Transversalidade
e verticalidade na
Ciência da Informação
O conteúdo desta obra resulta das exposições realizadas no evento
acadêmico denominado ‘Transversalidade e Verticalidade na Ciência
da Informação (TVCI)’ , ocorrido nos dias 10 e 11 de Agosto de
2023. Promovido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação – PPGCI (UNESP), o encontro proporcionou
uma reunião de pesquisadores, professores, alunos de graduação e
pós-graduação e a comunidade científica em prol do debate acerca das
aplicações, tendências e reflexões resultantes de investigações na área
da Ciência da Informação.
Transversalidade e verticalidade
na Ciência da Informação
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin,
José Augusto Chaves Guimarães, Luana Maia Woida e
Ricardo César Gonçalves Sant’Ana (Org.)
Fábio Mosso Moreira
Helen de Castro S. Casarin
José Augusto Chaves Guimarães
Luana Maia Woida
Ricardo César Gonçalves Sant’Ana
(Organizadores)
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Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2025
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Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Copyright © 2025, Faculdade de Filosofia e Ciências
Ficha catalográfica
T772 Transversalidade e verticalidade na ciência da informação / Fábio Mosso Moreira ... [et al.]
(organizadores). – Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2025.
447 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-612-1 (Impresso)
ISBN 978-65-5954-613-8 (Digital)
DOI: https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8
1. Ciência da informação. 2. Abordagem interdisciplinar do conhecimento. 3. Tecnologia da
informação. 4. Organização da informação. 5. Gestão do conhecimento. I. Moreira, Fábio Mosso.
II. Casarin, Helen de Castro Silva. III. Guimarães, José Augusto Chaves. IV. Woida, Luana Maia. V.
Sant’Ana, Ricardo César Gonçalves. CDD 020
Telma Jaqueline Dias Silveira –Bibliotecária – CRB 8/7867
Imagem capa: https://stock.adobe.com/br - Arquivo "AdobeStock_472240939". Acesso em 21/02/2025
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives
4.0 International License.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"
Campus de Marília
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Vice-Diretora
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Conselho Editorial
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Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Edvaldo Soares
Franciele Marques Redigolo
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
5
S
Prefácio ..................................................................................................... 9
José Augusto Chaves Guimarães
Apresentação ............................................................................................. 13
Fábio Mosso Moreira
Capítulo 1 - Coleta de dados em pesquisas de User Experience ................... 15
Suellen Elise Timm Barros, Gustavo Camossi,
Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti e Cecílio Merlotti Rodas
Capítulo 2 - O uso de Machine Learning para avaliação da qualidade de
dados Linked Data ............................................................................... 35
Ananda Fernanda de Jesus e José Eduardo Santarem Segundo
Capítulo 3 - Arquitetura da Informação: modelagem da inscrição para
catequese da Igreja Santa Edwiges......................................................... 49
amyris Novaes Custódio Lara, Caio Saraiva Coneglian e
Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti
6
Capítulo 4 - ChatGPT: reflexões sobre um gerador de conteúdos .............. 69
Carla Conforto de Oliveira, Janaína Fernandes Guimarães Polonini e
Bárbara Souza da Silva
Capítulo 5 - O Ciclo de Vida dos Dados aplicado às Imagens Digitais ...... 87
Eveline Batista Rodrigues e Cristiane Lucy Rodolfo Bonfeti
Capítulo 6 - A adoção do Controle de Autoridade no contexto do RDA ... 105
Fabiano Ferreira de Castro e Leonardo Silva Oliveira
Capítulo 7 - Sujeitos informacionais: perspectivas teóricas da
intencionalidade na ciência da informação ........................................... 133
Fernanda Alves Sanchez, Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti e
Fernando Luiz Vechiato
Capítulo 8 - Acesso a dados na Ciência da Informação: um estudo nas
dissertações do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
da UNESP campus de Marília .............................................................. 147
Amanda Garcia Gomes, Dayane de Oliveira Martins,
Paulo George Miranda Martins, Natally Adriely Barbosa de Oliveira e
Ricardo César Gonçalves Sant’Ana
Capítulo 9 - Preservação digital e Governança Democrática: um diálogo
necessário ............................................................................................. 167
Gildo Carlos Macie, Telma Campanha de Carvalho Madio e
José Carlos Abbud Grácio
Capítulo 10 - Competências digitais e a proteção de dados pessoais e
privacidade ........................................................................................... 185
José Augusto Bagatini Lopes Pinto e Helen de Castro Silva Casarin
Capítulo 11 - Modelo conceitual ontológico em arquivos: uma proposta de
aplicação no arquivo público do estado do Pará .................................... 199
Adriana Carla Ribeiro dos Santos e Maria Leandra Bizello
7
Capítulo 12 - Organização do conhecimento em arquivos de partidos
políticos: mapeamento de acervos documentais do Partido dos
Trabalhadores no estado de São Paulo................................................... 215
Wilson Roberto Veronez Júnior, Sônia Maria Troitiño-Rodriguez e
Daniel Martínez-Ávila
Capítulo 13 - Subsídios para garantia literária em música: o uso de
ementas dos cursos de pós-graduação no Brasil ..................................... 235
Fernanda Carolina Pegoraro Novaes, Jéssica Beatriz Tolare e
Walter Moreira
Capítulo 14 - Um estudo sobre as competências digitais de docentes de
duas Instituições de Ensino Superior no Brasil ...................................... 257
Rejane Sales de Lima Paula, Helen de Castro Silva Casarin,
Cátia Cândida de Almeida e Margarida Rocha Lucas
Capítulo 15 - Diretrizes para a representatividade feminina nas
organizações: gestão da diversidade e indicadores .................................. 267
Ana Clara Leite Pedersoli, Tuani Carla Fuzati, Valquíria da Mota Luchini e
Luana Maia Woida
Capítulo 16 - "e Five Laws of Library Science" à luz de uma análise
bibliométrica temática das obras citantes .............................................. 289
Bianca Savegnago de Mira, Natalia Rodrigues Delbianco,
Patrícia de Almeida Monteiro da Silva, Maria Cláudia Cabrini Grácio e
Daniel Martínez-Ávila
Capítulo 17 - Competência crítica em informação em saúde das mulheres
refugiadas: uma reflexão semiótica ........................................................ 303
Mariana Rodrigues Gomes de Mello, Etefania Cristina Pavarina,
Aurora Cuevas-Cerveró e Daniel Martínez-Ávila
8
Capítulo 18 - O pensamento complexo de Edgar Morin e seus nexos com
o trabalho do Profissional da Ciência da Informação ............................ 333
Orledys María de Jesús López Caldera e
Oswaldo de Francisco Almeida Júnior
Capítulo 19 - A Teoria da Complexidade e o ensino da Ciência da
Informação no Brasil ............................................................................ 351
amiris Iara Sousa Silva, Beatriz de Souza Fermino Miranda Marques e
Oswaldo Francisco de Almeida Júnio
Capítulo 20 - Gestão documental e seus impactos nos processos de auditoria .. 365
Maria Fabiana Izídio de Almeida e
Marcia Cristina de Carvalho Pazin Vitoriano
Capítulo 21 - Proteção de dados pessoais na transversalidade da Ciência da
Informação ........................................................................................... 379
Cecília Preciosa Cabsela e Sonia Maria Troitiño Rodriguez
Capítulo 22 - Processo de busca de informação em biblioteca universitária
sobre a COVID-19: relato de experiência com uso do mapa de empatia .. 397
Joana Andre Machuza Matenga, Marcela Arantes Ribeiro,
Catarina Alson Cumbe, Francisca Miquelle Siqueira Cardoso e
Tamara de Souza Brandão Guaraldo
Capítulo 23 - Relato de experiência sobre ações de competência em
informação desenvolvidos na biblioteca da FAESA Centro Universitário
Espírito Santense .................................................................................. 417
Alessandra Monteiro Pattuzzo Caetano e
Helen de Castro Silva Casarin
Organizadores do livro ............................................................................. 431
9
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Há quase seis décadas, um artigo seminal de Harold Borko intitula-
do Information science: what is it? (Borko, 1968) apresentava a Ciência da
Informação – CI como um campo de estudos de natureza eminentemente
interdisciplinar visto dialogar com disciplinas como a matemática, a lógi-
ca, a linguística, a ciência da computação, a metodologia da pesquisa cien-
tífica, as artes gráficas, a comunicação e a gestão, entre outras, reunindo
características das ciências puras e das ciências aplicadas.
Para o referido autor, a CI, ao promover o desenvolvimento de ins-
tituições voltadas à acumulação e à transmissão do conhecimento – ou,
como prefere Fernandes (1995), à gestão institucional dos saberes – tem na
Arquivologia, na Biblioteconomia e na Documentação, entre outras, são
campos aplicados de seus constructos teóricos e metodológicos. Para tanto,
busca estudar o comportamento, as propriedades, o uso e a transmissão da
informação com vistas e seu armazenamento, recuperação de modo a per-
mitir que o conhecimento tenha portabilidade no espaço e permanência
no tempo (Borko, 1968; Smit; Barreto, 2002).
Pode-se dizer que, decorrido tanto tempo, essa concepção de Borko
surpreendentemente configura-se atual e aplicável pois resgata a essência
desse campo cujos procedimentos foram gradativamente sendo aperfeiço-
ados, especialmente a partir do avanço tecnológico.
Tem-se, portanto, que a Ciência da Informação se encontra no lócus
da interdisciplinaridade, com relações mútuas com outras disciplinas, mas
sem perder uma disciplinaridade que lhe é própria.
À vista do exposto, a presente obra discute-se a Ciência da Informação
como um domínio de conhecimento o que, por sua vez, compreende uma
dimensão social e uma dimensão cognitiva e ocorre através da interação
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p9-12
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
10
de teorias e conceitos ontológicos, epistemológicos e sociológicos, a partir
de um corpo de conhecimento definido social e teoricamente por um gru-
po que compartilha compromissos ontológicos e epistemológicos e apre-
senta certo nível de estabilidade e infraestrutura (Hjørland; Hartel, 2003;
Smiraglia, 2012; Hjørland, 2017).
Tal domínio, por sua vez, permeia-se por uma transversalidade, que
lhe confere amplitude de abrangência e, igualmente, por uma verticali-
dade, que lhe confere profundidade de abordagem. Em outras palavras,
tem-se aquilo que Tennis (2003) denomina como áreas de modulação (ex-
tensão do domínio) e áreas de especialidade (intenção do domínio).
E é exatamente nessa perspectiva que, por ocasião do aniversário de
vinte e cinco anos de criação do Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Informação da Unesp, apresenta-se um conjunto de reflexões de natu-
reza teórica ou aplicada, notadamente a partir dos nichos temáticos que
caracterizam o referido programa, a saber:
a) as relações da informação com a tecnologia, notadamente no
que se refere “às metodologias, aos instrumentos e ao uso estra-
tégico das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC”
e “as reflexões acerca das questões apresentadas pelos ambien-
tes informacionais digitais para a construção do conhecimento
e da experimentação em torno de novas formas de acesso, or-
ganização, representação e recuperação em contextos mediados
pelas TIC bem como de processamento de dados e de informa-
ção para a otimização e a personalização de processos e sistemas
informacionais”;
b) o desenvolvimento de referenciais teóricos e aplicados, de na-
tureza interdisciplinar, acerca da produção e da organização da
informação, relativamente aos processos de produção científica,
produção documental e de análise, síntese, condensação, repre-
sentação, e recuperação do conteúdo informacional, bem como
das competências e comportamentos informacionais do usuário
inerentes a tais processos;
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
11
c) ao exame dos processos de gestão, mediação, uso e apropriação
da informação e do conhecimento, em vários ambientes, ressal-
tando o papel das pessoas enquanto produtoras ativas de infor-
mação e conhecimento, o que demanda a capacidade de trans-
cender os limites epistêmicos da Ciência da Informação para
compreender as ações de acesso e uso inteligente da informação
e de construção do conhecimento na sociedade, recorrendo ao
diálogo com outras disciplinas e saberes.
Desse modo, a presente obra, reunindo um conjunto de vinte e três
trabalhos, inicia-se por um conjunto de reflexões de natureza epistemo-
lógica no campo da CI que englobam a discussão acerca da figura dos
sujeitos informacionais no âmbito da intencionalidade na CI, a Teoria da
Complexidade no âmbito do ensino de CI no Brasil e, adentrando ao uni-
verso da atuação profissional, a abordagem do pensamento complexo de
Edgar Morin.
Especificamente na dimensão tecnológica que envolve o universo
da CI, aborda-se o ChatGPT enquanto gerador de conteúdos, o uso de
Machine Learning para avaliação da qualidade de dados Linked Data, a
arquitetura da informação a partir de uma experiência de modelagem no
âmbito religioso, a coleta de dados em pesquisas de User Experience, o
acesso a dados a partir das dissertações do PPGCI-Unesp, as relações dia-
lógicas entre preservação digital e governança democrática e a proteção de
dados pessoais como um aspecto transversal na CI.
A produção e organização da informação, por sua vez, evidencia-se,
na presente obra, a partir de uma análise bibliométrica das citações das
Cinco Leis da Biblioteconomia propostas por Ranganathan, da experiên-
cia de aplicação de um modelo conceitual ontológico em arquivo público,
da organização do conhecimento por meio do mapeamento de acervos
documentais de arquivo de partido político, da discussão da garantia lite-
rária quando aplicada ao domínio da música e da adoção do Controle de
Autoridade no contexto do RDA.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
12
Relativamente à gestão, mediação e uso da informação, tem-se tra-
balhos sobre a gestão documental e seus impactos nos processos de audi-
toria e sobre a gestão da diversidade relativamente à representatividade
feminina, ao que se aliam abordagens sobre a competência em informação
em bibliotecas, a competência crítica em informação em saúde, a compe-
tência digital tanto no âmbito de docentes do ensino superior quanto em
sua relação com a proteção de dados pessoais, e o processo de busca de
informação em biblioteca universitária em um contexto de covid-19.
Como se pode observar, trata-se de uma rica e diversificada gama de
incursões científicas sobre temas transversais e verticais na CI que testemu-
nham o fazer investigativo vivenciado pelo Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação da Unesp, especialmente em um momento em
que comemora um quarto de século de existência.
José Augusto Chaves Guimarães
RefeRências
BORKO, H. Information science: what is it? American Documentation, Washington,
DC, v. 19, n. 1, p. 3-5, Jan. 1968.
FERNANDES, G. C. O objeto de estudo da Ciência da Informação. Informare, Rio de
Janeiro, v. 1, n. 1, p. 25-30, jan./jun. 1995.
HJØRLAND, B. Domain analysis. In: ISKO Encyclopedia of Knowledge
Organization. 2017. Disponível em: http://www.isko.org/cyclo/domain_analysis.
Acesso em: 10 out. 2024.
HJØRLAND, B.; HARTEL, J. Introduction to a special issue on domain analysis.
Knowledge Organization, Frankfurt, v. 30, n. 3/4, p. 125-127, 2003.
SMIRAGLIA, R. P. Epistemology of domain analysis. In: SMIRAGLIA, R. P.; LEE, H.
-L. (ed.). Cultural frames of knowledge. Wurzburg: Ergon, 2012. p. 111-124.
SMIT, J. W.; BARRETO, A. Ciência da Informação: base conceitual para a formação
do profissional. In: VALENTIM, M. L. P. (org.). Formação do Profissional da
Informação. São Paulo: Polis, 2002. p. 9-23.
TENNIS, J. T. Two axes of domain analysis. Knowledge Organization, Frankfurt, v.
30, n. 3/4, p. 191-195, 2003.
13
A
O conteúdo desta obra resulta das exposições realizadas no even-
to acadêmico denominado ‘Transversalidade e Verticalidade na Ciência
da Informação (TVCI)’, ocorrido nos dias 10 e 11 de Agosto de 2023.
Promovido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação – PPGCI (UNESP), o encontro proporcionou uma reunião
de pesquisadores, professores, alunos de graduação e pós-graduação e a
comunidade científica em prol do debate acerca das aplicações, tendências
e reflexões resultantes de investigações na área da Ciência da Informação.
Os trabalhos aprovados e apresentados no TVCI materializam este
livro eletrônico, cuja publicação encontra-se motivada pela necessidade de
dar visibilidade aos temas da Ciência da Informação reforçando suas ca-
racterísticas interdisciplinares com segmentos da sociedade que ganharam
destaque no cenário atual no que se refere a saúde, a educação, a cultura e
a economia.
Para estruturar o fio condutor desta obra, o livro foi organizado em
quatro eixos temáticos, sendo três deles derivados de artigos científicos, e o
último de relatos de experiência.
Com relação aos eixos que congregar resultados de pesquisa, o pri-
meiro é representado por capítulos (Capítulos 1 ao 8) que tratam sobre o
estudo e aplicação de tecnologias informacionais no contexto de unidades
de informação, como, por exemplo, aprendizado de máquina, inteligência
artificial, Web Semântica e arquitetura da informação.
O segundo eixo é composto de capítulos (Cap. 9 ao Cap. 16) resul-
tados de pesquisas da área da Ciência da Informação que foram aplicadas
na atividade de Organização do Conhecimento, como, por exemplo, mo-
delos ontológicos, organização de arquivos e análises bibliométricas.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p13-14
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
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E o terceiro eixo teórico desta obra agrupa os capítulos (Cap. 17 ao
Cap. 21) que versaram sobre temáticas ligadas a gestão da informação e
do conhecimento, cultura organizacional e competências informacionais,
manifestadas em cenários como instituições de ensino, bibliotecas e orga-
nizações privadas.
A convergência dos três eixos temáticos e a sessão dos relatos de
experiência (Cap. 22 e Cap. 23) buscam proporcionar ao leitor reflexões
sobre as implicações dos imperativos tecnológicos na sociedade contempo-
rânea, demonstrar a aplicação de métodos interdisciplinares e fundamentar
conceitos complexos. Todas essas demandas precisam ser compreendidas a
partir de prismas transversais que combinam disciplinas da área da Ciência
da Informação, bem como do estabelecimento de relações verticais com
as demais áreas do conhecimento, tornando a obra um prato cheio para
aqueles que buscam consolidar uma Ciência da Informação de vanguarda.
Uma boa leitura a todos.
Fábio Mosso Moreira
15
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User experience
Suellen Elise Timm Barros 1, Gustavo Camossi 2,
Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti 3 e Cecílio Merlotti Rodas 4
intRodução
A pesquisa de User Experience (UX) desempenha um papel funda-
mental na Ciência da Informação (CI), uma vez que busca compreender as
interações entre os usuários e os sistemas de informação, visando melhorar
a qualidade da experiência do usuário. Conhecer as necessidades, expec-
tativas e percepções dos usuários é essencial para o desenvolvimento de
sistemas de informação eficientes e de qualidade.
A pesquisa em UX, é um estudo que se concentra nos usuários e em
seus requisitos, visando descobrir problemas e oportunidades de design,
bem como obter insights sobre um determinado contexto. Essa prática
Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: suellen.
timm@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9124-0242. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/8245514969497131.
Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: gustavo.
camossi@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2873515398619762.
Doutora em Educação. Professora na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: silvana.
vidotti@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4216-0374. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/7390573927636069.
Doutor em Ciência da Informação. Professor no Instituto Federal de São Paulo – IFSP. E-mail: cecilio.
rodas@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4856-066X. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/4652647090897148.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p15-34
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
16
combina Técnicas de coleta de dados qualitativos e quantitativos, assim
como abordagens atitudinais (ou seja, o que os usuários dizem) e com-
portamentais (ou seja, o que os usuários fazem) para capturar informações
valiosas que podem alimentar o processo de design (Foundation, 2023).
A coleta de dados desempenha um papel crucial nas pesquisas de
UX, pois fornece informações valiosas sobre as percepções, comportamen-
tos e sentimentos dos usuários. Segundo Hassenzahl (2010), a coleta de
dados desempenha um papel essencial na pesquisa de UX, possibilitando
aos pesquisadores obter informações empíricas sobre as experiências e ne-
cessidades dos usuários. Através da coleta de dados, é possível identificar
pontos fortes e fracos de sistemas de informação, compreender as moti-
vações dos usuários e propor melhorias que atendam às suas expectativas.
De acordo com Nielsen (2012), as entrevistas e a observação direta
são técnicas de coleta de dados eficazes para obter insights qualitativos so-
bre as experiências dos usuários, proporcionando uma compreensão apro-
fundada de suas necessidades e desafios. Além disso, testes de usabilidade e
pesquisas on-line são importantes para avaliar a eficácia e usabilidade dos
sistemas de informação, conforme mencionado por Tullis e Albert (2013).
O objetivo deste artigo é discutir as principais técnicas de coleta
de dados utilizados em pesquisas de User Experience (UX) no contexto
da Ciência da Informação. Para tanto, serão exploradas diferentes técni-
cas de coleta de dados e técnicas que possibilitam a obtenção de dados
relevantes para compreender as experiências dos usuários em relação aos
sistemas de informação.
A questão norteadora abordada neste estudo é: Quais são as princi-
pais técnicas de coleta de dados de coleta de dados utilizados em pesquisas
de UX na Ciência da Informação? A resposta a essa questão é fundamental
para orientar os pesquisadores na escolha das técnicas de coleta de dados
de coleta de dados mais apropriados para investigar a experiência dos usu-
ários e obter informações relevantes sobre suas necessidades, expectativas,
comportamentos e percepções.
Portanto, para o desenvolvimento deste artigo, realizou-se uma revi-
são de literatura, embasada em publicações nacionais e estrangeiras sobre
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
17
técnicas de coleta de dados em pesquisas de UX na CI. A escolha da abor-
dagem qualitativa permite uma compreensão mais profunda das experi-
ências e comportamentos dos usuários em relação aos sistemas e serviços
digitais (Denzin; Lincoln, 2018). A natureza exploratória da pesquisa bus-
ca explorar um fenômeno pouco conhecido ou compreendido, permitin-
do a geração de insights e a identificação de novas perspectivas de análise
(Creswell, 2014).
técnicas paRa a coleta de dados em pesquisas de uX
User eXperience se tornou a palavra-chave para pesquisadores acadê-
micos e comerciais que buscam estudar a interação humano-computador
(Hassenzahl; Tractinsky, 2006), especialmente à medida que as tecnologias
passaram a ser pensadas para o uso diário, fácil e intuitivo. Segundo Moser
e Korstjens (2018), as técnicas mais comuns de coleta de dados em pes-
quisas científicas são observação, entrevistas e grupos focais, e isso se aplica
também às pesquisas de UX. Além da escolha do método apropriado, é
fundamental pensar e planejar a coleta para que os dados possam ser pre-
servados a curto e a longo prazo possibilitando futuros estudos comparati-
vos, replicabilidade ou reúso dos dados, além da possibilidade de os dados
estruturados serem interpretados por máquina (Barros et al., 2023).
A seguir relacionamos 10 entre as principais técnicas usadas em pes-
quisas com usuários com o objetivo de fornecer uma visão inicial e au-
xiliar pesquisadores a entender a técnica que melhor se aplica ao estudo
pretendido.
Análise de tArefAs (tAsk AnAlysis)
Consiste no “processo de descrição de tarefas (como os usuários fa-
zem as coisas) e seus relacionamentos” e é “[…] usado para impulsionar
o projeto e construir modelos preditivos do desempenho das tarefas dos
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
18
usuários” (Hartson; Pyla, 2012, p. 42). A análise de tarefas tem sua base na
combinação com as técnicas de coleta de dados qualitativos de entrevista e
observação em pesquisa de campo.
É importante que o usuário seja orientado por objetivos a serem
cumpridos e seja orientado durante o processo a fim de cumprir as tarefas
propostas. Assim, Goodman, Kuniavsky e Moed (2012) destacam que esse
método deve ser usado quando o pesquisador já conhece o problema, mas
quer diagnosticar problemas de usabilidade ou identificar novas oportuni-
dades. É importante também que o pesquisador conheça o público-alvo e
as tarefas que precisam ser cumpridas pelo usuário.
Tullis e Albert (2013) sugerem que para avaliar o cumprimento de
cada tarefa seja usado um método de avaliação de quatro pontos, sendo:
1 – cumprimento satisfatório da tarefa; 2 – cumprimento com peque-
nos problemas; 3 – cumprimento com problemas significativos; 4 – não
cumprimento.
clAssificAção de cArtões (cArd sorting)
A coleta dos dados é realizada através de pesquisa com usuários que
recebem cartões ou post-its para organizar o conteúdo. É uma técnica rápi-
da e de custo reduzido em que o usuário precisa agrupar a informação em
uma estrutura lógica que auxilie navegação no website e, consequentemen-
te, contribui para uma melhor Arquitetura da Informação.
Segundo Babich (2017) este método é comumente usado para auxi-
liar no design ou avaliação da Arquitetura da Informação de um website. O
usuário precisa agrupar o conteúdo e funcionalidades em categorias e atra-
vés da avaliação do resultado o pesquisador pode verificar questões como
hierarquia e organização (Babich, 2017).
Existem três tipos de pesquisas de classificação de cartões, conforme
destacado por Guimarães (2018):
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
19
1. Aberto: é indicado no início de projeto para “[…] descobrir
como as pessoas agrupam o conteúdo e quais rótulos que atri-
buem a cada categoria que faça sentido para seu modelo mental”.
Os usuários precisam organizar os cartões em grupos e nomear
cada grupo criado;
2. Fechado: é indicado para “[…] validar a eficiência da Arquitetura
de Informação do site”. O usuário precisa colocar os cartões em
um conjunto de grupos ou categorias previamente estabelecidos;
3. Híbrido: é indicado para avaliar “[…] se as categorias que fo-
ram propostas estão fazendo sentido para os usuários”. Os usu-
ários podem concordar com a classificação prévia ou criar novos
nomes.
entrevistA
É uma das técnicas de coleta de dados mais comuns para reunir
dados qualitativos em pesquisas de UX e pode ser conduzida com os usuá-
rios ou até mesmo stakeholders. Para facilitar, o pesquisador também pode,
além das anotações, gravar em áudio ou vídeo as respostas. As entrevistas
podem ser realizadas pessoalmente, por telefone ou on-line. O recurso é
comumente usados também após Técnicas de coleta de dados de observa-
ção como uma entrevista retrospectiva em que o usuário responde questões
após o uso da website.
Segundo Wilson (2014), mesmo que a entrevista seja um método
muito importante e usado por pesquisadores em User eXperience, muitos
não possuem o conhecimento necessário sobre as técnicas de coleta de
dados de entrevista. Como resultado, acabam coletando dados limitados
que não contribuem como poderiam para a pesquisa. Assim, o autor for-
nece algumas dicas para saber quando é melhor usar cada um dos tipos de
entrevista que pode ser estruturada, semiestruturada ou não estruturada,
como apresentado no Quadro 1.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
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Quadro 1 – Tipos e usos da entrevista na coleta de dados
Estruturada Semiestruturada Não Estruturada
- Obter informações
gerais sobre demografia,
comportamentos e
relacionamentos.
- Avaliar o conhecimento
sobre um assunto. Perguntas
de conhecimento são
usadas para determinar o
nível de conhecimento de
um indivíduo ou grupo de
indivíduos.
- Reunir informações focadas
sobre as partes de interesse
e seus traços em relação a
um produto, conjunto ou
processo.
- Fazer perguntas específicas
depois de compreender
as questões gerais de um
domínio, produto ou projeto
em particular.
- Coletar dados uniformes
de uma grande amostra de
participantes e organizações.
- Comparar resultados entre
diferentes grupos de usuários
em um conjunto fixo de
respostas.
- Reunir fatos, atitudes e
opiniões.
- Reunir dados sobre tópicos
em que o entrevistador
esteja relativamente certo de
que às questões relevantes
foram identificadas, mas
ainda fornecem aos usuários
a oportunidade de levantar
novas questões que são
importantes para eles através
de perguntas abertas.
- Reunir dados quando
você não puder observar o
comportamento diretamente
por causa de tempo, perigos,
privacidade, ou outros fatores.
- Compreender os objetivos
do usuário.
- Reunir informações sobre
tarefas, fluxo de tarefas
e artefatos de trabalho,
tais como formulários,
documentos de melhores
práticas, diagramas de
fluxo de trabalho, placas,
equipamentos, fotografias e
cartazes.
- Reunir dados sobre temas
gerais em vez de perguntas
específicas.
- Desenvolver novos
conhecimentos sobre as
interações do usuário com a
tecnologia.
- Investigar um novo
produto e obter uma noção
das primeiras impressões e
características que chamam a
atenção do usuário.
- Explorar um novo domínio
em que você não está certo
das principais questões que os
usuários enfrentam e outras
partes interessadas.
- Reunir informações sobre
temas sensíveis.
- Entender como os
especialistas resolvem os
problemas. Especialistas
frequentemente possuem
muito conhecimento tácito
que requer um entrevistador
qualificado e um formato não
estruturado.
- Acompanhar uma entrevista
quantitativa onde alguns
dados qualitativos são
necessárias para esclarecer
o significado dos resultados
quantitativos.
Fonte: Adaptado de Wilson (2014).
Em suma, para Wilson na entrevista estruturada a coleta de dados é
organizada, o que facilita a sua posterior análise. A semiestruturada segue
um planejamento das questões de pesquisa, porém existe a possibilidade de
explorar novas questões, caso seja necessário. Por fim, a não estruturada é o
tipo de entrevista mais desafiador para o pesquisador, porém, quando bem
realizada, resulta em coletas excelentes de dados qualitativos.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
21
eye trAcking
A tecnologia de Eye Tracking (ET) permite a observação do com-
portamento do olhar dos usuários enquanto realizam tarefas ou interagem
com interfaces e produtos. O Eye Tracking é uma metodologia que ajuda
os pesquisadores a entender a atenção visual. Com o Eye Tracking, nós
podemos detectar onde os usuários olham em um determinado momento,
quanto tempo eles olham para algo, e o caminho que seus olhos seguem. O
Eye Tracking tem sido utilizado em inúmeros campos, incluindo os fatores
humanos, de psicologia cognitiva, marketing, e o amplo campo de intera-
ção humano-computador. Na pesquisa de User eXperience, o Eye Tracking
auxilia os pesquisadores a entender a experiência completa dos usuários,
mesmo aquela em que eles não conseguem descrever (Schall; Bergstrom,
2014, p. 3, tradução nossa).
A partir de aspectos metodológicos e conceituais, Roa-Martínez
e Vidotti (2020) propõem um conjunto de sete passos para a execução
de pesquisas de rastreamento ocular para avaliar usabilidade, sendo: (1)
definir o enfoque; (2) definir o estímulo e a tarefa; (3) combinar a téc-
nica com outras técnicas de coleta de dados de avaliação; (4) selecionar
as métricas que estão relacionadas aos objetivos propostos; (5) fazer tam-
bém uma avaliação qualitativa a partir dos vídeos e gravações; (6) fazer
uma avaliação quantitativa a partir dos dados gerados pelo software da
tecnologia de Eye Tracking e com base nas métricas definidas; (7) gerar a
visualização dos dados.
A tecnologia possibilita observar as sacadas (intervalo de tempo en-
tre as fixações), fixações (tempo em que o usuário se fixa em um local para
codificar a informação) e dilatações da pupila (determina sentimento e car-
ga de trabalho cognitivo) e os dados são visualizados através de mapas (de
calor, de fixação ou de sacadas) e vídeos que registram as fixações e sacadas,
e o percurso do olhar conforme apresentado na Figura 1.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
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Figura 1 – Visualizações do Eye Tracking: mapa de calor e vídeo de fixações
Fonte: Bojko (2013).
As pesquisas são realizadas em laboratório e os usuários precisam
ser previamente selecionados, pois questões como uso de lentes, óculos
ou cílios postiços podem ocasionar perda de dados em alguns modelos da
tecnologia. Antes do teste é importante preparar uma lista/roteiro de tare-
fas que o usuário precisa cumprir, calibrar o aparelho e pode ser realizado
um teste piloto para garantir mais precisão. Essas questões contribuem
para evitar a perda de dados, além de que durante a coleta é importante
o pesquisador acompanhar em tempo real a fim de, se necessário, realizar
ajustes para garantir a precisão dos dados obtidos na observação ocular
(Bojko, 2013).
Segundo Rodas (2017, p. 69), alguns aparelhos de ET ainda permi-
tem coletar dados sobre a observação da dilatação da pupila, que podem
“[…] revelar emoções que muitas vezes não são percebidas pelos usuários
e passariam despercebidas em avaliações por meio de questionários, entre-
vistas ou protocolo de verbalização”.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
23
grUpo focAl
Assim como as entrevistas, o grupo focal permite ao pesquisador
colher dados qualitativos de maneira aprofundada através do feedback dos
usuários. Para Oliveira e Freitas (1998) o grupo focal é um tipo de entre-
vista aprofundada com um moderador que objetiva analisar a interação
entre o grupo.
Wilson (2014) explica que grupos focais podem ser úteis para: reu-
nir ideias, preferências, opiniões ou reações sobre um tópico ou produto;
informações para a elaboração de um outro estudo; para entender resul-
tados de um estudo quantitativo previamente realizado; feedback sobre a
concorrência; e problemas gerais de um produto ou serviço.
Esse método qualitativo geralmente reúne de seis a 12 usuários que
representam o público-alvo e tem como benefício investigar a reação do
público às ideias, prioridades e desejos (Goodman; Kuniavsky; Moed,
2012). Kuniavsky, 2003 destaca quatro tipos de grupos focais:
1. Exploratórios – com o objetivo de obter e compreender atitu-
des gerais em relação a um produto ou serviço ou percepções
sobre ele. Os resultados dos grupos focais exploratórios podem
ser usados como insumo para pesquisas ou outras técnicas de
coleta de dados.
2. Priorização de recursos – para examinar quais recursos atraem
seus usuários e clientes.
3. Análise competitiva – para estimar o valor que as pessoas veem
em produtos competitivos ou mesmo abordagens diferentes para
um determinado projeto.
4. Análise de tendências – para entender o que está impulsionando
uma tendência no comportamento do usuário ou consumidor.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
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protocolo verbAl
É uma metodologia muito usada em pesquisas que procuram in-
vestigar processos mentais de representação da informação e estratégias
(Fujita; Cervantes, 2005). “O protocolo verbal ou ‘pensar alto’ é uma
técnica introspectiva de coleta de dados que consiste na verbalização dos
pensamentos dos sujeitos” (Fujita; Cervantes, 2005, p. 37). Isso porque
ela revela a introspecção do usuário durante o uso possibilitando uma con-
tribuição mais precisa e natural.
Uma das questões da inclusão desse método em pesquisas em com-
binação com as técnicas de coleta de dados de observação do usuário é
quando realizar o protocolo verbal: durante a observação ou depois de ma-
neira retrospectiva? Segundo Bojko (2013), em pesquisas de UX é possível
usar o protocolo verbal em tempo real em paralelo à execução de tarefas ou
de maneira retrospectiva em que o usuário relembra e verbaliza o processo
de cumprir a tarefa.
De maneira geral, em pesquisas sumativas, são necessárias medidas
precisas como tempo para execução de tarefas e total de erros, bem como o
comportamento do usuário, o mais indicado é usar o protocolo retrospec-
tivo. Bojko (2013) exemplifica, por exemplo, que em pesquisas com Eye
Tracking é muito comum usar esse método em conjunto com a verbaliza-
ção após a execução de cada tarefa e que é importante fornecer uma “pista
(por exemplo um replay do vídeo) que auxilie o usuário a lembrar preci-
samente as ações e pensamentos que ele teve durante a execução da tarefa.
QUestionário
Um das técnicas de coleta de dados mais simples de coleta de dados
em pesquisas de User eXperience em que o usuário responde algumas per-
guntas fechadas/abertas, com Escala de Likert (escala que precisa ter um
ponto de equilíbrio entre positivos e negativos e um neutro), ou com escala
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
25
numérica. A principal vantagem é ter a resposta de um grande número de
usuários, porém não fornece uma análise mais aprofundada.
Laugwitz, Held e Schrepp (2008) apontam que é possível realizar
pesquisas usando apenas esse método quantitativo, porém ele oferece me-
lhores resultados e dados mais aprofundados quando combinado com ou-
tras técnicas de coleta de dados de coleta. Eles destacam a importância de,
por exemplo, em testes de usabilidade combinar o questionário com outras
técnicas de coleta de dados qualitativos.
Questionários podem ser aplicados presencialmente ou virtual-
mente, o que é uma vantagem especialmente para pesquisas comerciais.
É importante planejar todas as perguntas de maneira que a coleta dos
dados contribua para os resultados e análises que são objetivados na
pesquisa. Existem várias ferramentas disponíveis para realizar pesquisas
com usuários por meio de questionários como o Google Forms, Typeform,
UEQ ou Wufoo.
teste de UsAbilidAde
Os testes de usabilidade podem ser realizados com várias técnicas de
coleta de dados, como observação, e podem incluir um ou mais processos.
O objetivo desses testes é observar o usuário enquanto desempenha tare-
fas com um produto de maneira a identificar os pontos fortes e fracos da
usabilidade. É um método comumente usado por designers, inclusive de
maneira a contribuir com o desenvolvimento de uma interface. Ressalta-se
que é possível realizar a avaliação de usabilidade por meio das heurísticas
propostas por Nielsen e Molich (1990).
Rohrer (2014) destaca que não é preciso elaborar testes caros e com
muitos usuários para coletar dados que contribuam para a pesquisa, e que
testes com apenas cinco pessoas podem resultar em dados conclusivos pra-
ticamente na mesma proporção que com grupos maiores. Nielsen (1994)
propõe 10 princípios gerais de design de interfaces que devem ser conside-
radas para desenvolver uma positiva usabilidade:
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Visibilidade do status do sistema
Correspondência entre o sistema e o mundo real
Controle e liberdade para o usuário
Consistência e padrões
Prevenção de erros
Reconhecimento no lugar de memorização
Flexibilidade e eficiência de uso
Estética e design minimalista
Ajude os usuários a reconhecerem, diagnosticarem e recupera-
rem-se de erros
Ajuda e documentação
Para Tullis e Albert (2013), antes de começar a coleta de dados é
essencial analisar se o teste de usabilidade é formativo ou é sumativo. Em
um teste formativo, o objetivo é o especialista em usabilidade analisar pe-
riodicamente o produto enquanto ainda está no processo de elaboração
para ajustar de maneira a potencializar os resultados. O estudo formati-
vo responde questões como: quais problemas de usabilidade impediram
o usuário de atingir os objetivos; quais aspectos funcionaram como o es-
perado; quais os erros que os usuários estão comumente cometendo; que
problemas permanecerão no produto após o lançamento?
Já um estudo sumativo objetiva avaliar o produto depois de lançado.
Assim, responde questões como: atingimos os objetivos esperados; quais
as vantagens do produto em comparação com o concorrente; foram reali-
zados os aperfeiçoamentos necessários comparando o último lançamento
com o anterior? (Tullis; Albert, 2013).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
27
Análise de redes sociAis
É um método que busca compreender a complexidade e padrões nas
interações sociais. A despeito da complexidade, o site Design ink destaca
três benefícios do método para as pesquisas de UX:
1. Reunir informações: Pode ser usado para indivíduos, organi-
zações públicas e privadas reunirem informações sobre organi-
zações e concorrentes para tomar decisões fundamentadas em
dados.
2. Aplicações: Pode contribuir para avaliar a concorrência, detectar
influenciadores, acompanhar o êxito de campanhas e lançamen-
to de produtos, entre outros.
3. Previsão: Pode possibilitar avaliar a rota mais adequada para o
sucesso de uma campanha ou estratégia.
Segundo Matheus e Silva (2006) a diferença principal do método é
a ênfase “nas ligações entre os elos” como um “conjunto de atores e seus la-
ços”, além de o método também propiciar a análise de “informações regis-
tradas e as relações entre elas e as pessoas”. Os autores inclusive destacam
que o método pode ser relevante para estudos na CI nas áreas de “recupe-
ração da informação, infometria e análise de citações, fluxos de informa-
ção nos movimentos sociais, colégio invisível e comunidades de prática,
tomada de decisão, gestão do conhecimento, socialização da informação,
adoção e difusão de novas tecnologias, o impacto de sistemas de mensagens
eletrônicas nas organizações, dentre outros. Partindo dessa perspectiva,
certamente o método pode contribuir para os estudos de User eXperience.
Mesmo que sua origem seja na Antropologia e Sociologia, a Análise
de Redes Sociais busca a aplicação de Técnicas de coleta de dados das áreas
de Estatística e Matemática para compreender a ligação entre os atores. A
coleta de dados se dá por meio de “[…] questionários, entrevistas, diários,
observações e, mais recentemente, pelo monitoramento do computador”
(Marteleto; Tomaél, 2005, p. 95). Posteriormente, a análise dos dados é
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realizada por meio de softwares para a abordagem quantitativa; e a partir
de interpretações para a abordagem quantitativa.
netnogrAfiA
A netnografia é uma abordagem de pesquisa qualitativa que utiliza
técnicas etnográficas para estudar o comportamento e as interações dos
usuários em ambientes on-line (Kozinets, 2019). Ela envolve a análise de
dados coletados a partir de fontes on-line, como fóruns, redes sociais, blogs
e outras plataformas de discussão.
Na Ciência da Informação, a netnografia tem sido aplicada com su-
cesso para investigar a experiência do usuário em relação à informação,
especialmente no contexto da UX. A aplicação da netnografia à UX na
Ciência da Informação permite capturar insights valiosos sobre as necessi-
dades, preferências e comportamentos dos usuários no uso da informação,
auxiliando na melhoria do design de sistemas de informação, interfaces de
usuário e serviços digitais. Essa abordagem possibilita uma compreensão
aprofundada do contexto em que os usuários interagem com a informação,
identificando oportunidades de otimização e personalização para atender
às suas demandas (Burnett; Jaeger, 2017).
Além disso, a netnografia aplicada à UX na Ciência da Informação
pode fornecer dados qualitativos ricos que complementam as abordagens
tradicionais de pesquisa, como questionários e entrevistas. Ela permite a
observação direta e a análise de interações reais dos usuários em ambientes
on-line, possibilitando uma compreensão mais abrangente e contextuali-
zada de suas experiências (Alemneh; Assefa, 2015).
Resultados e discussões
Devido às particularidades dos estudos de User eXperience a ob-
servação e verbalização são as formas comumente usadas para garantir
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
29
a confiabilidade e qualidade dos dados. É a conhecida dicotomia “what
they say vs. what they think”, ou seja, “o que o usuário fala” versus “o que
usuário pensa”. Em estudos de User eXperience é comum a utilização de
mais de um instrumento para coleta, especialmente combinando obser-
vação e verbalização.
A coleta de dados desempenha um papel fundamental na pesqui-
sa de UX na Ciência da Informação. Compreender as percepções, ne-
cessidades e comportamentos dos usuários é essencial para desenvolver
sistemas de informação e serviços que atendam às suas expectativas e
demandas. Nesse contexto, diferentes técnicas de coleta de dados de co-
leta de dados são utilizadas para obter informações relevantes sobre a
experiência dos usuários.
O Quadro 1 apresenta uma visão geral das principais técnicas de
coleta de dados de coleta de dados em pesquisas de UX na Ciência da
Informação e demonstra de forma simplificada em colunas as “Vantagens
e “Limitações e Considerações Éticas”. Cada linha da tabela corresponde
a um método de coleta de dados mencionado anteriormente. Na coluna
“Vantagens”, são destacados os benefícios de cada método, como identifi-
cação de problemas de usabilidade, compreensão dos padrões de interação
social, entre outros. Na coluna “Limitações e Considerações Éticas”, são
apresentados os desafios de cada método, como influência do ambiente de
teste, questões éticas de privacidade, entre outros.
Quadro 1 – As principais técnicas de coleta de dados de coleta de dados
em pesquisas de UX
Método Descrição Vantagens Limitações e
Considerações Éticas
Análise de
tarefas
Observação e registro
das atividades do usuário
durante a realização de
tarefas específicas.
Identifica problemas
de usabilidade e fluxos
de trabalho eficientes
Requer participantes
experientes e pode
gerar artificialidade
Classificação de
cartões
Os participantes
agrupam e organizam
cartões com informações
para revelar padrões de
organização mental.
Permite a organização
e compreensão das
informações do
usuário
Dependente da
interpretação do
pesquisador e pode ser
demorado
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Método Descrição Vantagens Limitações e
Considerações Éticas
Entrevistas
Conversas estruturadas
ou semi-estruturadas
com os usuários para
coletar informações
sobre suas experiências e
percepções.
Permite obter
informações
detalhadas e em
profundidade dos
usuários
Pode sofrer influência
de viés de resposta
e requer tempo e
recursos
Eye Tracking
Utilização de tecnologia
para rastrear e registrar
os movimentos oculares
do usuário durante
a interação com um
sistema ou interface.
Fornece insights sobre
a atenção visual e
padrões de leitura
Requer equipamentos
específicos e pode
gerar desconforto nos
participantes
Grupo Focal
Discussões em grupo
com participantes
selecionados para
explorar opiniões,
experiências e percepções
sobre um tópico
específico.
Facilita a obtenção de
diferentes perspectivas
e interações sociais
Pode haver influência
de dinâmicas de grupo
e não representa a
opinião de todos os
usuários
Protocolo Verbal
Solicita aos usuários
que expressem seus
pensamentos e ações
em voz alta enquanto
realizam uma tarefa.
Permite compreender
o processo de tomada
de decisão do usuário
Depende da
capacidade do
usuário expressar
seus pensamentos
verbalmente
Questionário
Conjunto de perguntas
estruturadas para coletar
informações sobre a
experiência do usuário.
Permite coletar dados
quantitativos e obter
uma visão geral
Pode ser limitado
em termos de
profundidade
de informações
e qualidade das
respostas
Teste de
usabilidade
Avaliação da usabilidade
de um sistema ou
interface por meio da
observação direta do
comportamento do
usuário e através das
heurísticas.
Identifica problemas
de usabilidade e valida
soluções propostas
Requer planejamento
cuidadoso e pode
gerar influência do
pesquisador
Análise de Redes
Sociais
Coleta e análise de dados
das interações sociais dos
usuários em plataformas
de redes sociais.
Identifica padrões
de interação social e
comportamentos de
usuários
Requer acesso aos
dados das redes sociais
e considerações de
privacidade
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
31
Método Descrição Vantagens Limitações e
Considerações Éticas
Netnografia
Estudo da cultura e
comportamento online
por meio da observação
e análise de comunidades
virtuais.
Permite estudar
comportamentos
e interações em
comunidades on-line
Requer análise ética
dos dados coletados
e consideração da
privacidade dos
participantes
Fonte: Autores.
Cada método tem sua abordagem específica para compreender as
experiências dos usuários, e a escolha do método adequado dependerá dos
objetivos da pesquisa, do contexto e das características dos usuários envol-
vidos. É importante ressaltar que o Quadro 1 é apenas uma sistematização
para representação visual e não abrange todos os detalhes e nuances de
cada método – uma visão mais detalhada foi apresentada anteriormente.
Ao considerar essas técnicas de coleta de dados de coleta de dados em pes-
quisas de UX na Ciência da Informação, é fundamental escolher a aborda-
gem mais adequada para responder à questão de pesquisa e atender aos ob-
jetivos da pesquisa. Além disso, é essencial observar as considerações éticas
para proteger a privacidade dos participantes, garantir seu consentimento
informado e tratar os dados de forma confidencial.
conclusões
Neste artigo discutimos as principais técnicas de coleta de dados de
coleta de dados utilizados em pesquisas de UX na Ciência da Informação
– análise de tarefas, classificação de cartões, entrevistas, eye tracking, grupo
focal, protocolo verbal, questionários, teste de usabilidade, análise de redes
sociais e netnografia. A partir da sistematização apresentada neste trabalho
percebeu-se que cada método possui suas vantagens e limitações especí-
ficas, assim como considerações éticas que devem ser levadas em conta,
inclusive garantindo a privacidade e o consentimento dos participantes.
As pesquisas de UX são extremamente relevantes na Ciência da
Informação, especialmente para compreender as experiências dos usuários
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
32
e garantir a melhoria contínua da usabilidade e eficácia dos sistemas de
informação. A combinação de técnicas de coleta de dados pode garantir
ainda dados mais precisos, especialmente ao combinar a análise observa-
cional com a verbal.
Em suma, ao empregar essas técnicas de coleta de dados de maneira
adequada e ética, os profissionais da área podem promover a criação de sis-
temas de informação mais acessíveis, eficientes e satisfatórios, contribuindo
para aprimorar a interação entre os usuários e as informações disponíveis.
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35
C 2
O   M L 
    
L D
Ananda Fernanda de Jesus 1 e José Eduardo Santarem Segundo 2
intRodução
O World Wide Web Consortium (W3C) é o responsável pelo de-
senvolvimento da Web e busca, desde o início dos anos 2000, estabelecer
recomendações e elaborar instrumentos para incentivar e possibilitar a dis-
ponibilização, uso e reúso de dados nesse ambiente.
Um dos resultados desse processo é o conjunto de princípios deno-
minado Linked Data, elaborado com a finalidade de permitir a conexão
de dados na Web, com base no uso de identificadores únicos (Uniform
Resource Identifier – URIs) e na adoção de uma estrutura conceitual
(Resource Description Framework – RDF), facilitando o uso de agentes
computacionais na busca por informações, bem como a reutilização de
conjuntos de dados (Berners-Lee, 2006).
Embora essa estrutura confira aos dados certo nível de padroni-
zação e consistência sintática, os conjuntos de dados publicados como
Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: af.jesus@
unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8553935355036462.
Doutor em Ciência da Informação. Professor na Universidade de São Paulo – USP. E-mail: santarem@usp.
br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3360-7872. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5562746387565465.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p35-48
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
36
Linked Data também estão sujeitos a questões relacionadas com a quali-
dade de dados.
A qualidade de dados pode ser definida com base em diferentes pers-
pectivas, ou categorias de qualidade, sendo elas: contextual, intrínseca, re-
presentacional e acessibilidade (Nelson; Todd; Wixom, 2005; Nooghabi;
Dastgerdi, 2016).
Em uma perspectiva contextual, a qualidade de um conjunto de da-
dos é definida como “fitness for use”. Nessa perspectiva, os problemas de
qualidade de um conjunto de dados são identificados e discutidos levando
em consideração o contexto e as atividades onde os dados serão aplicados
(Juran, 1988; Wang; Strong, 1996; Zaveri et al., 2012). Em uma pers-
pectiva intrínseca, a qualidade de um conjunto de dados (datasets) está
relacionada diretamente com as suas características sintáticas e semânticas,
independentemente do contexto no qual serão aplicados. Já na perspectiva
representacional, são avaliadas as questões de qualidade relacionada aos
metadados elaborados para a sua representação. Em uma perspectiva de
acessibilidade é levada em consideração a capacidade de acesso aos dados
(Nelson; Todd; Wixon, 2005; Wang; Strong, 1996; Zaveri et al., 2012).
A identificação de questões de qualidade e a seleção de conjuntos de
dados para determinada aplicação ocorre por meio do processo de avalia-
ção de qualidade. Esse processo pode ser compreendido por meio dos con-
ceitos de: categorias, dimensões, critérios e métricas (Wang; Strong, 1996).
As categorias são o conceito mais abrangente, que refletem as prin-
cipais perspectivas mencionadas anteriormente (contextual, intrínseca, re-
presentacional e acessibilidade). As dimensões são a expressão mais abran-
gente das características que serão observadas no processo de avaliação,
cada dimensão é composta por um conjunto de critérios que descrevem
a qualidade dos dados com base em um atributo específico. Para poder
mensurar quão adequado um conjunto está em relação a determinado cri-
tério, precisam ser estabelecidas métricas, ou indicadores que permitem
quantificar e qualificar um conjunto de dados em relação a determinada
dimensão (Assaf; Senart; Troncy, 2016; Wang; Strong, 1996). A figura 1
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
37
apresenta os principais conceitos relacionados com o processo de avaliação
de qualidade.
Figura 1 – Conceitos relacionados com a avaliação de qualidade
Fonte: Autores.
A avaliação de dados publicados como Linked Data demanda o uso
de dimensões, critérios e métricas específicos, tanto pelo contexto no qual
os dados são criados, como por sua estrutura pautada no uso do RDF,
URIs e ligações entre diferentes fontes.
Ahmed (2017) aponta que um dos grandes desafios da qualidade
de dados Linked Data é lidar com o volume e variedade dos dados, cuja
qualidade varia de fonte para fonte. Cada fonte adota diferentes níveis de
curadoria, a depender de suas necessidades.
Existem diferentes ferramentas para auxiliar no processo de avaliação
de qualidade. Essas ferramentas podem ser automáticas, semiautomáticas
ou manuais. As ferramentas muitas vezes são criadas em uma abordagem
contextual, pensando em um cenário de aplicação específico, não atenden-
do a todas as dimensões e métricas do processo de avaliação de qualidade,
fazendo com que seu uso em outros cenários seja inviável ou dependa de
customização (Jesus; Santarem Segundo, 2022).
Em cenários com grandes quantidades de dados, o uso de ferramen-
tas que dependam de uma abordagem semiautomática ou manual pode ser
improdutivo ou mesmo inviável. Uma das possibilidades para processar
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
38
grandes quantidades de dados heterogêneos são as técnicas de Machine
Learning (ML). Técnicas associadas à área da inteligência artificial e basea-
das na
[…] construção de agentes computacionais capazes de aprender
com a experiência, com base na aplicação de técnicas estatísticas,
em especial, por meio de algoritmos, visando a identificação de
padrões e a realização de predições (Jesus et al., 2023, p. 168).
A aplicação depende do uso de algoritmos, agentes computacionais
elaborados visando a identificação de padrões e que no geral
[…] tem uma base de treinamento, que permite que o algoritmo,
ao entrar em execução, possa se utilizar dela, para gerar os resultados
das análises. Assim, o machine learning tem sempre que consultar
um conjunto de dados, e quanto melhor e com mais tempo de uso,
o algoritmo tende a ser aprimorado e ter resultados mais efetivos
(Coneglian, 2020, p. 127).
O processo de avaliação de qualidade é uma etapa importante da
reutilização de dados publicados como Linked Data. Esse processo de ava-
liação pode ser custoso e depender da utilização de grandes recursos fi-
nanceiros e humanos. Considerando o cenário apresentado, a presente
pesquisa tem como objetivo verificar o potencial de aplicação das técnicas
de ML para a avaliação de qualidade de dados Linked Data, partindo da hi-
pótese de que essas técnicas podem contribuir para a eficiência do processo
de avaliação, automatizando etapas repetitivas desse processo.
Essa pesquisa realiza um recorte no corpus de uma Revisão Sistemática
da Literatura, buscando responder aos seguintes questionamentos: existem
artefatos que utilizam técnicas de ML para avaliação de qualidade? Em
caso positivo, em que contexto essas técnicas são aplicadas?
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
39
pRocedimentos metodológicos
Essa pesquisa pode ser caracterizada por seus objetivos como ex-
ploratória e descritiva, com resultados quantitativos e qualitativos. Trata-
se de um recorte da análise de dados de uma Revisão Sistemática da
Literatura (RSL).
As RSLs são revisões de literatura, baseadas na documentação das
decisões do pesquisador e orientadas por um protocolo de pesquisa,
prezando pela sua reprodutibilidade e auditabilidade. Esse processo de do-
cumentação permite que o corpus teórico construído e os dados coletados
possam ser analisados sob outras perspectivas, gerando novos resultados.
A condução da RSL teve como propósito identificar artigos que
abordassem a qualidade de dados publicados como Linked Data. Entre
os artigos aceitos foram identificados artefatos utilizados para avaliação de
qualidade de dados Linked Data.
Para uma maior compreensão das etapas da presente pesquisa, os
procedimentos metodológicos foram divididos em duas etapas principais:
1) Condução da RSL - que buscou estabelecer um corpus de artigos, dis-
cussões teóricas sobre os desafios e processos relacionados com a avaliação
de qualidade de dados Linked Data, apontando as principais problemáti-
cas, dimensões e métricas relacionados ao processo, bem como analisar os
artefatos disponíveis para realização do processo de avaliação, e 2) Segunda
rodada de seleção e de coleta de dados – onde buscou-se Identificar os ar-
tigos que discutem ou aplicam técnicas de ML na avaliação de qualidade
de dados Linked Data e coletar informações a respeito desses estudos. O
Quadro 1 apresenta uma versão resumida das informações utilizadas para
estruturar a primeira etapa da pesquisa.
Na segunda etapa foi realizada uma busca pelo termo “Machine
Learning”, com a finalidade de identificar quais abordam diretamente o
uso de ML na avaliação de qualidade de dados Linked Data. O quadro 2
apresenta o protocolo de pesquisa resumido dessa rodada.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
40
Quadro 1 – protocolo de pesquisa resumido (1° rodada)
Protocolo de busca
Pergunta de
pesquisa (principal) Como tem sido abordada a questão da qualidade de dados no
contexto do Linked Data?
Objetivos Identificar os principais enfoques temáticos através dos quais se
discute qualidade de dados publicados como Linked Data.
Estratégia de busca (“Linked Data” OR “Linked Open Data”) AND (“Data Quality”)
Bases de dados
consultada 1º rodada Web of Science 2º rodada ISTA; LISTA; 3° rodada
BRAPCI (busca simples pelo termo “Qualidade de dados”)
Período abrangido Sem restrição temporal.
Idiomas Português, inglês e espanhol.
Critérios de
Inclusão (I) Foco principal é voltado para discutir qualidade de dados
publicados de acordo com os princípios do Linked Data
Critérios de
exclusão
(E) Não está nos idiomas estabelecidos para a pesquisa; (E) Apenas
menciona a temática de interesse; (E) Não aborda a temática
de interesse; (E) Não foi possível obter acesso ao documento
completo;
Formulário de
extração Desafios de qualidade
Data da coleta Entre dezembro de 2021 e maio de 2022
Fonte: Autores.
Quadro 2 – protocolo de pesquisa (2° rodada)
Protocolo de pesquisa
Pergunta
de pesquisa
(principal)
Existem artefatos que utilizam técnicas de ML para avaliação de
qualidade? Em caso positivo, em que contexto essas técnicas são
aplicadas?
Objetivos Verificar o potencial de uso das técnicas de ML na avaliação de
qualidade de dados Linked Data
Estratégia de
busca
Busca simples nos PDFs dos artigos aceitos, pelo termo “Machine
Learning”, leitura dos resumos e palavras-chave dos artigos para
checagem.
Critérios de
Inclusão
(I) Discute um artefato de avaliação de qualidade de dados Linked
Data que utiliza técnicas de ML (I) realiza uma discussão teórica sobre
a possiblidade de uso de técnicas de ML no processo de avaliação de
qualidade de dados Linked Data
Critérios de
exclusão
(E) Não discute ou aplica técnicas de ML na avaliação de qualidade de
dados Linked Data (E) Apenas menciona o uso de ML no processo de
avaliação de qualidade
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
41
Formulário
de extração
Artefato discutido; Contexto de aplicação; vantagens do uso ML para
avaliação de qualidade de dados Linked Data; Desafios do uso de ML
para avaliação de qualidade de dados Linked Data
Data da
coleta Julho de 2023
Fonte: Autores.
A próxima seção apresenta os resultados dos procedimentos
apresentados.
Resultados e discussões
Na primeira etapa da pesquisa, de condução da RSL, foram recupe-
rados 225 documentos. Desses, 30 foram identificados como documentos
duplicados, 100 documentos foram rejeitados e 95 artigos foram aceitos
para compor o corpus teórico da pesquisa.
Na segunda rodada foram analisados os 95 artigos, dos quais 73
(70,3%) puderam ser excluídos com base no critério “(E) Não discute ou
aplica técnicas de ML na avaliação de qualidade de dados Linked Data”. 15
artigos (15,70%) foram excluídos com base no critério “(E) Apenas men-
ciona o uso de ML no processo de avaliação de qualidade”. Parte desses ar-
tigos possuem uma seção de trabalhos correlatos ou realizaram uma revisão
de literatura buscando identificar artefatos que realizassem a avaliação de
qualidade de dados Linked Data.
Ao final, foram identificados 6 (6,31%) artigos que abordam direta-
mente a aplicação de ML em artefatos de avaliação de qualidade voltados
para dados Linked Data. O quadro 3 apresenta os documentos aceitos.
Quadro 3 – documentos aceitos na segunda etapa da pesquisa
Autores Título Artefato Abordagem
Hadhiatma (2018)
Improving data
quality in the
linked open data:
a survey
Não se aplica
(discussão
teórica)
Discute as estratégias e os
métodos para avaliação de
qualidade de dados Linked Data.
Entre outros métodos aborda o
uso de técnicas de ML.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
42
Autores Título Artefato Abordagem
Liu et al. (2017)
Exploiting
Source-Object
Networks to
Resolve
Object Conflicts
in Linked Data
ObResolution
(object
resolution) –
Os problemas de conflito de
objeto são frequentes em contexto
Linked Data, especialmente
em dados convertidos de
fontes semiestruturadas e não
estruturadas. O artigo propõe
uma ferramenta automática de
resolução de conflitos de objetos,
Mihindukulasooriya
e Rico (2018)
Type Prediction
of RDF
Knowledge
Graphs
Using Binary
Classifiers with
Structural Data
Data-driven
type prediction
approach
Apresenta ferramenta cuja
finalidade é prever o tipo de
informação, eliminando assim
inconsistências na tipificação
dos objetos, realiza uma
abordagem baseada em pré-
treinamento e ML.
Esteves et al. (2017)
Toward Veracity
Assessment in
RDF Knowledge
Bases: An
Exploratory
Analysis
Deep Fact
Validation
(DeFacto)
Apresenta ferramenta que atua
como validador de triplas RDF,
criado para verificar a veracidade
de fatos. A ferramenta tem seu
funcionamento baseado em
treinamento prévio, onde o
algoritmo recebe um conjunto
de dados para cada categoria de
triplos, auxiliando na identificação
da veracidade das informações.
Rico et al. (2018)
Predicting
incorrect
mappings: a
data-driven
approach applied
to DBpedia
Não nomeado
A conversão de dados para
Linked Data depende do
estabelecimento de “template
mappings”, mapeamentos que
estruturam como ocorrerá a
conversão de dados para RDF,
seguindo o model de triplas
Recurso+Propriedade+Valor.
Mais de um mapeamento pode
ser utilizado em um mesmo
projeto de conversão, levando a
inconsistências. A ferramenta faz
uso de ML para identificar esses
potenciais inconsistências entre
diferentes mapeamentos.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
43
Autores Título Artefato Abordagem
Elbattah e Ryan
(2019)
Learning
Sequence
Patterns in
Knowledge
Graph Triples
to Predict
Inconsistencies
Não nomeado
Apresenta ferramenta que busca
identificar inconsistências em
dados Linked Data. Para isso, leva-
se em consideração a estrutura
Recurso+Propriedade+Valor do
RDF, partindo da hipótese de
que quando objetos possuem um
mesmo valor, mas propriedades
distintas, existe uma chance maior
de inconsistências. Na ferramenta
as técnicas de ML são aplicadas
para prever essas inconsistências
com base em padrões de erros.
Fonte: Autores.
Como é possível observar no quadro 3, apenas Hadhiatma (2018)
realiza uma discussão teórica sobre o uso de ML para a avaliação de quali-
dade de dados Linked Data, embora esse não seja o foco do artigo. O uso
de ML é discutido em meio a outros métodos. Após traçarem a discussão
teórica, o autor apontam como trabalhos futuros o desenvolvimento de
estudos para elaboração de um framework que permita o uso de ML no
processo de avaliação.
Hadhiatma (2018) aponta que entre os desafios do uso de ML para
avaliação de qualidade de dados Linked Data está a complexidade de reali-
zação do treinamento de algoritmos com dados no formato RDF, sendo a
forma mais comum o treinamento com dados em colunas individuais, não
relacionados. O autor aponta que esse processo pode ser complexo e cus-
toso, dependendo do uso de técnicas mistas, e que existem ainda poucos
estudos que realizem essa aplicação.
Ao analisar as aplicações identificadas no recorte da pesquisa, é pos-
sível notar que o uso de ML não é feito para a realização de um ciclo com-
pleto de avaliação de qualidade, com a verificação de dimensões e métricas
abrangentes e fornecimento de um relatório de qualidade, mas sim em
etapas pontuais desse processo.
Destaca-se especialmente o uso na identificação de inconsistências
resultantes do processo de conversão de dados para Linked Data, como na
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
44
identificação da tipificação incorreta de objetos, uso incorreto de proprie-
dades ou ainda na checagem de fatos falsos.
Nos artigos que abordam a elaboração de artefatos utilizando Ml,
observou-se que boa parte não realiza um aprofundamento sobre a ex-
periência com o uso da técnica empregada, não apresenta uma compara-
ção que permita identificar a vantagem com resultados obtidos através de
outras técnicas, e nem aponta os desafios enfrentados durante o proces-
so. Apenas Elbattah e Ryan (2019, p. 438, tradução nossa) fornecem um
maior detalhamento sobre esses desafios, indicando que
Uma grande limitação para o desenvolvimento de uma abordagem
baseada em Machine Learning foi a indisponibilidade de exemplos
errados (ou seja, inconsistentes). Os triplos incluídos foram
presumivelmente considerados como corretos. Mesmo que
exemplos inconsistentes possam provavelmente existir, eles não
foram explicitamente rotulados.
Ou seja, nesse modelo de uso, o desafio é que mesmo que existam
dados presumivelmente incorretos, esses não estão rotulados como tal.
Como o problema a ser sanado é justamente a identificação de inconsis-
tências que se misturam a dados consistentes, a ausência de uma base que
agrupe dados incorretos para ser usada no treinamento, torna inviável a
preparação do algoritmo. Seria necessário um trabalho manual prévio de
identificar quais são esses dados com inconsistências, agrupá-los em uma
base de dados que seria usada no treinamento e então permitiria a identifi-
cação de inconsistências semelhantes.
consideRações finais
A presente pesquisa buscou responder aos seguintes questionamen-
tos: existem artefatos que utilizam técnicas de ML para avaliação de qua-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
45
lidade de dados Linked Data? Em caso positivo, em que contexto essas
técnicas são aplicadas?
Em resposta à primeira pergunta de pesquisa, observa-se que sim,
existem artefatos que se utilizam das técnicas e ML para avaliar a quali-
dade de dados Linked Data, mas que esses artefatos ainda são poucos, se
comparados aos demais artefatos de avaliação de qualidade encontrados
na literatura.
Apenas 6% dos artigos aceitos discutiram ou aplicaram o uso de
técnicas de Machine Learning nesse processo. Outros 15 % dos artigos
mencionam brevemente o uso de ML nesse processo, mas não realizam
uma discussão aprofundada a respeito desse uso.
Em relação à segunda pergunta de pesquisa, observa-se que nos es-
tudos aceitos, as técnicas de ML não são aplicadas em todo o processo de
avaliação de qualidade e sim em etapas pontuais. Destaca-se seu uso na ga-
rantia da qualidade dos processos de conversão de dados não estruturados
e semiestruturados para Linked Data. Nesses casos, as técnicas de Machine
Learning foram aplicadas para prever inconsistências, por meio da identi-
ficação de padrões de erros.
O uso de ML em um processo de avaliação de qualidade completo
não aparece entre os estudos identificados, abordando quais os potenciais
contribuições a cada etapa. Com base na ausência desse tipo de análise e
discussão, um dos maiores desafios é a ausência de estudos que permitam
compreender quais as dificuldades e vantagens de se aplicar técnicas de ML
no processo estudado.
As técnicas de ML ainda são pouco exploradas, pelo menos de
maneira direta na literatura, entretanto, observou-se que em alguns casos,
mesmo não mencionando diretamente o uso de Machine Leraning, os
artefatos podem fazer uso de algoritmos de ML, ainda que esse uso não
seja discutido de maneira direta nos artigos. Outros termos podem ser
consultados para tentar identificar o uso indireto de ML nos artefatos,
como o termo Algoritmos, associados a conceitos como treinamento e pré-
treinamento. Também se torna necessário verificar a documentação desses
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
46
artefatos, onde pode existir um detalhamento maior de seu funcionamento
em que o uso de ML seja indicado.
Como etapas futuras da pesquisa, propõe-se a análise da documen-
tação oficial desses artefatos, buscando compreender se esses fazem uso de
algoritmos de ML em seu funcionamento.
Dados os desafios identificados na literatura, pretende-se realizar
ainda um aprofundamento no processo de treinamento de algoritmos de
ML usando dados em formato RDF, que permita identificar se esse pro-
cesso é de fato um impedimento ao uso de ML para a realização de um
processo completo de avaliação de qualidade de dados Linked Data.
agRadecimentos
Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP) pelo financiamento recebido para o desenvolvimento des-
sa pesquisa.
RefeRências
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49
C 3
A  I:
   
  I S E
amyris Novaes Custódio Lara 1, Caio Saraiva Coneglian 2 e
Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti 3
intRodução
A Arquitetura da Informação (AI) é uma parte do design estrutural
de conteúdo, que é o espaço da informação que facilita o acesso intuitivo
ao conteúdo dos usuários, ou seja, é uma combinação de organização, ro-
tulação e esquema de navegação dentro ou fora de um sistema de informa-
ção. Covert (2014, p. 37) diz:
São as estruturas que usamos para ter certeza que as informações
que as pessoas precisam sejam facilmente encontradas e entendidas.
Quando você usa um website, um app de celular ou vai em uma
loja e consegue encontrar o que você precisa e tudo faz sentido,
significa que a AI está exercendo sua função.
Mestranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: thamyris.
custodio@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4163646272573017.
Doutora em Educação. Professor na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: silvana.
vidotti@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4216-0374. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/7390573927636069.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p49-68
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
50
Uma das primeiras menções ao termo “Arquitetura da Informação
foi feita pelo arquiteto Richard Saul Wurman em meados dos anos 1970,
conforme destacam Lima-Marques e Lacerda (2006, p. 244):
Na visão de Wurman, a reunião, a organização e a apresentação da
informação serviam a propósitos característicos aos das tarefas de
arquitetura. A Arquitetura da Informação seria uma expansão da
profissão da arquitetura, porém aplicada a espaços de informação.
Os autores definem que AI é a organização, padronização e a estru-
tura que mapeia os dados. Neste trabalho será estudado os dados utilizados
para a inscrição da catequese da Igreja Santa Edwiges, pois, possui um
grande volume de dados de seus usuários.
A Igreja Santa Edwiges já apresentou diversos avanços em relações
aos seus processos, um exemplo disso, foi a elaboração de fichas cadastrais
para a catequese, porém, mais do que inscrições realizadas em fichas, é
necessário e útil que os dados tornem-se digitais, contribuindo assim para
uma melhor acessibilidade e organização. Segundo Mcgee e Prusak (1994
apud Cavalcanti; Nassif, 2014, p. 139), “[...] não é a tecnologia, mas sim
a informação que fornece o maior potencial de retorno às organizações,
possibilitando a criação de novos produtos, serviços e aperfeiçoando a qua-
lidade e o processo decisório em toda a organização.
A AI, neste sentido, é imprescindível para a organização dos dados da
catequese. Brancheau e Wetherbe (1986 apud Victorino, 2011) afirmam
que a AI consiste em um plano para modelagem dos requisitos informacio-
nais de uma organização, que provê um modo de mapear as informações
necessárias à própria organização, relativas aos processos do negócio e à
documentação de seus inter-relacionamentos.
Organizar e integrar essas informações é um desafio para o processo
de inscrição da catequese, uma vez que é por meio destes dados coletados
que o processo e planejamento da evangelização acontece durante todo
o ano. Sendo assim, visando contribuir com o planejamento da Igreja,
foi estabelecido um projeto conceitual de AI. Além da visão arquitetural
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
51
dos domínios de informação da catequese e de suas inscrições, o projeto
pretende propor uma metodologia que possibilite a implantação efetiva de
um sistema.
Objetiva analisar os conceitos de AI e metadados de negócio, com o
objetivo de identificar na ficha de inscrição da catequese o que é dado e o
que é metadado, de modo que possa ter parâmetros para uma modelagem
de informações para a implantação de um sistema das inscrições realizadas
e o armazenamento dos dados dos catequizandos.
O estudo buscou, identificar os dados e metadados das inscrições
para a catequese da igreja Santa Edwiges, propor diretrizes para os dados
da catequese, por meio da metodologia denominada modelagem de infor-
mações para a conceituação teórica do sistema.
MetodologiA
A natureza exploratória da pesquisa faz seu campo de trabalho ser de-
limitado, uma vez que, esse tipo de pesquisa busca levantar somente infor-
mações sobre um determinado objeto (Severino, 2017), e a finalidade da
pesquisa é desenvolver, esclarecer conceitos e ideias. Sendo assim, a pesquisa
será realizada pelo método bibliográfico por meio de livros, artigos, sites e
análise de conteúdo para descrever o conceito de AI e suas etapas, bem como
a gestão dos processos de negócio e abordagens sobre os metadados.
Segundo Moresi (2003), a pesquisa metodológica é o estudo que
se refere à elaboração de instrumentos de captação ou de manipulação da
realidade. Está, portanto, associado a caminhos, formas, maneiras e pro-
cedimentos para atingir determinado fim. Sendo assim, como abordagem
metodológica, foi realizado um estudo caso em uma instituição religiosa
localizada na cidade Marília (SP) a fim de realizar a análise exploratória e
descritiva, investigação de natureza qualitativa e o método comparativo,
para enfatizar os processos das inscrições para a catequese por meio de
fichas cadastrais e uma modelagem de informação para a criação de um
sistema de modo que as inscrições possam ser realizadas de forma digital.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
52
Para isso, também foi utilizada a pesquisa documental, que para
Neves (1996, p. 3), “[…] é constituída pelo exame de materiais que ainda
não recebem um tratamento analítico ou que podem ser reexaminados
com vistas a uma interpretação nova ou complementar”, a fim de analisar
quais são os dados necessários para a inscrição da catequese e quais serão os
metadados estabelecidos para esse processo.
Quanto aos seus objetivos, pode ser considerada uma pesquisa apli-
cada, pois visa gerar conhecimento para aplicação prática visando a resolu-
ção de um problema específico (Moresi, 2003). De fato, este trabalho pre-
tende fornecer o embasamento necessário para a elaboração da modelagem
do sistema para inscrição da catequese.
RefeRencial teóRico
ArQUitetUrA dA inforMAção
Quando lê-se o termo arquitetura, logo se pensa em algo relacionado
a elaboração de espaços criativos e construção de lugares para abrigar dife-
rentes tipos de atividades humanas, porém quando se fala de AI observa-se
muito além deste conceito. Para Covert (2014, p.77)
AI é como a estrutura e a fundação de um prédio. Não é o prédio
em si, mas você não pode adicionar a estrutura e a fundação depois
que o prédio já está pronto. São as partes críticas do prédio que
afetam o todo. Prédios sem estrutura não existem.
Neste sentido, pode-se definir a AI como estrutura das informações,
ou seja, a parte inicial de toda a informação. Segundo Roger Evernden e
Elaine Evernden (2003, p. 95, tradução nossa), “[…] a arquitetura é uti-
lizada para organizar a informação sobre um tópico com a finalidade de
gerenciá-la de forma estruturada”, ou seja, a AI é a estrutura e organização,
a base para que o negócio ou processo funcione independentemente da
área de atuação.
Existem diversas definições para a AI, ela pode ser definida como
uma ciência que pode ser aplicada em múltiplas áreas do conhecimento,
pois em todos os ambientes e locais existem dados e informações para se-
rem consumidos, produzidos, estruturados e organizados de modo que
possam se tornar encontráveis para uso e reúso.
Atualmente a AI vem sendo relacionada a projetos de websites,
porém cabe destacar que seu surgimento ocorre antes da própria web.
Wurman (1996, p. 28), definiu pela primeira vez a AI como: “[…] a ciên-
cia e arte de criar instruções para espaços organizados”, o autor defende
que Arquitetura da informação proporciona instruções que levam a locais
organizados, e esse processo é chamado de ciência e arte. Sendo assim, AI,
de maneira resumida, estende-se a organização e padronização dos dados,
estrutura e mapeamento das informações para que fiquem encontráveis.
Wurman (1996), ainda define que o sujeito que organiza, padro-
niza os dados, estrutura e mapeia as informações, podem ser chamados
de arquiteto da informação, pois ele tem a responsabilidade de reduzir os
esforços dos profissionais ao procurar por algo.
A AI constitui as bases sobre as quais asseguramos que as informações
necessárias aos utilizadores sejam de fácil localização e compreensão. Por
exemplo, ao interagirmos com um website, aplicativo móvel ou mesmo ao
visitarmos uma loja física, nosso objetivo principal é encontrar aquilo que
buscamos com facilidade e clareza. Quando essa busca resulta em uma ex-
periência coesa e intuitiva, é um sinal de que a Arquitetura da Informação
está cumprindo seu propósito de maneira eficaz (Covert, 2014).
Portanto, nota-se que a AI tem a preocupação com a organização das
informações para que fiquem encontráveis a fim de que os usuários possam
utilizar e reutilizar, considerando o contexto de ambiente informacional.
Uma arquitetura da informação bem organizada em um negócio seja ele de
qualquer ramo faz com que as tomadas de decisões sejam mais assertivas e
que haja uma boa gestão nos negócios.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
54
MetAdAdos de negócio
Os dados são elementos que precisam de gestão e tratamento, onde
a arquitetura da informação atua fortemente, através do uso das atividades,
tarefas e componentes dos processos. Sendo assim, por meio dos processos
de negócio os dados se tornam o insumo da AI, pois são eles que se bem or-
ganizados e estruturados, auxiliam na gestão das empresas. Pode-se inferir
que gerenciar documentos e dados é reconhecidamente um pré-requisito
necessário em projetos de gestão documental e de mapeamento e modela-
gem de processos. (Teixeira; Agenette, 2018).
Os dados precisam ser estruturados, para isso existe o que se classifi-
ca como dados e metadados. Os dados que são os valores atribuídos a algo
ou alguém, já os Metadados de negócio ou business metadata são o que os
usuários precisam saber sobre os dados apresentados a eles, ou seja, é uma
estrutura de representação usada para descrever recursos e objetos de infor-
mação, é o contexto do negócio por trás das informações. Isto é, como o
próprio nome diz, é a meta dos dados, metadados.
Inmon, Fryman e O’Neil, (2008, p. 13, tradução nossa), definem
metadados:
Em qualquer lugar que tenha usuário do negócio, você poderá
encontrar também metadados de negócio. Metadados de negócio
fornecem aos funcionários o contexto e significado dos dados
representados pelo computador, então eles poderão ser precisamente
utilizados pela empresa.
Ainda nesse contexto, é necessário destacar que:
Metadados de negócio existem desde que o homem criou o
primeiro negócio. Nessa época, todos os metadados de negócio
existiram na cabeça dos donos do negócio e de seus funcionários.
Ao longo do tempo, alguns metadados de negócio foram registrados
nos instrumentos de escrita que estavam disponíveis. Enquanto
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
55
muitos dos metadados de negócio de hoje também existem na
cabeça dos funcionários, uma quantidade significante deles tem
sido capturados na forma de documentos, imagens ou ilustrações,
e-mails, planilhas ou em bases de dados e ferramentas tecnológicas
(Inmon; Fryman; O’Neil, 2008, p. 1, tradução nossa).
Metadados de negócio existem desde um simples documento até um
negócio mais elaborado que são arquivados dentro de sistemas nas insti-
tuições, ou seja, os metadados não precisam necessariamente estar dentro
de um computador, a informação passa ser metadado desde que explique
o significado de outro dado. Brandt (2020, p. 30) diz que os metadados
“[...] precisam ser mapeados, registrados e gerenciados para que possam
ser utilizados de modo uniforme e consistente nos diversos processos de
negócio da instituição.”.
Neste contexto, Brandt (2020) ainda diz que os metadados em rela-
ção a AI, auxiliam na organização dos dados, uma vez que eles identificam
e descrevem os dados, além de indicarem o caminho, forma de acesso, a
origem e as características das informações, sendo essencial para o processo
de negócio da AI.
desenvolvimento
AMbiente inforMAcionAl dA cAteQUese dA igrejA sAntA edwiges
A paróquia Santa Edwiges é uma instituição religiosa localizada na
cidade de Marília, interior de São Paulo, onde uma parcela da população
católica procura através de sua fé, acolhimento para enfrentar situações ad-
versas do cotidiano, tais como, soluções de problemas financeiros e espiri-
tuais. A paróquia é dividida em 5 (cinco) comunidades que são consideradas
como filiais, sendo elas, comunidade São Pedro e São Paulo, Nossa Senhora
Aparecida, Nossa Senhora de Rosa Mística, Santa Edwiges e Vila Bela, todas
as comunidades localizadas na região norte da cidade de Marília.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
56
Frequentada por aproximadamente 800 fiéis aos finais de semana,
a igreja trabalha com um alto volume de informações, estruturadas e
não estruturadas, acumulados desde 2019, oriundo de fontes internas
e externas. Como fontes internas, podemos citar as divisões das pasto-
rais, sendo elas, a catequese responsável pela evangelização das crianças,
adolescentes, jovens e adultos, pastoral da saúde, cujo objetivo é atender
os doentes em suas residências, pastoral dos vicentinos que arrecadam
alimentos para os mais necessitados, pastoral do dízimo, cuja função é
arrecadar as ofertas e doações de cada missa/encontro, dentre outras pas-
torais existentes em uma paróquia. No que tange às fontes externas des-
tacam-se as informações pessoais dos fiéis que participam das pastorais,
dados que são informados no momento do cadastro que é realizado pelos
próprios fiéis.
Nesta pesquisa trabalha-se apenas com as informações da pastoral da
catequese, onde existe um grande volume de dados e documentos durante
todo o ano, começando pela ficha de cadastro dos fiéis, que se tratando da
catequese chamaremos de catequizando. Os cadastros dos catequizandos
são realizados em fichas que se dividem em 2 (dois) modelos: Adultos e
Crianças. Ambas possuem os dados pessoais dos catequizandos, que tam-
bém podemos chamar de dados sensíveis, como por exemplo, a comuni-
dade e ano em que está participando, nome, data de nascimento, sexo,
informações sobre o batismo, nome da mãe e do pai, dados para contato.
Em seguida, como segunda etapa de dados, são identificadas infor-
mações da vida Sacramental para adultos, ou seja, as etapas dos adultos na
igreja, onde o catequizando informa quais sacramentos possui, se é batiza-
do, se possui a primeira eucaristia, crisma e se é casado.
Essas informações são necessárias, pois diferente das inscrições para
as crianças, adolescentes e jovens, que possuem as etapas catequéticas para
cada idade e cada etapa corresponde a um ano, o adulto realiza a catequese
em apenas um ano, não existem etapas para cada idade. Abaixo no Quadro
1, consta a explanação dos sacramentos existentes na Igreja Católica
Apostólica Romana.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
57
Quadro 1 – 7 Sacramentos da Igreja Católica
Fonte: Autores.
Para demonstrar de maneira mais clara as informações trazidas an-
teriormente, são apresentados os modelos de fichas utilizadas para as ins-
crições das crianças, adolescentes, jovens e adultos (Figura 1). Todas as
inscrições são realizadas minutos antes e minutos depois das missas/en-
contros, de forma manual pelos catequistas que são considerados, na Igreja
Católica, como professores da evangelização.
O problema deste tipo de inscrição é que está fadada a erros por
ser realizada manualmente, em um local não adequado, e em um curto
espaço de tempo. Outro fato, é que os documentos necessários para a ins-
crição devem ser entregues como cópia para a secretaria da Igreja, onde
posteriormente serão anexadas à ficha de inscrição, podendo haver erros de
arquivamento, possibilitando a perda informacional. Após a finalização do
período de inscrição, os dados são analisados a fim de verificar qual a turma
que o catequizando pertence, outro processo que possui morosidade, pois
a ficha deve ser verificada de maneira manual, ficha por ficha.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
58
Figura 1 – Ficha de inscrição para catequese de crianças, adolescente,
jovens e adultos
Fonte: Autores.
Nestes modelos de fichas existem os metadados de negócio e os dados
do negócio. São classificados como metadados toda a explicação dos dados
que a igreja solicita, bem como todos os dados que ela precisa para a inscri-
ção da catequese, com por exemplo, o nome da paróquia, as nomenclaturas
endereço, nome, data de nascimento, sexo, cidade de batismo, nome do pai,
nome da mãe, os meios de comunicação, o ano da inscrição da catequese, co-
munidade, a descrição das etapas e os documentos exigidos para a inscrição
(apenas as nomenclaturas). Já os dados do negócio nada mais é do que toda
identificação do catequizando. Conforme apresentado na Figura 2, demons-
tra-se o exemplo de classificação de metadados e dados do negócio.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
59
Figura 2 – Exemplo de dados e metadados nas fichas
Fonte: Autores.
Brandt e Vidotti (2020b) refletem que os metadados
[...] fornecem definição do significado do dado e indicam seus
gestores, sua forma de acesso, o formato, possíveis valores do dado,
a fonte ou origem do dado, e outras características que forem
necessárias conforme o processo de negócio e a instituição.
