Este livro, no entanto, não é sobre as mudanças que levaram ao surgimento da
Biologia como ciência única, mas de como, à luz das novas compreensões, a ci-
ência da vida foi constituída como disciplina escolar biologia [...] este livro é uma
fonte de consulta obrigatória para aqueles que estudam a história das disciplinas
escolares brasileiras.
Como a renovação da disciplina escolar
história natural e biologia foi debatida e
prescrita no campo cientíco nacional
em ns dos anos 40 e início dos 60 do
século XX? Esta obra, resultado da dis-
sertação de mestrado, discute a história
do ensino de história natural e biologia
na escola secundária no Brasil, no perío-
do de 1946 a 1965, a partir da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC). A história da disciplina escolar
foi analisada a partir de sua constituição,
nalidades, conteúdos de ensino, tradi-
ções curriculares e comunidade disci-
plinar. As diversas fontes documentais
utilizadas, especialmente, a revista cien-
tíca intitulada “Ciência e Cultura”, pe-
riódico ocial da SBPC, permitem ao
leitor compreender os debates, disputas
e inovações de cientistas, educadores,
professores e biologistas para legitimar
as mudanças e estabilidades dos saberes
escolares, métodos de ensino, trabalho
e formação docente, bem como os cri-
térios, controvérsias e demandas pela
nomenclatura da disciplina escolar em
meados do culo XX. Nesse sentido, o
conhecimento da natureza histórica do
ensino de biologia, contribui para qua-
licar as discussões sobre os rumos da
disciplina escolar na recente reforma do
ensino médio.
Tiago Rodrigues da Silva é graduado em
Licenciatura em Ciências Biológicas
pelo IFMA/Timon e Pedagogia pela
UNICESUMAR; especialista em En-
sino de Ciências pelo IFMA/Timon e
mestre em Educação pela UNESP/Ma-
rília. Atualmente, é professor substituto
na área de Educação no IFMA/Presi-
dente Dutra.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio 0039/2022
Processo 23038.001838/2022-11
Tiago Rodrigues da Silva
O ENSINO DE BIOLOGIA NO BRASIL
(1946-1965):
disputas, tradições e inovações
O ENSINO DE BIOLOGIA NO BRASIL (1946-1965): disputas, tradições e inovações
RENATO BARBOZA
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O ENSINO DE BIOLOGIA NO BRASIL (1946-1965):
disputas, tradições e inovações
Tiago Rodrigues da Silva
Tiago Rodrigues da Silva
O ENSINO DE BIOLOGIA NO BRASIL (1946-1965):
disputas, tradições e inovações
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2023
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIASFFC
UNESP - campus de Marília
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Capa: Imagem gratuita de Piotr Zakrzewski por Pixabay
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
Silva, Tiago Rodrigues da.
S586e O ensino de biologia no Brasil (1946-1965): disputas tradições e inovações / Tiago
Rodrigues da Silva. Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2023.
349 p. : il.
Financiamento: CAPES
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-417-2 (Digital)
ISBN 978-65-5954-418-9 (Impresso)
DOI: https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-417-2
1. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. 2. Biologia Ensino médio – 1946-
1965. 3. Educação. I. Título.
CDD 371.9
_____________________________________________________________________________
Catalogação: André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Copyright © 2023, Faculdade de Filosofia e Ciências
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AIBS
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ANPEd
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Educação
BAAS
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BNCC/EM
Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio
BSCS
Biological Sciences Curriculum Study
CADES
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Ensino Secundário
CALDEME
Campanha do Livro Didático e Manuais de Ensino
CAPES
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de Nível Superior
CATEC
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CBPF
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Biologia
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CECIBA
Centro de Ensino de Ciências da Bahia
CECIGUA/CE
CIERJ
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Janeiro
CECINE
Centro de Ensino de Ciências do Nordeste
CECIRS Centro de Ensino de Rio Grande do Sul
CECIS
Centros de Ensino de Ciências
CECISP
Centro de Ensino de Ciências de São Paulo
CRPE
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CEE
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CEPM
Comissão de Ensino Primário e Médio
CBHE
Congresso Brasileiro de História da Educação
CFBio
Conselho Federal de Biologia
CFE
Conselho Federal de Educação
CFE
Conselho Federal de Educação
CIEB
Conferência Interamericana sobre o Ensino de
Biologia
CILEME
Campanha de Inquéritos e Levantamentos do Ensino
Médio e Elementar
CNEN
Comissão Nacional de Energia Nuclear
CNPq
Conselho Nacional de Pesquisas
COSUPI
Comissão Supervisora do Plano dos Institutos
CPDOC
Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil
DNA
Ácido desoxirribonucleico
ENEBIO
Encontro Nacional de Ensino de Biologia
ENPEC
Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em
Ciências
ENEBIO
Encontro Nacional de Ensino de Biologia
EUA
Estados Unidos da América
FAPESP
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo
FFCL
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
IBECC/SP
Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura,
Seção São Paulo
IBM
Instituto de Biologia Marinha
IFMA
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Maranhão
INEP
Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais
ISHPSSB
International Society for the History, Philosophy, and
Social Studies of Biology
ITA
Instituto Tecnológico de Aeronáutica
LDB
Lei de Diretrizes e Bases
MEC
Ministério da Educação e Cultura
MESP
Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública
NHC
Nova História Cultural
OEA
Organização dos Estados Americanos
PNLD
Programa Nacional de Livro Didático
PUC/SP
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
RNA
Ácido ribonucleico
SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
SUDENE
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
UFC
Universidade Federal do Ceará
UFF
Universidade Federal Fluminense
UFPE
Universidade Federal de Pernambuco
UFRJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFSC
Universidade Federal de Santa Catarina
UFU
Universidade Federal de Uberlândia
UICB
União Internacional das Ciências Biológicas
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e a Cultura
UNICAMP
Universidade Estadual de Campinas
UPM
Universidade Presbiteriana Mackenzie
URSS
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
USAID
United States Agency for International Development
USP
Universidade de São Paulo
Sumário
Prefácio | Renato Barboza ......................................................................11
Introdução............................................................................................17
Capítulo 1 | “Um Big Bang da ciência brasileira”: o campo científico
nacional e os microcosmos da Biologia e Ensino das Ciências................41
1.1 A produção de uma sociedade científica nacional
1.2 As disputas da SBPC pela ciência e tecnologia
1.3 As reuniões anuais e as seções de Biologia e Ensino das Ciências
1.3.1 A hegemonia da Biologia na SBPC
1.3.2 O IBECC/SP e os simpósios de Ensino das Ciências
1.4 Criação, circulação e sentidos da revista Ciência e Cultura
1.4.1 A comunidade disciplinar de biologistas e professores na SBPC
Capítulo 2 | “Quase de cimento armado”: os programas de ensino de
história natural e biologia nos anos 1940/50..........................................91
2.1 A ciência Biologia e a lógica conceitual da disciplina escolar
2.2 A disciplina escolar história natural e biologia no ensino secundário
2.3 O ensino de biologia na Reforma Capanema
2.4 O ensino de história natural na contrarreforma de Ernesto Campos
2.4.1 A SBPC e o ensino de história natural
2.4.2 A I reunião de ensino de história natural da SBPC
2.5 O programa mínimo da disciplina escolar história natural
2.5.1 Incongruências e didática do ensino de história natural
Capítulo 3 | “Formar a fina flor da alta ciência”: a renovação do ensino de
biologia em debate..............................................................................149
3.1 A disciplina escolar no circuito especializado da Biologia
3.2 O kit de biologia e o ensino pela experimentação
3.3 O clube de história natural e as práticas exemplares
3.4 O aperfeiçoamento de professores na renovação do ensino de biologia
3.5 Os biologistas e o ensino de biologia no Inep
3.5.1 Botânica e zoologia na escola secundária
3.5.2 Biologia na escola secundária
Capítulo 4 | “A reforma em marcha”: as diretrizes do ensino de biologia
na escola secundária............................................................................203
4.1 A legitimidade da disciplina escolar biologia no ciclo colegial
4.2 A transnacionalidade das transformações do ensino de biologia
4.2.1 A circulação do BSCS no Brasil
4.2.2 As Ciências Biológicas e os temas unificadores da disciplina escolar
4.2.3 O método da redescoberta no ensino de biologia experimental
4.3 Organização e experiências na renovação do ensino de biologia
4.4 A disciplina escolar biologia nos CECIS
Considerações finais............................................................................273
Referências.........................................................................................289
11
Prefácio
Hoje em dia a biologia, como disciplina escolar, faz todo
sentido. Afinal, há tempos que a sociedade tem lidado com temas
como a genética, a clonagem, vacinas, sustentabilidade, ecologia e
tantos outros que são tratados por esta disciplina. Se hoje existe uma
melhor clareza do que podemos definir como a área de atuação da
biologia, isso nem sempre foi assim.
O entendimento sobre a ciência da vida é recente. Não
podemos ou devemos chamar de Biologia a ciência que tinham
como escopo os seres vivos até fins do século XVIII, pois como
Foucault pontuou, não havia o entendimento do que é a vida. Nas
suas palavras, vida era “somente um caráter no sentido taxinômico
da palavra na universal distribuição dos seres” (FOUCAULT,
2016). O que havia, até então, era a História Natural, uma ciência
que, de modo breve e simplista, poderíamos dizer tinha como foco
o estudo das coisas naturalmente criadas por Deus, o que incluíam
as plantas, os animais e os minerais. Uma ciência que visava o
reconhecimento e a classificação e não tinha como preocupação com
as causas, mas apenas o reconhecimento e descrição da obra divina.
Entre os séculos XVII e XX houve profundas mudanças de
paradigma das ciências dos seres vivos que foram fundamentais para
alterar suas bases epistemológicas. O aumento da compreensão das
complexidades dos seres vivos e das relações causais, e o surgimento
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-417-2.p11-16
12
de áreas como a Microscopia, Citologia, Fisiologia, Embriologia, dos
princípios genéticos e do surgimento das teorias evolutivas de
Charles Darwin, entre outras, fizeram com que a Biologia e a
Geologia ocupassem o espaço antes ocupado pela História Natural.
Dito dessa forma, no entanto, parece que isso aconteceu de forma
lógica e gradual, mas o que a história mostra é que para que Biologia
prevalecesse sobre a História Natural foram necessárias várias
mudanças, debates e disputas, bem como uma ampla aceitação da
explicação genética e da Biologia Molecular em detrimento do
vitalismo ou a invalidação da Teleologia como explicação dos
processos naturais. Além disso, coube a necessidade de desvinculação
de alguns conceitos fisicalistas básicos, que não são aplicáveis à
Biologia, como o essencialismo, determinismo, o reducionismo ou
mesmo a ausência de leis naturais universais (MAYR, 2004).
Este livro, no entanto, não é sobre as mudanças que levaram
ao surgimento da Biologia como ciência única, mas de como, à luz
das novas compreensões, a ciência da vida foi constituída como
disciplina escolar de biologia no ensino secundário brasileiro. Do
que se trata este livro, então?
De tempos em tempos, os currículos escolares são renovados.
Essa “adequação” dos conteúdos para torná-los mais “condizentes
com as necessidades atuais da educação” tem como finalidade tornar
o ensino mais significativo para os estudantes em determinados
momentos históricos. Dessa forma, em tempos atuais, parece que
toda atualização tem como fio condutor a busca da melhor formação
escolar e a legitimação de demandas culturais, sociais, econômicas e
políticas. A construção de uma disciplina, no entanto, não é simples
13
e nem sempre segue uma linearidade ou finalidade. Também não se
pode dizer que uma disciplina é um reflexo da ciência de referência.
Baseado nos pressupostos teóricos de André Chervel, Jean-
Claude Forquin e Ivor Goodson sobre a história das disciplinas
escolares, juntamente com matriz interpretativa da Nova História
Cultural com as representações de Roger Chartier e com uso do
conceito de campo científico de Pierre Bourdieu, o autor traz neste
livro, como deu-se o processo de renovação das disciplinas de
história natural e biologia no ensino secundário brasileiro entre as
décadas de 1940 e 1960.
A escolha desse marco temporal não foi ao acaso. Nesse
período, o Brasil viveu grandes agitações políticas, passando por
regimes ditatórios intercalados pelos frágeis períodos democráticos.
É nesse momento histórico que o país investe no crescimento
industrial. Para auxiliar esta empreitada desenvolvimentista, foi
criado o sistema S, ou seja, os Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(Senac), Serviço Social da Indústria (Sesi) e Serviço Social do
Comércio (Sesc), além da criação do Centro Brasileiro de Pesquisas
Educacionais (CBPE), a criação do BNDE (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico) (hoje, BNDES), a Petrobrás, a
construção da hidrelétrica de Paulo Afonso e a Refinaria Artur
Bernardes, em Cubatão (SP). Mundialmente, este período foi
marcado pela Segunda Guerra Mundial, pela Guerra Fria e por uma
nova organização da ordem mundial. No final dessas décadas, ocorre
também as revoluções culturais que abrem o mundo para os
14
movimentos feministas, em favor dos negros e homossexuais, da
liberação sexual, da cultura de paz e da contracultura.
É neste período efervescente da história brasileira e mundial
que o autor constrói seu texto, utilizando marcos históricos
fundamentais para o ensino e ciência do país, como a publicação do
Decreto-Lei n. 9.054 de 12 de março de 1946, a criação dos Centros
de Ensino de Ciências (CECIS) pelo Ministério da Educação e
Cultura (MEC) em 1965, assim como a criação da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da revista Ciência e
Cultura em 1949.
Neste livro, o leitor poderá percorrer os caminhos que
levaram a renovação das ciências da vida no ensino secundário
brasileiro. Esta obra nos traz toda a complexidade, por vezes oculta,
que levaram a formação e transformação da disciplina escolar. No
estudo apresentado, o leitor terá uma clara ideia dos posiciona-
mentos políticos, educacionais e científicos de vários atores sociais
que impactaram, disputaram e transformaram a disciplina escolar
história natural e biologia. Percorrendo estas páginas, o leitor será
apresentado às bases conceituais que o autor utilizou para sua
pesquisa, além dos principais nomes da sociedade científica que
foram responsáveis pela renovação da ciência brasileira, de modo
geral, e das Ciências Biológicas, em particular. Além disso, durante
sua jornada investigativa, Tiago Silva procurou sempre trazer o
maior número de dados possíveis para alcançar seu objetivo: prover
ao leitor um panorama amplo sobre a renovação do currículo de
biologia na escola secundária, incluindo os aspectos teóricos de sua
formação, seus debates e embates.
15
Paulo Leminski diz que para escrever um bom poema, leva-
se anos. “Cinco jogando bola, cinco estudando sânscrito, seis
carregando pedra”, uma eternidade. No poema, o autor nos fala que
a ação de escrever é resultado das experiências de uma vida. Esse não
é um livro de poemas, tampouco o autor levou uma vida para
produzir, mas certamente traz para estas páginas resultados
impactantes e valorosos de suas experiências. Resultado de um
intenso trabalho de pesquisa num momento delicado da vida neste
planeta; este livro se faz necessário, pois mostra aos leitores que para
entender o presente do ensino de biologia, muitas vezes é preciso
compreender o passado.
O conhecimento de nossa história é fundamental para
entender como pequenos atos políticos e educacionais são
carregados de interesses. Entender como se constroem as disciplinas
escolares é também entender como se constroem as sociedades.
Assim, este livro é uma fonte de consulta obrigatória para aqueles
que estudam a história das disciplinas escolares brasileiras.
Renato Barboza
Diadema, São Paulo, 09 de agosto de 2022.
Referências
FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das
ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2016.
16
LEMINSKI, P. Toda Poesia. São Paulo: Companhia das Letras,
2013.
MAYR, E. Biologia, ciência única. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004.
17
Introdução
A Historiografia e História da Educação têm destaque na
atualidade, permitindo uma compreensão das características e
determinantes históricos da educação brasileira, bem como a
historicidade das finalidades sociais e políticas das instituições
escolares. Esse conhecimento histórico, que se constitui de modo
multidisciplinar, permite uma compreensão do homem enquanto
um ser social que constrói seu tempo. Afinal, no sentido mais amplo,
a História não é a ciência do passado, mas a ciência dos homens no
tempo (BLOCH, 2001).
Hoje, na segunda década do século XXI, a conquista da
expansão e democratização do ensino médio é inquestionável. Dados
referentes às escolas públicas e privadas do censo escolar 2021,
conforme o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais
(Inep), certificam que mais de 7,7 milhões de estudantes
frequentavam o ensino médio, ou seja, 92,5% da população de 15 a
17 anos frequenta a escola. São mais de 6,6 milhões de alunos nas
redes públicas (Inep, 2021). Do extremo sul, no estado do Rio
Grande do Sul, ao extremo norte, no estado de Roraima, diversos
alunos e alunas estão no ensino médio dedicando tempo e esforço
para estudar o currículo da disciplina escolar biologia na educação
básica. Como esse currículo foi/é construído e legitimado? Por que
alguns conteúdos foram/são selecionados e outros não? Que grupos
18
sociais estavam/estão envolvidos na construção e legitimação da
disciplina escolar?
No Brasil, o ensino dos seres vivos e fenômenos biológicos
no ciclo colegial da escola secundária (hoje, o ensino médio)
atravessou profundas transformações no século XX. Se hoje a
disciplina escolar biologia é naturalizada e despercebida de conflitos
e disputas, assumindo os conhecimentos escolares válidos e
legitimados com fins e princípios em si próprios, a pouco menos de
100 anos o cenário era de debates, tensões e embates de professores,
educadores e cientistas sobre quais as bases epistemológicas das
ciências de referência, conceitos, saberes escolares e métodos de
ensino seriam considerados importantes e legítimos para compor o
currículo. O que mudou ao longo desses anos? Quais elementos
políticos, sociais e científicos foram julgados fundamentais para as
mudanças? Como as transformações nos programas e currículos do
ensino secundário refletiam na disciplina escolar? Para não ser longo,
de certo modo, este livro discute e aprofunda essas questões.
O objetivo deste livro é reconstituir a história do currículo
prescrito do ensino de biologia do ciclo colegial da escola secundária
no Brasil, no período de 1942 a 1965
1
. A questão é buscar
compreender a construção social do currículo diante das
transformações sociais, científicas, políticas e culturais. Adota-se a
construção, composição e atuação da Sociedade Brasileira para o
1
O livro foi apresentado originalmente como dissertação de Mestrado em Educação, da
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus Marília, com o título A renovação da
disciplina escolar história natural e biologia no ensino secundário (1946-1965), sob orientação
da Profa. Dra. Rosa Fátima de Souza-Chaloba. A pesquisa contou com financiamento do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
19
Progresso da Ciência (SBPC) entre as décadas de 1940 a 1960 como
eixo articulador para compreensão do campo científico nacional.
Trata-se, portanto, de uma história cultural da disciplina
escolar em meados do século XX. Busca-se “identificar a gênese e os
diferentes momentos históricos em que se constituíram os saberes
escolares, visando perceber a sua dinâmica, as continuidades e as
descontinuidades no processo de escolarização” (BITTENCOURT,
2003, p. 15). Assim, o ideário de inovação e/ou renovação do ensino
de biologia é assumido como uma expressão que permite falar de um
ato de criar, recriar ou aperfeiçoar algo, processos e objetos pré-
existentes. A inovação de uma disciplina escolar por meio de um
trabalho coletivo de órgãos internacionais e nacionais de ciência,
cultura e educação, professores secundaristas e universitários, e
biologistas para reinven-la como elemento necessário na
modernização do ensino secundário e do currículo científico nos
anos 1950/60.
No percurso da pesquisa houve a identificação de uma
questão singular da disciplina escolar: a nomenclatura binominal nos
programas oficiais e leis promulgadas nas reformas educacionais
republicanas, que a denominavam ora história natural, ora biologia,
ora ciências biológicas. De fato, as duas denominações surgem dos
próprios embates, debates e controvérsias na constituição da
disciplina escolar espelhada nas ciências de referência e disputas no
campo social e, principalmente, científico. Para lidar com esse
impasse e sem perder de vista as escritas dos termos nas diferentes
fontes documentais utilizadas, tais como, legislações, programas
oficias, revistas pedagógicas, periódicos científicos e jornais, opta-se
20
pelas expressões história natural escolar e biologia escolar em
minúsculo como sinônimos da disciplina escolar. Parece
paradoxal, mas como afirmou Goodson (1990, p. 234): “as análises
mais atentas das matérias escolares revelam uma série de paradoxos”.
Também é importante deixar claro a opção pela utilização
dos termos História Natural, Biologia e Ciências Biológicas em
maiúsculo como as áreas de produção científica-acadêmica.
Entende-se que são denominações sobre o estudo da história,
desenvolvimento e organização dos organismos vivos, estendendo-se
nas disciplinas de Zoologia, Botânica, Genética, Evolução e etc.
Sendo assim, são aplicados, por vezes, com a mesma representação e
significação no campo educacional. Contudo, aqui são designados
em campos diferentes, mas entrelaçados. O ensino de história
natural e biologia é assumido como produto e produtor de um ramo
do ensino das ciências na escola secundária, enquanto a História
Natural, Biologia e Ciências Biológicas como campo científico-
acadêmico e institucionalizadas nas universidades e centros de
pesquisas.
As diferentes nomeações da disciplina escolar evidenciam
seus campos sociais e científicos que foram disputados no século XX.
Ao mesmo tempo, faz compreender o desenvolvimento e as
transformações do ensino de história natural e biologia no currículo
da escola secundária. Assim, para Viñao (2008), as mudanças nas
denominações das disciplinas escolares são aspectos de um processo
de fonte de poder e/ou exclusão de um campo social e acadêmico;
apropriações de determinados grupos de professores; e um
21
instrumento de reconhecimento de sabres profissionais,
identificações e conteúdos de ensino.
Fica evidente, portanto, a disciplina escolar como um
organismo vivo, não sendo, com efeito, algo estático na história da
educação brasileira. Nesta perspectiva, coloca-se as seguintes
questões da pesquisa: como a renovação da disciplina escolar história
natural e biologia foi debatida e prescrita na revista Ciência e
Cultura, periódico oficial da SBPC, em fins dos anos 40 e início dos
60 do século XX? Que papel desempenhou o campo científico da
Biologia na produção e legitimação da disciplina escolar no currículo
do ensino secundário?
Para fins de delimitação temporal, o marco inicial foi
estabelecido na promulgação do Decreto-Lei n. 9.054, em 12 de
março de 1946, que substituiu a disciplina escolar biologia pela
história natural na Lei Orgânica do Ensino Secundário (Decreto-Lei
n. 4.244, de 9 de abril de 1942). Duas razões, relacionadas entre si,
explicam a periodização inicial para meados dos anos 40 do século
XX. A primeira por conta da reforma educacional de Gustavo
Capanema. A Lei Orgânica do Ensino Secundário estabeleceu a
biologia como disciplina escolar obrigatória no curso colegial, mas
foi substituída pela história natural pelo Decreto-Lei n. 9.054/1946.
Isso trouxe importantes questões: o que representou e significou a
substituição da disciplina escolar biologia? Quais saberes e práticas
escolares foram prescritas para o ensino de história natural no
Decreto-Lei n. 9.054/1946?
O ano de 1965 marca o final da periodização da pesquisa.
Nesse período, foram criados os Centros de Ensino de Ciências
22
(CECIS). O primeiro denominado Centro de Ensino de Ciências
do Nordeste (CECINE) em Recife, Pernambuco. Alguns meses
depois da experiência pioneira, o projeto alcançou nível nacional
com a criação de outros centros: Centro de Ensino de Ciências de
São Paulo (CECISP), na capital paulista; Centro de Ensino de
Ciências de Guanabara (CECIGUA), após o fim do Estado de
Guanabara, em 1975, convertido em Centro de Ensino de Ciências
do Rio de Janeiro (CECIRJ), na cidade do Rio de Janeiro; Centro
de Ensino de Ciências de Minas Gerais (CECIMG), em Belo
Horizonte; Centro de Ensino de Ciências do Rio Grande do Sul
(CECIRS), em Porto Alegre; e o Centro de Ensino de Ciências da
Bahia (CECIBA), em Salvador. Os CECIS são as primeiras
instituições definidas pelo MEC com objetivos claros de apoio
técnico-pedagógico para renovação do ensino das ciências,
amparado na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), n. 4.024, de 20 de
dezembro de 1961.
Dois parâmetros foram fundamentais na construção da
pesquisa: de um lado, a história do ensino secundário no país, tendo
em vista as reformas educacionais nacionais e a estruturação
pedagógica, legal e normativa, compondo, assim as definições e
finalidades do ensino de história natural e biologia no currículo. Do
outro lado, a dimensão própria da disciplina escolar, considerando
suas demandas, valores, professores, cientistas e história da ciência.
Desse modo, sempre que possível, relaciona-se a história da
disciplina escolar com a própria história das Ciências Biológicas e o
contexto geral da história da educação secundária. Com isso,
23
assinalar que a “história da educação científica não é, nem pode mais
ser, exterior à história das ciências” (BELHOSTE, 2012, p. 47).
A propósito, vale assinalar a importância do campo
científico-educacional brasileiro nos debates, tensões e inovações em
torno daquilo que era importante na renovação do ensino de
biologia para modernizar a escola secundária. A renovação da
disciplina escolar era uma pauta constante nas reuniões, simpósios,
encontros e publicações da revista Ciência e Cultura da SBPC,
periódico criado em 1949. Fundada em 1948, na cidade de São
Paulo, a SBPC é uma sociedade civil, fundada por cerca de 60
cientistas para “fins científicos e educacionais, sem fito de lucro, nem
côr, política ou religiosa” (SBPC, Art. 1, 1948a, p. 01). É possível
compreendê-la como importante espaço social e cultural na história
da ciência nacional (FERNANDES, 2000; FONSECA, 2012;
NADER, BOLZANI, FERREIRA, 2019; FARIA, 2020). Nesse
sentido, a SBPC ganha um lugar de destaque na construção e
circulação de um projeto de desenvolvimento científico e
tecnológico para modernização e industrialização da sociedade
brasileira nos anos 1950/60. Como resultado desse movimento, o
campo científico também saiu em defesa de mudanças na escola
secundária e, mais precisamente, acerca do ensino das ciências na
formação dos jovens.
Em relação à educação secundária, em 1945, com o fim do
Estado Novo, o seu corpo político e legal entrou em colapso na
atmosfera da redemocratização do país. Naquele momento, para
Gildásio Amado (1973, p. 08), a “escola secundária, com a
complexidade de seu currículo, a igualdade de seus programas, a
24
inflexibilidade imposta de seus processos e métodos, era um
esquema. Era uma irrealidade”. Tornava-se fundamental que a
escola secundária deixasse de ser um espaço intelectual e cultural de
formação exclusiva das elites do Brasil. Tratava-se, pois, de que não
caberia mais à escola secundária as marcas tão fortes de uma natureza
aristocrática. Conforme Anísio Teixeira, presidente à época Inep,
havia uma necessidade de transformá-la “para todos, a todos os
educandos e orientandos segundo suas aptidões, para o trabalho,
hoje sempre técnico, seja no campo do comércio, da indústria, das
letras ou das ciências” (TEIXEIRA, 1954, p. 11).
Nas décadas de 1950 e 1960, os debates políticos e
pedagógicos pela necessária modernização da escola secundária foi
de um amplo movimento de experiências educacionais, campanhas,
programas e discursos conduzidos por educadores na administração
pública, tais como, Anísio Teixeira, Jayme Abreu e Gildásio Amado,
dentre outros profissionais da educação e ciência. Todos os esforços
tinham a intenção de alterar a organização, estrutura, currículos,
exames, formação do magistério e práticas educativas da escola
secundária com o objetivo de torná-la prática, moderna e,
principalmente, democrática. Tornava-se fundamental que a escola
secundária deixasse de ser um espaço intelectual e cultural de
formação exclusiva das elites do Brasil.
Os estudos de Nunes (2000), Braghini (2005), Souza
(2008), Dallabrida (2009, 2014) e, mais recentemente, a coletânea
organizada por Castro (2019), Pessanha e Silva (2021) trazem que
os debates, transformações e expansão regional deste grau do ensino
médio durante os anos de 1930 a 1960 foram cercados de disputas
25
e tensões de campos sociais. Sobre o trabalho e organização do
currículo, Souza (2008, 2009, 2012) mostra as mudanças sutis e
decisivas nos ginásios e colégios no curso da história da educação
republicana no século XX. A autora afirma que a escola secundária
foi motivo de intensos debates nacionais, em distintos espaços e
tempos, por vezes, controversos, antagônicos e polêmicos sobre as
finalidades e práticas educativas na formação da mocidade brasileira.
O debate nacional pela transformação do ensino secundário
também ganhou atenção e projeção do campo científico na SBPC e,
principalmente, sobre os rumos do currículo científico. Afirmando
que todo o progresso científico do país dependeria de uma renovação
do ensino das ciências, a diretoria afirmava que:
Uma Sociedade para o Progresso da Ciência deve ocupar-se
antes de tudo daquilo que diz respeito ao desenvolvimento da
ciência, da pesquisa, porquanto sem pesquisa não há progresso
científico. Em segundo lugar, a Sociedade deve bater-se pela
melhoria das condições do ensino das ciências nos cursos
superiores, e em seguida, nos cursos secundários, tendo já
realizado reuniões com o fim precípuo de discutir as condições
atuais do ensino das Ciências Naturais e da Química no curso
secundário. Até êsse ponto, a Sociedade dispõe, entre os seus
sócios, de pessôas qualificadas para opinar, discutir e sugerir
modificações sôbre o ensino das ciências no curso secundário
(CIÊNCIA E CULTURA, v. 2, n. 2, 1950, p. 82).
Havia um movimento duplo na SBPC: de um lado, a defesa
pelo amparo à ciência; do outro, a valorização e renovação do ensino
das ciências no país. Essa importância captava o ideário
26
compartilhado pelo campo científico de que “o progresso da Ciência
decorre de uma série de fatores, dentre os quais se coloca em
primeiro plano o bom ensino científico” (CIÊNCIA E CULTURA,
v. 3, n. 4, 1951, p. 229). Nas reuniões anuais e páginas da revista
Ciência e Cultura, a comunidade científica brasileira posicionava-se
no jogo pela renovação e expansão do currículo científico na escola
secundária. Isso como parte integral de modernizá-la para valorizar
a formação de cientistas e elevação do nível da ciência nacional.
Na historiografia do ensino das ciências no Brasil, por
diversos autores, de diferentes modos, as pesquisas (BARRA;
LORENZ, 1986; KRASILCHIK, 1987, 1989, 1992, 2000;
LORENZ, 2005, 2008; CHASSOT, 2004; CASSAB, 2015)
mostram que as transformações do currículo científico na escola
secundária, na segunda metade do século XX, foram mobilizadas
pela valorização do método científico, ampla defesa da
experimentação didática e atualização dos currículos e programas de
ensino. Diversas autoras e autores, tais como, Krasilchik (1972),
Selles e Ferreira (2005), Selles (2007), Ferreira e Selles (2008),
Campagnoli e Selles (2008), Marandino, Selles e Ferreira (2009),
Cassab et al. (2012) e Silva (2020) marcam que as transformações
do ensino de biologia emergiram das mudanças no currículo
científico entrelaçadas com as questões de desenvolvimento,
autotomia e legitimidade das Ciências Biológicas a partir dos anos
1960.
Nesse sentido, é relevante considerar o conjunto rarefeito de
pesquisas sobre a história do ensino de história natural e biologia no
país. Nesta última década, a historiografia nacional centraliza-se
27
principalmente em três grandes grupos, que muitas vezes estão
entrelaçados. O primeiro de cultura material escolar para
compreender os processos de tradições e mudanças nas
materialidades da disciplina escolar. Como exemplos, cito as
investigações de Madi Filho (2013), Oliveira (2018) e Cameski
(2020). Barboza e Meloni (2018) também contribuem para os
debates sobre os objetos de ensino para o ensino de história natural
no século XX.
No segundo grupo estão as pesquisas que analisam a história
cultural do currículo prescrito no século XX e início do XXI. São os
estudos sobre os traços morfofisiológicos dos saberes escolares nos
livros didáticos, as disputas pela legitimação da disciplina escolar no
currículo oficial, ora na legislação da escola secundária, ora no
interior das instituições de ensino, e as mudanças nas tradições
curriculares. São os estudos de Cassab (2011), Roquete (2011),
Spiguel (2013), Santos (2013), Iglesiais (2014), Medrado (2014),
Ventura (2014), Azevedo (2015), Silva (2019) e Josephino (2019),
Farias (2020), Oliveira (2021). O terceiro grupo compõem as
pesquisas que analisam as tensões, estabilidades e mudanças da
disciplina escolar a partir das histórias de vida de professores e
professoras. Têm-se as contribuições de Longhini (2011) e
Rodrigues (2020).
Com diferentes bases de dados, ora de dissertações e teses,
ora de artigos de congressos da área, outros estudos, tais como,
Lemgruber (2000), Slongo (2004), Teixeira (2008), Fracalanza
(2009), Cassab (2010), Borba (2013), Fonseca, Xavier, Vilela e
Ferreira (2013), Teixeira e Megid Neto (2017), Rodrigues (2020),
28
Silva e Schwantes (2020), Rodrigues e Carneiro (2021), Silva e
Chaloba (2021), Filho Nascimento, Almeida e Oliveira (2021)
trazem análises das pesquisas em ensino de biologia no Brasil, no
período de 1972 a 2021, quer seja nas dimensões mais amplas na
constituição do campo científico, quer seja mais específicas sobre a
historiografia da disciplina escolar. De todo modo, as pesquisas
mostram como a produção acadêmica é lacunar e recente. Também
evidenciam as várias mudanças do ensino de biologia no século XX.
A história da disciplina escolar biologia por meio de
periódicos tem sido pouco estudada. Não obstante, é facilmente
localizado o esforço de investigá-la tendo os livros didáticos como as
principais fontes históricas. Sem negar a riqueza de seu aporte à
história da educação, os livros didáticos são situados como as fontes
mais aparentes e privilegiadas, pois trazem à tona o currículo
prescrito no conjunto de um ideário daquilo que era considerado
ideal e legítimo para ensinar história natural e biologia na escola
secundária, bem como são os principais documentos preservados no
tempo. Em função disso, existe uma ausência dos impressos
periódicos nas pesquisas sobre a história da disciplina escolar.
Os periódicos como fontes históricas possibilitam
compreender aspectos sobre os debates, disputas e representações
dos programas de ensino, renovação curricular, trabalho, formação
e aperfeiçoamento de professores, materiais didáticos e etc. Nesse
sentido, é empregá-los para compreender o campo educacional nas
relações entre teoria e prática, tradição e inovação, projeto e
realidade (NÓVOA, 2002). Sem pretender dar conta de todas as
29
publicações no Brasil republicano, além da Revista Ciência e Cultura,
da SBPC, as seguintes revistas interessam à temática:
Revista Nacional de Educação: publicação mensal do Museu
Nacional do Rio de Janeiro, editada por Edgar Roquete Pinto,
de outubro de 1932 a junho de 1934. Estudos iniciais, como de
Duarte (2010a), Santos e Selles (2012) analisam os debates de
cientistas e professores sobre o ensino de história natural da
escola secundária publicados nesta revista.
Revista do Museu Nacional: produção quadrimestral do
Museu Nacional, editada pela seção de Extensão Cultural, entre
1944 e 1945. Periódico destinado para os alunos, professores e
público com a descrição de materiais escolares, programas e
métodos de ensino sobre a disciplina escolar biologia.
Revista Cultus: periódico para divulgação científica e
desenvolvimento do ensino científico nos cursos secundários.
Publicado, inicialmente, pelos professores do Colégio Anglo-
Latino, de São Paulo, em 1949, e alguns anos depois, editado e
incorporado como uma das publicações do Instituto Brasileiro
de Educação, Ciência e Cultura, Seção São Paulo (IBECC/SP).
Com periodicidade trimestral, a revista foi publicada de 1949 a
1963.
Revista Escola Secundária: Criada e editada, no período de
1957 a 1961, pela Campanha Nacional de Difusão e
Aperfeiçoamento do Ensino Secundário (CADES), do MEC,
sob comando Gildásio Amado. O periódico foi especializado em
didática geral e divulgação de experiências pedagógicas
renovadoras para as diversas disciplinas escolares.
30
A história e historiografia deve ser ampliada para atingir
outros objetos de pesquisas, tais como, as dimensões epistemo-
lógicas, pedagógicas, materialidades e práticas da disciplina escolar.
Além disso, as definições e finalidades definidas na legislação
educacional. Também é importante considerar a necessidade de
compreender as práticas discursivas e representações do campo
científico para renovar o ensino de biologia no cenário de debates e
disputas dos anos 1950/60. Em decorrência disso, os resultados
desta pesquisa, além de contribuírem para o preenchimento de
lacunas sobre a história da disciplina escolar, permitem colocar em
evidências algumas perspectivas que ainda precisam ser exploradas e
analisados para avançar os debates sobre o passado, presente e futuro
do ensino de biologia na escola básica brasileira.
Mediante aos objetivos de compreender as disputas, debates
e inovações do ensino de biologia no currículo prescrito da escola
secundária entre os anos 1940 a 1960, nesta pesquisa admite-se o
conceito de Chervel (1990, p. 201) que uma disciplina escolar “não
é uma expressão das ciências ditas, ou presumidas ‘de referência’,
mas que ela foi historicamente criada pela própria escola, na escola e
para a escola”. Nessa lógica, a disciplina escolar história natural e
biologia é entendida como um constructo escolar, ou seja, uma
criação específica para as instituições escolares e, portanto, não sendo
redutíveis na simples hierarquização e reprodução de saberes, valores
e normas das ciências de referência, mas dela mantém imbricações e
clivagens. As disciplinas escolares também são recriadas no saber-
fazer dos professores e alunos e não guardam uma relação tão
31
imediata com as ciências de referência, mas delas preservam forte e,
por vezes, decisivas influências.
As disciplinas escolares são apropriadas por uma série de
saberes selecionados e hierarquizados. Ou seja, os conteúdos de
ensino saberes ou conhecimentos escolares compreendidos como
os “produtos de uma seleção no interior da cultura, as características
da cultura escolar” (FORQUIN, 1992, p. 5). É preciso reconhecer
que essa seletividade revela a instabilidade e parcialidade dos saberes
escolares. São expressões de conhecimentos que devem ser ensinados
nos sistemas de ensino e, portanto, socialmente legitimados por
determinados grupos sociais para compor os currículos.
Nesse sentido, o currículo é uma realidade prévia do ensino
que estabelece os saberes escolares das disciplinas escolares para
demarcar suas metas e finalidades para a sociedade. O currículo é
uma arena de batalhas. É entende-lo como “um artefato social,
concebido para realizar determinados objetivos humanos
específicos” (GOODSON, 1997, p. 17). Três parâmetros são
importantes para a compreensão do currículo como instrumento de
seleção cultural: prescrito, praticado e oculto.
Em linhas gerais, o oficial, prescrito ou pré-ativo corres-
pondem aos padrões legitimados pelo Estado na escolarização
(GOODSON, 1997). O real, praticado ou ativo traduz as práticas
ordinárias, ou seja, é aquilo que, de fato, é realizado e ensinado na
escola. O que importa salientar é que, no sentido concreto, o
currículo real é o “currículo como atividade em sala de aula”
(GOODSON, 2018, p. 40). Não se trata de uma dicotomia entre o
ativo e prescrito, mas de compreen-los na teia complexa dos
32
interesses sociais que criam as condições para a seleção cultural e a
vitória de determinados grupos sociais na definição do currículo
oficial (SANTOS, 1995). Por último, tem-se o currículo oculto que
traz os objetivos e interesses velados nas práticas culturais
(FORQUIN, 1996).
Com o conceito de currículo prescrito, busca-se compre-
ender as estabilidade e mudanças na invenção das tradições
curriculares do ensino de biologia na escola secundária. A tradição
inventada é uma série de práticas procedimentais e simbólicas
reguladas, aceitas, repetidas, que dão amplos segmentos ao passado
(HOBSBAWM; RANGER, 1984). São três tradições que batalham
nas disciplinas escolares: acadêmica, utilitária e pedagógica
(GOODSON, 1997, 2018). A primeira sobre as lógicas conceituais
e organizacionais dos saberes escolares. É o principal ponto de
ligação e influência com as ciências de referência. A utilitária
configura-se no campo social, ou seja, são os conteúdos ligados
diretamente com as práticas cotidianas e os valores culturais
desejáveis no currículo. Por fim, a pedagógica preocupa-se em tornar
o conhecimento escolar em algo que possa ser ensinável nos sistemas
de ensino.
Considerando os embates sociais pela definição das tradições
curriculares, Goodson (2018, p. 21) defini as disciplinas escolares
como um conjunto de entidades que não são monolíticas, mas sim
“amálgamas de subgrupos e tradições influenciadas por conflitos e
disputas que decidem que conteúdos, métodos e metas podem ou
não ser legítimos”. Dessa maneira, são espaços de saberes sociais e
acadêmicos com poderes e recursos em contínuas disputas pelas
33
bases acadêmicas, utilitárias e pedagógicas. Isso traz uma importante
categoria analítica: o conceito de comunidade disciplinar. Nesse
conceito, Goodson (1990, 1991, 1997, 2018) agrega o grupo social
formado pelos professores, cientistas, educadores e outros sujeitos
que mobilizam recursos, estratégias e discursos para assegurar a
legitimidade da disciplina escolar. Apesar de ser formada de grupos
heterogêneos, que disputam hegemonia, a coexistência dos grupos
antagônicos nas comunidades disciplinares tem o objetivo de
“manter a estabilidade e promover o ensino da disciplina”
(GOODSON, 2018, p. 20).
No que se refere especificamente à história do ensino de
história natural e biologia, o uso do conceito de comunidade
disciplinar é bastante fértil. A proposta é pensar a articulação de
professores, educadores e biologistas nos debates e disputas pela
expansão, inovação e legitimação do ensino da disciplina escolar, ora
nos termos de história natural, ora de biologia, no currículo prescrito
da escola secundária. Assim, a operativo da comunidade disciplinar
ganha fertilidade para os jogos e práticas que trazem à tona as
rupturas, deslocamentos, contradições e embates de diferentes
grupos socais que disputam a legitimidade da disciplina escolar.
Além disso, permite estabelecer um conjunto de significados de
campo social na teorização sociológica de Pierre Bourdieu.
Com a conceituação teórica de campo, torna-se possível uma
compreensão da SBPC e, dentro dela, da comunidade disciplinar
como espaço social de capitais, lutas e poder. Ou seja, um campo
científico-educacional que foi ao jogo pela renovação da disciplina
escolar. Nestes termos, o campo é definido como espaço “de
34
produção cultural e este mundo social absolutamente particular”
(BOURDIEU, 2004a, p. 169). É um microcosmo social com certa
autonomia, com leis, regras e valores próprios e sofre fortes
influências e relações com o mundo social externo, o macrocosmo.
É também lugar de lutas, movimentos, tensões, posições e batalhas
entre os agentes que o compõem (BOURDIEU, 2019).
Os estudos sobre a produção de modos de pensar e agir das
práticas culturais da comunidade disciplinar do ensino de história
natural e biologia traz a necessária condução das noções de
representações da Nova História Cultural (NHC) do historiador
Roger Chartier (1991, 2002, 2011, 2017). Nas palavras de Burke
(2005, p. 98), a NHC é “a teoria da construção da realidade”. As
noções de representações circunscrevem a compreensão de esquemas
simbólicos que os grupos sociais investem para legitimar seus
interesses e representações do mundo. As representações são
conceituadas como categorias fundamentais de classificação,
percepção e apreciação de grupos sociais, sendo construídas por
“esquemas intelectuais incorporados que criam as figuras graças às
quais o presente pode adquirir sentido, o outro tornar-se inteligível
e o espaço ser decifrado” (CHARTIER, 2002, p. 17).
Com base na NHC é possível compreender o ensino de
história natural e biologia como um objeto cultural de disputas e
debates construindo na comunidade disciplinar, de modo particular,
e do campo social, em geral. Nesse sentido, o modo como em
diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é
construída, pensada, dada a ler” (CHARTIER, 2002, p. 16-17).
35
Além disso, permite analisar como os professores,
naturalistas e biologistas construíram representações, às vezes,
antagônicas para definir os saberes escolares dos currículos oficiais,
bem como as bases epistemológicas para organizar e conceitualizar a
disciplina escolar. Também os diversos recursos e estratégias
colocados em jogo para garantir uma legitimidade que identificasse
o universo próprio de renovação como parte fundamental de
modernização da escola secundária.
Considerando esses aspectos, a pesquisa foi concebida no
âmbito da NHC, operacionalizando os procedimentos metodoló-
gicos de uma pesquisa histórica-documental a partir do método
crítico das fontes documentais, conforme Bloch (2001) e Le Goff
(2013). Para atingir os objetivos deste livro, foram utilizados
principalmente os periódicos (jornais e revistas) como fontes para a
História da Educação. São diversos os autores, tais como, Sousa e
Catani (1994), Catani (1996), Catani e Bastos (2002), Gatti Júnior
e Araújo (2002), Catani (2003), Schebauer e Araújo (2007), de
distintos modos, mostram a imprensa periódica como objeto de
estudos e/ou fonte histórica para a historiografia da educação
brasileira.
Por meio da imprensa periódica, como fonte para a História
da Educação, é possível aproximar-se da apreensão dos “discursos
que articulam práticas e teorias, que situam o nível macro do sistema,
mas também no plano micro da experiência concreta, que exprimem
desejos de futuro ao mesmo tempo que denunciam situações do
presente” (NÓVOA, 2002, p. 11, grifos do autor). É nessa
perspectiva que se compreende a revista Ciência e Cultura. A adoção
36
desse periódico oficial da SBPC
2
, no período de 1949 a 1965, faz
compreender as representações da comunidade científica sobre a
ciência, tecnologia, educação e ensino das ciências no país em
meados do culo XX. Os professores e cientistas fizeram dessa
revista ecos de seus interesses, desejos, valores e normas para alcançar
legitimidade no campo científico-educacional. São exemplos, os
mais de 150 artigos sobre a educação nacional, tais como, currículo
científico, escola secundária, ensino de história natural, biologia,
física, química e etc.
Também foram utilizados os 16 cadernos de programações
3
dos congressos anuais da SBPC realizados entre os anos de 1949 a
1965. Nessas reuniões, das mais diferentes áreas das ciências, os
cientistas apresentavam as comunicações de trabalhos, palestras,
simpósios, conferências, mesas-redondas e minicursos, dentre outras
atividades científicas e culturais para o público, além de assembleias
gerais e reuniões da diretoria. Por exemplo, sobre o Ensino das
Ciências, entre 1949 a 1965, foram realizados 8 simpósios.
Para verificar as reminiscências dos debates nas reuniões
anuais fez-se uso de jornais de São Paulo e Rio de Janeiro
4
, que
publicavam os acontecimentos diários dos eventos científicos. As 28
reportagens, no período de 1946 a 1965, selecionadas nesta pesquisa
2
Fontes disponíveis no acervo da Hemeroteca da Biblioteca Nacional Digital (BNDigital).
O periódico está preservado no Centro de Memória da SBPC “Amélia I. Hamburger”, na
sede da SBPC, na cidade de São Paulo.
3
Documentos estão disponíveis no acervo digital da SBPC.
4
No período de 1946 a 1965, foram identificadas na Hemeroteca Digital mais de 360
reportagens em jornas de diferentes regiões do país sobre as ações da SBPC, IBECC/SP e
CECINE.
37
foram localizadas nos seguintes jornais de São Paulo: Correio
Paulistano (8), Diário da Noite (6); e Rio de Janeiro: Correio da
Manhã (2), Diário Carioca (2), Jornal da Manhã (1), Jornal do Brasil
(2) e Jornal do Commercio (6). São publicações curtas que trazem as
representações da SBPC pelos embates da ciência e tecnologia
nacional, como também àquelas cristalizadas pela renovação do
ensino das ciências e as mudanças da disciplina escolar história
natural e biologia. Além disso, o papel do Instituto Brasileiro de
Educação, Ciência e Cultura, Seção São Paulo (IBECC/SP) e
CECIS no campo de Ensino das Ciências daquele momento.
Entende-se, portanto, os jornais como “um elemento fundamental
para captar as principais representações de uma época”
(GONÇALVES NETO, 2002, p. 206).
Também foram consultados os documentos sobre os
aspectos legais, normativos e pedagógicos da escola secundária. São
as legislações das reformas educacionais, os programas de ensino dos
anos 1940/50
5
e as orientações do Conselho Federal de Educação
(CFE)
6
nos anos 1960. Faz-se uso também de livros e manuais
5
Toma-se como base o compilado da legislação do ensino secundário, no período de 1931
a 1951, do livro O ensino secundário no Brasil e sua atual legislação, publicado em 1942 pela
Divisão do Ensino Secundário e organizado por Joaquim de Campos Bicudo; e a
publicação n. 67 do Inep intitulada Ensino Secundário no Brasil: organização, legislação
vigente e programas, publicada em 1952.
6
As resoluções, circulares e pareceres do CFE sobre os novos currículos para o curso
secundário colegial foram publicadas na seção de atos oficias da Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos.
38
didáticos da disciplina escolar
7
; mensagens presidenciais ao
Congresso; acordos, relatórios, cartas e despachos do Inep na
produção de materiais escolares para renovação do ensino de
biologia nos anos 1950/60
8
. É claro que não foram utilizados todos
os documentos localizados e catalogados, mas foi necessário o
cruzamento de diferentes fontes para analisar os debates e disputas
em torno do currículo da disciplina escolar. Com isso, compreender
as representações e finalidades dos programas oficiais de ensino
publicados pelo MEC; os debates e publicações de professores e
biologistas na SBPC; e as ações do Inep, como de demais instituições
congêneres, para a constituição e legitimação da renovação da
disciplina escolar entre fins dos anos 1940 e início dos 1960.
Com essas considerações introdutórias, este livro es
organizado em quatro capítulos que trazem o esforço de
compreender a estruturação do campo científico-educacional na
SBPC, bem como de suas representações, debates e disputas pela
renovação da disciplina escolar nas décadas que compõem o período
em análise. No primeiro capítulo, é discutido a identificação e
constituição do campo científico da SBPC e suas batalhas pela
ciência e tecnologia nacional em meados dos anos 1940 a 1960. São
apresentadas as representações da Biologia e, principalmente, do
IBECC/SP no campo de Ensino das Ciências. Em seguida, os
7
A intenção foi de localização dos livros, descrevê-los e situá-los no processo de renovação
da disciplina escolar. Talvez no futuro vislumbre-se estudos da produção, circulação e
inovações das obras.
8
A busca pelas fontes documentais foi realizada no arquivo histórico digital do Inep.
39
aspectos da comunidade disciplinar de história natural e biologia na
revista Ciência e Cultura.
No segundo capítulo, apresenta-se a análise das primeiras
reformas da escola secundária republicana e, principalmente, a partir
da Revolução de 1930, preocupando-se com os aspectos de
organização, seriação e programas. Busca-se destacar o lugar
ocupado da disciplina escolar no currículo e seus aspectos
prescritivos-normativos na legislação educacional, tais como,
finalidades objetivas e saberes escolares. Com isso, compreender a
lógica epistemológica do ensino de história natural e biologia entre
os anos 1940/50. Também se verifica os primeiros embates da SBPC
na constituição da disciplina escolar.
No terceiro capítulo, faz-se a análise da rede entrelaçada de
biologistas e professores na SBPC e IBECC/SP nas disputas sobre o
trabalho e formação docente, saberes escolares e experimentação
didática para renovar o ensino de biologia nos anos 1950. Também
é apresentada a comunidade disciplinar no Inep que buscava
transformar a disciplina escolar com os princípios filosóficos da
Escola Nova e o domínio conceitual de novas técnicas e
conhecimentos da Biologia, mediante a publicação de livros
didáticos. A intenção era desenvolver uma renovação didática da
escola secundária e atualização dos currículos.
No quarto, discute-se a conquista da legitimidade
institucional e renovação da disciplina escolar na vigência da
LDB/1961. É destacado a mobilização da comunidade disciplinar
para formular e difundir, em âmbito transnacional, ordenamentos
para renovar o ensino de biologia. No Brasil, buscava-se desenvolver,
40
via publicações, traduções e adaptações de materiais estrangeiros,
cursos de treinamentos e prescrições em revistas, o domínio e
aplicação de novas finalidades, conteúdos e métodos de ensino. O
maior objetivo era a adoção de uma disciplina escolar pautada nas
Ciências Biológicas e fixá-la na lógica do pensamento biológico
evolutivo.
Por fim, nas considerações finais retorna-se ao papel da
SBPC nos debates e embates da comunidade disciplinar pelas
mudanças e estabilidades do ensino de história natural e biologia
durante os anos 1940 a 1960. Além disso, incursiona-se como
determinados aspectos da formação e trabalho docente, métodos e
materiais de ensino, saberes escolares e bases epistemológicas foram
debatidos, dominados e disputados pelos biologistas e professores.
Esses elementos permitem destacar a pluralidade de sentidos e
representações atribuídos na renovação da disciplina escolar.
Também se aponta alguns caminhos que podem ser trilhados para o
desenvolvimento de futuras pesquisas. Na sequência, arrola-se as
referências, fontes utilizadas na pesquisa, bem como o anexo sobre a
programação dos simpósios de ensino das ciências nas reuniões
anuais da SBPC.
41
Capítulo 1
“Um Big Bang da ciência brasileira”: o campo científico
nacional e os microcosmos da Biologia e Ensino das
Ciências
A ciência é grande luz da humanidade. No Brasil existe uma
força científica ativa integrante da sociedade chamada SBPC
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência que há 70
anos atua em defesa da educação, do avanço científico,
tecnológico e do desenvolvimento sustentável do país
(SBPC, 08 de julho de 2018)
1
.
Em 2021, a SBPC completou 73 anos no cenário caótico de
ataques à ciência e educaçãoblica no país. Essa sociedade
científica desenvolve um papel fundamental na defesa dos cientistas,
que se autodenomina, conforme seu vídeo institucional de 2018, de
“um Big Bang da ciência brasileira”. As bandeiras históricas da SBPC
servem de justificativas para o pontapé inicial deste capítulo. O
principal objetivo foi analisar a criação, composição, atuação e
disputas da SBPC pela ciência, tecnologia e ensino das ciências entre
o final dos anos 1940 e início de 1960. Dito de outras formas, busca-
se compreender as seguintes questões: como se constituiu o campo
1
Trecho retirado do vídeo institucional comemorativo de 70 anos da SBPC. SPBC 70
anos. Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7Vgpo5wZPfw.
Acesso 13 jan. 2021.
42
científico da SBPC? Que representações de ciência eram difundidas
em suas lutas científicas? Como compreendê-la como associação
científica que representa e defende a ciência e os cientistas
brasileiros? Quais são as características dos microcosmos da Biologia
e Ensino das Ciências? Como foi a constituição e organização da
comunidade disciplinar de história natural e biologia do ensino
secundário no interior da SBPC?
1.1 A produção de uma sociedade científica nacional
O Instituto Butantan, fundado em fins do século XIX, na
cidade de São Paulo, na data histórica de 17 de janeiro de 2021
iniciou o programa de vacinação contra o vírus COVID-19. Uma
pandemia que ceifou mais de 4,5 milhões de pessoas no planeta; no
Brasil já foram mais de 600 mil mortos e histórias perdidas pela
negligência e má condução do Estado. A mais nova marca do órgão
é um sopro de esperança no cenário de crise e ataques da ciência
brasileira, e um capítulo importante na história da saúde e ciência
pública nacional.
Desde sua fundação, em 1901, o Instituto Butantan foi
palco de disputas científicas e políticas da ciência brasileira, seja de
financiamento governamental para as pesquisas, produção de
vacinas e soros fisiológicos, ou ainda, na atuação dos cientistas. Nos
anos 1940, durante um de seus episódios de crise política-
institucional houve a germinação da SBPC. Naquele período, o
governo de São Paulo, sob gestão de Adhemar de Barros (1945-
1951), promoveu mudanças na instituição e nomeou para a direção
43
Eduardo Vaz, farmacêutico ligado ao setor privado do Instituto
Pinheiros.
Vaz estabeleceu um novo estatuto que provocou críticas,
fugas e controvérsias com os pesquisadores do Instituto. Segundo
Maurício Rocha e Silva
2
, com àquela direção havia uma política de
morte da ciência, coordenada por um “indivíduo sem qualquer
qualificação científica [...] negando ao cientista o direito de possuir
um currículo próprio, devendo-se dedicar, exclusivamente, às
funções de manipulador de técnicas conhecidas, com o objetivo de
aumentar a produção comercial” (SILVA, 1958, p. 200). Havia uma
atmosfera de violação da tradição de pesquisa e autonomia científica,
mergulhando a instituição no cenário de crise.
A crise no Instituto Butantan pautou, estimulou e
impulsionou uma reunião de setores da ciência brasileira. O
encontro foi organizado por Paulo Sawaya
3
, José Reis
4
e Maurício
Rocha e Silva. Na reunião, realizada no dia 8 de junho de 1948, na
cidade de São Paulo, no auditório da Associação Paulista de
2
Médico formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. É considerado uma das
maiores autoridades científicas e acadêmicas da história recente do Brasil. Foi um dos
fundadores e líderes da SBPC. Faleceu em 1983 em São Paulo. Texto adaptado da galeria
de presidentes disponível no site da SBPC.
3
Professor, educador e zoólogo. Responsável pela cadeira de Zoologia na USP. Foi Vice-
Diretor da FFCL em 1950 e 1958, Diretor do Instituto de Biologia Marinha de 1955 a
1973. Faleceu em 1995 na cidade de São Paulo. Texto adaptado da galeria de presidentes
disponível no site da SBPC.
4
Cientista, jornalista especializado em divulgação da ciência, editor, escritor e um dos
fundadores da SBPC. Em 1925, entrou para a Faculdade Nacional de Medicina, onde se
formou em 1930. Em 1947 José Reis começou uma carreira paralela como jornalista e
escritor, com uma coluna de divulgação científica no jornal Folha de S. Paulo, que manteve
por 55 anos. Texto adaptado da galeria de presidentes disponível no site da SBPC.
44
Medicina, provocou um associativismo entre os cientistas pela
criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Dentre as razões, conforme a diretoria: a defesa pelos interesses da
comunidade científica nacional para “lutar pelo progresso e pela
defesa da Ciência em nosso País” (CIÊNCIA E CULTURA, v.1, n.
1, 1949, p. 1); e o desejo de buscar um “prestígio crescente deste
última [Ciência] e o progresso do País através do próprio progresso
da Ciência” (CIÊNCIA E CULTURA, v.1, n. 1, 1949, p. 3). A
SBPC nasce com a compreensão de que os valores da ciência
alimentam o progresso do Brasil e vice-versa. A direção atribui-lhe o
seguinte lema: “ordem e progresso com ciência” (CIÊNCIA E
CULTURA, v.1, n. 1, 1949, p. 3).
José Reis, em entrevista ao Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC),
afirmou que a SBPC foi criada pela “necessidade de congregar os
cientistas brasileiros que estavam muito dispersos” (REIS, 1977, p.
33). Na mesma época, foi organizada uma comissão para elaborar o
primeiro estatuto da SBPC. O grupo foi composto por Jorge
Americano, advogado e reitor da USP, José Francisco Maffei, diretor
do Instituto de Química da USP, Gastão Rosenfeld, bioquímico do
Butantan, José Ribeiro do Valle, professor da Escola Paulista de
Medicina, Maurício Rocha e Silva, e Paulo Sawaya. O documento
foi aprovado em 8 de julho de 1948
5
com os seguintes objetivos:
5
Nesta mesma data é comemorado o Dia Nacional da Ciência para homenagear a SBPC.
A data foi promulgada pela Lei Federal n. 10.221, de 18 de abril de 2001. Também foi
publicada a Lei Federal n. 11.807, de 13 de novembro de 2008, que instituiu o dia 8 de
julho como Dia Nacional do Pesquisador.
45
a) Apoiar e estimular o trabalho científico; b) Melhor articular
a ciência com os problemas de interêsse geral, relativos à
indústria, à agricultura, à medicina, à economia, etc.; c)
Facilitar a cooperação entre os cientistas; d) Aumentar a
compreensão dos público em relação à ciência; e) Zelar pela
manutenção de elevados padrões de ética entre os cientistas; f)
Mobilizar os cientistas para o trabalho sistemático de seleção e
aproveitamento de novas vocações científicas, inclusiva por
meio de ensino pós-graduação, extra-universitário, etc.; g)
Defender os interesses dos cientistas, tendo em vista a obtenção
do reconhecimento de seu trabalho, do respeito pela sua pessôa,
de sua liberdade de pesquisa, de direito aos meios necessários à
realização do seu trabalho, bem como do respeito pelo
patrimônio moral e científico representado por seu acervo de
realizações e seus projetos de pesquisa; h) Bater-se pela remoção
de empecilhos e incompreensões que entravam o progresso da
ciência; i) Articular-se ou filiar-se a associações ou agremiações
que visem objetivos paralelos, como a UNESCO, a Federação
Mundial de Trabalhadores Científicos, a Organização Mundial
da Saúde e outras; j) Representar aos poderes públicos ou
entidades particulares sôbre medidas referentes aos objetivos da
Sociedade; k) Outros objetivos que não colidem com os
presentes Estatutos (SBPC, Art. 3, 1948, p. 01-03).
