É Professor Livre Docente da UNESP – Campus
de Marília, líder do grupo de pesquisa IGEPRI –
Instituto de Gestão Pública e Relações
Internacionais – certicado no CNPQ e
pesquisador do IPPMar – Instituto de Políticas
Públicas de Marília. É editor-chefe do periódico
cientíco Brazilian Journal of International
Relations. É assessor e consultor de agências de
fomento à ciência, entre elas FAPESP, FINEP,
PROEC, CNPQ e CAPES.
Política Externa
Brasileira e
Combate à Fome
Lições do passado,
perspectivas para o futuro
MARCELO FERNANDES DE OLIVEIRA
THIAGO LIMA
Política Externa Brasileira e Combate à Fome
Lições do passado, perspectivas para o futuro
Este texto é um ensaio científico sobre a temática da política externa
brasileira e o combate à fome. Científico porque nossa reflexão está
assentada na leitura de estudos acadêmicos sobre a questão. Mas,
propositadamente ensaístico porque é uma tese pessoal, com exercício
amplo da nossa liberdade intelectual, sem a preocupação de comprova-
ção última própria dos trabalhos acadêmicos.
Óbvio que temos a preocupação de sermos objetivos, lógicos, sistemá-
ticos, compreensivos, críticos e originais. Tudo aquilo que se espera de
quem “mata a sua fome” vivendo da produção de conhecimento acadê-
mico e científico.
Entretanto, aqui, nossa preocupação é com a condição humana. Nosso
olhar será guiado pelo inconformismo de vivermos em um país de
dimensões continentais, com clima favorável, água abundante, terra de
qualidade, mão-de-obra especializada, tecnologia agrícola avançada, e,
mesmo assim, no momento em que escrevemos, mais de 33 milhões de
brasileiros estão passando fome.
Em 2022, conforme o Segundo
Inquérito Nacional sobre Insegurança
Alimentar no Contexto da Pandemia de
Covid-19 no Brasil (Rede PENSSAN,
2022), 33,1 milhões de brasileiros não
têm comida suficiente disponível. Ainda
segundo o estudo, 58,7% da população
brasileira convive com a insegurança
alimentar em algum grau: leve,
moderado ou grave. Isso significa que são
125,2 milhões de brasileiros sofrendo de
algum grau de insegurança alimentar.
Naquele momento da pesquisa, somente
4 em cada 10 domicílios no país tinham
acesso pleno à alimentação.
Os dados foram coletados entre
novembro de 2021 e abril de 2022, por
meio de entrevistas em 12.745
domicílios em áreas urbanas e rurais de
577 municípios distribuídos nos 26
estados e no Distrito Federal. Eles
indicam que o país regrediu a patamares
dos anos 1990 na tarefa do combate à
fome (Rede PENSSAN, 2022: 15).
As regiões Norte e Nordeste sofrem mais:
71,6% e 68% da população,
respectivamente, estão em insegurança
alimentar; 25,7% das famílias
nordestinas convivem com a fome. A
média nacional é aproximadamente
15%, e, do Sul, de 10%.
Ironicamente, no campo passa-se mais
fome do que em áreas urbanas. A
insegurança alimentar alcança 60% dos
domicílios rurais, sendo que 18,6% das
famílias passam fome. Pior: a fome
alcançou 21,8% dos lares de agricultores
familiares e pequenos produtores.
Professor do Departamento de Relações
Internacionais e Coordenador do Grupo de
Pesquisa sobre Fome e Relações Internacionais
(FomeRI) da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB). Pesquisador do Instituto Nacional de
Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os
Estados Unidos (INCT-INEU). Membro
Associado do Instituto Fome Zero. Doutor em
Ciência Política pela Unicamp. Recebeu Menção
Honrosa no Prêmio Lia Zanotta Machado em
Direitos Humanos da ANPOCS para o artigo
e concentration camps for famine victims in
Brazil and the struggle for their public
memorialisation (ird World Quarterly, 2023).
MARCELO FERNANDES DE OLIVEIRA
THIAGO LIMA
Organizadores