E são por meio dos dados dessas definições, que outras decisões serão
tomadas, como por exemplo, qual a etapa o catequizando pertence, bem
como qual material é utilizado, os dias e horários dos encontros.
Percebe-se que são vários tipos de dados que são utilizados para a
tomada de decisão do processo da inscrição da catequese, processos esses
que poderiam ser digitais, sistematizados e melhor estruturados por meio
da AI, uma vez que
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
60
A Arquitetura da Informação para Processos de Negócio é uma
metodologia de Arquitetura da informação que permite organizar,
representar e apresentar as informações nas empresas e organizações
de todos os tipos em seus processos de trabalho, sistema de
informação e outros ambientes digitais de informação (Brandt,
2020, p. 55).
Diante disso, foi apresentada a seguir as diretrizes para a modelagem
da informação para as inscrições da catequese em um ambiente digital.
diretrizes pArA ModelAgeM dA inforMAção
Conforme definido por Brancheau e Wetherbe (1986, p. 454- tra-
dução nossa), a Arquitetura da Informação “[…] fornece uma maneira de
mapear as necessidades de informação de uma organização, vinculando-
-as a fluxos de trabalho e documentos específicos e suas inter-relações.” É
apresentada uma diretriz para modelagem da informação sistêmica para as
inscrições da catequese, visto que essas inscrições são realizadas todos os
anos da mesma forma manual. Abaixo alguns processos relevantes para a
Arquitetura da informação.
Para a modelagem dos processos de negócio, é levado em considera-
ção as necessidades do usuário da instituição com a implementação de um
sistema que verse sobre a realização das inscrições para a catequese, afinal
na “modelagem de processos, às necessidades dos usuários são levantadas e
o contexto organizacional é descrito, permitindo a modelagem do espaço
informacional.” (Victorino, 2011, p 55). Neste processo, aplicamos o nível
estratégico, o contexto do negócio, onde são observados os objetivos, a
cultura, o negócio da instituição, entre outros fatores.
A implantação da AI para as inscrições da catequese, tem como desa-
fio realizar a classificação das etapas catequéticas de acordo com a idade do
catequizando, pois cada etapa tem a idade correspondente, como mostra
no quadro 2 abaixo. Outro desafio relaciona-se à como organizar os docu-
mentos comprobatórios de cada etapa dentro do sistema, além de definir
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
61
os detalhes, como por exemplo, as imagens dos documentos que deverão
conter no sistema.
Quadro 2 – Etapas e idades da catequese
Etapa Idade
Iniciação 9
1º Ano de Eucaristia 10
2º Ano de Eucaristia 11
Perseverança 12
1º Ano de Crisma 13
2º Ano de Crisma 14
Turma Especial 16
Fonte: Autores.
Sendo assim, a sugestão é que seja realizado uma análise junto ao
desenvolvedor do sistema para que sejam organizados todos os dados e
metadados das inscrições.
Com a modelagem dos processos realizados e com seus metadados
definidos, o sistema começará a ser produzido, porém, para que não haja
nenhuma informação redundante é necessário a aprovação das informa-
ções e estrutura do sistema por um usuário da igreja, a fim de evitar retra-
balho para as partes envolvidas no desenvolvimento.
Um modelo genérico para a implantação da gestão dentro da
Arquitetura da informação é apresentado por Cavalcanti, Nassif (2014),
uma adaptação de Macedo (2005), no qual é apresentado as informações
dos objetivos estratégicos, cultura, comunicação, negócio, políticas, cap-
tura, armazenamento, organização, representação, comunicação, fontes,
sistemas de informação e usuários. Na Figura 3, são apresentados os 3
(três) níveis da AI que se divide em estratégico, tático e operacional que
tem relação com os 3 (três) círculos da AI apresentados por Peter Morville
e Louis Rosenfeld, contexto, conteúdo e uso.
Victorino (2011, p. 57) destaca que
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
62
[…] é a modelagem da informação, que especifica o suporte,
conteúdo e relacionamento desses objetos de informação e os
campos em que estão inseridos, e é a informação básica para o
desenvolvimento de sistemas de informação.
É neste passo que acontece o nível tático, o conteúdo do negócio,
que neste caso é o sistema de informação, que envolve a captura das
informações, o armazenamento e a comunicação de homem-máquina.
Se tratando da modelagem para a catequese, na identificação dos
requisitos de informação, que acontece o nível operacional, os usuários
verificam e utilizam o sistema, onde é realizada toda a modelagem dos
processos de captura, tratamento e comunicação das informações, o uso.
Nesta etapa é definido o glossário e os metadados dos sistemas, de
modo que seja identificado a necessidade de informação do usuário. O
glossário torna-se um instrumento importante para que os usuários com-
preendam o significado de cada informação, contribuindo com o preen-
chimento dos metadados.
Figura 3 – Modelo para implantação da AI
Fonte: Cavalcanti, Nassif (2014) adaptado de Lima e Macedo, 2005, p. 165
Para Cavalcanti e Nassif (2014, p. 137), um glossário corporativo
de negócio:
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
63
[...] é fundamental para a unificação terminológica, pois diminui a
ambiguidade da informação e aumenta confiança dos tomadores de
decisão ao interpretar e utilizar os dados dos sistemas de informação,
especialmente dos sistemas de Data Warehouse.
As autoras colaboram uma vez mais ao mencionar que “[…] os me-
tadados são elementos de organização da informação que possibilitam a
descrição dos objetos informacionais sob diferentes perspectivas, conteú-
do, gestão, preservação, etc.” (Cavalcanti; Nassif, 2014, p. 22).
Por fim, no último processo, a organização da informação precisa ser
classificada, segundo McGee e Prusak (1994, p. 118), “[…] a premissa de
classificar e armazenar informações e determinar como os usuários podem
acessar as informações necessárias e escolher o melhor local para armazenar
as informações.”.
A proposta em questão é que as informações sejam classificadas e
armazenadas em um repositório informacional corporativo que pode ser
criado para que as igrejas possam realizar seus backup e restauração, bem
como possam realizar uma comunicação com os desenvolvedores do siste-
ma, a fim de realizar as atualizações necessárias.
Resultados
Para Camargo e Vidotti (2011, p. 85), a metodologia de desenvol-
vimento pode ser considerada como “[...] um conjunto de atividades que
deve ser percorrido para alcançar a realização de um trabalho/objetivo.”.
Sendo assim, é necessário apresentar um resumo sobre a modelagem sistê-
mica para a inscrição para catequese.
A metodologia de desenvolvimento foi elaborada a partir de diretri-
zes estabelecidas por Cavalcanti (2013, p. 57-59). São elas:
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
64
Para a modelagem da informação, deve ser realizada a modelagem
dos processos de negócio; O processo de modelagem da informação
deve ser pré-requisito para o desenvolvimento de sistemas de
informação; A equipe que realiza a modelagem da informação deve
ser multidisciplinar e deve trabalhar em conjunto com analistas de
processos de negócio e com analistas de sistemas; Para a modelagem
da informação é necessário identificar os requisitos de informação.
A modelagem da informação começa no início do processo do traba-
lho. Com os metadados identificados, é possível elaborar as informações sis-
têmicas, conforme demonstrado no Quadro 3. Neste quadro é demonstrado
a matriz de metadados para as inscrições para catequese, onde são demons-
trados os metadados que existem, ou seja, toda a estrutura que existirá por
detrás de um sistema para a inscrição da catequese, bem como se os dados
são restritos para os responsáveis ou se será aberto para todos os usuários e
por fim, quais serão os formatos destes dados. É por meio da matriz de me-
tadados que existe a gestão de metadados, pois é por meio dela que podemos
melhor visualizar a modelagem de informações, ela é a base onde estão con-
tidas as principais informações para a elaboração de um sistema.
Quadro 3 – Matriz de Metadados
Fonte: Autores
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
65
consideRações finais
Esta pesquisa originou-se da necessidade da organização, estrutura
e mapeamento dos dados e informações para a inscrição da catequese da
Igreja Santa Edwiges e da necessidade em estabelecer uma metodologia
para a implantação de um modelo conceitual de sistematização de infor-
mação. Teve como propósito desenvolver diretrizes para a elaboração dessa
metodologia, denominada informação.
Para a organização, estrutura e mapeamento dos dados buscou-se os
conceitos de Arquitetura da informação e da gestão de processos de negó-
cio para identificar as informações do negócio e representá-las por meio de
metadados de negócio, onde podemos concluir que para sua gestão, dados
como: nome, endereço, data de nascimento do catequizando, descrição,
forma de acesso, gestor dos metadados, gestor do dado, entre outros são
necessários para que a inscrição aconteça de forma sistêmica.
A Matriz de Metadados é o principal produto de aplicação da me-
todologia de desenvolvimento da AI, pois é por meio deles que acontece a
gestão dos dados dos catequizandos, de modo que as informações fiquem
encontráveis e de fácil acesso aos usuários. Ou seja, os metadados de negó-
cio identificam e descrevem os requisitos do negócio, que neste caso é as
inscrições para a catequese.
Assim, entende-se que a AI para Processos de Negócio é essencial
para qualquer tipo de organização. Nesta pesquisa, foi analisada uma ins-
tituição religiosa da cidade de Marília, para contribuir com o processo de
inscrição referente a catequese, a fim de ter um melhor gerenciamento dos
dados e seus metadados.
Portanto, a IA, identificada nos processos de negócio, deve ser o
ponto de partida para a construção de sistemas de informação que supor-
tem o negócio, fornecendo subsídios para a gestão de dados e informações.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
66
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C 4
CGPT:   
  
Carla Conforto de Oliveira 1, Janaína Fernandes Guimarães Polonini 2
e Bárbara Souza da Silva 3
intRodução
A inteligência artificial (IA) é uma disciplina em constante evolução,
cujas origens remontam a meados do século XX, após a Segunda Guerra
Mundial (Russell; Norvig, 2013). Desde o trabalho pioneiro de Alan
Turing, as bases teóricas da IA começaram a ser lançadas (Russell; Norvig,
2013). Contudo, foi na década de 1950 que o termo “inteligência artifi-
cial” foi criado, marcando o início de uma jornada em busca de sistemas
capazes de emular a inteligência humana (Russell; Norvig, 2013).
Foi nesta trajetória de avanços que o modelo Generative Pre-trained
Transformer (GPT) surgiu como um marco significativo (OpenAI, 2021e).
Desenvolvido pela OpenAI, o ChatGPT é uma implementação específica
do GPT e apresenta-se como um modelo de linguagem capaz de interagir
com os usuários e gerar conteúdos4 (OpenAI, 2021e).
Mestranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: carla.
conforto@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5013212742689682.
Doutora em Ciência da Informação. E-mail: janaina.polonini@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-
0003-4174-8042. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8858545135730781.
Mestranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: bs.silva@unesp.
br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2835-5295. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0207455469443195.
4 De acordo com o Dicionário Básico de Filosofia conteúdo, “[…] designa a matéria particular de uma
proposição e se opõe à forma, isto é, à sua estrutura geral e abstrata.” (Japiassú; Marcondes, 2001, p. 42).
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p69-86
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
70
O presente artigo teve como objetivo geral discutir as implicações do
ChatGPT como um modelo de linguagem em um contexto de ampla dis-
ponibilidade e acesso a conteúdos, buscando compreender as implicações
de seu papel como um gerador de conteúdo. Mais especificamente, preten-
deu-se caracterizar o que é o ChatGPT, abordar a criação de conteúdos e a
difusão de fake news, assim conceituar brevemente esse fenômeno.
No mais, visou-se apresentar as características e funcionalidades do
ChatGPT, além de discutir sobre as vantagens e desvantagens do seu uso,
considerando aspectos como a precisão das respostas, a interação com usu-
ários e as possíveis distorções causadas pela falta de contexto e emoção nas
respostas geradas. Nos resultados, foi realizada uma relação entre os conte-
údos produzidos pelo ChatGPT e sua utilização para difusão e comparti-
lhamento de fake news a partir dos questionamentos que foram realizados
para o ChatGPT, com o intuito de verificar se é possível utilizá-lo para a
criação de fake news e desinformação.
Por fim, foram apresentadas reflexões sobre o papel do ChatGPT
considerando seu impacto na busca e compartilhamento de conteúdos,
valorizando uma abordagem crítica ao utilizar o assistente virtual, comple-
mentando-o com fontes confiáveis, promovendo uma compreensão mais
ampla e contextualizada dos temas abordados.
inteligência aRtificial paRa geRaR conteúdos
No contexto de ampla utilização de dispositivos tecnológicos e aces-
so à internet, a presença comum da inteligência artificial na sociedade des-
taca modelos de linguagem avançados como impulsionadores da interação
humano-máquina e da criação de conteúdo, trazendo consigo desafios e
reflexões sobre seus efeitos e implicações, seja no uso, na interação ou na
disseminação (Rodríguez Velásquez, 2023; Sichman, 2021).
Com a capacidade de compreender e processar grandes quantida-
des de dados, as IAs podem auxiliar na análise e avaliação de informações
complexas. No entanto, é essencial considerar os limites e as possíveis fa-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
71
lhas, uma vez que suas respostas são baseadas em padrões e exemplos pre-
viamente aprendidos, sem necessariamente compreender o contexto ou
avaliar a veracidade dos dados fornecidos.
No âmbito da IA, há linguagens de representação compostas por
conjuntos de sentenças lógicas, conjuntos esses denominados
“bases de conhecimento” (BC). As BCs são capazes de representar
um domínio do conhecimento para propósitos computacionais.
A palavra “sentença” tem um sentido técnico: é uma assertiva,
uma sentença que declara fatos sobre o mundo (Emygdio, 2021,
p. 178).
Além disso, a intensificação do uso de tecnologias e Inteligência
Artificial traz à tona questões éticas e sociais. (Rodríguez Velásquez, 2023;
Sichman, 2021). É fundamental garantir que os algoritmos e os modelos
de linguagem sejam desenvolvidos de forma transparente, imparcial e éti-
ca. A colaboração entre governos, indústria, academia e sociedade civil é
essencial para estabelecer padrões, regulamentações e normas que orientem
o desenvolvimento ético de algoritmos e modelos de linguagem, fomen-
tando a pesquisa interdisciplinar, envolvendo especialistas em ética, direi-
to, educação, ciência da computação e áreas afins, para abordar os desafios
complexos que emergem nesse contexto.
Devem ser consideradas questões como privacidade, segurança e
equidade no acesso à tecnologia (Rodríguez Velásquez, 2023; Sichman,
2021). Além disso, é necessário ponderar sobre o impacto dessas tecno-
logias na sociedade, como a substituição de empregos tradicionais por
automação e a dependência excessiva de máquinas para a tomada de de-
cisões importantes.
Portanto, é necessário explorar as capacidades dessas ferramentas,
ao mesmo tempo em que se busca compreender e enfrentar os desafios
éticos, sociais e de confiabilidade que elas apresentam. Somente por meio
de uma abordagem crítica e equilibrada poderemos utilizar essas tecno-
logias de forma responsável e maximizar seus benefícios para a sociedade
como um todo.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
72
chAtgpt: entendendo UMA inteligênciA ArtificiAl
A ferramenta ChatGPT é uma referência ao modelo de linguagem
Generative Pre-trained Transformer (GPT) ou ‘Generativo, Pré-treinado e
Transformado’, desenvolvido pela OpenAI (OpenAI, 2021e), entende-se
como um instrumento que gerador de textos, já pré-treinado e transforma
os dados em uma linguagem (Lopezosa, 2023). Essa IA generativa é ba-
seada no machine learning, onde utiliza-se de algoritmos para criar frases,
textos ou imagens a partir da personificação de seu uso através do seu
usuário, não só desenvolvendo informações verídicas mas também sin-
téticas (Cooper, 2023). Durante o treinamento, o modelo foi exposto a
uma variedade de textos, como artigos de notícias, livros, sites, conversas
e muito mais (D´alte, D´alte, 2023; OpenAI, 2021e). Essa exposição a
dados diversos permitiu que o modelo aprendesse padrões e estruturas da
linguagem humana (OpenAI, 2021e).
Durante o aprendizado prévio, o modelo é treinado em uma tarefa
de previsão de palavras, onde ele tenta prever a próxima palavra em uma
sequência de texto (OpenAI, 2021e). Logo, o ChatGPT foi projetado para
processar e gerar texto com base nas informações que foram inseridas du-
rante o treinamento até setembro de 2021 (OpenAI, 2021e).
A ferramenta recomenda verificar fontes confiáveis e atualizadas
para obter informações mais recentes sobre um determinado assunto
(OpenAI, 2021e). Ele pode ser usado em uma variedade de contextos,
como assistentes virtuais, chatbots, plataformas de mensagens e muito
mais. (OpenAI, 2021e).
No entanto, é importante ter em mente que o ChatGPT é uma má-
quina e suas respostas são baseadas em padrões identificados nos dados de
treinamento. Embora possa fornecer informações úteis e contextuais, tam-
bém é possível que gere respostas imprecisas ou incorretas em certos casos.
É sempre recomendado verificar e confirmar informações críticas por meio
de fontes confiáveis e especializadas.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
73
criAção de conteúdos e A difUsão de fAke news
As fake news são uma denominação que se expandiram para o
mundo no ano de 2016 com as eleições presidenciais dos Estados Unidos
da América, ao terem o candidato eleito auxiliado pelo grande número de
notícias falsas circuladas a seu favor nas redes sociais, principalmente no
Facebook durante a campanha eleitoral (Silverman; Singer-Vine, 2016).
Com ferramentas disponíveis on-line, o surgimento de uma fake
news vai muito além de dissimular uma verdade com uma finalidade de
mudar opinião pública ou incentivar o medo durante as eleições estadu-
nidenses o ‘WTOE 5 News’, um extinto website satírico e disseminador
de notícias falsas publicou que auxiliaram a alavancar o apoio no até então
candidato Donald Trump (Schaeldel, 2016), uma fake news com a inten-
ção de influenciar e mudar a opinião pública a favor do candidato — sua
evolução parte com o propósito de manipulações ao público como uma
verdade ao ponto de não haver discernimento por parte de quem foi atin-
gido por ela de questionar sua veracidade.
A rede social Facebook, assim como outras redes sociais são consi-
deradas tecnologias da informação, em que de acordo com Silva (2019, p.
16), “[…] são utilizadas para informar/desinformar, porque congregam da
ideia de suportes de informação, quiçá podem enquadrar-se como custo-
diadoras de conhecimento humano […]”, quando contém ínfimas quanti-
dades de conteúdo produzidos e agirão mais como marcadores de eventos
sociais do que provedoras de conhecimento. Essa rede social foi responsá-
vel por grande parte das fake news difundidas no ano da eleição de 2016
nos Estados Unidos da América, tendo facilitado a sua propagação em ra-
zão da facilidade de se impulsionar publicações através de conteúdo pago.
O amplo conhecimento do termo “fake news” perante as redes so-
ciais não representa que sua denominação seja algo recente e nem que haja
um entendendimento sobre o está sendo representado atualmente, pois
segundo a editora de dicionários estadunidense Merriam-Webster ([20--
?]), usava-se “false news” como entendimento a uma notícia falsa, pois a
palavra ‘fake’ é relativamente recente, demonstrando pouca aderência no
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
74
fim do século XIX e início do XX, antes do uso do termo incorporar-se na
sociedade atual.
Segundo Pena (2018), o que caracteriza as fake news, além do seu
propósito inicial, são as intenções obscuras existentes na divulgação mas-
siva na era da internet destas histórias falsas, comumente usadas como
forma de manipular as massas e suas opiniões públicas em encontro de um
interesse político específico.
No contexto atual de rápida propagação de informações através das
plataformas digitais e redes sociais, surge uma preocupante dinâmica onde
as informações, muitas vezes carentes de verificação e fundamentação, po-
dem se espalhar de maneira descontrolada e causar sérios danos à percep-
ção da realidade.
Essa disseminação indiscriminada de conteúdo, quando não devida-
mente filtrada e avaliada, tem o potencial de minar a capacidade crítica da
população, levando-a a adotar ideologias que são transmitidas sem a devi-
da análise de sua autenticidade e credibilidade. Esse fenômeno, conforme
apontado por Jardim e Zaidan (2018), pode eventualmente conduzir a
um estado de “zumbificação da informação”, onde as pessoas consomem
passivamente informações duvidosas ou enganosas, perpetuando assim um
ciclo de desinformação e manipulação.
Para Alcott e Gentzkow (2017, p. 213) as fake news são definidas
como artigos de notícias que propositalmente passam uma sensação de
veracidade enquanto são comprovadamente falsos e que induzem o leitor
ao erro. A sua criação, sofisticação e disseminação se intercalam com o uso
tecnologias ou softwares desenvolvidos nas últimas décadas e permitiu que
fosse criada uma ‘finesse’ ao entorno de uma fake news, com o exclusivo
propósito de se alastrar no mundo real e no virtual como uma verdade.
Contudo, ela seria apenas uma face de um problema maior acerca da de-
sinformação, pois resgate de notícias velhas e dadas como novas, ou men-
sagens disseminadas com curas milagrosas ou títulos apelativos a alguma
suposta verdade não dita que usualmente usuários já se depararam na web.
As possibilidades disponibilizadas pelo ChatGPT conferem ao usuá-
rio a capacidade de composição de programas, peças musicais, argumentos
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
75
cinematográficos e a autoria de obras literárias completas. Um exemplo foi
a solicitação do desenvolvimento de um desfecho para a saga literária “A
Canção de Gelo e Fogo”, da série “Game of rones” (Valentine, 2023).
Não obstante, é imperativo destacar que as competências da pla-
taforma transcenderam o domínio da mera criação, permeando também
a esfera da formulação de informações que, por vezes, podem destoar da
coerência com a realidade. As respostas do ChatGPT se circunscrevem es-
tritamente ao âmbito da consulta efetuada, não pressupondo, a priori, um
desígnio deliberado de disseminar notícias falsas. O impacto neste sentido
reside na maneira como o usuário opta por interagir com a ferramenta,
contudo, ao não imbuir o sistema com um filtro de conteúdo, subsiste
inelutável a ameaça subjacente de manipulação da informação, cuja mate-
rialização encontra-se suscetível à natureza da utilização em questão.
pRocedimentos metodológicos
A pesquisa foi descritiva com abordagem qualitativa. O referencial
teórico foi localizado na Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos
em Ciência da Informação (BRAPCI) e no Portal de Periódicos da Capes
(compreendendo todas as bases).
Para o levantamento bibliográfico na BRAPCI, em 24 de julho de
2023, inicialmente foi pesquisado o termo “ChatGPT”, posteriormente
seriam empregados os filtros necessários, porém a base de dados retornou
apenas cinco resultados, logo, nenhum filtro foi utilizado. Já o levantamen-
to bibliográfico realizado no Portal de Periódicos da Capes retornou 108
artigos científicos. A pesquisa foi realizada em cinco de julho e considerou
o termo “ChatGPT”, nas áreas de Humanas, Ciências Sociais e Educação,
em artigos científicos, revisados por pares, em acesso aberto, nos idiomas
português, espanhol e inglês. Dada a atualidade do objeto de estudo, não
houve recorte temporal. Para a leitura, foram priorizados artigos que trata-
vam sobre a produção de textos.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
76
Além disso, foi utilizado o site https://chat.openai.com/, durante o
mês de julho de 2023, para questionar a sua produção de conteúdo, espe-
cialmente aliada ao enfrentamento das fake news ou se pode ser usado para
gerá-las. Diversas perguntas foram elaboradas e enviadas para que a IA
respondesse, porém somente as principais que se enquadram nos objetivos
foram apresentadas nos resultados. Além disso, as perguntas e os testes
foram realizados em diferentes interações pelas autoras com o ChatGPT
no mesmo dispositivo e IP e também em dispositivos e IPs distintos para
verificar que as respostas seriam discrepantes, a partir disso, foi verificado
se os objetivos propostos foram alcançados.
Resultados e discussões
Ao ser questionado sobre checagem de fatos, o ChatGPT responde
sobre a sua impossibilidade de realizar a função, conforme a Figura 1. Foi
solicitado que o ChatGPT criasse uma fake news, ele também responde que
não é possível e utiliza argumentos relacionados à ética e o malefício que
isso pode causar na sociedade.
Aqui, encontrou-se uma pequena discordância em respostas forneci-
das pela inteligência, no qual na Figura 1 ele afirma que não pode afirmar
a veracidade das informações e sugere o uso de fontes confiáveis enquanto
que na resposta da Figura 2 ele finaliza afirmando que pode fornecer in-
formações precisas e confiáveis, isso tudo é uma variável, pois ele se molda
conforme subentende o rumo das perguntas feitas pelo usuário, ao qual
podem ser modificadas ou surgirem sem nenhum “contexto” anterior que
a inteligência possa utilizar para digitar a sua resposta, como dito previa-
mente o ChatGPT é um gerador de conteúdo a filtragem acerca de notícias
ou informações falsas não cabe a ele. Na Figura 2, demonstra-se a discor-
dância das respostas.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
77
Figura 1 – Resposta do ChatGPT sobre checagem de fatos
Fonte: OPENAI (2021b).
Apesar disso, o ChatGPT é capaz de criar histórias fictícias que po-
dem ser manejadas pelos usuários como mentiras e auxiliar na produção
de fake news. Ou seja, ele pode atuar como um facilitador de produção de
fake news para um usuário mal-intencionado, visto que por ser uma IA,
não consegue discernir qual o objetivo do usuário ao pedir a elaboração de
uma história. A Figura 3 demonstra a resposta obtida ao questionar se o
ChatGPT pode elaborar uma história fantástica.
Além de narrativas fantásticas, a IA é capaz de elaborar teorias da
conspiração, que podem se espalhar nas redes sociais como fake news e
impactar negativamente a população. A Imagem 4 mostra um exemplo de
teoria da conspiração.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
78
Figura 2 – Resposta do ChatGPT sobre a produção de notícias falsas
Fonte: OPENAI (2021d).
Figura 3 – Resposta do ChatGPT sobre a produção de história fictícia
Fonte: OPENAI (2021c).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
79
Em suma, nota-se que a IA consegue identificar a utilização do ter-
mo notícia falsa ou em inglês fake news e, automaticamente, nega a sua
criação. Quando solicitado para que ela crie uma notícia, automaticamen-
te ela informa as últimas notícias do dia. Porém, ao solicitar uma ‘notí-
cia sensacionalista’ o ChatGPT fornece uma inventada e indica um título.
Porém, ao utilizar a palavra “história”, ele produz uma sobre qualquer as-
sunto que o usuário solicitar. Um ponto importante a ser destacado é que
independentemente de ser uma história ou teoria da conspiração, ele sem-
pre alerta que o conteúdo não tem base em fatos e que é fictício. Portanto,
o ChatGPT pode ser utilizado para auxiliar na criação de conteúdos que
podem se tornar fake news, uma vez que o trabalho de constituição de uma
notícia falsa é facilitado.
Figura 4 – Resposta do ChatGPT sobre a produção de teoria da conspiração
Fonte: OPENAI (2021a).
Ademais, ao questionar para o próprio ChatGPT quais foram as fon-
tes de dados utilizadas em seu treinamento, ele respondeu que por se tratar
de um modelo de linguagem GPT-3.5, não possui acesso às fontes especí-
ficas que foram usadas durante seu treinamento, para colaborar com a falta
de divulgação da OpenAI das fontes ou dados lidados.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
80
Portanto, nota-se que o uso do ChatGPT como uma ferramenta de
comunicação apresenta tanto vantagens quanto desvantagens. O ChatGPT
oferece a oportunidade de fazer perguntas e obter respostas imediatas, pro-
movendo um aprendizado mais dinâmico e interativo. Pode-se destacar
como vantagens: funcionalidades 24 horas por dia; orientação passo a pas-
so de produções textuais como trabalhos escolares e acadêmicos; capacida-
de de conversar socialmente como um humano; pode gerar conteúdos em
tópicos considerando a aprendizagem humana; capacidade de responder
perguntas utilizando sua base de dados etc. Como desvantagens, pode-se
destacar: a impossibilidade de contextualizar baseada no usuário; a utiliza-
ção de conteúdos de base dados que podem conter informações incorretas,
gerando outras informações incorretas; informações geradas sem senso crí-
tico, baseada na programação de conteúdos etc.
Uma das principais vantagens é a disponibilidade de um assistente
virtual que fornece respostas e informações sobre uma ampla variedade
de tópicos. Os usuários podem fazer perguntas e obter respostas rápidas,
o que pode ser especialmente útil quando buscam esclarecer conceitos ou
obter ajuda em tarefas acadêmicas. Além disso, o ChatGPT pode atuar
como uma fonte de inspiração, fornecendo ideias e sugestões para projetos
e trabalhos acadêmicos.
Outra vantagem do uso do ChatGPT é a sua capacidade de ofere-
cer um ambiente de aprendizado personalizado. O assistente virtual pode
adaptar-se às necessidades individuais dos usuários, fornecendo explicações
e exemplos adicionais conforme solicitado. Isso permite que os usuários
avancem no seu próprio ritmo e obtenham suporte adicional quando ne-
cessário, o que pode melhorar a compreensão e o desempenho acadêmico.
No entanto, é importante considerar as desvantagens do uso do
ChatGPT. Uma das principais desvantagens é a possibilidade de o assisten-
te virtual fornecer informações imprecisas ou incompletas, visto que seu
treinamento foi finalizado em 2021 e desde então (dois anos depois) não
houve atualização das informações às quais ele tem acesso. O ChatGPT é
alimentado por um grande volume de dados, mas ainda assim pode come-
ter erros ou fornecer respostas que não são totalmente precisas. Portanto,
os usuários devem estar cientes de que nem sempre podem depender com-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
81
pletamente das informações fornecidas pelo ChatGPT e devem sempre ve-
rificar e corroborar essas informações com outras fontes confiáveis.
Outra desvantagem é a falta de interação humana. Embora o
ChatGPT possa ser útil como uma fonte de respostas rápidas, ele não pode
substituir a interação humana. A discussão e o debate com outras pessoas
são essenciais para o aprendizado, pois permitem uma compreensão mais
profunda dos conceitos e a troca de diferentes perspectivas. O uso excessi-
vo do ChatGPT pode levar à falta de oportunidades de interação social e à
dependência de um recurso automatizado.
Algumas questões éticas, como privacidade e viés algorítmico, tam-
bém devem ser consideradas. Ao interagir com um modelo de linguagem,
os usuários estão compartilhando informações pessoais, que podem ser co-
letadas e armazenadas. É fundamental garantir a proteção dos dados pesso-
ais e a conformidade com as regulamentações de privacidade. Além disso,
é importante estar ciente do viés algorítmico, uma vez que os modelos de
linguagem podem refletir e perpetuar preconceitos existentes na sociedade.
Para enfrentar esses desafios e considerações éticas, é necessário um
esforço conjunto de desenvolvedores, pesquisadores, educadores e regu-
ladores. A transparência é fundamental, tanto em relação aos dados de
treinamento utilizados quanto às limitações do modelo. Além disso, inves-
timentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento são necessários para
aprimorar a capacidade de verificação de fatos, combater a desinformação
e mitigar os riscos éticos associados ao uso de modelos de linguagem.
No abrangente panorama da inteligência artificial generativa,
emerge a reflexão sobre a inserção da Biblioteconomia e da Ciência da
Informação e seu potencial contributivo nesse âmbito. A confluência entre
a Biblioteconomia, Ciência da Informação e a IA generativa, apesar de
sua promissora afinidade, permanece como um território em grande parte
inexplorado.
Logo, o uso de modelos de linguagem, como o ChatGPT, apresenta
desafios e considerações éticas importantes. Com abordagens transparen-
tes, pesquisa contínua e conscientização, é possível aproveitar os benefícios
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
82
desses modelos de forma responsável e ética, promovendo um ambiente
informacional mais confiável e inclusivo.
A Biblioteconomia e a Ciência da Informação podem ensinar sobre
o ChatGPT através do fornecimento de conhecimentos e técnicas relacio-
nados à organização da informação, estratégias de busca e recuperação, éti-
ca da informação e análise de dados. As disciplinas voltadas a classificação,
indexação e catalogação de recursos de informação, podem ser aplicadas ao
ChatGPT para ajudar na organização e estruturação dos dados utilizados
pelo sistema. Isso pode facilitar a recuperação precisa de informações e
melhorar a precisão das respostas fornecidas.
Além disso, essas disciplinas podem contribuir para o desenvolvi-
mento de estratégias de busca e recuperação de informações mais eficien-
tes. Através do estudo de técnicas de busca e seleção de fontes confiáveis, os
profissionais da Biblioteconomia e Ciência da Informação podem ajudar a
aprimorar os algoritmos e os critérios de pesquisa utilizados pelo ChatGPT.
Isso pode resultar em respostas mais relevantes e precisas, além de uma me-
lhor compreensão do contexto das perguntas feitas pelos usuários.
Outro aspecto importante é a ética da informação. A Biblioteconomia
e a Ciência da Informação enfatizam a importância do acesso equitativo à
informação e do respeito aos direitos autorais e à privacidade. Esses prin-
cípios éticos podem ser aplicados no desenvolvimento e uso do ChatGPT,
garantindo que o assistente virtual promova a transparência, a imparciali-
dade e o respeito pelos direitos dos usuários.
Além disso, a interação entre usuários e ChatGPT pode gerar dados
importantes para a área de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Os
registros das interações podem ser analisados para identificar padrões de
busca, necessidades de informação e possíveis melhorias no sistema. Isso
contribui para o aprimoramento contínuo do ChatGPT e para a compre-
ensão do comportamento de busca de informação dos usuários.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
83
consideRações finais
O ChatGPT na versão gratuita em acesso aberto, é um gerador de
conteúdos a partir de sua base de dados, isto é, esse conteúdo não foi verifi-
cado quanto a sua veracidade. Os modelos de linguagem aprendem a partir
de grandes volumes de dados disponíveis na internet, incluindo informa-
ções incorretas, tendenciosas e preconceituosas. Isso significa que, se uma
pergunta for formulada de maneira enviesada ou se um conjunto de dados
de treinamento contiver informações falsas, o modelo pode reproduzir ou
amplificar essas informações incorretas. É essencial considerar a qualidade
dos dados de treinamento e adotar abordagens para mitigar a propagação
de desinformação, como aprimorar os algoritmos de filtragem e priorizar a
transparência nas fontes de dados utilizadas.
Desse modo, é possível concluir que os conteúdos produzidos por
ele podem ser usados para a difusão de desinformação, especialmente de
fake news a depender da intenção do usuário. No entanto, deve-se deixar
evidente que a ferramenta não é um produtor de desinformação, visto que,
teoricamente, ele não possui a intenção de enganar ou prejudicar ninguém.
Além disso, o ChatGPT possui acesso rápido a informações nas fon-
tes das quais teve acesso até o final de seu treinamento em 2021, fornece
suporte à aprendizagem personalizada, auxilia na pesquisa, na prática de
habilidades de escrita, estimula a criatividade e o aprendizado interativo.
Os modelos de linguagem são ferramentas complementares que podem
enriquecer a experiência educacional, mas não devem substituir a interação
humana e o engajamento ativo dos cidadãos, tampouco o uso de fontes
de informação confiáveis. Diante da crescente relevância do ChatGPT e
de modelos de linguagem similares, é essencial explorar suas implicações,
desafios e potenciais. Somente através de uma análise aprofundada pode-
remos aproveitar ao máximo as capacidades dessas ferramentas, enquan-
to enfrentamos os desafios e as questões éticas que surgem na interação
homem-máquina.
Os estudos da Biblioteconomia e da Ciência da Informação desem-
penham um papel fundamental no entendimento e aprimoramento do
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
84
ChatGPT e de outras inteligências artificiais. Por meio dessas disciplinas,
é possível investigar e analisar como o ChatGPT processa, organiza e gera
informações, além de compreender os mecanismos subjacentes que permi-
tem suas capacidades de resposta e interação com os usuários. Além disso,
contribuem na categorização e curadoria dos dados utilizados no treina-
mento do modelo, garantindo a qualidade e diversidade dos conjuntos de
dados para melhorar a capacidade de resposta. Ao aliar essas disciplinas à
evolução contínua do ChatGPT, é possível potencializar suas aplicações e
promover a confiabilidade e utilidade dessa tecnologia em diferentes con-
textos acadêmicos e profissionais.
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87
C 5
O C  V  D
  I D
Eveline Batista Rodrigues 1 e Cristiane Lucy Rodolfo Bonfeti 2
intRodução
As imagens acompanham o processo de socialização e evolução do
homem desde a pré-história; delas decorrem a vida e organização social e
colaboram com a relação entre os homens. Desde seu início, a imagem es-
teve relacionada à representação e à noção de imitação do real. Ela surge de
uma troca simbólica e de uma imitação fabricada para enfrentar a elimina-
ção/destruição provocada pela passagem do tempo (Santos; Madio, 2019).
A definição de imagem estabelecida pelo Tesauro Brasileiro de
Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia (Ibict) é: um Tipo de Documento (categoria), icônico /icono-
gráfico, com disponibilidade de acesso, por meios ou de forma física, usado
para representações visuais, entre algumas espécies das imagens podem ser
encontradas: diafilmes, fotografias, ilustrações, imagens digitalizadas e ma-
pas (Pinheiro; Ferrez, 2014).
Mestre em Engenharia Elétrica. Professora no Centro Paula Souza – Etec. E-mail: evelinerodrigues@yahoo.
com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4967341665335583.
Doutora em Ciência da Informação. Professora no Centro Paula Souza – Etec. E-mail: cristiane.
bonfeti@etec.sp.gov.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0612-607X. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/0859525247632138.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p87-104
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
88
Atualmente, em um mundo cada vez mais digital, estamos diariamen-
te captando bilhões de imagens, como imagens de satélite, imagens médicas,
imagens de paisagens e assim por diante. Também estamos inserindo essas
imagens em sites sociais (Facebook, Instagram, TikTok, WhatsApp), aplicati-
vos, sistemas web, etc., através dos mais diversos dispositivos eletrônicos e
conectados em rede, gerando, dessa forma, um grande volume de imagens
disponíveis nos diferentes ambientes informacionais digitais.
Neste cenário, para Simionato, Pinho Neto e Santos (2015) as ima-
gens são recursos informacionais específicos com necessidades de represen-
tação e organização que devem ser tratadas apropriadamente, pois, há um
grande volume de produção de imagens que faz com que seja necessário
que a Ciência da Informação se ocupe do seu tratamento (desde o arma-
zenamento até a disponibilização) com o objetivo de poder acessá-las e
localizá-las.
Para além de ser um recurso informacional, a imagem pode ser um
instrumento de conhecimento, conforme apontado por Joly (1996, p. 60):
a função informativa (ou referencial), muitas vezes dominante na imagem,
pode também ampliar-se em uma função epistêmica, proporcionando-lhe
a dimensão de instrumento de conhecimento. Instrumento de conheci-
mento porque certamente fornece informações sobre os objetos, os lugares
ou as pessoas, em formas visuais tão diversas quanto as ilustrações, as foto-
grafias, os mapas ou ainda os painéis.
Desta forma, como a imagem é um recurso informacional e um
instrumento de conhecimento, de acordo com o campo da Ciência da
Informação (CI) que se caracteriza pela classificação e disseminação da
informação, podemos compreender que, para que a informação gere co-
nhecimento a um indivíduo, é necessário ser transmitida, e de preferência
em um intervalo de tempo aceitável e em um formato compreensível (Dos
Santos; Madio, 2018).
Para que as imagens digitais se tornem recursos disponíveis, recu-
peráveis e acessíveis é necessário desenvolvimento de processos para cons-
trução de representações. Um impulso na revolução das imagens digitais
foi dado pela expansão da utilização dos computadores, onde ocorreu o
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
89
surgimento das técnicas para captura, armazenamento, processamento e
transmissão de imagens (Santaella, 2015).
Por fim, o objetivo é examinar o Ciclo de Vida dos Dados (CVD) e
adaptá-lo às características específicas dos dados de imagens. Esse enfoque
busca proporcionar uma investigação das etapas envolvidas no acesso e uso
intensivo dos dados imagéticos, que desempenham um papel central na
sociedade contemporânea. Essa análise visa a oferecer uma estrutura que
possa auxiliar tanto os usuários finais quanto às instituições na compreen-
são e gestão eficaz desses dados.
pRocedimentos metodológicos
Os procedimentos metodológicos consistiram em pesquisa biblio-
gráfica através da análise do Ciclo de Vida dos Dados aplicando-o aos
dados imagéticos, proporcionando reflexões sobre a delimitação de fases
envolvidas no acesso e uso desse recurso informacional.
imagem digital como RecuRso infoRmacional
Define-se recurso imagético digital, como “aquele que foi dire-
tamente produzido por um processo digital, seja ele de qualquer forma
de extensão armazenando informações visuais estáticas e que contenham
propriedades e limites físicos e que possam ser organizadas” (Simionato,
2015, p.43). Ou seja, para que seja uma imagem digital, basta ela ter sido
adquirida através de um processo digital como a digitalização em scanner,
celulares, câmeras digitais ou até mesmo desenvolvidas através de softwares
de criação e edição de imagens especializados.
De acordo com Gonzales (2010, p.21), a imagem é uma função
bidimensional de intensidade da luz f(x,y), onde x e y denotam as coor-
denadas espaciais e o valor de f em qualquer ponto (x,y) é proporcionado
ao brilho, ou níveis de cinza, da imagem em um dado ponto. A imagem
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
90
digital é uma imagem f(x,y) discretizada tanto em coordenadas espaciais
quanto em brilho. Ela pode ser considerada como uma matriz de linhas e
colunas cujos índices localizam unicamente um ponto e seu valor identi-
fica o nível de cinza naquele ponto. Esses pontos únicos são denominados
elementos da imagem, elementos da figura, “pixels” ou “pels”, sendo os
dois últimos, abreviações do termo em inglês picture elements (elementos
de figura) (Gonzales, 2010, p.21).
A imagem colorida é armazenada sob um modelo para o armazena-
mento de cores, cujo propósito é facilitar a especificação das cores em uma
forma padrão e de aceite geral. Este modelo é uma especificação de um sis-
tema de coordenadas tridimensionais e um subespaço dentro deste sistema
onde cada cor é representada por um único ponto (Gonzales, 2010, p.22).
O modelo de cor mais frequentemente utilizado é o Modelo RGB,
onde cada cor aparece nos seus componentes espectrais primários de ver-
melho (red), verde (green) e azul (blue). Neste modelo, para a cor dese-
jada, é feita uma combinação das tonalidades ideais para cada uma das
cores primárias.
De acordo com Brown (1995), o Modelo RGB pode ser implemen-
tado utilizando uma tabela de cores, onde cada pixel não conterá mais as
informações da sua cor, e sim um índice associado a uma tabela de co-
res que determina as variações de cores possíveis na imagem. Este sistema
possui a vantagem de economizar memória no armazenamento, mas, por
outro lado, para que o sistema seja eficiente, cada pixel deverá ser repre-
sentado por um único byte. Uma vez que o maior valor a ser representado
por um byte é 28 = 256, a tabela de cores ficará restrita a no máximo 256
cores diferentes.
A Figura 1 traz um exemplo da utilização de mapas de cores. Para
um melhor entendimento a Figura 1 foi dividida em (a) e (b), onde (a)
contém a representação bitmap de uma imagem colorida fictícia e (b) o
mapa de cores da imagem representada por (a). Cada pixel de (a) não
contém a informação de sua cor, e sim o índice de sua cor, o qual será en-
contrado na tabela de cores da imagem em (b).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
91
As imagens digitais são obtidas de imagens contínuas através de dois
processos de discretização, um para pontos espaciais e outro para cores (ou
níveis de cinza), atribuídos a cada pixel. Esses dois processos são chamados
de amostragem e quantização, respectivamente (Gonzales, 2010, p.25).
Figura 1 – Esquema para representar a utilização de uma tabela de cores
Fonte: Autoras.
A Ciência da Informação deve contribuir no tocante de que o aces-
so, uso e disseminação dos dados provenientes de imagens digitais se de-
senvolva com a experimentação e análise da vasta gama de informações
que podem ser obtidas através das imagens digitais, buscando identificar
e estruturar fatores e características que auxilie nos processos de coleta,
armazenamento, recuperação e descarte de dados imagéticos para obter a
máxima otimização do uso desses dados.
ciclo de vida dos dados
O Ciclo de Vida dos Dados (CVD) concebido por Sant’ana (2016)
propõe a utilização de uma delimitação de fases nos processos cíclicos dos da-
dos, como o acesso, o uso e a manutenção dos dados, proporcionando uma
estrutura que suporte os esforços, estudos e ações realizadas para obtenção,
manutenção e uso de dados, tornando possível aproximar elementos seme-
lhantes e distribuir teorias e metodologias em função de seu escopo.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
92
A fase de coleta de dados envolve a obtenção dos dados necessários
para atender a uma demanda específica de informações em um contexto
particular. Isso requer o planejamento, a análise da viabilidade e a execução
da coleta dos dados, com o objetivo de atender às necessidades identifica-
das. Nessa fase, surgem exigências por competências específicas relaciona-
das às necessidades informacionais que impulsionam o processo de coleta
de dados (Sant’ana, 2016, p. 119).
Após a coleta, os dados podem ser utilizados para um fim imediato
e descartados ou se houver a necessidade, manter estes dados disponíveis
para acesso futuro em um determinado suporte. Inicia-se o processo de ar-
mazenamento dos dados coletados, envolvendo planejamento e ações que
demandam conhecimento avançado em Ciência da Computação, mas ain-
da oferecem oportunidades para a participação da Ciência da Informação.
O papel do usuário fica mais distante, envolvendo-se principalmente na
validação das estruturas de modelos definidas para os dados (Sant’Ana,
2016, p. 120).
Após a fase de armazenamento, pode surgir a necessidade de decidir
pelo descarte dos dados ou por sua retenção. Geralmente, a busca é por
alternativas que facilitem o acesso e a utilização contínua dos dados, levan-
do a uma próxima fase a ser abordada. Começa, assim, uma nova fase – a
recuperação – em que os esforços são voltados para que estes dados possam
ser encontrados, acessados e interpretados (Sant’Ana, 2016, p. 121).
Também existe a possibilidade de se identificar que os dados já não
são necessários ou que devem ser excluídos da base, o que leva a outra fase
identificada como fase de descarte tem-se então a eliminação de parte dos
dados (Sant’Ana, 2016, p. 122).
Desta forma, o CVD compreende quatro fases distintas e fatores
comuns a todas elas. Esses fatores incluem questões de privacidade, in-
tegração, qualidade, direitos autorais, disseminação e preservação de da-
dos. Cada fase é influenciada por esses elementos, que desempenham um
papel fundamental ao longo do processo, conforme descrito na Figura 2
(Sant’Ana, 2013).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
93
Figura 2 – Ciclo de Vida dos Dados para Ciência da Informação
– (CVD–CI)
Fonte: Sant’Ana (2016, p.123).
Por fim, o CVD-CI será aplicado para as particularidades dos dados
imagéticos, proporcionando um estudo sobre a delimitação de fases envol-
vidas no acesso, uso e manutenção dos dados imagéticos com o propósito
de colaborar com as necessidades de representação e organização desse tipo
de dados presentes na área da Ciência da Informação.
ciclo de vida dos dados aplicado às imagens digitais
Nessa seção apresentamos a aplicação do Ciclo de Vida dos Dados
(Sant’Ana, 2016) no contexto das Imagens Digitais, contemplando as mes-
mas fases, compostas pelos processos de coleta, armazenamento, recuperação
e descarte de dados imagéticos evidenciando os diferentes momentos e fato-
res envolvidos nas particularidades e especificidades dos dados imagéticos.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
94
coletA de dAdos iMAgéticos
Em um primeiro momento, depara-se com a fase de obtenção da
imagem digital. Esta fase se inicia com a aquisição da imagem digital e
após a aquisição do objeto digital, a definição das necessidades informacio-
nais que definirão quais dados imagéticos serão necessários e, portanto, de-
verão ser extraídos da imagem digital. Os processos ocorrem na ordem em
que foram apresentados e constituem a fase de coleta de dados imagéticos.
A aquisição da imagem digital ocorre através do uso de equipamentos
para obtenção de imagens digitais ou mecanismos de recuperação. No caso
dos equipamentos para obtenção de imagens, podemos citar as câmeras
digitais, smartphones, sensores, radares, satélites, digitalização 3D, câmeras
de banco de dados, equipamentos médicos e odontológicos, etc. No caso
dos mecanismos de recuperação, temos os motores de busca de imagens,
banco de imagens, redes sociais, bibliotecas e arquivos digitais, software de
design gráfico, aplicativos de edição de fotos, programas de modelagem e
renderização 3d, screenshots, realidade virtual e aumentada, etc.
Além do equipamento ou mecanismo de aquisição da imagem di-
gital, algumas premissas fundamentais devem ser levadas em consideração
como a fonte de aquisição da imagem (objeto, pessoa ou lugar), como será
a captura, o resultado esperado, se a imagem conseguiu captar os elemen-
tos ou dados necessários, o formato da imagem, os riscos de privacidade
para indivíduos ou entidades presentes na imagem, permissão de coleta da
imagem, procedência, acesso no futuro após armazenamento, constituem
um elenco de questões que devem ser abarcadas segundo o CVD.
Na sequência à aquisição da imagem, é necessário definir as necessi-
dades informacionais que nortearão as escolhas e definir quais dados ima-
géticos são necessários; estabelecer estratégias sobre como localizar, extrair,
processar e avaliar estes dados; elaborar as metodologias e ferramentas ne-
cessárias para consecução destes dados.
A poli representação da imagem digital (Roa-Martinez, 2019, p.
202) conformada por diferentes tipos de conteúdo que representam a
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
95
imagem digital, sendo eles o sintático, o semântico e as informações não
visuais e de contexto, os quais durante o pré-processamento dos recursos
imagéticos são obtidos por diferentes técnicas ou métodos e armazenados.
Essa polir representação pode ser utilizada em ambientes digitais com ar-
mazenamento em banco de dados e recuperada por mecanismos de busca
com orientação no valor (sintaxe) dos dados, mais do que no significado
(semântica) da informação proporcionando a disseminação desses dados.
Após a extração de atributos e características da imagem, é necessá-
ria a persistência desses dados em um banco de dados. Essa persistência é
realizada através da associação da imagem a metadados, que são elementos
descritivos ou atributos referenciais codificados que representam caracte-
rísticas próprias ou atribuídas às entidades sobre a imagem, como título,
palavras-chave, autor, data de criação, entre outros (Alves, 2010, p. 47).
Os registros de dados imagéticos são identificados inequivocamente atra-
vés das chaves primárias ou candidatas, e seus correspondentes nas outras
entidades através das chaves estrangeiras, definindo os relacionamentos ne-
cessários para que ela possa ser conectada a outras bases, garantindo dessa
forma a integração entre diferentes entidades em um banco de dados de
imagens (Sant’Ana, 2016, p. 125).
Muitos bancos de dados de imagens gerenciam os direitos autorais e
as licenças das imagens. Isso permite que os usuários saibam como podem
usar as imagens (por exemplo, para uso comercial, pessoal ou educacional)
e quais restrições podem existir.
Um dos fatores a ser analisado na fase de coleta é a privacidade. É
fundamental identificar em fontes usadas elementos que possam indicar
violações de privacidade de indivíduos ou instituições ligadas aos dados
imagéticos coletados. Tal cenário pode levar a responsabilidades futuras
a partir da base de dados obtida, prejudicando as etapas subsequentes do
ciclo de vida (Sant’Ana, 2016, p. 125).
A preservação dos dados coletados, inclusive os futuramente armaze-
nados, pode requerer a inclusão de dados adicionais nos pré-requisitos de
coleta. Isso possibilita uma identificação mais ampla dos dados e incorpora
informações sobre as características dos dispositivos de origem. Essas mu-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
96
danças podem incluir melhorias na precisão e granularidade dos dados ao
longo do tempo.
ArMAzenAMento de dAdos iMAgéticos
Após a coleta de dados imagéticos, surge a perspectiva de seu uso
futuro, incluindo novas análises diretas ou integração com outras bases de
dados (Sant’Ana, 2016, p. 132). Esta fase é definida como fase de armaze-
namento de dados imagéticos.
Além dos dispositivos de armazenamento (disco rígido, pen drive,
cartão de memória, SSDs, etc.), as premissas fundamentais que devem ser
consideradas quando armazenamos uma imagem digital são: qual será a
estrutura física e lógica utilizada para seu armazenamento, quais são os
parâmetros de amostragem e quantização, quais metadados essas imagens
possuem sobre definição e conteúdo, qual o tipo e grau de interferência
nos dados causados por algoritmos de pré-processamento de imagens,
como será realizado o armazenamento de representações e descrições da
imagem, como persistir os dados complementares sobre a coleta para ga-
rantir o contexto de sua obtenção, se os dados obtidos através da imagem
digital pode representar um risco a privacidade dos indivíduos ou institui-
ções referenciados, se há o direito de armazenar estes dados imagéticos e
se os fatores para sua utilização ao longo do tempo estão sendo mantidos.
As imagens digitais são compostas por pixels, que são os pontos
individuais que formam a imagem. Cada pixel é composto por informa-
ções de cor e intensidade, que podem ser representadas usando diferentes
modelos de cor, como RGB (vermelho, verde, azul) ou CMYK (ciano,
magenta, amarelo, preto). As intensidades de cores são representadas por
valores numéricos. Em resumo, imagens digitais são passíveis de serem
armazenadas em banco de dados como uma matriz de pixels com infor-
mações de cor e intensidade.
Além da matriz de pixels, os metadados associados a esta imagem,
como título, palavras-chave, origem, direitos de uso, informações sobre
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
97
a câmera, configurações de exposição, data de criação e autor da imagem
também são armazenados.
Nesta fase tem-se um enfoque mais tecnológico e se definem aspec-
tos que garantem a reutilização destes dados, por meio de especificações
físicas e lógicas sobre como os dados serão registrados em um suporte.
Algumas das definições necessárias nesta fase são:
i. Definição do dicionário de dados e da estrutura lógica do banco
de dados, ou seja, a representação abstrata e estruturada dos da-
dos que serão armazenados em um sistema de gerenciamento de
banco de dados (SGBD).
ii. Definir a estrutura de como o conjunto de variáveis definida no
item i precisa ser organizado em subconjuntos definidos de acor-
do com a semântica que os vincula a um elemento ou conceito
do mundo real.
iii. Definir autorizações de acesso levando em conta o tipo de acesso
aos dados e sobre quem acessa esses dados.
iv. Definir a forma de acesso aos dados.
v. Definir o formato ou padrão de armazenamento e os metadados.
vi. Definir o local de armazenamento, a arquitetura do banco de
dados (se local, cliente-servidor ou distribuído).
Quanto à qualidade dos dados, as definições sobre seu armazena-
mento são fundamentais para garantir que estes dados mantenham sua
integridade física e lógica.
Ao se armazenar dados, uma das preocupações deve ser com relação
aos direitos autorais vinculados à fonte da qual os dados foram obtidos,
buscando-se registrar, também, estas informações para que se mantenha
a segurança institucional daqueles que respondem pelos dispositivos de
armazenamento.
O armazenamento deve se preocupar com a disseminação dos da-
dos, garantindo o acesso e a compreensão dos dados armazenados no fu-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
98
turo. Dessa forma, devem ser incluídos elementos semânticos nos dados
imagéticos para facilitar sua interpretação, preferencialmente por meio de
processos automatizados. Ainda pensando no acesso futuro, devem ser ela-
boradas estratégias de execução de processos de atualização tecnológica e
de verificação de integridade física e lógica, independentes dos dispositivos
originais que o armazenaram, propiciando dessa forma a preservação dos
dados imagéticos.
Destarte, ao permitir a disseminação dos dados imagéticos, não de-
vemos esquecer que em meio ao maciço volume desses dados haverá dados
sensíveis, e mais uma vez a privacidade deve estar planejada, com ações de
proteção previstas no armazenamento.
recUperAção de dAdos iMAgéticos
Após a coleta e armazenamento dos dados o CVD inicia a fase de
acesso e uso dos dados. Começa a fase em que os esforços estão voltados
para que esses dados possam ser recuperados a partir da base de dados.
Inicia-se a fase da recuperação de dados imagéticos.
Para a fase de recuperação deverá ser considerado o público-alvo, a
necessidade informacional deste público, como será o acesso (se por base
de dados ou software), os dados imagéticos a serem disponibilizados, quais
metadados sobre a imagem serão disponibilizados, quais informações po-
derão ser obtidas através de algoritmos de processamento de imagens e
algoritmos de visão computacional, se a recuperação de dados imagéti-
cos será baseada em conteúdo (CBIR), por mineração de imagens (image
mining) ou inteligência artificial, a frequência de atualização das imagens
digitais para disponibilização, quem poderá acessar estes dados, os riscos
à privacidade dos indivíduos ou entidades referenciados pelos conteúdos
recuperados, como operacionalizar a integração entre os dados imagéticos
e destes com outros conjuntos de dados, como garantir os elementos que
sustentam a qualidade dos dados imagéticos que estão sendo disponibili-
zados, se há o direito de disponibilizar estes dados imagéticos, como viabi-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
99
lizar que os dados imagéticos sejam recuperados (preferencialmente, e em
muitos casos obrigatoriamente, por máquinas) e se os processos e proce-
dimentos de recuperação estão estáveis o suficiente para que permaneçam
polimorficamente utilizáveis ao longo do tempo.
Os dados coletados a partir de imagens podem ser organizados de
várias maneiras, dependendo do contexto e das necessidades específicas,
como descritos no Quadro 1.
Quadro 1 – Mecanismos de recuperação de dados imagéticos e sua
descrição
Mecanismos de
recuperação Descrição
Metadados e
Descritores
Cada imagem pode ser associada a metadados, como data,
localização, autor e informações de câmera. Além disso, é possível
extrair descritores visuais que representam características da
imagem, como cor, textura e forma. Esses metadados e descritores
auxiliam na categorização e na recuperação eficiente das imagens
Categorização e
Classificação
As imagens podem ser organizadas em categorias ou classes com
base em critérios predefinidos. Isso pode ser feito manualmente
ou por meio de algoritmos de aprendizado de máquina. A
categorização facilita a navegação e a busca em grandes conjuntos
de imagens.
Hierarquias e
Taxonomias
Se houver uma grande variedade de imagens, é possível criar
hierarquias ou taxonomias para organizar as imagens em níveis de
agrupamento. Por exemplo, em um banco de imagens de animais,
você poderia ter categorias como “Mamíferos”, “Aves” e “Répteis”,
e subcategorias mais específicas dentro de cada uma delas.
Indexação Visual
Utilizando técnicas de processamento de imagens, é possível
indexar as imagens com base em conteúdo visual, como
reconhecimento de objetos, faces, cenas etc. Isso permite a
recuperação de imagens similares com base em características
visuais.
Geolocalização Se as imagens tiverem informações de localização incorporadas
(por exemplo, coordenadas GPS), elas podem ser organizadas
geograficamente em um mapa.
Data e
Temporalidade
A organização por data ou cronologia é útil quando se lida com
imagens ao longo do tempo, como em estudos de evolução de
fenômenos naturais ou mudanças urbanas.
Tags e Palavras-
Chave
Atribuir tags ou palavras-chave relevantes a cada imagem pode
facilitar a busca e a recuperação. Essas tags podem ser adicionadas
manualmente ou por meio de processos de identificação
automática.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
100
Mecanismos de
recuperação Descrição
Coleções e Projetos As imagens podem ser agrupadas em coleções ou projetos
relacionados. Isso é particularmente útil quando se trabalha com
diferentes conjuntos de imagens para diferentes propósitos.
Recursos Visuais Criar miniaturas, pré-visualizações ou até mesmo resumos visuais
das imagens pode ajudar na rápida identificação e seleção.
Bancos de Dados Utilizar sistemas de gerenciamento de banco de dados para
armazenar e organizar as informações associadas às imagens,
permitindo consultas eficientes e estruturadas.
Fonte: Autoras.
Geralmente, uma combinação de várias dessas abordagens é usada
para criar um sistema de organização eficiente e acessível apresentando um
grau de integração que propicie análises de entidades distintas.
Na fase de recuperação de dados imagéticos, devemos nos atentar à
privacidade, considerando os envolvidos com os conteúdos recuperados,
identificando estruturas e possíveis usuários. Também é importante indicar
quem está autorizado a usar os dados e as formas permitidas de utilização,
constituindo os direitos autorais.
São necessárias estratégias que permitam a localização dos dados
imagéticos armazenados, não somente para acesso pelos próprios recursos
de visualização de seus detentores, mas, também, por mecanismos automá-
ticos que possam não só encontrá-los como ainda acessá-los em processos
de coleta, garantindo dessa forma a disseminação.
A preservação na fase de recuperação garante que uma interpretação
realizada em um determinado momento tenha a possibilidade de ser a
mesma realizada em outro momento, desde que mantidos os critérios e
objetivos originais.
A qualidade na recuperação de dados imagéticos está associada à
interação do usuário, como os aspectos de arquitetura da informação na
elaboração de recursos de recuperação e de elementos que ampliem a usa-
bilidade e a acessibilidade dos recursos disponibilizados.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
101
descArte de dAdos iMAgéticos
No CVD também está descrita a fase de descarte de dados, que é
a necessidade dos dados de serem excluídos da base de dados, quando
estes já não são mais necessários, ou quando seu volume está acima da
capacidade de tratá-los com eficiência, constituindo a fase do descarte de
dados imagéticos.
O descarte de dados imagéticos deve ocorrer da sua polir represen-
tação (conteúdos sintáticos, semântico, informações não visuais e de con-
texto) e o descarte físico da imagem deve ocorrer em bloco, onde a exclu-
são será realizada pela exclusão total da imagem (exclusão de todas as linhas
e colunas da imagem) pois a exclusão horizontal (de linhas da imagem) ou
vertical verticalmente (de colunas da imagem), acarretaria alteração nos
dados que compõem a imagem, gerando, consequentemente, uma nova
imagem digital.
Desta forma, para a fase de descarte deverá ser considerado quais
imagens já não são mais necessárias para que possam ser descartadas, se
elas foram persistidas, em quais suportes, se estão replicadas em outras
bases, como garantir que estes dados imagéticos foram realmente excluí-
dos e não simplesmente ocultados, se a eliminação destes dados imagéti-
cos não prejudicará a integridade ou interligação de outros dados imagé-
ticos, se o descarte destes dados imagéticos não prejudicará a qualidade
do conjunto de dados como um todo, se têm-se o direito de excluir este
dado imagético, qual o impacto em sua encontrabilidade e acesso caso a
imagem seja eliminada e se foi considerada a necessidade de preservação
em seus diversos aspectos.
Nesta fase, a questão da privacidade se faz presente quando um in-
divíduo faz uso dos direitos autorais sobre uma imagem, exigindo que seja
retirada de uma determinada base. Esse acesso sempre será mediado por
um detentor e não se pode afirmar que a imagem será excluída ou se ape-
nas será identificada como não acessível para visualização. Já com relação à
integração dos dados imagéticos no momento do descarte, se uma imagem
é excluída seus dados também o são, podendo causar a degeneração de re-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
102
lacionamentos entre bases distintas levando a uma degradação do valor de
uso da base como um todo, incidindo diretamente sobre a qualidade já que
a possibilidade de relacionar e realizar análises comparativas entre conte-
údos excluídos podem levar a conclusões equivocadas ou inexistentes. Por
isso, processos de descarte devem manter informações registradas sobre os
processos de eliminação.
Na fase de descarte são perdidas informações sobre autoria e seus
registros, afetando questões relacionadas a direito autoral, assim, deve-se
manter informações sobre dados que já foram disponibilizados e que po-
dem ter sido utilizados por terceiros para não gerar insegurança legal.
Sobre a disseminação e sua relação com a fase de descarte, outra pre-
ocupação se refere ao risco de perder informações que, mesmo não estando
relacionadas ao foco do conjunto de dados em questão, podem representar
elementos-chave para encontrabilidade do conjunto.
A preservação deve ser buscada mesmo quando o dado não parece
ser mais útil, já que sempre podem surgir novas necessidades, não previs-
tas, que venham a requerer os dados eliminados.
Em função de custos de armazenamento cada vez menores, eliminar
dados a favor da eficiência do sistema torna-se raro. Desta forma, manter
uma cópia de dados imagéticos excluídos, muitas das vezes em formatos e
estruturas diferentes das originais configura o início de um novo ciclo de
vida dos dados para a imagem, já que será uma nova base de dados com
suas características e objetivos específicos.
conclusão
O contexto atual de disponibilidade de grandes volumes de dados
imagéticos, ocasionados por crescentes usos dos mais diversos equipamen-
tos de aquisição, de uma vasta gama de bancos de imagens, softwares de
criação de imagens, compartilhamento em redes sociais, aplicativos e ulti-
mamente com a crescente aplicação na Inteligência Artificial, assunto que
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
103
deve ser inclusive de interesse de pesquisas na área de CI, requer novos
olhares para os processos de acesso e uso de dados imagéticos.
Transitamos por questões e reflexões presentes em cada uma das fases
do Ciclo de Vida dos Dados, como a coleta, o armazenamento, a recupe-
ração e o descarte, refletindo sobre os conceitos de privacidade, integração,
qualidade, direitos autorais e preservação em cada uma das fases do CVD
abarcando questões próprias aos dados imagéticos.
A temática de acesso a dados é ampla, e os assuntos não puderam ser
esgotados, principalmente sobre os conceitos de privacidade, integração,
qualidade, direitos autorais e preservação dentro de cada fase do CVD.
Objetivou-se criar uma estrutura que facilite as ações relacionadas à
aquisição, manutenção e uso de dados sobre as imagens digitais. Essa estru-
tura busca agrupar elementos similares e disponibilizar teorias e métodos
com base em seu âmbito, seja por fase do ciclo de vida dos dados ou de
acordo com fatores identificados. Isso permite uma abordagem organizada
para lidar com diferentes aspectos dos dados imagéticos em particular, ao
longo de seu ciclo de vida. Pretendemos, assim, estreitar caminhos entre
usuários e os dados imagéticos que necessitam.
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105
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Fabiano Ferreira de Castro 1 e Leonardo Silva Oliveira 2
intRodução
A organização da informação, enquanto atividade operacional da
Ciência da Informação, é definida como “o processo de arranjo de acervos
tradicionais ou eletrônicos realizado por meio da descrição física e de con-
teúdo (assunto) de seus objetos informacionais” (Café; Sales, 2010, p. 118).
Dentre os procedimentos específicos que envolvem o processo de
organização da informação, destaca-se a representação descritiva e temática
de um recurso, também conhecida como catalogação. O processo de regis-
trar e descrever recursos informacionais de forma padronizada tem como
objetivo garantir o acesso, a recuperação e a identificação destes recursos
para que sejam utilizados tanto por usuários humanos, quanto por usuá-
rios maquínicos.
Uma das atividades de destaque da catalogação é a criação de mé-
todos de controle e pontos de acesso para entrada da descrição, visando
Doutor em Ciência da Informação. Professor na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. E-mail:
fabianocastro@ufscar.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8712-2654. Lattes: https://orcid.org/0000-
0002-8712-2654.
Mestrando em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail:leonardo.silva-
oliveira@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1853574251587265.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p105-132
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
106
minimizar as ambiguidades e as inconsistências na informação oferecida.
O método mais utilizado pelos catalogadores é o Controle de Autoridade,
que visa representar em um ponto de acesso todas as possíveis formas de
entrada e de dados associados às pessoas, famílias, entidades coletivas, títu-
los ou assuntos, ampliando a consistência e as possibilidades de recupera-
ção da informação e de intercâmbio de um catálogo.
Os dados associados às pessoas podem possuir maior dificuldade
de controle, pois, além das variações dos nomes por casamento, adoção
ou outros motivos, há características que impactam diretamente na recu-
peração e na identificação deste tipo de informação, por exemplo, a sua
origem e a sua forma de escrita, as atribuições de nomes sociais, artísti-
cos, profissionais ou apelidos (pseudônimos) e a grande quantidade de
nomes iguais (homônimos).
Com o surgimento de novos tipos de documentos e diante do de-
senvolvimento tecnológico acelerado e da explosão informacional, onde as
estruturas de armazenamento em formato digital se tornou predominan-
te em relação às estruturas manuais/impressas e das mudanças culturais
e comportamentais trazidas com a popularização do acesso à Internet, a
organização e a descrição da informação também requerem adequação.
Somado a isso, nas últimas décadas houve um crescimento exponencial de
pessoas (autores) publicando seus trabalhos em diversos formatos, geran-
do maior dificuldade de identificá-los. Portanto, torna-se necessário trazer
novas perspectivas e possibilidades por meio de pesquisas que abordem o
tema de forma mais específica.
Do mesmo modo que várias disciplinas evoluíram, a catalogação
passou por diversas modificações desde o seu surgimento. Assim, algumas
práticas estão sendo revistas e novas perspectivas vem sendo criadas para
que essa atividade se adéque ao contexto atual e às novas necessidades do
usuário e do cenário informacional, principalmente no que se refere ao
ambiente de dados conectados e da Web semântica, no qual os catálogos e
os dados bibliográficos possam ser disponibilizados na Web e se conecta-
rem com outros domínios, comunidades e recursos.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
107
É nesse contexto que surge o Resource Description and Access (RDA),
baseado no modelo entidade-relacionamento, característica chave da catalo-
gação no cenário tecnológico vigente. Neste modelo, as entidades represen-
tam “objetos que podem ser identificados de forma inequívoca em relação a
todos os outros objetos contidos no domínio do problema” (Fusco, 2010, p.
102) e os relacionamentos servem como veículo para representar as ligações
entre uma entidade e outra. Desse modo, os preceitos da catalogação no con-
texto atual têm como proposta, enriquecer a descrição, favorecer a descober-
ta da informação pelo usuário (serendipidade3) e ampliar as possibilidades de
identificação das entidades por meio dos relacionamentos
Da mesma forma que a catalogação evoluiu, o Controle de
Autoridade está em transição. Wiederhold e Reeve (2021, p. 21, tradução
nossa), sinalizam que o Controle de Autoridade no contexto atual “prio-
riza atribuir identificadores únicos a uma única entidade em detrimento à
diferenciação de nomes” e destacam que:
O movimento em direção aos dados ligados e à Web Semântica
amplia e expande o papel do Controle de Autoridade de determinar
simplesmente os pontos de acesso usados na descrição bibliográfica
a um processo de criação e gestão de entidades e suas relações com
outras entidades.
Percebe-se que no decorrer da história, que a catalogação e o
Controle de Autoridade, tiveram um importante papel nas iniciativas
e nas pesquisas sobre a Organização da Informação. Diferentes proje-
tos surgiram e novos conceitos e técnicas foram criados na tentativa de
acompanhar as mudanças trazidas com a evolução tecnológica. No en-
tanto, grande parte destes conceitos e técnicas foram desenvolvidos sob a
área da tecnologia da informação, trazendo uma linguagem nova e com-
plexa, até então desconhecida pelo bibliotecário.
3 “Encontro ao acaso de outras informações que não as intencionalmente procuradas” (Mostafa; Santarém
Segundo; Sabbag, 2016, p. 31). Os autores trazem à tona a visão de Cassin (2012, p. 18 apud Mostafa;
Santarém Segundo; Sabbag, 2016, p. 31), alertando para a possível perda da serendipidade na recuperação
da informação quando a descrição é baseada nos novos padrões de catalogação, visto que os relacionamentos
já estão estabelecidos.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
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108
Ainda assim, algumas bibliotecas brasileiras iniciaram os estudos para
a implementação do RDA, sendo que algumas iniciaram pelo Controle de
Autoridade de nome de pessoas. No entanto, observa-se que ainda não é
possível visualizar de forma concreta como os dados e seus relacionamentos
podem ser apresentados, visto que os sistemas atuais ainda não estão adap-
tados ao novo cenário. Nos âmbitos, científico e profissional, grande parte
das pesquisas e iniciativas que aborda ou aplica o Controle de Autoridade
com base no cenário atual da catalogação, apresenta resultados apenas no
nível da descrição, utilizando a mesma linguagem da catalogação mono-
lítica4, como o MARC21 (Machine-Readable Cataloging), por exemplo, o
que de certa forma, reduz as possibilidades de identificação das entidades
e o estabelecimento e a visualização de seus relacionamentos. Além disso,
conforme mencionado, devido à abundância de autores e as dificuldades
de controle inerentes aos nomes de pessoas, torna-se cada vez mais crítica
a possibilidade de identificá-los.
No contexto da recuperação da informação, é possível constatar que
a descrição de um objeto é enriquecida com a adoção do RDA, pois novas
informações e campos são adicionados, o que faz com que o usuário en-
contre a informação desejada com mais facilidade. No entanto, a proposta
da catalogação no contexto atual é proporcionar uma melhor experiência
para o usuário, na qual ele possa navegar entre as entidades e descobrir
mais informações sobre elas e sobre outras entidades relacionadas, muitas
vezes sem a necessidade de acionar o motor de busca de um sistema.
Dessa forma, questiona-se: de que forma o Controle de Autoridade
baseado no RDA pode contribuir na identificação das entidades pessoas e
ampliar as possibilidades de descoberta da informação pelo usuário?
Nessa perspectiva, por meio da pesquisa documental e bibliográfica,
são abordadas as fundamentações teóricas sobre o RDA e sobre o Controle
de Autoridade e sua evolução. De caráter exploratório, a pesquisa se enqua-
dra como qualitativa e aplicada, na qual será feito uma aplicação prática
utilizando os preceitos Controle de Autoridade de acordo com o RDA, na
4 A catalogação tradicional é geralmente realizada em formato de planilha, seguindo uma ordem pré-
determinada de campos/metadados a serem preenchidos, como autor, título, editora, local e outros. É
também monolítica por ser mono entidade, feita em bloco único, indivisível, sem modularidade.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
109
descrição de um conjunto de entidades. Para a aplicação, será criado um
cenário utilizando a Informação Jurídica como domínio externo, represen-
tado por entidades extraídas de um acórdão do Supremo Tribunal Federal
(STF), com o intuito de verificar as possibilidades de identificação das en-
tidades pessoas e de suas conexões e relacionamentos com outras entidades.
Pretende-se também, com a pesquisa, além de responder a proble-
mática suscitada, apresentar um cenário no qual o bibliotecário possa com-
preender, de forma mais didática, como a catalogação no contexto atual pode
funcionar na prática, visualizando o comportamento das entidades e seus
relacionamentos e possibilitar, inclusive, a incorporação da catalogação de
dados em suas atribuições técnicas e intelectuais, contribuindo, assim, para
o desenvolvimento de ambientes de dados conectados entre si e com a Web.
o Rda
O RDA é um “pacote de elementos de dados, recomendações e ins-
truções que permite a criação de metadados bem estruturados para recur-
sos de bibliotecas e de instituições de patrimônio cultural de acordo com
modelos internacionais” (RDA Steering Committee, 2020, tradução nos-
sa). Tendo como base o modelo conceitual IFLA Library Reference Model
(LRM), sucessor e agregador dos modelos da família FR: FRBR, FRAD e
FRSAD e seguindo os princípios de catalogação Statement of International
Cataloguing Principles (ICP) da IFLA, foi concebido para o ambiente digi-
tal, podendo ser utilizado em vários contextos, tanto em ambientes tradi-
cionais quanto em ambientes de dados conectados (Linked Data). Somado
a isso, o RDA tem como proposta otimizar e enriquecer a catalogação de
objetos digitais e possibilitar a interoperabilidade, além de trazer outros
benefícios, principalmente em relação à recuperação da informação.
O RDA pode ser acessado por meio do RDA Toolkit, mediante as-
sinatura anual e está divido em quatro grupos/abas principais: entidades,
diretrizes, políticas e recursos e se apresenta como uma ferramenta Web
organizada como uma coleção de elementos de dados (Oliver, 2021).
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
110
As entidades do RDA são categorizadas de acordo com os objetos
ou coisas que os usuários desejam encontrar em um catálogo ou sistema e
estão organizadas na ordem recomendada pelo LRM e divididas da seguin-
te forma: Entidade RDA, Obra, Expressão, Manifestação, Item, Agente
(Agente pessoa, Agente coletivo, Entidade corporativa, Família), Nomen,
Lugar e Intervalo de tempo (RDA Steering Committee, 2020).
Para cada entidade, são apresentados, além da definição e escopo,
as instruções preliminares para orientar o usuário, tais como: Pré-registro;
Descrição mínima; Descrição efetiva ou de fato; Limite da entidade;
Registro e Elementos. Os elementos são utilizados para descrever as entida-
des e abrangem os atributos (valores) e os relacionamentos (RDA Steering
Committee, 2020)
O RDA apresenta instruções específicas e ampliadas para a cons-
trução de registros de autoridade de nomes de pessoas e pode auxiliar no
controle, na recuperação e na identificação destes. As instruções e outras
recomendações de registro estão presentes na entidade pessoa do RDA
Toolkit, que é classificado como um “agente”, definido como “ser huma-
no individual que vive ou que se supõe que tenha vivido” (RDA Steering
Committee, 2020, tradução nossa).
o contRole de autoRidade
Um dos métodos de controle mais difundidos e utilizados pelos
catalogadores é o Controle de Autoridade, definido por Herrero Pascual
(1999, p. 121, tradução nossa) como:
o processo de unificar, através da utilização de forma padronizada,
os pontos de acesso dos catálogos automatizados e também mostrar
as relações entre os diferentes pontos de acesso. Ou seja, supõe a
padronização dos nomes de pessoas, entidades, títulos ou assuntos
uniformes, que podem constituir os pontos de acesso principais ou
secundários de um catálogo automatizado. Sua finalidade é facilitar
a identificação e recuperação dos documentos armazenados,
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
111
evitando a confusão com que homônimos, sinônimos ou a
variedade de nomes pelos quais uma pessoa, entidade, obra, assunto
ou conceito podem ser chamados.
Segundo Chan (2007, p. 166) apud Assumpção (2015), o Controle
de Autoridade de nomes de pessoas e entidades coletivas têm três princi-
pais propósitos:
a) Garantir que todas as obras escritas por um particular autor, ou
relacionadas a uma mesma entidade coletiva, sejam recuperadas
com o mesmo ponto de acesso (ou sob o mesmo cabeçalho);
b) Garantir que um particular ponto de acesso conduza somente
às obras de um particular autor ou relacionadas a uma particular
entidade coletiva; e
c) Poupar o tempo e esforço de ter que estabelecer o cabeçalho cada
vez que uma obra de um mesmo autor ou relacionada à mesma
entidade coletiva é catalogada.
O registro de autoridade de pessoas e entidade coletivas, baseado
principalmente na AACR2, é formado geralmente pelo ponto de acesso
autorizado e padronizado do nome da pessoa ou da entidade coletiva e é
complementado com remissivas (formas variantes do nome) e notas adi-
cionais sobre a autoridade e as fontes consultadas. O conjunto dos registros
de autoridades formam um catálogo de autoridade.
O Controle de Autoridade é uma atividade que demanda esforços
conjuntos das áreas da informação e da tecnologia e um planejamento
bem estruturado (Salgado, 2015). Ainda que seja uma atividade onerosa
para uma biblioteca, a utilização do Controle de Autoridade traz diversos
benefícios, tanto para os usuários quanto para os bibliotecários. Para os
usuários, além da precisão na recuperação e da possibilidade de obter in-
formações adicionais sobre um autor ou entidade coletiva, o Controle de
Autoridade facilita e otimiza as buscas no catálogo, isso porque, com uma
única busca, é possível recuperar os itens de determinado autor, mesmo
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
112
que ele tenha vários pseudônimos, por exemplo. Para os bibliotecários,
o Controle de Autoridade otimiza os processos de descrição e acelera as
operações, visto que é possível utilizar e reutilizar o mesmo registro de
autoridade para novas obras de autores já catalogados localmente ou em
catálogos externos.
Por outro lado, Coyle (2007) pontua que, além da complexidade
e do alto custo para se manter o Controle de Autoridade no âmbito bi-
bliográfico, o número de autores vem crescendo de forma exponencial, já
que “todos nós nos tornamos criadores nessa era da informação” (Coyle,
2007, tradução nossa) e apresenta algumas características do Controle de
Autoridade de nomes de pessoas que, na sua visão, não são funcionais: 1)
o uso de datas para diferenciar características não é uma tarefa simples para
os catalogadores que criam o registro de autoridade 2) o uso de datas para
diferenciar características não ajuda os usuários 3) o cabeçalho do nome
não é um identificador legítimo porque pode mudar.
Para Coyle (2007), a forma com que os dados das entidades pessoas
são apresentados atualmente, nem sempre ajuda o usuário a identificá-las.
Como solução, sugere-se que a visualização de uma nuvem de autores co-
nectados por áreas do conhecimento ou por livros relacionados ou afiliação
institucional, seria mais útil para o usuário e declara que “neste cenário de
abundância de autores, nomes não são significativos sem algum contexto”.
(Coyle, 2007, tradução nossa).
Com o avanço da tecnologia e, consequentemente, com o surgi-
mento do RDA, o cenário descrito vem sofrendo modificações no que
se refere principalmente à coleta e a disponibilização dos dados. Com a
utilização de identificadores únicos em conjunto com outros atributos de
uma entidade, o Controle de Autoridade baseado no RDA pode contribuir
para o enriquecimento da descrição e, consequentemente, na recuperação
e descoberta de outras informações sobre este item e de itens e entidades
relacionados.
Em 2003, Tillett (2003, p. 34) já visualizava essa transição, quando
trouxe a seguinte reflexão:
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
113
Estamos passando de um arquivo de autoridade independente
de uma única instituição, ou mesmo de arquivos compartilhados
online, para o objetivo de compartilhar arquivos de autoridade em
todas as comunidades […] permitindo ao usuário escolher a forma
de exibição, gerar automaticamente formas variantes (invertidas,
em ordem direta, abreviadas, etc.; na verdade alguns sistemas já
oferecem essa possibilidade) e vinculá-las a outros recursos da
Internet, incluindo objetos digitais (alguns sistemas também
podem fazer isso), ferramentas de consulta e outras ferramentas em
uma futura web semântica.
Com a adoção de modelos conceituais no contexto da catalogação
descritiva, o que resultou na criação e no desenvolvimento do RDA, o
cenário descrito por Tillett (2003) vem se consolidando no decorrer dos
anos. Diante disso, em 2020, foi publicado o relatório “Transitioning to
the Next Generation of Metadata”, que sintetiza as pesquisas de seis anos do
grupo “OCLC Research Library Partners Metadata Managers Focus Group
sobre a próxima geração de metadados e os impactos que essa transição
pode gerar nos dados bibliográficos e nos serviços de bibliotecas.
De acordo com Smith-Yoshimura (2020), um dos desafios para as
bibliotecas e para os bibliotecários é a adaptação aos novos modelos pro-
postos. A forma com que a informação bibliográfica é tratada e abordada
atualmente, na qual apenas os bibliotecários e os sistemas de bibliotecas
entendem os dados, tende a se tornar obsoleta em breve. É necessário que
estes dados se transformem em novas estruturas e que possam ser reutiliza-
dos em ambientes de dados conectados no futuro, isto é, fora do domínio
das bibliotecas.
Com o surgimento do RDA, o foco passa a ser nos dados e os pro-
fissionais e as bibliotecas passam a ter um estímulo para que possam se
adequar em direção à contextualização desses dados, tornando as infor-
mações mais compreensíveis para os usuários e para as máquinas (Smith-
Yoshimura, 2020).
As principais tendências apresentadas e discutidas no relatório foram
divididas de acordo com as seguintes seções:
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
114
1. A transição para dados vinculados e identificadores: expandindo
o uso de identificadores persistentes como parte da mudança de
“Controle de Autoridade” para “Gestão de Identidade”;
2. Descrever as coleções “de dentro para fora” e “facilitadas”: desa-
fios na criação e gerenciamento de metadados para recursos úni-
cos criados ou com curadoria de instituições em vários formatos
e compartilhados com consórcios;
3. Evolução de “metadados como serviço”: maior envolvimen-
to com a criação de metadados além do catálogo da biblioteca
tradicional;
4. Preparação para as necessidades futuras de recursos humanos: a
mudança do cenário exige novos conjuntos de habilidades neces-
sárias para os novos profissionais que entram na área e catalogado-
res experientes. (Smith-Yoshimura, 2020, p. 10, tradução nossa).
