VOZES ESQUECIDAS DO
SERTÃO PAULISTA
formação e trabalho de professoras e
professores de escolas primárias rurais da
região de São José do Rio Preto/SP
(1940-1970)
Noely Costa Dias Garcia
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0039/2022
Processo Nº 23038.001838/2022-11
“Os excertos das entrevistas transcritos
na obra contêm o registro das memó-
rias, histórias e representações tecidas por
professoras e professor sobre o tempo em
que atuaram em escolas rurais. São narra-
tivas ricas em detalhes sobre o cotidiano
das salas de aula instaladas em meio rural,
são também perpassadas por emoção e
sensibilidade e, por conseguinte, ofere-
cem um quadro vivo de todo o trabalho
empreendido por essas pessoas naquelas
pequenas escolas”
Excerto do Prefácio escrito pela
Profa. Dra Sandra C. Fagundes de Lima
No livro “VOZES ESQUECIDAS DO SERTÃO PAULISTA: forma-
ção e trabalho de professoras e professores de escolas primárias rurais
da região de São José do Rio Preto/SP (1940-1970)”, apresentam-se
os resultados da pesquisa de Doutorado em Educação, cujo objetivo
foi analisar aspectos da história da formação, ingresso e trabalho de
professoras e professores de escolas primárias rurais estaduais perten-
centes à Diretoria de Ensino do município de São José do Rio Preto/
SP entre 1940 e 1970. O recorte inicial marca o período de iniciativas
da União com relação à expansão do ensino primário rural por meio
de investimentos, na construção de escolas e na formação de profes-
sores rurais, e o período nal justica-se pela extinção do modelo de
formação e adoção de novos modelos baseados na implantação da Re-
forma do Ensino de e Graus, pela Lei nº 5.692/71. A História
Oral foi utilizada na construção da trajetória de nove professoras e um
professor que exerceram a docência em escolas rurais no período deli-
mitado para o estudo. Os resultados obtidos indicaram que os docen-
tes tiveram uma formação inicial nos Cursos Normais Paulista, cujos
currículos não atendiam às especicidades da zona rural. O ingres-
so na carreira do magistério primário no estado de São Paulo esteve
atrelado à docência nas zonas rurais, exigência prevista na legislação
estadual desde o início da República. Desse modo, eles tiveram di-
culdades com as classes multisseriadas e a localização das escolas rurais,
geralmente de difícil acesso, contudo, muitos desaos foram dirimidos
com a produção de materiais de ensino, produção da merenda e com-
pra de cartilhas para as crianças, mas foram soluções individualizadas,
que a escola rural em São Paulo não recebeu um planejamento sis-
têmico quanto à formação e constituição curricular, depreendendo-se
que o ideário de progresso visava formar um cidadão urbano, tratan-
do o espaço rural como um resíduo a ser superado pela modernização.
VOZES ESQUECIDAS DO SERTÃO PAULISTA Noely Garcia
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VOZES ESQUECIDAS DO SERTÃO
PAULISTA:
formação e trabalho de professoras e professores de escolas primárias
rurais da região de São José do Rio Preto/SP
(1940-1970)
Noely Costa Dias Garcia
Noely Costa Dias Garcia
VOZES ESQUECIDAS DO SERTÃO PAULISTA:
formação e trabalho de professoras e professores de escolas primárias
rurais da região de São José do Rio Preto/SP
(1940-1970)
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2024
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS FFC
UNESP - campus de Marília
Diretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
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Conselho Editorial
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Marcos Antonio Alves
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Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
Henrique Tahan Novaes
Aila Narene Dahwache Criado Rocha
Alonso Bezerra de Carvalho
Ana Clara Bortoleto Nery
Claudia da Mota Daros Parente
Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Pedro Angelo Pagni
Auxílio Nº 0039/2022, Processo Nº 23038.001838/2022-11, Programa PROEX/CAPES
Parecerista: Agnes Iara Domingos Moraes - Professora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS),
da Unidade Universitária de Paranaíba.
Capa: imagem gratuita Pixabay
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
Garcia, Noely Costa Dias.
G216v Vozes esquecidas do sertão paulista: formação e trabalho de professoras e
professores de escolas primárias rurais da região de São José do Rio Preto/SP (1940-
1970) / Noely Costa Dias Garcia. Marília : Oficina Universitária ; São Paulo :
Cultura Acadêmica, 2024.
402 p. :il.
CAPES
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-426-4 (Digital)
ISBN 978-65-5954-427-1 (Impresso)
DOI: https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-426-4
1. Professores - Formação. 2. Prática de ensino. 3. Educação rural. 4. Escolas rurais
- São José do Rio Preto (SP) - 1940-1970. I. Título.
CDD 370.9
_____________________________________________________________________________
Catalogação: André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Copyright © 2024, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Dedico,
Aos meus pais,
Cláudio
e
Sebastian
a, por não
terem tido o mesmo direito à educação escolar.
A todos
os professores primários
colaboradores
desta pesquisa que trabalharam em escolas
rurais localizadas no interior paulista.
AGRADECIMENTOS
Aos professores entrevistados: Irce Elias da Costa, Ivanilde
Afonso Prudêncio, Jorge Salomão, Maria Alvarez Romano, Maria
Inês Salomão, Maria Nirce Previdente Sanches, Nilce Apparecida
Lodi Rizzini (in memoriam), Sônia Aparecida Azem, Palmira
Migueletti Marra da Silva, Yara Aparecida Aude (in memoriam), que
gentilmente se mostraram disponíveis e aceitaram compartilhar suas
vivências do passado, sem as quais este livro não seria possível.
[...] posso afirmar que como professora de escola primária rural, escrevi
capítulos importantes de minha própria história que enriquecem minha
vida. Sonhos, medos, inseguranças, que hoje estão distantes.
Acontecimentos alegres como a aprovação dos alunos ao término de cada
ano. O apoio, a amizade e a confiança dos pais e da Família Scaff. São
páginas vividas com leveza e sentimento de dever cumprido. Anos
intensos e inesquecíveis. Lições que se aprende e nunca serão esquecidas.
Nilce Apparecida Lodi Rizzini (2020)
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABE - Associação Brasileira de Educação
ALESP - Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
BDTD - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior
CEE - Conselho Estadual de Educação
CEFAM - Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do
Magistério
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico
CPP - Centro do Professorado Paulista
FAFI - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
FAFICA - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Catanduva
GEPCIE - Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Cultura e Instituições
Educacionais
GEPHEB - Grupo de Pesquisa em História da Educação Brasileira
GPHEELLB - Grupo de Pesquisa História da Educação e do Ensino
de Língua e Literatura no Brasil
HEM - Habilitação Específica para o Magistério
IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
Ibilce - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
IE - Instituto de Educação
IFMA - Instituto Federal do Maranhão
Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira
INPS - Instituto Nacional de Previdência Social
IPA - Instituto Penal Agrícola
LDB - Lei de Diretrizes e Bases
MA - Maranhão
MEC - Ministério da Educação
MG - Minas Gerais
MS - Mato Grosso do Sul
MT - Mato Grosso
PB - Paraíba
PE - Pernambuco
PI - Piauí
PND - Plano Nacional de Desenvolvimento
PR - Paraná
PUC-PR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná
RJ - Rio de Janeiro
RO - Rondônia
SE - Sergipe
SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SP - São Paulo
TCC - Trabalho de Conclusão de Curso
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UEM - Universidade Estadual de Marin
UEMS - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados
UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso
UFPB - Universidade Federal da Paraíba
UFPI - Universidade Federal do Piauí
UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UFU - Universidade Federal de Uberlândia
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura
UNESP - Universidade Estadual Paulista
Unesp - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
UNIR - Fundação Universidade Federal de Rondônia
UNISANTOS - Universidade Católica de Santos
UNIT - Universidade de Tiradentes
UNORP - Centro Universitário do Norte Paulista
UPE - Universidade de Pernambuco
SUMÁRIO
Prefácio | Sandra Cristina Fagundes de Lima....................................17
INTRODUÇÃO..........................................................................21
1 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA
PESQUISA...................................................................................33
1.1 Pesquisas que subsidiam a discussão do objeto
1.2 Trilhas para construção dos fundamentos teóricos e
metodológicos
1.3 Caracterização dos professores participantes da pesquisa
2 SÃO JOSÉ DO RIO PRETO: ASPECTOS HISTÓRICOS E
EDUCACIONAIS.......................................................................75
2.1 Fragmentos históricos do município
2.2 Instrução elementar: antecedentes históricos do desenvolvimento
educacional rio-pretense
2.3 Vestígios das escolas primárias rurais em São José do Rio Preto
3 A EXPANSÃO DO ENSINO NORMAL NO ESTADO DE SÃO
PAULO E A VICISSITUDES DO MAGISTÉRIO PARA O MEIO
RURAL......................................................................................127
3.1 Escola Normal: expansão e consolidação de um lugar de formação
do professor primário paulista
3.2 Professor rural: uma formação ausente no estado de São Paulo?
3.3 A formação inicial e o meio rural
4 PROVIMENTO DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS RURAIS........213
4.1 Entre o prescrito e o realizado: o ingresso na carreira docente
4.2 Itinerários percorridos no magistério rural
4.3 As escolas rurais: representações de uma realidade
5 O TRABALHO NA ESCOLA PRIMÁRIA NO MEIO
RURAL......................................................................................269
5.1 Idas e vindas: caminhos percorridos no meio rural
5.2 A organização do espaço nas classes multisseriadas
5.3 Matérias de ensino
5.4 Práticas docentes
5.5 Materiais escolares
5.6 Desafios da docência rural
5.7 Alunos das escolas primárias rurais
5.8 O relacionamento do professor com o meio rural
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................353
REFERÊNCIAS.........................................................................359
ANEXO A - Roteiro de entrevistas...............................................399
17
PRECIO
“Vozes esquecidas do sertão paulista: formação e trabalho de
professoras e professores de escolas primárias rurais da região de São
José do Rio Preto/SP (1940-1970)” foi o título da tese de doutorado
defendida por Noely em 2022, cuja profícua pesquisa engendrou este
livro que se constitui em mais uma indispensável referência à
historiografia da educação em geral e, em particular, à história da
educação rural.
A relevância do livro decorre não apenas do fato de contribuir
para uma temática que ainda prescinde de pesquisas para ser mais
amplamente compreendida, mas advém, sobretudo, da abordagem
densa empregada pela autora na apreensão de seu objeto. Ao recorrer
a fontes de natureza diversificada, organizar essa documentação em
quadros, gráficos, tabelas e mapas, ao empregar fundamentação
teórica apropriada e empreender uma análise criteriosa não só da
formação e do trabalho de professores de escolas rurais, mas também
das condições de funcionamento dessas escolas, Noely inscreve a sua
pesquisa no rol da bibliografia essencial para se conhecer uma parte
significativa da história da educação rural no país.
Emana desse rigor metodológico várias razões pelas quais o
livro de Noely deverá figurar entre as referências imprescindíveis aos
estudiosos da educação rural, dentre as quais destaco: a) a discussão
amplamente documentada sobre a formação e o trabalho de
professores primários das escolas rurais no município de São José do
Rio Preto; b) a relação entre a formação docente e o trabalho nas
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-426-4.p17-20
18
escolas instaladas em meio rural; c) a caracterização minuciosa das
escolas instaladas em meio rural no Município de São José do Rio
Preto; d) a proeminência dos sujeitos.
Com relação ao primeiro ponto, Noely empreende uma
jornada de investigação para a qual mobilizou um espectro ampliado
de fontes, que vão desde os documentos escolares, as muitas
legislações que regulamentaram tanto a formação quanto o trabalho
de professores rurais e culminam nas memórias das pessoas
entrevistadas. Como resultado, produziu uma discussão detalhada da
trajetória de organização da escola rural que transcende a discussão
regional, posto que se preocupa também em situar a situação local no
contexto nacional, e poderá ser apropriada por todos aqueles que se
debruçam sobre a história da escolarização rural com ênfase para as
normas que visaram regulamentar o trabalho e a formação docente,
bem como sobre os limites de sua aplicação.
No que concerne ao segundo aspecto, qual seja, a relação entre
a formação dos professores e a atuação na escola rural, a autora chama
atenção para uma realidade inquietante ao apresentar os relatos nos
quais as pessoas entrevistadas evidenciam que a despeito da formação
recebida antes de ingressarem na escola rural, no cotidiano das salas
de aula deparavam-se com inúmeros obstáculos para os quais não se
encontravam preparadas, sendo necessário despender muito esforço e
lançar mão de diferentes iniciativas para superar os problemas
existentes.
O terceiro ponto que destaco no livro consubstancia-se na rica
reconstituição do cenário das escolas rurais onde atuaram as pessoas
entrevistadas. Tratam-se de instituições localizadas na área rural em
São Paulo - ou seja, no estado mais rico de nossa federação e que,
19
não obstante a pujança econômica da região, apresentavam situação
de acentuada degradação cujos sinais eram perceptíveis, dentre outros
aspectos, nos prédios improvisados, classes unidocentes, multisse-
riadas, alto percentual de evasão e relativo isolamento docente. A fala
resumida de uma das professoras entrevistadas traduz bem como eram
precárias as escolas: Não tinha quase nada. Nada! Quase nada. A gente
não tinha apagador e giz, se você quer saber. Eu comprei isso tudo muitos
anos. Essa precariedade permite compreender um dos fatores que
promoveram a clivagem entre a formação e a atuação dos professores,
mais especificamente explica a insuficiência da formação recebida
para instrumentalizar o trabalho desenvolvido em escolas rurais nas
quais tudo faltava.
Relativamente ao quarto destaque, é conhecida a advertência
de Marc Bloch de que o historiador deve se portar como o monstro
da lenda e, tal qual esse, precisa farejar a carne humana. Entretanto,
para incorporar essa proposta não basta dizer que a história é o
processo que se constitui pela ação dos homens no tempo, isso é
fundamental, claro, mas não atende totalmente ao apelo apresentado
pelo historiador francês; para tanto, as pessoas devem estar presentes
de corpo inteiro em nossos escritos. Noely não só acedeu a esse desafio
como conseguiu execu-lo com êxito ao conferir notoriedade às
pessoas que outrora atuaram nas diferentes escolas rurais instaladas na
região de São José do Rio Preto, justamente aquelas cujas vozes,
segundo a autora, haviam sido esquecidas.
Os excertos das entrevistas transcritos na obra contêm o
registro das memórias, histórias e representações tecidas por
professoras e professor sobre o tempo em que atuaram em escolas
rurais. São narrativas ricas em detalhes sobre o cotidiano das salas de
20
aula instaladas em meio rural, são também perpassadas por emoção e
sensibilidade e, por conseguinte, oferecem um quadro vivo de todo o
trabalho empreendido por essas pessoas naquelas pequenas escolas.
Ao compor o seu livro com esses relatos, Noely
magistralmente permite-nos conhecer que, a despeito de sérias e
profundas dificuldades, essas pessoas deram uma inestimável
contribuição à alfabetização de muitas crianças cuja única
possibilidade de estudos localizava-se na escola instalada na fazenda
onde viviam ou em suas proximidades.
Essas não são todas, mas são algumas das razões pelas quais eu
recomendo a leitura do livro às pessoas envolvidas com a história da
educação primária, particularmente com a história da educação rural.
Sandra Cristina Fagundes de Lima
Uberlândia-MG, junho de 2022.
21
INTRODUÇÃO
Acredito
1
que as escolhas que fazemos ao longo de nossas
vidas estão relacionadas diretamente com a nossa maneira de ser,
pensar, viver e acreditar, como também, advêm de uma inquietação
de pesquisadora em buscar respostas para compreender os
acontecimentos ao seu redor com um olhar mais atento. No meu
caso, refletir sobre a formação de professores e o significado próprio
do seu papel na sociedade me fascina, uma vez que exige pensar e
refletir como o magistério se estabeleceu em diferentes momentos
históricos do país.
Quando criança, eu ouvia meu pai Cláudio Costa da Silva
(2018), sempre dizer:
Estudo bom, minha filha, era na minha época. A gente aprendia
tabuada e não esquecia. Mesmo a gente andando 8 km a pé para
chegar na escola e depois andar 8 km para voltar, aprendia mais que
hoje
2
. Eu tinha uma professora só! Ela dava conta de ensinar todo
mundo. Só que ela era muito brava. Tínhamos respeito por ela. Na
fazenda era até a 4ª série só. Eu nem cheguei a completar! Seu avô
dizia: aprendeu assinar o nome e ler um pouquinho estava bom
3
.
1
Do primeiro ao nono parágrafos, o texto foi, intencionalmente, redigido em primeira
pessoa.
2
Ao referir-se ao período hoje, está relacionado ao ano de 1987, em que eu havia iniciado
meus estudos na 1ª série do ensino primário.
3
Em todo o texto adotou-se a formatação em itálico para as citações de fontes orais, a fim de
diferenciar das demais citações.
22
Na fala deste homem que morou até os seus 33 anos de idade
na roça, traz muito do que foi a experiência de escolarização de
gerações de crianças de escolas rurais da década de 1950, de outras
localidades no Brasil. Ficou evidenciado em sua narrativa a
dificuldade de acesso à escola ao ressaltar a distância percorrida; a
conduta do professor em manter a disciplina da sala de aula e o pouco
do ensino que era fornecido, o qual se aprendia muito, apesar dele
não ter a oportunidade de concluir os estudos naquele momento.
Meu pai foi meu primeiro professor. Não chegou a concluir a
4ª série, pois segundo o meu avô, era o suficiente ler um pouquinho
e saber assinar o nome. O pouco que aprendeu na escola primária
rural onde estudou foi suficiente para me ensinar a ler, escrever e
contar. Todos os dias, antes de sair para a lidana roça, ele deixava
organizado o que eu deveria estudar. Após o dia exaustivo de trabalho
com a plantação e colheita de arrozsentava comigo e tomava toda
a lição. Naquele momento, caso eu errasse algo que fosse perguntado
por ele, era castigada com tapas e puxões de orelha. Esses momentos
foram marcantes em minha vida, embora não recorde minha idade na
época. Penso que tinha entre 6 e 7 anos, pois aos 8 anos, em 1987,
fui morar com meus tios Silvéria e Amauri, na cidade de
Paranaíba/MS, porque não havia mais a escola rural em que meu pai
e três irmãos estudaram, com isso, foi necessário mudar para o centro
urbano para que eu pudesse estudar
4
. No meu caso, a mudança foi
necessária porque a fazenda dos meus avós paternos ficava longe de
4
Amauri era meu tio paterno, e Silvéria minha tia materna, esta irmã da minha mãe e aquele,
irmão do meu pai. Ambos contraíram matrimônio, sendo, portanto, cunhados dos meus
genitores. Morei com eles três anos. Após esse período, meus pais construíram uma casa na
cidade e voltei a morar com eles. Meus avós tiveram 15 filhos. Meu pai tinha 13 anos na
época.
23
Paranaíba/MS, assim como de Aparecida do Tabuado/MS. A fazenda
ficava localizada entre esses dois municípios, com uma distância
aproximada de 50 km cada um. Com essa distância e a falta de escola
na zona rural, restou aos meus pais se mudarem para a cidade de
Paranaíba/MS.
Indagações como Estudo bom minha filha, era na minha
época, sempre estiveram presentes no meu processo de escolarização.
Buscava identificar nos meus professores a professora que o meu pai
falava. Nessa perspectiva, a minha trajetória como pesquisadora,
desde a graduação, foi realizar pesquisas relacionadas à temática de
formação de professores. O meu Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC) em Pedagogia, na Universidade Estadual de Mato Grosso do
Sul (UEMS) - Unidade Universitária de Paranaíba, foi intitulado A
formação continuada como possibilidade de transformação da prática
pedagógica do professor em sala de aula, cuja pesquisa desenvolveu-se
em dois momentos: no primeiro momento, foi elaborada uma
entrevista semiestruturada junto aos representantes da Secretaria de
Educação do Estado de Mato Grosso do Sul, das escolas municipais
e das escolas privadas em Paranaíba; e, no segundo momento,
aplicou-se um questionário de perguntas abertas para os professores
que atuavam nas instituições das referidas Secretarias.
Nesse trabalho, analisei a formação continuada do professor
das séries iniciais das escolas municipais, estaduais e privadas do
município de Paranaíba/MS, a fim de compreender, na visão dos
professores, o que ela proporcionava de melhoria na prática docente.
Durante a realização da pesquisa de campo, deparei-me com
professores que tiveram uma formação diferente da minha. Conforme
me entregavam os questionários, faziam comentários que me
24
deixavam inquieta, especialmente ao deplorarem que os novos cursos
de formação de professores falhavam ao não aproximarem a teoria e a
prática
5
. Ademais, asseveravam que o professor recém-formado não
tinha domínio do conteúdo e muito menos da sala de aula. Questões
como essas me incomodavam. Queria entender como ocorria essa
formação que tanto eles defendiam. De que cursos eles estavam
falando? Por que o curso de Pedagogia não habilitava o professor? O
que eles aprendiam?
Nesse ínterim, tais indagações permaneceram ao finalizar o
TCC, pois naquele momento não era meu objeto de estudo, visto que
as questões foram surgindo na finalização da pesquisa. Nesse sentido,
meu interesse em saber como se constituía a formação e a prática dos
professores em Paranaíba aumentava. Foi então que me inscrevi no
curso de Especialização em Educação, Linguagem e Sociedade (lato
sensu) na UEMS - Unidade Universitária de Paranaíba. Contudo,
meu objeto de pesquisa alterou-se
6
para um estudo sobre a disciplina
Didática, ofertada na escola Normal, primeiro curso de formação
oferecido aos professores em Paranaíba.
A proposta desse estudo visava compreender como ocorreu a
formação dos primeiros professores do município e como suas
práticas foram se constituindo, pois a disciplina Didática tem por
finalidade preparar as normalistas para a realidade da sala de aula,
5
Cabe esclarecer, todavia, que a percepção docente quanto à prática de sala aula é uma crítica
recorrente no processo de constituição da profissão. Os professores consideram sua formação
inicial, bem como os cursos realizados ao longo de sua carreira, pífios em relação às práticas.
6
Meu objetivo inicial era estudar o livro didático, material considerado como suporte para
o professor no momento de executar seu trabalho em sala de aula. Esse objetivo surge após
questões apresentadas pelos professores durante a pesquisa de campo realizada na Graduação.
De acordo, com os professores se retirar o livro didático do “novo professor” ele não saberia
dar aulas.
25
sobretudo nas questões que envolvem aspectos metodológicos e
práticos. Dessa forma, apresentei como conclusão do curso de
Especialização a Monografia intitulada O ensino da disciplina Didática
no Curso Normal em Paranaíba (1967-1971)
7
.
Ao concluir essa pesquisa, permaneceram as inquietações
mencionadas que somadas aos interesses despertados com a
participação no Grupo de Pesquisa em História da Educação
Brasileira (GEPHEB), coordenado pelo professor Dr. Ademilson
Batista Paes, na UEMS - Unidade Universitária de Paranaíba
levaram-me a pesquisar sobre o curso Normal Estadual em
Paranaíba/MT. Desse modo, defendi a Dissertação de Mestrado DO
CURSO NORMAL AO MAGISTÉRIO: o curso Normal Estadual em
Paranaíba/MT (1967-1975). Nesse estudo, busquei contribuir para a
produção de uma história sobre a formação de professores primários
no município de Paranaíba, mediante o processo de criação e
funcionamento de sua Escola entre 1967 e 1975.
Os resultados mostraram que a cidade de Paranaíba, entre
1940 e 1960, contava com um número expressivo de professores
leigos que ministravam suas aulas apoiados em suas próprias
experiências como alunos ou com ajuda de pessoas com mais
conhecimentos, (GARCIA, 2015). Antes de 1967, a cidade contava
apenas com duas normalistas
8
formadas, vindas de Cuiabá/MT.
Para o Doutorado, a escolha do tema da pesquisa, da qual são
apresentados resultados finais neste livro, tem por escopo
compreender a formação docente, o ingresso na carreira e as formas
7
No período em estudo, a cidade de Paranaíba fazia parte do estado de Mato Grosso, que
veio a ser dividido no ano de 1977, passando a ser denominado Mato Grosso do Sul.
8
Liduvina Mota Camargo e Aracilda Cícero Corrêa da Costa (GARCIA, 2015).
26
de atuação de professores nas escolas primárias rurais na região do
município de São José do Rio Preto/SP, durante as décadas de 1940
a 1970.O interesse pelo tema surgiu durante a participação nas
reuniões do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Cultura e Instituições
Educacionais (GEPCIE), na Faculdade de Ciências e Letras
(UNESP), campus de Araraquara, coordenado pela professora Drª.
Rosa Fátima de Souza, em 2015.
A pesquisa faz parte de um Projeto de Investigação
9
coordenado por essa professora, cujo objetivo foi analisar a
profissionalização docente no Brasil, buscando compreender as
políticas públicas empreendidas em âmbito nacional e estadual para a
formação do magistério rural e as formas de recrutamento, carreira,
salários e condições de trabalho dos professores do campo. Dessa
forma, a cidade de São José do Rio Preto foi definida como espaço de
pesquisa, em virtude da escassez de trabalhos sobre o tema e, também,
para atender à necessidade de o Projeto incidir no estado de São
Paulo, uma vez que no estado de Mato Grosso do Sul estavam
sendo realizadas pesquisas com a mesma temática.
Com isso, o recorte temporal inicial (1940), marca o período
de iniciativas da União com relação à expansão do ensino primário
rural por meio de investimentos, na construção de escolas e formação
de professores rurais e o período final (1970) justifica-se pela extinção
do modelo de formação e adoção de novos modelos a partir da
implantação da Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus, pela Lei nº
5.692/71.
9
Projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), Processo nº 405240/2016-3, vigência 19/06/2017 a 18/06/2020.
27
As periodizações históricas, conforme analisa Le Goff (2015),
são ações do homem sobre o tempo. Tratam-se de recortes arbitrários
artificiais e provisórios, uma vez que [...] tem dupla utilidade:
permite melhor controlar o tempo passado, mas também sublinha a
fragilidade desse instrumento do saber humano que é a história(LE
GOFF, 2015, p. 29). Nesse sentido, a periodização reflete um ponto
de vista historiográfico, mas cotejado pelo historiador e suas fontes, já
que a concepção de tempo é multifacetada, com epistemologias
engendradas em áreas de conhecimento com as quais desenvolve
profícuos diálogos.
Nessa perspectiva, o tema de investigação deste livro inscreve-
se nos estudos do campo da História da Educação, no âmbito da
educação rural, que tem por objetivo geral analisar aspectos de
formação, ingresso e trabalho de professores e professoras de escolas
primárias rurais estaduais pertencentes à Diretoria de Ensino do
município de São José do Rio Preto/SP, entre 1940 e 1970.
Para isso, traçou-se como objetivos específicos:
Identificar os professores que atuaram nas escolas primárias
rurais estaduais da região do município de São José do Rio Preto,
entre 1940 e 1970.
Compreender como se deu o processo de formação para o
exercício da docência no magistério rural.
Verificar as formas de ingresso no magistério rural.
Analisar as práticas de ensino desenvolvidas pelos docentes nas
escolas primárias rurais.
Investigar as condições de trabalho e dificuldades enfrentadas
no exercício do magistério rural.
28
Nessa perspectiva, buscou-se responder às seguintes questões
norteadoras desta proposta de investigação:
Quem foram os professores primários que atuaram nas escolas
rurais do município de São José do Rio Preto, entre 1940 e 1970?
Como ocorreu o processo de formação dos professores rurais
no estado de São Paulo?
Onde e como foram formados?
Quais foram os critérios de ingresso no magistério?
A formação inicial auxiliou na prática docente rural?
Fez algum curso para atender o magistério rural?
Quanto tempo e como exerceram a docência no meio rural?
Quais foram as condições de trabalho e dificuldades
enfrentadas no exercício da docência rural?
Desse modo, trabalhou-se com hipótese preliminar de
investigação com o seguinte fato: Em virtude das iniciativas dos
governos paulistas no processo da expansão do Ensino Normal no
Estado, os professores das escolas primárias rurais estaduais da região
de São José do Rio Preto, em sua maioria, ao ingressarem no magistério
eram normalistas. Com isso, o início da profissão docente na zona rural
foi uma contingência neste Estado, de modo que os professores
permanecem nas escolas rurais até serem removidos para outros
estabelecimentos mais bem localizados.
Diante disso, a tese defendida, que resultou neste livro, é a de
que o professor primário no estado de São Paulo, entre 1940 e 1970,
teve uma formação inicial no Curso Normal, com base em um
currículo de escolas urbanas. Desse modo, as especificidades locais
não foram levadas em consideração, uma vez que o ingresso na escola
29
rural era uma exigência do estado de São Paulo para que essas
instituições tivessem docentes e não porque eram rurais, pois foi mais
um efeito geográfico, no intuito de promover a expansão do ensino,
ao contrário de uma preocupação com a educação rural em sua
especificidade. Por conseguinte, logo após completar o tempo
mínimo de efetivo exercício nessas escolas, os professores pediam
transferência para as urbanas mais próximas de suas residências.
Os dados estatísticos examinados (Tabela 1) possibilitaram
verificar uma mudança radical na composição demográfica do estado
de São Paulo, cuja urbanização acelerada, mormente a partir da
década de 1960, permite asseverar a ocorrência de diversas demandas
da sociedade, entre elas encontra-se a expansão da escolarização, mas
com ênfase diferenciada para o que então se denominava de Educação
Rural.
Tabela 1 - População do estado de São Paulo (1940-1970)
Ano
População total
%
*
Zona rural
%
*
1940
7.180.316
44,12
4.012.205
55,88
1950
9.242.610
51,97
4.438.399
48,02
1960
12.974.699
61,81
4.954.956
38,19
1970
17.771.948
80,33
3.495.709
19,67
Fonte: A Autora, com base em Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística do Brasil e do
estado de São Paulo (2018). * Percentuais aferidos pela Autora.
Inversamente à diminuição da população rural, observa-se,
nesse mesmo período, no Quadro 1, a seguir, um crescimento
expressivo de escolas primárias rurais, indicativo do processo de
expansão do ensino primário ocorrido no estado de São Paulo.
30
Quadro 1 - Número de escolas rurais no estado de São Paulo (1940-1970)
Ano
Número de escolas rurais
1940
4.539
1950
6.242
1960
10.340
1970
14.449
Fonte: Leite (2018).
Nota-se, em face dos dados apresentados, uma expansão das
escolas primárias rurais no estado de São Paulo entre 1940 e 1970.
Diante desses dados, levantam-se as questões: Como ocorreu o
processo de recrutamento de professores para trabalhar nessas escolas?
Qual era a formação desses professores? Havia docentes leigos?
Tiveram formação específica para trabalhar nas escolas rurais? Quais
eram as condições de funcionamento desses estabelecimentos?
Diante do exposto, vale ressaltar a relevância deste livro para
a história da educação rural paulista, em virtude dos poucos trabalhos
realizados sobre essa temática no estado de São Paulo, considerando
o grande número de escolas e professores rurais no período de 1940 e
1970. Além disso, faz-se necessário conhecer a realidade desse Estado
que possuiu características diferentes em relação aos demais estados
brasileiros, conforme pode ser verificado nos resultados de outras
investigações publicadas no livro História e Memória da educação rural
no século XX, organizado por Chaloba, Celeste Filho e Mesquita
(2020).
Com base nas considerações introdutórias, para organização
deste livro foram estruturados cinco capítulos. O capítulo inicial
Pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa , traz a produção
historiográfica sobre a Educação Rural no estado de São Paulo e no
Brasil que subsidiou a discussão da pesquisa, bem como o caminho
trilhado pela pesquisadora na construção dos fundamentos teóricos e
31
metodológicos. Ainda, apresenta a caracterização dos docentes
entrevistados.
O segundo capítulo SÃO JOSÉ DO RIO PRETO: aspectos
históricos e educacionais busca reconstruir a história do município
por meio de fragmentos construídos durante a sua história e criação.
Na sequência, discorre sobre os aspetos históricos do
desenvolvimento educacional do município, bem como sobre os
vestígios das escolas primárias rurais estaduais.
No terceiro capítulo A expansão do ensino normal no estado
de São Paulo e a vicissitudes do magistério para o meio rural são
abordados aspectos históricos de formação de professores primários
paulistas. Nesse sentido, busca contextualizar a expansão e
consolidação da Escola Normal como lugar de habilitação específica
para o magistério, desde a criação da primeira instituição no estado.
Em seguida, discute sobre a possível ausência da formação do
professor rural no estado de São Paulo. No final, procede à
investigação sobre a formação inicial e o meio rural.
O quarto capítulo Provimento das escolas primárias rurais
busca cotejar as fontes documentais (escritas) e as orais (entrevistas)
para compreender as formas de ingresso na carreira docente no estado
de São Paulo entre as décadas de 1940 e 1970. As narrativas são
apresentadas de modo a revelar os itinerários percorridos pelos
professores no período em que lecionaram na zona rural, assim como
as representações da realidade das escolas rurais.
O quinto capítulo O trabalho na escola primária no meio
rural mostra o trabalho dos professores da região de São José do Rio
Preto. A princípio, discorre sobre a forma de organização do espaço
nas classes multisseriadas, as matérias de ensino e, nesse contexto,
32
como foram sendo desenvolvidas as práticas docentes.
Posteriormente, busca compreender como os professores faziam para
chegar às escolas, examinando as estratégias e táticas utilizadas por eles
para lidar com os desafios no exercício do magistério rural. Ainda,
apresenta, por meio das memórias docentes, representações dos
alunos das escolas primárias rurais, assim como o relacionamento dos
professores com o meio rural.
Para finalizar, são apresentadas neste livro as considerações
finais, buscando expor os resultados alcançados pela pesquisa.
33
1.
PRESSUPOSTOS
TRICOS-METODOLÓGICOS DA PESQUISA
Este capítulo traz a produção historiográfica sobre a Educação
Rural no estado de São Paulo e no Brasil que forneceu subsídios para
a discussão do objeto investigativo. Nessa perspectiva, são abordados
os procedimentos teóricos e metodológicos assumidos para execução
e efetivação da pesquisa. Ainda, procede-se à caracterização dos
docentes entrevistados com a finalidade de apresentar resumidamente
uma biografia de cada um deles.
1.1 Pesquisas que subsidiam a discussão do objeto
Com o objetivo de verificar o conhecimento acadêmico
produzido sobre Educação Rural no estado de São Paulo, realizou-se
o levantamento dos trabalhos nas seguintes plataformas de pesquisa:
Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoa-
mento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), do Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). A priori, o diálogo
com a historiografia produzida é fundamental no itinerário
investigativo.
Com os termos de pesquisa já definidos, foram utilizados
como descritores de busca para a realização do levantamento os
34
seguintes termos entre aspas, a saber: formação de professores
rurais”; profissionalização no meio rural”; professores rurais”;
trabalho de professores rurais”; memória de professores rurais”;
ensino primário rural”; e escola primária rural”.
Desse modo, neste estudo, foram definidas três categorias:
escola primária rural, formação docente e trabalho de professores
rurais. Assim, os resultados da busca estão dispostos nos Quadros 2,
3 e 4, respectivamente, história da escola primária rural, história de
formação de professores rurais e trabalho de professores rurais e
memórias de professores rurais.
Destaca-se, entre os estudos consultados ao discutir a história
da escola primária rural, as sete pesquisas apresentadas no Quadro 2:
Quadro 2 - Teses e Dissertações com a temática: história da escola primária rural
Ano Instituição Região Tipo Autor(a) Título
1988 USP São Paulo Tese Álvaro Rizzoli
O real e o imaginário
na educação rural
(município de São
Carlos)
1997 USP São Paulo Dissertação
Marilda
Aparecida
Soares
Alcantara
Paulista
O ensino público
primário no Estado de
São Paulo, 1937-1945:
transformações e
continuidade
2010 UNESP Araraquara/SP Dissertação
Reginaldo
Anselmo
Teixeira
Grupo Escolar
Comendador Pedro
Morganti: estudo
histórico sobre a cultura
escolar de uma escola
primária do meio rural -
1942/1988
2013 UNESP Araraquara/SP Tese
Virgínia
Pereira da
Silva Ávila
História do ensino
primário rural em São
Paulo e Santa Catarina
(1921-1952): uma
abordagem comparada
35
2014 UNESP Marília/SP Dissertação
Agnes Iara
Domingos
Moraes
O ENSINO
PRIMÁRIO
TIPICAMENTE
RURAL NO ESTADO
DE SÃO PAULO: um
estudo sobre as granjas
escolares, os grupos
escolares rurais e as
escolas típicas rurais
(1933-1968)
2014 UFSCar São Carlos/SP Dissertação
Carolina
Moraes
Gimenes
Resgate histórico das
escolas rurais em São
João da Boa Vista - SP
2018 UNESP Bauru/SP Dissertação
Claudinéa
Soto da Silva
ESCOLAS RURAIS
COMO ESPAÇOS
FORMATIVOS: vozes
de professores que
atuaram na região de
Borebi/SP
Fonte: A Autora, com base no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e na
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações do IBICT.
Rizzoli (1988), em sua pesquisa de doutorado, analisou
entrevistas e histórias de vida, com o propósito de verificar como
indivíduos e grupos diferentes compreendem (e agem em
consequência) o significado da educação formal em uma perspectiva
classificada por ele como mais ou menosrural, entre 1945 e 1980,
em São Carlos/SP, tomando-se por base o contexto das
transformações econômicas, sociais e culturais. Foram entrevistadas
184 famílias residentes na zona rural de São Carlos e 64 famílias não
residentes
10
.
A pesquisa do autor supracitado indica que, em São Carlos,
existiram dois tipos de escola rurais: as isoladas, providas por
professores efetivos entre 1945 e 1946, e as de emergência, que eram
criadas de acordo com a demanda e pela pressão por parte dos
10
Trabalhavam nas propriedades rurais, mas residiam na zona urbana.
36
proprietários rurais ou pela política local, após 1958, na tentativa de
fixar a mão de obra no campo. Apesar das deficiências e barreiras
impostas pela realidade econômica, as escolas rurais de São Carlos
eram consideradas como um projeto para viver em sociedade.
Por ser um estudo estatístico, Rizzoli (1988) traz dados
importantes com relação ao número da população urbana e rural no
estado de São Paulo, entre o período de 1940 a 1970. Além disso, a
pesquisa apresentou o número de escolas rurais existentes em 1980,
na cidade de São Carlos. Segundo o autor, nesse período havia 46
escolas rurais. Os professores se constituíram em 97% do sexo
feminino, sendo 66% casadas, 76,7% contratadas e 23,3% efetivas.
A idade variava entre 20 e mais de 40 anos. Ainda, ressaltou que, nesse
período, 43% dos docentes possuíam curso superior completo em
Pedagogia.
Os alunos das escolas isoladas eram filhos de proprietários de
terras pequenas que não foram absorvidas pelas propriedades maiores,
o que era bastante comum na época. O autor revela as queixas dos
discentes que sofriam violências físicas por parte dos professores das
escolas rurais de São Carlos, concluindo que o comportamento
repressivo acabava afastando-os da escola. Mediante as narrativas, a
escola foi identificada como um local que inspirava terror, sendo um
dos fatores apontados pelo autor que contribuiu para o desinteresse
pela escola, aumentando a evasão escolar.
No estado de São Paulo, Paulista (1997) fez uma importante
contribuição para a temática em questão ao analisar as relações entre
as mudanças no ensino público primário paulista e o Estado Novo.
Com base nas ideias e na prática em torno da ampliação das
oportunidades educacionais em São Paulo, a autora discute as
37
mudanças na organização do ensino público primário, destacando a
dualidade da educação brasileira, com instituições de ensino para a
elite e a outra para as camadas populares. Além disso, ela buscou
apresentar as relações entre o crescimento urbano-industrial e a
atuação dos interventores no governo estadual paulista quanto à
oferta de vagas nas escolas públicas primárias.
Paulista (1997) estabeleceu as relações entre os objetivos
educacionais, a ideologia autoritária populista expressa pela política
de nacionalização do ensino, o controle dos conteúdos veiculados pela
escola, e a implantação de programas de assistência ao estudante. Por
fim, a autora analisou a importância do poder público estadual
paulista com relação à manutenção e expansão do ensino elementar,
por meio de dados estatísticos pesquisados no Anuário Estatístico do
Estado de São Paulo. Apesar das sucessivas reformas educacionais no
estado de São Paulo, conforme foi apresentado pela autora, houve um
crescimento significativo dos índices de escolaridade no final do Estado
Novo.
Com a mesma temática, Teixeira (2010) buscou reconstruir a
cultura escolar de uma escola primária rural no interior do estado de
São Paulo, criada nas terras da Usina Tamoio, no município de
Araraquara, no período de 1942 a 1988. Com base na análise de livros
de matrícula e de ponto, bem como de livros de atas de reuniões
pedagógicas, sua pesquisa mostrou como as normas imperativas da
burocracia eram assimiladas pelos docentes.
Nas atas de reuniões pedagógicas, o autor identificou a
normatização do trabalho docente, tais como: a postura em sala de
aula; como ministrar os conteúdos; como lidar com a disciplina dos
alunos; campanhas de higiene em sala; comemorações; festas típicas
38
da zona rural; e práticas de educação rural. As recomendações tinham
caráter disciplinador e prescritivo que buscava padronizar e
normatizar a rotina dos professores e alunos.
Suas análises assinalaram que essa escola primária contribuiu
para apresentar aos indivíduos do meio rural os aspectos e as
necessidades da vida moderna. Percebe-se, portanto, que a formação
recebida não favoreceu a emancipação do homem do campo, uma vez
que as práticas agrícolas desenvolvidas serviram mais para adaptar o
trabalhador rural ao sistema de produção capitalista do que para
direcioná-lo à agricultura de subsistência familiar.
No que se refere à organização e ao funcionamento do ensino
primário rural, Ávila (2013) realizou um estudo comparativo entre as
reformas do ensino do estado de São Paulo e Santa Catarina, no
período de 1921 a 1952, relacionando-as ao processo de construção
de uma política nacional para o ensino primário rural. A autora
enfatiza, ainda, que apesar do interesse do Estado com a educação
rural em 1930, as políticas educacionais priorizavam a população da
zona urbana em detrimento da zona rural, embora nesse período 70%
da população do Brasil residisse no campo. Mesmo havendo expansão
do ensino primário rural entre 1920 e 1940, não se estabeleceu no
Brasil uma ideia uniforme do ensino primário rural. Em São Paulo,
por exemplo, existiram dois tipos de escola primária: 1) as escolas
isoladas e os grupos escolares, localizados na zona rural, com o mesmo
programa de ensino das escolas urbanas; e 2) as escolas isoladas e
grupos escolares típicos rurais, voltados para um ensino de caráter
vocacional-agrícola. Para Ávila (2013), em Santa Catarina não houve
criação de escolas típicas rurais, apenas foram mantidas as escolas
isoladas na zona rural.
39
A pesquisa de Moraes (2014), por seu turno, analisou a
estrutura do ensino rural no estado de São Paulo, com a criação das
granjas escolares, dos grupos escolares rurais e das escolas típicas rurais
efetuadas entre 1933 e 1968. A autora verificou que o ensino ofertado
nas escolas estudadas estava consoante com a proposta do ruralismo
pedagógico, com pontos de aproximação entre os ruralistas e os
defensores de uma escola comum, constituindo num avanço para o
ensino primário rural no estado de São Paulo, malgrado as
precariedades de construção dos prédios, as condições de
funcionamento, bem como as práticas pedagógicas.
As granjas escolares, os grupos escolares rurais e as escolas
típicas rurais serviram para atender à demanda com relação à
formação de uma identidade nacional, fixação do homem no campo,
difusão do sanitarismo, formação para o trabalho, entre outras. No
entanto, a extinção dessas escolas foi decorrente, segundo Moraes
(2014), do declínio do sistema agrário e da ascensão do
industrialismo.
A pesquisa realizada por Gimenes (2014) também traz uma
importante contribuição para a temática ao analisar a educação rural
no Brasil, no estado de São Paulo e no município de São João da Boa
Vista. A autora aponta uma queda expressiva no número de escolas
rurais no município, demonstrando como a política de fechamento das
escolas isoladas rurais decorre de inúmeros fatores, que ultrapassam a
vontade individual de permanecer ou não no campo.
Os dados apontaram que, em 1937, existiram 14 escolas
rurais em São João da Boa Vista. Em 1976, o número de escolas
aumentou para 61 e, em 2013, restaram apenas duas escolas. Para
Gimenes (2014), os fatores relacionados com a ampliação da
40
educação rural foram os seguintes: redução do êxodo rural;
qualificação da mão de obra; e abertura das escolas rurais.
Entretanto, a Gimenes (2014) explica que as mudanças na
produção agrícola permitiram o aumento de empregos fixos, com o
benefício do regime de contratação de mão de obra e a política de
nucleação e agrupamento. Por outro lado, a municipalização do
ensino, bem como as políticas públicas vigentes para a criação de
núcleo habitacionais, ocasionaram o fechamento das escolas. A análise
da autora permitiu notar que as particularidades do município de São
João da Boa Vista e as diferenças entre as escolas localização,
contexto e perfil das famílias dos alunos revelaram a certeza da
impossibilidade de se pensar uma educação específica para escolas na
zona rural do município.
Baseada na História Oral, Silva (2018) investigou como as
escolas primárias rurais em Borebi/SP se tornaram espaços formativos
na década de 1980. Assim, valendo-se das narrativas dos seis professores
entrevistados, observou que a história das escolas rurais em Borebi foi
marcada por conflitos agrários, pela municipalização do ensino e pelo
fechamento de escolas rurais, ocasionando, assim, no final de 1990, a
extinção das escolas rurais naquela localidade.
As conclusões de Silva (2018) demonstraram as dificuldades
encontradas pelos professores em sua trajetória profissional, apesar de
o trabalho nas escolas rurais contribuir em suas formações, uma vez
que puderam se perceber não apenas como formadores, mas também
como aprendizes em formação. Os docentes buscavam conciliar
tempo, conteúdo, organização e espaço, além de alternativas e formas
diferentes de exercer funções para garantir a aprendizagem dos alunos
nas escolas rurais.
41
A consulta no Banco de Teses e Dissertação da CAPES, assim
como no Banco Biblioteca Digital do IBICT, incidiram sobre a
temática história de formação de professores rurais, como expressa o
Quadro 3.
Quadro 3 - Teses e Dissertações com a temática: história de formação de professores rurais
Ano Instituição Região Tipo Autor(a) Título
2001 UFRGS
Porto
Alegre/RS
Dissertação
Dóris
Bittencourt
Almeida
Vozes esquecidas
em horizontes
rurais: histórias
de professores
2010 UNEB Salvador/BA Dissertação
Lúcia
Gracia
Ferreira
Professoras da
zona rural:
formação,
identidade,
saberes e práticas
2015 UNESP Marília/SP Tese
Leila Maria
Inoue
Entre livres e
oficiais: a
expansão do
ensino normal
em São Paulo
(1927-1933)
2015 USP São Paulo Tese
Fernando
Henrique
Tisque dos
Santos
A vida do
pensamento e o
pensamento da
vida: Sud
Mennucci e a
formação de
professores rurais
2017 UEM Maringá/PR Tese
Thaís
Bento Faria
Paraná,
Território de
Vocação
Agrícola?!
Interiozação do
curso Normal
Regional (1946-
1968)
42
2018 UFSCAR São Carlos/ SP Tese
Jaqueline
Daniela
Basso
O ruralismo
pedagógico no
estado de São
Paulo nas décadas
de 1930 e 1940:
as escolas
normais, os
cursos de
especialização, as
escolas técnicas e
os clubes
agrícolas
2019 UNESP Marília/SP Tese
Agnes Iara
Domingos
Moraes
A circulação das
ideias do
movimento pela
ruralização do
ensino no Brasil
(1930-1950)
Fonte: A Autora, com base no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e na
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações do IBICT.
A pesquisa de Almeida (2001) apresenta análises da educação
rural no estado do Rio Grande do Sul, entre 1940 e 1960. Neste
estudo, a autora investiga a construção das identidades dos professores
rurais mediante o exame dos discursos que circulavam no magistério
rural, tais como as origens familiares, as formações educacionais, os
percursos profissionais, cuja finalidade era entender as realidades
educacionais vividas no meio rural.
Almeida (2001) contextualiza o ensino rural e da formação de
professores no Rio Grande do Sul com o processo histórico em todo
o país na década de 1950. O ensino no meio rural, conforme descreve
a autora, se torna uma preocupação social, seja por interesses
nacionalistas seja no sentido de se evitar a saída dessas populações de
seu ambiente original. A partir da década 1950 foram organizados
cursos intensivos de férias destinados à formação dos professores
43
primários rurais, assim como a expansão das escolas normais rurais
em parceria com a igreja católica. Das oito Escolas Normais Rurais
no estado, duas eram públicas e seis administradas por diferentes
ordens religiosas.
O currículo dessas escolas contemplava disciplinas específicas
para o meio rural, cujo objetivo dos cursos era capacitar e habilitar o
professor para o meio rural, exclusivamente. Entretanto, os cursos
intensivos de formação de professores chamaram atenção da autora
por não contemplar os conteúdos de Matemática, História e
Geografia.
Embora as políticas públicas da década de 1950 parecessem
valorizar o ensino rural, as diretrizes adotadas acabaram não
considerando as referências culturais no Rio Grande do Sul. As ideias
da ciência e da modernidade indicavam os caminhos que a educação
rural deveria seguir. Com relação aos professores, a autora constatou
a presença de docentes leigos que fizeram os cursos de férias, mas
atuavam em escolas com professores diplomados nas Escolas Normais
e aqueles formados por Escolas Normais Rurais.
Apesar das especificidades da pesquisa de Almeida, o trabalho
de Ferreira (2010) apresenta proximidade temática. Nesse aspecto,
esta autora examinou quem era o professor da zona rural no
município de Itapetinga, na Bahia, em 2008. O escopo era saber
como eram formadas a identidade profissional, os saberes e as práticas
pedagógicas. Para tal intento, foram utilizadas as abordagens de
pesquisa (auto)biográfica e história de vidas como recursos
metodológicos de análise e interpretação dos dados.
De acordo com a autora, as professoras em Itapetinga/BA
tiveram dificuldades para desenvolverem suas práticas pedagógicas
44
nas escolas rurais, em razão de sua formação inicial não contemplar
disciplinas que permitissem atuar em classes multisseriadas, além de
não terem recebido formação continuada que suprisse essa lacuna. Em
Itapetinga/BA, os saberes experienciais das professoras rurais foram
construídos na prática profissional, ou seja, no saber-fazer no
cotidiano do exercício da profissão. Entre as entrevistadas, 12 tinham
graduação em Pedagogia e duas possuíam Habilitação Específica para
o Magistério. No entanto, a única referência feita pelas professoras
com relação à formação para o meio rural foi do Programa
Despertar
11
, considerado como uma formação continuada, que
mesmo não sendo voltado para o meio rural, abordava questões
ambientais.
A formação de professores também é objeto de estudo de
Inoue (2015), que investigou a formação de professores em São Paulo
como parte da expansão do ensino normal no oeste paulista, entre
1927 (período da implantação da Reforma da Instrução Pública
Paulista pelo Diretor Geral Amadeu Mendes) e 1933 (período de
efetivação do Código de Educação elaborado por Fernando de
Azevedo). A autora pesquisou as estratégias adotadas para a expansão
do Ensino Normal, assim como a expansão da escolarização primária.
Como estudo de caso foram selecionadas duas escolas normais
localizadas, respectivamente, em Lins e Santa Cruz do Rio Pardo, por
terem sido criadas na vigência da Reforma de 1927 e por estarem em
uma das últimas regiões do estado a se desenvolver.
11
O Programa Despertar é um dos Programas de Promoção Social do SENAR-AR/BA,
implantado em abril de 2005, com o objetivo de promover a educação voltada para a
responsabilidade social, a qual deve alavancar mudança de valores, aliada à postura cidadã e
socioambiental (FERREIRA, 2010).
45
Na Reforma de 1927, Inoue (2015) evidenciou que as Escolas
Normais Livres (particulares e municipais) foram equiparadas às
Escolas Normais Oficiais (mantidas pelo estado) e o ensino foi
reduzido de cinco para três anos. Antes da Reforma, elas não eram
reconhecidas pelo governo, com isso, os normalistas formados por
estas instituições não tinham os mesmos direitos daqueles que eram
formados pelas Escolas Normais Oficiais. Esses professores só
poderiam trabalhar em escolas primárias particulares ou como
professores leigos nas escolas primárias rurais. Para a autora, o
fundamento da Reforma se convergia na falta de professores formados
no estado para prover as escolas rurais e isoladas no estado, em regiões
de difícil acesso.
Com a equiparação, o número de Escolas Normais Livres foi
superior àquelas Oficiais. No entanto, essa mudança não ocorreu de
forma homogênea em todas as regiões paulistas em virtude dos
aspectos políticos, econômicos e culturais. No caso específico do oeste
paulista, a expansão do Ensino Normal e do ensino primário estava
ligada ao crescimento das lavouras de café durante a década de 1940.
Faria (2017) investigou como ocorreu o processo de criação e
extinção do Curso Normal Regional, no norte do Paraná, nos
municípios de Londrina, Rolândia e Sertanópolis. As políticas
educacionais presentes entre 1946 e 1968 favoreceram a expansão
desses cursos, destacando a figura de Erasmo Pilotto, um dos
principais renovadores do estado, incentivador da formação da moça
do lugar”, que seria transformada em professora, responsável em fixar
o homem do campo no próprio meio, além de disseminar o conceito
de escola como centro de vida social e contribuir nas reflexões sobre
os problemas locais.
46
Desse modo, o Curso Normal Regional contribuiu para a
formação de professoras para a escola primária rural no estado do
Paraná, caracterizado como território com vocação agrícola. Faria
(2017) analisou a ideia de que o Curso Normal Regional conviveu
com a contrariedade entre o prescrito pelo centro e o praticado pelo
interior. O Centro foi definido como o lugar institucional que
elaborava estratégias de circulação de modernas ideias pedagógicas,
por meio da produção de documentos, circulares, ofícios, portarias,
ao passo que o interior constituía-se de sujeitos que estavam nas
Escolas Normais, mas que burlavam, posicionavam-se e modificavam
o cotidiano escolar.
Em relação às pesquisas que fazem menção à formação de
professores rurais, sobretudo com as propostas educacionais dos
defensores do Ruralismo Pedagógico, destaca-se o trabalho de Santos
(2015), com a biografia de Sud Mennucci. O autor buscou
compreender o pensamento educacional do intelectual e suas ações
sobre a formação de professores rurais, uma vez que sua atuação na
educação foi marcada pela defesa da criação de Escolas Normais
Rurais que pudessem formar professores disseminadores de
conhecimentos úteis ao meio rural, pautados em agricultura e saúde.
O objetivo era despertar no homem rural o amor pela terra e
promover a sua fixação no campo. Para Mennucci, conforme
evidencia Santos (2015), os professores formados em escolas Normais
das cidades eram considerados inaptos para trabalhar nas escolas
rurais por possuírem uma mentalidade urbana, pois pregariam o
conforto e os benefícios da vida urbana o que estimularia a migração
dos alunos para a cidade.
47
Santos (2015) identificou as ideias ruralistas de Sud
Mennucci em periódicos educacionais: a Revista Educação (1929-
1948); a revista Do Professor (1934-1939) e a Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos (RBEP 1949 e 1956). A justificativa da escolha
dessas revistas, segundo o autor, ocorreu por reunir uma diversidade
de opiniões ligadas ao campo educacional, tais como administradores,
inspetores escolares, diretores de escola, professores das escolas
normais e professores em exercício nas escolas paulistas sobre a
organização da escola rural e a formação de professores.
Além das revistas, o referido autor analisou seis livros escritos
por Sud Mennucci sobre a educação, a escola rural e a formação de
professores: Cem Annos de Instrução Pública (1822-1922); a segunda
edição de A crise Brasileira de Educação; O que fiz e pretendia fazer
(1932), Pelo Sentido Ruralista da Civilização (1935), Aspectos
piracicabanos da educação rural (1934) e Ruralização (1944). Assim, a
partir da biografia analisada, o Santos (2015) afirmou que Mennucci
foi o maior representante do Ruralismo no Brasil e no estado de São
Paulo.
Estabelecendo interlocuções com o trabalho de Santos
(2015), Moraes (2019) demonstrou como ocorreu a circulação das
ideias do Movimento pela Ruralização do ensino no Brasil, no
período de 1930 a 1950. Por meio de diversas ações promovidas por
uma rede de sociabilidade, Sud Mennucci foi definido pela autora
como o principal intelectual do período. Nesse sentido, a rede era
constituída por sujeitos que integravam o Movimento em defesa da
Ruralização do ensino, cuja evidência foi demonstrada por meio das
correspondências do Arquivo daquele intelectual.
48
De acordo com a autora, por meio da correspondência, foi
possível encontrar ressonâncias das propostas de Mennucci para
educação rural, além de vestígios da sua atuação, das representações,
construções de sentidos, entre outros. No conjunto das fontes
analisadas, foi constatada uma rede de sociabilidade entre Sud
Mennucci e outros sujeitos que não se restringia apenas aos defensores
da ruralização do ensino, mas também na esfera pública e pessoal.
Moraes (2019) assevera que os ruralistas se manifestaram no
âmbito da política, da economia, da cultura, e sobretudo no campo
educacional. Com isso, as ações dos ruralistas circulavam de várias
formas oralidade, escrita, imagens , sendo promovidas por
iniciativas públicas e privadas. Dessa maneira, as ideias do
Movimento pela Ruralização do ensino atingiram diferentes regiões
do país de variadas formas e conforme as especificidades de cada
região, como no caso da fundação das Escolas Normais Rurais no
Brasil, devido à grande rede de sociabilidade.
Do mesmo modo, a pesquisa de Basso (2018) estabeleceu
diálogos com as ideias do Ruralismo Pedagógico voltadas para as
discussões educacionais nacionais e paulista referentes à formação do
professor. O Ruralismo Pedagógico, como movimento educacional,
se materializou no estado de São Paulo nas décadas de 1930 e 1940.
Esse período foi marcado pela polarização entre aqueles que
defendiam a urbanização e os defensores da industrialização do país,
embora ambos desejassem a manutenção do poder oligárquico.
Contudo, os ruralistas almejavam uma escola voltada para o meio
rural, acreditando que isso manteria o homem naquele ambiente,
embasados no discurso de que o país tinha vocação rural. Para a
autora, eles defendiam a ideia da formação de professores tipicamente
49
rurais, habituados ao meio rural e às atividades voltadas à realidade
do campo, especialmente, a agricultura e o trato com os animais. De
tal modo, o professor não poderia ser formado nas Escolas Normais
tradicionais, pois elas estavam alicerçadas nos princípios urbanos,
sendo necessária uma instituição própria: a escola Normal Rural.
Em virtude da ausência de Escolas Normais Rurais no
estado de São Paulo, foram criados poucos cursos de especialização
agrícola. Entre eles, a autora faz referência aos Cursos de
Especialização Agrícolas e Clubes Agrícolas criados nos municípios de
São Carlos, Casa Branca, Espírito Santo do Pinhal e São Manuel. As
Escolas Normais Rurais não chegaram a ser criadas sob a alegação do
governo do estado de que essa instituição não era a solução adequada,
sendo preferíveis cursos de especialização para os professores rurais,
especialmente para aqueles com interesse de lecionar no meio rural,
uma vez que o número de escolas normais no estado era suficiente,
inflando as vagas para os professores, além de serem onerosas aos
cofres públicos.
Não há como negar que houve uma expansão das escolas
normais no estado de São Paulo. Conforme pode ser observado na
pesquisa de Basso (2018), foram criadas 282 escolas normais,
abrangendo 156 escolas normais livres, mantidas pela iniciativa
privada ou por ordens religiosas, e 109 Escolas Normais estaduais, o
que permitiu depreender acerca da supremacia do setor privado nessa
modalidade de ensino.
No Banco de Teses e Dissertação da CAPES, assim como no
Banco Biblioteca Digital do IBICT, os estudos sobre o trabalho de
professores rurais e memórias de professoras rurais destacam-se nas
seguintes pesquisas expressas no Quadro 4.
50
Quadro 4 -Teses e Dissertações com a temática: trabalho de professores rurais e memórias
de professores rurais
Ano Instituição Região Tipo Autor(a) Título
2017
Centro
Universitário
Moura
Lacerda
Ribeirão Preto/SP Dissertação
Roseli
Teresinha
Pereira de
Oliveira
Godoy
Os templos na
roça: entre
memória,
práticas e
representações
docentes na
escola rural
2018 UNESP Marília/SP Dissertação
Kamila
Cristina
Evaristo
Leite
Memórias de
professoras de
escolas rurais:
(Rio Claro-
SP, 1950 a
1992)
2018 UFU
Uberlândia
/MG
Dissertação
Danielle
Angélica
de Assis
Inventoras de
trilhas:
história e
memória das
professoras
das escolas
rurais do
município de
Uberlândia-
MG (1950 a
1980)
2019 UNIT Aracaju/SE Tese
Maryluze
Souza
Santos
Siqueira
Revolver a
terra, semear a
memória e
regar a
história: a
formação do
professor
primário rural
em Sergipe
(1946-1963)
Fonte: A Autora, com base no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e na Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações do IBICT.
51
O primeiro trabalho, Godoy (2017) investigou como as
práticas das professoras rurais foram interpretadas e registradas nos
Termos de Visita, pelos inspetores de ensino, quando visitavam as
escolas, entre 1960 e 1970, no município de Fernando Prestes, cidade
jurisdicionada à Diretoria de Ensino de Taquaritinga, interior do
estado de São Paulo. Com o intuito de confrontar os registros dos
inspetores sobre as práticas das professoras rurais, a autora também
realizou entrevistas semiestruturadas com sete professoras que
lecionaram entre 1950 e 1970, com um tempo de 2 a 5 anos de
magistério rural, que, em sua maioria, encontravam-se relatadas nos
Termos de Visita.
Godoy (2017) comparou a inspeção escolar à vigilância.
Contudo, os termos de visita permitiam conhecer, entre outros
aspectos, o funcionamento da escola, a quantidade de alunos
matriculados, o número de meninas e meninos e as condições de
infraestrutura. Ademais, em relação à dimensão pedagógica, foi
possível constatar a organização da classe, a disciplina e os materiais
utilizados pela professora, além dos conteúdos ministrados.
Um ponto de inflexão importante foi saber como era
discutido quando um aluno estivesse com dificuldades de
aprendizagem em cálculo ou leitura. O desempenho da professora
também era registrado. Na concepção da autora, a ordem, o asseio, a
disciplina e o rigor no cumprimento dos conteúdos eram ilustrados,
na maior parte dos termos, como princípios importantes para a
organização de uma escola que atendesse à nova ordem política e
econômica.
Por outro lado, segundo Godoy (2017), as narrativas
assinalaram que o inspetor chegava à escola sem aviso prévio e
52
fiscalizava os procedimentos que deveriam ser realizados pelas
professoras que cumpriam com as funções que lhes eram incumbidas,
a seu modo, temendo que suas práticas fossem reprimidas.
A pesquisa de Leite (2018) também estabeleceu diálogos com
as duas temáticas, uma vez que a autora procurou analisar a profissão
docente no meio rural do município de Rio Claro/SP, com base em
análise da formação e carreira de cinco professoras de escolas rurais,
no período de 1950 a 1992. A metodologia utilizada baseou-se na
História Oral, por meio da qual foram identificados aspectos da
profissão docente das professoras de escolas rurais, enfatizando a
trajetória das professoras em relação à formação inicial, ao ingresso na
carreira docente, às práticas educativas, à formação em serviço, às
condições de trabalho e à sua relação com o meio rural.
Os resultados comprovaram que a formação inicial e a em
serviço das professoras não tiveram especificações com relação às
atividades agrícolas, pois haviam cursado o Magistério, além de
possuírem cursos de especialização, aperfeiçoamento e licenciatura em
Pedagogia.
O ingresso na carreira docente ocorreu mediante concurso de
títulos e, posteriormente, concurso de provas e títulos. As práticas
educativas, segundo a autora, estavam relacionadas ao cultivo da horta
escolar, à utilização de livros didáticos e à organização das classes em
fileiras conforme o ano/série.
Do mesmo modo, Assis (2018) procurou compreender como
as professoras das escolas rurais do município de Uberlândia, no
estado de Minas Gerais, organizaram suas práticas pedagógicas antes
e depois da lei 5.692/71, por meio da história e memória de seis
professoras, no período entre 1950 e 1980. A justificativa temporal
53
está relacionada ao momento em que cinco das professoras eram
leigas, bem como o processo de nucleação das escolas rurais no
município.
As transformações ocorridas a partir da lei 5.692/71
decorreram em melhorias dos prédios e na oferta de cursos de
formação para as professoras. Os cursos de formação docente
apresentavam um currículo abarcando o ensino rural, apesar de o
programa ser apostilado, com pouca aplicabilidade dos conheci-
mentos em salas de aula, pois não se relacionavam com as necessidades
e a realidade do meio rural. As professoras leigas de Uberlândia
trabalhavam com os conhecimentos adquiridos na prática e assim
construíram seus modos de caminhar, de modo que resultou na
alfabetização e escolarização da população rural do município.
Em sua pesquisa, Siqueira (2019) recorreu à memória de
professoras primárias rurais para compreender como se configuraram
as estratégias e táticas de formação e atuação do professor primário
rural em Sergipe, no período de 1946 a 1963. Segundo a autora, o
governo brasileiro elaborou um plano de educação rural embasado
nos Acordos de Cooperação Técnica com vistas a atender às
Recomendações da Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO), que incentivava os países a
expandirem e modernizarem seus sistemas de ensino. O plano
continha os seguintes pontos: 1- construção de escolas rurais; 2 -
formação de professoras rurais; 3 - aquisição de materiais didáticos; 4
- novos métodos de ensino; 5 - inserção e valorização de atividades
agrícolas; 6-acompanhamento e supervisão escolar, entre outros.
Em relação à formação dos professores, o governo sergipano
criou, em 1949, duas Escolas Normais Rurais, uma no município de
54
Itabaiana e a outra em Lagarto, visando atender às orientações do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep) para a formação do professor primário rural. No
entanto, o currículo da Escola Normal Rural era uma cópia do
currículo da escola normal da capital, sem contemplar os itens
presentes nos Acordos e Recomendações da UNESCO.
Foram entrevistadas 16 professoras de 8 municípios do Estado
de Sergipe que atuaram em escolas rurais entre 1946 e 1963. As
narrativas demonstraram desconhecimento dos projetos ou se
recusaram a executá-los. A maioria das professoras iniciou sua carreira
no magistério mediante convite ou indicação política, muitas eram
leigas e não tinham capacitação para atuar no meio rural. Apesar de o
Governo de Sergipe ter adotado estratégias para a formação de
professores (Escola Normal, Escola Normal Rural, cursos de
aperfeiçoamentos), foi confirmada a presença de professores leigos no
ensino primário rural.
O exame da literatura sobre a temática da educação rural,
conforme demonstrado acima, suscitou desenvolver a presente
pesquisa, com o recorte espacial na cidade de São José do Rio
Preto/SP e a delimitação temporal (1940-1970) justificados em razão
das profundas transformações políticas e sociais no país,
consubstanciada na modernização produtiva e inversão demográfica,
com a passagem da população rural para o espaço urbano.
No entanto, a dualidade campo versus cidade ainda revela um
Brasil moderno e um Brasil arcaico. Imperativo esse que se desdobra
na recuperação do processo de escolarização rural, já que as mazelas
sociais, malgrado a consolidação dos sistemas de ensino, descerram
um ensino público primário precário com a permanência histórica de
55
professores leigos, mas recuperados historicamente aqui por meio do
presente trabalho.
1.2 Trilhas para construção dos fundamentos teóricos e
metodológicos
Imersa no universo da educação, é possível verificar as várias
mudanças que ocorreram no campo da história da educação nas
últimas três décadas, seja em torno dos aspectos teóricos quanto aos
aspectos metodológicos, seja na ampliação dos objetos e fontes de
pesquisa. Desse modo, foi preciso traçar caminhos a serem
empreendidos na construção dos fundamentos teóricos e
metodológicos para a escrita da tese, que resultou nesse livro. Nessa
perspectiva, Barros (2010) esclarece que a teoria remete aos conceitos
e às categorias a serem empregadas para encaminhar determinada
leitura da realidade, com o objetivo de serem investigadas,
relacionadas a ações concretas e dirigidas à resolução de um problema.
Frente a essas considerações, os caminhos teóricos e
metodológicos trilhados foram capazes de elucidar os impasses e os
desafios que surgiram durante o processo investigativo, instigado,
sobremaneira, pelas discussões fundamentadas na perspectiva
apresentada pela Escola dos Annales. Essa corrente francófona
contribuiu para a ampliação de novos temas, novos objetos e novos
problemas, admitindo a subjetividade no exame dos documentos,
rompendo, desse modo, com a concepção metódica dos primeiros
historiadores profissionais que, notadamente, dominavam a
Universidade francesa no final do século XIX e início do século XX.
56
Para Burke (2010), os fundadores da Escola dos Annales
ampliaram a noção de documento, admitindo que a história possa ser
(re)construída com documentos escritos, ilustrações, sons, imagens,
ou qualquer outra maneira de registro. A intensa produção
historiográfica ao longo dos anos 1930 e 1970 proporcionou
mudanças nas formas de se pensar a história. Ao longo destes anos foi
possível perceber o surgimento de novos elementos de análises, bem
como apropriações de outras áreas do conhecimento para a
composição do que ficou conhecido como Nova História Cultural
(sobretudo de tradição francesa). Com isso, abre-se: [...] o leque de
possibilidades do fazer historiográfico, da mesma maneira que se
impõe a esse fazer a necessidade de ir buscar junto a outras ciências
do homem os conceitos e os instrumentos que permitiram ao
historiador ampliar sua visão do homem” (BURKE, 2010, p. 8).
Desse modo, nos últimos 50 anos, no campo da história da
educação, segundo Galvão e Lopes (2010, p. 32), valorizam-se
[...] cada vez mais os sujeitos esquecidosda história, como as
crianças, as mulheres, os negros, os índios e as camadas
populares. Sentimentos, emoções e mentalidades também
passam a fazer parte da história. Fontes até então consideradas
pouco confiáveis e científicas começam a fornecer indícios para
reconstruir o passado.
Nessa perspectiva, Prost (2008) esclarece que a história
acadêmica pode ser escrita mediante aos vestígios que o homem veio
deixando ao longo de sua existência no mundo, já que os fatos
históricos são afirmações de uma reconstituição por meio deles. Por
57
outro lado, na perspectiva de Certeau (2013, p. 47), a história é uma
representação do passado que surge por meio de um discurso:
Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de
produção socioeconômico, político e cultural. Implica um meio
de elaboração circunscrito por determinações próprias: uma
profissão liberal, um posto de observação ou de ensino, uma
categoria de letrados etc. ela está, pois, submetida a imposições,
ligada a privilégios, enraizada em uma particularidade. É em
função desse lugar que se instauram os métodos, que se delineia
uma topografia de interesses, que os documentos e as questões,
que lhes serão propostas, se organizam.