Com as finalidades postas no jogo pela ciência nacional, a
SBPC representou um pacto entre os próprios cientistas para
estabelecer uma maior comunicação das diversas áreas do campo
científico e pela melhoria das condições de trabalho, pesquisa,
reconhecimento e apoio da sociedade, a qual buscava, em certa
medida, interlocuções. Para Fernandes (2000), esse associativismo
científico foi resultado de justificativas de cientistas para alcançar
46
melhores posições sociais e, de certo modo, uma nova inscrição no
extrato social brasileiro. Nesse sentido, é possível ler a construção da
SBPC por meio da sociologia bourdieusiana de campo científico.
Por razões práticas, é compreendê-la como um microcosmo
relativamente autônomo do macrocosmo. É captá-la como um lugar
de “relações de forças que implicam tendências imanentes e
probabilidades objetivas” (BOURDIEU, 2004b, p. 27).
A fundação da SBPC capitalizada pelo Paulo Sawaya, Jo
Reis e Maurício Rocha e Silva expressou o grau de capital científico
que esses cientistas possuíam na época. Ou seja, “uma espécie de
capital simbólico (o qual se sabe que é fundado sobre atos de
conhecimento e reconhecimento) que consiste no reconhecimento
(ou no crédito) atribuído pelo conjunto de pares-concorrentes no
interior do campo científico” (BOURDIEU, 2004b, p. 26). O
capital social dos três notórios cientistas foi decisivo para agregar os
profissionais da Medicina e Biologia. Não por acaso, a maioria dos
sócios fundadores eram biologistas e médicos.
Entre as áreas da Biologia, os cientistas eram das mais
variadas especialidades, dentre elas, a Bioquímica, Genética,
Zoologia, Citologia, Fisiologia Animal e Botânica. Boa parte dos
cientistas que assinaram a ata de criação da SBPC estavam ligadas ao
desenvolvimento de pesquisas biológicas, bioquímicas e biomédicas
da capital paulista. Na primeira assembleia geral, realizada em 8 de
novembro de 1948, na Biblioteca Municipal de São Paulo, a
Sociedade contou com 265 membros fundadores. Foram 77
biologistas (29%); 61 médicos (23%); 16 agrônomos (6%); 16
professores (6%); 14 químicos (5%); e outros profissionais. A tabela
47
1 traz a distribuição dos sócios fundadores nos respetivos campos
científicos.
Tabela 1 - Número de sócios fundadores da SBPC
Áreas da ciência
%
Administração
02
Agronomia
06
Biologia
29
Direito
04
Educação
06
Farmácia
02
Física
02
Geologia
01
Medicina Veterinária
01
Medicina
23
Mineralogia
01
Não identificado
17
Química
05
Sociologia
01
Total
100
Fonte: Elaborado a partir da lista de sócios fundadores na
Ciência e Cultura (1949).
O setor de Biologia foi responsável pelo controle da
associação ao longo de quase toda a sua existência na segunda metade
do século XX (FERNANDES, 2000). O capital científico da SBPC
possuía um crédito direto de biologistas e médicos ligados institucio-
nalmente aos departamentos públicos e privados de pesquisas de São
Paulo. Isso desdobrou-se na distribuição de capital associado à
Medicina e Biologia. Pode-se concluir que os agentes ligados ao
48
processo de institucionalização da Sociedade, dentre eles, Paulo
Sawaya, José Reis e Maurício Rocha e Silva possuíam créditos de
capitais científicos, tanto o institucional quanto o puro.
O capital institucional é definido como aquele “ligado à
ocupação de posições importantes nas instituições científicas,
direção de laboratórios ou departamentos [...] é o poder de
produção”, adquirido, principalmente, por estratégias políticas.
Enquanto, o puro, adquire-se principalmente “pelas contribuições
reconhecidas ao progresso da ciência, as invenções ou descobertas (as
publicações nos órgãos mais seletivos e prestigiosos, portanto aptos
a conferir prestígio” (BOURDIEU, 2004b, p. 35-36). A
estruturação do campo da SBPC deu-se pela própria dimensão do
capital científico de seus fundadores e administradores nas áreas
médicas, bioquímicas e biológicas. Assim, como reconhecia Paulo
Sawaya: “fundada por biólogos, a Sociedade encontrou maior
receptividade entre êles. Mas foi aos poucos conquistando os outros
setores” (SAWAYA, 1958a, p. 53).
Outra característica singular da Sociedade é que sua criação
contou com sócios fundadores leigos, os não-cientistas. Tratava-se,
pois, de membros com atividades profissionais da agricultura,
comércio e estudantes de graduação. É inegável que essa
peculiaridade a tornava única na época e foi um dos principais
pontos de distinção da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Se,
por um lado, para participar dessa era necessário ser “sócio
benemérito (cientistas brasileiros com notadas contribuições à
sociedade) e honorário (pesquisadores internacionais de notável
merecimento) em número indeterminado” (CARVALHO;
49
MOREIRA, 2017, p. 14); por outro, na SBPC era admito qualquer
pessoa que tivesse interesse pelo desenvolvimento da ciência
nacional. Sobre isso, Maurício Rocha e Silva, em editorial da Ciência
e Cultura, publicado em junho de 1957, disse: “as Sociedades para o
Progresso da Ciência constituem o fôro onde o público e os cientistas
se encontram para aplainar dificuldades. Distinguem-se das
Academias, onde só os sábios têm acesso” (SILVA, 1957, p. 55).
No jogo simbólico pela representação de associação
nacional, a SBPC contou, em certo sentido, com as publicações de
jornais nas capitais brasileiras, principalmente, àqueles do eixo Rio
de Janeiro e São Paulo. No artigo na crônica científica no jornal
carioca A Manhã, publicado em julho de 1948, Oswaldo Frota-
Pessoa, definiu a SBPC como um sucesso pronto da comunidade
científica brasileira. O biologista afirmava que o segredo do êxito
estava na difusão de valores da ciência para o grande público. Em
segundo plano, na capacidade de intervenção na “chamada política
científica, combatendo tudo que pode prejudicar o trabalho de
pesquisa e incentivando tudo que concorre para melhorar as
condições em que se desenvolve” (FROTA-PESSOA, 1949, p. 02).
As razões de um êxito também são reafirmadas pelo
Maurício Rocha e Silva no editorial “Dez anos pelo progresso da
ciência”, publicado na Ciência e Cultura, em 1958. Para ele, “sem
nenhum apoio oficial, nos primeiros anos, a SBPC cresceu
impulsionada apenas pelo interêsse latente dos nossos cientistas de
organizarem os seus meios de comunicação e expressão” (SILVA,
1958, p. 200). De fato, houve um crescimento orgânico, no período
50
de 1948 a 1965, com um aumento de 1447% no número de sócios
(figura 1).
Figura 1 - Evolução no número de sócios da SBPC (1948-1965)
Fonte: Silva, 1978.
Conforme Maurício Rocha Silva, esse aumento orgânico de
sócios decorria do fato que “um movimento de ‘auto-organização’
dos nossos cientistas” (SILVA, 1958, p. 200). Esse aumento de
sócios, para a diretoria, dava-se por “pessoas dos mais diversos
interêsses, mas que acreditam na importância da ciência, residentes
nas grandes cidades, ou em centros menores” (SBPC, 1953, p. 3).
Com o número de associados ficava evidente a instância privilegiada
da SBPC na difusão de padrões da ciência entre os cientistas e o
público, constituindo-se, portanto, um local de representação com
sentido nacional para seus administradores e associados.
51
Os dirigentes da SBPC (presidência, vice-presidência,
secretarias e tesouraria) tiveram papel fundamental na construção da
Sociedade. De todos os nomes, em qualquer função na diretoria, em
meados do final dos anos 40 a 60 do século XX, Maurício Rocha e
Silva e Paulo Sawaya foram alguns dos cientistas dominantes nesse
comando. Mesmo com as trocas de cargos e eleições para a diretoria,
a SBPC foi comandada por um grupo científico formado de
biologistas que “solicitavam favores especiais ao governo de forma
mais individualista” (FERNANDES, 2000, p. 94).
No período de 1948 a 1965, a SBPC foi dirigida,
exclusivamente, por homens gabaritados dentro de suas
especialidades de ensino e pesquisa e, principalmente, das Ciências
Médicas e da Natureza (quadro 1). Nesse caso, a maior exceção foi
a presidência do educador Anísio Teixeira entre os anos de 1955 a
1959.
Quadro 1 - Diretoria da SBPC (1949-1965)
Períodos Presidência
Vice-
presidência
Secretária-
geral
Secretária Tesouraria
1948-
1951
Jorge
Americano
Maurício
Rocha e Silva
José Reis
Gastão
Rosenfeld
Paulo
Sawaya
1951-
1953
Francisco
Maffei
Maurício
Rocha e Silva
Adolpho
Penha
José Leal Prado
Paulo
Sawaya
1953-
1955
Heinrich
Rheinboldt
Maurício
Rocha e Silva
Paulo
Sawaya
Alberto
Carvalho da
Silva
Adolpho
Penha
1955-
1959
Anísio
Teixeira
Maurício
Rocha e Silva
Paulo
Sawaya
Erasmo Garcia
Mendes
Adolpho
Penha
1959-
1961
José Baeta
Vianna
José Leite
Lopes
Erasmo
Garcia
Mendes
Luiz Fernando
Gouvêa
Laboriau
Adolpho
Penha
52
Fonte: Elaboração própria, a partir dos cadernos de programação das reuniões
anuais (1949-1965).
Na década de 1950 percebe-se um associativismo científico
na defesa dos interesses da comunidade científica nacional que
abrangia aspectos da profissionalização e institucionalização dos
cientistas e da ciência. Isso também pode ser compreendido pela
emergência na defesa do financiamento e amparo estatal para o
progresso científico e tecnológico. A esse respeito, no próximo
tópico, busca-se uma compreensão sobre os primeiros movimentos
e batalhas da SBPC para ganhar extensão, profundidade e
legitimidade no campo social.
1.2 As disputas da SBPC pela ciência e tecnologia
A diretoria da SBPC buscou situar o projeto de uma ciência
nacional como pilar para o progresso industrial e econômico do país,
pontuando, antes de tudo, o seu valor social. Compartilhava a noção
que toda e qualquer atividade científica é uma atividade cultural. A
visão soberana de progresso científico desencadeou a principal defesa
dos cientistas. Para Fernandes (2000, p. 82), isso caracterizou-se
como “a mais forte corrente do pensamento dentro da comunidade
científica”.
1961-
1963
José Baeta
Vianna
Haity
Moussatché
Gastão
Rosenfeld
Olga Baeta
Henriques
Wolfgang
Bücherl
1963-
1965
Maurício
Rocha e Silva
José Ribeiro
do Valle
Wolfgang
Bücherl
Alberto
Carvalho da
Silva
José Lopes
de Faria
53
No plano internacional, a SBPC filiou-se com outras
sociedades científicas na Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Haitey Moussatché,
secretário regional no Rio de Janeiro, conforme matéria publicada
no Jornal do Commercio, em julho de 1958, afirmou que a Sociedade
já havia conquistado o reconhecimento internacional. Entretanto,
no solo brasileiro, por vezes, era desprestigiada e a legitimidade de
setores do Estado permanecia distante. De acordo com o autor,
A SBPC ainda não alcançou em nosso país o grande prestígio
de que necessita para levar avante a sua tarefa de bem servir a
nação, no estrangeiro ela é vista com respeito o que se traduz
pelo comparecimento de cientistas europeus, norte-americanos
e latino-americanos às suas reuniões. A SBPC, cremos todos os
pesquisadores, pelo que já fez nêstes dez anos, está credenciada
e fadada a torna-se uma instituição centralizado das tarefas
científicas e veículo de esclarecimento da população, que a
procurará nos momentos de indecisões ante o avanço da
Ciência, ponto de expectativa geral (A SPBC..., 1950, p. 19).
Fortemente, a SBPC atuava na defesa da comunidade
científica e a legitimação e institucionalização da ciência no Brasil.
Nas páginas da Ciência e Cultura têm-se diversos posicionamentos
sobre os desafios políticos, econômicos, educacionais e institucionais
que a ciência brasileira foi submetida nas décadas de 1950/60.
Conforme a diretoria:
A função da SBPC é, evidentemente, a de amparar,
moralmente, senão materialmente, o grupo ameaçado de
54
destruição pelos detentores de fôrça conferida muitas vêzes pelo
beneplácito de govêrnos mal informados ou instituições
particulares de recursos amplos. A ciência no Brasil, em
especial, e na América Latina, em geral, ensaia ainda seus
primeiros passos e pode ser facilmente esmagada pela bota
pesada de detentores de poderes ilimitados (CIÊNCIA E
CULTURA, v. 1, n. 3, 1949, p. 74).
A maior mobilização do campo científico era romper com o
desprestígio e subfinanciamento da ciência no país. A SBPC
defendia a criação de conselhos e órgãos estatais no financiamento e
amparo da ciência como, por exemplo, o Conselho Nacional de
Pesquisas (CNPq). O órgão foi criado pela Lei Federal n. 1.310, de
15 de janeiro de 1951. Conforme, a lei sua função era “promover e
estimular o desenvolvimento da investigação científica e tecnológica
em qualquer domínio do conhecimento” (BRASIL, 1951a).
A criação do CNPq foi vista pela SBPC, conforme o
secretário-geral, Paulo Sawaya como “uma táboa de salvação para o
progresso da Ciência entre nós” (SAWAYA, 1956a, p. 01). Isso
possibilitaria o “aproveitamento das verdadeiras vocações para os
estudos sérios no setor das ciências” (SAWAYA, 1956a, p. 01). Para
a diretoria da SBPC, esse órgão representava, nas vias de fato, uma
direção para as demais unidades federativas criarem suas próprias
fundações de amparo às pesquisas como, por exemplo, a Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), criada
somente em 1960.
O debate nacional sobre o financiamento da ciência foi a
principal disputa da SBPC e alguns setores do governo e,
55
principalmente, do ideário nacional-desenvolvimentista de Juscelino
Kubitschek (1956-1961). O que estava em jogo eram os dois
projetos de ciência e tecnologia nacional: de um lado, os interesses
do campo científico para organizar, definir e pautar uma política e
amparo à pesquisa na ciência pura, atrelado à aplicada; do outro
lado, setores do governo destacando o domínio do setor tecnológico
e desvalorização das pesquisas básicas. Isso pautava a posição
antagônica: ciência pura X ciência aplicada.
No editorial “Por que Ciência Pura no Brasil?” na Ciência e
Cultura, em 1959, o físico José Golbermberg marcou o tom da
SBPC sobre a necessidade de investimentos públicos na ciência pura
em três razões: 1) utilidade industrial; 2) trabalho constante de
cientistas; e 3) importância educacional (GOLDEMBERG, 1959).
Isso estava compartilhado nas noções de autonomia e financiamento
das pesquisas para o desenvolvimento industrial da nação e a
formação de novos cientistas nas universidades. Conforme Maurício
Rocha e Silva (1960, p. 135), o Brasil não poderia ter o luxo de
desprezar a ciência pura “como na realidade o fazem seus
governantes, na sua maioria, justamente porque é pobre, porque não
está na linha de frente, ainda não se libertou do colonialismo
intelectual aceito molemente pelos seus dirigentes”.
A grande preocupação que pairava na atmosfera da SBPC,
conforme Paulo Sawaya, era de “saber da existência de altos
dirigentes do país, que ainda acreditam em nada ter que ver a
tecnologia com a ciência fundamental” (SAWAYA, 1959, p. 02). O
campo científico posicionava-se contra o enaltecimento da
56
tecnologia em detrimento das pesquisas científicas básicas. As
palavras de ordem eram claras, segundo o secretário-geral:
Não há e nunca haverá oposição entre a ciência e tecnologia.
Esta depende essencialmente daquela. Não poderá haver
progresso tecnológico sem o concomitante progresso da ciência,
que é a base e o seu fundamento. Tender, pois, a dar grande
desenvolvimento aos institutos de tecnologia em detrimento
dos institutos de “ciência pura” será verdadeiramente um
suicídio. Não será justamente essa diretriz até agora seguida
entre nós e a maior responsável pelo nosso atraso científico? [...]
Não queremos com isto dizer que sejamos contra os institutos
de tecnologia. Serão êles muito úteis, mas somente se formarem
ao lodo dos institutos de ciência. O que nos preocupa é o
exagero de ser dar importância dos primeiros em detrimentos
dos últimos. O que nos angustia é a redução dos recursos dêstes
e o seu sombrio futuro (SAWAYA, 1959, p. 02).
Reconhecendo a valorização das ciências aplicadas no
desenvolvimento do capitalismo industrial brasileiro, o governo
Kubitschek não poupou esforços na retórica de investimentos em
tecnologia. Na mensagem presidencial apresentada ao Congresso
Nacional em 1956, a função do CNPq estava clara: “cuidar da
formação de técnicos e especialistas e incentivar investigações
científicas, nos setores das pesquisas matemáticas, físicas, químicas,
geológicas, biológicas, agronômicas, tecnológicas e outros”
(BRASIL, 1956, p. 350). Para os cientistas, essa diferença não fazia
sentido, pois sem a ciência básica não se faz a aplicada. Assim,
durante os anos 1950 dominava na SBPC uma “visão de ciência
57
desinteressada, não necessariamente aplicável” (FONSECA, 2012,
p. 75).
O tom da discussão se elevou com a criação da Comissão
Supervisora do Plano dos Institutos (COSUPI) do governo
Kubitschek pela Portaria n. 28, de fevereiro de 1958 do MEC,
expedida pelo ministro Clóvis Salgado, e regulamentada pelo
Decreto-Lei. n. 49.355, de 28 de novembro de 1960. O conflito da
SBPC X COSUPI, pode-se dizer também, de ciência pura X ciência
aplicada à tecnologia, dominou os debates nas reuniões anuais, as
publicações na Ciência e Cultura e, até mesmo, as páginas de
jornais
6
.
No Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, de 13 de junho de
1959, foi publicada a palavra de ordem da diretoria e membros da
SBPC contra o presidente da COSUPI, Ernesto Oliveira Júnior: “é
anticiência” (CIENTISTAS...1959a, p. 09). A matéria deixava
evidente que a comunidade científica nacional estava na campanha
contrária ao mais novo Conselho de fomento e amparo à ciência. A
reportagem afirmou que,
6
Na XII reunião anual (Piracicaba/SP, 1960) foi aprovada uma moção para o presidente
da COSUPI. No documento, também dirigido ao presidente Kubitschek, a SBPC fez
críticas e sugestões sobre o programa da COSUPI e o desenvolvimento científico-
tecnológico nacional (SBPC, 1960). Em 1961, foi elaborado o “Manifesto dos Cientistas
sobre a Comissão Supervisora do Plano dos Institutos (COSUPI)”, publicado no Jornal do
Brasil, no dia 18 de novembro de 1960, destacando a posição do campo científico, por
meio da SBPC, contra a política do órgão. Seus signatários foram: Walter Oswaldo Cruz,
Carlos Chagas, Paulo de Góis, Amadeu Cury, Lauro Sollero, Antônio Couceiro, Chana
Malagolowkin, Hermam Lent, Gilberto Vilela, Luiz Gouvêia Labouriau, H. Mousatché,
César Lattes, Jacques Dannon, Leite Lopes, Gabriel Fialho, Jaime Tiomno e Maurício
Rocha e Silva. O manifesto foi publicado na Ciência e Cultura, v. 13, n. 1, p. 6-13, 1961.
58
O Professor Anísio Teixeira, Presidente da SBPC, abriu a sessão
declarando que todos estavam reunidos para debater o
problema da política de fomente à educação técnica e científica
no Brasil e fixar as relações entre a pesquisa científica e
tecnológica e o desenvolvimento econômico do Brasil, servindo
a oportunidade para apreciação das medidas tomadas pela
Comissão Supervisora do Plano dos Institutos para criar
Institutos Tecnológicos pelo País. No entanto, o motivo real da
reunião foi o pronunciamento do Professor Oliveira Júnior, em
conferência no Instituto de Ciências Sociais da Universidade
do Brasil há alguns dias atrás. Nessa ocasião, o Presidente da
COSUPI negou a importância da ciência na revolução
tecnológica e industrial no País e o seu papel preponderante na
civilização moderna, criticando a investigação científica no
Brasil e no resto do mundo, a atividade que classificou de
insignificante e que servia apenas para a fonte de saber dos que
a ela se dedicam (CIENTISTAS..., 1959, p. 09).
Naquele dia 12 de junho de 1959, a SBPC realizou uma
reunião na Faculdade Nacional de Filosofia com a participação de
diversos cientistas, tais como, César Lattes, Darci Ribeiro e Walter
Osvaldo Cruz. No encontro que foi até duas horas da madrugada, o
presidente da COSUPI rebateu as críticas da comunidade científica.
Além disso, defendeu os objetivos do Conselho na “formação
tecnológica mais diversificada e melhor articulada com as atividades
produtivas da região”, segundo mensagem do governo Kubitschek
apresentada ao Congresso Nacional (BRASIL, 1960, p. 166).
Os embates da SBPC X COSUPI marcam alguns
tensionamentos sobre os sentidos e significados do progresso da
59
ciência e tecnologia do Brasil. Para Maurício Rocha e Silva, no
discurso da sessão inaugural da XII reunião anual (Piracicaba/SP,
1960), o Ernesto Oliveira Júnior era um cientista desqualificado e
sem capital científico puro e/ou institucional, porém vangloriado
pelo governo Kubitschek que entregou a “um único homem, sem as
necessárias credenciais, um plano de gastar quase três bilhões (dez
vêzes a dotação anual do CNPq) ao seu bel prazer!” (SILVA, 1961,
p. 3). Para o vice-presidente da SBPC, José Leite Lopes
7
, o programa
da Comissão era, sem dúvidas, o desfechar de um incentivo para
uma tecnologia de segunda classe e contra a soberania nacional
(LOPES, 1961).
Compreender as disputas da SBPC X COSUPI, ainda que
preliminarmente, é perceber, de fato, um dos maiores embates dos
cientistas nos anos 1950. Todos os debates sobre a ciência e
tecnologia do governo Kubitschek motivaram a cumplicidade
objetiva do campo científico para o progresso da nação e,
principalmente, quando a pauta mobilizava diretrizes orçamentárias,
ou seja, o valor do capital econômico creditado à ciência e seus
profissionais. Através de uma leitura de campo de Bourdieu tinha-
se, assim, a SBPC buscava o a a presença e o reconhecimento dos
cientistas no macrocosmo e, para esse fim, “é preciso fazer valer
razões, para aí triunfar, é preciso fazer triunfos, argumentos,
demonstrações e refutações” (BOURDIEU, 2004b, p. 32).
7
Físico brasileiro, renomado internacionalmente, especializado em teoria quântica de
campos e físicas de partículas. Foi um dos principais articuladores da criação do Centro
Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), com César Lattes, e da fundação da Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN), CNPq. Faleceu em 2006 no Rio de Janeiro. Texto
adaptado da galeria de presidentes de honra disponível no site da SBPC.
60
Havia diferentes formas de compreender e pôr em prática o
amparo à ciência e ao desenvolvimento tecnológico que continuou
em disputa no decorrer dos anos 1960. Com a crise política da
renúncia da presidência por Jânio Quadros (1961), e, em seguida, a
instabilidade do governo de João Goulart (1961-1964), a direção da
SBPC foi entendendo a precisão de formular e aplicar uma política
de Estado para o desenvolvimento científico. Isso foi sugerido no
memorial aprovado na assembleia-geral durante a XIII reunião anual
(Poços de Caldas/MG, 1961). Esse documento apresenta seis
pontos: 1) coordenação entre os órgãos governamentais de fomento
à pesquisa; 2) fixação de valores anuais no orçamento federal para as
pesquisas científicas; 3) ênfase no moderno ensino das ciências nas
universidades; 4) critérios na distribuição de verbas; 5)
estabelecimento de um regime de dedicação exclusiva; e 6) melhores
condições de remuneração aos docentes das universidades (SBPC,
1961).
A questão mais relevante da SBPC era o valor financeiro dos
investimentos em ciência como política de Estado, embora ainda
houvesse os “políticos esclarecidos que não sintam a necessidade de
lutar por um global desenvolvimento científico do País” (SBPC,
1961, p. 129). Com a preocupação de um colapso na produção
nacional, sobretudo, pelos baixos orçamentos do CNPq e CAPES e,
ao mesmo, ataque aos cientistas e desprestígio político, o campo
científico defendia a criação de um Ministério da Ciência e
Tecnologia. Segundo José Leite Lopes, com isso, o país estaria na
vanguarda na América Latina, pois seria “o primeiro a ter o seu
trabalho científico-tecnológico dirigido por um ministério”
61
(LOPES, 1963, p. 151). Porém, as demandas de uma pasta
ministerial dedicada à ciência foram obliteradas pela Ditadura
Militar e a consolidação de um ministério foi possível apenas na
redemocratização do país nos anos 1980.
No período de 1949 a 1964, a SBPC tentou pautar o campo
científico nacional sem decoro político e na lógica das dificuldades
de recursos humanos, financeiros e logísticos. Porém, com as rápidas
mudanças nas forças políticas que comandavam a nação e o poder
do Estado, a Sociedade foi derrotada, compreendendo que a luta
pela ciência é uma batalha política e, principalmente, após maiores
participações das Ciências Humanas e Sociais nos anos 1960. Os
microcosmos da SBPC também apontam diversos caminhos para
compreender os sentidos e relações atribuídas de diversos campos
científicos nos debates pela ciência e tecnologia nacional. É nesse
sentido que se entende a decomposição das reuniões anuais.
1.3 As reuniões anuais e as seções de Biologia e
Ensino das Ciências
As finalidades das reuniões anuais da SBPC eram evidentes
para a diretoria: “a integração de tôdas as atividades científicas
humanas em conjunto homogêneo, de maneira a facilitar as trocas
de vistas, discussões e sugestões entre cientistas, habitualmente,
afastados no espaço e, também, pela natureza de suas
especializações” (SBPC, 1953, p. 03). A convicção era de que as
reuniões expressariam o sentido de agregar cientistas pelo progresso
62
do país para a circulação do conhecimento científico na resolução
dos problemas nacionais.
A diretoria SBPC estabeleceu que as reuniões anuais seriam
realizadas fora do circuito científico do Rio de Janeiro e São Paulo
com o objetivo de desenvolver a ciência em outras regiões. Os
eventos deveriam ocorrer nas cidades de pequeno e médio porte, mas
que pulsavam pelo desenvolvimento científico nas universidades,
faculdades e institutos de pesquisas. Desse modo, conforme o
secretário-geral, Gastão Rosenfeld, torná-los verdadeiros “conclaves
em centros universitários afastados, ou pouco conhecidos, e assim
torná-los familiares aos cientistas brasileiros em geral”
(ROSENFELD, 1956, p. 139). O que se nota nas primeiras 17
reuniões anuais da SBPC é uma tentativa de expandir a produção da
ciência nacional para outras regiões do país. No período de 1949 a
1965, os congressos foram realizados nos seguintes locais:
I - Campinas, SP, de 11 a 15 de outubro de 1949, no
Instituto Agronômico;
II - Curitiba, PR, de 05 a 12 de novembro de 1950, na
Escola Superior de Agricultura e Veterinária e Colégio Estadual
do Paraná;
III - Belo Horizonte, MG, de 05 a 10 de novembro de 1951,
no Instituto de Tecnologia Industrial;
IV - Porto Alegre, RS, de 02 a 08 de novembro de 1952, na
Universidade do Rio Grande do Sul;
V - Curitiba, PR, de 11 a 18 de novembro de 1953, no
Colégio Estadual do Paraná;
63
VI - Ribeirão Preto, SP, de 08 a 13 de novembro de 1954,
na Faculdade de Medicina;
VII - Recife, PE, de 04 a 09 de julho de 1955, na
Universidade do Recife;
VIII - Ouro Preto, MG, de 02 a 07 de julho de 1956, na
Escola de Minas e Metalurgia, e Escola de Farmácia;
IX - Rio de Janeiro, RJ, de 08 a 13 de julho de 1957, no
Museu Nacional;
X - São Paulo, de 06 a 12 de julho de 1958, na FFCL da
USP;
XI - Salvador, BA, de 12 a 18 de julho de 1959, na
Universidade da Bahia;
XII - Piracicaba, SP, de 03 a 10 de julho de 1960, na Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz;
XIII - Poço de Caldas, MG, de 09 a 15 de julho de 1961, no
Teatro Municipal e Ginásio Virgínia da Gama Salgado;
XIV - Curitiba, PR, de 08 a 14 de julho de 1962, na
Universidade do Paraná;
XV - Campinas, SP, de 07 a 13 de julho de 1963, no
Instituto Agronômico;
XVI - Ribeirão Preto, SP, de 05 a 11 de julho de 1964, na
Faculdade de Medicina;
XVII - Belo Horizonte, MG, de 04 a 10 de julho de 1965,
na Universidade de Minas Gerais.
Conforme o vice-presidente, Maurício Rocha e Silva, a
principal meta das reuniões anuais era fazer com que os “cientistas
desçam das suas torres de marfim e apresentem os seus trabalhos de
64
maneira inteligível para o maior número possível de pessoas”
(SILVA, 1957, p. 54). A lógica da SBPC era de agregar os cientistas
e produzir uma “fôrça suprema de integração, de maneira a
estabelecer contato entre os diferentes ramos da ciência” (SILVA,
1957, p. 57). Nesse sentido, as práticas e representações das reuniões
anuais, ainda no século passado, influenciaram de maneira marcante
e, por vezes, decisivas nos modos de apreender o campo científico
brasileiro. A diretoria fixava as reuniões anuais como um
instrumento na construção da ciência nacional:
Essa é a grande equação das Reuniões Anuais das Associações
ou Sociedades para o Progresso da Ciência: as diferentes
especialidades se interpenetram e a fôrça, o raciocínio e o
método de cada ciência vão contribuir para fertilizar ou vivificar
especialidades afins ou distantes. A Ciência total aparece assim
como um organismo vivo do qual tôdas as ciências
especializadas constituem sistemas, órgãos ou tecidos
diferenciados, servindo mesmo sangue impulsionado por um
coração comum. A SBPC, deste Campinas, vem demonstrando
que êsse argumento cresce como um ser vivo, mergulhando
cada vez mais ou seus tentáculos no meio ambiente,
especialmente nos locais em que se realizam as Reuniões
Anuais. (CIÊNCIA E CULTURA, v. 4, n. 3-4, p. 68, 1952).
Outro aspecto recorrente da SBPC para depositar capital
científico acerca do aumento do número de participantes e
comunicações nos eventos. Se, em 1949, houve apenas 104 cientistas
presentes, em 1965, o número de participantes ultrapassava a marca
de 900 pessoas (FERNANDES, 2000). De qualquer modo, esses
65
valores foram um instrumento valioso para as lutas simbólicas da
SBPC para definir uma representação de si própria e da ciência
nacional. Além disso, permitem articular maneiras de perceber o
campo científico, de organizá-lo, classificá-lo e categorizá-lo como
recurso para compreensão de representações sobre alguns
microcosmos, tais como, a Biologia e Ensino das Ciências.
1.3.1 A hegemonia da Biologia na SBPC
Na leitura ampla de campo científico na SBPC destaca-se o
microcosmo da Biologia como importante instrumento para
cooptação de sócios e a legitimidade de representação da ciência
nacional. Através dos cadernos de programação das reuniões anuais,
no período de 1949 a 1965, é possível identificar as correlações de
forças nas diversas ciências (tabela 2). Das 447 seções apresentadas
nas comunicações, 208 (47%) foram de pesquisas biológicas; 103
(23%) de químicas, físicas, matemáticas, geológicas, etc.; e 52 (12%)
no campo das Ciências Médicas. Somente 52 seções (12%) foram
dedicadas às Ciências Humanas com pesquisas em Educação,
Geografia, História, Antropologia, Sociologia e Psicologia.
66
Tabela 2 - Distribuição das seções nas reuniões anuais da SBPC (1949-1965)
Áreas do conhecimento
Quantidade
%
Ciências Biológicas
208
46
Ciências Exatas e da Terra
103
23
Ciências Saúde
52
12
Ciências Humanas
52
12
Ciências Agrárias
12
03
Ciências Sociais Aplicadas
10
02
Engenharias
10
02
Total
447
100
Fonte: Elaborado a partir dos cadernos de programação das reuniões anuais da
SBPC (1949-1965).
As pesquisas em Biologia estavam concentradas nas áreas de
Genética, Botânica, Zoologia, Ecologia, Morfologia, Fisiologia,
Biofísica, Bioquímica, Farmacologia, Imunologia, Microbiologia e
Parasitologia. Desse ponto de vista, é possível afirmar o domínio dos
biologistas nos debates da SBPC por conta do número de simpósios
e apresentações de trabalhos. A hegemonia das pesquisas biológicas,
matemáticas, geológicas, químicas e físicas eram colocadas como
estratégicas para os setores da produção industrial do país com o
objetivo de alavancar o ideário desenvolvimentista em curso nos
anos 50 do século XX.
As agências de fomento e, principalmente o CNPq
direcionou uma aplicação maciça de recursos financeiros, pois estava
comprometido que o progresso do país e, até mesmo, da ciência e
tecnologia seria com o desenvolvimento das Ciências Exatas, da
Terra e Biológicas. Essas áreas foram colocadas como prioritárias
pelo governo Kubitschek:
67
O Conselho Nacional de Pesquisas dedicou atenção especial ao
aprimoramento dos processos de cultivo do trigo, do cacau, da
cana-de-açúcar e à melhoria das pastagens, tendo em vista
elevar o nível de produtividade de nossa agricultura. Programas
particulares de pesquisa tecnológica foram elaborados e estão
sendo postos em execução, tais como os relativos às os
fertilizantes potássicos para as organizações salineiras; à
tecnologia de couro para a respectiva indústria; à biologia
marinha com vistas à racionalização da pesca: a de química
básica, para formar os especialistas aclamados pelo advento da
petroquímica no Brasil: e, ainda, ao aproveitamento da energia
solar, na metalurgia (BRASIL, 1959, p. 235).
A produção da ciência brasileira estava vinculada às
necessidades tecnológicas do sistema produtivo de industrialização e
modernização da produção agropecuária. O CNPq foi rapidamente
integrado no “quadro geral de atuação econômica estatal, de acordo
com uma política pública predominantemente industrializante”
(FONSECA, 2013, p. 253). Para o governo Kubitschek, as
perspectivas desse órgão estavam claras: “a realização de projetos
relacionados com a assistência técnica-científica à utilização das
riquezas do País e ao fomento das atividades produtoras” (BRASIL,
1957, p. 424). Havia um projeto governamental de valorização das
Ciências da Natureza, da Terra e Engenharias para o desenvol-
vimento econômico do país. Nesse sentido, no período de 1951 a
1956, Forjaz (1989) afirma que grande parte dos auxílios e bolsas
concedidos pelo CNPq foram para os cientistas da Biologia e Física,
destacando uma média em torno de 70% e 40% do orçamento
anual, respectivamente.
68
Em mensagem ao Congresso Nacional, o governo
Kubitschek ainda acrescentou que no ano de 1956 foram
distribuídas mais de 490 bolsas de pesquisas no país pelo CNPq:
Matemática (48), Física (44), Química (86), Geologia (36), Biologia
(133), Agronomia (52), Tecnológicas (4); e no exterior: Biologia
(24), Matemática (5), Física (19), Química (13), Geologia (1),
Agronomia (10) e Tecnológicas (20) (BRASIL, 1957). Torna-se
visível que a Biologia foi uma das áreas com o maior depósito de
capital econômico do Estado, por conseguinte, revestido em capital
simbólico. Para Fonseca (2013, p. 266), havia no órgão a existência
de uma política de prioridade na concessão de bolsas, privilegiando
as ciências médicas e biológicas”.
Não por acaso, nos anos 1950, a Biologia “era o mais
estabelecido e desenvolvido setor no Brasil” (FERNANDES, 2000,
p. 91). Todo esse capital simbólico também encontrava afirmação
direta na mensagem presidencial do governo Kubitschek. Afirmava-
se que a Biologia era o “único setor em que dispomos de instituições
de pesquisa e pesquisadores de alta qualificação, embora em número
insuficiente” (BRASIL, 1958, p. 258). A concentração de recursos
financeiros na área pode ser compreendida pelo desenvolvimento
biológico de fármacos, melhoramento genético vegetal e Ento-
mologia Econômica para os setores médicos e agropecuários.
Entretanto, esse capital econômico também foi alvo de críticas da
SBPC. Havia ressalvas que isso poderia projetar a formação de
cientistas de segunda classe em outros campos científicos, ou seja, de
salários menores com desencorajamento para as pesquisas e
69
depressão moral pelo Govêrno Federal”, conforme Paulo Sawaya
(1957, p. 188).
Havia também nos simpósios uma maior correlação de
forças entre as áreas do campo científico. Foram mobilizados pela
SBPC, no período de 1949 a 1965, mais de 130 reuniões sobre as
mais diversas áreas e temas relacionados com a produção da ciência
e tecnologia nacional, tais como, energia atômica, medicina tropical,
petroquímica, ensino das ciências, taxonomia brasileira, recursos
minerais, melhoramento genético de plantas e etc. Dentre eles, 45
(32%) nas áreas da Biologia; 32 (23%) em Física, Química,
Matemática, Geologia e Mineralogia; 29 (21%) de Medicina e
Epidemiologia; e 29 (21%) nas Ciências Humanas, incluindo
destaque à Educação e Psicologia (tabela 3).
Tabela 3 - Distribuição dos simpósios nas reuniões anuais da SBPC (1949-1965)
Áreas do conhecimento
Quantidade
%
Ciências Biológicas
45
32
Ciências Exatas e da Terra
32
23
Ciências Saúde
29
21
Ciências Humanas
29
21
Ciências Agrárias
03
02
Engenharias
01
01
Total
139
100
Fonte: Elaborado a partir dos cadernos de programação das reuniões anuais da
SBPC (1949-1965).
Cada simpósio foi desenhado para discutir as especialidades
dos campos científicos. Sendo, portanto, usados também como
70
estratégia na consolidação de uma associação heterogênea. Sobre
isso, a diretoria da SBPC dizia que:
O sistema de organização dos simpósios deu resultado que
excederam às expectativas, e com êles não são poucos os temas
atualizados, de modo a ser ter uma idéia do estado atual dêsses
assuntos investigados em toda a parte. Assim, abriu a S.B.P.C.
novas oportunidades para os que iniciavam na pesquisa
científica, comunicando os resultados de seus estudos,
participando nas discussões, colaborando no estudo dos temas
gerais como ensino da Ciência, Relações entre Ciência e
Indústria, Amparo à Ciência, etc. (CIÊNCIA E CULTURA, v.
6, n. 1, p. 2, 1954).
Os simpósios de Ensino das Ciências na SBPC
desenvolveram-se das relações estabelecidas entre os biologistas,
químicos, físicos e professores secundaristas para buscar uma
melhoria dos métodos de ensino, saberes escolares e trabalho docente
na escola secundária. Assim, foram importantes espaços para a
constituição do campo de Ensino em Ciências no Brasil nos anos
1950 (NARDI, 2005). Alguns desses fatores são abordados a seguir.
1.3.2 O IBECC/SP e os simpósios de Ensino das Ciências
O IBECC/SP tem lugar de destaque no processo de
concepção do movimento de renovação do ensino das ciências no
país. A instituição foi criada na atmosfera geopolítica de valorização
da ciência, educação e cultura trazida pela fundação da UNESCO,
em novembro de 1945. Como um dos Estados-membros, o Brasil
71
fundou a instituição congênere pelo Decreto-Lei n. 9.355, de 13 de
junho de 1946, promulgado pelo presidente Gaspar Dutra. A
instituição era ligada diretamente ao Ministério das Relações
Exteriores com sede no Palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro.
Segundo Abrantes (2008), para sua primeira diretoria foram
escolhidos: Levi Carneiro (presidente), Henrique de Aragão
(primeiro vice-presidente), Daniel de Carvalho (segundo vice-
presidente), Antonio Carneiro Leão (terceiro vice-presidente),
Roberto Mendes de Rocha (secretário-geral), Renato Almeida
(subsecretário-geral), Álvaro de Barros (secretário), Dante Costa
(segundo secretário) e Celso Kelly (tesoureiro). Na década de 1940,
o IBECC foi organizado por diferentes comissões para atuar em
pesquisas matemáticas, físicas, sociais, jurídicas, folclore, educação
popular e etc.
Em fins dos anos 1940, o IBECC deu os primeiros passos na
institucionalização de comissões estaduais com o objetivo de uma
abrangência nacional como, por exemplo, a secção de São Paulo. O
projeto do IBECC/SP foi encaminhado pelo governo de Adhemar
de Barros, que informou ao órgão, no Rio de Janeiro, em setembro
de 1947, a constituição de uma comissão local (ABRANTES;
AZEVEDO, 2010). Em março de 1950, foi concretizado a criação
de uma seção em São Paulo com solenidade realizada na reitoria da
USP. Conforme Barra e Lorenz (1986), ocorreu a posse da seguinte
diretoria: Raul Briquet (presidente), Noé Azevedo, Geraldo de Paula
e Souza e Paulo Menezes Mendes da Rocha (vice-presidentes),
Jayme Arcoverde de Albuquerque Calvanti (subsecretário geral),
René Amorim (primeiro secretário), Brenno Silveira (segundo
72
secretário), Corrêa Mascaro (terceiro secretário) e Mário Wagner V.
da Cunha (tesoureiro).
Com sede no prédio da Faculdade de Medicina da USP, o
IBECC/SP nasceu com a tarefa de promover uma melhoria no
ensino das ciências como parte da valorização pública da ciência no
progresso nacional. A instituição assumia o compromisso da ciência
como meta educacional. Para a comissão paulista, o “mais
importante é adquirir uma atitude científica para encarar novos
problemas e novas situações, resolvendo-os objetivamente” (IBECC,
1968, p. 03). O objetivo era consolidar um maior status do currículo
científico para torná-lo mais prático, objetivo e moderno. De acordo
com a instituição, isso era uma “ideia arrojada para a época, pois o
ensino de ciências não tinha, então, nenhuma projeção” (IBECC,
1968, p. 02). Com o órgão, o próprio campo do Ensino das Ciências
deu os primeiros passos na sua organização e institucionalização no
Brasil (NARDI, 2005).
Houve um entrelaçamento direto do IBECC/SP e SBPC por
conta das ideias compartilhadas de renovar o ensino das ciências no
país. Essa cedendo espaços nas reuniões anuais e publicações na
Ciência e Cultura com a legitimidade do campo científico brasileiro;
e aquela ditando as principais regras do jogo e do campo de Ensino
das Ciências à época. Foi o IBECC/SP que sugeriu a organização de
uma seção para o ensino das ciências na III reuno anual (Curitiba,
PR/1951). O planejamento desse espaço tinha a finalidade de servir
para as “trocas de pontos de vistas entre professores universitários e
professores do curso secundário” (SBPC, 1951a, p. 324). No
congresso seguinte, houve a concretização do simpósio “Ensino e
73
Instituições Científicas”, realizado na IV reunião anual (Porto Alegre,
RS/1952).
Os simpósios de Ensino das Ciências podem ser entendidos como
parte da cumplicidade objetiva dos cientistas para disputar e debater a
construção de uma renovação do currículo científico. Os artigos
apresentados nas comunicações, palestras, demonstrações de práticas e
objetos escolares comtemplavam o ideário de transfor-mação emergente
das disciplinas escolares. Também se nota, de um lado, o domínio do
IBECC/SP no campo de Ensino das Ciências; por outo lado, a visibilidade
e legitimidade no capital simbólico da SBPC. No período de 1949 a 1965,
foram realizados 8 simpósios nas reuniões anuais (quadro 2).
Quadro 2 - Simpósios sobre o ensino das ciências na SBPC (1949-1965)
Fonte: Elaborado a partir dos cadernos de programação das reuniões anuais da
SBPC (1949-1965).
Reuniões anuais
Simpósios
IV Porto Alegre
(1952)
Ensino e Instituições Científicas
Presidente: Anísio Teixeira
IX Rio de
Janeiro (1957)
Ensino de cncias
Associação Brasileira de Professôres de
Ciências/Presidente: O. Frota-Pessoa.
X São Paulo
(1958)
O ensino das ciências experimentais
IBECC e Associação Brasileira de Professôres de
Ciências/Presidente: T. Cavalcanti.
XI Salvador
(1959)
As ciências nas classes experimentais
IBECC e Associação Brasileira de Professôres de
Ciências/Presidente: C. Siqueira.
XII Piracicaba
(1960)
Ensino de história natural
IBECC e Associação Brasileira de Professôres de
Ciências/Presidente: P. M. Mendes da Rocha
XIV Curitiba
(1962)
O ensino de citologia na escola secundária
IBECC/Presidente: C. Pavan
XV Campinas
(1963)
O ensino experimental da fisiologia animal e vegetal na
escola secundária
Presidente: M. Ferri
XVI Ribeirão
Preto (1964)
Métodos modernos do ensino de ciências no nível
secundário
Presidente: J. Reis
Ensino de ciências no nível superior (1º parte)
Presidente: Roberto Salmeron
O ensino de ciências no nível universitário (2º parte)
Presidente: J. Baeta Vianna
74
Para a diretoria do IBECC/SP (1968, p. 07), as reuniões
anuais da SBPC “têm trazido importantes contribuições, além de
trazer para o meio científico e universitário o problema da inovação
e aperfeiçoamento do ensino de ciências na escola secundária”.
Havia uma presença recorrente de José Reis, Oswaldo Frota-Pessoa
e da Associação Brasileira de Professores de Ciências
8
nos simpósios.
Os eventos tornaram-se mais frequentes após 1957. Esse ano é
considerado marcante na história do ensino das ciências em função
do lançamento do satélite artificial Sputnik-I pela União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 4 de outubro.
A conquista inicial do espaço pelos soviéticos foi um golpe
duro para os EUA, significando-lhe um certo atraso científico na
corrida espacial. Dentre os fatores para isso, a ausência de um ensino
das ciências mais experimental na escola secundária. Determinados
grupos políticos, científicos e educacionais mobilizaram uma série
de recursos financeiros e humanos para mudar a gica do currículo
científico estadunidense. Nesse sentido, a renovação do ensino das
ciências costuma ser vista dentro da polarização da Guerra Fria como
uma arma no desenvolvimento da ciência e tecnologia dos países
(CHASSOT, 2004).
8
Criada no I Congresso Nacional de Ciências, realizado pelo IBECC/SP na USP, em junho
de 1956. Conforme matéria publicada pelo Correio Paulistano, em julho de 1958. Durante
o simpósio de Ensino das Ciências na X reunião anual da SBPC (São Paulo/SP, 1958) foi
escolhida a sua primeira diretoria,: José Reis (presidente); José Duarte Coimbra (vice-
presidente); Herman Walbohz (1º tesoureiro); Walter Warchi (2º tesoureiro); Julia
Ormastroni (representante do IBECC/SP); Geraldo Camargo Carvalho, Alberto de Melo,
Odília P. Gomes, Rachel Geverts (Conselho Fiscal); Newton Dias dos Santos e Guilton
Gonçalves (representantes do Rio de Janeiro); Ernesto Silva e Ricardo Ferreira
(representantes de Pernambuco) (DEBATIDO...1958, p. 02).
75
Contudo, a renovação do ensino das ciências no Brasil não
deve ser compreendida como uma simples transferência educacional
dos EUA (AZEVEDO, 2015; AZEVEDO; SELLES, 2015;
AZEVEDO; SELLES; TAVARES, 2016). Pensar a renovação do
currículo científico nacional como resultado de um mero efeito
cascata do lançamento Sputnik I é enquadrá-lo somente no contexto
sócio-histórico e geopolítico da Guerra Fria. É necessário compre-
endê-lo dentro de um quadro brasileiro que possui dimensões
culturais, econômicas, sociais, políticas e científicas, bem como as
dimensões epistemológicas e pedagógicas de diferentes campos
sociais que estavam envolvidas para renovar o ensino das ciências no
país.
No período de 1949 a 1965, conforme os cadernos das
programações das reuniões anuais (anexo A), os debates sobre a
renovação do ensino das ciências nos simpósios da SBPC podem ser
categorizados em duas grandes dimensões: 1) programas e métodos
de ensino; 2) trabalho e formação docente (tabela 4). Também se
nota o predomínio da disciplina escolar história natural e biologia
nos debates do campo científico-educacional. Isso pode ser
explicado por duas razões: 1) a hegemonia e capital simbólico da
Biologia; 2) a maior presença de biologistas nas comunicações e
simpósios.
76
Tabela 4 - Comunicações nos simpósios de ensino das ciências na SBPC
(1949-1965)
Tema/Disciplinas
escolares
Programas e
métodos de ensino
Trabalho e
formação docente
Total
Ensino das ciências
27
15
42
Ciências naturais
02
02
04
História natural e biologia
21
01
22
Física
08
03
11
Química
04
-
04
Matemática
03
01
04
Total
65
22
87
Fonte: Elaborado a partir dos cadernos de programação das reuniões anuais da
SBPC (1949-1965).
É fundamental perceber o papel da SBPC na organização
inicial do campo de Ensino em Ciências nos anos 1950, ou seja,
“uma área de fronteira entre educação e ciência, que se preocupa
com o significado das disciplinas científicas no currículo”
(KRASILCHIK, 1987, p. 14-15). Isso constituía os educadores em
ciência, isto é, os professores secundaristas de ciências, história
natural, biologia, física e química, e docentes universitários das
Ciências da Natureza. Todos mobilizados na cumplicidade objetiva
de renovação dos programas e métodos de ensino, trabalho e
formação docente. Também se percebe o compartilhamento de
ideias e desejos para a construção de noções, regras, condutas e
valores nas mudanças necessárias do currículo científico no Brasil.
O objetivo dos educadores em ciências era o depósito de
capital simbólico para legitimar a “inclusão, no currículo, do que
havia de mais moderno na Ciência, para melhorar a qualidade do
77
ensino ministrado aos estudantes que ingressariam nas
Universidades” e “a substituição dos métodos expositivos pelos
chamados métodos ativos (KRASILCHIK, 1987, p. 07). Os
professores universitários desejavam uma sólida formação científica
na escola secundária. Isso foi constantemente defendido pela
diretoria da SBPC, conforme se nota no editorial “Ensino e
progresso da ciência”, de 1951, publicado na Ciência e Cultura:
Quase sempre se pensa que, ao ensinar-se muita ciência, se
ensina boa ciência. Puro engano. Aqui como em toda a parte, a
qualidade deve preponderar sôbre a qualidade. Não é preciso
ensinar muito, mas é indispensável que se ensine bem. E bem
ensinar é uma das artes mais difíceis, mais trabalhosas, e que
requer qualidade especiais dos mestres. Estas qualidades têm
um denominador comum - o bom conhecimento das matérias
que se ensina - mas podem diferir nos que têm de atuar nos três
graus de ensino primário, secundário e superior. É tarefa
complexa de dificuldades que se avolumam com o progresso
contínuo e intenso da ciência. Daí o exigirem-se do professor
de matéria científica qualidades excepcionais de exposição e de
método, de síntese e de objetificação, afim de poder despertar
nos estudantes decidido interêsse pelos temas científicos. A fase
do ensino memorizado das ciências está superada. O aluno que
ver e entender os fenômenos que lhe são apresentados. O ensino
tem que ser vivo e prático de modo a fazer que o aluno sinta a
necessidade e a importância de aprender (CIÊNCIA E
CULTURA, n. 4, v, 3, p. 229-230, 1951).
A diretoria da SBPC expressava que o bom ensino das
ciências não deveria ser extenso, rígido e mnemônico, mas aquele
78
prático e capaz de despertar as vocações científicas. O campo
científico assumia a posição clara de estabelecer bases da
experimentação científica e métodos ativos na escola secundária.
Assim, biologistas, professores e professoras desenvolveram
representações e práticas para conferir uma necessária renovação do
ensino de história natural e biologia. Isso é facilmente verificado nas
páginas do periódico oficial da SBPC.
1.4 Criação, circulação e sentidos da revista
Ciência e Cultura
A defesa pela ciência e educação debatida nas assembleias,
palestras, conferências e simpósios adquiriram um carácter de
publicação e divulgação na revista Ciência e Cultura criada em 1948,
mas com publicação iniciada no ano seguinte. O periódico tinha a
finalidade de realizar a circulação da produção científica nacional e
aproximar os cientistas com o grande público. Segundo a diretoria,
A revista, como as suas congêneres estrangeiras, não pretende
fazer concorrência às revistas especializadas que já existem no
País. Procura dar informação, de primeira mão, do que se faz
no Brasil no terreno da ciência e também do que se faz no
mundo em pesquisa científica. Os artigos «Ciência e Cultura»
têm caráter tanto quanto possível geral para interessar a um
grande número de pessôas cultas e inteligentes, fugindo-se ao
excesso de especialização, sem cair no exagero apôsto do excesso
de vulgarização (CIÊNCIA E CULTURA, v. 1, n. 3, p. 73,
1949).
79
Colocada como órgão e porta-voz máximo da SBPC, a
revista nasceu com o desejo de equilibrar dois pontos fundamentais:
a difusão social da ciência e publicações de pesquisas. Essa capaz de
abordar diversas áreas com a divulgação de artigos inéditos e aquela
para estabelecer uma comunicação direta com o público geral e
esclarecer as relações da ciência com a sociedade. Conforme José
Reis, primeiro editor chefe da Ciência e Cultura, a divulgação
científica na SBPC tinha como meta principal: “espalhar e ensinar o
hábito de pensar cientificamente” (REIS, 1954b, p. 58).
O industrial Francisco Pignatari financiou os primeiros
volumes da revista. Os sócios corporativos foram peças
fundamentais para o giro de capital financeiro do periódico.
Somente, a partir dos anos 1950/60, a SBPC contou com apoio do
CNPq, CAPES e FAPESP para impressão e envio das tiragens que,
às vezes, ultrapassaram 4 mil exemplares. Todavia, os problemas
financeiros para manutenção da Ciência e Cultura eram recorrentes,
como afirmou o próprio secretário-geral à época, Gastão Rosenfeld:
Para imprimir a revista, 4 números por ano com 3.000
exemplares (número necessário agora), é preciso cêrca de 600
mil cruzeiros, quantia essa que é necessário dispôr no momento
da impressão, e ainda são necessários os envelopes e é preciso
pagar a remessa. Para manter a Secretaria em ordem, imprimir
e remeter a revista é preciso contar com cêrca de 1 milhão de
cruzeiros anuais
9
[...] Tôda essa exposição enfadonha e ridícula
de tema tão prosaico é necessária para que os sócios
9
Como parâmetro informativo, o salário mínimo de 1961 era de Cr$ 13.440,00, conforme
o Decreto Lei n. 51336, de 13 de outubro de 1961.
80
compreendem qual foi a atuação quase miraculosa e esforços
das últimas diretorias e, também que a atual tenha proposto
medidas energéticas que se tornam necessários para pôr a SBPC
em dia (ROSENFELD, 1961, p. 210).
A periodicidade da revista era quadrimestral, com exceção de
1949 com três números; em 1951 com dois; e 1960 com três. Entre
os anos de 1949 a 1965, foram publicados 17 volumes distribuídos
em 64 números. Nesse período, é possível sumarizar o periódico em
8 seções: 1) Pesquisas recentes com artigos especializados; 2) Notas
originais de trabalhos inéditos especializados, sobretudo,
experimentais; 3) Comunicações de resumos apresentados nas
comunicações das reuniões anuais; 4) Comentários de artigos curtos
e breves de cientistas sobre diversos assuntos relacionados ao
progresso da ciência, tais como, o ensino das ciências, organização
da ciência brasileira, fundação e amparo à pesquisa; 5) Ensino com
a publicação de artigos sobre o ensino secundário e universitário ; 6)
Homens e instituições para homenagear os cientistas; 7) Livros e
revistas com as resenhas; e 8) Noticiários sobre a SBPC e etc.
Poucas alterações foram feitas no modo de organização da
revista. Assim, para Haity Moussatché,
Ciência e Cultura não é uma revista puramente técnica, mas de
divulgação científica, acessível aos diversos níveis intelectuais. É
informativa, colocando o leitor a par dos mais variados
assuntos, ao mesmo tempo em que faz familiarizar-se com as
coisas da Ciência. Aborda, por intermédio dos mais autorizados
pesquisadores questões diversas, como o ensino e a pesquisa das
bolsas de estudo, as relações do govêrno com as pesquisas, as
81
contribuições das ciências nas atividades industriais, o tempo
integral, a formação de seleção de professores universitários,
melhoria do ensino científico no nível colegial, e muitos outros
pontos de interêsse geral (A SBPC..., 1958, p. 19).
A circulação da revista ganhou notoriedade rápida, uma vez
que, segundo a diretoria da SBPC, era “enviada para cêrca de 200
Bibliotecas e Institutos Culturais no Brasil e no Exterior, o que
contribui para estabelecer mais amplas relações entre os cientistas
brasileiros e estrangeiros” (SBPC, 1951b, p. 78). A Ciência e Cultura
alcançou o posto de ser o único periódico sobre o conjunto do
movimento científico nacional com cerca de “800 páginas, onde os
nossos cientistas contribuem para vulgarizar a ciência” (SBPC, 1953,
p 54). Para o vice-presidente, Maurício Rocha e Silva (1958, p.
197), “a revista hoje, é o melhor arquivo do que foi feito em ciência
no Brasil nos 10 últimos anos”.
É possível compreender que a revista recebeu um depósito
de capital científico e serviu como instrumento da força simbólica
da SBPC. É claro que os artigos publicados não estavam na
neutralidade, mas pensados pela equipe editorial para legitimar o
ideário de ciência e tecnologia para o desenvolvimento do país. Entre
os anos de 1949 e 1954, o corpo da redação do periódico foi
comandado por José Reis, Marcello Damy de Souza Santos,
professor de Física Nuclear da USP; Viktor Leinz, professor de
Geologia e Paleontologia da USP; Carlos Arnaldo Krug, geneticista
do Instituto Agronômico de Campinas; e Herinrich Rheinboldt,
professor de Química da USP. Após esse quinquênio, a revista foi
editada pela diretoria e conselho.
82
No período dos anos 50 e início dos 60 do século XX, os
editorais da Ciência e Cultura foram sobre os valores da ciência;
amparo científico; relações entre ciência, cultura e política;
divulgação científica; ensino das ciências na escola secundária; e na
organização e funcionamento das universidades brasileiras. Entre os
anos de 1949 a 1965, a linha editorial da SBPC publicou 60 artigos
(tabela 5) e, principalmente, na defesa de suas concepções e
contribuições para o progresso da ciência; em seguida, sobre o
financiamento governamental.
Tabela 5 - Publicações da linha editorial da revista
Ciência e Cultura (1949-1965)
Temas
Quant.
%
SBPC
18
30
Amparo à ciência e aos cientistas
17
28
Ensino superior
14
23
Divulgação científica
06
10
Ensino das ciências no curso secundário
05
08
Total
60
100
Fonte: Elaborado a partir da revista Ciência e Cultura (1949-1965)
É interessante notar a movimentação e os posicionamentos
da SBPC por meio dos editoriais da revista. Na gestão secretarial de
José Reis (1949-1954) houve uma circulação das questões mais
relacionadas com a divulgação e amparo à ciência, como também
sobre a necessária renovação do currículo científico da escola
secundária; Paulo Sawaya (1953-1959) direcionou os esforços para
uma compreensão do papel das universidades na produção científica
nacional e empecilhos, tais como, a carreira universitária, os salários
83
dos cientistas, os processos seletivos dos alunos, as direções das
faculdades, dentre outros; Erasmo Garcia Mendes (1959-1961)
pautou a linha editorial sobre os debates e batalhas da SBPC X
COSUPI; e, por fim, Gastão Rosenfeld (1961-1963) nos entraves
do capital científico e econômico da ciência nacional.
Os dados sobre as linhas editoriais são significativos para
compreender o papel da SBPC na construção de uma imagem
lendária sobre a ciência acadêmica” (FONSECA, 2012, p. 04).
Ademais, na busca de uma hegemonia como porta-voz da
comunidade científica e instrumento estratégico na circulação e
representações sobre a história da ciência nacional. A revista foi
vinculada no poder simbólico da SBPC para o convencimento,
argumentação e cooptação de cientistas para a ordem e progresso
científico. Assim, divulgava-se que o amparo à pesquisa e a
consolidação do campo científico eram valores inegociáveis no
desenvolvimento da nação. E, para isso, era necessário formar bons
cientistas nas universidades a partir de um ensino das ciências
vocacional e experimental na escola básica.