O relatório, publicado em 2020, aponta a expansão do uso de iden-
tificadores únicos como a principal tendência na transição dos metadados
atuais para aplicações futuras. Os arquivos de autoridade se concentram
na “forma preferencial” de um nome, que pode variar dependendo do
idioma, da disciplina, do contexto e do intervalo de tempo, o que muitas
vezes restringe as possibilidades de recuperação e interoperabilidade dos
dados. Um identificador único poderia resolver essas questões (Smith-
Yoshimura, 2020).
metodologia
Em relação aos procedimentos técnicos, foram utilizados nesta pes-
quisa o estudo de caso, o levantamento bibliográfico e a pesquisa documen-
tal, trazendo principalmente pesquisas científicas e materiais complemen-
tares no âmbito do RDA, do Controle de Autoridade e de sua evolução.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
115
Do ponto de vista dos procedimentos de investigação, a pesquisa
possui abordagem qualitativa, pois visa explorar os fenômenos em profun-
didade, extrair os significados dos dados e não se fundamenta na estatística
(Hernández Sampieri; Fernández Collado; Baptista Lucio, 2013).
definição do corpUs pArA A AplicAção
De acordo com Oliver (2021), o RDA é um padrão global que pode
ser utilizado em diversos contextos. Desse modo, optou-se por utilizar
para o estudo de caso uma área do conhecimento que, de forma similar
ao ambiente bibliográfico, demandasse, de forma crítica, a identificação
inequívoca de agentes pessoas. Ao analisar estudos sobre a organização e
a representação da informação de forma geral, constatou-se que a área do
Direito, representada pela informação jurídica, é uma das áreas do conhe-
cimento que mais demandam soluções que possam aprimorar o acesso às
informações, principalmente por sua relevância para a sociedade e pelo
princípio constitucional de sua publicidade pelo Estado.
Considerando as suas três fontes: Legislação, Jurisprudência e a
Doutrina, e suas respectivas peculiaridades, como a multiplicidade de nor-
mas, as alterações frequentes, e somado à estrutura do ordenamento jurídi-
co e mais especificamente do poder judiciário brasileiro, é possível inferir o
Direito é uma das áreas que mais produz ou gera documentos. Uma das ca-
racterísticas de destaque da informação jurídica é a interdependência entre
as suas fontes, que necessitam estar correlacionadas. No entanto, essas re-
lações não são detectadas nos sistemas atuais, onde cada poder (legislativo,
judiciário e executivo) desenvolve seus sistemas de forma isolada, gerando
silos informacionais”. Assim, evidencia-se a necessidade de adequação dos
sistemas e mecanismos atuais para que seja possível uma maior interação
entre as três fontes do direito, minimizando a sua dispersividade.
Dentre as três fontes, a jurisprudência é a que mais gera documen-
tos. Definida sumariamente como o conjunto de decisões proferidas por
um tribunal com mesmo entendimento para questões semelhantes, a juris-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
116
prudência tem a peculiaridade de conter diversas entidades em sua estru-
tura, sob a ótica da representação do documento jurídico, desde o início
do processo judicial até a decisão final. Além dos assuntos que permeiam
os processos judiciais, diversas pessoas e instituições, denominadas entida-
des agentes pelo RDA, exercem diferentes papéis em sua estrutura, desde
o advogado que inicia o processo, passando pelo autor, réu, advogados,
assessores, relatores, juízes, colegiados, turmas, tribunais e autores/juristas
que são citados na fundamentação das decisões judiciais, mas que não são
mapeados e não podem ser identificados ou contabilizados de maneira
estruturada. Nesse sentido, há uma maior necessidade de controle dessas
entidades, principalmente para evitar ambiguidades e inconsistências em
sua recuperação e permitir a interoperabilidade e a descoberta de outras
informações pelo usuário.
Verifica-se, portanto, que, além da complexidade da estrutura de
um documento jurisprudencial e de suas relações com outros documen-
tos, pessoas e instituições, da quantidade de informação gerada e por sua
origem dispersa, há uma maior dificuldade em organizar, controlar, tra-
tar, disponibilizar e recuperar esse tipo de informação, ações consideradas
como núcleo e como temas de diversos estudos exploratórios e científicos
da Biblioteconomia e da Ciência da Informação (CI). Por esse motivo, a
jurisprudência, representada por um acórdão do Supremo Tribunal Federal
(STF), foi escolhida como o objeto de estudo desta pesquisa. A escolha
pelo STF se deu pelos seguintes motivos: pela importância das decisões
geradas pela instituição na construção do direito e de seu impacto na so-
ciedade brasileira, por ser a instância máxima do poder judiciário e por
possuir uma estrutura mais concisa, com 11 ministros e 2 turmas.
É importante destacar que esta pesquisa não tem como foco analisar
ou apresentar melhorias na recuperação de documentos jurisprudenciais,
mas sim, utilizar um documento jurisprudencial como estudo de caso da
adoção do Controle de Autoridade no cenário atual da catalogação. De
qualquer forma, visualiza-se que o estudo pode contribuir para o desenvol-
vimento de soluções que possam minimizar as inconsistências na recupe-
ração na jurisprudência e ampliar as possibilidades de interações. Somado
a isso, os resultados gerados poderão ser replicados em outros contextos da
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
117
descrição da informação ou do Controle de Autoridade utilizando o cená-
rio atual da catalogação, independente do recorte definido.
coletA de dAdos
A coleta de dados foi feita no período de 20 a 25 de junho de 2023
e dividida em duas etapas: observação não estruturada e estruturada. Na
primeira etapa, com o objetivo de verificar se havia inconsistências na pes-
quisa de jurisprudência do STF por meio de nomes de pessoas e apelidos,
foi utilizada a técnica de observação não estruturada, informal ou aciden-
tal. De acordo com Lakatos e Marconi (2021), essa técnica de coleta não
prevê planejamento e nem controle previamente elaborados. Dessa forma,
foram pesquisados aleatoriamente nomes e apelidos de pessoas conhecidas/
populares no sistema de pesquisa de jurisprudência do STF e após breve
análise dos resultados, constatou-se que:
Dependendo do nome do agente, principalmente quando ele
possui um nome comum, não é possível identificá-lo sem a lei-
tura da ementa ou do documento;
Não é possível diferenciar homônimos;
A quantidade dos resultados se difere ao realizar a busca pelo
apelido e pelo nome de uma mesma pessoa;
Nomes homófonos (que possuem a mesma fonética, mas são
escritos de forma diferentes) geram mais inconsistências nos re-
sultados. Ex: ays, Taís e aís; iago e Tiago;
Os documentos recuperados são todos estáticos, não há interli-
gação entre eles nem com fontes externas.
Destaca-se que esses resultados são recorrentes em outros sistemas
de busca que envolvem a descrição de entidades pessoas e que não utilizam
uma forma de controle para minimizar as inconsistências apontadas.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
118
A segunda etapa da coleta de dados foi guiada por meio da obser-
vação estruturada, que de acordo com Lakatos e Marconi (2021), deve
ser planejada com cuidado e sistematizada. Para verificar a validade dos
procedimentos adotados, foi realizado um pré-teste. De acordo Lakatos e
Marconi (2021, p. 32), o pré-teste:
Consiste em testar os instrumentos da pesquisa sobre uma pequena
parte da população do universo ou da amostra, antes de ser
aplicado definitivamente, a fim de evitar que a pesquisa chegue a
um resultado falso. Seu objetivo, portanto, é verificar até que ponto
esses instrumentos têm realmente condições de garantir resultados
isentos de erros.
Como pré-teste e para a escolha da amostra, o planejamento para a
coleta dos dados seguiu a seguinte estratégia. Baseado nos diagnósticos da
primeira etapa, foram definidos os critérios específicos para escolha dos
nomes e apelidos a serem pesquisados, apresentados no Quadro 1.
Quadro 1 – Critérios para a escolha dos nomes dos agentes
Critério Justificativa
Julgamento histórico (de grande
repercussão)
Pois, dependendo do caso, é possível utilizar todo
o cenário real para a aplicação dos relacionamentos
entre todas as entidades envolvidas
Pseudônimos mais conhecidos
que o nome
O nome conhecido é o nome pelo qual o usuário
irá efetuar a busca, e muitas vezes não é possível
recuperar por esse nome
Possuir nome homófono Nomes homófonos apresentam maior probabilidade
de erros de grafia na descrição e consequentemente
impactam na recuperação
Fonte: Autores.
Em seguida, foram escolhidos 5 nomes/apelidos para a pesquisa,
atendendo a pelo menos um dos critérios definidos no Quadro 1. No
Quadro 2 é apresentado a entidade pessoa escolhida, sob a forma do nome
mais conhecido ou preferido, a sua descrição e a justificativa da escolha.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
119
Quadro 2 – Nomes escolhidos
Nome conhecido/
preferido Descrição Justificativa
Fernando Collor ex-presidente da
república Grande repercussão, nome
homófono
André do Rap traficante de drogas Apelido mais conhecido, nome
comum
Gugu Liberato ex-apresentador de TV Apelido mais conhecido
Anthony Garotinho ex-governador do RJ Apelido mais conhecido
Sepúlveda Pertence ex-ministro do STF Nome homófono
Fonte: Autores.
Para cada nome escolhido, foram elencados os termos e as for-
mas para estratégia de busca, que podem ser visualizadas na coluna 4 do
Quadro 3. Nas outras colunas do Quadro 3, é possível visualizar o nome
de registro de cada entidade pessoa escolhida e o recurso que foi utilizado
para comprovar o nome de registro.
Em seguida, realizou-se as pesquisas de acordo com os termos elen-
cados, utilizando a busca livre no sítio do STF e aspas em todos os termos
para a recuperação do termo exato. De acordo com cada termo utilizado na
busca, foi contabilizada a quantidade de acórdãos e decisões monocráticas
encontrados. Os resultados estão apresentados no Quadro 4.
Quadro 3 – Termos e formas para estratégia de busca
Nome
conhecido/
preferido
Nome de
registro
Ferramenta de
comprovação do
nome de registro
Termos de busca (Variantes do
nome)
Fernando
Collor
Fernando
Affonso Collor
de Mello VIAF
Fernando Collor de Mello
Collor de Mello
Color de Mello
Collor de Melo
Fernando Affonso Collor de Mello
Fernando Afonso Collor de Mello
André do
Rap André Oliveira
Macedo
Banco Nacional de
monitoramento de
prisão (CNJ)
André do Rap
André Oliveira Macedo
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
120
Nome
conhecido/
preferido
Nome de
registro
Ferramenta de
comprovação do
nome de registro
Termos de busca (Variantes do
nome)
Gugu
Liberato
Antônio
Augusto
Moraes
Liberato
VIAF Antônio Augusto Moraes Liberato
Gugu Liberato
Anthony
Garotinho
Anthony
William
Garotinho
Matheus de
Oliveira
VIAF
Anthony Garotinho
Anthony William Garotinho
Matheus de Oliveira
Anthony William Matheus de
Oliveira
Antony Garotinho
Sepúlveda
Pertence
José Paulo
Sepúlveda
Pertence VIAF Sepúlveda Pertence
Sepúveda Pertence
Fonte: Autores.
De acordo com Quadro 4, evidencia-se que a falta de um controle
acarreta diversas inconsistências nos resultados. A coluna 1 do Quadro in-
dica a entidade pessoa que foi pesquisada e, caso houvesse um controle dos
nomes, a quantidade de resultados de acórdãos e de decisões monocráticas
deveriam ser a mesma, independentemente do atributo de ocupação/papel
exercido pela pessoa no documento: Juiz, Réu, Advogado por exemplo
ou se o termo fosse assunto do documento. Por esse motivo foi utilizada
a pesquisa livre, que recupera o termo em qualquer lugar do documento.
Quadro 4 – Número de acórdãos e decisões monocráticas recuperados
Nome Termo pesquisado Acórdãos Decisões
Monocráticas
Fernando Collor
“Fernando Collor” 5 44
“Fernando Collor de Mello 5 20
“Collor de Mello 35 63
“Color de Mello 0 0
“Collor de Melo 1 5
“Fernando Affonso Collor de Mello 24 45
“Fernando Afonso Collor de Mello 3 0
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
121
Nome Termo pesquisado Acórdãos Decisões
Monocráticas
André do Rap André do Rap 1 2
André Oliveira Macedo 4 8
Gugu Liberato Antônio Augusto Moraes Liberato” 1 3
“Gugu Liberato 0 0
Anthony Garotinho
Anthony Garotinho 1 32
Anthony William Garotinho
Matheus de Oliveira 29 92
Anthony William Matheus de
Oliveira 0 0
Sepúlveda Pertence “Sepúlveda Pertence 10964 76346
“Sepúveda Pertence 12 28
Fonte: Autores.
A divergência dos resultados pode trazer grandes prejuízos para os pes-
quisadores, pois ao tentar buscar pelo nome conhecido, os resultados encon-
trados podem não trazer todos os itens úteis. Além de serem documentos ofi-
ciais da alta corte brasileira, não é uma tarefa trivial realizar diversas pesquisas
para encontrar todos os itens sobre determinado termo. Por outro lado, por
serem documentos oficiais, é importante mencionar que o maior número de
documentos recuperados foi utilizando os nomes registrados, o que de certa
forma, demonstra que há algum padrão na definição dos nomes que cons-
tam nos documentos. A única exceção foi para o termo “Collor de Mello”,
que trouxe mais resultados que o nome registrado “Fernando Affonso Collor
de Mello”, o que já era esperado, pois o termo “Collor de Mello” elimina o
termo “Fernando Affonso” e quaisquer variantes.
De forma aleatória, foi feita a comparação dos resultados encon-
trados de cada um dos termos “Fernando Affonso Collor de Mello” e
“Fernando Afonso Collor de Mello”. O primeiro termo recuperou 3 Ações
Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs): ADI18, ADI18MC e ADI19 e
segundo, recuperou 2 ADIs diferentes: 5498 MC e 4650. Essa diferença se
deu pelo fato do primeiro termo ser “Requerente” das ADIs e o segundo,
ser “assunto”. De qualquer forma, mesmo com erro de grafia de um nome,
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
122
caso houvesse um Controle de Autoridade mais refinado, com remissivas e
relacionamentos, todas as ADIs seriam recuperadas.
Nessa perspectiva, tanto pela exceção encontrada do nome registra-
do x nome conhecido e pelos resultados mencionados no parágrafo an-
terior, e pela repercussão e pelas pessoas envolvidas no caso, o nome do
ex-presidente foi escolhido para compor a amostra. É importante ressaltar
que a escolha serve como elemento para o estudo científico e está isenta de
qualquer juízo de valor ou de qualquer aspecto político partidário. A seguir
são detalhados o corpus que compõe a amostra e os procedimentos e os
instrumentos necessários para a aplicação.
AMostrA
Para compor a amostra, foi necessário visualizar empiricamente o
cenário que poderia ser replicado para criar os registros das entidades e
seus relacionamentos de acordo com o contexto atual da catalogação.
Por meio da coleta de dados, visualizou-se que nos casos em que o ex-
presidente Fernando Collor foi protagonista, possibilitaria, por analogia,
a criação de um cenário que pudesse compor de forma satisfatória
a aplicação no âmbito da catalogação atual. Para a visualização dos
relacionamentos e para verificar os potenciais benefícios que o Controle
de Autoridade pode trazer na identificação de agentes pessoas, fez-se
necessário identificar outras entidades que pudessem compor o cenário,
além do ex-presidente Fernando Collor.
Desse modo, foi escolhida a Ação Penal n. 307-3 como ponto de par-
tida do processo de criação do cenário. A Ação foi movida pelo Ministério
Público Federal contra Fernando Collor de Mello e outros, acusados pelos
crimes de corrupção passiva e corrupção ativa de testemunha. A Ação con-
tém diversas entidades pessoas que mantiveram relação com o ex-presidente,
sendo o mais conhecido, o seu Contador na época: Paulo César Farias. Todo
o processo contra os réus e contra o ex-presidente foi desencadeado pela
denúncia de seu irmão Pedro Collor de Mello, que publicou um livro pela
editora Record, sediada no Rio de Janeiro, intitulado: “Passando a limpo: a
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
123
trajetória de um farsante”. Com esse cenário preliminar, detectou-se os se-
guintes relacionamentos possíveis de acordo com o RDA (Quadro 5).
Quadro 5 – Relacionamentos
Relacionamentos reais Entidades RDA
Fernando Collor x Acórdão Agente pessoa x Obra
Fernando Collor x PC Farias Agente pessoa x Agente pessoa
Fernando Collor x Pedro Collor de Mello Agente pessoa x Família
Pedro Collor de Mello x Livro Agente pessoa x Obra
Livro x Rio de Janeiro Obra x Lugar
Editora Record x Rio de Janeiro Agente coletivo x Lugar
Fonte: Autores.
Com o cenário pré-definido, foram realizadas pesquisas para com-
plementar a amostra e para a definição dos atributos, como local de nasci-
mento, outras obras, datas e outras informações. Com os resultados, foram
definidas todas as entidades da amostra e suas respectivas classificações de
acordo com o RDA, apresentadas no Quadro 6.
Quadro 6 – Entidades da amostra
Entidades Entidades do RDA
Ação Penal n. 307-3 Obra
Fernando Affonso Collor de Mello Agente pessoa
PC Farias Agente pessoa
Pedro Collor de Mello Agente pessoa/Família
Ilmar Galvão Agente pessoa
Ministério Público Federal Agente coletivo: instituição corporativa
STF Agente coletivo: instituição corporativa
FGV Agente coletivo: instituição corporativa
Editora Record Agente coletivo: instituição corporativa
História Oral do Supremo Obra
Passando a limpo: a trajetória de um
farsante Obra
Rio de Janeiro Local
Brasília Local
Fonte: Autores.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
124
A partir do mapeamento, a próxima etapa constituiu-se na cria-
ção dos registros utilizando o software RDA in Many Metadata Formats
(RIMMF).
criAção dos registros
De acordo com Dunsire, Fritz e Fritz (2019), os métodos de armaze-
namento e registro de dados baseados em sistemas MARC são limitados e
impedem a aplicação e a assimilação dos novos modelos de metadados e de
métodos de registros. Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de novas
ferramentas que possam solucionar ou minimizar os problemas apontados.
Uma das ferramentas recomendadas pelos autores é o RIMMF, desenvolvi-
da pelo TMQ Inc. Dessa forma, o RIMMF foi selecionado para a criação
dos registros e de seus relacionamentos.
O RIMMF segue a lógica do RDA, portanto a catalogação não é
linear e não é necessário criar registros separados e depois relacioná-los.
As entidades relacionadas podem ser criadas no momento da catalogação.
Assim, a entidade escolhida como ponto de partida foi o agente “Fernando
Collor” e a partir daí todas as outras entidades foram criadas. A Figura 1
mostra os elementos “País” e “Lugar de Nascimento” já criados e relacio-
nados e o momento da criação da entidade intervalo de tempo “Data de
nascimento”, destacados em vermelho.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
125
Figura 1 – Criação da entidade “Intervalo de Tempo
Fonte: Autores.
A ferramenta é intuitiva e minimiza as possibilidades de erros na
catalogação, pois a sua estrutura é pautada no RDA. Os Quadros 5 e 6
foram essenciais para o processo, pois deram uma visão macro do cenário.
Assim, todas as entidades foram catalogadas e relacionadas de acordo com
os preceitos do panorama atual da catalogação.
análise dos dados
Na Figura 2 é possível visualizar o registro da entidade pessoa
“Fernando Collor”. Além da descrição exaustiva, é possível verificar por
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
126
meio dos relacionamentos, que ele é assunto da obra “Passando a Limpo:
a trajetória de um farsante” e é réu e assunto da entidade obra “Ação Penal
307-3”, é amigo de P.C. Farias, é membro da Família Collor de Mello, tem
o Brasil como país associado e nasceu no Rio de Janeiro em 12 de agosto de
1949. Ao clicar na entidade obra “Ação Penal 307-3”, o seguinte registro
é exibido (Figura 3).
Figura 2 – Registro entidade pessoa “Fernando Collor”
Fonte: Autores.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
127
Figura 3 – Registro “Ação Penal 307-3”
Fonte: Autores.
Da mesma forma, a entidade “Fernando Collor” aparece como réu e
assunto da Obra. Já o P.C. Farias, além de assunto, aparece agora como réu
do acórdão. O ex-ministro “Ilmar Galvão” é descrito como Juiz da entida-
de obra. O STF aparece como instituição responsável e a obra “Passando a
limpo”, possui relação com o acórdão pois é o livro que traz o contexto da
denúncia que desencadeou todo o processo judicial. Ao clicar no título do
livro, o registro “obra” é exibido (Figura 4).
Figura 4 – Registro do livro “Passando a limpo
Fonte: Autores.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
128
Nesse registro, a entidade família “Collor de Mello” e as entidades
pessoas “PC Farias” e o “Fernando Collor” aparecem como assunto. O autor
da obra, “Pedro de Mello”, é membro da família Collor (que está relaciona-
da no registro do autor). A obra foi editada pela editora “Record”, sediada
no Rio de Janeiro, que também é o local de nascimento do agente pessoa
“Fernando Collor” e sede da editora “Fundação Getúlio Vargas”, que editou
o livro “História oral do Supremo [1988-2013] - Ilmar Galvão”. Ao clicar
em “Pedro Collor”, o registro da entidade pessoa é exibido (Figura 5).
Figura 5 – Registro “Pedro Collor”
Fonte: Autores.
Para cada entidade, é possível visualizar os relacionamentos em for-
mato de árvore. Na figura 6, o agente pessoa “Fernando Collor” possui re-
lação com as entidades “Intervalo de tempo”, “Obra”, “Lugar”, “Família”,
“Pessoa” e “Instituição corporativa”.
Figura 6 – Relacionamentos da entidade pessoa “Fernando Collor” em
formato de árvore
Fonte: Autores.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
129
Os resultados trouxeram a possibilidade de visualizar como o
Controle de Autoridade aplicado de acordo com o RDA pode funcionar.
Além da descrição exaustiva para minimizar as inconsistências e potencia-
lizar a recuperação por quaisquer das formas variantes descritas no regis-
tro “Fernando Collor”, os relacionamentos trazem as “amarras” que falta-
vam além da descrição. Com eles, a identificação do agente se torna mais
consistente.
Outro ponto percebido com a aplicação foi a possibilidade de des-
crever os recursos de dentro para fora. No processo de criação dos registros,
verificou-se que a catalogação de um registro baseada no RDA é feita em
blocos, com a criação simultânea de outras entidades e seus relacionamen-
tos. Dessa forma, no que se refere aos relacionamentos, para chegar aos
resultados desta pesquisa, poderia ter sido escolhido qualquer uma das en-
tidades para iniciar a aplicação, por exemplo, se o objeto escolhido fosse a
obra “Passando a limpo”, todas as outras entidades estariam relacionadas
da mesma forma. Percebe-se, com isso, os benefícios que a catalogação no
contexto atual pode proporcionar em relação à economia de tempo e à
confiabilidade da informação, evitando, inclusive, registros duplicados de
agentes, pessoas ou de outras entidades.
Ao pesquisar um livro em um catálogo de biblioteca, por exemplo,
o usuário pode descobrir diversos outros recursos e informações correlatas
sobre o assunto e assim atender de forma mais completa e confiável às suas
necessidades. Essa descoberta pode e deve ir além das fronteiras do catá-
logo. Da mesma forma, um operador do direito ou cidadão comum, ao
pesquisar por uma jurisprudência, pode ser naturalmente direcionado para
um artigo de um periódico ou de um livro, que pode complementar a sua
pesquisa. Como exemplo, apresenta-se o registro da manifestação da obra
“História oral do Supremo [1988-2013] - Ilmar Galvão” (Figura 7). Se o
usuário pesquisar por um acórdão do ex-ministro “Ilmar Galvão”, ele pode
ser facilmente guiado pelos relacionamentos até acessar a obra em texto
completo, por meio do atributo “identificador da manifestação”.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
130
Figura 7 – Registro da manifestação “História oral do Supremo [1988-
2013] - Ilmar Galvão
Fonte: Autores.
Com a adoção do Controle de Autoridade de entidades pessoas de
acordo com o contexto atual da catalogação, é possível extrair dados mais
precisos, além de ser possível criar diferentes métricas para pesquisas cien-
tíficas e novos fatores de impacto, por exemplo. Por meio do exemplo da
entidade pessoa “Pedro Collor”, é possível saber que a obra de sua autoria,
mesmo sem ser citada no acórdão, é um importante recurso que agrega
valor aos resultados de uma pesquisa no contexto criado.
conclusão
No cenário onde a descrição é linear e monolítica, a identificação
de agentes pessoas é dificultada por não ter recursos mais avançados ou
informações adicionais sobre elas que possam identificá-las de maneira ine-
quívoca. A falta de um controle, conforme constatado, gera inconsistências
na recuperação.
Com a adoção da Controle de Autoridade de entidades pessoas ou
de outras entidades no panorama atual da catalogação, com uma única
busca é possível recuperar todas as formas variantes do nome, mesmo que
estejam com a grafia errada ou sejam conhecidas por outros nomes. Com
a descrição enriquecida e com o estabelecimento de relacionamentos entre
as entidades, as inconsistências na recuperação são minimizadas e as possi-
bilidades de identificação dos agentes envolvidos são ampliadas.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
131
De acordo com os resultados encontrados, constatou-se que é pos-
sível utilizar o RDA na catalogação de um recurso em um ambiente não
bibliográfico. Além disso, foi possível visualizar o comportamento da enti-
dade agente pessoa e seus relacionamentos de acordo com o contexto atual
da catalogação.
Adicionalmente, constatou-se que a experiência do usuário ao bus-
car uma informação pode ser aprimorada. Com o sistema estruturado de
acordo com as diretrizes do RDA, o usuário pode navegar, relacionar um
item a outro, estabelecer conexões inesperadas e descobrir mais informa-
ções sobre determinado recurso de seu interesse, o que demonstra os bene-
fícios que a catalogação baseada no RDA pode trazer para a organização e
a recuperação da informação.
O RDA é complexo, sua origem vem de modelos conceituais e on-
tologias, conceitos complexos ou de difícil entendimento para o bibliote-
cário em sua prática profissional. Dessa forma, é importante reforçar que
o currículo acadêmico da Biblioteconomia deve acompanhar essas mu-
danças, incluindo principalmente disciplinas da tecnologia da informação.
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133
C 7
S :
  
   

Fernanda Alves Sanchez 1, Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti 2 e
Fernando Luiz Vechiato 3
intRodução
O uso do termo “sujeito informacional” no campo da Ciência da
Informação (CI) justifica-se devido à abordagem sociocognitiva que está
relacionada à complexidade de suas relações com o fenômeno informacio-
nal e os diferentes contextos em que o sujeito vive, sendo estes: os sociais,
culturais, políticos e tecnológicos, que interferem e compõem as caracte-
rísticas (competências, comportamentos, habilidades e experiências) apli-
cadas na relação do sujeito com a informação.
Nesse sentido, a interpretação dos estudos na área da CI, que por
muito tempo viu o sujeito apenas como usuário da informação, passa a
ser insuficiente para compreender o papel deles dentro do domínio do
Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail:
fernanda.a.sanchez@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5293590576574461.
Doutora em Ciência da Informação. Professora na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail:
silvana.vidotti@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4216-0374. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/7390573927636069.
Doutor em Ciência da Informação. Professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
E-mail: vechiato2008@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1727550604163016.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p133-146
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
134
fenômeno da Informação. Dentro desse contexto, está o conceito de
Intencionalidade, onde o sujeito informacional é visto como um ser de
múltiplas facetas e suas atividades e ações sobre determinado objeto são
resultados de seus estados intencionais conscientes advindos da construção
de sua bagagem cognitiva (contextos e características).
Como problemática, esta pesquisa busca relacionar o conceito de
Intencionalidade, que está ligado à essência dos sujeitos informacionais,
com campos de estudos da Ciência da Informação, a fim de identificar suas
contribuições teóricas, especialmente para o âmbito digital, que passa por
constantes mudanças graças às Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC). Nesse sentido, questiona-se: quais são as possíveis relações teóricas
entre a Intencionalidade e o contexto da Ciência da Informação?
O texto tem como objetivo principal apresentar correlações da
Intencionalidade, que ainda é pouco abordada na CI e essencialmen-
te advinda da Filosofia, mais especificamente do campo da Filosofia
da Mente, trazendo perspectivas de sua transversalidade e versatilidade
para contribuir teoricamente com algumas áreas de estudo do campo da
Ciência da Informação.
A pesquisa é caracterizada como bibliográfica e exploratória, de na-
tureza teórica e abordagem qualitativa. O levantamento bibliográfico foi
realizado no mês de julho de 2023, no Portal de Periódicos da CAPES e no
Repositório Institucional da Unesp, abrangendo três idiomas: português,
inglês e espanhol. As palavras-chave utilizadas foram: sujeitos informacio-
nais, intencionalidade e ciência da informação.
As referências apresentadas ao longo do texto também fazem parte
do levantamento realizado durante a pesquisa em andamento para a tese
de doutorado. Além dos resultados obtidos no portal, foram incluídos o
livro de Rojas (2018) e de Searle (2002), que foram procurados por outras
fontes de informação em momentos distintos da pesquisa.
Como resultados e justificativa, o estudo busca apresentar os resul-
tados obtidos até o momento da realização desta pesquisa, destacando as
correlações com campos de estudos já consolidados na área da Ciência da
Informação, sendo eles: a Representação da Informação e a Mediação da
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
135
Informação. Especial destaque é dado às contribuições no âmbito digital,
no que se refere à construção de ambientes informacionais digitais dentro
do contexto da Encontrabilidade da Informação.
Portanto, o estudo aborda a atuação dos sujeitos informacionais por
meio da aplicação de sua Intencionalidade acerca de suas ações relaciona-
das à representação e mediação da informação. Isso contribui com a orga-
nização e representação do conhecimento em ambientes informacionais
digitais, visando propiciar a encontrabilidade e apropriação da informação.
sujeitos infoRmacionais: peRspectivas teóRicas da
intencionalidade
O conceito de Intencionalidade é advindo da Teoria da
Intencionalidade, que se desenvolveu sob a escola de pensamento da
Fenomenologia de Husserl a partir de 1901 na Filosofia. Especificamente,
no campo da Filosofia da Mente, a Fenomenologia é “[…] visada de cons-
ciência e produção de um sentido que permite perceber os fenômenos hu-
manos em seu teor vivido” (Husserl, 2008, p. 28-29).
Nesse contexto, Husserl (2008) acredita que a Intencionalidade
seja a consciência que está sempre direcionada a algo ou alguma coi-
sa. Diante da ideia de sentido, ele prossegue: a ideia de direcionamento
da consciência (Intencionalidade) e, por fim, a geração da significação.
Assim, a: “[…] consciência não é coisa, mas é aquilo que dá sentido às
coisas. O sentido não se constata à maneira de uma coisa, mas se inter-
preta.” (Husserl, 2008, p. 30).
Dentre os filósofos inspirados a desenvolver os estudos sobre a
Intencionalidade, temos John Searle, que fez sua primeira publicação em
1983, buscando desenvolver, de fato, uma Teoria da Intencionalidade.
Para ele, a consciência está na Intencionalidade, não se tratando da mesma
coisa. Searle (2002, p. 4) afirma que: “[…] Intencionalidade é direcionali-
dade; ter a intenção de fazer algo é apenas uma forma de Intencionalidade
entre outras”.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
136
A Intencionalidade é responsável por compor todas as multifaces e
complexidades relacionadas à bagagem cognitiva do ser humano. Assim, os
aspectos que a compõem não são apenas:
[…] o intelecto racional que inclui ideias, sentidos, conhecimentos
e formas lógicas, mas também o volitivo que implica valores e
desejos; o sensível que conduz à estética, à apreciação, ao gozo
da beleza e de outras categorias estéticas (feiura, sublime, trágica,
cômica e grotesca); o afetivo (amor, ódio e outros sentimentos); o
social, o cultural, o político, o comunicativo e o linguístico (Rojas,
2018, p. 159-160).
Nesse sentido, fica claro que todo o contexto socioinformativo
que cerca o sujeito afeta suas características, bem como os resultados de
suas ações e atividades perante a sociedade e os meios de informação.
Com base nos estudos de Searle (2002), identificam-se dois domínios da
Intencionalidade que resultam em representações: a Intencionalidade da
linguagem ou linguística, e a Intencionalidade da percepção.
O primeiro domínio está relacionado aos atos de fala, havendo uma
teoria desenvolvida sobre esses atos. Em suma, trata-se da ideia de repre-
sentar intenções por meio da fala. Ao falar ou emitir filhos, o sujeito tem
como objetivo representar um objeto. No entanto, deve-se considerar tam-
bém os atos de fala insinceros, mentiras e sarcasmos, que interferem nas
condições de satisfação, geradas em obstáculos na comunicação entre o
emissor e o ouvinte.
O segundo domínio está direcionado à apresentação e representação
do objeto, bem como à interpretação pessoal de cada sujeito diante da
coisa em si. Está relacionado à interpretação e à significação, ou seja, há
complexidade no ato de representação, uma vez que está sempre ocupa o
lugar de outra coisa. Isso demanda um processo de interpretação por parte
do sujeito, o que resulta na redução de algo, desencadeando o ato de repre-
sentar e mediar a informação (Arnao, 2008; Castro, 2008).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
137
Portanto, é possível afirmar que as representações são vistas no
conceito de intencionalidade como sua formalização, e todo o contexto
socioinformativo (social, cultural, político e tecnológico) em que vive o
sujeito pode alterar suas características. Isso inclui seus comportamentos,
competências, habilidades e experiências diante do objeto. Sendo assim,
existem particularidades nos sujeitos que estão representando e, conse-
quentemente, nos sujeitos que estão ressignificando a representação.
intencionalidade na ciência da infoRmação
Na Ciência da Informação, a Intencionalidade foi abordada inicial-
mente por Miranda (2010) em sua tese. Nela, a Intencionalidade é vista
como uma das propriedades da Informação. Dentre as temáticas relaciona-
das a seu trabalho, a acessibilidade, a experiência do usuário e a encontra-
bilidade da informação fazem parte do seu conceito.
Por conta das datas de publicação, o conceito relacionado à encon-
trabilidade é o de Morville (2005), com o termo Findability. A ideia central
da Findability está relacionada aos graus de qualidade e eficiência dos am-
bientes informacionais. Nesse sentido, os ambientes devem ser localizáveis,
devem proporcionar o encontro e/ou a descoberta dos objetos digitais, além
de apresentar qualidade na navegação no ambiente e na recuperação desses
objetos (Morville, 2005).
Nesse contexto, Miranda (2010) traz sua definição do que seria a
Intencionalidade dentro do contexto da informação como um fenômeno e
objeto da IC. Sendo assim, a intencionalidade, nessa perspectiva, significa:
[…] direcionalidade de informação e se funda na experiência de
cada sujeito (user experience para controle na produção, organização
e partilha de informação); a informação que é produzida é sempre
acerca de e dirigida a, isto é, um sujeito, com a sua experiência, cria
informação acerca de e dirigida a para atingir seus objetivos. E é nesse
sentido, da capacidade da experiência do usuário, da consciência
Intencional, que se baseia a web da inovação, do paradigma atual
(Miranda, 2010, p. 273, grifo da autora).
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
138
Dentre os resultados relacionados à Intencionalidade no trabalho de
Miranda (2010), a Intencionalidade, além da propriedade da Informação, é
considerado um processo. É nessa perspectiva que a autora sugere variáveis
para avaliar a intencionalidade, especialmente no que se refere aos sistemas
de informação. São quatro variáveis, sendo elas: a) “Intencionalidade: pen-
samentos sendo crenças sobre coisas; b) Consciência: experiência soma-
da à subjetividade; c) Privacidade: estados mentais (únicos e íntimos); d)
Direcionalidade: continuidade.” (Miranda, 2010, p. 188).
A segunda abordagem da Intencionalidade na Ciência da Informação
é advinda do trabalho de Vechiato (2013) e Vechiato e Vidotti (2014),
com o conceito de Encontrabilidade da Informação. Este conceito trata da
eficiência das funcionalidades dos ambientes informacionais digitais e das
características dos sujeitos informacionais.
A Encontrabilidade da Informação pode ocorrer de duas formas:
por meio da navegação em um ambiente bem organizado e controlado, ou
por meio do processo de descoberta de informação, que pode desencadear
episódios de serendipidade. Além disso, a Encontrabilidade pode ser alcan-
çada através dos mecanismos de busca, ou seja, na qualidade da geração de
resultados provenientes dos Sistemas de Recuperação da Informação (SRI).
Nesse contexto, a Intencionalidade é abordada como um dos treze
(13) atributos de Encontrabilidade da Informação, especificamente como a
Intencionalidade dos sujeitos informacionais. Os demais atributos incluem:
as Taxonomias Navegacionais, os Instrumentos de Controle Terminológico,
as Folksonomias, os Metadados, a Mediação dos Informáticos, a Mediação
dos Profissionais da Informação, a Mediação dos Sujeitos Informacionais,
as Affordances, o Wayfinding, a Descoberta de Informações, Acessibilidade
e Usabilidade, e Mobilidade, Convergência e Ubiquidade.
Sobre o atributo da Intencionalidade dos sujeitos informacionais,
Vechiato (2013) e Vechiato e Vidotti (2014) enfatizam sua essência advin-
da da Teoria da Intencionalidade (campo da Filosofia) e entendem que as
necessidades, experiências, habilidades e competências adquiridas ao longo
da vida pelos sujeitos informacionais podem contribuir com direitos para a
estruturação de projetos de ambientes informacionais e/ou de seus sistemas.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
139
É possível armar que ambas as abordagens sobre a Intencionalidade
(Miranda, 2010; Vechiato, 2013) relacionam o sujeito informacional tanto
como consumidor quanto como contribuidor. Entretanto, na abordagem
de Miranda (2010), a contribuição do sujeito está relacionada à interação
dele com os sistemas por meio de suas experiências. Nesse sentido, os:
[…] sistemas mais eficazes são aqueles onde os usuários podem
interagir por meio de mecanismos da web social, como os
comentários, hashtags, metatags, bookmarking. E sistemas
potenciadores dessa Intencionalidade são aqueles que seguem
as exigências da acessibilidade, que delibera sobre a ausência de
redundância de informação (Miranda, 2010, p. 299).
Dessa forma, a autora acredita que os conceitos de Findability e
de Intencionalidade podem enriquecer os Sistemas de Recuperação da
Informação (SRI), permitindo que o sujeito aplique suas significações e
experiências por meio de plataformas capazes de suportar essa interação.
Sendo assim, não se trata apenas da coleta das características dos sujeitos,
mas sim, da interação e da participação como contribuidor na organização
e representação do conhecimento no ambiente.
Na abordagem de Vechiato (2013), compreende-se a Intencionalidade
diante do papel do sujeito tanto como consumidor quanto como colabo-
rador, sob duas perspectivas que se voltam para a mediação. Dessa forma,
surge a intencionalidade do sujeito ao buscar informações no ambiente,
visando alcançar a encontrabilidade e atendimento das suas necessidades
informacionais (mediação dos sujeitos informacionais).
Por último, observamos a intencionalidade do sujeito que desen-
volve o ambiente (mediação dos informacionais e dos profissionais da
informação), no qual todo o contexto e as características presentes em
sua bagagem cognitiva podem exercer influência positiva ou negativa na
forma como são considerados adequados os recursos e as tecnologias para
esses espaços.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
140
Resultados
Para iniciar a seção de discussões e resultados deste estudo, a Figura
1 apresenta um mapa mental que visa ilustrar as correlações teóricas da
Intencionalidade com a Ciência da Informação, com base em concei-
tos como: Representação da Informação, Mediação da Informação e
Encontrabilidade da Informação.
Figura 1 – Mapa mental da Intencionalidade e a Ciência da Informação
Fonte: Autores.
O termo sujeito informacional, no âmbito da Ciência da Informação,
está sendo adotado dessa maneira, principalmente devido à limitação do
termo “usuário da informação”, quando consideramos a perspectiva dos
contextos socioinformativos. Nesse sentido, de acordo com Carmo e
Araújo (2020, p. 18-19):
A mudança não é meramente do termo, mas, sim, da perspectiva de
pesquisa e do entendimento de quem se relaciona com a informação,
nos mais diversos espaços, contextos e formatos, físicos e/ou
virtuais. A perspectiva do sujeito informacional é a de uma busca
pela compreensão de todo o processo da relação socioinformativa
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
141
dos sujeitos, considerando, em especial, os contextos, em vez de um
foco somente em um momento recortado de uso, de contato físico
e/ou virtual com a informação (Carmo; Araújo, 2020, p. 18-19).
Nesse contexto, ao abordar os cenários socioinformativos em con-
junto com a bagagem cognitiva dos indivíduos, que engloba seus compor-
tamentos, competências, habilidades e experiências acumuladas ao longo
da vida, surge o conceito de Intencionalidade. Este conceito está intrinse-
camente ligado às ações intencionais conscientes e inconscientes do sujei-
to, as quais são expressas por meio de representações, seja através dos atos
de fala ou das imagens visualizadas.
Na área da Ciência da Informação, existem dois campos de estu-
do solidificados que exploram a essência das ações intencionais dos su-
jeitos: a Representação da Informação e a Mediação da Informação.
Além disso, constatamos que os dois trabalhos de teses apresentados na
área sobre a Intencionalidade estão intimamente ligados ao conceito de
Encontrabilidade da Informação. Embora considerado relativamente re-
cente, esse conceito vêm se consolidando no âmbito conceitual da Ciência
da Informação (Sanchez; Vidotti; Vechiato, Roa-Martínez, 2022).
Com efeito, esse tripé composto pela Representação, Mediação e
Encontrabilidade da Informação na Ciência da Informação pode ser co-
nectado teoricamente com o conceito de Intencionalidade. A correlação
dessas áreas de estudo pode contribuir e ampliar a construção de ambientes
informacionais, em especial os digitais, que fazem parte do dia a dia da
sociedade contemporânea.
Desse modo, ao discorrer sobre a Representação da Informação
e sua relação com a Intencionalidade, torna-se factível afirmar que a
Intencionalidade preexiste a esse processo. Para visualizar a representação
de algo, o sujeito informacional recorre à sua bagagem cognitiva. Na es-
fera da Ciência da Informação, a Representação da Informação assume a
responsabilidade de simplificar o acesso, a utilização e a recuperação da
informação dentro de um ambiente informacional, por meio de recursos
informacionais que abrangem tanto a linguagem quanto o aspecto visual.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
142
Diante das evoluções das Tecnologias da Informação e Comunicação
(TIC), os estudos no campo da Ciência da Informação buscam estabelecer
a padronização e formalização desses processos. Por exemplo, no que tange
à linguagem (abordagem textual), destacam-se elementos como metada-
dos, taxonomias navegacionais, tesauros, ontologias, folksonomias, lingua-
gens de codificação e linguagem natural.
Por outro lado, as representações visuais representam desafios mais
complexos, devido à natureza subjetiva da interpretação individual e à di-
versidade de significados que os sujeitos atribuem aos objetos ou informa-
ções. No entanto, há a possibilidade de empregar recursos como ícones,
figuras e affordances, os quais podem auxiliar o sujeito na navegação e na
localização de objetos digitais e informações no ambiente.
Quando discutimos a Mediação da Informação e a Intencionalidade,
entramos no processo de formalização da informação por meio de repre-
sentações e chegamos aos processos de mediação. Ao mediar a informação,
o sujeito lida com as interferências dos contextos em que está inserido
para que o processo de comunicação seja realizado sem manipulação da
informação.
De acordo com Rojas (2018), a Mediação e a Intencionalidade são
inseparáveis, pois a primeira serve como suporte e direcionamento para o
sentido que a Intencionalidade carrega. Nessa perspectiva, devemos enten-
der que todo sujeito informacional exerce mediação, e algumas atividades
têm consequências mais significativas do que outras quando o processo de
comunicação não ocorre com neutralidade.
A intencionalidade não ocorre sozinha e depende das relações.
Relações essas que acontecem entre os sujeitos, os seus contextos, os meios
em que circulam a informação e as formas de representação, entre outros
(Sanchez; Vidotti; Vechiato; Almeida Júnior, 2022). Desse modo, é impor-
tante ressaltar que:
[...] apesar da intencionalidade ser uma ação consciente e dirigida a
um propósito, ela pode ser gerada e formar necessidades, interesses
e desejos oriundos de imposições externas camufladas. Toda leitura,
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
143
por exemplo, deve buscar a intencionalidade do autor de um
determinado texto. Tal intencionalidade está presente explícita e
implicitamente nas linhas e entrelinhas do produto por gerado pelo
autor, a intencionalidade dele. No entanto, aquilo que é produzido
nasce carregado de significados, concepções e entendimentos do
mundo que são específicas do autor ou assimiladas de interesses de
outros. O autor, inconscientemente, reproduz ideologias alheias aos
seus próprios interesses (Sanchez; Vidotti; Vechiato; Almeida Júnior,
2022, p. 7).
Dessa forma, após a apresentação dos referenciais e discussões,
é possível afirmar e trazer como resultados as correlações teóricas da
Intencionalidade com os campos da CI. É importante enfatizar que nem
sempre o conceito de intencionalidade está explicitamente presente quan-
do abordamos esses conceitos. No entanto, é necessário compreender sua
interferência conceitual, que ocorre de forma intrínseca na Representação
e Mediação da Informação, especialmente no fenômeno da informação.
Portanto, ao compreender a intencionalidade e sua participação nos
resultados das atividades e ações relacionadas à representação e mediação
da informação dos sujeitos informacionais, especialmente no contexto da
construção de ambientes informacionais digitais, é relevante destacar a im-
portância de uma equipe multidisciplinar. Isso possibilita a incorporação
de diferentes perspectivas, ideias e soluções para um mesmo objetivo, po-
tencializando as chances de alcançar a encontrabilidade e apropriação da
informação por parte dos usuários desse espaço.
consideRações finais
Resgatando o objetivo geral desta pesquisa, é possível concluir que
ele foi alcançado por meio das correlações da Intencionalidade com os con-
ceitos de Representação, Mediação e Encontrabilidade da Informação. Há
uma transversalidade do tema, uma vez que a Intencionalidade tem suas
raízes na área da Filosofia e se integra teoricamente nos estudos em Ciência
da Informação.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
144
Sua versatilidade fica evidente nos estudos da Intencionalidade sob
a perspectiva do fenômeno da informação, que constitui o cerne do estu-
do da CI. Desde o seu início, a CI se dedica a trabalhar com os sujeitos
informacionais, inicialmente na identificação de suas necessidades, buscas
e usos da informação. Agora, esse estudo também compreende o papel
da Intencionalidade dos sujeitos informacionais como contribuinte fun-
damental no que diz respeito à organização e representação dos ambientes
informacionais, especialmente no contexto digital.
Ambos os conceitos de Representação e Mediação da Informação
apresentam semelhanças teóricas no que diz respeito à Intencionalidade.
É possível identificar facilmente termos e conceitos vindos da Filosofia da
Mente nos conceitos na CI. Além disso, esses processos são realizados por
seres humanos, o que implica que a intencionalidade dos sujeitos informa-
cionais está intrinsecamente ligada a esses processos.
Apesar do conceito de Representação da Informação ter uma abor-
dagem operacional na CI, é crucial compreender que os resultados ob-
servados nas funcionalidades do sistema, tanto na navegação quanto nos
resultados obtidos pelos sistemas de recuperação, são representações me-
diadas pelos sujeitos informacionais. Em outras palavras, esses resultados
refletem escolhas e emoções humanas, que podem ser dos profissionais
informáticos, dos profissionais da informação ou dos próprios sujeitos
informacionais.
Por fim, a Representação e a Mediação da Informação desempe-
nham um papel fundamental no contexto do conceito Encontrabilidade
da Informação, vistos como pilares que impulsionam a recuperação,
a encontrabilidade e a apropriação da informação. Nesse contexto,
Intencionalidade opera nos bastidores desses processos, visto que está in-
trinsecamente conectado aos sujeitos informacionais que usam e desenvol-
vem os ambientes informacionais digitais.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
145
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147
C 8
A    C 
I:   
  P 
P-G  C 
I  UNESP 
 M
Amanda Garcia Gomes 1, Dayane de Oliveira Martins 2,
Paulo George Miranda Martins 3, Natally Adriely Barbosa de Oliveira 4 e
Ricardo César Gonçalves Sant'Ana 5
intRodução
O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e a
criação de ambientes informacionais digitais intensificou a geração e o
Doutoranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: garcia.
gomes@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3110-4040. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/0294326933638927.
Mestranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: dayane.
martins@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2699882287807808.
Doutorando em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: paulo.
george@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3922-5069. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/8833192447807161.
Mestranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: natally.
oliveira@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2430851214678339.
5 Doutor em Ciência da Informação. Professor na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail:
ricardo.santana@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1387-4519. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/1022660730972320.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p147-166
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
148
acesso a dados, que passaram a ser coletados, produzidos e armazenados
em grande volume, variedade e velocidade (Big Data).
Os ambientes informacionais digitais são caracterizados por um vo-
lume crescente na geração de dados, no uso de informações e no armazena-
mento de recursos. Este volume requer um tratamento específico que oti-
mize a utilização dos recursos, facilite o intercâmbio de dados, oportunize
a interoperabilidade entre sistemas, garanta a consistência, a preservação
dos dados armazenados e, de modo especial, ofereça eficiência na localiza-
ção da informação desejada e na recuperação do recurso escolhido (Santos;
Simionato; Arakaki, 2014).
A partir da criação de novos métodos e técnicas decorrentes da evo-
lução das TIC, percebe-se uma transformação no tratamento de dados,
que passa por uma mudança tanto quantitativa e quanto qualitativa, uma
vez que é possível processar mais dados em menos tempo, bem como apli-
car técnicas sofisticadas a este processamento, a fim de obter informações
mais precisas por meio dos dados acessados (Doneda, 2021).
Assim, a crescente incorporação de tecnologias para resolução de
problemas cotidianos e para o tratamento do volume de dados produzi-
dos são fatores instigantes sobre potencialidades e desafios da utilização
dos dados. O desenvolvimento de recursos tecnológicos podem contribuir
para o uso e acesso aos dados em diferentes contextos, pois os ambientes
informacionais digitais são mutáveis e podem gerar dados distintos.
Na busca de soluções para os problemas informacionais da socie-
dade, as pesquisas em Ciência da Informação (CI) tem incluído debates
sobre como transformar a imensa massa de dados operacionais disponíveis
diariamente, em informações consistentes que permitam a tomada de deci-
sões e agreguem valor às atividades e aos negócios (Santos; Vidotti, 2009).
O potencial de uso dos dados é ampliado quando se aplica técnicas de
processamento aliado aos estudos sobre os requisitos necessários para a dis-
ponibilização em ambientes informacionais digitais. Em cenários com alta
disponibilidade de dados surge a necessidade de uma estrutura básica para
ao menos contextualizar os momentos, as características e os requisitos bem
como fatores, tomando como elemento central os dados (SantAna, 2016).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
149
A definição de dados não é consensual, existindo diferentes descri-
ções pelas áreas da ciência. Diante da área da CI, esta pesquisa optou pela
definição de dado como um elemento formado por signo ou conjunto fi-
nito de signos que não contém, intrinsecamente, um componente semân-
tico, mas somente elementos sintáticos (Santos; Sant’Ana, 2013). Nesta
definição, os dados são compostos pela tríade entidade, atributo e valor
(e,a,v), podendo ser estruturados por entidade e atributo (e,a), sendo iden-
tificados por meio da granularidade mais fina de determinado contexto,
oportunidade em que a tríade se forma por meio do valor (v) (Santos;
Sant’Ana, 2013).
Nesses termos, a tríade é composta por um conjunto mínimo de
símbolos que pode ser tomado como uma unidade de conteúdo, sendo
necessário ser identificado o contexto a que pertence (Santos; Sant’Ana,
2013). Para Cunha e Cavalcanti (2008, p.112) o dado é “[…] a menor re-
presentação convencional e fundamental de uma informação (fato, noção,
objeto, nome próprio, número, estatística, etc.) sob forma analógica ou
digital”, ensejando na necessidade da CI rever e/ou ampliar seu quadro re-
ferencial sobre as possibilidades interpretativas acerca do conceito de dado,
ante sua relação com a informação (Santos; Sant’ana, 2013).
A informação, por sua vez, é mais abrangente que o dado, chegando
ao limiar da cognição, a partir do contexto em que está inserida (Doneda,
2021). Ainda segundo Doneda (2021, p. 140) “[...] sem aludir ao seu signi-
ficado, na informação, já se pressupõe a depuração de seu conteúdo - daí que
a informação carrega em si também um sentido instrumental, no sentido de
redução de um estado de incerteza”. O conhecimento, por fim, é entendido
como a aplicação e o uso produtivo da informação (Boisot, 1998).
A partir da compreensão da CI como área de pesquisa situada no
campo das ciências sociais que busca soluções para responder à necessidade
informacional da sociedade (Le Coadic, 1996), as produções científicas
desta área buscam a investigação de metodologias e instrumentos para ar-
mazenar, descrever, recuperar, preservar, disseminar a informação nos di-
ferentes contextos.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
150
Sant’Ana (2016) destaca que, o papel da área no estudo e na pro-
posta de soluções no processo de acesso a dados, qual seja, o de oferecer
um arcabouço teórico capaz de auxiliar na construção de um novo cenário,
propondo novos caminhos para que os usuários possam acessar, utilizar
e compreender como seus dados são acessados, em conjunto com outras
áreas como a Ciência da Computação e a Matemática. Assim, é possível
vislumbrar a redução da assimetria informacional que pode surgir entre os
que detém dados e os que deles precisam.
Percebe-se que, os estudos da CI devem ter por objeto de estudo
o acesso a dados, uma vez que a área “[…] se relaciona com o corpo de
conhecimentos relativos à produção, coleta, organização, armazenamento,
recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da in-
formação” (Borko, 1968, p. 3, tradução nossa).
Os estudos da CI podem e devem contribuir para que o acesso e uso
constante de dados seja realizado da maneira mais responsável possível,
procurando identificar e estudar os fatores e as características do Ciclo de
Vida dos Dados (CVD), oportunizando o equilíbrio entre os atores en-
volvidos do processo de tratamento de dados, otimizando o uso dos dados
e, em especial, dar a efetiva ciência ao usuário, quando seus dados forem
coletados (Sant’ana, 2016).
Diante deste cenário, esta pesquisa tem como objetivo identificar a
presença do termo de “acesso a dados” nas dissertações defendidas entre
os anos de 2001 a 2023 do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual
Paulista (UNESP) Campus de Marília nas linhas de pesquisa Informação
e Tecnologia, Produção e Organização da Informação e Gestão, Mediação
e Uso da Informação.
Para a observação das produções científicas no campo da Ciência da
Informação sobre o acesso a dados, optou-se por investigar um contexto
de pesquisa e de ensino na área, sendo assim, foi selecionado o Programa
de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual
Paulista (PPGCI/UNESP). A justificativa da seleção foi motivada por ser
um programa de excelência com conceito CAPES 7, e ainda pelo progra-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
151
ma possuir três linhas de pesquisa que podem abranger a temática sobre
acesso a dados.
Ressalta-se que, a pesquisa ora apresentada é apenas uma parte de um
trabalho, ainda em andamento, que pretende contemplar maior amplitude
das análises, dada a completude da temática abordada. Espera-se que esta
pesquisa contribua no desenvolvimento de novos estudos, ampliando a
convergência e novas possibilidades de interdisciplinaridade entre as áreas
com que a CI tem potencial de se relacionar e interagir.
pRocedimentos metodológicos
A pesquisa se caracteriza como exploratória, uma vez que se buscou
a extração de termo específico (Gil, 2002), nas dissertações de Mestrado
do PPGCI/UNESP coletadas no Repositório Institucional. O termo de
busca adotado para a pesquisa, nos arquivos recuperados, foi o “acesso a
dados”, sendo utilizado para extração de termo, análise e tratamento dos
dados coletados o aplicativo R em sua versão 4.3.1., com as bibliotecas
pdftools” e “ggplot2”. O termo acesso a dados foi extraído dos arquivos
no formato Portable Document Format (PDF), utilizando-se a biblioteca
pdftools”, sendo os dados tratados e armazenados em arquivo no formato
“.xlsx” estruturado, o que possibilita exportar para o aplicativo R e, poste-
rior visualização gráfica dos resultados.
A organização dos textos ocorreu considerando a atribuição da linha
de pesquisa na qual a dissertação foi produzida. Destaca-se que não foi
possível utilizar a descrição das linhas e do programa de acordo com suas
épocas dos textos analisados, mantendo-se, para efeito desta análise, os
textos atuais.
O acesso aos dados primários, associado ao uso de aplicações com
capacidade de análise de grandes conjuntos de dados, segundo Sant’Ana e
Rodrigues (2013), favorece a construção de uma visualização mais próxima
possível dos valores originais representados, evitando falhas de interpreta-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
152
ção e permitindo caminhos variados no processo de análise, possibilitando
máxima otimização de uso dos dados.
coleta de dados
A partir de consulta realizada no sítio do Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação foi possível coletar as dissertações no Repositório
Institucional da UNESP. Foi realizado o download dos arquivos que estão
disponibilizados no formato PDF na coleção de dissertação, destaca-se que
não há possibilidade de recuperação dos documentos por linha de pesqui-
sa, sendo necessário a organização manual.
Os documentos coletados são relativos ao período de 2001 a 2023
que, inicialmente, resultaram em 305 arquivos. Contudo, foi identificado
que 2 arquivos pertenciam à coleção de doutorado, ano de 2023, portanto
foram excluídos, totalizando 303 arquivos para serem analisados, de mes-
trado. O Quadro 1 exibe a quantidade de arquivos recuperados correspon-
dente ao ano de defesa.
Quadro 1 – Arquivos recuperados
Ano Textos Ano Textos
2001 3 2013 19
2002 4 2014 15
2003 1 2015 16
2004 4 2016 17
2005 11 2017 22
2006 9 2018 24
2007 5 2019 18
2008 15 2020 14
2009 12 2021 15
2010 15 2022 25
2011 7 2023 13
2012 19 - -
Fonte: Autores (Dados coletados em julho de 2023).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
153
Por conseguinte, os arquivos baixados foram organizados de acordo
com a atribuição da linha de pesquisa designada ao documento na folha
de rosto da dissertação, quando não foi possível identificar tal informação,
optou-se pela leitura do resumo para verificar a aderência com a descri-
ção das linhas de pesquisa. Sendo assim, a organização dos PDFs resultou
em 98 dissertações da linha Informação e Tecnologia, 132 dissertações na
linha Produção e Organização da Informação e 74 dissertações na linha
Gestão, Mediação e Uso da Informação.
A partir da organização dos arquivos, deu-se início à análise dos 303
documentos em formato PDF no aplicativo R, cujas etapas objetivam pro-
porcionar o tratamento pleno dos dados que, segundo Sant’Ana (2016)
devem ser predefinidas para obedecer a um ciclo de vida estruturado, ge-
rando valor aos usuários em suas demandas informacionais.
Resultados
Inicialmente, o termo “acesso a dados” foi procurado nas 303 disser-
tações utilizando o aplicativo R, com a biblioteca “pdftools”. Como resulta-
do, foram identificadas no total 33 dissertações que apresentaram o termo,
sendo 20 na linha Informação e Tecnologia, 8 na linha Gestão, Mediação
e Uso da informação e 5 na linha Produção e Organização da Informação.
Em relação ao intervalo de tempo entre 2001 a 2023, a primeira vez
que o termo apareceu foi no ano de 2004 e o maior uso nas dissertações
ocorreu em 2019 com 23 ocorrências, seguido por 2014 com 21 ocor-
rências, em 2012 com 11 ocorrências, em 2015 apresentou 6 ocorrências
e, por fim, em 2023 teve 8 ocorrências. A Figura 1 apresenta a média de
ocorrências por ano que o termo aparece no documento no período entre
2004 a 2023.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
154
Figura 1 – Média de ocorrência do termo “acesso a dados
Fonte: Autores.
Ao se considerar as linhas de pesquisa que abordam a temática, no
contexto proposto para análise das ocorrências e frequência com que o
termo se apresenta nas dissertações, a linha Informação e Tecnologia se
destaca nas pesquisas relacionadas ao tema. Assim, apresenta-se na Figura
2 a média das ocorrências e a frequência com que o termo foi encontrado
no texto por linha de pesquisa, sendo a L1 (Informação e Tecnologia), L2
(Produção e Organização da Informação) e L3 (Gestão, Mediação e Uso
da Informação).
Figura 2 – Média de ocorrência por linha de pesquisa
Fonte: Autores.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
155
Por meio da visualização apresentada na Figura 2, percebe-se que
a L1 concentra as pesquisas realizadas na temática sobre acesso a dados,
tendo textos presentes em quase todos os anos da série temporal analisada.
Por conseguinte, foi elaborado o Quadro 2 com as dissertações defendi-
das no PPGCI/UNESP que apresentavam o termo “acesso a dados” no
conteúdo textual. Assim, os arquivos foram organizados de acordo com a
linha de pesquisa, ano de defesa, título da dissertação, nome do autor(a),
nome do orientador(a) e o trecho onde ocorreu a utilização do termo no
documento.
Quadro 2 – Dissertações que apresentaram o termo acesso a dados
L1 – Informação e Tecnologia
Ano Título da dissertação Autor Orientador Trecho de utilização do
termo
2010
Repositório digital
como ambiente de
inclusão digital e social
para usuários idosos
Fernando
Luiz
Vechiato
Silvana
Aparecida
Borsetti
Gregorio
Vidotti
Manuseio da informação
como característica da web
para permitir o acesso a
dados em diferentes mídias.
2011
Informação e segurança
pública: modelo de
banco de dados para a
gestão de informações
em moçambique
Januário
Albino
Nhacuongue
Plácida
Leopoldina
Ventura
Amorim da
Costa Santos
Atributo de vantagem em
Sistema de Gerenciamento
de Banco de Dados.
2011
Serviços de referência e
informação para
smartphones: análise de
acesso e uso
Carolina
Segatto
Vianna
Edberto
Ferneda
Utilização de tecnologia
do dispositivo móvel para
acessar dados com mais
rapidez, informação que
precisa naquele exato
momento.
2012
Second Life e
Transparência Pública:
perspectivas para o
compartilhamento de
dados
Ana Maria
Jensen
Ferreira
da Costa
Ferreira
Ricardo César
Gonçalves
Sant’Ana
Utilização de tecnologia
da informação e
comunicação para ampliar
o acesso a dados públicos
governamentais por meio de
um ambiente de interação
imersiva.
2013
Uso da Web na
ampliação da
transparência pública:
análise de conselhos de
alimentação escolar de
municípios paulistas
André Sávio
Craveiro
Bueno
Ricardo César
Gonçalves
Sant’Ana
O controle social pressupõe
a participação pública, esta
somente poderá ocorrer se
o cidadão disposto a exercê-
la tiver acesso a dados e
informação.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
156
2013 As tecnologias da web
semântica no domínio
bibliográfico
Renata
Eleuterio da
Silva
Plácida
Leopoldina
Ventura
Amorim da
Costa Santos
Utilização da linguagem
SPARQL para recuperar
e manipular dados
armazenados em RDF.
2014
Mapeamento de
dados para sistema de
informação de pós-
graduação
Jaqueline
Pereira
Carvalho
Halicki
Silvana
Aparecida
Borsetti
Gregorio
Vidotti
Conhecer todas as fases e
os fatores do processo de
acesso a dados no processo
de coleta de dados para a
aumentar a eficiência de
acesso a dados para a pós-
graduação da UNESP.
2014
Acesso a dados
financeiros da gestão
da saúde pública: uma
análise do sítio do
Datasus
Rita de
Cássia
Cassiano
Lopes
Ricardo César
Gonçalves
Sant'Ana
A percepção dos
profissionais da saúde, no
processo de acesso dados
governamentais financeiros
de saúde pública.
2015
Recuperação de dados
de operacionalização
de programa
governamentais:
um estudo do
Programa Nacional
de Fortalecimento da
Agricultura Familiar
(PRONAF)
Fábio Mosso
Moreira
Ricardo César
Gonçalves
Sant'Ana
Acesso a dados
governamentais para a
transparência pública em
programas governamentais.
2016
Inteligência cibernética
e uso de recursos
semânticos na detecção
de perfis falsos no
contexto do big data
José Antonio
Maurilio
Milagre de
Oliveira
José Eduardo
Santarem
Segundo
Acesso a dados em redes
sociais online para detecção
de perfis falsos.
2016
SNIIC: a plataforma
digital de cultura
brasileira sob a
perspectiva das
convergências entre o
Design e a Ciência da
Informação
Anahi Rocha
Silva
Maria José
Vicentini
Jorente
O termo apareceu em uma
referência da dissertação.6
UNESP. Faculdade de Filosofia e Ciências, Câmpus de Marília. Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação. Linha de Pesquisa Informação e Tecnologia. ENCONTRO INTERNACIONAL DADOS,
TECNOLOGIA E INFORMAÇÃO, 1. Tecnologias e o Acesso a Dados: novos horizontes e perspectivas
no uso da informação. Marília. 2013.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
157
2017
Aplicação de técnicas
de mineração de texto
na recuperação de
informação clínica em
prontuário eletrônico
do paciente
Ricardo
César de
Carvalho
Virgínia
Bentes Pinto
O atendimento ao paciente
de forma
sistêmica com acesso a
dados pessoais de saúde.
2017
Metodologia de
avaliação de qualidade
de dados no contexto
do linked data
Jessica
Oliveira
de Souza
Ferreira
Melo
José Eduardo
Santarém
Segundo
Modelo para estruturação
dos dados auxilia
agentes web a acessar
dados distribuídos em
diferentes documentos
disponibilizados na
web dado estruturados
utilizando o protocolo
HTTP.
2017
Direitos autorais nos
repositórios de dados
científicos: análise
sobre os Planos de
Gerenciamento dos
Dados
Elizabete
Cristina
de Souza
de Aguiar
Monteiro
Ricardo César
Gonçalves
Sant'Ana
A ambiência da e-Science
se baseia em uma
infraestrutura que visa
permitir
aos pesquisadores terem
acesso a dados científicos
distribuídos.
2017
Divulgação de dados
financeiros na Internet:
um estudo sobre o
Extensible Business
Reporting Language
XBRL
Cristina
Toyoko
Hashimoto
Nagai
Ricardo César
Gonçalves
Sant'Ana
Informações financeiras
divulgadas pelas empresas e
órgãos de regulamentação.
2018
Proposta de um
modelo de referência
para Internet das coisas:
aspectos de segurança
e privacidade na coleta
de dados
Victor
Ubiracy
Borba
Ricardo César
Gonçalves
Sant'Ana
Requisito de segurança no
acesso a dados pessoais no
domínio da internet das
coisas.
2018
Metadados nas
instruções de governos
para publicadores de
dados
Jacquelin
Teresa
Camperos
Reyes
Ricardo César
Gonçalves
Sant'Ana
Características no acesso
a dados publicados por
governos.
2019
Recuperação de dados
governamentais: uma
análise de aceitação de
tecnologia no acesso
a dados em planilhas
eletrônicas
Pedro
Henrique
Santos Bisi
Ricardo César
Gonçalves
Sant'Ana
Planilhas eletrônicas
enquanto tecnologia
no acesso a dados
governamentais, em
específico os dados da
agricultura, extrativismo e
pesca.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
158
2019
Acesso informacional
no Brasil: uma análise
crítica e sociopolítica
da informação
Gabriel
Henrique
de Oliveira
Lopes
Angela Maria
Grossi
Acesso a dados e informação
pública a partir da Lei de
Acesso à Informação
2023
Fluxo de Dados
no processo de
comercialização de
alimentos: estudo
realizado no contexto
dos pequenos
produtores rurais
Danila
Fernandez
Alencar
Ricardo César
Gonçalves
Sant'Ana
Exposição a respeito do
acesso a dados
no contexto dos pequenos
produtores rurais.
L2 - Produção e Organização da informação
Ano Título da dissertação Autor(a) Orientador(a) Trecho de utilização do
termo
2004
Contribuição para
terminologia do
processo de inteligência
competitiva: estudo
teórico e metodológico
Brígida
Maria
Nogueira
Cervantes
João Batista
Ernesto de
Moraes
Gestão estratégica como
condição, para a
organização de ter acesso
a dados e informações e
conhecimento.
2013
Aportes bibliométricos
à produção
científica nos principais
periódicos da área de
Ciência da Informação
do Brasil, no período
de 2006 - 2010
Bruno
Henrique
Alves
Ely Francina
Tannuri de
Oliveira
Título de uma comunicação
científica sobre restrições de
acesso a dados de espécies
ameaçadas, previstas em
políticas de coleções.
2014
Os BRICS na
perspectiva geopolítica:
uma análise
cientométrica do
período de 2001 a
2010
Marcos
Aparecido
Rodrigues
do Prado
Ely Francina
Tannuri de
Oliveira
Os registros do Ulrichs
fornece acesso a dados
como: ISSN, editora,
idioma, assunto, cobertura
da indexação, a relação
das bases de dados que os
periódicos são indexados,
tabelas de conteúdos e
comentários escritos por
profissionais bibliotecários.
2016
Atuação do
bibliotecário na
formação de professores
do ensino fundamental
para o desenvolvimento
da competência
informacional: uma
experiência na rede da
educação municipal de
Marília-SP
Rodrigo
Barbosa de
Paulo
Helen de
Castro Silva
Casarin
Educação diante das
constantes mudanças
do desenvolvimento da
sociedade da informação,
em que se multiplicam as
possibilidades de acesso a
dados e fatos.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
159
2022
Discriminação por
dados: uma análise
a partir da literatura
científica internacional
José Augusto
Bagatini
José Augusto
Chaves
Guimarães
As políticas de vigilância
sobre acesso a dados tais
como histórico de pesquisa,
e-mails completos, arquivos,
chats, armazenados em
servidores.
L3 - Gestão, Mediação e Uso da Informação
Ano Título da dissertação Autor(a) Orientador(a) Trecho de utilização do
termo
2009
Gestão da Informação
em Ambiente Web:
aplicação da
inteligência competitiva
para o setor industrial
de confecções da região
de Londrina/PR
Juliana
Cardoso dos
Santos
Marta Lígia
Pomim
Valentim
Data Warehouse com
objetivo de criar um
repositório de dados que dê
acesso a dados operacionais
sob formas facilmente
aceitáveis para as atividades
de processamento analítico.
2015
A mediação em
projetos de incentivo à
leitura: a apropriação
da informação
para construção do
conhecimento e do
pensamento crítico
Heloá
Cristina
Camargo de
Oliveira
Oswaldo
Francisco
de Almeida
Júnior
Apropriação da informação
a partir acesso a dados,
passa a atribuir significação,
utilizando-os para clarificar
dúvidas pontuais, criando
novas e amplificadas
discussões mentais
que acabam gerando a
necessidade de busca por
novas informações.
2017
Gestão de bibliotecas
públicas no contexto
híbrido: um estudo
comparativo de
bibliotecas híbridas
no âmbito nacional e
internacional em prol
do desenvolvimento de
comunidades
Rafaela
Carolina da
Silva
Rosângela
Formentini
Caldas
Ferramentas tradicionais
de acesso a dados
bibliográficos.
2018
Diretrizes de
funcionamento para
repositórios: caminhos
para os institutos
federais de educação,
ciência e tecnologia
Alex Silva
Rodrigues
Cláudio
Marcondes de
Castro Filho
Acesso a dados de pesquisa
para a reutilização e geração
de novos
conhecimentos,
transparência nas pesquisas,
maior efetividade,
credibilidade dos resultados,
visibilidade e impacto.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
160
2020
A Cultura
Informacional na
gestão escolar: um
estudo com foco no
combate à evasão
Janaina
Kelly de
Jesus Nobre
Luana Maia
Woida
Acesso a dados corporativos
e à internet, inclui também
equipamentos para reunir e
registrar dados, meios físicos
para armazenar os dados e
dispositivos para a saída da
informação processada.
2020
A criação de um
modelo conceitual
das competências
docentes no ambiente
organizacional da
ETEC Antonio
Devisate
Renata
Pinheiro
Cássia Regina
Bassan de
Moraes
Um canal de acesso a
dados com o uso da
tecnologia como ferramenta
facilitadora e como fonte de
informação, através de uma
plataforma on-line, com
um banco de informações
armazenadas dos docentes.
2022
Competência digital de
educadores da educação
infantil e anos iniciais
do ensino fundamental:
estudo no sistema
municipal de ensino de
Marília-SP
Gislene
Munhoz dos
Santos
Helen de
Castro Silva
Casarin
Criação de estratégias
educativas para que os
alunos saibam disponibilizar
de forma segura o acesso a
dados pessoais nas mídias e
acessar fontes seguras.
2023
As Relações de
Estudantes de Direito
e Biblioteconomia com
a Desinformação, Fake
News e Pós Verdade
Régis
Martins
Oswaldo
Francisco
de Almeida
Júnior
Faz referência a uma
empresa de marketing que
teve acesso a dados de 87
milhões de usuários do
Facebook indevidamente,
sem que muitos deles
soubessem e sem que a
própria rede social tivesse
lhes dado permissão.
Fonte: Autores.
Na linha Informação e Tecnologia foram identificadas 20 disser-
tações que apresentavam o termo “acesso a dados”. Nota-se que o esco-
po desta linha envolve a realização de “[…] pesquisas e estudos teóricos,
epistemológicos e práticos relacionados à produção, ao processamento, à
representação, ao acesso […]” (UNESP, 2023) envolvendo os processos
relacionados à informação, tecnologia e dados. Assim, as dissertações apre-
sentaram relações sobre o acesso a dados públicos governamentais, acesso a
dados por pequenos produtores, dados financeiros de saúde pública, dados
em redes sociais, dados em RDF. Em contextos da web semântica, sistema
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
161
de gerenciamento de banco de dados, coleta de dados pessoais, modelo
para estruturação de dados.
As dissertações da linha Informação e Tecnologias que tiveram maio-
res ocorrências do termo foram defendidas em 2014 e 2019. A primei-
ra teve 21 ocorrências do termo, defendida em 2014, intitulada “Acesso
a dados financeiros da gestão da saúde pública: uma análise do sítio do
Datasus” na qual aprofunda as questões relacionadas ao acesso a dados
no contexto de saúde pública. A pesquisa está situada em informações so-
bre atos governamentais que são disponibilizados nos sítios do Governo
Federal, com o objetivo de aumentar a transparência da gestão pública,
permitindo que o cidadão acompanhe e fiscalize. Apresentou resultados
sobre a percepção dos usuários, no processo de acesso a este tipo de dado.
A segunda dissertação teve 23 ocorrências do termo, defendida em
2019, tem como título “Recuperação de dados governamentais: uma aná-
lise de aceitação de tecnologia no acesso a dados em planilhas eletrônicas”.
Apresentou discussões sobre a recuperação e disponibilização dos dados
governamentais relacionados à agricultura, extrativismo e pesca em tec-
nologias como as planilhas eletrônicas para o acesso a dados abertos por
pequenos produtores rurais. Os resultados apontaram que existiam incer-
tezas sobre sua facilidade de uso e a percepção da utilidade pelos usuários,
apesar das planilhas se apresentaram como tecnologias interessantes para
os pequenos produtores, devem ser disponibilizadas com estruturas mais
simples para os usuários.
Na linha Produção e Organização da Informação foram 5 comu-
nicações científicas que apresentaram o termo “acesso a dados” e tiveram
1 ocorrência em cada dissertação. A primeira ocorrência do termo foi em
2004 na dissertação “Contribuição para terminologia do processo de inte-
ligência competitiva: estudo teórico e metodológico”, o trecho de utiliza-
ção do termo foi na gestão estratégica como condição, para a organização
ter acesso a dados, informações e conhecimento.
A ocorrência do termo acesso a dados na dissertação defendida em
2013 “Aportes bibliométricos à produção científica nos principais perió-
dicos da área de Ciência da Informação do Brasil, no período de 2006
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
162
– 2010” foi no título de uma comunicação científica sobre restrições de
acesso a dados de espécies ameaçadas, previstas em políticas de coleções.
Na dissertação “Os BRICS na perspectiva geopolítica: uma aná-
lise cientométrica do período de 2001 a 2010” o trecho de utilização
do termo foi para relatar sobre a base de dados chamada Ulrichsweb1.
Atua como ferramenta que possibilita conhecer informações descritivas
dos periódicos fornecendo acesso a dados como: ISSN, editora, idioma,
assunto, cobertura da indexação, a relação das bases de dados que os pe-
riódicos são indexados, tabelas de conteúdos e comentários escritos por
profissionais bibliotecários.
O trecho de utilização do termo acesso a dados na dissertação, de-
fendida em 2016, intitulada “Atuação do bibliotecário na formação de
professores do ensino fundamental para o desenvolvimento da compe-
tência informacional: uma experiência na rede da educação municipal de
Marília-SP” foi para situar que na educação, diante das constantes mudan-
ças da sociedade da informação, multiplicam-se as possibilidades de acesso
a dados e fatos sendo necessário desenvolver competência informacional.
A última dissertação da linha Produção e Organização da Informação
teve como título “Discriminação por dados: uma análise a partir da litera-
tura científica internacional”, defendida em 2022, o trecho de utilização
no documento foi nas políticas de vigilância sobre acesso a dados do his-
tórico de pesquisa, e-mails completos, arquivos, chats e outros arquivos
armazenados em servidores.
Por fim, na linha Gestão, Mediação e Uso da Informação teve 8
dissertações que apresentaram as ocorrências do termo “acesso a dados”.
A dissertação “Gestão da Informação em Ambiente Web: aplicação da in-
teligência competitiva para o setor industrial de confecções da região de
Londrina/PR”, defendida em 2009, teve duas ocorrências do termo em
trecho que relataram sobre a criação repositórios de dados que dê acesso a
dados operacionais sob formas facilmente aceitáveis para as atividades de
processamento analítico.
A dissertação defendida em 2015 com o título “A mediação em pro-
jetos de incentivo à leitura: a apropriação da informação para constru-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
163
ção do conhecimento e do pensamento crítico”, o trecho de utilização do
termo ocorreu na discussão sobre apropriação da informação a partir do
acesso a dados que passa a atribuir significação, utilizando-os para clarifi-
car dúvidas pontuais, criando novas e amplificadas discussões mentais que
acabam gerando a necessidade de busca por novas informações.
Na dissertação intitulada “Gestão de bibliotecas públicas no con-
texto híbrido: um estudo comparativo de bibliotecas híbridas no âmbito
nacional e internacional em prol do desenvolvimento de comunidades” em
2017, o termo apareceu ao citar ferramentas tradicionais de acesso a dados
bibliográficos. Outra utilização do termo foi na dissertação “Diretrizes de
funcionamento para repositórios: caminhos para os institutos federais de
educação, ciência e tecnologia”, defendida em 2018, o trecho de utilização
foi o acesso a dados de pesquisa para a reutilização e geração de novos co-
nhecimentos, transparência nas pesquisas, maior efetividade, credibilidade
dos resultados, visibilidade e impacto.
A dissertação defendida em 2020 com o título “A Cultura
Informacional na gestão escolar: um estudo com foco no combate à
evasão” o termo apareceu no contexto de acesso a dados corporativos
que inclui também equipamentos para reunir e registrar dados, meios
físicos para armazenar os dados e dispositivos para a saída da informa-
ção processada. Na dissertação “A criação de um modelo conceitual das
competências docentes no ambiente organizacional da ETEC Antonio
Devisate”, defendida em 2020, o trecho de utilização foi sobre como o
acesso a dados atua como ferramenta facilitadora e como fonte de infor-
mação, através de uma plataforma on-line, com um banco de informa-
ções armazenadas dos docentes.
A criação de estratégias educativas para que os alunos saibam dispo-
nibilizar de forma segura o acesso a dados pessoais nas mídias foi o trecho
de aparecimento do termo na dissertação “Competência digital de educa-
dores da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental: estudo
no sistema municipal de ensino de Marília-SP”, defendida em 2022.
A última dissertação intitulada “As Relações de Estudantes de Direito
e Biblioteconomia com a Desinformação, Fake News e Pós Verdade”, de-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
164
fendida em 2023, teve a ocorrência no termo em uma nota de rodapé
explicativa sobre uma empresa de marketing que teve acesso a dados de 87
milhões de usuários em uma rede social online.
consideRações finais
O texto buscou trazer uma percepção e abordagem sobre uma te-
mática considerada bastante relevante no contexto dos estudos na área da
CI, o acesso a dados. Tal proposta se faz necessária uma vez que, o amplo
acesso aos dados pelos indivíduos, instituições e organizações é um direito
garantido em lei, cujos dados podem ser usados para geração de novos
produtos, serviços e conhecimento.
Compreender o contexto no qual o termo acesso a dados é abordado
nos estudos na CI, constitui-se um fator essencial no campo investigativo da
área, uma vez que possibilita a construção de um arcabouço teórico robusto
para a geração de novas técnicas e modelos relacionados à coleta, armazena-
mento, organização, recuperação, compartilhamento de grandes conjuntos
de dados, além da utilização aplicada dos dados e seu ciclo de vida.
Tal fato pode ser destacado a partir dos estudos relacionados ao ter-
mo abordado na pesquisa, observado nas dissertações do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação da UNESP, que tem se dedicado
ao estudo do tema desde a criação do programa de mestrado, em 2001,
seguindo uma crescente produção de dissertações, cujas abordagens con-
templam diversos contextos do acesso a dados, pela sociedade em geral.
A presença do termo acesso a dados teve maior ocorrência na linha
de pesquisa Informação e Tecnologia devido ao escopo da linha envolver
estudos teóricos, epistemológicos e práticos relacionados a dados e infor-
mação, tendo destaque para a investigação das propriedades e dos ambien-
tes informacionais digitais. Todavia, observou-se a existência de pesquisas
oriundas da linha Produção e Organização da Informação utilizaram o
termo como condição para ter acesso à informação, sendo necessário a
investigação futura sobre as aproximações entre o termo acesso a dados e
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
165
acesso à informação. Já na linha Gestão, Mediação e Uso da Informação
os trechos em que apareceram o termo acesso a dados envolveram assuntos
como a apropriação da informação e as características dos dados como
condições para o acesso.
Com isso, destaca-se o papel central da CI no desenvolvimento de
novos estudos, ampliando a convergência entre as linhas de pesquisa do
programa e novas possibilidades de interdisciplinaridade entre as áreas, que
se apresenta.
RefeRências
BOISOT, M.H. Knowledge Assets. Oxford: Oxford University Press, 1998.
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Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
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166
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em: 24 jul. 2023.
167
C 9
P  
G D: 
 
Gildo Carlos Macie 1, Telma Campanha de Carvalho Madio 2 e
José Carlos Abbud Grácio 3
intRodução
Com o advento das Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC), os governos vêm-se obrigados a modernizarem-se cada vez mais,
procurando acompanhar os passos mundiais impostos pelo paradigma
informacional. Conforme Ceron Ripoli (2021) as novas tecnologias são
muito relevantes para a Administração Pública, no sentido do cumpri-
mento do princípio da transparência, do direito e acesso à informação,
bem como no sentido de criar celeridade, eficiência e reduzir as barreiras e
discrepâncias ora existentes no ambiente tradicional.
Partindo da visão de Weber (1982), assinala-se que para a prossecução
dos objetivos de interesse público, a administração pública dispõe de um
aparato burocrático que, equipado de leis, regulamentos e outros instrumen-
Doutorando em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail:
gc.macie@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4800-6551. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/6281723518691090.
Doutora em Ciência da Informação. Professora na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail:
telma.madio@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7031-2371. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/1139786651111231.
Doutor em Ciência da Informação. Professor na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: jose.
gracio@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1238979053672404.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p167-184
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
168
tos, serve de ponto de encontro entre a abstração do Estado e as aspirações
do cidadão e, esse contato é mediado com base em informações que devem
ser íntegras e autênticas, seja no formato convencional ou digital.
Desenvolveu-se a pesquisa com o objetivo de mapear e evidenciar a
necessidade do estabelecimento efetivo de uma relação dialógica entre a go-
vernação democrática e a preservação digital, bem como discutir a influência
dessa relação no exercício da cidadania, tendo em conta que, segundo Peters
(2018), a base fundamental para a participação ativa na vida pública é a
posse da informação, pluralismo, tolerância, transparência (accountability) e
respeito pelas liberdades e direitos fundamentais dos cidadãos.
É justamente no aspecto “informação” onde se justifica a relação in-
trínseca e dialógica entre a governança democrática e a preservação digital,
visto que tanto o governo, assim como o cidadão servem-se da informação
(íntegra e autêntica) para realizarem a sua participação ativa (processo de-
cisório e cidadania, respetivamente) na construção do estado.
A reflexão é feita a partir de pressupostos teóricos de preservação di-
gital, governança e administração pública, integrando, a perspectiva legal,
a partir da leitura da Constituição da República de Moçambique (CRM),
da Lei do Direito à Informação (LDI) e Sistema Nacional de Arquivos do
Estado (SNAE), instrumentos que permitem, sobretudo, o entendimento
da matéria dos direitos do cidadão e da governança informacional.
Nos termos da análise, a administração pública é o espaço de apro-
fundamento da governança democrática que apesar de alguns assinalá-
veis avanços, tal como a aprovação e implantação do Governo Eletrônico
(e-Gov), a disposição da LDI, a implantação do Sistema Nacional de
Arquivos do Estado (SNAE) e a implantação do Sistema Nacional de
Gestão de Documentos (e-SNGD), ainda registra diversos inconvenientes
na disponibilização da informação para o exercício da cidadania, assim
como para a participação ativa e consciente dos cidadãos nos processos
políticos do país.
