuguesa e brasileira. In: Elos: Revista de Literatura Infantil
e Xuvenil, n.2., 2015, p. 233-256
REZENDE, N. L. Leitura e escrita literárias no âmbito escolar: situação e
perspectivas. In: Estudos Avançados 32 (93), 2018.
ROJO, R.H.R.; MOURA, E. (Orgs.). Multiletramentos na escola. São
Paulo: Parábola Editorial, 2012.
ROJO, R.H.R.; BARBOSA, J. Hipermodernidade, Multiletramentos e
gêneros discursivos. São Paulo: Parábola, 2015.
ROJO, R.H.R.; MOURA, E. Letramentos, mídias, linguagens. São
Paulo: Parábola Editorial, 2019.
ROUXEL, A. A. tensão entre utilizar e interpretar na recepção de obras
literárias em sala de aula: reflexão sobre uma inversão de valores ao longo
da escolaridade. In: ROUXEL, A.; LANGLADE, G. e REZENDE, N. L.
de (org). Leitura subjetiva e ensino de literatura. São Paulo: Alameda,
2013, p. 151-164.
46
ROUXEL, A. Apropriação singular das obras e cultura literária. In: ROU-
XEL, A.; LANGLADE, G. e REZENDE, N. L. de (org). Leitura subjeti-
va e ensino de literatura. São Paulo: Alameda, 2013a, p. 165-190.
ROUXEL, A. Autobiografia de leitor e identidade literária. In: ROUXEL,
A.; LANGLADE, G. e REZENDE, N. L. de (org). Leitura subjetiva e
ensino de literatura. São Paulo: Alameda, 2013b, p. 67-88.
ROUXEL, A. O advento dos leitores reais. In: ROUXEL, A.; LANGLA-
DE, G. e REZENDE, N. L. de (org). Leitura subjetiva e ensino de
literatura. São Paulo: Alameda, 2013c, p. 191-208.
ROUXEL, A.; LANGLADE, G. e REZENDE, N. L. de (org). Leitura
subjetiva e ensino de literatura. São Paulo: Alameda, 2013.
SILVA, L.L.M. A escolarização do leitor: a didática da destruição da
leitura. 1984. 113f. Dissertação (mestrado) -Universidade Estadual de
Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP. Disponível em: http://
www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/252251.
SOUSA, R.R.A. As diferentes formas de refúgio na literatura: escapismo,
exílio e migração, v.1, n.2, 2023. In: VISTACIEN - Ciências Exatas e da
Terra, Sociais, da Saúde, Humanas e Engenharia/Tecnologia
TODOROV, T. A literatura em perigo. Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro:
DIFEL, 2009.
XAVIER, A.C. Letramento digital: impactos das tecnologias na aprendiza-
gem da Geração Y. Calidoscópio Vol. 9, n. 1, p. 3-14, jan/abr 2011.
47
GAMIFICAÇÃO COMO METODOLOGIA ATIVA
NO ENSINO DE GEOGRAFIA
Yuri de Lira LUCAS
4
Carla Cristina Reinaldo Gimenes de SENA
5
Introdução
Na paisagem da educação contemporânea, o ensino da Geografia se
destaca como um domínio intrincado e estimulante, clamando por abor-
dagens pedagógicas inovadoras que potencializem o aprendizado. Dentro
desse cenário, as metodologias ativas, entre elas a gamificação, surgem como
promissoras ferramentas para promover o engajamento dos alunos e apro-
fundar a compreensão dos conceitos geográficos.
A educação geográfica, embasada em décadas de pesquisa e práticas, é
reconhecida por sua importância no desenvolvimento cognitivo e cidadania
informada. Com o advento das tecnologias e mudanças sociais, o desafio
de manter a relevância e eficácia do ensino geográfico tem se intensificado.
Surge, então, a necessidade de explorar estratégias inovadoras para captar o
interesse dos estudantes e estimular sua participação ativa.
Nesse contexto amplo, a gamificação emerge como uma abordagem
promissora para revigorar o ensino de Geografia. Combinando elementos
4
Especialista em Computação Aplicada à Educação e Tecnologias Educacionais pela Universidade
de São Paulo / campus de São Carlos / Mestrando em Geografia / Instituto de Geociências e
Ciências Exatas / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de
Rio Claro / SP / Brasil / E-mail: yuri.lucas@unesp.br
5
Doutora em Geografia pela Universidade de São Paulo / USP / Vice-diretora e Professora na
Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP / Campus de Ourinhos / SP / Brasil / E-mail: carla.sena@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-513-1.p47-62
48
de jogos com práticas educacionais, a gamificação oferece uma alternativa
envolvente para disseminar os princípios geográficos, ancorada na capacida-
de dos jogos de motivar, desafiar e recompensar os alunos.
O cerne desta pesquisa reside na investigação das metodologias ati-
vas, com ênfase na gamificação, aplicadas ao ensino de Geografia. Especi-
ficamente, examinamos como essa abordagem inovadora pode promover o
engajamento dos alunos e aprofundar a compreensão dos conceitos geográ-
ficos. Em um ambiente educacional que exige adaptação constante, com-
preender o impacto da gamificação pode trazer insights valiosos para moldar
o futuro do ensino geográfico.
Este estudo tem como objetivo primordial avaliar o impacto da gami-
ficação no ensino de Geografia. Pretendemos analisar como a implementa-
ção dessa estratégia pedagógica pode influenciar o engajamento dos alunos e
a compreensão dos conceitos geográficos. Ao aprofundar-nos nos efeitos da
gamificação, buscamos oferecer contribuições tangíveis para a prática edu-
cacional e, potencialmente, inspirar transformações no paradigma de ensino
da Geografia.
Revisão da literatura
Metodologias Ativas no Ensino de Geografia
Imagine-se adentrando no emocionante mundo do ensino de Geo-
grafia sob a perspectiva das metodologias ativas. Neste capítulo, mergulha-
remos nas águas profundas das estratégias educacionais contemporâneas,
explorando os horizontes abertos por pesquisadores e educadores. Neves e
Pereira (2023) nos conduzem a uma jornada pela Metodologia Ativa para a
Inclusão Escolar no Ensino de Geografia, indicando como a aplicação destas
metodologias pode forjar ambientes inclusivos e inspiradores. Em um mo-
mento em que a inclusão é um alicerce da educação, a sinergia entre méto-
dos ativos e diversidade torna-se uma arma poderosa no arsenal do ensino.
A viagem continua com Pont e Ferenhof (2020), que desvelam os
mistérios de O Uso de Metodologia Ativa no Processo de Ensino/Aprendizagem
nas Aulas de Geografia. Em meio a essa exploração, eles indicam a importân-
49
cia da dinâmica no ensino geográfico, destacando a participação ativa dos
estudantes em projetos e atividades práticas como força propulsora para a
compreensão mais profunda dos conceitos. A próxima parada nos leva ao
trabalho de Pereira, Kuenzer e Teixeira (2019), uma trilha que nos guia pelas
Metodologias Ativas nas Aulas de Geografia no Ensino Médio como Estímulo
ao Protagonismo Juvenil. Nesta expedição, testemunhamos como as meto-
dologias ativas podem empoderar os estudantes a se tornarem protagonistas
ativos em seu próprio processo de aprendizagem, destacando a busca por
autonomia e engajamento estudantil como forças motrizes no coração des-
sas abordagens.
Avançando pelo terreno pedagógico, encontramos Vazes, Vilas Boas
e Silva Melo (2022) explorando a emocionante jornada do IDH Divertido:
Aplicando Metodologias Ativas no Ensino de Geografia. Através dessa inves-
tigação, desvendamos como abordagens lúdicas são tecidas nas estruturas
do aprendizado geográfico, transformando-o em uma jornada atraente e
interativa.
À medida que as estratégias ganham vida, entendemos que o desper-
tar do interesse dos alunos pode se traduzir em uma absorção mais profunda
dos conteúdos. Por fim, a exploração culmina nas reflexões de Costa, Lima
e Felício (2020) sobre as Metodologias Ativas no Ensino de Geografia. Em um
território onde a dinâmica e a participação são protagonistas, esses pesquisa-
dores desvendam as diferentes facetas desses métodos, desde a aprendizagem
baseada em problemas até projetos práticos, destacando sua capacidade de
incentivar o pensamento crítico e a colaboração entre os estudantes.
Nossa jornada revela uma constelação de abordagens, todas conver-
gindo para um único ponto de luz: as metodologias ativas estão transfor-
mando o ensino de Geografia em um palco de descobertas emocionantes.
Juntos, esses estudos revelam um campo de pesquisa dinâmico e relevante,
em que a participação ativa dos alunos, a imersão em práticas concretas e
a inserção de estratégias lúdicas emergem como pilares cruciais. O cenário
educacional do século XXI está sendo moldado por essas inovações, e a
amalgamação das metodologias ativas com o ensino de Geografia lança um
farol sobre a importância de uma educação diversificada e estimulante
50
Gamificação como Estratégia no Ensino de Geografia
Se nos propomos a trabalhar com metodologias ativas, tratar dos
jogos nessa perspectiva é fundamental e, neste ponto, iremos adentrar o
empolgante universo da gamificação aplicada ao ensino de Geografia, uma
abordagem pedagógica que tem conquistado crescente atenção de educado-
res e pesquisadores. A seleção de artigos proposta para esse texto versa sobre
as potencialidades e impactos dessa estratégia inovadora, particularmente
em cenários desafiadores, como contexto do ensino remoto durante o isola-
mento social provocado pela pandemia de covid-19.
Lima (2021) nos guia pelo panorama da gamificação durante situa-
ções adversas. Em seu estudo O Jogo, a Gamificação e o Lúdico no Ensino de
Geografia durante a Pandemia da COVID-19, o autor explora como elemen-
tos lúdicos e abordagens de jogos podem manter o interesse e a motivação
dos alunos em alta, mesmo em tempos de distanciamento social e ensino
remoto.
Sena e Jordão (2021) contribuem para esse panorama com o artigo
O Uso do Minecraft no Ensino de Cartografia, publicado na revista Ciência
Geográfica. Eles exploram o potencial do jogo Minecraft como ferramenta
para o ensino de cartografia, demonstrando como a ambientação virtual do
jogo pode ser usada para simular situações geográficas, permitindo que os
alunos pratiquem habilidades de análise e interpretação de mapas de manei-
ra interativa e imersiva.
De Lima Anacelto e da Silva (2021) expandem essa discussão ao ex-
plorar A Gamificação no Processo de Ensino-Aprendizagem de Geografia no
Contexto do Ensino Remoto. Eles nos conduzem a uma jornada onde a gami-
ficação emerge como uma poderosa ferramenta para transformar o aprendi-
zado em uma experiência dinâmica e envolvente, mesmo quando a sala de
aula tradicional é substituída por ambientes virtuais.
Macedo (2022) aprofunda nossa compreensão sobre a aplicação pe-
dagógica dos elementos de jogos. Sua pesquisa, intitulada A Gamificação
como Recurso Didático no Ensino de Geografia, evidencia como a gamificação
pode transcender o mero entretenimento, sendo moldada como uma es-
tratégia didática eficaz para tornar o ensino de Geografia mais interativo,
51
envolvente e focado na resolução de problemas geográficos.
O enfoque de Alves (2022) se concentra em uma área específica da
disciplina geográfica - a cartografia. Em Cartografia Gamificada: Conectivis-
mo e Gamificação no Ensino-Aprendizagem de Geografia nos Anos Finais, o
autor desvenda como a gamificação pode ser habilmente aplicada à comple-
xa temática da cartografia, alavancando elementos de jogos para aprimorar a
compreensão dos alunos sobre a representação cartográfica.
Ao concluir este mergulho nas abordagens gamificadas para o ensino
de Geografia, fica claro que essa metodologia é muito mais do que uma ten-
dência passageira. Ela se revela como um catalisador de engajamento, po-
tencializando a interatividade, a contextualização e o aprofundamento dos
conceitos geográficos. Independentemente das circunstâncias de ensino, a
gamificação desponta como uma via para tornar o aprendizado de Geografia
não apenas informativo, mas também altamente envolvente e estimulante.
Este conjunto de artigos oferece um convite para explorar essa prática como
uma ferramenta transformadora, impulsionando uma abordagem educacio-
nal que promove habilidades cognitivas críticas e prepara os alunos para os
desafios do mundo contemporâneo.
Estudos de Caso e Práticas Avaliativas
Este capítulo o convida a explorar, com entusiasmo, o dinâmico e en-
volvente cenário das metodologias ativas aplicadas ao ensino de Geografia,
com um olhar particularmente atento à gamificação como uma abordagem
verdadeiramente transformadora. Os estudos meticulosamente selecionados
oferecem um panorama multifacetado das práticas pedagógicas inovadoras
que têm revolucionado a maneira como a Geografia é aprendida, ao incor-
porar de forma perspicaz elementos lúdicos e interativos.
O trabalho de Ribeiro et al. (2021) coloca uma experiência singular,
em que a gamificação é empregada como metodologia ativa de avaliação
no ensino de Geografia, utilizando o intrigante meio do fanzine. Além de
explorar a avaliação de conhecimento dos alunos, esse estudo destaca como
essa abordagem criativa não apenas avalia, mas também estimula a partici-
pação ativa e a criatividade dos estudantes.
De Belizario (2020), por meio de um estudo de caso instigante, o
52
qual investigou a aplicação do trabalho de campo gamificado no ensino
geográfico, emerge uma visão clara de como a abordagem lúdica não apenas
enriquece a experiência prática, mas também aprofunda a compreensão dos
alunos sobre os intrincados conceitos da Geografia.
Lunarti (2020), no uso do lúdico como metodologia ativa para o en-
sino de Geografia, com base em práticas pedagógicas, revela como a gami-
ficação injeta dinamismo ao processo de aprendizado, resultando em um
maior envolvimento dos alunos e uma assimilação de conteúdos mais eficaz.
O estudo de Monte Júnior e Santos (2021) introduz uma abordagem
especialmente relevante em tempos de ensino remoto, explorando metodo-
logias ativas no ensino de Geografia durante o Ensino Remoto Emergencial
(ERE). Através do prisma da gamificação adaptada para esse cenário, os
autores destacam como essa abordagem mantém os alunos não apenas mo-
tivados, mas também ativamente engajados mesmo à distância.
Por fim, a análise abrangente de Leajanski (2023) explora as vastas
possibilidades das metodologias ativas no ensino de Geografia. Investigando
diferentes estratégias de gamificação, o autor nos leva a compreender como
essas abordagens inovadoras podem, não somente aprofundar o entendi-
mento dos alunos sobre os conceitos geográficos, mas também desencadear
uma nova era de aprendizado interativo e apaixonante. Juntos, esses estudos
pintam um retrato vivo das metodologias ativas no contexto da Geografia,
convidando-nos a explorar o potencial revolucionário dessas abordagens
para moldar a próxima geração de aprendizes geográficos.
Identificação das lacunas de conhecimento existentes
Os estudos de caso e práticas avaliativas analisados apresentam, de
maneira robusta, que a gamificação exerce um impacto substancial no con-
texto do ensino de Geografia. Além de fomentar o engajamento dos alunos,
ela abre portas para experiências de aprendizado prático, cativante e com
significado.
Todavia, apesar de indicarem que a gamificação é uma estratégia pro-
missora no ensino de Geografia, há uma carência de pesquisas que investi-
guem em detalhes os fatores que influenciam sua eficácia. Questões como a
adequação da gamificação a diferentes faixas etárias, perfis de alunos e con-
53
textos educacionais ainda precisam ser exploradas de maneira mais abran-
gente.
A exploração das diferentes seções deste capítulo proporcionou uma
ampliação da compreensão sobre o uso da gamificação como estratégia no
ensino de Geografia. No entanto, essa análise também revelou algumas la-
cunas de conhecimento que merecem atenção por parte da comunidade
educacional e dos pesquisadores.
Metodologia
Para realizar esta pesquisa, foram selecionadas três palavras-chave re-
levantes: “Gamificação”, “Metodologia Ativa” e “Ensino de Geografia”. O
período de análise foi definido entre os anos de 2010 a 2023, com o objetivo
de abranger estudos recentes sobre o tema. Inicialmente, a busca foi condu-
zida no Google Acadêmico, porém, nenhum artigo relevante foi encontrado
com a combinação das três palavras-chave. Diante disso, uma segunda pes-
quisa foi realizada com foco nas palavras-chave mais específicas “Ensino de
Geografia” e “Metodologias Ativas”, resultando na descoberta de dez artigos
relevantes.
Dentre os artigos selecionados, foi realizada uma análise bibliográfica
que abrangeu estudos, pesquisas e práticas pedagógicas que exploram a apli-
cação de metodologias ativas no ensino de geografia. Diversas abordagens
foram identificadas, tais como aprendizagem baseada em projetos, ensino
híbrido e sala de aula invertida, com o propósito de promover uma aprendi-
zagem mais significativa e envolvente dos estudantes nessa disciplina.
Os resultados obtidos da análise indicam que o uso de metodologias
ativas no ensino de geografia pode ser uma estratégia eficaz para aumentar
o interesse dos alunos, desenvolver habilidades de resolução de problemas,
estimular a colaboração em equipe e aprimorar a compreensão dos concei-
tos geográficos. Os artigos selecionados também enfatizam a importância da
integração de tecnologias educacionais como ferramentas facilitadoras das
metodologias ativas.
Durante o estágio de busca e seleção de referências, foi realizado um
levantamento por meio de diferentes plataformas acadêmicas, incluindo o
Google Acadêmico, Scielo e a plataforma de Periódicos. No Google Aca-
54
dêmico, foram identificados cinco artigos potencialmente relevantes para
a pesquisa. No entanto, é relevante mencionar que um desses artigos não
pôde ser utilizado devido a restrições de acesso ao arquivo.
É importante ressaltar que a busca não obteve resultados na base de
dados do Scielo e Busca Integrada USP. No entanto, a pesquisa nos Periódi-
cos e Atenas Periódicos levou à identificação de 9 artigos, dos quais 2 foram
escolhidos após critérios de seleção, devido à similaridade com os artigos
encontrados no Google Acadêmico.
Este estudo tem como propósito oferecer uma visão sobre o uso da
gamificação como metodologia ativa na educação, empregando uma abor-
dagem bibliográfica para identificar pesquisas e conhecimentos existentes
na área. Os resultados obtidos a partir da análise dos artigos selecionados
serão discutidos, destacando tendências, perspectivas e lacunas de pesquisa,
fornecendo subsídios para pesquisadores e educadores interessados em ex-
plorar o potencial da gamificação como estratégia de ensino no contexto do
ensino de geografia.
É crucial reconhecer que a busca por fontes acadêmicas confiáveis e
relevantes é um aspecto fundamental do processo de construção deste ca-
pítulo de livro, visando assegurar a fundamentação sólida e consistente das
informações apresentadas.
Análise dos resultados
O estudo realizado por Ribeiro et al. (2021) sobre a aplicação do fan-
zine
6
como metodologia ativa no ensino de Geografia destaca a relevância
dessa abordagem na promoção do engajamento dos alunos e na estimulação
da criatividade. Ao envolver os estudantes na criação e desenvolvimento
de fanzines que exploram conceitos geográficos, os autores ressaltam como
essa prática não apenas permite uma aprendizagem mais participativa, mas
também oferece uma plataforma para a expressão individual e a construção
de conhecimento.
6
Fanzine, em linhas gerais, é uma revista de publicação independente, sem fins lucrativos,
produzida por entusiastas de determinada cultura (fãs) e que tem como público-alvo os fãs do
mesmo conteúdo. Surgiu na década de 1930, de forma impressa e, atualmente, também pode ser
encontrada em meios digitais.
55
A pesquisa aponta, porém, que o sucesso do uso do fanzine como
ferramenta pedagógica requer orientação pedagógica eficaz. Garantir que os
fanzines transmitam de maneira precisa e aprofundada os conteúdos geo-
gráficos é fundamental para alcançar os objetivos educacionais desejados.
Isso implica em orientar os alunos na seleção e organização dos elementos
presentes nos fanzines, bem como em proporcionar feedback construtivo
para aprimorar a qualidade dos trabalhos produzidos.
O estudo de Lunarti (2020), que explora a integração da ludicidade
como metodologia ativa no ensino de Geografia na educação básica, ressalta
a importância de equilibrar a abordagem lúdica com os objetivos concei-
tuais. Embora a introdução de atividades lúdicas tenha demonstrado um
aumento significativo no interesse e na participação dos alunos, é vital ga-
rantir que essas atividades estejam alinhadas com os conteúdos curriculares.
A pesquisa enfatiza que a escolha das atividades deve ser feita de forma estra-
tégica para que a ludicidade não se sobreponha à aprendizagem substantiva.
Além disso, o estudo destaca que a formação dos educadores é essencial para
o sucesso dessa abordagem. Os professores devem ser capazes de adaptar as
metodologias lúdicas ao currículo e às características específicas dos alunos,
bem como avaliar a eficácia das atividades em termos de aquisição de conhe-
cimento e habilidades geográficas.
A pesquisa conduzida por Lima (2021) sobre a gamificação no ensino
de Geografia durante a pandemia da covid-19 ressalta a adaptação necessá-
ria dessa estratégia para o ambiente de ensino remoto. A abordagem de ga-
mificação, que envolve a incorporação de elementos de jogos na educação,
revelou-se promissora para manter o engajamento dos alunos em um cená-
rio desafiador e virtual. No entanto, a pesquisa destaca que essa adaptação
requer um planejamento cuidadoso, como a seleção de plataformas virtuais
e a criação de atividades gamificadas que se alinhem com os objetivos edu-
cacionais. Além disso, a pesquisa enfatiza a importância de compreender as
preferências dos alunos e suas características de aprendizado para otimizar
a aplicação da gamificação. Considerações sobre a motivação intrínseca dos
alunos, as dinâmicas do grupo e a qualidade da implementação são aspectos
fundamentais para maximizar os benefícios dessa abordagem no ensino de
Geografia durante circunstâncias desafiadoras.
56
Discussão
A discussão sobre a gamificação e outras metodologias ativas no en-
sino de Geografia revela uma compreensão mais profunda das vantagens,
desafios e interações entre essas abordagens pedagógicas. A gamificação, em
particular, tem ganhado destaque como uma estratégia transformadora que
transcende a mera transmissão de informações, envolvendo os alunos em
um processo de aprendizado ativo e imersivo. Sua aplicação no ensino de
Geografia apresenta várias razões convincentes para ser considerada.
A gamificação é importante no contexto do ensino de Geografia, es-
pecialmente devido à sua capacidade de atrair e manter a atenção dos alunos
por meio da introdução de elementos lúdicos e mecânicas de jogos. Além
disso, ela pode aumentar a motivação intrínseca dos alunos, incentivando-
-os a se esforçar mais, persistir em desafios e se envolver de maneira mais
ativa com os conceitos geográficos.
Uma aplicação eficaz da gamificação pode envolver a criação de jogos
que abordam questões geográficas, como desafios de resolução de proble-
mas, simulações de fenômenos naturais ou mesmo questões sociais. Esses
jogos podem ser integrados ao currículo de maneira a permitir a exploração
e aprofundamento dos conteúdos de forma interativa com vistas à a uma
competição saudável entre os alunos, incentivando a participação e o empe-
nho em busca de melhores resultados.
No entanto, ao implementar esta abordagem e outras metodologias
ativas, é importante considerar possíveis desafios e defeitos que podem sur-
gir. Por exemplo, a introdução de elementos lúdicos pode distrair os alunos
do foco principal do aprendizado, tornando-se um fim em si mesmo. Por-
tanto, é crucial manter um equilíbrio entre a diversão e o conteúdo acadê-
mico, assegurando que os objetivos educacionais sejam cumpridos. Além
disso, a gamificação pode não ser igualmente eficaz para todos os educan-
dos. Alunos com diferentes níveis de motivação, habilidades e preferências
podem responder de maneira variada às estratégias de gamificação, o que
requer uma adaptação cuidadosa.
Uma abordagem interessante é a combinação de diferentes metodolo-
gias ativas, como a gamificação, a ludicidade e até mesmo o uso de fanzines.
57
Essas abordagens podem trabalhar em conjunto para criar uma experiência
de aprendizado rica e holística. Por exemplo, a gamificação pode ser incor-
porada como um componente interativo dentro de uma abordagem lúdica
mais ampla. Os alunos podem criar fanzines como parte de um projeto de
gamificação, no qual precisam transmitir conceitos geográficos de forma
criativa e envolvente. Essa sinergia pode resultar em um ambiente de apren-
dizado altamente motivador e produtivo.
Em última análise, a aplicação bem-sucedida de gamificação e outras
metodologias ativas no ensino de Geografia requer planejamento cuidadoso,
compreensão das necessidades dos alunos e flexibilidade para ajustar as estra-
tégias conforme necessário. Quando implementadas de maneira eficaz, essas
abordagens têm o potencial de não apenas aprimorar o domínio dos conceitos
geográficos, mas também cultivar habilidades cognitivas, competências cola-
borativas e um maior senso de engajamento com o mundo ao redor.
Considerações finais
O exame minucioso e detalhado dos estudos sobre metodologias ati-
vas no ensino de Geografia, especialmente com uma ênfase na gamificação,
proporciona uma visão rica e diversificada das práticas educacionais con-
temporâneas. Através dessa análise crítica, torna-se evidente que as meto-
dologias ativas estão gradualmente se consolidando como uma abordagem
indispensável para abordar os desafios inerentes ao ensino moderno. No
entanto, esse reconhecimento também vem acompanhado de uma ressalva
importante: a necessidade de uma avaliação equilibrada e criteriosa de seus
benefícios e limitações.
A incorporação de fanzines no processo de ensino, como explorado
por Ribeiro et al. (2021) e Neves & Pereira (2023), não apenas permite uma
manifestação criativa por parte dos alunos, mas também revela sua capaci-
dade de interpretar conceitos geográficos de maneiras únicas. Entretanto,
a eficácia dessa abordagem está intrinsecamente ligada a uma orientação
pedagógica sólida, que alinhe habilmente as atividades dos alunos com os
objetivos educacionais estabelecidos. No mesmo contexto, a introdução de
elementos lúdicos, como investigada por Lunarti (2020), emerge como uma
ferramenta eficaz para aumentar o engajamento dos estudantes, mas a sua
58
aplicação bem-sucedida requer um equilíbrio delicado entre a abordagem
divertida e a precisão conceitual.
A gamificação, que foi central nos estudos de Lima (2021), De Lima
Anacelto e Da Silva (2021), e Macedo (2022), surge como uma abordagem
de destaque, especialmente em vista do aumento do ensino remoto impul-
sionado pela pandemia. A capacidade da gamificação de se adaptar a esse ce-
nário ressalta sua versatilidade e potencial para manter os alunos engajados
em ambientes virtuais. Contudo, é crucial reconhecer que esse método exige
um entendimento profundo das preferências dos alunos e das ferramentas
tecnológicas disponíveis para ser implementado de maneira eficiente.
No entanto, é inegável a existência de lacunas de conhecimento que me-
recem maior atenção. A ausência de investigações aprofundadas sobre a eficácia
da gamificação em diferentes faixas etárias e contextos educacionais, bem como
a falta de um padrão sólido para avaliar seus resultados, destacam a importância
de uma abordagem colaborativa e ampla na pesquisa educacional.
Finalizando, as estratégias de gamificação e outras metodologias ativas
estão efetivamente redesenhando o cenário do ensino de Geografia, ofere-
cendo abordagens mais envolventes e eficazes. No entanto, para aproveitar
todo o potencial dessas abordagens, os educadores devem ser conscientes
dos desafios inerentes e adaptá-las com consideração às suas configurações
educacionais específicas.
O impacto positivo dessas estratégias na motivação dos alunos, na
compreensão aprofundada de conceitos geográficos e no desenvolvimen-
to de habilidades essenciais é inegável, estabelecendo-as como verdadeiros
impulsionadores da transformação educacional. Nesse mergulho profundo,
educadores e pesquisadores podem plenamente explorar o vasto potencial
das metodologias ativas para moldar uma experiência educacional significa-
tiva e enriquecedora para os alunos, preparando-os de maneira abrangente
para os desafios do mundo contemporâneo.
Referências
ALVES, M.R.S. CARTOGRAFIA GAMIFICADA: conectivismo e
gamificação no ensino aprendizagem de geografia nos anos finais. 2022.
73 f. Monografia (Especialização) - Curso de Instituto Federal do Espírito
Santo, Informática na Educação, Vitória, 2022. Disponível em:https://re-
59
positorio.ifes.edu.br/bitstream/handle/123456789/3182/TCC_CONEC-
TIVISMO_GAMIFICA%c3%87%c3%83O_GEOGRAFIA.pdf?sequen-
ce=1&isAllowed=y. Acesso em: 10 ago. 2023.
ANACELTO, T.L; DA SILVA, M.E.G. A gamificação no processo de en-
sino-aprendizagem de Geografia no contexto do ensino remoto. In: Anais
do Encontro Regional de Ensino de Geografia, 2021, p. 327-336.
BELIZARIO, W.S. O TRABALHO DE CAMPO COMO METO-
DOLOGIA ATIVA NO ENSINO DE GEOGRAFIA. Revista Capim
Dourado: Diálogos em Extensão, Palmas, v. 3, n. 3, p. 166-184, set.
2020. Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/
capimdourado/article/view/9982/18945. Acesso em: 18 jul. 2023.
CORREA, E.S.; SHINAIGGER, T.R. Smartphone como alicerce de
metodologias ativas no ensino e aprendizagem da geografia. Educationis,
[S.L.], v. 8, n. 2, p. 19-28, 27 abr. 2020. Companhia Brasileira de Produ-
cao Cientifica. http://dx.doi.org/10.6008/cbpc2318-3047.2020.002.0003.
Disponível em: https://www.sustenere.co/index.php/educationis/article/
view/CBPC2318-3047.2020.002.0003. Acesso em: 17 jul. 2023.
COSTA, R.S; LIMA, E.F; FELICIO, C.M. METODOLOGIAS ATIVAS
NO ENSINO DE GEOGRAFIA. Revista Brasileira de Educação em
Geografia, [S.L.], v. 10, n. 20, p. 580-590, 31 dez. 2020. Disponível em:
https://www.revistaedugeo.com.br/revistaedugeo/article/view/995. Acesso
em: 18 jul. 2023.
ANACELTO, T.L; SILVA, M.E.G. A gamificação no processo de ensino-
-aprendizagem de Geografia no contexto do ensino remoto. In: Anais do
Encontro Regional de Ensino de Geografia, 2021, p. 327-336.
LEAJANSKI, A.D. As possibilidades das metodologias ativas no ensino de
Geografia. Metodologias e Aprendizado, [S.L.], v. 6, p. 155-164, 2 jan.
2023. Instituto Federal Catarinense. http://dx.doi.org/10.21166/metapre.
v6i.3061. Disponível em: https://publicacoes.ifc.edu.br/index.php/meta-
pre/article/view/3061. Acesso em: 25 jul. 2023.
LIMA, J. A. P. . O JOGO, A GAMIFICAÇÃO E O LÚDICO NO EN-
SINO DE GEOGRAFIA DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19.
UÁQUIRI - Revista do Programa de Pós Graduação em Geografia
da Universidade Federal do Acre, [S. l.], v. 3, n. 1, p. 10, 2021. DOI:
10.47418/uaquiri.vol3.n1.2021.5136. Disponível em: https://periodicos.
ufac.br/index.php/Uaquiri/article/view/5136. Acesso em: 12 ago. 2023.
60
LUNARTI, E.A.P. ESTUDO DO LÚDICO ENQUANTO METODO-
LOGIA ATIVA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO
BÁSICA E FORMAÇÃO INTEGRAL. 2020. 155 f. Dissertação (Mes-
trado) - Curso de Educação Profissional e Tecnológica, Pós-Graduação em
Educação Profissional e Tecnológica, Instituto Federal Goiano, Morrinhos,
2020. Disponível em: https://repositorio.ifgoiano.edu.br/handle/pre-
fix/1467. Acesso em: 17 jul. 2023.
