PRAGMATISMO
PEIRCEANO E A
CONCEPÇÃO DE
INFORMAÇÃO
contribuições à
Ciência da Informação
Sônia Cristina Bocardi de MoraesSônia Cristina Bocardi de Moraes
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação:
contribuições à Ciência da Informação nia Cristina Bocardi de MoraesSônia Cristina Bocardi de Moraes
A autora é arquiteta e urbanista, e
os processos de signicação são maté-
ria de interesse desde a graduação
feita na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo na Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, terminada
em 1985. Fazer arquitetura é comu-
nicar, através da ação, os signos
que constituem o espaço; assim,
a evolução de interpretantes na
construção da cidade foi o assunto da
dissertação de mestrado em Filosoa
pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (2004). A
tese de doutorado em Ciência da
Informação Unesp - Marília (2020),
agora publicada na forma de livro,
aprofunda a investigação no pragma-
tismo de Peirce, observando os
processos informacionais. Atualmente
a carreira de arquiteta coincide
com a docência na Universidade de
Marilia - Unimar, onde as disciplinas
em áreas variadas são ministradas,
junto com a participação no Núcleo
Docente Estruturante da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Unimar.
A diversidade dos processos de signi-
cação, nas várias áreas do conheci-
mento, são material de investigação
que estimula a construção de conheci-
mento para a autora.
P   
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Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2024
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Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Copyright © 2024, Faculdade de Filosofia e Ciências
Ficha catalográfica
Moraes, Sônia Cristina Bocardi de.
M827p Pragmatismo peirceano e a concepção de informação : contribuições à ciência da informação
/ Sônia Cristina Bocardi de Moraes. – Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura
Acadêmica, 2024.
541 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-541-4 (Impresso)
ISBN 978-65-5954-542-1 (Digital)
DOI: https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-542-1
1. Ciência da informação – Filosofia. 2. Organização da informação. 3. Semiótica.
4. Pragmatismo. 5. Peirce,Charles S. (Charles Sanders), 1839-1914. I. Título. CDD 020.14
Telma Jaqueline Dias Silveira –Bibliotecária – CRB 8/7867
Imagem capa: https://stock.adobe.com/br - Arquivo "AdobeStock_377779427". Acesso em 30/10/2024
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives
4.0 International License.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"
Campus de Marília
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Vice-Diretora
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Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Edvaldo Soares
Franciele Marques Redigolo
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Parecerista:
Prof. Dr. Miguel Luiz Contani.
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Para Julia e José Antônio:
Apoio e incentivo, com amor, são fundamentais.
Hábitos são hábitos sobre ideias de sentimentos ou hábitos sobre
atos de reação. O conjunto de todos os hábitos sobre as ideias de
sentir constitui um grande hábito que é um mundo; e o conjunto
de todos os hábitos sobre atos de reação constitui um segundo
grande hábito, que é outro mundo. O primeiro é o mundo interior,
o mundo das formas de Platão. O outro é o mundo exterior, ou
universo de existência. A mente do homem está adaptada à
realidade do ser., portanto, existem dois modos de associação de
ideias: associação interna, baseada nos hábitos do mundo interior,
e associação externa, baseada nos hábitos do universo. O primeiro
é comumente chamado de associação por semelhança; mas, na
minha opinião, não é a semelhança que causa a associação, mas a
associação que constitui a semelhança. Uma ideia de um sentimento
é como ela mesma, sem elementos ou relações [...] Associações de
nossos pensamentos baseadas nos hábitos de atos de reação são
chamadas associações por contiguidade, expressão com a qual não
discutirei, pois nada pode ser contíguo, a não ser atos de reação.
Ser contíguo significa estar próximo no espaço ao mesmo tempo; e
nada pode ocupar um lugar para si, a não ser um ato de reação. A
mente, por sua adaptação instintiva ao mundo exterior, representa
as coisas como estando no espaço, que é sua representação intuitiva
do agrupamento de reações. O que chamamos de Coisa é um
aglomerado ou hábito de reações, ou, para usar uma frase mais
familiar, é um centro de forças. Em consequência, desse duplo
modo de associação de ideias, quando o homem passa a formar
uma linguagem, ele cria palavras de duas classes, palavras que
denominam coisas, quais coisas ele identifica pelo agrupamento
de suas reações, e essas palavras são nomes próprios e palavras
que significam, ou significam, qualidades, que são fotografias
compostas de ideias de sentimentos, e essas palavras são verbos ou
partes de verbos, como adjetivos, substantivos comuns, etc. (Peirce,
1974, p. 134-135,CP 4.157, 1897)
A
Agradeço à banca examinadora o tempo e dedicação para contri-
buição ao término deste trabalho. O agradecimento especial é, sem dúvi-
das, ao querido Professor Carlos Cândido de Almeida, cuja diligência na
condução das aulas faz jus à brilhante carreira acadêmica. Seu empenho
e capacidade levam adiante nesta instituição, a Unesp, o trabalho de di-
vulgação do pragmatismo peirceano, conduzindo para novos horizontes o
legado do caríssimo Professor Lauro Frederico Barbosa da Silveira, com o
qual tive a honra de iniciar meus estudos nesta universidade.
A motivação e o incentivo para seguir adiante agradeço aos meus
alunos, com os quais devo “aprender a sempre aprender” nas várias moda-
lidades possíveis.
O suporte para a caminhada de execução do trabalho devo à minha
família. Meus queridos sempre apoiam e mantêm a estabilidade necessária
para seguir adiante, independentemente de quão inesperada possa ser a ad-
versidade. Ao querido Albino Augusto, por compartilhar o precioso tempo
e carinho. Este trabalho também tem parte de vocês!
Finalmente posso dar graças a Deus por estar com saúde realizando
esta etapa. Professora Deise Sabbag acertadamente lembra que devemos
registrar este período de pandemia no qual o trabalho foi finalizado. Fé e
otimismo também conduzem a pesquisa científica, e esta esperança leva-
mos rumo a dias melhores.
Muito obrigada a todos que de alguma forma contribuíram para a
produção deste livro.
L  
Figura 1: Divisão e subdivisão da estrutura das ciências ......... 121
Figura 2: Divisão entre as Ciências Teóricas e Aplicadas ........ 122
Figura 3: Divisão da Filosofia ................................................ 126
Figura 4: Divisão da Semiótica ............................................. 162
Figura 5: Divisão dos Signos na Semiótica - 1ª. tricotomia ... 178
Figura 6: Classificação das 10 classes de signos em diagramas
executados por Peirce, com inversão da posição
entre o conjunto de signos da esquerda e direita ..... 189
Figura 7: As três tricotomias com gradação de cor
representando a sequência nas categorias existenciais 190
Figura 8: As dez classes de signos com gradação de cor
representando a sequência nas categorias existenciais 191
Figura 9: Tipos de argumentos dentro da Semiótica .............. 196
Figura 10: Semiose ilimitada na indexação de assunto ............. 472
Figura 11: Diagramas comparativos para as etapas de entrada
de assunto .............................................................. 474
Figura 12: O processo de indexação por assunto ..................... 475
Figura 13: Modelo semiótico de indexação ............................. 479
Figura 14: Diagrama mostrando os três ramos da semiótica
usados para relacionar aos processos de indexação ... 482
Figura 15: Diagrama do perfil do Conhecimento com a
simplificação das etapas .......................................... 490
Figura 16: Possibilidades de expansão da Retórica:
possibilidades de determinação de domínio ........... 496
L  
Quadro 1: Um manifesto para uma percepção funcionalista e
pragmática do conhecimento ................................. 377
Quadro 2: Critérios de relevância de “quatro escolas
epistemológicas ..................................................... 380
Quadro 3: Quadro para classificação de “concepções básicas
de conceitos” ......................................................... 385
Quadro 4: Métodos Fundamentais de Classificação ................ 390
Quadro 5: Quadro para critério de relevância ......................... 401
Quadro 6: Quadro de referências e comentários ao
pragmatismo feitos por Hjørland em publicações .. 406
Quadro 7: Concepção de análise de assunto e indexação ......... 477
Quadro 8: Alteração no quadro de Processos de indexação
inferencial .............................................................. 484
13
S
PREFÁCIO 17
1 INTRODUÇÃO 21
2CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO
CONHECIMENTO 47
2.1 DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO 58
2.2 DA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO 74
2.3 DO OBJETO INFORMAÇÃO 94
3 FILOSOFIA E SEMIÓTICA DE PEIRCE 105
3.1 FILOSOFIA 109
3.1.1 A Arquitetura das Ciências 121
3.1.2 Fenomenologia ou Doutrina das Categorias 129
3.1.3 As ciências normativas 142
3.1.4 Metafísica 154
3.2 SEMIÓTICA 162
3.2.1 Signo, objeto e interpretante 163
3.2.2 A divisão dos signos 174
3.2.3 Tricotomias dos signos e classes 178
3.2.3.1 Quadro das 10 classes de signos 181
3.2.4 Tipos de argumento 196
14
4 O PRAGMATISMO PEIRCEANO 215
4.1 MENTE 216
4.2 CRENÇA 235
4.3 HÁBITO 240
4.4 CONCEPÇÃO DO PRAGMATISMO 264
4.5 PRAGMATISMO E CIÊNCIA 285
4.5.1 Ciência 287
4.5.2 Falibilismo 291
4.5.3 Verdade 293
4.5.4 Pós-Verdade 297
4.5.5 Signos Degenerados 300
4.6 PÓS-MODERNO 313
4.6.1 A Proposta Pragmatista de Transdisciplinaridade 320
4.6.2 Epistemologia 326
4.7 CONCEITO 332
4.7.1 Signos e Grafos 353
5 PRAGMATISMO PEIRCEANO E CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO 363
5.1 PRAGMATISMO E PRAGMÁTICA 364
5.2 PRAGMATISMO NA CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO 374
6 UMA PROPOSTA PRAGMATISTA PARA
INFORMAÇÃO 413
6.1 INFORMAÇÃO: CAUSALIDADE ARISTOTÉLICA
E A DETERMINAÇÃO DA FORMA NA
NATUREZA 414
6.2 INFORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DAS FORMAS NA
SEMIOSE 420
15
6.3 A INFORMAÇÃO VISTA ENQUANTO
PROCESSO EVOLUCIONÁRIO 435
6.4 O PRAGMATISMO PEIRCEANO NA
ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO 469
6.4.1 Semiótica na Indexação 471
6.4.2 Signo Fundamental e Conceito 487
6.5 PRAGMATISMO ALÉM DA INDEXAÇÃO 491
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 509
REFERÊNCIAS 519
APÊNDICE 535
GLOSSÁRIO 537
16
17
P
O presente livro é a reflexão de uma longa trajetória e o esforço
de anos, não apenas por ser o resultado do excelente percurso doutoral
da autora, mas também porque constitui uma tarefa e preocupação de
longa tradição na área onde se insere seu doutoramento: Qual é o obje-
to da Ciência da Informação? O que é essa “informação” que a Ciência
da Informação procura conhecer, no sentido etimológico da palavra ci-
ência, e a Organização da Informação, como parte nuclear da Ciência da
Informação, como organizar?
Rafael Capurro e Birger Hjørland, no seu trabalho sobre o conceito
da informação (2003), traduzido também para o português (2007) e exten-
samente discutido no presente livro, sugeriram, citando Henning Spang-
Hanssen (1970), que talvez seria bom para a Ciência da Informação deixar
o conceito de informação sem uma definição formal. Talvez isso tenha sido
feito por muitos anos, mas, por outro lado, isso não significa que essa falta
de definição não tenha sido uma crescente preocupação na área, e até um
problema cada vez mais grave para sua identidade, considerando a multi-
plicidade de contextos nos quais ela pode ser estudada nos dias presentes.
Enquanto novas filosofias e teorias da informação têm surgido com
tentativas de colonização ou apropriação na área, um dos autores que foram
influentes desde as origens de sua institucionalização na Graduate Library
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-542-1.p17-20
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
18
School of the University of Chicago, e que Capurro e Hjørland mencio-
nam no seu texto de forma considerável, é o filósofo Charles Sanders Peirce
(Martínez-Ávila; Zandonade 2020). Jesse Shera, um dos fundadores da
primeira escola de pós-graduação na Ciência da Informação nos Estados
Unidos, e proponente da teoria da epistemologia social, no seu último tra-
balho publicado de maneira póstuma (Shera, 1983), reconhecia a impor-
tância de Charles Peirce e outros autores pragmatistas no desenvolvimento
de uma fundamentação teórica da Ciência da Informação, que nesse mo-
mento decidiu de chamar “interacionismo simbólico”. Nessa linha, a difícil
tarefa de continuar a pesquisa sobre a “matéria” da informação, que possa
ser considerada como fundamento e objeto da área, ficou inconclusa com
a morte de Shera. Enquanto o autor usou o termo “símbolo” no seu último
trabalho, outros autores na mesma linha, como László Ropolyi (2015),
também de maneira inconclusa, têm utilizado com o termo “signo” (suge-
rindo seu uso como uma escolha política e explicando as sutis diferenças
entre os dois em comunicação pessoal, veja Zandonade e Martínez-Ávila
(2024). A influência de Charles Peirce continua presente.
Estudar Peirce não é uma tarefa fácil, mas, neste sentido, Sônia de
Moraes tem as melhores credenciais possíveis, e isso se reflete de forma ex-
celente no livro, demonstrando um conhecimento sobre o autor que devo
reconhecer que vai muito além do meu. Aluna de alguns dos melhores
estudiosos de Peirce no Brasil e no mundo, tanto na Filosofia como o pro-
fessor Lauro Frederico Barbosa da Silveira no mestrado, como na Ciência
da Informação com o professor Carlos Cândido de Almeida no doutorado,
Sônia Cristina Bocardi de Moraes tem demonstrado o entendimento e a
aplicação das principais ideias do filósofo nessa intersecção das duas áreas,
finalizando seu percurso como discente na Ciência da Informação.
Durante o processo, compartilhamos reuniões do Grupo Acadêmico
de Estudos Cognitivos (GAEC) da Unesp, liderado e conduzido pelas
professoras Maria Eunice Quilice Gonzalez e Mariana Claudia Broens do
Departamento de Filosofia, e do Grupo de Pesquisa Fundamentos Teóricos
da Informação (GPFTI), liderado pelo professor Carlos Almeida. Em to-
das as reuniões, acontecimentos e publicações, Sonia de Moraes sempre
brilhou e se destacou pelo profundo conhecimento da filosofia de Peirce,
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
19
que sempre lutou por inserir a Ciência da Informação de forma purista
(veja por exemplo Moraes e Almeida, 2020).
O presente livro, do qual tenho o grande privilégio de participar
neste prefácio, e também como testemunha de seu processo de criação
ao longo de sua formação acadêmica; e ao mesmo tempo a culminação,
compêndio e ponto de partida dos passos da autora. Culminação de uma
trajetória excelente, compêndio de muitas das ideias presentes no seu tra-
balho e filosofia, e ao mesmo tempo como ponto de partida de uma traje-
tória que continua e proporciona muitos subsídios na área da Ciência da
Informação. Como pesquisador da área e colega, para mim é uma honra
escrever estas linhas, mas desde já coloco que o melhor se apresenta na
continuação. Obrigado Sônia por sua contribuição.
Daniel Martínez Ávila
Março de 2024
RefeRências
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MORAES, Sônia Cristina Bocardi; ALMEIDA, Carlos Cândido. Considerações
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Sônia Cristina Bocardi de Moraes
20
ROPOLYI, László. Sign and information: form and content. In: ISIS SUMMIT
VIENNA 2015—THE INFORMATION SOCIETY AT THE CROSSROADS, 4.,
2015. Viana. Proceedings [...]. Base: SCIFORUM, 2015. Disponível em: https://
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marilia.unesp.br/index.php/bjis/article/view/15548. Acesso em: 20 fev. 2024.
21
1
INTRODUÇÃO
O Período Moderno da História tem seu começo descrito logo depois
da Idade Média, com as navegações mercantis feitas pelos europeus. Elas
inauguram um sistema de relações no qual o modelo econômico faz circular
pessoas e mercadorias por lugares cada vez mais distantes do centro comer-
cial situado na Europa, levando o homem moderno a um percurso de mais
de quinhentos anos (Janson; Janson; Camargo, 2009). A atuação da socieda-
de ocidental, no período histórico que compreende a modernidade, tem seu
processo de formação e evolução sendo conformado desde o Renascimento,
apesar de haver divergência nas datas de início deste período entre os histo-
riadores. A ocupação dos europeus feita em outras terras na América, África
e Ásia tem como condição principal a exploração de recursos nativos nestas
terras dominadas, sejam eles físicos, naturais, humanos.
Entende-se que perspectiva1 é o modo de analisar uma determinada
situação ou objeto, ou seja, um ponto de vista sobre uma situação determi-
nada. Em um grupo de pessoas, pode haver diferentes perspectivas, já que
cada pessoa possui um posicionamento particular sobre a situação focali-
Usada na representação artística, uma definição clara da técnica de perspectiva é a seguinte: “A perspectiva
é a arte que se dedica à representação de objetos tridimensionais numa superfície bidimensional (isto
é, plana) com o objetivo de recriar a posição relativa e a profundidade desses objetos. A finalidade da
perspectiva é, por conseguinte, reproduzir a forma e a disposição segundo a qual os objetos se apresentam
ao olho do observador.” (Conceito…, 2019. Disponível em: https://conceito.de/perspectiva. Acesso em:
13 jul. 2020).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
22
zada. Esta noção, colocada a partir da Idade Média para mudar a maneira
de representação pictórica, traduz a maneira pela qual o conhecimento
científico passa a ser elaborado (Merrel, 2012). O Iluminismo, como fruto
deste transcurso, passa a conceber o homem como centro das relações e,
mais do que isso, detentor dos poderes científicos que davam instrumentos
para intervir, modificar, “domar” a natureza. Este conjunto cultural e eco-
nômico é o que caracteriza o pensamento moderno.
Pari passu aos avanços científicos que tiveram grande desenvolvimento
na Europa após o Renascimento, é possível atrelar o desenvolvimento econô-
mico. O surgimento e fortalecimento social da classe burguesa, nesta época,
foram acelerados com os lucros econômicos das transações comerciais. Para
isso, a colonização e a exploração das novas terras dominadas, principalmen-
te na América, têm papel decisivo, pois o progresso das explorações de mi-
nérios, agricultura da cana de açúcar e o tráfico de pessoas da África faziam
esta maneira de entender o domínio da natureza e das condições que a ela se
remetiam, justificadas pela cientificidade que esmiúça e destrincha em partes
para ter o domínio completo daquela situação. A produção cultural euro-
peia no século XVII se concentrou especialmente na França, na Inglaterra
e na Holanda, porque foi nesses países que o desenvolvimento do capital
mercantil fez surgir uma burguesia enriquecida e ávida de desenvolvimento
tecnológico-cultural (Janson; Janson; Camargo, 2009).
A ciência no Iluminismo estava atrelada ao experimento. O fato a ser
verificado, medido e quantificado passa a ser mais importante que sua aná-
lise “metafísica”. A verificação experimental é aquilo que dá veracidade ao
fato científico. A experiência que gera aprendizagem, mediante aquilo que
acontece bem ou mal sucedido ao sujeito, diferencia-se do saber científico
que deve ser passível de método e experimentações repetidas, devendo ser
universal. A ideia de ciência experimental, na qual a experiência é trans-
formada em experimento (Bondia, 2002, p. 28), apresenta a regularidade
dos eventos, sobretudo aqueles da natureza, a partir dos quais é possível
dominar esta natureza.
Segundo o Iluminismo, a ética, a estética e a metafísica são subjeti-
vas, portanto sem valor científico. Entretanto, a ciência nesta concepção
não está apta a explicar, mas apenas a descrever a maneira como os fe-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
23
nômenos ocorrem. Para isso, o método cartesiano da dúvida requer uma
separação em muitas partes verificáveis e manipuláveis, funcionando com
maior eficiência (Descartes,1983).
Assim, tudo o que não seja palpável, visível e passível de ser sentido
objetivamente pelo homem e que, portanto, tende a ser “induzido”, não é
racional e deve sair da filosofia. Quanto maior o avanço científico e tecno-
lógico, maior a capacidade de controle de fenômenos naturais, alguns deles
desconhecidos pela sociedade. A eletricidade é um exemplo, como fonte
energética, com a sua importância para a produção industrial, tem um
percurso de utilização como recurso explorado para benefício do homem
sem nenhum questionamento desta exploração, inclusive nos dias de hoje.
De outro modo, sem a preocupação em longo prazo das consequências de
sua obtenção com a modificação do curso dos rios, alteração dos biomas e
ecossistemas, como ocorre no caso brasileiro. Já a energia solar, enquanto
fonte de eletricidade, começa a ser explorada em larga escala apenas no
século XXI. O entendimento da sociedade atual que produz conhecimento
compartilhado necessariamente passa pela maneira pela qual ela trata seus
elementos humanos e ambientais. Nesta relação, a atuação conjunta de
disciplinas pode conduzir a esclarecimentos e maneiras de abordar o trata-
mento e direcionamento da informação.
Entender o processo social é entender a maneira de atuação e repre-
sentação da sociedade. No caso da sociedade capitalista, hoje hegemônica
em praticamente todo o planeta, a maneira de atuação social tem seus
reflexos passíveis de atuação dependendo da significação e inter-relação
entre os diversos aspectos que constituem o complexo sistema de atuação
da sociedade globalizada. A pós-modernidade, mais do que um conceito
que possa definir a condição atual, traz o questionamento do pensamento
moderno (Harvey, 1992).
O período moderno da história, atrelado ao pensamento científico
instaurado nos últimos séculos, deve ser diferenciado da modernidade en-
quanto movimento artístico cultural do século XX que acrescenta o caráter
de novidade e avanço tecnológico, característicos no século XX, quando
o movimento moderno na arte e arquitetura é instaurado (Ascher, 2010).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
24
Mesmo não sendo uma condição cronológica, a pós-modernidade
carrega consigo toda a tradição de hábitos, de formas de atuação cultural,
cristalizados na reprodução e expansão do capital iniciada séculos atrás.
Vários aspectos desta atuação podem ser entendidos através da maneira
pela qual a representação destas condições é apresentada. A maneira de
fazer ciência solidificada no Iluminismo, com seus desdobramentos positi-
vistas, tem as limitações questionadas pela própria ciência apenas no século
XX, que até o momento era detentora absoluta dos critérios de verdade
justificada, para explicação da realidade para a sociedade que a produz.
O pesquisador tem compromisso ético com o resultado prático de
seu trabalho. A ciência não é isenta dos resultados sociais. O método, ao
mesmo tempo em que dá suporte, reduz as possibilidades da pesquisa. A
evolução fica perdida na falta de novas opções, apenas reproduzindo aque-
le modelo existente. O método não pode dizer o que o pesquisador quer
que seja dito, mas avaliar o procedimento. A interlocução, ou o inter-re-
lacionamento, é troca de aprendizado, uma vez que o poder de decisão da
comunidade científica atua definindo os critérios de validade das políticas
de pesquisa, e sobre o direcionamento que elas devem ter. São os pares
que determinam os caminhos a serem fomentados, num jogo de poder
político, cultural e econômico. A partir da validade, isto não se transforma
em dogma; a evolução científica está nesta revalidação dos conhecimentos,
verificáveis de maneira periódica e evolucionária.
A pesquisa epistemológica atrelada à produção de informação é de ex-
trema importância, uma vez que o conhecimento e sua estruturação são ma-
térias caras à disciplina que, dentre outras atividades, dedica-se a organizar e a
recuperar a informação enquanto base para uma expansão do conhecimento.
A disseminação de informação, vista no seu processo histórico, tem
a oralidade transposta para a escrita, além dos artefatos construídos pelo
homem que transmitem informação e conhecimento, e ganha destaque
com a velocidade e eficiência da tecnologia empregada nos meios de co-
municação. A disseminação ou democratização do conhecimento tem o
contexto e o público de interesse em determinado assunto como o critério
de relevância para a circulação, veiculação de informação e conhecimento,
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
25
tido em primeira instância como a transferência de ideias entre seres hu-
manos (Burke, 2016).
As maneiras de organizar e recuperar a informação estão na base do
conhecimento científico que se caracteriza pela evolução da produção do
pensamento humano, desde antes destes registros serem feitos de maneira
intencional pela escrita. Os signos que perpassam culturas e gerações são le-
gados passíveis de interpretação e geração de conhecimento ao longo da his-
tória. A simbologia cultural de cada comunidade, ou sociedade, ao longo da
história, deixa registros em substratos físicos, sejam eles livros, obras de arte,
utensílios pré-históricos, ferramentas, construções arquitetônicas, e demais
variados construtos humanos que demonstrem a tecnologia e a representa-
ção do ambiente no qual estão inseridos. Os vários substratos físicos, com
a materialidade característica de cada apresentação, nos quais a informação
pode ser acessível, ganham maior entendimento desta possível diversidade à
medida que os meios de comunicação tendem a disponibilizar tecnologias
nas quais a razão, mais do que a capacidade linguística, tem importância.
Perceber a capacidade de tratamento, organização e recuperação de
dados, de informação que não são viabilizados apenas pela língua falada,
ou escrita, melhor dizendo, nos leva a identificar em outras áreas do co-
nhecimento aquilo que significa a transmissão de sinais que não estão vin-
culados necessariamente à forma alfabética de expressão. A convenção da
escrita, que tem sido fundamental para a civilização da qual fazemos parte,
com a capacidade de interação entre racionalidade e tecnologia, avança
para a diversificação destas possibilidades de comunicação, que têm uma
associação cada vez maior às multimídias.
Na Ciência da Informação, a mediação da informação consiste na
relação entre o profissional da informação, ou seja, o indivíduo responsável
pela custódia e disponibilização de acesso à informação, para outro indiví-
duo, que é o usuário desta percepção e aprendizagem do conteúdo consi-
derado informacional. O conjunto de práticas e regras é institucionalizado,
de forma a capacitar a relação entre o profissional facilitador da informação
e o usuário (Silva, 2015, p. 103-104).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
26
A capacidade de tratamento e mediação do conhecimento depen-
de tanto do signo que é transmitido quanto da capacidade de articulação
dos sinais que são percebidos pelo intérprete. A mediação da informação
deve ser entendida à maneira semiótica – ciência geral dos signos –, como
será visto adiante. Esta mediação feita pelo signo envolve um sentido mais
amplo do que aquele possível, por exemplo, em uma biblioteca, pois toda
percepção e entendimento da realidade podem ser mediados. A articulação
dos signos não está restrita à capacidade humana, ou seja, a articulação na
semiose promovida pelo signo. A mediação do signo, que liga o objeto ao
interpretante, é uma relação lógica e não está limitada àquela social, entre
indivíduos. Assim, as informações consideradas signos fazem parte tam-
bém da natureza e não estão apenas nos códigos criados por humanos, são
passíveis de delimitar o campo informacional em vários modos de signi-
ficação que não estão restritos àqueles humanos que fazem a mediação da
informação custodiada institucionalmente.
O tratamento epistemológico do conceito de informação deve ser
objeto de reflexão constante da ciência, em especial a que se dedica à infor-
mação, tanto quanto as maneiras pelas quais uma comunidade é capaz de
transformar seu conteúdo, que está relacionado com as condições sociais,
históricas e culturais para reunir condições de se desenvolverem.
Este trabalho tem como problema saber como os conceitos de infor-
mação, presentes na Ciência da Informação, os quais também são utilizados
para Organização da Informação, podem receber contribuição do pragma-
tismo de Charles Sanders Peirce (1839-1914). Filósofo norte-americano,
ele nasce em 10 de setembro de 1839 em Cambridge, Massachusetts, e,
em 19 de abril de 1914, morre em Milford, Pensilvânia. Peirce se formou
em Química na Universidade Harvard, aos 20 anos. Trabalhou na United
States Coast and Geodetic Survey no período de 1859 a 1891, atuando como
geofísico e astrônomo. De 1878 até 1883, trabalha na Universidade Johns
Hopkins, exercendo profissionalmente sua vocação de lógico. Seus escritos se
estendem de 1857 até perto de sua morte, um período de aproximadamente
57 anos. Esta breve biografia pode ser ampliada, uma vez que ele escreveu
sobre variados temas, disciplinas científicas diversas, incluindo Matemática,
Ciências Físicas, Economia, Psicologia e outras ciências sociais.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
27
Neste trabalho, os assuntos tratados sobre a filosofia peirceana serão
aqueles que, a partir da semiótica, dão subsídios para entender a concep-
ção de pragmatismo. Estabelecidos os elementos preliminares, intenta-se
transpor a perspectiva epistemológica do pragmatismo peirceano à Ciência
da Informação.
O Pragmatismo, enquanto método científico, coloca as articulações
lógicas e o processo de significação fundamentando a pesquisa, não apenas
enquanto uma ação para um fim determinado. A lógica, para Peirce, é um
outro nome para semiótica, a ciência que trata da articulação dos signos.
Aprofundar a maneira peirceana de entender a significação é uma maneira
de conhecer o funcionamento da informação, proporcionada pela semiose
(ação dos signos) na construção de novos interpretantes (resumidamente,
efeito do signo).
A investigação do pragmatismo deve distinguir o termo da “pragmá-
tica” usada na linguística, além das diferenças nas abordagens de autores
subsequentes a Peirce que incorporam, cada qual com sua própria visão, o
termo pragmatismo. Na Ciência da Informação, quando é vista a funda-
ção epistemológica do tratamento da informação vários autores (Almeida
2009, 2011, 2013; Araújo, 2014a; Barité, 2001; Borko, 1968; Brascher;
Café, 2008; Buckland, 1991, 1997; Capurro; Hjørland, 2003; Capurro,
2007; Dahlberg,1978, 2014; Fonseca, 2004; Frohmann, 2008, Kobashi;
Fernandes, 2009; Mai, 2000a, 2000b, 2001, 2005; Saracevic, 1975, 1995,
2007) têm a preocupação com a delimitação do campo epistemológico.
Considera-se também que os fundamentos têm sua revisão tomada a partir
do pragmatismo peirceano.
Este entendimento acrescenta uma perspectiva pouco usual, como
é o caso do conceito de “informação”. A revisão daquilo que é elemento
de representação, usado para recuperação da informação, está na base da
informação enquanto promotora de conhecimento em evolução.
O substrato físico, a forma material pela qual a informação é trans-
mitida, pode variar, porém, a maneira de trazer informação e adensar, di-
versificar e expandir o conhecimento depende da maneira como ele é per-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
28
cebido, levando-se em conta a diversidade de meios de transmissão desta
significação a ser trabalhada, além da forma escrita.
As maneiras de perceber a informação e as possibilidades de transfor-
mação desta informação em conhecimento estão no escopo do pragmatis-
mo peirceano, portanto, quando se trata da maneira de articular os signos
temos instrumentos para significar informação. Desta forma, o processo
informacional não é apenas produto ou fim de vinculação de determinados
dados, mas é parte do processo que tende a ser evolucionário. A comuni-
cação associada ao processo informacional, mediado por signos, capacita
a transmissão de conhecimento. As contribuições do método pragmático
às maneiras pelas quais a Ciência da Informação investiga a documentação
científica podem ser as mesmas realizadas em relação ao objeto de estudo
de outras disciplinas, usando a significação correspondente, cada qual ao
seu objeto de estudo.
As tecnologias de transmissão de dados ou quaisquer outras manei-
ras de reconhecimento da informação, nos seus vários substratos físicos
será considerado apenas como a evolução de um processo mediado por
signos. Evolução esta que tem nos elementos físicos incrementos tecno-
lógicos que permitem uma sofisticação na relação entre signo o objeto,
proporcionando outros conhecimentos que não são apenas aqueles que os
sentidos humanos são capazes de identificar e interagir enquanto mente.
A informação usada para comunicação na sociedade moderna e con-
temporânea tem várias possibilidades de entendimento, seja pelos diferen-
tes conceitos de informação ou pelas maneiras de entender comunicação.
A teoria matemática da comunicação (vista no capítulo 1) quando retira
a significação como elemento principal, no momento em que ocorre a
transmissão fiel de uma mensagem, abre novas possibilidades de relacionar
emissor e receptor. Ainda assim, a transmissão de sinais fielmente codifi-
cados entre emissor e receptor deve ter significado para validar o processo
de envio de mensagem. A comunicação enquanto semiose é um processo
interativo cuja ação do signo, não apenas do sujeito, é o processo funda-
mental. A comunicação está num processo interativo que liga o indivíduo
ao ambiente, proporcionando assim conhecimento do mundo (Machado;
Romanini, 2010, p. 93).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
29
A associação dos argumentos e a sequência que pretende confirmar a
hipótese, e com este encadeamento confirmar a busca dos objetivos propos-
tos não tem um percurso linear. Ao associar e comparar elementos tanto no
campo da ciência da informação, quanto naqueles vindos do pensamento
peirceano, a abertura de julgamento e aceitação podem variar de acordo
com as concepções de cada leitor. É importante pontuar, no entanto, que
as bases da interdisciplinaridade estão na influência inexata na delimitação
destas bases conceituais inerentes a cada área de conhecimento.
O objetivo desta contribuição é fomentar, na Ciência da Informação,
elementos para a discussão do conceito de informação. A questão da ca-
racterização de informação é central para esta área científica. A falta de
consenso na definição da informação faz da pesquisa um instrumento para
revisar o papel multidisciplinar da Ciência da Informação. O conjunto de
disciplinas do conhecimento que tem o papel de classificação, custódia e
recuperação de informação para os vários campos de conhecimento tem
tanto na formação de profissionais de informação, quanto na possibilidade
da rede mundial de computadores, maneiras próprias de acessar a infor-
mação que pode ser transformada em conhecimento. A discussão do con-
ceito de informação e esta aquisição de conhecimento enquanto matéria
necessária para a custódia da informação nas diversas disciplinas é um dos
objetivos secundários desta pesquisa, que suporta o primeiro.
Este trabalho pretende colaborar com o estudo e delimitação do
conceito de informação dentro da Ciência da informação, um ponto fun-
damental para a delimitação do escopo das disciplinas que compõem a
área. Aliado a isto, será vista a definição de informação enquanto processo
criativo, que introduz o caráter de novidade ao comunicar informação por
meio de uma forma. O método pragmático transposto para vários proces-
sos em formas diferentes tem a condução do desenrolar lógico que oferece
à representação do processo as novas formas de entendimento nas várias
disciplinas de conhecimento.
Nesse sentido, a pesquisa se vale dos estudos epistemológicos pro-
duzidos pela Ciência da Informação. A perspectiva de procedimento prag-
matista na investigação propicia mostrar uma abordagem em ciência da
informação tratada por este viés pragmático. Sendo assim, este trabalho
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
30
tem como objetivo geral: analisar as contribuições do pragmatismo peirceano
para a concepção de informação na ciência da informação, em especial, os seus
desdobramentos em áreas como a organização do conhecimento.
Para tanto, foi proposto como objetivos específicos: examinar os
principais aspectos da obra de Charles Peirce ligados ao tema da pesqui-
sa; sistematizar os pressupostos epistemológicos da Ciência da Informação
e da Organização do Conhecimento, com vistas à perspectiva pragmáti-
ca; analisar as influências do pragmatismo e da pragmática na Ciência da
Informação; propor uma abordagem pragmatista para a concepção de in-
formação visando colaborar com o debate na Ciência da Informação, bem
como apontar desdobramentos aplicados à Organização do Conhecimento.
Embora as publicações de Peirce2 em vida tenham sido poucas, sua
produção intelectual ocorreu intensamente durante toda sua vida. Seus
estudos em lógica das classes e das relações sígnicas, a teoria dos signos,
método científico, pragmatismo, probabilidade e indução, e análise lógica
da matemática são alguns dos temas discorridos na imensa quantidade de
manuscritos deixados por ele.
Seus “Collected Papers” publicados postumamente contém oito volumes, dos quais o I ao VI foram editados
por Charles Hartshorne e Paul Weiss (Cambridge, MA: Harvard University Press) entre os anos 1931 e
1935; os dois últimos volumes reúnem seus manuscritos, os VII e VIII volumes são editados por Arthur
W. Burks, pela mesma editora em 1958; e posteriormente existe a edição eletrônica que é uma cópia desta
impressa. Estes manuscritos datam desde 1866 até 1913. No último, ou seja o Volume VIII estão compilados
os artigos impressos e publicados, as correspondências feitas com autores e intelectuais contemporâneos de
Peirce. Portanto não tem o caráter de novidade para a época da publicação, como os manuscritos até aquele
momento desconhecidos e publicados nos volumes anteriores. A obra peirceana tem seus escritos também
publicados em ordem cronológica (Writings of Charles S. Peirce: a chronological edition), o que possibilita
acompanhar a evolução do conceito de significação enquanto investigação científica até o desenvolvimento
de sua cosmologia, parte das investigações filosóficas de um cientista maduro, já no final da vida. Devido
à forma incomum da publicação póstuma dos escritos de Peirce (1839-1914) nos Collected Papers (em
1931 e 1958), será seguida a maneira convencionada pelos estudiosos do autor para citação. CP nos indica
Collected Papers: o primeiro número corresponde ao volume e o segundo ao parágrafo. Será usada desta
maneira a referência quando for citada esta publicação de Charles S. Peirce neste trabalho. Além disto,
para situar a evolução do pensamento peirceano e suas descobertas científicas, atreladas à discussão dos
assuntos no decorrer do trabalho, será acrescentado também o ano no qual parágrafo mencionado foi
escrito. Portanto, toda referência dos Collected Papers neste trabalho deverá conter o parágrafo e ano de
escrita do referido parágrafo. O uso desta marcação de referência para as citações está justificado pela maior
precisão que este sistema de referências inclui, uma vez que os escritos dispostos em meios digitais não tem
a paginação necessária para seguir a norma ABNT. Para um acompanhamento mais preciso das publicações
do autor, nossa tradução terá o original em inglês como nota de rodapé.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
31
Apresentar o método pragmático e suas possibilidades de evolu-
ção nas diversas áreas do conhecimento, e em particular na Ciência da
Informação, não é tarefa fácil.
A revisão bibliográfica realizada nesta pesquisa tem como base as
publicações realizadas nos Collected Papers, por ser, de fato, a publicação
mais abrangente e completa e, eventualmente, demais publicações da obra
peirceana. O amadurecimento da filosofia peirceana e o processo de cons-
trução do pragmatismo enquanto doutrina nos conduz à inclusão da data
atribuída aos escritos peirceanos, o que oferece ao leitor um acompanha-
mento deste percurso de evolução das constatações representadas por ele.
Esta pesquisa contempla a representação dos conceitos de modo a
promover o entendimento do pragmatismo peirceano enquanto concep-
ção interdisciplinar, enquanto método científico desenvolvido por Charles
Sanders Peirce, para o substrato de compreensão de várias descobertas
ocorridas em disciplinas diferentes, além das possibilidades de análise dos
elementos da natureza. Fundamental para a pesquisa científica, o método
pragmático deve ser estendido também a Ciência da Informação.
Não se intenciona estudar as várias correntes pragmáticas, ou manei-
ras de obter uma possibilidade prática de aplicação semiótica na Ciência
da Informação. A ideia central é demonstrar as bases do entendimento
peirceano para a fundamentação epistemológica em ciência da informação.
Considera-se que a ciência que investiga a gestão, a organização, a
representação, a mediação e o uso da informação deve reservar um espaço
para a reflexão sobre o conceito de informação. Os eixos temáticos a partir
dos quais os estudos são propostos têm, no pragmatismo peirceano, uma
perspectiva de interação e continuidade, uma vez que o processo informa-
cional, considerado como o viés de relação entre os estágios de produção,
organização e mediação, constitui-se em etapas interligadas no fluxo de in-
formação, fazendo a ligação e a continuidade entre as etapas didaticamente
distinguidas.
A investigação do conceito de informação é um dos fundamentos
da ciência que delimita seu campo a partir da própria concepção de in-
formação. A Teoria Matemática da Informação (Shannon; Weaver, 1964),
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
32
que contabiliza a capacidade de fidelidade da informação, e é medida
objetivamente entre emissor e receptor, coloca a comunicação razoável
como um critério para informação. O conteúdo informacional para Borko
(1968) implica na própria definição da Ciência da Informação. A infor-
mação deve ser tratada como informação científica, para estar no âmbito
da Ciência da informação (Belkin, 1975). A informação para ser conhe-
cimento (Buckland, 1991) transita entre a informação como coisa, passa
pelo processo, para ser conhecimento dentro da Ciência da Informação.
Para Saravecic (1995, p. 1) recuperar a informação, e a evolução da infor-
mação são tarefas da Ciência da Informação atreladas ao comportamento
social de difusão da informação, variando suas abordagens dependendo do
contexto social e tecnológico.
A visão cognitiva de informação inclui por um lado o conceito ob-
jetivo; e por outro o subjetivo, interpretativo da informação, no qual a
análise de domínio está incorporada na Ciência da Informação (Capurro;
Hjørland, 2003). O interesse de ação em determinado contexto social por
um sujeito é tratado de acordo com suas necessidades informacionais pela
Ciência da Informação (Gonzáles de Gómez, 2006). Ainda, as consequ-
ências e efeitos da materialidade da informação (Frohmann, 2008) são os
estudos da documentação na Ciência da Informação. A representação da
informação é um processo usado para descrever atributos de um objeto
representacional (Brascher; Café, 2008). De maneira similar, informação
documentária é o processo materializado das operações de representação
de um documento, com ações de informação (Kobashi; Fernandes, 2009).
Considerada uma ciência que segue buscando uma definição de seus
pressupostos (Fernandes; Kobashi, 2009), de demarcar mais amplamente
possível o que é informação a ser tratada cientificamente, a proposta da
concepção lógico-científica peirceana traz, além do conceito de informa-
ção, a definição de informação que pode ser comprovada cientificamente
para a Ciência da Informação.
Esta pesquisa trata da informação, não necessariamente da recupe-
ração dos conteúdos informacionais, mas da explicação da filosofia peirce-
ana ao problema da informação, relacionando, para tanto, temas deriva-
dos oriundos da organização do conhecimento. Trazer este conteúdo para
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
33
os organizadores e fomentadores de conhecimento é papel da Ciência da
Informação, uma vez que permite “dialogar, dentro dela, as contribuições
das diferentes áreas do conhecimento” (Araújo, 2014a, p. 119). Neste sen-
tido, a filosofia peirceana, em especial o pragmatismo e a semiótica, tratam
do método científico em várias disciplinas e da organização da significação
que produz e transmite conhecimento.
Esta pesquisa primeiramente faz um enfoque daquilo que é conside-
rado um panorama da Ciência da Informação, para então relacionar esta
condição ao pensamento peirceano.
A premissa inicial é a aceitação de que o signo permeia os processos
informacionais e de comunicação entre seres humanos. O processo de sig-
nificação é um encadeamento lógico, passível de comprovação verdadeira,
o que leva ao conhecimento verdadeiro.
A composição entre o pensamento peirceano e a atuação da Ciência
da Informação é baseada no desempenho do profissional de informação
que utiliza os fundamentos de organização da informação custodiada para
o usuário, e também no uso abrangente da informação que permeia a atu-
ação do cidadão que tem sua atividade cotidiana baseada em trocas de
informação com seu contexto, seu meio ambiente.
A abordagem das possibilidades de interdisciplinaridade e a discus-
são de tratamento pós-moderno do contexto científico possibilitam a rela-
ção entre a atuação, dentro da Ciência da Informação enquanto discipli-
na científica, e o pensamento pragmático vindo da filosofia. Os exemplos
usados de interposição de assuntos entre os tratamentos em disciplinas
diferentes reforçam o argumento a ser usado no capítulo seguinte, que é o
tratamento peirceano da ciência.
A elaboração da pesquisa começa delineando um panorama daquilo
que é considerado interessante para a definição do campo da Ciência da
Informação. O percurso histórico e o papel da custódia de documentação,
dentro da Ciência da Informação são base de estudos múltiplos sobre o papel
social que a informação e o acesso a ela desempenham num contexto social.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
34
A institucionalização dos modelos de classificação e custódia para
recuperação da informação são discussões ainda presentes para a consoli-
dação da área compreendida pela Ciência da Informação. Contendo múl-
tiplos enfoques, é sabido que alguns deles não serão contemplados a con-
tento pelas vertentes mais especializadas dentro do cenário da área. Ainda
assim, a proposta de partilhar as questões é parte do processo de pesquisa.
No primeiro capítulo, a discussão dos fundamentos de organização
da informação e o conceito de informação aceitos na Ciência da Informação
são vistos. Tendo como objetivo da pesquisa a divulgação do pragmatismo
peirceano na Ciência da Informação, a atenção dos recortes para nortear e
articular a argumentação do trabalho está focada nos elementos que reme-
tem ou têm ligação com a atuação do signo. Assim, ação do sujeito e aqui-
sição do conhecimento, têm maior atenção na revisão dos fundamentos
que compõem a área da Ciência da Informação. Os fundamentos atrelados
ao termo “conceito”, o uso da linguística e, principalmente, a concepção de
informação são importantes neste primeiro capítulo, que inicia o trabalho
de pesquisa a ser desenvolvido nos subsequentes.
Veremos também, no primeiro capítulo, a busca da interdisciplinari-
dade das ditas pesquisas pós-modernas, nas quais a diversidade e abrangên-
cia da pesquisa epistemológica do conceito de informação são localizadas.
Delinear o pensamento moderno e a transição para outros entendimentos
do conhecimento chamados de pós-modernos ajuda a interpretar a me-
todologia pragmatista no âmbito do conhecimento, na maneira atual de
trabalhar a informação. Em tempos nos quais a velocidade de mudança de
dados e, por consequência, dos meios para entender e trabalhar estes dados
são tão dinâmicos, a condição de verificação deve ter uma metodologia
que atenda a caraterística científica de tratamento daquilo que pode ser
considerado informação.
Uma vez que o objetivo do trabalho é propor uma aceitação da me-
todologia pragmatista peirceana enquanto disciplina capaz de suprir, tanto
o entendimento daquilo que é chamado informação, quanto o manuseio
da informação com vistas a organizar e recuperar os processos de infor-
mação e geração de conhecimento, é importante vislumbrar o panorama
de algumas outras disciplinas também consideradas pós-modernas. Isso
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
35
porque o pragmatismo mais do que uma “solução”, oferece uma metodo-
logia interdisciplinar que tem a tendência a se tornar eficaz para, em cada
especialidade que se pretenda, trabalhar o método científico.
Dentre os autores trabalhados, Hjørland foi escolhido para um tra-
balho mais aprofundado, a ser feito em um recorte para o tratamento do
pragmatismo em capítulo posterior. O reconhecimento pelos pares na
Ciência da Informação e o extenso trabalho de investigação epistemológica
encontrado nas publicações foram motivos para a escolha do autor, além
do fato de focar a atuação de maneira pragmática. A sequência cronológica
de publicações nas quais os fundamentos da área contemplada pela Ciência
da Informação e a concepção de informação foram trabalhadas, promovem
a escolha de Hjørland para este exercício metodológico de exame e comen-
tário da aplicação do pragmatismo nas publicações realizadas pelo autor.
A ação do signo e o pragmatismo estão presentes nos estudos epis-
temológicos tratados na Ciência da Informação em áreas complementares
como linguística, classificação, indexação. A opção metodológica não foi
por levantar um inventário destes usos, mas valer-se de alguns exemplos
para consolidar a posição defendida pela tese que é a aceitação do pragma-
tismo peirceano como método que oferece condições científicas de atuação.
Feito um panorama dos aspectos relevantes para a atuação num pro-
cesso de significação na Ciência da Informação, os dois capítulos seguintes
tratam da filosofia peirceana. O Capítulo 3 começa pela arquitetura das ci-
ências, que é um trabalho feito por Peirce já com idade avançada, quando a
constatação do pragmatismo como método está estruturada cientificamente.
A informação enquanto ciência não se limita ao repertório escrito.
A diversificação das matrizes que transmitem informação é cada vez mais
dinâmica. Forma diádica do signo que é aquele representante que sim-
boliza, indica alguma coisa, está no lugar de alguma coisa é plenamente
entendido e aceito. A ideia ou o objeto físico que está no lugar de outro
para dar um significado que assemelhe e identifique ambas as coisas é o
que aprendemos por sinal. Fazer um sinal é assinalar a maneira pela qual a
comunicação é feita. Desta dicotomia entre o sinal e aquilo que ele pode
significar temos a concepção peirceana da maneira como esta mediação
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
36
entre o signo, aquilo o que ele pode representar, e as possibilidades que
podem vir desta mediação entre o signo e aquilo que ele quer representar.
Estes “passos” da relação de mediação são descritos de uma forma
didática por Santaella (2012, p. 81): 1) “o signo é determinado pelo obje-
to”, assim temos um objeto, fenômeno, ideia que vai ter outro sinal como
uma equivalência de existência, assim o objeto tem um signo de referência.
2) “O signo representa o objeto”, e isto é a função do signo, estar no lugar
de alguma coisa, representar alguma coisa. 3) “o signo só pode representar
seu objeto parcialmente” pois, uma vez que o signo representa o objeto em
alguma medida, algum aspecto, a totalidade do objeto é apenas ele pró-
prio, o objeto, que possui sua identidade em todos os aspectos. 4) “pode
até mesmo representá-lo (o signo) falsamente”. O signo pode inclusive
representar o objeto falsamente, pois o significado uma vez que acontece
a mediação, pode ter uma referência que não condiz àquele objeto e a re-
lação entre signo e objeto não se realiza. 5) “representar o objeto significa
que o signo está apto a afetar uma mente, isto é, produzir nela algum tipo
de efeito”. Este efeito é de fato aquilo que o signo preconiza, de forma mais
restrita, produzindo apenas um significado, ou de uma maneira mais am-
pla dando possibilidades de significado com maior capacidade de interpre-
tação. Capacidade de variação esta que não é divergente, mas sujeita a um
repertório semelhante de interpretação. 6) “Este efeito produzido é cha-
mado interpretante do signo”. O interpretante sendo um efeito causado
em uma mente, que não é necessariamente a mente humana, é um efeito
causado pelo signo que tem uma relação com o objeto do qual ele procede,
é o signo quem produz um interpretante. 7) “o interpretante é imediata-
mente determinado pelo signo, e mediatamente determinado pelo objeto”.
O signo, uma vez que não tem o significado nele mesmo, é uma relação,
uma mediação entre o objeto e o efeito que ele irá causar em uma mente.
Assim, o signo é determinado pelo objeto e determina o interpretante.
8) “o objeto também causa o interpretante mas através da mediação do
signo”. O interpretante acontece porque o signo possibilita que seu objeto
esteja de alguma maneira representado no interpretante. Tão importante
quanto entender que o signo não é ele mesmo apenas o significado em sua
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
37
ação, é entender que este interpretante é por sua vez um outro signo capaz
de realizar uma outra relação.
A carreira de lógico de Peirce tem nos escritos “A fixação das cren-
ças” (Peirce, 1974, CP 5.358, 1877) e “Como tornar nossas ideias claras
(Peirce, 1974, CP 5.388, 1878) o começo da investigação que faz do signo
o elemento de transição, dentro do processo lógico para obtenção de sig-
nificação verdadeira. Os desdobramentos desta concepção de raciocínio
por meio do encadeamento lógico do signo levam à construção através dos
anos de uma grande articulação filosófica reunidos em manuscritos sem
publicação no final da vida do pesquisador.
A exposição da “Arquitetura Metafísica”, no terceiro capítulo, escla-
rece ao leitor o papel da semiótica dentro das Ciências Normativas e ainda
o papel da Fenomenologia, conjuntamente com a extensa filosofia peircea-
na, nas ciências da descoberta, que são passíveis de entendimento aplicado
nas ciências práticas. A semiótica é caracterizada por ele como método,
exposta em tricotomias, está descrita de maneira a facilitar as subsequentes
exposições e ligações entre os argumentos apresentados, possibilitando sua
relação com a Ciência da Informação, no entendimento de trabalhos já
realizados, e naqueles que virão. A divisão dos signos, no mesmo capítulo,
fornece elementos para o entendimento dos tipos de argumento, e seus
desdobramentos de conceitos, derivados da abordagem lógica presentes no
pragmatismo em capítulo seguinte.
A pesquisa fez um levantamento bibliográfico do trabalho peirceano
para demonstrar e explicar o percurso lógico de aquisição de conhecimen-
to. A exposição da Arquitetura das Ciências no capítulo 3, iniciando os
estudos do pensamento peirceano é também um primeiro elemento de
relação da semiose com a organização do conhecimento. A preocupação
peirceana em fazer do método pragmático e do processo de significação
um método científico, quando divide as ciências da descoberta e ciências
aplicadas, faz a transposição da aquisição de conhecimento para a divul-
gação em cada área específica, ou cada disciplina científica pertinente às
descobertas realizadas que apresentam comprovação científica.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
38
A longa exposição da arquitetura das ciências e do papel da semiótica
com a classificação dos signos é fundamental para o entendimento da ação
do signo, e por decorrência do sujeito, do indivíduo em sociedade que faz
uso do signo e da informação. A ação numa comunidade, seja ela científica
ou com outros interesses sociais, leva a ação do sujeito na aquisição de co-
nhecimento e transformação da sociedade na qual está inserido. Discutir
o acesso à informação passa por esta capacidade de ação, mediado por
informação verdadeira.
A classificação dos signos é exposta na obra pois dá subsídios para
análise semiótica da linguagem que é tratada enquanto processo de co-
municação. Com a gama de enfoques que possa haver, tanto referente ao
termo informação quanto comunicação, nenhuma delas exclui o processo
relacional que faz deste tratamento dialógico fundamental para a signifi-
cação. A definição de “conceito” e a qualificação de signo degenerado são
importantes para delimitar a representação. Esta representação da infor-
mação, caracterizada enquanto signo, é fundamental para a organização
da informação, assim como a arquitetura das ciências é importante para a
organização do conhecimento.
Dentro da classificação dos signos, aquilo que é o encadeamento
lógico, possibilitado pela dedução para antecipação da comprovação ver-
dadeira, junto com a indução nos casos em que é possível executar o ex-
perimento consolida dentro do método científico a hipótese abdutiva que
traz a criação, a passagem da percepção, do fenômeno para o tratamento
lógico. A abdução, quando trata de questões colocadas nas ciências sociais,
tem fatores de percepção e entendimento que tiram a experimentação do
foco principal para a constatação das hipóteses.
O quarto capítulo, após apresentada a Semiótica dentro das Ciências
Normativas, possibilita, ao leitor, os elementos éticos de ação que de fato
apresentam o Método Pragmático. Mente, crença e hábito, na tríade que
estrutura os conceitos, têm então possibilidades de estruturar o comporta-
mento na ação ética.
O pragmatismo peirceano, tratado no quarto capítulo, vale-se da se-
miótica tratada no capítulo anterior para justificar o tratamento de mente
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
39
e a associação ao hábito dentro do processo evolucionário. Espera-se que
tenha sido suficiente a exposição das categorias e a transição entre primei-
ridade, secundidade e terceiridade para a relação de significação.
O quinto capítulo faz a exposição daquilo que é a capacidade lógica,
demonstrada na semiótica. A capacidade da semiose de incorporar para o
pragmatismo, a ética e estética, juntamente com a reposição das catego-
rias nos processos de atuação. A ação do signo teleologicamente guiado na
natureza, e o papel do acaso e a criatividade num processo evolucionário,
demonstram não apenas a lógica, mas a versão filosófica de Peirce para a
cosmologia, a incorporação de mente e matéria, pensamento e ação.
Neste capítulo, foi importante a concepção de mente incorporada
ao hábito, num processo evolucionário, que traz a experiência, e não o
experimentalismo, como papel mediador do signo que perpassa mente e
matéria, que é demonstrada no idealismo objetivo. O papel do signo como
mediador de realidade e existência, trazendo a informação na caracteri-
zação de um novo interpretante em busca do bem estético, eticamente
desenvolvido enquanto método de ação pode ser transposto para a ação de
qualquer tipo de mente.
É importante ressaltar também que a ação do signo, a ser percebido
enquanto processo lógico, por vezes pode ser confundido com a ação do
sujeito e sua mente que tem capacidade lógica de discernimento atrelada
às capacidades de percepção e às reações emocionais na sua atuação. A
análise destas circunstâncias nas quais há interação, a mistura destes pontos
de vista pode causar confusão. Considera-se aqui que mais do que uma
definição precisa, é importante a sequência de raciocínio que tende a uma
significação verdadeira.
O papel da intencionalidade, como possibilidade de incorporação
de racionalidade ao processo de atuação, ou ação teologicamente guiada,
é incorporado à maneira pragmática de ação, enquanto conjunto ético de
manifestação da conduta, atrelado às condições ambientais de interação
do indivíduo.
A ação do acaso na criação, assim como a espontaneidade da pri-
meiridade que oferece elementos para a abdução são contemplados na cos-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
40
mologia peirceana, numa relação de incorporação da mente relacionada à
matéria na aquisição de hábitos.
A continuidade entre mente e matéria e o Sinequismo no processo
evolucionário introduzem o processo pragmático, na busca contínua de
conhecimento e ação.
O pragmatismo, enquanto método traduz a ação no processo de sig-
nificação, considerando a semiose mediadora entre o signo e sua materiali-
zação enquanto representação desta mediação. A concepção daquilo que os
efeitos práticos, além da concepção do objeto incluem, na concepção deste
objeto, implica em uma compreensão da ação que traz, no pragmatismo, o
processo semiótico evolucionário.
Nos processos humanos, a expressão desta linguagem é traduzida
nos elementos culturais que são representação da atuação humana, pas-
síveis então de custódia e análise enquanto artefatos que podem produzir
conhecimento.
Ainda no quarto capítulo, a apresentação da forma, enquanto inter-
face do produto de um processo e matriz geradora de outros futuros, traz a
interdisciplinaridade presente no processo pragmático.
Situar o pensamento científico em tempos de difusão de notícias que
não correspondem à veracidade dos fatos e divulgação científica idônea,
tão cara a Ciência da Informação, tem, no pragmatismo, a visão da condu-
ção ética para contribuição à formação da sociedade de forma mais demo-
crática. A determinação da verdade pela ciência, e sua difusão na sociedade
com o respaldo ético da Ciência da informação, passa pela caracterização
das possibilidades de divulgação fundamentada da informação.
A concepção de ciência enquanto um processo contínuo, passível
de constante revisão e adequação ou aperfeiçoamento, faz da noção de
falibilismo o contraponto do constante aparecimento de novidade do pen-
samento moderno, uma vez que a falha é uma maneira de correção e nova
adequação e direcionamento daquilo que foi constatado.
Também está posicionada, neste capítulo, a exposição daquele signo
que tem referência extinguida na sua própria caracterização, chamado por
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
41
Peirce de signo degenerado. Este signo sem possibilidades revolucionárias,
porém indicativo, é parte importante da referência à representação contida
no signo.
O “pragmatismo” enquanto ação planejada que busca um fim é uma
simplificação imediatista, e o uso do termo sem a sua devida caracterização
é assunto do quinto capítulo que procura situar seu uso na Ciência da
Informação. A importância do quinto capítulo é o uso da sequência de
publicações que tratam de temas caros à Ciência da Informação para ques-
tionar a maneira como o pragmatismo é tratado dentro dela.
A escolha das publicações de Hjørland, como já enfatizada, foi fei-
ta tanto pela diversidade de temas abordados referentes aos fundamentos
da organização da informação e conhecimento quanto às pesquisas epis-
temológicas na área, aliados ao conceito de informação. A sequência de
publicações começa com a determinação e análise de domínio, essencial
para a delimitação de um campo de atuação na Ciência da Informação e
formação do conhecimento.
Durante as investigações, o uso do termo pragmatismo suscita a
possibilidade de avaliar em qual medida o pragmatismo peirceano é em-
pregado nos estudos epistemológicos na Ciência da Informação. A revisão
cronológica das publicações de Hjørland, focalizando a concepção de prag-
matismo, é o método utilizado para destacar que o termo pragmatismo,
ou pragmática, tem também vários enfoques na Ciência da Informação.
Embora o assunto das publicações seja variado, o tratamento do pragma-
tismo combina concepções dos chamados pragmatistas clássicos america-
nos. A carreira de Peirce, com as particularidades que não cabem aqui dis-
cutir, não tem a divulgação e aceitação mesmo durante seu tempo de vida.
O trabalho de seus comentadores está na divulgação e entendimento da
estrutura científica que disponibiliza, não apenas na articulação dos signos
na semiótica, mas a determinação da conduta baseada na ética e estética
que conduzem a atuação lógica da semiótica.
Quando Dewey (2007) trata do pragmatismo americano, seu argu-
mento é enaltecer o trabalho de James, relegando a Peirce uma similari-
dade com Kant, numa clara desconsideração do suporte logico semiótico
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
42
que é o substrato do método pragmático. Esta constatação é importante
metodologicamente porque parece dar a tônica do entendimento do tra-
balho peirceano pelos comentadores de Dewey. Este texto, segundo nota
da tradução pela qual o conteúdo foi acessado, foi publicado inicialmente
em francês no ano de 1922, traduzido para o inglês em 1925 para fazer
parte do livro Filosofia e civilização (Philosophy and civilization), publica-
do em 1931. Este percurso de publicações relata a divulgação da versão
do pensamento de Dewey que tem reconhecimento similar na concepção
trazida nas publicações de Hjørland, portanto passível de destaque nesta
sequência das escolhas metodológicas relacionadas à composição do livro,
quando o assunto é pragmatismo visto em uma maneira geral.
A confusão de termos nos quais a pragmática, vinda do tratamento
linguístico dado por Charles W. Morris (1976), a ação semiótica praticada
pelos usuários da linguagem, aliados ao uso do termo pragmatismo como
um combinado de ação em busca de um objetivo, serão destacadas para,
nos capítulos subsequentes, termos a apresentação dos elementos da se-
miose que movem a semiótica peirceana.
A análise de domínio (Hjørland; Albretchtsen, 1995) proposta en-
quanto um novo horizonte para a Ciência da Informação traz uma visão
funcionalista e pragmática para tratar o conhecimento. Esta definição de
pragmatismo, baseada em Sarvimäki (1988) norteia trabalhos futuros, nos
quais o conceito de pragmatismo de Dewey eventualmente é citado ao ser
empregado. O reconhecimento da análise de domínio, dentro da Ciência
da Informação como referência para a Organização do Conhecimento e
Informação leva a investigação desta pesquisa para a verificação da maneira
pela qual o pragmatismo é empregado por Hjørland, uma vez que ele é
considerado um autor que tem o pragmatismo enquanto base epistemoló-
gica para a Organização do Conhecimento.
A pesquisa do que é informação (Capurro; Hjørland, 2003) e
Organização do Conhecimento (Hjørland, 2003), além dos demais tra-
balhos usados neste capítulo, fornecem subsídios para a investigação dos
fundamentos dentro da Ciência da Informação. Os fundamentos partem
da escolha do “conceito”, enquanto melhor opção para o critério de rele-
vância na entrada de assunto, a serem discutidos depois de apresentada a
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
43
Semiótica peirceana, dentro das Ciências Normativas, com a necessária
estruturação para o entendimento do Pragmatismo.
Mais do que um levantamento quantitativo, que pretende verificar
todos os casos de ocorrência do termo pragmatismo, a intenção é usar
aquilo que está estabelecido, consolidado enquanto entendimento da fun-
damentação da Ciência da Informação para a devida colocação do trabalho
de Peirce.
No sexto capítulo, já está apresentada a ação do signo e a aquisição
do hábito para uma mente que aprende com a experiência. Os fundamen-
tos na organização da informação, tratados na indexação enquanto um
processo semiótico, podem então ser vistos dentro do método pragmáti-
co como elementos que determinam a conduta, baseados na estética de
apresentam o bem a ser alcançado. Seja na feitura de uma obra de arte,
um experimento de química ou qualquer outro exemplo que seja tomado,
aquilo que é buscado tem um desenrolar de ação que irá utilizar elementos,
técnicas e materiais para ser realizado. Este percurso envolve decisões que
são baseadas na ética para a realização do processo.
Esta transposição metodológica para a organização da informação
já trabalhada por outros autores (Almeida, 2009, 2011, 2012a, 2012b ,
2013; Mai, 1997, 2000a, 2000b, 2000c, 2001, 2005; Teleffsen, 2002,
2004a, 2004b) tem, na adoção da retórica especulativa para a organização
do conhecimento, um passo subsequente. Neste capítulo, o panorama do
campo de atuação da Ciência da Informação, em que tratamos da aborda-
gem pragmatista adotada por Mai (2001) e posteriormente Almeida, Fujita
e Reis (2013). E finalmente consideramos que aquele enfoque proposto por
Charles S. Peirce (1839-1914) tem possibilidades de aplicação, enquanto
método pós-moderno e interdisciplinar de ser apresentado, na medida que
é suporte para caracterização e entendimento do conhecimento enquanto
informação socialmente compartilhada.
No sexto capítulo, a forma é vista como resultante do interpretante
normal no processo semiótico. E leva ao conceito de informação contido
na semiose e seus desdobramentos, quando é transposto este relaciona-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
44
mento contido na semiose para a caracterização de informação enquanto
fundamento para a Ciência da Informação.
A noção de informação, a incorporação da substância, a matéria mol-
dada para servir a um propósito feito pelo homem tem desde a antiguidade
clássica o estudo e conceituação. A filosofia conhecida popularmente pela
capacidade de atrelar as ideias aos fenômenos oferece, com o passar da his-
tória, vários enfoques, dos vários filósofos ou escolas de filosofia que trazem
os conceitos enquanto verdades aceitas pela comunidade científica do qual
cada grupo faz parte. A forma e a causação aristotélica estão tratadas neste
capítulo, uma vez que a pesquisa epistemológica das várias disciplinas que
estudam informação se vale da definição dada por Aristóteles. Peirce, por
ser um lógico, tem, na concepção aristotélica, a base para a sua evolução da
lógica tradicional para a Semiótica. Importante também seria o tratamento
da filosofia Kantiana, principalmente na divisão das categorias, mas como
o próprio Peirce estudou os trabalhos de Kant arduamente e deles extraiu
o que considerava de maior valor para sua metodologia, esta pesquisa não
poderá fazer melhor, e nem cabe esta investigação, uma vez que o que inte-
ressa aqui é propor o pragmatismo enquanto método criativo para abordar
a informação que leve ao conhecimento.
O capítulo seis permite então o entendimento dos conceitos vistos
no método pragmático e suas correspondências na Ciência da Informação.
O pragmatismo enquanto método oferece a perspectiva da semiótica para
o tratamento da informação. Desta maneira, a fundamentação para a or-
ganização da informação tem o ponto de vista pragmático peirceano na
análise de domínio, e demais fundamentos que estruturam a entrada de
assunto na indexação.
A análise de domínio trata desta delimitação estética em torno de
um objetivo estético delimitado no domínio. Trazer estes elementos para a
representação do conhecimento segundo a retórica especulativa leva às ci-
ências especiais o transcurso obtido nas ciências da descoberta. Demonstra-
se, assim, que o percurso de “um método de encontrar métodos” é a adap-
tação da aquisição de conhecimentos baseado em um processo lógico, com
vistas a um objetivo estético.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
45
A partir destas caracterizações, podemos entender por que o pragma-
tismo peirceano parece tão adequado ao tratamento informacional. Como
veremos mais adiante, a própria concepção pragmatista peirceana é de vo-
cação interdisciplinar, com a significação, ou seja, o contato entre infor-
mação e usuários sendo uma relação sígnica, ou como descreveria Peirce,
enquanto mediação realizada pelo signo, e coloca o observador num estado
disposicional de interação com o fenômeno estudado. O pragmatismo,
do qual a semiótica enquanto lógica é parte integrante, certamente tem
mais contribuições a Ciência da Informação do que já foi constatado nos
estudos anteriores.
A Retórica Especulativa traz para a Organização da Informação e do
Conhecimento o complemento das etapas da semiose desde a articulação
dos signos até a organização nas diversas áreas do conhecimento desta ca-
pacidade de criação informacional contida tanto nas etapas sequenciais de
pesquisa quanto nas descobertas científicas.
Pensar a Ciência da Informação enquanto instituição que têm a epis-
temologia enquanto papel decisivo para sua atuação (Gonzáles de Gómes,
2001) implica nas considerações de uma Ciência que deixe a comparti-
mentação de disciplinas características do período moderno na Ciência,
procurando outras alternativas para o entendimento tão complexo quanto
o conceito de informação, o qual está na base de entendimento das possi-
bilidades de atuação desta nova Ciência nascida na década de 50, já com
vocação histórica para a pós-modernidade.
Os estudos feitos em indexação (Mai, 2000a , 2000b, 2001; Almeida,
Fujita, Reis, 2013) assim como em outros autores que utilizam o método
pragmaticista (ellefsen, 2002, 2004a, 2004b), podem apontar outros
caminhos para a abordagem interdisciplinar que o método pragmaticista
poderá proporcionar, e que podemos considerar, uma aproximação entre
o conhecimento e aquele que conhece, mediados pelo processo de signi-
ficação. Estas novas opções as quais a relação entre o procedimento ético,
vistos à maneira do pragmatismo peirceano, portanto social das dimensões
do conhecimento, é que devem ser explicitadas no decorrer da pesquisa.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
46
O processo abdutivo quando levado adiante tem o critério de apre-
sentação de informação que é próprio do conceito de informação. Ao apre-
sentar as discussões a respeito das abordagens vigentes, um dos objetivos da
pesquisa é demonstrar que o processo semiótico, e a formação de interpre-
tante, são fundamentalmente um processo informacional. A transmissão
de signos, teleologicamente constituída, carrega, além da demonstração
verdadeira ao final do processo, o interpretante que se mostra enquanto
informação, tanto do processo quanto dos signos de sua constituição, pro-
movendo assim, novas oportunidades de informação e conhecimento, in-
dependentemente do substrato físico no qual este diagrama de significação
se apresente ao intérprete, capaz de promover semiose.
Em resumo, a construção de um conjunto de hipóteses que relaciona
a Ciência da Informação e a construção e organização do conhecimento,
passando pelo entendimento do pragmatismo peirceano para a formação
do conceito de informação dá corpo à pesquisa.
47
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
E ORGANIZAÇÃO DO
CONHECIMENTO
A abordagem de informação da Ciência da Informação, na qual a
informação e posterior o conhecimento se realiza na relação entre a in-
formação contida em um substrato físico, que pode ser apreendida pela
mente humana é uma das possibilidades de entendimento entre as ou-
tras disciplinas científicas. A exclusividade da transmissão e compreensão
de informação não é um privilégio da mente humana, mesmo que para
o recorte epistemológico da Ciência da Informação isso seja importante.
Estudar o conceito de informação, que dá o norte epistemológico da dis-
ciplina, pressupõe compreender outras abordagens para uma ciência que
pretende ser transdisciplinar, como será visto a seguir.
O estudo do sujeito feito por algumas vertentes da filosofia tem o en-
tendimento pelo qual a questão ontológica, condição de raciocínio do ser
humano, sua mente, e sua alma não poderiam ser vistas fora da metafísica.
A partir da concepção de que o conhecimento adequado é aquele advindo
da constatação da ação do sujeito, a atividade do ser humano e sua atuação
cognitiva deixam de ser campo de estudos exclusivamente dos filósofos.
A Organização do Conhecimento trata da comunicação do conhe-
cimento. As formas de acesso ao conhecimento são fundamentais para
proporcionar aprendizagem. As condições que promovem este acesso são
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
48
circunstanciais e entender as possibilidades de acesso à informação e co-
nhecimento, deve fazer parte do entendimento deste contexto.
O objetivo deste capítulo é reunir elementos para situar a Ciência
da Informação no pensamento científico moderno, e na condição atual,
para então apresentar o método científico tratado no Pragmatismo peirce-
ano. A investigação do pensamento científico, o qual é validado em uma
comunidade após a aceitação da verificação verdadeira dos fatos, continua
sendo fundamental para divulgação científica e o propósito da informação
aliada à ciência. Tratar da Organização do Conhecimento perpassa pela
informação dentro de uma comunidade que deve ter o caráter de verdade
para divulgação.
A Ciência da Informação inserida no contexto das Ciências Humanas
trata da evolução do pensamento científico. Entender o comportamento
da informação no contexto científico implica em entender a trajetória da-
quilo que é costumeiramente aceito como relevante para a ciência. A tra-
jetória das relações entre as disciplinas, a filosofia da ciência, e a evolução
do entendimento do pensamento moderno são aceitas como elementos de
constituição da Ciência da Informação, devendo, portanto, ser entendidas
conjuntamente com sua formação enquanto disciplina científica.
As ciências humanas nascem depois das ciências naturais, e assim,
psicologia, sociologia, antropologia têm segmentos específicos para este
entendimento do sujeito em aspectos diferentes (Japiassu, 1976, p. 176).
Este entendimento mediante experimentação, feito à maneira empirista,
tende a compreender o homem a partir das coisas, na visão do autor. Por
meio da observação e da verificação feita pelas disciplinas distintas, a ciên-
cia tenta apresentar um conteúdo que substitua a totalidade do entendi-
mento ontológico. O conhecimento do objeto de estudo e o processo de
aprendizagem são processos que caminham juntos.
Aquilo que é o objeto de estudo e a maneira de divulgar, comunicar,
organizar esta representação do conhecimento estão imbricados. Assim, a
comunicação do pensamento e a maneira de articulação deste pensamento
devem ser entendidas de maneira conjunta. O conhecimento é construído
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
49
de maneira evolucionária, conciliando e interligando saberes que estão em
disciplinas científicas por necessidade de atividades afins.
Tratar da informação científica e seu contexto de organização na
Ciência da Informação deve considerar esta transição da simplificação de
entendimento, aceito no pensamento moderno com a divisão das discipli-
nas estanques, para a condição atual, na qual a inter-relação entre as áreas
do conhecimento não só é trabalhada, mas também divulgada enquanto
elemento que trata da complexidade das relações de aprendizagem e fo-
mento do conhecimento.
A redução do complexo ao simples tem raízes naquilo que Morin
chama de “paradigma de simplificação” (Morin, 2005, p. 11), quando
Descartes separa o pensamento do mundo exterior: aquilo que a mente do
sujeito entende enquanto realidade (ego cogitans) e o mundo exterior, que
é a coisa objetiva a ser entendida (res extensa); e a partir do momento que
somente pela razão somos capazes de dar o entendimento da realidade, esta
relação entre a verdade da ideia, distinta do objeto de compreensão passa
a ser o motor da investigação científica desde o século XVII até os dias de
hoje. Mesmo se levando em conta todo o progresso ocorrido, a redução do
complexo ao simples também se deu nos campos do conhecimento, pois
na visão do autor o conhecimento biológico se reduz ao físico, e o conhe-
cimento humano ao seu entendimento biológico, uma vez que a filosofia
e a ciência têm lugares distintos e somente a ciência pode ter as respostas
comprovadas, mediadas, quantificadas a respeito dos fatos. Segundo o au-
tor, duas brechas, uma microfísica, outra macrofísica, no quadro epistemo-
lógico questionam a Ciência clássica.
A Física Quântica, na escala microfísica, ao estudar as partículas su-
batômicas não dá conta de medir, quantificar, aplicar os princípios da física
clássica em seus estudos, pois a gravidade, ação e reação, por exemplo,
tão caras e universais à Física enquanto teorias universais não se aplicam
nesta escala. A dualidade no comportamento das partículas subatômicas
que hora podem ser entendidas e verificadas enquanto partícula, hora en-
quanto ondas cuja frequência é o parâmetro, colocam em xeque inclusive
a isenção do pesquisador que agora tem que determinar e deixar clara sua
conduta de pesquisa, porque ela é necessária para explicar o resultado.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
50
Na escala macrofísica, os conceitos de irreversibilidade do tempo e a
sua relação com o espaço depois das descobertas de Einstein não são mais
as mesmas. A curvatura do espaço físico deixa a geometria euclidiana sem
a referência do ponto fixo enquanto medida para a passagem do tempo.
Uma vez que não existe posição absoluta nem no espaço, nem no tempo, é
a relação estabelecida entre os dois, espaço-tempo, que determina o evento
a ser observado ou estudado. A Física, considerada modelo para todas as
ciências, ao ter suas bases revistas, dá o entendimento da complexidade
que não pode ter uma simplificação na metodologia de pesquisa e estudo.
Referindo-se às Práticas Interdisciplinares, Pombo (2004) investiga
aquelas ciências que ela considera “ciências de fronteira, interdisciplinas
e interciências” (Pombo, 2004, p. 75). Estas disciplinas de fronteira, ou
assuntos tratados em várias disciplinas, tratam da interatividade, das ma-
neiras de verificar o assunto com pontos de vista que podem variar para
dar maior abrangência ao foco estudado. Mais do que relacionar novas
matérias resultantes da subdivisão e junção das disciplinas consagradas
enquanto campo de conhecimento, as novas necessidades de investigação
científica, ao se aprofundarem e especializarem, necessitam de elementos
que não se restringem a uma categorização de especificidade.
A investigação legítima na própria pesquisa aquilo que o trabalho
requer, independentemente da institucionalização do processo em algu-
ma área de conhecimento. A pesquisa científica quando é validada pode
comprovar o conhecimento percorrido e então tornado informação verda-
deira. Grandes exemplos de nova descoberta científica tendem a quebrar
paradigmas (Kuhn, 2000) estabelecidos. Por isso, este trânsito entre áreas
de pesquisa e ciências se torna tão comum naquilo que se convencionou
chamar de ciências pós-modernas. As disciplinas quando extrapolam a
convenção de estratégias e disciplinas, estipuladas cada qual ao seu campo
científico que foi institucionalizado desde a caracterização de ciência no
Iluminismo, são consideradas pós-modernas por tratarem da interdiscipli-
naridade como maneira usual de atuação.
O modelo científico não dá conta de entender as questões de cada
época, as mudanças de paradigma acontecem quando esta nova descoberta
ou aceitação acontece (Kuhn, 2000). A pluralidade das mudanças cien-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
51
tíficas não é de forma arbitrária ou irracional, mas as mudanças aconte-
cem com o pluralismo inerente que apresenta o progresso, ou evolução do
pensamento científico. O pensamento de Peirce oferece uma ferramenta
epistemológica para este “parentesco” entre o pensamento científico trata-
do por Kuhn e a pluralidade de abrangência científica trazida pelo prag-
matismo peirceano (Rosenthal, 1994, p. 20, 128). Existe uma mudança
de pensamento, mudança de perspectiva, que pode se transformar numa
mudança de paradigma, ou da maneira como entende Peirce, numa mu-
dança de hábito.
As emergências de novas disciplinas desta interação entre comunida-
des de investigadores são consideradas a partir da estabilização institucio-
nal e epistemológica de rotinas de cruzamento entre aquelas afins (Pombo,
2004). Na opinião da autora, a interdisciplinaridade ocorre enquanto
prática de atividades comuns às áreas adequadas a previsíveis e potenciais
tarefas. Os chamados “nódulos de problemas” (Pombo, 2004, p. 96) são
assuntos ou problemas que necessariamente perpassam várias áreas de co-
nhecimento ou disciplinas, não sendo necessariamente possível determinar
um campo de estudo (como é o caso da informação), existindo então a
necessidade de um trabalho transversal que abarque aspectos pertinentes
relativos ao interesse da tarefa proposta.
A autora ainda elenca uma tipologia das possibilidades de práticas
interdisciplinares a considerar: 1) práticas de importação quando concei-
tos, métodos, aqueles instrumentos já utilizados em outras disciplinas vêm
auxiliar. 2) práticas de cruzamento quando os problemas de uma disci-
plina invadem, irradiam para outras. A distinção das disciplinas seja por
questões administrativas ou por conta de a teoria relativa a um campo
específico ser considerada unificada apenas para aquele campo. Nesse en-
tendimento, a prática anterior traz para dentro do campo ou problema a
solução de outra disciplina, neste caso, o sentido é inverso, de dentro de
uma para outras disciplinas. 3) As práticas de convergência trazem pers-
pectivas diferentes para entender o objeto de análise, naquele caso restrito.
4) Práticas de descentração quando os problemas não são redutíveis a uma
disciplina tradicional e o ambiente citado como exemplo é uma excelente
demonstração (clima, vegetação, solo, vida natural e ambiente construído
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
52
em conjunto). 5) Práticas de comprometimento, quando não basta apenas
compartilhar métodos ou informações que resolvam problemas práticos
com soluções técnicas, mas têm o propósito de fazer circular um saber a
fim de promover suas complementaridades, e então, evolução.
A complexidade implica em congregar saberes para uma determi-
nada tarefa. Desenvolver o método de aprendizagem para a execução da
tarefa a ser desenvolvida. As interconexões existem, a complexidade e pen-
samento sistêmico são um avanço para a compreensão das ciências, e evo-
lução do pensamento científico uma vez que qualquer disciplina pode em
determinadas situações ser multi, pluri ou transdisciplinar, uma vez que
o conhecimento que é formado entre as disciplinas determina o grau de
interação entre elas.
Para Japiassu (1976, p. 72), disciplina é um “conjunto sistemático e
organizado de conhecimentos que apresentam características próprias”. Ao
recorrer ao vocabulário, reconhece que para o termo interdisciplinaridade
não existe consenso epistemológico de maneira que o conceito seja único,
pois como já colocado por Pombo (2004), existem várias possibilidades de
atuação conjunta entre as disciplinas e esta funcionalidade nem sempre é
consensual quanto a maneira de ser designada. Multidisciplinar seria uma
justaposição de especialidades, setores do conhecimento, para tratar o ob-
jeto de estudo sob vários ângulos, sem troca de informações metodológicas
e conceituais anteriores a tal estudo.
A pluridisciplinaridade tem o mesmo princípio, porém com certo
grau de planejamento nesta interação prévia para tratar o problema. Para o
autor a distinção na caracterização da interdisciplinaridade se dá pela inte-
ração e intensidade no grau destas interações, e o maior grau seria chegar
em uma transdisciplinaridade, em que haveria uma codependência e in-
teração entre todas as disciplinas envolvidas no processo (Japiassu, 1976).
A ação em um contexto, portanto, é aquilo que determina a análi-
se dos elementos elencados para a solução do problema. Dependendo do
objetivo a ser alcançado as modalidades de relação se estabelecem e podem
então ser analisadas. Japiassu (1976) considera numa sequência de possibi-
lidades as maneiras de relação entre os campos disciplinares. Essas relações
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
53
seriam tipos distintos de interdisciplinaridade: a) interdisciplinaridade he-
terogênea (linear ou “cruzada”) na qual uma disciplina principal congrega
outras para o auxílio na formação do conteúdo para estudo do objeto; b)
pseudointerdisciplinaridade (estrutural) quando a pretensão é utilizar ins-
trumentos de análise que seriam comuns às disciplinas consorciadas e, uma
vez que não é satisfatório para resolução do problema, o autor considera
uma falsa interdisciplinaridade; c) interdisciplinaridade auxilia quando
uma disciplina usa métodos ou procedimentos já utilizados em outra, e
em alguns casos de maneira ocasional e provisória; d) interdisciplinaridade
compósita na qual os níveis de interação são apenas o necessário para um
conglomerado de disciplinas resolver um grande problema; e) interdisci-
plinaridade unificadora gera um novo campo de estudo ou disciplina, por
ter níveis de interação teórica e métodos comuns num domínio de estudo.
Na conclusão do autor não existe esta definição do conceito interdisci-
plinar de forma unívoca, então elenca ainda 15 etapas precedentes deste
processo pelo qual um conjunto de disciplinas pode interagir desde a multi
até transdisciplinaridade (Japiassu, 1976, p. 85).
O incremento de complexidade na inter-relação entre as disciplinas
caracteriza a troca de conteúdos e processos de ação para a caracterização
de transdisciplinaridade enquanto intervenção de um campo científico
no outro. Mesmo considerando e descrevendo uma grande quantidade de
exemplos e possibilidades é possível concluir que a funcionalidade, a apli-
cação para tarefa específica ainda é o polo aglutinador desta possibilidade
conjunta das disciplinas. Para isto, ele usa ações de convergência metodo-
lógicas em níveis e etapas do método.
Por sua vez, a complexidade é uma realidade para a Ciência da
Informação. Morin (2005) introduz seu trabalho a respeito do pensamen-
to complexo explicando que “o pensamento simplificador desintegra a
complexidade do real” (Morin, 2005, p. 6). O pensamento complexo en-
tão surge onde a simplificação não é o bastante para o entendimento, uma
vez que a partir da integração o pensamento complexo põe “ordem, clare-
za, precisão no conhecimento”. Articular disciplinas desmembradas pelos
campos de saber não tem um caráter de completude, pois mesmo não
isolando uma disciplina das outras, num pensamento compartimentado,
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
54
quando se tem como pressuposto uma não totalidade, a redução do conhe-
cimento acontece. Sempre existem incompletude e incerteza, na visão do
autor, uma vez que reconhece a incompletude de qualquer conhecimento,
inacabado ou provisório para cada etapa alcançada.
Além de se constituir numa relação paradoxal entre o individual e
o múltiplo, “a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos,
ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem nosso
mundo fenomênico” (Morin, 2005, p. 13). Considerando estas interações
como a ação do sujeito, que é feita de maneira complexa, sem encadea-
mento linear de ação e reação, têm-se possibilidades para o conhecimento
nestas interações, tanto naquelas do sujeito que aprende com as próprias
ações, quanto naquelas que são passíveis de análise feitas a posteriori.
Nas sociedades contemporâneas, com o grande incremento de pes-
quisas dos recursos tecnológicos, perdem espaço as análises discursivas e
epistemológicas (Gonzáles de Gómes, 2001). A epistemologia é consi-
derada enquanto extensão do conhecimento humano. A legitimidade e
condição de verdade são dadas pelo conhecimento científico na sociedade
ocidental, e, nesta condição, o saber epistemológico e a verdade na concep-
ção científica têm fronteiras com delimitações atreladas à formulação de
critérios de verdade seguindo condições sociais para este estabelecimento.
Este avanço tecnológico nas ciências ao introduzir novas questões,
inter-relaciona parâmetros que passam a ser comuns em diferentes campos
do saber (Bertalanffy,1995), na cibernética apoiada na retroalimentação;
a teoria da informação; a teoria dos jogos que compara antagonismos; a
teoria da decisão que faz análise das decisões racionais, em organizações
humanas e suas possíveis consequências; a topologia; a análise fatorial.
A teoria Geral dos Sistemas se baseia nos padrões descritivos comuns
em campos diferentes. Os isomorfismos presentes nas equações matemáti-
cas são usados para a descrição de correspondências, quando consideradas
as condições dos fenômenos observados, seja na física, biologia, economia,
etc. Nos processos em que a linearidade e decomposição em partes dos
componentes não apresentam explicação satisfatória, busca a recomposi-
ção da complexidade por meio de um procedimento analítico.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
55
Os sistemas complexos são, então, matéria de estudo destas “novas
Ciências” que procuram entender a realidade sem a moldura da especiali-
zação do campo de conhecimento, como as ciências cognitivas, a genética
em biologia, cibernética, e a Ciência da Informação.
Assim como os processos complexos do pensamento sistêmico são
estudados por vários autores e em diversos campos científicos, os enca-
deamentos emergentes desta formação de padrão são estudados enquan-
to auto-organização tanto em biologia como em cibernética, nas ciências
cognitivas (Moraes, 2004) e nos processos de informação de uma maneira
geral, vistas enquanto crescimento de complexidade em sistemas dinâmi-
cos, como será exemplificado a seguir.
Sistemas de informação e sistema de comportamento movem a in-
trincada estrutura cultural e tecnológica na qual a sociedade capitalista é
moldada politicamente. O conhecimento compartilhado pelos meios de
comunicação propiciados pela rede de computadores tem cada vez maior
alcance de pessoas que compartilham assuntos semelhantes. Neste cenário,
as relações de causa e efeito lineares e de constituição simplificadas são
cada vez mais percebidas em curto período de tempo e com variedades de
alcance. A associação entre dois ou mais fenômenos e o estabelecimento
de dependência entre eles, quando acontecimentos – fatos que afetam um,
também afetam o outro – podem levar a relações causais que dependem do
ponto de vista a ser investigado (Dieterich, 1997).
Chamaremos de auto-organização “primária” todo processo de
integração de elementos realmente distintos que, ao invés de tender
para um atrator já dado, sedimenta progressivamente seu próprio
atrator, portanto, se cria a si próprio como sistema (Debrun, 1996,
p. 48).
A constituição de um processo de auto-organização é a formação
deste padrão percebido, não apenas enquanto funcionamento do sistema,
mas no seu enfoque processual que não é determinado de antemão, mas
que surge da interação entre seus elementos constituintes. A auto-organi-
zação é caracterizada como um fenômeno de transformação de uma estru-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
56
tura existente, sem que haja um centro organizador, ou que esta organi-
zação seja determinada por uma força externa àquela estrutura. A criação
de uma organização advinda das condições de interação em que não é um
único fator a ser determinante em uma estrutura existente, segundo o au-
tor, caracteriza o aparecimento desta forma de auto-organização primária
(Debrun, 1996).
As pesquisas de Maturana, publicadas no ano de 1997, em biologia,
veem o percurso de formação do ser vivo e manutenção da vida como
um processo de auto-organização. Os sistemas complexos que ele deno-
mina autopoieticos têm sua autonomia não como conjuntos de partes, mas
enquanto organismo no qual a vida é a emergência do conjunto de fun-
ções (Maturana; Varela, 1997). Os seres vivos são sistemas dinâmicos e
complexos que se renovam continuamente nas trocas de energia com o
ambiente, por exemplo, na sua capacidade de regeneração e crescimento;
e ainda assim permanecem com as mesmas formas de constituição que o
caracterizam enquanto espécie. A autopoiese caracteriza esta capacidade dos
seres vivos de adaptação, nesta persistência dos seres vivos na manutenção
da própria vida e adaptação da espécie, propondo uma evolução das es-
pécies, na visão do autor, não pela sobrevivência do mais forte, mas pela
capacidade desta interação entre os sistemas.
Priggogine tratando dos acontecimentos físicos termodinâmicos
para sistemas complexos, afirma que os processos irreversíveis decorren-
tes da passagem do tempo desempenham papel construtivo na natureza e
essa irreversibilidade exige uma extensão dinâmica, um entendimento dos
comportamentos dinâmicos instáveis. “Contrariamente à energia que se
conserva, a entropia permite estabelecer uma distinção entre os processos
reversíveis, em que a entropia permanece constante, e os processos irrever-
síveis, que produzem entropia” (Priggogine; Stengers, 1984, p. 25). A irre-
versibilidade, para o autor, pode ser entendida como uma nova formulação
probabilista das possibilidades de trajetórias de um sistema, os sistemas ca-
óticos neste caso, que dependem da sua sensibilidade às condições iniciais
para o seu desenvolvimento e são imprevisíveis quanto ao futuro. Mesmo
tendo uma condição inicial determinada à auto-organização processual,
não é completamente previsível. Os sistemas, mesmo sendo dinâmicos,
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
57
necessitam trocar energia com o ambiente são chamadas estruturas dissipa-
tivas pois mesmo aqueles que podem se manter constantes necessitam de
acréscimo de energia vindo de fora dos sistemas:
O exemplo mais simples de estrutura dissipativa que podemos
evocar por analogia é a cidade. Uma cidade é diferente do
campo que a rodeia; as raízes desta individualização estão
nas relações que ela mantém com o campo adjacente: se
essas fossem suprimidas, a cidade desapareceria (Priggogine;
Stengers,1984, p. 21-22).
O conceito de informação tem representações físicas, semânticas,
epistemológicas. Cada disciplina ou viés se apropria das condições adequa-
das de uso, portanto é um conceito que pode ser reduzido a transmissão
de sinais sem conteúdo semântico (Shannon; Weaver, 1964) que tanto
impulsionou a computação e os sistemas de computadores:
[...] a noção de homem está fragmentada entre diversas disciplinas
das ciências biológicas e entre todas as disciplinas das ciências
humanas: a física é estudada por um lado, o cérebro, por outro, e o
organismo, por um terceiro, os genes, a cultura etc. Esses múltiplos
aspectos de uma realidade humana complexa só podem adquirir
sentido se, em vez de ignorarem esta realidade, forem religados a
ela. Com certeza não é possível criar uma ciência do homem que
anule por si só a complexa multiplicidade do que é humano. O
importante é não esquecer que o homem existe e não é uma “pura
ilusão de humanistas pré-científicos (Morin, 2003, p. 113).
O papel do homem na concepção científica do mundo que o cerca
é um processo evolucionário. As referências de conhecimento revistas e
atualizadas fazem, do progresso científico, uma trajetória que não é uni-
forme, tendo resgates históricos e retomadas de posições consideradas não
usuais. A passagem de informação enquanto elemento propulsor dos pro-
cessos de aprendizagem, portanto a abordagem de informação da Ciência
da Informação na qual a informação e posterior conhecimento se realizam
na relação entre a informação contida em um substrato físico, que pode ser
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
58
apreendida pela mente humana, é uma das possibilidades de entendimen-
to entre as outras disciplinas científicas. A exclusividade da transmissão e
compreensão de informação não é um privilégio da mente humana, mes-
mo que para o recorte epistemológico da Ciência da Informação isto seja
importante. Estudar o conceito de informação, que dá o norte epistemo-
lógico da disciplina, pressupõe compreender outras abordagens para uma
ciência que pretende ser transdisciplinar.
Discorrer sobre a maneira de constituição da ciência, que vem desde
o iluminismo no período moderno, incluindo a constatação de que a di-
visão cartesiana do mundo das ideias e do mundo material, não dá conta
de entender a velocidade e complexidade das informações, foi tratado nas
concepções de ciência moderna e ciência pós-moderna. Assim como dis-
ciplinas científicas não têm teoria e prática que seja apenas aplicável a um
campo científico, a transição entre as disciplinas e interdisciplinaridade
torna o conceito de complexidade e atuação processual em sistemas dinâ-
micos, bases epistemológicas para tratar tanto a Ciência da Informação,
quanto qualquer outra ciência em campos científicos diversos. Vistos estes
conceitos, nesta perspectiva de estruturação do trabalho, é possível loca-
lizar a Ciência da Informação capaz de transitar entre as mais variadas
disciplinas científicas.
2.1 Da ciência Da infORMaÇÃO
Este primeiro capítulo trata da constituição da Ciência da
Informação, da consolidação de sua área de atuação e das abordagens da
informação, sejam eles conceitos ou maneiras de entender a comunicação.
A pesquisa caminha tanto no conceito de informação que é tratado e defi-
nido de maneiras diferentes, quanto no uso daquilo que a sociedade mo-
derna e contemporânea se baseia enquanto informação para comunicação.
Os conceitos de informação, comunicação e conhecimento são entendidos
de maneira complementar (Almeida, 2011), uma vez que a relação entre
eles é necessária para a caracterização de cada um separadamente.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
59
A comunicação do conhecimento e os sistemas de informação
podem ser considerados por si mesmos, mas eles não existem no
vácuo. Eles operam dentro, por meio e sob restrições impostas
por seu ambiente. Eles afetam e são afetados pelo meio ambiente.
O mesmo processo de comunicação de conhecimento, o mesmo
sistema de informação, pode estar relacionado a várias realidades
de um ambiente, a vários ambientes e pode desempenhar várias
funções (Saravecic, 1975, p. 326).
A comunicação do conhecimento e aprendizagem trabalha conjunta-
mente na interação do sujeito com o ambiente. Não apenas o conhecimen-
to institucionalizado, de cunho científico, mas também a aprendizagem
cotidiana, parte da relação de ação do sujeito em seu meio. A capacidade
de transformar a informação em ação dependente de um contexto, atrelada
às circunstâncias do meio ambiente fazem a diferenciação no processo de
interação cuja resultante tem representações diferentes.
Não existe consenso na definição de informação, mas os fatos de-
correntes da sociedade, que é urbana em sua maioria no século XXI, tem
seu sistema produtivo e cultural baseado na troca de dados e informação.
Compreender o papel da Ciência da Informação enquanto fomentadora
do conhecimento nesta sociedade urbana, com volume e velocidade da-
quilo que é considerado informação, de uma maneira geral, é vocação da
Ciência da Informação que nasce enquanto disciplina junto com este in-
cremento de circulação de comunicação.
A consolidação da área, a vocação pós-moderna e a interdiscipli-
naridade são características que agrupam o início multidisciplinar com
arquivos, museus e bibliotecas, sendo instituições que têm a custódia de
patrimônio valioso. O tempo cronológico de aparecimento da necessida-
de de estruturação de um campo científico no qual se formou a Ciência
da Informação apresenta uma comunicação entre elementos da sociedade
que atuam e têm necessidades de comunicação de informações entre dis-
ciplinas diferentes. O questionamento do tratamento de disciplinas estan-
ques para o desenvolvimento do conhecimento já é matéria de discussão
quando a Ciência da Informação é formalizada. Os arquivos, por exemplo,
podem constituir um acervo informacional diferente dos museus, mas a
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
60
capacidade de comunicação presente no material custodiado pode e deve
ser de interesse de múltiplas disciplinas.
O conteúdo informacional extrapola então o conteúdo determinado
enquanto elemento valioso para a cultura contido em um objeto e volta-se
para os processos de comunicação. Este contexto é apresentado no pri-
meiro capítulo. Definir o campo de atuação é então a própria definição da
Ciência da Informação. Segundo Borko (1968, p. 1):
Ciência da Informação é a disciplina que investiga as propriedades e
o comportamento informacional, as forças que governam os fluxos
de informação, e os significados do processamento da informação,
visando à acessibilidade e a usabilidade ótima.
Propriedades e comportamento informacional, além dos fluxos da
informação que vão ser usados com significado. A definição de Borko
abarca uma quantidade enorme de possibilidades de atuação e uso de-
correntes dos processos informacionais e comunicacionais. Estes fluxos
de informação são realizados por meio de signos e, no caso da Ciência
da Informação, estes signos são representação da informação que leva ao
conhecimento científico.
No curso histórico dos registros humanos intencionais, aqueles fei-
tos com a intencionalidade de deixar para tempos posteriores o conteú-
do com importância, existem várias ações desde a antiguidade. De acor-
do com Araújo (2014a), com a sistematização e o tratamento técnico do
acervo ocorridos no século XIX, aparecem as disciplinas de Museologia,
Biblioteconomia e Museologia.
Nos primeiros relatos sobre o que deveria ser a Ciência da Informação
havia a crítica ao bibliófilo, ao bibliotecário erudito, ao historiador
atuante nos arquivos – a crítica de que tais profissionais focavam-se
no “conteúdo” das obras, na instituição custodiadora, em vez de se
preocuparem em promover a disseminação, a circulação e o efetivo
uso das obras custodiadas (Araújo, 2014b, p. 3).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
61
A recuperação da informação está no processo informacional em que
o acesso ao registro representado no artefato custodiado deve ser acessível
ao usuário. Os processos de indexação envolvem criatividade, e esta pos-
sibilidade de evolução do signo, além do conteúdo do documento, que
está na possibilidade de acesso, também produz informação. Fomentar a
disseminação das obras custodiadas é um primeiro passo para a dissemi-
nação da informação. A relação entre a produção, custódia e disseminação
da informação tem etapas, ou interfaces, que são focalizadas em maior ou
menor importância dependendo da área de atuação dentro da Ciência da
Informação. O papel da informação, dentro da Ciência da Informação é
elemento central desta discussão, aquilo que é inerente à área.
O surgimento da Ciência da Informação aparece com o percur-
so histórico de acontecimentos científicos que, segundo Araújo (2014a)
podem ter classificação em cinco grupos diferentes: primeiro, a proposi-
ção do conceito de Documentação como foi caracterizada por Otlet, e
Bibliografia; segundo, a atuação da Biblioteconomia enquanto instituição;
terceiro, os serviços de ciência e tecnologia sendo fornecidos por cientistas
da informação; quarto, o incremento tecnológico que hoje em dia ainda é
fator determinante para as questões custodiais e de produção de conteúdo
informacional; e quinto, a fundação na teoria da matemática.
A principal atividade da Ciência da Informação segundo Saravecic
(1995) é a descrição da evolução e recuperação da informação. Coloca ain-
da enquanto desafio à Ciência da Informação mudanças interdisciplinares,
mudanças sociais contemporâneas, revolução tecnológica (Saravecic, 1995).
Este processo vigente desde o final do século XX ainda se mostra atual. Ao
tratar da difusão dos conhecimentos na sociedade por meio da possibilidade
de recuperação da informação, inevitavelmente na sociedade contemporânea
é preciso tratar com tecnologias alcançadas digital e eletronicamente.
É criado o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB), em 1895,
após a I Conferência Internacional de Bibliografia, organizado por Paul
Otlet e Henri La Fontaine, que pretendiam a “construção de um Repertório
Bibliográfico Universal e na padronização das formas de tratamento téc-
nico dos registros “com as fichas catalográficas e a Classificação Decimal
Universal” (Araújo, 2014b, p. 4). A necessidade de esforços conjuntos com
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
62
a Biblioteconomia era justificada e necessária para a tarefa de indicar o
acesso às informações contidas nos documentos, onde quer que estivessem,
sem necessariamente manter a custódia do acervo para fornecer este acesso,
uma vez que o trabalho seria cooperativo entre diferentes instituições. Em
1934, Paul Outlet publica o Traité de Documentation (Araújo, 2014b, p.
4) e esta qualificação das representações humanas nos vários substratos físi-
cos, sejam eles manuscritos, impressos, fotografias, pinturas, escultura. E é
pertinente acrescentar a arquitetura e urbanismo, uma vez que é seu objeto
a construção física do ambiente nas cidades, com características que são
percebidas por meio de diferentes signos que levam ao conceito posterior
daquilo que contém informação nos vários modos de representação desta
atuação humana intencional.
Com o aumento do volume de publicações documentais (periódicos
científicos) Paul Otlet e Henri La Fontaine, em 1895 organizam a primeira
Conferência Internacional de Bibliografia e criam em seguida o Instituto
Internacional de Bibliografia (IIB). Usando fichas catalográficas e classifi-
cação decimal. A ideia era criar um Repertório Bibliográfico Universal que
padronizasse e unificasse o acesso aos registros.
Otlet apresenta de maneira sistemática o tratamento de organização,
incluindo distribuição dos livros. Bibliologia ou Documentalogia (Otlet,
1934) equipara o tratamento de documentos àquilo que já era conhecido
para os livros. O tratado de documentação proporciona então possibilida-
des de positivamente montar acervos com uma sistemática extensível aos
objetos relevantes dentro de uma coleção. A organização racional (Otlet,
1934, p. 372) dos documentos é uma “representação da realidade” em
formas literárias, gráficas ou plásticas, como são as imagens chamadas de
ícone por ele, as quais contemplam os vários substratos físicos em que
a comunicação humana é intencional. E é reforçada esta possibilidade
de conhecimento pela informação catalogada na sistematização ofereci-
da pela documentação. Tanto os termos Racionalismo, Normalização e
Estandardização, quanto os conceitos de padronização, usados por Otlet,
são condizentes com sua época e a sociedade industrializada que impõe sua
estética à maneira de vida das pessoas do começo do século XX.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
63
Nos anexos do seu extenso e minucioso tratado de documentação,
Otlet (1934) propõe um escalão de organização da documentação na qual
uma rede mundial vem no quarto escalão, depois da organização dos li-
vros, coleções e organismos documentais, propondo para o quinto e últi-
mo escalão a organização intelectual e a viabilização mundial desta rede
organizacional. Passados os anos após este válido esforço de sistematização,
a rede mundial de computadores produz dados que são passíveis de en-
tendimento com uma sistematização que não depende de um arranjo po-
sitivista de enquadramento na área de conhecimento, mas de correlações
que façam o entendimento de dados a princípio gerados em situações não
relacionadas, como o big data1. Os algoritmos, usados e produzidos pelo
trabalho dos computadores em rede, fornecem dados que dependem de
uma análise posterior para tratamento.
Surge assim a Documentação com critério científico: “Mais do
que ‘ter’ o documento, interessava aos pesquisadores envolvidos com a
Documentação promover uma listagem, um registro de ‘onde poderia estar
cada um dos documentos produzidos pelos seres humanos” (Araújo, 2014a,
p. 5). A formulação de Documento enquanto o material que fornecerá “in-
formação” ao usuário apresentando, assim a “Função documental”, é am-
pliada por autores em outros países, décadas seguintes, e em diferentes con-
textos. Com o passar do tempo além da conceituação teórica dada por Otlet
à documentação, outros pesquisadores (Estados Unidos, Bradford; França,
Briet; e Espanha, López Yépez) expandiram o conceito, (Araújo, 2014a) não
apenas aos artefatos produzidos intencionalmente como registro por seres
humanos, mas aqueles objetos naturais e mesmo seres vivos que, de alguma
forma ou em algum contexto, pudessem ter esta característica de informação
num registro, sendo, portanto, um registro documental.
Ainda de acordo com Araújo (2014a), cientistas americanos nas dé-
cadas de 20 a 40 que usavam seus esforços para catalogar e sistematizar as
descobertas científicas nas respectivas áreas de conhecimento foram os pri-
meiros a serem chamados “cientistas da informação”. A atividade prática
Big data: “[...] conjuntos de dados extremamente grandes que podem ser analisados computacionalmente
para revelar padrões, tendências e associações, especialmente relacionados ao comportamento e às interações
humanas” (Big Data, 2019, tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
64
do início torna-se institucionalizada em 1958 com a criação do Institute of
Information Scientist, com a atividade da Ciência da Informação ligada à
informação focada em ciência e tecnologia, priorizando não a posse do do-
cumento, mas o fluxo, a circulação do conteúdo; além do atendimento aos
cientistas nas suas necessidades de acesso e informação (Araújo, 2014a).
Robredo (2011) traça uma trajetória entre o documento impresso e
a capacidade de armazenamento nas “nuvens”, que é caracterizado como
o armazenamento, utilização de memória e cálculo de computadores feito
de maneira compartilhada usando a internet para a interligação entre um
computador ou fonte de dados e outro computador. Ao traçar o panorama
histórico da evolução dos registros de informação; da documentação feita
com a intenção de preservar a integridade daquele conceito que foi repre-
sentado para que fosse acessível a posteriori, o autor coloca a importância
de Otlet como precursor da Ciência da Informação, empenhado na facili-
dade de acesso à informação por uma catalogação eficiente ao mesmo tem-
po em que se preocupa com a significação possível por meio deste acesso
(Robredo, 2011). Ao transformar o paradigma do acesso do documento ao
conteúdo desta documentação a Ciência da Informação amplia com base
na interdisciplinaridade, o panorama de procedimentos, fundamental para
o sucesso desta tarefa complexa.
Documentalistas europeus e “bibliotecários especiais” norte-ameri-
canos, na década de 50 do século passado, trabalham com a finalidade
de organizar o grande volume de dados gerados na Segunda Guerra. Na
América do Norte surge o American Documentation Institute numa junção
dos “bibliotecários em geral” norte-americanos, com incorporação do en-
foque documentalista (Robredo, 2011, p. 24). A ampliação de velocidade
de acesso ao conteúdo informacional tem um incremento cada vez maior
desde então. A materialidade neste percurso da informação perde impor-
tância quando relacionada ao conteúdo. A visão patrimonialista cada vez
mais deve destacar a representação e o conteúdo representado para dar
garantias de preservação daquilo que deve ser científico, ou valioso para
ser custodiado.
Após a Segunda Guerra Suzanne Briet adequa “O que é documen-
tação” (1951) aos novos tempos nos quais a ONU e UNESCO já são
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
65
instituições de âmbito mundial fomentadores de educação e cultura (Briet,
1951). Pari passu às técnicas de tratamento do documento, a normalização
implica em diminuir as barreiras de múltiplas línguas para a rede interna-
cional de documentação (Briet, 1951, p. 44). A preocupação em unifor-
mização de métodos de classificação implica em uma busca de democrati-
zação e alcance do conhecimento ao longo da história da documentação.
Em meados da década de 60/70 do século passado, consolida-se a
ideia “de que a Ciência da Informação tinha por objeto o estudo dos flu-
xos, dos caminhos percorridos pela informação, sua materialização em di-
ferentes produtos e serviços” (Araújo, 2014a, p. 8). O tratamento técnico
dos acervos de registros humanos como Arquivologia, a Biblioteconomia
e a Museologia serve de parâmetro para destacar a Ciência da Informação
como uma abordagem da informação que vai além da manutenção e recu-
peração destes registros.
A constituição da Ciência da Informação está aliada à concepção
de informação. Aquilo justifica a nova disciplina científica, nas modali-
dades de transmissão de informação, é aceita enquanto comunicação de
informação científica (Belkin, 1975). Compartilhada em um contexto de
interesse social, é feita a divulgação do conhecimento pela disciplina que
traz a informática como uma novidade. O propósito de conhecimentos
compartilhados, com avaliação científica, é feito para atividades científicas
com os objetivos de determinadas comunidades.
Borko (1968) analisa o campo da informação enquanto ciência, e em
seu artigo trata dos aspectos profissionais de acessibilidade e uso de infor-
mação, dando uma definição para a Ciência da Informação enquanto dis-
ciplina necessária com as diversas aplicações que são “em essência” (Borko,
1968, p. 4) as propriedades e comportamento da informação, além do uso
e transmissão de informação, além disso, os processos de otimização e re-
cuperação da informação. Com uma abrangência tão grande dos aspectos
de atuação da disciplina, pode-se considerar a oficialização da Ciência da
Informação na Sociedade Americana da Informação neste mesmo ano.
A informação associada a processos de entendimento e aprendiza-
gem tem, na Teoria Matemática da Informação, a possibilidade de descri-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
66
ção do processo enquanto uma relação causal entre o emissor e o receptor.
“Em termos abstratos, a mensagem nascida de s e r por um processo causal
que determina o que acontece com r em termos do que acontece em r
(Dreteske, 1981, p. 26). Assim, o fluxo de informação depende deste cará-
ter causal subjacente do processo. A relação entre informação e causalida-
de, entretanto, tem uma gama variada entre as ações informacionais sem
causalidade e relações causais sem informação (Dreteske, 1981).
Baseado na teoria da informação de Shanon e Weaver (1964), o con-
ceito de informação enquanto uma entidade física capaz de transmitir um
dado com maior ou menor ruído, ou a quantidade de entropia oferece
ao mesmo tempo uma vertente positivista e tecnológica ao conceito de
informação, tido até então como uma interpretação subjetiva. Ao oferecer
características físicas experimentais, o dado contido na informação pode
ser reproduzido com as mesmas características, sendo então conferido um
caráter preciso nesta reprodução que pode ser quantificada e medida. Esta
cientificidade conferida ao processo de envio de um sinal considerado in-
formação, altera significativamente os meios de comunicação, uma vez que
o efeito do ruído no canal e a preservação possível (da informação) devido
à estrutura estatística da mensagem original e devido à natureza do destino
final da informação” (Shannon, 1949, p. 3). A eficiência da comunicação é
o objeto de interesse da pesquisa feita por Shannon, mesmo considerando
que os aspectos conceituais não são relevantes para o problema de enge-
nharia para tratar dos aspectos físicos ao qual ele se propõe, uma vez que a
eficiência da transmissão altera o resultado. Considerar uma fonte emissora
de informação e medir em bits por segundo a capacidade de emissão desta
fonte (Shannon, 1949) é um propulsor tecnológico para os sistemas de
computação que alguns anos mais tarde levaria o homem à lua.
Na publicação conjunta com Weaver em 1964, existe uma demons-
tração de conceitos que não são principalmente matemáticos, mais acessí-
veis ao entendimento de outras áreas sobre a definição de informação. “A
quantidade que atende exclusivamente aos requisitos naturais que se esta-
belece para ‘informação’ acaba por ser exatamente isso que é conhecido na
termodinâmica como entropia” (Shannon; Weaver, 1964, p. 12). Valendo-
se da equivalência de conceitos, ou analogia na transposição do conceito da
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
67
termodinâmica, a entropia termodinâmica e da informação são diferentes.
Enquanto a entropia na termodinâmica é expressa em unidades de energia
dividida pela temperatura, a informacional é expressa em bits, e ambas
com intensidades diferentes. Uma fonte gera por evento uma quantidade
média de informação medida pela entropia, e chega a outro sistema que é
o receptor formando arranjos organizacionais (Moraes, 2004). O receptor
tem uma segunda decodificação, numa correspondência estatística semân-
tica entre a codificação da fonte e a totalidade estatística da audiência que
se deseja afetar (Shannon; Weaver, 1964). Ou seja, a quantidade de ruído
adquirida no processo de transmissão da informação e a capacidade de
entendimento da mensagem original fornecem uma relação que pode ser
contabilizada estatisticamente e medida na eficácia da transmissão da men-
sagem entre o emissor e receptor. Esta quantificação de correspondência
semântica entre aquilo que é emitido e aquilo que é recebido pode incluir
desdobramentos de significação que não sejam a verificação fidedigna da
mensagem original.
Existem três níveis de problemas de comunicação, quais sejam: pri-
meiro como os símbolos de comunicação podem ser transmitidos; segun-
do, como a transmissão de símbolos tem o conteúdo desejado; e terceiro,
como o significado recebido afeta a conduta da maneira desejada (Shannon;
Weaver, 1964). Esta proposta aparece também na introdução do trabalho, e
o primeiro problema considerado, um problema técnico, tem a demonstra-
ção na teoria matemática da informação. O segundo problema é semântico
e tem na interpretação do receptor o conteúdo comparado com o símbolo
emitido (Shannon; Weaver, 1964). O terceiro enquanto um problema de
eficácia, ou efetividade diz respeito às ações posteriores e decorrentes da re-
cepção. Direcionar a conduta desejada pelo receptor implica no propósito
desta conduta do receptor e está correlacionado ao segundo problema que
é a interpretação semântica (Shannon; Weaver, 1964). Embora o objetivo
principal seja a determinação física, matematicamente provável, ou seja, de
maneira a se chegar à conclusão pelo método dedutivo, a comunicação como
uma ação não é deixada de lado. A dedução enquanto procedimento lógico
humano é extensível aos procedimentos automatizados e incluem a rede de
computadores atuantes atualmente.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
68
A palavra comunicação será usada aqui em um sentido muito amplo
para incluir todos os procedimentos pelos quais uma mente pode
afetar outra. Isso, naturalmente, envolve não apenas a fala escrita e
oral, mas também a música, as artes pictóricas, o teatro, o balé e, de
fato, todo o comportamento humano. Em algumas conexões pode
ser desejável usar uma definição ainda mais ampla de comunicação,
a saber, uma que inclua os procedimentos por meio dos quais
um mecanismo (digamos, equipamento automático para rastrear
um avião e calcular suas prováveis posições futuras) afeta outro
mecanismo (digamos um míssil guiado perseguindo este avião).
(Shannon; Weaver, 1964, p. III, nota introdutória, grifo do autor).
De maneira similar, são estes três problemas enfocados por Araújo
(2014a) quando caracteriza três grandes conceitos de informação que
surgiram e se desenvolveram na evolução da Ciência da Informação. O
primeiro conceito fisicista, no qual a informação pode ser quantificada e
medida em suas propriedades.
O segundo é um conceito cognitivista, em que a informação
é entendida como algo subjetivo, produto da interação entre os
dados (dimensão física) e a mente dos sujeitos, sendo a medida da
alteração do estado de conhecimento (Araújo, 2014b, p. 8).
O conceito cognitivista na visão de Araújo implica na interação de
dados, e isto acontece entre dois sujeitos ou duas mentes que trabalhem
conjuntamente, tenham ação decorrente desta experiência e que não são
necessariamente seres humanos.
O terceiro é um conceito pragmatista, em que a informação é
entendida como algo essencialmente intersubjetivo, em que algo só
pode ser identificado como informação a partir de um determinado
arranjo de elementos (um regime informacional) e por meio de
ações específicas de in-formar (gerar registros de conhecimento) e se
in-formar (utilizar esses registros) (Araújo, 2014b, p. 8).
O conceito pragmatista que é a terceira vertente, à medida que esta-
belece uma ação envolvida neste processo de significação tem várias possi-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
69
bilidades de ação. Desde um comando que dispara uma ação determinada
(como no controle remoto que aciona o ar condicionado), até o conheci-
mento proporcionado pelo estudo de um novo conceito, que é a transmis-
são de um conteúdo de um emissor para um receptor independente do
substrato físico que isto possa acontecer, seja um livro, documento, obra
de arte. A mesma visão cognitivista, da ação que leva ao conhecimento e,
portanto, tem no pragmatismo possibilidade de entendimento é compar-
tilhada por Capurro e Hjørland (2003), como veremos adiante.
A Ciência da Informação é um campo que voltado à pesquisa
científica e à prática profissional e que trata dos problemas da
comunicação dos conhecimentos e dos registros de conhecimentos na
sociedade, no contexto de usos e necessidades das informações sociais,
institucionais e/ou individuais. Na abordagem desses problemas de
interesse particular, é vantajoso o emprego das modernas tecnologias
da informação (Saravecic, 1995, p. 2, grifo nosso).
As relações diferentes em cada disciplina do conhecimento com a
concepção eventualmente interdisciplinar, são usadas para a compreensão
da informação e comunicação; e também compreensão desta influência
no comportamento humano que são tratadas nas investigações da Ciência
da Informação. O autor reúne quatro campos de contribuições para a
Ciência da Informação: campo da biblioteconomia, ciência da computa-
ção, ciência cognitiva e comunicação (Saravecic, 1995), são várias disci-
plinas elencadas para a solução de problemas comuns. Na delimitação da
recuperação da informação as questões relativas a 1) organização intelec-
tual da informação, 2) especificação de busca e interação intelectual, 3)
sistemas e técnicas a serem usados neste processo (Idem) continuam sendo
válidas. Organizar e recuperar informação são dois lados do mesmo proce-
dimento que envolve significação.
A Ciência da Informação, no seu percurso histórico, nasce quando o
pensamento moderno está estabelecido, ou seja, neste período as teorias de
universalização já não davam conta de responder a vários questionamentos
científicos. A multidisciplinaridade para abarcar os conteúdos tem papel im-
portante, porém as conexões entre conhecimentos obtidos em disciplinas
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
70
diferentes são cada vez mais elencadas e necessárias. É necessária a inclusão
para reconhecer o papel de acesso aos diversos segmentos sociais à informa-
ção, e desta maneira a diversidade de conhecimento é aceita cada vez mais
na composição de áreas de conhecimento específicas, assim pode-se transitar
entre disciplinas diferentes com diferentes graus de participação e contribui-
ção de cada especificidade na solução da questão colocada (Pombo, 2004).
O século XX tem abertura para possibilidades de relacionar arqui-
vos, bibliotecas e museus nos contextos nos quais eles estão inseridos, mais
do que apenas as técnicas positivistas de tratamento dos acervos custo-
diados que são “descrição, inventário, classificação, conservação, exposi-
ção” (Araújo, 2014b, p. 6). Tendências contemporâneas são de tratamen-
to sistêmico e condições interativas entre os acervos “e as relações sociais,
econômicas, culturais, políticas, administrativas e outras que constituem a
realidade humana” (Araújo, 2014b, p. 6).
Trata-se de uma ciência interdisciplinar [...]. Tem tanto um
componente de ciência pura, que indaga o assunto sem ter em
conta a sua aplicação, como um componente de ciência aplicada,
que desenvolve serviços e produtos. […] a biblioteconomia e a
documentação são aspectos aplicados da Ciência da Informação
(Borko, 1968, p. 4).
Desta maneira, tratar a Ciência da Informação em seus pressupos-
tos epistemológicos é contemplar as especificidades das disciplinas que são
abarcadas pela formação deste campo científico que é considerado “novo”.
A perspectiva patrimonialista de custódia dos acervos (Araújo,
2014b) tem fundamentações positivistas e técnicas pertinentes ao trata-
mento funcional citados acima (descrição, inventário, classificação, con-
servação, exposição) que tiveram incrementos tecnológicos ao longo do
século XX. Com o incremento da produção científica esta prática tem
necessidade de superação, por outro lado, existe a possibilidade computa-
cional que dá nova perspectiva de abordagem (Araújo, 2014b). O grande
volume da produção de dados seja ele considerado científico ou de cunho
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
71
popular tem cada vez mais necessidade de tratamento que seja compatível
com o uso social da informação fornecida por eles.
Aliada a esta tarefa gigantesca de controlar usos e fluxos da infor-
mação, visando a acesso e disseminação ideais aos sistemas informativos,
a Ciência da Informação enquanto ciência interdisciplinar “investiga as
propriedades e comportamento da informação” (Borko, 1968, p. 5). Esta
colocação, por si só, dá margem a investigações e pesquisas que por nature-
za devem ser interdisciplinares. A inter-relação entre várias disciplinas deve
ser feita para entendimento do âmbito de propriedades da informação e os
vários meios materiais pelos quais ela pode ser acessada; e mais ainda como
o comportamento da possível informação pode ser utilizado. Certamente
esta gama de atividades passa pelo estudo das possibilidades de significação
desencadeadas pela da informação acessada, tendo em vista o novo uso
desta informação em cada novo acesso. O âmbito das pesquisas tem como
escopo os materiais físicos de acesso à informação, e as diversas possibilida-
des de significação a partir de cada acesso ao mesmo registro, ou diferentes
linguagens de representação do mesmo conteúdo. Os cientistas da infor-
mação ao manipularem a informação para direcionar o desenvolvimento
técnico deste tratamento da informação, certamente influenciam na tarefa
de possibilitar entendimentos novos, a partir de um mesmo conjunto de
elementos já representados.
É uma atividade social determinada por condições históricas e
socioeconômicas. Como já dissemos, a sociedade da informação
precisa de uma ciência que estude as propriedades da informação
e os processos de sua construção, comunicação e uso (Le Coadic,
2010, p. 52).
Esta definição inclusiva do escopo da Ciência da Informação não é
condizente com o objeto de estudo estabelecido por Le Coadic (2010). A
construção do conhecimento científico e fenômenos da informação não po-
dem estar restritos ao que se considera a espinha dorsal da disciplina “a partir
de três entidades: os infons (palavras, imagens, sons), as pessoas e o tempo
(Le Coadic, 2010, p. 56). A redução positivista, defendida por ele, exclui os
processos de comunicação de sua tentativa de prescrever um método.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
72
Nesta tentativa em que “entidades são definidas por propriedades e
relacionamentos, permitindo seu registro rigoroso em modelos formais
(Le Coadic, 2010, p. 56) a informação não pode ser confundida com co-
municação porque é um objeto estanque, condizente com a visão patrimo-
nialista no seu acervo isolado, na visão do autor. A construção, comunica-
ção e uso da informação são uma atividade social que não pode prescindir
de comunicação para ser científica.
Estar mais perto da informação e mais longe do documento-objeto
(Le Coadic, 2010) não se trata de opção de carreira profissional para os
trabalhadores no setor de Organização do Conhecimento, para arquivistas,
museólogos, bibliotecários, mas de entendimento do processo de comuni-
cação e conhecimento envolvidos na custódia e recuperação de informação.
Delimitar o alcance e possibilidades de atuação da Ciência da
Informação enquanto campo do saber científico é tarefa pretendida por
vários autores como Dahlberg (1993), Hjørland (1995, 2003), que têm
a preocupação de fazer da disciplina um campo de habilidades que inclua
e transacione pelos vários saberes e possibilidades das quais a informação
compete participar. Caracterizar o espaço institucional desde a sua con-
cepção enquanto ciência pós-moderna, interdisciplinar e também humana
e social (Araújo, 2014a) tem um consenso a respeito da importância da
abordagem epistemológica de atuação.
Algumas caracterizações da Ciência da Informação parecem ser
acordo entre os estudiosos da área, então ela é considerada interdisciplinar
(Pombo, 2004), sendo um campo de análise e pesquisa das várias discipli-
nas, porque é dentro da Ciência da Informação o campo de diálogo entre
as várias disciplinas, nos campos ou casos de pesquisas afins, ressignifi-
cando conceitos. A Ciência da Informação é pós-moderna: Assim, o que
definiria um objeto de estudo é, antes, uma forma específica de olhar, de
enxergar os fenômenos da realidade [...] maneira específica, mobilizando
determinados conceitos e métodos, naquilo que foi progressivamente sen-
do entendido como o olhar informacional sobre o real.” (Araújo, 2014a,
p. 15). O objeto de estudo sendo a informação estabelece uma forma de
enxergar a realidade, ou os fenômenos que podem ser descritos, uma vez
que os processos informacionais podem caracterizar o mesmo objeto de
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
73
maneiras diferentes. Estes fenômenos fazem parte de todas as ciências e ao
mesmo tempo de nenhuma específica. A Ciência da Informação é humana
e social, portanto, o fenômeno estudado mais do que uma relação causal,
estabelece uma ligação com o observador e não decorre apenas de determi-
nado fenômeno observado.
A forma de organização para o conhecimento não é unívoca, porém
é artificial, manipulada pelo processo civilizatório e sempre provisória, pas-
sível de novas maneiras de representação deste conhecimento. Ela pode ser
determinista, com visão parcial em momentos específicos, porém consegue
constante revisão. O documento é a materialização de conhecimento, po-
rém oferece prova de revisão e, sendo veículo de compartilhamento, pode
transitar entre as diversas comunidades, científicas ou não, oferecendo,
desta maneira, uso social e amplo do registro que guarda esta evolução do
conhecimento documentado.
Conhecimento é um todo, sintetizado em pontos, pistas sintéticas
para acesso: unidade de pensamento, ou unidades de conceitos, em um
registro enquanto síntese do conhecimento representado de tudo o que
possa ser importante para a sociedade (Dahlberg, 1993). Existe um sistema
de conceito, de classificação, taxonomia; organizado para fins funcionais,
como comércio e farmácia. É feita a categorização em unidades de acordo
com valor informacional para os arquivos correntes e permanentes. O cri-
tério adotado para aquele determinado momento deve seguir a lógica do
sistema segundo a regra numa uniformidade de procedimentos.
Aliando a concepção de “ciência” enquanto uma atividade do pen-
samento moderno em constante transformação e “epistemologia” enquan-
to ramo da filosofia que tem na reflexão sobre o conhecimento científico
seu objeto de estudo, Kobashi define a Ciência da Informação como uma
ciência em definição nos seus pressupostos, uma vez que “a Ciência da
Informação e área que não tem um objetivo comum de pesquisa compar-
tilhado pelos pesquisadores” (Fernandes; Kobashi, 2009, p. 378). A iden-
tidade da área via construção epistemológica do campo de atuação não é
tarefa de uma das disciplinas, ou de pesquisadores isolados, mas certamen-
te se faz no conjunto compartilhado das concepções cabíveis à área. Por en-
volver elementos que perpassam informação e demais disciplinas que por
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
74
tradição investigam o conhecimento, como é a Filosofia, devem ter papel
relevante para a delimitação do campo que está além da funcionalidade de
organização e recuperação da informação e conhecimento.
Estabelece que os objetos componentes da Ciência da Informação
são então tão vastos quanto as disciplinas que têm espaço dentro de seu
campo para trânsito e discussão (Araújo, 2014b): “Seus objetos seriam, en-
tão, os problemas da efetiva comunicação do conhecimento e dos registros
de conhecimento entre seres humanos, no contexto social, institucional ou
individual do uso e das necessidades de informação” (Fernandes; Kobashi,
2009, p. 380, grifo nosso). A comunicação do conhecimento na sociedade
da informação tem dinâmica e modalidades em vários substratos físicos
que mantém intercâmbio cotidiano.
A sociedade da informação é caracterizada pelos meios de comu-
nicação tecnológicos globais que proporcionam a interligação do sistema
produtivo capitalista de nossa sociedade (Capurro; Hjørland, 2003).
A tônica proposta pela interdisciplinaridade e a comunicação do co-
nhecimento têm na possibilidade de identificação das etapas de construção
dos signos, mais do que o entendimento da relação de significação, possi-
bilidades de alcance para os temas tratados dentro do campo que estabelece
o objeto da Ciência da Informação.
A busca por tratamento da informação que perpasse várias disci-
plinas tem na visão sociocognitiva a necessidade de entender a interação
entre a ação do sujeito e o meio no qual está inserido. As visões sociocogni-
tivas, vindas das ciências cognitivas influenciam os estudos em Ciência da
Informação (Hjørland, 2002a).
2.2 Da ORGaniZaÇÃO DO cOnHeciMenTO
A Organização do Conhecimento tem décadas de debate entre es-
tratégias de correlação entre linguagem natural e vocábulos controlados
(Barité, 2001). Simbolizar o conteúdo de documentos de maneira a di-
recionar a pesquisa é uma tarefa que, ao mesmo tempo em que indica a
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
75
informação esperada pelo usuário, pode levar a outros conhecimentos além
daquela informação pretendida. Então, se por um lado devemos fornecer a
informação esperada para custodiar o documento, por outro, o acesso deve
possibilitar a geração de conhecimentos sem limitar as potencialidades que
a informação deve conter.
Num significado limitado Organização do Conhecimento (KO)
é sobre atividades como descrição do documento, indexação e
classificação realizada em bibliotecas, bases de dados bibliográficas,
arquivos e outros tipos de “instituições de memória” por
bibliotecários, arquivistas, especialistas em informação, especialistas
em assuntos, bem como por algoritmos de computador e leigos
(Hjørland, 2008, p. 86).
Considera-se aqui que toda representação com um código social-
mente aceito tem esta mesma potencialidade, como é o caso das constru-
ções arquitetônicas que formam as cidades. Pretender um entendimen-
to interdisciplinar da interação destes códigos informacionais a partir da
Ciência da Informação pode nos mostrar entendimentos para a informa-
ção em outras disciplinas do conhecimento. Esta forma mostrada com
seu conteúdo informacional tem códigos que podem ser representados de
outras maneiras, com o aparecimento de novas formas e, portanto, novas
possibilidades de interação e análise.
A trajetória das atividades de tratamento da informação enquan-
to material custodiado tem evolução junto com a maneira que o avanço
da tecnologia proporciona. A conferência realizada no ano de 1962 do
Georgia Institute of Technology é considerada um dos marcos da caracteri-
zação enquanto ciência das atividades de armazenamento e recuperação da
informação (Fonseca, 2004, p. 29).
Existe a atenção continuada ao conteúdo custodiado, a fundação da
Sociedade de Classificação em fevereiro de 1977 em Frankfurt tem a mis-
são de “[...] promover a pesquisas filosóficas e fundamentos sistemicamen-
te relevantes para o domínio metodológico de bibliotecários e documenta-
listas” (Dahlberg, 2014, p. 85). A mudança do foco do material custodiado
para o interesse do usuário é cuidado para o tratamento da informação. O
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
76
comportamento informacional dos usuários, a partir da década de 1980,
tem duas abordagens distintas. Uma das maneiras de abordar é aquela que
pesquisa o modo de uso das bibliotecas; e outra é como os usuários podem
chegar até a informação por meio da busca (Araújo, 2014b) O compor-
tamento do usuário até o acesso que significa conhecimento tem varia-
ções, da mesma maneira são alterados os critérios de relevância na busca.
A organização da Informação (OI) e Organização do Conhecimento (OC)
têm assim importância tanto na busca quanto no uso da informação e por
consequência no comportamento informacional do usuário.