Nas seções de pesquisas recentes, notas originais e
comunicações verifica-se o predomínio de trabalhos das Ciências da
Natureza e Médicas. Por isso, o periódico Ciência e Cultura era
definido pela diretoria da SBPC como “a fonte mais significativa de
informações sôbre o desenvolvimento da Ciência Experimental em
nosso País” (CIÊNCIA E CULTURA, v. 6, n. 1, 1954, p. 01). São
diversos os artigos que trazem resultados de pesquisas experimentais
e laboratoriais de diversas áreas da Biologia, Física e Química.
84
O periódico da SBPC também publicava diversos artigos
acerva de diferentes aspectos da educação brasileira. Para
compreender esses trabalhos, é necessária uma categorização
temática para melhor identificar as representações da escola
secundária, do ensino das ciências e da disciplina escolar história
natural e biologia na revista. Na próxima seção, esses pontos são
aprofundados para reflexão.
1.4.1 A comunidade disciplinar de biologistas e
professores na SBPC
O periódico Ciência e Cultura foi tomado pelo campo
científico nacional como principal meio de divulgação e
comunicação com a sociedade. No período de 1949 a 1965, os
artigos publicados foram sobre o sistema universitário, escola
secundária, ensino das ciências e matemática, e relacionados com a
Psicologia, Sociologia e História da Educação (outros). A tabela a
seguir descreve essa distribuição numérica.
85
Tabela 6 - Artigos sobre educação na Ciência e Cultura (1949-1965)
Temas
Seções da revista
Tota
l
Comentários e
ensino
Comunicaçõ
es
Ensino secundário
16
-
16
Ensino das ciências
-
05
05
Ensino de história natural e
biologia
22 08 30
Ensino de química
02
06
08
Ensino de física
05
-
05
Ensino de matemática
04
01
05
Ensino de geologia
-
02
02
Divulgação/eventos científicos
15
-
15
Ensino nas
universidades/faculdades
38 18 56
Outros
07
-
07
Total
109
40
149
Fonte: Elaborado a partir da Revista Ciência e Cultura (1949-1965).
Os debates e disputas do campo científico encaravam a
realidade para tentar melhorar os sistemas de ensino do país, seja
para fazer críticas e denunciar práticas, seja para incrementar os
processos educativos. O periódico se configura como uma arena nas
lutas de classes, uma luta na consolidação de um campo de atuação
profissional (CATANI, 2002). Era um espaço fixo e impresso para
disputar a hegemonia de discursos e práticas. Sendo assim, pode-se
verificar a força mobilizada pela comunidade disciplinar do ensino
de história natural e biologia na circulação de ideias e representações
para atender as demandas em prol da consolidação de uma
renovação da disciplina escolar que trouxesse um novo, atualizado e
86
moderno currículo e materiais de ensino. Além disso, a construção
de um discurso homogêneo que se pretendia modelar ou inspirar as
práticas escolares desejáveis para o trabalho docente.
Também não se pode negar que o maior número de artigos
sobre o ensino de história natural e biologia tenha sido um resultado
direto do poder simbólico do campo científico da Biologia. Os
biologistas estavam mobilizados no discurso e desejo comum de
tutelar a disciplina escolar no currículo do ensino secundário. Essa
comunidade disciplinar presente na Ciência e Cultura constituía-se
de uma rede de botânicos, bioquímicos, zoológicos, geneticistas,
citologistas e etc. Eram biologistas e professores universitários de
capital puro e institucional de diferentes universidades do país e,
principalmente, das Faculdades de Filosofia do Estado de São Paulo.
Em menor número, alguns professores de escolas secundárias. O
quadro 3 apresenta a identificação de colaboradores nos artigos
publicados na revista da SBPC, no período de 1949 a 1965.
Quadro 3 - Comunidade disciplinar de história natural e biologia na
Ciência e Cultura
Colaboradores
Filiação institucional
Quant.
Alarich R. Schultz
Instituto de Ciências Naturais da
Universidade do Rio Grande do Sul
01
Aluízio José Gallo
FFCL, São José do Rio Prêto, SP
01
Amélia
Domingues de
Castro
Cadeira de Metodologia Geral do Ensino da
FFCL da USP
01
Bentley Glass
Universidade Johns Hopkins
01
Carlos Nobre
Rosa
Colégio Estadual de Jaboticabal, SP 02
87
Celso Abbade
Mourão
FFCL, São José do Rio Prêto, SP 02
Erasmo Garcia
Mendes
Departamento de Fisiologia Geral e Animal
da FFCL da USP
01
Felix Rawitscher
Dep. Botânica da FFCL da USP
01
Isaias Raw
IBECC/SP
01
José Maria G. de
Almeida Jr.
Colégio Visconde de Pôrto Seguro, Liceu
Acadêmico São Paulo, Colégio Brasil-Europa,
Instituto de Educação “Fernão Dias Pais”, SP
01
Maria Ignes
Rocha e Silva
Dep. de Botânica da FFCL da USP 02
Maria José Lessa
da Fonseca
IBECC/SP 01
Myriam
Krasilchik
IBECC/SP 01
Nicia W. de
Magalhães
IBECC/SP 01
Norma Maria
Cleffi
IBECC/SP 01
Oswaldo Frota-
Pessoa
Dep. de Biologia Geral da FFCL da USP 03
Paulo Sawaya
Dep. de Zoologia da FFCL da USP
04
Renato Basile
Dep. de Biologia Geral da FFCL da USP
02
Vail Ferreira da
Silva
Instituto de Educação “Joaquim Ribeiro”,
Rio Claro, SP
01
Walter Narchi
Dep. de Zoologia da FFCL da USP
01
Warwick E. Kerr
Dep. de Biologia da FFCL, Rio Claro, SP
01
Total de publicações
30
Fonte: Elaborado a partir da revista Ciência e Cultura (1949-1965).
A comunidade disciplinar na SBPC não era monolítica, mas
de professores de espaços institucionais variados que formavam uma
88
multiplicidade de interesses e finalidades para o ensino de biologia.
Esses professores e biologistas, neste trabalho, são personagens
importantes, pois traduzem, por meio de suas escritas, determinados
modos de ver e entender a disciplina escolar em meados do século
XX. Embora aspirem uma ideia homogênea, as representações
construídas pela comunidade disciplinar adquirem mais sentido e
inteligibilidade a partir dos lugares de produção social dos
biologistas e professores. Isso na leitura da Nova História Cultural é
compreender que “para cada caso, o necessário relacionamento dos
discursos proferidos com a posição de quem os utiliza
(CHARTIER, 2002, p. 17).
Os colaboradores mais recorrentes da revista Ciência e
Cultura foram dois biologistas: Paulo Sawaya e Oswaldo Frota-
Pessoa. É perceptível a ausência de professores secundaristas
enquanto autores de artigos, com a exceção, em especial, de Carlos
Nobre Rosa
10
, professor de história natural e biologia do Colégio
Estadual e Instituto de Educação de Jaboticabal no estado de São
Paulo. Nesse aspecto, como esclarece Krasilchik (1987), sucedeu-se
uma hierarquização no campo de Ensino das Ciências durante os
anos 50 e 60 do século XX: professores, professores-monitores e
líderes. Esses foram os docentes universitários com a “ascendência
intelectual para o exercício da liderança e a condução de programas
10
Professor de história natural e biologia do Colégio Estadual e Instituto de Educação de
Jaboticabal entre os anos 1940 a 1960. Na instituição fundou, em 1945, o clube de história
natural com objetivo de proporcionar aos alunos um contato mais prático com a disciplina
escolar. As atividades do clube de história natural de Jaboticabal ganharam destaques no
IBECC/SP, SBPC e CADES. Carlos Nobre Rosa também foi professor do Departamento
de Biologia da FFCL de Ribeirão Preto. Faleceu em 1974 (JABOTICABAL, 2016).
89
de inovação” (KRASILCHIK, 1987, p. 45). Os monitores sendo
àqueles com capital institucional em órgãos de ciência, cultura e
educação do Estado, ou seja, “os intermediários entre os professores
em exercício e o sistema central de decisão” (KRASILCHIK, 1987,
p. 45). Por fim, os professores da escola secundária.
A análise de Krasilchik (1987) sobre as posições dos
professores no campo de renovação do ensino das ciências serve para
esclarecer um grau de hierarquização da comunidade disciplinar na
SBPC. Trata-se, pois, dos agentes na operacionalização dos
mobilizadores e mobilizados, dos dominados e dominantes, por
meio, sobretudo, de um depósito de capital simbólico
(BOURDIEU, 2013). Ou seja, torna-se possível afirmar, ao lado da
sociologia bourdieusiana, que a diretoria da SBPC manteve
principalmente as publicações de professores líderes. Conforme
Krasilchik (1987, p. 45), os professores universitários eram vistos
com o “poder e a autoridade da Ciência e da academia sendo vistos
como fontes das idéias e novas tendências para a transformação”.
A comunidade disciplinar possuía uma ideia coesa pela
constituição, forma e estrutura do ensino de história natural e
biologia. Havia um contexto de muito entusiasmo pela renovação
da disciplina escolar. Depositava-se uma crença da Biologia
Experimental como caminho viável para despertar as vocações
científicas e tornar a escola secundária mais prática, objetiva e
experimental. Nesse sentido, os artigos circulam as representações de
uma disciplina escolar idealizada e não expressam, necessariamente,
as diversas realidades nas práticas cotidianas dos programas e
métodos de ensino. Sobre isso, discute-se nos próximos capítulos
90
.
91
Capítulo 2
“Quase de Cimento Armado”: os programas de ensino
de História Natural e Biologia nos anos 1940/50
A SBPC bate-se por uma democratização do ensino no
sentido de derrubar 91odas as barreiras de cimento armado
que tornam o jovem desde o curso primário um escravo de
exigências burocráticas e de currículos inúteis e complexos
(CIÊNCIA E CULTURA, v. 2, n. 2, 1950, p. 84).
A diretoria e membros da SBPC puseram as representações
e práticas sobre a estrutura do ensino secundário dos anos 1940/50
e, principalmente, dos programas de ensino das ciências em estado
de “quadros rígidos, quase de cimento armado” (CIÊNCIA E
CULTURA, v. 2, n. 2, 1950, p. 84). Inicialmente, pode-se dizê-los,
de acordo com Jayme Abreu (1955, p. 65), que “não eram
verdadeiramente programas, isto é, planos de atividades para um
fim; assemelhavam-se mais a lista de títulos e tópicos de índices de
livros, sem maior ênfase na orientação aos professores”.
O campo científico manifestou debates sobre os programas
oficiais do ensino de história natural fixados pelo governo federal em
1946 e 1951. Neste movimento cabe perguntar: com quais
finalidades houve a substituição da disciplina escolar biologia pela
história natural no Decreto-Lei n. 9.054/1946? Quais conheci-
mentos foram os saberes escolares selecionados no programa de
92
ensino de biologia (1943) e história natural (1946 e 1951)? Porque
os biologistas na SBPC fizeram críticas dos currículos oficiais?
A compreensão das finalidades objetivas dos programas de
ensino de biologia e história natural dos anos 40 e 50 do século XX
da escola secundária, como também das primeiras iniciativas da
diretoria da SBPC no jogo pela renovação da disciplina escolar são
os objetivos deste capítulo. São debatidos os argumentos do vaivém
nominal, a lógica conceitual, os saberes e métodos de ensino na
legislação educacional. Além disso, os cenários político-educacionais
que lhe depositavam legitimidade no currículo. Nesse processo,
torna-se fundamental definir alguns aspectos da nomenclatura
binominal do ensino de história natural e biologia. Para tentar
compreender essa aparente falta de nexo ou contradição lógica
recorre-se aos aspectos gerais da História e Filosofia da Biologia e sua
articulação com a construção sócio-histórica da disciplina escolar no
ensino secundário.
2.1 A ciência Biologia e a lógica conceitual da disciplina escolar
Para compreender o quadro geral da história do pensamento
biológico privilegia-se o arcabouço desenvolvido pelo francês
François Jacob (1983) e alemão-estadunidense Ernst Mayr (1998,
2005, 2008). Não é uma pretensão, aqui, discutir profundamente a
História e Filosofia da Biologia para compreendê-la como campo
científico autônoma com objeto, método, história e filosofia própria.
O objetivo é abordar como a disciplina escolar história natural e
biologia esteve ao longo do século XX e, ainda está condicionada
93
com determinados princípios filosóficos que dão estrutura
conceitual da Biologia.
Desde as origens na Grécia Antiga, os estudos dos
organismos vivos é uma necessidade humana histórica e levantam
uma série de questões respondidas, principalmente após a Revolução
Científica, a partir do século XVI. Até meados do século XIX, os
seres vivos eram entendidos pela lógica mecânica de reduzi-los às leis
da Física. Foi nesse período que se manifestou a ideia predominante
do mecanicismo ou fisicalismo na Biologia. Isto é, “o funcio-
namento dos seres vivos só pode ser compreendido na medida em
que se reflete o que já se conhece no funcionamento das coisas”
(JACOB, 1983, p. 39). O mecanicismo ims uma teoria dos
animais-quinas, não como analogia para a Biologia, mas como
sua própria identidade e natureza. O resultado foi uma corrente
filosófica para afirmar que “os organismos vivos não eram, na
verdade, nada diferentes da matéria inanimada” (MAYR, 2008, p.
21).
Ao longo dos séculos XVIII ao XX, o modelo fisicalista era
refutado e a Biologia buscava romper com a Física e a Química na
explicação dos seres vivos sobre a lógica da vida e, desse modo,
alcançar sua autonomia científica. Para essa tarefa, recorreu ao
vitalismo, isto é, uma corrente filosófica de “revolta contra a filosofia
mecanicista da Revolução Científica e contra o fisicalismo de Galileu
a Newton” (MAYR, 2008, p. 29). Os vitalistas estavam conectados
na compreensão de que os seres vivos possuíam propriedades
próprias e, portanto, não poderiam ser reduzidos às leis da matéria
inorgânica.
94
Os adeptos do vitalismo buscaram uma reação contra uma
filosofia da Biologia puramente baseada nas leis naturais
newtonianas. A essência da corrente filosófica vitalista constituía-se
na crença de que os organismos vivos e quaisquer outras
manifestações da vida “são controlados por uma força invisível,
Lebenskrat [força da vida] ou vis vitalis” (MAYR, 2005, p. 37). Para
os vitalistas existia uma lei natural universal e um fluido presente em
todos os seres vivos, que era responsável pelos processos,
movimentos e reações, denominado à época de protoplasma (termo
não mais utilizado para o citoplasma).
Descobrir e compreender a lei natural que os seres vivos eram
submetidos foi o grande desafio do vitalismo durante o século XVIII
até meados do XX. Nesse período, os vitalistas tentaram comprovar
a existência da força vital da matéria viva e, principalmente, com o
desenvolvimento inicial da Genética e Evolução (MAYR, 1998,
2008). Contudo, compreendia-se que a vis vitalis inexistia e os
organismos poderiam ser reduzidos, em última instância, nas
propriedades físicas e químicas da matéria. O resultado foi uma
paulatina perda de credibilidade do vitalismo no decorrer do século
XX. Todavia, os biologistas rejeitavam o pleno fisicalismo, em
simultâneo, que o vitalismo não conseguia mais oferecer um
arcabouço filosófico robusto para compreender a lógica dos seres
vivos.
Apesar disso, “o vitalismo é tão essencial nos primórdios da
biologia quanto era o mecanicismo na Idade Clássica” (JACOB,
1983, p. 99). Conforme os estudos de Perin, Benincá e Teixeira
(2020), as considerações teóricas do mecanicismo para o vitalismo
95
foram cruciais para a autonomia e constituição da Biologia em fins
do século XIX e no percurso do XX. De acordo com os autores, os
sistemas biológicos foram compreendidos como únicos e admitindo
que a matéria inorgânica e orgânica não ocupa o mesmo lugar no
plano teórico das leis naturais. Atribuído ao vitalismo, partiu a
etimologia da palavra Biologia como a ciência que estuda a vida,
cunhada por Gottfried Reinhold Treviranus (1776-1837) e Jean-
Baptiste Lamarck (1744-1829) em meados do século XIX.
Percebe-se, ao longo dos séculos XVII ao XIX, com uma
rie de descobertas e pesquisas, tais como, a microscopia e citologia
de Robert Hook (1635-1703) e Anton Van Leeuwenhoek (1632-
1723); a História Natural de Georges-Louis Leclerc (1707-1788); a
Paleontologia de Georges Cuvier (1769-1832); a Teoria Celular de
Theodor Schwann (1810-1882), Matthias Jakob Schleiden (1804-
1881) e Rudolf Virchow (1821-1902); a revolução de Louis Pasteur
(1822-1895); a Fisiologia Experimental de Claude Bernard (1813-
1878); os princípios genéticos de Gregor Mendel (1822-1884), a
descoberta do ácido desoxirribonucleico (DNA) por Johann
Friedrich Miescher (1884-1895), as teorias evolutivas de Lamarck e
Charles Darwin (1809-1882); a Biogeografia de Alfred Russel
Wallace (1823-1913); dentre muitos outros avanços do pensamento
biológico, que inexistia a vis vitalis. Como resultado, compreendia-
se que o progresso da Biologia “é, talvez, em grande medida, uma
questão de desenvolvimento de conceitos, ou princípios” (MAYR,
1998, p. 42).
O desenvolvimento da Biologia mostrava que a plenitude da
abordagem do vitalismo e fisicalismo eram inválidas. Todos esses
96
elementos desencadearam uma crise no pensamento biológico e o
surgimento de uma nova ótica científica para a compreensão dos
organismos vivos: o organicismo. A corrente filosófica surgida em
meados dos anos 1930 terminou por “incorporar os melhores
princípios tanto do fisicalismo quanto do vitalismo” (MAYR, 2008,
p. 21). Esse modelo teórico, dominante hoje, compreende que a
essência da vida também obedece às leis da Física e Química e, ao
mesmo tempo, os organismos vivos não são uma matéria inerte, mas
seres dinâmicos com autonomia, diversidade e evolução. Para os
organicistas, conforme Mayr (2008, p. 38), os seres vivos são
“sistemas ordenados altamente complexos e a natureza histórica dos
programas genéticos que evoluíram nos organismos”.
O reconhecimento das leis da hereditariedade e dos
mecanismos de evolução de Darwin nos anos 1950 e 1960 são
características importantes para a fundação e legitimação do
organicismo. Porém, com o devido estado pouco desenvolvido da
Genética e da Evolução nas explicações biológicas disponíveis no
início do século XX, o organicismo não alcançava ainda a explicação
e validação aceita hoje. Consequentemente, durante os anos 1930 a
1960, a Biologia vivia um uma crise epistemológica entre as
correntes filosóficas do fisicalismo, vitalismo e organicismo no jogo
pela compreensão de conceitos e modos de organização dos seres
vivos, como também da própria ciência, ora, com posições
antagônicas, ora mescladas.
Por esse motivo, Mayr (1998, 2005, 2008) argumenta que o
avanço do campo científico da Biologia ao longo dos séculos
progrediu através de um gradualismo nas teorias e conceitos. Para
97
ele, o desenvolvimento do pensamento biológico deu-se por uma
Epistemologia Evolutiva ou Darwiniana. O autor completa que, a
ciência evoluiu como um organismo vivo, ou seja, o “progresso
epistemológico, assim, é caracterizado por variação e seleção”
(MAYR, 2005, p. 184). A questão, portanto, é a Biologia como uma
ciência de conceitos construída no “desenvolvimento e no
refinamento de conceitos, e, ocasionalmente, na eliminação de
conceitos errôneos” (MAYR, 1998, p. 42). Não é surpresa perceber
uma temporalidade de definições que surgem, evoluem ou são
extintas na história dessa ciência, tais como, o protoplasma, fixismo,
epigênese, mutação, ácidos nucleicos, gene, cromossomos,
espermatozoides, adaptação, células e etc.
Nesse aspecto, as bases da Embriologia, Histologia,
Citologia e Genética foram sendo fundadas durante todo o século
XIX e XX, sobretudo, pela compreensão da Teoria Celular e seus
desdobramentos na ordem lógica da organização e funcionamento
dos seres vivos. Conforme Jacob (1983, p. 127) tornava-se claro que
“com a célula, a biologia encontrou seu átomo. Não há nenhum
aspecto dos estudos de seres vivos que não tenha sido transformado
pela teoria”. A menor unidade ou a unidade morfofuncional da vida
conformou o pensamento biológico que, mais importante que
descrever, analisar e calcular os procedimentos dos organismos vivos,
era necessário compreender a sua origem e funcionamento em todas
as atividades biológicas.
Com a Teoria Celular, a Biologia deu seus primeiros passos
na autonomia como um campo científico. As concepções de animal-
máquina foram sendo superadas e substituídas pelas ideias dos
98
organismos integrados nas atividades celulares (NASCIMENTO
JUNIOR; SOUZA, 2016). Em passos curtos ainda, a Biologia
caminhava para uma compreensão mais firme de separação do
mundo orgânico do inorgânico. A Teoria Celular foi uma das mais
importantes postulações na história da ciência e marcou uma
generalização fundamental e facilmente verificável para os
organismos vivos. Essa teorização foi “celebrada como uma das
grandes teorias biológicas. Isso ajudou a conferir substância à palavra
‘biologia’ (cunhada por Lamarck e Treviranus), que era até então um
programa bastante vago” (MAYR, 1998, p. 506).
A compreensão geral do pensamento biológico no final do
século XIX e início do XX trazia a ciência dos organismos vivos
fixada no termo História Natural, que contava com a união das
ciências de Mineralogia, Geologia, Anatomia, Fisiologia, Zoologia,
Botânica e Biologia Geral. Havia uma ramificação em dois pontos:
a História Natural com foco na Anatomia e Fisiologia Humana,
Zoologia e Botânica áreas mais tradicionais desde o século XVII; e
a Biologia geral com a Microbiologia, Genética, Citologia,
Embriologia e Evolução.
O objetivo da História Natural era “descrever os costumes
dos animais, seu desenvolvimento e sua evolução, as relações entre
as espécies” (JACOB, 1983, p. 186). Assim, foi estrutura em quatro
variáveis para compreensão dos seres vivos: forma, quantidade,
distribuição e grandeza (PERIN; BENINCÁ; TEIXEIRA, 2020).
Com uma visão geral permeada pelo fisicalismo, os naturalistas
estavam interessados nas estruturas e funções das espécies, tais como,
99
a morfofisiologia de órgãos, sistemas biológicos e relações com o
meio natural.
Como um subitem da História Natural, a Biologia Geral
estudava a emergência e fundação dos princípios microbiológicos,
citológicos, embrionários, histológicos, genéticos e evolutivos. A
base consistia no organicismo coeso pela unidade celular e seus
componentes, por meio de análises experimentais e laboratoriais.
Conforme Jacob (1983, p. 186), para fazê-la “não basta mais
observar os seres vivos. É preciso analisar suas reações químicas,
estudar as células, desencadear os fenômenos”. Assim, na primeira
metade do século XX, a palavra Biologia determinava um conjunto
rarefeito de ciências: Microbiologia, Genética, Citologia, Fisiologia
Experimental e Embriologia (JACOB, 1983).
Sem perder seus métodos, objetos e domínios teóricos, as
diferentes subáreas da Biologia foram forçadas estabelecer um
associativismo e, desse modo, não cair no completo isolamento e
esvaziar o termo Biologia. Naquele momento, a Teoria Celular
permitia interpretar as articulações da Microbiologia, Genética,
Citologia e Embriologia, como também da Botânica, Zoologia e
Evolução (JACOB, 1983). Não se tratava mais de uma força
misteriosa, dos vis vitalis, mas dos processos de diferenciação celular
dos seres vivos.
Os estudos brasileiros de Prestes (1997) e, mais
recentemente, Silva e Aires (2016), Junior Nascimento e Souza
(2016) sobre o processo histórico das ideias celulares, da primeira
observação da célula no século XVII por Robert Hook até a
publicação do postulado atual, mostram como a Teoria Celular foi
100
auspiciosa no desenvolvimento de outras áreas da Biologia, como
também moveu paixões e ódios, entre os fiscalistas, vitalistas e
organicistas, tanto no processo de produção e aceitação das células
quanto na definição das unidades morfofisiológicas da Biologia.
Além disso, na determinação das células e suas organelas como as
primeiras unidades de hierarquia do mundo orgânico.
A estruturação da Biologia na primeira metade do século XX
ainda era muito frágil e carregava ainda contradições na lógica de
explicar os organismos vivos. Faltava elementos mais consistentes
sobre os processos de transmissões das informações genéticas entre
as espécies e os mecanismos de evolução, que eram conflituosos entre
o Darwinismo e o Lamarckismo (JACOB, 1983). As primeiras
respostas vieram com o delineamento da Teoria Sintética da
Evolução ou Neodarwinismo a partir dos anos 1940 e, mais afinco,
com a modelização teórica do funcionamento e estrutura do DNA,
em 1953, por James Watson (1928) e Francis Crick (1916-2004).
Na segunda metade do século XX, a ciência passaria por um amplo
debate sobre sua estruturação, autonomia e unificação, mas desta
vez, pelo organicismo dos programas genéticos e evolução das
espécies.
Mas como os princípios históricos e filosóficos da Biologia
ajudam a compreender a história do ensino de história natural e
biologia da escola secundária brasileira em meados do século XX? A
resposta, de modo geral, consiste na compreensão de bases
epistemológicas que definiram a lógica conceitual da disciplina
escolar e do pensamento biológico de subgrupos da comunidade
disciplinar que estavam em disputas antagônicas para legitimá-lo no
101
currículo. Por exemplo, Santos (2013) defende na tese A Biologia de
Cândido de Mello Leitão e a História Natural de Waldemiro Alves
Potsch: professores autores e livros didáticos - conhecimento e poder em
disputa na constituição da Biologia escolar (1931 - 1951) que a
disciplina escolar nos anos 1930/40 oscilou entre dois paradigmas:
naturalista e biológico.
Com o embasamento teórico de Ball e Lacey (1980) sobre o
paradigma disciplinar e pedagógico das disciplinas escolares, ou seja,
os modos de compreender e fazer os saberes e práticas escolares,
Santos (2013) afirma que o ensino de história natural determinado
na reforma da escola secundária nos anos 1930 foi alicerçado no
paradigma naturalista, restringindo-se à História Natural, isto é,
com a inclusão da Mineralogia e Geologia nos saberes escolares no
currículo oficial da escola secundária. O biológico encontrou espaço
legítimo na Lei Orgânica do Ensino Secundário, considerando
apenas a Biologia Geral, Zoologia e Botânica. Por mais provocativo
e complexo que seja distinguir a lógica do pensamento biológico da
disciplina escolar, o reconhecimento da pesquisa de Santos (2013) é
bastante válido.
Diferente da autora, opta-se pelo termo “pensamento” ao
invés de “paradigma”, pois empre-lo faz compreender o
desenvolvimento histórico da Biologia pelo gradualismo, conforme
Mayr (1998, 2005, 2008). Desse modo, corresponde o conjunto de
proposições básicas e uma noção conceitual estruturante da ciência
pensar a vida como objeto de estudo, à medida que seus conceitos e
teorias evoluem pela variação e seleção desde o século XVII. Utili-
lo também permite uma dimensão de que as “descrições da
102
epistemologia evolucionária darwiniana parecem se adequar melhor
à mudança teórica na biologia” (MAYR, 2005, p. 184).
O reconhecimento das tendências unificadoras da Biologia e
suas bases conceituais revelam as posturas epistemológicas nas
mudanças da disciplina escolar no século XX. Também esclarecem,
de forma mais nítida, os usos da nomenclatura binominal presente
no currículo oficial, que marcam projetos e concepções diferentes da
disciplina escolar. Dessa forma, com base na História e Filosofia da
Biologia, compreende-se como o pensamento biológico foi inserido
na lógica conceitual do ensino de história natural e biologia, que
possuem relações com questões mais amplas do contexto político,
educacional e científico. Isso deixa em evidência que a construção
social do currículo não segue apenas a ciência de referência.
2.2 A disciplina escolar História Natural e Biologia
no ensino secundário
A disciplina escolar história natural foi mantida na escola
secundária, que oscilava entre 5 a 7 anos, a depender da reforma
promulgada nos primeiros anos da República
19
, mas sempre nas duas
últimas séries com os estudos da Botânica, Zoologia, Mineralogia e
Zoologia como indicam as pesquisas de Zancul (2001) e Cameski
(2020). Naquele momento, a escola secundária mantinha o
19
Nos anos iniciais do regime republicano, faz-se referência as seguintes reformas:
Benjamin Constant (Decreto n. 981, de 8 de novembro de 1890); Epitácio Pessoa (Decreto
n. 3.890, de 1 de janeiro de 1901); Rivadávia Corrêa (Decreto n. 8.659, de 5 de abril de
1911); Carlos Maximiliano (Decreto n. 11.530, de 18 de março de 1915); e João Luís
Alves (Decreto n. 16.782-A. de 13 de janeiro de 1925).
103
predomínio para uma formação literária e humanística. Conforme
Souza (2008, p. 92), “o ensino das ciências era tido como formação
complementar importante, mas não fundamental”.
Santos (2021) faz uma análise nas mudanças e continuidades
na constituição da disciplina escolar nos anos 1920. O ensino dos
organismos vivos sob o termo biologia marcou território somente na
Reforma Benjamin Constant (1890-1901), pois foi substituída pela
história natural na Reforma Epitácio Pessoa. Santos e Selles (2014)
afirmam que, após a morte de Benjamin Constant, em 1891, a
disciplina biologia não chegou a ser incluída, de fato, nos programas
do Colégio Pedro II, mas foi inserida nos programas de ensino de
1897 e 1898. Contudo, afirmar a existência da biologia escolar nas
primeiras décadas da escola secundária republicana ainda requer
maiores investigações. Em São Paulo, por exemplo, a “cátedra
História Natural se estabelece oficialmente a partir do período
republicano, repetindo a orientação do então Ginásio Nacional”
(CAMESKI, 2020, p. 56).
Com a Revolução de 1930, o Brasil passou por uma série de
transformações políticas, econômicos e sociais com a ascensão de
Getúlio Vargas à presidência da República. No Governo Provisório
houve a criação do Ministério dos Negócios da Educação e Saúde
Pública (MESP) pelo Decreto n. 19.402, em 14 de novembro de
1930. Buscava-se a construção de um Estado racionalizado e
burocrático com padronização, controle e aperfeiçoamento dos
serviços públicos. O primeiro no comando do MESP foi o político
mineiro Francisco Campos, importante aliado político e ideológico
104
de Vargas, que não tardou em promover transformações na educação
brasileira: a chamada Reforma Francisco Campos.
As mudanças na escola secundária foram estabelecidas pelo
Decreto n. 18.890, de 18 de abril de 1931, que dispôs uma nova
organização administrativa e pedagógica, sendo consolidando no
Decreto n. 21.2141, de 4 de abril de 1932. O ministro acenou para
sua base ideológica da Igreja Católica com o retorno obrigatório
do ensino religioso e dos escolanovistas com algumas pautas do
Manifesto do Pioneiros da Educação Nova. No pensamento
educacional de Campos, tornava-se essencial transformar a escola
secundária no “ensino educativo que venha a ser efetivamente útil
no manejo futuro das realidades e dos fatos da vida prática”
(CAMPOS, 1931, p. 641). Completava que a finalidade era de
formação do homem para todos os grandes setores da atividade
nacional” (CAMPOS, 1931, p. 693).
O ensino secundário passou a ser seriado com duração de 7
anos e dividido em dois ciclos, fundamental e complementar, com
5 e 2 anos, respectivamente. Sobre a organização do currículo, o
ensino científico ganhou uma distribuição mais equânime e
uniforme. Pela primeira vez, houve a introdução da disciplina
escolar ciências naturais nas duas primeiras séries do secundário
fundamental. O ensino de história natural ganhou espaço na
seriação do primeiro ciclo com o objetivo de “proporcionar aos
alunos o conhecimento das formas vivas e inertes do mundo
objetivo, atuais e passadas, nas suas incessantes transformações e em
suas relações mútuas” (BICUDO, 1942, p. 175).
105
Na Reforma de Francisco Campos verifica-se os princípios
de um ensino de história natural no primeiro ciclo da escola
secundária no arcabouço de um pensamento biológico fisicalista,
pois colocava no mesmo plano a compreensão da matéria orgânica e
inorgânica, sobretudo, na lógica das leis da Física e Química. A
partir disso, compreende-se a definição, conforme os programas de
ensino, de uma disciplina escolar para as formas vivas e inertes do
mundo e a inclusão de saberes escolares de Geologia e Mineralogia
no currículo.
Com uma série de análises do ensino de história natural no
ciclo fundamental, Santos (2013) constatou que a predominância da
disciplina escolar na Reforma Campos foi também um reflexo da
tradição do Colégio Pedro II nas decisões dos programas de ensino
do país. Outro ponto é sobre a formação da comunidade disciplinar.
Na primeira metade do século XX, o campo de ensino de história
natural foi constituído de profissionais liberais e, principalmente,
médicos e farmacêuticos, que oscilavam entre os consultórios e as
salas de aulas. Isso pode ser verificado nos estudos sobre a disciplina
escolar no Instituto de Educação do Distrito Federal e Colégio
Pedro II, no Rio de Janeiro (SANTOS, 2013); nos registros de
professores do Seminário de Olinda e Ginásio Pernambucano, em
fins do século XIX e primeiras décadas do XX (FARIAS, 2020); e no
quadro docente de escolas da Capital, Campinas e Ribeirão Preto do
estado de São Paulo na Primeira República (CAMESKI, 2020).
Destinada e obrigatória para os candidatos em determinados
institutos de ensino superior, a escola secundária complementar
apresentava currículos diferentes. Existia uma inflexão da disciplina
106
escolar: para o curso jurídico a prescrição do ensino de biologia geral
(segunda série); por outro lado, nos cursos de Medicina, Farmácia,
Odontologia, Engenharia, Arquitetura e Química Industrial
ofertava-se o ensino de história natural nas duas últimas séries
(BRASIL, 1931). A finalidade objetiva da disciplina escolar biologia
geral era justificada pelo “alto interesse cultural, uma apreciação
geral da evolução histórica da Biologia e da razão de ser dos sistemas
taxonômicos” (BICUDO, 1942, p. 274). Além disso, fixava-se que
“não pode o programa de História Natural ser uniforme para os
candidatos às carreiras em que predominam as ciências biológicas ou
aquelas em que predominam as ciências matemáticas” (BICUDO,
1942, p. 274).
A Reforma Campos conferiu uma modernização do ensino
secundário em quatros pontos entrelaçados: seriação do currículo,
frequência obrigatória, sistema de avaliação dos alunos e inspeção
federal (DALLABRIDA, 2009). De forma inédita, foi determinado
uma racionalização administrativa e pedagógica para todo o
território nacional. Contudo, com a instalação de um Estado com
poder mais centralizado e autoritário, outorgado pela Constituição
de 1937, o sistema educacional foi guiado pela égide de Gustavo
Capanema, ministro da educação e saúde pública.
A nova reforma getulista do ensino secundário foi
determinada pelo Decreto-lei n. 4.244, de 9 de abril de 1942, que
promulgou a Lei Orgânica do Ensino Secundário. Ela trouxe
mudanças sutis nos aspectos pedagógicos e administrativos, mas
conservou os princípios da divisão em ciclos, seriação, frequência
obrigatória e inspeção federal. O grande objetivo da Reforma
107
Capanema era dar seguimento no prosseguimento do trabalho de
renovação e elevação do ensino secundário do país” (CAPANEMA,
1942, p. 278). Também buscava consolidá-lo como espaço de
preparação das individualidades condutoras, isto é, dos homens que
deverão assumir as responsabilidades maiores dentro da sociedade e
da nação” (CAPANEMA, 1942, p. 279).
Integrada com os objetivos claros do Estado Novo, a
Reforma Capanema inseriu a formação dos jovens brasileiros no
valor de um nacionalismo. Muito mais que formá-los, deveria
inscrevê-los no desenvolvimento de uma consciência patriótica e
humanística. Como disse o ministro da educação: “patriótico no
sentido mais alto da palavra, isto é, um ensino capaz de dar aos
adolescentes e das necessidades da missão e das ideais da nação”
(CAPANEMA, 1942, p. 279). O que se compreendia é que a escola
secundária era um dos principais instrumentos para o
estabelecimento de valores patrióticos da população brasileira.
A Lei Capanema manteve os dois ciclos do ensino
secundário e a escolarização média de 7 anos: o ginasial, com
duração de quatro anos, e o colegial, com dois cursos paralelos
(clássico e científico) de três anos. O segundo ciclo tinha a função
de consolidar, desenvolver e aprofundar a formação cultural e
patriótica ministrada no primeiro ciclo. Conforme os termos da Lei
Orgânica do Ensino Secundário, o curso clássico buscava capacitar
os alunos para uma “formação intelectual, além de um maior
conhecimento de filosofia, um acentuado estudo das letras antigas”;
e o curso científico para uma “formação marcada por um estudo
maior de ciências” (BRASIL, 1942).
108
A Reforma Capanema diminuiu a valorização das Ciências
da Natureza na formação dos jovens. Para o ministro da educação,
o ensino secundário na formação das elites dirigentes do país deveria
ser atribuído de uma importância nacional, de uma “sólida cultura
geral, marcada pelo cultivo a um tempo das humanidades antigas e
das modernas” (CAPANEMA, 1942, p. 279). O peso humanístico
no currículo é verificado no enaltecimento dos estudos em línguas
antigas como, por exemplo, o latim. Essa hegemonia pode ser
compreendida pelo arranjo político e ideológico da Igreja Católica
com o Estado Novo e, mais precisamente, com o MESP e
Capanema.
Dentre as mudanças trazidas pela Lei Orgânica do Ensino
Secundário houve a retirada da história natural, química e física do
primeiro ciclo da escola secundária e introduzindo-as no conjunto
de saberes da disciplina de ciências físicas e naturais nas duas últimas
séries no curso ginasial. Para Capanema, o ensino das ciências na
Reforma Francisco Campos sobrecarrega os alunos com estudos
científicos aprofundados. Cabendo, então, ao ciclo colegial a
formação de um espírito científico, isto é, “a curiosidade e o desejo
da verdade, a compreensão da utilidade dos conhecimentos
científicos e a capacidade de aquisição desses conhecimentos”
(CAPANEMA, 1942, p. 281).
Segundo Capanema (1942, p. 282), o ensino das ciências no
colegial seria o espaço de formação de uma “cultura científica que
concorra para definir-lhes a madureza intelectual e que os habilite
aos estudos universitários de qualquer ramo”. A disciplina escolar
109
biologia foi ofertada na terceira série do clássico e nas duas últimas
séries do científico (quadro 4).
Quadro 4 - Currículo do curso secundário colegial da Reforma Capanema
Fonte: Brasil (1942, Art. 15).
Na literalidade da Lei Orgânica do Ensino Secundário houve
uma eliminação total da história natural, substituindo-a pela
biologia no curso colegial. Capanema também rompeu com a
tradição do Colégio Pedro II na elaboração dos currículos fixados
pelo MESP. Por força da lei, as comissões especiais, designada pelo
ministro da educação, expediram os novos programas de ensino
Cursos
Disciplinas ministradas
Clássico
1ª série: 1) Português. 2) Latim. 3) Grego. 4) Francês ou inglês 5)
Espanhol. 6) Matemática. 7) História geral. 8) Geografia geral.
2ª série: Português. 2) Latim. 3) Grego. 4) Francês ou inglês 5)
Espanhol. 6) Matemática. 7) Física. 8) Química. 9) História geral.
10) Geografia geral.
3ª série: 1) Português. 2) Latim. 3) Grego. 4) Matemática. 5)
Física. 6) Química. 7) Biologia. 8) História do Brasil. 9) Geografia
do Brasil. 10) Filosofia.
Científico
1ª série: 1) Português. 2) Francês. 3) Inglês. 4) Espanhol. 5)
Matemática. 6) Física. 7) Química. 8) História geral. 9) Geografia
geral.
2ª série: 1) Português. 2) Francês. 3) Inglês. 4) Matemática. 5)
Física. 6) Química. 7) Biologia. 8) História geral. 9) Geografia
geral
10) Desenho.
3ª série: 1) Português. 2) Matemática. 3) Física. 4) Química. 5)
Biologia. 6) História do Brasil. 7) Geografia do Brasil. 8) Filosofia.
9) Desenho.
110
(BRASIL, 1942, Art. 18). As questões sobre a disciplina escolar
biologia legitimada na Reforma Capanema são analisadas a seguir.
2.3 O ensino de biologia na Reforma Capanema
O programa de ensino da disciplina escolar biologia foi
publicado pela Portaria Ministerial n. 171, de 13 de março de 1943.
Com os estudos de Santos (2013), sabe-se que a que Cândido de
Mello Leitão participou de forma decisiva na elaboração do
programa. Duarte (2009, 2010a, 2010b) analisou as relações
pessoais e institucionais desse biologista brasileiro, por meio de
livros, jornais, revistas e documentos pessoais. A autora mostra como
a atuação do cientista produziu uma rede de divulgação da Biologia
dentro e fora do país.
O currículo do ensino de biologia foi composto em quatro
unidades: Zoologia, Botânica, Biologia Geral e Higiene (quadro 5).
Verifica-se, de fato, uma compactação de todos os saberes escolares
para uma série do curso clássico; de outro lado, uma divisão dos
conteúdos nas duas séries do científico.
111
Quadro 5 - Unidades do programa de ensino de Biologia
do curso colegial (1943)
Fonte: Adaptado de Brasil (1943).
Existe uma ordem lógica no currículo pela organização dos
seres vivos a partir da Teoria Celular como matriz integradora.
Define-se os termos celulares, para com isso, compreender a
fisiologia, nutrição, reprodução e classificação das espécies. Nesse
sentido, nas primeiras décadas do século XX, a Biologia denota um
sentido que a continuidade dos organismos vivos “não é horizontal
no conjunto dos seres, mas vertical na sucessão das gerações que a
Série/curso
Unidades de conteúdos
3ª/clássico
Biologia Geral:
conjunto dos seres vivos; organização dos seres
vivos; espécie.
Botânica: introdução ao estudo da botânica; organização das
espermáfitas; fisiologia dos vegetais superiores; distribuição dos
vegetais.
Zoologia: introdução ao estudo da zoologia; artrópodes; outros
invertebrados; vertebrados; distribuição dos animais.
Higiene: saúde e doença; eugenia e puericultura.
2ª/científico
Biologia Geral: o conjunto dos seres vivos; organização dos
seres vivos; a espécie
Botânica:
introdução ao estudo da botânica; briófitas e
pteridófitas; organização das espermáfitas; Fisiologia da
nutrição dos vegetais; a flor e fruto; principais famílias de
angiospermas; distribuição dos vegetais.
3ª/científico
Zoologia: introdução da zoologia; animais diploblásticos;
vermes e vermídios; crustáceos; aracnídeos e miriápodes;
insetos; moluscos e equinodermas; peixes; anfíbios e répteis;
aves; mamíferos; distribuição dos animais.
Higiene: saúde e doença; Eugenia e puericultura.
112
reprodução os une” (JACOB, 1983, p. 134). Como afirmou Mello
Leitão, a característica mais importante era compreender a ciência
na “visão sintética dos seres vivos em suas relações uns com outros e
com o meio em que vivem” (LEITÃO, 1940, p. 5).
O ensino de biologia foi orientado nos estudos
observacionais, descritivos e laboratoriais dos seres vivos com a
finalidade de compreensão da organização biológica e relações entre
as espécies. Por exemplo, dos vegetais inferiores até os superiores.
Evidentemente, essa posição teórica no organicismo inviabilizou a
presença da Mineralogia e Geologia no programa oficial e a ruptura
com a tradição do ensino de história natural da Reforma Francisco
Campos. Nota-se a representação de uma Biologia que descartou o
fisicalismo e legitimou o pensamento biológico celular como matriz
conceitual de disposição e estruturação dos saberes escolares.
No período de 1917 a 1946, Mello Leitão publicou dez
livros didáticos da disciplina escolar e, principalmente, com os
títulos de Zoologia, Botânica e Biologia (SANTOS, 2013). Nas
obras existe uma justificativa pelas mudanças e a grande necessidade
de posicionar a Biologia no currículo da escola secundária.
Conforme Duarte (2010a, p. 430), o maior objetivo do biologista
com os livros didáticos era estabelecer uma nova perspectiva
epistemológica que guiaria a abordagem desses conteúdos em
direção ao ensino de biologia”.
Destaca-se que a constituição da disciplina escolar não
orbita, de modo único, as ciências de referência. É necessário
considerar o programa de ensino de biologia dentro da lógica do
pensamento educacional do Estado Novo, como por exemplo, a
113
exigência do MESP pelos saberes escolares da Eugenia. Para
Goodson (1990, p. 11, tradução nossa), identificar as finalidades
institucionalizadas no currículo prescrito é compreenderos valores
e objetivos incorporados na escolarização e como a definição
proativa pode definir parâmetros para negociação e realização
interativas na sala de aula e na escola”.
A partir da história da ciência no Museu Nacional do Rio de
Janeiro, entre os anos 20 a 40 do século XX, Duarte (2010a)
argumenta como a Biologia tornou-se um instrumento político e
ideológico do Estado Novo. Roquete Pinto, Mello Leitão e Alberto
José Sampaio fizeram do órgão uma instituição científica e
educacional de projeção nacional para um Estado forte, educador e
centralizador. Os cientistas compartilhavam a ciência como “mestre
da vida para apropriações diversas em práticas de caráter
nacionalista, construídos no seio de uma cultura política
salvacionista e autoritária” (DUARTE, 2010b, p. 17). Essa
compressão de diversos aspectos biológicos estava presente em
diversos espaços de poder nas políticas varguistas.
Embora o programa expresse apenas tópicos de saberes
escolares, as unidades de ensino molduravam o ideário de uma
educação com duas finalidades na Reforma Capanema. A primeira
para estabelecer uma consciência patriótica das belezas naturais do
Brasil. Era necessário despertar o amor pela fauna e flora do país e,
principalmente, de sua natureza com “as suas riquezas, com as suas
possibilidades, para fazermos cada vez mais rico” (LEITÃO, 1941,
p. 55). Esse sentido patriótico fundamentou-se no princípio estético
e na visão positivista de exploração dos recursos naturais.
114
A segunda finalidade decorreu dos princípios do movimento
eugênico brasileiro. Nesse contexto, a própria “importância da
biologia na sociedade brasileira emergiu mesclada à ampla recepção
da eugenia” (DUARTE, 2010b, p. 37). Os eugenistas estavam
interessados nas bases genéticas da hereditariedade. Nas palavras de
Renato Kehl
20
(1942, p. 40), a disciplina escolar seria o caminho
educativo para difundir “o culto à nobreza de estirpe, à beleza das
uniões eugênicas, ao mesmo tempo que se criará a aversão às uniões
disgênica, fatais à descendência”. Julgava-se, assim, determinados
saberes escolares como um instrumento de conservação do
branqueamento da população, combate à miscigenação, controle
reprodutivo e seleção imigratória. Duarte (2009, p. 327), conclui
que, “a biologia de Mello Leitão apresentou-se também como um
projeto político eminentemente reacionário”.
A eliminação da Geologia e Mineralogia do ensino de
biologia não foi a única novidade trazida pela Portaria Ministerial n.
171/1943. No curso clássico houve uma total exclusão das noções
elementares da Evolução darwiniana; no curso científico foi
prescrito um tópico de evolução e transformismo, ou seja,
Lamarckismo na terceira série. O programa oficial da disciplina
escolar era antidarwinista. A eliminação de princípios evolutivos de
Darwin e Wallace no currículo de 1943 pode ser compreendida
também pela força de Mello Leitão ter sido um biologista
antidarwinista no início da década. Extremamente religioso, ele não
negava a evolução das espécies, mas era adepto da teoria de Lamarck.
20
Médico, farmacêutico e um dos principais influenciadores do movimento eugenista
brasileiro (CARLOS, 2019).
115
Conforme Duarte (2009, p. 325), Mello Leitão defendia
uma “visão biológica evolucionista, absolutamente alheia à seleção
natural e harmoniosamente conciliada com uma perspectiva
religiosa da vida”. Mesmo não sendo um darwinista, o cientista
reconhecia o peso cultural e científico da obra de Darwin. Em suas
palavras, era “o acontecimento máximo na História da Biologia [...]
que vinha abrir em todos os campos da biologia novos caminhos à
investigação (LEITÃO, 1937, p. 303). Até o final dos anos 1940,
Mello Leitão rejeitou o mecanismo darwiniano de seleção natural.
Em seus últimos escritos, o biologista trazia o arrefecimento de sua
rejeição extrema ao Darwinismo (DUARTE, 2010). Isso,
principalmente, quando Ernst May comprovou o conceito de
espécie e especiação biológica em meados dos anos 1940.
A presença do ensino de biologia na Reforma Capanema
mostra como a legitimidade de uma disciplina escolar deve ser
encarada como provisória e conjectural. É claro que havia
resistências e críticas da comunidade disciplinar pela mudança
brusca nos programas de ensino. Muitos foram os debates e disputas
pela ruptura com a longa tradição do ensino de história natural na
escola secundária. Isso é discutido a seguir.
2.4 O ensino de história natural na contrarreforma de
Ernesto Campos
O ensino de história natural voltou a ter legitimidade pelo
Decreto-Lei n. 9.054, em 12 de março de 1946. A contrarreforma
de Ernesto de Sousa Campos, ministro da educação e saúde pública
116
da época, restabeleceu a Geologia e Mineralogia no currículo; o
baixo status da Biologia Geral; e a fixação de novos programas de
ensino. Na matéria publicada no jornal Diário Carioca, em março
de 1946, os motivos do retorno do ensino de história natural foram
justificados e, principalmente, acerca dos saberes escolares
mineralógicos e geológicos:
Entre as muitas inovações com a reforma do Estado Novo do
ensino conta-se a completa desorganização do ensino da cadeira
de História Natural. Mutilou a disciplina, mudou-lhe a
denominação para Biologia e suprimiu a Mineralogia e a
Geologia dos programas de ensino. Num país de imensas
riquezas minerais, ainda pouco exploradas e muito mal
conhecidas dos brasileiros, a reforma considerou supérfluo e
absolutamente desnecessário o estudo das noções fundamentais
de Mineralogia e Geologia e riscou dos programas o seu ensino,
substituindo pelo estudo minucioso da anatomia da lombriga,
da barata, do carrapato, e de outros animais cujo conhecimento
foi considera imprescindível (O ENSINO..., 1946b, p. 04).
Outro ponto do Decreto-Lei n. 9.054/1946 era reestabelecer
a tradição do ensino de Mineralogia e Geologia na escola secundária.
Nesse sentido, a matéria no Diário Carioca esclareceu que:
Há cinco anos, porém, dezenas de milhares de alunos deixam
os colégios, após a conclusão dos seus estudos, na absoluta
ignorância da matéria [história natural] abolida do curso
[colegial], que despertava vivo e patriótico interesse dos
estudantes, dando-lhes noções necessárias à sua cultura geral e
capazes de atraí-los mais tarde para a exploração das riquezas do
117
nosso subsolo que os estrangeiros conhecem muito melhor do
que nós (O ENSINO..., 1946b, p. 04).
Estava colocado, pois, que a verdadeira formação de uma
consciência patriótica na escola secundáriao seria pelo ensino de
biologia, com a eliminação da Mineralogia e Geologia, mas com a
história natural. Assim, a disciplina escolar precisava, conforme
matéria no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, em fevereiro de 1946,
ser “programada de acordo com as realidades brasileiras e visando
dar ao aluno um conhecimento amplo de tudo quanto se refira à
natureza orgânica e inorgânica, e aos seres vivos que vivem na face
da terra” (O ENSINO..., 1946a, p. 05). Nesse sentido, a
contrarreforma de Ernesto Campos foi vista, de acordo com matéria
no Diário Carioca, com “grande significação para a preparação
intelectual da juventude” (O ENSINO..., 1946b, p. 04).
Waldemiro Potsch, catedrático de história natural do
Colégio Pedro II e defensor árduo do retorno da disciplina escolar,
afirmou que,
A denominação de história natural era “obsoleta”, “arcaica” e
“abandonada” em todo o mundo, mas na verdade por motivos
interesseiros e mercantis, foi mudada a denominação da cadeira
de história natural para a de biologia. A mineralogia e a geologia
que constituíam parte do antigo programa de história natural,
desde 1851 foram eliminados dos colégios do Brasil e deixou
totalmente durante quatro anos de ser ensinada a matéria
relevante para a formação cultural dos alunos e para o
desenvolvimento econômico do país (A DOENÇA..., 1947, p.
03).
118
Conforme a reportagem no Diário Carioca, publicada em
maio de 1947, após o fim do Estado Novo, para Waldemiro Postch,
houve a ressurreição do ensino de história natural no currículo da
escola secundária. Uma ação levada pela compreensão básica de que
a disciplina escolar biologia causava prejuízos na formação cultural e
intelectual dos alunos. Assim, o professor comentou sobre o
Decreto-Lei 9.054/1946:
Felizmente, o presidente Eurico Dutra restaurou a cadeira de
história natural. Voltou a denominação “obsoleta”, “arcaica” e
“abandonada” em todo o mundo, e voltou o ensino de
mineralogia e geologia, tão importante para um país de riquezas
minerais, na sua quase totalidade, não exploradas e muito mal
conhecidas (A DOENÇA..., 1947, p. 03).
O retorno legítimo do ensino de história natural estava
sintonizado com os debates e disputas sobre a exploração
mineralógica e petrolífera do país. No período dos anos 1940/50, é
importante ressaltar que o setor energético do Brasil foi marcado
pelo movimento “O petróleo é nosso”, a criação da Petrobras, em
1953, e o fortalecimento da estatal Companhia Vale do Rio Doce.
A reintrodução do ensino de Geologia e Mineralogia na disciplina
escolar buscava despertar as vocações científicas e uma mentalidade
para o desenvolvimento e exploração dos recursos naturais na escola
secundária.
A lógica interna da formação de professores secundaristas,
naturalistas e biologistas nas Faculdades de Filosofia é outro ponto
que precisa ser considerado para o retorno do ensino de história
119
natural. Havia um hiato entre a disciplina escolar biologia e a
formação da comunidade disciplinar. Alguns estudos, tais como,
Tomita (1990), Rabelo et al. (2006), Lucas (2014), Pedroso (2013,
2017), Pedroso e Selles (2015), e Corrêa (2016) analisam o percurso
histórico dos cursos de bacharelado e/ou licenciatura de História
Natural, dos anos 1930, até os atuais de Ciências Biológicas nas
universidades brasileiras. Da mesma forma, que a história da
disciplina escolar é marcada por embates, negociações, reformas,
inovações, avanços e retrocessos, entre outros conflitos, a história dos
cursos de graduação também é assinalada pelas disputas sobre as
concepções de Biologia.
Durante a primeira metade do século XX, verifica-se o
processo lento de institucionalização de cursos de graduação em
História Natural em diferentes regiões no Brasil. Pedroso (2017)
destaca a criação do curso na USP, o primeiro do país, em 1937; na
Universidade do Brasil, em 1939; na Universidade de Belo
Horizonte, Universidade de Porto Alegre e Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande Sul no ano de 1942; e na Universidade do
Paraná, em 1943; por sua vez, segundo Rabelo et al. (2006), os
cursos na Universidade de Recife e Universidade de Salvador foram
criados em 1946; na Universidade de Belém em 1957; e na
Universidade de Goiás no ano de 1959.
A profissionalização do bacharel e/ou licenciado em História
Natural era constituída no seguinte currículo: Botânica, Zoologia,
Geologia, Mineralogia, Paleontologia, Petrografia e Biologia Geral
(PEDROSO; SELLES, 2015; PEDROSO, 2017). Fica evidente,
portanto, que a disciplina escolar biologia não compactuava com o
120
pensamento biológico na formação superior de professores por conta
da exclusão das Ciências Geológicas. É preciso destacar, ainda, a
fragilidade do programa de ensino de 1943 na fixação um currículo
que contradizia a hegemonia da comunidade disciplinar dominada
pelos naturalistas.
A vulnerabilidade da autonomia da Biologia é outro fator
que deve ser considerado no processo de substituição da disciplina
escolar pelo Decreto-Lei 9.054/1946. De acordo com Mayr (2008),
nos anos 1930 a 1950, a ciência recebia o status de provinciana, pois
faltava-lhe maior estruturação nos departamentos das universidades
e centros de pesquisas, bem como seus achados poderiam ser
reduzidos às leis da Física e Química. De acordo com este autor, o
seu espaço no universo acadêmico era de inferior e apenas como
subitem da História Natural.
O retorno integral da disciplina escolar na escola secundária
configurou duas portarias do MESP: n. 244, de 25 de março, que
expediu os programas oficiais; e n. 367, de 28 de maio, de 1946, que
fixou as instruções metodológicas para os professores. Conforme a
portaria ministerial, o ensino de história natural foi definido para o
estudo cultural, educativo e utilitário das “formas vivas e inertes do
mundo objetivo, focalizando, de modo conveniente e oportuno, as
suas relações mútuas e interdependências, e em particular, a sua
influência sôbre a vida humana” (BRASIL, 1946c, p. 457). O
currículo prescrito foi estratificado em cinco unidades: Mineralogia,
Geologia, Botânica, Biologia geral e Zoologia (quadro 6).
121
Quadro 6 - Unidades do programa de ensino de História Natural
no curso colegial (1946)
Fonte: Adaptado de Brasil (1946b).
rie/curso
Unidades de conteúdos
3ª/clássico
Mineralogia e Geologia: noções de Cristalografia;
propriedades dos minerais; Petrografia; Geologia física;
Geologia histórica.
Botânica: introdução ao estudo da Botânica; metabolismo da
planta; organização da planta; crescimento e movimento nas
plantas; e reprodão nas plantas.
Biologia geral: caracteres peculiares aos seres vivos; Citologia;
reprodução em geral; Genética.
Zoologia: introdução ao estudo da zoologia; vertebrados;
invertebrados; noções sôbre os protozoários.
2ª/científico
Mineralogia e Geologia: Cristalografia; propriedade e
classificação dos minerais; Petrografia; Geologia física;
Geologia histórica.
Botânica: introdução ao estudo da botânica; metabolismo da
planta; crescimento e movimento nas plantas; reprodução nas
plantas e vista geral da classificação das plantas, baseada nos
órgãos reprodutores; distribuição dos vegetais.
3ª/científico
Biologia geral: caracteres peculiares aos sêres vivos; Citologia;
generalidades sôbre metazoários e metáfitos; reprodução em
geral; Genética; vários tipos de associação entre os sêres vivos.
Zoologia: introdução ao estudo da Zoologia; cordados;
invertebrados; protozoários; breve estudo sôbre a fauna e o
meio.
122
As mudanças mais visíveis foram as reintroduções das
Ciências Geológicas e a eliminação aparente da unidade Higiene,
porém as noções de Zoologia, Botânica e Biologia Geral também
ganharam novos arranjos. Se na biologia escolar da Reforma
Capanema, os estudos do reino animal e vegetal partiam dos
inferiores aos superiores, seguindo uma sequência lógica de
complexidade celular; o novo currículo inverteu a lógica com a
prescrição dos organismos vivos dos superiores para os inferiores, das
estruturas macroscópicas às microscópicas.
Os alunos deveriam ser iniciados com os estudos de
Mineralogia e Geologia. Assim, os professores deveriam deixar claro
a ligação entre as “ciências geológicas e biológicas, apresentando-se
a Paleontologia como ponte entre umas e outras” (BRASIL, 1946c,
p. 458). Os estudos químicos e físicos dos minerais prescreviam a
crosta terrestre, a vida no passado da Terra e o desenvolvimento
temporal geológico. Com isso, os saberes escolares sobre os fósseis
seriam utilizados para conectar as Ciências da Terra com a Biologia.
O ensino de Mineralogia e Geologia na escola secundária
buscava compreender o potencial dos minerais e recursos naturais
do país. O programa fixava as noções de cristais, classificação dos
minerais e as rochas de valor industrial. Tais como, o ensino das
“jazidas de ferro em Minas Gerais, de níquel, em Goiás, de
manganês, em Mato Grosso, de tungstênio, em São Paulo ou no
nordeste do país”, como também sobre a “formação de um lençol
petrolífero ou de um depósito de carvão mineral” (BRASIL, 1946c,
p. 458).
123
É certo que as representações da disciplina escolar história
natural possuíam um grau de legitimidade condizente com o projeto
desenvolvimentista do país à época. As estratificações dos diferentes
saberes escolares do currículo mostram as considerações dos valores
econômicos da exploração de recursos naturais e seus benefícios para
o desenvolvimento econômico e industrial. Compreende-se, então,
as justificativas utilizadas por diversos setores sociais para legitimar
uma tradição curricular utilitária da Geologia e Mineralogia na
escola secundária durante as décadas de 1940/50.
