Richele Grenge Vignoli
A INFORMAÇÃO LÍQUIDA NO CONTEXTO DA
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E DA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO Richele Grenge Vignoli
A informação
líquida no contexto da
Ciência da Informação
e da Organização do
Conhecimento
A   
  C 
I  
O  C
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2024
R G V
A   
  C 
I  
O  C
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Copyright © 2024, Faculdade de Filosofia e Ciências
Ficha catalográfica
Vignoli, Richele Grenge.
V686i A informação líquida no contexto da ciência da informação e da organização do conhecimento /
Richele Grenge Vignoli. – Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2024.
221 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-553-7 (Impresso)
ISBN 978-65-5954-554-4 (Digital)
DOI: https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-554-4
1. Ciência da informação – Filosofia. 2. Recursos de informação. 3. Ciberespaço.
4. Organização da informação. 5. Tecnologias de informação e comunicação. 6. Pós-modernismo.
I. Título.
CDD 020.14
Telma Jaqueline Dias Silveira –Bibliotecária – CRB 8/7867
Imagem capa: https://stock.adobe.com/br - Arquivo "AdobeStock_321197166". Acesso em 19/09/2024
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives
4.0 International License.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"
Campus de Marília
Diretora
Profa. Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Profa. Dra. Ana Cláudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Edvaldo Soares
Franciele Marques Redigolo
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Parecerista(s):
Prof. Dr. Carlos Henrique Marcondes
Docente do Programa de Pós-graduação em Ciência da
Informação da Universidade Federal Fluminense (UFF)
e do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Gestão
& Organização do Conhecimento (PPGGOC) da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Prof. Dr. Fernando de Assis Rodrigues
Docente da Faculdade de Arquivologia e Programa de
Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade
Federal do Pará (UFPA).
Prof. Dr. Fernando Luiz Vechiato
Docente do Departamento de Ciência da Informação
(DECIN) e Programa de Pós-graduação em Ciência da
Informação (PPGCI) da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN).
Prof. Dr. Edberto Ferneda
Docente do Departamento de Ciência da Informação (DCI)
e Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
(PPGCI) da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) -
UNESP/campus de Marília.
Dedico este livro,
síntese de muitos anos de trabalho
e estudo, ao Arthur e ao João.
7
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Outras inciativas da ciência aberta ...................................................... 100
Quadro 2 – O sujeito informacional humano e pós-humano ................................. 171
Quadro 3 – Condicionantes do conhecimento na Organização do Conhecimento 177
Quadro 4 – A representação da informação e a referência fixa do conhecimento .... 185
LISTA DE SIGLAS
AARC Anglo-American Cataloguing Rules
AIP Pervasive Information Architecture
ALA American Library Association
ANATEL Agência Nacional de Telecomunicação
ASIS&T esaurus of Information Science, Technology, and Librarianship
BOAI Budapest Open Access Initiative
BRAPCI Base de Dados em Ciência da Informação
CC Creative Crommons
CDD Classificação Decimal de Dewey
CDU Classificação Decimal Universal
COVID Corona Virus Disease
CRUS Center for Research on User Studies
DOAJ Directory of Open Access Journals
DOI Digital Object Identifier
ESP Espanhol
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
GIF Graphics Interchange Format
GIF Graphics Interchange Format
GNU/Linux GNU’s Not Unix
GPS Global Positioning System
HDTV High definition television
HTML Hypertext Mark-up Language
IA Inteligência Artificial
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBRD e International Bank for Reconstruction and Development
8
IDA e International Development Association
ING Inglês
IoT Internet of ings
IP Internet Protocols
IPv4 Protocol version 4
IPv6 Protocol version 6
ISBN International Standard Book Number
ISIC Information Seeking In Context
JPEG Joint Photographic Experts Group
LAN-L Laboratório Nacional de Los Alamos
LCC Classificação da Biblioteca do Congresso
LIBRAS Linguagem Brasileira de Sinais
M2M máquina-a-máquina
MARC Machine Readable Cataloging
MIT Massachusetts Institute of Technology
MCC Movimento da Ciência Cidadã
OCLC Online Computer Library Center
OMS Organização Mundial de Saúde
PDF Portable Document Format
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
RFID Radio Frequency Identification
TE Termo Específico
TIB Technische Informationsbibliothek
TIC Tecnologias da Informação e Comunicação
TIFF Tagged Image File Format
TR Termo Relacionado
UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina
UP Usado por
URL Uniform Resource Locator
VHS Video Home System
VNI Visual Networking Index
Wi-fi Wireless fidelity
WWW Word Wide Web
9
S
Prefácio
Silvana Drumond Monteiro ............................................................. 11
Introdução ...................................................................................... 13
A informação líquida ....................................................................... 33
A informação líquida e híbrida ........................................................ 37
A informação líquida e ubíqua ........................................................ 63
A informação líquida e aberta ......................................................... 87
A informação líquida e rizomática .................................................. 111
A informação líquida e incomensurável ........................................... 129
O sujeito da informação no contexto líquido ................................... 149
Ciência da Informação e Organização do Conhecimento: visão
crítica na informação líquida ........................................................... 175
10
Referências ...................................................................................... 201
Resumo da biografia ........................................................................ 221
11
P
Prefaciar significa preambular, prologar, preludiar, proemiar, deixar
antever, iniciar, introduzir. Trata-se de um verbo transitivo direto, no en-
tanto, muito difícil introduzir a “informação líquida”, senão por caminhos
indiretos, transversais e transdisciplinares.
Assim foi a trajetória da Autora, que apesar de especializar-se verti-
calmente na Ciência da Informação, nunca perdeu a curiosidade, nunca
desistiu dos desafios, de percorrer caminhos difíceis e por muitas vezes
áridos e solitários. Mas o resultado valeu a pena!
Práticas sociais e profissionais são apenas compreensíveis, em uma
dada ocasião, dentro de um quadro paradigmático que configura suas
fronteiras. No momento que o discurso das ciências modernas entra em
crise, o novo só pode ser vislumbrado para além desses limites, pelo olhar
de novos fundamentos epistemológicos, para a Ciência da Informação,
que orientem os nossos instrumentos do pensar e do fazer: Eis que temos
um livro que versa sobre a “Informação líquida”.
A liquidez dos tempos contemporâneos, segundo Baumann (diversas
obras), versa sobre o amor, os relacionamentos, a modernidade (para nós a
pós-modernidade) e sobre o tempo. Como poderiam a Ciência da Informação
e a própria informação ficarem de fora desse quadro paradigmático?
https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-554-4.p11-12
Richele Grenge Vignoli
12
Com esse enorme desafio, a Autora foi buscar, dentro do quadro
teórico, uma epistemologia para a informação líquida. Encontrou-a na
Cibernética, a matriz das tecnociências, preconizada pelo físico Norbert
Wiener na década de 1970. Contudo, foi na Filosofia que sua repercussão
foi mais profunda com a instauração de uma ontologia de similaridade
entre seres humanos e máquinas em sua estrutura, tendo como base o
seu conceito de informação como um terceiro elemento constituinte do
mundo, ao lado da matéria e energia, não sendo redutível a elas (Wiener,
1970). Nesse sentido, produz-se o entorno de um conceito de informa-
ção inteiramente descorporificado e imaterial, plenamente discutidos por
Gilles Deleuze e Guattari (Mil Platôs), sobre o virtual, o rizoma, a dester-
ritorialização dos signos e do conhecimento.
Após situar-se na Filosofia, a Autora trouxe essa discussão para a
Ciência da Informação e para a Organização do Conhecimento. Discussão
cara e imprescindível para a área. Escrutínio longo e interessante para a
compreensão histórica e teórica sobre a área, que às vezes passa ignorada
por nós que, no entanto, é a única forma de entender os novos objetos e
práxis profissionais em um mundo cada vez mais digital, virtual e imersivo.
Nesse contexto surge o sujeito informacional pós-humano.
Para concluir, destaco alguns resultados: o conhecimento e a infor-
mação são fenômenos líquidos, na pós-modernidade; não é possível con-
tinuar organizando o conhecimento e a informação com referenciais da
ordem bibliográfica calcada na materialidade e os sujeitos informacionais
são múltiplos e não só humanos.
Espero que este prefácio tenha introduzido o leitor, mesmo que bre-
vemente, ao assunto tão perturbador e ao mesmo tempo revelador das
transições que a sociedade passa, e especialmente o profissional da área da
Ciência da Informação.
Boa leitura!!!!
Silvana Drumond Monteiro
13
I
A história das civilizações esteve, em alguma medida, sempre voltada
para o interesse da humanidade pela busca do conhecimento. Da Idade
Antiga à Medieval, entre conflitos e supremacia religiosa, o conhecimento
foi uma necessidade dos seres humanos. Na Modernidade, o conhecimen-
to e essencialmente o acesso à informação são tecidos por rupturas com o
Clero e por certa autonomia do homem moderno para pensar por si só e
sem a imposição de verdades e dogmas provenientes de divindades católi-
cas. É nesse momento que as bibliotecas começaram a ser uma realidade
palpável e de acesso ao público. Ao longo de seu percurso na história, o ser
humano se vê envolto por uma infinidade de possibilidades para buscar
informação e conhecimento.
Da Grécia Antiga ao surgimento da escrita, da impressa, dos livros
e das bibliotecas, a necessidade premente da humanidade em registrar e
conhecer seus feitos continua a se perpetuar na pós-modernidade, período
de transições e abordagem da contemporaneidade. Vista como um patri-
mônio cultural, a biblioteca fomentou a ideia de um lugar para armazenar
a memória, a informação e o conhecimento. Da clausura dos mosteiros à
salvaguarda de livros por monges, a biblioteca se expande na premissa de
ser pública, ou seja, do povo, tornando acessível não somente o seu acervo,
mas também o conhecimento e a informação ali estocados, assim como
Richele Grenge Vignoli
14
idealizou Gabriel Naudé em 1627 (Clarke, 1969; Lemke, 1991; Linares
Columbié; Romero Quesada, 2017).
Além de outros acontecimentos históricos de trajetória global, a in-
venção da impressa por Gutenberg no século XV, a Revolução Francesa no
século XVIII, as diversas guerras civis e religiosas e outros acontecimentos
de trajetória global marcam a passagem da humanidade para o momen-
to líquido-moderno1 (Bauman, 2005). As civilizações avançaram e se en-
contram na pós-modernidade. Esse ciclo, de acordo com Santos (1989),
ocorre entre fatos e mazelas que despontam para a desdogmatização da ci-
ência, vívidas em suas tentativas de fundamentação e teorização constante.
Trata-se de um período demarcado pela instabilidade em muitos de seus
elementos, como na ciência, política, economia, história, relações huma-
nas (Bauman, 2001, 2005; Jameson, 1997; Lyotard, 1988), e sem dúvida,
nos aspectos informacionais, ou, nas formas pelas quais a humanidade se
informa e busca por conhecimento.
As possibilidades advindas da pós-modernidade e das Tecnologias
da Informação e Comunicação (TIC) fazem emergir a reconstrução de
práticas convencionais na Ciência da Informação, vistas, por exemplo, nos
formatos distintos da informação e/ou nas formas pelas quais as unidades
informacionais2 se adéquam cada vez mais, aos ambientes online.
Entretanto, a tecnologia já não é novidade nas bases de fundamento
da Ciência da Informação (Barreto, 2002; Saracevic, 1995, 1996, 1999). A
novidade está nas novas formas de tratar a informação que têm dificuldade
em se manter no mesmo suporte em que fora criada, ou de permanecer em
um só lugar no tempo e no espaço e, que portanto, desafia os profissionais
da Ciência da Informação, assim como de outros campos do conhecimen-
to. É necessário expandir os horizontes da Ciência da Informação e de suas
responsabilidades sociais e aplicá-los em favor de comunidades e sujeitos
da informação que são autônomos na busca e na construção de informação
e conhecimento.
Tal qual a teoria de Bauman, trata-se de um momento em que a modernidade dá lugar ao que é líquido,
isto é, a tudo aquilo que não se mantem no tempo e no espaço, ao que é pós-moderno.
Referem-se a bibliotecas, centros de documentação, arquivos, museus e quaisquer outros tipos de
estabelecimentos que atuam com informação.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
15
Diante disso, a Ciência da Informação apresenta-se como a área3
que deve possuir como uma de suas preocupações basilares, o encontro da
organização e difusão da informação e do conhecimento para sujeitos da
informação da contemporaneidade. Essa ação se prospecta em mudanças
em suas práticas e processo informacionais, que urgem por renovação na
forma de compreender os objetos de informação contemporâneos.
Nesse contexto, a Ciência da Informação, considerada ciência pós-
moderna4 (Araújo, 2003, 2009, 2010; Francelin, 2003, 2004; Monteiro,
2002, 2003, 2007, 2012; Monteiro; Abreu, 2009; Monteiro; Fidencio,
2013; Monteiro; Vignoli; Almeida, 2020; Parada, 2015; Tanus, 2014;
Tanus; Araújo, 2012; Vignoli, 2014; Vignoli; Monteiro, 2015a, 2015b;
Vignoli; Monteiro, 2020; Wersig, 1993) com objetos dinâmicos, tem
buscado construir desde sua fundação e propagação, cientificidade tanto
em sua práxis, quanto por meio de seus construtos teóricos. Dessa forma e
por meio de sua interdisciplinaridade já amplamente discutida por autores
como Bentes Pinto (2007), Borko (1968), Guzmán Gomez (2005a,
2005b), Perez Matos e Setien Quesada (2008), Pinheiro (1997, 2007),
Pinheiro e Loureiro (1995), Rayward (1996, 1997), Saracevic (1995,
1996, 1999), Schrader (1984), Wersig (1993) e Trillo (2009), a Ciência da
Informação juntamente com a Filosofia, Semiótica, Antropologia, Ciência
da Computação, e outras áreas, procura organizar o conhecimento e a
informação de maneira que os sujeitos possam encontrar o que procuram,
quando procuram e da forma mais satisfatória possível.
É importante que seja de interesse da Ciência da Informação lograr
recursos e substratos plausíveis na busca da organização e disseminação do
conhecimento e da informação de diversas tipologias, formatos e para usos
A adoção do termo área para se referir à ciência da informação como uma área do conhecimento é baseada na
conceituação de Souza (2004, p. 2), que afirma que “‘Áreas do Conhecimento’ têm sido tema de discussão
envolvendo gestores e administradores, as agências de fomento e avaliação, as sociedades científicas, os
institutos de pesquisa e a própria comunidade científica”.
A ciência da informação apesar de fundamentada em disciplinas existentes em séculos atrás (Biblioteconomia,
Bibliografia, Documentação), tem seu ápice no século XX, período de emancipação das teorias da pós-
modernidade, da desdogmatização e desmitificação da ciência e de verdades absolutas (Santos, 1989), assim
como alguma instabilidade metodológica, distanciando-se de padrões da Modernidade. Para Wersig (1993),
uma das principais características demarcadoras da ciência da informação como ciência da informação pós-
moderna é sua incapacidade de definir seu principal objeto, a informação e sua dificuldade em encontrar
seus próprios métodos científicos, atributos das ciências contemporâneas e não modernas.
Richele Grenge Vignoli
16
múltiplos. A busca, nesse sentido, deve avançar na construção de estudos e
práticas desenvolvidos para além do conhecimento e informação em obje-
tos físicos, ou tangenciados na materialidade e com aspecto arraigado em
seus registros ou suportes, atores e lugares fixos para permanecer.
O conhecimento deve dirigir as conjecturas da Organização do
Conhecimento, disciplina que objetiva estudar suas manifestações huma-
nas e em sistemas (Barité, 2001), mas com distanciamento de sua existên-
cia apenas na materialidade. O conhecimento necessita ser considerado
para além de seu registro, que importância reduzida deve possuir diante
das novas práticas de acesso a informação, especialmente no polo virtual.
A Organização do Conhecimento também representa um domínio
ou um campo mais restrito que tem como objetivo a representação dos
sujeitos nos recursos de informação (Hiner, 2018). Por conseguinte, a
Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento não tratam ne-
cessariamente do registro, mas de conteúdos, informações, conhecimento
e de seus conceitos alicerçados em tecnologias e outros dispositivos justa-
postos a sujeitos da informação. A informação e o conhecimento são dois
elementos imateriais e, portanto, cabe o esforço de ressaltar suas naturezas,
como o que é proposta neste estudo.
O objeto e problemas da Ciência da Informação continuam a per-
mear um contexto informacional entrópico devido à quantidade imensu-
rável de informação e conhecimento a serem organizados, representados e
difundidos. As dificuldades da Ciência da Informação em organizar a in-
formação e o conhecimento foram ampliadas e, ao mesmo tempo, benefi-
ciadas pela presença das TIC, e por sujeitos da informação que produzem,
consomem e disseminam informação a todo o momento. A informação
se difunde e se origina igualmente por meios maquínicos5, objetos e com-
putadores inteligentes6, cânones da pós-modernidade que se distanciam
vertiginosamente da ideia de materialidade. À vista disso, a informação,
Termo e conceito proveniente de Deleuze e Guattari (1995), como aquilo que tem ligação e provém da
máquina.
Objetos como aparelhos domésticos conectados à internet que emitem dados em tempo real, smartphones,
smartwatch (relógios), automóveis conectados e outros.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
17
principal objeto de estudo da Ciência da Informação, roga por definições
mais adequadas, plurais e atuais.
A informação, não mais revestida de um lugar fixo, tem sido des-
territorializada de suporte, mídia, formato e lugar. Bauman (2001, 2005,
2008) instaura a compreensão do modo conturbado da vida contemporâ-
nea com a ideia da modernidade líquida que pode ser aplicada no modo do
sujeito se informar na sociedade e nos fluxos da informação.
A metáfora da liquidez ou do que é ou pode ser líquido é utiliza-
da por Bauman (2001, 2004, 2005, 2007a, 2007b, 2008) para aludir à
natureza da fase atual da sociedade. Segundo o sociólogo, a história da
Modernidade é pechosa e possui dificuldade de se manter estável sob qual-
quer situação. Na metáfora da liquidez de Bauman (2001, 2004, 2005,
2007a, 2007b, 2008), o tempo, o amor, as relações, o medo e o consumo
formam um conjunto de elementos em constante desfragmentação. São,
portanto, objetos desconstruídos, tal como é a vida, que sempre em movi-
mento, não interrompe sua própria fluidez. A modernidade líquida é uma
crítica à sociedade para se referir aos aspectos de extremo desprendimento
do sujeito pós-moderno em todos os aspectos de sua vida.
Totalmente amalgamada às tecnologias e facilidades advindas do
alto consumo das novas gerações, as sociedades se tornaram em certa me-
dida, um corpo social do desapego, do descartável, do exagero, da falta
de raízes, do consumismo exagerado, da ausência de valores, da exposição
desnecessária e do desprezo à própria história – nuances para se compre-
ender traços da modernidade líquida nas premissas de Bauman (2001). O
contexto moderno-líquido de Bauman (2001, 2004, 2005) não é ou pode
ser compreendido entre visões enviesadas ou romantizadas, pois se trata de
um momento conturbado em que a sociedade e seus sujeitos identificam a
desfragmentação de quase todos os aspetos de suas vidas. A liquidez indica
que os mais diversos aspectos da vida seguem na direção da falta de du-
rabilidade, da inconstância, da insegurança, dos estímulos múltiplos que
confundem o sujeito entre tantos caminhos, identidades e opções a seguir.
O pensamento de Bauman (2001, 2004, 2005) é, ao mesmo tempo, uma
crítica à sociedade e uma forma de compreendê-la.
Richele Grenge Vignoli
18
No fluxo da liquidez, isto é, do que não é ou tem intenção de du-
rabilidade, os preceitos de Bauman (2001, 2004, 2005) são acrescidos
ao objeto informação no contexto da Ciência da Informação. Em uma
de suas confluências simbióticas líquidas, a informação se reveste de
invisibilidade, de encontros com as profundezas de camadas obscuras,
como as que margeiam a deep web, uma web invisível, usualmente não
indexada por questões técnicas e/ou administrativas e que representa
alto potencial informativo.
A proposta de informação líquida, como se verá, é composta por
hibridizações em suas formas, formatos, suportes, mídias e características
que a definem por sujeitos da informação, que da mesma forma, são híbri-
dos. Em estado de ubiquidade, a informação líquida pode estar em lugares,
não lugares e espaços ao mesmo tempo. Seu acesso é sua forma motriz. A
informação no polo de sua desmaterialização ou ainda, no virtual, é um
elemento ubíquo que impede a fixação de formas, linguagens ou lugar
comum de pertencimento.
O conhecimento e a informação deixaram de ser produzidos somen-
te por colaboração entre sujeitos diversos e no contexto científico, técnico
e empresarial. Sua produção acontece nas vicissitudes do conhecimento
popular e sob as TIC, por máquinas e maquinário de Inteligência Artificial
(IA) e por superinteligências. Bostrom (2018) define que qualquer tipo
de inteligência que exceda a humana, por exemplo, a das máquinas é uma
superinteligência. O contexto é imbricado por alta tecnologia, nanotecno-
logia, androides – autômatos com figura humana que buscam imitar seus
movimentos (Oxford Languages, [20--]), por ciborgues - seres híbridos
formados por partes humanas e mecânicas (Felinto; Santaella, 2012). Há
uma infinidade de seres orgânicos e inorgânicos na produção de conheci-
mento e informação que devem reconduzir práticas de tratamento e orga-
nização desses elementos na sociedade pós-moderna e na própria Ciência
da Informação.
Desses aportes robóticos, maquínicos e tecnológicos surgem no-
vos tipos de informação e de sujeitos da informação que a Ciência da
Informação se preocupa ou se apropria inadequadamente. O contexto é
advindo da simbiose entre seres humanos e tecnologias, como em chips im-
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
19
plantados no corpo humano em tratamentos cirúrgicos, ou em sistemas de
geolocalização de ponta, que em ambos os casos, geram informações pouco
exploradas na Ciência da Informação. O conhecimento passa a ser dispo-
nibilizado e criado com leveza, entre bits e algoritmos, assim, seu registro,
formato ou suporte já não possuem a mesma importância de outrora. A
materialidade perde sua significância no polo virtual. O corpo humano em
simbiose e agenciamento com a máquina e tecnologia (Deleuze; Guattari,
1995; Monteiro, 2013) é também produtor de informações e, nesse senti-
do, novos sujeitos da informação são formados por essa simbiose.
A recondução da Ciência da Informação diante dos novos estratos
da realidade e de sujeitos da informação pós-humanos, híbridos e que
estão além dos ambientes técnico-científicos, é esperada e urgente. Todo
esse arsenal de conhecimento e informação disponíveis no ciberespaço,
big data7 e outros fenômenos de verdade e falseamento da informação,
dificultam quaisquer modos de ordenação e controle dos objetos na
Ciência da Informação.
A pós-modernidade e/ou o contexto moderno-líquido impõe à
Ciência da Informação e à sua comunidade científica, desafios que devem
ser enfrentados urgentemente no intuito de compreender objetos contem-
porâneos como, por exemplo, a informação líquida.
Um dos objetos de delimitação nesse debate relaciona-se direta-
mente com a questão do registro, do suporte e da materialidade, os quais
são compreendidos como elementos básicos da informação na Ciência da
Informação e na Organização do Conhecimento.
O contexto é circunscrito à materialidade que tem sido inerente à
informação, na independência de seu conceito ou definição, como condi-
ção para que o objeto possa ser tratado, organizado, difundido e compar-
tilhado na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento. A
materialidade é o problema, obstáculo ou contratempo a que se refere um
dos aspectos elementares da informação líquida.
De acordo com o Glossary Gartner (2021, tradução nossa), o big data representa “[...] ativos de informação de
alto volume, alta velocidade e/ou alta variedade que exigem formas inovadoras e econômicas de processamento
de informações que permitem uma visão aprimorada, tomada de decisões e automação de processos”.
Richele Grenge Vignoli
20
Para dirimir possíveis inconstâncias acerca da materialidade e de seus
conceitos correlatos, assim como para tornar claro o contexto e a delimi-
tação da informação líquida, diferenciações entre termos são necessárias.
Sendo assim, aquilo que carrega uma materialidade, que é material, físico
ou corpóreo possui uma substância sólida, corpórea, constituinte físico
de algo. É algo que é oposto à forma, ao espírito, que possui corpo como
matéria, substância ou substancialidade que provém de natureza física e
material (Abbagnano, 2007; Houaiss; Villar, 2001; Japiassú; Marcondes,
1996). Sob essa materialidade é que se refere a informação como objeto
físico, registrado e gravado.
Já o que é imaterial ou incorpóreo é compreendido como um objeto
desmaterializado8, que não possui corpo, não se constitui de matéria, não
tem existência palpável, não é sólido. É etéreo, não corporal, incorporal,
espiritual, sem consciência material (Abbagnano, 2007; Houaiss; Villar,
2001; Japiassú; Marcondes, 1996). Para tanto, objetos desmaterializados e
presentes no polo virtual e no ciberespaço, estão circunscritos ainda, sob o
que é virtual. O “[...] virtual não se opõe ao real mas ao atual [...]” (Lévy,
2014, p. 15), em que “O real assemelha-se ao possível [...]” (Lévy, 2014, p.
17). A informação líquida, está ambientada principalmente no polo virtual
e sobre circunstâncias da informação e do conhecimento desmaterializados
relegando a segundo plano uma materialidade enquanto entidade física.
A materialidade na Ciência da Informação e na Organização do
Conhecimento é contida por uma informação com algo/formato/suporte
que seja capaz de registrar, comprovar ou gravar um conhecimento. Da
mesma forma, essa materialidade será responsável por realizar ação equiva-
lente quando na construção de produtos informacionais – conhecimento
tratado. Essa materialidade, que é anacrônica na sociedade pós-moderna,
tem seus determinantes instaurados no antigo conceito de documento,
como o que lhe assegura seu status quo.
Para contextualizar, Martínez de Sousa (2004, p. 516) aponta que
informação registrada é a “Informação armazenada em um suporte de
O termo desmaterializado(a) foi utilizado na tese da Profa. Dra. Silvana Drumond Monteiro. Em sua
primeira utilização na tese, a autora o faz em referência a “forma” da escrita, do impresso e da documentação
que no ciberespaço está desmaterializada (Monteiro, 2002).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
21
informação”. No mesmo sentido, Smit (2012, p. 85, grifo nosso), sa-
lienta que a “Informação registrada equivale ao conceito de documen-
to, embora o mesmo tenha sido investido de valores diferenciados ao
longo do tempo”. Em visão comum em publicações da área, o registro
– a informação registrada com materialidade em documentos, tem sido
para a Ciência da Informação e para a Organização do Conhecimento
seu insumo básico de aplicação (Briet, 1951; Barité, 2001; Buckland,
1991, 1999; Correia; Zandonade, 2018; Cunha; Cavalcanti, 2008; Gil-
Leiva, 2012; Guimarães, 2003, 2009; Hjørland, 2003; Le Coadic, 2004;
Rabello, 2008, 2009, 2012, 2018, 2019; Rabello; Guimarães, 2006;
Smit, 2012; Tálamo; Smit, 2007).
Acredita-se que o pensamento de Otlet (1934) seria o mais ideal a ser
praticado na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento,
uma vez que, para o pesquisador, não importava o formato ou suporte do
documento, mas o conhecimento que o objeto portava. Também Rayward
(1996, 1997, 2018), pesquisador das contribuições de Otlet, apresenta
premissa semelhante quando defende que um documento é tudo aquilo
que carrega significado, apesar de ainda insistir na ideia de registro. Esse
pensamento é reconsiderado, já que ao buscar contextualização da infor-
mação em seus fazeres e teorias da Ciência da Informação e da Organização
do Conhecimento, acredita-se que a ênfase no registro (materialidade) ne-
cessita ser revista enquanto característica básica do objeto nessas áreas.
Isso significa que em grande medida, muitos pesquisadores não
conseguem conceber a Ciência da Informação e a Organização do
Conhecimento sem a primazia da informação consubstanciada em algu-
ma materialidade. Ainda que os documentos e as ações sejam existentes e
praticados no polo virtual, a necessidade do objeto informação calcado em
entidades físicas, permanece. Para Briet (1951), por exemplo, apesar de até
mesmo um animal vivo como um antílope ter a capacidade de tornar-se
um documento, é somente a partir de seu registro institucional que sua
condição como tal se concretiza. Buckland (1991, p. 2), que apresenta
raciocínio semelhante, informa que qualquer coisa pode ser informação,
desde que essa coisa seja algo aplicado a um objeto físico. Assim, a infor-
mação como coisa é a informação registrada sob qualquer suporte, o que
Richele Grenge Vignoli
22
fica claro quando o autor expõe que “Se você pode tocar ou medi-lo, não
é conhecimento, mas deve ser alguma coisa física, possivelmente informa-
ção-como-coisa [...]” (Buckland, 1991, p. 2), ou seja, algo em que se toca,
é algo concreto, tangível, físico, informação transcrita na materialidade.
Entretanto, é interessante notar que tanto Briet (1951) quanto
Buckland (1991, 1999), que são sectários de Otlet, destoam da visão de
Otlet quando enfatizam demasiadamente em seus estudos a noção de in-
formação como documento registrado e materializado em suportes físicos.
Otlet e La Fontaine buscaram representar o conhecimento e a informação
por meio de seus registros, no que de fato significa um registro, como lis-
tas, fichas que representavam os originais, suas representações. Apesar do
ideal do Mundaneum9, não foi objetivo da Documentação criar um local
ou biblioteca que pudesse tratar todos os itens publicados no mundo a
partir de sua materialidade. A ideia primária da Documentação foi a de
um repertório bibliográfico universal, ou seja, ter-se-iam as informações e
não os objetos materializados. Os documentos já eram tratados sem uma
materialidade desde Otlet e La Fontaine. É, pois, nesse sentido que se cor-
robora as visões que defendem que Otlet foi um visionário e previu o fun-
cionamento da internet (Juvêncio, 2018). Ao compreender que o acesso à
informação era ponto crucial do conhecimento representado, Otlet remete
seus preceitos ao que seria mais tarde, a internet e a web no ciberespaço.
Todavia, Correia e Zandonade (2018) sustentam que a Ciência da
Informação surge quando a biblioteca, responsável por armazenar todo o
registro do conhecimento humano, passa a focar no conteúdo dos docu-
mentos. Em outras palavras, quando a Biblioteconomia passa também a
se preocupar com o objeto informação em detrimento da salvaguarda de
seus acervos. Mas nesse contexto limitante de surgimento da Ciência da
Informação, a informação na área seria “[...] entendida como os registros
O Mundaneum é “[...] uma ideia de universalismo. É uma instituição em que são reunidos ‘o museu
para ver, o cinema para assistir, a biblioteca, enciclopédias e arquivos para ler, o catálogo para consultar,
a palestra, o rádio e os discos para ouvir, e a conferência para debater [...]”. É um método que implica,
entre outras coisas, ‘pesquisa e previsão, unificação e padronização, ordenação e classificação, cooperação,
planejamento e regulação, por fim, expressão, apresentação e reprodução.’ É um edifício físico a ser
realizado arquitetonicamente. É, afinal, uma rede. Idealmente, o Mundaneum existiria como um protótipo
central com uma escala descendente de exemplos derivados: em nível nacional (o Mundaneum-França ou o
Mundaneum-Itália) e níveis regionais e locais (Rayward, 1997, p. xv).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
23
gráficos do conhecimento inscritos em suportes físicos, cujo conteúdo é
passível de ‘extração’ da linguagem escrita por meio da leitura” (Correia;
Zandonade, 2018, p. 90, grifo nosso). Apesar de os autores defenderem
o registro e mais especificamente, a informação registrada em formato fí-
sico na Ciência da Informação como seu objeto de maneira incontestá-
vel, é insustentável afirmar que sua extração ocorra somente por meio da
escrita ou da leitura. As inferências dos autores são claras no sentido da
Organização do Conhecimento e diante de suas práticas de representa-
ção do conhecimento e da informação. Seria, portanto, a partir da leitura
(documentária), que o conhecimento seria representado por meio de pro-
dutos informacionais gerados na Ciência da Informação e na Organização
do Conhecimento, em seus objetos dispostos em alguma materialidade.
Na afirmação que necessita ser vista como arbitrária, somente a partir
do objeto na materialidade e condizente aos processos e instrumentos da
Organização do Conhecimento é que a informação seria objeto da Ciência
da Informação.
Ademais, as circunstâncias da informação sob diversos signos para
além da linguagem escrita é tema resolvido na literatura já há algum tempo
(Le Coadic, 2004; Monteiro, 2003, 2007). Para Le Coadic (2004), por
exemplo, a informação é o conhecimento gravado em diferentes signos (al-
fabético, numérico, palavra e outros) transmitido por suportes. Para Otlet
(1934), o próprio documento é livro, é revista, é selo, é objeto de museu,
é objeto de abstrações.
Rabello e Guimarães (2006) são mais específicos à Organização do
Conhecimento e esclarecem que todo o conhecimento no domínio deve
ser registrado em documentos. Sendo assim, o documento “[...] é a síntese
de um conhecimento objetivadamente materializado em um suporte, ou,
para estendermos um pouco mais o conceito, caracteriza-se pela atribuição
de valores e significados a um determinado suporte” (Rabello; Guimarães,
2006, p. 13). Para os autores, o conhecimento é objetivado quando re-
gistrado em uma materialidade. Apesar de concordar com os autores na
objetivação do conhecimento, que pode ocorrer dessa forma ou não, dis-
corda-se que para isso seja necessário um documento e/ou como uma ma-
terialidade enquanto um elemento físico.
Richele Grenge Vignoli
24
Defende-se uma visão alternativa, pois na virtualidade, a informação
nem sempre chegará a se tornar um documento registrado com materia-
lidade, fixa ou permanente. Ainda assim, não perderá seu valor, apenas
demonstra e demonstrará que as necessidades e movimentações do conhe-
cimento, da informação e dos sujeitos da informação no polo virtual são
outros e não mais ligados à matéria e ao conceito de documento.
Os discursos coletivos demonstrados nos anseios e preocupações da
pandemia do Corona Virus Disease (COVID-19) ou em aspectos políti-
cos do Brasil e do mundo nas redes sociais online, demonstram que os
sujeitos se informam e produzem conhecimento e informação sob outras
circunstâncias e, principalmente, que não estejam atreladas a suportes pre-
sos à materialidade. O movimento da informação é líquido e está no polo
virtual, no ciberespaço e esse deve conviver com a materialidade, mas não
se restringir a ela. Com a expansão das TIC, Gnoli (2008) acredita que já
não existem mais possibilidades plausíveis dos profissionais da informação
acompanharem o ritmo do volume extensivo de publicações. A situação
se complica no tratamento desse volume informacional no polo virtual e
para sujeitos da informação com necessidades plurais e independentes na
busca por informação. A informação no polo virtual possui movimento e
fluxo contínuo.
De acordo com Smit (2012, p. 85), para que a informação possa
ser utilizada sem delimitações de tempo e espaço, é necessário que antes
tenha sido documentada e registrada, de forma que “O registro torna a
informação menos volátil e mais portátil”. Afirmações contraditórias, já
que não é possível antever o que será feito da informação no polo virtual
e tampouco é cognoscível afirmar que o suporte pode torná-la mais portá-
til. Se a exemplo, se reportar à informação materializada em um livro em
suporte de papel, de fato será menos volátil, mas também, muito menos
portátil. A portabilidade nesse caso seria alcançada apenas de maneira in-
dividual. Entretanto, um livro em formato digital consegue atingir uma
portabilidade almejada no ciberespaço e de forma coletiva, assim como
possui hibridez de dispositivos para ser acessado.
Ainda de acordo com Smit (2012), sem um registro em algum tipo
de suporte, código ou tecnologia, a informação não consegue ser sociali-
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
25
zada de forma mais ampla no tempo e no espaço. É fato que a informação
necessita de um código ou linguagem para trafegar, mas o seu suporte
ou registro é indiferente para que isso ocorra (Silva, 2006; Silva; Ribeiro,
2002). Por aparatos tecnológicos, entre bits e bytes, é possível que mui-
tas informações na contemporaneidade jamais recebam formato físico ou
uma materialidade, outra circunstância a ser apreciada no largo escopo
investigativo da Ciência da Informação. O contratempo do registro ou
materialidade defendidos na Ciência da Informação e na Organização do
Conhecimento se transcreve em seu sentido ipsis litteris. O conhecimento e
a informação necessitarão de linguagens e tecnologias para sua mobilidade.
Mas é primaz reforçar que um objeto desmaterializado pode ser considera-
do líquido. Qualquer tentativa de materializar o que é imaterial ou está no
polo virtual, é ou será um erro de compreensão, além de um preciosismo
nato ao que já foi necessidade premente em outro momento.
Contudo, o que se defende aqui é que não cabe mais à Ciência da
Informação e à Organização do Conhecimento sustentarem o argumento
de que a informação que importa e que se configurará como útil é física e
presa a uma materialidade. É preciso compreender que o conhecimento e a
informação na realidade contemporânea não são e não estão mais em uma
materialidade a todo momento. Tal afirmação não descredita os objetos
até aqui investigados pela área, mas potencializa os que estão fora dessa
condição. Portanto, ainda que a materialidade seja um condicionante, é
preciso ir além dos pressupostos já estruturados, calcados e fundamentados
nas áreas, para uma visão que contemple os novos estratos do conhecimen-
to e da informação que não possuem um registro ou uma materialidade
estável, duradora e concreta. A Ciência da Informação e a Organização
do Conhecimento devem abrir-se para a informação e o conhecimento
fugidios, inconstantes e efêmeros, como o que é ou está líquido, a própria
informação líquida.
Nesse sentido, forçar um enquadramento da informação à mate-
rialidade no contexto do ciberespaço seria desconsiderar os aspectos ins-
tável, passageiro, desfragmentado, apto ao desaparecimento, à reconstru-
ção, à perda de identidade, ao líquido que melhor explique essa condição
da informação.
Richele Grenge Vignoli
26
É preocupante que a informação desprovida de materialidade em
algum tipo de suporte parece não ser de interesse da Ciência da Informação
e da Organização do Conhecimento. Hjørland (2003, p. 93, grifo nosso,
tradução nossa) compreende que a Ciência da Informação se pauta no “[...]
conhecimento registrado produzido por seres humanos em algum tipo de
documento de uso potencial para outros seres humanos”. É exatamente
sob esse axioma que a discussão se desenvolve, isto é, na contramão das
premissas e autores que defendem que para que a informação seja de in-
teresse teórico ou aplicado da Ciência da Informação e da Organização
do Conhecimento, necessita, anteriormente, de registro ou suporte para
receber tratamento nas áreas. É nesse ponto que confusões entre a informa-
ção material ou desmaterializada necessitam ser esclarecidas. A informação
líquida não se resume a sua desmaterialização, mas é pressuposto que seu
tratamento na Ciência da Informação e Organização do Conhecimento
não devem ser pautados na condição de seu registro para ocorrer. A sa-
ber, uma informação virtual tratada nas áreas não solapa a informação
como líquida, uma vez que na Ciência da Informação e Organização do
Conhecimento, mesmo os objetos virtuais têm necessitado de registros
materializados, e, ainda, institucionalização para pertencerem ao escopo
das áreas. A informação líquida, como se verá, está além da materialidade
e instrumentalização da Organização do Conhecimento. Como exemplo,
a oralidade é um tipo de informação existente que não possui registro e
ainda assim, não deixa de ser informação e conhecimento.
Durante muito tempo, a Ciência da Informação foi pautada no ar-
quétipo de controle por seus profissionais. Apesar de palavra incômoda, o
profissional da informação tem se dedicado a trabalhar com a informação
que de certa forma, ele controla. Esse controle pode ser efetuado pela orga-
nização do acervo de uma instituição em suas formas de acesso ou emprés-
timo, e/ou na escolha da informação a ser difundida.
Em sua prática, a Ciência da Informação e seus profissionais de-
senvolveram ao longo do tempo, verdadeira expertise no que tange ao
tratamento, organização e preservação de seus acervos, essencialmente os
físicos. Bibliotecas, arquivos, museus e demais centros ou unidades de in-
formação projetaram instrumentos e práticas com qualidade e eficiência
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
27
para salvaguardar e manter em segurança todo o acervo que detinham e
que ainda detêm pelo tempo que for possível. Com isso, a valoração ao
suporte e mais especificamente, ao registro desses aportes documentais (li-
vros, arquivos e outros), possivelmente fizeram com que profissionais da
informação acabassem por adquirir mais apreço ao material e seu suporte,
do que ao seu conteúdo e a sua informação.
Todavia, com as mudanças e as urgências da pós-modernidade e
de sujeitos da informação conectados e hipermidiáticos, a necessidade de
manter a custódia de materiais perde uma parcela de sua importância para
o enaltecer do acesso ao seu conteúdo, à informação. É uma ruptura nas
formas de pensar a informação e, principalmente, no modo de organizar o
conhecimento humano.
Na fragmentação constante de hábitos e necessidades humanas con-
temporâneas, a informação ressurge como uma necessidade ainda mais in-
dispensável. Nesse sentido, o profissional da informação se vê envolto por
novas demandas informacionais entrelaçadas por sujeitos que consomem
e produzem informação em contextos altamente tecnológicos e virtuais.
A informação sopeada pelos suportes materiais e aprisionada em lugares
físicos e de acesso dificultado, já não possui interesse como em outros mo-
mentos. O sujeito da informação e suas necessidades foram precisamente
modificados ao longo do tempo e no desenvolvimento de tecnologias.
