Pedro Geraldo Aparecido Novelli
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A vida permanece sempre sob a perspectiva de que nós ainda não
alcançamos seu objetivo. A ilusão, que nós não reconhecemos em nós,
de que não somente temos algo a fazer senão que também podemos fazer
melhor, desenvolve a história na direção do melhor. “É nessa ilusão que
vivemos, e, ao mesmo tempo, somente ela é o [fator] atuante, em que
repousa o interesse no mundo” (Hegel, 1995, § 212, A.).
Quanto mais abertamente a ilusão se revela tanto mais forte o
infinito se desenvolve. Teoria e prática acham-se aqui em relação dialética
na qual a inteligência e a vontade se encontram. A inteligência quer fazer o
mundo, como ele é. A vontade de entender o mundo como ele deveria ser.
Enquanto Kant e Fichte entendem o mundo como aparência, que necessita
legitimação, para Hegel o mundo é alcançado pelo trabalho da vontade. A
vontade reconhece que o mundo não é assim como deveria ser e, por isso,
ela trabalha para implantar o reino do ‘dever se’ nele. Dessa perspectiva
a vontade sabe que seu objetivo nunca será plenamente satisfeito. Isto
significa que Kant e Fichte têm razão porque a efetividade não se altera.
É possível mudar o entendimento da realidade, mas a realidade mesma é
inatingível. Hegel aceita a primeira parte do argumento, mas ele se recusa
a dar a última palavra à segunda parte do argumento. “A vontade sabe o
fim como o que é seu, e a inteligência apreende o mundo como [sendo]
o conceito efetivo. Essa é a verdadeira posição do conhecimento racional”
(Hegel, 1995, § 234, A.).
A nulidade e o efêmero não são a verdadeira essência do mundo.
Sempre fica algo de tudo, do que foi feito, mas não se pode obter tudo.
Portanto, mais e melhor é possível. O ‘dever ser’ desenvolve-se no que
aqui está, isto é, no ser. O ‘dever ser’ e o ser são postos em relação à
identidade por Hegel. Não se deve esquecer que, para Hegel, o ser é o vir
a ser. Portanto, Hegel procura desenvolver uma ordem estável, que, no
entanto, não é uma ordem estática. A meta de Hegel é dar sustentação a
essa atividade. “[...] porque o bem, o fim último do mundo, é somente,
enquanto continuamente se produz, e entre o mundo espiritual e o mundo
natural subsiste ainda a diferença, de que, enquanto o natural retorna
constantemente sobre si mesmo, no espiritual, contudo, ocorre também
uma marcha para a frente” (Hegel, 1995, § 234, A.).