O programa também trazia valores educativos e culturais
desejáveis para o ensino de Botânica, Zoologia e Biologia Geral. Essa
com o objetivo em três pontos: 1) a materialização dos assuntos
sempre em torno de aspectos práticos e observáveis, tais como, as
fases da divisão celular e as células do sangue ou da saliva; 2) os
aspectos comuns de todos os seres vivos, neste caso, a unidade
celular, mas diferenciando-os pela nutrição autotrófica e
heterotrófica; e 3) a simplificação da linguagem científica.
No subitem de Biologia Geral, a disciplina escolar contou
com uma visão mais delineada da Citologia (estruturas celulares e
divisão celular) e um ampla presença da Genética (leis de Mendel,
hereditariedade, genótipo, fenótipo, cromossomos, mutações,
crossing-over, etc.), Teoria da Evolução de Lamarck e Darwin, um
tópico de Eugenia e, por fim, as relações ecológicas. O programa de
1946 trouxe novamente para a escola secundária o ensino das noções
básicas das teses evolutivas do Darwinismo, mas também manteve
os princípios de Higiene e Eugenia, embora, desta vez, em segundo
plano no currículo oficial.
124
A organização dos subitens do ensino de história natural
mostra como os saberes escolares passaram por uma total
reorganização na matriz conceitual da disciplina escolar. O
pensamento biológico celular foi colocado como ponto fundamental
para distinguir os seres orgânicos dos inorgânicos, bem como a célula
animal e vegetal. A Portaria Ministerial n. 367/1946 determinou
para a Teoria Celular a seguinte finalidade objetiva:
Estude-se a célula como unidade fundamental, mostrando
como, em todos os animais e vegetais, ela apresenta as mesmas
características básicas quer morfológicas, quer funcionais e,
bem assim os fenômenos gerais da reprodução e da transmissão
dos caracteres hereditários, mostrando como êles em última
análise, se processam em todos os sêres vivos pelo mesmo
mecanismo e se reduzem às mesmas leis (BRASIL, 1946c, p.
457).
Se por um lado, a Teoria Celular no ensino de biologia
constituiu-se como o centro gravitacional na estruturação da
disciplina escolar; no outro, o retorno do ensino de história natural
dispensou-lhe e restringiu-lhe no subitem da Biologia Geral. Houve
novamente a fixação de um pensamento biológico naturalista de
cunho fisicalista no currículo. Admite-se também que a substituição
promulgada pelo Decreto-Lei n. 9.054/1946 deu-se porque certas
finalidades sociopolíticas do currículo foram alteradas, pois o
pensamento biológico celular não chegou ao fim ou foi invalidado
cientificamente com o término do Estado Novo. Pode-se argu-
mentar, portanto, o quanto a “estratificação dos saberes escolares
125
reveste-se de uma significação diretamente política” (FORQUIN,
1992, p. 42).
A lógica da Biologia no interior da disciplina escolar foi
alterada e reorganizada para uma compreensão fisicalista dos seres
vivos. A grande preocupação era observá-los, mensurá-los e descrevê-
los macroscopicamente. Assim, conforme as orientações metodo-
lógicas: “o ensino da Zoologia (como da Botânica), deve ser iniciar
pelas formas superiores, isto é, pelas que já estão integradas na sua
experiência anterior e podem ser conhecidas sem auxílio de lentes ou
de microscópicos” (BRASIL, 1946c, p. 459).
A compreensão das estruturas biológicas microspicas e
teóricas foi considerada a principal fonte de renegação da disciplina
escolar biologia pelos estudantes, tornando-a pouco atrativa. A
prescrição do programa do ensino de história natural colocou em
segundo plano os sistemas morfofisiológicos de espécies menos
complexas, não palpáveis e microscópicas. O eixo central foi
direcionando para compreender os animais e vegetais superiores,
respetivamente, os vertebrados e as espermatófitas.
As prescrições das Portarias Ministeriais n. 244/1946 e n.
367/1946 foram as principais razões na produção discursiva da
comunidade disciplinar na SBPC. As tensões entre o currículo oficial
e o pensamento educacional do campo científico foram colocadas
em debates e publicações na Ciência e Cultura. O resultado desse
jogo foi a construção de certas representações de professores e
biologistas sobre as práticas escolares do ensino de história natural
em fins dos anos 1940. Isso é verificado a seguir.
126
2.4.1 A SBPC e o ensino de história natural
O ensino de botânica na disciplina escolar história natural
tinha a prescrição de descrever as estruturas macroscópicas das
plantas, distribuição geográfica, valor econômico e cultural. Nesse
processo, caberia ao professor o desenvolvimento de uma finalidade
educativa para formação de um “espírito de observação que impõe
não só o maior número de demonstrações e observações no decorrer
das aulas, como também visitas e excursões pelas fazendas, usinas,
etc.” (BRASIL, 1946c, p. 458-459). Porém, esse quadro funcional
utilitário e cultural foi colocado de lado para atender o
academicismo exigido nos exames finais e vestibulares.
No artigo O ensino”, publicado na Ciência e Cultura, em
1949, o professor Felix Rawitscher
21
, do Departamento de Botânica
da FFCL da USP, fez críticas sobre a domínio das finalidades
acadêmicas livrescas e mnemônicas no ensino de botânica.
Defendendo, ainda, que o currículo estivesse adaptado às realidades
dos alunos, como também para o valor cultural e educativo da
Biologia, o autor fixou quatro regras de um bom ensino: 1) “ensinar
é uma arte”, ou seja, um ato amoroso de ensinar e aprender entre
professores e alunos; 2) domínio da matéria ensinada e suas relações
teóricas e práticas com outras áreas de conhecimento; 3) evitar a
sobrecarga de termos técnicos e científicos das estruturas morfofisio-
lógicas das plantas; e 4) flexibilização dos exames parciais e finais.
21
Botânico, da Universidade de Freiburg da Alemanha, convidado pelo governo de São
Paulo para organizar o Departamento de Botânica da FFCL da USP em 1934. Faleceu, em
Freiburg, em 1957 (MORRERES, 1994).
127
Felix Rawitscher elegeu os programas de ensino e livros
didáticos como os maiores desafios para fixar o valor cultural da
Botânica na formação dos jovens na escola secundária. O primeiro
pela imposição de conteúdos desatualizados e o segundo com o
excesso de termos técnico-científicos que sobrecarregavam e
confundiam os adolescentes (RAWITSCHER, 1949). Nesse
aspecto, destaca-se as pesquisas de Iglesias (2014) e Silva (2017) que
trazem algumas leituras importantes para compreender a hegemonia
da tradição acadêmica do ensino de botânica no currículo da
disciplina escolar nos anos 1930 e 1960. A propósito, sobre isso,
Rawitscher relatou sua própria experiência:
Quando cheguei ao Brasil, minha primeira colaboradora
mostrou-me um exemplo do que teve que aprender num dos
melhores colégios de São Paulo. Era um relatório completo da
família das Compostas, enumerando tôdas as 9 sub-famílias do
grupo, com tôdas as suas características, tudo isso a ser
decorado, ensinado por um professor que, certamente, não
conhecia tais plantas e que não as mostrou aos alunos. Ora,
nenhum programa oficial jamais prescreveu isso e se um
programa menciona o ensino de famílias importantes da nossa
vegetação, isso seria com muito bom senso, no caso das
Compostas, se o professor mostrasse um capítulo de um girassol
ou de uma dália ou de uma margarida, explicando aos seus
alunos que o que, aparentemente, é uma flôr, na verdade é
inflorescência, em cujo centro ou disco encontram-se inúmeras
pequenas flôres, ao passo que a corola aparente se compõe, na
verdade, de outras flôres com pétalas em forma de língua, que
servem para tornar vistoso o conjunto. Tal demonstração
tomaria 5 ou 10 minutos, os alunos saberiam o essencial e o
128
professor seria recompensado pelo interêsse deles. Pode estar
certo de que voltariam para casa, contando ao pai, à mãe e aos
irmãos o que aprenderam. Porque finalmente, devemos ter
mente para que finalidade lecionamos: ensino secundário visa
cultura geral (RAWITSCHER, 1949, p. 211).
Para além da Sistemática, o professor destacou exemplos de
aspectos morfológicos e fisiológicos, tais como, os vasos lenhosos,
fotossíntese, respiração, poros areolados e estômatos. A prevalência
pela simples memorização dos termos e conceitos repousava a
disciplina escolar história natural na “idéia falsa de um conheci-
mento, onde, na verdade, só encontramos uma palavra”
(RAWITSCHER, 1949, p. 212, grifos do autor). Para este autor,
tornava-se essencial romper com a ideia de que a “botânica não lhe
vai parecer mais tão aborrecida, como, em geral, infelizmente, é o
caso entre os alunos” (RAWITSCHER, 1949, p. 212).
A Zoologia encerrava a sequência das unidades de ensino do
currículo com os conteúdos de Anatomia e Fisiologia Animal.
Conforme a Portaria Ministerial n. 367/1946, os alunos deveriam
ser iniciados com os conteúdos sobre os mamíferos e ir assim
descendo pela escala zoológica até terminá-la com o estudo dos
protozoários, que já existem meios indiretos de observação”
(BRASIL, 1946c, p. 459). A prescrição priorizava uma concepção
zoológica antropocêntrica, reproduzindo uma visão de separação
entre o homem e as demais animais cuja finalidade foi reduzida aos
aspectos industriais, econômicos e higiênico-sanitários.
Para além dos microscópicos ópticos nas aulas práticas, as
orientações metodológicas pautavam a coleta de material biológico
129
pelos alunos como uma atividade essencial, prática e ativa. A
orientação era que existia a “possibilidade de encontrar, nos
domicílios e nos arredores representantes típicos de quase todas as
classes da escala zoológica” (BRASIL, 1946c, p. 459). Assim,
diversos animais, tais como, ratos, coelhos, galinhas, peixes, sapos,
estrelas do mar, borboletas, besouros, etc., poderiam ser colhidos nas
excursões às praias e/ou florestas e, com isso, construir um museu
escolar de história natural. Além disso, a Portaria Ministerial n.
367/1946 empregava uma educação científica para desenvolver uma
capacidade analítica de observação, descrição, coleta e preparo de
animais taxidermizados, por exemplo.
Os animais taxidermizados deveriam ocupar espaço central
nas aulas práticas de Zoologia. O material escolar conseguia uma
“teatralização para recriação de cenas da natureza selvagem ou da
relação entre animais e humanos” (MADI FILHO, 2013, p. 70). A
Taxidermia representava o depósito máximo da prática
observacional dos naturalistas do mundo selvagem para estudos
científicos e/ou exibições. Projetava-se no aluno o desenvolvimento
de uma capacidade de observação reflexiva do comportamento,
aspectos do habitat e das estruturas morfológicas dos animais.
A Portaria Ministerial n. 367/1946 enfocava a experi-
mentação laboratorial e a observação da natureza como as principais
práticas escolares do ensino de história natural. A primeira
correspondia às atividades experimentais dos biologistas com a
Genética, Embriologia, Citologia, Fisiologia Experimental e
Microbiologia para compreender os fenômenos, unidades e
componentes dos seres vivos. A segunda trazia a tradição dos
130
naturalistas de observar e descrever os animais e plantas com suas
relações entre si e o meio. Para Jacob (1983, p. 51), esse objetivo era
“reduzir este ser a seu aspecto visível e traduzir em palavras a forma,
o tamanho, a cor e o movimento”. Preocupado com essas questões,
o professor Paulo Sawaya (1949a, p. 41) definia a disciplina escolar
com aforisma: “na História Natural quem não mostra, não ensina”.
No artigo Concurso para a cadeira de história natural no
magistério secundário, publicado na Ciência e Cultura, em 1949,
Paulo Sawaya expôs uma série de comentários sobre o programa de
ensino, formação de professores, métodos pedagógicos e saberes
escolares. O texto é uma descrição geral de uma banca examinadora
de concurso para um colégio na capital paulista. Foram inscritos 29
candidatos com 13 licenciados em História Natural e os demais não
licenciados.
A primeira questão colocada pelo professor foram as críticas
sobre a rigidez, desarmonia e extensão do currículo fixado pela
Portaria Ministerial n. 244/1946. Para o biologista,
A cadeira de HISTÓRIA NATURAL, no segundo ciclo do
ensino secundário, compreende principalmente: Botânica,
Zoologia e Biologia Geral. Com o programa mais reduzido,
incluem-se ainda duas disciplinas: Geologia e Paleontologia,
Mineralogia e Petrografia. Não cabe discutir a questão da
possibilidade, nos tempos atuais, da formação de naturalistas,
nem a de haver, no curso secundário, lugar destas duas últimas
disciplinas. As noções de Mineralogia são dadas, em geral, nos
cursos de Química: e as de Paleontologia, nos de Zoologia e de
Botânica (SAWAYA, 1949a, p. 40).
131
Assim, segundo Sawaya, a disciplina escolar poderia ser
compreendida em três subitens: Zoologia, Botânica e Biologia
Geral, excluindo a Mineralogia, Geologia e aspectos gerais de
Higiene. Também destacava a necessidade dos saberes escolares para
fins mais práticos e culturais. O autor completava que:
Dizer, por exemplo, que o Saccharomyces cerevisiae [leveduras]
se reproduz por brotos, e não aproveitar a oportunidade para
contar sumariamente como se fabrica a cerveja, é desprezar uma
boa oportunidade para despertar o interêsse dos ouvintes. E êste
interêsse talvez fosse mais vivo, se ao abordar a reprodução dos
mofos, lembrassem de referir-se, embora ligeiramente, à
penicilina, hoje tão popular e tão em voga. Isso amenizaria a
aridez do intrincado dos zoósporos, dos aplanósporos, dos
conidiósporos. Não é fácil transmitir estas noções aos
adolescentes [...] Parece mais propício conhecer o fenômeno de
o camarão esbranquiçado passar a vermelho vivo ao ser posto
na panela e dêsse fenômeno ter a uma explicação clara e precisa,
que o ser forçado a decorar nomenclatura dos apêndices, com
requintes de minúcias [...] Dêstes princípios básicos de
pedagogia, alguns candidatos se esqueceram completamente
(SAWAYA, 1949a, p. 42).
Os valores culturais e utilitários dos saberes escolares da
Zoologia deveriam ser os principais responsáveis pela compreensão
e importância da História Natural na escolarização e sociedade. Caso
contrário, as aulas seriam apenas receptáculos de termos e nomen-
claturas que poderiam conduzir os estudantes em dois caminhos
falsos: “o de perniciosa meia ciência (que muitos professores têm
quando empregam têrmos que êles mesmos não compreendem) e o
132
do horror à natureza - característica, infelizmente, tão espalhada
entre os jovens do nosso país” (SAWAYA, 1949a, p. 42, grifos do
autor).
As considerações de Felix Rawitscher e Paulo Sawaya são
exemplos das imbricações complexas das tradições curriculares no
ensino de história natural no final dos anos 1940. A disciplina
escolar tinha a finalidade de desenvolver aspectos educativos e
utilitários, mas havia uma prevalência pela abordagem propedêutica
para satisfazer a realização dos exames finais e vestibulares, que
sacrificava o valor prático e cultural. Isso é, sem dúvidas, um esboço
de como cada disciplina escolar é uma união de tradições diferentes
que não são progressivas e/ou alinhadas (GOODSON, 2007).
Outra importante mobilização da SBPC para pautar o
ensino de história natural foi a realização de uma reunião entre os
biologistas da USP e alguns professores da escola secundária de São
Paulo. Surge, então, uma maior organização da comunidade
disciplinar para compreender a realidade da disciplina escolar, bem
como a legitimidade de representações na SBPC para circulação de
ideias sobre os métodos de ensino, trabalho e formação docente.
2.4.2 A I reunião de ensino de história natural da SBPC
Na Biblioteca Municipal de São Paulo, nos dias 16 e 17 de
agosto de 1949, a SBPC realizou sua primeira reunião de professores
secundaristas de ciências e história natural como parte das atividades
de celebração do primeiro aniversário. Para o evento, a diretoria
133
elaborou um inquérito com 20 perguntas sobre os métodos de
ensino, recursos didáticos e atuação docente, a saber:
1. O Colégio onde leciona possui laboratório? É êle dotado de
material necessário? 2. Qual o tempo dedicado à História
Natural em cada semana? 3. Qual a número de aulas teóricas?
e de aulas práticas? 4. Que livros utiliza para a preparação de
aulas? 5. Que livros recomenda aos alunos? 6. Os alunos
utilizam apostilas? 7. Qual a percentagem de alunos que lê
outros livros além dos adotados no curso? 8. Há alunos que lêm
livros em língua estrangeira? Pode mencionar os nomes dêsses
livros? 9. O Colégio ou V.S. assina revistas dedicadas à matéria?
10. Qual a aparelhagem com que conta o laboratório de H.
Natural? 11. O Colégio dispõe de vivários (aquários e
terrários)? 12. Os alunos contribuem com material vivo ou
morto para o laboratório? 13. As aulas práticas são apenas de
demonstração? Os alunos realizam algum trabalho individual-
mente ou em grupos? 14. Trabalha com material vivo durante
as aulas ou exercícios? 15. Faz excursões com os alunos? 16. Os
alunos podem frequentar e frequentam o laboratório fora do
horário das aulas? 17. Há biblioteca à disposição dos alunos? É
biblioteca circulante? 18. Os alunos interessam-se pela cadeira?
Qual a dificuldade de encontra para atrair o interêsse deles? 19.
Interessar-se-ia V.S. por uma revista que contive sumário de
aulas, sugestões para experiências, orientação para o estudo, etc.
Que sugere a respeito? 20. Qual a sua opinião sôbre o atual
programa: a) de História Natural do 2º ciclo (clássico e
científico); b) de Ciências Físicas e Naturais do 1º ciclo (SBPC,
1949, p. 141).
134
Os questionários foram enviados para 160 professores, mas
somente 9 responderam com o envio do material para Paulo Sawaya
no Departamento de Zoologia da USP: 5 de escolas da capital e 4
do interior. Os debates foram iniciados por Felix Rawitscher, Paulo
Sawaya e Maria de Lourdes Cantos, da FFCL da USP; Paulo
Décourt
22
e Isaías Raw. No dia seguinte, palestraram os professores
de história natural do interior paulista: Antônio Buschinelli (Rio
Claro), Tagea Cristina Björnber (Sorocaba) e Moacyr Diniz
(Piracicaba).
Os discursos nas palestras oscilavam entre a disciplina escolar
desejada pelos biologistas da FFCL da USP e a executada pelos
professores nos diferentes colégios paulistas, conforme descrição de
Sawaya (1949b):
Abriu a série o Prof. Rawitscher [...] Mestre reconhecido na
didática dos assuntos naturalísticos, trouxe valioso subsídio
para o programa que a SBPC teve em vista. O prof. Décourt,
que milita no ensino secundário há mais de 30 anos, fêz uma
apreciação comparativa entre as diversas fases por que tem
passado êste ensino entre nós. O sr. Isaias Raw insistiu,
principalmente, na necessidade de bem aparelhar os
laboratórios de H. Natural, assinto a que se tem dedica com o
entusiasmo próprio dos jovens. A Prof. D. Maria Lourdes
Canto fêz sugestiva exposição do método seguido nos cursos
22
Botânico e catedrático de história natural do Ginásio Estadual de Campinas/SP, entre
1915 e 1934, quando foi removido para exercer o magistério na capital paulista. Foi autor
de livros didáticos de ciências naturais, história natural, biologia e química, durante os anos
de 1930 a 1960 (CASON, 2019).
135
que professorou, onde conseguiu ativa participação dos alunos,
especialmente na elaboração de quadros murais e no preparo de
peças demonstrativas [...] O Prof. Buschinelli leu o relatório de
suas atividades no Colégio Estadual de Rio Claro, onde
conseguiu montar um laboratório com terrários e atrair os
estudantes em horas extra-regulares para se familiarizarem com
os exercícios adequados ao estudo de H. Natural [...] A
exposição do Prof. Moacyr Diniz foi acompanhada de um filme
sôbre uma excursão realizada com seus discípulos para coleta de
material nas vizinhanças de Piracicaba. A Prof. Tagea C.
Björnberg, representou, por assim dizer, a turma de professores
naturalistas recém-formados [...] Seus comentários sôbre o
ensino da H. Natural dentro do quadro geral médio foi muito
apreciado. Não obstante os poucos recursos que dispõe, vem
conseguindo reais progressos entre os estudantes, despertando-
lhes a vocação naturalística (SAWAYA, 1949b, p. 213-214).
Equipamentos para os laboratórios, coletas de materiais
biológicos e as produções de quadros parietais estavam nas pautas
das discussões pedagógicas da disciplina escolar para desenvolver os
métodos ativos de ensino. Isso fez a diretoria da SBPC compreender
que “há indícios evidentes e animadores de uma renovação dos
métodos de ensino da H. Natural (SAWAYA, 1949b, p. 214).
Além disso, notava-se, de forma mais clara, os vários elementos que
envolviam a atmosfera adversa da disciplina escolar história natural
no final dos anos 1940.
Dentre as dificuldades verificadas pela SBPC para
desenvolver um bom ensino de história natural na escola secundária
destaca-se a ausência de preparo prévio dos alunos em algumas
noções básicas das ciências, como também de leitura e interpretação;
136
extensão e rigidez dos programas de ensino; má distribuição entre as
disciplinas escolares no currículo; falta de recursos para excursões
naturalistas; ausências de equipamentos sofisticados e vivários;
distâncias entre os estabelecimentos de ensino secundário e as
Faculdades de Filosofia; legislação vigente desorientada e rígida;
baixa remuneração dos professores e as dificuldades com livros
didáticos atualizados
23
. Com essas adversidades, tornava-se óbvio
para Paulo Sawaya (1949b, p. 215) que “os estudantes habituam-se
a não ter contato com a natureza e, em consequência, se estabelece
o divórcio entre o que se ensina e as necessidades da vida hodierna”.
A primeira reunião na SBPC de professores de história
natural e biologistas demarcou as reivindicações da comunidade
disciplinar nos entrelaçamentos políticos, sociais e educacionais do
ensino secundário. Além disso, serviu de exemplo para realizar os
primeiros encontros sobre as disciplinas escolares de física e química
do estado de São Paulo nos anos 1950. Também cumpriu uma
finalidade dupla: de um lado, viabilizar informações e espaços de
debates sobre as condições práticas e teóricas do ensino de história
natural; no outro, evidenciar, fortalecer e consolidar o campo
científico para pautar o ensino das ciências, depositando-lhe capital
simbólico pelo magistério da escola secundária.
A SBPC também projetava as reivindicações sobre o ensino
das ciências de outras associações científicas, principalmente, àquelas
23
Sobre a necessária atualização dos livros didáticos, a reunião aconselhou o uso da obra
Elementos básicos de botânica de Felix Rawitscher (RAW, 1949). A primeira publicação do
livro ocorreu no início dos anos 1940 com edições republicadas e atualizadas até meados
dos anos 1970.
137
afinadas com seu pensamento científico-educacional como, por
exemplo, a Sociedade de Biologia do Brasil. Na assembleia
deliberada na III reunião anual (Salvador/BA, 1949), os biologistas
reivindicaram uma maior autonomia dos professores de história
natural na construção e execução dos programas de ensino, melhores
condições de trabalho, atualização sobre os recentes progressos da
Biologia e, sobretudo, “que se dê ao ensino das ciências nos cursos
secundários o caráter essencialmente objetivo e prático, evitando-se
a sistemática excessiva” (SOCIEDADE DE BIOLOGIA DO
BRASIL, 1949, p. 238). O campo científico solicitava o
deslocamento da disciplina escolar da Zoologia e Botânica para os
polos emergentes da Biologia, tais como, a Embriologia e Genética.
As reivindicações da comunidade disciplinar na SBPC foram
deixadas de lado nas mudanças que a disciplina escolar história
natural teria com a volta de Getúlio Vargas à presidência da
República. As orientações metodológicas para os professores
estabelecidas na Portaria Ministerial n. 367/1946 seriam mantidas,
mas novos programas de ensino foram fixados com o objetivo de
sintonizá-los com as exigências políticas e sociais da escola
secundária no início dos anos 1950.
2.5 O programa mínimo da disciplina escolar história natural
O governo eleito de Vargas (1951-1954) buscava
descongestionar a escola secundária e adequá-la para as demandas
industriais e sociais da sociedade brasileira em transformação. Os
programas de ensino sofreram intervenções para simplificá-los com
138
o objetivo de “desabastecimento prudente nas diversas matérias,
remediando o excesso de conteúdo que sobrecarregava a mente dos
estudantes”, conforme mensagem presidencial ao Congresso
Nacional (BRASIL, 1952, p. 273-274). Exemplo dessa preocupação
materializa-se na Portaria do MESP n. 614, de 10 de maio de 1951,
que determinou a Congregação do Colégio Pedro II a tarefa de
elaborar os novos currículos oficiais.
Alguns meses depois, os programas de ensino foram fixados
pela Portaria Ministerial n. 966, de 2 de outubro de 1951. O
ministro da educação, Ernesto Simões Filho, afirmou que:
Os programas antigos apresentavam-se no curso colegial com
objetivo único de preparar alunos para o exame vestibular, em
lugar de complementar a educação iniciada no curso ginasial. A
preparação adequada dos alunos para a vida, condicionada ao
meio social e intelectual em que vivam, está completamente
satisfeita no programa proposto, porque nêle, com grande
flexibilidade, se estabelece um mínimo, mas não se limita o
máximo que o professor possa realizar em função da respectiva
turma (INEP, 1952, p. 517).
A Portaria Ministerial n. 966/1951 estabeleceu que os
programas de ensino seriam mínimos e entrariam em vigor no ano
vindouro. A simplificação e fixação dos programas mínimos
organizou a disciplina escolar história natural em seis unidades:
Biologia, Mineralogia, Geologia, Botânica, Zoologia e Higiene
(quadro 7).
139
Quadro 7 - Síntese do programa de ensino de História Natural
no curso colegial (1951)
Fonte: Adaptado de Brasil (1951b).
O currículo oficial de história natural de 1946 e 1951 não
são conflituosos, mas revelam a instabilidade na seleção cultural dos
saberes escolares. Após mudanças seguidas e, até mesmo apesar delas,
o programa de ensino no início dos anos 1950 era bastante simples
na quantidade de conteúdos prescritos. Mais do que as
determinações e circunstâncias políticas e sociais nas escolhas dos
rie/curso
Unidades de conteúdos
3ª/clássico
Biologia: Materialismo e vitalismo. Leis da vida. Teoria celular.
Divisão celular. Noções de Embriologia. Hereditariedade. Leis de
Mendel. Teoria Cromossomial. Relações ecológicas.
Mineralogia e Geologia: Origem das Rochas. Sistemas cristalinos.
Riqueza mineral do Brasil. A metalurgia brasileira. Agentes geológicos.
Evolução e núcleo da Terra. Fósseis.
Higiene: Higiene. Saúde Pública. Epidemiologia e defesa sanitária.
2ª/científico
Botânica: Teoria celular. Caracterização, tecidos e classificação dos
vegetais. Noções de fungos e algas. Briófitas e Pteridófitos.
Fanerógama. Nutrição vegetal. Ciclo do nitrogênio. Fotossíntese e
respiração.
Geologia e Mineralogia: Cristalografia. Classificação dos minerais.
Rochas. Geologia física e histórica.
3ª/científico
Zoologia: Características celulares. Tecidos e órgãos da vida animal.
Classificação dos animais. Protozoários. Espongiários. Celenterados.
Platelmintos. Anelídeos. Nematódeos. Artrópodes. Vertebrados.
Biologia: Leis da vida. Materialismo e vitalismo. Divisão celular. Seres
autotróficos e heterotróficos. Vitaminas e hormônios. Noções de
Embriologia. Hereditariedade. Leis de Mendel. Teoria Cromossomial.
Relações Ecológicas. Espécie. Lamarckismo e Darwinismo.
Higiene: Higiene. Saúde pública. Doenças transmissíveis. Defesa
sanitária.
140
conteúdos, o que mais imprime alguma continuidade são as
preocupações científicas e, principalmente, a despeito das muitas
turbulências das ciências de referência naquele momento.
Uma das primeiras alterações do programa de ensino de
1951 foram as prescrições para o ensino de Higiene, que eliminou
as noções do movimento eugênico. O objetivo era conduzir os
alunos na preservação da saúde pública. Na época, existia uma
preocupação do governo de equacionar melhores condições
higiênico-sanitárias da população. O quadro da situação sanitária do
Brasil, visto com pessimismo por conta das epidemias de malária,
verminoses, tuberculoses e etc., precisava ser superado, uma vez que,
segundo a mensagem do governo Café Filho (1954-1955): “tôdas
essas entidades mórbidas, solapando a capacidade de trabalho dos
brasileiros, contribui para empobrecer a nação e entravar-lhe a
marcha para o progresso” (BRASIL, 1955, p. 159). Esse momento
marca, de todo modo, o fim das prescrições de Eugenia no currículo
oficial da disciplina escolar e a consolidação de utilizá-la como
recurso na educação sanitária para desenvolvimento do país. Nessa
lógica, acrescenta-se, o ensino de Geologia e Mineralogia para o
desenvolvimento da siderurgia nacional.
O programa oficial abandonou a organização das unidades
de conteúdos. Além disso, eliminou o ensino de Botânica e Zoologia
no curso clássico. A disciplina escolar foi colocada no completo
desarranjo na ordem lógica da História Natural fixada pela Portaria
Ministerial n. 244/1946. Se por um lado, os currículos dos anos
1940 estabeleciam que os estudos deveriam iniciar com a Geologia
para compreender as formas vivas do mundo; no outro, os currículos
141
dos anos 1950 efetivaram uma inversão no curso clássico (Biologia
Mineralogia e Geologia Higiene) e uma desordem na
sequência conceitual no curso científico (Botânica Geologia e
Mineralogia Zoologia Biologia Higiene). Além disso, os
estudos botânicos e zoológicos passaram a seguir uma ordem de
classificação biológica pela complexidade celular. Também houve
uma valorização prescritiva dos aspectos microscópicos para estudar
Taxonomia e Sistemática.
É difícil, com efeito, não perceber o princípio do
pensamento biológico na estrutura conceitual da disciplina escolar.
Contudo, com a clara divisão da História Natural e Biologia no
currículo, percebe-se uma prevalência pela manutenção de um
pensamento biológico naturalística e, principalmente, em função da
permanência da Mineralogia e Geologia como partes essenciais para
os estudos dos seres vivos e fenômenos biológicos. Em geral, essa
posição também revela as ambiguidades e contradições das ciências
de referência nos anos 1950. Algo refletido, por exemplo, com a
prescrição do materialismo e vitalismo no currículo. Apesar disso, é
possível identificar a estabilidade da Teoria Celular e das teses
evolutivas do Lamarckismo e Darwinismo, ora inseridos na Zoologia
e Botânica, ora na Biologia Geral.
A aparente desorganização do programa de ensino de
história natural também é resultado das próprias turbulências que a
Biologia passava para encontrar seu território nas Ciências da
Natureza e, principalmente, pelos recentes conceitos postulados. São
exemplos disso: a descoberta do DNA na transferência do material
genético por Oswald Avery (1877-1955) em 1944; os estudos
142
químicos de Rosalind Franklin (1920-1958) como, por exemplo, as
imagens da difração de raios-X do DNA; a conceptualização da
dupla-hélice da molécula do DNA por Francis Crick e James
Watson, em 1953; as pesquisas genéticas e evolutivas de Thomas
Hunt Morgan (1866-1945), Ronald Aylmer Fisher (1890-1962) e
Sewall Green Wright (1889-1988); Ernest Mayr, dentre outros, na
postulação da Teoria Sintética da Evolução.
É significativo perceber como os biologistas na SBPC
pautaram a disciplina escolar história natural. Assim, uma das
preocupações duradoras nos artigos da Ciência e Cultura diz respeito
ao esforço de conscientização geral dos defeitos e lacunas dos
programas de ensino. Buscava-se esclarecer para os professores que
os currículos estavam insatisfatórios para o trabalho docente. Alguns
desses aspectos são indicados a seguir.
2.5.1 Incongruências e didática do ensino de história natural
O quadro de ensino das ciências deveria ser alterado por
conta das poucas, ou quase nada, contribuições para o progresso da
ciência no país. Segundo a diretoria da SBPC, os programas de
ensino das ciências fixados na Portaria Ministerial n. 966/1951,
assim poderiam ser definidos:
Caracterizam-se pelo desequilíbrio e pelo exagêro. E com tais
programas chegamos à situação penosa e absurda de ensinarem
<<minúcias demais e fundamentos de menos>>. Sem dúvidas,
com ensino dessa ordem, poucos serão os elementos bem
formados que, no futuro, poderão realmente contribuir para o
143
progresso da Ciência. Enquanto não nos libertarmos dessas
extravagâncias, verdadeiras manias de grandeza, de programas
de fachada, hiperbólicos, pretensiosos, teremos sempre ciência
de segunda classe (CIÊNCIA E CULTURA, v. 3, n. 4, 1951,
p. 231).
Nesse sentido, a diretoria da SBPC enviou uma carta para o
ministro da educação, Ernesto Simões Filho, em março de 1953,
que pautava as reivindicações da comunidade disciplinar para tornar
compreensível a “necessidade de serem remodelados os programas
de História Natural aprovados” (FROTA-PESSOA, 1953, p. 48).
As recomendações e críticas dos professores e biologistas são uma
leitura da leitura do currículo oficial e, desse modo, pretendia-se
uma representação para conferir inteligibilidade no trabalho
docente. Os artigos na Ciência e Cultura, então, expõem, em partes,
ideias em circulação sobre a disciplina escolar no período.
Para a diretoria da SBPC, os usos dos programas de ensino
de história natural da Portaria Ministerial n. 966/1951 será de
funesta influência na formação dos estudantes - de tal modo são êles
pregados de defeitos, falhas e incongruências” (FROTA-PESSOA,
1953, p. 47). A comunidade disciplinar pontuou seis erros no
currículo: 1) falta de ordenação; 2) concisão e imprecisão; 3)
valorização inadequada de certos assuntos; 4) ambiguidade; 5)
anacronismo; 6) diferentes programas entre o curso científico e
clássico; e 7) falhas. Todas as justificativas foram sinalizadas pelo
Oswaldo Frota-Pessoa como, por exemplo, a omissão dos programas
do curso científico ao tratar dos Artrópodes, pois não se incluem os
144
Insetos, os quais, como se sabe, constituem no filo a classe de maior
importância” (FROTA-PESSOA, 1953, p. 48).
A falta de ordenação lógica e conceitual da disciplina escolar
deu o tom de todas as críticas da comunidade disciplinar na SBPC.
Frota-Pessoa (1953, p. 48) pontuou que os programas de história
natural não seguem “unidades lógicas ou didáticas, assuntos que se
seguem uns aos outros sem nenhum critério razoável de ordenação”.
Ou seja, os conteúdos de Zoologia, Botânica, Mineralogia,
Geologia, Biologia Geral e Higiene, ora se alteram, ora se misturam
sem qualquer lógica ou sequência de pensamento biológico na
prescrição do currículo. O emprego confuso e desatualizado de
termos e conceitos das teorias biológicas foi outro ponto criticado.
Assim, “em vão se procurará nos modernos tratados de biologia o
que são ‘leis da vida’, ‘lei da renovação orgânica’, ‘lei da reprodução’
e ‘lei da herança’” (FROTA-PESSOA, 1953, p. 48).
A estima pela seleção cultural de determinados saberes
escolares provocava uma desvalorização em outros e, até mesmo,
uma quebra lógica de conceitos no currículo. Sobre isso, Oswaldo
Frota-Pessoa dizia:
Sem incluir o estudo da morfologia e da fisiologia da raiz, caule
e folha, exige-se ‘a ação dos agentes do meio sôbre a raiz, caule
e a folha’. Na 3ª série do curso Clássico, indica-se o estudo das
vitaminas, sem pedir dos alimentos; pedem especificamente
oito tipos de relações entre sêres vivos, sem que se estude as
relações entre os sêres vivos e o meio. Enquanto se inclui
especificamente partenogênese, poliembrionia, pedogênese, e
metagênse, a parte da genética está reduzida a três tópicos, dos
quais o segundo (Leis de Mendel) provavelmente é idêntico ao
145
primeiro (Lei da Herança). Na parte da Geologia, pede-se
enfaticamente: ‘Da Barisfera’ (sôbre o que quase nada a dizer)
e não se pede Da Litosfera” (FROTA-PESSOA, 1953, p. 48).
Nesse mesmo sentido, a diretoria da SBPC afirmava que os
programas estavam desatualizados e com erros anacrônicos. Além
disso, ignorava-se o desenvolvimento dos conceitos e teorias nos
estudos genéticos e evolutivos. Para Frota-Pessoa (1953, p. 48), a
Genética e Evolução prescritas na disciplina escolar estavam com
um atraso de 50 anos [...] Sôbre evolução resume-se o programa em
duas palavras, ‘Lamarckismo’ e ‘Darwinismo’, duas teorias, das
quais, a primeira está abandonada e a segunda é apenas parcialmente
válida”. Isso indica que os estudos das Leis de Mendel ainda
repousavam no quadro teórico do mendelismo saltacionista.
Resultado de um anacronismo, esse currículo, conforme a diretoria
da SBPC, deturpava os avanços científicas e impossibilitava
compreender a ciência que nascia e crescia nos laboratórios.
Também não foi deixado de lado o posicionamento da
SBPC sobre a visão geral dos programas de ensino. Segundo o
professor Frota-Pessoa:
No tocante à questão do ensino de Ciências nos
estabelecimentos de ensino secundário, a S.B.P.C. tende a
adotar a opinião do Professor Dr. Anísio Teixeira, expendida
na quarta reunião da Sociedade, realizada em Pôrto Alegre,
segundo a qual a cada professor se deveria conceder liberdade
de elaborar o programa de ensino e execu-lo seguindo
simplesmente normas gerais indicadas pelo Ministério da
146
Educação de modo a abranger a matéria a ser lecionada
(FROTA-PESSOA, 1953, p. 48).
As ideias escolanovistas de Anísio Teixeira seguravam boas
condições de desenvolvimento do ensino das ciências, tornando-lhe
mais acessível e livre. Tais considerações contribuem para
compreender o papel da SBPC na circulação do pensamento da
Escola Nova para o currículo científico. Além disso, um completo
alinhamento da comunidade disciplinar com a defesa de renovação
da escola secundária promovida pela Campanha de Aperfeiçoa-
mento e Difusão do Ensino Secundário (CADES).
Criada pelo Decreto n. 34.638, de 14 de novembro de 1953,
no governo Vargas, a CADES tinha o objetivo de promover, por
todos, os meios a seu alcance, as medidas necessárias à elevação do
nível e à difusão do ensino secundário no país. Dentre as muitas
ações, como dispositivos pedagógicos para o trabalho e formação
docente, as publicações de manuais de ensino e da Revista Escola
Secundária, no período de 1957 a 1961. O periódico publicou e fez
circular várias orientações metodológicas para renovação das
disciplinas escolares. Nestas seções, trazia reflexões, experiências e
sugestões sobre os problemas do ensino de ciências naturais, história
natural, física e química.
O que interessa notar aqui, rapidamente, conforme Freitas
(1958, p. 98), é a dimensão pedagógica da CADES sobre o ensino
de história natural ser guiado “pelos princípios da educação ativa,
em que o aluno é fator decisivo da aprendizagem”. A atenção era
primordialmente na didática para construir um novo perfil do
147
trabalho docente. Isso é facilmente verificado no manual Didática de
História Natural (figura 2) do professor Oswaldo Domiense de
Freitas
24
, publicado pelo órgão em 1958.
Figura 2 - Capa do manual de Didática de História Natural da CADES (1958)
Fonte: Arquivo pessoal.
O livro não é específico dos saberes escolares dos programas
fixados pela Portaria Ministerial n. 966/1951. É um manual cujo
objetivo final era “ensinar a ensinar” os professores sobre a
organização da disciplina escolar, materiais didáticos, planejamento
24
Não foram localizadas informações biográficas do autor. A publicação é fruto do II
Concurso “Dia do Professor”, realizado pela CADES em 1957. Conforme reportagem no
jornal carioca Correio da Manhã, em junho de 1958, Oswaldo Domiense de Freitas ganhou
um estágio de seis meses no Centro de Estudos Pedagógicos de Sévres, em Paris, na França,
com as despesas custeadas pela CADES. O estágio tinha por objetivo “promover
intercâmbios com as experiências didáticas francesas no ensino de história natural da escola
secundária” (VAI..., 1958, p. 20).
148
de aulas, metodologias de ensino, técnicas para motivar os alunos,
exemplos de atividades e avaliações. A importância dessa produção
bibliográfica exprime, além da ausência de publicações pedagógicas
à época, o entendimento da CADES no trabalho docente para
renovar o ensino de história natural no final dos anos 1950.
A CADES e a SBPC compartilhavam o escolanovismo como
parâmetro ideal para renovação didática-pedagógica do ensino de
história natural. Porém, o campo científico, principalmente, os
biologistas reivindicavam algumas mudanças na disciplina escolar.
Na próxima seção, analisa-se, o papel da comunidade disciplinar nos
debates e ações para renovar o currículo, métodos de ensino e
trabalho docente nos anos 1950.
149
Capítulo 3
“Formar a Fina Flor da Alta Ciência”:
a renovação do ensino de Biologia em debate
Não é em qualquer idade que se plasma a consciência de um
pesquisador, mas no alvorecer da juventude, pela atração de
todos as tendências individuais no rumo do gênio inventivo e
das experimentações (REPOUSA..., 1957, p. 10).
A formação de cientistas nas universidades tornava-se uma
estratégia para o desenvolvimento industrial e econômico. Nesse
sentido, o ensino secundário teria a função de despertar as vocações
científicas e promover as noções básicas das ciências experimentais
na formação cultural e intelectual dos jovens. Conforme a
reportagem, Repousa na pesquisa a real defesa de um povo”,
publicada no jornal paulista Diário da Noite, em dezembro de 1957,
o Brasil deveria “prepara-se para formar a fina flor da alta ciência”
(REPOUSA...,1957, p. 10). Na época, dando significado que “o
incentivo ao ensino experimental da ciência no curso secundário
levará o país, em breves anos, ao 1º plano da alta pesquisa”, como
afirmaram Jayme Cavalcanti e Isaías Raw, secretários do IBECC/SP
(REPOUSA..., 1957, p. 10).
O movimento pela renovação do currículo científico nos
anos 1950 mobilizou professores, associações científicas, agências e
institutos internacionais e nacionais de educação, ciência e cultura.
Neste capítulo, analisa-se algumas ações, debates e articulações entre
150
professores e biologistas da SBPC, IBECC/SP e Inep no
desenvolvimento da renovação do ensino das ciências e,
principalmente, as implicações na disciplina escolar história natural
e biologia. Procura-se compreender as publicações da Revista
Ciência e Cultura e jornais como parte de um conjunto de
representações e práticas em circulação para renovar a disciplina
escolar, mas também dos debates que justificavam a necessária
modernização do currículo científico brasileiro.
3.1 A disciplina escolar no circuito especializado da Biologia
Nos anos 1950, as primeiras publicações sobre o ensino de
biologia na Ciência e Cultura analisam os desejos pela renovação da
disciplina escolar cultivados no circuito especializado dos biologistas
de outros países. A SBPC mantinha diálogos com outras associações
científicas, dentre elas, a British Association for the Advancement of
Science (BAAS Associação Britânica para o Progresso da Ciência).
As ideias pela renovação do ensino de biologia eram defendidas pela
BASS e, principalmente, após elaboração de uma comissão especial
para estudar o assunto.
Os biologistas dos principais centros universitários do Reino
Unido apresentaram os resultados de uma investigação sobre as
condições científicas e pedagógicas da disciplina escolar no sistema
de ensino secundário britânico. O relatório final foi publicado na
revista The Advancement od Science, em Londres, periódico oficial da
BASS, como também apresentado na reunião anual realizada na
cidade de Belfast, capital da Irlanda do Norte, em setembro de 1953.
Algumas partes desse relatório foram traduzidas e publicadas na
151
Ciência e Cultura, em junho de 1953, com comentários de Paulo
Sawaya.
A atenção pelo ensino de biologia foi pautada em dois
pontos: 1) definição; e 2) métodos de ensino. O primeiro para
defini-lo como “o estudo dos sêres vivos, vegetais e animais.
Compreende-se, portanto, a botânica e a zoologia e, as matérias
subsidiárias, como fisiologia, genética, ecologia animal e vegetal, zoo
e fitogeografia, etc.” (SAWAYA, 1953, p. 98). A posição indicada
da disciplina escolar no currículo científico era o primeiro passo para
entendê-la de autonomia e dimensões próprias e, assim, não a limitar
como “o ensino de noções de histologia, genética, organologia, como
entre nós” (SAWAYA, 1953, p. 98). No segundo ponto, a BASS fez
críticas pelo excesso de memorização nas práticas escolares e o
esvaziamento da experimentação e aulas de campo no trabalho
docente.
O parecer final dos biologistas na BASS foi a publicação de
seis recomendações para renovar o ensino de biologia: 1) valor
educativo e cultural da disciplina escolar; 2) atividades práticas; 3)
auxílios dos diretores; 4) fundação de clubes de história natural
escolar e jovens cientistas; 5) cursos de atualização para os
professores; e 6) fomento das autoridades educacionais no
aperfeiçoamento do magistério secundário (SAWAYA, 1953). Nesse
sentido, Paulo Sawaya afirmava que a Inglaterra já trilhava os
primeiros passos para renovar o ensino de biologia e atendê-lo
dentro das necessidades de uma escola secundária moderna e prática.
Também fez comparações com a situação brasileira:nós temos as
mesmas preocupações, embora estejamos longe do que já se
conseguiu naquele país. Nosso ensino é ainda muito livresco,
teórico, verborrágico” (SAWAYA, 1953, p. 98).
152
Os resultados das observações de três meses de Maria Ignes
Rocha e Silva, professora de Botânica da FFCL da USP, sobre o
ensino das ciências na reforma do ensino secundário da Suécia, em
1953, foi outro exemplo europeu apresentado pela SBPC. A autora
destacou a presença intensa do currículo científico na formação dos
jovens no Gymnasium (segundo ciclo da escola secundária com
duração de 3 ou 4 anos). Uma série de fatores, dentre eles, o alto
nível de formação dos professores, a liberdade dos programas de
ensino e presença de laboratórios no desenvolvimento de um bom
ensino científico na Suécia (SILVA, 1955).
O ensino das ciências buscava desenvolver o raciocínio, a
observação e a experimentação. Para isso, a Suécia contava com
sofisticados laboratórios especializados que eram verdadeiros micro
institutos. Cada uma desses pequenos ‘Institutionen’ compõe-se de
um anfiteatro com facilidades para demonstrações e projeções
(SILVA, 1955, p. 104). Durante a viagem, a professora assistiu
algumas aulas práticas de biologia sobre a digestão com alunos de 16
e 17 anos. Ela relatou que:
Partiram da experiência, começando com uma aula prática em
que o professor abriu um animal que havia sido alimentado
algum tempo antes. Fizeram, os próprios alunos, experiências
para determinar a presença do amido, a acidez ou alcalinidade
de sucos digestivos, etc. Verificaram a ação da tripsina sôbre o
músculo liso, etc. Em seguida, em aula teórica, tudo isso foi
discutido e analisado. O professor, naturalmente, orientou a
discussão e explicou muita coisa, mas a contribuição dos alunos
foi, pelo menos, de 50% (SILVA, 1955, p. 105).
O exercício de comparar, medir, observar e experimentar no
ensino de biologia era uma das principais aspirações de Maria Ignes
153
Rocha e Silva e, mais geral, da diretoria da SBPC, para renovar a
disciplina escolar no Brasil. No entanto, segundo a professora, “o
que na Suécia constitui regra geral aqui são exceções raríssimas,
muitas vêzes ignoradas ou incompreendidas e criticadas” (SILVA,
1955, p. 105). Assim, ao identificar os métodos de ensino como
ferramenta essencial, o campo científico toma-os como parte de um
projeto renovador, que reflete e, ao mesmo tempo, identifica um
conjunto de aspirações para serem colocadas em práticas e circuladas
nas páginas da Ciência e Cultura.
Na mesma linha de raciocínio, tem-se os comentários de
Paulo Sawaya sobre a situação do ensino de biologia na Austrália. O
estudo produzido por G. R. Meyer, do Departamento de Zoologia
da Universidade de Sidney, afirmava que, em 1951, a Nova Gales
do Sul, estado do sudoeste, possuía 18.144 professores na escola
secundária, mas apenas 176 formados em licenciaturas. Essa
característica australiana, por si mesma, conforme Paulo Sawaya
(1956b) deixava claro que a ausência de professores especializados
da disciplina escolar era um desafio além das fronteiras do Brasil. O
autor também destaca que os cursos de História Natural eram
poucos e restritos na formação docente em nosso país.
Para se ter uma noção, conforme Jayme Abreu (1955), em
1952, apenas 11 das 30 Faculdades de Filosofia (públicas e privadas)
existentes no país ofertavam a Licenciatura em História Natural. Por
isso, segundo Sawaya (1956b, p. 119): “para satisfazer as
necessidades atuais seria necessário que o número de graduados
capazes de ensinar biologia nos cursos secundários fôsse muito
maior”. Dados da Diretoria do Ensino Secundário do MEC, entre
os anos 1955 a 1959, mostram a ausência de uma formação docente
especializada no curso colegial da escola secundária (tabela 7).
154
Tabela 7 - Núm. de professores do ensino secundário registrados
no MEC (1955-1959)
Ano
Professores Disciplinas escolares no colegial
Total Diplomados nas Faculdades de Filosofia História natural Física Química
1955 2181 624 40 15 33
1956 3196 921 67 31 29
1957 4047 857 52 16 20
1958 4194 724 55 19 22
1959 4479 921 73 25 09
Fonte: Adaptado dos anuários estatísticos do Brasil (1955-1959).
Apesar dos dados serem recheados de ambiguidades, a
quantidade de professores licenciados e registrados no ensino de
história natural trazem uma estimativa aproximada das represen-
tações de uma realidade gradual, difusa e lenta de formação docente
para o ensino das ciências na segunda metade dos anos 1950. Nesse
período, a ausência de professores não diplomados pelas FFCL era
uma questão a ser resolvida para melhorar o currículo científico. Por
sinal, não é difícil perceber, como mostra os dados da tabela 7, a
hegemonia de professores sem cursos de licenciaturas, tais como,
médicos, advogados e engenheiros, no domínio do trabalho docente.
Nesse aspecto, a principal meta da CADES foi uma urgência de
formação e habilitação de professores para uma renovação
pedagógica pautada nas ideias escolanovistas.
Assim, os biologistas e professores na SBPC mobilizam o
campo científico-educacional, justificando, em certa medida, a
busca de inspirações e práticas educativas estrangeiras e internas, ora
para desqualificar e adjetivar o que existia aqui, ora para destacar que
os desafios brasileiros não eram unívocos. Sawaya completava que a
renovação do ensino de biologia precisava de uma força tarefa de
155
professores universitários, secundaristas e órgãos educacionais do
Estado. Nas palavras do autor,
Os problemas referentes ao maior desenvolvimento dos estudos
de biologia tanto pela situação que atravessamos como pelo que
se deduz dos relatórios da “Associação Britânica para o
Progresso da Ciência” de 1953 e de “New South Wales” [Nova
Gales do Sul], são muitos complexos e estão a exigir muito
esfôrço e muita dedicação para serem solucionados
satisfatoriamente. Como diz o relatório da B.A.A.A.: a solução
depende da cooperação íntima de um bom professor de
Biologia, do Diretor do Estabelecimento da Administração
Educacional (aqui entre nós a Secretaria de Educação) e dos
Comitês Educacionais (entre nós o Departamento de
Educação). Sem tal cooperação, pouco se pode esperar para o
progresso dos estudos de biologia em nossas escolas secundárias
(SAWAYA, 1956b, p. 119).
É possível afirmar que os primeiros textos publicados na
Ciência e Cultura sobre o ensino de biologia apresentavam os debates
para renová-lo em quatro pontos, constantemente reiterados ao
longo dos artigos: 1) conceptualização da disciplina escolar; 2)
métodos de ensino; 3) programas de ensino; e 4) trabalho e formação
docente. Sejam mais culturais, epistemológicos ou pedagógicos,
esses pontos não estavam isolados, mas conectados e justapostos para
serem propagados e disputados pelos biologistas na SBPC.
Sobre a conceptualização da disciplina escolar, o campo
científico-educacional na SBPC posicionou a Biologia como saber
necessário e moderno, descartando, de modo geral, a História
Natural fragmentada e desorganizada do currículo oficial da Portaria
Ministerial n. 966/1951. Os professores e biologistas não levaram
em consideração a Geologia, Mineralogia e Higiene como partes
156
fundamentais da disciplina escolar e, por sinal, essas áreas foram
silenciadas nas publicações da Ciência e Cultura. Havia uma
campanha sutil de exclusão do termo e representações do ensino de
história natural no campo de Ensino das Ciências. Isso pode ser
compreendido como uma estratégia da comunidade disciplinar na
batalha pela divisão, ou seja, nas “lutas pelo monopólio de fazer ver
e fazer crer, de dar a conhecer e de fazer reconhecer, de impor a
definição legítima das divisões do mundo social e, por este meio, de
fazer e de desfazer os grupos” (BOURDIEU, 2010, p. 113). Como
completa o autor, no jogo pela hegemonia do campo, “a censura
mais radical é a ausência” (BOURDIEU, 2010, p. 55).
A denominação pelo ensino de biologia constituiu-se como
um instrumento de classificação e delimitação do que era ou deveria
ser a disciplina escolar na escola secundária. Isso determinou e exigiu
uma maneira singular de compreendê-la, perce-la e mudá-la.
Sendo assim, mais que a simples utilização de um termo, o
estabelecimento da Biologia como parâmetro ideal foi um
mecanismo multifacetado da comunidade disciplinar fixar suas
demandas nos debates pela renovação do currículo científico.
Exemplo disso, foi a determinação de seguir as definições da União
Internacional das Ciências Biológicas (UICB). Para a UICB as
seguintes áreas constituíam a Biologia na nos anos 1950: Biometria,
Botânica, Citologia Experimental, Embriologia, Zoologia,
Bioquímica, Entomologia, Genética (com uma subsecção de
Genética Humana), Limnologia, Microbiologia, Ecologia Aplicada
e Evolução (SBPC, 1953).
Nesse sentido, a revista Ciência e Cultura ocupou uma
posição importante na conformação do ideário da Biologia no
currículo do ensino secundário; o periódico atuou como porta-voz
157
da comunidade disciplinar para difusão de elementos que agregaram
biologistas e um conjunto de práticas legítimas e exemplares para
renovar a disciplina escolar, tais como, materiais de ensino, aulas
práticas, trabalho e formação docente. Essas questões são
evidenciadas a seguir.
3.2 O kit de biologia e o ensino pela experimentação
O movimento pela renovação do ensino das ciências
procurou valer que os alunos deveriam aprender uma ciência
objetiva e moderna e, para isso, compreender o método científico.
Nesse sentido, durante uma reunião com representantes da
UNESCO no IBECC/SP, Isaías Raw propôs a criação de um kit de
ciências para trabalhar e aperfeiçoar a experimentação científica na
escola secundária (AZEVEDO, 2008). A ideia central era a
“formação de um cientista em cada cidadão. Ou melhor,
preconizavam o método científico como método de vida
(TAGLIEBER, 1989, p. 96).
No início dos anos 1950, o kit de ciências constituía-se de
um caixote de madeira portátil com vidrarias e equipamentos básicos
de um laboratório químico, tais como, erlenmeyer, funil, bureta,
tripé de ferro, bico de Bunsen, suporte universal e reagentes, bem
como um manual sico de experimentação. O material didático
contemplava dupla finalidade: 1) iniciar a renovão dos métodos
de ensino pelos alunos, pois “era mais fácil convencê-los a fazer
experiências e mais divertido do que decorar nomes complicados que
nada significam”, como afirmou a diretoria do IBECC/SP (IBECC,
1968, p. 04); e 2) quebrar as resistências dos professores de que as
aulas experimentais não dependiam de laboratórios sofisticados.
158
Assim, assegurá-los de realizar “experiências mais importantes, com
material mais simples, quase improvisado” (IBECC, 1968, p. 05).
A produção e venda dos kits de ciências do IBECC/SP pode
ser compreendia em duas fases: a primeira, a partir de 1952, com o
kit de química produzido com recursos próprios da instituição cuja
responsabilidade era de Isaías Raw e Maria Julieta Ormastroni
(AZEVEDO, 2008b). A segunda decorreu do estrondoso sucesso do
material didático, a partir da segunda metade dos anos 1950. Nessa
etapa, desdobrando-se nas especialidades do ensino de física,
biologia, mineralogia, geologia, dentre outros, dando início ao
projeto “Iniciação Científica”, lançado em 1955. Isso foi
acompanhado de mudanças na direção do órgão e no forte apoio
estatal na fabricação e difusão do objeto escolar no país.
Em 1955, uma nova administração do IBECC/SP foi
empossada. Paulo de Menezes Mendes da Rocha assumiu a
presidência; Eurípedes Simões de Paula a vice-presidência; Isaías
Raw a secretaria-geral; e Maria Julieta Ormastroni a primeira
secretaria (BARRA; LORENZ, 1986). Outro ponto destacado é que
a nova direção do IBECC/SP efetuou uma maior integração com a
FFCL da USP e a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, a
qual cedeu alguns profissionais. Nesse caso, a professora Myriam
Krasilchik (biologista formada em História Natural pela USP, em
1953), Norma Maria Cleffi (biologista formada em História Natural
pela USP, em 1952), dentre outros (ABRANTES, 2008).
É importante considerar que o IBECC/SP ganhou projeção
nacional com os materiais didáticos do projeto “Iniciação Científica”
e, principalmente, capital econômico para fabricá-los. Por exemplo,
em 1955, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo
estabeleceu um convênio com o órgão para produzir os kits. Em
159
matéria publicada no jornal Diário da Noite, da capital paulista, em
novembro daquele ano, os pequenos laboratórios adquiridos e
entregues aos colégios se constituíam de “experiências de química;
farto material de História Natural e vários aparelhos de física”
(MATERIAL...,1955, p. 07).
O kit de biologia era uma maleta portátil de materiais básicos
para uma experimentação, tais como, placas de Petri, tubos de
ensaio, lâminas histológicas, reagentes de cultura microbiana,
bandejas, pinças e tesouras anatômicas. Esperava-se a realização de
aulas que replicassem os modos de pensar e agir da Biologia e,
principalmente, matematizada, experimental e laboratorial. O
material não apagou as práticas tradicionais do ensino de história
natural como, por exemplo, a dissecção anatômica, mas conduziu-a
na compreensão de processos físico-químicos nos tecidos, órgãos e
sistemas dos seres vivos.
Havia uma defesa árdua pela experimentação no ensino de
biologia na escola secundária. Os professores e alunos deveriam
redescobrir os saberes da Biologia e validá-la como uma ciência
experimental. Mais tarde, nos anos 1960/70, esse “ensino ou
método da (re) descoberta”, conforme Lorenz (2008), Marandino,
Selles e Ferreira (2009) e Azevedo (2015), foi utilizado nos projetos
de renovação do ensino das ciências. Além disso, o laboratório
portátil foi pensado para corresponder às expectativas da aplicação
de uma ciência eficiente e neutra na aprendizagem dos alunos e
trabalho docente.
Os kits de ciências foram legitimados como objetos escolares
fundamentaispode-se dizer quase obrigatórios na renovação do
ensino das ciências. Isso porque o material foi colocado como uma
resposta rápida e prática para a falta de equipamentos nos
160
laboratórios e os métodos tradicionais e mnemônicos de ensino.
Acerca da difusão dos kits de ciências, nos anos 1950, o MEC
destinou recursos financeiros para o IBECC/SP produzi-los e, desse
modo, adquiri-los e distribui-los nos estabelecimentos de ensino
secundário do país. Somente em 1959, a CADES obteve mais de
160 laboratórios portáteis, conforme dados publicados na Revista
Escola Secundária. Foram obtidos mais de 90 kits para a disciplina
escolar ciências físicas e naturais; e para o ensino de química, física e
história natural nos colégios (tabela 8).
Tabela 8 - Núm. e distribuição de kits de ciências adquiridos
pela CADES (1959)
Disciplinas escolares
Quant.
%
Ciências físicas e naturais
93
57
Química
55
34
Física
09
06
História natural
06
03
Total
163
100
Fonte: CADES (1959, 1960a, 1960b).