Decorre que não é possível controlar com precisão os interesses in-
formacionais, assim como os caminhos em que a informação perpassa em
toda extensão da rede por seus sujeitos da informação. Porquanto, novos
tempos com novas demandas, exigem ações e competências dos profissio-
nais da informação ressignificadas para comportar a premência e pertinên-
cia da profissão na sociedade.
Diante disso, é preciso e salutar repensar a informação com mo-
vimento, essa que não tem materialidade fixa e se transforma a todo o
momento. De acordo com Santaella (2004), a mobilidade da informação
pode ter sido iniciada já com a impressa de Gutenberg. A partir do mo-
mento em que foi possível levar a informação a qualquer lugar por meio
dos livros, ela já se apresentava em movimento, pois já não necessitava ficar
Richele Grenge Vignoli
28
armazenada apenas em só lugar. Mas o movimento dos livros foi sobrepu-
jado com a internet e TIC.
Segundo Araújo (2014), entre 1920/1930, o uso de microfilmes se
tornou uma prática na forma de armazenar, preservar e disponibilizar a
informação, que segundo Robredo (2011) teve também, a participação
de Otlet e Goldschmidt. Juntamente com a American Library Association
(ALA) em 1936, reflexões acerca da informação pensada para além do seu
suporte material, começaram a ser repercutidas. O uso de computador nas
práticas biblioteconômicas enalteceu a informação para além de seu supor-
te original e mais especificamente em papel. A informação, assim como o
sujeito da informação sempre buscaram seu movimento e disponibilização
constantes.
Para tanto, não se nega a importância da custódia de livros para uma
instituição ou unidade informacional. Contudo, como nunca foi e/ou
nunca será possível aglomerar todo conhecimento em um mesmo local, é
mais válido ter meios de encontrar a informação necessitada do que adqui-
rir todos os volumes do conhecimento humano por escrito em um mesmo
local. Objetivo esse, que nem mesmo Otlet e La Fontaine conseguiram al-
cançar em meados de 1895, momento em que a quantidade de informação
era muito limitada. De todo modo, Otlet e La Fontaine já vislumbraram
naquele momento que a informação suportava diversos formatos (Tálamo;
Smit, 2007) e que deveria ser socializada.
Em 1948, Shannon e Weaver retiraram a informação de seu suporte
físico (Braga, 1995), quando almejaram ambientá-la num processo comu-
nicacional. Os engenheiros trouxeram a noção da transferência de mensa-
gens, e demonstraram que o suporte em que a mensagem ou informação
estava era irrelevante. A prova desse feito foi que a teoria de Shannon e
Weaver fora criada com base na telecomunicação, ou em como a men-
sagem era enviada por cabos telefônicos, pois utilizaram dessa tecnologia
para explicar o processo comunicacional (Mattelart; Mattelart, 1999).
Mais recentemente, Silva e Ribeiro (2002) têm buscado construir
uma Ciência da Informação distanciada da materialidade. Os autores sus-
tentam que é imprescindível repensar a Ciência da Informação nos moldes
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
29
das TIC sem enfatizar a informação como um documento. Nesse sentido,
é fundamental que a Ciência da Informação deixe de ser uma área patri-
monialista, historicista, custodialista e permita que a informação alcance
cientificidade para além do pensamento tradicionalista, ou seja, no para-
digma pós-custodial. Na teoria pós-custodialista dos autores, deve haver
na Ciência da Informação o rompimento com antecedentes da área de-
marcados na custódia e na salvaguarda de documentos físicos. Trata-se,
assim, de uma conjuntura da área revista sob novos aportes baseados sob
as tecnologias da informação e comunicação e não sob os suportes e mate-
rialidade da informação.
Portanto, defende-se que as abordagens da informação na Ciência da
Informação e na Organização do Conhecimento não consideram a liqui-
dez como forma predominante da informação na sociedade contemporâ-
nea. Contudo, as abordagens teóricas utilizadas na Ciência da Informação
são insuficientes para compreender objetos informacionais contemporâne-
os em sua complexidade.
Considera-se que as práticas e processos informacionais realiza-
dos convencionalmente na Ciência da Informação e no contexto da
Organização do Conhecimento não conseguem e/ou não estão prepara-
dos para as exigências dos objetos informacionais contemporâneos. Por
isso, a utilização de tecnologias ou conversão de objetos físicos para digi-
tais ou virtuais para suplantar antigas abordagens e práticas na Ciência da
Informação não é o bastante para incorporar a área ao contexto dos objetos
no polo virtual e da informação líquida.
É necessário, pois, abarcar novos objetos bem como compreendê-los
sob outras teorias e outras formas de utilização das tecnologias. É crucial
que a comunidade científica da Ciência da Informação, assim como as
corporações profissionais, se abram a novos objetos informacionais, como
na manifestação predominante da produção e consumo de informação
na sociedade contemporânea, que de uma forma ou outra, fará com
que esses sujeitos saiam de suas zonas de conforto e de seus contextos já
condicionados por práticas convencionais de tratamento da informação.
Richele Grenge Vignoli
30
Deve-se considerar que um grande volume de informação circula
em outros ambientes informacionais líquidos para os quais a Ciência da
Informação e a Organização do Conhecimento não dispõem de modelos
de compreensão e técnicas de tratamento. Embora seja difícil precisar
um número possível acerca da informação que trafega diariamente em
toda a rede, Barnett Junior et al. (2018), em relatório da Cisco Visual
Networking Index (VNI) complete forecast update 2017–2022, relatam que
era esperado que em 2022 o tráfego global de informações por máquina
e seus Internet Protocols (IP) na internet atingissem frações de 4,8 zetaby-
tes10 por ano. Houve, portanto, muitas informações não provenientes de
aportes físicos e materializados em suportes tradicionais tratados, orga-
nizados e difundidos, fato que interfere sumariamente na agenda de in-
vestigação e prática da Ciência da Informação e de toda sua comunidade
científica e profissional.
De acordo com a Cisco (2020), quase dois terços ou 66% da popu-
lação global teve acesso à internet em 2023. Houve, portanto, 5,3 bilhões
de usuários da internet em 2023, ante 3,9 bilhões (51% da população glo-
bal) em 2018. As conexões do tipo máquina-a-máquina (M2M) cresceram
cerca de 50% em 2023 e houve 14,7 bilhões de conexões máquina-a-má-
quina no mesmo ano.
As conexões por internet das coisas - Internet of ings (IoT), e em
especial, por carros e aparelhos domésticos terão avanço exponencial. Foi
estimado que mais de 70% da população global terá conectividade móvel
(como por smartphones ou smartwatch) até 2023. Também no mesmo ano,
os dispositivos móveis globais cresceram de 8,8 bilhões em 2018 para 13,1
bilhões (Cisco, 2020). Os dados da instituição demonstram que indivídu-
os de forma global, estarão cada vez mais conectados à rede por dispositi-
vos móveis.
Presume-se que no contexto da Ciência da Informação, a tendência
é que os sujeitos da informação tenham cada vez menos necessidade de in-
formações registradas e materializadas em suporte físico ou que dificultem
seu movimento e acesso.
10 Um zetabyte corresponde a 1 trilhão de gigabytes ou aproximadamente 1.021 (1.000.000.000.000.000.000.000
bytes) – (Barnett Junior et al., 2018).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
31
De acordo com os dados da Cisco (2020), outro apontamento sub-
jacente está relacionado ao fato de automóveis e objetos fornecerem in-
formações aos indivíduos de forma automática devido a confluências mi-
diáticas e tecnológicas, o que já é realidade. Esse fato alude à questão das
superinteligências de Bostrom (2018), em que máquinas processam infor-
mações e, ao mesmo tempo, aliviam a capacidade da memória humana em
armazenar o que lhes é necessário, algo como os próprios mecanismos de
busca já fazem há algum tempo (Battelle, 2001) com a memória humana.
A expansão informacional crescente e em múltiplas plataformas e
mídias, como em dispositivos móveis sugere que cada vez mais o registro da
informação é pouco mais que um acessório. Dados do Visual Networking
Index da Cisco, do período de 2018-2023, demonstrou que cerca de 300
milhões de aplicativos móveis foram baixados até 2023. Isso significa que
pensar a informação somente em formas e lugares convencionais de arma-
zenamento (bibliotecas, museus, arquivos físicos), e em práticas voltadas
à organização e a serviços do mesmo modo, pode conjecturar-se como
um desserviço à sociedade. A ruptura deve ocorrer, portanto e de forma
primaz, na informação de interesse à área e à sociedade, e no desvencilha-
mento do objeto condicionado a uma materialidade ou a um formato/
suporte aceitável à área.
A questão se complica ainda mais na Organização do Conhecimento,
que precisa expandir seus horizontes para objetos de informação comple-
xos e sem instrumentais ou ferramentas já preparados para isso, como na
informação em condições pouco exploradas, como nos agenciamentos ma-
quínicos, big data e outros.
A informação líquida deve derivar-se do conhecimento e da infor-
mação advindos de realidades não somente científicas, técnicas ou empre-
sarias institucionalizadas em editoras, agências de fomento e unidades de
informação convencionais.
Para tanto, defende-se uma aproximação da Ciência da Informação
com os modos de produção do conhecimento e de informação decorridos
da ciência aberta, cidadã e de contornos possíveis com sujeitos populares
e senso comum, como nas redes sociais online. Não se contesta a ciência
Richele Grenge Vignoli
32
e seu rigor, mas o conhecimento enquanto passível somente nessas con-
dições na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento.
O argumento em nada interfere nos condicionantes da ciência, mas ao
conhecimento definido enquanto decisões classistas como a classe do co-
nhecimento a ser tratado e organizado na Ciência da Informação. Por isso,
acredita-se que o conhecimento das massas populares como desenvolvidos
nas redes sociais online e em sua junção com o conhecimento de cientistas,
pode ser de interesse ao escopo da Ciência da Informação e da Organização
do Conhecimento.
Um exemplo do que se quer explanar pode ser observado no co-
nhecimento criado nas fanfictions11 as quais apresentam outras tipologias
literárias e folksonomias12 aptas de incorporação a Ciência da Informação
e a Organização do Conhecimento. As possibilidades são múltiplas e
caberá à Ciência da Informação movimentar-se aos pressupostos da in-
formação líquida.
11 “Fan fiction ou “fanfic”: termo que se refere, originalmente, a qualquer narração em prosa com histórias e
personagens extraídos dos conteúdos dos meios de comunicação de massa, mas rejeitada pela LucasArts,
que, em suas normas para produtores e diretores de filmes digitais, exclui qualquer obra que procure
expandir’ seu universo ficcional” (Jenkins, 2013, p. 389).
12 Folksonomia é o resultado da marcação pessoal livre de informações e objetos (qualquer coisa com
uma URL) para sua própria recuperação. A marcação é feita em uma rede social ambiente (geralmente
compartilhada e aberta a outras pessoas). Folksonomia é criada a partir do ato de etiquetar pela pessoa que
consome as informações (Wal, 2007).
33
A  
A definição de informação líquida apresenta-se na Ciência da
Informação e na Organização do Conhecimento tanto em suas possíveis
práticas quanto em seus construtos teóricos. Não se trata apenas de uma
analogia ao que é líquido ou ao que está na web, mas à realidade contem-
porânea do objeto informação sob a pós-modernidade e sujeitos da infor-
mação ressignificados nesse contexto, uma entidade denominada aqui de
informação líquida. A busca é centrada na informação sem determinantes
da materialidade, de sua institucionalização em unidades de informação
tradicionais e em gênese e tratamento técnico-científico.
O adjetivo líquido utilizado para se referir à informação líquida ad-
vém da teoria da modernidade líquida de Bauman (2001, 2004, 2005,
2007a, 2007b, 2008). A escolha pelo termo para sustentar o adjetivo líqui-
do ocorreu por semelhanças percebidas entre fenômenos. Como analisado,
a sociedade na modernidade líquida tem dificuldades para se manter sobre
qualquer forma ou padrão de conduta, identidade, estrutura e, sobretudo
com alguma estabilidade e permanência. A afirmação se refere aos mais
diversos aspectos da vida dos indivíduos da sociedade pós-moderna e/ou
líquida, que se apresentam no trabalho, vida familiar, financeira, amorosa
e outras.
Richele Grenge Vignoli
34
Com desejos e interesses cambiantes e que se entrecruzam a outros
incessantemente, os indivíduos na sociedade líquida são movidos no inte-
resse último do consumo. Com dificuldade em se ater a qualquer elemento
que seja por muito tempo, o indivíduo pós-moderno está sempre com
pressa. Quando o seu interesse é a informação, seus hábitos e costumes
não raramente permeiam a urgência e independência tanto para produzir
quanto para recuperar o que necessitam. Esse novo sujeito da informação
é ativo e produz conhecimento. Para alcançar os anseios desses sujeitos da
informação, a Ciência da Informação e áreas correlatas necessitam rever
seu objeto de estudo de acordo com as novas práticas informacionais e
com base em tecnologias e processos que façam valer sua relevância na
sociedade. Esse é um dos objetivos da informação líquida: trazer reflexão a
respeito da práxis e teorias da Ciência da Informação e da Organização do
Conhecimento que não condizem com a realidade contemporânea, em es-
pecífico, em seus modos de acessar e produzir conhecimento e informação.
No mesmo raciocínio, a informação encontra-se na Ciência da
Informação e na Organização do Conhecimento entre as proposituras do
tempo e espaço, entre novos sujeitos de informação e na dificuldade em
manter uma forma única por muito tempo. Isso significa que as formas pe-
las quais o sujeito se comunica e se informa foram alteradas e não ocorrem
mais de modo linear no tempo e espaço. Como um líquido, a informa-
ção flui do remetente ao destinatário por intermédio de um conjunto de
instrumentos, serviços, aplicativos e dispositivos (Jones, 2012), em movi-
mento constante e até certo ponto, entrópico e incontrolável. Para tanto, a
informação líquida pode ser definida em cinco atributos que a diferenciam
entre outros conjuntos conceituais.
Optou-se por uma definição e não um conceito para a construção
do objeto. Um conceito necessita possuir um ponto de vista filosófico
em uma ideia geral e abstrata ou trazer uma definição rigorosa (Japiassú;
Marcondes, 1996). Por se tratar de uma definição construída nesse livro e,
portanto, não possui, ainda, elementos de rigor ou abstração necessários
para a composição de um conceito, a informação líquida é definida e não
conceituada. Como um conceito, a informação líquida necessitaria per-
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
35
passar instâncias de apropriação na comunidade científica da Ciência da
Informação, o que espera-se ocorrer daqui em diante.
O que se propõe é uma definição de informação líquida como cons-
truto de pesquisa e que poderá e espera-se que seja incorporada à Ciência
da Informação e à Organização do Conhecimento, a saber:
A informação líquida é disforme, atemporal e desmaterializada.
É híbrida, ubíqua, aberta, rizomática e incomensurável. A
informação líquida é de produção e de interesse de todo
indivíduo e sujeito da informação, pós-humano e líquido. Em
sua organização, fechamentos ou restrições classistas, físicos e
semânticos são inadmissíveis. A informação líquida visa representar
o conhecimento e a informação nos movimentos e fluxos da
sociedade em todo espaço, lugar e não lugar que possa ocupar,
tem elevada capilaridade e penetração social. Sua condição é
temporária, instável, flexível e fugidia. Está essencialmente no polo
virtual, é uma entidade sem corpo, maquinicamente hibridizada,
desterritorializada e desmaterializada.
Para clarificar a definição de informação líquida, seus atributos são
descritos. Os atributos da informação líquida conferem à definição, carac-
terísticas que a individualizam diante de outras definições de informação
encontradas na Ciência da Informação.
A informação líquida é concebida por atributos como pontos dife-
renciativos em relação às definições de informação já existentes. Um atri-
buto, como um predicado, é afirmado ou negado a sujeitos e pode ser
compreendido como a essência ou a propriedade elementar de uma subs-
tância (Japiassú; Marcondes, 1996). Os atributos da informação líquida
são a ela outorgados como adjetivos atributivos. “Um adjetivo atributivo
qualifica o substantivo a que se encontra associado e do qual não pode ser
separado” (Blackburn, 1997, p. 29). Nesse sentido específico, os atributos
são conferidos à informação líquida como o que é sua essência e que dela
não pode ser dissociada. Os atributos da informação líquida são cinco:
híbrida, ubíqua, aberta, rizomática e incomensurável.
Richele Grenge Vignoli
36
Os atributos visam ampliar o escopo da informação líquida como
uma informação fluida, em constante movimento e como fenômeno
desmaterializado.
37
A    
A informação líquida como híbrida é sustentada na multiplicidade
de formas, formatos, suportes, mídias, por linguagens, tecnologias e em
suas manifestações entre espaços, lugares e não lugares. Uma vez que o
que é híbrido indica que duas espécies distintas foram cruzadas e que algo
está fora da normalidade, o que está hibridizado responde a um tipo de
entroncamento que pode ser natural ou artificial (Housaiss; Villar, 2001).
Segundo Santaella (2008), os termos híbrido, hibridez, hibridação, hibri-
dismo e hibridização possuem origens distintas, mas significam a forma-
ção de misturas diversas para novos elementos compostos. Computadores
articulados que se transformam em tablets são híbridos; redes de conexão
são híbridas quando possibilitam acesso entre conexão a cabo e por satélite;
alimentos ou flores se tornam híbridos quando geram outros espécimes,
assim como são as máquinas que se hibridizam com os humanos em
agenciamentos maquínicos na ciborguização.
A informação acessível e disponível em qualquer forma ou formato
é ponto discutido desde os estudos de Otlet (1934), que priorizou o con-
teúdo dos documentos - a informação - em detrimento de seu suporte. A
partir da Documentação, Otlet (1934) tornou claro que qualquer formato
e suporte dos documentos poderia ser tratado na área, independentemente
da sua dimensão ou local de custódia.
Richele Grenge Vignoli
38
Mas essa visão só ficou mais aparente quando Silva e Ribeiro (2002)
propuseram o paradigma pós-custodial. Os pesquisadores defenderam que
no paradigma pós-custodial da Ciência da Informação, a ênfase está na in-
formação e não mais no documento e em suas formas de custódia e enfoque
patrimonialista. A ruptura paradigmática proposta repousa na perspectiva
de uma mudança na Ciência da Informação voltada às práticas que envol-
vem a disponibilização da informação em detrimento das preocupações
voltadas a sua guarda ou inventariação. Nessa constante, a informação em
suportes tradicionais como os materiais é revista e ressignificada para ações
voltadas ao seu tratamento na web e ciberespaço e em formatos híbridos.
A informação líquida como híbrida realiza cruzamento entre supor-
tes e mídias, sujeitos e tecnologias, espaços e agentes maquínicos - tudo
ao mesmo tempo. Não há relações dicotômicas, mas plurais e conduzidas
à multiplicidade. O hibridismo pode ocorrer em aspectos distintos e na
mesclagem de características básicas da informação, como as relativas às
suas formas, formatos, suportes, mídias, linguagens e tecnologias. A ques-
tão do registro que carrega uma materialidade ao objeto é discutida. As
características da informação que provêm da semiose homem-máquina, da
pluralidade de espaços, lugares e não-lugares e entre sujeitos da informação
líquidos confluem na hibridação da informação e de seus desdobramentos
na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento.
A informação já não possui formato ou suporte unívocos no ci-
berespaço e tampouco deve se manter na condição de sua materialidade
para pertencer ao escopo da Ciência da Informação ou da Organização do
Conhecimento. Suas propriedades, espaços, lugares, tecnologias e sujeitos
são titubeantes e se hibridizam a todo instante. Tentar conter esse movi-
mento talvez seja um equívoco de tempo e estratégia para que a Ciência da
Informação se mantenha útil na sociedade. Entretanto, também a infor-
mação existente apenas na materialidade é ou pode ser híbrida, a exemplo
das enciclopédias ou da televisão que misturam linguagens.
Para esclarecer a hibridez da informação, algumas definições são
expressadas. Para Prytherch (2005) e Reitz (2004), forma é um termo
utilizado na catalogação e se refere à maneira como um livro é organiza-
do em dicionário, enciclopédia, diretório e outros. A forma se reporta,
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
39
igualmente, ao gênero ao qual uma obra é escrita ou organizada como,
por exemplo, um romance, uma poesia, um drama, e outras estruturas
textuais que facilitam tanto o direcionamento da escrita quanto da leitu-
ra, especialmente a técnica – do indexador. Há a forma exterior de orga-
nização de livros por conteúdos por ordem classificada ou alfabética, ou
conforme redação ou apresentação em ensaio, bibliografia, periódico e
outras; e a ordem interior, que é subjetiva e realizada com base em teoria,
história ou filosofia dos assuntos.
O formato pode ser utilizado em referência à aparência, layout, ta-
manho ou dimensão do objeto e, no caso de livro, na quantidade de ve-
zes em que foi dobrado (fólio, quarto, oitavo e outros) (Prytherch, 2005;
Reitz, 2004). O formato pode ser a gravação em disquete, a organização
do texto na tela do computador para a impressão, sua edição quanto às
margens, alinhamento, tamanho, fonte e outros ajustes.
No processamento dos dados, a maneira pela qual os dados são or-
ganizados na entrada, saída ou armazenamento por meio de seus códigos
e instruções que determinam seu arranjo são considerados como formatos
da informação. Na Biblioteconomia e indexação, formato indica estilo ou
arranjo de aspecto físico em índices, bibliografias, nos padrões de descrição
como elemento do Dublin Core na manifestação física ou digital de um
recurso e no formato Machine Readable Cataloging (MARC) para descrição
de metadados (Cunha; Cavalcanti, 2008). A informação está em formato
de metadados.
Além da definição do termo por áreas e subáreas como, por exem-
plo, a Arquivologia, a Biblioteconomia, a indexação e outras, Cunha e
Cavalcanti (2008) apresentam outras 36 variáveis de compreensão da pa-
lavra formato que se estendem ao formato da informação que para os au-
tores é o seu suporte. São também formatos para os autores, o Portable
Document Format (PDF), o Graphics Interchange Format (GIF), o Joint
Photographic Experts Group (JPEG), o Tagged Image File Format (TIFF),
os formatos digitais da informação eletrônica e dos legíveis por máquina
ou dos computadores, e o formato original dos documentos antigos, por
exemplo. Formato na Ciência da Informação e áreas correlatas se refere à
descrição das características dos objetos de informação.
Richele Grenge Vignoli
40
Já o suporte remete à substância/composição do objeto. No entanto,
suporte na Arquivologia, Biblioteconomia ou Ciência da Informação tem
recebido definição de registro da informação, ou como a informação pode
se manter no tempo e espaço. Trata-se de uma visão patrimonialista.
Para Cunha e Cavalcanti (2008) o suporte é o meio utilizado pelo ho-
mem tanto para fixar como para transmitir seus pensamentos. Nesse racio-
cínio, somente o que é gravado em algum suporte pode ser compartilhado
no tempo e espaço e preservado como memória ou patrimônio. A oralidade,
por exemplo, não se enquadraria nesse entendimento se não estiver registra-
da em algum suporte. São excluídas desse raciocínio, também as manifesta-
ções virtuais do conhecimento humano nas redes sociais, por exemplo.
Mais adiante, Cunha e Cavalcanti (2008) explicam que o reino mi-
neral forneceu ao homem a pedra, o mármore e a argila como suportes
para gravar seus feitos e pensamentos; no reino vegetal, a madeira e o pa-
piro proporcionaram as mesmas condições e, no reino animal, o osso, o
marfim e as peles de animais foram utilizados no mesmo sentido. A partir
da internet e das TIC, a informação passa a ser disponibilizada em diversas
possibilidades de forma, formato, suporte, e em linguagens múltiplas na
web e ciberespaço. Sua propositura material passa a ser condição secundá-
ria diante do cenário dos sujeitos que acessam e produzem informação nos
ambientes virtuais. Esse sujeito da informação já não possui necessidade
de informação disponibilizada com suportes materiais e tampouco deseja
locomover-se fisicamente para ter acesso a alguma informação.
É perceptível também em Cunha e Cavalcanti (2008) que o suporte
da informação possui o mesmo sentido que o artefato em que a informação
é gravada ou registrada. Seu suporte significa o seu registro, a sua gravação,
tal como em pedra que resiste ao tempo. Do contrário, ou sem um suporte,
a informação não é de cunho da Arquivologia ou Biblioteconomia, ou
ainda, da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento, já
que a definição provém de um dicionário específico das áreas e é escrito por
pesquisadores da Ciência da Informação. Todavia, trata-se de uma visão
brasileira, do mesmo modo que o conceito do Arquivo Nacional (2005,
p. 159), em que suporte é compreendido como o “Material no qual são
registradas as informações”.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
41
O conceito retrata a substância em que a informação está inscrita,
mas no sentido de gravação, cunho e não de comunicação da informação.
Se a intenção é a de adotar uma visão não patrimonialista ou custodial,
como a da informação líquida, a preocupação com a informação deve ser
focada em sua comunicação. Para isso, o suporte necessita ser visto como
transitório e como meio de comunicar a informação.
No termo equivalente para suporte em inglês, medium, sua definição
por Reitz (2004) equivale ao meio material enquanto uma substância física
utilizada para registrar dados para armazenamento ou recuperação da in-
formação, e como meio técnico que possibilita a comunicação de qualquer
trabalho criativo impresso ou não.
O suporte enquanto meio material tem objetivo de promover o ar-
mazenamento e recuperação posterior da informação. Mas essa substância
não deve ser vista como o que lhe possibilita ou possibilitará o seu registro,
a sua materialidade, simplesmente porque essas condições não podem mais
ser concretizadas em todas as instâncias do conhecimento e da informação
no polo virtual. Essa informação tem suporte ou substância temporários
enquanto objeto virtual.
O suporte, medium, enquanto meio técnico, possibilita a comuni-
cação da informação, como por meio da internet. O suporte ou medium é
a substância ou consistência da informação, que como uma essência, pro-
porciona sua comunicação de forma impressa, digital, virtual ou híbrida.
Para que seja recuperada, a informação necessita de uma substância, um
meio. Mas esse meio ou substância é sempre transitório – é sempre líquido.
Em síntese, o suporte deve ser é uma substância transitória em formação
não condicionante na informação líquida. O que permanece e é constante
é a liquidez.
Com intuito de discutir a questão do registro da informação na
Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento e em sua res-
significação na informação líquida, alguns conceitos de registros são expos-
tos. Na concepção brasileira, Cunha e Cavalcanti (2008, p. 313) definem
um registro como: “Qualquer documento onde se encontra registrada uma
informação”. Em outras denominações, registro recebe sentido de:
Richele Grenge Vignoli
42
Dados ou informações armazenadas na memória do sistema visando
sua recuperação, os quais podem ser referências bibliográficas
dos documentos, os próprios documentos ou os substitutos
desses documentos, isto é, resumos, índices ou extratos (Cunha;
Cavalcanti, 2008, p. 313).
Na concepção dos autores verifica-se que registro tem peso de:
a) objetos a serem recuperados = memória, arquivamento, armaze-
namento, recuperação da informação física ou digital;
b) os próprios objetos servem como formas de registro de memória,
patrimônio, recuperação desse conhecimento e informação;
c) os substitutos desses objetos, isto é, os produtos de sua represen-
tação funcionam como forma de atestar seu registro atemporal =
índices, referências bibliográficas e outros.
Nos pontos a) e b) compreende-se que é necessário manter um ob-
jeto de informação como um patrimônio na preservação de sua memória,
seja de maneira física ou digital. Entretanto, a prática de valorização da
guarda ou custódia, conservação e restauro dos documentos fortemente
atrelada à valorização de memória e patrimônio foi ação valorada séculos
atrás. A partir da exploração da informação científica com a informatika e
Ciência da Informação, o apreço ao suporte físico e registro da informação
para guarda e memória deveriam ter importância ao menos reduzida. Já
não é possível realizar salvaguarda de toda informação no ciberespaço, o
que torna as ações voltadas a essas atividades arbitrárias.
O pensamento é também desconexo quando comparado aos estudos
de comportamento de usuários em que a máxima é atender as demandas
e necessidades de informação. É preciso compreender se a salvaguarda e o
patrimonialismo, sem desmerecer a história das nações, é uma necessidade
dos sujeitos da informação em detrimento de outras mais urgentes.
No contexto, indagações surgem como por quais razões a Ciência da
Informação e a Organização do Conhecimento persistem na noção de in-
formação registrada ou em sua materialidade. Talvez seja para fazer valer os
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
43
esforços de sua força de trabalho que há anos se pautam nesses construtos.
Ou ainda, para manter tradições nas origens das áreas do conhecimento
que se valeram na sociedade enquanto patrimônios sociais do conheci-
mento. Mas, todo esforço é necessário para que a Ciência da Informação
e a Organização do Conhecimento compreendam que não são áreas do
conhecimento que possuem como objeto a historicidade dos fatos. Não
são, portanto, movidas pelo registro dos acontecimentos, como é a histó-
ria, por exemplo.
É preciso descentralização do registro, da materialidade como
condição da informação no seu tratamento e organização para o despertar
de suas formas de disponibilização. O registro, assim como o suporte, se
tornou transitório na sociedade e informação líquida e é irrelevante em
contextos virtuais. Ainda que o registro e o suporte continuem a existir e
que talvez, sempre existam em suas formas de registro e materialidade, no
polo virtual apresentam uma necessidade irrelevante para a disponibilização
da informação. É preciso conviver com as duas realidades na contempora-
neidade: a física e a virtual.
De toda forma, Cunha e Cavalcanti (2008, p. 314), em outra con-
ceituação, informam que um registro é “Ação ou efeito do ato de registrar
informações em suportes físicos, p. ex.: registro em fita, registro magnético,
registro ótico e registro em disco”. Novamente, nota-se o sentido de calcar
a informação em algum suporte físico para que seja possível sua recupera-
ção posterior, seja como memória, como patrimônio, para acesso ou para
gerar produtos de representação. Para os autores, registro significa também
um livro de tombamento, tanto na Arquivologia como na Administração,
um registro alfabético como um índice alfabético; um registro autorizado
por cabeçalho individual numa lista de autoridade; um registro catalográ-
fico por sua entrada; um registro bibliográfico em formato bibliográfico;
registro da informação que é a informação registrada; registro da sessão de
busca que são os registros das estratégias de busca e muitas definições. Em
denominações gerais, registro tem sentido de registro de bibliotecário =
documento que dá permissão para o exercício da profissão de bibliotecário;
registro de marca = patentes, registro de copyright = de créditos do autor,
registro de imóveis = em cartórios e outros (Cunha; Cavalcanti, 2008). Há
Richele Grenge Vignoli
44
uma confusão do termo registro com aquilo que tem valor de prova ou
como o que é de direito de um autor.
O problema da conceituação de registro é que todo conhecimento
construído pelo ser humano deverá gerar um registro ou ser gravado na
forma de uma materialidade. Mas nem todo conhecimento será gravado
em uma materialidade ou será objetivado, o que é um axioma e condição
basilar na informação líquida. E é também, uma situação hodierna a ser
pensada e recontextualizada na Ciência da Informação e na Organização
do Conhecimento.
Um ponto que torna a condição do registro refutável na atualidade
pode ser encontrado nos recursos das redes sociais online como o WhatsApp.
No aplicativo há um recurso em que seus usuários optam pelo apagamen-
to instantâneo de suas mensagens em texto, áudio ou vídeo. Apesar de
uma ação simples, o recurso demonstra que nem tudo que é dito, escrito,
fotografado ou filmado tem intenção de ser preservado, armazenado ou
registrado no intuito de se manter no tempo ou espaço. Outros aplicativos
como o Snapchat permitem que as fotografias sejam visualizadas por ape-
nas 10 segundos, o que demonstra que não há intenção alguma do registro
dessas imagens.
No contexto das redes sociais, uma mensagem postada no X pode
ser compreendida como um registro da informação com visão na mate-
rialidade da informação. O microtexto segue postado e registrado na pla-
taforma do recurso na web. Esse texto tem lugar (web) para ser acessado
e tem, ainda, um autor (quem postou a mensagem). Entretanto, não há
nenhuma garantia que essa postagem se manterá registrada no tempo e
no espaço, como no caso de a empresa responsável pelas publicações vir a
falência. Dessa forma, a situação pode não se arquitetar bem aos preceitos
da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento, quando
focadas na materialidade.
A postagem no X é um registro da ação de escrever e publicar uma
mensagem na web, assim como é um texto nas produções de um fandom1,
[...] fandoms são comunidades de fãs que compartilham produtos, experiências e trabalhos de seu objeto de
veneração. Esse objeto de culto pode ser livros, filmes, seriados, bandas, cantores, histórias em quadrinhos
(HQs), gibis, mangás (quadrinhos japoneses), animes (animação japonesa), reality shows, celebridades, entre
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
45
ambas possuem uma corporeidade provisória e não física, assim como
ocorre com outras publicações das redes sociais. Todavia, o problema a
ser resolvido na Ciência da Informação está nas circunstâncias efêmeras
desse suposto registro. Um dos obstáculos iniciais é que se trata de outra
substância que é, nesse caso, imaterial, incorpórea, desmaterializada, ou
seja, líquida. Em outras palavras, esse “registro” não guarda semelhança
com a materialidade como o que se mantém no tempo e no espaço e esta
é uma realidade a ser pensada na Ciência da Informação e na Organização
do Conhecimento.
Ao mesmo tempo em que um post, mensagem, tag ou qualquer outra
forma de publicação está no ciberespaço, essa condição pode ser alterada
para “não está mais disponível”. Devido a sua liquidez inerente a condições
exteriores que, muitas vezes, fogem da autonomia dos sujeitos da infor-
mação ou de profissionais da informação e de outros, como da Ciência da
Computação, a informação que estava online pode simplesmente desapare-
cer. O desaparecimento das informações pode ocorrer porque o sujeito de-
letou seu conteúdo, por pedidos judiciais ou por questões éticas que extra-
polem as regras do próprio recurso (conteúdos de violência, sexo, drogas).
Não há, portanto, garantia de permanência, guarda ou memória definida
à posteridade nas informações no polo virtual e na informação líquida. As
condições do polo virtual são opostas ao que a Ciência da Informação e a
Organização do Conhecimento tem praticado ao longo do tempo, relativo
ao lugar ou localização da informação em espaços físicos. As garantias de
permanência da informação estão se perdendo e a Ciência da Informação
da Informação e a Organização do Conhecimento necessitam agir em
relação a esse fenômeno informacional.
Ainda que se cogite que essa informação apagada/deletada tenha
um backup em algum computador-servidor, e que seja possível apelar para
pedidos judiciais para se ter acesso novamente ao conteúdo deletado, tal
situação não seria prática e, tampouco concernente com a realidade do
cotidiano dos profissionais da informação. Buscar servidores ou sistemas
físicos responsáveis pelas publicações que estão dispersas no ciberespaço
outros. A produção de objetos (textuais ou não) e de sentidos é, portanto, intrínseca aos fandoms (Silva;
Sabbag, 2020, p. 260, grifo do autor).
Richele Grenge Vignoli
46
seria equivalente a buscar por uma materialidade do que não há. Mas se
o discurso for pautado na presença do registro/materialidade mesmo em
condições em que este não é físico e não possui uma materialidade tal
como o que é destituído de matéria, ainda assim, esse registro demonstra
sua irrelevância diante de sua liquidez no polo virtual. O que é virtual não
tem intenção de ser materializado, o que é um fato. Tal registro não poderá
responder no espaço-tempo ao que apresenta, e não somente devido à in-
constância de seu formato, forma ou localização, mas porque nem tudo o
que está no polo virtual é construído para a permanência ou posteridade.
Seus objetivos são outros e mesmo com uso de Digital Object Identifier
(DOI), a garantia de acesso à informação não poderá ser firmada no es-
paço-tempo. A exemplo, uma informação com número de DOI envolve
pagamentos de licenças, indicação que a empresa responsável pelo objeto
continue em funcionamento e, entre outros requisitos, que essa informa-
ção nunca esteja off-line. A informação líquida atua sobre outras condições
e tentar estruturá-la em padrões convencionais sempre apontará a confron-
tos desnecessários.
Com isso, reforça-se que a questão central não se imputa sobre onde
a informação está armazenada em última instância, (a não ser que a Ciência
da Informação assuma, de fato, um posicionamento totalmente voltado a
registros materializados da informação, como uma ciência arqueológica).
A questão central defendida aqui é sobre efemeridade, instabilidade e a
condição temporária que a informação assume no polo virtual, e que pode
modificar o modus operanti da Ciência da Informação e da Organização do
Conhecimento.
Outra especulação que contraprovaria a liquefação da informação
seria a viabilidade de registrar o que apresenta instabilidade na virtuali-
zação. Em uma situação utópica e continuadamente distópica, um pro-
fissional da informação munido de pressupostos na materialidade, diria
que bastaria realizar prints (fotografias) de tudo o que se quer manter no
tempo e espaço. Prints seriam a comprovação do fato e poderiam ser ar-
quivados como prova do que foi postado. Para transformar o que é líquido
em sólido, prints das mensagens (em um exemplo com o X) resolveriam o
problema. Contudo, esse tipo de argumento e ação remeteria a esforços
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
47
desproporcionais de mão de obra, custo-benefício e, principalmente, que
não correspondem à realidade contemporânea. Seria inviável materializar
toda a informação virtual! As deepfakes2 demonstram que a comprovação
de fatos por meio de imagens ou vídeos, por exemplo, não garantem a ve-
racidade da ocasião ocorrida.
Além do mais, ações como essa representariam uma movimentação
contrária às entidades virtuais de objetos desmaterializados da informação
e na informação líquida. Seria como retroceder em tecnologia, técnica,
prática, força de trabalho e contexto social e cultural, que representam os
entornos da sociedade pós-moderna. Não é possível voltar atrás a socieda-
de virtual e tecnológica.
Já no contexto internacional, o termo registro traduzido para o inglês
significa register e record. No primeiro, os significados remetem a bibliogra-
fias, catálogos, listas compiladas de nomes, endereços, eventos, datas ou ou-
tros elementos em uma sequência única que pode ser cronológica ou numé-
rica e que funciona como um registro oficial. Registro pode ser utilizado para
se referir ao ato de registrar informações em listas oficinais (Prytherch, 2005;
Reitz, 2004), como o que fato é um registro. No segundo termo, record tem
sentido de documento, de documentar e de prova, tal qual é compreendi-
do na Arquivologia. Esse registro tem significado de documento de arquivo
que visa preservar seu conteúdo, um fato, uma informação e de forma per-
manente (Arquivo Nacional, 2005; Prytherch, 2005). Esse raciocínio é fiel
ao contexto do paradigma custodial de viés patrimonialista e custodialista.
Entretanto, a função de um documento de arquivo é ser único e manter sua
originalidade. Mas essa condição não deve se prospectar na falta de movi-
mento ou hibridez de seu suporte, mídia ou tecnologia.
No sentido restrito de documentar, Lévy (1999) explica que algumas
mensagens foram concebidas para que seu sentido seja mantido em qual-
quer contexto de espaço, lugar, época, ciência, religião, direito do homem
ou como mensagens universais. A universalidade foi adquirida com a lin-
O termo deepfake é uma combinação dos termos deep learning e fake. Com uso de técnicas de deepfake
qualquer pessoa pode substituir ou modificar o rosto de outro indivíduo, alterar a voz original e expressões
faciais originais em imagens ou vídeos. As deepfakes são baseadas em inteligência artificial e para um ser
humano, é muito difícil identificar quando o conteúdo original foi manipulado (Chadha et al., 2021).
Richele Grenge Vignoli
48
guagem escrita que é estática, totalizante, um corpo inerte esfacelado e que
requeria que o seu sentido fosse compreendido somente no contexto de
sua criação (Lévy, 2014). A partir da cibercultura3 e comunidades virtuais
do ciberespaço, a universalidade não tem dependência do texto e nem de
seu contexto para a sua significação. Os espaços fluidos do ciberespaço
possibilitam que outros sentidos e significados sejam atribuídos a essa in-
formação, mesmo que a mensagem tenha sido escrita cinco séculos atrás
ou redigida a 5.000 km de distância (Lévy, 1999).
Reforça-se que a informação para os sujeitos de informação, aqueles
a quem a Ciência da Informação visa atender e disponibilizar seus produ-
tos informacionais, talvez não solicite de seus pesquisadores e profissionais
todo esse desprendimento de tempo e trabalho ao registro (materialidade)
das informações.
Quanto à mídia, funciona como o veículo que transmite a informa-
ção e corresponde a dois tipos: a) mídia digital: “Conjunto de meios de
comunicação que se valem de recursos informáticos (internet, email, etc)
[...]” e b) mídia eletrônica: “Veículo como rádio, televisão, cinema, etc”
(Neiva, 2013, p. 371).
De acordo com as definições de Neiva (2013) e da Comunicação,
a mídia age como um elemento mediador entre a mensagem e seu públi-
co. Antes de 1980, o termo equivalente para mídia era cultura, meio de
massa, indústria cultural e tecnologias da comunicação e suas respectivas
traduções mass media e mass culture. A partir de 1980, a palavra mídia
se popularizou principalmente entre publicitários e jornalistas (Santaella,
2007). Conforme idealizado por Shannon e Weaver (1975), na teoria ma-
temática da comunicação, a mídia seria o canal que faz a mediação entre a
mensagem (fonte de informação) e o destino (destinatário). Na Ciência da
Informação, a mídia impressa ou digital tem por objetivo veicular a infor-
mação para sujeitos de informação.