MACEDO, E.S. A gamificação como recurso didático no ensino de
geografia. Brazilian Journal Of Development, [S.L.], v. 8, n. 9, p.
60626-60646, 2 set. 2022. South Florida Publishing LLC. http://dx.doi.
org/10.34117/bjdv8n9-016. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.
com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/51709. Acesso em: 10 ago.
2023.
MONTE JÚNIOR, T.A.; SANTOS, F.K.S. Metodologias ativas no Ensi-
no Remoto Emergencial (ERE) em Geografia. Revista Ensino de Geogra-
fia (Recife), [S.L.], v. 4, n. 3, p. 337, 19 nov. 2021. Universidade Federal
de Pernambuco. http://dx.doi.org/10.51359/2594-9616.2021.252081.
Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/ensinodegeografia/arti-
cle/view/252081/39924. Acesso em: 17 jul. 2023.
NEVES, P. D. M.; PEREIRA, H. O. S.. METODOLOGIA ATIVA
PARA A INCLUSÃO ESCOLAR NO ENSINO DE GEOGRAFIA.
Vigilância do Desenvolvimento Infantil Típico e Neurodiverso: concei-
tuação e processos inclusivos, [S.L.], p. 187-205, 2023. Editora Científica
Digital. http://dx.doi.org/10.37885/230312447. Disponível em: https://
www.editoracientifica.com.br/artigos/metodologia-ativa-para-a-inclusao-
-escolar-no-ensino-de-geografia. Acesso em: 17 jul. 2023.
PEREIRA, A. M. de O.; KUENZER, A. Z.; TEIXEIRA, A. C. Metodo-
logias ativas nas aulas de Geografia no Ensino Médio como estímulo ao
protagonismo juvenil. Educação, [S. l.], v. 44, p. e73/ 1–23, 2019. DOI:
10.5902/1984644429807. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/
reveducacao/article/view/29807. Acesso em: 17 jul. 2023.
PONT, J.F.S.F; FERENHOF, H.A. O USO DE METODOLOGIA ATI-
VA NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM NAS AULAS
DE GEOGRAFIA. Criar Educação, [S.L.], v. 9, n. 3, p. 68, 3 dez. 2020.
Fundação Educacional de Criciúma- FUCRI. http://dx.doi.org/10.18616/
ce.v9i3.5140. Disponível em: https://www.periodicos.unesc.net/ojs/index.
php/criaredu/article/view/5140. Acesso em: 17 jul. 2023.
RIBEIRO, S. M. de O. .; COSTA, C. H. .; DAMASCENO, A. C. de S.;
SILVA, S. A. da. Fanzine: uma metodologia ativa como prática avaliativa
no ensino de geografia – um relato de experiência. Revista de Instrumen-
61
tos, Modelos e Políticas em Avaliação Educacional, [S. l.], v. 2, n. 3, p.
e021018, 2021. DOI: 10.51281/impa.e021018. Disponível em: https://
revistas.uece.br/index.php/impa/article/view/6451. Acesso em: 16 jul.
2023.
SENA, C.C.R.G; JORDÃO, B.G.F. O USO DO MINECRAFT NO
ENSINO DE CARTOGRAFIA. Ciência Geográfica, Bauru, v. 5, n. 1,
p. 1911-1928, jul. 2021. Disponível em: https://www.agbbauru.org.br/
publicacoes/revista/anoXXV_5/agb_xxv_5_web/agb_xxv_5-14.pdf. Acesso
em: 22 ago. 2023.
VAZES, R. de P.; VILAS BOAS, S. A.; SILVA MELO, T. IDH DIVER-
TIDO: APLICANDO METODOLOGIAS ATIVAS NO ENSINO DE
GEOGRAFIA. Revista Nova Paideia - Revista Interdisciplinar em Edu-
cação e Pesquisa, [S. l.], v. 4, n. 3, p. 719 - 729, 2022. DOI: 10.36732/
riep.vi.198. Disponível em: https://ojs.novapaideia.org/index.php/RIEP/
article/view/198. Acesso em: 17 jul. 2023.
62
63
ENSINO SUPERIOR E
INTERNACIONALIZAÇÃO: A
TELECOLABORAÇÃO NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES DE LÍNGUA INGLESA
Isabelle CASTILHO
7
“Nada é novo, mas tudo mudou
(António Nóvoa, 2022)
Introdução
Como suporte em várias áreas como trabalho, as tecnologias digitais
de informação e comunicação (TDICs) se tornaram parte da rotina huma-
na, recriando novas e diferentes práticas sociais, além de proporcionarem a
criação de novos meios de comunicação, principalmente com o crescimento
da Internet. Para Sedrez, Lopes, Vetromille-Castro:
A tecnologia tem afetado várias áreas, como entretenimento, publicida-
de, saúde e até mesmo a nossa maneira de fazer compras. Como con-
sequência, a Educação, de modo geral, e a aprendizagem de línguas,
de modo específico, passaram a ser influenciados e a influenciarem o
desenvolvimento tecnológico (2020, p. 53).
Com a pandemia de covid-19, tudo o que se pensava sobre as TDICs
7
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Marília / SP / Brasil / Agência de
fomento CNPQ / E-mail: isabelle.castilho@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-513-1.p63-76
64
passou a ser colocado em cheque e o que antes parecia uma opção, uma
possibilidade, passou a ser uma necessidade devido ao distanciamento so-
cial. Foi neste período que a sociedade teve que se reinventar para dar con-
tinuidade à rotina, conhecer um novo “normal”, enquanto esperava o que
o antigo voltasse.
Com a educação não foi diferente. Do dia para a noite, as escolas
fecharam e transpuseram suas práticas para o meio digital no ensino remoto
emergencial. O ambiente virtual de aprendizagem passou a ser vislumbrado
como uma possibilidade de evitar a interrupção de práticas pedagógicas.
Neste contexto, muitos professores passaram a desempenhar um papel ain-
da mais importante: repensarem suas ações no meio digital para a constru-
ção de uma continuidade do cenário escolar. António Nóvoa e Yana Albim
escrevem sobre o desempenho dos professores:
A pandemia tornou evidente que o potencial de resposta está mais nos
professores do que nas políticas ou nas instituições [...] Na verdade, as
melhores respostas à pandemia foram resultado da colaboração entre
grupos de professores, da mesma escola e de escolas diferentes, que fo-
ram capazes de apresentar ideias e projectos inovadores, mantendo os
vínculos com os alunos e mobilizando-os do ponto de vista das aprendi-
zagens (2022, p. 25 e 29).
Sendo assim, diante de tantas dificuldades escancaradas a nível mun-
dial, emerge a necessidade de pensar em uma formação docente que vislum-
bre a tecnologia como parte integrante do processo de ensino para promoção
de práticas significativas e de reflexão para a construção de conhecimento.
As TDICs, por si só, não representam uma inovação na prática do-
cente, como Nóvoa e Albim evidenciam no capítulo intitulado Nada é novo,
mas tudo mudou: Pensar a escola futura (2022). Tais tecnologias já estão sendo
utilizadas no ambiente escolar há décadas, mas é preciso ir além do domínio
do manejo de aparelhos, aplicativos ou máquinas, entendendo e usando
toda a potencialidade para a prática pedagógica (Souza; Santos, 2019).
As tecnologias e a globalização já apresentam interferências no ce-
nário educacional, afetando o ensino/aprendizagem de todos seus partici-
pantes, dentro e fora da escola (Garcia, 2020, p. 34). Como pontua Moran
65
(2013, p. 68), “na sociedade conectada, todos estamos reaprendendo a co-
nhecer, a nos comunicar, a ensinar; reaprendendo a integrar o humano e o
tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social”, há, portanto, um
encurtamento de fronteiras geográficas e temporais a baixo custo, possibili-
tando um novo acesso ao mundo, línguas e culturas e, em tempos atuais, a
internacionalização em casa (Salomão; Freire Jr, 2020).
Esta reconfiguração das práticas de ensino/aprendizado possibilita,
aos estudantes, um novo modo de colaboração intercultural on-line em re-
lação ao ensino das línguas estrangeiras, ou também chamado de telecola-
boração. Para Belz,
Telecolaboração, definida aqui como a aplicação de redes de comunica-
ção global na educação de línguas estrangeiras [...] é de particular inte-
resse com relação às dimensões sociais da aprendizagem e uso da língua,
uma vez que esse tipo de ambiente de aprendizagem é composto por
pares ou grupos de alunos localizados distante, inseridos em diferentes
contextos socioculturais e ambientes institucionais. (2003, p. 61)
8
Sendo assim, o intercâmbio virtual, entendido como sinônimo de te-
lecolaboração, engaja os professores e os alunos a tomarem papéis diferentes,
transformando a prática docente de línguas estrangeiras para além do uso
não planejado e de entretenimento da tecnologia (Moran, 2013; O’Dowd,
2018) em vistas à mobilidade acadêmica sob uma nova vertente, sem des-
locamento físico.
Tendo em vista a telecolaboração como uma prática de ensino/apren-
dizado emergente nos últimos anos, neste capítulo, será apresentada uma
interação desenvolvida na Unesp, Campus de Assis, com professores pré-
-serviço de Língua Inglesa, ou seja, professores em formação docente, sendo
um recorte de uma pesquisa de mestrado em desenvolvimento.
Assim, primeiramente em Do Tandem a telecolaboração: um breve per-
curso histórico, será traçado o percurso histórico da telecolaboração, deta-
8
Tradução da autora: Telecollaboration, defined here as the application of global communication
networks in foreign language education [...] is of particular interest with respect to social
dimensions of language learning and use, since this type of learning environment consists of
pairs or groups of distally-located students embedded in different sociocultural contexts and
institutional settings. (2003, p. 61)
66
lhando melhor o conceito. Em seguida, em Perspectivas para a formação de
professores: a telecolaboração, será apresentada uma pesquisa em desenvol-
vimento sobre o impacto da telecolaboração na formação de professores
de Língua Inglesa. Ainda nesta seção, será descrito o contexto brasileiro, o
funcionamento da interação e a coleta de dados. Por fim, serão levantadas
algumas considerações feitas pelos alunos participantes sobre esta interação,
concluindo o capítulo.
Do tandem a telecolaboração: um breve percurso histórico
As tecnologias, nos últimos dois séculos, sobretudo as digitais, evoluí-
ram e influenciaram a vida em sociedade, permitindo ao ser humano poten-
cializar sua capacidade de produção de linguagem, do qual ele se constitui
e por ela é constituído. Abriu-se espaço para novos meios de expressões, co-
municação, vivência, quebrando as barreiras do tempo e do espaço. A edu-
cação, como um espaço de construção de conhecimentos, não poderia estar
alheia a isso. Assim, pensando sobre as TDICs, consideramos que devem
integrar o ambiente escolar e universitário, promovendo a transformação
da sociedade e preparando os estudantes para atuação no contexto social de
maneira crítica e participativa.
Conforme Souza e Santos (2019), Moran, também, defende que “[...]
é absurdo educar de costas para um mundo conectado, educar para uma vida
bucólica, sustentável e progressista baseada só em tempos e encontros presen-
ciais e atividades analógicas (que são, também, importantes)” (2018, p. 11).
Entretanto, antes de surgirem práticas pedagógicas ligadas à tecno-
logia no ensino de línguas, existiram práticas que já almejavam ir além dos
livros didáticos e de regras gramaticais, como o método audiolingual.
Influenciada por este método, desenvolve-se uma modalidade de
ensino de línguas chamada tandem, sendo, primeiramente, pensada para
ser face a face. Essa surgiu na década de 60, na Alemanha, a qual “envolve
pares de falantes (nativos ou competentes) com o objetivo de aprenderem,
cada um, a língua do outro por meio de sessões bilíngues de conversação
(Telles, 2009, p. 17). A comunicação é embasada por três princípios:
67
1- as línguas não devem ser misturadas, o que cria um senso de compro-
misso e desafio de se comunicar na língua-alvo entre os parceiros;
2- reciprocidade, “tal princípio promove a autoestima e coloca os par-
ceiros em posições de equidade. O tandem se torna, portanto, em troca
livre e mútua de conhecimentos acerca da língua e da cultura alvos
(Vassallo; Telles, 2009, p. 24);
3- Autonomia, o parceiro “controla os níveis de responsabilidade e poder
que o falante proficiente pode ter sobre o processo de aprendizagem do
parceiro” (Vassallo; Telles, 2009, p. 25).
Assim, segundo Vassallo e Telles (2009), a aprendizagem em tandem
trabalha com as necessidades do aluno e o faz compartilhá-las com seu parcei-
ro, que tem uma identidade dupla: de aluno e professor, tornando assim situa-
ções assimétricas e neutras. Contudo, segundo os mesmos autores, o tandem
não pode: ser confundido com um simples bate-papo, já que é algo preparado
e não ocasional; também não é uma aula particular, pois esta depende de um
acordo financeiro e é formada por uma relação assimétrica entre professor e
aluno; e, por fim, não é um estudo autodirigido, mas um estudo colaborativo,
com característica de interdependência positiva. Além disso, a prática do tan-
dem, como Garcia escreve: “preza pela interação espontânea e compartilhada,
pela construção de conhecimento com vistas ao desenvolvimento de posturas
autônomas e de competência intercultural” (2020, p. 71), indo além das abor-
dagens comuns do ensino de língua estrangeira.
Posteriormente, algumas interações assíncronas, mediadas por tec-
nologias existentes, também foram consideradas como práticas de tandem
como por e-mail, telefone e chats. Com a popularização da Internet, o con-
ceito do tandem e seus princípios começaram a ser pensados para o contexto
virtual, ainda mais porque, principalmente no Brasil, em lugares como a
cidade de Assis, no interior de São Paulo, a localização geográfica não cola-
borava para que ocorressem interações face-a-face em tandem.
Desse modo, passou a se promover as telecolaborações com o suporte
das tecnologias, visando a facilidade do aprendizado de línguas (Heemann;
Schaefer; Sequeira, 2020, p. 131). Essas interações on-line entre parceiros
internacionais de maneira institucional enfatizam o desenvolvimento cul-
tural e linguístico dos estudantes (O’Dowd, 2018, p.10). De acordo com
68
Garcia, “entende-se que as atividades telecolaborativas têm promovido o
desenvolvimento crítico-reflexivo e a construção conjunta de conhecimen-
to” (2021, p.1079).
Na próxima seção, será discutido como a telecolaboração é uma pers-
pectiva para a formação docente e, mais especificamente, para a formação de
futuros professores de língua inglesa.
Perspectivas para a formação de professores: a telecolaboração
Como dito anteriormente, a sociedade conectada pode criar práticas
dentro de sala de aula, inclusive dentro da própria formação docente. De
acordo com Modelski, Giraffa e Casartelli (2019), perceber essas mudanças
e criar alternativas, em um contexto de imersão tecnológica profunda, é um
dos desafios dentro da formação de professores. O professor, muitas vezes, fa-
miliar com as tecnologias, tem na escola o aluno que, também, pode dominar
aparelhos e/ou aplicativos, porém, este está mais encantado pela tecnologia
(Moran, 2013). Neste contexto, o professor deve articular as tecnologias para
situações de aprendizagem com um planejamento, já que a necessidade dos
alunos é exatamente de orientação e de desafiá-los na sua formação integral
como seres humanos ( Modelski; Giraffa; Casartelli, 2019, p. 4).
Entretanto, a não mudança das práticas pedagógicas ligadas à tecno-
logia “pode estar ligada ao fato de professores se agarrarem às práticas tradi-
cionais e à sua zona de conforto, resistindo, portanto, ao desafio de apren-
der novos métodos para ensinar de forma mais condizente com a realidade
atual” (Silvia; Mariano; Finardi, 2018, p. 72). Além disso, “a transposição
didática não é imediata, ou seja, o fato de o docente ser usuário de tecnolo-
gias digitais não garante que ele fará uso pedagógico dos seus conhecimen-
tos com seus alunos” ( Modelski; Giraffa; Casartelli, 2019, p. 14). Assim, o
aprender a usar a tecnologia para dentro da prática pedagógica deve estar in-
serida dentro da formação inicial e da formação continuada de professores.
É pensando em contribuir para uma formação ligada às tecnologias
que a telecolaboração se apresenta como uma alternativa dentro do contexto
acadêmico. Ainda mais ao professor de línguas, que, de acordo com Leffa,
teve que reaprender a ensinar línguas nos suportes digitais (2017, p. 238).
69
A telecolaboração, também entendida como sinônimo de intercâm-
bio virtual aqui, segundo O’Dowd (2018)
envolve a participação de grupos de aprendizes em períodos prolongados
de interação intercultural online e colaboração com parceiros de outros
contextos culturais ou localizações geográficas, como parte integrante
de seus programas educacionais e sob a orientação de educadores e/ou
facilitadores especializados. (p. 5)
9
Sendo assim, a telecolaboração engaja os professores e alunos a toma-
rem papéis diferentes, transformando a prática docente de línguas estran-
geiras para além do uso não planejado e de entretenimento da tecnologia
(Moran, 2013; O’ Dowd, 2018) em vistas à mobilidade acadêmica sob uma
nova vertente, sem deslocamento físico.
O professor passa a exercer, ainda mais, a função de mediador, en-
quanto o aluno, ou também chamado de interagente, passa a compreender
que ele pode aprender e ensinar ao mesmo tempo junto ao seu parceiro, um
outro interagente, dentro de uma interação. O professor deve planejar as
tarefas das interações junto com o professor estrangeiro, que está distante,
desenvolvendo atividades com objetivos claros para os interagentes. (O’
Dowd, 2007, p. 11)
Tendo em mente a telecolaboração, foi desenvolvido um estudo de caso
em que se visa entender o impacto da telecolaboração na formação de pro-
fessores pré serviço. Este estudo foi desenvolvido na Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), uma universidade estadual do
estado de São Paulo, composta por 24 unidades espalhadas pelo interior do
estado, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação e que tem se
preocupado com a internacionalização de suas ações. Entre as unidades, tem-
-se a Faculdade de Ciências e Letras do Campus de Assis, local da condução
do presente estudo, que possui cinco cursos de graduação: Ciências Biológi-
cas, Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, História, Letras e Psicologia.
9
Tradução da autora: “involves the engagement of groups of learners in extended periods of
online intercultural interaction and collaboration with partners from other cultural contexts
or geographical locations as an integrated part of their educational programmes and under the
guidance of educators and/or expert facilitators.
70
Para este estudo, participaram 15 professores pré serviço do último ano
do curso de graduação em Letras - Licenciatura em português e inglês. A
maioria, 12, era do sexo feminino, sendo 3 do sexo masculino. A idade variou
entre 20 a 25 anos. A maioria, também, declarou que estudou inglês apenas
na escola. A turma realizou interações com duas instituições distintas, entre-
tanto, para fim de recortes, será descrita somente sobre uma neste capítulo.
A interação com uma instituição pública nos Estados Unidos foi de-
senvolvida em três sessões (14 de abril, 28 de abril e 05 de maio de 2023)
no laboratório do Teletandem Brasil, na Unesp-Assis. O principal objetivo
do intercâmbio virtual foi analisar e discutir as diferenças culturais entre o
Brasil e os países de cada participante, além buscar conhecer a cultura desses
países participantes. Os interagentes da instituição estadunidense eram de
diferentes países como Kuwait, Costa do Marfim, Arábia Saudita, Argenti-
na, Venezuela e Uzbequistão.
Duas plataformas foram utilizadas, para as chamadas, o Zoom e, para
a postagem das orientações e atividades, o Padlet. O Zoom é um serviço de
videoconferência baseado em nuvem, utilizado para conversa por vídeo e
áudio, ou apenas áudio. Essa plataforma permite a divisão em salas e a gra-
vação da sala principal. Já o Padlet é uma ferramenta on-line que permite a
criação de murais interativos. Eles são dinâmicos e suportam vários tipos de
multimídia como textos, imagens, vídeos, áudios, links, entre outros (Raple,
2020) e tem ganhado visibilidade em práticas pedagógicas, principalmente,
depois da pandemia.
Durante a primeira interação, a professora da instituição nos Estados
Unidos explanou os objetivos, detalhando as atividades e fornecendo infor-
mações aos participantes acerca da proposta. Em seguida, os alunos estran-
geiros e os participantes do Brasil foram agrupados em duplas, sendo um de
cada instituição de modo a gerar entrosamento entre os pares. A partir des-
te agrupamento, foi solicitado para que iniciassem as discussões com uma
apresentação pessoal e a abordagem de suas culturas. Não lhes foi atribuído
um roteiro de perguntas a serem realizadas, de modo a fomentar, sempre, a
autonomia dos interagentes para a condução da atividade síncrona virtual.
No segundo dia, as atividades se iniciaram com um icebreaker deno-
minado de quiz cultural. A professora estrangeira, compartilhando um ques-
71
tionário em sua tela, organizou perguntas sobre costumes de outros países,
com exceção aos países dos participantes da interação. Esta atividade visava
fomentar a curiosidade dos estudantes e, ainda, gerar envolvimento entre eles
para dar sequência à próxima etapa que era o trabalho em duplas. Ao final
desta segunda interação, a tarefa atribuída aos participantes foi a construção
de uma apresentação sobre aspectos sobressalentes acerca do país e da cultura
do parceiro estrangeiro com quem haviam se comunicado anteriormente. A
exposição foi compartilhada em tela, no encontro subsequente e houve um
engajamento grande das turmas que, de forma autônoma, buscaram infor-
mações a serem retratadas em imagens e, também, oralmente, gerando um
compartilhamento cultural muito relevante, com exposição de slides.
Considerações sobre a experiência através do olhar
dos interagentes brasileiros
Com o propósito de coletar dados sobre a interação, foi criado um
formulário em que os interagentes brasileiros pudessem discorrer sobre a sua
experiência diante dos encontros virtuais com a instituição parceira. Foram
obtidas 13 respostas de um total de 15 participantes, o que consideramos
bastante significativo.
Uma das primeiras perguntas relacionadas a esta interação foi “O que
você achou das atividades desenvolvidas pelo COIL com a instituição públi-
ca nos Estados Unidos?”. Aqui, é preciso ressaltar que COIL (Aprendizado
Internacional Colaborativo On-line
10
) é entendido como sinônimo de inter-
câmbio virtual, ação já definida anteriormente.
As respostas obtidas em sua totalidade trouxeram um tom positivo,
caracterizado por adjetivos como “boa”, “divertidas”, “interessantes”, “des-
contraídas”, “fáceis”, “dinâmicas”, “leves”, “legal” e “tranquilas”, assinalando
como a oportunidade foi atrativa aos discentes.
As questões culturais que se estabeleceram entre os participantes de
diversas nacionalidades geraram discussões em torno de temas, ambiente
escolar e o ensino de língua inglesa como segunda língua, resultando no
repensar questões sobre sotaque e minhas impressões culturais sobre o falar
10
Tradução para Collaborative Online International Learning.
72
de outros povos”, conforme fala de uma interagente. Em suas respostas,
concluem que a língua inglesa “não tem uma face” ou “não tem dono”, ge-
rando uma visão crítica sobre seu próprio sotaque. Deste modo, os alunos
brasileiros ampliaram sua competência intercultural comunicativa, como
reafirmado em outra questão, aprendendo a falar sobre a sua cultura e a do
outro, de forma crítica, ao repensar estereótipos de maneira respeitosa.
Sobre a segunda pergunta, “Comente sobre planejamento das inte-
rações da instituição pública nos Estados Unidos.”, pudemos observar co-
mentários positivos e negativos. Dois pontos positivos que pudemos elencar
foram: (i) a questão da autonomia para se comunicar e desenvolver questões
culturais e (ii) a interação ser motivadora, salientando o valor da liberdade
aos discentes em relação aos assuntos tratados dentro da telecolaboração,
resultando em uma interação que os motiva a procurar mais conhecimento.
Acerca de pontos negativos, os discentes apontaram a falta de clareza do ob-
jetivo geral e um maior esclarecimento da execução das atividades e, ainda,
o contato com o parceiro extra interação via e-mail. Em uma tarefa teleco-
laborativa, a não clareza de seu objetivo acarreta na sensação de confusão e
desorientação, observada em respostas. Em relação ao contato por e-mail,
demonstra como a organização, por mais minuciosa que seja, ainda pode
gerar desencontros e falhas de comunicação.
Sobre a terceira e a quarta perguntas, que abordam a utilização de fer-
ramentas tecnológicas, a maioria dos participantes (7) relatou que tiveram um
pouco de dificuldade em seu manuseio. Em seguida, quatro discentes mencio-
nam muita dificuldade e, por fim, dois sinalizaram sem dificuldade. Contudo,
quando perguntados acerca de quais já conheciam, onze responderam que
haviam experimentado o Zoom e, apenas, três o Padlet. Isso nos mostra que,
apesar de viverem em uma sociedade com profundas relações com a tecnolo-
gia, nem sempre os sujeitos podem conhecer todas as ferramentas, não sendo,
em algumas ocasiões como essa, capacitados para usá-las.
Nas perguntas referentes aos aspectos da comunicação, entendidos
como “a escuta”, “a fala”, “a leitura”, “a escrita”, “a competência intercultural
comunicativa” e “habilidades de ensino”, observa-se a afirmação de todos os
alunos que a interação contribuiu para “a escuta”, “a fala” e “a competência
intercultural comunicativa”. Sobre isso, comentaram acerca do impacto posi-
73
tivo, pois tiveram que sair da “zona de conforto” e, além disso, segundo relato
de um interagente: “Falar com estrangeiros que também não possuem o inglês
como língua materna me ajudou a prestar mais atenção no que era dito”. Pos-
to isto, percebe-se que os alunos puderam, também, se autoavaliar, instigados
a se questionar sobre seu próprio status como aprendiz da língua inglesa.
Sobre o conhecimento dos países citados na interação, a maioria (7)
relatou ter pouco conhecimento e seis participantes afirmaram ter conheci-
mento razoável sobre os mesmos. Novamente, na realização de uma autoa-
valiação, constataram que seu conhecimento sobre os países foi ampliado.
Por fim, as dificuldades ao longo das três sessões foram divididas em
três categorias: tecnológica, linguística e cultural. As dificuldades tecnoló-
gicas têm relação com o que já foi exposto: o não conhecimento em como
utilizar as plataformas, mas também a questão da conexão da rede, que os-
cilou, muitas vezes, no campus. Sobre as dificuldades linguísticas, o mais
relatado foi o medo de não compreender e não ser compreendido, além de
manter uma “conversa fluida”. A insegurança em relação ao seu nível de lín-
gua foi um aspecto marcante da turma, gerando episódios de ansiedade e a
ausência de alguns participantes em algumas interações. Entretanto, ressal-
ta-se a importância do papel de mediação da docente brasileira ao articular
uma atmosfera acolhedora para realizar atividades de escuta, compreensão e
incitando-os a superar tais desafios, potencializando a relação com a língua
inglesa nos aspectos emotivos e psicológicos. Sobre as dificuldades culturais,
o medo de ser desrespeitoso com a cultura do outro e propagar estereótipos
foram citados, novamente reafirmando a pertinência da mediação exercida
pela docente brasileira com vistas à orientação acerca de realizar pesquisas e
a comentar sobre outros países de forma respeitosa. Cada uma das dificul-
dades revela, também, o quão rica e complexa pode ser uma sessão telecola-
borativa, demandando cautela, ética e grande comprometimento. Fica claro
que, a partir desta prática, muitos destacaram a forma como conseguiram
superar suas inseguranças e medos e seguir adiante mais fortalecidos.
Considerações Finais
Este estudo teceu algumas considerações sobre uma telecolaboração
com professores pré-serviço de língua inglesa no Brasil. O intercâmbio
74
virtual tende a proporcionar a esses professores ampliação dos seus conhe-
cimentos, desenvolvimento de aspectos da comunicação, como a compe-
tência intercultural comunicativa e, também, conhecer novas ferramentas
tecnológicas, a fim de se apropriarem para a utilização futura no ensino da
Língua Inglesa.
A cultura é central dentro de uma sessão de telecolaboração, por isso,
é esperado que, se trabalhada com consciência e responsabilidade, os in-
teragentes possam construir novos conhecimentos sobre o mundo e seus
diferentes povos, além de desenvolver o respeito e o modo como se falar
sobre a cultura do outro e romper estereótipos, ou seja, uma reflexão crítica
sobre a cultura. As dificuldades tecnológicas mostram o quanto é preciso
capacitar os professores pré-serviço com o objetivo de entenderem as plata-
formas, aplicativos, mídias para sua utilização como ferramentas de ensino,
enriquecendo, portanto, a própria formação e aperfeiçoando suas futuras
práticas pedagógicas.
Referências
BELZ, J.. A. Social Dimensions of Telecollaborative Foreign Language
Study. Language Learning & Technology, v. 6, n.1, 2003, p. 60-81.
Disponível em: http://llt.msu/edu/vol6num1/belz/ . Acesso em: 16 maio
2022.
GARCIA, D. N. de M.. A telecolaboração como contexto para a formação
de professores. Estudos Linguísticos (São Paulo. 1978), [S. l.], v. 50, n.
3, p. 1064–1082, 2021. Disponível em: https://revistas.gel.org.br/estudos-
-linguisticos/article/view/2970. Acesso em: 20 maio. 2022.
GARCIA, D. N. de M.. Sociedade Tecnologizada e Educação: Novos
cenários. In: Perspectivas educacionais e novas demandas: contribuições
da telecolaboração. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2020, p. 27-56.
HEEMANN, C.; SCHAEFER, R.; SEQUEIRA, R. M.. O Potencial da
Telecolaboração para o Desenvolvimento da Competência Intercultural no
Contexto da Internacionalização em casa. In: LEFFA (org.). Tecnologias e
ensino de línguas: uma década de pesquisa em linguística aplicada.1. ed.
Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2020, p. 129- 152.
LEFFA, V. Entrevista a Vilson Leffa. Mônica Ferreira Mayrink O’Kuinght-
75
tons e Lívia Márcia Tiba Rádis Baptista. Caracol, [S. l.], n. 13, p. 234-
239, 2017. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/caracol/article/
view/123436. Acesso em: 20 maio. 2022.
MODELSKI, D.; GIRAFFA, L. M. M.; CASARTELLI, A. de O. Tec-
nologias digitais, formação docente e práticas pedagógicas. Educação e
Pesquisa [online]. 2019, v. 45. Disponível em: https://www.scielo.br/j/
ep/a/qGwHqPyjqbw5JxvSCnkVrNC/abstract/?lang=pt#ModalArticles.
Acessado 20 Maio 2022.
MORAN, J. M. et al. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Cam-
pinas: Papirus, 2013.
MORAN, J. M. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais pro-
funda. In: BACICH, L., MORAN, J. (Orgs). Metodologias ativas para
uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre:
Penso, p. 1-25, 2018.
VOA, A, ALVIM, Y. Nada é novo, mas tudo mudou: Pensar a esco-
la futura. In: VOA, A. Escolas e Professores: proteger, transformar,
valorizar. Salvador:SEC/IAT, 2022, p. 23- 32.
O’DOWD, R. Introduction. In: O’Dowd, R. (ed.), Online intercultural
exchange. An introduction for foreign language teachers. Clevedon: Mul-
tilingual Matters, pp. 3-16.
O’DOWD, R.. From telecollaboration to virtual exchange: state-of-the-art
and the role of UNICollaboration in moving forward. Journal of Virtual
Exchange, 1, 2018, p. 1-23. Disponível em: https://journal.unicollabora-
tion.org/article/view/35567. Acessado em: 26 Oct. 2019.
RAPLE. Padlet / explicado por ayssa Soares. YouTube, 17 Nov.
2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=glZLPWBv5A-
c&list=PLD1uexTPAlum127ZRr7t7ztkZZxMpDrMV&index=5 . Acesso
em: 10 set. 2023
SALOMÃO, A. C. B.; JUNIOR, J. C. F. Apresentação. In: SALOMÃO,
A. C. B.; JUNIOR, J. C. F, Perspectivas de Internacionalização em casa:
intercâmbio virtual por meio do Programa BRaVE-Unesp. São Paulo:
Cultura Acadêmica Editora, 2020, p. 7-11.