Em outro exemplo, em fins dos anos 1950, o Inep firmou
contratos com o IBECC/SP para compra e distribuição de kits de
ciências. Os acordos foram efetuados com as regionais do Centro
Brasileiros de Pesquisas Educacionais (CBPE) de São Paulo, Rio de
Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife. Foram
obtidos 400 kits de ciência para serem distribuídos em 80 escolas do
país (tabela 9). A aquisição do laboratório escolar portável visava o
desenvolvimento e aperfeiçoamento das disciplinas escolares de
física, química, história natural e biologia nos estabelecimentos de
ensino secundário, normal e Institutos de Educação.
161
Tabela 9 - Núm. e distribuição de kits de ciências adquiridos pelo Inep (1958)
Centros de Pesquisas
Regionais
Núm. de
kis
Núm. de escolas
atendidas
%
São Paulo
100
20
25
Minas Gerais
100
20
25
Rio de Janeiro
80
16
20
Bahia
40
08
10
Pernambuco
40
08
10
Rio Grande do Sul
40
08
10
Total
400
80
100
Fonte: INEP (1958).
Conforme a carta de Paulo de Menezes Mendes da Rocha,
presidente do IBECC/SP, para o diretor-executivo do CBPE,
Péricles Madureira de Pinho, o kit de biologia, que possuía valor
unitário de Cr$ 14.900,00 cruzeiros, apresentava a seguinte relação
de materiais:
1 micrótomo; 2 lupas; 1 navalha; 2 pinças; 2 estiletes; 2
tesouras; 2 provetas; 3 béqueres; 2 erlemnmeyer; 2 placas de
Petri; 5 vidros de relógio; 2 alças de níquel-cromo; 2 cadinhos;
100 lâminas; 100 lamínulas; 10 vidros grandes; 10 vidros
pequenos; 1 lamparina de álcool; 2 pilhas; 3 pranchas para
dissecção; 3 pincéis de fio de camelo; 100g de parafina; 3
corantes, ácidos, álcoois, benzenos, água-oxigenada, Bálsamo
do Canadá, glicerina, éter, ringer, formol, semente de aveia,
agár-agár; 1 caixa de madeira; 1 coleção de 10 lâminas de vários
tecidos; 1 coleção de 10 lâminas de suplemento de histologia;
1 coleção de 10 lâminas de material parasitológico; 1
microscópio (PINHO, 09/12/1958).
A marca característica do objeto escolar foi a forte presença
de uma prática laboratorial que determinou, em grande medida, os
caminhos desenvolvidos para renovar o ensino de biologia. O
162
conjunto didático implicou o alto valor do academicismo na
disciplina escolar, mas também o método científico como método
de ensino. Assim sendo, a Biologia no currículo da escola secundária
deveria deixar seu plano abstrato de terminologias complexas para
adquirir uma forma concreta, palpável, visível manipulável e
mensurável na experimentação.
Apesar de terem sido colocados como cruciais para renovar
as disciplinas escolares, os kits de ciências do IBECC/SP não eram
uma realidade em todas as escolas secundárias do país. Para o INEP,
existia pelo menos dois critérios básicos para contemplar os
estabelecimentos de ensino: 1) espaços físicos já instalados para os
laboratórios; e 2) a quantidade de alunos matriculados (INEP,
1959). Além disso, a seleção das escolas ficava a critério dos Centros
Regionais de Pesquisas Educacionais (CRPE).
Percebe-se, por exemplo, que nas escolas atendidas pelo
CRPE do Rio de Janeiro adotou-se um padrão de “possibilidade de
real aproveitamento para os alunos” (INEP, 1959, p. 01). No caso
carioca, ainda que preliminarmente, verifica-se uma rede de
sociabilidade de professores engajados no processo de renovação do
ensino das ciências, tais como, o Cogio Municipal Mendes de
Morais com o professor Geth Jansen, presidente da Associação dos
Professores de Ciências do Rio de Janeiro
25
; Colégio Brasileiro de
25
A carta circular n. 1 da Associação dos Professores de Ciências do Rio de Janeiro, fundada
em fins de 1958, foi publicada na Revista Escola Secundária da CADES, em março de 1958.
Os objetivos fundamentais do associativismo docente foram: 1) intercâmbio de ideias, de
técnicas e de material didático; 2) promoção de cursos de aperfeiçoamento, de visitas e
excursões culturais; 3) realização de seminários, discussões, debates e exposições
pedagógicas; e 4) promoção da pesquisa e atitude científica pelos alunos. A sociedade
possuía a seguinte diretoria: Geth Jansen (presidente); Amauri P. Muniz (vice-presidente).
João Pupo (secretário); Mario Castilho (segundo secretário); Hélio Rodrigues (Tesoureiro);
Paulo P. Muniz (segundo tesoureiro). No conselho consultivo os professores: Ayrton
163
Almeida com Ayrton Gonçalves
26
; e a presença Albert Ebert na
coordenação do ensino de ciência naturais do Colégio de Aplicação
da Universidade do Brasil (INEP, 1959).
O espaço ocupado pelos kits de ciências nos simpósios de
Ensino das Ciências das reuniões anuais da SBPC constitui-se como
um aspecto que significava todos os discursos e práticas do
IBECC/SP, ganhando profundidade, força e legitimidade do campo
científico. Segundo matéria no Jornal do Commercio do Rio de
Janeiro, publicada em junho de 1957, sobre a IX edição da reunião
anual da SBPC (Rio de Janeiro, RJ/1957), a diretoria declarou: “há
o espírito de um ensino com cunho mais experimental e prático às
aulas. Nesse tema uma novidade apareceu: já há quem dê aulas no
Brasil com aparelhagem apropriada e até mesmo já se fabrica em S.
Paulo” (CONCLAVE..., 1957, p. 07).
A recomendação hegemônica do campo científico era que as
escolas adotassem os kits de ciências. Sobre isso, na X reunião anual
(São Paulo, SP/1958), realizada na FFCL da USP, conforme matéria
publicada no Jornal do Commercio, em julho de 1958, Oswaldo
Frota-Pessoa, afirmava que alguns professôres de ciências são
capazes de esmiuçar as teorias, as mais complexas, mas atrapalham-
se quando tentam fazer as demonstrações práticas mais simples”
(CIENTISTAS..., 1958, p. 10). Nesse sentido, as publicações nos
jornais fornecem uma representação da dimensão cultural dos
laboratórios portáteis do IBECC/SP e, ao menos no plano do
Gonçalves da Silva, Newton Dias dos Santos, Milton Tiago de Mello, Cadmo Souto Bastos
e Albert Ebert (PUPO, 1958).
26
Fundador e primeiro presidente do CECIGUA. Valla (2011) traz importantes
contribuições sobre o papel de Ayrton Gonçalves da Silva na renovação do ensino das
ciências.
164
discurso, as preocupações dos cientistas com as aplicações
pedagógicas dos materiais.
Também se identifica a importância atribuída aos manuais
didáticos, para além daqueles publicados pelo IBECC/SP, como
componentes para o desenvolvimento das do trabalho docente com
os laboratórios portáteis. Na XI reunião anual da SBPC (Salvador,
BA/1959, Newton dos Santos
27
, professor da Faculdade Nacional
de Filosofia, afirmava que os manuais de ensino das ciências
permitiam uma fácil aplicação, verificação da aprendizagem,
realização do método científico e participação ativa dos alunos. Além
disso, para este autor, eram de “fácil contrôle didático e disciplinar
pelo professor” (SANTOS, 1959, p. 140).
Os kits de ciências, e dentre eles, o de biologia, foram um
dos principais instrumentos do IBECC/SP na construção da
realidade do movimento de renovação do ensino das ciências.
Serviu, portanto, como estratégia e discurso de um esquema
intelectual, que constituiu uma forma discursiva e imagética pela
qual o ensino das ciências ganhou sentido para torna-se possível de
intervenções, mudanças e renovações. A partir disso, a atribuição de
um maniqueísmo de velhas e novas práticas docentes e materiais de
ensino, que foram dotadas de significados ditados pelo próprio
IBECC/SP. Assim, a construção de representações institucionais e
objetivas do mundo social para “marcar de forma visível e
perpetuada a existência do grupo, da classe ou da comunidade”
(CHARTIER, 2002, p. 23).
Com a necessidade de fortalecer, divulgar e criar uma
atmosfera de produção, circulação e consumo dos kits de ciências, o
27
Foi autor de manuais pedagógicos de práticas de ciências durante os anos 1950 a 1970.
Foi um dos expoentes na renovação do ensino das ciências no país (MORAES, 2010).
165
IBECC/SP e a SBPC também propagavam a necessária instalação de
clubes de ciências no país. A proposta assumia o objetivo de
divulgação científica e legitimação de práticas experimentais na
escola secundária, seja no espaço formal das salas de aulas e
laboratórios, ou fora dela como atividades extraclasses. A seguir
discute-se essa lógica na renovação do ensino de biologia.
3.3 O clube de história natural e as práticas exemplares
No final dos anos 1940, a criação de clubes de ciências era
uma indicação da Divisão do Ensino e Difusão da Ciência da
UNESCO para promover o valor da ciência na sociedade. Isso com
base nas experiências consolidadas da Dinamarca, como daquelas em
curso em outros países, tais como, EUA e Índia. Em artigo na
Ciência e Cultura, em setembro de 1951, a diretoria da SBPC
descreveu a experiência dinamarquesa comandada pela Sociedade
para Difusão da Ciência desde os anos 1930. Os clubes de ciências
naturais e físicas, que eram liderados pelos professores da escola
secundária de Copenhague, tinham a função de “difundir o gôsto
pelas ciências exatas e naturais, interessando ativamente a juventude
e, especialmente, mostrando-lhes a importância do papel que
desempenham na Sociedade e Civilização moderna” (SBPC, 1951,
p. 224).
No Brasil, o campo científico do CNPq também incentivou
a criação de clubes de ciências. Joaquim Costa Ribeiro, membro
consultivo do órgão, no programa de Rádio do MEC, em 1953,
afirmou que o avanço do currículo científico na escola secundária
perpassava o estabelecimento de atividades extraclasses do ensino das
166
ciências na formação dos jovens. Em suas palavras, publicadas na
Ciência e Cultura, o professor destacou:
Em nome do Conselho Nacional de Pesquisas faço pois um
apêlo aos Diretores, aos Professôres e sobretudo aos alunos do
ensino secundário de que todo o Brasil, para que procurem
organizar êsses clubes com o objetivo de colaborar na tarefa de
aperfeiçoamento do ensino das ciências, permitindo ao mesmo
tempo, despertar e estimular as vocações para a pesquisa
científica entre os estudantes brasileiros, cuja inteligência, cujas
habilidades e, cujo espírito de iniciativa eu bem conheço através
de uma experiência de mais de vinte anos como professor
(RIBEIRO, 1953, p. 170).
Os clubes de ciências buscavam o aperfeiçoamento do ensino
de ciências, física, química e biologia na escola secundária. Além
disso, na divulgação científica na própria escola por meio de
experiências, excursões, seminários, exposições e feiras de ciências.
Segundo a diretoria da SBPC, essas atividades constituíam-se como
“uma das melhores iniciativas para o desenvolvimento do gôsto pelos
estudos científicos nos estudantes de hoje, futuros cientistas de
amanhã” (CIÊNCIA E CULTURA, v. 3, n. 4, p. 231, 1951). Outra
questão que reforçava os clubes de ciências era o fato de que esse
espaço estava entre os apontados, pelo campo científico, como signo
e berço das novas vocações científicas do país. José Reis (1968, p.
191) afirmava que “cada clube de ciência é uma célula de alto
potencial para formação de futuros cientistas”.
Segundo Reis (1968), com o IBECC/SP tornou-se possível
uma melhor institucionalização para criar e organizar os clubes de
ciências. O primeiro clube de ciências da instituição contou com a
direção de Leônidas Horta Macedo, professor indicado pela
167
Secretária de Educação do Estado de São Paulo, funcionando entre
os anos de 1952 a 1954 (ABRANTES, 2008). Mais tarde, outros
foram sendo criados nos ginásios e colégios da capital e interior
paulista, tais como, em Piracicaba, Botucatu, Rio Claro e São José
do Rio Preto. Também houve a criação em escolas no Rio de Janeiro,
tais como, o Colégio Pedro II e Colégio Novo Friburgo. Por
exemplo, o professor Cadmos Bastos descreve as atividades
extraclasses de ciências naturais do Colégio de Aplicação da
Faculdade Nacional de Filosofia, publicadas na Revista Escola
Secundária (BASTOS, 1959, 1961).
Ainda em meados dos anos 1940, m-se o clube de história
natural do Colégio Estadual de Jaboticabal, localizado no interior
paulista, criado, em 1945, pelo professor Carlos Nobre Rosa. Para
Reis (1968, p. 193), um desses professores “pioneiros, que não deve
nunca ser esquecido”. No simpósio de Ensino das Ciências na IX
reunião anual (Rio de Janeiro, RJ/1957), o professor afirmou que:
Com o intuito de proporcionar aos estudantes do nosso
Colégio um ambiente mais favorável e ao desenvolvimento do
gôsto pela História Natural, organizamos por sugestão do Dr.
P. Sawaya, em 1945, o Clube de História Natural do Colégio
Estadual de Jaboticabal [...] A organização do nosso Clube
também foi determinada por outro motivo; é que vimos nêle a
única maneira de conseguir, também, a organização e a
manutenção de um laboratório e de um museu de História
Natural no nosso Colégio (ROSA, 1960, p. 36).
Fica, portanto, evidente que o clube de história natural
correspondeu um importante instrumento de conformação de
renovação dos métodos e materiais de ensino da disciplina escolar.
Era um clube especializado, ou seja, “criado para desenvolver
168
trabalhos apenas em determinado campo, o que simplifica muito a
organização e reduz as necessidades de material” (REIS, 1968, p.
314). Em outro texto publicado, em junho de 1959, na revista da
CADES, o professor descreve toda a organização e as atividades
realizadas com os alunos
a) realização de palestras, conferências e reuniões de estudos
dessa ciência; b) organização de uma Biblioteca especializada de
História Natural, para consultas e empréstimos aos alunos; c)
melhoramento constante do Museu e Laboratório de História
Natural do Instituto; d) realização de uma estadia de estudos e
coleta de material de História Natural, durante 15 dias,
anualmente, com alunos da terceira série do curso colegial, em
um ponto qualquer do litoral do Estado; e) Possibilitar aos
estudantes oportunidades de realizar trabalhos de pesquisa de
laboratório, para o desenvolvimento pleno de gôsto pela
Ciência, sendo de responsabilidade, por si mesmos, os próprios
problemas (ROSA, 1959, p. 37).
A centralidade assumida para renovar os métodos de ensino
relaciona-se com os traços significativos de práticas tradicionais, tais
como, as excursões para coleta de material biológico, já estabilizadas
na disciplina escolar, com certas atividades, ainda que de modo
retórico, colocadas como novas como, por exemplo, as pesquisas
laboratoriais. É possível, ainda, perceber que existe um pensamento
educacional escolanovista na constituição da forma e conteúdo do
clube de história natural. Além disso, a assinatura de fixá-lo como
espaço para despertar as vocações científicas no ciclo colegial da
escola secundária.
O professor Carlos Rosa também destacava as práticas do
clube de história natural do Colégio Estadual de Jaboticabal:
169
Durante o recreio, por exemplo, nunca o microscópio fica
fechado no armário: sempre há um grupo examinando alguma
coisa [...] Numa das paredes do laboratório, o Clube mantém
um “jornal mural” de História Natural; êste consiste num
quadro grande, onde são semanalmente fixados recortes de
jornais, revistas e notícias interessantes relativas a esta matéria.
A renovação semanal do quadro é feita com a participação dos
próprios alunos, com o objetivo de nêles despertar o interêsse e
a procura de novidades sôbre está ciência [...] Constantemente
o Clube mantém no laboratório em gaiolas próprias, animais
vivos, como sapos, ratos, cobaias, tartarugas, cobras, peixes, etc.
Em cubas e aquários mantém vegetais aquáticos e culturas de
microrganismos para aulas práticas. Três filmes coloridos sôbre
as excursões e inúmeros dispositivos coloridos e em branco-
prêto foram feitos, êstes com larga aplicação nas aulas de
História Natural. O Clube publica ainda um jornal,
denominado “O Tamanduá”, destinado a divulgar artigos de
História Natural, do qual saem 4 a 5 números por ano,
organizado pelos próprios alunos (ROSA, 1959, p. 40).
Dentre as práticas de maior significância do clube de história
natural, tinha-se as excursões anuais para as praias de Santos, São
Vicente, Guarujá, Praia Grande, São Sebastião, Ilhabela,
Caraguatatuba e Ubatuba. O objetivo era observar, coletar e estudar
a fauna e flora marinha, tais como, fitobentos e zoobentos. Desse
modo, “proporcionar aos alunos oportunidade de ver, de observar,
no próprio ambiente em que vivem, os animais e vegetais marinhos”
(ROSA, 1960, p. 37).
A estadia no litoral norte de São Paulo durava cerca de 15
dias para coleta de material biológico. No conteúdo de um artigo na
Revista Escola Secundária, Carlos Nobre Rosa descreveu as atividades
diárias realizadas nas excursões. Segundo o autor,
170
O período da manhã é destinado, geralmente, à coleta de
exemplares marinhos. Para isto, o Clube dispõe de material
próprio, pequena rêde, com latões, coadores de filó, pequena
rêde de plâncton, máscara de vidro para observação do fundo
submarino, etc. A parte da tarde destina-se ao preparo e estudo
do material coletado, separando-se os exemplares interessantes
para conservação e transporte ao laboratório e museu do
Instituto. O estudo, no próprio local da coleta, é feito sempre
com auxílio de um microscópio e de lentes manuais.
Freqüentemente, alunos mais interessados preparam álbuns de
algas marinhas, classificando-as e anotando a procedência e a
época da coleta (ROSA, 1959, p. 38).
O clube de história natural buscava integrar a aplicação do
método científico como método de ensino na valorização da ciência
e despertar as vocações científicas. Nas palavras de Carlos Rosa
(1963, p. 315), a própria coleta dos animais marinhos, observando-
os no próprio ambiente onde vivem aprende-se Biologia de maneira
bem mais interessante” (ROSA, 1963, p. 315). Também se realizava
visitas técnicas e aulas práticas nos laboratórios do Instituto de
Biologia Marinha (IBM) da USP, localizado em São Sebastião.
No período de 1945 a 1959, o clube de história natural
realizou 14 excursões com cerca de “600 exemplares diferentes
coletados pelos próprios alunos” (ROSA, 1959, p. 38). Com
patrocínio do IBECC/SP, boa parte dessa coletânea compôs o livro
Animais de nossas praias, publicado pela editora da USP em 1963.
Nesse material, o professor Carlos Rosa descreve a ecologia de
algumas espécies de animais, tais como, protozoários, poríferos,
cnidários, moluscos, equinodermos, crustáceos e cordados
marinhos. O livro não é um manual para coleta de material
biológico, mas para os valores acadêmicos e culturais da Biologia.
171
José Reis compreendia essa obra com “significação muito especial
em nossa literatura científica e didática, porque decorre diretamente
da ‘aventura da descoberta’ feita pelo professor com seus alunos”
(REIS, 1968, p. 301).
O clube de história natural garantia o prestígio de Carlos
Rosa no campo científico-educacional. A preocupação era mostrá-lo
como um professor bem sucedido na renovação do ensino de
biologia no interior de São Paulo. Nesse sentido, em artigo
publicado na Ciência e Cultura, em dezembro de 1957, a diretoria
da SBPC expressa o interesse de propagar as práticas escolares. O
objetivo era de “divulgá-las e que poderiam ser multiplicadas com a
adoção de no mínimo, uma aula prática, por semana” (ROSA, 1957,
p. 236). Assim, por exemplo, em artigo na Ciência e Cultura, Carlos
Rosa forneceu uma série de instrumentos e orientações para o
desenvolvimento de aulas práticas de Fisiologia Experimental no
ensino secundário. O autor afirmava que,
Aproveitando o animal aberto [sapo] para obtenção do
cardiograma, os alunos estudam a influência dos centros
nervosos do coração. Retiram o órgão, colocam-no num vidro
de relógio contendo ringer e observam os batimentos cardíacos
do órgão isolado [...] As aulas práticas de fisiologia da contração
muscular são dadas utilizando-se os sapos, excitando-se os
músculos pela corrente elétrica proveniente de pilhas sêcas, pela
ação de sais e ácidos, pelo pinçamento, etc. A fisiologia vegetal
é feita principalmente pelo estudo da osmose em Tradescantia,
provocando-se a plasmólise e a deplasmólise nas células dos
pêlos estaminais [...] Por ocasião das aulas referentes aos
Oligochaeta, os alunos trabalham com minhocas observando a
condução de fragmentos de papel filtro, sob a ação das cerdas,
na parte lateral dêsses animais [...] A realização da experiência
primeiro, e depois a observação ao microscópio parece
172
constituir um método de estudo mais interessante, pois os
alunos sentem-se curiosos em saber porque os pedaços de papel
sobem no corpo das minhocas, em lugar de descer como seria
de esperar [...] As aulas sôbre cromatóforos, melanina, etc. são
seguidas de aulas práticas com observação de cromatóforos na
pele de peixes mantidos constantemente nos aquários do
laboratório do Colégio (ROSA, 1957, p. 235-236).
Ressalta-se, ainda, que o conhecimento da experimentação
nos métodos de ensino da disciplina escolar, embora extremamente
relevantes, não era uma realidade em todas as escolas secundárias do
país. Por exemplo, Walter Narch, do Dep. de Zoologia da FFCL da
USP, em publicação na Ciência e Cultura, faz críticas sobre a falta
de aulas práticas no interior paulista, seja pela carência de
equipamentos básicos nas escolas, seja pela inexatidão na coleta e
preparo de material biológico (NARCH, 1960). Dando seguimento,
o professor, durante o simpósio de ensino de história natural na XII
reunião anual da SBPC (Piracicaba, SP/1960) apresentou algumas
alternativas de aulas práticas come insetos, pequenos mamíferos e
anfíbios:
Com o sapo: podemos seguir o desenvolvimento, bastando para
isso uma desova e pequeno aquário. Uma iniciação do método
científico é necessária, com anotações e desenhos diários. Com
peixes: ovíparos e vivíparos, observamos acasalamento, tipo de
desova, nascimento de alevinos, etc. Com ratos: alimentação,
acasalamento e nascimento dos filhotes [...] Insetos, tais como
barata e gafanhoto, poderão ser criados. O gafanhoto vive bem
em gaiola com tela. Coloca-se uma gaveta de cêrca de 8 cm de
altura cheia de terra sêca, e num frasco com água, folhas de
couve ou alface. Na gaiola introduzimos um casal dêsses
insetos. Os alunos observarão a cópula, separação do casal e
173
ovopostura. Após 60-90 dias, nascem os filhotes. Notaram o
crescimento por mudas sucessivas, alimentação e desenvolvi-
mento (NARCH, 1961, p. 10).
Para além de orientações e divulgações nas revistas e
simpósios de Ensino das Ciências, as práticas dos professores e
biologistas foram modeladas para conferir uma inteligibilidade da
renovação dos métodos de ensino. Essa característica, por si mesma,
indica a circulação de saberes agenciados pela imprensa periódica e,
neste caso da SBPC que acrescentou materialidades, discursos e
práticas em prol das mudanças no ensino de biologia. Assim, na
retórica do plano discursivo na Ciência e Cultura, assinala-se as
excursões científicas, aulas laboratoriais, preparo de material
biológico, dentre outras atividades, como práticas que foram
aplicadas em determinados contextos e, igualmente, colocadas como
elementos de propagação do que se desejava realizar, normalizar e
padronizar na disciplina escolar.
É necessário compreender as práticas exemplares para
renovar o ensino de biologia como culturais, conforme a Nova
História Cultural, pois trazem a certificação de representações
daquilo que se buscava concretizar no trabalho docente. Não se
pode, portanto, negar a capacidade das “práticas discursivas como
produtoras de ordenamento, de afirmação” (CHARTIER, 2002, p.
27-28). Em síntese, a potência de sentidos e significados da
comunidade disciplinar com um conjunto de valores, normas e
atitudes construídas nos discursos e interesses dos professores e
biologistas na SBPC.
174
Outra atividade do IBECC/SP que alcançou legitimidade na
SBPC foi o concurso “Cientistas de Amanhã”
28
, realizado entre fins
dos anos 1950 até meados de 2000. O certame fazia parte do
conjunto de atividades de uma unidade indivisível de divulgação
científica e ensino das ciências da comissão paulista, tais como,
programas de televisão, clubinhos de ciências e feiras de ciências
29
.
Todas as expectativas, então, colocadas na expansão do currículo
científico para a legitimação da experimentação didática nas práticas
escolares, bem como despertar as necessárias vocações científicas do
Brasil.
A partir das discussões sobre os kits de ciências e clubes de
ciências, é possível perceber que se impunha aos agentes da
comunidade disciplinar a tarefa de consolidar a crença pela
necessidade e utilidade da experimentação didática no trabalho e
formação docente. Esse esforço também se impôs na SBPC.
Conforme o professor João Pupo (secretário da Associação de
Professores de Ciências do Rio de Janeiro), durante a XI reunião
28
Concurso anual lançado oficialmente pelo IBECC/SP em 1957. Contou com apoio
financeiro do MEC, da CAPES, dentre outros (ABRANTES, 2008). Para a diretoria da
SBPC, o certame tinha o objetivo de “descobrir e incentivar vocações para a ciência, entre
estudantes secundários e bem assim incrementar, entre professores do mesmo nível, o
aperfeiçoamento nos métodos de ensino de disciplinas científicas” (SBPC, 1959, p. 247).
Para mais informações, ver Silva e Silva (2021).
29
A partir de 1960, o IBECC/SP passou a realizar uma feira anual de ciências. A I Feira de
Ciências foi realizada na Galeria Prestes Maia na capital paulista. Durante os eventos eram
realizadas demonstrações, aulas públicas, apresentação de trabalhos, filmes científicos,
palestras, etc. Em 1969, o governo Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) instituiu a Feira
Nacional de Ciências pelo Decreto n. 64.058, de 3 de fevereiro de 1969, considerando-a
como preceito para o ensino da tecnologia e das ciências, conforme as necessidades do país.
José Reis era um grande entusiasta das feiras de ciências. Para ele, “uma revolução
pedagógica” (REIS, 1968, p. 295).
175
anual (Salvador, BA/1959), em matéria publicada no Jornal do
Commercio, em julho de 1959, a renovação do ensino das ciências
no Brasil “só pode ser alcançada por meio do ensino experimental e,
por essa razão, a SBPC se empenhará junto às Faculdades de
Filosofia, para oferecer semelhante ensino a seus alunos e futuros
professores” (CIENTISTAS...1959b, p. 05). Assim, a formação e
trabalho docente estava no centro dos debates do campo científico-
educacional. Isso é o objeto de reflexão a seguir.
3.4 O aperfeiçoamento de professores na renovação
do ensino de Biologia
A defesa pelo ensino das ciências nos quadros científicos da
SBPC foi cultivada na valorização social da ciência e expansão da
escola secundária. Com o aumento na oferta de matrículas, criação
de estabelecimentos e ampliação da rede do ensino secundário, por
conseguinte, havia também uma necessidade de formação e trabalho
docente. Em todos os casos, de modo geral, nos anos 1950, José Reis
descreve algumas condições laborais dos professores de ciências
naturais, física, química, história natural e biologia:
De um lado, os programas relativamente densos, obrigando a
horários relativamente apertados. De outro lado, os professôres
insuficientemente remunerados, tendo de correr de aula em
aula para sustentar condignamente suas famílias. E dentro das
próprias escolas, a extrema pobreza ou inexistência de recursos
materiais, a falta de livros modernos para professôres e
estudantes, a ausência de equipamentos, tudo isso a contratar
às vêzes com a suntuosidade dos prédios (REIS, 1968, p. 190).
176
Para homogeneizar as reivindicações de trabalho dos
professores das ciências e os pontos fundamentais pela renovação do
currículo científico, o IBECC/SP realizou o I Congresso Nacional
de Ensino de Ciências na USP nos dias 26 a 28 de junho de 1956.
O evento contou com participação da SBPC, técnicos do MEC,
professores de São Paulo, Rio de Janeiro e outras regiões do país.
Conforme nota publicada no jornal Correio Paulistano, em junho de
1956, foi realizada a seguinte programação:
Dia 26, 5ª feira, ás 9 horas: abertura e Conf. sobre a
“Importância social e econômica do ensino de ciências”: às 10
hs.: Discussão sobre a organização da Soc. Brasileira de Prof. de
Ciências; às 14 hs.: Filmes científicos. Dia 27, 6ª feira, às 9
horas: Conferência e debates sobre o “O ensino experimental
das ciências, seu valor e necessidades”; às 14 horas: Filmes
científicos. Dia 28, sábado, às 9 horas: Discussão sobre Clubes
de Ciências; às 11 horas: Filmes científicos (1º
CONGRESSO...1956, p.10).
A conferência “O ensino experimental das ciências, seu valor
e necessidades” foi presidida por Isaías Raw. Na sequência, o
professor Paulo Sawaya destacou a ausência de formação,
aperfeiçoamento docente e equiparação laboratorial dos ginásios e
colégios. Para ele, “na maioria das nossas escolas os alunos decoram
as teorias sobre ciências, enquanto os aparelhos para demonstrações
práticas ficam fechados nos armários”, conforme declarou em
matéria no jornal carioca Correio da Manhã, em agosto de 1956
(UM POUCO...1956, p. 12).
Dando seguimento nas palestras, Newton Santos ressaltou o
maior resultado do evento: a fundação de uma associação nacional
de professores das ciências. Para o professor, o associativismo
177
docente tinha o objetivo de reunir os professôres para,
organizadamente, lutarem pela racionalidade e elevação das ciências
nas nossas escolas secundárias” (UM POUCO...1956, p. 12). O
associativismo docente ganhou estatuto no simpósio da X reunião
anual da SBPC (São Paulo, SP/1958). A Associação Nacional dos
Professores de Ciências foi atribuída de um poder de
reconhecimento e prestígio; de um capital creditado pelo campo
científico, ocupando-se de posições pertinentes nas reuniões anuais.
A presença da associação tornou-se importante na soma de forças
sinérgicas do IBECC/SP pelo progresso do ensino das ciências,
representando o discurso legítimo dos professores pela renovação das
disciplinas científicas da escola secundária.
O simpósio de Ensino das Ciências na X reunião (São Paulo,
SP/1958) também foi marcado pelas questões sobre a formação de
professores. Nesse sentido, a SBPC compôs uma comissão especial
para produção de um memorial às Faculdades de Filosofia: Arrigo
Leonardo Angelini (relator), Oswaldo Frota-Pessoa, Carlos Correa
Mascaro, Benedito Castrucci e Dante Moreira Leite
(RECEBERÃO...1958). No conteúdo do documento, foram
fixados quatro pontos fundamentais para uma formação docente
alinhada com a renovação do ensino das ciências, conforme
reportagem no Correio Paulistano, em julho de 1958, descrita a
seguir:
1. Formação do professor secundário de matérias científicas,
apesar dos progressos notáveis resultantes do funcionamento
das Faculdades de Filosofia, continua deficiente em relação às
necessidades nacionais. 2. A orientação dos cursos de matérias
científicas das Faculdades de Filosofia vem em muitos casos
tendendo mais para a finalidade de formar pesquisadores do
178
que para a de formar professores secundários. Essa tendência
tem contribuído para tornar menos rápida a melhoria dos
quadros do magistério, prejudicando, assim, o ensino das
nossas escolas de nível médio, o que, em última análise, bem
limita o número de outros cientistas. 3. O simpósio considera
de maior importância que, nos cursos científicos básicos das
Faculdades de Filosofia, se dê atenção ainda maior do que até
agora se tem dado no preparo dos estudantes para a execução
dos trabalhos práticos que deverão realizar na qualidade de
professores secundários. Tal preparo poderá ser aperfeiçoado
grandemente mediante a instituição, em cada Departamento,
sem prejuízo do currículo normal, de curso de freqüência não
obrigatória, no qual se realizasse o conjunto de trabalhos
práticos especificamente indicados para o ensino em nível
secundário. 4. Por outro lado, julgou ainda o simpósio essencial
que se intensifique a prática do ensino nos cursos de Didática
Especial e que, para tanto, os colégios e a aplicação necessárias
ao seu eficiente funcionamento (DEVEM..., 1958, p. 10).
Se por um lado, havia uma expectativa de uma formação
docente conectada com o ensino experimental; no outro pautava-se
o debate sobre a necessária organização e oferta de cursos para os
professores em exercício. Segundo Oswaldo Frota-Pessoa, isso era “a
medida de maior urgência num programa de revitalização do ensino
das ciências (FROTA-PESSOA, 1956, p. 70). Nesse sentido, o
IBECC/SP criou o Centro de Aperfeiçoamento da Técnica do
Ensino de Ciências (CATEC) em 1959. O objetivo era de
“propugnar pela renovação dos métodos de ensino das ciências e
proporcionar o treinamento especializado intensivo a professores
que desejam receber subsídios para o seu trabalho de classe”
(OFERECE..., 1959, p. 17). A criação do CATEC ia ao encontro
do pensamento da SBPC de intensificar o aprimoramento de
179
professores. Para a diretoria, os cursos tinham a finalidade de
apresentar “as noções complementares necessárias para que o ensino
da ciência seja atualizado” (CIÊNCIA E CULTURA, v. 3, n. 4, p.
321, 1951).
A reportagem no jornal paulista Diário da Noite, publicada
em setembro de 1959, noticiou a abertura das inscrições de
professores-alunos para o I curso no CATEC, no período de 19 a 26
de setembro de 1959. Esses cursos foram realizados na sede do
IBECC/SP com vagas para o ensino de física e biologia. O
treinamento sobre Histologia, Citologia, protozoários e algas foi
ministrado pela professora Myriam Krasilchik. O I curso do
CATEC foi “programado inicialmente para 10 matrículas,
funcionou com cêrca de 20 inscritos, tal o interêsse que despertou
(TREINAMENTO..., 1959, p. 18).
Em reportagem no Correio Paulistano, em janeiro de 1960,
o II curso de treinamento do CATEC contou com 19 professores da
capital e interior paulista. O curso foi ministrado nos períodos
matutino e vespertino, com seis horas diárias, e turmas para o ensino
de física, química, biologia (ministrado pela Myriam Krasilchik),
bem como metodologia do ensino de ciências com Oswaldo Frota-
Pessoa. Com a conclusão do II curso do CATEC, o IBECC/SP em
fevereiro de 1960 também realizou cursos sobre “conservação,
limpeza e conserto de material de laboratório” (INICIADO...1960,
p. 12).
O CATEC ao longo do mês de fevereiro de 1960 ofertou
mais três cursos: “Estudo Prático de Insetos” com o professor Walter
Narch; “Técnicas de trabalho em laboratório de ciências” com uma
equipe do IBECC/SP; e o curso de “Radiobiologia pelo Instituto
de Energia Atômica da USP (CURSOS..., 1960, p. 07). Com o
180
financiamento da CADES, “mais de 200 professores das ciências do
ensino médio fizeram aperfeiçoamento no IBECC em 1960”
(MAIS..., 1961, p. 02). Segundo uma reportagem publicada no
Correio Paulistano, em fevereiro de 1961, em 1960, foram os
seguintes cursos realizados, indicando os números de matriculados:
“janeiro - Biologia (27), Física (27), Química (27) e Metodologia do
Ensino das Ciências (27); agosto a novembro - sica: Mecânica (26)
e Física: Eletricidade (26); setembro a outubro - Matemática
atualizada (29); agosto a dezembro: Química (20)” (MAIS..., 1961,
p. 02). A partir de 1961, os cursos no CATEC tornaram-se regulares
e conquistaram uma dimensão nacional.
Sobre o funcionamento dos cursos, Frota-Pessoa, em artigo
publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, do Inep,
descreveu que:
Em geral, os professôres-alunos recebem aulas de botânica,
zoologia, física, etc., dadas pelos professores dessas matérias e
têm também aulas de didática dadas pelos professores
correspondentes. Nas primeiras adquirem conhecimentos, sem
se preocupar com o modo de ensiná-los no curso secundário;
nas segundas adquirem conhecimentos metodológicos sem
aplicação a casos específicos. A síntese entre as duas aquisições,
que é deixada por conta do professor-aluno, é a parte mais
difícil (FROTA-PESSOA, 1956, p. 63).
O que estava em jogo, portanto, não era uma formação
como nas Faculdades de Filosofia, mas de um professor treinado
para as inovações do ensino de biologia e renovação pedagógica da
escola secundária. A intenção era de possibilitar um ágil treinamento
docente para viabilizar uma apreensão sobre a atualização dos
programas e métodos de ensino. Era exatamente, e
181
contraditoriamente, a procura rápida, pontual e precisa de
aperfeiçoar o trabalho docente que os cursos buscavam somente
“uma formação ligeira com abrangência em conhecimentos
escolarizados das disciplinas escolares” (MORAES, 2010, p. 38).
Seria útil lembrar que, os objetivos dos cursos também
integravam a formação dos professores-monitores e líderes. Nesse
sentido, foi realizado um intercâmbio entre o IBECC/SP e a
Organização dos Estados Americanos (OEA) com o objetivo de
ofertar cursos de especialização e aperfeiçoamento no ensino de
disciplinas científicas nas principais universidades norte-americanas”
(ESPECIALIZAÇÃO...1960, p. 06). Conforme reportagem no
Correio Paulistano, em junho de 1960, foram selecionados três
bolsistas do corpo docente do CATEC: Haim Jurist (Química) na
Purdue University, localizada em West Lafayette, Indiana; Rachel
Gevertz (Física) no Reed College, em Portland, Oregon; e Myriam
Krasilchik (Biologia) na University of Southern California, em Los
Angeles, com a direção do professor Jay Savage
30
(ESPECIA-
LIZAÇÃO...1960, p. 06).
Estreitando ainda mais o intercâmbio entre o movimento de
renovação do ensino das ciências nos EUA e Brasil, o IBECC/SP e
a Associação Brasileira de Professores de Ciência realizaram na XI
reunião da SBPC (Piracicaba, SP/1960) um simpósio sobre o ensino
de história natural (anexo A). O evento contou com a participação
de professores estadunidenses, que viajaram com patrocínio da
OEA: Arthur Roe, diretor do Programa de Conteúdo de Cursos de
30
Os relatórios dos professores do CATEC foram publicados na revista Cultus. A professora
Myriam Krasilchik (1961, p. 28) descreveu o curso “Recentes Avanços em Biologia”, que
contou com “aulas diárias dados por 10 especialistas nos campos de citologia, ecologia,
bioquímica e evolução”.
182
Ciências da National Science Foundation (Fundação Nacional da
Ciência - FNC); Karl Diettmer, da American Chemical Society
(Sociedade Americana de Química); e Ernest Kinge, coordenador
do Programa de Biologia da Universidade de Indiana
(PROFESSORES..., 1960).
Havia também uma preocupação da comunidade disciplinar
sobre as bibliografias que poderiam ser utilizadas na renovação do
ensino de biologia. A falta de livros didáticos atualizados era
considerada, efetivamente, um fator que impedia o aperfeiçoamento
docente. Uma das dificuldades estaria principalmente acerca dos
novos conceitos e descobertas da Biologia. Para esse problema
pontual, a solução estaria na utilização de “boas revistas para
professores de ciências (Cultus, Ciência e Cultura)” (FROTA-
PESSOA, 1956, p. 64). A imprensa periódica especializada
permitiria traçar um adequado planejamento de atualização dos
programas de ensino, conferindo-lhes, portanto, elementos técnicos
e teóricos validados pelo campo científico. Isso também permite
compreender o alcance das revistas científicas e pedagógicas como
parte da estratégia na formação e trabalho de professores.
São diversas as publicações na Ciência e Cultura sobre os
avanços da Biologia com potencialidades para organização e
atualização do currículo. Tais como, Fisiologia Vegetal e Animal
(FERRI, 1949; MENDES, 1955; SAWAYA, 1965), Sistemática
(SAWAYA, 1954; BARRETO, 1954), Bioquímica (BACILA, 1954,
1956; RAW, 1964), Zoologia (TRAVASSOS, 1955), Histologia
Animal (JUNQUEIRA, 1965) e etc. Mais interessante, nesse
sentido, é perceber, de modo geral, que são textos com uma
linguagem acadêmica robusta e, principalmente, conduzidos sem
considerar a realidade da escola secundária.
183
Nesta perspectiva, a utilização do periódico na construção de
um discurso oficial para os assuntos sobre a disciplina escolar e as
revistas como um lugar de afirmação de um grupo e de uma
permanente regulação coletiva” (NÓVOA, 2002, p. 13). No
entanto, não significa dizer que os textos regulavam, de fato, as
práticas escolares da disciplina escolar, considerando a capacidade
inventiva de cada professor na produção de novos sentidos, usos e
representações dos artigos no ensino de biologia. De qualquer modo,
é possível perceber como os biologistas fizeram do periódico uma
estratégia para confirmar suas demandas, e, principalmente,
identidade e projeto de renovação da disciplina escolar.
Se por um lado, determinados textos na Ciência e Cultura
puderam ser apropriados na formação e trabalho docente; por outro
lado, os livros didáticos também foram alvos de disputas e debates
para renovar o ensino das ciências. Tratava-se, pois, conforme Frota-
Pessoa (1956, p. 62), que o “fluxo de ciência nova já chegue ao
professor envolvido em roupagem didática, ou que se crie nele a
capacidade de tirar proveito do conhecimento para educar”. Disso,
tem-se a organização da comunidade disciplinar no projeto de
renovação pedagógica da escola secundária do Inep. A próxima seção
traz algumas reflexões sobre os debates e embates sobre o papel dos
livros didáticos para renovar as práticas escolares e programas de
ensino de biologia nas décadas de 1950/60.
3.5 Os biologistas e o ensino de biologia no Inep
Os livros didáticos ocuparam um importante espaço de
disputas e negociações pelo campo científico para renovação do
ensino de biologia na segunda metade do século XX. A pauta esteve
184
presente no simpósio “Ensino e Instituições Científicas” na IV
reunião anual (Porto Alegre, RS/1952). Participaram do evento os
professores Oswaldo Frota-Pessoa, Paulo Sawaya, Felix Rawitscher,
dentre outros. Anísio Teixeira, presidindo a mesa diretora do
simpósio, afirmou que, “o governo não impusesse qualquer
programa, mas sim linhas diretrizes gerais para o ensino secundário,
de maneira a possibilitar o uso de bons livros didáticos que não sejam
feitos expressamente para obedecer a determinado programa”
(SBPC, 1952, p. 175).
A presença de Anísio Teixeira, presidente do Inep, no
simpósio era bastante simbólica para o campo de Ensino das
Ciências à época. Esse órgão buscava uma renovação do ensino
secundário para torná-lo mais democrático, moderno e científico e,
desse modo, contrapor a filosofia da Reforma Capanema
(DALLABRIDA, 2014). Nesse processo, para o pedagogista,
tornava-se necessário “levar o inquérito às práticas educacionais.
Procurar medir a educação, não somente em seus aspectos externos,
mas em seus processos, métodos, práticas, conteúdos e resultados
reais obtidos” (TEIXEIRA, 1952, p. 78).
Em 1952, o Inep criou a Campanha do Livro Didático e
Manuais de Ensino (CALDEME), que contou com direção inicial
de Gustavo Lessa. No ano seguinte, coordenada por Jayme Abreu,
foi criada a Campanha de Inquéritos e Levantamentos do Ensino
Médio e Elementar (CILENE). Ambas tinham o objetivo de realizar
pesquisas sobre os problemas da educação nacional. Com a fundação
do CBPE, a partir de 1955, as campanhas foram incorporadas nas
atividades dos centros regionais (DALLABRIDA, 2014).
De acordo com Filgueiras (2011, p. 03), a CALDEME foi
“um dos principais espaços em que se realizou a política de estudo e
185
produção de material didático nos anos 1950 e que influenciou os
debates relacionados às novas propostas didático-pedagógicas”. A
CALDEME atuou na concepção e produção de livros didáticos para
renovar os programas e métodos de ensino. Assim, no ideário de
reconstrução educacional, segundo Anísio Teixeira (1952, p. 76),
“não podemos fazer escolas sem professores [...] Depois, não
podemos fazer escolas sem livros”.
Por meio das fontes documentais sobre a CALDEME existe
várias possibilidades de compreender os livros didáticos para
renovação pedagógica da escola secundária. E, neste caso, os debates
e embates da comunidade disciplinar de biologia pelas mudanças nos
saberes e métodos de ensino, tradições curriculares, bases
epistemológicas e influências transnacionais nos anos 1950/60. O
então diretor da CALDEME, Gustavo Lessa, em carta, de janeiro de
1953, para Paulo Sawaya, entendia o papel dos biologistas na
CALDEME como os “pioneiros de novas idéias no ensino das
ciências, sem se subordinarem aos programas. Esta é sem dúvidas
também a concepção do Dr. Anísio” (LESSA, 05/01/1953).
Com o objetivo de definir a forma dos livros didáticos para
o ensino das ciências, as reuniões entre os professores universitários
e a direção da CALDEME foram realizadas no Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, São
Paulo, nos dias 18 e 19 de dezembro de 1952. Coordenada pelo
diretor-executivo, Gustavo Lessa, na reunião compareceram os
seguintes professores: Gustaf Werner Krauledat (química); Jayme
Tiomno e José Leite Lopes (física), Newton Dias dos Santos
186
(ciências físicas e naturais), Paulo Sawaya (zoologia), Oswaldo Frota-
Pessoa (biologia geral) e Karl Arens
31
(botânica) (LESSA, 1952a).
Baseados no inquérito preliminar enviado pelo Inep, os
professores na reunião apresentaram um plano inicial de propostas
para renovação das disciplinas escolares. O questionário possuía seis
perguntas sobre os programas oficiais fixados pela Portaria
Ministerial n. 966/1951, conforme descrito a seguir:
1. Os atuais programas do curso secundário devem ser
reduzidos? 2. Os professôres podem desenvolver com eficiência
todo o programa atual? 3. Admitindo que o número de aulas
ministradas não excede a 80% do número previsto, como deve
proceder o professor quanto ao programa estabelecido? Neste
caso, deve o professor sacrificar parte do programa? 4. É
indispensável haver um programa mínimo, estabelecido por
Lei, considerado obrigatório? 5. É recomendável que o
professor seja orientado quanto ao número de aulas que deve
dedicar a cada parte do programa? 6. Como devem ser
organizados os exercícios? Em aulas separadas? Dedicando parte
do tempo de cada aula teórica? (LESSA, 1952b, p. 06).
As respostas dos biologistas, até o momento, não foram
localizadas. Contudo, ainda na reunião do dia 18 de dezembro de
1952, Paulo Sawaya sugeriu a tradução e adaptação do manual de
ensino de zoologia do professor alemão Alfredo Kunh; Oswaldo
Frota-Pessoa apresentou um plano inicial do currículo de biologia;
e Karl Arens não apresentou nenhuma proposta. Na reunião do dia
seguinte, os professores decidiram três formas de apresentação dos
livros didáticos: “a) fossem publicados três livros separados, um
31
Professor assistente de Botânica da FFCL da USP. Também foi professor de Botânica da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (PEDROSO, 2017).
187
contendo o texto, outro as práticas de ensino, outro instruções
didáticas; b) dois livros pela fusão num só do texto e das práticas; c)
um livro só contendo as três partes” (LESSA, 1952b, p. 02).
Considerando, dentre os fatores, o orçamento, a comissão científica
decidiu a publicação de um único livro didático que englobasse os
saberes escolares, práticas de ensino e instruções pedagógicas.
Os professores Oswaldo Frota-Pessoa, Newton dos Santos e
Gustaf Werner Krauledat colocaram na pauta que os “manuais
deveriam procurar não se afastar muito dos programas oficias, pois
isto não permitiria a sua utilização em larga escola” (LESSA, 1952b,
p. 17). Discordando amplamente disso, Gustavo Lessa reafirmou o
papel da CALEME de introduzir as inovações nas disciplinas
escolares e, portanto, não havia a necessidade de seguir as
determinações da Portaria Ministerial n. 966/1951. Também disse
que, a utilização em larga escala deveria ser precedida por um longo
trabalho de proselitismo” (LESSA, 1952b, p. 2-3). Por fim, na
terceira reunião, Anísio Teixeira destacou a necessidade de os livros
didáticos serem acessíveis para os alunos.
No ITA, uma nova reunião foi realizada no dia 11 fevereiro
de 1953, com o objetivo de analisar e discutir os planos preliminares
sobre o ensino de biologia e ciências naturais de Oswaldo Frota-
Pessoa e Newton dos Santos, respectivamente. A reunião seguinte
ocorreu no dia 27 de março para entrega dos projetos do ensino de
botânica e zoologia. É importante destacar que Gustavo Lessa
solicitou a avaliação inicial de outros biologistas sobre o plano de
renovação da disciplina escolar biologia. O material foi enviado para
os seguintes professores: Benedito Soares Monteiros, da
Universidade Rural do Brasil; Giorgio Schreiber, da Universidade
de Belo Horizonte; Newton Freire Maia, da Universidade de
188
Curitiba; Karl Arens e Paulo Sawaya. Além disso, para Jonh Siegfried
e Clemente Pereira, do Instituto Biológico da Secretaria de
Agricultura de São Paulo.
É bastante instigador perceber as diferentes posições
assumidas pelos biologistas na avaliação do plano inicial de
renovação do ensino de biologia definido por Oswaldo Frota-Pessoa.
Como, por exemplo, para Benedito Soares Monteiros, era necessária
uma ênfase especial da disciplina escolar no “lado humano do
homem, principalmente ao seu preparo para a boa cidadania
democrática, no muito em que a biologia pode para isso contribuir”
(PEREIRA, 21/03/1953); Segundo Giorgio Schreiber, a disciplina
escolar deveria tratar da sexualidade humana e, desse modo, “tirar
do problema sexual dos jovens, a atmosfera de mistério, pecado e
morbosidade moral dentro da qual está iniciação é geralmente
envolvida” (28/03/1953); Karl Arens sugeria a redução de aspectos
da fotossíntese, gerações alternadas nos vegetais e fitossociologia por
conta do alto valor acadêmico utilizado (ARENS, 24/04/1953).
Para Newton Freire Maia, o plano de renovação do ensino
de biologia tinha um “cheiro muito forte de divulgação, tomando-
se esta palavra no sentido em que é usada para designar artigos de
jornal” (MAIA, 15/12/1953); e, por fim, Paulo Sawaya fez críticas
sobre a divisão da disciplina escolar em três livros didáticos,
pontuando que,
Quanto se deseja obter um manual de Biologia, um de Botânica
e um de Zoologia, por força há de haver superposição de
assuntos. Os conceitos de Biologia, nêste caso, tornam-se um
tanto vagos e imprecisos. Na realidade, havendo um manual de
Botânica e outro de Zoologia poder-se-ia, a rigor, dispensar o
de Biologia, ou então, com um bom manual de Biologia, já não
189
seriam necessários o de Botânica e o de Zoologia. Qualquer
uma dessas modalidades é defensável (SAWAYA, 15/04/1953).
Paulo Sawaya defendia uma maior integração da Biologia
Geral, Botânica e Zoologia na disciplina escolar para um processo
de unificação das diversas áreas do campo científico. Para situar
exemplos, o biologista citou livros didáticos dos EUA, Alemanha,
França, Grã-Bretanha e Peru (SAWAYA, 15/04/1953). As contra-
dições epistemológicas da disciplina escolar voltaram à tona com a
reunião realizada no Rio de Janeiro no dia 31 de maio de 1953. Na
pauta, por votação, uma deliberação definida sobre a estrutura da
renovação do ensino de biologia na CALDEME. No relatório da
reunião, Gustavo Lessa disse:
Como todos sabiam, de modo geral, a história natural era
ensinada nos Estados Unidos e na Inglaterra sob o título de
biologia. Das conversas mantidas com o Drs. Sawaya e Arens e
outros professôres, havíamos chegado à conclusão de que, entre
nós, seria conveniente o desdobramento de botânica e zoologia
em obras separadas, a fim de se poder apresentar uma descrição
mais minuciosa das plantas e animais mais interessantes no país:
isto, além de outros benefícios, contribuiria para o despertar no
adolescente brasileiro o amor pela natureza e pelas ocupações
agropecuárias (LESSA, 1953, p. 02).
Para os biologistas, a renovação da disciplina escolar seguia
um dilema: o deslocamento para aproximar-se, ainda mais, do
academicismo e manter um projeto de integração das ciências de
referência ou dividindo-se para cumprir uma tradição utilitária de
despertar a vocação dos jovens para os setores agropecuários do país.
Em comum acordo, mediado pelos interesses dos cientistas e equipe
190
técnica-pedagógica da CALDEME, a comunidade disciplinar
definiu a separação do livro didático em Botânica, Zoologia e
Biologia. Essa conclusão provinha, é claro, pela necessidade dos
alunos e professores compreenderem mais afinco a fauna e flora
brasileira.
A preocupação parecia, enfim, ser menos com a
conceptualização da disciplina escolar e mais com as imagens e
representações da Biologia na escola secundária e, principalmente,
para alcançar um maior status no currículo científico. Assim, nos
anos 1950, os debates dos biologistas evidenciam a crise
epistemológica e as definições da disciplina escolar. Nesse cenário,
também havia uma preocupação da comunidade disciplinar de
instituir novas vulgatas para o ensino de biologia. Ou seja, conforme
o pensamento de Chervel (1990), de estabelecer modernos,
audaciosos e inovadores livros didáticos e, com isso, conquistar
território, hegemonia e legitimidade na tutela da disciplina escolar.
Por outro lado, se é verdade que os biologistas fizeram uma
defesa árdua pela estabilidade da Biologia no currículo; no outro,
fato é que, os aspectos ligados ao ensino de Geologia e Mineralogia
foram completamente silenciados nos debates na CALDEME.
Evidentemente, apesar dos antagonismos, é importante entender a
coesão de uma comunidade disciplinar pelas demandas, mudanças e
processos decisórios para promover a disciplina escolar
(GOODSON, 2018). Isso representa, de fato, os professores e
biologistas articulados para valer suas identidades e valores.
No ITA, em 23 de junho de 1953, Gustavo Lessa comandou
mais uma reunião sobre os planos dos manuais e, principalmente,
para assinatura dos acordos com a CALDEME. A partir desta data,
Karl Arens, Paulo Sawaya e Oswaldo Frota-Pessoa teriam o prazo de
191
um ano para entrega do material. Com texto padronizado, em todos
os contratos há uma descrição das 12 cláusulas com as definições de
valores monetários, direitos e deveres dos autores sobre a escrita dos
livros didáticos, tais como, cerca de 400 páginas e até 300 figuras.
Com isso, os objetivos do Inep estavam dados e claros: “promover
um movimento de renovação no tocante às matérias a serem
ensinadas e aos métodos de ensi-las” (INEP, 1953, p. 02).
Com todo o processo balizado pelos princípios da Escola
Nova e as mais recentes descobertas e avanços da Biologia, os
biologistas na CALDEME desempenham um papel decisivo na
renovação do ensino de biologia. No entanto, no percurso da década
de 1950, sucedeu-se várias idas e vindas nos contratos, tais como, a
rescisão de Karl Arens
32
e substituição pelo professor Alarich Rudolf
Holger Schultz
33
, catedrático de Botânica da Universidade do Rio
Grande do Sul; as prorrogações para Oswaldo Frota-Pessoa terminar
e entregar a obra apenas em 1959; e as extensões para Paulo Sawaya
concluir o livro didático, porém, ainda em 1964, sem terminá-lo
34
.
32
Em junho de 1954, Karls Arens, em carta Mário Paulo de Brito, desistiu da escrita do
livro didático por conta da saúde debilitada de sua filha (ARENS, 01/06/1954).
33
Formado em Ciências Naturais na Faculdade de Filosofia de Marburg na Alemanha,
onde também concluiu o doutorado em Botânica. Após conclusão da tese, retorna ao Brasil,
em 1936. Foi professor do Colégio Universitário de Porto Alegre e, mais tarde, participou
na criação do Curso de História Natural, agora Biologia, no âmbito da então Faculdade de
Filosofia da Universidade do Rio Grande do Sul. Também foi diretor da Faculdade de
Filosofia, diretor do Instituto de Ciências Naturais (ICN) e Chefe do Departamento de
Botânica, após reforma Universitária, que criou o Instituto de Biociências da UFRGS. Foi
um dos fundadores da Sociedade Botânica do Brasil (SBB) e, por duas vezes, presidente
(PORTO, 2019).
34
No período de 1953 a 1964, Paulo Sawaya trocou correspondências com Gustavo Lessa,
Mário Paulo de Brito, Anísio Teixeira e Jayme Abreu sobre a produção do livro didático,
atrasos, dificuldades e prorrogação de prazos. Em agosto de 1964, Jayme Abreu enviou uma
carta solicitando a conclusão da obra, pois se passara 13 anos desde a assinatura do contrato
192
Na impossibilidade de abordar todas as questões sobre a
renovação do ensino de biologia no Inep, tais como, as avaliações
dos programas e projetos, ressalta-se algumas considerações
importantes sobre a construção de um novo currículo prescrito nos
livros didáticos. Nesse sentido, nas próximas subseções, busca-se
compreender os tensionamentos e representações da comunidade
disciplinar para legitimar as mudanças na disciplinar escolar
biologia.
3.5.1 Botânica e zoologia na escola secundária
O contrato da CALDEME com Alarich Rudolf Holger
Schultz foi assinado em 30 de novembro de 1955. Antes de firmá-
lo, ele participou de reuniões com Mário Paulo de Brito para entrega
do plano de renovação do ensino de botânica. A proposta foi
avaliada por Newton Dias dos Santos; Fritz de Lauro, professor
secundarista na cidade do Rio de Janeiro; Fernando Romano
Milanez e Paulo Occhioni, ambos do Jardim Botânico na capital
fluminense; Fernando Segadas Vianna, do Museu Nacional; Albert
Ebert, Karl Arens e Oswaldo Frota-Pessoa.
Apesar do pensamento plural dos biologistas, a comunidade
disciplinar possuía um entendimento comum pela renovação: o
deslocamento de um ensino botânico pautado pela Morfologia e
Taxonomia fenética para a Fisiologia e Sistemática evolutiva. Nas
palavras de Alarich R. Schultz, em carta para Mário Paulo de Brito,
em maio de 1955, o professor afirmava que estava convencido sobre
com a CALDEME (ABREU, 12/08/1964). Não foram localizados, até o momento, os
documentos que mostram se Paulo Sawaya respondeu a carta de Jayme Abreu e, de certo
modo, finalizou e entregou o livro didático para publicação.
193
a necessidade de transformar o ensino da Ciências amabilis duma
teorização mais ou menos desinteressante para a mentalidade em
evolução numa observação direta da Planta, como entidade estética,
útil e curiosa da natureza” (SCHULTZ, 24/05/1955). Nesse
propósito, Fritz de Lauro, na carta para Mário de Brito, em julho de
1955, destacou que “há outro aspecto muito importante -
uniformizar nomes e órgãos análogos e homólogos, principalmente
nos elementos de reprodução, visando à imediata compreensão da
evolução” (LAURO, 17/06/1955).
Deliberadamente, o pensamento evolutivo darwiniano
estava determinado como a principal matriz para renovação do
ensino de botânica, que possuía ampla defesa dos biologistas. Algo
também verificável nas palavras de Oswaldo Frota-Pessoa, em carta
para Mário Paulo de Brito em julho de 1955:
A estrutura geral do programa apresentado me parece excelente:
uma primeira parte que pretende fazer o aluno travar contato
“corpo a corpo” com tipos representativos da nossa flora, e, ao
mesmo tempo dá oportunidade para um estudo prático
informal da morfologia vegetal, fixa indutivamente e de modo
objetivo o conceito de grupo sistemático e apresenta ao aluno
um panorama concatenado do reino vegetal que prepara para o
estudo do mecanismo da evolução (FROTA-PESSOA,
06/07/1955).
Após quatro anos de debates e avaliações, o livro didático
Botânica na escola secundária
35
de Alarich R. Schultz foi publicado
em 1959 (figura 3). A obra foi parafraseada por Fritz de Lauro,
afirmando que o estudo da botânica se tornava “tão fácil e tão
35
Em 1968, o livro foi republicado com atualizações pela editora Globo.
194
intimamente relacionado com as coisas com que tratamos a tôda
hora, que será de valor decisivo na formação da personalidade dos
adolescentes” (LAURO, 1959, p. 07).
Figura 3 - Capa de Botânica na escola secundária (1. ed. 1959),
de Alarich Schultz
Fonte: Arquivo Pessoal.