A mídia compreende os meios de comunicação utilizados para trans-
mitir informação, seja na Comunicação, Ciência da Informação e/ou ou-
“[...] conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de
valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (Lévy, 1999, p. 17).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
49
tras áreas do conhecimento. No contexto da Ciência da Informação, as
mídias são importantes para que a informação alcance seu público. Na
informação líquida, a mídia utilizada para transmitir ou acessar a informa-
ção tem por objetivo fornecer experiência entre mídias e canais diversos ao
mesmo tempo, conforme a linguagem das hipermídias.
A linguagem, por exemplo, é percebida no sistema de signos conven-
cionais utilizados para representar a realidade na comunicação humana.
Como conceito filosófico é um elemento estruturador do homem com o
real (Japiassú; Marcondes, 1996) que possibilita a comunicação humana.
Também para Neiva (2013), a linguagem configura-se como sistemas de
símbolos, signos e códigos diversos - é o meio de comunicação próprio da
espécie animal.
A linguagem é a forma de expressão de um povo, sua língua, lingua-
jar, dialeto, a fala, o ato de falar. Já a língua é um sistema de signos que
possibilita a comunicação entre membros de uma comunidade linguística.
Os signos atuam na substituição dos objetos que a representam (Cadore,
1995), e a língua atua como um código da mesma forma que pode ser a
língua portuguesa, a inglesa, o Código Nacional de Trânsito e a Linguagem
Brasileira de Sinais (LIBRAS). Segundo Cadore (1995), a língua é o ver-
dadeiro código social que se modifica e se enriquece com o tempo e que
sempre está à disposição dos indivíduos.
A respeito da língua, Santaella (2004) explica que a sua existência
independe de que seus falantes estejam praticando-a, pois mesmo quando
estão dormindo, a língua é viva e continua seu fluxo assim como ocorre no
ciberespaço. Para Lévy (1999), a linguagem possibilita que os seres huma-
nos possam recordar, simular, imaginar ou que se desloquem para outros
lugares, momentos ou mundos. É a linguagem que permite recordar me-
mórias ou imaginar situações e não o suporte da linguagem.
Com visão mais ampla e defendida neste estudo, Houaiss e Villar
(2001) definem que a linguagem é qualquer meio sistemático utilizado
para a comunicação por meio de signos convencionais, sonoros, gráficos,
textuais ou outros. É possível haver comunicação sob qualquer código. Em
decorrência da existência da linguagem das máquinas, a linguagem é com-
Richele Grenge Vignoli
50
preendida como meio de comunicação para além da capacidade humana.
Isso significa uma extensão da significação de linguagem para o ato de co-
municação independente da ação do homem-para-homem. Se há comuni-
cação de máquina a máquina e entre máquina e o homem, a comunicação
por linguagens artificiais é uma prática inteligível.
Na computação, a linguagem se refere àquela que é artificial (da
lógica, matemática), da máquina (linguagem de programação de nível bai-
xo e de sistema binário) e assim sucessivamente (Houaiss; Villar, 2001).
No contexto do ciberespaço, Santaella (2004) evidencia que a partir da
consolidação da língua franca da internet, o Hypertext Mark-up Language
(HTML), foi possível a web difundir-se mundialmente.
A linguagem do ciberespaço é a hipermídia, ou seja, o conjunto, a
mistura de todas as linguagens de comunicação, a sua própria hibridização.
Segundo Santaella (2004, p. 48) “A hipermídia mescla textos, imagens
fixas e animadas, vídeos, sons, ruídos em um modo todo complexo”. No
ciberespaço, linguagens e tecnologias são hibridizadas inconstantemente
como o que lhe é conexo. Ocorre a convergência das mídias, das lingua-
gens e das tecnologias. Nesse sentido, a comunicação ocorre entre máqui-
nas e instâncias existentes em potência.
Santaella (2007) explica que na cartografia líquida e invisível do ci-
berespaço, isto é, em sua disponibilização fragmentada, navegação fluida
e imperceptível, as linguagens do tempo como o verbo, o vídeo, o som e
as relacionadas ao espaço como a imagem, foto e diagrama se fluidificam.
Não há garantia de estabilidade dos objetos no tempo ou espaço no cibe-
respaço. O texto, a imagem ou o som passaram a se entrecruzar, sobrepor
e complementar. Nesse trajeto em movimento constante, as linguagens em
suportes fixos perderam sua força para a leveza dos bits e da essência que
ocupam por breves frações de tempo.
O ciberespaço rompe barreiras antes estabelecidas de presença físi-
ca e de acesso ao conhecimento e à informação somente por essa via. As
formas de comunicação se expandem em linguagens híbridas que não se
confinam mais somente a lugares fixos. A tradição esbarra nas mídias e
linguagens emergentes que se tornam híbridas na informação líquida.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
51
Na junção de mídias e na linguagem do ciberespaço encontra-se o
conceito de hipermídia defendido por Santaella (2003, 2004, 2007, 2014).
A hipermídia visa à convivência entre mídias e linguagens em ambientes
desterritorializados e desterritorializantes como no ciberespaço. É o efer-
vescer dos espaços de informação digitais e virtuais e da urgência das TIC
em plena ação nas sociedades contemporâneas. Esse momento modifica
estruturas documentais e convencionais de tratamento do conhecimento e
da informação, e condiciona seus pesquisadores e profissionais a reposicio-
namentos acerca de como e para quem seu objeto tem sido investigado e
aplicado. Não é mais uma escolha, é uma condição existente.
Na hipermídia, isto é, na confluência entre mídias e linguagens de
modo anárquico, quatro traços são relevantes para a sua compreensão de
acordo com Santaella (2003, 2004, 2007):
1. convergências das mídias: a mistura de tecnologias e mídias
antes separadas agora convergem em aparelhos únicos como o
computador, smartphones, TVs e outros dispositivos;
2. capacidade de armazenamento: a hipermídia significa uma enor-
me concentração de informação por hipertextos e nós na rede
que não devem ser lidas do começo ao fim, mas em hiperlinks,
saltos e descobertas. A hipermídia exige do profissional da infor-
mação verdadeira expertise para o tratamento da informação que
está ramificada em diversos outros hiperlinks contínuos;
3. cartograma navegacional: essa enorme concentração de informa-
ção disponível no ciberespaço exige que sistemas de informação
realizem buscas para os sujeitos da informação e que pistas e
espécies de manuais e roteiros existam como auxiliares para a na-
vegação, manuseio e recuperação da informação. Nesses guias ou
pistas, os profissionais da informação podem exercer importante
papel no auxílio da recuperação da informação de qualidade;
4. linguagem eminentemente interativa: a hipermídia não “aceita
usuários passivos ou reativos. É preciso interação para uma ex-
periência de imersão no ambiente virtual. Novamente, o profis-
sional da informação poderá atuar como mediador diante do su-
Richele Grenge Vignoli
52
jeito da informação com características mais passivas de imersão
nas fontes informacionais.
A forma digital expressa que toda fonte de informação pode ser
homogeneizada em cadeias de 0 e 1, o que significa que a tecnologia
básica já utilizada pode ser empregada na transmissão de toda forma de
comunicação, seja em texto, vídeo, áudio ou outros formatos na internet
(Santaella, 2004).
Quanto à tecnologia, parte-se de um pressuposto de que a técni-
ca se relaciona à prática do conhecimento científico na ciência moderna
(Japiassú; Marcondes, 1996). A técnica como um “[...] conjunto de pro-
cessos de uma arte [...]” (Ferreira, 1986, p. 1656) opera no entendimento
da Filosofia, como a arte da ciência.
Nesse raciocínio, para Bunge (1980), a ciência é o motor da tecnolo-
gia e, para que se conheça o desenvolvimento da produção científica da so-
ciedade moderna, é necessário compreender a estrutura e sentido dos seus
produtos. A tecnologia é o “Conjunto de conhecimentos, especialmente
princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo de ativi-
dade [...]” (Ferreira, 1986, p. 1656) e para tanto, conhecer as técnicas e
tecnologias de uma sociedade torna possível entender seu desenvolvimen-
to científico, ou por quais caminhos a ciência percorre em determinadas
comunidades. Se a intenção é conhecer os desígnios de uma ciência, então
será preciso conhecer também sua relação com a tecnologia e essa é uma
vinculação indissociável.
Na Ciência da Informação, a situação é semelhante e a condução de
seu objeto de estudo desarrolha em seus produtos técnico-científicos e teo-
rias aprofundadas. Dessa forma, e com base na sociedade contemporânea,
já não é possível separar a ciência da técnica e tecnologia.
Entre mídias e linguagens, a tecnologia tem sua trajetória demarcada
por questões históricas e, sobretudo, culturais e que impactam nas formas
pelas quais o sujeito adquire informação. A linguagem passa a se inteirar de
sistemas inumanos nas linguagens binárias utilizadas pelas máquinas para
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
53
se comunicar entre si e com o ser humano na formação de outras lingua-
gens de comunicação.
Nesse aspecto, os processos comunicacionais se tornam híbridos
e há convivência entre linguagens, tecnologias e sujeitos da informação.
Santaella (2003, 2007) demonstra a trajetória das tecnologias por meio
de cinco gerações que caracterizou e, com isso, fica perceptível a mudança
de comportamento dos indivíduos diante do cenário midiático. As cinco
gerações de tecnologias são:
1. Tecnologias do reprodutível: trata-se do jornal, da fotografia e
do cinema, ou ainda, de tecnologias eletromecânicas (Santaella, 2007).
Segundo Kossoy (2001), a fotografia passou a existir desde 1840 e teve
aceitação a partir da década de 1860. No século XIX, o mundo todo co-
nhecia e aceitava a fotografia, “O mundo tornou-se, assim, portátil e ilus-
trado” (Kossoy, 2001, p. 27). Segundo Bernardet (1980), o cinema teve
sua primeira apresentação mundial em Paris em 1895, em que foi exibida
uma locomotiva em movimento pelos comandos de um dos inventores
do cinema, Lumière. Para o autor, o cinema se desenvolveu no início do
século XIX.
Para Straubhaar e LaRose (2004), a primeira câmera de cinema foi
inventada em 1900 por omas Edison e omas Dickson, mas somente
em 1903 ocorreu a primeira apresentação de um filme com roteiro e só em
1946, o cinema teve seu auge com grandes públicos. Segundo os autores,
em 1946 cerca de 90 milhões de americanos iam ao cinema toda semana.
Essas tecnologias foram introduzidas em uma época de mecanização
da vida e da forma de trabalhar com a aceleração da produção em fábricas
e com o surgimento das redes de energia elétrica. Foi um momento em que
as culturas de massa começavam a nascer e em que as pessoas, por meio da
publicidade, moda, entre outros acontecimentos, passariam a sentir dese-
jos de consumo (Santaella, 2007). As tecnologias do reprodutível visavam
à reprodução do conhecimento por via mecânica e/ou elétrica que, aos
poucos, pretenderam o alcance de públicos cada vez maiores. O cinema foi
a grande arte definidora da Modernidade, pontua Santaella (2003, 2007).
Richele Grenge Vignoli
54
Tais tecnologias podem ser classificadas como uma técnica de con-
trole de mensagens denominada por Lévy (2014) como do tipo somática.
As mensagens somáticas são únicas e exigem de seus sujeitos a sua presença
efetiva, assim como seu engajamento e energia para a produção de signifi-
cados. É o caso da fala, da dança, do canto ou música instrumental. Assim,
a dança só tem sentido completo quando há uma música como fundo e a
fala quando dita com expressões faciais e gestos. O cinema é um exemplo
de tecnologia que exige sua contextualização para a produção de sentidos.
2. Tecnologias da difusão: as tecnologias de difusão possuem a inten-
ção de difundir informações para um grande número de pessoas simulta-
neamente. Com a televisão e o rádio, as culturas e mídias de massa foram
inauguradas e as mídias do reprodutível passaram a ser vistas como e para
a elite. As mídias eletroeletrônicas, como o rádio e a televisão, são denomi-
nadas como populares em relação às eletromecânicas como o cinema, foto
e jornal (Santella, 2007).
Ocorre a passagem das tecnologias reprodutivas para as da difusão e o
mercado da indústria cultural entra em cena. É o momento da explosão da
cultura de massas. Segundo Strubhaar e LaRose (2004), a música gravada
surge antes do rádio e foi com a invenção da vitrola por omas Edison em
1877, que o rádio iniciava seu surgimento como mídia. Guglieno Marconi
foi um dos inventores do rádio, que o patenteou em 1896. Porém, como o
rádio foi muito útil durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), só
se tornou popular em 1924. Ainda assim, o rádio já atingia um número ra-
zoável de público que possuía ação passiva diante da informação recebida.
Já a televisão teve suas primeiras tentativas de criação em 1935
por meio de transmissão britânica. A televisão avançou tecnologicamente
após a Segunda Guerra Mundial e teve seu auge em 1948 com a maio-
ria da programação advinda dos programas de rádio (Strubhaar; Larose,
2004). A televisão instaura a noção de lazer aos indivíduos que em seu
surgimento, ainda possuíam comportamento passivo diante da progra-
mação como a única opção possível. Sua interatividade com o equipa-
mento não passava da troca de canais ou desligamento do aparelho. Mas
o foco das tecnologias da difusão é o alcance de seu conteúdo ao maior
número de pessoas possível.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
55
Nas tecnologias da difusão em que as mídias surgem com maior en-
foque, a técnica de controle de mensagens de Lévy (2014) seria a midiática.
Também para o autor, a intenção é propor alcance maior, porém, sem a
necessidade de presença física no ato do acontecimento para a produção de
significados. Lévy (2014) explica que as mídias transportam as mensagens
de forma que as somáticas jamais poderiam, pois há os modos de reprodu-
ção em massa;
3. Tecnologias do disponível: as tecnologias do disponível são tam-
bém denominadas por Santaella (2007) como as tecnologias de pequeno
porte ou gadgets. Para a autora, são as tecnologias da cultura de mídia que
se distinguem das culturas de massa. Segundo Strubhaar e LaRose (2004),
no fim dos anos de 1970 e início dos anos de 1980, surgem a televisão a
cabo e a fita Video Home System (VHS) e a Betamax. Nesse momento, as
tecnologias do disponível, como o videocassete, o controle remoto, a má-
quina de fotocópia, o som automotivo e outros itens, se tornam realidade e
permitiram às pessoas usufruírem de aparatos tecnológicos quando quises-
sem. A liberdade de escolha, uso e acesso são uma realidade e a mobilidade
do indivíduo começa a ser praticada por meio de aparatos tecnológicos.
É o início da cultura da mobilidade humana que tem no walkman
um de seus principais aparelhos eletrônicos como exemplo das possibilida-
des tecnológicas do período. O sujeito passa a ter condições de se mover
com a tecnologia utilizada, além de controlá-la;
Na concepção de Lévy (2014), a técnica digital de controle de men-
sagens é empregada como controle das mensagens de modo superior ou
como o que sempre pairou a mídia. O digital instaura a desconstrução
ou mixagem das mídias anteriores. “No vocabulário do digital, não se fala
de montagem, mas de computação, de cálculo, de tratamento da infor-
mação” (Lévy, 2014, p. 55). Apesar de as mídias ainda se perpetuarem
sobre a escrita, como no hipertexto, o digital não estabelece limites para a
reconstrução das mídias em seus formatos e disponibilização. Os alcances
da informação são outros, inimagináveis e descontrolados e o ciberespaço
se torna uma potência em ascensão;
Richele Grenge Vignoli
56
4. Tecnologias do acesso: a internet e o ciberespaço representam
as tecnologias do acesso. Para Santaella (2007) trata-se de tecnologias de
linguagens multimídias e tecnologias da inteligência já que as formas de
armazenamento, manipulação e diálogo informacional foram totalmente
alteradas com a internet e com as possibilidades de navegação na web e
comunicação no ciberespaço. Os bits são as unidades mínimas que dão
corpo aos signos líquidos do ciberespaço e que quando ocupam muito
espaço, são logo apagados para novos arquivamentos e preenchimentos
(Santaella, 2007). São espaços ocupados pela efemeridade e que instauram
novas formas de comunicação possíveis pela internet. As tecnologias do
acesso são demarcadas pela internet e seus cabos e/ou satélites;
5. Tecnologias da conexão contínua: há nesta tecnologia o despren-
dimento de fios, cabos e, principalmente de espaços físicos para acesso
à informação. Nas tecnologias da conexão contínua o acesso à internet
ocorre sem amarras geográficas, ou seja, em todo lugar que houver conexão
sem fio. As tecnologias da conexão contínua, são as tecnologias móveis ou,
ainda, locativas (Santaella, 2003), em que indivíduos estão conectados a
dispositivos tecnológicos como smartphones, smartwatch e outros aparelhos
em sistema 24x74. Os indivíduos não necessitam compartilhar o mesmo
espaço geográfico para participarem das tecnologias da conexão contínua.
Esses acessos são realizados por nós, como em redes móveis (Santaella,
2007). São tecnologias ubíquas e híbridas que possibilitam acesso à infor-
mação de modo contínuo e simultâneo em qualquer lugar e horário. Há a
junção das tecnologias, das mídias, das linguagens, das formas de acesso à
informação, da hibridização entre homem e máquina. O leitor ou sujeito
da informação é fluente e se move por e entre a hibridez de tecnologias,
linguagens e mídias no ciberespaço.
Entretanto, as cinco gerações tecnológicas continuam a existir e ne-
nhuma elimina a outra. Mas há uma evolução eminente e esperada entre os
dispositivos, mídias e suas tecnologias como ação comum entre períodos
e gerações, assim como há entre as ações e práticas de informação entre os
sujeitos. É exatamente sob o ponto de vista das mudanças geracionais nas
práticas de informação dos sujeitos da informação que as mudanças de-
O que significa sete dias na semana, 24 horas por dia.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
57
fendidas na informação necessitam ocorrer. Observa-se que as tecnologias
foram modificadas, assim como as linguagens, espaços e mídias. Por isso,
entende-se que as necessidades e ações dos sujeitos da informação também
foram alteradas ao longo do tempo.
As supertecnologias, tecnologias de ponta ou as superinteligências
demonstram, ainda, que a realidade pós-humana não pode ser ignorada
na Ciência da Informação. A hibridização das tecnologias e de seus agen-
ciamentos com o ser humano é uma realidade já existente e que a Ciência
da Informação, ainda pouco explorou. Nesse contexto, Monteiro (2013)
ressalta que nos agenciamentos maquínicos, que é inevitável, as formas
de viver são afetadas em novas configurações e situações cognitivas do ser
humano. Todo o trajeto ressaltado, pela autora, a partir dos agenciamentos
maquínicos acaba por reformular práticas informacionais. Por conseguin-
te, as tecnologias e suas superpotências demonstram toda a força de sua
hibridez nos seus diversos dispositivos e instrumentos tecnológicos, que
recondicionam a informação com robustez, como item indispensável a ser
compreendido em suas novas modalidades ou atuações no ciberespaço, na
Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento.
Nos espaços, lugares ou não lugares da informação a discussão se
volta a sua movimentação e/ou permanência. A informação poderá ser ar-
mazenada em locais de guarda, como sempre fora em bibliotecas, arquivos
ou outros tipos de unidades de informação institucionalizadas. Essa insti-
tucionalidade está condicionada aos lugares convencionais de salvaguarda
de objetos materiais que representam o conhecimento e a informação. São
tidos, conforme anunciado por Santos (2012) e Augé (2012), como luga-
res que carregam a característica de segurança e fixidez.
Em um não lugar, a informação estará sempre de passagem e o ocu-
pará por breves frações de tempo. Essa informação, assim como os seus su-
jeitos, não estará intencionada ou estabelecerá estados de permanência ou
laços com o local. A informação em não lugares é tão escorregadia quanto
são os líquidos, pois não é possível prendê-la ou prever sua movimentação.
Sempre de passagem, a informação em não lugares existirá na fragmenta-
ção, na transitoriedade, na desmaterialização e como uma informação lí-
quida em potência. O ciberespaço apresenta a informação em não lugares,
Richele Grenge Vignoli
58
assim como sua dobra na dark web, sua parte mais obscura e sem intenção
de rastreabilidade.
Nos espaços como uma condição de locais existentes na virtualidade
de seus nomes, a informação pode pertencer, ainda que com condições
também transitórias, como o que é comum aos espaços. Os espaços se
transformam em ambientes de informação, em espaços de aprendizagem,
de leitura, de comunicação científica. Os espaços são modificados e re-
nomeados o tempo todo. O lugar é fixo e existem vários espaços em um
mesmo lugar.
A informação líquida é condizente com todo e qualquer espaço, es-
pecialmente porque espaços convivem entre o que é físico e o que é abstra-
to. Os espaços são potencializados nos lugares e em sua materialidade. Mas
os espaços se modificam e são criados a todo momento e, por isso, abrigam
a informação líquida no princípio comum de sua efemeridade. Os espaços,
lugares e não lugares da informação são instâncias físicas e abstratas pelas
quais a informação pode realizar-se.
Também a cultura se tornou híbrida. Tal hibridização se refere as
formas pelas quais a cultura erudita se mistura a de massas, a artesanal e
industrial e assim sucessivamente. O cenário cultural não é estanque ou
categorizado por níveis de erudição, por exemplo. Essa hibridização forma
desterritorialização ao fazer com que os fenômenos culturais se desvincu-
lem de seu tempo e espaços de origem. Os modos culturais são separados
de sua origem para gerarem outras práticas culturais em que a de massas
acaba por se sobressair (Coelho, 1997).
Já no contexto específico da Biblioteconomia como modo de eviden-
ciar a hibridez de áreas do conhecimento e que afetam a práxis da Ciência
da Informação, o conceito de bibliotecas híbridas é inserido à discussão.
Trata-se da demonstração de iniciativas que defendem aspectos de hibri-
dismos, mas que não se assemelham ao defendido na informação líquida.
Com intuito de atendimento aos sujeitos em respeito à sua diversi-
dade, o conceito de bibliotecas híbridas está calcado na confluência entre
biblioteca e objetos físicos e digitais e na informação em diferentes forma-
tos. A biblioteca híbrida visa à contextualização social de sua comunidade
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
59
e formas de inclusão de seus sujeitos em contato com a informação (Silva;
Caldas, 2016). Os preceitos da biblioteca híbrida condizem com a prerro-
gativa de um acesso equitativo a todos os sujeitos da informação e de forma
física ou virtual.
O primeiro uso identificado do termo biblioteca híbrida foi reali-
zado por Sutton (1996) e, logo depois, por Rusbridge (1998) no Reino
Unido, que foi quem popularizou o termo (Feather; Sturges, 2003). Há
ao menos duas interpretações para a compreensão de significância das bi-
bliotecas híbridas, que se perpetuam mais no ambiente universitário. A
primeira é uma biblioteca híbrida descrita como uma unidade física que
fornece acesso aos seus recursos independentemente dos meios ou locali-
zação, de modo ininterrupto e integrado e, por vezes, chamada de balcão
único (one-stop shop) (Feather; Sturges, 2003).
A segunda abordagem da biblioteca híbrida é sua condução como
instituição cultural. Nesse aspecto, a biblioteca híbrida possui menos foco
na tecnologia e mais na incorporação cultural. As pesquisadoras Silva e
Caldas (2016, 2017) que investigam a temática na Ciência da Informação
brasileira, incorporam a junção das duas abordagens em suas pesquisas:
a da conversão tecnológica e do acesso unificado. Em suas pesquisas, as
autoras fomentam a aplicabilidade das bibliotecas híbridas em bibliotecas
públicas e na promoção de seus produtos e serviços para um acesso impar-
cial e a todos.
De toda forma, a biblioteca híbrida é um termo referente à integra-
ção de serviços eletrônicos disponibilizados independentemente da locali-
zação. A ideia de hibridez nos serviços e produtos oferecidos recai no ideal
de ubiquidade e do acesso a qualquer lugar e horário. A hibridez na ques-
tão dos suportes da informação significa a obviedade da disponibilização
da informação e das coleções das bibliotecas em formatos diversos.
A informação líquida é híbrida porque reúne agenciamentos com
outros dispositivos, características e formas de semiose. A noção de “re-
gistro” é dispensada e o elemento “conteúdo” é inserido como capacidade
máxima de hibridez da informação.
Richele Grenge Vignoli
60
A informação líquida é híbrida também em suas formas de ordenação
que a concebem com uma organização alfabética, numérica, alfanumérica,
simbólica ou anárquica. Seus assuntos são complexos e avizinhados entre
uma outra complexidade de temas, que o tornam cada vez mais impróprios
para uma representação individual e unívoca. Suas estruturas também não
se encontram somente como textuais e na palavra escrita.
Sua hibridez nos formatos indica que a informação se movimenta
entre um e outro e que trafega entre os meios materiais e digitais e, em
específico, no virtual. Seus formatos se modificam na atualização do virtual
e estão propensos a especificações ainda desconhecidas.
A Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento já pos-
suem estrutura consolidada para o tratamento dos objetos com materia-
lidade. Devido a essas condições, as TIC, as potencialidades do ciberes-
paço e as ações dos sujeitos da informação no ciberespaço conduzem as
áreas, esforços voltados aos novos estratos da realidade no polo virtual, na
informação líquida. Consoante ao defendido, argumenta-se que a noção
de registro ipsi litteris não cabe à Ciência da Informação e à Organização
do Conhecimento, uma vez que diante da realidade contemporânea, sua
adoção se torna irrelevante diante do acesso à informação. A hibridez
da informação demonstra a impossibilidade de ater-se a registros ou
materialidades no polo virtual.
As mídias evoluíram ao longo do tempo e se tornaram híbridas
concomitantemente. Como canais para a transmissão da informação, as
mídias são artifícios para que a informação seja divulgada em sua máxi-
ma potência. A hibridez das mídias torna possível que a informação seja
transmitida entre mídias diversas ao mesmo tempo e ao modo do sujeito
da informação. A hibridez das mídias possibilita o alto alcance de público,
sobretudo na internet e por meio do ciberespaço.
Na linguagem, a dinamicidade da língua e da própria linguagem
das máquinas, evidenciam que a Ciência da Informação e à Organização
do Conhecimento devem primar por sua hibridez e avançar para além da
linguagem verbal escrita, o próprio texto. A multiplicidade de linguagens
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
61
na hipermídia é uma realidade e solicita outros entornos para a produção
e tratamento de conhecimento e informação nesses estratos da realidade.
A hibridez das tecnologias com o ser humano são pontos que re-
condicionam as formas de tratamento do conhecimento e da informação.
Discursos antagônicos a respeito da tecnologia não cabem na Ciência da
Informação e na Organização do Conhecimento que, aos poucos, deverá
ocupar-se das realidades pós-humanas e de superinteligências em seu esco-
po de pesquisa.
Nos espaços, a informação líquida é híbrida porque navega e na-
vegará por localidades distintas e ainda em construção. Os não lugares
fomentam a hibridez das localizações em que a informação pode perma-
necer. Mas o ciberespaço e sua virtualização deixa claro que toda perma-
nência da informação é, agora, transitória e efêmera. Os lugares fixos da
informação com materialidade continuam a permitir uma movimentação
limitada tanto em relação a seus objetos, quanto em relação a seus sujeitos
da informação.
Portanto, a informação líquida e híbrida mistura formas, formatos,
suportes, linguagens, tecnologias, mídias e espaços, lugares e não lugares.
Não é uma entidade única ou específica, pronta ou acabada, está em mo-
vimento e é híbrida em diversas possibilidades.
62
63
A    
“[...] a informação é ubíqua de fato e está presente em tudo
(Foresti; Varvakis; Vieira, 2019, p. 197).
A informação líquida como ubíqua visa potencializar as formas de
acesso à informação em sua localização atemporal, integral, entre espaços,
lugares e não lugares, a todo sujeito da informação e na capacidade de
produção de informação e conhecimento com e por dispositivos diversos.
A ubiquidade é discutida por meio da literatura advinda da Ciência
da Computação com o conceito de computação ubíqua e seus desdobra-
mentos, da Biblioteconomia e da Ciência da Informação com a definição
de biblioteca e informação ubíqua. A intenção é projetar a informação
líquida como ubíqua sob três aspectos principais:
1. como uma informação onipresente em qualquer espaço, lugar/
não lugar;
2. por dispositivos que transmitem ou gerem informação;
3. por uma informação passível de acesso em tempo integral e para
todo sujeito da informação.
Richele Grenge Vignoli
64
O termo ubíquo é um adjetivo que significa aquilo que “[...] está ou
existe ao mesmo tempo em toda parte; onipresente”. Já a ubiquidade resul-
ta no “[...] fato de estar ou existir concomitantemente presente em todos os
lugares, pessoas, coisas” (Houaiss; Villar, 2001, p. 2706, grifo nosso). A
informação líquida acrescida ao atributo ubíquo é articulada literalmente
no sentido de sua conceituação – como uma informação existente em todo
espaço, lugar e não lugar e que pode ser gerada por coisas, objetos (máqui-
nas) e seres humanos.
Aportes teóricos da Ciência da Computação com as definições
de computação ubíqua (Ubiquitous Computing), da Internet das Coisas
(Internet of ing – IoT), da Computação Vestível (Wearable Computing),
da Web Ubíqua (Ubiquitous Web), da Computação Sensível ao Contexto
(Context-Aware Computing), da biblioteca e Biblioteconomia com a
Biblioteca Ubíqua (Library Ubiquitous) e informação ubíqua (Ubiquitous
Information) na Ciência da Informação conduzem a explanação da infor-
mação líquida e ubíqua.
Os estudos acerca da computação ubíqua1 foram iniciados na Xerox
Palo Alto Research Center (PARC) em 1988, por Mark Weiser, mas a pri-
meira publicação acerca da tecnologia só ocorreu em 1991, e foi intitulada
e computer for the 21 st century. A computação ubíqua foi projetada para
ser a geração de computação do século XXI e em que dispositivos diversos
interagem uns com os outros, com os indivíduos e com o meio ambiente
(Butterfiled; Ngondi; Kerr, 2016).
O objetivo da computação ubíqua é alcançar tecnologias mais efi-
cazes e essencialmente invisíveis para seus sujeitos (Weiser, 1993). O in-
divíduo passa a ter a tecnologia como algo naturalizado em seu cotidiano,
de forma móvel - distante do espaço físico em que os computadores se
encontram, como na comparação com o uso do mainframe ou da depen-
dência física que os computadores de mesa causavam. Para isso, computa-
dores minúsculos, de todo tipo e forma, e disponíveis para cada pessoa, são
necessários para que a computação ubíqua se concretize: “Eu chamo esse
De acordo Butterfiled, Ngondi e Kerr (2016), também conhecida como ambient computing e pervasive
computing.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
65
futuro mundo de ‘Computação Ubíqua (UBICOMP2)”’ (Weiser, 1993, p.
75, tradução nossa).
A computação ubíqua melhora o uso do computador com intuito
de torná-lo disponível em todo o ambiente físico e de modo imperceptível
ao usuário. Weiser (1993) explica que a intenção não é que o computador
passe a tomar decisões pelas pessoas, mas que forneça informações a esses
indivíduos e em dispositivos cada vez menores. Weiser (1991, 1993), não
acreditava que a invisibilidade total da tecnologia fosse possível, mas de-
sejava que os indivíduos pudessem levar o computador a qualquer lugar
e para uso no trabalho, em casa ou para jogar. Sua ideia era que tanto a
tecnologia quanto os computadores se tornassem móveis. Os computado-
res não seriam assistentes pessoais, mas uma extensão de suas capacidades
(Weiser, 1993). O que o pesquisador previu e idealizou para o século XXI,
de fato, se tornou realidade em smartphones, por exemplo, que são com-
putadores pequenos e móveis que operam como extensão da memória do
ser humano. Nessa realização, há hibridizações entre homem e máquina e
realidades pós-humanas.
Weiser (1991) chamou a computação ubíqua de tecnologia tranqui-
la (calm technology) devido a sua capacidade de atender as necessidades dos
indivíduos de forma natural, antecipada e em qualquer lugar que estejam
(Gattiker, 2004). A mobilidade dos indivíduos é uma característica funda-
mental na computação ubíqua.
Com o surgimento do hipertexto por Ted Nelson em 1965, da Word
Wide Web (www - web) na década de 1990, por Tim Berners-Lee e das re-
des de wi-fi (Wireless fidelity), a computação ubíqua se potencializa e novas
tecnologias surgem como suas derivadas. A IoT e a computação vestível
são modelos de tecnologias baseadas na computação ubíqua e que fomen-
tam a criação de informação de forma ubíqua em coisas e objetos, pessoas e
máquinas. A mobilidade da tecnologia, dispositivos e pessoas no uso desses
conjuntos são os traços determinantes da computação ubíqua.
“UBICOMP refere-se a uma sociedade na qual a interação humano-computador é integrada de maneira
contínua e imperceptível à vida cotidiana. É sugerido que os espaços de trabalho possam conter vários
computadores que ajudam as pessoas a melhorar seu desempenho. Enquanto antes os humanos iam aos
computadores e adaptavam a ação social à tecnologia, o UBICOMP inverte a situação” (Olson; Nolin;
Nelhans, 2015, p. 887, tradução nossa).
Richele Grenge Vignoli
66
Na computação ubíqua o tipo de tecnologia empregada compreende
arquiteturas de computador e rede, mecanismos de computação móvel‚
interação humano-computador com uso de visão e fala (comando), siste-
mas de software difundidos, mecanismos de localização, técnicas e sistemas
de segurança, autenticação de usuários e inteligência artificial (Butterfield;
Ngondi; Kerr, 2016; Gattiker, 2004). Um exemplo de computação ubíqua
na IoT seria uma geladeira que se torna ciente de seu conteúdo por meio
de tags incorporadas, e que é capaz de sugerir lista de compras, planejar
menus, avisar sobre o vencimento de alimentos e outras ações (Butterfield;
Ngondi; Kerr, 2016). A IoT tem sido manifestada em eletrodomésticos,
automóveis e outros dispositivos conectados à internet.
A IoT teve início em 1999 por Kevin Ashton, cofundador do Auto-
ID Center do Massachusetts Institute of Technology (MIT), e foi pensada
para conectar objetos e coisas a membros da sociedade que tenham acesso
a um ambiente completo de internet com tecnologia inteligente3 e auto-
gerenciada a qualquer hora e em qualquer lugar (Olson; Nolin; Nelhans,
2015). Conforme definido por Miorandi et al. (2012), a IoT se baseia
em três pilares na relação da capacidade de seus objetos inteligentes: (1)
todo objeto ou coisa deve ser identificável; (2) todo objeto ou coisa deve
se comunicar; (3) todo objeto ou coisa interage entre si e na construção
de redes de objetos interconectados com outros usuários ou entidades na
rede. Na IoT todo objeto inteligente produz ou consome informação em
sistemas de redes dinâmicas e radicalmente distribuídas (Miorandi et al.,
2012). O ponto chave da IoT é que suas ações sejam executadas conecta-
das à internet e por coisas ou objetos que gerem e transmitam informações
o tempo todo.
É esperado que na IoT, objetos se tornem capazes de interagir e se
comunicar entre si e com o meio ambiente por meio da troca de dados
e informações percebidas. Na ampliação da computação ubíqua, a IoT
opera na troca de informação com ou sem intervenção humana. Um
exemplo pode ser verificado na atualização do protocolo da internet versão
4 (Protocol version 4) IPv4 para o protocolo da internet versão 6 (Protocol
Tecnologias inteligentes são objetos eletrônicos do dia a dia que se integram a infraestrutura ciberfísica
global (Miorandi et al., 2012).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
67
version 6) IPv64, em que o tamanho do endereço IP de 32 bits passa para
128 bits de modo automático (Olson; Nolin; Nelhans, 2015). Para isso, os
aplicativos necessitam ser capazes de entender o contexto e a situação em
que o usuário se encontra (Miorandi et al., 2012).
É possível perceber que a ampliação da computação ubíqua na IoT
ocorre diante dos avanços tecnológicos usufruídos, essencialmente após
advento da web e das TIC. Tanto a computação ubíqua quanto a IoT vi-
sam à junção da tecnologia de ponta a objetos conectados o tempo todo
no envio e recebimento de informações a seus usuários. Seria como pensar
na tecnologia a serviço do usuário.
No mesmo raciocínio, a computação vestível é um tipo de tecnolo-
gia decorrente da computação ubíqua que objetiva “servir” a seus usuários.
De acordo com Steve Mann (1998, grifo nosso, tradução nossa), um de
seus principais idealizadores contemporâneos:
Um computador vestível é aquele que está incluído no espaço
pessoal do usuário, controlado por ele, e tem constância operacional
e interacional, ou seja, está sempre ligado e sempre acessível. Mais
notavelmente, é um dispositivo que está sempre com o usuário e
no qual o usuário sempre pode inserir comandos e executar um
conjunto desses comandos inseridos, e no qual o usuário pode fazer
isso enquanto caminha ou realiza outras atividades.
Donati (2004) e Mann (1998) explicam que o computador vestível
funciona o tempo todo sob o comando de seus usuários. São dispositivos de
entrada e saída de informações e totalmente controlados por seus usuários,
assim como idealizado nos princípios da Cibernética de Wiener (1970),
pois há comando e retorno (feedback) de informações. Um computador
vestível é como uma ‘segunda pele’, mas não deve ser confundido com um
implante, uma alteração genética ou coisa parecida (Donati, 2004).
No IP versão 4 (IPv4) a versão dominante na internet, um endereço de IP é um número de 32 bits. A
interpretação desses bits era anteriormente rígida e dividiu os endereços IP em quatro classes, A a D: A) bit
31=0; B) bits 31-30=10; C) bits 13-29=110; D) bits 31-28=110. O crescimento explosivo da internet fez
com que o endereço IPv4 de 32 bits se tornasse um espaço restritivo. O IP versão 6 (IPv6) busca remediar
isso usando endereços IP de 128 bits, com 64 bits em utilização para a identidade da rede e para o endereço
do host (Butterfiled; Ngondi; Kerr, 2016).
Richele Grenge Vignoli
68
Da mesma forma, dispositivos tecnológicos como pagers ou apare-
lhos celulares não podem ser entendidos como pertencentes à computação
vestível se não puderem apreender informações, tanto do usuário como de
seu ambiente. Na computação vestível, dispositivos podem medir a posi-
ção, o deslocamento, os sinais vitais, condições do ambiente como tem-
peratura e luminosidade, tanto do usuário quanto do espaço físico, além
de outras funcionalidades adaptáveis (Donati, 2004). Esses dispositivos
captam informações do meio ambiente interno e externo e geram outras
informações aos sujeitos que vestem a tecnologia. Os computadores ves-
tíveis possuem objetivo de facilitar a vida de seus usuários ao se moldar às
suas rotinas. São dispositivos ubíquos porque possuem a capacidade de
gerar informação o tempo todo e porque são móveis.
Mann ([20--a]) defende uma computação vestível humanizada ou
de inteligência humanística que precisa atender as necessidades dos indi-
víduos para gerar uma vida melhor. Mann (1998) tem se dedicado à com-
putação ubíqua, à interação humano-computador e à computação vestível
desde a década de 1970. O pesquisador já projetou e construiu vários siste-
mas de computação vestível de uso geral, entre eles sensores, computadores
multimídia, instrumentos musicais vestíveis, computadores baseados em
áudio, auxiliares de visão para deficientes visuais, computadores em for-
mato de mochila e outros (Corso, 2013; Mann [20--a]). O destaque de
suas criações é o projeto do EyeTap5, um óculos que transforma suas lentes
em câmeras de vídeo online: “EyeTap é um dispositivo que permite, em
certo sentido, que o próprio olho funcione como um visor e uma câmera
(Mann, [20--b], tradução nossa).
O Google tornou os computadores vestíveis populares em 2012 com
o lançamento do Google Glass6 (Corso, 2013) e com sua comercialização
em 2014. Outros computadores vestíveis populares são encontrados em
smartwatch que são capazes de monitorar batimentos cardíacos, indicar ca-
minhos por Global Positioning System (GPS), acessar e-mails, redes sociais
online e outros; em sapatos ou tênis inteligentes que podem fornecer infor-
mações sobre a distância percorrida durante a atividade física, assim como
Projeto discutido em: http://www.eyetap.org/. Acesso em: 13 jul. 2023.
Disponível em: https://developers.google.com/glass-enterprise. Acesso em: 15 jul. 2023.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
69
a quantidade de calorias eliminadas no exercício e outras informações.
Nesse contexto, insere-se a assertiva de Santaella (2007, p. 251): “Ubíquos,
eles estarão tão integrados à paisagem urbana, doméstica e ao nosso pró-
prio corpo que já nem vamos lembrar que eles existem”. E é exatamente
sobre esse axioma que a computação ubíqua visa operar, sem ser notada e
totalmente incorporada à vida dos indivíduos.
Os computadores vestíveis podem ser utilizados por baixo, por cima,
por dentro das roupas ou podem ser a própria roupa (Mann, 1998). A
tecnologia ubíqua na computação vestível visa potencializar a ubiquida-
de da informação enquanto os usuários realizam suas atividades diárias.
Enquanto a IoT se projeta em objetos dispersos que enviam e recebem
informação, a computação vestível tem por objetivo a mesma ação, porém
para facilitar a vida de seus usuários em dispositivos vestidos no corpo
humano. Por isso, os objetos da computação vestível enviam ou fornecem
informação de forma ubíqua enquanto são programados para isso. São
objetos totalmente conectados e interligados com dados pessoais e tecno-
logias como bluetooth e que acabam por potencializar a ciborguização do
corpo humano. Nessa conjectura, o corpo humano e o computador, assim
como as tecnologias embutidas “[...] deixam de trabalhar como máquinas
independentes para participar do processo de informação onde dados digi-
tais e físicos operam concomitantemente, permitindo aos usuários afeta-
rem e serem afetados simultaneamente por diferentes realidades” (Donati,
2004, p. 96, grifo do autor).