Se assim é, no ambiente tradicional, o ambiente digital é ainda mais
desafiador e, portanto, demanda o estabelecimento de uma cultura infor-
macional e organizacional positiva em relação à preservação digital e à in-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
169
formação no geral, estrutura e infraestrutura informacional robusta, bem
como a criação de condições que favorecem o estabelecimento da demo-
cracia digital e da literacia digital (Macie, Madio, Grácio, 2023).
E, para matéria de evidências, abordam-se, em linhas breves e gerais,
os arquivos da administração pública moçambicana por considerar que es-
tes constituem a fonte principal da informação pública e são indispensáveis
para o usufruto dos direitos dos cidadãos, funcionamento das instituições
e salvaguarda da memória institucional e coletiva.
Portanto, trata-se de uma pesquisa qualitativa, com objetivos explo-
ratórios, servindo-se da realidade sociopolítica e informacional do Estado
Moçambicano. A operacionalização do estudo deu-se pela busca e seleção
de textos acadêmicos em livros e periódicos específicos sobre a matéria o
que permitiu o desenvolvimento do embasamento teórico assente na pre-
servação digital, governança e direito à informação.
Igualmente, foram consultados textos legais, conforme exposto an-
teriormente, que permitiram o entendimento do contexto moçambicano
nas perspectivas sociopolítica e informacional, fazendo assim o recorte
empírico da pesquisa. Em posse dos dados, estes foram categorizados,
sistematizados e analisados com base no método de análise de conteú-
do e, recorreu-se também, à plataforma Wordcloud para a elaboração de
uma nuvem de palavras-chave do diálogo entre a Preservação Digital e a
Governança democrática.
pReseRvação digital de documentos aRquivísticos
Conforme sugerem Grácio, Fadel e Valentim (2013), a preserva-
ção digital surge da necessidade de preservar a informação digital decor-
rente da sociedade contemporânea, caracterizada pelo uso constante da
informação e pela premente evolução das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC).
Estes autores conceituam a preservação digital como um processo de
gestão organizacional que abrange várias atividades necessárias para garan-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
170
tir que um objeto digital possa ser acessado, recuperado e utilizado no fu-
turo, a partir das TIC existentes na época e com garantias de autenticidade.
Os objetos digitais incluem textos, bancos de dados, imagens estáticas e em
movimento, áudio, gráficos, software e páginas da web, entre uma ampla e
crescente gama de formatos, por isso, estes requerem uma atenção especial
na gestão e manutenção (UNESCO, 2004).
Baggio e Flores (2013) corroboram e acrescentam que para o alcance
desse desiderato são necessárias ações como a preservação tecnológica, a
migração, a emulação, o encapsulamento, a adoção de padrões e protoco-
los, a adoção de política de gestão documental e tecnológica, o controle
público de legitimidade, além de uma política pública que inclua pesquisa
científica, assim como ações de arquivos, em todos os níveis, isto é, há
necessidade de legislação apropriada, conjugada a outros instrumentos que
estiverem em vigência.
Por isso, para Eastwood (2003), a preservação digital é um processo
demasiadamente complexo para as instituições e, tal complexidade resi-
de na obsolescência e fragilidade das tecnologias digitais. A complexida-
de regista-se na preservação de todos os objetos, mas pelas suas caracte-
rísticas peculiares, a preservação dos objetos arquivísticos digitais é ainda
mais complexa, pois ultrapassa as questões tecnológicas (obsolescência e
fragilidade) e abraça as questões conceituais, sendo crucial o respeito aos
princípios arquivísticos e ao processo de avaliação documental crucial e
indispensáveis para a manutenção de documentos de valor, portanto, estes
precisam ser adaptados ao contexto digital.
Nesse diapasão, Gava (2022) assevera que é necessária a busca por
soluções dos problemas e dilemas conceituais que afetam a Arquivologia
para efetivamente superar-se a Ruptura Paradigmática e estabelecer-se um
cenário firme de Transição Emblemática, como forma de garantir aos ci-
dadãos, que possam exercer a sua plena cidadania baseada em documentos
autênticos, confiáveis e preserváveis, respaldados por um processo contí-
nuo de preservação digital que deve ser sistêmica e holística.
É importante observar que o objetivo central de todo o exercício da
preservação digital é garantir que a informação seja acessível sempre que
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
171
for necessária, independentemente das mídias e formatos vigentes na épo-
ca. A questão do acesso à informação é fundamental que seja sublinhada,
pois marca o encontro entre o cidadão e o governo – Estado, por intermé-
dio da administração pública, assim como por intermédio dos arquivos
permanentes ou históricos.
Em respeito aos princípios arquivísticos e à noção de valor dos do-
cumentos, Gava (2022) propõe que a preservação digital seja sistêmica,
contemplando todo o ciclo de vida dos documentos arquivísticos digitais
em uma cadeia de custódia digital arquivística, ininterrupta, segura, distri-
buída e compartilhada, pois só assim será possível garantir que a vida dos
cidadãos não seja colocada em situação de insegurança jurídica e nem de
limitação do usufruto dos seus direitos.
Sabe-se que na vigência do valor primário, a primazia do acesso é
dada às administrações, isto é, ao órgão produtor para que atue no apoio
ao processo decisório ou na execução das atividades institucionais, as quais
referem-se ao cumprimento da sua missão, voltada à prestação de serviços
ao cidadão (Paes, 2004). Em situações concretas e mediante autorização
legal, emanada por entidade competente e respeitando-se os limites da lei
do direito/acesso à informação e instrumentos complementares, o acesso
poderá ser concedido ao cidadão, enquanto “parceiro” e fiscalizador das
ações governamentais.
Já na vigência do valor secundário, esta informação será de acesso
integral para os cidadãos, pois é nos arquivos permanentes ou históricos
onde se manifesta de forma integral o exercício da cidadania. No entanto,
vale recordar que estamos em um contexto de mudança, do tradicional
para o ambiente digital e, conforme Cook (2012), no novo contexto os
arquivos propriamente ditos (instituições arquivísticas) passarão gradual-
mente de lugares de armazenamento de documentos velhos, que pesqui-
sadores precisam visitar para consultar, para se tornarem “Arquivos sem
paredes”, existentes na internet para facilitar o acesso ao público à milhares
de sistemas interligados, de manutenção de documentos, tanto aqueles sob
o controle dos Arquivos quanto aqueles deixados sob a custódia dos seus
criadores ou outros arquivos.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
172
Se o acesso passa de forma progressiva a ser provido via internet e
uso de tecnologias digitais, isso pressupõe a criação de uma infraestrutura
informacional e outras condições capazes de garantir a manutenção da in-
tegridade e da autenticidade dos documentos, tendo em conta os riscos e
as fragilidades do ambiente digital. Por tanto, a criação de condições legais,
técnicas e organizacionais que segundo Grácio, Fadel e Valentim (2013)
corporizam uma política de preservação digital é incontornável.
A existência de uma política de preservação digital significa a exis-
tência de um conjunto de diretrizes que orientam os profissionais (institui-
ção no geral) quanto ao escopo, procedimentos, padrões, normas, software
e hardware, colaboração, equipes de trabalho (multidisciplinares), intero-
perabilidade e demais elementos.
Ora, a política de preservação digital não é um fim em si, ela preci-
sa ser complementada por um conjunto de instrumentos que justificam
o cumprimento de diversos protocolos, conforme o contexto e o escopo
da preservação digital em pauta. Para Grácio et al. (2020), sem a adoção
de protocolos bem definidos e divulgados, pode-se ocasionar questiona-
mentos à segurança do sistema e à transparência pública da informação,
gerando contestações e falta de confiança no fornecimento de documen-
tos e dados.
Portanto, a abordagem sistêmica da preservação digital, orientada
pelo modelo Open Archives and Information Systems (OAIS) é até aqui, o
modelo mais aceito internacionalmente. Trata-se do Modelo de Referência
desenvolvido pelo Consultative Comitee for Space Data Systems (CCSDS),
aprovado como padrão ISO 14721:2003 em fevereiro de 2003 (Figura 1),
o qual descreve um enquadramento conceitual para um repositório digital
genérico, aberto a todas as comunidades com garantias de confiabilidade
(Baggio; Flores, 2013).
Este modelo permite a execução da abordagem sistêmica, garantin-
do assim a manutenção de uma cadeia de custódia ininterrupta e, oferece
os fundamentos arquivísticos para o desenho de Repositório Arquivísticos
Digitais Confiáveis (RDC-Arq), interoperáveis com os SIGADs – e outros
sistemas. Oferece também elementos orientados à organização dos profis-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
173
sionais focados na preservação e acesso à informação. No entanto, confor-
me Baggio e Flores (2013), na operacionalização dos sistemas em direção
à manutenção de uma cadeia de custódia ininterrupta há necessidade de
observância das diretrizes do produtor e do conservador que emanam do
projeto InterPARES.
Figura 1 – Modelo de Referência OAIS
Fonte: Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ, 2015).
Para o contexto brasileiro, essas diretrizes foram traduzidas pelo
Arquivo Nacional do Brasil para a versão portuguesa e impressos em li-
vretos distribuídos aos órgãos da administração pública sendo este, um
exemplo que devia inspirar outros países, como Moçambique, no contexto
dos esforços da implantação da preservação digital.
Para Ceron Ripoli (2021) ao definirem-se as diretrizes e procedi-
mentos técnicos referentes à classificação, avaliação, preservação e elimina-
ção de documentos públicos, a gestão documental contribui decisivamente
para atender às demandas da sociedade contemporânea por transparência
nas ações do governo e acesso rápido às informações.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
174
goveRnança e diReito à infoRmação
Vale recordar que os governos executam o seu poder e dever através
das instituições públicas, portanto, estas instituições configuram-se como
o ponto de encontro entre o governo e o cidadão, portanto, estas precisam
estar devidamente equipadas em termos informacionais, cumprindo inte-
gralmente com o seu mandato, missão e objetivos de criação.
Outrossim, precisam agir em conformidade com os textos constitu-
cionais e demais legislação ordinária que fundamenta a governança de um
Estado de Direito Democrático, deixando evidente a relação dialógica e in-
trínseca entre a informação arquivística e a governança democrática. Dessa
realidade, surgem os conceitos de democracia digital e literacia digital, cuja
compreensão e aplicação são indispensáveis nesse novo contexto.
A Constituição da República de Moçambique aprofunda os princí-
pios fundamentais, consagrando o carácter soberano do Estado de Direito
Democrático, baseado no pluralismo de expressão, organização partidária
e no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos cida-
dãos (Figura 2).
Figura 2 – Papel central da informação na relação dialógica
Fonte: Autores.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
175
Ora, logo após a independência de Moçambique, em 1975, foi im-
plantado um sistema monopartidário que, obviamente, não apresentava,
pelo menos nos termos liberais, os fundamentos de uma democracia. Com
efeito, os primeiros sinais da implantação da democracia surgem, mate-
rialmente, com a Constituição de 1990 e sobretudo após a assinatura dos
acordos de paz, assinados em Roma, entre o Governo e a Renamo, encer-
rando um período de guerra civil que se prolongou por 16 anos e a conse-
quente realização das primeiras eleições multipartidárias em 1994.
A implantação do multipartidarismo foi um grande ganho, pois
consagrou o pluralismo de ideias, e abriu espaço para a constituição de
outros partidos (Lei nº 1/91 de 23 de Janeiro) que desde então passaram a
concorrer pelas mais variadas posições do poder político em Moçambique
(Macuane; Buur; Monjane, 2017).
Para esses autores, essa implantação não assinalou, efetivamente, a
introdução de uma governança democrática, pois o partido Frelimo con-
tinuou a dominar e a intitular-se como “o dono do país”, e parte dos seus
dirigentes sempre foram associados à corrupção, nepotismo e falta de
transparência. Para Headley et al. (2014) esses elementos são típicos do
patrimonialismo, onde predominam instituições fracas e extrativistas, o
que contraria os ditames da governança democrática, pois o acesso à infor-
mação é totalmente limitado.
Para o Centro de Integridade Pública (2008), a governança só pode
ser entendida como estando ao serviço da democracia quando for funda-
mentada por uma política de reconhecimento e efetivação das liberdades
e direitos fundamentais dos cidadãos, exigindo-se daí que as instituições
públicas sejam fortes, abertas e cultivem a integridade e transparência (ac-
countability). Pois se governar significa dar direção aos governados (socie-
dade), assume-se que a forma como ela é exercida pode inibir ou favorecer
o usufruto integral desses direitos e liberdades.
O governo deve assegurar o cumprimento das liberdades e direitos
dos cidadãos sendo o direito à informação um elemento crucial e primor-
dial para o exercício de uma governança democrática fundada na partição
ativa dos cidadãos. Ademais, no exercício da sua missão a administração
pública precisa ser equipada com profissionais qualificados, capazes de exer-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
176
cer as suas obrigações com racionalidade, eficiência e eficácia, elementos
cruciais para a garantia dos direitos e liberdades fundamentais (Zafarullah;
Siddiquee, 2021).
Conforme se pode ler no Relatório de 2020, sobre a implemen-
tação da Lei do Direito à Informação, publicado pelo Ministério da
Administração Estatal e Função Pública (2021) e no Relatório do MISA
(2020), no caso moçambicano, parece notório o desrespeito pelos diver-
sos direitos e liberdades fundamentais, tal como se tem, recorrentemente,
observado a inibição de manifestações (sejam promovidas por cidadãos ou
grupos profissionais), assim como a recusa na disponibilização da informa-
ção por algumas instituições públicas, muitas vezes, sem sustentação legal,
ignorando-se as diretrizes estabelecidas no classificador de informações e
na LDI.
Esses factos evidenciam uma certa violação do direito à informação,
da liberdade de imprensa, de expressão e outros. Ao que interessa, funda-
mentalmente, para este artigo, abordam-se, a seguir, os factos materiais
relacionados ao direito à informação como teste concreto de exercício de-
mocrático, perpassando os ambientes tradicional e digital.
Em Moçambique, assinalou-se um marco importante com a aprova-
ção da Lei do Direito à Informação (Lei nº 34/2014, de 31 de Dezembro).
No seu art. nº 1, estabelece que esta lei “visa regular o exercício do direito
à informação, a materialização do princípio constitucional da permanente
participação democrática dos cidadãos na vida pública e a garantia de di-
reitos fundamentais conexos”.
Já no art. nº 8, a lei define o princípio da participação democrática
do cidadão como dependente do
[...] acesso à informação de interesse público, de modo que este
possa formular e manifestar o seu juízo de opinião sobre a gestão
da coisa pública e assim influenciar os processos decisórios das
entidades que exercem o poder público.
E, nos números 1, 2 e 3 do art. nº 10 que estabelece o princípio da
Administração Pública aberta orienta-se que “os poderes públicos devem
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
177
manter os seus arquivos disponíveis, salvaguardando-se as exceções previs-
tas por lei, pois “a administração pública aberta baseia-se na liberdade de
acesso aos documentos e arquivos públicos (…)” e, assim “toda a informa-
ção deve ser mantida em registros devidamente tratados e organizados de
forma a facilitar o direito à informação”.
No processo de organização da informação para posterior dispo-
nibilização é preciso ter em conta instrumentos como o classificador
de informações, o regulamento da LDI (decreto nº 35/2015 de 31 de
Dezembro), o plano de classificação e a tabela de temporalidade dos do-
cumentos de arquivo.
O plano de classificação e a tabela de temporalidade são os ins-
trumentos que operacionalizam a gestão de documentos no âmbito do
Sistema Nacional dos Arquivos do Estado (SNAE) – tradicional e, devem
ser levados em conta também no âmbito do Sistema Nacional de Gestão
de Documentos (e-SNGD) – digital, que marca a viragem em direção à
preservação digital, e encontra-se na fase piloto quanto à implementação.
O e-SNGD marca o primeiro sinal efetivo de tentativa de implementação
da preservação digital em Moçambique.
A existência do conjunto de instrumentos que governam a organi-
zação e o acesso à informação é fundamental e, teoricamente, cria uma
expectativa de existência de condições plenas para a abertura e transpa-
rência no processo de governança, mas a prática pode ser uma decepção
(Zafarullah; Siddiquee, 2021).
A realidade moçambicana não foge da ideia acima exposta, pois a
materialização dos pressupostos de um Estado de Direito Democrático
não é efetiva e existem alguns entraves legais, organizacionais e técnicos a
ter em conta, conforme se discute no subtópico a seguir.
entrAves Ao Acesso à inforMAção nos AMbientes trAdicionAl e digitAl
Conforme indicam os relatórios publicados pelo Ministério da
Administração Estatal e Função Pública (2021) e pelo Media Institute of
Southern Africa (MISA) (2020), o usufruto do direito à informação em
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
178
Moçambique não é efetivo. Em diversas situações, é recusado o acesso
à informação para os cidadãos e, essa recusa revela que ainda prevalece,
nas entidades públicas, a cultura de secretismo/fechamento em torno de
assuntos de interesse geral, mesmo quando esse fechamento contraria a
Constituição da República, a Lei do Direito à Informação e as diretrizes
estabelecidas no classificador de informações.
A cultura de secretismo/fechamento do Estado foi implantada a
partir da Lei 12/79 de 12 de Dezembro, a qual visa proteger o segredo
estatal relativamente a todos os documentos contendo dados e informa-
ções classificados nos diversos níveis de sigilo (segredo do estado, secreto,
confidencial e restrito), conforme se pode ler no seu artigo nº 1. Não era
expectável que depois da instalação do Estado de Direito Democrático esta
lei se mantivesse com o mesmo texto legal elaborado em 1979, no contexto
monopartidário.
O MISA Moçambique (2020) toma esta lei como um dos entraves
ao acesso à informação na medida em que ela é interpretada e usada de for-
ma abusiva pelas instituições para impedir a acessibilidade da informação
aos cidadãos sem sequer fundamentar o seu posicionamento para a recusa
ao acesso.
Nesta situação de fechamento do Estado moçambicano, entende-se
que o povo não está em condições de controlar as ações governamentais
e nem de participar na vida pública, pois não está munido do elemento
mais precioso numa democracia, que é a informação de interesse público.
Este cenário cria condições favoráveis para que se encoberte a corrupção,
se violem os direitos fundamentais dos cidadãos e não haja engajamento
quanto à efetiva organização dos arquivos, os quais conservam os registros
informacionais que comprovam a execução das atividades do estado.
É nos arquivos onde reside a memória institucional e coletiva
necessária, por um lado, para a sociedade no âmbito da construção da
cidadania e para a produção de conhecimento e, por outro lado, para as
próprias instituições no âmbito da efetivação do processo decisório que
materializa as políticas vigentes. É, portanto, um facto que a finalidade
dos arquivos é servir à administração, constituindo-se com o decorrer do
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
179
tempo, em base do conhecimento histórico sendo então a sua função básica
tornar disponíveis (acessíveis) as informações sob sua guarda (Paes, 2004).
Assim, para que os arquivos possam cumprir com o seu papel na
provisão do acesso é crucial que as instituições criem mecanismos que
permitam a sua organização, conservação, recuperação e acessibilidade ou
disponibilidade no lugar e no tempo em que forem necessários. Nesta rea-
lidade, se o contexto tradicional é tão desafiador conforme se demonstra,
o digital será muito mais.
Em diversas instituições, ainda há predomínio de práticas empíricas
no tratamento de documentos de arquivo, isto é, não há implementação
dos principais procedimentos de gestão de documentos (a classificação e a
avaliação) mesmo em vigência do Sistema Nacional de Arquivos do Estado
(SNAE). A classificação e a avaliação são realizados fora do quadro técni-
co-científico e esse facto, mais do que favorecer o acesso à informação cria
condições para a perda de documentos ou dificuldades na sua recuperação,
causando, consequentemente, um caos no funcionamento administrativo
das instituições, pois documento mal classificado, é um documento perdi-
do (Padilha; Spudeit, 2014).
No contexto da preservação digital será crucial a garantia de que os
profissionais responsáveis pela gestão e preservação tenham o perfil ade-
quado para tal, esperando-se que sejam conhecedores ou familiarizados
com os padrões de metadados, políticas de gestão e de preservação, mode-
los (OAIS), sistemas SIGAD, terminologia e demais elementos. Ademais,
os dados sobre a penetração da internet não são animadores, pois segundo
o Instituto Nacional de Estatística (2023), o acesso às tecnologias e à inter-
net concentra-se na cidade de Maputo com 87.9% e a restante percenta-
gem distribui-se pelo restante das províncias.
A realidade moçambicana revela dificuldades quanto à institucio-
nalização das unidades de gestão de documentos, há falta de programas
de gestão de documentos (Macie; Cabsela, Nharreluga, 2020). Não existe
uma única experiência em termos de políticas de preservação digital e há
interferências políticas no cenário arquivístico, o que pode ser demons-
trado a partir da análise da coordenação central do SNAE e do e-SNGD.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
180
Infere-se a partir do cenário acima exposto que a relação entre a go-
vernança e o acesso à informação em Moçambique é desarticulada, sendo,
por isso, difícil a concretização da democracia e o usufruto integral dos
direitos e liberdades fundamentais.
Na perspectiva do diálogo entre a preservação digital e a governança
democrática, entende-se que a organização, manutenção e disponibilização
plena da informação seria vantajosa em distintas dimensões, pois o cidadão
estaria “habilitado” a exercer o seu controle sobre as ações políticas dos di-
rigentes que elegeu. O próprio governante criaria condições para praticar
a transparência através da prestação de contas (accountability) sobre a sua
governança, recorrendo aos documentos arquivísticos que comprovam as
suas acções. Por sua vez, a Administração Pública estaria habilitada a não
tomar decisões aleatórias, discriminatórias, descontextualizadas ou equivo-
cadas, visto que estaria em condições objetivas de consultar, previamente,
as informações que poderiam sustentar as suas decisões, caminhando-se
assim rumo a uma efetiva governança democrática em Moçambique.
Figura 3 – Nuvem de palavras-chave do diálogo entre Preservação Digital
e Governança democrática
Fonte: Autores.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
181
conclusão
No presente artigo, ficou evidente que a Governança Democrática
fundamenta-se na garantia das liberdades fundamentais dos cidadãos,
bem como na participação ativa destes em todo o processo de governança.
Essencialmente, a acessibilidade da informação por ser o insumo principal
e deter um papel supremo para a participação dos cidadãos na vida pública
é tratada com especial atenção.
A responsabilidade, transparência ou prestação de contas, o pluralis-
mo e a tolerância política são também elementos essenciais e indispensá-
veis para a governança que se pretenda democrática. Nesse diapasão, pres-
supõe-se a existência de instituições com profissionais que apresentem as
habilidades e qualidades essenciais para que prestem serviços públicos com
racionalização, eficácia, eficiência e justiça social e que não apresentem
uma cultura informacional orientada ao secretismo ou fechamento, mas
sim à abertura e disponibilização da informação de interesse público.
No texto, estabeleceu-se a relação entre a preservação digital e a go-
vernança democrática e, no entanto, foi possível inferir que no contexto
moçambicano há uma desarticulação entre a governança, as liberdades e
direitos fundamentais e as pré-condições necessárias para a efetiva implan-
tação da preservação digital.
O direito à informação, apesar de ser legalmente instituído, o seu
usufruto mostra-se deficitário devido ao secretismo ou fechamento exa-
cerbado do Estado materializados pelo uso abusivo da lei 12/79 de 12 de
Dezembro e pela não efetivação da implantação da gestão de documentos.
A situação acima descrita pode dificultar a implantação do projeto
do e-SNGD que figura como a primeira ação efetiva em direção à im-
plantação da preservação digital na administração pública, isto é, há um
risco aparente de se transladarem os problemas do ambiente tradicional
para o digital.
Manter os arquivos da administração pública, organizados e acessí-
veis é fundamental para habilitar as instituições a não tomar decisões ale-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
182
atórias, discriminatórias, descontextualizadas ou equivocadas, além disso,
é uma forma de garantir o cumprimento da integridade, transparência e
accountability, em respeito à CRM, LDI e demais disposições legais. Há,
portanto, uma necessidade premente de se investir na viragem da cultura
informacional e na criação de uma estrutura e infraestrutura informacio-
nal consentânea com os requisitos da implantação da preservação digital
visando a manutenção de uma relação dialógica entre a governança e a
preservação digital.
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185
C 10
C   
    

José Augusto Bagatini Lopes Pinto 1 e Helen de Castro Silva Casarin 2
intRodução
Com os recentes avanços das tecnologias da informação, um debate
sobre o direito à privacidade vem se desenvolvendo e tomando contornos
mais profundos em diversos campos do saber. Isso acontece porque existe
uma demanda global por menos intromissão de governos e empresas na
vida privada da população, a qual convive com a constante vigilância que
se instalou paulatinamente após a Segunda Guerra Mundial e que se apro-
fundou após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Contudo, ressalta-se que vigiar não é uma característica única da sociedade
contemporânea, haja vista que registros de atividades relacionadas ao vigiar
existem desde a antiguidade. O que torna a vigilância contemporânea dife-
rente é a sua penetrabilidade, uma vez que ela se projeta a partir de dispo-
sitivos e protocolos de comunicação fundamentais para o desenvolvimento
da vida cotidiana de grande parte da população global.
Doutorando em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: jose.
bagatini@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8830-2075. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/9620353634513776.
Doutora em Letras. Professora na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: helen.castro@unesp.
br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3997-9207. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0592809928580900.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p185-198
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
186
Assim como a vigilância, a noção de privacidade não é uma cons-
trução da humanidade contemporânea, e como preconizado por Westin
(1967) em seu livro Privacy and Freedom (seminal para os estudos sobre pri-
vacidade e vigilância) a partir dos estudos de Edward T. Hall (e Hidden
Dimension) e Robert Andrey (Territorial Imperative e Territory in Bird Life),
pode ser uma herança ancestral herdada durante o processo evolutivo da
raça humana e compartilhada com outras espécies de animais. Com base
nesses estudos, Westin (1967, p. 56) destaca que:
virtually all animals seek periods of individual seclusion or small-
group intimacy. is is usually described as the tendency toward
territoriality, in which an organism lays private claim to an area of
land, water, or air and defends it against intrusion by members of its
own species. […] Animals and man also share elaborate distance-
setting mechanisms to define territorial spacing of individuals in
the group. e distance set between one non-contact animal and
another (illustrated by the spacing of birds on a telephone wire) has
been called “personal distance (Westin, 1967, p. 56).
Portanto, segundo Westin (1967), a privacidade pode ser definida
como sendo “the claim of individuals, groups, or institutions to determine
for themselves when, how, and to what extent information about them is com-
municated to others”. Suas funções podem agrupar-se a quatro categorias
maiores, sendo “personal autonomy”, “emotional release”, “self-evaluation”,
e “limited and protected communication”, as quais fluem constantemente
transpassando umas às outras (Westin, 1967, p.7).
Essas e as outras contribuições da obra de Westin compõem um im-
portante marco na história do desenvolvimento da privacidade quanto di-
reito ao redor do mundo. Entretanto, sua publicação serve também como
uma antecipação de como esse direito viria a ser atacado e enfraquecido
ao longo dos últimos cinquenta anos pelas novas dinâmicas impostas pelo
Capitalismo de Vigilância.
A reconfiguração capitalista que ocorre após a Segunda Guerra mun-
dial toma impulso na esteira das inovativas Tecnologias da Informação
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
187
(TIC), alterando drasticamente os fundamentos de produção e vida. Ou
seja, a sociedade incorporou no seu exercício cotidiano uma série de tecno-
logias (Castells, 2009; Harvey, 1992). Somado a isso, a Guerra Fria é conhe-
cidamente um período em que o direito à privacidade se enfraqueceu diante
da ameaça ideológica que Estados Unidos e União Soviética representavam
um para o outro e seus aliados, construindo assim, um imperativo social
onde é privilegiado o ato de exposição. Esses contornos se aprofundam com
a popularização da computação pessoal e a disseminação da internet como
meio de comunicação, o que proporcionou um aumento significativo da
produção de dados de natureza pessoal. Essa trilha de dados é definida pelo
termo “data shadow”, que tem sua origem atribuída tanto a Alan F. Westin
quanto a Kerstin Anér, político sueco (Bellovin, 2021).
A preocupação sobre como a computação pessoal e a internet afeta-
ria a privacidade e a autonomia pessoal ganhou tração na década de 1990,
onde se instalou uma competição ideológica sobre o futuro da rede mun-
dial de computadores. É na referida década em que documentos e ações
reconhecidamente pró-privacidade tomam forma, tais como: Common
Rule Human Subject Research Privacy (1991), A Cypherpunks Manifesto
(1993), EU Data Protection Directive (1995), HIPAA Health and Medical
Privacy (1996), COPPA Childrens Online Privacy (1998), Chief Counselor
for Privacy in Federal Government (1999), Gramm Leach Bliley Act (1999)
e First Chief Privacy Officer (1999).
Contudo, o início de uma guinada ocorre durante os primeiros anos
do segundo milênio. A popularização da internet gerou um bioma per-
feito para a especulação do capital do risco, uma grande quantidade de
dinheiro foi investido em empresas que prometiam ser lucrativas no meio
digital, entretanto, ao passo que isso não se confirmava, os principais in-
vestidores retiraram seus aportes financeiros, instaurando assim um pâni-
co generalizado, resultando na falência de grande parte das companhias
do ecossistema. As que sobreviveram, passaram a sofrer com uma grande
pressão para apresentarem lucros o mais breve possível. Marca-se o efetivo
estourar da bolha no ano de 2001. No mesmo ano, no dia 11 de setembro,
quatro aviões foram sequestrados e usados como arma para um ataque
coordenado às Torres Gêmeas, Pentágono e o prédio do Governo Federal
dos Estados Unidos. A identificação dos executores enfrentou percalços,
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
188
principalmente em relação a interoperabilidade das bases de dados e infor-
mações disponíveis sobre os suspeitos, tal situação gerou assim um clamor
para reformas no sistema de segurança do país.
Essa tensão gerada pelas questões econômica e de segurança nacional
resultou em uma aliança público-privada para o desenvolvimento e apli-
cação de tecnologias de espionagem. Véliz (2021) preconiza que o Google
(hoje parte do conglomerado Alphabet), é o principal expoente do setor
privado nessa fase do desenvolvimento do capitalismo de vigilância, sendo
a responsável por transformar a maneira como os dados pessoais eram uti-
lizados, abandonando uma lógica de aprimoramento de serviços a partir de
um pequeno conjunto de dados, e adotando práticas de exploração, onde
o conjunto de dados extraídos dos usuários cresceu e passou a fornecer
subsídios para aprimoramento de acúmulo de capital. No mesmo sentido,
Zuboff (2021) afirma que o Google é para o capitalismo de vigilância o
que a Ford Motor Company e General Motors foram para o capitalismo
gerencial com base na produção em massa – na nossa era, o Google tor-
nou-se o pioneiro, descobridor, desenvolvedor, experimentador, principal
praticante, exemplo e centro de difusão do capitalismo de vigilância.
A principal descoberta do Google foi publicidade direcionada com
base em dados pessoais. Esse foi o ponto de inflexão onde o capitalismo de
vigilância nasceu, o aperfeiçoamento das suas práticas de extração de dados
pessoais foi o que solidificou e a alta rentabilidade dos seus produtos e gerou
um enorme interesse no Capital em replicar o modelo de negócios, foi o
pontapé inicial para a reinvenção do capitalismo, onde transacionamos de
um modelo de mercado baseado no mecanismo de precificação, para um
mercado fundamentado e enriquecido com dados (Mayer-Schönberger;
Ramge, 2018).
Esse novo modelo predatório de exploração de dados só obteve êxito
em sua disseminação, porque como já preconizado, havia um interesse do
governo estadunidense em utilizar as tecnologias e bases de dados dos ca-
pitalistas de vigilância para cumprimento de sua agenda de segurança pú-
blica. Tais práticas se enraizaram na sociedade contemporânea e não temos
garantia de que a internet voltará a ser um ambiente livre do extrativismo
de dados pessoais, na verdade, o que podemos esperar é que tais práticas de
vigilância continuem se tornando cada vez mais ubíquas.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
189
Diante do exposto, é possível notar que o imperativo vigente du-
rante as últimas duas décadas é o da exploração dos dados pessoais e do
enfraquecimento da privacidade. Casos famosos ilustram como o capitalis-
mo de dados é predatório e prejudicial a população global, ao exemplo das
denúncias de Edward Snowden sobre a espionagem da NSA, a eleição de
Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, os megas vazamen-
tos de dados de data brokers etc.
pRoteção de dados pessoais e pRivacidade no digccomp 2.2
Em busca de minimizar os danos causados por situações análogas
às citadas acima, iniciativas foram tomadas ao redor do mundo e con-
solidou um movimento global de regularização da exploração dos dados
pessoais que objetiva equalizar a relação de poder entre o proprietário dos
dados pessoais e os interessados em explorar esses dados. No que diz res-
peito ao campo jurídico, leis que buscam regular o mercado da privacidade
passaram a ser desenvolvidas e adotadas ao redor do mundo. Dos 194
países listados pela United Nations Conference on Trade and Development
(UNCTAD), 66% já contam com legislações que contemplam a prote-
ção de dados pessoais, 10% se encontram em processo de desenvolvimen-
to de frameworks jurídicos acerca do tema, 19% dos países não possuem
legislação e nenhum projeto em trâmite, e por fim, 5% dos 194 países,
não possuem dados armazenados em seu território (UNCTAD, 2020). Na
América Latina, o primeiro país a adotar uma lei dessa natureza foi o Chile
em 1999, seguido pela Argentina em 2000, e mais recentemente outros
países vêm seguindo a tendência, ao exemplo do Uruguai (2008), México
(2010), Peru (2011), Colômbia (2012), Brasil (2018), Barbados (2019) e
Panamá (2019) (Rodriguez; Alimonti, 2020).
Das legislações que abordam o tema de proteção de dados e privaci-
dade, a General Data Protection Regulation (GDPR) é a mais proeminente.
Teve sua aprovação em maio de 2016 e entrou em vigor em maio de 2018,
revogando a Diretiva de Proteção de Dados pessoais de 1995 da União
Europeia. A GDPR versa sobre privacidade e proteção de dados pessoais
e aplica-se a todos os indivíduos na União Europeia (EU) e no Espaço
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
190
Econômico Europeu (EEE), além de regulamentar também a exportação
de dados para fora da EU e do EEE. Por suas caraterísticas modernas, tor-
nou-se um modelo a ser seguido por outros países. Forneceu base também
para a atualização 2.2 do Quadro Europeu de Competência Digital para
Cidadãos (DigComp), publicado em 2022.
O DigComp foi publicado pela primeira vez em 2013 (1.0), teve sua
primeira atualização em 2016 (2.0) e uma segunda em 2018 (2.1). A ver-
são 2.2 foi publicada em 2022, sendo a quarta atualização, que apresenta
uma reformulação dos exemplos de conhecimentos, capacidades e atitudes
que constam na primeira versão. Estes novos exemplos ilustram áreas rele-
vantes, com o objetivo de apoiar os cidadãos a usarem tecnologias digitais
comumente utilizadas no dia a dia de forma confiante, crítica e segura, mas
também tecnologias novas e emergentes (Vuorikari; Kluzer; Punie, 2022).
O documento define competência digital como sendo competências
essenciais para a aprendizagem ao longo da vida e envolve o uso confian-
te, crítico e responsável, e o envolvimento com tecnologias digitais para
aprendizagem, o trabalho e a participação na sociedade, inclui a literacia de
informação e de dados, a comunicação e colaboração, a literacia dos me-
dia, a criação de conteúdos digitais (incluindo programação), a segurança
(incluindo o bem-estar digital e competências relacionadas com a ciberse-
gurança), questões relacionadas com a propriedade intelectual, a resolução
de problemas e o pensamento crítico (Vuorikari; Kluzer; Punie, 2022).
Especificamente no que diz respeito a divisão das competências di-
gitais, o documento descreve que existem cinco áreas, as quais englobam
(Quadro 1): Literacia de Informação e de dados; Comunicação e colabo-
ração; Criação de conteúdo digital; Segurança; e Resolução de problemas
(Vuorikari; Kluzer; Punie, 2022).
A área de competência número 4. Segurança é subdividido nas com-
petências: 4.1 Proteção de Dispositivos – proteger dispositivos e conteúdo
digital e perceber os riscos e ameaças em ambientes digitais. Ter conheci-
mento sobre proteção e medidas de segurança e ter em conta a confiabilida-
de e privacidade; 4.2 Proteção de Dados Pessoais e Privacidade – Proteger
os dados pessoais e a privacidade em ambientes digitais. Compreender
como utilizar e partilhar informação pessoalmente identificável, sendo ao
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
191
mesmo tempo capaz de se proteger a si próprio e aos outros de danos.
Compreender que os serviços digitais utilizam uma “política de privacida-
de” para informar como são utilizados os dados pessoais; 4.3 Proteção da
Saúde e do Bem-Estar – ser capaz de evitar riscos para a saúde e ameaças
ao bem-estar físico e psicológico enquanto utiliza tecnologias digitais. Ser
capaz de se proteger a si e aos outros de possíveis perigos em ambientes di-
gitais (por exemplo, cyberbullying). Ter consciência das tecnologias digitais
dedicadas ao bem-estar social e à inclusão social; e 4.4 Proteção do Meio
Ambiente – ter consciência do impacto ambiental das tecnologias digitais
e da sua utilização (Vuorikari; Kluzer; Punie, 2022).
Quadro 1 – Áreas de competência e seus descritores
1. Literacia de informação e de dados
Articular necessidades de informação, localizar e recuperar dados, informação e
conteúdo digital;
Ajuizar sobre a relevância da fonte e do seu conteúdo;
Armazenar, gerir e organizar dados, informação e conteúdo digital.
2. Comunicação e colaboração
Interagir, comunicar e colaborar através de tecnologias digitais enquanto
simultaneamente consciente da diversidade cultural e geracional;
Participar na sociedade através de serviços digitais públicos e privados e cidadania
participativa;
Gerir a sua identidade e reputação digital.
3. Criação de conteúdo digital
Criar e editar conteúdo digital;
Aperfeiçoar e integrar informação e conteúdo num corpo de conhecimento
existente compreendendo simultaneamente como se aplicam direitos de autor e
licenças;
Saber como fornecer instruções compreensíveis para um sistema de computação.
4. Segurança
Proteger dispositivos, conteúdo, dados pessoais e privacidade em ambientes digitais;
Proteger a saúde física e psicológica e ter consciência das tecnologias digitais para o
bem-estar social e inclusão social;
Estar ciente do impacto ambiental das tecnologias digitais e da sua utilização.
5. Resolução de problemas
Identificar necessidades e problemas e resolver problemas conceptuais e situações
problema em ambientes digitais;
Utilizar ferramentas digitais para inovar processos e produtos;
Manter-se a par da evolução digital.
Fonte: Autores, adaptado de Vuorikari, Kluzer e Punie (2022, p.7).
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
192
Cada uma das competências se divide em quatro níveis de proficiên-
cia (Quadro 2), que se dividem também em mais dois subníveis cada. Isso
posto, a presente seção busca evidenciar especificamente como os temas
proteção de dados e privacidade são abordados na área de competência nú-
mero 4. Segurança, portanto, a análise debruçar-se-á sobre o item número
4.2 Proteção de Dados Pessoais e Privacidade, as especificações de cada
nível de proficiência se apresenta da seguinte maneira:
Quadro 2 – Níveis de proficiência
Básico (com orientação)
Selecionar formas simples de proteger os dados pessoais e privacidade em ambientes
digitais; identificar formas simples de usar e partilhar informação pessoalmente
identificável, protegendo-me a mim e aos outros de danos; identificar declarações
da política de privacidade simples sobre como os dados pessoais são usados em
serviços digitais.
Básico (com autonomia e orientação apropriada onde necessário)
Selecionar formas simples de proteger os dados pessoais e privacidade em ambientes
digitais; identificar formas simples de usar e partilhar informação pessoalmente
identificável, protegendo-me a mim e aos outros de danos; identificar declarações
da política de privacidade simples sobre como os dados pessoais são usados em
serviços digitais.
Intermediário (sozinho e a resolver problemas simples)
Explicar formas bem definidas e rotineiras de proteger os meus dados pessoais e a
privacidade em ambientes digitais; explicar formas bem definidas e rotineiras de usar
e partilhar informação pessoalmente identificável, protegendo-me a mim e aos outros
de danos; indicar declarações da política de privacidade bem definidas e rotineiras de
como os dados pessoais são usados em serviços digitais.
Intermediário (independente de acordo com minhas próprias necessidades e
resolvendo problemas bem definidos)
Discutir formas de proteger os meus dados pessoais e privacidade em ambientes
digitais; discutir formas de utilizar e partilhar informação pessoalmente identificável,
protegendo-me a mim e aos outros de danos; indicar declarações da política de
privacidade sobre como os dados pessoais são usados em serviços digitais.
Avançado (para além de orientar outros)
Aplicar diferentes formas de proteger os meus dados pessoais e privacidade em
ambientes digitais; aplicar diferentes formas específicas de partilhar os meus dados,
enquanto me protejo a mim e aos outros contra perigos; explicar as declarações da
política de privacidade que abordam a forma como os dados pessoais são usados em
serviços digitais.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
193
Avançado (de acordo com as minhas próprias necessidades e as de outros, em
contextos complexos)
Escolher as formas mais apropriadas de proteger os dados pessoais e privacidade
em ambientes digitais; avaliar as formas mais apropriadas de utilizar e partilhar
informação pessoalmente identificável, protegendo-me a mim e aos outros de danos;
avaliar a adequação de declarações da política de privacidade sobre como os dados
pessoais são usados.
Altamente especializado (no nível altamente especializado, sou capaz de)
Criar soluções para problemas complexos, com definição limitada, relacionadas com
a proteção dos dados pessoais e a privacidade em ambientes digitais, utilizando e
partilhando informação pessoalmente identificável, protegendo-me e aos outros de
danos, e políticas de privacidade para usar os meus dados pessoais; integrar o meu
conhecimento para contribuir para a prática e conhecimento profissional e orientar
outros na proteção dos dados pessoais e privacidade;
Altamente especializado (no nível mais avançado e especializado, sou capaz de):
Criar soluções para resolver problemas complexos, com muitos fatores que interagem
entre si, relacionadas com a proteção de dados pessoais e privacidade em ambientes
digitais, utilizando e partilhando informação pessoalmente identificável, protegendo-
me aos outros de danos, e políticas de privacidade para usar os meus dados pessoais;
propor novas ideias e processos para a área.
Fonte: Autores adaptado de Vuorikari, Kluzer e Punie (2022, p.35).
O documento apresenta também exemplos de conhecimento, ca-
pacidades e atitudes relativas à proteção de dados pessoais e privacidade.
Sendo eles os que estão apresentados no Quadro 3.
Quadro 3 – Conhecimentos, capacidade e atitudes
Conhecimento
Ciente de que a identificação eletrônica protegida é uma característica chave
concebida para permitir uma partilha mais segura de dados pessoais com terceiros ao
realizar transações do sector público e privado;
Sabe que a “política de privacidade” de uma aplicação ou serviço deve explicar quais os
dados pessoais que recolhe (por exemplo, nome, marca do dispositivo, geolocalização
do utilizador) e se os dados são partilhados como terceiros.
Sabe que o processamento de dados pessoais está sujeito a regulamentos locais, tais
como o regulamento Geral de Proteção de Dados da UE (RGPD) (por exemplo, as
interações de voz com um assistente virtual são dados pessoais em termos do RGPD e
podem expor os utilizadores a determinados riscos de proteção de dados, privacidade
e segurança. (IA)
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
194
Capacidades
Sabe identificar mensagens de e-mail suspeitas que tentam obter informações sensíveis
(por exemplo, dados pessoais, identificação bancária) ou que podem conter malware.
Sabe que estas mensagens de correio eletrônico são frequentemente concebidas para
enganar pessoas que não conferem com atenção e que são assim mais suscetíveis à fraude,
ao conterem erros deliberados que impedem as pessoas mais atentas de clicar nelas.
Sabe como aplicar medidas básicas de segurança nos pagamentos online (por
exemplo, nunca enviar uma digitalização de cartões de crédito ou dar o código PIN
de um cartão de débito ou de crédito).
Sabe como utilizar a identificação eletrônica para serviços prestados pelas autoridades
públicas ou serviços públicos (por exemplo, preencher o seu formulário fiscal,
requerer benefícios sociais, solicitar certificados) e pelo setor empresarial, tais como
bancos e serviços de transporte.
Sabe como utilizar certificados digitais fornecidos por autoridades certificadoras (por
exemplo, certificados digitais para autenticação e assinatura digital armazenados em
cartões de identidade nacionais). As atitudes se apresentam como:
Atitudes
Pondera os benefícios e riscos antes de permitir que terceiros processem dados
pessoais (por exemplo, reconhece que um assistente de voz num smartphone, que é
utilizado para dar comandos a um aspirador robô, poderia dar a terceiros – empresas,
governos, cybercriminosos – acesso a dados). (IA)
Confiante na realização de transações online após tomar as medidas de segurança e
proteção adequadas.
Fonte: Autores, adaptado de Vuorikari, Kluzer e Punie (2022, p. 37).
Fica evidente a partir da leitura da versão 2.2 do DigComp que a
questão da proteção de dados e a privacidade é abordada quase que total-
mente de maneira centrada no indivíduo, embora faça menções ao com-
ponente coletivo, aspecto mais importante na visão de Masur (2020). Para
o autor, isso se dá porque as discussões contemporâneas sobre privacidade
adotam quase que exclusivamente uma perspectiva enraizada em teorias
liberais, ou seja, nesse espectro liberal da privacidade, o foco está na pro-
teção do indivíduo, portanto, as soluções propostas incluem, mas se limi-
tam, ao fortalecimento de conhecimentos e habilidades individuais para
autopreservação e a implementação de regulações de proteção à privacida-
de e dados em nível político (Masur, 2020). É proposto então pelo autor,
que haja a promoção da capacidade crítica de um indivíduo decidir por si
mesmo, quando e dentro de quais limites as informações sobre si devem
ser coletadas, analisadas e disseminadas, possibilitando que o atual para-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
195
digma seja desafiado com alternativas baseadas em premissas diferentes,
não liberais (Masur, 2020).
Nesse sentido, a Ciência da Informação desempenha papel funda-
mental na promoção das competências digitais, todavia, cabe ressaltar que
ambas florescem em um momento de avanço do liberalismo econômico,
tornando-se assim necessário uma profunda reflexão acerca do que é per-
petuado no campo. A partir do evidenciado, em busca de verificar como a
Ciência da Informação e sua literatura vem tratando a relação das compe-
tências digitais, proteção de dados e privacidade, foi realizada uma busca
na base de dados Library and Information Science Abstracts (LISA), no dia
30/11/2022, a partir da expressão de busca “digital competen*” anddata
protect*” andprivacy”.
Foram recuperados 12 artigos, os quais foram publicados nos anos
de 2022 (1), 2021 (4), 2020 (2), 2019 (2), 2018 (1), 2016 (1), 2010 (1).
Demonstrando assim que a temática vem ganhando relevância ao longo
dos últimos anos, principalmente após 2016, ano em que entra vigor a
GDPR. Dentre os artigos, destacam-se os intitulados “La protección de da-
tos personales em las bibliotecas universitárias españolas em el entorno digital
(Varela-Orol; Ameneiros Rodríguez, 2018), “A study of higher education
students’ self-perceived digital competences for learning and everyday life online
participation” (Martzoukou et al., 2020) e “Privacy and defaultand active
informed consent” (Noain-Sánchez, 2016), sendo os artigos que mais se
aproximam da temática aqui analisada. Os itens recuperados mesclam-se
em aqueles que fogem da temática ou fazem menções tímidas a mesma e
não se ocupam da mesma como item principal:
A Digital Patient-Provider Communication Intervention
(InvolveMe): Qualitative Study on the Implementation Preparation
Based on Identified Facilitators and Barriers (Seljelid et al., 2021);
Digital Health Competencies Among Health Care Professionals:
Systematic Review (Longhini;Rossettini; Palese, 2022);
Formation of the Business Model of Crypto Asset Management
(Glubokova et al., 2021);
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
196
Indicadores compuestos como metodología innovadora en
Comunicación. Aplicación para la evaluación de los medios públicos
europeos (Blasco-Blasco; Rodríguez-Castro; Túñez-López, 2020);
Learning and Use of eHealth Among Older Adults Living at Home
in Rural and Nonrural Settings: Systematic Review (Airola, 2021);
Literature on Wearable Technology for Connected Health: Scoping
Review of Research Trends, Advances, and Barriers (Loncar-
Turukalo et al., 2019);
Measurement of Digital Literacy Among Older Adults: Systematic
Review (OH et al., 2021);
Structuring stakeholder e-inclusion needs (Wright, 2010); e
e contribution of ICT adoption to sustainability: households
perspective (Ziemba, 2018).
O baixo número de artigos recuperados representa a incipiência da
temática, e isso é corroborado pelo percentual ainda menor de trabalhos
relevantes, demonstrando assim que a Ciência da Informação vem ocupan-
do-se timidamente das questões aqui apresentadas.
conclusões
A vista do exposto, fica evidente que existe a necessidade de aprimo-
ramento das competências digitais que se relacionam com a proteção de
dados e o direito à privacidade, as quais, evidentemente, são essenciais para
o desempenho da vida cotidiana contemporânea. Em relação ao conteúdo
do DigComp 2.2, pode-se atribuir ao documento a característica de um
ponto de partida o qual oferece direcionamentos para o desenvolvimento
de ações que visam o aprimoramento de competências digitais focadas na
proteção de dados e privacidade, em qualquer nível. Todavia, ressalta-se a
necessidade de ampliação do escopo, visando não somente soluções foca-
das nos indivíduos.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
197
Em relação à abordagem da Ciência da Informação sobre a temática,
os resultados obtidos evidenciam que pouco tem sido explorado sobre o
tema no campo. Desse modo, é necessário uma nova investigação, em bases
de dados que incluam uma gama maior de fontes, tais como SCOPUS e
Web of Science e/ou a partir de termos que representem melhor a temática.
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C 11
M  
 :   
    
  P
Adriana Carla Ribeiro dos Santos 1 e Maria Leandra Bizello 2
intRodução
A Organização e Representação do Conhecimento é uma área do
campo de especialidade da Ciência da Informação (CI), que tem como fun-
damentação o estudo das teorias, metodologias, instrumentos e produtos
que dão acesso ao conhecimento. Verifica-se neste contexto, os Sistemas de
Organização do Conhecimento (SOC), também identificado como (KOS),
um acrônimo do inglês Knowlegde Organization System, são todos os siste-
mas conceituais semanticamente organizados que tem a função de analisar
termos, definições, relacionamentos e as propriedades dos conceitos.
Os SOC são instrumentos utilizados na representação do conheci-
mento como forma de organização e recuperação da informação nas bi-
bliotecas, museus e arquivos, tem como função, a padronização termino-
lógica para facilitar e orientar a indexação e os usuários. As estruturas dos
SOC variam de um modelo simples até o multidimensional.
Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: adriana.
carla@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8743563045441206.
Doutora em Multimeios. Professora na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: ml.bizello@
unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5460972179410597.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p199-214
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
200
As classificações, taxonomias e tesauros são considerados os SOC
tradicionais na CI, porque apresentam um rico arcabouço teórico no que
se refere à sua construção de linguagens documentárias. Porém, encontra-
mos poucas metodologias para construção e aplicação de ontologias, o que
gera a hipótese devido às restrições de uma representatividade semântica
no campo digital.
Para Bellotto (2003), os novos suportes documentais, a competência,
o conhecimento, os métodos e os meios de produção são os dilemas dos
profissionais da Arquivologia. Neste parâmetro, o propósito desta pesquisa é
abordar o tema sob a perspectiva da CI e propor também o aproveitamento
de seu arcabouço teórico e metodológico para o subsídio da construção de
uma ontologia no domínio de documentos de arquivos, apontando-se, den-
tre as metodologias da CI, a mais adequada para esse propósito.
As ontologias possuem características associativas e de relacionamen-
to, na medida em que possibilitam a construção de instâncias ontológi-
cas passíveis de serem compreendidas por máquina. Para tanto, modelar
domínios a partir de ontologias, faz-se necessário; quando classificamos
estamos subdividindo um domínio em classes; a diferença entre taxono-
mias e ontologias está justamente no formato e forma da construção das
relações. Campos (2004), os estudos da construção de modelos conceituais
permitem a construção de linguagens documentárias, sistemas computa-
cionais, hipertextos, sistemas voltados para criação de bases de dados de
conhecimento e, mais recentemente, no âmbito da inteligência artificial,
as ontologias.
O que leva à pergunta que orienta esta pesquisa. Quais os requi-
sitos devem ser considerados para criação e aplicação de ontologia no
domínio arquivístico para conceituar termos e auxiliar usuários/pesqui-
sadores nos arquivos?
Durante o desenvolvimento de pesquisa de mestrado quando se bus-
cou apresentar uma proposta de tesauro funcional para a documentação do
Arquivo Público do Estado do Pará, baseado no modelo australiano, com
auxílio do software THESA, objetivando-se na representação de um mo-
delo mais detalhado da informação orgânica-funcional, percebeu-se que
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
201
a aplicação do software THESA na modelagem conceitual dos termos da
série documental “Inquéritos Policiais” é uma importante ferramenta alia-
da na elaboração de modelos mais precisos, sobretudo, o uso do arcabouço
teórico e prático dos tesauros aplicados a arquivos.
Mediante os resultados obtidos na pesquisa do mestrado, constatou-
se ainda o panorama das inter-relações, em que se denota a Organização do
Conhecimento e a Arquivologia, assim como, a elaboração de um tesauro
com a função de otimizar os processos relacionados à transferência de
informações acumuladas em sistemas de informações arquivísticas.
Portanto, justifica-se a pesquisa atual no estudo exploratório que
visa identificar a aplicação e as limitações da aplicação de ontologia no
ambiente dos arquivos, pelo fato de que, os instrumentos de organização
e recuperação de documentos arquivísticos estão parados no tempo e sem
um propósito, muitos, estão desatualizados e obsoletos diante da realidade.
O artigo provém da pesquisa de doutorado em andamento, busca-se
propor uma metodologia de modelagem conceitual para estruturar voca-
bulários terminológicos de ontologia aplicados ao domínio da produção
documental dos arquivos.
RefeRencial teóRico
O referencial teórico básico é formado por textos da área de
Ciência da Informação e áreas correlatas que tratam da Organização do
Conhecimento e da Arquivologia.
AbordAgeM teóricA dA orgAnizAção do conheciMento (oc)
Pesquisas de Dahlberg (2006), Hjørland (2003, 2008), Guimarães
(2008), Fujita (2008) e Barité (2009) corroboram com o pensamento de
que a OC proporciona os subsídios fundamentais para o desenvolvimento
de estudos da classificação, representação, recuperação da informação e
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
202
da construção de tesauros, assim como os de natureza terminológica, no
campo da CI.
A CI teve duas vertentes em seu desenvolvimento, segundo os auto-
res Rabello e Guimarães (2006). A primeira, a norte-americana, que trata
a CI oriunda de um contexto pós Segunda Guerra Mundial, que estava
presente na revolução científica e técnica para aportes da comunicação e
seus diferentes espaços de inserção. A segunda, a vertente europeia, de ori-
gem na Documentação, destacando que após a invenção da imprensa de
Gutenberg, no século XIX, a produção de documentos em formato de
publicações foi ampliada em nível mundial.
Neste panorama, não se pode esquecer que a OC tem forte relação
com a CI e ao longo do tempo vem se consolidando como um campo
de saber interdisciplinar, buscando consolidar sua identidade, um espa-
ço de convergência e de diálogo teórico e aplicável, como é apresentado
na literatura da International Society of Knowledge Organization – ISKO
(Guimarães, 2017).
Barité (2001) menciona que:
O objeto de estudo da Organização do conhecimento é – a nosso
juízo – o conhecimento socializado, e como disciplina dá conta
do desenvolvimento de técnicas para a construção, gestão, uso e
avaliação de classificações científicas, taxonomias, nomenclaturas
e linguagens documentais. De outra parte, traz metodologias de
uso e recuperação por linguagem natural. É esta visão integral do
conhecimento, em que se associam as classificações filosóficas ou
científicas do saber com as classificações destinadas à organização
de documentos em bibliotecas, arquivos e outras unidades de
informação que abre maiores perspectivas para um importante
desenvolvimento disciplinar e interdisciplinar no âmbito da
Biblioteconomia e Documentação (Barité, 2001, p. 41).
Barité (2001) destaca dez premissas básicas que justificam o status
científico e intelectual da OC:
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
203
1. O conhecimento é um produto social, uma necessidade social e
um dínamo social;
2. O conhecimento se realiza a partir da informação e ao socializar
se transforma em informação;
3. A estrutura e a comunicação do conhecimento formam um sis-
tema aberto;
4. A organização do conhecimento é para o melhor aproveitamen-
to individual e social;
5. Organizar o conhecimento tem muitas formas possíveis;
6. É artificial toda organização do conhecimento;
7. O conhecimento registrado em documentos é um conjunto or-
ganizado de dados disponíveis;
8. O conhecimento se expressa e organiza sistemas de conceitos;
9. Os sistemas de conceitos se organizam para objetivos específicos,
funcionais ou de documentação;
10. São consideradas uniformes, as leis que regem a organização de
sistemas de conceitos e previsíveis ao se aplicarem por igual a
qualquer área/disciplina.
Hjørland (2008) enfatiza que existem várias abordagens e teorias que
contextualizam os estudos da OC, cita a da relevância do ensino e da pes-
quisa no campo para que sejam baseadas em escolhas bem consideradas e
bem informadas, como sistemas de atividades e teorias científicas, pois for-
mam o conhecimento de base necessário para organizar o conhecimento.
Assim, pode-se sintetizar que a OC é uma área que contribui de for-
ma significativa para a criação e desenvolvimento de metodologias para o
acesso à informação. Sendo que uma dessas atividades é o desenvolvimento
dos Sistemas de Organização do Conhecimento SOC, ferramentas que
apresentam a interpretação organizada e estruturada do objeto.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
204
os sisteMAs de orgAnizAção do conheciMento (soc)
Os Sistemas de Organização do Conhecimento (SOC) são ins-
trumentos de representação do conhecimento que foram estabelecidos
pelo Networked Knowledge Organization Systems Working Group em uma
Conferência da ACM Digital Libraries em 1998, Pittsburgh na Pennsylvania
Hjørland (2008) diz que os SOC são ferramentas semânticas que
ajudam na interpretação organizada do conhecimento. Para Hodge (2000)
os SOC são todos os tipos de instrumentos que tem como finalidade or-
ganizar a informação e promover a ação do conhecimento, assim como, os
sistemas de classificação que organizam materiais, os cabeçalhos de assunto
para fornecer o acesso mais detalhado e os catálogos que controlam versões
variantes de informação e nomes geográficos ou nomes de pessoas e outros
esquemas, como as redes semânticas, tesauros, taxonomias e ontologias,
conforme, apresentado na Figura 1.
Figura 1 – SOC
Fonte: Souza, Tudhope e Almeida (2012).
Organizar a informação é a função de um SOC, por isso, são deno-
minados como, o “coração” dos Sistemas de Recuperação da Informação
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
205
(SRI) de museus, bibliotecas e arquivos, tanto em ambiente físico, como
na web, segundo Hodge (2000). Portanto, os SOC são estruturas organi-
zadas que objetivam a construção de padrões abstratos da realidade, repre-
sentando os conceitos de um domínio. Enfim, as ferramentas semânticas
são usadas para o tratamento e recuperação da informação, em ambiente
informatizado ou tradicional.
orgAnizAção do conheciMento nA ArQUivologiA
Tanto a Organização do Conhecimento como a Ciência da
Informação são áreas de natureza interdisciplinar, que tem como funda-
mentação o desenvolvimento da pesquisa, constituindo-se como espaços
de interlocução de disciplinas, como: Arquivologia, Biblioteconomia,
Museologia e outras áreas do saber.
Segundo Hjørland (2003, 2008), o conceito de Organização do
Conhecimento em Biblioteconomia e Ciência da Informação está rela-
cionado ao sentido específico, ligado às atividades de classificação, des-
crição e indexação de documentos. Na Arquivologia, está ligado às ativi-
dades de classificar e descrever, compreendidas como processo intelectual
e físico, envolvendo a concepção teórica e metodológica de seus proces-
sos, aqui a OC tem o objetivo de compreender como o conhecimento é
socialmente organizado.
Para Barros e Sousa (2019), os processos de representação no con-
texto arquivístico podem ser melhorados com reflexões e metodologias ex-
traídas do contexto da Organização do Conhecimento, especificamente
quando se pensa nas Knowledge Organization Systems (KOS).
Esse contexto sugere a investigação de aspectos teórico-epistemo-
lógicos que envolveram e envolvem a organização e a representação nes-
se domínio em um estudo reflexivo, para que se possa analisar a relação
entre concepções epistemológicas e metodológicas que são adotadas na
Arquivologia, enquanto área do saber.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
206
No mais, a Arquivologia estuda métodos e instrumentos para a or-
ganização da informação registrada. Se considerarmos que a OC contribui
para o desenvolvimento de princípios metodológicos para a representação,
elaboração de instrumentos e acesso à informação, então, há uma interlo-
cução entre as duas áreas.
Como a Arquivologia se insere no contexto da OC, há um diálogo
interdisciplinar das áreas, não só pelo fato das atividades nos arquivos re-
meterem ao tratamento documental: a classificação, enquanto atividade
que organiza o conhecimento, e à descrição das informações registradas,
enquanto atividade que objetiva e subjetiva a representação do conheci-
mento registrado.
Ressalta-se também, que a denominada “transformação digital” no
contexto da Arquivologia contribuiu para uma reformulação do fazer pro-
fissional relacionada ao sistema tecnológico presente no setor da Tecnologia
de Informação e Comunicação, são múltiplos os cenários possíveis para o
arquivista, assim como no ensino e na pesquisa.
A pesquisa em Arquivologia se mostra como emergente do ca-
ráter epistemológico e do corpus teórico da área. As primeiras ações da
Arquivologia pelo caráter científico foi organizar os registros documentais
como subsídio de análise e respaldo de prova e material para sim construir
narrativas científicas e sociais (Burke, 2012).
A Arquivologia enquanto domínio de conhecimento, exerce efeti-
vamente esse papel social quando ligada com as problemáticas que estão
relacionadas ao seu desenvolvimento científico, diante dos problemas
enfrentados pela sociedade. Porém, os arquivistas que atuam nessa área
devem ter consciência de que as atividades de classificação e descrição
estão também ligadas a suas respectivas responsabilidades sociais no que
diz respeito ao atendimento das demandas, para com o acesso social e
democrático da informação.
Nos dias de hoje, a produção de documentos de arquivo configu-
ra-se de forma híbrida, em que os documentos em papel são produzidos
simultaneamente com documentos digitais e vice-versa (Barros, 2016). De
modo geral, pesquisas recentes também reconhecem os pontos de lacunas
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
207
de cunho teórico e metodológico da Arquivologia e que precisam ser su-
peradas, geralmente, estudos buscam o entendimento dos problemas com
o foco para dentro da própria área, sem levar em conta as soluções para os
problemas existentes que podem aparecer fora de seu domínio.
As abordagens temáticas da Arquivologia tendem a ter uma relação
de interdependência de outras áreas do conhecimento, é importante a re-
flexão da OC nesta área que ainda se faz emergente no campo investigati-
vo. Nesse sentido, o propósito deste trabalho é clarificar aspectos históricos
e conceituais da OC enquanto área do saber, principalmente dessa relação,
como foi dito, configura-se como uma questão emergente.
Esteban Navarro (1995) apoiava uma aproximação dos estudos da
Arquivologia com a Organização do Conhecimento, considerando essa úl-
tima um campo integrador, capaz de ir além da divisão tripartida entre as
áreas de Biblioteconomia, Arquivologia e Documentação, a partir do estudo
das técnicas de armazenamento, tratamento e recuperação de documentos.
Com o advento das TIC a Arquivologia foi submetida a repensar
seus princípios e metodologias, com o objetivo de responder na produção,
organização e uso de documentos em meio digital. Daí, o aparecimento
das correntes de pensamento em vários países, tais como: a Arquivística
Pós Moderna e a Arquivística Integrada, no Canadá, a Arquivística Pós-
Custodial, em Portugal, a abordagem do records continuum, na Austrália, e
outras, como se pode observar no Quadro 1.
Quadro 1 – Correntes de Pensamento em diferentes países
Teorias Arquivísticas Período Informação arquivística
Records Continuum
da Austrália A partir metade
década de 1990 Informação gerada pelos processos
Pós-Custodial de
Portugal Final da década
de 1990 Informação social
Arquivística
Integrada de
Montreal-Quebec/
Canadá
Década de 1980 Informação Orgânica
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
208
Teorias Arquivísticas Período Informação arquivística
Arquivística
Funcional ou Pós
Moderna do Canadá
inglês
Final década de
1980
Process-Bound information – informação
registrada pelos processos administrativos
e organizadas com vistas a recuperar o
contexto; Vínculo processual
Diplomática
Arquivística ou
Contemporânea do
Canadá/Inglês e Itália
Final da década
de 1980 Com o documento de Arquivo
Estudos sobre
Tipologia
Documental e
Identificação da
Espanha
Década de 1980 Com o Arquivo enquanto conjunto de
documentos de Arquivos; documento de
Arquivo.
Fonte: Autores baseado em Smit (2012).
Vale dizer que essas diferentes abordagens teóricas, tinham em co-
mum fundamento, a busca eficaz da recuperação e o acesso aos documen-
tos, acredita-se que é o que move o saber e o fazer da Arquivologia.
Outro ponto importante a ser destacado, é o Princípio da Proveniência
que é sustentado pela prática de organização e tratamento da informa-
ção arquivística desde a segunda metade do século XIX. Formulado em
1841, com o intuito de solucionar os problemas da massa documental dos
Arquivos Nacionais pós Revolução Francesa (Tognolli; Barros, 2015).
O Princípio da Proveniência na Arquivologia consiste em organizar
os documentos de uma instituição de forma a conservar sua ordem origi-
nal. A interação desse princípio nos arquivos é fundamental para garantir
a função institucional, assim como permitir o vínculo funcional dos docu-
mentos provenientes de diferentes organizações produtoras.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
209
orgAnizAção do conheciMento nA ArQUivologiA
Na classificação de Zeng (2008), apresentada na figura 02, demons-
tra dois grupos separados, ou seja, Listas de Termos e Modelos do tipo
Metadados, que são diferentes, como se pode observar nas propostas de
Hodge e Souza et al. e que formam um único grupo.
Na Figura 2 as ontologias estão no topo da escadaria semântica, pos-
suem características associativas e de relacionamento, na medida em que
possibilitam a construção de instâncias ontológicas para serem compreen-
didas por máquina. É a representação fundamental para modelar domínios
a partir de ontologias, isto porque, quando se classifica estamos subdivi-
dindo um domínio em classes.
Figura 2 – Sistemas de Organização do Conhecimento
Fonte: Zeng (2008).
Ontologia é um termo polissêmico que significa coisas distintas no
campo da Ciência da Computação, Filosofia e Ciência da Informação. No
contexto que se pretende aplicar, as ontologias são baseadas fundamental-
mente em relações semânticas entre os termos e conceitos de um domínio.
Em Gruber (1993) ontologias são “uma conceituação explícita”, ou seja,
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
210
estamos falando de um sistema formal com instâncias claras que relacio-
nam conceitos e termos para explicitar as relações semânticas.
Guarino (1998), estabelece que a ontologia se refere a um artefa-
to de engenharia, construído por um vocabulário específico usado para
descrever uma realidade, com premissas explícitas e com intenção de dar
significado às palavras de um vocabulário. Em linhas gerais, as ontologias
se constituem para além das relações hierárquicas, logo, termos e concei-
tos proporcionam relacionamento tanto de relações hierárquicas, como de
relações associativas.
pRocedimentos metodológicos
De acordo com as considerações sobre a metodologia de pesquisa cien-
tífica, apresentadas por Gil (2022), a presente pesquisa é classificada como:
Quanto à natureza, pesquisa aplicada com finalidade de gerar re-
sultados de aplicação prática direta na construção de ontologias
voltadas a arquivos;
Quanto à abordagem do problema, como pesquisa qualitativa,
pois o conhecimento compreendido no campo da pesquisa, não
pode ser mensurado quantitativamente e que o objetivo é chegar
a uma compreensão do problema sem ter em vista a quantifica-
ção dos dados envolvidos;
Quanto aos objetivos, como pesquisa explicativa, pois preten-
de verificar a inter-relação existente entre a Organização do
Conhecimento e a Arquivologia, à luz da literatura;
Quanto aos procedimentos técnicos como pesquisa bibliográfi-
ca, por trabalhar com a literatura publicada; e pesquisa experi-
mental, em função da construção de um modelo de ontologia
para o domínio da Arquivologia.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
211
A pesquisa está sendo realizada, em três grandes etapas, conforme
proposto por Minayo (2011): a fase exploratória, trabalho de campo, tra-
tamento e análise dos dados.
A etapa da pesquisa experimental consiste na construção de um mo-
delo de ontologia para o domínio arquivístico, elaborado com auxílio do
software Protégé. No intuito de testar sua aplicabilidade e interoperabili-
dade nos documentos da Série Inquéritos Policiais do acervo do Arquivo
Público do Estado do Pará (APEP).
A construção deste modelo tem como base teórica a interdisciplina-
ridade do uso de metodologias no âmbito da Ciência da Informação e da
Web Semântica e servirá tanto para a padronização e o controle terminoló-
gico, quanto para diminuir os problemas referentes ao acesso à informação
arquivística.
O software Protégé é um editor de ontologias gratuito e de código
aberto e um sistema de gerenciamento de conhecimento. A meta-ferra-
menta Protégé foi construída por Mark Musen em 1987 e desde então foi
desenvolvida por uma equipe da Universidade de Stanford.
O APEP é um importante patrimônio histórico da região amazônica
não somente por sua belíssima arquitetura de estilo neoclássica ou no con-
junto de seus bens móveis, dentre os quais alguns remontam aos séculos
XIX e XX. Mas o Arquivo Público guarda também o maior patrimônio
histórico documental da Amazônia, o qual corresponde aproximadamente
a 2.000 metros lineares, com cerca de 4 milhões de documentos, produ-
zidos e recebidos da organização administrativa, legislativa e jurídica da
Amazônia dos séculos XVII ao XXI.
Para aplicar e demonstrar o modelo conceitual de ontologia, esco-
lheu-se a Série Inquéritos Policiais do Fundo da Secretaria de Segurança
Pública, pois é uma documentação específica de cunho jurídico-adminis-
trativo que é bastante solicitada por usuários/pesquisadores do APEP.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
212
consideRações pReliminaRes
Por se tratar de um artigo estruturado de uma pesquisa em anda-
mento, ainda não existem resultados a serem apresentados e discutidos.
Portanto, como primeiras considerações pretende-se atingir o propósito
desse estudo, isto é, apresentar um modelo de aplicação de ontologias para
o contexto dos arquivos, nos moldes de um sistema de organização do
conhecimento complementar àqueles tradicionalmente desenvolvidos no
contexto da Arquivologia.
Mediante o exposto, espera-se as seguintes contribuições ao final da
pesquisa:
Despertar na comunidade acadêmica, a valorização de uma
abordagem mais aplicada que possibilite a experimentação e o
uso de sistemas de organização do conhecimento (SOC) no con-
texto arquivístico;
Criar um roteiro próprio para a criação de um modelo conceitual;
Aprimorar a sistematização e aplicação de ontologias nos
arquivos.
agRadecimentos
“O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código
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215
C 12
O  
   
:  
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 T   
S P
Wilson Roberto Veronez Júnior 1, Sônia Maria Troitiño-Rodriguez 2 e
Daniel Martínez-Ávila 3
intRodução
Nos últimos anos, as relações científicas, epistemológicas e inter-
disciplinares entre a Arquivologia e a Organização do Conhecimento
têm sido discutidas com ênfase, e que essa discussão gerou produções
científicas em suas mais variadas dimensões. Essa discussão fez com que
a Arquivologia aprimorasse os seus principais métodos e práticas de or-
ganização de seus arquivos.
Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: wilson.
veronez@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2939-1917. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/4065012857990125.
Doutora em História Social. Professora na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: sonia.
troitiño@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7204-3283. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/6106443387062363.
3 Doutor em Documentação. Professor na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: dmarta@unileon.
es. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2236-553X. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1744684558489377.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p215-234
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
216
Os principais temas discutidos são: Representação e Organização
(Esteban Navarro, 1995; Esteban Navarro; García Marco, 1995), Diplomática
(Tognoli, 2009, Tognoli; Guimarães; Tennis, 2013), Classificação Arquivística
(Barros; Sousa, 2019; Tognoli; Guimarães, 2015; Albuquerque, 2017; Barros,
2022), Fotografias (Machado; Madio, 2021), Princípio da Proveniência
(Tognoli; Guimarães, 2015), Identificação Documental (Fonseca; Troitiño-
Rodríguez, 2017; Faben; Rodrigues; Silva, 2022; Rabelo; Schimidt, 2021),
Indexação (Barros, 2016), Tesauros Funcionais (Alencar; Cervantes, 2017),
Teoria do Conceito (Freitas; Albuquerque, 2017, Gonçalves; Tognoli,
2022), Produções científicas (Souza; Lima, 2021; Veronez Júnior; Martínez-
Ávila; Troitiño-Rodríguez, 2021), Dimensões científicas e epistemológi-
cas (Veronez Júnior; Martínez-Ávila; Troitiño-Rodríguez, 2022), Sistemas
de Organização do Conhecimento (Barros, 2022), Arquivos de Partidos
Políticos e Arquivos de Movimentos Sociais (Veronez Júnior; Troitiño-
Rodríguez; Martínez-Ávila, 2023), dentre outros.
Diante das referidas temáticas, observa-se que a relação entre a
Arquivologia e a Organização do Conhecimento extrapola as dimen-
sões científicas, epistemológicas e interdisciplinares, ou seja, essa rela-
ção também se dá em termos de funções e processos que ocorrem em
Unidades de Informação4, Partidos Políticos5, Coletivos, Movimentos
Sociais, Movimentos Sindicais, Movimento das Mulheres. Nessa discus-
são, os principais palcos que impulsionaram essas produções científicas
são a International Society Knowledge Organization (ISKO6) e o Encontro
Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB). O primeiro
evento é dividido em inúmeros capítulos, cada qual sendo realizado em
uma região do planeta. O segundo evento é dividido por 12 Grupos de
Trabalho (GT), sendo que o GT número 2, “Organização e Representação
do Conhecimento” é o que mais dissemina discussões sobre o tema.
A partir do artigo de Esteban Navarro e García Marco (1995), ou-
tros estudos se desencadearam7, isso contribuiu no estabelecimento e no
Arquivos, Bibliotecas, Centros de Informação e Documentação e Museus.
5 Independentemente do espectro ideológico.
Tradução livre: Sociedade Internacional para a Organização do Conhecimento.
No Brasil, a discussão sobre a Organização do Conhecimento e Arquivologia foi retomada por Tognoli e
Guimarães (2015).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
217
aprofundamento de pesquisas teóricas, e até certo ponto, aplicadas em
arquivos. Porém, Barros e Sousa (2019), lembram que os estudos sobre
a Organização do Conhecimento e Arquivologia já vinham sendo realiza-
dos em meados da década de 1980. Tognoli e Guimarães (2010) reforçam
que com a mudança de paradigma ocorrida na Arquivologia8 na década
de 1980, os estudos sobre a Organização do Conhecimento ganharam
uma intensidade, principalmente no que diz respeito às novas Tecnologias
Informacionais aplicadas aos processos arquivísticos.
Infere-se que, com base nos estudos de Esteban Navarro e García
Marco (1995), os campos da Organização do Conhecimento e da
Arquivologia estão vinculados do ponto de vista científico, epistemológico
e interdisciplinar. Essa vinculação se dá por aspectos teóricos, históricos e
na elaboração de processos e funções. Assim, é possível analisar os proces-
sos de organização do conhecimento em arquivos de partidos políticos,
uma vez que os instrumentos de gestão, como o Plano de Classificação e
a Tabela de Temporalidade, são fundamentais para o entendimento das
relações documentais, bem como para a compreensão do contexto em que
aqueles documentos foram produzidos por partidos políticos, no caso do
Partido dos Trabalhadores (PT), assim como a elaboração dos instrumen-
tos de pesquisa que auxiliam o acesso aos itens documentais, como os guias
de fontes, catálogos, repertórios e índices.
Uma das hipóteses é a de que ao longo do tempo, os acervos docu-
mentais do PT foram se dispersando, e que para isso, a discussão sobre a
elaboração de um guia de fontes contribuirá na compreensão dos fundos
documentais e na reunião, organização, representação e no acesso a essas
manifestações documentais9.
A problemática da tese tem por objetivo responder: como se dá a acu-
mulação natural e produção documental de partidos políticos? Os partidos
políticos adotam princípios arquivísticos para a organização do conhecimen-
to? São adotadas práticas e metodologias de organização do conhecimento?
Para responder a esses questionamentos, a tese se propõe a mape-
ar os acervos documentais do PT em Diretórios Municipais, Arquivos,
Arquivologia pós-moderna ou Contemporânea.
Fotografias, cartas, correspondências, requerimentos, ofícios, panfletos, cartazes, charges, bandeiras,
camisetas, bonés, broches, dentre outras.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
218
Centros de Referência, Centros de Documentação, Instituições Culturais
e Tribunais Regionais Eleitorais no estado de São Paulo. Somado a isso,
busca identificar as principais manifestações documentais produzidas pelo
Partido ao longo de mais de 45 anos de história.
Em termos de objetivos específicos, busca a) realizar uma revisão bi-
bliográfica sobre a Organização do Conhecimento em Arquivos b) análise
histórica sobre a fundação, estrutura organizacional e a produção documen-
tal do PT; c) discussão sobre a elaboração de um guia de fontes para pesqui-
sadores e militantes que trabalham com arquivos de partidos políticos.
Na medida em que o arquivo tem o poder de restringir, ele pro-
picia o acesso à informação e à memória, que para os partidos políticos,
tem ampla significação no sentido de pertencimento, identidade, resgaste
histórico e reavivamento de si mesmo. Esse processo de significação não
é apenas para as organizações político-partidárias, mas também aos mili-
tantes, filiados e simpatizantes, desse modo, questiona-se: o que seria uma
organização partidária sem esses personagens? Qual o sentido de se ter uma
agremiação sem a participação desses? Além do próprio processo de luta e
militância, existe a produção documental, ou seja, esses atos são registrados
em algum tipo de suporte, existe algum material que reflete essas lutas, os
militantes fazem questão que isso seja evidenciado, que isso seja transmi-
tido por algum canal de comunicação, que este registro chegue a alguém.
Assim, o processo de comunicação se dá por meio das lutas, da resistência
e do sentido de que as estratégias e os ideais necessitam de uma dinâmica.
Nessa discussão, os campos da Organização do Conhecimento e da
Arquivologia não podem se limitar a apenas discutirem a elaboração de
Sistemas de Organização do Conhecimento (SOCs), mas também pensar
estratégias para a organização do conhecimento em arquivos de partidos po-
líticos. Nessa reflexão, os SOCs seriam elaborados com base em dinâmicas
sociais, isto é, a sociedade alcança determinadas discussões que impactam di-
retamente na elaboração dos sistemas e dos termos que serão utilizados para a
organização, representação e recuperação da informação e do conhecimento.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa
e que faz uso de etnografia documental10 para o mapeamento de acervos
10 COSTA, M. C. C. Etnografia de arquivos-entre o passado e o presente. Matrizes, v. 3, n. 2, p. 171-186, 2010.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
219
documentais do PT no estado de São Paulo, Partido que possui uma pro-
dução documental ao longo de mais de 45 anos de história.
Na fase remota, os materiais foram recuperados em bases de dados,
revistas, periódicos e eventos científicos nacionais e internacionais especiali-
zados em Arquivos, Acervos Documentais, Partidos Políticos e Organização
do Conhecimento. Foram analisados eventos científicos a nível nacional e
internacional, como o ENANCIB, Seminário em Ciência da Informação
(SECIN), Colóquio em Organização, Acesso, Apropriação da Informação
e do Conhecimento (COAIC), ISKO, Encuentros Internacionales sobre
Sistemas de Información y Documentación (IBERSID) e a Asociación de
Educación e Investigación en Ciencia de la Información de Iberoamérica y el
Caribe (EDICIC). Além de trabalhos publicados nos Cadernos de Formação
Política do PT e materiais produzidos pela Secretaria Nacional de Formação
Política do Partido dos Trabalhadores (SNFPT). Tanto nas revistas, perió-
dicos e nos eventos científicos, não foi delimitado nenhum período em es-
pecífico para a recuperação dos materiais. Os principais termos de buscas
são, em português, espanhol e inglês, respectivamente: 1) Organização do
Conhecimento; Organização do Conhecimento Arquivístico; Organização
do Conhecimento em Arquivos; Organização do Conhecimento e
Arquivologia; Guia de Fontes; Guia de Fontes em Arquivos; 2) Organización
del conocimiento; Organización del conocimiento archivístico; Organización del
conocimiento en archivos; Organización del conocimiento y archivística; Guía
de fuentes; Guía de fuentes en archivos; 3) Knowledge Organization; Archival
Knowledge Organization; Knowledge Organization in Archives; Knowledge
Organization and Archival Science; Source Guide; Source guide in Archives.
Para complementar a busca, foram verificadas e examinadas publi-
cações de matérias e decisões no Diário Oficial da União (DOU), dos
Estados (DOE) e dos Municípios (DOM) e de documentos recuperados
nos Tribunais Regionais e Superiores da Justiça Eleitoral. Além de docu-
mentos permanentes que foram mimeografados e digitalizados de acordo
com normas, técnicas e diretrizes arquivísticas.
Na etapa presencial, por meio de amostragem, foram diagnosticados
os Acervos dos Diretórios do PT de Marília, São Paulo11, São José dos
Campos, Tupã e Taubaté.
11 Fundação Perseu Abramo (FPA) e o Acervo do Centro Sérgio Buarque de Holanda (CSBH).
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
220
oRganização do conhecimento em aRquivos
Os estudos iniciais sobre a Organização do Conhecimento em
Arquivos, foram discutidos por Esteban Navarro e García Marco (1995).
Para os autores, os pesquisadores, as sociedades científicas e as reuniões
e congressos que se situam no marco da Organização do Conhecimento
ignoram, habitualmente, a análise do substrato teórico, recursos metodo-
lógicos e dos instrumentos de gestão documental aplicados aos arquivos
(Esteban Navarro; García Marco, 1995).
Garcia Marco (1997), advoga que a Organização do Conhecimento
consolida-se como um campo científico que mantém diálogo com os ar-
quivos, que faz uso de elementos que contribuem para os aspectos teóricos
e metodológicos dos processos de organização do conhecimento desenvol-
vidos em arquivos. Nesse sentido, havia a necessidade de se inserir o tema
da Organização do Conhecimento no contexto dos arquivos, essa inserção
se deu principalmente no âmbito da ISKO.
Barros e Sousa (2019), comentam que a organização do conheci-
mento em arquivos deve, no entanto, também ser considerada parte inte-
grante da Organização do Conhecimento. Segundo os autores, os arquivos
podem conter registros oficiais, registros comerciais, imagens, ofícios, rela-
tórios, atas, cartas, diplomas, etc.
Troitiño-Rodriguez (2018), relata que a organização do conheci-
mento em arquivos está intimamente relacionada com o processo de con-
textualização funcional dos registros. Porém, o que raramente é discutido
são os diferentes parâmetros que podem ser adotados para a Organização
do Conhecimento nos Arquivos. Quando consideramos diferentes pro-
cessos de organização do conhecimento em arquivos, somos confrontados
com mais de uma forma de contextualizar os registros. Logo, a seleção
de um tipo de informação histórica como diretriz para o processamento
em arquivos, da mesma forma que a recuperação do conhecimento dos
sistemas de custódia de um conjunto de documentos com a mesma pro-
veniência, revela os processos e critérios adotados para a organização do
conhecimento em arquivos.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
221
Barros e Sousa (2019, p. 78), destacam que,
Assim, seu campo científico pode e tem relação com os arquivos
e a Arquivologia, justamente quando se pensa em relação às
possibilidades de abordagens referentes aos sistemas de organização.
Já que os sistemas de gestão, classificação, acesso e controle
arquivísticos são justamente isso: sistemas conceituais baseados em
características das instituições produtoras de documentos.