Em 1989, a International Society for Knowledge Organization
(ISKO) foi criada incluindo a expressão “organização do conhecimento
numa aproximação do termo Wissensordnung, traduzido como “sistema
de conhecimento” em português, e para o inglês Knowledge Organization
(Dahlberg, 2014, p. 85).
Ao considerar a Ciência da Informação interdisciplinar na investiga-
ção das propriedades e também comportamentos da informação nos seus
usos e fluxos, o leque de investigações possíveis de estudo se torna muito
abrangente (Borko, 1968). O campo científico compreende tarefas que
consistem na armazenagem, recuperação e disseminação da informação, e
trabalha por um lado com a informação tratada como material disponível
ao conhecimento, mantida sob custódia em um acervo institucionalizado,
mas também abre possibilidades ao estudo da informação na qual os signos
apreendidos também possam criar conhecimento no processo de significa-
ção presentes em qualquer artefato humano que possa indicar a trajetória
de conhecimento e tecnologia incluída nele.
A busca informacional enquanto ação de comunicação envolve uso
de linguagem (Gonzáles de Gómez, 2006). A linguagem seria então a reu-
nião do informacional e social, cabendo à Ciência da Informação entender
as interfaces deste processo que envolve a tecnologia enquanto produto
desta relação e que é determinante para os meios como a comunicação
pode acontecer.
A Organização do Conhecimento na visão de Barité (2001) é um
produto social, e dínamo social. As dez premissas básicas para a constitui-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
77
ção da Organização do Conhecimento têm essa perspectiva de inclusão
necessária do âmbito contextual da sociedade enquanto primeira premissa.
Este conhecimento, realizado a partir da informação, transforma-se em
informação ao se socializar. Da mesma maneira Hjørland (2003), em seu
artigo, estrutura o tema em dez seções para estabelecer suas bases para a
Organização do Conhecimento e então delinear aspectos fundamentais em
Organização do Conhecimento enquanto campo de estudo.
O sentido mais amplo reconhecido para Organização do
Conhecimento é tanto aquele como o conhecimento é organizado quan-
to o modo como a realidade é organizada. A organização intelectual ou
cognitiva do conhecimento está pari passu com a organização social do
conhecimento (Hjørland, 2008, p. 86-87). “Não existe um ‘universo
de conhecimento’ fechado que possa ser estudado pela Organização do
Conhecimento isoladamente de todos os estudos de outras ciências da re-
alidade” (Hjørland, 2008, p. 87).
Ao tratar da busca eletrônica feita por pontos de acesso usando pa-
lavras nas redes eletrônicas, a autora considera que são necessários outros
parâmetros para reforçar uma questão prática de recuperação envolvendo
o plano epistemológico, para então voltar à atuação prática do usuário,
apoiados neste subsídio epistêmico (Gonzáles de Gómez, 2006). A autora
defende a abordagem pragmática, uma vez que “[...] a abordagem pragmá-
tica é a mais adequada para subsidiar as investigações e práticas da Ciência
da Informação no plano virtual visto que ele está em constante movimento
(em ação)” (Gonzáles de Gómez, 2006, p. 5).
A inter-relação entre organização do conhecimento e bases episte-
mológicas nas quais a adequação de relevância, assunto, indexação, recu-
peração são delimitadas por abordagens que relacionam informação, con-
teúdo e acesso aos documentos têm investigações sistemáticas feitas por
vários autores. Hjørland tem nas publicações uma referência sistemática
ao pragmatismo, assim a dedicação às considerações a esta visão do conhe-
cimento que está relacionada à ação tem atenção especial nesta pesquisa.
Em artigo intitulado “Fundamentos da Organização do
Conhecimento” (Hjørland, 2003) com a estruturação em dez seções para
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
78
estabelecer as bases para a Organização do Conhecimento, o autor parte da
concepção de que, para a Organização do Conhecimento, as atitudes e pre-
ceitos partem da relação semântica entre unidades de conceito, portanto,
mesmo com a consideração da delimitação dos domínios direcionarem áre-
as específicas de entendimento científico, discussões fundamentais sobre as
bases da Organização do Conhecimento em Biblioteconomia e Ciência da
Informação estão conectadas às discussões de tipos de teorias epistemológi-
cas, sendo necessárias, portanto, investigações nesta área (Hjørland, 2003).
(1) Organização do Conhecimento (KO) é um campo
interdisciplinar amplo, muito mais amplo que a Biblioteconomia e
Ciência da Informação (LIS). (2) Dentro do LIS tem havido muitas
abordagens e tradições diferentes de KO com pouca influência
mútua. Estas tradições foram em grande parte definidas por novas
tecnologias, razão pela qual a integração teórica e a base não foram
bem consideradas. As tradições mais importantes orientadas pela
tecnologia são: a) Indexação e classificação manual em bibliotecas e
obras de referência, b) Documentação e comunicação científica, c)
Armazenamento e recuperação de informações por computadores,
d) Citação baseada em KO e e) Texto completo, hipertexto e
Abordagens baseadas na Internet. Essas tradições, juntas, definem
muito o foco especial do LIS no KO. Para o KO como um campo
de pesquisa, é importante estabelecer um quadro de referência
teórico frutífero para este campo em geral (Hjørland, 2003, p. 87).
Introduzindo o assunto, ele considera a Organização do Conhecimento
um campo multidisciplinar mais amplo que Biblioteconomia e Ciência
da Informação. Esta abrangência pode então incluir o conhecimento, e
então está nas várias possibilidades de informação e ação baseadas neste
processo de aprendizagem. Ele considera os principais atores em Ciência
da Informação aqueles produtores de conhecimento, os autores; além de
usuários e intermediários nesta manipulação dos registros. Mais do que
os registros bibliográficos o conhecimento pode ser organizado, entre ou-
tras coisas pela divisão social do trabalho, como as disciplinas; instituições
sociais, como as universidades; sistemas simbólicos e linguagem; sistemas
conceituais e teorias; literatura e gêneros (Hjørland, 2003). Ao questionar
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
79
a falta de teorias na Organização do Conhecimento em conceitos funda-
mentais como conceitos, critério de inclusão, significado, indexação, ou
relações semânticas, ou assuntos, a procura por conhecimento está direcio-
nada a eficiência na organização do conhecimento que pode ser apresenta-
do (Hjørland, 2003).
O desenvolvimento de classificação e sistemas de indexação
em bibliotecas direciona o desenvolvimento do conceito de OC em
Biblioteconomia, no qual a sucessão tecnológica de possibilidades de aces-
so à informação dinamiza as abordagens, consideradas em cinco estágios
(Hjørland, 2003). O primeiro estágio tem a indexação e classificação ma-
nual em bibliotecas e trabalho de referência; o segundo estágio trata da do-
cumentação e comunicação científica; no terceiro estágio a partir dos anos
da década de cinquenta o armazenamento e recuperação de informações
por computadores; no quarto, a recuperação baseada em citação e organi-
zação do conhecimento; e no quinto estágio, a partir dos anos noventa do
século XX, texto completo, hipertexto e internet.
A classificação e indexação manual nas bibliotecas, e obras de referên-
cia como a classificação de Dewey, e também os trabalhos de Ranganathan
são cânones para a Biblioteconomia e Ciência da Informação, que segundo
o autor deveriam ter sido investigados e revistos. O movimento de do-
cumentação, fundado por Otlet e La Fontaine, interessava-se mais pelo
controle bibliográfico, comunicação e publicação científica e menos pelo
conteúdo das bibliotecas e suas coleções, em que os bibliotecários costu-
mavam ter uma afinidade com a área de humanas. O estudo de usuários e
bibliometria em 1948 iniciam uma abordagem mais específica e aprofun-
dada cientificamente, e estabelecem as bases para a posterior base de dados
online (Hjørland, 2003).
Com relação ao armazenamento e recuperação feitos por meio dos
computadores, Hjørland (2003) considera que a Biblioteconomia e Ciência
da Informação não estão centradas na construção de algoritmos para a exe-
cução da tarefa como é tratada na ciência da computação. “Na minha opi-
nião, o objetivo do Biblioteconomia e Ciência da Informação é otimizar
a utilização de conhecimentos documentados. O objetivo primordial das
bibliotecas é fornecer acesso intelectual à informação” (Hjørland, 2003,
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
80
p. 89). Ao considerar o objetivo daquilo que está contido no documento,
em suas possibilidades de entendimento, e não o substrato físico que oti-
miza este acesso, a pesquisa em Organização do Conhecimento está além
da localização específica de um documento, ou possibilidades de engano,
na busca do usuário desta documentação que trará a possível informação
buscada. O acesso fácil ao documento que contém a possível informação
é necessário, porém a representação obtida com o documento é o veículo
ao conhecimento a ser acessado, nas várias formas em que possa acontecer.
Na visão de Hjørland (2003, p. 90) teorias relacionadas à informa-
ção e as relacionadas à documentação são tipos de perspectivas diferentes.
Tratamentos de informação podem levar a Organização do Conhecimento,
e Biblioteconomia e Ciência da Informação para codificação, ruído etc.,
(como a teoria de Shannon, 1949) enquanto documento para teorias sobre
significado, linguagem, conhecimento, epistemologia e sociologia. Ele ain-
da faz distinção entre automatização relacionada à busca ao documento, e
então o acesso ao conteúdo para avaliação científica de outro documento
a ser encontrado.
A recuperação de documentos a partir de citações é um passo impor-
tante no avanço qualitativo das possibilidades de recuperação por meio de
Pontos de Acesso por Assunto, introduzido no modo de busca em 1963. O
padrão semântico sempre pode ser alterado, mesmo se reportando a um
padrão de vocábulo das citações. E pelas citações de cada autor, no artigo
em que ele coloca seu argumento é possível refazer sua trajetória de pesqui-
sa. Neste caso a simples busca algoritimica dos resultados de citações não
parece tão relevante, porque os objetivos de Recuperação da Informação
estão enraizados em bases epistemológicas (Hjørland, 2003).
A recuperação de texto completo é o quinto passo no desenvolvimento
de recuperação por meio de Pontos de Acesso por Assunto (a partir dos
anos 90). Nesta fase foi possível a recuperação de palavras e também de
todo o texto, e mais do que antes, torna-se importante o valor semântico
relacionado à pesquisa. Organização do Conhecimento e Biblioteconomia
e Ciência da Informação lidam na prática com estes cinco estágios rela-
cionados, nos quais a tecnologia apresenta sua importância, porém novas
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
81
formas de diálogo para o conteúdo semântico devem ser abstraídas da tec-
nologia concreta.
A divisão da Organização do Conhecimento do conhecimento em
intelectual e social caracteriza por um lado a organização, chamada cog-
nitiva, que inclui conceitos, sistemas conceituais e teorias; e por outro a
organização social distinta em profissões, disciplinas e negócios.
(3) Uma importante distinção teórica a considerar é aquela entre as
formas sociais e intelectuais de KO. As formas sociais do KO estão
relacionadas à formação profissional, disciplinas e grupos sociais,
enquanto a organização intelectual está relacionada a conceitos e
teorias nos campos a serem organizados. (4) A perspectiva social
inclui, além disso, os sistemas de gêneros e documentos, bem como
o sistema social de conhecimento produtores, intermediários do
conhecimento e utilizadores do conhecimento. (5) Esse sistema
social de documentos, gêneros e agentes disponibiliza uma estrutura
muito complicada de potenciais pontos de acesso aos sujeitos
(SAPs), que podem ser usados na recuperação de informações (IR).
O objetivo básico da pesquisa em KO é desenvolver conhecimento
sobre como otimizar este sistema de SAPs e sua utilização em RI
(Hjørland, 2003, p. 87).
Esta divisão resumida em uma tabela, os conceitos de mesmo nome
que têm conteudos diferentes em Filosofia e Psicologia e são relacionados
a paradigmas (Hjørland, 2003). Percebe-se o esforço e dificuldade desta
classificação que para ser didática, tende a um nominalismo exagerado, ou
seja, a complexidade de relações é simplificada de tal maneira que o con-
teúdo deixa de lado o significado original para ter uma versão resumida a
ponto de ser descaracterizada, sendo apenas um nome. Esta divisão na prá-
tica é meramente classificatória, uma vez que teorias e conceitos dividem
áreas de conhecimento e vice-versa.
A organização intelectual, que pode ser chamada organização daqui-
lo que é passível de apreensão racional, e consiste basicamente na organi-
zação de conceitos; e por outro lado a organização social que está baseada
nas profissões, disciplinas, marcas (Hjørland, 2003).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
82
O foco especial da Biblioteconomia e Ciência da Informação é o
conhecimento documentado, produzido por seres humanos, e uma vez
documentado este conhecimento é possível ser recuperado num uso po-
tencial para outros seres humanos, (Hjørland, 2003). Sendo propriedade
de seres humanos, para uma perspectiva pragmática da Organização do
Conhecimento, do ponto de vista de Hjørland (2003), a atividade de bus-
ca na documentação, está profundamente enraizada e conectada à organi-
zação social do conhecimento. E com este sentido a informação cognitiva
é baseada na sociedade e exerce também influência social. Neste contexto
a Ciência da Informação deve fornecer modelos de atores, instituições e
serviços de informação em diferentes comunidades discursivas. Para isto
Hjørland (2003) destaca a importância da abordagem interativa de do-
mínio que pode fornecer várias possibilidades com os diferentes atores de
produção e consumo da informação e conhecimento.
(6) Os Pontos de Acesso por Assuntos podem ser vistos como
signos, e sua produção e uso podem ser entendidos do ponto de
vista da semiótica social. (7) O conceito de paradigmas também é
útil porque diferentes grupos e interesses tendem a ser organizados
de acordo com um paradigma e a desenvolver diferentes critérios
de relevância, e, portanto, diferentes critérios de probabilidade
no KO. (8) A unidade básica em KO é a relação semântica entre
dois conceitos, e tais relações estão embutidas em teorias. (9) Na
classificação, as coisas são agrupadas, mas o que é considerado
semelhante não é uma questão trivial (Hjørland, 2003, p. 87).
Com relação aos Pontos de Acesso de Assunto em Recuperação
Eletrônica, Hjørland enfatiza que a Ciência da Informação estuda a ma-
neira pela qual as palavras e os símbolos significam em seu contexto es-
pecífico, pois vocabulários controlados possuem significado específico
em cada composição de documento. A função da Ciência da Informação
também é explicar e representar os significados adjacentes, usando três
principais abordagens em Organização do Conhecimento e Recuperação
da Informação: a) recuperação da informação baseada na frequência de
termos no próprio texto e no total da base de dados, b) Organização e
recuperação das bases de citação baseada nas redes de citações entre docu-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
83
mentos, c) as clasificações tradicionais de bibliotecas baseadas em critérios
e divisões disciplinares, o que é externo ao conteúdo do documento (por
que generaliza demais o assunto?) (Hjørland, 2003).
Para fazer um sistema de classificação (tesauro) e então classifi-
car um documento são necessários envolvimentos epistemológicos para
Organização do Conhecimento; e diferentes tipos de Pontos de Acesso
de Assunto (PAAs) têm diferentes Valores na recuperação de informações,
porque a identificação do assunto não é uma atividade neutra e influencia
interesses e pontos de vistas teóricos: o assunto é a potencialidade epistemo-
lógica do documento (Hjørland, 2003).
As palavras que designam objetos iguais quando comparadas em
línguas diferentes mostra como contextos culturais diferentes atribuem
significados diferentes para os mesmos objetos tratados em cada contexto
sociocultural. A linguagem, para os estruturalistas, afeta nossa estrutura-
ção e classificação do mundo (Hjørland, 2003). O enfoque da Teoria da
Atividade é a utilização de significado, signo e documentos, para padroni-
zar o acesso prático em comunidades. Os critérios de relevância estão liga-
dos aos objetivos de cada comunidade. O processamento de informação
tem um objetivo dado de antemão, então são teleológicos por natureza. E
os critérios de relevância são dados pela educação em cada contexto parti-
cular de socialização dos indivíduos (Hjørland, 2003).
As unidades fundamentais em Organização do Conhecimento são
as relações semânticas entre conceitos, uma vez que eles são considerados
unidades de pensamento e conhecimento (Hjørland, 2003). A função bá-
sica do conceito é oferecer as bases para se lidar com o mundo, recortando
e classificando no continuum do mundo. Para a recuperação de informação
são necessárias essencialmente relações semânticas entre consultas, e repre-
sentações contidas nos documentos e textos. Diferentes teorias de concei-
tos estão profundamente ligadas com teorias epistemológicas, portanto o
significado pode não ser o mesmo dependendo da área de conhecimento
em que o conceito é usado para aquela teoria, naquela área de conhecimen-
to. Os conceitos são relativos às teorias aos quais eles estão incorporados.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
84
A teoria do conceito formulada por Dalhberg trata de enunciados
sobre objetos e neles cada enunciado verdadeiro representa um elemento
do conceito (Dahlberg, 1978). A minuciosa categorização de possibilida-
des de catalogação baseada nesta sistematização de atribuir nomes norteia
o trabalho de organização. O esforço de sistematização abrange múltiplas
capacidades de classificação. Dentre as distinções para definição de um
conceito, a definição nominal fixa o uso do conceito, enquanto a definição
real está relacionada com o conhecimento contido em determinado con-
ceito (Dahlberg, 1978. É importante notar aqui a distinção entre aquele
conhecimento que vem da concepção das ideias diferenciado daquele que
está no uso, na ação.
O conceito relacionado ao conhecimento proposto por Dalhberg
tem na ISO 25964-1, que trata da interoperabilidade de tesauros e voca-
bulários, a definição de conceito enquanto unidade de pensamento: “Os
conceitos geralmente podem ser expressos de várias maneiras diferentes.
Eles existem na mente como entidades abstratas, independentes dos ter-
mos usados para expressá-los.” (ISO 25964-1, 2011, p. 3). A concepção
mentalista da definição trata de maneira distinta da existência aquilo que
é conceituado. Unidades de pensamento e unidades de conhecimento têm
enfoques semelhantes, mas o conhecimento é passível de aquisição, en-
quanto o pensamento se mantém enquanto entidade abstrata.
Basicamente, os métodos (quantitativos e qualitativos) estão rela-
cionados com Teorias da Epistemologia. Como obter conhecimento de
várias maneiras possíveis é a busca e direcionamento de pesquisas em
Organização do Conhecimento (Hjørland, 2003).
(10) O artigo conclui com a consideração dos métodos para o OC.
Basicamente, os métodos de qualquer campo estão relacionados
com teorias epistemológicas. Este também é o caso do OC. Os
métodos existentes, conforme descritos na literatura de OC,
enquadram-se em uma classificação de visões epistemológicas
básicas. O debate sobre os métodos de OC no nível mais profundo,
portanto, implica uma discussão epistemológica (Hjørland, 2003,
p. 87).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
85
A Organização do conhecimento baseada na metodologia cartesiana
de divisão em partes cada vez menores que compõem um conjunto es-
truturado, tem na visão de conceito a menor unidade, ou unidade básica
a partir da qual demais sequências argumentativas são estruturadas para
compor um documento.
O conceito restringe a variedade das descrições de certos fenômenos
semelhantes, seu conteúdo explicita o que uma comunidade
específica compreende por algum termo, além de ter um papel
essencial na formação da linguagem científica e técnica. Um
conceito em uma área técnica ou comunidade científica contém
ideias consensualmente associadas a um conjunto determinado
de fenômenos. Em outras palavras, conceituar significa descrever,
escolhendo uma única unidade para representar uma ideia, por
isso, é reduzir os significados potenciais a um grupo específico de
pessoas (Almeida, 2012a, p. 51).
A forma de definição do conhecimento, que não é subjetivo mas
adquirido com a experiência enquanto aprendizado, resulta nas unida-
des de conhecimento. “Nosso conhecimento se condensa em concei-
tos por seu conteúdo informativo. Os conceitos são, portanto, unidades
de conhecimento e formam os elementos dos sistemas de conhecimen-
to (Wissensordnungen)” (Dahlberg, 2014, p. 86). A autora conclui que o
conceito é o currículo, o inventário das características que determinam
seu conteúdo. Um esquema de classificação conceitual tem quatro con-
teúdos determinantes enquanto pré-requisitos: a relação de abstração de
gênero-espécie; a relação partitiva de todo/parte; a relação complementar
ou de oposição; a relação relacionada à função, gerando uma espécie de
sintaxe; (Dahlberg, 2014). Os elementos estruturais de organização do co-
nhecimento são o segundo pré-requisito. A organização do conhecimen-
to é para Dahlberg (2014) o conhecimento dos conceitos estruturáveis
acertadamente para o mundo científico para que as aplicações do trabalho
de Organização do Conhecimento, que “[...] lida com todos os tipos de
objetos e assuntos” (Dahlberg, 2014, p. 88) nas várias formas físicas de
apresentação do documento.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
86
A organização da informação é, portanto, um processo que envolve
a descrição física e de conteúdo dos objetos informacionais. O
produto desse processo descritivo é a representação da informação,
entendida como um conjunto de elementos descritivos que
representamos atributos de um objeto informacional específico.
(Brascher; Café, 2008, p. 5).
O termo está relacionado a um conceito a partir do qual a infor-
mação pode ser indexada e, portanto, recuperada. A Organização da
Informação e Organização do Conhecimento enquanto termos, conceitos
que designam a maneira de articular conteúdos informacionais dentro da
CI demarcações que nem sempre têm consenso.
Quando nos referimos à OC e à RC, estamos no mundo dos
conceitos e não naquele dos registros de informação. Nessa direção,
discordamos de Hjørland (2008) quando afirma que “o processo
de organização do conhecimento, no sentido restrito usado na
Ciência da Informação, compreende a elaboração de resumos, a
catalogação, a classificação, a indexação, o estabelecimento de elos,
etc.”. Em nosso entendimento, esses processos se aplicam a objetos
físicos – aos objetos informacionais e, consequentemente, são
processos de organização da informação e não do conhecimento.
(Brascher; Café, 2008, p. 6).
A melhor abordagem do documento para classificação é o pres-
suposto para cada nova atividade do profissional na Organização do
Conhecimento. “Relevância foi a noção chave no surgimento da Ciência
da Informação e permaneceu a noção básica na maioria de suas teorias e
toda a sua prática. Assim, uma revisão de relevância deve começar com
uma revisão da Ciência da Informação” (Saravecic, 1975, p. 323). O traba-
lho consiste em adequar a representação existente no documento em uma
nova representação cuja referência ao documento seja a mais adequada.
No trabalho científico, na qual as partes componentes deste do-
cumento relacionam a pesquisa discriminada a uma conclusão, temos o
molde de execução dentro dos quais variam as informações contidas no
documento. O critério de adequação do assunto em uma estrutura de-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
87
terminada, mesmo que seja possível a execução por meio de algoritmos
que retirem do documento as palavras enquanto conceitos de maior fre-
quência ou peso têm nesta determinação do que é relevante confusão, ou
várias formas de altercação. Esta condição dissonante pode ser mais bem
percebida se o objeto de indexação é um conto ou poesia. O critério de
relevância nestas representações está diretamente relacionado ao ambiente
que proporciona a relação, incluindo no ambiente o sujeito. “A eficácia
da comunicação depende de muitos fatores. Vários pontos de vista sobre
a relevância resultam da consideração da eficácia em diferentes pontos do
processo” (Saravecic, 1975, p. 331).
O processo de indexação para recuperação do conteúdo documen-
tal implica em relacionar o assunto ao conteúdo do documento. A tarefa
aparentemente simples implica em interpretação do documento por parte
do indexador, e isto, esta criatividade implícita no processo pode ser desen-
volvida adequadamente.
Dentre as etapas e indexação de dois a quatro passos Mai (1997) usa o
método subdividido em três etapas. Para a análise do objeto digital, o primei-
ro passo é a compreensão do processo que analisa o assunto. A partir disto
existe a formulação de descrição de assunto ou frase de indexação, que é a
descrição do processo, consistindo então na segunda etapa do processo. O
terceiro passo é o processo de análise do assunto que consiste na descrição do
assunto em linguagem de indexação (Mai, 1997). Os elementos e etapas são
descritos nos trabalhos nos quais adapta o modelo de indexação de Francis
Miksa (1983) para o encadeamento inferencial de indexação.
Cada etapa do processo implica em entendimento de modos de cria-
ção por parte do indexador no qual a análise do documento apresenta um
entendimento que depende do referencial do indexador, por mais isenta
de envolvimento subjetivo que deva ser esta apreciação. A descrição do
assunto implica em criar uma representação que seja adequada ao conte-
údo e a sua posterior recuperação, e isto é feito em conformidade àquelas
condições já englobadas na etapa anterior.
A análise do documento, feita por sistemas de classificação, que per-
mitem extrair a descrição de assunto não tem consenso sobre a maneira mais
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
88
adequada de controle do acervo e acesso ao usuário. As operações de leitura
documentária implicam no caráter analítico contido no processo executado
de representação do documento que irá favorecer a recuperação. Critérios
de relevância para esta representação e direcionamentos de recuperação são
intimamente ligados e apresentam condições subjetivas de determinação.
A evolução da compreensão de relevância é dada por uma relação
e uma medida de utilidade ou pertinência entre os objetos de informa-
ção e seus contextos, que incluem estados cognitivos, afetivos e situações
(Saravecic, 2007, p. 1918).
Relevância é uma relação. Relevância é uma propriedade. Relevância
é uma medida. Relevância tem um contexto, externo e interno.
A relevância pode mudar. Relevância tem várias manifestações ou
tipos. Relevância não é dada. A relevância é inferida. Relevância é
criada ou derivada. Relevância envolve seleção. Relevância envolve
interação. A relevância segue alguma intencionalidade (Saravecic,
2007, p. 1920).
A primeira característica dada por Saravecic é a relação, maior ou
menor determinada por um dos elementos participantes da relação, seja o
sujeito, seja o documento. A possibilidade de alternância e evolução desta
correspondência e seu grau de intencionalidade, e mudança entre externo
e interno, colocam o ato de determinar a relevância muito similar com a
determinação de um digrama, de um signo que relaciona o documento e
seu aspecto essencial.
Os sistemas de classificação usados manualmente ou de maneira
automatizada por profissionais que direcionam a organização de acordo
com a área de disciplinas afins. Cada método ou abordagem segue práticas
específicas, diferentes umas das outras. As abordagens teóricas são varia-
das e não apresentam consenso. “O problema não é apenas formular uma
teoria, mas descobrir pressupostos teóricos em diferentes práticas, para
formular essas suposições da maneira mais clara possível, a fim de tornar
possível comparar abordagens” (Hjørland, 2008, p.87). Para estabelecer
sua linha de raciocínio existe a análise de cinco pontos até chegar à análise
de domínio.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
89
Em primeiro lugar não existe uma única abordagem tradicional que
determine uma teoria única sobre os processos de classificação (Hjørland,
2011, p. 88). O administrador do acervo controla a acessibilidade e alcan-
ce variando a melhor maneira de indicação do conteúdo do documento
para o usuário. Uma vez que a Classificação Decimal de Dewey (CDD)
tem princípios bastante diferentes em várias edições e “também algumas
formulações, por exemplo, de S.R. Ranganathan (1951) que sugere que
tradicionais’ sistemas parecem carecer de uma base teórica” (Hjørland,
2008, p. 88).
A construção e organização de sistemas de sistemas de informação
embora pareça se encontrar a relação correta entre os conceitos, a maneira
como isto deve ser feito não tem maneira clara de execução: “É com o
desenvolvimento da abordagem domínio-analítica que a questão sobre a
subjetividade e a objetividade do OC de maneira sistemática é primeira-
mente construída na base metodológica do OC” (Hjørland, 2008 p. 90).
Em segundo lugar, a abordagem facetada-analítica é constituída
pela separação em vários conceitos combinados em uma metodologia
sintético-analítica que vem da classificação de Ranganathan (Hjørland,
2011). Em terceiro lugar, existe a tradição da recuperação de informação
que incorpora dentro da Ciência da Informação e Biblioteconomia tanto
a recuperação da informação quanto a organização do conhecimento, no
qual são colocados os paradigmas “sistema- dirigido” que tenta encontrar
a melhor equivalência entre a busca do usuário e o documento de uma
coleção; e “usuário-orientado” cuja busca cognitiva tem alterações de busca
durante a pesquisa (Hjørland, 2011, p. 91). A consideração feita é que, seja
do ponto de vista da orientação do sistema, seja a orientada para o usuário,
não conseguem responder como as consultas podem estar relacionadas a
diferentes teorias ou visões (Hjørland, 2011). Em quarto lugar, com relação
às visões orientadas para o usuário, considera-se que elas são feitas a partir
das condições empíricas de acesso, porém elas não consideram a unificação
da maneira de representação do documento para servir a diferentes
usuários, gerando representações diferentes para usuários diferentes do
mesmo documento (Hjørland, 2011). As abordagens bibliométricas, em
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
90
quinto lugar, usam referências bibliográficas para formar redes de trabalho
com relação entre eles (Hjørland, 2011).
A abordagem domínio-analítica formulada nos anos noventa con-
sidera o ponto de vista incluído na organização do conhecimento, uma
vez que esta tarefa não é isenta de uma posição, seja dos valores como é
feita, seja do objetivo ao qual se destina com relação ao seu público-alvo
(Hjørland, 2011).
A análise de domínio é um ponto de vista sociológico-epistemológico.
A indexação de um dado documento deve refletir as necessidades
de um dado grupo de usuários ou um determinado propósito ideal.
Em outras palavras, qualquer descrição ou representação de um
dado documento é mais ou menos adequada ao cumprimento
de certas tarefas. Uma descrição nunca é objetiva ou neutra, e o
objetivo não é padronizar descrições ou fazer uma descrição de uma
vez por todas para diferentes grupos-alvo (Hjørland, 2011).
A representação do conteúdo informacional na documentação é de
fundamental importância para a manutenção e disseminação do conteúdo
do documento:
Representar é um termo ambíguo. Pode ser entendido como
processo ou como produto. Para evitar usos polissêmicos do termo,
define-se representação como processo e Informação documentária
como o produto das operações de representação. A Informação
documentária é, assim, expressão material das operações de
representação. Em outras palavras, a Informação documentária é
documento elaborado a partir do documento (Kobashi; Fernandes,
2009, p. 3).
O uso da linguagem nas estratégias de organização do conhecimen-
to é plenamente justificável, uma vez que é a maneira mais habitual da
comunicação humana. A oralidade e sua subsequente representação em
registros escritos retratam a condição ambiental que caracterizam cultura,
história, política e sistema produtivo. O modo de elaboração documen-
tária em contextos complexos “[...] tem centralidade nas reflexões sobre
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
91
ações de informação” (Kobashi; Fernandes, 2009, p. 7). O entendimento
pragmático da ação de informação que une o documento e o próximo lei-
tor, pela intermediação da indexação e os signos usados nesta representação
do documento, são conhecidos nas ações de indexação.
A análise (para identificar conteúdo informacional) e a representação
(processo de padronização) são operações distintas. A identificação
do conteúdo informacional (condensação) e sua representação
padronizada são procedimentos de Análise Documentária.
A linguagem documentária é o instrumento utilizado para
padronizar a indexação (a representação por meio de descritores).
Tais linguagens são sistemas de significação construídos (Kobashi;
Fernandes, 2009, p. 11).
Contudo, é necessário salientar que a concepção de pragmatismo
que vincula a ação e representação não está restrita à linguagem. As formas
de comunicação possíveis têm incluídas as condições do meio nas quais
interagem e são uma combinação de produto e produção ora simultâneos,
ora alternados. As ações de indexação têm a linguagem que a circunstância
deve favorecer, mesmo levando-se em conta que a grande maioria é feita
pela substituição da oralidade que é a escrita.
A ação contextualizada em operações de leitura documentária, por
meio da análise tem sua representação construída num diagrama que é
singular para cada documento, em cada contexto no qual ele se apresenta.
Uma vez que “[...] as ações de informação são do âmbito da práxis social”
(Kobashi; Fernandes, 2009, p. 2), é no desenrolar das atividades que rela-
cionam o documento ao usuário que a informação pode ser efetivada.
A Ciência da Informação trata das necessidades informacionais de
dado contexto social, no qual o sujeito se vale da disponibilidade de in-
formação e conhecimento no intuito de transformar esta abordagem do
contexto ao qual ele tem interesse em ação (Gonzáles de Gómez, 2006).
Necessidade informacional está caracterizada como uma condição gerada,
condicionada ou regulamentada socialmente (Gonzáles de Gómez, 2006).
Esta condição de atuação se estende desde os meios científicos, até a atua-
ção cotidiana.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
92
Critérios de indexação, ou Organização do conhecimento em um
âmbito mais abrangente, têm a caracterização de um domínio como apli-
cação prática, como uma maneira de direcionar a busca do usuário para
uma caracterização mais especificada do conjunto de elementos a serem
acessados e que pode facilitar a busca, justamente por apresentar seu cará-
ter de pertencimento a um segmento específico do conhecimento.
Uma análise de domínio foi concebida para ser usada como pensa-
mento ou discurso de uma comunidade, que é parte de uma divisão social
do trabalho e não apenas uma atividade mental. Foi criada em contrapo-
sição às abordagens computacionais formais dominantes nos anos oitenta
(Hjørland, 1995).
O termo deve ser entendido no contexto que ele aparece, e isto não
é possível numa abordagem de recuperação estatística ou probabilística
(Hjørland, 1995). A perspectiva do observador determina sua abordagem
para especificar o domínio. A exemplificação é feita em 11 abordagens:
“Produzindo guias de literatura; Produzindo classificações
especiais; Pesquisa em indexação e recuperação de especialidades;
Estudos empíricos de usuários em diferentes campos; Estudos
Bibliométricos; Estudos históricos de troca de informações; Estudos
de documentos e gênero; Estudos epistemológicos e críticos;
Estudos terminológicos, línguas para fins especiais (LSP), estudos
do discurso; Estudos de estruturas e instituições em comunicação
científica” (Hjørland, 2004, p. 17)..
Isto implica na visão do autor, como seria esperado, na reunião de
algumas delas para uma compreensão mais profunda e direcionada para
um campo específico (Hjørland, 2004).
Mais do que a segmentação em novas classificações, o que seria con-
traditório à expectativa de determinação de um domínio com padrões ri-
gidamente estabelecidos, a expectativa de delimitar um campo para orga-
nizar o conhecimento é uma perspectiva que atende uma demanda, que
pode também ser específica, além de se enquadrar nas abordagens previstas
pelo autor.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
93
Análise de domínio enfatiza a exploração de ambientes sociais
específicos, como a ciência e as humanidades e seus documentos,
gêneros e sistemas simbólicos, conforme detalhado nas 11 maneiras
de estudar os domínios listados acima. A análise de domínio coloca
maior ênfase nas questões qualitativas relacionadas à evolução
histórico-cultural, bem como aos sistemas de documentação específicos
do domínio (Hjørland, 2004, p. 19, grifo nosso).
Mais do que uma definição que contemple todos os usos para a aná-
lise de domínio, ela tem a caracterização da adaptação à circunstância de
sua execução, uma vez que as qualidades histórico-culturais se apresentam
em um ambiente específico, no qual uma forma de organização é tida para
a comunicação de sua possibilidade de informação. A execução das etapas
de indexação posteriores a esta delimitação enquanto um processo Ético,
segundo o pragmatismo peirceano, tem a articulação dos signos verificá-
veis no processo, conforme estudado por Mai, Almeida, nas etapas lógicas
contidas na semiótica.
A visão analítica de domínio, em primeiro lugar, reconhece a ne-
cessidade de conhecimento de assunto em classificação e indexação
(Hjørland, 2013, p. 178). As bases diferentes nas quais operam diferentes
tipos de classificação refletem diferentes epistemologias (Hjørland, 2013).
O critério de relevância para a Documentação e Organização do
Conhecimento pode ter na representação feita por um sistema computa-
cional com uso de algoritmos, ou um critério de pertinência relacionado
à visão de conhecimento do sujeito que trabalha a documentação. A rele-
vância é um termo usado para tratar ambos os casos (Hjørland, 2000). “O
conceito de relevância, assim como outros conceitos básicos, é influencia-
do por abordagens gerais da Ciência da Informação, como a visão cogniti-
va e a visão de análise de domínio” (Hjørland, 2000, p. 217).
Em um quadro simplificado (Hjørland, 2002a, p. 269) são conside-
rados os aspectos relevantes de classificação epistemológica: “Empirismo
tem-se os dados controlados intersubjetivamente, com indução vinda de
dados observacionais. “Racionalismo” com os mesmos dados observacio-
nais feitos à maneira empirista é trabalhada a “Indução de coleções de pen-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
94
samento puro, lógica, modelos matemáticos, modelagem computacional,
sistemas de axiomas, definições e teoremas” (Hjørland, 2013, p. 174). No
“Historicismo” são tratados os contextos, conceitos dentro de seus desen-
volvimentos históricos e perspectivas evolutivas. O aspecto relevante para
o “Pragmatismo” da concepção do autor é a relação entre o pesquisador e o
objeto de pesquisa, metas e consequências desta relação (Hjørland, 2013,
p. 174). A base epistemológica implica em critérios de relevância e vice-
-versa. Desta maneira, tanto os critérios de relevância tidos por Saravecic
(1975) quanto às quatro teorias epistemológicas relatadas por Hjørland
são combinadas numa releitura do conceito de relevância.
Saracevic (1975) apresentou e discutiu cinco quadros teóricos
que influenciaram o pensamento sobre “relevância” na Ciência da
Informação: A visão de relevância do sistema. A visão de relevância
do destino (agora comumente chamada de “visualização do
usuário”). Visão de literatura de assunto sobre relevância. Visão
do conhecimento do assunto de relevância. A visão pragmática de
relevância (incluindo “relevância situacional”) (Hjørland, 2010, p.
2017).
Determinar os critérios de relevância baseados no paradigma da aná-
lise de domínio, ou mais precisamente “[...] uma visão de relevância basea-
da em uma teoria pragmática do conhecimento” (Hjørland, 2010, p. 232)
é a busca de alteração do enfoque feito apenas na opinião de especialistas,
para o enfoque que busca o acesso possível para os usuários (Hjørland,
2010, p. 232). De acordo com o quadro epistemológico trabalhado em
sucessivas pesquisas, a visão pragmática do conhecimento é apresentada
como a mais satisfatória.
2.3 DO OBJeTO infORMaÇÃO
Várias áreas do conhecimento se apropriam do termo informação
de acordo com sua aplicabilidade dentro da área de estudo. Mais do que a
simples falta de consenso para definir informação, o que cada visão aborda
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
95
caracteriza uma possibilidade de entendimento que pode distorcer o en-
tendimento em outra aplicação do mesmo conceito. Não se trata de uma
tentativa de unificação do conceito, mesmo porque isto talvez não seja
possível, mas a visão das várias concepções torna mais amplo o entendi-
mento. Contemplar os modos de compreensão da informação na Ciência
da Informação é a maneira de dar abertura à discussão subsequente sobre
uma definição de informação com base no pragmatismo.
O conceito de informação demanda uma grande gama de estudos para
serem circunscritos dentro das abordagens contempladas dentro de uma ci-
ência que tem a característica informacional enquanto objeto de estudo.
Na concepção da Ciência da Informação o conceito de informação
leva em conta apenas os processos mentais humanos, passíveis de gerar al-
gum significado e subsequente conhecimento. Mesmo a informação sendo
um processo tão presente nos vários ramos científicos, a informação foco
do estudo é limitada àquele que trata dos processos informacionais nos
quais existe participação da mente humana.
O detalhado estudo etimológico da palavra informação tem um
apanhado histórico que remete a Aristóteles e posterior desenvolvimento
de Agostinho no “ato de dar forma a alguma coisa” (Capurro; Hjørland,
2003, p. 351). A transição para o conceito moderno e a concepção car-
tesiana de “formas do pensamento” que constituem as ideias (Capurro;
Hjørland, 2003, p. 354) constitui uma concepção arraigada até os dias
atuais. A mudança da concepção etimológica, na qual in formar molda a
matéria, ocorre por meio dos empiristas Francis Bacon (1561-1626), John
Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753), David Hume (1711-
1776); deve então in formar os sentidos, podendo, desta maneira, serem
experienciados (Capurro; Hjørland, 2003). A separação mente/matéria
cartesiana permanece, porém aquilo que era subjetivo deve ter a forma
material de apreciação. Desta maneira, o documento pode ser caracteriza-
do como o veículo que oferece a materialidade necessária para transmissão
de informação.
Para a visão epistemológica do conceito de informação a conceitu-
ação de conhecimento está incluída na definição de informação porque
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
96
os fatos não estão naquilo representado pelos documentos, nem o que é
compreendido” pela leitura, mas está exatamente nesta relação, na qual a
cada nova leitura novos entendimentos são passíveis de ocorrer. O conhe-
cimento se dá pela estruturação de novas possibilidades informacionais,
modificando e complementando o conhecimento anterior.
O conceito de conhecimento deixa de ser uma nova adição de dados
a estados mentais existentes e estabelece o reconhecimento do caráter cole-
tivo, em um contexto e na troca de experiências subjetivas dos fenômenos
informacionais, acolhendo assim uma dimensão pragmática à informação,
dentro da Ciência da Informação. A hipótese de Hjørland do paradigma
domínio analítico é:
[...] primeiramente um paradigma social concebido em CI como
parte das ciências sociais. Em segundo lugar é uma abordagem
funcionalista, tentando explicar as funções explícitas e implícitas da
informação e comunicação; e traçar os mecanismos adjacentes desta
percepção. Em terceiro esta é uma abordagem filosófico- realista
tentando encontrar bases para CI que são externas para percepção
subjetiva individualista do usuário por exemplo como oposição ao
paradigma cognitivo e comportamental (Hjørland, 1995, p. 400).
A evolução do conceito de informação, junto com a evolução da
palavra que designa o termo é material de estudo para Capurro e Hjørland
(2003) que trazem a abordagem de outras disciplinas para a discussão na
CI. A avaliação da dimensão informacional se dá dentro de parâmetros ob-
jetivos e situacionais para a interpretação de informação e tendem a retirar
os aspectos psicológicos subjetivos (Capurro; Hjørland, 2003).
Os estudos cibernéticos no século XX de Wiener (1961) implicam
na não materialidade da informação e dão conta desta inter-relação entre
os elementos materiais e não materiais presentes no ato de informar, em-
bora o foco seja a quantificação de sinais inteligíveis.
As concepções de informação dentro da filosofia da ciência e da
filosofia analítica, particularmente desde o final da década de 1970,
estão relacionadas a ciências específicas, particularmente a física, a
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
97
biologia e a linguística. Como resultado desse desenvolvimento, a
tendência tem sido a de re-humanizar o conceito de informação;
isto é, colocá-lo dentro de um contexto cultural (Capurro; Hjørland,
2003, p. 360, grifo nosso).
O conceito de informação nas ciências naturais e nas ciências humanas e
sociais de vários autores é visto até chegar ao conceito em Ciência da Informação.
Hoje há um renascimento do significado objetivo do conceito de
informação dentro do contexto das ciências naturais, bem como
de uma tecnologia que está sendo chamada precisamente de
tecnologia da informação. Isso tem um efeito inverso sobre o uso
dessa noção na linguagem cotidiana de hoje, bem como sobre nossa
autoavaliação (Capurro, 2009, p. 127).
Dentro da Ciência da Informação, o autor acima considera que são
determinados conceitos de informação, em primeiro lugar, na recuperação
da informação e o conceito desta informação que é recuperada; em segun-
do nos fatos ou opiniões contidas nos documentos que são informação; e
finalmente a custódia e divulgação dos documentos são as relações contidas
na CI. A informação a ser recuperada, em primeiro lugar, não é uma coisa,
mas uma relação de conhecimento em que vários elementos culturais são
elencados. Em segundo lugar, opiniões e fatos dependem de veracidade
para serem considerados científicos, ou então são apenas manifestações de
posicionamento político. Em terceiro, a custódia e divulgação de docu-
mentos devem ter o caráter científico que promova conhecimento, e não
apenas ofereça informação sobre determinadas posições que podem não
ser democráticas ou inclusivas, e ao contrário, favoreça o pertencimento do
acesso ao conhecimento a grupos já privilegiados tanto economicamente
quanto socialmente.
Quando Buckland (1991) distingue os significados da informa-
ção em três tipos, a preocupação é “classificação de atividades de infor-
mação relacionadas com atividades diferentes”, com a intenção de definir
um campo de atuação para a CI. Ele caracteriza informação-como-processo
que possibilita informação-como-conhecimento, por meio dos objetos que
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
98
ele considera informação-como-coisa (Buckland, 1991, p. 351). Seu foco
de investigação começa na informação-como-coisa, uma vez que neces-
sariamente devemos ter um meio físico no qual os signos estão presentes.
E toda linguagem com um código estabelecido previamente, certamente
coloca possibilidades de recuperação e entendimento da mensagem trans-
mitida por esse código estabelecido. Neste sentido a recuperação de dados
documentais é fundamental para preservação do conhecimento potencial
contido naquela informação, como por exemplo, um livro. Ainda seguin-
do o argumento do autor, qualquer objeto construído com a intenção de
direcionar atividades, entendimentos relacionados à abordagem deste có-
digo, também podem ser considerados informação-como-coisa: uma edi-
ficação cuja construção arquitetônica e seus equipamentos arquitetônicos
deixam claros o trânsito e acesso de pessoas e pode ser considerada como
exemplo deste código direcionando uma ação. Nesta concepção de infor-
mação-como-coisa o autor relaciona diretamente os dados contidos neste
registro e a recuperação da informação segundo o código inscrito: pode ser
abrir um livro, acessar um arquivo de computador. Desta mesma maneira,
ao considerar a informação contida no objeto podemos dizer que se uma
ponte liga dois lados do rio, toda vez que atravessamos o rio pela ponte
estamos fazendo uso da informação-como-coisa contido nela. A caracteri-
zação de um “documento”, uma vez que não é apenas aquilo que é escrito,
ou impresso, é aquilo que pode ser um signo usado para informar, e desde
que comunique uma mensagem tem características que podem ser atribu-
ídas à documentação.
A tecnologia nos permite a mudança de códigos para transpor o mes-
mo conteúdo informacional. A partir das ondas de rádio que levam um có-
digo a ser modificado de um aparelho de transmissão a um de recepção,
ou um livro que pode ser digitalizado, e manter as mesmas características
informacionais do seu original. A informação-como-coisa pode ter seu meio
físico alterado sem prejuízo do conteúdo representado. Quando o autor faz
a distinção entre informação tangível como aquela que possibilita acesso a
sua representação e intangível quando essa informação gera conhecimento
(Buckland, 1991), consideramos que são etapas diferentes de um mesmo
processo: as que ele chama intangíveis são etapas do conhecimento que ainda
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
99
não foram representadas porque estão no campo das possibilidades. A de-
terminação da concretização da informação está além da informação em si,
depende também da determinação da conduta do acesso à informação con-
tida para chegar ao entendimento buscado ao acessar o objeto que informa.
Dados, documentos, objetos devem estar inseridos em um contexto para
promover informação, e esta relação não depende apenas de catalogação.
Informação-como-processo é circunstancial. Embora evidência
envolta em informação-como-processo seja bastante ocasional
também. Portanto, qualquer objeto particular, documento, dado
ou evento pode ser considerado como informativo dependendo das
circunstâncias (Buckland, 1991, p. 358).
Vários níveis de representação são possíveis, desde uma cópia em
outra base de dados do conteúdo de um documento até a descrição de
uma obra de arte. Ao considerar “toda representação mais ou menos in-
completa em algum aspecto” (Buckland, 1991, p. 358) nos possibilita o
entendimento da representação significar novo entendimento dependendo
do interesse em um aspecto especial. Este entendimento varia de acordo
com cada acesso ou então muda de acordo com o próprio interesse na-
quela informação que a representação pode conter. A forma do conteúdo
representado, em si mesmo carrega a intencionalidade da significação a ser
demonstrada: representamos para demonstrar um significado e o entendi-
mento dele é que varia de acordo com a ocasião. Neste sentido o processo
de informação-entendimento se torna evolucionário, passível sempre de
novas possibilidades.
Tratando-se de informação-como-coisa todo ordenamento,
armazenamento e facilidade de recuperação de sistemas de informação
são bem-vindos, uma vez que “sistemas de informação mecânica só
podem operar em representações físicas” (Buckland, 1997, p. 804). Esta
recuperação dos sistemas de comunicação sempre dependerá do interesse
suscitado pela pesquisa tanto quanto da informação contida para o sucesso
desta informação a ser transformada em conhecimento.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
100
A relação entre o contexto social e atribuição de significado a qual-
quer representação é criada neste contexto (Buckland, 1997). O ambien-
te de interação, apreendido por uma mente que percebe durante a ação,
realiza a significação nesta interação. Embora os processos de significação
existam na natureza, a percepção e representação que permite comuni-
cação, compartilhamento da existência deles passa pela significação deste
entendimento. Atribuir a característica de signo, de representação é marcar
um substrato físico a partir do qual a relação de significação tem possibili-
dades de mediação.
Os signos nunca são objetos naturais. [...] A razão é simplesmente
que a propriedade de ser um signo não é uma propriedade natural
que pode ser buscada e encontrada, mas uma propriedade que é
dada aos objetos, sejam eles naturais ou artificiais, através do tipo
de uso que é feito deles. Tanto como objetos quanto como meios,
os signos devem ser tratados como algo inventado e, nesse sentido,
eles estão correlacionados às ações (Sebeok, 1994, v. 1, p. 18 apud
Buckland, 1997, p. 804).
Segundo Frohmann, “[...] estudar a documentação é estudar as con-
sequências e os efeitos da materialidade da informação” (Frohmann, 2008,
p. 22). E como já colocamos anteriormente, a materialidade da informação
pode ter registros em códigos e sinais que deixam a caracterização do termo
documentação” numa abrangência difícil de ser avaliada. A validade do en-
tendimento do autor no artigo citado é exatamente a constatação do caráter
público e então também social da informação documentada. A representa-
ção deste sistema de signos contidos no documento acessível a outras pessoas
que não são o autor, por si só nos coloca esta possibilidade de entendimentos
diferentes daquele gerado ao ser construído o documento. A maneira como
o autor desenvolve seu raciocínio de materialidade da informação é a partir
de conceitos de massa, inércia e resistência, comparando à física moderna.
Existem visões diversas e teorias da informação em Ciência da
Informação. A primeira é a teoria matemática da informação de Shannon
e Dretske (Capurro; Hjørland, 2003). A segunda é a visão cognitiva
(Capurro; Hjørland, 2003), na qual a relação do sujeito que aprende com
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
101
a experiência inclui a semiótica peirceana, porém sem o aprofundamento
necessário na comparação, nem na definição de signo, e a alegada inclusão
do estudo de signo peirceano no “Mundo 3” de Popper. A terceira é infor-
mação como coisa de Buckland (Capurro; Hjørland, 2003, p. 394).
Vemos a visão cognitiva como tendo uma posição entre o conceito
objetivo de informação na teoria da informação e a teoria de
Dretske, por um lado, e a visão subjetiva ou interpretativa tomada
por cientistas da informação inspirados pela hermenêutica,
semiótica, análise de domínio e assim por diante por outro lado
(Capurro; Hjørland, 2003, p. 394, grifo nosso).
As Ciências Cognitivas ao investigarem o conhecimento e comporta-
mento de máquinas e seres vivos têm contribuições na relação de aprendiza-
gem entre o indivíduo e seu meio ambiente. O paralelo de criação produzido
entre vários tipos de mente, incluindo a humana e a de máquinas é a produ-
ção de hábitos e padrões de ordem. Esta capacidade criativa, associada ao fe-
nômeno de auto-organização, implica na novidade gerada pelo conhecimen-
to nesta criação. “Em última análise, então, é a capacidade de experimentar a
surpresa, de sentir os hábitos sendo frustrados, que diferencia os organismos
criativos dos sistemas puramente mecânicos” (Gómes; Haselager, 2003, p.
69). A criação de uma nova ordem, que resulta na cognição da relação entre
a expectativa e o fato, implica neste entendimento do critério de novidade,
assim a mente que aprende tem categorias de ação que não são necessaria-
mente teleológicas, nem puramente mecânicas. Desta maneira, trata-se de
comportamento e informação que não são exclusivamente humanos, mas
são passíveis de modelos reproduzidos mecanicamente, e incluem aqueles
identificados em outros seres vivos, considerados dotados de inteligência,
uma vez que aprendem com a experiência.
Aspectos sistêmicos, não puramente mecânicos, dos fluxos de
informação biológicos e socioculturais parecem fornecer restrições
adicionais que precisam ser levadas em conta para uma análise
adequada de informações significativas relacionadas a organismos
vivos reais no domínio da ação autônoma inteligente (Gómes;
Haselager, 2005, p. 580).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
102
A transição entre o entendimento interno e externo da informação e
conhecimento não tem consenso, assim como uma definição de informa-
ção que atenda requisitos de campos diferentes do conhecimento. Uma vez
que como alguma coisa é transmitida e não o que é transmitido (Dreteske,
1981), trata-se de um processo físico que se propaga de um lugar para ou-
tro. Conjuntamente à transmissão de sinais, ou como ele é feito, pode-se
ter atribuição de significados aliados a este modo de transmissão.
Estabelecer definições para uma ciência num campo tão vasto e com-
plexo tem sido uma grande tarefa para a Ciência da Informação. Existem
possibilidades de compatibilização em áreas variadas e distintas. Incluem
a manutenção dos registros representados nas várias maneiras documen-
tais, que sempre são modificadas pelo avanço tecnológico; tratamentos
de análise e avaliação da linguagem contida nos sistemas informacionais.
Sistemas esses que incluem interfaces tecnológicas com a modificação de
linguagens e imagens representadas (Borko, 1968). Apesar de o autor con-
siderar que “não existe distinção aguda entre pesquisa e tecnologia” não
podemos desconsiderar a velocidade das mudanças na capacidade de ar-
mazenamento e recuperação de sistemas de informação em bases de dados
documentais, que tem a representação enquanto um código linguístico
aceito e conhecido universalmente. Neste sentido a tecnologia propicia o
acesso e recuperação em uma velocidade certamente muito maior que em
qualquer outra época anterior.
A Ciência da Informação e Organização do Conhecimento, na visão
contemplada por esta pesquisa, devem estar contidas em um procedimen-
to social. Atuar na sociedade implica em investigações sobre a informação,
seu conteúdo e não apenas modalidades de organização e recuperação. A
modalidade cognitivista deste entendimento contemplada pelos autores
citados no conteúdo deste capítulo, como já foi dito anteriormente, tem
no pragmatismo peirceano subsídios para este entendimento, enquanto
método do relacionamento de aprendizagem decorrente da ação.
As várias fases entre produção, custódia, recuperação e evolução da
informação e conhecimento são destacadas para compreensão em fases de
estudo, uma vez que estes processos aparecem de maneira contínua ou são
interligados de alguma maneira que não necessariamente em sequência
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
103
temporal ou espacial. Este conhecimento, dito de outra maneira contém o
conteúdo informacional que é pertinente ao foco tratado pela possibilida-
de de recuperação da informação fornecida no processo de documentação.
Documentação, que é válido lembrar compreende o tratamento informa-
cional proposto por Otlet, na qual a disposição do conteúdo para acesso
pressupõe a perspectiva do profissional que traduz este conteúdo para a
posterior recuperação da informação.
A determinação de assunto e critérios de relevância nos processos de
organização do conhecimento têm na abordagem pragmatista peirceana
elementos de subsídio científico para este emprego. Da mesma maneira, a
determinação de conceitos enquanto representação do conhecimento é de
fundamental importância. Não se trata aqui de um manual de aplicações
práticas, porém aquilo que é proposto, mais do que a classificação dos
signos dentro da semiótica, tem-se a formação evolucionária dos signos
encadeada no método pragmático.
A entrada de assunto para documentação é de vital importância para
a abrangência do domínio ao qual o grupo se refere. Biblioteconomia e
Ciência da Informação têm em comum esta entrada de conceitos em uma
base de dados que se vale de métodos de classificação universal como é
Classificação Decimal Universal para a qual o profissional que tem co-
nhecimento de determinada área do conhecimento certamente terá maior
afinidade na tradução destes conceitos para a recuperação do conteúdo
informacional. A relação entre a delimitação de conceitos e a determinação
de domínio enquanto caminhos do conhecimento serão vistos pelo enten-
dimento da doutrina Peirceana nos próximos capítulos.
104
105
3
FILOSOFIA E SEMIÓTICA
DE PEIRCE
A investigação científica peirceana e o seu percurso evolucionário su-
põe a possibilidade de revisão e ajustes da realidade às verificações consta-
tadas, que por sua vez influencia as possibilidades de projetar o desenrolar
do processo. É a matriz do conhecimento que evolui em hábitos de ação.
De fato, por um falibilismo contrito, combinado com uma alta fé
na realidade do conhecimento, e um intenso desejo de descobrir
as coisas, toda a minha filosofia sempre me pareceu crescer (Peirce,
1974, p. XI, CP 1.14, 1897).
Neste capítulo, após a abordagem epistemológica na Ciência da
Informação das possibilidades de uso da informação, a pesquisa demonstra
em um apanhado geral da filosofia peirceana, e incluída nela a semiótica,
elementos necessários à apresentação da epistemologia pragmaticista.
Seguindo a apresentação dos escritos peirceanos, como já foi expli-
cado na introdução, neste capítulo será feito um percurso, cronológico
quando necessário, nos trabalhos peirceanos, demonstrando as constata-
ções realizadas por Peirce na passagem das inferências da lógica tradicional
para o processo de significação enquanto mediação para o conhecimento
no Método Pragmático. As várias descobertas em lógica dos relativos, a
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
106
semelhança existente com os trabalhos de Frege (Friedrich Ludwig Gottlob
Frege, 1848-1925), feitos contemporaneamente, sem conhecimento um
do outro (Quine, 1995; Hookway, 1992) ou as descobertas matemáti-
cas, como a amplificação da álgebra Booleana (Peirce, 1974, p. 27-98,
CP 3.45-149) não são assunto de principal interesse para esta pesquisa. A
pluralidade das pesquisas feitas por Peirce e os vários temas tratados, para
a cientificidade dos assuntos abordados, trazem para este trabalho a neces-
sidade de referenciar os escritos peirceanos sobre os vários temas de inte-
resse. Será demonstrado ao leitor, o entendimento de Peirce, a evolução do
percurso da lógica tradicional para a lógica entendida enquanto Semiótica,
com a argumentação lógica proposta por ele. Alguns pontos que estão ex-
postos na forma de conceito, ou de teoria, são feitos desta maneira para
oferecer ao leitor subsídios para a condução interdisciplinar da significação
pragmática, portanto são colocados para levar ao entendimento daquilo
que está sendo tratado no decorrer do trabalho.
Max Fisch (1986, p. 227) divide a carreira filosófica de Peirce em
três períodos que ele considera coincidentes com a divisão feita pelo pró-
prio Peirce dos períodos produtivos. O primeiro período em Cambridge
de “Lógica de Whately” de 1851 até memória de lógica dos relativos em
1870. O segundo período, entre 1870 e 1887, quando Peirce “realizou os
mais importantes trabalhos científicos” (Fisch, 1986, p. 227) e foi um perí-
odo de viagens e participações científicas internacionais, chamado Período
Cosmopolita por Fish (1986). O terceiro período denominado “Arisbe”,
que é o nome dado por Peirce para sua casa de fazenda, onde viveu seus
últimos vinte e seis anos. O período Arisbe está entre 1887 até 1914 e é
o mais produtivo filosoficamente, no qual Peirce revisou e complemen-
tou sua filosofia com a ajuda do pensamento grego. Os trabalhos sobre
pragmatismo principalmente têm neste período o discernimento científico
construído em nível de terceiridade, tratando da ontologia dentro da meta-
física, depois de articulados nas Ciências Normativas, na sua estruturação
das ciências; e a cosmologia, o cosmos evolucionário, que é a continuidade
da formação de interpretantes consolidada.
Apresentar o percurso de praticamente toda a carreira intelectual
peirceana, mesmo que de maneira pontual, é uma tarefa extensa. Esta pes-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
107
quisa mostra a mudança da maneira moderna de ver ciência e seu paradig-
ma positivista-cartesiano para uma maneira de autocorreção dos procedi-
mentos, naquilo que Ochs (1992) chama de lógica do pós-modernismo,
e inclusive os pensamentos que este método lógico descreve de maneira
considerada pós-moderna, incluído a crítica peirceana ao nominalismo
enquanto uma forma de positivismo vazio no qual apenas a denominação
e classificação é o trabalho principal. A definição de Peirce, de que o prag-
matismo é um método, exemplifica a maneira de encarar o procedimento
lógico-científico enquanto experiência, sem a preocupação fundamental de
um conceito de realidade ou outra posição metafísica que separe o enten-
dimento da ação.
Seus primeiros trabalhos mostram a preocupação em “[...] tornar a
filosofia mais científica e fornecer um meio para esclarecer a metafísica
(Houser, 2003, p. 201). A experiência vista à maneira peirceana tem na
semiose, ou seja, na articulação dos signos, objeto e interpretante produ-
zindo significação genuína, a inter-relação entre o mundo fenomênico e a
possibilidade metafísica do pensamento, que está incluído nessa transição
do signo entre as condições internas e externas de significação. A mente
não é algo pertencente ao cérebro humano nesta concepção, mas na rela-
ção que produz novos interpretantes, e desta maneira a inteligência está
contida no processo de significação, não na capacidade de pensamento
enquanto característica da representação humana.
Seres humanos são seres sociais, sistemas semióticos interagindo em
sociedade e com o ambiente. A condição individual moderna é em grande
parte um mito (Houser, 2003). Nesta condição moderna corrente do solip-
cismo, a semiose trata de relação, de conversação entre indivíduos, no com-
partilhamento de processos de ação e vem acrescentar à capacidade do sujeito
ego centrado. A filosofia do pragmatismo peirceano mostra esta mediação na
qual a autoconsciência está na correção ou na compreensão do resultado de
nossos equívocos e, uma vez que nossas personalidades são moldadas pelas
convenções sociais, nossos sistemas semióticos dependem e interagem com
aquilo que pode ser nosso “ser essencial”. A filosofia pragmática peirceana
procura esmiuçar as etapas de significação mostrada para constatação, de
modo que a condição de verdade seja compreendida ao ser compartilhada.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
108
A designação de doutrina enquanto modo de ação para o Pragmatismo é a
concepção peirceana. A futura constatação de que o pensamento evolucio-
nário é parte da maneira filosófica exercida por ele ao fazer ciência é uma
constatação dos estudiosos e comentadores de seus trabalhos.
Houser (2003) deixa esta condição moderna delineada, e ao mesmo
tempo, com uma mostra de atuação que reflete a condição da comunidade
que extrapola o âmbito científico, e então pode refletir a condição de pós-
modernidade que a contemporaneidade tem incorporada nos modos de
ação individuais proporcionando as capacidades de atuação comunitária.
Ou seja, a partir disto, desta mudança de enfoque do benefício próprio
para a situação de qualidade de vida da comunidade podemos ter o
exemplo do questionamento da situação imoral predatória do capitalismo.
A comunidade de indivíduos que hoje se tornou globalizada tem o sistema
produtivo baseado na exploração e destruição da condição de vida das
pessoas e do ambiente, mesmo existindo o conhecimento desta situação
a atuação predatória não deixa de acontecer. Democracia e inclusão
dependem de considerar a condição também do outro e não apenas a
prioridade individual.
A crítica peirceana ao cartesianismo, por onde começa seus traba-
lhos de inquisição lógica, faz investigações na realidade kantiana e tem na
relação pragmática a dissolução da significação no âmbito da interioridade
enquanto “lugar” do pensamento. A condição moderna do indivíduo, o
homem que é o ser supremo da natureza graças à sua racionalidade, tem a
inteligência entendida por Peirce enquanto capacidade de antever, e ante-
cipar o processo que tem chances de se concretizar com sucesso. A relação
com o mundo, o diagrama e seu ambiente, trazidos pela fenomenologia,
com a reposição ao processo de significação dada pelas categorias, conduz
à interação semiótica, articula a relação de existência que só assim pode
ser inteligível. A generalidade decorre da capacidade de fazer a condução
sem falibilidade daquilo que é o summum bonum permitido pela estética.
A condição moderna individual tem neste relacionamento com a comu-
nidade e com o ambiente a condição de existência. “Para Peirce, a própria
filosofia é a atividade prototípica de recriar construtivamente as normas
fundamentais da ação” (Ochs, 1992, p. 37).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
109
Será tratada mais adiante a condição da inteligência que aprende
com a experiência e então tem nesta experiência a previsão, antecipação
e demonstração do processo que passa além da Semiótica, pela Ética e
Estética na Filosofia Pragmatista, uma vez que a inteligência está na per-
cepção das condições do processo. A abdução, vista a seguir, mais do que
um procedimento científico é um guia do aprendizado, a partir de novas
descobertas, que proporcionam novas descobertas. O ideal a ser persegui-
do tem nos encontros fenomenológicos possiblidades de outros caminhos,
sejam eles correção do percurso a ser trilhado, ou novidade que, ao serem
incorporados no processo, muda o rumo das buscas e traz resultados que
embora não sejam falhas, apresentam uma etapa inesperada do resulta-
do. Trabalhar o conhecimento, entender o conjunto de relações que en-
cadeiam os fenômenos e estados mentais se constitui em inteligência. O
conhecimento não está no domínio racional das leis da natureza, presente
na filosofia do homem moderno, mas na condição de aprendizagem de-
corrente da inteligência que aprende com a experiência. A atuação é capaz
de compartilhar conhecimento, numa sociedade que convive tanto com
situações pré-históricas, quanto com aquelas que apresentam tecnologia de
comunicação pós-moderna.
Outra questão levantada a respeito dos estudiosos sobre os escritos
de Peirce é o fato de alguns estarem mais atentos à classificação e rela-
ção dos signos e outro grupo mais atento às “raízes filosóficas” (Santaella,
1994, p. 18) do pensamento peirceano. Compreender o arcabouço no qual
os signos fazem parte da demonstração representada do processo semióti-
co, que está incluído no pragmatismo, e então mostrá-lo inter-relacionado
às várias disciplinas, é um grande desafio, tendo em vista a ampla carreira
científica peirceana e sua evolução filosófica.
3.1 fiLOsOfia
Os métodos de raciocínio colocam o pesquisador frente ao seu ob-
jeto de estudo com a determinação de uma curiosidade, uma insatisfação
pelo desconhecimento daquilo que está por ser descoberto. A admirabili-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
110
dade pelo objeto é o primeiro passo, assim como uma referência prévia,
que ao ser conhecida permite a abdução como uma novidade na hipótese
a ser testada. A similaridade tem liberdade de relações que permite ao ra-
ciocínio incursões de apreciação da arte, por exemplo. A continuidade de-
dutiva, a determinação de causa e efeito, permite a comprovação científica,
porém não oferece a enorme gama de possibilidades contidas na analogia.
O raciocínio científico quando alia ambas as possibilidades têm am-
pliada a possibilidade de novas formas, de descoberta.
As opiniões que você traz para o estudo da lógica compreendem entre
elas um sistema de lógica todo feito, embora seja provavelmente um
pouco vago em alguns lugares. Você sabe que é substancialmente
assim, presumindo que você é uma pessoa reflexiva, como você sem
dúvida é; mas talvez você fique surpreso por eu estar tão confiante
de que é assim. É bastante simples, no entanto. Você certamente
não estaria interessado em lógica a menos que você fosse um pouco
dado ao raciocínio; provavelmente não sem ser mais ou menos
viciado em auto-observação. Agora uma pessoa não pode realizar
o menor raciocínio sem algum ideal geral de bom raciocínio; para
raciocinar envolve deliberada aprovação do raciocínio de alguém;
e aprovação não pode ser deliberada a menos que seja baseada na
comparação da coisa aprovada com alguma ideia de como tal
coisa deveria aparecer. Todo raciocinador, então, tem alguma ideia
geral do bom raciocínio. Isto constitui uma teoria da lógica: os
escolásticos a chamavam de logica utens do raciocinador. Todo o
raciocinador cuja atenção foi atraída consideravelmente para a sua
vida interior deve logo ficar ciente disto (Peirce, 1974, p. 108-109,
CP 2.186,1902, tradução nossa, grifo nosso).1
O começo dos estudos em lógica, quando o jovem Peirce está em sua
atividade acadêmica, está concentrado no entendimento da possibilidade
de entender e trabalhar o pensamento científico por meio da lógica. “Sobre
uma nova lista de categorias” (Peirce, EP, 1992, p. 1) publicado em 1867
será o início das categorias fenomenológicas desenvolvidas posteriormente.
A lógica é a ciência reconhecida pela tradição filosófica ocidental, desde
Peirce: CP 2.186 §9. LOGICA UTENS.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
111
Aristóteles, por se contrapor a mera articulação do discurso para o con-
vencimento de uma ideia, uma vez que oferece um sistema de checagem
das premissas para chegar a uma conclusão verdadeira. O silogismo oferece
uma base e explicação razoável da maneira de chegar à conclusão verdadei-
ra por meio de premissas comprovadamente verdadeiras. Peirce oferece a
seguinte definição de silogismo:
Uma explicação é um silogismo do qual a principal premissa, ou regra,
é uma lei conhecida ou regra da natureza, ou outra verdade geral; a
premissa menor, ou caso, é a hipótese ou conclusão retrodutiva, e
a conclusão, ou resultado, é o fato observado (ou de outra forma
estabelecido). Tal explicação, nesse caso, seria assim: Todos os
fatos sobre Pitágoras (a menos que sejam mantidos em segredo ou
insignificantes) seriam relatados por seus antigos biógrafos.
Esse Pitágoras tinha uma coxa de ouro era um fato sobre Pitágoras
nem secreto nem insignificante.
(Portanto): De modo que Pitágoras tivesse uma coxa de ouro seria
relatado por todos os seus antigos biógrafos. (Peirce, 1974, p. 36-
37, CP 1.89,1896, tradução nossa).
Recorrendo a Aristóteles para fundamentar seu argumento, explica
que as escolas de pensadores, que partem dos princípios deste filósofo,
também não conseguem perceber a importante distinção entre os pen-
samentos controlados e aqueles que não são, porque estes simplesmente
acontecem. Os argumentos desencadeiam um julgamento que tem uma
inferência precedente baseada em processo de pensamento não controlável,
e embora tenha o processo raciocínio argumentativo, análogo ao lógico, es-
tão derivados desta maneira não científica. E isso o Silogismo aristotélico
não leva em conta, pois a premissa que leva a conclusão verdadeira pode
não ser verdadeira. A possibilidade de falibilidade, ou seja, a constatação
de que em algum ponto o processo pode ser melhorado, se encontra pre-
sente nesta perspectiva de intercorrência do pensamento que pode ou não
resultar em uma conclusão satisfatória. Nesta constatação aparentemente
muito simples, Peirce desenvolve, durante toda sua vida, sua metodologia
e depois a visão metafísica decorrente deste processo.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
112
Em “Algumas consequências de quatro incapacidades” (Peirce,
1974, p. 156, CP 5.264, 1868) os processos de cognição, que podem ser
obtidos e analisados enquanto inferências que decorrem de premissas que
devem ser verdadeiras e são vistos como modificação de consciência que
depende de externalidade (Peirce, 1974, p. 168-158, CP 5.267, 1868). O
signo-pensamento é o elemento que pode transitar entre as etapas de hipó-
tese, dedução, indução, acionados a partir de um evento (Peirce, 1974, p.
169-170, CP 5.284, 1868). O pensamento sendo mediado por signos leva
a aceitação de que o homem, ele mesmo, é um signo que segue fazendo a
mediação constante entre o pensamento e o mundo.
Pois, como o fato de todo pensamento ser um signo, tomado em
conjunção com o fato de a vida ser uma linha de pensamento,
prova que o homem é um signo; então, que todo pensamento é um
signo externo, prova que o homem é um signo externo. Ou seja, o
homem e o signo externo são idênticos, no mesmo sentido em que
as palavras homo e homem são idênticas. Assim, minha linguagem
é a soma total de mim mesmo; para o homem é o pensamento.
(Peirce, 1974, p. 189, CP 5.314,1868).
Entender o percurso lógico do pensamento peirceano é um caminho
para a averiguação da formação de sua doutrina pragmaticista construída
sobre a lógica e seus desdobramentos, até a proposição de um sistema ar-
quitetural, que comporta as ciências no percurso de descobertas científicas.
“Lógica é a doutrina da verdade, é a natureza e maneira pela qual ela pode ser
descoberta” (Peirce, 1974, p. 197, CP 7.321, 1873). Os interpretantes lógi-
cos formulam e demonstram os conceitos, e desta maneira o conhecimento
evolui; e isto ele constata depois dos anos 1900, já um filósofo maduro.
Nos primeiros escritos publicados por Peirce, em 1868-1869,
Algumas consequências de quatro incapacidades” (EP, v. 1, 1992, p. 28) e
“Fundamentos Da Validade Das Leis Da Lógica: Mais Consequências De
Quatro Incapacidades” (EP, v. 1, 1992, p. 56), na visão de Short (2007)
ainda não existe validade do conhecimento intuitivo para Peirce (Peirce,
1974, p. 212-213, CP 5.341, 1869) e todo conhecimento vem de uma
cognição precedente.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
113
Em “Algumas consequências de quatro incapacidades” (Peirce,
1974, p. 156-169, CP 5.264-282,1868) tem a argumentação lógica de
Peirce (contida em CP 5.265) resumida por Ibri (2012, p. 52) da seguin-
te maneira:
a) Não temos poder de introspecção, exceto que todo conhecimento
do mundo interno deriva de nosso conhecimento de fatos externos;
b) Não temos poder de intuição, a não ser que toda cognição seja
logicamente determinada por cognições anteriores;
c) Não temos poder para pensar sem sinais;
d) Não temos nenhuma concepção absolutamente incognoscível.
Todo pensamento é um signo, e é então um signo e um interpretante
ao mesmo tempo, ou, dito de outra maneira, aquele signo que gerou um
interpretante num processo retorna ao processo subsequente enquanto ou-
tro signo. Assim os pensamentos se estendem tanto para o passado (Peirce,
1974, p. 209, CP 5.339, 1868) quanto para o futuro. Cada pensamento
ocorre numa infinita sequência de pensamentos (Short, 2007, p. 35-36). Ao
considerar um pensamento o causador do subsequente, considerá-lo um sig-
no, ou o objeto ao qual o signo se refere, torna-se uma decorrência próxima.
O entendimento das leis do universo, então investigados por Peirce,
tem na lógica, na inferência com validade pela indução suporte para sua de-
monstração consistente da hipótese (Peirce, 1974, p. 215-216, CP 5.345,
1869). E o processo compartilhado socialmente valida a conclusão (Peirce,
1974, p. 220-221, CP 5.354, 1869). O objeto é aquilo ao qual o signo se
refere. Este objeto certamente é um pensamento, assim como aquilo que é
perceptível pelos sentidos, e as categorias da fenomenologia, como Peirce
descobrirá mais tarde, encaminham o processo de significação, dando a
possibilidade de continuidade.
Depois de 1885, com a descoberta do índice, Peirce revisa sua an-
tiga semiótica para desenvolver e sistematizar então sua semiótica madura
(Short, 2007). Uma vez que o índice implica em direcionamento, num
ato que não está no raciocínio, o gerador de um novo signo não é exclu-
sivamente um ato mental. O ícone implica nas manifestações artísticas, e
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
114
signos manifestados pelos elementos da natureza são trazidos para a semi-
ótica enquanto elementos de cognição. Mais tarde, em 1905, a determi-
nação dos interpretantes Emocional, Energético e Lógico explicita a ma-
nifestação interpretante enquanto possibilidade tanto de um sentimento
ação ou pensamento (Short, 2007). O desenvolvimento daquilo que é um
problema lógico, com o passar dos anos de estudo e novos interpretantes
realizados por Peirce vai seguindo a significação dos primeiros trabalhos
desenvolvidos. E assim quando comparamos a sequência cronológica dos
escritos podemos perceber a obra peirceana sendo formada, naquilo que
ficou conhecida enquanto Metodologia Pragmatista, em sua Arquitetura
Metafísica. Este percurso será contemplado no decorrer dos capítulos des-
te trabalho. A datação dos escritos peirceanos tem importância aqui para
mostrar a evolução das constatações feitas por Peirce durante sua carreira e
que possibilitam a estruturação de sua doutrina filosófica.
A teoria do significado ou significação é a raiz do entendimento da
teoria do conhecimento, ou como o intérprete pode entender o significado
a partir dos signos (Hookway, 1992). Em primeiro lugar o significado vem
da relação triádica, em segundo sempre é possível um equívoco, uma falha,
que pode ser corrigido, e, de acordo com Hookway, emerge do objeto do
signo, então o signo conduz ao aprendizado vindo da experiência, mediado
entre a realidade e nossa cognição e subsequente interpretação e uso. Desta
maneira ele propõe uma relação eficiente ao signo, a função do signo é uma
eficiência de relação.
Os artigos de Peirce “A fixação das crenças” (Peirce, 1974, p. 223,
CP 5.358,1877) e “Como tornar nossas ideias claras” (CP 5.388, 1878) são
partes de um conjunto de seis artigos publicados no Popular Science Monthly,
e são considerados como o começo dos estudos pragmatistas, mais tarde
chamados por Peirce “Pragmaticismo” (Haussman, 1993, p. 20).
Em “A fixação das crenças”, as investigações de possíveis maneiras
de raciocinar sistematicamente e transmitir à comunidade científica já são
demonstrados neste artigo (Peirce, 1992, EP, v. 1, p. 109). Para Peirce
(EP, v.1, p. 112), um hábito mental introduz uma maneira de chegar às
conclusões, sejam elas verdadeiras ou não. Para isto o “Guia principal de
Inferência propõe que a partir de uma lei geral, um hábito, cujas inferên-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
115
cias ao serem formuladas em uma proposição podem ser validadas, tem
com esta comprovação um caráter de lei, e maneira habitual de conduzir a
relação (Peirce, 1974, p. 227-228, CP 5.367, 1877).
Fazer uma pergunta ou pronunciar um julgamento são coisas dife-
rentes, nós agimos de acordo com nossas crenças e as dúvidas causam um
estado de insatisfação que nos fazem questionar (Peirce, 1992, EP, v. 1,
p. 114). O incômodo, causado pela dúvida a partir do questionamento,
causa um incômodo tal que nos impele a agir para atingir um estado de
crença por meio da investigação, da averiguação. A averiguação, embora
seja científica, não tem êxito em todos os casos executados. Não são todos
os casos que têm a verdade obtida na dedução que levam a conclusões
verdadeiras, mesmo porque se pode partir de premissas que podem não ser
verdadeiras. Mas a investigação tem a finalidade da passagem de um estado
de dúvida para crença.
O estado de incerteza, ou dúvida, não é um método como se apre-
senta no cartesianismo, em que só duvidando da veracidade é possível che-
gar a uma verdade obtida pela razão, contida na mente do sujeito que pen-
sa. Este estado de incerteza é uma possibilidade de levar adiante um estado
de crença que pode ser testado e confrontado com a realidade, a partir do
hábito existente (Haussman, 1993). As condições necessárias para inqui-
rição do pensamento lógico, as quais sejam, (1) passar de um estado de
incerteza para crença, (2) chegar a uma conclusão verdadeira, (3) fazendo
uso do método científico (4) que parte de uma hipótese que justifique esta
busca pela verdade, tem a continuidade do hábito levando adiante a norma
pela qual ele se realizou. Esta explicação de como o Hábito, ou a quebra
dele, acontece é a própria explicação do método pragmaticista vista mais
detalhadamente adiante.
Para chegar à verdade por meio do método científico, o único capaz de
comprovar a veracidade das ideias a partir da experiência, Peirce relata quatro
métodos conhecidos pelo meio científico para justificar as crenças em “A fi-
xação das crenças”. Ele cita o método da Tenacidade, método da Autoridade,
método a Priori, e o Método Científico. O método da Tenacidade (Peirce,
1974, p. 235, CP 5.378, 1877) não consegue manter a crença na prática
porque em uma comunidade aquilo que é acreditado sempre terá posições
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
116
contrárias e que podem abalar a crença considerada verdadeira. Nesta forma
de fixar a crença nas opiniões contrárias não são bem-vindas, e em contra-
partida as crenças não podem evoluir, ou serem alteradas, como é aquilo
que ocorre nas crenças religiosas. O método da Autoridade (Peirce, 1974, p.
236-237, CP 5.380, 1877) “é moralmente superior ao da tenacidade”, pois
aquilo que é acreditado tem na autoridade o desígnio de verdade sem con-
testação, portanto um dogma imposto arbitrariamente por uma crença dita
verdadeira por motivos “agradáveis à razão” de uma maneira egoísta (Peirce,
1974, p. 238-241, CP 5.382, 1877), porém sem a comprovação de exis-
tência dada pela factualidade, com a validação da experiência. Ibri (2018)2
complementa a descrição das crenças dogmáticas como aquelas que não são
de natureza fenomênica. Uma vez que são de natureza transcendente, ou
seja, que estão apenas no plano das ideias e não estão passíveis ao confronto
de outras crenças, e nem da experiência, possuem uma ausência do objeto
dinâmico, que é o signo no qual, a partir da experiência é capaz de levar o
processo adiante, sem estar paralisado em uma primeiridade que é ao mesmo
tempo lei. O método A priori (Peirce, 1974, p. 241-242, CP 5.383,1877)
é o mais intelectual dos métodos, porque a investigação se assemelha mais a
uma questão de gosto, portanto, oscila sem ter um acordo numa crença pró-
xima ao método da autoridade. Neste método como nos outros, o instinto
caracterizado enquanto um pensamento inato, como na visão cartesiana, é a
causa última da crença.
Se rejeitar a intuição como forma originária de conhecimento
implicava que todo conhecimento se fizesse mediatamente, isto
é, por meio de signos, a caracterização do método científico de
fixação de crença não só reforça a semioticidade intrínseca do
conhecimento, como manifesta o caráter necessariamente social,
comum a qualquer homem, da ciência, da racionalidade em sua
mais genuína expressão (Silveira, 1988, p. 25).
O método científico tem as crenças determinadas não por aquilo
que é o pensamento humano apenas, “[...] mas por alguma permanên-
cia externa – por algo sobre o qual nosso pensamento não tenha efeito
Conferência Plenária realizada no dia 21 de junho de 2018 no X ENCONTRO INTERNACIONAL DE
INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO E AÇÃO, Unesp Marília.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
117
(Peirce, 1974, p. 252-253, CP 5.384, 1877). Uma vez que “[...] existem
coisas reais cujas características são inteiramente independentes de nossas
opiniões sobre elas” (Peirce, 1974, p. 252-253, CP 5.384, 1877), esses ele-
mentos afetam nossa percepção de maneiras diferentes em cada possibili-
dade de apreciação, sendo necessário, após a percepção, averiguar como as
coisas realmente são, levados pela razão à conclusão que verdadeiramente
pode dar a comprovação.
Deste modo é possível compartilhar na comunidade de pensadores
este caminho percorrido, para demonstrar a verdade que possibilita a cren-
ça comprovada logicamente. Assim, é mostrada em um diagrama a manei-
ra como a verdade científica pode ocorrer, sem permanecer no âmbito das
ideias que estão apenas no pensamento, mas mantêm relação com aquilo
que é real. Mais adiante veremos a relação mente-corpo, externo-interno,
também naquilo que Peirce vai chamar “Idealismo Objetivo3, que é trata-
mento epistemológico do ser que age no mundo e, portanto, tem mente.
A inquietação causada pela formulação de uma hipótese, que pode
alterar o hábito existente, nos move em direção à conclusão da hipótese
aventada enquanto pesquisa científica, em busca da comprovação da ver-
dade pelo Método Científico. Termos gerais são signos, tidos enquanto
representação que possibilita a articulação das hipóteses, em termos lin-
guísticos ou diagramas matemáticos. Esta descrição Peirce faz nos artigos
subsequentes, enquanto “A fixação das crenças” é a introdução ao assunto
(Peirce, 1992, EP, v. 1, p. 114).
A ideia de que a crença é um hábito4, uma disposição ou regra de
ação, é sugerida na introdução da máxima pragmaticista de “Como tornar
nossas ideias claras” (Hookway, 1992, p. 37). Peirce começa este artigo
chamando a atenção para as concepções dos lógicos para os termos claro e
obscuro, distinto e confuso (Peirce, 1974, p. 248, CP 5.388, 1869). Para
alcançar esta clareza do pensamento, excitado pelo desconforto de uma in-
certeza, o pensamento lógico tenta alcançar uma crença, enquanto “exclu-
siva função do pensamento” (Peirce, 1974, p. 252-253, CP 5.394, 1869).
Tratado com maior argumentação no Capítulo 4.
Tratado com maior argumentação no Capítulo 4.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
118
[...] O resultado final do pensamento é o exercício de volição, e
não faz parte mais deste pensamento; mas a crença é apenas um
estágio da ação mental, um efeito sobre nossa natureza adequada ao
pensamento, que influenciará o pensamento futuro (Peirce, 1974,
p. 255, CP 5.397,1869, tradução nossa).
Peirce segue explicando que crenças diferentes originam modos de
ação diferentes, “A essência da crença é o estabelecimento de um hábito
(Peirce, 1974, p. 252-253, CP 5.398, 1878). E eles auxiliam a evitar as
incompreensões e a frustração do sentimento de inteligibilidade, que tam-
bém podem ser causados entre uma diferença de construção gramatical e
uma diferença de ideias (Peirce, 1974, p. 253, CP 5.399, 1878), concluin-
do que o pensamento mais do que uma ação é uma relação. A “clarificação
das ideias” passa por uma investigação daquilo que é a realidade, ou como
a imaginação é diferente daquilo que se apresenta enquanto mundo obje-
tivo, pois os caracteres da realidade externa são independentes daquilo que
pensamos ou imaginamos sobre eles (Peirce, 1974, p. 265-266, CP 5.405,
1878), desta maneira a realidade não está na concepção internalista carte-
siana, na qual aquilo o que é considerado verdade é a verdade idealizada
enquanto pensamento. A confirmação daquilo que é real depende de nossa
crença nesta realidade, desde que a confirmação desta investigação propos-
ta pela inquietação de adquirir conhecimento nos leve a isto.
A importância destas publicações, sempre relidas e comentadas pelos
estudiosos de Peirce, nos mostra claramente os caminhos pelos quais as
questões do pensamento lógico, com a articulação entre os elementos, os
signos, vão sendo amadurecidos durante a vida e evolução do pensamento
Peirceanos, e são descritos numa metodologia que abarca as ciências e o
pensameto filosófico de articulação dos processos desde a mente humana
até a sua cosmologia.
Em 1902, Peirce escreve a Pesquisa Geral e Histórica sobre Lógica
que é “a teoria que determina condições de raciocínio com segurança
(Peirce, 1974, p. 3, CP 2.1, 1902). Ao analisar diferentes métodos em
lógica, coloca que para conhecer a verdade, a investigação não é algo que
dependa de como nos sentimos ou como achamos que esta verdade seja
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
119
(Peirce, 1974, p. 10-11, CP 2.20, 1902), pois para ele trata-se de investiga-
ção científica, com regras determinadas por procedimento metodológico.
Peirce coloca nestes escritos a necessidade de uma Ciência Normativa que
possa investigar de perto outras ciências de maneira prática, sem a super-
ficialidade de pura teoria (Peirce, 1974, p. 27, CP 2.46, 1902), o que nos
levaria exclusivamente para o plano das ideias. Ele analisa diferentes mé-
todos em lógica e afirma que na história da ciência existe “uma luz natural
da razão” (Peirce, 1974, p. 13, CP 2.25, 1902) norteando os raciocínios,
porém estes métodos não são consistentes o bastante para fortalecer a lógi-
ca em um grau sensato.
Questões psicológicas de percepção, isoladamente, apesar de cami-
nharem junto no entendimento do argumento, não interessam ao lógico.
É de interesse para o lógico não apenas aquilo que pensamos, pois isto está
para as questões que a psicologia tenta entender, mas como devemos pen-
sar para chegar à verdade.
O verdadeiro processo de pensamento presumivelmente
começa nas próprias percepções. Mas um percepto não pode ser
representado em palavras e, consequentemente, a primeira parte
do o pensamento não pode ser representado por qualquer forma
lógica de argumentação. Nossa explicação lógica da questão
tem que começar a partir de um fato perceptivo, ou proposição
resultante do pensamento sobre um percepto – analisável em seu
próprio movimento presumivelmente da mesma natureza que
aquele que representamos por argumentos e inferências, mas não
tão representáveis em consequência de um defeito nesse método
de representação (Peirce, 1974, p. 14-17, CP 2.27, 1902, tradução
nossa, grifo nosso).
O pensamento é caracterizado enquanto deliberação controlada,
diferente daquilo que temos enquanto um processo perceptivo caracte-
rístico dos sentidos. A percepção é uma sensação da qual não temos con-
trole, diferente de um processo de inferência no qual nos posicionamos
para um entendimento (Hookway, 1992). Uma sensação que se apre-
senta e então pode ser interpretada, dependendo de como nossa opinião
pode ser constrangida pela realidade exterior e tem o encaminhamento
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
120
da prática deliberada do pensamento que avalia e justifica os métodos
para alcançar o foco.
As premissas devem chegar à conclusão não apenas porque pensa-
mos, mas porque elas se relacionam a diferentes tipos de fatos para chegar
a uma conclusão (Peirce, 1974, p. 29, CP 2.52, 1902). Para Peirce, a lógica
não trata do pensamento, mas daquilo que o pensamento traz a mente e
que pode ser passível de experienciar, a partir de relações de conhecimento
ou argumentos, inferências. E aqui estamos tratando de mente e pensa-
mento humano. Este desenrolar de inferências, no qual um conhecimento
afeta outro, tem em essência um objetivo a ser alcançado enquanto resul-
tado do processo.
[...] A essência da racionalidade reside no fato de que o ser racional
agirá de modo a atingir determinados fins. Evite fazê-lo de uma
maneira, e ele agirá de alguma maneira completamente diferente
que produzirá o mesmo resultado. A racionalidade está sendo
governada por causas finais (Peirce, 1974, p. 36, CP 2.66, 1902,
tradução nossa).
Na classificação dos argumentos, o entendimento peirceano tem um
amadurecimento e transformação do entendimento daquilo que é uma
formulação de hipóteses, até considerar esta formulação um processo ab-
dutivo. A lógica da matemática usa a dedução, enquanto a ciência se vale
da indução. Ambas as ciências, empírico e experimental, se valem da for-
mação e teste de hipóteses. Em 1866 quando Peirce escreve “A lógica da ci-
ência; ou Indução e Hipótese” o entendimento da formulação da hipótese
diferenciada entre um tipo de inferência ou argumento ainda não é feito
(Fish, 1981, W-1, p. 34). O processo desde a formulação da hipótese até
a verdade comprovada cientificamente enquanto um método é o trabalho
construído durante anos de estudo lógico, reconhecido anos mais tarde,
após sua morte, aquilo que foi a pesquisa de toda uma vida.
Após apresentar este panorama no qual as definições de semiose,
hábito e idealismo objetivo foram apenas introduzidas a título de apre-
sentação de conceitos, com o devido aprofundamento nos capítulos sub-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
121
sequentes, será colocado agora em detalhes os principais temas peirceanos,
estruturados pela Arquitetura das Ciências. A colocação dos temas dentro
desta estruturação feita por Peirce tende a esclarecer a articulação dos sig-
nos nos desdobramentos das possibilidades de semiose, que de fato consti-
tuem o método pragmático.
3.1.1 a aRquiTeTuRa Das ciências
Os escritos de “Uma Classificação Do Esboço Das Ciências” (Peirce,
1974, p. 77, CP 1.180) são datados no ano de 1903, portanto um cien-
tista maduro, com vários anos de trabalho na evolução de sua concepção
filosófica, estrutura aquilo que foi chamado de “Arquitetura Metafísica
ou, nas palavras de Peirce, constituído no esforço para “erigir um edifício
filosófico que superará as vicissitudes do tempo” (Peirce, 1974, p. VII, CP
1.1,1898). Sua analogia em construir bases sólidas do edifício e o cuidado
de quem adiciona cuidadosamente cada tijolo nos indica a preocupação e
precisão com cada hipótese colocada em seus trabalhos. A descrição das
Ciências tem o quadro de subdivisões estruturadas abaixo:
Figura 1 - Divisão e subdivisão da estrutura das ciências
Fonte: Pires, 1999, p. 21.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
122
Para esta classificação ele próprio reconhece a ideia de Auguste Comte
(1798-1857) na qual “[...] uma ciência depende de outra para princípios
fundamentais, mas não fornece tais princípios a esse outro” (Peirce, 1974,
p. 77, CP 1.180, 1903). Ainda adverte que elas são tricotômicas, e aqui é
possível acrescentar que esta independência entre as disciplinas, corrente
de pensamento comum à época, não impede a formulação das Ciências
Normativas enquanto instrumento de investigação científica, independen-
temente do ramo científico, porém passível de verificação em todos eles,
usando o método pragmático como referência.
Nesta relação triádica, o primeiro membro inclui elementos ou leis
universais, o segundo membro organiza uma classe de formas e o tercei-
ro descreve os fenômenos individuais, procurando explicá-los em detalhe.
“Toda a ciência é tanto, a. Ciência da Descoberta; b. Ciência da Revisão;
ou c. Ciência Prática (ou Aplicadas) ” (Peirce, 1974, p. 77, CP 1.181,
1903). O diagrama abaixo destaca uma parte do anterior, para sistematica-
mente ser possível fazer uma relação, o mais coerente possível, do grande
trabalho de abarcar as disciplinas e suas descobertas dentro do pragmatis-
mo, que é considerado o método que unifica todas elas, resguardando a
cada qual sua forma específica.
Figura 2 - Divisão entre as Ciências Teóricas e Aplicadas
Fonte: Elaborado pela autora.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
123
O interesse de Peirce está nas ciências da descoberta, pois elas podem
de fato trazer novas informações, são responsáveis pelo avanço do conheci-
mento (Santaella, 2007).
Dentro das Ciências da Descoberta, a Matemática está no plano das
ideias, trabalha com a lógica sem preocupação com a verificação de exis-
tência, comum aos fenômenos físicos. A Filosofia tem o caminho para se
chegar à verdade que passa pela experiência, na qual a realidade não se
encontra apenas no plano das ideias. E estes novos fatos, vistos pela experi-
ência são acumulados pela Idioscopia, e enquanto fatos novos são tratados
pelas ciências especiais.
A matemática estuda o que é e o que não é logicamente possível,
sem se responsabilizar pela sua existência real. Filosofia é ciência
positiva, no sentido de descobrir o que realmente é verdade; mas
limita-se a tanto da verdade quanto se pode inferir da experiência
comum. A idioscopia abrange todas as ciências especiais, que são
principalmente ocupadas com o acúmulo de novos fatos (Peirce,
1974, p. 78, CP 1.184, 1903, tradução nossa).
A Idioscopia então se ocupa das ciências especializadas em diversas
disciplinas e cuida daquele inventário de conhecimento promovido neste
arcabouço das Ciências da Descoberta, abarcando então a variedade de
assuntos de cada disciplina e seus assuntos correlatos. Podemos traçar um
paralelo com a organização do conhecimento dentro de cada disciplina.
Dentro das Ciências da Descoberta, a Matemática e Filosofia ocupam
papéis de destaque nas investigações peirceanas, uma vez que a Idioscopia
trata das especializações, a matemática oferece o processo lógico dedutivo
que conduz à lógica dentro da filosofia.
Tendo sua iniciação na matemática, mais especificamente na lógica,
ainda jovem devido ao fato de o pai ser professor de matemática, Peirce
entende que os fundamentos da lógica não são redutíveis à matemática,
pois ambas são de especificidade mutuamente irredutível. As operações
matemáticas são construções idealizadas, encadeadas para dar corpo ao seu
objeto de especificação. Nessas relações ideais, signo e objeto se confun-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
124
dem porque a abstração independe das aparências, uma vez que a própria
operação constrói a forma que pode chegar a uma conclusão verdadeira.
Uma vez que é a articulação lógica própria da matemática, a lógica dedu-
tiva é o que demonstra numa construção, na sequência de seus signos a
conclusão, enquanto decorrência das premissas verdadeiras.
A demonstração chamada matemática funda-se em suposições
de casos particulares. O geômetra traça uma figura; o algebrista
assume uma letra para significar uma determinada quantidade
preenchendo condições requeridas. Mas conquanto um matemático
supõe um caso individual, sua hipótese ainda é perfeitamente geral,
pois ele não considera os caracteres do caso individual, mas os que
devem a todos aqueles casos. A vantagem de seu modo de proceder
está no fato de que as leis lógicas dos termos individuais são mais
simples do que aquelas que se relacionam a termos gerais, pois os
indivíduos são idênticos ou mutuamente exclusivos e não podem
se interseccionar ou se subordinar uns aos outros como podem
as classes. A demonstração matemática não está, portanto, mais
restrita a questões de intuição do que qualquer outra espécie de
raciocínio. Com efeito, a álgebra lógica prova conclusivamente
que a matemática se estende a todo o domínio da lógica formal;
e qualquer teoria do conhecimento que não possa se ajustar a esse
fato, deve ser abandonada. Podemos colher todas as vantagens que
se supõem os matemáticos derivarem da intuição, simplesmente
fazendo suposições gerais de casos individuais (Peirce, 1974, p. 56-
57, CP 3.92, 1885, tradução nossa).
É importante considerar que a Lógica peirceana não é redutível às
formas ideais contidas na matemática. O plano abstrato no qual se dá a re-
alização de suas formas implica em uma experiência também ideal para sua
realização, mesmo tendo um objetivo a ser alcançado, e tendo implícito
em seus movimentos a intuição daquele que constrói as formas.
O caráter filosófico contido na metodologia de procura mais adequa-
da para representar o objeto ao qual se refere e que é buscado, com vistas ao
objetivo desejado, traz a lógica mais próxima da Ética do que do procedi-
mento dedutivo que restringe o passo subsequente à premissa anterior.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
125
Segundo Silveira (2003, p. 62) a Filosofia dentro das Ciências da
Descoberta se aproxima do fenômeno, dá os instrumentos necessários para
a representação do objeto:
[...] para Peirce, em primeiro lugar, a filosofia é um conhecimento
científico, no sentido que seu objeto é a realidade sob um aspecto
próprio sobre o qual conceituar e esclarecer. Sendo ela uma Ciência
Positiva ou Ciência do Fato, tem por objeto fenômenos que
necessitam ser observados e que se impõem a quem os observa.
A filosofia não seria, pois, uma ciência meramente formal, ou um
estudo sistemático da mera correção da linguagem. Seu objeto
resiste à representação e deve testar a adequação da mesma para
dele dar conta.
Seguindo a tríade característica da metodologia peirceana, a Filosofia
tem a Fenomenologia enquanto primeira divisão e a ela cabe a partir da
contemplação do Fenômeno Universal o discernimento entre primeirida-
de, secundidade e terceiridade dos elementos onipresentes.
A Ciência Normativa, a segunda divisão, “que investiga as leis univer-
sais e necessárias da relação dos fenômenos com os fins, isto é, talvez com
a verdade, o direito e a beleza” (Peirce, 1974, p. 77-78, CP 5.121, 1903).
Relacionar os fenômenos aos fins perpassa a atividade humana e a percepção
das leis da natureza e perceber o direcionamento teleológico da procura pela
beleza, num processo considerado bom para chegar à verdade é o cerne do
procedimento pragmático que permeia as Ciências Normativas.
A Metafísica é a terceira divisão da filosofia, e cabe a ela compreender
a realidade dos fenômenos a partir da relação obtida entre a fenomenolo-
gia e ciência normativa, uma mediação entre primeiridade e secundidade.
“Metafísica é a ciência da realidade. A realidade consiste em regularidade.
Regularidade real é lei ativa” (Peirce, 1974, p. 77-78, CP 5.121, 1903). A
regularidade e a atividade da lei que governa a realidade devem ser compre-
endidas a partir do fenômeno, isto é, o fenômeno não se adequa a descri-
ção denominada enquanto lei, mas a partir do desenrolar de sua ocorrência
à terceiridade enquanto reposição da regularidade à lei vai ser evidenciada.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
126
Ao contrário da Idioscopia que separa em seus sub-ramos as causas
tanto eficientes quanto finais, cabe à Filosofia ou Episteme como enten-
diam os gregos (Peirce, 1974, p. 135, CP 1.279, 1902) descobrir a raiz
comum às coisas que propulsionam a ação. A causa eficiente e final tem
tratamento conjunto na relação com os fenômenos, a ação entendida te-
leologicamente é princípio da ação humana, assim como de outros seres
vivos que atuam no ambiente. “Pois, para não mencionar outras razões, a
filosofia deve cair na tarefa de comparar os dois ramos da causação e exu-
mar sua raiz comum” (Peirce, 1974, p. 129, CP 1.273, 1902).
A subdivisão da Filosofia é composta pela Fenomenologia, Ciências
Normativas e Metafisica, como pode ser visto a seguir:
Figura 3 - Divisão da Filosofia
Fonte: Elaborado pela autora.
Neste quadro estão colocadas na Fenomenologia as categorias de
primeiridade, secundidade e terceiridade. As categorias não são ciências,
cumpre esclarecer. Tratando-se do modo de ser, ou do modo como a quali-
dade se apresenta nos fenômenos, a divisão da fenomenologia está coloca-
da didaticamente, apresentando esta divisão da qualidade correspondente
à primeiridade, do fato correspondente à secundidade, e da lei enquanto
terceiridade dentro da fenomenologia.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
127
Minha opinião é que existem três modos de ser. Sustento que
podemos observá-los diretamente em elementos do que quer que
seja, em qualquer momento, diante da mente de qualquer maneira.
Eles são o ser da possibilidade qualitativa positiva, o fato real e o ser
da lei que governará os fatos no futuro (Peirce, 1974, p. 7, CP 1.23,
1903, tradução nossa).
Peirce esclarece a relação entre os componentes que dão à filosofia o
seu caráter epistêmico, enquanto provedora das descobertas, que serão ob-
jeto do conhecimento, ou episteme, das mais diversas disciplinas tratadas
na Idioscopia.
A fenomenologia verifica e estuda os tipos de elementos
universalmente presentes no fenômeno; significado pelo fenômeno,
o que quer que esteja presente a qualquer momento para a mente
de qualquer forma. A ciência normativa distingue o que deveria
ser do que não deveria ser, e torna muitas outras divisões e arranjos
subservientes a sua principal distinção dualista. Metafísica procura
dar conta do universo da mente e da matéria. A ciência normativa
repousa largamente na fenomenologia e na matemática; metafísica
na fenomenologia e na ciência normativa (Peirce, 1974, p. 78, CP
1.186, 1903, tradução nossa).
A fenomenologia enquanto primeiridade se incumbe da percepção
do fenômeno, não enquanto mera aparência, mas introduzindo a relação
de mediação entre o fato da percepção; na secundidade tratada pela ciência
normativa, e a generalidade futura; terceiridade, que caberá a metafísica
depois de tratado o fenômeno pela ciência normativa. “Metafísica, como
acabei de mencionar, trata de Fenômenos em sua Terceiridade” (Peirce,
1974, p. 78, CP 5.124, 1903). A generalidade, a lei contida na tercei-
ridade, tem verificação dos fenômenos feita anteriormente pelas ciências
normativas para a representação da terceiridade.
Com relação às categorias, a Fenomenologia está na primeiridade, pois
é a partir das sensações o primeiro contato com os fenômenos. As Ciências
Normativas por meio da experiência, da factualidade, faz a mediação da re-
alidade e aquilo que é experienciado. Apresenta na atualidade aquilo que
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
128
tem a ocorrência do processo de mediação, e as Ciências Normativas está
representada na secundidade. Ética, Estética e Semiótica, outro nome para a
Lógica, dentro das Ciências Normativas mostra pragmaticamente o resulta-
do a ser alcançado enquanto verdade lógica. É a partir da experiência, por-
tanto da ação e confronto com a realidade que é possível chegar à verdade. A
semiótica investiga a estrutura do pensamento, enquanto a metafísica inves-
tiga a natureza do mundo objetivo. “Assim sendo, a diferença entre ambas,
semiótica e metafísica, é apenas uma diferença de grau, no sentido de que a
semiótica funciona como um processo lógico capaz de explicitar algumas das
questões cruciais da metafísica” (Santaella, 2007, p. 147).
À Metafísica cabe a generalidade, legitimar aquilo que a mediação
das categorias comprovou por meio das ciências normativas. A represen-
tação na categoria da terceiridade por meio da metafísica se incumbe de
apresentar de forma inteligível aquilo que é considerada a mediação dos
signos. O pensamento só é válido quando representado e compartilhado
na comunidade entre os pares.
Metafísica pode ser dividida em: i, Metafísica Geral ou Ontologia;
ii, psíquica ou religiosa, metafísica, preocupada principalmente
com as questões de 1, Deus, 2, Liberdade, 3, Imortalidade; e iii,
Metafísica Física, que discute a natureza real do tempo, do espaço,
das leis da natureza, da matéria, etc. O segundo e o terceiro ramo
parecem presentemente olhar-se uns para os outros com supremo
desprezo (Peirce, 1974, p. 80, CP 1.192, 1903, tradução nossa).
A metafísica geral, ou a ontologia está preocupada com a existência
dos seres no mundo. A relação daquilo que é real e é considerado existen-
te move o conhecimento. Os segundo e terceiro ramos, como comenta
Peirce, têm suas bases de verdade em constante questionamento uma vez
que a fundamentação o primeiro ramo tem flutuações no decorrer da his-
tória do pensamento e conhecimento.
Ao tratar separadamente Fenomenologia, Ciências Normativas e
Metafísica, pode-se manipular pela lógica aquilo que é o pensamento cien-
tífico. Pensamento este que acontece numa evolução contínua e são des-
membradas então para ter o entendimento de cada modo de ser, sob cada
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
129
maneira de apresentação do fenômeno. Posto isto, deve-se compreender
um pouco mais a ciência que observa a apresentação dos fenômenos.
3.1.2 fenOMenOLOGia Ou DOuTRina Das caTeGORias
Será assunto nesta seção a maneira como Peirce considera as
Categorias. As possibilidades de outros autores que tratam o tema seria
discorrer além dos objetivos desta apresentação do Pragmatismo de Peirce.
Assim, cabe aqui a colocação restrita sua abordagem. Apreciação do fenô-
meno em sua imediaticidade, naquilo que aparece e é então passível de
compreensão, é o que trata a fenomenologia. “A fenomenologia trata das
Qualidades Universais dos Fenômenos em seu caráter fenomenal imedia-
to, em si mesmo como fenômenos. Assim, trata de Fenômenos em sua
Primeiridade” (Peirce, 1974, p. 78, CP 5.122, 1903).
As categorias da Primeiridade, Secundidade, Terceiridade, perpas-
sam todos os fenômenos e a mediação dos signos em cada uma delas tran-
sita da possibilidade para a factualidade e então a representação, numa
mente que aprende com a experiência. A fenomenologia, ela mesma, por
ser o início de interação com o fenômeno está em primeiridade.
A Fenomenologia, como a primeira divisão da Filosofia é uma
ciência estritamente teórica e ingênua. Cabe-lhe tão-somente
contemplar o fenômeno universal e discernir os elementos
presentes naquela universalidade. A esses elementos, Peirce
denominou Primeiridade, Secundidade e Terceiridade, ao primeiro
correspondendo à espontaneidade; ao segundo, o esforço; e,
ao terceiro, a generalidade e a lei. Pode-se, também, dizer que a
Fenomenologia trata das qualidades universais dos fenômenos
em seu caráter fenomenal imediato, nelas mesmas e como meras
aparências (Silveira, 2003, p. 63).
A experiência é possível por meio da percepção e ação frente aos
fenômenos. Análise da experiência é análise dos fenômenos (Santaella, 2016)
então a fenomenologia, a modo de ciência, observa e analisa o faneron, aquilo
que é apresentado à mente e suscita interação.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
130
Aquilo que é percebido eventualmente suscita interação a partir de
sua admirabilidade (Silveira, 2004). A análise, investigação que propor-
ciona conhecimento inicia com a aproximação despertada pela interação
com os sentidos, capaz de fazer a identificação com a realidade.
O conhecimento não se identifica com os resultados dele
decorrentes, mas com uma admiração diante da realidade. Se o
nosso meio circundante e, mesmo nós, fôssemos indiferenciáveis
em nossas manifestações e, portanto, se tudo fosse absolutamente
banal, nada despertaria em nós curiosidade e desejo de conhecer
(Silveira, 2004, p. 194).
A primeiridade está neste despertar de atenção sem julgamento ante-
rior, aquilo que aparece desperta, por alguma qualidade, a interação com o
objeto pelo signo que evoca. A identificação e diferenciação desta primeira
impressão terá sido fruto da alteridade da secundidade e diferenciação na
representação realizada pela terceiridade.
O caráter admirável da realidade que povoa nosso universo é que, em
primeiro lugar, motiva-nos a investigá-la. O admirável move-nos para
ele, e faz com que nós o queiramos como a um bem que, de algum
modo, nos completa. Conhecemos porque amamos, e amamos o
que a nós se apresenta como satisfatório aos nossos desejos e como
realização de nossas aspirações. Esse comprometimento da vontade
não impede, contudo, que a atração exercida pelo objeto assuma sinal
negativo, o amor seja substituído pelo ódio e o conhecimento seja
motivado pelo desejo de evitar ou combater o que se nos apresenta
como objeto (Silveira, 2004, p. 195).
Uma vez que é a mais básica das Ciências Normativas não cabe à
fenomenologia qualquer julgamento, distinção entre bem e mal, certo e
errado. Cabe a ele “abrir os olhos” e contemplar os fenômenos tais quais
eles são, ou tais quais eles se apresentam, sejam eles reais ou representação
do fenômeno, descrevendo o objeto como um fenômeno (Peirce, 1974,
p. 26-27, CP 5.37, 1903). Hegel parte de “Fenomenologia da Mente5 e
Phenomenologie des Geistes.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
131
Peirce considera que erroneamente ele se restringiu àquilo que “realmente
se impõe à mente” (Peirce, 1974, p. 26-27, CP 5.37, 1903, grifo do autor).
Ignorando a diferença entre “essência e existência” Hegel mantém os fenô-
menos descritos, de uma maneira nominalista de caracterização conceitual,
de uma ideia pré-concebida que descreve o fenômeno, avalia Peirce. A es-
sência não é aquilo que se apresenta à mente por representar uma ideia já
concebida e a existência não está na descrição do objeto apenas, mas neste
conjunto dinâmico entre a realidade e aquilo que é existente.
A fenomenologia para Peirce trata dos elementos dos fenômenos
mentais e tem um caráter estritamente lógico (Santaella, 2004b, p. 56).
Por isto então o nome Faneroscopia (Peirce, 1974, p. 141, CP 1.284,
1905) para diferenciar daquela concepção da fenomenologia, representada
nas categorias de Hegel, que trata a fenomenologia enquanto aspectos psi-
cológicos ou apenas metalistas. E isto Peirce avalia junto com a definição
de percepção (Peirce, 1974, p. 162, CP 1.324, 1903).
A fenomenologia dá suporte à semiótica uma vez que é pela feno-
menologia que outros signos são incorporados ao continuun de percepção,
que vai ser incorporado ao continuun de interpretantes. Este prossegui-
mento da percepção da realidade é a grande diferença entre as categorias
dos outros filósofos, pois as unidades para Peirce têm um encadeamento,
não são unidades agrupadas a posteriori.
Faneroscopia é a descrição do faneron; e pelo faneron quero dizer
o total coletivo de tudo o que é de alguma forma ou em qualquer
sentido presente à mente, independentemente de corresponder ou
não a qualquer coisa real. Se você perguntar ao presente quando,
e a cuja mente eu respondo, deixo estas questões sem resposta,
nunca tendo tido a menor dúvida de que as características do
fanério que encontrei em minha mente estão presentes em todos
os momentos e em todas as mentes. Até onde desenvolvi esta
ciência da faneroscopia, ela está ocupada com os elementos formais
do faneron. Eu sei que há outra série de elementos representados
imperfeitamente pelas Categorias de Hegel. Mas não consegui dar
conta satisfatoriamente deles (Peirce, 1974, p. 141, CP 1.284,
1905, tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
132
Existe um cuidado em retirar o caráter psicológico dado pelos filósofos
ingleses ao termo faneron (Peirce, 1974, p. 141, CP 1.285,1904). Aquilo
que se apresenta à mente enquanto faneron não tem a necessidade de se
comparar com quaisquer realidades, o estudioso dos fanerons deve se abs-
ter às aparências da forma mais sincera, porém obstinada, na consideração
peirceana, ou atenta, podemos acrescentar. “Ele simplesmente examina as
aparências diretas e se esforça para combinar exatidão minuciosa com a ge-
neralização mais ampla possível” (Peirce, 1974, p. 142, CP 1.287, 1904).
Uma vez que tudo aquilo que se apresenta a mente é um “fanéreo”,
é passível de classificação. De acordo com os caracteres reais, eles apresen-
tam duas divisões. “Desses dois eu sei, um é uma divisão de acordo com
a forma ou estrutura dos elementos, o outro de acordo com a matéria
deles” (Peirce, 1974, p. 142, CP 1.288, 1905). Explica que passou os dois
últimos anos estudando a matéria, porém sem ter nada conclusivo, e acres-
centa que para todos os taxonomistas as classificações sobre as estruturas
são as mais importantes, e embora ele de fato tenha classificações em seu
método, é a sistematização deles o principal componente: “Um leitor pode
muito inteligentemente perguntar: Como é possível que um elemento in-
decomponível tenha alguma diferença de estrutura?” (Peirce, 1974, p. 143,
CP 1.289, 1905). Nos parágrafos seguintes descreve que: “A valência pode
explicar esta subdivisão, ou agrupamentos de acordo com as relações feitas
por elas em mônadas, díadas, tríades, tétrades, e assim em diante” (Peirce,
1974, p. 145, CP 1.292, 1905). Finaliza afirmando que a tríade, a valência
igual a três é a maior encontrada. Esta valência é sobre a qual traça toda
sua estrutura de pensamento e representação, como é a ação do signo entre
objeto e interpretante.
Para Kant, nosso conhecimento é guiado por um sistema de catego-
rias que são dados a priori. Existe um julgamento das experiências e uma
posterior classificação destas experiências. A grande dificuldade em cons-
truir um sistema de categorias é epistemológica, qual seja, como justificar
aquilo que descobrimos enquanto componente fundamental da realidade
(Hookway, 1992). A teoria das categorias Peirceana ocupa lugar estraté-
gico na articulação da lógica e epistemologia e da maneira de fazer uso
a partir das “Categorias Universais objetivamente fundadas” (Hookway,
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
133
1992, p. 80) para descrever as variedades de coisas que pensamos sobre a
experiência enquanto caracterização da verdade ou realidade. A realidade
pode então ser descrita como sua composição de substâncias como des-
crevia Aristóteles. O argumento de “Sobre uma nova lista de Categorias
é feito por Peirce conscientemente da concepção de categoria kantiana.
Considera-se alguém capaz de fazer julgamentos por possuir as análises
lógicas de julgamento e cognição, por estarem baseadas nas concepções
abstratas que são as categorias, segundo Kant (Hookway, 1992, p. 90). As
categorias peirceanas estão baseadas nas categorias kantianas (Peirce, 1974,
p. 148, CP 1.300, 1894).
Não vou aqui perguntar até que ponto é justificável aplicar as
concepções de lógica à metafísica. Pois eu considero a importância
dessa questão, por incrível que seja, ser talvez secundária, e de
qualquer forma não primordial àquela da questão concepções seria.
Posso dizer, no entanto, que, na minha opinião, cada categoria
justificar-se através de um exame indutivo que resultará na
atribuição de apenas uma validade limitada ou aproximada (Peirce,
1974, p. 148, CP 1.300, 1894, tradução nossa).
A definição de Peirce para as três categorias é que elas são ideias de
Categorias Cenopitagóricas (Peirce, 1974, p. 220-221, CP 8.328, 1904).
Peirce faz referência a Hegel e seus três estágios de pensamento, porém
Peirce ressalta que embora a semelhança tenha sido percebida por ele com
relação às ideias de Hegel, depois de suas próprias categorias terem sido
estruturadas, a diferença é que elas são independentes umas das outras
e a semelhança se limita aos três elementos presentes em ambas (Peirce,
1974, p. 221-222, CP 8.329, 1904). Explica ainda que as Categorias
Cenopitagóricas correspondem às três categorias de cada uma das quatro
tríades da listagem de Kant, em que de fato tem inspiração para a consti-
tuição de sua ideia.
Uma Categoria é um modo de predicação, ou classe de predicados,
enquanto que Universo é receptáculo ou classe de sujeitos (Peirce, 1974,
p. 431, CP 4.545, 1905). A relação entre eles é dinâmica e esta determina-
ção não apresenta distinções tão nítidas quanto possa parecer numa clas-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
134
sificação. A observação das aparências é a preocupação da fenomenologia.
Mas aquilo que cada observador, ou cada observação pode trazer é tido
de maneira diferente. E isto vale também para as ciências, cada forma em
particular de aprendizado depende da maneira de inquisição. Ciência e
psicologia têm análises diferentes, portanto um astrônomo e os enamora-
dos olham o céu de maneiras diferente.
Os padrões de certeza devem ser diferentes em diferentes ciências, os
princípios aos quais uma ciência apela totalmente diferentes das da
outra. Do ponto de vista da lógica e do desenvolvimento metódico,
as distinções são de maior interesse. A fenomenologia não tem o
direito de apelar para a lógica, exceto para a lógica dedutiva. Pelo
contrário, a lógica deve ser fundada na fenomenologia. A psicologia,
você pode dizer, observa os mesmos fatos que a fenomenologia faz.
Não. Não observa os mesmos fatos. Olha para o mesmo mundo; -
o mesmo mundo que o astrônomo olha. Mas o que observa nesse
mundo é diferente. A psicologia de todas as ciências precisa mais das
descobertas do lógico, que ele faz com a ajuda do fenomenólogo.
(Peirce, 1974, p. 205, CP 8.297, 1897-1909, tradução nossa).
Variedade e multiplicidade estão nas possibilidades da primeiridade,
assim como frescor, vida e liberdade. “Não é em ser separado das qualida-
des que a primeiridade é mais predominante, mas em ser algo peculiar e
idiossincrático6. (Peirce, 1974, p. 148, CP 1.302, 1834). A liberdade de
múltiplas pertinências, sem um outro, um segundo, que possa afetar e de-
finir dentro da variedade, está no frescor, na indefinição da primeiridade. A
peculiaridade, no fato de ser idiossincrático em meio às múltiplas qualida-
des está a predominância da primeiridade. “O primeiro é predominante no
sentimento, distinto da percepção objetiva, da vontade e do pensamento
(Peirce, 1974, p. 148, CP 1.302, 1894). Frescor, vida, liberdade de um
outro que determine suas ações porque é primeiro. Por ser primeiro tem
multiplicidade e variedade sem medida. Este sentimento no qual o primei-
ro se caracteriza tem a definição de impressão, sentido, percepção presente
num lapso de tempo, “[...] um sentimento em si mesmo independente de
A palavra idiossincrático não é encontrada no dicionário da língua portuguesa, porém, é a forma mais
usual da palavra idiossincrásico. Idiossincrásico é um adjetivo que se refere à idiossincrasia, que é a maneira
de ver, de sentir e de reagir, própria de cada pessoa.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
135
qualquer outra coisa” (Peirce, 1974, p. 156, CP 1.306, 1905), consistindo
em uma impressão, uma percepção que ainda não envolve análise, ainda
não existe enquanto parte de um processo ou análise, mas é apenas aquilo
que se apresenta enquanto distinção na multiplicidade e variedade. A ime-
diaticidade da consciência, num primeiro momento de sentido, daquilo
que é impressão. A esta unidade Peirce chama faneron, uma mônada.
A primeiridade é exemplificada em toda qualidade de um
sentimento total. É perfeitamente simples e sem partes; e tudo tem
sua qualidade. Assim, a tragédia do rei Lear tem sua primeiridade,
seu sabor sui generis. Aquilo em que todas essas qualidades
concordam é universal. Primeiridade, o próprio ser da primeiridade.
A palavra possibilidade se encaixa, exceto que a possibilidade
implica uma relação com o que existe, enquanto a primeiridade
universal é o modo de ser de si mesmo. É por isso que uma nova
palavra foi necessária para isso. Caso contrário, “possibilidade” teria
respondido ao propósito (Peirce, 1974, p. 282, CP 1.531, 1903,
tradução nossa, grifos do autor).
O presente recortado de futuro e passado, uma ausência de binarida-
de, na qual um sentimento não pudesse ter comparação para ser analisado
e este elemento é tomado de pura originalidade (se isto fosse possível),
independente da razão e da reação imposta pela binaridade. A estes lam-
pejos isolados, qualidades de sentimento, autoconsciência Peirce chama
Originalidade ou Primeiridade (Peirce, 1974, p. 45-46, CP 2.85, 1903).
“Todo o conteúdo da consciência é composto de qualidades de sen-
timento, tanto quanto verdadeiramente todo o espaço é composto de pon-
tos ou o total do tempo de instantes” (Peirce, 1974, p. 159, CP 1.317,
1910). Assim, tudo aquilo que aparece à mente humana tem o caráter de
mobilização da sensibilidade para qualquer encadeamento de pensamento
que possa ser caracterizado enquanto consciência, ou seja, a percepção do
mundo vem pela sensibilização, possibilitando um sentido para a condu-
ção do processo de significação. A primeiridade está naquilo que aparece
à mente tal como é, sem referência a um outro (Peirce, 1974, p. 220-221,
CP 8.328, 1904). O sentimento para Peirce não implica em um conteúdo
psicológico, mas num nível epistemológico de interação com o fenômeno
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
136
(Rosenthal, 1994, p. 101). O sentimento não é um deleite, é a porta de
entrada pelos sentidos para a interação com o fenômeno a ser constituído
pela Ciência Normativa.
Quando você contrasta a compulsão cega em um evento de reação
considerado algo que acontece e que de sua natureza nunca pode
acontecer novamente, já que você não pode cruzar o mesmo rio
duas vezes, quando, eu digo, você contrasta essa compulsão com a
necessidade lógica de um significado considerado como algo que
não tem nenhum ser, exceto na medida em que ele realmente se
materializa em um evento de pensamento, e você considera esta
necessidade lógica como uma espécie de compulsão real, uma vez
que o significado deve ser realmente incorporado, o que você está
pensando é uma secundidade envolvida na terceiridade (Peirce,
1974, p. 280-281, CP 1.530, 1903, tradução nossa).
É por meio da primeiridade que o objeto será tirado do continuum e
apresenta o signo passível de estruturação em sua relação interpretante. É a
percepção que aparece por si mesma, completo naquele instante ou tempo
em que dura esta primeira percepção, é um primeiro sem comparação com
outro. A primeiridade e este tomar consciência de algo, para Peirce, é sentir
(Peirce, 1974, p. 159, CP 1.318, 1910). O frescor e a instantaneidade desta
sensação são absorvidos pela instância da secundidade e a partir da consta-
tação da existência irá tornar possível o fenômeno ser real, em terceiridade.
Secundidade é um fato de complexidade, ele não é um composto
de dois fatos. É um fato único sobre dois objetos. Observações
semelhantes podem ser aplicadas a Terceiridade (Peirce, 1974, p.
22-23, CP 1.52, 1902, tradução nossa).
A complexidade envolve o segundo elemento e torna-se complexo
porque não são dois fatos distintos, mas um fato único sobre dois objetos
que tem na secundidade sua ligação. O reconhecimento de um primeiro
vem da alteridade na qual a existência do outro permite reconhecer a si
mesmo distintamente. A secundidade é pensada em dois objetos reagentes,
um primeiro e um segundo (Peirce, 1974, p. 278-279, CP 1.526, 1903).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
137
Ao relacionar passado e futuro apresenta a dualidade, a binaridade
que aparece nos pares como yin e yang, ou então a negação que significa
oposição a alguma coisa. Ou seja, a dúvida ao ser extinta pode levar a
verdade, uma vez que duvidar é estar entre duas (ou várias) possibilida-
des. Indivíduos existentes podem reagir uns com os outros marcando esta
dualidade e, portanto, reação de existência entre dois individuais (Peirce,
1974, p. 43-45, CP 2.84). Desta maneira ele descreve sua segunda catego-
ria: a Secundidade.
É pela secundidade que o conhecimento pode ser obtido com a ex-
periência direta de uma percepção (Peirce, 1974, p. 281-282, CP 1.532,
1893), mas não enquanto um sentimento gratuito, mas direcionado a um
fim. É a ação a partir da qual se faz de um meio, a estratégia da ação dire-
cionada para um fim, aquilo que está na secundidade. A secundidade está
na mediação entre aquilo que é percebido e a ação executada, porque serve
a um propósito e está então no mundo físico executando este empreendi-
mento, ou no diagrama que tende à generalidade. “Mas fato e existência
são palavras que expressam a mesma ideia em diferentes aplicações.” (CP
1.532, 1893). A secundidade marcada pela ação e reação atesta a tempora-
lidade do acontecimento que permite levar o acontecimento para o futuro,
seja enquanto significação, ou seja, enquanto decorrência da existência a
ser verificada.
A secundidade é marcada pela ação mútua entre dois elementos,
sem nenhum tipo de terceiro ou lei de ação. É “o modo de ser daquilo que
é como é com respeito a um segundo, mas sem o terceiro” (Peirce, 1974,
p. 220-221, CP 8.328, 1904). Aquilo que aparece enquanto um primeiro
tem a consciência modificada pelo mundo e de fato aquilo que é confron-
tado pode mudar, ser moldado. A percepção em primeiridade é alterada
pelo embate de elementos confrontados pela experiência àquele primeiro
estágio perceptivo. “Eu chamo essa modificação forçada de nossos modos
de pensar a influência do mundo de fato ou experiência” (Peirce, 1974,
p. 160, CP 1.321, 1910). A resistência e o esforço são duas versões, dois
lados, ou duas descrições de uma mesma experiência.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
138
Essa concepção de Aristóteles que é incorporada para nós na origem
cognata dos termos realidade e atividade é um dos produtos mais
profundamente esclarecedores do pensamento grego. Atividade
implica uma generalização do esforço; e esforço é uma ideia
bilateral, esforço e resistência sendo inseparáveis, e, portanto, a
ideia de atualidade também tem uma forma diádica (Peirce, 1974,
p. 428, CP 4.542,1905, tradução nossa, grifo do autor).
Temos consciência de nós mesmos a partir da constatação da exis-
tência do outro (Peirce, 1974, p. 162, CP 1.324, 1903). A secundidade
e a noção de alteridade é estabelecida pelo confronto daquilo que não é
a consciência do eu. A noção que uma coisa se contrapõe a outra nos dá
a consciência da existência delas, assim como a ideia do outro, a negação
daquilo que não sou eu, torna-se um “pivô de pensamento” (Peirce, 1974,
p. 162, CP 1.324, 1903).
A secundidade é limitação, a limitação por causação ou força estática
que sempre ocorre aos pares, como causa e efeito. No fluxo de tempo da
mente, explica Peirce, o passado age sobre o futuro naquilo que considera-
mos memória, mas o futuro age no passado por aquilo que consideramos
um terceiro, ou seja, representação. Aquilo que somos, constituídos pela
memória determina nosso modo de escolha ou ação, porém, nosso contato
com aquele passado seja ele uma reconstituição ou representação é feita
pela mediação de um signo (Peirce, 1974, p. 162, CP 1.324, sem data).
Na secundidade é predominante a ideia de realidade, pois na existência real
somos forçados a reconhecer aquilo que não é uma criação da mente, mas
está presente, efetivo, atual (actual). Neste caso ação designa existência e as
leis da natureza marcadas pelas forças contém secundidade.
O primeiro e segundo em conexão, apesar de serem sujeitos diferen-
tes e independentes, juntos fazem uma díada. A secundidade, a existência
é marcada pelas díadas. A apresentação em pares não retira o caráter par-
ticular de cada um, mostra uma variedade de características em relações
diádicas (Peirce, 1974, p.163-164, CP 1.326, 1884).
Secundidade pode ser genuína ou degenerada (Peirce, 1974, p. 223-
225, CP 8.330, 1904). A ação de um sobre o subsequente consiste em um
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
139
determinar o outro, porém a determinação do anterior, apesar da relação
causal não é feito pela resistência, pela força bruta, mas pela determinação
de um terceiro, pelo processo de mediação. A diferenciação entre um pro-
cesso de significação genuíno e degenerado será vista mais adiante.
A secundidade é uma reação enquanto elemento do fenômeno, a
terceiridade é uma representação enquanto elemento do fenômeno (Peirce,
1974, p. 47, CP 5.66, 1903). A continuidade do fenômeno pressupõe
multiplicidade e “dará a ideia de algo que é como é em virtude de suas
relações com qualquer multidão, enumerável, denumeral ou numerável ou
mesmo para qualquer super multitude de correlatos” (Peirce, 1974, p. 47,
CP 5.67, 1903).
Temos o primeiro que é uma possibilidade qualitativa, o segundo
que é o modo de ser do existente determinado pelo primeiro, é a qualida-
de incorporada que poderia ter qualquer maneira de ser apresentada, mas
enquanto qualidade se restringiu naquela forma pela secundidade. E então
o terceiro é o modo de ser como está representado por ser da natureza de
uma lei, ou conceito, que por um hábito possibilita estar incorporado tam-
bém no futuro. “Uma lei é como um futuro sem fim deve continuar a ser
(Peirce, 1974, p. 283, CP 1.536, 1903).
Agora, na genuína Terceiridade, o primeiro, o segundo e o terceiro
são todos três da natureza dos terceiros, ou pensamento, enquanto
que um em relação ao outro são primeiro, segundo e terceiro. O
primeiro é pensado em sua capacidade como mera possibilidade;
isto é, mera mente capaz de pensar, ou uma mera ideia vaga. O
segundo é considerado o papel de uma secundidade ou evento.
Isto é, é da natureza geral da experiência ou informação. O
terceiro é pensado em seu papel de governar a Secundidade. Traz
a informação para a mente ou determina a ideia e dá corpo a ela.
É informar o pensamento ou a cognição. Mas retire o elemento
humano psicológico ou acidental, e nessa terceiridade genuína
vemos a operação de um signo (Peirce, 1974, p. 283-284, CP
1.537, 1903, tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
140
A experiência fornece a informação do fato perante a regra, a lei ge-
ral. É por ela, a experiência, que o fato pode ser atestado como pertencente
àquela regra geral que constituiu o hábito. O signo para representar e levar
adiante seu interpretante deve suscitar esta averiguação entre o particular,
o caso especial e a regra geral. A regra, a idealidade sem a comprovação
da experiência se torna esvaziada em um nome apenas. A verificação pela
factualidade é aquilo o que dá veracidade ao fenômeno. Passar da primei-
ridade para a terceiridade, do particular para o geral, e repor o processo do
geral para o particular faz parte do continnum no pensamento evolucioná-
rio peirceano. “O geral é essencialmente predicativo e, portanto, da natu-
reza de um representamen” (Peirce, 1974, p. 67, CP 5.102, 1903). Sendo
predicativo, liga a definição ao objeto e é o que traz à mente o conceito.