Tanto os computadores vestíveis como as tecnologias pós-humanas
buscam trazer melhorias e outras possibilidades para a vida e corpos huma-
nos. Em alguns sentidos, o próprio corpo se torna ubíquo na tentativa de
estar presente em mais de um lugar ou espaço ao mesmo tempo. Segundo
Santaella (2007), os avanços da biologia, engenharia genética, medicina,
máquinas de diagnóstico médico e a publicação de imagens dos corpos nas
mídias tornam a simbiose entre homem e máquina cada vez mais próxima.
A ubiquidade nos corpos é recorrente nas mídias e ciberespaço na evoca-
ção da telepresença, distância virtual ou presença mediada que questionam
a noção de corporeidade. O corpo se torna ubíquo em desafio às leis da
Richele Grenge Vignoli
70
Física. “São formas de vida que viraram signos. Signos que se tornaram
vivos” (Dyens, 2001, p. 57 citado por Santaella, 2007, p. 19).
Para Lévy (2011), essa capacidade de virtualização do corpo huma-
no está no esforço de ultrapassar limites, na intensificação de sensações,
na exploração de velocidades e na conquista de novos meios. A presença
tornou-se passagem, velocidade, sobrevoo. O corpo “[...] sai de si mesmo,
adquire novas velocidades, conquista novos espaços [...]. Ao se virtualizar,
o corpo se multiplica” (Lévy, 2011, p. 33).
No mesmo raciocínio, Santaella (2007) comenta que presença e au-
sência estão intercambiadas e sobrepondo-se em espaços no que é gerada
a vivência da ubiquidade. O ser humano está aqui e lá ao mesmo tempo.
Também o ser humano se torna e quer ser ubíquo. As tecnologias, redes
wi- e o ciberespaço tornam possível aos corpos se multiplicarem em espa-
ços, lugares e não lugares. Esse corpo interage, se informa e constrói conhe-
cimento por onde transita. É uma máquina contemporânea de informação
agenciada com as possibilidades da virtualização e da própria noção de ubi-
quidade. Entre avatares, imagens por vídeo ou videoconferências, o corpo
humano está em vários espaços, lugares e não lugares ao mesmo tempo.
Outra definição decorrente da computação ubíqua é a web ubíqua
que surge na literatura no final da década de 1990 para apontar o uso
e acesso onipresente da web (Olson; Nolin; Nelhans, 2015). O conceito
passou a ser utilizado para se referir à integração de telefones e serviços
baseados na web, e na computação personalizada em reconhecimento de
contexto ou computação sensível ao contexto. A computação sensível ao
contexto é projetada para detectar e reconhecer as circunstâncias e com-
portamentos específicos de determinados indivíduos e para lhe oferecerem
a informação apropriada. A tecnologia permite personalizar serviços e pro-
cessar informações a pedido do sujeito trazendo-lhe resultados imediatos
nos dispositivos de sua preferência (Noh, 2013).
A intenção na web ubíqua é que o indivíduo não perceba a implan-
tação da computação sensível ao contexto, mas que usufrute de seus bene-
fícios no acesso personalizado à informação e no sentido de “[...] qualquer
informação a qualquer hora e em qualquer lugar” (Billsus et al., 2002,
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
71
p. 34, tradução nossa). A web ubíqua envolve interfaces adaptativas que
aprendem com o comportamento de seus usuários e na personalização de
telas que facilitam o acesso e a leitura da informação na web. Dessa for-
ma, somente as informações mais relevantes seriam apresentadas para cada
sujeito e de modo que seu dispositivo pudesse se adaptar ao tamanho do
conteúdo7, sem complicações (Billsus et al., 2002).
A web ubíqua é um pouco mais restrita do que a computação ubí-
qua, pois é focada principalmente no uso de informações móveis em detri-
mento de outras tecnologias aplicadas (Olson; Nolin; Nelhans, 2015). Um
ponto negativo da web ubíqua é sua exploração por empresas na comer-
cialização e divulgação de suas marcas e produtos. Se as informações são
direcionadas na web ubíqua, a publicidade atua no mesmo sentido (Billsus
et al., 2002). A tecnologia é utilizada tanto para beneficiar indivíduos,
como para gerar lucros para as corporações em um momento em que as
tecnologias de wireless de dados e voz permite acesso sem precedentes à
informação de qualquer local e a qualquer momento (Billsus et al., 2002).
A informação em tempo integral, de modo personalizado e de fácil leitura
representa a web ubíqua. Em todo caso, é sempre possível fugir da perso-
nalização proposta na web ubíqua ao utilizar a deep web.
A computação ubíqua e tecnologias subjacentes têm sido discutidas
na biblioteca e na Biblioteconomia. A biblioteca ubíqua surge como uma
biblioteca que tem como característica o compartilhamento do conheci-
mento e da informação para todos e em tempo integral. Para Barnhart e
Pierce (2012), a biblioteca ubíqua é constituída na junção de conteúdos
móveis, usuários móveis e bibliotecários móveis, o que significa que estão
todos em linha, conectados e em uso de tecnologias e computação ubíquas.
Segundo Marquina (2021, p. 85, grifo do autor, tradução nossa),
dez palavras8 definirão as bibliotecas do futuro e dentre elas destaca-se a
ubíqua, que significa que:
Nesse caso, as telas seriam responsivas. As telas com interface que se adaptam as diferentes resoluções são
responsivas e derivam do design responsivo desenvolvido em 2010 por Ethan Marcotte (Silva, 2014).
As 10 palavras são: 1) Pessoas; 2) Diversidade; 3) Redarquía*; 4) Ubíquo; 5) Liberdade; 6) Tecnologia; 7)
Treinamento; 8) Criação; 9) Comunicação; 10) Globalização.
Richele Grenge Vignoli
72
As bibliotecas estarão presentes em um e em todos os lugares
ao mesmo tempo. A biblioteca do futuro se posicionará de
forma transparente na mente das pessoas e em seu dia a dia. Será
praticamente imperceptível, mas será usada massivamente pelas
pessoas. Seja através de serviços e plataformas digitais que facilitam
o acesso aos conteúdos digitais e a interação com outras pessoas,
seja através da utilização das suas instalações físicas ou pontos de
encontro localizados em toda a cidade como espaço de união das
pessoas num espaço de confiança.
Na descrição de Marquina (2021), duas condições da biblioteca ubí-
qua chamam atenção:
1. as bibliotecas estarão presentes em todos os lugares e, ao mesmo
tempo = acesso ubíquo;
2. as bibliotecas serão utilizadas no cotidiano das pessoas e de for-
ma imperceptível = tecnologia ubíqua.
As condições em destaque condizem com as premissas da compu-
tação ubíqua de Weiser (1991, 1993), porém, aplicadas às bibliotecas.
Trata-se de utilizar os espaços, os serviços e os produtos informacionais
das bibliotecas e/ou outros tipos de unidades de informação sem barreiras
geográficas, de tempo/espaço e com a tecnologia invisível, isto é, ubíqua
e incorporada à vida das pessoas. Na sequência de raciocínio, é possível
expor a ubiquidade das bibliotecas por intermédio de seu acesso - sempre
contínuo/onipresente, ou no que foi igualmente denominado por aces-
so ubíquo. No segundo caso, a ubiquidade está intrínseca nas tecnolo-
gias aplicadas, ou conforme determinado, tecnologia ubíqua. Apesar das
bibliotecas ubíquas utilizaram as duas formas de ubiquidade, também é
possível encontrar unidades de informação que focam mais no acesso em
detrimento de tecnologias mais complexas e/ou o contrário.
No sentido de acesso ubíquo ou daquele que visa disponibilizar a
informação em tempo integral, para Li (2006), a biblioteca ubíqua está
acessível a partir de qualquer lugar e a qualquer hora e se constitui das
seguintes características:
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
73
a) baseada na web: significa que é realizada particularmente na web;
b) 24x7: funciona e está acessível em sistema de 24 horas por dia, 7
dias por semana e sem qualquer limitação geográfica e temporal;
c) acesso aberto: a biblioteca ubíqua participa do movimento de
acesso aberto, sem o qual perde o sentido de existir. Além de
fornecer recursos, serviços e instruções para acesso a informações
protegidas por senha, a biblioteca ubíqua também deve disponi-
bilizar e de maneira global, informações acadêmicas de periódicos
de acesso aberto;
d) multiformatos: a disseminação da informação na biblioteca ubí-
qua é heterogênea, dinâmica, contínua e em vários formatos: tex-
tos, PDF, imagens, slides, áudio, vídeo e em suportes múltiplos:
desktop, notebooks, tablets, Televisores de alta definição, smathpho-
nes e outros dispositivos em plataformas na web;
e) multilinguagens: a biblioteca ubíqua se compromete a fornecer
suporte multilíngue para usuários com diferentes origens cultu-
rais para que possam acessar informações sem qualquer dificulda-
de, independentemente de saberem ou não ler, falar e escrever em
idiomas não vernáculos;
f) global: significa que a biblioteca visa atender a usuários de forma
global, independentemente de sua idade, sexo, gênero, cor, raça,
religião, capacidade linguística, habilidades técnicas e/ou de alfa-
betização em bibliotecas.
Para alcançar as características elencadas por Li (2006), é necessário
que a biblioteca e seus profissionais busquem por soluções tecnológicas
abalizadas em três princípios básicos:
1. apoio nas necessidades específicas dos usuários;
2. auxílio nas arquiteturas de informação na web e para bibliotecas
ubíquas/onipresentes;
3. busca por financiamentos que suportem a tecnologia utilizada.
Richele Grenge Vignoli
74
A melhor tecnologia é relativa e deve ser pensada no conjunto das
necessidades do usuário e na arquitetura e custos envolvidos com objetivo
de satisfação do usuário final. Li (2006) expõe que não se trata de buscar
a tecnologia mais sofisticada, mas aquela que seja mais adequada à missão
da biblioteca e que objetive a satisfação do usuário no uso das melhores
soluções tecnológicas. Para alcançar esses objetivos, pode ser necessária a
associação com grandes empresas como o Google, por exemplo, que pode
ser um forte aliado no compartilhamento de informação na web. A inten-
ção é que a informação constante nas bibliotecas ubíquas seja utilizada
para acessar, localizar, converter e disseminar os recursos de informação
em tempo integral.
É preciso consciência e planejamento para manter uma biblioteca
ubíqua de funcionamento e acesso online em tempo integral, visto que
ações como essas acarretam custos e mão de obra que nem sempre estarão
disponíveis em toda unidade de informação. A busca por financiamento
não costuma ser tarefa simples e é preciso cautela para conseguir manter
suportes tecnológicos que sustentem a computação ubíqua incorporada
nas bibliotecas. A esse respeito, Barnhart e Pierce (2012) salientam que os
desafios para a implantação de bibliotecas ubíquas envolvem a incerteza na
escolha da tecnologia, seus custos, equipes que trabalham 24x7, a diver-
sidade de necessidades dos usuários e o desejo das bibliotecas em oferecer
serviços consistentes.
Li (2006) explica que o próprio Google Scholar seria uma biblioteca
ubíqua porque disponibiliza diversas fontes informacionais com idiomas
distintos e com obras de acesso aberto. Outra biblioteca ubíqua em fun-
cionamento citada pela autora é a e European Library9, uma unidade de
informação projetada para atender às necessidades de pesquisa do mundo
todo. A biblioteca oferece acesso rápido e facilitado à coleção de 48 biblio-
tecas nacionais da Europa e a um acervo de 168.238.832 registros biblio-
gráficos em texto completo, revistas, periódicos e gravações de áudio. A
biblioteca disponibiliza seu acervo em 35 idiomas distintos (e European
Library, 2020). É uma biblioteca ubíqua principalmente porque disponi-
biliza acesso à informação em tempo integral e de qualquer lugar.
Disponível em: https://www.theeuropeanlibrary.org/. Acesso em: 30 jun. 2023.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
75
No sentido de aplicação de tecnologia ubíqua nas bibliotecas, Noh
(2013) explica como a computação sensível ao contexto pode ser aplicada.
Nesses casos, o propósito é tornar os sistemas das bibliotecas capazes de
reconhecer automaticamente a situação e necessidade de seus usuários com
auxílio de tecnologias onipresentes. A computação sensível ao contexto é
comumente denominada por compreensão, reconhecimento ou percepção
de contexto e pode ser aplicada em situações e necessidades diversas de
usuários de bibliotecas.
Um sistema fundamentado em compreensão de contexto pode
identificar quando um usuário cadastrado entra no espaço físico da bi-
blioteca por meio de tecnologia de identificação de radiofrequência (Radio
Frequency Identification - RFID).10 Com uso de identificação de radiofre-
quência, o sistema da biblioteca é habilitado para fornecer informações a
respeito de novos livros com base nas preferências e últimos históricos de
pesquisa dos indivíduos. Quando se tratar de um novo usuário, o sistema
amparado na compreensão de contexto irá apresentar instruções para o
processo de registro na biblioteca com orientação de voz ou mensagem
de texto (Noh, 2013). Na computação sensível ao contexto, a ideia é que
a tecnologia possa aprender com os comportamentos dos indivíduos e,
assim, trabalhar no sentido de suas preferências. Seria como atender ao
usuário em suas necessidades informacionais com apoio da tecnologia e de
modo imperceptível e não laborioso.
Com implantação da computação sensível ao contexto, o espaço fí-
sico da biblioteca pode ser controlado para proporcionar conforto a seus
usuários. Os serviços de conforto baseado na percepção de contexto ad-
ministram o clima interno da biblioteca para se adequar às necessidades
dos livros e dos usuários por meio do controle de temperatura, umidade,
redução de luz e assim por diante (Noh, 2013). Com uso de etiquetas de
radiofrequência, bibliotecas passaram a implantar sistemas de autoemprés-
timo na otimização do tempo dos usuários e dos bibliotecários. Para os
bibliotecários, a tecnologia permite que inventários sejam elaborados com
10 É um método de identificação (leitura/captura) de dados através de ondas de rádio frequência. De acordo
com Santaella (2014, p. 13) as tecnologias RFID são a base da internet das coisas, assim como a tecnologia
máquina a máquina. “A RFID habilita a coleta de dados por meio de tags eletrônicas sem contato e
transmissores sem fio (leitores) a desempenhar a função de identificação e outros”.
Richele Grenge Vignoli
76
rapidez e que objetos guardados em local incorreto sejam identificados
com precisão.
Nos serviços online, segundo Son, Shin e Shin (2008), as bibliotecas
ubíquas que utilizam sistemas baseados na compreensão de contexto pas-
saram a disponibilizar a seus usuários de meros serviços de empréstimo e
reservas virtuais a verdadeiros serviços personalizados e individualizados. É
certo que esses sistemas de biblioteca necessitam estar ciente do contexto
do usuário além de obter dados de identificação, nível de acesso, endereço,
interesses e outras informações a respeito de cada sujeito da informação
(Son; Shin; Shin, 2008). Um sistema de biblioteca ubíquo deve ser capaz
de prever qual conteúdo um sujeito procura ou necessita, recomendando-o
antes mesmo desse indivíduo iniciar uma pesquisa por informação.
Noh (2013) explica que muitos outros serviços podem ser aplicados
na computação sensível ao contexto, como, por exemplo, de segurança,
saúde, lazer e outros. Para esse fim, o ambiente precisa ser inteligente e
possibilitar manipulação por indivíduos de acordo com suas preferências e
necessidades. Para o autor, a biblioteca ubíqua projetada na compreensão
de contexto é refletida no espaço físico da biblioteca e do mesmo modo,
em tecnologias e tendências informacionais da web.
A biblioteca totalmente ubíqua seria categorizada como a quarta ge-
ração de bibliotecas digitais ou ainda, Biblioteca 4.0 (Noh, 2015). Para
ser condicionada como Biblioteca 4.0, a instituição deve considerar o uso
contínuo de tecnologias ubíquas como a computação sensível de contexto,
além de disponibilizar informações e serviços desejados pelos usuários na
combinação de seus contextos internos e externos, preferências, históricos,
comportamentos e outros dados. Essas bibliotecas englobam entre outras
tendências: recuperação, base de dados e web semântica, ontologias, da-
dos vinculados, redes sociais, web em tempo real, computação na nuvem,
web móvel, expansão das tecnologias ubíquas com uso de IoT, realidade
aumentada e código aberto. Em relação ao formato da informação,
Bibliotecas 4.0 permitem acesso em computador pessoal, celular, iPad,
acessórios como relógios e outros (Noh, 2013, 2015). Nenhum suporte da
informação é fator limitante para o acesso à informação.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
77
Com uso de tecnologia ubíqua, a biblioteca com uso de IoT foi
discutida na Next Space em 2015, uma publicação da Online Computer
Library Center (OCLC) que analisou a percepção de 100 bibliotecários
a respeito da implantação da tecnologia nas bibliotecas. Os resultados da
pesquisa apontam que é possível utilizar a IoT em bibliotecas para:
Controle de inventário; Pagamentos de móveis, ingressos e registro
de eventos; Acesso e autenticação; Configuração de clima e sala,
acessibilidade e way-finding; Referência móvel; Disponibilidade
de recursos para conteúdo e planta física (salas, equipamento AV);
Livros inteligentes (recursos ativados/aprimorados por outros
sistemas habilitados para IoT); Jogos e realidade aumentada;
Aprendizagem baseada em objetos; Tecnologia assistida (Libraries
the Internet of ings, 2015, p. 5, tradução nossa).
No entanto, a IoT, assim como a computação ubíqua no geral en-
volvem alguns riscos ou, conforme denominaram os bibliotecários par-
ticipantes da pesquisa, preocupações que são relacionadas à privacidade,
segurança e hacking. Os bibliotecários mencionaram também os custos da
tecnologia utilizada, o suporte e treinamento da equipe e o declínio no uso
dos recursos da biblioteca (Libraries the Internet of ings, 2015), possi-
velmente nos espaços físicos ou recursos não disponíveis na web. Os biblio-
tecários indicaram que as bibliotecas devem esperar para que as tecnologias
avancem e se tornem mais amplas, isto é, observar como as tecnologias se
comportam antes de investir nelas para uso nas bibliotecas. Há sempre
algum tipo de resistência para uso de tecnologias.
Nos preceitos de Noh (2013, 2015), a Biblioteca 4.0 incorporaria
as tecnologias ubíquas na reestruturação tanto do espaço físico quanto do
virtual. A computação ubíqua e tecnologias correspondentes e, sobretudo,
a compreensão de contexto seriam inseridas nas bibliotecas como forma
de torná-las inteligentes, onipresentes e personalizadas a cada usuário. A
biblioteca ubíqua ou 4.0 apresentada por Noh (2015) busca inserir a tec-
nologia a favor do usuário e, ao mesmo tempo, criar laços de fidelização
desse sujeito com o sistema e com a biblioteca. São serviços automatizados
Richele Grenge Vignoli
78
e personalizados que em muitos aspectos lembram a conquista de clientes
por empresas.
Contudo, e diante das TIC, a condição de reinvenção permanente
das bibliotecas é evidente e necessária. Ainda assim, a realidade tecnológica
proposta para as bibliotecas ubíquas com uso de computação sensível ao
contexto e/ou vestível poderia encontrar alguma dificuldade para ser rea-
lidade em alguns países em desenvolvimento, como o Brasil. Entretanto,
algumas bibliotecas já adotaram sistemas com tecnologia ubíqua para mo-
dernizar suas instalações. A biblioteca da Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC) instalou terminais de autoatendimento em suas biblio-
tecas, além de estações de trabalho e leitores de inventário. O investimento
não só moderniza e otimiza os serviços da biblioteca, como é projetado
para atender protocolos de segurança da COVID-19. Outras tecnologias
ubíquas como a open + count permitem a contagem de pessoas por am-
biente de forma anônima e indicam quando há lotação preocupante ou
máxima no contexto da COVID-19 (Bibliotheca, 2021a, 2021b).
A computação vestível também tem sido utilizada em bibliotecas
que visam à ubiquidade. A tecnologia é discutida para auxiliar usuários
a navegarem na biblioteca, para fornecer recursos em novas formas e for-
matos e para educação e entretenimento. São outras formas de envolver
sujeitos de informação nas novidades tecnológicas, além de “trazê-los” à
biblioteca. Wójcik (2019) sugere que a computação vestível nas bibliotecas
é uma ferramenta útil e que pode ser utilizada para projetar novos produ-
tos e serviços personalizados, divertidos e de acordo com as necessidades e
hábitos dos usuários.
É possível fazer uso das tecnologias vestíveis em bibliotecas, da mesma
forma que tem acontecido em museus (Wójcik, 2019). Em museus, me-
canismos de reconhecimento de gestos baseados em computação vestível
permitem que os visitantes interajam com a arte de forma mais intuitiva,
como por meio de óculos vestíveis e com aplicação de realidade aumen-
tada. Ações no mesmo sentido podem ser realizadas tanto com objetos de
arte como com livros e outros artefatos que utilizam realidade aumentada
e/ou outros tipos de dispositivos na biblioteca e de acesso por computação
vestível. Segundo Wójcik (2019) é possível propor atividades de ensino e
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
79
aprendizagem por meio de tecnologias vestíveis na biblioteca e outras ações
lúdicas para as crianças com uso de óculos, sapatos ou relógios inteligentes
em que seus serviços e produtos são ampliados nos dispositivos.
A proposta das bibliotecas ubíquas é que ocorra a junção de tecno-
logias móveis e onipresentes e, que necessidades e desejos informacionais
sejam personalizados de acordo com os comportamentos dos indivíduos
em serviços e produtos de acesso à informação a qualquer hora e lugar. São
movimentos voltados para sujeitos da informação exigentes em recursos
tanto tecnológicos quanto informacionais. Esses sujeitos da informação
transformam ou exigem transformações tanto da Biblioteconomia quanto
da Ciência da Informação no que concerne à busca e acesso à informação.
Disponibilizar informação para esse sujeito da informação se tornou um
desafio constante e que exige que novas práticas sejam instauradas aos pro-
fissionais que lidam com a informação.
Na Ciência da Informação, a informação ubíqua costuma ser com-
preendida no escopo da IoT como sinônimo ou seu desdobramento.
Lacerda (2015) defende que a IoT possibilita que os objetos possuam ca-
pacidades informacionais e que seu processamento não deve mais ser o seu
objetivo, mas a sua utilidade para as pessoas. A pesquisadora inclui na IoT
um conjunto de tudo que emprega tecnologias ubíquas, como se os objetos
fossem derivados da IoT e não da computação ubíqua.
Resmini e Rosati (2011) publicaram a obra Pervasive information ar-
chitecture: designing cross-channel users experiences e propuseram um tipo de
arquitetura da informação que estivesse presente de forma onipresente em
espaços físicos, virtuais e híbridos e por sujeitos que interagem simultanea-
mente com entidades dos sistemas na mesma condição. A informação não
está mais somente nos computadores ou no celular, seus limites estão se
desfazendo, contextualizam os pesquisadores. O pensamento dos autores
vai ao encontro do que é defendido nesse estudo, pois o acesso à informa-
ção deve ser mais importante do que seu suporte ou mídia.
Cada vez mais, as atividades do cotidiano exigem que os sujeitos se
movam entre diferentes mídias, canais e ambientes, sem distinção entre
o que é físico e o que é digital - a informação tem se tornado pervasiva
Richele Grenge Vignoli
80
(Resmini; Rosati, 2011). Segundo os autores, no cerne da computação
ubíqua está a ideia de que a informação é processada ao redor das pessoas
em todos os tipos de objetos e atividades cotidianas para uso e consumo.
Focados na tecnologia, a visão dos autores prevê sistemas orientados no que
denominam uma constelação de itens intimamente relacionados e partici-
pantes na união de átomos e bits. Oliveira, Vidotti e Bentes Pinto (2015)
comentam que Resmini e Rosati desenvolveram o conceito da arquitetura
da informação pervasiva (Pervasive Information Architecture - AIP) basea-
dos na computação ubíqua e design de serviços e focados em serviços da
biblioteca e Ciência da Informação.
Nesse sentido, Oliveira, Vidotti e Bentes Pinto (2015) descrevem
que informações disponíveis em catálogos de bibliotecas podem ser con-
sultadas via computador, mas lidas no suporte de papel. O processo que
foi iniciado de forma digital se transforma no físico e o contrário acon-
tece do mesmo modo. A separação entre os espaços, mídias e suportes se
torna insignificante. Do mesmo modo, as formas de organizar a informa-
ção digital deve ser repensada e também se tornar fluida e responsiva nos
dispositivos (Oliveira; Vidotti; Bentes Pinto, 2015), como na computa-
ção sensível ao contexto.
Em sua definição de informação como pervasiva/ubíqua, Oliveira,
Vidotti e Bentes Pinto (2015, p. 75) utilizam a metáfora do rompimento
de uma barragem de água para tornar a definição clara. Tal como a água
invade tudo que está no seu caminho a partir de seu rompimento, tam-
bém está a informação na noção de pervasividade. A informação invade e
se alastra na sociedade, em sua cultura, nos espaços analógicos e digitais,
nos lugares web ou não, e em qualquer tipo de dispositivo. Nesse quesito,
insere-se que a informação pode estar disponível em espaços, lugares e não
lugares, assim como idealizado por Augé (2012). A localização específica
da informação no polo virtual é irrelevante e, por isso, a sua ubiquidade é
atribuída à informação líquida. A informação líquida é ubíqua porque está
presente e se alastra por todos os espaços, lugares e não lugares, mas sem
buscar permanência ou ambiente fixo para se estabelecer. A permanência
não é objetivo da informação líquida porque está intencionada na recupe-
ração e acesso, e não no local de guarda.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
81
Na arquitetura da informação pervasiva, seus ambientes podem ser
analógicos, digitais ou híbridos e suas tecnologias as mais diversas possí-
veis, assim como na informação líquida. Sob esse aspecto, a pervasividade
pode ser visualizada e compreendida como uma abordagem da arquitetura
da informação capaz de atender qualquer tipo de público (sujeitos), em
qualquer tipo de ambiente (físico, digital ou híbrido) e sob uma diversi-
dade de tecnologias atuantes (analógicas ou digitais). Por conseguinte, in-
clui-se que a informação pervasiva/ubíqua defendida por Resmini e Rosati
(2011) e por Oliveira, Vidotti e Bentes Pinto (2015) pode ser manifestada
assim como a arquitetura que projetaram, em qualquer ambiente, para
todo tipo de sujeito, em toda tecnologia e em qualquer espaço, lugar e
não lugar em suas possibilidades ubíquas na Ciência da Informação. Não
ao acaso, a definição dos autores guarda relação de proximidade com a
informação líquida.
Também na Ciência da Informação, os pesquisadores Foresti,
Varvakis e Vieira (2019) se propuseram a explanar a respeito da ubiquida-
de da informação. Para os autores, a informação ubíqua é aquela que se in-
tensifica na mobilidade e no acesso irrestrito e sem limitações de tempo-es-
paço a documentos e representações da informação. Contudo, os autores
apontam a ubiquidade como alienante e que acaba por evidenciar a quan-
tidade em detrimento da qualidade. O contexto se relaciona ao big data, à
infoxicação (excesso de informação), à ansiedade da informação (urgência
desenfreada por informação) e aos malefícios de se ter acesso demasiado à
informação e sem qualidade. Apesar do ponto de vista apresentar condi-
ções exploráveis da informação, não é foco relevante para essa pesquisa.
Mas a informação líquida como ubíqua enfrenta desafios que cir-
cundam sua estrutura mutável. Embora tenha pretensão de oferecer um
ambiente seguro em relação aos dados pessoais ou públicos, na computa-
ção ubíqua e suas ramificações, essa possibilidade é bastante dificultada.
De acordo com Butterfield, Ngondi e Kerr (2016, p. 1421, tradução nos-
sa) “Um sistema de computação ubíquo verdadeiramente útil irá inevita-
velmente adquirir uma grande quantidade de dados pessoais sobre seus
usuários”. Olson, Nolin e Nelhan (2015) expõem outros riscos como o
Richele Grenge Vignoli
82
controle em massa dos dados e o fornecimento excessivo de dados pessoais
nesse tipo de tecnologia.
A ideia de um acesso ou biblioteca universal na computação ubí-
qua ou no ideal de ubiquidade da informação é outro de seus percalços.
Furtado (2007) tece críticas em relação à ideia de uma biblioteca univer-
sal. Apesar de não desconsiderar a transição dos dados analógicos para os
digitais, ou a expansão exponencial dos espaços digitais de informação, o
pesquisador não acredita na possibilidade de existência de uma biblioteca
virtual universal.
Essa expansão sem precedentes, lembra Furtado (2007), pode levar
as bibliotecas a se tornarem superficiais e utópicas ou espelhadas no sonho
leibniziano de uma Bibliotheca Universalis. Não haverá, portanto, possibi-
lidade de “[...] disponibilização da totalidade do registro da memória e do
conhecimento humano no terminal de um computador” (Furtado, 2007,
p. 38). Certamente, uma biblioteca universal, virtual ou física nunca será
realidade, ao menos não como idealizado por Conrad Gesner em 1545
com a publicação da Bibliotheca Universalis ...ou do ideal de Paul Otlet
com o Mundaneum. Mas apesar de serem válidas as críticas de Furtado
(2007), o seguinte questionamento surge: Seria esse o objetivo dos pesqui-
sadores, profissionais da informação ou mesmo sujeitos de informação do
século XXI?
O anseio de biblioteca ubíqua ao ponto de ser universal carrega em
si uma ideia ilusória, metafórica e fictícia, provavelmente uma necessi-
dade de outrora. O objetivo tanto da Ciência da Informação, como da
Biblioteconomia deve ser o de acesso equitativo ao conhecimento disponí-
vel e com a tecnologia como alicerce nessa ação.
Como projetos derivados da computação ubíqua, a IoT, a compu-
tação vestível, a web ubíqua, a biblioteca ubíqua e outros serviços ou dis-
positivos ubíquos são arquétipos pós-modernos que visam o uso massivo
de tecnologia e sujeitos conectados a aparatos tecnológicos o tempo todo.
Trata-se de um movimento de acesso à informação em tempo integral, sem
barreiras geográficas ou de espaço-tempo. Na esfera tecnológica e de redes
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
83
wi-fi, a questão parece ser bem resolvida já que há uma infinidade de pos-
sibilidades tecnológicas para aqueles que desejam ou podem pagar o preço.
No entanto, o acesso à internet não é realidade para todos os ci-
dadãos, o que pode ser destacado como o maior entrave das tecnologias
ubíquas e, consequentemente, da informação ubíqua.
De acordo com dados do e International Bank for Reconstruction
and Development (IBRD) e da e International Development Association
(IDA)11 de 2017, 48,997% da população mundial faz uso da internet, o
que inviabilizaria uma rede totalmente ubíqua no mundo. É importante
destacar que nem 50% da população mundial possui acesso à internet. Em
dados coletados em 2018, as Instituições explicam que 88% dos cidadãos
estadunidenses possuem acesso à internet contra 70% dos brasileiros (e
International Bank For Reconstruction and Development, 2019). Dados
mais recentes não foram encontrados para visualização e comparação.
No Brasil, de acordo com o Ministério das Comunicações do
Governo Federal, 82,7% dos domicílios brasileiros possuem acesso à inter-
net, contra 12,6 milhões de residências sem nenhuma cobertura ao serviço
(IBGE, 2021). De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (PNAD) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de 2019, os motivos apontados pela falta de cobertura de internet
nos municípios foram: desinteresse pelo serviço (32,9%), serviço de alto
custo (26,2%) e falta de habilidade dos moradores para utilizar a internet
(25,7%) – (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2021a). Não há
índices na pesquisa que demonstram a falta de investimento público ou
outras ações para a obtenção do serviço nas localidades.
Em relação ao acesso à internet, a Agência Nacional de
Telecomunicação (Anatel, 2021) informa que foram registrados 36,5 mi-
lhões de acessos de internet de banda larga fixa em abril de 2021 e 242,1
milhões de acessos na telefonia móvel no mesmo período. Esses dados são
11 “Com 189 países membros, funcionários de mais de 170 países e escritórios em mais de 130 locais, o Grupo
Banco Mundial é uma parceria global única: cinco instituições que trabalham por soluções sustentáveis que
reduzem a pobreza e criam prosperidade compartilhada nos países em desenvolvimento” (e International
Bank For Reconstruction And Development, 2019). Disponível em: https://www.worldbank.org/en/who-
we-are. Acesso em: 30 jun. 2023.
Richele Grenge Vignoli
84
suficientes para demonstrar apenas a quantidade de acesso à internet no
Brasil, mas não expressam a realidade da população que não possui acesso
ao serviço e por quais motivos socioeconômicos essa situação acontece.
Ainda que os dados demonstrem que, mais de 80% dos cidadãos
brasileiros possuam acesso à internet, existem outras variáveis que interfe-
rem no ideal de um acesso ubíquo à rede no país. A população brasileira
atual é de pouco mais de 213.0000.000 de habitantes (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, 2021b), o que significa que mais de 36,847.000
de indivíduos (17,3%) continuam sem nenhum tipo de acesso à internet
no país. Os números corresponderam a diversos problemas sociais e eco-
nômicos como de distribuição de renda e má gestão federal, e comprovam
que também no Brasil, uma rede, web ou internet ubíqua não é ou pode
ser realidade no momento. Ainda assim e para os cidadãos que possuem
acesso a internet, observa-se que há preferência por informações advindas
da virtualidade.
A ubiquidade da informação significa que, para que uma informa-
ção esteja disponível em tempo integral e sem limitações temporais, redes
de conexão com a internet são altamente necessárias. A internet, o acesso
à web e ao ciberespaço é o que possibilitará o recorte no tempo/espaço
para se ter acesso àquilo que só seria possível de forma presencial ou física
(Santaella, 2014).
Outrossim, destaca-se que nas relações pós-humanas, conhecimento,
informações e dados são gerados por indivíduos hibridizados com a má-
quina. É o caso de objetos e pessoas que, juntos, produzem conhecimento
e informação. Os objetos na internet das coisas produzem informações.
As roupas vestíveis produzem informação. Os dispositivos tecnológicos de
forma geral produzem informação quando utilizados por sujeitos da in-
formação no polo virtual. A inteligência artificial produz conhecimento e
informação como entidade maquínica de modo ubíquo. Seu movimento é
contínuo, ininterrupto e ocorre a todo momento.
Os mecanismos de busca são exemplos de entidades maquínicas ou
de inteligências artificiais que agem na produção e busca de informação
para os sujeitos da informação. Essas tecnologias são ubíquas e altamen-
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
85
te utilizadas na Ciência da Informação e por sujeitos da informação. É
importante a compreensão de que são também ubíquas e onipresentes
as formas pelas quais objetos e pessoas unem-se em agenciamentos coti-
dianamente na construção de conhecimento e informação – as hibridiza-
ções. Esse “fazer” maquínico é uma característica do “ser” pós-moderno
(Monteiro; Abreu, 2009) e da informação líquida e ubíqua que não cessa
seu movimento.
A informação líquida e ubíqua está em todo espaço, lugar e não
lugar. A computação ubíqua possibilita que a informação esteja disponível
sem fronteiras de espaço/tempo. O ciberespaço possibilita com a web e
internet que a informação trafegue 24x7. Em suas possibilidades e devires,
a informação líquida como ubíqua existe ao, mesmo tempo, em espaços,
lugares e não lugares em qualquer localidade do globo. Isso significa que
uma informação está presente e pode ser acessada ao mesmo tempo por
sujeitos da informação dispersos em qualquer parte do mundo.
A web é o principal veículo da informação líquida e ubíqua, mas
não o único. Isso quer dizer que também os dispositivos tecnológicos que
geram informação a todo tempo são considerados ubíquos. A afirmação
se refere aos objetos que como a máquina ou vestidos ao corpo, possuem
a capacidade de gerarem informações, mesmo quando não conectado a
redes de wi-fi. Nesse ponto, a informação líquida se aproxima da defini-
ção de ubiquidade, pois é possível em objetos e pessoas e em seus agen-
ciamentos múltiplos.
Os computadores estão presentes em objetos externos e internos ao
corpo humano e nessa relação tão próxima, informações são geradas e re-
plicadas por agentes humanos e não humanos. Não só a tecnologia é ou
está onipresente, mas a capacidade dos objetos de gerarem e receberem
informações também. Se qualquer objeto ou coisa, humano ou não hu-
mano podem gerar informação, a questão do suporte, registro, mídia ou
tecnologia em que a informação está ou será construída se torna ainda mais
irrelevante. Seu objetivo macro é a sua disponibilidade em todo espaço, lu-
gar, não lugar, em objetos, máquinas, pessoas e em todos ao mesmo tempo,
e acima de tudo, para todo tipo de público. O importante da informação
é o acesso e não os seus modos de fazê-lo ou sob que substância o objeto
Richele Grenge Vignoli
86
será apresentado. De toda forma, a informação líquida e ubíqua precisa
possibilitar acesso gratuito e democrático.
Na maioria das vezes, redes de tecnologia sofisticada serão utiliza-
das para que o processo comunicacional orgânico ou inorgânico ocorra.
Outras vezes, tecnologias mecânicas bastarão para que o processo de co-
municação se desenvolva e nem sempre será necessária uma rede de wi-fi
ou acesso à web. Qualquer objeto que gere e envie informação se torna
ubíquo quando possui essa capacidade. Um chip implantado no corpo hu-
mano que envie sinais vitais de forma contínua e mecânica é exemplo de
informação ubíqua. A essência da informação ubíqua para Foresti, Varakis
e Vieira (2019) seria sua qualidade de disseminar-se e não sua possibilidade
de estar em rede. Esse seria um ponto de vista, entretanto, é viável enaltecer
que a informação na materialidade possui pouca capacidade de dissemi-
nação em comparação a desmaterializada no polo virtual. São pontos em
aberto à reflexão.
O acesso em tempo integral à informação como ubíqua na infor-
mação líquida possui esse objetivo porque busca afastar-se de entraves
geográficos como os requeridos por presença a espaços físicos para o seu
acesso. Para que a informação seja líquida e ubíqua é necessário que esteja
disponível em tempo integral no sistema 24x7. A sua fonte tanto pode
ser proveniente de uma biblioteca quanto de uma base de dados ou rede
social. Em dispositivos mecânicos, qualquer objeto que gere informação,
como um leitor de código de barras ou um marcapasso tende a ser um ob-
jeto de informação ubíquo que independe de rede wi-fi. Por isso, o crucial
da ubiquidade é o acesso à informação.
A informação líquida e ubíqua é aquela que se prepõe a ser dis-
ponível a todo momento, espaço, lugar, não lugar e para todos, que está
vestida, incorporada ou hibridizada ao corpo humano, que produz e envia
informação a todo sujeito da informação e que pode utilizar tecnologias de
ponta (superinteligências).
87
A    
A informação líquida como aberta indica o movimento da infor-
mação e do conhecimento com ilimitada disponibilidade considerando o
sujeito da informação como autor do conhecimento. A informação se jus-
tifica como aberta em suas possibilidades de disponibilidade, de produção
para além do escrutínio técnico-científico e nos movimentos de abertura
da ciência.
Na ciência, o atributo aberto significa que a informação possui a qua-
lidade de modificação contínua. O atributo ou a abertura da informação
é discutido em duas situações relacionadas ao desenvolvimento do conhe-
cimento por cientistas e não cientistas, denominados aqui por populares.
O primeiro módulo de abertura da informação é baseado no mo-
vimento da ciência aberta (open science), que coteja a ampliação e com-
partilhamento da ciência, pesquisa e conhecimento científico de forma
colaborativa e acessível a todos. As iniciativas de movimento aberto como
da ciência aberta, do software livre (free software), do acesso aberto ou livre
(open access), dos dados abertos (open data), além de outros movimentos
direcionados à ciência e ao conhecimento científico, como as publicações
líquidas (liquid publications ou publiquid) e a revisão aberta por pares e/
ou revisão aberta (open peer review e/ou open review), são discutidos com
Richele Grenge Vignoli
88
o propósito de fundamentar diálogos acerca da liquidez de informações e
dados provenientes do ambiente científico.
O segundo módulo da discussão assenta-se na questão da ciência
cidadã e no papel do sujeito e do autor reconsiderados diante do cenário
das TIC e objetos contemporâneos da informação e do conhecimento.
Nessas circunstâncias, o conhecimento e a informação gerados pelo sujeito
da informação cientista e por populares é potencializado como de interesse
e característica da informação líquida.
Na trajetória da ciência aberta, destaca-se o papel das primeiras ini-
ciativas de acesso aberto que foram primordiais para o enaltecimento do
movimento de abertura do conhecimento de maneira global. O acesso
aberto é um dos movimentos pioneiros de iniciativa de abertura de códigos
fontes e acesso ao conhecimento lançado por Paul Ginsparg em 1991. Na
circunstância, Ginsparg, desenvolveu o repositório arXiv no Laboratório
Nacional de Los Alamos (LAN-L), com o propósito de disponibilizar li-
vremente pré-impressões em física (Open Access, 2020). A iniciativa de
Richard Stallman, em 1984, teria sido a gênese para o movimento de aces-
so aberto anos depois.
Stallman desenvolveu a Free Software Foundation e seu Projeto GNU/
Linux1 por meio do conceito de software livre (Perens, [2007 ou 2008]).