De acordo com o autor, toda pesquisa histórica parte de um
lugar no qual o historiador está socialmente inserido. Por seu turno,
Chartier (1991) adverte que a atenção se desviou para novos objetos
(pensamentos, gestos coletivos perante a vida e a morte, as crenças e
os rituais, os modelos educativos, etc.) até então próprios da
investigação etnológica e para novas questões, em grande parte
estranhas à história social.
Nesse sentido, Chervel (1990), Chartier (1991) e Pesavento
(2014) entendem que várias são as fontes históricas possíveis para se
compreender um determinado momento histórico. Para os autores, a
utilização das fontes na construção de trabalhos na perspectiva da
História Cultural não visa encontrar a verdade sobre o cenário que se
estuda; entretanto, ocupando-se das práticas culturais do cotidiano,
busca a verossimilhança e enxerga outros sujeitos com suas histórias,
ou seja, representações de possíveis verdades.
Tendo em vista tais pressupostos, utilizou-se, portanto, as
premissas desenvolvidas pelos historiadores supracitados, bem como os
58
conceitos de estratégiade Certeau (2012) para analisar as ações do
Estado quanto à formação docente e ao ingresso no magistério rural no
estado de São Paulo e, de tática”, para examinar as diferentes maneiras
de atuação dos professores nas escolas rurais.
A esses domínios, as estratégias correspondem a um cálculo de
forças empreendida por sujeito detentor de algum tipo de poder, por
esta via [...] postula um lugar suscetível de ser circunscrito como algo
próprio e ser a base de onde se podem gerir as relações com uma
exterioridade de alvos ou ameaças(CERTEAU, 2012, p. 93, grifos do
autor). As táticas, ao contrário das estratégias resultam da
[...] ação calculada que é determinada pela ausência de um próprio.
Então nenhuma delimitação de fora lhe fornece a condição de
autonomia. A tática não tem lugar senão o outro. E por isso deve
jogar com o terreno que lhe é imposto tal como o organiza a lei de
uma força estranha. Não tem meios para se manter em si mesma,
à distância, numa posição recuada, de previsão e de convocação
própria: atica é movimento dentro do campo de visão do
inimigo, como dizia Von Bullow, e no espaço por ele controlado.
Ela não tem, portanto, a possibilidade de dar a si mesma um
projeto global nem de totalizar o adversário num espaço distinto,
visível e objetivável. Ela opera golpe por golpe, lance por lance.
Aproveita as ocasiões e delas depende, sem base para estocar
benefícios, aumentar a propriedade e prever saídas. O que ela
ganha não se conserva. [...] Em suma, a tática é a arte do fraco.
(CERTEAU, 2012, p. 94-95).
Dessas acepções, a estratégia e a tática estabelecem uma relação
de interdependência regulada entre o forte e o fraco, no contexto de
cada experiência social e individual. Nessa direção, [...] a tática é
59
determinada pela ausência de poder, assim como a estratégia é
organizada pelo postulado de um poder(CERTEAU, 2012, p. 95).
Nesse constructo, essa investigação tomou como base a
Metodologia da História Oral por ser um procedimento
metodológico que busca ouvir e registrar vozes até então esquecidas
de sujeitos sobre acontecimentos vividos com a “[...] finalidade de
criar fontes históricas” (FREITAS, 2006, p. 19).
Sob esse ponto de vista, Freitas (2006, p. 18) defende esse
método de pesquisa que [...] utiliza a técnica da entrevista e outros
procedimentos articulados entre si, no registro de narrativas da
experiência humana. Já Alberti (2013, p. 24) privilegia o pesquisador
na realização de entrevistas com sujeitos que [...] participaram de, ou
testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de mundo,
como forma de se aproximar do objeto de estudo, pressuposto
similar ao defendido na obra de Siqueira (2019, p. 37):
[...] pedaços do passado e este vem marcado por
descontinuidades, silenciamentos, escolhas, interpretações,
repetições, omissões, contradições e sentidos por parte de quem
está sendo entrevistado. Dessa forma, as entrevistas se
transformam em fontes, em documentos, entendidos não numa
perspectiva de verdade, mas numa possibilidade de nos
aproximar do conhecimento de uma dada realidade.
Nesse sentido, a escolha pela metodologia da História Oral
recaiu sobre o ato de escuta das narrativas dos professores das escolas
primárias rurais, considerando, segundo Silva (2002, p. 429), que
antes de [...] nos apropriarmos de nossa capacidade narrativa
(contarmos histórias), nós ouvimos histórias”.
60
Sob esta ótica, por se tratar da reminiscência do passado,
buscou-se analisar os relatos admitindo-se distorções e contradições
entre o ato de recordar e o de esquecer. Assim, as narrativas foram
entendidas como representações construídas sobre a percepção de
uma realidade, onde, muitas vezes, “[...] a memória se orienta para o
passado e avança passado adentro por entre o véu do esquecimento.
Ela segue rastros soterrados e esquecidos, e reconstrói provas
significativas para a atualidade (ASSMANN, 2011, p. 53). Neste
caso, cabe dizer que os relatos não são cópia do real, mas uma
reconstrução feita com base nele.
Isto posto, as representações, são entendidas como “[...]
contraditórias e em confronto, pelas quais os indivíduos ou grupos
atribuem sentido ao seu mundo, são os suportes de suas práticas e
mobilizam estratégias simbólicas por meio das quais definem posições
e relações, construindo sua identidade(CHARTIER, 1991, p. 177).
A propósito, as representações são determinadas, segundo
Chartier (2002, p. 17), pelos interesses dos que as forjam.
As representações do mundo social assim construídas, embora
aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão,
são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam.
Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos
proferidos com a posição de quem os utiliza. As percepções do
social não são de forma alguma discursos neutros: produzem
estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a
impor uma autoridade à custa de outros, por elas menosprezados,
a legitimar um projeto reformador ou a justificar, para os
próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas. (CHARTIER,
2002, p. 17).
61
A vista disso, na escuta das narrativas, o se tentou descobrir
a verdade nos relatos, mas compreender como em [...] diferentes
lugares e momentos uma realidade social é construída, pensada [...]”
(CHARTIER, 2002, p. 16-17). Assim, entende-se que a memória
[...] é um cabedal infinito do qual só registramos um fragmento
(BOSI, 1987, p. 3).
Sendo assim, a memória e o esquecimento não são coisas que
se tem ou perde, mas um percurso no tempo e no espaço que se
expressa em linguagens e formas da estruturação do eu (SEIXAS,
2013). Valendo-se dessa reflexão, pode-se dizer que a memória é
sempre uma construção feita no presente baseada em vivências do
passado.
Nessa cosmovisão, a metodologia da História Oral passou a
ser utilizada pelos pesquisadores que desejam ouvir experiências
vividas de sujeitos. Por sua vez, Meihy (2013) explica que existem três
gêneros distintos em História Oral: a história oral de vida, a história
oral temática e a tradição oral. Para o autor, [...] as duas primeiras
podem servir a projetos de bancos de histórias ou implicar análises
que superem o sentido da recolha, mas a tradição oral alude exames
longos e complexos, incapazes de sínteses” (MEIHY, 2013, p. 34).
No entanto, para este estudo, optou-se pela história oral
temática, porque o objetivo é promover discussões em torno de um
tema específico, pois ela [...] ressalta detalhes da história pessoal do
narrador que interessam por revelarem aspectos úteis à instrução dos
assuntos centrais(MEIHY, 2013, p. 34). É importante destacar que,
na história oral temática, admite-se o uso de roteiros e questionários,
tornando-lhes peça fundamental para aquisição dos detalhes
procurados (MEIHY, 2011).
62
Portanto, o modelo escolhido para utilizar nessa pesquisa foi
o da entrevista semiestruturada, ele é guiado por um roteiro
12
de
questões e, segundo Marconi e Lakatos (2010), permite uma
organização flexível e ampliada dos questionamentos à medida que as
informações vão sendo coletadas.
Desse modo, em relação à metodologia adotada,
primeiramente foi realizado durante o ano de 2019 e início de 2020,
um total de dez entrevistas com professores que iniciaram a docência
no meio rural entre as décadas de 1940 a 1970, na região
13
de São
José do Rio Preto, no estado de São Paulo, onde integraram a rede de
ensino público estadual. Todas as entrevistas foram realizadas no
município de São José do Rio Preto, sendo nove na casa dos próprios
professores e uma na casa de uma amiga da entrevistada, com uma
duração média de 2h10min cada.
É importante destacar que a localização dos professores
entrevistados percorreu um longo processo. Inicialmente, tentou-se
uma visita agendada na Diretoria de Ensino de São José do Rio Preto,
especificamente, no departamento Núcleo de Vida Escolar, para ter
acesso a documentos das escolas primárias rurais existentes, com o
intento de identificar os professores que atuaram no período
delimitado.
12
Este roteiro encontra-se no Apêndice A.
13
O projeto inicial de pesquisa visava como recorte espacial, o município de São José do Rio
Preto, entretanto, no decorrer da localização dos professores verificou-se que ao serem
contatados para a realização da entrevista, alegavam ter trabalhado neste município, logo, o
que se observou após as narrativas foi o exercício da profissão na região administrativa escolar
da Delegacia de Ensino de São José do Rio Preto, uma vez que, no período delimitado,
abarcava as cidades mencionadas pelos docentes, tais como: Bady Bassit, Cedral, Floreal,
Iracema, General Salgado, Guapiaçu, José Bonifácio, Mendonça, Monte Belo, Nhandeara,
Nova Aliança, Nova Lusitânia, Piragi, Poloni, Potirendaba, Planalto, São José do Rio Preto,
Tanabi.
63
Em seguida, no Centro do Professorado Paulista (CPP), a
professora Clélia Aparecida Vessechi, responsável pela direção do
estabelecimento, indicou diversos nomes e telefones. Todavia,
somente duas professoras da lista cedida por Vessechi aceitaram
participar da pesquisa. Contudo, após a realização das duas primeiras
entrevistas, as demais indicações foram sendo apontadas pelos
próprios docentes entrevistados, ao recordar de um colega que
também atuou no meio rural.
O critério adotado na escolha, assim como a quantidade do
número dos entrevistados, pautou-se no período de atuação no meio
rural entre as décadas de 1940 e 1970, na região de São José do Rio
Preto. As fontes orais foram gravadas em áudio mediante autorização
dos professores ao assinarem o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). É importante destacar que todos os
entrevistados autorizaram a utilização dos nomes próprios na
pesquisa. Em razão do consentimento, optou-se por apresentar os
nomes dos professores.
Finalizadas as entrevistas, deu-se início ao processo de
transcrição das narrativas, o qual, para Thompson (1998, p. 58),
destina-se [...] à mudança do estágio da gravação oral para escrito”,
procedimento este que ao transpor a fonte oral para a escrita deve-se
respeitar todos os erros, repetições, assim como situações que
estiveram presentes (pausas, risos, gestos corporais, etc.) durante a
gravação. O momento da transcrição é minucioso por ter como
objetivo transferir para o escrito absolutamente tudo o que foi
relatado.
Concluída essa fase, iniciou a textualização, entendida por
Meihy (2013) como um método para deixar uma narrativa clara, ou
64
seja, uma etapa de organização do texto, de modo a suprimir, por
exemplo, as perguntas feitas durante a entrevista. Sob essa perspectiva,
o texto [...] passa a ser dominantemente do narrador, que aparece
como figura única por assumir o exclusivismo da primeira pessoa
(MEIHY, 2000, p. 67). Assim, eliminam-se os vícios de linguagem
próprios da língua falada, as repetições desnecessárias, os erros
ortográficos e os detalhes externos registrados no texto de transcrição.
O trabalho de [...] textualização final da entrevista é de autoria do
historiador, sendo o depoente um colaborador para a fabricação desse
novo documento(MEIHY, 2013, p. 157). É importante ressaltar
que as entrevistas não passaram pelo processo de transcriação
14
por ser
esta uma etapa em que possiblidade de modificar a fala dos
entrevistados.
Nesse sentido, Thompson (1998) adverte que as entrevistas
devem ser realizadas de modo a respeitar as memórias e os
esquecimentos dos sujeitos pesquisados. Perante esse olhar, convém
advertir que a memória é permeada por esquecimentos e lembranças.
Assim sendo, Ferreira (2002, p. 321) entende que a memória é uma
construção [...] do passado, mas pautada em emoções e vivências; ela
é flexível, e os eventos são lembrados à luz da experiência subsequente
e das necessidades do presente”.
Num terceiro momento, a busca por fontes documentais foi
árdua e constante. Desse modo, procedeu-se à visita nos seguintes
locais: Secretarias de Educação Estadual e Municipal; Arquivo
14
Transcriação é um dos conceitos-chave das obras de Meihy (2000, 2013). Para o autor, a
transcriação “[...] se compromete a ser um texto recriado em sua plenitude. Com isso, afirma-
se que há interferência do autor no texto e que este é refeito várias vezes, devendo obedecer
a acertos combinados com o colaborador, que vai legitimar o texto no momento da
conferência” (MEIHY, 2000, p. 67).
65
Público Municipal; Diretoria de Ensino; Casa de Cultura;
Hemeroteca Municipal; Arquivo Público da Câmara de Vereadores;
Escola Estadual Voluntários 32; Escola Estadual Cardeal Leme;
Escola Estadual Ezequiel Ramos; Escola Estadual Arlindo dos Santos;
Escola Estadual Cenobelino de Barro Serra; Museu Histórico e
Pedagógico. Todos os locais foram em São José do Rio Preto/SP, a
fim de localizar fontes documentais produzidas no contexto da escola
primária rural pelos professores, tais como: planejamento, diários,
mapa de movimento, ata de reunião, livros de termo de visitas, entre
outros.
É importante ressaltar que as visitas, em todas as escolas
arroladas acima, ocorreram porque houve a indicação da possibilidade
dos arquivos das escolas primárias rurais pertencentes à Delegacia de
Ensino de São José do Rio Preto estarem arquivados em alguns desses
estabelecimentos. O indicativo por essas escolas sucedeu pelos
entrevistados ao rememorar que as reuniões pedagógicas ocorriam nos
grupos escolares da cidade de São José do Rio Preto. Contudo, não foi
localizado nenhum documento, em virtude de as escolas rurais não
existirem e por não haver indícios de onde se encontram ou mesmo se
ainda existem tais arquivos.
Cabe ressaltar que a busca do passado não é simples,
sobretudo ter acesso aos arquivos das instituições supramencionadas.
O descaso com os arquivos é recorrente no Brasil, pois ninguém quer
mexer com papéis velhos, a não ser o pesquisador que busca “[...]
garimpar os documentos nas condições mais ou menos precárias em
que se encontrarem” (BACELLAR, 2011, p. 45).
66
Desse modo, dos estabelecimentos visitados, na Diretoria de
Ensino, após inúmeras visitas, teve-se acesso a cinco
15
Livros de Atas
de Quadro de Exames, entre 1964 e 1975, relativos às de escolas
primárias rurais. No Arquivo Público Legislativo (Câmara de
Vereadores), foi disponibilizado para consulta um documento que
tinha como proposta a solução no atendimento aos alunos da zona
rural.
Realizou-se, também, no site da Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo (ALESP), o levantamento e a seleção de leis e
decretos que regulamentaram a formação e os recrutamentos dos
professores primários no estado de São Paulo.
Portanto, para a organização do instrumento de pesquisa, as
fontes foram definidas como documentos construídos por meio de
história oral (entrevistas) e impressos oficiais, sobretudo legislações,
relatórios dos inspetores escolares e sínteses estatísticas, assim como
livros atas de quadro de exames, requerimento, atestado de
transferência de servidor e fotografias cedidas por duas professoras
entrevistadas. Infelizmente, não foram localizados diários, cadernos de
planejamentos, provas, livros de termo de visitas, etc. Desse modo,
procurou-se unir fontes orais e impressas, não com o intuito de
completá-las, mas com objetivo de cotejá-las.
1.3 Caracterização dos professores participantes da pesquisa
[...] a história oral tem um poder único de nos dar acesso às
experiências daqueles que vivem às margens do poder, e cujas
vozes estão ocultas porque suas vidas são menos prováveis de
15
A pesquisa dos Livros de Atas de Exames Finais foi realizada na Diretoria de Ensino, na
presença do assistente do Núcleo de Vida Escolar Thiago Bertelli Pereira.
67
serem documentadas nos arquivos. (PAUL THOMPSON,
2002)
Buscou-se iniciar a discussão desse tópico com base nas
reflexões retratadas na epígrafe por Paul Thompson (2002), no
intuito de dar visibilidade por meio de narrativas sobre vivências e
experiências a personagens que tiveram uma importância significativa
na instrução primária paulista de crianças do meio rural.
Desse modo, a pesquisa utilizou-se de narrativas orais de nove
professoras e um professor, que ingressaram em escolas rurais
primárias entre 1940 e 1970, na região da Delegacia de Ensino de São
José do Rio Preto. Das dez entrevistas, oito foram realizadas ao longo
do ano de 2019 e duas no início do ano de 2020, e cada uma teve a
duração média de 2h10min. Todas as entrevistas foram realizadas no
município de São José do Rio Preto. A memória dos professores, nesta
pesquisa, foi examinada com base nos escritos de Thompson (1998,
p. 17), de que a memória de um pode ser a memória de muitos,
possibilitando a evidência dos fatos coletivos”.
As entrevistas foram direcionadas aos professores baseadas no
roteiro do Projeto Nacional nº 01/2016, Faixa C, financiado pelo
CNPq, aprovado pelo Comitê de Ética, conforme a CAAE nº
77270117.0000.5400, composto por questões abertas. A
identificação na pesquisa foi concedida por todos os professores
entrevistados, uma vez que todos assinaram o TCLE.
Os docentes entrevistados relataram as experiências no
Magistério em um questionário semiestruturado, deixando fluir as
narrativas, cuja síntese seguiu o necessário cotejamento com outras
fontes e bibliografia pertinente, procurando estabelecer o perfil do
professor rural, depreendendo de uma configuração similar de outros
68
lugares do estado de São Paulo. É importante salientar, com base nos
estudos de Halbwachs (2006), Thompson (1998) e Le Goff (2003),
que a memória dos docentes desempenhou um importante papel na
interpretação histórica da caracterização dos professores rurais, pondo
em relevo as experiências individuais e coletivas, assim como as
apropriações de diferentes grupos sociais sobre o passado.
Desse modo, com base nas narrativas e visando maior
aproximação dos leitores com os professores entrevistados, traçou-se
um perfil de cada um, tendo como principal documento os seus
próprios relatos.
Maria Alvarez Romano nasceu no dia 15 de julho de 1923,
no município de São José do Rio Preto. Filha de comerciante rural,
iniciou os estudos entre 5 e 6 anos de idade em uma escola rural,
entretanto, não finalizou o ensino primário nessa escola. O ensino
primário foi concluído em um Grupo Escolar de José Bonifácio.
Quando completou 21 anos, mudou-se para São Paulo,
matriculando-se no supletivo do Ginásio. Após o Ginásio ingressou
no Curso Normal no Colégio Anglo Latino, na capital paulista,
concluindo-o em 1948. Iniciou o magistério rural em 1940, como
professora leiga, atuando por 6 meses. Ela trabalhou por
31 anos no magistério, sendo 1 ano e meio dedicado ao meio rural.
Maria Nirce Previdentes Sanches nasceu no dia 25 de
fevereiro de 1946, no município de São José do Rio Preto.
Completou os cursos primário e ginasial no Grupo Escolar da cidade
de Poloni/SP, onde morava com os pais (pequeno proprietário rural)
e outros cinco irmãos. Iniciou o Curso Normal em 1963, na Escola
Normal Capitão Porfírio, em Monte Aprazível/SP, ao mesmo tempo
com o curso de Técnico em Contabilidade. Iniciou por duas vezes o
69
Curso de Pedagogia, em Batatais/SP, mas não o concluiu. Ingressou
na profissão docente no meio rural em 1967, aposentando-se com 26
anos e meio de docência, dos quais 4 anos foram dedicados às escolas
primárias rurais paulistas.
Sônia Aparecida Azem nasceu no dia 8 de fevereiro de 1948,
no município de São José do Rio Preto. Filha de fazendeiro, fez o
ensino primário no Grupo Escolar Ezequiel Ramos, o ginásio e o
Curso Normal no Instituto de Educação Monsenhor Gonçalves e
Pedagogia no Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas/
Unesp (IBILCE), que na época era denominava-se Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras (FAFI), em São José do Rio Preto. Iniciou
a carreira docente no meio rural em 1972. Aposentou-se com 35 anos
de magistério, dos quais 3 anos e meio foram dedicados ao meio rural.
Irce Elias Pires da Costa nasceu no dia 18 de julho de 1940,
no município de São José do Rio Preto. Filha de dentista, fez os cursos
primário e ginásio em São José do Rio Preto, e o Curso Normal no
Colégio Estadual e Escola Normal, em Mirassol. Depois de concluir
o Curso Normal, em 1959, cursou 1 ano de Aperfeiçoamento do
Magistério e 1 ano de Administração Escolar, além de estudar
Pedagogia em Ribeirão Preto, na Faculdade Moura Lacerda. Iniciou
Belas Artes no município de Araraquara/SP, mas não o finalizou.
Ingressou no magistério no meio rural em 1961, onde exerceu a
profissão por 5 anos, sendo removida para Diretoria de Ensino,
permanecendo até se aposentar.
Palmira Miqueletti Marra nasceu no dia 26 de junho de 1945,
no município de Potirendaba/SP. Filha de pequeno proprietário
rural, fez o primário no 7º Grupo Escolar de São José do Rio Preto,
o Ginásio e o Curso Normal no Instituto de Educação Monsenhor
70
Gonçalves, em São José do Rio Preto. Concluiu Licenciatura em
Geografia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Catanduva/SP, Licenciatura em Estudos Sociais de 1º Grau na
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jales/SP, Especialização
em Geografia em Ribeirão Preto, na FAFI/Unesp e outros cursos que
foram ofertados na Delegacia de Ensino de São José do Rio Preto na
década de 1970. Ingressou na carreira docente no meio rural em
1972, permanecendo por um período de 3 anos e meio. Aposentou-
se com 35 anos de magistério.
Maria Inês Magnani Salomão nasceu no dia três de junho de
1946, no município de Nhandeara/SP. O pai trabalhava em uma loja
de tecidos (assalariado) e a mãe cuidava dos filhos e da casa. Cursou
o Normal no Instituto de Educação Monsenhor Gonçalves, em São
José do Rio Preto. Em 1969, iniciou a faculdade de Geografia no
município de Catanduva. Ingressou na carreira docente no meio rural
em 1966, lecionando por um período de 5 anos e meio. Exerceu o
magistério por 11 anos, aliás, até ser aprovada no concurso do
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), onde trabalhou até
o início de 1974, pois, em maio deste mesmo ano, assumiu o
concurso do Banco Nossa Caixa, lugar onde permaneceu até se
aposentar.
Jorge Salomão nasceu no dia 30 de dezembro de 1944, no
município de São José do Rio Preto. Filho de pais assalariados, o pai
era mascate e a mãe doméstica. Cursou o primário em sua cidade natal
e o supletivo (curso Madureza) por correspondência em Ibiporã.
Concluiu o Curso Normal em 1965, no Instituto de Educação
Monsenhor Gonçalves, em São José do Rio Preto. Além disso,
concluiu os cursos superiores de Pedagogia (1970), Direito (1973) e
71
História (1975). Sua primeira experiência como professor, assim que
finalizou o Curso Normal, foi com aulas particulares de Matemática,
em São José do Rio Preto. Em 1971, iniciou a carreira docente no
meio rural. Aposentou-se com 42 anos de magistério, dos quais
apenas 3 anos foram dedicados à zona rural. É importante ressaltar
que o professor Jorge Salomão é casado com a professora Maria Inês
Magnani Salomão.
Yara Aparecida Aude nasceu no dia 1 de setembro de 1941,
no município de Pirangi/SP, onde fez o ensino primário. O curso
ginasial e o Curso Normal foram concluídos em Bebedouro,
município mais próximo de sua moradia. Além de normalista,
diplomou-se em Matemática, na Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras, em Penápolis; e Pedagogia no Centro Universitário do Norte
Paulista (UNORP), em São José do Rio Preto. Iniciou a carreira
docente no meio rural em 1971. Exerceu o magistério por 27 anos,
sendo 10 anos consagrados à zona rural. A professora Yara faleceu no
dia 16 de maio de 2021, após complicações pulmonares.
Ivanilde Afonso Prudêncio nasceu no dia 6 de julho de 1936,
no município de Tabatinga/SP. Filha de ferroviário, fez o primário,
ginasial, Normal, Pedagogia e Estudos Sociais. O Curso Normal foi
concluído em 1957, no Colégio Estadual e Escola Normal de
Mirassol/SP. Diplomou-se em Pedagogia em 1974, pela Faculdade
de Ciências e Letras de Votuporanga/SP. Já o curso de Estudos Sociais
de 1º Grau foi finalizado em 1977, pela Faculdade de Educação de
Monte Aprazível. Em 1959, ingressou no magistério, no meio rural,
permanecendo por 3 anos. Aposentou-se com 30 anos de exercício da
profissão docente.
72
Nilce Apparecida Lodi Rizzini nasceu no dia 14 de março de
1936, no município de São José do Rio Preto/SP. De origem italiana,
os pais se dedicaram ao comércio de São José do Rio Preto, seu pai
era proprietário de uma oficina mecânica. Fez o curso primário (1943
a 1947) no Grupo Escolar Cardeal Leme, em São José do Rio Preto.
Cursou o ginásio no Colégio Santo André entre 1946 e 1949. Em
1953, concluiu o Curso Normal no Instituto de Educação
Monsenhor Gonçalves, em São José do Rio Preto.
No ano de 1957 ingressou no Curso de Pedagogia da FAFI
de São José do Rio Preto, finalizando-o em 1960. Ingressou na
carreira docente no meio rural em 1954, onde permaneceu por 7
anos. Após ser aprovada no Concurso para o magistério secundário,
no ano de 1962, se efetivou como professora da Escola Normal do
Instituto de Educação Capitão Porfírio de Alcântara Pimentel em
Monte Aprazível. No mesmo ano, ao ser convidada para ser uma das
instrutoras do Departamento da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras (Ibilce) de São José do Rio Preto, das cadeiras de Psicologia e
História da Educação, ministrou aulas de História da Educação para
o Curso de Pedagogia e algumas disciplinas optativas para os demais
cursos da Faculdade, exercendo a função de 1962 a 1976.
Em abril de 1968 obteve o Diploma de Doutoramento em
Filosofia, continuando como professora da Faculdade até 1985,
quando solicitou aposentadoria. É importante ressaltar que o
primeiro contato com Nilce ocorreu no dia 2 de dezembro de 2019.
Após apresentar o projeto de pesquisa, foi mantido sempre contato
via e-mail, Messenger e telefone. No dia 22 de julho de 2020, foi a
última vez que a pesquisa falou com Nilce por telefone. Ela relatou
que havia sofrido uma queda em sua residência e foi preciso passar
73
por uma cirurgia, pois tinha quebrado tudo. Relatou que estava
acamada e que precisava passar por outra cirurgia.
A professora Nilce Lodi faleceu no dia 26 de julho de 2020,
após sofrer uma parada cardiorrespiratória, oriunda de duas cirurgias
realizadas por causa da queda em casa.
74
75
2.
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO:
ASPECTOS HISTÓRICOS E EDUCACIONAIS
A discussão desse capítulo perpassa a contextualização
histórica do município de São José do Rio Preto, definido como o
lugar socialem que a pesquisa foi inserida. Desse modo, por lugar
social, instauraram-se os métodos, que se delineia uma topografia
de interesses, que os documentos e as questões, que lhes serão
propostas, se organizam. (CERTEAU, 2013, p. 47). Assim,
entendeu-se por lugar, o local onde se fala articulado com a produção
socioeconômica, política e cultural.
Procurou-se reconstruir aspectos históricos do sistema
educacional no município para entender o contexto de formação e
atuação dos docentes entrevistados.
2.1 Fragmentos históricos do município
A educação rural no estado de São Paulo tinha, no período
estudado, especificidades quanto ao processo de urbanização,
sobretudo se comparado com outros estados ou regiões do Brasil. A
mais destacada é o crescimento econômico paulista, caracterizado pela
concepção de modernização e progresso, pilares que transformavam,
na prática, os limites de área urbana e rural de cada município pela
crescente mecanização das áreas agrícolas, mas fundamentalmente
76
com a industrialização, sendo o agronegócio sua face mais
característica, apesar do termo ser de utilização mais recente.
Desse modo, o estudo sobre a educação rural no município
de São José do Rio Preto avança sob esse prisma, apresentando o
processo de constituição da cidade e os desdobramentos atinentes à
educação.
Sabe-se que a incorporação das terras mais a oeste do estado
de São Paulo está relacionada com a expansão da cultura do café.
Entre os fatores apontados por Carvalho (2004) a grande
disponibilidade de terras pouco exploradas e o tipo de solo foram os
responsáveis pela expansão e ocupação da região.
Nesse contexto, em meados do século XIX o café começou a
ser plantando na região oeste do estado, ocasionando o surgimento de
novos povoados. A cidade de São José do Rio Preto tem sua origem
em 1852, ano de fundação da Vila de São José do Rio Preto. Sua
localização geográfica colaborou para que, desde a sua fundação, se
revelasse como centro polarizador de toda a região.
São José do Rio Preto está localizado na região noroeste
paulista, cerca de 442km da capital São Paulo, como pode observado
no Mapa 1. Atualmente, ocupa uma área de 431,944km², com uma
população estimada de 464.983 (2020) habitantes, sendo o
11º município paulista mais populoso (INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1958).
77
Mapa 1 - Posição do município de São José do Rio Preto
em relação à sua capital São Paulo
Fonte: Elaborado pela autora (2021) a partir do mapa dos municípios pelo IBGE (2019).
Na segunda metade do século XIX, conforme Brandi (2002),
a província de São Paulo passava por uma transformação econômica
e social com a chegada de imigrantes estrangeiros, além do transporte
ferroviário, apoiada na monocultura cafeeira. No entanto, a realidade
vivenciada nesse mesmo período por São José do Rio Preto era outra,
a cidade estava longe de beneficiar-se dessas transformações. Na
concepção do referido autor, o isolamento geográfico e humano foi
para São José do Rio Preto, quando ainda Distrito, um dos principais
fatores da economia voltada para atividades primárias e do atraso da
geral. Além disso, Brandi (2002) enfatiza que as longas distâncias dos
centros consumidores, a carência de comunicações, entre outros
recursos, dificultaram a sobrevivência dos valentes pioneiros no
município.
A agricultura e a pecuária, ainda na segunda metade século
XIX, as produções eram restritas às necessidades imediatas de
78
sobrevivência. Arroz, feijão, milho, mandioca e cana foram os
primeiros produtos básicos de atividade produtiva, sem nenhum
vínculo a polos consumidores. Quanto ao café, a produção da lavoura
cafeeira não teve êxito imediato como em outras regiões do estado,
devido à distância dos centros consumidores, e, consequentemente,
com o encarecimento e lentidão do transporte. Houve uma relativa
expressão numérica de mão de obra escrava negra no município, se
comparado a outras localidades do estado mais desenvolvidas, tais
como Jaboticabal e Araraquara (BRANDI, 2002).
São José do Rio Preto foi, durante 27 anos (1867-1894),
distrito do município de Jaboticabal. A partir da Lei nº 294, de 19 de
julho de 1894
16
, sancionada pelo Dr. Bernardino de Campos,
Presidente do estado de São Paulo, ocorreu a separação de Jaboticabal,
transformando-o em município (LODI, 2001). Essa região era um
imenso território, limitado pelos rios Grande, Paraná, Tietê e Turvo,
com mais de 26 mil km
2
de superfície.
A construção da primeira estrada do Taboado, na segunda
metade do século XIX, que ligava Jaboticabal ao Porto do Taboado,
no Rio Paraná, ocorreu em decorrência de reivindicações de
melhoramentos ou construção de novas vias, no período de expansão
econômica e ocupação de novas áreas da província paulista
(BRANDI, 2002). Essa via não foi importante apenas para São José
do Rio Preto e Jaboticabal, mas, sobretudo, para os estados de São
Paulo e Mato Grosso, obtendo como resultado a [...] integração
regional e interestadual, comunicando-se ainda com os grandes
centros consumidores e de exportação” (BRANDI, 2002, p. 208).
16
Em 1894, havia em São José do Rio Preto 72 casas, das quais apenas sete eram de alvenaria.
Contava com 25 ruas e a praça central, onde ficava a capela de São José (LODI, 2001).
79
São José do Rio Preto foi uma das últimas fronteiras do estado
de São Paulo a ser explorada e colonizada. Por muito tempo, a região
da Alta Araraquarense foi conhecida como a boca do sertãoe que
posteriormente passou a ser vista como a ponta dos trilhos
17
. Ao
mesmo tempo que a produção de café crescia no estado, as ferrovias
se multiplicavam, ocasionando, assim, o crescimento populacional.
Desse modo, o povoamento do município acompanhou as ferrovias e
a produção de café (CAVENAGHI, 2003).
Com a ferrovia, e tendo o café como principal atividade, a
cidade de São José do Rio Preto, segundo Francisco (2011, p. 124),
apresentou “[...] um desenvolvimento econômico suficiente para
possibilitar a acumulação do capital, a valorização da terra e a
consequente articulação ao movimento econômico do Estado”.
Nesse ínterim, consolidaram-se em São José do Rio Preto,
segundo Teodózio (2008), os primeiros núcleos de profissionais
liberais advogados, médicos, farmacêuticos, professores, entre
outros que se descolocavam de outras localidades (Rio de Janeiro,
Pernambuco, São Paulo e Minas Gerais), seduzidos pela oportu-
nidade de enriquecimento que a região propiciava.
Posteriormente à migração de brasileiros, houve também, o
processo migratório de estrangeiros que se adaptavam à oferta de
trabalho que a região demandava. A principal atividade econômica do
município, de acordo com Arantes (2001), foi o comércio, sendo
dominado pelos imigrantes árabes que possuíam mais de 60% dos
estabelecimentos comerciais. Já os italianos, segundo o autor,
17
Em virtude da construção da Estrada de Ferro Araraquarense (EFA) ter ficado paralisada
por 23 anos em São José do Rio Preto, segundo Teodózio (2008, p. 30), tornou o município
“[...] ponta de linha, como a última estação do Estado, para onde convergiam os embarques
da produção agropecuária deste e dos municípios da região”.
80
instalaram-se na cidade para atuar na construção civil e nas fazendas
de café da região, ao passo que os espanhóis tiveram destaque na vida
política e social na primeira metade do século e os japoneses,
assentados inicialmente em uma colônia rural, realizavam na cidade
atividades comerciais no ramo de alimentos.
É, portanto, um período de crescimento econômico e ao
mesmo tempo o início do processo de urbanização na região, com o
surgimento de novos núcleos urbanos, tais como: Bálsamo (1920),
Neves Paulista (1922), Macaubal (1924), Palestina (1926), Uchoa
(1926), Américo de Campos (1927), Ipiguá (1927), Nhandeara
(1928), Cedral (1929) e Monte Aprazível (1929).
Por sua extensão, o município, na metade da década de 1920,
era o maior e mais vasto do Estado, dele desmembraram, em 1926,
as seguintes localidades: Mirassol, Monte Aprazível, Inácio Uchôa,
Nova Granada, Potirendaba e Tanabi. Em 1934, novos desmembra-
mentos foram realizados constituindo os municípios de José
Bonifácio, Cedral, Ibirá e Palestina (INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1958).
No período entre 1939 e 1943, São José do Rio Preto foi
estruturado em nove distritos: Rio Preto, Boa Vista, Borboleta,
Engenheiro Schmidt, Ipiguá, Mendonça (ex-Vila Mendonça), Nova
Itapirema (ex-Itapirema), Nova Aliança e Ribeirão Claro. Ao passo
que entre os anos de 1944 e 1948, a cidade foi organizada em seis
distritos: Borboleta, Engenheiro Schmidt, Guapiaçu, Ipiguá e
Talhado, acrescida de Boa Vista como zona da mesma cidade. Em
1953, o distrito de Guapiaçu foi desmembrando, estabilizando tais
mudanças a partir de 1960, quando uma nova divisão territorial reduz
a cidade em quatro distritos: São José do Rio Preto, Engenheiro
81
Schmidt, Ipiguá e Talhado, assim permanecendo até 1991
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
1958).
Os vários desdobramentos ocorridos em São José do Rio Preto
são, para Lodi (1974), decorrentes das emancipações dos municípios.
Para a autora, o avanço das atividades agrícolas e pecuárias na região
determinaram as instalações de novos povoados, os quais, após se
transformarem em cidades, fixaram-se como sedes municipais. Em
função disso, houve uma variação com relação ao número total de
habitantes no município como pode ser observado na Tabela 2.
Tabela 2 - Evolução populacional de São José do Rio Preto (1900-2000)
Ano
Urbana
Rural
Total
1900
?
?
3.221
1920
?
?
126.796
1940
28.608
45.751
74.359
1950
39.606
26.246
65.852
1960
67.921
16.118
84.039
1970
110.175
11.959
122.134
1980
178.970
9.629
188.599
1991
275.450
8.311
283.761
2000
337.289
21.234
358.523
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010).
Na Tabela 2, para uma série histórica de um século (1900-
1920), a população de São José do Rio sofreu uma inversão quantitativa,
urbanizando-se a partir de 1950. Essa transformação se deu em virtude
do [...] esvaziamento populacional das zonas rurais e desvantajosos
matizes de desenvolvimento urbano-industrial (GIRALDELLI;
WONG, 1982, p. 3).
O processo de ocupação da sua área foi resultado da expansão
da Estrada de Ferro Araraquarense em direção à região, o que
82
estimulou a criação de novos municípios. É importante destacar que
o aumento da ferrovia esteve calcado na produção de café, que
assumiu um papel importante na economia do estado. Além disso, a
falta de fixação do homem ao campo resultou na emigração para as
zonas urbanas da região, bem como para outras localidades no estado
(GIRALDELLI; WONG, 1982).
No álbum dos municípios do estado de São Paulo, publicado
ano 1940, organizado por Pedro E. Valim, diretor da Associação
Paulista de Imprensa, consta que, na década de 1940, o setor de
agricultura do munícipio de São José do Rio Preto era baseado na
produção do café, do algodão e dos cereais em geral, enquanto o setor
industrial era voltado para a indústria fabril, como: curtumes; fábricas
de manteiga, queijo, salame.
Tais afirmações corroboraram com Lodi (2008), ao
caracterizar a cidade de São José do Rio Preto como produtora das
principais culturas exportáveis do período, como o café e o algodão,
ao mesmo tempo que ganhava importância na produção de arroz,
feijão e milho, destinados, em sua maioria, aos núcleos urbanos mais
centrais do estado de São Paulo.
Com base na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros,
publicada no ano de 1958, planejada e orientada por Jurandyr Pires
Ferreira, presidente do IBGE, as atividades econômicas predomi-
nantes no município de São José do Rio Preto no início da década de
1950 eram a agricultura, a pecuária e a indústria. As principais
indústrias do período constituíram-se em beneficiamento do café,
algodão, arroz, óleos combustíveis, tecidos e fabricação de móveis,
macarrão, entre outros produtos alimentícios.
83
Com a modernização estendendo-se para outros setores da
economia, entre o início de 1950 e meados de 1970, as atividades
rurais no município materializaram-se na transformação dos antigos
complexos rurais em complexos agroindustriais. Em função disso, as
empresas foram aos poucos adentrando no campo, apropriando-se de
grandes extensões de terra e implantando, além da estrutura
administrativa, o processo produtivo dos empreendimentos
econômicos urbanos, tais como a produção de cana e laranja
(AZEVEDO, 2004).
No setor da pecuária, segundo Azevedo (2004), ocorreu o
desenvolvimento da criação de bovinos, tanto leiteiro quanto de
corte, beneficiando a produção de matérias-primas demandadas pelas
indústrias, sobretudo de laticínios, de frigoríficos e do couro.
É importante salientar, que o grande impulso da pecuária na
região se deu, conforme explica Carvalho (2004), durante a década
de 1960, momento em que o café começou a encontrar dificuldades
no mercado internacional e, como consequência, a política agrícola
estimulou a erradicação dos cafezais como forma de controle de
preços, ampliando-se as áreas de pastagem e as atividades pecuárias.
Neste contexto de desenvolvimento da região, muitos dos
pequenos proprietários junto com os trabalhadores rurais, foram
expulsos do campo e acabaram por residir na cidade, com
possibilidade de encontrarem outros modos de sobrevivência. Desse
modo, uma parte do crescimento populacional ocorrido em São José
do Rio Preto, na década de 1970, está relacionada com a chegada de
migrantes da zona rural.
É importante destacar que, em meados da década de 1970 a
cidade de São José do Rio Preto, assim como outras localidades do
84
estado, foi beneficiada com vários investimentos públicos do governo,
como o Programa Cidades Médias do II PND
18
e o Proálcool
19
, que
impactaram a economia e a urbanização. Com a criação do Proálcool,
de acordo com Vasconcelos (1992), ocorreu
[...] uma enorme expansão da produção nacional de cana-de-
açúcar e de álcool energético, que provoca fortes impactos na
cadeia produtiva indústria, tanto para trásda lavoura canavieira,
acelerando a demanda por insumos químicos, implementos
agrícolas, etc., como para frente, criando a demanda para
máquinas e equipamentos para as usinas e destilarias de álcool.
(VASCONCELOS, 1992, p. 116).
Desse modo, o interior do estado ganha um expressivo peso
relativo na indústria paulista, bem como no conjunto da indústria
brasileira. Sob esse ponto de vista, Francisco (2011) esclarece que a
indústria se diversificou e, por sua vez, estimulou o setor terciário,
mormente, nas áreas: médica, financeira, contábil, jurídica e
educacional.
São José do Rio Preto e sua região, de acordo com Petisco
(2006), apresentaram uma economia e infraestrutura bastante
desenvolvida nesta época, pois além de receberem os investimentos
do governo federal e estadual, dispunham de produção agrícola farta
18
Este programa alocou recursos para a complementação da infraestrutura da área urbana de
cidades médias, além de investimentos necessários à viabilização de outros projetos
(FRANCISCO, 2011).
19
Em 1974, este programa foi lançado como resposta à crise do petróleo, em substituição ao
petróleo importado. Com este programa incentivou-se a produção de álcool combustível na
indústria do interior paulista, que tinha condições de atender toda a demanda nacional
(PETISCO, 2006).
85
e diversificada, à qual foi associada a produção industrial,
desenvolvendo-se a agroindústria.
Por outro lado, no campo, segundo Vasconcelos (1992),
alterou-se a estrutura do cultivo, modificando as formas de emprego
rural, o que gerou um intenso fluxo de migração campo-cidade,
esvaziando a área rural e empurrando a população cada vez mais para
a cidade.
Em razão disso, propiciou a inversão drástica da população
rural para a população urbana, de modo que resultou em um
crescimento desorganizado dos centros urbanos, acarretando vários
problemas, tais como: habitacional; desemprego; aumento da
desigualdade social, sobretudo para a população de baixa renda. É
evidente que a maior parte da população fica excluída dos benefícios
do tal desenvolvimento e modernização. Assim, a cidade de São José
do Rio Preto, como em outras regiões do Brasil, não tinha a
elaboração de um plano de expansão urbanístico.
Em suma, mesmo distante da capital do estado, São José do
Rio Preto caracterizou-se como um município de intenso dinamismo
populacional, econômico e urbano tornando-se um importante
centro comercial e de prestação de serviços especializados que
ultrapassaram territorialmente os limites geográficos de sua região,
passando a oferecer produtos e serviços para regiões mais distantes
como Mato Grosso do Sul e Triângulo Mineiro, assim como, para
outras cidades do interior do estado.
86
2.2 Instrução elementar: antecedentes históricos do
desenvolvimento educacional rio-pretense
Quanto à Educação, a primeira Lei sobre a instrução
elementar no Brasil surgiu em 1827. Entretanto, no caso específico
da vilao José do Rio Preto, não foi instalada nenhuma escola no
Império, porém, com o advento da Primeira República, o governo do
estado paulista, por meio da Lei nº 88, de 8 de setembro de 1892,
reformou completamente a instrução pública paulista, obrigando
todos os municípios e distritos a terem, em suas sedes, um número
satisfatório de escolas, de modo a garantir o acesso à escolarização
primária às crianças em idade escolar.
Como resultado, em 1893, o governo do estado, por meio da
Lei nº 228, de 4 de setembro, criou duas cadeiras de instrucção
primaria, sendo uma para cada sexo, na Villa do Rio Preto, neste
Estado” (SÃO PAULO, 1893, p. 1).
Entretanto, o estudo realizado por Gentil de Faria
20
A
educação primária em Rio Preto: o processo de municipalização do
ensino, publicado no ano de 2007, demonstrou que a criação das duas
escolas ficou apenas no papel, pois [...] Rio Preto ainda não possuía
o status oficial de ‘vila’, fato que só ocorreu no ano seguinte. Nota-se
também a não existência de uma Secretaria de Educação, que seria
criada bem mais tarde” (FARIA, 2007, p. 30).
Mesmo com a emancipação em 1894, o município
permaneceu sem nenhuma instrução primária. Entretanto, as famílias
abastadas mantinham professores particulares para seus filhos, já que
20
Foi secretário de Educação de São José do Rio Preto entre 1997 e 2000, período em que
implantou a municipalização do ensino fundamental.
87
o estado não providenciou nenhuma escola em São José do Rio Preto,
deixando para a Prefeitura Municipal essa responsabilidade. Desse
modo, com a Lei Municipal nº 7, de 9 de agosto de 1895, foi criado
o ensino de primeiras letras misto, com a nomeação da professora
Gertrudes do Amaral Salles (BRANDI, 2002; FARIA, 2007; LODI,
2001).
A criação dessa primeira escola foi bem recebida pela
comunidade. Por outro lado, um obstáculo foi manter a frequência
escolar dos alunos matriculados, pois na época havia uma dispersão
da população, cuja maioria se encontrava espalhada no município.
Essa escola tinha caráter misto porque atendia o total de 15 alunos,
entre meninos e meninas. O ensino contemplava as disciplinas de
Moral, Educação Cívica, Leitura, Linguagem Oral e Escrita, Noções
de História, Escrituração e contas compreendendo as quatro
operações (BRANDI, 2002; FARIA, 2007).
Com base na Lei Municipal nº 7 de 1895, o salário da
professora correspondia a cem mil réis mensais, tirado das verbas
eventuais podendo este ser elevado conforme a afluência de alunos e
o adiantamento dos mesmos(FARIA, 2007, p. 32). Em virtude da
lei,
[...] A professora ganhava 10% do primeiro orçamento da
cidade, que estava um pouco mais de um conto de réis mensais.
Para uma mulher, esposa de um conhecido farmacêutico, leiga e
sem formação para o magistério, mas com alguma experiência
em aulas particulares, o salário era um dos mais altos pagos pelos
cofres municipais. (FARIA, 2007, p. 33-34).
88
Tal afirmação pode ter sido significativa para essa professora
da rede municipal de ensino de São José do Rio naquele momento,
mas a remuneração dos professores, em geral, nunca foi expressiva.
Para Faria (2007), São José do Rio Preto, em 1895, não
chegava a ter mil habitantes, e cerca de 90% deles eram analfabetos.
Esse dado mostrou que o município foi o responsável por oferecer e
manter o ensino no período de 1895 a 1906. Somente a partir de
1907 foram instaladas as primeiras escolas primárias estaduais: três
masculinas e duas femininas. Os professores nomeados eram
complementaristas
21
, por terem concluído o ensino primário
complementar, com quatro anos de duração.
Com a promulgação da Lei Municipal nº 49, de 16 de maio
de 1907, criou-se o cargo de inspetor municipal, responsável pela
fiscalização do ensino, cuja nomeação foi competência do Presidente
da Câmara, mediante a proposta do prefeito. Ademais, a Lei
estabeleceu o valor dos vencimentos recebidos pelos professores da
cidadee os professores das povoações. Por tais denominações, os
professores que lecionavam na cidade recebiam a importância de
150$000 contos de réis por mês, ao passo que os que lecionavam nas
povoações o valor de 100$000 contos de réis por mês (FARIA, 2007).
Apesar de não haver índice
22
disponível para atualização dos valores
recebidos pelos docentes naquela época, observou-se que aqueles que
21
No início da Primeira República, o ensino primário preliminar tinha oito anos de duração.
Os quatro últimos anos se tornaram em formação de professores como alternativa do governo
para solucionar a falta de docentes no estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1892)
22
Sobre índice, entende-se a atualização dos valores monetários da época para os dias atuais,
visto que, segundo o Banco Central, os primeiros dados disponíveis datam a partir de 1942.
Para maiores informações, consulte www.bcb.gov.br
.
89
trabalhavam na zona urbana recebiam uma quantia maior em
detrimento dos demais.
No final de 1909, a estimativa da população em São José do
Rio Preto, para Faria (2007), era de 11 mil habitantes, com 1.571
crianças em idade escolar. Desse total, o número de matrículas em
quatro escolas estaduais foi de 126 alunos, embora apenas 102 (56
meninos e 46 meninas) frequentassem regularmente as aulas. Além
dessas, havia, segundo o autor, mais quatro escolas mantidas pelo
município, sendo duas masculinas e duas femininas. Desse modo, as
oito turmas existentes comportavam menos de 20% da demanda.
Embora as escolas reunidas tenham sido criadas em 1910, sua
efetiva implantação ocorreu em 1914, com a instalação de um prédio
cedido pela Prefeitura, mas com a jurisdição do Estado. Nesse
período, a oferta do ensino foi distribuída da seguinte forma: 171
matrículas nas escolas reunidas, 38 matrículas nas escolas isoladas e
522 matrículas nas escolas municipais. Do total de crianças em idade
escolar, estavam matriculadas um percentual de 23,6%, e 76,4%
permaneciam fora da escola (FARIA, 2007).
A justificativa para que as crianças matriculadas deixassem de
estudar nos primeiros meses de aula foi ocasionada pela distância a ser
percorrida a pé: dos 171 alunos das escolas reunidas apenas 110
frequentavam regularmente a escola” (FARIA, 2007, p. 70).
Por volta de 1915, o ensino público e o particular estavam em
pleno desenvolvimento em São José do Rio Preto. É nesse período,
segundo Carlos Rodrigues Nogueira (1952)
23
, que as inciativas
privadas começavam a aparecer nesse ramo de atividades.
23
No ano de 1952 foi publicado o trabalho São José do Rio Preto 1852-1945: apontamentos
para a história do grande município paulista, realizado por Carlos Rodrigues Nogueira, cujo
90
Como resultado dessa participação na rede de ensino,
aumentou a oferta de mais vagas com a uma consequente diminuição
lentado número de crianças fora da escola. Em 1914, foi registrado
um total de 76,4% da população fora das escolas e, no ano
subsequente, esse número foi de 69,5% (FARIA, 2007).
Em 1920, o panorama da organização da instrução blica
paulista foi transformado com a reforma Washington Luiz. A reforma
dividiu o estado em 15 delegacias de ensino, sendo a 15ª a de São José
do Rio Preto, com sede em Catanduva. A Delegacia de Ensino
daquela cidade foi dirigida pelo professor Oscar Leme Brissola e
inspecionada pelo professor Fernando Paes de Barros (NOGUEIRA,
1952).
Uma nova organização do ensino público primário paulista
foi implantada em 1925, com a supressão das Delegacias de Ensino e
a divisão do estado em cinco zonas distintas, que, por sua vez, se
dividiram em distritos escolares
24
. Em 1930, ocorreu novamente uma
outra divisão do estado, de modo a desaparecer com as chamadas
zonas escolares, sendo o estado outra vez dividido em regiões, ocasião
em que São José do Rio Preto ficou subordinado à Delegacia de
Araraquara (FARIA, 2007; NOGUEIRA, 1952).
objetivo foi reconstruir os principais fatos históricos do município. Ele foi jornalista,
advogado e escritor. Em 1942 foi diretor e redator do Jornal A folha; colaborador da revista
Almanaque Paulista, em 1946; e membro do núcleo da Associação Brasileira de Escritores,
em 1946. Para maiores informações, consulte www.apaginadavida.blogspot.com.
24
A região de São José do Rio Preto, conforme apresentado pelo Delegado Regional do
Ensino José Blozes, em 1934, era dividida em dois distritos escolares, sendo: o primeiro, a
cargo do inspetor escolar Calixto de Souza Aranha, compreendendo os municípios de Cedral,
Ibirá, Inácio Uchôa, José Bonifácio, Potirendaba e parte de São José do Rio Preto; o segundo,
a cargo do inspetor Lauro Rocha, abrangendo os municípios de Mirassol, Monte Aprazível,
Tanabí e parte de São José do Rio Preto (SÃO PAULO, 1933e).
91
Para efeito de orientação e fiscalização do ensino no estado de
São Paulo, ocorreu uma nova organização na instrução pública, por
meio do Decreto nº 5.335, de 7 de janeiro de 1932, em que se criou
o total de 22 Delegacias Regionais de Ensino, sendo duas com sede
na Capital, na região norte e a outra na região sul, e as demais
localizadas nas seguintes cidades: Araraquara, Bauru, Botucatu,
Campinas, Casa Branca, Guaratinguetá, Itapetininga, Jaboticabal,
Lins, Piracicaba, Pirassununga, Presidente Prudente, Ribeirão Preto,
Rio Claro, Rio Preto, Santa Cruz do Rio Pardo, Santos, São Carlos,
Sorocaba e Taubaté. A Delegacia de São José do Rio Preto, era a 15,
como pode ser observado no Mapa 2.
Mapa 2 - Delegacias de Ensino do Estado de São Paulo 1933
Fonte: SÃO PAULO (1933e, p. 28).
92
A sede da Delegacia de São José do Rio Preto foi criada no dia
17 de janeiro de 1932, localizada nesta cidade, sendo o primeiro
Delegado de Ensino, o professor Oscavo de Paula e Silva. Esta
Delegacia abrangia os municípios: Cedral, Ibirá, Ignacio Uchôa, José
Bonifácio, Mirassol, Monte Aprazível, Potirendaba, Tanabi (SÃO
PAULO, 1933e).
Mapa 3 - Abrangência da Delegacia de São José do Rio Preto 1932
Fonte: Elaborado pela autora com base no mapa de Conebel (2021).
93
Sob o ponto de vista da extensão territorial, como pode ser
observado no Mapa 3, a Delegacia tinha uma grande abrangência.
Conforme exposto no Relatório de Ensino apresentado à Secretaria
de Educação pela Delegacia Regional de Ensino de São José do Rio
Preto, era considerada uma das maiores do Estado, pois tinha uma
área calculada em “[...] 50 mil alqueires, mais ou menos. É bem maior
do que a Suissa; duas vezes, quase, a Belgica e mais da metade de
Portugal(SÃO PAULO, 1933e, p. 31).
Para os cargos de inspetores escolares, foram nomeados os
professores Lauro Rocha e José Augusto Fessel. Nesse período, a
Estrada de Ferro serviu apenas 51km da Delegacia, sendo atendido o
trecho entre Mirassol e Inacio Uchôa, passando por Cedral e São José
do Rio Preto. No entanto, a situação educacional de São José do Rio
Preto, conforme relatou o professor Silvio de Barros, Delegado
Regional de Ensino, foi de um elevado número de crianças
analfabetas, salientando ser uma região vasta e populosa com um
mero irrisório de unidades escolares. (SÃO PAULO, 1933e).
Em decorrência desses problemas, Sud Mennucci, como
Diretor Geral do Ensino, percorreu todo o território. Durante a
viagem pela região, verificou as necessidades das localidades
25
e na
sequência autorizou a criação de mais nove grupos escolares e diversas
escolas isoladas, somando um total de 81 classes. No entanto, com a
saída de Sud Mennucci da Direção do Ensino e a irrupção do
Movimento Constitucionalista de 9 de julho de 1932, os novos
estabelecimentos autorizados não foram criados. Apesar do seu
substituto, o professor João Toledo, tivesse interesse em criar as 81
25
Os locais visitados por Sud Mennucci nos dias 21 e 22 de abril de 1932 foram: Ibirá,
Potirendaba, São José do Rio Preto, Mirassol, Tanabi, Monte Aprazível e José Bonifácio.
94
classes autorizadas, isso não foi possível devido à precária situação
financeira do estado (SÃO PAULO, 1933e).
Embora não tenham sido criadas as 81 classes autorizadas por
Sud Mennucci, foram instituídas na direção de João Toledo, 6 classes
em José Bonifácio, 21 classes em estabelecimentos agrupados, 9
escolas isoladas que estavam vagas e mais 21 escolas isoladas.
Posteriormente, na direção Fernando de Azevedo, foram instaladas
mais 43 escolas (SÃO PAULO, 1933e).
Mesmo com os novos estabelecimentos criados, foi registrada
a necessidade de que fossem providas as escolas isoladas urbanas e
rurais que se achavam vagas no município.
Quadro 5 - Escolas isoladas vagas em São José do Rio Preto 1933
Número de ordem
Nome da escola
1
Mista urbana de Monte Belo
2
Mista urbana de Borboleta
3
Mista rural de Boa Esperança
4
Mista rural de Erasmos Roveri
5
Mista rural da Fazenda Borá
6
Mista rural da Fazenda Emidios
7
Mista rural da Fazenda Lagoa
8
Mista rural da Fazenda São José
9
Masculina urbana de Ipigua
10
Mista urbana de Nova Aliança
Fonte: Elaborado pela autora com base em SÃO PAULO (1933e, p. 114).
O número de escolas vagas foi maior no meio rural. Além
dessas, a Delegacia de Ensino contou com outras unidades sem o
provimento de professores, tais como: 3 urbanas e 11 rurais
Mirassol; 2 urbanas e 6 rurais Monte Aprazível; 2 rurais Tanabí;
6 ruraisJosé Bonifácio; 4 rurais Potirendaba e 1 rural em Ibirá.
Desse modo, os dados demonstraram maior incidência de ausência de
95
professores na zona rural, na região abarcada pela Delegacia de Ensino
de São José do Rio.
Com base no Relatório de Ensino apresentado à Secretaria de
Educação pela Delegacia Regional de Ensino de São José do Rio
Preto, referente ao ano de 1933, o professor Silvio de Barros assinalou
que a região de Ribeirão Claro, Borboleta, Nova Aliança, Engenheiro
Schmidt, Ipiguá e Monte Belo eram distritos de paz de São José do
Rio Preto. Em razão disso, descreveu a população geral do município
em 80.000 habitantes, e deste total 27.000 eram estrangeiros que
vieram para essa cidade. Nesse período, a população escolar de São
José do Rio Preto em idade escolar era de 8.700 crianças de 7 a 14
anos.
Ainda de acordo com o delegado de ensino, a instrução
pública no município, sob a responsabilidade do estado, contava com
3 grupos escolares com 40 classes, 27 escolas isoladas urbanas e 19
escolas isoladas rurais. A rede de ensino municipal compreendia 6
escolas isoladas urbanas e 3 escolas isoladas rurais. (SÃO PAULO,
1933e).
Nesse período, segundo consta no Relatório do delegado de
ensino, existiam, na Delegacia de Ensino de São José do Rio Preto,
99 estabelecimentos escolares agrupados, 102 unidades escolares
isoladas, uma Escola Normal Livre
26
com inspeção
27
e um ginásio
26
A Escola Normal Livre de Rio Preto era dirigida por uma antiga Congregação das
Religiosas de Santo André, com sede em Tournei, na Bélgica. A escola obteve inspeção
preliminar em 1932 e o curso de formação de professores funcionou a partir de 1934 (SÃO
PAULO, 1933e).
27
Com base no artigo 2º do Código de Educação de 1933 de São Paulo, caberia ao
Departamento de Educação do Estado, subordinado à Secretaria da Educação e da Saúde
Pública, a direção, orientação e fiscalização das escolas de grau primário e secundário, assim
como dos Institutos de Educação.
96
com inspeção federal. Dos estabelecimentos agrupados, 11 estavam
vagos, porém, funcionando com regência de professores substitutos.
(SÃO PAULO, 1933e).
Entre 1931 e 1933 foram sendo criadas escolas agrupadas e
isoladas para atenderem as crianças na idade escolar da região, como
expressa o Gráfico 1.
Gráfico 1 - Unidades escolares da região da Delegacia de Ensino S. J. do Rio Preto
(1931-1933)
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Relatório do Delegado de Ensino
(SÃO PAULO, 1933e, p. 69).
Após a criação, nem todas as escolas funcionaram, destacando
por ano base: 1931, 34 unidades isoladas; 1932, 51 unidades isoladas;
e 1933, 8 unidades isoladas. Uma das justificativas apresentadas no
Relatório consistiu nos [...] contínuos afastamentos de professores
motivados por licenças (SÃO PAULO, 1933e, p. 82), que
contribuíram para o não funcionamento das escolas na região.
A esse respeito, o delegado manifestou o seu ponto de vista,
apontando ser contrário ao consentimento de licenças aos docentes.
Na sua concepção, não alimentava o [...] espirito rigorista, mas acho
bastante benevolente os dispositivos que regulam o caso (SÃO
PAULO, 1933e, p. 82). Nessa perspectiva, embora o delegado
97
opinasse em relação aos afastamentos, o fato é que desde o ano de
1897 por meio da Lei nº 495, de 30 de abril, já havia sido regularizada
a concessão de licenças aos funcionários públicos no estado (SÃO
PAULO, 1897).
Em consequência da criação de novas unidades escolares na
região, por conseguinte, ocorreu uma elevação no número geral de
matrículas, como apresentado no Gráfico 2.
Gráfico 2 -Matrícula geral dos estabelecimentos da Delegacia de Ensino S. J. do Rio Preto
(1931-1933)
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Relatório do Delegado de Ensino
(SÃO PAULO, 1933e, p. 69).
Nota-se um aumento expressivo das matrículas nas escolas
isoladas de 371,5% em 1933 se comparado ao ano anterior, em
contrapartida, nas escolas agrupadas o número se manteve
praticamente estável. O acréscimo das matrículas foi decorrente do
processo de expansão das escolas primárias pelo estado, tendo em vista
a emergência de criar novos estabelecimentos escolares nos municípios
que possuíam poucas escolas, tal como o município de Potirendaba,
com 450 crianças em idade escolar, possuía apenas 4 classes em
funcionamento. Mesmo com aumento da oferta do ensino na região,
98
segundo consta no relatório de ensino, permaneciam [...] quasi 25 mil
creanças, fora da escola, um grave e sério problema, cuja solução não
poderia e nem deveria ser retardada(SÃO PAULO, 1933e, p. 67).
Não obstante, a frequência dos alunos nas escolas agrupadas
foi superior à das escolas isoladas, como demostram os coeficientes do
Gráfico 3.
Gráfico 3 Frequência média dos alunos nos estabelecimentos de ensino da região da
Delegacia de Ensino S. J. do Rio Preto (1931-1933)
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Relatório do Delegado de Ensino
(SÃO PAULO, 1933e, p. 73).
A esse respeito, a hipótese da inversão do aumento da
frequência dos alunos das escolas isoladas, em 1933, pode estar
associada com as condições de permanência do homem na zona rural
ocasionado pela disseminação da educação no campo, de modo que
aumentou a oportunidade de oferta do ensino a essa população. A
promoção destes alunos não seguiu o mesmo ritmo da frequência.
99
Gráfico 4 -Promoção dos alunos na região da Delegacia de Ensino S. J. do Rio Preto
(1931-1933)
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Relatório do Delegado de Ensino
(SÃO PAULO, 1933e, p. 75).
Os dados demonstram que os alunos das escolas isoladas
tinham um desempenho inferior aos das escolas agrupadas.
Entretanto, o que não se pode desconsiderar é que as escolas isoladas,
em sua maioria, foram instaladas em prédios com pouca estrutura
para o funcionamento, onde faltavam condições pedagógicas de
ensino, além de serem organizadas no formato multisseriado
28
com
um grupo de crianças com diferentes níveis de aprendizagem.
De acordo com o estudo estatístico da educação O que dizem
os números sobre o ensino primário, realizado por Mário Augusto
Teixeira de Freitas
29
e organizado por Lourenço Filho
30
, publicado
em 1937, o ensino primário na região de São José do Rio Preto
permaneceu análogo a quase todo o país,
28
Historicamente, as salas multisseriadas são uma forma de organização de ensino na qual o
professor trabalha com mais de uma série do ensino primário, com alunos de diferentes
idades e níveis de aprendizagem. Essas salas nasceram como opção política de atender a
população excluída da escola.
29
Ele foi o primeiro a ocupar o cargo de Secretário Geral do IBGE. Para mais informações,
consultar www.ihgb.org.br.
30
Em 1937, Lourenço Filho foi Diretor Geral do Departamento Nacional de Educação. Para
mais informações, consultar www.cpdoc.fgv.br.
100
[...] um rudimentaríssimo aparelho de iniciação literária, sem
nenhum espírito que informe o estudo para as necessidades da
vida real e para as ocupações normais do ambiente. Nenhuma
relação, entre a vida íntima da escola e a iniciação ao trabalho,
ou seu aperfeiçoamento. Nenhuma preocupação vocacional ou
pré-vocacional. As escolas da roça funcionam como as das
cidades, as dos seringais como as das zonas pastoris, as da praia
como as do sertão. (LOURENÇO FILHO, 1937, p. 7).
Ainda, para o autor, não é possível apontar uma só causa que
explique a ineficiência ou o baixo rendimento do ensino, pois
[...] um complexo de condições aí intervém, a começar pelo
efetivo muito numeroso das classes e a carência de material de
ensino, até as condições gerais de vida do professorado, sua
precária formação técnica em função de baixos vencimentos, e a
ausência de mais perfeita orientação por parte dos órgãos
administrativos. (LOURENÇO FILHO, 1937, p. 7).
Desse modo, o estudo desse autor vem ao encontro da
proposta desta pesquisa, no sentido de mostrar que na região de São
José do Rio Preto não foi diferente de outras localidades no estado,
uma vez que os dados apresentados demonstraram que o número de
aprovação nas escolas isoladas (Gráfico 4), no período de 1933, foi
inferior a 40%.
Em 1934, os números apresentados no Relatório de Ensino,
pelo Delegado Regional de Ensino José Blozes, assinalaram o
quantitativo geral das matrículas realizadas no mês de novembro nos
grupos escolares e nas escolas isoladas da região. Com base nos dados
analisados, foram matriculadas 3.689 crianças nos grupos escolares e
3.929 nas escolas isoladas, totalizando 7.618 crianças. Desse total,
101
havia uma frequência de 7.121 alunos, com uma aprovação de 4.246,
sendo: 2.385 (63,61%) nos grupos escolares e 1.861 (48,51%) nas
escolas isoladas (SÃO PAULO, 1935b).
O Relatório apresentado à Secretaria de Educação pela
Delegacia Regional de Ensino de Rio Preto, referente ao ano de 1940,
registrou a existência de 24 distritos de paz na região, cada um com
quatro ou cinco escolas urbanas em funcionamento. A população,
nessa época, correspondia a 75.046 habitantes (SÃO PAULO, 1940).
A abrangência da região levou Calixto de Souza Aranha,
delegado de ensino, a registrar alguns indícios sobre a situação escolar
em 1940.
[...] o número de unidades escolares não está de acôrdo com a
extensão da Região escolar, que é uma das maiores da região do
Estado. É uma zona que está em pleno desenvolvimento, onde
cada grupo de sitiantes recebe de braços abertos a professora,
prodigalizando-lhe todo o conforto compatível com o meio. O
povo em geral desta zona pede, com insistência, escola para a
educação seus filhos, construindo, às suas expensas, prédios
apropriados para sua localização. (SÃO PAULO, 1940, p. 3).
À vista do exposto, fica evidenciado que a receptividade da
professora denota a importância da escola, bem como o papel do
fazendeiro no provimento das condições para a instalação da
instituição no meio rural.
A rede de ensino no município, em 1940, estava composta de:
9 grupos escolares, 73 unidades de grupos, 38 escolas isoladas
estaduais, 15 escolas isoladas municipais e 9 escolas isoladas particu-
lares, totalizando 135 estabelecimentos. Também funcionavam na
região duas Escolas Normais Livres, uma particular e a outra
102
municipal. A particular era anexa ao Colégio Santo André de Rio
Preto e a outra, municipal, na região de Mirassol (SÃO PAULO,
1940).
Contudo, em 1943, o número de escolas no município de São
José do Rio Preto sofreu alteração se comparado ao ano de 1940.
Permaneceram os 9 grupos escolares e as 15 escolas isoladas
municipais. Por outro lado, aumentou para 88 a quantidade de
grupos e para 11 as escolas isoladas particulares, logo, diminuiu para
37 o número de escolas isoladas estaduais (SÃO PAULO, 1943).
Nesse período havia, na Delegacia Regional de Ensino de São
José do Rio Preto, um total de 653 classes escolares, assim
distribuídas: 323 unidades de grupos escolares, 239 escolas isoladas
estaduais, 71 escolas isoladas municipais e 20 escolas isoladas
particulares (SÃO PAULO, 1943).
Uma das importantes observações apresentadas por Calixto de
Souza Aranha, em seu Relatório de 1940, foi o rendimento escolar
dos alunos. A necessidade da elevação para 75% de alfabetização e a
promoção dos alunos da região, que na época correspondia a 64,10%,
levou a Delegacia Regional de Ensino a dar orientações aos
professores sobre o ensino das matérias fundamentais para o exame
final, colocando-os a par da situação de adiantamento dos seus alunos
(SÃO PAULO, 1940).
Uma das alternativas para solucionar o problema de
aprovação foi permitir a seleção dos alunos desde que houvesse, pelo
menos, três classes do mesmo grau, organizando-as em classes
heterogêneas. Para o delegado de ensino deveriam matricular apenas
103
alunos “[...] maduros, após aplicação de testes A.B.C
31
, que têem
dado resultado satisfatório nesta região, organizando-se com os alunos
imaturos, classes especiais que seriam classificadas em fracas, médias
e fortes (SÃO PAULO, 1940, p. 9).
Nesse sentido, as classes seriam organizadas de modo
classificatório, o que resultaria para o delegado de ensino, um melhor
rendimento escolar, assim como a melhoria da assiduidade do
professor, que tem sido, em razão das “[...] suas continuadas licenças,
um entrave ao rendimento, interessando-o na produção máxima: é o
pagamento dos professores feito em duas quotas: pelo tempo de
exercício como já se acha regulado, e pela produção(SÃO PAULO,
1940, p. 9).
Desse modo, a alternativa foi apresentada ao Prefeito
Municipal de São José do Rio Preto, Cenobelino de Barros Serra,
como experiência para ser aplicada nas escolas municipais, sendo
submetida à aprovação do Interventor do Estado, Ademar Pereira de
Barros que, por sua vez, aprovou e remeteu ao Departamento
Administrativo do Estado (SÃO PAULO, 1940).