A ideia de geral, como explica Peirce (Peirce, 1974, p. 67-68, CP
5.103, 1903) envolve a ideia de coisas existentes com muitas possibilida-
des, mas possibilidades além de todas as enumeráveis. (É possível citar a
ideia de pai: pai é um geral, todos têm pais, todos os seres do sexo mascu-
lino são pai em potencial. Ele se torna um particular quando é relacionado
ao seu filho).
Agora, a terceiridade não é senão o caráter de um objeto que
incorpora a intercessão ou a mediação em sua forma mais simples
e mais rudimentar; e eu o uso como o nome daquele elemento do
fenômeno que é predominante onde a Mediação é predominante,
e que atinge sua plenitude na Representação (Peirce, 1974, p. 68,
CP 5.104, 1903, tradução nossa).
A representação que pode trazer o geral, suscitar o particular a partir
do geral é a terceiridade. A terceiridade, sinônimo de representação, tem
o símbolo enquanto convenção desta generalidade capaz de fazer a me-
diação. É a partir deste signo que representa que o processo de mediação
pode acontecer, como o efeito produzido pelas palavras (Peirce, 1974, p.
68, CP 5.105, 1903). “A linha da vida é um terceiro; o destino que o corta,
o segundo” (Peirce, 1974, p. 170-171, CP 1.337, 1875) e a continuidade
representa o terceiro quase perfeitamente. Vinte anos depois a terceiridade
aparece como ideias relacionadas à generalidade, continuidade, infinitu-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
141
de, difusão e inteligência (Peirce, 1974, p. 171-172, CP 1.340, 1895).
“Terceiridade é o modo de ser daquilo que é como é, ao trazer uma se-
gundo e terceiro em relação um ao outro” (Peirce, 1974, p. 220-221, CP
8.328,1904).
A terceiridade envolve elementos mentais (Peirce, 1974, p. 225-
226, CP 8.331,1904), não mais a força bruta da secundidade, a terceirida-
de envolve mentalidade.
Terceiridade é a relação triádica existente entre um signo, seu
objeto e o pensamento interpretativo, ele mesmo um signo,
considerado como constituindo o modo de ser de um signo [...].
Um signo, portanto, é um objeto que está em relação ao seu objeto,
por um lado, e a um interpretante, por outro, de modo a trazer o
interpretante para uma relação com o objeto, correspondendo à sua
própria relação com o objeto. Eu poderia dizer “semelhante a ele
próprio”, pois uma correspondência consiste em uma semelhança;
mas talvez a correspondência seja mais estreita (Peirce, 1974, p.
226-227, CP 8.332,1904, tradução nossa).
Quando tratamos da terceiridade é possível a sua relação com a
Metafísica, uma vez que a representação passa por uma idealidade para
a transposição de um signo para outro na demonstração de um conceito,
pensamento. As categorias se relacionam com as condições de mediação
e apesar da primeiridade estar relacionada aos fenômenos, a secundidade
à verificação e experiência e a terceiridade à generalização, em qualquer
etapa do processo de significação é possível a transposição das categorias e
se considerado falho, ter um direcionamento de ação diferente, o que não
implica em uma linearidade de condições para o encadeamento acontecer.
A possibilidade da primeiridade pode repor o continnum na tercei-
ridade a partir da potencialidade (Rosenthal, 1994). Enquanto a possi-
blidade é direcionada ao objetivo a ser alcançado, a potencialidade pode
retornar ao caso particular, enquanto expectativa do acontecimento. Neste
sentido a potencialidade é caracterizada como ausência de determinação,
sendo apenas o geral em oposição ao singular.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
142
Agora pode ser que a lógica deva ser a ciência da Terceiridade em
geral. Mas, como estudei, é simplesmente a ciência do que deve
ser e pode ser uma representação verdadeira, na medida em que
a representação possa ser conhecida sem qualquer coleta de fatos
especiais além de nossa vida cotidiana comum. É, em suma, a
filosofia da representação (Peirce, 1974, p. 284, CP 1.539, 1903,
tradução nossa, grifo do autor).
Novamente Peirce ao se referir à terceiridade considera que a
Semiótica, e por decorrência podemos considerar também o Pragmatismo,
fornece a representação que característica da metafísica tradicional. Ao tra-
tar a semiótica como instrumento da “filosofia da representação” unifica
Fenomenologia, Ciências Normativas e Metafísica dentro da Filosofia, nas
Ciências da Descoberta, que são aquelas disciplinas capazes de trazer novi-
dades e, portanto, novas informações para o conhecimento.
Após o tratamento das três categorias na Fenomenologia, o que fa-
cilita o entendimento da transição, ou interposição dos fenômenos que
podem se apresentar e modificar transitando entre elas, será mostrada a
sequência nas Ciências Normativas, segundo ramo da Filosofia, na qual a
Semiótica, aliada à Ética e Estética, tem papeis decisivos na construção da
significação.
3.1.3. as ciências nORMaTivas
A classificação peirceana coloca as Ciências Normativas na ação, na
secundidade, sendo primeiridade a fenomenologia e terceiridade a me-
tafísica. Esta classificação esclarece que a Semiótica enquanto parte das
Ciências Normativas trata da ação, é aquela que oferece a representação do
desenrolar que a ação pragmática proporciona.
A ciência normativa trata das leis da relação entre fenômenos e fins;
isto é, trata de Fenômenos em sua secundidade” (Peirce, 1974, p. 78, CP
5.123, 1903). Por um lado, os fenômenos vindos da primeiridade terão
por meio da ação, pela mediação da secundidade nas Ciências Normativas
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
143
seu desenrolar, e terão por outro lado, sua generalidade ao se relacionarem
aos seus fins na terceiridade, matéria da Metafísica na filosofia tradicional.
A divisão das ciências normativas em Estética, Ética e Lógica ou
Semiótica é governada pela divisão das três categorias, a primeiridade, se-
cundidade e terceiridade. Uma vez que as Ciências Normativas são ciên-
cias que conformam as coisas aos fins, cabe à Estética considerar aquelas
coisas cujos fins são qualidades de sentimento incorporadas, ou seja, neste
incorporar qualidades esta “coisa” apresenta uma forma, repondo a partir
da primeiridade relacionada à estética, o processo de significação. Aquelas
cujos fins estão na ação é tarefa da Ética, pois a secundidade, a atualidade
permite a condução da melhor maneira de conformar a decisão da ação
para alcançar o fim apresentado na primeiridade, determinar a maneira de
conduzir, escolher o melhor caminho de ação é trabalho da Ética, a relação
de reação com aquilo que é fato conduz o processo por meio da experiência
da secundidade. “A Lógica considera aquelas coisas cujo fim é representar
alguma coisa” (Peirce, 1974, p. 284, CP 5.129, 1903), cabe à terceiridade
a análise, a representação, o diagrama traçado no transcurso do processo
pode então ser apresentado enquanto comprovação da verdade obtida.
A preocupação das Ciências Normativas é relacionar os fenômenos
aos seus fins e Peirce deixa claro que o fim da Lógica é chegar à verdade, os
modos de pensamento para se chegar à verdade, atingir a verdade é ineren-
te à constituição das Ciências Normativas, embora não sejam necessaria-
mente hierarquizadas as relações entre as partes no processo de significação
(Liszka, 2012).O raciocínio no encadeamento lógico tem o percurso da
Gramática Especulativa até a Lógica Critica na qual as premissas projetam
as conclusões verdadeiras validadas (Peirce, 1974, p. 286-269, CP 2.444,
1893, apud Liszka, 2012, p. 50). O bem lógico é de fato a obtenção da
verdade pretendida.
A correspondência às categorias naquilo que Peirce chama “aspecto
psicológico” relaciona à primeiridade, sentimento com a Estética; à secun-
didade, a reação com a Lógica ou Semiótica, e à terceiridade, o pensamen-
to com a Metafísica. “A verdadeira natureza do pragmatismo não pode
ser entendida sem eles” (Peirce, 1974, p. 188-189, CP 8.256, 1902). Vale
lembrar que a apresentação pelos sentidos, enquanto “aspectos de impres-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
144
são” na relação com os fenômenos, têm o aspecto psicológico, ou a percep-
ção, segundo a definição de Peirce.
Para ser um bom estudioso em lógica é necessário considerar além
da Estética a Ética, outros dois componentes da Ciência Normativa. É
feita, segundo Peirce, conexão vital com a Lógica, ou também chamada
Semiótica, porque para raciocinar bem é necessário além de “virtudes in-
telectuais como honestidade e sinceridade e verdadeiro amor à verdade,
mas também as concepções morais mais elevadas” (Peirce, 1974, p. 43, CP
2.82, 1902) e a compreensão desta Ética são fundamentais para a compre-
ensão da Lógica enquanto bem a ser alcançado determinado pela Estética.
Segue explicando que sua preocupação não é metafísica e sim ló-
gica, pois a preocupação não está em entender “o que é”, mas aquilo que
se apresenta em cada momento (Peirce, 1974, p. 43, CP 2.83, 1902). E
neste conhecimento, adquirido com a experiência daquilo que passou, en-
contra três elementos aos quais chama de categorias, que são primeirida-
de, secundidade e terceiridade, pois elas perpassam todo o pensamento. A
lembrança ou reafirmação das categorias em cada descrição é importante
porque uma vez que elas estão incorporadas no entendimento do proces-
so pragmático a significação, ou o entendimento do significado, torna-se
muito mais simplificado. É esta a maneira de apresentação peirceana e este
trabalho, à medida que tem como propósito explicar em alguma medida
o método pragmático, procura seguir nesta intercorrência do trabalho de
Peirce, na maneira pela qual ele coloca seu pensamento.
A ciência é processo de conhecimento, e a Semiótica um processo
de constante aperfeiçoamento em busca da verdade, em uma comunidade
que transforma os conhecimentos progressivamente ao longo da história.
As Ciências Normativas, na secundidade, têm na Semiótica a modalidade
de articulação dos signos para a representação desta verdade como decor-
rência do processo de busca do conhecimento, dando à semiótica o caráter
de terceiridade. A ação conjunta da estética, ética proporciona à lógica
a representação enquanto terceiridade. E este procedimento é aplicado a
qualquer mente capaz de aprender com a experiência, como explica Peirce,
e assim é passível de aplicação a qualquer área do conhecimento.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
145
Conjuntamente com toda filosofia, a Semiótica diferencia-se
das demais ciências positivas por procurarem estabelecer aquelas
condições gerais para que a classe de fenômenos observados passa
ser compreendida pelas ciências especiais, constituindo-se em
ciências do dever ser (Silveira, 2007, p. 29, grifo do autor).
As condições gerais podem então estar presentes nas ciências espe-
ciais exatamente porque a especialidade trará a diferença de resultados do
procedimento geral, utilizando norma pragmática pela qual a significação
pode acontecer. A situação condicional é simplesmente a conscientização
de que o processo sendo eminentemente falível necessita de correção e
autoavaliação constante. A falha, o resultado que contraria a afirmação ver-
dadeira está sempre aventado enquanto desenrolar do processo, cabendo
então ao planejamento de conduta o ajuste, com vistas a se chegar àquilo
esperado. E isto, este resultado, é diferente para cada ciência especial, mes-
mo tendo usado o método pragmático enquanto estrutura para este dia-
grama de demonstração, a ser compartilhado entre os pares, apresentando
o resultado específico para apreciação.
Estudioso das várias áreas do conhecimento e sabedor do conteú-
do inusitado e espetacular de seus próprios estudos, Peirce começa sua
“Sinopse parcial de um tratado em lógica” com a seguinte afirmação:
O principal uso deste capítulo é dar ao leitor uma ideia de que
tipo de livro isso é para ser. Pode-se ver que suas concepções são
incomuns. Nós nos encontramos no Vestíbulo do labirinto. Sim,
O Labirinto – apenas no Vestíbulo, mas ainda assim formidável,
apenas labirinto. Treze portas, ainda não abertas, estão diante de
nós. Nós escolhemos o mais estreito, o menos proeminente, o mais
raramente aberto por alguém (Peirce, 1974, p. 42, CP 2.79, 1902,
tradução nossa).
Introduzir o leitor no longo caminho do pensamento sempre falível
e evolucionário apresenta vários “vestíbulos”, uma vez que a formação de
interpretantes não tem a linearidade de um processo dedutivo e a cada nova
escolha de caminho a ser trilhado durante a investigação, vários outros dei-
xam de ser considerados. Por mais improvável que possa ser a escolha tem
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
146
determinação estética e é a admirabilidade o que determina aquilo que
deve ser alcançado. “A Estética é a ciência dos ideais, ou daquilo que é obje-
tivamente admirável sem qualquer razão ulterior” (Peirce, 1974, p. 79-80,
CP 1.191, 1896). Ela, a Estética, é quem determina o summum bonum7 a
ser perseguido, auxiliado pela Ética, para então a Lógica ou Semiótica ser a
teoria do pensamento autocontrolado ou deliberado (Peirce, 1974, p. 79-
80, CP 1.191, 1896). O investimento de energia para chegar à realidade
do fato só vale a pena se aquilo apresentado em primeiridade pela estética
justificar este esforço. O summum bonum carrega consigo a beleza do bem
a ser alcançado, aquele para o qual a energia da pesquisa, do investimento
de forças, vale a pena para ser realizado (Silveira, 2007).
A bondade, assim como a verdade, não tem uma apropriação direta
(Liszka, 2013), como um objeto consolidado ao alcance no final do pro-
cesso. É a redução do erro e a correção de direcionamentos no decorrer do
percurso que leva a aproximação daquilo que foi teleologicamente preten-
dido no princípio.
A noção de beleza, ou “senso estético” é tratada na história desde as
‘Formas’ que provocam reações de satisfação como tratava Platão (Mayorga,
2013) até Hegel, que considera a beleza da arte superior à da natureza por
ser recriada novamente do material que nasce de Deus (Mayorga, 2013,
p. 89). Para Peirce beleza “[...] é um produto de cognição exatamente
como é satisfação ou dor, bem ou mal, assim sendo um geral, um terceiro
(Mayorga, 2013, p. 95). A beleza não está nela mesma, mas atrelada ao
conhecimento uma vez que as Ciências Normativas tratam conjuntamente
a passagem da primeiridade para a terceiridade.
Estética é a ciência normativa básica que dá fundamento à Ética
para ser transposto pela doutrina da Lógica. A Estética deve “determinar
por análise o que é que alguém deve deliberadamente admirar per se em si
mesmo, independentemente do que ele possa levar e independentemente
de suas orientações sobre a conduta humana” (Peirce, 1974, p. 25-26, CP
Esta expressão é usada por Peirce. Do Latim, o bem maior é uma expressão usada na Filosofia – em
particular na filosofia medieval e na filosofia de Immanuel Kant – para descrever a importância máxima,
o bem maior que o ser humano deve buscar. Disponível em: https://www.dicionarioinformal.com.br/
significado/summum%20bonum/6527/. Acesso em: 1 ago. 2018.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
147
5.36, 1902). A investigação, iminentemente correndo o risco de ser falível,
tem o despertar daquilo que é admirável pela Estética “em objetos consi-
derados simplesmente em sua apresentação” (Idem), tendo na Ética aos es-
forços que moldam a conduta pela vontade de alcançar o objeto desejado,
com a Semiótica representando a verdade decorrente do processo.
A filosófica estrutura das categorias avalia o ideal estético, a bele-
za dentro das teorias do realismo e sinequismo (Mayorga, 2013, p. 98).
Esta transição da admirabilidade à representação é o cerne, o núcleo do
Pragmatismo, assim entender as categorias é poder avaliar a etapa do pro-
cesso no encadeamento da significação.
Por sua vez, a Ética enquanto ciência normativa durante o pensa-
mento peirceano se desenvolveu baseada em três doutrinas que perfazem
o procedimento ético de determinação da conduta. Em primeiro lugar a
causação final como propósito, aliada em segundo lugar à autocorreção
que acompanha este procedimento teleológico, e em terceiro a teoria fi-
losófica na qual a Ética, estando na categoria da secundidade, dentro das
ciências normativas, investiga e conduz ao summum bonum dos procedi-
mentos científicos tanto quanto da conduta humana de uma maneira geral
(Boero, 2014).
Logo se, como o pragmatismo nos ensina, o que pensamos deve
ser interpretado em termos do que estamos preparados para fazer,
então certamente a lógica, ou a doutrina do que devemos pensar,
deve ser uma aplicação da doutrina do que deliberadamente
escolhemos fazer, que é Ética. (Peirce, 1974, p. 24-25, CP 5.35,
1903, tradução nossa).
A conduta moral, ou a conduta do sujeito em sociedade tem um
paralelo com a conduta lógica do raciocínio. “Existe também uma inten-
ção lógica geral. Mas não é enfatizado pela razão de que a vontade não
entra tão violentamente no raciocínio quanto na conduta moral” (Peirce,
1974, p. 333-334, CP 1.609, 1903 2a, grifo do autor). As normas ló-
gicas implicam resoluções pré-determinadas que cada passo deve seguir,
tratando-se da dedução e indução por exemplo. A natureza humana põe
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
148
o sentimento relacionado à vontade em relação ao raciocínio, e a conduta
autocontrolada baliza a resolução do ato em si com aquilo que é aceitável
pela comunidade, regido pela moral.
[...] No caso da conduta geral, a lição de satisfação ou insatisfação
frequentemente não é muito levada a sério e pouco influencia a
conduta futura. Mas no caso do raciocínio, uma inferência que a
autocrítica desaprova é sempre instantaneamente anulada, porque
não há dificuldade em fazê-lo. (Peirce, 1974, p. 333-334, CP
1.609, 1903 2a, tradução nossa).
A importância aqui é dada ao pensamento lógico que tem o racio-
cínio colocado após a hipótese levantada, e se de fato ela se mostra falsa,
não vale o investimento de conduzir às etapas seguintes, uma vez que a
falha já está percebida, ou apontada. A conduta de uma maneira geral, ou
a humana em especial, quando é movida pela intenção, como frisa Peirce,
carece de observação mais cuidadosa. Se levarmos em conta que as regras
sociais existem na forma de leis que regem determinada sociedade, pode-
mos perceber que a moral que é regida por estas leis nem sempre é seguida
pelos homens ditos “de Bem”. O objetivo a ser alcançado mobiliza proce-
dimentos que a ética determina para ser alcançado o summun bonno, que
estão fora do padrão moral, e ainda assim as pessoas se valem dos diversos
artifícios disponíveis para alcançar aquilo que se dispuseram. Assim, a sa-
tisfação ou insatisfação numa sociedade hedonista, produto do consumo
na qual vivemos são critérios de grande importância, e nesta situação po-
demos contrariar a afirmação da frase acima. As atitudes ilegais e imorais
existem mesmo com pena imposta a elas, e esses cidadãos ao agirem fora
das normas da comunidade visam à satisfação momentânea ou pessoal,
correndo o risco das sanções por suas atitudes não aceitas pela sociedade.
O paralelismo é assim perfeito. Nem tampouco, repito, poderia
deixar de ser assim, se nossa descrição dos fenômenos da conduta
controlada estivesse verdadeira, desde que o raciocínio é apenas
um tipo especial de conduta controlada. (Peirce, 1974, p. 334, CP
1.610, 1903 2a, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
149
Mesmo não tendo formalizada uma obra com conteúdo tratando de
Ética exatamente, a abordagem peirceana é abrangente e sistemática sobre
o assunto (Liszka, 2012). Peirce tem seus estudos em Ética formalizados a
partir de 1883.
As questões de ética e moralidade são discutidas num primeiro está-
gio de investigação, até 1898 ambos, ética e moralidade, podem ser equiva-
lentes. Após 1902, consciência e causação final enquanto norteadores para
definição de conduta se tornam definidores da conduta autocontrolada
(Boero, 2014).
A distinção necessária na atuação, quando o interpretante coincide
com os processos da mente humana, está entre aqueles que devem ter um
entendimento moral conduzindo a ação. A vida em sociedade, a comuni-
dade a qual o indivíduo ou grupo de indivíduos pertence, sem dúvidas é
fator essencial para o transcurso de qualquer trajetória de pesquisa, porém
ao estruturar a Ética dentro das Ciências normativas, esta condução não é
necessariamente atrelada à conduta moral.
A moralidade está no conservadorismo do comportamento huma-
no de acordo com regras socialmente estabelecidas, quando se manifesta
de acordo com aquilo que a tradição cultural da comunidade na qual se
vive nos imputa. A moral está naquele procedimento social no qual fomos
educados para agir. Um homem moral é aquele que obedece às normas de
sua comunidade sem questionar (Peirce, 1974, p. 359, CP 1.666, 1898).
Proceder dentro daquilo que é considerado certo ou errado necessita jul-
gamento e então escolha. E isto implica em pensar a atualidade, resolver
a ação imediata. A lógica se encontra nas ciências normativas porque o
raciocínio, além de cada etapa do processo de cada vez, pensa na estratégia
em longo prazo, ou seja, o planejamento de ação e adequação de conduta
para se chegar ao objetivo desejado, como devemos raciocinar para chegar
àquilo que é pretendido. E isto pode ou não estar em conformidade àquilo
que o julgamento moral aceita enquanto moralmente correto.
[...] duas esperanças motivam sua investigação: a primeira é que o
curso da “nossa” experiência pode, em última instância, obrigar a
ligação de uma ideia estabelecida ao sujeito mental da investigação;
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
150
e a segunda é que a investigação em si pode obrigá-lo a pensar que
ele antecipa qual deve ser aquela destinada ser a ideia final (Peirce,
1974, p. 76, CP 8.102, 1900, tradução nossa).
A antecipação daquilo que é a expectativa nos motiva a traçar um
diagrama com vistas a obter aquilo que foi estabelecido, e não simples-
mente conformar o sujeito da ação à ideia estabelecida (Peirce, 1974, p.
326-327, CP 1.592, 1903).
Segundo Boero (2014), a maturidade da concepção de ética para
Peirce acontece depois de 1903. Neste período a definição de “pragma-
ticismo” que alia a ação ao ideal de conduta contida na máxima tem a
definição consolidada.
O que pensamos é interpretado em termos daquilo que estamos
preparados para fazer com base na deliberação. Essa forma de
compreensão do pragmatismo envolve dois problemas. Em primeiro
lugar, a máxima pragmática acaba por ser uma máxima de conduta,
uma vez que a proposição que é deliberadamente adotada como
um guia para a ação não pode ser outra coisa senão uma máxima de
conduta (CP 5.27; PPM 116, 1903). Em segundo lugar, a máxima
pragmática, assim como a ciência da lógica, depende da ética, pois
a ação com a qual a máxima está vinculada, na medida em que é
deliberada, é uma espécie das ações que a ética estuda (CP 5.35;
PPM 118, 1903). Aqui, a noção de ação autocontrolada aparece
como uma primeira chave para entender o pragmatismo (Boero,
2014, p. 262, tradução nossa).
O paralelo estabelecido por Peirce com relação à conduta moral e re-
gra de raciocínio tem caráter de analogia quando ele quer estabelecer regras
de conduta para alcançar o propósito. Para estabelecer ideais de conduta
ele pondera que é necessário que sejam considerados os sentimentos agra-
dáveis que acompanham o desenrolar destas ações (Peirce, 1974, p. 328,
CP 1.595, 1903). Além da revisão das ações este percurso também inclui
revisão dos ideais (Peirce, 1974, p. 329, CP 1.599, 1903). Quando Peirce
relaciona o raciocínio aos ideais de conduta ele considera que “os fenôme-
nos do raciocínio são paralelos aos da conduta moral nas suas característi-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
151
cas gerais” (Peirce, 1974, p. 331-332, CP 1.606, 1903-2a). O raciocínio
é pensado sob autocontrole, como são as atitudes do homem em uma co-
munidade que autocontrola sua conduta, uma vez que para chegar àquele
raciocínio verdadeiro pretendido, o parâmetro de confirmação da verdade
é a classe de casos análogos nos quais o resultado também será verdadeiro.
E isto é feito segundo Peirce, independentemente da censura moral da so-
ciedade, mas o caráter de controle da conduta tem paralelos nos dois casos.
Na verdade, o raciocínio é uma espécie de conduta controlada e,
como tal, participa necessariamente das características essenciais
da conduta controlada. Se você atende aos fenômenos do
raciocínio, embora eles não sejam tão familiares para você como
os da moral, porque não há clérigos cujo negócio é mantê-los
diante de suas mentes, você observará, sem dificuldade, que uma
pessoa que desenha uma conclusão racional, não só pensa que é
verdade, mas pensa que raciocínio semelhante seria apenas em
todos os casos análogos (Peirce, 1974, p. 331-332, CP 1.606,
1903-2a, tradução nossa).
Normas ou padrões de obtenção de raciocínio correto levam a uma
tendência geral a ser aplicada em casos particulares. Vale lembrar que a de-
finição de bondade para Peirce é aquilo que tende a ser bom, assim como
a verdade que não é um alvo especificado, mas aquilo que num processo
de autocorreção é atingido como resultado deste processo de autocorreção
(Liszka, 2013).
A interioridade e exterioridade nestas ações são percebidas e aponta-
das enquanto ideais de boa conduta que regem a ação e ideais de boa lógica
para um raciocínio consistente e Peirce aponta três tipos de considerações
para apoiar os ideais de conduta, com seus respectivos paralelos entre ação
e raciocínio. A primeira é que certas ações parecem boas em si mesmas,
em segundo nosso desejo é que haja consistência nas ações, em terceiro
o efeito geral deve ser atender as expectativas de cumprir os ideais. Do
mesmo modo, em primeiro lugar, algumas hipóteses parecem prováveis
em si mesmas, e seguem num raciocínio necessário que idealmente deve
ter consistência em segundo lugar; e em terceiro apenas certos modos de
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
152
raciocínio quando executados persistentemente levam à verdade (Peirce,
1974, p. 332-333, CP 1.608, 1903-2a).
Estabelecer os objetivos finais não está nos compromissos da Lógica,
porém são compromissos da Ética. “Ética é o estudo de quais fins de ação
nos estamos deliberadamente preparados para adotar” (Peirce, 1974, p. 82-
84, CP 5.130, 1903). Explica Peirce, tratando dos três tipos de bondade,
então a ação correta está em conformidade com os fins com os quais nos
preparamos para adotar em última instância, e completa: “Um raciocina-
dor lógico é um raciocinador que exerce grande autocontrole em suas ope-
rações intelectuais; e, portanto, o logicamente bom é simplesmente uma
espécie particular do moralmente bom” (Peirce, 1974, p. 82-84, CP 5.130,
1903). Não está na natureza do homem agir apenas para satisfazer desejos
imediatos, mas uma vez que somos livres para nos autocontrolar, quando
um objetivo a ser perseguido se torna consistente, e seguido de forma inal-
terável, não pode ser um mal objetivo e é então um objetivo final (Peirce,
1974, p. 85, CP 5.133, 1903).
Aqui a livre determinação, usando a melhor estratégia para de fato
alcançar o desejado se torna mais condizente com a conduta humana em
vista de seus objetivos, sem as normas da sociedade que delimitem até onde
aquilo que é factível possa ter consequências sociais. Peirce conclui o racio-
cínio afirmando que o único mal moral é não ter um objetivo a ser alcança-
do. O bem estético esta pesquisa relaciona com a forma apresentada, tanto
no bem maior a ser alcançado enquanto meta, quanto no produto decor-
rente da significação, durante o processo, como veremos mais adiante.
O tempo empregado dos verbos só vem reforçar a tese peirceana.
O passado marca a ação judicativa quer do tribunal, quer da
consciência individual. Cessadas as ponderações, deve-se agir de
um determinado modo e tornar eficiente as decisões tomadas.
Agir é consumar um ato, torná-lo passado em suas consequências.
Raciocinar visa ao futuro, as consequências decorrentes das futuras
condições, ajustando-se a conduta para proceder como for devido.
Todo raciocínio foi precedido de atos e segue-se a intenções, mas
o que o justifica é a representação que faz do fenômeno por ele
antecipado, em sua generalidade. Essa adequação é que lhe confere
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
153
bondade, e tudo que o precedeu, especialmente a intenção de
efetuá-lo, em nada a modifica ou a justifica (Silveira, 2003, p. 69).
Esta ação de autocorreção, para Colapietro (1989), quando é tratada
a ação humana, não é de mais um indivíduo que age, é o próprio organis-
mo humano em processo de transformação pela prática de um signo que
exercita controle para a significação. É o processo de significação no qual
se encontra o indivíduo.
Então podemos inferir que o objetivo a ser alcançado, mesmo quan-
do não é moralmente digno, conduz a ação de significação, pois busca
aquilo que o processo eticamente determinado escolheu viabilizar. Alcançar
o objetivo mobiliza técnicas e ações transformando e possibilitando a ar-
ticulação com vista ao objeto a ser alcançado. O bem lógico, o Summum
bonum está ligado ao bem estético enquanto ideal perseguido, mesmo que
isto não seja o Bem estipulado pela comunidade.
Mobilizar técnicas e ações implica em criatividade para propor e
projetar a melhor, mais eficiente, com menos gasto de energia, possibi-
lidade de viabilizar o alcance daquilo que deve ser conseguido no futuro.
Mais do que a ação, o planejamento supõe a significação que pode ser
alcançada, projetada previamente e direcionando a ação para isto. Este en-
caminhamento que requer projeto e expectativas está sujeito à realização
ou falibilidade. A demanda de esforços elencados é relativa à demanda de
investimentos para seguimento do processo, pois a regulação da conduta
nada mais é do que seguir as aspirações.
Eu digo, quando essas ideias de progresso e crescimento cresceram
para ocupar nossas mentes como elas fazem agora, como podemos
esperar que a suposição passe que o admirável em si é um
resultado estacionário? A explicação da circunstância de que o
único resultado que é satisfeito consigo mesmo é uma qualidade
de sentimento é que a razão sempre aguarda um futuro sem fim
e espera infinitamente melhorar seus resultados (Peirce, 1974, p.
335-336, CP 1.614, 1903 2a, tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
154
O fato de a Ética estar posicionada entre as Ciências Normativas
reinsere filosoficamente a ciência que possuía uma utilidade prática, de
ciência aplicada, ao julgamento do certo e errado, para o tratamento de
uma ciência “[...] cujo objetivo é estudar a conduta moral como aparece
na experiência cotidiana, a fim de compreender suas características e con-
dições como tal” (Boero, 2014, p. 268). O fenômeno quando relacionado
aos seus fins, e aqui incluído o procedimento científico, tem nas categorias
a identificação do procedimento, da conduta na Ética, levando a Semiótica
e mais especificamente a Retórica Especulativa a demonstrar para a comu-
nidade a significação alcançada, dentro do procedimento pragmatista.
A seguir será visto uma conceituação da Metafísica, necessária para
o entendimento de continuidade e da cosmologia peirceanos. Depois da
Metafísica, nesta sequência que encerra a divisão inicial da “Arquitetura
das Ciências”, o tópico seguinte trata especificamente da Semiótica e a
divisão dos signos. Tratar da Semiótica implica em adotar um cuidado
maior ao detalhar as classificações dos signos, portanto foi deslocada desta
sequência que segue a ordem da estrutura das ciências, mas é importante
lembrar que ela, a semiótica, faz parte das Ciências Normativas, ou seja,
faz parte da secundidade e não está segundo as categorias, na terceiridade,
na generalidade da Metafísica.
3.1.4 MeTafísica
Na descrição da atuação de Peirce feita por Fisch como de cientista,
lógico e filósofo entre outros, a caracterização da filosofia enquanto lógica
é enfatizada. “Metafisica era lógica aplicada” (Fisch, 1986, p. XXII). A fi-
losofia de Peirce inclui desde o início além da lógica, a metafísica também,
mantendo entre elas uma relação íntima. “Metafísica pressupõe Lógica
(Fisch, 1986, p. XXII), uma vez que as categorias da metafísica eram aque-
las da lógica em outra aplicação. (Ou seja, o uso das categorias na semiótica
pôde então ser transposto para o entendimento ontológico dos elementos
passíveis de conhecimento, portanto, dão dentro do pragmatismo possibi-
lidades epistemológicas).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
155
Em 12 de janeiro 1901, escrevendo para Evening Post, em Nova
York, Peirce comenta a ciência do século dezenove e o conhecimento sis-
tematizado decorrente das investigações científicas. Sua posição e enten-
dimento sobre a investigação científica estão no comentário feito sobre o
entendimento da palavra “ciência”, que inclusive é aquilo que norteia o co-
nhecimento até hoje. “O que eles queriam dizer, e ainda querem dizer, com
a “ciência” deveria, etimologicamente, ser chamado de filosofia” (Peirce,
1901, apud Fisch, 1986, p. XXI). Apesar de não haver a caracterização de
um método filosófico declarado por Peirce, mas de uma doutrina, quando
o método pragmático produz conhecimento verdadeiro, de fato aquilo que
está sendo produzido, etimologicamente pode ser caracterizado enquanto
um conceito que é real, e pertence ao mundo das ideias, tem a represen-
tação metafísica contemplada, mesmo sendo considerada sua relação com
aquilo que é existente, melhor dizendo, incluindo esta relação. Existência
e realidade estão contidas simultaneamente no signo. Esta simultaneidade
é a grande contribuição filosófica peirceana. A realidade representada se
torna existente, mais que isto, tem caráter generativo e evolucionário.
Acontece que eu mesmo acredito na vida eterna das ideias Verdade
e direito. Eu não preciso, no entanto, insistir nisso para o meu
propósito atual, e apenas falei deles a fim de tornar meu significado
claro. O que eu insisto não é agora a infinita vitalidade daquelas
ideias particulares, mas que toda ideia tem, em certa medida, no
mesmo sentido que é suposto que elas têm em medida ilimitada, o
poder de produzir resultados físicos e psíquicos. Eles têm vida, vida
generativa (Peirce, 1974, p. 96, CP 1.219, 1902, tradução nossa).
As escolas pitagórica e jônica dos Filósofos gregos eram também ge-
ômetras, e Peirce considera a metafísica quase filha da geometria “A me-
tafísica depende em grande medida da ideia de demonstração rígida dos
primeiros princípios; e essa ideia, assim como no que diz respeito ao pro-
cesso, como os axiomas a partir dos quais se propõe” (Peirce, 1974, p. 282,
CP 1.400, 1890), considera Peirce ao comentar os estudos de associação
e derivação feitos por Aristóteles de espaço e metafísica. A construção da
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
156
demonstração da ideia ou do próprio pensamento é o ato de fazer o racio-
cínio, a premissa a priori depende desta demonstração verdadeira.
O mundo enquanto universo da experiência, com uma realidade
que está na mediação entre interno e externo desde o começo dos trabalhos
peirceanos é a marca de contraposição ao cartesianismo que considera a
realidade pertencente ao conhecimento do cogito interiorizado na mente
humana. O começo dos trabalhos em lógica que leva ao estabelecimento
do pragmatismo parte da indiferenciação entre a internalidade e externali-
dade do pensamento.
Para Peirce a metafísica não é uma conceituação a priori, mas acon-
tece enquanto decorrência daquilo que é percebido na fenomenologia e ex-
perienciado nas ciências normativas. A filosofia é um conhecimento cien-
tífico, cujo objeto é um aspecto que se quer conhecer usando conceituação
e com evolução destas representações (Silveira, 2003, p. 62). As aparências
inventariadas na fenomenologia devem passar pelo crivo da lógica e então
ter a representação de sua generalidade na metafísica.
Já expliquei que, por Filosofia, quero dizer aquele departamento da
Ciência Positiva, ou Ciência do Fato, que não se ocupa em reunir
fatos, mas meramente em aprender o que pode ser aprendido com
essa experiência que pressiona cada um de nós diariamente e de
hora em hora. Não reúne fatos novos, porque não precisa deles,
e também porque novos fatos gerais não podem ser firmemente
estabelecidos sem a suposição de uma doutrina metafísica; e isso,
por sua vez, requer a colaboração de todos os departamentos da
filosofia; de modo que tais fatos novos, por mais impressionantes
que possam ser, dão muito mais suporte à filosofia do que a
experiência comum que ninguém duvida ou pode duvidar, e que
ninguém jamais fingiu duvidar exceto como uma consequência da
crença naquela experiência tão completa e perfeita que falhou em
ser consciente de si mesmo (Peirce, 1974, p. 77, CP 5.120, 1903,
tradução nossa).
A dúvida não é procedimento, é apenas uma inquietação que incita
a pesquisa. A verificação dos fatos enquanto ciência positiva se afasta do
positivismo de Comte à medida que as condições de verificação do fenô-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
157
meno não estão apenas no âmbito da observação direta, uma vez que esta
se atém apenas às premissas da ciência (Ibri, 1992). A concepção metafí-
sica de existência está na reunião de sujeito e objeto por estarem eles em
um mesmo modo de ser subsumidos a uma mesma categoria (Ibri, 1992).
“Sob a concepção de existência admitimos estar toda a experiência de rea-
ção contra a consciência e toda a reação dos objetos entre si” (Ibri, 1992, p.
35). A existência contém a reação de alteridade, ou a reação do conjunto de
objetos entre si. A realidade não é redutível à existência, sendo da natureza
da terceiridade, tem condição de representação, de generalidade e inscreve
em si mesma a potencialidade de conduta futura como ato que torna então
a existência em um individual possível, para o qual contribuem também
a aleatoriedade e o acaso (Ibri, 1992). É na metafísica que a existência se
mostra um modo especial de realidade (Ibri, 1992).
Expressar a capacidade de entendimento, representar, torna existen-
te o raciocínio que pode ser compartilhado, passível de verificação e con-
tinuidade. “Assim, a inteligibilidade, ou razão objetificada, é o que torna
a terceiridade genuína” (Peirce, 1974, p. 191-192, CP 1.366, 1905). A
ideia de continuidade da significação, a aceitação do pragmatismo enquan-
to método de busca da verdade e, portanto, de significação por meio dos
interpretantes que apresentam continuidade, num processo evolucionário
culminam com a concepção de Sinequismo. A concepção de Sinequismo é
resultante desta representação, desta definição do processo que neste caso
tem caráter metafísico. A discussão da continuidade, além do método tra-
balhado por Peirce por muitos anos, está na aceitação desta concepção de
realidade que alia elementos que não estão superficialmente considerados
como uma visão externalista da mente. A caracterização do realismo peir-
ceano, e por consequência a continuidade do sinequismo não está apenas
ligada a um empirismo lógico, uma vez que “[...] o realismo é o sistema,
um sistema complexo de compromissos epistemológicos e metafísicos que
se reforçam mutuamente” (Moore, 2013, p. 118).
A concepção filosófica de Peirce começa pela fenomenologia, pela
existência. Estar no mundo é o que introduz as Ciências Normativas alian-
do semiótica, ética e estética na maneira pragmatista peirceana de relacio-
nar o fenômeno ao pensamento, de uma maneira que não é transcendente.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
158
O realismo de Peirce é visto à maneira dos escolásticos, não é caracterizado
como a “ideia” feita do mundo com a tentativa de estabelecer se existe ou
não uma exterioridade contraposta ao pensamento humano (Ibri, 2014).
A Metafísica, em último lugar, empenha-se na compreensão
da Realidade daquilo que aparece. No empenho está incluído o
elemento de esforço já presente na investigação que caracteriza
o proceder das Ciências Normativas. Mas o que é procurado no
nível da compreensão ultrapassa um ato qualquer de experiência,
não se perfazendo simplesmente no alcançar-se um fim. Procura-
se compreender o fenômeno não somente como aparece ou como
interage determinando uma conduta, mas como ele seria em sua
própria realidade, em seu modo próprio de ser. O empenho dessa
ciência é, pois, o de romper os limites que o próprio conhecimento
impõe ao objeto e, portanto, só poderá se constituir em uma
elaborada conjectura jamais testada na experiência, mas somente
aceita, poder-se-ia dizer, numa ampla poesia sobre o cosmos que
tudo é, e que se nos oferece à contemplação como fenômeno
(Silveira, 2003, p. 64).
A secundidade é predominante para a ideia de realidade, pois a re-
ação de “alguma outra coisa que não é criação da mente” (Peirce, 1974,
p. 162-163, CP 1.325, sem data) está na atualidade do fato bruto sendo
conferido pela representação, sendo investigado em sua natureza. O conhe-
cimento deve se conformar aos fatos duros que resistem com sua existência
ao percepto e esta resistência não pertence à razão, mas a materialidade
enquanto elemento de secundidade presente nele. A representação englo-
ba a comprovação que caracteriza esta atualidade, uma vez que a própria
representação está moldada nesta atualização. Ainda que a representação
também contenha a realidade que é imanente do processo.
Se a história é para ser concebida nem como mera narração, nem
tampouco como o estudo de políticas obsoletas, mas como uma
narrativa do desenvolvimento do homem, então a história da
mente é certamente a coisa principal, e a do pensamento deve estar
à sua cabeceira (Peirce, CN, v. 2, 1975, p. 73, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
159
Ao definir a história do homem como a história de seu pensamento,
num artigo sobre história da filosofia em 1894, Peirce define como história
o desenvolvimento intelectual, no qual o estudo da história da mente e
por decorrência a evolução do pensamento são os assuntos principais. A
concepção intelectual da mente que aprende com a experiência é o legado
de Peirce à história da mente na visão externalista na qual a mente é en-
contrada na relação interno/externo sobre a qual ele funda a semiótica e
o pragmatismo. E ainda o pensamento científico, “[...] a análise científica
do idealismo objetivo” (Guardiano, 2011, p. 202) mostra a capacidade de
percepção dos fenômenos, numa “contemplação filosófica [...] que pro-
porciona inteligibilidade lógica e poder explanatório” (Guardiano, 2011,
p. 202) que a partir então da observação da natureza capacita a percepção
e realização das regularidades presentes em diferentes maneiras, presentes
nos fenômenos.
Assim, então, esses naturalistas estão certos em afirmar que a ação
da evolução na reprodução produz classes reais, pois pela própria
força das palavras ela produz classes naturais. Ao considerar a
classificação das ciências, no entanto, não precisamos penetrar nos
mistérios do desenvolvimento biológico; pois a geração aqui é de
ideias por ideias – a menos que se possa dizer, com muitos lógicos,
que as ideias surgem da consideração de fatos nos quais não há tais
ideias, nem quaisquer ideias. Essa opinião é superficial, aliada, de
um lado, à noção de que a única causa final é um propósito. Então,
esses lógicos imaginam que uma ideia tem que estar conectada com
um cérebro, ou tem que ser inerente a uma “alma”. Isso é absurdo:
a ideia não pertence à alma; é a alma que pertence à ideia. A
alma faz pela ideia apenas o que a celulose faz pela beleza da
rosa; isto é, oferece oportunidade. É o xerife da corte, o braço da
lei (Peirce, 1974, p. 93, CP 1.216, 1902, tradução nossa).
Da mesma maneira que as Ciências Normativas, a Metafísica está
apoiada nas categorias da fenomenologia e, de acordo com a primeiridade,
secundidade e terceiridade, será construída a tríade evolucionária do cos-
mos Tiquismo, Sinequismo e Agapismo.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
160
Em carta a Willian James Peirce reforça a ideia de que o pensamento
pode estar presente em qualquer uma das categorias, não apenas na tercei-
ridade, e estar de fato na relação de significação, uma vez que nós é que
estamos em pensamento e não ele em nós.
Essas três ciências normativas correspondem às minhas três categorias,
que, em seu aspecto psicológico, aparecem como Sentimento, Reação,
Pensamento. Aprendi muito sobre essas categorias desde os tempos
de Cambridge; e agora pode colocá-los em uma luz muito mais clara
e mais convincente. A verdadeira natureza do pragmatismo não pode
ser entendida sem eles. Não, como pareço ter pensado a princípio,
toma a Reação como o todo, mas toma o fim-tudo como o ser-tudo,
e o Fim é algo que dá sua sanção à ação. É da terceira categoria. Só
não se deve ter uma visão nominalista do Pensamento como se fosse
algo que um homem tivesse em sua consciência. Consciência pode
significar qualquer uma das três categorias. Mas se é para significar
o pensamento, é mais sem nós do que dentro. Somos nós que estamos
nele, mais do que em qualquer um de nós. Claro que não consigo me
explicar em poucas palavras; mas acho que seria um grande serviço
para os psicólogos explicar-lhes minha concepção da natureza do
pensamento (Peirce, 1974, p. 188-189, CP 8.256, 25 nov. 1902,
tradução nossa, grifo nosso).
Sua metafísica está relacionada à cosmologia, à mente que perpassa
todo o universo e da qual somos parte. Os fatos, ou a realidade fazem parte
do contínuo que se apresenta, tenhamos percepção ou não disto. Caso
ocorra nossa interação e esta desperta a capacidade racional, cada um de
nós que temos variedades de interpretação, é que entramos em sintonia
com esta mente quando nos colocamos em pensamento.
No final, Peirce acredita que o único modo de afirmarmos que
podemos compreender o mundo, e reconhecendo que este mundo
não pode ser irracional, nem a matéria ser contraposta ao espirito. O
mundo precisa ser inteligível em si mesmo, se realmente quisermos
falar sobre ele, e a prova disto e o fato de que nossas teorias sobre
a realidade trazem resultados práticos. Se nossos pensamentos e
teorias não apreendessem o mundo mesmo, então não poderíamos
esperar nada. Pelo contrário, esse fato e a razão pela qual a ciência
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
161
e a tecnologia podem desenvolver-se e nós podemos afirmar que
hoje conhecemos a natureza do universo melhor do que nossos
antepassados (Viana, 2014, p. 77).
A edição feita por Peirce de “Estudos em Lógica”, em 1883 reúne
publicações de membros da Universidade John Hopkins. Marquand, o au-
tor que faz o primeiro texto entre os artigos compilados, coloca a definição
da lógica dos epicurianos e a contraposição aos estoicos. Os estoicos, numa
posição nominalista, têm as palavras enquanto ideias das coisas, enquanto
os epicurianos veem nas palavras signos das coisas. A lógica de J. S. Mill
(1806-1893), influente pensador inglês, em contraposição ao nominalis-
mo coloca a filosofia em bases empíricas que influenciam a ciência do sé-
culo XIX (Marquand , 1983). Da evolução daquilo que é considerado uma
passagem das “impressões” para as “ideias” à maneira de Hume, Marquad
resgata dos epicurianos a maneira lógica de tratar esta relação.
Existem dois métodos de investigação. O primeiro, sendo um pro-
cesso preliminar, procura o significado e outro o conhecimento das coisas.
O segundo, o conhecimento “[...] é unicamente o verdadeiro e necessário
modo de alcançar a filosofia do universo” (Marquand, 1983, p. 2). De ma-
neira bem próxima está fundamentado o pragmatismo peirceano. A rela-
ção do mundo das ideias e a existência apreendida pela experiência norteia
o método pragmático.
Na próxima seção será tratada a maneira da cientificidade lógica e
por decorrência a filosofia peirceana ser entendida pela ciência atual. As
questões referentes à relação mente/corpo, ou interioridade/exterioridade,
têm um desdobramento na maneira pela qual o sujeito age. E, portanto,
em sua relação com o ambiente e com a maneira da informação nesta ação
promover conhecimento. No próximo tópico voltamos para o interior das
Ciências Normativas para, dentro da semiótica, estudar os signos e suas
divisões, e algumas possíveis relações entre eles.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
162
3.2 seMiÓTica
Na estruturação das ciências, Peirce classifica a Semiótica composta
primeiramente pela Gramática Pura ou Gramática especulativa, que trata
das relações entre signo, objeto e interpretante e suas possibilidades de
interação. Em segundo lugar a Lógica propriamente dita, ou lógica pura,
que trata dos interpretantes criados pelo raciocínio humano, articulados
em argumentos que são decorrência da mesma relação semiótica que trata
a Gramática Pura em seus elementos básicos. Em terceiro lugar a Retórica
Especulativa ou Metodêutica reproduz os interpretantes, representados
nos estágios abordados nas etapas de representação alcançadas, como pro-
duto de articulação entre os signos que provisoriamente tem o caráter de
verdade, e se encarrega de divulgar para a comunidade científica ou para a
sociedade de maneira geral, usando a linguagem necessária para alcançar
cada público diferente. Será comtemplada adiante cada uma das modalida-
des em separado para facilitar a compreensão. Abaixo o esquema peirceano
está representado em um diagrama para facilitar a articulação em cada
etapa discorrida:
Figura 4 - Divisão da Semiótica
Fonte: Elaborado pela autora.
Tão importante quanto o conceito de mente que aprende com a
experiência e a continuidade evolucionária do processo de significação,
como veremos mais adiante, está a base da informação gerada pelo signo
ao representar o objeto e formar o interpretante enquanto relação genuína.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
163
Para entender o método pragmático é a relação entre signo, objeto, inter-
pretante que devemos estabelecer de maneira fundamental.
3.2.1 siGnO, OBJeTO e inTeRpReTanTe
A concepção de signo não é uma criação peirceana. Porém, a con-
cepção do signo composta de uma estrutura triádica que faz uma relação
de significação e não apenas uma correspondência diádica, dual entre o sig-
no e seu objeto, “coisa” significada é sua grande contribuição (Colapietro,
1989). A estrutura triádica dasemiose é o que distingue a concepção peir-
ceana das concepções consideradas clássicas na filosofia, incluindo a posi-
ção de Saussure. A noção diádica significante-significado da concepção de
signo oferecida por Saussure é fundamentalmente diferente da concepção
triádica proposta por Peirce na qual a possibilidade de evolução do signo
e suas formas de representação estão incluídas na relação triádica de signo,
objeto, interpretante. Esta concepção enquanto uma estrutura de relações
é fundamental para entender a aspiração peirceana de ter a partir desta
possível relação envolvendo o funcionamento do signo uma Teoria Geral
dos signos na proposta peirceana (Colapietro, 1989).
Para Eco, seguindo Saussure e Morris, nada é intrinsicamente
um signo (Morris, 1975, p. 45)8. Signos são feitos por nós
para mediante a aplicação ou criação de um código. Isso seria,
para Peirce uma forma de nominalismo, uma vez que isto
resulta em tirar a realidade das conexões intrínsecas e atribuir
estas conexões exclusivamente à mente humana (Colapietro,
1989, p. 33).
Segue explicando que de acordo com Peirce, os signos são parte da
tessitura da realidade, independentemente de nossa convenção ou cons-
ciência. Nesta pesquisa o entendimento dos signos enquanto produto ex-
clusivo da mente humana e por consequência a linguagem, ou o discurso
como maneira única de expressão não é o foco, porque à maneira peircea-
A referência a Morris é para a obra “Fundamentos da Teoria dos Signos”.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
164
na, a capacidade de significação não é exclusiva da mente humana, apesar
de tratarmos aqui das circunstâncias sociais em que esta atuação humana é
de fundamental importância.
Nesta definição de signo, que não está datada, “Um signo represen-
ta algo para as ideias que ele produz ou modifica” (Peirce, 1974, p. 179,
CP 1.339, 1905) representar em algum aspecto ou capacidade de fato se
traduz em uma ideia, ou o próprio interpretante, então o signo representa
alguma coisa para o seu interpretante. “Ou, é um veículo que transmite
para a mente algo de fora” (idem). A mente supõe o hábito em continuida-
de e a ação de transmitir algo de fora faz deste exercício uma transmissão
de informação.
Aquilo para o qual se encontra é chamado seu objeto; aquilo
que transmite, seu significado; e a ideia a que ela dá origem, seu
interpretante. O objeto de representação não pode ser senão uma
representação da qual a primeira representação é o interpretante.
Mas uma série interminável de representações, cada uma
representando a que está por trás, pode ser concebida para ter um
objeto absoluto em seu limite (Peirce, 1974, p. 171, CP 1.339,
tradução nossa).
A representação na articulação do interpretante leva adiante o pro-
cesso, a dinâmica de relacionar o objeto ao interpretante pelo signo, e ele
mesmo, o signo ser transformado em informação, durante a passagem que
envolve uma condição temporal, é a semente da continuidade que será
constituída no hábito. A capacidade do interpretante não estar estanque,
restrita à representação que dá significado em um momento determina-
do, mas apresentando sempre possibilidades de novas abordagens faz da
relação entre o signo e o objeto que ele possa se destinar uma relação que
envolve também sucessão temporal.
O significado de uma representação pode ser apenas uma
representação. Na verdade, não é nada além da própria representação
concebida como despojada de roupas irrelevantes. Mas esta roupa
nunca pode ser completamente arrancada; só é alterado para algo
mais diáfano. Portanto, há uma regressão infinita aqui. Finalmente,
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
165
o interpretante nada mais é que outra representação à qual a
tocha da verdade é transmitida; e como representação, tem seu
interpretante novamente. Lo, outra série infinita (Peirce, 1974, p.
171, CP 1.339, tradução nossa).
O signo possui um objeto e um interpretante, e o interpretante por
sua vez é um outro signo, decorrente do anterior, que produz um senti-
mento, um esforço ou um signo na quasi- mente que é o intérprete (Peirce,
1974, p. 422-423, CP 4.536, 1905).
A ação de um signo exige um pouco mais de atenção. Deixe-me
lembrá-lo da distinção mencionada acima entre a ação dinâmica
ou diádica; e ação inteligente ou triádica. Um evento, A, pode, por
força bruta, produzir um evento, B; e então o evento B, por sua vez,
pode produzir um terceiro evento, C. O fato de que o evento C está
prestes a ser produzido por B não tem nenhuma influência sobre
a produção de B por A. É impossível que deveria, já que a ação de
B na produção de C é um evento futuro contingente no momento
em que B é produzido. Tal é a ação diádica, que é assim chamada
porque cada passo diz respeito a um par de objetos (Peirce, 1974,
p. 323-324, CP 5.472,1907, tradução nossa).
Para relacionar o objeto e interpretante é importante distinguir que
mesmo o interpretante sendo um signo, o objeto representado pelo signo
é outro, apresenta similaridade, mas é diferente do signo que faz a me-
diação entre o objeto e o efeito causado em uma mente. O pensamento,
raciocinar, é sempre dinâmico, com possibilidades de tomadas de direcio-
namento diferentes para a mesma investigação. Entender que pelo signo
estes caminhos são aventados ou descartados explica a grande diversidade
de hipóteses que em algumas situações conseguimos para a busca de uma
solução. O signo se relaciona ao objeto e embora seja afetado pelo objeto,
afetará apenas o interpretante, transformando este interpretante também
um signo. Esta relação com possibilidades tão amplas também é o que
restringe a ligação entre o objeto e interpretante no ato presente de media-
ção. Desta maneira a ligação entre o primeiro correlato e o terceiro é feito
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
166
pela mediação do signo, dando sequência à evolução da significação pelo
processo de retrodução.
Todo signo sustenta um objeto independente de si mesmo; mas
só pode ser um signo desse objeto na medida em que esse objeto
é em si mesmo da natureza de um signo ou pensamento. Pois o
signo não afeta o objeto, mas é afetado por ele; de modo que o
objeto deve ser capaz de transmitir pensamento, isto é, deve ser da
natureza do pensamento ou de um signo. Todo pensamento é um
signo (Peirce, 1974, p. 284, CP 1.538, 1903, tradução nossa).
A Nova Lista das Categorias é de 1867 e traz as caracterizações nas
quais pode signo estar no lugar de um pensamento, estar no lugar de um
objeto, ou representar objeto por uma qualidade, é um primeiro estágio da
ligação que o signo fará entre o objeto e o interpretante.
Na “Nova lista das categorias”, as formulações da teoria do signo
começaram a desabrochar. O signo tem três referências: a) ele é
um signo para (to) algum pensamento que o interpreta; b) ele é
um signo de (for) algum objeto do qual ele é equivalente naquele
pensamento; c) ele é um signo em algum aspecto ou qualidade, o
que o põe em conexão com seu objeto (Santaella, 2004b, p. 51).
Vem destas características mais básicas a dinâmica futura do encade-
amento de atribuir novos entendimentos para a relação continuada entre o
objeto e o interpretante mediada pelo signo. Ser a representação para um
pensamento é colocar uma conclusão em uma forma, de modo que ela seja
apresentada, e esta é a primeira referência. Ser a equivalência formal de seu
objeto é a característica de qualquer sinal que se coloca no lugar de outra
coisa, seu objeto de representação que é a segunda referência. Ser a repre-
sentação do objeto por uma similaridade de aspecto ou qualidade é uma
maneira de idiossincrasia, que permite a percepção de uma perspectiva
particular àquele que percebe o objeto ou fenômeno, e esta maneira que é
particular pode proporcionar a percepção de aspectos diferentes.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
167
Um signo, ou representamen, é alguma coisa que representa alguém
para algo em algum aspecto ou capacidade. Trata de alguém, isto é,
cria na mente daquela pessoa um signo equivalente, ou talvez um signo
mais desenvolvido. Aquele signo que ele cria chama o interpretante do
primeiro signo. O signo representa algo, seu objeto. Ele representa esse
objeto, não em todos os aspectos, mas em referência a um tipo de ideia,
que às vezes chamei de base do representamen (Peirce, 1974, p. 135,
CP 2.228, 1897, tradução nossa).
A tríade envolve a relação de mediação nos vários níveis diferentes. Na
triádica o signo representa as relações de performance, a presentidade dos
fatos, a situação atual (Peirce, 1974, p. 138-139, CP 2.234, 1903). Primeiro,
segundo e terceiro correlatos têm uma relação triádica e esta relação pode ser
subdividida, em uma etapa inicial, em dez classes. O trabalho de esmiuçar
gramaticalmente os signos e suas relações parte da concepção de signo que é
sempre utilizada para embasar as explicações dos modos de mediação:
Um Representamen é o Primeiro Correlato de uma relação triádica,
sendo o Segundo Correlato denominado seu Objeto, e o possível
Terceiro Correlato sendo denominado seu Interpretante, pelo qual
a relação triádica do possível Interpretante é determinada a ser o
Primeiro Correlato da mesma relação triádica para o mesmo Objeto,
e para algum possível Interpretante. Um Signo é um representamen
do qual algum interpretante é uma cognição de uma mente. Os
signos são os únicos representamens que foram muito estudados
(Peirce, 1974, p. 141-142, CP 2.242, 1903, tradução nossa).
Existem dois objetos e dois interpretantes (Peirce, 1974, p. 442-443,
CP 4.536, 1905). O Objeto Imediato é como o próprio signo se representa
e tem representado o objeto no signo, “O Objeto Imediato de todo co-
nhecimento e todo pensamento é, em última análise, o Percepto” (Peirce,
1974, p. 424-425, CP 4.539, 1905). É o percepto no objeto imediato que
vai levar ao Interpretante Imediato, aquela representação primeira com
caráter sígnico que apresenta destacado do entorno, no espaço no qual
é apresentado o julgamento perceptivo. O objeto dinâmico é a realidade
que “de alguma forma” contraria a esta representação. O objeto enquanto
Primeiridade compartilha uma qualidade do signo com o objeto e de algu-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
168
ma maneira pode se remeter a este Objeto Imediato. O objeto Dinâmico
estando na categoria da Secundidade, da reação e experiência tem a oposi-
ção que caracteriza a alteridade capaz de distinguir este novo signo contido
no Objeto Dinâmico daquele mero sentimento que caracteriza o signo no
Objeto Imediato.
O interpretante Imediato é o interpretante direto do signo e cha-
mado normalmente significado (meaning) do signo, e o Interpretante
Dinâmico que é um signo que tem o efeito vigente que o signo pode real-
mente determinar, enquanto signo capaz de mediar a ação do processo. O
interpretante final é aquele “que se refere à maneira pela qual o Sinal tende
a se representar como estando relacionado a seu Objeto” (Peirce, 1974, p.
422-423, CP 4.536, 1905). E a definição desta representação definitiva,
dentro de um processo em constante possibilidade de significação tende à
ação infinita de significação, uma vez que nas categorias temos a abertura
a uma nova etapa de significação sem nenhuma linearidade e com infinitas
possibilidades de variação dos caminhos do processo.
Já observei que um signo tem um objeto e um interpretante, sendo
este último o que o signo produz na quasi mente que é o intérprete
determinando o segundo a um sentimento, a um esforço ou a um
signo, cuja determinação é o Interpretante. Mas resta salientar que
geralmente há dois Objetos e mais de dois Interpretantes. Ou seja,
temos que distinguir o Objeto Imediato, que é o Objeto como o
próprio Signo representa, e cujo Ser é, portanto, dependente da
Representação do mesmo no Signo, do Objeto Dinâmico, que
é a Realidade que de alguma forma contraria para determinar o
sinal para a sua representação. Em relação ao Interpretante, temos
igualmente de distinguir, em primeiro lugar, o Interpretante
Imediato, que é o interpretante como é revelado no entendimento
correto do próprio Signo, e é ordinariamente chamado de significado
do signo; enquanto em segundo lugar, temos que tomar nota do
Interpretante Dinâmico, que é o efeito real que o Signo, como
Signo, realmente determina. Finalmente, há o que provisoriamente
denomino o Interpretante Final, que se refere à maneira pela qual
o Signo tende a se representar para ser relacionado ao seu Objeto
(Peirce, 1974, p. 422-423, CP 4.536, 1905, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
169
A definição de signo de 1910, na qual o signo é relacionado ao seu
objeto, afirma que “A palavra signo será usada para denotar um objeto per-
ceptível, ou apenas imaginável, ou mesmo inimaginável em um sentido
(Peirce, 1974, p. 136-137, CP 2.230, 1910). O exemplo dado por Peirce
é a palavra “rápido”, que embora tendo seu signo escrito ou falado, temos
apenas uma instância dela pois não é uma “coisa” palpável. “Rapidamente”
pode estar associada a uma situação na qual esta qualidade diferencia o
objeto de significação. A condição de representação do objeto pelo signo,
mesmo que de maneira arbitrária, deve acontecer para sua caracterização
de signo. A condição de “rapidez” deve estar associada a outro signo para a
determinação do interpretante, e neste caso seria parte de um signo asso-
ciado a outro. A sequência da explicação peirceana é a mais compreensível:
Se um Signo é diferente de seu Objeto, deve existir, seja em
pensamento ou em expressão, alguma explicação ou argumento ou
outro contexto, mostrando como – em qual sistema ou por qual
razão o Signo representa o Objeto ou conjunto de Objetos que ele
faz. Agora, o Signo e a Explicação juntos formam outro Signo, e
como a explicação será um Signo, provavelmente será necessária
uma explicação adicional, que, junto com o Signo já ampliado,
constituirá um Signo ainda maior; e procedendo da mesma
maneira, devemos, ou deveríamos, finalmente alcançar um Signo
de si mesmo, contendo sua própria explicação e aquelas de todas
as suas partes significativas; e de acordo com essa explicação, cada
parte tem outra parte como Objeto (Peirce, 1974, p. 136-137, CP
2.230, 1910, tradução nossa).
Uma vez que o signo e sua explicação juntos formam um outro sig-
no, e este signo deverá ter uma explicação adicional e sucessivamente até
este total ser o signo de si mesmo, teríamos nesta sequência também cada
novo signo incorporado a mudança do objeto que evolui junto com o sig-
no. A máxima pragmatista quando concebe as consequências práticas da
significação está baseada nesta formação, sempre tendo em mente o caráter
teleológico da evolução de signos nesta formação de interpretantes. “De
acordo com isto, todo Signo tem, de fato ou virtualmente, o que podemos
chamar de Preceito de explicação segundo o qual deve ser entendido como
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
170
uma espécie de emanação, por assim dizer, de seu Objeto” (Peirce, 1974, p.
136-137, CP 2.230, 1910). E as figuras de linguagem para explanar o sig-
no nesta relação com o objeto, ele observa a qualidade que é incorporada a
partir do ícone no objeto, um pedaço físico seria seu índice, e o símbolo é
tido como a “razão” que emanou do objeto.
Todo signo representa um objeto independente de si mesmo; mas
só pode ser um signo desse objeto, na medida em que esse objeto
é da natureza de um signo ou pensamento. Pois o signo não afeta o
objeto, mas é afetado por ele; de modo que o objeto possa transmitir
pensamento, isto é, deve ser da natureza do pensamento ou de um
signo (Peirce, 1974, p. 284, CP 1.538, 1903, tradução nossa).
Uma vez que o signo relaciona seu objeto ao interpretante, apenas
apresenta aquilo que tem na relação de significação a informação referente
ao objeto “O Signo só pode representar o Objeto e contar sobre ele. Não
pode fornecer conhecimento ou reconhecimento desse Objeto” (Peirce,
1974, p. 137, CP 2.231, 1910). Ele transmite informações, o signo é ape-
nas o veículo deste objeto capaz de ter significação a partir desta informa-
ção que liga o objeto ao interpretante e irá produzir nova informação.
Os Objetos – para um Signo podem ter qualquer número deles –
podem ser, cada um, uma única coisa existente ou existente que
se acreditava existir ou esperada, ou uma coleção de tais coisas, ou
uma qualidade ou relação ou fato conhecido, que Objeto único
pode ser uma coleção, ou partes inteiras, ou pode ter algum outro
modo de ser, tal como algum ato permitido cujo ser não impede
que sua negação seja igualmente permitida, ou algo de natureza
geral desejado, requerido, ou invariavelmente encontrado sob
certas circunstâncias gerais (Peirce, 1974, p. 137-138, CP 2.232,
1910, tradução nossa).
Determinar o objeto, o recorte sobre o qual o signo faz referência
implica em já propor o interpretante. Na medida em que uma relação
genuína é estabelecida, a distinção clara entre um e outro são etapas de sig-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
171
nificação possíveis de distinção enquanto etapas analisadas e não enquanto
estágios delimitados do processo.
Qualquer coisa que determine outra coisa (seu interpretante) para
se referir a um objeto ao qual ele próprio se refere (seu objeto)
da mesma maneira, o interpretante se tornando, por sua vez, um
signo, e assim por diante, infinitamente (Peirce, 1974, p. 169-170,
CP 2.303, 1901, tradução nossa).
A concepção do interpretante enquanto o efeito produzido pelo sig-
no que pode ele mesmo ser configurado num objeto, numa continuidade
do processo de significação, está vinculada à ideia de hábito por justificar
este encadeamento que é a definição futura do sinequismo. A semiótica
enquanto o estudo dos signos é o centro da concepção peirceana a ser
entendida metafisicamente, a ser desdobrada e com analogia percebida no
mesmo processo evolucionário que ele descreve para caracterizar a forma-
ção de um novo interpretante. A teoria dos signos tem a ver com terceiri-
dade, a relação de um segundo com um terceiro implica em informação,
esta relação é realizada porque existe comunicação.
A representação é um caso concreto de terceiridade, assim significa-
do, inferência e tudo aquilo o que implica terceridade (Barrena, 2003) tem
a dinâmica relacionada à formação do interpretante. O signo evolucioná-
rio, buscando terceiridade é percebido nos processos representados, pois
todo aquele que pode implicar em um terceiro o fará por semiose e estará
presente na cadeia de significação.
Em 1903, portanto em idade avançada, Peirce se dedica ao estudo
dos interpretantes, trabalho que nos anos seguintes resulta na unificação do
pragmatismo na teoria dos signos. Ao definir que um conceito intelectual só
pode ser resolvido com o estudo dos interpretantes, em especial os lógicos,
faz a ligação entre a significação e mudança de hábito (Santaella, 2004b).
O signo que gera interpretante e este interpretante que se torna ele
mesmo um signo que prossegue a significação, baseado na maneira de ter
atenções diversas sobre o mesmo tema, em sequências diferentes, porém
relacionadas, e tem-se o caminho para a hipótese. Nesta transformação do
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
172
signo em interpretante aquilo que é apresentado pode ser tomado enquan-
to uma abdução. O frescor da novidade em uma hipótese venha do inter-
pretante emocional ou energético, carrega a abdução na continuidade do
processo lógico buscando um Interpretante Normal (Peirce, 1974, p. 232,
CP 8.343, 1908), com vistas a um interpretante final. O interpretante
Normal está no período de articulação entre o interpretante imediato, ou
aquele interpretante que, pelos sentidos, fornece informação para a sequ-
ência lógica de entendimento que sempre está aberta a novas significações,
na indeterminação de um interpretante final, sempre por vir, sempre mais
adiante. O interpretante Normal é o efeito produzido em uma mente pelo
desenvolvimento suficiente de pensamento” (Peirce, 1974, p. 232, CP
8.343, 1908) a ponto de poder ser representada e então compartilhada
enquanto o signo daquela etapa de pensamento.
O processo de continuidade que interliga a mente tem na formação
do interpretante a justificativa inicial de encadeamento de significação.
Minha definição de representamen é a seguinte: UM
REPRESENTAMEN é um sujeito de uma relação triádica com
um segundo, chamado seu OBJETO, para um terceiro, chamado
seu INTERPRETANTE, sendo esta relação triádica tal que o
REPRESENTAMEN determina seu interpretante para ficar
em a mesma relação triádica com o algum objeto para algum
interpretante (Peirce, 1974, p. 285, CP 1.541, 1903, tradução
nossa, grifo do autor).
O fato de Peirce retomar várias vezes a definição da relação entre
signo, objeto e interpretante nos mostra esta abordagem dentro da lei ge-
ral que ele descobre para dar justificativa ao conceito; cada nova releitura
conduz a um novo efeito na mente de quem procura conhecer. Cada novo
interpretante conduzido à existência tem sua percepção caracterizada no
hábito, realizado em lei quando esta existência é constatada. A abdução
trata de mostrar que este interpretante, no qual a abdução demonstra este
percurso pode ser verdadeiro. O esforço de sua Arquitetura Metafísica mos-
tra que a significação para ser entendida depende desta articulação entre os
vários níveis não apenas de uma maneira classificatória, mas na sequência
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
173
de desdobramentos que a relação signo, objeto e interpretante realiza em
diversos níveis de ação e entendimento.
Em consequência de todo signo que determina um Interpretante,
que é ele mesmo um signo, temos signo sobreposto. A consequência
disso, por sua vez, é que um signo pode, em seu exterior imediato,
ser de uma das três classes, mas pode imediatamente determinar
um signo de outra classe. Mas isso, por sua vez, determina um
signo cujo caráter deve ser considerado. Este assunto deve ser
cuidadosamente considerado, e a ordem trazida para as relações
das camadas de signos, se assim posso chamá-los, antes que o que
se segue possa ser esclarecido (Peirce, 1974, p. 52, CP 2.94, 1904,
tradução nossa).
A atribuição de significado é sempre um desenvolvimento oferecido
pela lógica, ou semiótica, cujas etapas podem ser nomeadas e especifica-
das enquanto sequência que está oferecendo significado. “O interpretante
lógico é o significado de um signo” (Garewicz, 1979, p. 11). Enquanto o
interpretante Emocional e interpretante Energético produzem um senti-
mento ou reação, o interpretante Lógico produz outro signo. O processo
de significação, concernente à estrutura do significado produz o interpre-
tante Imediato, imediatamente expresso; o interpretante Dinâmico, que é
o efeito em vigência produzido; e o interpretante Final, que é aquele que
seria o efeito produzido em uma mente que trabalhasse a evolução deste
efeito. (Garewicz, 1979)9.
A divisão entre os interpretantes imediato, dinâmico e final são
etapas do processo de significação ou modos pelos quais o interpretante
acontece. Os interpretantes emocional, energético e lógico, nos estudos
de Santaella são subdivisões do interpretante dinâmico (Santaella, 2004b).
Peirce não tem uma relação clara entre as seis divisões talvez de fato seja
uma subdivisão a maneira mais didática de entendimento dos procedi-
mentos dos interpretantes emocional, energético e lógico. Silveira (2007,
p. 55) propõe um cruzamento, ou interligação entre os tipos de interpre-
tante nos quais as categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade
Ver CP 8.314, carta para William James, 1909.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
174
apresentam relações genuínas e degeneradas. Mais do que a classificação
dos tipos de interpretante, Silveira propõe o processo pelo qual a evolução
dos interpretantes pode ocorrer.
A seguir será exposta uma divisão sistemática dos signos, segundo a
divisão proposta por Peirce.
3.2.2 a DivisÃO DOs siGnOs
Fornecer nomes para as etapas ou referências dos signos, mais do que a
mera atribuição de nomes, qualifica as movimentações possíveis de percurso
no processo lógico, oferecendo veracidade ao tratamento e análise do percur-
so no qual a significação deve ser verdadeira. A sistematização dos signos em
etapas e capacidades de ocorrência possibilita qualificar e entender o proces-
so lógico que dedutivamente ou indutivamente possibilitou a constatação
de verdade na concepção da hipótese, durante seu percurso de significação.
As relações tríadicas são de três maneiras divisíveis por tricotomia,
de acordo o Primeiro, o Segundo ou o Terceiro Correlato,
respectivamente, é uma mera possibilidade, um existente real ou
uma lei. Essas três tricotomias, tomadas em conjunto, dividem
todas as relações triádicas em dez classes. Essas dez classes terão
certas subdivisões de acordo com os correlatos existentes, sejam
sujeitos individuais ou fatos individuais, e de acordo com os
correlatos que são leis, sujeitos gerais, modos gerais de fato ou
modos gerais de direito. (Peirce, 1974, p. 140, CP 2.238, 1903,
tradução nossa, grifo nosso).
Um Signo tem dois objetos, um objeto como é representado e um
objeto em si mesmo. Um signo tem três interpretantes, sendo eles um
interpretante como está representado ou quer ser entendido, um inter-
pretante como ele foi produzido e o interpretante nele mesmo. Os signos
também podem ser divididos em sua própria natureza material, nas suas
relações com seus objetos e com relação aos seus interpretantes. (Peirce,
1974, p. 227-228, CP 8.333, 1904).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
175
A maneira como primeiramente um signo é da natureza de uma
aparência, percebe-se por meio da qualidade nele mesmo, quando ele é
um qualissigno; em segundo ele é chamado um sinsigno quando é um
objeto ou evento individual, singular; e em terceiro quando tem a natureza
de um tipo geral é chamado legissigno (Peirce, 1974, p. 228, CP 8.334,
1904). Um signo com relação ao seu objeto imediato pode ser signo de
uma qualidade, ou um existente, ou uma lei (Peirce, 1974, p. 229, CP
8.336, 1904), ou seja, na relação do signo com ele mesmo ou com o objeto
imediato tem as características de acordo também com as três categorias.
O início da relação de mediação viabilizada por um signo tem as condutas
próximas e vão se concretizar em uma relação genuína quando o objeto
dinâmico, por ter a característica da ação no processo pode especificar o
signo em ícone, índice e símbolo.
Datada 1908, em carta para lady Welby (Peirce, 1974, p. 232, CP
8.343, 1908) Peirce descreve a Semiótica, ou ciência Cenoscópica dos sig-
nos como análise lógica dos conceitos de ciência. Apresenta a relação na
qual o signo por um lado está ligado ao objeto e por outro ao interpretante,
que é o efeito do signo na mente de uma pessoa que utiliza a semiótica para
o conhecimento científico.
Seguindo esta descrição da relação Peirce salienta a necessidade de
distinção entre o caráter imediato e dinâmico tanto do objeto quanto do
interpretante. Para o interpretante inclui o termo Normal, no qual a atua-
lidade do interpretante realiza o processo de mediação a contento, apresen-
tando uma forma verdadeira naquela mediação.
É igualmente necessário distinguir o Interpretante Imediato, isto é, o
Interpretante representado ou significado no Sinal, do Interpretante
Dinâmico, ou efeito realmente produzido na mente pelo Sinal; e
ambos do Interpretante Normal, ou efeito que seria produzido
na mente pelo Signo após desenvolvimento suficiente do
pensamento. Sobre essas considerações, baseio o reconhecimento
de dez aspectos nos quais os Signos podem ser divididos. Não digo
que essas divisões sejam suficientes. Mas como cada uma delas acaba
por ser uma tricotomia, conclui-se que, para decidir quais classes de
signos resultam delas, tenho 310 ou 59049, perguntas difíceis a serem
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
176
cuidadosamente consideradas; e, portanto, não me comprometerei a
levar minha divisão sistemática de sinais mais adiante, mas deixarei
isso para futuros exploradores (Peirce, 1974, p. 232, CP 8.343, 1908,
tradução nossa, grifo nosso).
Esta diferenciação entre o interpretante Dinâmico e Final é bastante
importante porque marca a apresentação de uma forma decorrente da-
quela sequência de pensamento, e que na maneira caracterizada por ele
teve desenvolvimento suficiente de pensamento” (Peirce, 1974, p. 232,
CP 8.343, 1908) para ser produzida. A possibilidade de futuros interpre-
tantes, característica da dinâmica de formação dos interpretantes continua
viabilizada, porém é possível demarcar aquela forma resultante do processo
no Interpretante Normal, o produto final, mesmo que provisório, da etapa
percorrida com premissas verdadeiras.
Peirce em março de 1909 escreve a William James e explica a distin-
ção entre Objeto Imediato, Objeto como representado no signo e o Objeto
Real (CP 8.314), objeto “real” que ele complementa como sendo Objeto
Dinâmico, no qual o signo pode apenas indicar para o intérprete o signi-
ficado que deve ser obtido por experiência colateral. Esta experiência cola-
teral, de fato, é o processo de significação no qual o entendimento ou per-
cepção do objeto implica na formação do interpretante. O exemplo usado
por ele de uma pergunta simples que é “como está o dia” pode elucidar o
transcurso de comunicação de uma ideia. O objeto da frase que é como o
dia está é apreendido pela sensação tida por um intérprete, seu objeto dinâ-
mico é transmitido enquanto mediação, seu interpretante dinâmico. Aqui
existe a apreensão tida por um agente capaz de produzir um interpretante
que repassa a outro agente. E este agente com as impressões recebidas ele
próprio transforma à sua maneira estas impressões. O interpretante ime-
diato (que pode ser um efeito do clima) ocasiona o interpretante dinâmico
que é a condição de recepção desta primeira impressão, com julgamento,
representação (dia de sol bonito, ou dia de chuva proveitoso, etc.), o inter-
pretante final é o conjunto desta comunicação, tanto a impressão causada
pela qualidade do dia quanto o conjunto de predicados que foi considera-
do para descrição deste dia.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
177
O Interpretante Final é a soma das Lições da resposta, Moral,
Científico, etc. Agora é fácil ver que minha tentativa de traçar essa
distinção tríplice, “trivial”, relaciona-se com uma distinção real e
importante de três vias, e ainda assim é bastante obscura e precisa
de uma vasta gama de estudos (Peirce, 1974, p. 211-212, CP
8.314, 1909, tradução nossa).
As dificuldades em identificar ou traçar os contornos do interpre-
tante final são bastante compreensíveis neste exemplo da percepção do dia.
O clima pode mudar, a impressão sobre o aproveitamento do dia dadas as
condições climáticas também podem mudar, ou seja, aquele “interpretante
final” sendo o conjunto de informações trocadas a respeito do dia pode se
tornar o objeto de uma outra apreciação que levará a um outro interpre-
tante. Este conjunto das interpretações que podem levar ao interpretante
final vai se alongando, continuando indefinidamente.
Em abril de 1909, Peirce retoma o tema da evolução dos interpre-
tantes em outra carta a James. “O Interpretante Dinâmico é qualquer
interpretação que qualquer mente realmente faça de um signo” (Peirce,
1974, p. 212-213, CP 8.315). Este interpretante tem na ação sua carac-
terística, portanto pode ser mais “ativo” ou mais “passivo” de acordo com
reação ao signo.
Assim, toda interpretação real é diádica [...] [Como] o pragmaticismo
diz [...] (uma parte do pragmaticismo, pois o pragmaticismo não é
exclusivamente uma opinião sobre o Interpretante Dinâmico) [...]
Diz, por um lado, que o significado de qualquer signo para alguém
consiste na maneira como ele reage ao signo... […] O Interpretante
Final não consiste no modo como qualquer mente age, mas na
maneira como cada mente agiria (Peirce, 1974, p. 212-213, CP
8.315, 1909, tradução nossa).
Enquanto o interpretante imediato está na qualidade de impressão
que está apto a produzir, o interpretante final seria a possibilidade de re-
ação que pode ter variadas formas. O interpretante dinâmico ao estar na
factualidade é capaz de produzir a ação real que se encaminha para o inter-
pretante final. O interpretante final tende ao hábito, à maneira regida pela
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
178
regularidade de comportamento, à completa racionalidade, quando isto se
tornará possível, num futuro ainda desconhecido.
No quadro a seguir temos a reprodução da Figura 4 com enfoque no
detalhamento da primeira tricotomia, relacionando as cores amarelo com a
primeiridade, azul com a secundidade e vermelho com a terceiridade. Esta
sequência de cores também foi usada na figura 2 e figura 3. Esta mesma
legenda de cores será usada nas figuras que são de construção deste traba-
lho para facilitar a estruturação semiótica. A diferenciação por cor é um
recurso visual que dentro do quadro diagramático facilita a diferenciação
entre as categorias, ao mesmo tempo em que é capaz de dar a tendência
tanto à percepção quanto à racionalidade dos signos dentro do quadro
classificatório. Esta introdução da cor como elemento indicativo parte da
crença que a percepção e produção de significação do quadro pode ser se
referindo relação às categorias fenomenológicas.
Figura 5 - Divisão dos Signos na Semiótica - 1ª. tricotomia
Fonte: Elaborado pela autora.
3.2.3 TRicOTOMias DOs siGnOs e cLasses
A divisão dos signos em tricotomias permite repor o entendimen-
to dos fenômenos em qualquer uma das categorias e dissipar qualquer tipo
de linearidade imposta para relação com o fenômeno. Esta liberdade de
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
179
criação de relações torna a interação passível tanto de uma continuidade
processual quanto de aberturas para revisão e ocorrências que podemos
considerar acaso.
Os signos são divisíveis por três tricotomias; 1 primeiro, conforme
o signo em si é mera qualidade, é um existente real ou é uma lei
geral; 2 em segundo lugar, conforme a relação do signo com seu
objeto consiste no signo ter algum caráter em si, ou em alguma
relação existencial com esse objeto, ou em sua relação com um
interpretante; 3 em terceiro lugar, conforme seu Interpretante o
representa como um singno de possibilidade ou como um signo de
fato ou um signo de razão (Peirce, 1974, p. 142, CP 2.243, 1903,
tradução nossa).
As relações do signo com ele mesmo estão tratadas na Primeira
Tricotomia, ou seja, são as representações do signo com seu Objeto
Imediato (Silveira, 2007).
Quando a qualidade é um signo, ele é chamado Qualissigno (Peirce,
1974, p. 224, CP 2.244, 1903). A existência prescinde uma qualidade pela
qual fenomenicamente o signo possa ser detectado. Embora o qualissigno
esteja na primeiridade e apresente-se apenas enquanto possibilidade é a
partir da qualidade que a experimentação, a reação que leva a representa-
ção pode acontecer. As classes de signo subsequentes implicam haver qua-
lidades incluídas na semiose. Num processo de significação a possiblidade
será restrita, influenciada pela existência de maneira a transformar a poten-
cialidade em uma situação concreta, específica, corporificada no diagrama
especificado pela semiose durante seu desenrolar.
O Sinsigno sinaliza a existência, sinaliza a qualidade, ou reunião de
qualidades que deve se configurar em uma reação, no conflito de ação que
move a diagramação do signo em um substrato físico, ou seja, na corpori-
ficado em uma forma que seja capaz de indicar a existência deste signo no
mundo fenomênico por meio dos sentidos. A espontaneidade das qualida-
des está restrita àquele signo que sinaliza a existência específica, indicada
naquele signo, sendo então uma consequência dele.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
180
Uma lei simbolizada no signo é um legissigno. As palavras escritas em
um texto são o exemplo usado por Peirce para dar significação ao conteúdo
de conhecimento a ser transmitido a partir do texto escrito. Types e Tokens
enquanto convenções da língua escrita se articulam para as mais variadas
maneiras para se demonstrar o conteúdo daquilo que está documentado no
texto. Todo signo convencional é um legissigno, sendo então estabelecido
convencionalmente vale enquanto lei, ou então seu uso seria dispensável.
Porém nem todo legissigno é um signo convencional, mas decorrência do
processo semiótico na formação de interpretantes (Silveira, 2007).
A segunda tricotomia sinaliza as relações do signo com seu objeto
dinâmico: ícone, índice, símbolo.
O ícone mantém com seu objeto uma relação de semelhança, não de
existência, mas de possibilidade de conformação. A idealidade é a marca
da relação, uma vez que a qualidade sendo um primeiro ela de alguma
maneira substitui a imagem a ideia daquilo que ao ser despertado a primei-
ridade pode dar seguimento ao processo semiótico (Peirce, 1974, p. 157,
CP 2.276, 1903).
O ícone possui caracteres, elementos em comum com seu objeto e
denota seu objeto em virtude destes caracteres que são coincidentes, e para
ser um índice ou símbolo do objeto, o signo deve conter a iconicidade
em primeira instância com capacidade de indicar a ponto de se tornar um
símbolo, num processo genuíno de significação.
É verdade que a menos que realmente exista um Objeto, o Ícone
não age como um signo; mas isso não tem nada a ver com seu caráter
como um signo. Qualquer coisa, seja a qualidade, o indivíduo
existente, ou a lei, é um ícone de qualquer coisa, na medida em que
é como aquela coisa e usada como um signo dela (Peirce, 1974, p.
156-157, CP 2.274, 1903, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
181
Nesta seguinte afirmação: “A única maneira de comunicar direta-
mente uma ideia é por meio de um ícone; e todo método indireto de
comunicar uma ideia deve depender do seu estabelecimento sobre o uso
de um ícone” (Peirce, 1974, p. 158, CP 2.278, 1903) Peirce corrobora a
transmissão de uma qualidade como forma direta de comunicação pelo
ícone ou o seguimento da significação que deve conter o ícone no índice
para conter significação.
Assim, toda afirmação deve conter um ícone ou conjunto de ícones,
ou então deve conter sinais cujo significado é explicável apenas por
ícones. A ideia de que o conjunto de ícones (ou o equivalente de
um conjunto de ícones) contidos em uma afirmação significa isto
poder ser denominado o predicado da afirmação (Peirce, 1974, p.
158, CP 2.278, 1903, tradução nossa).
As formas de significação que sucedem o ícone levam consigo na
qualidade incorporada que por comparação remetem ao objeto. A existên-
cia do objeto é condição para que no instante de interação da primeiridade
ele seja passível de ser similar ao seu objeto.
A qualidade em comum com o objeto modificando o signo, deter-
minado o signo além da qualidade é a marca do índice. A semelhança
ou analogia contida no ícone que ele incorpora deve estar em conexão
dinâmica “inclusive espacial” frisa Peirce, portanto em relação física, com
seu objeto individual. Por um lado, remete-se ao objeto, por outro traz à
mente a representação do objeto por meio de sua capacidade indicativa
(Peirce, 1974, p. 170-172, CP 2.305, 1901).
Um Índice é um signo que se refere ao Objeto que denota em
virtude de ser realmente afetado por aquele Objeto. Não pode,
portanto, ser um Qualisign, porque as qualidades são o que elas são
independentemente de qualquer outra coisa. Na medida em que
o Índice é afetado pelo Objeto, ele necessariamente tem alguma
Qualidade em comum com o Objeto, e é em relação a estes que se
refere ao Objeto. Envolve, portanto, uma espécie de ícone, embora
seja um ícone de tipo peculiar; e não é a mera semelhança de seu
Objeto, mesmo nesses aspectos que o torna um signo, mas é a
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
182
modificação real dele pelo Objeto (Peirce, 1974, p. 143, CP 2.248,
1903, tradução nossa).
A indicação do signo ao seu objeto é feita por uma conexão real
(Peirce, 1974, p. 228-229, CP 8.335, 1905), com uma referência direta.
O exemplo citado por Peirce de um sintoma corresponder a uma mani-
festação de doença dá uma compreensão exata das etapas do processo de
significação a partir da indicação feita por um signo. A ocorrência em um
caso particular de um sintoma é um Sinsigno, e quando é reconhecido a
partir de um caráter geral, que é um legissigno, este sintoma é capaz de
representar a indicação direta daquilo que ocorre no caso em particular.
A indicação ocorre na natureza desde as mais primitivas maneiras de
evolução da vida. As estruturas de divisão celular incorporadas nos orga-
nismos enquanto índices mudam de escala e magnitude por terem nelas
informação previamente armazenada e esta relação topológica de indicação
apresenta o processo evolucionário de mudança do organismo (Sebeok,
1995). O comportamento dos animais também apresenta índices claros,
tanto para interpretantes humanos quanto à comunicação com a própria
espécie, para os intérpretes aos quais são de fato destinados estes indicado-
res (Sebeok, 1995, p. 231).
Um índice é um Segundo individual, o primeiro é um ícone.
Enquanto um signo tem com seu objeto uma relação existencial para ser
genuíno, ambos os signos e objetos sendo existentes possibilitam o pro-
cesso apresentar um interpretante. Sejam fatos ou coisas, índice e objeto
relacionados proporcionam um interpretante imediato para um intérprete.
“Se a secundidade for uma referência, o índice é degenerado [...] Qualquer
indivíduo é um índice degenerado de suas próprias características” (Peirce,
1974, p. 164, CP 2.283, 1903). O sujeito é um índice degenerado de suas
próprias características porque elas são coincidentes, qualquer interpretan-
te característico deste sujeito é uma reafirmação dele mesmo.
O símbolo é o signo mais aceito e compreendido enquanto tal. Uma
vez que signo, mesmo no senso comum, está em lugar de outra coisa, aque-
le sinal que quer dizer outra coisa é representado neste signo. O símbolo é
um signo é constituído como signo simplesmente porque está no lugar de
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
183
outra coisa, sendo usado e entendido como tal (Peirce, 1974, p. 172-173,
CP 2.307, 1901), sua correspondência de representação do objeto é feita
independentemente de sua origem, seja por convenção ou hábito natural,
que estipula a relação.
Por ser uma convenção, ou lei que determinará o interpretante do
signo, podemos considerar que todos os sinais convencionais são símbolos
(Peirce, 1974, p. 165-166, CP 2.292, 1903). Palavras são símbolos que
podem variar na forma como se apresentam, mas simbolizam seu objeto
enquanto uma réplica da mesma maneira. Peirce usa a palavra “homem
como exemplo. A forma da palavra escrita, falada em português tem um
símbolo, a palavra correspondente em inglês tem outro símbolo escrito
e falado por uma convenção cultural, mas possuem em ambos os casos a
mesma designação com símbolos equivalentes.
De acordo com Fabbrichesi (2008, p. 185) existe similaridade entre
símbolo” e “ilimitado” e pode-se considerar “continuidade” como sinôni-
mo de ilimitado. Estes conceitos fazem parte dos termos fundamentais dos
trabalhos peirceanos desde os anos de 1860 e se mantêm durante suas pes-
quisas e afirmações. Símbolos são identificados com signos gerais de tercei-
ridade e representam seu objeto por convenção (Peirce, 1974, p. 135, CP
2.228, 1897). Mesmo tendo a convenção como sua característica é o signo
que estabelece relação entre o objeto que determina por um lado e por ou-
tro irá determinar ele mesmo um outro interpretante (Fabbrichesi, 2008),
quando a condição de generalidade, de regra é reposta em um evento par-
ticular. O símbolo é alguma coisa que tem a capacidade de reproduzir a si
mesmo numa infinita série de interpretantes, ainda que sua propriedade
principal seja oferecer interpretação (Fabbrichesi, 2008). O interpretante
final deve ser a verdadeira interpretação, e, portanto, o limite da série de
símbolos. O conceito de hábito e transformação deles concilia a aparente
contradição entre a semiose ilimitada e um conceito final, como veremos
mais adiante.
Eu defino um símbolo como um sinal que é determinado pelo seu
objeto dinâmico apenas no sentido de que será interpretado dessa
forma. Depende, portanto, de uma convenção, de um hábito ou
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
184
de uma disposição natural de seu interpretante ou do campo de seu
interpretante (aquele de que o interpretante é uma determinação).
Todo símbolo é necessariamente um legisigno; pois é impreciso
chamar uma réplica de um símbolo de um legisigno (Peirce, 1974,
p. 228-229, CP 8.335, 1905, tradução nossa).
O símbolo é o terceiro elemento da relação do signo com seu obje-
to dinâmico. Enquanto ícone é possibilidade, o índice presentemente liga
o signo ao objeto, o símbolo é interpretado com relação ao seu objeto. O
símbolo é uma regra que está ligada à presentidade de sua ocorrência e que
ainda possa se reproduzir em outras tantas ocorrências similares. Por ser uma
convenção o signo é real, sendo real estará apenas no plano das ideias se não
houver o seu caso particular enquanto existente, passível de efetivamente ser
experienciado (Savan, 1995). A partir da sua reintrodução no processo de
significação ele pode ser verificado, confirmado enquanto regra.
O símbolo vem da associação de ideias numa operação de referência
prévia a um tipo de objeto. O símbolo é um legissigno que atua por meio
de uma réplica e este indivíduo se remete à natureza geral da classe de ob-
jetos ao qual representa.
Agora, o que é geral está nas instâncias que ele determinará. Deve
haver, portanto, exemplos existentes do que o símbolo denota,
embora devamos aqui entender por “existente”, existente no
universo possivelmente imaginário ao qual o símbolo se refere.
O símbolo indiretamente, através da associação ou outra lei,
será afetado por esses casos; e assim o símbolo envolverá uma
espécie de índice, embora um índice de um tipo peculiar. Não
será, no entanto, de forma alguma verdade que o pequeno efeito
sobre o Símbolo dessas instâncias seja responsável pelo caráter
significativo do Símbolo (Peirce, 1974, p. 143-144, CP 2.249,
1903, tradução nossa).
Podemos ter novamente o signo da indicação de doença enquanto
exemplo que Peirce toma para explicação. A constatação da temperatura ele-
vada em um corpo humano sem interferência de aquecimento externo, vin-
do do ambiente, indica que a elevação de temperatura foi feita pelo próprio
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
185
corpo, ou seja, apresenta febre. O índice de aumento de temperatura asso-
ciado à febre é o legissigno tido enquanto lei, hábito geral do corpo humano
de apresentar aumento de temperatura para a defesa contra alguma infecção.
A febre sinaliza a doença porque o símbolo do aumento de temperatura é a
febre. A generalidade leva a abdução daquilo que é a causa da infecção a ser
investigada enquanto causa da desordem corpórea. A qualidade da tempera-
tura desperta uma hipótese a ser verificada. A percepção levando-se em conta
as categorias transita da primeiridade para a terceiridade, da mesma maneira
que é possível a partir do símbolo (a febre) uma hipótese que leva o processo
adiante, ou seja, a investigação da causa da doença.
Todas as palavras gerais, ou definíveis, seja no sentido de Tipos ou
de Tokens, são certamente Símbolos. Isto é, eles denotam os objetos
que eles fazem por virtude apenas de haver um hábito que associa
sua significação a eles. Quanto aos nomes próprios, talvez haja uma
diferença de opinião, especialmente se os tokens são feitos. Mas eles
provavelmente deveriam ser considerados como Índices, uma vez
que a conexão real (como ouvimos falar), de Instâncias das mesmas
palavras típicas com os mesmos Objetos, por si só, faz com que eles
sejam interpretados como denotando esses Objetos (Peirce, 1974,
p. 429-431, CP 4.544, 1905, tradução nossa).
A concepção científica de Peirce na história da ciência e argumenta-
ção científica é feita enquanto semiose produzindo lei e ordem. Os símbo-
los enquanto representação e generalidade formulam o processo semiótico,
usando matemática e teoria da probabilidade. A relação entre o símbolo
e seu objeto não sendo de correspondência, mas sendo de interpretação
envolve a realidade enquanto lei, realidade passível de ser novamente expe-
rienciada enquanto uma próxima existência (Savan, 1995).
De maneira similar a intersubjetividade ou a maneira de trazer ideias
para a esfera pública se vale da capacidade de conectar novas ideias àquelas
já existentes. Estes processos de cognição enquanto signos são aqueles que
podem gerar temporalmente ligações entre passado, presente e futuro. A
partir das crenças o signo pode ser endereçado ao futuro. O símbolo se
refere a possíveis interpretações quando relacionado na presentidade a ou-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
186
tros signos, ou seja, à medida que ele não apenas corresponde ao objeto,
mas necessita de uma relação de mediação para produzir o interpretante,
a representação não se caracteriza enquanto mental, mas enquanto simbo-
lização necessariamente triádica. Assim, quando esta representação é apre-
sentada em uma forma de compartilhamento em nova representação, sua
percepção e futuro interpretante lógico retornam para a nova interação por
meio das categorias fenomenológicas, proporcionando o reconhecimento
lógico do signo, termos, proposições e argumentos enquanto “símbolos
têm a capacidade de reinterpretar seu objeto, transitando entre uma pers-
pectiva psicológica para uma perspectiva semântica, da ideia para a verifi-
cação, da intuição para cientificidade, transmitindo o aspecto epistemoló-
gico do conhecimento para a evolução de hábitos.
O interpretante do símbolo deve ter a mesma descrição que ele
próprio, uma vez que sua regularidade está na capacidade de incorporar
a lei nos indivíduos, dando a eles um caráter e assim seu interpretante
imediato carrega seu significado. “Mas uma lei necessariamente governa,
ou ‘está incorporada em’ indivíduos, e prescreve algumas de suas quali-
dades. Consequentemente, um constituinte de um símbolo pode ser um
índice e um constituinte pode ser um ícone” (Peirce, 1974, p. 166, CP
2.293,1903). Resumindo, o símbolo tem a natureza de lei que “denota
um indivíduo” por meio da “significação de um caráter” que deve apre-
sentar (Peirce, 1974, p. 166, CP 2.293, 1903). Ainda assim o símbolo é
capaz de produzir de produzir um novo signo e reintroduzir o processo de
formação de novo interpretante continuando a significação.
Os Símbolos são, portanto, plenamente universais: representarão
classes gerais de objetos independentemente da particularidade das
circunstâncias, dirigir-se-ão diretamente à Razão, convidando-a
a produzir diante da associação geral de ideias que determina,
conceitos universais. Esses últimos significam hábitos gerais de
conduta, não mais dependentes dessa ou daquela experiência,
desse ou daquele indivíduo ou grupo de indivíduos. Poderão enfim
produzir, com absoluta exclusividade, novos signos que ampliem,
plenamente sustentados pela necessidade lógica de sua produção,
a representação da Realidade e a universalização da conduta (CP
2.239, 252-3, 261-3; 5,76) (Silveira, 2001, p. 107).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
187
Na Terceira tricotomia, relacionando o signo ao seu interpretan-
te, novamente os signos têm correspondência com as categorias feno-
menológicas e o entendimento de sua relação é colocado de acordo com
um primeiro denominado Rema, um segundo Discente, e o terceiro é o
Argumento. Vale lembrar que na primeira tricotomia o signo está em rela-
ção a ele mesmo, na segunda tricotomia em relação ao objeto.
Um Rema vai levar uma possibilidade qualitativa ao seu interpretan-
te. Poderá levar alguma informação desde que incorporado ao dicissigno,
porém um rema não é interpretado como esta informação, mas a veicu-
lação de uma qualidade com vistas a se tornar um interpretante (Peirce,
1974, p. 144, CP 2.250, 1903). Representa seu objeto apenas pelos carac-
teres (Peirce, 1974, p. 144-145, CP 2.252, 1903).
Um predicado não atribuído a nenhum sujeito será interpretado
como um Rema, haja vista que sua atribuição não está veiculada ao su-
jeito, seu objeto (Silveira, 2007). Assim, se tomarmos um argumento de
referência a um sujeito certamente ele contém um rema que distingue este
sujeito por alguma das suas qualidades.
Um Signo Discente ou Dicissigno é um Signo da existência efetiva
do seu objeto que vai determinar seu interpretante (Peirce, 1974, p. 144,
CP 2.251, 1903). Envolve necessariamente um Rema na sua constituição,
porém como parte do dicissigno, para indicar o fato que pode ser interpre-
tado a partir dele. O dicissigno é “o tipo de sinal que carrega a informação,
em contraposição a um signo [como um ícone] do qual a informação pode
derivar” (Peirce, 1974, p. 174, CP 2.309, 1903, grifo do autor). O ícone
é um signo apenas em potência e a efetivação da relação do dicissigno é
necessária para sua existência.
O julgamento de verdadeiro ou falso marca a presença do dicissigno,
o que não acontece com o Rema (Silveira, 2007). O fato ao qual se refere
atesta a veracidade dele, não alguma lei ou razão. Um dicissigno é aces-
sado para demonstrar se uma asserção é verdadeira ou falsa. O dicissigno
contempla objeto e um signo em uma sentença indicava que expressa uma
proposição (Hookway, 1992).
O dicissigno deve ser entendido contendo duas partes e estas duas
partes devem estar representadas conectadas. Um sujeito, que é ou repre-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
188
senta um índice deve estar conectado ao seu predicado que é um ícone
representado numa qualidade. Se existir um objeto Real (sujeito) ele deve
estar representado por um dicissigno que é em parte um índice em se-
cundidade e outra em primeiridade com qualidades (Peirce, 1974, p.176,
CP 2.312, 1903). A sintaxe une os dois signos que são remáticos quando
tomados separadamente, o interpretante discente vindo desta sintaxe será
o Dicissigno (Silveira, 2007).
Um Argumento é um signo entendido por representar seu objeto
em seu caráter de signo, seu interpretante é um signo de lei (Peirce, 1974,
p. 144-145, CP 2.252, 1903). E aqui o julgamento psicológico para che-
gar à verdade não é o interesse, mas enquanto tratamento lógico uma pro-
posição o argumento enquanto proposição deve professar “ser realmente
afetada pela lei real ou existente à qual ela se refere” (Peirce, 1974, p. 144-
145, CP 2.252, 1903)
O Argumento impõe um “incentivo” enquanto representação que
impele seu interpretante para uma classe geral (Peirce, 1974, p. 145-146,
CP 2.253, 1903), a uma manutenção desta lei enquanto comprovação ver-
dadeira de sua constituição. Esta constituição do Argumento deve conter
um símbolo ou legissigno, deve conter a Proposição que é denominada
Premissa, que é um símbolo Discente. A conclusão usada para completar o
argumento é seu interpretante, porém em um encadeamento argumenta-
tivo, várias proposições são subsequentes e cada uma delas deve contribuir
para chegar ao Interpretante Normal. O interpretante Normal é a argu-
mentação oferecida enquanto conclusão daquela série interpretante que
tem o resultado verdadeiro apto a ser apresentado à comunidade científica
como resultado da pesquisa em busca de conhecimento.
A lógica, dentro da metodologia científica compartilha o resultado
do conhecimento nas várias disciplinas com as comunidades de estudiosos
afins, e desta maneira a evolução do conhecimento pode ser disseminada e
construída em novos conhecimentos.
O pensamento científico e baseado na argumentação e as três espé-
cies de Argumento quais sejam Abdução, Dedução e Indução tem grande
consideração nos trabalhos peirceanos, como veremos adiante.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
189
3.2.3.1 quaDRO Das 10 cLasses De siGnOs
O uso dos diagramas para a representação das dez classes de sig-
nos aparece mais de uma vez nos escritos peirceanos. A articulação em
representações diagramáticas é um “artefato” de natureza icônica com a
intenção de uma informação mais direta para a compreensão do conteúdo
representado (Farias; Queiroz, 2013)10.
Peirce relata à Lady Welby em carta datada de 28 de dezembro de
1908(CP 8.376) que esteve absorvido no assunto da divisão e relação dos
signos desde 1863. Esta divisão já havia sido detalhada em 1903 (Peirce,
1974, p. 150, CP 2.264) e está abaixo representada ao lado direito. A
versão para Lady Welby, colocada à esquerda, torna-se bem didática. Os
diagramas quando comparados têm o mesmo conteúdo, porém existe uma
inversão na colocação das classes entre a esquerda e direita.
Figura 6 - Classificação das 10 classes de signos em diagramas executados
por Peirce, com inversão da posição entre o conjunto de signos da
esquerda e direita
Fonte: À esquerda (CP 8.376). À direita Manuscrito de Peirce (MS 540:17).
10 Para compreensão mais detalhada das vezes em que ocorrem estes diagramas ver: “Os diagramas de C. S.
Peirce para as dez classes de signos” (Farias; Queiroz, 2013).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
190
O número acima à esquerda descreve o objeto do signo. Aquele
acima à direita descreve seu interpretante. Aquele abaixo descreve o
próprio signo. 1 significa a Modalidade Possível, a de uma Ideia. 2
significa a Modalidade Real, aquela de uma Ocorrência. 3 significa
a Modalidade Necessária, a de um Hábito (Peirce, 1974, p. 242-
243, CP 8.376, 1908, tradução nossa).
O número 1 significa a Modalidade Possível, portanto será
Primeiridade representada nas três divisões, indicada na Figura 7 (abaixo)
pelo tom mais claro nas cores. Qualissigno, índice e rema são as formas
mais básicas pelas quais os signos relacionados se apresentam.
O número 2 significa a Modalidade do Real e na figura abaixo será
Secundidade representada nas três divisões, indicada pelo tom intermediá-
rio nas cores. Sinsigno, índice e discente tem relação de factualidade.
O número 3 significa a Modalidade Necessária, a Terceiridade, re-
presentada nas três divisões, indicada abaixo pelo tom mais escuro nas
cores. Legissigno, símbolo e argumento são categorias de representação
lógicas, de estruturação em uma regra, com força de lei.
A divisão das três tricotomias, de acordo com signo, objeto e inter-
pretante tem o quadro de representação abaixo:
Figura 7 - As três tricotomias com gradação de cor representando a
sequência nas categorias existenciais
Fonte: Elaborado pela autora.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
191
A partir da comparação dos dois diagramas e da legenda acima colo-
cada, pôde-se construir o diagrama abaixo. Nele pode-se observar a posição
de cada signo com sua correspondência às categorias fenomenológicas e a
relação entre os próprios signos. A ordem adotada é a colocação das classes
de signos da esquerda para a direita.
Figura 8 - As dez classes de signos com gradação de cor representando a
sequência nas categorias existenciais
Fonte: Elaborado pela autora.
A legenda, segundo a descrição de Peirce para Lady Welby, fica co-
locada desta maneira11:
O número acima à esquerda descreve o objeto do signo.
O número acima à direita descreve seu interpretante.
O número abaixo descreve o próprio signo.
Na carta à Lady Wellby, relaciona os dez aspectos para determinar
as divisões dos signos (Peirce, 1974, p. 233, CP 8.344, 1908) e de fato a
compreensão dos exemplos se torna mais fácil, pois a ligação, seja com o
11 Para visões diferentes a respeito de possíveis mudanças e correções na ordem de colocação veja também
http://lyris.ttu.edu/read/messages?id=221693#221693. Acesso em: 20 ago. 2018.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
192
objeto ou interpretante, vai relacionar o nome dado à relação que indica.
Eles estão apresentando as dez classes nesta relação:
Primeira: “De acordo com a apreensão do signo nele mesmo
(Peirce, 1974, p. 146, CP 2.254, 1903). Uma qualidade que é um sig-
no é um Qualissigno, e por estar ligada ao objeto por esta qualidade em
comum, esta similaridade, o qualissigno é necessariamente um ícone. O
exemplo é a percepção do “vermelho”. A qualidade sendo uma mera pos-
sibilidade lógica “ela só pode ser interpretada como um signo de essência,
isto é, como um Rema” (Peirce, 1974, p. 146-147, CP 2.254, 1903).
Segunda: “De acordo com a apresentação ao Objeto Imediato”. Um
diagrama exemplifica o signo cuja alguma qualidade, um ícone, determina
a ideia do objeto. É ainda um signo de essência, um Rema e irá incorporar
um qualissigno, sendo assim um Sinsigno Icônico (Peirce, 1974, p. 147,
CP 2.255, 1903).
Terceira: “De acordo com o modo de ser do Objeto Dinâmico”.
Sinsigno Indicativo Remático direciona a atenção do intérprete por ex-
periência direta para o objeto do qual o signo se relaciona. Envolve, ou
contém um Sinsigno icônico na medida em que chama a atenção para o
objeto, e o exemplo dado é um grito espontâneo (Peirce, 1974, p. 147,
CP 2.256, 1903).
As qualidades que interagem com o objeto o representam como exis-
tente (Silveira, 2007), sem ser de fato um signo de existência, mas apenas
levando o intérprete a reconhecer a existência deste objeto e aqui o exem-
plo oferecido ao leitor é o barulho de uma queda d’água.
Quarta: “De acordo com a relação do signo com seu Objeto
Dinâmico” Sinsigno Discente informa sobre o objeto com o qual interage
por experiência direta, não apenas direcionando a atenção como a classe
anterior, sendo afetado pelo objeto para poder indicar o próprio objeto ao
quais as informações fazem referência, este signo é um Sinsigno Indicativo
Remático (Peirce, 1974, p. 147, CP 2.257, 1903). Silveira (2007) oferece
um exemplo na natureza que é o caso das formigas que seguem a trilha
feita por elas mesmas para indicar o caminho até o formigueiro, e con-
sidera que o cata-vento exemplificado por Peirce, dá uma boa noção do
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
193
Sinsigno discente, mas como qualquer artefato humano, estas construções
são dotadas de alguma significação por concepção, ou seja, os constructos
humanos informam seu contexto, social, cultural econômico e histórico,
informam sobre a ambientação que proporciona a construção de uma for-
ma com suas características decorrentes deste conjunto de influências. As
informações e o objeto em sintaxe, ou forma de combinação devem ser
significativos. Assim o fato de o cata-vento girar indica a ação do vento
e apenas na ocorrência de seu objeto, o vento neste caso, a informação
é obtida; ou o caminho da formiga de volta ao formigueiro só pode ser
percorrido de volta se houver o odor característico que elas exalam na sua
passagem, deixando claro que aquela é a rota certa para casa.
Quinta: “Segundo o Modo de Apresentação do Interpretante
Imediato”. Legissigno Icônico é lei ou tipo geral que tem uma qualidade
tornada lei a ponto de exemplificar um objeto parecido à mente. É um
Sinsigno icônico de um tipo peculiar por ser capaz de invocar uma réplica
do mesmo tipo, e assim contém um ícone e um rema como descrito na
primeira classe. O exemplo dado é o mesmo diagrama, só que desta vez
não em um caso particular, mas como um tipo geral (Peirce, 1974, p. 32,
CP 2.58, 1903). Silveira (2007) cita o retângulo enquanto ideia geral da
figura geométrica que é empregada em formas variadas de incorporação
em seus casos individuais.
Sexta: “De acordo com o modo de ser do Interpretante Dinâmico”.
Um Legissigno Indicativo Remático é qualquer tipo geral ou lei, de qualquer
maneira que seja estabelecido, que requer que cada instância dela seja real-
mente afetada por seu Objeto de tal maneira que meramente atraia a atenção
para aquele Objeto (Peirce, 1974, p. 147-148, CP 2.259, 1903). O exem-
plo do pronome demonstrativo dado por Peirce exemplifica a construção de
uma significação que é destinada a designar um objeto especial. Quando a
referência é a “este” que é o pronome demonstrativo, embora os sujeitos aos
quais “este” possam se referir, o pronome pertence a uma classe de signos que
faz referência ao objeto que tem uma proximidade com o intérprete.
Sétima: “De acordo com o modo de ser do Interpretante Dinâmico”.
Um legissigno Indicativo Discente, diferentemente da classe anterior que
atrai a atenção, vai fornecer informações definitivas sobre seu objeto, uma
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
194
vez que também é um tipo geral ou lei. “Deve envolver um legissigno
icônico para significar a informação e um Legissigno indicativo remático
para denotar o sujeito desta informação” (Peirce, 1974, p. 148, CP 2.260,
1903). O grito de rua exemplificado por Peirce tem nas “Pamonhas de
Piracicaba” a explicação de Silveira (2007) do legissigno icônico que re-
mete ao produto vendido pela caminhonete, que ao produzir o ruído do
motor deslizando lentamente pela rua é o legissigno indicativo remático
que informa do vendedor da pamonha em domicílio que está próximo ao
ouvinte por um signo discente.
Oitava: “Segundo o Modo de Apresentação do Interpretante
Imediato, Segundo a Natureza do Interpretante Normal”. Símbolo
Remático ou Rema simbólico
[...] é um signo ligado ao seu Objeto por uma associação de ideias
gerais de tal maneira que sua Réplica chama uma imagem na mente
que imagem, devido a certos hábitos ou disposições de essa mente
tende a produzir um conceito geral, e a réplica é interpretada como
um sinal de um objeto, que é uma instância desse conceito. Assim,
o Símbolo Remático é ou é muito parecido com o que os lógicos
chamam de Termo Geral. O Símbolo Remático, como qualquer
Símbolo, é necessariamente ele próprio da natureza de um tipo
geral, e é, portanto, uma Legislação. Sua Réplica, no entanto, é um
Sinsigno Indicativo Remático de um tipo peculiar, na medida em
que a imagem que sugere à mente age sobre um Símbolo já naquela
mente para dar origem a um Conceito Geral (Peirce, 1974, p. 148-
149, CP 2.261, 1903, tradução nossa).
O exemplo dos substantivos comuns dado por Peirce é bastante elu-
cidativo, uma vez que os exemplos dados de “camelo” e “fênix” são subs-
tantivos que designam animais que somos capazes de descrever indepen-
dentemente do conhecimento individual destes animais. Cada exemplar
ou réplica do animal, voltando ao exemplo dado, é um Sinsigno Indicativo
Remático e age como um símbolo daquele conceito geral.
Os modos pelas quais estas classes de signo são interpretadas mos-
tram seus componentes como signo de essência, e não como de existência
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
195
ou de lei (Silveira, 2007). Mesmo sendo signos de lei na sua formação, a
variação ocorre na relação com o objeto dinâmico.
Nona: “De acordo com a Relação do Signo para o Interpretante
Normal”. A nona classe de signos é um Símbolo Discente, ou uma
Proposição comum. “É um signo ligado ao seu objeto por uma associação
de ideias gerais, e agindo como um Símbolo Remático” (Peirce, 1974, p.
148-149, CP 2.261, 1903), porém o interpretante pretendido sendo um
símbolo discente, sua existência ou lei, deve estar conectado diretamente
ao objeto indicado.
Um signo que tem como objeto uma classe geral é ele mesmo um
signo de lei; e este signo interpretado como signo de existência deve ter as
qualidades fornecidas por um ícone e um índice que fornece a existência
no objeto enquanto veículo da informação. A articulação deles na réplica,
no caso individual, é o que vai dar o signo de existência, nesta união de
ambos (Silveira, 2007).
Décima: “Segundo a Relação Triádica do Signo ao seu Objeto
Dinâmico e ao seu Interpretante Normal”.
Um Argumento é um signo cujo interpretante representa seu
objeto como sendo um signo ulterior por meio de uma lei, a saber,
a lei segundo a qual a passagem de todas as premissas para essas
conclusões tende para a verdade. Manifestamente, então, seu
objeto deve ser geral; isto é, o argumento deve ser um símbolo.
Como Símbolo, deve, além disso, ser um Legissigno. Sua réplica
é um Sinsigno Discente (Peirce, 1974, p. 149, CP 2.263, 1903,
tradução nossa).
As classes de signo demonstram entre as outras tantas possibilida-
des de articulação lógica os agrupamentos principais para a formação de
proposições numa argumentação, o que para este trabalho, é o ponto de
interesse. A formação de argumentos é aquilo que permite a validação das
teorias científicas e, portanto, a maneira documental de custodiar o co-
nhecimento. Entender a base lógica de formação dos signos possibilita a
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
196
articulação em terceiridade dos argumentos, e fornece elementos para o
processo lógico de custódia e recuperação da informação e conhecimento.
3.2.4 TipOs De aRGuMenTO
Os tipos de argumento têm o trâmite da Gramática Especulativa
na formação dos interpretantes, mas uma vez que a formação dos argu-
mentos, o interpretante em terceiridade, contém a representação no pensa-
mento científico institucionalizado, dentro da Lógica Propriamente dita, a
articulação destas sequências lógicas é historicamente amplamente conhe-
cida. A grande contribuição peirceana é o processo abdutivo ter, dentro do
pragmatismo, a primeiridade e abertura de possibilidades para a evolução
do pensamento.
Abaixo está destacado do diagrama anterior, que mostra a
Estruturação das Ciências, o quadro que possibilita lembrar, dentro da
Semiótica, os argumentos pertencentes à Logica propriamente dita.
Figura 9 - Tipos de argumentos dentro da Semiótica
Fonte: Elaborado pela autora.
Enquanto a Gramática Especulativa mostra a qualificação de cada
signo, a Lógica Propriamente dita repõe a articulação lógica conhecida
principalmente na matemática e linguística no processo de significação,
dentro da metodologia científica “Dedução prova que alguma coisa deve
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
197
ser; Indução prova que alguma coisa atualmente é operativa; Abdução
sugere que alguma coisa pode ser” (Peirce, 1974, p. 105-106, CP 5.171,
1903). Em 1900, Peirce define abdução como o processo que forma uma
nova hipótese explanatória, ou seja, na sua concepção é a única operação
lógica que introduz uma nova ideia, uma vez que a indução determina
um valor e a dedução envolve as consequências da hipótese pura (Peirce,
1974, p. 105-106, CP 5.171, 1903), é a partir da abdução que os outros
processos são subsequentes. A articulação de uma nova hipótese tem seu
desenrolar lógico constituído a partir da abdução.
O que é uma boa abdução? O que deveria ser uma hipótese
explicativa para ser digno de classificar como uma hipótese? Claro,
deve explicar os fatos. Mas o que outras condições devem cumprir
para ser bom? A questão da bondade de qualquer coisa é se essa
coisa cumpre o seu fim. Então, o que é o fim de uma hipótese
explicativa? Seu fim é, através da sujeição ao teste do experimento,
conduzir a evitar toda a surpresa e ao estabelecimento de um
hábito de expectativa positiva que não será desapontada. Qualquer
hipótese, portanto, pode ser admissível, na falta de razões especiais
em contrário, desde que seja capaz de verificação experimental,
e apenas na medida em que é capaz de tal verificação. Esta é
aproximadamente a doutrina do pragmatismo (Peirce, 1974, p.
122-123, CP 5.197.1903, tradução nossa).
O encadeamento do raciocínio lógico tem na formação de interpre-
tantes o princípio de mediação do signo, que tem etapas de aprofunda-
mento e também divergências ao permitir este desenrolar. A configuração
de uma representação é o signo que possibilita a experimentação da hipó-
tese que será confirmada enquanto verdade científica. Os argumentos são
a maneira elaborada de que a hipótese científica tenha sua sequência de in-
terpretantes verificada, e ao mesmo tempo em que é representada, ela pode
ser compartilhada com a comunidade de estudiosos que tem temas afins.
Símbolos, e de alguma forma outros Signos, são Termos, Proposições
ou Argumentos. Um Termo é um signo que deixa seu Objeto e, a
fortiori, seu Interpretante, para ser o que for. Uma Proposição é um
signo que indica distintamente o Objeto que ele denota, chamado
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
198
de Sujeito, mas deixa o seu Interpretante ser como ele pode. Um
Argumento é um signo que distintamente representa o Interpretante,
chamado de sua Conclusão qual pretende determinar. Aquilo que
permanece de uma Proposição após a remoção de seu Sujeito é um
Termo (um rhema) chamado seu Predicado. Aquilo que permanece
de um argumento quando sua Conclusão é removida é uma
proposição chamada sua Premissa, ou (uma vez que é ordinariamente
copulativa) mais usualmente suas Premissas [...] (Peirce, 1974, p. 52-
53, CP 2. 95, 1902, tradução nossa).
São vários os trabalhos em lógica feitos por Peirce dedicados ao es-
tudo e exemplificação de probabilidade e tipos de argumentos. Em 1902,
num exemplo deste trabalho contínuo, ele revê seus escritos sobre a indu-
ção (Peirce, 1974, p. 58-59, CP 2.102, 1902) e faz correções no seu ensaio
“Uma teoria de provável inferência” de 1883 (Peirce, 1974, p. 443, CP
2.694). Seus esforços para explicar e tornar claros os argumentos são traba-
lho minucioso e profundo, porém é nos casos em que ele sintetiza as ideias
que podemos ter uma abordagem acessível para quem não é especializado
em lógica.
Em carta ao Sr. Calderoni explica que os únicos três tipos de racio-
cínio que existem são abdução, dedução e indução. Abduçãoconsiste em
examinar uma massa de fatos e em permitir que esses fatos sugiram uma
teoria. Assim, ganhamos novas ideias; mas não há força no raciocínio
(Peirce, 1974, p. 167-168, CP 8.209, 1905). A abdução, mais do que
um insight momentâneo que prevê a possibilidade do desenrolar de uma
hipótese, está baseada na observação da “massa de fatos”. É necessário que
a atenção seja despertada para que dentre as hipóteses alguma delas valha
a pena ser percorrida com vistas a determinar aquele resultado suposto ou
pretendido. Por isso a observação de que não há força no raciocínio.
Aqui é tratado o raciocínio lógico, a comprovação de uma hipótese
científica, porém na arte, na formação de interpretantes emocionais e ener-
géticos é a similaridade que desperta novas possibilidades, a semelhança
com aquilo que já é conhecido, com aquilo que já foi sentido pode sensi-
bilizar o intérprete numa abordagem diferente, suscitando novas interpre-
tações ou novos interpretantes.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
199
O raciocínio deve ser validado a partir da dedução e indução. Segue
sintetizando o conceito também conhecido de dedução.
[...] o segundo tipo de raciocínio é a dedução ou o raciocínio
necessário. É aplicável apenas a um estado ideal de coisas, ou a um
estado de coisas, na medida em que possa se adequar a um ideal.
Apenas dá um novo aspecto às premissas. Consiste em construir uma
imagem ou diagrama de acordo com um preceito geral, observando
nessa imagem certas relações de partes não explicitamente
estabelecidas no preceito, e convencendo-se de que as mesmas
relações sempre ocorrerão quando esse preceito for seguido (Peirce,
1974, p. 168-169, CP 8.209, 1905, tradução nossa).
A sugestão contida na abdução tem na dedução as antecipações das
consequências possíveis, de supostos atos e supostos resultados decorren-
tes disto. A indução verifica experimentalmente e a teoria deduzida deve
ser comprovada pela indução que usando os caminhos deduzidos devem
chegar à conclusão prevista. Ou então contrariarem esta previsão e o resul-
tado se mostrar inadequado. Ou seja, a comprovação da hipótese aventada
abdutivamente se dá pela indução.
Abdução fornece todas as nossas ideias sobre coisas reais, além
do que é dado na percepção, mas é mera conjectura, sem força
probatória. A dedução é certa, mas se refere apenas a objetos ideais.
A indução nos dá a única abordagem à certeza sobre o real que
podemos ter. Em quarenta anos de diligente estudo de argumentos,
nunca encontrei um que não consistisse nesses elementos. Os
sucessos da ciência moderna devem nos convencer de que a
indução é o único imperador capaz de buscar a verdade. Agora,
o pragmaticismo é simplesmente a doutrina de que o método
indutivo é o único essencial para a determinação do significado
intelectual de qualquer símbolo (Peirce, 1974, p. 168-169, CP
8.209,1905, tradução nossa).
É a indução que por meio da ação de experimentação atualiza as
conjecturas do processo dedutivo, aventadas pela abdução. É o teste de
ação e reação que passa da realidade para a existência a ser comprovada na
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
200
indução, pois a força bruta dos fatos pode comprovar, ou refutar, a hipó-
tese. Assim, a partir da experiência o pragmatista pode afirmar cientifica-
mente, pela ação concretizada, a representação que simboliza a veracidade
de sua argumentação.
Peirce escreve para Sr. Paul Carus (Peirce, 1974, p. 171, CP 8.214,
1910) sobre “Ilustrações da Lógica da Ciência” e reconhece a Retrodução
como uma forma de inferência. A abdução então tem a designação de
Retrodução, que é mais condizente com o caráter de continuidade que
perfaz o hábito.
Quando alguém contempla um estado de coisas surpreendente
ou desconcertante (muitas vezes tão desconcertante que ele
não pode afirmar definitivamente qual é o caráter intrigante),
ele pode formulá-lo em um julgamento ou em muitos juízos
aparentemente conectados; muitas vezes ele vai finalmente
descobrir uma hipótese, ou julgamento problemático, como uma
mera possibilidade, da qual ele ou percebe totalmente, ou mais
ou menos suspeita, que o fenômeno desconcertante seria uma
consequência necessária ou bastante provável (Peirce, 1974, p.
177, CP 8.229, 1910, tradução nossa).
A partir da Retrodução três linhas de pensamento são abertas. A
primeira delas é a dedução e um procedimento pela matemática ou pensa-
mento silogístico (Peirce, 1974, p. 177, CP 8.230, 1910). A segunda é in-
vestigar mais o fenômeno cujas características a hipótese explicará, mostrar
as consequências prováveis e necessárias e com isto seguir o pensamento
retrodutivamente por hipótese (Peirce, 1974, p. 177, CP 8.231, 1910).
O terceiro e melhor caminho é focar na hipótese e deduzir várias conse-
quências observáveis, e retornar aos fenômenos para com o teste verificar
se estão de acordo com os fatos reais (Peirce, 1974, p. 177, CP 8.232,
1910). E isto conclui Peirce, não é diferente da indução, apenas não tem
o caráter discreto e numerável da indução de um teste de laboratório por
exemplo. “Eu chamo agora de Indução Qualitativa” (Peirce, 1974, p. 177,
CP 8.233, 1910).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
201
Agora, o caráter essencial da indução é que ela infere um pretenso
de singulares reais. Esses singulares devem, em geral, ser finitos em
multidão e então, como mostro em meu artigo da Johns Hopkins12,
a conclusão indutiva pode ser (usualmente) mais indefinida,
e nunca pode ser certa (Peirce, 1974, p. 178, CP 8.236, 1910,
tradução nossa).
A conclusão da carta define a Retrodução que é também a hipótese
abdutiva que leva ao novo conhecimento, descrita de uma maneira apai-
xonada, feita por quem realiza um trabalho de pesquisa durante uma vida
toda, com esperança de chegar a um resultado satisfatório.
Quanto à validade da hipótese, a Retrodução, a princípio parece
não haver espaço para a questão do que a sustenta, já que, de fato,
ela apenas infere um poder (talvez seja e não possa ser). Mas há uma
decidida inclinação para o lado afirmativo e a frequência com que
isso se torna um fato real é para mim a mais surpreendente de todas
as maravilhas do universo (Peirce, 1974, p. 178, CP 8.238, 1910,
tradução nossa).
Mais do que o insight criativo que conduz a abdução numa possibi-
lidade desconhecida até aquele momento, a constatação da Retrodução é o
estado criativo que investiga as possibilidades, ao ser mantido o raciocínio
investigativo no desenrolar do processo de pesquisa. A Retrodução é aquele
caráter de novidade sendo testado, confirmado ou então a mudança de di-
recionamento se o caminho se mostra falível. A continuidade de novas des-
cobertas está mais próxima da Retrodução do que o acaso percebido num
processo abdutivo. Mesmo que o sinônimo entre os termos seja possível, o
desenrolar do musement (Peirce, 1974, p. 312-313, CP 6.457, 1908) como
veremos a seguir é fundamental para esta diferenciação.
A cognição de uma regra não é necessariamente consciente, mas
é da natureza de um hábito, adquirido ou congênito. A cognição
de um caso é da natureza geral de uma sensação; isto é, é algo que
surge na consciência presente. A cognição de um resultado é da
12 Artigo encontrado em: https://archive.org/stream/studiesinlogic00peiruoft#page/n11.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
202
natureza de uma decisão de agir de uma maneira particular em
uma determinada ocasião (Peirce, 1974, p. 448, CP 2.711, 1883,
tradução nossa, grifo nosso).
A antecipação de etapas subsequentes mostra uma possibilidade tele-
ológica que não está contida no acaso, considerado então como justamen-
te um acontecimento inesperado. A Retrodução é capaz de criativamente
antecipar os resultados, possibilitados pela dedução, a serem comprovados
então pela indução.
Eu sempre, desde o início dos anos 60, reconheci três tipos diferentes
de raciocínio, a saber: 1º, Dedução que depende de nossa confiança
em nossa capacidade de analisar os significados dos signos ou pelos
quais pensamos; 2ª, Indução, que depende da nossa confiança de
que uma corrida de um tipo de experiência não será mudada ou
cessará sem alguma indicação antes que cesse; e 3ª, Retrodução, ou
Inferência Hipotética, que depende de nossa esperança, mais cedo
ou mais tarde, de adivinhar as condições sob as quais um dado tipo
de fenômeno se apresentará (Peirce, 1974, p. 178, CP 8.383, 1913,
tradução nossa).
Em “O Argumento Negligenciado da Existência de Deus” (Peirce,
1974, p. 311, CP 6452, 1908), Peirce discorre sobre as etapas lógicas a
partir da abdução para comprovar a hipótese aventada. A maneira simplifi-
cada que está descrito o artigo nesta pesquisa deixa muito do texto original,
que é belíssimo, sem os devidos créditos, pois este texto contém além da
explicação lógica para a tese que ele defende, um enredo que na literatura
chamaríamos de poesia, ou de espontaneidade, que a partir do diagrama
apresentado por Peirce nos proporciona caminhos em primeiridade que
são de fato similares aquilo que acomete ao muser.
Usando a lógica para explicar a existência de Deus, cria o caminho
para a inteligibilidade de todo o universo. Deus considerado o criador dos
três universos da experiência promove a inteligibilidade ao relacionar aqui-
lo que é existente e o real. A realidade de Deus, concebida enquanto reali-
dade pelas religiões, apresenta-se enquanto argumento no qual sua conclu-
são não é uma proposição de teoria metafísica (Peirce, 1974, p. 312-313,
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
203
CP 6.457, 1908), mas aparece na conduta de vida dos homens, que devem
seguir o caminho do bem. A analogia concebida brilhantemente por Peirce
relaciona esta conduta para o amor a partir da existência de Deus. A pre-
sença real de Deus na vida dos crentes induz a conduta para o caminho do
bem, e faz da atuação na existência a vivência de amor, desta maneira Deus
pode existir na conduta dos homens de bem. Peirce explica então que aqui-
lo que é presente na realidade da crença dos homens é semelhante à ativi-
dade de musement. A contemplação estética do mundo, num pensamento
desinteressado ou desatento, parecido com o estado meditativo ou com o
estado de despego da oração possibilita ao observador este desempenho, de
musement (Peirce, 1974, p. 312-313, CP 6.457, 1908). Desempenhando
esta atividade de muser, este observador é capaz de passar de uma impressão
passiva, para uma atenta observação na qual o estudo aprofundado cienti-
ficamente se torna fundamentado na lógica.
A partir de especulações sobre as homogeneidades de cada Universo,
o Muser passará naturalmente à consideração de homogeneidades
e conexões entre dois Universos diferentes, ou todos os três.