Em 2002, houve a primeira declaração de acesso aberto, a Iniciativa de
Acesso Aberto de Budapeste (Budapest Open Access Initiative – BOAI,
2012)2 e em abril de 2003, a Declaração Bethesda sobre a publicação de
acesso aberto (Bethesda Statement on Open Access Publishing)3, seguida da
Declaração de Berlim sobre Acesso Aberto ao Conhecimento em Ciências
e Humanidades (Berlin Declaration on Open Access To Knowledge in e
Sicence And Humanities)4 no mesmo ano (Open Access, 2020). As três
principais iniciativas do movimento de acesso aberto são conhecidas por
3Bs: Budapest, Bethesda e Berlin.
Acrônimo que significa GNU’s Not Unix.
Disponível em: https://www.budapestopenaccessinitiative.org. Acesso em: 23 jul. 2023.
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/48547523_e_Bethesda_Statement_on_
Open-Access_Publishing. Acesso em: 23 jul. 2023.
Disponível em: https://openaccess.mpg.de/Berlin-Declaration. Acesso em: 23 jul. 2023.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
89
Nesse contexto, surge o movimento da ciência aberta que, de acordo
com o Open Science Training Handbook ([2018]),5 tem suas origens nas
publicações acadêmicas do século XVII, com o surgimento dos primeiros
periódicos acadêmicos da história. Sua origem teve início com a pressão
das academias e governos para que a pesquisa com financiamento público
fosse compartilhada abertamente à sociedade.
Na tentativa de desenvolver um conceito rigoroso e sistematizado,
Vicente-Saez e Martinez-Fuentes (2018, p. 8, tradução nossa) definem que:
‘Ciência Aberta é conhecimento transparente e acessível,
compartilhado e desenvolvido por meio de redes colaborativas’ e
que auxilia a comunidade científica, o mundo dos negócios, os
atores políticos e os cidadãos a ter um entendimento claro e comum
sobre o que é Ciência Aberta e estimula um debate aberto sobre o
valor agregado social, econômico e humano desse fenômeno.
Além disso, o conceito de ciência aberta é acompanhado por um dis-
curso vivo que parece abranger qualquer tipo de mudança relacionada ao
futuro do conhecimento científico compartilhado e disseminado no sen-
tido de abrir-se cada vez mais (Fecher; Friesike, 2014). Segundo Albagli,
Clinio e Raychtock (2014) e Vicente-Saez e Martinez-Fuentes (2018), não
há definição consensual acerca da ciência aberta e outras iniciativas e ter-
mos são atrelados ao movimento, como a ‘Digital Humanities6 e ‘eScien-
ce’7, além de outros (Bartling; Friesike, 2014). Os múltiplos termos tidos
Um grupo de catorze autores se reuniu em fevereiro de 2018 na Technische Informationsbibliothek (TIB) -
Biblioteca Nacional Alemã de Ciência e Tecnologia, em Hannover para criar o manual aberto e vivo sobre
o treinamento em Ciência Aberta (Open Science Training Handbook, [2018]).
As humanidades digitais hoje abrangem uma gama de práticas e produtos acadêmicos, incluindo corpora
linguística, arquivos digitais interativos e projetos de edição. Alguns desses corpos de dados digitais
tornaram-se recursos centrais de suas disciplinas. Decorrente de esforços para construir coleções de materiais
de fonte primária e gerenciar e organizar projetos de edição acadêmica em grande escala, elas também
levaram os especialistas do domínio a se tornarem inovadores em tecnologia. Elas também forneceram um
foco para pensar sobre as possibilidades radicais do texto eletrônico, uma vez que as coleções emergentes
foram consideradas por seus criadores através das lentes da teoria narrativa, da estética e da política das redes
(Dalbello, 2011, p. 481).
eScience é um nome dado em todo o mundo a pesquisas que são realizadas em todas as áreas do
conhecimento e que têm necessidade de lidar com grandes volumes de dados ou de usar métodos
computacionais sofisticados e computação de alto desempenho. A pesquisa em eScience aborda todas as
etapas de um processo de pesquisa – desde a criação de ferramentas computacionais que ajudem cientistas
a formular problemas de pesquisa, coletar e analisar dados, até a modelagem, a simulação, a divulgação e o
Richele Grenge Vignoli
90
como chavões demonstram a falta de definição precisa para denominar os
muitos resultados possíveis que a ciência poderá ser submetida no futuro.
Na tentativa de defini-la, Albagli (2016, p. 30-31) aponta que a ciência
aberta propicia o “[...] aumento dos estoques de conhecimento público,
propiciando não apenas a ampliação dos índices gerais de produtividade
científica e de inovação, como também a das taxas de retornos sociais dos
investimentos em ciência e tecnologia”.
Vicente-Saez e Martinez-Fuentes (2018) defendem que o conheci-
mento é o predicado fundamental da ciência aberta, mas, sobretudo, de
outras coisas como códigos, dados, informações, ideias, resultados cien-
tíficos, publicações e produtos que também são conhecimento. Nota-se
que as autoras compreendem conhecimento para além do contexto técni-
co-científico. Em pesquisa realizada pelas autoras, em 2018, com base em
revisão sistemática de literatura, características da ciência aberta foram evi-
denciadas como essenciais pela maioria dos autores consultados, são elas:
1. transparência: a comunicação científica precisa ser transparente
a todos;
2. acessível: a informação científica deve ser acessível a todos;
3. compartilhada: seus conjuntos importantes de dados devem ser
passíveis de compartilhamento.
Além disso, explicam Vicente-Saez e Martinez-Fuentes (2018), que
a ciência aberta deve empregar tendências emergentes como de código
aberto, dados abertos, acesso aberto, sistemas de reputação alternativos in-
tensos em dados, cadernos abertos, livros de laboratório abertos, blogs de
ciências, bibliografias colaborativas, ciência cidadã, revisão por pares aberta
ou pré-registro e outras iniciativas. A ideia é que a ciência aberta seja discu-
tida em ambientes democráticos e de amplo debate, para além de espaços
convencionais como fóruns, eventos de pesquisa e periódicos científicos.
Para Albagli, Clinio e Raychtock (2014), a ciência aberta é um termo que,
como um guarda-chuva, engloba diversas outras iniciativas complementa-
reuso dos resultados da pesquisa (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),
2015, p. 2).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
91
res de movimento aberto. As iniciativas vão desde a disponibilização gra-
tuita de resultados de pesquisa até a valorização e a participação direta na
ciência cidadã.
Como segmento da ciência aberta, o conhecimento aberto (open
knowledge) se refere à outra iniciativa que prevê o fornecimento detalhado e
completo de requisitos para dados e conteúdos abertos. “O Conhecimento
aberto é qualquer conteúdo, informação ou dados que as pessoas são livres
para usar, reutilizar e redistribuir - sem qualquer restrição legal, tecnológi-
ca ou social” (Open Knowledge Foundation, [2020], tradução nossa). Os
dados abertos se tornam os blocos de construção do conhecimento aber-
to, que assim são quando úteis, utilizáveis e utilizados (Open Knowledge
Foundation, [2020]). A partir do movimento do conhecimento aberto
“Um futuro justo, livre e aberto [...]” é o que deseja a Open Knowledge
Foundation ([2020], Não paginado, tradução nossa). Para a instituição, o
conhecimento aberto significa qualquer tipo de informação utilizada de
maneira livre.
Com foco nos dados, segundo a Open Data Handbook Org ([2020],
Não paginado, tradução nossa) “Dados abertos são dados que podem ser
livremente utilizados, reutilizados e redistribuídos por qualquer pessoa [...]
à exigência de atribuir e compartilhar”. Interessa nos dados abertos, sua ca-
racterística de modificação constante e por qualquer público. Esses dados
não são construídos para permanecerem da forma como foram criados,
seu objetivo é que novos significados e entendimentos sejam construídos a
partir do original. Apesar dos dados abertos possuírem, em primeiro mo-
mento, registro e controle por quem os trata, organiza e disponibiliza, não
é possível obter garantia permanente a respeito dos caminhos pelos quais
e/ou para quais sujeitos esses dados serão compartilhados. Da mesma for-
ma, não é factível antever as modificações a que os dados originais irão
sofrer após sua disponibilização – sua alteração pode ser constante e infi-
nita. Esses dados podem, a partir dessa premissa, ser considerados como
líquidos, pois não manterão uma forma ou padrões constantes.
Mas nem tudo que possui abertura é líquido. Para ser líquido, esses
dados necessitam possuir também ubiquidade, isto é, disponibilizar acesso
sem contratempos de login ou pagamento para acesso, por exemplo. Esses
Richele Grenge Vignoli
92
dados devem possibilitar a sua modificação, do contrário, continuarão
como dados estáticos e não líquidos. Cabe ressaltar que os dados abertos
possuem seus registros com a leveza e versatilidade das TIC e residem no
ciberespaço. É sua desmaterialização no ciberespaço que permite ou que
condiciona o seu livre acesso, a sua movimentação, compartilhamento,
modificação e reutilização contínua. Os dados abertos não foram projeta-
dos para tecnologias e/ou versões analógicas, nem tampouco para perma-
necerem estáticos, por isso possuem características líquidas.
De acordo com Open Data Handbook Org ([2020]), dados abertos
podem versar a respeito de:
cultura: dados a respeito de obras e artefatos culturais, normal-
mente armazenados por galerias, bibliotecas, arquivos e museus;
ciência: dados produzidos em pesquisas científicas;
finanças: dados acerca de despesas e receitas, contas públicas,
mercado financeiro, a respeito de ações, títulos e outros;
estatísticas: dados estatísticos em censos e indicadores
socioeconômicos;
tempo: dados meteorológicos;
meio ambiente: dados acerca da presença e nível de poluentes,
qualidade de rios e mares e outros tipos.
Como é possível verificar, dados abertos tratam dos mais variados
assuntos e não condizem apenas ao campo científico. Isso significa que seu
conteúdo pode ser de interesse de sujeitos não especialistas (populares) e
que está apto a ser modificado, ampliado e compartilhado por e para qual-
quer público. Contudo, é necessário que esses objetos possuam:
disponibilidade e acesso: os dados devem ser disponibilizados de
forma conveniente (facilitada) e permitir modificação no todo,
sem custos ou com sua redução e de preferência com possibili-
dade de download pela internet;
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
93
reutilização e redistribuição: os dados abertos devem permitir
reaproveitamento e redistribuição na junção de outros conjuntos
de dados legíveis à máquina;
participação universal: qualquer pessoa deve ser capaz de usar,
reutilizar e redistribuir dados, sem discriminações. Não são
permitidas restrições como de uso exclusivo para determina-
do fim como comercial, ou apenas para educação (Open Data
Handbook Org, [2020]).
De acordo com as características dos dados abertos, a utilização e
compartilhamento por sujeitos especializados ou populares demonstram a
tendência em valorizar o conhecimento construído para além do ambiente
acadêmico-científico. Demonstra, de igual modo, que esse mesmo conhe-
cimento que deve ser livre e gratuito, precisa ser legível a qualquer público,
isto é, alcançar indivíduos da sociedade que pouco ou nenhum acesso ao
conhecimento científico possuem.
A respeito da utilização de dados abertos em outras esferas da socie-
dade, o relatório da Open data: unlocking innovation and performance with
liquid information do e McKinsey Global Institute (2013)8 discorre acerca
de seus impactos na economia. O relatório aborda o poder computacional
da análise de dados com possibilidade de transformar a informação digital
em líquida e gerar produtividade a partir disso. O foco da discussão está
na capacidade de empresas aumentarem sua produtividade na utilização de
dados abertos de fonte pública ou privada e na condição de sua liquidez,
nesse caso, sua abertura. Para tanto, o material explora como agregar valor
econômico e estimular ganhos nas áreas da educação, transporte, produ-
tos de consumo, energia elétrica, petróleo e gás, atendimento em saúde e
financiamento ao consumidor a partir de dados abertos.
Nesse raciocínio, os dados líquidos podem se tornar elemento crítico
para interromper lacunas de informação entre setores, no compartilhamen-
Hal Varina, professor emérito de Ciências da Informação, Negócios e Economia na University of California
em Berkeley, foi um dos integrantes da extensa lista de pesquisadores que participaram do projeto do MGI
de promoção a abertura de dados na condição de líquidos.
Richele Grenge Vignoli
94
to de ideias que aumentam a produtividade, na inovação e na substituição
de padrões tradicionais por processos orientados a dados. Na concepção
do relatório, dados abertos são líquidos e são mensurados, mas por sua ca-
pacidade de abertura e potencial a partir disso: “O grau em que o big data
é líquido indica se os dados estão abertos ou não” (e Mckinsey Global
Institute, 2013, p. 4). Também para Chignard (2013), dados abertos de-
pendem do desenvolvimento de sua capacidade de compartilhamento e de
disponibilização e não se referem à quantidade ou volume.
Na concepção do e Mckinsey Global Institute (2013), a abertura
dos dados significa sua liquidez. Nessa constante, tornar dados mais lí-
quidos é torná-los mais abertos e quanto mais abertos, transparentes, de
fácil localização e acesso, mais líquidos e reutilizáveis se tornam. Apesar de
compreensão em outro domínio do conhecimento, a abertura e liquidez
dos dados refletem-se em seu uso e reuso indiscriminado e para melhoria
de frações da sociedade. Apesar da abertura dos dados ser insuficiente para
torná-los líquidos, após abertos, os movimentos desses dados já não po-
dem ser facilmente controlados, como o que é característico ao escopo da
informação líquida e de objetos dispersos no ciberespaço. A abertura dos
dados presta-se, então, a qualquer público ou demanda e para potencia-
lizar vantagem competitiva, inovação tecnológica e outros atrativos mer-
cadológicos que devem atender à população. A abertura dos dados deve
possibilitar também, avanços na saúde pública, na capacitação de recursos,
na dissipação de desigualdades sociais e outros elementos de precarização
da sociedade.
A adjetivação de liquidez aos dados abertos pode ser derivada da mu-
tação e processo de transformação que a abertura de dados proporciona.
As possibilidades de outros indivíduos e empresas reconstruírem e atribu-
írem novos significados aos dados originais representam a versatilidade da
abertura de dados de qualquer espécie, tanto na pesquisa científica como
fora dela. A utilização e reutilização de dados abertos devem significar ou-
tras conjecturas aos dados originais, pois há aumento de produtividade,
diminuição de esforços e custos, além da adição de outros saberes a partir
dos dados primários. A liquidez manifesta-se na abertura dos dados, mas,
sobretudo em seu compartilhamento facilitado, modificação constante,
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
95
na desvalorização de seu formato em detrimento de seu conteúdo, na
colaboração e produção de qualquer sujeito da informação, inclusive não
humano, no acesso livre e no conhecimento acessível a todos.
Já na ciência e no conhecimento científico, o conceito de publica-
ção líquida (liquid publications e/ou liquidPub como seu acrônimo) surge
como uma alternativa para repensar as formas convencionais de avaliação
das publicações científicas na ciência aberta. A crítica refere-se ao modo
convencional de avaliação de trabalhos científicos por pareceristas, prin-
cipalmente em periódicos científicos. Os processos ou procedimentos
mais conhecidos e utilizados para avaliação de artigos científicos segundo
Oliveira (2018) são:
simples-cego (single-blind): somente os revisores conhecem a au-
toria dos trabalhos - modo tradicional de avaliação;
duplo-cego (double-blind): o autor e avaliador não são identi-
ficados em nenhuma etapa da avaliação - modo tradicional de
avaliação;
revisão aberta (open review): quando os revisores e autores são
revelados tanto para um quanto para o outro - novas formas de
avaliação;
revisão aberta por pares (open peer review): modelo de revisão por
pares de acordo com os objetivos da ciência aberta que inclui
abertura da identidade de revisores e autores, a publicação de
relatórios de revisão e a permissão de participações no processo
de revisão por pares (Open Science Training Handbook, [2018])
- novas formas de avaliação.
As novas formas de avaliação do conhecimento científico fazem par-
te do domínio de iniciativas da ciência aberta. Para Casati, Giunchiglia e
Marchese (2007), a necessidade de aderir a novas formas de avaliação de
publicações científicas surgiu do descaso dos avanços das TIC e da web a
respeito do assunto. Por isso, discussões e mudanças paradigmáticas entre
as publicações sólidas, àquelas do mundo impresso e analógico passaram
Richele Grenge Vignoli
96
por uma espécie de virada líquida, de publicações líquidas, mais adequa-
das ao momento digital e virtual, como as que possuem gênese apenas no
ciberespaço. O termo publicação sólida refere-se às publicações revisadas
por círculos fechados de autores e de avaliadores, em versão impressa como
gravado em pedra’ ou como o que nunca mudará (Casati; Giunchiglia;
Marchese, 2007).
Em sua versão líquida, em oposição ao que é e permanece e estático,
o conceito de periódico líquido (liquid journal) manifesta-se como opção
de mudança de paradigma. Desse modo, o número e o tipo de artigo são
estáticos, mas o periódico e as publicações evoluem conforme novos aden-
dos são incluídos com a opinião e participação colaborativa entre revisores
formais, e o público que acessa a revista. Não há estagnação e as publica-
ções são líquidas porque podem permanecer abertas para novas inserções,
comentários, atribuições, correções e outros apontamentos. Existe possi-
bilidade de populares opinarem, outro aspecto de grande mudança nas
publicações e periódicos líquidos.
Uma publicação líquida resultaria em contribuições científicas evo-
lutivas, colaborativas e em composição contínua (Casati; Giunchiglia;
Marchese, 2007). A mudança se estende igualmente ao software utilizado
no periódico (que precisa ser ágil, colaborativo e de código aberto) e nas
tecnologias utilizadas para transformar periódicos e publicações em líqui-
dos (Casati; Giunchiglia; Marchese, 2007). Assim, o software, a ciência, o
acesso, o periódico e a própria publicação são e estão abertos.
O intuito das publicações líquidas é facilitar a avaliação por pares de
trabalhos científicos, incentivar a criação, evolução e julgamento da qua-
lidade dos artigos, assim como agregar autores, revisores e/ou blogueiros
em suas contribuições e atribuições no desenvolvimento do conhecimento
social. Para Clinio e Albagli (2017), a noção de publicações líquidas de
Casati, Giunchiglia e Marchese (2007) estimula a substituição da forma
dominante praticada na comunicação científica para um sistema de contri-
buições diversas que fazem os estudos evoluírem continuadamente.
As publicações se tornam líquidas, também, na associação da revi-
são e avaliação colaborativa na web social, tal qual ocorre em avaliações de
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
97
produtos ou serviços adquiridos na web (Casati; Giunchiglia; Marchese,
2007). A participação é projetada com méritos de valor, inclusive com
indicação positiva ou negativa na leitura de artigos científicos. A reputação
da publicação e/ou de seus autores seria estabelecida na comunidade de
interesse da liquidPub como uma das consequências da publicação líquida.
A opinião colaborativa poderia ser utilizada para complementar a revisão
por pares e a contagem de citações (Casati; Giunchiglia; Marchese, 2007).
Uma publicação nos critérios de periódicos e publicações líquidas estaria
condicionada à opinião de qualquer sujeito no ciberespaço, e poderia per-
mitir o debate contínuo acerca da publicação original. Novas ideias e ou-
tros especialistas poderiam surgir ou ser valorados nesse processo. Haveria
transparência otimizada em todo o processo de avaliação do conhecimento
científico, questão a ser pensada na liquidez das novas tendências da ciên-
cia aberta.
Para Clinio e Albagli (2017), no formato líquido às publicações
científicas:
passam a maximizar mudanças incrementais e facilitam a cola-
boração entre grupos;
desenvolvem formas alternativas às publicações sólidas (tradicio-
nais) que são dominantes nos processos de revisão e são tidas
como complementares aos processos de revisão por pares;
os trabalhos podem ser avaliados por colaboradores que atuam
como testadores (testers) quando no questionamento de descri-
ções, resultados, omissões;
pode ocorrer a sugestão de alterações, revisões, refutações, repe-
tição de experimentos e desenvolvimentos futuros;
devem proporcionar um continuum da pesquisa científica de for-
ma aberta e sem intermediários.
Acrescenta-se às características dos autores, a transparência das pu-
blicações na relação de possíveis plágios que podem ser identificados pelo
público, como outro problema crítico da ciência. Inclui-se, ainda, uma
Richele Grenge Vignoli
98
possível aproximação de estudantes, sujeitos da informação especialistas ou
populares com os pesquisadores da temática publicada. São oportunidades
de aproximações que podem fomentar parcerias, novas ideias e outros en-
caminhamentos ao estudo original.
Outro conceito relacionado às publicações líquidas é a revisão por
pares aberta (open peer review ou open review), em contraste com a revisão
por pares (peer review)9, em que a identidade do autor e do revisor são man-
tidas em sigilo durante o processo de avaliação. A revisão por pares aberta
é considerada como um termo abrangente por se adaptar aos modelos de
revisão por pares nos objetivos da ciência aberta, que inclui abrir identi-
dade de revisores e autores, publicar relatórios de revisão, além de per-
mitir participação maior no processo de revisão por pares (Open Science
Training Handbook, [2018]). Na revisão por pares aberta é esperado que
ocorra a colaboração efetiva de outros pesquisadores em contato com o
trabalho. Esse tipo de revisão anularia a revisão às cegas (blind review) e de-
mais manifestações avaliativas que criam desconforto entre autor, revisor e
comunidade científica, pois o processo pode não apresentar lisura e clareza
aos interessados (Araújo; Pedri, 2018). Apesar de possíveis incômodos aos
pareceristas, a revisão por pares aberta tende a tornar todo o processo de
avaliação o mais distante possível de conflitos de interesse.
Mas como representa uma mudança significativa na política de revi-
são dos periódicos científicos é esperado que resistências ao novo modelo
ocorram. Em pesquisa realizada por Oliveira (2018) no Directory of Open
Access Journals (DOAJ) foram identificados 128 periódicos científicos que
já empregavam a revisão por pares aberta. Apenas três desses periódicos
eram brasileiros. A maioria das revistas que aderiram à revisão por pares
aberta possuem o inglês como idioma principal e são enquadradas nas áre-
as biológicas e da saúde (Maia; Farias, 2021; Oliveira, 2018). Em outro
estudo elaborado por Araújo e Pedri (2018) foi destacado que a revisão por
pares aberta já apresentava adesão de 75% dos países. No estudo de Maia e
Farias (2021) ficou constatado que à maioria dos periódicos que aderiram
a revisão por pares aberta são oriundos do Reino Unido.
Um processo pelo qual um artigo de pesquisa é examinado por especialistas da comunidade antes da
publicação.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
99
Em estudo semelhante na Ciência da Informação, Garcia e Targino
(2018) evidenciam em pesquisa com aplicação de técnica de survey, que
67% dos editores participantes da pesquisa se mostraram favoráveis a ado-
tar a revisão aberta por pares nos periódicos brasileiros. Outro resultado
indicou que 60% dos participantes do estudo acreditam que o método de
revisão aberta por pares poderá apresentar melhoria na qualidade dos pe-
riódicos da área. Mas um dos resultados da pesquisa demonstrou, que há,
ainda, valorização da cultura de revisão às cegas e que o método pode ser
elemento inibidor entre pesquisadores e revisores. O periódico Encontros
Bibli ... ([2020?]) tem adotado aspectos da revisão aberta por pares, con-
forme demonstrado em suas diretrizes a respeito do Código de Ética em-
pregado pela revista:
Durante os números de 2019 e 2020 a Encontros Bibli ofertará aos
avaliadores a possibilidade de publicar anonimamente alguns dos
seus pareceres como documento suplementar do artigo, abrindo
assim algumas das avaliações para o público. A equipe editorial
se reserva o direito de publicar aqueles que forem considerados
oportunos.
Conforme descrição do Periódico, a divulgação dos pareceres tem
ocorrido de modo aberto, porém, de forma anônima. Apesar de ser um dos
elementos da revisão aberta por pares, a divulgação dos pareceres de forma
anônima é unilateral, já que aos autores, não é possível conhecer seus pa-
receristas. Ainda assim, a Encontros Bibli está na vanguarda da Ciência da
Informação brasileira por iniciar a inclusão na avaliação aberta por pares
em aspectos da publicação líquida e da ciência aberta. O periódico man-
tém fluxo contínuo de submissão e também de publicações, o que pode ser
observado nos acréscimos de novos artigos inseridos num mesmo volume.
A discussão refere-se a uma mudança comportamental e paradig-
mática nas publicações científicas. A mudança paradigmática é propos-
ta nas formas como o conhecimento científico é criado, disseminado,
avaliado e mantido (Casati; Giunchiglia; Marchese, 2007) para sua
remodelação nas publicações líquidas. A crítica se refere às formas de
disseminação do conhecimento científico em meios tradicionais, por
Richele Grenge Vignoli
100
papel ou em formato digital padrão e na revisão por pares tradicional
(no duplo-cego) como único método de avaliação. A participação da
web social é mencionada como forma de impulsionar a avaliação cola-
borativa do conhecimento. Em síntese, a publicação líquida visa en-
volver especialistas e populares nos processos de avaliação de trabalhos
científicos e popularizar a ciência e o conhecimento científico em sua
máxima de modificação e refutação contínua.
Nas discussões aferidas, o conhecimento científico precisa ser reuti-
lizado e reinterpretado de maneira veloz e com foco na divulgação precoce
de seus resultados. A proposta das publicações e avaliações líquidas, além
dos debates recentes da e-Science e de outras iniciativas de código aberto,
indicam, discutem e formalizam a reutilização de dados de pesquisa, inclu-
sive daqueles em andamento. Há, desta forma, um movimento mundial de
abertura do conhecimento científico tanto nas fases iniciais quanto de seus
resultados em prol de contextos sociais e na melhoria das condições de vida
da população por meio do conhecimento aplicado. Trata-se, na verdade, de
uma queixa corriqueira da própria ciência, que há muito tempo reclama
pela demora da divulgação de seus resultados e seus pareceres de avaliação
por suas comunidades científicas.
A abertura é atribuída à informação que se estende a demais inicia-
tivas do movimento e da ciência aberta, conforme demonstra o quadro 1.
Quadro 1 – Outras inciativas da ciência aberta
Iniciativa Definição Propósito
Código Aberto
(Open Source)
“Disponibilidade do código fonte
de um software, juntamente com
uma licença de código aberto que
permite reutilização, adaptação
e distribuição adicional” (Open
Science Training Handbook,
[2018]).
Permitir que softwares possam
ser modificados/personalizados
a partir de sua matriz.
Materiais abertos
(Open Materials)
Consiste no compartilhamento de
materiais de pesquisa entre grupos
com interesses em comum (Open
Science Training Handbook,
[2018]).
Compartilhar materiais
de pesquisa, por exemplo:
amostras biológicas, geológicas
e outras.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
101
Iniciativa Definição Propósito
Cadernos de
Laboratório
Aberto (Open Lab
Notebooks)
Um conceito de escrever sobre a
pesquisa regularmente, de modo
que as notas e os dados do estudo
sejam acumulados e publicados
on-line e publicamente assim que
obtidos (Open Science Training
Handbook, [2018]).
Compartilhar dados brutos
de pesquisa e demais esboços
durante a realização da
pesquisa.
Recursos
Educacionais
Abertos (Open
Educational
Resources - OER)
Envolve alta qualidade, licenças
abertas e on-line, além de materiais
educacionais para compartilhar,
usar e reutilizar (Tennant; Mounce,
2015).
Agem como um mecanismo
para inovação instrucional,
uma vez que as redes
de professores e alunos
compartilham práticas.
Pesquisa
Reprodutível
(Reproducible
Research)
A pesquisa reproduzível torna
possível obter resultados
semelhantes de um estudo
ou experimento e resultados
independentes obtidos com
os mesmos métodos, mas sob
condições diferentes (Tennant;
Mounce, 2015).
Um pesquisador independente
pode repetir um estudo ao
utilizar os mesmos métodos,
mas criando novos dados/
resultados.
Publicação
ampliada
(Enhanced
Publication)
Ocorre a “[...] ampliação das
publicações textuais com outros
produtos da pesquisa de natureza
textual ou não textual (conjuntos de
dados, artigos de dados, planilhas,
código, áudio, vídeo, imagens,
etc.)” (Marín Arraiza; Liberatore;
Vidotti, 2017, p. 5221).
Visa à publicação em formato
digital sob qualquer tipo de
objeto digital para além do
textual.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos autores mencionados (2020).
O quadro 1 descreve outras iniciativas da ciência aberta e da dis-
ponibilização e compartilhamento de métodos, materiais, experimentos,
resultados e demais instrumentos de pesquisa que poderão gerar novos
estudos e conhecimentos. A abertura de outros artefatos e experiências da
pesquisa científica pode, no sentido de reconstrução contínua e disponibi-
lidade ininterrupta, representar dados ou a informação líquida.
A referência à liquidez é demonstrada na disponibilidade e abertura
de dados, informações, documentos, softwares e na própria ciência de for-
ma transparente, mais visível, sem impedimentos de acesso e na participa-
Richele Grenge Vignoli
102
ção colaborativa em prol do conhecimento social. A liquidez se configura
igualmente, no desenvolvimento contínuo da ciência e seus vieses, que
devem acompanhar a tendência em ser mutável, transformada, utilizada
para outras funções e estudos e, principalmente, para alcançar cidadãos
de forma geral e para além do ambiente científico. Também é possível en-
contrar traços da ciência cidadã nas publicações líquidas quando sujeitos
não especialistas, isto é, os populares, são conduzidos a contribuírem nas
publicações e pesquisas científicas.
Na disponibilidade e abertura da informação e do conhecimento
entre cientistas e populares, o movimento da ciência cidadã se configura
na recepção do conhecimento público e voluntário ao processo científico
com abordagens e problemas do mundo real (Citizenscience.Gov, [20--]).
Trata-se de um movimento de pesquisa que envolve e valoriza o conheci-
mento público durante a realização de experimentos e estudos científicos.
Em outras palavras, é um movimento da ciência ou da união de cientistas e
populares na construção de novos conhecimentos. Pode ser visto na união
do conhecimento de senso comum ao científico nas formas de pensar a
ciência com viés pós-moderno (Santos, 2008).
Conforme pontua Parra (2015), a ciência cidadã não possui uma
definição consensual e permeia uma qualificação que envolve cidadãos in-
teressados em colaborar com estudos científicos como voluntários e outros
reconhecidos como pesquisadores amadores. De acordo com o Socientize
Green Paper On Citizen Science In Europe (2013) da Comissão Europeia, a
ciência cidadã tem como preceito apoiar distintos modelos de engajamen-
to na compreensão do potencial e adequação de riscos e implantações das
políticas públicas vinculadas à ciência. O movimento é centrado na moti-
vação e conscientização do envolvimento ativo de pesquisadores e de vo-
luntários não cientistas (populares), em aspectos da colaboração distribu-
ída (crowdsourcing) aliadas a tecnologias que possibilitem a introdução de
verdadeiras mudanças culturais na abertura da ciência. No crowdsourcing,
convocações on-line são enviadas para a população para que voluntários
possam participar na solução de problemas reais no desenvolvimento de
projetos e pesquisas científicas (Citizenscience.Gov, [20--]). Os impactos e
a avaliação dos valores do conhecimento são discutidos na esfera pública e
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
103
na eficiência e excelência da ciência. Há o ligame de populares e cientistas
na construção de resultados de pesquisa.
Parra (2015) sumariza que a ciência cidadã pode ser compreendida
como uma nova oportunidade para cientistas, cidadãos e instituições de
pesquisa e demonstra quatro modelos de aplicação dessas experiências:
modelo A: são enaltecidas as experiências colaborativas entre
cientistas e suas instituições;
modelo B: o público está presente na produção ou coleta de
dados.;
modelo C: o público prevalece novamente e é quem analisa os
dados coletados, produzidos ou disponibilizados pelos cientistas;
modelo D: nesse modelo todos os atores estão envolvidos em
todos as etapas de produção e divulgação dos novos conheci-
mentos. Há a junção literal do público com o pesquisador que
pode participar na elaboração de novas proposituras científicas.
A relação entre cientista e populares na consolidação de novos
conhecimentos é recíproca e não de submissão.
Na ciência cidadã, o público participa voluntariamente do processo
científico e colabora com problemas do cotidiano na formulação de ques-
tões de pesquisa, realização de experimentos científicos, coleta e análise de
dados, interpretação de resultados, realização de novas descobertas, desen-
volvimento de tecnologias e aplicações e soluções de problemas complexos
(Citizienscience.Org, [20--]). Os populares acrescentam suas experiências
e práticas à rotina de pesquisa do cientista que, juntos, conseguem explorar
o objeto investigado com amplitude expandida.
Schnoor (2007) demonstra o que seria, segundo seu ponto de vista,
o caso mais conhecido de aplicação da ciência cidadã que aconteceu na
América do Norte. De 14 de dezembro a 05 de janeiro de 2006, 57.156 in-
divíduos observaram 61.579.355 pássaros, com um número surpreenden-
te de corujas em movimento, e um número decrescente de grosbeaks (aves
de bicos cônicos) noturnos. Esses dados foram utilizados no Christmas Bird
Richele Grenge Vignoli
104
Count10, uma das principais fontes de dados para a elaboração de artigos
de pesquisa revisados por pares e para avaliar a migração e o declínio de
espécies de pássaros na América do Norte. Além dos dados coletados sem
nenhum custo, o expressivo número de participantes da pesquisa e dos
pássaros analisados indicam como a ciência cidadã trabalha em conjunto
com populares, mas com interesses em comum. Os resultados da pesquisa
foram de interesse tanto dos populares como dos cientistas, o que demons-
trou um exemplo de quando a ciência consegue atender à sociedade em
suas necessidades genuínas.
Mas a ciência cidadã envolve, conforme enfatizado por Parra (2015),
questões políticas que impactam diretamente na relação da ciência com a
sociedade. No Brasil, o Movimento Ciência Cidadã (MCC), criado em
2012, detalha outros pontos decisivos para a compreensão ampliada da ci-
ência cidadã. Segundo o Movimento da Ciência Cidadã (2012), as noções
de produtivismo da ciência, assim como das relações de produção e consu-
mo e desconfiança de cientistas são características discutidas no “Manifesto
da Ciência Cidadã” produzido em 2013. O Movimento faz referência à
alimentação e à saúde dos cidadãos e a catástrofes ocorridas pela utilização
da energia nuclear em Hiroshima e Nagasaki, Chernobyl e Fukushima.
Trata-se de um documento que aborda diversos assuntos polêmicos e
desastrosos envolvendo a ciência e a indústria, possuindo efeitos diretos na
sociedade e em como a união entre cientistas e populares pode mudar esses
cenários. A intenção do manifesto é pelo fim da mercantilização da ciência,
pela consideração do saber popular e por uma ciência democrática, com
impacto e responsabilidade social.
É necessária uma mudança estrutural e comportamental na academia e
nos modos de se fazer ciência que atravessam séculos. As rupturas necessárias
são circunscritas não somente no aceite do imbricamento ou aproveitamento
do conhecimento popular como substrato para o fazer científico, mas na
inserção direta desses atores na própria ciência. Santos (2008) discutiu
essas questões quando relacionou o paradigma dominante e o emergente
da ciência. No paradigma dominante da ciência moderna, que é fechado,
estático e auto conduzido a verdades irrefutáveis, o “[...] cientista [é] um ig-
10 Disponível em: https://www.audubon.org/conservation/science/christmas-bird-count. Acesso em: 10 ago. 2023.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
105
norante especializado [...] [e o] cidadão comum um ignorante generalizado
(Santos, 2008, p. 88).
Não por acaso, a ciência pós-moderna procura unir ou reabilitar o
senso comum (Santos, 2008), o conhecimento público e vulgarizado às
tessituras da ciência. O ensejo realiza-se no ideal em que a ciência pós-mo-
derna recolha do senso comum substratos para o fazer científico e o devol-
va à sociedade em outros conhecimentos úteis e legíveis a todo cidadão,
como aconteceu no caso dos pássaros.
Outro ponto crucial para compreender as manifestações contempo-
râneas do conhecimento na sociedade, na ciência e nos ambientes em que
a Ciência da Informação deve se prospectar para entender seus fenômenos
de investigação, repousa no papel do autor. Para Lévy (1993), o papel do
autor e da gravação que garantia a totalidade das obras está em segundo
plano na cibercultura, pois o principal modo de comunicação de conteú-
dos culturais na contemporaneidade é a palavra. A palavra não necessita
de gravação para seguir seu fluxo entre novos autores, intérpretes e artistas.
Ela pode ser escrita, cantada, pintada e sempre remixada, reconstruída,
reconstituída por outros autores. A noção de autor como estado jurídico
e econômico perde sua significância diante das possibilidades da web. É o
que já acontece nas redes sociais online em que qualquer sujeito de infor-
mação se torna um prosumer – indivíduos com ou nenhum conhecimento
técnico ou cientifico que criam, recriam e divulgam informações na web.
Na crítica de Lévy (1993), a criação de grandes obras, conteúdos
literários ou artísticos é possível e sem a urgência de uma autoria única. É
o caso web social como fenômeno discutido na web 2.0 (O’Reilly, 2005),
em que a construção de conhecimento é colaborativa.
Outro contexto das redes sociais online que recontextualiza a noção
de autor está disposta nas fanfictions. As fanfictions podem ser definidas na
“[...] produção de histórias ficcionais, baseada em ícones da cultura popular,
escritas por fãs que não se contentam apenas com o conteúdo original, mate-
rializando-se através das fanzines11 (Silva; Sabbag; Galdino, 2017, p. 1257).
11 As fanzines são revistas criadas pelos fãs, baseadas em algum quadrinho específico, portanto, o nome é uma
adaptação de magazine (fan + magazine)” (Silva; Sabbag; Galdino, 2017, p. 1257).
Richele Grenge Vignoli
106
Os modos de produção das fanfictions são descritos na variação
de formas, formatos, mídias e linguagens, em um todo híbrido de
possibilidades de publicações. Suas publicações ocorrem em fandoms, que
são construídos por “[...] comunidades de fãs que compartilham produ-
tos, experiências e trabalhos de seu objeto de veneração” (Silva; Sabbag;
Galdino, 2017, p. 1257).
Nos objetos de veneração e que unem fãs podem ser encontrados
bandas, filmes, livros, séries de televisão, histórias em quadrinhos e outros
elementos da cultura pop. Entre suas nuances, os fandoms produzem co-
nhecimentos de forma colaborativa e na reconstrução da noção de autor
nas redes sociais e na virtualização. Nesse sentido, Silva e Sabbag (2020)
esclarecem que as ações e produtos dos fãs de forma colaborativa e sem
contratempos de direitos autorais, só são possíveis por não envolverem re-
tornos financeiros. De qualquer forma, a autoria é coletiva nas fanfictions e
fandoms e a autoria e história principal são expandidas para outros enredos,
finais e entornos.
No contexto científico, as redes sociais online acadêmicas como
ResearchGate, Academia.edu e mesmo o Facebook têm sido utilizadas por
pesquisadores para a comunicação e divulgação de suas pesquisas. Há
uma necessidade de tornar o conhecimento científico mais próximo da
população, do cientista se tornar mais visível e possuir seguidores como
em qualquer outra rede social. Apesar de objetivos, às vezes diversos, nas
redes sociais acadêmicas pelos cientistas, esses recursos demonstram a
aproximação entre a academia e a população no geral.
Diante da pandemia da COVID-19, muitos pesquisadores utiliza-
ram as redes sociais online para o esclarecimento de assuntos que antes
ficavam facultados a ambientes e publicações científicas. Cientistas das
mais variadas áreas do conhecimento disponibilizaram vídeos, criaram
canais e se abriram ao debate e popularização da ciência e conhecimento
científico a fim de esclarecer a população em temáticas de saúde públi-
ca, especialmente frente às dúvidas em relação à vacina da COVID-19.
Observa-se um movimento em prol de tornar a ciência mais acessível às
massas e, ao mesmo tempo, buscar seu status de conhecimento confiável
perante a sociedade.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
107
Diante do novo cenário de contexto da disponibilidade e abertura
do conhecimento e da cadeia documental, Méndez (2015) disserta a res-
peito dos atores envolvidos nesses processos, qualificados como Knowledge
stakeholders, formados por:
os autores da informação são vistos em outras dimensões e pro-
priedades intelectuais que não interferem em seus direitos mo-
rais, mas que expandem direitos de exploração em licenças cria-
tivas sem limites na rede;
os editores devem criar novos modelos de revisão por pares e de
negócio, como o data mining;
os bibliotecários, documentalistas ou profissionais da informação
necessitam enfrentar não mais milhares de átomos, mas milhões
de bits advindos do big data, da ciência e da educação aberta.
Na linha de raciocínio, segundo Parada (2015), a Ciência da
Informação como líquida e pós-moderna exigirá profissionais treinados e
compromissados com o Creative Crommons (CC) e instrumentação em
licenças livres para fomentar o acesso público e gratuito à informação. Será
preciso discutir a respeito da propriedade intelectual acerca de bens cultu-
rais e suas limitações, o que para o autor é um tabu na área. Isso significa
que o profissional da informação necessitará dominar o manuseio das li-
cenças de acesso a informação para prosseguir com sua disseminação de
forma legal.
Os profissionais do futuro serão pautados em questões legais e éti-
ca cidadã no emprego livre da informação. Parada (2015) acredita que o
acesso público a documentos envolverá contextos judiciais aos quais bi-
bliotecários ainda não estão preparados. De acordo com o autor, muitos
profissionais não aceitam a ideia que todos os documentos são para todos,
mas ao contrário, será necessário limitar ao máximo o uso privado e aluga-
do (rentado) da informação.