SEDREZ, N. H.; LOPES JR, J. A.; VETROMILLE-CASTRO, R. Da
lama ao caos: uma revisão complexa dos objetos de aprendizagem de
línguas frente às demandas para a aprendizagem hoje. In: LEFFA, V. J. et
al. (Org.) Tecnologias e ensino de línguas: uma década de pesquisa em
linguística aplicada. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2020. p.44- 64.
76
SILVA, A. L.; SILVA MARIANO, L.; FINARDI, K. R. As novas tec-
nologias no ensino-aprendizado de L2: refletindo a partir de olhares de
professores. LínguaTec, [S. l.], v. 3, n. 2, 2018. Disponível em: https://
periodicos.ifrs.edu.br/index.php/LinguaTec/article/view/3290. Acesso em:
20 maio 2022.
SOUZA, F. M., SANTOS, G. F. Velhas práticas em novos suportes? As
tecnologias digitais como mediadoras do complexo processo de ensino-
-aprendizagem de línguas. São Paulo: Mentes Abertas, 2019.
TELLES, J. A. Introdução. In: TELLES (org). Telet@ndem: um contexto
virtual, autônomo e colaborativo para aprendizagem de línguas estrangei-
ras no século XXI. Campinas: Pontes Editores, 2009, p. 17-18.
VASSALLO, M. L.; TELLES, J. A. Ensino e aprendizagem de línguas em
tandem: princípios teóricos e perspectivas de pesquisa. In: TELLES (org).
Telet@ndem: um contexto virtual, autônomo e colaborativo para aprendi-
zagem de línguas estrangeiras no século XXI. Campinas: Pontes Editores,
2009, p. 21-42.
77
ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA: O PROCESSO
DE HUMANIZAÇÃO NO ESPAÇO FAMILIAR
Rafael Franco LOBO
11
Introdução
Com a finalidade de discorrer acerca de um projeto realizado na Es-
cola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Colibri durante a pandemia, o
presente trabalho surgiu a partir das discussões realizadas durante a discipli-
na Educação e Novas Tecnologias: implicações ao currículo da educação básica e
superior, ministrada pela professora Dra. Daniela Nogueira de Moraes Gar-
cia, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação, campus de Marília.
A disciplina, cursada em julho de 2023, possibilitou-nos refletir sobre como
as tecnologias têm impactado o cotidiano escolar da educação básica e, até
mesmo, a Educação Infantil, especialmente a de bebês. Assim, o relato narra
como, durante o período pandêmico, foi possível estabelecer uma comuni-
cação efetiva com as famílias e oportunizar situações de desenvolvimento
aos pequenos no contexto doméstico.
O artigo, primeiramente, contextualiza o período pandêmico e a or-
ganização das escolas da rede municipal para atender às demandas decorren-
tes desse momento; em seguida, apresenta a instituição escolar onde aconte-
ceu o projeto, trazendo um breve histórico dessa instituição recente da rede
municipal e as especificidades que permeiam seu cotidiano no trabalho na
educação de bebês. Temos, também, um detalhamento do projeto - origem
e concretização - e, por fim, a conclusão de todas as reflexões ocasionadas
11
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Marília / SP / Brasil / E-mail: rf.lobo@
unesp.br
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-513-1.p77-92
78
durante a realização desta iniciativa que procurou contribuir com o desen-
volvimento das crianças matriculadas durante esse período.
Contexto Pandêmico
No início do ano de 2020, fomos surpreendidos por algo que veio
para mudar a história do mundo: a covid-19, doença causada por um vírus
altamente transmissível e de alcance planetário. A pandemia que teve início
na China, espalhou-se por todo o planeta rapidamente. No Brasil, o pri-
meiro caso registrado aconteceu em 26 de fevereiro de 2020, quando um
homem de 61 anos, morador de São Paulo, ao retornar da Itália, testou posi-
tivo para o vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19. Após o primeiro caso
registrado, a pandemia migrou rapidamente para a transmissão comunitária
em direção a todas as camadas da sociedade, mas as classes mais pobres e
marginalizadas foram e são as mais afetadas, evidenciando a desigualdade
social que se intensifica em nosso país.
Com o aumento de casos e a necessidade de isolamento social, setores
como imprensa, cultura, esporte e religião foram afetados; economia e seto-
res de serviços essenciais, também, sofreram as consequências do momento.
Em meio ao prolongado distanciamento social, à multiplicação dos
casos e às incertezas diárias, cerca de 190 países fecharam escolas, fazendo
com que milhares de crianças e jovens fossem sujeitados à necessária sus-
pensão das aulas para impedir a propagação do novo coronavírus. Em casa,
pais e familiares passaram a se desdobrar para dar conta dos afazeres, do
trabalho home office e da atenção aos filhos que, por sua vez, passaram a ter
aula a distância.
Inicialmente, os recessos escolares foram antecipados e os órgãos com-
petentes elaboraram novos meios na tentativa de dar continuidade ao pro-
cesso de ensino em todas as instâncias. Foram estabelecidas parcerias com
empresas como Microsoft e Google que possibilitaram a criação de salas de aula
on-line, além de novas plataformas que foram criadas. Mais um desafio para a
população desprovida de bens, de modo que grande parte acabou ficando sem
acesso à internet e aos conteúdos oferecidos via plataforma on-line.
A escola, por sua vez, precisou se adequar a este novo cenário, criar
estratégias eficazes de ensino para promover o desenvolvimento integral da
79
criança e garantir o vínculo com as famílias, que a partir deste momento,
passaram a ser os protagonistas do processo de ensino. As escolas passaram
a disponibilizar materiais impressos para as famílias que não tinham acesso
ao ensino remoto. E assim, passamos o ano de 2020 enfrentando os desafios
provocados por este novo cenário mundial. Destacamos a distribuição de kit
de alimentos às famílias, na tentativa de colaborar na garantia da alimenta-
ção das crianças, tendo, em nossa Unidade, um impacto bastante positivo,
pois todas as famílias buscaram o kit e relataram a importância dele.
O primeiro caso confirmado de covid-19 no município de Marília
ocorreu em 31 de março de 2020. Aproximadamente um mês após, foi
constatado o primeiro óbito.
Temos a clareza de que os efeitos diretos e indiretos dessa pandemia
não passaram despercebidos, podendo elencar: os prejuízos no processo de
ensino, socialização e desenvolvimento; o estresse que tem afetado a saúde
mental de crianças e adolescentes, gerando aumento de sintomas de de-
pressão e ansiedade; aumento da violência contra a criança, o adolescente
e a mulher e a consequente diminuição da procura pelo atendimento aos
serviços de proteção; quedas nas coberturas vacinais em todo o mundo;
aumento da epidemia de sedentarismo e obesidade; aumento da fome e do
risco alimentar em parte pelo fechamento das escolas e das creches, além de
perdas nas receitas familiares; exagero no uso de mídias/telas.
Contudo, o isolamento social certamente foi a medida mais adequada
e que contribuiu com a amenização do contágio e mortes. Infelizmente, pes-
quisadores e especialistas foram ignorados e subestimados em uma “disputa
política, ao que a sociedade, sem diretrizes e exemplos, apenas criticou e
negligenciou as orientações que ocasionariam uma situação diferente da que
enfrentamos, uma vez que os países que adotaram uma postura diversa e
retomaram as atividades e rotinas.
A Secretaria Municipal de Educação de Marília, em parceria com o
Centro Universitário Eurípides de Marília – UNIVEM, instituiu, por meio
da plataforma Google For Education, o programa “Educação em Casa, com
a finalidade de oportunizar às crianças acesso semanal às aulas remotas, con-
teúdos pedagógicos, vídeoaulas, além de orientação às famílias. Por meio de
computadores, notebooks e celulares, estabeleceu-se uma nova forma de in-
80
teração entre escola e família, e, àquelas que não tinham acesso à internet, o
conteúdo fora disponibilizado em formato impresso nas unidades escolares.
Dessa forma, apresento o projeto realizado pela EMEI Colibri que vi-
sou que os bebês matriculados na instituição durante o período pandêmico
fossem assistidos da melhor forma possível.
EMEI Colibri
A Educação Infantil que abrange as crianças de zero a cinco anos é a
primeira etapa da Educação Básica em nosso país. Oferecida em creches e
pré-escolas, a caçulinha das etapas de nossa educação é direito de todas as
crianças e busca, a partir de práticas indissociáveis de cuidar e educar, opor-
tunizar o desenvolvimento pleno delas.
Por meio das interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, a
criança constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia,
deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos
sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (Brasil, 2010).
As interações e as brincadeiras permeiam o cotidiano escolar nessa
etapa, a fim de propiciar, por meio de vivências, experiências que garantam
a formação plena da inteligência e personalidade de cada criança.
Em 27 de dezembro de 2012, por meio de uma lei municipal, foi cria-
do e nomeado o “Berçário Municipal Colibri”, localizado à Rua: Salvador
Salgueiro, 1265, no Bairro Palmital Prolongamento. O atraso nas obras de
construção, entretanto, só permitiu que o funcionamento da escola aconte-
cesse quatro anos mais tarde. Inaugurado em 7 de maio de 2016, o berçário
iniciou seus trabalhos atendendo crianças de quatro meses a dois anos e meio.
Com uma equipe de vinte e seis educadores, uma média de cinquenta e oito
crianças foram atendidas. No ano seguinte, com quatro turmas, o atendimen-
to foi a cinquenta e nove crianças e uma equipe de vinte e cinco pessoas.
Em 2019, o grupo de profissionais foi formado por vinte e sete edu-
cadores que acompanhavam as quatro turmas. Entretanto, no segundo se-
mestre, com o aumento da demanda, foi necessária a formação de uma nova
turma, que fez aumentar, também, o número de profissionais, chegando a
trinta pessoas, atendendo aproximadamente sessenta crianças.
No ano de 2020, após uma mudança nos atendimentos das escolas de
81
bebês, as três turmas formadas em fevereiro estiveram presencialmente na
escola até março, sendo que, no restante do ano, o atendimento aconteceu
de forma on-line, devido ao isolamento social decretado pelo governo. As
quarenta e cinco crianças e suas famílias foram orientadas pelas seis profes-
soras que, por meio da plataforma digital e dos grupos de WhatsApp, pro-
porcionaram vivências que tornaram esse período menos tenso e solitário.
Em 2021, em virtude da continuidade do período pandêmico, o
atendimento continuou de forma remota. Com o avanço da vacinação da
população adulta, em 18 de outubro, iniciou-se o atendimento presencial.
Assim, as quatro turmas foram organizadas para atender metade dos bebês
em cada período. Algumas famílias optaram em continuar de forma remota
e, de forma híbrida, ocorreu o atendimento às quarenta e quatro crianças
matriculadas.
O ingresso à Educação de Bebês é o marco da primeira ruptura do bebê
com a família e os vínculos afetivos já instituídos. Trata-se do momento em
que escola e família estabelecem uma relação de parceria no intuito de pro-
porcionar ao bebê as máximas possibilidades para seu desenvolvimento pleno.
Nesse momento, evidenciamos, aos familiares, toda filosofia político-pedagó-
gica que norteia o caminho de nossa instituição, apresentando as concepções
de sociedade, homem, mundo, educação, escola, trabalho, conhecimento/
cultura, educadores, enfim, as concepções teóricas que o grupo assume, con-
forme Legislação, documentos e teorias, que são apresentados a seguir.
Embasamento teórico da EMEI Colibri
A Teoria Histórico-Cultural (THC), fruto de uma construção coleti-
va liderada pelo estudioso bielorusso Lev Semionovitch Vigotski, nos anos
20 do século passado, na antiga União Soviética, por meio de estudos, é
adotada pela rede municipal de ensino de Marília para embasar o trabalho
da comunidade escolar.
A escolha se deve à forma como ela explica o desenvolvimento infantil
e porque, essencialmente, pensa todo esse processo passando dentro da esco-
la, considerando o processo de humanização como educação, que ocorre em
casa, na escola, na vida. O trabalho sob bases vigotskianas compreende que
a educação ocorre em múltiplos espaços onde existe o encontro de pessoas.
82
Assim, é vista como a teoria que mais esclarece as possibilidades para esse
processo que deve permear as relações no cotidiano escolar.
Na perspectiva da THC, Mello (2017) ressalta que somos seres histó-
ricos e culturais, desta forma, como indica o próprio nome, aprendemos a
ser humanos de um tempo e uma cultura. Considera-se uma possibilidade
a formação da inteligência e personalidade – não é nata –, que depende das
experiências vividas na sociedade, com a cultura acumulada e é constituída
enquanto aprendemos a usar os objetos criados ao longo da história. Outro
aspecto importante na adoção da teoria é a visão da criança como ser capaz,
desde os primeiros momentos de vida, de estabelecer relações com o que a
rodeia e atribuir um valor àquilo que vive desde o nascimento, isso significa
que é capaz de aprender e são as aprendizagens que impulsionam a formação
e o desenvolvimento das qualidades humanas.
A teoria trata a infância como o tempo em que as crianças estão mais
intensamente conhecendo e desvendando o mundo que as rodeia – pleno de
criações humanas que elas precisam dominar para viver em sociedade e, ao
mesmo tempo, para formar e desenvolver para si as qualidades humanas que
a constituirão como pessoa: uma identidade, valores, sentimentos, as fun-
ções psíquicas superiores. E, por fim, a teoria nos permite compreender que
a intencionalidade educativa deve estar em função do desenvolvimento das
crianças nas diferentes atividades criadas na cultura, para que elas possam,
nos modos de existir mais plenos de consciência, estar e se relacionar com o
mundo dos objetos, da natureza e das pessoas.
Uma importante e necessária indagação que percorre o interior da
escola é como as crianças aprendem e a resposta é obtida pela THC, que
defende que esta aprende desde o seu nascimento, sempre que é sujeito ativo
participante do processo social de formação da personalidade, apontando
que aprende de um jeito próprio em cada idade.
Assim, considerando a faixa etária de nossos bebês, temos duas ati-
vidades principais que tornarão possíveis o processo de aprendizagem, de
acordo com a teoria. Antes de discorrer acerca das atividades, evidenciamos
que, para a equipe escolar, a atividade guia a aprendizagem e impulsiona o
desenvolvimento das qualidades humanas, assim requer que a criança esteja
envolvida por inteiro com o corpo (fazendo), com a mente (participando,
83
colaborando, planejando, resolvendo, pensando, sugerindo) e com emoção
(comunicação com o adulto, querendo fazer, interessada no resultado).
A primeira atividade principal é a comunicação emocional direta com
o adulto. O primeiro ano do bebê é marcado pela absoluta dependência
da pessoa adulta, que deve se esforçar para estabelecer comunicações em
todos os momentos de cuidado e compreender o que se fala por meio das
outras linguagens além da verbal, se revelando à criança. Contribui, de for-
ma demasiadamente significativa, a abordagem Pikler-Loczy (Falk, 2004)
que, também, considera a participação das crianças enquanto sujeito ativo
e orienta a necessidade de falar com os bebês durante os cuidados diários
(trocas de fralda, banho, alimentação) olhando nos olhos deles e percebendo
as reações, uma vez que eles captam a emoção das palavras proferidas e mos-
tram-se mais calmos e colaborativos quando antecipamos e anunciamos de
maneira clara e simples o que está acontecendo e o que virá a seguir.
Na década de 1930, raras eram as investigações que contemplavam a
faixa etária até três anos de idade. A médica pediatra húngara Emmi Pikler
foi a primeira a olhar cuidadosamente para essa idade e descobrir capacida-
des até então desconhecidas. Além de enxergar a possibilidade de se desen-
volverem sozinhos em certos domínios, ela criou recomendações práticas
para o desenvolvimento dos bebês.
A partir das premissas de respeito e a confiança na capacidade da
criança; realização dos cuidados de maneira respeitosa, considerando a
criança como parceira, observando e possibilitando sua participação ativa;
do olhar atento para a saúde e o bem estar físico da criança; e da relação com
os pequenos de maneira positiva e não proibitiva ou punitiva, a abordagem
Pikler-Loczy ficou conhecida pela maneira de cuidar de crianças em am-
bientes coletivos com foco na atenção e interação, bem como na liberação
dos movimentos do bebê e orientação de sua autonomia.
Segundo a pediatra, a interação com a criança possibilita o desenvol-
vimento em todo seu potencial, favorecendo a construção da autoestima,
autonomia e segurança afetiva. A partir dos estudos acerca dessa abordagem
em nossa Unidade Escolar, procuramos contemplar em nosso cotidiano, os
princípios que foram evidenciados pela pediatra.
O bebê é considerado um sujeito competente que necessita vivenciar
84
a liberdade de movimentos, já que as conquistas motoras se dão de “dentro
para fora”, e respeitando seu tempo e seu ritmo. Assim, buscamos tratá-lo
com todo respeito, inserindo-o de forma ativa no seu próprio desenvolvi-
mento, a fim de possibilitar a conquista de sua autonomia de maneira segura
e com bons referenciais para a vida.
Estabelecemos um vínculo de confiança (segurança afetiva) e respeito
procurando dedicar atenção exclusiva e afetiva nos momentos de cuidados,
alimentação e higiene que são geradores para criação desse vínculo, além de
possibilitarem atividades livres e espontâneas dos pequenos.
O primeiro ano de vida da criança, também, marca a percepção do
mundo exterior pelo bebê, graças às experiências de comunicação emocio-
nal, funções psíquicas superiores como percepção, memória e pensamento
– que, antes da apropriação da fala, acontece na ação – já estão em pleno
desenvolvimento (Vygotsky, 1995). Ao final desse primeiro ano de vida, a
comunicação emocional direta da criança com o adulto adquire nova qua-
lidade: cede espaço a uma colaboração prática, pois, a partir da ação dos
adultos que apresentam novos objetos, as crianças passam a valorizar a ma-
nipulação de objetos.
Dessa forma, entre um a três anos, no período considerado primeira
infância, com a aquisição do andar, a criança amplia a comunicação que
passa a ser mais livre e independente em relação ao mundo que a rodeia
e sua esfera de conhecimento adquire novas dimensões. Conforme explo-
ram, experimentam e descobrem os objetos, as crianças elaboram hipóteses
e essas ações possibilitam que elas pensem; a atividade principal passa a ser
a objetal-manipulatória, que se caracteriza pelo manuseio e exploração de
objetos disponibilizados.
Os educadores garantem a qualidade desses momentos quando, de
forma intencional, organizam os espaços e materiais para que os bebês des-
cubram características e propriedades que promoverão a ampliação do co-
nhecimento e do meio. A variedade de objetos ocasiona o sucesso do desen-
volvimento, assim, os educadores diversificam a oferta e os bebês percebem
as diversas propriedades: os que rolam, os que afundam, os que se encaixam,
os que fazem barulho, os que flutuam etc.
A singularidade da infância, a valorização das relações sociais, a his-
85
tória e a cultura de cada família que chega a nós por meio de cada bebê
constroem a história e a cultura da EMEI Colibri.
O projeto
A pandemia trouxe inúmeros desafios e levou a possibilidade do de-
senvolvimento da inteligência e personalidade dos bebês para o interior das
residências familiares. O processo de aprendizagem sofreu alteração em
sua constituição, a tríade protagonista teve um novo membro: docentes são
substituídos pelos responsáveis, que, com a cultura e o bebê, ocupam o pa-
pel principal no processo de humanização. Assim, professoras e professores,
também em um novo papel, passam a informar e formar essas famílias no
intuito de subsidiá-las teoricamente com elementos fundamentais e neces-
sários para realização do processo.
A escola se propôs a realizar o projeto Além dos muros da escola: o
processo de humanização no espaço familiar, a fim de formar e informar as
famílias acerca do processo de desenvolvimento dos nossos pequenos. Sob o
pressuposto que a educação humanizada se importa com as relações huma-
nas, as emoções e principalmente as particularidades de cada criança, como
sujeito ativo, histórico e cultural, capaz de descobrir e construir seu conhe-
cimento, respeitando-o, é praticar um ensino humanizado.
A relação de acolhimento e escuta – contato individual com as famí-
lias em reuniões - possibilitou a compreensão do papel do responsável como
um dos membros do processo de desenvolvimento, uma vez que os respon-
sáveis substituíram as professoras e passaram a integrar a tríade protagonista
com os bebês e a cultura.
As docentes tanto em atendimentos individualizados (plataforma digi-
tal) e coletivos (grupo de WhatsApp) explicaram a importância da organização
do espaço, disponibilização de materiais e objetos diversos e gestão de tempo,
permitindo o entendimento da cultura como fonte das qualidades humanas
que integraram o cotidiano das crianças por meio de vivências significativas.
Como o projeto contemplou toda comunidade escolar, os demais
educadores (professora em dedicação parcial, Auxiliar de Desenvolvimento
Escolar - ADE, Atendentes de Escola, Auxiliar de Serviços Gerais e equipe
gestora) organizaram, confeccionaram e enviaram materiais e objetos a fim
86
de possibilitar que as atividades principais (comunicação emocional com o
adulto e atividade objetal-manipulatória) acontecessem em casa, garantindo
o desenvolvimento pleno da inteligência e personalidade, como ilustram as
Imagens de 1 a 4, a seguir.
IMAGEM 1 – Bolsas de algodão cru para envio de elementos da natureza
Fonte: Acervo pessoal do autor.
IMAGEM 2 – Elementos da natureza selecionados para propostas de vivências
Fonte: Acervo pessoal do autor.
87
IMAGEM 3 – Objetos e materiais para manipulação e exploração
Fonte: Acervo pessoal do autor
IMAGEM 4 – Caixas com os objetos selecionados para manipulação e exploração
Fonte: Acervo pessoal do autor
Como devolutiva do projeto, as famílias enviaram registros que, além
de servirem para os docentes analisarem os processos que contribuíram na
elaboração de novas propostas, também se transformaram em Mini-histórias
e documentação pedagógica, utilizada pela escola, a fim de garantir comu-
nicação com as famílias e apresentar o desenvolvimento das nossas crianças.
Celulares, computadores, notebooks, internet, elementos da natureza,
objetos para manipulação: potes, latas, tecidos, bandejas de ovos; argila,
massa de modelar, livros, riscadores, marcadores e tintas naturais, obras de
arte, revistas, vídeos, fotos foram os recursos utilizados durante o processo.
Saliento que a maioria das famílias não tinha computador ou notebook, além
88
de acesso bastante restrito à internet; assim o WhatsApp foi o meio mais
eficaz para garantir a comunicação entre escola e família e, também, as pos-
sibilidades de realização das propostas com as crianças.
Além disso, combinamos com as famílias que os celulares seriam ma-
nipulados apenas pelos adultos, pois sempre orientamos os responsáveis
acerca dos malefícios que as telas causam aos bebês e crianças bem pequenas.
Portanto, enviamos propostas de movimento, manipulação e exploração de
objetos, entre outras que eram possíveis acontecer no espaço doméstico.
Como já mencionado, as docentes enviavam semanalmente as pro-
postas de vivências a serem realizadas com as crianças e, também, postavam
na plataforma. Assim que liam, as famílias tinham a oportunidade de escla-
recer quaisquer dúvidas ou sugerir adequações de acordo com as condições
de cada bebê. Esse processo corroborou o estudo que a equipe escolar reali-
zou acerca da segurança afetiva, pois os responsáveis, assim como as crianças
no espaço escolar, levaram um tempo para estabelecer uma comunicação
efetiva com as docentes e, principalmente, apresentar as dúvidas que tinham
sobre as propostas enviadas.
Após o período inicial, professoras e equipe gestora notaram a neces-
sidade em promover vivências com livros e contato com a natureza, pois
familiares relataram que estavam preocupadas com a permanência dos bebês
diante das telas dos celulares, pois muitas vezes era o único recurso dispo-
nível a ofertar aos pequenos. Então, solicitamos que as famílias fossem à
instituição escolar e, de acordo com o horário estabelecido, retirassem um
kit de livros a fim de que novas oportunidades acontecessem em casa.
Ressalto que, quando realizamos a matrícula, em diálogo com os res-
ponsáveis, indagamos se eles costumam ler aos filhos e se se consideram
leitores, e a maioria havia respondido de forma negativa às questões, alguns
responsáveis não tinham concluído os anos iniciais do Ensino Fundamental.
Dessa forma, iniciamos um processo de formação às famílias e apresentamos
que a literatura infantil oferece às crianças a possibilidade de interagir com
diferentes culturas e entrar em contato com esse objeto que carrega signifi-
cado, imaginação, valor e histórias.
Continuamos na defesa de que ler para crianças é um exercício que
pode ter início desde quando ainda estão na barriga das mamães. São vários
89
os ganhos no desenvolvimento, um deles é estabelecer ou fortalecer o contato
com a pessoa que está lendo, já que a criança entende que este é um momento
de atenção dedicada a ela e à leitura, o que aprimora a comunicação emocio-
nal direta com o adulto tão necessária ao desenvolvimento das crianças.
Em seguida, discorremos acerca dos estudos realizados que apresen-
tam que as capacidades dos bebês e das crianças pequenas podem ser apri-
moradas por meio da comunicação e organização do pensamento, ocorridas
em situações diversas como, por exemplo, naquelas desenroladas em um
entorno literário, tais como: diálogos de conversação literária; leitura e con-
tação de histórias; exploração, manuseio e análise de diferentes materiais,
incluindo livros literários destinados às crianças. Em todas elas, as funções
psíquicas, de forma sistêmica e integrada, são mobilizadas (como a aten-
ção, a memória, a linguagem, a imaginação, o controle de conduta, entre
outras), engendrando a inteligência e a personalidade infantis (Mukhina,
1996; Zaporozhets, 1987).
Foi um momento bastante significativo que, além de aproximar fa-
mílias e docentes, possibilitou uma mobilização acerca da leitura. Quando
as crianças retornaram à escola, presenciamos, de forma surpreendente, os
pequenos manipulando os livros com posturas de leitores experientes, o que
nos fez compreender que todo o processo foi enriquecedor e profícuo.
Outra ação que realizamos em relação às propostas foi o contato com
a natureza; já vivenciávamos um período mais estabilizado da proliferação
do vírus e, em conversa com as famílias, notamos que muitos moravam pró-
ximos a praças ou espaços que possibilitavam um contato direto com ele-
mentos naturais. Assim, iniciamos uma nova formação, defendendo que a
natureza é considerada fator favorável à imaginação infantil e potencializa a
criatividade das crianças. Dessa forma, em contato com a natureza, as crian-
ças têm mais espaço para se divertirem, brincarem e realizarem descobertas
que só o meio ambiente pode oferecer, já que se sentem mais livres e mais
à vontade, pois estão cercados de sons, cores, texturas, gostos e cheiros que
são novos para eles, possibilitando o desenvolvimento saudável dos sentidos
para deixar a imaginação correr solta, deixando as crianças mais interessadas.
Na oportunidade, também, dialogamos com os responsáveis sobre a
sustentabilidade e necessidade em cuidar do planeta, pois quando as crian-
90
ças vivenciam o crescimento das árvores, como as aves se alimentam, estão
experienciando a magnitude da natureza e compreendendo seu funciona-
mento. Em uma das turmas, surgiu a ideia de plantar pequenas flores, ver-
duras e hortaliças, ações que movimentaram o grupo de WhatsApp e, tam-
bém, o cotidiano das famílias.
Conclusão
Inicialmente, a mudança na tríade protagonista nos causou estranha-
mento, medo e até desconforto, pois concebemos a escola como espaço
privilegiado para garantia dos direitos das crianças, pois, além de respeitá-
-las, reconhece a possibilidade de inovar e estabelecer-se como ciência que
efetivamente contribui como os modos de fazer, pensar e avaliar o que se faz
na escola (Fochi, 2017).
Contudo, como sempre buscamos estabelecer com as famílias uma
relação de forma horizontal, dialógica e colaborativa; apresentar-lhes, já no
momento da matrícula, as especificidades da educação de bebês e toda pro-
posta pedagógica da escola, a fim de acordar que, a partir daquele momen-
to, todos os adultos se tornariam protagonistas na responsabilidade de oca-
sionar o desenvolvimento pleno dos bebês, foi primordial para que depois
tivéssemos os resultados apresentados.
Aos poucos, verificamos e constatamos que todo o percurso se tornou
real e possível por meio de formações constantes dos educadores e das famí-
lias. Os estudos, reflexões e diálogos entre si e os parceiros mais experientes
permitiram a apropriação de conhecimentos científicos essenciais à prática
com os bebês, além do acesso dos pequenos à cultura mais elaborada - mú-
sica, dança, artes plásticas, literatura, ciências, linguagem -, aos espaços or-
ganizados para exploração e movimento livre, aos materiais disponibilizados
ao alcance de todos, a relações de respeito e ao desenvolvimento de cuidados
essenciais (higiene, repouso, alimentação).
Consideramos, ainda, que as práticas proporcionaram a compreensão
de que cuidar e educar são duas ações indissociáveis na escola da infância -
que possibilitam, por meio de situações respeitosas de cuidado, a formação
da imagem positiva de si mesmo.
Como se trata da educação de bebês, a tecnologia mediou a relação
91
escola-família e possibilitou que, mesmo em um período tão crítico, o pro-
cesso de humanização desses sujeitos acontecesse mediado em novos espaços
e com novos responsáveis, além de estreitar a parceria escola-família que é
tão almejada pelas instituições de ensino.
Referências
BARBOSA, M. C. S.; FOCHI, P. S. Os bebês no berçário: ideias-chave.
In: FLORES, M. L. R.; ALBUQUERQUE, S. S. (Org.) Implementação
do Proinfância no Rio Grande do Sul: perspectivas políticas e pedagó-
gicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015. p. 57-68. Disponível em < http://
ebooks.pucrs.br/edipucrs/Ebooks/Pdf/978-85-397-0663-1.pdf>.
BARBOSA, M. C. S. Por Amor e por força: rotinas na Educação Infan-
til. Porto Alegre: Artmed, 2009.
BARROS, D.; PEQUENO, S. Cultura, Educação e desenvolvimento hu-
mano. In: COSTA, S. A. da; MELLO, S. A. Teoria Histórico-Cultural
na Educação Infantil: conversando com professoras e professores. Curiti-
ba: CRV Editora, 2017. p. 77-86.
BARROS, M. I. A. Desemparedamento da infância: A escola como lugar
de encontro com a natureza. Rio de Janeiro: Alana; Criança e Natureza,
2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretri-
zes curriculares nacionais para a educação infantil/ Secretaria de Educa-
ção Básica. Brasília: MEC, SEB, 2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação. Política Nacio-
nal de Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis à educa-
ção. Brasília: MEC/SEB, 2006d.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n.º
9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.
FALK, J. Educar os três primeiros anos: a experiência de Loczy. Arara-
quara: Editora Junqueira e Marin, 2004.
LEONTIEV, A. N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da
Psique infantil. In: L. S. Vigotskii; A. R. Luria e A. Na. Leontiev. Linguagem,
desenvolvimento e aprendizagem. 12.ed. São Paulo: Ícone, 2012, p. 53-83.
92
LIMA, E. A.; VALIENGO, A.; RIBEIRO, A. E. M.. Teoria histórico-
-cultural e desenvolvimento da percepção: fundamentos para educação de
bebês. Ver. Teoria e Prática da Educação, v.17, n.3, pp.25 - 36, set./dez.
2014.
MARILIA, Proposta Curricular para Educação Infantil do Sistema
Municipal de Ensino de Marília. OLIVEIRA, Karina Carrião Gomes de
(org). Marília; Secretaria Municipal da Educação, 2020.
MELLO, S. A. Bebês e crianças pequenininhas como sujeitos: participação
e escuta. In: COSTA, S. A. da; MELLO, S. A. Teoria Histórico-Cultural
na Educação Infantil: conversando com professoras e professores. Curiti-
ba: CRV Editora, pp.41 - 50, 2017.
MELLO, S. A. SINGULANI, R. A. D. As crianças pequenininhas na
creche aprendem e se humanizam. Rev. Teoria e Prática da Educação, v.
17, n.3, p.37-50, Setembro/Dezembro 2014.
