
O evolver histórico do capitalismo dá mos-
tras constantes do caráter revolucionário 
desse modo de produção, que transforma 
continuamente suas bases técnicas e, com 
isso, todas as relações sociais. Que tais mu-
danças tenham afetado as relações educativas 
ao longo dos tempos é tão verdadeiro quanto 
o fato de que o tempo em que vivemos está
marcado pela explosiva destruição de quais-
quer barreiras políticas, econômicas e sociais
para que tais transformações adentrem todas
as esferas educativas e modiquem radical-
mente a forma social da educação. A quebra
de barreiras e a aceleração de tais mudanças
corresponde ao grau de controle empresa-
rial da educação pelo processo de subsunção
corporativa  e  nanceira,  que  encontra  no
Estado seu esteio para a expansão da apro-
priação privada da educação. A alteração nas
bases e meios de trabalho pedagógicos se dão
em conjunto com a modernização da gestão,
que por sua vez subordina a educação à con-
dição de dispositivo de dominação social,
cada vez mais direta e robusta, de uma classe
sobre a outra.
A  privatização  avança  e  a  nanceirização
deixa de ser apenas o contexto no qual se
insere a educação, e passa a organizá-la, tor-
nando-a ativo nanceiro e inserindo a polí-
tica social em seus sistemas. Os investimen-
tos visam lucros ou formas contenção social
num contexto de centralização e concentra-
ção de capitais e da consequente ampliação
das desigualdades que elas mesmas engen-
dram, passando o controle da educação para
a mão de empresários e acionistas, os novos
gestores sociais.
A velocidade e complexidade das transfor-
mações que estão em curso impõem desa-
os à apreensão crítica, que muitas vezes se
mantém anacrônica ou agarrada a um grau
de idealismo que a impedem de enxergar a
educação na sua relação com a totalidade,
como relação que não somente sofre os efei-
tos das mudanças capitalistas, mas também 
engendra a violência de suas as novas formas 
de dominação. 
Os esforços da crítica presente neste livro se 
somam às elaborações e produções que se 
voltam ao enfretamento das novas contradi-
ções das relações educativas que nos livrem 
de tais limites. Mas eles não apenas se voltam 
ao exame teórico da educação e declaram sua 
comunhão com a ação política de confron-
to ao modo de educar capitalista, associando 
a crítica com a análise de processos de luta 
e criação de experiências de educação “para 
além do capital” no Brasil e na América Lati-
na. Tal associação entre a crítica e os apren-
dizados que vem da prática de resistência e 
de luta é um método de não conformismo a 
um modo de dominação que obriga à sub-
versão e criação de alternativas. 
A ditadura do capital nanceiro, envernizada por uma suposta democracia for-
mal com alternância de governos, continua produzindo estragos na América 
Latina. O “triste rodízio” entre governos populares pró-capital e governos de 
direita ou extrema direita que fazem avançar as pautas neoliberais e de costumes, 
não trouxe bons frutos para a democracia na região.  
Felizmente conseguimos por m – ao menos por enquanto – ao efeito des-
trutivo do bolsonarismo no Brasil, num curtíssimo espaço de tempo. A vitória 
de Lula tem um efeito “democratizador”, ou para ser mais preciso, é mais uma 
tentativa de redemocratização do país e de um “acerto de contas” com a extrema 
direita. 
No entanto, não há grande expectativa, ao menos nos meios da esquerda aca-
dêmica, de partidos políticos e sindicatos contra a ordem, de grandes transfor-
mações no atual governo. Primeiro porque o projeto de “humanizar o capitalis-
mo”, de distribuir renda, de “melhorismo”, não será possível dentro dos marcos 
da autocracia brasileira na atual fase da mundialização do capital. Segundo por-
que o governo Lula 3 faz muito mais concessões ao capital que os governos Lula 
1 e 2. É muito provável que estejamos diante de uma tendência que poderíamos 
chamar de “melhorismo piorado”. 
A Argentina, por sua vez, passou por nova regressão nas eleições de outubro 
de 2023, com a extrema direita no poder. Seria a Argentina de Fernandez um 
prenúncio do que pode vir a ser Lula 3? Em alguma medida sim, um governo 
emparedado, amarrado pelas diretrizes da reprodução do capital nanceiro e a 
ausência de um projeto de poder contra a ordem do capital. 
Esta coletânea dá continuidade ao projeto anterior (volume 1), que tinha como 
objetivo socializar os resultados de pesquisas de especialistas em temáticas rela-
cionadas às políticas educacionais na América Latina e a educação para além do 
capital. 
Os mercadores da educação na região - mesmo num quadro de longa estagna-
ção econômica - estão conseguindo implementar sua agenda: a) contrarrefor-
mas educacionais adequadas à nanceirização da economia e a especialização 
regressiva da produção, b) ascensão das fundações, ONGs e Institutos, no con-
trole da política educacional; c) destruição direta e indireta da escola estatal; d) 
fusões e aquisições de conglomerados educacionais, e) internacionalização e -
nanceirização, o que nos permite armar que a educação cada vez mais se torna 
“educação ctícia”, tendo suas determinações ligadas a reprodução do capital e 
do capital educacional internacional. 
EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL E POLÍTICAS 
EDUCACIONAIS NA AMÉRICA LATINA
Programa PROEX/CAPES: 
Auxílio Nº 396/2021
Processo Nº 23038.005686/2021-36
EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL 
E POLÍTICAS EDUCACIONAIS 
NA AMÉRICA LATINA
Henrique Tahan Novaes
(organizador)
CAROLINA CATINI | UNICAMP
volume 2
volume 2
HENRIQUE TAHAN NOVAES | UNESP