Veronez Júnior, Martínez-Ávila e Troitiño Rodriguez (2022), apre-
sentam uma discussão do ponto de vista epistemológico e científico na
busca pela elucidação dos principais aspectos que vinculam a Organização
do Conhecimento à Arquivologia. Para esclarecer o método científico, que
pode ser discutido pela Organização do Conhecimento e Arquivologia,
com base em Bunge (1980, p. 25), Veronez Junior, Martínez-Ávila e
Troitiño-Rodriguez (2022) apresentam os seguintes critérios de cientifici-
dade (Quadro 1).
Na primeira coluna do Quadro 1, são apresentados os elementos
que podem ser incorporados para o delineamento da investigação acer-
ca da cientificidade dos campos da Organização do Conhecimento e
Arquivologia. Na segunda coluna, são destacados os processos que nor-
teiam as práticas arquivísticas. Na última coluna, são mencionados os as-
pectos que caracterizam a Organização do Conhecimento.
Quadro 1 – Critérios e o método científico
Critérios de
Cientificidade Método/Arquivologia Método/Organização do
Conhecimento
Descobrimento
do problema;
colocação precisa do
problema; procura
de conhecimentos;
tentativa de solução
do problema com
auxílio dos meios
identificados
Organização e representação
da informação arquivística
(Fonseca, 2004, Tognoli;
Guimarães, 2009, Viana, 2011,
Silva, 2013, Marques; Tognoli,
2017, Lima Moraes, 2019,
Silva, Albuquerque, 2020);
Organização e representação do
conhecimento (Lara, 2011)
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
222
Critérios de
Cientificidade Método/Arquivologia Método/Organização do
Conhecimento
Invenção de novas
ideias;
Sistemas de Organização do
Conhecimento Arquivístico
(Barros; Bastos; Santos, 2022).
Sistemas de Organização do
Conhecimento (Barité, 2015,
Carlan; Medeiros, 2011,
Moreira, 2019),
Obtenção de uma
solução;
Os arquivos na promoção
da justiça social (Tognoli;
Queiroz, 2021).
Campo científico que propõe
metodologias de acesso ao
conhecimento produzido pela
sociedade (Esteban Navarro;
García Marco, 1995, Hjorland,
2003, Dahlberg, 2010);
Investigação das
consequências da
solução obtida;
Classificação Arquivística
(Gonçalves, 1998, Sousa, 2003,
2006, 2014, 2022).
Classificação Decimal de
Dewey, Classificação Decimal
Universal (Andrade, 2011)
Prova (comprovação)
da solução;
O método pragmático
como fator condicionante
aos processos arquivísticos.
Unicidade do documento
(Negreiros, 2008).
Metodologia de acesso ao
conhecimento (Carlan, 2011);
Correção das
hipóteses, teorias,
procedimentos ou
dados.
Adquire um caráter científico a
partir do século XIX (Schmidt,
2012).
Adquire um caráter científico
com a criação da International
Society For Knowledge
Organization; Publicações
científicas dessa instituição
e institucionalização em
universidades (Guimarães,
2017).
Fonte: Veronez Júnior, Martinez-Ávila e Troitiño Rodriguez (2022).
No Quadro 2, discute-se os principais vinculantes aos processos e dis-
ciplinas que relacionam a Arquivologia e Organização do Conhecimento.
A partir da análise das obras de Bunge (1980) e Japiassu (1986),
Veronez Júnior, Martinez-Ávila e Troitiño-Rodriguez (2022), mencionam
as aproximações epistemológicas e os processos relacionados a Arquivologia
e Organização do Conhecimento. O principal processo de organização do
conhecimento é a classificação, seja ela arquivística ou biblioteconômica.
Em teoria, ambas apresentam similaridades, porém, na prática são fun-
ções diferentes. Segundo Sousa (2022) a classificação arquivística trata
dos processos de organização da informação orgânica, ou seja, aquela pro-
duzida no decorrer de atividades administrativas e jurídicas. No caso da
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
223
Organização do Conhecimento, de acordo com Moreira (2018), o proces-
so é tratado como primordial na elaboração de sistemas de organização do
conhecimento com base em ontologias, taxonomias, folksonomia, tesauros,
entre outros.
Quadro 2 – Processos em Arquivologia e Organização do Conhecimento
Arquivologia Organização do
Conhecimento Aproximações
epistemológicas e científicas
Biblioteconomia,
Ciência da Informação,
Diplomática, História,
Linguística, Paleografia
(Marques; Tognoli,
2017);
Biblioteconomia, Ciência da
Informação, Documentação,
História, Linguística,
Matemática (Lima; Alvares,
2012, Barité, 2015,
Guimarães et al., 2015);
Disciplinas e o corpus
científico que relacionam os
dois campos (Bunge, 1980,
Japiassu, 1986, Barité, 2015,
Tognoli; Barros, 2015);
Classificação arquivística,
a depender do modelo
adotado pela instituição
arquivística (Barros;
Tognoli, 2019).
Classificação Bibliográfica
(Classificação Decimal
de Dewey e Classificação
Decimal Universal).
Ontologias, taxonomias,
folksonomias (Moreira,
2019).
Arquivologia trata em
um aspecto funcional/
estrutural (Sousa, 2006),
já a Organização do
Conhecimento se vale da
classificação bibliográfica
(Carlan, 2011);
Base pragmática
(Negreiros, 2008).
Base epistemológica e
positivista ( Dahlberg,
1995, 2006). Na atualidade,
teria uma virada pragmática
(Kleineberg, 2018).
Síntese: estudiosos que
possibilitam essas relações
são: Wiliam James, Birger
Hjorland, Ingetraut
Dahlberg, Mario Barité,
Mario Bunge e Hilton
Japiassu.
Fonte: Elaboração própria com base em Bunge (1980) e Japiassu (1986).
Sobre o método científico que aproxima os dois campos, Bunge
(1980, p. 34), entende que
Não é, nem mais nem menos, senão a maneira de fazer boa ciência,
natural ou social, pura ou aplicada, formal ou factual. E essa maneira
pode ser adotada em campos que antes não eram científicos, mas
que se caracterizam, como a ciência, pela procura de normas gerais.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
224
Com base em Bunge (1980) e Japiassu (1986), isso pode ser anali-
sado nos campos da Arquivologia e Organização do Conhecimento, vis-
to que ambos são colocados à prova no que tange a sua epistemologia e
cientificidade.
Baseado em Bunge (1980) e Japiassu (1986), Veronez Júnior et al
(2022b), sustentam, de forma parcial, e de acordo com os elementos apre-
sentados nos quadros 1 e 2 que os campos da Arquivologia e Organização
do Conhecimento estreitam relações do ponto de vista científico, episte-
mológico e interdisciplinar. No primeiro caso, são dotados de leis cien-
tíficas, bases teóricas e submetidos a testes científicos. No segundo caso,
são baseados em escolas de pensamento, práticas e de instrumentos de
organização e representação específicos. No terceiro caso, a interdiscipli-
naridade vincula os dois campos, sobretudo devido à aproximação com a
Biblioteconomia, Ciência da Informação, Documentação, Epistemologia,
História e a Linguística.
mapeamento de aceRvos documentais do paRtido dos
tRabalhadoRes no estado de são paulo
Embora alguns partidos políticos não adotem uma lógica de produ-
ção documental burocrática, governamental ou empresarial, com base no
mapeamento realizado nos Diretórios propostas para esta investigação, foi
possível verificar que, pelo menos em dois deles (São Paulo e São José dos
Campos), o processo de organização do conhecimento é realizado com
base em diretrizes e princípios arquivísticos, sobretudo no que trata sobre
a descrição e a proveniência, todavia, constata-se que o método de12 orga-
nização adotado por esses diretórios são frágeis do ponto de vista técnico-
-científico. Contudo, quando se analisa a preservação e a conservação dos
arquivos, a maior parte dos documentos estão de acordo com os padrões
arquivísticos, principalmente as fotografias.
12 A falta de elaboração de instrumentos de gestão: plano de classificação e tabela de temporalidade.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
225
Mesmo que os partidos políticos não se baseiam nos parâmetros de
produção e organização adotados pelas instituições jurídicas e burocráticas,
não há de se negar que esses partidos produzem seu conhecimento em uma
lógica que visa a manutenção das lutas e a preservação da memória, mesmo
que a intencionalidade de registrar seja inconsciente, melhor dizendo, não
há uma preocupação em registrar para fins de prova e testemunho, mas sim
para a posteridade. Dessa forma, a organização se dá de forma empírica, ou
seja, com base em práxis13 culturais por meio das lutas promovidas pelos
sujeitos políticos que constituem a própria luta.
Nessa observação, para Duranti (1995, 2005, 2009), o ato de pro-
duzir uma ação está associado ao actio, que tem por função a intenciona-
lidade de se produzir a ação sobre um determinado fato/contexto, por sua
vez, essa ação gera a conscriptio, ou seja, o registro e a documentação dessa
ação. No caso dos movimentos sociais, a criação e o registro de uma ação é
internalizado como algo inconsciente, uma vez que essas associações políti-
cas não levam em consideração a obrigatoriedade de produção documental
para fins de prova e testemunho, mas sim para a representação e a preser-
vação da memória, do registro das lutas, da evidenciação dos trabalhadores
na conquista de seus direitos. Os conjuntos de documentos, esquemas de
representação que condicionam a significação, também constroem memó-
rias, produzidas como ato simbólico de perpetuação ou ressignificação de
discursos sociais a partir dos registros do conhecimento custodiados nos
acervos documentais.
No que concerne a preservação dos acervos documentais e da me-
mória, segundo Alberch Fugueras (2003), ao mesmo tempo que o arquivo
tem o poder de restringir, ele também tem o poder de propiciar o acesso
à informação e à memória, que para os partidos políticos, tem ampla sig-
nificação no sentido de pertencimento, identidade, manutenção das lutas,
resgaste histórico, ressignificação e reavivamento de si mesmo. Esse proces-
so de ressignificação não é apenas para a reconstrução da história dos par-
tidos políticos, mas também destinada à memória dos militantes, filiados e
simpatizantes. Logo, questiona-se, o que seria uma organização partidária
sem esses sujeitos políticos? Qual o significado de se ter uma agremiação
13 Termo cunhado por Karl Marx e Antonio Gramsci para a definição de práticas culturais.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
226
sem a participação desses? Além do processo de luta e militância, existe a
produção documental, ou seja, esses atos são registrados em algum tipo
de suporte, existe algum material que reflete essas lutas, os militantes fa-
zem questão que isso seja evidenciado, que isso seja transmitido por algum
canal de comunicação, que este registro chegue a alguém. Desse modo,
o processo de comunicação se dá por meio das lutas, da resistência e do
sentido de que as estratégias e os ideais necessitam de uma dinâmica social.
Nessa discussão, sustenta-se que, a partir de uma atribuição de sig-
nificados para os documentos produzidos pela militância, a Organização
do Conhecimento não pode se limitar a apenas discutir elaboração de sis-
temas de organização do conhecimento em arquivos, mas também pensar
estratégias e métodos de organização do conhecimento para os arquivos
de partidos políticos. Assim sendo, esses sistemas poderiam ser elaborados
com base em dinâmicas sociais, ou seja, a sociedade alcança determinadas
discussões que impactam diretamente na elaboração dos sistemas e dos
termos que serão utilizados para a representação e recuperação da infor-
mação. Sem a participação e a presença dos militantes dessas associações
políticas, a produção documental não tem explicação, pois os documentos
são criados a partir das lutas e das resistências refletindo de maneira viva a
realidade e o contexto político-social daquele momento.
Para exemplificar a dispersão dos acervos ao longo do tempo, no
Quadro 3, verifica-se os acervos documentais diagnosticados. Até o pre-
sente momento, cinco diretórios foram diagnosticados14. Na continuidade
da pesquisa, os demais acervos documentais serão analisados, visto que esta
pesquisa está atrelada a um projeto maior15.
No caso do Diretório de Marília, existe uma situação peculiar, ou
seja, os arquivos estão dispersos, na maioria das vezes em posse dos mili-
14 Em virtude da limitação de páginas, não serão apresentados os principais documentos localizados nos
referidos diretórios.
15 Projeto de pesquisa que visa analisar a organização e representação do conhecimento em arquivos
de movimentos sociais, partidos políticos e sindicatos. Esses estudos estão sendo apresentados em
formato de aulas, artigos, textos, congressos, colóquios, palestras, seminários, exposições, minicursos
e oficinas em universidades, assentamentos da reforma agrária, sindicatos, diretórios partidários e
centros de documentação.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
227
tantes e foram se dispersando ao longo do tempo, e também, não existe um
local específico para seu armazenamento e preservação.
Nessa discussão, existe uma preocupação muito séria para a
Organização do Conhecimento, uma vez que por esses arquivos estarem
dispersos e fragmentados, é notória a dificuldade de estabelecer métodos
de organização, assim como para a elaboração de instrumentos de pesquisa
para acesso aos itens documentais, como por exemplo, guias de fontes,
catálogos, índices, repertórios.
Quadro 3 – Acervos do Partido dos Trabalhadores no estado de São Paulo
Instituição Local Período Região Situação
Diretório do Partido dos
Trabalhadores Marília Fevereiro de
2022
Centro-
Oeste
Não organizado
Não segue diretrizes
arquivísticas
Arquivos Dispersos
Diretório Nacional do
Partido dos Trabalhadores
Fundação Perseu Abramo
Centro Sérgio Buarque
de Holanda
São Paulo Agosto de
2022
Capital
Paulista
Organizado com base em
diretrizes arquivísticas,
porém, não possui plano
de classificação e tabela de
temporalidade
Diretório do Partido dos
Trabalhadores
São
José dos
Campos
Abril e Maio
de 2023
Vale do
Paraíba
Organizado com base em
diretrizes arquivísticas,
porém, não possui plano
de classificação e tabela de
temporalidade
Diretório do Partido dos
Trabalhadores Tupã Junho de
2023
Alta
Paulista
Não organizado
Não segue diretrizes
arquivísticas
Arquivos Dispersos
Diretório do Partido dos
Trabalhadores Taubaté Junho de
2023
Vale do
Paraíba
Não organizado
Não segue diretrizes
arquivísticas
Arquivos Dispersos
Fonte: Autores.
No caso do Diretório de São Paulo, cuja salvaguarda está na Fundação
Perseu Abramo (FPA), trata-se da acumulação natural do PT, sendo esses
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
228
documentos recolhidos de diretórios municipais e estaduais, em suas mais
variadas expressões documentais. Segundo o Guia do Acervo16 (2009), o
Diretório de São Paulo possui
110 metros lineares de documentação textual (equivalente a mais de
900 caixas-arquivo), – 300 adesivos, – 1.970 cartazes, – 8.040 fotogramas
em folhas de contato fotográfico, – 745 diapositivos, – 21.450 fotogra-
fias, – 24.030 negativos, – 1.450 fitas audiomagnéticas, – 1.410 registros
audiovisuais em diferentes formatos, – 80 bandeiras e faixas, – 1.000 bro-
ches, – 200 camisetas, – outros materiais: brindes de campanha, bolsas,
discos de vinil, bonés e chaveiros.
Com relação ao Diretório de São José dos Campos, é notável a pre-
sença de documentos em suas mais variadas expressões documentais, como
fotografias, cartazes, disquetes, panfletos, requerimentos, fichas de filiação,
entre outras. O acervo possui aproximadamente 300 caixas-arquivo em
um espaço que não conta com sistema de proteção, acondicionamento e
preservação documental.
No que diz respeito ao Diretório de Tupã, existe uma semelhança com
o de Marília, visto que os documentos também estão dispersos. Neste caso,
a documentação está armazenada na residência do Presidente do Partido17.
As principais expressões documentais encontradas, são: bandeiras, livro de
atas e estatutos, que totalizam por volta de 10 itens documentais.
No caso do Diretório de Taubaté, a situação é semelhante à de
Marília e Tupã, embora os documentos não estejam conservados em um
espaço específico, é possível notar que os documentos estão em posse de
seus militantes. O fato de estar em posse da militância gera uma discussão
muito séria, não só para a Organização do Conhecimento, mas exclusiva-
mente a Arquivologia, pois se trata de um assunto que remete ao arquivo
privado, arquivo pessoal, arquivo público, arquivo institucional, e que no
final das contas, remete aos princípios arquivísticos, sobretudo o da prove-
niência e organicidade.
16 O Guia está em processo de atualização.
17 Típico caso de confluência, ou seja, quando se mistura o interesse particular com o público.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
229
Na Figura 1, verifica-se o trajeto percorrido para o diagnóstico de
acervos documentais do PT no estado de São Paulo. Até o mês de julho de
2023, foram percorridos 1.825 km (carro e ônibus), abrangendo Marília,
São Paulo, São José dos Campos, Tupã e Taubaté. Nessa continuidade, se-
rão diagnosticados os acervos de Jacareí, Lins, Penápolis, Garça e Bauru18.
Figura 1 – Diagnóstico de acervos documentais
Fonte: Dados extraídos do Google Maps (2023).
As expressões documentais diagnosticadas nestes acervos, em sua
maioria é constituída por documentos textuais (requerimentos, ofícios,
documentos trabalhistas, documentos contábeis, estatutos), iconográficos
(fotografias, dispositivos), além de bandeiras, faixas, panfletos e cartazes,
ou seja, muitos desses objetos ficam em posse dos militantes, simpatizantes
e gestores do Partido ou até mesmo depositados em porões e locais inade-
quados, o que dificulta com que esses arquivos sejam disponibilizados para
tratamento, classificação e acesso.
Em síntese, a partir dos diagnósticos parciais, é evidente a falta de ela-
boração de processos, métodos e práticas de organização do conhecimento em
arquivos de partidos políticos, como o caso do PT no estado de São Paulo.
18 Até o fechamento deste artigo, os referidos acervos documentais já foram diagnosticados, no entanto, como
os dados coletados ainda não foram organizados e analisados, optou-se por não inseri-los neste trabalho.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
230
Diante do exposto, constata-se que os acervos documentais de par-
tidos políticos necessitam de padrões arquivísticos, seja na organização,
representação e na preservação de seu maior patrimônio, isto é, a valoriza-
ção de seu registro histórico e de sua memória institucional e dos sujeitos
políticos que compõem os partidos.
consideRações paRciais
Nesta constatação parcial, discute-se que embora os diretórios apre-
sentam um método básico de organização, em nenhum dos acervos foi
possível identificar um plano de classificação, tabela de temporalidade e
instrumentos de gestão e pesquisa. A falta desses instrumentos compro-
mete a busca e o acesso ao conhecimento produzido pelo PT, não apenas
para atender aos parâmetros preconizados pela Arquivologia, mas também
para a manutenção das lutas e a preservação da memória, sendo este um
elemento imprescindível para a conquista de seus ideais.
Um partido político, como no caso do PT, tem a responsabilida-
de social de se apresentar à sociedade como uma manifestação coletiva
que tem preocupação com sua história e memória, e que a dispersão des-
ses acervos não reproduz totalmente a história dos sujeitos políticos que
contribuíram nas lutas e na formação do Partido. Com a dispersão desses
arquivos, existe uma dificuldade no processo de ressignificação, contextu-
alização, reconstrução e na preservação da memória, comprometendo to-
talmente o processo de organização do conhecimento produzido ao longo
dos anos. Muito mais do que produzir e organizar, é também representar
e disponibilizar o acesso ao conhecimento oriundo de partidos políticos,
pois ele reflete não apenas a luta dos próprios partidos, mas também a pró-
pria história política do Brasil e que necessita ser evidenciada.
Após o mapeamento dos acervos documentais propostos no Quadro
2, a fim de evidenciar a organização do conhecimento em arquivos de
partidos políticos, será discutida a elaboração de um guia de fontes para
pesquisadores e militantes que utilizam os arquivos de partidos políticos
como fonte de pesquisa e informação.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
231
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C 13
S   
 :     
  - 
B
Fernanda Carolina Pegoraro Novaes 1, Jéssica Beatriz Tolare 2 e
Walter Moreira 3
intRodução
Ao longo da história, devido ao desenvolvimento cultural e tecno-
lógico da população, o conhecimento precisou passar a ser organizado de
forma que pudesse ser acessível e utilizável. Com isso, o estudo e a prática
de como organizar o conhecimento contribuíram para o desenvolvimen-
to do campo de estudo da Organização do Conhecimento (OC). Muitos
estudiosos abordam a OC sob diversas perspectivas, como por processos e
sistemas, o que contribuiu para a consolidação da área.
Broughton et al. (2005) e Hjørland (2008) aprofundam ao ex-
plicar sobre a divisão da OC em processos e sistemas. Os Processos de
Organização do Conhecimento (POC) englobam: resumo, indexação, ca-
1 Doutoranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: fernanda.
pegoraro@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4928-1857. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/3711421354789098. .
Doutoranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: jessica.
tolare@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8637-7989. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/7846343637453379.
Doutor em Ciência da Informação. Professor na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: walter.
moreira@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/6780125312954825.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p235-256
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
236
talogação, análise de assuntos e classificação. Os sistemas de organização
do conhecimento (SOC), por sua vez, abarcam ferramentas destinadas à
representação e recuperação de informações.
Ao discorrer sobre SOC, Hjørland (2008, 2016) relata que os sis-
temas são categorizados em dois principais aspectos: amplo e estrito. O
aspecto mais amplo considera que a organização perpassa por todos os
níveis da sociedade e da cultura, que existe uma relação estrita entre o
conhecimento em todas as suas formas e organização, entre ambos e a
vida de uma sociedade. O aspecto estrito, se refere aos itens funcionais
projetados para organizar o conhecimento, com o intuito de facilitar o
gerenciamento e recuperação, utilizados, normalmente, em ambientes
informacionais, por meio de atividades de descrição, como indexação e
classificação de documentos.
Para que possam ser aplicados de modo efetivo, os SOC, na condição
de instrumentos de representação e recuperação da informação, deman-
dam validação. Um dos modos mais efetivos de se conseguir tal validação,
conforme tem destacado Barité (2014), é por meio da garantia literária.
Neste trabalho, preocupa-se de modo mais específico com a repre-
sentação da música por meio de sistemas de classificação, para tanto, bus-
cam-se subsídios nas concepções teóricas que sustentam o campo. Chan,
Richmond e Svenonius (1985, p. 48, tradução livre) mencionam que: “A
base para a classificação deve ser encontrada na literatura publicada, e não
em ideias filosóficas abstratas ou conceitos no universo do conhecimento.
Barité (2014) considera a complementaridade entre a garantia li-
terária e o vocabulário controlado e destaca nove práticas sistemáticas de
controle de vocabulário: 1) controle de sinônimos e variantes; 2) controle
de equivalências; 3) controle de homônimos e polissemia; 4) controle de
abreviaturas; 5) redação notas de escopo; 6) redação de notas de definição;
7) redação de notas históricas; 8) controle de relações hierárquicas; 9) con-
trole de relações associativas.
Sendo assim, tendo em vista que a garantia literária é utilizada para
recuperar um volume de literatura sobre um determinado assunto, desta-
ca-se como problema o seguinte questionamento: é possível reunir uma
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
237
bibliografia subsidiária à garantia literária dos conhecimentos relativos à
música e, de modo específico, para compreender e representar as teorias
fundamentais sobre vozes?
Considera-se este estudo relevante tanto para a área da Ciência da
Informação, quanto para o campo da OC, pois a garantia literária pode
participar como suporte metodológico em um processo de vocabulário
controlado e contribuir para a indexação orientada a documentos, autores
e solicitações. Ademais, utilizar a garantia literária como ferramenta me-
todológica especificamente no domínio da música, contribui para a com-
preensão de teorias provindas especificamente desse campo; como, por
exemplo, teorias sobre a voz cantada.
Dito isso, estabelece-se como objetivo geral desse estudo “estruturar
por meio de uma bibliografia, a garantia literária dos assuntos: teoria mu-
sical e voz cantada”.
Para tal, foram definidos os seguintes objetivos específicos: a) reunir
literatura sobre a garantia literária; b) encontrar por meio da plataforma
Sucupira os programas de pós-graduação em Música existentes no Brasil;
c) selecionar ementas de disciplinas que sejam relacionadas à teoria musi-
cal e à voz cantada; d) analisar os índices de ocorrências considerando três
principais eixos: 1) autores (para constatar os mais citados); 2) obras (para
destacar as mais utilizadas pela área da música); 3) data de publicação.
A presente pesquisa é de natureza quali-quantitativa e caracteriza-se
como bibliográfica. A ferramenta metodológica empregada para a realiza-
ção foi a garantia literária.
gaRantia liteRáRia
O conceito de garantia literária foi construído pelo bibliotecário in-
glês E. Wyndham Hulme e publicado em uma série de artigos no período
de 1911 e 1912 (Barité, 2018). Para Hulme (1911, p.447, tradução livre),
“[...] um título de classe é garantido apenas quando uma literatura em
forma de livro é comprovada, e o teste da validade de um título é o grau
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
238
de precisão com que descreve a área de assunto comum à classe”. Apesar de
Hulme (1911) ter apresentado o conceito de garantia literária, não desen-
volveu mais sobre o que permitiu a discussão do mesmo pela comunidade
da organização do conhecimento (Barité, 2018).
Beghtol (1986) começou a utilizar o conceito de garantia literária,
propondo uma definição genérica do mesmo, caracterizando-o em quatro
tipos, denominados como garantias semânticas, que são: 1) garantias lite-
rárias; 2) científicas/filosóficas; 3) educacionais; 4) culturais.
Chan, Richmond e Svenonius (1985) entendem que a garantia lite-
rária responde a três principais critérios de seleção de textos nos campos: 1)
ênfase teórica; 2) significância e impacto; 3) perspicuidade.
Hjørland (2008) considera a garantia literária um dos quatro prin-
cípios atribuídos à abordagem tradicional da organização do conheci-
mento, assim como uma das seis abordagens teóricas relevantes da orga-
nização do conhecimento.
Por meio da revisão de trabalhos publicados, dicionários e glos-
sários da Knowledge Organization (Barité, 2008), reconhece-se que há
diferentes níveis de atenção à garantia literária, como classificação, te-
sauro e garantia terminológica. Compreende-se que o conceito inicial de
garantia literária proposta por Hulme, foi diversificado (Barité, 2008).
Considerando-se as perspectivas encontradas na literatura por meio da
Knowledge Organization, encontram-se cinco principais abordagens refe-
rentes a garantia literária; sendo elas: 1) princípios teóricos; 2) ferramen-
ta metodológica; 3) corpo de literatura sobre um tópico; 4) ferramenta
de avaliação sistemas de organização do conhecimento de última gera-
ção; 5) ferramenta de previsão de pesquisa.
A garantia literária como princípio teórico, é compreendida como
uma abordagem sistemática da organização do conhecimento para fins de
recuperação da informação; pois valoriza o conhecimento registrado como
padrão de reconhecimento científico e tecnológico. Esse tipo de garan-
tia literária possibilita sua aplicação em todas as áreas do conhecimento
(Barité, 2008).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
239
Em se tratando da garantia literária como ferramenta metodológica,
ela é utilizada principalmente para as três seguintes questões: 1) justificar a
seleção e hierarquização de termos, assim como a exclusão dos mesmos, em
sistemas de organização do conhecimento; 2) sua aplicação é relevante na
criação, avaliação e revisão de sistemas de organização do conhecimento;
3) organizar termos no mapeamento de campos de conhecimento, ordenar
tópicos e decidir a inclusão/exclusão de termos de dicionário e glossário
(Barité, 2008).
No que se refere à garantia literária como corpo de literatura sobre
um tópico, considera-se também os dados quantitativos de um material
documental. Assim, pode-se, por exemplo, quantificar se um determinado
assunto possui garantia literária suficiente (quantidade de obras) para ser
considerado um termo autorizado em um sistema de organização do co-
nhecimento e também para atribuir importância relativa dos documentos
produzidos de uma disciplina (peso dos tipos de obras: teses, obras de
referência, manuais e entre outros) (Barité, 2008).
A garantia literária como ferramenta de avaliação sistemas de orga-
nização do conhecimento de última geração, permite comparar tanto as
estruturas do campo de conhecimento, quanto as estruturas conceituais
dos sistemas de organização do conhecimento, verificando a qualidade e
atualidade dos mesmos (Barité, 2008).
Por último, a garantia literária como ferramenta de previsão de pes-
quisa, contribui para estabelecer o estado da arte dos domínios e também
para identificar áreas com produção crescente, assim como lacunas. Para
a aplicação dessa ferramenta, são necessários: 1) acervo de documentos de
uma determinada disciplina; 2) realizar pesquisa abrangendo períodos de
cinco ou mais anos; 3) sistema de classificação atualizado (Barité, 2008).
Apesar de Barité (2008) caracterizar cinco principais abordagens
referentes a garantia literária na literatura na Knowledge Organization, o
autor retrata que as mesmas podem ser reduzidas a apenas três, sendo elas:
teórica, metodológica e aplicativa. Isso se justifica pelas três abordagens
estabelecerem um mapa documentado do conhecimento, além de caracte-
rizarem-se como autônomas e complementares.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
240
Entre os inúmeros tipos de garantias encontrados atualmente, des-
tacam-se dois por relacionarem-se ao presente trabalho, que são: garantia
cultural e garantia acadêmica. A garantia cultural, é um conceito estabele-
cido por Lee (1976). Sobre esse tipo de garantia, Barité (2008) explica que
há diferentes culturas e com isso, diversas maneiras de interpretar um de-
terminado conhecimento. A pesquisa realizada por meio da garantia cultu-
ral, considera, principalmente, referências locais e informações relevantes
do espaço geográfico delimitado da pesquisa (Barité, 2008).
Já a garantia acadêmica remete a opinião de especialistas de um de-
terminado assunto, considerados usuários qualificados de sistemas de in-
formação. De acordo com Hoerman e Furniss (2000, p. 44, tradução livre)
“[…] se os termos usados nos documentos são usados para os assuntos
e os autores dos documentos são considerados especialistas sobre o que
escrevem, então a opinião de especialistas é refletida na garantia literária.
Barité (2008) afirma que a garantia acadêmica é discutível, pois pode haver
especialistas utilizando uma terminologia não considerada adequada ou
conhecida, podendo assim influenciar outros pesquisadores.
Sendo assim, considerando-se que se toma como tema desta pesqui-
sa a organização do conhecimento em música, esta pesquisa observa, além
dos aspectos da garantia literária, a garantia cultural e a acadêmica, por
meio da busca por conceituações dos especialistas do campo.
pRocedimentos metodológicos
A presente pesquisa é de natureza quali-quantitativa e caracteriza-se
como bibliográfica. A ferramenta metodológica empregada para a realiza-
ção, conforme mencionado anteriormente, foi a garantia literária.
Para a construção de uma bibliografia com garantia literária na mú-
sica, primeiramente foi realizado um levantamento dos cursos avaliados
e reconhecidos pelo Conselho Nacional da Educação (CNE/MEC) por
meio da Plataforma Sucupira4.
A Plataforma Sucupira é uma plataforma nacional construída com o propósito de disponibilizar ao acesso
público, dados sobre a avaliação do sistema nacional de pós-graduação, considerada uma atividade essencial
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
241
Os dados quantitativos dos cursos avaliados e reconhecidos pelo
CNE/MEC permitem acesso por meio de quatro opções de busca, que
são: “por área de avaliação”, “por nota”, “por região” e “busca avançada”.
Optou-se por pesquisar os cursos pela “busca avançada”, pois a opção “por
área de avaliação” demonstra apenas as instituições e não os programas
avaliados.
Na “busca avançada” são permitidos os filtros: “instituição de ensi-
no”, “região”, “UF”, “área de avaliação”, “nota do curso” e “nota do progra-
ma”; a busca foi realizada apenas pela “área de avaliação” (entre quarenta
e nove áreas principais, a música foi encontrada como uma subárea de
artes). Com base nisso, analisaram-se os programas de pós-graduação em
música, encontrados em dezenove universidades, sendo elas: Universidade
do Estado de Santa Catarina (UDESC); Universidad Estadual de Maringá
(UEM); Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG); Universidade
Federal da Bahia (UFBA); Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG);
Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa (UFPB-JP); Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE); Universidade Federal do Paraná (UFPR);
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN); Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ);
Universidade Federal de Uberlândia (UFU); Universidade de Brasília
(UnB); Universidade Estadual Paulista (Unesp – reitoria); Universidade
Estadual do Paraná (UNESPAR); Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp); Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
e Universidade de São Paulo (USP).
Posteriormente, foram avaliadas as ementas dos programas mencio-
nados e por meio do plano de ensino, selecionadas quarenta e sete disci-
plinas de interesse para ter acesso as bibliografias. Seguem as disciplinas
selecionadas:
Análise Musical Aplicada à Performance;
Análise Musical na Teoria e na Prática;
Aspectos Teóricos, Analíticos e Estéticos na Música;
para assegurar a qualidade dos cursos de mestrado e doutorado no Brasil.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
242
Camadas Estruturais na Música Tonal;
Composição e Análise Musical I;
Educação Musical e Musicalidade Abrangente;
Ensino e Aprendizagem na Música;
Fundamentos de Análise Musical;
Fundamentos Teóricos da Música; Grupo de Pesquisa em Voz e
Musicologia (GPVOZ) 1;
Grupo de Pesquisa em Voz e Musicologia (GPVOZ) 2;
Introdução à Teoria dos Conjuntos;
Introdução a Teoria Pós-Tonal;
Música Antiga I;
Musicologia Aplicada III;
Novas Abordagens em Musicologia/New Approaches in
Musicology;
O Repertório Vocal do Século XVII e suas Bases Teóricas;
Pesquisa com crianças em educação musical;
Práticas Interpretativas na Música do Período Clássico;
Seminários Avançados em Música;
Seminários de Musicologia I;
Seminários em História da Música I;
Seminários em Processos Analíticos e Criativos;
T.E. Expressão Vocal no Canto Coral: Fundamentos Teóricos e
Práticos;
Teoria Aplicada À Análise Musical De Obras Compostas
Durante O Século XX;
Teoria e análise musical em repertório tonal;
Teoria e Prática da Música do Séc. XVIII;
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
243
Teoria Musical I;
Tópicos em História e Literatura Musical I;
Tópicos em História e Literatura Musical II;
Tópicos em Teoria da Música;
Tópicos em Teoria e Análise Musical I;
Tópicos em Teoria e Análise Musical II;
Tópicos em Teoria e Análise Musical III;
Tópicos em Teoria Musical I;
Tópicos em teoria musical;
Tópicos Especiais em Análise e Teoria Musical “Polifonia nos
Séculos XV e XVI e Projeções: Teorias, Formas e Análise”;
Tópicos Especiais em Criação e Performance em Música;
Tópicos Especiais em História da Música; Tópicos Especiais em
Linguagem e Estruturação Musical: Análise Musical de Óperas
do século XX e XXI;
Tópicos Especiais em Linguagem e Estruturação Musical:
Harmonia do início do século XX;
Análise Musical II;
Tópicos Especiais em Musicologia;
Tópicos Especiais em Práticas Interpretativas I;
Tópicos Especiais em Práticas Interpretativas II;
Tópicos Especiais em Teoria da Música;
Tópicos Especiais em Teoria e Análise em Música;
Tópicos Especiais em Teoria e Análise Musical.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
244
Apenas as universidades UFPE, UFRGS, UFRN e UFSJ não tive-
ram as suas bibliografias utilizadas por falta de adequação temática com a
presente pesquisa.
Considerando-se os interesses da pesquisa, o conjunto de planos de
ensino analisados referiam-se a disciplinas relacionadas ao assunto “vozes
humanas”, como voz cantada e teoria musical, conforme demonstrado nas
discussões a seguir.
ementas de música: disciplinas sobRe teoRia musical e voz
cantada
Para sistematizar as bibliografias das disciplinas selecionadas (n=48),
optou-se por realizar uma análise de citação dos autores e suas respectivas
obras, para ser possível averiguar as maiores ocorrências. Sendo assim,
foram selecionadas primeiramente as bibliografias de Música, listando-se
431 autores principais e após aplicar o filtro para recuperar autores cita-
dos acima de quatro vezes, totalizaram-se em 36, conforme demonstrado
no Gráfico 1.
Gráfico 1– Ocorrência de citação de autores e obras em Música
Fonte: Autor
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
245
Ao analisar os índices de ocorrências gerados pelo Gráfico 1, é im-
portante considerar 3 (três) eixos:
1. Autores (para constatar os mais citados);
2. Obras (para destacar as mais utilizadas pela área da música);
3. Data de publicação (para definir literatura mais antiga e atual).
Nessa perspectiva, considerando-se que o maior número de ocorrên-
cia foi dezesseis, considerou-se oito como o valor mínimo para identificar
os autores mais citados. Desse modo, foram identificados doze autores,
demonstrados a seguir pelo Gráfico 2.
Gráfico 2 – Ocorrência dos autores e obras mais citados em música
Fonte: Autores.
De todos os autores mencionados, Cook é o que possui mais ocor-
rência de citação tanto de autores (dezesseis), quanto de obras (doze); se-
guido por Forte com também dezesseis citações de autores, mas apenas dez
ocorrências de citação de obras. Em terceiro lugar está Bent e Lester com
doze citações de autores e nove de obras em cada. Já Christensen possui
onze de citação de autores, bem como Palisca, que também contém a mes-
ma quantidade de ocorrência de citação de obras.
Os autores que possuem 10 (dez) citações são: Bouzes e Rosen; se-
guido por Schoenberg (com nove); Kostka, Perle e Straus (com oito). Já
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
246
a ocorrência de citação de obras desses autores são: Boulez (n=3); Rosen
(n=8); Schoenberg (n=3). Kostka (n=8); Perle (n=5) e Straus (n=6).
Sobre as publicações dos autores de forma individual e em coautoria,
é possível observar que todos os autores possuem publicações individuais
e em diferentes anos acerca da temática pesquisada no estudo. Enquanto a
quantidade de publicações em parceria com outros autores é relativamente
menor. No que se refere à periodicidade das publicações, o Gráfico 3 ilus-
tra as pesquisas recuperadas por ano.
Gráfico 3 – Periodicidade das publicações
Fonte Autores.
Observando o Gráfico acima, é possível notar que os anos das pu-
blicações variam entre 1959 (data mais antiga) até 2013 (data mais re-
cente). O ano com maior quantidade de publicações foi em 1994, com
seis estudos, seguido por 2001, com cinco pesquisas. Os anos de 1982;
1991; 1999; 2000 tiveram três publicações em cada. No Gráfico 3 é
perceptível que houve anos em que foi publicado apenas um trabalho.
Tal processo ocorreu ao longo de dezenove anos diferentes, totalizando
dezenove pesquisas; na periodicidade nota-se a seguinte situação: vários
anos com apenas uma única publicação, em vez de muitas publicações
em um único ano.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
247
Dito isso, a fim de compreender e organizar de modo mais adequado
as obras recuperadas de cada autor, foi verificado se uma mesma obra foi
listada em diferentes edições. Como resultado, dos doze autores menciona-
dos, constatou-se que todos obtiveram suas obras registradas em diferentes
edições pelas ementas.
Para organizar as obras e edições duplicadas dos demais autores uti-
lizou-se o WorldCat como referência e assim, estruturou-se um esquema
(Figura 1).
Figura 1 - Bibliografia – autores e obras em Música
Fonte: Autores.
A Figura 1 mostra as referências utilizadas pelos autores divididas
por anos. Ao começar por Bent, as 8 (oito) referências descritas pelo esque-
ma, referem-se a apenas 3 (três) grandes obras, que são: Analysis, e New
Grove Dictionary of Music and Musicians e Music Analysis in the Nineteenth
Century. Foram identificadas nas ementas, referências de Analysis mencio-
nando Bent como autor principal (Bent, 1987, 1988) e também Bent em
coautoria com Drabkin (Bent; Drabkin, 1991). Conforme averiguado no
WorldCat, mencionar Bent como autor principal é considerado um equí-
voco no processo de registro, pois Bent utilizou o glossário de Drabkin
para a realização da obra. Sendo assim, para referenciar Analysis no presen-
te trabalho, optou-se por utilizar Bent e Drabkin (1991).
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
248
A obra e New Grove Dictionary of Music and Musicians é consi-
derada a versão online e mais atualizada de Analysis; sendo referenciada
identificando Bent como autor principal (Bent, 2000, 2001) e também
Bent em coautoria com Pople (Bent; Pople, 2001). Tendo em vista que
Stanley Sadie foi o organizador da obra e New Grove Dictionary of
Music and Musicians, considera-se a existência de capítulos com dife-
rentes autores, como Palisca e Bent (2001) responsáveis pelo capítulo
eory, eorist e Bent e Pople (2001), responsáveis pelo capítulo Analysis.
Tendo isso, para referenciar o capítulo Analysis da obra e New Grove
Dictionary of Music and Musicians no presente trabalho, optou-se por
utilizar Bent e Pople (2001).
A terceira obra do autor Bent mencionada nas ementas, denominada
Music Analysis in the Nineteenth Century, refere-se também a obra Analysis,
porém publicada pela Cambridge em dois volumes sobre leituras na litera-
tura musical; sendo o volume 1: 1 Fugue, Form and Style (na qual as emen-
tas fazem referência: Bent (1994)) e volume 2: Hermeneutic Approaches.
No que se refere ao autor Boulez, de nove referências mencionadas
(considerando-se que Boulez (1972) foi citado duas vezes pelas ementas),
quatro são identificadas como diferentes edições da mesma obra; sendo
Boulez (1963a obra original escrita em francês (Penser la musique au-
jourd’hui) e Boulez (1972, 1981, 1986) traduções para o português (A
música hoje). Ainda sobre Boulez e edições repetidas de uma mesma obra,
também se destacam Boulez (1966, 1994), pois ambas fazem referência a
obra Relevés d’apprenti; sendo Boulez (1966) a original escrita em francês e
Boulez (1994) a tradução para o português (Apontamentos de aprendiz).
Sendo assim, optou-se por utilizar neste trabalho, as publicações mais re-
centes das obras mencionadas: Boulez (1986, 1994).
O autor Christensen também possui diferentes edições de uma mes-
ma obra recuperada pelas ementas. Christensen (2002, 2004, 2007, 2011)
faz referência a obra e Cambridge History of Western Music eory; utili-
zando-se neste trabalho por ser a edição mais recente, Christensen (2011).
Considera-se esta obra importante, pois considerando suas diferentes edi-
ções recuperadas pelas ementas, foi mencionada dez vezes.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
249
Das obras mencionadas pelo autor Cook, ocorreram apenas 2 (dois)
casos de edições repetidas. Cook (1987, 1994) refere-se a mesma obra, A
Guide to Musical Analysis, publicada com a diferença de sete anos entre as
edições. O segundo caso é a obra Between Process and Product: Music and/
as Performance, publicada originalmente em inglês por Cook (2001) e tra-
duzida para o português (Entre o processo e o produto: música e/enquanto
performance) por Cook (2006). Tendo isso, observando-se os dois casos
do autor, optou-se por utilizar neste trabalho: Cook (1994, 2006).
O autor Forte apresentou um caso de edições repetidas e um caso
de edições com registros diferentes. Forte (1965, 1974) relaciona-se a obra
Tonal Harmony in Concept and Practice; publicada primeiramente em 1965
e posteriormente, após nove anos, em 1974. O segundo caso, sobre o equí-
voco no registro, refere-se a obra Introduction to Schenkerian Analysis; re-
cuperada pelas ementas tendo Forte como autor principal (Forte, 1982) e
também em coautoria com Gilbert (Forte; Gilbert, 1982); sendo o correto
referenciar a obra como Forte e Gilbert (1982).
As 4 (quatro) referências recuperadas pelas ementas do autor Kostka,
relacionam-se a duas obras. A obra Materials and Techniques of Twentieth-
Century Music é mencionada por Kostka (1999, 2006), havendo sete anos
de diferença entre as edições. O mesmo ocorreu com Kostka e Payne (1984,
2009), com a diferença de vinte e cinco anos entre as edições. Conforme
mencionado anteriormente, são selecionadas para o desenvolvimento deste
trabalho as obras mais recentes, sendo no caso do autor Kostka: Kostka
(2006) e Kostka e Payne (2009),
Em se tratando do autor Lester, apenas a obra Compositional eory
in the Eignteenth Century foi recuperada nas ementas em diferentes edi-
ções; observando-se apenas dois anos entre elas: Lester (1992, 1994) – sen-
do Lester (1994) selecionada para ser utilizada neste trabalho.
Assim como Lester, o autor Palisca também obteve apenas uma obra
recuperada em diferentes edições pelas ementas. A obra History of Western
Music foi publicada por Grout e Palisca (1988) originalmente em inglês e
após seis anos, foi publicada a sua tradução para o português por Grout
e Palisca (1994) (História da Música Ocidental). Assim sendo, o presente
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
250
trabalho optou por utilizar a obra mais recente e em português: Grout e
Palisca (1994).
A obra Serial Composition and Atonality do autor Perle foi recupera-
da 2 (duas) vezes em diferentes edições. Primeiramente foi publicada em
1968 (Perle, 1968) e após vinte e três anos novamente (Perle, 1991); obra
mais recente escolhida para ser utilizada no atual trabalho.
Em se tratando do autor Rosen, houve 2 (dois) casos de edições
repetidas pelas ementas. A obra e Classical Style – Haydn, Mozart,
Beethoven foi primeiramente publicada em inglês em 1972 (Rosen, 1972)
e posteriormente com a tradução em espanhol em 1986 (El estilo clássico:
Haydn, Mozart, Beethoven) (Rosen, 1986). O segundo caso refere-se a
obra Sonata Forms, publicada originalmente em inglês (Rosen, 1988) e
após 6 (seis) anos, com a tradução em português (Rosen, 1994). Tendo
isso, optou-se por utilizar neste trabalho: Rosen (1986, 1994).
O autor Schoenberg, apresentou 3 (três) casos de obras repe-
tidas em diferentes edições pelas ementas. O primeiro caso foi da obra
Structural functions of harmony, sendo publicada originalmente em inglês
Schoenberg (1969), posteriormente traduzida para o espanhol Schoenberg
(1990) (Funciones estructurales de la armonia) e após quatorze anos, tra-
duzida para o português Schoenberg (2004) (Funções Estruturais da har-
monia). O segundo caso observado do autor Schoenberg foi relacionado a
obra “Fundamentos da composição musical”, obtendo 3 (três) traduções
para o português; a primeira identificada em 1991 (Schoenberg, 1991), a
segunda em 1996 (Schoenberg, 1996) e a terceira em 2008 (Schoenberg,
2008). O terceiro e último caso do autor, refere-se a obra “Harmonia”, ob-
tendo a sua tradução em português em 1999 (Schoenberg, 1999) e poste-
riormente em 2001 (Schoenberg, 2001). Desse modo, observando-se os 3
(três) casos do autor Schoenberg, será utilizado neste trabalho: Schoenberg
(2001, 2004, 2008).
O último autor listado pelo Esquema 1, refere-se a Straus que obteve
5 (cinco) edições diferentes da obra Introduction to Post-Tonal eory recu-
peradas pelas ementas; sendo três edições em inglês (Straus, 1990, 2004,
2005) e duas edições mais atuais traduzidas em português (Straus, 2005,
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
251
2013) (Introdução à teoria Pós-Tonal). Tendo isso, a edição em português
mais recente (Straus, 2013) foi selecionada para o desenvolvimento do
presente trabalho.
Considerando-se as edições mais atuais das obras dos autores men-
cionados pela Figura 1, finaliza-se a bibliografia da parte de música ela-
borada para a construção dos pressupostos teóricos da presente pesquisa
totalizando-se em cinquenta e uma obras relacionadas a teoria musical e
voz cantada.
É interessante observar que a literatura recuperada está dividida
entre obras mais antigas e mais atuais em uma periodicidade de cinquenta
e quatro anos. A periodicidade de cinquenta e quatro anos foi dividida em
dois (vinte e sete); sendo as teorias mais antigas no período de 1559 a 1986
e as teorias mais atuais, no período de 1987 a 2013. Determina-se a obra
mais antiga do autor Forte (1959) e a mais atual, do autor Straus (2013).
Gráfico 4 – Divisão das teorias mais antigas e contemporâneas
Fonte: Autores.
Nas referências encontradas ao final deste trabalho, constarão apenas
as edições atuais e/ou corrigidas mencionadas pelo Gráfico 4, desconside-
rando as referências do Esquema 1, a fim de evitar uma possível confusão
nas citações das obras.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
252
consideRações finais
Por meio da literatura reunida sobre garantia literária, especifica-
mente no âmbito da OC, foram encontradas cinco principais abordagens
da mesma; sendo elas: 1) princípios teóricos; 2) ferramenta metodológica;
3) corpo de literatura sobre um tópico; 4) ferramenta de avaliação sistemas
de organização do conhecimento de última geração; 5) ferramenta de pre-
visão de pesquisa.
Para o trabalho, a garantia literária foi utilizada como ferramenta
metodológica, pois auxiliou na recuperação de publicações científicas so-
bre teoria musical e voz cantada, consolidadas nas ementas dos Programas
de Pós-Graduação em Música do Brasil. Dito isso, a garantia literária além
de sistematizar uma bibliografia confiável sobre a teoria musical e voz can-
tada, exibiu sucintamente sobre o ensino em música nos Programas de
Pós-Graduação em Música do Brasil.
Por meio da análise realizada nas ementas recuperadas nos Programas
de Pós-Graduação em Música dentro da Plataforma Sucupira, inicialmen-
te, foram somatizados quatrocentos e trinta e um autores principais. Após
aplicar filtros e reduzindo-se o número de autores e obras duplicadas, fo-
ram selecionados para a análise doze autores principais, resultando em cin-
quenta e uma obras relacionadas a voz cantada e teoria musical.
Tais autores transcendem cinquenta e quatro anos em publicações,
o que leva a crer que há várias obras antigas que ainda permanecem nas
ementas dada a importância para o ensino da Música; provavelmente por
ali estarem consolidados conceitos fundamentais para o entendimento da
teoria musical. Mas também há várias obras mais atuais, o que significa que
todo campo de conhecimento necessita de atualização.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
253
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C 14
U    
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I  E S
 B
Rejane Sales de Lima Paula 1, Helen de Castro Silva Casarin 2,
Cátia Cândida de Almeida 3 e Margarida Rocha Lucas 4
intRodução
A evolução das tecnologias digitais tem oportunizado a criação e
ampliação de recursos e conteúdos educativos em variados temas, dando
viés a geração e produção de novas informações e conhecimentos, tornan-
do o uso das tecnologias digitais como um meio para inovar e interferir na
educação dos sujeitos em formação. No entanto, seu uso na educação su-
perior tem exigido dos professores a competência digital para que possam
utilizá-las de forma crítica, eficiente e segura. Desta forma a competência
digital dos professores da educação superior torna-se necessária para que
estes profissionais possam manusear as tecnologias digitais e assim, inte-
Doutoranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. Bibliotecária na
Universidade Federal de Rondônia – UFRO E-mail: rejane.lima@unir.br. ORCID: https://orcid.org/0000-
0002-1460-883X. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4964222967284539.
Doutora em Letras. Professora na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: helen.castro@unesp.br.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3997-9207. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0592809928580900.
3 Doutora em Ciência da Informação. Professor na Fundação Educacional de Penápolis. E-mail:
caticandida@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8477-6257. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/4738692035081983.
4 Doutora em Multimídia e Educação. Professora na Universidade de Aveiro – UA. E-mail: mlucas@ua.pt.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8538517066194733.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p257-266
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
258
grar os conteúdos curriculares durante as atividades de ensino, pesquisa e
extensão. De acordo com Ferrari (2012) a competência digital é definida
como um:
[…] conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes (incluindo
estratégias, valores e consciência) que são necessários ao usar
as TIC e os meios de comunicação digital para executar tarefas;
resolver problemas; comunicar; gerenciar informações; colaborar;
criar e compartilhar conteúdo; e construir conhecimento de forma
eficaz, eficiente, adequada, crítica, criativa, autônoma, flexível,
ética, reflexiva, para o trabalho, lazer, participação, aprendizagem,
socialização (Ferrari, 2012, p. 3).
Depreende-se a partir disso, que a apropriação da competência di-
gital pelo professor, potencializa o uso eficiente das Tecnologias Digitais
da Informação (TIC) durante o processo de ensino e aprendizagem, e
ainda pode modificar a vida pessoal e profissional do estudante, já que
a internet possibilita uma melhor interação com a informação. Nessa
perspectiva, vários estudos vêm discutindo sobre a competência digital
dos professores da educação superior utilizando o Quadro Europeu de
Competências Digitais para Educadores (DigCompEdu) e a ferramen-
ta de autoavaliação do DigCompEdu Check-In no Brasil (Cani, 2019;
Carvalho, 2020; Carvalho et al. 2021; Carvalho M.; Marroni; Tavares,
2020; Lima, 2020; Melo, 2019; Nunes; Melo; Dias-Trindade, 2019;
Sales; Moreira; Rangel, 2019). No campo da Ciência da Informação há
poucas pesquisas sobre essa temática que fazem uso do DigCompEdu e do
Check-In na educação superior.
A partir disso, pretende-se apresentar neste trabalho um resumo da
tese em andamento realizada no Programa de Pós-graduação em Ciência
da Informação, campus de Marília, SP, intitulada como: “A competência
digital dos professores do ensino superior: um estudo com o instrumento
DigCompEdu Check-In no Brasil”, cujo objetivo é analisar a adequação da
ferramenta de autoavaliação do DigCompEdu Check-In (2021) ao contexto
do ensino superior no Brasil. Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
259
apresentar uma breve abordagem a respeito do tema competência digital
tendo por objeto de estudo o DigCompEdu de modo a contribuir com a
literatura científica na área da Ciência da Informação (CI).
competência digital e asa demandas do ensino supeRioR
No atual contexto da educação contemporânea a competência digi-
tal tornou-se fundamental aos professores da educação superior para arti-
cular os conteúdos curriculares de forma crítica e planejada por meio das
tecnologias digitais. Assim, utilizar os recursos e as ferramentas digitais
para criar e produzir conteúdos informativos e educativos passou a reque-
rer “um professor que não seja apenas um transmissor do conhecimen-
to, mas também um provocador em uma sociedade que tem demandado
sujeitos críticos, competentes, criativos e flexíveis” (Schuartz; Sarmento,
2020, p. 430).
Diante disso, observa-se que as tecnologias digitais vêm incitando
os professores universitários a buscarem formação contínua para utilizar
tais tecnologias em sala de aula, e isto vem ao encontro com o pensamento
de Gatti (2016), quando explicita que a sociedade contemporânea tem
instigado os professores a priorizar o domínio de certas habilidades re-
lacionadas às tecnologias digitais para tratar a informação, de modo que
não fiquem totalmente excluídos do que as redes de computadores podem
ofertar à educação superior. Frente a isso, Imbernón (2011), em seu livro
“Formação permanente do professorado: novas tendências” destaca a ne-
cessidade dos professores estarem preparados para atuar na sociedade de
constante transformação.
Posto isto, Caena e Redecker (2019) salientam que “[…] é responsa-
bilidade dos professores criar ambientes e oportunidades para experiências
de aprendizagem profundas que possam revelar e aumentar as capacida-
des dos alunos” (Caena; Redecker, 2019, p. 357, tradução nossa). Lucas,
Doroteia e Piedade (2021) também articulam que o espaço educativo tem
exigido dos professores a competência digital, e isto, vai “além dos aspetos
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
260
técnicos relacionados com a gestão de diferentes dispositivos e software,
para que saibam tomar decisões sobre como estes devem ser usados pe-
dagogicamente” (Lucas; Dorotea; Piedade, 2021, p. 84). Porém, o fato
de manusear as tecnologias digitais para buscar, selecionar e recuperar a
informação para ser utilizada na formação dos sujeitos vêm ocasionando
a “sobrecarga informacional e consequentemente a ansiedade e o estresse
informacional” dos professores da educação superior, isto devido, a falta da
competência digital.
Mediante as perspectivas com o uso das tecnologias digitais o Joint
Research Centre - Institute for Prospective Technological Studies (JRC-IPTS),
tem demonstrado interesse sobre as competências digitais dos cidadãos,
entre eles os professores. Cabe destacar que desde 2005 o JRC vem rea-
lizando pesquisas sobre essa temática, a qual resultou num quadro de re-
ferência para a competência digital dos cidadãos (DigComp), tendo por
base cinco dimensões (Lucas; Moreira, 2017). Esse Quadro possibilitou
aos sujeitos identificar os seus conhecimentos e habilidades, como saber
filtrar, identificar, selecionar e usar a informação por meio das tecnologias
digitais, além de criar a partir disso, conteúdos digitais, assegurar questões
de segurança e privacidade e de resolução de problemas. Outra iniciativa
resultou num outro referencial, que sugere seis dimensões na qual a com-
petência do professor se manifesta no Quadro Europeu de Competência
Digital para Educadores - DigCompEdu (2018).
É importante salientar, que o DigCompEdu procura articular e ca-
tegorizar por meio das dimensões a competência digital dos professores,
tendo por base o feedback de avaliação, e por meio do resultado obtido
vem suscitando aos professores a autorreflexão para que possam buscar a
formação continuada para aprimorar a competência digital com o objetivo
de torná-los “capazes de aproveitar o potencial das tecnologias digitais para
melhorar e inovar a educação” (Lucas; Moreira, 2018, p. 8). Dessa forma,
o uso das tecnologias digitais embutida na educação superior possibilita
aos professores tornarem as aulas mais diversificadas, na medida em que
a utilizam como recurso informacional, e quando ela é bem trabalhada,
serve para impactar e melhorar o cotidiano de quem a utiliza. Por isso, o
Ministério da Educação e Cultura (MEC) tem preconizado nas Diretrizes
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
261
Curriculares dos cursos de Graduação, que os professores precisam ter do-
mínio sobre a informação e das tecnologias digitais. Pois, como afirma
Vidal e Mercado (2020, p. 724), o uso das tecnologias digitais “[...] pro-
porcionam possibilidades diversas de aprendizagem e, especificamente aos
docentes, a experimentação de diferentes abordagens na educação”.
Para tanto, é necessário repensar sobre a competência digital dos
professores frente às tecnologias digitais, já que elas no ensino servem
para intervir na formação do sujeito, tornando-o crítico e reflexivo quan-
to o que vêm ocorrendo no mundo, uma vez que, os novos sujeitos do sé-
culo XXI “[...] precisam desenvolver uma compreensão da realidade mais
racional e argumentativa [...]” (Santomé, 2013, p.11). À vista disso, acre-
dita-se que os resultados dessa pesquisa possam contribuir para preen-
cher lacunas quanto a competência digital dos professores da educação
superior. Possibilite ainda, outros estudos tendo por base o DigCompEdu
e a ferramenta de autoavaliação do DigCompEdu Check-In na área da
Ciência da Informação.
pRocedimentos metodológicos
Nesta pesquisa os dados foram coletados entre 22 de março e 30 de
maio de 2022 por meio da plataforma Limesurvey. A coleta de dados foi
realizada com os professores de duas instituições de ensino superior do
Brasil a partir da ferramenta de autoavaliação do DigCompEdu Check-In
(2021) adaptado ao contexto brasileiro pelo grupo do MetaRede TIC Brasil,
do qual essas autoras fazem parte. Foi enviado e-mail contendo o link da
ferramenta de autoavaliação do DigCompEdu Check-In (2021), a explica-
ção acerca da pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). Participaram desta pesquisa 224 professores de duas universida-
des: Universidade Estadual Paulista e da Fundação Universidade Federal
de Rondônia. Cabe destacar que esta pesquisa está sendo realizada em par-
ceria entre pesquisadores da Unesp e da Universidade de Aveiro (Portugal)
e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Faculdade de Filosofia e
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
262
Ciências – Campus de Marília, com CAAE: 52920221.2.0000.5406 e nú-
mero do Parecer da pesquisa: 5.303.554.
Nessa pesquisa obteve-se 375 respostas, porém, 151 estavam incom-
pletas e foram desconsideradas, totalizando 224 respostas para análise por
estarem completas. Cabe salientar que, por ser uma pesquisa em andamen-
to, será apresentado apenas os dados sociodemográficos dos participantes
e parte dos resultados sobre a utilização das tecnologias digitais pelos par-
ticipantes da pesquisa.
Constatou-se que 131 dos respondentes (58,5%) são do gênero mas-
culino e 93 são do gênero feminino (41,5%). 67 dos respondentes (29,8%)
têm entre 40 a 49 anos, 91 dos respondentes (40,6%) têm entre 50 a 59
anos e 50 dos respondentes (22,2%) encontram-se com 60 anos ou mais.
Verificou-se ainda que 93 dos respondentes (41,5%) são professores-assis-
tentes e 222 dos respondentes (99,1%) possuem vínculo permanente com
a IES e apenas 02 dos respondentes (0,9%) não possuem vínculo com a
IES. Destaca-se que 51 dos respondentes (22,7%) concentram-se na área de
Ciências da Natureza. 127 dos respondentes (56,3%) tem 20 anos que lecio-
nam. Percebeu-se que apenas 97 dos respondentes (43,1%) afirmaram fazer
uso das tecnologias digitais em suas aulas e 55 dos respondentes (24,4%)
sinalizaram que fazem uso das tecnologias digitais entre 1 a 3 anos.
uso das tecnologias digitais pelos paRticipantes
Quanto ao uso dos recursos e/ou ferramentas digitais mais utili-
zadas pelos respondentes para ensinar e aprender, constatou-se que qua-
tro (04) recursos e/ou ferramentas digitais se sobressaíram sobre os de-
mais, em destaque: 1) 194 dos respondentes (86,6%) afirmaram utilizar
apresentações (slides); 2) 170 dos respondentes (75,9%) afirmaram ver
vídeos ou escutar áudios; 3) 154 dos respondentes (68,8%)afirmaram
utilizar questionários ou avaliações; e por último, 4) 117 dos respon-
dentes (52,2%) afirmaram utilizar as ferramentas digitais (Mentimenter,
Socrative, Kahoot e o Google forms).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
263
Em relação ao uso de computadores e outros recursos, constatou-se
que, 97 dos respondentes (43,3%) concordaram que acham fácil trabalhar
com computadores e outros dispositivos e 88 dos respondentes (39,3%)
também afirmaram concordar plenamente que acham fácil de trabalhar com
esses recursos. Já 22 dos respondentes (9,8%) preferiram não concordar e
nem discordar. 5 dos respondentes (2,2%) afirmaram discordar totalmente e
12 dos respondentes (5,4%) também discordaram sobre tal quesito.
Em relação ao uso da internet, verificou-se que 94 dos respondentes
(42%) concordaram que vem utilizando a internet de forma extensiva e
competente. 97 dos respondentes (43,3%) também concordaram plena-
mente que vem fazendo uso da internet de forma extensiva e competente.
Apenas 02 dos respondentes (0,9%) discordaram totalmente que tenham
utilizado a internet de forma extensiva e competente.
Quanto a abertura e curiosidade para utilizar as tecnologias digitais,
constatou-se que 90 dos respondentes (40,2%) indicaram concordar ple-
namente que têm abertura e curiosidade em relação a novas aplicações,
programas e recursos disponíveis. 35 dos respondentes (15,6%) não con-
cordaram e nem discordaram e 02 dos respondentes (0,9%) discordaram
não ter abertura e nem curiosidade sobre novas aplicações, programas e re-
cursos. Quando questionados se são membros de redes sociais, verificou-se
que 78 dos respondentes (34,7%) afirmaram participar das redes sociais,
assim como, 47 dos respondentes (20,9%) também concordaram plena-
mente serem membros de redes sociais. 40 dos respondentes (17,8%) não
concordaram e nem discordaram sobre serem membros de redes sociais.
consideRações finais
Percebe-se que a competência digital é fundamental aos professo-
res, devido às tecnologias digitais serem essenciais no processo de ensino e
aprendizagem. O uso eficiente das tecnologias digitais auxilia o professor a
criar, produzir e se reinventar na educação superior. Contudo, é oportuno
destacar que é necessário que haja mais estudos sobre a competência digital
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
264
dos professores da educação superior no Brasil, visto que há poucas pesqui-
sas na área da Ciência da Informação que discutem sobre o DigCompEdu
e fazem uso da ferramenta de autoavaliação do DigCompEdu Check-In,
como por exemplo, o estudo de Santos (2022), porém, o foco deste estudo
foram os professores da educação básica.
Desta forma, é imprescindível que outros estudiosos realizem
mais pesquisas que abordam acerca da importância do DigCompEdu
como referencial para aprimorar a competência digital dos professores
na educação superior, de modo a fomentar o desenvolvimento de ações
que levem as bibliotecas universitária a utilizarem a ferramenta de au-
toavaliação do DigCompEdu Check-In para melhorar a competência di-
gital dos professores levando em consideração suas necessidades de uso
das tecnologias digitais.
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267
C 15
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Ana Clara Leite Pedersoli 1, Tuani Carla Fuzati 2,
Valquíria da Mota Luchini 3 e Luana Maia Woida 4
intRodução
Na sociedade contemporânea, as mulheres ainda enfrentam dificul-
dades para conseguir galgar postos de trabalho formais, com o agravante de
que não concorrem apenas com homens, mas também com as tecnologias,
na medida em que estas prometem mudar o mundo do trabalho nas próxi-
mas décadas, eliminando a necessidade de trabalhadores e trabalhadoras. O
desenvolvimento constante das Tecnologias da Informação e Comunicação
(TICs) e a automatização da produção promovem e intensificam a substitui-
ção de postos de trabalho, que antes eram exercidos apenas por pessoas. O
referido desenvolvimento das TICs foi sentido principalmente após a pan-
Mestrado em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: ana.
pedersoli@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6493-8503. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/8113532501157987.
Mestrado em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: tuani.fuzati@
unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2441024319988276.
Mestranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: valquiria.
luchini@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8657608589606255.
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: luana.m.woida@
unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3621-9154. Lattes: https://orcid.org/0000-0003-3621-9154.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p267-288
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
268
demia mundial da COVID-19 cujo crescimento neste setor foi de 13% em
2020 (Algar Telecom, 2022). Várias temáticas têm se destacado na Ciência
da Informação, assim como, no ambiente organizacional, dentre elas: fake
news, big data, gestão do conhecimento e gestão da diversidade. Os fenôme-
nos sociais, psicossociais, culturais, políticos e econômicos afetam direta ou
indiretamente o cenário organizacional e informacional.
Este estudo tem como foco a temática gestão da diversidade, com
ênfase em mulheres nas organizações. A Ciência da Informação se apro-
xima dessa temática na medida que interage com questões de gênero e de
diversidade, isso porque a efetiva participação em processos de produção,
compartilhamento e acesso à informação, muitas vezes, é prejudicado pela
presença de barreiras que emergem em condições que envolvem o desres-
peito e a violência física e psicológica com relação a determinados grupos,
como o das mulheres, os quais passam a ser percebidos como importantes
na produção de informação, de conhecimento e de inovação para as orga-
nizações. Nesse sentido, é papel da Ciência da Informação a compreensão
da gestão da diversidade, da representatividade dos diferentes grupos nas
organizações, uma vez que isso afeta diretamente na produção, compar-
tilhamento e acesso à informação gerada. Embora a diversidade discuta a
inserção e o aproveitamento de pessoas de grupos distintos, as mulheres
são o grupo enfatizado no presente artigo.
No Brasil colonial (1500-1822), as mulheres eram associadas a um
papel de submissão: mulheres brancas tinham o papel social de mães e
cuidadoras do lar enquanto os maridos se responsabilizavam pelo aspecto
financeiro da família; no caso de viuvez, elas faziam trabalhos autônomos,
como venda de doces artesanais e aulas de piano. Por sua vez, as mulheres
negras não eram entendidas como sujeitos de direito e tinham a imagem
associada a serviços domésticos para terceiros (Administrativo Kienbaum,
2021; Fragoso, 2021).
Assim, historicamente, as mulheres adquiriram seus primeiros direi-
tos trabalhistas após a elaboração da Constituição de 1934, consequência
do processo de industrialização no país, e que assegurava às mulheres a
igualdade salarial de gênero e direitos a gestantes. No entanto, ainda nos
dias atuais, esta e outras leis trabalhistas são insuficientes para que, de fato,
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
269
mulheres sejam respeitadas e consigam participar no ambiente de trabalho
formal e qualificado.
Ao abordar a temática mulheres, é válido ressaltar que neste estu-
do considera-as em sua amplitude, ou seja, são consideradas cisgênero ou
transgênero que se reconhecem como mulheres, independente de etnia,
idade, orientação sexual ou quaisquer outras razões sociais.
Isto posto, indo ao encontro das mulheres e da desigualdade de gêne-
ro no mercado de trabalho, aborda-se a gestão da diversidade. O termo ‘di-
versidade’ inclui todos e todas, independente de questões políticas, sociais
e culturais. Na atualidade, o debate sobre diversidade é contínuo perante
o combate a preconceitos, dentre eles: machismo, racismo, transfobia, ho-
mofobia e preconceitos religiosos. No contexto administrativo, trabalha-se
com a gestão da diversidade, considerando que o conceito surgiu no final
da década de 1960 nos Estados Unidos e passou a ser considerado parte da
estratégia dos negócios nos anos 90 (Cardoso et al., 2007).
Atentar-se à gestão da diversidade em uma empresa ou organização,
significa considerar as individualidades das pessoas que compõem sua es-
trutura, resultando em uma unidade em que seus componentes se sintam
acolhidos e se identifiquem com a cultura organizacional, bem como par-
ticipem com representatividade dos diferentes processos, entre os quais os
vinculados à informação. Como consequência, os funcionários tendem a
se comprometer mais com os valores organizacionais e com seus trabalhos,
podendo gerar efeitos sobre os lucros das empresas e melhorar na entrega
de um produto ou serviço por organizações não lucrativas. Entretanto,
praticar a gestão da diversidade não consiste apenas na contratação de pes-
soas de diferentes perfis (mulheres, LGBTQIA+, pessoas negras, etc), mas
na regularidade da prática no ambiente interno das empresas, seja a partir
de promoção de debates quanto a preconceitos ou de investimento no de-
senvolvimento profissional dos funcionários de maneira igualitária.
No Brasil, após a pandemia de COVID-19, a desigualdade salarial
entre homens e mulheres, segundo os dados de 2022 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), é de cerca de 22% (Dyniewicz, 2023),
junto a outros fatores como a incipiência de mulheres em cargos de lide-
rança nas empresas, questiona-se: quais condutas devem ser tomadas no
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
270
intuito de promover a mulher no ambiente corporativo? E, existem dire-
trizes adotadas pelas organizações para orientar tais condutas?
O objetivo geral deste estudo foi analisar diretrizes organizacionais
sobre a representatividade feminina no ambiente organizacional, especifi-
camente: a) mapear conceitos de ‘gestão da diversidade’; b) resgatar aspec-
tos históricos a respeito de mulheres nas organizações; c) verificar indica-
dores de representatividade feminina nas organizações; d) sugerir diretrizes
que promovam a representatividade feminina nas organizações.
Justifica-se este estudo perante a incipiência de pesquisas científi-
cas na área da Ciência da Informação que abordem a representatividade
feminina no ambiente de trabalho, mesmo considerando se tratar do 5º
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, que visa “Alcançar a igualdade
de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”, com destaque para
as seções 5.5, 5.a e 5.c (Nações Unidas Brasil, [2023?]). Em 19 de junho
de 2023, foi realizada uma busca nas bases de dados Scientific Electronic
Library Online (SCIELO) e Base de Dados Referencial de Artigos de
Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI).
Na Scielo, adotando-se os termos ‘representatividade’, ‘feminina
e ‘trabalho’, foram recuperados quatro documentos, dos quais apenas três
possuíam maior proximidade com a temática proposta neste estudo, com
publicações iniciadas em 2018. Na BRAPCI, ao buscar isoladamente o ter-
mo ‘mulher’, nota-se que o tema apresenta publicações desde 1991, com
aumento expressivo a partir de 2016, totalizando 213 documentos recupe-
rados. No entanto, quando se acrescenta à busca a palavra ‘trabalho’, apenas
4 documentos são recuperados, com textos que datam entre 2003 e 2012.
Ao selecionar as palavras-chave dos 213 documentos recuperados na
BRAPCI a partir da busca pelo termo ‘mulher’, destaca-se no mapa gera-
do, exposto na Figura 1, que a palavra ‘representação’ aparece em segundo
plano, mas outras temáticas recebem atenção como a violência e a saúde.
A partir do levantamento na Figura 1, nota-se que diante da quanti-
dade de documentos recuperados, poucos de fato correspondem ao cenário
de representatividade e, consequentemente, igualdade de gênero no am-
biente organizacional. Este estudo, aborda a temática com base nas análises
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
271
comparativa e SWOT de documentos como leis trabalhistas e indicadores
de gestão da diversidade relacionados às mulheres no mercado de trabalho.
Figura 1 - Palavras-chave vinculadas à produção sobre ‘mulher’ na BRAPCI
Fonte: Autores com base nos dados da BRAPCI (2023).
gestão da diveRsidade
O desenvolvimento organizacional flui em torno das Tecnologias
de Informação e Comunicação (TICs) e da intersecção entre a gestão da
informação e a gestão do conhecimento. Em ambientes organizacionais,
interpreta-se a gestão da informação como um conjunto de atividades que
objetivam um diagnóstico das necessidades informacionais, também, pode
ser definida como uma gestão formal e explícita, por exemplo, as políticas
de funcionamento registradas de uma organização. De encontro, a gestão
do conhecimento é informal e foca o conhecimento tácito, incluindo o
compartilhamento de ideias e conhecimento que ocorre naturalmente e
diariamente nas organizações a partir das redes comunicacionais, inicial-
mente, não registradas (Valentim, 2008).
A partir da gestão do conhecimento, é extraída a inovação. Com
a Agenda 2030, aprovada em 2015, e os Objetivos de Desenvolvimento
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
272
Sustentável (ODS), inovar tornou-se necessidade para as organizações e,
neste contexto, significa suprir com os ODS, destacando-se para este es-
tudo o ODS 5 - “Igualdade de Gênero” (Nações Unidas Brasil, [2023?]).
Neste cenário, para o funcionamento das organizações é enquadrada uma
terceira gestão, a gestão da diversidade. O Brasil é marcado pela pluralidade
sociocultural e identidade do povo brasileiro, ou seja, pelo misto de cultu-
ras, etnias, gênero, regionalismo, etc. (Benedito et al., 2022). Desta forma,
é questionada a existência das minorias, termo que não se refere a questões
quantitativas, mas a grupos sociais historicamente marginalizados perante
o processo de garantia dos direitos básicos, neste grupo: idosos, indígenas,
LGBTQIA+, mulheres, negros, pessoas com deficiência (PCDs) e pessoas
de baixa renda (Spagna, 2023). Sendo assim, a gestão da diversidade no
ambiente organizacional consiste na inclusão igualitária de todos, segundo
Nkomo e Cox (1999, p. 334-335) entendendo-se diversidade como:
A diversidade inclui todos, não é algo que seja definido por raça
ou gênero. Estende-se a idade, história pessoal e corporativa,
formação educacional, função e personalidade, inclui estilo de
vida, preferência sexual, origem geográfica, tempo de serviço na
organização, status de privilégio ou de não privilégio e administração
ou não administração.
Ressalta-se que a gestão da diversidade se difere de ações afirmativas,
como o processo de cotas no Brasil. As ações afirmativas são intervenções
políticas ante a questões de desigualdade, decorridas de fenômenos sociais,
por exemplo, a escravidão de pessoas negras no país; enquanto que, em um
mesmo cenário, a gestão da diversidade resume-se a medidas administra-
tivas, próximas de um sistema meritocrático (Alves; Galeão-Silva, 2004).
Diante dos cenários políticos e sociais, Benedito (et al., 2022) traduz
a gestão da diversidade para discurso organizacional, que visa um ambiente
flexível e inovador. O propósito é que a partir dos processos de inclusão
e identificação para com a organização, os trabalhadores produzam mais,
consequentemente, gerando mais lucros, objetivo semelhante em parte
aos dos sistemas de organização do trabalho no decorrer da Revolução
Industrial no país, dentre eles, o Taylorismo e o Fordismo. Esta gestão se dá
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
273
a partir de ações como políticas de funcionamento que incluem questões
de igualdade e equidade, líderes atentos a diversidade e igualdade salarial
de pessoas de sexo oposto que ocupem o mesmo cargo.
A pesquisa “Diversidade, Equidade e Inclusão nas Organizações”,
realizada pela Deloitte anualmente, mapeia como as empresas brasileiras
correspondem às demandas de pluralidade. Em 2022, 374 empresas parti-
ciparam da coleta da pesquisa, dessas: 90% manifestaram clareza sobre os
benefícios das iniciativas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) e
concordaram que essas práticas contribuem para a inovação; apenas 52%
têm uma área dedicada a DE&I; 51% das empresas com áreas dedicadas às
ações de diversidade, têm a área liderada pelos recursos humanos, enquan-
to apenas 9% dos casos, pelo conselho de administração. Para além da área
dedicada às iniciativas de DE&I, 79% das empresas afirmaram ter frentes
voluntárias – em formas de grupos, comitês ou squads -, que atuam com
estas questões (Deloitte, 2022).
Em contrapartida a existência de áreas e frentes voluntárias dedi-
cadas a DE&I, é observado como estas funcionam diante das etapas das
jornadas dos profissionais nas organizações, destacado no Gráfico 1.
Gráfico 1 – DE&I ao longo das etapas da jornada dos profissionais na
organização (respostas múltiplas)
Fonte: Autores com base nos dados da Deloitte (2022).
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
274
Nota-se que apesar de existir nas organizações ações voltadas a
DE&I, existe a dificuldade de mantê-las diante das etapas da jornada dos
profissionais nas organizações, sendo mais abrangentes no decorrer dos
processos de divulgação e recrutamento e seleção das vagas, e menos a par-
tir dos processos de Onboarding até o desligamento.
Os autores Alves e Galeão-Silva (2004) apontam o caráter ideoló-
gico da gestão da diversidade junto à dificuldade histórica, no Brasil, de
se identificar grupos discriminados. Isto posto, para a aplicação da gestão
da diversidade nas organizações no país, faz-se necessário prioritariamente
treinamentos e apresentações sobre a temática.
mulheRes e meRcado de tRabalho
É muito comum localizar estudos sobre o comportamento informacional
de estudantes e pesquisadores, quando muito, pesquisas sobre estudantes ou
pesquisadores de áreas específicas. Quando o interesse se volta ao ambiente
de trabalho, o tema inclui uma produção de informação ou conhecimento,
bem como seu compartilhamento, embora não haja um interesse em saber se
os diferentes grupos de trabalhadores e trabalhadoras realizam essa produção
e compartilhamento de modo distinto. Ignorar a gestão da diversidade no
ambiente organizacional, faz com que a Ciência da Informação permaneça
alheia aos seus efeitos sobre a informação. Por isso, é necessário compreender
como os grupos são compostos e sua relação com o mercado de trabalho,
uma vez que isso limita a representação deles em processos de produção e
compartilhamento de informação dentro das organizações.
O cenário contemporâneo, composto por uma série de particulari-
dades evidenciadas por questões simbólicas, subjetivas, transversais e ver-
ticais, é o de um mundo globalizado e interdependente, constituído por
mudanças, fortes desequilíbrios e injustiças sociais (Drummond, 2007).
Entretanto, no ambiente de trabalho mulheres ainda lidam com a desigual-
dade de gênero, justificada erroneamente por questões sociais, culturais e
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
275
biológicas (Cappelle et al., 2007). A desigualdade de gênero no mercado
de trabalho não é atual, referente às mulheres neste contexto:
Da variação salarial à intimidação física, da desqualificação intelec-
tual ao assédio sexual, elas tiveram sempre de lutar contra inúmeros obs-
táculos para ingressar em um campo definido – pelos homens – como
naturalmente masculino” (Rago, 1997, p. 486).
No Brasil Colonial (1500-1822) as mulheres eram associadas ao pa-
pel de submissão no contexto familiar, seja perante suas próprias famílias,
ou a terceiros – como no caso das mulheres negras destinadas a traba-
lhos domésticos para outras famílias, vestígio do período de escravidão no
país. Ao se inserirem no mercado de trabalho, principalmente durante a
Revolução Industrial, que no Brasil começou na segunda metade do século
XIX, em 1890, as mulheres operárias estrangeiras representavam 34% do
total de operários, com a maioria empregada na indústria têxtil, enquanto
em 1920, de 247 indústrias têxteis, estrangeiras ou não, as mulheres ocu-
pavam 50,96% da força de trabalho neste setor e trabalhavam mediante a
condições precárias e desigualdade salarial (Rago, 1997).
Mesmo com a possibilidade de desenvolver autonomia no mercado
de trabalho, a Constituição de 1934 e as leis trabalhistas destacando os
direitos igualitários de gênero, ainda entre os séculos XIX e XXI, social e
culturalmente a mulher submissa prevaleceu como protótipo ideal. Um
exemplo, é a matéria da revista Veja referente a Marcela Temer, esposa do
então presidente da república em 2016, que se refere a mesma como “bela,
recatada e do lar” e padrão a ser seguido (Linhares, 2016). Diante destes
cenários, ressalta-se a importância do alavancamento de movimentos femi-
nistas, que surgiram no Brasil a partir do século XIX e, desde então surti-
ram efeitos como o direito ao voto, a criação da pílula anticoncepcional e
a criação da Lei Maria da Penha contra a violência doméstica (Alves; Alves,
2013). Ao contrário do machismo, os movimentos feministas propõem a
igualdade de gênero.
Com a mesma missão dos movimentos feministas de assegurar a
igualdade de gênero, perante as necessidades de inovação e pressões po-
líticas, sociais e culturais, é que nos ambientes organizacionais destaca-se
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
276
a gestão da diversidade enfocando a temática mulheres. Para se alcançar
a inovação, as empresas baseiam-se nos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), desenvolvidos pela ONU; especificamente o objetivo
cinco, prioriza a igualdade de gênero: segurança para com as mulheres nas
esferas públicas e privadas; direitos sobre o próprio corpo; igualdade no
ambiente de trabalho desde questões salariais a representações em cargos
de liderança; uso das TICs para promover o empoderamento feminino
(Nações Unidas Brasil, [2023?]).
Segundo a pesquisa “Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores
empresas do Brasil e suas ações afirmativas” (Instituto Ethos, 2016), para as
mulheres o mercado de trabalho ainda se assemelha ao período da Revolução
Industrial. A maioria das mulheres ocupam cargos de menores responsabili-
dades, como de aprendizes e estagiárias, enquanto os homens concentram-se
em cargos administrativos, dados evidenciados no gráfico 2.
Gráfico 2 – Distribuição do pessoal por sexo (%)
Fonte: Autores com base nos dados do Instituto Ethos (2016).
Evidencia-se que apesar da pesquisa do Instituto Ethos (2016) ser a
mais recente realizada por eles, os dados são referentes a anos anteriores e
que, em um período mais recente, entre os anos de 2020 e 2022 ocorreu a
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
277
pandemia de COVID-19, constituindo-se em um cenário não previsto em
tais dados, podendo ter sofrido alterações.
Contrapondo os dados do Instituto Ethos (2016), observam-se os re-
sultados da pesquisa “Diversidade, Equidade e Inclusão nas Organizações
(Deloitte, 2022), com o foco em dados voltados para a gestão da diversi-
dade com ações e frentes destinadas a mulheres nas empresas. Em 2022 as
frentes voluntárias de DE&I voltadas para as mulheres tiveram 64% de
representação nas empresas pesquisadas pela Deloitte, apresentando avan-
ços nas práticas de 87% e tempo médio de existência de três anos e seis
meses. Destas frentes, 75% apontaram ter orçamento. Dentre as represen-
tações em cargos de diretoria ou superior, as mulheres representavam 83%
(Deloitte, 2022).
Em 2023, o Brasil teve dezesseis empresas no ranking mundial de
igualdade de gênero da Bloomberg. O Quadro 1 a seguir destaca as cinco
primeiras empresas que aparecem, para fins comparativos.
Perante a Lei, no Brasil todos são iguais, sem distinção de qualquer
natureza. Diante as disposição legais da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), há a preocupação do trabalho da mulher em pontos como: carga
horária de trabalho de até oito horas diárias, exclusão do processo de sele-
ção de emprego por gênero, a exigência de atestado para provar esterilidade
ou gravidez nos processos de admissão ou permanência no emprego, as-
sédios no ambiente de trabalho, direito a licença maternidade e igualdade
salarial mediante trabalhos de igual valor (Brasil, 1943). Em 2022, a Lei
Nacional nº 14.457 realizou alterações na CLT e instituiu o Programa
Emprega + Mulheres, em suas disposições legais constam: apoio à parenta-
lidade na primeira infância; apoio à parentalidade por meio da flexibiliza-
ção do regime de trabalho; qualificação de mulheres em áreas estratégicas
para a ascensão profissional; apoio ao retorno ao trabalho das mulheres
após o término da licença-maternidade (Brasil, 2022).