Especialmente em todos eles, encontramos um tipo de ocorrência,
a de crescimento, ela própria consistindo na homogeneidade de
pequenas partes. Isso é evidente no crescimento do movimento
em deslocamento e no crescimento da força em movimento.
No crescimento, também, descobrimos que os três Universos
conspiram; e uma característica universal dela é provisão para fases
posteriores nos anteriores (Peirce, 1974, p. 317-318, CP 6.465,
1908, tradução nossa).
A série de atuações mentais entre observar um fenômeno que causa
encantamento e aceitação de uma hipótese que parece plausível, dócil na
designação de Peirce (Peirce, 1974, p. 320, CP 6.468, 1908), que inci-
ta a pesquisa consiste na Primeira Etapa da Investigação. O nome dado
a esta etapa é Retrodução, que “é uma forma de argumento e não de
argumentação” (Peirce, 1974, p. 320-321, CP 6.469, 1908, grifo nosso).
O argumento aventado então é capaz de ter como consequência o processo
argumentativo, e isto então constitui as etapas que estarão contempladas
pelo método pragmático.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
204
Nesta explicação, ele coloca de maneira clara o trabalho construído
em sua carreira de lógico que apresenta o método pragmatista como uma
definição filosófica (Peirce, 1974, p. 328-329, CP 6.482, 1908). Pode-se
inferir desta colocação que embora ele não tivesse intenções de instaurar
paradigmas filosóficos tinha consciência da importância e diferenciação
do seu pragmatismo da filosofia moderna nominalista à qual ele tanto se
opunha.
Elaborar um diagrama significa traçar uma estratégia de conheci-
mento a partir da lógica. “Peirce descobriu que os elementos mínimos de
qualquer diagramação desse tipo são três: o ato inicial de desenhar algo,
a repetição ou a iteração do ato e a atividade de ligar as repetições juntas
(Ochs, 1992, p. 28). Esta sequência demonstrativa decorrente da abdução
pode ser inteligível em qualquer tipo de diagrama, seja uma música com
sua representação na partitura ou na frequência sonora audível pelos seres
humanos ou uma hipótese científica. O critério de novidade que possibi-
lita a demonstração de realidade e existência tem no método científico o
instrumento usado pela comunidade científica para seu compartilhamen-
to de informação. Porém os processos criativos têm a marca da abdução,
independentemente da maneira como serão representados e a arte é uma
maneira de conciliar a ética e estética de maneira harmonizada. A evolução
do universo, como bem observa Peirce tem a marca da criatividade na in-
tercorrência entre mente e matéria.
Há uma linha simples e elegante de argumentação no corpo de
Peirce que mostra a dependência da lógica crítica na retórica
formal, isto é, a dependência de uma teoria de inferência sobre
uma teoria da investigação. A validade dos três principais tipos de
inferência – abdução, dedução e indução – depende da validade
de seus princípios principais (CP 2.463). O principal princípio de
indução é que tal método, “se firmemente aderido, levaria a uma
aproximação indefinida da verdade, ou, pelo menos, asseguraria
ao raciocinador de, em última análise, alcançar uma aproximação
tão próxima da verdade quanto ele pode, de qualquer forma, ter a
certeza de alcançar” (Lisztka, 2010, p. 119, apud Peirce, CP 2.204).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
205
Abdução é considerada a forma criativa de introdução do pensamen-
to no raciocínio científico. Os novos conhecimentos vêm de argumentos
abdutivos. Os diagramas aventados por uma abdução são desenvolvidos
de maneira a configurar de maneira pragmática sua interação entre reali-
dade e existência. Mesmo os produtos do intelecto humano que não têm a
designação de cientificidade, como se considera a arte, tem uma transição
entre a “ideia original” e o transcurso de realização que é percebido pela
materialidade exposta no diagrama resultante da composição de signos que
representa esta existência do objeto. O objeto uma vez que tem sua apre-
sentação em uma forma que pode ser percebida é passível de análise. Após
a primeiridade contida na percepção, o signo leva a uma nova relação dife-
rente daquela que originou a existência deste objeto.
A evolução criativa, a introdução da nova inteligibilidade no
universo, portanto, significa a passagem de um estado para outro,
a atualização de possibilidades, e essa atualização ocorre através da
abdução – que é o ato criativo capaz de assumir uma possibilidade
e torná-lo real – e é guiado pelo princípio do amor, que é o que
finalmente tornará possível a continuidade entre potencialidade e
atualidade (Barrena, 2003, p. 73).
A sequência abdutiva começa quando, por meio da capacidade de
pensamento humano, um objeto é construído, seja ele um conceito, uma
escultura uma edificação arquitetônica, etc. O expectador, usuário, estu-
dioso quando percebe este objeto, esta forma que se torna parte dos ele-
mentos que também constituem seu ambiente, tem nos processos percep-
tivos perpassados pelas três categorias as várias possibilidades de interação
entre sujeito e objeto.
Mas acredito que a chave peirciana para entender como os seres
sencientes podem ser seres racionais, seres que podem se engajar
em uma vida de pensamento autocontrolado que ajuda a promover
o conhecimento humano, é encontrada em sua explicação da
percepção. A importância da percepção é que, no que Peirce chama
de “julgamento perceptivo”, atribui o equivalente ao texto, no nível
proposicional, às sensações e, ao fazê-lo, introduz um componente
intelectual na consciência (Houser, 2005, p. 461, tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
206
O julgamento perceptivo e a transição da percepção possibilitada
pelos sentidos, na formação do interpretante emocional que pode vir a
ser um interpretante lógico, conduz a interação entre o objeto percebido.
A iconicidade contida na representação e a capacidade do indivíduo de
formular um tipo de significação tem o princípio criativo neste primeiro
raciocínio lógico proposto. A inteligibilidade humana, ao mesmo tempo
em que tem grande possibilidade racional, elenca capacidades emocionais
que são fundamentais para o raciocínio.
Não sabemos nada sobre a percepção senão pelo testemunho do
julgamento perceptivo, exceto que sentimos o golpe dela, a reação
dela contra nós, e vemos o conteúdo dela disposto em um objeto,
em sua totalidade [...] (Peirce, 1974, p. 379-380, CP 7.643, 1903,
tradução nossa).
A “conclusão de primitivas inferências” introduz a mediação que está
caracterizada na terceiridade (Houser, 2005, p. 462). Porém a constituição
destes perceptos, mesmo que na maneira ainda desorganizada de possibili-
dade, está diretamente relacionada à forma constituída enquanto abdução
capaz de levar adiante a mediação. A espontaneidade contida neste contato
inicial, o frescor da primeiridade é a tônica que encadeia o processo que ao
ser atualizado ruma para a generalidade. Esta descoberta indica a possibili-
dade criativa, propõe a variedade de caminhos que podem ser percorridos
no intento de corroborar aquilo que foi aventado.
O procedimento científico que conduz a aceitação de novas desco-
bertas até cerca da metade do século XX ainda tinha a noção romântica
de uma ideia genial que se descobria de maneira inesperada, porém os
procedimentos lógicos aliando psicologia cognitiva e inteligência artificial
direcionam os filósofos da ciência para um estudo metodológico do desco-
brimento (Barrena, 2003). O método pragmático, com a abdução ofereci-
da por Peirce, deixa o aspecto psicológico da descoberta em segundo plano
uma vez que os sentidos estão em um primeiro estágio que leva a verifi-
cação argumentativa e experiencial de maneira científica para a aceitação
comprovada neste desenrolar do processo de uma descoberta comprovada
cientificamente. “O aspecto metodológico do processo implica que a cria-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
207
tividade que conduz o homem da ciência não é inata, como um talento,
mas que pode ser aprendido e desenvolvido, embora não se trate de um
processo exato” (Barrena, 2003, p. 61).
Barrena (2003) considera que existem duas vias de acesso à criati-
vidade no método peirceano. A primeira maneira é a lógica do descobri-
mento ou a lógica da abdução. A segunda maneira de trazer novidade ao
processo criativo e a comprovação da verdade quando a hipótese, segundo
o método científico, comprova a hipótese aventada. Desta maneira o prag-
matismo conduz a expectativa de descoberta à certeza de verdade compro-
vada, e demonstra este percurso de adequação do desenrolar da expectativa
que está teleologicamente orientada por aquela indicação inicial proposta
pela abdução até a comprovação indutiva.
Uma Abdução é um método de formar uma previsão geral sem
qualquer garantia positiva de que ela terá sucesso no caso especial
ou, normalmente, a justificação é que é a única esperança possível
de regular racionalmente a nossa conduta futura e que a indução da
experiência passada nos encorajamos fortemente a esperar que seja
bem-sucedido no futuro (Peirce, 1974, p. 153, CP 2.270, 1903,
tradução nossa)
A partir disso para um processo de significação não existe diferencia-
ção interpretativa se é um artefato construído pelo homem ou se é criado
pela natureza. Realidade e existência interagem juntas no processo de cons-
trução de representação e significação.
Um argumento originário, ou abdução, é um argumento que
apresenta fatos em sua premissa que apresentam uma semelhança
com o fato declarado na conclusão, mas que perfeitamente
poderia ser verdade sem que o último o seja, muito mais sem
que seja reconhecido; de modo que não somos levados a afirmar
positivamente a conclusão, mas estamos apenas inclinados a
admiti-la como representando um fato de que os fatos da Premissa
constituem um ícone (Peirce, 1974, p. 53-53, CP 2.96, 1902,
tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
208
O tratamento da inferência lógica, quando está em um caso parti-
cular, implica em existência dos seus termos, seja ela real ou lógica (Peirce,
1975, p. 80, CN, v. 1). A particularidade implica em transitar pela factu-
alidade para conferir existência ao particular e assim confirmar ou negar
a generalidade, o hábito que abdutivamente pode ter gerado a inferência.
Um Argumento Obsistente, ou Dedução, é um argumento que
representa fatos na Premissa, de tal forma que, quando chegamos a
representá-los em um Diagrama, nos vemos obrigados a representar
o fato declarado na Conclusão; de modo que se tira que a conclusão
reconhece que, independentemente de ser reconhecida ou não, os
fatos enunciados nas premissas são os mesmos que não poderiam
ocorrer se o fato declarado na conclusão não estivesse presente;
isto é, a conclusão é tirada no reconhecimento de que os fatos
declarados na Premissa constituem um Índice do fato que assim ele
é obrigado a reconhecer (Peirce, 1974, p. 53-54, CP 2.96, 1902,
tradução nossa).
A lógica conhecida desde Aristóteles tem no silogismo a forma mais
clara do processo dedutivo. Um teste para ser logicamente válido começa
com o exame da hipótese e não com o escrutínio do fenômeno como faz
a abdução. As consequências decorrentes deste exame da hipótese “[...] e
uma série de todos os tipos de consequências experienciais condicionais
que se seguiriam à sua verdade” (Peirce, 1974, p. 321, CP 6.470, 1908)
são chamados de Dedução.
A dedução consiste de duas partes que são a análise lógica para em
primeiro lugar “Explicar” a hipótese e em segundo lugar é seguida pela
“Demonstração” do processo de pensamento que chega à conclusão a par-
tir das premissas, como claramente ensina Peirce:
A dedução tem duas partes. Pois seu primeiro passo deve ser por
análise lógica para explicar a hipótese, isto é, para torná-la o mais
perfeitamente distinta possível. Esse processo, como Retrodução,
é um Argumento que não é Argumentação. Mas, ao contrário da
retrodução, não pode dar errado por falta de experiência, mas desde
que prossiga corretamente deve chegar a uma conclusão verdadeira.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
209
A explicação é seguida por Demonstração ou Argumentação
Dedutiva. Seu procedimento é melhor aprendido com o Livro I dos
Elementos de Euclides, uma obra-prima que, na visão real, é muito
superior à Análise de Aristóteles; e suas numerosas falácias tornam
tudo mais instrutivo para um estudante atento. Invariavelmente
requer algo da natureza de um diagrama; isto é, um “ícone” ou
sinal que representa seu objeto ao se assemelhar a ele. Geralmente,
também, precisa de “Índices”, ou Sinais que representam seus
Objetos, estando realmente conectados a eles. Mas é composto
principalmente de “Símbolos”, ou Signos que representam seus
Objetos essencialmente porque eles serão interpretados dessa
maneira. A demonstração deve ser Corolária quando puder. Uma
definição precisa da Demonstração Corolarial exigiria uma longa
explicação; mas será suficiente dizer que se limita a considerações
já introduzidas ou envolvidas na Explicação de sua conclusão;
enquanto a Demonstração Teoremática recorre a um processo
de pensamento mais complicado (Peirce, 1974, p. 321-322, CP
6.471, 1908, tradução nossa, grifo do autor).
A finalidade da dedução é coletar as consequências necessárias vin-
das da hipótese inicial (Peirce, 1974, p. 322, CP 6.472, 1908). Peirce frisa
novamente que a abdução não fornece a sequência argumentativa, mas o
início de representação do processo. Ou seja, a abdução trata do âmbito
das possibilidades e é o processo dedutivo que inicia a formulação de uma
hipótese que pode ser avaliada.
E este processo criativo, é sempre oportuno lembrar, é diferente na
representação nos processos criativos artísticos em que a analogia é a ma-
neira de relacionar os signos. Os processos ditos analógicos trabalham com
interpretantes emocionais que são mais importantes que aqueles lógicos
condutores da pesquisa científica na construção do diagrama de represen-
tação desta atividade que em alguns casos é lúdica. Estas relações que são
por proximidade dos signos, e não enquanto decorrência de dedução, têm
na experimentação, na ação a feitura e representação do signo no contexto
do diagrama traçado a cada momento que perfaz a sua execução e influen-
ciam o produto à medida que são executados. A análise lógica posterior
sempre será possível, o objeto mostrado no diagrama convida à interação,
como acontece no processo artístico. As etapas do processo é que são di-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
210
ferenciadas. Neste processo Artístico a dedução e a indução caminham
juntas com a execução do diagrama. O bem estético decorrente desta ação
pode dispensar a antecipação da dedução em várias etapas. A execução
mostra indutivamente aquilo aventado na abdução, elas caminham sem a
mediação necessária da dedução.
A indução é o terceiro estágio que é caracterizado por comparar os
consequentes obtidos por dedução concordam com a experiência. A partir
deste exercício de comparação a hipótese pode ser julgada sensata, requer
ajustes, ou deve ser rejeitada (Peirce, 1974, p. 322, CP 6.472, 1908).
Um Argumento Transuasivo, ou Indução, é um Argumento que
parte de uma hipótese, resultante de uma Abdução anterior, e de
previsões virtuais, tiradas por Dedução, dos resultados de possíveis
experimentos, e tendo realizado os experimentos, conclui que a
hipótese é verdade na medida em que essas previsões são verificadas,
esta conclusão, no entanto, sendo realizada sujeita a provável
modificação para atender futuras experiências (Peirce, 1974, p. 53-
54, CP 2.96, 1902, tradução nossa).
O teste dos fatos feitos pela indução leva ao estudo da probabilida-
de. Uma vez que a antecipação contida na dedução deve ser provável na
indução, as pesquisas de Peirce neste campo são vastas e inovadoras, apesar
de não serem o foco desta pesquisa. Pode-se colocar que a o conceito de
probabilidade trabalha com imprecisão, com a ausência de um dado com-
pletamente verdadeiro, pois a partir da indução é necessário um confronto,
ou monitoramento para o caminho a ser verificado. “A indução pode ser
definida com precisão como a inferência virtual de uma probabilidade, se
a probabilidade puder ser definida sem a ideia de indução” (Peirce, 1974,
p. 57-58, CP 2.101, 1902). A reunião de um conjunto de elementos que
pode validar a hipótese coloca a atualidade dos fatos como princípio deter-
minante da veracidade dos fatos prováveis.
A discussão da probabilidade naturalmente nos leva à interessante
questão da validade da indução. Comprometo-me a demonstrar
matematicamente que a validade da indução, no sentido próprio
do termo, isto é, o raciocínio experimental, segue, através dos lemas
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
211
de probabilidades, dos rudimentos da doutrina das consequências
necessárias, sem qualquer suposição sobre o futuro sendo como o
passado, ou resultados similares seguindo condições similares, ou
a uniformidade da natureza, ou qualquer outro princípio vago
(Peirce, 1974, p. 57-58, CP 2.102, 1902, tradução nossa).
Recorrendo ainda a reprodução do conteúdo do “Argumento
Negligenciado Existência de Deus”, Peirce didaticamente propõe o método
indutivo em três partes. O primeiro deles, que é por onde se deve começar
é a Classificação “que é um Argumento Indutivo Não-argumentacional,
pelo qual as Ideias gerais estão ligadas aos objetos da Experiência; ou me-
lhor, pelo qual os últimos estão subordinados ao primeiro” (Peirce, 1974,
p. 322, CP 6.472, 1908). O segundo estágio são as comprovações pro-
priamente ditas, ou argumentações teste. O terceiro estágio é aquele no
qual a avaliação e a sentença sobre as constatações serão promulgadas, uma
vez que “[...] avalia as diferentes Provações individualmente, depois suas
combinações, então faz a autoavaliação dessas próprias avaliações, e passa
o julgamento final sobre o resultado inteiro” (Peirce, 1974, p. 322, CP
6.472, 1908).
Coloca ainda que as Provações, ou Argumentações Indutivas diretas,
são de dois tipos (Peirce, 1974, p. 322-323, CP 6.473, 1908). A primeira
delas ele chama de indução bruta, que considera o mais fraco dos argu-
mentos pois pode ser contraposto ao ser comprovado o fato. O segundo
tipo indução é a indução gradual que avalia o grau de erro e então o reajus-
te à medida que cada evento é examinado. Esta indução é aquela
[...] que faz uma nova estimativa da proporção de verdade na
hipótese a cada nova instância; e dado qualquer grau de erro,
haverá algum tempo uma estimativa (ou seria, se a provação
persistisse) que seria absolutamente a última a ser infectada com
tanta falsidade. A Indução Gradual é Qualitativa ou Quantitativa e
a última depende de medições, ou de estatísticas, ou de contagens
(Peirce, 1974, p. 322-323, CP 6.473, 1908, tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
212
A autocorreção de erros que possam ocorrer no processo indutivo
implica no estabelecimento, ao longo do tempo, em um encadeamento
contínuo, de uma relação representativa genuína entre a amostra e seu
universo comparativo (Ibri, 2008). Esta aproximação mais apurada da
verdade implica num processo evolucionário que conduz as concepções à
aproximação com o interpretante final. Sendo possível a aceitação, corre-
ção ou descarte da hipótese, os parâmetros de correção ou rejeição daquela
relação, que se constitui enquanto um sistema de signos, contribuem para
a predição representação do fenômeno aventada na dedução.
Consideradas as explicações que encerram os tipos de argumento,
a próxima etapa na divisão da semiótica é tratar da Retórica Especulativa.
Esta, a Retórica Especulativa ou Metodêutica, será tratada adiante. Ela
cuida, dentro das ciências especiais da divulgação de resultados para a co-
munidade de profissionais de uma mesma comunidade e de uma maneira
geral, de tornar público o resultado dos avanços científicos nas várias áreas
do conhecimento. Um exemplo para esta condição é o comportamento de
onda ou partícula dos átomos em escala manométrica: existe a simplifica-
ção para o entendimento comum que o comportamento do átomo pode
ter uma interpretação de onda ou partícula dependendo do ponto de vista
do observador. Para os físicos esta descrição simples não justifica nenhum
resultado obtido para os experimentos, porém para os leigos, esta simplifi-
cação demonstra a mudança de paradigma ao considerar os parâmetros de
entendimento do movimento dos corpos em escala humana.
A retórica, como caracteriza Peirce, cuida de tornar a representação
apresentada passível de compreensão tanto da comunidade de estudioso,
quanto da sociedade em geral. A divulgação do processo pragmático pode
ser mais específica para a comunidade de conceituações afins, ou mais di-
dático e simplificado para o entendimento da comunidade científica de
uma maneira geral. E isto será tratado mais detalhadamente adiante.
O leitor tem até aqui condições de compreender a estrutura lógica,
dentro da qual o Método Pragmático, enquanto doutrina de significação
proposta por Peirce é capaz de conduzir o processo evolucionário de for-
mação de interpretantes.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
213
Abraçar a postura peirceana jamais consistirá na reprodução
de teses de algum sistema passado ou em sua rejeição a priori;
consistirá, contudo, no aprofundamento da confiança na Razão
sem estabelecer-lhe qualquer limite que a impeça de expandir-se a
todas as dimensões do Cosmos (Silveira, 1993, p. 76).
O pragmatismo, e contido nele o processo lógico de demonstração
da verdade que é a semiótica, são a base do entendimento da metodologia
pragmatista peirceana.
Tratar desta exposição na pesquisa conduz a uma sequência longa
de pressupostos que são essenciais ao entendimento científico do conheci-
mento tratado por Peirce. O tratamento feito por tópicos é uma maneira
de evolução argumentativa, que pretende apresentar uma continuidade ao
tratar do conjunto de formação do significado, que é a marca do signo
representado concebido por Peirce, e será complementado no próximo ca-
pítulo. A passagem do raciocínio lógico tradicional para a maneira da arti-
culação do signo que possibilita a mediação entre objeto e interpretante é a
hipótese abdutiva, que no decorrer do pensamento peirceano transporta o
desdobramento e comprovação das hipóteses decorrentes desta inicial para
a continuidade do tiquismo na metafísica. Este percurso quando compre-
endido pode ser transposto para a maneira da evolução do conhecimento,
assim como a evolução do universo como ele trata em sua cosmologia.
As Ciências Normativas juntamente com a Fenomenologia e
Metafísica caracterizam a filosofia, que na maneira peirceana abrange as
relações do homem com a natureza. Nas Ciências Normativas, junto com
Ética e Estética, dentro da Semiótica, a Retórica Especulativa trata de mos-
trar as descobertas feitas pelo entendimento da mente humana desta rela-
ção que os elementos naturais e dentre eles fazem parte aqueles que foram
construídos pelo homem.
Os estudos da semiose em outros elementos da natureza que não
têm a intervenção direta da racionalidade humana, mas são leis advindas
da evolução de hábitos milenares, como é a gravidade, por exemplo, ou
então da comunicação no relacionamento entre espécies de plantas ou ani-
mais são feitos baseados também na semiótica Peirceana. Todo organismo
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
214
equipado para atuar no ambiente, com o ambiente, tem a capacidade de
se relacionar por meio de sinais, signos que fazem a relação entre o ser vivo
que teleologicamente mantém a vida por meio de sua atuação. A teoria de
significação de Jakob von Uexkiill trata a partir das intuições Kantianas a
construção do ambiente que está contido no “mundo subjetivo”, propor-
cionado pelo equipamento perceptual dos seres vivos e “mundo dos fenô-
menos” que é próprio de cada lugar onde está situado, que transformam
o Umwelt ou o ambiente (Sebeok, 2001, p. 144) como o mundo próprio
de cada ser vivo, que tem suas especificidades tanto na maneira subjetiva
quanto física de se relacionar com o ambiente a sua volta. O paralelo entre
os modos de significação é sempre possível em alguns pontos, porém o
interesse da pesquisa está no processo humano, que apesar de ter sua con-
dicionante biológica instintiva para atuação, produz representação e é esta
representação a fonte principal de informação a ser estudada.
Nos próximos capítulos será tratada a visão Pragmática na Ciência da
Informação, uma vez que as articulações dos signos foram mostradas nesta
parte do trabalho, e o próximo passo deve ser a maneira como o Método
Pragmático peirceano conduz a investigação usando a racionalidade.
Este capítulo quando trata da Arquitetura das Ciências traz a estru-
turação do conhecimento feito por Peirce, necessária para a demonstração
do método pragmático concebido por ele. A classificação feita por ele, que
trata a semiótica, a partir da Gramática Especulativa, passando pela Lógica
propriamente dita, até a Retórica Especulativa oferece possibilidade de de-
limitação e entendimento dos signos dependendo de sua condição dentro
do raciocínio lógico no qual o argumento é apresentado.
Esta é uma contribuição deste trabalho para futuras pesquisas, na
Ciência da Informação, pois exemplifica esta classificação, necessária para
o entendimento da semiose na determinação de novos interpretantes.
Além de assegurar que nos próximos capítulos a noção de conceito, tão
cara à Ciência da Informação, para a Organização da Informação tenha a
perspectiva do entendimento peirceano.
215
4
O PRAGMATISMO PEIRCEANO
Dentro da Arquitetura das Ciências, tipos de signos e possibilidades
de significação que são tratados pela Semiótica importam para compreen-
der a maneira como esta articulação, aliadas à Ética e Estética conduzem o
processo na evolução da semiose. Este assunto abordado no capítulo ante-
rior possibilita o entendimento da continuidade do encadeamento que está
presente no conceito de mente.
A formação do hábito e aquisição de crenças como um processo con-
tínuo de criação são importantes para a compreensão da transposição do
método para qualquer significação que possa aprender com a experiência,
seja ela a mente humana, ou as demais mentes concebidas na natureza.
De fato, a Organização do Conhecimento se vale daquilo que a ciência
através da história constrói enquanto legado da capacidade humana de
aprendizado.
Este capítulo tem esta sequência de concepções apresentadas para
chegar até a máxima pragmática, que é então o conceito peirceano desta
relação do sujeito com o ambiente no qual está inserido.
A concepção de mente, aliada ao hábito, no processo de continuida-
de é fundamental para o entendimento do processo evolucionário, chave
para o desenrolar do Método Pragmático. Contidos também nesta concep-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
216
ção evolucionária o Sinequismo, Tiquismo, Agapismo são denominações
que Peirce, já um pensador maduro, classifica as modalidades de evolução.
Será feita esta explanação do modo como o hábito proporciona a
ação e também como o seu contraponto, a quebra dele, pode alterar ou
formar novos conceitos; e em seguida a definição peirceana do Método
Pragmático.
A formação de interpretantes implica em identificação de um hábi-
to, formalizado, conceituado. A concepção de Aristóteles das causas e sua
consequência apresentada em uma forma é referência para pensadores até
os dias de hoje, e por este motivo a inclusão deste assunto, para então no
tópico seguinte tratar da apresentação de uma forma.
4.1 MenTe
Mente é uma função específica no processo de significação semióti-
co. Independentemente daquilo que seja o conhecimento, ele estará repre-
sentado em um universo de experiências possíveis, sendo então a mente
a conexão dos signos uns com os outros neste universo, proporcionando
uma relação interpretante. Esta função interpretante se apresenta na deter-
minação da conduta, expressada nos signos em algum universo de experi-
ência (Silveira, 2007). O universo fenomênico em relação de representação
que proporciona interpretantes não é exclusividade dos estados mentais da
consciência humana, e isto Peirce deixa bem claro. A filosofia não é a rea-
lidade metafísica, mas um processo de significação no qual o signo transita
da representação para o universo da experiência.
Agora, em obediência ao princípio, ou máxima, de continuidade,
que devemos supor que as coisas são contínuas até onde podemos,
tem sido sugerido que devemos supor uma continuidade entre
os caracteres da mente e da matéria, de modo que a matéria não
passaria de uma mente que tivesse hábitos tão indistintos que a
fizessem agir com um grau peculiarmente alto de regularidade
mecânica, ou rotina. Supondo que este seja o caso, a reação entre
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
217
mente e matéria não seria essencialmente diferente da ação entre
partes da mente que estão em união contínua, e assim viriam
diretamente sob a grande lei da associação mental (Peirce, 1974, p.
184-185, CP 6.277, 1893, tradução nossa).
A regularidade do hábito impõe uma rotina na maneira de confor-
mação da matéria, que então apresenta resultados especiais, dando diferen-
ciação aos demais existentes, diferenciados daquela conformação. Hábitos
da mente governam especializações de hábitos, que incorporam em formas
diferentes o procedimento destas regularidades e são a continuidade da
mente corporificadas.
O universo, e como parte dele o conhecimento do qual a mente
humana faz parte, tem no acaso a variação que dá à verdade novas formas.
A razão não pode, a fortiori, ter para si a pretensão de “alcançar a posse
exclusiva da verdade” (Silveira, 1997, p. 113). Qualquer posição filosófica,
complementa Silveira, deve se valer deste cunho realista para o aperfeiço-
amento (Silveira, 1997), mesmo levando em consideração diferenças com
demais doutrinas que manifestam declaradamente esta primazia da razão,
do pensamento para o conhecimento.
A concepção de mente peirceana traduz de maneira excepcional a
passagem de estados de sentimentos para a concretização impressa em re-
presentação de uma forma que incorpora um hábito. Esta passagem da
idealidade à materialidade tem no processo de significação que pode ser
logicamente comprovado a versão científica de uma abordagem extrema-
mente poética para a constituição do cosmos.
Peirce escreve para Christine Ladd-Franklin sobre cosmologia. A
evolução, a passagem de um estado de vagueza para generalidade está as-
sociada à formação do hábito. Para Peirce tanto a matéria que constitui o
universo, quanto a racionalidade humana tendem à generalidade.
Eu acredito que a lei do hábito seja puramente psíquica. Mas
então suponho que a matéria é apenas uma mente amortecida pelo
desenvolvimento do hábito. Embora todo processo físico possa ser
revertido sem violação da lei da mecânica, a lei do hábito proíbe essa
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
218
reversão. Assim, o tempo pode ter evoluído pela ação do hábito. À
primeira vista, parece absurdo ou misterioso falar em evolução do
tempo, pois a evolução pressupõe o tempo. Mas afinal de contas,
isso não é uma objeção séria, e nada pode ser mais simples. O
tempo consiste em uma regularidade nas relações de sentimentos
interativos. O primeiro caos consistia em uma multidão infinita
de sentimentos não relacionados. Como não havia continuidade,
era como se fosse um pó de sentimentos (Peirce, 1974, p. 215, CP
8.318, 1891, tradução nossa).
A passagem do caos para a regularidade tem no tempo a instauração
da continuidade no hábito. Sentimentos não relacionados passam a se rela-
cionar e este continuum instaura a representação materializada, apresentada
em uma forma. Sentimentos dispersos tendem a atuar, promovendo sua
existência a partir da reação, diferenciando-se enquanto caracterização a
ser formalizada, e então tendem à continuidade conformada ao hábito.
Assim, a primeiridade passa da possibilidade, na ação da informação cor-
porificada na secundidade, para a regularidade, no hábito da terceiridade.
Em “Lei da Mente” a hipótese sugerida é que a evolução da mente,
na qual todas as leis estão presentes, tem a tendência de crescer por sua pró-
pria virtude e tomar hábitos (Peirce, 1974, p. 84, CP 6.101(g), 1892). A
mente humana, vista desta maneira, adquire conceitos e o hábito de crença
verdadeira nestes conceitos aceitos é perpetuado.
Agora, uma vez que esta mesma tendência é a única lei fundamental
da mente, segue-se que a evolução física trabalha em direção a fins
da mesma forma que a ação mental trabalha em direção a fins, e
assim em um aspecto da questão seria perfeitamente verdade dizer
que causa final é só primária. No entanto, por outro lado, a lei
do hábito é uma lei formal simples, uma lei de causação eficiente;
de modo que qualquer uma das formas de considerar a questão
é igualmente verdadeira, embora a primeira seja mais plenamente
inteligente. Enquanto isso, se a lei é um resultado da evolução,
que é um processo que dura o tempo todo, segue-se que nenhuma
lei é absoluta. Isto é, devemos supor que os próprios fenômenos
envolvem desvios da lei análogos aos erros de observação (Peirce,
1974, p. 84, CP 6.101 (g), 1892, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
219
A causalidade e a forma nesta descrição são trabalhadas muito pró-
ximas às concepções de Aristóteles1. A causa final atuando em materiais
físicos é capaz de moldar uma forma, assim como a causação eficiente. A lei
da mente tem a tendência de organização, ou seja, tende a tomar uma for-
ma. E a forma quando perde a plasticidade, permanece enraizada em um
determinado hábito, e quando não é mais capaz de adquirir novos hábitos,
se conforma àquela condição de matéria.
Na medida em que a evolução segue uma lei, a lei do hábito, em vez
de ser um movimento da homogeneidade para a heterogeneidade, é
o crescimento da diferença para a uniformidade. Mas as divergências
de oportunidade da lei agem perpetuamente para aumentar a
variedade do mundo, e são verificadas por uma espécie de seleção
natural e de outra forma (pois o escritor não considera o princípio
seletivo suficiente), de modo que o resultado geral possa ser
descrito como “heterogeneidade organizada”, ou melhor, variedade
racionalizada (Peirce, 1974, p. 84, CP 6.101(g), 1892, tradução
nossa, grifo nosso).
A passagem da vagueza para a generalidade é recorrente no pen-
samento peirceano, embora exista a negação da seleção natural, de certa
maneira ela está presente quando o hábito reforça a forma existente, que-
brada eventualmente por um acontecimento fortuito. A referência à hete-
rogeneidade organizada implica neste aparecimento de uma forma que de
fato é a organização apresentada como um diagrama. Seja ele um ser vivo,
uma lei da natureza, um conceito, esta variedade que está racionalizada,
representada, o faz porque é capaz de informar, apresentar o conceito que
identifica a sua existência em alguma forma a ser experienciada fenomeno-
logicamente. A matéria solidificada em seu hábito é possível de interação
em outros níveis que não são aqueles dos quais é agende de criação, pois
não pode formar pensamentos, ou novos hábitos, depende da interação em
outra esfera de significação.
Vide Capítulo 6, deste trabalho.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
220
Em vista do princípio da continuidade, o guia supremo na
formulação de hipóteses filosóficas, devemos, sob essa teoria,
considerar a matéria como mente cujos hábitos se tornaram fixos
de modo a perder os poderes de formar e perder os pensamentos,
enquanto a mente deve ser considerada como um gênero químico
de extrema complexidade e instabilidade. Adquiriu em um grau
notável o hábito de tomar e pôr de lado hábitos. As divergências
fundamentais da lei devem aqui ser extraordinariamente altas,
embora provavelmente muito longe de atingir qualquer magnitude
diretamente observável. Mas o efeito deles é fazer com que as leis
da mente sejam elas mesmas de caráter tão fluido que simulem as
divergências da lei. Tudo isso, segundo o escritor, constitui uma
hipótese passível de ser testada pelo experimento (Peirce, 1974, p.
84-85, CP 6.101(g), 1892, tradução nossa, grifo nosso).
A continuidade entre mente e matéria faria então a associação men-
tal daquilo que tradicionalmente são substâncias diferentes na tradição
filosófica, apresentada esta associação na generalidade e nova possibilida-
de de representação. A mente em sua evolução ainda consegue evoluir os
pensamentos, mantendo a semiose no processo de significação; enquanto
que a matéria, conformada à lei tem sua mente amortecida nesta condição
de tomar e modificar os hábitos. A mente humana e a mente do cosmos
carregam as mesmas possibilidades de racionalidade e informação na aqui-
sição de hábitos. A associação, a analogia e novos processos abdutivos estão
na informação que o signo pode oferecer ao interpretante para a criação,
para a variação que não está rigidamente determinada pela lei verificada na
conformação da matéria.
Essa hipótese pode ser chamada de materialista, uma vez que atribui
à mente uma das propriedades reconhecidas da matéria, extensão
e atributos para toda a matéria, um certo grau excessivamente
baixo de sentimento, juntamente com um certo poder de tomar
hábitos. Mas difere essencialmente do materialismo, em que, em
vez de supor que a mente seja governada pela lei mecânica cega,
supõe que a única lei original é a lei da mente reconhecida, a lei
da associação, da qual as leis da matéria são consideradas meros
resultados especiais (Peirce, 1974, p. 184-185, CP 6.277B, 1893,
tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
221
Este “materialismo” consiste na associação do signo àquilo que su-
porta a sua materialidade e está estabelecido em um hábito. Pode-se tomar
como exemplo a combustão do sol estabelecida num hábito que é tem seu
significado possível de várias maneiras: seja pela luz, calor, gravidade, ondas
magnéticas e demais manifestações físicas conhecidas ou não. A fotossíntese
é um hábito interpretante para os vegetais que independe da significação
humana, uma vez que os processos de ação na fisiologia das plantas tem
outra determinação de conduta em relação os hábitos gerados entre elas e as
radiações solares. A possibilidade interpretante dos hábitos possíveis em cada
manifestação emprega razoabilidade que não depende da mente humana,
embora os processos de terceiridade que envolvem o conhecimento humano
deem uma conformação especial a cada novo entendimento desta atuação do
sol, ou de qualquer outro fenômeno.
As várias concepções que a palavra mente pode ter devem ser diferen-
ciadas. Na filosofia, tradicionalmente mente é aquilo que envolve consciên-
cia, ou o estado de atenção, ou o que costuma ser considerada a alma. Para a
consideração peirceana consciência é um sentimento, “o elemento imediato
da experiência generalizada” (Peirce, 1974, p. 226, CP 7.365, 1902), ou seja,
está em primeiridade e é o recorte do continnum por meio do qual a semiose
tem manifestação. É o sentimento pela qualidade em primeiridade que leva
à constatação de existência na secundidade, então estar consciente é perceber
a existência. “Não estou falando da Alma, o substrato metafísico da Mente
(se é que existe alguma), mas da Mente compreendida fenomenalmente
(Peirce, 1974, p. 226, CP 7.365, 1902). E aqui não se trata de uma visão
epifenominalista, na qual a mente é um subproduto da ação dos neurônios
ou do funcionamento do cérebro. A ação é de interação com o fenômeno
pela ação do signo, por meio do signo a mente perpassa a matéria enquanto
um contraponto ao estado mental.
Os psicólogos dizem que a consciência é o atributo essencial da
mente; e esse propósito é apenas uma modificação especial. Eu
mantenho esse propósito, ou melhor, a causação final, cujo propósito
é a modificação consciente, é o assunto essencial dos próprios estudos
dos psicólogos; e essa consciência é um acompanhamento especial e
não universal da mente (Peirce, 1974, p. 226-227, CP 7.366,1902).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
222
Tratar da mente humana é em princípio entender a determinação
ética do procedimento. Esta determinação ética é aquilo ao qual que des-
tina, a situação quando o sujeito se coloca em pensamento, na qual o pro-
pósito esteticamente considerado avalia que vale o esforço da interação
fenomênica para o entendimento daquilo que despertou a atenção, a pon-
to de manter a relação que leva a ação, tanto do pensamento quanto do
procedimento do indivíduo decorrente desta racionalização.
Todos os vários significados da palavra “Mente”, Lógica, Metafísica
e Psicológica, tendem a ser confundidos mais ou menos, em
parte porque uma considerável habilidade lógica é necessária para
distinguir alguns deles, e por causa da falta de qualquer maquinário
para apoiar o pensamento em fazê-lo, em parte porque eles são
muitos, e em parte porque (devido a essas causas), todos eles são
chamados por uma palavra, “Mente”. Em um dos mais estreitos e
concretos de seus significados lógicos, uma Mente é aquele Seme da
Verdade, cujas determinações se tornam Intermediários Imediatos
de todos os outros Signos cujos Interpretadores Dinâmicos estão
dinamicamente conectados. Em nosso Diagrama, a mesma
coisa que representa A Verdade deve ser considerada como
representando de outra maneira a Mente, e de fato, como sendo
a Quasi-mente de todos os Signos representados no Diagrama.
Para qualquer conjunto de Signos que estejam tão conectados que
um complexo de dois deles possa ter um interpretante, devem ser
as Determinações de um Signo que é uma Quasi-mente (Peirce,
1974, p. 438, CP 4.550, 1905, grifo nosso).
Nesta descrição, a mente é a representação materializada do pro-
cesso no qual a verdade aparece como resultante genuína da relação entre
os signos. A paridade entre signo e objeto que a “modo de” mente, ou
quase-mente, resulte na forma do próximo signo, o interpretante, está a
representação da mente, a resultante deste encadeamento diagramado. A
mente é o próprio processo de significação que é continuado, “interpre-
tantes dinâmicos dinamicamente conectados” (Peirce, 1974, p. 438, CP
4.550, 1905) perfazendo a verdade, que é apresentada no diagrama repre-
sentando o modo de ser da mente. Aqui novamente Peirce deixa claro que
uma vez que mente está presente em todo o universo, tudo aquilo que a
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
223
representação consegue alcançar enquanto comprovação da verdade decor-
re de um momento detectado no qual “dois deles possa ter um interpre-
tante” (Peirce, 1974, p. 438, CP 4.550, 1905). A delimitação do caso no
qual signo, objeto, interpretante estão constatados em relação “ao modo
de ser” da mente, ou seja, quasi-mente. E tratando-se de um procedimento
lógico a determinação da verdade faz parte do processo que pode ou não
ser levado adiante. Naquele intervalo do continnum a verdade é a garantia
que a mente de fato se perpetua e é levada adiante no contínuo processo de
evolução do cosmos. E Peirce continua a explicação:
O pensamento não está necessariamente ligado a um cérebro.
Aparece no trabalho das abelhas, dos cristais e em todo o mundo
puramente físico; e não se pode mais negar que está realmente
lá, do que as cores, as formas, etc. dos objetos estão realmente lá.
Consistentemente aderir a essa negação injustificável, e você será
levado a alguma forma de nominalismo idealista semelhante ao de
Fichte. Não só é pensado no mundo orgânico, mas se desenvolve
lá. Mas como não pode haver um geral sem instâncias que o
incorporem, também não pode ser pensado sem signos (Peirce,
1974, p. 438-439, CP 4.551, 1905, grifo nosso).
Toda inteligência que aprende com a experiência o faz por meio dos
signos, e a mente é este processo do qual os seres humanos fazem parte.
Aquilo que é representado pela mente humana por meio de um diagrama
é uma construção tanto quanto a colmeia fabricando mel representa a re-
lação entre a reprodução das plantas por meio do pólen das quais retiram
seu alimento. O diagrama que mostra o processo tem uma maneira de sig-
nificação que é diferente dependendo do recorte que possa ser feito. Para os
seres humanos existem várias maneiras de perceber e representar este traba-
lho das abelhas, para demais animais que se alimentam do mel produzido
pelas abelhas é outro, e para as abelhas, a ação de produção de alimento é
vital. O processo de significação ação muda em relação aos pontos de vista
e níveis diferentes.
O que é tido enquanto conhecimento humano, enquanto produ-
to da inteligência da mente humana faz parte do repertório demonstrado
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
224
pelas diversas formas de representações criadas pelo homem. Aquilo que
é o modo intelectual de descrever o pensamento na sua forma escrita, por
exemplo, tem com o passar do tempo alterações que são a evolução da
mente. E da mesma maneira, os outros artefatos nos quais o comporta-
mento direcionado a um fim mostra a ação incorporada em alguma forma,
transmitida dinamicamente pelo signo.
A arte, ou a poesia mais especificamente, tem a capacidade de pro-
porcionar distintos interpretantes simultaneamente porque introduz con-
tinuamente a categoria de primeiridade. A transição entre o fluxo da ma-
téria e aquilo que é um processo interiorizado no cérebro de um indivíduo
tem recortes que podem ser especificados, e então esta especificação é uma
variação da generalização é reintroduzida no evento particular, e está su-
jeita novamente ao desenrolar da mediação, produzindo novos interpre-
tantes. Cada nova abordagem, dada a capacidade artística da obra, produz
um interpretante emocional que influencia a capacidade de representação
racional deste objeto.
Para Colapietro (1989) o objeto dinâmico não gera a produção de
processo semiótico, mas constrange a série de interpretantes, retira ima-
ginação para repor no contexto da realidade, tanto a hipótese científica
quanto criação artística para promover o ambiente ou o gráfico, poderí-
amos acrescentar e estabelecer uma relação de verdade entre aquilo que é
proferido e o intérprete.
Tratando-se do self, enquanto individualidade, enquanto o pensa-
mento que pode estar da mente de um indivíduo e na sua relação com o
mundo que o cerca, Colapietro (1989) considera coerente a visão peircea-
na de que o organismo é o modo pelo qual o self está capacitado a corres-
ponder e ser correspondido com um outro ser (Colapietro, 1989). A con-
tinuidade do processo sígnico caracterizada no Sinequismo envolve esta
relação de continuidade entre estados físicos e mentais como irredutíveis
um ao outro (Colapietro, 1989). Na abordagem sinequista o self individual
não tem separação com outro, pois existe a comunicação estabelecida com
outra forma, de alguma maneira, até certo ponto (Colapietro, 1989, p.
78). Ao citar o solipsismo (Peirce, 1974, p. 305, CP 6.436, 1893) Peirce
expõe que a justificativa de falta de entendimento do pensamento do ou-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
225
tro não condiz com a vida em sociedade. Sua visão é de que o self é um
agente comunicativo que não está contido apenas em sua esfera individual,
pois o ser comunicativo é o autêntico self que tem suas raízes em ágape
(Colapietro, 1989). Ágape que é uma variação, ou tipo, de amor será visto
mais adiante.
De acordo com sua própria interpretação, Colapietro (1989) carac-
teriza a noção peirceana de self, que para ser definida pressupõe a definição
de indivíduo, juntamente com substância, organismo e mente reunidos
em uma entidade que pode ser a humana. Na concepção peirceana, mente,
corpo e self são instâncias de semiose, porém self é um tipo específico de
mente. Na mente humana em particular, self designa um tipo de agente
atento às suas capacidades de autoconsciência, autocrítica e autocontrole.
Sendo o self uma instância de hábitos mais ou menos integrados, esta in-
tegração envolve as influências para esta aquisição, que é então considera-
da aprendizagem, característica do homo sapiens (Colapietro, 1989). Esta
relação implica numa continuidade entre mente e corpo que não designa
duas substâncias diferentes, mas aspectos de uma mesma substância. Se
por um lado é uma posição idealista por considerar a matéria uma espécie
de mente, por outro lado é uma posição materialista quando insiste em
uma mente incorporada.
[...] em obediência ao princípio, ou máxima, de continuidade,
de que devemos assumir que as coisas são contínuas até onde
podemos, foi dito que deveríamos supor uma continuidade entre
os caracteres da mente e da matéria, de modo que a matéria não
passaria de uma mente que tivesse hábitos tão indistintos que a
fizessem agir com um grau peculiarmente alto de regularidade
mecânica, ou rotina (Peirce, 1974, p. 184-185, CP 6.277, 1893,
tradução nossa, grifo nosso).
A regularidade do hábito passa a ser tão incorporada à matéria que
a regularidade mecânica que age sobre um, afeta o outro, conformando
a ambos de uma mesma maneira. Se não estivessem no contínuo do seu
pensamento de cientista que vê de uma maneira filosófica os fenômenos da
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
226
natureza, soaria como poesia, a poesia que vê no amor ágape o movimento
do mundo.
A associação entre mente matéria é mediada pelo signo, no qual os
atributos pertencem ao processo de significação. As qualidades atribuídas à
matéria e a associação característica do processo de pensamento tem sua in-
terconexão no signo, no modo como o processo continua sendo explicado:
Supondo que este seja o caso, a reação entre mente e matéria seria
de tipo essencialmente diferente da ação entre partes da mente que
estão em contínua união, e assim viria diretamente sob a grande lei
da associação mental, assim como a teoria última mencionada dá a
sensação de fazer. Esta hipótese pode ser chamada materialista, pois
atribui à mente uma das propriedades reconhecidas da matéria,
extensão, e atribui a toda matéria um certo grau excessivamente
baixo de sentimento, juntamente com um certo poder de tomar
hábitos. Mas difere essencialmente de materialismo, nisso, em vez
de supor a mente a ser governada por lei cega mecânica cega, supõe
que a única lei original é a lei da mente reconhecida, a lei da
associação, das quais as leis da matéria são consideradas meros
resultados especiais (Peirce, 1974, p. 184-185, CP 6.277, 1893,
tradução nossa, grifo nosso).
A lei da associação atribui por meio do signo os resultados espe-
ciais percebidos na matéria. E também considera o hábito “um certo grau
excessivamente baixo de sentimento” no qual a reposição de novidades
pelas categorias fenomenológicas, especialmente a primeiridade, deixa de
ser predominante e racionalmente apresenta, mais cristalizada, a forma
existente na matéria.
A aquisição de terceiridade, de razoabilidade implica em ação, pois os
aspectos materiais do pensamento estão na ação (Peirce, 1974, p. 185, CP
6.278, 1893). E esta inteligência é estendida a todo tipo de substância que
tende à razoabilidade, seja o hábito numa tendência mecânica ou uma ten-
dência potencial para a ação (Peirce, 1974, p. 188-189, CP 6.286, 1893).
Neste caso podemos ter o exemplo, no ser humano, do sistema digestó-
rio, ou também o respiratório que são apenas parcialmente influenciados
pela consciência deles. Uma vez que a ação destes órgãos é decorrente de
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
227
capacidades fisiológicas não reguladas necessariamente pela determinação
voluntária do indivíduo, o hábito do funcionamento deles é mantido.
Tanto a definição de mente quanto aquela substância que está incor-
porada no sujeito, e, portanto, envolve self, estão interligados. A separação
para a definição implica em separação de substâncias à maneira nominalis-
ta como contraria o pensamento peirceano. Definir mente e definir self são
aspectos do comportamento, e assim, são modos de cognição humanos.
Peirce é o filósofo que tem carregado o programa externalista da
mente de modo mais completo e autoconsciente (Colapietro, 1989). A
abordagem semiótica é uma alternativa à abordagem subjetivista porque,
embora Peirce não queira negar as operações internas, a externalização de
nossas operações mentais possibilita o contato com outras mentes.
A consciência racional, especificamente a humana, identificada por
Peirce, possui na visão de Colapietro (1989) três momentos: o primeiro é a
identificação de mente como semiose, pois no caso da mente humana as leis
da inferência dão a característica da consequência lógica para obter a condi-
ção de verdade. O segundo é a caracterização do último interpretante lógico
revisada, porque mais do que o resultado de um processo, a possibilidade de
continuidade em semiose ilimitada, e incluído neste desenrolar de ações a
noção de hábito, dá a dimensão cosmológica que é parte não só do método
pragmático, mas extrapola para uma visão filosófica da ação dos signos. O
terceiro é o procedimento do raciocínio que envolve necessariamente auto-
consciência, autocrítica e autocontrole, assim o raciocínio que é a operação
notadamente feita pela consciência racional implica em possibilidades tele-
ológicas que fazem o balanço entre planejamento e ação não serem apenas
empirismo, mas um processo conjunto de avaliação de atuação.
A comunicação existente na capacidade racional da mente enquanto
semiose, que visa a maior racionalidade possível no interpretante final, num
sujeito que pertence às condições do ambiente no qual atua, pode descrever
com precisão o sujeito naquilo que é considerado sociedade da informação.
Em “Algumas consequências de quatro incapacidades” (Peirce, 1974,
p. 185-186, CP 5.310,1868), no começo de suas publicações, Peirce já
caracteriza o homem enquanto um signo, no qual a mente não é a parte
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
228
interna do corpo. A mente é um signo, e sua primeira consideração de que
é um signo, que se desenvolve enquanto inferência é marcada pela comple-
xidade em graus diferentes, nas quais se desenvolvem a consciência ou uma
palavra. A externalização sujeita à crítica e autocontrole estão presentes na
lógica que é capaz de tornar público, por meio dos signos, os processos
de pensamento não de maneira subjetiva, mas comunicados de maneira
lógica e sujeitos a aceitação pública, em um pensamento intersubjetivo. A
representação é então capacidade de comunicação, usando um signo para
a manifestação desta relação entre a objetividade e subjetividade que pode
então ser repassada a novos interpretantes.
Pelo fato de Peirce acreditar que nada é incognoscível, podemos in-
ferir que toda substância é a totalidade de sua aparência, e uma vez que
temos demonstrada a cadeia de eventos mentais, temos demonstrado por
meio dos signos o processo semiótico, que é triádico e liga signo e objeto
por meio do interpretante (Colapietro, 1989). As instâncias do interpre-
tante emocional e energético têm no interpretante lógico a possibilidade
de formação e mudança de hábito.
Se o primeiro momento na investigação da mente de Peirce
estabelece uma conexão essencial entre mente e semiose, então
o segundo momento forja uma ligação similar entre semiose e
hábito. Isso, por sua vez, torna a noção de hábito um conceito
central na abordagem peirceana dos fenômenos mentais
(Colapietro, 1989, p. 108).
De acordo com Delaney (1979), Peirce nos fornece um programa
de visão externalista da mente. Uma vez que a manifestação fenomênica
da substância está na mente subjacente aos processos mentais, aquilo que
é o conjunto de consequências possíveis apresentadas externamente mos-
tra a realidade da mente. Emoções e estruturas internas do pensamento
estão envolvidas no processo inferencial mostrado a partir aquilo que é
a comunicação. Pela linguagem seja ela falada, escrita, feita de manei-
ra intencional ou enquanto desempenho de hábitos, compartilhamos a
mente. A ação mental comparada ao raciocínio válido não invalida os
interpretantes emocionais, mas a demonstração daqueles raciocínios que
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
229
são o interpretante lógico representa por meio de diversas espécies de
diagramas a ação mental analisável e esta, a ação mental, se traduz em
linguagem, na maneira de externar o conjunto de interpretantes, conti-
dos no hábito e capazes de serem transformadores.
Não há nenhum elemento da consciência do homem que não
tenha algo correspondente a ele na palavra; e a razão é óbvia. É
que a palavra ou signo que o homem usa é o próprio homem. Pois,
como o fato de todo pensamento ser um signo, em conjunção com
o fato de a vida ser uma linha de pensamento, prova que o homem
é um signo; então, que todo pensamento é um signo externo,
prova que o homem é um signo externo. Ou seja, o homem e o
signo externo são idênticos no mesmo sentido em que as palavras
homo e homem são idênticas. Assim, minha linguagem é a soma
total de mim mesmo; para o homem é o pensamento (Peirce, 1974,
p. 189, CP 5.314, 1868, tradução nossa, grifo nosso).
A construção silogística da capacidade de comunicação humana usa-
da acima demonstra, contida nela, a determinação ética da conduta inclu-
ída na manifestação representada pelos signos que compõe a linguagem,
seja ela escrita, falada, de movimentos corpóreos, demonstrações artísticas
e tantas outras maneiras. O pensamento está nesta capacidade de atuar no
ambiente e construir, representar e mostram a comunicação e ação, interna
e externamente, por meio de formas que significam a ação.
A autoconsciência não é intuitiva” (Santaella, 2004b, p. 58). Não é
um processo interno constituído por uma substância etérea da mente, mas
está em constante significação num transcorrer contínuo entre a mente e o
mundo. Como conhecimento lógico, que se relaciona com outros signos,
inclusive com aquilo que Freud chama inconsciente, o conhecimento de
nós mesmos está em constante evolução, uma vez que o ser humano é um
signo.
A relação de aprendizado, formação do conhecimento enquanto ins-
tância coletiva está na inter-relação do sujeito que atua em seu ambiente. A
aquisição e o reforço dos hábitos são aprendizagem. Ser falível e aprender
com a experiência é parte do processo evolucionário. O homem moderno,
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
230
desde o renascimento cada vez mais tem seu ambiente construído nas cida-
des, onde a maneira de ação é diretamente ligada ao coletivo, à distribuição
de funções e saberes. Compreender esta evolução e propor uma maneira de
organizar e difundir conhecimento, por meio da Ciência da Informação,
deve perpassar esta implicação circular entre o contexto que influencia o
sujeito e é influenciado por ele.
A ideia de teleologia do pensamento evolucionário no pragmatis-
mo peirceano dá margem à confusão entre um propósito e um modelo.
Um modelo pode ser geral, que existe enquanto um nome (Short, 2007).
Propósitos são confundidos com desejo enquanto estados psicológicos,
então Short explica que desejos são estados mentais de um particular, en-
quanto o propósito é um modelo, um geral.
A ação relacionada com a execução de um pensamento é parte da
ideia simplificada de William James, contestada por Peirce, nessa diferen-
ciação entre atividade prática, conforme é a definição dada abaixo:
O Sr. Peirce, depois de apontar que nossas crenças são realmente
regras de ação, disse que, para desenvolver o significado de um
pensamento, precisamos apenas determinar qual conduta ele deve
produzir: essa conduta é para nós seu único significado. E o fato
tangível na raiz de todas as nossas distinções de pensamento, por
mais sutis, é que não há ninguém tão bom que consista em nada
além de uma possível diferença de prática (James, 1907, p. 27).
A ação que decorre de um pensamento com propósito está mais de
acordo com o entendimento de James. Diferenças entre estado de desejo
e coisa desejada devem ser feitos uma vez que um propósito decorre de
um estado de desejo. O propósito é capaz de tornar o estado mental sub-
jetivo em ação, existência objetiva, enquanto fim a ser alcançado ou meta
(Short, 2007). A coisa desejada, sendo um particular está para um estado
de satisfação imediata que é comer pão ao ter fome, diferente de cultivar o
trigo que irá também matar a fome numa condição futura a ser realizada.
Esta transição entre o geral e o particular passa por um planejamento, uma
maneira de conduta a ser determinada com um propósito a ser alcançado,
cujo desejo é estendido a uma etapa de existência futura.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
231
Agora, as visões de Peirce indicam que existe uma hierarquia de
mentes. No nível mais rudimentar, há agentes interpretativos
que não alteram essencialmente seus padrões de interpretação;
elas sempre respondem aos mesmos estímulos no exemplo.
Um exemplo seria um animal cujo comportamento estava
completamente limitado pelo instinto. No nível intermediário, há
agentes interpretativos que, no curso de suas vidas, abandonam
certos padrões de interpretação e adquirem outros. Para Peirce, tais
alterações nos modos de interpretação são as mesmas que alterações
nos hábitos de ação. A natureza dessas mentes é relativamente
plástica. No mais alto nível, há intérpretes autônomos, agentes
que (e não quais) podem se envolver em atos de autointerpretação,
autocrítica e autocontrole. Não há, em princípio, nenhum limite
para esses atos: “Agora o próprio controle pode ser controlado,
a própria crítica é submetida a críticas” (5.442). Além disso, “é
pela réplica indefinida do autocontrole sobre o autocontrole que
o vir é gerado e, pela ação, pelo pensamento, ele desenvolve um
ideal estético” (5.402). Assim, intérpretes autônomos (ou mentes
racionais) são apegados a ideais e regulados por normas. Eles são,
como diz Peirce, “intelectos pessoais possuidores de naturezas
morais” (MS 280, 32 [variante]; ênfase acrescentada) (Colapietro,
1989, p. 110-111).
O hábito direciona a ação de forma autocontrolada em direção ao
propósito almejado. A máxima pragmática contém “os efeitos que pode-
riam ter orientações práticas”, cuja orientação é a conduta teleologicamen-
te direcionada, cujo fim quando alcançado demonstra o processo de sig-
nificação. “De fato, se o significado e o propósito são correlativos, então o
significado não depende apenas do propósito, mas o propósito depende do
significado” (Liszka, 2009, p. 67).
O significado para Peirce pode ser entendido enquanto uma estrutu-
ra de relações que emerge num padrão de comportamento, enquanto uma
resposta do organismo como um todo, considerados os aspectos lógicos, bio-
lógicos, psicológicos, no universo com o qual está em interação (Rosenthal,
1994). O comportamento humano pode ser entendido, para a autora, en-
quanto uma estruturação de comportamento com significação, constituin-
do uma conceituação que pode ser caracterizada enquanto hábito. Aqueles
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
232
padrões adaptados a respostas satisfatórias para os resultados esperados se
constituem enquanto hábito de conduta frente à resposta esperada.
Quando o interpretante se refere ao efeito produzido num intérprete
por um signo, o interpretante lógico é um conceito que se refere a um fato
objetivo. Para não se restringir a uma abordagem nominalista, o significa-
do conceitual2 inclui além do lógico os interpretantes emocional e energéti-
co, ou seja, inclui as categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade
(Rosenthal, 1994). A ação é produzida enquanto uma regra que é produzida
no seu próprio desenrolar, dando à imaginação ou ato intelectual uma par-
cela de todo o desenrolar conectado pela reação da secundidade, validando
e dando especificações das condições e o motivo deste desenrolar da ação.
“O significado conceitual então inclui o conjunto total de possíveis
aparências e possíveis transformações via respostas apropriadas para outras
aparições tanto por hábito controlado quanto por uma regra de geração e
organização” (Rosenthal, 1994, p. 31). O hábito não determina apenas o
atual comportamento, mas também possibilita variações que se asseme-
lhem à escolha de alcançar o objetivo esperado.
Existe contemporaneidade entre Peirce e Franz Brentano (1838-
1917), apesar de não conhecerem um a obra do outro, apresentam a mes-
ma concepção de intencionalidade (Short, 2007, p. 6). Em Brentano, o
objeto enquanto correspondente ao signo que não possui existência mate-
rial seria identificado por uma intenção. A identificação de intencionalida-
de com um estado mental é a principal diferença entre Brentano e Peirce,
uma vez que a intencionalidade para Brentano deve ser separada do estudo
da natureza. Para Brentano (Short, 2007), os fenômenos contêm intencio-
nalidade neles mesmos, portanto a sua maneira de ver a fenomenologia é
explanatória, enquanto para Peirce a fenomenologia é apenas descritiva.
A questão que permanece explicada com a atribuição de intencionalidade
apenas aos fenômenos mentais é a maneira pela qual o comportamento dos
animais, na sua maneira de reprodução ou predação, agem na natureza,
uma vez que eles supostamente não têm estados mentais (Short, 2007).
Mesmo considerando a ação dos animais enquanto possibilidade de serem
A relação de ação e hábito será visto novamente adiante no capítulo 4, e “conceito” no capitulo 5, p. 320.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
233
atos mecânicos de resposta condicionada na biologia, em especial, as ações
teleológicas implicam neste objetivo final (Short, 2007). Nos comporta-
mentos humanos o processo de significação tende a ser teleológico e não
apenas mecanicista, uma vez que mais do que um modelo de ação, estraté-
gias estão envolvidas para a realização do objetivo (Short, 2007).
O curso normal do pensamento e a ação possível não descartam a in-
tuição ou moralidade, mas é o autocontrole que determina o curso das atu-
ações daquele que tem discernimento lógico, “o dever ser do pensamento
que é a Razão Correta” (Peirce, 1974, p. 424-425, CP 4.539, 1905), sem
o autocontrole não torna a ação correta em relação à expectativa possível.
Adequar o comportamento à finalidade esperada (Peirce, 1974, p.
376-377, CP 5.538, 1902) implica em adequar o interpretante dinâmico
ao interpretante final. Este padrão de ação está associado ao hábito que os
seres vivos têm no comportamento de sobrevivência, dito instintivo, de
relação com o ambiente.
Baseado em Dretske (1992) esta relação entre o indivíduo e o am-
biente é descrita da seguinte maneira “Para que um sistema detecte fontes
de energia em seu ambiente e as adquira de um modo benéfico para o or-
ganismo, deve haver uma conexão entre a detecção desses eventos externos
e hábitos comportamentais internos ao organismo vivo” (Liszka, 2009, p.
70). Transformar energia, informação na atuação com o ambiente é uma
característica fundamental do ser humano, cuja capacidade teleológica pri-
meira é desenvolvida pela sobrevivência da espécie. A racionalidade, de-
corrência desta condição fisiológica de interação com o meio é, portanto,
parte integrante da condição humana.
Para usar a linguagem peirceana, o trabalho de propagação da
informação gera os efeitos práticos realizados em um sistema que
opera sobre essa informação. Se essa informação é encontrada para
ser viável através da tentativa e erro de experimentação em seu
ambiente, seus efeitos práticos são traduzidos em hábitos de ação,
que atuam como máximas práticas para esse sistema. Significado e
teleologia, assim, tornam-se correlacionados (Liszka, 2009, p. 74,
grifo nosso).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
234
A conduta futura, ou a busca de significação, ocorre por busca tele-
ológica de uma forma cujos efeitos estão mostrados na conduta que dire-
ciona e ocasiona o processo (Peirce, 1974, p. 284-285, CP 5.427, 1905).
Determinar a conduta em busca de significação é parte da máxima prag-
mática, portanto ambas estão relacionadas, significação e conduta perfa-
zem uma unidade. Esta significação atrelada a um conceito é inerente à
racionalidade humana. Procedimentos que buscam o entendimento mais
adequado a ideias não completamente esclarecidas para um indivíduo é
parte destas ações. A significação está incluída em uma descrição de como
é processada, e isto é um dos elementos fundamentais do método pragmá-
tico. O fato de poder simultaneamente agir e representar em vários subs-
tratos físicos é a diferença maior do ser humano e outros seres vivos que
têm ação no ambiente.
Dretske (1981) considera a identificação do comportamento como
a produção de efeitos externos por causas internas. Nos casos típicos, as
causas são externadas na decorrência dos movimentos do corpo, e em ou-
tros casos não existe uma causa interna nem um efeito externo. O ponto
de interesse desta relação é que o comportamento não é um produto, mas
um processo. Os processos de cognição humana exibem profunda conexão
entre sistemas representacionais e informação em processo, para referir-se
à ideia de informação obtida pelo individuo (Dreteske, 1981). Também
são possíveis propósitos e capacidades para um outro sistema, além da-
quele exercido pelo indivíduo em sua vivência, uma vez que os sistemas de
representação natural têm o poder de indicar os desenvolvimentos e usos
daquele dos quais fazem parte (Dreteske,1981). As discussões de intencio-
nalidade e interpretação equivocada estão dependentes tanto das condições
do mundo representado tanto da maneira como é feita esta representação
(Dreteske, 1981). O papel da crença vem então para auxiliar estas interpre-
tações de acerto das interpretações relacionadas à ação (Dreteske, 1981).
As interações e ajustes de comportamento dependendo das condi-
ções externas e internas proporcionam adquirir controle e mudar ações,
usando desta forma o trabalho da informação enquanto aprendizado
(Dreteske, 1981). Esta atuação pode ter um comportamento direcionado
a um objetivo pretendido (Dreteske, 1981), o que pode levar a distinção
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
235
entre as caracterizações implícitas e explícitas de representação, crenças e
conhecimento. Finalmente o autor chega ao caráter racional do pensamen-
to humano que é aquilo que é diferenciado dos outros animais, ainda indi-
cando que a cognição tem caráter holístico e relaciona funções e elementos
para sua consolidação.
De maneira similar, Sebeok (1981) analisa as mensagens recebidas
pelos animais, sob duas diferentes variáveis “a entrada no sinal nele mesmo
e o contexto no qual a mensagem foi entregue” (Sebeok, 1981, p. 115).
O “sinal nele mesmo” tem a abordagem interna lista da representação e o
contexto é dado inclusive pelas relações externas. O modelo de interação
interno-externo é usado como a linha semiótica do verbal e não-verbal que
emana do organismo para harmonizar com as ocorrências no ambiente. O
autor cita os trabalhos Jakob Von Uexkül (1864-1944) para esta relação
entre o ser vivo e seu ambiente e a relação de padrões tecidos no cérebro
com as codificações de signos na mente (Sebeok, 1981).
A conduta humana não é reduzida à simples atividade empírica, pois
seria apenas uma reação de comportamento (Silveira, 2003). O hábito sem
a representação da terceiridade que é capaz de avaliar a ação é apenas o
comportamento consolidado sendo reproduzido em nova ação. A capaci-
dade de representação que inclui o autocontrole de forma planejada é a ca-
racterística mais desenvolvida do ser humano em relação às outras espécies,
e é o que dá a variedade representacional mais amplificada. “[...] relações
racionais ou significativas, que a mente do homem deve ter sido sintoniza-
da com a verdade de coisas para descobrir o que ele descobriu. É o alicerce
da verdade lógica” (Peirce, 1974, p. 323, CP 6.476, 1908).
4.2 cRenÇa
As crenças não são dogmas, como são as verdades inquestionáveis
dos dogmas religiosos. “Todas as crenças instintivas, aviso, são vagas. No
momento em que são precedidas, o pragmatista começará a duvidar delas
(Peirce, 1974, p. 349, CP 6.499, 1906). Elas não estão dadas de antemão,
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
236
uma vez que são decorrência do hábito que possui uma mente que aprende
com a experiência.
Em 1873 Peirce escreve: “Em toda mente lógica deve haver primeiro
ideias; segundo, regras gerais de acordo com a qual uma ideia determina
outra, ou hábitos da mente que conectam ideias; e terceiro, processos pelos
quais tais conexões habituais são estabelecidas” (Peirce, 1974, p. 218, CP
7.358, 1873). E conclui que crença e conexão de ideias são uma mesma
coisa (Peirce, 1974, p. 218, CP 7.359, 1873). A crença servirá para mos-
trar quais ideias estão conectadas, caso uma mente com raciocínio lógico se
mostre capaz de avaliar suas crenças. As ideias anteriores causam julgamen-
tos que dão conexão a outras ideias, e o valor destas ideias está nas relações
mútuas causadoras e decorrentes destes julgamentos, e não em qualidades
em si mesmas. “O significado intelectual das crenças reside inteiramente
nas conclusões que podem ser tiradas delas e, em última análise, nos seus
efeitos sobre a nossa conduta” (Peirce, 1974, p. 218-219, CP 7.360, 1873).
Uma vez que não existe distinção entre resultados diferentes em pro-
posições iguais, a conclusão a ser alcançada em proposições diferentes está
nas diferenças sobre nossas ações. Uma vez que o pensamento tem seu sig-
nificado intelectual percebido no efeito sobre nossas ações, o pensamento
está atrelado a esta ação a ser concretizada, atualizada no futuro. “Ou em
outras palavras, racionalidade do pensamento está em sua referência a um
possível futuro” (Peirce, 1974, p. 219, CP 7.361, 1873).
A crença não é um modo momentâneo de consciência; é um
hábito da mente essencialmente duradouro por algum tempo e
principalmente (pelo menos) inconsciente; e, como outros hábitos,
é (até encontrar alguma surpresa que comece sua dissolução)
perfeitamente auto satisfeita. A dúvida é de um gênero totalmente
contrário. Não é um hábito, mas a privação de um hábito (Peirce,
1974, p. 279, CP 5.417, 1905, tradução nossa, grifo nosso).
A crença atrelada ao hábito consolida modos de ação que implicam
na quebra do hábito pelo acaso ou alteração na crença, no caso do compor-
tamento humano. Em “A Fixação das Crenças” (Peirce, 1974, p. 223-234,
CP 5.358-377, 1877). Peirce se refere ao pensamento lógico e à maneira
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
237
de tratar as inferências: “O hábito particular da mente que governa essa
ou aquela inferência pode ser formulado em uma proposição cuja verdade
depende da validade das inferências que o hábito determina; e tal fórmula
é chamada princípio guia de inferência” (Peirce, 1974, p. 227-228, CP
5.367, 1877). Nossas crenças guiam nossos desejos e moldam nossas ações
(Peirce, 1974, p. 230, CP 5.371, 1877). Se não determinam imediata-
mente as ações são elas, as crenças, que dão a expectativa de procedimento
futuro, caso a necessidade de determinada ação já prevista ocorra. A dúvida
é uma inquietação, um desconforto que nos move a encontrar um modo
de crença, uma vez que é dentro do hábito que temos tranquilidade para
a ação, uma vez que ela possibilita conhecer de antemão a maneira correta
de agir quando a necessidade ocorrer. E finalmente Peirce descreve os mé-
todos de fixação das crenças para dizer que o método científico, e por meio
dele o pragmatismo, é aquele que pode levar à verdade.
Ao definirmos mente está implícita neste conceito a definição de
crença e hábito. A crença mobiliza a ação que perfaz o hábito e propor-
ciona continuidade. Crença é o hábito da mente. A mente tem o hábito
mantido pela crença.
Crenças determinam ações porque elas podem ser expressas
enquanto expectativas condicionais; nós esperamos que um
certo resultado sensível seguirá uma ação particular, e podemos
saber como agir se queremos aquele resultado sensível. O princípio
pragmatista nos pede para esclarecer nosso entendimento de uma
proposição para determinar que hábitos de expectativa isto
envolve, como isso pode guiar a ação (Hookway, 1992, p. 255,
grifo nosso).
As expectativas, mais do que planejamento da ação a ser executada,
implicam em conhecimento da condição de generalidade. O novo evento é
capaz de manter a crença porque a ação pode atualizar aquilo que se cons-
titua em realidade. Guiar a ação não significa determinar de antemão todo
o procedimento, mas balizar o acontecimento, repor na ação aquilo que é
proposto, ou adequar à situação, em graus que variam desde a confirmação
da crença até a quebra de hábito.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
238
Em 1902 Peirce retoma a questão de o julgamento estar relacionado
à crença, analisando o conceito, faz uma divisão entre aquilo que pode ser
a aplicação da crença, e mais uma vez para se referir a diferenciação entre
crença prática e teórica expande a concepção de hábito aos vários tipos de
mente que aprendem com a experiência. O hábito adquirido por repetição
de certas atitudes pertence ao conceito do senso comum, a estes todos se
referem da mesma maneira.
Vamos usar a palavra “hábito”, ao longo deste livro, não em seu
sentido mais restrito e mais apropriado, em que se opõe a uma
disposição natural (pois o termo hábito adquirido expressará
perfeitamente esse sentido mais restrito), mas em seu sentido
mais amplo e talvez ainda mais senso usual, no qual denota tal
especialização, original ou adquirida, da natureza de um homem,
ou um animal, ou uma videira, ou uma substância química
cristalizável, ou qualquer outra coisa, que ele ou ela irá se comportar
, ou sempre tendem a se comportar, de uma maneira descritível
em termos gerais em todas as ocasiões (ou em uma proporção
considerável das ocasiões) que podem se apresentar de um caráter
geralmente descritível (Peirce, 1974, p. 376-377, CP 5.538, 1902,
tradução nossa).
A crença prática é aquela que guia um comportamento cujas me-
mórias de comportamentos anteriores relacionam as situações passadas e
o propósito presente, articulando a ação de maneira autocontrolada, a fim
de adequar o comportamento à finalidade esperada (Peirce, 1974, p. 376-
377, CP 5.538, 1902). As crenças teóricas são exatamente a expectativa
do desenrolar da ação executada pela crença prática (Peirce, 1974, p. 377-
379, CP 5.539, 1902). A expectativa da realização da ação depende do
julgamento nas situações anteriores que dentro da generalidade conhecida
a ação será executada com sucesso. Um exemplo possível desta situação é
uma pessoa sentada dentro de casa e que vai para a rua. Existe a expecta-
tiva de abrir a porta, mas normalmente não é planejado o fato de ter que
caminhar até a porta para abrir. Antes da expectativa de sair o hábito de
caminhar motiva para a aproximação com a porta que deve ser aberta. O
julgamento de qual ação tomar diante da expectativa é um passo seguin-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
239
te neste diagrama de estratégia peirceano, num desenrolar contínuo entre
planejamento, expectativa e ação.
O raciocínio humano e o procedimento da mente humana estão li-
gados ao raciocínio lógico, e é à maneira do método pragmatista que Peirce
explica a relação. Em “Questões sobre Pragmatismo” é feita esta relação en-
tre o raciocínio e crença. Peirce começa relacionando o hábito e conduta:
De acordo com a máxima do Pragmaticismo, dizer que a
determinação afeta nossa natureza oculta é dizer que ela é capaz
de afetar a conduta deliberada; e uma vez que estamos conscientes
do que fazemos deliberadamente, somos um habitual consciente
de tudo o que se esconde nas profundezas de nossa natureza; e
é presumível (e apenas presumível, embora casos curiosos estejam
registrados), que um esforço de atenção suficientemente enérgico o
revelaria (Peirce, 1974, p. 285, CP 5.441, 1905, tradução nossa).
Explica então que o raciocínio dá conta da sequência de pensamen-
to lógico por meio da argumentação. O raciocínio enquanto operação da
mente controlada implica em consciência desta operação, pois a decor-
rência da premissa requer a aprovação da conclusão, com um princípio
orientador que classifique (dedutiva e indutivamente) as premissas. A ar-
gumentação lógica dá o único princípio orientador no qual esta cadeia de
premissas, que são verdadeiramente aceitáveis, seja relacionada e coerente
(Peirce, 1974, p. 295, CP 5.441, 1905).
Há, no entanto, casos em que estamos conscientes de que uma
crença foi determinada por outra crença dada, mas não estamos
conscientes de que ela prossegue em qualquer princípio geral. Tal
é o “cogito, ergo sum” de Santo Agostinho. Tal processo deve ser
chamado, não um raciocínio, mas uma inferência acrítica (Peirce,
1974, p. 295, CP 5.441, 1905, tradução nossa).
Dizer que a crença não tem fundamentação lógica então é dizer que
fizemos uma inferência sem julgamento, sem a crítica lógica adequada para
torná-la verdadeira, pois para haver terceiridade no processo de significa-
ção, para comprovação da lei, é necessário o processo inferencial. E isto
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
240
Peirce já havia discorrido em “A fixação das Crenças”. As “sugestões asso-
ciativas de crença” (Peirce, 1974, p. 295, CP 5.441, 1905) são os outros
casos nos quais uma crença é determinada pela outra sem que tenhamos
consciência disto. Então quando levamos adiante um conceito recebido,
fazemos uma inferência acrítica ou uma sugestão associativa daquilo que é
executado, sem crítica.
4.3 HÁBiTO
Hábito é a contrapartida ontológica do pragmatismo, pois eles con-
duzem teleologicamente e são incorporados e inteligíveis (Legg, 2016).
Enquanto o pragmatismo é o método processual que envolve mente e in-
teligência, o hábito é aquilo que proporciona uma ação desatenta e auto-
matizada. A crença é um hábito e então o pragmatismo segue enquanto
capacidade de explicação da semiose que se desenvolve.
De fato, os hábitos, a partir do modo de sua formação, consistem
necessariamente na permanência de alguma relação e,
portanto, nessa teoria, cada lei da natureza consistiria em alguma
permanência, como a permanência de massa, momento e energia.
A esse respeito, a teoria atende aos fatos de maneira admirável
(Peirce, 1974, p. 226, CP 1.415,1890, tradução nossa, grifo nosso).
A conexão de ideias que tendem a uma linha de raciocínio, cujas
determinações são processadas e refletem nas ações decorrentes, é uma
abordagem de investigação do hábito. “Em toda mente lógica deve haver
primeiro ideias; em segundo, regras gerais pelas quais uma ideia determi-
na outra, ou hábitos mentais que conectam ideias; e em terceiro, processos
pelos quais tais conexões habituais são estabelecidas” (Peirce, 1974, p. 218,
CP 7.358, 1873, grifo nosso). Nesta sequência podemos inferir que ele tra-
ta dos processos de abdução quando fala do insight que vem das ideias em
primeiro lugar; a mediação em segundo lugar das conexões dedutivas que
fornecem estruturação coerente à sequência inferencial; e em terceiro trata
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
241
da representação balizada pela indução, perfazendo o processo logicamente
explicitado e que está na generalidade.
Uma crença e uma conexão habitual de ideias são a mesma coisa
(Peirce, 1974, p. 218, CP 7.359, 1873). A conexão de ideias leva ao hábi-
to, ou por outro lado, elas se conectam por similaridade devido ao hábito.
“O reconhecimento de que dois objetos presentes pertencem um ao outro
é um julgamento. Todas as ideias surgem em julgamentos. Este é clara-
mente o caso se eles são causados por ideias anteriores” (Peirce, 1974, p.
218-219, CP 7.360, 1873). O valor intelectual das ideias, então, está tanto
nas qualidades em si mesmas, que elas contêm, quanto na capacidade de
relacionar com as ideias anteriores, de modo a proporcionar as futuras.
O significado intelectual das crenças reside inteiramente nas
conclusões que podem ser tiradas delas e, em última análise, nos
seus efeitos sobre a nossa conduta. Pois não parece haver qualquer
distinção importante entre duas proposições que nunca podem
produzir resultados práticos diferentes (Peirce, 1974, p. 218-219,
CP 7.360, 1873, tradução nossa).
São as crenças que norteiam as ações, a conduta é a medida do efeito
prático sobre aquilo que é tido enquanto hábito, ou a modificação dele. A
avaliação intelectual é o julgamento que permite definir a conduta em fu-
turo. “Assim, o pensamento só é racional na medida em que se recomenda
a um possível pensamento futuro. Ou, em outras palavras, a racionalidade
do pensamento está em sua referência a um possível futuro” (Peirce, 1974,
p. 219, CP 7.361, 1873). O pensamento é mediado por aquilo que acre-
ditamos na direção de nossas ações, o hábito nos dá a segurança de não
ser necessário decidir e julgar a cada novo movimento, uma vez que nosso
hábito é uma associação de ideias já conhecidas, nas quais acreditamos e
julgamos acertadas.
Mas nenhuma ação mental parece ser necessária ou invariável
em seu caráter. De qualquer maneira que a mente tenha reagido
sob uma dada sensação, é mais provável que reaja dessa maneira;
No entanto, se isso fosse uma necessidade absoluta, os hábitos se
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
242
tornariam de madeira e inerradicáveis e não restaria espaço para a
formação de novos hábitos, a vida intelectual chegaria a um fim
rápido. Assim, a incerteza da lei mental não é um mero defeito
dela, mas é ao contrário de sua essência. A verdade é que a mente
não está sujeita à “lei” no mesmo sentido rígido que a matéria é. Só
experimenta forças suaves que simplesmente tornam mais provável
que ele aja de uma determinada maneira do que seria de outra
forma. Sempre permanece uma certa quantidade de espontaneidade
arbitrária em sua ação, sem a qual estaria morta (Peirce, 1974, p.
108, CP 6.148, 1892, tradução nossa).
Ser determinado ou estar sujeito ao acaso é um questionamento que
tem âmbito filosófico. O Método Pragmático, a Semiótica dá instrumen-
tos para a realização da ação e sua representação é decorrência desta ação.
Entender a evolução não é necessariamente recorrer a todas as variáveis que
implicam em determinação ou espontaneidade.
A experiência fornece a informação capaz de ser confrontada com a
lei, com a generalidade do hábito. O parâmetro de acontecimentos ante-
riores está contido na concepção de generalidade, naquilo que a represen-
tação dá conhecimento. O ato atualiza aquilo que está previsto, realizando
a expectativa, ou contrariando, a partir daquele evento em particular. É
pela experiência que a mera possibilidade tem o teste de realidade que
confirma a lei. A possibilidade de ser falível está sempre presente, assim
como a possibilidade de alterar o hábito e ser o interpretante final de um
encadeamento, que proporcionará um novo hábito. A relação de ação pelo
raciocínio antecipa as possibilidades factíveis.
O hábito presente no raciocínio humano tem o caráter de mente
que é universal, estende-se aos fenômenos e acontecimentos físicos que
tem continuidade. As considerações sobre cosmologia aparecem nesta
constatação na qual também o universo, e o tempo, mostra continuidade,
tem mente e hábito. Em correspondência sobre cosmologia para Christine
Ladd-Franklin, Peirce coloca a tendência à formação de hábitos.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
243
Entre estes, temos do nosso lado um estado de coisas em que há
uma espontaneidade absoluta contrária a toda a lei, e algum grau
de conformidade com a lei, que está constantemente aumentando
devido à crescimento do hábito. A tendência para formar
hábitos ou tendência a generalizar é algo que cresce por sua
própria ação, pelo hábito de fazer crescer os próprios hábitos.
Estes primeiros germes surgiram de puro acaso. Havia pequenas
tendências para obedecer às regras que tinham sido seguidas, e essas
tendências eram regras que eram cada vez mais e mais obedecidas
por sua própria ação. Houve também ligeiras tendências para fazer
o contrário do que anteriormente, e estes se destruíram. Com
certeza, às vezes eles seriam fortalecidos pela tendência inversa,
mas quanto mais fortes se tornassem, mais tenderiam a destruir-
se. Quanto à parte do tempo no outro lado da eternidade que leva
de volta do futuro infinito para o passado infinito, evidentemente
procede por contrários (Peirce, 1974, p. 214-215, CP 8.317, 1891,
tradução nossa, grifo nosso).
Matéria é mente morta, cristalizada em seus hábitos (Peirce, 1974,
p. 215, CP 8.318, 1891). A história do surgimento do universo acontece
quando matéria e energia se relacionam para o surgimento do cosmos,
onde a ação continuada indefinidamente faz surgir, a partir do hábito que
regula esta continuidade, a mente que governa o universo. E mente apren-
de com a experiência, tem o agrupamento da matéria nas formas pelas
quais seus hábitos determinam. A relação entre mente e matéria, na qual a
mente perde sua plasticidade de multiplicar seus interpretantes, e se torna
empedernida em seus próprios hábitos, tem um princípio de explicação
quando Peirce trata dos estímulos físicos. Esta passagem da generalidade,
por meio da potencialidade de vários na primeiridade que tende a unifor-
midade, à geração de lei pelo hábito é uma busca da explicação metafísica
para as conclusões obtidas pela lógica que Peirce aplica à sua cosmologia.
O hábito e continuidade são instâncias próximas, e vale lembrar que
a definição, a conceituação passa por definições subsequentes que visão
este aprimoramento da condição caracterizada na representação.
Peirce quando retorna à questão mente e matéria para as considera-
ções sobre o raciocínio, julga que o ser humano segue as mesmas leis que
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
244
regulam o cosmos, e a mente humana é um caso entre todos os outros
componentes do universo. A diferença talvez seja uma atenção especial
do conhecimento humano sobre aquilo que divulgamos entender, e então
compartilhar esta vivência de conhecimento, como é pertinente à Ciência
da Informação.
Isso nunca pode ser explicado, a menos que admitamos que os eventos
físicos são apenas formas degradadas ou subdesenvolvidas
de eventos psíquicos. Mas uma vez conceda que os fenômenos
da matéria são apenas o resultado da influência sensivelmente
completa dos hábitos sobre a mente, e só resta explicar por que,
no protoplasma, esses hábitos são, até certo ponto, quebrados, de
modo que, de acordo com a lei da mente, nessa cláusula especial
que às vezes é chamada de princípio da acomodação, o sentimento
se intensifica. Agora, a maneira pela qual os hábitos geralmente são
quebrados é essa. As reações geralmente terminam na remoção de
um estímulo; pois a excitação continua enquanto o estímulo estiver
presente. Assim, os hábitos são modos gerais de comportamento
associados à remoção de estímulos. Mas quando a remoção
esperada do estímulo não ocorre, a excitação continua e aumenta,
e reações não habituais acontecem; e estes tendem a enfraquecer o
hábito (Peirce, 1974, p. 172-174, CP 6.264,1892, tradução nossa,
grifo nosso).
O processo de aprendizagem, em uma base fisiológica no sistema
nervoso, se dá por formação de hábito (Peirce, 1974, p. 206-208, CP
1.390, 1890). E este princípio fisiológico, enquanto modalidade de uma
lei mecânica, é fortalecido a cada novo experimento, enquanto os outros
estímulos de causa e efeito tenderão a enfraquecer ou desaparecer. Esta
base fisiológica vem de uma observação aparentemente óbvia do estímu-
lo de aprendizagem de uma criança quando começa a andar. Podemos
estender ao ginasta que treina o músculo tanto quanto ao reforço neuro-
nal que fortalece a memória, uma vez que são estímulos semelhantes. O
hábito estará estabelecido ao retirar o estímulo e o comportamento ainda
se manter, então a conclusão de Peirce é que o estabelecimento do hábito
nesses casos de ação mecânica é remover a fonte de estímulo. “Ora, é
precisamente a ação de acordo com as causas finais que distingue a ação
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
245
mental da ação mecânica; e a fórmula geral de todos os nossos desejos
pode ser tomada como esta: remover um estímulo” (Peirce, 1974, p. 209,
CP 1.392, 1890). A generalidade que perfaz o hábito será o aprendiza-
do, a terceiridade alcançada, que parte da primeiridade e pode então no
método pragmático, com vistas ao objetivo a ser alcançado num processo
ético, confirmar o hábito.
É claro que a inteligência não consiste em sentir de uma determinada
maneira, mas em agir de uma determinada maneira. Apenas,
devemos reconhecer que existem ações internas – o que pode ser
chamado de ações potenciais, isto é, ações que não ocorrem, mas
que de alguma forma influenciam a formação de hábitos (Peirce,
1974, p. 188-189, CP 6.286, 1893, tradução nossa).
O planejamento prévio para ação futura está baseado no conhecimen-
to instaurado por um hábito que nos dá garantia de que a suposição pos-
sa ser concretizada com correspondente ação. Aquilo que mais tarde Peirce
chamou de “sugestão associativa” (Peirce, 1974, p. 295, CP 5.441, 1905)
é a maneira de levar o hábito adiante sem o planejamento ser projetado de
maneira a comprovar a execução, mas apenas uma consecução3 de ideias.
[...] para Peirce, a mente humana é uma rede de hábitos incrivelmente
complexa e hierarquicamente ordenada, sendo que alguns desses
hábitos se devem aos esforços da própria mente. De acordo com
Peirce, a maior parte de nossos hábitos não resulta da atividade da
mente. A maioria deles vem da constituição inata de nossos corpos
ou do curso real de nossa experiência. No entanto, uma parte
importante, embora pequena, de nossos hábitos vem do que Peirce
chama de “ações internas”, “ações que não ocorrem, mas que de
alguma forma influenciam os hábitos” (Colapietro, 1989, p. 113).
Uma vez que hábitos são maneiras de ação, cabe a seguir expor a má-
xima pragmática, tomada enquanto método que conduz a relação do sujei-
to e seu ambiente. Esta continuidade entre percepção, ação, representação,
O termo consecução em Filosofia significa uma série de representações puramente empíricas, sem a ligação
lógica ou racional que caracteriza a consequência. Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/
lingua-portuguesa/consecu%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 26 set. 2019.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
246
perfazendo uma significação na qual os três elementos signo, objeto e inter-
pretante são entrelaçados, não excluindo necessariamente nenhum dos três
elementos para sua constituição, é a base da semiose e do procedimento que
alia o direcionamento ético na determinação da conduta. A ação se encami-
nha para a significação em futuro, delimitada pelo objetivo a ser alcançado.
Objetivo este que não é uma mera projeção de um produto a ser executado,
mas a decorrência da ação conduzida com o maior acerto possível na direção
traçada. Ser falível e passível da atuação do acaso, de imprevisibilidades é
parte da ação humana, que é parte do cosmos permeado por signos, inde-
pendentemente da escala na qual os fenômenos aconteçam.
A constante aquisição de racionalidade, de evolução do conheci-
mento é a premissa que move a pesquisa científica. A semiose, enquanto
processo de significação genuíno, implica nesta continuidade, caracteriza-
da por Peirce como Sinequismo.
O sinequismo, como uma teoria metafísica, é a visão de que o
universo existe como um todo contínuo de todas as suas partes, sem
parte sendo totalmente separado, determinado ou determinado, e
continua a aumentar em complexidade e conectividade através da
semiose e da operação de um poder irredutível e onipresente de
generalidade relacional para mediar e unificar substratos. Como
programa de pesquisa, o sinequismo é uma máxima científica
para buscar continuidades nas quais as descontinuidades são
consideradas permanentes e buscar relações semióticas onde se pensa
existir apenas relações diádicas. O sinequismo e o pragmatismo
se apoiam mutuamente: o sinequismo fornece uma base teórica
para o pragmatismo, enquanto o uso da máxima pragmática para
identificar as consequências concebíveis da atividade experimental
enriquece o conteúdo da teoria, revelando e criando relações
(Esposito, 2005, p. 1, grifo nosso).
A realidade é confrontada mediante os processos que envolvem pri-
meiridade, secundidade e terceiridade, e estes pensamentos ou signos estão
ativos e dinâmicos. Este significado está atrelado à geração de novos sig-
nos, os interpretantes, ou dito de outra maneira, os efeitos apropriados de
significação obtidos pela relação anterior dos signos (Peirce, 1974, p. 326,
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
247
CP 5.475, 1898). Signo, objeto, interpretante em uma relação genuína,
evolucionária fazem da relação signo-objeto não uma representação diádi-
ca de estar no lugar do outro apenas, mas é o envolvimento, o surgimento
do terceiro, o interpretante junto desta relação que é capaz de apresentar
um outro signo. A secundidade que apresenta a factualidade, o confronto
com a existência e então com a experiência proporciona a evolução do in-
terpretante que não se apresenta degenerado em uma relação diádica, em
significante correspondendo ao significado.
Eu carrego a doutrina até onde sustento que a continuidade governa
todo o domínio da experiência em cada elemento dela. Assim, toda
proposição, exceto na medida em que se relaciona com um limite
inatingível de experiência (que eu chamo de Absoluto), deve ser tomada
com uma qualificação indefinida; pois uma proposição que não tem
relação alguma com a experiência é desprovida de todo significado
(Peirce, 1974, p. 343-344, CP 7.566, 1892, tradução nossa).
A máxima pragmática é concebida como o planejamento para tra-
zer à verdade um conceito, crença ou hipótese à medida que o processo
acontece, pois esta relação é inerente ao pragmatismo (Liszka, 2013). E
nesta definição temos incluídas as categorias de modo que na primeiridade
a abdução pode aventar a hipótese, na secundidade a crença pode testar a
viabilidade por meio da experiência, para na terceiridade a representação
no conceito marque a generalidade. E esta representação não significa uma
verdade acabada enquanto produto, mas todo o processo está incorporado
neste bem ao qual se destina a conduta.
De acordo com o sinequismo, não há nada sobre a atualidade que
apenas é. De um lado, a atualidade retém um elemento de acaso
arbitrário, um elemento fortuito que a predispõe a ser algo distinto
daquilo que é. De outro lado, a lei do hábito prescreve que os
eventos atuais não podem escapar do governo das leis. (Santaella,
2007, p. 148).
A espontaneidade do acaso em primeiridade quando tornado factua-
lidade em secundidade, traz o lugar e tempo, a contextualização, marcando
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
248
o caso especial em representação, da generalidade que governa as leis em
terceiridade.
A evolução do processo de significação, de toda mente capaz de
aprender com a experiência, tem na definição de Sinequismo (Peirce,
1974, p. 117, CP 6.169, 1902) a ideia de continuidade, ou seja, hipóteses
verdadeiras envolvendo continuidade, enquanto continuidade do pensa-
mento filosófico. É necessário sempre ter em consideração que a concep-
ção de filosofia peirceana não é essencialmente metafísica, não está além
daquilo que está sujeito às leis da natureza. Entender o fenômeno, a partir
da Fenomenologia, pela articulação das hipóteses, mediados pelos signos
na Semiótica, é o transcurso possível do sinequista, considerando possível
nova abordagem nos casos em que o processo resulte falível, uma vez que a
continuidade “é a generalidade perfeita de uma lei de relacionamento” rea-
lizada (Peirce, 1974, p. 117, CP 6.172, 1902). O hábito e a continuidade
se apresentam enquanto complementação das partes do processo evolucio-
nário, como será visto mais adiante.
Ser consciente do processo de pensamento executado pelo indivíduo
pressupõe o pensamento já em desenvolvimento. A representação está de-
lineada e implica em tomada de decisão para continuidade, ou seja, a de-
terminação da conduta implica nesta tomada de decisão para continuidade
daquilo que é existente (Silveira, 2002). A manifestação fenomenológica
desta tomada de decisão é a inserção do pensamento, no contínuo, no
avanço desta posição na qual a consciência da significação tem lugar, base-
ado na realidade representada conscientemente pelo indivíduo.
A ligação entre o signo e seu objeto na informação ao interpretante
daquilo que tem a realidade apresentada é o motor da comunicação em
níveis diferentes de significação. A interposição das três categorias movi-
menta a transposição entre a representação e o fato bruto, perfazendo a
contínua mediação.
Sem negar o papel imprescindível da experiência em toda
representação e jamais pretendendo que, por esta, esgote-se toda
a realidade, nada mais sobrando do que um resíduo inacessível ao
questionamento racional ou ao diálogo da razão, ao contrário, pelo
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
249
sinequismo se reconhecerá que não há experiência que não se insira
em um processo de generalização, sendo, esta última, expressão da
própria continuidade. Também, suscitada pelo objeto, a experiência
dará o único impulso suficiente para mover a razão a mais e mais
investigar (Silveira, 2002, p. 109).
O pragmatismo está preocupado com a consequência de uma re-
lação que liga o antecedente ao consequente, não apenas o consequente
nele mesmo. E esta pretensa solução não é o resultado obtido para um
problema, mas é o resultado alcançado porque a solução foi previamente
aventada (Rosenthal, 1994).
[O sinequismo é] essa tendência do pensamento filosófico que
insiste na ideia de continuidade como de importância primordial
na filosofia e, em particular, na necessidade de hipóteses envolvendo
a verdadeira continuidade (Peirce, 1974, p. 117, CP 6.169, 1902,
tradução nossa).
A possibilidade infinita de continuidade não impede a justificação
da hipótese que explica o fenômeno, mas o sinequista mantém a conti-
nuidade, que é nada além “da busca de uma generalidade perfeita de uma
lei de relacionamento” (Peirce, 1974, p. 117, CP 6.172, 1902). Quando
Peirce diz que o sinequista “generaliza aquilo que a experiência lhe impõe”,
uma vez que a compreensão está na capacidade de representação, afirma
que “a própria realidade, em sua maneira de ver o assunto, nada mais é do
que a maneira pela qual os fatos devem ser finalmente compreendidos
(Peirce, 1974, p. 117-118, CP 6.173, 1902, grifo nosso). A maneira como
os fenômenos devem ser compreendidos, a partir da lei, da generalização,
na continuidade percebida ou decorrente do hábito é aquilo que pode ser
inteligível a partir da experiência, e daquilo que a partir dos fenômenos
num encadeamento de relações entre os signos pode ser representado.
[...] continuidade é um elemento indispensável da realidade, e
que a continuidade é simplesmente o que a generalidade se torna
na lógica dos relativos, e assim, como a generalidade, e mais do
que a generalidade, é um assunto de pensamento e é a essência
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
250
do pensamento [...] Agora, o motivo para aludir a essa teoria é
que, assim, pode-se colocar em uma luz forte uma posição que o
pragmaticista mantém e deve manter, seja essa teoria cosmológica
em última instância sustentada ou explodida, ou seja, que a
terceira categoria - a categoria de pensamento, representação,
relação triádica, mediação, terceiridade genuína, terceiridade como
tal – é um ingrediente essencial da realidade, mas por si só
não constitui realidade, uma vez que essa categoria (que nessa
cosmologia aparece como elemento do hábito) não pode ter um
ser concreto sem ação, como um objeto separado para trabalhar
sobre o qual seu governo, assim como a ação não pode existir sem o
ser imediato do sentimento sobre o qual age (Peirce, 1974, p. 290-
292, CP 5.436, 1905, tradução nossa, grifo nosso).
O ser imediato tem a ação realizada por meio do sentimento. A re-
alidade se acomoda ao hábito na percepção desta ação que é executada na
atualidade. A reposição da generalidade mantém a continuidade. A ação
é manifestação da terceiridade, modalidade de representação, a realidade
formada de maneira concreta.
O Sinequismo “é primordialmente um pressuposto semiótico
(Silveira, 2002, p. 110). A representação tem concepção dialógica, estabe-
lece contínua mediação entre signo, objeto e interpretante. E isto confirma
a posição realista de Peirce na visão de Silveira, pois “s[...] e o conhecimen-
to é generalizante, isso decorre da própria realidade conhecida ser dotada
de generalidade” (Silveira, 2002, p. 110). Uma vez que é um pressuposto
semiótico é a natureza geral, contínua e evolucionária da realidade, o fato
de ser considerada ontologicamente é aquilo que se sustentará para ser
compreensível, pois esta compreensão decorre das próprias representações
(Silveira, 2002, p. 110). A representação é o que estabelece seu princípio
ontológico de existência, então a representação é a própria criação de reali-
dade com possibilidade de experienciação.
A caracterização de Peirce para o sinequismo é de um princípio regu-
lador da lógica, não enquanto doutrina metafísica, uma vez que é a lógica
quem “prescreve que tipo de hipótese é adequada para ser tratada e exami-
nada” (Peirce, 1974, p. 117-118, CP 6.173, 1902). A abertura do processo
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
251
de significação a uma hipótese que pode ser tratada e examinada repõe a
generalidade a um outro processo de significação, estabelecendo então a
continuidade do geral para uma nova situação em particular, evoluindo
com isto o modo como a lei perpetua aquele modo de relação. O que não
é explicável, ainda não pode ter uma explicação possível. O entendimento
último possível é aquele que ainda está inexplicável, e uma vez que falta
esta última explicação da totalidade das explicações possíveis, a generalida-
de, a lei, o hábito dá conta de suprir a possibilidade de confirmação do caso
particular a ser experienciado numa vez subsequente.
Em suma, o sinequismo equivale ao princípio de que as
inexplicabilidades não devem ser consideradas como explicações
possíveis; tudo aquilo que é suposto ser o último é supostamente
inexplicável; essa continuidade é a ausência de partes últimas
naquilo que é divisível; e que a forma sob a qual somente qualquer
coisa pode ser entendida é a forma de generalidade, que é a mesma
coisa que continuidade (Peirce, 1974, p. 117-118, CP 6.173,
1902, tradução nossa).
A continuidade contida no hábito é capaz de retornar ao evento
particular a partir da generalidade que perfaz esta continuidade, a partir
da ação, da reposição na factualidade que perfaz cada nova ação. Repõe
a evolução no processo pragmático pela experiência na atualidade, na
comprovação da existência do hábito percebida naquela ação particular,
mantendo desta maneira o processo de continuidade que Peirce denomina
Sinequismo.
Referindo-se ao pragmatismo e ao fato do pensamento estar mais
fora de nós do que dentro (Peirce, 1974, p. 188-189, CP 8.256, 1902),
pois perpassa as três categorias (primeiridade, secundidade, terceiridade)
em carta a Willian James, Peirce faz referência ao sinequismo em uma
analogia construtiva, semelhante à aquela feita por ele, quando diz que
deve construir uma arquitetura metafísica em bases sólidas Compara o
Sinequismo ao apoio principal que mantém a construção de um arco com
equilíbrio perfeito, de modo que ele não desmorone. Para ele a natureza
do pensamento “então leva ao sinequismo, que é a pedra angular do arco
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
252
(Peirce, 1974, p. 189, CP 8.257, 1902). O arco edificado é composto
de dois lados opostos construídos simultaneamente e que necessita desta
pedra central para manter ambos unidos e em equilíbrio. A continuidade
entre dois lados, mente e matéria, num processo harmonioso é a contribui-
ção metafisica do sinequismo.
De fato, a grande característica da natureza é sua diversidade. Para
cada uniformidade conhecida, não haveria dificuldade em apontar
milhares de não-uniformidades; mas as diversidades geralmente são
de pouca utilidade para nós, e atraem principalmente a atenção dos
poetas, enquanto as uniformidades são o próprio cajado da vida.
Portanto, quanto maiores e mais amplos forem nossos desejos,
maior será a impressão geral de uniformidade produzida sobre
nós pela contemplação da natureza como ela nos interessa (Peirce,
1974, p. 78-81, CP 6.100, 1892, tradução nossa).
Assim como estamos preparados para perceber aquilo que já conhe-
cemos, os padrões presentes no ambiente nos dão a segurança de ação. A
uniformidade, como está descrita acima é uma maneira de representar o
conhecimento, aquela informação que norteia nossas ações.
O Sinequismo enquanto processo tem características que permi-
tem procurar a verdade de maneira continuada. O interpretante final está
numa próxima significação, aquele obtido, que é o mais adequado à si-
tuação tem numa relação triádica genuína a possibilidade aberta para o
próximo encadeamento.
A contraposição à dualidade de substâncias mente-matéria do en-
tendimento filosófico do pensamento ocidental, especialmente o cartesia-
nismo que considera as duas substâncias diferentes, existe a visão monista
peirceana chamada por ele Idealismo Objetivo (Peirce, 1974, p. 20, CP
6.24, 1891) na qual a grande lei que rege o universo é a lei da mente
(Santaella, 2007).
A teoria do idealismo objetivo de Peirce é uma metafísica que
concebe o universo como uma grande mente cósmica, inclui a
matéria e a lei física em um fim de um contínuo ideal, concebendo-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
253
os como os fenômenos mais regulares do universo, e prevê uma
vitalidade do sentimento como primordial na natureza (Guardiano,
2011, p. 201).
A conaturalidade entre o objeto experienciado e a experiência da
consciência, ou experiência mental, é mediada pelos signos, objetividade e
subjetividade, representados pelo alcance dos signos, portanto de significa-
ção (meaning). Este diálogo entre signo e objeto, ou linguagem e realidade,
vistos enquanto um processo conatural está presente na doutrina peirce-
ana do Idealismo Objetivo, em que ele reconhece que objeto e signo são
idealidades (Ibri, 2012). Uma vez que o conhecimento do mundo externo
determina esta visão de mundo internamente, esta interioridade apenas se
concretiza por meio da ação, pois a potencialidade da internalização, quan-
do experienciada, torna-se uma escolha efetiva. É a partir desta mesma
natureza entre o pensamento e o mundo experienciado, nesta conaturali-
dade, que o pensamento, por meio dos signos, pode fazer a mediação entre
o mundo interno dos pensamentos e a realidade, estabelecendo um diálogo
por meio dos signos, semioticamente (Ibri, 1992).
A teoria inteligível do universo é a do idealismo objetivo, que a
matéria é mente refinada, hábitos inveterados tornando-se leis
físicas. Mas antes que isso possa ser aceito, ele deve mostrar-se capaz
de explicar a tridimensionalidade espaço, as leis do movimento
e as características gerais do universo, com clareza matemática e
precisão; não menos do que deveria ser exigido de toda filosofia (Peirce,
1974, p. 20-21, CP 6.25, 1891, tradução nossa, grifo nosso).
A extensão de mente à matéria enquanto hábitos tão arraigados que
constituem a própria materialidade são uma das concepções peirceanas
que, no decorrer desta pesquisa implicam num desenrolar de seu trabalho
intelectual ao longo dos anos. O transcurso da evolução filosófica mostra
o pensamento lógico humano enquanto uma das etapas do continuum, a
generalidade enquanto lei independe do conhecimento humano, porém a
inteligibilidade estrutura a filosofia e amplificação do pragmatismo.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
254
As três categorias são consideradas um inventário das maneiras pelas
quais vivenciamos os fenômenos, portanto são formas de como a realidade
se apresenta (Ibri, 2012). É pela fenomenologia o contato do sujeito com
o mundo que é experienciado a cada nova apreensão feita por ele, e então,
em modos diferentes de consciência, a relação se apresenta entre o sujeito
e a realidade vivenciada a cada momento. Uma vez que as categorias per-
meiam tanto o sujeito quanto o mundo, elas se mantêm numa interlocu-
ção, em uma movimentação entre linguagem e experiência ao fazer uma
relação fundamental para significação.
Colapietro (1989) ressalta que a continuidade entre aquilo que é
proferido e interpretação, ou seja, entre o processo como o signo é gerado
por uma fonte e a atividade pela qual um interpretante é compreendido
como tal, são dois lados do mesmo processo. A representação então é a ma-
neira de tornar eficiente esta relação entre o sujeito pensante e o mundo,
representação é o modo como a mediação atua.
O realismo peirceano, ao longo do tempo, aprimora aquele
assumido por Duns Scotus. Mas é naquele autor que encontra as
distinções necessárias para iniciar a busca de seu fundamento. Na
distinção entre estar na mente, ou fora da mente (in re, como a
escolástica de Scotus se expressava) encontra-se a distinção entre o
universal e o singular. Ambos são completos em si mesmos, sendo
dois modos de ser no âmbito da realidade. A simples essência é
indeterminada quanto ao modo de ser daquilo que representa. No
confronto com a experiência, os seres são atuais: agem e reagem,
afirmam-se em sua insistência. São o que são em si próprios,
mantendo com os outros seres meras relações de alteridade e
confronto (Silveira, 2001, p. 106).
Uma vez que é pela mediação a maneira pela qual é feita a concilia-
ção entre as condutas, entre signo e objeto, na terceiridade, na possibilida-
de de generalização, quando a razoabilidade da terceiridade se opõe a força
bruta da secundidade, o sujeito a partir desta consciência da alteridade,
do outro, é capaz de incorporar sua representação e planejamento de ação
futura (Ibri, 2012).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
255
Se tomarmos a relação entre o homem e a realidade, dois seres
interativos, poderíamos dizer que nosso conhecimento de qualquer
objeto real é o modo como representamos seu comportamento
futuro. Se essa representação for verdadeira, a saber, se pudermos
simular eficientemente a maneira como esse objeto age, em outras
palavras, suas leis, então poderemos prever sua conduta e, assim,
também podemos planejar nossa própria conduta antes dela. De
acordo com essa linha de pensamento, uma representação verdadeira
permitirá uma mediação eficiente, onde todo tipo de conflito pode
ser potencialmente reduzido à inteligibilidade e razoabilidade futura.
Agir de um para o outro requer verdadeiramente representar os polos
opostos, derrubando sua oposição, encontrando uma maneira
comum em que ambos podem agir juntos (Ibri, 2012, p. 58).
O planejamento da conduta é necessário, mas não é suficiente. A
experiência não é inferida, ela age diretamente sobre nosso entendimento
da realidade (Savan, 1995). A realidade age sobre a mente e força a verdade
que a experiência comprova ou falseia para filtrar estes pensamentos. A ex-
periência força o entendimento de uma determinada maneira, aquela que
está sendo apresentada. Nos torna então conscientes de alguma coisa que é
independente daquilo que pensamos, porque por meio da experiência ela
se apresenta tal qual ela é, mostrando sua alteridade na relação.
E a própria existência se constitui em potencialidades que interagem
e que, assim, por poucos instantes, negam tudo que não são elas,
tendendo a se agruparem por semelhança e, com isso, deixarem
na sombra um imenso e ilimitado universo de qualidades que,
não vindo à existência, nem por isso deixam de ser no âmago do
infinito mundo das ideias (Silveira, 2006, p. 305).
O método científico na interação com o objeto tem a finalidade de
representar este objeto com a maior veracidade possível. A representação nos
legisignos é o que possibilita a comprovação de uma teoria, independente-
mente da área de conhecimento. O realismo Peirceano supõe que para haver
uma terceiridade verdadeira, com generalidade, a referência na secundidade,
a factualidade com sinsignos apontam para legisignos enquanto represen-
tação, e assim é mantido o diálogo entre as teorias e a experiência que dá
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
256
validade às teorias (Ibri, 2012). A indiferenciada substanciação das categorias
sustenta tanto as operações de semiose quanto a realidade dos objetos apre-
sentados à mente (Ibri, 2012, p. 60). A semiose apresenta consistente e lo-
gicamente esta relação que representa uma ordem intrínseca aos fenômenos
que se apresentam a mente com o suporte da fenomenologia.
Na visão nominalista, na qual a linguagem descreve os fenômenos
para dar sentido à realidade, o significado é possível a partir de um uma
essencialização” numa metafísica que é separada da realidade objetiva
(Ibri, 2012, p. 60), mantendo desta maneira a dualidade mente e matéria
cartesianas, na qual o entendimento do mundo se dá apenas internamente.
Na filosofia de Peirce, o conceito de hábito medeia os da mente e da
matéria, de modo a evitar o dualismo ontológico tão característico
de tantos pensamentos modernos. A fim de apreciar sua afirmação
de que a matéria é mente confinada ao hábito, é preciso apreciar
o continuum de hábitos, que vão desde hábitos virtualmente
imutáveis a hábitos prontamente modificáveis. Isso é tanto uma
forma de materialismo (ou fisicalismo) quanto uma forma de
idealismo, embora Peirce tendesse a enfatizar sua aliança com o
idealismo objetivo (ver, por exemplo, CP 6.277; cf. MS 649, 19)
(Colapietro, 2009, p. 354).
Uma vez estabelecida a continuidade entre mente e matéria, entre a
crença e aquilo que a mente tem enquanto hábito de conduta da qual trata
o Sinequismo, podemos tratar do Tiquismo e Agapismo. O hábito man-
tido pela crença tem no acaso a possibilidade da quebra de continuidade.
“Tiquismo, ou a doutrina na qual o acaso absoluto é um fator do universo
(Peirce, 1974, p.137-138, CP 6.201, 1898).
A relação mente matéria, e a incorporação de hábitos conformando
a matéria solidificada, são instrumentos para a compreensão do conheci-
mento na concepção peirceana em uma dimensão que extrapola a raciona-
lidade do conhecimento humano. A evolução e aquisição de conhecimen-
to são a maneira de evolução do universo.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
257
O ponto de partida do universo, Deus, o Criador, é o Primeiro
Absoluto; o término do universo, Deus completamente revelado,
é o Segundo Absoluto; todo estado do universo em um ponto
mensurável de tempo é o terceiro [...] Mas se o seu credo é que todo o
universo está se aproximando no futuro infinitamente distante, a um
Estado que tem um caráter geral diferente daquele em que olhamos
para trás num passado infinitamente distante, você faz o absoluto
consistir em dois pontos reais distintos e é um evolucionista (Peirce,
1974, p. 167-168, CP 1.362, 1890, tradução nossa).
A convergência em direção à verdade é o fio tensor que mostra a evo-
lução da mente, onde quer que ela esteja corporificada. Os percalços fazem
parte do processo e incorporam aprendizado em direção à razoabilidade:
A objetividade do Real e a transcendência da Verdade, com as quais
toda semiose está comprometida não se contradizem, apesar da
aparência o caráter falível de todo pensamento. Poder-se-ia dizer
que todo pensamento em sua precariedade, encontra-se em um
campo de tensão para o Real e para verdade, fazendo com que sua
aventura por todos os descaminhos que sofra e, em parte devido
a eles mesmos, encaminhe-se convergentemente para uma única
direção (Silveira, 2001, p. 91).
Viana (2014) considera a filosofia de Peirce pertencente às “filosofias
de processo”, na qual a explicação do universo está em sua cosmologia,
como faziam os gregos. A expressão “No-thing”, como é a caracterização
da língua inglesa para coisa nenhuma, está para o nada inicial da abertura
de possibilidades na primeiridade. Ser só possibilidade implica em não ha-
ver atualidade, na secundidade, nem lei natural na terceiridade, portanto
nenhum Hábito (Viana, 2014). O acaso deixa espaço para as leis físicas
não serem deterministas, uma vez que as possiblidades de exceção também
fazem as regras. O acaso contribui para a formação tanto da regra quanto
da sua contraposição.
Peirce afirma, contra o determinismo, que as leis físicas não são
absolutas e, portanto, deixam espaço para o acaso. Pode-se pensar
numa evolução do caos para a razão. O mundo ainda não está
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
258
completamente determinado, porque estamos em meio a evolução.
Quanto mais tempo a evolução gasta, mais determinação e menos
aleatoriedade se encontram, embora este processo não conheça um
fim (Viana, 2014, p. 73-74).
A generalidade de uma mente que aprende com a experiência extra-
pola o âmbito racional da mente humana no entendimento de Peirce. E
uma vez que todo o universo apreende com a experiência, a mente é uma
inteligibilidade cósmica que permeia inclusive o pensamento humano e
sua capacidade de representação, que tem mais sofisticação em alterar os
elementos da natureza com sua ação do que outros animais. O processo
evolucionário, cria por razoabilidade o cosmos evolucionário. Esta criação
de inteligibilidade é parte do processo criativo do universo que se mate-
rializa. Mente com hábitos enraizados, transformando matéria em hábitos
empedernidos. Este crescimento da razoabilidade permite explicar o ser
humano e também todo o universo (Barrena, 2003, p. 53).
Essa tendência em si constitui uma regularidade e está continuamente
aumentando. Ao olhar para o passado, estamos olhando para períodos
em que era uma tendência cada vez menos decidida. Mas sua própria
natureza essencial é crescer. É uma tendência generalizadora; faz com
que ações no futuro sigam alguma generalização de ações passadas;
e essa tendência é em si algo capaz de generalizações semelhantes; e
assim, é autogerador. Temos, portanto, apenas que supor o menor
rastro dele no passado, e que o germe teria que se transformar em
um princípio poderoso e excessivamente dominante, até que se
sobreponha, fortalecendo os hábitos em leis absolutas, regulando
a ação de todas as coisas todo respeito no futuro indefinido. De
acordo com isto, três elementos estão ativos no mundo: primeiro,
acaso; segundo, lei; e terceiro, o hábito (Peirce, 1974, p. 223-224,
CP 1.409, 1890, tradução nossa, grifo nosso).
Ocorrências do acaso, percebidas como existência em formas por
meio dos sentimentos, estão materializadas e são fortalecidos pelo hábito.
A autogeração vinda da mais longínqua semente provida pelo acaso, por
meio do hábito, tem a generalidade de lei, e é na reposição do caso parti-
cular, remetendo-se a lei geradora a chance de mudança.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
259
Ainda assim, uma vez que a representação é uma criação de ideali-
dade, esta criação de uma “teoria mecânica da vida” é plausível, e um “ide-
alismo Tchico” é complemento indispensável (Peirce, 1974, p. 20-21, CP
6.265, 1892). Para lei advinda da ação e reação da força bruta da secundi-
dade, valendo a experiência em cada ação particular, existe a possibilidade
de ter ocorrências vindas ao acaso transformar a representação em uma
outra diferente daquela apresentada.
Assim, vemos que o idealista não tem necessidade de temer uma
teoria mecânica da vida. Ao contrário, tal teoria, plenamente
desenvolvida, está fadada a chamar um idealismo tchico como seu
complemento indispensável. Onde quer que a espontaneidade ao
acaso seja encontrada, existe na mesma proporção o sentimento.
De fato, o acaso é apenas o aspecto externo daquilo que dentro de
si mesmo está sentindo. Há muito tempo mostrei que a existência
real, ou tornar-se coisa, consiste em regularidades. Assim, aquele
caos primitivo, no qual não havia regularidade, era mero nada, de um
aspecto físico. No entanto, não foi um zero em branco; pois havia
uma intensidade de consciência ali, em comparação com a qual tudo
o que sentimos é apenas como a luta de uma molécula ou duas para
jogar fora um pouco da força da lei para uma infinita e inumerável
diversidade de possibilidade totalmente ilimitada (Peirce, 1974, p.
20-21, CP 6.265, 1892, tradução nossa, grifo nosso).
O acaso e a espontaneidade do sentimento são externados na recons-
trução do conceito e uma vez que está moldado em matéria enquanto gene-
ralidade são complementares. A idealidade e o sentimento estão permeados
em vários níveis. A formação da mente enquanto constituição de regularida-
de tem no acaso um elemento fundamental, com a mesma importância de
determinação que exerce o hábito nesta regularidade representada.
Peirce discorre sobre a evolução das espécies darwiniana e evolução
por necessidade mecânica (Peirce, 1974, p. 136-137, CP 6.200, 1893),
passando desta aquisição de caracteres ao hábito e à lei da mente (Peirce,
1974, p. 201-202, CP 6.301, 1893), na qual a matéria possui hábitos
empedernidos conformados de maneira rígida. A partir deste percurso in-
troduz a classificação dos três modos de ser da evolução (Peirce, 1974, p.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
260
203, CP 6.302, 1893). O primeiro tipo de evolução é feito por acaso,
por variação fortuita, chamado por Peirce Tiquismo. O segundo tipo é
evolução Anacástica feita por necessidade mecânica. A evolução anacástica
sugere uma relação de causa e efeito em uma linearidade, numa relação en-
tre pares que são complementares. O terceiro tipo de evolução é feita pelo
amor criativo, e a lei do amor é denominada Agapismo.
Cada uma destas três espécies tem um representante,
respectivamente: Darwin, Hegel e Lamarck. De acordo
com Peirce, a teoria de Darwin concorda com o primeiro
tipo em que apenas o individualismo mecanicista concede
progresso a evolução. Hegel preenche os requisitos da
segunda hipótese, pois tudo, incluindo a história humana,
é derivado de uma necessidade lógica. Por último, a teoria
de Lamarck corresponde ao último tipo de amor, na medida
em que assevera uma finalidade em todo processo evolutivo
(Viana, 2014, p. 75).
A aleatoriedade e o acaso são fundamentais para esta concepção de-
nominada Tiquismo, pois contribuem para o entendimento desta passagem
daquilo que é espontaneidade em primeiridade para a forma representada
em terceiridade. A diferenciação entre o sentimento e o amortecimento
em matéria conforma as leis da mente à matéria na sua individualidade
enquanto ser, enquanto existente.
[...] o tiquismo deve dar origem a uma cosmologia evolutiva, na
qual todas as regularidades da natureza e da mente são consideradas
produtos do crescimento, e a um idealismo antiquado de Sheliing
que considera a matéria como mera mente especializada e
parcialmente amortecida (Peirce, 1974, p. 86-87, CP 6.102,1892,
grifo nosso)4.
Tiquismo, Anacasticismo e Agapismo são mutuamente operantes no
cosmos. Comparando os eventos ocorridos na evolução proporcionada en-
tre o acaso e a lei da mente, Peirce explica que “Em genuíno Agapismo, por
4 Peirce toma do filósofo alemão Sheliing a constatação da existência pela reação, pela força bruta (CP 1.21, 1903).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
261
outro lado, o avanço ocorre em virtude de uma simpatia positiva entre o
criado que brota da continuidade da mente. Esta é a ideia que ticasticismo
não sabe como administrar” (Peirce, 1974, p. 203-204, CP 6.304, 1893).
Não pode administrar porque segundo Peirce é o amor ágape que conduz
a continuidade em busca ao summun bonum, é ele, o bem a ser alcançado,
que empresta um propósito ao acaso.
Em “Amor evolucionário” (Peirce, 1974, p. 190-215, CP 6.287-317,
1893) Peirce começa o texto afirmando que a filosofia “proclama a grande
atividade evolucionária do universo como amor” (Peirce, 1974, p. 190-191,
CP 6.287, 1893). Os hábitos do universo têm padrões, a continuidade de
evolução tem uma marca que pode ser descrita por uma fórmula matemática
e Peirce, matemático e observador do espaço fora do planeta Terra, exercen-
do os trabalhos profissionais de medição5, conhecia a relação entre estes sig-
nos o bastante para identificar aquilo que matemáticos desde a Grécia Antiga
já conheciam e antes deles os egípcios soberbamente usavam.
A Regra de Ouro usada até hoje para entender os padrões de cres-
cimento na natureza tem uma qualidade ou reconhecimento de beleza,
que é inerente ao ser humano. A constante de Fibonacci, como também
é conhecida, devido ao matemático renascentista que foi o formulador do
padrão e deu nome à fórmula, representado em uma constante numérica,
tem um valor de crescimento que é verificável em seres vivos, em padrões
geológicos e em estruturas do universo conhecido. Mas a harmonia tão
cara aos gregos no uso do padrão áureo para os artefatos, considerados por
eles arte, uma vez que imitam a natureza, estão presentes na mente univer-
sal que reconhece a matéria com formas que evoluem em sintonia.
“Ele foi encarregado dos pesos e medidas da Coast and Geodetic Survey dos Estados Unidos em 1884-85;
era membro da comissão de ensaios de 1888, participava da comissão internacional de pesos e medidas e de
1884 a 1891 foi contratado como assistente especial em pesquisa de gravidade. Mas em 1891, ou porque
suas experiências haviam se mostrado muito caras ou suas operações muito vagarosas, ou por causa de sua
insatisfação com a condução da Pesquisa, ele deixou de trabalhar para o governo e encerrou sua ativa carreira
científica. Foi ele quem primeiro tentou usar o comprimento de onda de um raio de luz como uma unidade
de medida padrão, um procedimento que desde então desempenhou um papel importante na metrologia
moderna. Embora imprecisões tenham sido relatadas, seu trabalho científico foi, em grande parte, elogiado
por homens competentes por sua precisão” (Weiss, 1934). “Peirce, Charles Sanders». Dictionary of American
Biography. Arisbe. Disponível em: https://arisbe.sitehost.iu.edu/menu/library/aboutcsp/Weissbio.htm
Acesso em: 21 mar. 2020.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
262
O movimento do amor é circular, em um mesmo impulso
impulsionando criações à independência e levando-as à
harmonia. Isso parece complicado quando afirmado assim; mas
está totalmente resumido na fórmula simples que chamamos
de Regra de Ouro (Peirce, 1974, p. 191-192, CP 6.288, 1893,
tradução nossa, grifo nosso).
A regra de ouro como ficou conhecida depois da Idade Média é o pa-
drão de crescimento no qual o valor acrescido do seu antecedente, tem um
padrão de soma resultante. Ou seja, 2, 3, 5, 5, 13 e assim sucessivamente
podem ser demonstrados em gráficos, figuras, proporções entre partes do
corpo humano, sequências musicais, crescimento de plantas, quantidade
de partes componentes de plantas, movimento das ondas do mar e outras
infinitas formas, da mesma maneira como e infinita a sequência da propor-
ção (Doczi, 1981). Esta harmonia no padrão de crescimento do universo
foi chamada por Peirce de Ágape, a tendência ao amor em uma forma este-
ticamente conhecida, reconhecida pela inteligibilidade humana.
O amor como está descrito no evangelho de São João, é capaz de
transformar, agir em busca de aperfeiçoamento, cuidado em prol de um
incremento seja de uma flor no jardim, seja no desenvolvimento de ideias,
e este é o evolucionismo contido no sinequismo, a ser perseguido pelo
sinequista (Peirce, 1974, p. 192, CP 6.289, 1893).
O desenvolvimento contém fluxo e refluxo que tende a uma perfei-
ção pré-ordenada. “A existência posta à mostra no seu próprio destino re-
vela uma afinidade intrínseca para o bem” (Peirce, 1974, p. 204, CP 6.305,
1893). O sinequismo vislumbra este elevado objetivo, apesar de não haver
uma demarcação estrita entre os três modos de evolução, e um não excluir
o outro durante seu desenrolar.
Ágape e abdução possibilitam a evolução criativa do universo
de um estado de pura potencialidade a um fim, e o ser humano
participa dessa introdução de nova inteligibilidade por meio de sua
razão criativa (Barrena, 2003, p. 73).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
263
Da mesma maneira, a ação humana é vista como uma decisão de
natureza lógica, quando o raciocínio concretiza um procedimento lógico
pela decisão ética mostrada na ação (Silveira, 2007).
Os tipos de bondade estão relacionados à Estética, Ética e Lógica.
“Há uma variedade especial de bondade estética que pode pertencer a um
representamen, isto é, a expressividade. Há também uma bondade moral
especial de representações, a saber, a veracidade” (Peirce, 1974, p. 86-87,
CP. 5.137, 1903).
A bondade lógica está na excelência do argumento, e ao grau que
avança nosso conhecimento traz uma bondade que Peirce chama quan-
titativa, relacionada à solidez e peso na fundamentação da argumentação
(Peirce, 1974, p. 89, CP. 5.143, 1903). Uma vez que esta busca da verda-
de lógica encaminha o pragmatismo (Peirce, 1974, p. 88-89, CP. 5.142,
1903), esmiuçar as possibilidades semióticas na argumentação é trabalhar
o método pragmatista. “A verdade, como bondade lógica, só pode ser pro-
curada por uma vontade no exercício da liberdade. Ela é, pois, da natureza
da busca do bem, implicando o deixar-se atrair pelo objeto, e consequen-
temente, só por ele deixar-se medir” (Silveira, 2007, p. 223).
O fenômeno ou processo quanto menos sujeito a regras, normas,
convenções ou qualquer tipo de lei cristalizada, mais estará suscetível ao
acaso (Santaella, 2001). Na concepção da autora a mente humana é a rea-
lidade mais plástica de todo o universo, dada a grande maleabilidade para
mudança de hábitos. Assim, os processos criativos têm influências do in-
consciente que não é regido pelas leis da consciência e os atos criativos
incluem o acaso nas situações de intensa concentração e abstração ao que
não seja o ato desempenhado. “É sabido que o acaso tem leis, conforme a
teoria das probabilidades já provou” (Santaella, 2001, p. 123).
A passagem da primeiridade para a terceiridade é explicada como
evolução da mente na cosmologia peirceana. A aquisição de conhecimento
no processo evolucionário tem no próprio desempenho a significação que
leva adiante seu desempenho. A generalidade da representação, da terceiri-
dade na formação do interpretante, tem no novo signo formando o poten-
cial de perpetuação da semiose, e esta relação entre a generalidade da lei, e
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
264
a ocorrência em um caso particular, perpetua o hábito e valida a lei nesta
continuidade.
4.4 cOncepÇÃO DO pRaGMaTisMO
O termo pragmatismo vem dos gregos. Na filosofia moderna “[...]
foi introduzido pela primeira vez na filosofia pelo Sr. Charles Peirce em
1878” (James, 1907, p. 27)
[...] Qualquer doutrina filosófica que fosse completamente nova
dificilmente deixaria de ser completamente falsa; mas os riachos à
frente do rio do pragmatismo são facilmente rastreados até quase
qualquer antiguidade desejada (Peirce, 1974, p. 6-7, CP 5.11,
1907, tradução nossa).
Ação é correnteza que leva o pragmatismo da realidade para a exis-
tência que pode novamente ser realidade. E de acordo com Kant, ensina
Peirce, Antropologia Pragmática é a ética prática e Horizonte Pragmático
é a adaptação de nosso conhecimento geral para influenciar nossa moral
(Peirce, 1974, p. 1, CP 5.1, 1902). A conduta científica deriva desta ação
regida pela moral da comunidade. Assim como a ação não é aleatória, tam-
bém o conhecimento como parte da ação tem representação e aceitação
social como seus componentes.
Considere quais efeitos que poderiam ter orientações praticas,
nós concebemos o objeto que nossa concepção tem. Então, nossa
concepção desses efeitos é a totalidade de nossa concepção do
objeto (Peirce, 1974, p. 91-93, CP 8.119, 1902;) (vide também
Peirce, 1974, p. 1, CP 5.2, 1902; Peirce, 1974, p. 14-15, CP 5.18,
1903; Peirce, 1974, p. 258, CP 5.402, 1905; Peirce, 1974, p. 281-
282, CP 5.422,1905; Peirce, 1974, p. 293, CP 5.438,1905; Peirce,
1974, p. 167-168, CP 8.209, 1905, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
265
Esta é uma das vezes em que a máxima pragmática feita por Peirce
no ano de 1878 no “Popular Science Monthly” é retomada. Ela foi concebi-
da considerando a doutrina da realidade proposta por Kant em “Crítica da
Razão Pura” (Peirce, 1974, p. 1-2, CP 5.3, 1902). Nesta descrição Peirce
ainda discorre que a maneira de tratar a ontologia vem daquilo que apren-
deu com o estudo dos estoicos, e seu posicionamento posterior com relação
à denominação das coisas tratadas por eles, que tem posição nominalista.
A edição feita por Peirce de “Estudos em Lógica”, em 1883, reú-
ne publicações de membros da Universidade John Hopkins. Neste livro
Peirce publica “Uma Teoria de Inferência Provável” (Peirce, 1974, p. 433,
CP 2.694, 1883). Marquand (1983) faz o primeiro texto entre os artigos
compilados no livro e coloca a definição da lógica dos epicurianos e a con-
traposição aos estoicos. Os estoicos numa posição nominalista têm as pala-
vras enquanto ideias das coisas, enquanto os epicurianos veem nas palavras
signos das coisas. A lógica de J. S. Mill (1806-1893), influente pensador
inglês, em contraposição ao nominalismo coloca a filosofia em bases empí-
ricas que influenciam a ciência do século XIX (Marquand , 1983). Peirce
declara que passa dois anos estudando e discutindo Mill (Peirce, 1974, p.