Com uma introdução sobre a importância dos vegetais;
relações estabelecidas com o homem; e a descrição de instrumentos
para as aulas práticas, o livro didático segue uma divisão em quatro
partes: 1) espermatófitas; 2) arquegoniadas (briófitas e pteridófitas);
3) talófitas; e 4) Botânica geral com as noções de células, morfologia,
fisiologia e reprodução vegetal. Considerava, assim, necessário, em
primeiro lugar, ampliar e qualificar os professores e alunos no
quadro das principais espécies de plantas no Brasil e, principalmente,
àquelas de valor cultural e econômico. Como Alarich R. Schultz
afirmava: “cultivemos, pois, a nossa maior riqueza. Conheçamos
195
nossa magnífica Flora. Estudá-la cada vez mais para melhor compre-
endê-la, aproveitá-la e verdadeiramente possuí-la” (SCHULTZ,
1960, p. 38).
Na revista Ciência e Cultura, em publicação de 1960, Alarich
R. Schultz fez uma ampla defesa pela renovação do ensino de
botânica por meio de seus livros didáticos: Estudo Prático da
Botânica
36
e Botânica na escola secundária. No artigo, também
justificou a importância de passeios, excursões, laboratórios,
montagem de herbários e jardins escolares para efetivar aulas práticas
e ativas. Desse modo, tornar a Botânica uma ciência amabilis na
escola secundária. Segundo o biologista,
A Botânica é uma das colunas mestras da Ciência da vida e
como tal indispensável à formação da mente humana
equilibrada. Para produzir os efeitos desejados, deve ser
ensinada de maneira objetiva. A decoração de esquemas e de
definições abstratas não leva à cultura geral. Em vez de
contribuir para a formação duma personalidade madura,
produz, muitas vêzes o contrário: pessoas desprovidas do senso
de valores e incapazes de se adaptarem a circunstância diferentes
da parábola memorizada. Devemos desenvolver o raciocínio e
a observação mais do que a simples memória, sem esquecemos
a parte artística e moral, atributos dos mais belos da natureza
humana A memória é útil e indispensável, mas seu treinamento
deve servir ao desenvolvimento do raciocínio e da observação.
Esta é a orientação que desejamos. (SCHULTZ, 1960, p. 37).
36
A primeira edição do livro foi publicada em 1942 pela editora Globo. Mais tarde,
republicado com atualizações entre os anos 1950 a 1970. A obra tinha o objetivo de
“preencher as exigências dos programas mais vastos, propostos para os cursos secundários,
bem como dar informações mínimas, indispensáveis ao estudante do curso secundário
(SCHULTZ, 1953, p. 01).
196
Por um lado, se Alarich R. Schultz buscou atribuir o ensino
de botânica uma função de formação acadêmica e cultural na escola
secundária; por outro, Paulo Sawaya mergulhou a renovação ensino
de zoologia, ainda que na primeira versão do projeto, nas tradições
acadêmicas. Ele afirmava que:
A tendência moderna da Zoologia é chamada Zoologia
fisiológica. O grande cabedal acumulado há mais de um século,
sôbre a sistemática e a morfologia, serve de base para com êle
dirigir-se os estudos zoológicos no sentido fisiológico.
Infelizmente, os manuais que geralmente se encontram em uso
para o estudo desta ciência se restringem quase exclusivamente
à morfologia e à sistemática, do que resulta interêsse muito
menor dos estudantes pela matéria. Por outro lado, o estudo da
fisiologia zoológica depende do bom conhecimento da
morfologia (SAWAYA, 1952, p. 5).
De um biologista a outro na CALDEME, as aspirações de
Alarich R. Schultz e Paulo Sawaya para renovação do ensino de
botânica e zoologia, respectivamente, permanecem, em nível
epistemológico, quase idênticas. Elas se situam, então, na Fisiologia
e Sistemática evolutiva como princípio para atualizar os saberes
escolares da disciplina escolar. Tinha-se também uma perspectiva de
inovação didática quanto às práticas de ensino pela experimentação
e observação, mas sempre nos alicerces de suas tradições mais
acadêmicas, e alinhadas com os fundamentos da Escola Nova.
3.5.2 Biologia na escola secundária
O livro didático de Oswaldo Frota-Pessoa foi a principal
realização da CALDEME para renovação do ensino de biologia. No
197
período de 1952 a 1960, o biologista manteve correspondências com
Gustavo Lessa, Mário de Paulo Brito e Anísio Teixeira. Tudo indica,
em virtude das trocas de cartas, que o professor assumiu alguns
traços do movimento de renovação da disciplina escolar dos EUA
para garantir referências. Assim, é importante considerar os espaços
que ocupou durante a escrita da obra. Naquele momento, a
brasileira era bolsista de Genética da Fundação Rockefeller na
Columbia University de Nova York (1953-1955) e especialista em
Ensino de Ciências da OEA, em Washington (1955-1956).
Em carta para Mário Paulo de Brito, em dezembro de 1954,
Frota-Pessoa disse que:
Estou aproveitando a oportunidade de estar a um quarteirão do
Teacher College [escola de pós-graduação em educação da
Columbia University de Nova York] para ver a bibliografia
americana sôbre metodologia da biologia e para discutir
problemas de ensino com os professôres daqui. Pretendo
intensificar esse inquérito proximamente, quando meu
trabalho em genética me der mais folga. Farei também uma
viagem ao Texas e Califórnia para visitar outros laboratórios e
aproveitarei o ensejo para conversar com professôres de ciências
e visitar outros colégios. (FROTA-PESSOA, 25/10/1954).
O livro didático Biologia na escola secundária
37
foi publicado
em 1960 (figura 4). Com avaliação de José Reis e prefácio de Jayme
Abreu, que representava para o Inep um papel decisivo na
renovação dos métodos e dos programas de ensino de biologia em
nosso país” (ABREU, 1960, p. 05). O livro é dividido em 7
37
Nas edições comerciais, o livro foi dividido em dois volumes com publicações e
atualizações durante as décadas de 1960 a 1980.
198
unidades: 1) o ensino de biologia: orientações didáticas e objetivos;
2) os seres vivos: Teoria Celular e Histologia; 3) os mecanismos de
ação: composição bioquímica, metabolismo e catabolismo; 4)
relações entre os seres vivos: relações ecológicas; 5) Reprodução:
tipos e Embriologia; 6) Hereditariedade: princípios genéticos de
Mendel e Genética Humana; e 7) Evolução: histórico, Darwinismo
e origem da vida. Todas as unidades são seguidas com sugestões de
leituras complementares e aulas práticas.
Figura 4 - Capa de Biologia na escola secundária (1. ed. 1960),
de Oswaldo Frota-Pessoa
Fonte: Arquivo pessoal.
Em artigo, publicado na Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos, em 1961, Antônio Brito de Cunha argumentou a
importância do livro didático na renovação do ensino de biologia no
Brasil. O autor faz críticas sobre o excesso de traços morfológicos e
taxonômicos da Zoologia e Botânica no ensino de história natural e,
portanto, afirmava, com otimismo, que os avanços da Biologia
estavam presentes na obra de Frota-Pessoa, e, principalmente, o
199
domínio da Evolução, Ecologia e Genética para renovação das
práticas escolares (CUNHA, 1961). Nas palavras do professor,
Detalhes morfológicos e anatômicos são tratados com
pormenores enquanto fenômenos básicos de importância geral
são ignorados ou tratados deficientemente. A conseqüência é
que os alunos saem do colégio sem compreender fenômenos
gerais como evolução, mutação, seleção natural, etc. Fisiologia,
ecologia, genética, em suma todos os fenômenos dinâmicos, são
negligenciados em favor de um tratamento mais pormenor-
zado de uma morfologia de importância cultural incomparavel-
mente menor ou freqüentemente nula. Nossos estudantes de
colégio se formam pensando que História Natural é decorar
uma assustadora nomenclatura, cujo significado etimológico
rarissimamente é explicado e que é usada para denominar
detalhes insignificantes. Por isso, nossa História Natural do
colégio é uma decoração de terminologia a ser esquecida logo
depois dos exames. É surpreendente que o interesse por
História Natural ainda consiga sobreviver em tanta gente
depois de tanta caceteação (CUNHA, 1961, p. 147).
Para que se pudesse ter uma disciplina escolar renovada era
fundamental estabelecer as novas bases das ciências de referência.
Interessa observar com mais detalhes que a tradição da História
Natural, seja a Botânica e Zoologia, seja a Mineralogia e Geologia,
foi mencionada como uma das principais razões para explicar porque
não se tinha uma formação sólida da Biologia na escola secundária
e, ao mesmo tempo, organizar uma defesa abrangente sobre uma
necessária modernização do currículo. Segundo o professor, nos
melhores resultados, com o livro didático os alunos e professores
poderiam “adquirir uma boa base em Biologia e saber o que essa
ciência realmente é” (CUNHA, 1961, p. 148).
200
Roquete (2011) destaca alguns aspectos relevantes dos livros
didáticos Manual de Biologia vol. I e vol. II, de Oswaldo Frota-Pessoa
nos anos 1960/70. Em concordância com o autor, percebe-se a
presença de uma forte defesa da Evolução e Genética e, mais
precisamente, da Teoria Sintética da Evolução, como fator essencial
para renovação da disciplina escolar. Contudo, falta uma análise do
pensamento educacional sobre a prescrição do currículo e trabalho
docente prescrita nas obras como, por exemplo, o método de
problemas e as bases escolanovistas.
É possível afirmar que existe um terreno comum entre os
biologistas na CALDEME: o afastamento drástico de um pensa-
mento naturalista fisicalista para um biológico evolucionista como
matriz conceitual da disciplina escolar. Há uma pluralidade de ideias
entre os planos de Karls Arens, Paulo Sawaya, Oswaldo Frota-Pessoa
e Alarich R. Schultz, contudo os professores tencionaram o ensino
de biologia para seguir uma lógica acadêmica e utilitária da Genética,
Ecologia, Fisiologia Experimental e, principalmente, da Evolução
darwiniana. Buscava-se romper com a Biologia fisicalista
estabelecida pela Portaria Ministerial n. 966/1951, para fixá-la nos
patamares de uma Biologia organicista e evolucionista.
A crescente importância do campo científico pela Teoria
Sintética da Evolução incorporou e ressignificou novas inovações e
tradições curriculares. Havia uma batalha simbólica para transfor-
mar as representações do ensino de biologia, que era autorizada e
expressa no capital simbólico dos cientistas. Nesse sentido, “a
evolução de cada matéria reflete, um microcosmo, uma luta em
torno de sucessivas mudanças” (GOODSON, 2018, p. 53).
Para manter uma coesão sobre a necessária renovação do
ensino de biologia, a comunidade disciplinar estabelece uma série de
201
princípios e diretrizes sobre a formação docente, materiais de ensino
e currículo. Os debates, projetos e algumas experiências para
legitimar e consolidar um moderno ensino de biologia no currículo
da escola secundária são discutidos no próximo e último capítulo.
202
203
Capítulo 4
“A reforma em marcha”: as diretrizes do ensino de
biologia na escola secundária
O movimento de renovação do ensino das ciências,
imprescindível na época em que vivemos já atingiu nos
Estados Unidos, a fase de implantação em larga escala e, na
Europa e na América Latina, começa a avançar com decisão
[...] O Brasil ocupa posição pioneira nesse movimento,
principalmente graças às notáveis atividades do IBECC
(FROTA-PESSOA, 1964a, p. 347).
As transformações do ensino das ciências ocorreram de
forma articulada entre os países americanos e com amplas
repercussões no Brasil. Nesse sentido, a SBPC orientou a publicação
de uma edição especial na Ciência e Cultura para circulação de
conceitos e princípios da renovação do currículo científico. Os
artigos foram divididos em quatro grupos:
I. Conceitos e Princípios com artigos de natureza mais geral e
básica. II. Organização de Cursos, onde se indica como os cursos
devem ser dados em diversos níveis. III. Experiências Realizadas,
que reúne o relato de cursos dados fora dos moldes
convencionais. IV. A Reforma em Marcha, onde se apresentam
algumas das iniciativas visando o aperfeiçoamento do ensino
das ciências (FROTA-PESSOA, 1964a, p. 347, grifos do
autor).
204
Com o signo de uma “reforma em marcha”, compreendendo
as mudanças legislativas, sujeitos, projetos, planos e ações da
comunidade disciplinar, o capítulo tem como objetivo compreender
os conceitos, princípios e experiências do ensino de biologia
prescritas pela SBPC. Trata-se, pois, das diretrizes tuteladas pelo
campo científico da Biologia para renovar e consolidar um novo
currículo a partir dos anos 1960. Para tal, algumas perguntas foram
necessárias: que mudanças a LDB/1961 trouxe para o ensino de
história natural e biologia? Como foi constituída a lógica do
pensamento biológico na disciplina escolar? Quais foram as
prescrições produzidas ou fortalecidas pelos biologistas e professores
para renovar o ensino de biologia? Essas questões são abordadas nas
próximas seções.
4.1 A legitimidade da disciplina escolar biologia no ciclo colegial
A renovação do ensino de biologia dos anos 1960 ganhou
impulso com a promulgação da LDB/1961. Isso pela descentra-
lização promovida pela lei, a garantia de uma ampla autonomia das
unidades federativas e, principalmente, pela ruptura da obrigatorie-
dade dos programas oficias de ensino. Assim, a partir dos anos 1960,
o currículo foi flexibilizado para as aptidões dos alunos. Segundo
Souza (2008), com a nova lei da educação nacional, a União abriu
mão do forte controle que exercia no currículo, organização e
práticas da escola secundária.
A LDB/1961 foi sancionada em dezembro e tinha efeito
imediato para entrar em vigor no próximo ano letivo. Pela falta de
tempo e preparo dos Conselhos Estaduais de Educação (CEE), o
Conselho Federal de Educação (CFE) estabeleceu as diretrizes gerais
205
na autonomia e flexibilidade dos currículos. Além das práticas
educativas
38
, o CFE indicou três núcleos de disciplinas escolares: 1)
até cinco obrigatórias básicas; 2) obrigatórias complementares; e 3)
optativas, que deveria seguir as tendências das regiões.
A Comissão de Ensino Primário e Médio (CEPM) do CFE
regularizou uma variação de disciplinas do núcleo comum, optati-
vas, complementares e práticas educativas. O quadro 8 apresenta as
hipóteses de currículos do ciclo colegial da escola secundária,
conforme a indicação do CFE n. 62, de 21 de fevereiro de 1962.
Quadro 8 - Variedades admissíveis para o currículo do ciclo colegial
(1º e 2º série)
Planos Tipos
Hipóteses/séries
A B C D
Disciplinas obrigatórias
básicas
Português
X
X
X
X
X
X
X
X
História
X
X
X
X
X
X
X
X
Geografia
-
-
X
X
X
-
X
-
Matemática
X
X
-
-
-
-
-
-
Ciênc. fís. e
bio.
- - X X - X X X
Disciplinas obrigatórias
complementares
Física X X - - - - - -
Química X X - - - - - -
Biologia X X - - - - - -
Filosofia - - - - - - X X
L. estra.
moder.
- - X X X X X X
L. clássica
-
-
-
-
X
X
-
-
Desenho
-
-
X
X
-
-
-
-
38
De acordo com o Parecer n. 131, de 30 de julho de 1962 do CFE, as práticas educativas
indicavam as atividades com a função de “atender às necessidades do adolescente de ordem
física, artística, cívica, moral e religiosa, colocando o acento principal na maturação da
personalidade” (BRASIL, 1962a, p. 153).
206
Disciplinas optativas
1º optativa
X
-
X
-
X
X
-
X
2º optativa
-
X
-
X
X
X
X
X
Fonte: Brasil (1962b, p. 64).
Como afirma a LDB/1961, nas duas primeiras séries do ciclo
colegial, além das práticas educativas, o currículo contemplava oito
disciplinas, das quais uma ou duas optativas de livre escolha dos
estabelecimentos de ensino, sendo no mínimo cinco e no máximo
sete em cada série. Cabendo a terceira série do colegial à oferta de
“no mínimo, quatro e, no máximo, seis disciplinas, podendo ser
ministrada em colégios universitários” (BRASIL, 1961, Art. 46).
Nesse ponto, a flexibilidade do currículo era maior ainda, porém
dependente dos vestibulares.
O CFE estabeleceu as seguintes disciplinas optativas para o
ciclo colegial: mineralogia e geologia, línguas estrangeiras modernas,
higiene e dietética, desenho, estudos sociais, psicologia, lógica,
literatura, introdução às artes, direito usual, elementos de economia,
noções de contabilidade, de biblioteconomia e puericultura
(BRASIL, 1962b). O rebaixamento da Mineralogia e Geologia
como disciplina optativa na escola secundária foi alvo de críticas do
campo científico na SBPC
39
.
39
Em artigo publicado na Ciência e Cultura, em dezembro de 1962, Fahad Moysés Arid e
Paulo Milton Barbosa Landim, professores do Departamento de Geologia da FFCL de São
José do Rio Preto, São Paulo, afirmaram que, “de fato, mesmo fazendo parte obrigatória
do ‘curriculum’ do secundário antigo, na cadeira de História Natural, as Ciências
Geológicas foram sempre preteridas em favor das Ciências Biológicas. Pesquisas que temos
realizando, há mais de três anos, demostram, estatisticamente, que em todo o norte e
noroeste do Estado de São Paulo - aproximadamente 1/3 da área total - 87% dos professôres
de História Natural do Curso Secundário não tratam do assunto” (ARID; LANDIM,
1962, p. 192). Para os autores, a LDB/1961 formava um cenário dramático de
desaparecimento da Geologia e Mineralogia como disciplinas escolares no ensino
207
As diferentes combinações das disciplinas escolares também
alcançaram o núcleo básico indicado pelo CFE. Houve uma
permanência das Ciências da Natureza em todos os planos dos
currículos hipotéticos, tanto agrupadas na disciplina de ciências
físicas e biológicas (planos B, C e D) quanto nos desdobramentos
pela física, química e biologia (plano A). Segundo Krasilchik (2000),
a LDB/1961 avançou no aumento da carga horária do ensino das
ciências no ciclo colegial. De fato, havia uma forte defesa pela
ampliação do currículo científico, que lhe atribuiu apenas uma
função vocacional para as carreiras científicas.
A renovação do currículo da escola secundária deu passos
definitivos com a LDB/1961 e inscreveu uma situação nova no país.
Mas como essas mudanças foram decisivas para renovar o ensino de
biologia? De modo isolada e autônoma, a lei conferiu uma
legitimidade institucional da disciplina escolar no currículo do ciclo
colegial da escola secundária. A preferência, no entanto, era dos
sistemas estaduais de educação, conforme as indicações do CFE e
dos CEE.
No currículo prescritivo, por exemplo, a Resolução do
CEE/SP n. 7, de 23 de dezembro de 1963, tornou obrigatória a
preferência pelo desdobramento das Ciências da Natureza e
autonomia da disciplina escolar biologia nas três séries do ciclo
colegial (SÃO PAULO, 1963). Em Pernambuco, Farias (2020)
identificou a Resolução do CEE/PE n. 6, de 27 de fevereiro de 1964,
que indicou a obrigatoriedade do ensino de biologia nos três anos
do segundo ciclo. Queiroz e Housome (2018) também verificaram
a determinação da Secretaria Estadual de Educação e Cultura do
secundário, causando prejuízos na formação dos jovens e no desenvolvimento econômico
do país pela falta de vocações científicas para exploração dos recursos naturais.
208
Paraná, em 1962, de obrigatoriedade da disciplina escolar biologia
nas 2ª e 3ª séries. Depois, o CEE/PR, na Resolução n. 26, de 7 de
dezembro de 1965, indicou o ensino de biologia como disciplina
obrigatória do currículo (PARANÁ, 1965).
Nesse aspecto, é necessário compreender os usos da
nomenclatura binominal e os processos de mudanças e estabilidades
da disciplina escolar no interior das instituições de ensino ao longo
do século XX. Trata-se, pois, de verificar como as normativas e
práticas escolares foram aceitas, produzidas e/ou subvertidas pelos
professores, diretores e alunos. Para efeito de exemplo, Marques
(2014), sobre a história do Colégio Estadual Presidente Vargas,
localizado em Dourados, no antigo sul de Mato Grosso, no período
de 1951 a 1971, identificou o momento de substituição da disciplina
escolar no currículo prescrito. Em 1963, com a oferta do ensino de
história natural e, a partir de 1965, quando foi substituída pela
biologia (MARQUES, 2014).
Em outros exemplos, têm-se os estudos da disciplina escolar
no Colégio Pedro II realizados por Cassab e Selles (2008), Cassab
(2011, 2012), Cassab, Selles, Santos e Lima-Tavares (2012) e
Oliveira (2018). Conforme as autoras, o vaivém da nomenclatura
binominal na instituição escolar deu segmento até meados dos anos
1980 e, portanto, não é possível determinar quando ocorreu
oficialmente a mudança nominal. Ainda na cidade-estado de
Guanabara, verifica-se no currículo prescrito do Colégio de
Aplicação da Universidade do Brasil, em 1964, a oferta da disciplina
escolar biologia no curso científico e, por outro lado, ciências físicas
e biológicas no curso clássico. Por sua vez, em 1965, o Colégio
Brasileiro de Almeida, em Ipanema, prescreveu o ensino de biologia
no colegial (INEP, 1965).
209
A tabela seguinte permite compreender a diversidade
nominal da disciplina escolar no ciclo colegial denominada biologia,
história natural ou ciências físicas e biológicas. Conforme os dados
da Diretoria do Ensino Secundário do MEC, no período de 1966 a
1971, há uma redução de 90% no número de professores registrados
no ensino de história natural; por outro lado, interstício, um
aumento de 2.464% de professores na disciplina escolar biologia.
Tabela 10 - Núm. de professores registrados no ensino de história natural,
biologia e ciências físicas e biológicas no ciclo colegial do ensino secundário
(1962-1971)
Fonte: Adaptado dos anuários estatísticos do Brasil (1963-1973).
A flexibilidade do currículo permitiu uma coexistência de
três disciplinas escolares para o estudo das formas vivas e fenômenos
biológicos: 1) agregada com a Física e Química; 2) de forma isolada
e autônoma; e 3) como subitem no ensino de História Natural. As
diferentes nomeações transmitiam as disputas da comunidade
disciplinar na operação de significados da Biologia na escola
secundária. Além disso, o próprio reflexo do cenário de incerteza,
indefinição e tensão nas ciências de referência. A formação dos
Ano
Disciplinas escolares
História natural
Biologia
Ciências físicas e biológicas
1962
150
07
1963
159
1964
01
01
1965
1966
212
14
1967
291
29
1968
156
116
99
1969
15
332
160
1970
02
457
448
1971
23
359
168
210
professores, infraestrutura da escola, livros didáticos e administração
escolar são apenas alguns fatores que precisam ser considerados para
compreender as diferentes nomeações na produção de uma cultura
escolar nos estabelecimentos de ensino.
Apesar da pouca confiabilidade das estatísticas e o direito de
um único professor ter o registro em até três disciplinas escolares
40
,
a tabela é um indicativo do gradualismo na substituição do ensino
de história natural por biologia no currículo da escola secundária.
Também coloca em evidência dois fenômenos importantes: 1) a
década de 1960 foi marcada por disputas, transformações,
continuidades e tensionamentos na disciplina escolar; e 2) os
interesses e resistências pela permanência do ensino de história
natural. Por isso, a formação docente nas FFCL é um ponto que
merece destaque para compreender a hegemonia da Biologia a partir
dos anos 1960 no currículo do ensino secundário.
A história dos cursos de Bacharelado/Licenciatura em
História Natural e Ciências Biológicas ajudam a compreender as
transformações decisivas nas ciências de referência, formação de
professores, naturalistas e biologistas no país. Em resumo:
40
Conforme a Portaria do MEC n. 341, de 1 de dezembro de 1965, que dispôs sobre a
concessão de registros de professores no ensino médio, a Licenciatura em História Natural
permitia o registro na disciplina escolar de ciências físicas e biológicas, biologia, mineralogia
e geologia. Aos licenciados em Ciências Biológicas, o ensino de ciências físicas e biológicas,
e biologia. O registro das Licenciaturas de Física, Química e História Natural também
incluíam a disciplina escolar iniciação à ciência nos ginásios. O licenciado em História
Natural e Ciências Biológicas poderia ensinar química, desde que figurasse no seu currículo
na graduação tal disciplina. Por fim, não era concedido ao licenciado em um só curso o
registro em mais de três disciplinas (BRASIL, 1965).
211
Parecer CFE 325/62 e Resolução s/nº de 1962: estabeleceram
o currículo mínimo de História Natural
41
.
Parecer CFE nº 5/63: aprovou o desdobramento do curso de
História Natural em curso de Ciências Biológicas e curso de
Geologia.
Portaria MEC nº 510/64: fixou o currículo mínimo para
licenciatura e bacharelado de Ciências Biológicas
42
.
Parecer nº 571/66: estabeleceu o currículo mínimo para
Ciências Biológicas (bacharelado modalidade médica).
Portaria CFE nº 25/67: retificou a Portaria MEC nº 510/64,
estabelecendo o currículo mínimo para o curso de Bacharelado
em Ciências Biológicas, modalidade médica.
Resolução CFE de 4 de fevereiro de 1969: estabeleceu o
currículo mínimo e duração do curso de Ciências Biológicas
com tronco curricular comum para licenciatura e bacharelado,
modalidade médica; revogou os currículos mínimos de História
Natural e Ciências Biológicas.
Parecer CFE nº 107/70 (Resolução de 4 de fevereiro de 1970):
organizou o currículo mínimo de Ciências Biológicas
(Licenciatura e Bacharelado)
43
.
41
Currículo composto pela Biologia (Citologia, Histologia, Embriologia e Genética);
Botânica (Morfologia, Fisiologia e Sistemática); Zoologia (Morfologia, Fisiologia e
Sistemática); Mineralogia e Petrologia; Geologia e Paleontologia; e Matérias Pedagógicas
(BRASIL, 1963).
42
Conforme Corrêa (2016), a Portaria do MEC n. 510/1964 fixou o seguinte currículo
mínimo: Química e Bioquímica; Fisiologia Geral (incluindo Biofísica e Fisiologia Animal);
Morfologia e Morfogênese (Citologia, Histologia e Embriologia); Estatística (Matemática
e Biometria). Genética (incluindo Evolução); Botânica (incluindo Fisiologia, Ecologia,
Morfologia e Sistemática Vegetal); Geologia (incluindo Paleontologia); Zoologia (dos
Invertebrados e Vertebrados); e Matérias Pedagógicas.
43
Conforme Torres (2017, p. 206), o Parecer do CFE n. 107, de 4 de fevereiro de 1970,
fixou o seguinte currículo: a) Tronco comum à licenciatura e ao bacharelado, modalidade
médica, com as matérias: Biologia Geral (incluindo Citologia, Genética, Embriologia,
Evolução, Ecologia), Matemática Aplicada, Física e Biofísica, Química e Bioquímica,
Elementos de Fisiologia Geral, de Anatomia e Fisiologia Humana; b) A licenciatura em
Ciências Biológicas incluirá: as matérias do tronco comum e mais: Zoologia (incluindo
212
Parecer nº 1.687/74 e Resolução CFE 30/74: criou cursos de
Ciências, habilitação Biologia Ciências de 1º grau (Curta) e
Biologia 2º grau (Plena) (RABELO; MENDES; PILEGGI;
AZEVEDO, 2006, p. 54).
Exatamente no ano de 1963, que entraria em vigor o
currículo mínimo de Licenciatura em História Natural fixado pelo
CFE, a FFCL da USP determinou a extinção do curso com o
desdobramento e criação dos cursos de Ciências Biológicas e
Geologia. Conforme Tomita (1990, p. 1173), o curso na USP visava
“a formação de biologistas de um nível mais avançado do que aqueles
formados pelos habituais cursos de história natural, que visariam à
formação de naturalistas”. Por outro lado, por exemplo, na
Faculdade de Filosofia do Crato, no Ceará, Torres (2017) verificou
que o curso de História Natural foi alterado apenas em 1980 quando
passou a ser denominado de Ciências com habilitação para o ensino
de ciências e biologia. Mais tarde, em 2003, convertido na
Licenciatura em Ciências Biológicas.
No final dos anos 1960, também havia a coexistência de
graduações de Ciências Biológicas e História Natural nas FFCL
(públicas e privadas) no país. Mais que isso, com as idas e vindas do
currículo mínimo fixados pelo CFE ocorreram as disputas e
tensionamentos pelas concepções epistemológicas das ciências de
referência na formação e trabalho docente. A título de exemplo, a
tabela 11 traz alguns dados sobre as licenciaturas e/ou bacharelados
na formação de professores, biologistas e naturistas no país.
Morfologia, Morfogênese, Fisiologia, Sistemática e Ecologia dos Animais Vertebrados e
Invertebrados) Botânica (incluindo Morfologia, Fisiologia, Sistemática e Ecologia das
Plantas e Botânica Econômica), Geologia (incluindo Paleontologia) e as Matérias
pedagógicas.
213
Tabela 11 - Cursos existentes, matrículas e concluintes de cursos de graduação
em Ciências Biológicas e História Natural no Brasil (1969-1971)
44
Cursos
1969
1970
1971
Quant.
Matr. Concl.
Quant.
Matr. Concl.
Quant.
Matr.
Ciências Biológicas
8
1689
246
9
1575
92
19
1282
História Natural
28
2895
494
29
2270
646
34
3781
Fonte: Adaptado de Brasil (1972, p. 831).
Embora exista uma ambivalência nos dados estatísticos, os
números conferem uma inteligibilidade das disputas pela formação
de professores de biologia na escola secundária, bem como o
processo de legitimação institucional das Ciências Biológicas nas
universidades. De acordo com os dados estatísticos, existe uma
ausência de cursos no Acre, Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe. No Ceará, Pernambuco,
Minas Gerais, São Paulo, Guanabara e Mato Grosso nota-se uma
coexistência das duas graduações nas FFCL. No caso paulista, a USP
e os Institutos Isolados de Ensino Superior eram as fontes de maior
influência no ensino de biologia no estado (KRASILCHIK, 1972).
Havia também a presença somente da graduação em
História Natural (Bahia, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio
Grande do Sul e Goiás) ou apenas de Ciências Biológicas (Alagoas,
Espírito Santo e Distrito Federal). Além disso, a oferta do curso de
Ciências Físico-Biológicas e Matemáticas no Maranhão, Piauí,
Paraíba, Paraná e Mato Grosso. Mas essa graduação, conforme a
literalidade da Portaria do MEC n. 341/1965, não concedia o
registro de professores no ensino de história natural e biologia.
44
o foram localizados os dados sobre os concluintes dos cursos no ano de 1971 nas
sinopses estatísticas.
214
Um aspecto fundamental que se estabeleceu foi de mutilação
do curso de História Natural com o esmaecimento de suas
concepções epistemológicas, à proporção que era substituído pela
Licenciatura/Bacharelado em Ciências Biológicas. Isso ocorreu no
cenário de disputas, debates e poder pelo currículo nas diferentes
universidades do país como mostra os estudos de Sionek (2011),
Uliana (2012), Pedroso (2013, 2017), Lucas (2014), Pedroso e
Selles (2015), Corrêa (2016), Torres (2017), Lucas e Ferreira
(2017). Por isso, para compreender a consolidação da disciplina
escolar biologia torna-se necessário considerá-la na conjuntura de
embates pela autonomia e legitimação das Ciências Biológicas nas
universidades.
No conjunto de fatores, dentre eles, a flexibilidade do
currículo e a autonomia das Ciências Biológicas, a disciplina escolar
história natural caiu no ostracismo tensionado pelo campo
científico. Por conseguinte, o processo gradual de sua extinção e
substituição pela biologia escolar no currículo da escola secundária
durante as décadas de 1960 a 1980. Com diferentes olhares, isso
também é verificado nas pesquisas de Selles e Ferreira (2005), Selles
(2007), Cassab e Selles (2008), Ferreira e Selles (2008), Campagnoli
e Selles (2008), Marandino, Selles e Ferreira (2009), Cassab (2011,
2012), Cassab, Selles, Santos e Lima-Tavares (2012), Roquette
(2011), Iglesias (2014), Ventura, (2014), Azevedo (2015), Oliveira
(2018), Silva (2019) e Silva (2020). Para dar conta das mudanças
pretendidas pelos biologistas, a disciplina escolar passou pelas
transformações mais decisivas no século XX. Algumas dessas
vicissitudes são abordadas nas próximas seções.
215
4.2 A transnacionalidade das transformões
do ensino de Biologia
Nos anos 1960, a marca característica foi a presença mais
forte, articulada e sistematizada do campo científico na definição dos
caminhos trilhados para realizar as mudanças na disciplina escolar.
Verifica-se, portanto, que os objetivos de transformar o currículo e
as práticas escolares transcenderam os limites de uma projeção
nacional.
Conforme Krasilchik (1972, 1987, 1989), a Inglaterra,
Itália, Israel, Venezuela, Chile, Argentina, Panamá, Colômbia,
Venezuela, África do Sul, EUA, México, dentre outros, buscavam
diminuir as distâncias entre professores e biologistas para integração
e desenvolvimento de uma renovação do ensino das ciências na
escola secundária. Essa união estabelecia o “intercâmbio constante
de biólogos do mundo inteiro e criou-se uma mentalidade
cosmopolita, bem como um consenso sobre os princípios básicos
que devem nortear o estudo da Biologia” (KRASILCHIK, 1972, p.
07).
No livro Principios basicos para la enseñanza de la biologia
45
,
Oswaldo Frota-Pessoa (1967) descreve o movimento
interamericano de renovação da disciplina escolar, que era
mobilizado por diferentes agências nacionais, governos e grupos de
pesquisas. Como exemplos, na Argentina com a criação da Comissão
Nacional para o Ensino de Biologia; no Brasil por meio MEC, Inep
45
Publicação do Departamento de Assuntos Científicos da OEA para difusão da renovação
do ensino das ciências nos países latino-americanos. No Brasil, o livro foi traduzido e
adaptado por Oswaldo Frota-Pessoa, Rachel Gevertz e Ayrton Gonçalves da Silva. A obra
foi intitulada Como ensinar ciências, publicada em 1970.
216
e IBECC/SP; na Colômbia com os grupos de estudos nas
Universidades de Cali e Bogotá; e no México com as comissões
especiais na Universidade Nacional Autônoma e Instituto
Politécnico Nacional. Um dos marcos mais importantes do
movimento foi a I Conferência Interamericana sobre o Ensino de
Biologia (CIEB)
46
, realizada na Universidade de Costa Rica, em São
José, Costa Rica, nos dias 21 a 28 de julho de 1963, sob patrocínio
da OEA, FNC e Fundação Ford.
A conferência de professores e biologistas da América e
Europa definiram a Biologia como uma “ciência fundamental e que,
portanto, tudo quanto se realize para aperfeiçoar o seu ensino será
de grande transcendência para os países americanos, não somente
sob o ponto de vista cultural, mas também para o seu
desenvolvimento sócio-econômico” (OEA, 1964, p. 427). Com o
amparo da OEA, o CIEB estabeleceu uma série de orientações para
renovação do ensino de biologia. Todas as recomendações sobre a
conceptualização da disciplina escolar, programas, métodos de
ensino, objetos escolares, formação de professores e experiências
pedagógicas foram publicadas na Ciência e Cultura.
Ainda na década de 1960, na América Latina, com o
patrocínio da OEA, foi realizado o I Curso de professores de biologia
para o treinamento com os materiais do Biological Sciences
46
O evento contou com a participação de 18 países americanos, com mais de 50
participantes, além da Inglaterra, na representação de John Marion Thoday, presidente do
“Seminário sobre a Reforma do Ensino da Biologia na Europa”, realizado na Suíça, em
setembro de 1962. O I CIEB foi organizado em torno de aspectos gerais, problemas e
metodologia do ensino de biologia nos EUA, Europa e América Latina. Representando o
Brasil, participaram os professores Oswaldo Frota-Pessoa com o tema “A reforma dos
métodos de ensino da biologia”; e Isaías Raw com o texto “Materiais, práticas de laboratório
e atividades extra-curriculares”. Contou também com a presença de Myriam Krasilchik e
Newton Dias dos Santos (FROTA-PESSOA, 1964b).
217
Curriculum Study (BSCS), promovido pelo IBECC/SP na USP em
1962; em 1964, a criação do Programa Interamericano para
Melhorar o Ensino das Ciências (PIMEC) em Montevidéu,
Uruguai; em 1966, o curso interamericano realizado em Lima, Peru,
com o objetivo de formar lideranças latino-americanos (FROTA-
PESSOA, 1967). Além disso, nas décadas seguintes, o papel da
UNESCO na promoção de projetos e publicações de materiais para
renovação da disciplina escolar em diferentes partes do mundo.
Como, por exemplo, os cinco volumes Novas Tendências do Ensino
de Biologia (1966, 1969, 1971, 1977, 1980). Também a publicação
de guias para a formação de professores de biologia na América
Latina na América Latina (1981), Ásia e África (1986) (UNESCO,
1980). Além disso, nos dias 3 a 7 de julho de 1972, a OEA realizou
o II CIEB, em Assunção, Paraguai.
Apesar de não mencionar o I CIEB, Azevedo (2015) traz
importantes contribuições sobre as relações da renovação do ensino
de biologia nos EUA e Brasil. O autor destaca as aproximações e
distanciamentos entre os países em três pontos: 1) a base de ensino
pela experimentação com apropriações diferentes das ideias de John
Dewey, filósofo e pedagogista norte-americano; 2) a participação
decisiva de instituições para o ensino das ciências, tais como, o
IBECC/SP e FNC no Brasil e EUA, respectivamente; e 3) o papel
divergente assumido pelas comunidades científicas brasileiras e
estadunidenses.
Nos EUA, o campo da Biologia gozava de poder, recursos e
espaços nas decisões da renovação da disciplina escolar, mas no
Brasil, conforme o estudo de Azevedo (2015, p. 146): “é possível
perceber a atuação de vários cientistas no processo de renovação do
ensino de ciências no Brasil, entretanto, não representavam
218
enquanto categoria, um peso decisivo para a tomada de decisões
quanto aos rumos do movimento brasileiro”. Contudo, nesta
pesquisa, percebe-se uma participação ativa de biologistas na SBPC,
IBECC/SP e, sobretudo, no desenvolvimento e aplicação de projetos
no MEC/Inep. Mais ainda, fica evidente, pelo amplo detalhamento
das discussões, que as transformações do ensino de biologia estavam,
nessas circunstâncias, relacionadas, em grande medida, com as
ampliações e interesses da comunidade disciplinar pela tutela da
conceptualização da disciplina escolar, currículo, materiais de
ensino, trabalho e formação docente para melhoraria do status da
Biologia na escola secundária brasileira.
Interessa perceber as importantes contribuições de Azevedo
(2015), Azevedo e Selles (2015), Azevedo, Selles e Tavares (2016)
para compreensão das relações da renovação do ensino de biologia
no Brasil e EUA. Para os autores, o país não desempenhou um
habitual espaço de reprodução e transferência educacional
estadunidense. Não era, assim, uma questão simplista de copiar e
colar procedimentos e processos educacionais. A propósito, talvez, o
caminho seja explorar a relação entre o nacional e o internacional
por meio dos estudos de uma história transnacional da educação.
Nesse sentido, a proposta de analisar a renovação do ensino
de biologia da escola secundária na América Latina escreve-se na
rejeição de compreendê-la apenas como um primado unidirecional
de transferência de ideias, artefatos e práticas de países desenvolvidos
para os subdesenvolvidos. Investigar isso é uma tarefa complexa, pois
existem entrelaçamentos e interações internacionais de uma rede de
biologistas e professores em diferentes organizações e instituições de
países; uma circulação de conhecimentos pedagógicos, acadêmicos e
utilitários, que mesclam as tendências internacionais com as
219
nacionais/regionais; e os interesses transnacionais na produção,
adaptação e consumo de livros didáticos, objetos escolares e métodos
de ensino.
As pesquisas em jornais da época e na revista Ciência e
Cultura indicam o movimento brasileiro como recorte de modelo
para os países latino-americanos por conta das atividades realizadas
pelo IBECC/SP e Inep. Sobre isso, no livro Principios basicos para la
enseñanza de la biologia, Frota-Pessoa (1967) afirmou que,
No Brasil, por exemplo, há cerca de vinte anos houve cursos de
férias para professores de ciências, patrocinados pelo Ministério
da Educação e Cultura, Secretários de Educação de alguns
Estados, Museu Nacional e algumas universidades. Há cerca de
quinze anos, o Instituto Brasileiro de Educado, Ciência e
Cultura (IBECC), que vem exercendo considerável influência
na evolução do ensino de ciências na América Latina (ver
Capítulo 8, instituições). Em 1960, o Ministério da Educação
e Cultura publicou textos modernos de biologia, escritos por
especialistas brasileiros para orientação de professores do ensino
médio. Entre eles, a “Biologia na Escola Secundaria” e a
“Botânica na Escola Secundaria” foram distribuídas
gratuitamente aos professores (ver Capítulo 8, publicações).
Hoje se multiplicaram as instituições nacionais que trabalham
para melhorar o ensino da ciência e da biologia, e algumas
foram criadas antes do CIEB com o movimento centralizado
pela OEA (FROTA-PESSOA, 1967, p. 9, tradução nossa).
Segundo a reportagem no Correio Paulistano, em maio de
1961, o IBECC/SP recebeu uma delegação docente da Universidade
do Chile: José Herrera, superintendente do Ministério da Educação
e professor de Zoologia; Natalio Glavic, secretário da superinten-
dência do ministério e professor de Método do Ensino de Biologia;
220
e José Montecinos, professor de Física do Instituto de Pedagogia.
No dia 30 de maio de 1961, a delegação desembarcou na cidade de
São Paulo para uma estadia de 15 dias. Na programação, também
realizaram visitas no MEC (VAI O BRASIL..., 1961).
Em São Paulo, os professores chilenos participaram de
reuniões com o secretário de Educação do Estado, Luciano de
Carvalho, e visitas no IBECC/SP, acompanhados de Isaías Raw e
Paulo Meneses Mendes de Rocha. O objetivo era compreender as
ações do órgão na renovação do ensino das ciências no Brasil.
Conforme a reportagem no Correio Paulistano:
Até agora, o ensino de ciências nas escolas chilenas desses níveis
vem sendo puramente verbal e teórico. A fim de dar ao ensino
científico nessas escolas um cunho prático e objetivo capaz de
estimular a iniciativa do aluno e incentivar suas inclinações para
a ciência pretende aquele Ministério criar uma instituição
similar ao IBECC e que, como ele de treinamento a professores
de ciências (cursos de aperfeiçoamento), fabrique e distribua
equipamentos para os laboratórios das escolas de nível médio e
incentive, de modo geral entre a juventude, o interesse pelos
assuntos científicos. Fornecendo à delegação do Ministério da
Educação chileno informes e elementos para concretização de
tais providências no país amigo, o IBECC de São Paulo está
colocando o Brasil na categoria de nação exportadora de técnica
e experiência nos métodos e processos de ensino de ciências nas
escolas de nível médio (VAI O BRASIL..., 1961, p. 7).
Para Maria Ormastroni, o IBECC/SP fazia um trabalho
pioneiro no país com ampla repercussão e apoio internacional e,
portanto, tornava-se um espelho e modelo para toda a América
Latina. Nas palavras da autora: “os trabalhos do IBECC estão sendo
copiados por vários países Latino-Americanos que iniciarão suas
221
atividades com a grande vantagem de usar a nossa experiência”
(ORMASTRONI, 1964, p. 418). Nesse sentido, todas as ações da
comissão paulista foram dotadas de representações e sentidos do
processo de renovação do ensino das ciências em marcha no Brasil.
Outra demanda urgente era a atualização do currículo e,
sobretudo, dos livros didáticos para renovação do ensino das ciências
na escola secundária. A preocupação do IBECC/SP era editar vários
livros nacionais, tais como, Entomologia para você, de Messias
Carrera; Hereditariedade Humana, de Pedro Henrique Saldanha;
Um pouco sobre célula, de Renato Basile, e internacionais. Esses a
partir dos estreitos intercâmbios com biologistas e professores dos
EUA. Nesse caso, por exemplo, para o ensino de biologia, as edições
do “1.º volume da Versão Azul do Curso de Biologia do BSCS [...]
além da ‘Ecologia’ adaptada da Versão Verde do BSCS”
(ORMASTRONI, 1964, p. 418).
Destacando a importância do BSCS como dispositivo
transnacional para o cenário de renovação do ensino de biologia no
Brasil, as próximas subseções trazem uma compreensão, de modo
geral, da circulação do material no país, permeada de recursos
próprios do campo científico da Biologia e características para
transformar o currículo e métodos de ensino da disciplina escolar.
Além disso, as representações para possibilitar modos, formas, visões
e interesses da comunidade disciplinar de biologistas e, desse modo,
instituir práticas na escola secundária.
4.2.1 A circulação do BSCS no Brasil
O avanço do movimento de renovação do currículo
científico nos EUA conduziu altos investimentos governamentais e
222
uma série de projetos para assegurar uma modernização do ensino
de biologia e, para tal, contou com a participação ativa do American
Institute of Biological Sciences (AIBS) e FNC
47
. A comunidade de
biologistas e professores mobilizou reuniões, cursos, congressos e
debates com o objetivo de contribuir na renovação da disciplina
escolar. Isso principalmente no grupo de trabalho BSCS, que foi
instalado na Universidade do Colorado, em 1959. Além dos EUA,
a Inglaterra também desenvolveu ações para renovação do ensino das
ciências
48
.
O BSCS foi constituído como uma instância transnacional
privilegiada de circulação de padrões assumidos como adequados
para renovação da disciplina escolar e, principalmente, nas Américas.
Foi, portanto, um local de construção de representações acerca da
necessária inovação do currículo e métodos de ensino. Conforme o
presidente da comissão diretora do BSCS, Bentley Glass (1964), em
artigo publicado na Ciência e Cultura, foi definido os seguintes
critérios para renovar o ensino de biologia: 1) atualização da Biologia
na escola secundária; 2) conceito de ciência; 3) organização do
currículo; 4) temas unificadores; 5) métodos de ensino; e 6) valor
cultural. Em todas as questões, os biologistas defendiam uma
necessária mudança na conceptualização, saberes escolares e métodos
de ensino da disciplina escolar.
47
A FNC também patrocinou projetos para renovação do ensino de física, química,
matemática e geologia.
48
No caso da disciplina escolar biologia, sob o patrocínio da Fundação Nuffield, o grupo
de trabalho preparou dois cursos e livros didáticos denominado de Ordinary Level e
Advanced Level para os alunos de 14 a 18 anos. (KRASILCHIK, 1972). No Brasil, nos anos
1960, o IBECC/SP realizou a tradução e adaptação desses projetos com a publicação de 10
livros com os conteúdos de Biologia, Ecologia e Genética (BARRA; LORENZ, 1986).
223
Em 1960, com a participação dos mais de 60 biologistas e
professores, o BSCS realizou a primeira conferência para definição e
produção de materiais escolares. O resultado foi a produção
preliminar de três livros didáticos com guias das práticas
laboratoriais. Eles foram nomeados nas cores azul, amarelo e verde.
A versão azul organizada com base na Fisiologia Experimental e
Bioquímica; a amarela com o desenvolvimento da Citologia e
Genética; e a verde pautada pela Ecologia e Evolução. Projetava-se
uma renovação com a flexibilização dos currículos, que foram
experimentados nas escolas secundárias estadunidenses antes do
lançamento das versões definitivas em 1963
49
.
Apenas a versão amarela não foi traduzida e adaptada pela
equipe do IBECC/SP. Selles (2007) com base em entrevistas com
professores envolvidos no BSCS, afirma que as versões azul e verde
eram mais inovadoras à época e, por isso, receberam uma atenção
especial da comunidade educacional brasileira. Na análise que fazem
do BSCS, Marandino, Selles e Ferreira (2009) discutem as
transformações da disciplina escolar nos anos 1960. A grande meta
era entrelaçar os conceitos e fenômenos biológicos para construir
49
Com a supervisão do BSCS, os livros foram experimentados por 105 professores e seus
1.400 alunos numa grande variedade de escolas secundárias dos Estados Unidos durante
todo o ano letivo de 1960-61. Os professores se reuniram semanalmente, em pequenos
grupos, para discutir os resultados das experiências e fizeram periodicamente relatórios. As
obras também foram enviadas, para a crítica, à muitos biologistas, psicólogos, educadores,
pais de alunos e sociedades profissionais. Uma segunda Conferência de Redação se reuniu
em Boulder, em julho de 1961, para reescrever totalmente as três versões, levando em conta
os resultados das experiências e opiniões dos especialistas. Uma nova edição experimental
foi publicada (1961-62) e usada experimentalmente por 30.000 alunos nas classes de 350
professores. Utilizando os resultados dessa segunda experiência, três grupos de biologistas
e professores, reescreveram os livros para serem publicados comercialmente durante o ano
de 1963 (RAW, 1963).
224
uma nova disciplina escolar para um ensino moderno, prático e
experimental das ciências de referência na escola secundária.
Em 1961, o BSCS realizou uma nova conferência para
revisão dos livros didáticos, todavia, desta vez, com a presença de seis
professores da América Latina: “dois da Argentina (Elena Martínez
Fontes e Eduardo Del Ponte), dois do Brasil, representado o IBECC
(Myriam Krasilchik e Oswaldo Frota-Pessoa) e da Colômbia
(Roberto Galán e Humberto Gomes-Osorio)” (FROTA-PESSOA,
1967, p. 7). É possível compreender a participação de professores de
países sul-americanos na declaração Bentley Glass (1964b) sobre a
rápida internacionalização do BSCS:
Quase que desde o início do BSCS, recebemos comunicações
de países estrangeiros demonstrando o interêsse que neles
despertavam os nossos planos e programas. Entre eles estava a
Grã-Bretanha e outros países europeus, países sul-americanos,
da África e da Ásia. Tendo em vista atender a essas solicitações,
organizou-se uma comissão especial encarregada de estudar a
cooperação internacional e uso dos materiais do BSCS em
outros países. A Comissão foi financiada pela Fundação
Nacional de Ciências e pela Fundação Rockefeller, o que
permitiu que nove biologistas de países estrangeiros (dois
argentinos, dois do Brasil, dois da Colômbia, dois da Tailândia
e um da Nigéria pudessem participar da Conferência de
Escritores de 1961. Cada par de visitantes era formado por um
professor de biologia de escola secundária e um biólogo de nível
médio [...] O entusiasmo de nossos amigos estrangeiros foi
contagioso e deu origem a planos de ação para a América Latina
(GLASS, 1964b, p. 48).
Os professores latino-americanos colaboraram com a
redação final dos livros didáticos e tradução experimental para
225
treinamento docente. Em 1964, houve a publicação das adaptações
na Colômbia e Argentina, respectivamente, com a denominação de
Versión Verde del BSCS: adaptación para la zona tropical e Versión
Verde del BSCS: adaptáción para la zona templada (FROTA-
PESSOA, 1967). No caso brasileiro, a adaptação foi denominada
Ecologia: uma unidade de estudo, publicada pela editora da USP em
1963. Além disso, houve a publicação de exercícios e um manual de
laboratório.
Com a coordenação da professora Norma Maria Cleffi,
outras adaptações da versão verde do BSCS foram realizadas pelo
IBECC/SP nos anos 1970. O livro foi dividido em três volumes: I e
II publicados em 1972, enquanto o III em 1975 (SELLES, 2007;
VENTURA, 2014). Também foram publicados os guias didáticos
de textos e práticas laboratoriais. Cabe mencionar que Krasilchik
(1984), no início dos anos 1980, descreve uma avaliação da versão
verde, que abrangeu cinco classes experimentais nas cidades de São
Paulo, Salvador e Porto Alegre, envolvendo cerca de 1500 alunos.
Os estudos de Campagnoli e Selles (2008), Gomes (2008),
Iglesias e Rosa (2013), Iglesias (2014), Ventura (2014) e Iglesias
(2015) trazem algumas análises sobre os saberes escolares de Ecologia
e Botânica nos três volumes da versão brasileira. Parece que há um
desconhecimento da tradução e adaptação do livro Ecologia: uma
unidade de estudo pela comunidade acadêmica-científica nacional. É
uma versão experimental lançada no formato de volume único e com
a publicação quase dez anos antes do volume I (figura 5).
226
Figura 5 - Capas do BSCS versão verde no Brasil:
Ecologia (1963) e vol. I (3. ed. 1974)
Fonte: Arquivo pessoal.
O livro Ecologia: uma unidade de estudo foi organizado em 7
capítulos: 1) O mundo dos seres vivos; 2) Indivíduos, populações e
comunidades; 3) A vida na Terra; 4) A vida na água doce; 5) A vida
nos mares; 6) A geografia da vida; e 7) A história da vida. Conta
também com uma lista de 20 exercícios experimentais divididos
entre os laboratórios e aulas de campo. A apresentação foi escrita por
Isaías Raw. Para o professor, o livro “servirá para uso amplo dos
estudantes cujos professôres, quiseram dar um cunho moderno e
prático ao ensino de ecologia no curso colegial” (RAW, 1963, p. 10).
Ainda na segunda conferência do BSCS, os professores
latino-americanos organizaram uma reunião com agências e
fundações de amparo à ciência e pesquisa dos EUA, em Washington,
D.C. O objetivo era promover o desenvolvimento e intensificação
da renovação do ensino de biologia na América Latina com os livros
didáticos do BSCS (FROTA-PESSOA, 1967). Para essa campanha
227
interamericana, a Fundação Ford e OEA patrocinaram o I Curso de
Professores de Biologia Latino-americanos, realizado pelo
IBECC/SP na USP durante os dias 8 de janeiro a 15 de fevereiro de
1962
50
.
Nesse curso, Frota-Pessoa (1964c, 1967) e Krasilchik (1972)
afirmam que o BSCS foi introduzido no Brasil com a tradução e
adaptação da versão verde Ecologia: uma unidade de estudo. Além
disso, houve um treinamento de professores de países da América
Latina sobre o currículo e métodos de ensino do BSCS
51
.
50
O curso foi ministrado por Bentley Glass, Oswaldo Frota-Pessoa e Myriam Krasilchik.
51
Participaram os seguintes professores: Nicarágua - Roger Argenal e Jalme Incer B.; Costa
Rica - José L. Esquivel, Jorge Jimenez e José Miguel Jimenez Saeuz; Panamá - Antônio
Mock; Honduras - Isabel Augustino Molina e Maria Isabel Velásquez C.; Equador - Carlos
Eduardo do Chiriboga; Chile - Rosa M. Ceron, José Diaz, Geraldo Melcher, Roberto I.
Nuñez, Gabriel Piño, Tereza Lilian Galvez Rivadeneira e Graciela Gallizia; Colômbia -
Jaime Benitez, Ramon Franco, Celmira Garcia, Gilberto J. Parra, Mariah Rueda de
Noriega, Hernando Cardoso Villegas, Jose Anibal Patiño, José Fábio Heresia Cano, Luiz
Plaza Galindo, Elvira Garcia Gonzáles e Marcela Gomez; Peru - Flor de M. Escudeiro e
Tereza Stuart Ramirez; Uruguai - Alejandro Brunetto, Maria R. Prandini, Maria L. Rivas,
Braulio Orejas Miranda, Gabriel Gerar e Silvia Cáceres de Balbi; Argentina - Carlos A.
Frumento, Alberto M. Guzman, Mario E. Turri, Encarnacion Rosa Guaglianone e
Umberto Eduardo Rocca; Paraguai - Nancy Y. Baruja, Luiz R. Heller, Eleutério Molinas,
Virginia Romero e Alonso Ruíz Peralta; e Brasil - José de S. Amaral, Walem F. Barros,
Pierre H. Lucle, João J. de S. Pupo, Madre Jacobina Marin, Leda Pereira, Alcides Verissimo
e Solon Leontsinis (Guanabara); Guy R. de Andrade, Anita R. Berbardinelli, Rodolpho
Caniato, Pe. José A. M. Moreira, Maria V. A. P. Prado, Antônio de S. Teixeira Jr., Sonia
Guinsburg Saldanha, Hortência Maria Gomes e Darvin Belg (São Paulo); Wemdelino
Bonfleur, Osmar Rodrigues, Pe. Pedro Ernesto Haesser S. J. e Wilson Kaercher (Rio
Grande do Sul); Godofredo de Castro Filho, Leonia Gadelha de Lima e Antônio Viana
Rodrigues (Ceará); Fernando M. Melo, Paulo P. Muniz e Carlos T. de Oliveira (Rio de
Janeiro); Jesus Oliveira, Geraldo Ribeiro, Lígia Tavares, Nyelda Rocha de Oliveira, Cristina
Sena Mascarenhas e Jemer Procópio de Alvarenga (Minas Gerais); José M. P. de Souza
(Goiás); Pe. Clovis Antunes Carneiro de Albuquerque, Terezinha Alves de Melo e Israel
Agostinho Santiago (Pernambuco); Carlos Alberto Simão Antônio (Território do Acre)
(ENSINO..., 1962, p. 6).
228
Com as recomendações da renovação do ensino de biologia
da OEA; o sucesso de testes e vendas da versão estadunidense; a
autonomia do currículo com a LDB/1961; e o apoio financeiro da
Fundação Ford e United States Agency for International Development
(USAID), o IBECC/SP deu início ao grupo de trabalho para
tradução e adaptação do BSCS versão azul com as professoras
Myriam Krasilchik, Nicia Wendel de Magalhães e Norma Maria
Cleffi. Nos EUA, a versão azul foi publicada no formato de volume
único; no Brasil, o livro foi dividido em dois volumes, com as edições
lançadas a partir de 1965 (figura 9). Os guias didáticos foram
publicados a partir de 1967.
Figura 5 - Capa do BSCS versão azul no Brasil (vol. I, 1969)
Fonte: Arquivo pessoal.
A adaptação brasileira foi organizada em 8 unidades
sequenciais divididas em dois volumes: 1) Biologia interação de
fatos e ideias; 2) A evolução das células; e 3) Os organismos em
229
evolução (volume I); 4) Indivíduos pluricelulares; 5) Continuidade
genética; 6) Utilização de energia pelos organismos pluricelulares; 7)
Organismos pluricelulares sistemas integradores; e 8) Níveis de
organização mais elevados (volume II). No volume I contém um
apêndice sobre as “Relações dos seres vivos”, com taxonomia e
sistemática de protozoários e animais, e um “Guia de laboratório”,
que traz uma lista de experiências.
No entrelaçamento histórico das Ciências Biológicas com o
ensino de biologia do BSCS, conforme Ferreira e Selles (2008), a
produção do livro didático instrumentalizou uma retórica da
Evolução na unificação das ciências de referência na renovação da
disciplina escolar. As autoras afirmam que a escolha da estrutura da
macromolécula de DNA nas capas já marcava o território da
Biologia Molecular nos novos currículos. O maior objetivo era
deixar claro o DNA como um dos “verdadeiros slogans das Ciências
Biológicas nos anos 1960” (FERREIRA; SELLES, 2008, p. 10).
A tese de doutoramento de Myriam Krasilchik intitulada O
ensino de biologia em São Paulo: fases da renovação, defendida na
Faculdade de Educação da USP, em 1972, fornece dados para pensar
os efeitos da introdução do BSCS versão azul nos colégios públicos
e privados no estado paulista, tais como, à proporção que foram
utilizados pelos professores, as formas pelas quais eram usados, os
problemas e obstáculos, os materiais e as práticas de ensino, e a
seleção dos saberes escolares. Segundo a autora, no país, houve uma
apropriação e circulação do livro didático com a publicação de mais
de 340 mil exemplares no período de 1965 a 1972 (tabela 12).
230
Tabela 12 - Tiragens do BSCS versão azul no Brasil (1965-1972)
Ano
Volume I
Volume II
Total
1965
35.000
35.000
1966
18.000
35.000
53000
1967
40.000
30.000
70.000
1968
1969
16.000
10.000
26.000
1970
20.000
20.000
40.000
1971
20.000
10.254
30.254
1972
60.290
10.126
70.416
Total
209.290
115.380
342.670
Fonte: Adaptado de Krasilchik (1972, p. 79).
Com base em questionários, que abrangeu mais de 280
professores de biologia, Krasilchik (1972), em 1969, verificou que
as escolas públicas (62%) e privadas (52%) da capital utilizavam o
material didático. No interior paulista, em 1971, cerca de 70% dos
estabelecimentos de ensino faziam usos dos livros. Nas palavras da
autora: “o caso do BSCS, no Estado de São Paulo, a difusão foi
relativamente rápida, embora não tenhamos podido coletar dados
suficiente para traçar a curva de adoção, a aceitação foi grande,
embora não total” (KRASILCHIK, 1972, p. 95).