Conforme consta no Relatório, após a aprovação do Prefeito
sobre a sugestão apresentada pelo delegado [...] os professores do
estado receberiam, conjuntamente com os vencimentos de Dezembro,
uma gratificação relativa ao seu trabalho (SÃO PAULO, 1940,
p. 9). Desse modo, as escolas seriam classificadas em quatro categorias,
31
A partir do estudo de Mortatti (2000, p. 151), os testes ABC se apresentaram como “[...]
uma fórmula simples e de fácil aplicação, com fins de diagnóstico ou de prognóstico, e como
critério seletivo seguro para definição do perfil das classes e sua organização homogênea,
assim como dos perfis individuais dos alunos, permitindo atendimento e encaminhamento
adequados”. Segundo a autora, a partir de 1928, os testes ABC passaram a ser aplicados no
estado de São Paulo.
104
para efeito de recebimento dessa gratificação: escola rurais, unidades de
grupo e escolas urbanas com classes anexas, unidades de grupo e escolas
urbanas homogêneas e classes de grupo selecionadas.
Apesar de não localizar informação do valor dos salários pagos
a esses docentes, encontrou-se o indício da importância sugerida pelo
delegado para o aumento dos vencimentos dos professores conforme a
promoção por aluno, o que pode ser verificado no Quadro 6.
Quadro 6 - Gratificação por aluno promovido conforme classificação das unidades
escolares
Ordem
Gratificação por aluno
promovido
Classificação das unidades escolares
15$000
Classes de Grupo Escolar selecionada Forte
20$000
Classe de Grupo Escolar selecionada Média
Classe de Grupo Escolar de um só grau não
selecionada
Classe de Escola Isolada Urbana de um
grau
25$000
Classe de Grupo Escolar selecionada Fraca
Classe de Grupo Escolar de mais de um grau
Classe de Escola Isolada Urbana de mais de
um grau
30$000
Classe de Escola Isolada Rural
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Relatório do Delegado de Ensino
(SÃO PAULO, 1940, p. 9).
Os números demonstram que a maior gratificação foi
oferecida aos professores que lecionavam em escolas rurais. Com esse
incentivo o delegado de ensino entendia que resolveria a questão da
reprovação, assim como a permanência do docente no meio rural,
uma vez que ao ser lançado o Concurso de Remoção e Promoção no
Estado, os professores, ao se inscreverem, destacaram como justifica-
tiva a distância dos seus lares (SÃO PAULO, 1940).
105
Em face dos problemas que dificultavam o desenvolvimento
da educação no meio rural, o delegado registrou no relatório o que
poderia ser feito para mudar a situação. A princípio, o professor
deveria receber:
a) Vencimentos que coloquem o professor em situação de
absoluta independência.
b) Conveniência de se colocar num mesmo núcleo, dois
professores. Assim localizados, pela assistência mútua, farão um
trabalho mais produtivo, desaparecendo o receio, muito natural,
de viverem isolados em completamente diverso do nosso.
c) Intensificar as visitas das autoridades às escolas;
d) Permitir a matrícula de crianças de seis anos, que embora não
sejam alfabetizadas, aprendam a nossa língua e se ambientam com
as nossas coisas.
e) Criação de curso noturno para alunos de mais de 14 anos, que
assim fixaria melhor aprendizado adquirido e, receberiam aulas
especializadas de civismo. O mesmo professor, mediante
gratificação, se encarregaria de tais cursos.
f) Instalação condigna da escola. Esta, uma questão de suma
importância. A escola bem instalada imporia a consideração
precisa, pela impressão causada. (SÃO PAULO, 1940, p. 11).
Certamente, o que estava em questão era a organização da
escola primária de modo a torná-la mais eficiente para o
desenvolvimento do ensino na zona rural. Mas para que isso fosse
possível era preciso tornar o campo atrativo para o professor, seja por
meio do pagamento de melhores salários, pela melhoria das condições
de trabalho ou de ressaltar a sua ineficiência.
No que diz respeito ao número de escolas em São José do Rio
Preto, o Censo de 1950 registrou a existência de 69 unidades de ensino
106
primário, das quais 10 eram grupos escolares. Nesse período, o
município tinha um total de 65.852 habitantes, dos quais 26.246
viviam na zona rural (39%). Os dados ainda demonstraram que 63%
da população de 5 anos ou mais já sabiam ler e escrever (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1958).
A situação educacional de São José do Rio, na década de 1960,
contou com um ensino primário ministrado em 15 grupos escolares,
6 cursos primários particulares, 2 escolas municipais, 9 escolas de
emergência e 45 escolas isoladas, com uma população escolar de
15.472 alunos (MESQUITA FILHO, 1967, p. 22). O ensino
secundário com 5 estaduais e 7 particulares, com uma média de
10.000 estudantes e o Superior com 7 estabelecimentos de ensino:
Filosofia, Ciências e Letras; Odontologia; Engenharia; Medicina;
Direito; Agronomia e Ciências Econômicas.
Na década de 1970, no município de São José do Rio Preto,
havia um total de 79 estabelecimentos de ensino primário, com 283
salas de aula. A matrícula nesse período foi de 15.277, com aprovação
de 13.562. Não há informação de localização e classificação desses
estabelecimentos de ensino (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEO-
GRAFIA E ESTATÍSTICA, 1971). Entretanto, em 1978, localizou-se
dados que evidenciam que nesta região
32
havia 1.460 escolas isoladas
estaduais e 22 escolas isoladas municipais (INSTITUTO BRASI-
LEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1979).
32
Nesse período, pertenciam à região administrativa de São José do Rio Preto 36 municípios,
sendo eles: Adolfo, Altair, Bady Bassit, Bálsamo, Cedral, Guapiaçu, Guaraci, Ibirá, Icém,
Jaci, José Bonifácio, Macaubal, Mendonça, Mirassol, Mirassolândia, Monções, Monte
Aprazível, Neves Paulista, Nhandeara, Nipoã, Nova Aliança, Nova Granada, Nova
Lusitânia, Olímpia, Onda Verde, Orindiúva, Palestina, Paulo de Faria, Planalto, Poloni,
Potirendaba, São José do Rio Preto, Sebastianópolis do Sul (INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1979).
107
Desse modo, pode-se compreender com base nos indicadores
dos Censos, a legitimação das estatísticas educacionais como fontes
de informações numéricas para a pesquisa, entretanto, os números
apresentados devem ser vistos como indicações, e não como espelho
fiel de uma realidade.
Portanto, apesar da dispersão dos dados e dos elementos
informativos, bem como dos percalços e entraves em conseguir ter
acesso aos documentos relacionados ao ensino de São José do Rio
Preto, foi possível (re)construir uma história sobre o ensino primário
desse município.
2.3 Vestígios das escolas primárias rurais em São José do Rio Preto
A escola primária, situada nas áreas rurais foi uma realidade
de escolarização de milhares de crianças em todo o território
brasileiro. No estado de São Paulo, como adverte Souza (2016), a
emergência do termo ‘escola isolada’ consolidou-se no campo
educacional somente após a Lei nº 930, de 13 de agosto de 1904.
Os estabelecimentos, no modelo de escola isolada
33
,
vivenciaram inúmeras dificuldades. Chegar a uma escola isolada,
sobretudo na zona rural, era uma tarefa difícil tanto para alunos,
quanto para professores. Na maioria das vezes, eram longínquas dos
núcleos urbanos, com condições precárias de funcionamento,
carentes de estradas que facilitassem o acesso, bem como a
comunicação. Além do isolamento, eram um modelo de instituição
33
As escolas isoladas, no estado de São Paulo, eram classificadas em urbanas, distritais e
rurais.
108
escolar que reunia, em uma única sala de aula, estudantes de diferentes
níveis de conhecimento.
Nesse sentido, Almeida Júnior (1951, p. 192-193) advertia
que as escolas rurais eram:
[...] Mal instaladas, sem atrativos para os alunos nem condições
de eficiência para o professor, com a fiscalização dificultada
pela sua própria dispersão, a escola isolada é aparelho que
apenas se tolera onde não haja possibilidade de se instalar grupo
escolar. Só a compreendemos na zona rural, de população
rarefeita. (ALMEIDA JÚNIOR, 1951, p. 192-193).
De tal modo, descrito na citação, a má instalação das escolas
rurais no estado de São Paulo acompanhou o processo de expansão
e massificação da educação pública primária que vinha sendo
debatido desde a Primeira República nas políticas educacionais para
difusão do ensino primário paulista. Todavia, as escolas isoladas
foram importantes estabelecimentos de difusão da escolarização no
estado, bem como para a escolarização da população residente nas
zonas rurais paulistas.
As políticas educacionais específicas para o meio rural
passaram a ser discutidas
[...] com mais intensidade nos anos 20 e tornou-se objeto de
interesse do Estado na cada de 30. Nesse momento, mais de
70% da população brasileira residia na zona rural. Apesar dessa
concentração populacional no campo, as políticas educacionais
levadas a termo na Primeira República priorizaram as zonas
urbanas em detrimento das zonas rurais. Sem dúvida, foi a partir
das pidas transformações desencadeadas pela revolução de
1930 que a educação brasileira alcançou níveis de atenção nunca
109
antes atingidos, quer pelo movimento dos educadores, quer pelas
iniciativas governamentais através do Ministério de Educação e
Saúde, ou pelos resultados concretos com a ampliação do
número de escolas primárias por todo o país. Nesse período, a
educação rural ganhou centralidade de fato. (ÁVILA, 2013, p.
173).
Os governos do estado de São Paulo priorizaram a expansão
da escola primária nas zonas urbanas em detrimento da escola
primária da zona rural. Nesse sentido,
A difusão do ensino primário nas zonas rurais enfrentou
diversos problemas de natureza pedagógica e administrativa,
como a falta de provimento de professores para as escolas
criadas, a precariedade dos locais de funcionamento das escolas,
as condições de organização das escolas isoladas, a baixa
frequência dos alunos e o abandono escolar ao trabalho nas
lavouras. (SOUZA; ÁVILA, 2014, p. 15).
As escolas instaladas na zona rural estiveram [...]
subsumidas pela denúncia das falhas e das condições insalubres de
funcionamento (ORIANI, 2017, p. 470). Muitos desses estabele-
cimentos funcionaram em galinheiros, em prédios insalubres e
inadequados para o ensino, com matéria-prima inadequada ao clima
da região, sem ventilação, sem água potável e banheiro (ORIANI,
2017, p. 470).
Entre 1930 e 1960 intensificaram, no estado de São Paulo,
políticas voltadas para a escolarização da população do meio rural,
pois a atenção dada às escolas rurais se deu por consistirem em uma
estratégia para a modernização da sociedade brasileira, cujas
propostas educacionais almejavam sanar a inaptidão do homem do
110
campo, sem preparo profissional, de modo a integrá-lo numa
sociedade em pleno desenvolvimento industrial e urbanização.
É nesse contexto que na década de 1950 as escolas de
emergência foram criadas no estado de São Paulo, com a finalidade
de suprir a falta de professores nas escolas públicas primárias do
estado. Porém, suas acomodações foram acompanhadas de
precariedade de instalação para o funcionamento.
Gráfico 5 - Número de escolas rurais no estado de São Paulo (1934-1970)
Fonte: Leite (2018, p. 40).
Essa sistemática de apresentação dos dados é importante para
perceber o quanto foi expressiva a expansão do ensino primário no
estado de São Paulo. O crescimento expressivo pode ser observado
na década de 1950, com a implementação de 8.417 escolas de
emergência (Decreto nº 24.400, de 11 de março de 1955), que
somadas ao total das criadas no início do período, totalizavam
14.650 estabelecimentos escolares. O número de escolas de
emergência instituídas em 1960, segundo Leite (2018), foi
exclusivamente para a zona rural.
Com base nesses levantamentos e no que foi identificado nos
Relatórios de Ensino e exposto no tópico anterior, impõe-se a
111
seguinte questão: Afinal, quantas escolas rurais estaduais foram
instaladas no município de São José do Rio Preto entre 1940 e 1970?
Onde funcionaram?
Os indicadores apresentados no tópico anterior, permitiram
fazer apontamentos da existência de escolas isoladas em diferentes
décadas no município, todavia, os dados, em sua maioria, não
exemplificam a zona (urbana ou rural) em que funcionaram. Por
outro lado, os números não equivalem ao total de estabelecimentos
de ensino no período delimitado para esta pesquisa. Assim sendo,
buscou-se fazer um levantamento da quantidade de escolas isoladas
instaladas na zona rural em São José do Rio Preto baseado em outros
documentos, que foram localizados na Diretoria de Ensino e no
Arquivo Público Legislativo.
A análise dos cinco Livros de Atas de Quadro de Exames,
disponibilizados para consulta pela Diretoria de Ensino de São José
do Rio Preto, possibilitou constatar vestígios de funcionamento de 56
escolas primárias rurais estaduais entre 1964 e 1975, em São José do
Rio Preto, como pode ser observado no Quadro 7.
Quadro 7 - Escolas rurais no município de São José do Rio Preto (1964-1975)
Nome da escola
Estágio
Tipo
1
Escola Mista do Bairro Piedade
Isolada
2
Escola Mista de Emergência da Fazenda da Mata
Emergência
3
Escola Mista da Vila Azul
Isolada
4
Escola Mista do Jardim Soraia
-
5
Escola Mista da Vila São José
34
Isolada
6
Escola Mista do Bairro Maior
Isolada
7
Escola Mista da Fazenda Matinha
-
8
Escola de Emergência de Talhados
35
Emergência
34
Em algumas anotações esta escola foi registrada como rural, em outras como suburbana e
urbana.
35
Esta escola, em dois registros, foi declarada com a natureza Típica Rural.
112
9
Escola Mista da Fazenda Lagoa
Emergência
10
Escola masculina de Emergência da Fazenda Urtiga
Emergência
11
Escola Mista do Consórcio de Menores da Alta
Araraquarense
Emergência
12
Escola Mista de Emergência da Est. Gonzaga de
Campos
Emergência
13
Escola Mista da Fazenda São José
Isolada
14
Escola Mista da Fazenda Poiati
-
-
15
Escola do Bairro Barra Grande
-
-
16
Escola Mista de Emergência do Bairro Eldorado
Emergência
17
Escola Mista de Emergência da Fazenda Auri Verde
Emergência
18
Escola Mista da Fazenda Agrícola
Isolada
19
Escola Mista do Bairro Felicidade
-
20
Escola Mista do Bairro dos Macacos
Emergência
21
Escola Mista do Bairro Santo Antônio
Isolada
22
Escola Mista da Fazenda Velha
-
23
Escola Mista Externato Santo Antônio
-
-
24
Escola Mista do Bairro Jardim Congonhas
-
-
25
Escola Mista de Emergência do P. Frederico Ozanan
-
Emergência
26
Escola Mista de Emergência da Fazenda Santa Maria
-
Emergência
27
Escola Mista de Emergência da Vila Diniz
-
Emergência
28
Escola Mista de Emergência de Ipiguá
-
Emergência
29
Escola Mista da Fazenda Borá
-
-
30
Escola Mista da Fazenda Borazinho
-
-
31
Escola Mista da Fazenda Santa Regina
-
-
32
Escola Mista da Vila Romilda
-
-
33
Escola Mista do Jardim Santa Catarina
-
-
34
Escola Mista da Fazenda Daud
-
-
35
Escola Mista da Fazenda Barbiéri
-
-
36
Escola Masculina de Emergência do Córrego dos
Machados
-
Emergência
37
Escola Mista da Olario Yano
-
-
38
Escola Mista de Emergência da Fazenda Vignolli
-
Emergência
39
Escola Mista de Emergência da Fazenda Areia Branca
-
Emergência
40
Escola Mista da Fazenda Rio Preto
-
-
41
Escola Mista de Emergência da Fazenda Verona Ipiguá
-
Emergência
42
Escola Mista de Emergência Nossa Senhora da
Aparecida
-
Emergência
43
Escola Mista da Estância Jockey Club
-
-
44
Escola do Bairro São Jorge
Isolada
45
Escola Mista de Emergência da Fazenda Bacuri
Emergência
46
Escola Mista da Fazenda Santa Clara
-
113
47
Escola de Emergência da Fazenda Santa Terezinha
Emergência
48
Escola Masculina de Emergência da Fazenda Bom
Sucesso
Emergência
49
Escola Mista da Fazenda Scaff
Isolada
50
Escola Mista da Vila Sinibaldi
Isolada
51
Escola Mista da Fazenda Barreiro
Isolada
52
Escola Mista da Vila dos Comerciários
-
53
Escola Mista do Instituto Penal Agrícola
Isolada
54
Escola Masculina de Emergência do São Judas Tadeu
Emergência
55
Escola Mista do Círculo Operário Rural
Isolada
56
Escola Mista da Fazenda São Pedro
Isolada
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados em Diretoria de Ensino de São José do
Rio Preto, [1975a, 1975b, 1975c, 1975d, 1975e].
Os dados demostraram que as escolas rurais, em sua maioria,
eram classificadas de 1º estágio, isto é, aquelas localizadas em áreas de
difícil acesso à sede do município e que, por isso, exigiam a residência
do professor no local. Ao passo que as de 2º estágio, embora também
fossem de difícil acesso, não exigiam a residência do docente. É
importante destacar que essa classificação em estágios era uma
regulamentação advinda do Código de Educação de 1933.
Com relação à classificação, isolada ou de emergência, as
escolas rurais em São José do Rio Preto faziam parte oficialmente dos
tipos de instituições de ensino existentes no estado de São Paulo. Nos
Livros Atas, ainda foi possível identificar professores que ministravam
aulas nesses estabelecimentos, como apresentado na Imagem 1.
114
Imagem 1 - Livro Ata nº 4 1965
Fonte: Diretoria de Ensino São José do Rio Preto (1965).
A seleção dessa imagem, como exemplo, se deu pela
identificação da docente dessa escola ser a Nilce Apparecida Lodi,
uma das professoras que concedeu entrevista para esta pesquisa. Lodi
era a titular efetiva dessa escola e Maria Lucia Carvalho era a
substituta. Embora os registros nos livros datem o funcionamento
entre 1964 e 1968, os relatos de Lodi afirmam o início no magistério
nessa escola em 1954.
Não obstante, em face dos dados limitados obtidos pela
Diretoria de Ensino, tentou-se novamente outros contatos via e-mail
com esse estabelecimento, na possibilidade de se obter com precisão
a informação do total de escolas primárias rurais no município. Foi
então enviada pela Dirigente Regional de Ensino de São José do Rio
Preto, Adriana Aparecida Campanhola do Prado, uma planilha com
dados de algumas unidades escolares rurais, com datas de criação,
vinculação e extinção, como pode ser verificado no Quadro 8,
posterior ao período desta pesquisa.
115
Quadro 8 - Escolas rurais no município de São José do Rio Preto (1980-1989)
N
º
Cód.
CIE
Nome da Escola
Ato de
Criação
Ato de
Vinculação
Ato de
Extinção
1
388452
Bairro Piedade
-
08/08/1989
29/01/1993
2 388488
Fazenda Areia Branca
010
- Não consta em nossos registros
3
388497
Fazenda Bacuri
-
19/06/1982
30/03/1984
4
388506
Fazenda Verona
20/08/1980
07/08/1989
31/01/1990
5
388518
Fazenda São Pedro
-
13/05/1986
12/12/1986
6
388531
Fazenda Urtiga
-
-
14/08/1982
7
388543
rrego do Machado
20/08/1980
07/08/1989
31/01/1990
8
388555
Fazenda Rio Preto
-
01/01/1983
02/01/1986
9
388567
Fazenda Lagoa
19/08/1981
30/05/1987
02/07/1987
10
388609
Fazenda Matinha
20/08/1980
30/05/1987
28/03/1989
11
388610
Vila Azul
20/08/1980
31/01/1989
30/01/1991
12
388622
Olaria Yano
20/08/1980
30/05/1987
28/03/1989
13
388658
Fazenda Felicidade
20/08/1980
30/05/1987
24/11/1987
14
388661
Fazenda Italiano
19/08/1981
31/01/1989
30/01/1991
15
388683
Fazenda Primavera
19/08/1981
07/08/1989
31/01/1990
16
388695
Fazenda São José
19/08/1981
30/05/1987
02/07/1987
17
504269
Fazenda São Pedro
20/08/1980
30/05/1987
14/04/1988
18
504282
Fazenda Matinha
20/08/1980
30/05/1987
28/03/1989
19
504294
Vila Azul
20/08/1980
30/05/1987
28/03/1989
20
521991
Fazenda Auriverde
07/04/1982
30/05/1987
28/03/1989
21
542246
Fazenda Italiano
12/04/1986
30/05/1987
28/03/1989
22
542261
Fazenda Rio Preto
12/04/1986
31/01/1989
30/01/1991
23
545077
Parque Estoril
12/06/1986
-
16/08/1986
24
547232
Fazenda Primavera
03/04/1987
03/04/1987
28/03/1989
25
547244
Fazenda São Pedro
03/04/1987
07/08/1989
31/01/1990
26
547256
Fazenda Verona
03/04/1987
03/04/1987
28/03/1989
27
553232
Fazenda São Pedro
08/07/1988
01/10/1988
28/03/1989
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados disponibilizados pela Diretoria de Ensino
de São José do Rio Preto, [1989?].
Chama a atenção que a maioria dessas escolas já foi exposta no
Quadro 8, com data de funcionamento diferente. Somente as escolas
da Fazenda Italiano, Fazenda Primavera, Fazenda São Pedro e Parque
Estoril não aparecem, em virtude de não constar registros nos Livros de
Exames Finais consultados. Parece contraditório, e é sem dúvida difícil
116
de compreender. Entretanto, o que se percebe é a lacuna de dados com
precisão, que comprometem o número de estabelecimentos rurais que
funcionaram em São José do Rio Preto.
Outra divergência observada é que o registro das escolas da
Fazenda São Pedro, Fazenda da Matinha, Vila Azul e Fazenda Verona
aparece duplicado, logo, identificou-se que os códigos de inscrição
não são os mesmos, assim como algumas datas de criação, vinculação
e extinção. Neste caso, acredita-se, de certo modo, que havia uma
ausência de padronização nos registros das informações sobre as
escolas rurais, além da falta de organização no âmbito das atribuições
burocráticas nos estabelecimentos.
A análise empreendida no Requerimento nº 1.082/83,
encontrado no Arquivo Público Legislativo da Câmara Municipal de
São José do Rio Preto, apontou vestígios de funcionamento de 19
escolas isoladas rurais, em 1983, como mostra a Imagem 2.
117
Imagem 2 - Escolas Isoladas de 1º Grau
36
em São José do Rio Preto 1983
Fonte: Arquivo Público Legislativo (1983).
Em termos quantitativos de escolas rurais, o dado ainda é de
difícil precisão. Os dados mostraram que este documento foi
elaborado com a finalidade de que as autoridades responsáveis pela
educação apontassem propostas para solucionar o atendimento aos
36
A Lei nº 5.692/71 (BRASIL, 1971) alterou a estrutura do ensino no país, de modo que, o
curso primário e o ginásio se tornaram um só curso de 1º grau. Desse modo, as escolas do
antigo ensino primário passaram a receber a nomenclatura de escolas de ensino de 1º grau.
118
alunos dessas unidades escolares, visto que, tais estabelecimentos se
encontravam em péssimas condições de funcionamento.
Desse modo, essa relação de escolas apresentadas no
Requerimento supracitado, ainda, não revela o total de unidades
escolares rurais, mas a quantidade de estabelecimentos que necessitam
com urgência de atenção para que pudessem atender seus alunos. O
fato é que as escolas estavam funcionando de modo precário,
ameaçando a permanência dos estudantes, como foi averiguado no
documento.
Nessa perspectiva, em 1984, a Delegada de Ensino substituta
da Delegacia de Ensino de São José do Rio Preto, Maria Rosa
Rodrigues Cisconi, nomeou uma Comissão constituída pelos
supervisores de ensino José Lacativa, Odair Aluizio Tortorello e
Oswaldo Marchi, para analisar as condições em que se ministrava o
ensino na zona rural do município e propor um plano globalno
atendimento dos alunos da zona rural (SÃO JOSÉ DO RIO PRETO,
1984).
Ao final do estudo empreendido pela Comissão de
supervisores de ensino designada pela Delegacia de Ensino, apurou-
se que, de fato, [...] as escolas rurais não estão merecendo a
consideração a que têm direito, caracterizando-se, lastimavelmente,
neste município, uma situação de odiosa discriminação(SÃO JOSÉ
DO RIO PRETO, 1984).
Tendo em vista a situação in loco das escolas rurais,
elaboraram duas propostas alternativas de solução. A primeira delas
foi a supressão das escolas e transportes dos alunose a segunda foi
a “manutenção das escolas” (SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, 1984).
119
A alternativa pela supressão das escolasestava pautada no
número de estudantes atendidos por cada instituição, pois alegou-se
que os bancos escolares estavam cada vez mais ociosos (a média de 12
alunos), o que agravava a situação da manutenção dos prédios e o
gasto com profissionais. Com relação ao transporte dos alunos”, a
justificativa se sustentava nas distâncias entre as escolas rurais em
relação às localizadas na zona urbana da sede, ou dos distritos não
ultrapassam 10 km.
Caso fosse aprovada tal sugestão, os supervisores da Comissão
alegaram que o acesso às escolas aconteceria por rodovia asfaltada e
por estrada de boa conservação, tal como pode ser observado no Mapa
4.
120
Mapa 4 - Mapa do município de São José do Rio Preto com escolas unidocentes
37
1984
Fonte: Fonte: Arquivo Público Legislativo (1984).
Previa-se, ainda, nesse sentido, supostamente vantagens
pedagógicasaos alunos, tais como:
37
O termo unidocente também foi utilizado para nomear as escolas isoladas e as escolas de
emergência no estado de São Paulo.
121
- os alunos estariam em classe apenas de sua própria série;
- a sociabilização seria estimulada, pelo convívio com colegas
oriundos de diferente meio social;
- a perspectiva de mudança da terminalidade real (hoje na 3ª
série) certamente seria estendida para todo o 1º grau, aplicando-
se, de fato, os dispositivos constitucionais a respeito;
- o atendimento na área de saúde (dentista e merenda) seria
garantido;
- e o processo ensino-aprendizagem seria mais eficiente. (SÃO
JOSÉ DO RIO PRETO, 1984, p. 3).
Percebe-se, perante os indicadores, que os alunos não tinham
alimentação garantida. De modo geral, os benefícios apontados
contribuíram para confirmar a ausência no atendimento dos alunos
das escolas rurais.
A outra opção apresentada foi a manutenção das escolas”.
Entretanto, para que ocorresse realmente tal manutenção, era preciso
que a administração municipal assumisse a responsabilidade de
destinar recursos para a reforma ou construção de prédios.
O fato é que, as a análise do documento, verificou-se que
foi considerada inviável a alternativa de manutenção das escolas, de
modo que se optou pela supressão dos estabelecimentos e pelo
transporte dos alunos, por considerarem o êxito dessa opção em
outros municípios. Assim, no mesmo ano, as escolas da Fazenda
Urtiga e da Fazenda Bacuri foram desativadas em decorrência da
Prefeitura Municipal ter assumido o transporte
38
dos alunos dessas
38
De acordo com a matéria “PDS cobrará providências quanto às isoladas” publicada pelo
jornal Diário da Região, no dia 25 de fevereiro de 1984, a escola da Fazenda Urtiga
funcionava em dois períodos, com 6 alunos de manhã e 10 alunos à tarde. A merenda era
feita na própria sala de aula, onde haviam instalado um fogão a gás (SEM..., 1984b).
122
escolas. Com isso, os estudantes foram remanejados para escolas da
cidade.
Interessa aqui enfatizar que o fechamento dessas unidades
escolares, segundo a publicação da matériaSem segurança, educação
fecha as isoladasno jornal Diário da Região, no dia 22 de fevereiro
de 1984, ocorreu mediante denúncia de vereadores, que ao visitarem
todas as escolas rurais, advertiram sobre as más condições de
funcionamento.
No caso da escola da Fazenda Urtiga, informaram ser o
estabelecimento que apresentava pior estado de conservação, o prédio
tinha [...] paredes desabando e as telhas ameaçavam cair sobre a
cabeça dos alunos” (SEM..., 1984a, p. 3). Ainda, na mesma matéria,
destacou-se a situação de precariedade na maioria das escolas isoladas
rurais, como: não havia água para os alunos; as paredes estavam
rachadas; os vitrôs quebrados e não havia banheiros. Tal condição se
repetia em outra unidade escolar, “[...] Distante 12 quilômetros de
Rio Preto, na estrada para Mirassolândia, a escola não tinha janelas e
o matagal atraia cobras de todos os tamanhos” (SEM..., 1984a, p. 3).
É notório o descaso e a invisibilidade com as escolas isoladas
rurais no município de São José do Rio Preto, porém, essa situação de
calamidade não se distinguiu da realidade de outras cidades paulistas,
tal como demonstraram as pesquisas realizadas em Rio Claro, Santos,
Presidente Bernardes e Presidente Venceslau (LEITE, 2018; SILVA,
2004; MARIANO, 2016).
Esse quadro de precariedade, de abandono e omissão indicam
ser características comuns às escolas rurais brasileiras, como também
foi identificado nos estudos realizados em Minas Gerais, Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, Sergipe, Piauí, Mato Grosso, Bahia
123
(ALMEIDA, 2001; ASSIS, 2018; ÀVILA, 2013; FERREIRA, 2010;
LOPES; FURTADO; AMORIM, 2020; SIQUEIRA, 2019).
De modo geral, as representações impressas nas imagens a
seguir, fornecem indícios de que as escolas isoladas rurais, em São José
do Rio Preto, foram criadas em casas adaptadas, assinaladas pela
carência e pelo abandono.
Imagem 3 - Prédio de escola isolada em São José do Rio Preto 1984
Fonte: SEM... (1984a, p. 3).
Imagem 4 - Prédio de escola isolada em São José do Rio Preto 1984
Fonte: PDS COBRARÁ... (1984b, p. 5).
124
Imagem 5 - Prédio de escola isolada em São José do Rio Preto 1984
Fonte: PDS COBRARÁ... (1984b, p. 5).
Imagem 6 - Prédio de escola isolada em São José do Rio Preto 1984
Fonte: PDS COBRARÁ... (1984b, p. 5).
As fontes não dão indícios de a quais fazendas pertenciam os
prédios dessas escolas isoladas, contudo, supõem fazer parte da lista
de estabelecimentos apresentados acima (Imagem 6). Diante dessas
representações, percebe-se as peculiaridades dessas instituições
escolares. Casebres de alvenaria e o pátio de terra. A escola entre
plantações e matagais, adaptada ao meio. Uma condição de
125
precariedade de funcionamento, demostrando a deficiência de
recursos destinado para manutenção.
Sem dúvida, a escola isolada, situada no meio rural foi
marcada por ausências ou ilhas de saber”, como caracterizou Silva
(2004). Além de funcionarem em prédios impróprios, foram
assinaladas como [...] aquelas nas quais as classes não eram
agrupadas, aquelas cujas práticas ainda não adequavam ao modelo de
educação defendido e que, portanto, estavam à margem, à deriva,
ilhadas” (SILVA, 2004, p. 115).
Em realidade, mesmo com a implantação e consolidação dos
grupos escolares como um modelo a ser seguido, as escolas isoladas
sobreviveram por muito tempo no contexto da instrução pública
primária no estado de São Paulo. Quais foram os motivos para mantê-
las? O que isso representou para o estado?
O fato é que, embora as escolas isoladas estivessem distantes
dos ideais prescritos de escolarização, se configuraram como “[...]
faróis de civilização que iriam irradiar educação, modernidade, saúde
e higiene, incutindo novos hábitos e costumes ao homem do campo,
retirando-o do isolamento, do atraso, da pobreza da ignorância a que
era submetido(SILVA, 2004, p. 116). Fica, portanto, evidente que
a escola isolada, mesmo com todos os percalços, contribuiu para a
escolarização e socialização da população rural.
Do ponto de vista quantitativo, os dados aos quais se teve
acesso dão conta desse total de escolas. Esse é um levantamento
limitado dos registros a que se teve acesso, em razão da grande
dificuldade encontrada durante a realização desta pesquisa, em
virtude da escassez de dados, materiais e documentos, já que as escolas
rurais eram isoladas e pouca informação se tinha delas. Uma das
126
hipóteses é que muitos desses documentos foram perdidos, esquecidos
em depósitos ou até mesmo queimados.
Desse modo, a escassez de dados deixa uma lacuna na história
do ensino rural do município, o que suscita a necessidade de
investimentos em estudos aprofundados posteriormente sobre a
temática.
Diante de todo o exposto, é importante ressaltar que foram
nas escolas primárias rurais que os entrevistados iniciaram a carreira
docente e o fato que chama atenção é que, dos dez professores, nove
já eram normalistas quando começaram no magistério rural. Nesse
caso, entende-se que o alto índice de professores formados foi
resultado da grande expansão do ensino normal no estado de São
Paulo, como poderá ser constatado no próximo capítulo
127
3.
A EXPANSÃO DO ENSINO NORMAL NO ESTADO
DE SÃO PAULO E A VICISSITUDES DO
MAGISTÉRIO PARA O MEIO RURAL
Em 1986, a revista Em Aberto, periódico criado em 1981 pelo
Inep, em configuração monotemática, com vistas a problematizar
questões atuais da educação brasileira, publicou um número de
discussão sobre o problema do professor leigo no Brasil. Em um dos
textos, de autoria de Carlos Rodrigues Brandão, o autor buscou
caracterizar a difícil realidade dos professores leigos no país e destacou
o grande número desses docentes, especialmente nas zonas rurais,
levando-o a afirmar uma correlação que se tornou interpretação
bastante comum no campo educacional a partir de então, isto é, o
entendimento do professor leigo como sendo o professor da zona
rural: Há, por exemplo, o professor leigo de carreira, em geral a
pessoa que, sem nunca haver chegado à posição de um professor
formado, dedicou quase toda a sua vida ao magistério, principalmente
em áreas rurais. [...] Em boa medida, o professor leigo é, entre nós, o
professor rural” (BRANDÃO, 1986, p. 14).
Evidentemente, a afirmação do autor se pautava na
constatação do grande número de professores leigos nas séries iniciais
do ensino de 1° grau (antigo ensino primário) concentrado nas escolas
rurais, mas é certo, como tão bem demonstrou Mirian Warde (1986),
em outro artigo publicado no mesmo número da revista, que o
128
problema do professor leigo era mais complexo e atingia também as
ries finais do ensino de 1º grau e também o ensino de 2º grau, em
áreas urbanas e rurais. A discussão sobre o professor leigo punha na
ordem do dia o problema histórico da formação de professores no
Brasil e os desafios que se apresentavam naquele momento para a
democratização da educação pública no contexto da redemo-
cratização do país. No entanto, o problema se mostrava com níveis de
abrangência e gravidade em diferentes estados brasileiros revelando
mais uma face das diferenças e desigualdades educacionais que
marcaram a nossa história.
Em outra discussão sobre o tema, Ângela Maria Barreto
(1991), em um estudo publicado com o sugestivo título A Geografia
do Professor Leigo: situação atual e perspectiva, analisou compara-
tivamente a evolução e distribuição dos professores leigos no período
de 1977 e 1987. Os dados apresentados pela autora, ao mesmo tempo
que reafirmam as diferenças regionais, suscitam indagações sobre a
situação peculiar verificada no estado de São Paulo. De acordo com
Barreto, em 1987, segundo dados levantados pelo MEC, entre os
1.117,3 mil postos docentes de ensino de primeiro grau existentes no
Brasil, havia 145,7 mil (13%) ocupados por professores que não
possuíam o segundo grau completo, isto é, não possuíam a habilitação
específica prevista na lei em vigor (Lei 5.692/1971). Esses números
englobavam áreas urbanas e rurais: [...] verifica-se que a taxa de
professores leigos varia de menos de 0,5% em São Paulo e no Distrito
Federal, até quase 40% no Pará, Acre, Ceará, Maranhão e Paraíba
(BARRETO, 1991, p. 8).
Em se tratando das áreas rurais, os dados confirmavam a forte
presença dos professores sem formação específica. Em todo o país, em
129
1987, havia “[...] 253,3 mil postos docentes em escolas localizadas em
áreas rurais e destes, 122,7 mil (ou seja, 48,4%) estavam ocupados
por leigos(BARRETO, 1991, p. 9). A continuidade da análise da
autora sobre o problema é bastante esclarecedora:
Na zona rural de alguns estados, como Amazonas, Acre e Ceará, a taxa
de professores leigos chega a atingir mais de 80% do corpo docente, ou
fica na faixa de 70 a 80% no Pará, Maranhão, Paraíba e Mato Grosso.
Ela supera 50% na zona rural de todos os estados do norte, exceto
Amapá, e do nordeste, excluindo-se Pernambuco, onde se aproxima de
43%. [...] Da zona rural dos estados das regiões sul e sudeste, é no Paraná
e Minas Gerais que os professores leigos representam maiores
contingentes (chegam a atingir 35% do total), seguidos pelo Rio Grande
do Sul (25%). Apenas as zonas rurais do Distrito Federal, São Paulo,
Rio de Janeiro, Espírito Santo e Amapá têm menos de 10% de seu
pessoal docente composto por leigos. (BARRETO, 1991, p. 8).
O exame da distribuição dos docentes leigos é bastante
interessante e possibilita interrogar sobre os processos históricos de
formação de professores no Brasil. Por que essa diferença tão
marcante? Como se deu a expansão do ensino normal nas várias
regiões do país e os modos de provimento de professores nas áreas
rurais?
As informações registradas na Tabela 3, a seguir, permitem
comparar a quantidade de professores leigos em escolas urbanas e
rurais nos diferentes estados brasileiros. Chama a atenção a situação
muito particular do estado de São Paulo, apresentando um pequeno
número de professores leigos comparado com os demais estados da
federação (1.064 docentes) concentrando-se, a maior parte deles nas
áreas urbanas.
130
Tabela 3 - Distribuição dos professores leigos por região e estados 1987
Região
Estado
Docentes leigos
Total
Urbano
Rural
Percentual rural
39
Norte
Rondônia
2.150
296
1.854
86,23%
Acre
1.292
271
1.021
79,02%
Amazonas
3.705
347
3.358
90,63%
Roraima
335
94
241
71,94%
Para
11.985
2.766
9.219
76,92%
Amapá 48 27 21 43,75%
Nordeste
Maranhão
11.853
1.238
10.615
89,56%
Piauí
7.629
387
7.242
94,93%
Ceará
16.399
1.962
14.437
88,04%
Rio Grande do Norte
4.109
691
3.418
83,18%
Paraíba
9.056
1.583
7.473
82,52%
Pernambuco
7.080
969
6.111
86,31%
Alagoas
4.077
672
3.405
83,52%
Sergipe
2.360
438
1.922
81,44%
Bahia
21.244
1.667
19.577
92,15%
Sudeste
Minas Gerais
10.609
1.273
9.336
88,00%
Espírito Santo
472
109
363
76,91%
Rio de Janeiro
620
460
160
25,81%
São Paulo
1.064
1.016
48
4,51%
Sul
Paraná
8.079
1.776
6.303
78,02%
Santa Catarina
1.955
280
1.675
85,68%
Rio Grande do Sul
6.308
395
5.913
93,74%
Centro
-Oeste
Mato Grosso do Sul
1.007
128
879
87,29%
Mato Grosso
2.935
581
2.354
80,20%
Goiás
8.788
2.948
5.840
66,45%
Distrito Federal
26
26
0
0,00%
Fonte: Elaborada pela autora com base em Barreto (1991).
39
Porcentagem aferida pela autora, com base no total de professores leigos em relação ao
número de professores que atuavam na zona rural.
131
Nesse sentido, pode-se dizer que no estado de São Paulo, o
professor leigo não é o professor da zona rural? Afinal, que tipo de
professor promoveu o ensino da população rural paulista? Eram
professores leigos ou formados? A singularidade da profissionalização
do magistério primário nesse estado deve ser considerada na análise
histórica. Uma possível resposta para essa problemática pode estar na
reconstituição da história da formação de professores primários, como
se busca fazer na sequência desta seção.
3.1 Escola Normal: expansão e consolidação de um lugar de
formão do professor primário paulista
A Escola Normal, apesar do seu tortuoso processo, se
consolidou, especialmente no período republicano, conforme os
estudos de Inoue (2015), Mascaro (1956), Tanuri (1979, 2000),
Campos (1990), Almeida (2016), Novaes (2018) e legislação
40
pertinente. Desse modo, a formação de professores primários foi
definitivamente institucionalizada, com ênfase no estado de São
Paulo, cujo investimento de sua rede de ensino foi favorecido pela
pujante economia.
Do ponto de vista econômico, o café foi o produto responsável
pelo desenvolvimento da economia paulista. As linhas férreas
facilitaram seu transporte de modo a reduzir os custos do frete e o
tempo gasto nos portos de embarque. Esse desenvolvimento
corroborou o crescimento demográfico da população, tendo em vista o
40
Foram localizadas no site da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP), a
partir do descritor “Escola Normal”, 4.271 normas relacionadas com a criação e o
funcionamento das Escolas Normais no estado de São Paulo.
132
processo de urbanização impulsionado com a migração de brasileiros e
a imigração na Capital. Nesse sentido [...] as ferrovias seguiram o café;
a população e a prosperidade seguiram as ferrovias (LOVE, 1982, p.
23).
A ocupação demográfica da maior parte do estado paulista
pressionou a expansão de escolas no estado, uma vez que o curso
primário e o curso normal receberam mais investimentos,
especialmente com o ideal civilizador em voga. No entanto, sua
distribuição não foi linear em todo o estado, visto que foram
beneficiadas as regiões
41
que acompanharam a expansão da
cafeicultura, a penetração das estradas de ferro e do sentido da marcha
do povoamento.
O estado de São Paulo, na Primeira República, foi
considerado pioneiro nas ações educacionais, pelas reformas que
promoveu na instrução pública. A Reforma da Instrução Pública, em
1892, dividiu o ensino em: primário (preliminar e elementar -
obrigatório dos 7 aos 12 anos, com duração de oito anos), secundário
à Escola Normal e superior, incluindo a criação do jardim de infância
e do Ginásio do Estado, que para a época era uma novidade.
A reforma realizada por Caetano de Campos
42
marcou a
principal inovação na preparação de professores no estado, com a
criação das escolas-modelo, como espaço de experimentação didática.
As escolas normais no início do século XX ainda eram em número
41
Com base no estudo de Costa (1983), a extensão de linhas férreas no estado de São Paulo
contemplou oito zonas econômicas-demográficas, sendo elas: Capital; Vale do Paraíba e
Litoral Norte; Central e Litoral Médio; Mogiana; Araraquarense e Paulista; Noroeste e Alta
Paulista; Alta Sorocabana; Baixa Sorocabana.
42
Antonio Caetano de Campos permaneceu na administração da Escola Normal de São
Paulo, e instituiu sua reforma, estabelecida no Decreto nº 27, de janeiro de 1890 a setembro
de 1891, até sua morte precoce.
133
insuficientes, de modo que algumas instituições complementares
também passaram a formar o professor para o ensino elementar.
Com isso, o sistema paulista de ensino normal teve início com
a criação da primeira escola normal na Capital do Estado, em 1846.
Seu começo foi caracterizado por uma trajetória incerta, tendo sido
criada três vezes até que passasse a funcionar regularmente. Criada em
1846, fechada em 1867, reabertura em 1875, fechamento em 1878,
até sua reabertura no final de 1880. Depois, o número de escolas
normais no estado de São Paulo aumentou, conforme o Quadro 9.
Quadro 9 - Primeiras Escolas Normais Oficiais no estado de São Paulo
Ano
Nº de Escolas
por ano
Modalidade de Escola Normal Municípios
1880
1
Oficial Secundária
São Paulo
1894 1 Oficial Secundária Itapetininga
1896 1 Oficial Primária Piracicaba
1902 1 Oficial Primária Campinas
1906 1 Oficial Primária Guaratinguetá
1910 2 Oficial Primária Pirassununga e Botucatu
1911 1 Oficial Secundária São Carlos
1912 2 Oficial Primária
Casa Branca e Brás
43
(Capital)
Fonte: Elaborado pela autora com base nas Leis e Decretos do estado de São Paulo entre
1894-1912 e Mascaro
44
(1956, p. 25-26).
43
A referida lei de criação regulamentava a destinação dessa Escola Normal apenas para o
sexo feminino.
44
Carlos Correa Mascaro foi assistente da Cadeira de Administração Escolar e Educação
Comparada da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, no período entre 1953 e
1968. Realizou várias pesquisas procurando investigar e estudar problemas relacionados à
Administração Escolar. Entre os trabalhos realizados destaca-se “O ensino normal no estado
de São Paulo”, publicado no ano de 1956. O autor procurou apontar a importância do
ensino normal e sua deterioração, assim como o número excessivo de professores formados e
não admitidos por falta de vagas no estado.
134
Nas escolas normais primárias, com duração de 4 anos, o
programa de ensino correspondia às disciplinas de Português,
Francês; Aritmética, Álgebra e Geometria; Geografia Geral e do
Brasil; História Geral e do Brasil; Noções de Física, Química e
História Natural das aplicações à Agricultura e à Zootecnia;
Pedagogia e Educação Cívica; Música, Caligrafia e Desenho;
Ginástica; Trabalhos Manuais e Economia Doméstica (para o sexo
feminino) (SÃO PAULO, 1911).
No programa, foi incluída a disciplina de Pedagogia e foram
retiradas as disciplinas de Trigonometria, Mecânica, Agrimensura,
Economia Política e Escritura Mercantil. Além da reestruturação
curricular, houve modificações na forma de ingresso. Antes o
candidato precisava completar o ensino preliminar, e aceitavam-se
todos os concluintes, sem restrições de limite de idade, bem como o
exame de admissão. Nas escolas normais primárias passou-se a exigir
do candidato a idade mínima de 14 anos para matricular-se no
primeiro ano e aprovação em exame de suficiência, que incidiu sobre
as matérias de Português, Aritmética, Geografia Geral e do Brasil,
História tria e Desenho a mão livre” (SÃO PAULO, 1911).
Um ano após a transformação das escolas complementares
para escolas normais primárias, ocorreu a reforma das escolas normais
secundárias pela Lei nº 1.341, de 16 de dezembro de 1912. A partir
do Decreto nº 2.367, de 14 de abril de 1913, o ensino passa a ser
separado por sexo, como ilustra o Quadro 10.
135
Quadro 10 - Programa de ensino das Escolas Normais Secundárias 1913
1º ano
Masculina
Feminina
Português
Português
Francês
Francês
Aritmética e Álgebra
Aritmética e Álgebra
Psicologia Experimental
Psicologia Experimental
Caligrafia e Desenho
Caligrafia e Desenho
Trabalhos Manuais
Trabalhos Manuais
Ginástica
Ginástica
2º ano
Português
Português
Francês
Francês
Psicologia Experimental
Psicologia Experimental
Geometria e Trigonometria
Geometria e Trigonometria
Geografia, Corografia do Brasil e
Cosmografia
Geografia, Corografia do Brasil e
Cosmografia
Caligrafia e Desenho
Caligrafia e Desenho
Música
Música
Trabalhos Manuais
Trabalhos Manuais
Ginástica Educativa
Ginástica Educativa
3º ano
Latim e Português
Latim e Português
Inglês
Inglês
Física e Química
Física e Química
Pedagogia e Educação Cívica
Pedagogia e Educação Cívica
Métodos e processos de ensino, crítica
pedagógica e exercícios de ensino
Métodos e processos de ensino,
crítica
pedagógica e exercícios de ensino
Caligrafia e Desenho
Caligrafia e Desenho
Trabalhos Manuais
Trabalhos Manuais
Ginástica
Ginástica
Música
Música
Escrituração Mercantil
Escrituração Mercantil
Instrução Militar
Arte Culinária
4º ano
Latim e Literatura
Latim e Literatura
Inglês
Inglês
Pedagogia e Educação Cívica
Pedagogia e Educação Cívica
136
Métodos e processos de ensino, crítica
pedagógica e exercícios de ensino
Métodos e processos de ensino,
crítica
pedagógica e exercícios de ensino
História Natural
História Natural
Noções de higiene, zootecnia e agricultura
Noções de higiene, zootecnia e
agricultura
História da civilização e do Brasil
História da civilização e do Brasil
Ginástica
Ginástica
Música
Música
Datilografia e Taquigrafia
Datilografia e Taquigrafia
Fonte: Elaborado pela autora com base na Lei nº 1.341, de 16 de dezembro de 1912 e
do Decreto nº 2.367, de 14 de abril de 1913.
Como pode ser observado, a reforma alterou o programa de
ensino das escolas normais secundárias, de modo que ampliou a
formação pedagógica, visto que as disciplinas Psicologia Experimental,
Pedagogia e Educação Cívica, Métodos e Processos de Ensino, Crítica
Pedagógica e Exercícios de Ensino passaram a ser ofertadas por mais de
um ano no curso. Além disso, foram inseridas outras disciplinas, como
Zootecnia e Agricultura, Datilografia e Taquigrafia, além de Arte
Culinária para o sexo feminino e Instrução Militar para o sexo
masculino.
A inclusão de Zootecnia e Agricultura no programa de ensino
do curso das escolas normais secundárias estava relacionada com as
preocupações relativas à necessidade do ensino agrícola e à ruralização
do ensino primário, no sentido de adaptá-lo às características do local
onde estava inserida a escola (TANURI, 1979, p. 133). Nesse
sentido, além de atribuir conhecimentos e aperfeiçoamentos aos
trabalhos agrícolas, também fixaria o homem ao seu local de trabalho.
O fato é que, desde a criação da Lei nº 930, de 13 de agosto,
de 1904, várias disposições em vigor foram alteradas, entre elas, a
exigência de o professor recém-formado realizar um estágio em escolas
137
rurais localizadas na zona rural. Assim, em seu artigo 5º, inciso I
nenhum professor poderá ser nomeado para eschola isolada situada
na séde de municipio sem um anno de effectivo exercício em eschola
isolada situada em bairro ou sede de districto de paz (SÃO PAULO,
1904, p. 1). Entre as escolas providas no ano de 1909 e 1910, pode
ser observado nos Gráficos 6 e 7 o nível de formação dos professores.
Gráfico 6 - Professores das escolas isoladas 1909
Fonte: Elaborado pela autora com base no Anuário do Ensino do Estado de São Paulo
(1908-1909, p. 267).
Gráfico 7 - Professores das escolas isoladas 1910
Fonte: Elaborado pela autora com base no Anuário do Ensino do Estado de São Paulo
1910, p. XL).
138
Como pode ser constatado nos dados apresentados, as escolas
complementares
45
supriram boa parte da instrução pública paulista,
pois os professores que atuavam nas escolas do estado na Primeira
República eram, em sua maioria, complementaristas. E depois dos anos
de 1930? O que houve com esses professores? Eles fizeram o curso
normal? Para onde eles foram?
46
Nota-se, ainda, a presença de professores leigos
47
nas escolas
paulistas, configurando uma realidade das escolas brasileiras.
Contudo, os dados evidenciaram um número reduzido de docentes
sem habilitação nos estabelecimentos de ensino no estado de São
Paulo, situação diferente de outras regiões do país, por exemplo,
Sergipe (SIQUEIRA, 2019) e Minas Gerais (ASSIS, 2018) que
assumiu a figura do professor leigo. Possivelmente, as políticas
existentes de formação para o magistério contribuíram para a não
contratação do leigo, tal como a solução de emergência adotada pelo
estado ao substituí-lo pelo professor complementarista. Nestas
condições, as escolas normais ainda não estavam habilitando
professores em quantidade considerável às demandas da expansão do
ensino.
45
A Lei nº 88, de 8 de setembro de 1892, dividiu o ensino primário em dois cursos: um
preliminar e outro complementar. O curso complementar foi criado para ser uma
complementação ao ensino primário, um prolongamento do ensino secundário. Contudo,
no estado de São Paulo, as escolas complementares desempenharam um importante papel na
formação de professores como solução paliativa no tocante à deficiência de docentes
habilitados. Nesse sentido, o aluno concluinte do curso complementar era habilitado para o
cargo de professor adjunto das escolas preliminares.
46
Não há informação desses professores, mas as questões apresentadas suscitam por
questionamentos que ainda não foram possíveis sanar, o que demanda por pesquisas sobre
essa temática.
47
Gannam (1986, p. 27) define o professor leigo como “[...] aquele sem qualificação ou sem
formação profissional específica”. É o profissional que exerce a docência sem possuir a
habilitação exigida.
139
Em vista disso, a primeira ampliação das Escolas Normais em
algumas cidades do estado, como pode ser visto no Mapa 5, a seguir,
buscou suprir a falta de professores e o projeto de expansão da
instrução primária empreendidas pelo governo paulista.
Mapa 5 - Primeiras Escolas Normais Oficiais no estado de São Paulo
Fonte: Elaborado pela autora com base em Tanuri (1979, p. 150).
Os dados evidenciam que a expansão privilegiou a população
do leste do estado. Essas cidades eram as mais antigas do estado com
maior urbanização, o que demonstrou maior investimento do
governo. Esse número de escolas se manteve até 1928.
Não obstante, as reformas educacionais no estado de São Paulo
perduram pela década de 1920, período de mudanças drásticas na
organização das escolas. A primeira a ser implantada foi a Lei nº 1.750,
de 8 de dezembro de 1920. Influenciada por determinações políticas,
sociais e econômicas, a reforma Sampaio Dória, apresentou de início a
redução do tempo escolar, visando um modelo de escola alfabetizante
140
de dois anos de duração, com a meta de erradicação do analfabetismo
paulista, de modo a apresentar resultados rápidos. Além disso, elevou a
idade inferior da obrigatoriedade escolar de 7 para 9 anos com
obrigatoriedade de dois anos de escolaridade gratuita. Para Tanuri
(1979, p. 160), a Reforma de 1920 unificou as escolas primárias e as
normais: as primeiras pelo padrão inferior as escolas rurais de dois
anos de duração; as segundas pelo padrão superior as escolas normais
secundárias.
Com a implantação da reforma, a organização do ensino
passou a abranger os seguintes graus: ensino primário de dois anos (9
e 10 anos, obrigatório e gratuito), ensino médio de dois anos, ensino
complementar de três anos (anexos aos ginásios e escolas normais),
ensino secundário especial (ginásios e escolas normais), ensino
profissional e ensino superior.
A segunda reforma aconteceu em 1925, com a Lei nº 2.095,
de 24 de dezembro de 1925. A principal alteração introduzida pela
legislação foi a reformulação do ensino primário, de modo que o
ensino ofertado nos grupos escolares seria de quatro anos e nas escolas
isoladas e reunidas, de três anos, voltando a ser obrigatório dos 7 aos
12 anos de idade.
Com relação ao ensino normal, aumentou um ano do curso,
passando a ter cinco anos de duração e diminuiu um ano dos
estabelecimentos complementares. Na verdade, a reforma de 1925
conferiu à escola complementar a sua verdadeira função de preparar
candidatos para o ingresso no Normal. O artigo 63º do Decreto
3.858 estabeleceu que o programma das escolas complementares será
apenas um desenvolvimento do curso primario, accrescido da lingua
141
franceza, algebra e geometria, em suas noções mais elementares
(SÃO PAULO, 1925b, p. 3).
A reforma de 1925 teve o menor tempo de vigência em toda
a história do ensino normal paulista, em decorrência das várias críticas
sofridas, ao ser classificada como conservadora, o governo buscou
introduzir novas alterações no ensino. É nesse contexto que o
presidente do estado de São Paulo, Júlio Prestes de Albuquerque, com
Amadeu Mendes na Diretoria Geral da Instrução Pública, promulgou
a Lei nº 2.269, de 31 de dezembro de 1927, que reformou a instrução
pública, abrangendo mormente a escola normal (CAMPOS, 1990;
TANURI, 1979).
O fundamento da reforma de 1927 esteve calcado [...] na
alegação de que não havia professores diplomados em número
suficiente para o preenchimento das vagas nas escolas rurais e de que
urgia reorganizar o ensino de modo a satisfazer as necessidades
imperiosas do Estado referentes à escolarização primária(TANURI,
1979, p. 180).
Com relação ao ensino primário, a legislação trouxe alterações
no tempo de duração do curso primário das escolas rurais, que antes
era de três anos, passando para dois anos de duração e a
obrigatoriedade escolar abarcou as crianças de 8 a 10 anos de idade.
Quanto à formação de professores, reduziu o tempo do curso normal
de cinco anos para três anos de duração, exceto o da Escola Normal
da Praça da República, que conservou sua organização anterior. Já as
escolas complementares, anexas às escolas normais, tiveram a duração
de três anos, destinando-se à preparação de candidatos à matrícula no
curso normal.
142
Com tais alterações, o currículo das escolas normais, exceto a
da Capital, passou a compreender as disciplinas: Português, Califasia,
Francês, Geografia, História da Civilização, História do Brasil,
Educação Cívica, Aritmética, Álgebra, Geometria, Física, Química,
História Natural, Higiene, Psicologia, Pedagogia, Didática, Música,
Desenho, Ginástica e Trabalhos Manuais.
Além de todo o exposto, a reforma de 1927, considerando a
medida de emergência pelo governo, abriu a possibilidade da
equiparação das escolas normais livres (municipais e particulares), que
se fundassem no estado, mediante tais condições:
a) terem sido fundadas taes escolas e serem mantidas por
nacionaes, com corpo docente tambem de nacionais; b) serem
seus cursos e programmas organizados de accordo com o
regimento adoptado nas Escolas Normaes officiaes; c) possuirem
um patrimonio minimo de duzentos contos de reis;
d) serem situadas em municipios, que não possuam Esccola
Normal official; e ser o seu lente de pedagogia e didactica de
nomeação do Governo, com vencimentos identicos aos dos
lentes das Escolas Normaes officiaes.§ 1.º - Será á dispensada a
exigencia da letra «d» uma vez que a escola seja internato. § 2 -
em cada município não poderá ser equiparada mais de uma
escola livre no regulamento de eternado. (SÃO PAULO, 1927,
p. 2).
Por ocasião da equiparação, no ano de 1928, no estado de São
Paulo passou a funcionar mais 13 escolas normais livres e mais duas
no ano de 1929, nos respectivos municípios, como expressa o Quadro
11.
143
Quadro 11 - Escolas Normais no estado de São Paulo (1928-1929)
Ano
Nº de
Escolas
por ano
Modalidade de Escola Normal
Municípios
1928
13
Livre
Amparo, Araraquara, Itu, Jaboticabal,
Jaú, Limeira, Lins, Lorena, Piracicaba,
Ribeirão Prêto, Rio Claro, Santos,
Capital (primeira)
1929
2
Livre
Bragança Paulista
Municipal
Sorocaba
Fonte: Elaborado pela autora com base nas Leis e Decretos do Estado de São Paulo entre 1928-
1929 e Mascaro (1956, p. 26).
As escolas normais livres (mantidas pelas iniciativas
particulares e municipais) cresceram em ritmo acelerado. Essa
expansão foi classificada por Mascaro (1956) como irracional,
sobretudo, o crescimento de escolas normais livres, considerando esse
aumento um erro”. Sem dúvida, muitos foram os avanços e
retrocessos na formação de professores no estado de São Paulo, dado
o grande número de reformas empreendidas nas escolas normais, de
modo que o Ensino Normal desenvolveu de modo irregular.
Na verdade, a [...] multiplicação rápida e desordenada de
escolas normais se processou com a completa ausência de
planejamento[...]” (TANURI, 1979, p. 209). Em face disso,
Lourenço Filho suspendeu a equiparação de todas as escolas normais
no estado e, com critérios mais rígidos para a concessão de
equiparação (Decreto nº 4.794, de 17 de dezembro de 1930), de
modo que, das 48 escolas que voltaram a requerer a equiparação,
somente 35 lograram obtê-la (TANURI, 1979; CAMPOS, 1990;
INOUE, 2015).
As Escolas Normais Livres eram instituições mantidas sob a
dependência administrativa dos municípios ou de particulares e ao
serem equiparadas às escolas normais oficiais mantidas pelo Estado
144
houve alteração decisivamente na formação dos professores no estado
de São Paulo. Antes da equiparação não era reconhecida a habilitação
conferida por essas escolas, de modo que os diplomados só poderiam
exercer a docência em instituições particulares ou como professores
leigosnas escolas elementares públicas (CAMPOS, 1990; INOUE,
2015).
Isso mostra que a nomeação de professores leigos passou a ser
utilizada no estado de São Paulo nas escolas rurais, isoladas ou
reunidas, que se encontravam vagas por mais de três dias sem
professores diplomados, mas para isso os candidatados deveriam ser
aprovados em exames perante uma comissão. Entretanto, a legislação
no artigo 40 admitia o provimento interino com professores leigos
nas cidades e povoações, mesmo urbanas, em escolas que não
estivessem providas por professores diplomados.
Para Tanuri (1979, p. 187), apesar da legislação ter
[...] procurado cercar de certas cautelas a nomeação de leigos
exigindo aprovação em exames, limitando as ações à zona rural e
fixando um prazo de trinta dias durante o qual a escola vaga
ficaria à disposição de qualquer diplomado que se apresentasse
cumpre notar que, na prática, os favores pessoais e a política do
apadrinhamento acabaram por desvirtuar completamente os
intentos e a letra da lei.
Tais situações seriam revertidas em 1930 pelo Professor
Lourenço Filho
48
, ao assumir a Diretoria Geral da Instrução Pública,
48
Manuel Bergstrom Lourenço Filho, ao longo de sua atuação profissional em São Paulo,
desempenhou diversas funções, tais como: Diretor Geral do Ensino Público em São Paulo,
membro do Conselho Nacional de Educação e Diretor Geral do Departamento Nacional de
145
por meio da publicação do Decreto nº 4.780, de 28 de novembro,
que efetuou a exoneração de todos os professores leigos interinos do
estado que foram nomeados e [...] muitos dos quais ocupavam
cadeiras em localidades de fácil acesso e desejadas até por professores
do quadro efetivo(ANUÁRIO DO ENSINO DO ESTADO DE
SÃO PAULO, 1935-1936, p. 291).
Na década de 1930, como pode ser observado no Quadro 13,
foram criadas mais escolas normais no estado de São Paulo.
Quadro 12 - Escolas Normais no estado de São Paulo na década de 1930
Ano
Nº de
Escolas por
ano
Modalidade de Escola Normal Municípios
1930 2 Livre
Agudos, Ribeirão Preto
(segunda)
1931
1
Livre
Bebedouro
1932
1
Livre
São José do Rio Preto
1933
1
Livre
Mogi-Mirim
1934
1
Livre
Capital
1938
2
Oficial Mococa
Livre Botucatu
1939
11
Oficial
Santa Cruz do Rio Pardo,
Tatuí, Catanduva, Itapeva,
Tiete
Livre
Batatais, Jardinópolis,
Capital (4)
Fonte: Elaborado pela autora com base nas Leis e Decretos do Estado de São Paulo
entre 1930-1939 e Mascaro (1956, p. 26).
Nota-se a participação menor do estado na criação de escolas
normais e a participação considerável da iniciativa particular. Desse
Educação. Organizou o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos e lançou a Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos (COSTA, 2021).
146
modo, evidencia-se a transferência de parte da responsabilidade pela
habilitação do magistério para o setor privado paulista.
A formação de professores sofreu mudanças com a criação do
Código de Educação de 1933, elaborado e aprovado na gestão de
Fernando de Azevedo
49
. A Escola Normal da Capital foi convertida
em Instituto de Educação Caetano de Campos (IE), um
estabelecimento de habilitação do magistério paulista, com uma
organização própria, distinta da disposição das escolas normais do
estado. No estado de São Paulo foram localizados por Labegalini
(2009) 120 Institutos de Educação que funcionaram entre 1933 e
1967, como pode ser examinado no Gráfico 8.
Gráfico 8 - Número de Institutos de Educação no estado de São Paulo (1933-1967)
Fonte: Elaborado pela autora com base em Labegalini (2009).
Entre as finalidades dos IEs, o Código de Educação de 1933
estabeleceu a formação de professores primários e secundários,
diretores e inspetores de escolas. Além disso, os IEs deveriam manter
cursos de aperfeiçoamento e de divulgação para os membros do
49
Fernando de Azevedo entre 11 de janeiro e 27 de julho de 1933, foi diretor do
Departamento de Educação do Estado de São Paulo.
147
magistério; e ainda fornecer o ensino primário e secundário a alunos
do sexo masculino e feminino, em estabelecimentos que possibili-
tassem a observação, a experimentação e a prática de ensino dos
candidatos ao professorado (SÃO PAULO, 1933b).
Do ponto de vista de Saviani (2009, p. 145-146), os IEs eram
considerados como
[...] espaços de cultivo da educação, encarada não apenas como
objeto de ensino, mas também de pesquisa. Esses estabele-
cimentos [...] foram pensados e organizados de maneira a
incorporar as exigências da pedagogia, que buscava se firmar
como um conhecimento de caráter científico.
Em geral, no estado de São Paulo, os IEs eram avaliados como
[...] escolas de excelência e ser formado por uma instituição como
essa dava certo status ao professor.(LABEGALINI, 2009, p. 16, grifo
do autor).
De acordo com Labegalini (2009), a formação docente nos
IEs foi marcada pelo ideário da Escola Nova, fortemente calcada por
uma didática escolanovista, que se contrapunha ao ensino tradicional,
que assinalava para uma formação de caráter profissionalizante
“técnico-pedagógica, valorizando a atividade do aluno, inclusive a
práticaem escolas de aplicação, aprendida nos cursos de formação
profissional para o magistério. A formação docente pautada nesse
ideário valorizava o aluno como sujeito de sua própria aprendizagem.
Por outro lado, nas escolas normais paulistas a formação tinha
quatro anos de duração, ao contrário das escolas complementares,
com três anos. Essa estrutura foi modificada com um curso de
148
formação profissional do professor (dois anos), um curso secundário
fundamental (cinco anos) e um curso primário (quatro anos).
Em relação à formação do professor da escola primária rural, o
Código de Educação não apresentou uma formação específica para a
zona rural, apenas no artigo 790 estabeleceu que nas [...] escolas
normais do Estado deveriam manter anexo um horto ou campo, em
proporções convenientes, de demonstração e experiências agrícolas
(SÃO PAULO, 1933b, p. 142).
Outro ponto novo apresentado pelo Código foi, segundo
Basso (2018), o aperfeiçoamento dos efetivos do magistério, o que
contemplaria não somente a formação continuada, como também
uma formação mais adequada aos professores leigos ainda em função
docente.
Ao assumir a administração do ensino paulista, Almeida
Júnior
50
, entre 1935 e 1938, fez uma análise dos dados relativos aos
professores para entender a expansão do ensino normal no estado de
São Paulo. Por meio da análise empreendida postulou a existência de
um excesso de professores normalistas formados (ALMEIDA
JUNIOR, 1946).
Nesse sentido, o estudo de Vallezi (2018, p. 195) sobre
Almeida Júnior demonstrou que
50
Antonio Ferreira de Almeida Junior, conhecido como Almeida Júnior, teve uma
importante atuação na educação do estado de São Paulo. Foi Diretor do Ensino durante o
período de setembro de 1935 a abril de 1938. Ainda atuou no Conselho Estadual de
Educação do Estado de São Paulo e no Conselho Nacional de Educação (GANDINI, 2010).
Almeida Júnior fazia parte de um grupo intelectual e político que liderou uma série de
reformas no estado de São Paulo, na década de 30, do século XX. Como bem descreveu
Vallezi (2018), nesse período, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Almeida Júnior foram
os principais Diretores do Ensino no estado de São Paulo.
149
[...] os problemas qualitativos relativos aos professores foram os
que mais demandaram esforços da administração. Almeida
Júnior insistia que a eficiência da escola dependia do
envolvimento do professor com o lugar. Especialmente na zona
rural, o Diretor do Ensino admitia que, para a disseminação do
ensino, era necessário encontrar professoras aptas para ministrar
educação primária à criança rural.
No entendimento do autor, Almeida Júnior manifestou a
necessidade de redução da formação de docentes, já que o número de
candidatos era superior às vagas ofertadas em concurso. Tal postura,
para Souza e Ávila (2015), contrariava as propostas ruralistas que
estavam em circulação desde a década de 1920 no Brasil. Para tanto,
ganhou força na década de 1930, sobretudo, na gestão de Sud
Mennucci
51
.
Uma das propostas defendidas por Sud Mennucci de acordo
com Moraes (2019, p. 44) foi, [...] a criação das Escolas Normais
Rurais, pois a formação oferecida nas Escolas Normais era nociva para
as áreas rurais. Os professores formados em Escolas Normais citadinas
menosprezavam as áreas rurais e, por vezes, isso acabava contribuindo
para o êxodo rural”.
Considerando o exposto, Sud Mennucci manifestava preocu-
pação com o professor que atuaria nas escolas rurais, e que não
poderia ser formado nos padrões urbanos, porque não contribuiria
aos interesses do meio rural e colaboraria com o afastamento do
homem do campo. A iniciativa de criar uma Escola Normal rural no
51
Sud Mennucci foi um dois principais representantes das propostas ruralistas no país e
quando foi diretor geral do ensino de São Paulo procurou reformar o ensino primário e o
normal em conformidade com suas ideias (SOUZA; ÁVILA, 2015).
150
estado já se fazia presente no discurso da administração de Sud
Mennucci, com o Decreto nº 6.047 de, 19 de agosto, de 1933, que
estabelecia a criação uma Escola Normal Rural, em Piracicaba, escola
esta que não saiu do papel naquele momento.
No entanto, a administração do ensino do estado de São Paulo,
para Almeida Júnior, contraria a ideia da criação de Escolas Normais
rurais. O autor apoiou-se em dados estatísticos apresentados no texto
O excesso de escolas normais no estado de São Paulo para legitimar as
providências a serem tomadas com relação às questões da formação de
professores.
Almeida Junior constatou a existência excessiva de escolas
normais no estado de São Paulo. Para esse educador, existiam outros
problemas mais urgentes na educação paulista do que diplomar
professoras, como a [...] difusão do ensino primário, o da melhor
instalação das escolas, o do incremento da educação técnica, o da
assistência ao escolar necessitado [...](ALMEIDA JÚNIOR, 1946,
p. 46).
Desse modo, uma das suas estratégias foi criar os cursos de
especialização agrícola para o magistério e a instauração de cursos de
férias para professores da zona rural. Ele condenava o excesso de
professores diplomados, resultando na desvalorização da profissão.
No entanto, a expansão das escolas normais persistiu na
década de 1940 durante o governo de Adhemar Pereira de Barros
52
,
ao ser nomeado interventor federal no estado de São Paulo, pelo
presidente Getúlio Vargas, entre 1938 e 1941, como pode ser
observado no Quadro 13.
52
Adhemar de Barros foi também por duas vezes governador do estado de São Paulo (1947-
1951) e (1963-1966) (NOVAES, 2018).