PEDERIVA, P. L. M.; COSTA, S. A.; MELLO, S. A. Uma teoria para
orientar nosso pensar e agir docentes na educação infantil. In: COSTA,
S. A. da; MELLO, S. A. Teoria Histórico-Cultural na Educação Infan-
til: conversando com professoras e professores. Curitiba: CRV Editora,
2017. p. 115-128.
SINGULANI, R. A. D. A organização do espaço da escola de Educação
Infantil. In: COSTA, S. A. da; MELLO, S. A. Teoria Histórico-Cultural
na Educação Infantil: conversando com professoras e professores. Curiti-
ba: CRV Editora, , 2017. pp.129 - 139.
TEIXEIRA, S. R.; BARCA, A. P. A. Teoria Histórico-Cultural e Educação
Infantil: concepções para orientar o pensar e o agir docentes. In: COSTA,
S. A. da; MELLO, S. A. Teoria Histórico-Cultural na Educação Infan-
til: conversando com professoras e professores. Curitiba: CRV Editora,
2017. pp.29 - 39.
VYGOTSKY, L. S. Obras Escojidas, vol. III, Madri: Visor, 1995.
ZERO, P. e CHILDREN, R. Tornando visível a aprendizagem - crian-
ças que aprendem individualmente e em grupo. Phorte Editora. 2014.
93
OPERACIONALIZAÇÃO DAS PRÁTICAS
TELECOLABORATIVAS:
PERSPECTIVAS E DESAFIOS
Douglas Cunha dos SANTOS
12
Daniela Nogueira de Moraes GARCIA
13
Introdução
A era da globalização e o uso das Tecnologias Digitais da Informação
e Comunicação (TDICs) têm contribuído e propiciado contextos promis-
sores para a educação. Os aplicativos, sites e redes sociais, além dos disposi-
tivos que possibilitam o acesso à internet, são ferramentas que ampliam o
papel do professor em sala de aula (Leffa, 1999). Para Marques-Schäfer e
Rozenfeld (2018), “O convívio diário e quase que constante com recursos
tecnológicos, em especial, com tecnologias móveis, como celulares e tablets,
leva-nos a repensar sobre formas e conteúdos de aprendizagem” (p. 9).
Observando o panorama atual, após a pandemia de covid-19, é pos-
sível destacar o impacto dessas tecnologias na educação. Em momento de
distanciamento social e tentativa de minimização de contaminação, a sala de
aula deslocou-se de seu espaço físico e migrou para a internet, em um con-
12
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Marília / SP / Brasil / E-mail: douglas.
cunha@unesp.br
13
Professora Livre Docente junto ao Departamento de Letras Modernas e Vice-Diretora da Faculdade
de Ciências e Letras / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / Campus
de Assis/SP e Professora e orientadora do Programa de Pós-Graduação em Educação / PPGE/
Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” -
UNESP / Campus de Marília / SP / Brasil / E-mail: daniela.nm.garcia@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-513-1.p93-112
94
texto de ensino/aprendizagem mediado pelo computador. Kersch e Martins
(2020, p.14) reconhecem que
Não podemos, agora que estamos todos vacinados, voltar às salas de aula
e às nossas práticas antigas, como se nada tivesse acontecido. Março de
2020 (e o que se seguiu a ele) nos chama à ação. Este tempo pandêmico
nos mostra que precisamos recomeçar e repensar a escola (e nossas prá-
ticas pedagógicas).
No que diz respeito às línguas estrangeiras, as TDICs têm sido utiliza-
das para mediar o processo de ensino/aprendizagem, por meio de aplicativos
de aprendizagem de idiomas ou de cursos on-line, populares antes mesmo
do período de isolamento, que utilizam plataformas como Skype e Zoom e
ambientes de compartilhamento virtual, como o Google Classroom.
Nessa conjuntura, as ações telecolaborativas, já abordadas no Capítu-
lo 3 desta obra, também, têm oferecido contextos profícuos para a apren-
dizagem de línguas estrangeiras (LE) (Ross e Disalvo, 2020; Ferdig et al.,
2020; Beaven e O´Dowd, 2019). A telecolaboração corrobora o trabalho
pedagógico realizado em sala de aula de língua estrangeira e pode proporcio-
nar contextos de comunicação autêntica aos seus participantes, além de ser
uma experiência de inter/transculturalidade e internacionalização em casa
(Baranzelli et al., 2020; Salomão e Freire Jr, 2020).
O presente trabalho estabelece diálogo com os estudos compilados
por Salomão e Freire Jr (2020) que retratam perspectivas de implementação
de ações de intercâmbio virtual mediadas pelo inglês em áreas e temáticas
diversas, como robótica, tradução, resiliência climática, entre outras.
Em uma universidade estadual paulista, são oferecidas atualmente
duas modalidades de ações telecolaborativas: o teletandem e a telecolabora-
ção em inglês como língua franca/língua estrangeira, que complementam as
ações pedagógicas e auxiliam os participantes na aprendizagem. Tem, ain-
da, sido desenvolvidas ações de intercâmbio virtual no âmbito do Progra-
ma Brazilian Virtual Exchange (BRaVE), com atividades pedagógicas entre
países e áreas diferentes, por meio de uma língua, como inglês ou espanhol,
como retratam os supracitados autores, Salomão e Freire Jr. (2020). No
entanto, destaca-se a necessidade (intensificada pelo cenário da pandemia
95
do covid-19) da compreensão da operacionalização destas práticas que con-
temple os processos envoltos nas ações.
Com base em experiências retratadas por Garcia (2020), é possível ob-
servar a capacidade das tecnologias em estimular ambientes de aprendizado
colaborativo a distância em servir tanto para ampliar as atividades realizadas
em sala de aula quanto para habilitar professores e alunos a responderem
a novas exigências. Sendo assim, compreendemos que é necessário pensar,
não somente na telecolaboração como uma interação em si mesma, mas
nos processos que articulam uma logística que antecede cada sessão e no
ambiente computacional em que essas atividades são realizadas, de modo a
auxiliar os professores, pesquisadores e mediadores responsáveis e os alunos
participantes envolvidos.
Uma vez observadas estas etapas e ações, maximiza-se seu sucesso e im-
pacto no processo de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras e busca-se
evitar/prever consequências negativas que podem ocorrer por falta de procedi-
mentos metodológicos e/ou dificuldades instrumentais. Pretendemos, assim,
abordar as ações de telecolaboração pautadas em inglês/português enfocando
o contexto teletandem e, também, as práticas em inglês como língua franca.
Em seguida, apontamos a metodologia e passamos aos dados coletados duran-
te a pesquisa conduzida
14
. Tecemos, por fim, considerações finais referentes à
organização da logística para práticas telecolaborativas.
As ações de telecolaboração
Não podemos deixar de mencionar os grandes desafios vivenciados no
cenário educacional em momento de pandemia, envolvendo a necessidade
de continuidade de práticas pedagógicas e a utilização das tecnologias. De-
paramo-nos com um repensar e desbravar em prol do processo de ensino/
aprendizagem, impactando estudantes, professores, famílias e gestores. De
qualquer maneira, os desafios e impactos ainda ecoarão por algum tempo.
De acordo com Moran (2004), as tecnologias “nos permitem reali-
zar atividades de aprendizagem de formas diferentes às de antes. Podemos
14
Agradecemos imensamente a Bianca de Carvalho Nunes Dias pela parceria quando da ocasião de
seus estudos de iniciação científica, enriquecendo significativamente esta pesquisa.
96
aprender estando em lugares distantes, sem precisarmos estar sempre juntos
numa sala para que isso aconteça” (p. 348). Nesse sentido, podemos traçar
um paralelo atual que evidencia a contribuição dos avanços tecnológicos
para inovações no contexto pedagógico. Ademais, temos buscado possibi-
lidades de potencializar o processo de ensino/aprendizagem depois de um
período de grandes esforços empreendidos frente às adversidades atípicas.
A telecolaboração tem trazido grandes contribuições para o processo
de ensino/aprendizagem de língua estrangeira. Segundo O’Dowd, trata-se da
aplicação de ferramentas de comunicação on-line para conectar aprendizes
de línguas geograficamente distantes com o propósito de desenvolver as ha-
bilidades de língua e competência intercultural por meio de tarefas colabo-
rativas ou um projeto de trabalho” (O’Dowd, 2007, p. 342). Segundo ele, a
telecolaboração é uma das atividades essenciais da comunicação mediada pelo
computador em se tratando de línguas estrangeiras (O’Dowd, 2015).
As ações de colaboração on-line não devem objetivar apenas uma sim-
ples conversa entre aprendizes geograficamente distantes, mas sim desen-
volver suas habilidades linguísticas (Vassalo; Telles, 2006, p. 102). É impor-
tante, também, destacar sua natureza intercultural. Para O’Dowd (2015),
o cerne da prática telecolaborativa é seu caráter intercultural, sugerindo um
intercâmbio entre vivências distintas. De acordo com Garcia (2013), “é
possível perceber que a telecolaboração abarca objetivos não somente lin-
guísticos mas, também, de desenvolvimento da competência intercultural
(Garcia, 2013, p. 20). Belz (2003) também cita o desenvolvimento da com-
petência intercultural como um dos pilares da ação.
Sendo assim, compreendemos que a prática da telecolaboração con-
tribui para as ações pedagógicas significativas, possibilitando o acesso dos
alunos e participantes a diferentes culturas e a um contexto de comunicação
em línguas estrangeiras que favorece o desenvolvimento de competências
linguísticas e interculturais.
O teletandem
A aprendizagem em tandem tem seus primórdios na década de 60 na
Europa e, desde então, tem proporcionado o acesso e a aproximação entre
diferentes povos e culturas (Brammerts, 2003; Dellile & Ferreira, 2002).
97
Segundo Brammerts (2003), “Quando aprendem uma língua em tandem,
duas pessoas com diferentes línguas maternas trabalham juntas a fim de
aprender uma com a outra” (tradução nossa).
O Projeto Teletandem Brasil apresenta o teletandem como um con-
texto telecolaborativo, baseado nos princípios da aprendizagem em tandem
(autonomia, reciprocidade e o uso separado de línguas) e, a partir do suporte
das novas tecnologias, promove experiências bilíngues através de recursos de
escrita, voz e imagens de webcam da tecnologia VOIP (Telles, 2006, 2009,
2015). Desse modo, parcerias com universidades estrangeiras são feitas e
alunos brasileiros que querem aprender uma língua estrangeira são pareados
com alunos estrangeiros que querem aprender português. Assim, são con-
duzidas sessões de interação, através do Skype institucional da universidade.
As interações em teletandem oferecidas no Brasil, no contexto aqui
observado, e nas demais universidades parceiras, configuram-se como ilus-
trado na figura 1.
FIGURA 1- Sessão prototípica de teletandem
Fonte: Adaptado de Garcia, 2013.
Em decorrência da pandemia de covid-19 e das recomendações de iso-
lamento social adotadas no período, essa estrutura de aplicação, que prevê os
interagentes alocados em um mesmo laboratório, foi transposta para intera-
gentes em suas casas, fazendo uso de seus próprios recursos e Skype pessoal
para a condução da sessão de Teletandem. Nesse modelo, o acompanhamento
do mediador é conduzido a distância, por meio de mensagens de texto e/ou
voz em aplicativos como WhatsApp e plataformas como o Facebook.
98
A telecolaboração em inglês como língua franca
A partir do teletandem, desponta um novo tipo de telecolaboração, pau-
tada no inglês como língua franca. Para El Kadri (2010), a língua inglesa se con-
figura como língua franca graças a algumas características atribuídas ao idioma
devido à sua expansão global. Sumariamente, para a autora, língua franca é
um sistema linguístico adicional que serve como meio de comunicação
entre falantes de diferentes línguas maternas, ou uma língua pela qual os
membros de diferentes comunidades de fala podem se comunicar entre
si, mas que não é a língua materna de nenhum deles – uma língua que
não tem falantes nativos. (El Kadri, 2010, p. 65).
Nesta ação de telecolaboração em inglês que observamos, os estudan-
tes brasileiros são pareados com estrangeiros de uma universidade britânica
que, também, não são nativos da língua inglesa. Diferentemente do teletan-
dem, nesse modelo de experiência de colaboração on-line, os pares intera-
gem durante uma hora em inglês por meio da comunicação síncrona, com
vídeo e som, via rede social Facebook. É possível observar que, dos princípios
da aprendizagem em tandem supracitados, mantêm-se a reciprocidade e a
autonomia para as trocas, como estudado por Garcia (2021).
Além dos objetivos linguísticos que são trabalhados durante a sessão
de interação, os participantes também desenvolvem sua competência inter/
transcultural, já que a telecolaboração promove um contexto favorável para
os pares explorarem as culturas um do outro (Freitas e Garcia, 2018).
As ações de telecolaboração em inglês como língua franca, aqui expos-
tas, são ilustradas na figura 2:
FIGURA 2 - Sessão prototípica de telecolaboração em inglês como língua franca.
Fonte: De Oliveira, 2018.
99
É importante enfatizar que, no contexto retratado neste estudo, tanto
no teletandem como na telecolaboração em inglês como língua franca, as
sessões de mediação são oferecidas apenas no Brasil. Contudo, os professo-
res do exterior realizam atividades de acompanhamento e avaliação sobre
as sessões, em sala de aula, por meio de formulários pela internet em que
os alunos possam relatar a prática, compartilhar desafios e reflexões sobre a
experiência. Articula-se, assim, um espaço de voz para que os participantes
se expressem com vistas a posturas crítico-reflexivas.
Sobre a operacionalização
Aqui tomamos a definição de operacionalização como o processo de
estabelecer variáveis de forma a permitir sua medição ou manipulação dos
procedimentos de um projeto para fins de um estudo científico (Becker,
2008). Tendo em vista que as recentes atualizações no modelo de Teletan-
dem e Telecolaboração previsto por Telles (2006, 2009, 2015) frente aos
avanços na tecnologia e as situações atípicas de isolamento social, se fez
necessário especificar os procedimentos e instrumentos que foram usados
para operacionalizar o conceito e quantificá-lo, com o objetivo de tornar a
atividade “operacional”, o que significa que ela poderia ser medida objetiva
e consistentemente em um estudo, permitindo comparações significativas
entre os resultados de diferentes estudos ou grupos no futuro. Ademais,
operacionalizar ajudará a garantir que os estudos possam ser replicados, o
que é um aspecto importante da rigorosidade científica (Chalmers, 1993).
A operacionalização aqui proposta, desta forma, envolve a definição
clara dos objetivos educacionais por trás das decisões tomadas na aplicação
descrita e a identificação de meios eficazes para alcançá-los futuramente.
Em nossa análise, também apontamos marcadores que permitem avaliar
o desempenho dos participantes, bem como a efetividade das etapas pré e
pós aplicação. Portanto, a operacionalização das iniciativas telecolaborativas
se faz fundamental para a melhoria da qualidade de sua realização e para o
desenvolvimento de uma cultura de avaliação e aprimoramento contínuos.
100
Metodologia
A investigação se insere em um paradigma qualitativo de pesquisa de
cunho etnográfico considerando o objeto de estudo aqui explicitado (Lüdke
e André, 1986; Denzin e Lincoln, 1998; Burns, 1999). Aqui, brevemen-
te, abordamos um recorte de pesquisa de iniciação científica conduzida pelo
período de um ano.
Assim, para compreender os processos logísticos implicados nas ações
telecolaborativas realizadas, foram organizadas as turmas de teletandem e de
telecolaboração como língua franca, realizadas ações de divulgação, além de
assumir a mediação da turma, acompanhando as interações e os participan-
tes. Os demais autores, sistematicamente, acompanham turmas nas práticas
de colaboração on-line e possuem vasta experiência na temática.
A pesquisa foi realizada em dois laboratórios da universidade. Além
de computadores com acesso à internet e dispositivos de áudio e imagem, o
Laboratório 1 conta com uma mesa central, onde são conduzidas as sessões
de mediação, momento de discussões com os interagentes após cada intera-
ção para fomentar reflexões e feedback sobre aprendizagem da língua inglesa
e culturas.
Para o estudo, os dados foram coletados nos dois tipos de colabora-
ção on-line aqui explanados, com duas turmas, denominadas aqui Turma
1 (interações em inglês) e Turma 2 (interações em português e inglês). Na
primeira Turma, de inglês como língua franca, os dados referem-se a três
sessões realizadas entre os meses de agosto e setembro de 2019, sendo uma
hora de interação e os vinte minutos seguintes destinados à sessão de me-
diação.
Estas interações foram realizadas por meio da ferramenta de video-
conferência da rede social Facebook. Sua utilização se fez necessária dada
a incompatibilidade de versões do Skype entre as universidades do Brasil e
Reino Unido participantes. Uma vez detectada a situação, para otimizar o
processo, foi sugerida a utilização da rede social como opção gratuita de co-
municação em vídeo. Os interagentes também utilizaram o recurso de chat
da plataforma, proporcionando a possibilidade de praticar as habilidades de
escuta, fala, leitura e escrita.
101
Os participantes da Turma 1 foram 20 alunos brasileiros de cursos de
Graduação em áreas diversas oferecidos na universidade, bem como douto-
randos e alunos do Centro de Línguas da instituição e foram devidamente
pareados com alunos da universidade estrangeira. No que diz respeito à Tur-
ma 2, os dados são oriundos de seis encontros, realizados entre os meses de
março e abril de 2020, sob a configuração de uma hora destinada para a in-
teração com a troca de línguas e quinze minutos para a sessão de mediação.
As sessões de interação da Turma 2 foram iniciadas por meio do Skype
institucional, e, devido à pandemia do covid-19, foram transferidas para
as contas pessoais no mesmo aplicativo. Dado o contexto inesperado, uma
interação foi realizada no laboratório e as demais a distância, estando cada
participante em casa, com seus dispositivos e contas próprias. Nesta modali-
dade, também, puderam ser exercitadas as habilidades de escuta, fala, leitura
e escrita, já que o Skype possui a ferramenta do chat. No que diz respeito
ao pareamento da Turma 2, foram contemplados oito alunos brasileiros de
cursos de Graduação em áreas diversas oferecidos na universidade.
O quadro abaixo retrata o panorama das duas modalidades de teleco-
laboração, ressaltando que a metodologia de uso é similar.
TABELA 1: Informações das Turmas de telecolaboração.
Telecolaboração em
Inglês como Língua
Franca
Teletandem
Número de Interações 03 06
Número de
participantes brasileiros
20 08
Cursos dos interagentes
brasileiros
Ciências Biológicas,
Engenharia
Biotecnológica,
História, Letras e
Psicologia
Ciências Biológicas,
Engenharia
Biotecnológica,
História, Letras e
Psicologia
Uso do Facebook X
Uso do Skype
Institucional
X
Uso do Skype pessoal
(excepcionalmente por
conta da pandemia)
X
Fonte: Autores, 2023.
102
Os instrumentos empregados para a execução da coleta de dados fo-
ram comentários escritos em grupo fechado do Facebook, transcrições de
áudio e de diários e notas de campo e um questionário via Google Forms.
Passamos, agora, aos dados que foram coletados.
Análise dos dados
Este estudo surge a partir de impasses observados em ações de tele-
colaboração nos laboratórios de língua, como, por exemplo, desencontro e
falta de agilidade nas informações, necessidade de trocas de parcerias e mal
funcionamento de equipamentos. Assim, voltamo-nos para os processos de
organização logística com vistas a um esclarecimento e alinhamento de pro-
cedimentos para potencializar a qualidade de execução das interações.
A operacionalização das sessões de telecolaboração
Considerando que a logística das interações de teletandem e de tele-
colaboração em inglês como língua franca não diz respeito a somente o que
acontece durante a interação, faz-se necessário conceber ações que contem-
plem anterior e posteriormente a uma sessão.
Desse modo, com base nos dados analisados e nossa experiência pré-
via, foi possível delinear algumas ações metodológicas pertinentes às ações
de telecolaboração on-line, abrangendo o antes, o durante e o depois das
sessões, para potencializar a execução das interações.
Antes da interação
Os processos anteriores à interação contemplam a criação do formu-
lário on-line de inscrição, material de divulgação virtual, elaboração de men-
sagens de confirmação das inscrições, pareamento e, por fim, a organização
do ambiente computacional. Tais passos são a base das interações, relevantes
para o sucesso de todas as etapas subsequentes. É importante que o me-
diador, pesquisador ou professor responsável pela turma da telecolaboração
mantenha um canal de comunicação eficiente com o parceiro da universida-
de estrangeira durante esses processos, de modo que todos os passos estejam
103
alinhados antes da primeira interação.
Reforçamos que este momento que antecede as interações deve ser
organizado previamente, o que demanda tempo dos professores envolvidos
e uma definição de agendas e objetivos.
O formulário de inscrição e divulgação
É ideal que o formulário de inscrição seja criado e divulgado com, no
mínimo, 20 dias de antecedência até a primeira interação. Assim, os interes-
sados em participar da telecolaboração on-line terão tempo para organizar
seus calendários e o mediador responsável poderá conduzir, com tranquili-
dade, os outros processos precedentes à interação.
A ficha de inscrição pode ser criada no Google Forms e contemplar
algumas partes, como:
TABELA 2: Ficha de Inscrição
Seção Detalhes e Conteúdos
I. Informações gerais
Inclui datas, horários e recomendações relacionadas
ao curso ou evento
II. Termo de
compromisso
Os interagentes concordam com os termos, como
políticas de falta e requisitos para certificação
III. Dados pessoais
e informações de
contato
Solicitação de informações como nome, e-mail,
número de celular ou WhatsApp, e link do perfil do
Facebook
IV. Informações
pedagógicas
Compilação de dados sobre cursos, instituição de
ensino, experiências anteriores em colaboração on-
line e nível de proficiência no idioma em foco
V. Envio da inscrição Finalização e envio do formulário de inscrição
Fonte: Autores, 2023.
A última parte deve ser utilizada para reiterar informações sobre a
interação e envio da inscrição. Após a criação do formulário, sua divulgação
deve ser feita nas redes sociais e por e-mail institucional.
104
Confirmação das inscrições
A confirmação das inscrições se dá após o fechamento do formulário.
Esse passo ocorre logo após o preenchimento das vagas disponíveis para a
turma ou, pelo menos, cinco dias antes da primeira sessão de interação.
A confirmação é feita por e-mail, reforçando os horários e datas das inte-
rações da turma, além de orientações e recomendações gerais. Caso o número de
inscritos tenha excedido o número de vagas da turma, um e-mail sobre a lista de
espera também deve ser enviado. Assim, se por algum motivo, algum interagente
não conseguir comparecer, será possível considerar os interessados à espera da vaga.
É pertinente, também, mencionar que a criação de um grupo fechado
no Facebook já foi um procedimento adotado. Com o link do perfil da rede
social dos participantes, o mediador ou pesquisador responsável pode criar
o grupo para confirmar as inscrições dos interagentes, divulgar informações
pertinentes, coletar dados e otimizar os processos como pareamento e a me-
diação. A ferramenta do Facebook, combinada com os e-mails, mostrou-se
facilitador na comunicação com os interagentes.
Pareamento
O pareamento é essencial para o funcionamento de todas as intera-
ções, mas, principalmente, da primeira sessão de interação. Sem o parea-
mento prévio, como antes acontecia no contexto aqui observado, grande
parte desta interação era destinada a parear os alunos e conectá-los.
A não observância a esse passo acarreta algumas problemáticas. A
primeira é a perda de tempo de interação. Enquanto os alunos poderiam
estar conversando e praticando a língua-alvo, eles esperam o pareamento
realizado pelo mediador. A demora para conectar os pares causa a segunda
problemática, que é a desistência de interagentes logo na primeira semana.
Para promover a ordem no Laboratório, no caso de interações pre-
senciais, é fundamental fazer o pareamento pelo menos três dias antes da
primeira interação. Sugerimos uma tabela de sete colunas contendo as prin-
cipais informações dos alunos para conectá-los aos pares, com espaços para
que os professores responsáveis das universidades parceiras possam, tam-
bém, inserir os mesmos dados de seus alunos.
105
FIGURA 3: Modelo de tabela para pareamento.
Fonte: Autores, 2020.
Depois de preencher a tabela com os dados dos interagentes brasilei-
ros, o mediador responsável deve fazer o upload do arquivo no Google Drive
e compartilhá-lo com o professor da universidade parceira, para que ele
também possa preenchê-lo. A partir do preenchimento compartilhado da
tabela, o arquivo pode ser enviado aos interagentes para que eles possam se
conectar com os parceiros antes da primeira interação.
A tabela de pareamento pode ser enviada no grupo do WhatsApp,
Facebook e no e-mail. Os dois primeiros são vistos mais frequentemente e a
notificação é instantânea, o que agiliza o processo. Essas ferramentas, que se
tornaram muito mais comuns após 2020, otimizam esse processo de conta-
to pois facilitam a comunicação com os interagentes.
A organização do ambiente computacional
Em uma tentativa complementar com vistas a um bom andamento
das práticas telecolaborativas, faz-se necessária a organização do ambien-
te computacional, no caso de condução de atividades presencialmente. É
interessante que o mediador responsável pela turma, de teletandem ou de
telecolaboração em língua franca, realize a testagem de todos os equipamen-
tos que serão utilizados antes de cada interação. Caso as atividades sejam
conduzidas de forma remota, orientamos que os participantes adotem o
mesmo procedimento.
O teste deve ser feito em três etapas. A primeira é checar se o compu-
tador tem acesso à internet, já que é por meio da rede que as interações serão
106
realizadas. A segunda etapa é o teste de som. Os fones e os microfones devem
ser verificados para evitar possíveis dificuldades relacionadas ao dispositivo
durante a interação. Por fim, as webcams devem ser verificadas para garantir
que os interagentes possam utilizá-las de acordo com os princípios das ações
em tandem: autonomia, reciprocidade e bilinguismo (Telles, 2006).
É importante que o número de interagentes seja sempre inferior ao
número de computadores disponíveis no laboratório, já que, caso ocorra
algum empecilho durante as interações, a troca dos dispositivos possa ser
feita com mais celeridade.
Durante a interação
Ao longo do período da interação, o professor/pesquisador/mediador
e o professor da universidade estrangeira devem estar conectados para auxi-
liar os alunos. Neste momento, a tabela de pareamento é muito útil, já que
em caso de imprevistos, como ausência ou dificuldades em realizar a cone-
xão, os responsáveis conseguirão acessar as informações dos participantes e
realizar ajustes, se necessário.
Para diminuir dificuldades relacionadas ao barulho ambiente, já que,
geralmente, nos laboratórios a disposição das máquinas se dá sequencial-
mente, em fileiras, os interagentes podem se posicionar de maneira disper-
sa ou intercalada. Em turmas maiores, como as de 20 interagentes, uma
possibilidade seria a divisão dos participantes em dois laboratórios, de modo
que os ruídos da conversação com os parceiros possam ser minimizados.
Intercalar assentos foi uma ação aplicada nas segunda e terceira sessões de te-
lecolaboração em língua franca, sendo benéfica e resultando na diminuição
dos ruídos de fundo, como podemos constatar nos excertos a seguir:
107
É importante enfatizar que, no caso das sessões presenciais de teletan-
dem, conforme os procedimentos aqui explicitados, o computador que os
interagentes irão utilizar poderá já estar conectado a um nome/número de
usuário específico do Skype institucional, disposto na tabela de pareamento. O
responsável pela turma, professor/pesquisador/mediador, deverá estar atento à
disposição dos computadores ao fazer a distribuição das parcerias, para evitar
que os participantes fiquem muito próximos durante a interação. Deverá, ain-
da, certificar-se de que se conectem com os logins previamente distribuídos,
como, por exemplo, universidadecampus8 ou universidadecampus14.
Apesar de se constituírem em detalhes, a adoção destes procedimen-
tos empreende muita celeridade ao processo já que, uma vez de posse dessas
informações, os professores/pesquisadores/mediadores conseguem gerenciar
melhor suas turmas que, rapidamente, se conectam e iniciam as interações.
Vale salientar que, no caso do uso do Facebook para as interações, são
compartilhados os endereços de perfil pessoal e, da mesma forma, otimiza-
-se o processo. Como consequência à utilização do Facebook, promoveu-se
uma aproximação entre os pares, dado que as postagens pessoais podem ser
vistas uma vez que as pessoas estejam conectadas em relação de amizade.
Hoje, com a crescente popularização do WhatsApp, pensamos que poderia
ser, também, uma possibilidade.
Finalmente, no laboratório, no decorrer do tempo de cada interação,
é importante que o mediador esteja atento às possíveis necessidades dos
interagentes, como a troca de fones, microfones e, até mesmo, do próprio
computador, caso se façam necessárias. No caso do teletandem, também é
108
preciso atentar para o momento/horário em que a troca das línguas deve
ser feita, alertando os interagentes para tal, a fim de que o tempo da sessão
seja igualmente utilizado para a prática dos dois idiomas, observando-se
aos princípios do uso separado de línguas e da reciprocidade, conforme já
explicitados neste trabalho
Após a interação
O momento posterior à interação é destinado às sessões de mediação.
É a partir da mediação que temos o retorno dos interagentes em relação à
interação com os seus parceiros, bem como o parecer acerca dos processos
e possíveis dificuldades durante o período de comunicação. É nesta etapa,
também, que são coletados os dados para pesquisas.
Caso a mediação seja feita em forma de roda de conversa, o mediador,
com a autorização dos alunos, pode gravar seus relatos para futura análise.
Caso seja feita por meio de diários ou relatos, o grupo no Facebook pode
ser muito útil, já que o mediador pode postar as perguntas e os interagen-
tes podem respondê-las pelos comentários. No caso de pesquisas utilizando
formulários on-line, grupos na rede social ou WhatsApp facilitam o compar-
tilhamento de links ou informações referentes à pesquisas que demandem
algum encaminhamento mais imediato.
Em situações presenciais, é interessante que a primeira sessão de me-
diação se configure como uma roda de conversa, já que os participantes po-
derão se conhecer, interagir e compartilhar suas experiências com o grupo.
Para o mediador, esse primeiro contato poderá fornecer dados importantes
para delinear ações subsequentes e amenizar possíveis dificuldades em futu-
ras sessões de interação de uma turma.
No caso de ações colaborativas remotas ou situações inesperadas,
como a pandemia, é possível pensar em formatos distintos de mediação
como, por exemplo, redes sociais como o Facebook (Garcia e Gomes de
Souza, 2019) e WhatsApp, de forma assíncrona, ou plataformas de video-
conferência, como Zoom ou Google Meet para realização síncrona.
Portanto, é relevante enfatizar que a mediação, etapa que sucede as
interações, constitui-se importante momento para avaliação do processo e
das atividades, empreendendo direcionamentos e ajustes na condução da
109
telecolaboração. Constitui-se, ainda, ferramenta para que os pesquisadores/
mediadores/professores recebam feedback e possam oferecer suporte aos in-
teragentes, já que auxilia no desenvolvimento de soluções para maximizar a
qualidade das interações de colaboração on-line.
Considerações finais
A partir do repertório teórico e dos dados, brevemente, compartilha-
dos no presente trabalho, bem como a reflexão acerca dos processos logísti-
cos que perpassam as sessões de interação de teletandem e telecolaboração
em inglês como língua franca, foi possível organizar os procedimentos e
etapas para a aplicação do projeto de forma a atender as demandas de mo-
bilidade virtual, intercâmbio cultural e aprendizagem, sem prejuízos de in-
tercorrências externas, em modelos localizados (com o uso de laboratórios
físicos dentro das universidades) ou remotos (com os participantes em múl-
tiplas localidades). Além disso, destacamos a possibilidade de levantamento
de dados empíricos que possam ser qualificados e analisados longitudinal-
mente com as sessões de mediação adaptadas para redes sociais (coletas as-
síncronas) ou plataformas de videoconferência (coletas síncronas), quando
em contextos híbridos ou remotos, devidamente acompanhados pelo pro-
fessor/pesquisador/mediador responsável.
Entendemos que as ações de operacionalização traçadas neste traba-
lho contribuem para a execução das modalidades de colaboração on-line
tanto nos laboratórios como em situações de distanciamento social, em que
as interações precisem ser feitas com os dispositivos dos alunos e em casa.