Nos desafios da disponibilização da informação e do conhecimento
abertos, os profissionais da informação, assim como a Ciência da Informação
Richele Grenge Vignoli
108
e a Organização do Conhecimento, possuem diante de si um todo informa-
cional a ser gerido e organizado não mais apenas para cientistas, mas para
todo sujeito da informação. Por isso, defende-se que a informação líquida
como aberta se configura em uma nova estrutura para a formação do co-
nhecimento que gera informação. A ciência aberta e outras iniciativas de
movimento aberto possuem como premissa o alcance a públicos diversos
e não compostos apenas de cientistas. Nesse sentido, a ciência cidadã visa
ultrapassar barreiras entre cientistas e populares na construção do conheci-
mento e informação na formação de um todo conexo e coeso para soluções
da ciência que impactam diretamente a vida em sociedade.
Nas redes sociais online, muitos sujeitos da informação, cientistas ou
não, constroem conhecimento nas mais variadas áreas do conhecimento
e esferas da vida cotidiana. Esse conhecimento não tem sido reconhecido
com valor na Ciência da Informação, ao ponto de ser incorporado em suas
práticas e estudos de investigação. Há um descompasso na ciência prati-
cada pela Ciência da Informação diante das necessidades e urgências dos
sujeitos da informação da pós-modernidade. Há também, uma espécie de
decisão classista a respeito dos conteúdos a serem tratados no escopo da
Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento. Essas decisões
decorrem das escolhas entre o conhecimento a ser organizado nas áreas,
que pode ser iniciado a partir de sua aquisição ou decisões que definem a
quem os produtos informacionais da Ciência da Informação visam aten-
der. Se a Ciência da Informação é projetada para um público técnico-cien-
tifico tem-se aí uma escolha classista, por exemplo. Nesse caso, a Ciência
da Informação poderia ter aderido mais ao título da informatika russa que
sempre deixou claro que seus objetivos eram voltados à informação e co-
municação científica.
A situação é crítica, pois a Ciência da Informação atua como uma
ciência moderna e não social, pois não aceita o conhecimento das massas,
dos sujeitos da informação que busca atender e entender em seus com-
portamentos de informação. Isso significa que somente o conhecimento
científico e, possivelmente com valor em relação ao das massas, é que pode
ser organizado na Ciência da Informação. Pensamentos como esses são
oriundos de ciências modernas que visam separação total com o senso co-
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
109
mum ou não cientistas, que desclassificam as ciências sociais como dotadas
de fragilidade metodológica e que se identificam com o conhecimento fun-
damentado em métodos científicos rígidos e irrefutáveis.
O autor continua a ser visto como sumidade e suas obras são valora-
das somente quando gravadas e institucionalizadas por entidades creden-
ciadoras como editoras ou agências de fomento. Para isso, do senso comum
o conhecimento deverá partir e para ele deverá servir ou atender, que é a
própria sociedade. A sociedade não é feita somente de cientistas ou espe-
cialistas e é nesse sentido que o conhecimento e a informação tratados na
Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento devem ser di-
recionados. A ciência utiliza a realidade, o próprio senso comum das redes
sociais, por exemplo, como substrato para novos objetos de investigação.
As redes sociais se tornaram verdadeiros universos plurais de pesquisa.
Nenhum conhecimento científico deve ser desenvolvido somente para
outro cientista ou para uma área, mas para a sociedade e sua melhoria.
Conquanto, advoga-se que o conhecimento desenvolvido em outros
estratos além do científico, técnico e empresarial necessita ser incorporado
ao núcleo de estudos e práticas da Ciência da Informação e da Organização
do Conhecimento. Como um conteúdo híbrido, o conhecimento plural
e advindo de toda e qualquer realidade poderá ser tratado pelas áreas, po-
rém, sob novas formas, instrumentos ou processos que o qualifiquem com
valor e utilidade à população. Na informação líquida, a disponibilidade e
abertura do conhecimento, da informação ou dos dados indica claramente
que estes estão expostos a outras e novas conjecturas e produções que soli-
citam à Ciência da Informação e à Organização do Conhecimento novos
reposicionamentos e ações.
110
111
A   

A informação líquida e rizomática é conectiva, heterogênea, aconte-
ce na multiplicidade, está apta a rupturas, é contra o decalque, dicotomias
e estruturas fechadas, está em movimento cartográfico, desmaterializada e
no polo virtual.
Assim como o rizoma, a informação líquida aponta para todos os
lados (conexão), mas não se fixa em nenhum. A informação líquida não
se fecha em sistemas, hierarquias ou estruturas, tal como é um rizoma. O
discurso segue na direção de uma revisão do objeto informação tratado na
Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento como um do-
cumento materializado e preso a estruturas. Tal materialidade e estrutura,
por muitas vezes, buscam impedir a informação de sua força de expansão
e de movência entre entidades virtuais no próprio ciberespaço. Ainda que
o registro da informação como uma espécie de gravação ilusória aconteça
no polo virtual, será sempre uma circunstância efêmera e fugidia - líquida.
Como não é possível garantir localidades, permanências, formas ou for-
matos, além de outros elementos, a busca do registro e da materialidade
da informação e do conhecimento no polo virtual, é sempre o desejo de
encontro de estruturação tanto da informação quanto do conhecimento
movido por interesses que não cabem na esfera da informação líquida.
Richele Grenge Vignoli
112
O rizoma proposto por Deleuze e Guattari (1995) é discutido como
modo de evidenciar o distanciamento de entidades que anunciam e for-
çam a matéria e materialização dos objetos na Ciência da Informação e
na Organização do Conhecimento. Tanto as entidades como os sentidos
únicos e, portanto, fixados, podem ser visualizados nas representações a
que o conhecimento e a informação recebem na Ciência da Informação e
na Organização do Conhecimento. As representações do conhecimento
e da informação seguem como condicionantes estruturados em hierar-
quias, em que seus sistemas de tratamento são deterministas e determi-
nantes (Sales, 2018).
O primeiro ponto de discussão na teoria do rizoma de Deleuze e
Guattari (1995) se refere aos modelos de livros mencionados pelos filóso-
fos. Nas analogias, o livro, o enredo ou a história, assim como seu (s) ator
(es) são fechados em si como na árvore mundo que é a sua própria proje-
ção. No rizoma, essa estruturação encontra como contratempo a ressigni-
ficação, a coautoria, a autoria coletiva, a autoria colaborativa, aquilo para
o que o livro - mundo não se preparou. O rizoma que segue na direção
oposta do livro - mundo é uma indicação que o mundo não funciona ou
não funciona mais preso às suas raízes.
No primeiro e segundo livro dos filósofos, a busca do Uno é como
um processo da Modernidade que fracassou e que, ao mesmo tempo,
vigorou na pós-modernidade. O Uno se transformou em vários, diversos,
múltiplos e em evidência no ciberespaço e no sujeito hibridizado à má-
quina. Aquilo que ainda está preso ao sistema-radícula e que é estrutura
determinante não pode impedir os movimentos e manifestações dos obje-
tos e tampouco de seus sujeitos. O Uno não se mantém como um, não no
polo virtual. À Ciência da Informação e à Organização do Conhecimento
cabe a compreensão de que os objetos únicos estão se desfazendo. A busca
pelo Uno e unificação na virtualização (desmaterialização) acarretará
frustrações prováveis.
Em relação ao autor e ao Uno, este se torna múltiplo no rizoma e
diante de sua manifestação no polo virtual. Com base rizomática, o autor
ou autoria são recontextualizados e sua individualidade decorre apenas no
momento de sua criação ou de sua institucionalização em editoras, biblio-
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
113
tecas. Os significados ou sentidos atribuídos pela criação ou obra são des-
conhecidos e indefinidos. Não é possível antevê-los ou precisá-los e é nesse
sentido que o rizoma apresenta suas rotas de fuga mesmo no livro, mesmo
no mundo. Na informação líquida e rizomática, o corpo social possível e
manifestado nos ambientes virtuais representa esses significados e sentidos,
que são diversos e não presos a visões radículas. Também no ciberespaço, o
autor1 se transforma de Uno para Coletivo na situação em que sua criação
se torna uma parte de muitas outras.
O livro continua a representar o mundo, num mundo de caos
em que o sujeito não pode fazer dicotomia e nem se render ao múltiplo
(Deleuze; Guattari, 1995). A busca dos pontos de equilíbrios força o sujei-
to a se manter no controle. Mas, ainda assim, o sujeito não deve se prender
à árvore-mundo e suas raízes. As suas identidades desamarram-se na virtu-
alidade e são admitidas no ciberespaço, na pós-modernidade e diante da
informação líquida.
A informação líquida é debatida entre os princípios de Deleuze
Guattari (1995). No 1º e 2º - Princípios de conexão e de heterogeneidade,
que ocorrem quando a conexão entre qualquer ponto é ressaltada como
uma das características do rizoma, estende-se sua representação a infor-
mação líquida. Na conexão que pode ser compreendida entre sujeitos da
informação, informações, hiperlinks, redes, tecnologias e outros elementos
conectados uns aos outros, a informação líquida como um rizoma, não
interrompe suas conexões. Seus fluxos continuam em conexão e em devir
e, por isso, não há necessidade de cessação ou finalização conectiva. Para
Monteiro (2003), o princípio de conexão e heterogeneidade de Deleuze e
Guattari (1995) remete aos próprios hipertextos com seus hiperlinks que
conectam nós híbridos em outros nós semióticos, sonoros e imagéticos. Os
hipertextos não interrompem as conexões, que de nó em nó continuam
seu movimento.
No princípio da conexão, a informação líquida busca conectar-se a
qualquer ponto, mas conectar e não fixar conexões. Como líquida, suas
conexões se autorrealizam e se autodestroem em devir ininterrupto. Dessas
As próprias fanfictions demonstram um exemplo de reconfiguração de autoria, dos significados atribuídos e
das rotas de fuga no ciberespaço.
Richele Grenge Vignoli
114
conexões fugidias, outras apontam para outros lados e conexões. As cone-
xões entre os sujeitos da informação no ciberespaço e as realizadas entre
uma informação e outra são exemplos na contextura da liquidez da infor-
mação nos rizomas. Essas conexões não são dicotômicas – estão sempre
entre os objetos e suas realidades em devir.
No princípio da heterogeneidade visto na língua e na linguagem,
a informação líquida projeta-se sobre todas elas e suas possibilidades em
agenciamentos vários e maquínicos. Não há traçados, demarcações ou fe-
chamentos. O que ocorre é a hibridez de todas as linguagens (Lévy, 1993,
1999, 2011, 2014; Santaella, 2004, 2007, 2014).
No tocante à linguagem com estrutura arbórea, Deleuze e Guattari
(1995) inferem que se trata de estruturações demarcadas que impedem
seu crescimento, sua expansão e conectividade. Como crítica, Deleuze e
Guattari (1995) evidenciam que uma cadeia semiótica é composta tam-
bém por atos perceptivos, mímicos, gestuais, cogitativos e que a língua não
existe em si. Sem seus executantes, a língua não seria uma entidade viva.
Não há do mesmo modo, uma universalidade da linguagem, mas muitos
dialetos, gírias, línguas especiais. Se a língua se fecha em si, demonstra sua
impotência. Qualquer tentativa de universalização ou fechamento estrutu-
ral da língua ou da linguagem seria condicioná-la a um tipo de ostracismo
ou ao que de fato não são.
No sentido dos autores, Monteiro (2003) acrescenta que a linguís-
tica com seu estruturalismo, não compreende a multiplicidade da língua
e da linguagem e que, por isso, não pode ser rizomática. Os processos lin-
guísticos não podem apontar para somente um lado quando a natureza da
linguagem é dinâmica e enérgica.
Também na Ciência da Informação e na Organização do
Conhecimento, a busca por significações ou linguagens exatas que re-
presentarão seus objetos está fadada ao insucesso. Em específico, na
Organização do Conhecimento, o uso de sistemas, hierarquias e lingua-
gens de indexação atuam no sentido oposto do rizoma. São estruturas que
condicionam o conhecimento e a informação em uma espécie de círculo
vicioso em que os sistemas, hierarquias e linguagens não se modificam ou
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
115
se modificaram muito ao longo do tempo, mas continuam em utilização
para Organização do Conhecimento. Essas estruturas em uso são determi-
nantes porque já foram assentadas e estão além do tempo, da contempora-
neidade. Não acompanham o desenvolvimento da língua, da linguagem,
do conhecimento, da informação e das formas pelas quais os sujeitos da
informação se comunicam ou se informam. São como objetos amorfos
para organizar entidades vivas e pululantes, como o que se compreende no
dinamismo da informação líquida e no rizoma. Moreira (2010) também
compreende que o primeiro princípio do rizoma dos filósofos se aplica a
Organização do Conhecimento, porque é contrário às diversas formas de
hierarquia, estrutura ou moldes utilizados nos processos de representação
do conhecimento.
No 3º princípio de Deleuze e Guattari (1995), que trata da multi-
plicidade, sua relação com o Uno e entre dicotomias como entre sujeito e
objeto são ceifadas. Na informação líquida, o princípio da multiplicidade
é aplicado ao se distanciar de dicotomias e do desejo de unificações que, ao
mesmo tempo, se relaciona a necessidades estruturais ou hierárquicas que
a Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento possuem ou
já possuíram.
A multiplicidade se distancia de unificações, individualizações - é
uma instância de agregação e de heterogeneidade, no que segue no fluxo
no 1º e 2º princípios do rizoma. O princípio da multiplicidade segue na
oposição da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
em alguns aspectos, porque há colisão de princípios. As áreas buscam des-
de os seus surgimentos, a unificação, a dicotomia - um caminho ou ou-
tro. A unificação das obras, do autor, do local, do conceito, do assunto,
da representação, do sentido, do significado, da linguagem, do sistema.
Representar parece ser a personificação das relações dicotômicas na Ciência
da Informação e na Organização do Conhecimento. Há sempre um único
caminho a seguir.
Em sua multiplicidade, as figuras de sujeito e objeto, obra e autor
são ilusórias, irrelevantes e não aplicadas. É preciso transcender o ideal de
coisas feitas por uma única pessoa, e dessas coisas feitas para possuírem um
significado pré-determinado. É nesse sentido que o livro tem suas rotas de
Richele Grenge Vignoli
116
fugas e suas velocidades, e isso independe do que seu autor antecipada-
mente demarcou. Nos ambientes virtuais, o conhecimento e a informação,
da mesma forma, não respondem a determinantes pré-estabelecidos e a
condicionantes autorais.
Monteiro (2003) comenta a multiplicidade citada pelos filósofos por
meio do paradoxo de sentido e das relações dicotômicas que apontam sem-
pre para um único sentido, o sentido único. Com base em fechamentos
físicos e semânticos, Monteiro (2003) informa que é possível seguir em
duas direções, ao mesmo tempo, ao ligar contextos de criação e sentidos
múltiplos. Não é somente o sentido único que deforma o rizoma, mas a
falta de consideração de sua multiplicidade. Ao realizar um fechamento
físico, por exemplo, ignora-se toda a multiplicidade de formas, formatos,
suportes e possibilidades virtuais do objeto informacional. O fechamento
cessa o rizoma e, assim, ele não pode mais apontar. Os fechamentos ou
incisões dicotômicas interrompem o movimento e a fluidez da informação.
A informação líquida almejará a multiplicidade dos acontecimen-
tos por meio do conhecimento e informação vívidos e atuais; por sujei-
tos da informação descentralizados e como autores coletivos, múltiplos
e conectados a outros; por grupos e formações sociais concebidas em sua
própria multiplicidade, assim como deve ser o tratamento da informação
e do conhecimento na Organização do Conhecimento e na Ciência da
Informação. Se a informação líquida é múltipla e plural, não pode se fechar
em dicotomias.
Nesse sentido, defende-se que a informação líquida age do mesmo
modo no polo virtual ao se conectar e reconectar a outros objetos, sujeitos,
espaços, rizomas. Cada conhecimento novo tem sua natureza transforma-
da em cada nova conexão. O processo é infindável, assim como é a polari-
zação do conhecimento como entidade virtual e líquida.
No 4° princípio do rizoma que se refere a rupturas, inclusive nos
significados únicos (a-significante), também é esperado que estas ocor-
ram na informação líquida, na Ciência da Informação e na Organização
do Conhecimento. Assim como no 1º, 2º e 3º princípios, o 4º está to-
talmente relacionado ao raciocínio dos demais e segue na contramão de
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
117
estruturas condicionantes em seus entornos e de modo equivalente na
informação líquida.
As rupturas estão previstas nos rizomas como em suas rotas de fuga
ou na formação de outros rizomas como grupos marginais. Os grupos
marginais são outros rizomas que se formam a partir das frestas ou fissuras
dos rizomas originais. São seus escapes ou rotas de fuga que estão previstos
e esperados.
Com a realidade contemporânea, não é mais possível calcar signi-
ficados e significantes e conter a formação de grupos marginais. Os sig-
nificados e sentidos como a-significantes estão abertos e não fechados em
univocidades. Os grupos marginais tanto podem tentar conter o poder em
um rizoma, quanto pode buscar ou sucumbir a ele. A comparação com as
reações de poder que uma informação pode causar em instância política
ou em decisões de saúde, são exemplos de microfascismos a que Deleuze e
Guattari (1995) fizeram alusão nas rupturas rizomáticas. Quando grupos
marginais se formam, novos elementos de poder podem emergir. Não é
possível prever ou conter essas formações ou seus movimentos.
Também no campo científico, linhas de poder são exaltadas e uni-
ficações são instauradas por comunidades científicas, cientistas, áreas do
conhecimento. As conjecturas da Organização do Conhecimento atuam
no sentido de demarcações ou fechamentos antes condicionados à existên-
cia aceita por sua comunidade científica. Seus sistemas de Organização do
Conhecimento são prescritos e há pouca ruptura para além de sua ordena-
ção. Não há formas muito disformes das aceitas para organizar o conheci-
mento e a informação fora da alçada da linha de pensamento da Organização
do Conhecimento. Nesse sentido, a informação líquida propõe rupturas
na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento.
Deleuze e Guattari (1995) dissertam acerca das raízes que encon-
tram uma rota de fuga, que fogem para a formação de rizomas. Essas raízes
ultrapassam a terra que as penetra, e com vivacidade surgem na superfície.
Elas buscam fazer rizoma com outras plantas, com os animais, com os
homens – com toda a multiplicidade que estão à sua volta. A informação
líquida é essa raiz rebelde que busca na multiplicidade de seus entornos,
Richele Grenge Vignoli
118
ramificar-se com outras realidades para além do que já se tem como de-
marcado na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento.
Tais demarcações, como as relacionadas à materialidade ou registro da in-
formação são rupturas necessárias à informação para que o objeto possa ser
compreendido como uma entidade líquida e que engloba esferas para além
de estruturas limitantes.
A informação líquida, assim como o rizoma em suas rupturas previs-
tas, quer se conectar com outros objetos heterogêneos, múltiplos e na ana-
logia, não quer ser árvore ou raiz. A informação líquida quer realizar cone-
xões e nós entre grupos, entre concepções, e com toda a multiplicidade de
entornos que a ela se apresentam. A informação líquida se aplica ao prin-
cípio da ruptura porque também se encontra entre quebras (paradigmas,
conceitos, discursos e teorias estagnadas), rupturas (materialidades, regis-
tro) e construções (seu papel na Ciência da Informação e na Organização
do Conhecimento). Mais que um desejo, a informação líquida e rizomáti-
ca alerta a Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento para
a necessidade de rompimentos com o que já foi superado, amplamente
discutido e, principalmente, para discussões que abram novos objetos de
investigação. A Ciência da Informação tem em seu objeto, crenças e obje-
tivações enraizadas, que já não representam o mundo. Urge a necessidade
de romper com tais crenças enraizadas.
No 5º e 6º princípio da cartografia e decalcomania de Deleuze e
Guattari (1995), os autores são efetivamente contrários a modelos de mun-
do estruturais, de estruturação profunda ou gerativos. O decalque inter-
rompe o mapa, a sua mobilidade e cartografia. Por isso, analisa-se o decal-
que na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento a partir
de frações dos filósofos em que o decalque:
“Ele é antes como uma foto, um rádio que começaria por eleger
ou isolar o que ele tem a intenção de reproduzir, com a ajuda de meios
artificiais, com a ajuda de colorantes ou outros procedimentos de coação
(Deleuze; Guattari, 1995, p. 22). O decalque pode ser referido nos fecha-
mentos classistas ou semânticos do processo de tratamento da informação,
em que seus conteúdos são eleitos ou isolados por escolhas. Os meios ar-
tificiais não seriam outra coisa senão as próprias linguagens controladas
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
119
como os tesauros, cabeçalhos de assuntos e outros, que juntamente com
as escolhas ou decisões exercem papel coercitivo sobre o conhecimento e a
informação a serem inclusos na Ciência da Informação e na Organização
do Conhecimento;
“É sempre o imitador quem cria seu modelo e o atrai” (Deleuze;
Guattari, 1995, p. 22). Não seriam os próprios profissionais da informa-
ção, imitadores do conhecimento por meio de produtos informacionais
derivados deles mesmos? A arte de representar não deixa de criar modelos
em uma constante de atração e repetição, são espécimes de cópias. O ato
de representar não são as cópias, o decalque, mas o uso da representação
de maneira igual por outras unidades de informação sem considerar suas
peculiaridades e seus sujeitos da informação, por exemplo, é cópia da re-
presentação e, logo, são decalques, imitações.
“O decalque já traduziu o mapa em imagem, já transformou o rizo-
ma em raízes e radículas. Organizou, estabilizou, neutralizou as multipli-
cidades segundo eixos de significância e de subjetivação que são os seus
(Deleuze; Guattari, 1995, p. 22). À Ciência da Informação e à Organização
do Conhecimento são o próprio decalque e a semelhança ao ler a descrição
dos filósofos é fatídica. A afirmação se refere aos paradigmas, às teorias, aos
discursos já decalcados nas áreas. Aludem também aos sistemas e às formas
de organizar e tratar a informação e o conhecimento nas áreas. Essas for-
mas, que decorrem de processos e sistemas, são, na maioria das vezes, cal-
cadas em modelos prontos e utilizados de modo universal, são decalques.
A Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento já se
organizaram em modelos arbóreos, radículos e em raízes estruturantes e
estruturadas. Nesse enraizamento, a multiplicidade do conhecimento e da
informação tem dificuldade de se sobrepor, por exemplo, nos ambientes
virtuais, em objetos pululantes, cambiantes, não estruturados, flexíveis e
descentralizados. Conforme aponta Sales (2018), a busca na Organização
do Conhecimento deve ser por rizomas do conhecimento, por entida-
des fluidas, móveis e indomáveis. A crítica do autor se refere aos modos
estáticos e fixados que a Organização do Conhecimento tem utilizados
para tratar e organizar o conhecimento humano. Em sua proposta, mais
Richele Grenge Vignoli
120
valeria à área se prospectar em esquemas rizomáticos do conhecimento ao
torná-lo uma entidade flexível e não estruturante.
“Ele gerou, estruturalizou o rizoma, e o decalque já não reproduz se-
não ele mesmo quando crê reproduzir outra coisa. Por isto ele é tão perigo-
so. Ele injeta redundâncias e as propaga” (Deleuze; Guattari, 1995, p. 22).
A respeito do destaque na afirmação dos autores, é importante questionar
se a Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento já não agem
desta maneira. Se as áreas trabalham no sentido de suas estruturas e se
apresentam fechadas em si mesmas, para quem ou para o que atuam? Dito
de outra forma, para quais sujeitos da informação e para quais realidades a
Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento visam à aplica-
ção de seus construtos teóricos e práticos? Como explanado por Deleuze e
Guattari (1995), esse movimento é perigoso e as áreas podem sucumbir a
demandas centralizadas em seu ofício, esquecendo de sua utilidade social.
É preciso cautela para que a Ciência da Informação e a Organização do
Conhecimento não atuem ou produzam conhecimentos sobre e para si
mesmas, se já não o fazem.
“O que o decalque reproduz do mapa ou do rizoma são somente
os impasses, os bloqueios, os germes de pivô ou os pontos de estrutura-
ção” (Deleuze; Guattari, 1995, p. 22, grifo nosso). O que a Ciência da
Informação e a Organização do Conhecimento fazem em rizoma no senti-
do de conexões é, muitas vezes, a propagação de problemas ou discussões
anacrônicas, indissolúveis ou de necessidade não mais aplicada ao contexto
histórico, cultural e social atuais. São discussões ou problemas já supe-
rados, vistos, por exemplo, em novas formas de mediar a informação a
cada novo suporte lançado, no debate dos autores mais citados, no uso da
tecnologia mais utilizada, em discussões paradigmáticas que em nada su-
peram os estudos anteriores, em como seria se a Ciência d a Informação ti-
vesse incorporado a epistemologia social ou outros assuntos correlatos. Há
a disseminação consistente de pressupostos estruturantes que o tempo deve
manter inalterável e não de teorias que, como epistemologia da Ciência da
Informação, devem fundamentar subáreas e abordagens consecutivas.
Já no mapa e na cartografia, a intenção é por sua abertura e desco-
berta nos rizomas e na informação liquida. O mapa é líquido, o mapa é
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
121
a informação líquida em uma de suas facetas, a da abertura, da mudança
constante, da reconexão, reconstrução ininterrupta.
Na discussão rizomática na Organização do Conhecimento, o de-
calque necessita ser vencido. O decalque é o que amarra a Organização
do Conhecimento às suas raízes, ao que não deve ser alterado, às suas tra-
dições. Deverá ocorrer o reconhecimento da potência dos devires, o que
é “[...] algo bastante cruel à organização e representação do conhecimen-
to [...]” pois necessitará ocorrer o reconhecimento de que existe algo ou
objetos que não podem ser “[...] capturados pelos sistemas, reconhecer a
força de algo indescritível, móvel, múltiplo e indomável” (Sales, 2018, p.
267). Se e quando a Organização do Conhecimento estabelecer esse reco-
nhecimento, suas estruturas, práticas, teorias, manuais e forças coercitivas
passarão por mudanças drásticas em sua operalização. Resta saber quando
a Ciência da Informação estará apta a esses rompimentos e renovações que
modificarão sua utilidade na sociedade. Sobeja também compreender se
a Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento estão aptas
para aceitar os desafios impostos na liquefação de seu objeto, a informação.
Quando as mudanças ocorrerem, a informação e o conhecimento já deve-
rão ser recontextualizados e, principalmente, tratados de outras maneiras
ainda desconhecidas. O que se pode afirmar, até aqui, é que a informação
líquida não pode ser compreendida e organizada sob as estruturas limitan-
tes e fixadas da Organização do Conhecimento.
Em relação aos decalques, as tentativas de universalização ou mundia-
lização do conhecimento realizadas na Biblioteconomia ou Documentação
despontam para o seu fracasso, pois a multiplicidade é e já foi ignorada
nesses construtos (Moreira, 2010). As tentativas de universalização são vis-
tas nos códigos de classificação como a Classificação Decimal de Dewey
(CDD) e, na Documentação, no Mundaneum. O passado demonstra que
a universalização do conhecimento e disponibilização da informação não é
uma prática ideal diante da multiplicidade de atores, contextos, objetos e
outros elementos da pós-modernidade e da informação líquida.
De todo modo, o estudo do rizoma na Ciência da Informação e
também na Organização do Conhecimento tem sido objeto de pesquisa
de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Mostafa (2010) elaborou le-
Richele Grenge Vignoli
122
vantamentos a respeito da filosofia deleuziana nas áreas e especificamente a
respeito do conceito de rizoma.
Entre seus resultados de pesquisa, Mostafa (2010, p. 68) identifi-
cou que o rizoma é investigado na Ciência da Informação entre diferentes
abordagens e autores:
[...] para mapear contextos informacionais como pré-requisito de
modelagem sistêmica (Idem); para demonstrar a originalidade de
Ranganathan (ALMEIDA CAMPOS e GOMES, 2003) ; • para
relacionar o rizoma às relações associativas do tesauro (BATISTA,
2004); • para reposicionar a maneira como Paul Otlet entende o
livro e a escrita no espaço social (DAY, 1997); • para demonstrar
as limitações da classificação decimal de Dewey no tema das
religiões afrodescendentes (MIRANDA, 2007); para demonstrar
interações entre ambientes de aprendizagem (MOSTAFA, 2006);
• para todo o conjunto das análises de ciberespaço • memória
(MONTEIRO; CARELLI; PICKLER, 2006; DODEBEI;
GOUVEIA, 2008); • aspectos filosóficos do virtual (MONTEIRO,
2004) • mecanismos de busca (MONTEIRO, 2006) • para todo
o conjunto das análises de ciência • o dinamismo das práticas
de pesquisa como zonas ambíguas (SUKOVIC, , 2008) • redes
cognitivas na própria Ciência da Informação (PINHEIRO;
SILVA, 2008) • a Ciência da Informação como campo múltiplo
de atuação (AQUINO, 2007) • para pensar a trajetória de uma
associação de pesquisa em Ciência da Informação (BARRETO,
2009) • para pensar a interdisciplinaridade na Ciência da
Informação (PAIM et all, 2001).
Conforme levantamento de Mostafa (2010), apesar da diversidade
das pesquisas, a maioria concentra-se nos estudos do rizoma na Organização
do Conhecimento. Também de acordo com Benevenutto, Silva e Mostafa
(2015), o estudo do rizoma na Ciência da Informação já está consolidado.
Contudo, acredita-se que a proporção de estudos a respeito do rizoma em
comparação a outros temas filosóficos, ou filósofos discutidos na Ciência
da Informação, não é substancial para tal afirmação.2
Um breve levantamento em nível nacional foi realizado para sustentar o posicionamento. A partir do termo
rizoma” consultado na Base de Dados em Ciência da Informação (BRAPCI), apenas 22 trabalhos foram
recuperados no período de 1972 a 2023. Entretanto, nem todos os textos dissertam a respeito do rizoma.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
123
No estudo mais recente de Sales (2018), o pesquisador buscou in-
dicar as questões rizomáticas e do devir deleuze-guattariano, em especí-
fico na Organização do Conhecimento. Os objetivos de sua reflexão vão
ao encontro dos defendidos nessa pesquisa e na informação líquida. Sales
(2018) focou a análise do rizoma em uma Organização do Conhecimento
menos previsível e determinista e em oposição aos instrumentos utiliza-
dos na área para organizar o conhecimento e a informação. A pesquisa de
Monteiro (2003), Monteiro e Abreu (2009) e Moreira (2010) seguem a
mesma vertente.
Sales (2018) informa que se trata de um estudo que visou investi-
gar uma aplicação de conceitos filosóficos aos instrumentos utilizados na
Organização do Conhecimento. Desse modo, o autor definiu como desa-
fio aproximar a organização e representação do conhecimento às aborda-
gens da inteligência artificial, especialmente no aprendizado de máquina e
com base no conceito de rizoma e devir de Deleuze e Guattari (1995). Sua
intenção é propor rizomas do conhecimento em substituição aos sistemas
de Organização do Conhecimento.
Segundo Sales (2018), as formas pelas quais o conhecimento é organi-
zado ou foi conduzido a ser organizado na Organização do Conhecimento
são combustanciadas por aculturamentos ocidentais sustentados em dis-
cursos de controle, regularidade e nas previsibilidades dessas relações. Não
são formas naturais. Em consequência, o autor prevê que a força do pensa-
mento cultivado é tão ostensiva que os indivíduos foram levados a acredi-
tarem que “[...] categorizar, classificar, hierarquizar, dicotomizar e rotular
são os únicos caminhos possíveis para se relacionar com o mundo” (Sales,
2018, p. 271).
No mesmo sentido, Moreira (2010) aponta que, no ciberespaço, as
representações hierarquizadas, vistas na indexação, por exemplo, assumem
ponto de vista no Uno. Como sistemas Uno, os sistemas de informação
se colocam no isolamento ou assumem validade de diálogo apenas entre
pequenos grupos ou agrupamentos (Moreira, 2010). Retoma-se, assim, a
questão da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
acabarem por atuar para si mesmas ou para sua própria comunidade cien-
tífica. Se as áreas do conhecimento não atuam sobre as realidades contem-
Richele Grenge Vignoli
124
porâneas e para os sujeitos da informação dessas realidades, parece não se
projetar para um corpo social ativo, mas, ao contrário, para os problemas
existentes apenas em seu próprio núcleo. Na situação, é como se as áreas
existissem para a resolução de problemas que só são encontrados em seus
próprios entornos, não há sujeitos ou aplicação da área na sociedade.
Monteiro (2003, p. 21) assume posicionamento diante dos proces-
sos inerentes ao tratamento do conhecimento e da informação e afirma a
importância de: “[...] descartamos a classificação e a catalogação como fer-
ramentas de Organização do Conhecimento no ciberespaço”. A defesa da
autora é por modelos rizomáticos para organizar o conhecimento que não
representarão fechamentos físicos e semânticos como no modelo de árvore
praticado na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento.
Na mesma linha de pensamento encontra-se a informação líquida e ri-
zomática que se afasta de fechamentos e sistemas de Organização do
Conhecimento tangenciados no mesmo sentido.
O “encaixotamento” realizado por sistemas determinados acaba por
ignorar as essências humanas formadas por incertezas e indefinições que
se assemelham muito mais à realidade da mente humana (Sales, 2018).
Tais essências são o que formam e definem os seres humanos, os sujeitos
da informação nessa condição. Quando a Organização do Conhecimento
se esquiva de pensar nos sujeitos da informação e em suas peculiaridades
enquanto agentes transformadores da produção e ações do conhecimento,
desmerece, ao mesmo tempo, o que impulsiona as realidades sociais.
Sob esse prisma, podem ser caros à Ciência da Informação e à
Organização do Conhecimento, os fechamentos que as áreas têm protago-
nizado na definição do conhecimento e da informação que definem como
aptos ao tratamento e organização. É nesse sentido que Deleuze e Guattari
(1995, p. 24) assetam que o pensamento não funciona por árvore ou é
arborescente, e que o cérebro não é uma matéria enraizada ou ramificada,
já que não é estanque. É também sob esse raciocínio que a visão mentalista
da Ciência da Informação necessita ser esquecida.
A simplificação do conhecimento não organizado diante de suas re-
presentações sociais (folksonomias, redes sociais online) leva a Ciência da
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
125
Informação e a Organização do Conhecimento à objetivação pela obje-
tivação. Tenta-se objetivar o conhecimento ao crer que a partir de seu re-
gistro ou materialização, sua condição de sê-lo se perde. O conhecimento
não deixa de ser conhecimento porque foi materializado. O conhecimento
não rompe seu fluxo quando objetivado na materialidade. A representação
apenas o transforma em estratos, frações desse conhecimento inicial e ori-
ginário. A informação e/ou os produtos informacionais são esses estratos
do conhecimento representados, na assertiva a qual o conhecimento não é
arborescente e o cérebro não é uma caixa ou depósito desses.
Também na Organização do Conhecimento, Moreira (2010) cons-
tatou, a partir de abordagem rizomática, que a construção de linguagens
documentárias modernas ocorre por meio de redes de informação, isto é,
por conexões em ambientes virtuais. A conclusão de seu estudo consiste
em que a lógica da árvore (em referência a Aristóteles, Bacon e outros)
utilizada para representar o conhecimento, não expõe “exatamente” o mo-
delo ideal de representação do conhecimento. Diante de sua afirmação, o
modelo rizomático poderia ser a proposta para uma remodelação desses
processos e sistemas na informação líquida.
Conforme discussão aferida nesta seção, a informação líquida é ri-
zomática por demonstrar a versatilidade e abertura que o elemento filo-
sófico propõe ao objeto. O rizoma apresenta-se como uma abordagem ao
tratamento da informação e Organização do Conhecimento na Ciência da
Informação e na Organização do Conhecimento sob pressupostos filosófi-
cos. Sua compreensão por rizoma se configura na informação líquida como
um objeto em oposição ao livro, à árvore-mundo, ao Uno, ao que unifica
e busca estabilização e dicotomização das ideias, sentidos, significados, lin-
guagens e interpretações.
Na informação líquida e rizomática suas conexões estão no ciberes-
paço e entre sujeitos da informação, grupos sociais ou científicos, no co-
nhecimento e na informação desmaterializados que, de conexão em cone-
xão criam outros rizomas. A informação líquida é conectiva por natureza.
A heterogeneidade na informação líquida é a própria existência de
sujeitos e objetos heterogêneos existentes nas mais variadas realidades da
Richele Grenge Vignoli
126
sociedade. Os espaços, lugares e não lugares são heterogêneos, assim como
são o conhecimento e a informação, suas formas, formatos e modos de
criação, apropriação e disseminação. Sujeitos maquínicos e simulações vir-
tuais também constroem conhecimento e informação, e, por isso, a infor-
mação líquida é formada na heterogeneidade em todos os seus entornos.
Na multiplicidade, a informação líquida se encontra em seus senti-
dos não unificadores e que consideram centros ou pivôs decretados. É na
multiplicidade e afastamento do Uno que a informação líquida manifesta
sua diversidade e versatilidade ao englobar sujeitos, realidades, linguagens,
espaços e outros elementos à sua formação. A informação líquida está na
multiplicidade porque é plural em sujeitos da informação, em tipos de
conhecimento e informação, em espaços e em quaisquer outras temáticas
a serem incorporadas ao objeto.
Em suas rupturas, a informação líquida e rizomática tem sua condição
inerente ao rompimento e reconstruções a partir de estratos da realidade, do
conhecimento e da informação gerados na contemporaneidade. Os fenôme-
nos das fake news, por exemplo, são rupturas na informação que formam ou-
tros rizomas. Os rizomas nem sempre agradam ou respondem à expectativa.
As rupturas ou rompimentos são parte da informação líquida ao demons-
trarem sua característica de renovação constante e rotas de fuga pungentes.
Nos decalques, a informação líquida se distancia propositalmente
das condições estruturantes e tradicionais que o objeto informação recebeu
na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento. A busca é
por sua condição como objeto também desmaterializado e suas formas de
organização que não preveem fechamentos de qualquer espécie.
Na cartografia, a informação líquida encontra movimento porque
também não quer determinar entradas e saídas, começos e fins. Nenhuma
dicotomia é de seu interesse, assim como nenhum fechamento ou cerca-
mento. São informações em construção e propícias às manifestações sob
qualquer forma, formato, mídia, tecnologia. São informações desterrito-
rializadas e em constante transformação que não se fortalecem em finaliza-
ções. A informação líquida é cartográfica.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
127
O rizoma é a proposta de um pensamento filosófico aplicado à in-
formação líquida e, ao mesmo tempo, as realidades não contempladas na
Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento na desma-
terialização de seu objeto. Ao ser contrário à ideia de árvore, o rizoma
desponta automaticamente nas relações das árvores do conhecimento
utilizadas como base para organizar e representar o conhecimento. Esses
modelos representacionais não podem mais organizar o conhecimento e a
informação diante da liquefação de suas estruturas no polo virtual. O pro-
blema é compreender como a Ciência da Informação se ajustará à realidade
rizomática da informação líquida.
128
129
A   

O foco das discussões da informação líquida como incomensurável
está voltado às questões de controle da informação nos espaços analógicos
e virtuais, em fenômenos informacionais que afetam a proporcionalidade
e a qualidade da informação e, sobretudo, na informação desmateriali-
zada e como líquida no atributo da incomensurabilidade. Os elementos
são propostos à reflexão diante da práxis da Ciência da Informação e da
Organização do Conhecimento.
A argumentação empregada na informação líquida e incomensurável
se prospeta no impedimento de manter controle no objeto frente às TIC
e, principalmente, diante do polo virtual. Sob esses aspectos, advoga-se
que a informação encontra contratempos em proporcionar algum tipo de
controle, tanto humano como mecânico, na Ciência da Informação e na
Organização do Conhecimento. O controle é como uma face do atributo
da incomensurabilidade, pois atinge a dificuldade em realizar medição,
registro, contagem, contabilização da informação, isto é, de controlá-la. Os
aspectos são potencializados na informação líquida e nos objetos desmate-
rializados no ciberespaço.
Para tanto, a informação líquida e incomensurável divide-se nos se-
guintes quesitos de dificuldade de controle da informação:
Richele Grenge Vignoli
130
entrada do conhecimento e informação nas unidades e sistemas
informacionais;
Organização do conhecimento e da informação;
qualidade da informação compartilhada;
dimensão da informação desenvolvida no ambiente virtual;
uso da informação;
produção de conhecimento e informação;
compartilhamento da informação.
A Ciência da Informação e outras áreas do conhecimento, como a
Biblioteconomia costumam basear suas práticas no ideal de controle da
informação. A Ciência da Informação, nesse caso, volta-se mais ao con-
trole da informação, e a Biblioteconomia, mais recentemente, passou a
se preocupar com o controle da informação em detrimento exclusivo de
seus acervos e usuários da informação. Entretanto, o controle realizado nas
ações dos ofícios das áreas ainda traz resquícios de difícil superação.
O controle, a medição ou contagem da informação a que se refere no
debate direciona-se a práticas como as existentes e praticadas nos serviços
ou produtos de:
controle de aquisição (desenvolvimento de coleções);
controle de vocabulário (terminologia);
vocabulário controlado (Organização do Conhecimento);
controle bibliográfico (Organização do Conhecimento);
controle de uso da informação (circulação);
controle de empréstimo (circulação);
controle de acesso nos catálogos online (gestão da informação);
controle de acesso a bases de dados, websites, redes sociais online
da instituição (gestão da informação);
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
131
controle de acesso presencial (circulação);
controle no estoque (gestão da informação);
controle na disponibilização dos recursos disponíveis ou dispo-
nibilizados (gestão da informação);
aplicação de métricas (bibliometria e outras) e outros.