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
278
Quadro 1 – Igualdade de gênero em cinco empresas brasileiras incluídas
no Gender Equality Index (Bloomberg, 2023)
Nome da
Organização Visão sobre igualdade de gênero Ações voltadas para a igualdade de
gênero
Afya (AFYA)5
“Nosso compromisso: promover
a igualdade de gênero em nossas
lideranças.
No relatório de sustentabilidade de 2021,
o mais recente, aponta que as mulheres
ocupavam 37,8% dos cargos de liderança.
A empresa objetiva alcançar 50% até
2030.
AliansceSonae
(ALSO3)6
Alcançar 50% de participação de
mulheres nos cargos de liderança,
promovendo o engajamento de
toda a cadeia de valor.
As mulheres ocupam 43% dos cargos de
liderança. A empresa objetiva alcançar
50% até 2030.
Bradesco
(BBDC4)7
“Consideramos a pluralidade
de gêneros, raças, origens e
culturas essenciais para ampliar
as perspectivas nas tomadas de
decisão, potencializando a nossa
geração de valor, a adequada
atração, retenção e satisfação
dos nossos talentos e o melhor
atendimento das necessidades dos
nossos clientes, proporcionando
cada vez mais jornadas de
qualidade e adequadas aos seu
momento de vida.
Em 2022, a empresa contou com mais
de 44 mil funcionárias (mais de 50% do
total).
A empresa aponta estimular cada vez
mais para que mulheres ocupem cargos
de liderança, através do Programa de
Lideranças Femininas, com workshops
e do programa para formação e
desenvolvimento de mulheres em
linguagens de programação.
Frente de DE&I com o Grupo de
Afinidades Mulheres para Frente, que
realiza encontros abordando temáticas
que vão além do ambiente de trabalho:
maternidade, prevenção de câncer de
mama, sororidade e longevidade.
Braskem
(BRKM5)8
“Promover a igualdade de gênero
a partir de ações que envolvem o
empoderamento das mulheres e a
igualdade de oportunidades.
De acordo com o relatório integrado de
2022, as mulheres ocupavam 31,4% dos
cargos de liderança. A empresa objetiva
alcançar 45% até 2030.
Fonte: Autores.
AFYA. Relatório anual de sustentabilidade. 2021. Disponível em: https://rasustentabilidade.afya.com.br/
RS_AFYA_2021_PT.pdf. Acesso em: 25 jun. 2023.
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BRASKEM. Pessoas e desenvolvimento: diversidade, equidade e inclusão. [2023?]. Disponível em: https://
www.braskem.com.br/diversidade. Acesso em: 25 jun. 2023.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
279
metodologia
O estudo é de natureza quali-quantitativa. Segundo Weber (1970) a
elaboração da tarefa qualitativa baseia-se na procura de se atingir precisa-
mente o conhecimento de um fenômeno histórico, isto é, significativo em
sua singularidade. Portanto, a abordagem permitiu a análise e considera-
ções sobre os documentos utilizados como objetos de estudo, destacando-
-se os indicadores de DE&I nas empresas brasileiras.
Já a abordagem quantitativa, possibilitou as análises de dados nu-
méricos dos gráficos e figuras apresentadas. De acordo com os autores,
as quantificações fortalecem os argumentos e constituem indicadores im-
portantes para análises qualitativas” (Grácio; Garrutti, 2005, p. 119). A
pesquisa quantitativa:
[...] é empregada pela necessidade de medir os padrões de
relacionamentos e as inter-relações dos atores em uma configuração
de rede, com base em seus contatos”, diante disso são utilizados
indicadores e dados, proporcionando a informação para o
resultado. Enquanto que, a pesquisa qualitativa: “substitui a simples
informação estatística, relacionada a épocas passadas (Valentim,
2005, p. 19).
Em uma pesquisa científica com abordagem quali-quantitativa,
portanto, os tratamentos dos resultados podem ser complementares, en-
riquecendo a análise e as discussões finais (Minayo, 1997). Ao combinar
as abordagens quantitativa e qualitativa, Valentim (2005, p. 84) ressalta
que “possibilitam a compreensão das múltiplas nuances que envolvem o
objeto de pesquisa, o que permite o aprofundamento das questões que
direcionam o estudo”, ou seja, combinando ambos os tipos de evidências,
os pesquisadores podem obter uma visão mais holística e aprofundada dos
fenômenos estudados.
A pesquisa se classifica como documental por se pautar a partir da
análise dos seguintes documentos: CLT (Brasil, 1943); Lei Nacional nº
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
280
14.457/2022 (Brasil, 2022); 5º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
(Nações Unidas Brasil, [2023?]); resultados das pesquisas “Perfil social, ra-
cial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirma-
tivas” (Instituto Ethos, 2016) e “Diversidade, Equidade e Inclusão nas
Organizações” (Deloitte, 2022); diretrizes voltadas para igualdade de gênero
de cinco das empresas brasileiras destacadas no ranking mundial de igualda-
de de gênero (Bloomberg, 2023). Além de serem uma fonte de informação
contextualizada, os documentos emergem em um contexto específico e ofe-
recem informações sobre esse mesmo contexto (Ludke; André, 1986).
Além de documental, a pesquisa também é do tipo descritiva: têm
como objetivo primordial a descrição das características de determinada
população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre va-
riáveis (Gil, 2002, p. 42). Como instrumento de coleta de dados optou-se
por considerar como diretrizes: a missão e os indicadores, ajustando-se aos
tópicos de interesse identificados na revisão de literatura realizada, os quais
foram gestão da diversidade, igualdade de gênero e mulheres no mercado
de trabalho.
A análise dos dados dividiu-se em duas etapas: análise comparativa
e análise SWOT. A análise comparativa possibilita análises sistemáticas de
diferentes ângulos a respeito de uma mesma temática, contribuindo para
explicações alternativas (Collier, 1994). Enquanto que, a SWOT é um
método de planejamento estratégico que analisa os cenários para tomada
de decisões, considerando os fatores internos e externos.
A SWOT serve para verificar a situação e a posição em que a organi-
zação se encontra em dado momento no ambiente em que atua, e formular
estratégias de acordo com o resultado encontrado. Segundo Chiavenato e
Sapiro (2003), sua função é cruzar as oportunidades e as ameaças externas à
organização com seus pontos fortes e fracos. A escolha pela análise SWOT
permite melhor visualização sobre a igualdade de gênero nas organizações
que já a aplicam, para que, a partir desta, destacando pontos fortes e fracos
desta ação nas organizações, sejam sugeridas diretrizes que sirvam para de-
mais organizações que ainda não desenvolveram ou apresentam incipiência
nas ações de igualdade de gênero.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
281
Para a constatação de forças e fraquezas, oportunidades e ameaças
é preciso sempre observar os resultados de uma análise combinada, na
qual as condições externas devem ser sobrepostas e confrontadas com as
situações do ambiente da organização (Yanaze, 2007). Sendo assim, para a
análise, são considerados pelos dois primeiros pontos o ambiente interno
das organizações a ser analisado e, nos dois últimos, os ambientes externos
– questões políticas, culturais, sociais e educacionais que não estão sob o
controle do ambiente que se aplica o método (Valentim, 2011).
Através da metodologia aplicada à pesquisa, pode-se observar os re-
sultados das análises descritas, bem como os objetivos a serem atingidos.
Neste estudo, a utilização das análises comparativa e SWOT visam cons-
truir inferências sobre a realidade da mulher no mercado de trabalho na
atualidade, baseando-se na existência de programas que visam a igualdade
de gênero nas organizações.
Resultados e discussões
Os resultados foram divididos em duas etapas. A primeira etapa, com
o intuito de evidenciar as diferentes visões quanto a igualdade de gênero,
utilizou-se do método comparativo para com: o quinto ODS; a Lei nacio-
nal nº 14.457/2022 - Programa Emprega + Mulheres; os indicadores das
pesquisas “Diversidade, Equidade e Inclusão nas Organizações” (Deloitte,
2022) e “Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil
e suas ações afirmativas” (Instituto Ethos, 2016); e de cinco das dezesseis
empresas brasileiras destacadas no ranking mundial de igualdade de gênero
(Bloomberg, 2023). Seguem as inferências e observações no quadro 2.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
282
Quadro 2 – Percursos legais e diretrizes de igualdade de gênero no merca-
do de trabalho no Brasil
Missão Indicadores
CLT (BRASIL, 1943) e Lei
Nacional nº 14.457/2022 (Brasil,
2022)
5º Objetivo de
Desenvolvimento
Sustentável
(Nações Unidas
Brasil, [2023?])
“Perfil social,
racial e de
gênero das
500 maiores
empresas
do Brasil e
suas ações
afirmativas
(Instituto
Ethos, 2016)
Pesquisa
“Diversidade,
Equidade e
Inclusão nas
Organizações
(Deloitte,
2022)
Empresas
brasileiras
destacadas no
ranking mundial
de igualdade
de gênero
(Bloomberg,
2023)
INFERÊNCIAS
- Valoriza-se
a igualdade
salarial perante
o exercício de
uma mesma
função;
- Diferente
do período
de Revolução
Industrial,
com as leis
é valorizada
carga horária
de trabalho
justa;
- Qualificação
de mulheres,
em áreas
estratégicas
para a
ascensão
profissional,
motivando o
crescimento
profissional
para que
ocupem, cada
vez mais,
cargos de
liderança nas
empresas.
- Enfoca nos
direitos das
mulheres sobre
o próprio corpo,
repudiando
assédios morais e
sexuais;
- Igualdade
salarial;
- Incentivo para
que as mulheres
ocupem cargos
de liderança no
ambiente de
trabalho;
- Incentiva o
uso das TICs
para promover o
empoderamento
feminino.
- De acordo
com os
resultados
da pesquisa,
nota-se a
predominância
de homens
em cargos
de liderança,
enquanto
mulheres
tendem a
ocupar cargos
de aprendizes
ou estagiárias.
A pesquisa
é datada
de 2016,
porém, com
a pandemia
devido ao
COVID-19,
a tendência é
que este quadro
tenha se
agravado nestes
sete anos.
- Devido ao
quinto ODS e
a necessidade
de inovação das
organizações,
as empresas
passam a
investir em
projetos de
gestão da
diversidade.
No âmbito da
igualdade de
gênero, 64%
das empresas
entrevistadas
apontaram
ter frentes
destinadas a
mulheres que
em sua maioria
apresentaram
retorno
positivo para a
organização.
- Ao se
observar cinco
das dezesseis
empresas,
nota-se o foco
maior em ações
que promovam
as mulheres
em cargos de
liderança, sendo
que três dessas
têm como meta
que mulheres
ocupem, no
mínimo, 45%
destes cargos até
2030.
- O Bradesco
e a Eletrobrás
apontam a
existência de
programas de
incentivo ao
empoderamento
feminino.
Fonte: Autores.
A segunda etapa da análise se baseou no método de análise SWOT,
utilizado normalmente em ambientes empresariais, entretanto, adaptado
para o contexto desta pesquisa (Quadro 3).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
283
Quadro 3 – Inferências sobre a igualdade de gênero nas organizações
AMBIENTE INTERNO
Forças Fraquezas
Amparo pela legislação;
Resolução de problemas;
Criatividade;
Inovação.
Falta de conscientização dos colaboradores;
Conflitos;
Falta de homogeneidade e sincronia entre as
equipes;
Mudança na cultura trazendo impactos
negativos.
AMBIENTE EXTERNO
Oportunidades Ameaças
Crescimento do mercado;
Responsabilidade social na
organização;
Mais investimentos;
Pluralismo cultural.
Pressão externa;
Medo das dificuldades;
Anseio nas tomadas de decisão;
Necessidade de uma gestão contínua que
fortaleça a importância da diversidade e
inclusão no ambiente.
Fonte: Autores.
A partir das inferências explicitadas no Qquadro 3, resultantes das
informações das diferentes fontes pesquisadas, observa-se que as organiza-
ções que desenvolvem a igualdade de gênero têm a possibilidade de se pau-
tarem em documentos e leis, como a CLT, a Lei Nacional nº 14.457 e o
quinto ODS referente à Agenda 2030. Com a definição de metas e imple-
mentação de programas, cartilhas, relatórios e treinamentos para promo-
ver a representatividade feminina. Além disso, as organizações promovem
a interação de grupos heterogêneos e, consequentemente, é possível que
haja uma maior capacidade e facilidade na resolução de problemas, consi-
derando os diferentes níveis de vivências e pontos de vista, promovendo a
criatividade e inovação no ambiente organizacional. Em contrapartida, a
falta de conscientização ou indisposição dos colaboradores quanto a ques-
tões de inclusão, implica um ambiente não harmonioso, resultando em
conflitos e uma espécie de competição não saudável na organização, geran-
do mudanças na cultura organizacional que resultam em comportamentos
improdutivos e disfuncionais.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
284
Quanto ao ambiente externo, podem-se destacar oportunidades
como crescimento no mercado, devido à visão que a sociedade tem da res-
ponsabilidade social da organização, sustentada pela Agenda 2030. Com
isso, a organização poderá atrair mais investimentos e a visibilidade posi-
tiva do pluralismo cultural dentro da organização. Como as organizações
estão inseridas em um contexto de mutação constante, também é extre-
mamente importante considerar as possíveis ameaças que as rodeiam. A
questão da pressão externa, por exemplo, é o que se espera da instituição
enquanto organização, com isso, vem o medo das dificuldades e o anseio
nas tomadas de decisões, pois há o julgamento de fazer o certo, o espe-
rado pela sociedade. Por isso, a necessidade de uma gestão contínua que
fortaleça a importância da diversidade no ambiente, que funcionará como
sustentação para a superação dessas dificuldades.
Pode-se aproveitar as forças e oportunidades para diversos benefí-
cios, incluindo a vantagem competitiva e a construção de diretrizes que
norteiam as práticas da gestão da diversidade. Por sua vez, as fraquezas e
ameaças são igualmente relevantes para a mesma tarefa, a de construção de
diretrizes, pois a organização depende da sociedade para lucrar e se man-
ter no mercado, devendo para isso, evitar quaisquer fraquezas e ser capaz
de projetar e enfrentar ameaças. Para isto, sugerem-se diretrizes que pro-
movam a representatividade feminina nas organizações a longo, médio e
curto prazo: i) longo prazo: estabelecer indicadores de diversidade e inclu-
são para monitorar o progresso e identificar áreas que precisam de melho-
ria, este monitoramento deve ocorrer anualmente; ii) Médio prazo: criar
programas de desenvolvimento e capacitação específicos para mulheres,
visando fortalecer suas habilidades e competências para assumir posições
de liderança – deve ocorrer em um prazo mínimo de um ano; iii) Curto
prazo: estabelecer política de diversidade e inclusão que corresponda aos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (principalmente o quinto), e as
leis trabalhistas – prazo máximo de seis meses, sujeito a multas no caso de
não desenvolvimento. Vale ressaltar que para o cumprimento de todas as
diretrizes propostas, as organizações que ainda não investiram na igualdade
de gênero podem consultar, também, as políticas e diretrizes das empresas
que se destacam neste meio, como as dezesseis empresas brasileiras desta-
cadas no Gender Equality Index (Bloomberg, 2023).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
285
consideRações
Incentivar a igualdade de gênero e crescimento profissional da mu-
lher nas organizações implica em dois pontos: 1) suprir com o papel social,
correspondendo às demandas sociais, culturais e políticas da contempora-
neidade; 2) estratégia organizacional, pela vantagem competitiva e, conse-
quente, pelo cenário de inovação de acordo com os ODS.
Com relação ao problema de pesquisa, destaca-se a existência do
quinto ODS e, no Brasil, da CLT e Lei Nacional nº 14.457/2022, entre-
tanto, isoladamente a existência destes documentos não cumpre com o
propósito. Junto às políticas públicas existentes, é necessário discutir e de-
senvolver diretrizes para as organizações (públicas e privadas), com outras
condutas, por exemplo, um processo de monitoramento de acordo com os
indicadores existentes e de multas no caso do não cumprimento. A gestão
da diversidade surge como uma abordagem-chave para promover a repre-
sentatividade feminina em cargos de liderança, fomentando a participação
das mulheres, combatendo estereótipos de gênero e contribuindo para um
ambiente inclusivo e igualitário.
Mediante aos objetivos, o estudo supre com o proposto. Foram ana-
lisadas as diretrizes organizacionais de cinco das empresas brasileiras que
já desenvolvem a igualdade de gênero, selecionadas a partir do ranking
da Bloomberg (2023), observou-se uma maior preocupação para que as
mulheres ocupem cargos de liderança dentro destas empresas. Quanto aos
objetivos específicos: mapeou-se conceitos da gestão da diversidade a par-
tir de abordagens da Ciência da Informação e da pesquisa realizada pela
Deloitte; resgatou-se aspectos históricos a respeito das mulheres com enfo-
que na atuação nas organizações; verificou-se os indicadores das pesquisas
realizadas pela Deloitte e pelo Instituto Ethos; sugeriu-se diretrizes para as
organizações considerando longo, médio e curto prazo.
Diante dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e do
sistema informacional, evidencia-se a importância e necessidade de mais
estudos acerca da temática na área da Ciência da Informação (CI). Este
estudo enfoca a realidade das mulheres no âmbito organizacional, podendo-
se expandir para mulheres em cargos de liderança na CI, um estudo métrico
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
286
sobre mulheres pesquisadoras ou um estudo a respeito das dificuldades
enfrentadas pelas mesmas diariamente, como pesquisadoras e mulheres,
considerando as questões sociais, culturais e políticas estruturalmente
impostas ao sexo feminino. Para além dos dados apresentados neste
estudo, é importante que as organizações estejam em constante reflexão e
adaptação, buscando novas formas de promover a igualdade de gênero e
fortalecer a participação feminina no ambiente corporativo.
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Bianca Savegnago de Mira 1, Natalia Rodrigues Delbianco 2,
Patrícia de Almeida Monteiro da Silva 3,
Maria Cláudia Cabrini Grácio 4 e Daniel Martínez-Ávila 5
intRodução
A Biblioteconomia é uma das disciplinas que atua no campo da
informação. Le Coadic (2004) aponta que o termo “biblioteconomia” é
resultado da junção de duas palavras, biblioteca e economia, isso porque
estaria voltada para a área da organização, administração e gestão.
Doutoranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: bianca.
mira@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7913-4084. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/7638396535395640.
Doutoranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: natalia.
delbianco@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0723-2379. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/4705548080764369.
Doutora em Ciência da Informação. Professora na Universidade Federal do Pará – UFPA. E-mail:
mebpatricia@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0524415916952261.
Doutora em Filosofia. Professora na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: cabrini.gracio@unesp.
br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8003-0386. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5170688300970006.
5 Doutor em Documentação. Professor na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: dmarta@unileon.
es. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2236-553X. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1744684558489377.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p289-302
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
290
Assim, como em outras áreas do conhecimento, segundo afirma
Russo (2010), a Biblioteconomia passou por algumas mudanças e sofreu
desenvolvimentos ao longo dos anos, migrando do erudito para o serviço
público; isso se deu principalmente por conta do aumento do número
de bibliotecas públicas e, em seguida, pela fundação da American Library
Association (ALA), em 1876. Com isto, a Biblioteconomia foi-se conso-
lidando como área de conhecimento, tanto a nível internacional quan-
to a nível nacional, com a criação da International Federation of Library
Associations (IFLA) em 1927 e com a constituição da Federação Brasileira
de Associações de Bibliotecários (FEBAB) em 1959, respectivamente.
De entre os serviços presentes na Biblioteconomia está o de orga-
nização e classificação documental, designadamente através da utilização
da Classificação Decimal de Dewey (CDD). No entanto, este sistema
de organização do conhecimento pode não responder completamente
às necessidades dos utilizadores das unidades de informação, segundo
alguns dos importantes nomes da Biblioteconomia, entre eles Shiyali
Ramamrita Ranganathan.
Embora tivesse realizado formação na área da Matemática,
Ranganathan iniciou funções de bibliotecário na Universidade de Madras
em 1924 e, na sequência, foi estudar Biblioteconomia em Londres, nesse
mesmo ano. Durante esta formação, Ranganathan percebeu que a classi-
ficação decimal não era adequada para a incorporação de novos assuntos
e, consequentemente, para a coextensão das classes numéricas (Almeida,
2022), o que levou ao aperfeiçoamento de uma nova forma de classifica-
ção, a Colon Classification, cuja primeira edição ocorreu em 1933.
É importante mencionar que, durante seu percurso em Londres,
Ranganathan teve contato com centenas de bibliotecas e ficou deveras
impressionado com a constatação da relevância social e do potencial no
desenvolvimento do ser humano que as bibliotecas possuíam na sociedade
inglesa. Toda esta experiência acadêmica e, futuramente, profissional con-
duziu o pesquisador à elaboração e posterior publicação de uma obra semi-
nal “e Five Laws of Library Science”, com primeira edição em 1931, se-
gunda edição em 1957 e reimpressão (com correções) em 1963; em 2009,
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
291
o livro é traduzido para língua portuguesa com o título “As cinco leis da
biblioteconomia” e editado por Briquet de Lemos.
Figueiredo (1992, p. 186) destaca que essas leis fornecem “[…]
a moldura conceitual para desenvolver diversos princípios normativos,
cânones, técnicas, práticas etc., essenciais para a organização de bibliote-
cas e serviços, segundo linhas científicas.” As cinco leis estabelecidas por
Ranganathan (2009) são:
1. Os livros são para usar;
2. A cada leitor seu livro;
3. A cada livro seu leitor;
4. Poupe o tempo do leitor;
a biblioteca é um oRganismo em cRescimento.
A primeira lei (Os livros são para usar) está voltada para a democra-
tização do conhecimento e o uso dos livros, considerando que houve uma
época em que existiram diversas restrições para seu uso devido à dificulda-
de de sua produção, pelo que o objetivo principal seria o da preservação e
não o do uso (Ranganathan, 2009).
A segunda lei (A cada leitor seu livro) visa a democratização do livro,
ao afirmar que existe um livro para cada leitor. Vale mencionar que houve
uma época em que o livro seria um objeto específico para uma comunidade
muito privilegiada, considerada como os “eleitos” (Ranganathan, 2009), de
onde estariam excluídos pobres, pessoas com deficiência e mulheres. Além
disso, faz-se entender que a biblioteca precisa conhecer a comunidade de
usuários na qual está inserida, para atendê-la da melhor forma possível.
Ranganathan (2009) afirma que a terceira lei (A cada livro seu leitor)
torna a revolução proposta pela primeira lei mais completa e possível e re-
força a segunda lei, enfatizando o sistema de livre acesso ao livro. A ideia do
sistema de livre acesso permite que o usuário consiga analisar o acervo com
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
292
a mesma liberdade que teria em um ambiente particular, por exemplo, e
traz consigo profundas alterações à biblioteca, nomeadamente no que toca
à organização dos espaços e à gestão dos recursos humanos.
Apresentada a partir do ponto de vista do leitor, a quarta lei (Poupe
o tempo do leitor) tem como objetivo fazer com que a experiência do usuá-
rio em uma unidade de informação aconteça de forma rápida e eficiente
(Ranganathan, 2009). Destaca-se que, com o sistema de livre acesso, o
leitor passa a ter autonomia para buscar o que precisa, pelo que a quarta
lei se encarrega de oferecer ferramentas e soluções que fazem com que isso
aconteça da melhor forma possível.
Por fim, diferente das demais por colocar a tónica na questão institu-
cional, a quinta lei (A biblioteca é um organismo em crescimento) foca na
parte da gestão organizacional e, segundo afirma o próprio Ranganathan
(2009, p. 241), nas funções essenciais da biblioteca, exigindo assim “[…] a
necessidade de uma constante adaptação de nossa perspectiva ao lidarmos
com ela.” Compreende-se que a quinta lei busque garantir que as bibliote-
cas continuem se atualizando e se aprimorando com o passar dos anos e das
mudanças da sociedade, sempre em função das necessidades dos usuários.
Vistas sumariamente as cinco leis de Ranganathan, vislumbra-se já
a importância e o impacto delas para a Biblioteconomia e para o aces-
so à informação ao longo dos anos, destacando-se a sua atualidade tanto
em âmbito específico de biblioteca como em âmbito geral da Ciência da
Informação. Complementando esse pensamento, Santos e Pinto (2012)
observam que, mesmo que estas leis mostrem a experiência do pesquisador
naquela época, é possível adaptá-las em qualquer contexto de bibliotecas,
unidades ou serviços de informação nos dias de hoje.
Considerando a importância de Ranganathan e de sua obra para a
sociedade da informação e do conhecimento, o presente trabalho conside-
ra-se pertinente identificar os temas mais influenciados por este livro e res-
ponder à pergunta: Quais as temáticas mais utilizadas pelos pesquisadores
ao abordar “e Five Laws of Library Science” em documentos indexados
pela base de dados Web of Science? Para tanto, esta pesquisa tem como ob-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
293
jetivo principal realizar uma análise bibliométrica temática, com recurso às
palavras-chave dos documentos que citam a referida obra.
Nos pontos seguintes, serão apresentados os procedimentos meto-
dológicos e a análise dos resultados.
pRocedimentos metodológicos
As palavras-chave permitem uma percepção inteligível do documen-
to, visto que fornecem informações sintetizadas sobre o conteúdo. Assim,
podem ser vistas como a menor unidade de identificação que representa o
conteúdo de um texto (Franco; Faria, 2019).
A atribuição de palavras-chave por um determinado autor é uma
prática de representação do conteúdo. Este autor realiza uma análise per-
sonalizada do assunto que está sujeita ao seu próprio vocabulário de espe-
cialidade e que não necessariamente está padronizada ou submetida a vo-
cabulários controlados (Fujita; Tartarotti, 2020). Em seu estudo sobre este
tópico, Gil-Leiva e Alonso-Arroyo (2007) observam que as palavras-chave
atribuídas pelos autores possuem forte presença nos descritores de bases de
dados. Cerca de 25% das palavras-chave estudadas revelam-se iguais às dos
descritores, o que resulta numa coincidência entre autores e bases de da-
dos. Uma outra parcela de 21% continuou sendo detectada, mesmo após
procedimentos resultantes da sua normalização. Dessa forma, conclui-se
que as palavras-chave selecionadas pelos autores constituem uma fonte de
informação relevante, seja para indexação humana seja para sistemas de
indexação automática.
De uma forma genérica, os estudos baseados na extração de pala-
vras-chave podem revelar-se úteis para o desenvolvimento de vocabulários
controlados, sistemas de organização do conhecimento, identificação cien-
tífica de autores, análise bibliométrica e indicadores de impacto científico
(Fujita; Tartarotti, 2020). Nesse sentido, estudos de âmbito bibliométrico
apresentam potencial para mostrar novas tendências, designadamente as
temáticas que fundamentam os avanços nas diversas áreas científicas.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
294
Nesta senda, esta pesquisa procura identificar os temas mais in-
fluenciados por “e Five Laws of Library Science”, obra seminal de
Ranganathan, através das palavras-chave dos documentos que a citam.
Para tal, foram extraídas as palavras-chave dos documentos citantes e
submetidas a análises bibliométricas. A extração foi realizada na base Web
of Science (WoS) no dia 13 de julho de 2023. Na busca por cited author
(autor citado), recuperaram-se 680 documentos que citam Ranganathan
SR. Na sequência, por filtragem manual, selecionaram-se apenas os do-
cumentos que citam a obra “e Five Laws of Library Science”, resultando
um total de 306 documentos. Destes, observou-se que 170 documentos
não possuíam palavras-chave atribuídas pelo próprio autor, por esta ra-
zão foram processadas as palavras-chave pertencentes a 136 documentos,
com o auxílio do software Vosviewer (versão 1.6.16).
Para o processamento, foi construído um tesauro com o objetivo
de corrigir palavras cuja grafia estava incorreta ou que continham carac-
teres que pudessem prejudicar a contagem. Também foram padronizadas
palavras que apareciam tanto no singular quanto no plural; nestes casos,
optou-se pela forma singular. No software, o tipo de análise selecionada foi
Co-occurrence (coocorrência), a unidade de análise Author keywords (pa-
lavras-chave do autor) e o método de contagem Full counting (contagem
completa sem distribuição de peso).
Como resultados, foram identificadas 536 palavras-chave. Para evi-
denciar as palavras de maior relevância e gerar uma rede legível, optou-se
por estabelecer o mínimo de duas ocorrências. Deste modo, restaram 81
(15,1%) palavras-chave, que formaram a rede apresentada na Figura 1.
Estes dados serão alvo de análise na parte que se segue.
Resultados
Em conformidade com os procedimentos metodológicos efetuados,
apresentam-se os resultados em rede com as 81 palavras-chave (Figura 1).
Considerou-se que as restantes 455 palavras-chave não contribuem para a
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
295
visualização da rede temática que toma a obra analisada em sua fundamen-
tação, dado que ocorreram uma única vez no corpus de 136 documen-
tos analisados. A maior parte destes documentos está categorizada, mais
precisamente 84%, em Information Science & Library Science (Ciência da
Informação e Biblioteconomia), sendo que 73% correspondem exclusi-
vamente a esta categoria. Os documentos restantes distribuem-se por di-
versas categorias, tais como Computer Science (Ciência da Computação),
Information Systems (Sistemas da Informação), Law (Direito), entre outras.
O período em análise estende-se de 2002 a 2023.
A Figura 1 apresenta a rede de coocorrência construída a partir
das palavras que apresentaram no mínimo duas ocorrências, ou seja,
palavras-chave com frequência igual ou maior que 2. Os nós da rede são
proporcionais ao número de ocorrências, o que significa que, quanto mais
vezes a palavra-chave foi utilizada nos documentos, maior será o seu nó e
vice-versa. As ligações e os agrupamentos formados na rede denotam as
coocorrências observadas entre as palavras-chave.
Figura 1 – Rede de Coocorrência de Palavras-Chave
Fonte: Autores.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
296
A rede (Figura 1) apresenta duas estruturas, uma mais conectada e
com 78 palavras; outra com apenas 3 palavras e que pode ser visualizada no
canto superior esquerdo. Observam-se, ainda, as ligações entre as palavras-
chave que os autores utilizaram em conjunto para representar o conteúdo
de seu documento.
Ao observar a frequência de ocorrência das palavras-chave,
destacam-se os termos: academic library (biblioteca acadêmica), presente
em 14 documentos; university library (biblioteca universitária), presente
entre as palavras-chave de 12 documentos; e library (biblioteca), arrolado
em 10 documentos. Na sequência, em ordem decrescente, observam-
se: digital library (biblioteca digital), presente em 8 documentos;
library marketing (marketing de biblioteca), presente em 7; e data
mining (mineração de dados), em 6. Com 5 ocorrências, surgem
as palavras-chave: classification (classificação), information literacy
(literacia da informação), librarian (bibliotecário), library management
(gerenciamento de biblioteca) e ranganathan.
A presença da palavra library (biblioteca) nas 5 palavras-chave de
maior frequência comprova a relação temática dos documentos citantes
da obra “e Five Laws of Library Science” com a área da Biblioteconomia.
Essa constatação é corroborada pelo fato de 84% dos documentos que
listam estas palavras-chave estarem indexados na categoria Information
Science & Library Science da Web of Science.
O termo academic library, além de ser a palavra-chave com a maior
frequência no corpus de pesquisa analisado, é também o que concentra o
maior número de coocorrência com as outras palavras-chave, correspon-
dente a 9,7% das ligações observadas. De suas 18 ligações, duas possuem
força de coocorrência igual a 2; nelas academic library se conecta a library
services (serviços bibliotecários) e reference services (serviços de referência).
university library surge em 7,6% do total de ligações (14 ligações)
e apresenta coocorrência de força 2 com outras três palavras-chave: user
satisfaction (satisfação do usuário), service quality (serviço de qualidade) e
nigeria. A terceira palavra-chave de maior frequência, library, conecta-se
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
297
12 vezes, o que representa 6,5% do total de ligações, e coocorre com força
2 em education (educação) e innovation (inovação).
Seguindo uma ordem decrescente com relação ao número de liga-
ções estabelecidas na rede, obtêm-se information literacy e information re-
trieval (recuperação da informação), ambas com 11 ligações (cerca de 6%
do total). A palavra-chave information literacy coocorre com força 2 com as
palavras pedagogy (pedagogia), reference consultations (referências consulta-
das), remote references (referências remotas) e acrl framework. Em relação ao
termo information retrieval, todas as coocorrências acontecem apenas em
um documento, ou seja, possuem força igual a 1. As ligações estabelecidas
por academic library, university library, library, information literacy e infor-
mation retrieval, somadas, correspondem a 35,8% do total.
Considerando que a força de coocorrência de duas palavras-chave
é função da frequência com que foram listadas juntas nos metadados dos
documentos analisados, a maior força foi observada entre data mining e
library marketing, com um total de 5 coocorrências. Os 5 documentos em
que estas palavras coocorrem estão vinculados à categoria Computer Science
(Ciência da Computação) da WoS. Os 5 ainda possuem o mesmo autor,
Toshiro Minami, sendo que, em 4 deles, surge como único autor (Minami,
2009a, 2009b, 2009c, 2010) e, em 1 deles, como autor principal em coau-
toria com Eunja Kim (Minami; Kim, 2011).
A segunda e terceira maior força de coocorrência é de 3. Novamente,
ressaltam os trabalhos de Minami. A segunda acontece entre as palavras-
chave data mining e intelligent bookshelf (estante inteligente), correspondente
aos trabalhos de Minami (2009a, 2009b, 2010). A terceira ocorre entre
data mining e rfid (radio frequency identification) (identificação de rádio
frequência) e provém de Minami (2005, 2009, 2010). Em seguida, observa-
se a formação de 38 coocorrências distintas de força 2 e 143 coocorrências
de força igual a 1.
Assim, verifica-se que, das 185 coocorrências formadas na rede,
20,5% coocorrem 2 vezes e 77,5% coocorrem apenas 1 vez, dados que
mostram uma representação temática por palavras-chave atribuídas pelos
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
298
autores bastante diversificada. Além disso, existe coocorrência de palavras-
chave, porém a maior parte forma-se apenas em um documento; as poucas
coocorrências de maior força observadas pertencem a documentos de um
mesmo autor.
Sob o aspecto topológico, a rede apresenta grau médio de conectivi-
dade de 4,5, ou seja, em média cada palavra-chave se conecta a outras 4,5
vezes. Cerca de 59,3% das palavras-chave estão abaixo do grau médio de
conectividade. Paralelamente, estes dados revelam a baixa conectividade da
rede, cuja densidade é de 0,057 (5,7% conectada).
Uma outra estrutura observada na rede é a conexão entre três pala-
vras-chave, no topo esquerdo da Figura 1, formada por privacy (privacida-
de), ethics (ética) e usability (usabilidade). A palavra-chave privacy realiza
2 ligações e possui 2 ocorrências; ethics realiza 2 ligações e 3 ocorrências;
e usability realiza 2 ligações e 2 ocorrências. Como é possível visualizar, as
ligações feitas por estas palavras, ou seja, a coocorrência apresentada por
elas, se realiza com uma se conectando à outra, formando uma espécie de
triângulo. A coocorrência entre estas três palavras-chave é proveniente de
um mesmo documento, que trata a usabilidade e a privacidade em biblio-
tecas acadêmicas (Reid, 2019). O fato de estes termos estarem vinculados
a um único documento e coocorrerem entre si explica a formação de sua
estrutura, alheia à estrutura mais conectada.
De modo geral, a rede de coocorrência possui baixa quantidade de
conexões, o que aponta para a diversidade dos temas abordados pelos do-
cumentos que citam a obra “e Five Laws of Information Science”. No
entanto, ao observar a rede e as diferentes palavras-chave que a compõem,
constata-se que a maioria se conecta ao universo da Biblioteconomia, o
que é reforçado pelo fato de 84% dos documentos pertencerem à categoria
Information Science & Library Science.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
299
consideRações finais
A presente pesquisa teve como objetivo principal identificar as te-
máticas (representadas pelas palavras-chave atribuídas pelo autor e pre-
sentes nos metadados do documento) para as quais o livro seminal de
Ranganathan “e Five Laws of Library Science” contribuiu para o avanço
científico, atestado pela presença da obra nas listas de referências dos docu-
mentos analisados da WoS. Para tal, fez-se uso da análise bibliométrica de
citação, relacionando temática (palavra-chave) e citação.
Entre os resultados, observou-se que a coocorrência mais intensa (5)
de termos (palavras-chave) entre os documentos que citam a obra surge en-
tre data mining e library marketing. Salienta-se que as cinco coocorrências
desses dois termos são da autoria de um mesmo pesquisador e estão in-
dexados na categoria de Ciência da Computação, atendendo aos métodos
e técnicas utilizados, muito embora a temática geral possa enquadrar-se na
Biblioteconomia.
As cinco palavras-chave com mais ocorrências foram: academic li-
brary (14), university library (12), library (10), digital library (8), library
marketing (7). Academic library é a palavra-chave com mais ocorrências e
também a que apresenta mais ligações, sendo 18 no total. Percebe-se que
o termo library (biblioteca) é comum em todas elas, o que confirma a re-
lação próxima e seminal entre as pesquisas na área da Biblioteconomia e a
obra de Ranganathan em análise. Nesta lógica, constatou-se que 84% dos
documentos analisados estão indexados na categoria Information Science &
Library Science.
Em suma, a análise bibliométrica atestou que a larga maioria das
conexões temáticas de “e Five Laws of Library Science” remetem para a
Biblioteconomia e a Ciência da Informação, ainda que a rede de coocorrên-
cia tenha baixas conexões. Como tantos outros ao longo do último século,
também o presente trabalho vem reafirmar a relevância de Ranganathan e
de sua obra para o desenvolvimento destas áreas do conhecimento, desta
vez à luz dos estudos bibliométricos.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
300
agRadecimentos
Agradecemos a CAPES pelo financiamento da pesquisa.
RefeRências
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303
C 17
C  
   
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 
Mariana Rodrigues Gomes de Mello 1, Etefania Cristina Pavarina 2,
Aurora Cuevas-Cerveró 3 e Daniel Martínez-Ávila 4
intRodução
No contexto da saúde das mulheres refugiadas, a competência crítica
em informação em saúde desempenha um papel fundamental na promo-
ção de sua saúde e bem-estar. A falta de acesso adequado a informações de
saúde precisas e confiáveis pode afetar negativamente essa população vul-
nerável, aumentando os riscos e desafios enfrentados no âmbito da saúde.
A competência crítica em informação em saúde refere-se à capacida-
de de avaliar, interpretar e utilizar informações de saúde de maneira reflexi-
va e informada. Trata-se de empoderar as mulheres refugiadas com as habi-
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. Professora na
Universidade Federal do Paraná - UFPR. E-mail: mellomariana@ufpr.br. ORCID: https://orcid.org/0000-
0002-5925-8554. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1993215959302497.
Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail:
e.pavarina@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3626-5567. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/0906483851923523.
Doutora em Documentação. Professora Doutora na Universidad Complutense de Madrid. E-mail:
macuevas@ucm.es. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9152981469958239.
Doutor em Documentação. Professor na Universidade Estadual Paulista - UNESP. E-mail: dmarta@unileon.
es. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2236-553X. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1744684558489377.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p303-332
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
304
lidades necessárias para tomar decisões informadas sobre sua saúde e adotar
práticas de autocuidado adequadas. Essa competência vai além do acesso à
informação e envolve a capacidade de analisar criticamente as mensagens
de saúde e discernir entre informações precisas e desinformação.
A conexão entre competência crítica em informação em saúde e as
mulheres refugiadas se baseia na necessidade de capacitar essa população
para superar barreiras no acesso à informação e aos serviços de saúde.
As mulheres refugiadas enfrentam desafios específicos, como o idioma,
a cultura, as barreiras socioeconômicas e a falta de familiaridade com o
sistema de saúde do país de acolhimento. Portanto, desenvolver compe-
tência crítica em informação em saúde é essencial para capacitar essas
mulheres a tomar decisões informadas, promover sua saúde e buscar os
cuidados adequados.
A abordagem da saúde da mulher compreende um conjunto de
políticas públicas voltadas para a promoção da saúde integral e humani-
zada em todas as fases da vida, com especial ênfase na consolidação dos
avanços nos direitos sexuais e reprodutivos. Isso engloba melhorias na
atenção obstétrica, no planejamento reprodutivo, na prevenção e atenção
ao aborto inseguro, bem como no enfrentamento dos casos de violência
doméstica e sexual.
Nesse sentido, torna-se importante ressaltar a necessidade de uma
atenção específica às mulheres refugiadas, pois são um grupo altamente
vulnerável, sujeito a diversas formas de violência, incluindo o acesso limi-
tado às instituições públicas do país de acolhimento, como aquelas rela-
cionadas à saúde. Essa restrição no acesso pode ser entendida como uma
forma de violência em si.
Conforme evidências de pesquisas, observa-se um aumento das do-
enças sexualmente transmissíveis entre o grupo de refugiados, devido à
sua maior vulnerabilidade à violência sexual e à limitada disponibilida-
de de serviços de saúde específicos para mulheres no país de acolhimento
(ANAIDS, 2018).
Nesse contexto, emerge o seguinte problema de pesquisa: Qual a
importância da competência crítica em saúde na promoção do bem-estar
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
305
e saúde das mulheres refugiadas? Para abordar essa questão, este estudo
tem como objetivo geral investigar a relação entre a situação das mulheres
refugiadas e a competência crítica em informação em saúde, por meio de
uma abordagem reflexiva fundamentada na semiótica.
A justificativa para o desenvolvimento deste estudo, portanto, se fun-
damenta na necessidade de compreender e abordar os desafios enfrentados
pelas mulheres refugiadas no que diz respeito à sua saúde e bem-estar, de
modo crítico e reflexivo, como propõe a competência crítica em informa-
ção. Portanto, por meio da investigação da relação entre a situação dessas
mulheres e a competência crítica em informação em saúde, utilizando uma
abordagem na semiótica, espera-se contribuir para o desenvolvimento de
estratégias mais eficazes de promoção da saúde nesse grupo populacional.
a categoRia Refugiado
Após a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de promover a
dignidade humana dos indivíduos que precisam deixar seus países devido
a situações de opressão e buscar refúgio em outros lugares, a Assembleia
Geral das Nações Unidas estabeleceu a Resolução 428 em 14 de dezembro
de 1950, criando o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
(ACNUR). Essa iniciativa visava auxiliar refugiados europeus no pós-guer-
ra a regularizar sua situação nos países de acolhimento. A Convenção das
Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados foi instituída em 28 de
julho de 1951 e posteriormente ampliada em 1967 para abranger refugia-
dos de outras regiões, uma vez que inicialmente seu foco era exclusivamen-
te a população europeia.
Existem diversas condições que motivam um indivíduo a deixar seu
país. No entanto, diferentemente da imigração, que geralmente é impul-
sionada pela busca por melhores condições e oportunidades pessoais ou
profissionais, o refúgio é caracterizado por uma situação de opressão grave
no país de origem, que exige uma saída urgente daqueles que a vivenciam
(Mello; Martínez-Ávila, 2021). De acordo com o segundo parágrafo do ar-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
306
tigo primeiro da Convenção de 1951, relativa ao Estatuto dos Refugiados,
um refugiado é definido como qualquer pessoa que:
Em consequência dos acontecimentos ocorridos antes de 1 de
janeiro de 1951, e temendo ser perseguida por motivos de raça,
religião, nacionalidade, pertencimento a grupo social ou opiniões
políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não
pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção
desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do
país no qual tinha a sua residência habitual em consequência de tais
acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer
voltar a ele (ONU, 2011).
Embora o conceito de refugiado tenha sido formalmente estabeleci-
do apenas em 1951, o fenômeno do refúgio é ancestral, embora não tenha
sido reconhecido como uma categoria política. Na América Latina, em
1984, ocorreu o Colóquio sobre Proteção Internacional dos Refugiados
em Cartagena, Colômbia, resultando na Declaração de Cartagena (Mello;
Martínez -Ávila, 2021).
O Brasil tornou-se signatário da Declaração de Cartagena em 1984,
juntamente com outros 14 países da América Latina e do Caribe. No en-
tanto, somente em 1997, foi promulgada a legislação específica brasilei-
ra sobre refúgio, por meio da Lei 9.474/97, que estabeleceu o Comitê
Nacional para os Refugiados (CONARE). Em 1999, o Brasil tornou-se
membro do Programa de Reassentamento, que atualmente envolve a par-
ticipação de 16 (dezesseis) países, cada um com sua cota anual de reassen-
tamento e critérios de seleção próprios.
No entanto, é importante ressaltar que a definição e a categorização
dos refugiados são necessárias para garantir sua sobrevivência digna e a rea-
lização dos direitos humanos. No entanto, essa tarefa não é simples, assim
como a categorização de qualquer grupo humano, devido às individualida-
des e aos sentimentos envolvidos nas comunidades humanas. Conforme a
interpretação de Machado (2020, p.11) da obra de Malkki (1995):
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
307
A definição do refúgio como objeto antropológico em si já nasce
com uma dúvida pertinente e critica, segundo Malkki: “refugiado
é uma categoria que, caso tomada como um dado, de forma acrítica,
mais dificulta que ajuda a pensar os processos de deslocamento
ligados a essa constelação sob esta categoria ampla se esconde uma
variedade de situações enorme, tanto histórica quanto geográfica
e culturalmente. Dado que as definições políticas de refúgio são
variáveis, incluindo fenômenos diferentes e perspectivas mais
ou menos amplas, o “objeto” refúgio não existe em si como um
fenômeno sociocultural, mas antes como uma realidade político-
normativa que produz um contingente de pessoas “aceitáveis” ou
nado em determinadas circunstâncias e para determinados países.
A definição de refúgio e refugiados não é resultado de um proces-
so neutro e igualitário, mas sim influenciada por políticas internacionais,
legislações estatais, nacionalismos, racismo, xenofobia, religião e fatores
culturais. A categoria de refugiados não pode ser considerada de forma
generalizada e acrítica. Machado (2020) adverte que é necessário ter cau-
tela, pois até mesmo a Antropologia está imersa na armadilha categorial,
na qual um objeto é definido ao mesmo tempo em que desaparece da
análise, com a proeminência atribuída aos agentes estatais e estruturas de
assistência. Conforme Mello e Martínez-Ávila (2021), essas são hierarquias
de alteridade construída socialmente ao longo da história, ou seja, variáveis
de diferenciação que acolhem ou rejeitam seres humanos com base em
classificações de classe, gênero, raça, sexualidade, entre outros.
Nessa perspectiva, a definição dos refugiados como uma categoria
não é suficiente para uma compreensão efetiva. O papel da Antropologia
é afastar-se desses conjuntos de definições, controle e gerenciamento, bus-
cando compreender algo sobre os refugiados a partir de seus relatos e expe-
riências (Machado, 2019).
Muitos países concedem oportunidades desiguais às pessoas que
solicitam refúgio, com base em critérios étnicos, culturais, econômicos,
de gênero, religiosos, entre outros. Na pesquisa realizada por Machado
(2019), as mulheres negras refugiadas da África estão no topo da discrimi-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
308
nação, enquanto homens considerados brancos têm mais oportunidades
de acolhimento.
Atualmente, no Brasil, o maior número de solicitações de refúgio
provém da Venezuela. Essas pessoas enfrentam sérios conflitos e estão
ameaçadas em sua integridade, com violações graves de direitos humanos.
De acordo com dados do CONARE (2019), o Brasil tem simplificado o
processo de determinação da condição de refugiado para os venezuelanos
desde 2019, a fim de agilizar a análise dos pedidos. Em meados de 2019,
havia cerca de 100 (cem) mil pedidos ativos feitos por pessoas provenientes
da Venezuela, aguardando uma decisão do CONARE.
Assim, o número de refugiados venezuelanos superou 4 milhões até
meados de 2019, conforme dados de autoridades nacionais de imigração
e outras fontes (Conare, 2019), devido a diversas ameaças, incluindo as
provenientes de grupos armados, tanto estatais quanto não estatais.
Nesse sentido, a definição de refúgio, as políticas de acolhimento e
a situação dos refugiados, especialmente das mulheres refugiadas, possui
uma forte conexão com a Agenda 2030 e a saúde das mulheres em situação
de vulnerabilidade, conforme será discorrido na seção seguinte.
a mulheR Refugiada e saúde
De acordo com Cunha e Garrafa (2016), o termo “vulnerabilida-
de” tem origem no latim, derivado do termo “vulnus”, que significa fe-
rida. Nesse sentido, o adjetivo “vulnerável” é utilizado para atribuir uma
qualidade ao indivíduo suscetível a qualquer forma de agressão, seja ela
física, emocional ou resultante de condições que reduzem sua liberdade e
autonomia. Portanto, certas categorias de indivíduos requerem cuidados
especiais, por meio de políticas públicas capazes de defender seus direitos
fundamentais e preservar sua integridade física e psicológica.
Na acepção de Silva (2019), o direito à vida é o principal direito
humano, pois dele emanam todos os outros direitos. Dessa forma, sem
saúde, não há vida digna. O acesso à saúde é garantido a todas as pessoas
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
309
como um direito fundamental, sendo suficiente nascer humano para ter
direito a esse acesso.
Ventura (2019) afirma que, sendo um direito fundamental, o acesso
à saúde não pode estar subordinado a qualquer forma de discriminação,
inclusive em relação à nacionalidade das pessoas refugiadas. Portanto, é
necessário que o país de acolhimento adote políticas públicas específicas
para atender às necessidades dos refugiados, uma vez que […] o respeito
às diferenças culturais tem como limite o respeito aos direitos humanos
(Ventura, 2019, p. 77).
Entre as categorias vulneráveis às violações dos direitos fundamen-
tais encontram-se os refugiados, e especialmente as mulheres e meninas
refugiadas. Conforme argumentado por Jubilut (2007), é fundamental
analisar seriamente a situação das mulheres refugiadas, pois elas são extre-
mamente vulneráveis a diversos tipos de abusos, como abuso físico, psi-
cológico, econômico e sexual. Sem políticas públicas e leis específicas que
protejam as mulheres e meninas refugiadas, torna-se ainda mais desafiador
garantir a sua proteção. Muitas delas se deslocam sozinhas para o país de
acolhimento, e é ainda mais preocupante e não incomum a situação de
meninas que se separam de seus pais durante conflitos e perseguições.
A violência sexual é uma questão grave não apenas do ponto de vista
da justiça, mas também da saúde pública. Ela tem impactos físicos e psi-
cológicos significativos tanto para as mulheres que a sofrem efetivamente
quanto para aquelas que se sentem ameaçadas, sendo ainda mais preocu-
pante quando se trata de meninas. No entanto, lidar com esse problema
torna-se ainda mais desafiador quando as mulheres e meninas estão viven-
do em um país desconhecido, com barreiras linguísticas e falta de infor-
mações básicas sobre o acesso a serviços de saúde pública gratuitos, caso
existam, no país de refúgio.
De acordo com Charmeski (2020, p. 61), “no espaço dos campos
e assentamentos sucedem violências domésticas, violência psicológica e
violência de gênero, a maioria delas culminam em violência sexual”. A
autora ressalta a ampla variedade de violências de gênero observadas nos
campos ou assentamentos de refugiados, que vão desde violências físi-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
310
cas, sequestros, prisões forçadas, relações sexuais violentas até casamentos
precoces ou forçados.
Portanto, de acordo com Ventura (2019), é imprescindível realizar
o mapeamento dos determinantes sociais de saúde dos refugiados, a fim
de revelar as condições de saúde nos assentamentos e, assim, estabelecer
políticas públicas eficazes para esse grupo vulnerável, especialmente para
as mulheres e meninas refugiadas. Pesquisas conduzidas pela ANAIDS
(2018) constataram que refugiados, tanto homens quanto mulheres, po-
dem ser particularmente mais vulneráveis a infecções sexualmente trans-
missíveis (IST), incluindo o HIV, devido à complexidade de praticar sexo
seguro em circunstâncias adversas.
No que diz respeito especificamente às refugiadas, as principais
queixas que afetam a saúde dessas mulheres e meninas são as doenças se-
xualmente transmissíveis (DST), identificadas principalmente em países
africanos, embora alguns pesquisadores afirmem que seja um problema
recorrente em campos de refugiados ao redor do mundo (Rosenberg;
Bakomeza, 2017). Entre essas doenças, estatísticas revelam que a infecção
pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) é a que mais afeta as mu-
lheres e meninas refugiadas devido à violência sexual nos próprios assen-
tamentos de refugiados, entre seus pares ou até mesmo no país de refúgio
como um todo.
Conforme Charneski (2020, p. 57):
Mulheres que são identificadas como soro positivas, são
perseguidas e isoladas do seu grupo social em virtude do estigma
e discriminação que as pessoas soro positivas sofrem, relacionado
a práticas sexuais com parceiros múltiplos, sem que levem em
conta os assédios sofridos pelas mulheres que para manterem
sua sobrevivência nos campos, são sujeitadas a violências, o que
denota a violação de seus direitos.
Não são incomuns casos de estupro e prostituição não consensual,
ou seja, forçada, entre meninas e mulheres refugiadas por agenciadores.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
311
Além disso, a prostituição motivada pela extrema pobreza é uma situação
comum entre as refugiadas. Rosenberg e Bakomeza (2017), em uma pes-
quisa realizada em 2017, constataram que refugiadas de todo o mundo
se envolvem na prostituição devido a vários fatores, incluindo a falta de
acesso a informações de saúde necessárias e a meios para evitar gravidezes
indesejadas e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Isso ocorre de-
vido à completa ausência de serviços de saúde específicos para mulheres e
à falta de competência crítica em informação, conforme será abordado em
outra seção.
Cada país possui soberania para lidar com as questões de saúde
dos refugiados que acolhe. Embora existam diretrizes e acordos interna-
cionais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, cada país
possui seu próprio sistema de saúde e normas que o regem. Assim, para
garantir o mínimo de dignidade aos refugiados de ambos os sexos, algu-
mas organizações internacionais se unem, incluindo o “Alto Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados, o Fundo de População das Nações
Unidas, bem como organizações não governamentais, como Médicos
Sem Fronteiras, Médicos do Mundo e o Comitê Internacional da Cruz
Vermelha” (Charneski, 2020, p. 61).
No Brasil, é direito de todos os residentes (cidadãos ou não) obter
informações sobre prevenção e tratamento de doenças, incluindo a retira-
da gratuita de preservativos em qualquer unidade básica de saúde, além
de outros locais, dependendo das políticas de cada cidade. Além disso, o
acesso e tratamento de qualquer doença são garantidos pelo Sistema Único
de Saúde (SUS), inclusive para estrangeiros residentes no Brasil. O tra-
tamento do HIV/AIDS é uma dessas doenças, com distribuição gratuita
de medicação. Essas políticas fizeram do Brasil uma referência no trata-
mento dessa doença. Mesmo para turistas que viajam sem seguro saúde, é
permitido utilizar o SUS, conforme defendido por alguns juristas (Mello;
Martínez-Ávila, 2022). Nessa perspectiva:
O sistema de saúde pública adotado pelo Brasil é universal,
estendido a todos os seus municípios e cidadãos. Deste modo,
é impossível evitar que estrangeiros não residentes procurem
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
312
atendimento junto ao SUS, ainda que essas pessoas não estejam
computadas nos levantamentos de base de cálculo para a oferta de
recursos a cada localidade (Branco; Torronteguy, 2013, p. 940).
Considerando os desafios enfrentados pelas mulheres e meninas re-
fugiadas em relação à saúde, especialmente no que diz respeito à violência
sexual, prostituição forçada e o risco de infecções sexualmente transmissí-
veis, é evidente a necessidade de abordagens que promovam a informação
em saúde e a competência crítica em informação, conforme será evidencia-
do na próxima seção.
uma RefleXão semiótica sobRe a competência cRítica em
infoRmação
Na concepção de Targino (2009), a informação em saúde é um re-
curso fundamental para garantir o bem-estar das comunidades, sendo um
indicador relevante para avaliar a qualidade de vida e o progresso das na-
ções. Portanto, informações sobre o perfil dos pacientes, as doenças pre-
valentes em cada região, seus fatores de risco e formas de prevenção são
essenciais para embasar ações, serviços de saúde e políticas públicas. Como
afirma Valentim (2008, p. 13), “um país sem informação é um país sem co-
nhecimento, e um país sem conhecimento é um país sem desenvolvimento
econômico e social”.
Bogado e Casarin (2020) destacam que a informação em saúde pode
ser categorizada em três tipos: informação clínica, que aborda as demandas
dos profissionais de saúde em relação aos seus pacientes; informação aca-
dêmica, que resulta de pesquisas na área da saúde e é utilizada no ensino e
desenvolvimento científico; e informações para a gestão da saúde, que são
utilizadas pelos gestores na implementação de políticas públicas.
A discussão sobre informação em saúde envolve a inter-relação de
diferentes domínios e disciplinas, como Ciência da Informação, Ciências
da Saúde, Educação, Semiótica, entre outros campos do conhecimento.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
313
Além disso, a informação em saúde e a competência crítica em informação
em saúde estão intrinsecamente ligadas (Mello; Martínez-Ávila, 2022). No
contexto da promoção da saúde, a Ciência da Informação desempenha um
papel importante, contribuindo para:
[…] contribui para a efetividade do processo de comunicação
entre os profissionais da área da saúde e os cidadãos que são
usuários e consumidores das práticas desses profissionais, seja
de modo direto, se referindo aos pacientes ou, indiretamente,
àqueles que não são pacientes, mas, que podem vir a ser, caso não
sigam as premissas básicas de autocuidado e prevenção em saúde
(Silva et al., 2021, p. 4).
Nesse sentido, a competência em informação em saúde, ou letra-
mento informacional em saúde, segundo Mello e Martínez-Ávila (2022),
pode ser compreendida como um conjunto de habilidades que ampliam
a capacidade dos indivíduos de adquirir informações básicas sobre saúde,
possibilitando uma vida mais saudável. Essas habilidades englobam não
apenas a leitura e interpretação de informações em saúde, mas também a
capacidade de realizar uma análise crítica, comunicar-se de forma eficaz,
interagir com diferentes fontes de informação e exercer um julgamento
informado. Nesse sentido, a competência crítica em informação em saúde,
pode ser abordada em consonância com uma abordagem semiótica, para
buscar compreender como os signos e símbolos presentes nas informações
em saúde influenciam a interpretação e compreensão das pessoas, possi-
bilitando uma reflexão mais profunda sobre os significados e contextos
envolvidos.
A semiótica é amplamente definida como uma teoria da significação
que abrange diversos tipos de linguagens, sejam elas verbais ou não verbais,
humanas ou não humanas. Embora seus principais modelos de análise te-
nham origem na linguística, a semiótica é uma disciplina interdisciplinar
que também dialoga com a sociologia, filosofia e ciência da informação.
Sua natureza interdisciplinar torna-a reflexível e versátil, pois pode atuar
como teoria, abordagem e método de análise, estabelecendo conexões en-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
314
tre diferentes campos científicos. Além disso, a semiótica também pode ser
aplicada de forma social, fornecendo um conjunto de regras práticas para a
compreensão e interpretação dos sistemas de signos em diversos contextos,
como no caso da competência crítica em saúde.
Nessa perspectiva é que Cerigatto e Casarin (2015) discutem que,
especialmente nos contextos digitais, que envolvem a convergência de tec-
nologias e linguagens híbridas, torna-se essencial educar os usuários para
que eles possam se apropriar da linguagem e desenvolver as habilidades
necessárias para dominar os diversos modos de leitura, consumo e produ-
ção de informações. Nesse sentido, as autoras apresentam uma perspectiva
embasada nas matrizes da linguagem e do pensamento, fundamentada em
Santaella, respaldada por uma abordagem semiótica que incorpora a visão
da semiótica peirceana, da semiótica social e da multimodalidade. Essa
abordagem destaca os desafios de interpretação e significação que surgem
nos ambientes informacionais digitais. Conforme argumentam as autoras:
[…] convivemos hoje com novas possibilidades de combinações
entre as linguagens. Como toda linguagem está ligada à percepção,
os meios híbridos, ao promoverem o encontro dessas linguagens,
estimulam uma mudança em nossa percepção – e diferentes
estruturas perceptivas desencadeiam diferentes mecanismos de
compreensão e adquirem diferentes significados.
Portanto, estudar essas linguagens, as novas formas de produzi-las, e
ainda mais, as novas habilidades que este novo contexto virtual exige são
tarefas da mídia e information literacy (Cerigatto; Casarin, 2015, p. 50).
Ao considerar que o letramento informacional envolve o trabalho
direto com a informação, incluindo a seleção, busca, análise, leitura, ano-
tações, organização, transformação, armazenamento e transmissão, torna-
-se evidente que a competência em informação reflete a capacidade dos
usuários de lidar com processos complexos de informações. Isso inclui o
uso de ferramentas multimídia e hipermídia, domínio de tecnologias ele-
trônicas e da Internet, habilidade de antecipar dificuldades e solucionar
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
315
problemas, transferência de conhecimentos e habilidades para situações
desconhecidas, autonomia na resolução de tarefas, auxílio a outros profis-
sionais e usuários em atividades colaborativas e capacidade de refletir sobre
suas próprias ações.
Nesse contexto, o letramento informacional pode se beneficiar das
perspectivas teórico-metodológicas desenvolvidas a partir do conceito de
letramento multimodal, que tem origem na semiótica social. Essa abor-
dagem reconhece a diversidade e a variabilidade dos textos e linguagens
presentes em documentos multimídia, hipertextuais e digitais, e enfatiza
a necessidade de interpretar a produção de sentido nesses contextos. Em
um mundo caracterizado pela policodificação e polissemiótica, é essencial
promover uma educação que prepare os usuários para um novo tipo de
discurso comunicativo.
Como um processo de auto-organização, o letramento informacio-
nal contemporâneo requer abertura e flexibilidade em relação às infor-
mações. Os usuários do Século XXI devem ser capazes de transitar entre
diferentes sistemas de signos, assim como entre diferentes registros, a fim
de se apropriarem das informações em saúde. Ao fazer isso, eles devem ser
capazes de reconhecer, avaliar, interpretar e, quando necessário, descartar
informações que não sejam relevantes ou que sejam falsas. Essa capacidade
está intrinsecamente ligada à habilidade de construir uma compreensão
abrangente da comunicação em saúde em diferentes escalas, incluindo a
global, com base em suas necessidades informacionais e em um conheci-
mento das linguagens e processos semióticos.
Além disso, para garantir a compreensão e evitar equívocos nas in-
formações em saúde, é fundamental apresentá-las em um formato que seja
facilmente compreensível para pessoas leigas. Uma estratégia para alcançar
esse objetivo é o uso de recursos visuais simples que transmitam de forma
clara os enunciados relacionados à saúde (Lazard et al., 2017). A adição de
elementos visuais, como ícones, pode melhorar a eficácia da comunicação
em saúde, especialmente para indivíduos com baixo nível de alfabetização
(Houts et al., 2006). Essas abordagens visuais ajudam a transmitir infor-
mações de maneira mais acessível e intuitiva, permitindo que um públi-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
316
co mais amplo compreenda e assimile os conteúdos de saúde de forma
adequada.
Com base na compreensão de que o letramento informacional em
saúde engloba a compreensão de informações essenciais para a tomada de
decisões no âmbito da saúde (Campos et al., 2020), torna-se evidente a
necessidade de os usuários desenvolverem suas habilidades e competências
informacionais além desse aspecto. Essas competências ampliadas não ape-
nas contribuem para a tomada de decisões informadas, mas também têm
o potencial de impulsionar transformações em níveis individual, cultural,
social, econômico e político. Esse desenvolvimento é crucial para garantir
a adesão às prescrições dos profissionais de saúde, o sucesso do tratamento,
os cuidados adequados e a adoção de um estilo de vida saudável.
A competência em informação, conforme defendido por Beluzzo
e Feres (2015), refere-se à capacidade de um indivíduo acessar, avaliar e
utilizar informações de forma adequada, visando à construção do conheci-
mento. Essa competência é um processo contínuo ao longo da vida e deve
ser promovida de maneira democrática, tanto em instituições de ensino
tradicionais quanto em ambientes inclusivos que considerem questões de
gênero e raça, buscando combater todas as formas de opressão. Nesse con-
texto, as unidades básicas de saúde, consultórios médicos e outros ambien-
tes de saúde desempenham um papel significativo na promoção da infor-
mação em saúde, especialmente para grupos vulneráveis, como mulheres
e meninas refugiadas. Esses locais podem fornecer informações cruciais,
contribuindo para a conscientização, a prevenção de doenças e a busca
de cuidados adequados, visando ao bem-estar e à saúde dessas populações
vulneráveis.
Para tanto, Downey (2016) sustenta a importância de examinar as
estruturas culturais, sociais e econômicas subjacentes à produção e disse-
minação de informações por meio da competência crítica em informação.
Esse processo está intrinsecamente ligado a uma abordagem de ensino me-
nos simplificada, menos mecanicista e mais humanizada, que seja sensível
às influências que moldam a informação.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
317
Nessa perspectiva, compreende-se que a competência crítica em in-
formação, aliada às políticas públicas, seja a via mais eficaz, em médio e
longo prazo, para abordar a questão da saúde da mulher refugiada. De
acordo com Brisola e Doyle (2019), a competência crítica em informação
capacita as pessoas a analisarem criticamente as informações, distinguir
entre informações relevantes e irrelevantes, buscar fontes mais confiáveis e
utilizá-las de maneira criativa e contextualizada para produzir novas infor-
mações. As autoras destacam a complexidade envolvida no enfrentamento
dessas questões.
Para isso, é necessário superar o pensamento ingênuo, que Paulo
Freire denomina como consciência, ou seja, a construção autônoma de
sujeitos conscientes de sua posição e papel na sociedade (Brisola; Doyle,
2019). Isso é fundamental no processo de formação de indivíduos autôno-
mos, críticos e responsáveis, capazes de se defender da sobrecarga informa-
cional e contribuir para a construção de uma sociedade mais ética no uso
consciente da informação.
Considera-se, portanto, que a competência crítica em informação
representa uma expansão do conceito e da proposta ética e social da com-
petência em informação, em consonância com abordagens como a peda-
gogia crítica freireana e a teoria crítica. A teoria crítica, desenvolvida pe-
los membros do Instituto de Investigação Social em Frankfurt, conhecido
como Escola de Frankfurt, contrapõe-se à teoria clássica, de origem carte-
siana, que se caracteriza por uma visão reducionista, fragmentada e acrítica
do fenômeno (Adorno; Horkheimer, 1985).
Por outro lado, a teoria crítica assume uma postura oposta, ao consi-
derar a razão como autonomia e buscar a construção coletiva do conheci-
mento como forma de superar a instrumentalidade e a fragmentação cien-
tífica. Isso implica uma abordagem crítica por parte do pesquisador e do
leitor da pesquisa (Mello et al., 2021). Como enfatiza Adorno (1995, p.
21): “Os homens inclinam-se a considerar a técnica como sendo algo em
si mesma, uma força própria, esquecendo que ela é a extensão do braço do
homem”.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
318
Enquanto grandes expoentes da Escola de Frankfurt, como Adorno
e Horkheimer, se opuseram ao cartesianismo, Paulo Freire foi um forte
crítico do positivismo e de correntes relacionadas a ele. Freire afirmava
que o positivismo tendia a transformar as operações do conhecimento em
uma técnica imediatista. Para ele, a Educação, especialmente a partir da
década de 1960, foi influenciada por uma abordagem tecnicista e formal,
que negligenciava as individualidades dos alunos. Freire propunha que a
Educação se distanciasse dos modelos positivistas, frequentemente chama-
dos de orientações enviesadas, como o pragmatismo, o funcionalismo, o
sistemismo e o estruturalismo, em favor da pesquisa participante ou pes-
quisa-ação (Gadotti; Freire; Guimarães, 1995).
Nessa perspectiva, a competência em informação, guiada pela cons-
ciência crítica, é compreendida não apenas como um conjunto de habi-
lidades relacionadas ao acesso e disseminação de informações, em uma
abordagem tecnicista, mas também como uma habilidade essencial para
a construção da cidadania e a manutenção de uma sociedade democrática
e libertária, que promova escolhas mais conscientes e sábias em diversos
aspectos, incluindo a área da saúde.
De acordo com Doyle (2018), não há uma definição única que possa
conceituar plenamente a competência crítica em informação. No entanto,
existem três dimensões que a englobam: a dimensão crítica, a dimensão
reflexiva e a dimensão de ação. Conforme afirma Doyle (2018, p. 27):
[…] Pode-se dizer que competência critica em informação é
uma linha de estudos que: a) critica visões, pesquisas ou projetos
ideologizantes de competência em informação; b) integra elementos
da teoria crítica da sociedade e da pedagogia crítica (de Paulo Freire)
em suas reflexões e práticas, e; c) se propõe a combater os efeitos
nefastos do capital sobre a circulação de informação na sociedade.
Contudo, de acordo com Lawal (2019), é evidente que a competên-
cia crítica possui um caráter político-social, representando um compromis-
so com a justiça social. Por meio dessa competência, as pessoas podem ser
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
319
capacitadas a questionar valores e crenças na sociedade, adquirindo uma
consciência crítica em relação a questões de democracia, governança e,
consequentemente, contribuindo para o estabelecimento de políticas pú-
blicas que atendam e fortaleçam grupos vulneráveis.
Nesse sentido, conforme argumentado por Torrel (2020), conside-
rando a gravidade das crises globais em andamento, tais como as mudanças
climáticas, o racismo sistêmico e a pandemia, torna-se cada vez mais neces-
sário formar indivíduos que possuam competência crítica em informação.
Esses indivíduos serão capazes de avaliar recursos e informações para com-
preender os eventos atuais e buscar soluções coletivas para os problemas
enfrentados.
pRocedimentos metodológicos
Metodologicamente, este estudo se configura como uma pesqui-
sa interdisciplinar de natureza bibliográfica, que abrange a literatura da
Ciência da Informação (CI), bem como de outras áreas, como o Direito e
a Saúde. Para a coleta de dados na área de CI, foram consultadas especial-
mente a Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência
da Informação (BRAPCI) e a Library and Information Science Abstracts
(LISA). Em relação a outras áreas, foram utilizados livros e artigos dis-
poníveis no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES).
No que diz respeito ao método empregado, foram utilizados as-
pectos da Análise de Conteúdo para consolidar os achados da pesquisa.
Segundo Silva, Gobbi e Simão (2005), ao interpretarem a obra de Bardin,
a Análise de Conteúdo não se configura como um método rígido em sua
aplicação, sendo perfeitamente adaptável aos objetivos específicos da pes-
quisa. Assim, o pesquisador pode fazer uso dessa flexibilidade para adaptar
aspectos do método ao contexto de seu trabalho.
A Análise de Conteúdo é composta por três fases distintas: pré-aná-
lise, exploração do material e tratamento dos resultados, envolvendo infe-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
320
rências e interpretações (Bardin, 2009). Segundo Silva e Valentim (2019),
a pré-análise tem como objetivo a sistematização das ideias iniciais, ser-
vindo como fundamento para o desenvolvimento das fases subsequentes.
Nessa etapa, são realizadas escolhas dos documentos a serem analisados,
formulação de hipóteses e objetivos, bem como elaboração de indicadores
que fundamentem a interpretação final da pesquisa.
A fase de exploração inclui a codificação dos materiais que compõem
o corpus de análise, no presente estudo, elaborada de acordo com critérios
preestabelecidos. “O tratamento dos resultados condensa e evidencia as
informações fornecidas pela análise, e pode resultar em quadros, diagra-
mas, figuras e modelos “ (Silva; Valentim, 2019, p. 21). Dessa forma, o
pesquisador realiza inferências e interpretações com base nos objetivos es-
tabelecidos previamente.
Nesse sentido, adaptou-se a Análise de Conteúdo para a sistemati-
zação e análise das informações coletadas por meio de observações não sis-
temáticas. Para tanto, as respostas obtidas durante uma conversa informal
realizada em julho de 2022 foram categorizadas após o desenvolvimento
do referencial teórico1. A conversa ocorreu com três mulheres refugiadas
da Venezuela, com idades entre 20 e 36 anos, que residem em uma cidade
de médio porte no interior do Estado de São Paulo, Brasil. Essas mulheres
chegaram ao Brasil em 2021, não vivem em campos de refugiados e tra-
balham em um supermercado de médio porte, sendo duas caixas e uma
atendente no setor de panificação e confeitaria.
A conversa teve como objetivo esclarecer questões e ratificar tendên-
cias, proporcionando um espaço para reflexão, considerando a natureza
teórica e exploratória da pesquisa. Assim, não se buscou uma conclusão
definitiva devido à baixa representatividade da amostra, mas sim ilustrar os
resultados obtidos. Para tanto, as respostas foram categorizadas por meio
da aplicação do método de Análise de Conteúdo proposto por Bardin
(2009), adaptado à sistematização e análise das informações coletadas. As
perguntas que nortearam a conversa foram as seguintes:
a) Como mulher estrangeira no Brasil, você se sente amparada e
segura em diversos aspectos?
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
321
b) Você tem acesso à saúde pública no Brasil e/ou possui as informa-
ções necessárias sobre ela?
c) No Brasil, como você obtém informações sobre sua saúde, in-
cluindo a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e o
sistema reprodutivo?
Com base nos dados coletados por meio da conversa informal reali-
zada com as mulheres refugiadas, os quais foram categorizados utilizando
o método da Análise de Conteúdo, passa-se agora à seção de análise de
resultados. A análise dos dados obtidos permitiu identificar os principais
temas e tendências relacionados às experiências das mulheres refugiadas no
Brasil em relação ao seu sentimento de amparo e segurança, acesso à saúde
pública e obtenção de informações sobre saúde. Além disso, foi possível
compreender como essas questões se entrelaçam e impactam o bem-estar e
a autonomia dessas mulheres.
Resultados
Por meio da aplicação da Análise de Conteúdo, conforme descrito
na metodologia, os dados coletados por meio da conversa informal com
três refugiadas venezuelanas (identificadas como E1, E2 e E3) foram ana-
lisados com base em categorias definidas a posteriori (identificadas como
categoria 1, categoria 2 e categoria 3), seguindo a abordagem proposta por
Bardin (2009). A análise dos resultados permitiu a síntese e organização
das informações em três quadros principais (Quadros 1, 2 e 3), que apre-
sentam os principais aspectos emergentes relacionados às experiências das
mulheres refugiadas no Brasil.
No Quadro 1, destacam-se as respostas adaptadas, ou seja, segundo
o discurso indireto das participantes em relação ao seu sentimento de am-
paro e segurança enquanto mulheres estrangeiras no Brasil. Essa categoria
busca compreender as percepções das refugiadas sobre o acolhimento re-
cebido, a sensação de proteção e suporte em diversas esferas de suas vidas.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
322
Quadro 1 – Igualdade de gênero e segurança
Categoria 1
Definição:
Em nações como o Brasil, onde características paternalistas estão presentes,
a implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
número 5 da Agenda 2030 se torna um desafio mais complexo. É crucial que
a sociedade brasileira intensifique sua mobilização para combater todas as
formas de discriminação e opressão contra mulheres e meninas, assegurando
igualdade de direitos, saúde e segurança. Além disso, é fundamental redobrar
os esforços para proteger e apoiar grupos mais vulneráveis, como as mulheres
refugiadas.
Verbalizações das refugiadas adaptadas pelo discurso indireto
E1: O medo da violência e do estupro no país do refúgio foram as questões
mais evidenciadas pela entrevistada. No entanto, a oferta de emprego e o
acolhimento pelos colegas de trabalho amenizou o medo.
E2: O medo do desconhecido foi a situação que mais trouxe insegurança à
entrevistada. Porém, evidenciou que o fato de ter vindo com o marido
minimizou os desafios da situação do refúgio.
E3:
Novamente, a entrevistada menciona os desafios do enfrentamento do
desconhecido e a possibilidade de não conseguir um trabalho digno. Porém,
afirmou que já se sentia desamparada no país de origem, motivo da sua vinda
ao Brail.
Fonte: Autores.
A partir das respostas das venezuelanas descritas no quadro um aci-
ma, pode-se realizar uma análise da categoria de segurança em sentido lato,
que abrange tanto a segurança pública quanto a percepção psicológica das
refugiadas. Observa-se que as mulheres não se sentem completamente se-
guras nem em seu país de origem, devido à violência generalizada, nem no
país de refúgio. Essa falta de segurança se estende a diversas áreas, incluin-
do o medo de assaltos, estupros e a possibilidade de não serem acolhidas
com um trabalho digno. Nesse sentido, a percepção de segurança pode
ser influenciada por fatores desde a disponibilidade de oportunidades de
trabalho e ao acolhimento da comunidade local.
A competência crítica em informação pode ser um recurso valioso
para auxiliar as mulheres refugiadas, fornecendo-lhes conhecimentos e
habilidades que as ajudam a enfrentar os desafios relacionados à seguran-
ça. Através dessa competência, as mulheres refugiadas podem adquirir
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
323
acesso a informações precisas e confiáveis sobre seus direitos, serviços
disponíveis e legislação do país de refúgio. Isso abrange informações es-
senciais relacionadas à segurança, saúde, emprego, educação e outras áre-
as relevantes para sua integração e bem-estar. Ao obter conhecimentos
sólidos e desenvolver habilidades de busca de informações, elas podem
tomar decisões mais informadas e fundamentadas sobre sua segurança e
acesso a serviços essenciais.
Além disso, a competência crítica em informação capacita as mu-
lheres refugiadas a avaliar de forma crítica as informações sobre saúde que
recebem, identificando fontes confiáveis e questionando narrativas tenden-
ciosas ou desinformativas. Esse aspecto é particularmente relevante em um
contexto em que as mulheres refugiadas podem ser alvo de informações
enganosas, estereótipos negativos e discriminação. Ao desenvolver habili-
dades de avaliação e discernimento, elas podem proteger-se de informações
prejudiciais e tomar decisões informadas sobre sua segurança e bem-estar.
Além dos benefícios diretos relacionados à segurança, a compe-
tência crítica em informação também promove o empoderamento das
mulheres refugiadas, permitindo-lhes participar ativamente na defesa de
seus direitos e no engajamento comunitário. Ao compreender os me-
canismos de poder, as estruturas sociais e as questões de gênero que as
afetam, as mulheres refugiadas podem posicionar-se de forma mais eficaz
e buscar mudanças positivas em suas vidas e na sociedade em geral. Isso
pode incluir a participação em grupos de apoio, movimentos sociais e
iniciativas de advocacia, visando promover a igualdade de direitos e com-
bater a discriminação e a opressão.
No Quadro 2 são apresentadas as respostas referentes ao acesso das
participantes à saúde pública no Brasil e às informações necessárias sobre
o sistema de saúde. Essa categoria visa investigar as barreiras e facilidades
encontradas pelas refugiadas no acesso aos serviços de saúde, bem como
o conhecimento que possuem sobre os direitos e recursos disponíveis
nesse âmbito.
No que diz respeito à segunda categoria apresentada no Quadro 2, é
possível constatar que as mulheres refugiadas têm consciência de que o país
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
324
de refúgio oferece uma situação relativamente melhor do que o país de ori-
gem, onde seus direitos fundamentais são amplamente violados. Embora
reconheçam que a situação no país de acolhimento possa não ser ideal, elas
percebem uma melhoria em relação à violência e à instabilidade vivenciada
anteriormente. Essa percepção é baseada na comparação com suas experi-
ências prévias e nas avaliações feitas pelos nativos do país de acolhimento.
Quadro 2 – Informação em saúde no país do refúgio
Categoria 2
Definição:
O Brasil possui o SUS, que abrange também os estrangeiros que
residem no país. Apesar de enfrentar desafios, como a precariedade,
principalmente nas grandes cidades devido ao elevado número de
usuários e em estados com recursos mais escassos, o SUS desempenha
um papel significativo na prestação de serviços de saúde. Em algumas
cidades, o sistema funciona de maneira eficiente ou razoável.
Verbalizações das refugiadas adaptadas pelo discurso indireto
E1:
A entrevistada relatou que com a infecção pela COVID 19 passou a
ter mais informações sobre saúde. Ademais, disse que no seus país de
origem a situação do sistema de saúde é bem pior e que consegiu ter
plano de saúde a partir da admissão em uma rede de supermercados.
E2:
A entrevistada mencionou o desespero com a epidemia da COVID 19,
tendo em vista que possui uma filha pequena. Porém, com o emprego
na rede de supermercados, passou a ter um plano de saúde privado,
além da carteira do Sistema Único de Saúde (SUS). Ademais, disse
que os colegas de trabalho, bem como os funcionários das unidades de
saúde, lhe passaram muitas informações sobre saúde. Ela compreende
que os sistemas de saúde no Brasil é bom em relação a outros países.
E3:
A entrevistada arguiu que como é jovem, a saúde não foi a sua principal
preocupação no Brasil, mas sim as oportunidades de emprego e como
poderia ser a violência no país. Além disso, enxerga com otimismo as
campanhas de vacinação e outras questões da saúde pública brasileira,
que segundo ela, não são valorizadas pelos brasileiros.
Fonte: Autores.
A partir das respostas das refugiadas, fica evidente que a competên-
cia crítica em informação pode fornecer recursos importantes para essas
mulheres, permitindo que elas tomem decisões mais informadas sobre sua
saúde e busquem os serviços necessários.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
325
No caso evidenciado no quadro 2, observa-se que algumas das re-
fugiadas tiveram dificuldades no início para obter informações sobre o
SUS. No entanto, a partir do momento em que tiveram contato com
profissionais de saúde e colegas de trabalho, passaram a receber orien-
tações e apoio para acessar os serviços disponíveis. A competência em
informação pode ser um elemento-chave nesse processo, capacitando-as
a buscar informações sobre seus direitos, serviços de saúde, vacinação e
tratamentos disponíveis.
Além disso, a competência em informação possibilitaria que as mu-
lheres refugiadas compreendessem as diferenças entre o sistema de saúde
no Brasil e em seus países de origem, permitindo que elas avaliem a quali-
dade e a efetividade dos serviços oferecidos.
Outro aspecto relevante apontado pelas refugiadas é a importância
do acesso aos convênios médicos fornecidos por meio do emprego. A com-
petência em informação possibilitaria que essas mulheres compreendessem
os benefícios oferecidos pelos convênios médicos e soubessem como uti-
lizá-los de maneira eficiente. No entanto, elas também reconhecem que o
SUS continua sendo uma opção valiosa, especialmente para obter medica-
mentos gratuitos e serviços não abrangidos pelo convênio.
Nesse sentido, a competência em informação poderia capacitar essas
mulheres a buscar informações sobre seus direitos, os serviços disponíveis e
os benefícios oferecidos pelos convênios médicos, permitindo que elas to-
mem decisões informadas em relação à sua saúde e bem-estar. Além disso,
a competência em informação também pode contribuir para desmistifi-
car estereótipos e percepções negativas sobre o sistema de saúde brasileiro,
possibilitando que as refugiadas reconheçam e valorizem as vantagens e
recursos disponíveis.
No Quadro 3, são abordadas as estratégias utilizadas pelas parti-
cipantes para obter informações sobre sua saúde, incluindo a prevenção
de doenças sexualmente transmissíveis e o cuidado com o sistema repro-
dutivo. Essa categoria busca compreender como as mulheres refugiadas
buscam e obtêm informações relacionadas à sua saúde, considerando os
recursos disponíveis e as possíveis dificuldades encontradas.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
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Quadro 3 – Saúde da mulher e competência crítica em informação
Categoria 3
Definição:
A meta 5.6 estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU)
tem como objetivo assegurar o acesso universal à saúde sexual e
reprodutiva, buscando garantir a igualdade de direitos e oportunidades,
a fim de promover o empoderamento das mulheres em todas as esferas.
No entanto, compreende-se que a concretização dessa meta depende da
competência crítica em informação.
Verbalizações das refugiadas adaptadas pelo discurso indireto
E1: A entrevistada relatou que muitas pessoas do país dela morrem ainda por
doenças, como a AIDS. E que apesar de saber que nos postos de saúde
há preservativos, há o constrangimento de buscá-los.
E2: A entrevistada mencionou que o fato de ser casada a faz ter segurança em
relação ao sexo desprotegido e que não se preocupa com o controle de
natalidade em face de questões religiosas.
E3: A entrevistada disse que busca informação pela internet e com as amigas
acerca da saúde da mulher e que não sabe a especialidade da medicina no
Brasil que cuida destas questões.
Fonte: Autores.
No que se refere à terceira categoria, verificou-se que essas mulheres
ainda possuem lacunas de conhecimento e informações sobre saúde da
mulher, incluindo questões relacionadas à prevenção de doenças, acesso
a métodos contraceptivos e cuidados ginecológicos. A competência crí-
tica em informação pode fornecer ferramentas para suprir essas lacunas,
permitindo que as mulheres refugiadas obtenham informações confiáveis
e precisas sobre saúde sexual e reprodutiva. Ao desenvolver habilidades de
busca e avaliação de informações, elas podem obter conhecimentos sobre
métodos contraceptivos, prevenção de doenças e cuidados ginecológicos,
o que pode contribuir para uma maior autonomia na tomada de decisões
relacionadas à sua saúde. Além disso, a competência em informação pode
auxiliar essas mulheres na identificação de profissionais de saúde especiali-
zados na área de saúde da mulher, bem como na compreensão dos exames
e procedimentos necessários para a manutenção de sua saúde. Isso implica
capacitar as mulheres refugiadas a buscar atendimento adequado e infor-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
327
mado, promovendo o cuidado preventivo e o acesso aos serviços de saúde
de forma assertiva.