A principal meta do BSCS era renovar as concepções da
disciplina escolar biologia e consolidá-la no currículo, introduzindo
as mais recentes descobertas, modelos teóricos e postulados das
Ciências Biológicas. Para cumprir essas finalidades, Bentley Glass
destacava que,
Uma compreensão segura da biologia é um direito inalienável
de cada jovem que quando adulto, terá de enfrentar problemas
individuais de nutrição e saúde; problemas familiares de sexo,
reprodução e paternidade; problemas sociais de manipulação de
231
recursos nacionais, perigos biológicos dos artefatos nucleares de
paz e de guerra; problemas relacionados com o apoio do
govêrno à ciência, como fonte primária de fôrca nacional e do
bem estar dos indivíduos. Pareceu-nos, portanto, que a biologia
devia ser colocada numa altura do currículo em que atingisse a
grande maioria dos estudantes (GLASS, 1964, p. 361).
Conforme artigo publicado na Ciência e Cultura, Frota-
Pessoa (1964c) analisa as vantagens e inovações do BSCS para o
movimento de renovação da disciplina escolar. O biologista
brasileiro destacou cinco pontos de originalidade:
1. Restauração do rigor científico nos programas e textos; 2.
Atualização da ciência; 3. Apresentação, ao aluno, da ciência
como método de descobrir a verdade, além de um ser conjunto
coerente de fatos e princípios; 4. Apresentação do conteúdo da
biologia à luz dos temas unificadores que constituem a base do
pensamento biológico moderno; 5. Os princípios da biologia
devem nascer do estudo de todos os níveis de organização:
molecular, celular, de tecidos e órgãos, individual,
populacional, da comunidade ecológica, do bioma (FROTA-
PESSOA, 1964c, p. 425-426).
A estrutura do BSCS indicou novas concepções e
representações do ensino de biologia no currículo da escola
secundária. Dentre os pontos de originalidade, destacam-se os temas
unificadores e o método da redescoberta como questões fundamen-
tais na produção de novos significados da Biologia na disciplina
escolar. Essas duas marcas são discutidas com mais atenção a seguir.
232
4.2.2 As Ciências Biológicas e os temas unificadores
da disciplina escolar
O pensamento de Jerome Bruner, professor de Psicologia de
Harvard, e Joseph Schwab, professor da University of Chicago e
membro do BSCS,
sobre a organização do currículo precisa ser
considerado para compreender os temas unificadores das Ciências
Biológicas ou temas biológicos fundamentais como diretriz básica
para renovação e consolidação da disciplina escolar. Os conceitos de
Bruner e Schwab têm sido utilizados por diferentes pesquisas sobre
história do ensino de biologia no Brasil, tais como, Selles e Ferreira
(2005), Selles (2007), Ferreira e Selles (2008), Marandino, Selles e
Ferreira (2009), Cassab (2011), Moreira (2013), Ventura (2014),
Azevedo (2015) e Silva (2019). O objetivo é entender como a
estruturação do currículo por meio da lógica epistemológica das
Ciências Biológicas constituiu-se como o principal nexo para
estabelecer as novas tradições e inovações curriculares.
No livro O processo da educação, publicado no Brasil em
1975, Bruner argumenta sobre a importância de uma estrutura para
definir e organizar as disciplinas escolares. Para ele, “os currículos e
os métodos didáticos devem estar articulados para o ensino das idéias
fundamentais, em todas as matérias que estejam sendo ensinadas”
(BRUNER, 1975, p. 16). Compreendia-se que a estrutura era o
princípio básico e unificador dos conhecimentos das disciplinas
acadêmicas para correlacio-los na compreensão de fatos e
conceitos da ciência nas disciplinas escolares. Dessa forma, torná-las
“equivalentes às ciências de referência, mas ao mesmo tempo são
versões didatizadas das ciências” (LOPES; MACEDO, 2011, p.
113).
233
Bruner entendia que compreender a estrutura das ciências de
referência permitiria o entendimento do funcionamento da disci-
plina escolar pelos alunos. Assim, “ao compreender a estrutura, o
aluno assimila como a disciplina trabalha: quais seus problemas, as
questões metodológicas e conceituais utilizadas para resolver tais
problemas, no que constitui o conhecimento disciplinar” (LOPES;
MACEDO, 2011, p. 113). Nessa perspectiva, qualquer disciplina
escolar deveria ser estruturada como a finalidade de transmitir a
lógica didatizada do conhecimento e a estrutura das ciências de
referência. A inclusão de uma estrutura única e fundamental era,
portanto, apontada como um aperfeiçoamento importante para
renovar as disciplinas escolares.
Compartilhando os princípios de Bruner, Schwab defendia
o domínio das disciplinas acadêmicas na constituição da disciplina
escolar. Ele afirma que, “não devemos ensinar os resultados da
pesquisa, mas as estruturas sintáticas de produção do conhecimento,
acompanhando como o conhecimento é produzido” (LOPES;
MACEDO, 2011, p. 115). A estrutura de uma disciplina escolar são
os conceitos unificadores, de forma a entender como ocorre a
produção de conhecimento na ciência, definindo as teorias, fatos e
conceitos, outrossim os modos de pesquisar do campo científico.
Acreditava-se, então, que era “possível apresentar a estrutura
fundamental de uma disciplina de forma a preservar sequências
excitantes que conduzem os alunos a descobrirem por si mesmos”
(BRUNER, 1975, p. 18).
Schwab também argumentou sobre os métodos de ensino
dos professores. De modo geral, com a pretensão de entender os
cânones, as evidências, os conceitos e as teorias que unificam e
fundamentam a produção das ciências de referência, ele considerou
234
que o ensino não poderia ser estagnado nos resultados das pesquisas
e transmitido como um produto estático e acabado na escola
secundária. Conforme Lorenz (2008, p. 13), “Schwab declarou que
os conteúdos das ciências não deviam ser ensinados como uma
‘retórica de conclusões’, mas como o resultado de um processo de
investigação em fluxo”. Nesse sentido, havia uma defesa árdua da
participação ativa dos alunos no desenvolvimento de uma
experimentação didática e a vivência nas etapas do processo
científico.
A pretensão era ensinar a compreensão da estrutura das
ciências de referência da disciplina escolar com suas questões,
conceitos unificadores e métodos laboratoriais de pesquisa. Assim,
justifica-se a utilização do método da redescoberta pelos professores
e alunos. Para cada experimentação na sala de aula ou laboratório
era necessário a instrumentalização na coleta de informações,
interpretação de dados, solução de problemas e definição de
conclusões. O essencial era desenvolver nos alunos o pensamento
científico de redescobrimento e validação de conhecimentos já
produzidos pelos cientistas (LOPES; MACEDO, 2011).
O currículo centrado na estrutura das disciplinas acadêmicas
foi incorporado na renovação do ensino de biologia do BSCS. Os
temas biológicos fundamentais e o método da redescoberta
trouxeram uma série de impactos como, por exemplo, os
entrelaçamentos dos conceitos centrais das Ciências Biológicas na
construção do currículo. O que interessava era entender a disciplina
escolar por meio das estruturas e propriedades das ciências de
referência. Os temas unificadores, publicados na Ciência e Cultura,
eram:
235
a) Evolução dos sêres vivos através do tempo; b) Diversidade de
tipos e unidade de padrões dos sêres vivos; c) Continuidade
genética da vida; d) Complementação entre organismo e
ambiente; e) Raízes biológicas do comportamento; f) Comple-
mentação entre estrutura e função; g) Regulação e homeostase;
h) A ciência como indagação; i) A história dos conceitos
biológicos (FROTA-PESSOA, 1964c, p. 426).
Além dos temas expostos por Frota-Pessoa, os debates e
recomendações da comunidade disciplinar no I CIEB acrescentaram
mais um tópico na estruturação da disciplina escolar: “o homem e o
equilíbrio da terra(OEA, 1964, p. 427). Esse tema biológico
estabelecia uma ênfase na aplicação social das Ciências Biológicas,
mas também uma reivindicação do emergente movimento
ambientalista expresso, por exemplo, nos embates provocados pelo
livro Primavera Silenciosa de Rachel Carson, lançado em 1962. Além
disso, a OEA prescrevia as seguintes recomendações para os
currículos renovados:
Que o nôvo programa de biologia ensine aos alunos são
somente os fatos e os princípios científicos, senão também os
métodos com que os cientistas trabalham, proporcionando-
lhes, assim, os conceitos de unidade, continuidade e diversidade
da vida. Para lograr êsse, objetivo, o programa deve basear-se
nos temas unificadores [...] Que o programa trate de distintas
formas da vida em seus diversos meios, desde o molecular até o
das populações, comunidades e a biosfera [...] Que a biologia
se ensine como ciência global e unificada; encontrando-se
dividida nos ramos tradicionais, seu ensino se ajustará aos temas
unificadores já enunciados (OEA, 1964, p. 428).
236
Existe um forte vínculo de conceitos centrais da Evolução,
Sistemática, Genética, Ecologia, Fisiologia, Morfologia e
Bioquímica na conceptualização dos temas unificadores, mas
também de aspectos históricos e metodológicas das ciências de
referência, tais como, os métodos de pesquisa e a história do
pensamento biológico. O currículo foi entendido na relação e
regulação das Ciências Biológicas e sem grandes perspectivas
utilitárias. Produzidos pelos biologistas, a partir das finalidades
determinadas e constritas do campo científico, os temas biológicos
fundamentais mostram a arbitrariedade sobre quais assuntos,
categorias e definições foram utilizadas na renovação da disciplina
escolar nos anos 1960.
A ordem dos temas biológicos fundamentais deveria ser
respeitada para anteder os diferentes conteúdos, programas,
demandas e finalidades do ensino de biologia na escola secundária.
Seja qual fosse o currículo prescrito ou ativo, a pretensão era de
sempre preservar os temas unificadores. Isso significava, por um
lado, a conservação da natureza das Ciências Biológicas no currículo;
no outro, a tradução das múltiplas possibilidades de ensiná-la e
acrescentá-la na formação dos jovens. Sobre isso, Bentley Glass
afirmou que,
Os temas biológicos fundamentais [...] devem ser tratados em
todos os níveis de organização, desde o nível molecular até o
ecossistema e em todos os estágios do processo vital, desde a
reação química, passando pelo crescimento e desenvolvimento
do indivíduo, até as modificações evolutivas que ocorrem ao
longo do tempo. Conseguir isto é extremamente difícil e, na
verdade, nunca foi tentando antes; mas é essencial para que o
aluno adquira uma visão moderna das ciências da vida (GLASS,
1964, p. 361).
237
De acordo com Krasilchik (1972), os temas biológicos
fundamentais foram associados na construção dos currículos do
ensino de biologia em São Paulo. Além disso, o empenho para serem
tratados ao nível das moléculas, células, tecidos, órgãos,
organismos, populações, comunidades, etc., enfim, em todos os
níveis de organização”. O interesse era de recusá-los como uma lista
de saberes escolares para admiti-los como temas geradores dos novos
currículos, e na função de manutenção da própria estrutura das
Ciências Biológicas na disciplina escolar.
Também havia a pretensão de consolidar a Biologia
neodarwiniana na escola secundária. Não por acaso, a Evolução foi
o principal fio condutor do BSCS, atribuindo o tom de organização
dos conteúdos de ensino e, portanto, implicando no pensamento
biológico evolutivo na lógica conceitual da disciplina escolar. A
compreensão dos mecanismos de seleção natural ofereceu as bases
para explicar as diferentes áreas da Biologia no corpo de uma ciência
unificada, experimental, matematizada e, com isso, significá-la como
autônoma e moderna.
A definição de uma unificação estava relacionada com os
interesses do campo científico e a vinculação dos próprios biologistas
na comunidade disciplinar. O mais comum era, de fato, a ampla
defesa da Teoria Sintética da Evolução para reunir os diferentes
domínios científicos das Ciências Biológicas. Diante disso, defendia-
se que,
A teoria da evolução ocupa um lugar mais importantes que as
outras, porque reúne uma massa de observações oriundas dos
mais diversos domínios que, caso contrário, permaneceriam
isoladas; porque inter-relaciona todas as disciplinas que se
interessam pelos seres vivos; porque instaura uma ordem na
238
extraordinária variedade dos organismos e liga-os estreitamente
ao resto da Terra; em suma, porque fornece uma explicação
casual do mundo vivo e de sua heterogeneidade (JACOB,
1893, p. 20).
É longa a lista de respostas que a Teoria Sintética da
Evolução oferece para as perguntas da Biologia, pois permiti uma
compreensão de diversas características dos seres vivos. Conforme
Theodosius Dobzhansky (1973, p. 125), naquele momento,
compreendia-se que “nada faz sentido na biologia, exceto à luz da
evolução”. Com o neodarwinismo, todas as áreas de estudos sobre
os seres vivos foram revitalizadas, aproximadas e conectadas para
compor as Ciências Biológicas. Definira-a como uma ciência
autônoma de princípios organizacionais e explicões biológicas da
matéria viva; em suma, com conceitos unificadores para firmá-la
como campo científico único. Contudo, conforme afirma Jacob
(1983, p. 14), é necessário alertar uma questão: “contrariado ao que
com frequência se imagina, a biologia não é uma ciência unificada”.
A ideia de unificação encontrava debates, disputas e
resistências nos microcosmos das Ciências Biológicas. A composição
de um campo único gerava resistências e críticas das áreas mais
tradicionais e herdadas da História Natural. Estudos de Iglesias
(2014) dão pistas sobre a perda de espaço da Botânica nas ciências
de referência e, consequentemente, no currículo do ensino de
biologia desde os anos 1960. Apesar disso, a retórica ilusória e
unificadora foi crucial para consolidar a disciplina escolar e ocultar
os debates embates de resistência de unificação das diferentes
disciplinas acadêmicas (MARANDINO, SELLES; FERREIRA,
2009).
239
Outro ponto que diz muito sobre a importância da
unificação e autonomia das ciências de referência é a categorização
das propriedades dos organismos vivos em evolução, reprodução,
hereditariedade, metabolismo, homeostase, estímulos ambientais e a
composição biomolecular. A pretensão do campo científico não era
apenas de definir a disciplina escolar para explicação de aspectos dos
seres vivos e processos biológicos com fins e objetos, mas
compreender a lógica das Ciências Biológicas, de uma ciência da
organização da vida. O grande objetivo era marcar uma “percepção
do carácter único de certos princípios básicos da biologia, que não
podem ser aplicáveis ao mundo inanimado” (MAYR, 2005, p. 36).
Essa característica tanto pode ser observada nos livros didáticos do
BSCS e Biologia na escola secundária de Oswaldo Frota-Pessoa,
publicado em 1960.
O pensamento biológico evolutivo na obra do Inep também
foi verificado na pesquisa de Roquete (2011). Para ele, “a retórica
evolucionista foi penetrando na coleção didática de Oswaldo Frota-
Pessoa, um importante ator social do período que esteve ligado ao
movimento renovador e que pôde, portanto, se apropriar das
‘novidades’ trazidas pela ‘versão azul’ do ‘BSCS’” (ROQUETE,
2011, p. 69). Assim como na pesquisa deste autor, de fato, o livro
carrega a Evolução como matriz de organização, porém merece uma
atenção no futuro, porque uma leitura impregnada somente pela
retórica do BSCS limita as brasilidades da obra.
O livro didático desenvolveu papel importante na renovação
do ensino de biologia no país durante os anos 1960/70. Contempla
as reivindicações de biologistas brasileiros para definir as concepções
de Biologia e a seleção de saberes escolares, e as demandas
pedagógicas escolanovistas exigidas pelo Inep. Também é
240
importante destacar que a comunidade disciplinar na CALDEME
organizou os debates e reuniões para transformar a disciplina escolar
muito antes da criação do BSCS. O fato é que as produções didáticas
coexistiram nos anos 1960 para renovar o ensino de biologia.
Conforme Azevedo (2015), os movimentos renovadores nos
EUA e Brasil foram constituídos com diferentes apropriações dos
valores da Pedagogia de Dewey. A partir disso, talvez seja possível
compreender como os livros do BSCS e o Biologia na escola
secundária intencionaram tradições pedagógicas e utilitárias com
imbricações e/ou clivagens. No Inep, Frota-Pessoa inseriu
reivindicações sociais e pedagógicas na constituição da disciplina
escolar com o objetivo de uma formação didática e cultural. São
exemplos, o método de problemas e o manual para “ensinar a
ensinar”. Mais afinco, as representações da Biologia nas tradições
utilitárias, tais como, a saúde pública, a higiene e o papel do Instituto
Oswaldo Cruz; os avanços do melhoramento genético brasileiro na
produção de café e milho no interior paulista; a vegetação dos
biomas e suas inter-relações com as atividades antrópicas regionais,
isto é, o homem na caatinga, as comunidades ribeirinhas na floresta
amazônica, a agropecuária nos pampas gaúchos e etc.
De um modo ou outro, a tradição acadêmica foi elevada à
potência máxima no entrelaçamento do ensino de biologia e as
Ciências Biológicas, mas o processo rifou a utilitária, envolvendo-a
no conjunto rarefeito de prescrições. Sobre a construção social do
currículo das disciplinas escolares centralizado nas universidades e
desinteressada de fins sociais e políticos, Goodson (1998, 2018)
cunha a expressão “barganha diabólica”. Isso significa que a
disciplina escolar conquista sua legitimidade no currículo com o
depósito de capital simbólico das ciências de referência e cientistas,
241
entretanto, por outro lado, as escolas “deixam de ser preocupar
primordialmente com as questões fundamentais da prática de
escolarização e começaram a se envolver em problemas de status,
através de uma erudição universitária mais convencional”
(GOODSON, 2018, p. 87-88).
Os valores das tradições acadêmicas dominaram o processo
de renovação do ensino de biologia. Isso também pode ser entendido
pela necessidade de transmitir a estrutura das ciências de referência
para despertar as carreiras científicas nos alunos. A relação do
método da redescoberta na produção de significados das Ciências
Biológicas na escola secundária é discutida no próximo tópico.
4.2.3 O método da redescoberta no ensino
de Biologia experimental
A segunda parte do núcleo do BSCS localizava-se nos
métodos e matérias de ensino do trabalho docente. Era exigido o
emprego didático de práticas científicas das Ciências Biológicas e,
portanto, a OEA considerava a experimentação como a pedra
fundamental para realizar as mudanças na disciplina escolar. A
propósito, o órgão afirmava,
Que o uso adequado do laboratório é de fundamental
importância na formação científica do aluno; Que a
experimentação leva os estudantes a enfrentar problemas que
permitem uma educação científica real; Que o principal
problema do ensino de biologia nas Américas é o limitado
desenvolvimento da experimentação; Que a prática da
experimentação permitirá iniciar imediatamente a reforma do
ensino da biologia, enquanto se vão modificando os planos de
estudos atuais; e Que é necessário melhorar as condições de
242
trabalho nos laboratórios dos estabelecimentos de educação
(OEA, p. 430, 1964).
As discussões pela experimentação na escola secundária já
estavam em curso desde o início do século XX, mas as ideias
anteriores se baseavam em criar um ambiente de aprendizagem para
veridicção científica; seguida das ideias escolanovistas do “aprender
fazendo”; enquanto a inovação curricular dos anos 1960 enfatizava
uma retórica de reprodução do método científico na escola
(KRASILCHIK, 1987). O objetivo era a aplicação das etapas da
investigação científica positivista, que estava com uma devida
roupagem didática, para uma participação ativa dos alunos em todas
as etapas da experimentação.
A bandeira do método da redescoberta do BSCS não se
tratava unicamente de uma defesa de ordem pedagógica, mas
também de um processo da apropriação de um espaço de prestígio
dos biologistas (SELLES, 2007). Em outras palavras, com a licença
do método da redescoberta, a comunidade disciplinar desejava fixar
um status e poder das Ciências Biológicas na escola secundária. Para
compreender a experimentação no currículo das adaptações
brasileiras da versão azul do BSCS, Silva (2019) identifica 58
práticas em cinco tipologias: 1) comprobatórias (53%) sobre as quais
os alunos são atuantes no desenvolvimento das atividades de
redescobrimento; 2) investigativas (12%) sem determinações
estabelecidas, que permitiam uma maior autonomia; 3)
demonstrativas (16%), pois o foco era a veridicção dos conteúdos de
ensino; 4) múltiplas (16%) com mais de uma tipologia; e outras
(3%) sem tipologias.
243
A experimentação expressava a coesão dos biologistas de
tutelar o trabalho docente conforme as regras e procedimentos
básicos que produzem o conhecimento das Ciências Biológicas. Em
todos os casos, habilitar os alunos para verificar as evidências
empíricas sobre os fenômenos biológicos e analisá-los por meio de
uma lógica matematizada e experimental. O foco era reconfirmar os
conceitos e conteúdos prescritos nos livros didáticos e, por meio
disso, redescobri-los na replicação das etapas de uma pesquisa, mas
sem, precisamente, desenvolver a autonomia dos professores e
estudantes. Assim, “o método da redescoberta se apresenta como
principal instrumento de didatização da experimentação biológica”
(AZEVEDO, 2015, p. 112).
O método da redescoberta foi um tema frequente nos
debates das reuniões anuais da SBPC como, por exemplo, no
simpósio O ensino de Citologia na Escola Secundária, realizado na XV
reunião anual (Curitiba, PR/1962). Nesse evento, foram realizadas
algumas discussões e apresentações de professores universitários
sobre as novas diretrizes para o ensino de células. Além disso,
Myriam Krasilchik realizou demonstrações da cultura do protista
Blob (Physarum policephalum).
A XVI reunião anual (Campinas, SP/1963) também trouxe
algumas prescrições para o renovado ensino de biologia. Foi
realizado o simpósio O ensino experimental da Fisiologia Animal e
Vegetal na escola secundária. Nesse evento, Renato Basile (1963), do
Departamento de Biologia Geral da FFCL da USP, apresentou
orientações sobre o ensino das múltiplas funções moleculares,
mecânicas e físicas dos seres vivos. Por sua vez, Krasilchik traduziu a
importância do método da redescoberta no trabalho docente:
244
Através de experiências os alunos aprendem a entender as
diversas etapas da pesquisa científica, preenchendo assim uma
das etapas importantes do curso colegial. Planejando as
experiências, obtendo dados, interpretando-os e discutindo os
resultados, os alunos adotam uma atitude científica e
compreendem a ciência (KRASILCHIK, 1963, p. 234).
A experimentação didática biológica era um dos mais
importantes requisitos para renovação da disciplina escolar. Quase
como uma tecnologia comportamental de interesse imediato de
produzir alunos com vocações científicas, o método da redescoberta
buscava transmitir as informações modernas, precisas e objetivas da
Biologia. Predominava-se a tradição acadêmica com uma ênfase nas
práticas laboratoriais repetitivas e instrumentalizadas. Em grande
parte, exigia-se uma atitude científica vazia dos alunos, uma atitude
receptiva e mecânica.
Assim, o método da redescoberta trouxe uma “mudança na
seleção de tópicos, de objetivos e, finalmente, da metodologia
empregada no ensino de Biologia, que determinou modificações na
montagem dos laboratórios, no material usado nas investigações, na
formação de professores, etc.” (KRASILCHIK, 1972, p. 12). A
pesquisa de Silva (2019) permite compreender como os laboratórios
foram colocados na expressão máxima de renovação das aulas
práticas de biologia nos anos 1960/70. Segundo a autora, das mais
de 50 experiências roteirizadas na versão azul do BSCS, 67% exigiam
equipamentos sofisticados e utensílios laboratoriais, tais como,
vidrarias, reagentes e microscópicos. Aliás, esses foram tomados
como “objeto central na ação docente que demarca a comunidade
disciplinar, concretizando o ensino em torno de práticas
experimentais” (OLIVEIRA, 2018, p. 10).
245
Se, por um lado, o método da redescoberta foi enunciado e
prescrito como fundamental para renovação da disciplina escolar
biologia e expressou parte da estrutura das Ciências Biológicas; por
outro, a aplicabilidade no ensino secundário encontrou grandes
desafios de ordem estrutural, formação e trabalho docente. Na
análise sobre a utilização do BSCS em São Paulo, Krasilchik (1972)
discute como a aplicação do método de ensino foi comprometida
por conta das dificuldades dos professores e ausência de materiais
básicos, tais como, microscópicos, vidrarias, lâminas histológicas,
pranchas morfológicas, placas de Petri, solução orceína acética e azul
de bromotimol.
Recorrendo à história crítica do currículo, conforme
Goodson (1997, 2018), o BSCS legitimou a criação de novas
tradições curriculares na disciplina escolar biologia. Em alguma
medida, a expectativa coletiva dos professores e biologistas formulou
um conjunto prescrito de currículo, materiais e métodos de ensino,
que foi julgado exato para ensinar, praticar e aprender as Ciências
Biológicas na escola secundária. Nesse processo, de um lado, a
comunidade disciplinar desejava rápidas transformações na
disciplina escolar; no outro, as complexas dificuldades de como fazê-
las no trabalho docente.
Para analisar o sentido do BSCS como elemento relevante
para conduzir as transformações da disciplina escolar, o debate a
seguir contempla alguns programas e experiências realizadas em
colégios de São Paulo e Guanabara prescritas na SBPC e Inep.
Também as representações e significados produzidos pelos
biologistas e professores sobre a consolidação da disciplina escolar
no ciclo colegial da escola secundária.
246
4.3 Organização e experiências na renovação
do ensino de Biologia
Os debates da comunidade disciplinar na SBPC serviam,
assim, em grande medida, na definição e prescrição dos novos
currículos e métodos de ensino. A título de exemplo, o artigo Etapas
da implantação dos cursos renovados de Oswaldo Frota-Pessoa
publicado na Ciência e Cultura, em 1964. O autor traz uma
representação de maniqueísmo de curso tradicional (velho e
ineficiente) e renovado (novo e moderno) na organização da prática
docente no ensino das ciências. No artigo, o professor prescreveu
uma série de características pedagógicas para consolidar as inovações
do currículo científico (quadro 9).
Quadro 9 - Organização de cursos renovados no ensino das ciências
Fonte: Frota-Pessoa (1964d, p. 363).
Agente
Curso tradicional
Curso renovado
Professor Aula expositiva.
Discussão, em classe, de problemas,
planificação de trabalhos, análise de
resultados, conclusões.
Colegas
Estudo para prova em
grupos, pelas notas de
aula.
Equipes de trabalho, colaboração e
troca de idéias em tôdas as fases de
atividade.
Caderno
Cópia do que o
professor diz em aula.
Planos, registros de resultados
experimentais, conclusões, exercícios.
Texto Estudo (raramente).
Consulta, para obter dados necessários
à solução de problemas em estudo.
Práticas
Como verificação do
que já foi explicado.
Como experimentação para descobrir
«fatos novos» e princípios.
Técnicas Como treino.
Para uso na obtenção de dados
significativos.
247
O curso renovado foi definido como um processo ativo; o
trabalho docente dotado de práticas escolanovistas; e o ensino das
ciências um fim educativo para os problemas da vida e sociedade.
Nesse sentido, por exemplo, buscava-se alcançar o desenvolvimento
de um ensino de biologia mais ativo e formativo. No mesmo texto,
o autor atribuí duas funções básicas nos cursos renovados do
currículo científico na escola secundária:
1- Deve-se ensinar ciências, não apenas para que os alunos
fiquem sabendo como são as coisas (objetivo informativo); mas
também para que aprendam a pensar com acêrto, a colhêr
informações por si mesmos quando delas necessitem e a usar o
conhecimento com eficiência para resolver os problemas da
vida corrente e da vida profissional (objetivos formativos). 2 -
A maneira mais eficaz de conseguir tanto os objetivos
formativos como os informativos é confrontar os alunos com
problemas que os interessem genuinamente e fazer com que
participem de maneira ativa e orientada em sua solução
(FROTA-PESSOA, 1964d, p. 364).
Para Frota-Pessoa, a para os cursos renovados eram
complexas e morosas e, desse modo, o autor apresenta três fases de
uma transição gradual: 1) valorização do estudo no texto; 2) redução
da aula expositiva; e 3) centralização do método de problemas. A
intenção era tornar a explicação mais acessível para os professores
produzirem suas práticas escolares. Ora, o mais importante era
destacar que as alterações do ensino das ciências seriam em etapas
sucessivas como acontece nas “diferentes fases de uma sucessão
ecológica, desde a associação pioneira até o clímax” (FROTA-
PESSOA, 1964d, p. 365).
248
O curso renovado foi caracterizado dentro de uma lógica
conceitual denominada “ecologia escolar”. Frota-Pessoa utilizava a
expressão para entender como os agentes da aprendizagem
(professor, colegas, caderno, texto, práticas e técnicas) constituiriam
o ensino das ciências de forma mais ptica, objetiva, experimental e
formativa. No período dos anos 1960 a 1980, o conceito de ecologia
escolar foi objeto de estudo de Moreira (2013). A autora define-a
como um “modelo pedagógico que conjuga elementos oriundos do
escolanovismo com elementos do movimento renovador, além de
transitar entre aspectos advindos da ecologia presente na biologia
acadêmica e aspectos sociais que também vêm sendo atribuídos ao
termo” (MOREIRA, 2013, p. 8).
Em alguma medida, a aplicação de uma ecologia escolar
também foi divulgada nas páginas da Ciência e Cultura. No artigo,
publicado em junho de 1965, o professor José Almeida Júnior
descreve as atividades que desenvolvia para renovar o ensino de
biologia em colégios privados da capital paulista com a aplicação do
método de problemas em três passos: 1) motivação centralizadora
(problematização de um tema na sociedade); 2) auto-formação e
auto-informação (divisão dos alunos em grupos de pesquisas e
discussões); e 3) formação e informação dirigida (apresentações de
relatórios de pesquisas, experimentos e as trocas de ideias). Esse
método de ensino aplicado no Colégio Visconde de Porto Seguro,
Liceu Acadêmico São Paulo, Colégio Brasil-Europa e Instituto de
Educação “Fernão Dias Pais” tinha como objetivo “integrar e
centralizar os vários temas do programa permitindo em cada
unidade um equilíbrio entre formação e informação” (JR.
ALMEIDA, 1965, p. 212).
249
Enquanto a organização de qualquer prática do professor
representava o dualismo de tradicional e renovado, o ensino de
história natural e biologia também foi colocado dentro de uma
lógica maniqueísta. Na matriz interpretativa da Nova História
Cultural trata-se, pois, de “enfrentamentos sociais abertos e brutais
em lutas de representações cujo objetivo é o ordenamento do mundo
social” (CHARTIER, 2011, p. 22). Melhor dizendo, eram represen-
tações em conflitos para prescrever, naturalizar, legitimar e organizar
a renovação da disciplina escolar na compreensão e percepção dos
professores e alunos da escola secundária.
A premissa era de representar uma nova postura da disciplina
escolar, que se mostrava na imposição da autonomia e unificação das
Ciências Biológicas. Nessa perspectiva, a adjetivação de novo,
moderno e atualizado para o currículo e métodos de ensino de
biologia servia, por exemplo, para estabelecer e compreender a
renovação em marcha. Nesse sentido, os artigos na Ciência e Cultura
são entendidos como parte de um jogo da comunidade disciplinar
pela dominação simbólica dos temas unificadores, método da
redescoberta e curso renovado no trabalho docente. De outro modo,
sem considerar as diferenças regionais do país e os traços distintivos
da escola secundária brasileira, a busca era de construir uma
uniformização de práticas e representações para “legitimar um
projecto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, a
suas escolhas e condutas” (CHARTIER, 2002, p. 17).
Preocupados diretamente com a incorporação da renovação
do ensino de biologia, a comunidade disciplinar na SBPC desejava
uma adesão dos professores secundaristas para cumprir e naturalizar
as transformações da disciplina escolar. Isso pode ser verificado nos
quatro pontos fundamentais para elaboração do currículo e trabalho
250
docente, que foram descritos pela professora Norma Cleffi, do
IBECC/SP, em artigo na Ciência e Cultura:
- O professor, ao planejar o seu curso, precisa, em primeiro
lugar, convencer-se de que não é possível ensinar tudo - os
diversos campos da Biologia são extensos e, com o
extraordinário progresso da ciência, não se pode pretender que
os estudantes adquiram em três anos, todos os conhecimentos
existentes [...] 2º - Outro sério problema para os professôres de
Biologia é a falta de livros didáticos adequados, mas já existem
alguns bons livros que podem ser adotados [...]- O trabalho
no laboratório. É frequente ouvirmos os professôres fazerem
uma nítida distinção entre aulas teóricas e práticas, como se
fizessem parte de dois cursos distintos. Hoje em dia, entretanto,
é ponto pacífico para a maioria dos professôres que o curso de
Biologia deve ter um carácter eminentemente prático [...] 4º -
Excursões. Ao desenvolver o curso de Biologia, há ainda um
outro fator que o professor precisa levar em conta: a
importância das excursões como complemento dos trabalhos
realizados na escola (CLEFFI, 1964, p. 373-375).
Norma Cleffi defendia a autonomia docente na seleção dos
saberes escolares. Além disso, acreditava no desenvolvimento de
materiais didáticos renovados e diretamente na atuação do professor
para garantir o ensino prático e formativo da Biologia na escola
secundária. A autora menciona, adiante, que a conquista da
autonomia do currículo garantia a marcha da renovação da
disciplina escolar, pois possibilitava minar o alto valor da tradição
curricular acadêmica para os vestibulares. A preocupação estava, em
grande medida, na ideia de romper com o ensino de biologia
destinado a ser um curso de treinamento, em que o aluno é
251
obrigado a memorizar fatos e conceitos sem aprender a interpretá-
los ou correlacioná-los” (CLEFFI, 1964, p. 374).
A principal razão estava na ideia de que o ensino de biologia
não podia ser esvaziado de sentidos culturais para atender os exames
universitários. Entretanto, por outro lado, a realidade da disciplina
escolar, pelo menos no estado de São Paulo, seguia de preparação
dos alunos para os vestibulares. Dados de Krasilchik (1972)
mostram a preocupação dos colégios blicos e privados de
organizar o currículo e trabalho docente em função dos testes finais
e exames para as universidades. Dos mais de 200 professores
participantes da pesquisa, em 1969, cerca de 60% pautavam a
disciplina escolar com base nos vestibulares; em 1971, esse valor
corresponde a 50% e 90% de professores das escolas públicas e
particulares no estado de São Paulo, respectivamente.
Outro ponto destacado pela Norma Cleffi foram as aulas
práticas nos laboratórios. Compartilhando da mesma opinião,
Carlos Nobre Rosa defendia a experimentação didática como
atividade básica para renovação do ensino de biologia. Em artigo na
Ciência e Cultura, publicado em 1964, o professor reforça que o
fracasso ou sucesso da disciplina escolar dependia de um laboratório.
Segundo o autor,
Julgamos de grande importância a organização de um
laboratório de Biologia ou de uma sala-ambiente nos colégios,
onde as aulas deverão sempre ser dadas. Os alunos sentir-se-ão
muito mais atraídos nesse ambiente sugestivo e próprio para
trabalhos dessa natureza. Não é difícil manter um mínimo de
material para experiências e uma coleção regular de exemplos
da fauna e da flora conservados e outra, não menos importante,
de certas plantas frequentemente usadas em experiências
biológicas, como Tradescantia, Elódeas, Filicíneas, algas,
252
líquens, cogumelos, etc., em viveiros próprios. Também um
grupo de animais vivos, que os próprios alunos conseguem na
região, como tatus, cobras, lagartos, jacarés, tartarugas, sapos,
cobaias e outros, conforme a época do ano ou continuidade de
encontro, poderão ser mantidos em gaiolas feitas com caixões e
telas de arame. Um aquário grande, construído com uma caixa
de água de um metro cúbico, com janela de vidro grosso
adaptado na frente, é de grande utilidade para o ensino da
Biologia. Nêle podem ser mantidos peixes da região, pequenos
jacarés, caranguejos dos rios, girinos, sapos, e numeras plantas
aquáticas que abrigam raízes e nas folhas inúmeros exemplares
de protozoários, de protófitos, rotíferos, hidras da água doce,
oligoquetas, larvas de insetos e vários outros sêres que,
constantemente, serão usados durante as aulas (ROSA, 1964,
p. 388).
A atenção com a montagem, organização e manutenção de
um laboratório estava presente nos debates da comunidade
disciplinar na SBPC. Isso permite compreender como os
laboratórios sustentarem, com larga legitimidade, as definições de
um espaço para atualização do currículo e métodos de ensino. Mas,
por outro lado, destaca a demandava de um mínimo de
infraestrutura, vidrarias e equipamentos laboratoriais. A preocupa-
ção, naquele momento, era de que “o curso de Biologia, no colégio,
sem microscópio, simplesmente não funciona” (ROSA, 1964, p.
389).
É significativo perceber também as implicações da
experimentação com animais para uma aprendizagem do método
científico na escola secundária. Se, por um lado, isso foi visto como
parte da expressão dos temas biológicos fundamentais e,
principalmente, das estruturas, funções e processos biológicos do
mundo zoológico; no outro, o tema era polêmico no MEC e
253
CEE/SP. De modo geral, Magalhães, Massarani e Rocha (2021), no
período de 1950 a 1970, analisam como a experimentação didática
com animais foi veiculada em jornais de São Paulo. Conforme os
autores, nos anos 1950/60, vê-se uma atenção na dissecção e
vivissecção como parte do conjunto para aprender Biologia nos
ginásios e colégios. Mas na década seguinte, com o aumento da
defesa animal e a presença de agências reguladoras, os jornais
condenavam os experimentos como uma “ciência da crueldade”. O
próprio CEE/SP indicou orientações e proibições da dissecção e
vivissecção no ensino básico, por meio do Parecer n. 3.177, de 11
de maio de 1975 (SÃO PAULO, 1975).
A forte defesa pela experimentação didática foi desenvolvida
a partir das Ciências Biológicas e, ao mesmo tempo, revestiu e
ressignificou as práticas do ensino de história natural sedimentadas
desde fins do século XIX. Nesta perspectiva, Marandino, Selles,
Ferreira (2009) afirmam que, ao longo dos anos 1960, a constituição
da disciplina escolar biologia entrelaçou as inovações curriculares
com os elementos já consolidados de uma abordagem naturalística,
tais como, excursões, trabalhos de campo, montagem de quadros
parietais, coleções biológicas e taxidermia.
Assim, a experimentação didática biológica era percebida
ganhou um status de pluralidade semântica, desdobrando-se em
uma série de atividades práticas, tais como, a observação do campo,
excursões às praias e/ou florestas e experimentação e,
principalmente, laboratorial. Sobre isso, Carlos Rosa atribuía o
seguinte significado:
Da compreensão dêste elemento mais fundamental princípio
de didática de que o aluno aprende melhor quando êle mesmo
planeja e realiza a experiência - surgiu a tendência, cada vez mais
254
atual, de ensinar Ciências através do trabalho, das experiências
e das práticas realizadas pelos próprios alunos nos laboratórios.
O que o aluno realiza, observa e as deduções que resultam do
próprio trabalho feito no laboratório ficam para sempre
gravadas [...] É claro que um método de ensino baseado neste
princípio, o de dar ao aluno oportunidade de aprender
realizando, é o que melhor se adapta à época em que vivemos
(ROSA, 1964, p. 387-388).
Por mais que a experimentação didática nos laboratórios
fosse colocada como uma meta a ser alcançada pelos professores, as
prescrições na Ciência e Cultura eram fragmentadas e descontex-
tualizadas das condições estruturais das escolas. Não por acaso, nos
colégios de São Paulo, segundo Krasilchik (1972, p. 58), admitia-se
que “há, portanto, um desacordo entre os objetivos reais dos cursos
e os objetivos formais, derivados de chavões popularizados, mas que
de fato não se traduzem nas atividades dos alunos nas salas de aulas”.
Sendo assim, é possível perceber que algumas mudanças ditadas para
renovar o ensino de biologia foram apenas pretendidas pelos
biologistas, seja no IBECC/SP ou na SBPC, mas irrealizáveis, em
muitos casos, nas escolas.
Outra preocupação para renovar a disciplina escolar biologia
era a seleção cultural dos saberes escolares. Visando estabelecer
algumas prescrições, Carlos Rosa (1964, p. 389) indicava, como
exemplo, a divisão do programa de ensino da seguinte maneira: “no
primeiro científico, noções de Biologia Geral, caraterísticas dos sêres
vivos e Citologia; no segundo científico, Botânica, especialmente
fisiologia vegetal; no terceiro científico, Genética e Zoologia”
(ROSA, 1964, p. 389). Pela ampla flexibilização do currículo, é
evidente que a atualização dos conteúdos de ensino estava
255
relacionada com a ampliação e renovação das Ciências Biológicas
nos programas de ensino, decretando-se, assim a busca de sua
hegemonia na disciplina escolar.
Desse modo, houve um verdadeiro vaivém de conteúdos de
ensino para estabelecer um conjunto capaz de situar e garantir a
renovação do currículo, que englobasse os novos saberes escolares
das Ciências Biológicas e, ao mesmo tempo, as ressignificações das
áreas tradicionais da História Natural. Isso é possível de ser notado,
por exemplo, nas tensões das seleções curriculares do ensino de
biologia no Colégio Pedro II entre os anos 1960 a 1980, conforme
Cassab (2011). De acordo com autora, ora prestigiava-se os novos
conteúdos de Bioquímica, Genética e Evolução, ora apagava-se
outros anteriormente basilares, ora garantia-se a permanência de
antigos da Zoologia e Botânica.
Por outro lado, em fins dos anos 1960, no caso de colégios
de São Paulo, notava-se a preferência de saberes escolares da
Anatomia Humana, Genética, Fisiologia, Ecologia e Morfologia na
composição de currículos renovados (KRASILCHIK, 1972). Para
tonar isso mais claro, a autora esclarece que,
O estudo da posição da Genética é especialmente significativo
porque este setor do programa reflete o desenvolvimento de um
dos campos de maior produção da ciência brasileira [...] A
situação da Fisiologia, uma das facetas mais típicas do ensino
moderno de Biologia e na qual são englobados bioquímica,
comportamento, crescimento, etc., tornou-se mais importante
[...] Anatomia Humana é, entre todos os assuntos, aquele ao
qual os professores dão menor importância. Talvez por não ser
muito desenvolvida nos cursos modernos e também por ser
dada sob forma rudimentar no curso ginasial. Morfologia
vegetal e animal sempre é o assunto preferido pelos professores
256
com formação influenciada pela escola européia. Os cursos de
Anatomia, Morfologia e Citologia, que objetivavam estudar a
estrutura interna dos animais e vegetais nas escolas de formação
de professores, repercutiam nas escolas secundárias, em cursos
onde os alunos decoravam intermináveis descrições de órgãos e
eventualmente observam algumas lâminas ao microscópico ou
faziam dissecção (KRASILCHIK, 1972, p. 52-54).
De um modo ou outro, a preocupação estava na hegemonia
e multiplicação de elementos das Ciências Biológicas nos currículos
e, com isso, fixar o pensamento neodarwinista na disciplina escolar.
Em outras escolas no estado de Guanabara é possível verificar a
seleção e distribuição de saberes escolares como, por exemplo, o
Colégio Brasileiro de Almeida, localizado no bairro Ipanema, que
determinou o currículo prescrito na matriz dos temas unificadores
(quadro 10). Também se verifica a função de pré-vestibular do
terceiro ano.
Quadro 10 - Programa de ensino de biologia do
Colégio Brasileiro de Almeida (1965)
Fonte: Adaptado de Inep (1965).
Em outro exemplo no estado de Guanabara, o Colégio de
Aplicação da Universidade do Brasil, conforme dados do Inep,
rie/ciclo
Unidades de ensino
1º/colegial
Introdução à Biologia: 1. Noções gerais sôbre os sêres vivos; 2.
Citologia; 3. Metabolismo; 5. Coordenação; 6. Ecologia; 7.
Reprodução; 8. Hereditariedade; 9. Evolução; 10. O Homem.
2º/colegial
Animais inferiores:
1. Protozoários; 2. Espongiários; 3.
Cnidários; 4. Platelmintos; 5. Asquelmintos; 6. Anelídeos; 7.
Artrópodes; 8. Equinodermos; 9. Cordados.
Mundo Vegetal: 1. Fisiologia; 2. Principais grupos sistemáticos.
257
determina o currículo prescrito do ensino de biologia com a
hegemonia da Evolução e Genética nos programas de ensino
(quadro 11). Além disso, mais uma vez a função pré-universitária do
terceiro ano do ciclo colegial.
Quadro 11 - Programa de ensino de biologia do Colégio de Aplicação (1964)
Fonte: Adaptado de INEP (1965).
Curso
Colegial
Unidades de ensino
Clássico
Unidade I - Célula: 1 - Definição, forma, tamanho,
importância; 2 - Organização celular: constituintes, organização,
funções; 3 - Divisão celular: mitose e meiose.
Unidade II - Desenvolvimento do Homem: 1 - Noções de
células somática e germinativa; 2 - Gametogênese; 3 -
Desenvolvimento embrionário; 4 - Hormônios, glândulas; 5 -
Anexos embrionários.
Unidade III - Genética: 1 - Hereditariedade e o meio; 2 - Leis
de Mendel; 3 - A genética e o homem.
Unidade IV - Mecanismos de evolução: 1 - Mutações; 2 -
Seleção natural; 3 - Isolamento geográfico e reprodutivo; 4 -
Origem das raças e espécies; 5 - Origem dos grandes grupos.
Unidade V - Desenvolvimento e evolucionismo: 1 - Origem da
teoria: Lamarckismo e Darwinismo; 2 - Evolucionismo no século
XX; 3 - Teorias modernas.
Unidade VI - Provas da evolução: 1 - Paleontológicas; 2 -
Coluna geológica: fósseis; 3 - Anatomia Comparada; 4 -
Embriologia comparada: Homologias e analogias.
Unidade VII - Resultados da evolução: 1 - Origem da vida; 2 -
Árvore filogenética dos principais grupos; 3 - Evolução dos
vertebrados através dos tempos geológicos.
Científico
1º ano: Biologia geral
2º ano: Zoologia e Botânica
3º ano: Preparatório para vestibular-medicina
258
O que os exemplos do Colégio Pedro II e, em certa medida,
de colégios de São Paulo, bem como das escolas aqui listadas de
Guanabara têm em comum sobre a renovação do ensino de biologia?
A versatilidade da conceptualização da disciplina escolar no
pensamento biológico evolutivo. Nota-se uma flexibilização e alta
estima pela Teoria Sintética da Evolução como unidade de coesão
do currículo e sua ampla dimensão na matriz de organização dos
saberes escolares. De acréscimo, no Colégio de Aplicação da
Universidade do Brasil e Colégio Brasileiro de Almeida, o primeiro
ano dedicado à introdução da Biologia e, principalmente, com os
novos conteúdos de ensino, tais como, neodarwinismo, mutações,
sistemática evolutiva e Ecologia, além da prescrição da Zoologia e
Botânica no segundo ano.
Também é evidente a variabilidade dos currículos funda-
mentada na LDB/1961 e a potencialidade de diversas formas de
organizar a disciplina escolar nas instituições de ensino secundário.
Esses currículos prescritos também apontam a flexibilidade da
terceira série para os exames vestibulares. Nessa situação, o
academicismo do BSCS encontrou mais espaço para realizar
mudanças no ensino de biologia com amplas repercussões entre os
estudantes.
Segundo Krasilchik (1972, p. 76), o BSCS propagou-se
bastante, uma vez que os novos assuntos incluídos nos programas
são bem conhecidos dos alunos”. No mesmo sentido, em 1964,
Hélcio Werneck, professor da Faculdade de Medicina da Universi-
dade de Minas Gerais, em artigo na Ciência e Cultura, descreve a
utilização da versão verde Ecologia: uma unidade de estudo nos cursos
pré-vestibulares em Belo Horizonte. Para ele, o livro didático possuía
259
a capacidade de ser um guia de referência para renovação do
currículo:
Adotou-se a versão verde do BSCS porque acreditamos que o
ponto de vista ecológico é aquele que mais se aproxima do curso
médico aqui realizado atualmente. Todavia, não adotamos
inteiramente, o programa do BSCS, mas apenas nos baseamos
nêle e dêle extraímos as partes essências, aprofundando-o, de
acôrdo com nossas necessidades na Faculdade, nas partes
referentes à citologia, histologia, embriologia, genética e
zoologia (WERNECK, 1964, p. 365-396).
O BSCS articulou uma introdução de saberes escolares no
ensino de biologia e, principalmente, como material de consulta para
os currículos dedicados aos vestibulares. Além disso, por meio de
uma representação de moderno, “a adoção e difusão do BSCS foram
grandes, mas a mudança ocorrida ainda foi mais profunda em
termos de programas do que em métodos e objetivos do ensino”
(KRASILCHIK, 1972, p. 77). Certamente, impulsionado pelos
livros didáticos, as áreas emergentes das Ciências Biológicas
alcançavam um novo status no trabalho e formação docente na
escola secundária. Como, por exemplo, a introdução do ensino de
Ecologia nos anos 1960. Segundo Krasilchik:
A Ecologia, por outro lado, é um assunto muito em voga nos
meios científicos mundiais e tem merecido, de alguns anos para
cá, enorme divulgação e interesse popular a propósito dos
problemas de poluição, conservação de ambientes naturais, etc.
No entanto, pesquisas nesse campo são raras entre nós e há
enorme carência de dados sobre sistemas ecológicos no Brasil.
Os currículos universitários só recentemente incluíram esta
disciplina nos cursos de graduação de Biologia. Com a
260
introdução do BSCS foi dada maior importância ao ensino
desta matéria no nível secundário (KRASILCHIK, 1972, p. 53-
54).
A conquista de áreas emergentes das Ciências Biológicas no
ensino de biologia na escola secundária caminhou lado a lado com a
obtenção de território dos cursos de Licenciatura/Bacharelado nas
universidades. Desse modo, a atualização do currículo pretendia, por
um lado, a hegemonia e autonomia das ciências de referência; por
outro, as mudanças na disciplina escolar para ampliar a lista de
saberes escolares, tais como, ecossistemas, biomas, DNA, RNA,
especiação e etc.
Contudo, ao lado da introdução de novas tradições
acadêmicas, os professores “foram atraídos pela idéia mas, ao
adotarem o currículo, ficaram desanimados a ponto de desistirem,
em virtude das dificuldades relativas aos novos conteúdos que
deveriam aprender de Bioquímica, Ecologia, Genética de Popula-
ções, etc.” (KRASILCHIK, 1972, p. 95). Tendo isto em vista,
Myriam Krasilchik afirmava que,
Consideramos que a execução cabal do BSCS, como foi
planejada, é prejudicada pela falta de treinamento dos
professores e pelas condições em que trabalham: grande
número de aulas, pouco tempo para preparação e estudo,
condições materiais deficientes oferecidas por muitas escolas
(KRASILCHIK, 1972, p. 59).
Diante das resistências dos professores sobre os novos
conteúdos tornou-se fundamental mobilizar prescrições, cursos e
congressos sobre a renovação da disciplina escolar. Cabe ressaltar,
por exemplo, o artigo de Aluízio José Gallo, professor da FFCL de
261
São José do Rio Preto, publicado na Ciência e Cultura, em junho de
1965, que descreveu os procedimentos e vantagens de um material
aplicado nas aulas práticas de microscopia e células. Segundo o
autor, um “dispositivo de construção fácil e barato que permite a
observação simultânea de uma lâmina por grupos de cêrca de 10
alunos, através de microprojeção” (GALLO, 1965, p. 19).
No mesmo sentido, com o patrocínio do MEC e Fundação
Ford, o IBECC/SP realizou o II Curso de Verão de Professores de
Biologia, nos dias 13 a 17 de fevereiro de 1963, com a orientação de
Myriam Krasilchik. Conforme matéria no Correio Paulistano,
publicado em janeiro de 1963, o curso tinha a função de realizar “o
aperfeiçoamento do ensino de biologia no curso secundário, através
de treinamento de professores de nível universitário e secundário em
programas especiais, que introduzidos nas escolas de outros países,
comprovaram ser experiências bem sucedidas” (CURSOS..., 1963,
p. 4). Esse treinamento contou apenas com professores e biologistas
brasileiros. O objetivo era a difusão do método da redescoberta e
alguns conteúdos de Citologia e Biologia Molecular.
A principal meta do treinamento estava na promoção,
circulação e apropriação das versões verde e azul do BSCS para os
professores, que tinham papel crucial para consolidar as inovações
curriculares na escola secundária. Celso Abbade Mourão, professor
do departamento de Biologia Geral da FFCL de São José do Rio
Preto, foi um dos participantes II Curso de Verão do IBECC/SP,
com a apresentação de aspectos práticos e teóricos sobre o ensino de
ácidos nucleicos por meio do “kit do DNA” (figura 7). Ele também
apresentou o recurso didático na XV reunião anual da SBPC
(Campinas, SP/1963).
262
Figura 10 - Descrição do kit para o ensino de DNA, RNA e proteínas
Fig. 1 - O material; Fig. 2 - Fórmula geral dos ácidos animados. Fig. 3 -
Combinação de dois ácidos animados formando um fragmento de proteína; Fig.
4 - Ligação peptídica; Fig. 5 - Fragmento a
1
a
2
“armado” com modelos amarelos
a
1
e a
2
; Fig. 6 - Polinucleotídio AACTTG representado em (I) pelos símbolos
das substâncias, em (II) pelos símbolos dos modelos em (III) pelos modelos; Fig.
7 - Dois polinucleotídeos (AACTTG e TTGAAC) ligados e representados em
(I) pelos símbolos das substâncias e em (II) pelos símbolos dos modelos, com os
quais se reproduz a figura. Fig. 8 - Modelo de Watson-Crick para a estrutura da
molécula do DNA; Fig. 9 - Esquema de Watson-Crick para a duplicação do
DNA; Fig. 10. Síntese do RNA UGCAAU, tendo como matriz o DNA
ACGTTA; Fig. 11 - Síntese de um fragmento de proteína constituído por duas
moléculas de ácidos animados. Fonte: Mourão (1965, p. 68 e 70).
Tratava-se de um material com peças encaixáveis das
macromoléculas do DNA e RNA. Sobre a constituição do kit, o
biologista afirmava que,
Os ácidos nucleicos são assunto de tal importância que parece-
nos indispensável levar ao estudante de curso secundário as
noções básicas sôbre o assunto. O material que apresentamos
263
constitui-se num instrumento de trabalho que permite ao
professor a abordagem do assunto com clareza e simplicidade.
Com 40 peças, de fácil manuseio, podemos fazer várias
demonstrações (estrutura do DNA e RNA, duplicação do
DNA, síntese de RNA, síntese de proteínas), simplificando as
explicações com a dinâmica do uso do material (MOURÃO,
1963, p. 235).
O material de ensino foi baseado no modelo teórico de
funcionamento e estrutura em dupla hélice do DNA. Pretendia-se
uma melhor compreensão bioquímica e molecular dos ácidos
nucleicos; gens dominantes (atualmente, denominados de bases
nitrogenadas) de guanina (G), adenina (A), timina (T) e uracila (U);
ácidos animados (hoje, aminoácidos); ligações peptídicas; e
proteínas. O kit foi um modelo de montagem própria dos processos
intracelulares de produção proteica (DNA RNA proteínas).
Como um quebra-cabeças, permitia a utilização de partes montáveis,
conforme a necessidade da prática docente. Na citação a seguir, a
descrição do material, segundo Celso Mourão:
As peças necessárias, em número de 40, são de 10 tipos
diferentes. Elas representam: 1) duas espécies de ácidos
animados a
1
e a
2
(dois modelos amarelos de cada); 2) os
nucleotídeos de adenina (a), guanina (g), citosina (c) e timina
(t) (seis modelos brancos de cada) e 3) os ribonucleotídeos de
adenina de adenina (a’), guanina (g’), citosina (c’) e uracila (u’)
(3 modelos pretos de cada) (MOURÃO, 1965, p. 67).
Havia uma preocupação de conferir uma roupagem didática
sobre as ligações peptídicas dos ácidos animados, o pareamento dos
gens dominantes, a replicação do DNA, a transcrição do RNA
264
mensageiro, a síntese proteica, o código genético e a Genética
Molecular. Esses temas eram considerados inovadores e indispensá-
veis no ensino de biologia à época. Assim, o kit buscava uma
didatização de um processo de grande importância para a
transmissão do material genético e basilar das Ciências Biológicas.
Também permite expressar o grau de aproximação da produção
científica com a constituição da disciplina escolar. Era um momento
propício para introduzir as novas tradições acadêmicas no currículo.
Não por acaso, Raw (2008, n.p.) afirma que, “a geração que se
formou na escola média nos anos 1960 descobriu idéias
revolucionárias da ciência como a estrutura do DNA”.
As transformações do ensino de biologia demandavam uma
nova identidade para os professores e, portanto, era compreensível
os conflitos, disputas e resistências. Por um lado, havia a
preocupação de manter as mudanças em marcha; no outro a
necessidade da realização dos cursos de treinamentos, materiais de
ensino e práticas exemplares para mudar o cotidiano nos colégios e
produzir as vicissitudes necessárias no trabalho docente. Nesse
sentido, a constituição dos Centros de Ensino das Ciências (CECIS)
foi realizada com o objetivo de difundir os conceitos e princípios da
renovação do ensino das ciências nas diferentes regiões do país.
Algumas breves marcas dos CECIS na consolidação da disciplina
escolar biologia são apresentadas a seguir.
4.4 A disciplina escolar biologia nos CECIS
Os CECIS foram desenvolvidos a partir das experiências do
Centro de Ensino de Ciências do Nordeste (CECINE), que foi
criado, em Recife, no ano de 1965, com convênios do IBECC/SP,
265
USAID, Fundação Ford e Superintendência do Desenvolvimento
do Nordeste (SUDENE). O objetivo era o desenvolvimento de uma
“indústria de material científico escolar” (ORMASTRONI, 1964,
p. 417). A instituição consolidou-se como o principal espaço para
melhoria do currículo científico na região, sob forte patrocínio da
SUDENE, MEC e CADES durante as décadas de 1960 a 1980.
Na cidade universitária de Recife, o CECINE desenvolveu
diversos cursos para aperfeiçoar e treinar professores do ensino
primário e secundário, tais como, o uso do BSCS; seminários e
estágios nos laboratórios de Física, Química, Biologia; classes
experimentais para testar os métodos de ensino, novos conteúdos e
livros didáticos; fabricação de objetos escolares; assistência
pedagógica; produção de folhetos e livros didáticos como, por
exemplo, o livro Biologia no Nordeste de Oswaldo Frota-Pessoa,
publicado nos anos 1970; divulgação científica em jornais, revistas,
programas de TV e rádio; feiras e concursos de ciências; a oferta da
Licenciatura Curta em Ciências; a criação de núcleos e/ou
subnúcleos nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe (CECINE, 1969).
As atividades do CECINE serviram de impulso para a
institucionalização de centros em outras regiões do país e, com isso,
a experiência alcançou nível nacional. Em 1965 foram criadas as
seguintes instituições: Centro de Ensino de Ciências da Bahia
(CECIBA) em Salvador; Centro de Treinamento para Professores
de Ciências de São Paulo (CECISP) na capital paulista; Centro de
Treinamento para Professores de Ciências da Guanabara
(CECIGUA) na cidade-estado de Guanabara, mas, em 1975, com o
fim da unidade federativa, convertido em Centro de Ensino de
Ciências do Rio de Janeiro (CECIRJ) na capital fluminense; Centro
266
de Treinamento de Professores de Ciências de Minas Gerais
(CECIMG) em Belo Horizonte; e o Centro de Treinamento para
Professores de Ciências do Rio Grande do Sul (CECIRS) em Porto
Alegre.
Em todos os casos, os CECIS possuíam a singularidade de
buscar dinamizar o ensino das ciências na escola primária e
secundária. Isso, ora pela implantação dos projetos internacionais de
renovação das disciplinas escolares de ciências, matemática, física,
química e biologia, ora por meio de iniciativas próprias e regionais.
A principal função era pressionar e impulsionar as mudanças no
trabalho docente, conteúdos e métodos de ensino. Buscava-se,
portanto, legitimar as inovações e novas tradições curriculares no
país.
Apesar das atividades desenvolvidas serem muito
semelhantes, os CECIS o podem ser vistos como cópias regionais
do IBECC/SP. Eram órgãos dotados de independência jurídica,
científica e educacional. O CECINE, por exemplo, como parte da
política de desenvolvimento regional da SUDENE; por outro lado,
o CECIRS no centro das disputas de governos na Secretária Estadual
de Educação. Assim, mais do que o âmbito político, interessa
enfatizá-los na função básica de “promover cursos para os
professôres, em suas sedes ou em cidades do interior, oferecer
estágios de treinamentos para professôres e líderes educacionais,
produzir e publicar toda a sorte de material didático e metodológico”
(FROTA-PESSOA; GEVERTZ; SILVA, 1970, p. 209).
Em função de sua vinculação regional, cada CECIS estava
comprometido com a execução de uma agenda própria, que era
dependente das matrizes da renovação do ensino das ciências. Além
disso, para não ficarem ilhados e sem articulações, ocorria uma
267
contínua circulação de projetos e programas entre as instituições por
meio de encontros anuais com os diretores e representantes do
IBECC/SP e MEC. Como, por exemplo, a reunião realizada no Rio
de Janeiro, nos dias 20 e 21 de dezembro de 1965
52
, conforme
matéria publicada no Jornal do Commercio (COORDENA-
DORES...,1965, p. 5).