Tais procedimentos auxiliam professores/pesquisadores/mediadores e in-
teragentes no desenvolver das parcerias, de modo que as interações sejam
otimizadas e possibilitem que os pares tenham experiências de comunicação
ainda mais profícuas, visando melhorias na organização e condução das ses-
sões de interação.
As ações telecolaborativas envolvem processos, como aqui aponta-
dos, devendo ser viabilizados antes, durante e depois das interações e, dessa
forma, demandam tempo e dedicação dos professores/pesquisadores/me-
diadores responsáveis pelas turmas. No entanto, compreendemos que tais
procedimentos que operacionalizam a prática, ainda que trabalhosos, são
110
necessários para o sucesso das interações, que apresentam resultados signifi-
cativos para os seus participantes.
Referências
ARANHA, S.; WIGHAM, C. R. Virtual exchanges as complex research
environments: facing the data management challenge. A case study of Te-
letandem Brasil. Journal of Virtual Exchange, v. 3, p. 13-38, 2020. DOI:
10.21827/jve.3.35748.
BARANZELI, C.; MOROSINI, M. C.; WOICOLESCO, V. G.. A cha-
ve está na troca − estudantes de mobilidade como vetores da internacio-
nalização em casa. Sér.-Estud., Campo Grande, v. 25, n. 53, p. 253-274,
jan. 2020. Disponível em <http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=s-
ci_arttext&pid=S2318-19822020000100253&lng=pt&nrm=iso>. acessos
em 04 set. 2023. Epub 12-Maio-2020. https://doi.org/10.20435/serie-
-estudos.v0i0.1400.
BEAVEN, A.; O´DOWD, R. Evaluating the impact of virtual ex-
change on initial teacher education: a European policy experiment.
Research-publishing.net, 2019. DOI: https://doi.org/10.14705/rp-
net.2019.29.9782490057337.
BECKER, H. Segredos e Truques da Pesquisa. Rio de Janeiro, Zahar, 2008.
BELZ, A. J. Linguistic Perspectives on the Development of Intercultural
Competence. In: Telecollaboration. Language Learning & Technology,
7(2), p. 68-117, 2003.
BRAMMERTS, H. Autonomous language learning in tandem. In: LE-
WIS, T.; WALKER, L. (Eds.) Autonomous Language Learning In-Tan-
dem. Sheffield, UK: Academy Electronic Publications, p.27-36, 2003.
CHALMERS, A. F. O que é ciência, afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.
DELLILE, K. H.; CHICHORRO FERREIRA, A. (Eds.) Aprendizagem
autónoma de línguas em Tandem. Textos pedagógicos e didácticos. 12ª
Lisboa: Colibri, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2002.
DE OLIVEIRA, V.C. Ações Telecolaborativas em Inglês como Língua
Franca. 2018. (Relatório de pesquisa não publicado).
EL KADRI, M. S. Inglês como língua franca: um olhar sobre programas
disciplinares de um curso de formação inicial de professores de inglês.
Entretextos. Londrina, v.10, n.2, p.64-91, 2010.
111
FERDIG, R.E. et al. Teaching, Technology, and Teacher Education during
the COVID-19 Pandemic: Stories from the Field. Association for the Ad-
vancement of Computing in Education (AACE). 2020. Disponível em:
<https://www.learntechlib.org/p/216903/>. Acesso em junho de 2020.
FREITAS, P. de C. B.; GARCIA, D. N. de M. A referência e o estereó-
tipo na comunicação colaborativa intercultural. Estudos Linguísticos
(São Paulo. 1978), [S. l.], v. 47, n. 2, p. 319–333, 2018. DOI: 10.21165/
el.v47i2.1997. Disponível em: https://revistas.gel.org.br/estudos-linguisti-
cos/article/view/1997. Acesso em: 4 set. 2023.
GARCIA, D. N. M.; GOMES DE SOUZA, M. Teletandem mediation
on Facebook. Revista do GEL, [S. l.], v. 15, n. 3, p. 155–175, 2018.
DOI: 10.21165/gel.v15i3.2400. Disponível em: https://revistas.gel.org.br/
rg/article/view/2400. Acesso em: 4 set. 2023.
GARCIA, D. N. de M. A telecolaboração como contexto para a forma-
ção de professores. Estudos Linguísticos (São Paulo. 1978), [S. l.], v. 50,
n. 3, p. 1064–1082, 2021. DOI: 10.21165/el.v50i3.2970. Disponível
em: https://revistadogel.emnuvens.com.br/estudos-linguisticos/article/
view/2970. Acesso em: 4 set. 2023.
GARCIA, D. N. de M. Políticas públicas de internacionalização: os cursos
de japonês dentro do Idiomas sem Fronteiras. Estudos Linguísticos (São
Paulo. 1978), [S. l.], v. 49, n. 3, p. 1337–1358, 2020. DOI: 10.21165/
el.v49i3.2566. Disponível em: https://revistadogel.emnuvens.com.br/estu-
dos-linguisticos/article/view/2566. Acesso em: 4 set. 2023.
GARCIA, D. N. M. O que os pares de Teletandem (não) negociam-
Práticas para um novo contexto on-line, interativo para o ensino/
aprendizagem de línguas estrangeiras no século XXI. São Paulo, Edi-
tora UNESP, 2013. Disponível em: < http://www.editoraunesp.com.br/
catalogo/9788539304165,que-os-pares-de-teletandem–em–negociam-o>.
Acesso em: 03 de julho de 2014.
LEFFA, V. J. O ensino de línguas estrangeiras no contexto nacional. Con-
texturas, APLIESP, n. 4, p. 13-24, 1999.
MORAN, J. M. A contribuição das tecnologias para uma educação ino-
vadora. Contrapontos – volume 4 – n. 2 – p. 347-356 – Itajaí, maio/ago.
2004.
O´DOWD, R. Supporting In-Service Language Educators. In: Learning
to Telecollaborate. Language Learning & Technology, v. 19, n. 1, p.
63-82, 2015.
112
O’DOWD, R. (Ed.) On-line intercultural exchange: A practical intro-
duction for foreign language teachers. Clevedon, UK: Multilingual Mat-
ters, 2007.
ROSS, A. F.; DISALVO, M. L. Negotiating displacement, regaining
community: e Harvard Language Center´s response to the COVID-19
crisis. Foreign Language Annals, 2020, p. 1-9. Disponível em: https://
onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/flan.12463. Acesso em junho
de 2020.
SALOMÃO, A. C. B.; FREIRE JUNIOR, J. C. (Orgs.). Perspectivas de
internacionalização em casa: intercâmbio virtual por meio do Programa
BraVE/Unesp. São Paulo: Cultura Acadêmica Editora, 2020.
TELLES, J. A. TELETANDEM: Transculturalidade na comunicação
on-line em línguas estrangeiras por webcam. Teletandem News, ano V, n.
1, p. 2-3, jan./abr. 2011.
TELLES, J. A. Teletandem: um contexto virtual, autônomo e colabora-
tivo para aprendizagem de línguas estrangeiras no século XXI. Campinas:
Pontes Editores/ FAPESP, 2009.
TELLES, J. A. Projeto Teletandem Brasil: Línguas Estrangeiras para
Todos – Ensinando e Aprendendo línguas estrangeiras in-tandem via
MSN Messenger. Faculdade de Ciências e Letras de Assis, UNESP. 2006.
Disponível em: <http://www.teletandembrasil.org/site/docs/TELETAN-
DEM_BRASIL_completo.pdf>. Acesso em: 02 de julho de 2014.
TELLES, J. A.; VASSALLO, M.L. Foreign Language Learning in-tan-
dem: Teletandem as em alternative proposal. e ESPecialist, vol. 27, nº 2
(189-212) 2006.
VASSALLO, M.L.; TELLES, J. A. Foreign Language Learning in-tandem:
eoretical Principles and research perspectives. e ESPecialist, vol. 27,
nº 1 (83-118) 2006.
MARQUES-SCHÄFER, G.; ROZENFELD, C. C. De F. (Orgs.). Ensino
de línguas e tecnologias móveis: políticas públicas, conceitos, pesquisas e
práticas em foco. São Paulo: Edições Hipótese, 2018.
113
LEITURA E ESCRITA NA INTERFACE DA
PANDEMIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
COM PROFESSORES DA REDE ESTADUAL
PAULISTA
Claudineia Peres BERTAGLIA
15
Paulo Alexandre FILHO
16
Yngrid Karolline Mendonça COSTA
17
Introdução
Este relato é fruto de um estudo realizado com professores de com-
ponentes curriculares diversos que precisaram reinventar suas práticas pe-
dagógicas, diante do período da pandemia da covid-19. Para isso, imersos
em contexto de restrição ao trabalho face a face e de suportes físicos, como
livros e apostilas, voltaram-se à leitura e a escrita em suportes digitais, de
forma a adequar-se ao ensino remoto/híbrido.
Assim, o estudo pautou-se a partir da aplicação de uma questão nor-
teadora aos professores para compreender: (i) de que maneira as tecnologias
digitais de informação e comunicação (TDIC) foram inseridas nas institui-
15
Doutoranda em Educação/ PPGE / Faculdade de Ciências e Tecnologia / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Presidente Prudente / SP / Brasil /
Agência de fomento CAPES / E-mail: claudineia.bertaglia@unesp.com
16
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Marília / SP / Brasil / E-mail:
p.alexandre@unesp.br
17
Doutoranda em Educação PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Marília / SP / Brasil / E-mail: yngrid.
karolline@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-513-1.p113-126
114
ções de ensino como forma de reconfigurar as ações pedagógicas, sobretudo,
no trabalho com a leitura e a escrita; (ii) a repercussão dessas competências
na percepção dos professores, de forma a permitir o diagnóstico e entender
em que medida essas transformações impactaram a atuação do professor e
(iii) como estão lidando, no pós-pandemia, com essas transformações tec-
nológicas para ministrar suas aulas.
Com a evolução tecnológica, novas culturas e novos comportamentos
foram sendo inseridos em nossas rotinas. A tecnologia revolucionou nossa
maneira de ser, porém, a partir do distanciamento social instaurado (Brasil,
2020) para a contenção do vírus, as instituições de ensino precisaram, de
forma aligeirada e sem muito tempo para aprender a lidar com esse novo
formato, utilizar suportes digitais para a realização de aulas a distância e
disponibilização de materiais, para que, minimamente, os alunos pudessem
ter acesso às aulas, garantindo o ano letivo.
Com as propostas de ensino remoto e/ou híbrido, impostas pela pan-
demia, professores e alunos tiveram que buscar novas alternativas para efe-
tivar o processo de ensino e aprendizagem, adequando-se a novos modelos
metodológicos que requerem dos educadores o papel de tutor/mediador, e,
do aluno, o desenvolvimento de autonomia e protagonismo.
Esse tipo de ensino remoto acarretou muitos desafios durante o con-
texto pandêmico, tendo em vista que os professores não tinham formação
para lidar com todas as ferramentas necessárias para a elaboração de au-
las on-line, como o Google Meet, Google Sala de Aula, aplicativos de edição
de vídeos, além dos próprios materiais, como notebook ou computadores e
internet com bom desempenho. Todavia, estes desafios, também, abriram
vastos caminhos rumo ao uso das TDIC.
Com essa nova realidade de aulas mediadas por tecnologia, os profes-
sores precisaram se adaptar ao uso de plataformas digitais e o trabalho com
ferramentas tecnológicas foram trazidos à baila.
Apesar das dificuldades para nós, professores, e para os pais, que, tam-
bém, precisaram aprender a lidar com as ferramentas para acessar as aulas,
vale destacar que, neste cenário contemporâneo, os alunos que têm acesso
ao celular e à internet leem e escrevem em novas plataformas e em novos
contextos mais interativos e colaborativos.
115
Considerando que os gêneros se formam a partir das demandas e trans-
formações sociais (Schneuwly; Dolz, 2004), com esse avanço tecnológico cria-
mos novas formas de nos comunicarmos, fazendo emergir outros tipos de
gêneros: híbridos e digitalizados. Assim, aplicativos e plataformas de aprendi-
zagem possibilitam estratégias consideráveis para o trabalho com a leitura e a
escrita. Para tanto, destacamos a contribuição de Moran (2018, p. 4):
Dois conceitos são especialmente poderosos para a aprendizagem de
hoje: aprendizagem ativa e aprendizagem híbrida. As metodologias ativas
dão ênfase ao papel protagonista do aluno, aos eu envolvimento direto,
participativo e reflexivo em todas as etapas do processo, experimentan-
do, desenhando, criando, com orientação do professor; a aprendizagem
híbrida destaca a flexibilidade, a mistura e compartilhamento de espa-
ços, tempos, atividades, materiais, técnicas e tecnologias que compõem
esse processo ativo.
Diante das considerações do autor, não podemos deixar de ressaltar
que, atualmente, os alunos produzem dentro, mas, principalmente, fora do
ambiente escolar, podcasts, memes, escrevem fanfics, produzem vlogs, vídeos-
-minuto, entre outros gêneros digitais. Dessa forma, novos caminhos, novas
plataformas de aprendizagem e possibilidades se abrem, cabendo à escola se
apropriar dessa multiplicidade e riqueza de oportunidades e horizontes que
o advento da tecnologia oferece para oportunizar novas formas de operar
com a aprendizagem, e que, por muito tempo, a escola vem resistindo.
Nesse sentido, tornou-se indispensável que as escolas repensem suas
práticas, abrindo caminhos para novas possibilidades de trabalho com re-
cursos e plataformas digitais, reconhecendo as transformações tecnológicas
e as culturas delas advindas e a utilização de novas metodologias para o
processo de ensino e aprendizagem.
As propostas de ensino ainda estão à mercê de metodologias pouco
dialógicas, ou seja, calcadas em transmissão de conhecimento e aulas mera-
mente expositivas. Contudo, são necessários estudos que trabalhem com a
formação inicial do professor para desconstruir paradigmas antigos e prepa-
rar esses profissionais e alunos para uma nova era que se instaura a partir do
advento das TDIC.
116
Fundamentação teórica
Devemos pontuar que o trabalho apresentado é resultado de uma re-
flexão pós-pandemia, em que os sujeitos envolvidos (professores) estiveram
presentes e atuaram durante o ensino remoto emergencial (ERE). Ressal-
tamos que o ERE é diferente do ensino remoto (Williamson; Eynon; Potter,
2020). O ensino remoto emergencial, como o nome supõe, foi uma medida
de emergência diante de uma situação incomum, de forma a (tentarmos)
manter o contato com os alunos e os componentes curriculares que precisa-
vam conhecer naquele ano:
O uso da internet para o ensino a distância se caracterizou como uma
estratégia muito pertinente para a continuidade dos estudos de adoles-
centes e adultos, não obstante incorra em graves limitações quanto à
sua aplicação para crianças em função das dificuldades de se aplicar cur-
rículos online (Senhoras, 2020), especialmente no âmbito das escolas
públicas ou mesmo das particulares que atingem a população de baixa
renda. Neste sentido, compreende-se que há barreiras que impedem os
alunos de se envolverem totalmente com as oportunidades de aprendi-
zagem remota, tais como: necessidades educacionais especiais do aluno,
a falta de conhecimento dos pais do conteúdo pedagógico, necessidade
de melhor comunicação com o professor, falta de acesso às tecnologias
digitais e qualidade da internet (Lunari et al., 2021, p.18).
Como salientado anteriormente, nessa medida emergencial, os pro-
fessores não tiveram outra escolha a não ser aprender a realizar o manejo das
ferramentas, por mais básicas que fossem, para que pudessem oferecer as
aulas aos alunos, desafio que atingiu também os familiares e crianças.
Apesar das dificuldades e insegurança, foi um período de muito avan-
ço tecnológico e científico, como por exemplo, a cientista brasileira Jaqueli-
ne Goes de Jesus que, de acordo com o Conselho Nacional de Saúde (CNS,
2021), mapeou o genoma do coronavírus em menos de 48 horas no Brasil,
enquanto a média mundial era de 15 dias; a rapidez com que as vacinas
foram produzidas; os meios de comunicação com a atualização das infor-
mações; as soluções dadas para o atendimento das crianças com a criação de
plataformas para aulas on-line, até então inexistentes.
117
Todas essas questões nos fazem pensar sobre os métodos utilizados
para o ensino em sala de aula, mesmo nesse momento pós-pandemia. Não
podemos mais negar o quanto nos envolvemos e aprendemos com o uso
das TDICs e o quanto nos auxiliou em dado momento para o ensino aos
alunos. Assim, não há como voltar ao “novo normal” desconsiderando no-
vamente seu uso, até porque, de acordo com a Base Nacional Curricular
Comum (BNCC), datada de 2018, devemos fazer uso das tecnologias de
ensino em sala de aula.
Devemos considerar o protagonismo dos alunos durante o período
pandêmico com as novas ações que precisaram estabelecer para aprender,
como: rotina para os estudos e acompanhamento das aulas dentro de casa;
concentração, atenção e paciência para o rompimento da barreira de uma
possível má conexão durante a aula; além de ter que, por vezes, auxiliar os
professores no uso das novas ferramentas e; dos diversos estímulos externos
presentes (Senhoras, 2020). Sendo assim, como podemos negar tudo o que
a pandemia nos trouxe e simplesmente retornar ao método antigo de ensi-
no?
Muito se fala sobre a formação de um sujeito crítico, autônomo e
independente, mesmo nos documentos oficiais, como a BNCC (2018),
porém, em nossa prática vemos metodologias ainda calcadas na transmissi-
bilidade de conteúdos. Behrens (2013. p. 77) destaca que “o aluno precisa
ultrapassar o papel de passivo, de escutar, ler, decorar e de repetidor fiel dos
ensinamentos do professor e tornar-se criativo, crítico, pesquisador e atuan-
te para produzir conhecimento”.
Dessa forma, temos Moran (In Bacich; Moran, 2018) na defesa de
um ensino a partir de metodologias ativas. Segundo o autor, as metodolo-
gias ativas não precisam, necessariamente, do uso de ferramentas digitais,
porém, colocam o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem,
envolvendo-o na aprendizagem por investigação, resolução de problemas e
descobertas. Assim, o professor precisa (re)organizar sua prática de modo a
instigar os alunos a participarem do processo, contemplando os componen-
tes curriculares.
Acima, dissemos ainda das mudanças em nossa sociedade e de como
elas nos fazem mudar também. Em nossa língua, viva e cheia de discursos
118
de palavras alheias e palavras próprias-alheias (Bakhtin, 2003), sofremos e
provocamos mudanças ao longo dos anos. Com o avanço das TDICs novos
gêneros foram criados, como já comentamos.
Como educadores, devemos acompanhar todo esse contexto e suas
diferenças de nossa formação inicial para trazê-los à nossa prática, de modo
a agregar ao ensino e ao conteúdo. Não podemos conceber a escola como es-
paço alheio ao mundo externo, pelo contrário, devemos pensar numa escola
que extrapole os seus muros (Jolibert, 2006) e chegue aos alunos e comuni-
dade, tornando o ensino cheio de sentido e significado.
Sabemos das dificuldades envolvidas neste processo e não as negamos,
os próprios autores discorrem que esta não é uma prática comum atualmen-
te, mas é algo que vem se difundindo e parece ser o caminho para esse novo
modelo de escola que temos e para os alunos e Educação que almejamos ter.
Dessa maneira, trazemos abaixo um excerto de nossas práticas e reflexões
acerca do uso das TDICs nas salas de aula.
Percurso metodológico
Este estudo contou com a participação de dezoito professores que
atuam em escolas públicas do Estado de São Paulo, de diversos componen-
tes curriculares e surgiu da necessidade de compreender como os professores
trabalhavam/trabalham com a leitura e a escrita atreladas à tecnologia, du-
rante o período pandêmico. Esses professores viabilizaram estratégias para o
trabalho com projetos de leitura e escrita no meio digital, perante o ensino
remoto/híbrido, proporcionando assim, aos estudantes, durante esse perío-
do de restrição ao livro físico, atividades de leitura e escrita com o uso de
recursos tecnológicos, por meio dos gêneros e plataformas digitais, como
instrumento de aprendizagem.
Esses docentes diversificaram o conteúdo das aulas proporcionando e
fomentando a leitura em meios digitais, para além dos livros físicos e traba-
lharam com a proficiência oral e escrita dos estudantes por meio da utiliza-
ção de gêneros digitais como podcasts, fanfics, vídeos-minuto, radionovelas,
entre outros, oriundos de contextos digitalizados.
Dessa forma, vale destacar que, para sondar mais sobre as impressões
desses docentes durante esse período, foi aplicado um questionário a um
119
grupo de dez professores que atuam em diferentes unidades escolares e que
procuram diversificar as aulas e promover a leitura e a escrita em contexto
digital de forma a desenvolver um trabalho mediado pelas TDIC.
Consideramos de suma importância compreender como os professo-
res têm se adequado ao trabalho com a tecnologia na escola, seus anseios e os
principais desafios apontados na utilização da tecnologia, sobretudo, com a
leitura e a escrita. Ademais, concordamos com Ludke e André (2018, p. 2),
ao afirmarem que a pesquisa
Trata-se, assim, de uma ocasião privilegiada, reunindo o pensamento e
a ação de uma pessoa, ou de um grupo, no esforço de elaborar conheci-
mentos sobre aspectos da realidade que deverão servir para a composição
de soluções propostas aos seus problemas.
Sendo assim, para realizarmos uma sondagem sobre esse processo,
aplicamos um questionário com a seguinte questão norteadora: Você consi-
dera que o trabalho com projetos de leitura e escrita no meio digital com o uso
das novas tecnologias, sobretudo nesse contexto de Ensino Remoto e ou híbrido, é
imprescindível? Comente sobre isso de acordo com suas experiências profissionais.
Ressaltamos que, diante do contexto da pandemia da covid-19, as
escolas passaram por transformações relevantes e tiveram a tecnologia como
suporte essencial para a realização das aulas e de atividades, que até en-
tão, ocorriam em formato presencial.
Análise das evidências
A seguir, serão examinadas as respostas escolhidas de forma aleatória
de sete professores como amostragem/recorte do estudo conduzido, obtidas
mediante a aplicação da questão norteadora, supracitada, de forma a permi-
tir o diagnóstico e entender em que medida essas transformações impactam
na atuação do professor e como estão lidando, no pós-pandemia, com essas
transformações tecnológicas para ministrar suas aulas.
Por fim, nomearemos os participantes e respondentes desta pesquisa
como P1, P2, P3, e, assim, por diante. Outrossim, iniciamos a análise da
resposta do Participante 1 (P1) e na sequência os demais sujeitos de pesquisa.
120
O excerto 1 aborda a recepção de um dos professores respondentes a
respeito do uso das tecnologias neste novo momento, como podemos acom-
panhar, a seguir.
Excerto 1 - O uso das tecnologias em cenário pandêmico.
P1- Nos dias de hoje realmente podemos considerar imprescindível o uso de
tecnologia nas atividades propostas. Visto que temos que considerar ainda que esse
recurso veio para ficar. Que de agora em diante fará parte do nosso trabalho sempre.
À medida que vamos nos familiarizando, podemos ver que não é um bicho de sete
cabeças e sim um grande aliado para alcançarmos nossos objetivos nesse tempo de
pandemia.
Fonte: Autores - Questionário de P1, 2021.
É notório, na resposta do P1, o quanto a escola e, portanto, os pro-
fessores resistiram, durante muito tempo, ao uso da tecnologia nos espaços
escolares. Observamos que, devido à utilização desses recursos, em decor-
rência do período pandêmico, houve uma revolução no uso das ferramentas
digitais na escola, tornando-as aliadas da ação pedagógica.
O excerto 2 evidencia os desafios para a nova implementação do uso das
tecnologias em sala para ensinar, pois, tanto professores quanto alunos precisa-
ram aprender a lidar com essa ferramenta de um modo diferente, não apenas
intuitivo, mas que o tornasse eficaz para práticas de ensino-aprendizagem.
Excerto 2 - Como os professores viram a utilização da tecnologia no ensino?
P2- Sim, é um caminho necessário, não tem sido fácil, devido à nova realidade.
Entretanto, aos poucos nossos alunos entenderão a importância da tecnologia no
ensino e aprendizagem. Toda mudança no início é assustadora.
P3-Sim, pois promovem aprendizagens mais significativas, despertam maior
interesse e engajamento dos alunos, gerando maior interatividade durante as aulas
e, consequentemente, maior interesse e facilidade na compreensão dos conteúdos.
Fonte: Autores - Questionário de P2 e P3, 2021.
Nas respostas de P2 e P3, podemos perceber que, não só os professo-
res são e/ou eram resistentes ao uso da tecnologia, como também os alunos,
resultado de um processo de resistência cultural que só foi amenizado a par-
tir da necessidade de utilização da tecnologia em decorrência da pandemia.
Dessa forma, aos poucos, estão se adaptando a essa nova realidade
que há tempos era urgente nos espaços escolares, considerando a expansão
121
tecnológica que, apesar de não ser nova, ainda gera objeção de algumas ins-
tituições. No excerto 3, podemos dar evidência ao engajamento dos alunos
perante atividades de leitura e escrita mediadas pela tecnologia.
Excerto 3 - Novas habilidades de leitura em contexto digital
P4 -Sim. Porque: 1- dá continuidade de leitura para quem já era leitor. 2- Pode ser
interessante para quem não era leitor e passou a ser porque é uma maneira diferente
e com mais opções de leitura. 3- Para quem está aberto às novas aprendizagens
escrever, editar, gravar áudios, vídeos, e aplicar em diversas plataformas o que
é importante para manusear e desenvolver habilidades nestas plataformas. A
disponibilidade de aprender serve para todos os departamentos da vida profissional,
acadêmica, pessoal, socioemocional, e muito mais.
Fonte: Autores - Questionário de P4, 2021.
Na resposta de P4, destacamos a ampliação dos ambientes de leitura
e escrita, por meio do uso dos novos gêneros e plataformas digitais, assim
como, as possibilidades de extensão desse uso na vida profissional e pessoal,
como conjunto de aprendizagem para além dos muros da escola. Nesse as-
pecto, ressaltamos a afirmação de Goulart (2017, p. 41):
Em tal contexto, destacamos a relevância da compreensão dos modos
de inserção e de uso da escrita nas sociedades letradas contemporâneas,
bem como os processos históricos que vêm determinando os diferentes
gêneros do discurso orais e escritos, incluindo o uso da escrita em novos
suportes digitais.
Neste novo cenário, em que as TDIC estão cada vez mais presentes,
novas plataformas de leitura e de escrita surgiram, dando espaço a ambientes
colaborativos que proporcionam novas maneiras de ler, escrever, interagir e
construir significados. Sendo assim, damos ênfase às contribuições de Mo-
ran (2018, p. 8):
A combinação de tantos ambientes e possibilidades de troca, colabora-
ção, coprodução e compartilhamento entre as pessoas com habilidades
diferentes e objetivos comuns traz inúmeras oportunidades de ampliar
nossos horizontes, desenhar processos, projetos e descobertas, construir
soluções e produtos e mudar valores, atitudes e mentalidades.
122
Diante das contribuições do autor, reiteramos a urgência da escola
em romper paradigmas com vistas a ampliar horizontes para um contexto
tecnológico tão emergente na atual conjuntura. Percebemos, pela fala dos
respondentes que, apesar de terem enfrentado dificuldades e desafios na im-
plementação das tecnologias em sala, como uma maneira de se trabalhar
também as habilidades envolvendo leitura e escrita, as expectativas e frutos
colhidos, estavam sendo positivos, tendo em vista que os educandos se en-
volveram nas proposituras feitas pelos professores e passaram a manejar essas
ferramentas de modo educativo, formativo.
Assim, consideramos o quão é imprescindível que as aulas ofereçam
essas novas formas de mediação da leitura e escrita, proporcionando aos
alunos diferentes metodologias de trabalho com a leitura e a escrita.
A seguir, exposto no excerto 4, encontramos evidências da relevância
dos artefatos tecnológicos como ferramentas para dinamização e engajamen-
to entre os pares quando se trata de aprendizagem mediada pelas TDIC:
Excerto 4 - Tecnologias em ambientes de aprendizagem
P5- Atualmente é inegável a importância do uso das tecnologias na educação, as
diversas possibilidades tecnológicas são ferramentas poderosas para atrair e reter a
atenção dos alunos, principalmente se considerarmos que os mais jovens gostam dessa
dinâmica, tornando para eles os momentos de estudo mais divertidos, associando o
aprendizado a algo agradável.
Fonte: Autores - Questionário de P5, 2021.
A argumentação de P5 é muito importante para esse novo contexto
de trabalho com a linguagem, uma vez que estamos, cada vez mais, inseridos
nesse universo da multimodalidade, conforme destaca Ribeiro (2018, p.
75): “Assumindo um ponto de vista evidentemente fundamentado na teoria
da multimodalidade, que prega, justamente, a ideia de que as linguagens se
integram para a construção dos sentidos [...]”. Concordamos com a autora
e compreendemos que os alunos estão imersos nessa gama de palavras, ima-
gens, sons e movimentos, de maneira que trabalhar com recursos tecnológi-
cos torna as aulas mais atrativas e dinâmicas, conforme destaca P5.
Ao questionarmos os professores a respeito da importância da leitura
durante o período pandêmico, com o uso das novas tecnologias, podemos
123
observar, no excerto 5, a fala de um professor a respeito das potencialidades
das TDIC no processo de ensino-aprendizagem da leitura. Entendemos que
esse período foi crucial para o reconhecimento da importância dessas ferra-
mentas como recursos indispensáveis à educação:
Excerto 5 - TDIC como recursos de mediação da leitura
P6- Sim e muito importante a leitura nesse momento que estamos passando, através
dela os alunos vão aperfeiçoando cada vez mais o gosto e aprendendo coisas novas
para melhorar o ensino aprendizagem deles.
Fonte: Autores - Questionário de P6, 2021.
Na resposta de P6, observamos o quesito da atratividade que a tec-
nologia nos remete, por meio da inovação. Nesse âmbito, podemos dizer
que o uso da tecnologia na sala aula permite o contato com o novo: novas
plataformas, novos gêneros digitais que emergem desse contexto e, sobretu-
do, novas linguagens. Dessa maneira, destacamos como o uso da tecnologia
em ambiente de ensino favorece o aprendizado. No entanto, não se trata da
tecnologia e seu uso em si mesma, ou seja, não é a própria ferramenta, mas
a mediação por meio das práticas sociais nelas inseridas que promove um
trabalho interativo com novas linguagens, semioses e textos multimodais,
através de práticas de leitura e escrita.
Ao questionarmos como os professores concebiam o uso das novas
tecnologias para o desenvolvimento de habilidades leitoras, obtivemos a se-
guinte resposta:
Excerto 6 - Potencialidades das TDIC no desenvolvimento da competência leitora
P7 – Sim...A tecnologia pode ser usada para melhorar a capacidade de leitura de
várias maneiras, seja para melhorar os níveis de interesse dos nossos alunos, uma
geração que parece que já nasceu conectada, melhorar o vocabulário, a fluência e
até mesmo a compreensão de palavras visuais por meio da leitura em um celular ou
computador.
Fonte: Autores - Questionário de P7, 2021.
O Participante 7 aborda a importância da tecnologia para despertar o
interesse dos estudantes para a leitura com intuito da ampliação do vocabu-
lário, recursos multimodais e o uso do celular, também como ferramenta de
124
aprendizagem. Não podemos deixar de considerar que a leitura e a escrita
são práticas sociais para além da escola e que o uso da tecnologia é uma
realidade que permeia as práticas sociais. Nesse contexto, dialogamos com
a citação de Ribeiro (2018, p. 103), “mesmo com tantos trabalhos e tantas
possíveis experiências, notadamente nas salas de aula do ensino básico brasi-
leiro, por que as tecnologias digitais ainda trazem conflitos quando precisam
atravessar do espaço das práticas sociais para o das práticas escolares”.
A autora nos lança uma questão importante para refletirmos de modo
a abordar os entraves que ainda dificultam o uso da tecnologia em práticas
pedagógicas escolares. Sabemos que, apesar de termos avançado, ainda te-
mos um longo caminho a percorrer.