IX, CP 1.4, 1897), dessa forma a influência do pensamento inglês é nota-
damente reconhecida em seu pensamento, haja vista a grande quantidade
de citações do pensador em seus trabalhos6.
Da evolução daquilo que é considerado uma passagem das “impres-
sões” para as “ideias” à maneira de Hume, Marquad (1883) resgata dos
epicurianos a maneira lógica de tratar esta relação. Segundo ele, existem
dois métodos de investigação. O primeiro, sendo um processo preliminar,
procura o significado e o outro o conhecimento das coisas. O segundo, o
conhecimento “[...] é unicamente o verdadeiro e necessário modo de al-
cançar a filosofia do universo” (Marquand , 1983, p. 2). De maneira bem
próxima está fundamentado o pragmatismo peirceano. A relação do mun-
do das ideias e a existência apreendida pela experiência norteia o método
CP 2.29, CP 2.39, CP 2.47, CP 2.341, CP 2.393, CP 2.434, CP 2.741, CP 2.761, CP 4.91, CP 5.138,
CP 5.345, CP 5.276, CP 6.98, CP 6.99, CP 6.384, CP 6.590, CP 7.419, CP 7.396, CP 8.189) Cerca de
vinte vezes.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
266
pragmático, que na maneira concebida por Peirce, incorpora a comunida-
de de investigadores ao compartilhar conhecimento.
A máxima pragmática anuncia sua consideração a respeito do sig-
nificado que não é uma preocupação semântica apenas, mas “[...] um
processo dinâmico que engendra hábitos de ação que informam e regu-
lam operações dos signos” (Liszka, 2009, p. 63). Estas operações pelas
quais os signos proporcionam a mediação entre o objeto e interpretante
estão contidas na semiótica.
As várias vezes que Peirce retoma sua máxima, revisando e amplian-
do pontos de possíveis dúvidas dão a dimensão do extenso trabalho para
a definição de seu método. E então, depois de aceito como verdadeiro, o
método se mostra uma maneira de interação com a realidade, no qual o
pensador maduro trata sua cosmologia.
O fato de Peirce atribuir o nome “Pragmaticismo” em abril de 1905
(Peirce, 1974, p. 328-329, CP 6.482, 1908) para diferenciar seu entendi-
mento de outros conceitos de pragmatismo não impede que ele se refira à
sua máxima, ou ao encadeamento lógico dos signos no processo ético de
busca estética de pragmatismo, pois sua palavra para significar o processo
é esta, pragmatismo. Portanto, para evitar possíveis confusões que possam
acontecer ao ser denominado o processo, aqui devemos entender apenas
a referência à caracterização e às consequências mostradas pelos interpre-
tantes e possibilitadas por Peirce para o pragmatismo que ele caracteriza.
Em 1877, o estudo da probabilidade e o cálculo das chances se apre-
sentam como vantajosos para o estudo da lógica, em sua concepção. O
questionamento de possibilidades e experimentações acontece repetidas
vezes como na seguinte hipótese:
[...] toda inferência sólida pode ser representada por operações
aritméticas legítimas sobre os números dados nas premissas. Se,
isto é, de fato, verdade, o grande problema da lógica, como é que
a observação de um fato pode nos dar conhecimento de outro
fato independente, é reduzido a uma mera questão de aritmética
(Peirce, 1974, p. 393-393, CP 2.648, 1877, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
267
Em 1895 ele usa o tratamento da “doutrina da negação” para a apli-
cação no pragmatismo e ao começar o trabalho explica: “O pragmático
tem em vista um propósito definido na investigação de questões lógicas.
Ele deseja averiguar as condições gerais da verdade (Peirce, 1974, p. 244-
227, CP 2.379, 1895). Assim, ele segue a investigação usando os instru-
mentos de sua capacidade intelectual e justificando as etapas.
É importante a descrição da concepção pragmatista dada pelo pró-
prio Peirce em 1902, quando ele revê sua posição e considera que o axioma
estoico no qual “o fim do homem é a ação” para um homem de sessenta
anos não parece tão “fortemente recomendado” quanto aos trinta anos. E
este é o caminho tomado por James em 1896 quando publicou “Will to
Believee depois “Philosophical Conceptions and Practical Results”, e então
James leva a concepção para mais longe do que deveria (Peirce, 1974, p.
1-2, CP 5.3, 1902), na definição do próprio Peirce para o pragmatismo que
James anuncia, com conceitos que tomam versões diferentes da peirceana.
Peirce explica sua posição e diferenciação à abordagem de James.
A ação não é um fim, ao contrário se encaminha para um fim que é uma
espécie de descrição geral, e o resultado desta concepção geral sendo um
conceito não é um mero guia para fatos práticos. Assim, os conceitos en-
quanto ideias gerais podem ser intérpretes de nosso pensamento em uma
ação particular. O significado de um conceito não está em nenhuma reação
individual, mas uma vez que os fatos práticos se dirigem para uma razo-
abilidade concreta, o significado destas ações está na maneira que elas, as
ações, contribuem para o desenvolvimento da razoabilidade. Ele reescreve
esta definição da seguinte maneira:
A doutrina de que todo o “significado” de uma concepção
se expressa em consequências práticas, consequências tanto
na forma de conduta a ser recomendada, quanto na das
experiências a serem esperadas, se a concepção for verdadeira;
quais consequências seriam diferentes se fossem falsas, e devem ser
diferentes das consequências pelas quais o significado de outras
concepções é, por sua vez, expresso. Se uma segunda concepção
não deve parecer ter outras consequências, então deve ser apenas
a primeira concepção sob um nome diferente. Na metodologia,
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
268
é certo que traçar e comparar suas respectivas consequências é
uma maneira admirável de estabelecer os diferentes significados
das diferentes concepções (Peirce, 1974, p. 1, CP 5.2, 1902,
tradução nossa, grifo nosso).
A ação e expectativa de futuras possíveis ações estão incluídas na me-
todologia que busca o significado, ou seja, a ação em futuro é uma possibi-
lidade inclusa uma vez que se encaminha para um fim de forma processual.
Quando trata da análise crítica das teorias lógicas, em sua “Sinopse
Parcial de um Trabalho Proposto em Lógica” (Peirce, 1974, p. 42, CP
2.79, 1902), trata das categorias, da semiótica e por consequência da re-
lação entre signo, objeto e interpretante, para então fazer referência à má-
xima pragmatista concebida em 1877 e que uma vez atualizada é possível
declarar as razões da regra de uma maneira que deve ser mais científica,
mais convincente e mais definitiva do que antes” (Peirce, 1974, p. 56, CP
2.99, 1902).
A razoabilidade é um bem em si, não um propósito devido à outra
coisa, e o bem final está no processo evolutivo de alguma forma, não em
reações individuais, mas em algo geral e contínuo. E isto não descarta o
princípio anterior no qual os efeitos das concepções práticas fazem parte
deste processo, enquanto fases do crescimento da razoabilidade, uma vez
que o bem final está no processo evolutivo de alguma forma (Peirce, 1974,
p. 2-3, CP 5.4, 1902). O método pragmaticista traz o processo de tornar
contínua a razoabilidade e as ideias gerais se tornam leis enquanto evolução
no contínuo incremento de razoabilidade. O sinequismo parte da lógica
e segundo o método pragmaticista chega à concepção metafísica da evo-
lução contínua da razoabilidade pela aquisição de generalidade e possível
entendimento da lei decorrente desta coalescência7, desta junção daquilo
que estava separado.
Em “Palestra sobre Pragmatismo” (Peirce, 1974, p. 13, CP 5.14,
1903) Peirce faz a defesa da sua concepção de pragmatismo relatando que
a máxima lógica tem sido o guia do seu pensamento e tem se tornado cada
vez mais importante à medida que o tempo passa. Nesta ocasião sustenta
O vocábulo vem da química e indica a união de duas partículas separadas.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
269
que a máxima pragmatista deve ser aplicável não só à filosofia, mas em to-
dos os ramos da ciência por ele estudados, ao ponto de acreditar em poder
conceber a máxima lógica também para a conduta da vida. E então, sendo
uma máxima da lógica e não um princípio da filosofia especulativa coloca
a máxima na forma que chama de teorema filosófico:
O pragmatismo é o princípio de que todo juízo teórico expressável
em uma sentença no modo indicativo é uma forma confusa de
pensamento cujo único significado, se tem algum, está em sua
tendência a impor uma máxima prática correspondente
expressável como uma sentença condicional tendo sua apódose no
modo imperativo (Peirce, 1974, p. 14-15, CP 5.18, 1903, tradução
nossa, grifo nosso).
Apódose8 é o elemento de uma estrutura sintática que encerra o
enunciado. Esta versão da máxima pragmática em um teorema filosófi-
co como denominou Peirce demonstra as variações nas quais ele traba-
lha até a “Arquitetônica construção do Pragmatismo” (Peirce, 1974, p. 3,
CP 5.5) de 1907. E em cada uma das passagens nas quais ele retoma a
máxima, existe a ampliação, explicação de algum aspecto concernente ao
desenvolvimento.
Um hábito, ou o caráter de um hábito, nos faz agir de determinada
maneira, tanto em circunstâncias prováveis, quanto em tantas outras pos-
síveis, sejam elas realizadas ou não. O desenvolvimento do significado por
meio de um pensamento é obtido com a determinação dos hábitos que
este encadeamento pode produzir, “porque o significado de uma coisa é
simplesmente os hábitos que ela implica” (Peirce, 1974, p. 14-15, CP 5.18,
1903). O hábito estimula uma ação a partir de uma percepção e esta ação,
supõe-se, deve ter um resultado desejável, reforçando o hábito. Então de
uma maneira muito simplificada ele aproxima percepção, ação, e hábito
enquanto lei que regula esta relação. A percepção na primeiridade, ação na
secundidade e a terceiridade na lei que regula a generalidade. O pragma-
Apódose é um termo da Retórica. Em uma estrutura sintática de dois membros correlacionados, apódose
é aquele que, subordinante ou condicionante, encerra o enunciado que satisfaz a expectativa criada pelo
primeiro, chamado prótase. Disponível em: https://www.dicio.com.br/apodose/. Acesso em: 12 ago. 2018.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
270
tismo por meio das ciências normativas oferece o método de interação do
sujeito e o ambiente.
Os elementos de todo conceito entram no pensamento lógico
no portal da percepção e fazem sua saída no portão da ação
intencional; e o que não puder mostrar seus passaportes nesses
dois portões deve ser preso como não autorizado pela razão (Peirce,
1974, p. 129-131, CP 5.212, 1903, tradução nossa, grifo nosso).
Uma vez que as Ciências Normativas relacionam os fins aos meios
de alcançar estes fins, a ética é de fundamental importância para conseguir
o bem a ser alcançado.
Os símbolos mereceram uma cuidadosa atenção com relação à per-
cepção, pois eles dão um direcionamento para a ação, maneiras de com-
portamento tendo em vista esta percepção mediada pela ação retornam à
generalidade na mesma sequência prevista no hábito. “O significado de
um símbolo consiste em como ele pode nos levar a agir, fica claro que esse
como” não pode se referir à descrição de movimentos mecânicos que ele
poderia causar, mas deve pretender referir-se a uma descrição da ação como
tendo este ou aquele objetivo” (Peirce, 1974, p. 85-86, CP 5.135, 1903,
grifo do autor). Este objetivo está incluído no entendimento do método
pragmático, porque o estabelecimento desta previsão futura e os meios de
condução para alcançar fazem o curso da ação. A pergunta que Peirce faz
neste parágrafo é a seguinte: Uma vez que a ação, ou a possibilidade dela
está prevista no hábito, este curso de ação “indefinidamente prolongado
pode levar a qual objetivo final? Da potencialidade do hábito é possível, a
partir da primeiridade agir na secundidade, e o hábito ser restabelecido na
terceiridade. A continuidade sem um fim definido, apenas suposto, esten-
de o hábito na forma de lei, de generalidade, aventados em novas suposi-
ções, em novas hipóteses.
O pragmatismo foi chamado por Peirce de a “lógica da abdução
(Peirce, 1974, p. 121-122, CP 5.196, 1903). A máxima pragmatista se
for válida se torna a hipótese para explicação dos “fenômenos sustentados
como sugestões esperançosas” (Idem), pois os fenômenos devem ser expe-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
271
rienciados. A função lógica é de fato afastar a hipótese de uma preposição
sustentada apenas na psicologia, pois a máxima pragmatista quando usada,
tomada em conexão com outras concepções e intenções” (Peirce, 1974, p.
121-122, CP 5.196, 1903) modifica nossa conduta prática. Em função da-
quilo que deve ser a conduta prática uma crença dogmática, ou psicológica
como coloca Peirce, não está no processo abdutivo que de fato vai buscar o
significado percorrendo a conduta que pode levar à verdade.
A Lógica da Abdução tem dois serviços, explica Peirce ao fazer a
relação entre o pragmatismo e abdução (Peirce, 1974, p. 127 CP 5.206,
1903). O primeiro é tornar as ideias claras como já havia feito a contento
há trinta anos (Peirce, 1974, p. 127-128, CP 5.207, 1903). E o segundo
serviço é ajudar a tornar distintas as ideias claras e dar apoio para “uma
atitude satisfatória em relação ao elemento da terceiridade” (Peirce, 1974,
p. 127, CP 5.206, 1903). Embora trate da máxima pragmática enquanto
uma hipótese lógica, o fato da terceiridade tender à generalização e ser
representação é assunto pertinente a filosofia (Peirce, 1974, p. 128, CP
5.208, 1903) e este é o encaminhamento que inicia na lógica da abdução
e por meio do método pragmático se encaminha para a continuidade do
hábito no sinequismo, tratado na metafísica.
A palavra pragmatismo foi inventada para expressar uma certa
máxima da lógica, que, como foi mostrado em seu primeiro
enunciado, envolve todo um sistema de filosofia. A máxima
destina-se a fornecer um método para a análise de conceitos. Um
conceito é algo que tem o modo de ser de um tipo geral que é,
ou pode ser feito, a parte racional do significado de uma palavra
(Peirce, 1974, p. 148-150, CP 8.191, 1904).
Em “Uma Revisão De Um Livro Sobre Cosmologia”, discorrendo
sobre o Pragmatismo (Peirce, 1974, p. 148-150, CP 8.191, 1904), Peirce
faz na ocasião uma belíssima descrição do método pragmatista concebido
por ele. A máxima usada consiste na estratégia para traçar o raciocínio
sobre as consequências práticas concebíveis, para uma conduta autocon-
trolada, na qual a significação de uma palavra (um signo), ou um conceito
(também um signo) é o efeito físico contido no método pragmatista. Nesta
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
272
descrição o conceito de signo é visto à luz do processo pragmático, embora
de fato sendo um conceito, uma representação de generalidade, implica na
ação, fundamento do pragmatismo.
Todo pensamento, ou representação cognitiva, é da natureza de
um signo. “Representação” e “signo” são sinônimos. Todo o
propósito de um signo é que ele seja interpretado em outro signo; e
todo o seu significado reside no caráter especial que ele transmite a
essa interpretação. Quando um signo determina uma interpretação
de si mesmo em outro signo, ele produz um efeito externo a si
mesmo, um efeito físico, embora o signo que produz o efeito
possa ele próprio não ser um objeto existente, mas apenas um tipo.
Produz esse efeito, não neste ou naquele sentido metafísico, mas
num sentido indiscutível (Peirce, 1974, p. 148-150, CP 8.191,
1904, tradução nossa, grifo nosso).
O pensamento é uma ação – assim como o raciocínio é o direcionamen-
to controlado do pensamento – mostrada em uma ação deliberada representa-
da enquanto existência no mundo físico, apresentada em alguma forma.
Quando um modo de pensamento é tomado como verdadeiro, com
o exame dos signos e seus vários modos interpretantes, com suas possíveis
conexões, esta exploração pode oferecer um guia, o que é fornecido pela
máxima pragmatista. Peirce então descreve suas próprias indagações sobre
o método:
Desconfiando de um resultado tão surpreendente, ele procurou
(o pragmaticista) por alguma falha em seu método, e em alguns
casos em que deveria se desfazer, mas depois de cada conspiração
profunda para refutar a ideia de que a engenhosidade há muito
tempo poderia imaginar recuou sobre a sua própria cabeça, e todas
as dúvidas que ele poderia começar foram esgotadas, ele foi forçado
finalmente a reconhecer sua verdade. Essa máxima, uma vez aceita,
– inteligentemente aceita, à luz da evidência de sua verdade, –
rapidamente varre todo o lixo metafísico da casa de alguém (Peirce,
1974, p. 148-150, CP 8.191, 1904, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
273
Ele lembra ainda que o argumento considerado ilógico, ou a prepo-
sição falsa é um julgamento moral, uma vez que aquilo é certo ou errado
pode ter mudança de julgamento e aceitação. Percepção e julgamento per-
passam as categorias de realidade e existência, sempre revistas e analisadas
de modo a indiferenciar as instâncias. Aquilo que confere existência ao
externo é a tomada de consciência desta existência, uma vez que o “externo
é como é (CP 8.191, 1904), independentemente daquilo que se pensa a
respeito dele. E continua a explicação relacionando o pensamento e o am-
biente no qual as condições de interação podem se desenvolver:
Cada abstração é pronunciada como algo sem sentido ou é
fornecida com uma definição simples e prática. A tendência geral
dos resultados é em direção ao que os idealistas chamam de ingênuo,
em direção ao senso comum, em relação ao antropomorfismo.
Assim, por exemplo, o real torna-se aquilo que é como é,
independentemente do que você ou eu ou qualquer um de nossos
pais possa pensar que seja. O externo torna-se aquele elemento
que é como é, independentemente do que alguém pensa, sente ou
faz, seja sobre esse objeto externo ou sobre qualquer outra coisa.
Consequentemente, o externo é necessariamente real, enquanto
o real pode ou não ser externo; nem nada absolutamente externo
nem absolutamente desprovido de externalidade (Peirce, 1974, p.
148-150, CP 8.191, 1904, tradução nossa).
A continuidade, é sempre necessário lembrar, não se trata apenas de
uma evolução temporal, mas está presente na passagem da internalidade
para a externalidade, sem a qual o mundo das ideias seria contraposto ao
mundo da existência, como é a concepção nominalista.
Toda proposição assertiva refere-se a algo externo, e até mesmo
um sonho nos tolera o suficiente para que uma descrição seja
verdadeira e outra não. O existente é aquele que reage contra
outras coisas. Consequentemente, o mundo externo (isto é, o
mundo que é comparativamente externo) não consiste apenas
em objetos existentes, nem meramente destes e suas reações; mas,
pelo contrário, seus reais mais importantes têm o modo de ser
daquilo que o nominalista chama de “meras” palavras, isto é, tipos
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
274
gerais e pretensos. O nominalista está certo em dizer que eles são
substancialmente da natureza das palavras; mas o seu “mero” revela
uma completa incompreensão do que o nosso mundo cotidiano
consiste (Peirce, 1974, p. 148-150, CP 8.191, 1904).
O raciocínio, ou a mente, se preocupa com o futuro vivo (Peirce,
1974, p. 150, CP 8.192, 1904), porque o passado e presente indicam a
significação no futuro e este o caminho percorrido pela atitude prática da
mente. A estratégia e decorrência desta ação em futuro permite a descrição
do processo enquanto conceito extraído da máxima pragmatista.
Numa carta para William James em 1904 (7 de março) Peirce afir-
ma que o pragmatismo “[...] é abrir nossas mentes para qualquer evidên-
cia, não para fornecer evidência” (Peirce, 1974, p. 190, CP 8.259, 1904).
Uma vez que a mente age na matéria enquanto lei e não como causa, as
questões de imortalidade, a conexão mente matéria não estão no escopo
do pragmatismo, uma vez que a realidade está no escopo da metafísica.
Mas quando alguém chega a questões como a imortalidade, a natureza da
conexão da mente com a matéria (mais do que a mente age sobre a maté-
ria não como uma causa, mas como uma lei), ficamos completamente no
escuro (Peirce, 1974, p. 190, CP 8.259, 1904). A filosofia tradicional trata
das questões metafísicas, enquanto que o método pragmático encaminha
a ação, como é o caso da dedução “Eu também quero dizer depois de tudo
que o pragmatismo não resolve nenhum problema real. Isso só mostra que
problemas supostos não são problemas reais” (Peirce, 1974, p. 190, CP
8.259, 1904). A realidade, ou a interação mente matéria são tratados no
Idealismo Objetivo, enquanto o escopo lógico do procedimento está no
pragmatismo. Mas, uma vez que estão dentro da filosofia, que para Peirce
trata de modo positivo os fenômenos, e dentro das ciências da descoberta,
o continnum da investigação está no âmbito do conhecimento e produção
de informação formando novos interpretantes, de maneira lógica.
Em “O que é Pragmatismo”, em 1905, ele retoma a explicação da
diferenciação, entre aquilo que ele considera a definição nominalista do
pragmatismo tomada por James, para desenvolver a sua própria versão do
pragmatismo. Nesta época a máxima pragmatista já havia se tornado co-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
275
nhecida, principalmente pelos trabalhos de James, e Peirce então estabelece
a distinção entre a sua abordagem e aquela do amigo:
Então, o escritor encontrando seu “pragmatismo” tão promovido,
sente que é hora de beijar seu filho e renunciar ao seu destino
mais elevado; enquanto servir ao propósito preciso de expressando
a definição original, ele implora para anunciar o nascimento da
palavra pragmaticismo”, o que é feio o suficiente para estar a
salvo dos sequestradores (Peirce, 1974, p. 276-277, CP 5.414,
1905, grifo nosso).
Depois de diferenciar o nome daquele pragmatismo descrito por
James, Peirce começa seu trabalho de colocar a diferenciação entre as ma-
neiras de entender a máxima proposta por ele em 1877. “James parece con-
fundir o pragmatismo como uma teoria da verdade em vez de uma teoria
do significado” (Liszka, 2009, p. 63). Para Peirce o pragmatismo assumido
por James é diferente, porque ele não identifica “o interpretante lógico
último” com um hábito (Peirce, 1974, p. 343-344, CP 5.494, 1907), ou
seja, o “significado” não está em um resultado para Peirce, mas na conti-
nuidade, na regularidade do hábito que pode ser generalizado. O objetivo
a ser alcançado para James, o resultado é então o significado, assim for-
ma e conteúdo se equivalem. A continuidade do processo, o interpretante
normal, que sempre tem em vistas o interpretante final, a possibilidade
de abertura para novos interpretantes é diferente da concepção de James.
Além da significação obtida pela ação, ajuizar os efeitos concebíveis é uma
experienciação em futuro, que cabe à generalidade, tem na ação futura sua
significação e não está apenas no resultado daquilo que foi verificado como
comprovação prática.
Proposições comprovadas logicamente constituem o conceito: “O
conceito intelectual de um conceito consiste na verdade de certas propo-
sições condicionais” (Peirce, 1974, p. 369, CP 5.528, 1905). A aplicação
do conceito implica ter um propósito em vista, o que implica na ação de
uma maneira específica. “Um propósito é essencialmente geral, e assim é
um modo de agir; e uma proposição condicional é uma proposição sobre
um universo de possibilidade. Ao mesmo tempo, a proposição condicional
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
276
refere-se apenas a possíveis ações individuais” (Peirce, 1974, p. 369, CP
5.528, 1905). O aparente paradoxo é resolvido pelo fato de cada experiên-
cia da série ser precedida de idealidade, ou generalidade, e não ser um caso
isolado em uma junção de experiências isoladas. Este modo de concepção
pode ser descrito pela “Lógica das Relações”, que mostra a série de passos
que constitui a continuidade.
Em 1905, na carta ao Sr. Calderoni, Peirce afirma que o pragmatis-
mo está em questão com toda a filosofia moderna e que isto envolve uma
ruptura com o nominalismo e mesmo com Scotus ao afirmar que “[...] os
universais são contratados ao modo da individualidade nos singulares, sig-
nificando, como ele faz, pelos singulares, coisas comuns existentes” (Peirce,
1974, p. 128, CP 8.208, 1905). Enquanto o nominalista procura deter-
minar todos os aspectos de um conceito para então encaixar a existência
do fato neste conceito, os eventos futuros não podem ter a determinação
prévia, pois se fosse possível o futuro não seria infinito. “Nós podemos ape-
nas indicar o universo real; se formos solicitados a descrevê-lo, só podemos
dizer que inclui tudo o que realmente existe. Isso é universal, não é singu-
lar” (Peirce, 1974, p. 128, CP 8.208, 1905). O significado intelectual dos
signos, dos símbolos, não consiste na conduta, consiste “em nosso conceito
do que seria nossa conduta em ocasiões concebíveis” (Peirce, 1974, p. 128,
CP 8.208, 1905), uma vez que determinar e definir um conceito em todos
os aspectos é impossível.
Na referência ao processo semiótico usando os tipos de argumento,
diz Peirce, a abdução fornece as possibilidades, enquanto mera conjectura
sobre coisas reais; a dedução faz referência a objetos ideais; mas a indu-
ção atua sobre o real, sendo assim capaz de buscar a verdade. Portanto o
pragmatismo é a doutrina do método indutivo essencial enquanto deter-
minador intelectual de qualquer símbolo. (Peirce, 1974, p. 169-170, CP
8 212, 1905). A aceitação da prova praticada no experimento, e que não
está em objetos ideais como a dedução, faz parte da decorrência lógica.
Isto é diferente da aplicação teoria que tem uma comprovação prática. A
continuidade entre dedução, indução e sua significação resultante mos-
tram o resultado, ao mesmo tempo em que justificam o processo na sua
demonstração de percurso.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
277
Quando escreve “O que é Pragmatismo” ele prepara o leitor para a
prova verdadeira que é sua contribuição para a (Peirce, 1974, p. 277-278,
CP 5.415, 1905). Tratando-se de comunicar seu entendimento à comuni-
dade ele quer assegurar a consideração de duas coisas: a primeira é que uma
pessoa não é um indivíduo isolado, pois quando faz uso da linguagem usa
um signo para o raciocínio que pode ser comunicado. E a segunda coisa é
que o indivíduo se encontra em uma comunidade que possui uma afinida-
de com aquele “organismo Individual” no qual as ideias, por meio dos sig-
nos, podem ser compartilhadas (Peirce, 1974, p. 281, CP 5.421, 1905). O
fato de o pensamento estar internalizado em um intérprete significa uma
etapa do compartilhamento, da disponibilidade de outras contribuições
para o interpretante evolutivo vindo do ambiente, de outros intérpretes
para o encadeamento de significação.
A análise feita por Peirce nesta ocasião de sua máxima é que apesar
de ser um “prope-positivismo9, uma vez que implica nas consequências
práticas, tem pontos distintos das outras abordagens descritas por ele
como nominalistas.
Mas o que a distingue de outras espécies é, (1) primeiro, a retenção
de uma filosofia purificada; em segundo lugar, (2) sua plena
aceitação do corpo principal de nossas crenças instintivas; e, em
terceiro lugar, (3) sua vigorosa insistência na verdade do realismo
escolástico (Peirce, 1974, p. 282, CP 5.423, 1905).
Em primeiro lugar a máxima pragmática não trata de casos iso-
lados, ou fenômenos experimentais únicos. Uma vez que, sendo condi-
cionalmente verdadeiro no futuro, trata de tipos gerais de fenômenos ex-
perimentais (Peirce, 1974, p. 284, CP 5.426, 1905), por isso a grande
diferenciação do positivismo. O objetivo positivista é aplicar a lei ao fato,
o pragmatismo tende à razoabilidade no decorrer do processo no qual se
encontra o caso particular. E isto é concernente à filosofia, uma vez que
na estruturação das ciências feitas por Peirce, a fenomenologia por meio
das ciências normativas leva à metafísica, dentro da filosofia que é ciência
Traduzido do latim prope é um advérbio e quer dizer, quase, próximo. Disponível em: https://pt.glosbe.
com/la/pt/prope. Acesso em: 10 maio 2018
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
278
da descoberta. Em segundo lugar as crenças instintivas relacionam a ação
no futuro uma vez que o significado de uma proposição sendo ela própria
uma representação, vai se concretizar a partir da ação. “Sempre que um
homem age propositadamente, ele age sob a crença em algum fenômeno
experimental. Consequentemente, a soma dos fenômenos experimentais
que uma proposição implica faz com que ela se baseie inteiramente na
conduta humana” (Peirce, 1974, p. 284-285, CP 5.427, 1905). Mais do
que a explicação das ideias por meio dos fenômenos, o pragmatismo quer
entender o significado racional da interação que advém da qualidade sen-
sual, sem ser um “fenominalismo meticuloso” (Peirce, 1974, p. 285, CP
5.428, 1905). Em terceiro lugar os escolásticos costumavam acreditar que
os gerais eram reais sem evidência experimental de comprovação e a falta
de comprovação é a diferenciação do pensamento de Peirce (Peirce, 1974,
p. 287-288, CP 5.430, 1905). Os gerais podem ser reais e também podem
ser fisicamente eficientes, como os propósitos humanos que são fisicamen-
te eficientes (Peirce, 1974, p. 288-289, CP 5.431, 1905).
“Boa meia dúzia” é a medida usada por Peirce para admitir o
Pragmatismo (Peirce, 1974, p. 285-287, CP 5.429, 1905): em primeiro
lugar a ação como ação não é objetivo, assim como também o pragmatis-
mo não é “o Ser para ser o Ser-tudo e o Fim-tudo da vida, isso seria a sua
morte [...] Em segundo lugar, deve-se admitir que toda proposição pro-
fessa, para ser verdade, de um determinado objeto individual real muitas
vezes no universo ao redor”. Em terceiro existe a falha de fornecer signifi-
cado a um nome próprio, ou designação a um objeto individual, assim, o
pragmatismo não se vale da função nominalista de prover um nome para
o significado. Em quarto, sendo geral é uma representação e este signo é
uma palavra. Esta possível contradição ele explica nos pontos seguintes:
Em quinto lugar, é preciso admitir que apenas os indivíduos
existem; e em sexto lugar, pode-se admitir que o próprio significado
de uma palavra ou objeto significativo deve ser a própria essência
da realidade do que ela significa (Peirce, 1974, p. 285-287, CP
5.429, 1905).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
279
Não se trata de promover simplesmente um nome porque aquilo ao
qual é feita a referência é um existente, e este “objeto significativo” possui
a realidade daquilo que é sua tradução na representação, mantendo assim
imbricado sua forma e sua representação enquanto um continuum. O pri-
meiro ponto trazido é justamente a ação que não é empirista, mas atuando
no ambiente ao redor para representar aquilo que então pode ser nomeado.
Assim, o pragmaticista não faz o summum bonum consistir em
ação, mas faz com que ele consista naquele processo de evolução
pelo qual o existente vem mais e mais para incorporar aqueles gerais
que eram exatamente agora mencionados a serem alcançados,
que acabamos de dizer que estamos destinados, que é o que nos
esforçamos para expressar ao chamá-los de razoáveis. Em seus
estágios mais elevados, a evolução ocorre mais e mais amplamente
através do autocontrole, e isso dá ao pragmaticista uma espécie
de justificativa para fazer com que o propósito racional seja geral
(Peirce, 1974, p. 289, CP 5.433, 1905, tradução nossa).
A atitude pratica é o que distingue, é a diferenciação daquilo que um
evento poderia ter sido no passado ou seria no futuro (Peirce, 1974, p. 289,
CP 5.434, 1905). As formas não são as únicas realidades do mundo, assim
como o sentido de uma palavra não é o único significado dela que existe,
depende da interação, pois o Pragmaticismo pode mais uma vez atribuir o
modo de ser, a partir da lógica.
Recorrendo à memória baseamos nossa conduta que é nosso depó-
sito de conhecimento e nova investigação se tornará incorporada a este
repertório depois de realizada (Peirce, 1974, p. 312, CP 5.460, 1905),
enquanto um fato memorável que confirma ou talvez possa modificar o
hábito. O “Modo Existencial do Tempo” quando constata aquilo que é
existente está sempre no passado, nosso conhecimento tem seu depósito no
passado, então cada coisa que nos propomos fazer será um planejamento
da continuidade daquilo que conhecíamos, nos quais nos baseamos para
seguir nossa conduta.
O pragmatismo se refere a uma conduta deliberada que leve o ra-
ciocínio ao futuro ou que ele possa se referir ao futuro numa conduta
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
280
deliberada, controlável teleologicamente porque está baseada na crença.
A consciência do presente é então aquela de uma luta sobre o que será; e
assim emergimos do estudo com uma crença confirmada de que é o Estado
Nascente do Real” (Peirce, 1974, p. 313, CP 5.462, 1905). O real tem na
confirmação adquirida no caso específico aquilo que é acreditado.
O lógico, diferentemente do matemático, não se interessa apenas
pelo resultado ou pela conclusão do enunciado proposto na visão peirce-
ana. O resultado é decorrência da maneira mais econômica, com menor
gasto de energia para desenvolver o processo. O lógico quer entender a
natureza do processo ou meio pelo qual este resultado é alcançado e para
isto traça um diagrama, o mais analítico possível para que cada etapa seja
distinguida e entendida em sua natureza (Peirce, 1974, p. 420, CP 4. 533,
1906). O “Sistema de Gráficos Existenciais” consiste em diagramação de
proposições cuja conclusão quando é uma verdade lógica está ligada a ver-
dade como é compreendida no pragmaticismo, “por meio disso, poderei
quase imediatamente deduzir algumas importantes verdades da lógica,
pouco compreendidas até agora, e intimamente conectadas com a verda-
de do pragmaticismo” (Peirce, 1974, p. 420-421, CP 4. 534, 1906). Um
gráfico é considerado um signo, um diagrama formado por linhas ligando
pontos determinados e é ele um signo formado por outros signos10.
No ano de 1906, próximo ao final de sua vida, fazendo “Um levan-
tamento do Pragmatismo” ele considera:
Eu entendo que o pragmatismo é um método para averiguar os
significados, não de todas as ideias, mas apenas daquilo que chamo
de “conceitos intelectuais”, isto é, daquelas cujas estruturas os
argumentos relativos a fatos objetivos podem depender (Peirce,
1974, p. 318-319, CP 5.467, 1906, tradução nossa).
Embora a semiose esteja presente em todo o universo, a concepção
dos efeitos práticos que faz a concepção do objeto característica do mé-
todo pragmático depende de um intérprete. Desta maneira, a aquisição
10 Será tratada a diagramação nos gráficos existenciais mais detalhadamente adiante.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
281
de conceitos por meio da lógica é uma maneira de conduzir o raciocínio
determinada pelo método pragmatico.
A “Arquitetônica construção do Pragmatismo” (Peirce, 1974, p. 3,
CP 5.5) de 1907 começa com a analogia da construção na qual os elemen-
tos construtivos “arquitetonicamente” se unem para formar o conjunto
percebido na construção do edifício e isto feito de maneira que cada ele-
mento acrescentado tem sua análise submetida a testes.
“Mas primeiro, qual é o seu propósito? O que é esperado para reali-
zar? ” (Peirce, 1974, p. 3-4, CP 5.6, 1907). E isto feito à maneira pragmá-
tica supõe um fim, pois se existem disputas filosóficas, porque os litigantes
almejam provar coisas diferentes, tem objetivos opostos. O pragmatismo
é um método para averiguar o significado real de qualquer conceito, dou-
trina, proposição, palavra ou outro signo” (Peirce, 1974, p. 3-4, CP 5.6,
1907). O que se espera realizar não é pouca coisa, uma vez que avaliar o
significado é chegar à verdade. O propósito do método de significação não
é estabelecer os possíveis ou existentes significados, mas o propósito do
pragmatismo é “estabelecer um método para determinar os significados
dos conceitos intelectuais, isto é, daqueles sobre os quais os raciocínios
podem girar” (Peirce, 1974, p. 5-6, CP 5.8, 1907). Nesta forma sintética
do pensamento maduro de Peirce sobre o pragmatismo, concebendo o
pragmatismo como uma máxima da lógica, fazer uso da semiótica e da
fenomenologia faz parte da própria definição de pragmatismo.
O objeto de um signo é uma coisa; seu significado é outro. Seu
objeto é uma coisa ou uma ocasião, por mais indefinida que seja,
a que isto esteja sendo aplicada. Seu significado é a ideia que
ele atribui a esse objeto, seja por mera suposição, seja como um
comando ou como uma afirmação (Peirce, 1974, p. 5-6, CP 5.6,
1907, tradução nossa).
O objeto do signo está no diagrama suscitado para mediação e esta
mediação levará ao significado, se o encadeamento se conduzir à com-
provação verdadeira. O objeto do signo pode levar a um resultado, seu
significado é o próprio processo de formação do interpretante, ou seja, a
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
282
formação de um novo signo. A construção dos interpretantes passa pela
mera suposição, e podem se desenvolver num comando que pressupõe a
ação, que evolui para a afirmação que é, então, a constatação de verdade.
Em um processo semiótico genuíno o encadeamento lógico segue contí-
nuo. O interpretante imediato da suposição pode vir a ser o interpretante
lógico que perfaz o significado.
“Toda ideia simples é composta de uma das três classes; e uma ideia
composta é, na maioria dos casos, predominantemente de uma dessas clas-
ses”. (Peirce, 1974, p. 4-5, CP 5.7, 1907). Uma qualidade de sentimento
primeiro, que ao ser comparado com outro sentimento já se torna uma
representação. Esta ideia ou representação pode ser a ligação entre o ob-
jeto experimentado e o experimentador, em segundo lugar. Em terceiro é
a ideia de um signo transmitida de uma pessoa a outra, ou para si mesmo
usando a memória: “Ora, o significado básico de um signo não pode ser a
ideia de um signo, já que esse último signo deve ter um significado que se
tornaria, assim, o significado do signo original” (Peirce, 1974, p. 4-5, CP
5.7, 1907). O significado deve ser a razoabilidade da relação da ideia e a
confrontação com o real, e a representação deste resultado de ação.
A significação perpassa as três categorias e o sentimento deve ter sua
atuação na existência, não apenas no âmbito das ideias. A ação e reação
são fundamentais para a generalização na terceiridade, uma vez que é a
resistência do outro que confere existência pela constatação da alteridade.
Segue explicando no mesmo parágrafo:
Podemos, portanto, concluir que o significado último de qualquer
signo consiste em uma ideia predominantemente de sentimento
ou em algum predominantemente de ação e de ser atuado sobre.
Pois não deveria haver nenhuma hesitação em concordar com a
visão de que todas aquelas ideias que se ligam essencialmente a
dois objetos surgem da experiência da volição e da experiência
da percepção de fenômenos que resistem aos esforços diretos da
vontade de anular ou modificar a eles (Peirce, 1974, p. 4-5, CP
5.7, 1907, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
283
O pragmatismo não tem o compromisso de estabelecer o significado
de todos os signos, mas apenas o significado dos conceitos intelectuais por-
que estes são matéria de raciocínio (Peirce, 1974, p. 5-6, CP 5.8, 1907).
Estes raciocínios implicam em escolhas para a atuação com o ambiente e
as linhas de conduta levam a experiências para as quais se destina que é
consideração Prática” (Peirce, 1974, p. 6, CP 5.9, 1907). A partir destas
considerações a máxima pragmatista é reescrita:
Para averiguar o significado de uma concepção intelectual, deve-se
considerar quais consequências práticas podem ser concebidas pela
necessidade da verdade dessa concepção; e a soma dessas consequências
constituirá todo o significado da concepção (Peirce, 1974, p. 6, CP
5.9, 1907, tradução nossa).
O Pragmatismo não é um sistema filosófico, mas um método de
análise filosófica de sistemas teóricos (Ibri, 1992). Sendo então uma “teoria
de análise lógica ou definição verdadeira” (Peirce, 1974, p. 335-337, CP
6.490, 1910) serve às “mais elevadas concepções metafísicas” (Peirce, 1974,
p. 335-337, CP 6.490, 1910) à medida que relaciona a realidade e exis-
tência por meio da conaturalidade entre o fenômeno e sua representação.
Em “Uma Avaliação do Pragmatismo” em 1907, Peirce começa “O
núcleo do Pragmatismo” afirmando que o pragmatismo não é em si mes-
mo nenhuma doutrina metafísica, que determina a verdade das coisas. Mas
enquanto método de averiguar significados possui efeitos ulteriores e indi-
retos (Peirce, 1974, p. 317, CP 5.464, 1907). São esses efeitos que quando
analisados podem de fato ser transcritos para a cosmologia e então à me-
tafísica. O profícuo princípio do pragmatismo tem seu núcleo descrito e
está a partir de “que todo o significado de um predicado intelectual é que
certos tipos de eventos aconteceriam, de vez em quando, no decorrer da
experiência, sob certos tipos de condições existenciais – desde que se possa
provar que são verdadeiras” (Peirce, 1974, p. 320-321, CP 5.468, 1907).
As condições existenciais provam a veracidade do real, seja ela suposta ou
percebida pela ação, assim é a ação que vai corroborar a expectativa na
comprovação do real enquanto hipótese aventada.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
284
A prova prática do pragmatismo, então, é que a ciência alcança
resultados quando o cientista pensa como um pragmático
peirceano – um pragmático – seguindo as máximas do sinequismo
e elaborando um diagrama criativo de um experimento que revelará
e também ajudará a explicar um processo básico da natureza. O
pragmatismo como teoria do conhecimento também atende ao
seu próprio teste prático. Quando é praticado, nosso conhecimento
aumenta. Se a hipótese do sinequismo como teoria do universo
é verdadeira (incluindo semiose e agapismo), e se o pragmatismo
é um método abdutivo de revelar verdades fragmentadas, então
esperamos que sua prática seja recompensada por um aumento na
ação dos signos. (Novos conceitos científicos) através da criação
de novos interpretantes que levam a um maior conhecimento,
controle e comunidade de investigação (Colapietro, 2009, p. 18,
grifo nosso).
O processo lógico mediado pela semiótica tem no hábito a expressão
do comportamento, a relação entre o interior e exterior do comportamen-
to de uma pessoa pode nem sempre ser voluntária, como o fato das pesso-
as corarem, por exemplo (Peirce, 1974, p. 334-335, CP 5.487, 1907). A
aquisição de hábitos tem seguimento no fato das pessoas se comportarem
no futuro da mesma maneira pelas quais vem se comportando, e esta ten-
dência reafirma o hábito. Se o homem exerce controle sobre si mesmo ele
pode em maior ou menor grau modificar sua tendência de ação, e conse-
quentemente seus hábitos. Reiterações imaginadas e executadas fazem a
modificação neste transcurso e relacionamento com o ambiente.
Esta modalidade de monismo, preocupação desde os primeiros tra-
balhos em lógica, segue mostrando o mesmo signo que é representação e
existência. Esta apresentação acontece por meio de uma forma que pode
ser a mediação, ou mesmo a qualidade, a novidade a partir da qual o pro-
cesso de significação se desenrola.
A forma como a crença e hábito trabalham conjuntamente no pro-
cesso evolutivo perfazem a matéria filosófica pela qual Peirce constrói sua
doutrina científica à qual ele denomina pragmatismo e posteriormente
Pragmaticismo para diferenciar de seus seguidores.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
285
O processo evolucionário de aprendizagem, incremento de razoabi-
lidade a todo o universo, extrapola o pensamento contido na mente huma-
na e propõe uma inteligência cósmica de incremento de razoabilidade para
todo o universo, mostrado em sua cosmologia. Este entendimento de um
cientista maduro, no qual os processos de significação estão presentes em
todo o universo fenomênico tem grande poesia implícita.
A caracterização de mente e a relação de continuidade com a matéria
justificam e dão uma visão especial da posição do signo interposto entre
ambos, fazendo parte de ambos e portando indissociando a interioridade
e exterioridade no processo de significação. A ação, fundamental para a
significação tira o pensamento de dentro da mente do homem da visão
cartesiana e coloca na relação de aquisição de conhecimento.
O Pragmatismo enquanto método científico coloca a semiose arti-
culada nas várias possibilidades dos signos no seu encadeamento científico,
dando assim à fundamentação da hipótese desde a abdução, consistência
e demonstração.
A seguir, na próxima seção, abrindo um espaço para a verificação
da maneira de articulações de significação que tem a forma como seu re-
presentante, a pesquisa coloca o estudo das causas aristotélicas como pro-
motoras deste entendimento que tem discussão desde os gregos antigos da
maneira como, in forma, transmitimos conhecimento por meio daquilo
que concebemos enquanto informação.
4.5 pRaGMaTisMO e ciência
O processo científico suscetível a ajustes de pesquisa e conduta tem
continuidade dentro de um hábito representado que permeia a aceitação
da comunidade de pensadores afins. A transformação de hábitos ou para-
digmas tem situações nas quais a aceitação do processo pela comunidade
requer maior debate enquanto procedimento verdadeiro, para aceitação da
posição colocada por algum pesquisador. A evolução não é linear, assim
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
286
como a quebra de hábito não implica sempre em considerações de melho-
ria de qualidade.
Estratégias de atuação são comuns em vários campos, tanto da pes-
quisa científica quanto na ação cotidiana das pessoas. O entendimento
da mediação enquanto significação pode ter consequências diferentes,
em campos diferentes, como decorrência desta produção de significado.
Observar o fenômeno em busca de uma melhor interação é parte da atu-
ação de seres inteligentes que aprendem com a experiência. Seja a este
aprendizado um signo com características que mais se aproximem do in-
terpretante emocional ou do interpretante lógico.
Agora, todo o processo de desenvolvimento entre a comunidade de
estudantes dessas formulações pela observação abstrativa e raciocínio
das verdades que devem valer-se de todos os signos usados por uma
inteligência científica é uma ciência observacional, como qualquer
outra ciência positiva, apesar de seu forte contraste com todas as
ciências especiais que surgem do seu objetivo para descobrir o que
deve ser e não apenas o que está no mundo real (Peirce, 1974, p.
134-135, CP 2.227, 1897, tradução nossa, grifo nosso).
Manter-se com a aceitação da comunidade científica que trabalha
tradicionalmente a experiência de maneira positiva e ainda assim tornar
válido o pensamento científico, que transita entre a realidade e existência,
ainda é desafiador para a comunidade de pesquisadores. As várias discipli-
nas procuram este balanço, e isto também era feito na investigação peirce-
ana que permeava vários campos e procura apoio no método pragmático
para manter a cientificidade da investigação. A evolução de pesquisas fei-
tas por uma comunidade está relacionada à maneira como a Ciência da
Informação se propõe a disponibilizar os conteúdos informacionais cus-
todiados, para a divulgação de documentos de interesse para esta comuni-
dade, esteja ela no âmbito de uma disciplina do conhecimento ou reúna
elementos em um nicho social específico.
Ajustes de conduta, com mudanças de propósito inclusive, ainda é
uma característica marcante do modo de ação humana. A capacidade de
tomada de decisão com fatores emocionais e racionais é o traço da con-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
287
duta que pode a qualquer momento alterar aquilo que é o objetivo a ser
alcançado. As transformações informacionais nestes processos devem ser
averiguadas, pois são elas que ampliam o entendimento da relação entre
informação e conhecimento. Uma inteligência científica que aprende com
a experiência começa com uma abstração, que é um caso especial de obser-
vação (Peirce, 1974, p. 134-135, CP 2.227, 1897).
Ele faz em sua imaginação uma espécie de esqueleto de diagrama,
ou contorno de esboço, dele mesmo, considera quais modificações
o estado hipotético das coisas exigiria que fossem feitas naquele
quadro, e então o examina, isto é, observa o que ele imaginou, para
ver se o mesmo desejo ardente existe para ser discernido (Peirce,
1974, p. 134-135, CP 2.227, 1897, tradução nossa).
A concepção de ciência pode ser aplicada à Ciência da Informação,
assim como a investigação interdisciplinar também acrescenta ao campo
epistemológico da área contribuições que, em seguida, o entendimento de
informação tem discussões apropriadas.
4.5.1 ciência
Uma ciência específica contém um grupo de pesquisadores conec-
tados ao escopo da investigação que não devem ser subdivididos, uma vez
que o objetivo é comum. A ciência é um modo de vida que busca coope-
ração, devendo, portanto, ser compartilhada (Peirce, 1974, p. 41, CP.7.55,
1902). A classificação das ciências é endereçada aos próximos pesquisado-
res, fazendo jus ao seu pensamento evolucionário. “Portanto, será sobre
o solo do futuro próximo da ciência que nos empenharemos em plantar
nossa bandeira” (Peirce, 1974, p. 41-42, CP.7.56, 1902). O pensamento
evolucionário e a condição da ciência moderna são coincidentes: a cons-
tante novidade engendra a situação de movimento que permite a evolução
tecnológica, a ser sempre aprimorada.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
288
Segundo Delaney (1993) para Peirce existiam duas concepções tra-
dicionais diferentes de ciência. Em primeiro lugar a caracterização de um
corpo organizado de conhecimento, com alguma sistematicidade nesta or-
ganização. A segunda caracterização é principalmente da ciência enquanto
um método de conhecimento. A ciência deve ser aquilo que designa o em-
penho de um grupo de pesquisadores empenhados em conhecer a verdade,
“informados por uma estratégia metodológica particular” (Delaney, 1993,
p. 18). A geração e explanação das hipóteses estão na gênese deste trabalho
comunitário de produção e divulgação do conhecimento.
A ciência deve significar para nós um modo de vida cujo propósito
único de animação é descobrir a verdade real, que persegue esse
propósito por meio de um método bem considerado, fundado em
conhecimento profundo de tais resultados científicos já verificados
por outros como disponíveis, e que busca cooperação na esperança
de que a verdade possa ser encontrada, se não por qualquer um dos
verdadeiros investigadores, mas em última análise por aqueles que
vêm depois deles e que devem fazer uso de seus resultados. Não faz
diferença quão imperfeito o conhecimento de um homem possa ser
misturado com erro e preconceito; a partir do momento em que ele
se envolve em uma investigação no espírito descrito, aquilo que o
ocupa é ciência, como a palavra será usada aqui (Peirce, 1974, p.
40-41, CP 7.54, 1902, tradução nossa, grifo nosso).
A formulação de uma hipótese e o consequente investimento em
pesquisa para a demonstração de esta concepção ser verdadeira é o que
move o pensamento científico. “O pensamento científico é a mais ampla
realização de um signo potencial, atualizado pelo objeto e que mediatiza a
conduta futura diante daquela mesma classe de objetos, através da produ-
ção do interpretante” (Silveira, 1989, p. 73).
A potencialidade de acesso à informação e conhecimento científico
tem mudanças que acompanham a velocidade da rede mundial de com-
putadores. A divulgação científica em uma comunidade tem variações que
tem alcance e dinamismo cada vez mais versáteis.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
289
Tratando-se de uma grande quantidade de dados, quando correla-
ções são estabelecidas, mapeando a variedade de dados obtidos na rede
mundial de computadores, a determinação de correspondência entre even-
tos distintos traça uma relação de causalidade. Independentemente de uma
relação mecânica de causa-efeito, quando um dado supõe a probabilidade
de ocorrência de outro, mesmo que eles não sejam relativos a um fenôme-
no natural, a relação de correspondência mantém um caráter de depen-
dência entre eles, variando num gradiente probabilístico de ocorrência.
As maneiras de acesso variam a base física para convergência à informação
disponível para o trabalho do pesquisador. Mas a investigação descobre
maneiras, dentro de cada contexto de fazer a mediação entre os recursos
do objeto apresentados no signo e sua condição de interação na produção
do interpretante.
Os métodos de conhecimento científico balizam a disponibilidade
de recursos de cada pesquisador na sua comunidade em seu tempo históri-
co. A ciência do homem que chegou à Lua é diferente daquela exercida por
meio do computador interligando mundialmente seus usuários, mesmo
sendo mantido o rigor de obtenção de resultados verdadeiros. Viabilizar
o processo de investigação, mediante sua correção e adaptação é parte
fundamental da evolução, na contínua produção de novos interpretantes.
Aprender com a experiência faz parte da evolução do conhecimento.
Para Colapietro (1989) Peirce coloca uma hierarquia de mentes, e
esta hierarquia ele deduz a partir das visões de Peirce. O nível mais rudi-
mentar contempla aqueles agentes interpretativos que agem sem alterar
seus padrões de interpretação, com estímulo e resposta feitos de maneira
condicionada pelo instinto. O nível intermediário inclui aqueles compor-
tamentos que podem ser alterados no decorrer da vida dos agentes, quando
certos padrões são substituídos por outros. Neste caso modos de interpre-
tação e ação têm os mesmos tipos de alteração (Colapietro, 1989).
O compartilhamento do conhecimento implica em tornar público
o interpretante que está em curso para disponibilizar a informação àqueles
outros evolucionários pensamentos com significação próprias do tempo,
história e cultura aos quais são pertinentes. Trabalhar as representações de
modo a compartilhar ou interpretar para si mesmo é o nível mais desen-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
290
volvido de mentes. “A natureza dessas mentes é relativamente plástica. No
mais alto nível, há intérpretes autônomos, agentes que (e não quais) po-
dem se envolver em atos de autointerpretação, autocrítica e autocontrole
(Colapietro, 1989, p. 111). Esta autocrítica é na visão de Colapietro aquilo
que pode promover o ideal estético em intérpretes autônomos, mentes ra-
cionais que ao serem apegados a ideais e regulados por normas têm a moral
da comunidade a baliza para a corretude da ação (Colapietro, 1989).
Embora a ciência tenha caráter comunitário, é a distinção em cada
indivíduo que produz conhecimento o norte da ciência pautada na pesqui-
sa autoral, determinada pelo procedimento de conduta particular a cada
grupo de pesquisadores. Peirce usa o exemplo das Ciências Explicativas
“Geologia, evolução e coisas semelhantes” (Peirce, 1974, p. 401, CP
5.578, 1898) para citar as controvérsias entre cientistas. Estas investigações
retrodutivas, como ele chama, nem sempre chegam a conclusões justas ou
então de veredito lógico (Idem). Com este exemplo podemos perceber que
a comunidade científica tem posicionamento político determinante para a
aceitação de qualquer novo paradigma, tanto quanto o posicionamento de
demonstração da verdade justificada. A arqueologia é fundamentada em
uma abdução de comportamento humano, geológico, em suma, da vida
anterior no planeta Terra que deve ser comprovada pela evidência material.
Ou seja, o material encontrado enquanto vestígio levanta hipóteses que
devem ser comprovadas por novos materiais pesquisados. E um exemplo
desta disputa política é o surgimento mais antigo do homem, atribuído a
vários lugares no planeta, dependendo de cada teoria dos fósseis encontra-
dos e da atribuição de valor científico a eles.
O hábito instaurado tende a ser revisitado e desenvolvido em suas
particularidades, mantendo o paradigma vigente. O processo evolucioná-
rio implica em transformação do paradigma vigente quando esta comu-
nidade reconhece novos padrões de procedimento (vide Peirce, 1974, p.
401-403, CP 5.579, 1898). Novos paradigmas implicam nesta mudança
partilhada pela comunidade científica ao qual pertencem os difusores de
novos possíveis interpretantes, possíveis a partir de suas representações ver-
dadeiras compartilhadas.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
291
4.5.2 faLiBiLisMO
A possibilidade de equívoco sempre é aventada no percurso que o
pesquisador traz consigo. A pesquisa científica vista pelo método prag-
mático inclui a possibilidade de revisão, uma vez que não é o fato que se
adequa ao conceito, mas é a partir da atualidade do fato bruto que este
conceito pode ser representado e disposto para a comunidade. Ser falível e
recuperar a linha de pesquisa mais adequada corrige os possíveis desvios do
pesquisador ou da pesquisa em busca de uma significação verdadeira que
possa ser divulgada.
Aquilo que pode ser representado e compartilhado enquanto concei-
to é o que de fato se apresenta enquanto verdade que passa pela existência,
por aquilo que elas são nelas mesmas, e tem significado real. As repre-
sentações que não são adequadas, ou que são representadas de maneira
equivocada são adequadas pela comunidade científica ao longo do tempo.
“Falibilismo e realismo parecem ser facetas de uma mesma imagem geral
da ciência” (Delaney, 1993, p. 29).
Para tratar da falibilidade em um processo contínuo, vamos resgatar
a sequência de uma semiose genuína em seu processo de significação. Este
é o procedimento de Peirce em 1902 quando começa “Sinopse Parcial De
Um Trabalho Proposto Em Lógica” (Peirce, 1974, p. 42, CP 2.79, 1902).
A continuidade da formação do interpretante, que é o novo signo reposto
no processo, está assim descrita:
Em consequência de todo signo que determina um Interpretante,
que é em si um signo, temos signo sobrepondo signo. A consequência
disso, por sua vez, é que um signo pode, em seu exterior imediato,
ser de uma das três classes, mas pode imediatamente determinar
um sinal de outra classe. Mas isso, por sua vez, determina um signo
cujo caráter deve ser considerado (Peirce, 1974, p. 52, CP 2.94,
1902, tradução nossa).
A manutenção do hábito e a tendência à razoabilidade costumam ser
contínuos no processo evolucionário. O acaso e continuidade fazem parte
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
292
da evolução com prosseguimento e quebra do hábito. O real perpassa a
significação:
[…], todo raciocínio envolve outro raciocínio, que por sua vez
envolve outro, e assim por diante, ad infinitum. Todo raciocínio
conecta algo que acaba de ser aprendido com o conhecimento
já adquirido, para que assim aprendamos o que é desconhecido.
É assim que o presente está tão unido ao que acabou de passar a
ponto de tornar inevitável o que está acontecendo (Peirce, 1974, p.
320-322, CP 7.536, 1908, tradução nossa).
Ainda assim as categorias da experiência, ou cenopitagoreanas como
categorizava Peirce incluem a participação na referência temporal e conti-
nuidade do conhecimento. Tratando-se do raciocínio humano a vida do
conhecimento em uma comunidade é um conjunto destes interpretantes
compartilhados; e segue o argumento:
A consciência do presente, como limite entre passado e futuro, envolve
ambos. O raciocínio é uma experiência nova que envolve algo antigo
e algo até então desconhecido. O passado como acima mencionado
é o ego. Meu passado recente é meu ego superior; meu passado
distante é meu ego mais generalizado. O passado da comunidade é o
nosso ego. Ao atribuir um fluxo de tempo a eventos desconhecidos,
imputamos um quase-ego ao universo. O presente é a representação
imediata que estamos apenas aprendendo que traz o futuro, ou não-
ego, a ser assimilado no ego. Vê-se assim que a aprendizagem, ou
representação, é a terceira categoria cenopitagoreana (Peirce, 1974,
p. 320-322, CP 7.536, 1908, tradução nossa).
O conhecimento nunca é absoluto, o final enquanto verdade alcan-
çada não nos dá garantias de ser definitiva. Esta abordagem epistemológica
do Falibilismo, que nos proporciona a sugestão de uma busca que segue
a continuidade entre o geral e particular por meio da ação que deve com-
provar a hipótese, faz dele, o Falibilismo, uma doutrina epistemológica. O
Falibilismo também é uma doutrina moral, pois lembra a quem busca o
conhecimento a necessária humildade intelectual, uma vez que somos re-
querentes de cognição e mesmo involuntariamente somos levados ao erro.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
293
O avanço do conhecimento se faz pelo indivíduo que está inserido em uma
comunidade cujos esforços são compartilhados, partilhar o erro ou alcan-
çar o resultado esperado torna-se importante para a comunidade tanto
quanto para o pesquisador.
“Falibilismo historicamente e talvez conceitualmente, é a doutrina
alinhada de perto com o realismo científico” (Houser, 2008, p. 1). Mais do
que uma conceituação de certo e errado, verdadeiro ou falso, existem ajus-
tes decorrentes do propósito a ser alcançado que dependem da aceitação do
curso da investigação como aquele que é o experienciado dedutivamente.
A indução comprova o grau que o fato se adequa à realidade. Desta manei-
ra, ser falível também é ser passível de adequação ao curso esperado para o
desenrolar de uma significação.
4.5.3 veRDaDe
Graus de desenvolvimento de pensamento, capacidades cognitivas e
relação com a informação sugerem graus de interpretantes que cabe à ciên-
cia distinguir. À Ciência da Informação é pertinente a maneira de comuni-
car estas representações em seus respectivos grupos de intérpretes possíveis.
A delimitação de domínios é uma proposta que percebe a diversidade de
maneiras de acesso aos grupos informacionais presentes tanto no acervo a
ser recuperado quanto no público ao qual se destina. Este recorde é uma
busca de adequar o melhor interpretante à significação buscada. A divul-
gação de informação que traz conhecimento verdadeiro implica no caráter
científico da custódia e divulgação da informação.
E a verdade para Peirce? A visão padrão é que a verdade é crença no
fim ideal da investigação – mas devemos ter em mente que, do lado
da lógica, a verdade é o valor de uma proposição, que na filosofia de
Peirce é um signo intelectual que medeia entre um objeto ou estado
de coisas e um interpretante (um efeito sobre um intérprete). Isso
significa que a verdade é sempre relativa, por um lado, aos recursos
conceituais dos usuários de signos e, por outro lado, é restringida
pelas condições pragmáticas que se relacionam entre os usuários do
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
294
objeto e do signo. Enquanto o aprendizado continua e as condições
pragmáticas mudam, a verdade nesse sentido não pode ser fixada na
eterna estagnação (Houser, 2006, p. 5).
A definição de verdade, é aquilo que importa ao pensamento cien-
tífico a ser compartilhado pela comunidade, de maneira a estimular a for-
mação evolucionária de novos interpretantes.
A verdade é um CACTERE que se liga a uma proposição abstrata,
tal como uma pessoa pode proferir. Essencialmente depende
em consequência dessa proposição não esteja professando ser
exatamente verdadeira. Mas esperamos que, no progresso da
ciência, seu erro diminua indefinidamente, assim como o erro de
3,14159, o valor dado para π, diminuirá indefinidamente à medida
que o cálculo for levado a mais e mais locais de decimais (Peirce,
1974, p. 394-395, CP 5.565, 1901/1902, tradução nossa).
Tratando-se de verdade lógica, analisar o enunciado enquanto verda-
deiro é tarefa para os metafísicos, complementa Peirce neste parágrafo. Embora
a consequência do argumento sendo uma dedução que possa ter o caráter ver-
dadeiro, a verdade tende a ser alcançada como os decimais da constante de Pi.
“Mesmo que o metafísico decida que onde não há verdade não há realidade,
ainda assim a distinção entre o caráter da verdade e o caráter da realidade é
clara e definível” (Peirce, 1974, p. 394-395, CP 5.565, 1901/1902).
A concordância entre a afirmação abstrata e seu limite ideal para que
seja científica, mesmo tendo esta confissão de imprecisão, e em virtude
dela tende à verdade. “A realidade é aquele modo de ser em virtude do
qual a coisa real é como é, independentemente do que qualquer mente ou
qualquer coleção definida de mentes possa representar” (Peirce, 1974, p.
394-395, CP 5.565, 1901/1902). A verdade das proposições Peirce chama
de verdade complexa. Entre as variedades que a verdade complexa pode
ser dividida ele coloca a veracidade, ou verdade ética que confere aquilo
que é proferido com a crença de quem enuncia; e a verdade lógica que é
a concordância de uma proposição com a realidade (Peirce, 1974, p. 397-
398, CP 5.570, 1901/1902).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
295
Acima, consideramos a verdade científica positiva. Mas as mesmas
definições também se aplicam às ciências normativas. Se um
moralista descreve um ideal como o summum bonum, em primeiro
lugar, a perfeita verdade de sua afirmação exige que ele envolva a
confissão de que a doutrina perfeita não pode ser declarada nem
concebida. Se, com esse subsídio, o desenvolvimento futuro da
natureza moral do homem somente levar a uma satisfação mais
firme com o ideal descrito, a doutrina é verdadeira. Um metafísico
pode sustentar que o fato de que o ideal se impõe à mente, de
modo que as mentes em seu desenvolvimento não possam deixar
de aceitá-lo, argumenta que o ideal é real: ele pode até sustentar
esse fato (se for um) constitui um existente. Mas as duas ideias,
verdade e realidade, são distinguidas aqui pelos mesmos caracteres
dados nas definições acima (Peirce, 1974, p. 395, CP 5.566,
1901/1902, tradução nossa).
A distinção entre verdade e realidade e a disseminação de documen-
tos que têm a pretensão de serem científicos, com sua aceitação pela comu-
nidade, são interesses da Ciência da Informação. As redes sociais têm con-
teúdo disseminado que banalizam os conteúdos informacionais e veiculam
como verdadeiro aquilo que não é balizado pela comunidade científica. O
critério de relevância e credibilidade das informações veiculadas tem cada
vez mais atenção, porque aquilo que é aventado enquanto possibilidade,
após milhões de acessos e pequenas alterações de conteúdo, acaba sendo
considerado verdade. A distinção entre o pensamento científico em uma
comunidade e aquilo que é veiculado enquanto conversa informal, é bas-
tante óbvio e tem diferenças que devem ser destacadas.
Mas, mesmo que fosse impossível distinguir entre verdade e
realidade, isso não impediria em nada que definíssemos em que
consiste a verdade. Verdade e falsidade são caracteres limitados a
proposições. Uma proposição é um signo que indica separadamente
seu objeto. Assim, um retrato com o nome do original abaixo é
uma proposição. Ele afirma que, se alguém olha para ele, ele pode
formar uma ideia razoavelmente correta de como o original era
(Peirce, 1974, p. 396-397, CP 5.569, 1902, tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
296
Numa sequência dedutiva, o argumento subsequente valida o ante-
rior, desde que esta conclusão seja um caráter contingente, decorrente do
anterior. Porém a premissa, da qual decorre a sequência argumentativa tem
que necessariamente ser verdadeira, ou então todo o processo, mesmo que
tenha um resultado verdadeiro não corresponde à existência.
Um signo é apenas um signo in actu em virtude de receber uma
interpretação, ou seja, em virtude de determinar outro signo do
mesmo objeto. Isso vale tanto para julgamentos mentais quanto
para signos externos. Dizer que uma proposição é verdadeira é
dizer que toda interpretação é verdadeira. Duas proposições são
equivalentes quando uma pode ter sido uma interpretação da
outra. Essa equivalência, como outras, é por um ato de abstração
(no sentido em que formar um substantivo abstrato é abstração)
concebida como identidade. E falamos em acreditar em uma
proposição, tendo em mente uma coleção inteira de proposições
equivalentes com seus interpretantes parciais (Peirce, 1974, p. 396-
397, CP 5.569, 1902, tradução nossa).
A verdade, em constante checagem com sua possibilidade real, dá o
norte para a verdade científica que é mantida em evolução. A proposição
verdadeira tem seu respaldo na verificação, na comprovação. É este com-
promisso moral de apresentação científica compartilhada socialmente na
divulgação de informação.
Assim, diz-se que duas pessoas têm a mesma proposição em
mente. O interpretante de uma proposição é ele próprio uma
proposição. Qualquer inferência necessária de uma proposição é
uma interpretação dela. Quando falamos de verdade e falsidade,
nos referimos à possibilidade de a proposição ser refutada;
e essa refutação (grosso modo) ocorre de uma só maneira.
Nomeadamente, um interpretante da proposição produziria, se
acreditado, a expectativa de uma certa descrição de percepção em
uma determinada ocasião. Chega a ocasião: a percepção imposta a
nós é diferente. Isso constitui a falsidade de toda proposição cuja
interpretação decepcionante foi o interpretante (Peirce, 1974, p.
395-397, CP 5.569, 1902, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
297
A representação de um interpretante que possui características de
uma criação ou julgamento mental está no campo da literatura, da religião
enquanto crença em um dogma, ou no folclore que une elementos mito-
lógicos no cotidiano. Estes elementos quando descritos causam a formali-
zação de uma proposição de caráter imaginário, lúdico, mas não científico
necessariamente.
Assim, uma proposição falsa é uma proposição da qual algum
interpretante representa que, em uma ocasião que indica, uma
percepção terá um certo caráter, enquanto o julgamento perceptivo
imediato nessa ocasião é que a percepção não tem esse caráter.
Uma proposição verdadeira é uma crença de proposição na qual
nunca levaria a tal desapontamento, desde que a proposição não
seja entendida de outra forma do que a pretendida (Peirce, 1974,
p. 397-398, CP 5.570, 1902, tradução nossa).
A forma na qual é apresentada a proposição verdadeira permite, além
do reconhecimento, o teste da realidade em comparação com o julgamento
perceptivo tende a ser mantido o mesmo, nos vários interpretantes ofereci-
dos pela relação de interação entre a percepção e o julgamento.
4.5.4 pÓs-veRDaDe11
Discussões e estudos entre as diversas áreas do conhecimento são os
objetos de estudo da Ciência da informação (Hjørland, 2002a). Posto isso,
valer-se do critério de verdade mantido pelo método pragmático é enten-
der a significação do ponto de vista científico e também do ponto de vista
ético de personalidades ou comunidades que deliberadamente se valem da
grande difusão da comunicação da internet para veicular notícias que não
são comprovadas pelos fatos, mas que tem aceitação verdadeira.
11 Assunto tratado em artigo publicado em Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da
informação, Florianópolis, v. 23, n. 53, p. 01-15, set./dez., 2019. Universidade Federal de Santa Catarina.
DOI: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2019.eXXXX.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
298
Esta aceitação acontece ou por interesse do usuário divulgador da
notícia falsa ou por uma repetição ocorrida tantas vezes da mesma estória
que ela passe a ser considerado um fato. No “Argumento negligenciado da
Existência de Deus (Peirce, 1974, p. 396-397, CP 5.569, 1902) Peirce
faz uma belíssima argumentação relacionando a realidade e existência de
Deus baseado na crença e fé dos cristãos. Guardadas as devidas diferenças,
podemos fazer uma analogia à maneira como as pessoas acreditam nas no-
tícias falsas pelo fato delas aparecerem recorrentemente em vários canais de
comunicação, de tal forma que passam a ser aceitas, porque a comunidade
passa a tratá-las como se de fato existissem, por uma insistência e recorrên-
cia do mesmo assunto.
O grande volume de dados que circula na internet, os big data, são
gerados tanto pelo acesso de usuários individuais das redes sociais quanto
por acionadores automatizados. O grande volume de dados pode ser ma-
peado enquanto um conjunto relacionado a um propósito. Eli Parisier em
2011 usa o termo “bolha” para a pesquisa efetuada no Google que reafirma
aquilo que buscamos (Santaella, 2018). A resposta que o usuário procura é
geralmente aquela que mais está ajustada aos interesses. Assim o resultado
é um reflexo daquilo que é buscado, excluindo àquilo que apresente con-
traposição, reafirmando a crença que cada usuário já possui.
O direcionamento ético dos fomentadores de notícias falsas também
é passível de caracterização, pois os fatos são manipulados de maneira a
mostrar uma realidade construída, com um propósito bem específico, mes-
mo que na maioria das vezes o indivíduo que replica o conteúdo informa-
cional ignore esta divulgação que é feita baseada num impulso emocional
de reafirmação da própria crença.
Nelas, [nas redes sociais] os usuários entram no jogo como mão
de obra (gratuita e, logo, escrava), como matéria-prima (também
gratuita) e, por fim, como mercadoria. Graças a esse modelo
originalíssimo, o Facebook não precisa gastar um centavo para
gerar conteúdo” (no jargão horroroso da indústria), pois seus
usuários atuam como digitadores, fotógrafos, locutores, atores,
sonoplastas, escritores e tudo o mais (Bucci, 2018, p. 29).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
299
Os conteúdos sensacionalistas são aqueles que mais despertam in-
teresse nas pessoas (Chapman, 2017). Não por acaso as notícias nos te-
lejornais mostram cada vez mais em tempo real a violência: quanto mais
expostas, maior a necessidade de acontecimentos extraordinários para sen-
sibilizar. Para replicar um conteúdo nas redes sociais, quanto mais ele ape-
lar à emoção, mais rapidamente será replicado sem ponderações lógicas.
Seja do ponto de vista da atuação do cidadão comum em sua rede
social, seja do ponto de vista de uma comunidade científica, o método
pragmático oferece, pela lógica a possibilidade de adoção do critério de
verdade. A integridade dos fatos e reprodução da verdade é base da Ciência
da Informação, e sua custódia daquilo que é relevante para a organização
do conhecimento.
O conhecimento verdadeiro implica em demonstração da verdade,
feita pela lógica, de maneira a comprovar a hipótese aventada. O confron-
to entre real e existente tem na mediação lógica dos signos capacidade de
aceitação pela comunidade científica. A verdade que leva ao conhecimento
é aquela que contém a proposição que logicamente é considerada verdadei-
ra, conforme a definição abaixo:
CONHECIMENTO: Essa palavra é usada na lógica em
dois sentidos: (1) como sinônimo de cognição, e (2), e mais
proveitosamente, para significar uma cognição perfeita, isto é,
uma cognição preenchendo três condições: primeiro, que vale
para a verdadeira uma proposição que realmente é verdadeira;
segundo, que é perfeitamente auto-satisfeito e livre do desconforto
da dúvida; terceiro, que algum caráter dessa satisfação é tal que
seria logicamente impossível que esse caráter jamais pertencesse à
satisfação em uma proposição não verdadeira (Peirce, 1974, p. 423,
CP 5.605, 1901/1902, tradução nossa).
A inquietação por antever uma descoberta oferecida pela abdução
encadeia o processo até a comprovação lógica na qual a hipótese está es-
truturada. A busca da verdade é a busca da melhor adequação, dentro
da condição científica para a demonstração do conceito obtido em uma
informação verdadeira. Promover o conhecimento pode ser feito a partir
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
300
da informação verdadeira, baseada em um conceito que é a representação
deste processo compartilhado em uma comunidade que tem condições de
evoluir o processo em outros interpretantes.
4.5.5 siGnOs DeGeneRaDOs
O questionamento e estudos sobre a evolução do processo de signifi-
cação permeia toda a verificação científica da semiótica. A concepção de sig-
nificação que é esgotada nela mesma, e não implica em mudança de hábito
tem sua categorização formalizada. A continuidade da semiose implica na
concepção de signo genuíno, numa semiose que mantenha aberta a possi-
blidade de formação de novos interpretantes, representamens advindos do
processo evolucionário de mediação do signo com seu próximo objeto.
Tratando das tricotomias e da relação triádica enquanto criação
Peirce oferece a sequência vinda das categorias:
O primeiro é aquele cujo ser é simplesmente em si mesmo, não se
referindo a nada nem mentindo atrás de qualquer coisa. O segundo
é aquilo que é o que é pela força de algo ao qual é o segundo. O
terceiro é aquilo que é o que é devido a coisas entre as quais ela
media e que ela relaciona umas com as outras (Peirce, 1974, p. 183,
CP 1.356, 1890, tradução nossa).
Objeto é em si mesmo por aquilo que é, independentemente de qual-
quer outra coisa. O signo existe pela força do objeto ao qual se relaciona, por
isto então, o segundo. O terceiro, o interpretante está na relação do primeiro,
o objeto ao seu signo, o segundo, perfazendo um novo signo, o terceiro.
Quando o segundo sofre alguma mudança da ação do primeiro, e
depende dele, a secundidade é mais genuína. Mas a dependência não
deve ir tão longe que o segundo seja um mero acidente ou incidente
do primeiro; caso contrário, a secundidade degenera novamente
(Peirce, 1974, p. 184-185, CP 1.358, 1890, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
301
Uma vez que as relações diádicas não são pares, mas mediação para a
formação do representamen é tão ou mais importante que a referência ao
objeto, uma vez que operando em terceiridade, a primeiridade e secundi-
dade necessariamente fazem parte do processo. O componente mental que
caracteriza o signo evoluído num interpretante, num representamen é a
marca do signo genuíno, capaz de repor o geral ao caso particular, fazendo
da semiose uma possibilidade sequencial infinita.
O segundo deve conter nele a criação, a novidade do terceiro:
Primeiro e segundo, agente e paciente, sim e não, são categorias que
nos permitem descrever os fatos da experiência, e eles satisfazem
a mente por muito tempo. Mas finalmente eles são considerados
inadequados, e o terceiro é a concepção que é então requerida.
A terceira é aquela que atravessa o abismo entre o primeiro e o
último absoluto e os coloca em relacionamento. Dizem-nos que
toda ciência tem seu estágio qualitativo e seu quantitativo; agora
seu estágio qualitativo é quando as distinções duplas - se um dado
sujeito tem um determinado predicado ou não – bastam; a etapa
quantitativa surge quando, não mais contentes com tais distinções
grosseiras, precisamos inserir um meio termo possível entre cada
duas condições possíveis do sujeito em relação à sua posse da
qualidade indicada pelo predicado (Peirce, 1974, p. 191-192, CP
1.366, 1890, tradução nossa, grifo nosso).
Os fatos da experiência para serem descritos cientificamente em seus
predicados tem que ter a avaliação qualitativa e quantitativa, e é esta a
maneira mais básica de atribuição de significado a partir da qual as análises
são feitas. A própria natureza oferece a ocorrência da terceiridade em pro-
cessos criativos de significação de relações genuinamente, uma vez que os
agentes o fazem racionalmente e não por acidente (Peirce, 1974, p. 191-192,
CP 1.366, 1890). Desta maneira, a razão objetivada é aquilo que constitui
a genuína terceiridade.
Entre os terços, existem dois graus de degenerescência. O
primeiro é onde existe no próprio fato nenhuma Terceiridade
ou mediação, mas onde há verdadeira dualidade; o segundo grau é
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
302
quando não existe igualmente verdadeira Secundidade no próprio
fato. Considere, primeiro, que os terços degeneram no primeiro
grau (Peirce, 1974, p. 191-192, CP 1.366, 1890, grifo nosso,
tradução nossa).
Primeiridade e secundidade são condições para que aconteça a ter-
ceiridade, A qualidade de sentimento verificada na existência acontece se
esta forma de representação tiver lugar na mente de um intérprete que
observa o fenômeno e então pode pensar sobre ele.
Quando você compara a compulsão cega em um evento de reação
considerado como algo que acontece e que de sua natureza nunca
pode acontecer novamente, já que você não pode atravessar o
mesmo rio duas vezes, quando, digo, você compara essa compulsão
com a necessidade lógica de um significado considerado como
algo que não tem nada, exceto na medida em que realmente se
concretiza em um evento de pensamento, e você considera essa
necessidade lógica como uma espécie de compulsão real, uma vez
que o significado deve realmente ser corporificado, o que você está
pensando é uma secundidade envolvida na terceiridade (Peirce,
1974, p. 280-281, CP 1.530, 1903, tradução nossa).
O conceito advindo do hábito que instaura a representação abstra-
ta tem na dedução, especialmente na matemática, a capacidade de asso-
ciação dos signos para, a partir desta representação, chegar ao resultado
tido como verdadeiro.
O universo dos signos não é determinado pelo mundo da experiência.
Pelo contrário, está fundamentado nele e, sendo independente,
determina o que é o nível mais baixo. Consequentemente, para
Peirce, a semiótica não é uma ciência empírica, mas é apenas uma
lógica (Garewicz, 1979, p. 15).
A maneira convencional de expressão humana feita pela linguagem
tem nas palavras e como derivação dela a escrita os elementos convencio-
nados para a representação tanto dos pensamentos quanto do mundo. A
associação mental entre o signo e seu objeto convencionada por lei contém
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
303
um ícone que é a qualidade trazida pelo fato dele indicar o objeto, e então
existe a representação que relaciona, simboliza o sua existência a partir
desta qualidade aferida.
Um Índice ou Sema é um Representamen cujo caráter representativo
consiste em ser um segundo individual. Se a secundidade é uma
relação existencial, o índice é genuíno. Se a secundidade é uma
referência, o índice é degenerado. Um Índice genuíno e seu
Objeto devem ser indivíduos existentes (sejam coisas ou fatos), e
seu Interpretante imediato deve ser do mesmo caráter. Mas como
cada indivíduo deve ter caracteres, segue-se que um Índice genuíno
pode conter uma primeiridade e, portanto, um ícone como parte
constituinte dele. Qualquer indivíduo é um Índice degenerado
de seus próprios caracteres (Peirce, 1974, p. 160, CP 2.283,
1903, tradução nossa).
Uma vez que o signo representa um objeto que é independente dele,
esta representação é um pensamento, um signo que está no lugar do objeto
por uma convenção, uma vez que a existência do objeto físico não é afeta-
da por esta representação mental (Peirce, 1974, p. 284, CP 1.538, 1903).
Apenas a cadeia interpretante oferece um símbolo, o representamen que
está no lugar do objeto numa nova semiose.
Um signo está em uma relação conjunta com a coisa denotada
e com a mente. Se esta relação tripla não é de uma espécie
degenerada, o signo está relacionado ao seu objeto apenas em
consequência de uma associação mental e depende de um hábito.
Esses sinais são sempre abstratos e gerais, porque os hábitos são
regras gerais às quais o organismo foi submetido. Eles são, na maior
parte, convencionais ou arbitrários. Eles incluem todas as palavras
gerais, o corpo principal do discurso e qualquer modo de transmitir
um julgamento. Por uma questão de brevidade, vou chamá-los de
tokens (Peirce, 1974, p. 210 CP 3.360, 1885, tradução nossa).
O símbolo para ter um significado geral deve pertencer a tercei-
ridade, representar seu objeto por convenção, regra geral, por lei. Para
esta capacidade de apresentação enquanto forma, existe apenas enquanto
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
304
correlato daquele ícone, daquele signo contido nele. O signo constituí-
do apresenta duas etapas: o signo enquanto ele mesmo, formado por um
interpretante imediato, ou interpretante normal; e participante de uma
outra tríade, enquanto interpretante dinâmico (cuja referência são as pos-
sibilidades aos casos de interpretantes emocional, energético e lógico) que
tende ao interpretante final.
Aceitando-se a lógica enquanto ciência da terceiridade em geral, a
ciência de uma representação verdadeira, independentemente da coleta de
dados nos fatos especiais do cotidiano e neste caso aconteça enquanto re-
presentação mental, ela é “em resumo, a filosofia da representação” (Peirce,
1974, p. 280-281, CP 1.530, 1903). O representamen enquanto signo
produto de semiose, passível de nova relação interpretante, contém na sua
concepção aqueles signos mediadores que oferecem a informação necessá-
ria para que o pensamento, enquanto processo de terceiridade ocorra.
Os graus de degeneração da terceiridade envolvem dois tipos de de-
generescência, pois apesar de haver a pluralidade ela aparece em condições
mutiladas formando um certo tipo de secundidade dupla, na qual as uni-
dades apesar de se ligarem em pares apresentam as características indivi-
duais, como é o exemplo da subdivisão (Peirce, 1974, p. 4-5 CP 5.70,
1903). O primeiro grau de degeneração é uma Pluralidade Irracional tida
enquanto uma subdivisão, ou uma complicação da dualidade. O segundo
grau “é onde nós concebemos uma mera Qualidade de Sentimento, ou
Primeiridade, para representar a si mesma como Representação” (Peirce,
1974, p. 48-50, CP 5.71,1903).
A evolução do signo em um processo genuíno, no qual a cadeia in-
terpretante infinita prossegue, tem seu contraponto naqueles processos que
têm relação diádica, estagnado na sobreposição entre o signo e sua signifi-
cação a informação oferecida. Dentro de sua classificação existem aqueles
que se apresentam degenerados por terem forma de alguma maneira coin-
cidente com seu objeto, e, portanto, sem possibilidades de prosseguir uma
relação triádica genuína. Conclui que raramente é necessário designar o
signo com precisão (Peirce, 1974, p. 150-152, CP 2.265, 1903), uma vez
que sua correspondência parece ser bem clara, e isto, esta precisão, impli-
caria em uma maneira nominalista de entender o processo, mais do que o
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
305
conjunto de significação que é aquilo que na maioria das vezes é o objetivo
de análise.
Para colocar os dois tipos de relação, genuína e degenerada, segue-se
a descrição usada por Peirce:
Um Signo, ou Representamen, é um Primeiro que está em tal
relação triádica genuína com um Segundo, chamado seu Objeto,
como sendo capaz de determinar um Terceiro, chamado seu
Interpretante, para assumir a mesma relação triádica com seu
Objeto no qual ele se posiciona para o mesmo objeto. A relação
triádica é genuína, isto é, seus três membros estão unidos por
ela de uma maneira que não consiste em nenhum complexo
de relações diádicas (Peirce, 1974, p. 156-157, CP 2.274, 1903,
tradução nossa, grifo nosso).
No mesmo parágrafo, após discorrer sobre a já conhecida definição
de signo, enfatizando o fato de que os pares ao se relacionar não são rela-
ções diádicas estacionadas, ele complementa:
Essa é a razão pela qual o Interpretante, ou Terceiro, não pode
permanecer em uma mera relação diádica com o Objeto, mas deve
estar em tal relação com ele como o próprio Representamen faz.
Nem a relação triádica na qual o Terceiro se encontra é meramente
semelhante àquela em que o Primeiro se encontra, pois isso
tornaria a relação do Terceiro com o Primeiro uma secundidade
degenerada meramente. O Terceiro deve, de fato, estar em tal
relação e, portanto, deve ser capaz de determinar um terço
próprio; mas, além disso, deve ter uma segunda relação triádica na
qual o Representamen, ou melhor, a sua relação com o seu Objeto,
deve ser o seu próprio Objeto (do Terceiro), e deve ser capaz de
determinar um Terceiro para essa relação (Peirce, 1974, p. 156-
157, CP 2.274, 1903, tradução nossa, grifo nosso).
Nesta descrição ele deixa bem claro que o terceiro em relação genu-
ína está ligado àquele que é seu objeto, ou seja, o signo a partir do qual o
representamen foi formado. A exclusão de um dos três elementos signo,
objeto, interpretante retira a condição genuína no processo evolucionário.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
306
Quando o significado é obtido entre dois membros esta indicação reduz a
significação a estes dois componentes.
Tudo isso deve ser igualmente verdadeiro nos terços do terceiro e
assim por diante; e isso, e mais, está envolvido na ideia familiar de um
Signo; e como o termo Representamen é aqui usado, nada mais está
implícito. Um Signo é um Representamen com um Interpretante
mental. Possivelmente pode haver Representamens que não sejam
Signos. Assim, se um girassol, voltando-se para o sol, se torna,
por esse mesmo ato plenamente capaz, sem condições adicionais,
de reproduzir um girassol que se dirige de maneira precisamente
correspondente ao sol e, com o mesmo poder reprodutivo, o girassol
se tornaria um Representamen do sol. Mas o pensamento é o
principal, senão o único, modo de representação (Peirce, 1974, p.
156-157, CP 2.274, 1903, tradução nossa, grifo nosso).
O exemplo dado por Peirce relacionando o movimento da flor si-
multâneo ao movimento do sol enquanto um representamen para um ob-
servador humano é o escolhido entre vários possíveis porque é usado para
mostrar um processo de significação genuíno para uma mente humana. O
girassol é um signo para alguém desde que a relação do seu movimento e
a posição do sol aconteça. A relação do observador humano, tanto da flor
quanto do sol produz uma significação diferente da daquela que uma abe-
lha pode inferir desta mudança de ângulo durante o dia, feita pela flor. A
formação dos representamen, é necessário lembrar, ocorre em vários níveis.
O exemplo do movimento do girassol ilustra as perspectivas diferentes para
mentes diferentes. A posição do sol de acordo com a posição da flor para
uma mente humana indica uma trajetória diária conhecida esperada para
o sol. Para a mente que aprende com a experiência contida no percurso de
vida da planta representação consiste na maior absorção possível dos raios
solares para as funções vitais que ele desempenha no girassol. O objetivo
teleológico da planta independe daquilo que o ser humano possa pensar
sobre isto; ainda assim, a semiose dos componentes fisiológicos da planta
implica, por força de lei que ela tenha um movimento que segue a trajetó-
ria do sol durante o dia.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
307
A capacidade de atribuir significado, embora não seja capacidade
exclusiva da mente humana, tem no raciocínio, e especialmente na lógica a
capacidade de representação daquilo que é considerado verdade.
A abertura para a realidade ser incorporada na formação do próximo
representamen confere a capacidade de outro nível de relação ser estabe-
lecido. A factualidade testada em secundidade é uma etapa importante,
porém a significação no futuro, a abertura para a continuidade do próxi-
mo encadeamento é aquilo que torna o processo evolucionário natural, e
pertencente ao raciocínio humano, que é capaz de deduzir os resultados de
possíveis ações em futuro.
O termo “degenerado” como a maioria dos termos e conceitos descri-
tos por Peirce decorrem de argumentações lógicas a partir das quais sua se-
quência argumentativa justifica o termo como o mais adequado para nomear
o conceito. Pragmaticamente o nome decorre desta “confecção” lógica. A
dualidade existe em dois sujeitos independentes ou pluralidade de pares que
não se relacionam também podem ser duplas independentes, assim como o
são duas retas se não estão configuradas em sua relação cônica.
A semiose genuína implica na relação de terceiridade que forma o
interpretante, sendo a ação do signo, é um procedimento essencialmente
lógico. Como observa Garewicz (1979), nas dez classes de signo estru-
turadas por Peirce, apenas a última inclui signos genuínos, ou seja, um
argumento deve conter um símbolo que também seja um legissigno. Para
a consideração daqueles que incluem representação então é necessária a
valorização das formas degeneradas incorporadas à estrutura de represen-
tação ligadas à continuidade das possibilidades de semiose. “Mencionarei
apenas que entre as Primeiridades não há distinção entre o genuíno e o
degenerado, enquanto entre as Terceiridades encontramos não apenas um
genuíno, mas dois graus distintos de degeneração” (Peirce, 1974, p. 280,
CP 1.529, 1903).
Um fato concernente a dois sujeitos é um caráter dual ou relação;
mas uma relação que é uma mera combinação de dois fatos
independentes concernentes aos dois sujeitos pode ser chamada
de degenerada, assim como duas linhas são chamadas de uma
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
308
degeneração cônica. Da mesma maneira, um caráter plural ou uma
relação conjunta deve ser chamado de degenerado, se for um mero
composto de caracteres duais (Peirce, 1974, p. 210, CP 3.359,
1885, tradução nossa).
Numa relação degenerada, “A relação do signo e seu objeto é um
fenômeno autônomo, em vez de um efeito de uma interpretação
(Garewicz, 1979, p. 10, grifo nosso). Um índice neste caso é um efeito
direto, sem incorporar um terceiro na relação (Garewicz, 1979). O signo
indicativo da existência direta (portanto degenerada) rema, suscita uma
proposição, uma hipótese que pode ser comprovada ou não. Caso seja con-
siderada verdadeira, com potencial de lei se transforma em um argumento,
signo genuíno por fazer parte da relação que validou o discente, porém de-
generado ao atribuir significação, interpretação àquilo indicado pelo signo
inicial. O teste, a concretude da terceiridade degenera, relaciona o signifi-
cado àquela experiência em particular. Ela tem a condição de lei quando
comprovada na terceiridade. Lei esta que forma o hábito, ou modifica o
hábito existente.
Os graus de degeneração da terceiridade envolvem dois tipos de de-
generescência, pois apesar de haver a pluralidade ela aparece em condições
mutiladas formando um certo tipo de secundidade dupla, na qual as uni-
dades apesar de se ligarem em pares apresentam as características indivi-
duais, como é o exemplo da subdivisão (Peirce, 1974, p. 48, CP 5.70,
1903). O primeiro grau de degeneração é uma Pluralidade Irracional tida
enquanto uma subdivisão, ou uma complicação da dualidade. O segundo
grau “é onde nós concebemos uma mera Qualidade de Sentimento, ou
Primeiridade, para representar a si mesma como Representação” (Peirce,
1974, p. 48-50, CP 5.71,1903).
Cada representação feita elimina, ou desconsidera as outras possí-
veis, então limita o potencial de significação. Dar significado é degenerar
a possibilidade interpretante do signo. Por outro lado, o interpretante é
aquilo que vai tornar a relação genuína ao relacionar o signo ao seu obje-
to. O nível de significação, ou estágio da relação triádica, é aquilo que ao
ser analisado pode dar a qualificação de um processo genuíno (Garewicz,
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
309
1979). Neste sentido o signo degenerado é a primeiridade do signo genuí-
no em novo processo. Por isto a intencionalidade é a característica do prag-
matismo. A determinação em futuro, com vistas à significação, à interação
com o objeto, que é despertado pela forma, sensação, sentimento nos con-
vida ao pensamento. A interação pela racionalidade com o mundo físico é
feita por este movimento em relação ao conhecimento do objeto por meio
do signo. E o objeto pode ser de fato “coisa” ou uma ideia, uma nova ideia.
O índice por ser possibilidade, por ser o primeiro, único, não pode ter
a degeneração como qualidade. O ícone deve constituir o índice genuíno.
O índice deve suscitar em alguma medida a representação que está
na terceiridade. Assim como o indivíduo apresenta os próprios caracteres
porque ele mesmo é aquele conjunto de caracteres, também o exemplo de
uma placa de trânsito pode ser tomado. A placa indica uma situação por-
que é o símbolo representacional daquela mensagem, com a interpretação
definida de antemão, contida no signo indicativo. O significado apreendi-
do pela mensagem contida na placa de trânsito é sempre o mesmo e repre-
sentação e indicação de conduta são sempre coincidentes, sem aberturas
para outras ações que não sejam seguir ou não seguir aquilo determinado
pela mensagem explícita na placa.
Representar e ainda assim ter abertura para continuar o processo é
aquilo que diferencia um símbolo genuíno daquele degenerado. A associa-
ção mental, a participação da posição do sujeito que experiencia o mundo
objetivo é fundamental para a relação ser mantida.
Mas se a relação tripla entre o signo, seu objeto e a mente é
degenerada, então dos três pares, signo- objeto, signo- mente,
objeto- mente; pelo menos duas estão em relações duais que
constituem a relação tripla. Um dos pares conectados deve consistir
no signo e seu objeto, pois se o signo não estivesse relacionado ao
seu objeto, exceto pela mente que pensasse neles separadamente,
ele não cumpriria a função de um signo (Peirce, 1974, p. 210-211,
CP 3.361, 1885, tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
310
Voltando à placa de trânsito como exemplo, a relação dual entre a
imagem na placa e a ação determinada por ela existe enquanto signo, assim
como a ação de seguir ou não seguir àquilo determinado por ela é outro
par de relações possíveis. O signo cumpre a função de ligar-se ao seu objeto
enquanto uma associação direta.
Aqui a distinção entre signo e objeto é feita pela ação mental do
intérprete, que é aquilo que confere adequação do signo ao seu objeto. A
relação dual direta, de ação e reação, por si só, não implica na formação
do interpretante, sendo dispensada a relação triádica que ao ter potencial
representacional confere genuinidade á significação que tende à verdade.
Supondo, então, que a relação do signo com seu objeto não esteja
em uma associação mental, deve haver uma relação dual direta
entre o signo e seu objeto, independente da mente que usa o signo.
No segundo dos três casos de que acabamos de falar, essa relação
dual não é degenerada, e o signo significa seu objeto apenas em
virtude de estar realmente conectado a ele. Desta natureza são
todos os sinais naturais e sintomas físicos. Eu chamo esse signo
de um índice, um dedo apontando sendo o tipo da classe (Peirce,
1974, p. 210-211, CP 3.361, 1885, tradução nossa).
A elevação da temperatura do corpo implica em um estado febril. O
signo é conectado ao objeto porque a elevação de temperatura implica no
conhecimento de uma temperatura normal, o que suscita no intérprete a
continuidade do raciocínio para a relação causal da elevação de temperatura.
A associação da elevação da temperatura à febre é feita por força de lei, recor-
rendo a uma regra geral que deve ser confirmada. A terceiridade sendo um
modo de ser, um conceito, incorpora um hábito. Enquanto uma qualidade
pode ser incorporada, uma lei prediz aquilo que num outro caso particular é
possível ser representado (Peirce, 1974, p. 283, CP 1. 536, 1903).
Ele reafirma novamente que a abertura para a interpretação, naquela
mente que experiencia, deve ser de maneira a possibilitar a significação em
futuro como possibilidade de comprovação, a ser aferida pela existência.
Os sintomas físicos são suposições de ocorrências fisiológicas que devem
ser comprovadas, assim como o dedo que aponta tem possibilidades in-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
311
terpretantes que variam de acordo com aquilo que está sendo indicado
em cada variação de posição do dedo. A interpretação, a representação é
proporcionada pelo conjunto de fatores em cada condição interpretante.
Um símbolo genuíno é um símbolo que tem um significado geral.
Existem dois tipos de símbolos degenerados, o Símbolo Singular,
cujo Objeto é um indivíduo existente, e que significa apenas os
caracteres que esse indivíduo pode perceber; e o Símbolo Abstrato,
cujo único objeto é um caractere (Peirce, 1974, p. 166, CP 2.293,
1903, tradução nossa).
O exemplo da placa de trânsito pode ser reconhecido no comple-
mento da descrição feita a respeito do símbolo singular e abstrato. A “im-
perfeição” na caracterização do signo como Peirce segue explicando pro-
porciona o grau de abertura na evolução da significação.
Embora o Interpretante imediato de um Índice deva ser um Índice,
ainda que seu Objeto possa ser o Objeto de um Símbolo Individual
[Singular], o Índice pode ter tal Símbolo para seu Interpretante
indireto. Mesmo um símbolo genuíno pode ser um Interpretante
imperfeito dele. Assim, um ícone pode ter um Índice degenerado,
ou um Símbolo Abstrato, para um Interpretante indireto e um Índice
ou Símbolo genuíno para um Interpretante imperfeito (Peirce, 1974,
p. 166-167, CP 2.294, 1903, tradução nossa, grifo nosso).
Dar significado é degenerar a possibilidade interpretante do signo.
Por outro lado, ele é, o interpretante, aquilo que vai fazer a relação genuína
ao relacionar o signo ao seu objeto. O nível de significação, ou estágio da
relação triádica, é que ao ser analisado pode dar a distinção entre um pro-
cesso genuíno ou degenerado.
Qualquer conceito é um signo, é claro. Ockham, Hobbes e
Leibniz disseram o suficiente. Mas podemos tomar um signo em
um sentido tão amplo que o interpretante não é um pensamento,
mas uma ação ou experiência, ou podemos, ainda assim, ampliar o
significado do signo de que seu interpretante é uma mera qualidade
de sentimento. Um terceiro é algo que coloca um primeiro em
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
312
relação a um segundo. Um signo é uma espécie de terceiro (Peirce,
1974, p. 226-227, CP 8.332, 1904, tradução nossa).
A passagem do pensamento ao hábito que regula a ação dá ao prag-
matismo enquanto método instrumentos para o desprendimento da con-
cepção idealista e repõe a interação pelas categorias entre a concepção de
realidade e a existência de fato. No texto a seguir Peirce, nos escritos mais
tardios, exemplifica e explica a crença, a aquisição de verdade a partir de
um conceito que tem no hábito sua confirmação:
Todo conceito, sem dúvida, surge primeiro quando, sobre um
sentido de necessidade forte, mas mais ou menos vago, superinduz-
se alguma experiência involuntária de natureza sugestiva; que é
sugestivo, que tem uma certa relação oculta com a construção da
mente. Podemos supor que é o mesmo com as ideias instintivas
dos animais; e as ideias do homem são tão miraculosas quanto às
do pássaro, do castor e da formiga. Pois uma porcentagem não
insignificante deles se tornou a chave de grandes segredos. Com
bestas, no entanto, as condições são comparativamente imutáveis,
e não há mais progresso. Com o homem, esses primeiros conceitos
(primeiro na ordem do desenvolvimento, mas surgindo em todos
os estágios da vida mental) assumem a forma de conjecturas,
embora não sejam de modo algum sempre reconhecidos como tais.
Todo conceito, toda proposição geral do grande edifício da ciência,
primeiro chegou a nós como uma conjectura. Estas ideias são os
primeiros interpretantes lógicos dos fenômenos que os sugerem,
e que, como os sugerem, são signos, dos quais são os (realmente
conjeturais) interpretantes. Mas que eles não são mais do que
isso é, evidentemente, um pós-pensamento, a gota de dúvida fria
que desperta o julgamento sensato do muser. Enquanto isso, não
se esqueça de que toda conjetura é equivalente ou é expressiva
de tal hábito que ter um certo desejo poderia ser realizado se
alguém pudesse realizar um certo ato. Assim, o homem primitivo
deve ter sido por vezes perguntado por seu filho se o sol que se
levantou pela manhã era o mesmo que o da noite anterior; e ele
pode ter respondido: “Eu não sei, meu filho; mas acho que se eu
pudesse colocar minha marca no sol da tarde, eu poderia vê-la
novamente no sol da manhã; e uma vez conheci um velho que
podia olhar para o sol, embora mal conseguisse enxergar qualquer
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
313
outra coisa, e me disse que certa vez vira um ponto peculiar no
sol e que era para ser reconhecido de maneira inconfundível por
vários dias. [Prontidão] para agir de uma determinada maneira
sob determinadas circunstâncias e quando acionado por um
determinado motivo é um hábito; e um hábito deliberado ou
autocontrolado é precisamente uma crença (Peirce, 1974, p. 330,
CP 5.480,1907, tradução nossa).
A reposição entre o caso particular e a ocorrência da regra geral,
suscitam elementos como o acaso e a criatividade para a quebra de hábito,
ou a surpresa de um interpretante que altera a previsão contida na lei que
proporciona a previsão dedutiva de novo evento similar, em outro caso
particular. Cada representação feita elimina ou desconsidera as outras pos-
síveis, então limita o potencial de significação.
O interesse da pesquisa é determinar a viabilidade de identificação,
mais do que uma catalogação, dos tipos de signos degenerados porque é
importante perceber até que ponto um conceito pode ter possibilidades de
evolução. Não interessa, aqui, classificar os signos para conferir uma posi-
ção em sua estruturação, mesmo que isto seja possível. Isto seria tratar da
significação que de alguma maneira falhou, porque uma vez que ela cum-
pre seu papel enquanto relação dual, ela fica estagnada e não proporciona
outras abordagens que, em futuro, tenham possibilidade de transformar
aquele hábito, já consolidado no conceito, na representação conhecida.
Cada novo contato com uma representação, tenha ela a comunicação pos-
sível pelo diagrama que tiver, deve ser passível de fornecer, por meio de
uma relação triádica genuína informação. Esta informação enquanto se-
miose é aquilo que pode levar ao conhecimento, à ação que por meio da
atuação, da relação desencadeada no ambiente é capaz de criar e produzir
conhecimento.
4.6 pÓs-MODeRnO
O entendimento da interdisciplinaridade enquanto ferramenta, ou
metodologia na qual uma disciplina científica se vale das descobertas de
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
314
outras disciplinas é assunto de investigação para Peirce ao se tratar de um
método que seja considerado científico. Em 1882 já tem reconhecimento
entre os pares no clube de metafísica, fez quatro viagens para a Europa, é
membro do corpo docente da Universidade Johns Hopkins, e faz os pri-
meiros esboços de lógica com diagramas, e nestas condições se propõe a
trabalhar a lógica enquanto método científico.
Os mais altos lugares nas ciências, nos últimos anos, foram para
aqueles bem-sucedidos em adaptar métodos de uma ciência à
investigação de outra. Isto tem consistido nos mais altos progressos
das últimas gerações. Darwin adaptou à biologia os métodos de
Malthus e dos economistas; Maxwell adaptou à teoria dos gases
os métodos da doutrina do acaso, e à eletricidade os métodos
da hidrodinâmica; Wundt adaptou à psicologia os métodos da
fisiologia; Galton adaptou ao mesmo estudo os métodos da teoria
dos erros; Morgan adaptou à história os métodos da biologia;
Cournout adaptou à economia política o cálculo de variações
(Peirce, 1974, p. 46, CP 7.66, 1882, tradução nossa, grifo nosso).
A lógica tem a confirmação para usos que não são apenas em especia-
lidade, mas válidos para adaptação a trabalhos eficazes que requeiram seu
uso (Peirce, 1974, p. 46-47, CP 7.67, 1882).
A busca pelo conhecimento peirceana é feita por um homem de seu
tempo, suas indagações são concernentes àquilo que o pensamento cientí-
fico difunde no final do século XIX. No começo de careira é um pesquisa-
dor que tem na lógica o instrumento e apoio para demonstração da verda-
de, como é o caráter da ciência moderna. Aquilo que é seu questionamento
do modo de pensamento vigente conduz às constatações pragmatistas, no
decorrer de sua vida de pesquisador, e demonstram uma abordagem que
está além do pensamento moderno.
Uma estreiteza sutil e quase inerradicável na concepção da Ciência
Normativa percorre quase toda a filosofia moderna, fazendo-a
relacionar-se exclusivamente com a mente humana. O belo é
concebido para ser relativo ao gosto humano, o certo e o errado
dizem respeito apenas à conduta humana, a lógica lida com o
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
315
raciocínio humano. Agora, no sentido mais verdadeiro, essas
ciências certamente são de fato ciências da mente. Só que a filosofia
moderna nunca conseguiu livrar-se da ideia cartesiana da mente,
como algo que “reside” – tal é o termo – na glândula pineal. Todo
mundo ri disso hoje em dia, e ainda assim todos continuam a
pensar na mente da mesma maneira geral, como algo dentro dessa
ou daquela pessoa, pertencente a ele e correlativo ao mundo real
(Peirce, 1974, p. 81, CP 5.128, 1903, tradução nossa).
A ação intuitiva do pensamento, que está na concepção do insight,
que é pertencente à capacidade racional do ser humano (e por isto está no
topo da cadeia dos seres vivos, na concepção antropomórfica) de ter ins-
tantaneamente a compreensão de alguma coisa que antes desconhecíamos é
herança do cartesianismo na visão peirceana (Santaella, 2004b). O insight da
nova ideia contida em uma abdução tem no método pragmatista a maneira
lógica de procedimento para chegar a uma conclusão que deve ser verda-
deira. Diferente do cartesianismo que concebe a verdade como resultado da
faculdade exclusiva da racionalidade humana, contida dentro da mente, e
que é apartada da matéria. Aquilo que para Descartes era a garantida de co-
nhecimento, pois o objeto do conhecimento era aquele contido pela mente
que analisa e então, apenas desta maneira, pode chegar a um conhecimento
verdadeiro, para Peirce é falível, uma vez que é necessária a demonstração,
comprovação compartilhada socialmente de maneira lógica aquilo que é ca-
paz de ser conhecido enquanto realidade (Santaella, 2004b).
É contra esta visão de que apenas a ação mental pode dar o enten-
dimento dos fenômenos, que Peirce inicia seus trabalhos de investigação
em “Sobre uma nova lista de categorias” (Peirce, 1974, p. 287, CP 1.545,
1867). Para Peirce só entendemos aquilo que estamos preparados para in-
terpretar (Santaella, 2004b)12. A atenção deve ser capturada para que o
processo de significação possa acontecer. A relação deve ser instaurada, e
não determinada segundo regras pré-concebidas para ação, cujo fim é dado
de antemão, mas acontece seguindo a contingência para a realização.
12 (Vide CP 1.605,1903; CP 2.148, 1902; CP 2.175, 1902; CP 2.198, 1902; CP 8.31,1871).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
316
O caráter originariamente abdutivo de toda representação e
sua constante submissão à verificação experimental conferem à
necessidade das proposições um caráter de prognóstico e não
de um determinismo imposto às aparências. A determinação
da conduta futura na busca eminentemente ética de seu objeto,
consistindo na razão decisiva para a constituição da ciência, atribui
à universalidade desta última um caráter evolutivo, em constante e
assintótico crescimento, sendo atribuída de modo distributivo e não
coletivo aos signos que representa, sendo, pois, somente verificável
indutivamente em sua verdade no decorrer desta mesma evolução.
(Silveira, 2000, p. 117, grifo nosso).
Ochs (1992) enumera os princípios pelos quais o pensamento peir-
ceano pode ser considerado pós-moderno. A atividade semiótica é o pri-
meiro princípio do pensamento pós-moderno peirceano (Ochs, 1992). A
estruturação de um diagrama para a relação signo, objeto, interpretante,
dentro da lógica, porém apoiadas na fenomenologia, dão um caráter filo-
sófico à descoberta. O diagrama é aquilo que primeiramente evidencia a
articulação processual característica do conhecimento que não está apenas
além do mundo físico, sendo desta maneira uma atividade “metafísica”. A
metafísica articula o entendimento, descrição em generalidade representa-
da daquilo que é este processo de interação mente- matéria. O julgamento
crítico que dá um conceito é substituído pelo processo e este pode ser
reformulado e então apresentar um conceito. Este produto mostra daquilo
que resultou todo o percurso, e não apenas um juízo acabado daquilo que
o raciocínio do intelecto que está na mente do sujeito é capaz de discernir e
representar de antemão com apenas a comprovação experimental no final,
comprovando a teoria dada de antemão.
O mundo não é representado a partir da organização de nossas
ideias, mas é um processo no qual podemos nos incorporar e então mudar
a maneira de ação. O hábito de conduta é passível de revisão e alteração.
A possibilidade desta mudança num processo evolucionário é o segun-
do princípio pós-moderno do pensamento peirceano na visão de Ochs
(1992, p. 33):
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
317
Peirce fez essas afirmações ao mesmo tempo em que formulava
seu pragmatismo: como se tivesse abstraído sua teoria da mudança
de hábito de sua própria atividade de transformar seus hábitos de
pensamento meramente modernistas em hábitos pós-modernos.
Poderíamos, então, redescrever o pensamento pós-moderno de Peirce
como um método de mudança de hábitos - em particular, como
uma forma de transformar seu hábito modernista de crítica em um
hábito de reformar hábitos de ação pré-críticos em resposta à crítica
modernista. Nessa redescrição, não caracterizamos o pensamento
pós-moderno como um mero hábito, mas sim como uma atividade
de mudança de hábitos. Como o pensamento modernista, é uma
atividade crítica; ao contrário, é uma crítica da mera crítica e,
portanto, uma reafirmação – uma reafirmação reformadora.
Neste raciocínio de Ochs podemos dizer que a antecipação da no-
vidade, da mudança de foco do consumo e informação atuais tem nesta
percepção da mudança de hábitos uma antevisão do consumo capitalista
que cada vez mais foi sendo acentuado com o passar do tempo. Esta pós-
-modernidade tem o caráter de fluidez, de transição e busca pelo “novo
como marca da atividade das pessoas com relação à busca constante de
alguma coisa que está por vir contemporânea. E aqui não estamos tratando
de ciência, mas das maneiras de interação da sociedade capitalista com o
ambiente na qual o sujeito tem uma visão distorcida de seu papel enquanto
capacidade de interagir movido pelo consumo.
O terceiro princípio pós-modernista do pensamento peirceano é
o próprio pragmatismo, ou seja, a capacidade de análise do processo e
mudança de ação ter a possibilidade de representação, descrição e análise
do conjunto de atividades. Uma vez que a filosofia é capaz de recriar os
modos de ação na transformação de hábitos, os processos abdutivos são
de fundamental importância para a ação cega e mecânica movida pelos
hábitos incorporados ser transformada pela capacidade de reflexão sobre a
condição de interação entre o sujeito e o mundo (Ochs, 1992).
Peirce manifesta, no decorrer de sua obra, uma confiança no
conhecimento da verdade que o leva a ser frequentemente
visto como um otimista, até certo ponto ingênuo. As críticas
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
318
fundamentam-se especialmente em dois aspectos: a permanência de
seres localizados além do domínio do conhecimento e divergências
do conhecimento sobre classes de objetos, determinando crenças
incompatíveis entre si, mas indecidíveis em sua verdade por
serem igualmente coerentes na representação dos objetos e na
determinação da conduta (Silveira, 1988, p. 23).
A crença a priori da razão, explica Silveira (1988) que então atribui
um nome, ao conhecimento não reconhece uma efetiva relação entre pen-
samento e realidade. Os seres que estão fora do domínio do conhecimento
uma vez que se relacionem realidade e experiência serão passíveis de conhe-
cimento, uma vez que eles não estão em uma entidade interna à mente.
“Todo conhecimento é, para Peirce, inferencial, mediato, articulado no
tempo e processual. Todo processo de conhecimento faz-se mediante sig-
nos e no decorrer da experiência” (Silveira, 1988, p. 24).
Divergências sobre classes de conhecimentos no processo pragmatis-
ta não têm significado, uma vez que o processo é contínuo, autorregulável,
sujeito à intercorrências que devem ser incorporadas no processo e desta
maneira tem sempre o conjunto de significados adquiridos como a repre-
sentação mais adequada do resultado. Este resultado não é uma ideia a ser
demonstrada com a experiência, que comprova a hipótese simplesmente,
mas parte do processo de significação, assim pode chegar a resultados se-
melhantes em processos de direcionamento éticos diferentes, desde que o
ideal estético se mantenha representado no objetivo alcançado.
A distinção entre epistemologia e ontologia feita pelos filósofos mo-
dernos tem no Peirce pós-moderno modos de ação distinguíveis, mas não
claramente distintos (Ochs, 1992). A atividade semiótica enquanto instru-
mento de conhecimento interpreta a mesma medida que inclui o interpre-
tante, e o intérprete no processo. O “ser” está caracterizado na referência
dos procedimentos com os quais a relação descrita pode ser generalizada.
Da mesma forma o “real” não está fora do “conhecedor”, mas na semiose se
contrapõe enquanto existente. A expressão do mundo não está descrita por
desejos e interesses de quem pensa sobre ele, como no paradigma moder-
no, mas nosso conhecimento do mundo depende das maneiras pelas quais
praticamos o alcance deste conhecimento. “[...] realidade é aquela que,
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
319
chamando a atenção para si mesma à força, é conhecida falibilisticamente,
contextualmente e relacionalmente” (Ochs, 1992, p. 39).
Uma vez que o signo estabelece a continuidade entre o objeto e in-
terpretante, informa o objeto ao interpretante em uma relação de semiose
genuína, está ao mesmo tempo afirmando a existência do objeto e oferece
este objeto ao conhecimento na medida em que o representa. Existência e
conhecimento caminham juntos no processo de significação.
Distinções científicas entre vida e não vida são abstrações conve-
nientes que não podem ser encontradas em lugar nenhum no mundo real
(Merrel, 2012). Nesta afirmação existem pontos de concordância entre
Peirce e Prigogine, na visão de Merrel (2012); ele ainda acrescenta que
segundo Prigogine a diferença entre um organismo vivo e um não vivo
é questão de complexidade. Neste ponto somos remetidos à afirmação
Peirceana que matéria é mente cristalizada, empedernida em seu hábito.
As situações de complexidade e auto-organização vindas da física e biologia
apresentam um comportamento das substâncias que é muito mais próxi-
mo do pensamento significativo peirceano livre da linearidade da dedu-
ção que guiou o pensamento científico por séculos. O insight da abdução
e as possibilidades de auto-organização, como caracterizada por Debrun
(1996), são formas muito semelhantes de desencadear um processo que
não tem de fato a linearidade enquanto sequência. “Apesar da prolongada
fixação da linearidade do Ocidente, muita, senão a maioria da natureza
não é linear” (Merrel, 2012, p. 118). E neste caso a semiose é representada
por uma estrutura física corporificada em uma forma, à qual é possível
referência por esta forma de fato se traduzir em uma representação do
processo que se desenrola.
A evolução pressupõe adaptação da mente ao mundo, e nossos há-
bitos estão em conformidade com esta adaptação na realidade pragmática.
As categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade introduzem e
repõem as condições de interação na semiose constantemente e isto faz
parte do pensamento pós-moderno de Peirce (Ochs, 1992). Desta manei-
ra, Peirce pode explicar a evolução do cosmos por “tiquismo, anacasticismo
e agapismo” (“Evolutionary Love”, p. 302, CP 6.302, 1893).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
320
A individualidade, questionada por Peirce enquanto o sujeito que
duvida para conhecer o mundo, é ao longo de sua vida transformada em
amor evolucionário e que inclui o amor enquanto argumento para explicar
a crença em Deus proporcionando um cosmos evolucionário.
4.6.1 a pROpOsTa pRaGMaTisTa De TRansDiscipLinaRiDaDe
Para Wiley (2006) o “eu dialógico” de Peirce ao tratar do self en-
quanto uma relação de significação do indivíduo com o ambiente faz uma
enorme contribuição para a teoria social. A capacidade de autocorreção, e
a credibilidade da ciência propriamente dita, dariam ao processo semiótico
dentro do pragmatismo um caráter de construtivismo social. “Peirce tem
dois tons pós-modernos que podem ajudar a explicar o interesse contem-
porâneo. Sua lógica é fortemente anti-fundacional e sua epistemologia
é completamente social” (Wiley, 2006, p. 28, grifo nosso). Assim, o co-
nhecimento não é dado a priori, mas verificado durante o processo que é
compartilhado socialmente.
A possibilidade de o processo interpretante atribuir continuamente
significado e este ser identificado com todas as possíveis consequências está
muito próxima da teoria social. “As ideias de Peirce são muito parecidas
com as da Escola de Chicago de 1920 em geral, que foi o primeiro paradig-
ma da história, pelo menos da história americana, da sociologia13 (Wiley,
2006, p. 44).
O questionamento feito pela comunidade científica não pode ser
reduzido ao pensamento de alguns pesquisadores. Mesmo porque as inves-
tigações enquanto produtos de seu tempo têm a aceitação que a sociedade
13 A escola de Chicago é aquela, entre as demais vertentes sociológicas, que tem como caracterização o estudo
empírico dos grupos populacionais da cidade de Chicago, na década de 1920. Para Robert E. Park (1864-
1944) a estrutura física e a organização social da cidade têm associação de seus elementos que resultam em
um processo (Eufrasio, 2013, p. 50). Este processo de formação do espaço físico da cidade é constituído
pelo desempenho das pessoas e o lugar constitui influência na ação dos habitantes. Durante a década
de 1920, Park e Ernest W. Burgess (1886–1966) desenvolveram um programa de pesquisa urbana no
departamento de sociologia da Universidade de Chicago no qual o mapeamento da cidade de Chicago, que
teve um crescimento populacional vertiginoso, resulta na mostra de atividade da população em cada setor
da cidade, podendo então ser analisada esta mútua atuação.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
321
está preparada para desenvolver. O pragmatismo peirceano questiona a se-
paração entre o sujeito pensante das coisas do mundo ao qual pertence. Esta
análise epistemológica e ontológica foi matéria de investigação de Peirce ao
longo de sua carreira. Embora o reconhecimento da comunidade científica
de sua época não tenha acontecido, estudos contemporâneos, iniciados na
metade do século passado dão conta da enorme quantidade e qualidade de
seus trabalhos para o enfoque científico considerado “pós-Moderno”. Em
várias áreas do conhecimento sua metodologia Pragmaticista, que inclui
a Semiótica, tem aplicações e análise dos processos científicos, e para os
fenômenos naturais como considerava o autor.
O Universo da Experiência com o qual podemos nos relacionar pela
significação tem três descrições: A primeira é aquela das ideias, do poeta
e do matemático “Sua muito arejada insignificância, o fato de que seu Ser
consiste na mera capacidade de pensar, não na Atualidade de alguém pen-
sando neles, salva sua Realidade” (Peirce, 1974, p. 312, CP 6.455, 1908).
A segunda, Universo naquele em que o ser reage, é a realidade bruta das
coisas e dos fatos.
O terceiro Universo compreende tudo cujo ser consiste em
poder ativo para estabelecer conexões entre diferentes objetos,
especialmente entre objetos em diferentes Universos. Tal é tudo
o que é essencialmente um Signo - não o mero corpo do Signo,
que não é essencialmente tal, mas, por assim dizer, a Alma do
Signo, que tem seu Ser em seu poder de servir como intermediário
entre seu Objeto e uma Mente. Tal também é uma consciência
viva, e tal a vida, o poder de crescimento de uma planta. Tal é
uma constituição viva – um jornal diário, uma grande fortuna,
um “movimento” social (Peirce, 1974, p. 312, CP 6.455, 1908,
tradução nossa, grifo nosso).
A abrangência dos Universos da Experiência faz do signo a mediação
entre aquele que pensa, sente e a inteligibilidade do mundo. A consciência
científica aliada à atuação social concilia aquilo que é a possibilidade de
significação tanto em disciplinas diferentes quanto na atuação do ser vivo,
e no entendimento desta constituição viva no universo da experiência, seja
ela em qual vocação se manifeste.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
322
O questionamento da fundamentação epistêmica dos métodos para
investigação científica é a novidade trazida por Peirce (Santaella, 2004b).
O pragmatismo “é um teorema semiótico” (Santaella, 2004b, p. 28), por-
que incorpora nele as várias etapas e possibilidades de mediação do signo
no processo contínuo de formação de interpretantes. E o método prag-
matista tem inclusive a capacidade de aplicação em tudo aquilo que possa
aprender com a experiência, como é a caracterização peirceana.
A “semiótica é a ética do intelecto” (Santaella, 2004b), uma vez que
ela, a semiótica, conduz o processo da relação entre os signos, e então a
ética adequa os meios para alcançar os fins, mostra que a semiótica conduz
o intelecto no decorrer do processo ajustando a conduta, como é o proce-
dimento ético. A “ética é a estética da ação” (Santaella, 2004b, p. 28). Se é
função da estética mostrar aquilo que é o bem a ser alcançado, e a melhor
maneira de conduzir a ação para chegar a este objetivo é dada pela ética,
o melhor caminho para chegar ao objetivo é o bem estético deste proce-
dimento, nesta determinação da ação que é maneira de proceder da ética.
E agora, como fruto desta pesquisa mais profunda e cuidadosa
do método peirceano, sinto alguma segurança para declarar que,
se a filosofia moderna começou com Descartes, com o marco
peirceano, no diálogo frontal que ele estabeleceu com Descartes,
deu-se o nascimento de algo novo que, na falta de um nome
melhor, poderia ser chamado de filosofia pós-moderna. Trata-se
de um marco capaz de nos conduzir pela crise dos paradigmas, sem
que tenhamos de nos precipitar necessariamente nos costumeiros
niilismos ou nas apologias da desordem e do casual (Santaella,
2004b, p. 28, grifo nosso).
Nubíola (2005) explica a redução das ciências especiais às mais bási-
cas como um velho cientificismo descabido. E ele considera que a preten-
são de unidade das ciências tem o novo nome que é multidisciplinaridade,
e é de fato uma unidade dos cientistas que ao compartilharem esforços
promovem a transdisciplinaridade. A união de esforços entre os campos
ditos científicos e a filosofia pode ser obtido pela unificação dos métodos
como é a proposta peirceana.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
323
[...] o compartilhamento de esforços em uma mistura muito
peculiar de continuidade e falibilidade, de afeição e razão, a
tentativa de entender os outros e a si mesmo, colocando-se no lugar
dos outros e caminhando várias luas com eles. De uma perspectiva
peirceana, a comunicação entre os ramos da ciência é o efeito dos
esforços de uma comunidade real de seres humanos que tentam
compartilhar suas descobertas (Nubíola, 2005, p. 7).
A interdisciplinaridade é possível porque o método investigativo ofe-
rece formas diferentes, conformadas em signos, diagramas que têm poder
de compreensão, interação, relativos às percepções que cada novo estudio-
so, que é o agente de conhecimento e pode detectar informação. E a partir
desta percepção interagir com a representação contida naquela forma per-
cebida, que tende a uma nova significação. É pela forma representada no
diagrama, seja ele um texto, uma pintura, um objeto de arte, uma fórmula,
uma construção arquitetônica, uma música, que pode ocorrer a interação
com o usuário.
Este encadeamento enquanto método é factível por cada ciência em
particular, mesmo que o pensamento peirceano tenha resistência em cada
uma delas, dado o hábito moderno, reducionista ou positivista corrente
em cada uma delas. A interlocução pela velocidade de divulgação de infor-
mação pela internet certamente é o passo decisivo para o estabelecimento
de novas relações nas quais a organização cartesiana, tão importante em
situações de taxonomia deixa de ter aplicabilidade quando se trata de pro-
cessos não lineares.
Assumir, contudo, o pensamento peirceano de modo mais integral
sem se restringir a tarefa do comentador, não parece fácil. Pretender
guardar a autonomia de seu próprio questionamento e encetar
um amplo diálogo com Peirce supõe dispor-se a correr o risco de
ver abalados alguns pressupostos teóricos bastante arraigados no
pensamento contemporâneo, sustentáculos frequentes do discurso
produzido nos círculos lógicos, epistemológicos e metafísicos
(Silveira, 1993, p. 73).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
324
Silveira, em 1993, quando a necessidade de afirmar o pensamento
peirceano na comunidade científica tinha um caráter maior de novidade,
assinala o percurso possível para a validade de teses ou princípios que de-
vem ter aceitação do realismo peirceano. São elas:
1. Aceitar como valido um espirito de sistema falibilista cons-
tantemente ajustado a seu objeto por via indutiva e que não pro-
cura tomar qualquer instancia transcendental na origem de sua
elaboração. Não pretender, contudo, recorrer a uma classificação
como um mero expediente para obter uma clareza expositiva,
como poderiam aceitar o empirismo e uma filosofia indutivista.
Aceitar, com efeito, que a montagem laboriosa e experimental do
sistema tenha por intuito primeiro explicitar a arquitetônica do
pensamento como fenômeno geral e real (Silveira, 1993, p. 73).
O conceito tem características de terceiridade, é representação.
Como tal, é passível de revisão e ajustes. As etapas de indexação pelo or-
ganizador e recuperação da informação pelos usuários têm vários níveis de
generalização possíveis. A tarefa da organização da informação é promover
a recuperação da informação de modo a manter os níveis interpretantes
com abertura à diversidade. Os diagramas executados para comunicação
são tão diversificados e eficientes quanto às várias línguas faladas e escritas.
A restrição ao documento escrito deixa de lado enormes possibilidades de
reconhecimento da realidade.
2. Excluir do sistema qualquer instancia incognoscível, assumisse
ela a forma do sujeito ou do objeto de conhecimento. Procedendo
desta maneira, no entanto, não desacreditar da possibilidade de
um conhecimento efetivo da realidade e, consequentemente, não
concluir pelo caráter ilusório das relações objetivas, quando então o
pensamento seria aceito como um simples desdobramento superficial
de signos desprovidos de qualquer função representativa, somente
movido por uma instância pulsional (Silveira, 1993, p. 73).
A informação passível de abordagem pela Ciência da Informação
não pode ser considerada aquela que está restrita a uma coleção sob cus-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
325
tódia. Esta é uma parte restrita da qual o usuário, mesmo aquele com in-
teresse científico, deve compartilhar, independentemente do veículo físico
para este acesso. As possibilidades digitais que difundem conteúdos em
várias mídias são instrumentos poderosos à disposição do fomento de in-
formação. Os conteúdos que não têm características de verdade são vários
e bastante acessados e divulgados. O conteúdo científico deve ter apenas
a restrição ética de acesso e não dificuldades de manuseio de conteúdo. O
conhecimento é passível de comunicação entre os vários meios de repre-
sentação. O conhecimento por meio dos signos não tem limitação física do
substrato usado para meio de linguagem.
3. Aceitar que o Mundo possa ser concebido como uma forma em
contínuo processo evolucionário de crescimento e diversificação,
onde potência, existência e generalidade compartilhem do ser
e definam constantemente um “telos” a ser alcançado. Aceitar
a hipótese de que a realidade do Mundo seja da natureza do
pensamento na qual toda a semiose encontra seu pleroma. Aceitar,
consequentemente, a hipótese de que o pensamento a nada se
oponha na constituição do Mundo e não se constitua em atributo
exclusivo de alguma classe privilegiada de seres (Silveira, 1993, p.
73, grifo nosso).
A significação não pode ser restrita à comunicação humana. O am-
biente e processo histórico-cultural são determinantes para a condição de
representação em língua falada e escrita. É apenas um aspecto apresentado
ao conhecimento, outros tantos são passíveis de significado e perfazem um
conjunto da atuação no ambiente em atualidade evolucionária. Ainda, os
artefatos criados pela tecnologia modificam a base de transmissão de infor-
mação e possibilidades de mediação sígnica cada vez mais dinamicamente.
4. Não conferir qualquer precedência ao signo linguístico ao se
considerar o objeto da Semiótica, quando esta for tomada como
uma ciência geral. Não conferir ao signo em geral o que e especifico
do signo linguístico. Não reduzir, sequer, ao domínio do simbólico
os demais domínios em que os signos possam se realizar. Ao se
pensar a semiose, não desprezar qualquer forma de mediação
que permita a conduta inteligente orientar-se para seu fim. Na
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
326
perspectiva peirceana, ao simbólico cabe realizar a generalidade e
a continuidade explícitas, somente a ele sendo possível determinar
outros símbolos como series infinitas de interpretantes lógicos.
Não pode ele, contudo, prescindir de signos de existência e de
possibilidade nem absorvê-los dialeticamente. Estas duas outras
espécies de signos compartilham com o simbólico o domínio do
pensamento e do real – ambos, nesta altura, já compreendidos
como sinônimos – sem nele desaparecerem ou se tornarem um
resíduo não semiótico (Silveira, 1993, p. 73).
A primazia do signo linguístico coloca a semiótica de maneira geral
como estudo dos signos tratados pela linguagem humana. Esta restrição
embora consiga produzir entendimento de várias maneiras de significado,
restringe as possibilidades de conhecimento.
A relação de aprendizado na atuação é muito mais abrangente do
que a relação binária entre o signo e seu conteúdo na maneira como é
tratada por outros autores Morris, Saussure, Hjelmslev, Greimas (Nöth,
2005). Não se trata de impor mais uma regra de entendimento da lingua-
gem falada e escrita, mas proporcionar a partir da relação triádica genuína
a evolução do processo informacional onde quer que ela possa ocorrer.
Para Fabbrichesi e Marietti (2008), reafirmando aquilo que já está
descrito, Peirce possui um elevado papel na filosofia, pois há um forte co-
nhecimento que ensina alguma coisa às várias disciplinas científicas e atra-
vessa a rígida distinção entre elas.
4.6.2 episTeMOLOGia
As investigações de como pode ocorrer o conhecimento e a via de ra-
ciocínio proporcionada pela lógica são matérias de estudos desde o começo
da carreira de Peirce. A interposição de um signo que traz à mente aquilo
que está sendo observado é uma explicação bastante aceita.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
327
[...] sempre que pensamos, apresentamos à consciência algum
sentimento, imagem, concepção ou outra representação, que serve
como signo. Mas segue de nossa própria existência (que é provada
pela ocorrência de ignorância e erro) que tudo o que está presente
para nós é uma manifestação fenomenal de nós mesmos. Isso não
impede que seja um fenômeno de algo sem nós, assim como um
arco-íris é ao mesmo tempo uma manifestação tanto do sol
quanto da chuva. Quando pensamos, então, nós mesmos, como
estamos naquele momento, surge como um signo. Agora, um signo
tem, como tal, três referências: primeiro, é um signo para algum
pensamento que o interpreta; segundo, é um signo para algum
objeto para o qual, nesse pensamento, é equivalente; terceiro, é um
signo, em algum aspecto ou qualidade, que o coloca em conexão
com seu objeto. Vamos perguntar quais são os três correlatos aos
quais um sinal de pensamento se refere (Peirce, 1974, p. 169-171,
CP 5.283, 1868, tradução nossa).