Diante dos resultados apresentados, busca-se, de forma preliminar,
destacar algumas possíveis contribuições das teorias da linguagem e significa-
ção para o desenvolvimento da competência em informação. Nesse contex-
to, a aplicação da semiótica emerge como uma abordagem que pode auxiliar
na compreensão e interpretação dos diversos signos e símbolos presentes nas
informações relacionadas à saúde, considerando especialmente as possíveis
barreiras linguísticas e culturais enfrentadas pelas mulheres refugiadas.
Ao analisar os recursos visuais, como ícones, imagens, gráficos e sím-
bolos, presentes em materiais informativos sobre saúde, a semiótica permi-
te identificar como esses signos são utilizados para transmitir mensagens
e informações. Isso é especialmente relevante para as mulheres refugiadas,
que podem enfrentar dificuldades na compreensão de textos escritos em
um idioma desconhecido ou pouco familiar.
Através da análise semiótica, é possível avaliar a eficácia dos recursos
visuais utilizados, verificando se eles são universalmente compreensíveis ou
se estão fortemente enraizados em uma cultura específica. Isso possibilita a
identificação de potenciais barreiras de comunicação e a seleção de recur-
sos visuais mais adequados e inclusivos, capazes de transmitir informações
de forma clara e acessível para as mulheres refugiadas. A semiótica pode
contribuir para a compreensão dos processos de tradução e adaptação de
informações em saúde, auxiliando na identificação de possíveis lacunas e
distorções semânticas decorrentes das diferenças linguísticas e culturais.
Além disso, a semiótica também pode ser aplicada na análise de
narrativas e discursos presentes nas informações em saúde, permitindo
compreender como as mensagens são construídas e quais significados são
atribuídos a elas. Isso auxilia na identificação de possíveis estereótipos, pre-
conceitos ou vieses presentes nas informações, possibilitando uma leitura
crítica e uma interpretação mais precisa por parte das mulheres refugiadas.
Dessa forma, a integração da semiótica à competência em informa-
ção em saúde permite uma abordagem mais abrangente e sensível às neces-
sidades das mulheres refugiadas, proporcionando uma comunicação mais
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
328
eficaz e culturalmente apropriada. Ao considerar a linguagem visual e a
interpretação dos signos e símbolos, a semiótica contribui para a promoção
de uma informação mais acessível, compreensível e empoderadora para
essas mulheres, capacitando-as a tomar decisões informadas e cuidar de sua
saúde de maneira mais efetiva.
consideRações finais
No que se refere às questões levantadas pelas refugiadas, é impor-
tante ressaltar que a baixa representatividade da amostra limita a generali-
zação dos resultados. A amostra utilizada nesta pesquisa qualitativa serviu
principalmente para elucidar o referencial teórico e indicar tendências em
relação ao pensamento e comportamento das refugiadas venezuelanas em
uma cidade de médio porte no Brasil. Para obter dados quantitativos mais
abrangentes e uma amostra capaz de embasar políticas públicas ou ações
sociais, planeja-se a elaboração de um questionário mais abrangente, a ser
aplicado a um número maior possível de refugiadas.
Diante disso, entende-se que a competência crítica em informação
em saúde desempenha um papel importante na promoção da saúde dessas
mulheres. A presente pesquisa atingiu seu objetivo ao relacionar a questão
das refugiadas com a competência crítica em informação em saúde numa
reflexão de cunho semiótico. No entanto, trata-se de um estudo inicial
que apenas levantou problemas e questões a serem aprofundadas, além de
possíveis elucidações semióticas. Pretende-se aprofundar o tema em futu-
ros trabalhos utilizando outras metodologias, como um estudo de caso,
visando uma compreensão mais abrangente e a identificação de estratégias
eficazes para promover a competência crítica em informação em saúde en-
tre as mulheres refugiadas.
Conclui-se que ao promover a competência crítica em informação
em saúde entre as mulheres refugiadas, contribuímos para a consecução
desse objetivo global, garantindo que essas mulheres tenham acesso a in-
formações adequadas sobre saúde, possam participar ativamente das deci-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
329
sões relacionadas à sua saúde e bem-estar, e sejam capacitadas para cuidar
de si mesmas e de suas famílias de forma informada e empoderada. Nesse
contexto, a integração da semiótica pode desempenhar um papel relevante,
permitindo uma análise aprofundada dos significados presentes nas infor-
mações em saúde, auxiliando na interpretação crítica e na identificação de
possíveis lacunas e desafios a serem enfrentados. Portanto, a união da com-
petência em informação em saúde e da semiótica pode contribuir para uma
abordagem mais abrangente e efetiva na promoção da saúde e bem-estar das
mulheres refugiadas.
agRadecimento
Este trabalho foi financiado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código
de Financiamento 001.
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C 18
O   
E M    
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Orledys María de Jesús López Caldera 1 e
Oswaldo de Francisco Almeida Júnior 2
intRodução
A mediação da informação, como ocorre hoje, é muito diferente da
dinâmica de dez, vinte ou trinta anos atrás. O que dizer dos elementos e
dispositivos informacionais, culturais e comunicacionais fundamentais no
tempo de nossos avós, quando não havia imediatismo, difusão e ampla
gama de dispositivos tecnológicos que agora encurtam distâncias e tem-
poralidades. Hoje, ao contrário, temos que lidar constantemente com o
inesperado, o imprevisto, o complexo, o global e o planetário. Ainda, as
representações culturais e as estruturas mentais herdadas são ordenadas
seguindo as sequências de ordem, regularidade e linearidade com a in-
tenção de alcançar alguma certeza na produção, gestão e apropriação do
conhecimento, como estratégia para enfrentar fenômenos típicos da vida
Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: orledys.
lopez@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1883355603481896.
Doutor em Ciência da Comunicação. Professor na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail:
ofaj@ofaj.com.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3629-7435. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/1049186978910803.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p333-350
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
334
cotidiana, em que o contexto muda constantemente devido ao surgimento
de diversas circunstâncias e os problemas têm alcance global.
Historicamente, a escola e os modelos educacionais têm sido utili-
zados como dispositivo, por excelência, para criar, repensar e transmitir
conhecimentos, até mesmo para impor ideologias ou perspectivas de ver
a vida. Atualmente, a teoria da complexidade clama pelo ato de repensar
os fundamentos que regem o comportamento humano, sendo essencial
promover em nossas sociedades, impactadas pela explosão de informação e
conhecimento, os princípios do viver cívico com o resto dos homens e em
harmonia com nosso entorno e meio ambiente.
Nessa ordem de ideias, é a escola a grande responsável pela formação
cidadã dos novos indivíduos e profissionais que fazem a vida em nossa so-
ciedade e que, como cidadãos, precisam vislumbrar o mundo, suas ideias
e incertezas a partir de uma perspectiva aberta, que lhe permite sair do
individualismo a que está submetido, em consequência de viver cercado
de pessoas com as quais dificilmente se relaciona ou com quem os vínculos
são superficiais ou inexistentes.
Entre os autores que mais rejeitam o individualismo está Hegel, cujo
sistema filosófico propõe os conceitos de relação e dialética, argumentando
que todo indivíduo que permanece isolado é um alienado que carece de
verdade, ou seja, o indivíduo só tem a verdadeira realidade quando se nega
a aderir ao universal, ou seja, quando interage, por exemplo, com a família,
a sociedade civil, os grupos sociais, políticos, religiosos ou culturais etc.
Entre os desafios mais difíceis, repensar e redesenhar o modelo edu-
cacional tradicional e a atuação do profissional da informação, que como
mediador da informação precisa de flexibilidade e abertura para repensar
paradigmas e perspectivas, é um imperativo a fim de tornar a responsabili-
dade mais fácil e eficaz para enfrentar a complexidade, com o imediatismo,
a imprevisibilidade e a globalidade que caracterizam a pós-modernidade
que desmorona costumes, hábitos, formas de pensar e imaginar.
Nesse sentido, é necessária uma transformação nos processos de ge-
ração, análise, disseminação e apropriação do conhecimento, como produ-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
335
to de um processo em que todo pensamento é reconsiderado e tudo o que
se sabe ou se acredita saber é questionado. Assim, este trabalho objetiva
apresentar discussões, reflexões e aproximações teóricas acerca das institui-
ções educativas, da mediação e do papel social do profissional da informa-
ção e dos educadores.
Entende-se ser necessário propor um redesenho e/ou autoavalia-
ção crítica sobre a práxis do profissional da informação e neste estudo
considera-se essencial incluir os sete saberes necessários para a educação
do futuro, propostos por Edgar Morin. Tais ideias serão apresentadas e
desenvolvidas ao longo do trabalho dividido em 2 tópicos, assim deno-
minados: o paradigma do pensamento complexo e os sete saberes neces-
sários à educação de Edgar Morin: nexos com a atuação do Profissional
da Ciência da Informação.
o paRadigma do pensamento compleXo
O Paradigma da Complexidade, além de ser considerado como uma
teoria, deve ser considerado como um modelo necessário para compreen-
der a humanidade, a partir do questionamento do que é entendido e con-
cebido como realidade. Essa postura de abertura e flexibilidade ao pensar
pode possibilitar que contextos sejam abordados localmente e globalmen-
te, ou seja, a partir de um paradigma complexo e de forma mais pertinente.
Nesse sentido, o termo “complexus significa o que é tecido junto
(Morin, 1999, p. 15), é utilizado pelo autor para explicar o que é consti-
tuído por vários elementos inseparáveis, interativos e interdependentes que
compõem um todo. Da mesma forma, Morin defende que, para melhor
compreender o complexo, é fundamental dissipar duas ilusões: a primeira
é deixar de acreditar que o pensamento complexo se refere à eliminação
da simplicidade, pois busca realmente incluir a ordem e a clareza que se
alcança através da simplicidade. A segunda ilusão refere-se a confundir
pensamento complexo com completude, pois, apesar de aspirar ao conhe-
cimento multidimensional, tem consciência da impossibilidade de alcan-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
336
çar a completude, pois acreditar nessa possibilidade levaria à cegueira e
cairia no reducionismo (Morin, 2007, p. 22-23).
Assim, com o exposto e em busca do tema de interesse deste artigo,
pode-se afirmar o quanto seria conveniente para a práxis do profissional
da informação conhecer, investigar e praticar a abordagem do pensamen-
to complexo, como possibilidade de oferecer uma visão ampla e nutrida
em torno da pluralidade de realidades existentes. Esse olhar não escapa ao
sistema educacional, de forma que lhe permita abordá-las com maior rele-
vância, eficiência e significado.
Para estudar o pensamento complexo como base epistemológica para
o desenvolvimento de uma práxis profissional da informação, convém vis-
lumbrar reflexivamente parte do cenário que Edgar Morin nos apresenta,
começando por abordar os seguintes aspectos:
O princípio hologramático: como alternativa à superação do redu-
cionismo e do holismo, Morin (2015, p. 74) retoma o legado de Pascal e
introduz o conceito do princípio hologramático para a compreensão da
realidade, destacando que:
[…] Em um holograma físico, o menor ponto da imagem
do holograma contém quase todas as informações do objeto
representado. Não apenas a parte está no todo, mas o todo está na
parte. O princípio hologramático está presente no mundo biológico
e no mundo sociológico. No mundo biológico, cada célula do
nosso organismo contém a totalidade da informação genética desse
organismo. A ideia do holograma transcende então o reducionismo
que vê apenas as partes, e o holismo que vê apenas o todo [...].
A partir desse princípio, a visão da realidade permite ampliar o pa-
norama da pessoa e do processo de aprendizagem, levando em considera-
ção os fatores afetivos, sociais e culturais que compõem o ambiente pessoal
e contribuem para a construção do próprio conhecimento. Tal concepção
abre múltiplas possibilidades de compreender fenômenos e saberes, a partir
da possibilidade de conviver respeitando e compreendendo a diversidade,
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
337
refletindo sobre a própria existência e como ela faz parte de um universo
complexo e multirrelacional, no qual a menor ação pode gerar consequên-
cias incertas para o todo, sendo possível um enriquecimento mútuo sem
exclusão de nada.
Nesse ponto, é importante destacar a importância do aprofunda-
mento de um projeto humanizador do mundo, que impeça ou reduza as
possibilidades de mutilação de concepções capazes de levar à fragmentação
do conhecimento e da realidade e, consequentemente, à autoagressão, à
destruição de uns contra os outros.
O princípio dialógico abre a possibilidade de convivência entre rea-
lidades diversas e antagônicas, favorecendo uma concepção mais humani-
zada da pessoa, da sociedade e do mundo. No contexto educacional e na
prática do profissional da informação, pode ser traduzido em pluralidade,
autenticidade, diversidade e o que há de especial em cada ser humano,
como condições que contempladas tornam os ambientes e as relações mais
harmoniosas pelo respeito à alteridade. Assim, a confiança para expressar
diferenças não gerará exclusão ou preconceito.
Ambientes educacionais e outros espaços de atuação dos profissio-
nais da informação, cujo princípio dialógico é praticado, podem contribuir
significativamente para melhorar a criatividade, a motivação e a participa-
ção dos alunos em um processo de aprendizagem próprio e compartilhado
com outros.
O Princípio da recursão destaca a concepção dialógica e hologra-
mática como aspectos que compõem a realidade. É possível contemplar a
existência de várias possibilidades que questionam e até quebram a lógica
linear de causa-efeito, defendendo a ideia de que tudo pode ser produto e
produtor ao tempo. Esse argumento se assemelha à crítica Freireana à pe-
dagogia bancária, defendendo a ideia de que “ninguém educa a ninguém,
ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados
pelo mundo” (Freire, 1988, p. 68).
Nessa perspectiva, os saberes e as verdades surgem de múltiplas
fontes das quais até os alunos podem ser os protagonistas, articuladores
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
338
e mediadores do conhecimento que é produzido. Cada participante pode
ser concebido como parte de um ciclo em si, ou seja, o autoconstitutivo,
auto-organizado e autoprodutivo.
A compreensão multidimensional se volta para compreender os di-
versos campos que compõem os seres sociais e históricos. Existem diver-
sos elementos que compõem as dimensões do ser e nesse ponto, o autor
destaca que “unidades complexas como o ser humano e a sociedade são
multidimensionais; o ser humano é ao mesmo tempo biológico, psíquico,
social, afetivo, racional. A sociedade tem dimensões históricas, econômi-
cas, sociológicas e religiosas” (Morin, 1999, p. 15). Em outras palavras, a
realidade complexa que invade nosso ser e nosso mundo exige uma educa-
ção e um profissional da informação que facilite e promova a capacidade
de abordar os problemas de uma perspectiva crítica e multidimensional,
para que os limites gerados pela segmentação do conhecimento possam se
articular com a diversidade assomada do fazer pedagógico
A incerteza se refere a contemplar a realidade imbuída de incerteza
a partir do lugar onde estamos, o que somos e o que fazemos (ser-ser-fa-
zer). Nessa perspectiva, o conhecimento não está isento de incerteza, pelo
contrário, na maioria dos casos, o conhecimento é alcançado, reformulado
e melhorado a partir de incertezas. Dessa forma, o autor defende que “a
realidade não é facilmente legível. As ideias e teorias não refletem, mas
traduzem a realidade, que podem traduzir de maneira errônea. Nossa rea-
lidade não é outra senão nossa ideia da realidade” (Morin, 2000, p. 85).
Assim sendo, na perspectiva da incerteza, Morin (2000, p. 86) pro-
põe uma estratégia baseada na ecologia da ação, como possibilidade de
educar em meio à incerteza, consciente dos riscos, dos imprevistos, das
decisões, dos acasos, das transformações, entre outros elementos que ca-
racterizam a incerteza. Por fim, o autor reconhece que a incerteza pode e
deve ser combatida, sem tentar eliminá-la a longo prazo. Para ele, pode-se
alcançar certezas entendendo que “o conhecimento é a navegação em um
oceano de incertezas, entre arquipélagos de certezas” (Morin, 1999, p. 46).
Portanto, serão evitadas exposições de verdades absolutas e considerar pro-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
339
jetos e concepções que fujam das abordagens tradicionais, com as quais
novos conhecimentos podem ser gerados.
Para encerrar esta seção, é fundamental destacar a importância do
profissional da informação e do sistema educacional para compreender e
praticar a abordagem sobre a ética da complexidade, que defende o ar-
gumento de que o todo e as partes afetam um ao outro. Isso contraria o
individualismo e o egoísmo que prevalecem na sociedade, um individua-
lismo generalizado que afeta a dignidade e a qualidade de vida de muitas
pessoas e famílias que vivem fora das possibilidades e oportunidades de
desenvolvimento.
É fundamental questionar como, em nome do progresso econômico
e científico, conservar a terra, garantir a dignidade e o respeito aos direitos
fundamentais de todos os seres humanos, que continuam vivendo em
extrema pobreza, passando fome e sem acesso à saúde ou à educação de
qualidade, apesar das grandes descobertas científicas e projetos econômicos.
Assim, apontam-se para caminhos que possam repensar e redesenhar
a atuação do profissional da informação que, como mediador da infor-
mação, precisa repensar paradigmas e perspectivas, a fim de enfrentar a
complexidade, o imediatismo, a imprevisibilidade e a globalidade própria
da pós-modernidade.
os sete sabeRes necessáRios à educação de edgaR moRin: neXos
com a atuação do pRofissional da ciência da infoRmação
Os contínuos avanços tecnológicos, a conectividade, os conteúdos
hiperativos das redes juntamente com as estruturas econômicas globaliza-
das, até mesmo o dinamismo que envolve a atividade humana com suas
múltiplas demandas complexas, em que o papel da educação é fundamen-
tal para responder e tentar resolver as incertezas, tornam necessário ques-
tionar a desigualdade na distribuição da riqueza, os altos custos de vida e
as crescentes taxas de pobreza que se traduzem em graves conflitos sociais.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
340
Tal cenário estimula o surgimento das seguintes questões: nestes
tempos de mudança, os fundamentos tradicionais do sistema educacional
e da Ciência da Informação têm um papel preponderante na conscientiza-
ção de cidadãos mais humanos? Será suficiente uma nova postura dos edu-
cadores e profissionais da informação para promover uma nova consciência
cidadã, mais humana, ou seja, um ser humano que compreenda e pratique
a humanidade da humanidade?
Para responder a essas perguntas, pode-se começar refletindo sobre
como existem atualmente múltiplas facilidades para acessar informações
sem a necessidade de frequentar uma instituição de ensino, ou receber o
apoio e atenção de um profissional da informação. Da mesma forma, o
uso de bibliotecas, arquivos e museus sofreu grandes mudanças em torno
da exigência, acesso e uso da informação. A conexão com a Internet pos-
sibilitou conectividade constante, acesso e transferência de informações
imediatas, sem limites de tempo ou espaço. Isso possibilitou que hoje
grande parte das atividades e práticas humanas sejam realizadas com o
apoio de dispositivos.
Em torno do cenário descrito acima, a concepção do pensamento
complexo e sua aplicação por educadores e profissionais da Ciência da
Informação pode ser uma contribuição significativa, quando abordada nos
contextos educacional, social, cidadão e comunitário. Conforme Santos e
Sousa (2021, p. 83),
é preciso que mediadores(as) da informação, arquivistas,
bibliotecários(as) e museólogos(as) façam um estudo profundo
que respalde suas atuações, visando analisar seu contexto, o perfil
dos(as) usuários(as) e a realidade e as necessidades desses sujeitos,
entre outras questões que podem ser refletidas.
Defende-se a ideia de que essa atitude de estudos e reflexão exerci-
da pelos profissionais da informação possa elevar os níveis de motivação
entre os participantes e alcançar uma melhor inter-relação entre todos os
membros da sociedade. Nessa perspectiva, é possível pensar que a atuação
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
341
do profissional da informação pode ser fortalecida em prol do desenvol-
vimento social, a partir da reflexão e prática da proposta de Edgar Morin,
apresentada em “Os sete saberes necessários à educação”, abordagem que
será discutida a seguir.
A cegueira do conhecimento: erro e ilusão” é o primeiro capítulo
do livro de Morin, apresentando um corpo de reflexões que questionam
a educação e os envolvidos no sistema educativo, por não ter aproveitado
a máxima potência das ferramentas pedagógicas e educativas disponíveis a
favor de aumentar e fortalecer a motivação das pessoas em torno do que
é conhecer. Dito de outro modo, no caso particular dos profissionais da
informação, conscientes de seu papel social como mediadores da informa-
ção, é imperativo que eles nos promovam suporte enquanto sujeitos da
informação, usuários, pessoas, mídia a para uma melhor compreensão da
vida e das suas relações neste novo mundo das tecnologias de rede.
A partir da interpretação da realidade por si só, deixaremos de aceitar
sem questionar ideias vagas e superficiais, impostas pelos sistemas educacio-
nais, econômicos e sociais, e estaremos preparados ou motivados para inter-
pretar a realidade por nós mesmos. Nessa situação, Almeida Júnior (2015, p.
11) também afirma que “Nós o conhecemos pelos olhos dos outros; nós o
conhecemos mediado pelos olhos dos outros”. Essa precisamente é a questão
que levanta a necessidade de que o homem seja capaz de estudar, compre-
ender e interpretar as realidades de seu entorno por meio de um olhar mais
aprimorado, fazendo relações com a certeza e não de ilusões.
Seguidamente, no segundo capítulo, intitulado “Os princípios do
conhecimento pertinente”, o autor faz um convite aos educadores que
também cabe aos profissionais da Ciência da Informação para desenvolver
e praticar aptidões que façam do conhecimento uma opção consciente, a
partir da qual se exerça a compreensão das necessidades humanas, assim
como “o ato do cuidar do outro”, mediante a proteção e a preservação do
meio ambiente e assim das suas relações familiares, profissionais, sociais e
cidadãs, fomentando a capacidade de identificar objetos, sujeitos e ações
para aprender sobre eles e seu lugar na natureza, inclusive no sistema das
coisas. Sobre o contexto sociocultural e sua interferência nos processos
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
342
de produção, apropriação e compartilhamento do conhecimento, Sousa,
Santos e Oliveira (2022, p. 355) afirmam que:
O contexto social desperto no sujeito um sentimento de pertença
que pode ser acionado a partir da produção de sentido sobre os
diversos dispositivos que constroem e implicam uma leitura
que o sujeito pode fazer de si mesmo. As práticas socioculturais
desenvolvidas no meio são determinantes para a constituição dos
sujeitos e sua visão sobre si mesmo e sobre o mundo.
Além disso, o autor sublinha a importância de que a informação seja
compreendida como parte de um sistema de inter-relações que lhe confere
um sentimento de pertencimento ao todo, mas que, ao mesmo tempo,
revela a profundidade e a razão das partes.
Por sua vez, no terceiro capítulo “Ensinar a condição humana
apresenta-se uma reflexão sobre a composição do homem em sua dimen-
são total: “O ser humano é ao mesmo tempo físico, biológico, psíquico,
cultural, social e histórico”, expressa Morin (2022, p. 15), observando
que, em toda essa composição do homem, o conhecimento se dispersa
na educação através das disciplinas, impedindo uma verdadeira unidade
capaz de reunir e organizar conhecimentos dispersos das diversas ciên-
cias. Cabe destacar que na união entre a unidade e a diversidade de tudo
se traduz a condição humana.
Dessa maneira, Gomes (2017), tomando Arendt (2007) como refe-
rência, explica que a verdadeira existência como vida na ação, que exige o
espaço crítico e criativo, só é alcançada na interação com outros, na intera-
ção social. Gomes assinala, ainda, que na busca pela verdade, a reflexão em
torno dela é essencial à vida ativa, quando labor, trabalho e ação se articu-
lam. Destaca-se que o labor, o trabalho e a ação compõem as três condições
necessárias para a existência humana.
Por outro lado, ao longo da explanação do quarto saber “Ensinar
a identidade terrena”, Morin (2000, p. 64-65) fala da necessidade de um
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
343
pensamento policêntrico, quer dizer consciente da unidade-diversidade da
condição humana. Um pensamento nutrido pelas culturas humanas, seus
limites individuais desde o entendimento, compreensão e prática do res-
peito como fundamento para aprofundar seus laços. Nesse sentido, confor-
me defende Cuche (1999), ao afirmar que:
Na medida em que a identidade resulta de uma construção social,
ela faz parte da complexidade do social. Querer reduzir cada
identidade cultural a uma definição simples, ‘pura’, seria não
levar em conta a heterogeneidade de todo grupo social. Nenhum
grupo, nenhum indivíduo está fechado a priori em uma identidade
unidimensional (Cuche, 1999, p. 192).
Essa proposta responde à necessidade de o homem conhecer seu lu-
gar no universo e compreender sua realidade como resultado de interpretar
e internalizar a condição do mundo em plena era planetária, caracterizada
pela globalização.
No quinto apartado, intitulado “Enfrentando a incerteza”, Morin
(2000, p. 84) apela ao sistema educativo e seus componentes para pensar e
aplicar estratégias alternativas, voltadas à compreensão da realidade, desde
as incertezas que surgem com frequência alterando cenários conhecidos
e produzindo acontecimentos inesperados, que precisam ser enfrentados
com aptidões de protagonismo social, caracterizados pela resistência e luta
pelo bem comum e não pelos interesses individuais, em procura de trans-
formar estruturas e paradigmas.
Seguindo o mesmo raciocínio, López Caldera (2021, p.40) afir-
ma que, na prática da mediação consciente, o profissional da informação
corresponde a ações próprias de um protagonista social. Resgata que esse
profissional precisa ter competências além da plena consciência sobre a
importância da multirreferencialidade na sua atuação, como elemento fa-
cilitador na interpretação e compreensão dos contextos em que os sujeitos
informacionais-usuários precisam dar resposta a suas interrogações e ter
atendidas as necessidades de informação, para poder desconstruir-reestru-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
344
turar-ressignificar seus pensamentos, agir como agentes ativos, dispostos e
preparados a aplicar estratégias e dispositivos que facilitem a apropriação
de informações.
Por outra parte, o capítulo “Ensinar a compreender” tem como pre-
missa elevar a ética e moral nas relações humanas. Nessa tarefa, o diálogo
novamente é um grande aliado, assim como o ato de conhecer por meio
de nossos sentidos, ou em outras palavras “é preciso sentir para compreen-
der”, como preconiza Rodríguez (1999).
Sobre a dimensão dialógica da mediação da informação Gomes
(2014, 2020) afirma que o diálogo é a base da mediação, pois permeia
o desenvolvimento das ações nas outras dimensões. Caso contrário, não
havendo diálogo, não ocorre mediação e sim manipulação e/ou imposição.
No diálogo, o mediador tenta se situar no lugar do outro, procurando en-
tender seu contexto e, em consequência, ter maior clareza das necessidades
e interesses do sujeito envolvido na ação mediadora.
Defende-se que, ao reconhecer, respeitar e validar as interações, ma-
nifestações, interpelações e expressões de todos os envolvidos, o mediador
assegura o respeito à alteridade, fazendo com que a mediação da informa-
ção se caracterize como uma “ação que se realiza com o outro e não para
ou sobre o outro” (Gomes, 2020, p. 11). É apropriado resgatar que o fato
de ensinar a compreender mensagens, discursos, paradigmas e padrões tem
a potência de eliminar o egoísmo dos homens com a mediação da infor-
mação visando lutas e projetos coletivos, superando, assim, os obstáculos
inerentes à condição de imperfeição do homem.
Finalmente, “A ética do gênero humano” é o sétimo princípio pro-
posto por Morin (2000, p.105) como necessário para a educação do futuro.
De certo modo, esse princípio sintetiza os primeiros seis, sendo que para
alcançar a ética proposta, a educação deve levar a um processo constante
de interação e comunicação entre o indivíduo – sociedade – e a espécie –
como uma realidade necessária para todos os seres humanos.
Nesse âmbito, considera-se inegável como o trabalho do profissional
da Ciência da Informação tem potência para alcançar o respeito à dignidade
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
345
de todos os seres humanos, por meio de ações que garantam os princípios
de igualdade e equidade no acesso, apropriação da informação, no aprovei-
tamento das ferramentas e das oportunidades que as estruturas educativas
podem proporcionar. Todo esse trabalho de mediar a informação passa por
um equilíbrio entre o cuidado da confidencialidade, o direito à liberdade
de expressão e o acesso livre à informação. Tais princípios estão contempla-
dos na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948) e
precisam ser afrontados com ética profissional e humanidade.
Assim, os profissionais da área, como mediadores da informação, ao
facilitar o contato com informações instigantes, importantes ou relevantes
para quem as procura ou precisa, podem ter as possibilidades de partici-
par no exercício problematizador que conduz à conscientização e posterior
apropriação da informação dos sujeitos sociais, que posterior a um exercí-
cio consciente do seu papel no mundo, têm possibilidades de pensar e agir
a favor de lutas coletivas.
Em vista disso, a chamada biblioteconomia crítica reconhece a im-
portância do entendimento, a defesa e a proteção dos direitos humanos
nas práticas cotidianas dos profissionais da informação. Essa área do co-
nhecimento, diariamente, precisa atender às necessidades dos agentes so-
ciais vinculadas ao saber, compreender, dialogar e comunicar expectativas,
demandas, ideias, necessidades e propostas para resolver situações particu-
lares ou coletivas.
Essas colocações vêm ao encontro da proposta de Freire (1970),
quando diz que a existência humana, entanto humana, não pode ser muda,
silenciosa, nem se nutrir de falsas palavras, e sim de palavras verdadeiras,
com as quais os homens e as mulheres transformarão o mundo.
Essa concepção humana de viver em uma comunidade planetária
onde se faz parte do todo, e o comportamento ou ações de cada um impac-
tam o coletivo como indivíduos que conformam uma comunidade, resulta
importante compartilhar visão e atitude democrática e aberta ao respeito
da dignidade e liberdade de expressão de todos, na qual não só o terrestre
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
346
é importante como influência sobre o homem, mas também o universo
como uma potencialidade complexa e incerta de novos cenários humanos.
consideRações finais
A concepção de uma educação fundamentada no pensamento com-
plexo passa indiscutivelmente pelos fundamentos da educação em direitos
humanos. Contempla-se como cenários em que a atuação do profissional
da Ciência da Informação tem um papel social importante, como media-
dor da informação que procura proporcionar aos cidadãos um conjunto de
ferramentas, dispositivos, fontes e ações educativas em procura de alcançar
a apropriação de informações para o conhecimento.
Assim como na execução de estratégias que façam possível a com-
preensão e a aplicação de mecanismos para a proteção e a defesa desses
direitos. Além disso, ressalta com grande atenção o desenvolvimento de
aptidões, juntamente com a prática de competências e ações necessárias
que profissionais-sociedades-usuários possam compreender, se apropriar,
promover, aplicar e defender os direitos humanos no dia a dia.
A proposta epistemológica da complexidade coloca em questão os
ideais de conhecimentos típicos da racionalidade clássica surgida à luz da
modernidade, que divide a realidade em parcelas a serem posteriormente
abordadas por diversas disciplinas científicas que tentaram desvendar os
enigmas do mundo. Assim, neste estudo procurou-se apresentar o papel
social preponderante dos educadores, especialmente dos profissionais da
informação, à luz dos postulados apresentados por Edgar Morin na sua
obra “os sete saberes necessários para a educação do futuro”.
Nessa perspectiva, foram sintetizadas uma série de aptidões e atitudes
consideradas pertinentes na atuação do profissional da informação, e seguem:
Favorecer a inter e transdisciplinaridade;
Focar no ser humano, em relação ao seu contexto sociocultural
e histórico;
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
347
Fomentar aptidões e valores de solidariedade, independência,
dignidade, liberdade e bem comum, cuidando da convivência
com o respeito pelos direitos à vida, à saúde, à educação, à igual-
dade social e à justiça, deixando do lado a discriminação pela
raça, cor, nacionalidade, religião ou condições econômicas;
Contemplar o desenvolvimento integral do ser humano, para
viver em sociedade, praticando a crítica reflexiva e construtiva,
além da criatividade e solidariedade, sem egoísmo e em prol do
bem comum;
Criar consciência sobre a importância de viver em harmonia
com o meio-ambiente, procurando o desenvolvimento endóge-
no e sustentável da sociedade;
Promover os direitos humanos e práticas da cultura de paz que
respeitem a diversidade cultural;
Defender e oportunizar a participação pelos valores democráti-
cos da igualdade de direitos, deveres e oportunidades;
Recuperar e resguardar a memória histórica como plano de for-
talecimento e apropriação da identidade nacional e cultural.
Tais recomendações no fazer diário dos Profissionais da Ciência da
Informação podem transcender ao ensino magistral ou expositivo, trans-
formando-o para elaboração coletiva e considerando o contexto histórico
e cultural. Ademais, deve-se desvincular processos de construção de co-
nhecimento individualista e fragmentado, o que implica uma mudança
de atitude, mentalidade e estrutura de pensamento que contribua para o
desenvolvimento de um novo ser humano com capacidade e consciência
para enfrentar a complexidade deste mundo mutável e intercultural.
Para isso, defende-se a ideia de que os educadores e profissionais da
informação precisam oferecer ferramentas e aplicar estratégias que apoiem
o aprendizado - aprender a criar, aprender a conviver, aprender a partici-
par, aprender a valorizar e respeitar, aprender a refletir, aprender a cuidar,
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
348
aprender a transformar. O que se revela é estar presente diante de um
processo construtivo de um novo conhecimento. Um conhecimento que
tem como fundamento o sujeito, ou melhor, a vida do sujeito, ou seja, um
conhecimento construído a partir de uma perspectiva ética.
Assim sendo, a atuação dos profissionais da informação tem o de-
safio de acabar com a estrutura rígida do modelo educacional tradicional,
de disciplinas separadas e promover o conhecimento holístico, a troca de
experiências e uma visão complexa da realidade, que permita a todos os
envolvidos no processo educativo avaliar alternativas de aprendizagem.
Essa nova proposta pedagógica requer uma atitude de abertura por
parte de todos os protagonistas da educação, assumindo uma nova pers-
pectiva epistemológica próxima da proposta de Freire. Isso implica em en-
tender e defender a educação como instrumento de libertação individual
e coletiva, que contribui para a formação no povo, de uma consciência de
sujeito protagonista, fazedor de sua própria história, com força e capacida-
de de transformar sua própria realidade social, econômica e política.
Assim, a educação implica uma mudança de consciência, como con-
dição para passar da imersão passiva na sociedade à capacidade de ação e
luta pela sua transformação. Essa tomada de consciência é uma apropria-
ção crítica da situação a partir de sua perspectiva histórica e política. A
conscientização leva a um encontro de sujeitos, que se reconhecem em suas
diversidades como seres concretos, diante da urgente necessidade universal
de preservar suas vidas e a das gerações futuras.
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C 19
A T  C  
  C  I
 B
amiris Iara Sousa Silva 1, Beatriz de Souza Fermino Miranda Marques 2
e Oswaldo Francisco de Almeida Júnio 3
intRodução
Na pós-graduação em ciência da informação na Faculdade de
Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - Unesp, Campus Marília, nós cursamos a disciplina Informação,
Conhecimento e Complexidade, ministrada pela professora Doutora
Marta Valentim, e assim tivemos o contato com a Teoria da Complexidade
de Edgar Morin.
Entre as discussões em sala de aula muito se falou de como o pen-
samento complexo muda as perspectivas do pesquisador e amplia o olhar
para nossas pesquisas. Visto que Morin propõe a reforma do pensamento
é interessante que as instituições de ensino busquem estudar esta teoria,
principalmente nos mestrados e doutorados que são ambientes que propi-
Mestranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: thamiris.
iara@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3964-8544. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/4556693941146900.
Mestranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: beatriz.
fermino@unesp.br. ORCID: Lattes: http://lattes.cnpq.br/7848706388897751.
Doutor em Ciência da Comunicação. Professor na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail:
ofaj@ofaj.com.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3629-7435. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/1049186978910803.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p351-364
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
352
ciam a reflexão, diferente das graduações que por vezes se prendem a de-
manda mercadológica e reduzem o tempo de discussões e do ato de pensar.
Partindo da experiência nesta disciplina surgiu a seguinte problemá-
tica: as pós-graduações em CI das outras universidades do Brasil possuem
disciplinas que abordam a teoria da complexidade?
Para responder à nossa inquietação, formulamos como objetivo
geral: explorar os programas de pós-graduação em CI, reconhecidos e
avaliados pelo MEC, que ofertam disciplinas que abordem a Teoria da
Complexidade. E, como objetivos específicos, listamos: (1) investigar quais
instituições de ensino brasileiras possuem programa de pós-graduação em
Ciência da Informação reconhecido e avaliado pelo MEC; (2) identificar
entre estes programas de pós-graduação, quais ofertam disciplinas, obriga-
tórias e optativas, que em seu nome conste o termo “complexo” ou o termo
complexidade”, e (3) observar nas ementas e bibliografia básica destas
disciplinas, quais abordam a temática Teoria da Complexidade.
A seguir, apresentaremos uma breve discussão da transição da
Ciência Moderna para a Pós-moderna, o surgimento da CI e seus para-
digmas, bem como a Teoria da Complexidade como uma teoria para a CI;
seguindo com a metodologia, discussão e análise dos dados e por fim as
considerações finais.
a ciência da infoRmação e a teoRia da compleXidade
A ciência moderna oriunda do século XVI é a forma até hoje mais
conhecida de se fazer ciência, a rigidez no exercício da razão tem sido o
eixo desta modalidade, e tudo que não corrobora com seus princípios é
tido como inválido, o que pode ser um entrave para a expansão dos estudos
e das perspectivas da ciência. A aplicação dos critérios da ciência moderna
era próprio das ciências naturais, entretanto, no século XIX com o surgi-
mento das ciências sociais, os métodos da ciência moderna passam a ser
questionados.
Segundo Santos (1988, p. 48):
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
353
Ainda que com alguns prenúncios no século XVIII, é só no século
XIX que este modelo de racionalidade se estende às ciências
sociais emergentes. A partir de então pode falar-se de um modelo
global de racionalidade científica que admite variedade interna
mas que se distingue e defende, por via de fronteiras ostensivas e
ostensivamente policiadas, de duas formas de conhecimento não-
científico (e, portanto, irracional) potencialmente perturbadoras e
intrusas: o senso comum e as chamadas humanidades ou estudos
humanísticos (em que se incluíram, entre outros, os estudos
históricos, filológicos, jurídicos, literários, filosóficos e teológicos).
Conforme o autor, o modelo de racionalidade é levado para as ciên-
cias sociais gerando um choque, uma vez que a própria ciência moderna
desclassificava os estudos que eram baseados nos pensamentos e na atuação
humana. Assim, uma questão se faz presente: por que olhar para as ciências
sociais pelas lentes das ciências naturais era uma possibilidade? E esta ques-
tão se mostra relevante na medida que seguimos na explicação de Santos
(1988), que afirma que essa racionalidade científica presente nas ciências
naturais e modernas eram firmemente contrárias ao senso comum e às
humanidades, logo, como serviriam para atender estudos que se voltariam
para o social? E a resposta é que não serviriam.
Santos (1988, p. 48) defende que:
Sendo um modelo global, a nova racionalidade científica é também
um modelo totalitário, na medida em que nega o caráter racional
a todas as formas de conhecimento que se não pautarem pelos seus
princípios epistemológicos e pelas suas regras metodológicas. É esta
a sua característica fundamental e a que melhor simboliza a ruptura
do novo paradigma científico com os que o precedem.
Santos (1988), esclarece que a ciência moderna se tornou totalitária
por descartar qualquer conhecimento que não seguisse o seu padrão cien-
tífico, e é nesta postura intransigente da ciência moderna que se inicia a
necessidade de um novo caminho científico, que englobe o social e o hu-
mano, e assim nasce o paradigma da ciência pós-moderna.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
354
A ciência na pós-modernidade reflete as revoluções científicas
ocorridas no final do século XIX e início do século XX. As rupturas
e crises paradigmáticas proporcionaram o debate em torno de
uma nova ciência, na qual o desenvolvimento do conhecimento
se processa através de contextos relacionais e de complexidade. A
mudança na relação do sujeito com o objeto toma parte no processo
de desmistificação da razão, sugerindo a necessidade de uma teoria
do conhecimento aberta à transversalidade de pensamento e a quase
todos os eventos de ordem e de desordem que conduzam a uma
pluralidade conceitual e metodológica (Francelin, 2004, p. 49).
O autor apresenta o desafio que a ciência pós-moderna se propõe, ao
romper com o racionalismo e a neutralidade da ciência moderna, a ciência
pós-moderna busca a construção de conhecimentos, isto, no plural, que obser-
vem as relações entre os contextos e a complexidade que os permeia, consciente
da concomitância da ordem e da desordem do universo. É neste contexto que
queremos discutir a CI, aqui compreendida como uma ciência pós-moderna.
A CI nasce no fim da segunda guerra mundial e se estabelece na
guerra fria, motivada pelo aumento de produção informacional e pela ne-
cessidade dos cientistas em obter informação rápida e exata, tudo isso atre-
lado à tecnologia, que se torna uma forte aliada para o desenvolvimento de
sistemas de informação.
Em seu momento inicial a CI é caracterizada pela busca eficiente da
transmissão de mensagem, baseada na teoria matemática da comunicação
desenvolvida por Claude Shannon e Warren Weaver, os esforços de ambos
estavam voltados para a definição do processo de comunicação, tendo três
pontos principais: emissor, mensagem e receptor, sendo a mensagem a in-
formação. Capurro (2003, p. 6) define este primeiro momento da CI de
Paradigma Físico, e afirma que:
Torna-se evidente que, no campo da ciência da informação, o que
esse paradigma exclui é nada menos que o papel ativo do sujeito
cognoscente ou, de forma mais concreta, do usuário, no processo
de recuperação da informação científica, em particular, bem como
em todo processo informativo e comunicativo, em geral.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
355
O autor destaca a exclusão do sujeito no paradigma físico, e isto
pode ser explicado pela aplicação do método positivista na CI assim que
ela surgiu, tal qual aconteceu com as ciências sociais emergentes, descrito
por Santos (1988). Para Araújo (2018, p.21)
A consequência da adoção dessa teoria, portanto, foi o fato de
que a CI excluiu, do conceito de informação, as suas dimensões
de significação e de relação social, descartando a subjetividade e a
contingência como elementos componentes da informação.
Portanto, inicialmente a CI não abrangia discussões que envolvessem
o sujeito, o que é intrigante, pois os trabalhos desenvolvidos com informa-
ção têm como fim interferir na vida de pessoas, direta ou indiretamente,
mesmo quando somente os cientistas dominavam o público interessado
na CI, todo o trabalho era para que estes fossem usuários da informação.
No decorrer do Século XX é que o usuário da informação passa a ser
visto, assim como o contexto social do qual faz parte. Araújo (2018) apre-
senta três momentos que dão início a introdução do usuário na CI: a des-
coberta dos usuários nos estudos, conforme Cardoso (1996), as discussões
realizadas na conferência Theory and application of Information Research
em 1977, como aponta Ingwersen (1992), e a epistemologia social de-
senvolvida por Shera e Egan, defendidas por Capurro (2003) como teoria
precursora dos estudos de usuário. Estas articulações é que trazem para a
CI a característica do social, como resume Araújo (2018, p. 37):
Assim, a ciência da informação não nasceu como uma ciência
tipicamente social, mas identificou-se ao longo dos anos com o
escopo das ciências sociais à medida em que se orientou para uma
postura em que os sujeitos passaram a ser vistos como o principal
ator e objetivo dos chamados sistemas de informação, e que
métodos e conceitos das ciências humanas e sociais foram aplicados
para o seu estudo.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
356
Ao tornar-se uma ciência social a CI já não tem mais o método po-
sitivista das ciências modernas como único caminho do fazer científico, e
ao considerar em seus estudos o objeto, o sujeito e seus vários contextos
se aproxima das ciências pós-modernas. Como ciência pós-moderna a CI
já não está mais presa a um objeto, como foi feito no começo da sua exis-
tência para que de acordo com método positivista pudesse ser aceita como
ciência, sua dedicação está no olhar informacional que pode atribuir aos
fenômenos.
A pós-modernidade apresenta diversas formas de explorar a ciência,
entre elas a Teoria da Complexidade proposta por Edgar Morin.
A partir do pensamento complexo, a ciência relaciona-se a fatores
sociais, antropossociais, sociobiológicos, geopolíticos, psicológicos,
políticos, religiosos, tecnológicos e cosmológicos. O que Morin
pretende é evidenciar a complexidade com a exploração e
exposição da multiplicidade de relações que envolvem o processo
de desenvolvimento do conhecimento e da vida ao redor do ser
humano (Francelin, 2004, p. 56).
Assim a Teoria da Complexidade vê em todas as esferas da vida hu-
mana a interferência da ciência, do físico ao espiritual o olhar científico
pode enxergar validade, já não é preciso excluir um ou outro, pois é nesta
complexidade que o ser humano se desenvolve.
Segundo Morin (2015, p.13)
A complexidade (complexus) é algo […] que é tecido junto, ou
seja, de constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas:
ela coloca o paradoxo de uno e do múltiplo. […] a complexidade
é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações,
retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo
fenomênico.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
357
A definição de Morin expõe o posicionamento desafiador da com-
plexidade, o paradoxo do uno e do múltiplo é o enfrentamento do pen-
samento complexo ao paradigma simplificador, que traz na sua essência a
simplificação da ciência para a criação de leis gerais e universais, o que leva
a redução, caminho contrário ao da complexidade que busca compreender
o uno e o múltiplo presente em tudo e em todos.
Ao descrever a complexidade, Morin destaca: a incerteza, a ordem
e a desordem, e o não saber; o contraditório é proposto por Morin como
uma forma de também enxergar a ciência; possibilidades não admitidas pe-
las ciências modernas. Morin (2015) sugere uma reforma de pensamento
e de construção do conhecimento, para isto formula sete princípios, sendo
eles: princípio sistêmico ou organizacional, princípio hologramático, prin-
cípio do circuito retroativo, princípio do circuito recursivo, princípio da
autonomia/dependência (auto-organização), princípio dialógico e princí-
pio da reintrodução do conhecimento em todo o conhecimento.
Destacamos o sétimo princípio, a reintrodução do conhecimento,
este nos parece o princípio mais desafiador; mudanças pequenas, movidas
e realizadas em grupos de pesquisadores parece alcançável, mas intervir
em toda a estrutura de conhecimento parece-nos uma realidade distante,
entretanto o desafio está posto, e por isso investigamos o ensino da Teoria
da Complexidade em um dos ambientes responsáveis por mudanças cien-
tíficas e sociais, as instituições de ensino superior.
pRocedimentos metodológicos
A prática da pesquisa requer critério e método, o conhecimento deve
estar aberto para o novo sem abandonar sua base metodológica. Para Sagan
(2006, p. 45), “A ciência impõe-nos um equilíbrio delicado entre uma
abertura sem barreiras para ideias novas, por mais heréticas que sejam, e o
exame cético mais rigoroso de tudo – das novas ideias e do conhecimento
estabelecido”. O método científico, por mais permeável que seja, deve ter
por princípio delimitar o percurso a ser seguido.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
358
A construção da ciência se dá pelo método científico, este,
entendido como o conjunto das atividades sistemáticas e racionais
que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo
de produzir conhecimentos válidos e verdadeiros, traçando o
caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do
cientista (Lakatos; Marconi, 2022, p. 93).
O presente estudo, caracteriza-se como pesquisa básica, documental
e descritiva (Lakatos; Marconi, 2021). A pesquisa documental se deu a
partir do levantamento da estrutura curricular e suas disciplinas, dos cur-
sos de pós-graduação: mestrado acadêmico e doutorado acadêmico, em
CI (ou Ciências da Informação) de programas avaliados e reconhecidos
pelo Conselho Nacional de Educação do Ministério da Educação (CNE/
MEC), ministrados no Brasil.
Neste universo, investigou-se de forma quantitativa, disciplinas que
contenham em seu nome o termo “complexo” ou o termo “complexidade”,
considerando-se disciplinas obrigatórias e disciplinas optativas (ou eleti-
vas) e de forma qualitativa, se a ementa e bibliografia básica das disciplinas
selecionadas possuem relação com a Teoria da Complexidade.
Os dados primários contemporâneos foram extraídos da página onli-
ne de cada programa de pós-graduação, o endereço web assim como dados
de endereço, telefones e e-mail estão disponíveis na Plataforma Sucupira,
esta, coleta e disponibiliza dados e informações dos cursos de pós-gradua-
ção avaliados e reconhecidos pelo MEC. A plataforma é uma base de re-
ferência do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) e disponibiliza
dados e informações sobre os programas e cursos de pós-graduação no
Brasil por área de avaliação, nota e região.
Adaptamos o quadro disponibilizado na plataforma Sucupira, e este
apresenta os 30 (trinta) cursos que foram selecionados por oferecer cursos
de pós-graduação, sendo, mestrado acadêmico, doutorado acadêmico ou
ambos na área de atuação “Comunicação e Informação”, e curso denomi-
nado Ciência da Informação. Esta amostra é composta por 18 (dezoito)
cursos de mestrado acadêmico e 12 (doze) cursos de doutorado acadêmico
em Ciência da Informação.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
359
Os campos considerados para identificação da presença da Teoria da
Complexidade nos currículos de CI foram: nomenclatura da disciplina,
ementa e bibliografia básica. E os termos de busca foram “complexo” e
complexidade”.
Ressaltamos que não foram consideradas disciplinas ofertadas como
curso de verão” ou “disciplina de férias”; foram consideradas para este
estudo disciplinas obrigatórias ou optativa/eletiva.
Resultados e discussões
A construção do conhecimento técnico-científico e especializado nos
ambientes informacionais, especialmente nas instituições de ensino supe-
rior, tem destaque na pós-graduação. Os fluxos informacionais propiciam
esta construção em sentido de retroalimentação, onde, os conhecimentos
tácito e explícito interagem, recebem influências dos indivíduos e ambien-
tes e geram novos conhecimentos, realimentando o ciclo. A complexidade
está posta na medida em que o ciclo ao receber interferências as absorve, as
questiona e aperfeiçoa-se a partir delas.
Este ciclo de desenvolvimento do conhecimento é uma premissa da
educação superior, e, em essência, da pós-graduação. O Parecer 977 de
1965, conceitua a pós-graduação no Brasil, tornando-se posteriormente
seu documento legal. Neste documento “a pós-graduação sensu stricto
apresenta as seguintes características fundamentais: é de natureza acadê-
mica e de pesquisa e mesmo atuando em setores profissionais tem objetivo
essencialmente científico” (Brasil, 1965).
A pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil tem seu início
datado em 1950, no Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação
(IBBD), atual Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
(IBICT), com o curso em nível de mestrado, já o doutorado foi lançado
em 1994, em uma parceria do IBICT e UFRJ (PPGCI/IBICT, 2022).
Na Unesp a pós-graduação em ciência da Informação teve seu progra-
ma de mestrado criado em 1998 e autorizado em 2001 pela Coordenação
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
360
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em 2004 foi
aprovado o curso de doutorado e sua implantação ocorreu no ano de 2005.
(PPGCI/UNESP, 2020).
A seguir o Quadro 1 com os dados coletados, destacamos que as
siglas MA e DA referem-se a Mestrado Acadêmico e Doutorado acadêmico,
respectivamente. O levantamento quantitativo identificou apenas uma
disciplina com a nomenclatura que contenha o termo pesquisado, sendo
ela: “Informação, Conhecimento e Complexidade”, ofertada aos níveis de
mestrado e doutorado na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho - UNESP, no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação
- PPGCI da Faculdade de Filosofia e Ciências no campus de Marília-SP.
Quadro 1 – Programas de pós-graduação em Ciência da Informação por
instituição e quantidade de cursos
Instituição de Ensino
Totais de Cursos de pós-graduação Curso (mestrado
e/ou doutorado
acadêmico)
Possui disciplina
com os termos
complexidade”
ou “complexo”
Total MA DA Programa
Universidade de Brasília
(UNB) 2 1 1 Ciências da
Informação
Ciências da
Informação Não
Universidade de São Paulo
(USP) 2 1 1 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Universidade Estadual de
Londrina (UEL) 2 1 1 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Universidade Estadual Paulista
Júlio De Mesquita Filho,
Marília (Unesp-Mar)
2 1 1 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Sim
Universidade Federal da Bahia
(UFBA) 2 1 1 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa (UFPB) 2 1 1 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Universidade Federal de
Alagoas (UFAL) 1 1 0 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) 4 2 2 Ciências da
Informação
Ciências da
Informação Não
Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) 2 1 1 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) 2 1 1 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar) 1 1 0 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Universidade Federal do Ceará
(UFC) 1 1 0 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
361
Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES) 1 1 0 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Universidade Federal do Pará
(UFPA) 1 1 0 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) 2 1 1
Ciência da
Informação –
UFRJ – IBICT
Ciência da
Informação Não
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) 1 1 0 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Universidade Federal
Fluminense (UFF) 2 1 1 Ciência da
Informação
Ciência da
Informação Não
Totais 30 18 12
Fonte: Adaptado de Plataforma Sucupira (2022).
A disciplina citada, foi aprovada pelo conselho em 24 de janeiro de
2018 e possui carga horária total de 90 horas, concedendo seis créditos ao
estudante que atingir os critérios adotados na disciplina.
Na observação qualitativa, analisamos a ementa da discipli-
na, que apresenta o seguinte texto: “Teoria da Complexidade. Pós-
moderno e Complexidade. Multi, Pluri, Inter e Transdisciplinaridade.
Interdisciplinaridade e Complexidade”, e sua bibliografia básica os au-
tores: Capra (1982), Guerra Sobrinho e Morin (2000, 2015), Pombo
(2004), Santos (1988) e Santos, Pelosi e Oliveira (2012), textos reconhe-
cidos por abordarem temas como Teoria Geral dos Sistemas, Teoria da
Complexidade, Pós-modernismo Interdisciplinaridade, Multi, Pluri, Inter
e Transdisciplinaridade e Teoria Sociológica.
Os dados quanti-qualitativos salientam o objetivo da disciplina em
relacionar a Teoria da Complexidade com a CI, de acordo com a ementa
e a bibliografia básica, a disciplina propõe estudos discutindo metodolo-
gias pós-modernas e os contextos sociológicos (Guerra Sobrinho, 2001);
questionando os modelos de racionalidade científica e suas dicotomias
(Santos, 1988); construindo relações entre a ciência, ambiente e sujeito
(Morin, 2015); relacionando Teoria da Informação, Cibernética e Teoria
dos Sistemas, debatendo a questão da ordem-desordem (Morin; Moigne,
2000); explorando o pensamento complexo (Morin; Moigne, 2000); as-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
362
sim como, relacionando a unidade das ciências com a Multi, Pluri, Inter e
Transdisciplinaridade (Pombo, 2004).
A ausência de disciplinas que abordam a teoria da complexidade
nas universidades apresentadas traz a reflexão que o interesse por esta
teoria ainda não está consolidado no ensino da Ciência da Informação.
Entendemos que a introdução da complexidade na ciência da informação
pode nos encaminhar para o que Morin (2021, p.97) afirma ser:
Um pensamento capaz de não se fechar no local e no particular,
mas de conceber os conjuntos, estaria apto a estabelecer o senso da
responsabilidade e da cidadania. A reforma de pensamento teria,
pois, consequências existenciais, éticas e cívicas.
Portanto, compreendemos, que é necessário o início de discussões
sobre a inclusão da teoria da complexidade no ensino da ciência da infor-
mação, o entrelace de ambas pode contribuir para a ampliação do olhar
informacional e do fazer científico, ultrapassando o ambiente acadêmico e
exercendo uma influência sobre o social, com resultados que impactem as
novas necessidades e estilo de produção e apropriação da informação.
consideRações finais
Ressaltamos a relevância da Teoria da Complexidade no ensino da
Ciência da Informação, a dita tessitura em conjunto, parece-nos elemento
necessário à ciência pós-moderna. Os desafios da complexidade requerem
esforços de pensamento nos encontros reducionistas, nas leis e regras gerais
e universais assim como na cisão do uno e do múltiplo. A elasticidade, per-
meabilidade e sistematicidade do pensamento complexo interessa à ciência
da informação.
O pensamento complexo solicita uma reforma do pensamento na
construção do conhecimento, e esta é uma necessidade também da Ciência
da Informação, seja na auto-organização que requer diálogos entre ordem,
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
363
desordem e organização; seja na recursão, para além da retroação, refle-
tindo interações que constroem o paradoxo da parte que está no todo ao
mesmo tempo em que o todo está na parte.
A reintrodução do conhecimento em todo o conhecimento é um
princípio que, neste recorte de pesquisa, é expressado na educação su-
perior, nos cursos de pós-graduação, e particularmente, em Ciência da
Informação. O ensino do pensamento complexo parece elevar a perspec-
tiva de superação dos desafios propostos às ciências pós-modernas, com-
preendendo o que está posto, abarcando mudanças e facejando incertezas.
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365
C 20
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
Maria Fabiana Izídio de Almeida 1 e
Marcia Cristina de Carvalho Pazin Vitoriano 2
intRodução
Pesquisar é uma tarefa árdua, quando uma problemática é identi-
ficada pelo pesquisador e por demais atores de determinada ambiência,
buscar respostas, propor soluções, torna-se um desafio, porém aquilo que
é posto como desafio também instiga o pesquisador. Com isso, a partir de
uma problemática, elege-se a metodologia de pesquisa pertinente e tam-
bém pressupostos e objetivos que se deseja alcançar. Rampazzo (2013, p.
49) defende a pesquisa científica como “[…] um procedimento reflexivo,
sistemático, controlado e crítico que permite descobrir novos fatos ou da-
dos, soluções ou leis, em qualquer área do conhecimento”.
Desenvolver uma pesquisa de mestrado exige do pesquisador algu-
mas habilidades e interações, as quais muitas são apresentadas no decorrer
do curso, a partir de disciplinas, estudos, pesquisas, discussões com pares,
Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: maria.
izidio@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5602-2274. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/7246492153479687.
Doutora em História Social. Professora na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: marcia.
pazin@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5861-9063. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/5109503945869909.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p365-378
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
366
orientador e as próprias vivências que a academia propicia. Toda essa per-
muta transforma o pesquisador/ aluno e também a própria pesquisa que
deseja realizar. Morin (2005) é categórico ao defender que “A sociedade
é produzida pelas interações entre indivíduos, mas a sociedade, uma vez
produzida, retroage sobre os indivíduos e os produz” (Morin, 2005, p. 74).
Nesse sentido, este relato de pesquisa tem como objetivo dissertar
sobre os principais pontos elegidos, que envolveram a pesquisa de mes-
trado intitulada “Gestão documental e seus impactos: uma abordagem
nos processos de auditoria”. A questão-problema que instigou a pesquisa
foi “Quais os impactos da ausência de gestão documental no processo de
auditoria?” Para responder essa questão, foi colocado o seguinte objetivo
geral “Verificar os impactos da ausência da gestão documental no processo
de auditoria”, seguido dos objetivos específicos: a) Compreender os fun-
damentos teóricos e conceitos relacionados aos arquivos contábeis, fiscais
e de auditorias; b) Verificar as dificuldades vivenciadas pela empresa de
auditoria, relacionadas à gestão documental não realizada por seus clientes;
c) Identificar e caracterizar os fatores determinantes da gestão documental
para o êxito das auditorias e d) Apresentar as relações entre a gestão docu-
mental e a auditoria contábil.
Para orientar os objetivos propostos foi eleito como método de pes-
quisa o estudo de caso, realizado em uma empresa de prestação de serviços
em auditorias e consultorias. Para tanto, foi aplicada a triangulação das
fontes, considerando as seguintes fontes de evidências: questionário, entre-
vista, análise documental e registros de arquivo.
Com a finalização da pesquisa, considerando a questão-problema e o
objetivo proposto, obteve-se como resultado principal os seguintes impac-
tos na auditoria financeira, causados pela ausência de gestão documental:
lacunas no processo, ensejo para fraudes, maior tempo para concluir as
análises, atrasos na entrega dos resultados, retrabalhos, incerteza das infor-
mações apresentadas, desorganização dos próprios processos, reflexos na
qualidade dos trabalhos executados, perda de clientes e apontamentos nos
relatórios finais sobre a falta de controle de informações.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
367
A partir dos resultados alcançados foi possível considerar que a ges-
tão documental é fundamental e está “[...] no cerne dos ambientes admi-
nistrativos, para as organizações que buscam eficiência, eficácia, redução
de custos, melhoria contínua nos seus processos, entre outros benefícios, a
gestão documental torna-se fundamental” (Almeida, 2018, p. 155).
O relato de pesquisa segue organizado da seguinte maneira:
Introdução – apresentação dos pontos principais da pesquisa, bem como
o objetivo deste relato; Referencial Teórico, Metodologia de Pesquisa,
Apresentação de resultados e Considerações finais.
RefeRencial teóRico
O pesquisador ao se debruçar em torno de uma problemática ne-
cessita levantar todas as variáveis que possam interagir com seu objeto de
pesquisa. Certamente, isso deve ser realizado no início da pesquisa, mas
não deve ser algo estático e sim constantemente revisitado, afinal com o
avanço das pesquisas e a própria identificação dessas relações, podem ocor-
rer diversas mudanças no percurso.
Tendo em vista esse cenário, a disciplina Informação, Conhecimento
e Complexidade, ofertada no Programa de Pós-graduação em Ciência da
Informação, contribuiu para a visualização das relações em torno da pes-
quisa, a partir do Pensamento Complexo proposto por Morin (2005). A
partir de um seminário, foi proposto a identificação das relações de te-
máticas que o título do projeto possuía. Essa pesquisa tinha como título
inicial “Gestão de documentos e auditoria: contribuições para o mercado
competitivo”.
Nesse exercício foi possível identificar as seguintes relações para a
pesquisa que estava em fase inicial de desenvolvimento:
Gestão de documentos: Gestão de Documentos, Diagnóstico de
Arquivo, Planejamento, Classificação, Tabela de Temporalidade,
Descrição, Instrumento de Pesquisa, Intervenção, Ordenação,
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
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Organização, Mobiliário, Pessoas Capacitadas, Espaço Físico,
Descarte, Higienização, Equipamentos de Proteção, Usuários e
Áreas Envolvidas.
Auditoria: Ciências Contábeis, Qual empresa?, Políticas de
Auditoria, Quais setores?, Procedimentos, Informações Prévias,
Relatórios, Solicitação de documentos, Análise de Informações,
Colaboradores Envolvidos, Parecer, Plano de trabalho, Auditores,
Gestão de Documentos, Arquivista.
Mercado competitivo: Setor, Análise de Concorrentes,
Movimentação de Mercado, Competição, Inovação, Economia
Interna, Economia Regional, Economia Global, Consumidores,
Qualidade de Produtos/ Serviços, Oferta, Demanda, Concorrência,
Tomada de Decisão, Estratégia, Informação, Conhecimento.
A partir dos pontos levantados, foi possível refletir e tomar algu-
mas decisões que delinearam o percurso da pesquisa, desde o título, os
objetivos iniciais e o próprio referencial teórico. Para este relato de pesqui-
sa destacam-se as seguintes temáticas que fundamentaram a pesquisa: os
Princípios da Arquivologia e a Gestão Documental, as Técnicas Contábeis
e a Auditoria Financeira.
princípios dA ArQUivologiA e A gestão docUMentAl
Compõem o arcabouço teórico da Arquivologia os seguintes princí-
pios: Princípio da Proveniência, Princípio da Organicidade, Princípio da
Unicidade, Princípio da Indivisibilidade ou Integridade Arquivística e o
Princípio da Cumulatividade, que serão explanados a seguir.
O Princípio da Proveniência, conhecido também como Princípio
do Respeito aos Fundos, é considerado um princípio fundamental dos ar-
quivos. “O Princípio da Proveniência abarca a origem dos documentos
ligando-os diretamente ao seu produtor, de modo que um arquivo não
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
369
deva abrigar concomitantes documentos de outros órgãos produtores que
não se relacionam entre si” (Almeida, 2018, p. 33). Dentro das organiza-
ções, há os colaboradores que executam suas atividades diariamente, para
isso precisam sustentar suas atividades, ou seja, registrá-las e nesse processo
são produzidos e recebidos documentos, sejam eles em suporte papel, ou
em modernos sistemas, que elaboram os documentos digitais. “Por esse
princípio, os arquivos devem ser organizados obedecendo à competência e
às atividades da instituição [...]” (Belotto, 2014, p. 88).
O Princípio da Organicidade se relaciona com a organização da pró-
pria instituição produtora dos documentos, “[…] está vivamente presente
na própria conceituação de fundo, é o fator que melhor esclarece a dife-
rença entre os conjuntos documentais arquivísticos e as coleções caracte-
rísticas das bibliotecas e centros de documentação […]”. (Belotto, 2014,
p. 85). Esse Princípio colabora também com a diferenciação do objeto de
estudo de arquivos, bibliotecas e museus.
O Princípio da Unicidade ressalta o quanto um documento é único
e a sua relação com o vínculo arquivístico e seu órgão produtor. Rodrigues
(2006) explana sobre o Princípio da Unicidade como
[...] à relação de cada documento com a ação que o gerou. Sua
especificidade seria o enfoque em documentos duplicados (cópias)
encontrados dentro de um mesmo arquivo, mas em subconjuntos
documentais distintos porque produzidos ou recebidos no exercício
de ações distintas (Rodrigues, 2006, p. 109).
Esse Princípio ressalta o quanto o arquivista necessita compreender
a ambiência em que atua, bem como as atividades e processos em que cir-
culam os fluxos documentais.
O Princípio da Indivisibilidade ou Integridade considera que “Todos
os documentos que compõem um fundo precisam ser mantidos unidos,
não devem ser divididos ou separados, pois estão preservados dentro de um
contexto de produção que os gerou” (Almeida, 2018, p. 36).
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
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Bellotto (2004) defende que “O arquivo é uma formação progres-
siva, natural e orgânica” (Belotto, 2004, p. 88), nessa definição é possível
identificar o Princípio da Cumulatividade, haja vista sua relação de pro-
dução de documentos estar relacionada com as atividades dos produtores
de documentos.
Tendo em vista os princípios acima, a Arquivologia busca soluções
para as problemáticas que cercam a gestão documental, que é definida como
A gestão de documentos é um processo arquivístico que, com
menor custo e maior eficiência e eficácia, busca intervir no ciclo
de vida dos documentos, visando reduzir, seletiva e racionalmente,
a massa documental a proporções manipuláveis até que a ela
tenha destinação final (expurgo ou recolhimento aos arquivos
permanentes) (Medeiros; Amaral, 2010, p. 298).
E para intervir no ciclo de vida dos documentos, o arquivista necessita
conhecer a instituição que atua, coletar uma série de dados e informações,
a partir do diagnóstico de arquivo, analisar essas informações e propor so-
luções a partir da implantação da gestão documental. De acordo com Pazin
(2005), para realizar o processo de organização do arquivo é preciso um
diagnóstico da Produção Documental, a Classificação e a Avaliação de do-
cumentos. Nesse sentido, consideram-se como atividades macros da gestão
documental: a identificação, a produção, avaliação (Bernardes, 1998).
É a partir dessas atividades macros que será possível elaborar instru-
mentos arquivísticos que auxiliarão na gestão documental: plano de clas-
sificação, tabela de temporalidade, instrumentos de pesquisa, protocolos,
dentre outros.
técnicAs contábeis e A AUditoriA finAnceirA
A Ciência Contábil atua em diferentes segmentos e atende cada
qual na sua especificidade, são exemplos: a contabilidade empresarial,
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
371
hospitalar, comercial, pública, dentre outras. De acordo com Marques
(2013, p. 58)
A Contabilidade tem como conceito, a ciência que estuda e controla
o patrimônio das empresas. […] podemos também identificar este
conceito de contabilidade como a geração de informações que são
conhecidas no decorrer da apuração dos fatos e, estas informações
sofrem mudanças na composição de bens, direitos e obrigações.
Para isso, aplicam-se as técnicas contábeis, as quais geram documen-
tos. Abaixo, foram relacionadas as técnicas contábeis com os seguintes ti-
pos de documentos:
Escrituração: Livro de Registro Diário, Livro Razão, Livro
Caixa, Livro Conta Corrente, Livro de Controle da Produção
e do Estoque, Livro de Registro de Entrada, Livro de Registro
de Saída, Livro de Registro de Inventário, Livro de Registro de
Duplicatas.
Demonstração Contábil: Balanço Patrimonial, Demonstração
do Resultado do Exercício, Demonstrações de Mutações do
Patrimônio Líquido, Demonstração dos Fluxos de Caixa,
Demonstração do Valor Adicionado, Demonstração dos Lucros
ou Prejuízos Acumulados.
Análise de balanço: Balanços (Almeida, 2018).
Ressalta-se que as técnicas contábeis aplicadas variam de acordo com
o formato societário e o tipo de tributação da empresa. A auditoria
também é uma técnica contábil, que se divide nas seguintes
possibilidades: auditoria operacional ou de gestão, auditoria
de conformidade ou compliance, auditoria de processamento
eletrônico de dados, perícia contábil e auditoria financeira, a qual
foi foco da pesquisa.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
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A auditoria financeira busca analisar as demonstrações contábeis, a
partir da análise dos seguintes documentos: extratos bancários, relatórios,
controles de contas a pagar e contas a receber, dentre outros pertinentes.
Para tal, os auditores utilizam de algumas fontes de evidências: evidência
física, evidência analítica, evidência matemática, evidência testemunhal
ou verbal e evidência por representações e evidência documental (Barreto;
Graeff, 2012).
A evidência documental “[…] consiste em todo tipo de documentos
utilizados como evidência pelo auditor, tal como notas fiscais, contratos,
faturas, recibos, relatórios etc.” (Barreto; Graeff, 2012, p. 169). A organi-
zação que possui uma gestão documental implantada, conseguirá realizar
o atendimento da auditoria sem grandes percalços, haja vista que, com
a documentação organizada é possível disponibilizar a documentação de
modo ágil e assertiva, uma vez que a organização realiza o controle da sua
documentação.
O auditor deverá solicitar e analisar toda a informação e documen-
tação disponibilizada pela empresa, em busca de confrontar as operações
realizadas com o que a empresa tem nos seus registros contábeis, fiscais e
financeiros. Após as análises deverá realizar um relatório apontando todas
as ocorrências identificadas, bem como sugestões de melhorias, com o ob-
jetivo de tornar os processos mais fidedignos possíveis.
Para atingir este objetivo, o auditor necessita planejar adequadamente
o seu trabalho, avaliar o sistema de controle interno relacionando-o
com a parte contábil e proceder a reversão analítica das contas do
ativo, passivo, despesas e receitas, a fim de estabelecer a natureza,
datas e extensão dos procedimentos de auditoria, para conferir os
dados auditados (Marques, 2013, p. 41).
Para compreender a realidade dos auditores e a relação deles com
a documentação que é acessada, foi realizado um estudo de caso, o qual
segue explanado na próxima seção.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
373
pRocedimentos metodológicos
A pesquisa científica sobre o tema “Gestão documental e seus impac-
tos: uma abordagem nos processos de auditoria” foi de natureza qualitativa,
do tipo descritiva-exploratória, possibilitando compreender os fenômenos
em torno dos assuntos macros da pesquisa.
A pesquisa é um procedimento reflexivo, sistemático, controlado
e crítico que permite descobrir novos fatos ou dados, soluções ou
leis, em qualquer área do conhecimento. […] a pesquisa é uma
atividade voltada para a solução dos problemas por meio dos
processos do método científico (Rampazzo, 2013, p. 49).
O método de pesquisa eleito foi o Estudo de caso único, o qual é de-
fendido por Yin (2010, p. 23) como “[…] um dos empreendimentos mais
desafiadores das ciências sociais”. Para a triangulação das fontes de evidên-
cias foram utilizados questionário, entrevista, registros de arquivo (relató-
rios quantitativos) e análise documental (análise do website da Empresa e
análise de documentos digitais).
Realizou-se também a revisão bibliográfica em base de dados da área
de Ciência da Informação e Ciências Contábeis, bibliotecas universitárias,
periódicos, entre outros instrumentos que possibilitam o aprofundamento
em torno do objeto de pesquisa e, a construção do referencial teórico.
O universo da pesquisa compreendeu uma empresa privada, do
ramo de prestação de serviços na área de auditoria, localizada no interior
do Estado de São Paulo. O Sujeito 1 é formado em Ciências Contábeis e
possui cargo de Auditor Fiscal. Foram realizados levantamentos em torno
da quantidade de colaboradores, cargos, atividades desenvolvidas.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
374
Resultados e discussões
As evidências coletadas durante a pesquisa possibilitaram compreen-
der o universo da Empresa Y, que realiza auditorias financeiras, como tam-
bém a realidade do auditor fiscal, tendo em vista suas dificuldades ao soli-
citar e analisar a documentação disponibilizada pelos seus clientes.
O questionário composto por 15 questões abertas e fechadas apre-
sentou respostas mais sucintas. Abaixo, destacam-se algumas respostas ob-
tidas no questionário:
1. Em uma auditoria financeira, quais são os documentos con-
sultados? R: “Geralmente solicitamos um relatório com a mo-
vimentação financeira, extratos bancários e uma amostra de
documentos”.
2. O Sujeito 1 apontou demora na entrega da documentação,
em seguida respondeu à questão: Você atribui essa demora
na entrega de documentos e informações do cliente a que: R:
“Desorganização e Falta de profissional para organizar a infor-
mação/ documento”.
3. Relate as dificuldades enfrentadas com a demora na entrega das
informações e documentos para o desenvolvimento do trabalho.
R: “Demora na conclusão do trabalho e a qualidade do serviço
prestado”.
As respostas do Sujeito 1 apontam para uma carência de gestão do-
cumental e os impactos na realização das suas atividades. Tendo em vista
a entrevista realizada com o Sujeito 1, destacam-se as seguintes respostas:
Para um trabalho de auditoria ter êxito é preciso a combinação de
uma série de fatores, tais como: organização do trabalho por parte
dos auditores e organização das informações do cliente. O cliente
precisa dominar e documentar seus processos, ter vários controles,
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
375
controles a parte de sistemas, que permitam que as finanças
da empresa não se misturem definitivamente com as pessoas.
É preciso ter confiança nas falas dos clientes, esse conjunto de
fatores proporciona um trabalho tranquilo e de qualidade e, ainda
visualizarmos outras possibilidades de serviços, como a recuperação
de crédito, por exemplo. E assim, seguimos o trabalho não só
apontando as falhas, mas também melhorias e oportunidades.
As dificuldades são várias, desde falta de local apropriado para
realizar as atividades, já trabalhei em refeitório, embaixo de
escada, ao lado de maquinário. Porém, a maior dificuldade é
quando o colaborador faz de tudo para que a auditoria não ande,
desde não conseguir nos atender para explicar um processo,
não disponibilizando informações, até mesmo a não entrega de
documentos. A falta de informação de modo geral, e a não entrega
de documentos é uma das maiores dificuldades, pois isso nos
faz ficar com trabalho para trás, cobrando o cliente das “coisas
pendentes, quando já poderíamos estar elaborando o relatório
e envolvidos com outro trabalho. Os funcionários dão várias
desculpas quando são questionados, dizendo que ‘o sistema que
gerou essa informação’, ‘sempre foi assim’, ‘me ensinaram assim’,
não localizei o documento’, ‘desde que entrei é assim’, são as falas
mais utilizadas.
Nas respostas do Sujeito 1 foi possível identificar as dificuldades en-
contradas para realizar o trabalho de auditoria e o quanto isso está relacio-
nado com a carência de gestão documental.
A partir do questionário, entrevista, análise de documentos e outras
evidências consultadas, foi possível compreender o fluxo informacional e
documental da auditoria e elaborar o Fluxograma 1 – “Processo de audi-
toria financeira”.
Com o desenho do Fluxograma 1 foi possível indicar os gaps do
processo, destacando na cor verde os gaps relacionados diretamente a do-
cumentação e em azul os gaps relacionados as divergências na auditoria,
que ao final também podem estar relacionadas a documentação.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
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376
Fluxograma 1 – Processo de auditoria financeira
Fonte: Almeida (2018, p. 147).
A partir dos apontamentos das lacunas no processo de auditoria, foi
possível identificar os impactos da ausência da gestão documental e rela-
cioná-los às ações da gestão documental que amenizam essas dificuldades.
A Figura 1 – “Impactos e ações da gestão documental” propicia a visuali-
zação dessas propostas.
Os impactos identificados na Figura 1 são inversamente o que a ges-
tão documental pode apresentar de benefícios. A documentação em um
processo de auditoria é fundamental para garantir o processo, sem acesso
aos documentos o processo não ocorre. A partir do exposto cumpre-se o
objetivo geral, que foi verificar os impactos causados pela ausência da ges-
tão documental nos processos de auditoria.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
377
Figura 1 – “Impactos e ações da gestão documental
Fonte: Almeida (2018, p. 152).
consideRações finais
Desenvolver uma pesquisa de mestrado foi uma experiência ímpar,
uma vez que foi possível sanar os anseios da própria pesquisadora em torno
da temática. Realizar uma revisão bibliográfica, constatar a relevância da
gestão documental nos processos de auditoria, bem como se aproximar das
dificuldades do auditor, propiciaram uma vivência que possibilitou apre-
sentar as propostas, melhorias para esses ambientes, a partir da indicação
da gestão documental.
Os resultados foram além, a partir dos instrumentos elaborados,
quadros, figuras, gráficos, fluxogramas, que podem ser consultados na
Dissertação, esta pesquisa demonstra a interdisciplinaridade que há na
Arquivologia e o quanto o arquivista precisa assumir um papel holístico,
que atenda os anseios dos produtores de documentos.
A realização desta pesquisa e seus resultados têm várias contribuições:
[...] a divulgação da gestão documental no meio empresarial, com
o arcabouço teórico da Arquivologia, com os arquivistas e, que
os auditores passam a indicar nos seus relatórios à necessidade de
gestão documental (Almeida, 2018, p. 155).
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
378
Tendo em vista o objetivo deste relato de pesquisa, buscou conden-
sar e apresentar o desenvolvimento e resultados da pesquisa científica que
resultou na dissertação.
RefeRências
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379
C 21
P    
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Cecília Preciosa Cabsela 1 e
Sonia Maria Troitiño Rodriguez 2
intRodução
Nos dias que correm, os dados pessoais têm estado cada vez mais ex-
postos e de forma quase que (in)voluntária, no ciberespaço sobretudo. Esta
situação é incrementada com a evolução das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC), à exemplo da web 2.0 e subsequentes, que ao pro-
porcionarem uma interação mais intensa, personalizada e intuitiva dos
usuários, também colocam a sua privacidade e segurança em check. A
Inteligência Artificial (IA) presente nos mais variados aparelhos, vai de for-
ma automática, recolhendo dos dados dos cidadãos ao redor do mundo.
Aliás, em textos que abordam sobre a proteção de dados pessoais é
comum iniciarem-se com a indicação de que as TIC agudizaram as aten-
ções para a investigação sobre a temática assim como para a sua regula-
mentação em diferentes ordenamentos jurídicos. Aqui, corroborando com
este fato e sem ignorá-lo, vamos iniciar buscando a compreensão da noção
Doutoranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail:
cp.cabsela@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2216-5792. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/9824660923909092.
Doutora em História Social. Professora na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: sonia.
troitiño@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7204-3283. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/6106443387062363.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p379-396
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
380
de “transversalidade” que propomos como lentes para olhar a proteção de
dados pessoais na Ciência da Informação.
Marteleto (2007) ao discutir “Informação, rede e redes sociais:
fundamentos e transversalidades”, indica que dois primeiros entendimentos
da transversalidade, seria, no caso das disciplinas científicas, uma paisagem
disciplinar desenhada em linhas paralelas, sem jamais se cruzarem umas com
as outras, e é o que convencionalmente se denomina interdisciplinaridade
ou transdisciplinaridade, isto é, quando uma disciplina se dispõe a
acompanhar eventuais conceitos transversais compartilhados com outras
disciplinas, ou que transcenderiam todas essas disciplinas, alçando-as a
um nível mais elevado de abstração ou de generalização. Marteleto recorre
à Barel e Cauquelin (1993) para mostrar um terceiro entendimento da
transversalidade que seria compreender o conceito transversal numa
perspetiva além do interdisciplinar e do transdisciplinar, ou como “conceito-
passagem”. Seria um “conceito-viajante”, situado tanto no interior quanto
no exterior das disciplinas, onde a transversalidade muda as paisagens nas
quais o conceito se desloca e o próprio conceito muda com as paisagens,
sem com isso perder a sua identidade.
No ano seguinte ao trabalho de Marteleto de 2007, Bufrem, Freitas
e Costa (2008) estudaram a “Organização transversal do conhecimento
buscando identificar “possibilidades na área da informação”. Os autores
notaram presença pouco significativa do tema e observaram um tímido e
pouco expressivo cultivo do tema transversalidade, seja como foco princi-
pal dos textos, seja como tema correlato. Ora, ao desenvolvermos o pre-
sente trabalho, contribuiremos, ainda que de forma correlata, ao corpus de
textos ligados à transversalidade, à proteção de dados pessoais e à Ciência
da Informação (CI).
Diante do exposto acima, nos indagamos “qual é a relação da pro-
teção de dados pessoais com a Ciência da Informação?”, “onde, dentro da
Ciência da Informação, podemos identificar a proteção de dados pessoais?”
e “qual é o papel da Ciência da Informação na proteção de dados pessoais?”
Assim, neste artigo é abordada, com alguma dimensão cronológica,
a proteção de dados pessoais na panóplia da CI sob um olhar da transver-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
381
salidade. Portanto, o objetivo geral deste trabalho é compreender a relação
da proteção de dados pessoais com a CI e como essa temática da proteção
de dados pessoais é tratada na CI. Este objetivo desdobra-se em conhecer
o campo da Ciência da Informação, identificar o “lugar” da proteção de
dados pessoais na CI assim como identificar o papel da CI na proteção de
dados pessoais.
Em termos metodológicos e para o alcance destes objetivos, fez-se
um levantamento bibliográfico que cobre o período que parte de 1968 à
2023. O levantamento bibliográfico teve como propósito fornecer fun-
damentação teórica ao artigo, bem como a identificação do estágio atual
do conhecimento referente à temática, como é defendido por Gil (2002),
e neste caso referente à proteção de dados pessoais e das discussões na
Ciência da Informação. As fontes variaram entre livros, teses, periódicos
científicos, anais de eventos localizados, na sua maioria, por intermédio de
bases de dados como a Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos
em Ciência da Informação (Brapci) e Scielo. Este artigo também se valeu
da pesquisa documental ao se servir de documentos não bibliográficos,
como foi o caso da análise da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais do
Brasil de 2018.
Na sua finalidade a pesquisa realizada classifica-se em básica na me-
dida em que reúne estudos e tem como principal intenção preencher lacu-
na no conhecimento, conforme indica Gil (2022). Esta mesma pesquisa é,
em seu propósito, exploratória ao proporcionar maior familiaridade com
o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses.
Ora, alinhada à natureza dos dados coletados e analisados, bem como aos
métodos e técnicas empregados, a pesquisa é qualitativa. O fruto da meto-
dologia utilizada é expresso nas seções que seguem.
Ora, a pesquisa em torno desta temática mostra-se relevante à medida
que, não só oferece uma visão do estado da arte da Ciência da Informação
e da proteção de dados pessoais para os estudiosos da área, como também
poderá alargar os horizontes de pesquisas da CI em conjugação com a
proteção de dados pessoais. Nesta senda, é importante o aprofundamento
de estudos na CI sobre a proteção de dados pessoais a fim de melhor se
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
382
destacar o papel da CI nos processos de coleta, organização, disseminação
e uso dos dados e/ou informações pessoais.
ciência da infoRmação
A Ciência da Informação teve seu aparecimento e expansão, como
indica Barreto (1997), no pós-guerra, principalmente a partir de 1950,
quando pesquisas e documentos mantidos fora do fluxo normal de in-
formação foram liberados para o conhecimento coletivo. Nessa altura, o
problema foi como lidar com o grande volume de informação disponibi-
lizada. Era, então, preciso gerenciar o tanto de informação, priorizar o seu
uso de acordo com as diferentes comunidades informacionais e promover
uma divulgação seletiva e retrospectiva para evitar a duplicação do esforço
de pesquisa e permitir que a sociedade conhecesse os avanços que haviam
sido efetivados (Barreto, 1997).