O que se quer dizer, é que o profissional da informação, de uma
maneira geral, tem trabalhado sob premissas de controle do objeto infor-
mação ou unidades/sistemas de informação com os quais atua.
Quando um profissional da informação atua, impreterivelmente em
espaços físicos, ou de acordo com premissas voltadas à informação obje-
tivada, seu controle, posse e medição podem ser mais expansivos e ir dos
espaços arquiteturais à entrada, entremeio e saída dos materiais da unidade
informacional. Esse profissional ou o conjunto deles, definem a respeito
dos materiais a serem adquiridos na aquisição, permuta ou doação, e exer-
cem o primeiro tipo de controle sobre a informação a ser disponibilizada
na unidade de informação.
Com o uso dos vocabulários controlados, controle de vocabulário e
aplicação de terminologias, a tríade transforma-se em controle termino-
lógico, linguístico e conceitual. São formas convencionais de controlar a
informação em linguagens e termos padronizados e vocabulários contro-
lados e autorizados. A sistemática funcionou razoavelmente bem para os
objetos materializados. Todavia, os profissionais da informação não pos-
suem autonomia para modificar notações dos sistemas de classificações que
utilizam, entre outras mudanças em demais sistemas de Organização do
Conhecimento. É o caso da Classificação Decimal de Dewey, que apre-
senta problemas de preconceitos contra áreas e/ou religiões, por exemplo,
já identificados pelo corpo científico e/ou profissional das áreas (Miranda,
2007).
Outro grande equívoco do sistema de Dewey é que seu sistema ten-
tou ser universal e unívoco, mas não considerou a multiplicidade para or-
ganizar o conhecimento humano, como ponto já destacado por Moreira
Richele Grenge Vignoli
132
(2010). “O sistema de classificação decimal de Dewey não pode ser con-
sertado, porque o conhecimento em si é mutável, diverso, imbuído dos va-
lores culturais do momento” (Weinberger, 2007, p. 57). Por isso, nenhum
sistema que não permita atualizações quase que instantâneas conseguirá
organizar o conhecimento em sua velocidade de criação e modificação.
Como uma saída, Miranda (2007) propõe que os sistemas de Organização
do Conhecimento sejam construídos de forma colaborativa e por metodo-
logias participativas, o que promoveria uma nova ética para a representação
do conhecimento de grupos em minoria (Miranda, 2007).
Mesmo que a Ciência da Informação, a Biblioteconomia e a
Organização do Conhecimento reconheçam os contratempos dos sistemas
de classificação como o de Dewey, pouco podem fazer para modificar tal
realidade. O obstáculo demonstra que, mesmo no tratamento da informa-
ção, e entre as ações voltadas ao controle de vocabulário ou aos números
de classificação para objetos materiais, a situação é dúbia – o profissional
não consegue promover controle sobre o sistema que utiliza para promo-
ver controle de vocabulário. O conhecimento de base para a construção
de instrumentos de Organização do Conhecimento, como anacrônicos,
são sempre frações do conhecimento desatualizado em qualquer área do
conhecimento, por exemplo.
No uso dos sistemas de classificação existentes, o profissional aceita
os sistemas como são e tenta relacionar conceitos mais próximos da rea-
lidade para representar o conhecimento e do modo mais neutro possível.
Sempre haverá a possibilidade de criação de novos sistemas de Organização
do Conhecimento, mas a história demonstra que ainda não foi possível
substituir os sistemas de classificação mais utilizados como a Classificação
Decimal de Dewey, a Classificação Universal Decimal ou o sistema de
Classificação da Biblioteca do Congresso (LCC). Por outro lado, se esses
sistemas não conseguem representar a realidade do conhecimento que se
modifica a todo momento, como podem ser utilizados como instrumentos
normativos para organizar o conhecimento? Como poderão gerar produ-
tos informacionais se o conhecimento da base não corresponde ao compre-
endido na realidade? E, sobretudo, como poderá representar a informação
líquida no polo virtual? Nos entornos e contornos atuais e voláteis da in-
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
133
formação líquida, esses instrumentos não podem representar o conheci-
mento e a informação.
Em outro objeto de controle, o controle bibliográfico como ideal re-
manescente de Otlet e La Fontaine, as ações são voltadas para que diversos
países consigam intercambiar suas bibliografias ao utilizarem mecanismos
e formatos de descrição padrões. A intenção é que os sujeitos tenham aces-
so a tudo o que é publicado no seu país, e que esses acessos sejam expandi-
dos às publicações de outros países. A premissa ainda segue na tessitura de
um acesso universal. Campello (2006) explica que o controle bibliográfico
pode ser realizado de acordo com dois requisitos: organização e controle.
O controle das bibliografias é realizado na padronização de lingua-
gens e sistemas, além de depósito legal, bibliotecas nacionais, agências
reguladoras, padronização de descrição bibliográfica na catalogação, pa-
dronização de International Standard Book Number (ISBN), DOI, uso
de metadados e outros diversos pontos que permitem a interoperabili-
dade de dados (Campello, 2006). A partir desses elementos, o controle
bibliográfico responderia por uma espécie de mapa do conhecimento.
Nesse sentido, “Todos os mecanismos de controle visam, em suma, fa-
zer um inventário da produção intelectual humana” (Duarte; Juvêncio,
2020, p. 8). Foi também, o que Otlet (1934) buscou propor com a
Documentação, projeto que não conseguiu êxito. Inventariar a produção
intelectual humana no contexto virtual e sob a informação líquida não
se apresenta como ação viável. Outrossim, a produção humana já não é
composta somente de conteúdo bibliográfico e está envolta na desmate-
rialização, desfragmentação e liquidez.
Ainda a respeito das unidades de informação físicas, o profissional
tinha e tem a possibilidade de conhecer quem ou quais usuários usam os
materiais tanto no espaço físico da instituição (estatísticas de uso), quanto
por meio das listas ou balancetes de empréstimos. Era possível, e ainda é,
em unidades de informação físicas, conhecer e manter certo controle a
respeito dos materiais de um acervo e com quem esses objetos estão em
uso, como no empréstimo domiciliar. Os profissionais da informação pos-
suem acesso aos dados a respeito do material e do usuário, como pessoais e
sensíveis e acerca do paradeiro dos objetos emprestados. Por isso, pode-se
Richele Grenge Vignoli
134
dizer que o profissional da informação com atuação em unidades de infor-
mação física consegue controlar a circulação da informação. Também em
bibliotecas digitais, as possibilidades se repetem na questão do empréstimo
de obras físicas.
Em exemplificação, mesmo quando a informação é tratada no âm-
bito de unidades de informação totalmente ou genuinamente virtuais, o
controle dos usos, acessos e de seus compartilhamentos na rede, fica bas-
tante comprometido. Esforços humanos ou maquínicos para controlar
a informação no ciberespaço parecem ser um desperdício dispendioso e
desnecessário e, por isso, Weinberger (2007, p. 5) reforça: “Informação é
fácil. Espaço, tempo e átomos são difíceis”. Em sequência do raciocínio,
ao profissional da informação é possível a identificação dos indivíduos que
realizaram downloads de materiais, daqueles que acessaram o catálogo ou
base de dados e até dos que efetuaram login.
Contudo, as falhas no controle surgem quando já não é possível
prever para o que (uso/finalidade), para quem (compartilhamento), a in-
formação será direcionada pelo sujeito da informação no polo virtual. Os
elementos podem parecer irrelevantes, se a Ciência da Informação não se
propusesse a investigar questões da linearidade da informação no fluxo
informacional, uso e apropriação da informação, empoderamento infor-
macional, análise crítica da informação, competência em informação e as-
suntos correlatos. Apenas disponibilizar a informação aos sujeitos da infor-
mação seria, talvez, um problema das Ciências da Comunicação e não da
Ciência da Informação. Diante dos problemas de apropriação da informa-
ção, de empoderamento crítico do sujeito perante a informação recebida
ou recuperada e outros aspectos de interesse da Ciência da Informação, a
transferência da informação por si só não basta como ação para estudos e
práticas investigativas da área.
Há, portanto, um problema na “devolução” ou retorno (feedback)
da informação nos ambientes virtuais. A linearidade da informação em-
prestada não ocorre mais. Isso significa que não é possível prever ou saber
qual será o retorno da informação nos ambientes virtuais, na informação
líquida. O fluxo da informação é interrompido porque o processo comu-
nicacional não acontece mais de modo linear.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
135
Na Teoria Matemática da Informação de Shannon e Weaver (1975),
a informação sairá de um emissor, e deverá chegar a um receptor. O ponto
que se levanta nesse momento, não se refere a elementos da Teoria como a
falta de atribuição de significados pelos sujeitos receptores ou sua eminên-
cia no processo físico da informação. O núcleo da crítica aqui, se refere ao
descontrole da linearidade da informação no processo comunicacional nos
ambientes virtuais – na informação líquida.
A informação líquida pode não seguir a linearidade prevista nos pre-
ceitos da teoria matemática da comunicação. Essa situação ocorre porque o
emissor está circunscrito na multiplicidade, no canal, no tipo de sinal e a in-
formação a ser enviada, provavelmente terá alcance de modo plural, não mais
para um, mas para muitos. As perspectivas de retorno (físico)1 ou feedback são
imprevistas. Logo, as possibilidades de controle do processo comunicacional
ou fluxo informacional diminuem drasticamente no ciberespaço, e em
objetos desmaterializados como na informação líquida. O descontrole na
linearidade poderá ocorrer na volatidade dos canais e no receptor que terá
seu sentido ou significado ampliado de um para vários sujeitos, ao mesmo
tempo. Na situação, os sujeitos da informação estão inseridos no processo
comunicacional, assim como na atribuição de sentidos, significados e nas
ações esperadas diante das informações recebidas.
Nesse sentido, inclui-se a assertiva de Weinberger (2007, p. 11):
“Temos de nos livrar da ideia de que existe uma maneira ideal de organizar
o mundo [...]”, pois no polo virtual e em sua totalidade, ainda não há e
mais importante, talvez não exista essa fórmula.
Em continuação ao seu pensamento, Weinberger (2007) esclarece
que as pessoas não conseguem, nem ao mesmo organizar seus arquivos pes-
soais e demonstra como exemplo, a imensidão de fotografias derivadas das
câmeras digitais, agora substituídas nos smartphones. Apesar de defender
que a desordem é ineficiente, explica, também, que a solução para orga-
nizar a superabundância de informação é a geração de um número ainda
maior de outras informações. A exemplo da descrição e representação da
informação, ao buscar sua organização por essas ações, novas informações
Nesse caso em referência as bibliotecas e ao processo de devolução de materiais emprestados.
Richele Grenge Vignoli
136
são geradas, o que automaticamente aumenta a proporção da informação
inicial. A informação recebe organização, mas o problema do volume não
é resolvido.
Trata-se, na verdade, de espaços não desenvolvidos para o controle,
embora eles existam, mas sob aspectos de vigilância ou monitoramento
ou de pequenas frações. As características inerentes aos objetos virtuais,
a começar pela falta de materialidade reforçam que o seu controle ou é
impossível, ou somente parcial. O problema não tem esfera intrínseca à
Ciência da Informação ou áreas que buscam organizar o conhecimento e a
informação, mas à toda área, técnica ou tecnologia que simplesmente não
consegue e/ou não pode conter o dilúvio informacional.
A esse respeito, Lévy (1999, p. 15) assevera que o dilúvio informa-
cional nunca terá fim e que “Não há nenhum fundo sólido sob o oceano
das informações. Devemos aceitá-lo como nossa nova condição”. O dilú-
vio recebeu nome de big data e não pode ser controlado em seu fluxo.
No big data, seus 3Vs referentes ao volume, velocidade e variedade,
impedem ou complicam ações de controle, medição e registro sob qual-
quer circunstância e por qualquer profissional que queira entender e atuar
sobre o fenômeno. O big data se concentra principalmente nas possibilida-
des oferecidas pela exploração de um volume de dados em crescimento ex-
ponencial no contexto empresarial, técnico e acadêmico (Chignard, 2013).
Segundo Gandomi e Haider (2015, p. 137, tradução nossa): “Tamanho é
a primeira e, às vezes, a única dimensão que se destaca à menção de big
data”. Mas essa visão ignora o maior componente do big data que se refere
à falta de estruturação de seus dados, e por suas características que com-
preendem a sua diversidade de dados em áudio, imagens, vídeo e texto não
estruturado. A falta de estruturação de seus dados já é prerrogativa para a
complicação de qualquer tentativa de controle na Ciência da Informação,
por exemplo.
É estimado que os dados estruturados prontos para análise formem
apenas um pequeno subconjunto do big data, o que é de imediato, um
problema para os profissionais da informação, cientistas de dados ou qual-
quer outro profissional que tenha demanda de acesso a esses conjuntos
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
137
informacionais. Os dados estruturados representariam cerca de somente
5% dos dados do big data e estariam disponíveis em planilhas e dados tu-
bulares (Gandomi; Haider, 2015).
Os dados não estruturados, especialmente aqueles em formato de
vídeo, são o maior componente do big data e que é apenas parcialmente
arquivado. O big data é constituído de análises relacionadas a dados não
estruturados que constituem 95% de sua totalidade (Gandomi; Haider,
2015). Dito de outra forma, a grande maioria dos dados do big data está
disponível como dados brutos das redes sociais online, especialmente as
que possibilitam a produção de vídeos. Nesse sentido, alguns recursos
como o youtube, facebook, whatsapp, X são exemplos da variedade de dados
criados e compartilhados no big data. A informação líquida pertence a
estes 95% de dados não estruturados e que a Ciência da Informação tem
examinado pouco a respeito. Tal situação acontece porque a Ciência da
Informação busca investigar informação estruturada, mas acaba por esqui-
var-se da maior parte das informações disponíveis do ciberespaço e que são
a própria informação líquida.
O alto nível de variedade de dados é outro ponto demarcador do
big data e o seu segundo V. A velocidade com que os dados do big data
são criados é, de acordo Gandomi e Haider (2015, p. 137), outro de seus
elementos definidores para além de sua dimensão ou volume – o seu terceiro
V. A importância da velocidade com que os dados são desenvolvidos é
tamanha, que se torna impossível contabilizar um número exato para o big
data explicam os autores. A velocidade de criação depende de cada setor:
empresarial, acadêmico, governamental e uma tentativa de contabilização
é alterada em segundos. De toda forma, o big data comprova que tentar
contê-lo ou controlá-lo, ou quiçá, organizá-lo desprenderá de seus profis-
sionais um esforço descomunal. Será necessário repensar sua utilidade e
formas adaptativas de fazê-los, que seja em suas frações, que provavelmente
não se manterão estáticas por muito tempo no ciberespaço.
Coneglian, Gonçalvez e Segundo (2017) investigaram o papel do
profissional da informação no big data, e chegaram à conclusão que o
profissional necessitará especializar-se, mas que poderá atuar na deter-
minação de fontes; captura e cruzamento de dados; no processamento e
Richele Grenge Vignoli
138
fusão por meio de processos de representação, no acesso com a disponi-
bilização dos dados; na análise e apresentação de resultados. Entretanto,
as ações devem ser realizadas por profissionais da informação e da com-
putação em conjunto, já que são necessários conhecimentos e técnicas
de ambos profissionais para a análise mais profunda dos dados. De toda
forma, os profissionais podem atuar sobre frações do big data e nunca em
sua totalidade, o que indica que o controle sobre os dados do ambiente é
uma premissa não sustentável.
As redes sociais online como frações representativas do big data e
do próprio ciberespaço expõem o conhecimento e a informação de difícil
controle na rede. A COVID-19 apresenta um pressuposto adequado nesse
caso. A população passou a produzir uma infinidade de dados e informa-
ções a respeito da enfermidade nas redes sociais. Entre anseios e dúvidas, os
discursos são pautados entre informações confiáveis (científicas) e em uma
maioria e, preocupante, formada por desinformações e fake news atreladas
à pandemia. A importância do problema informacional tem tomado pro-
porções imensuráveis, e que levaram indivíduos a decisões de vida e morte,
como no caso da vacinação. A infodemia2 é um problema de saúde pública.
As publicações da população nas redes sociais a respeito da pande-
mia têm demonstrado aos cientistas, entidades de saúde mundiais e aos
governos, que o problema da desinformação e fake news, principalmen-
te relacionadas à vacinação e movimentos antivacina, demandam esfor-
ços contínuos e múltiplos na tentativa de salvar vidas (Vignoli; Rabello;
Almeida, 2021).
As redes sociais se tornaram, portanto, um grande banco de dados
para a extração de dados relevantes para pesquisa, projeções e tomada de
decisão de saúde da população, além de outros usos. Repousa nas cir-
cunstâncias da pandemia nas redes sociais, um excelente exemplo para se
investigar, tratar e disponibilizar a informação derivada desses ambientes
virtuais. Os cientistas já compreenderam, os governos e governantes tam-
Infodemia é o excesso de informações, incluindo informações falsas ou enganosas em ambientes digitais e
físicos durante o surto de uma doença. Causa confusão e comportamentos de risco que podem prejudicar
a saúde. Também leva à desconfiança nas autoridades de saúde e prejudica a resposta da saúde pública
(Organização Mundial de Saúde, OMS, [2020], Não paginado).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
139
bém. Basta que neste momento, a Ciência da Informação possa também
injetar esforços na valorização do conhecimento e informação produzidos
nos contextos sociais, midiáticos, virtuais. Em todo caso, frisa-se que essa
informação não poderá ser controlada como nos pressupostos da informa-
ção materializada. É pouco provável que se consiga controlar sua produ-
ção desenfreada quer seja em conteúdos verdadeiros ou falsos, mas, mais
importante que isso, seria a tentativa de encaixar o conhecimento e infor-
mação produzidos nas redes sociais em modelos de organização conven-
cionais como os já utilizados na Ciência da Informação e na Organização
do Conhecimento. Controle de volume, de qualidade ou de vocabulário,
enquanto linguagem pré-definida para os ambientes virtuais são ações des-
necessárias na representação dessas camadas de conhecimento da socieda-
de. As redes sociais não são controladas, medidas ou quantificadas, assim
como dificultam a sua contabilização ou representação de forma exata. Os
seus modos de manifestação e/ou produção comprovam a assertiva que
impõem a Ciência da Informação, outras formas de pensar a informação,
o conhecimento e seus sujeitos da informação no polo virtual.
No que concerne à qualidade da informação, os aspetos derivativos
da desinformação, misinformação, fake news, pós-verdade e outros fenô-
menos da informação, sobrepõem-se à realidade da sociedade e da própria
Ciência da Informação. Para Araújo (2020), as noções de verdade da in-
formação nunca foram destaque na Ciência da Informação. A referência se
estabelece no conteúdo da informação e se é verdadeiro ou falso. A ques-
tão da verdade da informação propagada está paulatinamente aplicada nos
conceitos de desinformação, misinformação, fake news e pós-verdade.
O fato associado à verdade da informação passou a ser mais po-
pular após campanhas políticas como de Donald Trump nos EUA, e no
Brasil, em 2018, quando o atual presidente do país foi eleito. Nos dois
casos, mentiras e instrumentos das mídias e redes sociais, além de tecnoló-
gicos como bots3 foram utilizados como reforço para a vitória presidencial
O termo é uma abreviação de Robot e descreve pequenos programas projetados para realizar tarefas
automatizadas na Internet como indexar, procurar/observar o conteúdo da mensagem ou atuar como
avatares (substitutos humanos). Os robôs podem ser maliciosos ao clonar-se (clonebots), ou inundar os
canais com lixo. Existem centenas de tipos diferentes de robôs ou bots, incluindo, por algumas definições,
agentes e rastreadores (Gattiker, 2004).
Richele Grenge Vignoli
140
(Paula; Michalski, 2019). Também no caso da COVID-19, o assunto se
tornou ainda mais corriqueiro entre o convencimento da população acerca
da vacinação e dos movimentos antivacina para a não vacinação.
Na conjectura em que a verdade pode ter se tornado irrelevante,
como se em algum momento da história não existisse a mentira, Ramos
Chávez (2018) tece a informação líquida como sinônimo de uma infor-
mação falseada. Para o autor, a informação não sustentada e confirmada,
que tem bases mais parecidas com o rumor da pós-verdade e com caráter
de falseamento seria a informação líquida.
A informação sólida seria a documentada, fundamentada e guarnecida
de dados que comprovem sua veracidade. Nesse sentido, cabe ao profissional
da biblioteca ou a especialistas em Biblioteconomia e informação neutraliza-
rem a divulgação e tendência de generalização da informação líquida (Ramos
Chávez, 2018). A biblioteca seria a instituição capacitada para oferecer qua-
lidade na informação e perspectivas melhores diante do desenvolvimento
de coleções e serviços. Tais ações agiriam na contramão da propagação de
notícias falsas como consequências da informação líquida na concepção do
autor. Nesse raciocínio, o pensamento está pautado na materialidade e insti-
tucionalização da informação em seus modos convencionais de tratamento e
disponibilização. A proposta do autor é utilizar a tradição da biblioteca para
exterminar o fenômeno das notícias falsas, que é líquido e pós-moderno, o
que é um contrassenso. A concepção é como uma regressão ao que se defen-
de nessa pesquisa, aos avanços das tecnologias da informação e comunicação,
à própria realidade múltipla dos sujeitos da informação e dos objetos con-
temporâneos presentes na informação líquida.
Em continuação, Ramos Chávez (2018) expõe que a sociedade lí-
quida seria responsável pelo processo de fragmentação e individualização
social que recai em mais processos líquidos, e que representa a perda da
confiabilidade e solidez das relações sociais. O autor quer dizer que os pro-
blemas da sociedade contemporânea, como os que Bauman (2001, 2005,
2008) já criticou, são consequências da pós-modernidade. A informação
como líquida, nesse sentido, pode prevalecer de generalização e falta de
validade, ser parcial ou diretamente falsa ou tendenciosa (Ramos Chávez,
2018). Seria o produto da sociedade e de seus indivíduos desfragmentados
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
141
e sem apego às tradições. A liquidez atribuída à informação e à socieda-
de, nesse modelo, representa uma ‘liberdade precária’, sem veracidade dos
conteúdos e fatos informacionais. Surge a necessidade de a informação ser
verificada para se sustentar e, nas palavras de Ramos Chávez (2018), ‘alei-
jar’ (impedir) e controlar a informação líquida.
Mas o desenvolvimento da sociedade e de seus sujeitos não é deter-
minado por uma teoria ou outra, assim como não é a pós-modernidade
como uma linha de pensamento que condiciona um corpo social a agir
de um modo ou outro. Quem ou o que é responsável pelo progresso ou
fracasso nos modos de vida da sociedade são seus determinantes sociais,
culturais, políticos, educacionais e outros que em nada se condicionam a
teorias. A pós-modernidade e a modernidade líquida apenas nomeiam e
buscam compreender como a sociedade e seus sujeitos se manifestam, mas
não podem, em nenhum e sob nenhum aspecto, dizer como as pessoas
devem agir ou viver. A informação líquida ou a liquidez de esferas da vida
como analogias baumanianas não podem, no mesmo sentido, ser respon-
sáveis pelas ações humanas da contemporaneidade.
Em continuação à sua crítica a pós-modernidade e teoria baumania-
na, Ramos Chávez (2018) exterioriza que a sociedade em viés de compara-
ção à modernidade líquida, possui duas caras. A primeira é sólida e possui
perspectivas estruturadas em segurança social, valores, certeza e existência
de conteúdos. A outra cara da sociedade quando líquida é móvel, possui
valores e certezas relativas. Os preconceitos são claros, o posicionamento
diante da Modernidade é explícito, o desconhecimento acerca das teorias
de Bauman é evidente e o desrespeito às nervuras dos sujeitos e realida-
des contemporâneas, totalmente desmerecidos. No pensamento de Ramos
Chávez (2018), a informação líquida é negativa, relacionada à falta de se-
gurança, veracidade, verdade. Se a informação líquida é controlada, auto-
maticamente se controlam as fakes news e os fenômenos informacionais
ligados à falta de verdade. Entretanto, a informação líquida é também
um fenômeno e por isso, não é algo que se pode combater ou controlar.
Ainda que a intenção fosse essa, seria necessário entendê-la e conceituá-la,
ações que o autor em exemplo, não fez. Aplicar o termo líquido em su-
postos modismos para explicar a inexistência de algo, no caso da verdade,
Richele Grenge Vignoli
142
de tradições ou comportamentos moralmente aceitos, é no mínimo um
erro de fundamentação e de ataques a teorias que pouco conhecimento se
tem. Mais crítico ainda é se referir a um tipo de informação (líquida), que
nem ao menos foi encontrado enquanto conceito fundamentado. Além
do mais, como já se sabe, os fenômenos da pós-verdade ou fake news são
antigos e não exclusividade da pós-modernidade ou da informação líquida.
A respeito dos fenômenos das fakes news, desinformação, misinfor-
mação, pós-verdade e outros, a Ciência da Informação tem colocado em
sua agenda de pesquisa as discussões de como conter, coibir ou propor-
cionar uma informação verídica aos seus sujeitos da informação. Mas não
pode, contudo, impedir sua produção e dissipação – não pode controlar
sua proliferação.
O contexto da informação líquida pode fazer surgir questionamen-
tos concernentes às noções de controle da informação no sentido de vigi-
lância e monitoramento na rede. Também nesses casos, o profissional da
informação continua a ter pouco controle sobre a situação. Esse aspecto de
controle da informação não condiz com os discutidos nessa pesquisa, mas
vale uma explanação.
O contexto de obras impactantes como “Admirável mundo novo” de
Aldous Huxley publicado em 1932, e de “1984” de George Orwell, publi-
cado em 1949, impõem à sociedade o medo da vigilância e controle por
meio de governos, máquinas e tecnologias que avançam exponencialmente.
As denúncias de casos de vigilância ou em específico, de vigilância de
dados (dataveillance)4, de invasão de privação e de liberdade, e de controle
de dados dos cidadãos nas redes sociais são uma constante nas notícias da
atualidade. O caso da Cambrigde Analytica5 ficou conhecido mundialmen-
te como um dos exemplos da exploração indevida de dados dos usuários no
A datavigilância – o monitoramento dos cidadãos a partir de seus dados on-line – difere da vigilância em
ao menos uma dimensão importante: enquanto esta presume o monitoramento para fins específicos, a
datavigilância relaciona-se ao monitoramento contínuo de (meta)dados com objetivos não especificados
(Van Dijckp, 2017, p. 52).
“Cambridge Analytica é uma empresa que oferece serviços para empresas e partidos políticos que desejam
mudar o comportamento do público’. Ela afirma ser capaz de analisar grandes quantidades de dados do
consumidor e combiná-los com a ciência comportamental para identificar as pessoas que as organizações
podem atingir com material de marketing. Ela coleta dados de uma ampla gama de fontes, incluindo
plataformas de mídia social como o Facebook [...]” (e Guardian, 2018a).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
143
facebook. Em denúncia realizada pelo e New York Times e e Guardian,
50 milhões de usuários do facebook tiveram seus dados expostos e acessa-
dos sem consentimento pela empresa. A empresa lançou um aplicativo
disfarçado de teste psicológico no facebook, e aproveitou esses dados para
direcionamentos políticos (e Guardian, 2018b). O escândalo colocou a
prova questões de segurança, má-fé, privacidade e uso inapropriado de da-
dos pessoais e sensíveis dos usuários da rede social. Deixou claro, também,
a insegurança e descontrole dos dados no big data.
Pimenta (2013, p. 7), em estudo que investiga os reflexos do big
data no mercado de controle pasteuriza que “[...] produzimos diariamente
dados sobre nós mesmos e sobre nossas atividades e relações comerciais,
políticas e até mesmo privadas [...]” e tudo isso é postado em livre con-
sentimento pelos próprios sujeitos da informação. Os dados produzidos e
registrados como matéria-prima para as inteligências artificiais, e mesmo
compartilhados, muitas vezes, ingenuamente pelos cidadãos possuem di-
versos interessados e prospectam uma verdadeira economia informacional.
Empresas como o Google, a partir de consentimento de seus usuários
criam relatórios mensais por meio de inteligência artificial, de todos os
lugares que o indivíduo visitou no último mês. Disfarçados de segurança
na rede, grandes empresas e sistemas de vigilância e monitoramento virtual
acessam e controlam a vida de milhares de indivíduos todos os dias. Fato
é que os indivíduos passaram a disponibilizar e, de modo consentido, seus
dados de consumo, gostos, rotinas, interesses e outros pertinentes à sua
vida e personalidade nas redes sociais. As novas práticas de disponibilização
de dados facilitam a mineração e o descontrole das informações compar-
tilhadas pelo cidadão. Os fatos demonstram a importância da Ciência da
Informação em atuar e conhecer o fenômeno da informação líquida mais
a fundo para se tornar essencial na sociedade.
A coleta de dados no ciberespaço e nas redes sociais tem sido de-
nominada por datificação, de dataísmo (dataism), que seria um meio le-
gítimo para acessar, entender e monitorar o comportamento das pessoas
(Van Dijckp, 2017, p. 90). O dataísmo envolve também a confiança dos
indivíduos nos agentes institucionais, como governos que coletam, inter-
pretam e compartilham os dados e metadados minerados das redes sociais
Richele Grenge Vignoli
144
(Van Dijckp, 2017). A confiança depositada acontece por uma espécie de
naturalização e os indivíduos continuam a divulgar seus dados nas redes e
plataformas virtuais.
No entanto, apesar de uma realidade imposta e de difícil controle, a
Ciência da Informação tem pouco ou nenhum controle sobre a situação.
Seu papel nesses embates deve continuar sendo o de permear o intercâm-
bio de informação confiável e a responsabilidade de informar a população
a respeito dos riscos a que são submetidas nas redes sociais. Suas ações
nesses acontecimentos seriam mais voltadas a informações utilitárias. Em
todo caso, a deep web é uma opção para o distanciamento das ações de vi-
gilância, monitoramento e controle dos dados dos cidadãos.
A esse respeito, a deep web ou dark web retomam outro ponto em
que o profissional da informação, e a Ciência da Informação possuem di-
ficuldades para realizar algum tipo de controle sobre o que é produzido e
publicado. Se na superfície da web, os ideais de controle precisam ser revis-
tos, nas camadas profundas, a ideia é ainda mais conflituosa.
O conteúdo total da deep web é tido como quase a maioria de todo
o ciberespaço. O ambiente representaria alguns bigs datas se comparado
à superfície, pois, da mesma forma, possui um continuum ininterrupto
de produção de conhecimento e informações. A viabilidade de controle
seria irracional.
Nas camadas ainda mais profundas da web, como a dark web, as
possibilidades de controle podem chegar à proporção zero. Nem mesmo
o corpo de policiamento científico consegue penetrar facilmente nas ca-
madas dessa web. Como quase nada na dark web é indexado e, mais que
isso, não há esse objetivo, controle é definitivamente uma palavra e um
conceito não praticados no ambiente. Seu contraponto seria a palavra e
o conceito de liberdade. Liberdade para pesquisar, escrever, desenvolver,
dialogar, liberdade para realizar qualquer tipo de tarefa que se realiza na
web da superfície, mas de modo não monitorado. Com a liberdade, o am-
biente fornece privacidade e distanciamento de vigilância, monitoramento
e envios indesejados de propagandas aos seus indivíduos.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
145
Ainda assim e reforçada na premissa que a Ciência da Informação
não viabiliza devida atenção à deep web de um modo geral6, os ambientes
são ricos em desenvolvimento de conhecimento e informação em formatos
ainda desconhecimentos. Nas webs invisíveis, tanto o debate munido de
privacidade, quanto a criação de softwares, dispositivos, enredos, históri-
cas e informações autenticam o ambiente como profícuo para estudo e
aplicação da Ciência da Informação. Contudo, a respeito do controle da
informação nesses ambientes, e se existe essa necessidade são pontos de
amplas reflexões.
Conforme exposto, as realidades da pós-modernidade e de objetos
contemporâneos na informação líquida desfavorecem o controle da in-
formação por profissionais da informação tanto relacionados a medições,
registros, aspectos de qualidade, à produção ou em sua velocidade, assim
como em sua qualidade e outros aspectos demonstrados.
A informação líquida e incomensurável expõe pontos para reflexão e
discussão na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento para
promover debates voltados à falta de controle, ou ainda, à sua diminuição
diante de objetos informacionais no polo virtual e na informação líquida.
A informação líquida e incomensurável pressupõe dificuldades de
controle no big data e, por isso, nas redes sociais e em seus dados deses-
truturados, construtos dos sujeitos da informação em toda a dimensão do
ciberespaço. Inclui-se nesse arcabouço, a deep web e, em específico, a dark
web como um espaço não projetado ao controle e do mesmo modo, as
formas convencionais de organização existentes na Ciência da Informação
e na Organização do Conhecimento.
Nos fenômenos que circunscrevem a verdade e a mentira, ou o false-
amento das informações vistas nas fake news, desinformação, misinforma-
ção e pós-verdade, o controle desses fenômenos ou manifestações sociais,
não é ou pode ser um caminho a ser percorrido na Ciência da Informação.
Mais valerá, nesses casos, atuar sobre como tornar os cidadãos críticos em
Com exceção dos estudos de Fidencio e Monteiro, 2013, Monteiro, 2013, Monteiro e Fidencio, 2013,
Vignoli, 2014, Vignoli e Monteiro, 2015a, 2015b e Vignoli e Monteiro, 2020.
Richele Grenge Vignoli
146
informação ou em divulgar informação confiável do que creditar suas con-
sequências à informação líquida ou pós-modernidade.
Nesse sentido, também as ações de Organização do Conhecimento
e da informação são destacadas como já pertencentes a uma dificulda-
de de controle sobre os processos, produtos e instrumentos utilizados.
A Organização do Conhecimento e da informação já ocorrem de modo
parcial, uma vez que a multiplicidade não é inserida na Organização do
Conhecimento que gera produtos informacionais. Não foram somente
as demandas das tecnologias da informação e comunicação, e os espaços
virtuais que reforçaram a falta de controle sobre os macroprocessos do
tratamento e Organização do Conhecimento e da informação, mas seus
próprios instrumentos e sistemas defasados e desenvolvidos em contextos
e objetos físicos. É urgente a necessidade de recondução de práticas e ins-
trumentos da Organização do Conhecimento nas comunidades plurais e
na informação líquida.
Esta seção é no atributo da informação líquida e incomensurá-
vel, uma proposta a reflexão e discussão na Ciência da Informação e na
Organização do Conhecimento para possíveis reposicionamentos e mu-
dança de direções nas formas de tratar e representar o conhecimento e a
informação. Será necessário, pois, ultrapassar o pensamento cânone que
consiste em organizar e controlar o conhecimento sob qualquer circuns-
tância. A informação enquanto objeto desmaterializado, no polo virtual e
em sua condição líquida não responderá aos mesmos modos de controle e
organização de outrora.
Como um objeto em construção, a informação líquida foi definida
e seus atributos até aqui levantados foram caracterizados. Na informação
líquida, reforça-se a questão do registro e da materialidade deixarem de
ser prioridades diante de suas manifestações no polo virtual. O discurso
não indica o abandono do conhecimento já adquirido a esse respeito, mas
a mudança de direção no sentido de desenvolvimento de outras práticas
voltadas à informação e conhecimento desmaterializados e líquidos.
A informação líquida como híbrida possui e está apta a modificações
constantes de formas, formatos, suportes, mídias, linguagens, tecnologias e
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
147
espaços, lugares e não lugares que podem dificultar a delimitação do objeto
sob descrições unívocas diante de sua mutação inerente. Buscar sua delimi-
tação em qualquer um de seus aspectos de hibridização torna-se um desafio
à Ciência da Informação e à Organização do Conhecimento em exemplo
na descrição física de materiais.
Na informação líquida como ubíqua, suas formas de acesso ultrapas-
sam barreiras de localização física da informação, de acesso dificultado por
senhas, pagamentos e/ou outros contratempos. Em sua capacidade ubíqua,
a informação está disponível e é gerada por objetos e seres humanos e em
tecnologias incorporadas no corpo humano e em seu uso, sobretudo sob
as tecnologias da informação e comunicação. A ubiquidade da informação
líquida significa seu movimento e localização perpétuos.
Na abertura da informação, a sua disponibilidade é valorada por
sujeitos da informação especializados e como populares, inclusive em sua
produção. A ciência e o conhecimento científico impõem às ciências, à
Ciência da Informação e à Organização do Conhecimento, novas práticas
para conduzir a informação e o conhecimento proveniente da junção de
sujeitos da informação com tipos de conhecimentos distintos para a orga-
nização e disponibilidade. Nesse desafio, o papel do autor é revisto e auto-
res coletivos e ressignificados nas tecnologias da informação e comunicação
surgem entre fenômenos pós-modernos.
A informação líquida e rizomática acentuam uma visão filosófica à
Ciência da Informação e à Organização do Conhecimento que busca dis-
tanciar seu objeto de investigação de estruturas e fechamentos determinis-
tas e determinados. A informação líquida e rizomática é refletida na con-
fluência da conexão, heterogeneidade, multiplicidade, nas rupturas que
criam novos rizomas, no movimento da cartografia e contra o decalque que
fecha ciclos, sistemas, estruturas.
Na informação líquida e incomensurável, suas capacidades de con-
trole, qualidade e medições são reduzidas e muitas vezes, impossibilita-
das frente a fenômenos que a Ciência da Informação, a Organização do
Conhecimento, seus pesquisadores e profissionais não podem interromper
ou findar. O contexto indica que a informação líquida e incomensurável
Richele Grenge Vignoli
148
remete às áreas, seus pesquisadores e profissionais a repensarem as formas
pelas quais irão organizar a informação e conhecimento, especialmente no
objeto desmaterializado e no polo virtual.
A partir de sua definição e atributos, a informação líquida não visa
fomentar dicotomias e, por isso, não é contrária ao que é material ou está
em uma materialidade; ao que está sistematizado ou hierarquizado em
sistemas; à concepção de usuário em detrimento de sujeito, e ao mesmo
tempo, de sujeito da informação ao invés de sujeito da informação líqui-
do; do homem – ser humano versus máquina e seus agenciamentos; ao
conhecimento científico versus o de senso comum e à informação apenas
no polo virtual e sob uso de tecnologias. Mas é favorável e propulsora de
debates e práticas que rompam barreias impostas que por ventura, im-
peçam que a informação, a Ciência da Informação e a Organização do
Conhecimento alcancem a cientificidade e importância social que alme-
jam desde suas formações.
149
O    
 
O objetivo é propor aproximação de uma definição comum de
sujeito da informação1 em contraste com o termo usuário para a infor-
mação líquida. A intenção é perpetuar a noção de sujeito ressignificado
sob o contexto do pós-humano. A revisão do termo usuário por sujeito
da informação é decorrente do raciocínio em que os sujeitos na pós-mo-
dernidade não são apenas passivos ou “usam” a informação, ao contrá-
rio, consumem-na, desenvolvem-na, modificam-na, compartilham-na.
O termo usuário utilizado na Ciência da Informação e na Organização
do Conhecimento já não sustenta a noção contemporânea de sujeito na
sociedade da informação e do conhecimento. Um usuário seria aquele
que usa a informação. Compreende-se que na realidade contemporânea,
o sujeito utiliza, cria, modifica, interage, compartilha informação e co-
nhecimento, e entre outras ações, realiza tais atividades de forma inde-
pendente e sob TIC e no ciberespaço.
Os estudos de usuários na Ciência da Informação foram iniciados
a partir de 1966 por meio de revisão de literatura da American Society for
Information Science sobre a nomenclatura de information needs and uses
(necessidades e usos da informação). Da década de 1980 em diante, a área
passou a se preocupar menos com os sistemas de informação para focar no
1 Termo utilizado no mesmo sentido de sujeito informacional.
Richele Grenge Vignoli
150
usuário, o que foi repercutido nos estudos de comportamento informacio-
nal (information behaviour) (Araújo, 2013; González-Teruel; Abad-García,
2007) e no paradigma social. A hipótese é decorrente dos interesses da
Ciência da Informação no paradigma cognitivo em diante, uma vez que no
suposto paradigma físico, o usuário ou indivíduo a que a informação seria
transmitida, ainda não era objeto de pesquisa da área.
Nos estudos de comportamento informacional, Tom Wilson (2000)
teria sido seu mais aparente defensor, o que significou um ponto de par-
tida para as novas concepções de sujeito da informação na Ciência da
Informação. Savolainen (2007), entretanto, acredita que sua proposta de
estudos das práticas de informação (information practice)2 se enquadram
melhor para receber o termo sujeito e sujeito informacional (Araújo, 2013).
Antes, porém, o usuário é definido por borrower (que empresta),
card holder (titular do cartão), client (cliente), customer (cliente), informa-
tion seeker (que busca informação), information user (usuário de informa-
ção), library patron (cliente de biblioteca), user (usuário), patron (cliente,
consumidor), reader (leitor), stakeholder (públicos de interesse) (Cunha;
Cavalcanti, 2008). Como é passível de verificação nas definições, os ter-
mos não foram pensados ou mesmo descritos no sentido de sujeito da
informação. Há menções ao usuário como um cliente, no empréstimo de
termos da Administração, o que remete a pontos de vista da Ciência da
Informação provenientes dos estudos de gestão ou da informação empre-
sarial da década de 1990.
Em outra definição, o usuário é compreendido como: “[...] pessoa
que utiliza os serviços da biblioteca [...] que realiza consulta, empréstimo,
leitor, não-usuário, pesquisa documentária” (Cunha; Cavalcanti, 2008, p.
373). Nessa conceituação, o usuário é aquele que utiliza a informação em
espaços físicos de acesso à informação – um usuário da materialidade.