Considerações finais
Durante o texto, discorremos sobre os desafios que a pandemia cau-
sada pelo coronavírus nos causou como população, mas principalmente,
como educadores. Nossa prática em modelo completamente novo para
muitos de nós trouxe um cenário desafiador e inseguro, porém, profícuo de
potenciais e aprendizados, ficando claro, também, o quanto avançamos em
tecnologia enquanto sociedade, no sentido mais amplo e, no sentido mais
restrito, enquanto formação pessoal.
Assim, a partir de uma pesquisa realizada com alguns professores que
passaram por esse período ativamente, dando aulas e preparando novos mo-
delos de aulas e agora estão novamente de forma presencial com as turmas,
discutimos sobre a importância do uso das TDICs, para eles, como ferra-
mentas aliadas no processo pandêmico e o quanto seria após, com a retoma-
da das aulas no modelo ‘normal’.
Buscamos elencar os aspectos positivos que o uso das novas tecno-
logias podem propiciar no processo de ensino e aprendizagem dos alunos,
pois, como escola, não podemos desconsiderar todos os aspectos e vivências
que ocorrem para além de seus muros e, o quanto o repertório dos alunos
de práticas extraescolares influência para seu desempenho dentro da escola.
Por esse motivo, acreditamos que o caminho é tornarmos o aluno
o centro do processo, aprendendo por meio de ferramentas que ele utiliza
fora da escola e que podem auxiliar no desenvolvimento de componentes
125
curriculares, desde que o professor esteja disposto a um novo desafio: sair da
zona confortável e se propor a fazer o diferente novamente.
Sabemos o potencial que temos, enquanto educadores, de nos rein-
ventar, haja vista os processos superados durante o período de ensino remo-
to emergencial e sabemos, também, o quanto o novo assusta, mas, como
alguns respondentes expressaram em seus comentários, é um caminho pos-
sível a ser trilhado.
Referências
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4 ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
BEHRENS, M. A. Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma
emergente. In: MORAN. J.; MASETTO, M.; BEHRENS, M. A. Novas
Tecnologias e Mediação Pedagógica. 21. Ed. Campinas: Papirus, 2013.
BRASIL. Portaria nº 343, de 17 de março de 2020 Dispõe sobre a
Substituição das Aulas Presenciais por Aulas em Meios Digitais Enquan-
to Durar a Situação de Pandemia do Novo Coronavírus – COVID-19.
Ministério da Educação, 2020. Disponível em: <http://www.in.gov.br/en/
web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020-248564376>. Acesso
em: 09 set 2023.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/2018. Dis-
ponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em 09 de set de 2023.
CNS. Conselho Nacional de Saúde. Jaqueline Goes de Jesus, cientista
que mapeou o genoma do coronavírus, é homenageada pelo CNS. Net.
2021. Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/
2251-jaqueline-goes-de-jesus-cientista-que-mapeou-o-genoma-do-corona-
virus-e-homenageada-pelo-cns. Acesso em 09 set 2023.
COSCARELLI, C. V.; RIBEIRO, A. E. (Orgs.) Letramento digital:
aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica,
2005.
GOULART, C. Letramento e novas tecnologias: questões para a prá-
tica pedagógica. In: COSCARELLI, C. V.; RIBEIRO, A. E. (Orgs.)
Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. Belo
Horizonte: Autêntica, 2005.
126
JOLIBERT, J. Além dos muros da escola: a escrita como ponte entre
alunos e comunidade. Porto Alegre: Artmed, 2006.
LÜDKE, M.; ANDRÉ, E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens
qualitativas. São Paulo: E.P.U, 2018.
LUNARDI, N.M.S.S. et al; Aulas remotas durante a pandemia: dificulda-
des e estratégias utilizadas por pais. Educação & Realidade, Porto Ale-
gre, v. 46, n. 2, e106662, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/
edreal/a/GnhccHnG4mxDNdSQKDQ7ZBt/#ModalDownloads Acesso
em 09 set 2023.
MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas Tecno-
logias e Mediação Pedagógica. 21ª ed. Campinas, SP. Editora Papirus,
2013. (Coleção Papirus Educação).
RIBEIRO, A. E. Escrever, hoje: palavra, imagem e tecnologias digitais
na educação. 1ed. São Paulo: Parábola, 2018.
SENHORAS, E. M. A pandemia do novo coronavírus no contexto da
cultura pop zumbi. Boletim de Conjuntura (BOCA), vol. 2, n. 5, 2020.
SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. São
Paulo: Mercado de Letras, 2004.
VYGOTSKY, L. S. Obras Escojidas, vol. III, Madri: Visor, 1995.
WILLIAMSON, B.; EYNON, R.; POTTER, J. Pandemic politics, peda-
gogies and practices: digital technologies and distance education during
the coronavirus emergency. Learning, Media and Technology. Vol. 45, n.
2, p. 107–114, 2020.
127
O PAPEL DO PENSAMENTO
COMPUTACIONAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
APLICAÇÃO DE ATIVIDADES PLUGADAS E
DESPLUGADAS
Daniele de Fátima Fuganholi Abiuzzi SANT’ANNA
18
Maria do Carmo Monteiro KOBAYASHI
19
Daniel Vieira SANT’ANNA
20
Vanessa de Almeida LAURA
21
Introdução
A revolução tecnológica do século XXI está redefinindo não apenas a
maneira como nos comunicamos e interagimos, mas também as habilidades
que os alunos precisam adquirir para prosperar em um ambiente globaliza-
do e altamente digitalizado.
A Educação Infantil, conforme Piaget (1974, p. 56), “é aquela que
deve possibilitar na criança um desenvolvimento amplo e dinâmico no pe-
18
Mestre em Educação / Docência para Educação Básica / PPGE / Faculdade de Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Bauru / SP /
Brasil / E-mail: daniele.abiuzzi@unesp.br
19
Professora Associada - Livre Docente (2019) em Ensino de Arte: Linguagens da Criança /
Professora Orientadora no PPGE - Docência para Educação Básica / Faculdade de Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Bauru / SP /
Brasil / E-mail: monteiro.kobayashi@unesp.br
20
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Marília / SP / Brasil / E-mail: daniel.
santanna@unesp.br
21
Graduanda em Pedagogia / Universidade Virtual do Estado de São Paulo - UNIVESP / campus
de Lençóis Paulista / SP / Brasil / E-mail: 23211545@aluno.univesp.br
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-513-1.p127-138
128
ríodo sociomotor”, vista como alicerce da educação, desempenhando um pa-
pel crucial na preparação das futuras gerações para enfrentar os desafios que
se avizinham. Nesse contexto, o Pensamento Computacional (PC) emerge
como uma habilidade que transcende os limites tradicionais das disciplinas
de Ciência da Computação, encontrando terreno fértil para integração em
uma variedade de campos de conhecimento. Brasil (2022) define que o PC
refere-se à habilidade de compreender, analisar definir, modelar, resolver,
comparar e automatizar problemas e suas soluções de forma metódica e
sistemática, através do desenvolvimento da capacidade de criar e adap-
tar algoritmos, aplicando fundamentos da computação para alavancar e
aprimorar a aprendizagem e o pensamento criativo e crítico nas diversas
áreas do conhecimento (Brasil, 2022, p.14).
Na contemporaneidade, não se exige apenas que os alunos absorvam in-
formações, mas também que desenvolvam habilidades cognitivas que os capa-
citem a analisar, sintetizar, resolver problemas e comunicar de maneira eficaz.
Caracterizado por sua abordagem sistêmica para resolução de pro-
blemas, o PC se encaixa perfeitamente nesse paradigma educacional. Ao
abordar desafios complexos através da decomposição, reconhecimento de
padrões, abstração e algoritmos, os alunos não apenas adquirem as ferra-
mentas para navegar pelo mundo digital, mas também cultivam habilidades
mentais essenciais para todas as áreas da vida.
Nos últimos anos, o PC tornou-se uma habilidade fundamental, não
apenas para especialistas da área de informática, mas para a sociedade como
um todo, tornando-se necessário para os indivíduos no século XXI. Segun-
do Wing (2006), este conceito retrata um conjunto de competências com-
putacionais, presentes em diferentes áreas do conhecimento e que podem
trazer benefícios aos seus usuários, sejam eles da área da informática ou não,
definindo-o como processos de pensamento que envolvem a formulação e
a resolução de problemas de uma forma que computadores, humanos ou
máquinas possam fazer de forma eficaz.
Dito isso, o PC é um recurso eficaz que auxilia na resolução de pro-
blemas e pode ser utilizado em diversas áreas do conhecimento, não neces-
sariamente associado ao uso de computadores. Segundo Blikstein (2008),
129
PC se trata de uma habilidade importante a ser ensinada, com o objetivo de
compreender a utilização dos computadores como ferramentas aplicáveis no
processo de melhoria da cognição humana, valendo considerar que o desen-
volvimento desta habilidade não está diretamente relacionado ao uso de um
computador ou de qualquer equipamento técnico, pois podemos resolver um
problema mentalmente ou por meio de ações simples com papel e caneta.
Em outro nível de usabilidade, apresenta-se, também, a lógica com-
putacional, conceito que envolve uma série de tecnologias relacionadas ao
ensino e à aprendizagem, como jogos, softwares, plataformas interativas e
vídeos, que são as ferramentas básicas do professor atual e que, segundo
Blikstein (2008), proporcionam a construção de habilidades como pensa-
mento lógico, pensamento crítico, habilidades de resolução de problemas
como cooperação, conhecimento, respeito, regras, objetivos, criatividade e
habilidades de comunicação e ludicidade. Assim, ao agregar recursos técni-
cos nos quais os alunos possam utilizar seus conhecimentos, torna-se um
importante auxílio pedagógico na aprendizagem da primeira infância.
Partindo desta premissa, analisamos o papel do PC no contexto da
Educação Infantil, por meio da realização de atividades desplugadas, que
são ensinadas sem o uso de computadores, considerando que essa aborda-
gem introduz conceitos de hardware e software que impulsionam as tecno-
logias cotidianas a pessoas não-técnicas, e as atividades plugadas que são
realizadas através de equipamentos e recursos digitais (Brackmann, 2017),
enriquecendo o processo de ensino e aprendizagem e potencializando as ha-
bilidades através de recursos lúdicos, apresentando os benefícios dessa abor-
dagem e como ela pode catalisar um processo educativo mais abrangente.
As instruções de máquina e o Pensamento Computacional
Ao longo da história, diferentes civilizações desenvolveram conheci-
mentos matemáticos adaptados às suas necessidades de sobrevivência, com
uma forte ligação à sua cultura. Isso levou ao surgimento de métodos para
lidar com medidas e operações matemáticas. A criação do sistema binário
no século XVII por Gottfried Wilhelm Von Leibniz estabeleceu as bases
para os primeiros computadores digitais na década de 1940 (Sant’Anna,
2023). Esse sistema, composto por números 0 e 1, representa conceitos
130
como “Sim ou Não”, “Verdadeiro ou Falso” por meio da presença ou ausên-
cia de eletricidade. No entanto, embora tenha sido fundamental, o sistema
binário mostrou limitações ao representar uma variedade de conceitos.
Compreendendo este processo de criação, é possível apresentar os
computadores como máquinas digitais configuráveis controladas por lin-
guagens de programação e que utilizam dos bits como sua menor unidade
de informação, representando os estados 0 ou 1. A eletrônica digital e a
computação são construídas com base nesse sistema binário, ilustrado por
dispositivos como lâmpadas. Ainda que o sistema binário tenha sido essen-
cial, sua simplicidade levou à representação de números mais longos em
comparação com o sistema decimal.
Embora inicialmente possa aparentar um processo complexo, a utili-
zação do sistema binário pelos computadores pode ser exemplificada atra-
vés do uso de lâmpadas para formar caracteres, com grupos de 8 lâmpadas
representando 1 byte. A contagem binária dobra à medida que se move de
uma lâmpada para outra, baseada no número 2 (Sant’Anna, 2023). Esse
sistema permitiu a criação dos computadores digitais, mas também mostrou
suas limitações ao lidar com uma ampla gama de informações e conceitos.
Em disciplinas específicas da área de tecnologia, são apresentados,
aos estudantes, os métodos de conversão entre as bases numéricas: binário,
decimal, octal e hexadecimal, utilizadas em aplicações práticas, como em
redes de computadores nos cálculos de Internet Protocol (IP), ou ainda nas
representações de textos (ou String) através de tabelas de conversão, como a
American Standard Code Information Interchange (ASCII). Por meio da uti-
lização dos números binários, os computadores entendem o que desejamos
que ele execute, pois, uma sequência de números compostos de 0 e 1 podem
representar diversas coisas, desde letras, números e até imagens.
Embora o PC tenha raízes na Ciência da Computação, suas aplicações
se estendem muito além dessa área. Ele pode ser usado para resolver uma
ampla variedade de desafios em diferentes disciplinas, como Matemática,
Ciências, Engenharia, Artes, Negócios e outras.
O PC não apenas ajuda a resolver problemas de maneira mais eficaz,
mas também desenvolve habilidades mentais essenciais para a vida cotidiana
e o sucesso profissional. Ele estimula o pensamento crítico, a resolução de
131
problemas, a criatividade e a capacidade de trabalhar com dados complexos.
À medida que a sociedade se torna cada vez mais orientada pela tecnologia,
este recurso se torna uma habilidade valiosa para todos, independentemente
do campo de atuação.
Antes de explorar a integração do PC na Educação Infantil, é impor-
tante definir o conceito. Trata-se de uma abordagem para resolver proble-
mas que capacita os indivíduos a enfrentar desafios de maneira estruturada
e lógica, permitindo-lhes resolver problemas complexos e tomar decisões
informadas. Essa habilidade não está limitada à programação ou à ciência da
computação, ela tem aplicabilidade em diversos contextos da vida e é essen-
cial para navegar com sucesso em um mundo cada vez mais interconectado
e tecnológico.
Esta abordagem se baseia em quatro pilares, nomeadamente decom-
posição, reconhecimento de padrões, abstração e algoritmos. Essa for-
ma de organização é apresentada no artigo Computational inking (Wing,
2006) e é apoiada pelo Currículo de Referência em Tecnologia e Computa-
ção (Raabe et al., 2018), no qual sugerem que cada pilar pode ser utilizado
separadamente ou conectado a outros para garantir uma solução para o pro-
blema, podendo ser abordados junto aos estudantes da Educação Básica. Ao
unirmos essas teorias e referências com práticas pedagógicas exercidas por
educadores, fornecemos exemplos de como podem ser abordados, tanto em
contextos plugados quanto desplugados:
Muitos tópicos importantes da Ciência da Computação (CC) podem
ser ensinados sem o uso de computadores. A abordagem desplugada da
CC introduz conceitos de hardware e software que impulsionam as tec-
nologias cotidianas até pessoas não-técnicas. Em vez de participar de
uma aula expositiva, as atividades desplugadas ocorrem frequentemente
por meio da aprendizagem cinestésica (e.g. movimentar-se, usar cartões,
cortar, colar, desenhar, pintar, resolver enigmas, etc.) e os estudantes
trabalham entre si para aprender conceitos da CC. (Brackmann et al.,
2018, p. 39).
O primeiro dos quatro pilares, a decomposição, envolve dividir um
problema ou tarefa complexa em partes menores e mais gerenciáveis. Ao
fazer isso, o problema se torna mais fácil de entender e abordar, uma vez
132
que cada parte pode ser tratada individualmente, auxiliando na resolução
de situações cotidianas.
O segundo pilar, reconhecimento de padrões, refere-se à habilidade
de identificar semelhanças, tendências ou características recorrentes em um
conjunto de informações. Essa capacidade é útil para analisar dados e fazer
previsões com base em observações transmitidas, podendo ser integrado na
educação matemática. Por exemplo, ao ensinar escrita numérica, os educa-
dores podem encontrar alunos com dificuldades para escrever determinados
números, recorrendo à representação fonética. Outro exemplo é o ensino
da reciclagem, em que os alunos aprendem a reconhecer características de
diferentes materiais e a determinar os métodos de eliminação adequados,
promovendo indiretamente competências de reconhecimento de padrões.
O terceiro pilar, a abstração, é a habilidade de simplificar informa-
ções ou conceitos complexos, focando apenas nos detalhes mais relevantes.
Enquanto na programação a abstração envolve criar funções ou objetos que
encapsulam comportamentos específicos, na Educação Básica, retrata um
contraste com os materiais tangíveis, referindo-se a conceitos intangíveis
ou construídos mentalmente, mesmo quando associados a elementos do
mundo físico.
O quarto pilar, os algoritmos, representam as sequências de passos
ordenados e precisos que levam à resolução de um problema. As receitas são
excelentes exemplos, aplicáveis à Educação Infantil, partindo da orientação
aos alunos de misturar ingredientes em quantidades e sequências específicas,
além de considerar os tempos de preparo e cozimento para atingir a qualida-
de e os atributos esperados do produto. Outra proposta possível no contexto
educacional, é descrever a localização de um indivíduo em relação a um ou
mais pontos de referência, solicitar o detalhamento do percurso de casa até
a escola, relembrando seus pontos de referência ou sua geolocalização.
Lógica da programação e o Pensamento Computacional para crianças
Na contemporaneidade, a interseção entre o PC, a tecnologia e a al-
fabetização são apresentadas como algo essencial na preparação das crianças
da Educação Infantil, imersas no contexto digital. Ainda que a noção de
PC e as linguagens de programação possam inicialmente parecer abstratas
133
e relativamente distantes do cenário educacional, muitas propostas de pro-
jetos com a tecnologia educacional vem rompendo as barreiras que antes
pareciam separar esses conceitos do entendimento das crianças.
O movimento em direção à integração da programação nos currículos
escolares não é novidade em âmbito global. Países visionários como Finlân-
dia, Estônia e Reino Unido já abraçaram essa abordagem, reconhecendo que
dotar as crianças com habilidades tecnológicas desde cedo é essencial para
sua futura competência (Sant’Anna; Sant’Anna, 2019). De forma seme-
lhante, através da Competência Geral 5 da Base Nacional Comum Curricu-
lar (BNCC) (Brasil, 2018), o Brasil traz, para o âmbito da Educação Básica,
respaldos fundamentais para iniciativas educacionais como a “Alfabetização
Computacional”, que busca apresentar as bases da tecnologia de forma gra-
dual e acessível aos estudantes.
A Alfabetização Computacional, segundo a definição de Wang e Pra-
do (2015), engloba a primeira etapa do aprendizado em que habilidades
e conhecimentos sobre tecnologias digitais da informação e comunicação
(TDIC) são adquiridos. Contudo, é necessário compreender que a alfabeti-
zação tecnológica consiste numa jornada em constante ascensão, impulsio-
nada pela evolução constante dos recursos tecnológicos digitais.
Relacionado a esta premissa, o trabalho de PC, como delineado por
entidades como a International Society for Technology in Education (ISTE)
e a Computer Science Teachers Association (CSTA), consiste na habilidade
de resolver problemas por meio de processos mentais, como a organização
e análise de dados, a criação de algoritmos, a abstração, a construção de
modelos, a simulação e a automação. Este pensamento estruturado não só
capacita as crianças a solucionar situações-problema, mas também incentiva
a lógica, a organização e a criatividade em suas abordagens.
A inserção precoce do PC no currículo educacional não apenas prepara
as crianças para as carreiras em tecnologia, mas pode, também, capacitá-las
com habilidades de decifrar problemas complexos, abordá-los de maneira sis-
temática e analítica, tornando-se um recurso poderoso em qualquer empreen-
dimento. Porém, este trabalho exige que os professores desempenhem ativida-
des de mediação com os alunos nessa jornada, projetando atividades práticas
que fomentem a resolução de problemas, a colaboração e a criatividade.
134
Neste sentido, aplicam-se as fundamentações do Proyecto Aprendiza-
je Centrada em el estudiante Erasmus Plus (Filho; Ventura, 2022), no qual
apresenta-se o estudante como o centro do processo de ensino, exercendo
um papel de protagonismo de forma ativa e participativa. Assim, na medida
em que os alunos enfrentam desafios práticos, eles internalizam abordagens
analíticas que se estendem muito além das fronteiras da tecnologia.
Em essência, a programação se baseia em algoritmos, que podem ser
comparados a instruções passo a passo, semelhantes a uma receita culiná-
ria, com a finalidade de atingir um objetivo específico. A vida cotidiana é
permeada por algoritmos – desde a preparação de uma refeição até o trajeto
para a escola e, através do aprendizado da programação, as crianças não
apenas compreendem o funcionamento dessas sequências lógicas, mas tam-
bém desenvolvem a habilidade de decompor desafios complexos em partes
gerenciáveis. Partindo deste, um recurso educacional que pode auxiliar na
introdução das crianças da Educação Infantil ao mundo da programação é o
Scratch Jr. De acordo com Sant’Anna (2023), o Scratch Jr é uma linguagem
de programação introdutória para crianças de 05 a 07 anos, composta por
blocos gráficos que permite, aos seus usuários, criar suas próprias histórias
interativas e jogos.
Projetado para ser uma plataforma de programação visual, o Scrat-
ch Jr. torna o processo de aprendizado acessível a crianças em idades mais
jovens. Seu método “arrastar e soltar” elimina a necessidade de dominar
linguagens de programação complexas, permitindo que as crianças, mesmo
ainda não letradas, concentrem-se na construção de projetos e na expressão
criativa. Segundo Resnick (2020), o processo criativo das crianças através da
espiral da aprendizagem envolve imaginar, criar, brincar, compartilhar, refle-
tir e novamente imaginar: processos que facilmente são observados durante
a utilização deste recurso tecnológico.
O uso de recursos tecnológicos educativos, como o Scratch Jr., não apenas
estimula o interesse dos alunos, mas também dá condições de adquirirem habili-
dades de solucionar problemas de forma engajada, capazes de enfrentar desafios
complexos, promovendo o pensamento lógico e a colaboração. De acordo com
Mattar (2010), a introdução de jogos, mesmo que associados à tecnologia, tem
o potencial de incitar desafios e promover a resolução de problemas.
135
A diversidade de jogos e programas desenvolvidos para ensinar progra-
mação para crianças é bastante extensa. Desde a pioneira linguagem “Logo,
criada por Seymour Papert (Papert, 2008), até as mais modernas plataformas
como o Scratch Jr., a educação em programação para crianças tem sido um
campo em constante expansão. Através desses recursos, as crianças aprendem
a programar, cultivam habilidades cognitivas, desenvolvem o pensamento ló-
gico e criativo, e aprimoram a capacidade de resolver problemas.
No cerne do movimento em direção à programação para crianças,
está a pedagogia participativa, baseada na abordagem que reconhece que
as crianças aprendem melhor quando são incentivadas a construir e criar
ativamente. Esta abordagem, defendida por Papert (2008), propõe que os
estudantes sejam participantes ativos na construção de seu próprio conheci-
mento. A programação oferece uma maneira tangível de aplicar esse concei-
to, permitindo que as crianças criem, colaborem, compartilhem e registrem
suas criações.
Neste contexto, o Scratch Jr. emerge de forma valiosa para introduzir
as crianças à programação desde tenra idade. Esta plataforma, desenvolvida
para capacitar a criatividade, possibilita que as crianças construam suas pró-
prias histórias, jogos e animações interativas, tudo isso enquanto aprendem
conceitos de programação de forma prática e envolvente a partir de ativi-
dades desplugadas, através da utilização dos blocos de comando impressos,
como também das plugadas, com a utilização do aplicativo propriamente
dito. Além do aspecto educacional, este recurso tecnológico também fo-
menta uma abordagem multidisciplinar, integrando-se a diversas disciplinas
e áreas de aprendizado, considerando que, através da criação de projetos
interativos, as crianças podem explorar conceitos matemáticos, científicos
e artísticos.
Na era da Educação 5.0, na qual a tecnologia assume um papel crucial
na vida das crianças, a habilidade de compreender, criar e interagir com a
tecnologia é essencial. A BNCC reconhece essa realidade, enfatizando o pa-
pel das interações, brincadeiras e explorações na Educação Infantil, no qual
o PC e a Alfabetização Tecnológica se encaixam naturalmente nesse cenário,
proporcionando, às crianças, as ferramentas para navegar com confiança no
mundo digital (Brasil, 2018).
136
Assim, à medida que o PC e a Alfabetização Tecnológica se tornam
pilares fundamentais do currículo educacional, temos a oportunidade de
moldar uma geração de jovens que não apenas dominem as tecnologias do
futuro, mas também se tornem solucionadores de problemas habilidosos,
criativos e conscientes das possibilidades infinitas que a tecnologia lhes ofe-
rece e, principalmente, pessoas emocional e psicologicamente orientados
para o respeito ao outro e ao mundo onde vivemos.
Considerações finais
No cenário atual, no qual a tecnologia permeia todos os aspectos da
sociedade, a integração do PC na Educação Infantil é essencial para pre-
parar as gerações futuras. A revolução tecnológica do século XXI vai além
da simples obtenção de informações, demandando habilidades cognitivas
avançadas para enfrentar desafios complexos e prosperar em um mundo
digitalizado e globalizado, sem se esquecer que o humano vem em primeiro
lugar.
O PC, que abrange a resolução estruturada de problemas por meio de
decomposição, reconhecimento de padrões, abstração e algoritmos, é uma
ferramenta educacional poderosa. Isso não se trata apenas de programar
computadores, mas também de cultivar habilidades mentais cruciais como
pensamento crítico, criatividade e resolução de problemas, que são essen-
ciais para o sucesso em diversas áreas da vida e podem ser oportunizadas aos
estudantes, mesmo não letrados, de forma plugada e desplugada.
A convergência entre PC, tecnologia e alfabetização torna-se essen-
cial na Educação Infantil, onde plataformas como o Scratch Jr. ilustram a
adaptação lúdica de recursos tecnológicos para o ensino de programação. Ao
integrar o PC, não apenas capacitamos crianças na navegação digital, mas
também cultivamos habilidades fundamentais para futuros desafios, pro-
movendo uma mentalidade analítica e criativa, valiosa em todas as esferas
da vida. Assim, o PC e a Alfabetização Tecnológica transcendem o abstrato,
emergindo como chaves mestras para desbloquear o potencial dos estudan-
tes, formando-os com confiança e criatividade para o porvir.
137
Referências
BLIKSTEIN, P. O pensamento computacional e a reinvenção do com-
putador na educação. Conteúdo digital, 2008. Disponível em: http://
www.blikstein.com/niva/ documents/online/ol_pensamento_computacio-
nal.html. Acesso em: 13 ago. 2023.
BRACKMANN, C. P. Desenvolvimento do Pensamento Computa-
cional Através de Atividades Desplugadas na Educação Básica. Tese
(Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Centro de Es-
tudos Interdisciplinares em Novas Tecnologias na Educação, Programa de
Pós-Graduação em Informática na Educação, Porto Alegre, BRRS, 2017.
BRACKMANN, C. P.; BOUCINHA, R. M.; ROMÁN-GONZÁLEZ,
M.; BARONE, D.; CASALI, A.; SILVA, F. P. Pensamento Computacio-
nal Desplugado: ensino e avaliação na Educação Primária da Espanha.
Journal on Computational inking v.2, n.1 (2018), p. 36-50. Dis-
ponível em: https://periodicos.univali.br/index.php/IJCink/article/
view/12415/7833. Acesso em: 08 ago. 2023.
BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CNE/CEB nº 2/2022 de
30/09/2022. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/fevereiro-
-2022-pdf/236791-anexo-ao-parecer-cneceb-n-2-2022-bncc-computacao/
file. Acesso em: 26 out. 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base
Nacional Comum Curricular. Brasília, DF, 2018.
FILHO, M. C.; VENTURA, V. B. Aprendizagem Centrada no Estu-
dante na América do Sul – ACE: Projeto ACE Erasmus+ e a preparação
de alunos pré-universitários para o ingresso na Universidade Estadual Pau-
lista – UNESP. 1st International Conference on Education and Training,
Lisboa – Portugal. Jul, 2022. Disponível em: https://www.researchgate.
net/publication/362156974. Acesso em: 12 ago. 2023.
MATTAR, J. Games em educação: como os nativos digitais aprendem.
São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
PAPERT, S. A máquina das crianças: repensando a escola na era da infor-
mática. Porto Alegre: Artmed, 2008.
PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro:
Zahar, 1974.
RAABE, A. L. A.; BRACKMANN, C. P.; CAMPOS, F. R. Currículo de
referência em tecnologia e computação: da educação infantil ao ensino
138
fundamental. [Recurso digital]. São Paulo: CIEB, 2018.
RESNICK, M. Jardim de infância para a vida toda: por uma aprendi-
zagem criativa, mão na massa e relevante para todos. Porto Alegre: Penso,
2020.
SANT’ANNA, D. F. F. A. Ensino de programação para crianças da
educação infantil a partir de atividades lúdicas. Dissertação (Mestrado)
– Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2023.
SANT’ANNA, D. F. F. A; SANT’ANNA, D. V. Scratch Jr para potencia-
lizar o pensamento criativo em crianças da educação infantil. V Seminário
Luso-Brasileiro de educação Infantil – II Congresso Luso-Afro_Brasi-
leiro de Infancia e Educação – Infâncias, cidades e democracia. Facul-
dade de Educação – USP. São Paulo/SP, 2019.
WANG, M.; PRADO, E. Revisão Sistemática sobre Alfabetização Com-
putacional. In: Simpósio Brasileiro de Sistemas de Informação (SBSI),
11., 2015, Goiânia. Anais [...]. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Com-
putação, 2015. P. 571-578.
WING, J. Computational thinking. Communications of ACM, v. 49, n.
3, 2006, p. 33-36.
139
O PODCAST COMO FERRAMENTA
EDUCACIONAL NO ENSINO SUPERIOR:
EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS
Kalline Laira Lima dos SANTOS
22
Introdução
A problemática do uso das tecnologias na educação segue uma linha
tênue entre as restrições e as limitações que ocorrem na formação dos pro-
fessores que se propõem à sua utilização.
As mídias digitais têm se tornado importantes ferramentas em várias
áreas do conhecimento. Não diferente, em âmbito educacional, tornam-se
fortes aliadas para que o processo de construção de conhecimento seja signi-
ficativo. Todavia, ainda que muitas discussões estejam em pauta sobre
a inserção de ferramentas e recursos digitais no contexto das práticas de
ensino, entendemos que estamos diante de um momento ímpar para repen-
sarmos ações que se pautam nas tecnologias.
Compreendemos que um uso produtivo requer mais do que apenas
conhecer a ferramenta com que se vai trabalhar, exigindo o desenvolvimento
de um letramento digital que precisa abarcar os cursos de formação de profes-
sores (Freitas, 2010). Dessa forma, ressalta-se que devemos ter consciência dos
objetivos que queremos alcançar. Assim, este trabalho busca trazer algumas
reflexões de experiências com o uso do podcast em atividades formativas no
Ensino Superior que auxiliaram no processo de ensino e aprendizagem.
22
Graduação em História, Mestre em Educação e Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de
Filosofia e Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus
de Marília-SP / E-mail:, lairakalline@gmail.com.
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-513-1.p139-152
140
Ao final de minha graduação, tive a experiência de cursar uma dis-
ciplina eletiva no Programa de Pós–Graduação em Formação de Professo-
res no campus de Petrolina da Universidade Estadual de Pernambuco. Ao
decorrer da mesma, foi solicitada uma atividade que envolvesse o uso do
podcast. Dessa forma, esta foi a primeira iniciativa e meu contato mais apro-
fundado, no qual saí da postura de consumidora para o de produtora.
A partir dessa experiência, pude compreender mais a dimensão do uso
deste suporte tecnológico na integração com o processo de ensino e apren-
dizagem no Ensino Superior. É fato que a evolução da tecnologia “trans-
forma as condições de vida da sociedade” (Lévy, 1999) e tem influenciado,
de modo muito particular, a vida dos indivíduos, tanto nas alterações que
introduzem no cotidiano quanto nos processos adotados pela nova geração,
sendo ela modificadora do ambiente educacional e das formas de constituir
um conhecimento, seja na educação básica, seja na superior.