No decorrer de suas pesquisas o caráter evolucionário deste apren-
dizado dá a tônica desta relação de significação. A concepção de conheci-
mento passa então pela continuidade de aprendizado. A epistemologia não
está reduzida ao plano das ideias da concepção tradicional da metafísica. A
constituição ontológica do conhecimento é feita pela mediação do signo,
não restrita à dedução, mas ao processo que descobre o novo signo, o in-
terpretante que tem caráter verdadeiro.
Há certas questões comumente consideradas metafísicas, e que
certamente são assim, se por metafísica queremos dizer ontologia,
que tão logo o pragmatismo é aceito com sinceridade, não pode
logicamente resistir à constituição. Mas no exame, se por metafísica
queremos dizer as verdades positivas mais amplas do universo
psicofísico - positivo no sentido de não ser redutível a formulações
lógicas - então o próprio fato de que esses problemas podem ser
resolvidos por uma máxima lógica é prova suficiente que eles não
pertençam à metafísica, mas à “epistemologia”, uma tradução
atroz de Erkenntnislehre. Quando passamos a considerar a natureza
do Tempo, parece que o pragmatismo é de ajuda, mas não produz
por si só uma solução (Peirce, 1974, p. 424-425, CP 5.496, 1907,
tradução nossa, grifo nosso).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
328
O objeto por si mesmo é matéria do “ser”, mas o processo de signifi-
cação é por necessidade relação, mediação. O processo criativo da semiose
quando relaciona signo e objeto produz interpretante, assim ao mesmo tem-
po em que relaciona o interpretante, mostra a natureza do objeto, implican-
do em conhecimento. Este caráter “positivo”, tratando-se do conhecimento
científico, implica na factualidade da secundidade, e desta maneira não tem
apenas a sequência lógica da argumentação dedutiva, mas abrange o teste in-
dutivo, incluindo o conhecimento na busca da verdade decorrente da media-
ção. A continuidade de progresso temporal é um importante aspecto, mas a
continuidade entre signo, objeto, interpretante, mantendo uma semiose ge-
nuína oferecem continuidade entre a existência e a realidade, entre mente e
matéria, entre o interno e externo a uma mente. E este aspecto difere da con-
cepção metafisica na qual a realidade, aquilo que é real está no pensamento,
na capacidade da mente de inteligibilidade do mundo da visão cartesiana.
A semiótica, dentro do pragmatismo peirceano ao oferecer os as-
pectos ontológicos e epistemológicos dos signos, coloca a posição da men-
te que interage no ambiente e propõe uma análise lógica do significado,
quando a inferência resulta em um discurso passível de ser submetido à
apreciação da comunidade para compartilhar o conceito de verdade con-
tido em todo o processo representacional. A relação com a fenomenologia
e a possibilidade de continuidade e revisão do processo, que não apresenta
um interpretante final, último inquestionável, são implicações originais da
epistemologia peirceana (Santaella, 2008). A percepção enquanto porta
de entrada do pensamento, ocorre pela mediação dos signos que são a in-
terface entre a internalidade da mente e a externalidade representada nos
substratos físicos.
Em uma epistemologia semiótica, a ideia de um sujeito do
conhecimento é sumariamente abandonada pela introdução
da função mediadora do signo, em cujo processo indivíduos
particulares não deixam de encontrar um lugar, mas trata-se de
um lugar dentro de uma trama complexa que expande a tríade
do signo-objeto-interpretante em subcomponentes capazes de
nos levar a entender as minúcias dos processos interpretativos e
cognitivos que os signos instauram (Santaella, 2008, p. 102).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
329
A ação do signo produzido enquanto representação tem cunho emi-
nentemente social, uma vez que a apreciação da comunidade àquilo que
foi caracterizado enquanto verdade a partir das inferências do interpretante
lógico tem necessariamente um caráter público. A expansão e continuida-
de processual não é particularidade do indivíduo, mas de uma “mente ca-
paz de aprender com a experiência” que tem na evolução e transformação
de hábitos a demonstração desta evolução.
A epistemologia é matéria da filosofia da ciência. A Ciência da
Informação deve se valer daquilo que interdisciplinarmente tem aplica-
ção ao seu objeto de estudo que é a informação, conceito para o qual não
existe consenso.
Objeto Imediato de todo conhecimento e todo pensamento é, em
última análise, o Percepto. Esta doutrina não conflita de modo algum
com o Pragmaticismo, que afirma que o Interpretante Imediato
de todo pensamento é apropriado. Nada é mais indispensável para
uma epistemologia sólida do que uma clara discriminação entre o
Objeto e o Interpretante do conhecimento (Peirce, 1974, p. 424-
425, CP 4.539, 1905, tradução nossa).
Este transcurso, entre a percepção e interação com o objeto, tenha
ele a característica de “coisa” material ou não, até a sua representação, tem
a análise delimitada no pragmatismo. Com o auxílio da semiótica quando
delineia as apresentações tanto do objeto quanto do interpretante. A se-
quência argumentativa que esta evolução pode ter é a demonstração desta
interação e conhecimento.
A abdução é um conceito chave na epistemologia peirceana
(Graybosh, 1993, p. 89). Além da justificativa epistemológica existe tam-
bém justificação metafísica para a abdução. Quando Peirce considera que
os reais contêm acaso genuíno e é feito com hábitos concretos ele se torna
racional e esta é a base da abdução (Graybosh, 1993, p. 103). Na visão do
autor isso é citado e é básico para o incremento da razoabilidade ou para a
evolução de um universo razoável como considera Peirce.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
330
“Na lógica, será observado que conhecimento é razoabilidade;
e o ideal de raciocínio será seguir os métodos que devem desenvolver o
conhecimento mais rapidamente [...]” (Peirce, 1974, p. 336-338, CP
1.615,1898). E este incremento do conhecimento é a esperança básica
para as disciplinas normativas, entre as quais está a epistemologia.
Na visão de San Juan (2018)14 a epistemologia é uma possibilida-
de ou uma modalidade de interdisciplinaridade. A epistemologia toma-
da como substrato interdisciplinar contempla o método pragmático per-
meando a investigação do conhecimento em toda estruturação científica,
na maneira ousada pela qual Peirce estrutura sua arquitetura das ciências
(Peirce, 1974, p. 77, CP 1.180).
Pragmatismo, sendo a lógica da abdução, leva o processo de investi-
gação das hipóteses considerando inclusive a economia de energia necessá-
ria para a investigação ser concluída a contento.
O custo da investigação contém o valor intrínseco do conhecimento
que vale o esforço, o investimento necessário para ser alcançado (Silveira,
2007). É feita uma relação entre o valor e o custo da informação obtida.
Ao longo do tempo o crescimento do valor da informação tende a desa-
celerar, e então o custo para obtê-la deve ser incrementado, aumentando
a aceleração dos esforços (Silveira, 2007, p. 195). A tarefa do pragmatista
então é avaliar uma otimização entre o dispêndio de recursos e o valor
informacional recebido pelo investimento, levando-se em conta que o mé-
todo pragmático visa o esclarecimento de ideias como objetivo principal.
Aos futuros pesquisadores caberá submeter ao teste da experiência
a validade de se adotar como programa de conduta as proposições
encaminhadas, considerando-se que esta dimensão programática
das representações teóricas constitui, para Peirce, a verdade destas
proposições. Em domínios desta natureza fica bastante claro que
o motivo da investigação científica é a admiração, uma vez que
14 Fidelia Ibekwe San Juan (Universidade de Aix-Marseille-França), Minicurso TÓPICOS ESPECIAIS DE
INFORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E BIG DATA (PARTE 1), X EIICA
(Encontro Internacional de Informação, Conhecimento e Ação), promovido pelos Departamentos e
Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação e Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências da
Unesp, Campus de Marília, ISKO (International Society for Knowledge Organization-Capítulo Brasil) e
SBCC (Sociedade Brasileira de Ciência Cognitiva) e realizado entre os dias 18 e 22 de junho de 2018.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
331
nenhuma utilidade pode aí ser buscada por si mesma. Quanto mais
o objeto for geral, mais se exigirá do método que ele adote um
caráter eminentemente conjectural, tomando por base uma forma
poética a ser desdobrada rigorosamente, segundo as exigências
lógicas, nas relações conceituais nela implicadas.
Será, finalmente, no domínio ético de confronto com o objeto
procurado que a verdade da teoria será verificada, mesmo que tal
confronto só se perfaça plenamente de modo tendencial, numa
relação sempre futura (Silveira, 1997, p. 111).
A curiosidade, a inquietação que o fato possa despertar elenca de
maneira ética elementos na busca do objeto a ser alcançado. Em primei-
ridade, aquilo que move é este despertar das qualidades que se mostram
admiráveis e justificam o esforço de investigação.
Peirce empreendeu uma investigação epistemológica radical dentro
das bases de todo conhecimento, uma vez que sua linha de inquérito foi
além do pensamento tradicional que distingue percepção do conhecimen-
to inferido, portanto lógico; e isto por sua vez implica na relação entre
matéria e espírito (Fabbrichesi; Marietti, 2008).
O transcurso percorrido pela interação entre objeto e signo na for-
mação de um interpretante tem a conformação de um conceito como a
generalidade passível de ser novamente experienciada por um signo. Tal é
a formação de um conceito que, guardadas as relações diádicas que restrin-
gem o signo, pode evoluir em novas relações tríadicas verdadeiras, inter-
pretantes que expandem o signo em novas possibilidades de conceito, em
vários níveis de inteligibilidade.
Estabelecer um modo consensual de chegar à verdade não é priori-
dade, ou necessidade para a Ciência da Informação. O que é interessante
é a possiblidade de diálogo, “[...] de comunicação entre os portadores de
diversos saberes, de múltiplas teorias, de conhecimentos que, além de es-
pecializados e fragmentados, são, por vezes, antagônicos ou concorrentes
(Gonzales de Gomez, 2001, p. 7). A prática social da Ciência da Informação
e a difusão de informação e conhecimento têm na comensurabilidade dos
discursos científicos a base para esta prática (Gonzales de Gomez, 2001).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
332
O método pragmático viabiliza este tratamento de significação, que pode
ser respaldado nas diversas áreas do saber.
4.7 cOnceiTO
Hábitos podem ser mudados e são mudanças de conceitos (Peirce,
1974, p. 326, CP 5.475, 1906), uma vez que são interpretantes lógicos,
de natureza geral que se transformam. Peirce usa o termo “transassocia-
ção”, uma vez que a dissociação está incluída na mudança de associações
costumeiras contidas no hábito que se transforma (Peirce, 1974, p.326,
CP 5.475, 1906). “Hábitos têm graus de força variando de dissociação
completa a associação inseparável” (Peirce, 1974, p. 327-328, CP 5.477,
1906), desta maneira o processo de formação, continuidade e mudança de
hábitos evoluem com a significação e podem ser analisados quando deter-
minada a etapa na qual existe interesse.
Tomar o pensamento como objeto de investigação, exige reconhecê-
lo mediado por signos; distinto, portanto, de seu objeto e, portanto,
evolutivo, imperfeito e submisso ao regime falível das aparências.
A Razão, compartilhando da natureza deste pensamento, é por si
mesmo temporal, em contínuo desenvolvimento, crescendo na
medida mesma em que interpreta os signos que lhe representam
o objeto procurado. Não lhe pode, pois, ser atribuída aquela
capacidade espontânea e, por isto mesmo, imediata de conferir
objetividade às suas representações (Silveira, 2000, p. 117).
Em “A Doutrina do Acaso” (Peirce, 1974, p. 392, CP 2.647, 1903)
o foco do trabalho é o acaso e a formação de conceitos. Peirce considera a
teoria das probabilidades como lógica quantitativamente tratada, ou seja,
ao problema geral das probabilidades é dado um estado de fatos deter-
minarem a probabilidade numérica de um possível fato (Peirce, 1974, p.
392, CP 2.647, 1903). Esta determinação, segundo a quantidade provável
é feita em graus, portanto com uma graduação de acerto (Peirce, 1974, p.
393-394, CP 2.649, 1903). Das regras para calcular chances de ocorrên-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
333
cia de um evento é um estágio inicial para o estudo da lógica das ciências
(Peirce, 1974, p. 401-404, CP 2.660, 1903).
Peirce faz uma diferenciação entre aquilo que é plausível, verossímil
e provável (Peirce, 1974, p. 405-407, CP 2.662, 1903). O plausível é aque-
la teoria ou hipótese ainda não submetida a um teste e à medida que se
comprove verdadeira mediante a tese justificaria a crença em sua veracida-
de (Santaella, 2001). Aquilo que é verossímil ainda não está provado, “mas
é apoiada por tal evidência de que, se o resto da possível evidência conce-
bível vier a ocorrer após o exame ser de caráter semelhante, a teoria seria
conclusivamente provada” (Peirce, 1974, p. 405-407, CP 2.662, 1903).
[...] podemos dizer que a probabilidade pertence exclusivamente
às consequências, e a probabilidade de qualquer consequência
é o número de vezes em que o antecedente e o consequente
ocorrem ambos divididos pelo número de todos os tempos em
que o antecedente ocorre (Peirce, 1974, p. 415, CP 2.669, 1903,
tradução nossa).
A relação entre o acaso e determinação, além dos graus de espon-
taneidade dos eventos, pode ser um guia para a análise e percepção dos
processos criativos, sejam eles de caráter científico, ou de outra natureza. A
criatividade vista como um processo contínuo de geração de novos inter-
pretantes trabalha neste limiar entre a confirmação da regra e a probabili-
dade de novidade que altera a regra.
É possível distinguir três classes de eventos causadores de mudança
de hábito. O primeiro é a surpresa que quebra uma associação de ideias
que habitualmente ocorre (Peirce, 1974, p. 328, CP 5.478, 1906), O se-
gundo, um esforço muscular que produz um experimento que contribui
para uma aquisição de ideias (Peirce, 1974, p. 328-329, CP 5.479, 1906).
O terceiro é quando por “um sentido forte de necessidade” é construído
um conceito. A partir de conjecturas, o primeiro interpretante lógico
pode se desenvolver e aquilo que é um hábito deliberado, ou autocontro-
lado, é precisamente uma crença (Peirce, 1974, p. 330, CP 5.480, 1906).
O terceiro modo de mudar um hábito de fato é agir de maneira a preparar
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
334
a situação na qual a crença também se transforma de maneira deliberada,
neste caso com vistas a atingir aquilo que foi projetado anteriormente.
Os interpretantes lógicos que têm a capacidade de vir a se realizar em fu-
turo são característicos dos conceitos intelectuais (Peirce, 1974, p. 331,
CP 5.482, 1906). A mudança de conceito surge, ou pelo menos sugere
um novo caminho, “[...] análogo suficientemente próximo de uma modi-
ficação da consciência para manter nossa conclusão bastante próxima da
verdade geral” (Peirce, 1974, p. 332-333, CP 5.485, 1906). Esta mudança,
portanto, pode tanto ser uma quebra repentina por um conceito formado
numa abdução que se mostra muito eficiente, o que poucas vezes acontece.
Ou, pode vir de uma sucessão de interpretantes que paulatinamente se
mostram como possibilidades de chegar a um objetivo e este objetivo é
parte de uma representação projetada para ser alcançada, por meio da qual
a ação busca a realização do objetivo proposto de antemão. Visto enquanto
um processo pragmático este objetivo, ele mesmo, vai sendo delineado no
decorrer do processo, encaminhando-se para aquilo que tende a ser o bem
estético que a ação promove.
Um interpretante lógico de um signo é aquele que possui o con-
teúdo cognitivo ou conceitual do signo. Se o interpretante, ele mesmo,
é uma asserção ou julgamento, então ele interpreta o signo dependendo
de como está sendo interpretado. O interpretante final é aquele que não
requer interpretação nele mesmo e pode ser um estado mental ou evento,
além de ser geral, caso contrário não representa o conteúdo do signo. Para
haver mudança no hábito de conduta deve haver o entendimento da con-
sequência na mudança das ações. Hoookway (1992) conclui a partir deste
raciocínio que para haver mudança de hábito este interpretante final é deli-
mitado e a generalidade que ele conduz ao ter modificação na ação produz
outra crença, outro modo de apresentar a generalidade. Peirce, ao tratar de
quantidade e se referir à sucessão de números, relaciona esta sucessão aos
hábitos. Num belíssimo texto, citado abaixo, antes de ser lógico-matemá-
tico introduz a concepção metafísica de sucessão de ideias como hábito, e
este hábito quando incorporado possui uma forma, esta forma são aquelas
percebidas enquanto “coisas” às quais nos referimos enquanto objetos:
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
335
[...] existem três categorias de ser; ideias de sentimentos, atos de
reação e hábitos. Hábitos são hábitos sobre ideias de sentimentos
ou hábitos sobre atos de reação. O conjunto de todos os hábitos
sobre ideias de sentimentos constitui um grande hábito que é um
mundo; e o conjunto de todos os hábitos sobre atos de reação
constitui um segundo grande hábito, que é outro mundo (Peirce,
1974, p. 134-135, CP 4.157, 1897, tradução nossa, grifo nosso).
Peirce apresenta fenomenologicamente as categorias relacionando os
modos de ser do universo em primeiridade pelos sentimentos, em secundi-
dade pela ação. Segue a argumentação para chegar à terceiridade:
O primeiro é o Mundo Interior, o mundo das formas de Platão.
O outro é o mundo exterior, ou universo da existência. A
mente do homem é adaptada à realidade do ser. Assim, há dois
modos de associação de ideias: a associação interna, baseada nos
hábitos do mundo interior, e a associação externa, baseada nos
hábitos do universo (Peirce, 1974, p. 134-135, CP 4.157, 1897,
tradução nossa).
O teatro da existência, onde as ações se desenrolam independente-
mente de nossas interferências, é desconectado do mundo interior, ao qual
assistimos com nosso mundo próprio, no solipsismo de nossos pensamen-
tos. Descrever esta separação entre o mundo interno e externo corrente no
senso comum, introduz o argumento segundo o qual percebemos aquilo
que estamos preparados para reconhecer. A associação que indica seme-
lhança é aquela que podemos perceber enquanto semelhante a alguma coi-
sa já conhecida. Assim, mesmo a separação, a alteridade contém elementos
de reconhecimento para que, de alguma maneira, esta abordagem aconte-
ça, mesmo que isto seja o estranhamento de algo desconhecido.
O primeiro é comumente chamado de associação por semelhança;
mas na minha opinião, não é a semelhança que causa a associação,
mas a associação que constitui a semelhança. Uma ideia de um
sentimento é tal que é dentro de si, sem quaisquer elementos ou
relações. Um tom de vermelho não se assemelha a outro tom de
vermelho. De fato, quando falamos de um tom de vermelho, já
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
336
não é a ideia do sentimento de que estamos falando, mas de um
conjunto de tais ideias (Peirce, 1974, p. 134-135, CP 4.157, 1897,
tradução nossa, grifo nosso).
O conjunto de tons com características da cor pode trazer a ideia de
diferenciação daquela cor, naquele momento no qual percebemos. Poder
conceituar é trabalhar estes signos que transitam em direção ao interpre-
tante, e que ao serem estabelecidos definem a situação ao qual eles se refe-
rem. Peirce segue a argumentação:
É o agrupamento deles no Mundo Interior que constitui o que
apreendemos e nomeamos como sua semelhança. Nossas mentes,
sendo consideravelmente adaptadas ao mundo interior, as ideias de
sentimentos atraem-se mutuamente em nossas mentes e, no curso
de nossa experiência do mundo interior, desenvolvem conceitos
gerais (Peirce, 1974, p. 134-135, CP 4.157, 1897, tradução nossa).
Assim como estamos em pensamento, descobrir a semelhança é ser
capaz de fazer associação, uma vez que só descobrimos aquilo que estamos
preparados para perceber. E a associação implica no desejo de alcançar o
bem estético, com a ética mobilizando elementos da ação, da factualidade,
da força bruta que impulsiona a ação que articulamos no diagrama que
melhor se adéqua à relação, ao bem desejado. Este conceito, esta forma
que se apresenta e que se altera a cada novo interpretante dá a generalidade
da ação representada e contida nela a demonstração do percurso traçado e
percorrido.
Esta percepção se apresenta enquanto forma que tem espacialida-
de, ele segue:
O que chamamos de qualidades sensíveis são esses aglomerados.
As associações de nossos pensamentos, baseadas nos hábitos dos
atos de reação, são chamadas de associações por contiguidade,
uma expressão com a qual não vou brigar, já que nada pode ser
contíguo, a não ser atos de reação. Pois ser contíguo significa estar
próximo no espaço de uma só vez; e nada pode ocupar um lugar
para si mesmo, mas um ato de reação. A mente, por sua adaptação
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
337
instintiva ao Mundo Exterior, representa as coisas como sendo
no espaço, que é sua representação intuitiva do agrupamento de
reações. O que chamamos de Coisa é um aglomerado ou hábito
de reações, ou, para usar uma frase mais familiar, é um centro de
forças (Peirce, 1974, p. 134-135, CP 4.157, 1897, tradução nossa,
grifo nosso).
A definição de “coisa” enquanto hábito de reações, nas quais a atuali-
dade e a factualidade predominam está configurada em uma forma que é a
maneira pela qual a percepção pode acontecer, pode iniciar uma relação ou
na sequência evolucionária descrita, ser o resultado, mesmo que momen-
tâneo desta conjunção de forças.
Em consequência, desse duplo modo de associação de ideias,
quando o homem chega a formar uma linguagem, ele faz
palavras de duas classes, palavras que denominam coisas,
quais coisas ele identifica pelo agrupamento de suas reações,
e tais palavras são nomes próprios, e palavras que significam,
ou expressam (mean), qualidades, que são fotografias
compostas de ideias de sentimentos, e tais palavras são verbos
ou porções de verbos, tais como adjetivos, substantivos
comuns, etc (Peirce, 1974, p. 134-135, CP 4.157, 1897,
tradução nossa).
Proporcionar diagramas que expressam a linguagem, em diversifica-
das formas, são maneiras de representar e apresentar a associação de ideias
constituídas neste agrupamento de reações corporificadas. Desta ma-
neira os conceitos corporificam seu percurso, transcorrido enquanto repre-
sentação do hábito que incorporam.
Mudanças de conceitos nesta concepção peirceana não estão em ide-
ais que designam situações preconcebidas, não são estados mentais descri-
tos como formas de ação classificadas. O hábito é capaz de fazer a ação ter
possibilidades de, a partir da primeiridade, retornar ao conceito, à terceiri-
dade com mudança na forma e quebra do hábito em novo conceito.
O transcurso entre a abdução e a demonstração daquilo que é a hi-
pótese aventada em uma significação verdadeira tem na formalização do
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
338
conceito a sua corporificação passível de comunicação, de compartilha-
mento que não fica paralisada no mundo das ideias, mas pode ter sempre
outras chances de interação em busca de outros objetivos que são os moto-
res de novos interpretantes.
Os conceitos, por sua vez, surgem como respostas a contingências
e como recursos para se alcançarem os objetos de desejo. Seu
caráter genuinamente geral não suprime o desafio de um objeto
que exige da mente um meio de, no futuro, alcançá-lo. A razão põe
sua criatividade e sua capacidade generalizadora para satisfazer sua
vontade. Esta, por sua vez, é atraída por um objeto que, devido às
qualidades que possui, apresenta-se como atraente e realizador para
a mente (Silveira, 2006, p. 307, grifo nosso).
O desafio entre a posição externa de quem observa e a atração causa-
da pela alteridade, por aquilo que é o outro, diferente da consciência de si
mesmo, mobiliza a interação. A admirabilidade é aquilo que primeiramen-
te mobiliza em direção à relação que será mediada pelos signos. A humil-
dade de entender que a interação supõe o risco de falha, de frustração de
expectativas, e ainda assim acontece a mobilização em direção àquilo tão
admirável a ponto de mobilizar energias para que exista a relação.
Na origem de todo conhecimento, volta-se a insistir, encontra-se a
contingência de toda conjectura. O objeto está lá amável e amado,
e procurar conhecê-lo supõe risco e humildade. Supor-se um
conhecimento perfeito, definitivo e inabalável é uma ilusão da qual
necessita a razão despertar (Silveira, 2006, p. 307, grifo nosso).
A admirabilidade caminha com a necessidade, a partir da qual a con-
tingência organizada em um conceito pode ser articulada e todo momento
revista e reajustada, de maneira a evoluir em direção à verdade, uma vez que
o “conhecimento definitivo e inabalável” é ilusório. O bem lógico é mobili-
zado pelo bem estético na busca daquilo que tem ágape como objetivo.
A apresentação do conceito em uma representação é tanto o trabalho
da Organização do Conhecimento quanto do artista que oferece uma obra
de arte. O cirurgião representa sua possibilidade de cura verdadeira na exe-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
339
cução da cirurgia. Entender a melhor representação para o oferecimento
deste conceito àquele que possa levar uma relação interpretante adiante é
uma tarefa ética de determinação da conduta que, de antemão, objetiva
um bem específico, especial. A abdução que leva à condução do encade-
amento entre a significação e ação é determinada pelo bem estético pelo
qual a mobilização tem a atração, que vale o esforço de ação.
Conceitos são hábitos mentais, hábitos formados pelo exercício
da imaginação. O instinto humano não é menos miraculoso
que o do pássaro, do castor ou da formiga. Apenas, em vez de
ser direcionado para movimentos corporais, como cantar e voar;
ou para a construção de habitações, ou para a organização de
comunidades, seu teatro é o mundo interior plástico, e seus produtos
são as maravilhosas concepções das quais as maiores são as ideias de
número, tempo e espaço [...] (Peirce, MS 318,44 apud Colapietro,
1989, p. 114; grifo do autor).
Conceber ou determinar um conceito implica na representação que
visa uma comunicação. A relação que mantém os interlocutores é a signi-
ficação daquela representação levada adiante num processo evolucionário
que é marcado pelo hábito daquela significação.
No caso específico da comunicação humana, que se vale daquilo que
institucionalmente é o legado da fala e escrita, a representação que é capaz
de informar um conceito tem modalidades de abertura em substratos dife-
rentes de representação que influenciam o contato com aquele que pode se
valer do conteúdo representado.
Há momentos em que o elocutor concede para o intérprete o
direito de estender a toda classe dos sujeitos, o predicado a ele
atribuído. Sob a forma de proposições universais, constroem-
se signos de essência e diante de qualquer experimento, põe-se à
prova o que está sendo afirmado o negado do sujeito, e da classe
de objetos nele representada. Em outros momentos, e, poder-
se-ia dizer, mais frequentemente, o elocutor reserva para si a
quem atribuir o predicado, podendo, quando interpelado pelo
intérprete, especificar mais de quem se está falando. Mantém-se a
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
340
particularidade da atribuição e, consequentemente, a possibilidade
de se fugir de contraprovas (Silveira, 2013, p. 209).
A partir do século XX a interação entre estes meios e também os
digitais proporcionam um alcance e modalidades de informação que não
eram usuais. O volume de dados gerados pelos acessos a determinados en-
dereços em uma rede digital, ou a quantidade de reprodução de conteúdo
que não necessariamente reproduzem a existência de fatos são questões que
tem ganhado importância para a definição de conceitos verdadeiros.
No primeiro caso, recorrendo a formas muito mais restritas a
comprometedoras da verdade do que se assevera, o elocutor assume
publicamente um compromisso, a princípio incondicional, com
o que afirma ou nega. Recorre, então, ao que Peirce denomina
signos objetivamente gerais, pois referente a toda classe dos objetos
à qual se atribui determinado predicado, ou determinada relação
causal. No segundo caso, recorre-se a signos objetivamente vagos,
que sob a forma de juízos existenciais, dirá que ao menos a um
entre os elementos de uma classe de objetos, caberá atribuição
de um determinado predicado, ou determinada relação (Silveira,
2013, p. 209).
A distorção da verdade para interesses próprios ou escusos são fa-
tos ocorridos inclusive na comunidade científica. Porém os meios digi-
tais oferecem uma velocidade e abrangência que não existia até o presente
momento. Lidar com estas questões informacionais, adequar um critério
moral de convivência social e promover o conhecimento são tarefas deste
entendimento do conceito verdadeiro dentro e fora do âmbito científico
na Ciência da Informação. A atribuição de predicados, o conteúdo do do-
cumento contingente mantém o processo comunicativo, porém a determi-
nação ética, os fins a que se destina determinado conteúdo tem uma nova
proporção com o acesso ao volume de dados gerados.
Em ambos os casos, o signo permanece relativamente indeterminado,
embora a generalidade e a vagueza mutuamente se oponham.
Todavia, mantém-se em aberto o processo comunicativo, cabendo
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
341
novamente ao interlocutor o empenho de fazer avançar à série de
interpretantes, aprofundar o hábito de conduta tencionado pela
Verdade como summum bonum (Silveira, 2013, p. 209).
Conceitos são articulados pela mente que profere o entendimento
do mundo, feito pela humanidade, representados de acordo com tempo
e cultura que relacionam o sujeito e o ambiente. São determinados pelo
hábito que perpassa mente e existência, resultado de interação entre aquilo
que é pensado ou imaginado, como coloca Peirce, e a existência percebida
por esta mente que relaciona realidade e existência. “[...] já que não é da
natureza dos conceitos definir adequadamente os indivíduos, parece que
um mundo do qual eles foram eliminados seria apenas o mais inteligível
(Peirce, 1974, p. 390-391, CP 3.612,1901-6).
O conceito não é uma ideia que define os objetos, ou o mundo, que
então devem ser adequados àquela definição. Uma vez que eles não dão
nome, “não definem adequadamente os indivíduos” dão a cada processo
de significação a oportunidade de melhor adequar a criação de conheci-
mento. Os objetos e aquilo que é representado são produtos de uma con-
duta investigativa, cuja generalidade está sempre sendo confrontada com
a experiência e a partir daí podem ser categorizados. A conduta científica
implica em conotação e demonstração de verdade. Sendo um indivíduo,
aquilo que é objetivo está no mundo independentemente da idealidade do
intérprete ou observador.
Porém, aquilo que propositadamente é divulgado com interesse de
distorção das provas de existência, com finalidades não benéficas para a co-
munidade, tem a ética de outras atuações que não são a verdade científica.
As definições de “pós-verdade” ou Fake News têm nas distorções dos fatos a
determinação ética de convencimento das pessoas daquilo que é o interesse
de algum grupo ou entidade em particular e neste caso aquilo que é dado
a conhecer é produto de um objetivo bem definido. Este objetivo não é do
interesse democrático de uma comunidade, mas visa beneficiar especifica-
mente alguém, ou alguma coisa, valendo-se do processo de divulgação de
informação manipulado.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
342
O crescimento da razoabilidade é obstruído, uma vez que o objetivo
eticamente proposto é valer-se da ingenuidade ou desconhecimento do
interlocutor para formalizar uma ideia que não é traduzida em verdade,
na qual a correlação com os fatos não pode acontecer. Os interesses se
valem do que é moralmente errado para divulgar uma ocorrência que não
apresenta uma correlação científica básica que é a correspondência com os
fenômenos, com a existência.
[...] digamos, quando essas ideias de progresso e crescimento se
desenvolveram de modo a ocupar nossas mentes como elas são
agora, como podemos esperar que a suposição de que o admirável
em si seja um resultado estacionário? A explicação da circunstância
de que o único resultado que é satisfeito consigo mesmo é uma
qualidade de sentimento é que a razão sempre aguarda um futuro
sem fim e espera infinitamente melhorar seus resultados (Peirce,
1974, p. 335-336, CP 1.614, 1896, tradução nossa).
A divulgação de fatos que não têm comprovação nos fenômenos ten-
de a ser falível. A melhora de resultados num acréscimo de conhecimento
tende a não existir. A manipulação da crença das pessoas então tende a dar
um caráter dogmático àquilo que é falsamente oferecido como informa-
ção para não haver questionamento, apenas a aceitação de um conceito.
A imputação por autoridade de uma verdade inexistente. E isto Peirce já
havia descoberto no começo de sua carreira enquanto lógico quando pu-
blicou “Algumas consequências de quatro incapacidades” (Peirce, 1974,
CP 5.310, 1868).
Todos os pragmatistas concordarão ainda que seu método de
determinar os significados das palavras e conceitos não é outro
senão aquele método experimental pelo qual todas as ciências
bem sucedidas (na qual conta ninguém em seus sentidos incluiria
metafísica) atingiram os graus de certeza que hoje lhes são
próprios; este método experimental sendo em si nada mais que
uma aplicação particular de uma regra lógica mais antiga: “Por
seus frutos os conhecereis” (Peirce, 1974, p. 317, CP 5.465,
1907, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
343
Apenas a metafisica, a interioridade do pensamento na mente hu-
mana não oferece conhecimento. A máxima pragmatista lembra que as
consequências práticas atribuem significado, e então conhecimento.
A interação com outros seres ou indivíduos pode acontecer, assim
como acontece com quem interage com este indivíduo destacado dos de-
mais “[...] um indivíduo é algo que reage. Ou seja, reage contra algumas
coisas e é de tal natureza que pode reagir ou reagir contra a minha vontade
(Peirce, 1974, CP 3.613,1901-6). Neste sentido não é a ideia do intérprete
que define o indivíduo, o fato, o outro, porque aquilo que este intérprete
entende, ou imagina, pode ser um equívoco a respeito da existência do
outro. A representação para ser verdadeira requer experimentação que vai
confirmar a crença naquilo que deve estar representado, enquanto confir-
mação da generalidade, da lei representada no conceito. Esta conceituação
é obtida por meio da ação, do ato de interação por meio dos signos com o
fenômeno que será representado.
A definição citada acima vem dos estoicos, complementa Peirce
e conclui:
Mas tudo cuja identidade consiste em uma continuidade de reação
será um único indivíduo lógico. Assim, qualquer porção do
espaço, na medida em que pode ser considerada como reagir, é
para a lógica um único indivíduo; sua extensão espacial não é uma
objeção. Com esta definição, não há dificuldade alguma na verdade
de que o que quer que exista é individual, já que a existência (não
a realidade) e a individualidade são essencialmente a mesma coisa;
e tudo o que cumpre a presente definição cumpre igualmente a
primeira definição em virtude dos princípios da contradição e do
excluído meio, considerados meras definições da relação expressa
por “não” (Peirce, 1974, p. 391-392, CP 3.613,1901-6, tradução
nossa, grifo nosso).
“Existência e individualidade são essencialmente a mesma coisa
(Peirce, 1974, CP 3.613,1901-6) são constatadas pela oposição de reação
na secundidade, uma vez que aquilo que confere existência ao mundo ob-
jetivo é a oposição a si mesmo perante o mundo, ou a outros objetos. Aqui
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
344
a individualidade pode tanto ser do ser que raciocina quanto do objeto,
bem próximo neste caso da definição de “coisa”, que tem uma “extensão
espacial”. Destacar esta reação a partir da realidade confere existência, por-
tanto neste sentido a contraposição irá conferir também individualidade
àqueles que se contrapõem. Esta individualidade é obtida por meio de uma
forma que caracteriza cada qual a sua maneira, uma vez que o indivíduo
é uma porção do espaço capaz de reagir, esta delimitação é estabelecida
em uma forma. Indivíduos diferentes têm capacidades diferentes de se-
rem representados enquanto decorrência da formação de interpretantes na
terceiridade, seja pela sua forma enquanto objeto, seja pelo processo de
formação de interpretantes que conduzem a mediação para terceiridade.
A forma enquanto representação num conceito pode de vir de uma
hipótese tanto quanto de uma obra de arte. “[...] a principal ambição do
realismo escolástico de Peirce é fornecer uma forte explicação da realidade
dos gerais (ou da existência objetiva da forma)” (Proulx, 2016, p. 57, grifo
do autor). O conceito uma vez que se apresenta enquanto forma obtida
pela significação pode ter a veiculação daquela porção espacial que contém
os signos pelos quais ela se apresenta, variando de acordo a matéria cons-
tituinte que marca sua individualidade. A relação de reação, de mediação
que resulta numa forma, num conceito informa seu processo interpretante
contido nele. Outras interações confirmam ou modificam o hábito con-
tido em sua composição espacial mostrada pelos signos em um diagrama.
Quando tratamos do conceito formulado cientificamente, aceito
pela comunidade científica enquanto decorrência de pesquisa cientifica,
Peirce esclarece desta maneira:
Aquilo que qualquer proposição verdadeira afirma é real, no sentido
de ser como é, independentemente do que você ou eu possamos
pensar sobre isso. Deixe esta proposição ser uma proposição
condicional geral quanto ao futuro, e é um verdadeiro geral tal
como é calculado realmente para influenciar a conduta humana;
e tal o pragmaticista sustenta ser o propósito racional de todo
conceito (Peirce, 1974, p. 289, CP 5. 432, 1905, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
345
Transitar entre o geral e o particular é aquilo que confere veracidade
ao conceito, de forma que em cada nova abordagem de existência ele pode
confirmar o hábito de conduta contido nele. Esta projeção do hábito para
o futuro é aquilo que pode tornar a experiência real, comprovando de fato
a existência daquele individual contido no conceito enquanto regra, en-
quanto generalidade. A cada novo experimento que confirma a regra existe
atribuição de significado.
Peirce entendia que o pragmatismo era “um método de averiguar
os significados, não de todas as ideias, mas apenas do que eu chamo
de ‘conceitos intelectuais’, isto é, daqueles sobre cuja estrutura
os argumentos relativos aos fatos podem depender” (CP 5.467).
Conceitos, nesse sentido, são aqueles signos essenciais à comunicação
ou descoberta do conhecimento. Em conexão com o pragmatismo,
Peirce investigou a questão; Qual é o interpretante lógico final de
tal conceito intelectual. O resultado de sua investigação foi que
uma “mudança de hábitos” constitui tal interpretante. Como
um hábito pode resultar de um signo e porque, em virtude de
sua generalidade, ele compartilha um pouco da natureza de um
signo, ele pode servir como o interpretante lógico de um conceito
intelectual; e porque a formação de um hábito realmente marca
um término em qualquer processo de semiose, ele serve idealmente
como o interpretante final (lógico) de um conceito intelectual (MS
382, 101 ss.) (Colapietro, 1989, p. 107-108).
Este marco da quebra de hábito visto como a aquisição de um novo
conceito decorrente da ação de significação explica o pensamento evolu-
cionário da filosofia de Peirce. Perceber estas transformações de maneira
brusca, por acaso, ou numa progressão são diversidades na maneira pela
qual o processo de significação ocorre. “De acordo com a máxima prag-
mática, o significado de um conceito intelectual é operacional na medida
em que os resultados de algumas operações especificáveis constituem esse
significado” (Santaella, 2008, p. 105). Este resultado pode então reforçar
a crença contida no hábito, ou indicar uma maneira diferente de proceder
a ação. Ação esta que colocada em prática compara o indivíduo existente à
representação obtida, refazendo desta maneira o processo em outro enca-
deamento de significação.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
346
Conceito é uma relação diádica entre caracteres, ou entre símbolos,
ou entre conceitos. Inclui uma relação modal, de possibilidade entre sím-
bolos ou conceitos (Peirce, 1974, CP 3.606, 1903). Estas relações estão
representadas em caracteres pelos símbolos dos sujeitos envolvidos (Peirce,
1974, CP 3.607, 1903).
As relações diádicas entre símbolos, ou conceitos, são questões de
lógica, na medida em que não são derivadas de relações entre os
objetos e os caracteres aos quais os símbolos se referem. Observando
que estamos nos limitando às relações diádicas modais, pode-
se dizer, provavelmente, que aquelas que são verdadeiramente e
fundamentalmente diádicas surgem de relações correspondentes
entre proposições. Para exemplificar o que se quer dizer, as relações
diádicas de amplitude e profundidade lógicas, muitas vezes
chamadas de denotação e conotação, desempenharam um papel
importante nas discussões lógicas, mas estas têm sua origem na
relação triádica entre um signo, seu objeto e seu signo interpretante;
e, além disso, a distinção aparece como uma dicotomia devido à
limitação do campo de pensamento, que esquece que os conceitos
crescem, e que há, portanto, um terceiro aspecto no qual eles
podem diferir, dependendo do estado do conhecimento ou da
quantidade de informação. Dar um relato bom e completo das
relações diádicas dos conceitos seria impossível sem levar em conta
as relações triádicas que, em sua maior parte, são subjacentes a
elas; e de fato quase um tratado completo sobre o primeiro das três
divisões da lógica seria necessário (Peirce, 1974, p. 387, CP 3.608,
1903, tradução nossa).
Em fevereiro de 1907, Peirce (1979, p. 287, CN, v. 3) escreve um
artigo intitulado “Pensamento e Coisas: um estudo do desenvolvimento
de Pensamento: ou Lógica Genética” . Neste artigo peirceano é comentado
o estudo psicológico de uma sucessão temporal de memórias, chamado
pelo pesquisador Baldwin “genético” e tem a pretensão de ser um estudo
lógico destas operações de cognição. Peirce (1979, p. 289, CN, v. 3) então
elogia o grande vocabulário de termos técnicos, ressaltando que cada nome
poderá ser desenvolvido, em futuras pesquisas, em cada termo como uma
valiosa contribuição de análise psicológica. Mas, o fato do autor comen-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
347
tado por Peirce neste artigo chamar de “dualista” a relação sujeito/objeto,
oferece elemento para a crítica ao pensamento nominalista. Elegantemente
ele reitera que o dualismo de fato consiste na resistência, na oposição entre
dois, claramente se referindo à ação de mediação entre signo e objeto em
secundidade. “Isto nos parece (sic) que significado pertence exclusivamen-
te ao signo; e o signo é um meio entre mentes ou entre um objeto e uma
ideia, e sendo assim considerado, embora obscuramente, deve envolver um
terceto” (Peirce, 1979, p. 290, CN, v. 3, 1979).
Em um artigo de poucas palavras ele deixa a conceituação do profes-
sor Baldwin claramente caracterizada como uma posição nominalista, vista
apenas daquele termo que não tem sua decorrência examinada a partir de
um encadeamento lógico, e ao analisar esta capacidade reducionista do
signo ser correspondente ao seu objeto, ainda, deixa claro a relação triádica
do signo, mesmo salientando que para os leitores isto talvez seja obscuro.
Porém, nesta altura de sua carreira lógico-filosófica a posição dos conceitos
enquanto hábito evolucionário ou aquilo que ele chama “signo degenera-
do” está bastante delimitado.
“Todo novo conceito vem primeiro à mente em um julgamento
(Peirce, 1974, p. 385-386, CP 5.546, 1908). A primeiridade que suscita
interação tem na terceiridade o julgamento para a representação do con-
ceito. O posicionamento perante o fenômeno, àquilo que suscita interação
tem no conceito o posicionamento obtido na ação de representação e po-
sicionamento para ação futura.
Portanto, o conceito tem a capacidade de influenciar a conduta;
e este fato lhe dará um significado intelectual. Pois não se pode
negar que uma, pelo menos, das funções da inteligência é adaptar
a conduta às circunstâncias, de modo a subservir o desejo. Se o
argumento estiver correto, isso se aplica a qualquer conceito, a
menos que haja um conceito que não possa ser predicado (Peirce,
1974, p. 387, CP 5.548, 1908, tradução nossa).
Em agosto do mesmo ano 1908, Peirce (1979, p. 298, CN, v. 3)
complementa o artigo sobre as operações de cognição que resultam em
nomes, nesta segunda parte diz que “o motivo principal da lógica tem sido
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
348
sempre a possessão de um método para determinar o valor dos argumen-
tos”. Coloca então que o sistema proposto por Baldwin é um processo físi-
co pelo qual cada forma de pensamento é trazida para fora, considerando
que isto são tópicos pré-lógicos. Uma vez que a lógica trata da significação
enquanto processo, um nome designar uma relação é um estágio anterior
a esta relação, portanto ainda não submetida à verificação.
Esta passagem do nominalismo para o realismo, por meio da concei-
tuação, é esclarecida assim:
[…] Os grandes realistas trouxeram toda a verdade que há muito
mais claramente antes que o conceitualismo moderno aparecesse
no mundo Eles mostraram que o geral não é capaz de plena
realização no mundo da ação e reação, mas é da natureza do
que é pensado, mas que o nosso pensamento só apreende e não
cria pensamento, e que esse pensamento pode e governa tanto
coisas exteriores como o nosso pensamento. Mas esses realistas
não caíram em nenhuma confusão entre o fato real de ter um
sonho e o objeto ilusório sonhado. A doutrina conceitualista é
um truísmo indiscutível sobre o pensamento, enquanto a questão
entre nominalistas e realistas se relaciona com pensar, isto é, com
os objetos que o pensamento nos permite conhecer (Peirce, 1974,
p. 8-9, CP 1.27, 1909, tradução nossa).
Estar em pensamento é ter a sintonia necessária par interagir com o
objeto admirado. O pensamento trabalhado pela vagueza das representa-
ções, mais do que uma imprecisão, trabalha com uma liberdade de indaga-
ções que testa tanto a falibilidade da hipótese quanto a alteração do curso
de investigação. O pragmatismo enquanto método de investigação cientí-
fica tem como estratégia o “[...] pensamento necessariamente vazado pela
vagueza das representações” (Silveira, 2013, p. 210) para o tratamento das
hipóteses que seguem na pretensão de serem verdadeiras. O trânsito decor-
rente da vagueza, complementado pela experiência, que estabelece vínculo
com a realidade é necessário para o estabelecimento do conhecimento.
A informação transmitida pelo signo ao relacionar o objeto ao inter-
pretante em sua forma mais básica de semiose tem a maneira de formação
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
349
de hipóteses de modo semelhante. A cada novo argumento proposto na
sequência a hipótese tem maior consistência. É o critério de verdade com-
provando um argumento que leva a cadeia de interpretantes contidas na
argumentação adiante.
Somente os Símbolos, como os signos genuinamente gerais,
produzem seus próprios interpretantes determinando, pelas séries
infinitas – pois não degeneradas – de interpretantes, hábitos
genuinamente gerais de conduta. Referir-se-ão, sem dúvida à
experiência, mas garantirão que onde quer que essa aconteça, eles
a estarão efetivamente representando na classe geral de fenômenos
da qual o experimento será um exemplar.
Os Símbolos são, portanto, plenamente universais: representarão
classes gerais de objetos independentemente da particularidade
das circunstâncias, dirigir-se-ão diretamente à Razão convidando-a
a produzir diante da associação geral de ideias que determina
conceitos universais. Esses últimos significam hábitos gerais de
conduta, não mais dependentes dessa ou daquela experiência, desse
ou daquele indivíduo ou grupo de indivíduos. Poderão, enfim,
produzir, com absoluta exclusividade, novos signos que ampliem
plenamente sustentados pela necessidade lógica de sua produção, a
representação da Realidade e a universalização da conduta. (Cf. CP
2.239, 252-3, 261-3; 5.76) (Silveira, 2013, p. 211).
Construir um diagrama é passar, por meio da iconicidade sendo es-
truturada, de uma abdução a uma demonstração verdadeira, representada
num ícone que ao final do processo tem naquele conjunto uma representa-
ção verdadeira do percurso transcorrido pela evolução dos signos em novos
interpretantes. A validade lógica consequente do encadeamento deve ser
parte deste símbolo que é construído no decorrer da demonstração daqui-
lo que é a verdade sendo apresentada. A comunicação do aprendizado é o
próprio signo. Ele é o produto e o significado sendo montados conjunta-
mente, à medida que cada argumento comprova a afirmação precedente.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
350
Um conceito não é uma mera confusão de detalhes – essa é apenas
sua espécie mais crua. Um conceito é a influência viva sobre nós
de um diagrama, ou ícone, cujas várias partes estão conectadas
no pensamento em número igual de sentimentos e ideias. A
lei da mente é que sentimentos e ideias se ligam ao pensamento
para formar sistemas. Mas o ícone nem sempre é claramente
apreendido. Podemos não saber o que é; ou podemos ter aprendido
isso pela observação da natureza (Peirce, 1974, p. 282-283, CP
7.467, 1893, tradução nossa, grifo nosso).
“Um conceito é algo que tem o modo de ser de um tipo geral que é,
ou pode ser feito, a parte racional do significado de uma palavra” (Peirce,
1974, p. 148-150, CP 8.191, 1904). Um conceito enquanto sequência ar-
gumentativa está logicamente classificado. Outros diagramas estruturados
à maneira do conceito não têm necessidade lógica, mas seguem o processo
contínuo de evolução de interpretantes que mostram na estrutura física
resultante sua capacidade de interação e formação de novos interpretan-
tes ao estarem no mundo fenomênico, a partir do qual novos intérpretes
estão convidados à interação. Estes “objetos” são passiveis de classificação
enquanto “coisas” e dispostos à catalogação e comunicação, possuem capa-
cidade informacional tanto quanto aqueles conceitos comunicados por um
conjunto de palavras que formam o diagrama.
Colapietro (2009, p. 367) tem sua explicação da importância lógica
na articulação do conceito da concepção peirceana. De maneira heurística
esta articulação dos signos, dentro da lógica, o outro nome da semiótica,
apresenta o conhecimento à comunidade:
Em termos formalmente semióticos, o que ordinariamente
chamamos de conceito é identificado por Peirce como um rheme
(ou signo remático). Embora nem todas as espécies de signos
remáticos sejam também legissignos, algumas das mais importantes
são aquelas espécies. Estes são, além disso, os mais relevantes
para a ocupação essencial de conceitos intelectuais em contextos
heurísticos. A função de tais conceitos é inseparável de seu papel
em argumentos racionais relativos a fatos objetivos (Colapietro,
2009, p. 367).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
351
Nesta argumentação Colapietro (2009) inicia sua explanação com a
categorização mais básica do signo relacionado ao interpretante. A sequ-
ência de rema, discente e argumento perfaz o conhecimento explícito no
diagrama que oferece o conceito. Ele segue sua explicação:
Conceitos são intelectuais na medida em que sua estrutura é
aquela sobre a qual “argumentos relativos a fatos objetivos podem
se fundir” ou mudar (CP 5.467, 1903). Nesse contexto, um
argumento é racional na medida em que sua força (sua validade
formal e, além disso, sua solidez heurística) pode ser avaliada à luz
de normas e ideais intersubjetivamente defendidos e aplicados,
enquanto qualquer questão é objetiva (pelo menos) na medida em
que a comunidade de observadores é, em princípio, capaz de validar
ou repudiar reivindicações de um ou outro de seus membros sobre
tal assunto com base na observação ou experiência compartilhada
(Colapietro, 2009, p. 362).
A restrição de significação à linguagem falada e escrita, portanto, é
uma restrição de comunicação, de informação e conhecimento do qual
se valem as pessoas ou mentes que possam aprender com a experiência.
Deixar claro o processo de semiose na formação do conceito e de outros
diagramas que tornam a passagem do ícone a símbolo, o produto de ter-
ceiridade, de representação na qual a realidade está demonstrada é a função
do método pragmático a ser usado para a comunicação de informação a ser
disponibilizada enquanto verdade. “[...] das duas implicações do pragma-
tismo que os conceitos são propositais, e de que seu significado está em sua
conduta prática concebível, o primeiro é o fundamental” (Peirce, 1974, p.
218, CP 8.322, 1906, grifo nosso). Uma vez que conceitos são proposi-
tais, eticamente serão elencados elementos para a validação deste conceito.
Assim dedutivamente as opções de teste que melhor correspondam a este
encaminhar de procedimentos são aventadas. Os equipamentos, utensí-
lios, técnicas para factualmente viabilizar a conduta prática são aqueles que
melhor se adéquam ao propósito e estão na secundidade, na ação ética.
Seja ele um bem moral ou não, vale lembrar, mas executado por aqueles
elementos o propósito que move o conjunto de práticas concebíveis.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
352
A ciência se vale deste procedimento reafirmado pelo positivismo,
do qual ainda hoje temos a disposição entre o compartilhamento de in-
formação pela comunidade de pesquisadores. Incorporar na Ciência da
Informação a maneira de trazer os vários substratos para um diagrama de
apresentação ao público, ao próximo usuário capaz de levar adiante um
novo interpretante, implica em capacidades de abertura para a relação de
percepção que estão além do significado que se refere ao objeto em relação
dual, de um representacionismo restrito à dualidade de um signo degene-
rado na concepção peirceana.
Cabe ao indexador, ao promotor de relação entre o usuário e novos
interpretantes possibilitar abertura no processo de relação entre o conteúdo
e as abordagens futuras de qualquer conceito ou diagrama mantido sob a
custódia de um acervo. O conhecimento do método pragmático e a conti-
nuidade na formação de interpretantes são fundamentais tanto na produção
quanto na organização do conhecimento. O usuário participa desta difusão
de conhecimento, ele é o promotor de interpretantes que farão o diagrama,
o conceito traçado ser válido para a comunidade de estudiosos que partilham
as mesmas expectativas de distribuição do bem a ser alcançado.
Símbolos crescem. Eles surgem através do desenvolvimento a partir
de outros signos, particularmente de ícones, ou de signos mistos,
participando da natureza de ícones e símbolos.Pensamos apenas
em signos. Esses signos mentais são de natureza mista; as partes
simbólicas delas são chamadas de conceitos. Se um homem faz
um novo simbolismo, é por pensamentos que envolvem conceitos.
Portanto, é apenas fora dos símbolos que um novo símbolo pode
crescer. Omne symbolum de symbolo [...] Em uso e experiência, seu
significado cresce. Tais palavras como força, lei, riqueza, casamento
trazem consigo significados muito diferentes daqueles que levaram
aos nossos antepassados bárbaros (Peirce, 1974, p. 169, CP
2.302,1895, tradução nossa, grifo nosso).
A maneira de proporcionar acesso à informação contida em um con-
ceito é tão importante quanto o uso que será feito dele na evolução deste
signo contido, representado por ele. O conceito é o próprio signo (Peirce,
1974, p. 208, CP 8.305, 1905), e como tal depende de interação, de evo-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
353
lução para fazer o hábito contido nele ser avaliado, mantido ou quebrado
em um novo modo de abordar a relação proposta por ele.
4.7.1 siGnOs e GRafOs
Adotar um signo de representação é construir um gráfico que discor-
ra sobre o processo de construção de um raciocínio, tenha ele qual forma
tiver enquanto produto desta relação interpretante. A maneira usual de
representação de uma ideia num conceito tem na arte um contraponto
enquanto maneira de expressão. Os possíveis interpretantes emocionais,
energéticos e lógicos podem variar em grau de interação com o fenômeno
ao qual o gráfico se refere.
REPRESENTACIONISMO: A doutrina cujo percepto surge de
algo por trás deles [...] O representacionista não permitiria que
houvesse qualquer consciência bilateral, mesmo no último sentido,
considerando a bilateralidade como uma quase-inferência, ou
produto da ação da mente; enquanto o apresentador insiste que
não há nada intelectual ou inteligível nessa dualidade. É, ele diz,
um fato duro experimentado, mas nunca compreendido (Peirce,
1974, p. 424-425, CP 5.607, 1901/1902, tradução nossa).
A contraposição a uma significação que pragmaticamente chega a
uma conclusão verdadeira é aquela nominalista, na qual a idealidade de-
termina a comprovação verdadeira por meio da experimentação, sem a
intervenção dos sentidos considerados enganosos para esta concepção de
idealidade. O ícone usado na diagramação está fundamentado na percep-
ção feita primeiramente pela qualidade.
A hipótese, na concepção peirceana, é pois diagramática e icônica,
constituindo um campo experimental onde se amplia o universo
logicamente possível. O trabalho com os grafos é a construção
privilegiada da lógica da investigação. As modificações das relações
estabelecidas no grafo são asserções que, no dizer de Peirce [...]
devem dizer respeito a um universo arbitrariamente hipotético, a
uma criação da mente” (6, 4.430) (Silveira, 1989, p. 76).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
354
O diagrama construído é o signo de si mesmo, no caso da arte por
exemplo. Cada nova relação interpretante tem no hábito a possibilidade
de transformar cada interpretante em genuína mediação. Nestes casos a
significação tem processos de representação que são a produção de inter-
pretantes emocionais e energéticos com maior importância do que aqueles
interpretantes lógicos, também derivados da percepção do diagrama. A se-
miose em ação terá sua validação científica na articulação dos argumentos,
numa etapa posterior de interação destes signos.
[...] a adoção da lógica das relações (ou dos relativos como preferia
Peirce), em substituição a lógica centrada nas proposições e em
seus termos, permitiu estender o modelo triádico do signo para
um domínio ilimitadamente amplo de relações semióticas. Tais
relações, dado o remetimento continuo e evolutivo que entre si
mantém o representamen, o objeto e o interpretante, deixam de
polarizar-se primordialmente em direção ao sujeito e ao predicado,
para desdobrarem-se em redes indefinidamente complexas dos
correlatos triádicos, como o amplo número de classes legitimas de
signos, apontado anteriormente, permite verificar. O paradigma
linguístico e gramatical que se encontrava na base, desde os
antigos gregos, dos quadros categoriais, finalmente é substituído
pelo do diagrama de modelo topológico (gráfico ou algébrico).
Descentralizou-se o estudo do signo e, com ele, do pensamento,
tomando-se possível abordar qualquer domínio de representação,
sem fazê-lo derivar da linguagem “verbal” e carregar consigo a
matriz dicotômica, que tradicionalmente e atribuída aquela classe
especial de signos (Silveira, 1993, p. 74).
A relação topológica que é de contiguidade, sem necessariamente ser
dual, confere ao encadeamento a capacidade criativa distinta do processo
lógico linguístico, dado então amplitude à capacidade representacional.
A construção de um diagrama é um processo de aprendizagem que
decorre da observação e tomadas de decisão durante a composição desta
estrutura, desta forma usada para chegar a uma expectativa de resultado.
As formas da matemática ou a representação lógica do pensamento são os
exemplos mais costumeiros deste procedimento. Esta aprendizagem gera
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
355
um hábito, ou decorre de um hábito, que permite a verificação e confron-
to com a expectativa. A eficiência do processo não está no processo lógico
tradicional no qual a dedução para ser verdadeira não decorre de uma ver-
dade, mas apenas das regras processuais antecedentes. A cientificidade está
em chegar ao resultado verdadeiro que se pretende tendo em vista a inte-
ração entre o real e a experiência. A ação que é decorrente desta interação
é a demonstração elaborada da expectativa que implica no objetivo a ser
alcançado (Silveira, 2007).
Estruturar um diagrama é manter coeso o encadeamento entre as
partes, seja ele espacial compreendido pela geometria ou de maneira algé-
brica. A apresentação da forma em que estão mostradas as relações consti-
tui a apresentação de um símbolo deste processo, um representamen que
também é um ícone a partir do qual novos significados serão derivados.
Para Peirce, o diagrama é aquela construção onde se investiga,
como objeto, a forma de uma relação, sendo esta a própria forma
da relação mantida entre duas partes correspondentes do diagrama.
A construção diagramática será geométrica ou algébrica e, sendo
algébrica, será capaz, desde Boole, de compreender toda a sintaxe
(Cf. 6, 4.530: 2.280).
Dado seu caráter construtivo, por conseguinte, sintético, e dada a
semelhança mantida entre a Forma das relações de suas partes e
as que mantêm entre si as partes do possível objeto, o diagrama
é uma construção lógica de caráter eminentemente icônico.
Todas as elaborações que segundo as regras de construção forem
nele introduzidas, corresponderão a transformações possíveis ao
nível do objeto que lhe é correlato. A iconicidade confere, pois, ao
diagrama a capacidade de ampliar o conhecimento (Silveira, 1989,
p. 76, grifo nosso).
A divisão das classes de signos tem a estruturação nos Grafos
Existenciais, e neles a maneira processual de articulação dos signos é va-
riável, dependendo do substrato material no qual eles são articulados. A
construção da significação por meio dos grafos existenciais faz parte da
natureza material na qual a forma de qualquer entidade é apresentada ao
conhecimento. A capacidade informacional de uma obra de arte trata com
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
356
signos a apresentação da forma que certamente é diferente do texto escrito,
mas provavelmente mais próxima de uma sinfonia musical. As variações
dos modos de comunicação dependem desta apresentação formal, com a
mesma capacidade de mediação dos signos na articulação do significado,
nos diversos substratos materiais possíveis.
Das dez divisões de signos que me pareciam exigir meu estudo
especial, seis se voltam (sic) para os caracteres de um Interpretante
e três para as características do Objeto. Assim, a divisão em Ícones,
Índices e Símbolos depende das diferentes relações possíveis de
um Signo ao seu Objeto Dinâmico. Apenas uma divisão está
preocupada com a natureza Signo com ele mesmo, e agora passo
a declarar (Peirce, 1974, p. 422-423, CP 4.536, 1905, tradução
nossa, grifo nosso).
A maneira como o signo se relaciona com ele mesmo é capaz de
demonstrar o diagrama, uma vez que para existir ele implica no objeto e
interpretante por necessidade. Assim o interpretante dinâmico implica na
criação de um objeto dinâmico que leva adiante a significação. A partir da
construção do diagrama, os passos subsequentes devem ser consequência
daquilo posto anteriormente. Esta construção, no sentido literal da execu-
ção de um objeto dinâmico, pode ser transposta a maioria dos substratos
físicos usados como representação de um processo de aprendizagem, por-
tanto de formação de conhecimento.
A folha dos gráficos em todos os seus estados coletivamente,
juntamente com as leis de suas transformações, corresponde
e representa a Mente em sua relação com seus pensamentos,
considerados como signos. Que os pensamentos são signos foram
mais especialmente argumentados pelos lógicos nominalistas; mas os
realistas estão, em sua maior parte, contentes em deixar a proposição
permanecer sem contestação, mesmo quando eles não afirmaram
decididamente sua verdade. Os gráficos descritos são determinações
da folha, assim como os pensamentos são determinações da mente;
e a própria mente é um pensamento abrangente, assim como a
planilha considerada em todos os seus estados de transformação e
transformações reais, tomados coletivamente, é uma instância gráfica
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
357
e tomada em todas as suas transformações permissíveis é um gráfico.
Assim, o sistema de gráficos existenciais é um diagrama grosseiro e
generalizado da Mente, e dá uma ideia melhor do que a mente é, do
ponto de vista da lógica, do que poderia ser transmitida por qualquer
descrição abstrata dela (Peirce, 1974, p. 468-469, CP 4.582, 1906,
tradução nossa).
A quantidade de material em um livro impresso pode ser contada em
palavras (Peirce, 1974, p. 423-424, CP 4.537, 1905) Peirce dá o exemplo
da palavra “o” (the), que embora seja comum e apareça em grande quan-
tidade de frases não é uma coisa única ou evento, mas sempre determina
alguma coisa que existe, e isto ele denomina Tipo (Type). Token é a designa-
ção para os signos que expressam uma situação única, no momento em que
ela ocorre, oferecendo então uma identidade àquela situação. Na analogia
à escrita do livro seria a palavra que ocorre em uma linha de uma página
do livro. Um tom de voz não é nem uma coisa (type) nem outra (token)15.
Uma Forma definitivamente significativa, proponho que se
denomine Tipo [...] Para que um Tipo possa ser usado, ele deve ser
incorporado em um Token que será um sinal do Tipo e, portanto,
do objeto que o Tipo significa. Proponho chamar tal Token de um
Tipo uma instância do Tipo [...] O termo Gráfico (Existencial) será
tomado no sentido de um Tipo; e o ato de incorporá-lo em uma
Graph-Instance será denominado como o Gráfico (não a Instância),
seja a Instância escrita, desenhada ou gravada (Peirce, 1974, p.
423-424, CP 4.537, 1905, tradução nossa, grifo nosso).
O processo criativo que aparece com a abdução é sempre presente
quando se trata de demonstrar a evolução do pensamento lógico que apa-
rece no diagrama enquanto consequência deste desempenho de evolução
do signo. A composição formal entre type e tokens desenha” a inteligibili-
dade do diagrama escrito, conferindo a existência do signo a ser compar-
tilhado com outros intérpretes, ou outras mentes que possam apreender
deste diagrama. A relação entre o geral e particular é sempre retomada para
a constituição de significado e evolução do processo de significação.
15 Esta consideração se refere à língua inglesa. Para a fala japonesa, por exemplo, a afirmação não seria possível.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
358
A abdução, no sentido que dou a palavra, é qualquer raciocínio de
uma grande classe dos quais a adoção provisória de uma hipótese
explicativa é o tipo. Mas isso inclui processos de pensamento que
levam apenas à sugestão de perguntas a serem considerados, e inclui
muito além disso (Peirce, 1974, p. 427-428, CP 4.541, nota de
rodapé, 1905, tradução nossa, grifo nosso).
Apesar da tradição filosófica e a linguística se valer do conceito de
signo para o significado (meaning), no pragmatismo peirceano o signifi-
cado de conceitos gerais ou termos são disposições, hábitos, leis que tem
formulação também em expressões linguísticas, (Haussman, 1993) mas
são estendidos aos processos naturais nos quais a informação está presente,
independentemente da compreensão humana.
Sema é, portanto, uma unidade primeira de contato com o objeto,
o signo do qual o Fema pode dentro da estrutura do grafo constituir uma
sentença gramatical ou então a definição de uma parte constituinte do to-
tal de uma forma (arquitetônica, de obra de arte, de uma música, de uma
fórmula química ou matemática). O encadeamento destas partes consti-
tuintes da forma se constitui no Deloma, ou como bem notou Peirce, o
Argumento define logicamente e com propriedade esta série estruturada
de proposições.
Um Percepto não é uma parte da percepção nem um fato da per-
cepção imediata, ou seja, o primeiro contato entre o signo e seu objeto, é
um Sema. O fato da ocorrência da percepção imediata, ou do julgamento
desta Percepção Imediata é o interpretante Imediato que é um Sema. Um
Fema é o Interpretante Dinâmico deste Percepto, cujo Objeto dinâmico é
ele mesmo o percepto.
Claro, eu devo ser entendido como falando não em psicologia,
mas na lógica de operações mentais. Interpretantes subsequentes
fornecem novos Semas de Universos resultantes de várias adições ao
Universo Perceptivo. Eles são, no entanto, todos eles, Interpretantes
dos Perceptos (Peirce, 1974, p. 424-425, CP 4.539, 1905, tradução
nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
359
Encerrando seu parágrafo argumentativo com esta frase, Peirce re-
põe as possibilidades de interação recorrendo às categorias e às sempre
presumíveis outras maneiras de encadeamento do que aquela concebível
linearidade da sequência entre Sema e Fema. O Argumento é a afirmação
lógica de que o percepto, mais do que uma manifestação psicológica tem o
respaldo do pensamento científico para sua afirmação ou refutação.
O objeto de toda a argumentação verdadeira é alcançar um Sema
verdadeiro que é a concussão, ou a dita “verdade” como afirma Peirce. E
esta “verdade” alcançada pode ser o mais enganoso porque é sempre provi-
sória, pois “é considerado como o Objeto de toda Proposição verdadeira, o
qual, se nomearmos a todos, nós chamamos pelo título um tanto enganoso
de ‘A Verdade’” (Peirce, 1974, p. 424-425, CP 4.539, 1905). Enganoso
porque esta suposta verdade é sempre passível de novo entendimento e
verificação, dando continuidade ao processo evolucionário do pensamento
e da ciência.
Esta corporificação do conceito em uma sequência argumentativa é
o pressuposto lógico para demonstrar a verdade naquilo que é a consequ-
ência lógica do raciocínio.
Como forma e signo de possibilidade, o diagrama é, em sua origem,
uma hipótese e assim permanecerá, mesmo após dele terem sido
deduzidas suas legítimas conclusões, todas elas indutivamente
verificadas, caso em que, quanto mais gerais forem as relações nele
estabelecidas, mais longo será o caminho para que o fim almejado
seja alcançado e uma crença se consolide. No âmbito dos fenômenos,
marcado pela temporalidade, pensar é evoluir e alcançar a meta final
não significará esgotá-la em um ato. Declara Peirce: O pensamento é
em si mesmo essencialmente da natureza de um signo. Mas um signo
somente é um signo, caso se traduza ele mesmo em outro signo no
qual mais plenamente se desenvolva. O pensamento requer realização
para seu próprio desenvolvimento, e, sem esse desenvolvimento, ele
nada será. O pensamento deve viver e crescer em incessantes novas e
mais altas traduções, caso contrário o pensamento encontraria em si
mesmo uma prova de não ser genuíno (Peirce 1974, v. 5, § 594 apud
Silveira, 2006, p. 305).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
360
A vitalidade do diagrama consiste na sua abertura a novas interações.
Desta maneira, manter-se aberto ao novo caso particular é aquilo que con-
fere significação genuína à representação da generalidade, da terceiridade
apresentada em uma forma, seja ela escrita, ou nas mais diversas possibili-
dades de existência.
O pragmatismo sendo método científico tem no entendimento da
ciência enquanto desdobramento evolucionário do hábito representado o
exercício da semiótica.
Entender a concepção da abordagem científica é importante quando
tratamos da Ciência da Informação porque isto implica na concepção de
conhecimento agregada à informação. A constituição de uma forma de
apresentação do diagrama que forma um documento habilita o entendi-
mento dos processos de indexação e Organização do Conhecimento en-
quanto produtores de novos interpretantes.
Ser falível implica em reconhecer a adequação de procedimento que
melhor está alinhada ao objetivo a ser alcançado. Trata-se de constatar que
não houve a correspondência do procedimento ético, elencado instrumen-
tos específicos, à ação mais adequada em busca da hipótese aventada.
E isto é diferente da mentira, ou pós-verdade como está sendo noti-
ciada a maneira pela que fatos não correspondentes à existência são divul-
gados como informação verdadeira; e que tendem se tornarem existentes
dada a repetição e disseminação como eles ocorrem nas mídias sociais.
Nestes casos o procedimento ético se constitui em propagar o maior nú-
mero de vezes possível a mentira que deve ser aceita pelos interlocutores,
mesmo que isto moralmente seja inaceitável. Os instrumentos oferecidos
pela velocidade e alcance da internet eticamente são elencados para uma
atividade imoral para a comunidade e isso é feito de forma que as pessoas
não saibam disto, de maneira enganosa.
Os critérios científicos de obtenção da verdade e a disseminação de
informação que impliquem em qualidade de vida democrática são feitos
pela Ciência da Informação. Nos dias atuais a caracterização de ciência que
Peirce traz está além do positivismo que caracterizou as Ciências Sociais
derivadas das ideias de Comte. A pós-modernidade do pragmatismo nas-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
361
ce do questionamento da separação mente-matéria que o jovem Peirce
mantinha.
A epistemologia associada à ontologia na concepção do signo man-
tém a formação do signo enquanto forma razoável de demonstração do
conhecimento. O conceito, substancial para entrada de assunto na inde-
xação, e organização do conhecimento, tem no entendimento peirceano
mais do que o nome que constitui um objeto, a própria feitura do do-
cumento. O documento conforme caracterizado por Otlet é o diagrama
original, a partir do qual tanto a indexação quanto os demais processos de
conhecimento têm possibilidades interpretantes.
A forma de exposição do diagrama apresenta a possibilidade interdis-
ciplinar do pragmatismo. Signo e procedimento ético trabalham conjun-
tamente na diferenciação de cada forma a ser especificidade das disciplinas
científicas a ser difundida pela Ciência da Informação. A maneira como
informação é vista no processo semiótico é fundamental para tratar, den-
tro da Ciência da Informação, desta visão peirceana no contexto informa-
cional e respectivamente a demonstração em diversos diagramas possíveis.
Os diagramas são conceitos concebidos em formas variadas, apresentados
à sociedade de maneira análoga à organização da informação e conheci-
mento, a serem aceitos enquanto verdade comprovada e isto é matéria da
Retórica Especulativa, o terceiro ramo da semiótica a ser vista adiante.
Neste capítulo foi visto o processo evolucionário de aquisição de ra-
cionalidade por uma mente que aprende com a experiência; foi vista tam-
bém a aquisição de um hábito representado em um conceito, formalizado
em um modo de ação. Assim, o Pragmatismo, valendo-se das Ciências
Normativas, tem na ação do signo promovida pelo agente da semiose um
bem estético a ser alcançado, valendo-se da ética para sua conduta.
No método pragmático, a definição e representação do argumento
tem seu objeto dado a conhecer, assim, ontologia e epistemologia são ma-
neiras diferentes de referência ao objeto e interpretante, em curso nesta
mediação. Representação e percepção trabalham conjuntamente na me-
diação do signo, que promove a nova representação como matéria desta
inter-relação.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
362
O processo de significação no qual signo, objeto e interpretante são
promovidos por um agente e este agente ao buscar seu objetivo, seu bem
a ser alcançado direciona eticamente sua conduta, elencando técnicas e
maneiras de ação que melhor sejam adequadas a esta execução. A execução
mais acertada para a empreitada, com a falibilidade revista durante este
desenrolar, oferece a representação formalizada nos signos que foram cor-
porificados durante o processo.
Considerando-se que hábitos são maneiras de ação que apresentam
uma regularidade medida na maneira como a racionalidade é incorporada
fisicamente, a aceitação do hábito é correspondente a esta cristalização, a esta
estagnação conferida à forma na qual ele se apresenta, com o caso individual
mais uma vez comprovando a regra geral, oferecendo então um conceito.
A contribuição deste capítulo para a Ciência da Informação é trazer
o Método Pragmático para a aquisição de conhecimento cientificamente
verdadeiro a ser empregado pelos profissionais da Organização da informa-
ção, como será visto adiante.
363
5
PRAGMATISMO PEIRCEANO E
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
A produção científica vista como um sistema lógico para aquisição
da verdade na concepção peirceana, exposta nos capítulos anteriores per-
mite investigar aquilo que é o entendimento do método pragmático den-
tro da Ciência da Informação.
Uma ação específica visando alcançar um objetivo traçado previa-
mente é a concepção da pragmática. A recuperação da criação do método
peirceano permite diferenciar a ação executada para atender um plane-
jamento, que tem o resultado prático a ser constatado no resultado, do
pragmatismo peirceano. Não é possível descartar a dedução enquanto pro-
cesso antecipador da experimentação constatada na indução: a previsão e
comprovação existem também no método pragmático científico de Peirce.
Porém, a incorporação à falibilidade, do hábito e a aquisição de raciona-
lidade no processo evolucionário amplificam a ação simplificada de mera
execução de uma tarefa.
A revisão dos usos da pragmática na Ciência da Informação,
vistos principalmente na Organização da Informação, proporciona o
entendimento da Organização a Informação a partir do método prag-
mático peirceano.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
364
O levantamento dos conceitos trazidos pelos autores nestas próxi-
mas seções, principalmente aqueles revistos pela pragmática de Hjørland,
são usados para a adequação do pragmatismo peirceano ao entendimento
do processo evolucionário de significação na aquisição de conhecimento.
5.1 pRaGMaTisMO e pRaGMÁTica
Desde a concepção peirceana estabelecida em etapa madura de sua
carreira de pesquisador, pragmatismo de maneira geral e simplista indica
a ação para cumprir determinada tarefa. A ação do sujeito de maneira a
realizar um objetivo em determinado contexto ambiental e social, usando
a linguagem para determinar suas condições de ação é uma simplificação
que necessita aprofundamento de entendimento para a consideração do
Pragmatismo Peirceano que tem implicações de conduta que não são sim-
plesmente alcançar o alvo desejado.
Na Ciência da Informação o uso da linguagem e consequente orga-
nização da informação, relacionando a documentação escrita e seu conte-
údo semântico, tem-se o uso do termo “pragmática” para designar indis-
tintamente a atuação do sujeito dentro de seu meio social. O ambiente
no qual ocorre a ação e sua influência na determinação do sujeito, numa
influência recíproca são fatores necessários ao entendimento desta ação. A
cognição decorrente e determinante da ação tem ampla aceitação, porém
o pragmatismo usado indistintamente para justificar ou explicar o com-
portamento enquanto modelo de ação carece de explicação e diferenciação
entre os diversos entendimentos e abordagens do termo, dentro da Ciência
da Informação.
Existe confusão entre os termos pragmatismo e pragmática ou os termos
são usados de forma equivalente (Marcondes, 2000; Weiss; Brascher, 2014).
O termo “pragmática” é derivado do grego pragma, significando
coisa, objeto, principalmente no sentido de algo feito ou produzido,
sendo que o verbo pracein, significa precisamente agir, fazer. Os
romanos traduziram pragma pelo latim res, o termo genérico
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
365
para coisa, perdendo talvez com isso a conotação do fazer ou agir
presente no grego (Marcondes, 2000, p. 38).
Charles W. Morris (1938) ao conceber os Fundamentos da Teoria
dos Signos classifica a semiótica como a “[...] ciência que faz uso de signos
especiais para enunciar fatos acerca de signos” (Morris, 1976, p. 19). Esta
linguagem para falar de signos é subdividida em três ramos: sintaxe, se-
mântica e pragmática. Mesmo considerando a possibilidade uso de signos
fora da linguagem humana, seu trabalho é focado nesta metalinguagem.
Pragmática designa a ciência da relação dos signos com seus
intérpretes. Pragmática então deve ser distinguida de pragmatismo,
visto que a maior parte dos signos, senão todos eles, têm como
intérpretes organismos vivos, é uma caracterização suficiente de
pragmática dizer que ela trata dos aspectos bióticos da semiose, isto
é, de todos os fenômenos psicológicos, biológicos e sociológicos
que ocorrem no funcionamento dos signos (Morris, 1976, p. 50).
A concepção peirceana do pragmatismo tem sua versão modificada
com forte utilitarismo nas ações práticas que são propostas por Willian
James (1842-1910), e John Dewey (1859-1952). Contemporaneamente
Richard Rorty (1931-) é considerado neopragmatista (Marcondes, 2000).
A colocação das concepções de pragmatismo agrupadas, por si só, dá mar-
gem ao não entendimento daquilo que é a doutrina pragmatista peirceana.
As adaptações de James, e as versões das consequências práticas e utilitárias
da concepção do objeto tem contestação feita por Peirce ainda em vida.
A referência ao pragmatismo de Peirce, James e Dewey que cunha o
termo “pragmática”, para Morris, tem a perspectiva na qual “[...] a impor-
tância permanente do pragmatismo repousa no fato de que ele dirigiu uma
atenção mais cerrada para a relação dos signos com seus usuários” (Morris,
1976, p. 50).
A linguagem em uso, o tratamento dos intérpretes no uso dos signos
linguísticos tem na versão de Charles Morris (1938) a denominação de
pragmática, vindo de trabalho conjunto com Rudolf Carnap (1938) em
Chicago no começo do século XX (Marcondes, 2000).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
366
Tanto a definição de Morris, quanto a de Carnap, fazem parte da
já consagrada distinção geral do campo de estudos da linguagem
entre pragmática, que considera a linguagem em seu uso concreto,
semântica, que examina os signos linguísticos em sua relação com
os objetos que designam ou a que se referem, e sintaxe, que analisa
a relação dos signos entre si (Marcondes, 2000, p. 39).
Na definição da linguagem proposta por Morris, a semântica liga os
signos linguísticos aos objetos que determina enquanto a pragmática trata
desta influência na ação dos intérpretes. Esta separação das etapas com no-
mes distintos funciona para fornecer um arcabouço, uma teoria a partir da
qual o entendimento das ações deve ser encaixado. A dinâmica enquanto
processo de significação e ação está além do nome dado, dos conceitos e
daquilo que isto determina no comportamento das pessoas. Relações dinâ-
micas têm processos de significação que não são previstos. Probabilidades
de ocorrência são diferentes das normas de atuação.
[...] conceitos fornecem o significado por trás das palavras e semântica
é o estudo do significado, o estudo dos conceitos, significado e
semântica deve formar um campo de assunto interdisciplinar
(Hjørland, 2007b, p. 369).
O uso da linguagem enquanto elemento de estudo é determinan-
te e com importância na compreensão da informação e conhecimento. A
oralidade, marca da capacidade representacional dos seres humanos, e sua
versão escrita têm no desenvolvimento tecnológico cada vez mais elemen-
tos de mudança no substrato físico nos quais as comunicações ocorrem.
A análise do discurso quando estuda a maneira de objetos e ideias,
trata da concepção semântica contida nessa descrição e a percepção que
envolve conhecimento transmitido nesta expressão daquilo que é dito.
Tratando-se de comunicação no âmbito comunitário e social, é de vital
importância para organização da informação. A formação de identidade
entre os tipos de usuários de determinados grupos de informação passa por
esta caracterização e agrupamento da informação, a partir do envolvimen-
to social que a análise do discurso implica.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
367
O tipo de análise de discurso praticada por Michel Foucault e
seus seguidores é um método de pesquisa útil em biblioteconomia
e Ciência da Informação [...] O método permite a análise das
maneiras pelas quais informações, seus usos e usuários são
construídos discursivamente, especialmente nos discursos teóricos
da biblioteconomia e Ciência da Informação, de modo que o poder
sobre eles possa ser exercido de maneiras específicas (Frohmann,
1994b, p. 119).
A redução do documento àquilo que é feito pela linguagem associa-
da à fala e escrita diminui significativamente as possibilidades de comuni-
cação na velocidade que a rede mundial de computadores pode disseminar
conteúdos informacionais. A abrangência dos artefatos humanos é capaz
de tornar documento o produto histórico da relação entre o conhecimento
e a construção dos objetos utilitários e de arte. A abrangência da documen-
tação está além daquilo que é custodiado institucionalmente.
Dentro dos acervos custodiados, estabelecer relações semânticas nas
quais os signos estão relacionados aos objetos aos quais se referem, como
mencionado acima, oferece abrangência para a classificação.
É importante ter em mente esse ponto de partida pragmatista no
desenvolvimento de uma teoria de conceitos e semântica. As relações se-
mânticas se relacionam a uma determinada tarefa ou situação e nem todos
os usuários de um determinado conjunto de relações semânticas compar-
tilham a mesma visão de quais termos são equivalentes. Por outro lado, é
claro que se basearmos uma teoria semântica em uma visão individualista
e idiossincrática de conceitos e semântica, não é possível projetar sistemas
para mais de um usuário ou situação – uma conclusão absurda.
Precisamos de princípios mais estáveis para determinar relações
semânticas. Precisamos de uma teoria semântica sobre o significado
das palavras como formas de práticas tipificadas. O conhecimento
sobre semântica em práticas tipificadas pode então ser usado pelos
pesquisadores de informações para incluir ou excluir determinados
documentos (Hjørland, 2007b, p. 381).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
368
Uma teoria semântica sobre o significado das palavras parece ser um
ideal de classificação no qual as práticas tipificadas deveriam ser encaixa-
das, um método de classificação. A dificuldade é um método que abarque
as diversas possibilidades enquanto regra.
O tratamento dos signos usados de maneira lógica, vistos à maneira
peirceana, é fundamental para a análise das ações humanas, tanto quanto
para os demais fenômenos naturais e artificiais, ou seja, aqueles promovi-
dos com ação intencional pelas pessoas. A linguagem, seja ela o signo lin-
guístico ou aquela usada na dedução matemática, trabalha com elementos
que produzem significação.
Diferente da ação que busca um resultado, as significações com seus
ajustes decorrentes do processo visam o fim último enquanto consequência
destes ajustes, não enquanto um alvo projetado para o qual se encaminha
a estratégia de ação. As palavras, o uso linguístico delas não é o nome para
a ideia daquilo que descreve, mas são signos que remetem àquela maneira
habitual de relação com estes objetos conceituados.
A visão pragmatista da semântica sugere que palavras e expressões
são ferramentas para a interação e seus significados são suas funções
dentro da interação, constituindo suas capacidades para servi-lo de
maneiras distintas (Hjørland, 2007b, p. 397).
Diferentes visões sobre pragmatismo e pragmática são agrupadas sob
a mesma caracterização. É necessária a especificação entre estas diferen-
tes maneiras de designar o comportamento e significação na Ciência da
Informação.
A abordagem pragmática na Organização do Conhecimento con-
siste em um campo de estudo no qual o significado, ou semântica, é de
extrema importância, e ainda, a pragmática é entendida “[...] como um
paradigma em semântica, conforme sugere Peregrin (2004; 1999), visão
que também é aceita por Birger Hjørland” (Weiss; Brascher, 2014, p. 698).
Mesmo “a informação sendo considerada um fenômeno construído
(Weiss; Brascher, 2014, p. 698), ou seja, dependente de um contexto que
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
369
influencia e determina o ator, esta visão semântica que é conceituada com
o nome “pragmática” oferece uma perspectiva de entendimento das rela-
ções de significação que teriam mais abrangência se não fosse ligada apenas
aos nomes que designam os objetos.
O pragmatismo peirceano na Ciência da Informação é tratado como
se Peirce fosse apenas um percursor de James e Dewey, e como se a signifi-
cação e ação ocorressem com o mesmo entendimento para todos eles.
A despeito da abordagem peirceana sobre o pragmatismo, com a
qual Dousa (2010) inicia sua comparação com as versões do pragmatismo
de James e Dewey, é importante salientar que a fundamentação científica é
aquilo que norteia a fundamentação pesquisa lógica do jovem Peirce quan-
do alia os signos ao pensamento. O método pragmático enquanto doutrina
científica é resultado de evolução de seu trabalho de relacionar por meio do
signo a idealidade e o objetivismo, no qual a simplificação do termo “realis-
ta” para este trabalho limita a compreensão de sua ampla estruturação das
ciências e o papel das Ciências Normativas e dentro dela a semiótica como
norteadora do trabalho científico.
Quando a afirmação: “Em contraste com a austera e objetivista ver-
são de Peirce do pragmatismo, William James desenvolveu uma subjeti-
vista aplicável a problemas da vida muito além da investigação científica
(Dousa, 2010, p. 67) existe uma abordagem distorcida, talvez por falta de
aprofundamento daquilo que é o legado científico, em manuscritos em sua
maioria, deixado por Peirce. Na definição do que é Pragmatismo, feita por
Peirce, ele mesmo descarta este caráter prático enquanto uma versão empi-
rista apenas daquilo que pode ser a antecipação dedutiva de acontecimen-
tos futuros1. E isto é possível ser feito não apenas cientificamente, mas em
situações cotidianas, pois é a maneira como agimos, como por exemplo,
a necessidade de seguir o trânsito para atravessar a rua. A ação justificada
dá a Dousa (2010) uma percepção de subjetividade na obra jamesiana que
influencia autores na Organização do Conhecimento e em especial Shera
(1965) que baseado no pragmatismo de James cria classificações multidi-
Vide “What Pragmatismo Is” (Peirce, 1974, CP 5.411) ou na publicação original: Peirce, C. S. (1905). What
Pragmatism Is. Monist, 15(2), 161-181. doi:10.5840/monist190515230.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
370
mensionais, uma vez que a classificação implica em padrões de experiência
que variam de indivíduo para indivíduo.
Para completar as “três formas clássicas de pragmatismo” (Dousa,
2010, p. 69), a versão do pragmatismo de John Dewey é colocada como
a busca para “[...] encontrar um equilíbrio entre a orientação científica de
Peirce e a mais motivada de James” (Dousa, 2010, p. 68). Claramente existe
uma tendência a considerar os aspectos que envolvem a relação da comuni-
dade como um ponto importante nas questões de significação. A ação em
uma comunidade feita por cidadãos, não pode ser dissociada das questões
sociais e culturais do contexto ao qual pertencem, e neste sentido toda a ação
teologicamente orientada, ou por quaisquer que sejam os objetivos, faz parte
deste contexto, num ambiente que acomoda uma comunidade.
Duas coisas aqui são muito importantes para garantir a si mesmo
e lembrar. A primeira é que uma pessoa não é absolutamente
uma pessoa. Seus pensamentos são o que ele está “dizendo para si
mesmo”, isto é, está dizendo para aquele outro eu que está apenas
entrando em vida no fluxo do tempo. Quando se raciocina, é esse eu
crítico que se está tentando persuadir; e todo pensamento qualquer
que seja é um signo e é principalmente da natureza da linguagem.
A segunda coisa a lembrar é que o círculo da sociedade do homem
(por mais ampla ou restrita que essa frase possa ser entendida) é
uma espécie de pessoa pouco compactada, em alguns aspectos de
classificação mais alta do que a pessoa de um organismo individual.
São essas duas coisas que tornam possível para você – mas apenas
no sentido abstrato e pickwickiano (sic)– distinguir entre a verdade
absoluta e o que você não duvida (Peirce, 1974, p. 281, CP 5.421,
1905, tradução nossa).
A natureza da linguagem enquanto instrumento de comunicação e
compartilhamento científico é essencial. Os gráficos são uma maneira de
traçar iconicamente a representação que usa a linguagem para transpor para
a comunidade àquilo que é tido enquanto experiência científica verdadeira
e com relevância para compartilhamento. A produção individual dentro de
uma comunidade tem influência recíproca, dissociar ciência da atividade co-
mum tem as mesmas raízes da diferenciação entre ciência e religião.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
371
Existe uma sequência de equívocos, ou pouco entendimento da versão
peirceana que coloca uma contraposição em aspectos do entendimento de
Peirce e o subsequente desenvolvimento da teoria feito por James que não
tem sustentação. “Ao contrário de Peirce, no entanto, Dewey não restringiu
seu método de investigação principalmente a questões científicas; em vez
disso, ele o via como um meio de resolver problemas humanos mais gerais,
como James havia feito” (Dousa, 2010, p. 68). A semiose executada por
qualquer mente que aprenda com a experiência não está restrita ao pen-
samento humano. O pragmatismo enquanto doutrina e método de ação
não é uma teoria da qual seja possível abstrair aplicações práticas, mas é na
continuidade entre o processo, a ação e a significação que está o aprendizado.
De maneira semelhante a James, Dewey adotou uma forma de
relativismo objetivo” em relação ao conhecimento, sustentando
que as concepções de coisas no mundo são coloridas pela
experiência, interesses e propósitos, e ativamente moldados pelas
próprias interações com essas coisas (Dousa, 2010, p. 68).
Esta descrição do pragmatismo está de acordo com a caracteriza-
ção “clássica” de pragmatismo, mas são derivações daquela preconizada
por Peirce. O foco na ação prática de James, ou a ação dentro de uma
comunidade de Dewey estão apresentadas como aplicações específicas do
método peirceano. Estas visões do pragmatismo focalizam a ação prática
no caso de James ou o contexto social no caso de Dewey, ao invés de ser
a contraposição à abrangência da estrutura científica proposta por Peirce,
são versões aplicadas.
O pensamento de Dewey quando influencia a perspectiva desen-
volvida por Hjørland para organização do conhecimento dentro de sua
estrutura domínio analítica coloca “[...] a ideia analítica de domínio, na
qual o universo do conhecimento consiste em diferentes domínios correla-
cionados a diferentes comunidades epistêmicas é consonante com a visão
pluralista de Dewey de múltiplas comunidades” (Dousa, 2010, p. 68). O
arcabouço científico é destinado a comunidades de investigadores afins,
seja por assunto, seja por métodos. A interdisciplinaridade contemplada
pela versão lógica, dentro do método científico não está contraposta à es-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
372
pecificidade de ações ou comunidades. Dentro das Ciências Normativas o
trânsito entre o geral e o particular é justamente àquilo que dá significação
para a ação. A concepção de “comunidade abstrata e universal de Peirce
(Dousa, 2010, p. 68) contraposta a uma comunidade que compõe a so-
ciedade parece não ser verdadeira, ou no mínimo, carece de especificação.
Dentro da Organização do Conhecimento, os pesquisadores que
adotam perspectivas pragmatistas tendem a se inclinar para o
modelo socialmente pluralista articulado por Dewey e defendido
por Hjørland: mesmo aqueles que invocam explicitamente as teorias
e métodos Jamesianos (Shera 1965) ou Peirceanos (ellefsen
2004; ellefsen e ellefsen 2004) consideram domínio do
conhecimento (limitado) como o nível mais apropriado para o
qual orientar os Sistemas de organização do Conhecimento. Tal
tendência talvez represente a confluência de certas tradições de
Organização do conhecimento como a produção de classificações
especiais, índices e bibliografias de assuntos voltados para
comunidades de usuários específicas (Dousa, 2010, p. 69).
A análise de domínio é amplamente aceita na Organização do
Conhecimento, exatamente por proporcionar uma delimitação de pers-
pectiva para o usuário que não é uma classificação rígida, mas ofere-
ce possibilidades de informação que mais se adequam à comunidade de
pesquisadores. A organização do conhecimento carece então de suporte
do pragmatismo peirceano, que de fato pode com a semiótica trabalha-
da na organização do conhecimento e particularmente na indexação (por
ellefsen, Almeida entre outros) mostrar que a determinação de conduta
na ação dos sujeitos envolvidos no processo de manuseio da informação
extrapola àqueles interesses que primeiramente partem de uma comunida-
de, mas que são extensivos a tantos novos interpretantes sejam possíveis no
processo de significação.
Um documento ou uma informação é relevante ou não é relevante
para estabelecer uma determinada tarefa em relação a objetivos,
valores e interesses. Um documento pode ser relevante mesmo
que ninguém (ainda) pense assim (relevância objetiva). Pode,
assim, tornar-se relevante no futuro. A avaliação de especialistas
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
373
é necessária, mas os especialistas podem ter diferentes interesses,
metas e valores (também diferentes dos usuários) e não são vistos
como avaliadores neutros ou objetivos. Além disso, as opiniões dos
especialistas mudam quando mudam de teoria. Um determinado
sistema pode ser ideal para algumas consultas, mas não para todos.
Diferentes interesses e perspectivas precisam de diferentes tipos de
algoritmos e sistemas (Hjørland, 2010, p. 232).
A determinação de critérios de relevância que tenha uma visão prag-
mática visa o acesso plausível para usuários, tirando o foco de ação daquilo
que é feito por especialistas para o enfoque do usuário, como está dito aci-
ma. Mas as ações não estão resumidas a uma tarefa, nem a uma teoria que
dê conta da resolução de tarefas. A pragmática como usada em linguística
ou o pragmatismo de concepção peirceanos não são teorias diferentes para
resolver a mesma tarefa, são perspectivas diferentes no enfoque da signifi-
cação e ação conjuntas. Em nota n. 40 existe a observação que diz: “Deve-
se considerar, no entanto, que existem diferentes versões do pragmatismo
e que o pragmatismo ainda pode ser visto como uma teoria emergente
(Hjørland, 2010, p. 235).
Apesar do reconhecimento da visão positivista moderna, que separa
o sujeito do conhecimento do mundo não ter mais tanto respaldo, a visão
pragmática do conhecimento requer a demonstração da maneira, e com
qual visão de autor, o entendimento daquilo que é pragmatismo está sendo
considerado.
O uso do termo pragmatismo será objeto de investigação nos traba-
lhos usados como amostragem do tratamento dado à consideração prag-
mática de ação, porém aquilo que deve ser ressaltado é a mistura, ou inde-
finição das correntes de entendimento do pragmatismo desde a concepção
de Peirce. Esta seção mostra o uso indistinto do termo para nas seções
subsequentes mostrar a concepção peirceana e então possibilitar a distin-
ção da maneira de conduta que busca significação daquela que resulta na
definição de um nome para o resultado esperado no processo de ação.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
374
5.2 pRaGMaTisMO na ciência Da infORMaÇÃO
Delimitar a articulação de conceitos pelo método pragmático é uma
abertura ao processo de indexação que não restringe a representação con-
tida no conceito a uma relação unívoca entre o signo e aquilo que está
representado. Mesmo valendo-se da representação contida nele, o processo
de contínua formação de interpretantes deve se manter aberto, para que a
informação contida nele siga informando novos interpretantes na evolução
dos signos, em vários níveis, em mentes que possam aprender com a ex-
periência. Indexar, recuperar e transmitir informação nas variadas formas
conhecidas seja a fala, a escrita ou os meios digitais, implica em modali-
dades de conhecimento pertinentes à Ciência da Informação. A custódia
de um acervo restringe, com o devido cuidado, os elementos passíveis de
recuperação, mas os meios digitais cada vez mais abrem possibilidades in-
formacionais que expandem a capacidade de cruzar informações em mo-
dalidades diferentes.
O conceito representado abre as possibilidades de interpretação e tem
na delimitação de um domínio a indicação dos interpretantes àqueles intér-
pretes de uma comunidade que vai se valer desta indicação. Profundidade e
extensão estão presentes na capacidade de informação contida no conceito
tanto quanto na delimitação do domínio.
A crença suficiente para efetivar a conduta, em nada atinge o caráter
conjectural das hipóteses e, consequentemente, a possibilidade de
que várias hipóteses, sequer mutuamente compatíveis, sustentem
de modo adequado a conduta diante de uma mesma classe de
fenômenos. A representação é um meio que visa a adequar, pelo
hábito, a conduta a um fim procurado. O estágio final da conduta,
por conseguinte, não pertence ao domínio da representação, mas,
num processo semioticamente genuíno em que se preenchem
as relações do signo e do objeto, é a interação com o objeto que
finaliza e confere sentido à representação promovida pelo signo
(Silveira, 2006, p. 308).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
375
Na organização da informação, indexar o documento e sua recupe-
ração pelo novo usuário se configura como partes contínuas da semiose,
contida na produção de signos, por meio do documento. Este balanço
entre a entrada de assunto e recuperação do conteúdo é fundamental para
a abdução aventada quando se busca recuperar um documento e sua ex-
pectativa de conteúdo. Ao ser elencada, a recuperação da informação é
a busca da informação que tenha continuidade em um raciocínio lógico
de um novo usuário do conteúdo do documento. Aquilo que está sendo
procurado por este usuário inclui a determinação da conduta com vistas
a um processo de conhecimento por meio da significação. A informação
que possa levar a hipótese rumo à verdade a ser demonstrada no decorrer
da investigação por parte do intérprete, quando este intérprete é o profis-
sional que trabalha a informação a ser difundida, é o motor do usuário
que tem, em um processo abdutivo, a relação da busca e recuperação da
informação coerente ao seu conceito a ser trabalhado. O signo produzido
na organização da informação terá sua continuidade no trabalho de um
novo intérprete estudioso do documento.
Existe uma continuidade do processo que deve possibilitar, tanto na
indexação quanto na recuperação da informação, esta maleabilidade de re-
lações entre a extensão e profundidade da informação contida nos termos
a serem recuperados. O indexador com formação de atuação abrangente é
aquele que pode propor esta relação com maior criatividade que um algo-
ritmo de computador, capaz de calcular profundidade e extensão a partir
de uma frequência de acessos.
Poder ampliar o acesso e ainda assim indicar um conteúdo preciso
é um desafio para a indexação, pois aparentemente indicam opções con-
traditórias. Encontrar a circunstância ótima de relacionar o usuário ao
conteúdo pretendido é o objetivo. A observação do conteúdo e a melhor
estratégia de indexação são desafios a cada material trabalhado.
A designação pragmatista das abordagens de Hjørland, em vários
trabalhos relacionados a seguir, implica em mostrar aquilo que é pretendi-
do ser contribuição do pragmatismo peirceano àquilo que é conhecido na
Organização do Conhecimento e Ciência da Informação nesta pesquisa.
As versões de “pragmatismo” derivadas da visão de Peirce têm uma maneira
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
376
confusa de demonstração para a justificativa do uso do pragmatismo en-
quanto abordagem epistemológica. A mútua referência entre os pesquisa-
dores da Ciência da Informação reconhece a ação em um contexto, fazen-
do uso da linguagem com o pragmatismo enquanto vertente que justifica
esta ação.
O resgate da versão original peirceana é uma contribuição para a
colocação do método pragmático enquanto método científico que está
presente desde a concepção do documento científico até sua recuperação
e reposição em novos interpretantes no decorrer da atividade científica em
um nicho social.
A citação da metodologia peirceana é usada em visões de autores
variados da organização do conhecimento (Hjørland, 2003; Raber; Budd,
2003; Moura, 2006; Lara, 2006; Friedman; ellefsen, 2011; ellefsen,
2002, 2004a, 2004b; Mai, 1997, 2000a, 2000b, Mai, 2001, Guimarães,
2017). Existe nas publicações de Hjørland uma referência bem específica
ao pragmatismo, sem, contudo, dar uma definição consistente que seja
própria do autor ou creditada a um filósofo específico. Temos citações oca-
sionais de alguns filósofos considerados pragmatistas ou neo-pragmatistas
como será visto adiante.
Para termos sistematicamente a compreensão do decorrer dos usos e
concepções de pragmatismo empregadas por Hjørland foi feito um quadro
no qual os temas tratados relacionados ao pragmatismo estão destacados.
As publicações são a partir do ano de 1994 quando foi feita a proposta
da Análise de Domínio, até 2019, no trabalho em que é discutida a visão
de Gnoli, incluindo Popper considerado neo-pragmatista. Foi feita uma
sequência cronológica dos trabalhos na qual o termo pragmatismo ou sig-
no, além do nome de Peirce são citados. Esta sequência está apresentada a
seguir e no final o quadro resumido desta investigação.
Em artigo de 1994, publicado em 1995 Hjørland propõe a Análise
de Domínio como um novo horizonte para a Ciência da Informação, já
nos anos 1990 a transdisciplinaridade ou tendências transdisciplinares
para entendimento do conhecimento (Hjørland, 1995). A ação que pro-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
377
duz conhecimento vem da visão pragmática de Dewey e “aprender fazen-
do” (Hjørland, 1995, p. 405).
Em seguida existe a apresentação de um quadro classificado por ele
enquanto “Um manifesto para uma percepção funcionalista e pragmática
do conhecimento” (Hjørland, 1995, p. 407) derivado de Sarvimäki (1998,
p. 58-59).
Esta consideração pragmática para a atuação é a base de entendi-
mento na maioria das referências oferecidas pelo autor. A visão de aprendi-
zagem no decorrer do comportamento que contempla determinada ação,
vinda das Ciências Cognitivas, é uma contribuição valiosa para a cognição
dependente de um contexto no qual existe mútua influência entre o agen-
te, ambiente e processo de cognição.
Quadro 1 - Um manifesto para uma percepção funcionalista e pragmática
do conhecimento
Fonte: Hjørland, 1995, p. 407, tradução nossa.
O quadro acima de “Princípios Básicos na Teoria Pragmática do
Conhecimento” será novamente usado em publicação de 2005 na defi-
nição de pragmatismo no site “e Epistemological Lifeboat Epistemology
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
378
and Philosophy of Science for Information Scientists”. O paralelo com a ação
intencional pode ser obtido na comparação com o texto peirceano:
Existe também uma intenção lógica geral. Mas isto não é enfatizado
porque a vontade não entra tão violentamente no raciocínio quanto
na conduta moral. Eu tenho mencionado as normas lógicas, que
correspondem às leis morais. Ao aceitar qualquer problema difícil
de raciocínio, formulamos para nós mesmos uma resolução lógica;
mas aqui novamente, porque a vontade não está em tanta tensão no
raciocínio como frequentemente está na conduta autocontrolada,
estas resoluções não são fenômenos muito proeminentes. Devido a
essa circunstância, a determinação eficiente de nossa natureza, que
nos leva a raciocinar em cada caso, como nós, tem menos relação
com as resoluções do que com as normas lógicas. O ato em si é,
no momento, irresistível em ambos os casos. Mas imediatamente
depois, ele é submetido a autocrítica em comparação com um
padrão anterior que é sempre a norma, ou regra, no caso do
raciocínio, embora no caso da conduta externa nos contentemos em
comparar o ato com o resolução. No caso da conduta geral, a lição
de satisfação ou insatisfação não é frequentemente levada a sério e
influencia pouco a conduta futura. Mas, no caso do raciocínio, uma
inferência que a autocrítica desaprova é anulada instantaneamente,
porque não há dificuldade em fazê-lo. Finalmente, todas as
diferentes sensações que, como vimos, acompanham as diferentes
operações de conduta autocontrolada acompanham igualmente as
do raciocínio, embora não sejam tão vívidas (Peirce, 1974, p. 333-
334, CP 1.609, 1903,tradução nossa).
Tratando-se da conduta humana, a moral e condições psicológicas
do sujeito são preponderantes. Atender satisfatoriamente a expectativa,
porque é disto que trata a intenção é parte da conduta teleológica. Porém
o raciocínio, a possibilidade lógica de tratamento da significação é parte
fundamental desta conduta direcionada:
O paralelismo é assim perfeito. Nem, repito, poderia deixar de ser
assim, se nossa descrição dos fenômenos da conduta controlada
fosse verdadeira, já que o raciocínio é apenas um tipo especial de
conduta controlada (Peirce, 1974, p. 334, CP 1.610, 1903).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
379
Esta definição de pragmatismo aliada àquilo que classifica “Realismo
pragmático” na publicação “fundamentos da Organização do Conhecimento
(2003-B, p. 94) são as definições mais objetivas do termo “pragmatismo
oferecidas por Hjørland. Nas demais temos uma junção de designações dife-
rentes de autores ditos pragmáticos, como será visto a seguir.
A autonomia do discurso que pode ter o conhecimento organizado
em domínios analisados implica em perspectivas filosóficas e perspectiva
sociológica. O uso de padrões de ação para a atuação mostra a tendência
de comportamento em ambientes distintos, sem, no entanto, existir refe-
rência ao pragmatismo enquanto abordagem epistemológica.
A utilização de diferentes fontes e recursos de informação para atu-
ação em um ambiente tem estratégias, visando eficiência para cumprir
tarefas (Hjørland, 2000). Assim, informação depende da atividade inse-
rida em um contexto e isso é tratado enquanto um fenômeno psicológico
individual formado em um processo histórico-cultural (Hjørland, 2000).
Certamente estes aspectos levantados nesta questão comportamental exis-
tem, porém, a ação e conhecimento contemplados pelo pragmatismo peir-
ceano têm o aspecto psicológico colocado em conjunto com a capacidade
lógica de determinação da conduta.
A visão cognitiva e sociocognitiva em Ciência da Informação, ou a
domínio-analítica são usadas para discussão do critério de relevância para
a representação de assunto.
Um ponto central em minha abordagem é a afirmação de que
ferramentas, conceitos, significado, estruturas de informação,
necessidades de informação e critérios de relevância são moldados
em comunidades discursivas, por exemplo, em disciplinas
científicas, que são partes da divisão de trabalho da sociedade
(Hjørland, 2002a, p. 258).
Está relatado, enquanto conclusão do argumento os critérios de rele-
vância para organização do conhecimento exemplificado em quatro “esco-
las epistemológicas” (Hjørland, 2002a, p. 267).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
380
Quadro 2 - Critérios de relevância de “quatro escolas” epistemológicas
Critérios de relevância simplificados em quatro escolas epistemológicas
Empirismo Racionalismo Historicismo Pragmatismo
Relevante:
Observações,
dados dos sentidos.
Indução a partir
de coletas de dados
observacionais. Dados
intersubjetivamente
controlados.
Não-relevante:
Especulações,
conhecimentos
transmitidos
pelas autoridades.
“Conhecimento do
livro” (“natureza da
leitura, não livros”).
Dados sobre as
suposições e pré-
entendimento dos
observadores.
Relevante:
Pensamento puro,
lógica, modelos
matemáticos,
modelagem
computacional,
sistemas de axiomas,
definições e teoremas.
Baixa prioridade é
conferida a dados
empíricos porque
esses dados devem ser
organizados de acordo
com princípios que
não podem advir da
experiência.
Relevante:
Conhecimento
prévio sobre pré-
compreensão,
teorias, concepções,
contextos,
desenvolvimentos
históricos e
perspectivas
evolutivas.
É dada baixa
prioridade a dados
descontextualizados
dos quais os
significados
não podem ser
interpretados.
Dados controlados
intersubjetivamente
são frequentemente
vistos como triviais.
Relevante:
informações sobre
metas, valores e
consequências,
envolvendo o
pesquisador e o
objeto da pesquisa
(sujeito e objeto).
É dada baixa
prioridade (ou
desconfiança
definitiva) a
informações
neutras ou sem
valor declarado.
Por exemplo, a
epistemologia
feminista desconfia
da neutralidade da
informação produzida
em um homem.
Fonte: Hjørland, 2002a, p. 269, tradução nossa.
Foi dada a importância devida aos critérios de relevância aos assun-
tos, porém aquilo que cada “escola epistemológica” preconiza fica a cargo
do entendimento do leitor. Ainda assim, a entrada de assunto depende do
campo de abrangência ao qual o assunto possa interessar, seja ele enfatiza-
do por qualquer das vertentes classificadas.
Nenhuma epistemologia ou teoria da interpretação pode substituir
o conhecimento do assunto, por exemplo, dos textos a serem
indexados. No entanto, o conhecimento epistemológico constitui
uma base interdisciplinar para teorias gerais sobre organização
do conhecimento, recuperação de informação e outras questões
básicas em CI. Este pode ser o único fundamento geral que é possível
estabelecer! (Hjørland, 2002a, , p. 268, grifo do autor).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
381
A palavra informação enquanto conceito, longe de ter consenso so-
bre uma definição, têm várias abordagens no estudo realizado por Capurro
e Hjørland em 2003. O texto exemplifica e investiga brilhantemente ma-
neiras de conceituação de informação e como definir um termo cientifica-
mente, porém não existe referência ao pragmatismo peirceano, apenas uma
menção à Peirce e a possibilidade de significação como decorrência futura
do processo de significação.
Quando usamos linguagem e termos, realizamos um tipo de ato,
com a intenção de realizar algo. Os diferentes significados dos
termos que usamos são ferramentas mais ou menos eficientes para
nos ajudar a realizar o que queremos realizar. Assim, de acordo
com filósofos pragmáticos como Charles Sanders Peirce (1905), o
significado de um termo é determinado não apenas pelo passado,
mas também pelo futuro (Capurro; Hjørland, 2003, p. 346).
Aqui, a concepção pragmatista é remetida ao entendimento de
William James, porém temos a referência à evolução, às consequências
possíveis da adoção de determinadas ações e seus desdobramentos futu-
ros. Embora Peirce seja citado, o contexto e a possibilidade de significação
no futuro são colocados de maneira muito simplificada, dando margem à
incompletude e desentendimento do pensamento peirceano. Da mesma
maneira, quando é colocada “A tendência dentro e além da Ciência da
Informação tem favorecido a visão semiótica de Peirce sobre o pluralismo
metafísico de Popper” (Capurro; Hjørland, 2003) devemos compreender
tanto a semiose peirceana, dentro do pragmatismo, para então comparar
à visão metafísica de Popper. Principalmente porque são categorias dife-
rentes, uma vez que a semiótica não é metafísica na concepção peirceana.
O uso da palavra signo implica em ação de um agente em processo
cognitivo, mesmo que esta caracterização de signo não esteja atrelada à
semiótica peirceana, a possibilidade interpretativa dependente da ação, ou
agente cognitivo, implica em uma visão pragmática desta possibilidade de
ocorrência da informação. Esta caracterização pragmática não é feita.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
382
Sugerimos que enfocar o conceito de informação pode ter
direcionado mal nosso campo, e que uma atenção mais detalhada
a conceitos como signos, textos e conhecimento pode fornecer
quadros conceituais mais satisfatórios para o tipo de problemas que
a CI está tentando responder. Quando usamos o termo informação
em CI, devemos sempre ter em mente que a informação é o que
é informativo para uma determinada pessoa. O que é informativo
depende das necessidades e habilidades interpretativas do indivíduo
(embora estas sejam frequentemente compartilhadas com membros
de uma comunidade discursiva) (Capurro; Hjørland, 2003, p. 346).
Ser informativo é manter comunicação em alguma medida. As ne-
cessidades e habilidades interpretativas associadas aos diversos tipos de sig-
nificação expandem o caráter de documento a tudo aquilo que é usado
enquanto meio de obtenção de conhecimento por estar ali representado.
Portanto, embora o conceito de signo não seja especificado, o caráter po-
pular de representação de alguma coisa para alguém contida na definição
peirceana é válida, mesmo que nesta circunstância a linguagem falada refe-
rida no uso de textos fosse a documentação mais indicada.
[...] a distinção mais importante é aquela entre informação
como um objeto ou uma coisa (por exemplo, número de bits) e
informação como um conceito subjetivo, informação como um
signo; isto é, dependendo da interpretação de um agente cognitivo.
A visão interpretativa desloca a atenção dos atributos das coisas
para os “mecanismos de liberação” para os quais esses atributos
são importantes. Essa mudança pode causar frustração porque é
inerentemente difícil e porque implica princípios teleológicos
que são estranhos aos princípios positivistas da ciência (Capurro;
Hjørland, 2003, p. 396-397, grifo nosso).
A menção à teleologia para a ação é o princípio básico dos signos
fornecidos pelos seres vivos. A noção básica de instintos e sobrevivência ex-
plicam comportamentos motivados por um fim determinado. O pragma-
tismo peirceano está além desta significação básica de atuação de plantas e
animais, por exemplo.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
383
Ainda em 2003, ao estabelecer Fundamentos para a Organização
do Conhecimento, a Ciência da Informação é tratada como ciência in-
terdisciplinar que se vale de visões epistemológicas e sistemas sociais
para a Organização do conhecimento. O processamento de Informação
na Divisão Social do Trabalho tem a Organização Intelectual e Social do
Conhecimento interconectados. Vem do entendimento de Dewey a orga-
nização social e intelectual do conhecimento como um espelhamento da
divisão social do trabalho (Hjørland, 2003). A mútua influência é a base
da constituição cultural, assim como demais fatores que constituem o am-
biente no qual a ação do sujeito acontece.
Uma visão influente hoje é o construtivismo social. Essa visão
está relacionada à visão pragmática apresentada acima. Muitas
vezes, no entanto, o construtivismo social e o pragmatismo se
opõem a tipos de realismo, como o realismo científico. Um dos
filósofos pragmáticos modernos é Richard M. Rorty. Segundo
Rorty, o realismo científico e o pragmatismo são duas visões que
não podem ser combinadas; o pragmatismo é visto como uma
posição antirrealista. De acordo com outros filósofos (por exemplo,
Dewey, 1929; Ellis, 1990), o realismo deve de fato ser baseado no
pragmatismo. Isso corresponde ao meu próprio ponto de vista, que
pode, portanto, ser chamado de realismo pragmático (Hjørland,
2003, p. 94, grifo do autor).
Hjørland (2003) ao citar Hjelmslev e Teoria da Atividade existe uma
mistura de abordagens linguísticas diferentes, que incluem visões diferentes
do processo de semiose. Quanto à construção social de significado, é possível
concordar e parece ser bem claro está na existência dos diferentes contextos e
implicações entre as ações e significado nestas situações diferenciadas.
Considerando que a semiótica tradicional tende a ser formalista e a
abstrair sinais de seus contextos de uso; A semiótica social examina
práticas semióticas, específicas de uma cultura e comunidade,
para a produção de vários tipos de textos e significados em vários
contextos situacionais e contextos de atividade culturalmente
significativa. Para uma introdução à semiótica social, ver, por
exemplo, Hodge e Kress (1988). As formulações deste artigo foram
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
384
inspiradas por Karpatschof (2000) (Hjørland, 2003, p. 108, nota
no final do texto).
Porém a explicação de semiose social não leva em conta as diferenças
entre autores que tratam dos signos, nem tem a profundidade necessária
para a classificação deste uso que é feito de maneira dual, tratando-se de
processos linguísticos, e a diferenciação com a semiótica peirceana não é
mencionada. A determinação da semiótica tradicional inclui quais autores?
Esta explicação da contraposição à “semiótica social” comparada à concep-
ção de Peirce é completamente descabida.
Tomemos como exemplo a concepção de pragmática usada: “Na vi-
são do pragmatismo (e Teoria da Atividade), as linguagens são ferramen-
tas adaptadas culturalmente para atender às necessidades de seus usuários
(Hjørland, 2003, p. 99). A citação do pragmatismo não tem a necessária
a referência qual pragmatismo para ser possível aceitá-la enquanto parâ-
metro. É necessário estabelecer a visão de “pragmática” relacionada à lin-
guagem, marcar as diferenciações entre abordagens com a denominação
pragmatismo, para que esta inclusão não seja feita de maneira aleatória
reunindo ação e conhecimento do indivíduo.
Para a classificação dos conceitos na Organização do Conhecimento,
é usado o seguinte quadro relacionando aquilo que ele considera paradig-
mas epistemológicos e a visão na Filosofia e Psicologia destes enfoques
de caracterização dos conceitos. As considerações na Psicologia e Filosofia
envolvem questões de subjetividade que tem contestações arraigadas, vin-
dos do empirismo que não atribui comprovação científica àquilo que é
considerado solipsismo ou mentalismo. Mesmo o pragmatismo sendo a
solução” para estas dificuldades nos paradigmas epistemológicos, como
é sugerido no quadro abaixo, ainda o desconhecimento daquilo que é
pragmatismo originalmente continua como uma obstrução para o correto
desenvolvimento.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
385
Quadro 3 - Quadro para classificação de “concepções básicas de conceitos
“Paradigmas Em filosofia Em psicologia
Empirismo Conceitos simples correspondem a
sensações simples. Não há relações
necessárias entre conceitos simples.
Conceitos simples podem ser
combinados a conceitos complexos.
Nominalismo: Conceitos gerais são
nomes, que colocamos em classes de
coisas (generalizações empíricas).
Associacionismo clássico.
Comportamento. Conexionismo
(neo-associativismo ou
processamento paralelo
distribuído, que trabalha
com redes indutivas, auto-
organizadoras e “neurais” para o
processamento de informações
sensoriais)
Racionalismo Simples são conceitos, que não
podem, de maneira proveitosa, ser
definidos por outros conceitos. Eles
não são experientes, mas inatos ou
amadurecidos. Conceitos complexos
são definidos a partir de conceitos
simples. Conceitos fundamentais são
conceitos necessários para descrever um
campo. Conceitos simples, complexos e
fundamentais entram em certas relações
mútuas necessárias. A diferenciação
entre conceitos simples e complexos é
absoluta (independente de domínio,
interesses, pontos de vista etc).
Inteligência Artificial Clássica.
Cognitivismo. Trabalha
com algoritmos dedutivos,
governados por regras, para o
processamento de informações
sensoriais. Conceitos “clássicos
ou “aristotélicos” exaustivamente
definidos por conjuntos de
atributos necessários e suficientes.
Teoria moderna (Rosch, Lakoff)
Teoria do protótipo. Conceitos
são instâncias mais ou menos
prototípicas de coisas
Criticismo (Kant)
(Empírico-
racionalismo)
Os conceitos representam o
conhecimento do mundo mediado
por nossas formas de razão ou
categorias como espaço, tempo, coisa
e causa.
A “epistemologia genética
de Jean Piaget. “Os conceitos
amadurecem no indivíduo. Eles
crescem como os dentes
Historicismo e
Hermenêutica Os conceitos são formados em um
processo histórico com base no
pré-entendimento e na percepção
holística. Há circularidade entre a
formação de conceitos simples e
complexos. As relações entre conceitos
simples e complexos são relativas em
relação aos interesses. Tradições e
comunidades sociais desempenham
papéis importantes na formação de
conceitos.
Interpretação psicanalítica. Uma
análise satisfatória das funções
da cognição não pode apenas
explorar a sensação, a memória
e o pensamento isoladamente,
mas deve envolver toda a pessoa e
sua história de desenvolvimento,
individual e coletivamente. Os
conceitos são assim formados
pela influência de características
pessoais, como sexo e classe social.
Pragmaticismo e
Realismo crítico Conhecimento e conceitos são
formados pela atividade prática das
pessoas em relação aos objetos da
atividade.
Teoria da atividade: Nossos
conceitos não são determinados
apenas por atributos em objetos
físicos. Eles também têm
profundidade histórica”. Eles são
formados nos contextos históricos
dos objetos, que têm significado.
Fonte: Hjørland, 2003, p. 101, tradução nossa.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
386
A representação enquanto a conceituação daquilo que é conhecido,
formulada num conceito, não se resume a uma atividade pratica associada
a um pensamento a respeito daquilo que é conformado pela subjetividade
do conceito. Esta seria uma maneira muito simplificada de considerar teo-
ria e prática. Estas definições de Conceito colocadas acima podem e devem
ser interconectadas pela semiose no processo de significação.
A teoria da ação teleologicamente orientada é a maneira como con-
ceitos são vistos pelo pragmatismo de uma maneira geral, como uma mo-
bilização de ação. Mais adiante retornaremos a este item, tratando então
da concepção peirceana.
Os métodos de Organização do Conhecimento compreendem os
seguintes itens: Padronização, organização do conhecimento baseado em
computador, Métodos “manuais” ou “intelectuais”, Métodos quantitativos
e métodos qualitativos, Métodos baseados em texto, Métodos baseados
na instituição (por exemplo, estudos de organizações), Métodos biblio-
métricos, Métodos baseados em frequência de palavras, métodos socioló-
gicos, métodos históricos, Métodos pragmáticos, epistemológicos e críti-
cos (Hjørland, 2003). O método pragmático não é apresentado enquanto
aplicação na organização do conhecimento. Diferentemente das análises
bibliométricas, por exemplo, não existe um modelo de aplicação pragmáti-
ca, mas uma sugestão da linha epistemológica de pesquisa à qual se refere o
pragmatismo citado pelo autor. “Basicamente, os métodos de Organização
do Conhecimento estão relacionados a teorias fundamentais da episte-
mologia. Todos os pesquisadores em qualquer campo são sempre mais ou
menos influenciados por certos ideais sobre como obter conhecimento
(Hjørland, 2003, p. 105).
Epistemologia pragmática e Organização do Conhecimento
pragmático não significam que uma pessoa (ou um campo inteiro)
possa simplesmente fazer as coisas da maneira que melhor se adapte
aos seus interesses pessoais (ou aos interesses dos pesquisadores no
campo). Se isso for feito, se a pesquisa apenas produzir “construções
sociais”, a realidade tornará essas construções incoerentes. Eles
terão oposição por argumentos empíricos e teóricos. A produção
de “conhecimento” incoerente não é valiosa e não pode ser um
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
387
objetivo sério. Portanto, a filosofia pragmática está ligada a uma
forma de realismo. O método pragmático não se opõe a aspectos
do empirismo, racionalismo e historicismo. Alega, no entanto,
que nenhuma evidência isolada é suficiente. Os critérios finais
da verdade estão ligados a objetivos e atividades humanas. Você
não pode evitar considerar tais questões, embora possam parecer
desconfortáveis (Hjørland, 2003, p. 106).
Esta defesa da atuação que sim determina o conhecimento, não sen-
do apenas decorrência de uma ação social, não relaciona a que tipo de re-
alismo é feita a referência. O argumento seguinte é uma citação de Peirce,
retirada de uma das poucas publicações no e Monist, comparando-se
com a enorme quantidade de manuscritos produzidos por ele:
O significado racional de cada proposição está no futuro. Como
assim? O significado de uma proposição [seu interpretante lógico]
é em si uma proposição. De fato, não é outra coisa senão a própria
proposição da qual é o significado: é uma tradução dele. Mas das
miríades de formas nas quais uma proposição pode ser traduzida,
o que é aquela que deve ser chamada de seu próprio significado? É,
de acordo com o pragmaticista, aquela forma em que a proposição
se torna aplicável à conduta humana, [...] aquela forma que é mais
diretamente aplicável ao autocontrole sob cada situação e para todo
propósito. É por isso que ele localiza o significado no tempo futuro;
para conduta futura é a única conduta que está sujeita ao autocontrole
(Peirce, 1905, p.173-174, apud Hjørland, 2003, p. 106).
Esta argumentação descrita no texto de 1905 tem antes dela vários
interpretantes que carregam esta afirmação do procedimento Ético de de-
terminação da conduta. O autocontrole com vistas a uma significação fu-
tura, matriz do pensamento evolucionário não se reduz a uma ação plane-
jada para alcançar um objetivo. O próprio Peirce esclarece:
Agora, assim como a conduta controlada pela razão ética tende a
corrigir certos hábitos de conduta, cuja natureza, (para ilustrar o
significado, hábitos pacíficos e não hábitos irascíveis), não depende
de nenhuma circunstância acidental, e nesse sentido, pode ser
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
388
dito que é destinado; Assim, o pensamento, controlado por uma
lógica experimental racional, tende à fixação de certas opiniões,
igualmente destinadas, cuja natureza será a mesma no final, no
entanto, a perversidade do pensamento de gerações inteiras pode
causar o adiamento da fixação final” (Pierce, 2008, p. 177, 1905).
Em seguida, existe a exposição de um argumento de John Dewey
na qual “[...] relações e classificações semânticas determinadas por suas
funções como ferramentas para os objetivos humanos” (Hjørland, 2003,
p. 106) são considerados tendo uma mesma forma, porém são concep-
ções diferentes. São entendimentos diferentes de uma ação chamada
pragmática e por este motivo a certa altura de sua carreira Peirce resol-
ve chamar “Pragmaticismo” sua doutrina, para que não seja confundida
com outras versões.
Mais importante do que perceber a significação in futuro é entender
que ela faz parte de um processo evolucionário, no qual a transição entre
o geral e particular acontece pela ação. Os hábitos de conduta têm a ética
enquanto reguladora destes procedimentos. O recorte feito no artigo do
e Monist por Hjørland é um ponto importante na caracterização de um
interpretante singular, apresentado em uma forma passível de novas expe-
rimentações. Peirce em uma publicação faz o esforço de compilar em um
artigo tanto a diferenciação de outras concepções de pragmatismo, quanto
a devida demonstração da doutrina que faz parte da sua concepção cosmo-
lógica (Pierce, 2008, p. 177, 1905).
A maneira nominalista desta forma enquanto produto de significa-
ção, enquanto interpretante normal tende a ser dissolvida quando a repo-
sição em um processo de significação acontece no pragmatismo peirceano.
Significação no futuro implica em representação verdadeira, com o crivo
da terceiridade que pode ter outros processos de significação. Ação e re-
sultado da ação não são equivalentes no pragmatismo visto por Peirce. Os
processos de significação dentro do Sinequismo tendem a racionalidade
crescente. A ação sem a baliza ética da conduta não é capaz de alcançar o
bem estético que sensibiliza a ocorrência da ação. A lógica é o instrumento
da racionalidade humana para representar a significação. Esta discussão
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
389
dos elementos que balizam a conduta, cujo resultado não é apenas um
produto, mas um conjunto de elementos constituintes de significação não
é discutido por Hjørland quando é tratado o pragmatismo.
Uma proposição parte de uma abdução na qual o interpretante lógi-
co é sua representação no nível da terceiridade. O significado contém nele
mesmo o percurso desta sequência lógica capaz de deliberadamente ade-
quar a conduta àquilo que é o resultado esperado, que acontece no desen-
rolar da ação, num tempo futuro. O bem estético vislumbrado pela propo-
sição tem na conduta ética o direcionamento e aplicação às condições de
adequar a significação mostrando com isto a forma do interpretante lógico.
O desempenho da classificação na Ciência da Informação deve ser
uma ferramenta para alcançar objetivos na concepção de Hjørland. O sig-
nificado das palavras é visto “[...] conectado aos atos de fala e aos objetivos
que os humanos tentam satisfazer através de seus atos” (Hjørland, 2003,
p. 106). Desta maneira, a partir da Reconstrução em Filosofia (1920) de
John Dewey as classificações semânticas e relações da linguagem são deter-
minadas por suas funções enquanto ferramenta para os objetivos humanos.
A linguagem é uma ferramenta, assim como a ação e significação.
A linguagem é um veículo especial se a documentação escrita necessita da
articulação semântica das palavras. No uso da rede mundial de computa-
dores, esta relevância é diminuída com múltiplas possibilidades de conven-
ções sígnicas para os processos.
Ao mesmo tempo, uma classificação não é uma transcrição ou
duplicação simples de alguns arranjos acabados e feitos de natureza
preexistente. É antes um repertório de armas para atacar o futuro
e o desconhecido. Para o sucesso, os detalhes do conhecimento
passado devem ser reduzidos de fatos simples a significados,
quanto menos, mais simples e mais extensos, melhor [...] (Dewey,
1948, p. 151-154 apud Hjørland, 2003, p. 106, grifo nosso).
Um quadro de métodos de classificação fundamentais para organi-
zação do Conhecimento, justificando que “[...] conveniência, economia e
eficiência são as bases da classificação” (Hjørland, 2003, p. 106).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
390
Quadro 4 - Métodos Fundamentais de Classificação
“Classificação científica “Classificação bibliográfica
Empirismo
(Observações e induções)
Classificação fornecida por
generalizações estatísticas (por
exemplo, análise fatorial) com
base em “similaridade”.
Exemplos: Classificações de
tipos de inteligência em doenças
mentais em psiquiatria (DSMIV)
em psicologia com base em
análises estatísticas de resultados
de testes.
Documentos agrupados com base
em algum tipo de similaridade,
por exemplo, termos comuns
na recuperação de informação
tradicional ou no acoplamento
bibliográfico.
Exemplos: “Atlas da ciência
e visualizações (WHITE;
MCCAIN, 1998). “Frentes
de pesquisa” e algoritmos para
recuperação de informações.
Racionalismo
(Princípios da razão
pura. Deduções)
Classificação baseada em divisões
lógicas e universais.
Exemplos: Sistemas baseados
em quadros em Inteligência
Artificial. A análise de Chomsky
da estrutura profunda da
linguagem
Análise de facetas baseada em
divisões lógicas e “categorias
eternas e imutáveis
Exemplos: Ranganathan, Bliss II
e Langridge. Redes semânticas.
Segundo Miksa (1996), o DDC
tem utilizado cada vez mais essa
abordagem.
Historicismo
(Estudo de contexto
e desenvolvimento -
Explicando o pré-
entendimento)
Classificação baseada no
desenvolvimento histórico ou
evolutivo.
Exemplos: taxonomias biológicas
baseadas na teoria da evolução.
Classificação das ciências com
base em sua história e estruturas
organizacionais.
Sistemas baseados no estudo
do desenvolvimento do
conhecimento e das comunidades
produtoras de conhecimento
(a divisão social do trabalho
(científico)).
Exemplos: Wallerstein (1996)
O recurso do DDC que distribui
assuntos por disciplina.
Pragmatismo
(Análise de metas,
valores e consequências
no sujeito e no objeto)
Classificações com base em
valores, políticas e objetivos
específicos,
Por exemplo epistemologia
feminista.
Sistemas baseados em “garantia
cultural” ou “classificação crítica”.
Exemplos: os enciclopedistas
franceses, os marxistas, as
classificações que servem coleções
feministas.
Fonte: Hjørland, 2003, p. 107, tradução nossa.
O quadro tenta simplificar maneiras de atuação que ocorrem con-
juntamente em diversas situações, se levamos em consideração os objeti-
vos, como o autor coloca na visão pragmatista. Embora Hjørland conside-
re que o quadro é apenas uma idealização e não existem “em formas puras
(Hjørland, 2003, p. 107), ou seja, isoladamente. “Ao conhecer os princi-
pais pontos fortes e fracos das posições epistemológicas básicas, o especia-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
391
lista em informação é equipado com alguma compreensão geral dos lados
fortes e fracos dos diferentes métodos de Organização do Conhecimento
(Hjørland, 2003, p. 107). A possibilidade de semiose na articulação dos
signos, para o especialista em informação é o instrumento que capacita a
significação, incluindo pontos de vista diversos. Não se trata de uma tenta-
tiva de unificação, mas de apresentar a metodologia peirceana, hábil para o
tratamento científico da informação.