151
Quadro 13 - Escolas Normais no estado de São Paulo na década de 1940
Ano
Nº de
Escolas
por ano
Modalidade de Escola Normal Municípios
1940
1
Livre
Capital
1941 3 Oficial Franca, Araçatuba, Assis
1944 10 Livre
Avaré, Barretos, Birigui, Lins
(segunda), Marília, Olímpia,
Penápolis, Ribeirão Prêto,
Santos, Sorocaba
1945 14
Oficial
Bauru, Itapira, Lins, Mirassol,
São Manoel, Taquaritinga,
Taubaté
Livre
Bauru (2), Capital (2), Franca,
Jaú, Laranjal Paulista
1946 8
Oficial
Jundiaí, Ribeirão Prêto,
Cruzeiro, Pinhal, Pirajú, São José
do Rio Pardo, Sorocaba
Livre
Capital
1947 20
Oficial
Jaú, Presidente Prudente,
Capivari, Itápolis, Itu, Limeira,
Jaboticabal, Piraju, Rio Claro,
Santos, São José do Campos,
Caçapava, Jacareí, Novo
Horizonte
Livre
Cafelândia, Ourinhos,
Piracicaba, Capital (3)
1948 13
Oficial
Mogi das Cruzes, Barretos,
Bebedouro, Dois Córregos,
Garça, Marília,
Pindamonhangaba, Santa Rita
do Passa Quatro
Livre
Campinas (2), Santa Cruz do Rio
Pardo, São Carlos, Tupã
1949 8
Municipal Rancharia
Livre
Ribeirão Preto, Santo André,
Santos, Sorocaba, Capital (3)
Fonte: Elaborado pela autora com base nas Leis e Decretos do estado de São Paulo entre
1940-1949 e Mascaro (1956, p. 26-27).
152
Em 1941, após a saída de Adhemar Barros, assumiu como
interventor federal Fernando de Souza Costa, que permaneceu no
cargo até 1945, procurando dar continuidade à política educacional
que vinha sendo executada, sobretudo, investindo na reforma do
ensino normal.
De fato, os dados do Quadro 13 evidenciam que a expansão
das escolas normais abarcou muitos municípios do interior paulista,
assim como a Capital do estado. Embora tenha ocorrido um aumento
significativo no número das normais oficiais, a criação das normais
livres ainda era superior, de modo que houve maior participação da
iniciativa privada. Quanto aos municípios, os números
demonstraram que, em toda a década de 1940, havia apenas uma
escola normal municipal, a do município de Rancharia.
Dado o exposto, as escolas normais estavam funcionando em
ritmo acelerado na perpetuação do excesso de professores. Desse
modo, na concepção defendida por Almeida Junior, o estado estava
produzindo normalistas em demasia, como expressa o Gráfico 9.
Gráfico 9 - Concursos de ingresso ao magistério paulista (1935-1945)
53
Fonte: Elaborado pela autora com base em Almeida Júnior (1946, p. 47).
53
Os dados apresentados com relação ao número excedente de professores foram aferidos
pela pesquisadora ao subtrair o número de candidatos às vagas.
153
Os dados demonstram maior oferta de professores formados
do que o número de vagas disponíveis para o concurso. Esse resultado
revelou que o estado de São Paulo destoou no elevado índice de
docentes habilitados, ao passo que em outras regiões do país havia
precariedade de professores formados, como, por exemplo, o estado
de Mato Grosso (GARCIA, 2015). Contudo, é preciso considerar a
ampla participação da iniciativa privada na elevação de profissionais
diplomados. De fato, havia muitas escolas da esfera privada no estado.
Mas, afinal, quem estavam nessas escolas? Quem teve acesso a essas
escolas?
A princípio, é difícil determinar a origem social e econômica
dos candidatos que se matriculavam nessas escolas. Contudo, duas
hipóteses podem ser aventadas: a primeira é de que a posição no meio
social, como o fator de ascensão social e progresso econômico é
determinante na escolha da profissão, e a segunda é a de que a maioria
dos alunos que frequentavam essas escolas era mulher.
Convém destacar que, desde o fim do século XIX, a Escola
Normal era uma instituição que nascia para o sexo feminino. Nesse
sentido, Almeida (2014, p. 67-68) enfatizou que os Cursos Normais
foram uma [...] alternativa possível para a instrução feminina, além
de suprir a necessidade de mão de obra para o ensino que tinha como
meta se expandir e se estender à população[...]”. De fato, o magistério
foi uma das poucas oportunidades reservadas para muitas mulheres,
o que tornou a profissão docente uma característica do sexo feminino
até hoje.
Em 1946, como consequência do processo de redemo-
cratização do país, o ensino normal sofreu a primeira regulamentação
fundamentada em diretrizes instituídas pelo Governo Federal com a
154
promulgação do Decreto-Lei nº 8.530, de 2 de janeiro de 1946. A
Lei Orgânica do Ensino Normal preconizou uma certa uniformidade
na formação para o magistério, sem estabelecer grandes inovações ao
que vinha sendo realizado em vários estados do país: um ensino
normal dividido em dois ciclos (TANURI, 2000; SCHEIBE, 2008).
O curso normal de primeiro ciclo era responsável pela
formação de professores regentes do ensino primário, com a
duração de quatro anos, sendo ministrado nas Escolas Normais
Regionais, contemplando as disciplinas do Quadro 14; e o curso
normal de segundo ciclo formaria o professor primário, em três anos
e era fornecido nas Escolas Normais e nos Institutos de Educação,
com as matérias apresentadas no Quadro 15.
Quadro 14 - Currículo das Escolas Normais do Primeiro Ciclo, em 1946
Primeiro Ciclo
rie rie rie rie
Português Português Português Português
Matemática Matemática Matemática
História do
Brasil
Geografia
Geral
Geografia do Brasil História Geral
Noções de
Higiene
Ciências
Naturais
Ciências Naturais
Noções de anatomia e
Fisiologia humanas
Psicologia e
Pedagogia
Desenho e
Caligrafia
Desenho e Caligrafia Desenho Desenho
Canto
Orfeônico
Canto Orfeônico Canto Orfeônico
Canto
Orfeônico
Trabalhos Manuais e
atividades econômicas
da região
Trabalhos Manuais e
atividades econômicas
da região
Didática e
Prática de
Ensino
Educação Física
Educação Física,
recreação e jogos
Educação
Física,
recreação e
jogos
Fonte: BRASIL (1946, p. 2).
155
Quadro 15 - Currículo das Escolas Normais do Segundo Ciclo, em 1946
Segundo Ciclo
1ª Série 2ª Série 3ª Série
Português Biologia Educacional Psicologia Educacional
Matemática Psicologia Educacional Sociologia Educacional
Física e Química
Higiene e Educação
Sanitária
História e Filosofia da
Educação
Anatomia e Fisiologia
humanas
Metodologia do Ensino
primário
Metodologia do Ensino
primário
Desenho e Artes aplicadas
Desenho e Artes aplicadas
Desenho e Artes aplicadas
Música e Canto Música e Canto Música e Canto
Educação Física, recreação
e jogos
Educação Física, recreação
e jogos
Educação Física, recreação
e jogos
Prática do Ensino
Higiene e puericultura
Fonte: BRASIL (1946, p. 3).
O currículo das escolas normais de primeiro ciclo (Escolas
Normais Regionais) contemplava predominantemente disciplinas de
cultura geral, limitando uma formação específica para o magistério.
Apenas no último ano que houve disciplinas para formação
pedagógica, como Psicologia e Pedagogia, Didática e Prática de
Ensino. Além disso, o ensino dos trabalhos manuais, bem como o das
atividades econômicas da região, precisariam ser organizados,
correspondendo a programas específicos que propiciassem aos alunos
o conhecimento das técnicas regionais de produção do trabalho da
sua região, de modo a capacitá-los.
As disciplinas Trabalhos Manuais e Atividades Econômicas
da Região, assim como Higiene e Puericultura, sinalizavam a
intenção de prática de atividades agrícolas na formação docente rural.
Ademais, os currículos das escolas de segundo ciclo (Escolas Normais
e Institutos de Educação), constituíram-se como disciplinas de
concepção geral e específica, apontando para uma formação baseada
156
nos fundamentos da educação, visando um caráter mais profissional
à habilitação dos normalistas (VICENTINI; LUGLI, 2009;
TANURI, 2000).
As Escolas Normais Regionais deveriam possuir duas escolas
isoladas anexas para a realização de prática de ensino a ser
desempenhada no último ano. Já os Institutos de Educação eram
encarregados de oferecer cursos de especialização para professores nas
áreas de educação especial, educação pré-primária, desenho e artes
aplicadas, música e canto, assim como qualificar os professores do
Ensino Complementar Primário e do Ensino Supletivo (BRASIL,
1946).
A Lei Orgânica do Ensino Normal ofertava aos candidatos
que quisessem se inscrever no exame de admissão ao curso de regentes
de ensino (1º ciclo), o diploma de conclusão do ensino primário e
idade mínima de 13 anos. Além disso, a lei permitiu a inscrição no
exame de admissão ao curso de segundo ciclo alunos que tivessem
concluído o curso ginasial, com idade mínima de 15 anos. Entretanto,
proibia [...] o ingresso de maiores de 25 anos aos dois tipos de escolas
normais, com o que se impediria a qualificação do numeroso
professorado leigo que certamente excedia a esse limite de idade
(TANURI, 2000, p. 76).
A Lei Orgânica do Ensino Normal contribuiu para
materializar em todo o país um padrão de formação, ainda que
diversificado em dois níveis de escolas. No entanto, o estado de São
Paulo e o estado da Bahia não adotaram o modelo federal e
organizaram seus próprios sistemas que, em realidade, não tiveram
discrepâncias em relação à referida Lei.
157
Em 1947, com a publicação da Consolidação das Leis do
Ensino (Decreto nº 17.698, de 26 de novembro), organizada a partir
da Lei Orgânica do Ensino Normal de 1946, em âmbito federal,
como modelo a ser revisto pelos estados, houve a separação da
educação primária e educação rural.
Nesse sentido, a educação primária foi estruturada de modo a
ser ministrada nas escolas isoladas, nos grupos escolares e nos cursos
primários anexos às Escolas Normais. O curso primário (cinco anos)
foi subdividido em primário comum de quatro anos e um ano de
complementar, no Instituto de Educação Caetano de Campos e nos
cursos populares noturnos. Por outro lado, a educação primária rural
seria fornecida pelas escolas típicas rurais, nos grupos escolares rurais,
nos cursos de agricultura das escolas normais e nos cursos especiais
intensivos, destinados aos professores com ou sem função no
magistério oficial (SÃO PAULO, 1947).
E como ficou a formação de professores para a educação rural
nesse período? Diferente do que ocorreu em outros estados brasileiros,
no estado de São Paulo não foram criadas Escolas Normais Regionais,
tampouco Escolas Normais Rurais.
De acordo com o estudo organizado por Lourenço Filho,
requerido pela UNESCO, a distribuição das Escolas Normais e dos
Cursos Normais no Brasil, em 1951, pode ser analisada conforme
mostra o Quadro 16.
158
Quadro 16 - Número de Cursos Normais Regionais e Escolas Normais 1951
Estados Cursos Regionais Escolas Normais Total de Cursos
Alagoas 2 4 6
Amazonas 6 4 10
Bahia 2 12 14
Ceará 12 12 24
Espírito Santo 1 13 14
Goiás 6 16 22
Maranhão 1 1 2
Mato Grosso 0 3 3
Minas Gerais 9 124 133
Pará 2 4 6
Paraíba 8 8 16
Paraná 8 16 24
Pernambuco 9 11 20
Piauí 1 4 5
Rio Grande do Norte 0 2 2
Rio Grande do Sul 2 27 29
Rio de Janeiro 0 20 20
Santa Catarina 38 12 50
São Paulo 0 135 135
Sergipe 2 2 4
T. do Acre 2 2 4
T. do Amapá 1 0 1
T. do Guaporé 1 1 2
T. do Rio Branco 1 0 1
Distrito Federal 0 11 11
Totais
114 444 558
Fonte: Lourenço Filho (1953, p. 72).
159
Os dados expostos no Quadro 16 revelam que havia, no
Brasil, em 1951, um total de 558 escolas normais, sendo 114 cursos
regionais (ou rurais) e 444 escolas normais (segundo ciclo). Tal
crescimento esteve alicerçado na implantação da Lei Orgânica do
Ensino Normal, como uma iniciativa da política federal para a
preparação de professores primários. Nessa perspectiva, a
[...] reorganização dos sistemas estaduais no sentido de adequá-
los à Lei Orgânica deu-se paralelamente ao considerável surto de
crescimento das escolas normais, que acompanha a política
expansionista da rede escolar implementada no período
desenvolvimentista em decorrência da ampliação da demanda.
(TANURI, 2000, p. 77).
Desse modo, os dados evidenciaram que vários estados
apresentavam situação diversa quanto à questão da formação de
professores primários, sobretudo para escolas rurais. Pernambuco e
Paraná, por exemplo, são duas unidades federativas situadas em
regiões distintas geograficamente no Brasil, com processos de
desenvolvimento político e econômico diferenciado, porém, ambos
criaram Escolas Normais Regionais de habilitação de docentes rurais
como demonstram os números acima, assim como o estudo realizado
por Azevedo et al. (2020).
Por outro lado, o estado de São Paulo não adotou as políticas
de formação específica para o meio rural e fez o investimento na escola
normal, de modo que na década de 1950, conforme os dados do
Quadro 17, observa-se um período de maior abertura de escolas
normais. Nota-se que não só o Estado fez investimentos, como
também a rede privada. Foram criados nesse período um total de 261
160
estabelecimentos de formação de professores primários, distribuídos
por 125 municípios distintos e divididos de acordo com sua jurisdição
em: 23 municipais, 96 oficiais, 141 livres e uma rural. Sendo apenas
na capital 69 estabelecimentos, dos quais 10 eram oficiais e 59 livres.
Quadro 17 - Escolas Normais no estado de São Paulo na década de 1950
Ano
Nº de
Escolas
por ano
Modalidade
de Escola
Normal
Municípios
1950 31
Oficial
São José do Rio Pardo, São José do Rio Preto,
Ituverava, Araraquara, Amparo, Araras, Avaré,
Ibitinga, Penápolis, Pompéia, São João da Boa
Vista, São Joaquim da Barra, Tupã, Itararé,
Matão, Nova Granada, Paraguaçu Paulista,
Presidente Venceslau, Registro, São Vicente,
Tanabi, Capital (Ipiranga e Lapa)
Livre
Araçatuba, Campinas (2), Catanduva, Franca,
Itapetininga, Capital (2)
1951 14
Oficial
Bragança Paulista, Socorro, Capital (Pinheiros),
Campinas (Carlos Gomes) e Padre Anchieta na
Capital
54
Livre
Adamantina, Assis, Guararapes, Lucélia, Marília,
Ribeirão Preto, São Caetano do Sul, Valparaízo,
São Paulo
1952 37
Oficial
Campos de Jordão, Santo André, São Bernardo
do Campo, Monte Aprazível, Capital
(Belenzinho)
Municipal
Cachoeira Paulista, Igarapava, Lençóis Paulista,
São Simão, Votuporanga
Livre
Araçatuba, Campinas (2), Franca, Jaboticabal,
Presidente Prudente, Rio Claro, Santos (2), Santo
Amaro, Capital (17
55
)
54
Todas as escolas normais oficiais em destaque no Quadro 17, foram transformadas em
Instituto de Educação, nas respectivas datas.
55
Conforme consta nas Leis e Decretos do estado de São Paulo, as 17 escolas normais criadas
na Capital em 1952 receberam as seguintes nomenclaturas: Escola Normal Livre Salete;
Escola Normal Livre Riachuelo; Escola Normal Livre São Vicente de Paulo; Escola Normal
Livre Eduardo Prado; Escola Normal Livre Campos Salles; Escola Normal Livre Santa
Marcelina; Escola Normal Livre Santa Ignês; Escola Normal Livre São José; Escola Normal
161
1953 53
Oficial
Andradina, Atibaia, Ourinhos, Rancharia,
Dracena, Osvaldo Cruz, Batatais, Araraquara,
Bauru, Bebedouro, Botucatu, Itapetininga, São
José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Franca,
Pirassununga, São Carlos, Guaratinguetá, Tatuí,
Piracicaba, Santa Cruz do Rio Pardo, Jaú,
Presidente Prudente
,
Casa Branca, Jundiaí
Municipal
Andradina, Americana, Cajuru, Iguape,
Mirandópolis
Livre
Bauru, Bastos, Batatais, Botucatu, Jundiaí, Itú,
Limeira, Marília, Mogi-Mirim, Ribeirão Preto
(2), Rio Claro, Santo André, São José do Rio
Pardo, São José do Rio Preto, Sorocaba,
Piracicaba, Capital (6)
1954 45
Oficial
Americana, Cafelândia, Pacaembu, Promissão,
Ribeirão Bonito, Santa Barbara D' Oeste, Suzano,
Votuporanga, Capital (Penha, Mooca, Vila
Mariana)
Municipal
Capão Bonito, Conchas, José Bonifácio,
Pedregulho
Livre
Agudos, Bastos, Batatais, Catanduva,
Guaratinguetá, Jardinópolis, Jaú, Laranjal
Paulista, Ourinhos, Ribeirão Preto, Santos, São
Carlos, São João da Boa Vista, Suzano,
Taquaritinga, Taubaté, Tupã, Capital (13)
1955 16
Oficial
Cajuru, Capital (2)
Livre
Barretos, Campinas, Guaratinguetá, Moji-Guaçu,
Promissão, São José do Rio Preto, Capital (7)
1956 25
Rural
Piracicaba
Oficial
Serra Negra
Municipal Fernandópolis, Pôrto Feliz, Quatá, Martinópolis
Livre
Adamantina, Araraquara, Birigui, Iacanga, Mogi
das Cruzes, Mogi Mirim, Ribeirão Preto, Santos,
São Bernardo do Campo, Capital (10)
1957 14 Oficial
Penápolis, Taquaritinga, Capital (Escola Normal
Fernão Dias Pais)
Livre Nossa Senhora de Sion; Escola Normal Livre de Assunção de São Paulo; Escola Normal
Livre Maria Imaculada; Escola Normal Livre São Paulo; Escola Normal Livre do Colégio
Batista Brasileiro; Escola Normal Livre do Ipiranga; Escola Normal Livre Manoel da
Nóbrega; Escola Normal Livre Modelo; Escola Normal Livre anexa ao Colégio Sacrê-Coeur
de Marie.
162
Municipal
Bariri, Regente Feijó, Santo Anastácio,
Sertãozinho, Santa Adélia
Livre
Araraquara, Campinas, Garça, Lins, Taubaté,
Piquete
1958 21
Oficial
Itapira, Orlândia, Itápolis, Mococa, Itapeva,
Capivari, Bilac, Monte Azul Paulista, Lucélia,
Caconde, Lençóis Paulista, Fernandópolis, Ibirá,
Martinópolis, Getulina, Iguapé
Livre
Bauru, Lorena, Santo André, Capital (2)
1959 6
Oficial
Mogi Mirim, Valparaízo, São Caetano do Sul,
São Pedro, Pederneiras
Livre
Capital
Fonte: Elaborado pela autora com base nas Leis e Decretos do estado de São Paulo entre
1950-1959 e Mascaro (1956, p. 27-28).
Analisando-se os municípios em que as escolas foram criadas,
nota-se que a maioria estava fora da capital do estado, o que
demonstrou a interiorização do Ensino Normal no estado. É preciso
destacar, ainda, que o processo de expansão dos IEs pelo interior do
estado se dá a partir de 1951, conforme pode ser verificado pelas
cidades em destaque acima.
Nessa perspectiva, o estudo Labegalini (2009, p. 87) apontou
que a expansão dos IEs do estado de São Paulo ocorreu mediante à
transformação em institutos de educação, de Escolas Normais,
Colégios Estaduais e Escolas Normais ou, ainda, de Ginásios
Estaduais e Escolas Normais.
Assim, na década de 1950, na euforia desenvolvimentista, a
modernização econômica influenciou a esfera educacional com a
unificação das escolas normais que, juntamente com a equivancia
de todos os cursos médios, permitiram o acesso ao ensino superior,
descaracterizando-se como cursos profissionalizantes para o
magistério primário.
163
A ideia de oferecer igualdade de oportunidades aos alunos que
trabalhavam no período diurno favoreceu abertura de cursos normais
noturnos, que seguiu o mesmo currículo e estrutura dos cursos
diurnos, com duração de quatro anos. O objetivo era garantir aos
alunos a realização das atividades, sobretudo, o cumprimento das
atividades práticas no curso primário anexo que funcionava apenas no
período diurno (ALMEIDA, 2016; TANURI, 2000).
Contudo, o estudo de Mascaro (1956) intitulado O ensino
normal no estado de São Paulo demonstrou que a expansão das escolas
normais não era desejável, sobretudo para com a formação feminina
moldada às tarefas do lar e de criação dos filhos, considerada um
desvio de função e justificativa para o aumento do número de Escolas
Normais.
Com base no grande número existente de estabelecimentos de
ensino normal (Gráfico 10), Mascaro (1956) sustentava o discurso de
que não havia a necessidade de criar escolas noturnas particulares no
estado de São Paulo, de modo que caberia à administração impedir as
solicitações para autorização de funcionamento de tais cursos, já que
atendia apenas a interesses pessoais ou de grupos.
Gráfico 10 - Número de estabelecimentos de ensino normal no estado de São Paulo1956
Fonte: Mascaro (1956, p. 47).
164
De acordo com os dados apresentados, houve maior iniciativa
por parte do sistema de ensino particular em criar curso de formação
de professores primários no estado e menor participação dos
municípios. Nessa conformidade, Basso (2018, p. 17) salienta que as
escolas normais livres ultrapassaram em quantidade as oficiais,
demonstrando [...] o processo de transferência de parte da
responsabilidade pela formação docente, do Estado para iniciativas
não governamentais”.
Diante do exposto, a ação do setor privado foi determinante
para atender os municípios paulistas que reivindicavam cursos de
formação para o magistério, sobretudo, para solucionar a falta de
professores. Com isso, pode-se considerar São Paulo, o estado com o
maior número de estabelecimentos que ofereceram a formação de
professores no Brasil, o que demonstra o grande número de
normalistas, como pode ser analisado no Quadro 18.
Quadro 18 - Corpo docente do ensino primário público1957
Estados
Corpo docente com regência de classe
Ensino Estadual Ensino Municipal
Normalist
a
Não
normalista
Normalist
a
Não normalista
Acre 49 150 1 38
Alagoas 2 87 70 897
Amapá 83 91 - -
Amazonas 238 519 - 23
Bahia 4.916 14 106 2.596
Ceará 1.618 1.202 143 3.652
Distrito Federal - - 4363 -
Espírito Santo 1.395 607 1 371
Goiás 678 1.475 38 492
165
Maranhão 403 207 61 1.083
Mato Grosso 340 1.136 44 206
Minas Gerais 10.923 3.858 632 7.289
Pará 656 1.618 122 567
Paraíba 604 1.081 18 782
Paraná 2.033 4.051 84 3.110
Pernambuco 2.163 129 319 3.567
Piauí 454 453 30 677
Rio Branco 20 10 - -
Rio de Janeiro 3.053 837 107 1.889
Rio Grande do
Norte
390 1.018 3 658
Rio Grande do Sul 5.968 998 481 7.675
Rondônia 29 89 - -
Santa Catarina 2.627 2.568 215 1.631
São Paulo 26.779 29 4121 707
Sergipe 283 475 53 380
Fonte: BRASIL (1957, p. 5-7).
É diante desse cenário estatístico que se pode dar visibilidade
às políticas de expansão do ensino normal para a formação de
professores no estado de São Paulo. Os dados permitiram verificar
que os docentes que lecionavam nas escolas de ensino público
primário, no ano de 1957, no estado de São Paulo, se comparados a
outras regiões do Brasil, eram em sua maioria habilitados para o
exercício do magistério. O que se deduz é que cada estado possuía, ao
menos em parte, uma organização e iniciativas próprias de habilitação
de professores, norteadas pelas condições e particularidades de
desenvolvimento econômico. Nesse caso, permite ver como esse país
166
se configura de forma diferente às condições de vida, de trabalho e
formação.
O elevado número de Escolas Normais no estado de São
Paulo, sobretudo, as Normais Livres, causou certa preocupação com
relação à qualidade do ensino ofertado. Desse modo, o problema da
má qualidade da formação de professores foi, para Vicentini e Lugli
(2009), decorrente do despreparo dos alunos que se destinavam ao
Ensino Normal, pois eram admitidos estudantes advindos de
qualquer curso profissionalizante (vocacionais) de primeiro ciclo ou
do ginásio. Am disso, há, também, o problema da baixa exigência
de muitas instituições com relação ao nível de conhecimento para a
diplomação e a falta de articulação entre as diversas disciplinas que
compunham o currículo.
No começo da década de 1960 foi promulgada a primeira Lei
de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional (Lei nº 4.024, de
20 de dezembro de 1961). Entretanto, não produziu inovações
expressivas para o ensino normal. Permaneceu a mesma organização
anterior à legislação com a preparação dos professores do ensino
obrigatório (de 1ª a 4ª séries), mas conservando seu sistema dual.
Dos avanços significativos, registrou-se a equiparação de todas
as modalidades de ensino médio, assim como a descentralização
administrativa e a flexibilidade curricular, que permitiriam o
rompimento da uniformidade curricular das escolas normais.
Também foi sancionada a obrigatoriedade escolar primária de seis
anos de duração acrescentando ao curso primário um curso
complementar de duas séries (SOUZA, 2009; TANURI, 2000).
Em decorrência da mudança política no Brasil com o golpe
militar de 1964, o estado de São Paulo promoveu algumas reformas
167
para aperfeiçoar a formação de professores oferecida nas Escolas
Normais, sancionando o Decreto nº 45.159-A, de 19 de agosto de
1965 (regulamento interno dos estabelecimentos de ensino
secundário e normal); o Decreto nº 47.404, de 19 de dezembro de
1966 (normas regimentais dos estabelecimentos estaduais de ensino
secundário e normal) e o Decreto nº 50.133, de 2 de agosto de 1968
(regulamentou a Lei nº 10.038, de 5 de fevereiro de 1968, na parte
relativa ao ensino colegial: secundário e normal).
No período de tais reformas, precisamente entre 1960 e 1967,
ocorreu no estado mais uma expansão do ensino normal. Nesse
período, foram criados 154 estabelecimentos de ensino normal, dos
quais 91 eram oficiais, 51 livres e 12 municipais, como pode ser
verificado no Quadro 19.
Quadro 19 - Escolas Normais no estado de São Paulo (1960-1967)
Ano
Nº de
Escolas
por ano
Modalidade
de Escola
Normal
Municípios
1960 13
Oficial
Santa Barbara d’Oeste, São José do Rio Pardo,
o Manoel, Americana, Cruzeiro
56
, Leme,
Barra Bonita, Duartina, Adamantina
Livre Campinas, Capital (3).
1961 25
Oficial
Altinópolis, Itatinga, São Sebastião da Grama,
Mirassol, Lins, São João da Boa Vista, São José
dos Campos, Birigui, Bernardino de Campos,
Poá, Tatuapé, Neves Paulista, Taquarituba,
Itariri, Pedro de Toledo, Rinópolis, Capital
(Nossa Senhora do Ó).
Livre
Americana, Flórida Paulista, Jundiaí, São
Caetano do Sul, Osasco, Capital (3).
56
Todas as escolas normais oficiais em negrito, no Quadro 19, foram transformadas em
Instituto de Educação, nas respectivas datas.
168
1962 12
Oficial
José Bonifácio, Ferraz de Vasconcellos, Iacanga,
Pôrto Ferreira, Tupi Paulista, Olímpia, Taubaté,
Pereira Barreto, Tabatinga, Capital.
Municipal Presidente Bernardes
Livre Pôrto Ferreira
1963 17
Oficial
Tabatinga, Uchôa, Piracicaba (em Vila Rezende),
Jales, Flórida Paulista, Piraju, Guariba, Palestina,
Sertãozinho, Tremembé (município de Taubaté),
Itanhaém, Miracatu, Caraguatatuba, Guará,
Guarujá, Capital.
Livre Sorocaba.
1964 26
Oficial
Aparecida, Mogi Guaçu, Pitangueiras, Osasco,
São Bento do Sapucaí, Guaraçaí, Bariri, Cunha,
Vargem Grande do Sul, Colina.
Municipal
Porangaba
Livre
Boituva, Lorena, Penápolis, Bariri, Presidente
Prudente, Atibaia, Avaré, Capital (8).
1965 31
Oficial
Presidente Venceslau, Novo Horizonte, Itaberá,
Cubatão, Morro Agudo, Guaíra, Chavantes,
Junqueirópolis, Potirendaba, Queluz, Itapecerica
da Serra, Vera Cruz, Araraquara, Itatiba,
Miguelópolis, Gália, Macaubal, Capital (Bairro do
Itaim), Catanduva (Bairro de Higienópolis).
Municipal Miguelópolis, Iepê, Itaporanga, Itaberá.
Livre
Campinas, Santos, Marília, Tatuí, Presidente
Epitácio, Capital (3).
1966 21
Oficial Campinas
Municipal
Apiaí, Guaraçaí, Itatiba, Cunha, Américo de
Campos, São Luiz do Paratinga.
Livre
Jales, Santos, Santo André (2), São Bernardo do
Campo, São Carlos, São Vicente, Capital (7).
1967 9 Oficial
Buritama, Santa Branca, Itapuí, Ipauçu, Itajobi,
Braúna, São José do Rio Preto, Valentim Gentil,
Borborema.
Fonte: Elaborado pela autora com base nas Leis e Decretos do estado de São Paulo entre
1960-1967.
Conforme pode ser examinado no Quadro 19, pela primeira
vez, desde a década de 1920, o número de Escolas Normais oficiais é
169
superior àquele de iniciativa da rede de ensino particular. O ano de
1967 registrou as últimas escolas normais criadas no estado, sendo
todas do sistema de ensino estadual.
As Escolas Normais bifurcaram-se em curso Colegial,
responsáveis em preparar os alunos para o ingresso nos ensinos
superiores e os Cursos Normais, de caráter profissionalizante que
habilitavam os professores para as escolas primárias do estado.
O currículo da Escola Normal, em 1965, contemplava as matérias
descritas no Quadro 20.
Quadro 20 - Currículo da Escola Normal, em 1965
Modalidade Matérias
Carga Horária semanal
1ª série 2ª série 3ª série
Obrigatórias
Português
3
3
3
Matemática 3 ---- ----
Ciências Físicas e Biológicas 3 ---- ----
História 3 ---- ----
Geografia 3 ---- ----
Complementares
Obrigatórias
Metodologia e Prática 3 4 6
Psicologia da Educação 3 4 4
Sociologia da Educação ---- 4 ----
Biologia Educacional ---- 4 ----
Optativas
Desenho Pedagógico 1 2 3
Filosofia e História da
Educação
---- ---- 3
Práticas Educacionais
Religião 1 1 1
Educação Física 1 1 1
Música e Canto Orfeônico 1 1 2
Artes Aplicadas ---- 1 2
Fonte: SÃO PAULO (1965, p. 16).
170
As disciplinas de formação geral voltaram a ser introduzidas no
curso Normal, regulamentadas com a criação do Conselho Estadual de
Educação
57
- CEE - (Lei nº 7.940, de 7 de junho de 1963). O CEE/SP
fixou nos currículos das Escolas Normais, matérias complementares,
bem como disciplinas optativas que seriam escolhidas pelos
estabelecimentos de ensino. Houve ainda acréscimo de disciplinas de
formação técnico-pedagógica.
O Decreto nº 47.404/66 conferiu aos estabelecimentos das
Escolas Normais a prerrogativa de escolha de duas disciplinas
optativas, respeitando as seguintes matérias: Introdução à Filosofia;
Pedagogia Geral; Filosofia e História da Educação; Línguas
Modernas; Estatística Aplicada à Educação; Música e Canto
Orfeônico; Desenho Pedagógico; Artes Aplicadas; Educação Física,
Recreação e Jogos; Técnicas Comerciais; Técnicas Agrícolas;
Economia Doméstica; Técnicas Audiovisuais Aplicadas à Educação
Artes Plásticas (SÃO PAULO, 1966).
O ensino das disciplinas poderia ser ministrado em uma ou
mais série, ao passo que os estágios passaram a ser realizados nas
escolas rurais e experimentais no estado de São Paulo, visando
ampliar a visão e a experiência profissional dos futuros professores
(ALMEIDA, 2016, p. 12).
O Decreto nº 50.133/68 definiu a formação de professores
para o ensino primário em quatro anos de duração; para o ensino pré-
primário e primário especializado em um ano e o curso de preparação
de pessoal técnico e administrativo para o ensino primário, um ano
ou dois anos de duração, em nível de pós-graduação.
57
O Conselho Estadual de Educação (CEE) foi criado para deliberar sobre assuntos
pertinentes ao ensino primário, médio e superior (SÃO PAULO, 1963).
171
O referido decreto determinava às Escolas Normais a
obrigatoriedade de um curso primário de aplicação como campo de
experiência e de aplicação de técnicas didáticas para os futuros
professores. Além disso, a 3ª série foi organizada por áreas de estudos
e a 4ª série, fundamentalmente, aglutinava as disciplinas profissio-
nalizantes de conteúdo pedagógico que voltou a funcionar em quatro
anos. Ademais, a Resolução nº 36/1968 instituiu um currículo
comum para as duas primeiras séries do ciclo colegial com disciplinas
obrigatórias e complementares (ALMEIDA, 2016).
Entre as reformas deste período, a Lei nº 5.540, de 28 de
novembro de 1968, modificou o ensino superior (curso de
Pedagogia), fracionando-o, visando à formação dos especialistas em
educação, de modo a habilitar o docente do curso normal, bem como
o professor primário em nível superior. Para Tanuri (2000, p. 79):
Na conjuntura histórica pós-64, as preocupações da literatura
educacional, dos conteúdos curriculares e dos treinamentos dos
professores deslocam-se principalmente para os aspectos internos
da escola, para os meios destinados a modernizara pratica
docente, para a operacionalizaçãodos objetivos instrucionais
e comportamentais , para o planejamento, e coordenação e o
controle das atividades, para os métodos e técnicas de
avaliação, para a utilização de novas tecnologias de ensino, então
referentes sobretudo a recursos audiovisuais. Tratava-se de
tornar a escola eficiente e produtiva, ou seja, de torná-la
operacional com vistas à preparação para o trabalho, para o
desenvolvimento econômico do país, para a segurança nacional.
(TANURI, 2000, p. 79).
172
Com a Lei nº 5.692/1971, o modelo de formação de
professores foi em grande parte descaracterizado. Esta lei alterou
profundamente a estrutura e organização do ensino no Brasil. O
ensino passou a denominar-se de 1º grau, compreendendo o primário
e o ginásio numa escola única de oito anos; implantou também a
profissionalização compulsória no ensino de segundo grau,
transformando a escola normal numa das habilitações profissionais
deste nível de ensino (SCHEIBE, 2008; SOUZA, 2009).
Com a reforma, os Institutos de Educação deixaram de existir
e a formação de professores para o curso normal passou a ser ofertada
apenas nos cursos de Pedagogia. A formação de professores e
especialistas para o ensino de 1º e 2º passaram a ser feitas
[...] em níveis que se elevem progressivamente, ajustando-se às
diferenças culturais de cada região do País, e com orientação que
atenda aos objetivos específicos de cada grau, às características
das disciplinas, áreas de estudo ou atividades e às fases de
desenvolvimento dos educandos. (BRASIL, 1971, p. 6).
Por esta razão, a Lei exigiu como formação mínima para o
exercício do magistério:
a) no ensino de 1º grau, da 1ª à 4ª séries, habilitação específica
de 2º grau; b) no ensino de grau, da 1ª à 8ª séries, habilitação
específica de grau superior, ao nível de graduação, representada
por licenciatura de 1º grau obtida em curso de curta duração; c)
em todo o ensino de 1º e 2º graus, habilitação específica obtida
em curso superior de graduação correspondente a licenciatura
plena. (BRASIL, 1971, p. 6).
173
A Lei 5.692/71 garantia estudos adicionais de um ano em
instituições superiores que habilitavam os professores para o exercício
do magistério até a 6ª série. Do mesmo modo, os docentes
diplomados por licenciatura curta, mediante estudos adicionais,
poderiam exercer o magistério até a 2ª série do segundo grau. O
currículo estava estruturado em formação geral, obrigatória em nível
nacional, composto por disciplinas da área de comunicação e
expressão, estudos sociais e ciências e uma parte de formação especial
(TANURI, 2000). Foram incluídas no currículo de Habilitação
Específica para o Magistério (HEM) as disciplinas de Educação Moral
e Cívica, Educação Cívica, Educação Artística e programas de saúde
como matérias obrigatórias do currículo, além do Ensino Religioso de
caráter facultativo.
Os currículos do ensino de 1º e 2º graus foram organizados
com um núcleo comum, obrigatório em âmbito nacional, e uma
parte diversificada para atender, conforme as necessidades e
possibilidades concretas, às peculiaridades locais, aos planos dos
estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos(BRASIL,
1971, p. 1).
Já o curso HEM introduziu mudanças na prática de ensino e
no estágio supervisionado. Segundo Almeida (2016), ficou
estabelecido pelos pareceres nº 45/1972 e nº 349/1972 que a
disciplina de didática era a responsável por fundamentar a
metodologia de ensino que se desenvolveria na forma de estágio
supervisionado a ser realizado nas escolas oficiais e particulares. Os
estágios, segundo Tanuri (2000), se restringiam apenas à observação,
mesmo com as prescrições legais, com o propósito de que fossem
174
incluídas a observação, a participação e a regência, eram realizados
apenas formalmente.
Como resultado do agravamento nas condições de formação
docente em âmbito nacional, a queda nas matrículas da HEM e a
desvalorização da profissão, o Ministério da Educação (MEC) e as
Secretarias Estaduais redefiniram a formação de professores,
propondo, em 1982, o projeto dos Centros Específicos de Formação
e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM). (VICENTINI; LUGLI,
2009; TANURI, 2000). O projeto visou fortalecer as condições de
formação de professores para que pudessem habilitar os novos
docentes em nível médio.
Em face do exposto, muitas foram as reformas elaboradas para
que se organizassem os cursos de formação no estado de São Paulo.
Sem dúvida, a Escola Normal foi a responsável por formar o professor
primário no estado de São Paulo, especificamente até 1971, quando
a Lei transformou o Curso Normal em Habilitação Específica para o
Magistério, como uma proposta de profissionalização do ensino do
2º grau. Outras reformas posteriores à Lei nº 5.692/71 vieram, assim
como outros estabelecimentos que se encarregaram da formação dos
professores. Entretanto, para o presente trabalho não será abordado,
uma vez que o objetivo desse tópico foi apresentar como o estado
paulista teve uma grande expansão de escolas normais ao longo do
período delimitado para a pesquisa e, como consequência, muitos
professores formados.
175
3.2 Professor rural:
uma formação ausente no estado de São Paulo?
Concluído o tópico anterior, ficou evidenciado que a Escola
Normal e os Institutos de Educação foram responsáveis pela formação
de grande parte dos professores do ensino público primário no estado
de São Paulo. Em realidade, se a expansão do ensino normal foi tão
grande, atingiu ou não os professores rurais? Em vista disso, retoma-
se a questão: Afinal, que tipo de professor promoveu o ensino da
população rural? Eram professores leigos ou formados? Nesse sentido,
para buscar respostas a essas questões foi preciso retomar
circunstâncias históricas que marcaram o contexto rural.
Durante a Primeira República, a economia no Brasil foi
marcada por um modelo econômico agrário-exportador. Contudo, a
alfabetização era valorizada apenas como moeda eleitoral, com
investimentos distintos dependendo do estado. Assim, a educação
rural no Brasil, por motivos socioculturais, de acordo com Leite
(1999), sempre foi relegada a planos inferiores, de tal modo que a
expansão do ensino público elementar no país privilegiou a população
urbana em detrimento da rural, a despeito da permanência de uma
grande concentração populacional no campo até a década de 1960
(SOUZA, 2014).
Nesse período, intensificou no país a migração interna para os
centros urbanos, demandando soluções para o setor educacional. A
partir de 1920 ocorreram significativas mudanças para as populações
residentes no campo, pois o ensino rural, antes negligenciado, passou
a ganhar visibilidade e a ser debatido em todo o país, até na I
Conferência Nacional de Educação, promovida pela Associação
176
Brasileira de Educação (ABE), em 1927, e na III Conferência
Nacional de Educação, em 1929, em defesa de um ensino voltado
especificamente para a população rural (ÁVILA, 2013; SÁ; SILVA,
2014).
É nesse contexto que se consolida no Brasil o Movimento pela
ruralização do ensino
58
, que [...] tinha como objetivo propagar
uma escolarização que integrasse o homem às condições regionais e o
fixasse no campo” (SÁ; SILVA, 2014, p. 61).
Nesse sentido, a ruralização do ensino constituiu-se como
[...] um movimento político integrado por agência e agentes dotados
de uma inserção determinada na estrutura social agrária e sustentado
por canais específicos de organização, expressão e difusão de
demandas” (MENDONÇA, 1997, p. 13).
O movimento esteve calcado no ideário que vinha sendo
construído por alguns intelectuais e educadores desde a década de
1920, que defendiam
[...] uma escola adaptada e sempre referida aos interesses e
necessidades hegemônicas no setor rural. Esse pensamento
privilegiava o papel da escola na construção de um ‘homem
novo’, adaptado à nova realidade brasileira e de uma relação
‘homem rural/escola pretensamente nova. (PRADO, 2000,
p. 53-54).
Sob tal prisma, pensava-se em uma escola que atendesse às
orientações da ruralização do ensino de modo a ser [...] integrada às
58
Nesta tese optou-se em utilizar o termo “ruralização do ensino”, com base no estudo de
Moraes (2019), em vez de “ruralismo pedagógico”, como vinha sendo tratado na produção
historiográfica sobre o tema.
177
condições locais, regionalistas, cujo objetivo maior era promover a
fixação do homem ao campo” (MAIA, 1982, p. 27).
Apesar disso, a educação rural no território brasileiro ganhou
centralidade somente a partir da Revolução de 1930, quando o
governo passou a tratá-la como direito social na Constituição de
1934. Vários fatores, segundo Ávila (2013, p. 31-32), contribuíram
para o [...] estado de ‘abandono’ e a condição de inferioridade a que
foi submetido o ensino rural nas primeiras décadas do regime
republicano, entre os quais a posição de relevo a que foram alçadas as
cidades no processo de modernização da sociedade brasileira”.
Para Ávila (2013), a ideia de um modelo educativo voltado
para a vida rural em oposição a uma escola comum na cidade
ocasionou debates em torno da adoção dos modelos de escola rural
que deveriam ser difundidos no país. Havia os renovadores da
educação, adeptos da Escola Nova e os ruralistas. Aqueles que
defendiam uma escola única e comum para todos, independen-
temente do local em que estivessem inseridas, estes, ao contrário,
defendiam que o espaço rural deveria comportar uma escola típica
rural, com um ensino de caráter vocacional agrícola (ORIANI, 2017).
As discussões sobre a escola rural nas primeiras décadas do
século XX, para Oriani (2017), estiveram relacionadas com a
denúncia das falhas e das condições insalubres de seus
funcionamentos. Esperava-se que as escolas do meio rural influen-
ciassem toda a comunidade [...] melhorando-a e possibilitando-lhe a
prática e desenvolvimento de bons hábitos, sejam recreativos, sociais,
higiênicos, de economia ou culturais (ANDRADE; PEIXOTO,
2005, p. 4).
178
Coadunam-se com essas reflexões as propostas ruralistas, ao
defenderem uma escola primária específica para o meio rural que
atendesse às necessidades da população do campo. Entretanto, no
estado de São Paulo, somente entre as décadas de 1930 e 1960 que as
políticas dos governos estaduais passaram a ser impactadas nos
debates entre os ruralistas e os defensores da escola comum (SOUZA,
2009, 2016).
A disseminação do ensino primário no meio rural no estado
de São Paulo, segundo Souza e Ávila (2014), enfrentou vários
problemas pedagógicos e administrativos: a falta de professores; a
precariedade dos locais de funcionamento; as condições de
organização das escolas isoladas
59
; a baixa frequência dos alunos e o
abandono escolar, ocasionados pelo trabalho nas lavouras.
A escola primária rural [...] não atendia às necessidades do
trabalho rural, uma vez que ela estava ancorada em valores da vida
citadina reforçando, assim, o apreço pela cultura urbana ao invés de
favorecer a mentalidade agrícola que deveria prevalecer na população
rural (MENNUCCI, 2006
60
apud SOUZA-CHALOBA, 2017, p.
183).
Nessa perspectiva, Mennucci, no entendimento de Souza-
Chaloba (2017, p. 183), defendia a ideia de uma escola primária [...]
com a feição rural impregnada dos valores do meio e capaz de combater
o êxodo do campo”. Era apenas formar na escola normal rural outro
59
Foram denominadas escolas isoladas as escolas primárias com uma única sala de aula, com
alunos de diferentes níveis de adiantamento, regida por um só professor (SOUZA, 2016).
60
De acordo com Ávila (2013), Sud Mennucci é considerado um dos mais completos
intelectuais piracicabanos do século XX. Liderou o pensamento ruralista. Foi diretor geral do
ensino do estado de São Paulo por três vezes (ÁVILA, 2013; SOUZA; ÁVILA, 2014).
179
tipo professor, as escolas normais urbanas [...] só produzem o
professor citadino(MENNUCCI, 2006, p. 163).
Desse modo, entre as décadas de 1930 e 1970, no Brasil,
intensificaram-se as propostas e iniciativas de criação de instituições
para a formação de professores rurais, em virtude do
[...] crescente êxodo no campo, a disseminação dos ideais
ruralistas, as políticas implementadas pelo governo federal para
contenção do fluxo migratório e saneamento do interior, a
expansão do ensino primário nas zonas rurais de iniciativa dos
governos estaduais e municipais e as políticas nacionais para a
educação rural. (SOUZA-CHALOBA, 2017, p. 181).
A proposta era diminuir o êxodo rural com subsídios e
melhorias no campo. Para Silva (1970), era importante preparar o
professor que exercia sua função na escola primária rural. Seria
necessário, no entanto, oferecer-lhe uma formação profissional
especializada para que pudesse ter consciência das vantagens e das
dificuldades a serem enfrentadas no decorrer da profissão, além do
orgulho da missão que iria desempenhar.
Para ser professor de escola primária rural era necessário
receber uma formação profissional especializada, uma vez que o “[...]
mestre que se forma para ambiente urbano, desconhecendo a
realidade da vida rural, poderá servir para as cidades, mas não convém,
absolutamente, àquela zona” (SILVA, 1970, p. 25).
No caso do estado de São Paulo, de acordo com Souza-
Chaloba (2017), teve início no começo do século XX e se fortaleceu
a partir da tendência educacional propagada por alguns educadores
brasileiros, relacionada ao ruralismo pedagógico entre 1930 e 1960.
180
O principal propagador dos ideários ruralistas foi Sud Mennucci, que
buscou reformar o ensino primário rural e o ensino normal enquanto
fora Diretor Geral da Instrução Pública
61
paulista:
Sud Mennucci foi um grande defensor da Escola Normal Rural,
por depositar na formação de professores qualificados a esperança
de uma escola adaptada ao meio. Na visão desse educador, o
professor rural deveria dominar conhecimentos sobre
agricultura, higiene e enfermagem para que pudesse provocar
mudanças nos métodos de trabalho do agricultor, melhorar a
saúde do trabalhador e tornar-se um incentivador do progresso
do campo. (MAZZEU, 2001 apud SOUZA, 2009, p. 151).
Na opinião desse educador, o recrutamento dos professores
para o meio rural prejudicava o país, visto que no seu entendimento
o normalista é
[...] novato, apenas saído da forja das Normais, inexperiente e
inexperto, treinado em estabelecimentos de ensino urbano, onde
tudo é fácil e cômodo e onde pode por em jogo, com uma certa
probabilidade de sucesso, aquela psicologia de laboratório que
nos chega empacotadinha de fora e que, bem que mal, se ajusta
ao estudo das crianças que frequentam grupos escolares.
(MENNUCCI, 2006, p. 78).
O professor formado nas Escolas Normais não estava
preparado para o campo, sendo necessária a criação de Escolas
61
De acordo com Orani (2015), a primeira administração de Sud Mennucci data de
novembro de 1931 e maio de 1932, e a segunda entre 5 e 24 de agosto de 1933.
181
Normais Rurais, não apenas no estado de São Paulo, mas sobretudo,
no país:
As normais rurais se organizarão sob um tríplice ponto de vista:
o pedagógico, o higiênico ou, talvez melhor, o sanitário, e o
agrícola. Isso quer dizer que terão professores propriamente
ditos, professores-médicos e professores-agrônomos. Todos,
nessa casa, desde a cabeça diretora até o mais humilde servente
devem ter ‘mentalidade agrícola’ [...] Tais escolas tem de formar
professores quase á vida citadina, perenemente preocupados com
a maior eficiência do campo e de tal modo que se constituam em
leaders do núcleo em que vão servir. Terão noções amplas e claras
das atividades agrícolas e das necessidades higiênicas e sanitárias
de seus habitantes. Devem estar, sob qualquer aspecto, a
cavaleiro do meio circundante, uma espécie de consultor técnico
de toda a população a respeito dos mil problemas da vida rural.
(MENNUCCI, 1932, p. 128-129).
Desse modo, a partir da década de 1930 foram
implementadas algumas experiências visando melhorar a educação da
população do campo, tal como a criação da Escola Normal Rural em
Piracicaba, a instalação de granjas escolares e de grupos escolares
rurais.
Em 1932, Mennucci encaminhou, de acordo com Souza-
Chaloba (2017), ao Secretário de Estado da Educação e Saúde
Pública, uma proposta de projeto para a criação de cinco escolas
normais rurais no interior paulista, embasado, segundo Basso (2021),
no Decreto 5.335/32.
As ideias divulgadas por Mennucci no estado de São Paulo
resultaram no Decreto nº 6.047, de 19 de agosto, de 1933,
considerando a necessidade de formar normalistas aptos a exercerem
o magistério rural, prevendo a instalação da Escola Normal Rural em
182
Piracicaba. O decreto definiu um curso complementar de três anos e
um normal de quatro anos, de modo que compreendessem as
disciplinas do Quadro 21.
Quadro 21 - Currículo da Escola Normal Rural, em 1933
Curso Complementar (3 anos) Curso Normal (4 anos)
Português
Português
Francês e Inglês Matemática (Trigonometria e Mecânica)
Matemática (Aritmética, Álgebra e
Geometria)
Física
Geografia e História do Brasil Química
Ciências Físicas e Naturais Botânica
Agricultura prática
Geografia Econômica e História da
Civilização
Desenho Psicologia, Pedagogia e Didática
Música Tecnologia Agrícola
Educação Física e aulas de trabalhos
manuais femininos, rurais
Zootecnia
Agricultura Geral
Agricultura Especial
Economia Rural
Higiene, puericultura e profilaxia rural
Desenho
Música
Educação Física e aulas de trabalhos
manuais femininos, rurais
Fonte: SÃO PAULO (1933c, p. 1).
O curso complementar de três anos estruturava-se com uma
formação geral do normalista, uma vez que a disciplina de Agricultura
Geral e as aulas de trabalhos manuais femininos rurais era uma forma
de iniciação no meio rural. Já o curso normal de quatro anos
183
propiciava uma formação especializada de professores rurais, pois
tinha disciplinas técnicas em agricultura: Tecnologia Agrícola,
Zootecnia, Agricultura Geral, Agricultura Especial, Economia Rural,
Higiene, Puericultura e Profilaxia Rural. Além disso, os trabalhos
escolares deveriam ser realizados em dois períodos: um para a parte
prática, com aulas no campo e nos laboratórios; e o outro de aulas
teóricas, em classe. Para a prática e observação, a Escola Normal Rural
contaria com um grupo escolar rural como escola de aplicação. Para
se inscrever na Escola Normal Rural, o candidato precisava fazer o
exame de admissão e ter 14 anos completos. Apesar de todas as
prescrições estabelecidas na legislação, essa escola Normal Rural, no
município de Piracicaba, não chegou a ser instalada nesse período.
O Decreto nº 6.047/33 permitia a instalação de grupos
escolares e escolas vocacionais rurais no estado de São Paulo, tendo
em vista a formação de uma mentalidade escolar voltada para as
atividades agrícolas e pastoris. Desse modo, foram transformados em
grupos escolares rurais os grupos escolares de Butantan
62
e Arnaldo
Barreto de Tremembé (SÃO PAULO, 1933c).
Sem dúvida, Mennucci foi um grande defensor da Escola
Normal Rural no estado de São Paulo, bem como em todo o território
brasileiro. Em razão disso, o estado do Ceará, em Juazeiro do Norte,
no ano 1934, foi o primeiro estado brasileiro a materializar a ideia do
educador paulista com a criação de uma escola normal para a
formação de professores rurais.
62
De acordo com Souza e Moraes (2015, p. 282), nesse momento, no estado de São Paulo,
“[...] inicia a constituição de uma rede de escolas de ensino primário típico rural”,
especializado para a criança do meio rural.
184
De acordo com Araújo (2011, p. 241), Mennucci alertava
para os problemas acarretados pela ausência de uma educação rural e
profissionalizante, devendo [...] levar o brasileiro a se tornar o
homem adaptado ao meio em que vivia, fornecendo-lhe uma
mudança de mentalidade capaz de fazê-lo sentir e acreditar em sua
força criadora, na busca crescente da melhoria de vida(ARAÚJO,
2011, p. 241).
Posteriormente à criação e implantação da Escola Normal
Rural no estado do Ceará, outros estados brasileiros seguiram essa
iniciativa, tais como: Alagoas, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Rio
Grande do Sul (TANURI, 2000). No entanto, o estado de São Paulo
teve uma formação de professor primário rural peculiar, apesar das
tentativas frustradas de Sud Mennucci na criação de uma escola
normal rural de 2º grau especializada, onde prevaleceram os cursos
rápidos de especialização para professores rurais (SOUZA-
CHALOBA, 2017).
Em realidade, segundo Basso (2021, p. 9), faltavam [...] tato
às professoras rurais para se adaptarem à vida na roça, mas que não
era preciso que elas reproduzissem os costumes dos alunos do campo.
Desse modo, [...] não preconizava um professor de tipo rural, mas
um simpatizante da vida na roça que possuísse especialização técnica
(SOUZA-CHALOBA, 2017, p. 189).
No entanto, os primeiros cursos de Especialização Rural no
estado de São Paulo foram materializados em 1936, na gestão de
Almeida Júnior, em duas escolas normais do estado, sendo: na Escola
Normal Livre de Santa Rita do Passa Quatro e na Escola Oficial de
São Carlos (SOUZA; ÁVILA, 2014). Ainda em 1936, foram
ofertados os cursos de férias em Casa Branca e Guaratinguetá, cuja
185
finalidade consistia em orientar os professores rurais daquelas regiões
(BASSO, 2021).
Na década de 1940, os munícipios de Espírito Santo do
Pinhal e São Manoel realizaram cursos análogos junto a
estabelecimentos de ensino agrícola, com o intuito de [...] formar
um professor que além de ensinar a ler, escrever e contar, fosse capaz
de colaborar com a prevenção e trato de doenças, amenizando,
portanto, a carência de serviço de saúde no meio rural(BASSO,
2021, p. 11).
A Lei Orgânica do Ensino Normal de 1946 (Decreto-Lei nº
8.530/46), os programas implementados pelo Inep e o apoio aos
Estados para expansão do ensino primário no meio rural
contribuíram com a instalação de Escolas Regionais Rurais com a
finalidade de formar professores (SOUZA-CHALOBA, 2017).
O Decreto nº 17.698/1947 manteve os cursos de
especialização de professores que se dedicassem ao magistério rural,
visto que a formação do professor era ministrada nas Escolas Normais
e no Instituto de Educação Caetano de Campos. Não se cogitou a
criação do Curso Normal Regional, de 1º ciclo, no estado de São
Paulo, [...] possivelmente em virtude do desenvolvimento
educacional do estado e da existência de um elevado número de
escolas normais públicas e particulares de 2º ciclo (SOUZA-
CHALOBA, 2017, p. 191).
Em 1950, no estado de São Paulo, fomentou-se novamente a
instalação da Escola Normal Rural, por meio da Lei nº 881 (de 6 de
dezembro de 1950), com um curso pré-normal de um ano e um curso
de formação profissional de dois anos. O currículo de formação
profissional estabeleceu as seguintes disciplinas: Psicologia,
186
Pedagogia, Prática de Ensino, História da Educação, Biologia
Educacional, Sociologia Educacional e Rural, Economia Rural,
Música, Desenho Pedagógico, Trabalhos Manuais e Economia
Doméstica, Tecnologia Agrícola, Zootecnia, Agricultura geral e
especial, Higiene, Puericultura e Profilaxia Rural (SÃO PAULO,
1950, p. 1).
A lei determinava que as disciplinas de Higiene, Puericultura
e Profilaxia Rural, de Agricultura Geral e Especial e de Zootecnia
deveriam ser ministradas, respectivamente, por médico, engenheiro
agrônomo e veterinário, visando uma formação técnica para as
atividades agrícolas. Mesmo com as prescrições estabelecidas, mais
uma vez não passou de um projeto.
Houve, no estado de São Paulo, o interesse na criação de
escolas normais rurais, como mostram os registros do Quadro 22.
Quadro 22 -Projetos leis de criação e transformação de Escola Normal Rural no estado de
São Paulo 1953
Data
Projeto
Lei
Tipo Cidade
06/04/1953
Nº 59
Criação
Lins
06/04/1953
Nº 60
Criação
Andradina
06/04/1953
Nº 61
Criação
Franca
06/04/1953
Nº 62
Criação
São José do Rio Preto
06/04/1953
Nº 63
Criação
Marília
06/04/1953
Nº 64
Criação
Barretos
06/04/1953
Nº 65
Criação
Ribeirão Preto
06/04/1953
Nº 66
Criação
Campinas
06/04/1953
Nº 67
Criação
Piracicaba
06/04/1953
Nº 68
Criação
Santos
06/04/1953
Nº 69
Criação
Bauru
09/04/1953
Nº 117
Criação
Jaú
09/04/1953
Nº 118
Criação
Bariri
09/04/1953
Nº 129
Criação
Sertãozinho
09/04/1953
Nº 130
Criação
Orlândia
187
13/04/1953 Nº 157 Criação
Localidade a ser definida pelo Poder
Executivo
14/04/1953
Nº 166
Transformação
Lins
14/04/1953
Nº 167
Criação
Guaíra
14/04/1953
Nº 168
Transformação
Ribeirão Preto
14/04/1953
Nº 169
Criação
Igarapava
14/04/1953
Nº 170
Criação
Batatais
14/04/1953
Nº 176
Transformação
Franca
14/04/1953
Nº 176
Transformação
Barretos
14/04/1953
Nº 178
Criação
Fernandópolis
14/04/1953
Nº 180
Transformação
São Joaquim da Barra
14/04/1953
Nº 181
Transformação
Registro
16/04/1953
Nº 256
Criação
Suzano
22/04/1953
Nº 298
Criação
São José do Rio Preto
01/10/1953
Nº 1.184
Transformação
Jacareí
01/10/1953
Nº 1.184
Criação
Paraibuna
01/10/1953
Nº 1.185
Criação
São Sebastião
Fonte:Elaborado pela autora com base nas informações localizadas no site da ALESP:
http://www.al.sp.gov.br/leis/.
Com base nos dados, foram apresentados 24 projetos
63
de lei
por cidades paulistas que solicitavam a criação da Escola Normal
Rural e sete outros projetos que pleiteavam a transformação de uma
escola Normal existente em Normal Rural, porém, nenhum desses
projetos foram atendidos
64
. Todo esse esforço desprendido no estado
para a formação de professores primários rurais paulistas, para Souza-
Chaloba (2017, p. 189), foi decorrente do [...] processo de
democratização em curso no país e, sobretudo, das políticas para a
educação no campo implementadas pelo governo federal e estadual”.
Somente em 1956 foi aprovada a instalação, em Piracicaba, da
primeira e única Escola Normal Rural no estado de São Paulo, que
63
Os projetos de lei foram apresentados à Assembleia Legislativa na década de 1950.
64
Não foi possível ter acesso a informações específicas nos documentos sobre as razões pelas
quais esses projetos não foram materializados.
188
ocorreu mediante à promulgação do Decreto nº 25.781/56,
preconizando seu funcionamento de modo experimental. Os
diplomados por esta escola teriam preferência à nomeação para cargos
de Diretor e professor de Grupos Escolares Rurais e Escolas Típicas
Rurais, além de prioridade para o provimento de escolas isoladas e
classes de grupo escolar do ensino comum, localizadas na zona rural.
Permaneceu o mesmo currículo estabelecido pela Lei nº 881, de 1950
(SÃO PAULO, 1956; SOUZA-CHALOBA, 2017).
A escola foi inaugurada no dia 3 de agosto de 1956, entretanto,
sua consolidação foi lenta, apesar da mobilização realizada pelos alunos
e professores em defesa dos seus direitos de ingresso no magistério rural,
amparados pela legislação de 1950 (SOUZA-CHALOBA, 2017).
A Lei nº 4.420/57 alterou a duração do curso normal rural de
dois anos para três anos, transformando o p-normal em primeiro
ano do Normal, e os dois anos do curso profissional se constituíram
no segundo e terceiro ano da modalidade Normal. O ingresso de
candidatos foi delimitado mediante aprovação em exames
vestibulares, constituídos de provas eliminatórias e de testes que
mostrassem o interesse e a disposição do concorrente para o
magistério rural. Outra alteração propiciada por essa lei foi no
currículo do curso, conforme prescrito no artigo 1º da lei:
1) Metodologia do Ensino, 2) Psicologia Geral e Educacional, 3)
Anatomia e Fisiologia Humana e Biologia Educacional, 4)
Sociologia Educacional e Rural, 5) Higiene, Puericultura e
Profilaxia Rural, 6) História da Educação Rural e do Ruralismo,
7) Economia Rural, 8) Português, 9) Ciências Físicas e Naturais,
10) Desenho Pedagógico, 11) Matemática e Noções de Estatística,
12) Educação Física, 13)Música e Canto Orfeônico, 14)
Trabalhos Manuais e Economia Doméstica, 15) Agricultura Geral
189
e Especial, 16) Zootecnia, 17) Tecnologia Agrícola. (SÃO
PAULO, 1957c, p. 1).
Pode-se observar a ausência das disciplinas de Pedagogia e
Prática de Ensino. Em contrapartida, foram inseridas as disciplinas de
Metodologia do Ensino, Anatomia e Fisiologia Humana, Português,
Ciências Físicas e Naturais, Matemática e Noções de Estatística,
Educação Física. É importante frisar que essas disciplinas faziam parte
da organização do currículo do curso pré-normal promulgado pela
legislação de 1950. Já a disciplina de História da Educação sofreu
alterações em sua nomenclatura, passando a ser nomeada como
História da Educação Rural e do Ruralismo, de modo a voltar-se a
realidade do meio rural. O fato é que uma disciplina não resolvia toda
a problemática do distanciamento da escola do meio rural. Além
disso, a disciplina de Música passou a pertencer à mesma cadeira do
Canto Orfeônico.
A Lei nº 4.420 manteve a mesma determinação de
provimento das cadeiras de Higiene, Puericultura e Profilaxia Rural,
de Agricultura Geral e Especial e de Zootecnia, respectivamente, por
médico, engenheiro agrônomo e veterinário, como já era estabelecido
pela Lei 881. Igualmente, permaneceu a realização dos trabalhos
escolares, sendo executados por meio de aulas teóricas em classe e
durante as aulas práticas no campo e nos laboratórios. Ainda, foi
mantida a preferência de escolha dos diplomados pela escola à
nomeação para os cargos de diretor e professor de grupos escolares
rurais e para os cargos de professores de escolas típicas rurais (SÃO
PAULO, 1957c).
Os cursos de especialização de professores rurais no estado de
São Paulo, de acordo com a Lei nº 3.739/57 garantiu aos Institutos
190
de Educação a oferta de cursos de preparação de professores primários
que se destinassem ao ensino rural. Já com o Decreto nº 35.100/59,
a capacitação para o magistério rural aconteceria no curso de
Especialização de Professores de Ensino Primário Rural, com duração
de um ano, abrangendo as seguintes disciplinas: Sociologia Rural,
Higiene e Saneamento Rurais, Noções Gerais de Economia Agrária,
Noções de Agricultura Geral e Especializada, Noções de Zootecnia,
Metodologia do Ensino de Higiene Rural e das atividades agrícolas
(SÃO PAULO, 1959a; SOUZA-CHALOBA, 2017).
Em 1961, o [...] ingresso no magistério rural voltou a
preocupar os alunos da Escola Normal Rural(SOUZA-CHALOBA,
2017, p. 201), em decorrência das alterações propostas no concurso
de ingresso e reingresso ao magistério público primário do estado pelo
governador Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto, que passou a
estabelecer
[...] o ingresso no magistério oficial, instituindo concurso de
provas inclusive para os professores formados pela Escola Normal
Rural, que gozavam do direito à escolha de classe ou escola na
zona rural no primeiro concurso após a formatura. De acordo
com o projeto em causa, os professores já formados perderão
todos os seus direitos e serão obrigados a fazer curso de
especialização. A escola de Piracicaba, que é a única no gênero
em todo o Estado, funciona em caráter experimental
(PROTESTOS DOS ALUNOS, 1961 apud SOUZA-
CHALOBA, 2017, p. 201).
É, portanto, nesse cenário que, no ano de 1962, o Governador
Carvalho Pinto introduziu modificações na Lei nº 4.420/57, ao
sancionar a Lei nº 6.774, de 30 de janeiro de 1962, indicando que a
191
Escola Normal Rural Prof. José de Mello Morais, de Piracicaba
passaria a funcionar em caráter definitivo, abarcando um curso de
formação de três anos, além de poder fornecer um curso de
Especialização de Professores do Ensino Primário Rural, com duração
de um ano. O currículo do curso de formação praticamente se
manteve o mesmo determinado pela legislação de 1957.
As únicas alterações observadas foram em relação à disciplina
de Metodologia do Ensino que passou a ser denominada como
Metodologia e Prática de Ensino e a disciplina de História da
Educação Rural e do Ruralismo, transformada em História da
Educação e do Ruralismo. Com relação ao currículo do curso de
Especialização, mantiveram as disciplinas de Sociologia Rural,
Higiene e Saneamento Rurais, Noções Gerais de Economia Agrária,
Noções de Agricultura Geral e Especializada, Noções de Zootecnia,
Metodologia do Ensino de Higiene Rural e das atividades agrícolas,
conforme já era prescrito pelo Decreto nº 35.100 de 1959.
A lei ainda concebeu aos concluintes o diploma de professor
primário com Especialização Rural e ao professor primário que
concluísse o Curso de Especialização um certificado que assegurava a
inscrição no concurso de ingresso ao magistério, com preferência
sobre os demais candidatos no provimento de escolas e classes
localizadas na zona rural (SÃO PAULO, 1962b). A Escola Normal
Rural de Piracicaba permaneceu em funcionamento até a
promulgação da Lei nº 5.692 de 1971 (SOUZA-CHALOBA, 2017).
A propósito, o estado de São Paulo não criou uma escola
normal rural, mas efetivou cursos de especialização para os professores
rurais, predominando a formação de professores com princípios
192
citadinos ao invés de princípios ruralizados. Desse modo, a opção do
estado foi formar o professor comum.
A esse respeito, não houve uma formação ausente no estado
de São Paulo para o professor que ministrou aulas em escolas rurais
na região de São José do Rio Preto. O tipo de professor que promoveu
o ensino da população rural da região, em sua maioria, foi normalista,
como pode ser analisado no Quadro 23.
Quadro 23 - Formação dos professores das escolas rurais da região de São José do Rio Preto
Identificação
Nome da Escola
Normal/localidade
Conclusão
Curso
Normal
Curso
Superior
Curso
Aperfeiçoamento/
Especialização/ Pós-
Graduação
Formação
específica
para o
meio rural
Maria Alvarez
Romano
Colégio Anglo Latino
(São Paulo/SP)
1948 Não Não Não
Nilce
Apparecida
Lodi Rizzini
Instituto de Educação
Monsenhor Gonçalves
(São José do Rio
Preto/SP)
1953 Pedagogia Pós-Graduação Não
Ivanilde
Afonso
Prudêncio
Colégio Estadual e
Escola Normal de
Mirassol/SP
1957 Pedagogia
Curso de
aperfeiçoamento
para o Magistério
Não
Irce Elias
Pires da
Costa
Colégio Estadual e
Escola Normal de
Mirassol/SP
1959 Pedagogia
Cursos de
aperfeiçoamento
para o Magistério e
Administração
Escolar
Não
Yara
Aparecida
Aude
Colégio Estadual e
Escola Normal Drº
Paraízo Cavalcante
(Bebedouro/SP)
1960 Pedagogia
Curso de
aperfeiçoamento e
Especialização em
Matemática
Não
Jorge
Salomão
Instituto de Educação
Monsenhor Gonçalves
(São José do Rio
Preto/SP)
1965 Pedagogia Não Não
Maria Inês
Magnani
Salomão
Instituto de Educação
Monsenhor Gonçalves
(São José do Rio
Preto/SP)
1965 Geografia
Cursos de
aperfeiçoamento
para o Magistério
Não
Maria Nirce
Previdente
Sanches
Colégio Estadual e
Escola Normal
Capitão Porfirio de
Alcântara Pimentel
(Monte Aprazível/SP)
1966 Não
Cursos de
aperfeiçoamento
para o Magistério e
Especialização
Não
193
Sônia
Aparecida
Azem
Instituto de Educação
Monsenhor Gonçalves
(São José do Rio
Preto/SP)
1967 Pedagogia
Cursos de
aperfeiçoamento
para o Magistério
Não
Palmira
Miqueletti
Marra
Instituto de Educação
Monsenhor Gonçalves
(São José do Rio
Preto/SP)
1968 Geografia
Cursos de
aperfeiçoamento
para o Magistério
Não
Fonte: Elaborado pela autora com base nos relatos orais.
Como é possível notar, os docentes entrevistados diplomaram-
se em escola pública, o que demonstra a significativa expansão da
Escola Normal no estado de São Paulo. Nesse sentido, os dados
evidenciam que o curso normal estava no interior, em cidades
pequenas. Dos dez professores, cinco estudaram no Instituto de
Educação Monsenhor Gonçalves
65
, em São José do Rio Preto. Apenas
uma professora estudou em Normal privada, na capital do estado.
Para melhor visualização da localização das cidades onde
funcionaram os cursos de formação dos docentes, elaborou-se o Mapa
6.