No meu caso, o despertar para a utilização do aparato tecnológico
com vistas à produção de podcasts partiu de uma breve experiência com
um professor que proporcionou um novo desenho de comportamento do-
cente para um avanço na metodologia, porém, sabemos que utilizar e criar
metodologias viáveis a partir de recursos tecnológicos é um desafio para a
educação, em qualquer nível, uma vez que envolve uma transformação nos
currículos e na formação de professores. Discussão essa sobre a qual nos
debruçamos em um outro trabalho.
O objetivo deste artigo é discutir como, a partir dessa apresentação
ao podcast e sua relação com a educação, podemos repensar o perfil docente,
introduzindo essa ferramenta em práticas pedagógicas e ampliando o pro-
cesso de ensino e aprendizagem para além das metodologias formais que,
muitas vezes, temos recebido em nossa formação em cursos de Licenciatura.
O trabalho se divide em dois momentos: um breve relato sobre o podcast e
suas dimensões para além da técnica, e o relato sobre sua utilização avaliativa
em uma disciplina quando de minha atuação como professora substituta no
curso de História, no ano de 2016.
141
Breve história do Podcast
Enquanto a família, a classe social, o bairro e, às vezes, a religião são
fatores de diferenciação das crianças, a escola e a mídia funcionam como
fatores de unificação – o objetivo é o consenso – difundindo os valores e as
normas consideradas comuns a todos em uma sociedade (Belloni, 2005).
O termo podcast foi utilizado pela primeira vez em 12 de fevereiro de
2004, pelo jornalista Bem Hammersley, em um artigo de sua autoria para o
jornal britânico e Guardian, referindo-se a programas gravados em áudio
e disponibilizados na Internet, que podem ser “assinados” utilizando da tec-
nologia já encontrada nos sites.
Podcast é uma palavra que vem do laço criado entre Ipod – aparelho
produzido pela Apple que reproduz mp3- e Broadcast (transmissão), po-
dendo defini-lo, tecnicamente, em linhas gerais, como sendo um progra-
ma de rádio personalizado gravado nas extensões mp3, ogg ou mp4, que
são formatos digitais que permitem armazenar músicas e arquivos de áudio
em um espaço relativamente pequeno. Estes podem ser armazenados no
computador e/ou disponibilizados na Internet, vinculado a um arquivo de
informação (feed) que permite a assinatura dos programas para receber as
informações sem precisar ir ao site do produtor.
De acordo com Santos, Leão, Vasconcelos (2015) o termo Podcast
surgiu a partir do acrônimo das palavras Public On Demand e Cast e, por-
tanto, denota a perspectiva de acesso de mensagens públicas sob demanda,
inicialmente no formato de áudio (Wave, mp3, ogg etc.), e depois expandiu
para os formatos de vídeo (AVI, FLV, WMV etc.). Esses arquivos se diferen-
ciam dos outros disponíveis na web por serem distribuídos no modo Really
Simple Syndication (RSS). Conforme Leitão (2010, p. 1), “esse formato: per-
mite dividir a informação de um sítio Web em partes distintas e entregá-las
automaticamente em outros produtos de informação, desde sítios Web. Ao
subscreverem a estes canais, os utilizadores são avisados, automaticamen-
te, da alteração do conteúdo original.
Segundo Braga (2018, p. 5), no ensino informal, a utilização dessa
mídia de áudio já é uma realidade e tem potencial para ser empregada na
educação formal “como parte do material apresentado em sala de aula ou
142
mesmo para transmissão de conteúdo [não presencial]”, permitindo o de-
senvolvimento das seguintes habilidades: oral, auditiva, perceptiva, expres-
siva e comunicativa.
No Brasil, o primeiro podcast produzido foi o de Danilo Medeiros,
que, em 2004, criou o Digital Minds, referenciando seu blog. Posteriormen-
te, vários outros programas surgiram, culminando, inclusive, em uma Con-
ferência Brasileira de Podcast (PodCon Brasil), realizada em 2005, durante a
qual foi criada a Associação Brasileira de Podcast - ABPod (ABPOD, 2019).
No entanto, o sucesso do podcast teve seu declínio no ano seguinte -
conhecido como podfade-, quando vários programas foram descontinuados,
e os eventos voltados para a mídia foram cancelados. Este declínio fez com
que, nos próximos anos, aqueles podcasters (produtores de podcast) da “pri-
meira geração reavaliassem as características dos programas - que estavam
semelhante aos dos norte-americanos - e criassem o podcast característico
do Brasil: “aliando humor, mixagem de som, discussão de pautas leves e
descompromissadas, trilhas e efeitos sonoros que valorizavam a fala dos lo-
cutores” (Cardoso, 2021, p. 46). Importante ressaltar que o podcast não foi
idealizado para utilização em sala de aula mas, apesar disso, ele possui um
enorme potencial de colaboração para o processo de ensino e aprendizagem.
Segundo Leite (2012), trata-se de uma ferramenta com muito potencial
quando utilizada como complemento aos recursos tradicionais. Seu uso au-
menta a motivação dos estudantes e respeita os diversos talentos e formas
de aprendizagem, permitindo que o ambiente escolar seja mais interativo.
O exposto vai ao encontro do defendido por Bottentuit Junior, San-
tana e Coutinho (2009), os quais destacam como benefícios educacionais
do podcast: um interesse maior para aprendizagem dos conteúdos, devido a
uma nova modalidade de ensino; possibilidade de aprendizagem tanto den-
tro quanto fora da escola; maior aprendizado, visto que precisam organizar
o conteúdo e disponibilizar para seus colegas.
Segundo Vanassi (2007 apud Bottentuit Junior; Santana e Coutinho,
2009), por não serem necessários equipamentos sofisticados e caros nem
conhecimentos técnicos avançados, esta mídia torna-se uma aliada no pro-
cesso de ensino e aprendizagem.
É possível observar a ampliação de trabalhos que envolvem o uso do
143
podcast e a educação, seja a nível superior, seja no ensino básico, principal-
mente a utilização durante a pandemia no contexto da cibercultura, a qual é
definida por Lévy (1999) como a cultura resultante do uso das redes de com-
putadores e de suportes tecnológicos.
De acordo com levantamento feito na plataforma de periódicos da CA-
PES, de 2001 a 2023, 182 artigos foram publicados envolvendo a produção
de podcast e o ensino e aprendizagem. No catálogo de dissertações e teses da
CAPES, de acordo com os filtros estabelecidos: podcast e educação, de 2013
até 2023, nos programas de Pós- Graduação em Educação, concentração nas
áreas das Ciências Humanas, foram encontradas 13.820 dissertações produzi-
das sob este tema. No que se refere a teses, o total foi de 7.145 teses.
De acordo com Scartezini e Arantes:
O incentivo ao uso das tecnologias de informação e comunicação pode
motivar os discentes aos estudos, como relatado por Xavier et al. (2020),
que integraram tecnologias digitais na área de Ciências da Natureza, na
preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Esses
autores influenciaram os alunos a serem protagonistas na construção do
conhecimento em Física e Química por meio da elaboração de mapas
mentais e da produção de podcasts. Dessa forma, foi perceptível um
maior interesse por parte dos alunos, que passaram inclusive a se matri-
cular em aulas preparatórias para o ENEM e a organizar grupos de estu-
dos no contraturno. Essa prática de incentivo ao uso de tecnologias de
informação e comunicação melhorou o desempenho desses estudantes
nas avaliações internas. (Scartezini e Arantes, 2023, p.5).
É possível que este grande número de pesquisas a respeito do pod-
cast como ferramenta de ensino e aprendizagem se dê, justamente, por seu
grande potencial educacional. A mídia oferece a possibilidade de trabalho
tanto por meio da produção do professor quanto por parte dos estudantes.
Quando produzido pelos docentes, os alunos têm o conteúdo disponível
para estudo a qualquer momento e em qualquer lugar, o que, de acordo
com Freire, E, “um dos acréscimos mais potentes” [...] que o podcast pode
prover, visto que possibilita a “ampliação dos tempos e espaços do exercício
educativo” (Freire, 2015, p. 401).
Como produção de estudantes, a pesquisa de Cardoso (2021), a qual
144
envolveu uma prática de produção com alunos do Ensino Fundamental,
destaca que a ferramenta trouxe diversos benefícios para os alunos, tais
como: desenvolvimento da proficiência leitora e escritora; reflexão sobre o
uso da língua; evolução da oralidade durante a produção dos episódios; de-
senvolvimento de pesquisas sobre variados temas; aprendizado de diferentes
técnicas de edição de áudio, além das práticas de multiletramentos.
No entanto, é importante destacar que a maioria desses trabalhos es-
tão voltados para o ensino básico, evidenciando que ainda há poucas pes-
quisas que possam inserir o uso dessa tecnologia nos currículos do Ensino
Superior, ou projetos de pesquisa e extensão que possam navegar neste tema.
Os benefícios do uso do podcast no ensino superior também são mui-
tos, como confirma uma pesquisa realizada na Universidade do Minho, com
alunos do Ensino Superior, na qual foram utilizados podcasts com conteúdos
educativos gravados pelos professores. Os autores ratificaram os benefícios
pedagógicos deste uso neste nível de ensino:
Usar podcasts como ferramenta pedagógica foi considerado por todos os
professores uma experiência muito positiva. Podcasts foram considerados
como uma estratégia muito útil e poderosa para melhorar as aulas e
motivar os alunos, independente do tipo de podcast implementado e do
tipo de curso específico (Carvalho, 2009, p. 106).
Ensino de História: o podcast como avaliação
O uso do podcast surge em minha prática docente a partir da experiên-
cia obtida como professora substituta no curso de História, no qual ministrei
a disciplina História Moderna II, na Universidade de Pernambuco, com carga
horária de 60 horas. A proposta foi a produção de um podcast envolvendo
conteúdos relativos à história moderna II e alinhados ao plano da disciplina,
que consistia em analisar as transformações no pensamento político, bem
como na organização política da Europa Central e Ocidental entre os séculos
XV e XVIII e compreender as mudanças na organização das atividades eco-
nômicas das unidades políticas europeias no período, observando o impacto
de ambas dimensões na sociedade do Antigo Regime e avaliar sua crise.
145
Os conteúdos, como, por exemplo, crise do antigo regime, revolu-
ções burguesas, pensamento político e a questão do Estado foram temas
abordados na produção do podcast. As avaliações consistiram em discussões
também em sala, para além da avaliação principal e sua produção.
É importante ressaltar que o podcast encontra-se inserido em um modo
criativo que pode ser mobilizador de autonomia e aprendizagem significati-
va, possibilitando uma troca de conhecimento tanto do discente quanto do
docente. Para Moran (2007), as metodologias ativas permitem que o aluno
estabeleça um vínculo com a aprendizagem baseado na ação-reflexão-ação.
Os ambientes virtuais de ensino ou de aprendizagem, como muitas
pessoas definem, são uma espécie de plataforma onde um grande número
de recursos é disponibilizado para a gestão de conteúdos e alunos. O podcast
pode servir como complemento às atividades didáticas, possibilitando aos
utilizadores uma melhor compreensão dos conteúdos, bem como a possibi-
lidade de ouvir as aulas, independente de lugar e espaço.
As ideias de Paulo Freire nos mostram que devemos aceitar e renovar
o aprendizado: o que aprendemos antes de conhecer o novo modelo deve ser
preservado e não descartado. Na perspectiva crítica e reflexiva que o aluno irá
desenvolver ao integrar a tecnologia no seu processo de ensino e aprendizagem,
ela assume um papel no que se refere à educação contemporânea que se encon-
tra no campo de utilizar o acesso e a crítica à informatização como um método
para ampliar tanto o universo cultural quanto educacional. (Freire,1996).
Quanto à essa formação crítica, Freire, E. (2013, p. 13) destaca que a
produção de podcasts tem grande potencial educativo justamente por conta do
alto grau de pluralidade, que “acaba por possibilitar uma ampliação temática
da formação dos Sujeitos”, os quais passam a ter contato com assuntos e tam-
bém tomam posicionamento e valores que, geralmente, não são discutidos
nas mídias tradicionais. Além disso, eles deixam o papel de simples ouvintes e
passam para o papel de produtor, detendo o poder da enunciação.
Moran (2008) afirma que a aprendizagem significativa ocorre no mo-
mento em que o aluno é o sujeito participante do próprio aprendizado, ou
seja, no momento em que o professor aplica um conteúdo e, com os co-
nhecimentos prévios que ele tem armazenado, é ativado o que se considera
como significativo para ele, em resumo, que tenha sentido relevante
146
Pensando nisso, a atividade desenvolvida com a turma do 6º período
do curso de História possibilitou o uso do podcast como uma metodologia
na qual os discentes puderam desenvolver o conteúdo utilizando um recurso
tecnológico e, ao mesmo tempo, aprofundando o conhecimento na discipli-
na de forma significativa.
A estrutura da produção foi dividida em 2 momentos. Inicialmente,
tivemos dois encontros nos quais ministrei uma oficina sobre o uso do pod-
cast, apresentando a ferramenta, programas que poderiam ser utilizados na
produção, roteiro, produção de sinopse, e abrindo espaço para o debate do
uso desse recurso na educação básica, assim como uma formação importan-
te no Ensino Superior.
Esse momento foi de muita riqueza, troca de dúvidas e olhares curio-
sos para a nova tecnologia, sendo que muitos não tinham conhecimento
do podcast. Como base teórica, foram utilizados dois textos: Podcast: produ-
ções de áudio para educação formal crítica, criativa e cidadã (Barros e Menta,
2017) e Recomendações para produção do Podcast e vantagens na utilização em
ambientes virtuais de aprendizagem (Bottentuit e Coutinho, 2008). No pri-
meiro encontro, discutimos o uso crítico das tecnologias na educação com
a pergunta provocativa: Podcast pra quê?. No segundo encontro, tivemos
um aprofundamento técnico sobre o uso de programas para criação do pod-
cast, edição, configurações e produção do roteiro.
Os encontros foram realizados no laboratório do Programa de Apoio
aos Laboratórios Interdisciplinares de Formação de Educadores (Life). O
Life foi lançado no segundo semestre de 2012, para apoiar a criação e es-
truturação de ambientes plurais e interdisciplinares, que proporcionam aos
estudantes dos cursos de licenciatura formação baseada na articulação entre
conhecimentos, práticas e no uso das novas linguagens e tecnologias educa-
cionais nas instituições de ensino superior. O laboratório tinha acesso aos
recursos favoráveis para produção (câmera, microfones, notebooks, gravado-
res e etc).
147
IMAGEM 1 – Oficina Podcast
Fonte: Acervo pessoal da autora.
A dinâmica de produção foi desenvolvida em seis criações envolvendo
temas que dialogavam com a ementa da disciplina. Foram disponibilizados
textos-base para que os estudantes desenvolvessem o roteiro da entrevista
(convidando um professor especialista no tema) ou a opção de ser um ba-
te-papo entre o grupo de discentes: Podcast Religião como tradução; Podcast
Na senzala uma flor; Podcast Revolução Industrial; Podcast A crise no antigo
regime; Podcast Barroco.
Na elaboração de um podcast, o primeiro passo é escolher um tema,
evitando abordar assuntos desnecessários, que possam tornar a fala confusa
e/ou cansativa. Por isso, em sua estrutura, foram definidos os temas e os
textos de referência para eles. Assim como um guia metodológico que foi
apresentado na oficina:
Os critérios metodológicos para a construção do podcast:
Entrevistados convidados ou componentes do próprio grupo;
Limite de entrevistados (2);
Limite de tempo (30 min);
Não são necessários todos da equipe apresentar a entrevista (Lei-
tura obrigatória);
“Recomendações para Produção de Podcasts e Vantagens na Utili-
zação em Ambientes Virtuais de Aprendizagem”);
148
A produção da apresentação do podcast:
Slide simples, discorrendo como produziram;
Apresentação, se houve entrevistados;
Apresentação do roteiro e do tema que foi abordado;
Making-of da produção;
Limite de, no máximo, 10 minutos para apresentar;
A gravação com edição de vinheta, som e etc. será entregue no dia
da apresentação de produção;
Termo de autoria para participação de entrevistados
Esta dinâmica metodológica foi importante para desenvolver a auto-
nomia dos discentes e para aprofundar o conhecimento. Isso revelou que o
uso de podcasts possibilita, ainda, que o estudante deixe de ser apenas um
receptor do conteúdo para, de forma conjunta, com o professor e demais
alunos, criar, investigar e compartilhar conhecimentos. Esses benefícios fi-
caram evidentes nas exposições e no resultado que foram apresentados na
culminância do trabalho final, a elaboração do podcast.
Um dos relatos do podcast sobre religião como tradução foi significa-
tivo para o feedback dessa atividade com eles:
Diante das práticas e discussões feitas em sala de aula, foi possível ter
uma análise construtiva sobre o ensino de história moderna e, como este
vem se desenvolvendo ao longo dos anos, o trabalho pedido pela pro-
fessora salientou o desejo de novos métodos para a docência e, também,
ajudou a aprendizagem sobre maneiras de utilizar os recursos tecnoló-
gicos ao nosso favor. Apesar desta ferramenta ser pouco conhecida por
todos os membros da equipe, a facilidade de produzir foi surpreendente,
colocando outra imagem sobre o Podcast, em pauta, a contribuição de
cada um para o desenvolvimento no crescimento do assunto abordado.
(Relato do grupo, 2016).
Portanto, ter realizado essa metodologia de avaliação com eles foi de
suma importância para as discussões das TICs como nova possibilidade pe-
dagógica, buscando uma educação que prime pela formação de futuros pro-
fessores que estejam acompanhando as mudanças e o movimento de ciber-
149
cultura da nossa sociedade. Avançamos e deixamos os métodos tradicionais
um pouco de lado e ampliamos a produção e construção do conhecimento
de ambos os lados, o que, pedagogicamente, foi demonstrado na construção
dos podcasts pelos discentes e pela forma de mobilização que eles se dedica-
ram a receber um recurso que estava ainda chegando no Brasil e buscando
seu espaço no campo educacional.
Conclusão
Como professora recém-formada, tive a oportunidade de trabalhar
com podcast com a turma do curso de História. Foi um processo formativo
em que fui inserida na dinâmica da atividade com os discentes. A concep-
ção de que o educador modifique seu papel de mero narrador e privilegie o
diálogo como método foi parte do clima que estabelecemos na disciplina.
Ao propor trabalhar com o podcast, abordamos a disponibilidade da turma
aceitar ou não, tendo em vista que eles não conheciam a mídia. Portanto, o
diálogo foi importante para a construção e andamento do curso, posto que
ele rompe com a relação unidirecional da educação formal tradicional.
Freire (2001) afirma que saber ensinar não é transferir conhecimen-
to, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou construção.
Isso, certamente, exige um novo perfil de professor. Assim, a partir dessa
referência (Freire, 2001) e com as possibilidades oportunizadas pelas TICs,
pude promover experiências significativas na construção do conhecimento.
Os desafios existem, já que essas metodologias alteram as funções dos do-
centes, no entanto, não se trata de descartar o papel do professor, mas sim,
promover uma nova visão de educador que precisa, durante o processo de
formação, propor metodologias que envolvam os discentes no processo de
aprendizagem, tornando-os agentes ativos no processo.
Dessa forma, ressalto que o podcast e a experiência da atividade com a
turma trouxe, tanto para mim como para os discentes uma nova linguagem
na aprendizagem, corroborando o exposto pelos especialistas de que esta é
uma metodologia de ensino e aprendizagem bastante motivadora, que pro-
porciona que o aluno tenha um papel activo na construção do saber, saindo
do padrão de mero consumidor para ser também produtor de informação
na web” (Bottentuit Jr.; Coutinho, 2007, p. 845).
150
Referências
ABPOD - PodPesquisa. Disponível em: <http://www.abpod.com.br/me-
dia/docs/PodPesquisa-2018.pdf>. Acesso em 11/09/2023.
BOTTENTUIT JR, J. B.; LISBÔA, E. S.; COUTINHO, C. P. Podcast
em Educação: um contributo para o estado da arte, 2007. In Barca, A.; Pe-
ralbo, M.; Porto, A.; Silva, B.D. & Almeida L. (Eds.), Actas do IX Con-
gresso Internacional Galego Português de Psicopedagogia. Setembro,
Universidade da Coruña. La Coruña, pp. 837-846
BOTTENTUIT JR, J. B.; LISBÔA, E. S.; COUTINHO, C. P. Podcast:
uma revisão dos estudos realizados no Brasil e em Portugal. 2009. Dispo-
nível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/9421. Acesso
em 11/09/2023.
BRAGA, K. M. de M. C.. Podcast: utilização da mídia como instrumento
na educação formal. Revista Carioca de Ciência, Tecnologia e Educação,
v. 3, n. 1, 2018.
BELLONI, M. L. O que é mídia-educação. Campinas: Autores Associa-
dos, 2001.
CARDOSO, G. P.. O podcast nas aulas de Língua Portuguesa: práticas
de multiletramento na escola. Dissertação de Mestrado em Letras - Fa-
culdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista. Assis, 2021.
CARVALHO, A. A.; AGUIAR, C.; MACIEL, R. Taxonomia de Pod-
casts: da criação à utilização em contexto educativo, 2009. Disponível em:
https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/10032. Acesso em
12/09/2023.
FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 9a. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
FREIRE, P.. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 32.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREITAS, M. T. A. Letramento digital e formação de professores. Edu-
cação em Revista, Belo Horizonte, v. 26, n. 3, p. 335-352, Dez. 2010.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0102-46982010000300017. Acesso em: 08/09/2023
LEITÃO, P. Conteúdo gerado pelos utilizadores: desafios para as bi-
bliotecas. Cadernos BAD, nº1/2, p. 113-150, 2010.
151
LÉVY, P. Cibercultura. (Trad. Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Edito-
ra 34, 1999. Disponível em: https://mundonativodigital.files.wordpress.
com/2016/03/cibercultura-pierre-levy.pdf. Acesso em 05/09/2023.
MORAN, J. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar
lá. 2. ed. Campinas, São Paulo: Papiros, 2007.
MORAN, J.M. Aprendizagem significativa. [ago.2008]. São Paulo.
Entrevista concedida ao Portal Escola Conectada. Disponível em <http://
www.eca.usp.br/prof/moran/significativa.htm>. Acesso em: 08/09/2023.
ROJO, R. H. R.; MOURA, E. (Orgs.). Multiletramentos na escola. São
Paulo: Parábola Editorial, 2012.
SCARTEZINI, B. C..; ARANTES, A. R.. Podcast como ferramenta
pedagógica na formação inicial de licenciandos em Física. Revista Do-
cência do Ensino Superior, Belo Horizonte, v. 13, p. 1–15, 2023. DOI:
10.35699/2237-5864.2023.38365. Disponível em: https://periodicos.
ufmg.br/index.php/rdes/article/view/38365. Acesso em: 21/08/2023.
SANTOS, J. P. S.; LEÃO, M. B. C. Elaboração de Podcasting lúdico
para o ensino de Química. XVI Encontro Nacional de Ensino de Quí-
mica e X Encontro de Educação Química da Bahia, XX, 2012, Salvador.
Anais... Salvador: UFBA/DQ, 2012.
152
153
LÍNGUAS ESTRANGEIRAS PARA TODOS: UMA
DISCUSSÃO SOBRE O ALCANCE DO PROJETO
TELETANDEM
Marcelo Palage ANTONIOLI
23
Laura RAMPAZZO
24
Introdução
O avanço das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs) e
sua popularização têm possibilitado a aplicação de tais ferramentas em contextos
de ensino e aprendizagem já há algumas décadas (Lomicka; Lord, 2019). Além
disso, a partir de 2020, devido às restrições causadas pelo vírus da covid-19, muitas
instituições de ensino se viram desafiadas diante da necessidade de migrar parte
de suas atividades para o contexto virtual, potencializando o uso das TDICs em
ambientes educacionais (Gomes et al., 2022; Lomicka; Lord, 2019).
Dentre as possibilidades que as tecnologias oferecem está o intercâm-
bio virtual, mencionados em capítulos anteriores, reconhecido como uma
prática cada vez mais comum (Oskoz; Vinagre, 2020), em que estudantes
geograficamente distantes se envolvem em interação e colaboração intercul-
tural on-line (Lewis; O’Dowd, 2016) com fins de aprendizagem. Um dos
modelos de intercâmbio virtual é o Teletandem (Telles; Vassallo, 2006), que
permite a aprendizagem de línguas e culturas por meio do contato entre
duas ou mais pessoas de maneira virtual.
23
Tecnólogo em Gestão de Turismo / Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de São
Paulo (IFSP) / Barretos / SP / Brasil / E-mail: marcelopalage.antonioli@gmail.com.
24
Professora do Departamento de Letras Modernas na Faculdade de Ciências e Letras, Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) / Araraquara / São Paulo / Brasil / E-mail:
laura.rampazzo@unesp.br.
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-513-1.p153-170
154
De maneira abrangente, o Teletandem coloca-se como um recurso
de aprendizagem de línguas a longa distância, que permite aos estudantes a
oportunidade de um intercâmbio sem muitos gastos e o contato com cul-
turas e costumes distintos. O projeto proposto por Telles e Vassallo (2006)
e adotado pioneiramente pela Universidade Estadual Paulista (UNESP)
desde 2006, hoje envolve diversas universidades localizadas no Brasil e no
exterior e, até 2021, o dado mais recente, já tinha atendido mais de 8.500
participantes (Brasil, 2021).
Ao longo dos anos, consolidou-se não apenas como meio de acesso a
outras línguas e culturas, mas também como um contexto intensamente pes-
quisado e que tem despertado o interesse de estudos sob diversas perspectivas.
Conforme levantamento feito por Rampazzo e Cunha (2021), estu-
dos empíricos publicados em artigos científicos entre 2006-2020 concen-
traram-se em 11 tópicos distintos, dentre os quais estão: aprendizagem de
línguas; aspectos interculturais; e formação de professores; o que, conforme
as autoras, sugere que o contexto é um ambiente profícuo e que, potencial-
mente, alcança diferentes áreas de interesse linguístico.
Quanto à sua organização e desenvolvimento, no Teletandem, parti-
cipantes de diferentes culturas encontram-se virtualmente para alcançarem
um objetivo comum, no caso, o da aprendizagem de seus idiomas, uma vez
que, enquanto um ensina sua própria língua ou idioma em que é falante
proficiente, também aprende a língua do outro (Aranha; Cavalari, 2014;
Garcia, 2015; Telles; Vassallo, 2006). Os encontros, que se dão por meio
de ferramentas de videoconferência, como Skype, Zoom e Google Meet, vêm
sendo chamados de sessões orais de teletandem (Rampazzo, 2017; Lopes,
2019). Nas sessões orais, as mesmas duplas de participantes - um/a estu-
dante do Brasil e um/a da universidade parceira no exterior - encontram-se
regularmente por período pré-determinado por seus professores.
Baseado na aprendizagem de línguas em tandem (Brammerts, 1996),
a prática de teletandem fundamenta-se na observação de três princípios nor-
teadores: separação de línguas, reciprocidade e autonomia (Vassallo; Telles,
2006). O princípio de separação de línguas, também chamado por alguns
autores de bilinguismo (Benedetti, 2010; Bedran; Salomão, 2013) ou da
igualdade (Picoli; Salomão, 2020), prevê que as sessões orais sejam igual-
155
mente divididas para a prática de cada idioma de uma parceria, de modo
que ambos se beneficiem da experiência.
A reciprocidade estabelece que os aprendizes alternam-se entre os pa-
péis de tutores de sua própria língua e aprendizes da língua do outro, além
de assumirem também a responsabilidade de investir igualmente na apren-
dizagem do/a parceiro/a. Por fim, a autonomia determina que os partici-
pantes conduzam seu próprio processo de aprendizagem, tomando decisões
- junto ao/à parceiro/a - sobre o que, como e em que ritmo aprender.
Além dos princípios, a prática de Teletandem pode organizar-se em
diferentes modalidades, a depender de sua institucionalização e integração
às disciplinas (Aranha; Cavalari; Cavalari; Aranha, 2016; Garcia, 2015).
No percurso histórico do projeto Teletandem, desde sua proposição (Telles,
2006) até o momento (Brasil, 2021; Cavalari, 2018), a prática sempre foi
institucionalizada, uma vez que se deu por meio de acordos entre professo-
res de duas instituições parceiras, e desenvolveu-se de forma não-integrada,
semi-integrada e integrada.
Segundo Aranha e Cavalari (2014) e Cavalari e Aranha (2016), o Te-
letandem é institucional não-integrado quando duas instituições são as res-
ponsáveis por proporem uma parceria e oferecerem suporte aos participan-
tes, mas a prática não é parte de disciplinas em nenhuma das instituições. Já
na modalidade de teletandem institucional integrado, além do suporte das
instituições, participam do projeto estudantes regularmente matriculados
em disciplinas de línguas que realizam as tarefas do projeto como parte
obrigatória de suas aulas. A modalidade semi-integrada, por sua vez, ocorre
quando o teletandem é integrado ao currículo de apenas uma das institui-
ções parceiras.
Quando promovida institucionalmente, além das sessões orais de Te-
letandem, a prática também envolve a realização de outras tarefas que ofe-
recem suporte à aprendizagem autônoma e reflexiva de línguas. Conforme
Aranha e Leone (2017), a prática é composta por duas macro-tarefas: a
sessão oral de teletandem e a sessão de mediação, que, conforme Rampazzo
(2021), estão voltadas aos objetivos do projeto de promover a aprendizagem
de línguas (sessões orais) e a conscientização sobre o próprio processo de
aprendizagem em direção a uma aprendizagem mais autônoma.
156
Como propõem Aranha e Leone (2017), a fim de alcançar tais objeti-
vos e implementar as macro-tarefas, podem ser propostas tarefas de menor
escopo, tais como reunião tutorial de apresentação do projeto e troca de
textos escritos na língua alvo, escrita de diários de aprendizagem reflexivos
e preenchimento de questionários de autoavaliação e avaliação do projeto.
Em relação aos participantes do projeto, não se pode perder de vista
que este foi inicialmente proposto sob a premissa de garantir o acesso ao
uso autêntico de um idioma e contato com uma nova cultura. De fato,
primeiramente nomeado Teletandem Brasil: Línguas estrangeiras para todos,
seu mote é, também, democratizar o acesso. Nas palavras de Telles (2006,
p. 12-13), grifo nosso,
(...) com o advento da CMC, da CALL e a redução dos custos da comu-
nicação a distância por meio da internet, torna-se viável a aprendizagem
de línguas in-tandem e a comunicação entre as pessoas e culturas de paí-
ses distantes do Brasil. É possível, deste modo, democratizar o contato
dos brasileiros com essas pessoas e culturas estrangeiras, não restrin-
gindo o mesmo às camadas privilegiadas da sociedade brasileira.
Assim, entende-se que o Teletandem tem ainda uma preocupação so-
cial e pretende facilitar e ampliar o acesso a línguas e culturas a estudantes
que, de outro modo, não teriam a oportunidade. Em outras palavras, sur-
ge com a finalidade de garantir a troca de experiências, idiomas e culturas
a todos os estudantes brasileiros, de modo que se deixasse de restringir o
contato com as línguas, culturas e pessoas somente às camadas sociais mais
privilegiadas da sociedade.
Entretanto, ainda que tenha a premissa de facilitar o acesso e permitir
Línguas Estrangeiras para Todos, deve-se olhar para a realidade brasileira de-
pois de mais de 15 anos da proposta original para entendermos se, de fato,
alcança a todos. Como exposto, o projeto porta em seu nome o ideal de
que todos que quiserem podem aderir. Contudo, quem são esses todos? Os
participantes precisam, por exemplo, ter acesso às ferramentas de comuni-
cação para realizar o contato com os estudantes de outro espaço geográfico e
nem todos possuem tais equipamentos ou letramento digital suficiente para
utilizá-los. Também se pressupõe algum conhecimento da língua alvo para
157
conseguir se comunicar com os estudantes do exterior.