O método pragmatista peirceano contém os demais e articula os
signos de forma a apresentar a produção científica desta relação. A experi-
mentação, naquilo que é chamado Empirismo, neste quadro, não significa
um teste que prova a teoria apresentada de antemão na visão pragmatista
peirceana. No pragmatismo a conduta antecipada pela dedução tem na
indução a ação que não apenas comprovação, mas torna factível aquilo que
foi projetado. O contexto histórico do Historicismo tem a linearidade de
modificações sociais presentes em um ambiente em determinada circuns-
tância. Assim, o Racionalismo que pode por meio da dedução antecipar
resultados é aquilo que move o pensamento científico. O método pragmá-
tico peirceano contempla estas “versões” epistemológicas porque elas são
interdependentes.
A diferenciação na classificação apresentada no quadro entre classifi-
cação científica e bibliográfica é apenas um critério de organização, assim
como também é um critério deliberado de organização a determinação de
um domínio.
A conclusão do autor é que diferentes teorias e epistemologias fun-
damentam as bases de discussão para Organização do conhecimento. A
proposta deste trabalho é demonstrar que o método pragmático peirceano
dá conta de acomodar grande parte destas ditas “epistemologias” em um
campo científico transdisciplinar.
A discussão entre realismo e antirrealismo é retomada, e novamente
devemos recordar que para Peirce a continuidade promovida pelo processo
de significação dissolve esta questão, mostra não uma contraposição, uma
dualidade, mas uma integração “realismo pragmático” – para Hjørland a
construção social do conhecimento tem concordância tanto com os cons-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
392
trutivistas quanto a visão de Kuhn (Hjørland, 2004). A constituição de um
domínio é opção por um ponto de vista. O domínio está relativo àquele
modo de visão que possa interessar à recuperação de uma comunidade de
usuários.
Análise de domínio está conectada ao interesse de cada grupo espe-
cífico de usuário na Organização do Conhecimento e pode contribuir para
maior transparência na combinação avançada de informações semânticas
multidimensionais e tecnologias de visualização (Hjørland, 2004).
A definição de pragmatismo visto enquanto abordagem epistemoló-
gica é apresentada desta maneira: “O pragmatismo como uma abordagem
epistemológica enfatiza a justificação de teorias e conceitos examinando
suas consequências e os objetivos, valores e interesses que eles apoiam
(Hjørland, 2005). Com esta definição simplista, a classificação do pragma-
tismo enquanto uma corrente filosófica que preconiza a ação para alcançar
um objetivo é a tônica de toda definição contida no conceito de pragma-
tismo oferecido pelo dicionário online denominado “O barco salva-vidas
epistemológico – Epistemologia e Filosofia da Ciência para o Cientista da
Informação2.
O crédito da fundação do pragmatismo é dado por Hjørland nes-
ta publicação online aos três filósofos norte-americanos Charles Sanders
Peirce (1839-1914), William James (1842-1910) e John Dewey (1859-
1952). Também o psicólogo social norte-americano George Herbert Mead
(1863-1931) e o filósofo americano Clarence Irving Lewis (1883-1964)
são considerados pragmáticos “clássicos” (Hjørland, 2005). Após o crédito
histórico dado aos autores, segue a definição:
Todos os três pragmatistas fundadores combinaram uma visão
naturalista e darwiniana dos seres humanos com uma desconfiança
dos problemas que a filosofia herdara de Descartes, Hume e Kant. Eles
esperavam salvar a filosofia do idealismo metafísico. Seu naturalismo
foi combinado com uma abordagem holística anti-fundacionalista,
de Willard van Orman Quine, de Hilary Putnam e de Donald
Davidson – filósofos da linguagem que são frequentemente vistos
Para mais informações visitar o site http://arkiv.iva.ku.dk/kolifeboat/ Acesso em: 25 fev. 2020.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
393
como pertencentes à tradição pragmatista. Essa tradição também tem
afinidades com o trabalho de omas Kuhn e o trabalho posterior de
Ludwig Wittgenstein (Hjørland, 2005).
A visão peirceana não é a mesma de James e posteriormente de
Dewey. Já no final do século XX, outros filósofos que tratam da lingua-
gem podem ter afinidades, mas têm várias diferenças que caracterizam de
maneira diferente a definição de pragmatismo “clássica”. Esta definição
primeira, que pode ser considerada como clássica é aquela dada por Peirce,
o construtor da doutrina da atribuição de significado. Este crédito não é
dado para a extensa obra peirceana no texto. Os desdobramentos de ver-
sões a partir desta são adaptações da ação e objetivo agindo conjuntamente.
O artigo online é finalizado com “Princípios Básicos na Teoria
Pragmática do Conhecimento”, extraído de texto anterior de Hjørland
(1995), baseado em Sarvimäki (1988, p. 58-59), como já foi mostrado no
quadro 4. O ponto de partida epistemológico, caracterizado como prag-
mático, contém sete itens. Até o quinto item, a sequência argumentativa de
ação é desenvolvida segundo critérios de atuação vistos pelo pragmatismo.
A influência mútua entre o ambiente, o contexto da atuação, agente e ação
resultante são bastante investigados e existe concordância nesta múltipla
influência. Dentro da doutrina filosófica peirceana, a análise do conheci-
mento adquirido neste processo criativo ganha dimensões que não podem
ser compreendidas na simplicidade dos dois parágrafos finais. A considera-
ção de uma abordagem pragmatista para a Ciência da Informação implica
no conhecimento do pragmatismo concebido por Peirce, sem a simplifica-
ção de sua extensa obra. A investigação de aspectos contidos na semiótica
enquanto desdobramento lógico implicam em um caráter científico que
não está restrito a valores morais ou a articulação da linguagem falada e
escrita humana.
A questão da situação informacional tratada enquanto um dado
objetivo que é apresentado num contexto ou uma questão subjetiva que
depende de interpretação é um esvaziamento do processo de significação.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
394
O problema também é se os problemas da Ciência da Informação
são tratados com teorias como a teoria da informação de Shannon e
Weaver ou com teorias mais relacionadas à semiótica. Na história da
Ciência da Informação, a tendência tem sido um desenvolvimento
da teoria da informação em direção a teorias mais semióticas
(Hjørland, 2007a, p. 1455).
A definição do conceito de informação enquanto semiose tem dis-
cussão, sem a devida definição ao que é o processo semiótico. A separação
mencionada entre objetivo e subjetivo quando se trata da semiótica peir-
ceana não tem procedimento. Esta divisão entre a os fenômenos e sua in-
terpretação quando vistos fora do signo linguístico, quando são vistos pela
lógica peirceana, tem a interposição informacional permeada pelo signo.
[...] o significado dos signos deve estar envolvido, isto é, porque
um tipo de teoria semiótica é um referencial teórico muito melhor
comparado à “teoria da informação”. Uma teoria objetivista
e universalista da “informação” tem um apelo muito mais forte
do que visões teóricas que fazem a informação, o significado
e as decisões dependentes do contexto. Entretanto, os custos de
procurar nos lugares errados pela compreensão de um conceito
fundamental têm sido altos porque a consideração superficial da
natureza da informação nos deixou sem um fundamento teórico
apropriado (Hjørland, 2007a, p. 1455).
Assim, na conclusão do artigo o crédito à mediação dos signos é
dado, porém este tratamento deve melhor trabalhado. O signo representa
seu objeto, mas a simbolização de referência ao seu objeto não é dada de
maneira apenas convencional e deliberada. A transposição para a formação
do interpretante, a informação carregada na atribuição de significação é o
grande diferencial do entendimento peirceano da semiótica.
A definição de Análise de Domínio implica na visão de ação orien-
tada com vistas a um determinado objetivo. Esta definição contém uma
determinação ética da conduta, conforme é tratado pelo pragmatismo
peirceano. Neste caso, ética não deve ser confundida com moral para a
execução de determinada tarefa.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
395
A análise de domínio é um ponto de vista sociológico-epistemológico.
A indexação de um dado documento deve refletir as necessidades
de um dado grupo de usuários ou um determinado propósito ideal.
Em outras palavras, qualquer descrição ou representação de um
dado documento é mais ou menos adequada ao cumprimento
de certas tarefas. Uma descrição nunca é objetiva ou neutra, e o
objetivo não é padronizar descrições ou fazer uma descrição de uma
vez por todas para diferentes grupos-alvo (Hjørland, 2008, p. 95).
Aquilo que podemos chamar de perspectiva de entendimento é o
que é caracterizado por Hjørland como uma posição filosófica, no trecho
a seguir:
Qualquer sistema de organização do conhecimento é sempre
inclinado para alguma posição filosófica. Não há plataforma
neutra a partir da qual o conhecimento possa ser organizado. A
tarefa é mediar entre diferentes visões e desenvolver argumentos
para um ponto de vista que esteja de acordo com os objetivos
e valores da organização para a qual o sistema é desenvolvido
(Hjørland, 2008, p. 96).
A tarefa de mediação entre diferentes visões, e então direcionar
a busca de conhecimento de acordo com objetivos desenvolvidos em
um sistema, descritos no trecho acima, está muito próximo daquilo que
Peirce considera determinação ética da conduta. Dentro da organização
do conhecimento, este posicionamento ao determinar um domínio está
bastante de acordo com a condução ética no pragmatismo peirceano.
Porém, esta relação, associar o método pragmático peirceano para a de-
terminação de domínio com o viés ético de determinação da conduta
não foi reconhecido ainda.
Assim como existem abordagens para o termo pragmatismo, a pala-
vra signo abarca várias definições comumente usadas em linguísticas que
não têm concordância com a semiótica peirceana. “Os documentos estão
mais relacionados ao conceito e à teoria da semiótica (o campo dos signos),
o que pode se tornar um marco teórico mais proveitoso para a Organização
do Conhecimento” (Hjørland, 2008, p. 96). Esta afirmação novamente
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
396
aparece sem referência a quais signos devem ser tratados. Na página se-
guinte há uma menção ao pragmatismo de Dewey (Dewey, 1920/1948, p.
151-54) para uma boa representação de sua visão de conhecimento e clas-
sificação, em que a visão pragmática trata “Conhecimento e Organização
do Conhecimento como algo construído para lidar com algumas necessi-
dades humanas e interesses” (Hjørland, 2008, p. 97). Aqui aceita-se então
a definição de pragmatismo proposta pelo filósofo para embasar a defi-
nição de pragmatismo para a Organização do conhecimento. Porém na
página seguinte temos uma consideração ao falibilismo.
Esta referência, embora seja adequada, desloca o foco de Peirce do seu
grande esforço de sistematizar a pesquisa científica, ou a semiose de uma
maneira mais geral, desloca a possibilidade de continuidade do processo
de semiose ilimitada para a visão do erro que pode ser corrigido. “’ A visão
pragmática do conhecimento’ também está ligada ao ‘falibilismo’, a visão
de que a pesquisa científica nunca deve ser tomada, finalmente provada, de
que novas evidências podem mudar crenças científicas” (Hjørland, 2008,
p. 98). Segue então a indefinição de qual pragmatismo está sendo tratado
no texto, uma vez que a citação do conceito de falibilismo não tem refe-
rência nenhuma ao pensamento de Dewey, e nesta citação nem a Peirce.
A definição de conceito, tão cara à Organização do Conhecimento, é
matéria de análise e conformação de conceito em um signo de maneira bem
próxima à concepção peirceana. “A função básica dos conceitos é, portanto,
fixar algo em um signo (ou na mente) para poder pensar sobre ele, comuni-
cá-lo e agir em relação a ele” (Hjørland, 2009, p. 1522). A determinação éti-
ca da conduta, tida na visão peirceana, pode ser entendida na transposição da
concepção de domínio para o signo que o conceito representa. A afirmação
a seguir não é a definição de “conceito” trazida por Peirce, porém, na medida
em que a construção do conhecimento é feita por uma perspectiva, feita com
motivos definidos, pode-se relacionar a determinação ética peirceana neste
processo enquanto determinação de domínio:
Conceitos são dinamicamente construídos, e significados
negociados coletivamente, de modo que classificam o mundo de
acordo com interesses e teorias. Conceitos e seu desenvolvimento
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
397
não podem ser entendidos isoladamente dos interesses e teorias
que motivaram sua construção, e, em geral, devemos esperar que
concepções e conceitos concorrentes estejam em jogo em todos os
domínios em todos os momentos (Hjørland, 2009, p. 1522-1523).
A divisão e classificação em “Quatro famílias de epistemologias: em-
piricismo, racionalismo, historicismo, pragmatismo” já usadas anterior-
mente como pontos de vistas epistemológicos e agora usadas para nominar
os tipos de conceitos (Hjørland, 2009, p. 1523). A explicação da visão
pragmática diferenciada das outras três é justificada da seguinte maneira:
A diferença é que o pragmatismo tenta ser explícito sobre o
propósito de pesquisa e cognição [...] o pragmatismo é baseado na
suposição de que o conhecimento não pode ser neutro (devido à sua
natureza teleológica) e, portanto, é importante descobrir os valores
e consequências inerentes a qualquer afirmação de conhecimento,
em qualquer concepção, e em qualquer classificação (Hjørland,
2009, p. 1526).
A visão pragmática de conceito foi primeiramente formulada por
William James” (Hjørland, 2009, p. 1526). Não se trata aqui de definir
quem tem a definição de pragmática mais adequada, por hora, a colocação
é que existe uma mistura de abordagens que são coincidentes em alguns
pontos, porém divergentes na maneira de definir o significado a partir da
atuação. Novamente é repetida a frase de significado em futuro dada por
Peirce, já usada no texto de 2003, “O que é informação”:
Os diferentes significados dos termos que usamos são ferramentas
mais ou menos eficientes para nos ajudar a realizar o que queremos
realizar. Assim, de acordo com filósofos pragmáticos como Charles
Sanders Peirce (1905), o significado de um termo é determinado
não apenas pelo passado, mas também pelo futuro (Hjørland,
2009, p. 1527).
Esta determinação do significado feita no futuro, implica em situar
tanto a dedução como capaz de antecipar o desenrolar de uma hipótese,
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
398
quanto a abertura a novos interpretantes que fazem da evolução uma busca
constante, rumo ao interpretante final. Porém nenhuma destas possibi-
lidades é aventada enquanto esta significação em futuro, deixando uma
incompreensão daquilo que é tratado enquanto significação. A conclusão
do texto é oferecida com associação da ação social a uma ação política na
Ciência da Informação e Organização do Conhecimento:
A implicação da visão apresentada dos conceitos, portanto,
demanda um argumento, tanto sobre por que o ponto de vista
social é importante, quanto para o papel da teoria do conceito
na realização dos potenciais de uma virada social na Ciência da
Informação (Hjørland, 2009, p. 1530).
A fundação do conceito de relevância está bastante relacionada à
determinação ética da conduta, assim como a delimitação de um domínio.
Embora esta aproximação não exista na descrição do autor, o que tratamos
aqui é a delimitação tanto dos pontos de convergência da doutrina prag-
matista peirceana, quanto dos conceitos usados por Hjørland tratando do
pragmatismo na concepção de diversos filósofos para formar uma defini-
ção que seja condizente às suas afirmações de “pragmatismo”. Seguindo
este procedimento, o autor afirma que “Na perspectiva da filosofia prag-
mática (nota 40), o conhecimento é visto como algo que é construído para
servir alguns objetivos humanos” (Hjørland, 2010, p. 229).
Peirce considera a racionalidade inerente à condição humana, ainda
assim, dentro de sua cosmologia o ser humano é apenas uma pequena
parte do mundo que tende a razoabilidade. Esta alusão à “filosofia prag-
mática” está muito mais de acordo com a linguística tratada por Morris,
com a pragmática que é entendida enquanto semântica relacionada à ação.
A nota 40 da publicação apresenta o comentário de Saracevic (1975,
p. 335), quando escreveu: “O pragmatismo tem sido um assunto para críti-
cas sérias em filosofia”. A argumentação a seguir apresentada por Hjørland
defende a posição pragmatista como a melhor opção:
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
399
Sim, tem, mas as alternativas também. Temos que desenvolver um
entendimento que seja mais adequado para as tarefas que ele tem
que fazer para nós. Se alguém pode fornecer um argumento para
uma posição que é melhor que o pragmatismo, então tenho que
reconsiderar minha posição (Hjørland, 2010, p. 235).
Com esta afirmação, o posicionamento do autor pragmatista parece
bem evidente. É necessário, entretanto, esclarecer as diferenças entre as
ações com objetivo daquilo que é preconizado pelo método pragmático
peirceano, numa ampla visão da metodologia científica aliando a semiótica
dentro da classificação das ciências. Este trabalho busca a contribuição do
pragmatismo peirceano para a Organização do conhecimento e Ciência
da Informação, sem, no entanto, propor nenhuma variação que não tenha
amplamente sido discutida. A teoria formulada por Peirce dá conta de tra-
tar tanto o comportamento humano quanto demais fenômenos naturais e
artificiais, assim uma teoria pragmatista emergente seria uma derivação da
peirceana, como é a dos demais autores ditos pragmatistas já mencionados:
James (1842-1910), Dewey (1859-1952) e contemporaneamente Richard
Rorty (1931).
Segue o parágrafo: “Até agora, porém, considero o pragmatismo a
melhor alternativa. Deve-se considerar, no entanto, que existem diferentes
versões do pragmatismo e que o pragmatismo ainda pode ser visto como
uma teoria emergente” (Hjørland, 2010, p. 235). É uma “teoria emergen-
te” para a Ciência da Informação, não para as Ciências Cognitivas que há
mais tempo estudam o comportamento emergente e atuação no ambiente
enquanto um processo de aprendizagem. A estruturação Peirceana, reco-
nhecidamente ambiciosa, por meio dos signos vislumbra toda mente capaz
de aprender com a experiência. Seja ele humana ou artificial, constatada
em máquinas ou seres vivos.
Para averiguar os critérios de relevância para a Organização do
Conhecimento (Hjørland, 2010) foi feita a reafirmação, repetição do qua-
dro de critério de avaliação de quatro “escolas epistemológicas” já usado
em classificação das possibilidades de organização, feito no ano de 2002
(Hjørland, 2002a, p. 269), mostrado acima.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
400
Enquanto Saracevic (1975) discutiu o pragmatismo como uma das
cinco visões gerais de relevância, ele não discutiu visões alternativas
de conhecimento. Ele não perguntou: se o pragmatismo é uma
teoria do conhecimento, que outras teorias do conhecimento
existem e quais seriam suas implicações para a compreensão
da “relevância”? E ele não considerou se as outras visões que
apresentava poderiam ser melhor interpretadas como alternativas
à visão pragmática do conhecimento. Acredito que uma resposta a
essa questão revela teorias de relevância em um nível mais profundo
e o faz de maneira mais satisfatória do que o dualismo sistema-
usuário da visão apresentada (Hjørland, 2010, p. 231).
A classificação de Hjørland também coloca o pragmatismo enquan-
to uma entre as outras possibilidades de pontos de vista. O dualismo sis-
tema orientado ou usuário orientado não precisa ser substituído por uma
multiplicidade de pontos de vista para solucionar a dicotomia. A relação
de continuidade no conhecimento proposta por Peirce para a dualidade
mente corpo dá conta do processo integrado na significação, incluído no
método pragmático por meio da semiose.
A conclusão é uma tentativa de unificação tanto do subjetivismo e
objetivismo do tratamento da informação, quanto da visão de informação
direcionada para o usuário ou direcionada para o documento.
A ideia de que cada usuário ter critérios privados de relevância pode
ser vista como um tipo de subjetivismo, enquanto a ideia de que os
especialistas têm opiniões qualificadas sobre relevância (em relação
a determinadas tarefas) pode ser vista como um tipo de objetivismo
(Hjørland, 2010, p. 231).
Este movimento de trânsito entre objetividade, representação, ra-
cionalidade que implica subjetividade, é a mola propulsora da semióti-
ca peirceana. Nos capítulos subsequentes esta dualidade vinda desde o
Iluminismo é a questão básica para a mediação feita pelo signo para Peirce.
Surge então o quadro de critério de relevância como “um tipo de
subjetivismo”:
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
401
Quadro 5 - Quadro para critério de relevância
“Visualização recebida
De categorias de relevância
Categorias sugeridas de teorias de relevância
Sistemas ou relevância algorítmica
“Relevância do sistema, isto é, desempenho do
sistema” (Saracevic, 2007, p. 768).
“O modelo Cranfield não lida com
necessidades dinâmicas de informações, mas
trata as necessidades de informação como
um conceito estático refletido inteiramente
pela solicitação do usuário e pela declaração
de pesquisa. Além disso, este modelo usa
apenas relevância tópica binária, ignorando
o fato de que relevância é um conceito
multidimensional e dinâmico.” (Borlund,
2003, resumo).
Universalismo / objetivismo
Um documento ou uma informação é
relevante ou não é relevante (ou tem um
determinado grau de relevância), embora
os avaliadores variem amplamente em seus
julgamentos.
A avaliação de especialistas geralmente é
necessária para determinar a relevância, mas
é vista como neutra e objetiva (embora com
grandes variações).
Um sistema ou algoritmo pode ser ideal para
todos os propósitos e consultas.
Portanto, a relevância não é vista como
dependente das teorias, interesses ou diferentes
tarefas e objetivos do usuário.
Pressupostos positivistas
Relevância orientada ao usuário e cognitiva
A classe subjetiva de relevância pode, como
conceito genérico, referir-se à proximidade,
utilidade, usabilidade ou utilidade dos objetos
de informação em relação ao cumprimento
de metas, interesses, tarefas de trabalho ou
situações problemáticas intrínsecas ao usuário.
Depende do contexto.” (Borlund, 2003, p.
915).
“O usuário emprega a interpretação intelectual
de uma determinada situação de tarefas de
trabalho como uma plataforma (CW) para o
julgamento da relevância.” (Borlund, 2003,
p. 916).
“Essas variáveis podem ser padronizadas tendo
o mesmo conjunto de situações simuladas
de tarefas de trabalho pesquisadas por várias
pessoas de teste.” (Borlund, 2003, p. 923).
Subjetivismo individual
A relevância é uma experiência individual
/ subjetiva e, portanto, é necessária uma
avaliação do “usuário real”.
Padrões paradoxalmente universais subjacentes
ao comportamento individual são assumidos
e formam a base para o design de sistemas de
informação.
Um sistema ou algoritmo é considerado ideal
para todos os propósitos e consultas.
Existe uma contradição no pressuposto de que
o usuário é visto como intérprete subjetivo,
mas o pesquisador que estuda os usuários
é considerado um investigador objetivo
(suposições positivistas subjacentes aos estudos
do usuário)
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
402
“Visualização recebida
De categorias de relevância
Categorias sugeridas de teorias de relevância
Visão de relevância do conhecimento do
sujeito (visão de relevância orientada ao
domínio)
Essa visão não faz parte da visão recebida, mas
foi originalmente sugerida por Foskett (1972)
e Saracevic (1975), foi afastada e restabelecida
por, entre outros trabalhos, Hjørland e
Albrechtsen (1995).
Essa visão não é sobre “o sistema” (entendido,
por exemplo, como sistemas de bibliotecas
ou sistemas de computador), mas sobre o
conhecimento humano acumulado ou “a
ecologia da informação”.
As literaturas de assuntos formam um foco
importante dessa visão (incluindo estudos
bibliométricos).
Pragmatismo
Um documento ou uma informação é
relevante ou não é relevante para uma
determinada tarefa em relação a metas, valores
e interesses.
Um documento pode ser relevante, mesmo
que ninguém (ainda) pense assim (relevância
objetiva). Portanto, pode se tornar relevante
no futuro.
A avaliação de especialistas é necessária, mas
os especialistas podem ter interesses, metas
e valores diferentes (também diferentes dos
usuários) e não são vistos como avaliadores
neutros ou objetivos. Além disso, as opiniões
dos especialistas mudam quando mudam as
teorias.
Um determinado sistema pode ser ideal
para algumas consultas, mas não para todas.
Diferentes interesses e perspectivas precisam
de diferentes tipos de algoritmos e sistemas.
Fonte: Hjørland, 2010, p.232, tradução nossa.
É compreensível que a análise de domínio não seja considerada a
única opção de delimitar a classificação, como sugere o quadro acima. Mas
a sugestão de categorias de relevância cuja opção ao dualismo objetivis-
mo-subjetivismo seja o pragmatismo carece de fundamentação, o que irá
contribuir para o entendimento da condição de relevância, em cada pers-
pectiva de atuação para a organização da informação e conhecimento. A
evolução da classificação e as consequentes mudanças na abordagem de
indexação são esperadas com a evolução do conhecimento, incluído nisto
o critério de relevância que deve ser constantemente revisto, uma vez que
os interesses são variantes.
Este artigo defendeu, assim, uma visão de relevância sendo baseada
em uma teoria pragmática do conhecimento e sugeriu que a visão
recebida poderia ser interpretada como variações da epistemologia
positivista, uma focando na opinião de especialistas, a outra na
opinião dos usuários (Hjørland, 2010, p. 232, grifo nosso).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
403
Neste trabalho, fazendo-se a revisão do trabalho de Peirce, pode-se
esclarecer que o método de obtenção de conhecimento, dentro da metodo-
logia científica é apto a ser usado na Ciência da Informação. Mais do que
entender a ação direcionada do usuário, a continuidade entre o conteúdo
do documento, acesso e informação transformada em conhecimento a par-
tir dele é aquilo que é possível trabalhar por meio da semiose dentro do
método pragmático. Não se trata de focar no documento, ou no usuário
para a orientação em busca da informação, mas entender esta relação e suas
possibilidades de obtenção de informação, na significação de aquisição de
conhecimento.
No artigo de 2013 “Teorias de Organização-Teorias de
Conhecimento”, para estabelecer bases para o conhecimento científico
Hjørland cita as mudanças dos critérios de verdade para aceitação ou pos-
terior alteração do entendimento de alguns fatos:
Muitos filósofos influentes concordam com o princípio do
falibilismo, que é uma doutrina filosófica mais associada a Charles
Sanders Peirce e Karl Popper, que sustenta que nossas alegações de
conhecimento científico são invariavelmente vulneráveis e podem
se revelar falsas. O falibilismo não insiste na falsidade de nossas
afirmações científicas, mas na sua hesitação como estimativas
inevitáveis; não sustenta que o conhecimento não está
disponível, mas que deve sempre ser considerado provisório
(Hjørland, 2010, p. 170, grifo nosso).
A atribuição de falibilismo a uma “associação” com Popper deixa
a desejar para o esclarecimento da posição pragmatista peirceana e todo
o arcabouço lógico-científico que está junto com a definição de método
científico contida em seu pragmatismo. Novamente o quadro teórico, já
exposto no Quadro 2, no qual as escolas epistemológicas estão presentes
vem auxiliar a definição das possibilidades de organização do conhecimen-
to, nesta sequência argumentativa para o entendimento epistemológico
relevante para Ciência da Informação.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
404
Epistemologia é, no entanto, o melhor contexto geral que é
possível ensinar às pessoas dentro da Ciência da Informação. É a
melhor preparação geral que podemos fornecer para as pessoas, a
fim de estudar qualquer domínio. Os mesmos tipos de problemas
filosóficos parecem aparecer em todos os domínios e, se as limitações
de uma determinada posição tiverem sido compreendidas em
um domínio, é provável que a mesma posição também possa ser
recusada em outro domínio. Uma lição geral da epistemologia é
que o conhecimento é criado pelos humanos para alguns propósitos
específicos e serve alguns interesses melhor que outros. Conceitos
e relações semânticas não são a priori ou neutros, mas devem ser
examinados em relação às suas implicações para os usuários que
devem servir (Hjørland, 2010, p. 179).
Mais uma vez a atuação e relações semânticas decorrentes do processo
de atuação têm uma explicação científica quando contempladas pelo proce-
dimento ético do pragmatismo peirceano. Desta maneira, estas afirmações a
respeito da análise e determinação de domínio têm respaldo científico.
As afirmações a respeito do pragmatismo anunciado por Hjørland
dão a impressão de uma emergência própria para o conceito que reúne
fragmentos de vários autores, sem apresentar, contudo, um embasamento
científico em um argumento convincentemente acabado para o uso em
Ciência da Informação.
Aprofundar a divulgação do conhecimento científico trazido por
Peirce minimiza as visões nominalistas de autores subsequentes a ele e
oferece ao profissional responsável pela custódia dos acervos, dentro da
Ciência da Informação, elementos para compreender a construção e recu-
peração do conhecimento. Diferentemente do pesquisador que constrói
uma hipótese que será desenvolvida por ele mesmo, na indexação as pos-
sibilidades de hipóteses devem ser consideradas com a maior referência
possível ao documento. Desta forma o trabalho de recuperação, dentro de
parâmetros que são a determinação de domínio, pode ser frutífero para
o usuário e para a recuperação de conteúdo de maneira geral. Esta recu-
peração uma vez que hoje, tendo a rede de computadores que acelera e
diversifica o processo, deve ter abertura para novas modalidades de aborda-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
405
gens, porém considerando o arcabouço de conhecimento disponível pela
comunidade de pesquisadores. Este é o papel da compreensão do método
científico por meio do pragmatismo peirceano.
O conceito de assunto tem diferentes significados, e para esta cons-
tatação a distinção entre usuário-orientado e documento-orientado e “A
conclusão é que a maneira mais frutífera de definir “assunto” (de um do-
cumento) é o potencial informativo ou epistemológico do documento, ou
seja, o potencial do documento de informar os usuários e promover o de-
senvolvimento do conhecimento” (Hjørland, 2017, p. 55).
No mesmo artigo o texto de Frohmann (1994a, p.112-13) citado
por Hjørland (2017, p. 56, grifo nosso) para descrever assunto inclui a
relação entre conceitos para o termo:
A característica essencial de um assunto é uma classe de símbolos que
se refere a outros símbolos. Seu equivalente verbal é acidental, uma
característica meramente pragmática. O conflito de interpretações
sobre “assuntos” tornou-se explícito nas batalhas entre “bibliografia
(uma abordagem para assuntos que têm muito em comum com a
de Cutter) e a “classificação de perto” de Dewey.
Nesta afirmação ser “meramente pragmática” parece estar ligada à
concepção pragmática de Charles Morris, a qual liga a semântica a sintaxe,
matéria dos signos de indexação. Poderia também estar relacionada aos sig-
nos propostos por Peirce, uma vez que símbolos pertencem à terceiridade,
porém a classificação implica em relações não necessariamente vinculadas
à verbalização. Assim, a relação entre ser pragmático e significação não pa-
rece clara, carece de uma caracterização consistente do que é pragmatismo
a partir do qual estas afirmações são feitas.
Os argumentos que concluem o artigo consideram que a despeito
dos vários sentidos que o conceito possa ter “assunto” deve ter uma base
teórica (Hjørland, 2017). A atividade desempenhada por alguém ou um
algoritmo depende do ambiente para ser efetivada, desta maneira a ação
em um contexto é claramente uma abordagem pragmatista. O objetivo
extraído do potencial contido no assunto é uma objetivação da conduta
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
406
que é entendido pelo pragmatismo peirceano enquanto balizamento ético
da conduta para o processo de significação.
No final de 2018, com data de publicação em 2019 “A fundação da
Ciência da Informação: um mundo ou três? uma discussão sobre Gnoli
(2018)” é uma análise e comentários da posição de Gnoli. Nesta publi-
cação a posição de Popper e a relação entre objetivismo e subjetivismo
que está colocada implica em discussões de posições em filosofia da mente
sobre monismo, dualismo (Hjørland, 2019, p. 167). Estas posições consi-
deram um pluralismo e geralmente não apresentam consenso. O que vale
salientar aqui é que a afirmação de conhecimento, em nível da mente, em
contraposição à atuação, e esta contraposição é uma redução de possibili-
dades “[...] Gnoli (2018) considerou a visão cognitiva como sendo sobre
um nível específico (mentes), enquanto o nível de domínio analítico foi
entendido como sendo sobre o nível social” (Hjørland, 2019, p. 168). O
pressuposto é que o sujeito é um ser social, não faz mediações de conheci-
mento isoladamente, depende de um contexto ambiental e social. A visão
subjetiva e cognitiva do sujeito é dependente do contexto social.
Quadro 6 - Quadro de referências e comentários ao pragmatismo feitos
por Hjørland em publicações
Ano Publicação
Título do trabalho e menção ao
pragmatismo
Número da
pagina
Observações relacionadas à
constatação do Pragmatismo
1995 Análise de Domínio como um
novo horizonte para a Ciência da
Informação
“Um manifesto para uma percepção
funcionalista e pragmática do
conhecimento
p. 405 Única palavra: percepção
funcionalista com objetividade é
o papel desta atuação considerada
pragmática
2000 Comportamento de busca de
informações: como deve ser uma teoria
geral?
Informação depende da atividade
inserida em um contexto
p. 32 Não existe
(Existe a concepção que
conhecimento implica em ação)
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
407
Ano Publicação
Título do trabalho e menção ao
pragmatismo
Número da
pagina
Observações relacionadas à
constatação do Pragmatismo
2002 Epistemologia e a perspectiva sócio
cognitiva na Ciência da Informação
Quadro de critérios de relevância
de “quatro escolas” epistemológicas:
empiricismo, racionalismo, historicismo,
pragmatismo
p. 268 Suposição de conhecimento do
leitor a respeito das 4 escolas.
Pouca efetividade na definição de
pragmatismo
2003 O que é informação (Capurro;
Hjørland)
“[...] de acordo com filósofos
pragmáticos como Charles Sanders
Peirce (1905), o significado de um termo
é determinado não apenas pelo passado,
mas também pelo futuro.
p. 346 Não há menção ao método de
significação concebido por Peirce,
à maneira de ser efetuada a
significação.
A tendência dentro e além de CI
tem favorecido a visão semiótica de
Peirce sobre o pluralismo metafísico de
Popper”.
p. 393 O que é semiose? Para Peirce a
semiose não é metafísica
“Informação como um signo p. 396-397 Não existe definição do que é signo
2003b Fundamentos da Organização do
Conhecimento
“Realismo pragmático p. 94 Desconhecimento do Idealismo
Objetivo
Teoria da atividade p. 98 Confusão entre as vertentes daquilo
que é chamado semiótica.
“O significado racional de cada
proposição está no futuro” (Peirce, 1905,
p. 173)
p. 106 Fusão e adaptação das concepções de
Peirce e John Dewey. São diferentes.
2004 Análise de Domínio: Uma Orientação
Sócio Cognitiva para Pesquisa em
Ciência da Informação
Realismo pragmático: a construção social
do conhecimento tem concordância
tanto com os construtivistas quanto a
visão de Kuhn.
p. 19 Separação entre objetivismo/
subjetivismo
2005 Pragmatismo
Definição de pragmatismo para a
Ciência da Informação
On line Emparelhamento entre conceitos de
diferentes autores, falta de credito à
concepção do pragmatismo de Peirce
do qual outros são derivados.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
408
Ano Publicação
Título do trabalho e menção ao
pragmatismo
Número da
pagina
Observações relacionadas à
constatação do Pragmatismo
2007 Informação: Objetivo ou Subjetivo /
Situacional?
Na história da Ciência da Informação, a
tendência tem sido um desenvolvimento
da teoria da informação em direção a
teorias mais semióticas.
p. 1455 Falta a definição da relação de signo
para a atuação em um contexto.
2008 O que é Organização do
Conhecimento
A organização do conhecimento deve se
valer da visão pragmatista
p. 99 Existe uma confusão lógica entre a
concepção de pragmatismo de Dewey
e falibilismo peirceano
2009 Teoria do conceito
Empirismo, racionalismo, historicismo,
pragmatismo” já usadas anteriormente
como pontos de vistas epistemológicos,
e agora usados para nominar os tipos de
conceitos.
p. 1523 Definição superficial de
pragmatismo, uso de conceitos de
James e Peirce
2010 A fundação do conceito de relevância
Este artigo defendeu, assim, uma visão
de relevância sendo baseada em uma
teoria pragmática do conhecimento e
sugeriu que a visão recebida poderia
ser interpretada como variações da
epistemologia positivista, uma focando
na opinião de especialistas, a outra na
opinião dos usuários
p. 232 “Pragmatismo” tem uma definição
própria, contraposta à crítica de
Saravecic (1975) ao pragmatismo
2013 Teorias de Organização do
Conhecimento
Classificações são epistemológicas,
uso novamente das “quatro escolas”
epistemológicas
p. 174 Implicações semânticas para os
usuários. O processo de significação
peirceano está além da semântica.
2017 Assunto (de documentos)
Potencial informativo do documento
implica em relações de significação
p. 62 O método pragmático peirceano
demonstra estas relações
cientificamente, porém ele não é
reconhecido pelo autor
2019 A fundação da Ciência da Informação:
um mundo ou três? Uma discussão
sobre Gnoli (2018)
Discussão entre subjetividade e
objetividade propostas por Popper e
discutidas por Gnoli
p. 167 A consideração “neo Pragmatista” de
Popper não é mencionada
Fonte: Elaborado pela autora (as publicações constam nas referências e podem ser identificadas pela data).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
409
Na coluna mais à direita, intitulada “Observações relacionadas à
constatação do Pragmatismo” estão relacionados os comentários sobre os
trechos nos quais a atuação do sujeito ou o termo pragmatismo associado
à semiose são mencionados. Esta formalização apresenta uma sequência
de estudos sobre a organização do conhecimento e informação, na qual os
fundamentos estão associados às possibilidades relevantes de abordagem
epistemológica. Seguindo a argumentação anterior, estes pontos foram
destacados e a definição de pragmatismo com mistura de várias versões
possibilita a introdução do pragmatismo peirceano.
A sequência cronológica apresentada nos artigos selecionados tem o
assunto relacionado à ação do sujeito, e como decorrência desta aborda-
gem, a caracterização de pragmatismo feita pelo autor. Deve-se salientar
que a posição pragmatista, ou a concepção peirceana de pragmatismo, não
deve ser a preocupação de Hjørland durante a sequência de publicações.
O que é defendido com este recurso enquanto método de verifica-
ção é a ação que leva ao conhecimento sem, de fato, existir este suporte
epistemológico fornecido pela filosofia peirceana. A escolha do princípio
que norteia a pesquisa de Hjørland, mesmo não sendo peirceana, tem no
método pragmático oferecido por Peirce instrumentos de conduta ade-
quados. O suporte dos autores para a pesquisa bibliográfica depende de
cada pesquisador. É possível obter resultado parecido por desdobramentos
diferentes da trajetória de pesquisa. O que é pretendido aqui é salientar o
uso do método pragmático peirceano que é adequado para a concepção
científica verdadeira nos temas tratados pelo autor e aqui relacionados.
A análise de domínio, assim como a entrada de assunto, depende
de decisões tanto do indexador quanto do usuário com vistas àquilo que
se pretende depreender da relação executada neste processo de aprendiza-
gem. Estudos na Ciência da Informação que tratam especificamente da
significação peirceana na Organização do Conhecimento serão tratados
em capítulo posterior.
Por ora, é possível afirmar que embora o pragmatismo peirceano não
seja adotado enquanto base epistemológica para as relações de divulgação
de conhecimento, ele está presente na forma como estas relações são enten-
didas. Mesmo que a diversidade de abordagens “epistemológicas” ocorra, a
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
410
reunião da significação em um procedimento ético no pragmatismo peirce-
ano, claramente indica que a análise e determinação de domínio feita por
Hjørland são a configuração de uma determinação ética, para um objetivo
mais específico ou mais geral, dependendo do domínio a ser delimitado.
O recorte para a delimitação de um domínio depende das condi-
ções, métodos e necessidades de determinado grupo para qual este domí-
nio pode ser destinado. As especificações que exatamente determinam o
domínio e são passíveis de análise são aquelas que conduzem o usuário ao
tipo de informação que este domínio pretende ofertar. Assim, a conduta
tanto na delimitação deste domínio quanto na recuperação e uso da in-
formação deverão estar contidas neste arcabouço que definiu as escolhas.
Esteticamente aquilo que é pretendido alcançar, vale-se desta condução
ética de delimitação para direcionar a pesquisa.
Para concluir, esta sequência de publicações analisadas, salientado os
pontos de interesse para a consideração do método pragmático, é possível
tratar especificamente do pragmaticismo e no Capítulo 7 e retomar o uso
da semiótica na Organização do Conhecimento e então a relação da semi-
ótica e do pragmatismo peirceano na Ciência da Informação.
A tarefa de acordo com um objetivo se encaixa em visões pragmatistas,
porém a determinação Ética tratada por Peirce, não está resumida em um
propósito a ser cumprido. A temporalidade, ou atualização do signo contido
em cada critério de relevância é uma possibilidade interpretante passível de
ser reconhecida quando a mudança de teoria, ou tipo de consulta também se
altera. Esta definição vai de encontro ao bem Estético, que dentro do méto-
do pragmático peirceano mobiliza a Ética para ser alcançado.
Mais do que uma variação epistemológica das visões citadas, o
Pragmatismo Peirceano engloba na sua concepção entendimento evolu-
cionário desta relação entre sujeito e objeto colocada por Hjørland (2013)
e que também se vale destes princípios que ele classifica racionalismo e em-
pirismo. A característica evolucionária que é possível ser atualizada em um
contexto histórico-social é parte desta relação do sujeito inserido em seu
ambiente que necessita deste contexto, num ambiente para que os proces-
sos de significação sejam realizados. Assim, o Pragmaticismo, como Peirce
chama para diferenciar daquele difundido por Willlian James, tem no seu
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
411
encadeamento lógico etapas que contemplam a simplificação destas varia-
ções epistemológicas apontadas. O falibilismo citado (Hjørland, 2013, p.
170) credita a Peirce o entendimento do caráter provisório, portanto evo-
lucionário, mas não cita o autor no seu método pragmático, e este resgate
é aquilo o que pretende a pesquisa, demonstrar que apenas fragmentos
de uma grande empreitada como a empreendida por Peirce não pode ser
compreendida enquanto um somatório de conceitos, mas devem ser vistos
articulados dentro de um método.
Nesta seção foram percorridos os trabalhos tratando do termo prag-
matismo nas publicações em Ciência da Informação, com ênfase nos tra-
balhos de Hjørland que claramente defende a posição pragmática. Este
panorama do uso do termo signo e pragmática ou pragmatismo perpassa
por alguns importantes fundamentos da Organização do Conhecimento e
Informação. Estes fundamentos são destacados, como é o caso da concep-
ção de Informação e Conceito, e servem de estímulo para a compreensão
do pragmatismo peirceano, por meio da semiótica.
A visão epistemológica incompleta, e decorrentes critérios de rele-
vância, resultantes desta visão que mistura linguística e semiótica de auto-
res indeterminados, suscita multiplicidades de abordagens para os critérios
de relevância e então concepção semântica. A diversidade faz parte do en-
tendimento humano, da construção do conhecimento, porém a sistema-
tização do método pragmático proposto por Peirce apresenta, já na sua
concepção, soluções com alto grau de razoabilidade, que devem ser estabe-
lecidos na Ciência da Informação para a designação de Pragmatismo.
Foi visto na sequência de fundamentos para a Organização do
Conhecimento que: (1) a determinação de critérios de relevância para a
Organização do conhecimento; (2) as maneira de caracterização e forma-
ção de Conceito; (3) e os métodos de classificação considerados científicos
ou bibliográficos são concebidos por Hjørland enquanto possibilidades
para as quais o pragmatismo é uma importante vertente epistemológica. A
visão da pragmática linguística permeia estas abordagens dentro da Ciência
da Informação, sem a devida especificação da fundamentação do pragma-
tismo a ser considerado.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
412
A classificação do ponto de vista científico ou bibliográfico, vista no
quadro 4 é mais uma divisão de classificação na indexação do que alteração
significativa no direcionamento do usuário. A busca para recuperação pode
ser adaptada a ambos, para resultados satisfatórios, desde que a significação
possa ser executada da indexação até o acesso do usuário. No quadro 5 para
os critérios de relevância, a possibilidade de continuidade do processo de
formação de interpretantes mostra que a revisão dos direcionamentos de
recuperação da informação tende a ser constante, uma vez que a relevância
também depende da circunstância.
A determinação de domínio, ou análise de domínio são perspecti-
vas com definições de um ponto de vista específico. Esta definição de um
ponto de vista que permite a concepção de domínio é concebida por este
trabalho como determinação ética da conduta, dentro do Pragmatismo
Peirceano, como será evidenciado nos capítulos subsequentes.
O pragmatismo peirceano tem maior representação na Ciência da
Informação com estudos realizados na Semiótica. A análise de como a sig-
nificação ocorre, constatada à maneira peirceana na relação triádica entre
signo, objeto e interpretante é sem dúvida um desafio de entendimento
aos que tomam contato com seu trabalho de investigação científica. O
método pragmaticista enquanto possibilidade de atuação, mais do que a
delimitação dos estágios nos quais o signo se apresenta, pode investigar a
determinação da conduta, tanto da mente do intérprete que se vale dos
signos para informar quanto dos componentes do processo em si, os quais
muitas vezes independem da intervenção humana.
A contribuição deste capítulo para a Ciência da Informação é esclare-
cer que o uso dos fundamentos trabalhados na Organização da Informação
pode ser realizado a partir do pragmatismo peirceano, sem que haja uma
confusão de termos e emparelhamento de modos de ação da chamada
pragmática, permeando o entendimento da ação dos sujeitos na aquisi-
ção de conhecimento. Esta distinção coloca em perspectivas diferentes a
abordagem que tem sido feita de uma maneira unificada pelos autores da
Ciência da Informação exemplificados aqui.
413
6
UMA PROPOSTA
PRAGMATISTA PARA
INFORMAÇÃO
A caracterização da Ciência da Informação enquanto ciência é feita
em primeiro lugar pela interdisciplinaridade; a segunda característica é a
concepção pós-moderna e finalmente a Ciência da Informação se apresen-
ta enquanto uma ciência humana e social (Araújo, 2014a). Esta descrição
contém a sequência cronológica de questionamento do pensamento cientí-
fico, que caminha compartimentando e dividindo as disciplinas do conhe-
cimento à maneira positivista, e mais do que uma reunião de disciplinas
afins a Ciência da Informação promove dentro dela o diálogo e contribui-
ção entre as várias áreas do conhecimento (Araújo, 2014b).
Poder transitar entre vários campos do conhecimento, produzindo
ciência é a vocação que supera o modelo positivista-cartesiano de delimitar
e aprofundar a especialização. Esta velocidade e volume de dados possibili-
tados pelas tecnologias de rede de computadores contemporâneas tendem
a mudar com cada vez mais rapidez o entendimento das condições de atua-
ção. Cabe à Ciência da Informação, mais do que reunir funcionalmente as
disciplinas com atividades similares, quais sejam arquivologia, museologia,
biblioteconomia, promover a superação do modelo funcionalista por abor-
dagens sistêmicas (Araújo, 2014b) que são visões mais contemporâneas e
mais aptas a tratar a relação entre usuários, produtores e fomentadores de
informação que devem ter cunho científico.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
414
A Ciência da Informação não nasceu como uma ciência tipicamente
social, mas identificou-se ao longo dos anos com o escopo das
ciências sociais à medida que se orientou para uma postura em que
os sujeitos passaram a ser vistos como o principal ator e objetivo
dos chamados sistemas de informação, e que métodos e conceitos
das ciências humanas e sociais foram aplicados para o seu estudo
(Araújo, 2014a, p. 122).
Ter a relação entre os níveis de produção, organização, difusão de
conhecimento e informação, e tratar das várias modalidades, e encadea-
mentos produtivos e de divulgação de informação e conhecimento, está no
escopo compreendido pela Ciência da Informação. E esta função, ou esta
relação depende diretamente dos atores conectados por interesses afins, em
comunidades que cada vez mais independem do espaço físico por ter à dis-
posição as redes computacionais, mas têm em comum os dados culturais
inseridos num sistema produtivo que determina a sociedade e política que
seguem o curso da história.
O papel daquilo que é a compreensão da informação em seus múlti-
plos aspectos é tarefa constante e sempre revista pela Ciência da Informação.
Neste capítulo será visto o enfoque informacional da semiose e sua relação
com a significação dentro da Ciência da Informação.
6.1 infORMaÇÃO: causaLiDaDe aRisTOTÉLica e
a DeTeRMinaÇÃO Da fORMa na naTuReZa
Não poderia se chamar lógica o estudo da semiótica sem a referência
a Aristóteles. A causalidade deve levar a argumentação das premissas à con-
clusão, assim como as causas materiais eficientes e formais tendem à causa
final. Em 1986, Max Fish diz que “As conexões entre a filosofia madura de
Peirce e a de Aristóteles aguardam uma monografia” (Fish, 1986, p. 241).
Neste trabalho, o intuito de observar a filosofia aristotélica é apenas notar
alguns pontos da causalidade que podem oferecer uma melhor compreen-
são da relação entre a abordagem dos dois lógicos.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
415
Para Aristóteles conhecer os elementos da natureza é partir do enten-
dimento da concepção dos entes, “[...] pois uns são por natureza e outros
por outras causas” (Aristóteles, 2009, 192b8, p. 43). Os seres vivos e suas
partes, assim como fogo, ar, água, e terra são natureza, pois possuem neles
mesmos, movimento e repouso. Aqueles entes que não têm um princípio
inato para a mudança como os seres vivos, mas resultam de técnica, da
transformação dos elementos básicos componentes da natureza, tem subja-
centes estes componentes de movimento e repouso próprios dos entes que
o são por natureza, contidos em sua forma.
Os entes o são por natureza e conforme a natureza, dotados de forma
e substância (Aristóteles, 2009, 192b 32, p. 44). Mas existe a diferencia-
ção entre os que vêm da natureza e entre aqueles que são concebidos pela
técnica” ou “arte” que transforma o material, matéria que é considerada
apenas em potência quando não está numa forma, que no caso do artefato
é artificial porque é feita pelo homem. E ele dá o exemplo da cama que
antes de ter a forma de uma cama era apenas madeira e madeira não faz
brotar cama, mas do homem nasce outro homem (Aristóteles, 2009, 193a
28, p. 45).
A forma transforma a potência, a matéria, a substancia naquilo que é
ser, seja ele por natureza ou pela técnica (Aristóteles, 2009, 193a 28, p.45).
Portanto a determinação formal é aquilo que se apresenta enquanto dis-
tinção entre os vários seres existentes e possíveis. A diferenciação entre as
potencialidades e entes de fato se dá por meio da forma, pois ela apresenta
aquilo que está constituído enquanto diferenciação, alteridade.
“E esta – a forma – é natureza mais do que a matéria, pois cada coisa
encontra sua denominação quando é efetivamente, mais do que quando
é em potência” (Aristóteles, 2009, 193b 6, p. 45). Nos entes resultantes
da técnica, assim como aqueles que o são pela natureza, forma e matéria
estão presentes. Porém na natureza a forma aparece conforme a função,
enquanto nos artefatos resultados da técnica esta forma é dada no artefato,
resultante da função atribuída àquela matéria (Aristóteles, 2009, 194b 7,
p. 47). Assim a forma seria uma decorrência daquilo que vai ser determi-
nante para a função, uma redução de forma e conteúdo.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
416
A geração e corrupção de toda matéria natural tem princípios que
devem ser conhecidos, porque as causas, quais são e quantas são, nos
auxiliam saber o porquê dos acontecimentos e isto faz parte de conhecer
aquilo que se apresenta (Aristóteles, 2009, 194b 16, p. 48). Estender as
causas, ou os princípios que determinam cada item que pretendemos
conhecer é o início da investigação que leva ao conhecimento na visão
aristotélica. Se é possível conhecer a causa é possível conhecer o conteúdo
contido na forma.
Aristóteles considera a primeira causa “o item imanente de que algo
provém” (Aristóteles, 2009, 194b 23, p. 48), ou seja, aquilo que é cons-
tante é a matéria do qual o ser é formado e o exemplo dado é o bronze
da estátua e também o gênero das coisas. O material de constituição dos
elementos tem a diferenciação básica entre a diferenciação das coisas. A
segunda causa é a forma e o modelo que farão a conformação daquilo que
o ser é, a sua constituição incluindo suas partes. A causa eficiente tem na
definição aristotélica a origem de onde provém mudança ou repouso, aqui-
lo que foi deliberado tem uma causa que é o produtor daquela mudança
ocorrida. Aquilo que muda tem uma causa eficiente que determina esta
mudança. Aquilo que muda, o faz com vistas a um fim, em vista de que
ocorre a mudança é a causa final, uma vez que ocorre o movimento ele
acontece enquanto intermediário para um fim, sejam estes acontecimentos
operações ou instrumentos para chegar à finalidade determinada.
[...] A significação da frase “causa final” deve ser determinada por
seu uso na declaração de Aristóteles de que toda a causalidade se
divide em dois grandes ramos, a eficiente ou o vigor; e a ideal ou
final. Se quisermos conservar a verdade dessa afirmação, devemos
entender por causação final que o modo de trazer os fatos de
acordo com os quais é feita uma descrição geral do resultado,
independentemente de qualquer compulsão para que isso aconteça
neste ou naquele caminho particular; embora os meios possam
ser adaptados ao fim. O resultado geral pode ser conseguido
de uma só vez, de uma maneira, e em outro momento de uma
outra maneira. A causalidade final não determina de que maneira
particular ela deve ser realizada, mas apenas que o resultado deve
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
417
ter um certo caráter geral (Peirce, 1974, p. 91-92, CP 1.211, 1902,
tradução nossa, grifo nosso).
Neste parágrafo Peirce aponta para a diversidade possível de se chegar
ao final enquanto resultado, e isto é possível porque o homem de ciência
pode comprovar, ou falhar, o intento de demonstrar a verdade da hipótese
colocada. Mais do que isso, as diversas possibilidades de instrumentos, e
éticas de procedimento que conduzem o processo, de fato podem trazer o
mesmo resultado. Haja vista o exemplo de cientistas que em lugares dife-
rentes tem descobertas semelhantes em suas pesquisas.
Causalidade eficiente, por outro lado, é uma compulsão determinada
pela condição particular das coisas, e é uma compulsão agindo para
fazer essa situação começar a mudar de uma maneira perfeitamente
determinada; e o que o caráter geral do resultado pode ser de modo
algum diz respeito à causação eficiente (Peirce, 1974, p. 92, CP
1.212, 1902, tradução nossa).
A formação daquilo que é resultante, apesar de ser determinada,
tem a diversidade de formas enquanto resultante porque também depen-
de da matéria; e a diversidade de ocorrências, tanto da causa quanto da
interação da matéria, proporciona uma diversidade que não é exatamente
determinada.
As causas concomitantes (Aristóteles, 2009, 195a 32, p. 49) podem
ser consideradas enquanto um tipo de eficiência, porque aparecem simulta-
neamente, e uma pode ser considerada a causa da outra. “Denomina-se cau-
sa também aquilo que contém concomitante” (Aristóteles, 2009, 195a 35,
p. 49). As causas tanto são capazes quanto efetivamente atuantes (Aristóteles,
2009, 195b 3, p. 49-50), ou seja, a matéria capacita tanto a constituição do
ser quanto tanto a finalidade para conformar àquela sua aparência. A multi-
plicidade das causas é variada, inclusive a discussão sobre o acaso enquanto
causa também é feita por Aristóteles (2009,197a 5, p. 53).
O estudante da natureza deve conhecer as quatro maneiras de causa
pois é próprio da ciência natural se reportar a causa material, causa formal,
causa eficiente e causa final (Aristóteles, 2009, 198ª 22, p. 56). Porém, os
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
418
elementos naturais mesmo considerando as causas precedentes convergem
para um fim, em vista de algo estão e são as coisas que vem da natureza
(Aristóteles, 2009, 198b 32, p.58). As coisas que são da natureza e vêm
a ser da natureza, embora tenham a técnica para imitá-las naquilo que é
construído, mantém o objetivo em vista de que se apresenta enquanto ser.
A partir destas definições Aristóteles caminha para definir aquilo que é
necessário, àquilo que nos referimos enquanto matéria e os movimentos
dela. (Aristóteles, 2009, 200a 30, p. 61).
Quando falamos de uma “ideia” ou “noção” ou “concepção da
mente” geralmente pensamos – ou tentamos pensar – de uma ideia
abstraída de toda eficiência [...] Agora sem lei não há regularidade;
e sem a influência das ideias, não há potencialidade (Peirce, 1974,
p. 93, CP 1.213, 1902, tradução nossa).
O caminho percorrido por Peirce para chega à regularidade presente
nas leis da natureza enquanto teleologia apresenta neste comentário a re-
lação entre a mente que age e o hábito que dá o potencial constituidor da
eficiência atuando na forma apresentado para se chegar a um fim. A regu-
laridade presente no hábito, na lei, potencializa cada nova possibilidade de
demonstração contida em uma forma. A concretização em uma forma está
na relação com a matéria, dentro daquela forma, e possibilita a mediação
com a lei, com a inteligibilidade desta mente, e neste caso em um intér-
prete, que percebe a regularidade. Cada nova interação possibilitada pela
fenomenologia leva à significação pela mediação dos signos, em uma re-
lação genuína, constituindo nova forma na apresentação do interpretante,
perfazendo o hábito (ou quebrando esta regularidade), mantendo o caráter
de lei, de terceiridade, de inteligibilidade.
Na Classificação das Ciências (Peirce, 1974, p. 93, CP 1.214, 1902),
Peirce acrescenta que na natureza a força de brotar, vem desta condição
anterior, como uma herança causal existente na natureza. A crítica feita por
ele é de que a hereditariedade tratada na seleção natural não se trata de uma
causação eficiente cega, mas de uma semelhança geral.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
419
A crítica de Peirce aos “homens de ciência” é exatamente o esforço
em considerar a finalidade, vista como eficiência dos fenômenos. Seria re-
duzir, uma simplificação descabida não considerar as causas finais no estu-
do da natureza, “mas é um absurdo e total confusão tratá-los como forças
no sentido material” (Peirce, 1974, p. 14-125, CP 1.265, 1902, Divisão
das Ciências). Assim, a causação está além de uma relação mecanicista, ela
envolve elementos nesta mediação que estão além da força bruta, da ação e
reação da secundidade. A teleologia envolve mente nesta causação, mente
como é considerada no pragmatismo maduro, apresentado por Peirce em
seus últimos anos de vida. Esta concepção de mente é tratada enquanto
um desenrolar de sua filosofia que evolui com o passar do tempo, em que a
continuidade mantem o aparecimento dos novos interpretantes que gene-
ralizam, incorporam os hábitos no aprimoramento de suas considerações,
que são então representações incorporadas em conceitos.
Causação eficiente é o tipo de causalidade pela qual as partes
compõem o todo; causação final é o tipo de causalidade pela
qual o todo chama suas partes. A causa final sem causa eficiente é
impotente; mero convite de peças é o que um ardente, ou qualquer
homem, pode fazer; mas eles não virão sem uma causa eficiente.
Causação eficiente sem causa final, no entanto, é pior do que
impotente, de longe; é mero caos; e o caos não é nem mesmo o
caos, sem causa final; é um inexpressivo nada (Peirce, 1974, p. 96-
98, CP 1.220, 1902, tradução nossa).
O autocontrole capacitado pela racionalidade faz do propósito
humano motor e modificador de hábitos na medida em que a conduta
autocontrolada move a ação em direção aos objetivos (Vicentini, 2012).
Surpresa, necessidade e disposição são os elementos necessários para a mu-
dança de hábitos. Surpresa e necessidade têm na disposição a propulsão
que não está nem no acaso, nem na força bruta para alcançar aquilo que se
torna admirável.
Sendo o signo antes de tudo uma forma, sua relação para com o
objeto fundamenta- se, em última análise, em uma qualidade que
com ele mantém em comum, exigindo ser ele um ícone ou, ao
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
420
menos, o inclua (CP 2.278; Silveira 1996: 35-53). Antes, pois, que
o objeto cause sua representação, a determinação do representamen
decorrerá de alguma afinidade deste para com objeto e, mesmo que
sua relação seja caracterizada pela causalidade eficiente, esta sempre
será segunda face a uma afinidade que a permita. O mesmo dever-
se-á dizer da determinação do interpretante. O signo o determinará
primordialmente como um signo de possibilidade e de afinidade
para consigo e, através dele, indiretamente, para com o objeto.
Semelhança dá-se entre formas que se reconhecem e que medeiam
possíveis reações causais sem que por estas sejam irremediavelmente
particularizadas (Silveira, 2001, p. 89).
A condição antropomórfica da causa final está presente em Peirce e
Aristóteles (Vicentini, 2012). Causalidade eficiente e causa final são con-
juntas na atuação e o pragmatismo trata desta participação na realização
entre a conformidade do objeto e as consequências práticas que a concep-
ção do objeto possa ter. Está relação entre a concepção do objeto, o próprio
objeto e a ação fazem da continuidade entre eles a marca peirceana de
evolução, tanto temporal quanto de significação.
6.2 infORMaÇÃO e evOLuÇÃO Das fORMas na
seMiOse
A percepção de arte nos remete às qualidades icônicas, ao frescor e
novidade da primeiridade. A sensação causada pelo contato com o objeto
artístico, usada pelos artistas impressionistas1 para a demonstração de sua
obra trabalha este primeiro contato visual. O desenrolar da apresentação
artística desde este período envolve a sensibilização de todos os sentidos
para a interação com aquilo que está convencionado ser a obra de arte.
A percepção estética se ausenta dos cânones da Escola de Belas Artes, na
qual as proporções vindas dos gregos determinam os padrões e aquilo que
é mobilizado para o contato com o expectador são as várias possibilidades
Impressionismo é o nome do movimento artístico ocorrido na Europa no final do sec. XIX e começo do sec.
XX no qual o representacionismo e a simbologia das obras de arte dão lugar à experimentação e tratamento
da obra de arte enquanto um objeto artístico capaz de comunicar “impressões”.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
421
de sentir. O expectador de fato deixa de ser um passivo contemplador para
de fato participar das instalações, arte multimídia, e outras “modalidades
de apresentação artística. A definição do “belo” enquanto representação da
natureza de maneira fiel e contemplando aspectos específicos deixa de ser o
objetivo da manifestação artística do século XX, o importante é o contato
com o público, a relação com a divulgação social que tende a ser cada vez
maior, desde que o evento participe das mídias de comunicação.
A experiência fenomenológica entendida por Peirce propõe esta ex-
perienciação do mundo com a abertura dos sentidos para a mediação pos-
sibilitada pela Semiótica, Ética e Estética que constituem a Episteme2.
O entendimento do mundo não se restringe àquilo que aparece, le-
gando para um entendimento subjetivo a descrição ou à experimentação
enquanto a contrapartida para o entendimento idealizado. “Assim, en-
quanto Secundidade é um fato de complexidade, ele não é um composto
de dois fatos. É um fato único sobre dois objetos. Observações semelhantes
aplicar-se a Terceiridade” (Peirce, 1974 p. 278-279, CP 1.526,1903). A
mediação é a característica da secundidade.
Quanto à Secundidade, eu disse que nosso único conhecimento
direto está na disposição e na experiência de uma percepção. É
no propósito a que a Secundidade surge com mais força. Mas isto
não é pura Secundidade. Pois, em primeiro lugar, quem deseja
tem um propósito; e essa idéia de propósito faz o ato parecer uma
forma3 para um fim. Agora, a palavra forma é quase um sinônimo
exato da palavra terceiro. Certamente envolve Terceiridade [...]
mas atualidade e existência são palavras que expressam a mesma
idéia em diferentes aplicações (Peirce, 1974, p. 281-282, CP
1.532, 1903).
CP 1.232 – referência à definição vinda dos gregos. CP 1.279 Filosofia Necessária pode ser chamada
Epistemologia.
A versão original é esta: CP 1.532, 1903 “As to Secondness, I have said that our only direct knowledge of it is
in willing and in the experience of a perception. It is in willing that the Secondness comes out most strongly. But
it is not pure Secondness. For, in the first place, he who wills has a purpose; and that idea of purpose makes the
act appear as a means to na end. Now the word means is almost an exact synonym to the word third. It certainly
involves irdness…..But actuality and existence are words expressing the same idea in different applications”. A
palavra Means neste parágrafo está traduzida como “processo”, forma pela qual a significação é apresentada.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
422
O contato fugaz da primeiridade tem na secundidade a relação fac-
tual que impõe a concretude da realidade enquanto mediação, interpre-
tantes dinâmicos nos conduzem no esforço de representar a conduta neste
processo, sempre com a possibilidade de refazer a conduta quando não se
apresentar adequada. A terceiridade, decorrência deste processo temporal
de conduta em busca deste objeto de experiência, constrói a representação
da significação desta mediação.
É, assim, notável que tais modos de ser sejam sintetizados
em apenas três classes ou categorias; a par da segundidade, a
experiência de construir mediações em face da alteridade envolve
formas cognitivas a respeito da conduta do objeto, procedimentos
indutivos que geram hábitos e que, como dito anteriormente,
atuam como mediações, caracterizando a categoria da terceiridade
(Ibri, 2008, p. 5).
A mediação que oferece cognição, diante a existência do objeto, a
partir do hábito de ação que implica no conceito que está moldado pelas
possibilidades de ação, oferece uma forma de representação desta relação
enquanto um diagrama, enquanto maneira de apresentação de cognição. A
racionalidade tem na lógica o instrumento de articulação e representação
do raciocínio.
O pragmatismo está nestes modos de ação, com vistas ao objetivo
a ser alcançado, a conduta e os modos de ação relacionados às crenças
têm na fenomenologia o princípio da interação que fixa a crença ou pode
modificar o hábito enquanto terceiridade. A partir da fenomenologia, na
secundidade que é o palco da reação, da força bruta a determinação da
conduta se apresenta enquanto a contraposição externa das crenças mos-
tradas nos modos de ação (Ibri, 2008). A passagem do tempo implica em
ter vistas ao objetivo reportado em terceiridade. É na primeiridade que o
primeiro contato ainda é pleno de potencialidades, quando a alteridade da
secundidade ainda não está manifestada na ação e reação, do aqui e agora,
que então leva a mediação feita pelos conceitos, na regra e generalidade da
terceiridade. Esta mediação enquanto terceiridade reportando o caminho
de interação conatural entre a mente que experiência e ação deve conter re-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
423
gularidade, redundância para ter o caráter de generalidade. Esta descrição
implica numa listagem de predicados que embora signifiquem um particu-
lar, tem em comum mesmos predicados com os de sua espécie.
A mediação dos conceitos nos faz perceber os objetos apenas
enquanto eles se inserem em classes de predicados. Mas uma classe
de predicados destaca dos particulares que lhe pertencem aquilo
que eles têm em comum com os demais de sua espécie. Tais classes
recebem nomes, e é assim que a linguagem dos conceitos se alimenta
das semelhanças que constituem os predicados generalizados. A
linguagem assim constituída por conceitos que, de sua vez, atuam
como mediações diante da realidade, dão forma à nossa percepção
dos objetos, vendo-os segundo o que partilham por semelhança
com os demais congêneres (Ibri, 2008, p. 6, grifo nosso).
Os juízos perceptivos dão lugar à representação enquanto adequação
lógica, pela mediação dos signos é feita a adequação da percepção inicial à
forma representada. As interpretações têm a conceituação enquanto uma
decorrência possível, porém o conceito não é o único legisigno possível,
uma vez que os interpretantes emocionais são importantes nos modos de
agir (Ibri, 2008). Estas formas lógicas de representação da realidade desta-
cam da unidade, do continuum, o objeto pelo qual a significação mediada
pode acontecer. E aqui vale lembrar que o objeto de interação pode inclu-
sive ser um conceito, no qual a referência na realidade material não tem
representação de “coisa”.
A forma do objeto se impõe à forma modalmente possível no signo
(Ibri, 1992, p. 123). O caráter de morphé, como predicado formal atribuí-
do por Aristóteles, é retomado marcando então a existência ontológica, na
associação entre aquilo que é descrito e o que se apresenta na forma per-
cebida. A referência ontológica se perde com o passar dos anos e a ciência
reconhece o termo forma para a referência às relações sintáticas internas
à lógica das linguagens (Ibri, 1992) que de fato existe, mas enquanto um
caso no qual as conformações de atualidade estão delimitadas, dentre tan-
tas outras existentes no universo.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
424
Por outro lado, todas as nossas concepções são obtidas por
abstrações e combinações de cognições que ocorrem primeiro nos
julgamentos da experiência. Assim, não pode haver concepção do
absolutamente incognoscível, já que nada desse tipo ocorre na
experiência. Mas o significado de um termo é a concepção que ele
transmite. Portanto, um termo não pode ter tal significado (Peirce,
1974, p. 152, CP. 5.255, 1905, tradução nossa).
A determinação da conduta com vistas ao objetivo a ser alcança-
do tem uma abordagem Ética. E está comprometida esta representação
à submissão da comunidade científica, apresentada por uma forma que
é a definição, o conceito. Uma vez que aparece o “[...] conceito de forma
como uma rede de relações lógicas tal como estruturam hábitos e leis
(Ibri, 2008, p. 16, grifo do autor), o encadeamento que é reintroduzido
na percepção pela primeiridade apenas pela qualidade, “quale-consciência
é uma experiência cujo predicado lógico é sua unidade como contínuo de
possibilidades” (Ibri, 2008, p. 16). A unidade na continuidade de formas
não é destacada em representação ainda, o que poderá ser feito mediante
nova interação, nova mediação. Uma vez que a primeiridade e secundi-
dade não apresentam formas, no conhecimento tido com a mediação no
pragmatismo, elas se darão enquanto representação decorrente do proces-
so, perfazendo o processo de continuidade da formação de interpretantes
quando a conformação apresenta qualidades e a significação pela mediação
confirma ou altera esta diagramação, representando novamente.
A prática da razoabilidade vai retirar daquilo que se apresenta, en-
quanto qualidade, a admirabilidade. A partir desta atenção despertada, do
interesse, inicia-se o movimento teleológico em direção à investigação, a
interação acontece desde que seja condizente às aspirações motivadas pela
admiração, pela sensibilização já na primeiridade.
Longo é, frequentemente, o tempo exigido para que nos deixemos
sensibilizar pelo objeto de modo que a forma que, provavelmente,
seja mais propícia para representá-lo se manifeste com alguma
clareza. Deixando-nos penetrar por tal forma, caso ela ocorra,
podemos então levantar uma primeira hipótese de que, se o
objeto que nos atrai for efetivamente representável por aquela
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
425
forma, poderemos a ele atribuir as propriedades dela decorrentes
e determinar nossa conduta diante dele, seguindo os passos por ela
determinados (Silveira, 2004, p. 195).
É possível propor que aquilo que é esteticamente bom está disponí-
vel em uma forma passível de ser apreendida no conjunto de qualidades
que apresenta, e que por meio delas, as qualidades, é possível a sensibiliza-
ção na primeiridade, a categoria correspondente à Estética.
[...] um objeto para ser esteticamente bom, deve ter uma
multiplicidade de partes tão relacionadas umas às outras de modo a
conferir uma qualidade positiva simples imediata à sua totalidade; e
o que quer que isso seja, enquanto esteticamente bom, não importa
qual seja a qualidade particular do total (Peirce, 1974, p. 84-85, CP
5.132, 1903-1, tradução nossa).
A qualidade particular do total” é exatamente uma definição de
forma, aquilo que dá conformidade ao conjunto de qualidades especí-
ficas no conjunto das partes que se relacionam umas com as outras. A
percepção do conjunto pode ser conceituada e definida enquanto exis-
tente, e esta representação pode ser nominada. Porém a introdução pela
qualidade na primeiridade não tem o seu frescor, seu insight nesta manei-
ra acabada de percepção dos objetos ou conceitos, é necessária a atenção
ser retida, surpreendida, despertada por uma qualidade em particular
que desperte o sentimento que invoca a reintrodução no processo de sig-
nificação a partir deste despertar. Várias qualidades simples que podem
aparecer mais fortes em um caso do que no outro, com uma graduação,
cujas “qualidades simples de totalidades incapazes de plena incorporação
nas partes” estão apresentadas pela forma da totalidade (Peirce, 1974, p.
84-85, CP 5.132, 1903-1).
Como se pode ver, Peirce considera a semiose como o processo
pelo qual o objeto – este que, de maneira não-técnica, pode
ser chamado de realidade – se revela. A relação signo-objeto-
interpretante visa descrever a forma desse processo (Santaella,
2008, p. 105, grifo nosso).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
426
A mente interpretante decorrente do processo tem possibilidades de
informação e condição de demonstração de verdade a partir da forma, pois
as qualidades são em primeiridade vindas dela.
O arranjo das palavras na sentença, por exemplo, deve servir como
ícones, para que a sentença seja entendida. A principal necessidade
dos ícones é mostrar as Formas da síntese dos elementos do
pensamento. Pois, na precisão da fala, os ícones podem representar
apenas Formas e Sentimentos. É por isso que os diagramas são
indispensáveis em toda a matemática, desde a aritmética vulgar
adiante, e na lógica é quase isso. Para Raciocínio, ou melhor, Lógica
geralmente, articula inteiramente em Formas (Peirce, 1974, p.
429-431, CP 4.544, 1905, tradução nossa, grifo nosso).
Em uma das cartas escrita para Lady Welby, datada do ano de
1906, Peirce distingue a relação processual de significação, a partir da
interação perceptiva que é obtida a partir da forma. “Eu uso a palavra
signo” no sentido mais amplo de qualquer meio de comunicação ou
extensão de uma Forma ou característica” (Peirce, 1998, p. 477, EP, v.
2, grifo nosso). Ao ser determinado pelo o objeto, o signo determina o
interpretante, portanto, esta distinção de onde nasce o signo para onde
ele se encaminha perfaz a significação.
Para Peirce a Forma para ser estendida ou comunicada está em um
indivíduo independentemente desta comunicação existir, “sendo necessá-
rio existir outro sujeito na qual a forma está incorporada em consequência
desta comunicação” (Peirce, 1998, p. 477, EP, v. 2). Uma vez que a forma,
mesmo sendo o objeto do signo, representa o indivíduo que se apresenta
anterior ao signo, ela é independente do signo. Este objeto imediato do
signo que tem a forma como recorrência e ligação, pode vir a ser no objeto
dinâmico algo apartado e modificado daquela forma original, expressando
assim, durante o processo, outros elementos capazes de configurar a nova
modalidade comunicada na transformação daquela forma original, sendo
então um novo signo, o interpretante que é nomeado representamen.
Representar a forma e possibilitar a passagem da significação a um novo
processo interpretante que será apreendido com outras qualidades, modifica
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
427
a forma e possibilita a informação durante a comunicação, no percurso que
tende à verdade. O processo de significação, a passagem de uma forma a outra,
levando consigo informação, após a percepção fugaz da primeiridade levar o
ícone a uma reação com o objeto existente, tem um percurso descrito a seguir:
Os índices, signos que são capazes de veicular informação sobre o
objeto, deverão guardar em si uma marca reativa da efetiva interação
com objeto. E mesmo os símbolos, informarão sobre o objeto por
terem em suas réplicas, ou ocorrências (Tokens) índices que deverão
reagir de imediato ou no futuro com exemplares do objeto, sendo
estes, por sua vez, fenômenos gerais. E tanto no caso dos índices
quanto no dos símbolos, a presença entitativa da forma no signo
constituirá aquele aspecto pelo qual a presença representativa da
Forma os permitirá representar efetivamente o Objeto, quer de
modo exclusivamente factual, determinando um Interpretante tão
somente de existência (Dicissignos ou Femas) ou um interpretante
da Forma geral característica do Objeto como fenômeno geral,
interpretante este constituinte da classe dos Argumentos (ou
Delomas) (Silveira, 2008, p. 309).
Os argumentos podem então chegar à condição de verdade proposta
pela forma ao ser iniciada a interação objeto, signo, interpretante. A forma
se apresenta enquanto surgimento da verdade proposicional aventada e
conduzida à comprovação verdadeira, relacionando o objeto às condições
que de fato permitiram informar o decorrer do processo interpretante. A
maneira de apresentação destes interpretantes que carregam a informação
levada evolucionariamente a passar de uma forma à outra, numa atribuição
de significado e nova forma verdadeira, como veremos mais adiante.
Para o propósito desta averiguação um Signo pode ser definido
como um Meio de comunicação de uma Forma. Isto não é
logicamente necessário que a consciência processe alguma coisa,
que é sentimento de uma qualidade peculiar comum à qual nosso
sentimento se interesse. Mas é necessário que sejam duas, senão três
quasi-mentes, significando coisas capazes de determinação variada
com respeito as formas do tipo comunicada (Peirce, 1998, p. 544,
EP, v. 2, grifo nosso).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
428
A percepção de um sentimento tem referência à consciência huma-
na, e aqui Peirce deixa claro que este primeiro contato pela forma é possibi-
lidade em qualquer semiose, não necessariamente a lógica que é capacidade
da mente humana. A explicação da quase mente vem a seguir. Uma vez
que o signo é um meio na relação triádica, ele é determinado pelo objeto e
determina o interpretante, então o objeto trazido pelo signo é passivo por
não ser afetado por ele e ativo determinando o interpretante sem ser ele
mesmo afetado. Porém sendo triádica, não está reduzida a uma relação en-
tre pares (Peirce, 1998, p. 411, EP, v. 2). A quasi-mente, ou seja, à maneira
de proceder da mente, implica a possibilidade de significações variadas, ou
mesmo de não haver conhecimento verdadeiro durante o processo.
O que é comunicado através do signo para o interpretante é uma
Forma [...] O Ser de uma Forma consiste na verdade de uma
proposição condicional. Sob dadas circunstancias, alguma coisa
pode ser verdade. A Forma no Objeto, entativamente nós podemos
dizer, significa que a condição relacional, ou seguindo o consequente
sobre razão, que constitui a Forma, é literalmente a verdade sobre
o objeto. No signo a Forma pode, ou poderá ser incorporada
entativamente, mas isto deve ser incorporado representativamente,
que é com respeito à forma comunicada, o signo produzido sobre
o interpretante com efeito similar que o objeto, ao qual ele mesmo
seria em circunstâncias favoráveis (Peirce, 1998, p. 544, EP, v. 2,
grifo nosso).
A construção de um diagrama lógico que sendo uma proposição
condicional tende a um resultado verdadeiro trabalha com interpretan-
tes lógicos que são diferentes dos interpretantes emocionais buscados pela
arte. Este ser constituído pela natureza ou enquanto diagrama apresentado
pela arte humana tem no seu processo de significação a percepção, a intera-
ção mediada pela forma. Esse ente trazido ao conhecimento e significação
pela forma tem seu processo sígnico evolutivo numa outra conformação
possibilitada por uma evolução. É a partir de uma constituição formal e o
seguimento para uma nova forma que o processo que busca a generalidade
se encaminha, independente da forma na qual o ente seja convidado ou
imposto à interação no desenvolvimento da mediação.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
429
Silveira (2008, p. 308) salienta a visão peirceana madura, com en-
foque na maneira pela qual a concepção de forma é a maneira pela qual o
objeto, mediado pelo signo, pode proporcionar um interpretante.
Distingue-se, no texto, a forma como qualidade constitutiva do
Objeto e esta mesma forma como relação comunicada através do
Signo ao seu Interpretante. É através desta distinção que será possível
conhecer-se efetivamente o Objeto sem, ipso facto, o consumir.
Além do mais, e aí se encontra comprometida toda a informação
que se tem do objeto, a Forma que dele é comunicada, o é como
uma condição de verdade para toda interpretação posterior daquele
objeto (Silveira, 2008, p. 308-309).
A partir da forma é possível desenvolver os conceitos de mente, comu-
nicação e informação. O signo não é um mero representante da forma, mas
a iconicidade indica o caminho argumentativo para o desenrolar do objeto
dinâmico. A forma é uma proposição condicional, que instaura e modaliza
a maneira de obter o processo que leva a consideração de verdade, mostran-
do as condições, em quais circunstâncias aquele interpretante da forma do
objeto pode informar o processo apresentado à mente interpretante. Esta
apresentação processual em que “[...] a Forma é suficiente para transmitir a
verdade a séries infinitas de interpretações” (Silveira, 2008, p. 311) decorre
da atração despertada por uma qualidade que buscará por meio da signi-
ficação a representação para chegar à próxima forma representada daquela
condição de interação manifestada na mente que interpreta.
O significado de uma proposição é em si uma proposição. De fato,
não é outra coisa senão a própria proposição da qual é o significado:
é uma tradução dele. Mas das miríades de formas nas quais uma
proposição pode ser traduzida, o que é aquela que deve ser chamada
de seu próprio significado? É, de acordo com o pragmaticista,
aquela forma em que a proposição se torna aplicável à conduta
humana, não nessas ou naquelas circunstâncias especiais, nem
quando se considera este ou aquele desenho especial, mas aquela
forma que é mais diretamente aplicável ao autocontrole em todas
as situações e para todos os fins (Peirce, 1974, p. 284-285, CP
5.427, 1905, tradução nossa, grifo nosso).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
430
É necessário salientar que a forma não é a maneira nominalista de
apresentar um conteúdo. A causa formal aristotélica que conforma a po-
tência da substância no ente que pode ser representado, ainda mantém a
possibilidade presente na primeiridade aberta a novas conformações que
não são apenas físicas. A explicação tem sequência:
Também teria sido bom mostrar que o pragmático não faz das
Formas as únicas realidades do mundo, assim como não faz
com que o sentido razoável de uma palavra seja o único tipo de
significado que existe (Peirce, 2008, p. 177, 1905).
A maneira estática de matéria e energia apresentadas em uma delimi-
tação caracterizada enquanto forma, vem do conceito aristotélico para esta
caracterização da causa formal, que acomoda a apresentação dos elementos
num conjunto indissociável. Ainda assim, a forma de apresentação, con-
formada em um ícone, um diagrama, é um tipo aberto ao futuro.
A palavra “soldado”, falada ou escrita, é geral da mesma maneira;
enquanto o nome “George Washington” não é assim. Mas cada
um desses dois termos permanece um e o mesmo substantivo, seja
falado ou escrito, e quando e onde quer que seja falado ou escrito.
Este substantivo não é uma coisa existente: é um tipo, ou forma, ao
qual objetos, tanto aqueles que são externamente existentes quanto
aqueles que são imaginados, podem se conformar, mas nenhum
deles pode exatamente ser. Esta é uma generalidade subjetiva. O
significado pragmático é geral nos dois sentidos (Peirce, 1974, p.
285-287, CP 5.429, 1905, tradução nossa).
A relação de percepção não sendo a mesma a cada nova abordagem
abre o processo de significação e consequentemente a possibilidade de ou-
tra informação, nova informação a cada novo processo de mediação por
meio da mediação alcançada pelo signo. A cada nova interação é possível
manter ou alterar a forma, uma vez que a conduta tem possibilidades de
alteração do objetivo de ação.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
431
A forma do signo contribui para sua inteligibilidade e facilita
mais ou menos a interpretação e o fluir do pensamento. Nesse
sentido, compreende-se a razão do grande empenho peirceano em
construir e em constantemente aprimorar o sistema de grafos, ao
qual reconhecia como uma de suas maiores contribuições à lógica
e ao pensamento humano. Comungar de uma Forma é penetrar
no circuito de uma ética e assumir para si um objeto por outro
anteriormente interpretado com um bem e um acréscimo de
perfeição. Não se pretenderá dizer que a Forma substitui o Objeto
como o bem a ser alcançado ou que o pensamento substituirá a
conduta e a atuação do Sujeito no mundo. A Forma substitui ao
Objeto enquanto Meio e não enquanto fim. Substituí-lo assim, é
fazê-lo para uma mente que a interprete e que instigue a vontade
a perseguir o que deseja. Esse campo de possibilidade que envolve
a Forma é que a faz reconhecer-se como ideia, exigindo que o
pensamento seja um processo aberto, essencialmente dialógico
(Silveira, 2013, p. 207).
O processo dialógico estabelecido pelo signo, sempre aberto a novas
relações tem na informação do signo ao seu interpretante as novas possibi-
lidades elencadas em primeiridade. A admirabilidade desperta a interação,
mantém o diálogo subsidiado pelos meios que a conduta ética adapta:
Encontrar-se na esfera ética e, mesmo, estética, por se tratar de uma
adequação assintótica da conduta a um ideal e não, simplesmente
a um bem particular, a finalidade última das informações que
se podem colher e interpretar dos Objetos é a manifestação
cabal de toda filosofia de Peirce. Nada sendo exigido da Razão
para que represente um Objeto por mais sublime que este possa
entitativamente constituir-se, a atração decorrente da Forma do
Objeto, sempre se fará tendo em vista uma livre escolha por um
fim que, embora pertinente ao universo dos fenômenos, possa a ela
plenamente satisfazer. Sendo esta escolha assintoticamente voltada
a um fim último, somente pode se satisfazer na própria perfeição
da aquela Forma e, portanto, numa ideal coincidência entre á ética
dos fins e a estética do incondicionalmente Admirável (Silveira,
2008, p. 311).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
432
A disposição para a ação em uma prática estável que pode ser reavivada
a qualquer tempo constitue o hábito. “Hábito é, então, precisamente a ideia
(o geral, escreve Peirce) que desdobra uma dada forma de vida, como pen-
sava Platão” (Fabbrichesi, 2008, p. 197). A forma mais do que materializar
alguma coisa” concretiza o hábito, mostra o conceito que é apresentado no
diagrama, naquela percepção atual, aberta para outras no futuro.
Vamos proceder da mesma maneira com a Terceiridade. Temos
aqui um primeiro, um segundo e um terceiro. A primeira é uma
possibilidade qualitativa positiva, nada mais. A segunda é uma
coisa existente, sem qualquer modo de ser menor que a existência,
mas determinada por isso primeiro. Um terceiro tem um modo de
ser que consiste nas secundidades que determina, o modo de ser
de uma lei ou conceito. Não confunda isso com o ser ideal de uma
qualidade em si. Uma qualidade é algo capaz de ser completamente
incorporado. Uma lei nunca pode ser incorporada em seu caráter de
lei, exceto pela determinação de um hábito. Uma qualidade é como
algo pode ou pode ter sido. Uma lei é como um futuro sem fim deve
continuar sendo (Peirce, 1974, p. 283, CP 1.536, 1903, tradução
nossa, grifo nosso).
A reposição em cada forma particular de uma lei geral, mantém o
conceito confirmado naquele hábito de incorporação das qualidades. Tome-
se como exemplo a lei da gravidade: a conformação física do planeta terra
atrai os corpos de massa menor para sua superfície. A relação que os bípedes
têm com este hábito da terra é diferente daquela que os pássaros mantêm. A
formação dos interpretantes incorporada nas diferentes criaturas dá materia-
lidades diferentes à mesma percepção da lei gravitacional. A lei da gravidade
é uma abstração humana, mas é verificável que a incorporação varia na qua-
lidade de cada forma, de cada espécie de ser que percebe de maneira diferente
a lei existente enquanto secundidade, enquanto reação.
A evolução das formas começa ou, de qualquer forma, tem uma fase
inicial de uma potencialidade vaga; e cada um é ou é seguido por
um continuum de formas com uma multiplicidade de dimensões
grandes demais para que as dimensões individuais sejam distintas.
Deve ser pela contração da imprecisão dessa potencialidade de tudo
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
433
em geral, mas de nada em particular, que o mundo das formas se
manifesta (Peirce, 1974, p. 135, CP 6.196, 1898, tradução nossa,
grifo nosso).
A variação entre abrangência e profundidade, na novidade da reposi-
ção das qualidades dá a sequência eventualmente temporal, eventualmente
entre pensamento e percepção.
Dificilmente podemos supor que essas qualidades sensoriais que
agora experimentamos, cores, odores, sons, sentimentos de todas as
descrições, amores, mágoas, surpresas, são apenas as relíquias de um
antigo continuum arruinado de qualidades, como algumas colunas
paradas aqui e testemunha de que ali algum fórum do mundo antigo
com sua basílica e templos havia feito um conjunto magnífico.
E assim como esse fórum, antes de ser realmente construído,
tinha uma vaga inexistência na mente daquele que planejava sua
construção, também o cosmos de qualidades sensoriais, que eu
suponho que em algum estágio inicial do ser fosse tão real quanto
a sua vida pessoal é neste minuto, tinha em um estágio antecedente
do desenvolvimento um ser mais vago, antes que as relações de
suas dimensões se tornassem definidas e contraídas (Peirce, 1974,
p. 135, CP 6.197, 1898).
A qualidade e sentimento, indissociando da percepção, colocado de
maneira poética na maneira de raciocínio que permite cálculo, oferece a
possibilidade de um primeiro a ser novamente reposto no continnum.
A qualidade dos sentidos é um sentimento. Mesmo se você disser
que é um sentimento adormecido, isso não o torna menos intenso;
talvez o contrário. Pois é a ausência de reação - de sentir o outro
- que constitui torpor, não a ausência do sentimento imediato que
é tudo o que há em seu imediatismo. Imagine uma cor magenta.
Agora imagine que todo o resto de sua consciência - memória,
pensamento, tudo, exceto esse sentimento de magenta – é
totalmente aniquilado, e com isso é apagada toda a possibilidade
de comparar a magenta com qualquer outra coisa ou de calculá-
la como mais ou menos brilhante. É isso que você deve pensar
ser a pura qualidade dos sentidos. Tal potencialidade definida
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
434
pode emergir da potencialidade indefinida apenas por sua própria
primeiridade e espontaneidade vitais. Aqui está essa cor magenta.
O que originalmente tornou possível essa qualidade de sentimento?
Evidentemente, nada além de si mesmo. É um Primeiro (Peirce,
1974, p. 135-136, CP 6.198, 1898, tradução nossa).
O processo evolucionário envolvido no conhecimento enquanto
método científico passa por esta capacidade evolucionária do processo de
significação. O mundo das formas que caracterizam conhecimento com-
partilhado socialmente vem desta sequência evolutiva de formas represen-
tacionais desta racionalização. Vale lembrar que a capacidade determinação
no caso particular e a vagueza da atribuição geral são capazes de causar uma
variação fortuita, a ticástica, aquela está sujeita à determinação do acaso.
Anacástica é aquela evolução que segue uma necessidade e a evolução aga-
pástica é aquela que busca o bem último possibilitado pelo amor àquilo
que é buscado. O interpretante final, sempre mais adiante, com mais razão
incorporada faz seguir o processo evolutivo da semiose.
O progressivo avanço na conceituação filosófica do estatuto do
ser em seus três grandes domínios: o do poder ser afirmativo
que fenomenologicamente se apresenta na forma das qualidades
de sentimento; o do ser existente, que irá encontrar na leitura
crítica assídua dos textos de Duns Scotus um fundamento para
fenomenologicamente se apresentar e o dever ser que, a partir
uma representação quase empirista demasiadamente limitada a um
experimento futuro irá, anos mais tarde assumir a forma contínua
e evolucionária da lei como condicional futuro, irão permitir a
Peirce, sistematizar as ciências do possível ao geral real, e dentre
elas encontrar o lugar mais apropriado para a Matemática, a
Faneroscopia, as Ciências Normativas e dentre estas a Lógica ou
Semiótica, abrindo, então, um espaço para a Metafísica.
Chegando a este estágio, o conhecimento do real se torna o próprio
sustentáculo de uma conduta racional em meio aos fenômenos aos
quais ela mesma pertence.
É neste ambiente que a noção de informação irá se desenvolver
como acesso aos existentes por parte de quem os quer conhecer e
neles encontrar as concreções do que lhe é admirável e amável. Por
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
435
via desse acesso ao real, por um caminho essencialmente semiótico,
dialógico e, portanto, comunitário, segue a razão rumo à Verdade
(Silveira, 2008, p. 321).
O conhecimento do real, por meio da semiose e sua caracterização
de informação na passagem da forma do signo, e portanto também do
objeto, ao interpretante é o que será visto a seguir.
6.3 a infORMaÇÃO visTa enquanTO pROcessO
evOLuciOnÁRiO
O pragmatismo peirceano tem maior representação na Ciência da
Informação com estudos realizados na Semiótica. A análise de como a sig-
nificação ocorre, constatada à maneira peirceana na relação triádica entre
signo, objeto e interpretante é sem dúvida um desafio de entendimento
aos que tomam contato com seu trabalho de investigação científica. Aqui
nosso foco é exatamente o método pragmaticista enquanto possibilidade
de atuação, ou seja, mais do que a delimitação dos estágios nos quais o
signo se apresenta queremos investigar a determinação da conduta, tanto
da mente do intérprete que se vale dos signos para informar quanto dos
componentes do processo em si que muitas vezes independem da inter-
venção humana.
A concepção ontológica do entendimento de informação ligada à
matéria conformada, e o significado epistemológico vindo da Idade Média
(Capurro, 2018, p. 122) é amplamente aceita tratando-se do termo in-
formação. A dependência da emissão dos sinais elaborada cientificamente
com a teoria matemática da informação de Shannon acrescenta ao caráter
de novidade atrelada à significação enquanto informação no senso comum
parâmetros para o questionamento de critérios de significação mediante
aquilo que por meio de vários tipos de elementos físicos oferece informa-
ção a ser reconhecida.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
436
É interessante observar como o conceito de informação está
intimamente ligado às visões do conhecimento. Essa conclusão é
importante no que diz respeito ao uso do conceito de informação
na Ciência da Informação, pois indica uma conexão seriamente
negligenciada entre as teorias da informação e as teorias do
conhecimento (Capurro, 2018, p. 125).
Processos de mediação e comunicação obtidos a partir de informa-
ção caracterizam o termo e dão à palavra “informação” uma variedade de
atribuições nas diversas áreas do conhecimento científico. A diferenciação
entre o conceito de informação entre diversas áreas e apropriação do termo
em disciplinas que atuam de maneira específica com aquilo que é chamado
informação, ocasiona divergências sobre o significado daquilo que é usado
com o mesmo termo. Na Ciência da Informação Hjørland (2002a, p. 1)
caracteriza informação como:
[...] o resultado causal dos componentes e processos físicos
existentes. Além disso, é um resultado emergente de tais entidades
físicas. Isso é revelado na definição sistêmica da informação. É
um conceito relacional que inclui a fonte, o sinal, o mecanismo
de liberação e a reação como seus correlatos. O mecanismo de
liberação é um sistema de processamento de sinal e um sistema de
processamento de informações (Hjørland, 2002b, p. 1).
Esta definição, na qual a inter-relação entre componentes físicos, ne-
cessários para a transmissão de elementos, traduzidos em uma mensagem
para o receptor que é capaz de introduzir novidade a partir deste diálogo e
então produzir conhecimentos advindos desta informação, sendo então este
conhecimento também informação, resume de maneira simplificada aqueles
elementos com os quais a organização da informação trabalha. Organizar a
informação e organizar conhecimento não é diferenciar termos para a clas-
sificação de recuperação, mas envolve também critérios de aceitação pela
comunidade científica de aceitação da verdade. Para ser considerado um pro-
cesso informacional que traz conhecimento verdadeiro, e, portanto, aceito
cientificamente, tanto o trânsito entre os componentes físicos quanto a atri-
buição de significados devem caminhar de maneira conjunta.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
437
A etimologia e significado da palavra informação vem do latim in
formare, dar forma. Aquilo que no senso comum é sinônimo de novidade,
trazer algo desconhecido a público ou a alguém tem na formação da pala-
vra seu significado. As investigações na Ciência da Informação têm o ca-
ráter da apresentação documental como veículo principal desta transmis-
são de conhecimento, por meio de novos elementos agregados enquanto
novidade que podem apresentar conteúdos informacionais fomentadores
de novos conhecimentos. O estudo e organização da informação de base
documental restringe o conteúdo daquilo que pode ser considerada infor-
mação à linguagem contida nos documentos.
Os horizontes de investigação tendem a serem amplificados quando
definições relativas ao conceito de informação são acrescentadas àquilo que
a forma documental apresenta. O conceito de Shannon e Weaver (1949)
quando apenas quantifica os dados transmitidos sem ruído no sistema,
sem a pretensão de interpretação dos dados, dá outra perspectiva a esta
transmissão de um código de sinais. A atribuição de conteúdo semântico
àquilo que possa conter a informação passa necessariamente por um enten-
dimento epistemológico do que possa ser a transmissão de conhecimento
enquanto informação.
O modo processual de atribuição de significado quando transita de
uma forma a outra carrega consigo a comunicação da novidade contida
na forma que pode ser caracterizada informação. A maneira dialógica de
relacionar componentes implica na viabilidade de comunicação para acon-
tecer informação.
O propósito da ciência na visão peirceana não é apenas um guia
básico para a vida, mas uma ferramenta especial a partir da qual se obtém
um instrumento cognitivo para responder as questões sobre o mundo na
fixação das crenças, ou então aquilo que podemos chamar de informa-
ção obtida de modo seguro, com demonstração compartilhada e aceita, de
modo a ser considerada geral (Rescher, 1995, p. 111).
Um modelo de aplicabilidade que contenha um sistema informa-
cional generalizado (Yovits, 1969) tem sido incorporado na formação da
Ciência da Informação enquanto disciplina científica desde o início de sua
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
438
constituição. A universalização do modelo ou definição tem suas raízes na
maneira moderna de definição da ciência. A cientificidade de modelos que
tenham aferição em casos específicos, em entendimentos que revisam os
parâmetros da maneira moderna de fazer ciência é relegada muitas vezes a
um relativismo que desqualifica os resultados obtidos. O caráter falível das
investigações, quaisquer que sejam elas, tem consolidação na medida em
que o caráter científico pode ser verdadeiramente comprovado. A difusão e
aceitação no meio científico se tornam muitas vezes mais de caráter políti-
co do que necessariamente científico.
Num contexto que deve ser científico, portanto capaz de aferição
quantitativa e qualitativamente, tem-se a aceitação que: “[...] informação
é definida como dados de valor na tomada de decisão. Medidas quantita-
tivas de informações podem ser obtidas relacionando informações a ações
observáveis específicas que podem ser medidas fisicamente” (Yovits, 1969,
p. 369). A possibilidade de quantificar ações fisicamente indiscutivelmente
oferece a necessária aferição científica ao dado que se pretende atribuir in-
formação verdadeira. Na data da publicação citada a ainda recente defini-
ção de Shannon e Weaver para o conceito de informação enquanto trans-
missão de sinais recebidos por um receptor não descarta o entendimento
de informação enquanto sinônimo de conhecimento (Yovits, 1969), tida
no senso comum e estendida para a ciência.
É muito importante observar que a informação é uma quantidade
relativa e não pode ser definida, exceto em termos de uma situação
específica com um conjunto específico de ações observáveis. Então,
e somente então, podemos definir uma medida quantitativa para
informação. Os dados, por outro lado, são absolutos e estão
diretamente relacionados aos observáveis, independentemente do
sistema ou dos usos em consideração. Uma vez reconhecido que
a informação não é absoluta e depende de um sistema específico
e de um conjunto de observáveis, vários princípios emergem
diretamente (Yovits, 1969, p. 374).
A ação específica em determinada conduta é apresentada em uma
forma passível de análise. Ações observáveis têm uma objetividade que de-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
439
pendem da finalidade a ser alcançada. Com graus variáveis de determina-
ção da conduta, o procedimento ético visto à maneira peirceana é um dos
elementos fundamentais para a compreensão das variáveis que conduzem
a ação que é informacional.
O caráter de cientificidade atribuído ao dado relativo à ação, sendo
este dado especificado e analisado é então o método científico sendo apli-
cado. Para Yovits, nesta publicação, a generalização e aplicação do método
científico é a própria Ciência da Informação (Yovits, 1969). Unidades de
informação e valor informacional são elementos de análise no contexto do
modelo científico vistos em um fluxo informacional nas relações de um
sistema em desenvolvimento.
O desenvolvimento de pesquisas de Yovits na Universidade do
Estado de Ohio segue na investigação do fluxo e análise de informação:
(1) identificar e quantificar variáveis e parâmetros importantes no
processo de fluxo de informações; (2) estabelecer relações entre
essas variáveis; (3) aplicar a teoria a situações práticas e examinar
as implicações resultantes; e (4) desenvolver modelos, tanto
simulados quanto experimentais, para utilizar e validar a teoria. A
base do nosso trabalho trata as informações como dados de valor na
tomada de decisões (Yovits, 1981, p. 187).
Mais uma vez a pesquisa com parâmetros estruturados de aplica-
ção científica é retomada e com elementos subdivididos em unidades de
conhecimento que articulam sua função dependendo da relação na qual
é identificada. A informação é caracterizada como o dado que é utiliza-
do em uma decisão de contexto (Yovits, 1981). Estas tomadas de decisão
são dinâmicas e variam ao longo do tempo, da mesma maneira variam os
contextos. A relação com o ambiente que não é estático influencia esta
tomada de decisão reforçando o caráter dinâmico da aprendizagem que
se desenrola nesta atividade de tomada de decisões que norteiam a ação
(Yovits, 1981). A relação do comportamento humano dependente de um
contexto, na qual o ambiente influencia diretamente a ação, ou seja, a ação
depende do contexto e é capaz de alterar este mesmo contexto, num pro-
cesso de aprendizagem.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
440
O processo de aprendizagem no qual o indivíduo é sensibilizado, em
um estado interno, cria um conceito que pode ser identificado pelo tipo
de informação pelo qual o indivíduo foi sensibilizado durante a aprendiza-
gem (Dreteske, 1981). A colocação enquanto troca de input e output entre
estruturas internas e o meio ambiente favorece o comportamento mais
adequado, que tem nos seres vivos, diferentemente das máquinas apresen-
tam conceitos inatos que traduzem a intencionalidade, juntamente com
crenças e comportamento.
O comportamento é um processo e a distinção entre processo e pro-
duto é lembrada por Dretske (1992) enquanto um ponto importante. Esta
relação entre processo e objetivo a ser alcançado, ou produto da ação, po-
demos ver quando Peirce faz a diferenciação entre o seu próprio enfoque
pragmatista e aquele proposto por Willian James.
Os elementos de um sistema representacional têm um conteúdo ou
significado definido pelas funções que indicam; e estes significados desem-
penham propriedades de pensamentos genuínos e crenças (Dreteske, 1992).
Conhecimento é uma forma justificada de crença verdadeira
(Dreteske, 1981). Assim, a verdade produz conhecimento, uma vez que
deve haver uma completa justificação para aquilo que se acredita. “Crenças
são estruturas que têm conteúdo semântico, e estes conteúdos semânticos
definem o conteúdo das crenças (o que é acreditado) ” (Dreteske, 1981,
p. 179). Se esta condição de comunicação está associada a uma estrutura
física, possui as mesmas propriedades deste conjunto capaz de funcionar e
representar esta estrutura ou processo, informando sobre ele. Uma crença
apresenta um maior grau de intencionalidade quando estruturada em rela-
ção ao seu conteúdo informacional (Dreteske, 1981).
A estrutura semântica tem um grau de intencionalidade comparado
àquele de uma crença, e isto molda o comportamento (Dreteske, 1981).
Uma estrutura semântica reflete uma estrutura cognitiva da qual faz parte, e
na visão do autor esta estrutura é aquilo que une representação e função em
um sistema. Uma representação interna tem nas crenças a explicação estrutu-
ral que o comportamento indica, sendo ele um processo. A informação não
está nas estruturas que carregam informação incorporada, mas no trabalho
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
441
de produção e controle do comportamento (Dreteske, 1992). Para o autor as
crenças e desejos são parte daquilo que desempenha um comportamento in-
tencional, não sua causa, e desta maneira ajudam a explicação de comporta-
mento, uma atitude enquanto um sistema, um estado intencional (Dreteske,
1992). A explicação funcional para o comportamento enquanto um sistema,
na conceituação do autor, pesquisa aspectos da relação mente-corpo para a
formação deste sistema de atuação que eventualmente pode ser similar em
máquinas com variados graus de automação.
A maneira de interação que proporciona conhecimento entre o agen-
te e o meio ambiente tem na visão peirceana um desdobramento no qual
a causalidade está incorporada na significação, sendo parte da secundidade
tem sua importância enquanto condição par representação. A estrutura de
significação do pragmatismo peirceano se vale de elementos com termos
semelhantes, mas que desempenham papéis que não coincidem com o es-
tudo de Dretske feito um século depois de Peirce. O significado entendido
como trabalho propagador da informação (Lizka, 2009) adéqua estrutural-
mente o signo no processo de ação e tem na dissolução que ele proporciona
entre interno e externo uma vertente lógica para a dissolução do problema
mente-corpo nesta transposição para a ação.
A distinção entre informação e comunicação, já mencionada por
Weaver (1964) é retomada, uma vez que: “Aquela informação que um sinal
carrega e é capaz de ‘dizer’ alguma coisa para nós, diz-nos verdadeiramente
sobre um outro estado de coisas. Falando a grosso modo informação é a
commodity capaz de produzir conhecimento, e que a informação que um
sinal carrega é que podemos aprender com isto” (Dreteske, 1981, p. 44).
Se alguma coisa é falsa, não produz informação, complementa o autor.
As investigações sobre informação implicam na investigação dos processos
de comunicação e conhecimento, e desta maneira, independentemente da
caracterização da disciplina de conhecimento em que se pretenda estar in-
serido, as pesquisas tendem a ter caminhos semelhantes. As unidades de
conhecimento, os conceitos conforme são descritos por Dahlberg (2014)
são uma versão das “commoditys” que apresentam conteúdo semântico
apresentado por Dretske.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
442
A informação, como normalmente entendida, tem três propriedades
essenciais: (1) é uma entidade intencional, semântica; (2) é verdade;
e (3) é transmissível. Qualquer coisa que não tenha uma ou mais
dessas propriedades não é uma informação (Dreteske, 2008, p. 274).
Na concepção de Dretske, a informação é “sobre” alguma coisa, e aí
é necessário distinguir o sinal daquilo que o sinal carrega (Dreteske, 2008,
p. 274). Esta mesma distinção já havia sido feita por Shanon e Wheaver na
introdução do texto de apresentação da concepção da teoria matemática
da informação.
Sintaxe, fatos organizados sobre os portadores de significado e
informação, é uma coisa; semântica, fatos sobre o significado ou
a informação que eles carregam, é algo completamente diferente.
Assim como significado, informação é uma entidade abstrata.
Exibe intencionalidade. Vem em forma proposicional. Portadores
de informações, por outro lado, os objetos e eventos (sinais) que
transportam informações são, necessariamente, entidades concretas
e observáveis (Dreteske, 2008, p. 275).
A informação é então um processo de relações, seja na transmissão
dos sinais para que haja comunicação, seja na possibilidade semântica des-
tas relações serem estabelecidas num processo de significação. O substrato
material é necessário para que a possível abstração advinda deste encontro
de signos físicos aconteça, tenha sua existência passível de realidade. A in-
formação está na secundidade, na ação e reação, é dialógica, e estabelecida
na comunicação.
A verdade deve estar contida na proposição verdadeira comunicada.
Aquilo que é tratado deve ser verdadeiro para que a informação aconteça
na segunda condição de ocorrência de informação:
Palavras, e as pessoas que pronunciam essas palavras, podem
representar coisas que não sejam do modo como são. Deturpação
é uma espécie de representação. Mas a informação não é assim.
Desinformação não é uma informação da variedade falsa. Não é
informação de todo (Dreteske, 2008, p. 276).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
443
A informação fornece a verdade que é obtida na significação, na
comprovação empírica da afirmação realizada. “Por isso, do ponto de vista
epistemológico, a informação é muito mais importante que o significado.
O significado pode ser verdadeiro ou falso” (Dreteske, 2008, p. 277). A
atribuição de significado, e então o conhecimento da novidade, trazida por
aquele processo informacional deve ser reconhecido a partir da informa-
ção verdadeira. Ter na ação de significação falibilidade sempre é possível.
“Portanto, a informação não é suficiente para o conhecimento. Necessário,
mas não suficiente. Ele fornece algo, a verdade, que é necessário para o co-
nhecimento, mas é necessário mais” (Dreteske, 2008, p. 278). A ação ética
de busca da verdade de acordo com o bem estético almejado dá a condução
ao processo de significação a partir da transmissibilidade feita com êxito.
Para transmitir informações, você deve transmitir não apenas
a verdade, mas também o que é necessário para um receptor
adequadamente preparado saber a verdade que você transmite. As
credenciais epistêmicas relevantes, o que é preciso (além da verdade)
para produzir conhecimento, também devem ser comunicadas
(Dreteske, 2008, p. 281).
Uma vez que as informações viajam com objetos e eventos que as
carregam (Dreteske, 2008), informação e conhecimento dependem des-
tes meios para serem traduzidas na novidade da proposição verdadeira
que cria conhecimento.
O que resta para uma teoria genuína da informação, parece-me,
é um relato sistemático e revelador do que é esse relacionamento
extensível e que confere conhecimento. O que, exatamente,
devemos comunicar com a verdade para tornar a verdade que
comunicamos informações? Tudo o que espero ter dito aqui é que,
de fato, é isso que procuramos quando procuramos uma teoria
da informação. É isso que uma Ciência da Informação deve ser
enquanto ciência (Dreteske, 2008, p. 282).
O “relacionamento extensível que confere conhecimento” (Dreteske,
2008, p. 282), conforme mencionado acima, adequa-se ao processo de for-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
444
mação do interpretante enquanto mediação entre signo e objeto, no enca-
deamento dialógico que confere significado à formação do interpretante.
Ser contínuo e evolucionário caracteriza a possibilidade de extensão.
De maneira semelhante, o monismo de triplo aspecto na versão
informacional de Pereira (2015) contempla a maneira epistemológica de
tomada de consciência do sujeito. Esta estrutura dinâmica oferece consci-
ência, enquanto um realismo moldado em três aspectos para a construção
de um modelo de realidade, que contemple a integração entre eles: “a) o
aspecto físico-químico-biológico, b) o aspecto informacional (incluindo
os processos mentais não conscientes) e c) o aspecto mental consciente
(Pereira, 2015, p. 65). A diferenciação do uso informacional em modela-
gem mecânica ou computacional está no fato da mensagem não afetar o
funcionamento das máquinas, de maneira diferente dos fenômenos natu-
rais, incluído nisto aqueles processos de ação humana em que a estrutura
de conformação da mensagem molda as possibilidades de formação na
atividade física (Pereira, 2015).
A relação obtida entre a previsão da ação a partir da tomada de de-
cisão e comprovação posterior do quão exato pode ser a antecipação da
ação é um dos pontos interessantes da teoria desenvolvida relacionando
os elementos informacionais na ação. O estabelecimento de uma regra de
aprendizagem média e a escolha entre parâmetros para tomada de decisão
podem então caracterizar os atos específicos, sendo passíveis de reprodução
em outro modelo, o que é avaliado aqui como outro ponto interessante,
pois aventa a possibilidade de automação na tomada de decisões feitas por
algoritmos computacionais tão comuns atualmente.
De acordo com nossos argumentos semióticos, informações
significativas são um processo dependente de intérprete que
não pode ser dissociado da noção de intérprete situado (agente
potencial ou efetivo). É dependente de intérprete, no sentido
em que liga, de forma tríplica, Signo, Objeto (onde a forma
comunicada na informação é incorporada como um fator restritivo
do comportamento interpretativo) e interpretante” (Queiroz; El
Hanil, 2007, p. 296).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
445
A mútua relação entre a atuação, o ambiente e o processo de sig-
nificação, faz do ambiente, do contexto, um mediador destas ações que
interferem tanto no agente quanto na significação resultante dos processos
informacionais que envolvem a ação. Ambiente e contexto são quase si-
nônimos quando a ação requer incorporação em um agente intérprete do
processo de significação.
[...] a relação informacional entre dois sistemas constituiria uma
causalidade de segunda ordem”, no sentido de que na transmissão
de informação entre dois ou mais sistemas o padrão de informação
presente em um sistema não seria a causa geratriz da ação deste
sistema sobre um outro sistema, mas determinaria o padrão que se
forma no segundo sistema (Pereira, 2015, p. 65).
A relação de causalidade e significação, sendo um processo dinâmi-
co, evolucionário na concepção peirceana, parte de uma forma enquanto
sistema de signos que se organiza em um processo e evolui em um inter-
pretante, em um signo constituído enquanto um processo em evolução
capaz de levar adiante o processo que pode ser apresentado em um outro
conjunto significante, capaz de interagir novamente. A capacidade de gerar
informação e apresentação desta forma em processo de ação está na etimo-
logia da palavra, portanto a grande contribuição da semiótica peirceana,
dentro do pragmatismo é proporcionar meios de avaliar os processos à me-
dida que ocorrem nas diversas situações nas quais a representação se faz ne-
cessária àquele interpretante, contido ou não na mente de um intérprete.
A convergência em alguns pontos equipara concepções diversas e o
critério de novidade sobre algo desconhecido que caracteriza o termo no
senso comum de alguma maneira e é contemplado por estas considerações
científicas, pois “se você me informa a respeito de qualquer verdade que eu
já saiba, então não há informação” (MS 463: 13, 1903 apud Nöth; Gurick,
2011, p. 20).
O processo de dar forma, verificado usando a etimologia da palavra
“informação”, é recorrente para caracterizações do termo reafirmado en-
quanto processo, enquanto representante de uma relação. Aquilo que era
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
446
indistinto ao tomar forma, ao ser comparado com outros entes pode ser
reconhecido e conferir informação (Debrock, 1996).
De acordo com esse critério, as informações não são uma entidade
encontrada ou armazenada em determinados locais, mas um evento
formativo. Nenhum evento é um evento, a menos que faça diferença,
e nada faz diferença, a menos que faça diferença em relação a outra
coisa. Cada evento informativo deve, em virtude de ser um evento,
ser diádico. Por outro lado, a diferença que marca deve ser um tipo
definido de diferença, e esse é exatamente o elemento de terceiridade
que Peirce via como uma característica inerente a tudo o que aparece.
Finalmente, nenhum evento de formação é redutível a qualquer
evento de formação anterior. Pode estar relacionado a eventos
anteriores, enquanto todos os eventos são afetados por outros eventos.
Mas não importa quão forte seja a conexão, cada evento formativo
é em si mesmo e por si mesmo absolutamente novo, primitivo, uma
nova criação. Esse elemento é o que Peirce tipificou como o primeiro
elemento (Debrock, 1996, p. 9-10).
A relação de formação do interpretante aliada às categorias fornece
a continuidade entre aquilo que aprece e a ação de reconhecimento àquilo
que se apresenta. A potencialidade das qualidades não tem significado sem
a ação de consciência desta percepção. Assim, a passagem da primeiridade
para a terceiridade é mediada pela ação de conferência de significado. Ação
que é possibilitada pela força bruta, pela existência concreta da secundida-
de, e fornece a generalização do conceito pertencente à terceiridade, mar-
cando então a forma reconhecida a partir da qualidade em primeiridade.
E neste sentido o encadeamento e passagem de primeiridade e terceiridade
relaciona pelas qualidades admiradas, e então percebidas, aquilo que su-
cinta elementos passíveis de representação. Tomar forma implica na conti-
nuidade entre realidade e existência, no processo informacional que molda
o interpretante em sua potência de terceiridade, vinda da possibilidade
oferecida pela qualidade em primeiridade.
A ação, a semiose, o processo informacional ocorre em secundida-
de, uma vez que o método pragmático preconiza a concepção do objeto a
partir das consequências práticas, portanto opções de ação, que perfazem
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
447
nossa concepção deste objeto como o conjunto destas ações (Peirce, 1974,
p. 1, CP 5.2, 1902).
A distinção entre processamento de informação e semiose é im-
portante quando tratamos do termo informação usado por Peirce (Nöth;
Gurick, 2011).
A informação tratada por Peirce tem dois períodos com tratamentos
diferenciados no processo de significação. A primeira fase do jovem Peirce,
entre 1865 e 1867 (De Tienne, 2005; Silveira, 2008; Nöth; Gurick, 2011)
a partir do estudo lógico dos signos nas condições da linguagem humana e a
capacidade de comunicação nas linguagens verbais, faz o estudo dos signos
nas proposições linguísticas aplicados à lógica. “Peirce mostrou que a primei-
ra dessas referências apontava para a ‘amplitude informada’ da proposição,
a segunda para a’ profundidade informada’ da proposição e a terceira para a
informação’ referente à proposição” (De Tienne, 2005, p. 153).
As outras divisões de termos, proposições e argumentos surgem da
distinção de extensão e compreensão. Proponho tratar esse assunto
em um artigo subsequente. Mas vou antecipar até agora que, para
dizer que existe, primeiro, a referência direta de um símbolo a seus
objetos ou sua denotação; segundo, a referência do símbolo ao
seu fundamento, através de seu objeto, isto é, sua referência aos
caracteres comuns de seus objetos ou sua conotação; e terceiro, sua
referência a seus interpretantes por meio de seu objeto, isto é, sua
referência a todas as proposições sintéticas nas quais seus objetos em
comum são sujeitos ou predicados, e a isso chamo de informação
que ele incorpora. E como todo acréscimo ao que denota ou ao que
denota é efetuado por meio de uma proposição distinta desse tipo,
segue-se que a extensão e a compreensão de um termo estão em
uma relação inversa, desde que a informação permaneça mesmo, e
que todo aumento de informação é acompanhado por um aumento
de uma ou outra dessas duas quantidades. Pode-se observar que a
extensão e a compreensão são frequentemente tomadas em outros
sentidos nos quais essa última proposição não é verdadeira (Peirce,
1974, p. 295-299, CP 1.559, 1867, tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
448
No segundo período a própria criação do signo dentro do processo
pragmático, na qual o interpretante caminha numa semiose ilimitada, ge-
rando novidade e estendendo a relação, interpretantes do signo em novos
representamens comunicam novos elementos e forma novos processos in-
formacionais (Nöth; Gurick, 2011). Assim a passagem do objeto imediato
ao interpretante imediato é uma significação que implica na transmissão
dialógica que ocorre entre signo e objeto por um lado e signo e interpre-
tante por outro.
Voltando com mais atenção ao primeiro período, no qual Peirce usa
a lógica nas proposições para o tratamento do signo que simboliza um
conceito, podemos aferir que o interpretante normal de uma definição
que dá nome a uma entidade, um conceito como “unidade de conheci-
mento” (Dahlberg, 1993) pode ser tratado enquanto “signo fundamental”
(Tellefsen, 2004). A partir desta definição de elemento de análise é possível
medir e quantificar:
Em um artigo apresentado à Academia em maio passado, tentei
mostrar que as três concepções de referência a um fundamento,
referência a um correlato e referências a um interpretante são
aquelas sobre as quais a lógica deve principalmente fazer uso.
Também introduzi o termo “símbolo”, para incluir conceito e
palavra. A lógica trata a referência de símbolos em geral a seus
objetos. Um símbolo, em sua referência a seu objeto, possui uma
referência tripla:
Primeiro, sua referência direta ao seu objeto ou às coisas reais
que ele representa. Segundo, sua referência à sua base através de
seu objeto ou os caracteres comuns desses objetos. Terceiro, sua
referência a seu interpretante através de seu objeto, ou todos os
fatos conhecidos sobre seu objeto. O que é referido, até onde são
conhecidos, são: Primeiro, a amplitude informada do símbolo;
Segundo, a profundidade informada do símbolo; Terceiro, a
soma das proposições sintéticas nas quais o símbolo está sujeito ou
predicado, ou as informações relativas ao símbolo (Peirce, 1974, p.
253, CP 2.418, 1867, tradução nossa).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
449
Neste tratamento proposicional, o tratamento da linguagem em ter-
mos lógicos proporciona o estudo da maneira escrita da articulação dos
signos linguísticos, podendo então as derivações do tratamento semiótico
encontrarem referência. A pragmática, como é considerada por Charles
Morris (1938), trata da relação do signo com seus intérpretes (Marcondes,
2000). A redução da aplicação ao signo linguístico certamente é uma abor-
dagem lógica de tratamento da informação, mas considerando informação
como aquilo que está além da documentação escrita, tem-se um grande
caminho de pesquisa de significação, no qual o tratamento linguístico não
pode ser aplicado.
Pela amplitude informada de um termo, entenderei todas as
coisas reais das quais é predicável, com a verdade lógica no geral em
um suposto estado de informação. Com a frase “no geral”, quero
indicar que todas as informações disponíveis devem ser levadas em
consideração, e que apenas aquelas que existem em toda a razão
para acreditar que um termo é verdadeiramente predicável devem
ser consideradas como parte de sua largura (Peirce, 1974, p. 248-
249, CP 2. 407, 1867, tradução nossa).
Determinar a amplitude implica no inventário, sempre sujeito a alte-
rações decorrentes da ação, que leva ao bem estético almejado. Determinar
a amplitude é traçar uma conduta de investigação que procura alcançar a
verdade referente ao bem estético proposto. Desta maneira a determinação
de um domínio na Organização do Conhecimento pode a partir do assun-
to ou signo fundamental enquanto símbolo desta delimitação do domínio
assegura aqueles elementos contidos numa restrição que contempla o con-
junto de elementos contidos naquele domínio em particular. Domínio este
aberto a novos interpretantes que podem variar tanto em limites da defini-
ção quanto no aprofundamento das qualidades aventadas. “Pela profundi-
dade essencial de um termo, entendo as qualidades realmente concebíveis
previstas em sua definição” (Peirce, 1974, p. 250, CP 2.410, 1867). A
investigação cientifica, a pesquisa, trabalha exatamente na dedução e com-
provação indutiva destas qualidades previstas na definição, ou na hipótese
suscitada na abdução que é aquilo que move o processo investigativo.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
450
Dois termos podem ser iguais em sua amplitude e profundidade
substanciais e diferem em sua amplitude e profundidade
essenciais. Mas dois termos não podem ter relações de amplitude e
profundidade substanciais desconhecidas no estado de informação
suposto, porque nesse estado de informação tudo é conhecido
(Peirce, 1974, p. 253, CP 2.416, 1867, tradução nossa).
A diferenciação entre essência e substância no pensamento peirceano
em um período posterior a este, descrito em 1867, no início de sua carreira
de lógico, pode ser revista enquanto a diferenciação exercida entre realidade
e existência. Neste período, a preocupação é a determinação da capacidade
informativa, proporcionada pelo signo para a determinação de verdade (ou
falsidade) da proposição. “Em amplitude e profundidade informadas, dois
termos podem ser iguais e podem ter relações desconhecidas. Qualquer
termo, afirmativo ou negativo, universal ou particular, pode ter amplitude
ou profundidade informadas” (Peirce, 1974, p. 253, CP 2.417, 1867).
Dentro da estrutura relacional de uma argumentação, a capacidade infor-
macional do termo dá suporte à investigação, em um método científico de
determinação da verdade usando a lógica.
O símbolo, signo de terceiridade, representado por regra geral é ca-
paz de repor no caso particular sua competência corrente. A informação in-
corporada por ele implica, além do conjunto de proposições, o julgamento
de verdade e falsidade propostos. Cabe ao caso particular a comprovação
da existência com a verdade aferida, na ação das consequências práticas da
transposição do conceito cabível enquanto regera para o caso em curso.
O símbolo representa a ideia em curso, demonstrada no argumen-
to, mais tarde é que a diferenciação icônica de um diagrama fazendo esta
interposição entre a investigação e sua representação se tornará, de fato,
marcante nos escritos peirceanos.
Por amplitude e profundidade, na falta de um adjetivo, entenderei
a seguir a amplitude e profundidade informadas. É claro que
a amplitude e profundidade de um símbolo, na medida em que
não são essenciais, medem as informações a seu respeito, isto é,
as proposições sintéticas a que ele está sujeito ou predicado. Isso
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
451
segue diretamente das definições de amplitude, profundidade
e informações. Portanto, segue-se: Primeiro, que, enquanto a
informação permanecer constante, quanto maior a largura, menor
a profundidade; Segundo, que todo aumento de informação é
acompanhado por um aumento de profundidade ou largura,
independentemente da outra quantidade; Terceiro, que, quando
não há informações, não há profundidade ou largura, e vice-versa.
Essas são as verdadeiras e óbvias relações de amplitude e
profundidade. Eles serão naturalmente sugeridos se denominarmos
as informações de área e escrever: Largura x Profundidade = Área.
[Análogo ao aumento de informações em nós, há um fenômeno de
natureza – desenvolvimento – pelo qual uma infinidade de coisas
passa a ter uma infinidade de caracteres, que foram envolvidos em
poucos caracteres em poucas coisas, 1893] (Peirce, 1974, p. 254,
CP 2.419, 1867, tradução nossa).
A investigação das possibilidades informacionais contidas numa
argumentação, simbolizadas em um conceito, tem uma especificação das
etapas e com nomes. Estas etapas estão relacionadas a estas possibilidades
de variação entre profundidade e amplitude e são vistas no decorrer da
carreira de investigador de Peirce.
A comunicação de existência por um lado, e a possibilidade de pro-
jeção para o futuro contida nas possibilidades do interpretante por outro
dão não apenas o caráter de novidade daquilo que é o ocorrido, mas tam-
bém a projeção das possibilidades de realização do signo no futuro (Nöth;
Gurick, 2011).
Duas concepções de informação entrelaçam seus caminhos
pelos escritos de Peirce. A primeira surge em 1865, na famosa
fórmula “compreensão x extensão = informação” e liga fortemente
informação com o recém-nascido interpretante. A segunda
concepção emana da definição peirceana tardia de signo como
um meio que comunica formas, que acarreta uma concepção de
informação mais dinâmica e processual (De Tienne, 2005, p. 149,
grifo nosso).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
452
O período que marca esta revisão entre amplitude e profundidade é
datado no ano de 1901, próximo ao período que fará o esboço da arquite-
tura das ciências em anos seguintes, visto que os escritos sobre esta estrutu-
ração (CP1.1; CP 1.180) são datados entre 1898 e 1903.
Em 1893, Peirce retoma as operações de incremento de profundi-
dade e largura de abrangência do termo, o que implica em aumento de
informação.
Uma operação que aumenta a amplitude de um termo, com ou sem
alteração de informação, pode ser denominada uma extensão do
mesmo. A palavra é empregada com mais frequência, especialmente
pelos matemáticos, para significar a aplicação de uma doutrina
(talvez com uma ligeira modificação) a uma nova esfera. Isso
implica em maiores informações. Ainda assim, o significado mais
amplo aqui proposto é permitido pelo uso. Da mesma maneira,
qualquer diminuição da largura pode ser chamada de restrição
(Peirce, 1974, p. 258-259, CP 2.427, 1893, tradução nossa).
Esta condução dos modos de variação é retomada mais tarde, mas nes-
ta sequência de parágrafos a preocupação lógica da relação entre profundi-
dade e abrangência está mantida desde os primeiros trabalhos na juventude.
Uma operação que aumenta a profundidade de um termo, com ou
sem alteração de informações, é conhecida como determinação. Os
livros geralmente dão abstração como o contrário da determinação;
mas isso é inadmissível. Eu proporia a palavra depleção (Peirce,
1974, p. 259-261, CP 2.428, 1893, tradução nossa).
É o bastante para os termos expressivos de aumentar e diminuir a
amplitude e profundidade lógicas, em geral. Para expressar uma
extensão por esgotamento e uma determinação por restrição, sem
alteração de informações, obviamente precisamos das palavras
generalização e especificação. Infelizmente, nenhuma das
palavras é tão usada. Por especificação, invariavelmente, significa
uma determinação por informações aumentadas.
Por generalização, às vezes se entende, é verdade, a extensão de uma
ideia por uma modificação considerável de sua profundidade; mas
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
453
ainda existe geralmente um aumento de informações. Ainda mais
frequentemente, a generalização significa um aumento formal de
profundidade, por uma ideia geral ser predicada de casos não antes
sintetizados; e pode ou não haver um aumento de largura. Por
fim, generalização, por abuso arbitrário de linguagem, costuma ser
usada para significar simplesmente uma indução. Parece necessário,
portanto, abandonar essas palavras para o presente objetivo e nos
contentar com ascensão e descida (Peirce, 1974, p. 261, CP 2.429,
1893, tradução nossa).
O conceito de abdução fará a transição entre a amplificação contida
na hipótese, por meio da indução pode chegar à precisão daquilo que foi
aventado. O elemento transitivo do pensamento que faz do adjetivo subs-
tantivo corporifica, dá substância à qualidade apresentando uma forma
enquanto determinação daquela especificação prevista.
Em 1901 o assunto é retomado. A passagem do geral para o particu-
lar, o uso dos signos e a reposição do pensamento por meio das categorias
fenomenológicas que levam a percepção à razão estão contidas nesta espe-
cificação das etapas pelas quais os termos variam.
A passagem do pensamento de um conceito mais amplo para um
mais estreito, sem mudança de informação e, consequentemente,
com aumento de profundidade, é chamada descendente; a passagem
reversa, ascendente Para vários propósitos, geralmente imaginamos
que nossas informações são menores do que são. Quando isso tem
o efeito de diminuir a amplitude de um termo sem aumentar sua
profundidade, a mudança é chamada de restrição; apenas quando,
por um aumento de informações reais, um termo ganha amplitude
sem perder profundidade, é dito que ele ganha extensão. Este é,
por exemplo, um efeito comum da indução. Nesse caso, o efeito
é chamado de generalização (Peirce, 1974, p. 212-214, CP 2.364,
1901, tradução nossa).
A preocupação de dar nome às etapas de verificação do aumento e
diminuição de amplitude e profundidade traz também a qualificação das
etapas metodológicas que aliam a pesquisa e o resultado. Aqui ele deixa
claro que a indução ao manter a profundidade e ampliar extensão é capaz
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
454
de comprovar verdadeiramente o fenômeno. O tratamento de fakenews,
por exemplo, falha na comprovação verdadeira porque a profundidade, a
checagem, não pode ser mantida. “Todo signo informativo então envolve
um fato, que é sua sintaxe” (Peirce, 1974, p. 184, CP 2.320, 1903).
Peirce segue a explicação:
Uma diminuição da suposta informação pode ter o efeito de diminuir
a profundidade de um termo sem aumentar sua informação. Isso
geralmente é chamado abstração; mas é muito melhor chamá-lo de
precisão; pois a palavra abstração é desejada como a designação de
um procedimento ainda mais importante, pelo qual um elemento
transitivo do pensamento se torna substantivo, como na mudança
gramatical de um adjetivo em um substantivo abstrato. Isso pode
ser chamado o principal mecanismo do pensamento matemático.
Quando um aumento de informações reais tem o efeito de
aumentar a profundidade de um termo sem diminuir a amplitude,
a palavra apropriada para o processo é amplificação (Peirce, 1974,
p. 212-214, CP 2.364, 1901, tradução nossa).
A investigação dos processos nos quais a abdução é motor, a passa-
gem da qualidade para o tratamento racional, incluindo elementos verifi-
cáveis para a comprovação da hipótese aventada. Aquilo que tem a vagueza
de uma suposição pode ser formalizada, incorporada e finalmente determi-
nada verdadeiramente.
Na linguagem comum, diz-se que não especificamos, em
vez de amplificar, quando adicionamos informações dessa
maneira. A operação lógica de formar uma hipótese costuma
ter esse efeito, que pode, nesse caso, ser chamado de suposição.
Aproximadamente qualquer aumento de profundidade pode ser
chamado de determinação (Peirce, 1974, p. 212-214, CP 2.364,
1901, tradução nossa).
Passar da generalidade para o caso particular inclui considerar as fa-
ses pelas quais objeto e interpretante são representados e por meio das
categorias retornam à significação.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
455
O processo evolutivo não é, portanto, uma mera evolução do
universo existente, mas um processo pelo qual as próprias formas
platônicas se tornaram ou estão se desenvolvendo (Peirce, 1974, p.