65
A Escola Normal de São José do Rio Preto foi criada pela Lei nº 629, de 4 de janeiro de
1950, juntamente com as escolas normais de Araraquara, Araras, São João da Boa Vista, São
Joaquim da Barra, Tanabi, Tupã, Registro e, na Capital, nos Distritos do Ipiranga e da Lapa,
anexas aos ginásios “Alexandre de Gusmão” e “Anhanguera”. Do mesmo modo, em 1953, a
escola normal de São José do Rio Preto é transformada em Instituto de Educação Monsenhor
Gonçalves pela Lei nº 2.218, de 7 de agosto, assim como os Colégios Estaduais e Escolas
Normais “Peixoto Gomide” de Itapetininga, “Cardoso de Almeida” de Botucatu, “Ernesto
Monte” de Bauru, Colégio Estadual e Escola Normal de Ribeirão Preto (SÃO PAULO,
1950, 1953).
194
Mapa 6 - Mapa do estado de São Paulo com indicação dos municípios de formação dos
professores de São José do Rio Preto
Fonte: Elaborado pela autora (2021) com base no mapa dos municípios pelo IBGE (2019).
É importante ressaltar que em São José do Rio Preto existiram
duas escolas normais. Entre 1920 e 1950, funcionou a Escola Normal
Livre Santo André, na modalidade particular e confessional, sob a
direção da congregação religiosa de Santo André, e a Escola Normal
Oficial Monsenhor Gonçalves, transformada em Instituto de
Educação em 1954, perdurando até 1976, quando passa a funcionar
como Escola Estadual de Segundo Grau Monsenhor Gonçalves.
Outro dado importante, foi a relevância da formação em nível
superior da maioria dos professores, demonstrando uma continuação
na carreira do magistério. Desse modo, a Escola Normal constituiu
como um lugar privilegiado de configuração profissional e da mulher
na profissão docente, visto que o sexo feminino compõe a maior parte
dos professores entrevistados. Nesta perspectiva, este estudo permite
ponderar que os docentes que atuaram em escolas primárias rurais
195
paulistas tinham níveis de formação semelhantes aos que trabalhavam
nas cidades.
Dessas acepções, pode-se ressaltar que o estado de São Paulo
se encontrou em situação privilegiada em relação a outras regiões
brasileiras quanto ao nível de formação de professores que lecionaram
nas escolas rurais, como demostraram as pesquisas realizadas em
Minas Gerais, Sergipe, Piauí, Mato Grosso
66
(ASSIS, 2018;
SIQUEIRA, 2019; LOPES; FURTADO; AMORIM, 2020).
Apesar da especificidade de cada um desses estados, muitas
são as similaridades apontadas pelos autores com relação à
incorporação do professor leigo nos quadros do magistério,
sobretudo, nas escolas localizadas na zona rural. Nesse sentido, o fato
de que os índices de formação docente no estado de São Paulo sejam
melhores, não determinam até que ponto beneficiou o ensino da
população no meio rural.
3.3 A formação inicial e o meio rural
Nota-se que a expansão do ensino normal no estado de São
Paulo apresentou resultados significativos, pois, embora os
professores não tivessem formação que atendesse aos princípios da
ruralização do ensino para o magistério rural, eles eram habilitados
para o exercício da profissão. Afinal, era necessário ter uma formação
específica para o meio rural? Até que ponto a formação inicial teria
auxiliado o professor no exercício da docência nas escolas rurais?
66
Resultados de outras investigações foram divulgados na publicação de Chaloba, Celeste
Filho e Mesquita (2020).
196
Com o propósito de responder a tais questões, é preciso
primeiramente compreender os motivos pelos quais uma pessoa trilha
esse caminho profissional. A escolha de uma profissão pode ser
motivada por diferentes aspectos da vida da pessoa, sejam eles:
pessoais, sociais, econômicos e/ou familiares. A propósito, o que
influencia uma pessoa a querer ser professor? Qual o motivo da
escolha para exercer a carreira docente?
Para buscar as origens do magistério como uma profissão, é
importante destacar os estudos de Nóvoa (1991, 1992). Ao analisar o
processo histórico de profissionalização do professor em Portugal,
deve-se observar a dimensão histórica anterior à estatização da escola,
pois, desde o século XVI, já existiam vários grupos de leigos e
religiosos que ministravam aulas. Dessa forma, a profissão docente se
desenvolveu de forma
[...] subsidiária e não especializada, constituindo uma ocupação
secundária de religiosos ou leigos das mais diversas origens. A
gênese da profissão de professor tem lugar no seio de algumas
congregações religiosas, que se transformaram em verdadeiras
congregações docentes. Ao longo dos séculos XVII e XVIII, os
jesuítas e os oratorianos, por exemplo, foram progressivamente
configurando um corpo de saberes e de técnicas e um conjunto
de normas e de valores específicos da profissão docente.
(NÓVOA, 1995, p. 15-16).
De modo semelhante iniciou a profissionalização do trabalho
docente no Brasil. A função de professor não era considerada um
trabalho profissional e foi exercida pelo modelo religioso e o leigo.
Com a intervenção do estado, no século XVIII, houve,
segundo Nóvoa (1992, 1995), uma homogeneização, instituindo os
197
professores como corpo profissional. No processo de estatização do
ensino, substituindo os professores leigos e religiosos foram criadas as
escolas normais destinadas à formação e ao preparo para o magistério.
Para Nóvoa (1995, p. 16) as escolas normais são
[...] instituições criadas pelo Estado para controlar um corpo
profissional, que conquista uma importância acrescida no quadro
dos projetos de escolarização de massas; mas são também um
espaço de afirmação profissional, onde emerge de afirmação
profissional, onde emerge um espírito solidário. As escolas normais
legitimam um saber produzido no exterior da profissão docente,
que veicula uma concepção dos professores centrada na difusão e
na transmissão de conhecimentos; mas são também um lugar de
reflexão sobre as práticas, o que permite vislumbrar uma
perspectiva dos professores como profissionais produtores de saber
e de saber-fazer.
No Brasil, a criação dessas instituições foi mais tardia.
Somente ao final do século XIX a formação de professores para o
ensino das primeiras letrasocorria em cursos específicos das Escolas
Normais, que nesse período equivaleria ao nível secundário. Desse
modo, a criação desses estabelecimentos de formação representou um
marco no processo de institucionalização da profissão docente.
É importante destacar que o magistério foi, por muito tempo,
destinado à figura masculina, situação que permaneceu até a crescente
saída dos homens dessa atividade em virtude da ampliação das
oportunidades de formação e trabalho nas indústrias oriundas do
processo de desenvolvimento do país. Com o aumento de escolas e a
falta de professores primários, a docência significou uma oportunidade
de entrada da mulher no magistério. Ser professora representava um
198
prolongamento das funções domésticas e estava relacionada à função de
mãe.
A esse respeito, Almeida (2014, p. 72) discorre que o fato “[...]
de não terem amplo acesso às demais profissões fez do magistério a
opção mais adequada para o sexo feminino, o que foi reforçado pelos
atributos de missão e vocação, além da continuidade do trabalho do
lar. No decorrer do século XX, a feminização do magistério foi se
fortalecendo em todo o país e, cada vez mais, a procura do Curso
Normal pelos homens foi diminuindo.
Sob tal perspectiva, o estudo realizado por Aparecida Joly
Gouveia
67
, publicado em 1970, sobre o perfil das normalistas dos
estados de São Paulo e Minas Gerais em 1960, é importante para
compreender o debate acerca da feminização da profissão docente.
A pesquisadora fez uma análise sobre as decisões vocacionais da
mulher em uma sociedade em processo de industrialização. Os
resultados apontaram que o Curso Normal foi para muitas das alunas
a única opção para continuar os estudos, visto que a escolha
vocacional ocorreu como um fator de mudança que ocorreu na
definição da mulher à medida que a sociedade se urbaniza e
industrializa.
No conjunto, o estudo de Aparecida Joly traz importantes
contribuições para compreender quais foram os motivos que
influenciaram os docentes dessa pesquisa a escolherem o magistério
como profissão, visto que cinco dos dez professores entrevistados se
formaram entre 1948 e 1960. Além disso, a maioria dos docentes era
67
A obra Professoras de Amanhã, de Aparecida Joly Gouveia, foi resultado de uma pesquisa
com 1.448 alunas que frequentavam escolas normais no interior do estado de Minas Gerais
e São Paulo.
199
mulher. Ao todo são nove professoras e um professor narrando os
motivos pelos quais motivaram a escolha da profissão docente.
Embora cada história tenha sua particularidade, foi possível
identificar marcas comuns e pontos divergentes em suas decisões.
Com base no relato da professora Maria Alvarez, o motivo da
sua escolha pela carreira do magistério foi a vocação. Ela esclarece que
desde criança queria ser professora. Nesse sentido, a vocação se
constituiu em um fator essencial para justificar sua opção pela
docência. Entretanto, explicou que seu pai era contra. Contudo, as
restrições sofridas pelo pai não a impediram de diplomar-se. Relatou:
“[...] meu pai era contra! Mas eu lutei. Lutei e consegui. Sua narrativa
evidencia marcas de resistências para um tempo no qual a filha vivia
em situação de dependência e obediência ao pai. Por sua vez, o acesso
ao Curso Normal só foi possível após atingir a maioridade, o que
significou a conquista de sua independência.
A professora Nilce Lodi escolheu a carreira docente como
resultado de um sonho de infância, além de receber influência
familiar, pois havia outras professoras na família, da pré-escola à
universidade. Sua mãe não tinha título de professora, mas foi nossa
mestra, acompanhando nossas tarefas escolares do dia a dia. Lembrou
que as professoras do Grupo Escolar eram muito valorizadas e
admiradas na década de 1940. No conjunto de sua narrativa, a escolha
vocacional perpassou a influência ter outros professores na família.
Ela viu a possibilidade de ter uma profissão portadora de um valor
social significativo pela população rio-pretense.
Para a professora Ivanilde Prudêncio foram dois os motivos
que a levaram a escolher a docência como profissão. O primeiro deles
está ligado à preferência da infantil sempre gostei de mexer com
200
crianças. Como tinha dois irmãos mais novos, sempre cuidava deles.
Sua família era formada por seis irmãos, quatro mulheres e dois
homens. Ela era a mais nova das mulheres. Ao brincar com os dois
irmãos menores, sempre brincavam de escolinha. Afirma ter
alfabetizado os irmãos antes de irem para a escola.
A gente brincava de escolinha. Eu tinha uma lousa... nem era uma
lousa. Era uma pedrona de cimento. Parece uma parede de cimento.
Ali era minha lousa. Então eu alfabetizei meus dois irmãos. Quando
eles entraram no primeiro aninho, já sabiam todas as letrinhas,
sabiam falar direitinho, formar palavras. Então eu acho que sempre
gostei. (IVANILDE AFONSO PRUDÊNCIO, 2020).
Além de gostar de crianças, o outro motivo da escolha
profissional na época foi a dificuldade financeira da família, já que
outras profissões demandavam muito dinheiro. Percebe-se, por meio
dessa narrativa, que a facilidade de lidar com crianças e a falta de
condições de acesso a outras profissões foram uma marca
estereotipada para encaminhá-la para o magistério primário.
Marcas comuns de feminização do magistério são
identificadas nos relatos das professoras Irce Elias e Yara Aude, ao
admitirem que o fato de não terem tido acesso a outras profissões fez
do magistério a opção mais adequada para elas.
Desse modo, a professora Irce Elias narrou que a escolha da
carreira docente foi para ela uma opção possível, já que para outras
profissões era preciso sair de São José do Rio Preto. De modo
semelhante foi a narrativa da professora Yara Aude ao evidenciar o
fato de o magistério praticamente ter sido a única carreira plausível às
mulheres: Naquela época a mulher só fazia o Normal. Não tinha outra
201
coisa. Ou seria P1, hoje, P2 ou P3, mas seria professor. Dificilmente uma
mulher fazia Medicina ou Odontologia”.
Tônica um pouco diferente foi apresentada na narrativa da
professora Sônia Azem. O seu relato vem ao encontro da tese
defendida por Gouveia (1970), de que aceitação de certos valores
predispõem as decisões vocacionais.
Antigamente a mulher era dada ao casamento. A mulher tinha que
casar e ter um diploma. Então ela fazia o curso mais rápido, que era
o Normal, tinha um diploma e tudo bem, e a mãe adorava. Então
o Normal era feito dessa forma. Então eu fiz o Normal, por esses
motivos também. Minha mãe queria, minha família queria e como
eu gostava muito de Psicologia, fiz Pedagogia. Eu me formei em
1970. (SÔNIA APARECIDA AZEM, 2019).
O relato da professora marca a influência da família em sua
escolha. Evidencia-se, como bem lembra Almeida (2014, p. 96, grifos
do autor), que [...] enquanto estudavam, as jovens aguardavam o
casamento e o estudo significava a maior parte das vezes uma
preparação para isso, que era o que realmente importava em sua vida”.
As condições financeiras da família do professor Jorge
Salomão foram determinantes para a escolha da carreira docente.
Enfatizou Eu sou de origem muito pobre. Minha família não tinha
recurso nenhum. Meu pai era bastante idoso. Quando eu nasci, ele tinha
45 anos. Os dois não tinham estudo. Eu gostei sempre de estudar, sempre,
sempre”.
No caso do professor Jorge, o gosto pelo estudo somados à
necessidade econômica foram instigantes para ele trilhar o caminho
profissional. Ele narrou que seu
202
[...] sonho era ser professor. Continuo adorando escola. Sou
aposentado. Aí eu resolvi fazer magistério. Comecei a fazer o
magistério e o científico junto. De manhã o científico e a noite o
magistério, que era o normal né. Aí eu era meio bitolado por causa
de nota, por toda maneira eu queria tirar a nota máxima e eu vi
que fazendo os dois eu não iria dar conta, eu ia ter que sacrificar
essa vontade, esse desejo. Desisti do científico, depois de 15 dias.
Fiquei só com o normal. Terminei o normal em 1965, modéstia à
parte, fiquei em primeiro lugar. (JORGE SALOMÃO 2019).
O registro dessa memória permite compreender que o Jorge
Salomão sempre se dedicou ao ofício da profissão. A identificação
com a docência é marcada em sua fala.
Escolher a docência como profissão significou para a
professora Maria Inês uma forma de sustentar a si e ajudar com o
orçamento familiar. O Curso Normal representou uma oportunidade
de trabalho, uma importante fonte de renda para suprir suas
necessidades:
Não teve motivo, teve necessidade! Necessidade de ganhar dinheiro,
porque naquela época todo mundo tinha assim... o básico em casa.
Então me formei professora porque na época tinha o Normal, uma
coisa mais fácil para a gente fazer do que uma faculdade fora de Rio
Preto. Não tínhamos condições. (MARIA INÊS MAGNANI
SALOMÃO, 2019).
A professora Maria Nirce justificou sua escolha para o
magistério em razão da falta de opções na época. O magistério foi para
ela a oportunidade de trabalho. Explicou [...] o que a gente podia
fazer, era isso. Era ser professora, porque tinha o curso, mas próximo, né.”
203
Para a professora Palmira Miqueletti a escolha da carreira
docente remonta à infância, pois quando ia brincar com as colegas e
as primas, sempre queria ser professora nas brincadeiras. Contudo,
não era de uma família rica, os pais eram sitiantes, sendo necessário
trabalhar.
No conjunto das narrativas analisadas, as memórias
manifestaram algumas peculiaridades no processo de escolha do
magistério, tais como: vocação, influência familiar, possibilidade de
emprego, condições financeiras ou até mesmo a falta de outra
oportunidade.
De um modo geral, mesmo com propósitos diferenciados no
momento da opção profissional, os relatos revelaram que a escolha da
docência como profissão, sem dúvida, foi influenciada pela trajetória
individual de cada um. Assim, a preferência pelo magistério
apresentou a busca por ascensão social, especialmente a garantia de
um emprego, de modo que o Curso Normal foi uma opção acessível.
Nesse ínterim, a formação inicial capacitou o professor para a
docência nas escolas rurais? Interessa descobrir as simetrias de
aproximações e distanciamentos entre o que narraram os professores
e, em qual intensidade esse conhecimento adquirido no Curso
Normal colaborou para a realidade que enfrentaram no meio rural.
Sobre a formação inicial, a professora Maria Alvarez lamentou
não ter ajudado tanto quanto precisava, pois ao sair da escola normal
possuía mais um conhecimento [...] teórico, muito pouca prática,
resultado de ter tido mais aulas teóricas que práticas. Alegou não ter
feito nenhuma formação específica para trabalhar com os alunos das
escolas rurais. Diante disso, a sua prática foi influenciada pela vivência
enquanto criança no meio rural, ao relatar que [...] até os sete, oito
204
anos de idade eu morava no sítio. Aí eu peguei o que eu já sabia. Então
eu tinha uma certa experiência. De como plantar as coisas, na época do
milho, na época do arroz, na época da mandioca”. Neste caso, as
experiências vivenciadas são incorporadas no exercício da docência.
Ao falar da diplomação no curso normal, a professora Maria
Nirce enfatizou que [...] só o diploma não bastava mesmo. Conforme
sua narrativa, a formação inicial não auxiliou em sua prática como
professora rural, além de não possuir nenhuma noção para dar aulas
com tal especificidade, cujos locais comportavam salas multisseriadas.
No entanto, muitos foram os cursos de aperfeiçoamento oferecidos
pelo governo, os quais contribuíram com sua formação, mas ressaltou
que não havia [...] Nenhuma técnica para o campo. Ainda
acrescentou que fazia os cursos de aperfeiçoamento [...] para pegar
ponto. Para ganhar pontos. Depois no fim, sumiu, não deu mais pontos
para ninguém. Ninguém sabe por que ele desapareceu. Esse
aperfeiçoamento ensinou muitas coisas, mas não específico para a zona
rural. Nada!
Emerge nessa narrativa a falta de formação para lidar com
salas organizadas no formato multisseriada
68
, sob a regência de um
único professor que ministrava o ensino a um grupo de alunos de
níveis diferenciados de aprendizagem em uma mesma sala. Essas
escolas localizavam-se, em grande parte, nas zonas rurais e, muitas
vezes, funcionavam em diversos tipos de prédios.
68
A pesquisa de Basso (2013) mostrou que as salas multisseriadas rurais ainda faziam parte
da realidade do estado de São Paulo em 2010 e, que apesar das políticas de fechamento das
escolas isoladas (1988), com a nucleação das escolas rurais e do aumento do número de
alunos atendidos pelo transporte escolar, ainda sobrevivem. Foram localizados pela autora
indícios de existirem aproximadamente 2.100 escolas em todo o estado paulista.
205
A falta de formação para lecionar em sala multisseriada
também foi apontada no relato da professora Sônia Azem. Ela
afirmou que sua formação inicial não auxiliou na sua prática docente
para o magistério rural, sobretudo com classes multisseriadas,
informando que estas eram superlotadas:
Matemática eu tive que aprender com uma senhora, que também
me emprestou um livrinho. Porque tem as fases da divisão, as fases
da multiplicação, as fases assim... na Matemática que eu não tinha
aprendido no Normal e também a alfabetização em si. Mas senti
mais dificuldade na Matemática. Eu ensinei pelo método curto, né.
Vai um, vai dois. Você sabe que quando uma classe inteira não
aprendeu, a culpa está em você. Aí eu fui procurar ajuda e consegui.
Graças a Deus. [...] você tinha que fazer a comida e limpar a sala
de aula. Eu pagava. Tinha professores que não pagavam. Limpar
até que não era muito, mais como era que fazia a sopa! Você tinha
que deixar a sala de aula e ir lá mexer. Eu falei não! De jeito
nenhum! Eu pagava. Sempre paguei. (SÔNIA APARECIDA
AZEM, 2019).
Percebe-se, com essa narrativa, a situação de precariedade
enfrentada pela professora na escola rural, pois, além de todo trabalho
didático, tornava-se gestora e mantenedora da escola. Sônia, ainda,
afirmou que não recebeu formação em serviço específica para
trabalhar com os alunos das escolas rurais. Lembrou a dificuldade
porque achava que eles tinham a mão dura e não sabia o que fazer
para ensiná-los, além de estarem em níveis diferentes de aprendizado.
Diferente dos demais professores, a professora Irce Elias
admitiu que sua formação inicial auxiliou na docência no meio rural.
Destacou a importância de ter dado aula nas escolinhas anexas ao
206
Curso Normal. Explicou que durante a realização da regência, sua
professora ficava assistindo e fazia as intervenções necesrias. Mas
afirmou que ficava muito nervosa porque estava sendo avaliada.
Informou não ter recebido formação em serviço específica para
trabalhar com os alunos nas escolas rurais, dizendo que aprendeu com
a vida e com os alunos, [...] quando a gente vai para uma escola isolada
a gente é xucra (risos). Vai aprender fazendo, não tem especialização, não
tem nada que orienta”.
Partilhando da mesma concepção de formação, a professora
Palmira Miqueletti, a princípio, afirmou que sua formação inicial a
ajudou na prática como professora rural, em virtude de sua origem
familiar na zona rural, possuindo o conhecimento da vida do campo
e esse conhecimento foi essencial para trabalhar nas escolas isoladas.
Contudo, como a memória é feita de lacunas também, em outra
passagem, a professora deplora o fato de não ter recebido formação
em serviço específica para trabalhar com alunos no meio rural. O
conhecimento que tinha era da experiência de vida e não foi oferecido
pelo Curso Normal e nem pelos cursos de Aperfeiçoamento.
A professora Maria Inês, ao relatar suas memórias, não
reconheceu na formação inicial contribuições para trabalhar nas
escolas rurais, mas aprendeu dando a cara para bater”. Na sua
concepção, não aprendia na época dar aula, você tinha noção. Agora
eu não sei a diferença entre o ensino na cidade e o ensino no rural.
Explicou que durante as aulas nas escolas rurais não podia falar duas
coisas ao mesmo tempo, pois os alunos não entendiam nada. Havia
muita diversidade de alunos, muitos eram paupérrimos e iam para a
escola sem tomar o café. Então ensinava o básico do básico. Com
relação à formação em serviço específica para trabalhar com os alunos
207
das escolas rurais, relatou [...] Imagina! Tinha nada. Esse específico aí,
risca. A gente não tinha experiência de nada”. Entretanto, enfatizou que
os cursos de Aperfeiçoamento realizados na época eram direcionados
ao ensino de Matemática, Educação Moral, e nada de rural.
Diferentemente da esposa, o professor Jorge Salomão relatou
que sua formação inicial auxiliou na sua prática docente para o
magistério rural, no entanto, foi preciso criar novas formas de ensinar
os alunos conforme a necessidade do dia a dia na zona rural. Informou
não ter recebido formação em serviço específica para trabalhar com os
alunos das escolas rurais, mas aprendeu no dia a dia, trocando ideia
com outras pessoas.
Corroborando o mesmo pensamento, a professora Yara Aude
considerou sua formação inicial apropriada para o magistério rural,
que fez um bom curso:
Quando eu saí do Normal, eu já sai com os cartazes prontos para
dar aula. Saí com conhecimento de mimeógrafo, com fichas de
problemas, ditados, reprodução. Saí com um material para dar aula.
Tinha a disciplina Puericultura, ensinava a cuidar de criança,
cuidar de bebê, cuidar da casa, da economia da casa. (YARA
APARECIDA AUDE, 2019).
Tais afirmações levam a crer que essa professora teve uma
habilitação que considerava os cuidados com a criança em
desenvolvimento no meio rural. Contudo, como o depoimento oral é
constituído [...] por uma narrativa e que esta consiste na interpretação
da experiência vivida (ARAÚJO; FERNANDES, 2006, p. 23),
entende-se que a professora Yara Aude se confundiu ao declarar que
existiu o contato com a disciplina de Puericultura durante sua
208
formação, visto que se diplomou normalista pelo Colégio Estadual e
Escola Normal Dr. Paraízo Cavalcante (Quadro 21), em Bebedouro,
cujo currículo não contemplava essa matéria.
O processo de recordar da professora Yara Aude coaduna-se
com o pensamento de Bosi (1987, p. 17), ao referir que o simples
[...] fato de lembrar o passado, no presente, exclui a identidade entre
as imagens de um e de outro, e propõe a sua diferença em termos de
ponto de vista. Por esta razão, a memória aproximou com fatos
vividos durante o seu cotidiano escolar nas escolas rurais.
A narrativa da professora Ivanilde assegurou que a formação
inicial auxiliou na sua prática docente para o magistério rural, mas
enfatizou que aprendeu muito [...] com o próprio meio. Às vezes vo
aprende muito com o meio que você está trabalhando. Mas é lógico que
você tem aquela base, aquela bagagem da escola. Mas o meio te ensina
muito também”. Explicou que, após a conclusão do Normal, fez o
curso de aperfeiçoamento
69
do ensino primário, pois na [...] época
quando você terminava o Normal, você fazia o aperfeiçoamento. Um
ano. Eu fiz o aperfeiçoamento”. Por conseguinte, não teve formação
em serviço específica para trabalhar com os alunos das escolas rurais.
Alinhada ao mesmo ponto de vista de formação, a professora
Nilce Lodi admitiu que sua formação inicial auxiliou na sua prática
docente naquele espaço, cuja metodologia privilegiava a idade e
desenvolvimento dos alunos, além do uso de material didático, livros:
69
A análise do Certificado de Conclusão do Curso de Aperfeiçoamento possibilitou constatar
as seguintes disciplinas cursadas: Metodologia das Matérias do Ensino Primário,
Metodologia da Leitura e da Escrita, Metodologia da Aritmética, Prática do Ensino,
Psicologia da Aprendizagem e Administração Escolar.
209
[...] A escola rural era visitada anualmente por duas ou três alunas
da Escola Normal do Monsenhor Gonçalves para realização de
estágio. Elas observavam a utilização dos materiais que
confeccionara durante meu Curso Normal, resultado dos
ensinamentos dos professores de Didática e Desenho, principalmente.
Elas também davam pequenas aulas, ensinavam canto e ginástica.
De 53 a 59 recebi alunas estagiárias, por um período anual de 15
dias. (NILCE APPARECIDA LODI RIZZINI, 2020).
Além das alunas da Escola Normal Monsenhor Gonçalves,
Nilce também recebeu alunas da Escola Normal de Mirassol para
realização de estágio na escola primária rural em que trabalhava, como
pode ser constatado no registro da Imagem 7.
Imagem 7 - Estagiária com os alunos da Escola Mista da Fazenda Scaff 1956
Fonte: Rizzini (1956a).
Conforme a descrição feita no verso da fotografia, Vanda
Carrozone, aluna da Escola Normal de Mirassol, é a estagiária que
aparece na foto em um dos momentos que estava executando regência
210
na Escola Mista da Fazenda Scaff, referente ao ano de 1956. Nilce
não recordou o que foi realizado nesse dia pela estagiária e nem o mês.
É preciso destacar, ainda, nesta mesma foto, a configuração
em que foram organizados os alunos. Será que as aulas aconteciam da
forma como os estudantes foram fotografados? A mesa era usada
coletivamente? Onde estava a lousa? Nesta ocasião, as representações
reportadas pelos sujeitos (estagiária e alunos) produzem estratégias
que pretendem impor uma realidade que não expressa exatamente o
vivenciado. A propósito, tal como postulado por Chartier (2002, p.
17), as representações [...] do mundo social assim construídas,
embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado da
razão, são sempre determinadas pelos interesses de um grupo que as
forjam”. Nesse sentido, as representações podem ser entendidas como
a percepção de uma realidade forjada.
A professora Nilce Lodi, assim como os demais professores
entrevistados, relatou que não recebeu a formação em serviço
específica para trabalhar no meio rural. Além disso, não havia no
Curso Normal disciplinas sobre como trabalhar na terra, porém, ela
mesma, sem conhecimento, declarou ter desenvolvido atividades que
tivessem relação com campo.
[...] Sem noção sobre horticultura comecei, com alguns alunos. Um
deles filho de japonês, para formar um pequeno canteiro ao lado da
sala de aula. Preparar o terreno, adubar, semear, ... Tudo ia bem
até o crescimento dos primeiros ramos e folhas. Com surpresa, numa
segunda feira encontramos todos os brotos cortados. As formigas
acabaram com a nossa experiência. Foi uma decepção... não contava
com essa inimiga... (NILCE APPARECIDA LODI RIZZINI,
2020).
211
Em face do exposto, as memórias dos docentes revelaram que
a formação inicial recebida nos cursos normais não conseguia preparar
o professor em sua totalidade para ingressar em uma sala de aula no
meio rural, contudo, admitindo as concepções de Tardif (2014), de
que desenvolveram os saberes docentes por meio de experiências com
a realidade enfrentadas no campo.
Isto posto, entende-se que a formação profissional não foi
tudo. Sem desconsiderar a importância do saber científico, as
narrativas dos professores no estado de São Paulo, aproximam-se da
realidade vivida pelos professores leigos, com o mínimo de
conhecimentos escolares, que lecionaram em escolas rurais no Rio
Grande do Sul, Minas Gerais, Sergipe (ALMEIDA, 2001; ASSIS,
2018; SIQUEIRA, 2019).
Diante disso, as pesquisas supracitadas evidenciam que a
ausência de docentes diplomados corroborou para que os professores
sem ter formação para o exercício do magistério fossem responsáveis
pela alfabetização de muitas crianças no país. Sob essa perspectiva,
Assis (2018, p. 69) esclarece que no estado de Minas Gerais [...] dada
a escassez de pessoas habilitadas, aceitaram e legitimaram a ação de
professoras com baixa escolarização, frequentemente com a 4ª rie
primária concluída”. Sem dúvida, leigos e normalistas misturavam-se
e espalhavam-se pelas escolas primárias rurais brasileiras.
Nesse sentido, diante da alegação de não estar preparado para
o ensino no meio rural, o que levou os professores da região de São
José do Rio Preto a iniciar a docência na zona rural? Quais eram os
critérios de ingresso na instrução pública paulista? Quanto tempo
permaneceram nas escolas rurais? Por que não iniciaram o magistério
nas escolas urbanas?
212
Para buscar respostas a essas indagações, cotejou-se as
narrativas dos dez professores entrevistados com as leis estaduais de
São Paulo, como será abordado no próximo capítulo.
213
4.
PROVIMENTO DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS
RURAIS
Logo que se diplomou normalista, resolveu transportar para uma
escola de bairro os seus dezoito anos e sua alegria de moça. Ia um
pouco por espírito de aventura, como quem vai brincar de
professora, e muito por necessidade, esperando poder ter, com o
ordenado, mais fartura de vestuário e menos limitações ao seu
desejo de divertir-se. Foi nomeada. Tomou o trem, viajou quatro
horas. Desceu numa estação solitária, perdida em pleno sertão,
onde um trole sonolento a esperava. Andou mais três horas,
subindo morro, descendo morro, sôbre caminhos empoeirados e
ásperos. A viagem parecia nunca terminar, com o tédio daquele
rodar monótono das rodas na areia. [...] Chegou à fazenda. No
casarão velho e soturno, morava a família do administrador. Era
ali que ela ia ficar, num quarto de telha vã, sem janela, pegado ao
deposito de arreios. [...] À noite, recolheu-se ao quarto, que
cheirava a graxa; trancou-se; deitou-se na cama de tábua, sôbre um
colchão ruidoso, de palha de milho, apagou a vela. E então,
lembrando-se daquele sertão em que estava, do rodar monótono
do trole por subidas e descidas; pensando naquela gente com quem
ia conviver, no modo porque falavam, no jeito com que comiam,
na figura dos seus futuros alunos, a imagem da Capital, de
envolta com a lembrança da mamãe e das irmãs, lhe veio à
memória como uma coisa distante, longínqua, perdida para
sempre, e pos-se a chorar devagarinho, como criança.
(ALMEIDA JÚNIOR, 1951, p. 130-131).
214
A epígrafe retirada do livro A escola pitoresca e outros estudos
70
,
de Almeida Júnior, retrata de forma poética as mazelas do ingresso de
uma professora numa escola rural, revelando as condições de vida
nesses locais. A contradição abordada pelo autor põe em questão o
entusiasmo e as expectativas da recém-formada normalista em relação
à carreira no magistério e a deplorável realidade enfrentada por ela no
primeiro contato com o meio rural.
A dificuldade de chegar à escola, a situação de dependência
em relação aos fazendeiros, o desconforto da vida no meio rural, e a
tristeza sentida pela professora causada pelo confronto de cultura são
retratados pelo autor para demonstrar situações vivenciadas pelo
normalista no estado de São Paulo ao ingressar na profissão docente
no meio rural.
Escrito na década de 1930, todavia, essa realidade não foi
muito diferente de outros tempos. Argumento este que corrobora o
depoimento dos professores entrevistados para esta pesquisa que, após
diplomar-se normalista, o ingresso na profissão se deu em escolas
isoladas localizadas na zona rural, cujas dificuldades encontradas são
semelhantes à descrição de Almeida Júnior.
Neste sentido, por meio das reflexões de Certeau (2013),
procurou-se separar, reunir e transformar em documentos as
70
A primeira edição do livro foi publicada em 1934 e a segunda em 1951. A obra está
dividida em quatro capítulos, sendo eles: I A escola pitoresca; II Formação do professor;
III Administração e ensino; IV Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O capítulo II
foi estruturado com base no inquérito realizado pelo autor com 37 formandas da escola
normal. Neste capítulo, Almeida Júnior apresenta os motivos de ingresso no curso normal e
a compreensão da carreira no magistério por parte das alunas. Além disso, ao tratar das
Grandezas e misérias do magistério rural (terceiro subtítulo do capítulo), o autor destaca o
processo de ingresso de uma professora na escola rural, revelando as condições de vida e
trabalho no exercício do magistério rural.
215
narrativas de professores que relataram os caminhos trilhados no ingresso
da carreira docente, entre 1940 e 1970, em escolas primárias rurais
paulistas pertencentes à região escolar de São José do Rio Preto, no
estado de São Paulo. Além das memórias, com a finalidade de reconstruir
aspectos da história de ingresso na profissão docente paulista, utilizou-se
do conjunto das legislações estaduais produzidas pelo estado entre as
décadas de 1930 e 1970 do século XX.
Desse modo, os relatos sistematizados das memórias de
professores que iniciaram suas respectivas carreiras em escolas rurais, na
região de São José do Rio Preto, é parte das análises, cujo fito é entender
as estratégias e as táticas utilizadas. A utilização dos conceitos de
“estratégias” e ticas está ancorada nos estudos de Certeau (2012),
tendo em vista as políticas educacionais vigentes que estabeleceram os
critérios de ingresso na carreira do magistério.
4.1 Entre o prescrito e o realizado: o ingresso na carreira docente
Após concluírem a sua formação como normalistas, os
professores da região de São José do Rio Preto iniciaram a carreira
profissional no meio rural.
Quadro 24 - Ingresso no magistério rural paulista (1940-1972)
Professor(a)
Início no meio rural
Tipo de ingresso
Maria Alvarez Romano
1940
Concurso
Nilce Apparecida Lodi Rizzini
1954
Decreto Governamental
Ivanilde Afonso Prudencio
1959
Concurso
Irce Elias Pires da Costa
1961
Concurso
Yara Aparecida Aude
1961
Concurso
Maria Inês Magnani Salomão
1966
Concurso
Maria Nirce Previdente Sanches
1967
Concurso
Jorge Salomão
1971
Concurso
Palmira Miqueletti Marra
1972
Concurso
Sônia Aparecida Azem
1972
Concurso
Fonte: Elaborado pela autora com base nas narrativas.
216
Um dos critérios para iniciar no magistério paulista era o
recém-formado se inscrever no concurso de ingresso. A inscrição era
realizada na sede de cada Delegacia Escolar, no período de 1º a 15 do
mês de janeiro, conforme estabelecido no artigo 3º do Decreto nº 5.
804, de 16 de janeiro de 1933 (SÃO PAULO, 1933a). Além disso,
os professores deveriam apresentar o diploma do Curso Normal
concluído nas escolas estaduais, ou aquelas equiparadas, além da folha
de saúde mental e certidão para aqueles que tinham tempo de serviço
no magistério. As escolas eram classificadas em:
1º) - são do primeiro estágio, as localizadas em pontos
longínquos da Capital e as de difícil acesso, que por isso, exijam
residência do professor no próprio lugar da escola. 2º) - o do
segundo estágio, as localizadas em pontos de fácil acesso, mas que
obrigam o professor a se residir no próprio lugar da escola. 3º) -
são do terceiro estágio, as de cidades mais populosas e as que
permitem ao professor residir noutro lugar, viajando,
diariamente, para aulas. 4º) - são do quarto estágio, as da Capital
e as dos seus arredores, que permitem ao professor residir na
Capital. (SÃO PAULO, 1933a, p. 1).
O recrutamento para as escolas de 2º, de 3º e de 4º estágios
não ocorria da mesma forma que as de 1º estágio. Como definido no
artigo 5º, os diplomados pelo Curso de Aperfeiçoamento, anexo ao
Instituto Caetano de Campos, poderiam ser nomeados independente
de concurso para escolas de 3º estágio, desde que tivessem a média
geral até 7,5. Por outro lado, aqueles com média superior àquela,
poderiam ser nomeados para escolas de 4º estágio. Do mesmo modo,
o artigo 7º do Decreto nº 5.804 estabelecia critérios de ingresso nessas
escolas, o concurso de promoção, que era disponibilizado em dois
217
períodos do ano, o primeiro ocorria na primeira quinzena de
novembro em todas as escolas que estivessem vagas ou providas
interinamente. Já o segundo incidiria na primeira quinzena de
dezembro, sobre as escolas que continuassem com vagas ou vagassem
depois da realização do primeiro concurso (SÃO PAULO, 1933a).
Para concorrer ao concurso de promoção dessas escolas era
preciso ser submetido ao Diretor Geral do Ensino, uma certidão
emitida pelo Tesouro ou pelo Departamento de Educação que
comprovasse quatrocentos (400) dias de efetivo exercício no
magistério, bem como no estágio em que se encontrava. Ainda deveria
ser expedido, pelo diretor do estabelecimento ou pelo auxiliar de
inspeção, um atestado comprovando a porcentagem de frequência
dos alunos durante os últimos quinze meses da atuação docente, assim
como a percentualidade de promoção alcançada no ano anterior na
escola ou classe regida pelo professor.
Em realidade, o ingresso do recém-formado nas escolas de
primeiro estágio, conhecidas como escolas isoladas rurais, já vinha
sendo exercido no estado de São Paulo desde a reforma de 1904 (Lei
nº 930, de 13 de agosto), a qual sujeitava o ingresso do professor em
escolas mais distantes, condicionando a remoção apenas depois de
200 (duzentos) dias de exercício em escolas rurais.
Outro dispositivo para o concurso de ingresso de professores
no magistério no estado de São Paulo, foi o Código de Educação de
1933 (Decreto nº 5.884, de 21 de abril), instituído por Fernando de
Azevedo. A primeira inovação do Código foi a idade mínima e
máxima do candidato para se inscrever ao concurso, que antes não era
apontado no decreto e passou a ser delimitado nas faixas-etárias entre
18 e 45 anos. Além desse, foi autorizada a promoção do professor para
218
estágio superior, podendo, no entanto, o candidato ir do 1º ao 3º ou
do 2º ao 4º, desde que comprovasse tempo líquido de 800
(oitocentos) dias de exercício no estágio. O Código previa a
preferência na remoção de professores que possuíssem maior tempo
de prática consecutiva em uma mesma escola.
A classificação das escolas isoladas e dos grupos escolares
permaneceu definida em níveis de estágio para efeito do primeiro
ingresso. O Código previa a distribuição das escolas públicas primárias
em: escolas isoladas, grupos escolares, cursos populares noturnos e
escolas experimentais. Ao contrário das reformas empreendidas na
década de 1920, as escolas isoladas eram classificadas de acordo com
sua localização entre urbanas ou rurais (SOUZA; ÁVILA, 2015). As
finalidades da educação primária prescritas no Código de Educação,
[...] reiterou o caráter nacional do ensino, a integração da escola com
o meio e as necessidades do atendimento dos interesses e necessidades
das crianças(SOUZA, 2019, p. 26).
Após oito meses de instituição do Código de Educação, foram
introduzindo modificações na carreira do magistério primário, por
meio da promulgação do Decreto nº 6.197, de 9 de dezembro de
1933. Com o novo decreto alterou-se a classificação das escolas
primárias do estado isoladas e dos grupos escolares, que antes eram
classificados em quatro estágios, agora passaram a ser constituídos em
cinco estágios da seguinte forma:
[...] 1) São do 1.º estágio: a) as escolas ou classes localizadas em
fazendas, centros agricolas, bairros, distritos e povoados de dificil
acesso á séde do municipio e que, por isso, exijam a residencia do
professor no proprio local da escola ou classe; b) as escolas ou
classes de séde de municipio de dificílimo acesso á Capital;
219
2) São de 2.º estágio: a) as escolas ou classes localizadas em
fazendas, centros agricolas, bairros, distritos ou povoados de fácil
acesso á séde do municipio, mas que exijam a residencia do
professor no proprio lugar da escola ou classe, devido a falta de
meios de condução regulares, destinados a servir o publico com
horários convenientes ao ensino; b) escolas ou classes de séde de
municipio de dificil acesso á Capital;
3) São de 3.º estágio: a) as escolas ou classes localizadas em
fazendas centros agricolas, bairros, distritos ou povoados de fácil
acesso a séde do municipio, que permitam ao professor viajar
diariamente com pequeno dispêndio e sem nenhum prejuízo
para o regular funcionamento da escola, podendo, portanto,
residir na séde; b) escolas ou classes de fácil acesso á Capital;
4) São de 4.º estágio: a) as escolas ou classes localizadas em
cidade que, pela sua importância e situação, se torne um centro
de convergência das populações da zona, e, por isso, seja preferida
pelos professores da mesma zona; b) escolas ou classes localizadas
nas sedes de municípios que ficarem a uma (1) hora de viagem
da Capital por estrada de ferro;
5) São de estágio especial: a) as classes das escolas primarias
anexas às escolas normais oficiais do interior; b) as classes ou
escolas do municipio da Capital. (SÃO PAULO, 1933d, p. 1-2,
grifos da autora).
Dessa maneira, na consolidação das normas do Decreto nº
6.197, passaram a ser instituídos dois concursos que se realizariam
após o encerramento do ano letivo, sendo o primeiro de remoção, em
dezembro; e o segundo, de ingresso e reversão ao magistério, em
janeiro. As vagas seriam preenchidas até o próximo concurso pelos
substitutos efetivos dos grupos escolares locais e, na falta destes, por
professores interinos diplomados ou leigos, que seriam dispensados
no dia 30 de novembro.
220
Nesta perspectiva, a professora Maria Alvarez Romano relatou
que iniciou a docência no meio rural em 1940, como professora leiga.
Ao ingressar lembra:
Antes de me formar, eu comecei na escola que meu pai fez. Fiquei uns
seis meses, mais ou menos. Eu fui para as escolas isoladas, porque
naquela época precisava de pontos para ingressar no magistério. Não
era concurso, era pontos. Eu precisava juntar uns pontos para
ingressar. Então naquela escolinha que eu lecionei, antes de me
formar, contaram pontos junto com as outras escolas que lecionei, já
formada. Eu me formei em 1948, em São Paulo. Em 1949, vim para
José Bonifácio. Aí fui para as escolas rurais. (MARIA ALVAREZ
ROMANO, 2019).
De acordo com Maria Alvarez, um dos motivos que a levou
para as escolas do meio rural foi porque na época precisava de pontos
para ingressar no magistério, não era por concurso, era pontos. Nesse
momento da narrativa, a professora se confundiu quanto aos critérios
de admissão do estado de São Paulo, já que a efetivação era por
concurso. A atuação no meio rural era uma exigência da legislação
estadual, sendo a pontuação essencial para o critério de classificação
do professor. Assim, a legislação de 1935 previa nomeação de leigas
na falta de professores diplomados” (SÃO PAULO, 1935, p. 6).
Para a formação dos pontos do candidato ao concurso de
ingresso, seriam avaliados os seguintes elementos: tempo de exercício
no magistério como professor regente, substituto efetivo ou interino
diplomado; número de anos completos da data da formatura até o
concurso, sendo contabilizado para cada ano dez pontos, até o
máximo de cinco anos; duração do curso ao tempo que se diplomou,
atribuindo-se dez pontos para o Curso Normal como para o de
221
aperfeiçoamento; média geral do diploma, calculando de 0 a 100,
com aproximações até décimos (SÃO PAULO, 1933c).
No que diz respeito às remoções e promoções, essas deveriam
acontecer em dezembro para que em janeiro do ano seguinte fosse
publicada a relação das escolas e classe vagas restantes em cada
município paulista para o concurso e ingresso ou reversão
71
ao
magistério.
Em 1935, por meio do Decreto nº 6.947, de 6 de fevereiro,
novas alterações foram introduzidas na carreira do magistério
primário, em adendo aos decretos anteriores. O novo decreto previa
mudanças na classificação das escolas e nas formas de ingresso. Com
relação às escolas primárias do estado que eram nomeadas em cinco
estágios, passaram a ser ordenadas em três estágios:
1) São de primeiro estágio, excetuadas as do município da
Capital, as escolas e classes localizadas na zona rural e sedes de
distritos de paz não servidas por estradas de ferro; 2) São de
segundo estágio, as escolas e classes localizadas nas sedes de
distritos de paz por estradas de ferro e nas sedes de municípios,
exceto as referidas no n. 3; 3) São de terceiro estágio, as escolas e
classes do município da Capital, sede dos municípios de Santos,
São Vicente, Campinas, Santo Amaro, São Bernardo e distritos
de paz de São Caetano e Sto. André. (SÃO PAULO, 1935a, p.
1).
Com a nova disposição, as escolas localizadas na zona rural
foram classificadas como de 1º estágio. As escolas localizadas nas
71
Sobre reversão, trata-se da possibilidade do reingresso do candidato que já tinha sido
professor e tenha deixado o cargo. A reversão ao magistério primário está prescrita pelo
Código de Educação de 1933, artigo 336 e consolidada pelo Decreto nº 6.947, artigo 15.
222
cidades eram de 2º estágio e as localizadas na Capital do estado eram
denominadas de 3º estágio. Em função disso, haveria dois concursos:
o primeiro seria de remoção, em dezembro, e o segundo seria de
ingresso e reversão, em janeiro. Após o processo das remoções, na
sequência, seria publicada uma nova lista das escolas ou classes vagas
para os candidatos que concorressem ao concurso de ingresso. Só
poderiam concorrer candidatos diplomados pelo curso de formação
de professores primários do Instituto de Educação ou pelas escolas
normais e das equiparadas do estado. A somatória dos pontos dos
candidatos consistiria em avaliar:
1) - tempo de effectivo exercicio, calculado em luzes, como
regente de escola ou classe municipal ou estadual, substituto
effectivo ou interino diplomado de escola estadual; 2) - numero
de annos completos, da data da formatura: § 1.º - Si o candidato,
sendo prpedenta ou bacharel por gynasio, prestou exames de
Psycologia, Pedagogia e Didatica e fez a pratica de ensino exigida,
a sua nota de diploma e a média das notas suas duas primeiras
materias serão a média daquelles exames, reduzida á expressão
centesimal; § 2.º - Sendo o candidato diplomado por antiga
escola complementar, a média das notas de Psycologia e
Pedagogia será a mesma do diploma, reduzida e expressão
centesimal. (SÃO PAULO, 1935a, p. 4).
As nomeações dos candidatos seriam em caráter interino e os
respectivos professores serviriam como estagiários. Essa nomeação
não dava o direito à licença, salvo tratando-se de professora gestante,
a qual tinha o direito de três meses com todos os vencimentos. Assim,
os estagiários seriam efetivos depois de um ano letivo de 150 dias de
trabalho e a promoção de pelo menos 15 alunos. É importante
223
ressaltar que o estagiário efetivo desfrutava do tempo de estágio para
todos os efeitos legais e contava com um vencimento de 3.600$000
(três contos e seiscentos mil réis) anual.
No ano de 1941, foi aprovado o Decreto-Lei nº 12.427, de
23 de dezembro, pelo interventor federal Fernando de Souza Costa,
que consubstanciou novas disposições relativas à carreira do
magistério público paulista. O concurso de ingresso e reingresso ao
magistério permaneceu da mesma forma como vinha sendo
realizado. As inscrições continuaram sendo feitas nas Delegacias
Regionais de Ensino do estado, entre os dias e 10 do mês de
janeiro. Do mesmo modo, só poderiam se inscrever os diplomados
pelos cursos de formação de professores primários das escolas normais
do estado e os professores a estes cursos equiparados. As nomeações
também seriam de caráter interino e os docentes serviriam como
estagiários.
O cômputo para a formação dos pontos de cada candidato ao
título de estagiário sofreu alterações em comparação ao Decreto
anterior, de modo que concorreram os seguintes elementos: tempo de
exercício como professor ou substituto de escola municipal urbana e
distrital (nove pontos por mês); como professor substituto de escola
ou classe estadual de segundo ou terceiro estágio, assim como de
escola primária anexa às escolas normais livres (nove pontos por mês);
como professor substituto de escola ou classe estadual de primeiro
estágio e municipal rural (trinta pontos por mês) (SÃO PAULO,
1941).
Eram avaliados, também, na composição dos pontos, o
número de anos completos até o máximo de cinco anos, a data da
formatura até o concurso equivaleria (dez pontos) se fosse diplomado
224
pela escola normal e (15 pontos) para aqueles diplomados pelos
Institutos de Educação da Universidade de São Paulo. A média geral
do diploma era calculada de 0 a 100, com aproximação até décimos,
dividida por dois. Do mesmo modo, era computada a média geral das
notas de Psicologia e Pedagogia, multiplicada por três (diplomados
pela escola normal) ou de História e Filosofia da Educação e de
Psicologia Educacional, multiplicada por quatro (diplomados pelo
extinto Instituto de Educação da Universidade de São Paulo). No
entanto, para aqueles que fossem diplomados pelas antigas escolas
complementares, a média das notas de Psicologia e Pedagogia seria a
mesma do diploma (SÃO PAULO, 1941).
É importante ressaltar que foi a primeira vez que apareceu a
contagem de pontos de modo específico para o professor substituto
de primeiro estágio de escola ou classe estadual e municipal rural.
Como pode ser observado, a maior contagem de pontos era para os
docentes que tivessem lecionado no meio rural.
Outra mudança prevista no decreto, foi a classificação das
escolas primárias do estado, que antes eram classificadas entre 1º, 2º
e 3º estágio. Desse modo, as escolas isoladas e os grupos escolares
passaram a ser classificados para efeito estatístico em: [...] a) urbanas,
distritais ou rurais, conforme funcionam em sede de município, sede
de distrito de paz ou zona rural; b) quanto ao sexo dos alunos, em
masculinas, femininas ou mistas; c) para efeito da carreira do
professor primário, em 1º, 2º e 3º estágio [...] (SÃO PAULO, 1941,
p. 1).
A classificação dos estágios seguiu a mesma prescrição da
legislação de 1935. Em 1942, passou a ser instituída a cadeira
prêmio, como outra forma de ingresso no magistério paulista. Por
225
meio da promulgação do Decreto-Lei nº 12.801, de 13 de julho,
concedeu-se o benefício aos diplomados pela Escola Normal Caetano
de Campos, ficando estabelecido, que cada ano, a título de prêmio, a
nomeação, independente de concurso, para a escola ou classe do
município da Capital, ao aluno que diplomar com a mais alta média,
não podendo ser inferior a noventa (SÃO PAULO, 1942).
A concessão dessa vantagem foi estendida também aos alunos
das demais Escolas Normais Oficiais do Estado, no entanto, a
nomeação seria para as escolas ou classe do estado, com exceção das
localizadas na região da Capital. Caso houvesse igualdade de média,
o prêmio seria concedido ao candidato com mais idade.
Com a aprovação do Decreto nº 15.993, de 29 de agosto, de
1946 a convocação dos candidatos a ingresso do magistério com o
direito a cadeira prêmio, passou a ser feita pelo Departamento de
Educação, cinco dias após o concurso de remoção. Os candidatos
deveriam apresentar o diploma junto com um atestado do diretor da
escola em que diplomou, no qual confirmasse que o candidato
estivesse nas condições de adquirir o favor legal, com a comprovação
das médias obtidas durante o curso.
Em 1949 foi aprovada uma nova lei que regulamentava a
forma de ingresso no magistério público. De acordo com a Lei nº
467, de 30 de setembro de 1949, caberia ao Departamento de
Educação publicar anualmente um edital de convocação de
candidatos no mês de janeiro, para que as inscrições fossem feitas
durante dez dias consecutivos em qualquer Delegacia de Ensino do
estado. As escolas e classes para provimento eram todas as de
estágio e continuaram vagas após o concurso de remoção. As escolas
226
passaram a ser oferecidas aos candidatos em chamada geral,
respeitando a classificação na ordem decrescente dos pontos obtidos.
Para a formação dos pontos, foram acrescidas na contagem de
tempo de efetivo exercício as substituições e regências interinas ou
eventuais feitas antes da formatura pelo candidato. Não poderiam
ingressar professores com menos de 18 anos e mais de 45 anos de
idade, assim como os estrangeiros e aqueles que não estivessem quites
com o Serviço Militar.
O docente que não tomasse posse do cargo para o qual foi
nomeado ou exonerasse no primeiro ano letivo, não poderia se
inscrever no próximo ano para o concurso de ingresso.
A cadeira prêmio, foi mantida como forma de ingresso e passou a ser
permitida [...] a inscrição em conjunto, pela média de pontos, de
candidatos casais de professores, bem como a de professores irmãos ou
parentes a 2º grau(SÃO PAULO, 1949, p. 5).
A professora Nilce Apparecida Lodi Rizzini é um exemplo de
candidata que ingressou no meio rural pela concessão do direito à
cadeira prêmio. Ela relatou que seu ingresso no meio rural se deu
pela cadeira prêmioque na época, era uma particularidade do Curso
Normal no Instituto Estadual dar uma
[...] concessão de PRÊMIO de escolher, uma classe no ensino
primário juntamente com os professores inscritos no concurso de
remoção. Esse Prêmio foi criado por lei estadual e aplicado desde a
criação do Curso do Instituto de Educação do Estado de 1950 a 53.
No meu caso isso foi o estímulo que despertou o desejo de competir.
Muitas se dedicaram em obter aprovação com as melhores notas
durante o Curso. Eu obtive o prêmio em 1953 e determinou a
direção de minha carreira de professora. (NILCE APPARECIDA
LODI RIZZINI, 2020).
227
Nilce Lodi se inscreveu no concurso de ingresso no magistério
primário em 1954. Embora tenha relatado que a escolha dos
normalistas premiados era feita antes dos professores inscritos para a
remoção, o prescrito na legislação vigente era que a inscrição seria
após cinco dias do concurso de remoção. Contudo, explicou que na
Delegacia de Ensino de São José do Rio Preto não havia vaga em
nenhum Grupo Escolar da cidade, apenas uma escola mista rural,
localizada a 7 km de São José do Rio Preto. Desse modo, ela escolheu
a Escola Mista da Fazenda Scaff, de São José do Rio Preto.
Em realidade, no conjunto das narrativas analisadas, com o
cotejamento das legislações examinadas, uma das estratégias utilizadas
pelo governo estadual para suprir a ausência de professores em escolas
localizadas em zonas rurais foi instituir legislações educacionais para
que a primeira nomeação do docente fosse no meio rural. Com tal
procedimento, pretendia-se resolver o problema de provimento das
escolas mais distantes e mal localizadas.
Em vista disso, a professora Ivanilde Prudência, relatou que
seu início em 1959, em escolas rurais foi decorrente da exigência da
época, porque era [...] O início para todos e foi uma chance que eu tive
de ter a minha escola. De lecionar para os meus alunos em um período
meio grande. Mesmo financeiro, porque eu estava ganhando meu
dinheiro”.
Do mesmo modo, foi relatado pela professora Yara Aparecida
Aude o início no meio rural em 1961. Explicou: Então, os motivos
que me levaram para o meio rural foi a oportunidade de recém-formada.
Oportunidade de ganhar dinheiro. Oportunidade de trabalhar. O meu
objetivo era dar aula. Com base em seu relato, o ingresso na escola
228
rural ocorreu em razão da condição de ser recém-formada, além da
necessidade de ganhar dinheiro.
Em 1961 também ocorreu o ingresso da professora Irce Elias
Pires da Costa. Ela contou que seu início no meio rural ocorreu
porque era preciso somar uma pontuação adequada para ter aulas
atribuídas e até mesmo fora de São José do Rio Preto não conseguia
pegar nada, já que não tinha concurso aberto quando ingressou.
Pontos eram quantos dias lecionados. Para ingressar no magistério.
Aí primeiro era ponto só, depois... quando eu ingressei foi 25% das
vagas por prova e 75% por pontos, mas eu fui por prova. Depois no
ano seguinte foi 50% por prova e 50% por pontos. Depois no outro
ano
75 % das vagas por prova e 25 % por pontos. No outro ano 100%
por prova. Você contava sim os pontos para classificação, mas vo
tinha que fazer o concurso. Aí era obrigado a fazer o concurso. Que
eu ingressei no primeiro concurso de títulos e provas. Primeiro
concurso que abriu para fazer prova, eu prestei o concurso e passei.
Graças a Deus. (IRCE ELIAS PIRES DA COSTA, 2019).
Irce Elias rememorou de forma detalhada como eram os
concursos de ingresso no magistério primário no estado de São Paulo.
Como base no seu relato e no que estava prescrito (nas legislações), os
primeiros concursos de recrutamento eram apenas por concurso de
tulos. Essa realidade perdurou no estado até a aprovação da Lei nº
7.378, de 31 de outubro de 1962, que regulamentou o primeiro
concurso de ingresso e reingresso no magistério público primário
paulista por meio de provas e títulos.
Nessa perspectiva, as provas de concurso incidiram sobre
matérias de cultura geral e especializada, de modo objetivo.
229
Dependendo do regulamento, poderia ter prova de inteligência, de
vocação ou personalidade e de capacidade docente. As notas das
avaliações eram contabilizadas de zero a 100 pontos, considerando-se
habilitado o candidato que obtivesse nota igual ou superior a 50, nas
matérias de cultura geral, igual ou superior a 50, nas matérias de
cultura especializada e média geral igual ou superior a 50 (SÃO
PAULO, 1962c).
No entanto, no dia 24 de dezembro de 1962, foi aprovado o
Decreto nº 41.277, que passou a regulamentar a Lei nº 7.378, a qual
ocasionou retificações. Desse modo, as matérias das provas do
concurso de ingresso passaram a ser determinadas. Para a prova de
cultura geral seriam avaliados os conhecimentos em Português e
Conhecimentos Gerais e as de cultura especializada, Psicologia e
Metodologia. Caso tivesse a prova de inteligência, de vocação e de
personalidade ou capacidade docente, teria a finalidade de excluir os
candidatos que apresentassem contraindicação grave para o exercício
da profissão. Para o candidato ser habilitado deveria obter nota igual
ou superior a 50, nas matérias de cultura geral, cultura especializada,
bem como na média geral.
Outra retificação sofrida na Lei nº 7.378 referiu-se às
avaliações dos títulos, que passaram a ser analisados com mais
elementos sobre os aspectos da experiência docente, formação cultural
e atividades no meio escolar, como pode ser analisado no Quadro 25:
230
Quadro 25 - Títulos avaliados para ingresso em concurso de provas e títulos
1962
I - Experiência docente
LEI Nº 7.378
DECRETO Nº 41.277
I - Experiência docente,
compreendendo tempo de
exercício como professor
ou substituto de professor e
aprovação de alunos em
unidade de ensino primário
comum, pré-primário,
especializado, supletivo e
de parques infantis.
a)
- Ao tempo de exercício como professor
regente interino ou substituto efetivo de
grupos escolares de escolas isoladas estaduais,
de escolas municipais fiscalizadas pelo
estado, nas zonas urbanas ou distritais, de
escolas mantidas de acordo com o artigo 14
do Decreto 39.660, de 16 de janeiro de
1962 de cursos primários anexos aos
Institutos de Educação, as Escolas Normais
oficiais, municipais ou particulares
reconhecidos pelo estado 1 (um) ponto por
dia;
b)
- Ao tempo de exercício como professor,
regente interino ou substituto efetivo de
grupos escolares ou escolas estaduais ou de
escolas municipais fiscalizadas pelo estado -
situadas em zona rural:
2 (dois) pontos por dia;
c) - Ao tempo de exercício como regente de
parques infantis, de escolas ou de classes pré-
primárias municipais fiscalizadas pelo estado:
5 (cinco) décimos de ponto por dia;
d) - Ao professor, regente interino ou
substituto, quando na regência de classes ou
de escolas - por aluno aprovado, e
proporcionais aos dez meses do ano letivo:
10 (dez) pontos:
e)
- Ao regente de classes ou de escolas pré-
primárias ou especializadas pelo
aproveitamento de alunos, e proporcionais
aos dez meses do ano letivo: 100 (cem)
pontos.
231
II -
Formação cultural e atividades no meio escolar
a) regência de orfeão infantil e ministração
de aulas de educação física:
a)
- Pelo diploma de
licenciado em Pedagogia,
expedido por Faculdade de
Filosofia, oficial ou
reconhecida: 200
(duzentos) pontos;
b) ajuda efetiva a instituições escolares;
b) - Pelo diploma de curso
de Administrador Escolar,
de Aperfeiçoamento, de
Especialização (Pré-
Primária, Deficientes
Mentais, Cegos e
Amblíopes, Surdos e
Mudos): 100 (cem) pontos;
c) aulas dadas a grupos de alunos de
aprendizagem difícil;
c)
- Por Seminários ou
Cursos de Férias
promovidos ou autorizados
pelo Departamento de
Educação: 10 (dez) para
cada um deles, até o limite
de 100 (cem);
d) cursos de férias e de especialização; e
d) - Por títulos julgados
relevantes ao ensino e à
administração pública: 5
(cinco) pontos para cada
um deles, até o limite de
100 (cem);
e) títulos julgados relevantes em relação ao
ensino e à administração pública
e) - Pela regência ou como
auxiliar de orfeão infantil
registrado no Serviço de
Música e Canto Coral, do
Departamento de
Educação: 10 (dez) pontos
por mês;
232
Parágrafo único - Ficam expressamente
assegurados aos candidatos, para fins de
classificação, todos os favores da Lei nº 76,
de 23 de fevereiro de 1948, relativos a
pontos pela alfabetização de adultos.
f) - Pela administração de
aulas de educação física,
pelos substitutos sem
regência de classe
homologação do Delegado
do Ensino: 10 (dez) pontos
por mês;
g) - Pela colaboração
efetiva como membro de
Diretoria de instituições
auxiliares da escola: 5
(cinco) pontos por mês;
h) - Por aulas dadas a
grupos de alunos de
aprendizado difícil
(mínimo de cinco alunos),
pelo substituto sem
regência de classe, e
obedecida orientação da
Delegacia do Ensino: 1
(um) ponto por dia.
§ 1.º - As férias escolares,
domingos, os feriados,
facultativos, as suspensões
de aulas por determinação
superior - descontadas as
faltas, afastamentos e
licenças sem vencimentos -
são considerados como
tempo de exercício, para
fins dos itens “a”, “b” e “c”
do inciso I, deste Artigo.
§ 2.º - Não será permitida
a contagem cumulativa de
pontos por tempo de
exercício e promoção, salvo
a prevista no Parágrafo
Único do Artigo 5º da Lei
7.378, de 31 de outubro
233
de 1962, relativa aos
pontos pela alfabetização
de adultos constante da Lei
76, de 23-2-1948.
§ 3.º - Os dias de licença
concedidos a gestantes, e os
de licença prêmio, no caso
de reingresso, são
considerados como tempo
de exercício, na forma do
Parágrafo 1º deste Artigo.
Fonte: Elaborado pela autora com base no artigo 5º da Lei nº 7.378 e o artigo
3º do Decreto nº 41.277 (SÃO PAULO, 1962d, 1962a).
Nota-se que antes da promulgação do decreto, os critérios de
avaliação dos títulos eram considerados de forma generalizada. Além
disso, posteriormente à promulgação, tais títulos passaram a ser
listados de modo que o candidato tivesse conhecimento da pontuação
adquirida em cada quesito, deixando o processo mais transparente.
No que diz respeito à classificação das escolas em estágios,
como vinha sendo prescrito nas legislações anteriores, notou-se uma
ausência dessa classificação. Desse modo, com o atual decreto, passou-
se a classificar as unidades escolares de ensino primário para efeito de
análise dos títulos como experiência docente em urbanas, distritais e
rurais. Com isso, a classificação das escolas isoladas e grupos escolares
passa a não ter qualquer efeito na contagem de pontos como
experiência do professor para o concurso de ingresso e remoção.
A escolha da classe ou escola pelos candidatos aprovados ocorria
após a conclusão do concurso, em chamada geral, respeitando a
classificação na ordem decrescente dos pontos obtidos. Entretanto,
para a escolha de escolas e classes integradas no regime especial para a
zona rural, tanto a Lei nº 7.378 como o Decreto nº 41.277, previam
234
aos candidatos interessados ser diplomado pela Escola Normal Rural
de Piracicaba, por cursos de especialização rural dos Institutos de
Educação do Estado ou realizados pelas Escolas Agrotécnicas de Pinhal,
Jacareí, São Manuel e outras congêneres(SÃO PAULO, 1962d, p. 2;
SÃO PAULO, 1962a, p. 2).
Não houve retificação com relação aos candidatos que
poderiam se inscrever no concurso, manteve-se as mesmas exigências:
ser brasileiro com mais de 18 e menos de 45 anos de idade e ser
diplomado por Curso de Aperfeiçoamento dos Institutos de
Educação, pelas Escolas Normais (oficiais, municipais e particulares)
do estado.
Dessa maneira, entre os anos de 1964 e 1966, os provimentos
das classes e dos estabelecimentos escolares de ensino primário vagos
no estado obedeceram ao que previa o artigo 6º da Lei nº 7.378:
I - Em 1963, 75% (setenta e cinco por cento) das vagas
existentes, por meio de concurso de títulos, nos têrmos da Lei n.
467, de 30 de setembro de 1949, e respectiva regulamentação, e
25% (vinte e cinco por cento), mediante concurso de títulos e
provas, nos têrmos desta lei.
II - Em 1964, 50% (cinquenta por cento) das vagas existentes,
por meio de concurso de títulos, nos têrmos da Lei n. 467, de 30
de setembro de 1949, e respectiva regulamentação, e 50%
(cinquenta por cento), mediante concurso de títulos e provas,
nos têrmos desta lei.
III - Em 1965, 25% (vinte e cinco por cento) das vagas
existentes, por meio de concurso de títulos, nos têrmos da Lei n.
467, de 30 de setembro de 1949, e respectiva regulamentação, e
75% (setenta e cinco por cento), mediante concurso de títulos e
provas, nos têrmos desta lei.
235
IV - A partir de 1966, a totalidade das vagas existentes, mediante
concurso de títulos e provas, nos têrmos desta lei. (SÃO PAULO,
1962d, p. 2).
De todo o modo, o início da docência dos professores
primários paulistas ocorreu nas escolas isoladas rurais. Tal afirmação
vem ao encontro da narrativa da professora Maria Inês Magnani
Salomão. Depois que se diplomou, ela relatou que aula era só no
sertão, já que nas cidades havia poucas escolas e já estavam ocupadas
por professores efetivos. Com isso, o único jeito era pôr o pé na
estrada e dar aula longe. Desse modo, os motivos que a levaram para
o magistério rural, em pleno sertão, foram a necessidade de conseguir
uma sala para trabalhar, além de juntar pontos para concorrer, no
próximo ano, uma vaga nas escolas da cidade, como pode ser
verificado em sua narrativa:
[...] No sertão você pegava aula fácil. Ficar aqui na cidade.... Rio
Preto era uma cidade pequena, não tinha muito recurso em termos
de quantidade de escolas. Mas para pegar aula aqui também já era
quem vinha antes, porque era por pontos também. Eu não tinha
ponto nenhum, era recém-formada. Não adianta concorrer com...
Aqui lecionava 1 ano já ganham dez pontinhos, já passava na sua
frente. Então a gente ia para o sertão fazer pontos, para depois voltar.
Depois surgiu o concurso de ingresso e se você tivesse aqueles pontos
juntava com o concurso. Mas a gente não tinha nada, ponto
nenhum. Então vamos para o sertão, vamos dar aula! (MARIA
INÊS MAGNANI SALOMÃO, 2019).
Emerge, nessa narrativa, além da necessidade, os desafios em
querer ser professora. É sair de casa. Enfrentar o mundo. Projetar
futuro. Aprender a viver em outro ambiente.
236
Embora tenha sido prescrito tanto na Lei nº 7.378 como no
Decreto nº 41.277, de 1962, que para ingressar em escolas ou classes
integradas no regime especial para a zona rural era preciso ter uma
formação específica para o meio rural, isso não se confirmou a partir
do relato de Maria Inês, uma vez que sua diplomação se deu na Escola
Normal e não no Instituto de Educação Monsenhor Gonçalves em
São José do Rio Preto.
De modo semelhante foi o ingresso no magistério da
professora Maria Nirce Previdentes Sanches. Ela iniciou a carreira
docente no meio rural em 1967 como professora substituta, cuja
motivação foi contar pontos para que no próximo ano conseguisse
garantir uma sala de aula e assim continuar trabalhando no
magistério. Explicou que [...] os pontinhos que eu fiz aqui, eu tive
chance de no outro ano, eu pegar uma fazenda lá. Fui trabalhar na zona
rural. E fazia pontos se eu ficasse na fazenda. Quem morasse na fazenda.
Ainda acrescentou Era vigiado, viu. Era vigiado o negócio. Não tinha
para onde você escapar”. Os vestígios evocados possibilitaram constatar
a situação de dependência da professora em relação ao fazendeiro,
visto que uma das condições para obter a validação da contagem dos
pontos era morar no campo.
Diferente dos demais docentes, o professor Jorge Salomão
assim que se diplomou normalista em 1965, no ano seguinte,
conseguiu pegar uma classe dentro de São José do Rio Preto. Explicou
que nessa época havia duas escalas para escolha de salas. A primeira
era para quem já havia dado aula e a outra era para quem estava
iniciando. Desse modo, na escala dos iniciantes, ele foi o primeiro da
lista. Escolheu uma classe na Escola São Judas Tadeu, em São José do
Rio Preto. Relatou que, em 1971, iniciou na escola rural porque:
237
[...] não tive opção. Foi falta de opção mesmo. Quando eu comecei,
eu comecei aqui dentro de Rio Preto naquela espécie de ONG, São
Judas Tadeu. No primeiro ano em 68, foi a partir daquela escala,
quem tinha trabalhado 1 ano e quem estava começando. Eu peguei
em
1º lugar. Em 69 eu peguei quando o rapaz desistiu em julho e eu
fiquei com a classe de agosto a fevereiro do ano seguinte. (JORGE
SALOMÃO, 2019).
A professora Palmira Miqueletti Marra relatou que após se
diplomar normalista, em 1968, ela iniciou a Faculdade de Geografia
em Catanduva. Nessa época, trabalhava no comércio em São José do
Rio Preto:
[...] não saí do trabalho que eu estava. Que eu trabalhava no
comércio. Não sai porque minha faculdade era uma autarquia
72
,
certo... e eu tinha que pagar um pouco e eu pensava assim. Se eu for
aventurar a pegar uma classe esse ano, às vezes, no ano que vem, eu
não consiga pegar classe de professor de emergência. Às vezes eu não
pego uma classe o ano que vem e aí iria dificultar eu terminar a
minha faculdade. (PALMIRA MIQUELETTI MARRA, 2019).