O presente estudo surge, pois, com a proposta de discutir qual o al-
cance do projeto Teletandem. Especificamente, concentramos a análise em
nosso contexto de atuação, o do Instituto Federal de São Paulo (IFSP),
campus Barretos, onde passou a ser ofertado em 2021 como projeto de
extensão. Mapeamos o perfil dos participantes atendidos por dois projetos
de extensão, no período do segundo semestre de 2021 ao primeiro semestre
de 2022, a partir da análise de um questionário que coletou informações
sociodemográficas e contexto educacional dos aprendizes. Entendemos que
tal discussão é válida sobretudo para que, além de determinar o alcance da
proposta, seja possível pensar em maneiras de ampliar o acesso a iniciativas
telecolaborativas como essa.
Metodologia
Em consonância com Paiva (2019), a presente proposta caracteriza-
-se como uma pesquisa aplicada, primária e mista, uma vez que considera
análise de dados empíricos a fim de que os resultados possam informar a
ampliação do alcance do projeto Teletandem. Além disso, seu propósito
é o de examinar em detalhe um fenômeno social, ao mesmo tempo em
que considera dados numéricos. Segundo Dörnyei (2007), os paradigmas
qualitativo e quantitativo não são excludentes, mas podem ser utilizados de
forma complementar, o que permite que números (quantitativo) e palavras
(qualitativo) adicionem significados uns aos outros.
O Teletandem Português-Inglês é promovido no IFSP-Barretos como
projeto de extensão a fim de promover experiências culturais, pessoais,
educacionais, além de permitir que os participantes aprimorem suas habi-
lidades linguísticas. Sendo um projeto de extensão, podem participar tanto
membros internos quanto a comunidade externa ao IFSP. Além disso, sua
realização é viabilizada por parcerias com universidades no exterior. Espe-
cificamente para esta pesquisa, participaram brasileiros de parcerias com
universidades nos Estados Unidos e Reino Unido que estiveram vinculados
ao projeto no segundo semestre de 2021 ou no primeiro de 2022. Era re-
quisito que os participantes do Brasil fossem universitários, independente-
mente dos cursos de graduação e instituição de ensino. Todos se inscreveram
158
voluntariamente no projeto por meio de um formulário de inscrição, no
qual indicaram ter algum conhecimento na língua inglesa, autoavaliando-se
conforme o Quadro Comum Europeu de Referência para Línguas
25
.
A participação envolvia presença em uma sessão tutorial para apre-
sentação do projeto e sessões orais de teletandem em duplas, no caso das
parcerias com universidades americanas, ou pequenos grupos (4 estudantes,
no total), no caso da parceria com a universidade britânica. As sessões ocor-
reram pela plataforma Zoom e os estudantes comunicavam-se em português
e inglês. Aos participantes, era recomendado que, antes de cada sessão com
os colegas do exterior, acessassem instruções e recomendações por escrito
disponibilizadas na plataforma gratuita Canvas for Education. Era, também,
nessa plataforma que realizavam os diários de aprendizagem. Complemen-
tarmente, os estudantes participaram de sessões de mediação - duas por
semestre - nas quais, em grupo, refletiram sobre questões de aprendizagem
e contato intercultural.
Quanto aos dados analisados neste estudo, estes foram coletados a
partir de um questionário aplicado por email (ver Anexo I) aos participantes
dos projetos de extensão Inglês na prática: Teletandem no IFSP, conduzido
entre os meses de agosto e dezembro de 2021, e Intercâmbio Virtual para
aprendizagem de línguas: promovendo o Teletandem no IFSP, desenvolvido no
ano letivo de 2022. O questionário incluía 13 perguntas no total, das quais
dez eram fechadas e três abertas e era dividido em duas seções: uma volta-
da para determinar o perfil sociodemográfico, e outra para determinar seu
perfil acadêmico. Ao todo, o questionário foi enviado para 73 participantes,
dos quais 30 responderam.
Resultados e discussão
Os resultados aqui apresentados subdividem-se nas mesmas seções do
25
O Common European Framework of References for Languages (CEFR) ou Quadro Europeu
Comum de Referência para as Línguas foi criado para padronizar os níveis de exames de proficiência
em línguas. Há uma classificação em seis níveis específicos de conhecimento do idioma: A1, A2,
B1, B2, C1, C2. Em linhas gerais, os níveis A1 e A2 indicam um nível de conhecimento básico,
enquanto B1 e B2 englobam os falantes intermediários e, por último, os usuários avançados
classificam-se nos níveis C1 e C2.
159
questionário: primeiramente, comentamos o perfil sociodemográfico dos
participantes para que, em seguida, possamos discorrer sobre o contexto
educacional dos participantes. De modo a determinar quem eram os par-
ticipantes, foram feitas perguntas sobre seu gênero, etnia, idade, condições
de saúde, estado civil, moradia e renda. A fim de determinar o perfil acadê-
mico, as perguntas eram direcionadas a identificar a instituição e curso de
graduação, experiência anterior com o projeto e motivações.
Perfil sociodemográfico
Em relação ao gênero, observamos que o público feminino foi, ma-
joritariamente, representativo na pesquisa, correspondendo a 63,3% das
respostas. Tal resultado permite-nos fazer generalizações sobre o público
atendido no Teletandem no contexto do IFSP, que é, sobretudo, formado
por mulheres. 33,3% dos respondentes marcaram ser do gênero masculino,
enquanto que apenas 3,3% se identificaram pela opção “outros”. Tais indi-
cações sugerem que, ainda que o público seja, em sua maioria, feminino, há
alguma diversidade quanto ao gênero das pessoas que participam do projeto.
Figura 1. Gráfico com amostragem de gênero autodeclarado dos participantes
Fonte: Elaboração própria
Quanto à etnia, nas respostas obtidas, pudemos observar a ausência
de estudantes que se autodeclarassem indígenas ou amarelos. Apesar de o
160
instrumento de análise não nos permitir determinar as razões para tal fato,
esse resultado abre a possibilidade de procura por integração dessas etnias.
No contexto do IFSP, o projeto alcançou um público majoritariamente
branco, correspondente a 63,3% dos participantes, sendo os outros 30%
representados por pardos e apenas 2,7% pela etnia preta.
Figura 2. Gráfico com amostragem da etnia dos participantes
Fonte: Elaboração própria
Se se considera que a maior parte da população brasileira se declara
como parda ou preta (IBGE, 2022), então cumpre avaliar que o público
atendido pelo projeto não é representativo da população do país. Se, por
um lado, o projeto não é responsável pela exclusão, por outro, também
não consegue ainda avançar na inclusão daqueles que, tradicionalmente,
também se encontram em situação de maior vulnerabilidade social (Gomes;
Marli, 2018).
Quanto à renda, o projeto alcança mais pessoas cuja renda familiar
mensal fica entre três e cinco salários mínimos (50%), seguido de renda
de até dois salários mínimos (30%) e entre seis e oito salários mínimos
(16,7%). Apenas um respondente indicou receber algum benefício social do
governo, e outro informou ter renda familiar superior a oito salários míni-
mos. De certa maneira, os dados bem estratificados indicam que o projeto
chega a um público economicamente diverso, não estando restrito às classes
mais abastadas.
Ao responderem sobre sua participação na vida econômica de suas
famílias, nenhum dos estudantes indicou ser responsável pelo sustento de
161
suas famílias. 10% indicaram que trabalhavam e era independentes finan-
ceiramente, enquanto que, por volta de 36%, disseram trabalhar apesar de
não terem independência financeira e, aproximadamente, 53% tinham seus
gastos integralmente custeados por familiares.
Quanto a esses resultados, podemos estabelecer certa correlação com
a flexibilidade de tempo exigida pelo projeto para que o estudante consiga
conectar-se com seu colega no exterior e com o fato de a maior parte dos
participantes da pesquisa não trabalhar. Podemos hipotetizar aqui que, caso
não fossem apoiados financeiramente por familiares, talvez não tivessem
tempo/disponibilidade para participarem.
Em relação à moradia, os resultados indicam que os participantes do
Teletandem no IFSP, em sua maioria (56,7%), moram em imóvel próprio
com a família, o que sugere que, ainda que a proposta não se restrinja às
classes mais altas, como apontado acima, é acessível àqueles que já têm algu-
ma estabilidade financeira. Outros 13,3% responderam morar em aparta-
mento ou casa alugada com a família e 10% viviam em habitações coletivas,
como moradia compartilhada com colegas ou república estudantil.
Quanto à idade, o projeto tem público, majoritariamente, jovem,
sendo que 48,3% dos respondentes tinham entre 19 e 22 anos. A partici-
pante mais nova tinha 18 anos, enquanto que a mais velha, 38. Em relação
à faixa etária, portanto, não se pode dizer que a proposta contempla público
muito diverso. Esse resultado, entretanto, pode ter relação com a idade que
as pessoas costumam frequentar universidades no país. A maior parte dos
participantes é, também, solteira (83,3%), ao passo que outros 13,3% são
casados e 3,3% vivem em união estável. As opções Separado(a)/Divorcia-
do(a) e Viúvo(a) não foram selecionadas.
Por fim, em relação às condições de saúde, ninguém apontou con-
dições deficitárias ou crônicas. Tal resultado indica que permanecem ainda
ausentes pessoas que tenham alguma deficiência, visível ou não, e nos faz
questionar as razões para que estas não façam parte do projeto.
No quadro abaixo, resumimos o perfil socioeconômico do público
atendido pelo projeto.
162
Tabela 1. Resumo do perfil socioeconômico dos participantes
Gênero Etnia Renda Moradia Faixa
etária
Primeiro grupo
mais atendido
Feminino Branca
3 a 5
salários
mínimos
Imóvel
próprio com
a família
Entre
19
e 22
anos
Segundo grupo
mais atendido
Masculino Parda
Até 2
salários
mínimos
Imóvel
alugado com
a família
X
Grupo
minoritariamente
atendido
Outros Preta
26
Entre 6 e
8 salários
mínimos
Habitações
coletivas
+30
anos
Fonte: Elaboração própria
Como a tabela ilustra, em relação ao perfil socioeconômico, a maioria
dos participantes é do gênero feminino, branco, jovem, de classe média, que
possui imóvel familiar próprio.
Perfil acadêmico
A vasta maioria dos participantes do projeto Teletandem no IFSP
(93,7%) esteve vinculada a uma instituição pública de ensino, enquanto
os 6,7% restantes estudavam em instituições particulares sem bolsa. De um
lado, o resultado indica que as instituições públicas no país cumprem seu
papel por favorecerem o acesso a outras línguas e culturas; de outro, a
ausência de público oriundo de instituições particulares pode indicar uma
lacuna no diálogo entre os poderes público e privado, o que pode acabar ne-
gando o acesso ao projeto a uma parte da população que, talvez, não tenha
ainda acesso a experiências interculturais, mesmo que estude em instituição
particular.
Quanto à graduação dos participantes, o projeto pode abranger uma
gama distinta de cursos, o que aponta o grande valor sobre o conhecimento
de línguas estrangeiras para as futuras carreiras e valorização dos currículos.
Os participantes eram estudantes de diversos cursos de graduação, dentre
os quais Administração, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Ciências
Biológicas, Ciências Sociais, Engenharia da Computação, Engenharia de
26
Nenhum participante indicou ser amarelo ou indígena.
163
Controle e Automação, Gestão de Recursos Humanos, Gestão de Turismo,
Letras - Português, Licenciatura em Ciências Biológicas, Licenciatura em
Pedagogia - EPT, Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Interna-
cionais, Psicologia e Tecnologia em Logística. A busca pelo projeto de inter-
câmbio virtual por estudantes de formações tão diversas reforça o estímulo
para aprendizagem de línguas estrangeiras e, no caso deste estudo, do inglês
especificamente, nas mais variadas áreas.
A respeito de sua experiência com a língua e cultura(s) alvos do pro-
jeto, os estudantes indicaram seu nível de proficiência em inglês a partir
de descritores de autoavaliação do Quadro Comum Europeu de Referência
para Línguas. Sobre isso, podemos afirmar que o participante do Teletan-
dem no IFSP é, sobretudo, alguém que já teve algum contato significativo
com o idioma, já que, são falantes intermediários do idioma (43% decla-
raram nível intermediário superior e 30%, intermediário). Uma minoria
indicou nível básico (13,3%), iniciante (6,7%) e avançado (6,7%).
Os números indicam que o alcance é maior a participantes com nível
de proficiência independente, o que, em certa medida, destoa da proposta
do projeto de acessibilidade para todos. Uma vez que a proposta ainda se
concentra naqueles que já possuem habilidades com a língua, abrimos espa-
ço para pensarmos nas estratégias que ainda são necessárias para que aqueles
com menor proficiência na língua-alvo possam também se sentir convida-
dos a participar e serem contemplados com essa experiência intercultural.
Se, por um lado, o Teletandem chega àqueles mais proficientes, por
outro, é certo que, para muitos, o projeto é a primeira oportunidade de
contato com pessoas de outras culturas. Quando perguntados sobre expe-
riências anteriores com a língua e cultura alvos, os participantes indicam,
por exemplo, já terem estudado em escolas de idiomas ou escola regular.
Estar em contato, porém, com outra cultura parece ter sido uma experiência
nova, como exemplifica o relato de um participante: “Já possuía conhe-
cimento parcial sobre a cultura por já ter estudado a língua em escola de
idiomas e ter o estudo da língua como disciplina obrigatória na escola e
colegial. Entretanto, não tive um contato tão profundo com a cultura como
tive com o projeto”.
De fato, apenas dois dos respondentes apontaram ter tido a experiên-
164
cia de contato intercultural por conta de viagens ao exterior com destinos
como o Canadá e o Reino Unido. Para outros, a alternativa encontrada para
estar em contato com o idioma e as culturas associadas a ele foi por meio
do consumo de músicas, filmes, séries e jogos. Ainda a esse respeito, 10%
dos participantes enfatizaram que o projeto havia sido o primeiro agente
responsável pelo contato com outra pessoa de outra cultura que utilizava o
inglês diariamente.
Por fim, quanto aos fatores motivadores da participação no projeto,
todos os participantes apontaram que o principal foi a necessidade de apri-
morar sua proficiência na língua, que, consequentemente, enriqueceria os
seus currículos. Os respondentes sinalizaram, ainda, o desejo pela(s) cultu-
ra(s) que poderiam conhecer por meio do contato com o exterior. Assim,
podemos afirmar que se interessam pelo projeto aqueles que, para além da
oportunidade de estarem em contato com outra cultura, veem nessa propos-
ta uma chance de melhorarem suas habilidades em língua estrangeira.
Considerações finais
O presente capítulo teve como objetivo discutir o alcance do projeto
Teletandem, a partir do mapeamento do perfil dos participantes no contex-
to do IFSP. De certo modo, mesmo que tenha alcançado público diverso
em alguns aspectos, a proposta ainda não consegue contemplar todos como
previsto na proposição original (Telles, 2006).
É certo que esse fato não é demérito para uma iniciativa que já co-
nectou tantas pessoas e garantiu-lhes uma chance para aprenderem mais
sobre línguas e culturas. Ainda assim, propõe-se que os resultados impulsio-
nem professores e pesquisadores a encontrarem outras alternativas para que
aqueles que ainda ficam de fora também possam ter essa oportunidade de
contato intercultural se o desejarem.
Reconhecemos que o estudo aqui reportado, também, apresenta limi-
tações, dentre as quais o fato de ter se concentrado apenas no contexto do
IFSP. Deste modo, investigações futuras podem voltar-se ao exame do perfil
dos participantes em outros contextos brasileiros que promovem o Teletan-
dem, inclusive o da Unesp, instituição-berço da proposta.
Além disso, a fim de se pensar nas estratégias para que o projeto al-
165
cance outras pessoas, pode ser também pertinente considerar aqueles que,
tendo a chance de se inscreverem para participação, optaram por não fazê-
-lo. Identificar o que desmotivou a participação pode trazer contribuições
significativas para entendermos quais são os próximos passos a serem defini-
dos para ampliar o acesso.
Referências
ARANHA, S.; CAVALARI, S. M. S. A trajetória do projeto Teletandem
Brasil: da modalidade institucional não-integrada à institucional integrada.
e Especialist, v. 35, n. 2, p. 183-201, 2014.
ARANHA, S.; LEONE, P. e development of DOTI (Databank of oral
teletandem interaction). In: FISHER, D.; BEIBWENGER, M. (org.). In-
vestigating computer-mediated communication corpus-based approa-
ches to language in the digital world. 1st ed. Ljubljana: University Press,
Faculty of Arts, p. 172-190, 2017.
BEDRAN, P. F.; SALOMÃO, A. C. B. Interação de crenças em contexto
colaborativo virtual de aprendizagem de línguas. Revista Brasileira de
Linguística Aplicada, v. 13, n. 3, p. 789-814, 2013.
BENEDETTI, A. M. Dos princípios de tandem ao teletandem. In:
BENEDETTI, A. M.; CONSOLO, D. A.; VIEIRA-ABRAHÃO, M. H.
(org.). Pesquisas em ensino e aprendizagem no Teletandem Brasil: Lín-
guas estrangeiras para todos. Campinas: Pontes Editores, p. 21-45, 2010.
BRAMMERTS, H. Tandem language learning via the internet and the
International E-mail Tandem Network. In: LITTLE, D.; BRAMMERTS,
H. (eds.). A Guide to Language Learning in Tandem via the Internet.
CLCS Occasional Paper, 46. Dublin: Trinity College, p. 9-21, 1996.
BRASIL. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Panorama
da contribuição do Brasil para a difusão do português. Brasília: FUNAG,
2021.
CAVALARI, S. M. S. Integrating telecollaborative language learning into
Higher Education: a study on teletandem practice. BELT: Brazilian En-
glish Language Teaching Jounral, v. 9, n. 2, p. 417-432, 2018.
CAVALARI, S. M. S.; ARANHA, S. Teletandem: integrating e-learning
into the foreign language classroom. Acta Scientiarium: Language and
culture, v. 38, n. 4, p. 327-336, 2016.
166
DOOLY, M.; VINAGRE, M. Research into practice: Virtual exchange in
language teaching and learning. Language Teaching, p. 1-15, 2021.
DÖRNYEI, Z. Research Methods in Applied Linguistics: Quantitative, Qua-
litative and Mixed Methodologies. Oxford: Oxford University Press, 2007.
GARCIA, D. N. M. A logística das sessões de interação e mediação no
teletandem com vistas ao ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras.
Estudos Linguísticos, v. 44, n. 2, p. 725-738, 2015.
GOMES JUNIOR, R. C.; SILVA, L. O; PAIVA, V. L. M. O. Tecnologias
digitais para aprender e ensinar inglês no Brasil. Texto Livre: Linguagem e
Tecnologia, v. 15, p.1-16, 2022.
GOMES, I.; MARLI, M. As cores da desigualdade. Retratos. A revista do
IBGE, n. 11, 2018. Disponível em https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/
media/com_mediaibge/arquivos/17eac9b7a875c68c1b2d1a98c80414c9.
pdf. Acesso em 30 jul 2023.
IBGE. Características gerais dos domicílios e dos moradores 2022. Dispo-
nível em https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102004_infor-
mativo.pdf. Acesso em 30 jul 2023.
LEWIS, T.; O’DOWD, R. Online Intercultural Exchange and Foreign
Language Learning: A Systematic Review. In: O’DOWD, R.; LEWIS, T.
(eds.). Online intercultural exchange: Policy, pedagogy, practice. New
York and London: Routledge, p. 29-72, 2016.
LOMICKA, L.; LORD, G. Reframing Technology’s Role in Language
Teaching: A Retrospective Report. Annual Review of Applied Linguisti-
cs, p. 1-16, 2019.
LOPES, Q. B. MulTeC: A construção de um corpus multimodal em teletan-
dem. Orientadora: Solange Aranha. 2019. 161p. Tese (Doutorado em Estudos
Linguísticos) - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto, 2019.
O’DOWD, R. From telecollaboration to virtual exchange: state-of-the-art
and the role of UNICollaboration in moving forward. Journal of Virtual
Exchange, v. 1, p. 1-23, 2018.
OSKOZ, A.; VINAGRE, M. (eds.). Understanding Attitude in Intercul-
tural Virtual Communication. Sheffield: Equinox Publishing, 2020.
PAIVA, V. L. M. O. Manual de pesquisa em estudos linguísticos. 1.ed.
São Paulo: Parábola, 2019.
167
PICOLI, F.; SALOMÃO, A. C. B. O princípio da separação de línguas
no Teletandem: o que as teorias propõem e como ele funciona na prática.
Revista Estudos Linguísticos, v. 49, n. 3, p. 1605-1623, 2020.
RAMPAZZO, L. Gêneros textuais e telecolaboração: uma investigação
da sessão oral de teletandem inicial. Orientadora: Solange Aranha. 2017.
134f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) - Instituto de Bio-
ciências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, São José do Rio Preto, 2017.
RAMPAZZO, L. Gêneros do intercâmbio virtual: recorrência retórica
e uso de polidez no primeiro encontro síncrono. Orientadora: Solange
Aranha. 2021. 168f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Instituto
de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto, 2021.
RAMPAZZO, L.; CUNHA, J. N. C. Telecollaborative practice in Brazil:
What has been published about teletandem? BELT - Brazilian English
Language Teaching Journal, v. 12, n. 1, p. 1-12, 2021.
TELLES, J. A. Projeto Teletandem Brasil: Línguas Estrangeiras para
Todos - Ensinando e Aprendendo línguas estrangeiras in-tandem via MSN
Messenger. Faculdade de Ciências e Letras de Assis, UNESP, 2006.
TELLES, J. A.; VASSALLO, M. L. Foreign language learning In-Tandem:
Teletandem as an alternative proposal in CALLT. e Especialist, v. 27, n.
2, p.. 189-212, 2006.
VASSALLO, M. L.; TELLES, J. A. Foreign Language Learning in-tan-
dem: theoretical principles and research perspectives. e Especialist, v.
27, n. 1, p. 83-118, 2006.
VINAGRE, M. Dinámicas de colaboración eficaz en la comunicación
medida por computador: Estudio de un caso de profesores en formación a
distancia. In: GONZÁLEZ-LLORET, M.; VINAGRE, M. (Eds.) Comuni-
cación mediada por tecnologías. Aprendizaje y Enseñanza de la Lengua
Extranjera. Sheffield, Briston: Equinox Publishing, p. 145-166, 2018.
VINAGRE, M.; GONZÁLEZ-LLORET, M. La comunicación mediada
por computador y su integración en el aprendizaje de segundas lenguas.
In: GONZÁLEZ-LLORET, M.; VINAGRE, M. (Ed.). Comunicación
mediada por tecnologías. Aprendizaje y Enseñanza de la Lengua Ex-
tranjera. Sheffield, Briston: Equinox Publishing, p. 1-19, 2018.
168
ANEXO I.
Questionário a ser aplicado para identificação do
perfil dos participantes
Prezado(a) participante,
Este questionário integra o projeto de pesquisa “Expandindo as fron-
teiras: investigando o projeto Teletandem Brasil no contexto do IFSP”.
Solicitamos que responda a todas as perguntas com total liberdade e
asseguramos que sua identidade será mantida em sigilo absoluto. Você leva-
rá aproximadamente 10 minutos para completar o questionário.
Perfil sociodemográfico:
Qual o seu gênero? ( ) feminino; ( ) masculino; ( ) não-binário; ( )
outros; ( ) prefiro não informar;
Qual a sua raça? ( ) branca; ( ) preta; ( ) parda; ( ) amarela; ( )
indígena;
Qual era a sua idade no momento da inscrição no projeto?;
Você se identifica como uma pessoa com deficiência ou tem alguma
condição de saúde crônica? (Se sim, descreva);
Qual o seu estado civil no momento da inscrição? ( ) solteiro(a); ( )
casado(a); ( ) separado(a)/divorciado(a); viúvo(a); ( ) união estável;
Onde você morava quando participou do projeto? ( ) casa ou aparta-
mento próprio com a família; ( ) casa ou apartamento próprio sozinho(a);
( ) casa ou apartamento alugado com a família; ( ) casa ou apartamento alu-
gado sozinho(a); ( ) em quarto ou cômodo alugado sozinho(a); ( ) casa ou
apartamento mantido pela família; ( ) habitação coletiva (hotel, hospedaria,
pensionato, república), especificar;
Qual a renda familiar mensal quando você participou do projeto?
( ) até 2 salários mínimos; ( ) de 3 a 5 salários mínimos; ( ) de 6 a 8 salários
mínimos; ( ) mais de 8 salários mínimos; ( ) benefício social governamental
(descrever qual);
Qual a sua participação na vida econômica de sua família quando parti-
cipou do projeto? ( ) não trabalhava e seus gastos eram custeados; ( ) trabalhava,
mas não era independente financeiramente; ( ) trabalhava e era independente
financeiramente; ( ) trabalhava e era responsável pelo sustento da família.
169
Perfil acadêmico/escolar:
Em que instituição você estava matriculado quando participou do
projeto? ( ) instituição pública; ( ) instituição particular; ( ) instituição
particular com bolsa.
Em qual curso de graduação estava matriculado quando participou
do projeto?
Experiência com a língua e cultura alvos:
Qual o seu nível de proficiência autodeclarado no momento da ins-
crição, conforme descritores do Quadro Comum Europeu de Referência
para Línguas (https://www.britishcouncil.org.br/quadro-comum-europeu-
-de-referencia-para-linguas-cefr): ( ) A1; ( ) A2; ( ) B1; ( ) B2; ( ) C1; ( ) C2;
Qual a sua experiência anterior (ao projeto) com a língua inglesa e
cultura dos países parceiros? Você já tinha estudado o idioma anteriormen-
te? Como/Onde? Já tinha tido acesso/contato com a cultura do país parceiro
no projeto? (Descreva).
Motivação para participar do projeto:
Qual(quais) fator(es) levaram você a participar do projeto? (Explique).
Agradecemos sua participação e reiteramos que ela é fundamental
para o desenvolvimento da nossa pesquisa
170
171
SOBRE OS AUTORES
Carla Cristina Reinaldo Gimenes de Sena
Doutora em Geografia pela Universidade de São Paulo / USP / Vice-direto-
ra e Professora na Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação / Univer-
sidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / Campus de
Ourinhos / SP / Brasil / E-mail: carla.sena@unesp.br
Claudineia Peres Bertaglia
Doutoranda em Educação/ PPGE / Faculdade de Ciências e Tecnologia /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / cam-
pus de Presidente Prudente / SP / Brasil / Agência de fomento CAPES /
E-mail: claudineia.bertaglia@unesp.com
Daniel Vieira Sant’anna
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / cam-
pus de Marília / SP / Brasil / E-mail: daniel.santanna@unesp.br
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Professora Livre Docente do Departamento de Letras Modernas e Vice-Di-
retora da Faculdade de Ciências e Letras / Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / Campus de Assis/SP e Professora e
orientadora do Programa de Pós-Graduação em Educação / PPGE/ Fa-
culdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP / Campus de Marília / SP / Brasil /
E-mail: daniela.nm.garcia@unesp.br
Daniele de Fátima Fuganholi A. Sant’anna
Mestre em Educação / Docência para Educação Básica / PPGE / Faculdade
de Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” -
UNESP / campus de Bauru / SP / Brasil / E-mail: daniele.abiuzzi@unesp.br
Douglas Cunha dos Santos
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Uni-
versidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de
Marília / SP / Brasil / E-mail: douglas.cunha@unesp.br
172
Gabriela Lima Fabris
Mestra em Letras / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Esta-
dual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Assis / SP /
Brasil / E-mail: gabrielamlfabris@gmail.com
Gabriela Pedroso Cardoso
Mestra em Letras e Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filo-
sofia e Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” -
UNESP / campus de Marília / SP / Brasil / Integrante do Grupo de Pesquisa
em Antropologia e Educação / E-mail: gp.cardoso@unesp.br
Isabelle Castilho
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Uni-
versidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de
Marília / SP / Brasil / Agência de fomento CNPQ /
E-mail: isabelle.castilho@unesp.br
Kalline Laira Lima dos Santos
Graduação em História, Mestre em Educação e Doutoranda em Educação /
PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Marília-SP /
E-mail:, lairakalline@gmail.com.
Laura Rampazzo
Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) / Barretos / SP / Brasil
/ E-mail: laura.rampazzo@ifsp.edu.br.
Marcelo Palage Antonioli
Tecnólogo em Gestão de Turismo / Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia de São Paulo (IFSP) / Barretos / SP / Brasil /
E-mail: marcelopalage.antonioli@gmail.com.
Maria do Carmo Monteiro Kobayashi,
Professora Associada - Livre Docente (2019) em Ensino de Arte: Lingua-
gens da Criança / Professora Orientadora no PPGE - Docência para Educa-
ção Básica / Faculdade de Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Bauru / SP / Brasil /
E-mail: monteiro.kobayashi@unesp.br
Paulo Alexandre Filho
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / cam-
pus de Marília / SP / Brasil / E-mail: p.alexandre@unesp.br
173
Rafael Franco Lobo
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / cam-
pus de Marília / SP / Brasil / E-mail: rf.lobo@unesp.br
Vanessa de Almeida Laura
Graduanda em Pedagogia / Universidade Virtual do Estado de São Paulo -
UNIVESP / campus de Lençóis Paulista / SP / Brasil /
E-mail: 23211545@aluno.univesp.br
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Doutoranda em Educação PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Uni-
versidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de
Marília / SP / Brasil / E-mail: yngrid.karolline@unesp.br
Yuri de Lira Lucas
Especialista em Computação Aplicada à Educação e Tecnologias Educacio-
nais pela Universidade de São Paulo / campus de São Carlos / Mestrando
em Geografia / Instituto de Geociências e Ciências Exatas / Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP / campus de Rio Cla-
ro / SP / Brasil / E-mail: yuri.lucas@unesp.br
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno – CRB 8/8211
Normalização
Kamilla Gonçalves
Diagramação
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Capa
Isabelle Castilho
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
A partir das mudanças vivenciadas por nós, em decorrência da pande-
mia de covid-19, alguns temas e assuntos em ascensão, como o uso das
Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs), passa-
ram a ter papel fundamental para encarar a nova realidade. Neste livro,
oferecemos uma perspectiva abrangente sobre como a tecnologia está
transformando os métodos de ensino e aprendizagem, enquanto tam-
bém destacamos a importância do engajamento humano no processo
educacional. Dessa forma, reunimos professores de diversos níveis de
ensino, os quais também são discentes do Programa de Pós-Graduação
em Educação da UNESP, campus de Marília, para discutirem acerca de
suas experiências e estudos, a partir desse novo viés. Conectamos saberes
a partir de práticas profícuas da Educação Infantil até experiências viven-
ciadas no Ensino Superior. Esperamos que a leitura deste livro colabore
para discussões e reexões acerca dos diversos potenciais apresentados,
ampliando as possibilidades de trabalho em atuações docentes, em busca,
sempre, de uma Educação de qualidade para nossos educandos.
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Professora Livre Docente em Língua In-
glesa pela UNESP. Professora Associada
junto ao Departamento de Letras Mo-
dernas da Faculdade de Ciências e Letras/
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP Campus de
Assis/SP e Professora e orientadora no
Programa de Pós-Graduação em Edu-
cação - UNESP - Campus de Marília /
e-mail: daniela.nm.garcia@unesp.br
Gabriela Pedroso Cardoso
Doutoranda em Educação/PPGE/Facul-
dade de Filosoa e Ciências / Universi-
dade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP /campus de Marília/SP/
Brasil /Mestra em Letras/Integrante do
Grupo de Pesquisa em Antropologia e
Educação (GPAE)/
E-mail: gp.cardoso@unesp.br
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Doutoranda em Educação / PPGE /
Faculdade de Filosoa e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP – campus de
Marília/SP/ Professora Coordenadora de
Educação Básica da rede estadual paulis-
ta / e-mail: yngrid.karolline@unesp.br
Isabelle Castilho
Mestranda em Educação / PPGE / Facul-
dade de Filosoa e Ciências / Universi-
dade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP / campus de Marília/SP/
Brasil / Agência de fomento CNPQ /
E-mail: isabelle.castilho@unesp.br
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0039/2022
Processo Nº 23038.001838/2022-11
Tecnologias na educação: explorando potenciais e conectando saberes