Nos últimos 20 anos, com diferentes olhares, os CECIS são
objetos de pesquisas. Pode-se admitir os estudos acerca da
experimentação didática, formação de professores de ciências e
renovação do ensino de matemática no CECINE (SILVA, 2013;
SILVA; SILVA; LUCENA, 2012; MACENA, 2013; MACENA;
SILVA; GARNICA, 2013; LIMA, 2015; BOTH, 2016; SILVA;
SOUSA, 2016; TEIXEIRA; LIMA, 2017, 2018; MORAIS, 2021);
a modernização do ensino de matemática no CECIBA (FREIRE,
2008, 2009, 2017; RAMOS, 2012; FREIRE; DIAS, 2012;
PINHEIRO, 2017); o treinamento de professores de ciências,
biologia e física no CECISP (KRASILCHIK, 1984; GOUVEIA,
52
A reunião tinha como objetivo uma “ampla tomada de contato dos programas
que estão desenvolvendo e para receber instruções da Diretoria do Ensino
Secundário do MEC sobre os planos que deverão executar a partir do próximo
ano” (COORDENADORES...,1965, p. 5). A matéria também informa os temas
abordados na reunião anual, iniciada com a conferência de abertura sobre
Objetivos prioritários dos Centros de Ciência, em vista das necessidades mais
urgentes do ensino secundário”, de Gildásio Amado. Além disso, seis outras
conferências: “I) ‘Plano de ação, referente à iniciação científica, conceituação
e publicações, pelo prof. Newton Dias dos Santos; 2) ‘Estágios e cursos nos
Centros de Ciências, pelo prof. Marconilo Lins [diretor do CECINE]; 3)
Publicações e Material Científico’, pelo prof. Pascoal Senise; 4)Os Centros
de Ciências e os exames vestibulares’, pelo prof. Walter D. Vidal; 5) ‘Os
Centos de Ciências e os exames de suficiência’, pelo prof. Albert Ebert; 6)
‘Método e aplicação de verbas, pelo prof. Hélio Ribeiro” (COORDENA-
DORES...,1965, p. 5)
268
1992; MAURÍCIO, 1992; ABRANTES, 2008; COSTA;
IMHOFF; BORGES, 2012); a institucionalização, evolução,
formação de professores, inovações curriculares do ensino de ciências
e biologia, experimentação didática e divulgação científica no
CECIGUA/CECIRJ (SILVA, 2007; FERREIRA, 2008; VALLA;
FERREIRA, 2007, 2012; LUCAS; VALLA, FERREIRA, 2010;
VALLA, 2011; VIANNA, ENNE, 2012; ROCHA;
MAGALHÃES; MASSARANI; DAHMOUCHE, 2020; BORBA;
SELLES, 2020; BORBA, 2021); o treinamento de professores de
ciências no CECIMG (FILOCRE; GOMES; BORGES, 1994;
MAZZILLI, 1994; NASCIMENTO; MIRANDA, 2012); a
criação, extinção, concepções de ciência e renovação do ensino de
ciências e matemática no CECIRS (BORGES, 1997, 1999, VIÊRA,
2010; BORGES; MANCUSO; LIMA; HILLEBRAND, 2012;
BALESTRIN, 2013).
Apesar dos avanços evidentes das pesquisas, nota-se uma
ausência de maiores informações sistematizadas sobre os projetos e
programas da disciplina escolar biologia. Tais medidas foram
assumidas pelos CECIS como extremamente favoráveis para o
aperfeiçoamento e treinamento de professores. Era de se esperar,
portanto, que traziam as representações de uma renovação em
marcha em todo o país e, mais ainda, no sentido de conferir uma
legitimidade das mudanças nos currículos e métodos de ensino da
disciplina escolar. Por exemplo, durante todo o ano de 1968, o
CECINE realizou alguns cursos para treinar os professores de
biologia da escola secundária (quadro 12).
269
Quadro 12 - Cursos promovidos pelo CECINE
para professores de Biologia (1968)
Fonte: Adaptado de CECINE (1968).
Os cursos eram administrados pelos próprios professores do
CECINE, ou de departamentos do Instituto de Biociências da
UFPE, tais como, Hélio Bezerra Coutinho e Dárdano de Andrade
Lima, ou de outras instituições de ensino. Ainda em 1968, o
relatório anual informa que órgão realizou 19 estágios com
professores de biologia do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco e Sergipe; seminários sobre as técnicas de
ensino experimental de fermentação, respiração, divisão celular e
fotossíntese, ministrados por Myriam Krasilchik; 13 programas de
divulgação científica sobre a Biologia na Rádio Universitária e 16
artigos publicados em jornais locais; e a produção de projetos
didáticos como, por exemplo, o Kit de Histologia, de Hélio
Coutinho, publicado em 1968.
Cursos Coordenadores
Núm. de
participantes
Genética Básica
Jaime Sena
Histologia Geral
Hélio Bezerra Coutinho
25
Ecologia
Dárdano de Andrade Lima
32
Citologia Geral
Renato Basile (USP)
20
Anatomia Vegetal
Berta Morretes (USP)
21
Zoologia Geral
Durval Lucena
Noções básicas de
Bioestatística
Rafael Moscoso Segóvia
Tópicos de Química
Professores do setor de
Química
Noções de Didática
Geral
Luiz de Oliveira
270
No período de 1965 a 1968, os CECIS treinaram cerca de
300 professores de biologia no país (CECINE, 1969). Do mesmo
modo, Borba (2021) identifica, nos anos 1960, a realização de cursos
e estágios de aperfeiçoamento para professores de biologia no
CECIGUA. Nesse sentido, pretendia-se constituir uma nova
identidade, um novo perfil docente habilitado com as demandas da
renovação da disciplina escolar. Esses cursos são, portanto, elemen-
tos relevantes na análise e condução das inovações curriculares
daquele momento. Diante disso, algumas perguntas são lançadas:
quais foram as tradições curriculares inventadas? Quais materiais
foram produzidos como, por exemplo, os livros didáticos? De que
maneira contribuíram na circulação do BSCS e substituição da
disciplina escolar história natural? Quais as dimensões epistemoló-
gicas da Biologia e/ou Natureza da Ciência foram veiculadas? Esses
questionamentos permitem ampliar a compreensão sobre a
renovação, legitimação e consolidação do ensino de biologia na
escola secundária nas décadas de 1960/70, quer seja com
reciprocidades, subversões ou resistências de professores e biologistas
nos CECIS.
***
Os debates e ações para renovar o ensino de biologia nos
anos 1960 oscilaram entre as inquietações de práticas e currículos
desatualizados e um idealismo de modernização e inovação. A
comunidade disciplinar pensava antes, vale insistir, na estruturação
e conceituação da disciplina escolar para coordená-la e defini-la no
pensamento biológico evolutivo. É notável a existência de uma
articulação internacional e nacional de professores e biologistas para
produzir discursos que foram veiculados em vários espaços e modos.
Isso também demostra, naquele momento, o poder simbólico do
271
campo científico da Biologia para tutelar, mediado pela correlação
de forças sociais, a valorização e apropriação de ideias que
compuseram um cenário irreversível de mudanças nos currículos,
métodos de ensino, trabalho e formação de professores da escola
secundária.
272
273
Considerações Finais
A pesquisa analisou a história do ensino de história natural e
biologia da escola secundária no período de 1946 a 1965. O período
justifica-se pela data de publicação do Decreto-Lei n. 9.054, de 12
de março de 1946, que substituiu a disciplina biologia pela história
natural na Lei Orgânica do Ensino Secundário até a criação dos
CECIS no país, em 1965. É um intervalo significativo para entendê-
la nos desdobramentos do tecido social brasileiro e, precisamente,
nos debates e disputas no campo científico-educacional. Teve como
ponto de partida as seguintes questões: como a renovação do ensino
de história natural e biologia foi debatida e prescrita na revista
Ciência e Cultura em fins dos anos 40 e início dos 60 do século XX?
Que papel desempenhou o campo científico da Biologia na
produção e legitimação da disciplina escolar no currículo?
Para respondê-las, a disciplina escolar foi estudada a partir
de sua constituição, finalidades, conteúdos de ensino, tradições
curriculares, organização e comunidade disciplinar com base nos
conceitos de André Chervel, Claude Forquin e Ivor Goodson.
Também foram utilizadas as noções de representações de Roger
Chartier na matriz interpretativa da Nova História Cultural, bem
como o conceito de campo científico de Pierre Bourdieu. Sobre as
fontes históricas, tornou-se necessário assumir um conjunto vasto de
documentos da SBPC; publicações de jornais; e o aparato legal,
normativo e pedagógico do ensino secundário.
Cabe mencionar que, ao se optar pela análise de discursos do
campo científico da Biologia na SBPC e do currículo prescrito na
274
legislação educacional, existe uma acentuada distância entre a prática
discursiva da comunidade disciplinar sobre o que deveria ser a
disciplina escolar e o que se realizava, de fato, na escola secundária.
Porém, tais discursos e currículos oficiais são representações das
disputas para prevalecer determinadas concepções, interesses e
características que justificavam a renovação das práticas escolares,
currículo, trabalho e formação docente.
É adequado deixar claro que a SBPC não foi o objeto central
da pesquisa, mas o caminho para analisar o processo de renovação
da disciplina escolar história natural e biologia diante dos debates e
disputas do campo científico. Contudo, no período das décadas de
1940 a 1960, sua trajetória institucional e principais bandeiras não
foram ignoradas. Na verdade, ela representou o principal espaço dos
cientistas para dialogar e reivindicar a educação, ciência e tecnologia
como força motriz para o desenvolvimento econômico e social.
Nota-se que não é a própria diretoria da SBPC que, por vezes, fala
diretamente sobre a renovação do ensino de biologia. Ela prefere
buscar as práticas, experiências, comentários e depoimentos de
outros biologistas e professores para pautar o tema nas páginas da
Ciência e Cultura.
O trabalho de uma narrativa na lógica de campo
bourdieusiana que se distribuiu em quatro capítulos, cada qual
dispondo de certa autonomia, permitiu compreender como os
debates e embates pelo ensino de história natural e biologia foram
complexos, dinâmicos, extensos, controversos e expressados por
diferentes representações da comunidade disciplinar. Um campo
formado tanto de biologistas e naturalistas de universidades quanto
de professores secundaristas. Embora de diferentes espaços da
produção cultural, todos estavam reunidos no capital simbólico da
275
SBPC com o objetivo de pautar um processo de renovação da
disciplina escolar visando, dentre outros motivos, a ampliação,
atualização e hegemonia da Biologia no currículo da escola
secundária.
No primeiro capítulo procede-se as explicações sobre a
criação da SBPC na cidade de São Paulo, em 1948, por um conjunto
de biologistas, médicos e químicos de capital científico, dentre eles,
Paulo Sawaya, José Reis e Maurício Rocha e Silva. Além disso, a
defesa dos cientistas pelo amparo à ciência e tecnologia, que era
expressa constantemente no periódico oficial e jornais comerciais
durante os anos 1950/60. A “sociedade de biologistas” originou-se
também no capital simbólico da Medicina e Biologia, que recebia
altos investimentos do Estado no projeto nacional-desenvol-
vimentista do país à época. Isso era convertido na forte presença de
biologistas nos simpósios, palestras, artigos e cargos da diretoria,
bem como no interesse hegemônico da Ciência e Cultura pelo ensino
de história natural e biologia nas publicações.
Outro fato importante é que o ensino das ciências estava
entre as principais preocupações dos cientistas e dirigentes da SBPC.
Esse aspecto permite confirmá-lo como a síntese de um desejo do
campo científico, a partir do final dos anos 1940, de valorização da
ciência na escola básica. A presença de um currículo científico
esvaziado de sentido prático e extenso foi apontado nos artigos,
publicações e discursos de cientistas como uma das causas da
exclusão do valor da ciência na sociedade e atraso científico do país.
Por contraponto, o campo científico-educacional construiu as
representações de um ensino de ciência experimental inexistente e a
ideia de que renová-lo tornava-se essencial para modernização da
escola secundária.
276
O campo de Ensino das Ciências na SBPC foi um resultado
direto da atuação do IBECC/SP, que marcou território próprio e
liderou os simpósios nos anos 1950/60. As reuniões anuais foram o
principal espaço de organização dos cientistas e professores, que
disputavam e pautavam as mudanças no currículo científico. Não só
com a pretensão de transformar e firmar as disciplinas escolares
como partes necessárias de um ensino secundário objetivo e
moderno, mas também para tutelar a importância da ciência no
progresso da sociedade. Nesse sentido, a comissão paulista da
UNESCO apresentou-se como representante institucional do
emergente campo no Brasil.
Sob forte domínio simbólico do IBECC/SP, as discussões e
prescrições do ensino de história natural e biologia na SBPC
puderam ser definidas em três categorias entrelaçadas: programas e
currículo, métodos de ensino, trabalho e formação docente. Nesse
propósito, a comunidade disciplinar era formada de biologistas
especialistas em Zoologia, Botânica, Genética, Fisiologia,
Bioquímica e etc. Alguns nomes já reconhecidos na história do
ensino das ciências no país como, por exemplo, Oswaldo Frota-
Pessoa. Outros trazidos à luz, tais como, Paulo Sawaya, Alarich R.
Schultz, Maria Ignes Rocha e Silva, Renato Basile, Celso Abbade
Mourão e Felix Rawitscher. Além disso, poucos professores ligados
diretamente com a realidade da escola secundária, tais como, a
Myriam Krasilchik e o Carlos Nobre Rosa.
O segundo capítulo mostra as disputas pelo ensino de
história natural e biologia na escola secundária. Havia um vaivém
nominal fixado nos programas oficiais dos anos 1940/50. Nesse
sentido, as fontes documentais da legislação educacional, SBPC,
Inep, IBECC/SP e CADES o indícios que as mudanças dos
277
termos escapavam do controle pretendido pelo campo científico,
organizando-se em torno de valores utilitários e culturais desejados.
Além disso, a apreensão dos significados científicos, por meio da
História e Filosofia da Biologia, permitiu, sem dúvidas, uma melhor
compreensão sobre como instituiu-se as ciências de referência na
conceituação da disciplina escolar. Verifica-se, desse modo, o ensino
de biologia como uma arena social não monolítica, mas de
subgrupos que disputam recursos e poderes para defini-la e legitimá-
la no currículo.
Em 1931, a Reforma Francisco Campos fixou o ensino de
história natural no ciclo fundamental e complementar (Medicina e
Química), e biologia no curso complementar para os cursos
jurídicos. O que se percebe, nas fontes dos programas oficiais, é a
identificação da disciplina escolar com posições epistemológicas e
saberes escolares diferentes. Parece fundamental, portanto, que se
busque compreender, não apenas a posição da disciplina escolar no
currículo, mas também a maneira pela qual foi estrutura e
organizada. Nesse sentido, a História e Filosofia da Biologia assume
posição importante.
Em 1942, a Reforma Gustavo Capanema promulgou a Lei
Orgânica do Ensino Secundário, que trouxe o desaparecimento da
disciplina escolar história natural na literalidade da lei e substituição
pela biologia no currículo oficial do ciclo colegial. O programa
fixado em 1943, definiu a disciplina escolar na lógica de um
pensamento biológico celular, ou seja, na matriz da Teoria Celular
com o objetivo de uma unificação da Zoologia, Botânica e Biologia
Geral e, com isso, a exclusão de saberes escolares de Mineralogia e
Geologia do currículo. O aspecto crucial deixava de ser a descrição e
mensuração taxonômica e física dos seres vivos para alcançar uma
278
compreensão dos fenômenos biológicos de reprodução, crescimento
e interativos entre os organismos. Assim, a pretensão era um ensino
de biologia independente e sem vínculos fisicalistas, porém, ao
mesmo tempo, de cunho antidarwinista.
É compreensível pensar que o desaparecimento do ensino de
história natural na Reforma Capanema gerou conflitos, debates e
resistências da comunidade disciplinar. O referido programa de
ensino de biologia de 1943 teve vida curta e permaneceu em vigor
até a contrarreforma do Ernesto de Sousa Campos, em 1946, recém
ministro da educação e saúde pública do governo Gaspar Dutra. O
Decreto-Lei n. 9.054/1946 restabeleceu o ensino de história natural
na Lei Orgânica do Ensino Secundário. Houve o interesse de
restabelecer a disciplina escolar na lógica de um pensamento
biológico naturalista fisicalista. O currículo oficial de 1946 indicava
uma racionalidade do ensino de história natural pautado na
Zoologia, Botânica, Biologia Geral, Mineralogia, Geologia e
Higiene (Eugenia e Saúde Pública). Dito de outra forma, no modo
de uma ciência que acomoda a matéria orgânica e inorgânica como
elementos indissociáveis na compreensão do mundo vivo.
Ainda no segundo capítulo, também se argumenta como as
perspectivas da comunidade disciplinar, às vezes, não eram
consensuais. Por mais que o grupo na SBPC o fosse monolítico,
no final da década de 1940, os professores, naturalistas e biologistas
construíam práticas e representações de uma renovação do ensino de
história natural. Buscava-se, o ensino ativo de Botânica e Zoologia,
que deveriam abandonar a pedagogia tradicional e abraçar o
escolanovismo como parâmetro ideal no trabalho docente. Além
disso, visava-se atribuir um aspecto mais formativo e cultural da
disciplina escolar.
279
A manutenção e o reforço do pensamento biológico
naturalista fisicalista no programa mínimo da disciplina escolar
história natural foi mantido pela Portaria Ministerial do MESP n.
966/1951. A Zoologia, Botânica, Biologia Geral, Mineralogia,
Geologia e Higiene (Saúde Pública) foram conservadas no curculo
oficial. Esse programa tornou-se mais contestável pelo campo
científico-educacional na SBPC, ora pelo anacronismo, ora pelo
grau de desordem e desatualização das ciências de referência. Chama
a atenção que, a partir dos anos 1950, os biologistas atribuem uma
necessidade de mudanças conceituais, isto é, uma guinada para o
ensino de biologia experimental com o objetivo de atualização do
currículo e introdução de novos saberes escolares da Genética e
Evolução, por exemplo.
Os debates de professores e biologistas nos anos 1950 no
capítulo três mostrou, por um lado, a preocupação do campo
científico pelas práticas experimentais no trabalho docente na escola
secundária. No outro, evidentemente, como os discursos da
comunidade disciplinar na SBPC silenciavam a estrutura conceitual
do ensino de história natural definida pelo Decreto-Lei n.
9.054/1946. Isso impulsou a construção de representações de um
plano de biologização da disciplina escolar, ou seja, definida sem as
Ciências da Terra, e ancorada nos arranjos da Biometria, Botânica,
Zoologia, Citologia Experimental, Bioquímica, Embriologia,
Evolução, Entomologia, Genética, Limnologia, Microbiologia e
Ecologia Aplicada.
Também se destaca a imprecisão dos termos para dar nome
a disciplina escolar nas fontes documentais e nos debates do campo
científico-educacional, ora de história natural ou biologia, ora de
ciências biológicas ou ciências físico-biológicas. De fato, é um
280
momento de rupturas, permanências, tensionamentos e redefinições
da História Natural e Biologia no circuito especializado das
universidades. Isso por conta das mudanças rápidas de conceitos e
compreensão de fenômenos biológicos, tais como, a hereditariedade,
estrutura e replicação do DNA e os mecanismos darwinianos de
evolução das espécies. Por conseguinte, a partir do final dos anos
1950, a ambiguidade das ciências de referência repercutiu nas
discussões da comunidade disciplinar na SBPC, CADES, Inep e
IBECC/SP.
É evidente que o vaivém nominal da disciplina escolar nos
anos 1940/50 não pode ser compreendido somente na lógica
epistemológica das ciências de referência. O conhecimento sobre a
história do pensamento biológico foi utilizado para marcar uma
precisão nos significados e representações da nomenclatura
binominal presente na legislação educacional. Também permitiu
verificar que os termos não estavam no vazio científico, mas
carregados de noções diferentes sobre as formas de pensar a ciência
dos seres vivos. Além do mais, como foi verificado nos debates do
campo científico-educacional na SBPC, a mudança conceitual fazia
parte do enquadramento de elementos necessários para transformar
os currículos.
É por essa razão, que nos programas e currículos dos anos
1940 a 1960, torna-se possível verificar as estabilidades e mudanças
nos conteúdos de ensino, ora valorizando os novos, como por
exemplo, a Biologia Molecular, ora excluindo ou resinificando
outros, tais como, a classificação biológica e Fisiologia Animal. Não
era penas um desejo de definir novos currículos, mas de forjar novas
tradições curriculares e definições das ciências de referência na escola
secundária. Nesse sentido, os biologistas assumiam para si cada vez
281
mais a confiabilidade da seleção dos saberes escolares, determinando
uma posição hegemônica na construção social dos currículos.
A questão é compreender a nomenclatura binominal dentro
de um recorte de espaço e tempo da escola secundária. Se, por um
lado, no início dos anos 1940, o ensino de biologia justificava-se no
domínio político, social e cultural de ideias eugenistas, estéticas e
ufanistas de um Estado centralizador e autoritário da Ditadura
Getulista; no outro, o retorno da história natural na Lei Orgânica
do Ensino Secundário era sintonizado com as pautas pelo
desenvolvimento industrial e econômico do país e, principalmente,
pela emergência da Mineralogia e Geologia na formação de jovens
para exploração de recursos naturais como, por exemplo, o petróleo.
Mais tarde, nos anos 1960, o ensino de biologia é defendido na
formação científica e cultural para compreender a importância das
Ciências Biológicas na sociedade.
Em todos os casos, naquele momento, considerava-se que a
melhoria da disciplina escolar estava atrelada aos métodos de ensino,
atualização do currículo e trabalho docente. Assim sendo, a
padronização de práticas experimentais e, principalmente,
laboratoriais colocou o kit de biologia do IBECC/SP na posição
hegemônica de retratar a materialidade de uma renovação e a
racionalidade científica como instrumento de legitimidade da
experimentação na escola secundária. A análise, nesse sentido,
também foi concentrada nos aspectos gerais dos clubes de ciências
como, por exemplo, o de história natural do Colégio Estadual de
Jaboticabal, em São Paulo, liderado pelo professor Carlos Nobre
Rosa.
O kit de biologia e o clube de história natural merecem
possibilitam novas pesquisas sobre a cultura escolar. Esse para
282
entender a renovação da disciplina escolar no interior do colégio
paulista e a formação, trabalho e rede de sociabilidade de Carlos
Nobre Rosa com os biologistas da USP e professores do IBECC/SP.
Aquele para conferir inteligibilidade da dimensão prática e comercial
do objeto escolar. Assim, compreender o kit de biologia no conjunto
de rituais pretendidos pela comunidade disciplinar para o ensino e
aprendizagem de uma ciência experimental na escola secundária.
Nos anos 1950, o treinamento e aperfeiçoamento de
professores pela CADES ou IBECC/SP é outro ponto que merece
destaque na história da disciplina escolar história natural e biologia,
além do mais, a formação docente nas Faculdades de Filosofia. Os
cursos concentram a complexidade da didática à época, o problema
da ausência de profissionais especializados e a urgência de treiná-los
para expansão e renovação da escola secundária. O aspecto crucial
era a sistematização, prescrição e orientação na construção de um
modo legítimo da experimentação didática e novos saberes escolares
no ensino secundário. Assim, as informações divulgadas nas páginas
da Ciência e Cultura buscavam orientar os métodos de ensino pelo
“caminho certo” para melhor compor as aulas práticas de biologia.
Na década de 1950, as noções de renovação da disciplina
escolar também foram debatidas e disputadas no Inep e,
principalmente, no desenvolvimento das atividades da CALDEME.
Havia o interesse dos biologistas pela eliminação do termo história
natural na produção de novos e modernos livros didáticos para
renovar o currículo e a prática docente. A comunidade disciplinar
saiu em defesa de um ensino de biologia pautado pelo pensamento
biológico evolutivo. A disciplina escolar foi definida a partir de
concepções sobre as ciências de referências e cristalizada nas
283
representações de finalidades utilitárias e culturais da Biologia no
Brasil.
Os livros didáticos Botânica na Escola Secundária, de Alarich
Schultz, em 1959, e Biologia na Escola Secundária, de Oswaldo
Frota-Pessoa, em 1960, precisam ser assumidos como elementos do
Inep para renovação da disciplina escolar no Brasil. É preciso colocar
em questão inclusive a existência de outras obras como, por exemplo,
Didática da História Natural de Oswaldo Domiense de Freitas, de
1958, publicado pela CADES. A produção de livros didáticos era
apontada como um recurso fundamental para condução das
mudanças no ensino de história natural e biologia. Isso evidencia
algumas questões importantes: quais os avanços, mudanças e
permanências sobre os conteúdos de ensino e a didática do professor
estão cristalizadas nos livros didáticos? Como os avanços científicos
da Biologia foram apropriados pelos autores e didatizados para o
ensino secundário?
O quarto capítulo trouxe algumas diretrizes, programas e
experiências para consolidar o ensino de biologia nos anos 1960.
Percebe-se a realização de congressos internacionais, cursos e
materiais didáticos com o objetivo de discutir e definir uma base
comum pedagógica e científica. Isso reforça o poder simbólico da
comunidade disciplinar na tutela do currículo e organização do
trabalho docente. Além disso, uma certa autoridade para determinar
as mudanças e a ampliação do vínculo com o universo das ciências
de referência.
A autonomia e flexibilização do currículo promulgada pela
LDB/1961 viabilizou a consolidação do ensino de biologia na escola
secundária. Não houve nenhuma substituição revolucionária ou de
ruptura da disciplina escolar história natural pela biologia a partir
284
dos anos 1960. É possível compreender que as mudanças não foram
imediatas e muito menos romperam com as tradições curriculares
vigentes e o passado de formação e trabalho dos professores. Mas
como era esperado, o ensino de história natural perdeu a
legitimidade no currículo por uma série de questões, dentre elas, a
mutilação dos cursos de História Natural nas Faculdades de Filosofia
associada com as representações de uma ciência ineficiência para os
estudos dos seres vivos e fenômenos biológicos. Além disso, a forte
retórica de unificação da Biologia no campo acadêmico.
O desenvolvimento das Ciências Biológicas como ciência
unificada, complexa e autônoma foi um fator decisivo para o ganho
de estatuto próprio da disciplina escolar biologia. Entre os projetos
para pautá-la na lógica das ciências de referência estava o BSCS, em
que diversos biologistas, de diferentes países, cooperavam no sentido
de produzir uma estruturação e padronização da renovação. Nesse
sentido, naquele momento, considerava-se que a melhoria e avanço
do ensino de biologia seria a posição estrutural dos temas
unificadores e método da redescoberta como um princípio básico
que garantisse as transformações da disciplina escolar.
Em fins dos anos 1950, a iniciativa do BSCS obteve, em
certa medida, um êxito e, assim, produziu livros didáticos que
serviam de modelo e inspiração em diversos países. No Brasil, a
partir de 1963, as versões verde e azul do BSCS foram testadas,
traduzidas e adaptadas. Foram importantes recursos utilizados para
atribuir signos e significados de disciplina escolar independente e
estruturada nas Ciências Biológicas. Os livros didáticos foram
tomados como poderosas armas para afirmar uma renovação,
conferindo uma série de prescrições sobre o ensino de biologia que
285
incluía, principalmente, as noções dos temas unificadores e a
experimentação didática.
É possível perceber que os livros didáticos do BSCS
buscavam uma produção, não apenas de atualizar o currículo e os
métodos de ensino da disciplina, mas também consolidar a visão das
Ciências Biológicas como ciência autônoma e única na escola
secundária. Esse duplo esforço posicionava as traduções e adaptações
brasileiras no centro de uma demanda da comunidade disciplinar
nacional. Parece, portanto, adequado concluir o peso do BSCS
como fonte para a história do ensino de biologia no Brasil. Nesse
sentido, é importante seguir com a alise, por exemplo, da tradução
e adaptação da versão verde experimental Ecologia: uma unidade de
estudo.
Também é possível delimitar outras questões sobre as
traduções de obras internacionais no país como, por exemplo, o
Projeto Nuffield da Inglaterra. Pode-se perguntar, afinal, quais
foram os intercâmbios, correspondências e relações estabelecidas
entre a renovação do ensino de biologia daquele país e o Brasil?
Quais eram as prescrições curriculares contidas nos folhetos,
manuais e livros didáticos? Quem eram os sujeitos envolvidos na
produção? Quais mediadores culturais contribuíram na circulação
de saberes, conhecimentos e práticas da disciplina escolar entre Brasil
e Inglaterra? Compreender esse processo é uma perspectiva que se
pode vislumbrar em futuras pesquisas sobre a história do ensino de
biologia e, principalmente, por meio de uma abordagem
transacional da história da educação.
Percebe-se também alguns aspectos do movimento
interamericano de renovação do ensino de biologia nos anos 1960,
tais como, a circulação do BSCS, congressos e cursos de
286
treinamentos em diferentes países latino-americanos. Torna-se claro
que o Brasil não pode ser visto apenas como depósito de
transferência de diretrizes internacionais da disciplina escolar. Nesse
sentido, é possível vislumbrar as possibilidades de pesquisas com
abordagens de uma história transnacional da educação.
Isso é um caminho que permite compreender a circulação de
saberes e artefatos pedagógicos entre os países da América Latina
como, por exemplo, as relações do BSCS entre Brasil, Argentina e
Colômbia, estabelecida com múltiplas possibilidades de
conectividades, reciprocidades, apropriações ou reversões. É
procurar compreender o papel dos professores Oswaldo Frota-
Pessoa e Myriam Krasilchik na produção e tradução do BSCS no
país. Pode-se perguntar, ainda, de que forma a formação, trabalho e
produção curricular desses profissionais estiveram entrelaçadas com
a renovação do ensino de biologia nas décadas de 1960/70? Como
Oswaldo Frota-Pessoa constituiu-se como referência latino-
americana para renovação da disciplina escolar, de modo particular,
e do ensino das ciências, em geral?
A análise de prescrições de saberes para organizar a renovação
do ensino das ciências, a ecologia escolar de Frota-Pessoa, bem como
a descrição de currículos de colégios de São Paulo e Guanabara
mostram a possível execução de um plano mínimo de transformação
da disciplina escolar biologia nos anos 1960. Isso, naturalmente, mas
não tão explícito, efetivou o entrelaçamento de velhas e novas
tradições curriculares da História Natural e Ciências Biológicas na
escola secundária. Por outro lado, marcava as dificuldades dos
professores diante dos novos conteúdos de Ecologia, Bioquímica,
Evolução e Biologia Molecular, tais como, os saberes escolares de
DNA, RNA e síntese proteica.
287
Para equacionar o movimento de renovação do ensino das
ciências no país, os diferentes CECIS, a partir de 1965, assumiram
a existência de desenvolver o treinamento e aperfeiçoamento de
professores, bibliografias especializadas, objetos escolares e
divulgação científica. Não se pode desconsiderar que essas
instituições receberam investimentos privados e públicos para
consolidação do movimento renovador e, dentro desse escopo,
diferentes práticas e representações da disciplina escolar biologia no
currículo, formação e trabalho docente. Há, nesse caso, outro
desdobramento possível da pesquisa.
Com esta pesquisa foi possível compreender que o ensino de
biologia e história natural foi palco de disputas, incertezas e
inovações no currículo da escola secundária. Para finalizar, deixo a
seguinte questão: qual o legado do movimento de renovação da
disciplina escolar dos anos 1960/70? A questão não é simples e
possibilita muitas análises e discussões. Pode-se afirmar o processo
gradual de debates e embates para legitimar a disciplina escolar
biologia na construção social do currículo ao longo das reformas
educacionais do século XX. Nessa perspectiva, quais os sentidos e
interesses do ensino de biologia na recente reforma do ensino médio?
Na BNCC/EM e nas mudanças no PNLD e BNCC/Formação de
professores? São questões fundamentais para pensar o presente e
futuro da disciplina escolar.
Sabe-se que o currículo do ensino de biologia não é neutro.
É preciso disputá-lo na prática cultural curricular de todos os espaços
da educação e, principalmente, nas eminentes mudanças climáticas
globais, perda da biodiversidade, biopirataria, meio ambiente, saúde
e biotecnologia. Além disso, para frear os movimentos de fake news,
antivacina, antidarwinismo, terraplanismo e criacionismo como
288
conteúdos escolares, bem como na utilização das Ciências Biológicas
para justificar discursos e políticas que são sectárias, misóginas,
racistas e eugênicas. Os desafios são complexos e precisam ser
encarados pela comunidade disciplinar nos diferentes espaços
institucionais. A natureza ultraliberal da recente reforma do ensino
médio mostra que o retrocesso é claro e perigoso. No sentido
freireano do termo, é preciso esperançar pela educação escolar e,
aqui, pelo ensino de biologia para uma formação cidadã crítica,
socioambiental e inclusiva, com respeito às diversidades e diretos
humanos.
289
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LAURO, F. [Correspondência]. Destinatário: Mário Paulo de
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LESSA, G. [Correspondência]. Destinatário: Paulo Sawaya. Rio de
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MAIA, N. F. [Correspondência]. Destinatário: Gustavo Lessa.
Curitiba, 15 dez. 1953. Cartão pessoal. Autografado.
PEREIRA, C. [Correspondência]. Destinatário: Gustavo Lessa.
São Paulo, 21 mar. 1953. Cartão pessoal. Autografado.
PINHO, P. M. [Correspondência]. Destinatário: Paulo de
Menezes Mendes da Rocha. São Paulo, 9 dez., 1958. Cartão
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Jornais
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Paulistano, São Paulo, ano 103, n. 30.770, p. 2, 24 jun. 1956.
A DOENÇA do Sr. Francisco Campos marcou o início da crise do
ensino secundário. Diário Carioca, Rio de Janeiro, ano XX, n.
5.804, p. 03, 31 maio 1947.
A SBPC precisa ser mais compreendida. Jornal do Commercio,
Rio de Janeiro, ano 132, n. 66, p. 19, 14 dez. 1958.
CIENTISTAS contra testes nucleares. Jornal do Commercio, Rio
de Janeiro, ano 132, n. 256, p. 5, 31 julho de 1959b.
CIENTISTAS e pesquisadores reunidos na capital paulista. Jornal
do Commercio, Rio de Janeiro, ano 131, n. 235, p. 10, 30 jul.,
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CIENTISTAS farão campanha contra o presidente do COSUPI:
“é anticiência”. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano LXIX, n. 136,
p. 09, 13 jun. 1959a.
CONCLAVE de ciência foi encerrado ontem. Jornal do
Commercio, Rio de Janeiro, ano 130, n. 237, p. 07, 14 jul., 1957.
COORDENADORES de centros de ciência têm encontro
nacional do Rio amanhã. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro,
ano 139, n. 67, p. 5, dez., 1965.
CURSOS de verão do IBECC formam melhores mestres. Correio
Paulistano, São Paulo, ano 107, n. 32.720, p. 4, 13 jan., 1963.
CURSOS do IBECC sobre prática do ensino de ciências. Correio
Paulistano, São Paulo, ano 106, n. 31.862, p. 07, 10 fev. 1960.
DEBATIDO na reunião da SBPC a questão do ensino no país.
Correio Paulistano, São Paulo, ano 105, n. 31.371, p. 02, 09 jul.
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DEVEM ser autônomas as universidades do país. Correio
Paulistano, São Paulo, ano 105, n. 31.375, p. 10, 13 jun. 1958.
ENSINO de ciências mobilizou professores das três américas.
Correio Paulistano, São Paulo, ano 108, n. 32.481, p. 6, 17 fev.,
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ESPECIALIZAÇÃO nos EUA para professores de ciência. Diário
da Noite, São Paulo, ano XXV, n. 10.851, p. 17, 17 jun. 1960.
FROTA-PESSOA, O. Razões de um êxito. A man, Rio de
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INICIADO o curso de aperfeiçoamento do ensino de ciências.
Correio Paulistano, São Paulo, ano 106, n. 31.836, p. 12, 06 jan.
1960.
MAIS de 200 professores fizeram aperfeiçoamento no IBECC em
1960. Correio Paulistano, São Paulo, ano 107, n. 32.175, p. 02,
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MATERIAL didático da UNESCO para os colégios do Estado.
Diário da Noite, São Paulo, ano XXX, n. 9.453, p. 07, 9 nov. de
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O ENSINO da história natural. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,
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O ENSINO de história natural. Diário Carioca, Rio de Janeiro,
ano LXI, n. 5.446, p. 04, 26 mar., 1946b.
OFERECE o IBECC treinamento para professores de ciência.
Diário da Noite, São Paulo, ano XXXIV, n. 10.619, p. 17, 16 set.,
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PROFESSORES de ciências dos EUA chegam hoje a convite do
IBECC. Correio Paulistano, São Paulo, ano 106, n. 31.983, p. 05,
02 jul. 1960.
RECEBERÃO as Faculdades de Filosofia sugestões para
aperfeiçoar o ensino. Correio Paulistano, São Paulo, ano 105, n.
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REPOUSA na pesquisa a real defesa de um povo. Diário da Noite,
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São Paulo, ano XXXIV, n. 10.655, p. 18, 28 out., 1959.
UM POUCO de ciência: I Congresso Nacional de Ensino de
Ciências. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ano LVI, n. 19.437,
p. 12, 5 ago. 1956.
VAI estagiar na França o vencedor do concurso do dia do
professor. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ano LVIII, n.
29.013, p. 20, 25 jun., 1958.
VAI o Brasil exportar sua técnica sobre o ensino de ciências nos
cursos médios. Correio Paulistano, São Paulo, ano 107, n. 32.265,
p. 7, 31 maio 1961.
Manuais e livros didáticos
BSCS. Das moléculas ao homem, vol. I. São Paulo: EDART,
1969.
BSCS. Das moléculas ao homem, vol. II. São Paulo: EDART,
1969.
BSCS. Ecologia: uma unidade de estudo. São Paulo: EDUSP,
1963.
BSCS. Versão verde, volume I. 3. ed. São Paulo: EDART, 1974.
FREITAS, O. Didática de história natural. Ministério da
Educação e Cultura. Rio de Janeiro: CADES, 1958.
FROTA-PESSOA, O. Biologia na escola secundária. Rio de
Janeiro: INEP, 1960.
335
FROTA-PESSOA, O. Principios basicos para la enseñanza de la
biologia. Washington, D.C: OEA, 1967.
FROTA-PESSOA, O., GEVERTZ, R.; SILVA, A. Como ensinar
ciências. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1970.
LEITÃO, C. F. M. Biologia geral. 2. ed. São Paulo: Companhia
Ed. Nacional, 1940.
ROSA, C. N. Animais de nossas praias. São Paulo: EDUSP, 1963.
SCHULTZ, A. R. Botânica na escola secundária. INEP: Rio de
Janeiro, 1959.
SCHULTZ, A. R. Estudo prático da botânica. 2. ed. Porto Alegre:
Globo, 1953.
Demais publicações em livros e periódicos
ABREU, J. A educação secundária no Brasil. Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos, v. XXIII, n. 58, abr./jun., p. 26-104, 1955.
ABREU. J. Prefácio. FROTA-PESSOA, O. Biologia na escola
secundária. Rio de Janeiro: INEP, 1960, p. 05-06.
AMADO, G. Educação média e fundamental. Brasília: INL,
1973.
BASTOS, C. Ciências Naturais como atividades extraclasse.
Revista Escola Secundária, n. 17, jun., p. 97-102, 1961.
BASTOS, C. Clube de ciências do Colégio de Aplicação. Revista
Escola Secundária, n. 10, set., p. 42-44, 1959.
336
BICUDO, J. C. O ensino secundário no Brasil e sua atual
legislação (de 1931 a 1941 inclusive). São Paulo: José Magalhães,
1942.
CADES. Conjunto de laboratórios de química. Revista Escola
Secundária, n. 8, mar. p. 118, 1959a.
CADES. Laboratórios de ciências naturais. Revista Escola
Secundária, Rio de Janeiro, n. 12, mar., p. 118-121, 1960a.
CADES. Laboratórios. Revista Escola Secundária, Rio de Janeiro,
n. 13, jun., p. 128-130, 1960b.
CAMPOS, F. Reforma do ensino secundário: exposição de
motivos. Rio de Janeiro, 1931. In: BICUDO, J. C. O ensino
secundário no Brasil e sua atual legislação (de 1931 a 1941
inclusive). São Paulo: José Magalhães, 1942.
CAPANEMA, G. Lei orgânica do ensino secundário. Cultura
Política, Rio de Janeiro, ano II, n. 16, jun., p. 178-302, 1942.
CUNHA, A. B. Biologia na escola secundária. Revista Brasileira
de Estudos Pedagógicos, v. XXXV, n. 82, abr./jun., p. 147-148,
1961.
DOBZHANSKY, T. Nothing in biology makes sense except in the
light of evolution. The American Biology Teacher, n. 35, v. 3, p.
125–129, 1973.
FROTA-PESSOA, O. Antecedentes e consequências da CIEB.
Revista de Pedagogia, São Paulo, ano X, v. X, jan./dez., p. 7-11,
1964b.
FROTA-PESSOA, O. Meios para intensificar a contribuição da
escola à compreensão e utilização das descobertas científicas.
337
Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. XXVI, n. 64,
out./dez., p. 60-72, 1956.
GLASS, B. Tendências da reforma do ensino da biologia nos
Estados Unidos. Revista Pedagogia, São Paulo, ano X, v. X,
jan./dez., p. 45-52, 1964b.
IBECC/SÃO PAULO. Organizações para o desenvolvimento da
educação em ciências. São Paulo, 12 pag., 1968.
INEP. Ensino secundário no Brasil: organização, legislação
vigente e programas. Rio de Janeiro: Inep, 1952.
KEHL, R. Preceitos de higiene. Revista da Semana. Rio de
Janeiro, ano XLIII, n. 23, jun., p. 40, 1942.
KRASILCHICK, M. Relatório de profesôres paulistas
participantes de cursos de verão em universidades norte-
americanas: Biologia. Revista Cultus, São Paulo, v. VI, n. 1 e 2, p.
28, 1961.
KRASILCHIK, M. A avaliação da avaliação. Cadernos de
Pesquisa, São Paulo, v. 48. fev., p. 63-66, 1984.
LAURO, F. Prefácio. In: SCHULTZ, A. R. Botânica na escola
secundária. INEP: Rio de Janeiro, 1959, p. 07-08.
LEITÃO, M. C. Primeira aula de história natural. Vamos Ler! Rio
de Janeiro, v. 28, n. 8, p. 55 e 63, 1941.
LEITÃO. C. M. A biologia no Brasil. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1937.
338
NARCHI, W. O ensino prático de zoologia no curso médio.
Revista Cultus, São Paulo, v. VI, n. 1-2, p. 09-10, 1961.
PUPO, J. Associação dos Professores de Ciências do Rio de
Janeiro. Revista Escola Secundária, Rio de Janeiro, n. 8, mar., p.
81, 1958.
RAW, I. Apresentação. In: FROTA-PESSOA, O.; KRASILCHIK,
M. Ecologia: uma unidade de estudo. São Paulo: EDUSP, 1963,
p. 9-10.
RAW. I. Livros recomendados. Revista Cultus, São Paulo, n. III,
p. 28, 1949.
REIS, J. Educação é investimento. São Paulo: IBRASA, 1968.
ROSA, C. N. Clubes de ciências. Revista Escola Secundária, Rio
de Janeiro, n. 9, jun., p. 36-40, 1959.
ROSA, C. N. Um clube de biologia. In: FROTA-PESSOA, O.
Biologia na escola secundária. Rio de Janeiro: INEP, 1960, p. 36-
38.
TEIXEIRA, A. A escola secundária em transformação. Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. XXI, n. 58, jan./mar., p. 3-
20, 1954.
TEIXEIRA, A. Discurso de posse no Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. v. XVII,
n. 46, abr./jun., p. 69-79, 1952.
UNESCO. Manual de la Unesco para profesores de biología en
América Latina. Montevide, Uruguai: ROSTLAC, 1981.
339
UNESCO. New trends in biology teaching v. V. Paris, France:
UNESCO, 1980.
Anexo
Programação dos simpósios sobre ensino das ciências realizados nas
reuniões anuais, conforme cadernos de programações, no período
de 1949 a 1965. As grafias originais foram mantidas.
IV REUNIÃO ANUAL
Porto Alegre, RS/2 a 08 de novembro de 1952
Simpósio Ensino e Instituições Científicas
Sábado, 8 de novembro de 1952/ 9:00 horas/ Salão Nobre do
Instituto de Educação.
Presidente: Anísio Teixeira
Ensino Médio: O. Frota Pessoa - L. Nacbbin - P. Sawaya - H.
Hauptmann.
Ensino superior: Ernesto Leme - Otto Bier - Guerra Blessmann.
Livros didáticos: F. Rawitscher.
Institutos de Pesquisa: E. Braun-Menendes.
Ensino e Pesquisa: Viktor Leinz - E. de Robertins.
Amparo à pesquisa: J. B. Pertolli - F. J. Maffei.
IX REUNIÃO ANUAL
Rio de Janeiro, RJ/8 a 13 de julho de 1957
SimpósioEnsino de Ciências
Sexta-feira, 12 de julho de 1957/Sala de Conferências do Museu
Nacional
Sociedade Brasileira de Professôres de Ciências
Presidente: O. Frota Pessoa.
340
9:00 horas
J. Maia: O artificialismo no ensino no Brasil.
N. Dias dos Santos: Aparelhos improvisados para o ensino das
ciências.
I. Raw: Realizações do IBECC na assistência ao ensino.
Pe. Aloísio Haining: O ensino da Física experimental.
M. Thiago de Mello: O clube de ciências do Colégio Militar.
C. Nobre Rosa: O ensino das ciências no Colégio de Jaboticabal.
A. G. da Silva: Minha experiência com duas técnicas de ensino.
14:00 horas
N. Milfort (aluno do colégio Pedro II): o nosso clube de ciências.
G. Sampaio: A preparação da normalista no Instituto de Educação
para ensinar ciências.
A. Ebert: A preparação do professor secundário de ciências na
Faculdade Nacional de Filosofia.
O. Frota Pessoa: Comentários sôbre os problemas discutidos no
simpósio.
X REUNIÃO ANUAL
São Paulo, SP/6 a 12 de julho de 1958
Secção K - Educação
Salão Nobre da Faculdade de Filosofia da Universidade de São
Paulo.
Presidente: A. Teixeira.
Vice-Presidentes: O. F. Pessoa, P. Sawaya, J. Cavalcante, C.
Mascaro.
Terça-feira, 8 de julho de 1958
I.B.E.C.C e Associação Brasileira de Professôres de Ciências
Simpósio - O Ensino das Ciências Experimentais
Presidente: T. Cavalcanti
Relator: J. Reis
9:00 horas
341
O. Frota-Pessoa: Melhorias das condições de ensino dos professôres de
ciências.
O problema dos preparadores nos ginásios e colégios.
C. N. Rosa: O problema dos preparadores.
N. D. Santos: O equipamento de laboratórios.
A. Ebert: Envio de aulas padrões às instituições carecentes de boas
bibliotecas.
P. Sawaya: Cursos de atualização para professôres.
Discussão geral: O problema das Faculdades de Filosofia como
formadoras de elementos para o magistério secundário (C. Mascaro, J.
Cavalcanti, F. Fernandes, P. Sawaya, E. G. Mendes, J. Q. Silva, O.
F. Pessoa, A. L. Angelini).
14:30 horas
Continuação do Simpósio sôbre o Ensino das Ciências
Experimentais
17:00 horas
A, L. Angelini - Algumas características dos candidatos ao curso de
Física da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da Universidade
de São Paulo em 1958.
G. V. Coelho - Universidade e Pesquisa. Planejamento da estrutura
do Instituto de Pesquisas Econômicas, Políticas e Sociais da
Universidade do Recife
XI REUNIÃO ANUAL
Salvador, BA/12 a 18 de julho de 1959
Secção K - Educação
Anfiteatro II da Faculdade de Odontologia e Reitoria da
Universidade da Bahia
Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (UNESCO),
Secção de S. Paulo, e Associação Brasileira dos Professores de
Ciências
14:00 horas
Presidente: C. Siqueira
342
Simpósio As ciências nas classes experimentais
O lugar das ciências nos planos das classes experimentais
A. Muniz: As classes experimentais no Colégio Nova Friburgo.
Miriam Krasilchik: As ciências no Colégio de Aplicação da
Universidade de S. Paulo.
J. Tobias Neto: O ensino de História das Ciências do curso
secundário.
H. Jurist: Desenvolvimento de um programa de Química para a 1ª
série experimental do curso científico.
A. G. da Silva: Os métodos de ensino de ciências nas classes
experimentais do Colégio Pedro II.
O uso das experiências em classe.
C. Pimental: Prova de laboratório da lei de Gay-Lussac.
A. G. da Silva: Como usar as experiências no método de problemas.
N. D. dos Santos: Os guias escritos de princípios e o uso das
experiências.
O. Frota Pessoa: A redescoberta de princípios e o uso das experiências.
H. G. de Souza: Laboratório de ensino de Física - uma experiência.
Discussão: O. A. Penteado Jr., D. Grisi, M. Damato, L. Contier,
A. de Mattos, J. J. S. Pupo, A. Buschinelli, W. Leser, O. Frota
Pessoa e J. Reis.
Quarta-feira, 15 de julho de 1959
9:00 horas
Presidente: R. Muniz Aragão
Vice-Prosidentes: G. Jansen, J. Reis e J. M. Pompéo Memória
O. Frota Pessoa: O papel da Associação Brasileira dos Professores de
Ciências no progresso do ensino de ciências.
I. Raw: Programas de assistência do IBECC ao ensino de ciências nas
escolas secundárias e superiores.
J. Reis: Utilidade do concurso “Cientistas de Amanhã”.
O. A. Penteado Jr.: Contribuição da psicologia no ensino da
matemática.
A. de Mattos: bre a metodologia da física (ou da matemática).
343
J. M. P. Memória: Sugestões sôbre o ensino de estatística nas
Faculdades de Filosofia.
I. C. Prado: Sôbre o ensino das ciências no curso secundário.
R. Gevertez: Estudo estatístico preliminar relativo ao aproveitamento
de física por parte dos alunos dos cursos secundários.
J. J. S. Pupo: Formação do professôr de física.
Mme. Maleville: O ensino de ciências na França.
Maria Apparecida Silva: Relação entre professôr de ciências e o
diretor.
G. Jansen: O ensino de ciências na reforma de Bases e Diretrizes.
C. S. Bastos: O ensino da Ciência nos Estados Unidos.
Irmã Maria Ilda, J. Maria Marcelina (Discussão).
XII REUNO ANUAL
Piracicaba, SP/3 a 10 de julho de 1960
Seção K Educação
Sala VI - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz
Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (UNESCO),
Secção de São Paulo e Associação Brasileira dos Professôres de
Ciências
Simpósio - Ensino de História Natural
Sexta-feira, 8 de julho de 1960
9:00 horas
Presidente: P. M. Mendes da Rocha
Vice-Presidente: J. Reis.
P. Sawaya: A importância da Zoologia e da Fisiologia na formação do
professor secundário.
M. G. Ferri: Considerações sôbre o Ensino da Botânica.
O. Frota Pessoa: Ensino da Biologia Educacional.
14:00 horas
Odilia P. Gomes: O ensino prático de Botânica no curso médio.
W. Narchi: O ensino prático da Zoologia no curso médio.
344
E. A. Dehnarat: O ensino de História Natural no Rio Grande do Sul.
J. C. Duarte: Experiência do ensino de História Natural em Classes
Experimentais.
Erika Schlenz: Ensino prático de Geologia no curso médio.
Durante o congresso haverá demonstrações teórico-práticas com o
material do IBECC para ensino superior
Inscritos:
W. Beraldo: Perfuração de intestinos.
W. Ladosky: Ação dos íons sôbre o coração isolado de batráquio.
P. Galvão: Preparação de um coração pulmão de Starling.
Demonstração de aparelhos construídos por professôres
secundários para o ensino prático de Ciências nos cursos nos
campos da: Física, Química, História Natural e Matemática. O
IBECC concederá prêmios de Cr$ 5.0000,00 para os que forem
aprovados pelo IBECC, desde que o professor se comprometa a
escrever as experiências a serem feitas com os mesmos.
Inscritos:
Di Pierro Netto: Matemática.
Manhunica Liberman: Matemática.
Sampaio Amaral: Matemática.
L. Ferreira: Matemática.
J. J. Sales Pupo: Física.
XV REUNIÃO ANUAL
Curitiba, PR/8 a 14 de julho de 1962
Secção K - Educação
5º andar - Anfiteatro
Segunda-feira, 9 de julho de 1962
Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura - IBECC
(UNESCO) - Secção de São Paulo
Presidente: Prof. Temístocles Cavalcanti
345
Vice-Presidente: Prof. Paulo Mendes da Rocha
Simpósio: O ensino de Citologia na Escola Secundária
Presidente: C. Pavan
Vice-Presidente: R. Basile
9:00 h - R. Basile e L. E. Magalhães - Novas Diretrizes no ensino da
Citologia.
9:30 h - J. Carneiro - Sugestões para um ensino mais objetivo da
Citologia Geral.
10:00 h - W. Kerr - Teoria e prática da Citologia no Ensino
Secundário.
10:30 h - M. Krasilchik - Cultura de Physarum policephalum.
Sexta-feira, 13 de julho de 1962
Comunicações - Ensino Médio e Ensino Superior
14:00 horas - M. F. Arid e P. M. B. Landim - As ciências e o ensino
médio.
18:00 h - M. P. Villabolos - Educação e Ciência.
O Ensino da química geral no curso secundário (J. Baeta Vianna;
H. Tastaldi); Introdução à Matemática Moderna no curso
secundário (M. L. Leite Lopes; U. D'Ambrósio); O ensino de
Física na escola secundária (A. Baez; R. Caniato).
XV REUNIÃO ANUAL
Campinas, SP/7 a 13 de julho de 1963
Seção K Educação
Curso física pela experiência, de 8 a 12 de julho, Pe. Aloysio
Viecken
O ensino experimental da química no curso secundário
Quarta-feira, 10 de julho de 1963
346
Simpósio - O ensino experimental da Fisiologia Animal e Vegetal
na escola secundária
Presidente: M. Ferri
9:00 horas - N. W. Magalhães: O ensino da Fisiologia Vegetal no
Curso Ginasial.
10:00 horas - M. Krasilchik: A Fisiologia e o ensino de Biologia.
11:00 horas - J. S. Silva: Fisiologia humana.
Comunicações - Debates gerais
14:00 horas - P. Sawaya: Fisiologia da circulação - Experiências com
mexilhões e serpentes.
15:00 horas - V. Vanuncci - A manutenção de invertebrados
marinhos vivos em aquário.
16:00 h - C. A. Mourão - Sôbre o ensino dos ácidos núcleicos no curso
secundário.
17:00 horas - R. Basile - O estudo da Fisiologia celular no curso
secundário.
Comunicações - Debates gerais
Sexta-feira, 12 de julho de 1963
Presidente: M. S. Campos
9:00 horas- L. Krieck - Meios audiovisuais para o ensino das ciências.
9:30 h - F. M. Arid - As ciências humanas como parte integrante da
educação científica no Brasil.
10:00 - S. A. Toledo Filho: O ensino da higiene nas Faculdades de
Filosofia e Escolas Normais.
10:30 - O. Frota Pessoa: O ensino das ciências em nível universitário.
11:00 E. G. Souza e M. S. Campos: A formação de matemáticos,
físicos e professores dessas disciplinas no Brasil.
11:30 - Heloísa Medeiros: O especialista em formação científica.
347
XVI REUNIÃO ANUAL
Ribeirão Preto, SP/5 a 11 de julho de 1964
Secção K Educação
Segunda-feira, 6 de julho de 1964 - 14:00 horas - Sala IV da
Faculdade de Medicina
Simpósio IV: Métodos Modernos do Ensino de Ciências no Nível
Secundário
Presidente: José Reis
Vice-Presidente: O. Frota-Pessoa
14:00 h - P. Luci - O ensino moderno da Física.
14:20 h - M. Krasilchik - O ensino moderno da Biologia.
14:40 h - A. Berardinelli - Iniciação à Ciência.
15:00 h - E. Giesbrecht - O método CBA para o ensino da Química
no curso secundário.
15:20 h - C. H. Weiss - O estudo da Química.
15:40 h - L. Lamparelli - O ensino moderno da Matemática.
16:00 F. Aguiar - O ensino moderno de Ciências Biológicas na
Faculdade de Filosofia de Pernambuco.
16:20 T. A. Souto - Posição do Conselho Estadual de Educação
perante o ensino de Ciências.
16:40 h - L. E. Magalhães - Curriculum Universitário.
17:00 h - P. Bergvale - Plano Piloto da UNESCO - O ensino da
Física.
Terça-feira, 7 de julho de 1964
9:00 horas - Sala I
Ensino de ciências no nível superior (1º parte)
Presidente: Roberto Salmeron
Vice-Presidente: Warwick E. Kerr
9:00 h - Z. Vaz - A Formação de docentes de ensino superior.
9:30 h - O. Frota-Pessoa - todos de ensino das ciências na
universidade
9:50 h - R. Basile - O ensino de citologia na universidade.
348
10:05 h - G. Marinis - O ensino e aprendizagem da Botânica no
curso de História Natural.
10:20 h - M. Lins - O ensino de ciências na Universidade de Recife.
10:35 h - O. Moreira - O ensino da biofísica na Faculdade de
Medicina da UMG.
10:50 h - J. E. Dutra de Oliveira - Considerações sôbre o ensino da
nutrição no Brasil.
11:05 h - I. Raw - As novas tendências do ensino de ciências.
11:20 h - R. Maciel - Alguns aspectos do ensino médico (Conferência).
Sábado, dia 11 de julho de 1964
9:00 horas: Sala I
O Ensino de Ciências no Nível Universitário (2º parte)
Presidente: J. Baeta Vianna
Vice-Presidente: O. Frota-Pessoa e O. Sala
9:00 h - R. Pimont - Contribuição sôbre a formação profissional de
especialistas no campo da Biologia.
9:15 h - W. E. Kerr - Ensino e pesquisas nas Faculdades de Filosofia.
9:45 h - A. Ulhoa Cintra - O impacto da renovação do ensino de
Ciência na Universidade.
10:15 h - M. A. de Azevedo Fonseca - Missão da Universidade - As
faculdades de Filosofia.
10:30 h - Anísio Teixeira - Missão da Universidade.
11:00 h - Discussão Geral.
349
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Normalização
Taciana G. Oliveira
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Este livro, no entanto, não é sobre as mudanças que levaram ao surgimento da
Biologia como ciência única, mas de como, à luz das novas compreensões, a ci-
ência da vida foi constituída como disciplina escolar biologia [...] este livro é uma
fonte de consulta obrigatória para aqueles que estudam a história das disciplinas
escolares brasileiras.
Como a renovação da disciplina escolar
história natural e biologia foi debatida e
prescrita no campo cientíco nacional
em ns dos anos 40 e início dos 60 do
século XX? Esta obra, resultado da dis-
sertação de mestrado, discute a história
do ensino de história natural e biologia
na escola secundária no Brasil, no perío-
do de 1946 a 1965, a partir da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC). A história da disciplina escolar
foi analisada a partir de sua constituição,
nalidades, conteúdos de ensino, tradi-
ções curriculares e comunidade disci-
plinar. As diversas fontes documentais
utilizadas, especialmente, a revista cien-
tíca intitulada “Ciência e Cultura”, pe-
riódico ocial da SBPC, permitem ao
leitor compreender os debates, disputas
e inovações de cientistas, educadores,
professores e biologistas para legitimar
as mudanças e estabilidades dos saberes
escolares, métodos de ensino, trabalho
e formação docente, bem como os cri-
térios, controvérsias e demandas pela
nomenclatura da disciplina escolar em
meados do culo XX. Nesse sentido, o
conhecimento da natureza histórica do
ensino de biologia, contribui para qua-
licar as discussões sobre os rumos da
disciplina escolar na recente reforma do
ensino médio.
Tiago Rodrigues da Silva é graduado em
Licenciatura em Ciências Biológicas
pelo IFMA/Timon e Pedagogia pela
UNICESUMAR; especialista em En-
sino de Ciências pelo IFMA/Timon e
mestre em Educação pela UNESP/Ma-
rília. Atualmente, é professor substituto
na área de Educação no IFMA/Presi-
dente Dutra.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio 0039/2022
Processo 23038.001838/2022-11
Tiago Rodrigues da Silva
O ENSINO DE BIOLOGIA NO BRASIL
(1946-1965):
disputas, tradições e inovações
O ENSINO DE BIOLOGIA NO BRASIL (1946-1965): disputas, tradições e inovações
RENATO BARBOZA
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