72
Conforme foi possível observar, a referida Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Catanduva (FAFICA) foi criada em 29 de julho de 1966, por meio da Lei Municipal
792/66, e transformada em setembro do mesmo ano, pela Lei nº 803/66, em Entidade
Autárquica Municipal, com personalidade jurídica de Direito Público, constituindo-se em
entidade sem fins lucrativos, com sede e foro no Município e Comarca de Catanduva. Em 7
de abril de 1967, a escola foi autorizada a funcionar pelo Decreto Estadual nº 47.886/67.
Por meio da Lei Municipal 3.645/2000, alterada pela Lei Municipal nº 4.596/2008, a
FAFICA foi redenominada Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva (IMES
Catanduva). Os cursos iniciados em 1967 foram Pedagogia, História, Geografia e Letras e o
reconhecimento deles se deu pelo Decreto Federal nº 68.187/71 (INSTITUTO
MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE CATANDUVA, 2022).
238
Sua narrativa assinala que as escolas isoladas eram do tipo de
emergência. Criadas na década de 1950, as escolas de emergência
faziam parte de uma política deliberada do governo paulista de
ampliar a expansão do ensino primário no estado de São Paulo
atendendo alunos do 1º ano do curso primário em caráter precário e
paliativo em classes improvisadas e com professores contratados como
substitutos (LEITE, 2018).
Quando foi publicado o Edital
73
do concurso de ingresso para
o magistério, Palmira Miqueletti foi aprovada, mas a efetivação não
era imediata, entretanto, no ano de 1972 o governador do estado
baixou um decreto dando prioridade de escolha nas escolas de
emergência àqueles professores aprovados em concurso. Por meio
dessa possibilidade, ela conseguiu ser contratada como substituta em
uma escola rural. De acordo com seu relato, o motivo que a levou
para a escola rural:
[...] Foi o salário naquela época. Eu ganhava na empresa que eu
trabalhava, não me lembro se era $ 250,00 cruzeiros ou cruzados e
eu fui pra lecionar ganhando $750,00. Então isso também ajudou
e muito. E era a oportunidade que eu estava esperando para iniciar
aquilo que eu sempre quis ser. Professora! (PALMIRA
MIQUELETTI MARRA, 2019).
A professora Sônia Aparecida Azem, ingressou no magistério
rural em 1972. Relatou que o motivo que a levou para as escolas rurais
73
O decreto referido pela professora foi publicado dia 11 de fevereiro de 1972, na gestão de
Laudo Natel, governador do estado de São Paulo, assegurava, durante o ano de 1972,
“prioridade de aproveitamento aos candidatos classificados no último concurso de ingresso
do magistério primário estadual, para regência de escolas comuns e de emergência, desde que
inscritos nas respectivas escolas” (SÃO PAULO, 1972, p. 1).
239
foi a pontuação, pois mesmo com o curso superior, afirmou que não
havia muitas escolas em São José do Rio Preto com vagas já que “[...]
fiz minha inscrição pra lecionar na zona urbana, não tinha e caí na
rural”.
Desse modo, no estado de São Paulo, com base na análise das
legislações estaduais, o ingresso na carreira docente ocorreu por meio
de concursos de títulos, que priorizou o tempo de serviço e a formação
do professor e depois pelos concursos de provas e títulos. Até 1975
manteve-se a mesma forma de ingresso de professores com base nas
prescrições da Lei nº 7.378, assim como do Decreto nº 41.277,
ambos do ano 1962. No dia 26 de setembro de 1975, os concursos
passam a ser regulamentados pelo Decreto nº 6.823
74
, que dispunha
sobre os concursos de ingresso e de acesso aos cargos docentes do
magistério público de 1º e 2º graus do estado de São Paulo.
Os concursos de ingresso para o magistério paulista contaram
com iniciativas distintas, regidas por diferentes legislações. Tal fato,
confirma a não identificação entre os professores e o meio rural, mas,
uma relação com os critérios da própria legislação para o acesso à
profissão.
Portanto, a análise das fontes (documentais e orais) revelaram
que o ingresso no magistério rural no estado de São Paulo não foi uma
escolha dos professores, mas a única opção de começarem a carreira.
Somente após o tempo mínimo de 200 dias letivos para então
pedirem remoção para outro estabelecimento. Nesse sentido, os
normalistas paulistas não tinham como escapar do batismo de fogo
na escola rural” (ALCÂNTARA, 2012, p. 294).
74
Neste estudo não se pretende examinar esse decreto, por se tratar de uma publicação
posterior ao período de ingresso dos professores entrevistados.
240
Por outro lado, em outras regiões do país, tal como
demonstram as pesquisas realizadas no Ceará, Minas Gerais e Sergipe,
o ingresso dos professores para o meio rural se dava de modo menos
institucionalizado. Nessas localidades era comum a política de
apadrinhamento, por meio de negociações e indicações de
autoridades locais e de fazendeiros, ou seja, a velha prática da troca de
favores. Os resultados desses estudos, ainda, indicaram que havia
também muitas pessoas sem formação específica que assumiam o
magistério (ASSIS, 2018; CAMPOS, 2018; SIQUEIRA, 2019).
Isto posto, não se pode dizer que, no estado de São Paulo não
incidia a prática de indicação para contratação de professores rurais.
O fato é que, no território paulista, diferentemente dos demais
estados, havia muitos docentes formados. O que se deduz é que a
ausência desse profissional nas escolas rurais levou o governo estadual
a instituir leis de ingresso para levar o professor para o meio rural.
Dado o recorte histórico aqui analisado, notou-se que os
professores paulistas utilizaram a estratégia de ingressar no magistério
em escolas isoladas rurais para acumular pontos e conquistar
sucessivas transferências até chegar a estabelecimentos escolares mais
próximos de centros urbanos, assim, eles poderiam iniciar a profissão
docente no estado de São Paulo.
As legislações aqui foram interpretadas como estratégias
utilizadas pelo governo do estado que, no caso, ocupavam o lugar de
poder para assegurar o ensino nas escolas isoladas rurais do estado.
Nesse caso, começar o magistério na escola rural foi um elemento
obrigatório no início da carreira docente no estado de São Paulo para
os professores, de modo que esses estabelecimentos tivessem docentes,
241
no sentido de expansão do ensino, ao contrário de uma preocupação
rural em sua especificidade.
No conjunto das dez narrativas analisadas, identificou-se
pontos comuns para o ingresso na docência no meio rural, embora
haja particularidades de cada um, os relatos são reveladores dessa
assertiva, na medida em que evocaram a forma como iniciaram a
carreira.
Por todo o exposto, os professores da região de São José do
Rio Preto ingressaram na carreira por meio de concurso, sendo
nomeados como professores substitutos. Começar a carreira como
professor substituto no meio rural foi uma das táticas apropriadas
pelos professores, com o propósito de acumular pontos e conseguir,
nos anos subsequentes, melhor classificação para nomeações e
remoções.
4.2 Itinerários percorridos no magistério rural
Considerando as exposições do tópico anterior, legalmente, o
ingresso no meio rural, não foi uma opção de escolha para os
docentes, mas uma exigência profissional, uma imposição. Nesse
sentido, a “[...] realidade difere, em quase tudo, da escola com que
sonhou o noviço(ALMEIDA JÚNIOR, 1951, p. 10), ao diplomar-
se normalista.
Nesse sentido, antes de problematizar a chegada dos
normalistas nas escolas primárias isoladas rurais no estado de São
Paulo, entre 1940 e 1970, é importante apresentar como ocorreu a
classificação dessas escolas.
242
De acordo com o escrito de Souza e Ávila (2015), desde o
século XIX os governos provinciais adotaram algum tipo de
classificação das escolas para facilitar a nomeação dos professores e
determinar o local de criação e instalação das escolas de primeiras
letras, de modo que a [...] classificação obedecia mais a um princípio
organizacional(SOUZA; ÁVILA, 2015, p. 294).
Nessa perspectiva, as escolas preliminares existentes no estado,
no início do período republicano, eram regidas por professores
normalistas (diplomados); as escolas intermediárias eram regidas por
professores sem formação, mas habilitados por concurso; e as escolas
provisórias eram exercidas por professores interinos (não normalistas),
sendo esses examinados pelos inspetores de distritos (SOUTO, 2005;
SOUZA, 2016). Além dessas, havia também as escolas ambulantes,
as escolas noturnas e a escola modelo (SOUZA, 1998).
Com a publicação da Lei nº 930, de 13 de agosto de 1904, as
escolas do ensino primário público do estado passaram a ser
classificadas de acordo com a organização e a localização: escolas
ambulantes; escolas isoladas de bairros ou escolas isoladas de distrito
de paz; escolas de sede de municípios; grupos escolas; escola-modelo
preliminar anexa à Escola Normal da Capital. Para Oriani (2015,
2018), esta classificação ocasionou a distinção geográfica determinada
entre a escola da zona urbana e a escola do meio rural.
Em 1917, as escolas passaram a ser reclassificadas por meio
das determinações previstas na Lei nº 1.579, de 19 de dezembro.
Nesse sentido, as escolas isoladas paulistas receberam as seguintes
classificações: escolas rurais, distritais e urbanas. As isoladas rurais são
as localizadas nas propriedades agrícolas, nos núcleos coloniais e nos
centros fabris distantes da sede dos municípios. Os cursos seriam de
243
dois anos, com um programa de ensino que atendesse às necessidades
do meio em que funcionavam. Já as distritais são as situadas em
bairros ou sede de distrito de paz, com curso de três anos e com o
mesmo programa das escolas rurais. As urbanas são as criadas em sede
do município, com o curso de quatro anos e com programa que
contemplasse todo o ensino preliminar (SÃO PAULO, 1917).
No final de 1926, com a aprovação do Decreto nº 4.101, o
ensino público primário passou a ser ministrado nas: escolas isoladas
rurais diurnas; escolas isoladas urbanas diurnas; escolas reunidas
diurnas, rurais ou urbanas; grupos escolares; escolas e cursos
noturnos; escolas modelo e escolas modelo isoladas. A duração do
ensino primário seria de: quatro anos, nos grupos escolares; e três
anos, nas escolas isoladas e reunidas (SÃO PAULO, 1926).
Em 1929, a classificação das escolas permaneceu a mesma,
conforme estabelecido no Decreto nº 4.600, de 30 de maio de 1929.
Entretanto, a legislação alterou o tempo de duração do curso
ministrado nas escolas, ficando assim distribuído: grupos escolares,
com quatro anos; escolas isoladas e reunidas (urbanas), com três anos;
e escolas rurais, dois anos (SÃO PAULO, 1926). Para Souza (2016,
p. 372), essa [...] diferenciação entre os tipos de escolas primárias no
século XX tornou-se um dispositivo de manutenção das desigualdades
sociais e educacionais”.
A distinção das escolas entre rurais e urbanas foi, para Souza
(2014, p. 233), uma consequência da [...] racionalização
administrativa propugnada pelos órgãos da administração do ensino
face às dificuldades de provimento das escolas localizadas no interior
do estado, nos bairros longínquos, vilas e povoados rurais”.
244
Consolidada, essa diferenciação da escola isolada, no estado
de São Paulo, passou a ser o tipo predominante de escola criada no
meio rural, com regência de um professor ministrando o ensino para
um grupo de alunos de diferentes níveis de aprendizado numa mesma
sala. Além disso, passam a ser estabelecidas políticas educacionais
específicas para expansão do ensino primário nas escolas urbanas e
rurais.
Desde 1920, as propostas ruralistas começaram a circular no
campo educacional brasileiro. Entretanto, no estado de São Paulo,
somente entre as décadas de 1930 e 1960, as políticas dos governos
estaduais voltadas para o ensino primário rural começaram a ser
debatidas entre ruralistas e defensores da escola comum (SOUZA;
ÁVILA, 2015).
Disso decorreu, na concepção de Ávila (2013), a ideia de um
modelo educativo voltado para a vida rural em oposição a uma escola
comum na cidade, ocasionando debates em torno da adoção dos
modelos de escola rural que deveriam ser difundidos no país.
Entre os que defendiam um modelo de escola rural, estavam
os renovadores da educação, adeptos da Escola Nova, que defendiam
uma escola única e comum para todos, independentemente do local
em que estivesse inserida. Os ruralistas, por sua vez, defendiam que o
espaço rural deveria comportar uma escola típica rural, com um
ensino de caráter vocacional agrícola (ORIANI, 2017).
Em consequência dos debates entre os defensores da escola
comum e os ruralistas, criaram-se políticas educacionais para o meio
rural, alterando a concepção de escola primária. O Código de
Educação de 1933, previa uma escola estruturada de forma a atender
às necessidades individuais do meio e do grupo social onde estava
245
localizada; também tinha como intento: desenvolver na criança o
sentimento de responsabilidade individual de trabalho; solidariedade
e cooperação; formação integral do aluno, de modo que a formação
intelectual, moral e cívica fosse predominante e, ainda, contribuir
para que as crianças descobrissem suas aptidões naturais, orientadas
para a vida profissional (SOUTO, 2005).
As escolas públicas de ensino primário passaram a ser
distribuídas nas seguintes categorias: escolas isoladas, grupos
escolares, cursos populares noturnos e escolas experimentais, além de
serem classificadas em: masculinas, femininas e mistas. Para a criação
de escolas isoladas rurais, o Código determinava que adotassem o tipo
de granja escolar, contando com uma área cultivável de pelo menos
três hectares, um edifício com salas e aposentos necessários para a
residência do professor (SÃO PAULO, 1933b). O curso teria uma
duração de três anos, com um programa necessariamente [...] prático
e encaminhado no sentido de fixar o indivíduo no meio em que vive,
será adaptado às necessidades e conveniências locais(SÃO PAULO,
1933b, p. 72).
O Código de Educação estabeleceu a criação de missões
técnicas e culturais para visita periódica às escolas rurais, visando
nortear a atividade do professor. Instituiu uma gratificação especial
anual de 600$000 aos professores da zona rural, para estimular o
provimento dessas escolas. Era necessário comprovar, pelo menos,
200 dias letivos na mesma escola, frequência média anual de 25
alunos e promoção de 70% dos matriculados. Quanto à criação dos
grupos escolares, a preferência do governo foi nos lugares em que a
municipalidade ou particulares doassem ao estado prédio construído.
Os grupos escolares só seriam instalados em área de dois quilômetros
246
e que houvesse 200 crianças em idade escolar, com um curso de
quatro anos de duração (SOUZA, 2019).
Dos vários tipos de classificação das escolas primárias
existentes: grupos escolares, escolas isoladas, escolas reunidas, escolas
isoladas urbanas e escolas rurais, iniciou-se a diferenciação da rede de
escolas primárias na zona rural com a criação das granjas escolares,
grupos escolares rurais e as escolas típicas rurais (SOUZA; ÁVILA,
2015).
Desse modo, as escolas primárias na zona rural passaram a
coexistir como
[...] escolas primárias de ensino comum, com o mesmo programa
das escolas isoladas urbanas, e escolas primárias de ensino típico
rural, isto é, com finalidades e programas para a zona rural. Na
Consolidação das Leis do Ensino foi estabelecida a separação
entre educação primária e educação rural. A primeira designava
o ensino ministrado nas escolas primárias urbanas e rurais de
ensino comum. A segunda referia-se ao tipo de ensino de feição
ruralista, isto é, aquele ministrado nas escolas típicas rurais, nos
grupos escolares, nos cursos de agricultura das escolas normais e
nos cursos intensivos, destinados aos professores rurais.
(SOUZA; ÁVILA, 2015, p. 235-236).
No estado de São Paulo, o ensino tipicamente rural foi
ministrado em três tipos de escolas primárias: nas Granjas Escolares,
nos grupos Escolares Rurais e nas denominadas Escolas Típicas
Rurais. Essas escolas previam programas de ensino específicos para o
meio rural, além de exigirem formação ou especialização agrícola de
todos os funcionários que nelas trabalhavam. Contudo, as escolas do
ensino tipo rural não tiveram um desenvolvimento significativo,
247
restringindo-se a um pequeno número, se comparadas ao número
expressivo de escolas isoladas (MORAES, 2014; SOUZA; MORAES,
2015).
Para se ter dimensão do número de estabelecimentos, Moraes
(2014) busca informações estatísticas referentes ao ano de 1937,
constatando a existência, no estado de São Paulo, de 628 grupos
escolares e 3.827 escolas isoladas, e, nesse mesmo período, eram
quatro o número das Granjas Escolares e 29 os Grupos Escolares
Rurais. Porém, no período de 1933 a 1968, a autora conseguiu
identificar 253 escolas de ensino típico rural, distribuídas da seguinte
forma: 5 (granjas escolares); 82 (grupos escolares rurais) e 76 (escolas
típicas rurais).
Em 1955, o Decreto nº 24.400 autorizou a criação de [...] até
cem (100) classes primárias, para funcionamento a título precário,
durante o período de dois anos, em salas e galpões de propriedade do
Estado ou para êsse fim cedidos por entidades privadas ou por
particulares(SÃO PAULO, 1955, p. 1). A instalação dessas classes foi
uma ação do governo para suprir, em caráter emergencial, a falta de
vagas nas escolas públicas primárias do estado.
A criação das escolas de emergência no estado de São Paulo
foi determinante para a expansão do ensino primário. Em 1955,
foram implementados 8.417 estabelecimentos. Em 1960, por sua vez,
foram criadas 10.340 escolas apenas na zona urbana (LEITE, 2018).
As escolas de emergência, por meio da Lei nº 3.783/1957,
passaram a ser classificadas como um dos tipos de escolas de ensino
primário no estado. Desse modo, foram classificadas nas seguintes
categorias: escolas isoladas, grupos escolares, cursos primários anexos
248
às escolas normais, cursos populares noturnos, escolas experimentais
e escolas de emergência (SÃO PAULO, 1957b).
Após diplomarem normalistas, os professores narraram ter
passado por diversas escolas no meio rural. Como percebido na
narrativa da professora Maria Nirce, ao iniciar sua carreira docente,
ela trabalhou em quatro escolas isoladas, em três municípios distintos:
[...] Trabalhei em Floreal, em Nhandeara, em Nova Lusitânia
outra, no sítio... Lá fui obrigada a morar mesmo, porque não tinha
condições de ir e voltar. Aqui eu já estava casada em morava em
Nhandeara. Eu fui para Nova Lusitânia para fazer pontos, para o
outro ano. Tinha que morar lá... no sítio. (MARIA NIRCE
PREVIDENTE SANCHES, 2019).
Não recordou o nome das escolas, mas explicou que a
primeira escola rural foi na fazenda de um proprietário chamado
Orlando Manzato, em 1967, na cidade de Nhandeara, tendo a
exigência de lá residir para acumular pontos. Em 1968, Maria Nirce
trabalhou na fazenda da família dos Belini, em Floreal, mas nesse local
ela não morou. Todos os dias pegava um ônibus para chegar à escola.
O problema não era a ida, mas a volta. De manhã o ônibus tinha um
horário fixo para passar, mas na volta não.
Então, ao terminar a aula, Maria Nirce esperava o ônibus até
o final do dia ou tentava conseguir uma carona para voltar para casa,
o que era muito difícil. Em 1969, a entrevistada lecionou na fazenda
Canjarana, em Nova Lusitânia. Nessa fazenda foi obrigada a morar
no local, porque não tinha condições de ir e voltar no mesmo dia por
conta da distância. Nessa época o seu filho já tinha nascido e estava
com dois anos. Como tinha que morar na fazenda, acabou levando o
249
filho junto. A proprietária era uma viúva que vivia com seus seis
filhos. Essa senhora lhe arrumou um quarto, onde alojou também o
filho pequeno.
O último lugar trabalhado por Maria Nirce foi na
propriedade do fazendeiro Bandalé, em Nhandeara, já em 1970, mas
não chegou a morar no local, embora fosse necessário utilizar um
cavalo como meio de transporte. Ela se aposentou com 44 anos de
idade, tendo sua carreira distribuída em 24 anos em escolas urbanas e
quatro anos em escolas rurais, destas últimas, respectivamente, com
atuação de um ano.
Do modo semelhante foi a narrativa da professora Sônia Azem
ao lecionar nas escolas rurais. Em 1972, iniciou na Escola de
Emergência da Fazenda Monte Belo, em Nova Aliança. Ela explicou
que essa escola ficava no distrito de Nova Aliança/SP e que hoje essa
cidade não existe mais em decorrência de um surto de febre amarela.
Essa cidade ficava a 45 km de São José do Rio Preto. Ela afirmou ser
a primeira professora mulher a lecionar nessa escola, onde lecionou
para o segundo e terceiro ano.
A segunda escola rural em que Sônia Azem lecionou ficava na
Fazenda Barro Preto, Nova Aliança, 27 km de São José do Rio Preto,
onde trabalhou por um ano. Relata que nessa fazenda [...] o pessoal
era bom. A gente levava os ovos, as coisas deles para vender e trazia para
eles com esse dinheiro, linha. A gente que levava linha, as coisas para eles.
Comprava as coisas para eles”. Ao sair dessa fazenda foi para a terceira
escola, no município de Tanabi, 41 km de São José do Rio Preto, mas
não conseguiu lembrar o nome das últimas duas escolas em que
trabalhou. Ao todo foram quatro escolas rurais, um ano em cada uma.
250
Sua carreira no magistério se estendeu por 47 anos, mas não chegou
a se efetivar por meio de concurso.
Na mesma simbiose, a professora Palmira Miqueletti narrou
que a primeira escola rural onde lecionou, em 1972, foi na Escola de
Emergência Fazenda Monte Belo, em Nova Aliança/SP, cidade que
ela considerava [...] próspera que depois da maleita extinguiu a cidade,
mas ficaram algumas pessoas por ali, né”. Nessa escola, trabalhou com
a professora Sônia Azem, ficando com os alunos do primeiro e
segundo ano, ao passo que nia se responsabilizava-se pelos alunos
do terceiro e quarto ano. É importante ressaltar que a professora Sônia
e a professora Palmira iniciaram no mesmo ano (1972) e na mesma
escola.
No ano seguinte, a professora Palmira Miqueletti atuou na
Fazenda Laranjal, em Nova Aliança. A terceira escola rural ficava na
Fazenda Santa Inês em Potirendaba. A quarta escola rural ficava na
Fazenda Fulgência, em Tanabi, 38 km depois do município de
Tanabi. Na localidade ficou um semestre, pois como já havia
terminado a Faculdade de Geografia, foi para o município de
Mendonça onde começou a lecionar a disciplina de Geografia e
Educação Moral e Cívica para a quinta série em diante. Palmira
lecionou em quatro escolas rurais, exercendo a carreira docente por
35 anos, dos quais três anos e meio foram dedicados ao meio rural.
Assim também foi o começo da Ivanilde Afonso. Ela lecionou
na Escola Mista da Fazenda Vitório Buraschi, em Poloni, entre 1964
e 1965. Mas antes disso, enfatizou que em 1961, atuou no Instituto
251
Penal Agrícola (IPA)
75
, em São José do Rio Preto, lugar onde os presos
moravam com sua família e pagavam suas penas com trabalho. Depois
ministrou aulas por um ano no município de Mendonça, na Fazenda
Santa Maria.
Em Mendonça eu fiquei 1 ano direto. De lá eu voltei para Voluntários
de 32 em Rio Preto, onde eu era substituta efetiva. Aí depois... Eu
lecionei no IPA em 61. Aí em 61 foi quando meu filho nasceu. Eu me
casei no início de 61. Fui para IPA em 61 e lecionei o ano todo lá. Os
meninos eram os filhos dos presidiários e filhos dos que trabalhavam
no IPA. Aí volto para Voluntário. Eu sempre voltava para
Voluntários. Depois não peguei mais nada de rural. Só fui para o rural
depois que eu ingressei, em 1965, quando vou para Polini. Só no fim
da minha carreira eu escolhi a Voluntários como efetiva.
(IVANILDE AFONSO PRUDÊNCIO, 2020).
Conforme seu relato, a primeira escola rural a lecionar foi no
IPA, a segunda escola na Fazenda Santa Maria e a terceira escola na
Fazenda Vitório Buraschi, embora nas últimas, já era professora
efetiva. Exerceu a carreira docente por 30 anos, deste tempo, ts anos
foram no meio rural.
Os relatos da professora Maria Inês corroboram os dos demais
professores. Após concluir o Normal, em 1965, o único jeito era
colocar o pé na estrada e dar aula longee foi se inscrever na Delegacia
de Ensino do município de Jales/SP, porque havia vaga no distrito de
São João de Iracema, um vilarejo próximo de General Salgado, a 127
km de São José do Rio Preto, onde foi a primeira escola rural a
75
O Instituto Penal Agrícola foi criado por decreto do governador Jânio Quadros, em julho
de 1955, passando a existir legalmente, a partir da promulgação da Lei nº 5.380, de 26 de
junho de 1959 (SÃO PAULO, 1959a).
252
lecionar. Maria Inês lecionou por dois anos num Grupo Escolar,
embora não tenha conseguido se lembrar da localização exata: “[...]
escola de São João do Iracema, não sei se era totalmente rural, mas eu
acho que sim, porque ela ficava num vilarejo..., mas em seguida, ela
faz uma descrição pormenorizada de onde trabalhou:
São João do Iracema era uma cidadezinha... assim. Tinha a igreja...
o quadrado em volta da igreja, os quarteirões eram habitados...
tinha casas, quer dizer tinha 2 ou 3 casas cada quarteirão, só...depois
era sítio. Era sítio, era fazenda, era isso... Nessa cidadezinha tinha
a igreja, tinha o bar do ponto, tinha o cartório e só... Era mais rural
do que urbano. As crianças que moravam longe iam a cavalo, porque
ali mesmo no centrinho não tinha quase... não tinha aluno, os
alunos vinham das fazendas, das chácaras, dos sítios. (MARIA
INÊS MAGNANI SALOMÃO, 2019).
Maria Inês atuou em São João de Iracema entre os anos de
1966 e 1967. Em 1968, trabalhou na Fazenda Zocal, no município
de General Salgado, lecionando na Primeira Escola Rural Mista
76
,
tendo a obrigação de residir no local em virtude da distância
percorrida, sendo necessário locomover-se de ônibus até Araçatuba e
completar o caminho a pé por 4km. Situação similar quando
ministrou aulas em outra fazenda, segundo ela, mais longe ainda de
General Salgado, cujo itinerário era de 20 km de ônibus e 4 km a
cavalo. No ano de 1970, lecionou na Escola Rural de José Bonifácio.
Em 1971, pegou uma licença de uma professora gestante, no
município de Potirendaba, onde a escola rural era acessível de
charrete. Após a licença, finalizou a Faculdade de Geografia e
76
Não foi localizada a informação sobre essa escola ter sido a primeira do município ou da
região.
253
começou a participar da atribuição de aulas, recordando cenas de
professores chorando para conseguir sala. Foi então que decidiu
mudar de profissão e prestar o concurso para o INPS e passou.
Por um certo período de tempo, Maria Inês trabalhou durante
o dia no INPS e à noite no Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (SENAC), ministrando aulas de Geografia, onde conheceu
o esposo. Brinca que Catei o chefe e levei pra casa. Quando abriu o
concurso para o Banco Nossa Caixa
77
, ela foi aprovada, mas só havia
vaga em Barretos, cidade onde trabalhou por quatro meses,
conseguindo depois transferência para São José do Rio Preto, onde
permaneceu quase 30 anos, até se aposentar. Afirmou ter exercido a
carreira docente por 11 anos, mas no meio rural foram cinco anos e
meio.
Diferente da esposa Maria Inês, bem como dos demais
professores entrevistados, o professor Jorge Salomão relatou que
iniciou o magistério no município de São José do Rio Preto, depois
que ele foi atuar no meio rural. Relatou: Em 68 e 69 foi no São Judas
Tadeu, tipo ONG. Em 71, 72 e 73 eu trabalhei nas escolas isoladas. Em
71 foi fazenda Água Limpa. Em 72 e 73 foi fazenda Santa Maria. As
duas escolas rurais que lecionou pertenciam ao município de Bady
Bassit. Em 1971, inicia na escola rural da Fazenda Água Limpa e 1972
e 1973 na Fazenda Santa Maria. Salomão exerceu a carreira docente
por 42 anos, dos quais apenas três anos foram dedicados à zona rural.
Conforme a narrativa da professora Yara Aude, ela trabalhou
77
Ela não recordou o ano em que fez o concurso, mas lembrou que foi contratada no dia 13
de maio de 1974.
254
Em Pirangi foi em 1961, eu não lembro se era Escola Mista do
Bairro Santa Luzia. Em Cedral, 1963 na Escola Mista do Bairro
da Abelha, foram quatro meses. Ainda em Cedral trabalhei na
Fazenda Bortoluzo também. Depois eu fui para José Bonifácio, na
Escola Mista do Bairro do Matão. Aí voltei em 1971 para Cedral
novamente, na Escola Mista do Bairro do Açude, aí fiquei 1971 a
1980. (YARA APARECIDA AUDE, 2019).
Nesse período, sua atuação no meio rural era intermitente,
cobrindo licenças de professores: três mês aqui, quatro meses, não
obstante recebia muito pouco. Ela se efetivou na rede estadual em
1967. Am das escolas rurais mencionadas, por um tempo, trabalhou
nas seguintes cidades: Santa Albertina, Santa Fé do Sul e Santa Clara
d’Oeste, todas localizadas no perímetro urbano. Em 1971, retornou
à Cedral para lecionar na Escola Rural Mista do Bairro do Açude,
permanecendo até 1980, mas como era efetiva em dois concursos era
preciso fazer a opção entre professora P1 ou professora P3, Yara
explica Eu efetivei pelo concurso nos dois, tanto P1 quanto P3. Em 1980
eu tive que escolher. Aí como eu escolhi Rio Preto como P3, então em vim
para cá. Fiquei com a Matemática e estava na minha cidade. Não tinha
aquele gasto. Ela trabalhou por 27 anos, destes, 10 anos foram
dedicados ao meio rural.
A professora Irce Elias também iniciou a carreira no
magistério em uma escola isolada rural, no município de Guapiaçu,
na Fazenda Floresta. Entretanto, ressaltou que essa escola não era
estadual e sim municipal.
[...] Eu trabalhei na Corredeira, no Fraga que chamava São Luís...
e na Floresta, na fazenda Floresta. Essa Floresta aqui, é municipal é
de Guapiaçu. São Luís é de Guapiaçu. Tudo em Guapiaçu. Escola
255
isolada eu não lecionei nenhuma escola em Rio Preto, só em
Guapiaçu e Planalto, né. Eu ingressei foi em Planalto. Quando eu
escolhi para me efetivar, eu escolhi em Planalto, porque não tinha
vaga por aqui, então eu ficava na fazenda. Era a fazenda do Drº
Lukezi, não lembro como chamava a fazenda... não sei se era
Taperão... não lembro. Todas essas eram substituição. (IRCE
ELIAS PIRES DA COSTA, 2019).
A segunda escola em que Irce Elias trabalhou também ficava
no município de Guapiaçu, na Fazenda Corredeira. Ao efetivar-se no
magistério, em 1964, escolheu a Fazenda do Drº Lukezi no
município de Planalto, passando pela Fazenda São Luís, última escola
rural em que lecionou. De acordo com suas memórias, entre as
Fazendas Floresta, Corredeira e São Luís, foram cinco anos de
magistério rural.
Quando ela estava lecionando em uma das escolas isoladas no
município de Guapiaçu, onde precisava morar, Irce recorreu ao
Deputado José Jorge Cury para conseguir uma escola que permitisse
seu retorno ao lar todos os dias. Depois ela também conseguiu, por
comissionamento, trabalhar na Delegacia de Ensino de São José do Rio
Preto. Aposentou-se com mais de 30 anos de serviço, dos quais 5 anos
foram nas escolas isoladas rurais, os demais na Delegacia de Ensino,
desviando sua atuação docente para atividades burocráticas, tais como:
mapas de movimentos de alunos, atestados, classificação e inscrição
para professores substitutos, sendo esses últimos utilizados pelos
supervisores para a atribuição de aulas. Declara ter feito a classificação
de professores e depois dos supervisores e fazia a convocação.
Diferente dos demais professores, a professora Nilce Lodi
atuou apenas em uma escola rural. Por ter ingressado no magistério a
256
partir da concessão da cadeira prêmio”, em 1954, pôde escolher uma
escola mais próxima de São José do Rio Preto. Explicou que escolheu
a Escola Mista da Fazenda Scaff, criada no ano 1953. A escola ficava
na sede de uma antiga fazenda de café, muito rica, com enormes
cafezais: [...] a maior do Município. A casa de fazenda era maravilhosa,
com jardim todo murado. Seu proprietário destinou à escola, o antigo
escritório ao lado da casa da fazenda. Ao lado, o terreiro e uma série das
casas de trabalhadores e do curral”. Acrescentou:
[...] Era a única escolha que eu poderia fazer dentro de Rio Preto.
O único prêmio de melhor aluna...o prêmio me dava o direito de
uma escola dentro de Rio Preto. Em Rio Preto a única escola vaga
para ser escolhida era essa ou então eu iria escolher Bálsamo. Essa
escola era dentro de Rio Preto. Era a 7km. Era uma escola mista de
primeiro grau. No concurso quando eu fui a São Paulo escolher, a
banca avisou: a senhora só tem em Rio Preto essa escola, não é em
nenhum Grupo Escolar dentro da cidade, mas é de primeiro grau.
Em Rio Preto tem gente que queria essa escola ou senão eu poderia
escolher um Grupo Escolar em alguma cidade vizinha. Entre viajar
para uma cidade vizinha, preferi ali, porque nossa família tinha um
sítio próximo. Então pra mim achei bem mais interessante escolher
essa de primeiro grau. (NILCE APPARECIDA LODI RIZZINI,
2020).
Com relação à classificação da escola, entende-se que a
professora Nilce Lodi quis referir-se às escolas de 1º estágio, em vez
de 1º grau, pois a memória é assim, cheia de esquecimentos. Sob esse
ponto de vista, Bosi (1987, p. 17) nos alerta que
[...] na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas repensar,
com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado... A
257
lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão
agora à nossa disposição no conjunto de representações que
povoam nossa consciência atual.
A professora Maria Alvarez, relatou que atuou em três escolas
primárias isoladas rurais. No entanto, ela não tinha curso específico
para o magistério. De acordo com seu relato: Trabalhei na que meu
pai fez, antes de me formar. Depois em 1949 eu fui para três escolas. A
Paulicéia, a Matão e a Córrego Fundo. A que fiquei mais foi a Córrego
Fundo”. Ela iniciou o magistério rural em 1940, como professora
leiga, atuando por seis meses, pois ao finalizar o ensino primário no
município de José Bonifácio, retornou ao sítio dos pais.
Com 17 anos, Maria Alvarez prestou um concurso para
professora leiga na região de São José do Rio Preto e foi aprovada.
Com a aprovação no concurso, o inspetor de ensino na época
ofereceu-lhe a escola que seu pai havia construído. Entretanto,
trabalhou pouco tempo, seis meses, pois uma professora concursada
do estado havia escolhido sua escola para lecionar. Em 1949, como
professora substituta, já diplomada, retornou para o magistério rural,
na Fazenda Paulicéia, no município de José Bonifácio. Essa escola
ficava de 3 a 4 km da cidade. Nas três escolas isoladas em que
lecionou, a entrevistada esclareceu ter sido professora substituta. Em
sua carreira no magistério, exerceu a docência durante 30 anos, dos
quais permaneceu um ano e meio no ambiente rural.
De modo geral, os relatos evidenciaram a passagem dos
professores por diversas escolas no meio rural. Referiu-se como
passagem por terem permanecido por um período curto de tempo nas
escolas da zona rural, como pode ser observado no Quadro 26.
258
Quadro 26 - Região de atuação
Professor(a)
Tipo de
escola
Região de atuação
Número
de escolas
Tempo de
Magistério
rural
Maria
Alvarez
Isolada José Bonifácio 3 1 ano e meio
Nilce Lodi Isolada São José do Rio Preto 1 7 anos
Ivanilde
Afonso
Isolada
Mendonça, São José
do Rio Preto, Poloni
3 3 anos
Irce Elias
Emergência
Guapiaçu, Planalto
2
5 anos
Yara Aude Isolada
Piragi, José Bonifácio,
Cedral
5 10 anos
Maria Inês Isolada
São João do Iracema,
General Salgado,
Potirendaba
4 5 anos e meio
Maria Nirce Isolada
Nhandeara, Nova
Lusitânia, Floreal
4 4 anos
Jorge
Salomão
Isolada Bady Bassitt 2 3 anos
Palmira
Miqueletti
Emergência
Nova Aliança, Tanabi,
Potirendaba
4 3 anos e meio
Sônia Azem Emergência
Monte Belo, Tanabi,
São José do Rio Preto,
Nova Aliança
4 3 anos e meio
Fonte: Elaborado pela autora.
Os dados sistematizados evidenciaram os itinerários
percorridos no magistério rural pelos professores, cuja permanência,
em sua maioria, foi de quatro anos. Sem dúvida, viver em meio a uma
cultura diferente do meio urbano, lidar com uma realidade distinta
daquela a que estavam acostumados, somados ao problema do
isolamento e os poucos recursos de que a escola primária rural
dispunha, levaram os docentes não permanecerem por muito tempo
nesses estabelecimentos. Essa transitoriedade também foi observada
na região de Santos, tal como apontado na pesquisa de Silva (2004).
259
De acordo com Silva (2004), os professores, ao serem
nomeados para escolas diferentes daquelas exaltadas nas escolas
normais, funcionando em prédios impróprios e localizados em lugares
afastados, obrigados a enfrentar uma cultura diferente da sua,
raramente ficavam por muito tempo em suas classes.
Em realidade, um dos grandes desafios enfrentados pelo
governo estadual de São Paulo foi, sem dúvida, o provimento e a
permanência do docente nas escolas rurais, mesmo tendo em vista as
legislações educacionais para que a primeira nomeação fosse no meio
rural, comodiscutido. Há que se considerar que essa proposta do
governo paulista se mostrou fracassada, isso porque, os professores
permaneciam nas escolas rurais apenas no período obrigatório e, assim
que possível, solicitavam remoção para outras localidades.
Assim, compreende-se, com base nos escritos de Certeau
(2012), essa rotatividade nas escolas do meio rural como um espaço
do cotidiano repleto de estratégias e táticas adotadas pelos docentes,
na condição que dispunham de ingressar no meio rural e para depois
serem removidos para outras escolas mais próximas do centro urbano.
4.3 As escolas rurais: representões de uma realidade
As escolas primárias rurais apresentavam prédios adaptados
com poucos recursos, providas por professores recém-formados ou
sem nenhuma formação, na maioria das vezes, organizadas em
formato multisseriado, localizadas em lugares distantes e carentes de
estradas que facilitassem a comunicação, como foi possível
identificar nas pesquisas realizadas no Rio Grande do Sul, Minas
Gerais, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Piauí, Mato Grosso,
260
Bahia (ALMEIDA, 2001; ASSIS, 2018; ÀVILA, 2013; MARIANO,
2016; SILVA, 2004; ORIANI, 2015; SIQUEIRA, 2019; LOPES;
FURTADO; AMORIM, 2020; FERREIRA, 2010).
A partir da análise desses estudos, há que se considerar que
mesmo em situação marcada pela falta de infraestrutura, a escola rural
significou a possibilidade de oferta de vagas públicas e a oportunidade
da escolarização de muitas crianças brasileiras. Pode-se dizer que essas
instituições desempenharam a função de [...] escolarização aos
espaços mais remotos, adentrando os sertões e contribuindo para a
divulgação de valores morais, higiênicos e nacionalistas(ORANI,
2015, p. 205).
O estado de São Paulo, dada as condições favoráveis da sua
economia, potencializada pelos processos de urbanização e
industrialização, investiu muito na instrução pública primária, de tal
maneira, na ampliação do número de estabelecimentos escolares,
quanto na formação de professores, como já foi tratado nos capítulos
anteriores, porém, isso não quer dizer que os investimentos tenham
sido eficazes em todas as localidades do estado. Nessa perspectiva, as
narrativas dos professores da região de São José do Rio Preto, são
reveladoras ao descreverem a situação de precariedade dos prédios
escolares das escolas rurais onde atuaram. Assim, cada docente
retratou, por meio de representações guardadas na memória, a
realidade da escola rural em que trabalhou.
Tal comparação pode ser observada no relato da professora
Maria Alvarez, ao rememorar as condições físicas das escolas rurais
onde trabalhou. Para ela, a escola Era uma sala simples, com carteiras
pequenas, projetadas para sentar-se de dois em dois alunos. Uma lousa
muito pequena, que às vezes não dava muito para passar algumas
261
matérias. Assim também relatou a professora Maria Nirce: Era
aquela casa... janela de abrir... a porta para entrar com uma chave. Não
tinha nada. Uma lousa. Um cômodo. Uma dispensa. Um fogão a lenha”.
A narrativa da professora Sônia Azem representa um exemplo
de prédio improvisado para o funcionamento da escola, ao descrevê-
la como
[...] a coisa mais engraçada do mundo! Era uma casa. Aqui era a
escola, um cômodo, uma sala. Aqui era um bar, do lado. Vendia
pinga, o que havia e aqui atrás tinha o poço, a privada que era
aquela antiga, de madeira. E uma menininha que ficou
dependurada ali...fiquei com medo dela cair naquilo ali dentro. Que
medo, que medo! Graças a Deus que tiraram ela. E aqui atrás era
uma casa que morava gente. Tudo dentro de uma casa só. Era assim.
O povo bebia aqui, se esticava (risos)... era muito louco né. (SÔNIA
APARECIDA AZEM, 2019).
Essa realidade apresentada pela professora é uma situação
vivenciada em uma escola de emergência no ano de 1972, embora
tenham sido criadas há 17 anos, ainda eram presentes as escolas
isoladas em condições precárias de funcionamento. Além de superar
as dificuldades de infraestrutura das escolas rurais, havia situações
inusitadas que exigiam atitudes imediatas dos professores, como foi o
caso relatado da aluna que ficou dependurada na privada e que teve
muito medo da menina cair no buraco.
Do ponto de vista da professora Irce Elias, as escolas isoladas
rurais eram casas adaptadas, com porta, janelas e chãos rústicos. Não
tinham forros, era só o telhado. Todas eram de alvenaria, mas com um
único cômodo. Havia lousa, cadeiras duplas, mesa e armário”.
262
Todavia, a narrativa da professora Palmira Miqueletti revelou
uma escola rural considerada por ela como boa, apesar de enfatizar
que uma das escolas, a localizada em Monte Belo, era ruim. Desse
modo, relatou:
Fazenda Laranjal era boa, em termos, era uma escola mesmo. Foi
construída para ser uma escola. Era uma sala de aula com lousa e
tudo. Aqui na Santa Inês também. E na Fulgêncio também. Foram
escolas que foram criadas para isso. Agora em Monte Belo, era assim:
a sala de aula era um cômodo de uma casa, aqui ficavam as
carteiras, aqui o quadro negro que dava pra eles veem, aqui a mesa
da gente e aqui o armarinho. Ela era em L. Agora as outras já
tinham... A única diferença da Santa Inês é que tinha um fogão. A
gente que fazia a sopa. Às vezes a molecada trazia legumes pra gente
por. Essas coisas, porque eles davam o básico, o macarrão... e a gente
acrescentava os legumes. A carne não. Nenhuma. (PALMIRA
MIQUELETTI MARRA, 2019).
Para a professora Maria Inês, ser professora nas escolas rurais
era matar um leão por dia. Narrou a escola rural como um lugar
[...] deprimente. Tinha lugar da lousa que você não podia nem escrever.
Era uma salinha. Era bem pequenininha. Tinha duas janelas, uma porta
no fundo e uma prateleira que servia de armário, com um pano na frente
para tampar. Era isso. Pobre! Pobre!. O mobiliário, segundo ela,
Era aquelas carteiras que se sentavam dois. Aqui era o banco... só
que aqui era bancada... o encosto era a mesa do de trás, que se
sentava em outro banco... Tinha gente que era tão safada, que na
hora de sentar soltava o corpo assim e balançava a carteira e caia
tudo no chão do aluno de trás. Sacanagem de aluno né (risos).
você tinha que ficar brava. Tinha uma lousinha pequena. (MARIA
INÊS MAGNANI SALOMÃO, 2019).
263
A falta de infraestrutura nas escolas rurais, para o professor
Jorge Salomão, exigiu que ele inventasse meios para superar as
dificuldades, assim como as professoras anteriores, narrou a condição
da escola situada na Fazenda Água Limpa. Nessa escola [...] não tinha
lousa. Não tinha poço. A privadaque tinha era perigosa. Não tinha
merenda. As crianças comiam as frutas da época, por exemplo, na época
de laranja ou manga, chupavam do quintal. Explicou que as carteiras
dos alunos [...] eram duplas e eram tudo estragadas. Era resto de outras
escolas e acabaram sendo jogadas lá. Já a escola da Fazenda Santa
Maria, o prédio tinha quatro salas. Uma abandonada, que era
habitada por ratos. Muitos ratos. Os forros das salas caiam e os ratos
corriam durante as aulas. Embora tivesse um bom espaço fora da
escola, não aproveitava o espaço para fazer uma horta ou plantar outra
coisa, pois as famílias não tinham interesse em cultivar a horta e o
patrão não deixava. A precariedade da escola era o sintoma, ou a
consequência, das mazelas da vida no campo e do trabalho do
lavrador.
Ao descrever as escolas isoladas, a professora Yara Aude
relatou como sendo uma [...] barbaridade... Era uma sala simples.
Muito simples. Sem forro. A minha ainda tinha uma varandinha, que
foi a que fiquei mais tempo. Duas portas, três janelas. Uma porta era da
entrada e a outra que dava para a cozinha”. O mobiliário era um
armário pequeno, mesa para professora, a lousa, a cadeira e as carteiras
duplas.
As escolas isoladas, segundo Ivanilde Afonso, eram prédios
construídos com tijolos. Um cômodo só, uma sala. Tinha o banheiro
que ficava fora da escola. Menino e menina usavam o mesmo
banheiro. Na maioria das escolas rurais em que lecionou havia uma
264
cozinha para preparar o leite, alimento mais frequente, já que não
havia sopa. Com relação ao mobiliário, relatou que [...] não tinha
praticamente nada. Tinha as carteiras, que eram em duplas, bem
deterioradas”, acrescentou que a lousa era na parede, ou seja, na época,
a lousa fora construída de cimento e pintada na cor verde, em uma
das paredes da sala.
Como bem rememorou a professora Nilce Lodi, a escola da
zona rural contava com uma única professora, não havia auxiliares
remunerados. Ela era responsável por organizar a escola, tomar
decisões sobre a limpeza do prédio, da sala, do pátio, providenciar
condições higiênicas para o fornecimento de água potável e as
instalações sanitárias adequadas, mas sempre contou com a
colaboração dos alunos maiores, meninos e meninas. Providenciava o
material indispensável para a execução das tarefas e orientava sua
execução.
Nilce Lodi explicou que a Fazenda Scaff providenciou o
prédio para o funcionamento da escola, adaptando o antigo escritório
da Fazenda, transformando-o em sala de aula com os móveis: uma
mesa de tábuas largas, os bancos, a lousa, um armário para os livros e
a talha de barro (pote) para água, além da cadeira e da mesa para a
professora. Em sua concepção, esse era, na época, o material básico
das escolas rurais da região do interior paulista.
A escola era o antigo escritório do proprietário da Fazenda
Scaff, com alpendre, sala retangular, com duas portas e duas janelas,
forrada e coberta de telhas. Localizada ao lado da sede, dos amplos
terreiros utilizados para a secagem do café e próximo aos armazéns.
Em frente à escola havia várias casas de alvenaria, cobertas de telhas,
rebocadas, pintadas, com amplo quintal; e uma colônia próxima com
265
empregados encarregados do gado leiteiro (retiro) e mais afastado da
horta. Para melhor representação da realidade por ela narrada, nos
cedeu fotografias dessa escola, como pode ser examinado na Imagem
8.
Imagem 8 - Alunos da Escola Mista da Fazenda Scaff 1956
Fonte: Rizzini (1956b).
A imagem representa os alunos sentados em uma escada de
cimento, com 5 degraus, na frente da Escola Mista da Fazenda Scaff.
Ao lado dos alunos está a estagiária Vanda Carrazone, aluna da Escola
Normal de Mirassol, estagiando com a turma de 1956. Nesse dia, como
pode ser examinado, havia 29 alunos, em sua maioria do sexo
masculino. A representação expressa pela foto é de que todos os alunos
nessa escola usavam uniforme, pois estavam trajando como vestuário
uma camisa na cor branca, entretanto, a cor dos shorts dos meninos
que estão a frente não é a mesma. Com relação às meninas, não é
possível identificar qual é a vestimenta usada por elas na parte inferior
(saia ou short) e muito menos a cor, pois ficaram atrás dos meninos no
momento do registro da foto. Será que os alunos faziam uso do
uniforme diariamente? Ou era uma data comemorativa?
266
No caso da Escola da Fazenda Scaff, a professora Nilce Lodi
relatou que os alunos usavam uniforme simples”. Nesse sentido, de
certo modo, a fotografia expôs o que deveria ser as vestimentas das
crianças no dia a dia dessa instituição, o que não significa ser uma
realidade vivenciada por todos os estudantes de outros
estabelecimentos localizados no meio rural. O fato é que as fotografias
das escolas rurais eram tiradas, geralmente, segundo Lima (2021), em
datas comemorativas, em dias especiais, tais como os dias de visitas
dos inspetores, sendo assim, as crianças compareciam com as suas
melhores roupas.
Chama atenção, ainda na imagem, as crianças da fileira da
frente encontram-se todas descalças, revelando pertencerem a uma
classe social menos favorecida economicamente. A professora Rizzini
não apareceu na foto, segundo seu relato, porque ela era a fotógrafa.
A foto de classe das escolas isoladas é uma representação
simbólica da vida escolar, onde espera-se que
[...] os alunos expressem um mesmo comportamento
diariamente treinado na escola disciplina, silêncio, obediência,
seriedade, constrição. Mas os impulsos rebeldes da infância
(corpos resistentes à dulcificação) desviam o olhar, contêm
incontrolavelmente uma gargalhada, insinuam um sorriso,
divertem-se com a situação, tabulam um comentário qualquer.
(SOUZA, 2009, p. 319).
Tais afirmações corroboram o comportamento representado
na fotografia dos alunos da Escola Mista da Fazenda Scaff, uma vez
que as crianças não apresentam de forma homogênea, como pode ser
observado na criança que está com as mãos sobre o rosto.
267
Sem dúvida, a criação das escolas rurais no estado de São
Paulo foi uma consequência das políticas de expansão de oferta de
vagas a toda população, o que resultou na instalação de novas
unidades escolares em diferentes dependências e municípios, com
prédios adaptados, muitos dos quais, não tinham a devida condição
básica para o funcionamento da escola.
Mesmo assim, funcionando de forma precária, as narrativas
revelaram que as escolas rurais (isoladas e de emergência) na região de
São José do Rio Preto, entre as décadas de 1940 e 1970, serviram ao
bem maior, pois foram projetadas para dar oportunidade à população
rural o acesso ao curso primário. Evidencia-se a importância das
escolas primárias rurais com base no papel determinante que
assumiram na alfabetização do meio rural.
268
269
5.
O TRABALHO NA ESCOLA PRIMÁRIA NO
MEIO RURAL
[...] Naquele tempo... não me lembro muito. Porque faz muitos
anos, o governo parece que não dava o giz para gente trabalhar e eu
costumava levar minha caixinha de giz. Só que aquele dia (risos)...
Eu fui para a escola e esqueci de levar o giz. Esquecendo de levar o
giz, na parte (pausa)... e o que vou fazer? Aí comecei a tomar a lição
das crianças, leitura, a tabuada. Aí falei: Rodolfo, vai lá e fala para
a dona Odila. A dona Odila era a fazendeira. Fala para te mandar
uma mandioca descascada, a faca numa bandeja de alumínio. O
menino foi lá e trouxe a bandeja. Trouxe a mandioca. Aí eu cortei
a mandioca como se imitasse um giz. Porque a mandioca como ela
tem muito amido e ela seca dá para escrever na lousa preta. Num
aparece muito como um giz, mas dá para escrever, mais ou menos
(risos). Isso foi lá pelas 8:00 horas da manhã. Aí falei pra ele põe no
sol, bem escondido ao sol e o menino pôs. Aí continuei tomando a
tabuada, a lição. Continuei. Quando está chegando mais ou menos
a hora do recreio, eu falei: Rodolfo vai lá e traz a bandeja com as
mandiocas pra mim. Aí ele veio com a bandeja sem nada. Íiiiiii
professora! Os porcos comeram tudo (muitos risos). Os porcos tinham
comido as mandiocas (risos). Desse jeito. Então foi uma escola
(pausa). Eu amava aquela escola. Eu gostava daquele ambiente.
(MARIA ALVAREZ ROMANO, 2019).
A transcrição acima foi extraída da entrevista da professora
Maria Alvarez Romano, que retrata vestígios de atuação da docente
em uma escola rural na região de São José do Rio Preto, onde fez,
270
segundo Certeau (2012), uma bricolagem
78
para solucionar o
problema da falta do giz.
A vista disso, a narrativa de Maria Alvarez traz representações
constituídas pela memória que foram marcadas pelas experiências
realizadas, por decisões tomadas e práticas vividas. Neste caso, dar
aulas no meio rural era criar, inventar e elaborar estragias e táticas
para enfrentar e resolver situações no cotidiano escolar.
Refletir sobre a prática de ensino no meio rural, é pensá-la
como um elemento da prática social, estabelecendo uma relação entre
o conhecimento recebido na formação inicial e os conhecimentos
práticos adquiridos no decorrer do exercício da profissão. Enfim,
como colocaram em prática aquilo que haviam aprendido? Será que
conseguiram promover uma escolarização de acordo com as
necessidades do meio rural? O que ensinavam? Como os professores
desenvolviam as atividades pedagógicas nas escolas isoladas rurais?
Seguiam algum material?
Os saberes docentes são constituídos, conforme Tardif
(2014), por meio da confluência das singularidades individuais, da
formação inicial, do contato com os currículos oficiais, além do
aprendizado com outros professores da escola.
Sendo assim, as narrativas demonstraram como os professores
criavam táticas de ensino no exercício da sua profissão em escolas
primárias rurais, no interior do estado de São Paulo.
78
Certeau (2012) utilizou o termo bricolagem para representar a união de vários elementos
culturais que resultam em algo novo. Desse modo, graças às “maneiras de fazer”, os
professores criavam táticas para atender os imprevistos no cotidiano escolar.
271
5.1 Idas e vindas: caminhos percorridos no meio rural
Chegar até a escola rural foi, sem dúvida, uma tarefa difícil
para a maioria dos docentes que ministraram aulas nessas instituições
no Brasil. Muitos professores, para trabalhar, precisavam se deslocar
até o interior, em bairros distantes e carentes de estradas. Em alguns
casos, quando não era possível o deslocamento diário do docente, era
preciso residir na escola ou próximo dela, vivendo em meio a uma
cultura distinta à do meio urbano, como foi constatado nos estudos
realizados em Minas Gerais, Sergipe, Pernambuco, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul (ASSIS, 2018;
SIQUEIRA, 2019; SCHELBAUER; SOUZA, 2020). Em Sergipe,
por exemplo, como constatou Siqueira (2019), a maioria dos
professores rurais morava e trabalhava na própria escola.
Afinal, como os professores da região de São José do Rio Preto
faziam para chegar à escola no meio rural?
A pé, a cavalo, de carroça, de carro de boi e de jardineira foram
os diversos meios de chegar à escola pela professora Maria Alvarez.
Assim, contou que: A pé. De cavalo. De carroça. De carro de boi. De
jardineira, mas era pouco, porque ter que esperar até as cinco horas da
tarde. Não dava para esperar. Era isso. Ia todos os dias, podia estar
doente, com febre, dor de cabeça, de segunda a sábado.
Como não residia na escola e precisava voltar para a cidade,
muitas das vezes, a professora Maria Alvarez relatou que aceitava
caronas para chegar mais cedo em sua casa, uma vez que a condução
na época, só passava no final do dia. Regressar para sua residência, por
vezes, trouxe-lhe muitos contratempos.
272
Era mais ou menos meio-dia, as crianças já tinham saído. Meio-dia e
pouco (risos). Um dos meus alunos passou por lá e disse: - Professora
estou indo pra cidade, quer ir na garupa do cavalo? Eu falei: Eu
quero né. Senão teria que esperar até as cinco e meia. Passava uma
jardineira, um ônibus na época. Uma jardineira que era do meu
primo, que passava em frente a escola. Não muito em frente, mas dava
para pegar. Então falei vou ficar aqui até as cinco horas para pegar!
Aí eu vou (risos). Banquei a valente e subi no cavalo. Era uma estrada
muito estreita no meio de matas e aí ele falou: Professora vem vindo
um caminhão do lado de lá, eu vou ter que por esse cavalo, mais pra
dentro do mato. Porque a estrada era muito estreita. Aí ele pôs o cavalo
mais pra dentro do mato e eu com a sombrinha aberta por causa do
sol. Aí o caminhão passa e no que fomos sair do mato, a sombrinha
bateu numa caixa de maribondos. Entendeu! (risos). O cavalo
disparou, eu caí do cavalo, com a cara... hoje rosto, antigamente cara,
toda picada de marimbondos. O cavalo disparou e fiquei deitada,
quase deitada na areia, no chão lá. Até levantar. Parece que vieram
em bandos. Os marimbondos vieram em bandos e fui para casa. Aí a
pé, mais de 2 km a pé. Aquele sol quente. Cheguei com o rosto inchado,
com os braços, as pernas. Eles picaram onde eles quiseram. No outro
dia (risos). Só que no outro dia voltei de charrete, para voltar com o
rosto inchado e as pernas e tudo, tanta picada que me deram. Não sei
como eu não morri. (MARIA ALVAREZ ROMANO, 2019).
A professora Sônia Azem relatou que ia de carro ou de perua
até um trecho do caminho, onde alguns dos seus alunos a aguardavam
para seguirem juntos a pé até a escola,
Na fazenda Barro Preto, eu descia aqui, os alunos já estavam me
esperando. Passava numas casas, que eu te falei. Eles queriam que
eu tomasse café, comesse ovo e tal né. Fazia isso. Aí depois, todo
mundo para escola, passava na pinguelinha, chegava à escola, tudo
andando. Era gostoso com os alunos. Eu nunca achei ruim, você vê
273
que engraçado. Foi a melhor época. (SÔNIA APARECIDA
AZEM, 2019).
Diversos foram os meios utilizados pela professora Palmira
Miqueletti para chegar às escolas rurais onde trabalhou.
Em Monte Belo a gente viajava de perua. Um motorista que
trabalhava com isso. Ele era um ex-jogador de futebol, chamado
Urias. Ele fazia. Monte Belo era fim de linha. A gente ficava mais
sossegada porque ele ficava em Monte Belo esperando terminar a
aula. A última escola era a minha. Todo mundo saia mais cedo
porque nós tínhamos que chegar no horário. Depois o ano seguinte,
nós não viajamos mais com o Urias, foi com a Sônia. De carro com
ela. Ela tinha uma variante e não sei... Na Fazenda Laranjal que
eu lecionava que a gente sofreu um acidente. Ela te contou? Nós
estávamos indo e estavam abrindo uma rodovia entre São José do
Rio Preto e Nova Aliança. Era boa a estrada, mas tinha chovido...e
tinha aqueles sugos assim... a perua derrapou e nós capotamos. Não
morreu ninguém (risos). Estávamos em quatro professoras. Eu, a
Jacinta, a Sônia e a outra...como chamava a outra, meu Deus!
Depois a gente queria morrer... qualquer coisinha a gente já ficava
assim...com medo. Depois para Potirendaba ia com o meu carro. Aí
já tinha comprado um fusquinha. Ia com meu carro. Aí as meninas
rachavam comigo a gasolina e era assim. Sempre assim, com
condução ou alugada ou particular, que a gente rachava a despesa.
Não morei em nenhuma. (PALMIRA MIQUELETTI MARRA
DA SILVA, 2019).
De fato, Sônia Azem não comentou sobre o acidente ocorrido
com as duas, quando juntas, percorreram o mesmo caminho para que
chegassem as suas respectivas escolas. Assim sendo, talvez o
silenciamento de Sônia pode estar relacionado com a questão do não
274
dito, como sinaliza Pollak (1989), por guardar uma lembrança ruim,
ou de certa forma comprometedora, com isso muitas das vezes o
sujeito escolhe silenciar, em vez de expor e ser mal compreendido.
Para chegar à escola rural foi preciso a professora Ivanilde
Afonso pegar ônibus até determinado ponto do caminho, continuar
de carona com a charrete de aluno. Na volta era mesma coisa, exceto
em dias de chuva.
Quando não chovia ele passava mais ou menos na hora certa, cinco
e meia ou seis horas. Quando chovia passava dez horas da noite. E
a gente lá nessa rodovia sozinha. O menininho ficava comigo. Meu
aluninho. Era uma belezinha. O pai dele falava: não deixa a
professora Ivanilde sozinha. Só que naquela época a gente não tinha
medo. Hoje! Hoje não faria isso. (IVANILDE AFOSNO
PRUDÊNCIO, 2020).
Sair de casa, pegar ônibus e andar dois quilômetros para ir e
depois para voltar foi a rotina do professor Jorge Salomão quando
trabalhou na escola da Fazenda Água Limpa, ao passo que, na outra
escola da Fazenda Santa Maria, ele descia na porta.
Para chegar à escola, a professora Yara Aude contou da
necessidade de ter carro: Em todas elas tinha que ter carro próprio,
nenhuma delas tinha... Na Escola Mista do Bairro da Abelha, a gente
alugava carro em quatro professores. A gente ia e voltava no mesmo dia”.
Explicou que não morou em nenhuma das escolas rurais pelo fato de,
no mesmo período, lecionar no ginásio: Um período eu trabalhava no
rural e no outro no P3
79
“.
79
A nomenclatura, desde o plano de carreira de 1997 é: PEB I e PEB II, antes, a classificação
era Professor I, Professor II e Professor III. O artigo 7º da Lei Complementar nº 444, de 27
de dezembro de 1985 descrimina o cargo e a função do professor, tal como: “I - professor I:
275
Pegar ônibus até determinado ponto do trajeto, continuar de
carona com o caminhão da Fazenda Scaff foi a rotina da professora
Nilce Lodi para chegar à escola. Sua narrativa é rica em detalhes, no
que diz respeito a um fato inesperado em que o caminhão não
apareceu para bus-la como de costume.
[...] não havia transporte coletivo que passasse diante da escola.
Viajava de ônibus intermunicipal Rio Preto x Guapiaçu, por uma
estrada municipal. Ao percorrer uns 7 km, o caminhão da fazenda
vinha me pegar às 7 horas e íamos até a escola, começando às 8.
Terminando as aulas, o mesmo caminhão me levava ao ponto
inicial, para tomar o ônibus e retornar a Rio Preto. Num dia
chuvoso, o caminhão não compareceu e fui a pé percorrendo o pasto
até a escola. Os alunos vieram espantados e fui informada de que o
caminhão estava aprendido na cidade. Tive que retornar num
carrinho até o início da Vila Maceno e tomar um ônibus da Circular
Santa Luzia para chegar em casa, no centro da cidade. (NILCE
APPARECIDA LODI RIZZINI, 2020).
Percorrer a metade do caminho de ônibus e a outra metade a
pé fizeram parte da vida da professora Irce Elias: Era uns 4km que a
gente andava e depois pra voltar pra pegar ônibus pra ir embora, tinha
que fazer o mesmo caminho, né”. Entretanto, quando lecionou nas
escolas da Fazenda Corredeira e da Fazenda Floresta, a falta de
transporte e condições de acesso às escolas fizeram residir nessas
localidades: “[...] Eu morava nessas fazendas porque não tinha condução
para viajar todos os dias, era difícil. Era por causa do transporte”.
no ensino de 1º Grau, da série inicial até a 4.ª série, e na pré-escola; II - Professor II: no
ensino de 1º grau; III - professor III: a) no ensino de 1º grau e no ensino de 2º grau; b) como
professor da educação especial, no ensino de 1º e 2º graus e na p-escola” (SÃO PAULO,
1985, p. 2).
276
A professora Maria Nirce relatou que, em uma das escolas em
que lecionou, teve que ir a cavalo o ano inteiro. Em outra, juntamente
com outras professoras, alugaram uma Kombi e o motorista ia
deixando cada uma nas suas respectivas escolas e ao final da aula passava
e pegava todas. No entanto, em outras duas localidades, teve que morar
nas fazendas. Em uma delas foi por causa da falta de transporte e das
condições de acesso à escola, não possibilitava ir e voltar no mesmo dia.
Na outra, foi para acumular pontos: Então os pontinhos que eu fiz aqui,
eu tive chance de, no outro ano, eu pegar uma fazenda lá. Fui trabalhar
na zona rural. E fazia pontos se eu ficasse na fazenda. Quem morasse na
fazenda. Tinha que morar se quisesse os pontos”.
Contudo, como a memória é feita de lacunas também em
outro momento deplora o fato de ser obrigada a residir na localidade:
Tinha que morar lá. Aí eu levei o meu filho junto. Não tinha outro
jeito... e não podia fazer graça não. Se o inspetor chegasse, bem. Você
perdia tudo. Não tinha jeito. Não podia fazer graça de querer tapear
ninguém, não. E a gente tinha medo. Porque no outro ano você queria
trabalhar. Era assim. (MARIA NIRCE PREVIDES SANCHES,
2019).
Isto posto, entende-se que as memórias e esquecimentos vêm-
e-vão e, também, permanecem e duram, movimentam-se e
interpenetram-se e, frequentemente, criam lugares de visibilidade e
imagens relativamente estáveis, porém jamais cristalizadas (SEIXAS,
2013, p. 2). Valendo-se dessa reflexão, é possível inferir que o processo
de recordar inclui [...] inserções, exclusões e/ou alterações que as
lembranças sofrem ao serem relembradas, por vezes denunciadas em
277
atos falhos ou no próprio processo de esquecimento (ASSIS, 2018, p.
167).
As precárias condições de acesso à escola rural de São João do
Iracema fizeram a professora Maria Inês morar na localidade. Nesta
fazenda residiu por um ano, porque para ir da cidade para essa
fazenda, você tinha que pegar um ônibus que ia para Araçatuba e depois
você tinha que andar uns 4km a pé. Para ir todos os dias era impossível”.
Já na escola da Fazenda Boa Vista, ela teve que morar em General
Salgado, pois, de acordo com suas memórias, ficava ainda mais longe
de São José do Rio Preto.
Depois peguei uma outra fazenda que era mais longe, aí eu ia de
ônibus 20km, depois eu ia a cavalo 4km (risos), aí dava aula. Depois
voltava de cavalo até a linha (risos), chamava estrada na época,
esperando o ônibus porque um dia ele passava 12:00, no outro 13:00,
14:00 horas, 15:00 horas, depende. O dia que chovia você ficava lá
esperando carona para ir para Salgado onde eu me hospedava, porque
nessa fazenda ninguém dava pensão. Porque as casas próximas da
escola não tinham filhos na escola, então não tinha obrigação de dar
pensão para a professora. Então não tinha onde ficar. Então eu tinha
que ir todos os dias, levantar as 5:30 da manhã pegar o ônibus até ali
e depois pegar o cavalo, dá aula e depois volta... e assim foi (risos e
risos). Um ano! (MARIA INÊS MAGNANI SALOMÃO, 2019).
Trajetos longínquos fizeram parte da vida da professora Maria
Inês, pois sua realidade se difere da vivenciada pelos outros docentes,
morar na escola ou próximo dela para trabalhar foi a única opção
possível naquele momento. Alegou a necessidade de ganhar dinheiro
pois “[...] tinha que ajudar em casa. Então foi por isso que comecei lá no
sertão”.
278
Vivendo em meio a uma cultura diferente da que estava
acostumada, Maria Inês contou que morar nas escolas era viver em
isolamento, fora da civilização.
Era tudo muito limitado. Não tinha rádio. Não tinha televisão.
Então era no ouvir falar. Tinha que tomar um cuidado em falar,
principalmente coisa mística. Não tinha um jornal, uma revista.
Não tinha nada, nada. Você ficava fora da civilização. [...] O
último ano que eu lecionei, em 1969 foi o ano que o homem foi na
lua. Aí eu cheguei na escola e falei: Olha o homem chegou na lua,
desceu não sei o quê. Qual era a visão deles? O mundo vai acabar,
porque o homem foi para lua...não pode! O mundo vai acabar.
Então a visão daquele grupo, todo mundo com medo, porque se o
homem desceu na lua o mundo vai acabar, porque como ele vai até
lá em cima, não pode! Não tinha nem como explicar... como o
homem chegou na lua. E todo mundo com medo. Você precisava ver.
Tadinhos, ia fazer o que. Como colocar na cabecinha deles...
(MARIA INÊS MAGNANI SALOMÃO, 2019).
Assim, entende-se que as idas e vindas para a escola rural se
mostraram de maneira bastante variada entre os professores. Todavia,
as diferentes situações ocorridas durante todo o trajeto que tinham
que percorrer não impediram que os docentes lecionassem no meio
rural.
Desse modo, as memórias analisadas em seu conjunto
permitiram apreender que as práticas pedagógicas são inerentes à
cultura escolar (JULIA, 2001), levando-se em conta as similaridades
acerca da concepção de educação que permeou as narrativas
apresentadas, destacando o conjunto de táticas no exercício do
magistério, expressando a superação de dificuldades materiais e
279
logísticas para ensinar crianças do meio rural, cuja característica de
salas multisseriadas exigia didáticas variadas.
5.2 A organização do espaço nas classes multisseriadas
Trabalhar com turmas multisseriadas consistiu num dos
grandes desafios para os docentes que iniciaram a profissão no
magistério no estado de São Paulo. Recém-formados nos Cursos
Normais paulistas e com uma política de governo que determinava o
começo da carreira na escola isolada rural, a atuação dos professores
da região de São José do Rio Preto se configurou nesse espaço. Com
pouca ou nenhuma experiência para lidar com situações impostas
pelo cotidiano escolar, assumiram instituições em regiões afastadas
dos centros urbanos, tendo como função alfabetizar um grupo de
alunos com diferentes níveis de aprendizado.
Assim, a realidade das escolas rurais organizadas no formato
multisseriado colocava os professores diante de novas necessidades de
organizar o tempo e o espaço escolar para garantir o desenvolvimento
das atividades pedagógicas. As narrativas evidenciam, de diferentes
formas, como os docentes faziam para ensinar os alunos de acordo
com cada série/ano em que estavam matriculados. Uma das táticas
utilizadas pela professora Irce Elias foi a divisão do tempo.