135, CP 6.194, 1898, tradução nossa).
De acordo com a capacidade de atribuição de formas na caracteri-
zação do objeto feita pelo signo, De Tienne (2005) nomeia cada etapa de
formação com relação ao signo gerador desta forma. “À relação de Objeto,
o artigo conferirá o nome de exformação; à de representamen, denomina-
rá transformação e à de interpretante, metaformação” (Silveira, 2008, p.
310). Resultante desta variação existe a conclusão que veicula o signo ao
seu ideal estético.
Dentro da semiose, existem três faixas de influências simultâneas,
todas elas se exercendo no nome da forma: primeiro, a influência
que emana do objeto – vamos chamá-lo de exformação; segundo,
a influência que emana do signo – apropriadamente chamada
transformação; e terceiro, a influência que emana do interpretante
- que poderíamos chamar de metaformação. A combinação dessas
três influências, sugiro, identifica informações em seu sentido
processual (De Tienne, 2005, p. 162).
A conformação de acordo com um ideal é prética, experimental, haja
vista a caracterização de “antiética” dada por Peirce a esta determinação de
alcançar o alvo escolhido.
Exformação, transformação, metaformação, são três dimensões
distintas, mas emaranhadas, que contribuem para o processo de
informação. A verdade é seu objetivo comum e cuida da forma
como sua preocupação comum. Essa preocupação não é meramente
lógica: é também ética, ou mais precisamente, “antiética” no
sentido de “antética” de Peirce em janeiro de 1906 - a teoria da
conformidade da ação com um ideal (EP 2: 377); no presente
contexto, é a teoria da deliberação semiótica: (parafraseando uma
linha da mesma página) implica que cada forma, ou cada forma
importante, é revisada pelo interpretante e que seu julgamento é
passado sobre a questão de saber se deseja que sua conduta futura
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
456
adote ou não essa forma e a repasse a outros interpretantes, para
maior benefício do ideal, a lei condicional que o continuum
compartilhado procura realizar (De Tienne, 2005, p. 164).
A caracterização de um nome importa para determinar a etapa desta
conceituação que é formalizada para então ser compartilhada, seja com o
próprio investigador, seja com a comunidade.
A atribuição de verdade, ou falsidade, a atribuição de predicação de
um sujeito representado em um estado de informação aparece novamente
em 1909 no texto intitulado “Sobre a definição ou análise do significado
(Silveira, 2008, p. 320 apud MS 644:2). O estado-de-coisas que impli-
ca no juízo contido sobre a asserção feita sobre o sujeito implica em um
estado de informação. Neste sentido, a atribuição de verdade confere ao
estado de informação também o caráter de estado de conhecimento. A
representação lógica implica no viés realista do pensamento peirceano. O
uso dos grafos existenciais enquanto representação formal deste desenrolar
do raciocínio que conduz pragmaticamente a investigação.
Em outras palavras, a produção de um efeito do Signo no intérprete
resulta da comunicação da forma incorporada no Objeto (como
uma regularidade), via Signo ao Interpretante. De acordo com
essa abordagem, a “informação” pode estar fortemente associada
aos conceitos de “significado” e “semiose” (Queiroz; El Hani,
2007, p. 292).
A informação transmitida do signo para o interpretante, informando
sobre o objeto, é sempre verdadeira para que a formação de um novo signo
aconteça. A atribuição de significado que determina a continuidade do
interpretante em um processo evolucionário, no entanto, implica no crité-
rio de verdade e no julgamento ético no processo de significação, usando
o bem que estético pode ou não ser obtido. Embora a informação ocorra
em duas etapas, ou duas maneiras no processo de significação, é o critério
de verdade que atribui ao processo obtenção do bem estético. Portanto, a
semiose oferece informação verdadeira atrelando a ação de mediação do
signo ao processo em busca da verdade, proporcionado pelo método prag-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
457
mático. Neste sentido, a antecipação dedutiva do processo que confere
significado pela ação informa.
A definição de informação peirceana resumida por Silveira (2009),
explica a forma dialógica do papel informacional do signo num processo
lógico:
[...] informação I = N log h, proposta, caso não esteja enganado,
por Shannon é muito posterior a Peirce e nada tem a ver com ele.
Informação para Peirce é o produto da profundidade (depth) x
extensão (breadth) de um conceito ou, mais em geral, de um termo.
Estado de informação é o quanto de um conceito pode-se conhecer.
Caso o multiplicando ou o multiplicador for zero, a informação é
nula. Caso a informação forneça a definição e somente a definição,
a informação é chamada informação essencial. Caso a informação
forneça todo o predicado que pertença existencialmente ao sujeito,
a informação será substancial. Os demais casos constituirão estados
de informação – maior ou menor informação do conceito ou termo
a quem a ele se atribuírem. O conceito de informação inserido no
contexto semiótico irá definir os signos dicentes os quais serão
compostos de, no mínimo, um signo icônico remático, que diz
o quê do objeto eu conheço, ou seja, a profundidade do conceito
ou do termo e um signo indicativo remático, que designa o sujeito
de atribuição do predicado – extensão do conceito ou do termo e,
finalmente, SINTAXE unindo os dois signos, produzindo então
um interpretante de existência e, portanto, o estado de informação
do conceito ou do termo. Esta é, em breves palavras, a resposta que
posso lhe dar (Silveira, 2009, p. 9-10).
A atribuição de significado sendo proposicional implica em trata-
mento lógico, e a qualificação dos signos referentes ao processo, no qual
necessidade e contingência articulam o processo dedutivo que confere re-
alidade àquilo que é existente, ocorrendo enquanto fenômeno individual-
mente. A conceituação ocorre nesta passagem de amplificação para deter-
minação de seu conteúdo proposicional
O tratamento do conceito segundo a máxima pragmatista permite
que se entenda o caráter evolucionário da quantidade dos conceitos,
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
458
pois, fazendo com que se transformem os estados de informação,
sua extensão e profundidade informadas tendem a se ampliar
ao longo do tempo. Tal desenvolvimento supõe uma intrínseca
indeterminação do conceito fazendo crescer sua generalidade sem
que com isto perca sua capacidade de vir a representar indivíduos,
desde que concebidos como exemplares particulares de fenômenos
gerais. Esta margem de indeterminação responsável pela capacidade
informativa do conceito o torna geral ao representar as classes
de fenômenos, permitindo-lhe, contudo, conservar a vagueza
necessária para denotar um indivíduo (Silveira, 2008, p. 300)4.
De acordo com Silveira, 1906 é um ano decisivo para o pensamento
de Peirce na determinação da semiose incorporando o critério de verdade,
uma vez que desde 1903 acontece o “[...] aperfeiçoamento tanto da ver-
tente fenomenológica, semiótica e ontológica de sua teoria, quanto de seus
estudos dos Grafos Existenciais” (Silveira, 2008, p. 307).
Quanto ao conceito de signo, a introdução do conceito de Forma
como o que do Objeto é transmitido, via Signo ou representamen,
à mente interpretante e o próprio conceito de mente, é decisiva
para aprofundar a compreensão da informação que, através dos
signos, nos é dada sobre o real (Silveira, 2008, p. 308).
A apresentação da forma enquanto interpretante coloca o signo, o
interpretante imediato, enquanto símbolo passível de reposição no proces-
so evolucionário que vai conferir novos significados à proposição aceita en-
quanto terceiridade, passível de reavaliação e novos processos de significação.
Nesta conceituação do processo de representação, a semiose genuína
se traduz numa mediação verdadeira, seja no conhecimento humano ou
em quaisquer outras mentes que tenham signo como mediação. Da com-
provação na secundidade pela efetividade da ação e reação a informação
corporificada pode ser representada. Aquilo que é então verdadeiro pode
ser representado:
Para maior entendimento da evolução lógica da informação contida nas proposições verificar o texto completo.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
459
A terceiridade não é senão o caráter de um objeto que incorpora
a intercessão ou a mediação em sua forma mais simples e mais
rudimentar; e eu o uso isto como o nome daquele elemento do
fenômeno que é predominante onde a Mediação é predominante,
e que atinge sua plenitude na Representação (Peirce, 1974, p. 68,
CP 5.104,1903, tradução nossa, grifo nosso).
A função do signo independente do substrato material ou da forma
é levar a informação, ou seja, desencadear a mediação que pode ou não se
tornar verdadeira, pode ou não ser falível. O fato de por alguma maneira
desencadear a relação considerada então informação, certamente será um
processo semiótico. A questão colocada por Peirce é que tudo aquilo que
chega ao nosso conhecimento passível de ser informação é realizado por
meio dos signos.
O Signo só pode representar o Objeto e contar sobre ele. [...] Sem
dúvida, haverá leitores que dirão que não podem compreender
isso. Eles acham que um Signo não precisa se relacionar com nada
que seja de outra forma conhecido [...] Mas, se houver algo que
transmita informação e, no entanto, não tem absolutamente
nenhuma relação ou referência a qualquer coisa com a qual a pessoa
a quem transmite a informação tenha, quando compreende essa
informação, o menor conhecimento, direto ou indireto – e um
tipo muito estranho de informação que seria – o veículo desse tipo
de informação não é, neste volume, chamado de Signo (Peirce,
1974, p. 137, CP 2.231, 1910, tradução nossa, grifo nosso).
A materialidade ou o critério de realidade e existência para haver
conhecimento na informação em sua continuidade explicada:
Naturalmente, suporemos que a existência é um estágio da evolução.
Presumivelmente, essa existência é apenas uma existência especial.
Não precisamos supor que toda forma precise que sua evolução
surja neste mundo, mas apenas que ela precisa entrar em alguma no
teatro de reações, do qual essa é uma delas. (Peirce, 1974, p. 135,
CP 6.195, 1898, tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
460
A relação entre ontologia e epistemologia é o plano de fundo destes
questionamentos. Dar forma, constituir existência é passar pela realida-
de e apresentar-se de alguma maneira. Existência e conhecimento desta
existência determinam a formação de significação. O objeto a partir das
qualidades informadas corporifica o interpretante enquanto representação.
A íntima relação entre a comunicação e as qualidades e a conformação do
objeto são o legado desta união entre mente e matéria, entre ontologia,
fenomenologia e epistemologia. A previsão antecipada pela hipótese tem
na realização da dedução a antecipação do desenrolar da experiência com-
provada na indução.
Realidade e existência acontecem simultaneamente na formação do
interpretante ao serem transmitidas pela materialidade, a ação e reação da
secundidade, a formação da representação na terceiridade. O propósito
conduz o processo, a ação mediante a expectativa norteia a ação produ-
zindo tanto aquilo que é esperado, tanto com abertura ao acaso. Então, a
reposição entre acaso e probabilidade norteiam o teatro da existência, no
teatro das reações”, naquele acontecimento particular.
A informação é um processo cumulativo conduzido por uma noção
do que precisa ser expresso “próximo” em vista de um objetivo
abrangente. Esse objetivo abrangente, por causa de sua natureza
simbólica, nunca é determinado, mas vago até certo ponto, e
geral, até certo ponto, e o que lhe dá poder célico é sua demanda
lógica – mas também natural – por determinação contínua ou
replicação”. Constata-se que proposições informativas são aquelas
que registram observações factuais de eventos ou fenômenos que
ocorrem, conscientemente ou não, antecipando possibilidades reais
futuras ou estados de coisas ou condições de ação ou conduta (De
Tienne, 2005, p. 158-159).
Considerando-se aquilo que está exposto, é possível determinar o
entendimento de informação enquanto um interpretante normal, que está
formalizado num hábito, analisado no seguinte argumento: Informação é
a passagem de realidade para existência. A checagem factual de manei-
ra científica permite a consideração verdadeira por meio da significa-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
461
ção em um procedimento lógico que pode, cientificamente, comprovar
a verdade demonstrada dedutivamente e indutivamente.
O realismo peirceano, ao longo do tempo, aprimora aquele
assumido por Duns Scotus. Mas é naquele autor que encontra as
distinções necessárias para iniciar a busca de seu fundamento. Na
distinção entre estar na mente, ou fora da mente (in re, como a
escolástica de Scotus se expressava) encontra-se a distinção entre o
universal e o singular. Ambos são completos em si mesmos, sendo
dois modos de ser no âmbito da realidade. A simples essência é
indeterminada quanto ao modo de ser daquilo que representa. No
confronto com a experiência, os seres são atuais: agem e reagem,
afirmam-se em sua insistência. São o que são em si próprios,
mantendo com os outros seres meras relações de alteridade e
confronto (Silveira, 2001, p. 106).
A investigação peirceana do método científico e especificamente a
lógica enquanto semiótica coloca o signo como mediador desta atribuição
de significado à um interpretante que pode estar na mente de um ser hu-
mano, assim como a formação dos vários interpretantes que ocorrem nos
processos informacionais que permeiam todo o universo.
Entender a relação da formação de interpretantes é a atribuição de
significado para uma mente que aprende com a experiência é o legado
peirceano da concepção de pragmatismo.
A generalidade do signo exigia que o mesmo se inserisse em um
quadro existencial através de indicadores dessa mesma existência,
cuja sintaxe, contudo, somente o experimento do intérprete
efetuaria, singularizando o objeto referido, como bem aponta o
texto de Tiercelin. Existir, fica desse modo muito claro, é um modo
de ser irredutível à generalização e só é alcançado quando a ele o
signo se refere apontando um sujeito, pela concreção da réplica
perceptível e igualmente singular do signo, a se perfazer no ato
perceptivo do intérprete (Silveira, 2003, p. 86).
A função do interpretante como sintetizador ou coordenador de sen-
tido e referência tem o resultado denominado por Peirce de informação
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
462
de coordenação, ou grandeza do interpretante. Na visão de Liszka (1993)
este uso da palavra “informação” esconde uma ambiguidade. O que será
mostrado a seguir é que esta ambiguidade não significa imprecisão, mas
indeterminação.
A relação de formação do interpretante por um lado é dada na es-
truturação da relação entre o signo e objeto, conferindo àquilo que está in-
diferenciado enquanto possibilidade uma forma que possibilita mediação.
Esta organização “in-forma” ancora o signo a algo que não é ele mesmo,
liga a um objeto formando um sistema que está na reação entre ambos,
signo e objeto e neste caso o objeto imediato, se apresentam na formação
do interpretante imediato (Liszka 1993).
Por outro lado, o feito criado por pela coordenação entre signo o ob-
jeto cria uma mensagem, que é a informação na concepção do senso co-
mum, que transmite informação para uma “agência de interpretação”. Esta
transmissão ocorre nos mais variados meios ou substratos físicos. Seja uma
mudança físico-química como uma sinapse, ou a fotossíntese em uma nova
forma orgânica, ou na relação entre ideias que forma ou altera um conceito.
De acordo com Liszka (1993) esta reorganização de forma àquilo
que o signo se refere é o objeto imediato, que dentro de um sistema inten-
cional como uma causa que recodifica este objeto, ele se apresenta enquan-
to objeto dinâmico, apto à estruturação de um interpretante dinâmico.
A determinação, a direção da ação depende da ética, que direciona
ao bem estético a ser alcançado, e isto está relacionado à condução de sig-
nificação que a formação do interpretante percorre durante a semiose. Se
o signo ligasse o objeto ao significado sem as possibilidades de mediação,
apenas com relação diádica como aquele que liga o objeto ao referente, não
existiria um processo evolucionário. A verdadeira relação triádica, na qual
existe um signo que genuinamente procede à mediação é capaz de produzir
e conduzir informação.
A ambiguidade na referência de Liska está nesta passagem da repre-
sentação que o signo triádico genuíno faz entre signo e objeto. Por um lado,
está ligado ao objeto existente e por outro ao real que está em processo de
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
463
produção. A definição daquele que é imediato diferenciado do dinâmico é
apenas uma fase de análise, uma vez que o encadeamento é contínuo.
E a própria existência se constitui em potencialidades que interagem
e que, assim, por poucos instantes, negam tudo que não são elas,
tendendo a se agruparem por semelhança e, com isso, deixarem
na sombra um imenso e ilimitado universo de qualidades que,
não vindo à existência, nem por isso deixam de ser no âmago do
infinito mundo das ideias (Silveira, 2006, p. 305).
A forma resultante do processo é o processo em si mesmo, na qual
a organização da matéria, ou auto-organização no processo no qual as in-
finitas possibilidades de qualidade da matéria são conformadas naquela
específica que informam o processo a partir daquilo que foi criado, apre-
sentado enquanto corporificação do processo informacional (Fleissner;
Hofkirchner, 1995).
Informação é algo que entra em jogo com a auto-organização.
Onde a relação determinística entre causa e efeito é interrompida,
onde a atividade intrínseca de um sistema é interposta e a causa se
torna apenas o gatilho para processos no sistema que produzem
um efeito, onde o sistema faz uma escolha se torna possível o
real, uma escolha irredutível a informações emergentes (Fleissner;
Hofkirchner, 1995, p. 130).
Nesta definição, o conceito de semiose e a capacidade informacional
de apresentação de uma forma como resultante desta relação e auto-orga-
nização são coincidentes. Como já foi colocado anteriormente neste tra-
balhoo comportamento de um sistema, cujo desenrolar apresenta a forma
enquanto novidade, informando por ela o percurso é visto na biologia
especialmente na autopoiese, na organização de sistemas dinâmicos, de
sistemas sociais, em suma no relacionamento entre componentes físicos e
informacionais.
A lei do hábito, cuja tendência é o crescimento da indeterminação
para a determinação, da diferença para a homogeneidade, naquilo que
Peirce chama de “heterogeneidade organizada” (Peirce, 1974, p. 78-81,
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
464
CP 6.100, 1892) está muito próxima desta definição de constituição de
uma auto-organização, constituindo a dinâmica formal por meio dos rela-
cionamentos informacionais.
A semiótica então oferece meios lógicos para rastrear este desenrolar
de significação associando os estágios nos quais a forma pode ser determi-
nada pela sua atuação enquanto processo.
Acreditamos que a informação não está apenas na materialidade do
objeto concebido enquanto veículo, ou seja: sua forma, nem tampouco na
ideia que possa ser particular ao usuário desta informação naquele momen-
to. Acreditamos que a informação está na relação resultante deste enfoque
momentâneo advindo da matéria, que ao ser direcionado para um enten-
dimento ou atividades específicas gera uma atuação, possível de alteração e
novo entendimento em uma nova abordagem futura; tendo ou não repe-
tição da atuação advinda deste conjunto de relações. O método pragmáti-
co peirceano relaciona este entendimento de maneira lógica, validando o
método científico de conhecimento.
A distinção entre a formação do interpretante e o efeito causado pelo
interpretante em um intérprete deve sempre ser lembrado. O signo trans-
mite informação sobre seu objeto mediando à ocorrência do interpretante,
que então eticamente pode ser validado. Ser uma proposição verdadeira
pode ser trazido por uma informação verdadeira num interpretante que
não está condizente com a realidade. Se eu digo que está chovendo e faz
sol, embora haja um processo informacional, não está traduzido em co-
nhecimento verdadeiro. A proposição pode ser verdadeira, mas não para
aquela circunstância específica a qual foi feita a referência.
O símbolo, signo de terceiridade, representado por regra geral é ca-
paz de repor no caso particular sua competência corrente. A informação
incorporada por ele implica além do conjunto de proposições o julgamen-
to de verdade e falsidade propostos. Cabe ao caso particular a comprovação
da existência com a verdade aferida, na ação das consequências práticas da
transposição do conceito cabível enquanto regera para o caso em curso.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
465
Comungar de uma Forma é penetrar no circuito de uma ética e
assumir para si um objeto por outro anteriormente interpretado
com um bem e um acréscimo de perfeição. Não se pretenderá dizer
que a Forma substitui o Objeto como o bem a ser alcançado ou
que o pensamento substituirá a conduta e a atuação do Sujeito
no mundo. A forma substitui o Objeto enquanto Meio e não
enquanto fim. Substituí-lo assim é substituí-lo para uma mente
que a interprete e que instigue a vontade a perseguir o que deseja
(Silveira, 2001, p. 90).
A conversação, mesmo que seja argumentativa, implica em manter
aberto o diálogo oferecido a novos interpretantes por meio da forma. Ela é
a materialização deste processo de democratização do conhecimento, com-
partilhado e passível de novas aceitações formais.
Esta pesquisa traz a concepção de signo de Peirce. Embora não sendo
um conceito novo, o signo tratado por Peirce na Semiótica, considerada
enquanto um novo nome para a lógica, traz dedução e indução na sua
fundamentação científica. O pragmatismo peirceano, base para todos os
subsequentes não define a ação enquanto a parte prática de um objetivo
idealizado anteriormente.
Uma organização consiste numa representação formada por signos,
da qual se vale um ator, natural ou artificial, para processar um sistema
(Jorna, 2009). Este sistema consiste nas mais variadas modalidades de re-
presentação quais sejam estruturas simbólicas, esquemas, diagramas, ima-
gens e principalmente a escrita. Organizar o conhecimento passa pela se-
leção da informação a ser direcionada para um grupo para o qual pode ser
destinado aquele recorte informacional com conteúdo para aprendizagem.
A ação teologicamente orientada é um dos argumentos mais usados
para a justificativa da ação dos seres vivos, e dela se valem as versões de se-
miose de Sebeok (1981, 1994), Von Uexkül (1864-1944); e pragmatismo
de William James (1842-1910), John Dewey (1859-1952), e Dretske (1981;
1992); e na Ciência da Informação Hjørland (1995, 2002a, 2002b, 2003,
2004, 2005, 2007a 2007b, 2017) quando relaciona informação e ação.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
466
A visão peirceana de conceito está ligada a representação de um pro-
cesso semiótico, feita por meio de um diagrama que incorpora o processo
lógico de significação, que está demonstrado cientificamente ser verdadeiro.
Haveria uma irredimível ilusão racionalista no ideal comunitário
e social alimentado por Peirce, não fosse a concepção
fundamentalmente universalizante que Peirce tem do que pode
ser considerado uma inteligência “científica”. Basta que um
ser, em qualquer instância, seja capaz de aprender com base na
experiência e ele já é, de pleno direito, considerado por Peirce uma
inteligência científica. Portanto, no universo em que cabe falar-se
de aprendizagem e evolução nada está excluído dessa Categoria.
Por outro lado, a busca da Verdade como summum bonum, jamais
reduzirá a ciência a um quadro abstrato representacional, mas em
hábitos profundamente éticos e sensíveis de conduta. A busca da
Verdade será em sua maior distinção, nada mais do que o amor
irrestrito pelo bem, da parte de seres dotados de razão (Cf. CP
1.606-615) (Silveira, 2001, p. 108).
A formação de interpretantes e a possibilidade de representação de-
corrente de uma relação triádica genuína verdadeira, implica na relação
entre informação e conhecimento, de maneira a constituir um processo no
qual a evolução da relação dá margem a esta delimitação. Mais importante
do que o substrato físico e conteúdo informacional separadamente, ou
enquanto termos distintos, podemos por meio do pragmatismo peirceano
estabelecer a conexão entre eles e perceber a evolução do processo em busca
do conhecimento.
Estabelecer critérios de significação que atuem na organização da in-
formação, assim como na organização do conhecimento implica, mais do
que oferecer uma metodologia de aplicação prática para classificação, em
oferecer bases epistemológicas para a evolução do conhecimento a partir
da informação constituída.
O estudo da semiótica peirceana para compreender a linguagem den-
tro da Ciência da Informação traz consigo as possibilidades de expansão do
conhecimento que estão além da linguística para a concepção de informa-
ção. O conhecimento cada vez mais dispõe de linguagens proporcionadas
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
467
pela tecnologia que não estão restritos à documentação escrita. Assim, na
linguagem escrita existe concordância de que a linguística é essencial, mas
outras modalidades de comunicação que são também linguagem merecem
atenção e entendimento no processo consistente de significação. O tra-
tamento lógico dado à articulação linguística em momento algum exclui
a semiótica peirceana, ao contrário, o princípio lógico da semiótica está
baseado nas possibilidades secularmente conhecidas.
A reação entre o processo de significação e ação do usuário não tem
o enfoque da pragmática proposta pela linguística que resume a atuação do
sujeito, usuário da linguagem, a um ator do entendimento tido na sintaxe
daquilo escrito e estipulado enquanto conhecimento. A relação de forma-
ção de significação e ação tem aspectos mais abrangentes do que a ação que
busca realizar uma tarefa.
Para Peirce informação é a ação do signo no processo de semiose. A
informação está na secundidade, na ação do signo que transmite a possibli-
dade qualitativa do objeto para a generalidade simbolizada em terceiridade
do interpretante. Esta conformação mediada pelo signo, conferindo alte-
ridade à qualidade corporificada na representação, passível de nova intera-
ção, determina a novidade e também a conformação ao hábito.
A ação do signo e ação humana, criando inteligibilidade na repre-
sentação executada, pode-se afirmar, está na mediação, por meio da ação
das potencialidades perceptivas em primeiridade para a generalização da
representação comunicada. A informação implica em comunicação. É um
processo no qual novo signo é formado. O signo tem no elemento percep-
tivo de seu objeto a conformação física necessária, dependo da significação,
para que a representação aconteça. Arte e ciência têm maneiras diferentes
de apresentação formal, porém ambas trabalham com interpretante emo-
cional e lógico. O resultado obtido na representação científica deve conter
o critério de verdade, comprovado pela indução. A dedução baseada na
sequência argumentativa oferece antecipação daquilo que deve ser consta-
tado na ação do signo a ser verificado, constatado pela experiência.
O processo lógico de formação do signo, para uma mente que apren-
de com a experiência, mesmo não sendo exclusividade do ser humano, tem
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
468
na racionalidade humana a representação nos vários símbolos, gráficos,
artefatos que indicam a partir de sua forma o caminho percorrido para in
formar, e assim oferecer novo signo passível de interação.
O Método Pragmático confirma a ação do sujeito que aprende com
a experiência promovendo a ação dos signos em uma representação capaz
de ser compartilhada com a comunidade, assim, a incorporação da racio-
nalidade, conhecimento adquirido pode ser divulgado em uma significa-
ção formalizada, usando a simbologia mais adequada para a comunidade
a qual se destina a apresentação desta forma de conhecimento adquirida.
Não é possível falar do Método Pragmático sem falar da informação conti-
da na semiose. A formação do signo e a ação do sujeito valendo-se da ética
e estética, dão às Ciências Normativas o instrumental para reconhecimen-
to dos diversos modos de representação desta ação do signo e agente, numa
ação de contínua aquisição de racionalidade.
A documentação científica pode informar no ato dos signos conti-
dos sob sua custódia formarem novos signos, a partir da ação da interação
de outros sujeitos com este conteúdo informacional. A informação acon-
tece na semiose, no interpretante que tem novos sujeitos como agentes e
difusores das novas representações advindas de cada nova interação, na
evolução do signo na aquisição de conhecimento, na razoabilidade que
tende ao interpretante final.
A deliberação da atuação do campo da Ciência da Informação passa
pelo entendimento daquilo que é a informação propriamente dita. O pro-
cesso evolucionário de apresentação de novas formas do signo representado
coincide com a adequação de novidade e individualidade do pensamento
moderno. A diversidade de apresentação contida nesta variedade de novos
interpretantes torna a custódia da informação verdadeira dependente da
velocidade da web para divulgação de informação científica. Neste sentido,
a delimitação do processo informacional medido em profundidade e am-
plitude tem nos algoritmos que movimentam a web condição de localizar
precisamente ou por probabilidade a delimitação daquilo que deve ser o
objeto estético de cada informação a ser alcançada. A custódia do conteúdo
informacional tem no século XXI a delimitação entre o substrato físico
e articulação da semiose em novos interpretantes, outras modalidades de
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
469
custódia da documentação. A visão peirceana de aquisição de conheci-
mento na Semiótica, adequando o procedimento Ético ao bem Estético
a ser alcançado tem a versatilidade necessária para análise da formação
dos processos de significação. Desta maneira, a informação na Ciência da
Informação pode ser tratada de maneira científica nos âmbitos nos quais a
sociedade se vale daquilo que é veiculado informacionalmente.
6.4 O pRaGMaTisMO peiRceanO na
ORGaniZaÇÃO DO cOnHeciMenTO
Para recuperação da informação, um princípio fundamental na
Organização do Conhecimento, é como as coisas correlatas devem ser reu-
nidas, enquanto coisas diferentes devem estar separadas (Hjørland, 2003,
p. 103). O que pode ser ou não considerado parecido? O conceito de
similaridade, equivalência” (Hjørland, 2003, p. 103) quando visto pela
semiose peirceana, em um processo evolucionário, tem uma análise apura-
da dos modos pelos quais esta transição entre a produção do conhecimento
por um autor um documento, indexação e continuidade dos assuntos em
outra produção científica possuem um encadeamento lógico. Mais do que
a capacidade de dar nome aos signos em cada etapa identificada do proces-
so, o entendimento da continuidade e abertura a novas bases significantes,
faz do processo evolucionário a viabilidade de significação e análise.
É de grande importância realizar um padrão para especialistas em
determinado campo (Hjørland, 2003), então métodos quantitativos e
qualitativos estabelecem a frequência de palavras comparadas à interpreta-
ção de significado para esta delimitação.
A capacidade de quantificação para atribuição de relevância nas bases
de dados que podem ser mapeada por algoritmos estimula a determinação
de direcionamentos de busca, portanto de conduta, que não estão fora dos
interesses dos usuários detentores destes meios de acesso às informações.
Seja em um trabalho individual do profissional da informação, seja na jun-
ção de grandes quantidades de dados relacionados por algoritmos, o objeti-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
470
vo conduz as etapas de ação que direcionam o processo. Esta determinação
de conduta e consequente significação mapeiam aquilo que resulta num
processo de significação, tenha ou não sido alcançado o objetivo proposto.
Estruturas e quantidades de informação influenciam pessoas que
não estão apenas na academia ou meios científicos, que tem experiências
qualitativas diferenciadas com a difusão e massificação de participação de
usuários indistintos no big data. São “[...] dados dos milhões de informa-
ções emitidas por pessoas, coisas, robôs e dispositivos não podem mais ser
gerenciadas por humanos, mas sim por algoritmos, softwares e inteligência
artificial” (Santaella, 2018, p. 22). Dados quantitativos nestas circunstân-
cias carecem de atenção qualitativa, uma vez que a determinação de con-
duta, o direcionamento do volume de informações, tem condicionamentos
éticos que merecem pesquisa e posicionamento da pretensão de organizar a
informação e conhecimento.
Estabelecer uma base positivista para a organização da informação e
conhecimento é estar adequando uma obsolescência sempre em progresso,
como estão sempre em mudança e transformação os meios de comunica-
ção agilizados pelas redes computacionais.
Na análise de domínio, estamos menos inclinados a falar sobre
modelos mentais e mais inclinados a falar sobre o conhecimento,
(pré) compreensão, teorias, paradigmas e epistemologias. Nós
vemos principalmente o ser humano individual como influenciado
por diferentes teorias, epistemologias e paradigmas, que muitas vezes
são parcialmente inconscientes ou negligenciadas pelo indivíduo.
(Hjørland, 2002a, p. 262, grifo nosso).
A determinação destas bases epistemológicas, segundo critérios de
relevância que norteiem a compreensão e consequentemente a indexação
são fundamentais para a Ciência da Informação (Hjørland, 2000, p. 262).
Foi visto no Capitulo 2 que são Empiricismo, Racionalismo, Historicismo
e Pragmatismo, na visão de Hjørland que resumem os paradigmas atuantes
na Ciência da Informação. A consideração do empiricismo dá um enten-
dimento que parece ser apenas objetivo ao documento; o racionalismo
apresenta ao contrário, um raciocínio baseado na dedução, processado sem
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
471
a necessária relação com a existência material. O historicismo pressupõe a
revisão daquilo que é existente, não é possível que seja deslocado do con-
texto social sem perda de qualidade para ser reapresentado. E finalmente
o Pragmatismo que parece incluir o pesquisador no contexto da pesqui-
sa, mas não oferece um critério científico neste estudo, uma vez que não
oferece uma informação neutra. Esta visão de pragmatismo ligada à lin-
guagem pragmática não está sustentada quando tratamos de um processo
de significação mais amplo como aquele que é contemplado pelo método
peirceano.
A ação associada ao conhecimento é o ponto em comum nas abor-
dagens, porém o arcabouço lógico científico, que engloba tanto o método
científico quanto a evolução do conhecimento é o ponto a ser destacado.
6.4.1 seMiÓTica na inDexaÇÃO
A descrição do assunto em linguagem de indexação implica na cria-
ção de um diagrama, um signo que representa, indica da maneira mais
fidedigna possível o conteúdo do documento.
A identificação desta representação como um processo de signifi-
cação, como a criação de um signo que está no lugar de seu objeto é uma
decorrência argumentativa com adequação e convergência de resulta-
dos. “O conceito enquanto signo refere-se a um fundamento” (Almeida,
2012a, p. 51). O signo é capaz de fazer referência a seu objeto por algum
aspecto em comum, característico daquele interpretante normal, naquela
etapa do processo.
O conceito é um produto da convenção e da formação de hábitos,
mais do que resultado de simples qualidades, mesmo que estas
caracterizem e individualizem o conceito em uma rede de conceitos.
Sendo assim, o conceito é um símbolo, resultante da união entre
signo e objeto, ou da segunda tricotomia, que estabelece também o
ícone e o índice (Almeida, 2012a, p. 51).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
472
A concepção peirceana de uma semiose ilimitada, no processo evolu-
cionário de formação de interpretantes aparece na conclusão da formação de
uma “semiose ilimitada” associada à indexação de assunto (Mai, 1997, p. 57).
Figura 10 - Semiose ilimitada na indexação de assunto
Fonte: Mai, 1997, p. 58.
O objeto de análise é diferenciado em cada passo, indicando a capa-
cidade de criação de novos signos em cada uma das etapas de indexação e
existe um trabalho cuidadoso de taxonomia da identificação e designação
de cada tipo de signo em cada etapa do processo. Entender a capacidade de
que o indexador abra possibilidade de interpretantes para os próximos usu-
ários na delimitação dos termos usados é essencial tanto para os critérios de
determinação de recuperação quanto para abertura a novos conhecimentos
em processos abdutivos decorrentes destes acessos.
O trabalho de indexação, de entrada de assunto, depende de aná-
lise do documento que tem um grau de interferência do profissional de
informação. “As classificações são geralmente definidas como a organiza-
ção de documentos de acordo com a semelhança” (Mai, 2000b, p. 23).
Considerando-se ainda, segundo o autor, que a semelhança não é um
fator estável, mas de caráter dinâmico, pode-se afirmar a partir destas
constatações de Mai que os processos abdutivos são os motores desta
semelhança que relaciona a classificação, seja em uma sequência, seja em
um domínio que oferece maior liberdade para que o processo ocorra de
maneira dinâmica.
A formação de novos interpretantes tem inerente a eles o processo
criativo, sejam esses interpretantes lógicos passíveis de análise científica,
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
473
ou emocionais, quando ouvimos uma música, por exemplo, ou aquele
interpretante energético que move o artista a executar sua obra de arte,
usando diversos meios para isto. “Para Peirce, todas as formas de criati-
vidade, científicas, artísticas e que usamos em nossa vida cotidiana, têm
como fundamento a ideia de crescimento” (Barrena, 2003, p. 56). A con-
tinuidade da significação tem nos processos de semiose abertura a novos
e diversificados caminhos de desenvolvimento, em formas que repõe a
regra em um caso específico e também naquelas em que a variação deriva
para a diversificação.
Uma vez que a interpretação do documento envolve a determina-
ção do assunto, “[...] a semelhança é um conceito intimamente relaciona-
do com a pragmática da linguagem usado em um dado domínio” (Mai,
2000b, p. 27). Mais uma vez cumpre esclarecer que o uso da linguagem
pragmática” não implica no uso da metodologia peirceana. Deixar claro
que as derivações de classificação têm um caráter de análise e a consequen-
te determinação dos nomes destas etapas do processo não inclue apenas a
ação que leva ao cumprimento da tarefa. A articulação dos signos, dentro
do processo pragmático, inclui a ética e a estética aliadas ao processo lógico.
Para a concepção lógica do processo de indexação, foi feita a ca-
tegorização segundo as 10 classes de signos, que demonstra a aplicação
da semiótica na identificação e aplicação pratica na indexação por assun-
to (Mai, 1997, p. 61). Os elementos e etapas são descritos nos trabalhos
nos quais adapta o modelo de indexação de Francis Miksa (1983) para o
encadeamento inferencial de indexação. Do modelo em que as partes de
análise, assunto e entrada de assunto são unidades separadas, Mai introduz
a explicação de um procedimento abdutivo exemplificando cada nova pos-
sibilidade de entrada de assunto que se desdobra em formação possível de
interpretantes. Este processo está fundado na Gramática Especulativa, cuja
função é classificar os signos e determinar os elementos da semiose.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
474
Figura 11 - Diagramas comparativos para as etapas de entrada de assunto
Fonte: Mai, 2000a.
Este trabalho é importante porque diferencia o conceito de semiose
específica de Peirce e dá os instrumentais lógicos para o entendimento da
semiose que extrapola o processo de indexação e proporciona novos inter-
pretantes em outros níveis que incluem o usuário, incorporam a percepção
no ambiente do usuário daquele signo, em um processo que pode ser via-
bilizado de acordo com cada mudança neste ambiente.
A análise das partes componentes do processo de indexação é feita
com uma abordagem operacional que desconstrói as etapas para prescrever
como indexar. A tarefa de determinar o assunto implica em atribuição de
significação que direciona o processo de recuperação do conteúdo do do-
cumento escrito. A representação do documento enquanto “[...] uma abor-
dagem mais holística e operacional” (Mai, 2000a, p. 270) procura enten-
der a percepção subjacente e interpretativa para uma “teoria de indexação
(Mai, 2000a, p. 271). Cada ambiente no qual um profissional da infor-
mação está inserido influencia este contexto de apreciação do documento,
fazendo da análise, por mais objetiva e atrelada ao documento que deva ser
executada, uma tarefa com características que incluem a perspectiva deste
profissional. Este profissional da informação pode ser considerado o pri-
meiro usuário do documento quando realiza a classificação, oferecendo o
signo que será trabalhado em uma série de outros nas futuras recuperações
do documento.
O reconhecimento das diferenças de capacidade de abordagem pro-
fissional entre novatos e indexadores experientes já indica que a subjetivi-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
475
dade na percepção do assunto necessita de parâmetros que são desenvol-
vidos por meio de técnicas de reconhecimento indutivo daquilo que deve
ser representado (Mai, 2000). Os resultados mais bem aceitos dependem
da abordagem do profissional que é capaz de oferecer um produto mais
adequado ao público-alvo. Este trabalho é resultante da conduta do profis-
sional nas etapas subsequentes da tarefa de indexação.
É importante lembrar que a abertura do processo a novos interpre-
tantes quando centrados no assunto, enquanto um foco a ser estabelecido,
reduz a possibilidade de informação (Almeida; Guimarães, 2008). Quanto
mais direcionada a representação ao seu objeto, quanto mais coincidente o
signo a ele mesmo, menos abertura a novos signos que possam ser interpre-
tantes daquela regra simbolizada. Estes casos particulares se tornam meras
repetições da regra, sem a criatividade e novidade característica da evolução
num semiose genuína.
Figura 12 - O processo de indexação por assunto
Fonte: Mai, 2000a , p. 279.
Quando observamos o diagrama acima é possível constatar que cada
etapa de aferição do assunto depende da interpretação do profissional que
fará esta representação enquanto a sua consideração de mais adequada pos-
sível àquilo que ele deve indicar. Cada novo signo criado tem um processo
abdutivo que na conferência com o documento faz sua prova indutiva de
probabilidade de veracidade para recuperação da informação.
A primeira consequência epistemológica é aceitar que a
interpretação é um fenômeno presente em todas as etapas por que
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
476
passa o documento e não um instante determinado dedicado a
isto. O mesmo podemos afirmar dos processos da organização que
supõem representação. Interpretação tanto como representação são
fenômenos de Terceiridade (Almeida; Guimarães, 2008, p. 15).
A partir das quatro posições epistemológicas feitas Hjørland
(1995) para organização do conhecimento, quais sejam empiricismo, ra-
cionalismo, historicismo e pragmatismo, são descritas as cinco definições
de indexação e suas abordagens: primeiro a Concepção simplista; em
segundo a Concepção documento orientada é aquela que investiga partes
do documento; em terceiro a Concepção conteúdo orientada, investiga
as circunstâncias histórico-culturais que determinam o assunto do docu-
mento (Mai, 2000a).
A quarta Concepção usuário orientada (Mai, 2000a) é aquela que
foca o nível de conhecimento geral do usuário, no trabalho do usuário ou
pesquisa de domínio. Focada no potencial futuro de uso do de um grupo
em um domínio. O assunto não pode ser abordado objetivamente por-
que ele muda com as mudanças de uso do grupo. Os interesses e tarefas
mudam tanto quanto o domínio e neste caso o enfoque de determinação
ética da conduta dado pelo pragmatismo é o ponto de convergência entre
as abordagens.
A quinta é a Concepção necessidade orientada. Focada na tarefa e in-
formação específicas para um usuário individual, portanto uma variação ou
subcategoria da abordagem anterior. A continuidade entre os processos sa-
lientada pelo autor reforça a concepção pragmatista da inclusão de formação
de interpretantes no continnum, em que o processo de aprendizagem segue
evolucionário. Esta continuidade indica o uso do pragmatismo peirceano no
processo de semiose que leva a formação de novos signos adiante.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
477
Quadro 7 - Concepção de análise de assunto e indexação
Fonte: Mai, 2000a, p. 282.
Esta separação entre o foco, dado ao assunto pelo profissional da
informação, estar no documento ou estar direcionada ao futuro usuário,
tem na continuidade entre a operação de novos interpretantes um cami-
nho para a abertura de entendimento potencial do documento. A concep-
ção que busca os possíveis requisitos do usuário tem também um grau de
subjetividade que não pode ser desvinculado do conteúdo do documento.
A capacidade de compreender as possibilidades dentro do processo de sig-
nificação, de compreensão da informação contida na semiose, oferece ao
profissional maneiras de abdutivamente, dentro de um processo científico,
conciliar as melhores capacidades de recuperação nos diversos contextos
nos quais devem estar inseridos os próximos usuários. Estes novos aces-
sos, construindo novos processos abdutivos, levam a informação, por meio
da semiose aos próximos interpretantes, representados no documento en-
quanto forma de expansão do conhecimento.
A leitura e interpretação do documento para a entrada de assunto
é a primeira formação de interpretantes dependentes de um contexto. “A
indexação não é uma representação neutra e objetiva do assunto de um
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
478
documento, mas a representação de uma interpretação de um documento
para uso futuro” (Mai, 2001, p. 591). Assim, devido à natureza do proces-
so, um resultado previsível não pode ser esperado (Mai, 2001). O primeiro
passo consiste no exame do documento a ser trabalhado; é a identificação
do assunto no processo de análise do documento a partir de seu título,
resumo e demais elementos. O segundo passo chamado processo de descri-
ção do assunto “[...] consiste no ato de tentar criar uma formulação coesa
do assunto do documento na linguagem” (Mai, 2001, p. 594). O processo
criativo que implica em transformar a representação do conteúdo em uma
linguagem que comunique este teor, com a maior veracidade possível, im-
plica em um processo de significação a ser estudado pela semiótica peirce-
ana com possibilidades científicas de determinação do processo.
Uma vez que os signos utilizados são passíveis de análise lógica ou se-
miótica e o encadeamento lógico da articulação destes signos está previsto
dentro de uma a sequência argumentativa passível de dedução e indução,
o resultado sendo então demonstrado verdadeiro, conclui uma etapa do
processo demonstrando a veracidade da significação que apresenta junto
com o resultado o transcurso probatório desta conclusão verdadeira. Esta
criação coesa do conteúdo do documento” (Mai, 2001, p. 591) é a mesma
que o usuário busca ao acessar o conteúdo, para então, ele mesmo formar
seu processo interpretante a partir do conteúdo observado. O terceiro pas-
so é um produto da etapa anterior, assim a descrição de assunto será repre-
sentada em um diagrama que significa o documento para recuperação. O
quarto passo é este diagrama, esta forma de representação incluída em um
sistema de busca (Mai, 2001).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
479
Figura 13 - Modelo semiótico de indexação
Fonte: Mai, 2001, p. 604.
O processo é iniciado por um signo, o documento (representado
pelo triângulo M). Após executar a primeira etapa do processo (análise do
documento), o indexador desenvolve um novo signo, o assunto (triangulo
N). Na etapa seguinte, o processo de descrição do assunto, quando o as-
sunto que estava na mente do indexador se torna algo mais palpável, um
novo signo em ação ocorre, resultando em novo signo, a descrição do signo
(triângulo O). Após executar a análise de assunto, a descrição do assunto
é transformada numa linguagem de indexação, dado origem a um novo
signo, a entrada de assunto (triângulo P).
A pesquisa de Mai segue num estudo dos critérios de relevância entre
a representação e uso futuro. Mais do que regras de indexação é necessário
pesquisar como indexar. A representação e recuperação devem ser vistos
como etapas de um mesmo processo. O processo é iniciado por um signo,
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
480
o documento (representado pelo triângulo M). Após executar a primeira
etapa do processo (análise do documento), o indexador desenvolve um
novo signo, o assunto (triângulo N). Na etapa seguinte, o processo de
descrição do assunto, quando o assunto que estava na mente do indexador
se torna algo mais palpável, um novo signo em ação ocorre, resultando em
novo signo, a descrição do signo (triângulo O). Após executar a análise de
assunto, a descrição do assunto é transformada numa linguagem de inde-
xação, dando origem a um novo signo, a entrada de assunto (triângulo P).
Esta descrição de etapas implica em processos de significação que
acontecem em cada possibilidade de representação feita pelo profissional
responsável pela organização do conhecimento no processo de indexação.
O trabalho apresenta perspectivas diversas dependendo do contexto no
qual está inserido. Este contexto que gera representações formalizadas de
maneira diferentes está diretamente relacionado ao ambiente onde esta
representação pode traduzir o processo de significação em um diagrama
representado em uma forma que deriva da abordagem feita ao documento.
Esta abordagem de indexação pode visar o uso futuro a ser desempenhado
pela variação de interesses de cada usuário.
O domínio para ser caracterizado enquanto alternativa para o mé-
todo individualista de aprendizagem reconhece que o conhecimento in-
dividual e estruturas de domínio interagem entre si e existe também uma
interação entre os níveis individuais e sociais, em um desenvolvimento
transdisciplinar que englobe pesquisas educacionais dentre as várias disci-
plinas elencadas para aquele domínio (Hjørland, 1995).
A abordagem de indexação centrada no domínio adota uma
abordagem diferente à indexação do que a abordagem centralizada
em documentos; a abordagem centrada no domínio toma o domínio
como o ponto focal da análise. A indexação domínio-centrada
começa com uma análise do domínio e, em seguida, avança para
analisar as necessidades dos usuários, determinar as perspectivas e
os papéis dos indexadores e, finalmente, analisar o documento no
contexto do domínio e das necessidades dos usuários (Mai, 2005,
p. 608).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
481
A concepção usuário orientada para indexação examina o nível de
conhecimento geral do usuário, no trabalho do usuário ou pesquisa de do-
mínio. Focada no potencial futuro de uso de um grupo em um domínio.
O assunto não pode ser abordado objetivamente porque ele muda com
as mudanças de uso do grupo. Os interesses e tarefas mudam tanto quan-
to o domínio nesta consideração de pragmatismo do autor. A concepção
necessidade orientada está focada na tarefa e informação específicas para
um usuário individual, sendo, portanto, uma variação ou subcategoria da
abordagem anterior. Não são concepções isoladas, mas relacionadas no
processo evolucionário, que inclui a continuidade entre a interpretação do
usuário e o conteúdo do documento.
A abordagem de indexação centrada no domínio toma o domínio
como o ponto focal de análise e usa o conhecimento sobre o domínio
e os usuários para determinar o assunto dos documentos. O
benefício dessa abordagem é que os indexadores têm um quadro de
referência claro para a tomada de decisões na indexação, garantindo
que a indexação seja consistente com o uso das informações pelos
usuários e forneça resultados efetivos (Mai, 2005, p. 609).
O processo de significação referente à representação resultante na
indexação, a partir da análise orientada, por aquilo que deve se constituir
um domínio dá uma direção para o entendimento do usuário durante a
pesquisa. A relação entre usuário e documento tem um procedimento que
visa a melhor conduta de relacionamento entre o usuário e o assunto. Esta
caracterização de conduta tem no procedimento Ético do pragmatismo
peirceano papel deliberativo na sequência de ajustes que visam a melhor
maneira de alcançar o propósito desejado. O critério de relevância que
aponta o caminho da pesquisa pode variar não só de acordo com o usuário,
mas também com a evolução daquilo que é procurado em cada novo aces-
so. A significação decorrente de cada abordagem e a ação de conhecimen-
to, ou reconhecimento estão em evolução, num processo contínuo que liga
aquilo que é representado e as novas opções de representação que buscam
a forma mais adequada esteticamente de se enquadrarem àquela ética de
conduta que elenca meios para condução da ação.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
482
Figura 14 - Diagrama mostrando os três ramos da semiótica usados para
relacionar aos processos de indexação
Fonte: Elaborado pela autora
Contida na Semiótica, assim como a Gramática Especulativa, a
Lógica Pura, o segundo ramo da semiótica trata dos tipos de inferência.
Então mais do que determinar os elementos da semiose, o processo infe-
rencial descrito por Almeida, Fujita e Reis (2013) avança no entendimento
dos desdobramentos da atuação no encadeamento de indexação.
A semiótica peirceana relacionada às etapas de indexação explica,
de acordo com a classificação dos signos, quais etapas são identificadas
ao relacionar o processo de indexação e os ramos da semiótica. A lógica é
dividida em três ramos: o primeiro deles é a Gramática Especulativa, ou a
teoria geral da natureza e significados de signos, sejam eles ícones, índices
ou símbolos. As pesquisas de Mai (2001) dão conta de explicar as etapas
de indexação segundo as dez mais conhecidas classes possíveis de signos,
ou seja, a análise do encadeamento de indexação pode ser determinada en-
quanto etapas de entrada de assunto, num processo semiótico. Essa identi-
ficação das etapas e dos nomes relativos aos signos em cada estágio na sua
relação de significação esmiuçada na Gramática Especulativa tem no con-
junto articulado na hipótese que dá sequência ao desenrolar da pesquisa e
conhecimento o encadeamento lógico conhecido, representado na Lógica
Pura ou Lógica Propriamente Dita que apresenta não mais a classificação
dos signos, mais classifica os tipos de argumento, que podemos considerar
signos mais elaborados racionalmente.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
483
O segundo ramo da Semiótica, a Lógica Propriamente Dita classifica
os argumentos e determina a validade e o grau de força de cada tipo. O pro-
cedimento científico no qual estão inseridas dedução e indução, faz parte da
metodologia empregada secularmente para a determinação do resultado ver-
dadeiro. A contribuição peirceana é considerar a abdução enquanto elemen-
to criador de novas possibilidades, em um processo de contínua aquisição de
razoabilidade. As inferências da dinâmica de indexação entendidas enquan-
to processos de abdução, dedução, indução tem nos trabalhos de Almeida,
Fujita e Reis (2013) mais do que uma análise das possibilidades lógicas vistas
nos trabalhos de Mai, que trata da classificação dos signos. Os autores apro-
fundam o trabalho de indexação que descreve na abordagem do segundo
ramo da semiótica a maneira pela qual o ocorre o transcurso de pensamento,
as formas como inferências lógicas têm desenvolvimento dentro do cresci-
mento da formação dos argumentos na realização da indexação.
A semiose em processos de indexação é caracterizada como o percurso
que tem na representação do documento seu resultado “A semiose no pro-
cesso de indexação é entendida como uma sequência de ações interpretativas
geradoras de signos resultantes de suas etapas e elementos” (Almeida; Fujita;
Reis, 2013, p. 236). O argumento contido no documento representa um
conjunto de ideias e conhecimento, assim “A lógica pura relaciona os signos
com seu objeto e como podem ser criados os tipos de inferência chamados
abdução, dedução, indução” (Almeida; Fujita; Reis, 2013, p. 236).
A indexação é um processo no qual a lógica está intimamente asso-
ciada à linguagem nos documentos constituídos pela escrita. A sequência
argumentativa contida no conjunto de uma argumentação tratada como
inferência é o procedimento básico da evolução científica. As etapas pe-
las quais estas inferências são tratadas não apresentam linearidade. São
etapas de um processo em adequação e verificação que tendem ao inter-
pretante mais adequado obtido pela inferência inicial na abdução feita
pelo intérprete.
No quadro a seguir as constatações realizadas por Almeida, Fujita e
Reis (2013) nas etapas dos processos de inferência que realizam a indexação
têm as sequências entre indução e dedução alteradas. Com vistas à geração
de um novo signo, na retrodução que viabiliza cada acesso ao conteúdo do
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
484
documento, a dedução não é considerada como uma etapa de antecipação
do resultado pretendido a ser verificado indutivamente.
A dedução, como inferência analítica, pressupõe a existência de uma
lei que deve ser aplicada a todos os casos sujeitos a uma norma. É
impossível que o conhecimento original se manifeste, uma vez que
o conhecimento do caso está na lei. O poder inventivo de sugerir
ideias originais é extremamente reduzido na dedução. É quase uma
manifestação automática do raciocínio humano (Almeida; Fujita;
Reis, 2013, p. 234).
O papel da dedução ao comparar o diagrama é a constatação do
hábito que caracteriza o conceito capaz de ser representado. A antecipação
da hipótese na abdução inclui a verificação entre a hipótese e a realidade
do assunto contida no documento para que este diagrama seja aprovado
racionalmente enquanto relação verdadeira entre conteúdo e representação
de maneira dedutiva. Desta forma, as relações entre as categorias feno-
menológicas e a natureza das ações de indexação realizadas também são
alteradas com relação ao quadro original, devolvendo a etapa que trata da
ação e reação ao passo anterior, à representação que oferece o novo signo
enquanto reprodução, repondo no caso particular aquilo que foi determi-
nado enquanto conceito, enquanto generalidade.
Quadro 8 - Alteração no quadro de Processos de indexação inferencial
INFERÊNCIAS ABDUTIVAS INDUTIVAS DEDUTIVAS
DEFINIÇÃO Criação de hipóteses ou
sugestões explicativas
sobre o conteúdo do
documento
Testes e experimentação
com a linguagem
presumida do sistema e
usuário
Análise das
consequências de
atribuir um assunto ao
documento
REPRESENTAÇÃO
CATEGORIAS Primeiridade Secundidade Terceiridade
NATUREZA da
AÇÃO
Possibilidade Ação e reação
COMPROVAÇÃO
(Ou Falha)
Generalização
DEMONSTRAÇÃO
do resultado
comprovado
ESTÁGIOS Criação Verificação Análise
Fonte: Almeida; Fujita; Reis,2013, p. 239.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
485
No pensamento, assim como é considerado no pragmatismo, as mo-
dalidades ou encadeamento de argumentos acontecem de maneira con-
junta, sendo necessária a separação para categorizar cada uma delas no
processo de evolução. A condição necessária de verdade de a dedução ser
encadeada atribui a continuidade ao processo.
Dotado de estrita universalidade e generalidade, o conceito em sua
formação e desenvolvimento pertence ao domínio dos fenômenos,
desenvolvendo- se e diversificando-se no tempo, evolutivamente.
Representando cada vez mais aperfeiçoadamente o objeto a que
se refere, o conceito somente apresentará como seu atributo uma
universalidade pretendida de caráter distributivo na representação
dos efeitos práticos concebíveis que sua afirmação ou negação
podem produzir. A necessidade atribuível ao conceito é estrita e
tão somente de natureza formal, dada a forma diagramática que
se encontra em sua origem. Trabalhar o conceito, observando
os resultados que dele pode-se tirar, confere a estes a mesma
necessidade de que é dotado, por abdução, o diagrama original. O
diagrama, no entanto, durante todo seu desenvolvimento refere-se
ao objeto que representa, e é por ele testado indutivamente. Sua
verdade, consequentemente, vai sendo alcançada pouco a pouco, e
até mesmo assintoticamente, em regime de insuperável falibilidade
(Silveira, 2000, p. 124).
Ao considerar a indexação inferencial tomamos as modalidades de
argumentos quais sejam abdução, indução e dedução, (CP 2.266, CP
2.269, CP 2.270) nas quais todo pensamento científico pode ser verifica-
do. A abdução é o procedimento que pondera o raciocínio de aceitação de
uma hipótese a ser aprovada, ou refutada. A indução é considerada o teste
da hipótese, os procedimentos de experimentação, de reação para a com-
provação daquilo que foi proposto enquanto possibilidade de verdadeiro.
Para efeito de sequenciamento da argumentação é considerada a dedução
como a etapa que dá o resultado comprovado resultante do processo de
validação da hipótese e oferece a representação enquanto resultado verda-
deiro da operação realizada. A hipótese de assunto aventada na abdução,
depois de constatada indutivamente pode ser representada como a opção
mais adequada.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
486
E a verdade para Peirce? A visão padrão é que a verdade é crença no
fim ideal da investigação – mas devemos ter em mente que, do lado
da lógica, a verdade é o valor de uma proposição, que na filosofia de
Peirce é um signo intelectual que medeia entre um objeto ou estado
de coisas e um interpretante (um efeito sobre um intérprete). Isso
significa que a verdade é sempre relativa, por um lado, aos recursos
conceituais dos usuários de signos e, por outro lado, é restringida
pelas condições pragmáticas que se relacionam entre os usuários do
objeto e do signo. Enquanto o aprendizado continua e as condições
pragmáticas mudam, a verdade nesse sentido não pode ser fixada na
eterna estagnação (Houser, 2006, p. 5).
O bem estético a ser alcançado é a representação mais adequada à
circunstância, que pode ser a caracterização de um domínio e também
a classificação, à qual deve se adequar a recuperação do documento. Na
ação de comparação do conteúdo do documento àquilo que é a organiza-
ção mais adequada temos um procedimento ético de conduta, no qual o
profissional visa seu objetivo, porém esta maneira de cumprir a produção
de um resultado depende das circunstâncias sociais e ambientais no qual
tanto o documento quanto o indexador estão inseridos.
A correção do procedimento com vistas a alcançar o bem estético
estabelecido tem fatores que estão sujeitos a alterações dinâmicas, passí-
veis de serem revisadas e alteradas ao longo do tempo ou do processo. A
etapa na qual a representação é oferecida e tem conhecimento estabele-
cido provisório. É possível uma alteração significativa no entendimento
deste conteúdo tanto pela adequação à recuperação, quanto às mudanças
em novos documentos que a informação contida nele possa desencadear.
A continuidade do signo oferecido enquanto conceito é passível de evo-
lução em vários níveis. Essas alterações, essa nova produção que move o
conhecimento, tem na maneira de divulgação o direcionamento para as
áreas de conhecimento específicas naquilo que são denominadas Ciências
Aplicadas para Peirce, ou em novos domínios para a organização do conhe-
cimento. A Metodêutica ou Retórica Especulativa, a etapa de terceiridade,
dentro da semiótica, dá conta de criar o diagrama mais adequado para
a divulgação do conceito comprovadamente verdadeiro, ser destinado à
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
487
comunidade, ou grupo social ao qual a informação verdadeira terá alcance
para conhecimento.
O método de indexação é considerado um percurso inferencial no
qual o método pragmaticista tem na Semiótica, e mais precisamente na
Gramática Especulativa e Lógica Pura, os instrumentos de localização na
entrada de assunto dos documentos indexados, o processo abdutivo pelo
qual as informações contidas no documento são representadas. A etapa na
qual a Metodêutica ou Retórica especulativa pode se realizar, e mais do que
uma etapa analítica como a Grámatica Especulativa, consiste na busca da
verdade lógica de acordo aos fins que possam então resultar.
A Metodêutica é o terceiro ramo da semiótica e estuda, na concep-
ção peirceana os métodos que devem ser perseguidos na investigação, na
exposição e na aplicação da verdade (Peirce, 1974, p. 79-80, CP 1.191).
Uma vez que a retórica está na exposição da verdade obtida pelo méto-
do pragmaticista, método e resultado fazem parte de uma continuidade
processual. Seguindo a trajetória de pesquisa dos autores que investigam
semiótica no processo de indexação em Ciência da Informação, o caminho
decorrente seria seguir a investigação para o terceiro ramo da semiótica, a
Metodêutica.
O foco no Método Pragmaticista não está em cada forma encon-
trada, determinada na Gramática Especulativa ou Logica Pura, mas no
transcurso evolucionário que pode proporcionar o conhecimento, na ver-
dade a ser alcançada. Ao delimitar eticamente o processo, o bem estético a
ser alcançado tem melhores possiblidades de realizar-se em verdade lógica
(Silveira, 2007).
6.4.2 siGnO funDaMenTaL e cOnceiTO
O domínio para ser caracterizado enquanto alternativa para o mé-
todo individualista de aprendizagem reconhece que o conhecimento in-
dividual e estruturas de domínio interagem entre si e existe também uma
interação entre os níveis individuais e sociais, num desenvolvimento trans-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
488
disciplinar que englobe pesquisas educacionais dentre as várias disciplinas
elencadas para aquele domínio (Hjørland, 1995, p. 409).
A linguagem é considerada como um produto cultural, tratado
em um sistema de signos. “A linguagem é autopoiética, auto-organizada
(ellefsen, 2002, p. 71). Esta visão de um conjunto dinâmico que está
em constante transformação, com formas ocasionais que são passíveis de
evolução vindas da biologia, como é o caso da autopoiese, tem adequação
nos sistemas dinâmicos estudados socialmente, culturalmente, como é o
caso da linguagem.
Baseado na definição de conceito enquanto elemento de significân-
cia ellefsen trabalha com a noção de domínio, como foi caracterizada
por Hjørland (1995) para relacionar o entendimento com a possibilidade
de determinação de um “signo fundamental”, baseado na semiótica para
designar organização conhecimento, “[...] e o foco principal é fornecer um
método para descobrir o efeito de significância e depois organizar o co-
nhecimento em signos fundamentais e conceitos relacionados” (ellefsen,
2002, p. 74). A matriz fornecida pelo assunto na recuperação do docu-
mento e informação, com a atribuição de um conceito relacionado a este
signo, por meio de sua associação ao conteúdo suposto ou constatado do
documento permite a difusão daquele conhecimento pretendido.
Na caracterização de domínio feita em relação ao signo fundamen-
tal, a noção de hábito associada à concepção de conceito é elencada: “Num
sentido semiótico, a evolução cultural corresponde a uma tendência geral
de formar hábitos [...] Essa formação de hábitos é criada porque as pes-
soas no domínio do conhecimento compartilham um ou mais objetivos
comuns” (ellefsen, 2002, p. 79). Mais do que compartilhar objetivos
comuns, a ação que regula a definição do domínio está na crença de acei-
tação verdadeira daquela caracterização de conceito enquanto o que define
o domínio.
A restrição de interpretantes abarcada pelo domínio regula os há-
bitos de conduta vinculados a ele. Por um lado, o domínio indica a ação
esperada na recuperação da informação, por outro lado, novos interpretan-
tes podem surgir com características mais adequadas a outros hábitos de
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
489
conduta que não são referentes ao seu domínio original. “Quando a ideia
é fixada, ela tende a trazer outras ideias. O curso evolutivo do conceito já
começou. A partir de uma mera hipótese vaga, a ideia se transformou em
uma ideia vigorosa que se torna mais forte à medida que mais ideias são
trazidas à tona” (ellefsen, 2002, p. 80). Esta inter-relação dos conceitos,
ou os signos fundamentais em vários domínios, é própria de uma rede de
conexões que não deve ter uma linearidade de ocorrência, mas que pode
ser diversificada em vários níveis. Estas interdependências em vários domí-
nios constituem hábitos de conduta relacionados às suas concepções, em
pontos de vista diferentes com afinidades agrupadas nestes domínios.
Portanto, um signo fundamental é um signo que possui um grande
número (e dinâmico) de conceitos relacionados. Cada conceito
relacionado interpreta aspectos do signo fundamental. Nesse
nível analítico, a relação entre o conceito relacionado e o signo
fundamental é de fato a mesma que vimos entre o objeto imediato
e o dinâmico (ellefsen, 2002, p. 81).
Essa estrutura de inter-relações propõe um diagrama radial de possi-
bilidades de aproximação entre as várias etapas e proximidade, semelhança
entre os signos aceitos enquanto conceitos, derivados daquele fundamen-
tal. A descrição da relação em vários níveis, sem uma linearidade definida,
concorda com a noção de semiose ilimitada, tanto quanto com a caracteri-
zação de auto-organização na física e biologia.
O signo fundamental é um símbolo - um general que passou por
um processo de fixação de uma ideia que trouxe outras ideias.
Começou a crescer e gradualmente se tornou um símbolo vigoroso
que reflete a autocompreensão do domínio do conhecimento
(ellefsen, 2004 b, p. 2).
O Signo Fundamental está relacionado ao conceito representado por
ele, uma vez que “[...] das duas implicações do pragmatismo que os con-
ceitos são propositais, e de que seu significado está em sua conduta prática
concebível, o primeiro é o mais fundamental” (Peirce, 1974, p.218, CP
8.322, 1906 grifos nosso). A transição entre o hábito, contido na regra,
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
490
na generalidade representada no conceito, tem nas várias perspectivas nas
quais ele é retomado, reposição em um caso particular que pode confirmar
ou modificar o hábito que gerou a regra representada no conceito. A evolu-
ção do signo, como já foi visto, está nesta dinâmica de relação entre o signo
e seu objeto, ou entre o conceito e os efeitos concebíveis de sua aceitação.
A associação do conceito no signo fundamental, dentro do prag-
matismo, ao falibilismo, idealismo, realismo e faneroscopia, feita por
ellefsen (2004a), mais do que juntar vários conceitos para a definição
de signo fundamental, é uma tentativa de reforçar o caráter evolucionário
do signo proposto como o indicador das relações em um ou vários domí-
nios. Os seis passos para executar um perfil de conhecimento (ellefsen,
2004a), oferecem uma sequência de procedimentos para determinar o sig-
no fundamental, demonstrando restrição da busca em um conceito, passí-
vel de expansão nos interpretantes que ele deva proporcionar.
Figura 15 - Diagrama do perfil do Conhecimento com a simplificação
das etapas
Fonte: Adaptado de ellefsen, 2004a, p. 513.
Neste diagrama, a caracterização das etapas de indexação e classifica-
ção têm um procedimento que pode ser variável de acordo com a circuns-
tância ou profissional em atuação. Mais do que uma teoria com aplicação
prática o entendimento do método pragmático oferece o entendimento da
busca, relacionado conduta e objetivo que podem ter no direcionamen-
to de técnicas e recursos próprios para cada abordagem, em cada tipo de
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
491
documentação, meios necessários para chegar à forma mais adequada de
representação.
6.5 pRaGMaTisMO aLÉM Da inDexaÇÃO
Os métodos usados para a investigação da verdade estão no escopo
de toda a teoria pragmaticista. A busca da verdade enquanto bem lógico
se constitui em toda busca de uma doutrina lógica de como deve ocorrer
a descoberta.
A verdade é que a concordância de uma afirmação abstrata com
o limite ideal para o qual a investigação sem fim tenderia a gerar
crença científica, que concordância a afirmação abstrata pode
possuir em virtude da confissão de sua imprecisão e unilateralidade,
e essa confissão é um ingrediente essencial de verdade (Peirce, 1974,
p. 394, CP 5.565, 1902, tradução nossa).
A semiótica, dentro das Ciências Normativas, é uma ciência formal,
abstrata e capaz de regular formalmente os métodos de ação das Ciências
Aplicadas. As Ciências Normativas sendo constituídas pela Ética, Estética
e Semiótica são consideradas reguladoras de uma conduta de investigação
pragmática. A verdade, em constante checagem com sua possibilidade real,
dá o norte para a verdade científica que é mantida em evolução (Peirce,
1974, p. 395, CP 5.566, 1902).
Os desenvolvimentos abrangem aqueles ocorridos no interior da se-
miótica pela Gramática Especulativa e Lógica crítica, conduzindo a bus-
ca pela informação possível em resultado futuro, enquanto um proces-
so Estético validado pela Ética. Confere então o propósito das Ciências
Normativas que será o “[...] estabelecimento da conformidade dos fenô-
menos a fins que lhes são imanentes” (Silveira, 2007, p. 212).
Quando o indexador faz sua entrada de assunto, finalizando o per-
curso de indexação, o processo inferencial continua aberto a novas pos-
sibilidades abdutivas. A interface é proporcionada pelo índice no qual o
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
492
método de busca pela informação pode continuar, pela informação à qual
o documento se refere e é acessado pelo signo construído pelo indexador.
O usuário ou o pesquisador quando busca o assunto contido no documen-
to vale-se daquele estágio interpretativo para ligar sua intencionalidade de
busca à possibilidade de informação contida no documento.
A partir de inferência indutiva de que a informação possível de ser
alcançada pela entrada de assunto possa levar àquele entendimento pre-
tendido no contato com o documento e as informações contidas nele, o
usuário infere um novo processo abdutivo que tem em vista aquele conhe-
cimento acreditado antecipadamente como potencial no documento.
Existe um processamento de inferência na checagem da veracidade
da informação no recurso indutivo de consulta. Acontece então uma pos-
terior dedução no confronto entre o assunto pretendido pelo usuário e a
função de entendimento ao qual o acesso se destina. Desta checagem, vali-
dação ou falência da comparação argumentativa contida no documento e
utilidade” a qual se destina a consulta, tem-se um processo abdutivo que
é aquele no qual todo estudante ao tomar contato com uma nova informa-
ção é capaz de associá-la a seu repertório e a partir disso gerar novos conhe-
cimentos, capazes de serem verificados pela experiência. Todo transcurso
de saber passa pelas etapas inferenciais de condução à verdade, descritas
pela metodologia peirceana de conduta científica.
A intencionalidade do indexador é tornar a informação a mais fidedig-
na ao conteúdo do documento possível. A intencionalidade do usuário pes-
quisador é a partir do processo contido na indexação estender, desdobrar no-
vas abordagens da informação contida naquele conhecimento manipulado.
Os tipos de argumentos levantados desde a hipótese abdutiva pro-
posta por Peirce têm os desdobramentos científicos de comprovação. Os
consequentes processos de dedução e a posterior abdução, são matéria cien-
tífica do pensamento moderno, e por este motivo amplamente trabalhadas.
Dentro da semiótica, a Metodêutica deve cumprir a evolução deste
processo científico que dá conta da divulgação do transcurso de significa-
ção que possibilita a obtenção da verdade.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
493
Foi-se o tempo quando um teorema poderia constituir uma
contribuição considerável para a ciência matemática. Mas agora
novos teoremas são revelados por atacado. Um único tratado conterá
centenas deles. Hoje em dia, os métodos por si só podem deter a
atenção com força; e estes estão chegando em tais bandos que o
próximo passo certamente será encontrar um método de descobrir
métodos. Isso só pode vir de uma teoria do método de descoberta.
A fim de cobrir todas as possibilidades, isso deve ser fundamentado
em uma doutrina geral de métodos para atingir propósitos, em
geral; e isto, por sua vez, deve brotar de uma doutrina ainda mais
geral da natureza da ação teleológica, em geral (Peirce, 1974, p. 61,
CP 2.108, 1902, tradução nossa).
A retórica especulativa ou Metodêutica tem poucos registros.
Manuscritos revistos posteriormente aos Collected Papers, como é o caso
do MS 774 (Peirce; Kois, 1978) dão uma melhor compreensão dentro
da arquitetura das ciências e dentro dela, daquilo que é considerada a
Metodêutica. Por um lado, devido ao fato de estar dentro da semiótica,
a retórica especulativa implica na representação sequencial, seguindo uma
série argumentativa que mostra um resultado verdadeiro passível de divul-
gação para a comunidade científica.
Por outro lado, quando Peirce trata a Metodêutica como “método dos
métodos” a implicação é de fato na aquisição do método pragmático que é
capaz, pela sua interdisciplinaridade, perpassar o conhecimento científico e
transmitir para cada disciplina condições de checagem das condições verda-
deiras para aquisição de significado. Temos por um lado o diagrama resul-
tante do processo em um fenômeno específico e por outro a generalidade do
método que é capaz de aplicação a qualquer novo fenômeno.
Os signos dependem do substrato físico que apresenta uma forma
para interação. A potencialidade não pode incorporar racionalidade sem a
força bruta da secundidade que se conforma na matéria, com ação e rea-
ção, o potencial de primeiridade na representação em um substrato físico.
Assim, Peirce descreve a “[...] retórica especulativa, a ciência das condições
essenciais sob as quais um signo pode determinar um signo interpretativo
de si mesmo e do que quer que signifique, ou pode, como signo, produzir
um resultado físico” (Peirce; Kois, 1978, p. 150).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
494
Seguindo esta programação do tratamento científico peirceano
Bird (1959) investiga os estudos lógicos que conduzem, além do méto-
do, analisando o caráter filosófico da abordagem pragmatista. A Retórica
Especulativa, a ciência das condições essenciais sob as quais um signo pode
determinar um signo interpretativo de si mesmo e do que quer que signi-
fique, ou pode, como signo, produzir um resultado físico, representado de
acordo com estas características físicas.
Mas reunindo-os e perseguindo seus insights, é possível indicar
como ele pode ter dividido e desenvolvido: 1) A natureza do
discurso científico e como ele difere do não-científico. 2) A lógica
da investigação, tanto heurística quanto sistemática, de acordo com
os modos do argumento como dedutivo, indutivo ou abdutivo (isto
é, hipótese) ou uma combinação ou todos os três. 3) A garantia
da ciência considerada nos fatores que impedem ou promovem a
investigação (Bird, 1959, p. 187).
O tratamento epistemológico da informação implica nas variedades
de divulgação de conhecimento. Uma vez que o conceito, que é um signo,
deve ser compartilhado em uma comunidade, a organização do conheci-
mento trabalha com a previsão semiótica contida na retórica especulativa
para esta divulgação nos variados diagramas a serem compartilhados com
os indivíduos em um nicho social. Mais do que a custódia do conhecimen-
to, proporcionar a representação num conceito oferece possibilidade da
articulação lógica estar em constante diálogo com novos intérpretes, que
levam adiante o processo interpretante.
Para Peirce, os caracteres representados pelo signo não estão inde-
pendentes da representação, uma vez que são eles próprios signos. Do pon-
to de vista pragmático “[...] os objetos cujas proposições gerais comuns
devem ser verdadeiras, para que sejam verdadeiras, são o corpo das percep-
ções futuras” (Peirce; Kois, 1978, p. 151). Tratando-se da representação
feita por humanos, a retórica tem a divulgação de um signo no processo
de comunicação ao qual se destina, devendo ter resultado verdadeiro na
aquisição de conhecimento científico.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
495
A abrangência da retórica está além da fala. Na visão de Santaella,
Peirce com a inclusão retórica especulativa na semiótica reafirma a discus-
são do signo exercer “efeitos físicos no mundo” (Santaella, 2004b, p. 210).
A continuidade entre mente e matéria e a concepção realista integradora,
dialógica a partir da significação estão contidas nesta discussão, de acordo
com a autora.
A denominação “Retórica Especulativa” remete a concepção aristo-
télica de retórica, na qual os meios disponíveis para persuasão seriam em-
pregados; e também “especulativa” vem da forma latina para o a palavra
grega “teórica”, remetendo ao procedimento científico de análise lógica.
A tarefa mais essencial da retórica especulativa é, assim, determinar,
por análise lógica, grandemente facilitada pelos dois ramos
anteriores da semiótica, quais são as condições indispensáveis para
o signo agir, determinando outro signo que seja quase equivalente
a si mesmo (Santaella, 2004b, p. 213).
O processo lógico determina o próximo signo a ser representado, e
então passível de nova interação.
O trabalho desenvolvido por Santaella, segundo a própria auto-
ra reconhece, trabalha de acordo com Bird (1959) que desconhecia o
Manuscrito 774 no qual Peirce desenvolve a concepção de retórica. Bird vê
a retórica enquanto método que visa o interpretante final.
A diferença de efeitos ou resultados pretendidos pelo signo fornece
a base para dividir o Interpretante Final em três: “Gratificação;
Produzir Ação; Produzir autocontrole” (CP 8.372). Mas o
autocontrole é para Peirce a marca do pensamento racional (CP
1.606) e, como aqui se distingue da ação, considero que é isso,
ou geralmente como pensamento científico. Isso é confirmado por
ele, em outros lugares, chamando os três de gratificante, prático
e pragmático. De acordo com essa divisão, Peirce estaria dizendo
que um signo pode ter como objetivo final: produzir algo a ser
desfrutado, produzir uma ação ou produzir pensamento científico
(Bird, 1959, p. 190-191).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
496
De acordo com esta caracterização, a divulgação de tipos de comu-
nicação, classificada como discurso pode ser feita em poético, prático e
científico. Baseada no Manuscrito 774 de Peirce, Santaella traça o desen-
volvimento de possibilidades de expansão da retórica, segundo a definição
peirceana. O mapeamento descrito por Santaella é transcrito em um dia-
grama que é abaixo proposto, modificado do original recorrendo às cores
que remetem as categorias fenomenológicas:
Figura 16 - Possibilidades de expansão da Retórica: possibilidades de
determinação de domínio
Fonte: Adaptado pela autora a partir de Santaella, 2004a, p. 213-214.
As modalidades de divisão das descobertas científicas, mais do que
categorizar as disciplinas oferecem possibilidades de determinar domínios
nos quais os diversos grupos sociais podem ter acesso a novos interpre-
tantes representados enquanto decorrência de investigação. Neste sentido
a Retórica é aliada à divulgação de fatos ou fenômenos significativos em
um contexto histórico e social. Para a vida da comunidade os assuntos de
interesse que merecem custódia e divulgação têm alternância constatada
no processo histórico, uma vez que a atribuição de valor implica em inter-
pretantes emocionais que estão aliados ao interpretante lógico. A Ciência
da Informação adequa estes critérios tanto ao quadro científico quanto de
interação social, determinado pela comunidade que se vale informacional-
mente dos signos.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
497
A importância da menção à retórica como divulgação reportada ao
conhecimento científico está na capacidade de indexação que é oferecida
ao documento científico. A Ciência da Informação trabalha com elemen-
tos que estão tanto na concepção lógica quanto na divulgação heurística
das diversas áreas de conhecimento. A Metodêutica, enquanto interface do
processo de significação e sua possibilidade de divulgação, trata de elemen-
tos com os quais também a Ciência da Informação tem papel fundamental
para o progresso da ciência.
Conceitos são hábitos mentais, hábitos formados pelo exercício
da imaginação. O instinto humano não é menos miraculoso
que o do pássaro, do castor ou da formiga. Apenas, em vez de
ser direcionado para movimentos corporais, como cantar e
voar; ou para a construção de habitações, ou para a organização
de comunidades, seu teatro é o mundo interior plástico, e seus
produtos são as maravilhosas concepções das quais as maiores são
as ideias de número, tempo e espaço [...] (Peirce, 1966, p. 14, MS
318, grifo nosso).
A arte, assim como a execução da ação, não está subsumida à tercei-
ridade: tem seus interpretantes reinventados em cada possibilidade de ação
e interação, e mesmo considerando a variedade e importância, para comu-
nicação e cultura destes interpretantes, o caráter científico da representação
é a questão destacada.
Para a Ciência da Informação devemos pensar que a noção de in-
formação tem a ver com a vida e não se reduz ao suporte. Nesse sentido,
o admirável na arte pode ser investigado como o início do processo de in-
formação pela área e terminar com o estudo da retórica, e assim seria uma
nova Ciência da Informação que contempla a amplitude do processo de
aquisição de conhecimento.
A generalidade, o caráter de lei representada em verdade compro-
vada cabe à proposta lógica reconhecida pelo conhecimento científico. O
autocontrole crítico que conduz o pragmatismo na investigação, aliado ao
propósito que leva ao interpretante normal, com vistas ao interpretante fi-
nal, estão no método lógico de conduzir a investigação (Santaella, 2004b).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
498
Ainda a proposição de um método, a partir de 1900 para Peirce, colo-
ca a semiose na Metodêutica como um complemento da divulgação heurísti-
ca desta aquisição de conhecimento (Santaella, 2004b). “A Metodêutica tem
por tarefa descobrir como analisar as hipóteses de modo a encontrar procedi-
mentos que conduzam aos resultados desejados” (Santaella, 2004b, p. 220).
Nesta condição, a Metodêutica, dentro da semiótica indica o proce-
dimento ético de conduta, não apenas para a divulgação da representação,
mas conduzindo o processo em sua materialidade que, em última instân-
cia, é o substrato físico que comprova a veracidade, a existência da anteci-
pação da dedução, comprovada na materialidade demonstrada na indução.
[...] às vezes, como todos sabemos, perto de verdades elementares,
atesta isso em sua frase “Eu digo para mim mesmo, diz eu”. Não
raramente esse tipo de mente até raciocina em voz alta consigo
mesma. Suponho que, então, seja concedido à força Eu digo que
todo conceito é um signo mental. Não há novidade nesta posição.
Os gregos parecem ter sido incapazes de pensar em um conceito
diferente, e alguns dos maiores pensadores medievais e modernos
insistiram em sua verdade. Um pouco de auto-observação,
superando a soma total de autoridade, mesmo que a autoridade
fosse de uma só voz ao condenar essa visão, é suficiente para
mostrar que as deliberações que realmente agitam sinceramente
nosso peito sempre assumem uma forma dialógica. O ego de
qualquer momento (em tais momentos) é incessantemente atraente
para o ego de um momento subsequente, fundido no primeiro,
para ceder seu consentimento e dar seu endosso à argumentação
do instante anterior. A mente não instruída, muitas dessas três
razões combinadas, com outras tão banais para mencionar, que um
conceito é um signo mental (Peirce, 1966, p. 12-13, MS 318).
Toda divulgação de um conceito, representado em um signo, tem a
intencionalidade e a proposição de novos interpretantes embutidas nela.
A representação da consubstanciação do conhecimento no método, for-
nece não apenas o resultado verdadeiro, mas toda a significação do qual
o resultado é proveniente, como consequência do raciocínio necessário.
Além da descoberta e da análise dos passos teóricos do método dedutivo,
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
499
é ainda tarefa da metodêutica organizar dentro de um sistema os resultados
obtidos” (Santaella, 2004b, p. 220). Os aspectos da descoberta e evolução
heurística do conhecimento, aliados à lógica são também comentados por
Bird (1959, p. 189):
Um, que é o caminho adotado pela história da filosofia, considera
o curso real das ideias na história à medida que elas são retomadas
um pensador para outro. Assim, pode-se traçar o desenvolvimento
da filosofia de Descartes a Locke, Berkeley e Hume. Analisar esse
desenvolvimento e, se possível, discernir leis nele constitui o trabalho
da Lógica Objetiva. O outro caminho é “lógico” no sentido mais
usual. na medida em que diz respeito às relações formais pelas quais
uma ideia segue a outra e aos métodos utilizados para alcançá-la,
à parte de sua real incorporação e desenvolvimento histórico. Ele
busca logicamente, e não historicamente, obter uma ideia de outra,
a fim de obter um certo resultado. Esse fato é enfatizado pelos
adjetivos que Peirce usa para qualificar o estudo quando o chama
de retórica “formal”, “pura” ou “universal”.
A sequência lógica e não histórica é caraterística da semiótica. O tra-
tamento científico parte da argumentação verdadeira para a diferenciação
entre o público ao qual é destinado em uma comunidade social.
Não se trata de segregar o potencial de informação, mas destinar o
signo adequado àquele público que pode compreender o conceito, dentro
de um assunto, em seu universo de inteligibilidade. A teoria da relatividade
mostrada em um diagrama para cientistas especializados em física quân-
tica, certamente é diferente daquele que anuncia o comportamento das
partículas dependentes da maneira como ela é observada. Ser partícula ou
comprimento de onda é uma propriedade de elétron que se torna aceita e
comprovada muitos anos após a antevisão em teoria.
Todo raciocínio, e por consequência toda representação, parte da
primeira tricotomia, da articulação dentro da Gramática Especulativa,
para a associação entre os signos que faz a argumentação, numa proposição
que tende à verdade científica demonstrada.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
500
Uma tríade muito importante é esta: descobriu-se que existem três
tipos de signos que são todos indispensáveis em todo raciocínio;
o primeiro é o signo ou ícone diagramático, que exibe uma
semelhança ou analogia com o assunto do discurso; o segundo é
o índice, que, como um pronome demonstrativo ou relativo, força
a atenção para o objeto específico pretendido sem descrevê-lo; o
terceiro [ou símbolo] é o nome ou descrição geral que significa seu
objeto por meio de uma associação de ideias ou conexão habitual
entre o nome e o caráter significado (Peirce, 1974, p. 193-195, CP
1.369, 1885, tradução nossa).
Os signos na gramática especulativa não são um conjunto de uni-
dades. As relações ocorridas na transmissão de informação na formação
do interpretante fazem da relação entre eles uma ligação que longe de ter
linearidade, tem na reposição das categorias fenomenológicas, todo o tem-
po, possibilidades abdutivas. A articulação de um argumento compondo
os signos verificados na gramática especulativa possui a condução ética que
visa o bem estético.
É por isso que o exame do funcionamento do argumento passa
para o escopo da lógica propriamente dita, ou seja, do estudo dos
signos como díadas, assim como a gramática especulativa os estuda
como mônadas, apenas nos seus fundamentos. De que maneira,
então, se caracteriza a tríade própria da retórica especulativa? Se o
argumento tem dois componentes, premissa e conclusão, entre os
dois há necessariamente um vão, cujo fechamento o argumento
pode indicar, mas não realizar. Agindo sobre o intérprete por
meio de seu próprio autocontrole e representando um processo
de mudança no pensamento ou signos, o argumento o induz a
atualizar o interpretante dinâmico de tipo lógico que fecha o vão
entre premissa e conclusão (Santaella, 2004b, p. 207).
É a condução do processo, com vistas à verdade futura que leva adian-
te o conjunto significativo, em constante formação de novos interpretantes.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
501
A experiência do pensar é uma experiência do contínuo, antes
mesmo que qualquer análise identifique a natureza dessa
temporalidade.
Assim também, que se possa medir e comparar qualidades,
inclusive a que se responsabiliza pela semiose, essa última constitui-
se num contínuo cujo fluir jamais se reduzirá aos limites de uma
representação conceptual, necessariamente abstrativa (Silveira,
2001, p. 96).
O interpretante dinâmico compartilhado capaz de ser formalizado
em uma representação reúne qualidades de encadeamento lógico que for-
necem consistência a este produto de argumentação.
Em carta à Lady Welby (1908) as categorias fenomenológicas e a
classificação dos signos, a síntese diagramática oferecida para o entendi-
mento da interlocutora, facilita o entendimento de aspectos da estrutura
lógica proposta por ele. Entre os interpretantes, o interpretante normal
como aquele signo resultante de um pensamento suficientemente desen-
volvido (Peirce, 1974, p. 232, CP 8.343, 1908) e que pode ser apresentado
em uma forma dão o entendimento da atualização do interpretante dinâ-
mico, dentro da sua concepção de provisório, enquanto possibilidade de
tratamento futuro.
Para, com efeito, ter sentido, um conceito deve poder entrar em
comunicação, inserir-se em um diálogo, ser susceptível de receber
uma interpretação ou, em termos peirceanos, ter um (ou alguns)
interpretante(s). Visar, por outro lado uma indeterminação absoluta
de um termo, seria pretender que se pudesse conhecer, quanto a seu
sujeito, todos os predicados possíveis com respeito aos quais ele é
indeterminado. Ora, uma tal lista é infinita. Por conseguinte, caso
se queira saber do que se está falando, e manter-se somente dentro
do registro do cognoscível, deve-se concluir que todo termo é, ao
menos, potencialmente determinado (Silveira, 2001, p. 97 apud
Tiercelin, 1993, p. 279).
Transitar entre a formalização da significação e sua abertura para
novos interpretantes é, por definição, o entendimento do conhecimento
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
502
científico. A formação de interpretantes, e por consequência o pensamento
evolucionário, está na alternância entre a generalidade e o caso particular,
no teste de secundidade, na verificação de existência, constatado entre a
possibilidade e a representação.
O vago é, pois, em definitivo um princípio universal real, e não “um
defeito de nosso conhecimento ou de nosso pensamento” (CP 4.344).
Deve-se, por outro lado, dizer que: “aonde quer que um grau ou
qualquer outra possibilidade de variação contínua subsista, a precisão
absoluta é impossível” (CP 5.506). É, pois, vão sonhar em eliminá-
la, mas mais ainda, dela deve-se levar em conta, enquanto possível,
em nosso conhecimento. Afirmar que “não se pode deixar de levar
em conta o vago em lógica, como não se pode deixar de levar em conta
o atrito em mecânica” (CP 4.512) é simultaneamente afirmar que
nosso ideal de conhecimento passa através do exame dos métodos
e dos princípios a serem seguidos em lógica, nas ciências e em
ontologia, para expô-lo à luz (Silveira, 2001, p. 99, apud Tiercelin,
1993, p. 317).
A representação, característica da terceiridade enquanto seu ca-
ráter de lei, de geral, depende da relação dialógica estabelecida a partir
dela. Oferecer o signo para interação é o caráter científico de difusão de
conhecimento.
A semiose, por mais rigorosa que se pretenda tem que haver-se
com o vago dos signos para manter-se em seu caráter dialógico
e para evoluir em direção à Verdade. Diante do vago, torna-se
pois imprescindível desenvolver um método de pensamento que
permita aprimorar progressivamente os conceitos e determinar
cada vez mais apuradamente a conduta. Isto se fará, escolhendo
com cuidado os signos que representarão os objetos de tal modo
que antecipem a conduta que colocarão em confronto as mentes e
o que elas interrogam. O Pragmaticismo como método de conduta
científica, deixa bem claro Tiercelin, decorre da estratégia de se
trabalhar o pensamento necessariamente vazado pela vagueza das
representações. Sua máxima é o principal legado peirceano para
quem quiser fazer avançar a semiose rumo à Verdade (Silveira,
2001, p. 100).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
503
A representação do conhecimento tratada pelos profissionais da in-
formação tem no conceito e entrada de assunto passo fundamental para
a recuperação da informação. Cada nova recuperação implica em nova
formação interpretante, que tem chances de alterar a representação aceita
enquanto conceito. O pragmatismo extensivo ao tratamento do conhe-
cimento, seja ele o percurso de uma abdução ou a representação contida
na divulgação mediada pela retórica, vale-se da capacidade de significação
contida e desenvolvida no processo dialógico de mediação do signo com o
objeto, no processo informacional da semiose.
Depois de 1900, a máxima pragmática não pode mais ser vista
como mera postulação, mas como um método, ou melhor, como
aquela parte da retórica especulativa que se responsabiliza pela
determinação do significado de palavras difíceis e conceitos
abstratos. Ao se livrar do verificacionismo do primeiro
pragmatismo, no novo contexto da teoria dos signos e da lógica
abdutiva, o pragmaticismo passa a dizer respeito às consequências
que a aceitação de uma hipótese trará para o pensamento e a
conduta de um intérprete, a saber, em que medida essa aceitação
o levará a uma mudança de hábito de pensamento e ação, rumo
ao imponderável, mas sempre evolucionário interpretante final
(Santaella, 2008, p. 105, grifo nosso).
A representação dos conceitos deve ter a caracterização de seu pro-
cesso de significação incluída nele, uma vez que o conhecimento não está
apenas no nome caracterizado na representação, mas numa sequência lógi-
ca que confere cientificidade àquilo que é divulgado para uma comunida-
de, ou para a sociedade de maneira geral.
Nos comentários sobre “O que é pragmatismo”, fazendo uma
“Explicação para o que é Pragmaticismo” (Peirce, p. 411-463, CP 4.530-
4.572, 1905), Peirce revela que todo universo é permeado por signos e a
verdade obtida está na transição entre o objeto do conhecimento e sua
transposição para o interpretante:
As observações de outubro [ou seja, aqueles no artigo acima] fizeram
a distinção adequada entre os dois tipos de indeterminação, a saber:
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
504
indefinição e generalidade, dos quais o primeiro consiste em o signo
não se expressar suficientemente para permitir uma interpretação
determinada indubitável, enquanto o [segundo] vira ao intérprete
o direito de concluir a determinação como bem entender. Parece
estranho, quando alguém pensa sobre isso, que um signo deve
deixar seu intérprete para suprir uma parte de seu significado; mas
a explicação do fenômeno está no fato de que todo o universo -
não apenas o universo dos existentes, mas todo o universo mais
amplo, abraçando o universo dos existentes como parte, o universo
ao qual estamos acostumados a nos referir como “ a verdade “- que
todo esse universo é perfundido com signos, se não for composto
exclusivamente de signo. Observemos isso de passagem como
tendo uma relação com a questão do pragmaticismo. (Peirce, 1974,
p. 302, CP 5.448. Quinto parágrafo da nota de rodapé, 1905,
tradução nossa).
A aprendizagem e aquisição do sujeito enquanto um ser expressivo e
ator social tem na reinterpretação daquilo que é significado o processo evo-
lutivo de aquisição de conhecimento (Colapietro, 2013). A arte de oferecer
acesso ao conhecimento atrelado ao ensino de maneira geral, promovendo
a criatividade de novos interpretantes que são inerentes à capacidade e
formação do repertório do sujeito que aprende, é exercido também na
classificação e organização da informação.
A institucionalização da capacidade criativa nos processos de indexa-
ção, que é o processo no qual a semiose foi tratada neste trabalho, trazem
para os profissionais da informação o papel de direcionar o conteúdo infor-
macional promovendo o incremento de conhecimento, reforçando assim o
caráter científico da Ciência da Informação.
As possibilidades de divulgação do conhecimento estabelecido em
cada área afim de conhecimento, marcado por uma organização referente à
comunidade que partilha e leva adiante a forma evolucionária de compar-
tilhamento deste conhecimento, tem na retórica especulativa uma maneira
de compartilhar esta organização do conhecimento. Entender o método
cujo resultado verdadeiro pode ser difundido marca o caráter científico de
conhecimento estabelecido por uma comunidade.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
505
A busca da verdade lógica se traduz na evolução do assunto contido
na feitura do documento, mediado pela indexação e aberto a outros en-
tendimentos pela comunidade de estudiosos que está contida em vários
segmentos sociais.
O processo inferencial tem a mesma abordagem metodológica
que pode ser aplicada pelos profissionais da informação em Ciência da
Informação. Aquilo que faz a diferença é a intencionalidade de determina-
ção da conduta. Os processos de indexação têm características científicas
de significação que incorporam processos interpretativos peculiares a cada
profissional, em cada situação de indexação.
As pesquisas têm o filtro daquele ator que se apropria do conheci-
mento e que o faz seguir adiante. O bem estético a ser alcançado se trans-
forma de acordo com a abordagem ética de cada comunidade e em cada
ação, e por consequência também aquele do indivíduo, no transcurso
evolucionário para chegar ao bem lógico, na consideração peirceana. As
pesquisas científicas das possibilidades pragmáticas seguindo a teoria peir-
ceana apesar de consistentes, ainda têm amplas possibilidades de utilização
ao relacionar o documento e usuário.
Neste trabalho, pôde-se considerar como resultado o conceito de
semiose contínua enquanto processo informacional proposto por Peirce,
1) seu uso evolucionário nos processos de Organização da Informação e
Conhecimento, demonstrado na pesquisa bibliográfica que constata, den-
tro da Ciência da Informação o tratamento da semiose vista à maneira de
Peirce. 2) Também é contribuição original deste trabalho o ponto de vista
procedente do pragmatismo - que não deve ser confundido com pragmáti-
ca - , uma vez que implica em posturas de ação e aquisição de conhecimen-
to de formas diferenciadas. Com relação à organização da informação, 3)
o método pragmático aqui defendido aponta para a maneira ética de deli-
mitar o bem estético contemplada na determinação de domínio. Portanto,
delimitar e analisar um domínio, por meio do método pragmático implica
em primeira análise determinar seu bem estético, que é mutável e depen-
dente de um contexto, assim como também novos domínios podem ser
delimitados. A Retórica Especulativa proposta por Peirce, 5) e demons-
trada neste trabalho é uma alternativa proposta por ele para contemplar as
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
506
descobertas e novas informações nas diversas disciplinas científicas. Uma
vez que é o método pragmático que oferece os novos interpretantes, a sig-
nificação representada de maneiras diferentes apresenta a forma que mais
se adequa ao usuário daquilo que está representado. Esta contribuição peir-
ceana colocada em simetria à análise e determinação de domínio neste
trabalho 6) é também outro quesito a ser destacado. Assim, o conceito de
informação peirceano, 7) no qual a formação do signo é aquilo que implica
em um processo informacional, é o conceito atribuído à informação. Desta
maneira, a ação do signo mediando o objeto ao seu interpretante é aquilo
que produz informação, e retira da representação humana a caracterização
da produção de informação, uma vez que a informação está na ação do
signo. A conduta humana, na representação executada pelo indivíduo, su-
jeitos atuantes na sociedade produzem informação. 8) As representações
estéticas, de acordo com sua conduta ética, apresentam as representações
que são formas passíveis de novas significações, dependendo da ocorrência
de novas semioses que produzem informação nos novos interpretantes, os
efeitos dos signos nos indivíduos percebidos em suas representações, e que
novamente oferecem informação na ação de comunicação deste signos. 9)
Esta aceitação na Ciência da Informação, proposta neste trabalho, implica
numa aceitação de mútua influência entre as disciplinas científicas e modo
de atuação dos profissionais da área incluindo a importância do processo
criativo da abdução dentro da maneira lógica de organização da informa-
ção e conhecimento.
Nossas pesquisas podem seguir em trabalhos futuros para os estudos
em Ciência da Informação, dentro das Ciências Normativas que aliam a
Ética e Estética, dentro do Pragmaticismo e têm um campo vasto de enten-
dimento ainda a ser transposto, entendido enquanto transdisciplinaridade
para as possibilidades de atuação da Ciência da Informação.
As diversas formas nas quais o signo se apresenta deixam abertas pos-
sibilidades de elaboração contempladas pelas várias disciplinas científicas.
A comunicação por meio das formas de representação é passível de inves-
tigação e conhecimento. Esta verificação da semiose nos elementos, cus-
todiados enquanto veículos de informação para a Ciência da Informação,
perpassa as disciplinas científicas, assim como também podem ser analisa-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
507
dos no cotidiano das comunidades. A importância social para a Ciência da
Informação é ter um método que é capaz de verificação na ciência e tam-
bém no cotidiano das pessoas. A arte, a técnica, o noticiário de eventos re-
lacionados a eles e demais manifestações do contexto social são formas nas
quais a Ciência da Informação estabelece seu campo de atuação. Assim, se
os critérios de significação, a partir do método pragmático peirceano, têm
o caráter evolucionário como tônica de atuação, tanto do signo quanto dos
sujeitos, organizar a informação pode ser feito em qualquer elemento que
ofereça comunicação, valendo-se da capacidade lógica da linguagem no
processo semiótico simbolizado em sua apresentação.
508
509
7
PRAGMATISMO DE PEIRCE E
INFORMAÇÃO VERDADEIRA
A delimitação do campo de atuação da Ciência da Informação, den-
tre os diversos campos de conhecimento componentes da área, tem na
definição da informação seu elemento comum e sua maior dificuldade de
deliberação. A falta de consenso na definição de informação e ao mesmo
tempo o grande alcance da divulgação daquilo que pode ser considerado
informação propõe uma revisão constante dos parâmetros tratados dentro
da área. Este trabalho partiu desta dificuldade para averiguar, a partir da
Ciência da Informação, como a proposta pragmatista foi recebida pelos
profissionais da área na organização da informação e conhecimento. A via-
bilidade deste emprego depende tanto da aceitação quanto da divulgação
do uso do método pragmático.
Este trabalho apontou a delimitação da atuação da Ciência da
Informação e da Organização da Informação (2º capítulo), para então in-
troduzir o pensamento peirceano, desde a estrutura das ciências, passando
pela Semiótica e outras Ciências Normativas (3º capítulo). Assim, a carac-
terização de pragmatismo feita por Peirce (4º. capítulo) foi conduzida para
o seu entendimento na Ciência da Informação; assim a incorporação do
conceito de informação e transposição para a Organização da Informação
e Conhecimento dentro da Ciência da Informação foram possibilitados
(5º. capítulo).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
510
Delimitar a informação vista como um processo semiótico, no con-
texto de uma ação, que tem possibilidades de analisar o fenômeno da in-
formação tanto científica quanto as demais que ocorrem sem especificação,
é um dos pontos centrais de discussão reivindicados e expostos no traba-
lho. Nas modalidades em que ocorre a comunicação contemporaneamen-
te, com os vários meios comunicacionais agindo de maneira complexa,
entender a informação enquanto um processo dinâmico, com múltiplas
atribuições de significado é fundamental para a Ciência da Informação. A
promoção deste conceito dinâmico de informação, aliada à determinação
de conduta, é uma contribuição importante da tese para atribuir caráter
científico à informação. Para a demonstração desta afirmação, foi feita a
revisão dos conceitos de informação, tanto aqueles divulgados na Ciência
da Informação, quanto em outras áreas do conhecimento.
A revisão dos conceitos do tratamento da informação dentre os
estudos da área, realizados habilitam, dentro do processo evolucionário
de informação, a aquisição de conhecimento. Possibilitam a difusão do
conceito de semiose enquanto elemento estruturador na Organização da
Informação, propondo um método, o pragmático, enquanto definidor de
parâmetros criativos e evolucionários para a organização da informação
também para os profissionais da área que executam as tarefas de organiza-
ção para posterior recuperação.
O segundo capítulo oferece elementos da Arquitetura das Ciências
para a compreensão da semiótica e do Pragmatismo, valendo-se das Ciências
Normativas. A estruturação proposta por Peirce, com a classificação das ciên-
cias e dos signos demonstra logicamente sua capacidade de emprego.
O terceiro capítulo tratou do direcionamento da conduta de um
indivíduo com vistas ao objetivo a ser alcançado, que extrapola o nível da
semiose ou lógica, na gramática especulativa para introduzir a conduta
pragmaticista que alia Ética, Estética e Semiótica como método de obtenção
da verdade científica. Para demonstrar o método empregado, as pesquisas
peirceanas, dentro das Ciências Normativas, é necessário aliar a Ética e
Estética em busca da determinação da verdade lógica a ser pretendida,
pois assim será possível dar conta de demonstrar o processo que é aberto a
novas possibilidades de desdobramento, sendo possível a verificação de sua
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
511
aplicação ou falibilidade no continuum evolucionário do conhecimento.
Uma evolução de interpretantes está sempre aberta à revisão, aberta às
consequências práticas passíveis de correção e crescimento ilimitados.
Estes signos delimitados no processo de significação, representados em
uma forma, são apresentados enquanto o interpretante normal que segue a
continuidade do processo, incorporando conhecimento verdadeiro rumo
ao interpretante final.
Uma vez que os conceitos têm um propósito, eles têm determinação
Ética, que visa um bem Estético, pelo menos em determinada situação,
na qual seu significado implica efeitos práticos concebíveis, passíveis de se
desenrolar enquanto ação. Delimitar um signo fundamental abre possibili-
dades de delimitação do campo de abrangência ao qual ele irá direcionar o
comportamento, seja humano ou modelado artificialmente com a grande
variedade e velocidade proporcionada pelos computadores.
A importância do terceiro capítulo está, além da definição do Método
Pragmático, nas concepções epistemológicas que colocam a maneira inter-
disciplinar do método como forma de ação, possibilitando desta maneira
que o escopo da Ciência da Informação tenha maior abrangência, a partir
desta interação entre método de ação e representação da informação. As
possibilidades de semiose, tanto aquela que é evolucionária, como a que
está estagnada em sua representação, foram salientadas neste terceiro ca-
pítulo. A definição de “conceito” como hábito é uma contribuição valiosa
para a Ciência da Informação. O caráter científico de toda a obra peircea-
na, foi contribuição central da pesquisa.
Esta constatação é válida para os trabalhos de Organização da
Informação, moldada nos vários substratos nos quais ela possa ser ofereci-
da, sendo valiosa em especial para os processos de indexação.
Para a diferenciação entre Pragmatismo e Pragmática feita no quarto
capítulo foi necessário que, em primeiro lugar, o pensamento estruturado
da Arquitetura das Ciências fosse trazido, após a delimitação do campo de
atuação da informação, dentro da Ciência da Informação feito no primeiro
capítulo. A divulgação do pensamento científico peirceano não é novidade
na Ciência da Informação. Os autores tratados no quinto capítulo trouxe-
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
512
ram trabalhos importantes para a semiose na organização da informação.
Porém, a definição deste trabalho certamente contribui para o avanço de
trabalhos futuros.
Os vários domínios, como estudados por Hjørland (2010), podem
estar em disciplinas diferentes e, portanto, os arranjos em domínios podem
ter métodos que sejam adequados a abordagens específicas ou diferentes
entre si, possibilitando uma interdisciplinaridade. A escolha das publica-
ções de Hjørland teve como referência as mudanças de enfoques dentro
da Ciência da Informação feitas por um autor reconhecido na área. Uma
vez que o domínio é um recorte no direcionamento da pesquisa, a ação do
signo e a ação do pesquisador são imbricadas na formação de novo inter-
pretante, de novo signo que cria e representa conhecimento
A diferenciação entre pragmatismo peirceano e pragmática é uma ma-
neira de resgatar o pensamento original desse filósofo, oferecendo bases lógi-
cas para o tratamento científico da informação. A ideia não é oferecer “uma
aplicação prática da teoria”, mas delimitar a ação e significação de forma que
o termo “pragmatismo” não seja tratado como a simplificação inadequada
de apenas “uma ação para realização de um objetivo”. Uma vez que o termo
pragmatismo não tem consenso dentro da Ciência da Informação, este tra-
balho cumpre o objetivo de oferecer uma proposta de esclarecimento.
Atrelada às questões sociais atuais, nas quais a difusão de notícias, a
título de informação, semeia direcionamentos morais nas redes sociais, a
questão dos fatos verdadeiros e dos fatos atrelados a componentes emocio-
nais acrescenta um interesse ao estudo da informação verdadeira. Mas isto
é matéria para desenvolvimento em outro trabalho.
O caráter de verdade dentro da ação social deve ser contemplado
por qualquer tipo de informação. O pragmatismo oferece uma opção
metodológica para este tratamento da informação, dentro da Ciência da
Informação.
Tendo em vista a concepção de signo dentro da estrutura das ciên-
cias peirceana, a visão do signo e pragmatismo trazidos para a Ciência da
Informação, tem incorporada a transposição da semiose para as possíveis
categorias de conhecimento.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
513
O percurso argumentativo da obra teve o seguinte encadeamento:
A informação é veículo para o conhecimento. Os signos são ve-
ículos de transmissão de informação. Todos os substratos físicos
nos quais a significação ocorre estão apresentados em uma for-
ma. Esta premissa foi o ponto de partida deste trabalho.
A Ciência da Informação trata epistemologicamente a informa-
ção organizada que fomenta a criação do conhecimento. A ca-
racterização da informação é fundamento em construção dentro
da Ciência da Informação.
A interação que produz informação num processo de significa-
ção pode ser feita pelo método pragmático independentemente
da disciplina de conhecimento, pois pragmatismo peirceano é
transdisciplinar.
A abdução incorpora a inferência lógica à existência. A hi-
pótese aventada na abdução, tem na dedução que avalia as
condições de realização, as consequências experimentadas na
indução que poderá comprovar ou refutar a hipótese aven-
tada. Proporciona comprovação científica à área de estudo,
contemplada pela interação entre a forma e sua significação,
que fica representada em um conceito com sua forma em
representação específica. Assim, as várias áreas de conheci-
mento apresentam a significação de sua matéria de ação em
representações condizentes ao resultado apresentado.
A criação de informação implica em conhecimento. A criação
de um novo signo é a passagem da informação do objeto pelo signo
na criação do interpretante. O processo informacional implica na
formação de um signo, assim informar é criar na mente de um
intérprete um interpretante. Para haver informação é necessária
a comunicação. O processo dialógico do signo implica atividade
comunicacional do agente que se vale do signo para a ação que
promove informação. Realçar a relação entre semiose e informa-
ção é um dos principais resultados deste trabalho.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
514
Informação é a passagem de realidade para existência. A che-
cagem factual de maneira científica permite a consideração ver-
dadeira por meio da significação em um procedimento lógico
que pode, cientificamente, comprovar a verdade demonstrada
dedutivamente e indutivamente.
Os conceitos representam uma generalidade representada, pas-
sível de verificação em casos particulares que confirmam a ge-
neralidade dos conceitos segundo o hábito que forma a mente,
de acordo com a visão peirceana. Conceitos são símbolos, passí-
veis de futuros signos na evolução de interpretantes e criação de
conhecimento.
O pragmatismo oferece metodologia para aquisição da verdade
lógica. Desse modo, contribui à Ciência da Informação.
A Organização da informação ao adequar o repertório que ofere-
ce a informação representada, seja pelo “domínio”, seja pelo “sig-
no fundamental”, tem no primeiro caso uma delimitação ética
de interação com o usuário para a formação de interpretantes; e
no segundo caso, uma calibragem entre o signo oferecido e uma
abrangência ou especificidade na informação.
A forma oferecida enquanto interpretante normal é conhe-
cimento passível de organização, num recorte ético propor-
cionado pelo domínio. A forma é veículo no processo de
significação, uma vez que traz consigo a evolução dos sig-
nos que a determinam. O direcionamento no recorte feito
pelo domínio tem objetivos dados a priori, que podem ser
adequados na formação de novos interpretantes, vindos para
confirmar ou modificar o habito representado. A condução
de novos interpretantes passa pelo direcionamento do domí-
nio, envolvendo ações, técnicas e adequações que resultam
em novas representações.
A Organização do Conhecimento dentro da Ciência da
Informação trata de incorporar por meio da retórica especulativa
o “signo fundamental”, ou seu “domínio” em uma área de pes-
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
515
quisa, de modo a incrementar o acesso do usuário à informação
que propicia o conhecimento, sendo este um processo ético de
determinação da conduta.
A interação pela ética no repertório oferecido pela indexação
e o acesso feito pelo usuário, dentro de sua proposição de
pesquisa e consequente uso, são passíveis de acontecer em
qualquer substrato físico, nas várias formas que o signo pode
se apresentar. Uma vez que a determinação da conduta pro-
duz uma forma passível de significação, contemplada pelo
pragmatismo, é possível afirmar a interdisciplinaridade do
método pragmatista. Ao favorecer a organização do conhe-
cimento, o método contribui para a atuação transdisciplinar
da Ciência da Informação, procedendo a diversidade de ele-
mentos na organização da informação e conhecimento.
O sujeito inserido em um grupo social, num contexto refletido em
seu meio ambiente, tem produção de informação e se vale desta informa-
ção e das informações percebidas para suas atividades. A semiose permeia
os fenômenos naturais. Embora possam ocorrer em níveis diferentes, os
processos de significação entre a produção representativa humana e aqueles
presentes no universo são passíveis de análise e representação da significa-
ção. Permeando a ação humana está o signo e o processo informacional
inerente a ele.
Terceiro, as categorias sugerem que procuremos uma lei
sintetizadora; e isso encontramos no poder da assimilação,
incidente ao qual é a faculdade que adquire hábitos. Essas são
todas as categorias que pretendem fazer. Eles sugerem uma maneira
de pensar; e a possibilidade da ciência depende do fato de que o
pensamento humano participa necessariamente de qualquer caráter
difundido por todo o universo, e que seus modos naturais tendem a
ser os modos de ação do universo (Peirce, 1974, p. 179, CP 1.351,
1905, tradução nossa).
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
516
A revisão da obra peirceana teve que recorrer a seus escritos. Estes
foram transcritos de acordo com o signo que podem evocar na formação
do repertório interpretante de cada leitor, seja para a explanação de uma
ideia ou para a abertura de questionamentos futuros. A opção por esta
maneira de divulgação do pensamento peirceano é um convite aos novos
estudiosos dentro da Ciência da Informação. Os pontos de vista de Peirce,
que são múltiplos, merecem resgate e a Retórica Especulativa é instrumen-
to complementar à disciplina científica que permeia o entendimento de
tantas outras.
Encerrando esta pesquisa, podemos afirmar que a custódia da infor-
mação, assim como a evolução do conhecimento, tratadas na Ciência da
Informação, têm um propósito determinado e são passíveis de tratamento
lógico para a aceitação científica.
A atualidade da articulação científica proposta por meio do método
pragmático carece de uma adaptação consistente na Ciência da Informação.
Mais do que determinar uma aplicação, a pesquisa aqui descrita pode des-
pertar a continuidade do conhecimento no próximo interpretante.
As pessoas que constroem castelos no ar, na maioria das vezes, não
realizam muito, é verdade; mas todo homem que realiza grandes
coisas é dado a construir elaborados castelos no ar e depois copiá-
los dolorosamente em terra firme. De fato, todo o negócio do
raciocínio e tudo o que nos torna seres intelectuais é realizado
na imaginação. Homens vigorosos costumam manter a mera
imaginação em desprezo; e nisso eles estariam certos se houvesse tal
coisa. Como nos sentimos não importa; a questão é o que faremos.
Mas esse sentimento que é subserviente à ação e à inteligência da
ação é correspondentemente importante; e toda a vida interior é
mais ou menos tão subserviente. Mera imaginação seria, de fato,
mera insignificância; apenas a imaginação não é mera. “Mais do
que tudo o que está sob sua custódia, vigie a sua fantasia”, disse
Salomão, “pois são as questões da vida”. Omni custodia serva cor
tuum, quia ex ipso vita procedit (Peirce, 1974, p.188-189, CP
6.286, 1893, tradução nossa)1.
Omni custodia serva cor tuum, quia ex ipso vita procedit.1Guarda o teu coração, porque eles têm vida
(tradução latim).
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
517
A Ciência da Informação ao tratar os dados que carregam o arcabou-
ço de conhecimento trazido por gerações, tem no fomento da mensagem
transmitida pela linguagem humana seu grande objeto de estudo. De fato
o conhecimento registrado com a intenção de assegurar o conhecimento
vigente é a preocupação da civilização desde que os registros são feitos. De
acordo com Peirce percebemos aquilo que estamos preparados para co-
nhecer, assim como o pragmatismo dá o método para aquilo que estamos
preparados para executar (Peirce, 1974, p.24-25, CP 5.35, 1903).
O conhecimento não é feio de insights, mas da evolução sistemática
do conhecimento. E é esta preocupação com a transmissão de informação
verdadeira aquilo que moveu Peirce a desenvolver um método para obten-
ção da verdade, mesmo sabedor que toda empreitada corre o risco de ser
falível, de serem necessários ajustes durante o percurso, ou um recomeço.
Levando-se em conta a continuidade do processo de aprendizagem,
aquilo que este trabalho deixa será a possibilidade de novos incômodos
causados pelo desconhecimento daqueles interesses esteticamente alcançá-
veis enquanto bem. A apresentação de novos interpretantes é um processo
contínuo, dependendo desta mudança de foco para investigação, depen-
dendo de cada pesquisador.
Futuros trabalhos têm nos estudos das representações possibilidades
de estudar o percurso do conhecimento nas diversas formas físicas ofereci-
das enquanto objetos resultantes de processos de significação.
A determinação de abrangência e profundidade para informação no
mapeamento capacitado pela rede mundial de computadores pode deter-
minar, pela busca de informação, sua procedência e também a trilha de sua
divulgação. Esta determinação pode ser pontual ou probabilística, depen-
dendo da capacidade de busca.
Uma das possibilidades futuras de investigação está neste processa-
mento da informação usando a semiose para identificação estética dos con-
teúdos formalizados. A checagem ética está a cargo da sociedade, sujeita às
regas morais e legais.
O conhecimento humano trazido pelos seus artefatos tem na técni-
ca, a evolução histórico-social do conhecimento humano. Investigar estas
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
518
representações está no nível acadêmico, contido nas pesquisas científicas,
mas também está nos diversos artefatos construídos pelo homem e que ofe-
recem significação nesta ação de produção destes artefatos. O conhecimen-
to e ação produzindo formas de representação são passíveis de constatação
no ambiente construído pelo homem, que também vive sob a influência
deste ambiente construído. Esta relação extrapola o âmbito da informa-
ção custodiada, mas também pode ter tratamento científico. O tratamento
da informação, dentro da Ciência da Informação, à medida que investiga
aquilo que é informação, faz da delimitação do seu campo um avanço nas
comunidades nas quais atua. A informação está em todo processo dialógi-
co que promova esta comunicação por meio dos signos.
Estudar a informação, fora da documentação custodiada, é uma
maneira de expansão do âmbito da Ciência da Informação. Os processos
informacionais que são executados pela ação humana, envolvendo sua ra-
cionalidade promovem conhecimento por meio da experiência. O proces-
so de urbanização e a representação dos documentos significativos para as
civilizações são processos que surgem conjuntamente. Estudar a maneira
de construção do ambiente é uma maneira de estudar a maneira de repre-
sentação apresentada enquanto conhecimento humano.
A múltipla influência entre a ação e a condição de atuação promo-
vidas pelo espaço físico moldado por esta ação, implica em tratar a infor-
mação em outros moldes daquilo que é documentação. Os trabalhos em
arquitetura e urbanismo envolvem representação da atuação do sujeito em
sociedade, produzindo informação na construção do meio ambiente.
Nos trabalhos posteriores deve-se abarcar novas formas de represen-
tação que extrapolam o documento. As linguagens comunicacionais obti-
das de outras maneiras, visuais e perceptivas que envolvem a construção de
elementos tridimensionais têm no espaço das cidades os mesmos poten-
ciais de informação que os museus, onde os documentos são custodiados.
Esta investigação da informação no ambiente físico, socialmente construí-
do e que constantemente produz informação, pode ser a matéria principal
de novas investigações.
519
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0K7WEpwepkFyBtpixGKL_bbbCPQ. Acesso em: 10 fev. 2020.
535
Apêndice
Observação: As obras de Charles S. Peirce utilizadas neste trabalho estão com a
abreviatura, de cada obra, relacionadas em ordem alfabética.
PEIRCE, C. S. CN. Contributions to the Nation. Edited by Kenneth Ketner and
James Edward Cook. Lubbock: Texas Tech Press, 1975. v. 1
PEIRCE, C. S. CN. Contributions to the Nation. Edited by Kenneth Ketner and
James Edward Cook. Lubbock: Texas Tech Press, 1975. v. 2
PEIRCE, C. S. CN. Contributions to the Nation. Edited by Kenneth Ketner and
James Edward Cook. Lubbock: Texas Tech Press, 1979. v. 3
PEIRCE, C. S. CN. Contributions to the Nation. Edited by Kenneth Ketner and
James Edward Cook. Lubbock: Texas Tech Press, 1987. v. 4
PEIRCE, C. S. CP. Collected Papers 4th. ed. HARTSHORNE, C.; WEISS P.;
BURKS, A. W. (ed.). Harvard University Press: Cambridge, MA, 1974. 8 v. 1931-
1958.
PEIRCE, C. S. EP. e Essential Peirce. Selected Philosophical Writings. N. Houser et
al. (ed.). Bloomington: Indiana University Press, 1992. v. 1
PEIRCE, C. S. EP. e Essential Peirce. Selected Philosophical Writings. N. Houser et
al. (ed.). Bloomington: Indiana University Press, 1998. v. 2.
PEIRCE, C. S. MS. e Charles S. Peirce Papers, 32 rolos de microfilmes dos
manuscritos conservados por Houghton Library. Cambridge, MA: Harvard University
Library, Photographic Service, 1966.
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
536
PEIRCE, C. S. NE. e New Elements of Mathematics. EISELE. C. (ed.) Mouton:
Haya, 1976. v. 1
PEIRCE, C. S. NE. e New Elements of Mathematics. EISELE. C. (ed.) Mouton:
Haya, 1976. v. 2
PEIRCE, C. S. NE. e New Elements of Mathematics. EISELE. C. (ed.) Mouton:
Haya, 1976. v. 3
PEIRCE, C. S. NE. e New Elements of Mathematics. EISELE. C. (ed.) Mouton:
Haya, 1976. v. 4
PEIRCE, C. S. W. Writings of Charles S. Peirce: A Chronological Edition, v. 1-6, M.
H. Fisch et al. (ed.), Indiana University Press, Bloomington, 1982-2000.
PEIRCE, C. S. Studies in Logic (by members of e John Hopkins University, 1883)
edited by Charles S. Peirce. (Facsimile of the Edition Boston, 1883) Amsterdam/
Philadelphia: J.B. Publishing Company, 1983.
apênDice
CN Contributions to the Nation. Edited by Kenneth Ketner and James Edward Cook.
Lubbock: Texas Tech Press, 4 vols. 1975-1987.cn
CP Collected Papers, vols. 1-8, C. Hartshorne, P. Weiss y A. W. Burks (eds), Harvard
University Press, Cambridge, MA, 1931-1958. Electronic Edition de J. Deely,
Charlottesville, VA: InteLex.
EP e Essential Peirce. Selected Philosophical Writings, vols. 1-2, N. Houser et al.
(eds), Indiana University Press, Bloomington, 1992-98.
MS e Charles S. Peirce Papers, 32 rolos de microfilmes dos manuscritos conservados
por Houghton Library. Cambridge, MA, Harvard University Library, Photographic
Service, 1966.
NE e New Elements of Mathematics, vols. 1-4, C. Eisele (ed), Mouton, La Haya,
1976.
W Writings of Charles S. Peirce: A Chronological Edition, vols. 1-6, M. H. Fisch et al.
(eds), Indiana University Press, Bloomington, 1982-2000.
Studies in Logic (by members of e John Hopkins University, 1883) edited by
Charles S. Peirce. (FACSIMILE OF THE EDITION Boston, 1883) Amsterdam/
Philadelphia: J.B. Publishing Company, 1983.
537
A
Abdução: Processo que forma uma
nova hipótese explanatória, consiste
em examinar uma massa de fatos e em
permitir que esses fatos sugiram uma
teoria.
Argumento: Signo entendido por
representar seu objeto em seu caráter de
signo, seu interpretante é um signo de lei.
C
Categoria: é um modo de predicação,
ou classe de predicados, enquanto que
Universo é receptáculo ou classe de
sujeitos (CP 4.545)
Ciências normativas: Ciências que
conformam as coisas aos fins.
Crença: Hábito da mente essencialmente
duradouro por algum tempo e
principalmente (pelo menos) inconsciente;
e, como outros hábitos, é (até encontrar
alguma surpresa que comece sua
dissolução) perfeitamente auto satisfeita.
D
Dedução: Uma série de todos os tipos de
consequências experienciais condicionais
que se seguiriam à sua verdade.
Dicissigno: Signo da existência efetiva
do seu objeto que vai determinar seu
interpretante. Tipo de sinal que carrega a
informação, em contraposição a um signo
do qual a informação pode derivar.
E
Estética: Determina por análise o que
é que alguém deve deliberadamente
admirar per se em si mesmo,
independentemente do que ele possa levar
e independentemente de suas orientações
sobre a conduta humana.
Glossário
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
538
Ética: Relação de reação com aquilo que
é fato conduz o processo por meio da
experiência escolher o melhor caminho de
ação é trabalho
Experiência: aprendizado dependente da
ação.
Experimentação: comprovação obtida na
prática daquilo que está contido na teoria.
F
Falibilismo: possibilidade de constatação
e correção de equívoco, sempre aventada
no percurso que o pesquisador traz
consigo.
Fenomenologia: verifica e estuda os tipos
de elementos universalmente presentes no
fenômeno; significado pelo fenômeno, o
que quer que esteja presente a qualquer
momento para a mente de qualquer
forma. (CP 1.186)
Filosofia: é ciência positiva, no sentido
de descobrir o que realmente é verdade;
mas limita-se a tanto da verdade quanto se
pode inferir da experiência comum. (CP
1.184)
G
Gramática (pura ou especulativa):
Trata das relações entre signo, objeto e
interpretante e suas possibilidades de
interação.
H
Hábito: Reforça a perspectiva do termo
conceito” enquanto um processo
evolucionário, contrapartida ontológica do
pragmatismo. Conduz teleologicamente e
é incorporado e inteligível, maneira regida
pela regularidade de comportamento.
I
Ícone: Qualquer coisa, seja a qualidade, o
indivíduo existente, ou a lei. Signo apenas
em potência e a efetivação da relação do
dicissigno é necessária para sua existência.
Índice: Signo que se refere ao objeto
que denota em virtude de ser realmente
afetado por aquele Objeto.
Indução: Teste de ação e reação que
passa da realidade para a existência a ser
comprovada, pois a força bruta dos fatos
pode comprovar, ou refutar, a hipótese.
Informação: passagem do objeto à
formação do interpretante por meio do
signo. Onde há semiose, há informação.
Interdisciplinaridade: capacidade de
trânsito entre as disciplinas científicas de
método e conceituação de ação.
L
Legissigno: Uma lei simbolizada no
signo. Signo convencional.
Lógica: Ciência do que deve ser e pode
ser uma representação verdadeira, na
medida em que a representação possa ser
conhecida sem qualquer coleta de fatos
especiais além de nossa vida cotidiana
comum. É, em suma, a filosofia da
representação. Trata dos interpretantes
criados pelo raciocínio humano,
articulados em argumentos que são
decorrência da mesma relação semiótica
que trata a Gramática Pura em seus
elementos básicos.
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação: contribuições à Ciência da Informação
539
M
Mente: Conexão dos signos uns com os
outros neste universo, proporcionando
uma relação interpretante. Capacidade de
aprender com a experiência.
Metafísica: Para a filosofia Metafísica
cabe a generalidade, legitimar aquilo que
a mediação das categorias comprovou por
meio das ciências normativas.
Moderno: período histórico que
compreende o pensamento ocidental a
partir do renascimento
Modernismo: Movimento artístico
de século XX; sugestão de novidade e
mudança constante.
O
Objeto: Aquilo ao qual o signo se refere.
P
Primeiridade: Tomar consciência de algo,
sentir.
Q
Qualissigno: Necessariamente um ícone.
Quando a qualidade é um signo.
R
Rema: Leva uma possibilidade qualitativa
ao seu interpretante. Representa seu
objeto apenas pelos caracteres, leva alguma
informação desde que incorporado
ao dicissigno, porém um rema não é
interpretado como esta informação, mas a
veiculação de uma qualidade com vistas a
se tornar um interpretante.
Retórica: Reproduz os interpretantes,
representados nos estágios abordados nas
etapas de representação alcançadas, como
produto de articulação entre os signos
que provisoriamente tem o caráter de
verdade, e se encarrega de divulgar para a
comunidade científica ou para a sociedade
de maneira geral, usando a linguagem
necessária para alcançar cada público.
Retrodução: Estado criativo que investiga
as possibilidades, ao ser mantido o
raciocínio investigativo no desenrolar do
processo de pesquisa. Aquele caráter de
novidade sendo testado, confirmado ou
então a mudança de direcionamento se o
caminho se mostra falível.
S
Secundidade: Instantaneidade da
sensação que é absorvida pela instância,
fato de complexidade, ele não é um
composto de dois fatos. É um fato único
sobre dois objetos.
Signo: Objeto que está em relação
ao seu objeto, por um lado, e a um
interpretante, por outro, de modo a trazer
o interpretante para uma relação com
o objeto, correspondendo à sua própria
relação com o objeto.
Significado: conjunto de atuação do signo
capaz de produzir representação
Símbolo: Signo mais aceito e
compreendido enquanto tal. Signo
constituído como signo simplesmente
porque está no lugar de outra coisa, sendo
usado e entendido como tal. Sinal que é
determinado pelo seu objeto dinâmico
apenas no sentido de que será interpretado
dessa forma, depende, portanto, de uma
convenção, de um hábito ou de uma
Sônia Cristina Bocardi de Moraes
540
disposição natural de seu interpretante ou
do campo de seu interpretante.
Sinsigno: Sinaliza a existência, a
qualidade, ou reunião de qualidades que
deve se configurar em uma reação, no
conflito de ação que move a diagramação
do signo em um substrato físico, ou seja,
na corporificado em uma forma que
seja capaz de indicar a existência deste
signo no mundo fenomênico através dos
sentidos.
T
Terceiridade: Constatação da existência.
Torna possível o fenômeno ser real,
relação triádica existente entre um signo,
seu objeto e o pensamento interpretativo,
ele mesmo um signo, considerado como
constituindo o modo de ser de um signo.
541
A autora é arquiteta e urbanista, e os processos de significação são ma-
téria de interesse desde a graduação feita na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, terminada
em 1985. Fazer arquitetura é comunicar, através da ação, os signos que
constituem o espaço; assim, a evolução de interpretantes na constru-
ção da cidade foi o assunto da dissertação de mestrado em Filosofia pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2004). A tese de
doutorado em Ciência da Informação Unesp - Marília (2020), agora pu-
blicada na forma de livro, aprofunda a investigação no pragmatismo de
Peirce, observando os processos informacionais. Atualmente a carreira de
arquiteta coincide com a docência na Universidade de Marilia - Unimar,
onde as disciplinas em áreas variadas são ministradas, junto com a parti-
cipação no Núcleo Docente Estruturante da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Unimar. A diversidade dos processos de significação, nas
várias áreas do conhecimento, são material de investigação que estimula a
construção de conhecimento para a autora.
caTaLOGaÇÃO na puBLicaÇÃO (cip)
Telma Jaqueline Dias Silveira
CRB 8/7867
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sOBRe O LivRO
PRAGMATISMO
PEIRCEANO E A
CONCEPÇÃO DE
INFORMAÇÃO
contribuições à
Ciência da Informação
nia Cristina Bocardi de MoraesSônia Cristina Bocardi de Moraes
Pragmatismo peirceano e a concepção de informação:
contribuições à Ciência da Informação nia Cristina Bocardi de MoraesSônia Cristina Bocardi de Moraes
A autora é arquiteta e urbanista, e
os processos de signicação são maté-
ria de interesse desde a graduação
feita na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo na Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, terminada
em 1985. Fazer arquitetura é comu-
nicar, através da ação, os signos
que constituem o espaço; assim,
a evolução de interpretantes na
construção da cidade foi o assunto da
dissertação de mestrado em Filosoa
pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (2004). A
tese de doutorado em Ciência da
Informação Unesp - Marília (2020),
agora publicada na forma de livro,
aprofunda a investigação no pragma-
tismo de Peirce, observando os
processos informacionais. Atualmente
a carreira de arquiteta coincide
com a docência na Universidade de
Marilia - Unimar, onde as disciplinas
em áreas variadas são ministradas,
junto com a participação no Núcleo
Docente Estruturante da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Unimar.
A diversidade dos processos de signi-
cação, nas várias áreas do conheci-
mento, são material de investigação
que estimula a construção de conheci-
mento para a autora.