Ora, considera-se que o registro oficial da denominação “Ciência da
Informação”, data do início da década de 1960, a partir de eventos pro-
movidos nos Estados Unidos, do qual participaram cientistas, escritores e
filósofos, onde foi discutida a criação de novas tecnologias de informação,
consequência natural do crescimento da produção científica e que redun-
dara na multiplicação dos periódicos científicos (Freire, 2006, p. 11).
Ao apontar o surgimento da CI, González De Gómez (2000) su-
blinha as transformações das sociedades contemporâneas que passaram a
considerar o conhecimento, a comunicação, os sistemas de significado e os
usos da linguagem como objetos de pesquisa científica e domínios de in-
tervenção tecnológica. Para ela, a CI constituía-se, assim, como uma nova
demanda de cientificidade e como um sintoma das mudanças que afeta-
riam a produção e direção do conhecimento.
Sem delongas, apresentamos a definição de Borko de 1968, segundo
a qual, “Ciência da Informação é a disciplina que investiga as propriedades
e o comportamento informacional, as forças que governam os fluxos de
informação, e os significados do processamento da informação, visando à
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
383
acessibilidade e a usabilidade ótima” (Borko, 1968, p. 1). Quer dizer, nas
palavras de Targino, “a CI configura-se como o conjunto de conhecimen-
tos relativos a todo o ciclo informacional” (Targino, 1995, p. 12).
Este psicólogo, bibliotecário, teórico da CI e cientista da compu-
tação, Borko (1968) acrescentou que esta ciência “está preocupada com
o corpo de conhecimentos relacionados à origem, coleção, organização,
armazenamento, recuperação, interpretação, transmissão, transformação,
e utilização da informação. Borko (1968) registra ainda o carácter inter-
disciplinar da CI apontando os campos com que se relaciona como o da
Matemática, Lógica, Linguística, Psicologia, Ciência da Computação,
Artes Gráficas, Comunicação, Biblioteconomia, Administração, entre ou-
tros. Aliás, Targino (1995) entendeu o mesmo e apontou também que a
CI se relaciona com muitos outros campos, como a Sociologia, Política,
Economia, Informática e sublinhando a sua relação mais íntima com a
Biblioteconomia e a Documentação. Como vemos, a relação da CI e a
Ciência da Computação ou a Informática, é desde logo bem vincada.
Queremos também registrar, de forma explícita, a relação da CI com o
Direito e assim, fazer visualizar o triângulo que comporta a nossa discussão
neste texto.
Como estamos a ver, embora a CI seja focalizada como reconheci-
damente social, Silva e Freire (2013) chamam atenção à necessidade de
observar que suas origens remontam a fatores indissociáveis das ciências
naturais e de seus processos de quantificação e também das ciências di-
tas tecnológicas. Com efeito, das ciências naturais e de seus processos de
quantificação destaca-se o desenvolvimento de práticas que primem pela
objetividade científica, especialmente no que tange a construção dos estu-
dos métricos da informação, apresentando como enfoque central a biblio-
metria (Silva; Freire, 2013).
Em 1996, Saracevic refletiu sobre a origem, evolução e relações da
CI. Na sua reflexão, o autor retomou as definições avançadas ao longo
do tempo por outros teóricos da CI, começando pela denição de Borko
que acabamos de revisitar. Ele avança indicando que o conceito e a abran-
gência da CI foram afunilados, na década de 70, pela definição mais espe-
cífica dos fenômenos e processos que ela analisa.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
384
Neste âmbito, Saracevic (1996) apresenta a fala de Goffman (1970)
para quem o objetivo da CI é o de estabelecer um enfoque científico ho-
mogêneo para estudo dos vários fenômenos que cercam a noção de in-
formação, independentemente do processo em que ocorram (biológicos,
humano ou nas máquinas) e, portanto, a CI deve estabelecer princípios
fundamentais que direcionem o comportamento em todo processo de co-
municação e seus sistemas de informação associados. Assim, a CI estuda as
propriedades dos processos de comunicação que devem ser traduzidos em
sistema de informação apropriado para uma dada situação física (Goffman,
1970 apud Saracevic, 1996, p. 46).
Ainda observando a década de 70, em particular nos seus meados,
Saracevic compreende que era bastante reconhecido que a base da CI dizia
respeito aos processos de comunicação humana. Para sustentar a sua cons-
tatação, o autor apresenta a definição de Becker (1976) que definiu a CI
como “o estudo do modo pelo qual as pessoas criam, usam e comunicam
informações” (Becker, 1976 apud Saracevic, 1996, p. 47).
Antes de avançar com a sua própria (re)definição, correspondente
à década 90, o autor aponta que na década 80 a administração foi acres-
centada como um elo básico da CI. Na sequência, atendendo os termos
em que evoluiu e o seu enfoque contemporâneo, define a CI como a área
que se dedica “às questões científicas e à prática profissional voltadas para
os problemas da efetiva comunicação do conhecimento e de seus registros
entre os seres humanos, no contexto social, institucional ou individual do
uso e das necessidades de informação.” (Saracevic, 1996, p. 47). O autor
vinca que “no tratamento destas questões são consideradas de particular
interesse as vantagens das modernas tecnologias informacionais.
Aliás, Barreto (1997) indicou que a crise inicial da CI, senão resol-
vida, foi bastante minorada pelo computador e que a CI é tão dependente
dessas tecnologias. Para ele, tão importante como o instrumental tecnoló-
gico, foram as transformações associadas à interatividade e interconectivi-
dade no relacionamento dos receptores com a informação. Referindo-se à
interatividade como a possibilidade de acesso em tempo real pelo usuário
à diferentes estoques de informação, às múltiplas formas de interação entre
o usuário e às estruturas de informação contidas nestes estoques. A intera-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
385
tividade, continua Barreto (1997), reposiciona os acervos de informação, o
acesso à informação e a sua distribuição. Ele refere-se à interconectividade
como a possibilidade que tem o usuário de informação em deslocar-se, no
momento de sua vontade, de um espaço de informação para outro, de um
estoque de informação para um outro, onde o usuário passa a ser o seu
próprio mediador na escolha de informação.
A interatividade e interconectividade levantadas por Barreto, nos
despertam para as questões dos dados pessoais e a sua proteção, a partir do
momento em que esse usuário tem a possibilidade de acesso à “diferentes
estoques de informação” e tem a possibilidade de trafegar em diferentes
espaços e estoques de informação, deixando, no nosso entendimento, “pe-
gadas eletrônicas”, isto é, seus dados pessoais.
Assim, no final do século XX, a CI redefine, devido a sua interação
com uma tecnologia, o conteúdo e a prioridade de seus objetivos conti-
nuamente, incorporando o estudo de grupos eletrônicos, repositórios de
informação na Internet, correio eletrônico, etc. Estas mudanças, estiveram
baseadas em 4 conceitos, de acordo com Barreto (1997). A hiper-intera-
tividade (maior participação de perceção sensorial no espaço cibernético;
velocidade maior no processo de interação com a informação), a Hiper-
conectividade (convivência nos espaços de informação traz a emoção de
que se é parte da ambiência de informação, com condições de alterar esta
ambiência), o conteúdo (molda-se às condições de assimilação individuais
do receptor tanto na sua forma como em suas linguagens de comunica-
ção) e competências (geradores, receptores, organizações e profissionais da
área necessitam desenvolver continuamente novas habilidades para atuar
na gestão, transferência e recepção da informação). (Barreto, 1997, p.164).
Estes quatro conceitos avançados colocam em destaque, pelo me-
nos, dois atores neste cenário: os indivíduos titulares de dados pessoais que
são ao mesmo tempo os que participam destes espaços cibernéticos com
interação e conectividade cada vez maiores, e os profissionais e cientistas
da informação que devem se atentar cada vez mais rápida interação que os
indivíduos têm com a informação, como também devem estar à altura de
gerenciar, incluindo proteger, os volumes crescentes de dados, em particu-
lar, de dados pessoais.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
386
E como já indicava González De Gómez (2000), a CI tenderá a
incluir, em seus programas de pesquisa e na definição do domínio de cons-
trução de seu objeto, traços e demandas da sociedade industrial, assim
como logo acompanhará os processos de reformulação dos paradigmas
econômicos, sociais e políticos, desde a mercadização da informação a sua
reconfiguração como bem de capital e indicador de riqueza. Como temos
constatado, a informação pessoal voire os dados pessoais são a “nova mer-
cadoria”, sobretudo no ambiente digital.
Ora, Saracevic (1996) apontou três características gerais que consti-
tuem a razão da existência e da evolução da CI e que constituem o modelo
para compreensão do passado, presente e futuro da CI e dos problemas e
questões que ela enfrenta. A primeira, a CI é, por natureza, interdisciplinar.
A segunda, a CI está inexoravelmente ligada à tecnologia da informação.
Esse imperativo tecnológico impôs a transformação da sociedade moderna
em sociedade da informação, era da informação ou sociedade pós-indus-
trial. A terceira, a CI é uma participante ativa e deliberada na evolução da
sociedade da informação e ela tem um importante papel a desempenhar
por sua forte dimensão social e humana, que ultrapassa a tecnologia.
Nessa ordem de ideia, Freire (2006) aponta que um dos objetivos
da CI seria contribuir para a informação se tornar, cada vez mais, um ele-
mento de inclusão social, trazendo desenvolvimento para as pessoas e na-
ções. Haveria, assim, uma responsabilidade social como fundamento para
a CI definindo sua atuação na sociedade. Quando cientistas e profissionais
da informação organizam textos ou documentos para atender a necessida-
de de um determinado setor da sociedade, deveriam fazê-lo acreditando
que essas informações serão úteis para seus usuários potenciais e que delas
resultarão benefícios para a sociedade (Freire, 2006, p. 17). Do mesmo
modo, se pensarmos na proteção de dados pessoais, quando os cientistas e
profissionais da informação trabalham para a salvaguarda dos dados pes-
soais, desempenham uma responsabilidade social para que estes usuários
não sejam alvo de más intenções.
Bufrem (2013) em seu texto “Configurações da pesquisa em ciência
da informação” pesquisou 30 artigos considerados científicos pelos peri-
ódicos, publicados entre 2008 e 2012, recuperados por meio da Brapci.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
387
Nesta pesquisa a autora identificou, dentre os 30, uma pesquisa voltada
ao tema “Tecnologia e inovação”, com o título do trabalho relacionado à
proteção e uso legal da informação”.
Sant’Ana indicou em 2016 que o cenário de disponibilidade de
grandes volumes de dados, com grande variedade e em velocidades que le-
vam ao acesso em tempo real, requeriam já novos olhares para os processos
de acesso e uso de dados e que a CI pode(ria) oferecer um novo enfoque
centrando-se nos dados e contribuindo para a otimização do “Ciclo de
Vida dos Dados” (Sant’ana, 2016, p. 116). Aliás, CI poderia contribuir
para atender as necessidades da sociedade em relação à proteção de dados
pessoais, fomentando pesquisas e métodos para minimizar a insciência so-
bre a fase de coleta de dados, tornando mais perceptível a identificação
dos elementos que compõem esse cenário, a fim de minimizar quebras de
privacidade, enfatiza Affonso (2018).
pRoteção de dados pessoais
A questão da proteção de dados pessoais não é um assunto intei-
ramente novo, mas vem ganhando diferentes contornos conforme a so-
ciedade avança e as TIC evoluem. Na verdade, a discussão remonta do
século XIX em particular, com o artigo e Right To Privavcy de Warren
e Brandeis, publicado na Harvard Law Review em 1890, com a tônica na
privacidade, no direito a estar só. Doneda (2006) tem a mesma compreen-
são, apontando que uma crescente preocupação em relação à tutela da
privacidade é própria de nosso tempo, mas a ideia de privacidade em si não
é recente, podendo ser identificada noutras épocas e sociedades.
A privacidade esteve durante muito tempo “reservada” à “elite” e
mesmo que hoje ela esteja consagrada como um direito fundamental, tra-
ços do contexto individualista do qual é originária ainda se fazem notar.
Ora, com o aumento do fluxo e importância da informação, não é mais a
elite” que estava e está sujeita a ter sua privacidade violada. Nos dias que
correm, pela internet todos podem se comunicar, bastando possuir um
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
388
computador, um modem e uma linha telefônica. Ampliou-se a facilidade
de acesso à informação (não mais apenas para a “elite”) armazenada em
computadores, quer se trate de informações livremente disponíveis, quer
se trate de informações e dados pessoais de ordem privada (Boff; Fortes,
2014, p. 110). De facto, como mostram Ferreira, Pinheiro e Marques
(2021), com a expansão das TIC, ganham destaque alguns problemas,
como a violação da privacidade de seus usuários diante do acesso e coleta
de dados pessoais por meio dos artefatos tecnológicos.
A informação pessoal, como se refere Doneda (2006), assume im-
portância por pressupostos diversos, com destaque para o controle e a efi-
ciência, tendo a volta deles uma série de interesses envolvendo o Estado e o
privado. Aliás, empregando um ponto de vista sócio-histórico, a noção de
privacidade no capitalismo sofreu transformações ao dar novo significado
ao conceito de vida privada e o limite entre o público e o privado (Ferreira;
Pinheiro; Marques, 2021, p. 152). Nesse espírito do capitalismo, a vida
privada é passível de ser uma mercadoria. O acesso aos dados deste plano
muito interessa, por exemplo, às empresas para fazerem ações de marketing
direcionado de acordo com o comportamento individual do consumidor.
Em motores de busca, dados são rastreados por meio de cookies visando
identificar o comportamento dos usuários e torná-los alvo de publicidade.
Para além de questões técnicas, tecnológicas, organizacionais e po-
líticas, a proteção de dados pessoais acarreta aspectos legais. Deste modo,
foram criados com o passar do tempo, em diferentes ordenamentos jurí-
dicos, vários documentos de direito, com o propósito de proteger a vida
privada dos indivíduos. Ferreira, Pinheiro e Marques (2021) apontam que
o primeiro instrumento internacional a tratar do direito à privacidade foi
a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948. Ela
visava proteger os direitos essenciais do ser humano. A Assembleia Geral
das Nações Unidas aprovou, no mesmo ano, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que teve como objetivo promover o respeito aos di-
reitos e liberdades entre os povos dos Estados-Membros. Em 1950 ocor-
reu a Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das
Liberdades Fundamentais, cujo objetivo foi garantir a proteção e o desen-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
389
volvimento dos direitos e das liberdades fundamentais (Ferreira; Pinheiro;
Marques, 2021, p. 157).
desenvolviMento dAs leis de proteção de dAdos pessoAis
Nesta subseção vamos revisitar o desenvolvimento das leis de prote-
ção de dados pessoais a partir de levantamento feito por Doneda (2011).
Ele aponta mudanças de enfoque nesse processo de desenvolvimento que
vem dos finais do século XX. Ele visualiza quatro diferentes gerações de leis
que partem desde um enfoque mais técnico e restrito até a abertura mais
recente a técnicas mais amplas e condizentes com a profundidade da tec-
nologia adotada para o tratamento de dados, em busca de uma tutela mais
eficaz e também vinculando a matéria aos direitos fundamentais.
A primeira geração das leis é composta por normas que refletiam o
estado da tecnologia e a visão do jurista na época, pretendendo regular um
cenário no qual centros elaboradores de dados, de grande porte, concentra-
riam a coleta e gestão dos dados pessoais. Elas giravam em torno da conces-
são de autorizações para a criação desses bancos de dados e do seu controle
a posteriori por órgãos públicos. Essas leis enfatizavam o controle do uso
de informações pessoais pelo Estado e pelas suas estruturas administrativas,
que eram o destinatário principal das mesmas. A estrutura e a gramática de
tais leis era algo tecnocrático e condicionado pela informática. Nelas, tra-
tava-se dos “bancos de dados”, e não propriamente da “privacidade”, desde
seus princípios genéricos até aos regimes de autorização e de modalidades
de tratamento de dado.
A segunda geração, diz Doneda (2011), surgiu no final da década
de 1970, tendo como característica básica e que diferencia tais leis das da
primeira geração, o fato da sua estrutura não estar mais fixada em torno
do fenômeno computacional em si, mas se baseia na consideração da pri-
vacidade e na proteção dos dados pessoais como uma liberdade negativa, a
ser exercida pelo próprio cidadão. Estas leis apresentavam igualmente seus
problemas, acrescenta Doneda, o que motivou uma subsequente mudan-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
390
ça. Percebeu-se que o fornecimento de dados pessoais pelos cidadãos tinha
se tornado um requisito indispensável para a sua efetiva participação na
vida social. O que era exceção veio a se tornar regra. Tanto o Estado quanto
o privado utilizavam intensamente o fluxo de informações pessoais para
seu funcionamento.
A terceira geração de leis, surgida na década de 1980, conforme
Doneda (2011), procurou sofisticar a tutela dos dados pessoais, que
continuou centrada no cidadão, contudo, passou a abranger mais do que
a liberdade de fornecer ou não os próprios dados pessoais, preocupando-
se também em garantir a efetividade desta liberdade. Aqui a proteção de
dados é vista como um processo que envolve a própria participação do
indivíduo na sociedade e considera o contexto no qual lhe é solicitado que
revele seus dados, estabelecendo meios de proteção para as ocasiões em
que sua liberdade de decidir livremente é colocada em causa por eventuais
condicionantes, proporcionando a autodeterminação informativa.
A quarta geração de leis de proteção de dados surgiu e caracterizou-se
por procurar suprir as desvantagens do enfoque individual existente. Nesta
geração, as leis procuram enfocar o problema integral da informação, pois
elas presumem que não se pode basear a tutela dos dados pessoais simples-
mente na escolha individual. Entre as técnicas utilizadas, essas leis procu-
raram fortalecer a posição da pessoa em relação às entidades que coletam e
processam seus dados. Outra característica é a disseminação do modelo das
autoridades independentes para a atuação da lei e também o surgimento
de normativas conexas na forma, por exemplo, de normas específicas para
alguns setores de processamento de dados, setor de saúde, por exemplo.
Dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD) de 2021 sobre Legislação mundial de pro-
teção e privacidade de dados, dão conta de que 137 dos 194 países haviam
adotado legislação para garantir a proteção dos dados e da privacidade.
Nos dias que correm o Regulamento Geral sobre a Proteção de
Dados (RGPD) da União Europeia de 2016 é o modelo que vários países
se espelham para legislarem sobre a proteção de dados pessoais, como é
o caso do Brasil com a sua Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais de
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
391
2018. Aliás, ao pesquisarmos na Brapci utilizando a expressão “lei geral de
proteção de dados pessoais”, pudemos obter 16 resultados do período de
19721 à 2023, sendo o mais recente de 2023 e o mais antigo de 2021. Este
registo subsidia o fato de estarem a ser desenvolvidas pesquisas na CI sobre
a proteção de dados pessoais.
pRoteção de dados pessoais na ciência da infoRmação
A privacidade e a violação de informação são temáticas que vem
ganhando espaço na área de Ciência da Informação, conforme defendem
Siebra e Xavier (2020). Ora, todos os campos do conhecimento alimen-
tam-se de informação, mas poucos são aqueles que a tomam por objeto de
estudo e este é o caso da Ciência da Informação (Pinheiro, 2004).
Por outro lado, avança Pinheiro (2004), esta informação de que trata
a CI, movimenta-se num território multifacetado, tanto podendo ser in-
formação numa determinada área, onde a informação depende do contex-
to (científico, tecnológico, industrial, artístico, cultural, etc.) e correspon-
de às aplicações ou transversalidade, qualidade da informação de perpassar
todas as áreas, quanto sob determinada abordagem.
Atualmente, temas como Fake News, Pós-Verdade, Desinformação,
Big Data, Infodemia, Ciência de Dados, Mineração de Dados e Inteligência
Artificial têm sido debatidos no âmbito da Ciência da Informação e se tor-
naram assuntos imprescindíveis para os profissionais da informação que
atuam na comunidade científica, em instituições ou em organizações não
governamentais (ONG), assim como para governos e gestores públicos e
privados (Veronez Júnior et al., 2022, p. 183). Com fortes ligações com
a área da Computação, são notáveis as noções tomadas de empréstimo
pela CI, de outras áreas do conhecimento. Aqui, Smit, Tálamo e Kobashi
(2004) destacam a noção de “base de dados”. Bases estas que muitas vezes
contêm dados pessoais.
Bembem et al. (2015) observaram que os desafios da Ciência da
Informação no que diz respeito à pesquisa e atuação nos temas relaciona-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
392
dos à privacidade são bastante significativos pelo fato da CI estar voltada
à problemática social da informação, e por ter em seu escopo a predomi-
nância das tecnologias da informação como definidoras e orientadoras de
sua atuação. Ao analisarem as publicações recentes da área, em um dos
periódicos mais reconhecidos da CI, constataram que, em contraparti-
da, dentre os aspectos mais fundamentais da temática, o aspecto legal, foi
pouco percebido nas publicações. Aqui frisamos a importância do nosso
trabalho que empacota a temática da proteção de dados pessoais junto do
Direito (aspecto legal), da Computação e da Ciência da Informação. Aliás,
ao profissional da informação é indispensável conhecer os limites legais
cabíveis e aplicáveis aos dados que trata, que podem variar de região para
região” (Milagre; Santarém Segundo, 2015, p. 53).
Já em 1968 Borko avançava que os cientistas da informação po-
dem trabalhar como pesquisadores, educadores ou especialistas no cam-
po da CI, podendo fazer pesquisa, direcionando o desenvolvimento de
novas técnicas de manipulação da informação. Podem aplicar as teorias
e as técnicas da CI para criar, modificar e melhorar sistemas de manipu-
lação da informação. Borko remata dizendo que “o cientista da informa-
ção tem uma importante função na nossa sociedade” (Borko, 1968, p. 5).
Compreendemos que, parte desta importante função, é contribuir para a
proteção dos dados pessoais através das suas técnicas de tratamento, recu-
peração e uso da informação.
Moura (2015) percebe que os novos modelos de negócio pactua-
dos em rede, a popularização dos dispositivos de vigilância, assim como
as novas dimensões conceituais e técnicas da governança informacional
requerem uma reflexão mais detida da CI. Ao articular as atividades de
inteligência e a salvaguarda dos dados pessoais, Moura (2015) evidencia
que, por razões políticas, econômicas, sociais e tecnológicas, esses elemen-
tos incidem objetivamente no campo da CI pois a CI responsabiliza-se
tecnicamente pelos processos de governança informacional nos diversos
contextos.
Pessoa e Sousa (2022) ao confrontarem os paradigmas da CI com
a Teoria das Esferas Concêntricas, observaram uma aplicação análoga da
questão da privacidade e proteção dos dados. A partir das reflexões dos
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
393
paradigmas físico, cognitivo e social, entenderam que a discussão do tema
privacidade e proteção de dados é ampla e leva o pesquisador a refletir, à
luz da Ciência da Informação, como esses fenômenos são associados às
questões da recuperação, tratamento e uso da informação.
consideRações finais
Problemas informacionais existem há longo tempo, sempre estive-
ram mais ou menos presentes, mas sua importância real ou percebida mu-
dou e essa mudança foi responsável pelo surgimento da CI, e não apenas
dela (Saracevic, 1996, p. 43). Estes problemas são e/ou podem ser de dife-
rente ordem como problemas ligados à segurança da informação, à infor-
mação pessoal voire dados pessoais, à privacidade, à intimidade, entre ou-
tros problemas, sendo que presente trabalho abordou a proteção de dados
pessoais como um assunto da transversalidade da CI. Assim, pelo carácter
transversal da temática, elementos do Direito e da Computação também
foram apontados num exercício que colocou os dados e/ou informações
pessoais face-à-face à TIC.
Concluímos que, embora a CI sempre tenha trabalhado com da-
dos pessoais em sistemas de informação, as questões ligadas à proteção de
dados pessoais não estiveram na pauta do debate da CI desde logo do seu
nascimento, mas com o seu desenvolvimento e evolução, com a evolução
concomitante das TIC, bem como as aprovações de normativas reverentes
à proteção de dados pessoais ao redor do mundo, estas questões começa-
ram a integrar as agendas de pesquisa em Ciência da Informação sobretudo
a partir da segunda metade da década 1970. Em Brasil, pesquisas na área
da CI voltadas à temática podem ser vistas, na Brapci, a partir de 2013 e
ganham relevo com a aprovação da LGPD em 2018.
Desta pesquisa prevê-se derivar outro artigo onde se possa aprofun-
dar sobre a questão ética do profissional e cientista da informação na prote-
ção de dados pessoais levantando questionamentos sobre equidade, inclu-
são, privacidade e/ou poder nas práticas de tratamento de dados e uso da
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
394
informação na CI, questões estas não abordadas neste exercício, atendendo
os objetivos ora traçados.
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C 22
P    
  
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     

Joana Andre Machuza Matenga 1, Marcela Arantes Ribeiro 2,
Catarina Alson Cumbe 3, Francisca Miquelle Siqueira Cardoso 4 e
Tamara de Souza Brandão Guaraldo 5
intRodução
Em um mundo cada vez mais dinâmico e globalizado, o papel dos
sujeitos na sociedade deve ser repensado para acompanhar as mudanças,
o que também se aplica as bibliotecas, como organização feita de pessoas,
Doutoranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: joana.
machuza@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9269-5839. Lattes: http://lattes.cnpq.
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Doutoranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: marcela.
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Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
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398
com papéis e funções sociais. Neste processo de reflexão, entender como
os diferentes usuários pensam e se comportam torna-se essencial para o
desenvolvimento de ações e políticas que supram suas necessidades.
Nesse sentido, discorrer sobre o usuário da informação perpassa pela
compreensão desse como pessoa que cotidianamente busca por informa-
ções que atendam suas necessidades, bem como a compreensão da infor-
mação como principal elemento na relação social entre os sujeitos, ou seja,
a informação demandada pelo usuário da informação tende a ser útil em
qualquer aspecto da sua vida (Matta, 2010).
Para compreender melhor esta dinâmica, em conjunto com o estudo
de usuários podem ser adotadas diferentes técnicas e instrumentos, sendo
um deles o Mapa de empatia. Dito isso, tem-se o “Mapa de empatia” como
um instrumento criado a partir da Metodologia Canvas, frequentemente
utilizada nos ambientes corporativos para o desenho e análise de modelos
de negócio. Por meio deste instrumento é possível uma observação e re-
flexão sobre as necessidades do público em questão, perfil e caraterística
dos usuários, seus reais interesses a partir das reflexões acerca de suas seis
diferentes dimensões: o que pensa e sente, o que escuta, o que vê, o que fala
e faz, quais são as suas dores, quais são os seus ganhos (Valdrich; Cândido,
2018; Spadotto; Bedin, 2020).
Neste contexto, este estudo apresenta como objetivo analisar a in-
fluência de variáveis como o ambiente e o contexto afetam o processo de
busca de informação do usuário de uma biblioteca universitária, a partir
da Mediação da Informação, na relação com acontecimentos contempo-
râneos, como a pandemia de COVID-19. A pesquisa caracteriza-se como
um relato de experiência, de natureza qualitativa e do tipo exploratória.
Nesse sentido, para proceder a pesquisa, foi utilizado como instru-
mento o Mapa de empatia, a partir de exercício de um Brainstorming
realizado pelas autoras, que possuem experiência e vivência em bibliotecas
universitárias. Para isso, delimitou-se o processo de busca da informação
sobre a pandemia do COVID-19 como escopo do usuário de uma BU des-
crito no Mapa de Empatia, por esse tema ter relevância mundial e as pes-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
399
quisadoras estarem em localidades diferentes: Porto Velho (RO), Marília
(SP) e Maputo, Moçambique.
Diante disso, a pesquisa procurou compreender a seguinte questão:
Como o contexto informacional, o ambiente da biblioteca e a mediação
da informação são variáveis importantes a serem consideradas na com-
preensão do processo de busca de informações pelos usuários, especial-
mente em relação a acontecimentos contemporâneos, como a pandemia
de COVID-19?
RefeRencial teóRico
As primeiras impressões sobre a informação surgiram muito antes de
sua definição propriamente dita, sendo seus primeiros vestígios encontra-
dos no uso da matemática e estatística como forma de organizar o raciocí-
nio e o pensamento, entre os séculos XVII e XVIII. O surgimento da era
industrial traz a estruturação e impulsionamento das organizações, fazendo
com que as redes de comunicação avancem e se desenvolvam. Em seguida,
o cenário que se configura após a Segunda Guerra Mundial impulsiona o
desenvolvimento de tecnologias como os computadores e automação, mas
o enfoque ainda está no processamento e quantidade de informações ob-
tidas. Nesse período também emergem os primeiros debates sobre “era da
informação” e “sociedade da informação” (Mattelart, 2001).
Nesse contexto, a informação passa por um processo de transforma-
ção devido:
[…] as questões direta ou indiretamente relacionadas com ela bem
como com outros fenômenos que lhe são adjacentes – como por
exemplo os dados, a ação, a diferença, o conhecimento, o homem,
o mundo, a tecnologia, o significado, entre outros – são muitos
vastos, encontram-se em desenvolvimento e a sua experimentação,
identificação e eventual investigação estão intimamente relacionadas
com a expansão da chamada sociedade da informação (Ilharco,
2003, p. 34).
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
400
Dessa maneira, a informação é um componente essencial em qual-
quer organismo de nossa sociedade, sendo recurso indispensável para a
geração de novos conhecimentos. Segundo Choo (2003) a informação é
um componente intrínseco de quase todas as atividades que uma organi-
zação realiza. Sem compreender os processos organizacionais nos quais a
informação se transforma em percepção, conhecimento e ação, estes orga-
nismos não são capazes de perceber a importância de suas fontes.
Compreende-se então que a informação também é um processo que
modifica estruturas, devendo ser internalizada e assimilada e tendo papel
imprescindível para o desenvolvimento das organizações, pois o sujeito
precisa ter consciência acerca do que sabe (Morin, 1999).
Davenport e Prusak (1998) refletem sobre a importância da infor-
mação, contrapondo que o uso da tecnologia faz com que os sujeitos per-
cam de vista o principal objetivo da informação: informar. Para que isso
aconteça, é necessário que os usuários estejam interessados nas informa-
ções que são geradas pelos computadores e enfatiza a importância do com-
partilhamento destas para que a informação cumpra seu papel de informar,
lembrando ainda o impacto da cultura, do comportamento dos sujeitos,
políticas e os próprios sistemas de informações no resultado desta infor-
mação obtida. Para isso, é necessário “[...] uma perspectiva holística, que
possa assimilar alterações repentinas no mundo dos negócios e adaptar-se
as sempre mutantes realidades sociais” (Davenport; Prusak, 1998, p. 12).
Nas reflexões sobre a informação e sua importância se faz necessário
considerar as diferentes perspectivas da informação. A questão ontológica
reflete sobre a natureza da informação, sua essência, se relacionando com
as noções, conceitos e fenômenos adjacentes. A vertente epistemológica
trata sobre a forma da informação, metodologias e técnicas utilizadas para
a investigação do fenômeno da informação. Existe ainda o questionamento
sobre a correspondência da informação com a realidade, que investiga se
a informação reflete a realidade sobre seu objeto e os sujeitos envolvidos
nela, além de sua relação com a verdade e suas consequências na missão de
informar (ou desinformar), e os diferentes níveis de abstração ao qual uma
informação é submetida.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
401
Abarca-se também nesta reflexão as diferenças e contrastes entre
dados, informação e conhecimento, a influência da informação na ação,
comunicação e linguagem e atualmente acrescenta-se o impacto que a
inteligência artificial tem nas informações. A informação pode ser pen-
sada também em termos de sua utilidade, sua relação com as mudanças
e a forma como impacta e é impactada nas constantes transformações
sociais, culturais, organizacionais, políticas e até dos sujeitos. Aspectos
tecnológicos de maneira geral, além da Tecnologia da Informação e
Comunicação (TIC) também impactam na informação, assim como os
aspectos éticos envolvidos em todos os processos relacionados à informa-
ção (Ilharco, 2003).
Além disso, Silva (2017) explica que a informação numa visão social
está relacionada ao estudo sobre as formas de se observar o meio ambiente
natural e social, o cotidiano, as relações e interações sociais entre os su-
jeitos humanos e não humanos que constituem a produção, organização,
mediação, uso e apropriação da informação para resolver problemas do
cotidiano.
Dessa forma, evidencia-se a importância da informação e seu papel
central na construção dos atuais cenários, organismos e sociedade conheci-
dos atualmente, bem como seus impactos nos comportamentos, decisões e
ações dos sujeitos, atuando individualmente e/ou coletivamente. A partir
dessa compreensão, têm-se as ações dos profissionais da informação no
processo da Mediação da Informação impulsionando o papel da informa-
ção na sociedade.
MediAção dA inforMAção e o UsUário: reflexões teóricAs
As reflexões sobre a mediação adentram nas múltiplas discussões e
caminhos teóricos que possam conduzir para a compreensão do termo, e,
portanto, inicialmente, ao se fazer uma pesquisa no espaço livre da comu-
nicação virtual, no buscador Google, a procura da definição de mediação,
ressalta-se a visão mais comum do termo e que é adotada pelo campo ju-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
402
rídico, cuja área de conhecimento define mediação como ação ou função
de mediar conflitos.
Nas argumentações apresentadas, destaca-se a presença e a resolução
de conflitos, seja o efeito de sentido da mediação permeando as relações
entre sujeitos, entre sujeito e o meio, saciando as demandas iniciais e iden-
tificando pontos de conflitos a serem sanados, assim, tem-se o processo de
interferência de uma terceira pessoa de maneira prática e objetiva, direta
ou indiretamente, buscando manter a imparcialidade na solução de confli-
tos. Essa visão também permeia o senso comum, porém não apenas a área
jurídica estuda a noção de mediação.
A mediação vem sendo estudada em várias áreas do conhecimen-
to, cada uma enquadrando-a segundo suas perspectivas, e nesse sentido,
a Ciência da Informação também se utiliza do termo de forma a respon-
der as suas necessidades: “[…] a mediação se constitui num segmento da
Ciência da Informação e se articula com outros segmentos que dela fazem
parte”, o que a coloca como possível objeto no núcleo epistemológico da
Ciência da Informação (CI) (Fadel et al., 2010, p. 16).
Em Almeida Júnior (2015) amplia-se e consolida-se a reflexão sobre
a Mediação da Informação na área da CI, a partir da concepção de que
essa é:
Toda ação de interferência – realizada em um processo, por um pro-
fissional da informação e na ambiência de equipamentos informacionais
–, direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular ou plural; in-
dividual ou coletiva; visando a apropriação de informação que satisfaça,
parcialmente e de maneira momentânea, uma necessidade informacional,
gerando conflitos e novas necessidades informacionais (Almeida Júnior,
2015, p. 25).
Nota-se a Mediação da Informação envolvida na ação de interferên-
cia, buscando sanar as necessidades informacionais, os conflitos que geram
as demandas informacionais dos usuários, visando a apropriação da infor-
mação. A Mediação da Informação engloba todo o fazer do profissional da
informação, seja nas ações diretas ou indiretas, e a relação do usuário com
a informação, com base na sua demanda informacional.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
403
Neste contexto, destaca-se em Fadel (et al., 2010, p. 17) duas con-
cepções que devem ser levadas em conta na Mediação da informação: A
interferência e a apropriação: “[…] a interferência opõe-se a uma forma de
pensar constantemente veiculada e defendida na área: a de que o profis-
sional da informação, os espaços em que atuam e as técnicas, ferramentas
e instrumentos que utilizam são neutros”; quanto à apropriação da infor-
mação, há de se compreender que essa se opõe à argumentação de uso da
informação, pois, tem-se a informação na relação entre sujeitos e em um
determinado momento, por isso, pode-se compreender, também, que a
partir da informação no processo de ação de interferência, altera-se, modi-
fica-se e transforma-se o conhecimento dos sujeitos e as suas relações com
o e no mundo.
Almeida Júnior (2015, p. 16) sustenta a divisão da Mediação da
Informação em dois grandes gêneros: mediação implícita ou explícita, es-
pecificando que “[…] nas relações que exigem a pedem a presença do usuá-
rio, fisicamente ou não estamos no âmbito da Mediação Explícita. Já nas
ações em que essa presença não é obrigatória, como nos fazeres relativos ao
armazenamento e organização, estamos no âmbito da Mediação Implícita
(Almeida Júnior, 2015, p. 16).
Parafraseando e somando a essa compreensão Gomes (2021, p. 115-
116) afirma:
O espaço da experiência é gerador de sentidos, nele são formulados
conceitos que se interpenetram na construção do conhecimento tácito e
que integram o conhecimento historicamente construído nas existências
singulares de cada sujeito. Mas, ao transitar no horizonte de experiências
ligadas a um projeto de futuro, movido pela volição, que guarda em sua
interioridade a expectativa de vir a ser algo, os conceitos formulados no
passado tendem a ser analisados, criticados e potencialmente ressignifica-
dos (Gomes, 2021, p.115-116).
Destaca-se que a Mediação da Informação, seja implícita ou explíci-
ta, envolve o usuário, os conflitos informacionais que mantêm o processo
contínuo de novas necessidades informacionais, as ressignificações das in-
formações que impulsionam as interações na sociedade.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
404
A partir das argumentações apresentadas, observa-se nas discussões
sobre mediação da informação, o papel central do usuário da informação,
e a ação do mediador no sentido de identificar, analisar e compreender as
necessidades informacionais dos usuários, ou seja, entender os usuários a
partir do seu contexto para identificar de fato o que os sujeitos precisam
em matéria de informação. Compreender o usuário, bem como saber se
suas necessidades de informação estão sendo satisfeitas de forma adequada,
seja por uma biblioteca ou centro de informação ou qualquer outro local
que trabalhe e desenvolva a informação para a sociedade, envolve estudos
e investigações sobre o mesmo (Figueiredo, 1994).
Compreende-se a importância de estudos sobre o usuário da infor-
mação, que se inter-relacionem com o processo de Mediação da Informação
no sentido de conduzir as ações de mediação em diversas instituições, gru-
pos e locais que trabalham com a informação, como caminhos de comuni-
cação, diálogo e materialização da informação que se abrem entre a biblio-
teca, os usuários, e a sociedade a qual serve.
Na visão de Dias e Pires (2004, p. 9) é importante que os usuários
sejam analisados sob dois critérios:
i. Objetivos: por categorias socioprofissionais, a saber, a especialida-
de e a natureza da atividade para a qual a informação é procurada
e a relação com os serviços de informação;
ii. Psicossociológicos: as atitudes e os valores relativos à informação
em geral e as relações com os serviços de informação em particu-
lar, os fundamentos do comportamento da pesquisa e de comu-
nicação da informação, do comportamento na profissão e as suas
relações sociais.
A partir destes critérios torna-se viável perceber a utilidade e a re-
levância da informação por parte das demandas dos usuários. Somando a
esses critérios, Lança (2018) apresenta uma orientação de estudos de usuá-
rios sob duas perspectivas diferentes: na primeira encontramos estudos
orientados ao sistema, no qual o objetivo é analisar o fluxo da informação
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
405
e desenvolver melhorias e serviços para simplificar o acesso à informação,
ou seja, a informação é vista como entidade externa, sendo analisado o que
acontece no ambiente externo, com relação à prática e aos instrumentos.
Na segunda, a autora apresenta os estudos sobre os usuários destacando
que o valor da informação está em como o usuário se relaciona com ela,
especificando o significado atribuído por parte do usuário a essa informa-
ção. Desta forma, há de pontuar as preferências e necessidades cognitivas e
psicológicas do sujeito, bem como o contexto histórico-social em que esse
usuário está inserido.
Os estudos sobre o usuário perpassam por um caráter mais qualitati-
vo e buscam identificar como o usuário obtém a informação, por exemplo,
por meio de observação do usuário como ser humano ativo, focando-se
nos aspectos cognitivos, analisando sistematicamente sua singularidade/
individualidade (Figueiredo, 1979).
É neste contexto que encontramos os estudos do comportamento
informacional, ressaltando o usuário como um sujeito ativo. Segundo
Pereira (2010, p. 184) “o comportamento informacional do indivíduo
é também influenciado pelas dimensões situacionais que, incluem os
requisitos, normas e expectativas inerentes ao trabalho do usuário e aos
contextos organizacionais nos quais transita”.
Além disso, enfatiza-se nos estudos dos usuários a dimensão social que
o considera um sujeito social num determinado ambiente (meio social) em
que ocorrem os processos informacionais. Esta dimensão demarca uma con-
cepção de informação que leva a uma perspectiva intersubjetiva que passa a
considerar tanto a relação entre os sujeitos, como entre estes e a informação
em contextos socioculturais distintos (Nunes; Carneiro, 2019).
Assim na relação informação, sociedade e Mediação da Informação,
torna-se importante que se analise o estudo do usuário como um processo
multidimensional, considerando o processo de busca pela informação por
parte do usuário, bem como suas motivações e o processo de (re)significação
da informação num determinado contexto em que se encontra inserido.
A partir dessa contextualização teórica sobre a Mediação da
Informação esse estudo elabora um relato acerca de variáveis que afetam o
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
406
usuário da informação, no caso um estudante universitário hipotético, em
sua busca de informação sobre a vacina da COVID-19, nos espaços infor-
macionais a sua disposição. A Mediação da Informação mostra-se presente
nessa busca, tanto por interferência dos meios ou equipamentos virtuais
quanto por interferência de um profissional da área, a exemplo o(a) bi-
bliotecário(a). A mediação mostra-se como um processo para o usuário ter
acesso à informação e a produção do conhecimento.
pRocedimentos metodológicos
Marconi e Lakatos (2009, p. 155) definem a pesquisa como: “[…]
um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que re-
quer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer
a realidade ou para descobrir verdades parciais”. Para isso, o processo de
pesquisa se utiliza de procedimentos para se obter novos conhecimentos
da realidade social.
Essa pesquisa apresenta natureza qualitativa, pois apresenta “[…]
uma sequência de atividades, que envolve a redução dos dados, a categori-
zação desses dados, sua interpretação e a redação do relatório” (Gil, 2002,
p. 133). Assim, tem-se a finalidade de se compreender as variáveis que
afetam o usuário da informação de uma biblioteca universitária a partir da
inter-relação com a Mediação da Informação nesse ambiente, e, para isso,
esse estudo utilizou-se de pesquisa qualitativa do tipo exploratória.
Para Marconi e Lakatos (2008), a pesquisa exploratória tem três fi-
nalidades, sendo elas: desenvolver suposições, propiciar a familiarização do
pesquisador com o fato ou alterar e clarear conceitos. Os estudos explo-
ratórios têm como objetivo realizar análises práticas e teóricas, para que
desta forma haja informações consistentes. O estudo utilizou como técnica
de coleta de dados o Brainstorming em reunião virtual, e em sequência o
preenchimento do instrumento Mapa de empatia, que foi construído a
partir de exercício conjunto, efetuado pelas autoras se utilizando da fer-
ramenta Canvas. Vale ressaltar que as autoras realizaram o Brainstorming
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
407
e o preenchimento do Mapa de empatia, a partir de suas experiências
como profissionais e/ou docentes da área de Biblioteconomia e Ciência da
Informação em contexto universitário em diferentes localidades: No Brasil,
nas cidades de Marília, no interior do Estado de São Paulo, e Porto Velho,
capital do Estado de Rondônia, e em Moçambique, na capital Maputo.
O Brainstorming, ou tempestade de ideias, é uma técnica que per-
mite se obter insights num determinado espaço de tempo, “[…] além de
proporcionar uma ampla perspectiva de ideias, facilitando a tomada de
melhores decisões, e ainda funcionar como lubrificante num processo de
solução de problemas, facilitando a identificação de causas mais difíceis de
solucionar, especialmente as não visíveis” (Granado, 2020, p. 14).
Já o Mapa de empatia, é um instrumento que permite se imaginar
no lugar do usuário, e deste modo, construir um perfil que auxilie a sua
compreensão e que possa: “[…] fundamentar outros estudos aprofunda-
dos, direcionamentos estratégicos e tomada de decisões (Spadotto; Bedin,
2020, p. 278).
Em atendimento ao objetivo proposto deste estudo: discorrer so-
bre as variáveis que afetam o processo de busca de informação do usuário
de uma biblioteca universitária a partir da Mediação da Informação na
relação com acontecimentos contemporâneos, a destacar a pandemia de
COVID-19, foram adotados os seguintes procedimentos: as autoras efe-
tuaram sessões de Brainstorming entre os meses de agosto a outubro de
2021 e, a partir dos relatos de suas experiências realizaram o preenchimen-
to do Mapa de Empatia conjuntamente.
Também foi consultada uma fonte documental, para alinhar a cons-
trução do Mapa de Empatia sobre o usuário da biblioteca universitária,
a reportagem: “Meu sonho é que o usuário ache tudo o que precisa, diz
bibliotecário” (Harnik, 2007).
A partir dos procedimentos descritos foi construído o Mapa de
Empatia com elementos vinculados ao Brainstorming que destacou as vi-
vências e experiências das pesquisadoras no contexto universitário, aliada a
fonte documental citada.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
408
Resultados e discussões
Os resultados do estudo foram elaborados com base nos relatos de
experiência das pesquisadoras e na fonte documental, e parte-se do princí-
pio de que, a partir da construção do Mapa de empatia, podem-se identi-
ficar variáveis que afetam a busca de informação e os problemas do usuário
da informação de forma contextualizada, bem como levantar hipóteses que
conduzam para sanar as demandas desse usuário, considerando ainda a
importância do processo de Mediação da Informação para fins de satisfa-
zer momentaneamente as suas demandas informacionais. A construção do
mapa busca compreender e relatar as variáveis que afetam o processo de
busca de informações pelos usuários, como o contexto informacional, o
ambiente da biblioteca e a mediação da informação, especialmente em rela-
ção a acontecimentos contemporâneos, como a pandemia de COVID-19.
A Figura 1 apresenta o perfil do usuário a partir da temática esco-
lhida como cenário contextual: a pandemia de COVID-19 por se tratar
de situação que afetou e ainda afeta o mundo todo. Partindo dessa pre-
missa, foi estruturado o Mapa de empatia com base nas variáveis que
envolvem o usuário, tais como o ambiente social e informacional; o con-
texto/ a situação; os sentimentos que um estudante universitário poderia
ter no momento em que está conduzindo uma pesquisa; e a mediação
da informação de forma transversal neste processo; e que se descreve a
seguir, etapa por etapa:
O que pensa e sente? Aqui se procurou explorar quais senti-
mentos o usuário carrega consigo quando chega à biblioteca
buscando informações sobre a COVID-19. Acredita-se que este
usuário se dirige à biblioteca em busca de informações confiáveis
e fidedignas, encontra-se com muitas dúvidas sobre o assunto e
grande volume de informações veiculadas diariamente nos mais
diferentes meios disponíveis, o que pode deixá-lo perdido e sem
saber por onde começar. Podem também surgir sentimentos
como medo e pressão causados pelas expectativas da sociedade.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
409
O que escuta? Pensando nas pessoas que cercam este estudan-
te, acredita-se que ele pode ouvir diferentes posicionamentos e
comentários sobre a COVID-19, entre eles, informações falsas,
conhecidas como fake news, que distorcem fatos ou minimizam
a doença.
O que vê? O ambiente que este usuário está inserido quando se
trata da COVID-19 está em agitação e desespero, seja pelo alto
número de mortes, pela fome e desemprego crescentes, decor-
rentes do aumento dos casos e da paralisação das atividades e di-
versos outros problemas causados ou agravados pela pandemia.
A partir daí enxerga a importância de se buscar as informações
corretas e verdadeiras.
O que fala e faz? Aqui foi pensado em quais reações este usuá-
rio poderia ter, como reflexo dos itens anteriores. A partir dis-
so, acredita-se que este estudante pode analisar a situação que o
mundo enfrenta e fazer uma leitura crítica do mundo, partindo
de seus conhecimentos, aprendizados e experiências. Ao consul-
tar e confrontar diferentes fontes e buscar informação científica
sobre o tema, essas análises servem de base para a busca de leitu-
ras e pesquisas relevantes sobre o assunto, dando-lhe assim pro-
priedade para que possa esclarecer e dirimir dúvidas, por meio
de uma fala confortante com os próximos e disseminação de in-
formação em sua comunidade.
Quais são as suas dores? Neste tópico foi pensado nos obstá-
culos que podem ser encontrados pelo usuário, além dos senti-
mentos envolvidos. O alto número de mortes desperta o medo,
além disso, existe o receio de não conseguir desconstruir a igno-
rância causada pelas fake news, que se disseminam rapidamente
e têm grande alcance e impacto. Também aparece o receio de
não conseguir responder satisfatoriamente a todas as dúvidas e
expectativas criadas.
Quais são os seus ganhos? Por fim, ao final deste processo, acre-
dita-se que o usuário terá acesso às informações que busca e se
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
410
encontrará capacitado sobre o tema. Isso lhe trará conhecimento
sobre o tema, podendo, assim, disseminar informação confiável
para sua comunidade.
Figura 1 - Mapa de empatia
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de Valdrich e Candido (2018).
A análise do Mapa de empatia (Figura 1) perpassa pelo contexto
vivido pelas pessoas no mundo inteiro, nesse sentido fundamenta-se em
Matta (2010, p. 137) por afirmar que:
Cotidianamente, as pessoas sentem-se necessitadas de informação que
as ajude a solucionar os problemas cotidianos da vida. Não é pelo fato
de que um usuário não está envolvido em uma atividade formal de
busca de informação ou inserido em um contexto organizacional que
ele não possui atitudes e comportamentos de busca informacional. É
necessário que haja a real percepção de que a informação é o principal
elemento da sociedade atual. Continuamente as pessoas estão em
busca de informações que sejam úteis em todos os aspectos de sua
vida, sejam esses de cunho familiar, profissional e, especialmente,
pessoal (Matta, 2010, p. 137).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
411
A necessidade de informação para sanar problemas impulsiona o
usuário da informação a procurar locais, ambientes e/ou pessoas que pos-
sam saciar essa necessidade, e nesse ponto, alinha-se ao Mapa de empatia
no quadrante das “dores” no âmbito de essas serem a inquietação, de forma
subjetiva, que conduz o usuário à busca pela informação. Assim, têm-se
as reflexões da Mediação da Informação por elucidar que “a informação é
dependente do seu produtor, do espaço em que interagem com o usuário,
dos mediadores desse espaço, do ambiente, do momento, do entorno, do
contexto, do tipo de suporte que a sustenta provisória e momentaneamen-
te, do usuário” (Almeida Júnior, 2015, p. 21-22).
Parafraseando com Matta (2010) e considerando Figueiredo (1994),
considera-se que os usuários da informação podem apresentar variados
motivos, atitudes e comportamentos de busca informacional, dito isso,
destaca-se o recorte do Mapa de empatia no que tange ao “fala e faz”, pois
é no processo de interação em que “nosso conhecimento se constrói media-
do e, da mesma forma, somos mediadores na construção do conhecimento
dos outros” (Almeida Júnior, 2015).
Na análise do Mapa de empatia, destaca-se o posicionamento do
que “escuta” e do que “vê”, esses dois pontos de análise na organização do
mapa são impulsionadores para o questionamento individual do usuário
da informação, assim, deve-se considerar que, ao atender o usuário, o(a)
mediador(a) da informação compreende a argumentação de Valentim e
Ançanello (2018, p. 31) ao discorrer que “pode-se afirmar que toda infor-
mação tem um valor latente e que este depende da pertinência a determi-
nado sujeito (ou grupo)”.
Essa diversidade dos usuários da informação na sociedade reflete no
sentido de valor, ou não, da informação para o usuário, sendo importante
o(a) mediador(a) perceber a particularidade de cada usuário, e conforme já
exposto, a Mediação da Informação fundamenta essa relação, pois trata-se
de um processo de interação na ação entre o usuário da informação, a in-
formação e o profissional da informação – mediador(a).
Ao apresentar como objetivo da Mediação da Informação de saciar
a necessidade informacional, por mais que seja parcialmente e momenta-
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
412
neamente, alinham-se as ações de interferência do profissional da infor-
mação objetivando os “ganhos”, pois ao analisar o usuário da informação,
na sua subjetividade e considerando o instrumento do Mapa de empatia,
o mediador impulsiona de fato a apropriação da informação. A partir das
especificações de desejos e das necessidades realizadas pelo próprio usuário,
o processo de Mediação da Informação, na interação direta com o usuário
ou com as demandas dos usuários de modo coletivo, tem-se a inter-relação
de como a Mediação da Informação e os estudos de usuário podem poten-
cializar o processo de apropriação da informação.
Ao considerar o processo de Mediação da Informação, especifica-
mente nas ações de interferência, tem-se a importância de se inter-relacio-
nar aos estudos de usuário, pois “[...] são investigações que se fazem para
saber o que os indivíduos precisam em matéria de informação, ou então,
para se saber se as necessidades de informação por parte dos usuários [...]
estão sendo satisfeitas de maneira adequada” (Figueiredo, 1979, p. 79).
Nesse sentido, destaca-se no Mapa de empatia a possibilidade de se identi-
ficar o que “pensa e sente” o usuário da informação, e tais posicionamentos
possibilitam de forma momentânea orientar as informações a esse usuário
e satisfazer, também de forma momentânea, a demanda informacional.
Com a análise apresentada, os resultados qualitativos demonstram que
quanto mais o Mapa de empatia é especificado, apresentando elementos de
percepção e desejos do usuário referentes aos aspectos: pensa e sente; escu-
ta; vê; fala e faz; dores; e, ganhos, ele facilita o entendimento das ações de
interferência no processo de Mediação da Informação, visando o usuário da
informação, neste caso, no contexto da biblioteca. Ressalta-se que a possi-
bilidade de uso do Mapa de empatia atende a todos os locais que trabalham
com a informação, logo, auxilia a compreensão do usuário da informação.
Nesta perspectiva, considera-se que o usuário é influenciado dire-
tamente pelo ambiente social em que está inserido. Destaca-se nesse am-
biente a pressão social (medo, desespero, fome, desemprego etc., que ele
assiste) que é exercida sobre ele como estudante universitário, acadêmico
que deveria possuir possíveis respostas para as inquietações da comuni-
dade. Entretanto, este acadêmico por sua vez carrega diferentes sensações
de angústia e impotência em desapontar a sociedade que espera respostas
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
413
dele, assim como do impacto da COVID-19 pelas informações que obtém
através dos meios de comunicação, redes sociais, e sujeitos a seu redor.
Deste modo, ele procura buscar informação confiável em bibliotecas
e outras fontes que considera fidedignas e fiáveis, de modo a adquirir uma
visão crítica sobre as informações vinculadas, para esclarecer e acalmar os
seus sobre a manifestação e os contornos da pandemia. Importa ressaltar
nestes aspectos os ganhos alicerçados nestas práticas, que se fundamentam
nas ações do acesso a informação, aquisição e produção do conhecimento,
a disseminação da informação e o papel social do estudante universitário
como acadêmico impactando a sociedade positivamente.
consideRações finais
O contexto social no qual o usuário se encontra inserido impulsiona
a busca de resposta às suas inquietações, ou seja, “o que move o homem,
são as suas necessidades”, segundo a teoria de Abraham Maslow (1950),
sobre a Teoria das Necessidades Humanas. No caso em estudo, buscou-se
analisar a influência de variáveis como o ambiente, o contexto/situação e
sentimentos para o processo de busca de informação do usuário de uma bi-
blioteca universitária a partir da Mediação da Informação, na relação com
acontecimentos contemporâneos da pandemia do COVID-19.
Para tanto, recorreu-se a pesquisa exploratória, a partir de um
Brainstorming, e em seguida foi elaborado o Mapa de empatia, construído
de forma coletiva, o que fundamenta a importância de se fazer o estudo do
usuário de forma contextualizada. Sendo assim, é fundamental conhecer o
contexto em que ele está inserido, quais as suas emoções e as suas necessi-
dades informacionais.
O Mapa de empatia produzido neste trabalho representou, na per-
cepção das autoras a partir de suas vivências em bibliotecas universitárias,
o processo pelo qual o usuário de uma biblioteca universitária em uma
pequena comunidade ou localidade do interior vivenciou sua busca de in-
formação sobre a COVID-19, e as suas necessidades, ganhos e dores nesse
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
414
processo de Mediação da Informação. Por essa razão, considera-se que o
uso do Mapa de Empatia pode servir como um relato estratégico para o
melhor conhecimento do usuário, de suas necessidades e da Mediação da
Informação para a produção do conhecimento e resolução de problemas.
Em resumo, o ambiente social pode ter um impacto significativo na
forma como o usuário busca informações confiáveis sobre a COVID-19, e
os usuários têm um papel importante a desempenhar na disseminação de
informações corretas para ajudar a comunidade a lidar com a pandemia
de forma proativa. O mapa de empatia permite relatar e descrever como a
situação, a opinião, o sentimento e o comportamento das pessoas ao nosso
redor podem influenciar nossa busca por informações precisas e a nossa to-
mada de decisão consciente. Ademais, destacam-se os ganhos obtidos nesse
processo que enfatizam ações do acesso à informação, aquisição e produ-
ção do conhecimento, a disseminação da informação e o papel social do
estudante universitário como acadêmico impactando a sociedade positiva-
mente. Nesse contexto, é importante ressaltar o ambiente da biblioteca na
importância do acesso à informação confiável sobre a COVID-19. A pan-
demia trouxe uma necessidade urgente de adquirir conhecimento sobre o
vírus, suas formas de prevenção e os impactos na saúde pública. Através do
acesso a fontes confiáveis, no ambiente das bibliotecas, em organizações de
saúde e com especialistas na área, é possível obter informações precisas e
embasadas cientificamente.
Além disso, a disseminação da informação desempenha um papel
crucial na luta contra a pandemia. Os estudantes universitários, como aca-
dêmicos, têm a oportunidade de desempenhar um papel ativo na dissemi-
nação de informações confiáveis e baseadas em evidências para a comuni-
dade no contexto em que vivem.
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C 23
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Alessandra Monteiro Pattuzzo Caetano 1 e
Helen de Castro Silva Casarin 2
intRodução
As bibliotecas são espaços para a prática de seus usuários para reali-
zação de suas rotinas diárias de estudos, pesquisas, leituras e descobertas.
As bibliotecas são potencialmente lugares ativos de aprendizagem, cultura,
interação social e, acima de tudo, conhecimento sendo construído e am-
pliado. A biblioteca, portanto, é mais que um espaço arquitetônico: “É
um lugar de diálogo com o passado, de criação e inovação, e a conservação
só tem sentido como fermento dos saberes e motor dos conhecimentos, a
serviço da coletividade inteira” (Baratin; Jacob, 2008, p. 9).
Doutoranda em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: alessandra.
pattuzzo@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6291-8608. Lattes: https://orcid.org/0000-
0001-6291-8608.
Doutora em Letras. Professora na Universidade Estadual Paulista – UNESP. E-mail: helen.castro@unesp.
br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3997-9207. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0592809928580900.
https://doi.org/10.36311/2025.978-65-5954-613-8.p417-430
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
418
Também é importante considerar que “[…] os espaços da biblioteca
contemporânea devem ser customizados de modo a atender diferentes pú-
blicos da melhor maneira possível. Além disso, propiciar espaços de intera-
ção entre o usuário e a informação” (Valentim, 2016, p. 39).
Sendo fundamental que a biblioteca universitária (BU) acompanhe
e contemple as novas pedagogias em seus serviços para que se torne um
espaço eficiente de troca e construção de conhecimento, onde o desenvol-
vimento da competência em informação seja parte integrante do ambien-
te pedagógico. Prática que poderá apresentar resultados positivos aliados
às Metodologias Ativas de aprendizagem para garantir maior eficácia no
aprendizado dos estudantes.
Diante a tantas mudanças no campo da educação superior, as quais
refletem diretamente no papel da biblioteca universitária, o bibliotecário
precisa redefinir a biblioteca como um espaço de troca, de construção de
conhecimentos que favoreça a colaboração e a autonomia dos usuários não
deixando de reafirmar a biblioteca como um espaço de aprendizagem, um
local de pesquisa e estudo, agregando a condição de espaço de cultura, lazer
e atualização.
As mudanças que marcam o dia a dia das universidades e os desafios
que enfrentam diante das rápidas transformações no âmbito pedagógico e
tecnológico também impactam as bibliotecas, obrigando os bibliotecários
a se questionarem e fazerem uma avaliação quanto aos serviços prestados.
É preciso pensar sobre os papéis desempenhados pelos profissionais biblio-
tecários, qual a natureza de seu trabalho, objetivos e missão das bibliotecas
bem como sobre quais os conhecimentos necessários, competências e papel
desse profissional nessas organizações, tendo em vista a construção de am-
bientes de informação educacionais.
Nessa perspectiva, damos ênfase ao papel educativo do bibliotecário
que atua em bibliotecas universitárias, destacando essa ação no planeja-
mento e oferta de programas de competência em informação (CoInfo),
ideia essa que vai ao encontro de Nicolino e Casarin (2021, p.2):
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
419
Há, portanto, um trabalho educativo, que, se bem planejado e
executado, pode contribuir para a formação de toda a comunidade
acadêmica. Formação para aprender a lidar com a informação
não apenas no ambiente acadêmico, mas em todos os aspectos da
vida em sociedade. Dessa forma, a biblioteca universitária deve
proporcionar um conjunto de serviços no sentido de promover
junto aos usuários as condições necessárias para o desenvolvimento
da competência em informação.
Belluzzo (2013) define competência em informação como uma área
de importância fundamental na sociedade da informação e do conheci-
mento. Para Garcia et al. (2015), a competência em informação vai além
da aquisição de um conjunto de competências e habilidades. Ela está inter-
ligada à representação de uma mudança de postura diante da informação e
dos desafios que ela apresenta para a sociedade contemporânea.
O Framework da ALA (2015) tem como base o conceito de metali-
teracy e propõe considerar a competência em informação como “[…] um
conjunto abrangente de capacidades em que os estudantes são consumi-
dores e criadores de informação que podem participar com sucesso em
espaços colaborativos”. Segundo a ALA,
A competência em informação é o conjunto de habilidades
integradas que englobam a descoberta reflexiva da informação,
o entendimento de como a informação é produzida e valorizada
e o uso da informação na criação de novos conhecimentos e na
participação ética nas comunidades de aprendizagem (ALA, 2015,
tradução nossa).
A competência em informação também está vinculada à capacidade
que o indivíduo desenvolve no sentido de chamar para si a responsabilida-
de do aprendizado contínuo em áreas de interesse pessoal ou profissional
(Campello, 2003). A competência em informação, para Dudziak (2003),
está indissociavelmente ligada ao conceito de aprendizagem ao longo da
vida, sendo o caminho que leva a esta última.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
420
Volotão e Moraes (2022, p.4) entendem que a competência em in-
formação no contexto universitário, é
[...] um corpus de conhecimento cada vez mais importante no
âmbito da universidade, sendo a Biblioteca Universitária um local
privilegiado para a promoção da Competência em Informação
visando o combate à desinformação existente nos mais variados
espaços sociais, inclusive na universidade.
ações de competência em infoRmação desenvolvidos na
biblioteca da faculdades integRadas espíRito santenses
centRo univeRsitáRio
Antes de descrever as ações de competência em informação desen-
volvidas pela Biblioteca da FAESA Centro Universitário será apresenta-
da uma contextualização da instituição. A Biblioteca da FAESA Centro
Universitário objetiva apoiar as atividades dos corpos docente e discente,
disponibilizando para seus usuários toda a memória técnica, científica e
cultural que constitui seu acervo, como também o disponibiliza para a
comunidade, desempenhando assim sua missão de prover o acesso e a re-
cuperação da informação (Caetano, 2022).
A Biblioteca Central Drº. Antário Alexandre eodoro, objeto des-
te estudo, localiza-se no Campus da FAESA. Foi implantada em um es-
paço de 1.273m2 distribuídos nos seguintes espaços: Hall, Guarda volu-
me, Recepção/Atendimento, Sala da Supervisão, sete Cabines de Estudo,
Área dos Fundadores, Sala interativa (Biblioteca Lab), Espaço de exposição,
Espaço de colaboração/Coworking, Banheiros, Área de Circulação e capaci-
dade para atender simultaneamente a 314 pessoas sentadas (Caetano, 2022).
A Biblioteca desenvolve os seguintes serviços: Serviços Internos;
Serviços de Atendimento ao Usuário; Serviço de Circulação de Acervo;
Serviço de Iniciação Científica e Empréstimo entre Bibliotecas. Os Serviços
Internos compreendem a aquisição bibliográfica de livros, Levantamento
bibliográfico para as coordenações de curso e docentes, assinaturas de ba-
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
421
ses de dados de livros e periódicos e a catalogação e indexação de todos os
materiais bibliográficos.
Os Serviços de Atendimento ao Usuário envolvem o empréstimo
domiciliar de livros, Chromebooks e bolsa ecobag; Renovação de emprésti-
mos (online e presencial); recuperação da informação; empréstimo entre
bibliotecas; reserva de materiais (online); malotes entre as unidades que
integram o Sistema FAESA de Bibliotecas; treinamento de usuários; orien-
tação bibliográfica; orientação à normalização de documentos, orientação
a solicitação de ISBN e ISSN, elaboração de ficha catalográfica, orientação
à solicitação de direitos autorais, acesso ao portal de periódicos da CAPES
de acesso livre, Base de dados EBSCO e das Bibliotecas Virtuais em Saúde
(BVS); Biblioteca virtual da MINHA BIBLIOTECA e da E-Livros (li-
vros eletrônicos); ambiente Target GEDWeb e o Programa de Comutação
Bibliográfica (Comut).
O acervo multidisciplinar que compõe as unidades do Sistema de
Bibliotecas FAESA é acessível a todos os estudantes, professores e fun-
cionários das unidades de ensino participantes. Esses usuários podem fa-
zer a solicitação do material necessário e, a partir disso, um funcionário
(mensageiro) do Sistema faz a entrega do material na unidade que melhor
atenda ao usuário. Os usuários têm acesso às estantes, catálogos, arquivos
externos, internet wi-fi, terminais de computadores destinados às pesquisas
e microcomputadores ligados à Internet.
Pelo serviço de iniciação científica, a biblioteca disponibiliza e ga-
rante para seus alunos o acesso às bases de dados públicas e gratuitas e ao
empréstimo de material bibliográfico de acervos de outras instituições.
Nesse sentido, a biblioteca da FAESA oferece diversos tipos de ser-
viços e produtos, desde os tradicionais até os mediados pela tecnologia. Se
destacando por gerenciar a competência em informação, não só para os
recursos oferecidos na instituição como para orientar e contribuir com a
pesquisa científica.
Segundo Sousa e Fujino (2012), a biblioteca universitária precisa
estar inserida no contexto da academia e ser vista como um elemento de
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
422
apoio às atividades de ensino, pesquisa e extensão. Ou seja, a BU e o bi-
bliotecário precisam contribuir ativamente nos processos de ensino-apren-
dizagem e na formação do aluno pesquisador, por meio de projetos desen-
volvidos em colaboração com os professores.
Neste contexto, o sistema de bibliotecas da FAESA, adota essa con-
cepção visando capacitar seus usuários a usarem de forma autônoma e crí-
tica o acesso e a busca pela informação dentro e fora dela.
Relato de eXpeRiências
Para elaboração deste relato de experiência, foram consultados os
relatórios de gestão da biblioteca da FAESA – Faculdades Integradas
Espírito Santenses – Centro Universitário, buscando identificar as ações
e atividades de competência em informação desenvolvidas nos seis últi-
mos anos pela bibliotecária e em alguns casos com o apoio de uma das
auxiliares da biblioteca. As ações encontradas foram compiladas e serão
apresentadas a seguir.
As primeiras experiências com ações de competência em informação
aconteceram no ano 2000, quando eram oferecidas nas salas de aulas de
todos os primeiros períodos de cursos da FAESA, usando o recurso de
Powerpoint, com prints de telas, apresentando o passo a passo de como
buscar livros no sistema Pergamum de Bibliotecas e de como localizar nas
estantes entendendo a classificação CDD. Na época também era de costu-
me as visitas guiadas na biblioteca para mostrarmos nos terminais de con-
sultas como são feitas as buscas por entradas: autor, título e assunto, além
do número de chamada para a localização do livro na estante.
Já em 2010, avançamos para as oficinas em pesquisas nas bases de
dados Bireme, Lilacs e nas bibliotecas virtuais de saúde (BVS) somente para
os cursos da área de saúde e do Portal Capes de periódicos para os cursos
das áreas de humanas e exatas.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
423
Com o passar dos anos, as ações de competência em informação
foram se transformando para acompanhar a evolução e inovação nos pro-
cessos de comunicação, busca e disponibilização da informação, sempre
mediante a avaliação criteriosa para adequação da oferta dos serviços me-
diante ao perfil e as necessidades dos usuários.
Em 2017, em parceria com os professores que ministravam as dis-
ciplinas de metodologia de pesquisa e orientação aos projetos e trabalhos
de conclusão de curso, as ações de competência em informação foram se
transformando em oficinas nas temáticas de pesquisas estratégicas em bases
de periódicos e dados, muito forte nos cursos da saúde, iniciando na sala
de aula, logo foram sendo ofertadas nos laboratórios de informáticas, pro-
porcionado a experimentação aos alunos de como fazer pesquisa nas fontes
de informação, e de como aplicá-las em seus textos científicos de forma
adequada por meio das citações diretas e indiretas. Em especial a coorde-
nação de odontologia que passou a solicitar a oficina em laboratório de in-
formática de como criar e preencher o currículo Lattes, com o objetivo dos
alunos entenderem o porquê e como usar o currículo Lattes e para a sub-
missão de pesquisas na Plataforma Brasil e Comitê de ética de pesquisa em
Seres Humanos. Ainda nesse ano, os cursos das áreas de humanas e exatas,
passaram a solicitar, com frequência, oficinas de elaboração e normalização
de trabalhos científicos além da busca no portal periódico CAPES.
Em 2018, com uma demanda crescente de solicitações de ações
de competência em informação, passamos a submeter como oficinas na
Jornada Científica e Cultural da FAESA, como projeto de extensão, essas
capacitações com a emissão de certificados, onde tínhamos como público,
alunos e professores da instituição.
Em 2019, com o objetivo de ampliar ainda mais o acesso às ações de
competência em informação, foram elaborados e disponibilizados dois de
cursos livres no ambiente virtual de aprendizagem (AVA), os quais eram os
mais requisitados pelos usuários: “Elaboração de Trabalhos Acadêmicos
onde são estudadas as normas da ABNT referentes à elaboração de traba-
lhos acadêmicos, Projetos de Pesquisa e Artigos Científicos/TCC e o Curso
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
424
Livre “Estratégias de Pesquisas” com as práticas de recuperar na web todas
as informações e/ou documentos para o desenvolvimento de suas pesquisas
acadêmicas (Figura 1).
Figura 1 – Páginas dos Cursos: Elaboração de Trabalhos Acadêmicos e
Estratégias de Pesquisa
Fonte: AVA/Biblioteca da FAESA Centro Universitário.
É relevante ressaltar que com a finalização da construção dos dois
cursos no AVA, a bibliotecária responsável por esse projeto convidou
todos os coordenadores de curso e todos os professores orientadores de
projetos de pesquisa e de disciplinas de organização do trabalho científi-
co, para acessarem os cursos e preencher um formulário no Google Forms
com suas sugestões de melhorias e adequações mediante ao perfil dos
alunos de cada curso. Foi uma experiência grandiosa, a qual enriqueceu
o conteúdo dos cursos livres, uma vez que, foram construídos de forma
colaborativa entre bibliotecário e professores, e foi de comum consenso
entre os coordenadores de curso a aceitação do certificado como hora de
atividades complementares.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
425
No segundo semestre de 2019, a biblioteca da FAESA inovou seus ser-
viços com a oferta da oficina “Normas ABNT para trabalhos técnico-cientí-
ficos” via o app Whatsapp. Foram oferecidas quatro turmas com 15 alunos
cada, com duração de 30 dias. De forma dinâmica eram enviados nos grupos
modelos, materiais didáticos por meio de Cards ilustrativos (FIGURA 2),
com as informações e normas da ABNT, além das atividades propostas.
Em 2020, com a pandemia da COVID-19 e o início das aulas re-
motas, a Biblioteca da FAESA, passou a ofertar as oficinas também de
forma remota, via a plataforma Teams: oficinas de Pesquisa Bibliográfica
em Bases de dados e metabuscadores; Normalização e Padronização de
documentos; orientação para a escrita científica de artigos científicos e pro-
jetos de pesquisa: Plágio e direito autoral e Currículo Lattes, nas aulas de
orientadores de projetos de pesquisa e de disciplinas de organização do
trabalho científico.
Além de voltar a realizar levantamentos bibliográficos de pu-
blicações eletrônicas de eBooks, livros virtuais e artigos científi-
cos para os professores disponibilizarem em seus ambientes virtu-
ais de aprendizagem, mediante ao não acesso ao acervo físico da
instituição. Nesse período, a bibliotecária da FAESA também atuou
na oferta remota de oficinas de uso das ferramentas do AVA, Rubricas
e oficinas de tecnologias educacionais (Padlet, kahoot, lousa digital, bi-
bliotecas virtuais, Google Drive, nuvens de palavras, Mentimeter etc.). A
exemplo da oficina de ferramentas e uso da biblioteca digital, o qual tive-
mos 26 professores presentes, com feedbacks positivos dos professores, com
sugestão da oferta da oficina também para alunos.
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
426
Figura 2 – Páginas dos Cursos: Elaboração de Trabalhos Acadêmicos e
Estratégias de Pesquisa
Fonte: Telas das turmas do curso no WhatsApp.
Em 2022, foi ofertado no programa de formação de professores, a
oficina “Busca avançada na Internet como facilitadora do processo de cura-
doria de conteúdos”, com o objetivo de capacitar os professores para o uso
de estratégias de pesquisas baseadas nos operadores booleanos e das prin-
cipais bases de dados de cunho científico, direcionada para os professores
de pesquisa aplicada e TCC e demais professores interessados na temática,
tivemos 15 professores participantes.
Em 2023 continuamos a ofertar no AVA, os cursos de “Elaboração
de Trabalhos Acadêmicos” e o Curso Livre “Estratégias de Pesquisas”, e as
oficinas na aula de Organização do Trabalho Científico de forma remota,
e também passamos a ofertar novas oficinas as quais podem ser solicitadas
via o e-mail da biblioteca (Figura 3).
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
427
Figura 3 – Oferta de Treinamentos pela Biblioteca da FAESA
Fonte: AVA/Biblioteca do FAESA Centro Universitário
consideRações finais
A oferta de treinamentos aplicada nas salas de aulas das instituições
de ensino superior (IES), tanto no modelo presencial quanto no online,
têm o objetivo de desenvolver a autonomia dos alunos e devem utilizar a
mediação, como estratégia para ajudá-los a lidar com o grande volume de
informações disponíveis.
Para isso, as BUs precisam ser transformadas em espaços de apren-
dizagem, promovendo locais de inclusão científica de alunos nas univer-
sidades, um espaço aberto e acessível ao mundo da ciência e tecnologia
onde, por meio de projetos educacionais, se promovam a geração de co-
nhecimentos e o desenvolvimento de habilidades e atitudes próprias da
área científica. Assim, a biblioteca universitária pode ser entendida como
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
428
um recurso para dinamizar o ensino, a aprendizagem, a criação e o diálogo
(Corrêa; García-Quismondo, 2021).
Nesse sentido, é necessário reforçar que as bibliotecas são muito mais
que um espaço que disponibiliza fontes de informação impressas ou on-
line, fazendo parte das suas responsabilidades contribuir com a formação
crítica e reflexiva do universitário. Nesse sentido, é comum, dentre os ser-
viços ofertados, atualmente, a competência em informação, não só para os
recursos oferecidos na instituição como para orientar e contribuir com a
pesquisa científica.
A BU tem como princípio fundamental oferecer serviços e produtos
informacionais de acordo com sua rede de usuários, sendo estes caracte-
rizados por professores, funcionários, alunos, como também pesquisado-
res externos, um dos objetivos da biblioteca é satisfazer esses usuários por
meio de um acervo organizado, atualizado e pertinente à comunidade.
Caracteriza-se como responsável por serem organizações inseridas em um
meio dinâmico e por terem acompanhado, “[…] ao longo dos anos, as mu-
danças ocorridas na sociedade como um todo e buscando uma melhoria na
apresentação de seus produtos e serviços” (Almeida Júnior, 2015, p.348).
Assim, não bastando somente disponibilizar material bibliográfico,
bases de dados diversas ou equipamentos atualizados, é preciso que produ-
tos e serviços respondam às demandas da IES e de seu público, propiciando
a mediação da aprendizagem no ambiente informacional e promovendo a
BU como espaço de aprendizagem.
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Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
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431
O  
fábio mosso moReiRa
Pós-Doutorado pelo Progama de Pós-Graduação em
Agronegócio e Desenvolvimento (UNESP/Tupã). Doutor
e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação (UNESP/Marília). Bacharel em Administração de
Empresas (UNESP/Tupã). Atuou como professor em cursos
de Graduação e Pós-Graduação na UNESP (Tupã, Marília,
Presidente Prudente), UFSC (Florianópolis), UFSCar (São
Carlos) e Faculdade Belas Artes (São Paulo).
helen de castRo silva casaRin
Possui graduação em Biblioteconomia pela Universidade
Estadual Paulista (1992), mestrado em Ensino na Educação
Brasileira pela Universidade Estadual Paulista (1996), doutorado
em Letras pela Universidade Estadual Paulista (2002) e Livre-
Docência pela Universidade Estadual Paulista (2011). Foi editora
do BRAJIS (2018-2021). Atualmente é professora Associada
do Departamento de Ciência da Informação da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Coordenadora do
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin, José Augusto Chaves Guimarães,
Luana Maia Woida e Ricardo César Gonçalves Sant’Ana [Org.]
432
PPGCI Unesp. É bolsista Produtividade em Pesquisa CNPq
e líder do grupo de pesquisa “Comportamento e competência
informacionais”. É integrante da Rede de Estudos Avançados
em Gestão, Organização e Curadoria dos Saberes em Sociedades
Complexas, no projeto Projeto: T1P3 - Informação e
Conhecimento na Sociedade Contemporânea. Tem experiência
na área de Ciência da Informação, atuando principalmente nos
seguintes temas: comportamento informacional, competência
informacional e biblioteca escolar.
RicaRdo césaR gonçalves sant’ana
Professor Associado da UNESP/Tupã, em regime de dedica-
ção exclusiva. Professor do Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação da UNESP/Marília. Graduado em
Matemática e Pedagogia, Mestrado em Ciência da Informação
(2002), Doutorado em Ciência da Informação (2008) e Livre-
Docente em Sistemas de Informações Gerenciais pela UNESP
(2017). Possui especializações em Orientação a Objetos (1996)
e Gestão de Sistemas de Informação (1998). Parecerista ad hoc
de periódicos e de agências de fomento. Líder do Grupo de
Pesquisa – Tecnologias de Acesso a Dados (GPTAD) e mem-
bro do Grupo de Pesquisa – Novas Tecnologias em Informação
GPNTI. Membro da ANCIB. Tem experiência na área de
Ciência da Computação, atualmente realiza pesquisas com foco
em: ciência da informação e tecnologia da informação, investi-
gando temas ligados ao Ciclo de Vida dos Dados, Transparência
e ao Fluxo Informacional em Cadeias Produtivas. Foi Presidente
da primeira composição da Comissão de Acompanhamento e
Avaliação dos Cursos de Graduação – CAACG da UNESP, en-
tre 2018 e 2020. Atuou como professor na Faccat Faculdade de
Ciências Contábeis e Administração de Tupã, onde coordenou
curso de Administração com Habilitação em Análise de Sistemas
por dez anos e o curso de Licenciatura em Computação. Atuou
no setor privado como consultor, integrador e pesquisador de
novas tecnologias informacionais de 1988 a 2011.
Transversalidade e verticalidade na Ciência da Informação
433
luana maia Woida
Pós-doutora pela Universidad Carlos III de Madrid (Espanha).
Doutora e mestre em Ciência da Informação pela Universidade
Estadual Paulista (UNESP). Graduada em Administração
pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Professora
nas Faculdades de Tecnologia de Garça e de Marília (FATEC-
Garça; FATEC-Marília). Docente Permanente no Programa de
Pós-Graduação em Ciência da Informação (Unesp/Marília).
Docente Colaboradora no Programa de Pós-Graduação em
Administração (UEL/Londrina). Pesquisadora em cultura in-
formacional, cultura organizacional, cultura de inovação, com-
portamento organizacional, marketing, diversidade, feminismo,
ciberfeminismo, femvertising, observatório, sustentabilidade.
Membro do grupo de pesquisa Informação, Conhecimento e
Inteligência Organizacional desde 2002.
josé augusto chaves guimaRães
Possui graduação em Biblioteconomia pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (1981), graduação em Direito
pela Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha (1981),
mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de
São Paulo (1989), doutorado em Ciências da Comunicação pela
Universidade de São Paulo (1994), livre-docência em Análise do-
cumentária pela Universidade Estadual Paulista (2000). Realizou
estágio pós-doutoral na Universidad Carlos III de Madrid
(2008-2009). Desde 2009 ocupa o cargo de Professor Titular
do Departamento de Ciência da Informação da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em Marília-SP. Tem
experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em
Organização da Informação, atuando principalmente nos se-
guintes temas: análise documental, organização do conhecimen-
to, epistemologia da Ciência da Informação, ética profissional em
Ciência da Informação e documentação jurídica.
434
comissão oRganizadoRa do i tvci
Fábio Mosso MOREIRA UNESP – Universidade Estadual Paulista
Helen de Castro S. CASARIN UNESP – Universidade Estadual Paulista
Ricardo C. G. SANT’ANA UNESP – Universidade Estadual Paulista
Luana Maia WOIDA UNESP – Universidade Estadual Paulista
José Augusto Chaves GUIMARÃES UNESP – Universidade Estadual Paulista
comissão científica do i tvci
Cristiane Luiza Salazar GARCIA UNESP – Universidade Estadual Paulista
Diana V. Boas Souto ALEIXO UFES – Universidade Federal do Espírito
Santo
Eduardo Graziosi SILVA UNESP – Universidade Estadual Paulista
Elaine da SILVA UNESP – Universidade Estadual Paulista
Elaine Parra AFFONSO FATEC – Faculdade de Tecnologia de São
Paulo
Elizabete C. de S. A. MONTEIRO UNESP – Universidade Estadual Paulista
Emanuelle TORINO UNESP – Universidade Estadual Paulista
Fernando de Assis RODRIGUES UFPA – Universidade Federal do Pará
Jacquelin T. CAMPEROS-REYES UFPA – Universidade Federal do Pará
Jean BRITO UNESP – Universidade Estadual Paulista
José Antonio da SILVA UNESP – Universidade Estadual Paulista
Luciana DAVANZO UNESP – Universidade Estadual Paulista
Rafaela Carolina SILVA UNESP – Universidade Estadual Paulista
Renato Fernandes CORRÊA UNESP – Universidade Estadual Paulista
Richele Grenge VIGNOLI UNESP – Universidade Estadual Paulista
Rubia MARTINS UNESP – Universidade Estadual Paulista
435
iciane M. C. TEIXEIRA UNESP – Universidade Estadual Paulista
Walter Clayton de OLIVEIRA UNESP – Universidade Estadual Paulista
apoio
oRganizacional
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação – PPGCI/UNESP
Grupo de Pesquisa Tecnologia de Acesso a Dados – GPTAD/UNESP
institucional
Faculdade de Filosofia e Ciências-FFC, UNESP-Marília
catalogação na publicação (cip)
Telma Jaqueline Dias Silveira
CRB 8/7867
noRmalização
Maria Elisa Valentim Pickler Nicolino
CRB - 8/8292
amires Bueno Ferreira
capa e diagRamação
Gláucio Rogério de Morais
pRodução gRáfica
Giancarlo Malheiro Silva
Gláucio Rogério de Morais
assessoRia técnica
Renato Geraldi
oficina univeRsitáRia
Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
foRmato
16 x 23cm
tipologia
Adobe Garamond Pro
2025
sobRe o livRo
Transversalidade
e verticalidade na
Ciência da Informação
O conteúdo desta obra resulta das exposições realizadas no evento
acadêmico denominado ‘Transversalidade e Verticalidade na Ciência
da Informação (TVCI)’ , ocorrido nos dias 10 e 11 de Agosto de
2023. Promovido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação – PPGCI (UNESP), o encontro proporcionou
uma reunião de pesquisadores, professores, alunos de graduação e
pós-graduação e a comunidade científica em prol do debate acerca das
aplicações, tendências e reflexões resultantes de investigações na área
da Ciência da Informação.
Transversalidade e verticalidade
na Ciência da Informação
Fábio Mosso Moreira, Helen de Castro S. Casarin,
José Augusto Chaves Guimarães, Luana Maia Woida e
Ricardo César Gonçalves Sant’Ana (Org.)
Fábio Mosso Moreira
Helen de Castro S. Casarin
José Augusto Chaves Guimarães
Luana Maia Woida
Ricardo César Gonçalves Sant’Ana
(Organizadores)
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