Nas escolas isoladas a gente tinha que dividir assim: enquanto o
quarto ano fazia uma coisa, o exercício, a gente trabalhava com o
primeiro ano, né. Não era muito fácil não porque trabalhar com
duas séries ou primeira, segunda e terceira, ou tinha primeira e
quarta ou primeira, segunda e terceira. São três séries numa classe
só. Aí você tem que dividir seu tempo, enquanto esse está fazendo tal
280
coisa, você está explicando pra esse e o outro está fazendo outra coisa
e assim a gente tinha que dividir tempo. Não é fácil também. (IRCE
ELIAS PIRES DA COSTA, 2019).
O revezamento entre as séries foi a alternativa encontrada pela
professora para ensinar seus alunos. Essa divisão em turma, de certa
forma, pode ser entendida como uma maneira de facilitar o trabalho
docente e melhorar o resultado da aprendizagem das crianças. Por
outro lado, deduz-se que, o ensino que deveria ser ministrado na zona
rural ficava reduzido pela metade.
Na concepção da professora Ivanilde Afonso, o professor da
escola rural tinha que ser artista”. As atividades pedagógicas
realizadas por ela eram feitas na lousa, porque não tinha muito
material na época. Por trabalhar com classe multisseriada, sua
narrativa evidencia a separação dos alunos por série para trabalhar
atividades distintas conforme o grau de dificuldade. Enquanto o
terceiro ano copiava a matéria, o segundo fazia as contas. Assim, ficava
mais tempo com os alunos do primeiro ano.
Como o 3º ano, era um ano já adiantadinho, passava aquela
matéria na lousa para eles irem trabalhando. O 2º ano já tinha um
pouquinho de dificuldade para certas coisas. Então, procurava
ensinar eles fazerem aquelas continhas. Então eu dava uma
tarefinha para eles poderem ficar quietos. Aí você ficava mais no 1º
ano. Era tudo 1º, 2º e 3º e muitas vezes era 2º, 3º e 4º. O 1º ano
separava. Era sozinho. (IVANILDE AFONSO PRUNDÊCIO,
2019).
Essa estratégia adotada pela professora demonstrou uma
configuração que contemplava um atendimento distinto por série. De
281
modo semelhante foi a narrativa da professora Yara Aude, ao
evidenciar que ela também desenvolvia as atividades pedagógicas
separando os alunos nas escolas isoladas. Para cada série era um
conteúdo diferente.
Era separado. Eu trabalhava com eles no 1º ano.... iam para cozinha
comigo para tomar a tabuada. O 2º ano eu deixava as fichas pra
eles fazerem e o 3º redação ou vice-versa. Depois trocava, 2º e 3º
ano... aí 1º ano fazia cópia da cartilha, quem usava cartilha. Agora
no 4º ano já era diferente. Primeiro ano a gente batia muito em
tabuada e leitura, porque pra gente era importante que eles
aprendessem a ler. Era leitura, escrita e tabuada. No segundo
tabuada. Sempre tabuada. Problemas e muita redação e sempre
deixando pro sábado a parte do contexto. No terceiro ano, tabuada,
leitura, redação, problemas. No primeiro ano eu não usava cartilha.
No segundo e no terceiro usava o livro. No segundo semestre já tinha
o livro de leitura. (YARA APARECIDA AUDE, 2019).
A professora Maria Nirce lembrou que, em razão da classe ser
multisseriada, procurava ensinar todos separados conforme a série na
qual cada aluno fora matriculado. Por exemplo: enquanto ensinava
multiplicação e divisão para o terceiro ano, trabalhava leitura no
segundo ano e formação de palavras no primeiro ano. Como
estratégia de ensino, a docente relatou que dividia a lousa em três
partes”.
Situação similar foi vivida pelo professor Jorge Salomão.
Rememorou que dividia o quadro em partes iguais para passar os
conteúdos a serem ensinados aos alunos. Contudo, esclarece que, por
ser muito pequena a sala de aula e por comportar três fileiras de
carteiras, a lousa também era pequena, com espaço limitado para
282
escrever os conteúdos para cada série. Com isso, foi necessário
comprar uma outra do mesmo tamanhopara dividi-las em três partes
e passar a matéria para todas as três séries.
De tal modo foi relatado pela professora Maria Alvarez que o
espaço era pequeno para comportar os alunos, sendo a lousa ínfima
para atender uma sala multisseriada, Você tinha que dividir o tempo
com uma lousinha que não cabia nem para um”.
Assim, de um modo geral, as narrativas apontaram evidências
comuns na separação dos alunos em fileiras de acordo com a série em
que estavam matriculados. A imagem 19, a seguir, é uma
representação de como as crianças de uma turma com três séries
distintas ficavam organizadas na sala de aula, todas viradas para um
único quadro negro/lousa.
Imagem 9 - Representações do quadro negro/lousa em classe multisseriada
Fonte: Elaborado pela autora com base nas narrativas.
Aqui, torna-se importante refletir que, ao estabelecerem essa
divisão no quadro negro/ lousa, os professores acabavam restringindo
o campo de visão dos alunos, de modo que, de certa forma, gerava
uma certa dificuldade para as crianças, pois o espaço para o registro
283
dos conteúdos tornava-se limitado. Além disso, deduz-se que o
trabalho dos docentes também era limitado, visto que era preciso fazer
a seleção do que seria ministrado em cada série. Diante dessas
acepções, teria outro modo de organizar a sala para ensinar os alunos
de classes multisseriadas?
No estado de São Paulo, Silva (2004), ao analisar os relatórios
dos inspetores de ensino da região de Santos, entre 1933 e 1943,
verificou sugestões específicas quanto às práticas a serem
desenvolvidas pelos professores nas escolas isoladas paulistas. Entre as
indicações observou como os professores deveriam proceder quanto à
organização do mobiliário na sala de aula. De acordo com as ressalvas
no Relatório de Ensino “[...] Cada escola isolada tem 18 carteiras
duplas e 3 bancos trazeiros. A melhor distribuição do mobiliário é 3
fileiras de 6 carteiras e um banco cada uma” (SILVA, 2014, p. 81).
O fato é que essa forma de organizar o espaço da sala de aula
em fileiras por série/ano, não foi uma prática desenvolvida apenas
pelos professores das escolas primárias rurais paulistas, mas também,
nos estados do Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Sergipe,
Paraíba, Rondônia, como demonstrou o estudo realizado por
Schelbauer e Souza (2020), ao analisarem um conjunto de narrativas
de 40 professoras e três professores da zona rural.
De acordo com Schelbauer e Souza (2020), uma das
peculiaridades comuns identificada nas narrativas dos professores foi
a de repartir a turma para cada série atendida, de modo que a
organização dos alunos se deu pela divisão do quadro de giz em partes,
ou mesmo pela utilização de diferentes quadros.
284
Nessa perspectiva, entende-se, com base em Certeau (2012,
p. 79), que a organização do espaço escolar significou para os
professores uma [...] sucessão de combinações entre todas aquelas
possibilitadas pela organização sincrônica de um espaço, de regras,
dados etc.”. Com base nessa reflexão, pode-se dizer que a disposição
dos alunos em filas foi uma das táticas possíveis assumidas pelos
docentes para conseguir atender a todas as séries.
Desse modo, para lecionar nas classes multisseriadas das
escolas rurais paulistas, os professores entrevistados para esta pesquisa
se utilizaram de diversas táticas específicas para conseguirem
promover o ensino de acordo com as necessidades do meio rural.
Separar os alunos em séries/anos e dividir o quadro em partes iguais
determinou a forma como os docentes desenvolveram suas práticas
pedagógicas.
Sendo assim, o que era ensinado pelos professores nas escolas
primárias rurais na região de São José do Rio Preto? Seguiam algum
de Programa de Ensino? Tais questões serão discutidas no próximo
tópico.
5.3 Matérias de ensino
No período de atuação no magistério rural dos entrevistados,
o Programa de Ensino Primário para o estado de São Paulo esteve
malgrado em dois dispositivos normativos que determinaram e
normatizaram o funcionamento da educação rural pública paulista,
entre 1930 a 1960: o Código de Educação de 1933 e a Consolidação
das Leis de Ensino de 1947 (SOUZA, 2019).
285
Com base nessas legislações educacionais, a educação rural seria
ministrada nas escolas típicas rurais, nos grupos escolares rurais, nos
cursos de agricultura das escolas normais e nos cursos especiais
intensivos, deliberados aos professores, com ou sem fuão no
magistério. Quanto ao programa de ensino, este deveria ser,
basicamente, prático e encaminhado com o objetivo de ensinar a ler, a
escrever, a contar, a cultivar hábitos de higiene e a fixar o homem ao
meio em que vivia, adaptando as necessidades locais. (SOUZA;
ÁVILA, 2015).
Nesse sentido, as determinações para os programas de ensino
mantiveram as mesmas matérias em vigor desde o final da Primeira
República: Leitura, Leitura Oral e Escrita, Aritmética e Geometria,
Geografia, História do Brasil e Instrução Cívica, Ciências Físicas e
Naturais, Trabalhos Manuais, Desenho, Caligrafia, Canto e Ginástica
e Educação Moral e Cívica (SOUZA, 2019).
Contudo, com a Reforma de 1968
80
, como sinaliza Moraes
(2014), alterou-se a organização do ensino primário no estado de
São Paulo, eliminando formalmente experiências de educação rural.
A vista disso, a autora esclarece que passou a estabelecer um ensino
primário e comum, com programas de ensino padronizados seja para
as escolas localizadas na zona rural seja para as da cidade.
Nessa perspectiva, o estudo realizado por Azanha
81
(2004),
ao abordar a Reforma de 1968, apresentou pressupostos da escola
primária básica comum enfatizando a modificação da seriação do
80
A Lei nº 10.038, de 5 de fevereiro de 1968 dispõe sobre a organização do sistema de ensino
no estado de São Paulo.
81
O professor José Mário Pires Azanha foi Diretor Geral do Departamento de Educação da
Secretaria da Educação de São Paulo no período de 1967 e 1969.
286
ensino, assim como a reformulação do currículo e dos programas do
curso primário.
A vista disso, o curso primário no estado de São Paulo foi
organizado não mais por séries anuais, como ocorria anteriormente,
mas em dois níveis: o Nível I (1ª e 2ª séries) e o Nível II (3ª e
séries). Dessa forma, considerando a seriação anual, a organizão
do ensino primário seguiu a estrutura exposta na Tabela 4.
Tabela 4 - Organização do ensino primário 1968
Idade
rie
Nível
7
I
8
I
9
II
10
II
Fonte: Elaborado pela autora com base no Programa da Escola Primária
do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1969).
No âmbito da formalidade, em 1969 foi publicado pelo
Departamento de Educação
82
do estado de São Paulo um livreto
com a edição definitiva do Programa de ensino para as escolas
primárias paulistas, com as seguintes descrições de cada nível:
O ensino de Nível I se caracteriza dominantemente por seu
aspecto prático sem ‘pontos’ que devam ser ‘dados’. A segunda
série do Nível I revê, consolida e aprofunda, amplia, se possível.
É eixo do Nível I, razão-de ser, a Língua Pátria; aquisição de
mecanismos da leitura (podendo prolongar-se por tôda segunda
série); entendimento de textos; falar, ler e escrever como prática
82
A edição oficial foi publicada no governo de Roberto Costa de Abreu Sodré, cujo Secretário
de Educação era Antônio Barros de Ulhôa Cintra e o professor José Mário Pires Azanha o
Diretor Geral do Departamento de Educação.
287
diária; expressão oral (conversar, expor) e escrita (compor). O
Nível II é que providenciará ensino sistemático, já abeirando ao
aspecto normativo. Áreas de Estudo: 1. Língua Pátria; 2.
Matemática; 3. Estudos Sociais; 4. Ciências; 5. Saúde; 6.
Educação Física; 7. Educação Artística. ‘Iniciação Artística’
engloba desenho, canto/música, poesia, teatro/dramatização,
trabalhos manuais, jogos/recreação e aquelas atividades que
despertam o bom-gôsto, agucem a sensibilidade, expandam o
poder criador. Não há ‘programa’: a Arte está em tôdas as práticas
educativas. A Educação Cívica, se de um lado está presente,
concretamente, em uns tantos atos escolares festas e
comemorações, por exemplo, de outro lado é rebelde à
programação. Educação Cívica há de se encontrar em todos os
momentos de docência. (SÃO PAULO, 1969, p. 9-10).
Conforme visto, não havia, entretanto, uma diferenciação
para o ensino nas escolas primárias urbanas e rurais, mas um
currículo básico e comum para ambas. Contudo, para que o ensino
nas escolas no meio rural não se desvinculasse da realidade, mas
antes se constituísse uma parte ativa e integrante do meio em que se
insere e, ao mesmo tempo, o perdesse o aspecto de uma formação
em condições de universalidade. Os elaboradores do Programa
sugeriram uma programação básica que contemplava atividades
agrícolas e pastoris com o objetivo de fornecer um campo de
observação e experiência como processo interligado na escolaridade,
a fim de vitalizar e objetivar o ensino na zona rural (SÃO PAULO,
1969).
Nessa perspectiva, as recomendações de práticas agropastoris
foram pensadas com o intuito de fornecer aos docentes das escolas
rurais [...] formas mais adequadas de atividades, que lhes
288
possibilitassem um melhor desenvolvimento dos objetivos pelo
Programa do Ensino Primário (SÃO PAULO, 1969, p. 119).
De acordo com o Programa, caracterizavam como práticas
agropastoris nas escolas primárias rurais as seguintes atividades
apresentadas no Quadro 27.
Quadro 27 - Atividades agrícolas e pastoris das escolas primárias rurais paulistas
Práticas Atividades
Olericultura
Instalação da horta escolar; Semeadura; Germinação; Repicagem;
Transplante; Tratos culturais da horta; Cultura das hortaliças mais
comuns; Colheita e aproveitamento da horta.
Jardinocultura
Localização do jardim; Organização do jardim; Semeadura;
Transplante de mudas; Tratos culturais; Multiplicação das plantas do
jardim; Colheita; Cultivo de planas perenes e anuais; Plantio em
vasos.
Fruticultura
Escolha do terreno; Cercado do pomar; Preparo do terreno;
Ferramentas usadas no pomar; Mudas; A poda; Variedades de frutas a
serem cultivadas; Multiplicação das plantas frutíferas;
Aproveitamento dos frutos.
Silvicultura
Árvore; O bosque escolar; Florestamento e reflorestamento;
Campanhas educativas.
Agricultura
Geral
O solo; O cultivo do solo; Reconhecimento de máquinas usadas na
mecanização agrícola; As safras regionais.
Cunicultura
O coelho; Criação de coelhos; A reprodução de coelhos; Os láparos;
Abate e aproveitamento da carne; Métodos adequados para esfola e
aproveitamento da pele; As doenças mais comuns.
Avicultura
Criação de aves; O aviário; Povoamento do aviário; Alimentação das
aves; A postura; Defesa das aves; Campanhas educativas.
Fonte: Programa da Escola Primária do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1969, p. 119-
124).
Como se pode observar, entre as práticas a serem
desenvolvidas estava o cultivo da horta escolar, o jardim, o pomar e
289
a criação de animais. Pode-se dizer que essas práticas agrícolas
permitiam que os alunos entrassem em contato com a terra,
possibilitando a familiarização com as atividades do campo. Desse
modo, presume-se que tal contato era inerente ao seu cotidiano.
É importante ressaltar que o Programa de Ensino organizado
consagrou o que deveria ser ministrado nas escolas, por outro lado,
eximiu qualquer compromisso com a metodologia a ser adotada, o
como ensinar. A vista disso, esperava-se que o docente adaptasse as
atividades agropastoris recomendadas aos objetivos propostos nas
matérias de Ciências, Saúde, Educação Física e Estudos Sociais para
que tivessem maior objetividade e significação para as crianças (SÃO
PAULO, 1969).
Sendo assim, quais foram as matérias pedagógicas ministradas
pelos professores nas escolas primárias rurais na região de São José do
Rio Preto? Teriam trabalhado as disciplinas do Programa da Escola
Primária do estado? E as sugestões de atividades de práticas agrícolas?
Conseguiram promover uma escolarização de acordo com as
necessidades do meio rural?
Conforme análise realizada nos Livros Atas de Quadro de
Exames, pode-se perceber que, entre as décadas de 1960 e 1970, as
práticas pedagógicas dos docentes foram constituídas por meio de um
currículo de base comum, contemplando as matérias de Língua
Pátria, Matemática, Estudos Sociais, Ciências, Saúde e Educação
Moral e Cívica, como pode ser observado na Imagem 10.
290
Imagem 10 - Disciplinas da Escola de Emergência da Fazenda Bom Sucesso 1970
Fonte: Diretoria de Ensino de São José do Rio Preto (1970).
Como pode ser verificado, os professores seguiram o modelo
indicado pelo Programa da Escola Primária do Estado de São Paulo,
um currículo simples de base comum, como já foi discutido. Todavia,
não foi localizado nos cinco Livros Atas de Quadro de Exames o
registro de atividades educativas que considerassem o ensino das
matérias de Educação Física e Iniciação Artística, assim como de
práticas agrícolas. Isto posto, deduz-se que os docentes se utilizaram
de atividades mais práticas que não demandavam de avaliação escrita,
ou, quem sabe os alunos não ficavam de exame dessas disciplinas.
Nesse sentido, as narrativas dos entrevistados, quanto ao
ensino ministrado nas escolas isoladas rurais, apresentam vestígios
para melhor compreensão das ações educativas desenvolvidas por
esses profissionais. É importante destacar, que as reminiscências do
passado recaíram sobre a lembrança de atividades desenvolvidas no
ensino das disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa, que
provavelmente foram as que prevaleceram em meio às práticas
escolares, pois, como relatou a professora Ivanilde Afonso, nas escolas
291
rurais se cobrava mais o ensino das disciplinas de Matemática e
Português, alegando que se os alunos não soubessem ler e escrever
não adiantava.
De modo semelhante foi relatado pela professora Palmira
Miqueletti ao demonstrar a predominância do ensino de Português e
Matemática, advertindo que trabalhava “[...] mais a parte da
alfabetização. A escrita e a leitura. Matemática, principalmente, as
quatro operações”. Ainda, destacou que nas escolas rurais A gente dava
um pouco de História e Geografia”. Neste caso, como a memória “[...]
gira em torno da relação passado-presente(THOMPSON, 1997, p.
57), demonstra que a professora quis dizer que ministrava menos
aulas de Estudos Sociais em vez de História e Geografia.
Tal realidade também foi verificada por Silva (2004), ao
examinar o horário das escolas isoladas no município de Santos/SP.
Segundo análise realizada pela autora, os conteúdos de leitura,
linguagem e aritmética consumiram o maior tempo das aulas.
Sendo assim, poucas evidências indicaram o desenvolvimento
de práticas educativas que contemplavam o ensino da disciplina de
Estudos Sociais, assim como a de práticas agrícolas nas escolas rurais
na região de São José do Rio Preto, conforme tratado de modo
específico no tópico seguinte.
5.4 Práticas docentes
Ao assumir uma classe, seja ela na zona urbana seja na zona
rural, o professor se vê diante de desafios, expectativas, medos e
inseguranças. É nesse momento que surgem os primeiros impactos
292
com a realidade escolar. Nesse âmbito, se sente na obrigação de
colocar em prática os saberes provenientes da formação profissional.
A vista disso, é importante destacar que atuação dos
professores da região de São José do Rio Preto perpassa um contexto,
um campo de ação em que exercem distintas funções no grupo social
que interagem. Neste caso, há que se considerar que as condições de
trabalho no meio rural eram consideradas piores do que nas cidades,
uma vez que as instituições rurais se configuram no estado de São
Paulo de acordo com os estudos de Silva (2004) e Souza (2009), como
uma escola de ausências.
Diante disso, ao analisar as pesquisas realizadas em outros
municípios paulistas, tais como em Santos, Presidente Bernardes,
Presidente Venceslau, Taquaritinga, Rio Claro, constatou-se certa
particularidade no que diz respeito à escola no meio rural ser um
estabelecimento de ausências (SILVA, 2004; MARIANO, 2016;
GODOY, 2017; LEITE, 2018). Entre os diversos desafios
enfrentados no exercício do magistério rural paulista, apontado pelos
autores, estava a dificuldade de chegar até essas escolas, por estarem
inseridas em lugares de difícil acesso, ocasionando o isolamento do
professor, além das condições físicas dos prédios, baixos salários
pagos, a carência de materiais didático-pedagógicos, entre outros.
Nestas condições, os autores evidenciaram o descaso com a
escola e a profissão docente no meio rural. O fato é que os professores
nas escolas rurais assumiam diversas atribuições (professor,
merendeiro, faxineiro, entre outras, ao mesmo tempo), o que
demandava desse profissional determinadas táticas para realizar as
práticas de ensino. Além das adversidades práticas no interior da sala
de aula, a maioria necessitava percorrer longos trajetos para chegar à
293
escola, e, muitas das vezes, esses percursos apresentavam riscos aos
professores, aspectos que serão mais detalhados no tópico seguinte.
Diante disso, o conjunto das narrativas evidenciou a forma
como cada professor entrevistado foi construindo no dia a dia a sua
prática pedagógica no meio rural. Rememoraram momentos
significativos de como desenvolveram táticas para driblar os desafios
inerentes da inexperiência do início de carreira para ensinar os alunos
das escolas rurais, pois, como bem recordou a professora Irce Elias
quando a gente vai para uma escola isolada a gente é xucra. Vai
aprender fazendo. Você vai aprender com a vida, com as crianças”.
Na verdade, conforme os trabalhos de Tardif (2014), Tardif
e Lessard (2014) e Nóvoa (1995), a profissão Professor tem uma
trajetória muito singular como produção de saberes docentes, cujo
habitus professoral é corolário das interações com os currículos,
reformas, cursos de aperfeiçoamentos, contato com outros colegas
mais experientes e as formas, como determinada cultura escolar, na
perspectiva de Julia (2001), é constituída na instituição escolar.
Nesse sentido, Tardif (2014) alerta que os saberes motivados
da experiência do trabalho diário parecem constituir o alicerce da
prática e da competência profissional, porque essa experiência é, para
o professor, a condição para se adquirir e produzir os seus saberes
profissionais. De modo semelhante, o autor explica que a atividade
da profissão docente deve ser avaliada como ambiente prático de
produção, de transformação e mobilização de saberes específicos ao
ofício do professor.
Valendo-se dessa reflexão, pode-se dizer que o cotiando da
sala de aula foi um dos lugares em que os saberes experienciais dos
professores foram produzidos, pois, embasados no exercício de suas
294
funções e nos saberes oriundos da formação profissional,
desenvolveram um estilo próprio de ensinar. Dessas acepções, a escola
rural revelou um lugar de produção de saberes práticos para o
professor Jorge Salomão, ao declarar que [...] não tinha experiência
nenhuma quando eu comecei. Falta de experiência total. Eu tive que
construir meu aprendizado no dia a dia, lendo, trocando ideias e
aproveitando o que o ambiente me oferecia”.
Consoante a isso, ao recordar as práticas pedagógicas com seus
alunos, o professor Jorge Salomão explicita a utilização de recursos do
meio rural para o ensino da Matemática em classe multisseriada.
Relatou que aproveitava o campo, a roça para inventar os problemas.
Ainda, destacou que gostava muito de fazer experiências com os
alunos: Tirava a água do poço e levava uma caneca de 1 litro para
transformar litro em metro cúbico e metro cúbico em litro. Media volume,
comprimento, largura, altura e eles ali tirando água do poço para fazer
experiência”.
A prática narrada se configurou, segundo Escolano Benito
(2017), baseando-se no que Certeau (2012) denominou, ao estudar a
invenção do cotidiano escolar, como as artes do fazer, isto é, as
regras operatórias que nascem da experiência, no trato com as pessoas
e as coisas.
Com relação ao ensino da Matemática, o relato da professora
Maria Nirce, destacou a importância de trabalhar a tabuada com os
alunos, independente da série em que estão. Como recurso, utilizava
palitos e gravetos:
Desde pequenininhos a gente trabalhava a tabuada. Trabalhava
muito, muito, muito. Não era só a decoração. Já fui aprendendo nos
cursos que a gente tinha que mostrar pra criança quantos montinhos
295
se faz... por exemplo... 2X2, né... Pega dois motinhos de 2...
explicava. Pegava muito palitinhos... Eles já traziam os palitinhos
prontos, tiravam de gravetinhos e vinham trazendo para gente na
sala de aula, para poder trabalhar. Estudava muito tabuada com
eles, muito mesmo, tinham que aprender né, senão não sabiam fazer
conta né... (MARIA NIRCE PREVIDENTES SANCHES,
2019).
A maneira de ensinar se evidencia com o modo que se tinha sido
aprendido. Neste caso, pode-se dizer que a relação com o saber sugere
uma interação com o espaço escolar e no conhecimento de seu meio.
De modo similar, a professora Irce Elias contou que solicitava às
crianças que trouxessem de casa grãos de milho. Em face da escassez
de recursos didáticos para o ensino da Matemática na escola rural, essa
foi uma das táticas utilizadas por ela em suas aulas para ensinar
operações e situações-problema. Rememorou que nas escolas rurais
em que trabalhou não tinha material”. E conclui sua fala
estabelecendo uma analogia com a atualidade: Hoje é mais fácil dar
aula de Matemática, você divide, você multiplica com material, né.Suas
lembranças evidenciam a metodologia seguida para o ensino de
conteúdos nas aulas de Matemática.
As vezes a gente fazia um exercício assim... Vamos supor, dez
risquinhos. Então vamos dividir isso aí em grupo de cinco... aí vai
contando para ver quantos grupos dá. Somar e diminuir era no
primeiro ano. Depois no segundo ano já tinha problema. No
finzinho do primeiro ano já começava, às vezes, com probleminha
simples. (IRCE ELIAS PIRES DA COSTA, 2019).
296
A prática contada pela professora revelou as limitações do
conteúdo a ser ministrado em cada série, o que se deduz, que seguia
algum programa de ensino, embora, tenha rememorado que não
tinha referencial para seguir”. Sendo assim, considerando a memória
numa mistura entre o lembrar e o esquecer, Irce Elias se confundiu
quanto às orientações educacionais. Como já foi discutido, até 1969
as escolas primárias no estado de São Paulo seguiam as determinações
para os programas de ensino vigentes no Código de Educação de 1933
e na Consolidação das Leis de Ensino de 1947.
De forma sucinta foi narrada a maneira de ensinar a
Matemática pela Palmira Miqueletti. Alegou que trabalhava as quatro
operações por meio de situações-problema, e lembrou, também, que
realizava torneio de tabuada, com incentivo de prêmios para os
vencedores. A partir dessa narrativa, evidencia-se a prática de
estímulos em forma de premiação aos alunos que tivessem bom
desempenho na aprendizagem. Mariano (2016, p. 272) coaduna-se
com essa reflexão ao ressaltar que [...] essas emulações constituíram
um dos elementos da cultura escolar construídos pelas docentes”.
Sendo assim, a cultura escolar se inscreve no fazer cotidiano
da professora Palmira Miqueletti, tal como postulado por Julia (2001,
p. 10), seguindo [...] um conjunto de práticas que permitem a
transmissão de conhecimentos e a incorporação desses
comportamentos”. Nesse sentido, pode-se dizer que a docente
construiu a cultura escolar nas escolas rurais em que atuou, criando
estratégias e táticas que lhe permitiram cumprir com o ofício de
ensinar.
Ainda, sobre as práticas docentes nas escolas isoladas rurais, a
professora Maria Alvarez relatou a preferência em ensinar Matemática
297
a Português, expondo até mesmo uma prática realizada com o auxílio
de bolinhas de gude para facilitar o aprendizado.
A matemática era a coisa que eu mais gostava. Portanto, meus
alunos não tinham dificuldade na Matemática. Era o que eu mais
gostava. Não gostava muito de Português, mas era obrigada. Agora
matemática sim. Eu falava pros meus alunos: Quem tem bolinha
de gude? Eu. Eu. Eu. Eu. (risos). Amanhã cada um traz suas
bolinhas, num vidrinho. Aí trazia as bolinhas. A gente ia lá fora da
escola e fazia os buraquinhos e jogava e contava. Quantas bolinhas
você ganhou. Você não quicou nenhuma. E assim. Quantas você
quicou? Três. E você? Duas. Quem quicou mais? Você ou você? O
outro falava: Eu. Entendeu. É desse jeito. Com palitos. Com folhas
de mato, a matemática. Era assim. (MARIA ALVAREZ
ROMANO, 2019).
Mesmo alegando não gostar de lecionar a disciplina de
Português, a narrativa demonstrou que a professora seguia um
programa de ensino na escolarização dos alunos residentes na zona
rural. Assim, entende-se que na escola primária, seja ela rural seja
urbana, algumas matérias, tais como, a leitura, a escrita e a caligrafia,
segundo Souza (2009), eram consideradas fundamentais.
Como professora nas escolas isoladas rurais, Ivanilde Afonso
narrou como ela desenvolvia o ensino em Matemática,
Na Matemática a gente ensinava o número 1. De 1 até o 10.
Quando eles fixavam bem a nomenclatura de 1 a 10, aí você
começava a fazer continhas. Tipo 1+1=2, 2+1=3... 3+1, 4+1...
ensinava a continha de mais pra eles. Depois que fixavam bem isso.
Entrava no 11, 12... no rural eles sabiam bem que 12 era uma
dúzia. Já aprendiam a dúzia também. O 10 era uma dezena. Dez
298
é uma dezena. É 10 coisas. Você ia acrescentando aos poucos outras
nomenclaturas. (IVANILDE AFONSO PRUDÊNCIO, 2020).
No conjunto das narrativas é recorrente a afirmação de que a
ênfase do ensino de Matemática era voltada para a aprendizagem da
tabuada e das quatro operações. O desenvolvimento das práticas
pedagógicas contou com diversas estratégias e táticas dos professores na
utilização de diversos recursos que o meio rural oferecia, tais como:
palitos, gravetos, grão de milho, bolinhas de gude, entre outros, para
desenvolver os conteúdos, contribuindo para que [...] os alunos
pudessem atribuir sentido naquilo que estava sendo ensinado
(SCHELBAUER; SOUZA, 2020, p. 378). Isto posto, entende-se que
as práticas docentes não foram [...] neutras, mas criações socioculturais
dotadas de significados(ESCOLANO BENITO, 2017, p. 168).
No que se refere ao ensino da disciplina de Português, a
professora Ivanilde Afonso descreveu como trabalhava com os alunos
na primeira série.
No 1º ano a gente tinha que começar na alfabetização. Nas
primeiras aulas você dava muito... para eles treinar as mãozinhas...
aqueles risquinhos nas linhas. Fazia assim. Assim. não lembro como
chamava isso. Aí começava na alfabetização... a, b, c, d... O A era...
(pausa), aí você ensinava bem a letra A. Até eles mentalizarem. Aí
você ia para o B. O B eu não lembro se era boi...ainda mais que era
sítio. A gente não fixava muito o oi, era o B. O B de boca. O C era
de casa. O C da casa. O S não chamava atenção era o C. O D do
dado. O E do elefante. O F da faca e assim ia. (IVANILDE
AFONSO PRUDÊNCIO, 2020, grifos do autor).
299
A prática relatada evidencia que o método
83
utilizado pela
professora para alfabetização visava ensinar o aluno a aprender as
letras na ordem alfabética e a soletração. Notou-se que ela seguiu a
orientação proposta para o curso primário de ensino no Nível I do
Programa da Escola Primária. Por meio da reprodução de símbolos
gráficos garantia-se o desenvolvimento de habilidades motoras dos
alunos que ainda não haviam sido dominadas completamente.
De acordo com o texto do Programa, esse Nível do ensino
correspondia ao Período Preparatório, de modo que o professor
tinha a oportunidade de [...] verificar as condições de prontidão
84
com que seus alunos se apresentam e lhe permitirá precisar quais
crianças que podem ser iniciadas, sem demora, no ensino formal
(SÃO PAULO, 1969, p. 12).
Dessa forma, se existisse alguma criança na sala de aula que
não dominava habilidades básicas (visuais, auditivas, motoras, de
orientação ou de linguagem) caberia ao docente [..] desenvolver um
programa de atividades em que sejam supridas as experiências que
faltaram na fase pré-escolar(SÃO PAULO, 1969, p. 12).
Em razão disso, os reformuladores do Programa da Escola
Primária foram enfáticos ao ratificarem que se não eliminasse
83
Os métodos de alfabetização, de acordo com Mortatti (2000, p. 94), podem ser “[...]
classificados em dois tipos básicos: [...] sintético (da “parte” para o “todo”) e analítico (do
“todo” para a “parte”). Dependendo do que foi considerada a unidade lingüística a partir da
qual se devia iniciar o ensino da leitura e escrita e do que se considerou “todo” ou “parte”,
ao longo da história da alfabetização no Brasil, foi-se sedimentando a seguinte subdivisão
classificatória desses métodos: métodos sintéticos (de marcha sintética): alfabético, fônico,
silábico; e métodos analíticos (de marcha analítica): palavração, sentenciação, historieta,
conto”.
84
Na alfabetização, prontidão significaria, segundo Poppovic e Moraes (1966, p. 1), a criança
“[...] ter um nível suficiente, sob determinados aspectos, para iniciar o processo da função
simbólica que é a leitura e sua transposição gráfica, que é a escrita”.
300
qualquer tipo de falta de habilidade que ainda não tivesse sido
apreendida no decorrer da infância, tonaria a aprendizagem dos
alunos mais difícil ou mesmo improfícua (SÃO PAULO, 1969).
Nessa perspectiva, treinar as mãos dos alunos, como lembrou
a professora Ivanilde Afonso, significou aprimorar a habilidade
motora e, consequentemente melhorar o desempenho das crianças na
realização das atividades escolares, de modo que assegurasse uma
aprendizagem satisfatória. De modo semelhante foi a prática contada
pela professora Irce Elias.
Tem crianças que você até tem que pegar na mão. Mas aí você
começa por movimentos, que é esses movimentos assim (faz gestos
circulares e de desce e sobe), com a mão na lousa. Os movimentos,
né. Geralmente é esse tipo de movimento que a gente ensina pra
criança e depois a gente começa a ensinar alfabetização. Já começa a
ensinar o a, e, i, o, u, que já vem nas cartilhas e depois as sílabas,
né. Depois que aprendeu o a, e, i, o, u, a gente ensina as sílabas.
(PROFESSORA IRCE ELIAS PIRES DA COSTA, 2019).
Segurar na mão do aluno para ensiná-lo a escrever ainda é uma
prática recorrente na atualidade. Para escrever, espera-se que o aluno
pegue o lápis corretamente segurando com dois dedos o indicador
e o polegar, apoiando-o ao mesmo tempo no dedo médio, porém,
muitas crianças ainda chegam nos primeiros anos de escolarização sem
dominar essa habilidade. Diante disso, compete ao professor trabalhar
com o estudante exercícios preparatórios para garantir a maturidade
para a alfabetização. No caso da professora Irce Elias, as atividades
preparatórias (motoras) estavam relacionadas com exercícios de cobrir
linhas pontilhadas. Na sequência, iniciou alfabetização pelo
301
reconhecimento e escrita de vogais e, posteriormente, o trabalho com
as consoantes e famílias silábicas.
As recordações da professora Maria Nirce assinalaram
vestígios de como realizava as atividades na alfabetização das crianças
no meio rural. Conforme suas lembranças, primeiramente ela
[...] mostrava muito a letra de máquina né... começando pelas
vogais... o a, e, i, o, u... e treinava muito com ela. Fazia a letrinha
de máquina, eles escreviam de máquina e já logo em seguida a de
mão... a de máquina e a de mão. Depois as consoantes também... o
b, c, d... tudo com letra de máquina e já na frente a letrinha de mão
e vamos juntando, vamos juntando a vogal com a consoante e assim
ia formando as palavrinhas e juntando... fazendo. (MARIA
NIRCE PREVIDENTES SANCHES, 2019).
De modo similar foi narrado pela professora Sônia Azem o
ensino de Português. Uma das atividades trabalhadas na alfabetização
das crianças e de leitura, segundo ela, foi juntar as letras para formar
sílabas, era b com a, ba”.
A vista de todo exposto, as narrativas expressam, de diferentes
modos, como os professores criaram táticas para conseguir ensinar os
conteúdos de Matemática e de Português. Diante disso, ler, escrever
e fazer contas ocupou a maior parte do tempo das aulas no meio rural.
Cabe salientar que o trabalho com as disciplinas de Estudos Sociais e
Ciências foi indicado apenas pelas professoras Ivanilde Afonso e Yara
Aude.
Em Estudos Sociais a professora Ivanilde Afonso costumava
fazer um mural todo mês com as datas comemorativas. Utilizava
figuras relacionadas às datas para melhor ilustrar e os alunos
compreenderem as datas comemorativas daquele mês. Além do
302
mural, contava a história da Libertação dos escravos, da Princesa
Isabel. Nas aulas de Ciências trabalhava com questões de higiene,
como tomar banho, lavar as mãos e escovar os dentes.
Já a professora Maria Nirce narrou que, para o ensino da
disciplina de Estudos Sociais aproveitava os recursos da fazenda, como
os animais da fazenda, rios e floresta para ensinar os alunos. Narrou
que “[...] utilizava tudo ali né... tinha os animais pra eles verem... o rio
né... tinha floresta...”.
A professora Yara Aude relatou que, como havia aulas aos
sábados, deixava esse dia da semana para trabalhar outras disciplinas
com as crianças, de modo a contemplar a realidade do campo.
Aos sábados normalmente eu não entrava em classe. Eu saía pela
fazenda. Por exemplo, para estudar História, Geografia, Ciências
era o contexto deles, nessa parte. De segunda a sexta trabalhava os
conteúdos normais e sábado o contexto deles em História, Geografia
e Ciências. Pegava uma plantinha, ensinava as partes da planta. Ia
ao açude e via o rio. A vaca! O que a vaca dá... (YARA
APARECIDA AUDE, 2019).
No que diz respeito à realização de práticas educativas agrícolas
nas escolas rurais, poucas reminiscências deram indícios do cultivo de
jardim e da horta escolar. Para tanto, como já foi discutido, os
professores na região de São José do Rio Preto não tiveram formação
com conteúdo específico para a educação agrícola. Nesse sentido, o
valor da experiência advinda do tempo em que a professora Maria
Alvarez, quando criança, morou na fazenda com os pais contribuiu para
que pudesse realizar o plantio de jardim e horta com seus alunos.
303
[...] eu fazia na frente da escola, como se fosse um jardim. Com rosas,
flores, com tudo isso. Ensinava também, às vezes. Vamos fazer um
canteiro também de alface. Fazia um canteirinho. Pequeno, só para
dar exemplo. As crianças jogavam a sementinha, depois a terra por
cima. Até os sete, oito anos de idade eu morava no sítio. Aí eu peguei
o que eu já sabia. Então eu tinha uma certa experiência. De como
plantar as coisas, na época do milho, na época do arroz, na época da
mandioca. A gente tinha sim. Para falar a verdade, tinha. Porque
eu morei no sítio até 9 anos. Então a gente convivia com aquelas
pessoas da roça. Imitação dos meus pais, de outras pessoas. (MARIA
ALVAREZ ROMANO, 2019).
Já a professora Ivanilde Afonso lembrou de ter realizado
apenas o plantio de um jardim, alegando que a falta de alguém para
cuidar do que era plantando, não a motivou a cultivar uma horta
escolar “[...] nós fizemos um jardinzinho em volta da escola. Não
adiantava plantar nada porque não tinha quem cuidasse. Não adiantava
plantar cheiro verde, tomate...uma coisa que dá logo. Não tinha quem
cuidasse”.
A professora Nilce Lodi relatou que embora não tivesse noção
sobre horticultura, cultivou com alguns alunos, um pequeno canteiro
ao lado da sala de aula, porém quando cresceram as primeiras folhas,
as formigas acabaram com o plantio.
Nesse ínterim, as narrativas evidenciaram que poucos
professores seguiram o que foi proposto no programa de ensino da
escola primária, no que se refere às sugestões de atividades de práticas
agrícolas. Por outro lado, a professora Nilce Lodi relatou que
desenvolvia suas atividades pedagógicas seguindo as orientações
304
didáticas divulgadas nas Reuniões mensais e nas revistas
85
pedagógicas
publicadas na época. Conforme sua narrativa,
As reuniões pedagógicas eram realizadas mensalmente no Grupo
Escolar Voluntários de 32, ou 7º. G.E. de Rio Preto. dirigido pelo
Inspetor Escolar Hermenegildo Ferriani para 40-50 professores
efetivos ou substitutos das escolas rurais do município de Rio Preto.
Os professores recebiam orientação para os dias feriados do mês, as
festividades previstas, campanhas, distribuição de material para as
aulas. Bem como orientação para pedidos de licença. Os inspetores
escolares, diretores, Dario Rafael Galli, Oscar Bueno e José Sodero,
eram encarregados de divulgar novos métodos para o ensino das
principais disciplinas. (NILCE APPARECIDA LODI RIZZINI,
2020).
Dessas acepções, pode-se dizer que os professores recebiam e
seguiam as orientações dos inspetores de ensino e/ou de diretores dos
grupos escolares de como ensinar os conteúdos nas escolas primárias
rurais.
Os inspetores escolares no estado de São Paulo eram
encarregados do serviço de orientação e fiscalização do ensino. Cabia
a esses profissionais o serviço de investigação, visitas e exames,
regularidade e eficiência do ensino ministrado nas escolas primárias
(SÃO PAULO, 1933a). Nesse sentido, para garantir as condições de
funcionamento e aproximar o ensino das escolas isoladas ao realizado
nos grupos escolares, Silva (2004) esclarece que esses profissionais se
configuraram como agentes fiscalizadores e orientadores pedagógicos.
Entre os trabalhos a serem realizados e acompanhados pelos
inspetores de ensino nas escolas primárias paulistas, sobretudo, nas
85
Nilce Lodi não conseguiu lembrar quais eram as revistas pedagógicas.
305
escolas isoladas, estava verificar livros de frequência e matrículas,
preenchimento de livros de visitas, relatórios de inspeção, boletins,
registros nos cadernos dos alunos, condições da escola, prática e
assiduidade do professor, exames finais, entre outros (SILVA, 2004;
PASQUARELLI, 2012; LEITE, 2020).
O fato é que grande parte dos professores que atuaram nas
escolas rurais da região de São José do Rio Preto relatou a existência
das visitas realizadas pelos inspetores de ensino e um excessivo
controle exercido por esses profissionais sobre o seu trabalho no
cotidiano escolar.
De acordo com as lembranças da professora Maria Nirce, os
inspetores de ensino durante a visita na escola,
Via se estava trabalhando. Fazia suas perguntas, pra gente.
Perguntava sobre o aluno, se estava faltando muito, se tinha aluno
muito fraco, muito não se o que. Isso aí. Essas coisas assim. Eles
vigiavam a gente. Eles não vinham para informar nada, vinha era
para vigiar. (MARIA NIRCE PREVIDENTES SANCHES,
2019).
Com base na narrativa, evidencia-se o serviço de inspeção,
tendo em vista uma postura predominantemente fiscalizadora. O
olhar vigilante dos inspetores de ensino sobre as práticas docentes
exercidas propicia o sentimento de medo, como pode ser verificado
no relato da professora Irce Elias.
Eles iam nas escolas isoladas, mas demoravam um pouco pra ir né.
Mas a gente na época morria de medo (risos). Porque qualquer
coisinha que eles achavam que estava errado, que não tinha que ser
daquele jeito, eles ficavam bravo com a gente. Eles não ensinavam
306
assim, numa boa né, ficavam bravo... Bebebe... gritavam com a
gente. Agora eu tive um inspetor escolar, ele era muito bom, o Oscar
Salgado Bueno, que hoje tem uma escola com o nome dele. Ele era
um homem baixinho, mas ele era muito... muito bom. Ele era muito
compreensivo, agora tinha o Srº Dariu Rafel Gale, ele era bravo. Ele
era muito bravo! Pra mim ele nunca falou nada, ele nunca ficou
bravo, ele sempre me tratou bem, mas ele era muito exigente. Muito
bravo! As professoras tinham medo dele (risos). Eles iam sem avisar,
pegavam a gente de surpresa (risos). Não avisavam não, de repente
aparecia lá. (IRCE ELIAS PIRES DA COSTA, 2019).
De modo similar foi rememorado pela professora Sônia
Azem, ao descrever que os inspetores de ensino, realizavam visitas
regularmente nas escolas isoladas. Não avisavam o dia que iriam fazer
a visita e, muitas vezes, chegavam e ficavam escondidos atrás da porta
para ver como ela estava lecionando. Eram rígidos. Elaboravam as
provas de final de ano
86
.
O inspetor era super rígido. Ele queria que desse aula assim em
silêncio, que fizesse tudo assim... mas num lembro assim. [...] eles
olhavam, eles ficavam ouvindo escondido a aula. Eles ficavam
escondido para ver como a gente dava aula. Ah, as provas eram
dadas também, se não me engano por eles. Eles que elaboravam. Os
86
Entre as funções técnicas e administrativas do inspetor de ensino, o Código de Educação
de São Paulo de 1933, estabelecia “[...] realizar os exames finais das escolas isoladas sob sua
inspeção, convocando para auxílio, os diretores de grupos escolares” (SÃO PAULO, 1933b,
art. 315). Não foram localizados dados sobre quando o Estado deixou de aplicar as avaliações
finais nas escolas isoladas rurais. Diante disso, os exames finais teriam sido aplicados até o
agrupamento das escolas na zona rural pela implementação do Decreto Estadual
29.499/1989. Como bem demonstrou Leite (2018), com o agrupamento das escolas rurais,
as escolas isoladas no estado de São Paulo são oficialmente extintas, permanecendo apenas as
de emergências e as agrupadas.
307
professores davam o conteúdo e eles que elaboravam as provas e
aplicavam... (SÔNIA APARECIDA AZEM, 2019).
Coaduna-se com esses relatos o estudo de Silva (2004, p. 4),
quando ressalta que Temidos e respeitados, os inspetores eram
fiscalizadores de um modelo de Instrução que deveria ser difundido”.
A vista disso, o relato da professora Palmira Miqueletti descreve a
hierarquia desempenhada por esses profissionais.
O professor Dariu Gale, ele ia na sala de aula, pegava todo material
que a gente tinha. O diário de classe. O que a gente registrava as
matérias. Olhava os cadernos dos alunos para ver se estava batendo
o que a gente estava registrando. Mas eles cobravam essas coisas. Eles
fiscalizavam sim. E eles ficavam escutando a aula da gente lá fora.
Ficava escondido. Comigo ele nunca ficou, mas da Sônia ele ficou.
Do Jorge também ele ficou ouvindo. Nossa Senhora! A gente tinha
um medo do inspetor. Se você soubesse. Inspetor para nós era assim...
sei lá...era uma figura respeitada. Morria de medo. (PALMIRA
MIQUELETTI MARRA DA SILVA).
Com base na narrativa, os inspetores eram considerados
autoridades máximas. Assim, entende-se que a prática de examinar os
registros nos cadernos dos alunos para verificar se o trabalho realizado
pelo professor estava condizente constituiu como uma das atribuições
durante as visitas desse profissional. De modo similar foi lembrado pela
professora Ivanilde Afonso que os inspetores [...] procuravam ver os
caderninhos das crianças. Mas não ficavam muito, muito nas escolas não.
Nunca peguei seu Dariu Gale. Morria de medo de ser”.
Assim, entende-se que as visitas realizadas pelos inspetores nas
escolas rurais se assemelham ao denunciado por Almeida Júnior,
308
Diretor de Ensino do estado de São Paulo, em seu relatório no
Anuário do Ensino (1935-1936), ao referir-se que Na escola rural, a
professora trabalha só. O inspetor vem de longe em longe, e tem
pressa (ANUÁRIO DO ENSINO DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 1935-1936, p. 198).
No final da inspeção, como rememorou a professora Maria
Inês, os inspetores faziam um termo de visita e depois ela tinha que
copiar e deixar uma cópia no Grupo Escolar vinculado à escola
isolada: [...] ele chegava pedia o livro de chamada para ver falta, essas
coisas... Assinava lá. E ia no livro de inspeção, que depois a gente tinha
que copiar e mandar para a escola que pertencia àquela escola”.
Na tarefa de acompanhar o trabalho docente, os livros de
Termos de Visitas foram utilizados pelos inspetores de ensino,
segundo Leite (2020), como forma de registrar algumas das práticas
dos professores observadas e apontadas durante as visitas de inspeção
escolar nas escolas isoladas, tendo em vista as orientações desse
profissional
87
.
As reminiscências do professor Jorge Salomão, além de
evidenciar o preenchimento do livro Termo de Vistas pelo inspetor,
apontou que ele fazia perguntas aos alunos referentes aos conteúdos
ministrados.
Essas visitas eram surpresas. Nunca avisava e de vez enquanto o Sr
Dariu chamava um aluno. Você! Aí fazia uma pergunta para ele.
O aluno tremia na base. Mas respondia. Geralmente, era
87
Segundo Leite (2020), com base em Ligeiro (2014), a nomenclatura inspetor de ensino foi
alterada para supervisor de ensino por meio da Lei Complementar nº 114, de 13 de
novembro de 1974, que instituiu o Estatuto do Magistério do Estado de São Paulo, no
entanto, com promulgação da Lei Complementar nº 201, de 9 de novembro de 1978, passou
a terminologia de supervisor de ensino, persistindo até os dias atuais.
309
Matemática também. Punha alguma coisa na lousa e o aluno ia lá
e fazia também. Quando era alguma coisa descritiva, de História e
Geografia... naquela época todo mundo era obrigado a começar o
dia escrevendo: hoje é dia tal... O nosso prefeito é o Sr fulano de tal...
O nosso governador é o fulano de tal... O nosso presidente é o fulano
de tal... Às vezes ele perguntava isso, como se chamava o governador,
como chama o presidente... o aluno respondia ou alguns não, né. Ele
fazia um termo de visita. Tinha um livro que ele passava o termo
nele e você era obrigado a fazer uma cópia do termo e levar para a
diretora da escola sede. (JORGE SALOMÃO, 2019).
O relato da professora Yara Aude revelou vestígios do que era
descrito pelos inspetores no livro de Termos de Visitas.
Se eles soubessem que você estava saindo tarde ou cedo, eles
apareciam lá. Eles chegavam, cumprimentavam, sentavam-se na
mesa. Assistiam a aula e depois faziam uma ata da visita e iam
embora. Registravam o que viam: estive em visita nessa escola.
Encontrei a professora dando aula. No primeiro ano, isso... no
segundo isso e no terceiro isso. Se não achavam certo algo, eles
registravam. Depois a gente tinha que fazer uma cópia e deixar na
escola. No dia seguinte, a gente passava na escola ou no fim de
semana e deixava com o diretor. O livro de ata ficava com a gente.
Nesses livros tinha de tudo. Nem tudo era ofensivo, mas chamava
atenção às vezes. (YARA APARECIDA AUDE, 2019).
A memória da professora Nilce Lodi revela em detalhes como
ocorriam as visitas do inspetor.
As visitas dos inspetores escolares-supervisores eram sempre de
surpresa, realizadas de tempos em tempos, provavelmente porque
eram escolas rurais muito distantes. Sem cachê especial para cobrir o
custo das viagens, elas não eram frequentes. Uma visita simples.
310
Conversa animada com as crianças, interesse pelo adiantamento ou
atraso nos estudos. Quais as dificuldades. Frequência. Observação
dos cadernos de caligrafia, desenho. aritmética... Propunha alguns
exercícios na lousa, Perguntas e respostas. Viam como estava o
adiantamento ou atraso deles. Testavam... mandavam escrever
alguma coisa no caderno ou na lousa. O supervisor redigia um
Termo de Visitas, num livro próprio que ficava guardado na Escola.
Uma cópia feita pela professora era entregue ao Inspetor ensino na
próxima reunião mensal. (NILCE APPARECIDA LODI
RIZZINI, 2020).
À vista do exposto, é perceptível a configuração do inspetor
de ensino como agente fiscalizador e não como orientador
pedagógico. Os relatos demostraram que as visitas ocorriam de forma
esporádica, sem o conhecimento do professor e com incidência de
observar o desenvolvimento das práticas docentes exercidas no
cotidiano escolar, acompanhar o que tinha sido trabalhado e não
como oportunidade de resolver problemas gerais do ensino. Diante
disso, a julgar pelas narrativas, as visitas amedrontavam muito os
professores, ao invés de auxiliar.
Ainda, com base nos relatos dos professores, ao finalizar as
visitas, os inspetores registravam suas observações e recomendações
88
no livro de Termos de Visitas. Posteriormente, caberia aos professores
fazerem uma cópia, sendo uma para a escola sede e a outra para a
Delegacia de Ensino. De acordo com Silva (2004), as vias eram
encadernadas e compunham parte do relatório a ser encaminhado
pelos inspetores ao delegado de ensino.
88
Como não se localizou Livros de Termos de Visitas para analisar, não será possível
aprofundar a discussão sobre o trabalho de inspeção realizado pelos inspetores de ensino nas
escolas rurais na região de São José do Rio Preto.
311
Em face do exposto, pode-se dizer que os docentes, embora
submetidos às estratégias de controle exercidas pelos inspetores, se
utilizaram dos conhecimentos que se articulam às suas vivências do
cotidiano escolar para inventar, criar e elaborar suas táticas de ensino,
baseados em [...] uma concepção de escolarização, de um jeito
próprio de fazer no meio rural” (SCHELBAUER; SOUZA, 2020, p.
366).
Desse modo, com base em Certeau (2012), as práticas
cotidianas foram representadas nas diferentes maneiras de fazer”,
estabelecendo, assim, entre os sujeitos, a criação de táticas que
possibilitaram adaptar os conteúdos aprendidos nos Cursos Normais
e reproduzi-los no exercício da docência rural.
Os relatos orais revelaram que o ensino na escola primária rural
se assemelhou à escola primária comum para todos, independen-
temente de onde ela se localiza, visando à alfabetização para ler, escrever
e contar. Em poucas ocasiões houve relatos de atividades que
contemplassem os conteúdos de Ciências e Estudos Sociais,
mencionados como História e Geografia.
Cada história relatada mostrou sua particularidade, embora
existissem semelhanças entre elas. Assim como o meio rural apresenta
características diferentes e nuances próprias, o mesmo aconteceu com
os professores que iniciam a carreira docente nas escolas rurais
espalhadas pelo interior paulista. Cada um utilizou um pouco de suas
próprias estratégias e táticas para ensinar no meio rural.
Sendo assim, de igual modo, tanto os professores qualificados
no estado de São Paulo, como tem demonstrado esta pesquisa, quanto
os não-qualificados (leigos), como apresentado nos estudos de Assis
(2018), em Minas Gerais e Siqueira (2019), em Sergipe, precisaram
312
inventar e criar diariamente táticas de ensino no enfrentamento das
diferentes situações que surgiram no cotidiano da escola rural para
promover a escolarização das crianças do meio rural. O fato é que os
relatos são similares a milhares de experiências de professores em
início de carreira, sejam eles com formação ou sem-formação.
Constatou-se, com isso, que as dificuldades do início da docência
estão presentes em todos os lugares.
5.5 Materiais escolares
O funcionamento das escolas isoladas rurais, de maneira geral,
foi marcado pela precariedade das suas instalações físicas, carência de
mobiliário, instabilidade do professor e a falta de material escolar, em
quase todas as regiões do país (ALMEIDA, 2001; ASSIS, 2018;
ÁVILA, 2013; BARROS, 2016; MORAES, 2014; SIQUEIRA,
2019; SILVA, 2004; SOUZA; ÁVILA, 2015; SOUZA, 2009).
Assim, pode-se dizer, segundo Barros (2016, p. 58), que a
instituição no meio rural se estabeleceu como [...] uma escola carente
de tudo, desde recursos mais simples aos complexos, ensinar era uma
árdua tarefa e desenvolvida pelos missionários professores”.
Sem dúvida, entre os desafios enfrentados pelos docentes no
exercício da profissão nas escolas rurais estava a capacidade de “[...]
lidar com uma escola na qual tudo faltava, principalmente, materiais
(SILVA, 2004, p. 61). Diante disso, a narrativa da professora Maria
Nirce corrobora tal assertiva, pois afirma que, na escola rural, Não
tinha quase nada. Nada! Quase nada. A gente não tinha apagador e giz,
se você quer saber. Eu comprei isso tudo por muitos anos.
313
Neste meandro, os relatos dos professores evidenciaram que
para desenvolver as atividades pedagógicas nas escolas isoladas rurais,
os objetos mais comuns utilizados foram o quadro negro, o giz, o
apagador e cartazes confeccionados pelos próprios docentes atrelados
ao uso da cartilha e do livro de leitura. Além disso, dispunham dos
recursos oriundos do meio em que a escola estava localizada.
Para a alfabetização dos alunos, a professora Maria Alvarez
relatou que desenvolvia as atividades pedagógicas por meio da cartilha
Caminho Suave, histórias, canto e hinos cívicos”, e para o ensino da
Matemática, utilizava como material bola de gude, palitos, folha de
mato, grãos de milho, plantas, para ensinar contar. Além desses
materiais, destacou a uso de cartazes com tabuada.
Além da lousa e do giz foram utilizadas cartilhas e livros pelo
professor Jorge Salomão para ensinar os alunos das escolas rurais.
Destacou o uso da Cartilha Sodré e do livro Débora
89
: Cartilha Sodré
era de Português e a Débora tinha Matemática, História, Geografia,
Ciências. Eu lembro que tinha o desenho do aparelho digestivo, aparelho
circulatório, aparelho urinário. Tinha o desenho tudinho com os nomes,
tudo. Eu usava muito.
De modo semelhante foi a narrativa da professora Maria Inês.
A lousa, a cartilha Caminho Suave e o livro Débora também foram
utilizados para ensinar os alunos.
Não tinha nada, pelo menos onde eu lecionei não tinha nada, era
tudo muito longe das coisas. Você ia dando aula assim... eu
comprava sabe o que? Eu comprava aqueles livrinhos branquinho
89
Deduz-se que esses “Livros Débora” sejam os livros didáticos elaborados pela Professora
Déborah Pádua Mello Neves e impressos pelo Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas. A
Revista Comunicação e Educação (USP) publicou, em 2008, um depoimento dado pela
Professora Déborah Pádua Mello Neves (2008).
314
Débora. Naqueles livrinhos tinha Matemática, Ciências, Geografia,
História, Português, tipo brochura... tinha as estradas de ferro. Você
sabia que as estradas de ferro... por exemplo, Araraquarense. A nossa
estrada de ferro aqui era Araraquarense, que ia até Araraquara.
Você sabia o nome de todas as cidades, as sorocabanas que vinha
nesses livros. Então você decorava. As serras do estado de São Paulo,
serra não sei onde... Os nomes dos rios, os afluentes do Amazônia.
Eram caderninhos como se fosse uns caderninhos de linguagem,
daquele formato. Então tinha várias matérias... então eu usava esse.
Era a única referência que a gente tinha para dar aula. Ninguém
orientava a gente. A gente ia pegando da professora anterior. A
professora anterior pegava da outra interior, entendeu. Uma passava
para a outra e era assim. Ia desse jeito. (MARIA INÊS MAGNANI
SALOMÃO, 2019).
A precariedade de material levou-a a comprar, além dos
livrinhos da Débora”, cartazes para complementar o ensino das
vogais, o alfabeto, as sílabas de cada lição. Os cartazes eram fixados na
lousa conforme a lição que estava trabalhando. Além disso, alega ter
confeccionado tabuada em papel almaço para colar em cima da lousa,
pois ao olhar diariamente, os alunos memorizavam, além de favorecê-
los nos exercícios de cálculos.
As atividades pedagógicas eram desenvolvidas nas escolas
rurais pela professora Irce Elias por meio da utilização da cartilha
Caminho Suave ou livros. Declarou que não tinha um referencial
curricular para seguir o conteúdo a ser ensinado aos alunos. A
obrigação era de alfabetizar as crianças. Desse modo, utilizou no
primeiro ano a cartilha e nas outras séries um livro de leitura. Em
Matemática tinha que confeccionar o material para auxiliar os alunos
na resolução de situações-problema, tais como o milho para ensinar a
tabuada. De acordo com seu relato nas escolas rurais Não tinha muita
315
coisa pra usar (risos). Era a régua, giz, apagador (risos) e algum material
assim... livro, essas coisas. A Caminho Suave”.
Entre os materiais utilizados, a professora Palmira Miqueletti
destacou o uso da lousa, do giz, da cartilha, dos livros e das fichas
confeccionadas por ela
Os instrumentos de trabalho era lousa, giz, cartilha né. Livrinhos e
muita ficha feitas por nós mesmas. Certo. Com texto... a gente ia
fazendo e a gente ia guardando pro ano seguinte. A gente fazia as
fichas em cartolinas, manuscritas. Uma por uma. (PALMIRA
MIQUELETTI MARRA DA SILVA, 2019).
Ainda, alegou que fazia um painel para anexar o conteúdo que
iria ser trabalhado em sala, de modo que os alunos pudessem recorrer
durante a realização de alguma atividade durante as aulas.
De modo similar foi relatado pela professora Yara Aude o uso
da lousa, do giz e de fichas de problemas. Lembrou que aproveitou o
material que já havia sido feito por ela quando aluna do Curso
Normal. Declarou, ainda, que não chegou a usar a cartilha enviada
para ser utilizada na escola para o ensino dos alunos da primeira
série/ano. Explicou que para o primeiro ano era a cartilha Caminho
Suave, apesar que eu não usava a cartilha. Eu tinha o meu método para
dar aula para primeiro ano. Então essas cartilhas eu passava para outra
escola”. Diante disso, percebe-se como as táticas de ensino criadas por
ela permitiram manipular e alterar o que estava estabelecido por parte
do governo, no sentido de cumprir o uso cartilha.
A ausência de objetos fazia com que a professora Ivanilde
Afonso confeccionasse o próprio material de trabalho.
316
O material didático, nós nos virávamos. Porque a gente não recebia
assim material didático para você ficar assim mais ou menos
atualizado. Você tinha que se virar. Tinha que procurar saber em
uma escola, em outra escola. Saber como estava as coisas. Fora as
coisas que a gente fazia. Levava pronto. Por exemplo, se você vai dar
geometria, você tinha que fazer aqueles quadrados, retângulos,
triângulo. Tudo feito pela gente. Nós não recebíamos isso de
ninguém. (IVANILDE AFONSO PRUDÊNCIO, 2020).
Ainda, de acordo com as reminiscências da professora Ivanilde
Afonso no meio rural,
Nós não tínhamos material assim. Era tudo coisa que a gente... Não
tínhamos material, principalmente o rural. Não sei a opinião dos
outros, mas no rural não tinha uma assistência. Você se virava muito
sozinha. Você inventava. O material você fazia. Aquilo que as
crianças tinham mais dificuldade você fazia... Fazia aquelas
faixinhas com frases para poder facilitar. Eles tinham o livro.
Tinham a cartilha Caminho Suave e tinha também a Sodré.
(IVANILDE AFONSO PRUDÊNCIO, 2020).
A escassez de instrumentos de trabalho levou a professora
Maria Nirce a completar o material didático com livros de
historinhas, folhetos de supermercado e jornais trazidos de casa para
trabalhar leitura com os alunos.
[...] para ensinar leitura eu levava bastante revistinha que a gente
tinha em casa, que eu podia levar, algum jornal, porque nos anos 70
era muito difícil assim ter tudo assim... como hoje tem. Usava
também aqueles folhetos de supermercado que dava pra você tirar
muitas palavrinhas. Então com a primeira série usava muito isso
aí... eu levava e pedia pra eles pra quem tivesse aquela folhinha
317
escrita com alguma coisa pra gente ler na sala de aula. (MARIA
NIRCE PREVIDENTES SANCHES, 2019).
Para ensinar os alunos na escola rural, a professora Sônia
Azem explicou que desenvolvia as atividades pedagógicas utilizando-
se de cartilha e de um livro. Não conseguiu lembrar o nome do livro,
apenas o descreveu como retangular e separado por disciplinas.
Explica [...] não consigo lembrar, ele é antigo, mas tem um conteúdo
ótimo. Tinha Português, Matemática, tinha de todas as disciplinas,
porque se você escrevesse tudo, não dava tempo. Não dava tempo de você
escrever a matéria por ser classe multisseriada e lidar com vários
alunos. Usava palitos para ensinar a tabuada. Ressaltou ainda que
todos os dias antes de começar um conteúdo era necessário passar um
cabeçalho na lousa.
Todo dia eu começava com cabeçalho. Escola de Emergência, tal,
tal, tal (risos). Era tudo escola de Emergência, porque não tinha jeito
de ser outra, né. Elas foram criadas assim numa emergência para
atender uma população ali. Essa escola que nós fomos parar lá em
Tanabi, nós nem chegamos a ficar de tão longe que era. (SÔNIA
APARECIDA AZEM, 2019).
Sua narrativa denuncia a precariedade em que se encontravam
as escolas rurais na década de 1970 na região de São José do Rio Preto.
Como foi discutido, as escolas de emergência foram implementadas no
estado de São Paulo na década de 1950, em caráter emergencial, para
atender à demanda de falta de vagas nas escolas primárias. O fato é que
as condições precárias de instalações ainda permaneciam, tal como
apontado por Leite (2018, p. 39), ao buscar dados estatísticos sobre a
expansão das escolas rurais no estado, verificou que [...] nos anos de
318
1970, essas escolas ainda apresentavam um crescimento, mesmo que
irregular.
Com relação aos materiais escolares utilizados na escola rural,
a narrativa da professora Nilce Lodi evidenciou uma outra realidade
vivida por ela ao lecionar na Escola Mista da Fazenda Scaff.
A Inspetoria do Ensino rural da Delegacia de Ensino distribuía giz
branco e apagador, assim como a Plano Anual das três séries
ministradas na mesma sala, anexas e mistas. Cabia à professora
escolher da Cartilha para a alfabetização e os Livros de Leitura para
os alunos de 2º. e 3º. anos. Era responsável por comprar ou/e
confeccionar às suas expensas o material didático necessário, às suas
aulas: ilustrações em geral, cartazes, mapas, providenciar os símbolos
e hinos nacionais e do município etc.; giz colorido, tinta, tinteiros,
mata-borrão, canetas, penas, régua. O material dos alunos era
simples: um caderno para todas as matérias, um de caligrafia e outro
pequeno para desenho, apontador, lápis preto e caixa de 12 lápis
coloridos, borracha e régua. Levavam o material em bolsas de tecido
grosso confeccionadas pelas mães. (NILCE APPARECIDA LODI
RIZZINI, 2020).
Por ser uma escola próxima do município de São José do Rio
Preto e de fácil acesso, deduz-se que, a professora Nilce foi beneficiada
no recebimento de materiais didáticos enviados por parte do governo.
Desse modo, para a alfabetização dos alunos, escolhia a Cartilha de
sua preferência e os livros de leitura para o segundo e terceiro ano. Ela
criava quadros para descrição e narração, além de mapas do Brasil e
do estado de São Paulo.
À vista de todo o exposto, os relatos revelaram que para suprir
a falta de materiais escolares nas escolas rurais, muitos dos docentes
confeccionaram o seu próprio instrumento pedagógico, além de
319
utilizarem dos seus próprios rendimentos para comprarem os recursos
didáticos necessários. A evidência comum foi a utilização da cartilha
Caminho Suave
90
pela maioria dos professores, o que demonstrou ter
sido o principal material didático usado para alfabetizar os alunos.
Sendo assim, pode-se dizer que os professores foram capazes de
promover a escolarização dos alunos, mesmo em condições precárias.
5.6 Desafios da docência rural
Ser professor nas escolas rurais, como já apontado em outro
tópico desta pesquisa, era matar um leão por dia(MARIA INÊS
MAGNANI SALOMÃO). Além das más condições de funciona-
mento dos estabelecimentos, a escassez de mobiliário e de material
didático, o acesso às escolas foi considerado pelos docentes como um
desafio a ser enfrentado dia a dia no exercício da profissão no meio
rural.
Por esta razão, pode-se considerar a escola primária da zona
rural, de acordo com Silva (2004), como ilhas do saber, sendo
providas de professores náufragos ao concretizar de modo
pertinente a realidade desses profissionais das escolas isoladas rurais.
Nessa perspectiva, as maneiras de perceber, de significar o
exercício da docência rural são apresentadas pelas narrativas, tal como
posto pela professora Maria Alvarez, ao rememorar que, para ser
90
De acordo com o estudo de Carvalho, Rocha e Santos (2018), a cartilha Caminho Suave,
de Branca Alves Lima, desde a sua primeira publicação, em 1948, contou com o método de
alfabetização pela imagem. Diante disso, o método “[...] associava letras a imagens e indicava
que a criança era alfabetizada com mais facilidade” (SCHELBAUER; SOUZA, 2020, p.
377).
320
professora da zona rural, era preciso muito amor pela profissão porque
não foi uma tarefa fácil.
Eu achava muito difícil o trajeto. Era muito longe, tinha que ir a
pé. Às vezes a cavalo. Às vezes com quem passava por lá. Eu acho
que o trajeto para mim era o mais difícil. As condições eram
péssimas. A escola era muito pequena. Muitos alunos. Lousa
pequena, porque a classe era três séries juntas. Carteiras pequenas,
porque era para dois alunos, mas, sentavam-se três. Naquele tempo
não tinha nada disso. A gente ia porque amava a profissão. Eu pelo
menos, ia. Porque eu amava a profissão (pausa). (MARIA
ALVAREZ ROMANO, 2019).
Dos diversos desafios engendrados no exercício da profissão
docente no meio rural, a professora Irce Elias destacou o acesso às
escolas: Era a condução né. Era a distância, né. Era três séries né”. Do
mesmo modo, enfatizou a dificuldade em ministrar aulas para
crianças com níveis de aprendizado diferentes: Era difícil, porque a
gente tinha que dividir o tempo, né e dar as coisas para uma turma
enquanto a gente trabalhava com a outra. Então uma fazia exercício e as
coisas enquanto a gente ia trabalhar com a outra série (risos)”. Relatou,
prosaicamente, que em nenhuma das escolas isoladas que lecionou
teve a sopa, os alunos levavam o lanche de casa: Não tinha a sopa, as
crianças levavam marmitinha, né. Elas tinham uma marmitinha e
levavam a comida mesmo e o lanche delas é a marmitinha que a mãe
preparava”.
Para Palmira Miqueletti, além de percorrer longínquas
distâncias para lecionar, a professora na zona rural desempenhava
múltiplas funções: Dificuldade era transporte. Estradas péssimas. A
gente tinha que ser mãe, cozinheira, enfermeira, tudo. A professora era
321
tudo”. De acordo com suas reminiscências, alegou ter feito sopa para
os alunos como merenda escolar na terceira escola rural em que
trabalhou que ficava na Fazenda Santa Inês, em Potirendaba. Outra
observação apresentada por ela, nesta mesma fazenda, foi em relação
à higiene, pois, ao sentar-se ao lado dos alunos do primeiro ano com
o objetivo de segurar-lhes as mãos para que pudessem desenhar as
letras, piolhos caiam em suas mãos. Após verificar que todos os
alunos da sala estavam com piolho fez uma reunião com as mães e as
orientou como eliminar tal problema.
Eu fui para Potirendaba, Fazenda Santa Inês. Ali a gente fazia sopa
dentro da sala de aula. Eu com os pequenos, de 1º ano... eu sentava
do lado deles para pegar nas mãozinhas deles para desenhar as
letras... quando um piolho caiu na minha mão, que eu fui olhar a
molecada estava infestada. Aí fiz uma reunião com as mães.
Orientei certo a respeito do assunto. Mas ali não teve maiores... que
eu me lembre foi isso aí. A gente dando o ditado e mexendo na
panela. Era essa situação (risos). (PALMIRA MIQUELETTI
MARRA DA SILVA, 2019).
É importante ressaltar que nas escolas primárias isoladas
rurais, como tem demonstrado a historiografia, além das práticas
educativas, os professores eram responsáveis por ações pedagógicas de
orientação sobre os cuidados com a higiene, saúde e alimentação,
junto à comunidade (MORAES, 2014; FARIA, 2017; SOUZA-
CHALOBA, 2017; ASSIS, 2018; LEITE, 2018; SIQUEIRA, 2019).
Dessas acepções, pode-se ressaltar que, embora não seja uma
realidade rememorada por todos, a professora Nilce Lodi evidenciou
a preocupação com a saúde dos alunos por iniciativa da Inspetoria de
Ensino. Relatou que a Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto,
322
entre 1957 e 1958, criou um serviço de assistência médica à zona
rural. Junto à escola, o médico, Dr. Mouraria, promoveu o exame
geral da saúde das crianças menores, moradoras na fazenda, e a
distribuição de medicamentos contra parasitas. Diariamente, quando
da entrada dos alunos na sala de aula, ela deveria distribuir a cada um
deles uma dose de água e do medicamento. Os resultados foram bons,
mas infelizmente o projeto não teve continuidade nos anos seguintes.
A Inspetoria do Ensino Rural
91
, de acordo com Nilce Lodi,
distribuiu durante algum tempo o leite em pó, produto difícil de
preparar, pois empelotava ao se misturar na água, além da falta de
utensílios adequados, mas conseguiu o empréstimo de um
liquidificador, caldeirão, concha, bules e cada aluno tinha sua caneca
pessoal. Após a confecção, distribuição e consumo, os alunos que
cuidavam do trabalho, limpavam tudo, deixando a sala arrumada para
o prosseguimento das aulas. Ser a única professora da escola rural, não
foi fácil afirmou Nilce Lodi Era realmente difícil ser única professora
numa classe mista com alunos de três graus. Atender a todos era
complicado pois era preciso dar atenção a todos. Muita descontração,
controle e disponibilidade sempre resolvia tudo”.
A dificuldade destacada por Jorge Salomão em ser professor
de escolas rurais foi a falta de experiência, a falta de infraestrutura,
pois nas escolas Não tinha poço. Não tinha privada...”. Com relação
à merenda, afirmou que ele não fazia, logo, pagava para alguém fazer:
[...] paguei para uma irmã de um aluno, para ela cozinhar para gente,
para ela fazer a sopa. O dia que ela não podia ir...não tinha né. Eu
91
Ao mencionar à Inspetoria de Ensino Rural, a professora Nilce Lodi referiu-se aos
inspetores de ensino José Sodero, Dario Galli e Oscar Bueno, responsáveis pela inspeção na
Fazenda Scaff.
323
pegava a merenda na escola em Bady... a escola sede e a Dona Imaculada
era a diretora. Ela distribuía o que tinha para levar”.
O trajeto também foi um dos desafios a serem enfrentados
pela professora Yara Aude nas escolas rurais: No meu caso era a
condução. Tive escolas com 25. Na de Matão tive quase 40. Em Cedral,
teve época de ter 8, teve época de ter 15, de ter 18. Então a maior
dificuldade era não ter carro. Não era toda escola que você podia ir.
Quando lecionou em escolas rurais, relatou que cozinhou apenas na
escola rural de Cedral, já nas outras havia poucos alunos e a merenda
não era oferecida.
Nas lembranças da professora Ivanilde Afonso, as dificuldades
em ser professora rural foram muitas, das quais enfatizou o acesso às
escolas e a carência de material escolar.
As dificuldades eram todas. Era dificuldade para viajar. Para se
hospedar, porque às vezes tinha lugar que não queria hospedar a
professora. Esses eram os problemas. [...] Os problemas eram de
hospedagem. Financeiro, porque tudo saia do nosso bolso, porque o
estado não ajudava em nada. Muitas vezes a gente tinha que
comprar giz. Faltava giz e eles não mandavam. Cadernos, lápis e
borracha, muitas as vezes a gente que comprava, tirávamos do
próprio bolso. (IVANILDE AFONSO PRUDÊNCIO, 2020).
Assim, verifica-se a falta de assistência por parte do estado na
oferta de materiais de ensino básicos para o funcionamento das escolas
rurais.
De acordo com Sônia Azem, eram muitas as dificuldades em
ser professora no meio rural. Ela era obrigada a comprar cartilhas e
materiais escolares para as crianças, além do combustível que colocava
no carro para chegar à escola ou quando dividia as despesas da perua
324
com colegas que trabalhavam em escolas rurais. Quanto à merenda,
ela pagava uma pessoa para cozinhar a sopa oferecida: A sopa eu
paguei”.
As dificuldades em ser professora no meio rural, segundo
Maria Nirce eram a falta de recursos materiais. Os materiais didáticos
eram exíguos, sendo obrigada a comprar pacote de lápis para dividir
entre os alunos. Não tinha apagador e giz. Caso quisesse esses
instrumentos de trabalho, tinha que comprar. Os prédios eram
precários, com salas pequenas. Alegou que nas escolas rurais ela era
uma mãe lá. Uma dona de casa. Eu era tudo. Eu não sabia o termo...
mas era polivalente”. Ainda, na escola rural, fazia merenda para os
alunos. Solicitava que as crianças trouxessem para a escola gravetos
que encontrassem no caminho para poder utilizar como combustível
para cozinhar a merenda. Os pais mandavam abobrinha, mandioca,
milho para incrementar a sopa.
A professora era que tinha que fazer a comida. Eu falava para eles.
Já venham trazendo uns gravetinhos, né. Tinha muito pai que
fazia certinho os gravetos, fazia os pacotinhos assim, amarravam.
Você imagina uma criança assim de 7, 8 anos que moram...
trazendo as coisas. Ia chegar tudo pelas metades, ia perder os gravetos
tudo... coitados (risos). Então, e aí erasforo que tinha que ter lá,
a lenha, tudo. As comidas... lavar todos aqueles pratos. A gente já
escolhia aquelas meninas maiorzinhas, que a mãe já ensinava, que
ajudava a mãe, né. Nossa! (MARIA NIRCE PREVIDES
SANCHES, 2019).
Ainda, destacou que em uma das escolas rurais em que
trabalhou o fazendeiro mandava dois baldes de leite com Toddy para
os alunos. Na hora do recreio quem não tivesse levado nada para
325
comer, tinha o leite para beber. Outras vezes ele mandava pacotes de
bolacha de maisena para comer com o leite, mas não era sempre.
As dificuldades destacadas em ser professora rural foram,
segundo Maria Inês, primeiramente a alimentação e depois o salário,
porque a cada três meses trabalhados você recebia um. Com as
despesas de pensão, aluguel de cavalo, o ônibus, não sobrava quase
nada. O aluguel do cavalo era pago ao fazendeiro da Fazenda Boa
Vista, porque o ônibus levava até um Corguinhoe de lá teria que
terminar de chegar a cavalo. Então, todos os dias um aluno a esperava
com o cavalo. Relata que:
A primeira vez que eu montei no cavalo, eu não sabia como eu descia
do cavalo. Aí cheguei na escola e os alunos tudo lá me esperando. Eu
pensei: meu Jesus o que eu faço agora! Como eu vou descer disso aqui!
(risos). Aí os alunos: professora põe o pé aqui e dá um pulo pra trás...
Quase eu fui esborrachada no chão! (MARIA INÊS MAGNANI
SALOMÃO, 2019).
Além do difícil acesso às escolas, Maria Inês afirmou que os
alunos não tinham dinheiro para comprar os materiais escolares,
então conta que [...] comprava um caderno e arrancava folha e
distribuía para eles. Não tinha lápis. Mesmo fazendo referência ao
pouco salário recebido do estado, ajudava os pais na compra de
material escolar dos alunos que não tinham condições financeiras.
Os relatos evidenciaram que as condições de trabalho nas
escolas rurais eram precárias, onde os professores foram elaborando
táticas de superação das dificuldades de acesso ao local, da falta de
material para ensinar no meio rural, além da obrigação de fazer a
merenda escolar.
326
As narrativas, ainda, demonstram a falta de estímulo
financeiro com relação aos salários recebidos, tal como posto por
Maria Alvarez Eu ganhava do estado uma miséria que nem me lembro
o que era. Não lembro sinceramente. Era uma merreca”. De modo
similar foi a narrativa da professora Maria Nirce, que alegou que a
situação era precária e a remuneração nem sempre era regular, tendo
muitos casos de atrasos.
A professora Yara Aude, apenas disse que o salário era
pequeno”. Tal alegação teve como base o documento intitulado
Atestado de transferência de servidor, emitido pela Inspetoria
Auxiliar de Ensino, datado em 29 de março de 1971, com base no
qual a entrevistada presumiu que o salário nesse período correspondia
ao valor de Cr$656,25 cruzeiros, como pode ser analisado na Imagem
11.
327
Imagem 11 - Atestado de transferência de servidor1971
Fonte: Aude (1971).
Diante desses dados, para se ter uma ideia dos valores pagos
ao magistério paulista primário, buscou-se fazer uma comparação da
quantia de Cr$656,25 cruzeiros em relação ao valor do salário-
mínimo. De acordo com Decreto nº 68.523, de 30 de abril de 1970,
um salário-mínimo na época correspondia a Cr$ 187,20. Desse
modo, pode-se dizer que a professora recebia o correspondente a 3,5
salários-mínimos.
328
Com base nessas informações, deduz-se que a professora Yara
Aude quis fazer uma comparação do salário recebido com os dos
professores que lecionavam nas cidades, pois os salários pagos aos
docentes da zona rural eram [...] menores do que os dos professores
das escolas isoladas urbanas” (SOUZA, 2009; ÀVILA, 2013).
Coaduna-se com essa reflexão a narrativa do professor Jorge
Salomão, quando ressalta que o salário pago ao professor das escolas
rurais era em torno de Cr$900,00 e quando foi para a escola
SENAC
92
, o seu pagamento triplicou.
O salário eu me lembro direitinho, do primeiro salário era Cr$900.
Era Cr$900 alguma coisa. Não sei que coisa que era o dinheiro
daquela época. O dinheiro na época teve muita mudança. Tanto é
que quando eu sai em 3 de julho de 1973, que eu fui para o SENAC,
o meu salário foi para Cr$2,700,00. Triplicou! Eu me senti um
milionário. Planos para comprar isso, comprar aquilo... nunca
comprei. Cheguei só fazer dívida. O salário era Cr$900 qualquer
coisa. Demorava 3 meses para chegar. Mas era uma renda de
família. A gente passava o mês com aquilo. Pagava imposto, água,
luz. Não tinha telefone na época. Fazia supermercado. Comprava
remédio. Sobrevivia. (JORGE SALOMÃO, 2019).
A diferença salarial também foi relatada pela professora Irce
Elias ao afirmar ser [...] menor, né. Era como substituta ou como escola
de emergência era menor que a de efetiva. E quando eu lecionei em escola
municipal, também recebia pela prefeitura, era pouco, né, não era
muito.
92
Segundo Jorge Salomão, ao ser aprovado em um concurso do SENAC ele deixou as aulas
da escola rural.
329
Com relação ao salário recebido, a professora Sônia Azem
relatou que fazia milagres, pois além das despesas com a condução
para chegar à escola, bancava [...] festinha, tudo com o dinheiro da
gente. Dia das Crianças. Comprava material escolar, comprava tudo com
o dinheiro da gente e ainda sobrava”.
Para a professora Ivanilde Afonso a remuneração era a mesma
tanto para o professor rural quanto para o professor da cidade, o
problema estava nos gastos excessivos do docente da escola rural, pois
o estado não ajudava em nada. O giz, o lápis, o caderno e a borracha,
muitas vezes, eram comprados pelo professor.
O salário era o mesmo para o professor da zona rural e da cidade, a
diferença é que na cidade não tinha despesas. Quem dava aula na
cidade não tinha despesa nenhuma. O nosso salário era o mesmo,
mas nós recebíamos praticamente a metade, pois ficava um pouco na
viagem, na pensão quando tínhamos que dormir lá. Cadernos, lápis
e borracha, muitas as vezes a gente que comprava, tirávamos do
próprio bolso. (IVANILDE AFONSO PRUDÊNCIO, 2020).
De modo semelhante foi rememorado por Nilce Lodi que os
valores recebidos pelos professores das escolas rurais bem como das
escolas urbanas eram os mesmos, porém, considerava insatisfatório.
No início da carreira a importância do holerite do professor de grupo
escolar ou de escola rural era a mesma, para todos. Recebia através
do Banco do Estado de São Paulo, mas não me recordo qual o valor
do meu primeiro salário de professora primária. Em geral, era
considerado insatisfatório para o sustento familiar, muito abaixo do
que mereciam. Não foi o meu caso: - 18 anos, solteira, morando com
os pais que me davam tudo e sugeriam a compra de um carrinho por
consórcio e não depender de ônibus municipal para lecionar. Nessa
330
época, dizia-se que o ordenado da professora é apenas para ela e seus
alfinetes, isto é para seus gastos pessoais e pequenos luxos”. Na
realidade, seu ordenado complementava em geral o ganho mensal do
casal para o sustento da família. Isso se tornava crítico se o marido
fosse também professor primário. Durante o período de 1954 a
1959 não tenho lembrança de atraso no pagamento do salário,
reclamavam do valor dos aumentos ocorridos, mas não se fazia greve.
(NILCE APPARECIDA LODI RIZZINI, 2020).
Diferente dos outros professores, a professora Palmira
Miqueletti foi para a escola rural por conta do salário que receberia na
época, porque recebia da empresa em que trabalhava o valor estimado
de $250,00 cruzeiros e na escola rural receberia a quantidade Cr$
750,00.
Assim, os relatos demonstraram, em sua maioria, que os
salários pagos eram baixos. Nota-se que os valores recebidos não
impediram os professores de adquirir materiais escolares para os
alunos e de custear as despesas para chegar às escolas rurais.
Não obstante essas condições, pode-se dizer que a escola rural
possibilitou aos docentes a criação de amizades e a construção de
aprendizados. Aprenderam a lidar com as diferentes situações e, ao
mesmo tempo, exigiram assumir determinadas posições e fazer
escolhas impostas pelo exercício da profissão docente.
5.7 Alunos das escolas primárias rurais
Historicamente, a criança, segundo Kramer (2009), é um
sujeito histórico que vive num tempo, numa classe social e num
determinado contexto sociocultural. Nesse sentido, Sarmento (2002)
entende que
331
As condições sociais e culturais são heterogêneas, mas incidem
perante uma condição infantil comum: a de uma geracão
desprovida de condições autônomas de sobrevivência e de
crescimento e que está sob o controle da geracão adulta. A
condição comum da infância tem a sua dimensão simbólica nas
culturas da infância. (SARMENTO, 2002, p. 3).
Dessas acepções, o espaço geográfico acaba edificando uma
imagem da criança da zona rural diferente da criança da zona urbana.
Durante muito tempo, o meio rural foi visto como símbolo de atraso
e de ausência de cultura, ao passo que o meio urbano é caracterizado
como desenvolvimento. Em paralelo a essas questões, o acesso ao
ensino primário no Brasil não foi uniforme, especialmente o oferecido
no meio rural, uma vez que esse tipo de ensino se inscreveu em um
cenário de ausências, exclusões e diferenciações.
No caso do estado de São Paulo, mesmo com as políticas
públicas de expansão do ensino primário advindas nas primeiras
décadas do século XX, acabou favorecendo a população da zona
urbana em detrimento da zona rural, apesar de uma grande parte da
população estar concentrada no meio rural. Mesmo assim,
prevaleceram os grupos escolares (escolas mais modernas) no meio
urbano e as escolas isoladas (único professor para atender vários
alunos com níveis de aprendizado diferentes) no meio rural (SOUZA,
1998, 2009).
De modo geral, coube às escolas isoladas [...] a função de
atender a essas crianças que, nas palavras dos professores, eram muito
pobres, paupérrimas, crianças que precisavam ajudar os pais na lida
diária” (CARDOSO, 2013, p. 217).
332
Partindo dessas acepções, quem foram os alunos das escolas
isoladas rurais da região de São José do Rio Preto, entre as décadas de
1940 e 1970?
De acordo com a narrativa da professora Maria Alvarez, os
alunos das escolas rurais, eram, na maioria, filhos de pais que
trabalhavam na roça. Os filhos dos fazendeiros, na maioria, também
estudavam com ela, não saiam para estudar fora, pois ajudavam os
pais nos afazeres da fazenda, de modo queterminada a aula, já iam
ajudar os pais na roça. Continuava trabalhando na roça para ajudar o
pai, a mãe. Lembrou que os alunos tinham disciplina e interesse nas
aulas, diferentemente do que se vê e ouve atualmente. Ela era a
autoridade máxima na sala.
A professora Maria Nirce caracterizou os alunos como uns
coitadosdevido à pobreza vivenciada por ela. Explicou que apesar
das condições econômicas, demonstravam [...] vontade de aprender.
Eles gostavam da escola. Era a única coisa de bom que tinha para elas”.
A diferença de oportunidade é presente na fala de Maria Nirce ao
narrar que [...] os filhos dos fazendeiros iam para a cidade estudar e o
filho do empregado ficava na fazenda. Ainda bem que tinha a escola”.
Nesse sentido, as representações dos alunos como uns
coitados reforçam o estereótipo da escola rural como inferiorizada,
subalterna. Tal como posto por Seixas (2013), o processo de
negatividade, associado à formação da imagem, toca incisivamente no
campo do estereótipo. Assim, a noção de estereótipo aponta para o
[...] significado tornado dominante de ideia preconcebida e
nociva, de segunda mão, uma representação eivada de precon-
ceito, simplificadora e esvaziada de verdade ou conhecimento,
pois sua prática e uso redundariam em generalização
333
necessariamente redutora e falsificadora do real. (SEIXAS, 2013,
p. 9).
Diante disso, pode-se inferir, com base no estudo de Seixas
(2013), que o uso classificatório que serve ao conhecimento das
opiniões preconcebidas do preconceito estão malgrados nas
taxonomias elaboradas pelas práticas do estereótipo.
Os estudantes eram humildes, afirmou Sônia Azem, ao
relembrar das condições socioeconômicas dos alunos. Não tinham
material escolar e roupas para inverno, e muito menos calçados para
o dia a dia. Além disso, explicou sobre as condições de saúde de alguns
alunos indicando que seu irmão médico a auxiliava no tratamento
dessas crianças: Ele medicava, além de medicar, sabia que eles não
tinham poder aquisitivo, já mandava comprar remédio, tudo. E eles,
coitados, não tinham condições e nem tinham roupas. Eram pobres,
pobres mesmo”.
A professora Irce Elias relatou que os alunos das escolas rurais
eram filhos de meeiros ou trabalhadores diários. Nas fazendas em que
os alunos eram filhos de meeiros havia mais condições financeiras,
porque os pais trabalhavam e recebiam a metade do resultado do
cômputo da produção do dono da fazenda. Mas onde só havia colônia
de trabalhadores diaristas, os alunos eram pobres. Em virtude dessa
condição, explicou que onde só tinha aquela colônia de trabalhador
diarista, aí eles eram pobres. Muito pobre. Tinha lugar, que tinha casa
de chão”.
Palmira Miqueletti referiu-se aos alunos das escolas rurais,
como filhos de agricultores que trabalhavam na fazenda. Tinham uma
vida muito simples. Eram crianças educadas, respeitavam o professor,
logo, tinha os danadinhos, mas era um ou outro.
334
A professora Maria Inês relatou que os alunos eram muito
pobres”, que muitas das vezes iam estudar mal alimentados, mesmo
assim, reconheceu que os estudantes eram obedientes. Não sabe se era
medo ou respeito pela professora. Durante as aulas ficavam prestando
atenção em tudo, sem conversar. Assim que chegava à escola, eles
corriam para ajudar carregar o que estava levando nas mãos. Tinham
muito interesse nas aulas, porque acordavam muito cedo para estudar.
Lembrou o caso de um aluno da escola de José Bonifácio que
se chamava Jorge. Afirmou que esse aluno chegava sempre atrasado
nas aulas, porque antes de ir para a escola ele tinha que ajudar o pai a
tirar leite. Para não prejudicar o aluno, explicou que “às vezes eu falava
para ele falar para o pai tirar o leite para não perder aula. Mas o pai
quem mandava, ”. Afirmou que sua relação com os alunos era boa.
Entretanto, no início do ano letivo, quando chegavam à escola, os
alunos tinham medo da professora. Depois de um tempo corriam
para abraçá-la. Com relação à aprendizagem, lembrou que
Uns 10% desse todo período tinha dificuldade. Eles eram muito
interessados. Quando eles conseguiam escrever alguma palavra que
eu ditava e estava certa. Que eu botava um certinho vermelho.
Nossa! Era como se ganhasse na loteria, de tão contente que eles
ficavam. Era um mundo diferente. Um outro mundo. Um mundo
que não existe nada, só o sítio, a vaca, o cavalo, o porco, a galinha e
a escolinha. Eu levava uns livrinhos de história... inclusive eu tenho
guardado até hoje, não sei onde está. (MARIA INÊS MAGNANI
SALOMÃO, 2019).
O professor Jorge Salomão caracterizou os alunos das escolas
isoladas como pobres. Lembra que a disciplina era exemplar”.
Tinham respeito pelo professor:
335
[...] Zé Roberto, não me esqueço dele. Ele era maravilhoso, sabe.
Ficou apaixonado por Matemática também. Tudo o que eu pedia,
ele fazia e nessa outra, na fazenda Santa Maria. Eu tive um
chamado João Câmara, que era nota 1000. Eu me lembro que eu
dava um problema de Matemática, que depois como diretor na
série, nas escolas em que eu fui diretor, os alunos não sabiam nem
começar. Esse João Câmara dava assim uma rasteira em todo
mundo. Ele fazia em dois tempos. (JORGE SALOMÃO, 2019).
Jorge Salomão afirmou que sua relação com os alunos era
muito austera. Não se considerava anjo de passar a mão na cabeça
de aluno, era bravo e os alunos tinham medo dele. Relatou que A
palavra certa era medo. Não era receio, era medo. Mas nunca me deram
trabalho. Eu aproveitava essa situação para trabalhar o conteúdo. Eu
sempre fui conteudista.
Diante dessa narrativa, teria o professor exercido da prática de
coerção para imposição da disciplina em sala de aula?
Embora, o professor não tenha mencionado a aplicação de
punições, é importante ressaltar que a utilização da palmatória foi
muito comum no século XIX, como a materialização dos castigos
físicos de punir o mau comportamento dos alunos. Todavia, com a
introdução do ideário escolanovista no país no século XX, segundo
Mariano (2016), a prática de punição por meio de castigos físicos
passou a representar um sinal de atraso. Em razão disso, os professores
foram orientados para que não castigassem mais seus alunos.
Contudo, nem sempre as mudanças ocorrem de imediato. O
fato é que mesmo sendo proibido o castigo físico, ainda foram
utilizados ao longo do século XX, tal como posto por Assis (2018),
com base nos estudos de Araújo e Lima (2011), era comum entre
1950 e 1979, a utilização de réguas e palmatórias, bem como ajoelhar-
336
se no milho e/ou em sementes, como punições comuns aplicadas
pelos professores para manter a ordem.
Diante disso, pode-se dizer que as representações de alunos
obedientes estão associadas à postura disciplinadora do professor,
uma vez que, dentro da sala de aula, são estabelecidos pelos sujeitos
(professores e alunos) acordos a serem seguidos e respeitados, porque
a escola, tal como postulado por Julia (2001), é uma intuição cultural
de normas e práticas definidoras de saberes, valores e
comportamentos.
Nesse sentido, as narrativas apontaram que entre professor e
aluno, nas escolas rurais, se estabeleceu uma boa relação. A professora
Irce Elias, por exemplo, afirmou que nunca teve problemas com seus
alunos. Lembrou Eles eram educados. Nunca aluno respondeu para
mim. Fazia uma artezinha, mais coisinha de criança, .
Na concepção da professora Yara Aude, os alunos das escolas
isoladas eram simples, obedientes e esforçados. Havia alguns alunos
rebeldes, mas eram poucos. Tinham disciplina, mas com poucas
condições financeiras. No início do ano vinham ressabiados, mas
conforme iam aprendendo, no decorrer do ano, ficavam mais
interessados.
A professora Ivanilde Afonso nomeou os alunos das escolas
isoladas como pobres, em virtude de as crianças irem para a escola de
pé no chão, sem chinelos e, durante o inverno, passavam frio porque
não tinham agasalhos. Desse modo, recordou:
Uma vez me chamaram para lecionar em uma fazenda aqui perto
de Guapiaçu. Chamava Escola Boiadeira. Eu fui lá uns dias
substituir uma professora. Tinha que passar numa baixada para
depois ir para a escola. Foi uma manhã tão fria! Eu cheguei lá...
337
estava bem agasalhada. Chegaram dois irmãozinhos... assim... com
as mãozinhas assim... tremiam... Eu não tinha nada para colocar
neles... só tinha o meu agasalho. Coloquei os dois sentados na mesma
carteira e agasalhei um pouco para que eles pudessem se esquentar.
Esse dia eu saí da escola me sentindo tão pequena. (IVANILDE
AFONSO PRUDÊNCIO, 2020).
Afirmou que ela não teve problemas com disciplinas, pois
muitos alunos tinham interesse nas aulas, na aprendizagem, havia as
exceções, pois, nem todos eram iguais, mas tinha vontade de aprender.
Como exemplo, mencionou a tentativa deles em tentar ler um jornal.
Diferentemente dos demais professores, a professora Nilce
Lodi declarou que os alunos da Escola Mista da Fazenda Scaff eram,
em sua maioria, descendentes de italianos e havia uma família
japonesa apenas. A renda econômica das famílias era obtida em
contratos de produção de café, gado e leite”.
Dessas acepções, pode-se dizer que os professores, ao
reconstruírem as representações dos alunos das escolas rurais, tal
como posto por Assis (2018, p. 167), partiram de [...] uma memória
construída a partir de experiências de um tempo vivido, mas
constantemente remodelada, reestruturada e ressignificada pelos
valores da sociedade atual e pelas novas experiências de vida”.
Assim sendo, entende-se que as reminiscências foram
associadas e comparadas com as imagens dos alunos dos dias atuais,
de modo que antes tinham respeito pelo professor e na atualidade isso
não mais acontece, como lamentou a professora Maria Alvarez: Hoje
para falar a verdade a você. Apesar do grande amor que eu tive pelo
magistério, eu jamais seria professora. Para sofrer numa sala de aula?!”.
338
Do ponto de vista diacrônico, os alunos que ocupavam os
bancos das escolas primárias isoladas rurais, na região delimitada para
a pesquisa, eram crianças de diferentes idades, em sua maioria, de
classe econômica baixa, composta por famílias de trabalhadores rurais,
meeiros, agricultores. Em sua maioria eram privados de condições
básicas de sobrevivência, tal como posto, a falta de vestimentas para
os dias frios, além de serem desprovidos de materiais escolares. Muitos
trabalhavam nas lavouras e plantações, assim como na ordenha de
leite para ajudar no sustento familiar. É importante ressaltar que esses
alunos eram fruto de uma escola precária, com turmas multisseriadas
que apresentam dificuldades materiais, físicas e de trabalho
pedagógico. Entretanto, a escola isolada pode ter sido para muitos
alunos do meio rural a única possibilidade de escolarização.
Diante disso, quantos alunos havia nas salas de aulas? Havia
alguma divisão por gênero? Qual era a relação entre professor e aluno?
No que diz respeito ao número de alunos por sala, a professora
Maria Alvarez relatou que atendia muitos alunos.
A classe era lotada, de 40 alunos, quase todos (pausa). Era muita
gente. Muita criança na colônia. Era aquelas colônias enormes.
Cada um tinha (risos), 8, 9 e 10 filhos. Eram muitas fazendas,
muitas crianças, concentrava no mesmo horário porque a tarde eles
ajudavam os pais na roça a trabalhar. Uns 38, 40, sempre foi assim.
(MARIA ALVAREZ ROMANO, 2019).
De modo similar foi destacado pela professora Ivanilde Afonso,
alegando ter em média 28, 30. Às vezes até 35 alunos. Eram bastante
alunos. A grande quantidade também foi apontada pela professora
Sônia Azem ao referir que [...] tinha uns 30. Uma média de 30”.
339
O professor Jorge Salomão relatou que em uma das escolas
em que trabalhou tinha 16 alunos, ao passo que na outra 27. Diante
dessa afirmativa, detalhou que dos 16 alunos eu tive: 6 de 1ª série, 6
de 2ª série e 4 de 3ª. Era uma sala estreita que não dava para formar 3
fileiras de carteira. Eram duas fileiras, uma encostada na parede aqui e
a outra encostada na parede aqui”. Neste caso, pode-se dizer que o
docente não organizou a sala em fileiras por série/ano, separando as
crianças para fazer um atendimento distinto, como discutido em
outro tópico.
Para a professora Irce Elias, a quantidade de alunos variava de
escola para escola: dependendo do lugar... 20... 30. A municipal a sala
era pequenininha, então não tinha muito aluno... não lembro, mas a
escola era uma casa que eles adaptaram pra fazer escola”.
No caso da professora Nilce Lodi, o número de alunos na sala
se manteve, praticamente o mesmo, durante os sete anos em que
lecionou na Fazenda Scaff, afirmando ser “[...] sempre entre 20 e 25
alunos, todos os anos”. Entretanto, essa não foi a realidade vivenciada
pela professora Yara Aude ao relatar que nas salas em que trabalhou
eram poucos os estudantes. Relatou que a média era [...] de 8 a 12.
De 12 a 26”.
Do mesmo modo lembrou a professora Maria Inês. Ela
contou que não eram muitos os alunos na sala em virtude do tamanho
físico da escola. Dessa forma, expôs que a “[...]escola era muito
pequena... Olha, dava duas fileiras de carteiras duplas... se tivesse uns 20
alunos. Acho que não chegava nem a 20”. Diante dessa narrativa,
embora não tenha sido mencionado, deduz-se que havia uma
separação na sala entre os meninos e as meninas, tal como posto por
Souza (2008), ao constatar que durante boa parte do século XX
340
prevaleceu nas escolas, a divisão por gênero, ratificando, entre outros,
valores sociais ancorados na moral religiosa.
A professora Palmira Miqueletti rememorou que eram poucos
alunos, afirmando que [...] em média de 10 alunos. Eram poucos
alunos.”. Isto posto, o número até 30 era considerado pela professora
Maria Nirce como poucos os alunos No máximo uns 30. Eu tive uma
que a carteira era comprida e se sentavam em três. Ali era um pouquinho
de aluno de primeira série, um pouquinho da segunda e um pouquinho
da terceira. Não era classe superlotada, não”.
No conjunto das narrativas, ressalta-se que o número de
alunos entre uma escola e outra variava. A maioria dos professores
lecionou em classes que havia entre 20 e 30 alunos, logo, houve
docentes que ministraram aulas para salas com 8 e 12 crianças. Diante
disso, é preciso destacar, conforme consta no Anuário Paulista de
Educação (SÃO PAULO, 1968b), que não poderiam ser mantidas
pelo estado as escolas isoladas com a frequência mínima de 15
alunos, exceto, quando no raio de dois quilômetros houvesse uma
única escola.
No que diz respeito à divisão dos alunos por gênero, nenhum
entrevistado mencionou ter feito a separação entre meninos e
meninas para ensiná-los. Diante disso, deduz-se que por se tratar de
salas pequenas, como foi relatado pela maioria dos professores e, por
não ter nas localidades o número suficiente de crianças do mesmo
sexo, as salas funcionaram de maneira mista.
341
5.8 O relacionamento do professor com o meio rural
Para além da sala de aula, se mostrou o relacionamento dos
professores que lecionaram na região de São José do Rio Preto. As
narrativas apontam como cada docente construiu vestígios sobre as
relações estabelecidas no entorno das escolas rurais, que foi, ao mesmo
tempo, singular e plural, assinalando importantes vivências e
experiências, tanto nos afazeres do cotidiano escolar quanto na
convivência na comunidade.
A boa relação com a comunidade levou a professora Maria
Alvarez a organizar festividades nas escolas rurais.
Fazia comemorações do Dia da Bandeira, da Proclamação da
República. Dava uma poesia pequenininha para cada. Uma poesia
maior para os maiores. O Hino Nacional, que na época era na capa
dos cadernos. Que eles decoravam. Eu era muito patriota (risos).
Todo quanto era feriado, eu ia para lá comemorar o feriado com as
crianças, com os pais. Os pais participavam. Acho que eles gostavam
de mim. (MARIA ALVAREZ ROMANO, 2019).
De acordo com a narrativa da professora, ela realizava na
escola rural celebrações que contemplavam o culto às datas cívicas do
país. Durante esse tipo de comemoração, era comum a entoação de
hinos e as recitações de poemas, tal como posto por Souza (1998).
Convém destacar, com base no estudo de Souza (1998), que
desde a Primeira República, as festas escolares eram acontecimentos
sociais de grande importância nos grupos escolares no estado de São
Paulo. Entre as festividades que acabaram se tornando uma tradição
no ensino público, a autora destacou: as festas de encerramento do
342
ano letivo; as exposições escolares; as datas comemorativas; e as datas
cívicas.
A propósito, nem todas as escolas públicas de ensino primário
tiveram condições de realizar comemorações grandiosas, tais como os
desfiles em comemoração ao aniversário do município, como era
comum nos grupos escolares da cidade (SOUZA, 1998; MARIANO,
2016).
No caso da escola isolada rural, onde tudo faltava, as
memórias não evidenciaram o recebimento de incentivos do governo
estadual para que as comemorações típicas da zona rural fossem
celebradas. Desse modo, no caso da professora Maria Nirce, coube a
ela, com o auxílio do fazendeiro, custear as despesas e a organização
dos eventos.
Fiz festa em todas elas, junto com o fazendeiro, né. Ele dava um
apoio ali e me ajudava, porque sozinha num dava para fazer. Aí o
dinheiro ficava com eles lá. Aí quando vinha um pra Rio Preto,
fazia compra de material aqui... quando vinha um. Mas teve dois
anos que ninguém vinha, eu lembro que entreguei para o de Floreal,
era o seu Américo, ele vinha pra Rio Preto, morava para cá... então
eu dei o dinheiro para ele duas vezes. Ele fez as compras dos materiais
e levou as caixas para mim. Não era as cívicas, eu fazia as festas de
junho para arrecadar, para comprar material. (MARIA NIRCE
PREVIDENTES SANCHES, 2019).
Como é possível notar, nesta escola, as festividades tiveram a
finalidade de arrecadação de recursos para a compra de material
escolar, para os alunos que as famílias não tinham condições de
adquirir.
343
A participação nas festas juninas também foi lembrada pela
professora Ivanilde Afonso, alegando a realização de terços: Eles
faziam o terço. Rezava o terço e a gente ia. Não tinha apresentação, era
mais o terço só. O terço era a noite, no dia do Santo”.
Isto posto, pode-se dizer que a prática da educação religiosa
permaneceu em algumas comunidades rurais, mesmo após a pretensa
laicização do ensino com o advento da República no país, tal como
confirmaram Schelbauer e Souza (2020), ao analisarem relatos de
professores de diferentes estados brasileiros (Sergipe, Pernambuco,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná
e Rio Grande do Sul). No caso do estado de São Paulo, poucas
narrativas apresentaram aspectos dessa prática.
O professor Jorge Salomão contou que também participava
das comemorações escolares, enfatizando que era mais recorrente em
uma do que na outra escola rural em que trabalhou: Lá na Santa
Maria era mais que na Água Limpa. Não tinha festa típica. Era Sete de
Setembro, Quinze de novembro, Tiradentes”.
De modo semelhante foi a narrativa da professora Yara Aude
ao lembrar da participação nas festas escolares do meio rural.
Todas as festas. De 21 de abril, 7 de setembro a gente fazia. Era
obrigado inclusive. Dar para as crianças poesias, trabalhos manuais
durante a semana. E a gente ia lá nos dias 7 de setembro, 15 de
novembro, 1º de março. Esses dias tínhamos que estar lá! Oito horas,
com chuva ou sem chuva. Eu ia, te garanto. Cantava o Hino
Nacional. Eles tinham aprendido alguma poesia. A gente fazia nesse
dia uma macarronada para chamar eles. Os pais iam uma meia
dúzia. Não iam muitos. (YARA APARECIDA AUDE, 2019).
344
À vista disso, avaliou ter constituído um bom relacionamento
com os alunos das escolas rurais, em virtude da considerável
quantidade de visitas recebidas atualmente de ex-alunos. Com isso,
fica evidente que o tratamento que a docente dispensava às crianças
foi significativo na vida escolar delas.
Nos sete anos que a professora Nilce Lodi trabalhou na escola
da Fazenda Scaff, ela teve oportunidade de fazer amizade com todas
as famílias e com os proprietários da fazenda. À medida que os anos
se passaram, muitos alunos se casaram, tendo recebido convites para
a cerimônia. Participava também dos momentos de luto de alunos e
seus familiares. A sua narrativa se mostrou rica em detalhes, no que
diz respeito à relação estabelecida com o entorno da escola.
Recebi todo o apoio deles em minhas iniciativas e colaboravam com
entusiasmo nas promoções realizadas. Mantive o contato com os pais
que vinham à escola para saber do desenvolvimento dos filhos nos
estudos. Visitei as casas da colônia mais próximas, onde a família
Okumura trabalhava com a horta da fazenda; a família do
administrador Romão Francesquini e a casa de membros da família
responsáveis pelos armazéns de café produzido na Fazenda (uma das
maiores da Região), do responsável pelo retiro de leite e pelo
responsável pelo caminhão que transportava a professora até o ônibus
intermunicipal nos primeiros meses. Conheci e fiz amizade com as
demais pais e moradores da Fazenda que residiam nas colônias um
pouco mais distantes, por ocasião de festas especiais de São João e a
Cerimônia da Primeira Comunhão, oficiada pelo Mons. Victor de
Assis, vigário da vila Maceno, em 1955 e Pe. Santo Marini, vigário
da Catedral de São José do Rio Preto. A família Scaff abriu a casa
grande para a celebração da Missa e uma mesa de doces e chocolate,
para todos os participantes da celebração. Eu conheci todas as
famílias moradoras nas casas ao redor da Escola, pois eram família
de meus alunos. Visitava-os para informar sobre o andamento de
345
seus filhos nos estudos, e para convidá-los às realizações: dia da
entrega do 1º. Livro de Leitura aos que concluíram a Cartilha;
distribuição de Caderneta de final de ano. Visitava-os também para
tomar um cafezinho, para conhecer um recém-nascido ou para
agradecer convite de casamento, festa junina ou para saber da saúde
de algum de seus membros. (NILCE APPARECIDA LODI
RIZZINI, 2020).
Diferentemente de Nilce Lodi, foi a realidade vivida pela
professora Maria Inês. Por residir na fazenda, Maria Inês evidenciou
a relação de poder e dominação sofrida pelo fazendeiro:
Pensa numa pessoa pão dura! Aí eu falava para a mulher do
administrador, lá. Que eu morava. Dona Maria... tinha uma
fazenda que tinha assim... um corguinho, porque lá é corguinho.
Corguinho que passava na frente casa e era casa de pousada de
boiadeiro. Então chegava aquela boiada entrava no curral, passava
a noite, alimentava o gado, dava água para o gado e tinha muito
esterco. Então eu falava Dona Maria: eu vou trazer semente de Rio
Preto vamos fazer uma horta aqui. Não! Porque o Tunico não deixa.
Mas Dona Maria não vai fazer nada! Tem o riozinho aí, tem
esterco! Não podia fazer uma horta naquela fazenda! Porque ele não
deixava. Eu falava para a gente fazer atrás do paiol, ele nem vai lá
ver! Não ela dizia, porque se ele ver vai ficar bravo. (MARIA INÊS
MAGNANI SALOMÃO, 2019).
A alimentação precária oferecida nesta fazenda, fazia com que
a professora Maria Inês levasse de São José do Rio Preto sardinha e
azeitona para complementar suas refeições, alegando que não tinha
nada além de abóbora para comer: Não tinha uma folha, não tinha
um chuchu, não tinha alface, não tinha tomate, não tinha nada. Então
346
eu levava azeitona, levava sardinha para poder comer para sair daquela
maldita abóbora”.
O fato é que a professora foi privada de fazer uma alimentação
análoga aos donos da fazenda, tal como pode ser verificado pelas suas
reminiscências.
[...] Eu levava azeitona e sardinha para poder comer, porque carne
eu nunca comi lá. Nunca! Eu conto para o Jorge e para um primo
meu. Um dia tinha uma lata... eu fui fuçar dentro de uma dispensa
lá e vi. Pensei o que tinha ali dentro dessa lata. Era carne de porco
que ficava dentro da gordura. Quando veio aquele cheiro! Gente! Aí
que vontade! Até hoje eu sinto aquele cheiro, que nunca comi. Nunca
comi frango. Nunca comi nada. Para comer tinha assim, salada de
abóbora (risos).
[...] Não tinha pão para comer de manhã. Tinha só um café. Mas
ela fazia as 4 horas da manhã na hora que os filhos iam para a roça.
Quando eu levantava, o fogo apagado, tomava café gelado. Bebia
um cafezinho preto lá e só. Passei mal viu. Passei fome. Numa
fazenda daquela, numa casa que era maravilhosa, mas não podia
ter nada.
[...] Tinha frango e porco, mas passava longe de mim... matavam
dia de domingo quando eu não estava lá. Eu não comi nada lá.
(MARIA INÊS MAGNANI SALOMÃO, 2019).
Diante das representações sobre as privações alimentares a que
foi submetida a professora Maria Inês, prova, ainda no final dos anos
de 1960, a situação da dependência do professor que chegou a ser
considerado, em meados da década de 1930, por Almeida Júnior
(1941), apontado na segunda seção, como um dos sete pecados
capitais da escola rural.
347
Perante toda a sujeição sofrida nesta escola, Maria Inês alegou
que a única comemoração da qual ela participava era a festa do
diploma.
A professora Palmira Miqueletti não se lembrou de ter
participado de alguma comemoração na escola rural, por outro lado,
considerou que tinha uma boa relação com os alunos, de modo que
na Fazenda Santa Inês em Potirendaba, durante o recreio, jogava bola
com os meninos.
De modo geral, as narrativas revelaram que os docentes
estabeleceram relações com as comunidades rurais ao serem
participativos nas festas juninas, datas comemorativas, cerimônias de
encerramento do ano letivo, promovidas no âmbito das escolas rurais.
Diante disso, pode-se dizer que cada uma dessas comemorações foi
uma [...] prática simbólica portadora de significados sociais e
culturais (SOUZA, 1998, p. 255), que visava inculcar valores e
normas de comportamentos.
Com relação às experiências marcantes vividas na escola rural,
a professora Maria Alvarez relatou que o aprender mais naquele lugar,
naquela zona, naquela escola. A experiência da cobra, a experiência do
morcego, a experiência do boi. A experiência do cavalo que eu caí. A
experiência das abelhas que me picaram (risos)”.
Entre as experiências marcantes, a professora Maria Nirce
rememorou o fato de ter cortado o cabelo dos alunos e dos pais na
escola rural.
O que me marcou muito foi eu ser cabelereira (risos). Cortei tanto
cabelo, que vinha a mãe, o pai, tudo. Sentava no quintal da escola...
eu vinha com minha tesoura e eu falava vocês trazem um pano aí.
Eu cortei muito. E a bondade que elas tinham com a gente. Eles
348
davam muito valor pra gente. (MARIA NIRCE PREVIDENTES
SANCHES, 2019).
A ingenuidade dos alunos e dos pais que residiam no meio
rural foi destacada pela professora Sônia Azem como a grande
experiência vivida na escola isolada rural.
Para a professora Yara Aude, a experiência marcante foi ter
lecionado em uma sala com a 1ª, 2ª e 3ª séries e com um aluno surdo,
recusado por ela no início por se considerar sem preparo para atendê-
lo, mas obrigada a aceitá-lo por ordem do supervisor de ensino. Com
o tempo foi conseguindo trabalhar com o aluno, assegurando o êxito
em alfabetizá-lo. Ele estudou até a quarta série.
De modo semelhante foi rememorado pela professora Irce
Elias a experiência de ter lecionado para um aluno com dificuldades
de aprendizagem que não se adaptava com nenhuma professora.
Eu tinha um aluno, em uma das escolas isoladas que eu lecionei, que
ele era meio tantã... tinha muita dificuldade assim... nenhuma
professora conseguiu aguentar ele na sala. Ele desviava atenção dos
outros, ele era meio tantã mesmo, mas era uma boa criança. Mas eu
nunca tive problemas com ele, né... mas eu conversava com ele, ele
me obedecia, fazia as coisas dentro do limite dele, gostava muito de
falar, mas era suportável... foi o único lugar que tive assim... criança
mal criada eu não tive não, todos respeitavam a gente. (IRCE
ELIAS PIRES DA COSTA, 2019).
Diante dessa narrativa, entende-se que a professora quis
referir-se que o aluno tinha necessidades educacionais especiais. É
importante ressaltar que a Educação Especial foi marcada por atitudes
sociais de exclusão educacional de pessoas com deficiência, por serem
349
considerados incapazes de receber uma educação escolar. No Brasil,
segundo Rogalski (2010), somente a partir da década de 1970, que a
Educação Especial
93
passou a ser debatida, tornando-se preocupação
dos governos com a criação de instituições normativas federais e
estaduais e de classes especiais.
A professora Palmira Miqueletti elegeu como duas as
experiências vividas no meio rural tidas como significativas: a
primeira foi a cirurgia que ela conseguiu em São José do Rio Preto
para um aluno da Fazenda Fulgêncio, em Tanabi. O aluno tinha seis
dedos nos pés e isso dificultava ele andar. Antes da cirurgia, a mãe e o
aluno ficaram em sua casa, no entanto, após a cirurgia não viu mais o
aluno porque nesse período em que estava no hospital acabou
deixando a escola rural, pois conseguiu pegar uma licença de
Geografia e Educação Moral e Cívica, no município de Mendonça,
situação que lhe permitiu ficar mais próxima de casa. A segunda
experiência foi com uma aluna de Monte Belo, a Hilda. A mãe da
aluna era alcoólatra, bebia muito. Quando chegava na comunidade
pela manhã, a mãe da aluna já estava bêbada. Essa aluna tinha
dificuldade, sendo necessário pegar na mão para ajudá-la na resolução
das atividades escolares. No final do ano letivo, relembra que a aluna
chorava muito com medo dela não voltar a lecionar naquela escola.
Afirma manter contato com essa aluna, pois recentemente fez uma
doação de um colchão de casca de ovopor ela estar acamada.
Maria Inês descreveu o magistério rural como uma grande
experiência vivida, porque aprendeu a viver sozinha, libertou-se das
93
A Declaração de Salamanca (1994) é considerada um marco da inclusão social, ao dar
diretrizes para reforma de políticas educacionais voltadas para inclusão social (ROGALSKI,
2010).
350
asasdos pais. Embora, ter sido uma experiência dolorosa e sofrida,
em razão das muitas situações difíceis na época.
Para mim foi uma experiência muito grande. Eu aprendi a viver
sozinha. Aprendi que tenho que fazer por mim. Que tenho que
trabalhar. Então, libertei das asas do meu pai e da minha mãe. Foi
uma experiência dolorosa? Foi! Sofrida? Foi. Sofri acidente no
ônibus aqui perto de Neves Paulista. O ônibus capotou na rodovia,
mas sobrevivi a isso. Cai do cavalo (risos). O cavalo tropeçou... tinha
um corguinho para você descer... o cavalo caiu e eu fui de boca no
chão. Mas a gente aprende viu. Você aprende se virar. (MARIA
INÊS MAGNANI SALOMÃO, 2019).
Nota-se que mesmo em meio às dificuldades recorrentes em
ser professora no meio rural, foi a oportunidade de adquirir
independência com seu próprio trabalho. Historicamente, a mulher
no Brasil, segundo Mariano (2016, p. 212), teve [...] um longo e
tortuoso percurso até que se conseguisse atingir alguns direitos
básicos, como a possibilidade de trabalhar, estudar e votar”.
Dessas acepções, pode-se ressaltar que o magistério, para as
moças, alicerçou-se como uma conquista, tornando-se uma profissão
majoritariamente povoada por mulheres, como evidenciou este
estudo (nove mulheres e um homem).
Entre as experiências marcantes vividas no meio rural, o
professor Jorge Salomão ressaltou a experiência de tirar a água do
poço e transformar em medida de volume.
Tirar a água do poço e transformar em medida de volume. Essa foi
muito marcante. Era muito boa e eles gostavam de fazer. Porque eu
tirava um balde cheio de água e eles levavam uma caneca daquelas
351
de óleo. Lata de óleo. Eles faziam uma alcinha. E contava quantas
cabiam aquela água do balde. Agora vamos ver a medida para ver
se está certa ou se está errado. Foi uma experiência boa. (JORGE
SALOMÃO, 2019).
A professora Ivanilde alegou que as dificuldades para lecionar,
por ser recém-formada, foi uma experiência marcante para ela. Já que
o diploma de normalista não garantia como atuar na prática. Como
iniciou no meio rural, ela avaliou que ficou devendo alguma coisa, isso
eu guardo...poderia ter ensinado diferente”. Ponderou que [...] não era
má vontade, é que a gente não tinha prática mesmo”.
Uma experiência marcante vivida pela professora Nilce Lodi
na Fazenda Scaff foi ter preparado dois grupos de alunos para a
primeira comunhão. Enfatiza que a Dona Anézia Scaff patrocinava a
festa, abrigada na sede da fazenda para a celebração da Santa Missa.
Em suas recordações, Rizzini destacou a experiência adquirida na
escola primária rural, onde seus medos e inseguranças foram
superados, bem como os sonhos realizados como docente, além da
rede afetiva estabelecida com a comunidade próxima à escola. Finaliza
a narrativa destacando:
[...] como professora de escola primária rural, escrevi capítulos
importantes de minha própria história que enriquecem minha vida.
Sonhos, medos, inseguranças, que hoje estão distantes. Aconteci-
mentos alegres como a aprovação dos alunos ao término de cada ano.
O apoio, a amizade e a confiança dos pais e da Família Scaff. São
páginas vividas com leveza e sentimento de dever cumprido. Anos
intensos e inesquecíveis. Lições que se aprende e nunca serão
esquecidas. (NILCE APPARECIDA LODI RIZZINI, 2020).
352
Nessa perspectiva, o diálogo com o passado se deu por meio
das representações significativas das memórias dos docentes, ao
destacarem a importância das relações interpessoais estabelecidas não
só para a escolarização das crianças, mas para constituição de laços de
vivências carregadas de sentido no cotidiano da comunidade escolar.
Como é possível notar, os professores não se limitaram apenas
a cumprir suas funções de transmitir os conteúdos para as crianças
que ali estavam, mas também vivenciaram, cada um a sua maneira, o
espaço em que estavam inseridos, criando relações de afeto que
marcaram suas vidas pelo modo como contaram suas memórias.
353
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em face do objetivo de analisar aspectos da história da
formação, do ingresso e do trabalho de professoras e professores de
escolas primárias rurais estaduais pertencentes à Diretoria de Ensino
do município de São José do Rio Preto/SP entre 1940 e 1970, foi
possível asseverar, de acordo com a documentação examinada, que a
formação de professores em escolas Normais Paulistas era feita com
base em um currículo genérico, de modo que as especificidades locais
não foram levadas em consideração.
As políticas educacionais durante o período em exame
privilegiaram ordenamentos voltados para uma escola de natureza
urbana, consubstanciadas nos currículos das escolas normais, não
obstante a concentração demográfica fosse, em muitas regiões do
Brasil, essencialmente rural. A singularidade do estado de São Paulo,
com um desenvolvimento capitalista maior, significou, entre outros
aspectos, investimentos de grande monta na expansão de seu sistema
estadual de educação, além da crescente urbanização dos munipios.
Ainda assim, foi possível observar uma gama de Leis e
Decretos estaduais direcionados para a formação específica do mundo
rural, tais como os clubes agrícolas, cursos de especialização docente,
entre outros. Desse modo, aqueles que lecionaram em escolas
primárias rurais pertencentes à Diretoria de Ensino de São José do
Rio Preto desenvolveram suas práticas pedagógicas mediante as
interações inerentes ao saber docente adquirido, conforme analisa
Tardif (2014) acerca da profissionalização do magistério.
354
O estudo colocou em evidência como o ingresso na carreira
do magistério primário no estado de São Paulo esteve atrelado à
docência nas zonas rurais. Diferentemente de outros estados
brasileiros, foi pequeno o número de professores leigos atuando nas
escolas rurais; isso porque a expansão do ensino normal foi grande
nesse estado, tanto em relação à rede pública quanto à particular. Não
obstante, a oferta de professores formados desencadeou outros
problemas adversos para o magistério rural. Pode-se dizer que a
formação se tornou um fator de afastamento do professorado
primário do campo, uma vez que os normalistas (mulheres em sua
maioria), pelo nível de escolaridade de grau médio, muito elevado
para o conjunto da população, e uma formação escolar marcada pela
cultura urbana, preferiam permanecer nas cidades.
Por outro lado, os poderes públicos, em âmbito estadual e
municipal, pouco fizeram visando à melhoria das condições de
infraestrutura e de trabalho nas escolas rurais. Dificuldades de acesso,
de transporte, de moradia para os professores no campo, baixos
salários e as precárias condições materiais das escolas primárias rurais
(ausência de prédio adequado para funcionamento da escola, ausência
de mobiliário e provisão de materiais escolares) não tornavam a escola
rural atrativa para os professores.
Dessa maneira, a contradição entre a oferta de professores
com formação normalista e os problemas de provimento das escolas
rurais no estado de São Paulo pode ser vista como faces da complexa
dinâmica do desenvolvimento do capitalismo no campo e nas cidades.
Não por acaso, a admissão de professores nas escolas rurais converteu-
se em um dos grandes problemas da educação pública paulista. A
simples criação de escolas sem medidas compensatórias para amenizar
355
as dificuldades da vida no meio rural não foi suficiente e o problema
do provimento se arrastou durante todo o século XX (por que não
dizer, até a atualidade!). Para amenizá-lo, a estratégia dos poderes
públicos foi criar mecanismos para compulsar a docência no campo,
sujeitando os mestres à contagem de pontos, às provas de títulos e ao
sistema da cadeira prêmio, entre outras iniciativas.
O início da carreira docente em São Paulo, geralmente, se
dava em escolas primárias rurais, exigência prevista na legislação
estadual desde o início da República, cujos critérios determinavam o
efetivo exercício no cargo em estabelecimentos isolados. A rigor, o
professor deveria trabalhar em interstícios de até dois anos para
pleitear vagas em concurso de remoção. Sendo assim, as narrativas
demonstraram como os docentes foram criando táticas para
promoverem o ensino nas escolas primárias rurais no interior paulista.
Como analisado no texto, inúmeras legislações foram
instituídas entre as décadas de 1940 e 1970 para prescrever a exigência
do ingresso na carreira do magistério primário nas escolas isoladas
localizadas no meio rural, embora com pouca efetividade. Tais
exigências em vez de estimularem a fixação dos docentes nas zonas
rurais, provocaram outros problemas como a intermitência (a
passagem dos professores por várias escolas buscando aquelas de mais
fácil acesso e mais próximas da zona urbana) e o cumprimento
diligente dos critérios básicos necessários para se pleitear a remoção
para uma escola urbana. Isso explica o itinerário descontínuo e
transitório no campo da maioria dos professores entrevistados.
Os poucos anos trabalhados nas escolas primárias rurais da
região de São José do Rio Preto foram relembrados pelos professores
como um tempo de dificuldades, um batismo de fogo no
356
magistério, marcado por muitas vicissitudes, mas também pela
confirmação da docência como carreira profissional. As peculiar-
dades dessas trajetórias põem em relevo os problemas da educação
rural no estado de São Paulo e a relevância das escolas rurais para os
trabalhadores do campo.
Nesse sentido, a passagem pela escola rural se configurou
como um elemento obrigatório para os docentes, para que essas
escolas tivessem professores, no sentido de expansão do ensino, ao
contrário de uma preocupação com uma educação rural em sua
especificidade.
No plano pedagógico, havia a exigência de produção de
materiais instrucionais diferenciados, já que os educandos estavam em
níveis e faixa-etárias distintas, recebendo, em muitos casos, a
vigilância severa da supervisão de ensino, ocasiões em que aparecia de
forma escancarada a verticalidade burocrática do estado.
Assim, a configuração da profissão docente encontra respaldo
nas reflexões de Tardif (2014), Tardif e Lessard (2014) e Nóvoa
(1992), especialmente no desafio diário das normalistas em trabalhar
em escolas rurais, desenvolvendo o processo de ensino e aprendizagem
com os parcos recursos disponíveis, para uma classe com alunos de
diferentes níveis de escolarização.
No que diz respeito às atividades desenvolvidas, as narrativas
revelaram que não havia uma organização dos currículos das escolas,
visto que em poucas incluíram a realização de práticas agrícolas, como
horta, ao passo que maioria se configurou como escolas de
alfabetização (ler, escrever e contar).
Nesse sentido, as narrativas revelaram que a situação de
atuação dos professores nas escolas primárias rurais da região de São
357
José do Rio Preto não é diferente em aspecto geral (ao mesmo tempo
que se torna diferente nas especificidades) de muitas outras
localidades que fazem referência ao saber experiencial construído no
cotidiano escolar.
Isto posto, entende-se que as práticas pedagógicas são
intrínsecas à cultura escolar (JULIA, 2001), levando-se em conta as
similitudes acerca da concepção de educação que permeou os relatos
apresentados, sublinhando o conjunto de táticas no exercício do
magistério, expressando a superação de dificuldades materiais e
logísticas para ensinar crianças do meio rural, cuja característica de
salas multisseriadas exigia didáticas variadas. Assim, os docentes
criaram táticas com o intuito de organizarem o espaço da sala de aula
para executar as práticas de ensino, bem como driblar as condições de
trabalho a que estavam submetidos.
Os relatos de experiências evidenciam, a partir de distintas
nuances, que os professores da rego pesquisada, embora tenham
permanecido por pouco tempo nas escolas rurais em que lecionaram,
estabeleceram relação com o meio rural.
À vista de todo o exposto, considera-se confirmada a hipótese
da pesquisa que resultou neste livro. O professor primário no estado
de São Paulo, entre 1940 e 1970, teve uma formação inicial no Curso
Normal, com base em um currículo de escolas urbanas. Desse modo,
as especificidades locais não foram levadas em consideração, uma vez
que o ingresso na escola rural era uma exigência do estado de São
Paulo para que essas instituições tivessem docentes e não porque eram
rurais, pois foi mais um efeito geográfico, no sentido de expansão do
ensino, ao contrário de uma preocupação com a educação rural em
sua especificidade. Por conseguinte, logo após completar o tempo
358
mínimo de efetivo exercício nessas escolas, os docentes pediam
transferência para as escolas urbanas mais próximas de suas
residências.
Ficou evidente que os docentes não tinham formação
específica para o meio rural, por outro lado, possuíam um
conhecimento de cultura mais geral e pedagógica. Diante disso, ser
normalista na escola rural paulista fez alguma diferença na formação
dos alunos? O fato é que as memórias não trouxeram elementos para
responder tal questão. Desse modo, é preciso, portanto, que outros
pesquisadores da educação realizem estudos de memórias com alunos
de escolas rurais problematizando essa questão.
359
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ARQUIVO PÚBLICO LEGISLATIVO. Câmara Municipal de São
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com escolas unidocentes. São José do Rio Preto: Câmara Municipal
de São José do Rio Preto, 1984.
ARQUIVO PÚBLICO LEGISLATIVO. Câmara Municipal de São
José do Rio Preto. Requerimento nº 1082/83. São José do Rio
Preto: Câmara Municipal de São José do Rio Preto, 1983.
AUDE, Yara Aparecida. Atestado de transferência de servidor.
1971
DIRETORIA DE ENSINO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO.
Disciplinas da Escola de Emergência da fazenda Bom Sucesso. In:
DIRETORIA DE ENSINO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO.
Livro de Ata nº 4 da Escola de Emergência da Fazenda Bom
Sucesso. São José do Rio Preto, 1970.
395
DIRETORIA DE ENSINO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO.
Livro de Ata de Quadro de Exames nº 1. São José do Rio Preto,
[1975a]. (Registro de notas de alunos de escolas rurais entre 1965-
1974).
DIRETORIA DE ENSINO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO.
Livro de Ata de Quadro de Exames nº 2. São José do Rio Preto,
[1975b]. (Registro de notas de alunos de escolas rurais entre 1965-
1974).
DIRETORIA DE ENSINO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO.
Livro de Ata de Quadro de Exames nº 3. São José do Rio Preto,
[1975c]. (Registro de notas de alunos de escolas rurais entre 1965-
1974).
DIRETORIA DE ENSINO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO.
Livro de Ata de Quadro de Exames nº 4. São José do Rio Preto,
[1975d]. (Registro de notas de alunos de escolas rurais entre 1965-
1974).
DIRETORIA DE ENSINO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO.
Livro de Ata de Quadro de Exames nº 5. São José do Rio Preto,
[1975e]. (Registro de notas de alunos de escolas rurais entre 1965-
1974).
DIRETORIA DE ENSINO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO.
Livro de Ata nº 4 da Escola Mista da Fazenda Scaff. São José do
Rio Preto, 1965.
396
DIRETORIA DE ENSINO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO.
Planilha com datas de criação, vinculação e extinção das escolas
rurais. São José do Rio Preto, [1989?]. (Registro no sistema de
algumas escolas rurais entre 1980-1989).
ENSINO Normal. Diário Nacional. São Paulo, ano 1, nº 181, 9
fev. 1928, p. 3.
ESTANTE VIRTUAL. Capa do livro Pontos e Exercícios de
Português nova nomenclatura gramatical. Disponível em:
www.estantevirtual.com.br. Acesso em: 10 dez. 2021.
INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE
CATANDUVA. Institucional. Disponível em:
https://www.fafica.br/page.php?q=institucional. Acesso em: 15 jan.
2022.
LODI, Nilce. Produção agrícola após 1930. Diário da Região. São
José do Rio Preto, 29 jun. 2008. Diário História.
MESQUITA FILHO, Júlio de. Há 115 anos surgiu Rio Prêto. O
Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 88, n. 28.198, 19 mar. 1967, p.
22.
NEVES, Déborah Pádua Mello. Caderninhos da Déborah: a
história do livro didático passa por aqui. Comunicação &
Educação, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 77-82, jan./abr. 2008.
Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/45491/49100.
Acesso em: 20 jan. 2022.
PDS COBRARÁ providências quanto às isoladas. Diário da Região,
São José do Rio Preto, ano 84, 26 fev. 1984b, p. 5.
397
RIZZINI, Nilce Apparecida Lodi. Álbum de fotos: Fotografia da
estagiária com os alunos da Escola Mista da Fazenda Scaff. São Jo
do Rio Preto, 1956a.
RIZZINI, Nilce Apparecida Lodi. Álbum de fotos: Fotografia da
turma de alunos da Escola Mista da Fazenda Scaff. São José do Rio
Preto, 1956b.
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO. Ofício n. 0240/84. Solicita proposta
de solução no atendimento aos alunos da zona rural. São José do
Rio Preto: Divisão Regional de Ensino, 1984.
SEM segurança, educação fecha as isoladas. Diário da Região, São
José do Rio Preto, ano 84, n. 9.118, 22 fev. 1984a, p. 3.
INSTITUIÇÕES, ACERVOS E SITES CONSULTADOS
Arquivo Público da Câmara de Vereadores São José do Rio Preto
Arquivo Público Municipal São José do Rio Preto
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo ALESP -
www.al.sp.go.br
Biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras UNESP/Campus
Araraquara.
Biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências UNESP/Campus
Marília.
398
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) do
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
(IBICT) – www.bdtd.ibict.br
Casa de Cultura São José do Rio Preto
Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (CAPES)
www.catalogodeteses.capes.gov.br
Diretoria de Ensino Região de São José do Rio Preto
Escola Estadual Voluntários 32 São José do Rio Preto
Escola Estadual Cardeal Leme São José do Rio Preto
Escola Estadual Ezequiel Ramos São José do Rio Preto
Escola Estadual Arlindo dos Santos São José do Rio Preto
Escola Estadual Cenobelino de Barro Serra o José do Rio Preto
Fundação SEADE - http://www.seade.gov.br/
Hemeroteca Municipal o José do Rio Preto
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
www.ibge.gov.br/home/
Museu Histórico e Pedagógico o José do Rio Preto
Secretarias de Educação Estadual e Municipal São José do Rio
Preto.
399
ANEXO A
Roteiro de entrevistas
Formação e Trabalho de Professoras e Professores Rurais no
Brasil: PR, SP, MG, MT, PE, PI, SE, PB, RO (décadas de 40 a 70
do século XX)
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
1. Dados de Identificação:
Nome completo:
Nome Fictício:
Data de nascimento:
Local de nascimento:
Local de realização da entrevista:
Data de realização da entrevista:
2. Formação
2.1 Qual o motivo da sua escolha para exercer a carreira
docente?
2.2 Qual foi o seu percurso de formação para o magistério?
2.3 A sua formação inicial auxiliou na sua prática docente para o
magistério rural?
3. Magistério rural
3.1 Conte-nos como iniciou no magistério rural? Quais foram os
motivos?
400
3.2 Em qual (ais) escolas isoladas rurais você trabalhou durante o
exercício do magistério?
3.3 Em que período de tempo exerceu a sua carreira docente?
Deste tempo quantos anos foram dedicados a zona rural?
3.4 Quais eram as dificuldades em ser professora rural? Relate
sobre as condições de trabalho na zona rural. (salário, instrumentos
de trabalho, documentação escolar, material didático, mobiliário,
etc.)
3.5 Como fazia para chegar à escola?
4. Formação em serviço
4.1 Vocês professoras da zona rural tinham formação em serviço
específica para trabalhar com alunos residentes no campo?
4.2 Se sim, conte-nos como eram essas formações em serviço.
Em qual (ais) locais aconteciam? Quem oferecia? Era obrigatório,
valia como pontuação para o concurso de remoção?
4.3 Como era as reuniões pedagógicas? Quais eram as
recomendações dos inspetores de ensino/supervisores pedagógicos?
4.4 Os inspetores de ensino/supervisores pedagógicos realizavam
visitas regulares as escolas isoladas? Como eram as visitas?
5. Práticas docentes
5.1 Como você professora desenvolvia as atividades pedagógicas
nas escolas isoladas rurais?
5.2 Seguia algum material específico? O que era ensinado?
5.3 Quais informações pode nos dar sobre os alunos das escolas
isoladas (condições socioeconômicas, disciplina, interesse nas aulas,
etc.)
401
5.4 Como era a relação entre professor-aluno?
5.5 Quantos alunos havia por sala?
5.6 E as escolas como eram fisicamente?
5.7 Qual era a sua relação profissional com outras professoras
que também ministravam aulas em escolas isoladas?
5.8 Como superavam a barreira de ser a única professora daquela
escola?
6. Relação da professora com o meio rural
6.1. Qual era a sua relação com o entorno da escola em que
lecionava? Com a família, a comunidade e os alunos? Participava de
comemorações, festas típicas da zona rural?
6.2. Relate alguma experiência vivida na escola isolada rural em que
trabalhou.
402
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro BuenoCRB 8/8211
Normalização
Taciana G. Oliveira
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
VOZES ESQUECIDAS DO
SERTÃO PAULISTA
formação e trabalho de professoras e
professores de escolas primárias rurais da
região de São José do Rio Preto/SP
(1940-1970)
Noely Costa Dias Garcia
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0039/2022
Processo Nº 23038.001838/2022-11
“Os excertos das entrevistas transcritos
na obra contêm o registro das memó-
rias, histórias e representações tecidas por
professoras e professor sobre o tempo em
que atuaram em escolas rurais. São narra-
tivas ricas em detalhes sobre o cotidiano
das salas de aula instaladas em meio rural,
são também perpassadas por emoção e
sensibilidade e, por conseguinte, ofere-
cem um quadro vivo de todo o trabalho
empreendido por essas pessoas naquelas
pequenas escolas”
Excerto do Prefácio escrito pela
Profa. Dra Sandra C. Fagundes de Lima
No livro “VOZES ESQUECIDAS DO SERTÃO PAULISTA: forma-
ção e trabalho de professoras e professores de escolas primárias rurais
da região de São José do Rio Preto/SP (1940-1970)”, apresentam-se
os resultados da pesquisa de Doutorado em Educação, cujo objetivo
foi analisar aspectos da história da formação, ingresso e trabalho de
professoras e professores de escolas primárias rurais estaduais perten-
centes à Diretoria de Ensino do município de São José do Rio Preto/
SP entre 1940 e 1970. O recorte inicial marca o período de iniciativas
da União com relação à expansão do ensino primário rural por meio
de investimentos, na construção de escolas e na formação de profes-
sores rurais, e o período nal justica-se pela extinção do modelo de
formação e adoção de novos modelos baseados na implantação da Re-
forma do Ensino de 1º e 2º Graus, pela Lei nº 5.692/71. A História
Oral foi utilizada na construção da trajetória de nove professoras e um
professor que exerceram a docência em escolas rurais no período deli-
mitado para o estudo. Os resultados obtidos indicaram que os docen-
tes tiveram uma formação inicial nos Cursos Normais Paulista, cujos
currículos não atendiam às especicidades da zona rural. O ingres-
so na carreira do magistério primário no estado de São Paulo esteve
atrelado à docência nas zonas rurais, exigência prevista na legislação
estadual desde o início da República. Desse modo, eles tiveram di-
culdades com as classes multisseriadas e a localização das escolas rurais,
geralmente de difícil acesso, contudo, muitos desaos foram dirimidos
com a produção de materiais de ensino, produção da merenda e com-
pra de cartilhas para as crianças, mas foram soluções individualizadas,
já que a escola rural em São Paulo não recebeu um planejamento sis-
têmico quanto à formação e constituição curricular, depreendendo-se
que o ideário de progresso visava formar um cidadão urbano, tratan-
do o espaço rural como um resíduo a ser superado pela modernização.
VOZES ESQUECIDAS DO SERTÃO PAULISTA Noely Garcia
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