Em uma terceira denominação do Dicionário timidamente mais
abrangente, o usuário é a “[...] pessoa que se relaciona com a informação
Um conjunto de atividades e habilidades relacionadas à informação, constituídas, justificadas e organizadas
por meio de arranjos de um site social, e mediadas social e materialmente com o objetivo de produzir
entendimento compartilhado e acordo mútuo sobre formas de conhecer e reconhecer como o desempenho
é desempenhado, habilitado e constrangido na ação coletiva situada (L, , p. , tradução nossa).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
151
através dos diversos canais de acesso a esta” (Cunha; Cavalcanti, 2008, p.
373). Nessa tentativa de definição abre-se procedentes ao usuário como
aquele indivíduo que tem relações com a informação em múltiplos canais,
o que pode ser estendido a informação acessada por meios convencionais,
livro, periódicos materializados ou por meio da internet. De toda forma, o
usuário ainda é visto como um receptor de informação.
No Tesauro Brasileiro de Ciência da Informação (Pinheiro; Ferrez,
2014), toda menção a um sujeito se volta impreterivelmente ao termo usu-
ário e suas derivações. A situação pode ser verificada nos termos encontra-
dos na seção intitulada “Ordem Alfabético-estruturada” do instrumento:
ING3: users; ESP4: usuarios; UP5 leitores; usuários da biblioteca;
usuários de informação; utilizadores da informação; TE6 usuários
experientes; usuários finais; usuários novatos; TR7 comportamento
do usuário; estudos de usuários; guias do usuário; necessidades
de informação; não-usuários; perfil do usuário; registros de uso;
satisfação do usuário; treinamento de usuários; usos da informação
(Pinheiro; Ferrez, 2014, p. 227).
O termo usuário surge novamente no instrumento na seção 3
“Gestão da Informação,” que comporta a gestão de bibliotecas e recursos
de informação, desenvolvimento de coleções e outros assuntos, incluído
como utilizadores da informação e em usos da informação. Nota-se que no
Tesauro, a noção, termo ou definição de sujeito e/ou sujeito da informação
ainda não foi inserida no referido instrumento de controle de vocabulário
da Ciência da Informação.
Em contrapartida, Ronald Day (2011) sugere a morte do termo usu-
ário nos estudos de usuário na Biblioteconomia e Ciência da Informação,
pois para o autor, a palavra é revestida de uma definição com causalidade
mecanicista. Corrobora-se com o pesquisador, especialmente no sentido
Inglês (Pinheiro; Ferrez, 2014, p. 13).
Espanhol (Pinheiro; Ferrez, 2014, p. 13).
Usado por (Pinheiro; Ferrez, 2014, p. 13).
TE - Termo Específico - Relações de hierarquia de espécie e de todo e parte (Pinheiro; Ferrez, 2014, p. 13).
TR – Termo Relacionado - Relações associativas (Pinheiro; Ferrez, 2014, p. 13).
Richele Grenge Vignoli
152
atribuído de visão mecanicista que o termo representa para o sujeito, que
obtém diversos relacionamentos com a informação para além de seu rece-
bimento ou uso.
A causalidade mecanicista se configura em termos de causas e efeitos
determinantes que não se projetam na importância de ver assuntos e obje-
tos significativos por meios sociais, culturais e físicos (Day, 2011). A subs-
tituição ou ‘morte’ do termo usuário para sujeito encontra-se na justifica-
tiva de que sujeitos e objetos, necessitam ser explicados e compreendidos
por suas estruturas socioculturais. As relações entre os sujeitos e os objetos,
entre os sujeitos e a informação, não são mecânicas porque são constituídas
de elementos de interação entre as partes. Na visão mecanicista, o usuário
é receptor passivo da informação.
Os modelos de causa-efeito emprestados das Ciências Físicas (e da
abordagem behaviorista da Psicologia) não são aplicáveis na descrição de
eventos significativos envolvendo seres humanos (Day, 2011). Em outras
palavras, o termo usuário não responde às necessidades da Ciência da
Informação no sentido de um sujeito amplo e complexo, e que está envolto
em contextos sociais e culturais. Esse sujeito não é ou pode ser visto como
aquele que receberá a informação, apenas um utilizador da – aquele que
está no final do processo.
Para Guinchat e Menou (1994), o usuário é fundamental nos siste-
mas de informação, pois a justificativa desses sistemas está na transferência
de informações distanciadas no espaço e tempo. Tal afirmação exprime que
os sistemas e unidades de informação justificam sua existência por meio
dos indivíduos que terão acesso aos seus produtos e serviços informacio-
nais. Mas Guinchat e Menou (1994) afirmam que o conceito de usuário
é mal compreendido e que por, muitas vezes, só é lembrado enquanto
indivíduo quando solicita um serviço ou quando interroga bases de dados
(recuperação da informação por estratégias de busca). O usuário é visto
também como um cliente dos serviços de informação e/ou como um pro-
dutor de informação integrado aos sistemas de informação na relação de
produtor e cliente, e na produção de comunicações.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
153
Para Guinchat e Menou (1994), o usuário exerce papeis distintos de
acordo com seus contextos e necessidades, e sua multiplicidade deve ser
levada em consideração em sistemas de informação. Isto posto, cada tipo
de sujeito carece de uma perspectiva de tratamento e abordagem de acordo
com seu contexto, realidade multicultural e assim por diante. Interessante
notar que os pesquisadores já mencionavam a multiplicidade dos usuários
da informação, ainda que no contexto das bibliotecas na década de 1990.
Outro ponto de destaque em Guinchat e Menou (1994) é a visão
dos autores em potencializar o indivíduo como parte integrante dos siste-
mas de informação. A partir da premissa a qual os usuários conheciam as
fontes de informação e, que por isso, poderiam avaliá-las, seria possível a
eles auxiliar na aquisição de novos materiais. Esse indivíduo poderia inclu-
sive, ajudar no acesso à literatura não convencional, porque deteria de mais
conhecimentos a respeito, do que o próprio profissional da informação.
Os autores compreenderam que não seria ou é possível aos profissionais
da informação, um pleno conhecimento de toda literatura ou modos de
produção intelectual humana que ocorrem para além dos meios e formas
padrões. Para isso, propuseram que os próprios usuários auxiliassem os
profissionais da informação em uma relação de troca, em que ambas partes
se beneficiaram com sistemas muito mais representativos da realidade tan-
to para os usuários, quanto para os profissionais que se aproximariam de
seu público de modo mais assertivo.
Guinchat e Menou (1994, p. 482) exclamaram:
O usuário pode e deve contribuir na organização de instrumentos
de trabalho, como a linguagem documental e na definição da
estrutura dos arquivos e dos formatos de comunicação. Ele pode
ainda colaborar na descrição de conteúdo, na formulação de
estratégias de busca e na avaliação dos resultados de pesquisa. Ele
utiliza os produtos e serviços e formula suas exigências com relação
à sua natureza e à sua apresentação.
O pensamento de Guinchat e Menou (1994) poderia ser aplicado
em recursos como a folksonomia, por exemplo, para respaldar uma classifi-
cação do conhecimento social. Os autores inserem o usuário como sujeito
Richele Grenge Vignoli
154
ativo no sistema de Organização do Conhecimento e informação das ins-
tituições, e os colocam como participantes de seus processos. No raciocí-
nio, usuários e profissionais da informação trabalhariam em sinergia para
construírem sistemas mais homogêneos e que colocariam de fato, o sujeito
como papel central na práxis informacional. Todavia, assim como mencio-
nado pelos autores, há muito o que fazer para inserir verdadeiramente o
sujeito nos sistemas de informação.
Na esteira de substituição do termo usuário para sujeito da informa-
ção, parece mesmo necessário haver uma ruptura entre as definições exis-
tentes na Ciência da Informação que suportem uma possível modificação.
É importante destacar que ambos termos carregam em si a noção de pessoas
que de algum modo, possuem relação com a informação. Por outro lado, a
contribuição do termo usuário na Ciência da Informação serviu bem aos seus
propósitos calcados em objetos e unidades de informação no polo material.
Por isso, apesar do termo usuário ter possuído proeminência na
Ciência da Informação durante algum tempo, tem sido discutido na
área como uma palavra limitadora e reducionista (Day, 2011; Mostafa,
2012). A conjectura é que o termo usuário já não sustenta os avanços,
principalmente proporcionados pelas TIC, internet, web e ciberespaço,
pós-humano e, sobretudo, de contextos sociais, culturais, éticos, políticos
e outros a que os sujeitos estão envoltos na informação líquida, para
representá-los ou denominá-los. Nesse sentido e em corroboração com
Day (2011), Mostafa (2012, p. 122) expõe que nas perspectivas dos corpos
hibridizados, as noções de usuário e da informação são ressignificados:
“[...] desaparecem os sujeitos ‘usuários’, as origens e as polarizações como
emissor e receptor, desaparecem também o início e fim dos processos,
e ganham lugar os movimentos, as transformações, o que acontece no
meio e não nos polos”. Os sujeitos estão entre os processos e não mais em
seu fim, eles participam, interferem, agem na produção e divulgação do
conhecimento e da informação.
Para tanto, Rendón Rojas e García-Cervantes (2012)8 explicam que
uma ruptura epistemológica na categoria ‘usuário da informação’, e ‘sujeito
Cruz e Araújo (2020) demonstram em pesquisa recente, que Rendón Rojas e García-Cervantes (2012) foram
os primeiros pesquisadores a utilizarem o termo sujeito e sujeito informacional na ciência da informação.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
155
informacional’ é necessária e justificável na Ciência da Informação. É pri-
maz, pois, que o alongamento do aspecto sociológico da constituição do
sujeito se suceda como um ator social, que ao usar a informação deve ser
questionado por suas práticas hegemônicas e discriminatórias, políticas,
burocráticas, de relações de poder, e outras que certamente afetam suas ne-
cessidades sócioinformacionais (Rendón Rojas; García-Cervantes, 2012).
Para Rendón Rojas e García-Cervantes (2012), os sujeitos são a parte
fundamental da estrutura social como o que transforma a sociedade, e que
gera um amontoado de satisfações e necessidades incluindo informações.
É nessa constante que o sujeito que contempla o coletivo é qualificado por
sujeito informacional’, de acordo com os autores.
Já para Araújo (2013), os sujeitos informacionais representam a jun-
ção de seres humanos + informação, que são aqueles indivíduos que preci-
sam e que recorrem aos serviços de informação. São, sobremaneira, aqueles
que produzem recursos informacionais e que usam, buscam, sentem falta
ou disseminam informação.
Na visão de Rabello (2013, p. 58), o sujeito, aquele que usa a infor-
mação, pode não ser somente “[...] àquele indivíduo que gerencia ou faz
uso da informação num sistema, mas também aquele que valida e produz
informações e conhecimentos, apropria-se dele e o dissemina em diferentes
formas de interações e contextos”. Esse sujeito que vai além de profissio-
nais da informação ou responsáveis por sistemas são indivíduos que agem
na web em redes sociais online, que criam e se circunscrevem em regimes
de informação, e que participam avidamente em processos informacionais
em toda a rede e sociedade.
Sob um conceito que abarca ainda mais os ambientes virtuais, Assis
e Moura (2013, p. 86, grifo nosso) definem que:
Por sujeito informacional entende-se um sujeito social que
manifesta a sua subjetividade através do estabelecimento de
identidades e percursos informacionais na web. Ele é visto como
um sujeito social pragmático, uma vez que constrói suas relações
pela via da linguagem e do compartilhamento de significados. Tal
fenômeno marca a passagem de um usuário passivo em busca de
Richele Grenge Vignoli
156
recursos que atendam às suas necessidades de informação para um
sujeito ativo e dinamizador dos fluxos informacionais.
Assis e Moura (2013) demonstram que o usuário é um indivíduo
passivo no uso da informação em contraponto, ao sujeito ativo, que se en-
volve com processos e fluxos da informação em ambientes web. Evidencia
as autoras, que esse sujeito da informação se torna um desafio aos profis-
sionais da informação que precisam repensar entre outras questões, sobre a
construção de sistemas e metodologias para organizar e recuperar a infor-
mação para esses indivíduos.
Na urgência de compreensão dos sujeitos de interesse a Ciência da
Informação, Rabello (2013) analisou 15 publicações do bloco da Annual
Review of Informations Science Technology a respeito da information needs
and uses, e chegou a constatação que o usuário foi visto sob nuances varia-
das. Entre essas, muitas vezes os sujeitos são inseridos em segundo plano
e outras vezes, como foco principal dos estudos de usuário. Nesse mes-
mo estudo, Rabello (2013) concluiu que para entender o papel do sujeito
na Ciência da Informação foi necessário categorizar a informação em três
dimensões. Essas dimensões foram necessárias para categorizar cada tipo
de sujeito no objeto pátrio da Ciência da Informação, quais sejam: a di-
mensão objetiva, a subjetiva e a social, ou segundo os paradigmas físico,
cognitivo e social.
Na revisão de literatura da Annual Review of Informations Science
Technology, ênfase notória é atribuída aos autores Dervin e Nilan (1986),
no texto Information needs and uses publicado pela American Society for
Information Science no volume 21 da Organização, em 1986, em discussões
a respeito da temática na Ciência da Informação e também por Rabello
(2013). O motivo de alusão constante aos pesquisadores se refere à argui-
ção das abordagens tradicional e alternativa que Dervin e Nilan (1986)
propuseram para compreender ambiências dos estudos de usuários na área.
Entretanto, Olsson (2016) relata que as perspectivas de Dervin e
Nilan (1986) são associadas a um paradigma centrado no usuário. Olsson
(2016) é defensor do conceito de information practices como alternativa
para focalizar nas ações de informação dos sujeitos em detrimento de usu-
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
157
ários de informação individuais. O foco no usuário é uma visão muito
limitada do relacionamento complexo que as pessoas têm com as informa-
ções, sinaliza Olsson (2016). Porquanto, não é possível estudar o usuário
e, sobretudo, o sujeito da informação sob a égide de apenas um único
indivíduo com sua mente, e significados atribuídos à informação e conhe-
cimento que recebe e assimila. A referência é ao paradigma cognitivo e a
visão mentalista da Ciência da Informação em que prevalece a ideia a qual
a informação altera estruturas cognitivas dos indivíduos.
O paradigma tradicional, conforme denominado por Dervin e Nilan
(1986) é aquele em que as informações são vistas como objetivas e os usuá-
rios como processadores de informações de input-output (entrada e saída).
Nessa abordagem, pacotes de informações são transferidos do sistema para
o usuário. Essa ação envolve a análise do quanto as pessoas fazem usos dos
sistemas e as vê como máquinas processadores de informação, logo, uma
visão mentalista.
A preocupação está no uso do sistema e se as pessoas possuem pre-
dileção ou não por esses sistemas em nível de utilização (Dervin; Nilan,
1986). A importância está no uso dos sistemas e não nos usuários. Nessa
perspectiva, o usuário é praticamente desprovido da ideia de sujeito, e se
assemelha a um ‘processador de dados’ (Araújo, 2017), ou repositório de
informações (Rabello, 2013). Trata-se de uma visão que vê o sujeito como
um depósito ou caixa em que a informação deve ser armazenada.
Segundo Rabello (2013), a abordagem tradicional de Dervin e Nilan
(1986) tem predominância em métodos quantitativos e foco nos sistemas.
Informa González-Teruel e Abad-García (2007), que a abordagem, como
positivista utilizou técnicas de pesquisa de análise de citações nos estudos
de usuário da época. As pesquisas nesse sentido, foram criticadas por pes-
quisadores como Dervin e Nilan (1986) e Wilson (2000), pois os resulta-
dos obtidos raramente eram aplicáveis ao aprimoramento de sistemas de
informação (González-Teruel; Abad-García, 2007). Fatos esses, que corro-
boram como os argumentos de Rabello (2013) quanto a atenção redobra-
da dos estudos de usuários aos sistemas.
Richele Grenge Vignoli
158
Também assumem posição de destaque na abordagem tradicional,
o gestor e responsáveis pelo sistema, desenho, engenharia e manutenção
(Rabello, 2013). No pensamento, aos profissionais da informação cabem-
-lhes a responsabilidade de compreensão dos sistemas e suas demandas e
não precisamente das necessidades dos usuários. O usuário na abordagem
tradicional é considerado como uma peça do sistema, mas não sua peça
fundamental (Rabello, 2013).
No paradigma alternativo (ou abordagem alternativa) de Dervin e
Nilan (1986), a informação é como algo construído por pessoas – usuários
dos sistemas. Os indivíduos são livres para construírem informação e pro-
duzir sentido, mesmo com restrições do sistema. Nessa abordagem, há pre-
ocupação com o sentido que os usuários atribuem à informação (Dervin;
Nilan, 1986), por isso, a subjetividade é igualmente destacada na aborda-
gem. Entretanto, para Rabello (2013), apesar do sistema ser examinado na
visão do usuário, a essência continua no sistema.
Os estudos se voltaram à atribuição de sentido e significado pelos
usuários no preenchimento de lacunas informacionais na referida aborda-
gem. Dessa forma, a visão mentalista ainda prevalece. Para Araújo (2017),
apesar da perspectiva e dimensão cognitiva atribuída aos estudos nessa
abordagem, a dimensão propriamente humana dos usuários como seres
simbólicos e sociais não é considerada. Portanto, importa nesses estudos
se a informação e seus sistemas preenchem lacunas informacionais de seus
usuários, ou se o sistema permite realizar essa ação. Por essas razões, Rabello
(2013) propõe que tanto a abordagem tradicional quanto a alternativa se-
jam renomeadas por modelo sistêmico.
Com base na web e TIC, Rabello (2013) propõe uma outra e nova
concepção que abarque as demais, uma composição intitulada de modelar.
Na composição modelar há aproximações entre as dimensões subjetivas e
sociais da informação, que se configuram numa concepção de ‘modelo te-
órico sociotécnico emergente ou como prefere denominar: ‘modelo emer-
gente’ dos estudos de usuários – sujeitos. O modelo emergente contesta as
abordagens sistêmicas (tradicional e alternativa) ou ‘modelos teóricos clás-
sicos’, para abarcar a noção de sujeito da informação. Para tanto, Rabello
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
159
(2013) classificou o sujeito-objeto (aquele que também é objeto da Ciência
da Informação), em três tipos e dimensões:
1ª dimensão: usuário = repositório de informações. Nessa dimensão
e tipologia de usuário, o indivíduo é um receptor passivo de informação e
visto como parte integrante da concepção de sistema e da cadeia de trans-
missão da informação. O usuário recebe passivamente a informação que
lhe é enviada e sem nenhuma interação de sua parte.
A mensagem enviada é como um dado objetivo, que é mais valoriza-
do que o próprio usuário que receberá a informação. O foco é objetivista
e o usuário é visto como um repositório (container, autômato) de infor-
mação – como aquele que apenas recebe informação (Rabello, 2013), algo
como um ser inanimado. O foco nessa primeira dimensão está inteiramen-
te voltado ao sistema;
2ª dimensão: usuário = singularidade cognitiva. O sujeito como
singularidade cognitiva deixa de ser passivo e se torna ativo na atribuição
de sentido a informação recebida. Aspectos da subjetividade do usuário e/
ou do profissional da informação são enaltecidos, porém descentralizados
de suas condições sociais. Embora o usuário seja considerado com ênfase
maior em relação a visão anterior (usuário como repositório), o sistema
ainda prevalece na relação do sujeito-objeto;
3ª dimensão: usuário/sujeito = ator cognitivo social. Nessa dimen-
são explicitada por Rabello (2013), a produção de sentido e valoração in-
dividualizada da informação é reajustada aos entornos sociais dos sujeitos
em suas relações coletivas na sociedade. O sujeito se torna um ator cog-
nitivo social que age, se apropria e dá sentido à informação entre grupos.
O sistema de informação não é mais o foco da relação objeto-sujeito e, as
institucionalidades dos processos comunicativos permitidos pela lingua-
gem são exauridas. Nota-se que as dimensões do autor se assemelham as
noções paradigmáticas da Ciência da Informação nos paradigmas físico,
cognitivo e social.
O sujeito é compreendido em contexto coletivo e em sua atuação
social na produção e apropriação da informação, e do conhecimento entre
outros sujeitos. Assim, o sujeito é pensado em sua totalidade entre outros
Richele Grenge Vignoli
160
sujeitos e seus contextos e contornos sociais, políticos, culturais, éticos e
outros. Essa dimensão atribuída por Rabello (2013) instaura e demonstra
a fragilidade de modelos teóricos amalgamados a Ciência da Informação
durante décadas. Porquanto, é necessário que o sujeito se torne ator e pro-
tagonista do uso, acesso e compartilhamento da informação e, sobretudo,
na produção crítica da informação.
De um usuário passivo ou envolto em suas singularidades cognitivas,
o sujeito passa a portar-se de posicionamentos e visões de mundo inseridas
e compartilhadas no coletivo, entre outros sujeitos. A essas situações, os
sujeitos trazem em suas inscrições cognitivas, suas heranças culturais, po-
líticas e sociais (Rabello, 2013). Esse mesmo sujeito começa igualmente e,
sobretudo, a selecionar e julgar os produtos e serviços de informação em
modos de credibilidade e confiabilidade, mas que não englobam novos as-
pectos de tecnologias de ponta. O modelo do autor ainda é criticável, pois,
não comporta os sujeitos informacionais em modelos do pós-humano, ou
superinteligências. É um modelo centrado no humano e que não considera
questões sociotécnicas.
Já Araújo (2013) discute os sujeitos primeiramente sob o olhar das
ciências humanas e sociais. Seu debate é iniciado acerca das influências do
Positivismo, do Funcionalismo e Behaviorismo como suas extensões, no
sentido dessas estruturas como correntes dominantes de pensamento. Em
seguida, lança argumentação sobre a perspectiva e teoria crítica por meio da
Fenomenologia e Hermenêutica e após, na Ciência da Informação, a respeito
dos paradigmas físico, cognitivo e sociocultural. Especificamente em relação
ao estudo de usuários, Araújo (2013) discorre acerca do que classifica como:
1) abordagem tradicional ou abordagem positivista; 2) abordagem crítica de
estudos de usuários; 3) abordagem cognitiva e 4) abordagem sociocultural,
em uma mesclagem com os paradigmas físico, cognitivo e social, defendidos
principalmente por Capurro (2003) e Ørom (2000).
Para Araújo (2013), a abordagem tradicional ou positivista teve como
marcos principais, a fundação da Graduate Library School da University of
Chicago de 1930 nos estudos da comunidade9, e a realização da Royal Society
Segundo Araújo (2013) os estudos de comunidade objetivaram congregar indicadores demográficos nas
populações atendidas pelas bibliotecas, inclusive com demarcação dos não-usuários.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
161
Scientific Information Conference de 1948, em Londres. Nesse último even-
to, e com a representação de Bernal e Urquhart e outros pesquisadores, os
estudos de usuários passaram a incorporar os fluxos da informação cientí-
fica com outras instituições de informação para além das bibliotecas, como
os centros de documentos, arquivos e outros. Durante a abordagem tradi-
cional, as pesquisas objetivaram tornar-se úteis tanto quanto poderiam ser
em casos de avaliação de produtos e serviços bibliotecários. Outro foco foi
na otimização dos fluxos de transmissão do conhecimento tecnológico e
científico (Araújo, 2013).
Outro ponto destacado por Araújo (2013) foi a discussão com abor-
dagem crítica de estudos de usuários com aspectos teóricos ancorados no
marxismo, e nos conflitos e tensões entre as abordagens positivistas e fun-
cionalistas. Nesse prisma, Cardoso (1994) inseriu os estudos críticos da
informação no que chamou de informação social. Cardoso (1994) ressalta
o ser humano como ser social e que necessita de informação independente
de quaisquer fatores, como políticos, sociais e outros. A informação social
fica justaposta à informação aos indivíduos marginalizados, excluídos em
uma sociedade injusta e que não promove acesso à informação de maneira
igualitária e equitativa. Seria nesse sentido que a abordagem crítica dos
estudos de usuários se aplicaria.
Entretanto, Araújo (2013) critica a informação social, que acabou
por ser vítima do que defende em enunciados depreciativos como ‘infor-
mação de má qualidade,’ informação que aliena, que domina, que emanci-
pa ou liberta e, que por isso, não deve ser compartilhada. O caráter de jul-
gamento se voltou contra as propriedades da informação social defendida
por Cardoso (1994). O pensamento discutido foi ensejado no discurso de
priorizar as minorias em crítica a informação já existente. Para prevalecer
a informação socialmente aceita, os estudos da informação anteriormente
debatidos seriam preconceituosos e incorretos.
A abordagem cognitiva que para Araújo (2013) carrega semelhanças
com o behaviorismo nos estudos de comportamento informacional, teve
início com a criação do Center for Research on User Studies (CRUS) da
Universidade de Sheffield em 1975, na Inglaterra. Os estudos de Belkin
(1980) sobre o estado anômalo do conhecimento, e outros pesquisadores
Richele Grenge Vignoli
162
como Tom Wilson, no comportamento informacional e Dervin e Nilan
(1986), com as abordagens tradicional e alternativa dos estudos de usuá-
rios, também foram responsáveis pela abordagem cognitiva nos estudos de
usuário (Araújo, 2013).
Na abordagem sociocultural, os sujeitos são mais reconhecidos
por sua intersubjetividade e ações coletivas, e por sujeitos informacionais
(Araújo, 2013; Tanus, 2014). O International Conference on Conceptions
of Library and Information Science foi um acontecimento decisivo do mo-
mento dos estudos de usuário na Ciência da Informação, assim como o I
encontro de Information Seeking In Context (ISIC) que ocorreu em 1996
na Finlândia (Araújo, 2013).
Tanus (2014), no entanto, discute a trajetória dos estudos de usuário
em substituição de seu termo, mas de sujeitos informacionais para sujeitos
pós-modernos. Contudo, suas acepções envolvem e refilam o panorama dos
sujeitos na área na conjuntura dos três paradigmas prementes da Ciência da
Informação: físico, cognitivo, social. Nas demarcações da autora, há pelo
menos três tipos de sujeitos informacionais que incidem nos paradigmas e
em outras teorias, como na de Buckland (1991) na informação-como-coi-
sa, na informação-como-processo e na informação-como-conhecimento.
O primeiro sujeito descrito por Tanus (2014) encontra-se na abor-
dagem tradicional de Dervin e Nilan (1986), que se encaixa no paradigma
físico ou fisicista da área. Esse sujeito é passivo, como aquele que apenas
utiliza os serviços, produtos e informação advinda de sistemas de infor-
mação e instituições/unidades de informação. Esse sujeito é aquele que
‘recebe’ a informação, aceita-a como realmente é, e como já mencionado
por Rabello (2013) é o indivíduo característico na abordagem tradicional.
Tanus (2014) comenta que na abordagem tradicional não houve
desenvolvimento substantivo de teorias, conceitos e modelos teóricos na
Ciência da Informação. De acordo com preceitos da autora, a ideia de
informação-como-coisa de Buckland (1991) se aglutina a abordagem tra-
dicional, pois ambos os enfoques priorizam a informação registrada, tangí-
vel, concreta, de conhecimento materializado, de registro com suporte fixo
e estável (como o papel). Essa informação é de interesse de instituições de
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
163
informação como as bibliotecas, museus, arquivos, centros de documen-
tação e outras unidades informacionais em formato físico (Tanus, 2014).
Conquanto, a informação interpretada como coisa em Buckland
(1991) é sustentada na materialidade e é, por isso, limitante e insuficiente,
pois não compreende o usuário em suas multiplicidades, assim como os
seus construtos que não estão tangenciados na matéria e objetos materia-
lizados. A informação líquida se constitui para além da materialidade e de
sujeitos da informação que utilizam da informação registrada ou presa na
materialidade.
Já o sujeito na abordagem alternativa explicitada por Tanus (2014)
é cognoscente, age no processo de busca e compreensão da informação,
não aceita apenas recebê-la. O indivíduo munido de vácuos ou vazios na
falta de informação para resolver problemas e necessidades tem por ímpeto
buscá-la para sanar dúvidas e suprir lacunas informacionais. Todavia, esse
sujeito continua a ser compreendido como uma caixa vazia a ser preenchi-
da de conhecimento e informação.
Na abordagem alternativa e no paradigma cognitivo da Ciência da
Informação, os usuários da informação foram estendidos para além de
cientistas e técnicos (Tanus, 2014). Nesse sentido, Rabello (2013) enfati-
za que a pesquisa de Dervin e Nilan (1986) foi pioneira também porque
ampliou os estudos de usuários para outros atores além dos cientistas e
técnicos/tecnólogos. Ainda assim, as pesquisas não avançaram a ponto de
compreender a pluralidade dos sujeitos, e não conseguiram destoar da con-
cepção mentalista da área.
Nos estudos de comportamento informacional houve descentrali-
zação dos sistemas de recuperação da informação para o alcance das ne-
cessidades, contextos, modos de uso e busca da informação dos usuários
(Tanus, 2014). O impacto das informações recuperadas, assim como as
suas motivações na busca da informação, entrou na agenda de investigação
da Ciência da Informação em múltiplas abordagens.10
10 Tanus (2014) cita que alguns modelos teóricos surgiram no paradigma cognitivo como forma de expandir
modelos e teorias, são eles: abordagem sense-making de Brenda Dervin; Abordagem do processo construtivista
de Carol Kuhlthau; Abordagem do valor agregado de Robert Taylor; Abordagem do Comportamento
Informacional de Tom Wilson e outras como de Belkin e Brookes no estado anômalo do conhecimento.
Richele Grenge Vignoli
164
De acordo com Tanus (2014) é a partir do paradigma social ou da
abordagem sociocultural que indivíduos são incumbidos de responsabili-
dade na construção e interpretação da informação e do conhecimento de
forma social, coletiva. Na abordagem sociocultural e paradigma social em
junção proposital da autora, os sujeitos não são mais isolados em sua indi-
vidualidade, pois agem no coletivo.
O objeto de estudo é o ser socializado, muitas vezes não contem-
plados e/ou tidos como ‘impensáveis,’ para comporem estudos científicos
de usuários. Sujeitos informacionais como presidiários, empregadas do-
mésticas, feministas, grupos marginalizados, deficientes visuais e outros
em qualquer fração de tempo ou espaço (Araújo, 2013; Tanus, 2014), co-
meçaram a ser investigados na Ciência da Informação e nos estudos de
comportamento informacional. Também houve expansão nas fontes de
informação pesquisadas na Ciência da Informação para as redes sociais,
histórias em quadrinhos, ambientes virtuais e demais espaços que coloca-
ram o sujeito no centro do poder (Tanus, 2014).
Observa-se que muitos pesquisadores entendem que as questões so-
ciais são resolvidas na Ciência da Informação, a partir de teorias ou discur-
sos que inserem o sujeito em questões de vulnerabilidade ou em minorias.
São fatores inclusivos que tentaram persuadir o leitor no sentido em que, a
Ciência da Informação possui e engloba aspectos sociais em seus constru-
tos. Mas reforça-se que um discurso não executado em pesquisas aplicadas
e testadas, não pode, nesse caso, ser considerado como uma representação
da realidade ou de inserção social, na Ciência da Informação. Como uma
área pertencente as Ciências Sociais Aplicadas, espera-se que seus conheci-
mentos sejam, de fato aplicados na sociedade e em prol dela.
Diante dos discursos do sujeito da informação com visão social, o
posicionamento da Ciência da Informação tem sido o de teorizar e des-
crever por sua importância na sociedade. Mas assim como ocorreu com os
pressupostos de Cardoso (1994) é possível que a Ciência da Informação
acabe por cair na mesma trama. No intuito de fazer valer enfoques sociais
como em grupos marginalizados, muitas vezes, insere-se um discurso se-
paratista, fazendo sobrepor alguns princípios ou grupos em detrimento de
outros. Em muitos estudos ou enunciados, a defesa é por mover esforços
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
165
para determinados grupos em detrimento de outros, o que não significa
uma atuação social democrática. Um exemplo pode ser visto em discursos
que prevalecem discussões a respeito de determinada religião, mas que es-
quece de outras. Também não é justificável defender acesso à informação
em comunidades carentes apenas para indivíduos negros e pobres, quan-
do há outros indivíduos que residem na comunidade e que são pobres,
porém, brancos, amarelos, vermelhos, pardos. Uma informação social só
poderá ser compreendida nessa circunstância se for democrática a ponto
de atender demandas de informação para qualquer indivíduo ou grupo de
pessoas, e de maneira igualitária e equitativa. Por isso, para arquitetar uma
informação social universalizante na teoria na Ciência da Informação é
preciso pensar na multiplicidade.
Bauman (2005) explanou sobre elementos ou ‘soluções universais
e assentou que, o ‘universal’ é a própria universalização do particular e se
torna a ficção tornada ‘na única realidade imaginável.’ A busca da universa-
lidade é, muitas vezes, um revestimento para discursos segmentados e não
multiculturais. Não pode haver universalidade dentro de um único grupo
ou única discussão. Ao pensar no sujeito da informação, buscar universa-
lizar sem considerar multiplicidade e multiculturalidade se tornará uma
repetição de ações já realizadas ao longo do tempo.
Em continuação, Bauman (2005) disserta a respeito de uma espécie
de batalha de identidades que ocorre entre grupos que buscam igualdade
social. Assim, enquanto certos grupos buscam reconhecimento identitário,
ou seja, igualdade legal e legítima, muitas vezes, produzem diferença. Há
certas lutas em que são promovidas mais diferenças do que igualdades.
Por isso, e nos contextos das Ciências Sociais, “As batalhas de identidade
não podem realizar sua tarefa de identificação sem dividir tanto quanto,
ou mais do que, unir. Suas intenções includentes se misturam com (ou
melhor, são complementadas por) suas intenções de segregar” (Bauman,
2005, p. 85). Também por isso, o discurso social da Ciência da Informação
precisa atentar-se e mover-se para uma democratização real.
As abordagens para o sujeito da informação são importantes e expan-
dem a noção de usuário utilizadas na Ciência da Informação. Entretanto,
mesmo visto como um sujeito em sociedade, nota-se uma aproximação
Richele Grenge Vignoli
166
forçada com o paradigma social da Ciência da Informação. A mesma si-
tuação acontece com as abordagens tradicional ou alternativa. Defende-se
que as discussões do sujeito da informação devem sobrepor as instâncias
paradigmáticas da Ciência da Informação. A defesa é baseada em dois fato-
res: 1) há momentos em que os paradigmas precisam ser superados; 2) há
discussões que necessitam ser realizadas para além de visões paradigmáti-
cas. O paradigma funciona em muitas situações, como uma barreira e não
como um propulsor para novos pensamentos. É preciso revisão constante e
percepção que paradigmas não devem impedir o progresso de uma área do
conhecimento. Assim, deve ser usual pesquisas que perpassem limites pa-
radigmáticos e não que busquem seu enquadramento em todo e qualquer
objeto de investigação. Na Ciência da Informação, a concepção de sujeito
da informação com aplicação no paradigma social, por exemplo, está esta-
cionada. É nesse sentido que se propõe uma ressignificação nas abordagens
de sujeito da informação, para além de concepções paradigmáticas, da vi-
são apenas social e na informação líquida.
Em busca de tal ressignificação, os tipos de leitores caracterizados
por Santaella (2004) são inseridos ao debate como forma de aproximar-se a
definição de sujeito da informação na informação líquida. Santaella (2004)
identificou três tipos distintos de leitores11 que se emancipam no advento
da web e ciberespaço, que são:
Leitor Contemplativo: é o leitor da linguagem verbal escrita. Esse
leitor é visto como leitor meditativo, que lê sem pressa e urgências; é ad-
vindo da idade pré-industrial12, da era do livro impresso, da imagem fixa
e expositiva (do suporte material); observador ancorado provido de fér-
til poder imaginativo. Esse leitor da informação pode ser compreendido
como aquele que se contempla na informação que recebe, que é passivo,
que pouco ou nada interage com a informação recebida, a não ser em seus
processos interativos e interpretativos com o próprio texto. Pode-se classi-
ficar esse leitor como um leitor primitivo ou primeiro leitor – o usuário da
informação materializada;
11 Os leitores são entendidos como sujeitos da informação, consulentes, internautas e outras denominações
utilizadas para evidenciar o sujeito que se relacionada com a informação.
12 Nomenclatura utilizada pela autora para denominar provavelmente o período antes da revolução industrial.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
167
Leitor movente: é aquele leitor que se move - leitor do mundo em
movimento. Sujeito dinâmico, híbrido, de misturas sígnicas, filho da
Revolução Industrial e do surgimento dos grandes cenários e centros ur-
banos, o homem na multidão. Surge com a explosão do jornal, fotografia
e cinema, atravessa a era industrial e vive a revolução eletrônica. É o leitor
que procura sentido no que lê, no que vê, no que recebe de estímulo.
Para Santaella (2003, 2004), o leitor movente é um leitor de formas,
volumes, massas, interações de forças e de movimentos, leitor de direções,
traços, cores, luzes. O cinema auxiliou e foi marcante na Modernidade,
pois insinuou outras maneiras de interagir com o mundo, trouxe a noção
de movimento. Esse leitor é apressado, transita entre signos e linguagens
atenuadas pela televisão com imagens, ruídos, sons, falas, movimentos e
ritmos de tela.
Leitor intermediário que apesar do movimento, tem pouca interati-
vidade com os canais e suportes midiáticos (Santaella, 2003, 2004). Esse
leitor é movente, pensa e quer ser ouvido, lembrado, ressaltado nos siste-
mas informacionais. É um leitor intermediário ou o segundo leitor – o
usuário da informação materializada e com possibilidades de mobilidade;
Leitor imersivo/virtual: é o leitor que emerge em espaços incorpóre-
os da virtualidade, que está e navega no ciberespaço. É um leitor treinado
em distorções fugazes, em sensações evanescentes, de percepção instável
com intensidades desiguais (Santaella, 2004, p. 30). É também, um leitor
apressado, de linguagens efêmeras, híbridas, misturadas; é um leitor fugaz,
novideiro, de memória ágil e, ao mesmo tempo, curta. Trata-se de um
leitor que devido ao excesso de estímulo e informação que recebe, precisa
esquecer, pois não tem tempo para reter conteúdos. Esse é leitor/usuário/
sujeito que utiliza e se apropria das tecnologias da informação e comunica-
ção para potencializar ou auxiliar a sua memória, sua visão. É o sujeito que
fotografa, filma, transfere seus dados para equipamentos tecnológicos que
irão armazenar seus dados, suas lembranças, seus arquivos.
É o leitor da era digital que entre bits se acostuma à linguagem das
máquinas, uma espécie de esperanto destinado a elas. A leitura imersa não
se concretiza sem a liberdade de escolha dos caminhos a serem seguidos no
Richele Grenge Vignoli
168
ciberespaço. Esse leitor escolhe suas fontes de informação, suas bases de
dados, suas redes sociais e é autônomo e independente. Esse sujeito já não
possui dependência de mediadores para encontrar informação.
O leitor imersivo é “[...] aquele que navega entre nós13 e nexos cons-
truindo roteiros não lineares, não sequenciais” (Santaella, 2004, p. 37).
É ele próprio, um sujeito da informação rizomático, não hierárquico. É
aquele que navega e emerge em dados informacionais híbridos – sonoros,
virtuais, textuais, semióticos – da hipermídia. Esse leitor poder-se-á ser
denominado como leitor autodidata no polo virtual, da virtualização, o
terceiro leitor – o sujeito da informação prestes à ressignificação na Ciência
da Informação.
Mas assim como defendido nessa pesquisa e por Santaella (2003,
2004), um tipo de leitor/usuário/sujeito não exclui ou elimina os anterio-
res “Ao contrário, não parece haver nada mais cumulativo do que as con-
quistas da cultura humana” (Santaella, 2004, p. 19). A tipologia apresen-
tada pela autora é demarcada pela existência factual dos tipos de leitores,
isto é, tipos de sujeitos que utilizam informação. Há todos os leitores no
leitor imersivo.
Mas falta ainda a esse leitor/sujeito da informação as evidências
de sua pluralidade, multiculturalidade e, sobretudo, dos conhecimentos
que produz no polo virtual. Esse sujeito é composto de várias identidades
(Tanus, 2014), como o que lhe é inerente na modernidade líquida/na pós-
modernidade e pós-humana.
O sujeito pós-moderno sofre alterações em sua identidade, e “[...]
as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizara o mundo social,
estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o in-
divíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado” (Hall, 2006,
p. 11). Esse sujeito se afastou de suas identidades fixas e estáveis desde
a Modernidade que imperou na cultura impressa, materializada. Com as
TIC e possibilidades do ciberespaço, esse sujeito da informação pós-mo-
derno passou a revestir-se de identidades múltiplas, a simular outros seres,
13 “Um nó pode ser um capítulo, uma seção, uma tabela, uma nota de rodapé, uma coreografia imagética, um
vídeo, ou qualquer outra subestrutura do documento. É muito justamente a combinação de hipertexto com
multimídias, multilinguagens, chamando-se de hipermídia” (Santaella, 2004, p. 49).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
169
a se identificar de várias formas no polo virtual. Os ambientes virtuais
facilitam a desfragmentação do indivíduo tanto em aspectos físicos como
identitários.
Bauman (2005) disserta a respeito da identidade e em sua visão, é
a identidade, um objeto, um objetivo a ser construído. É como algo que
parte do zero ou uma escolha que necessita de luta para seguir com ela. A
identidade e o pertencimento, por serem negociáveis e revogáveis e não ga-
rantidas para toda a vida, não possuem solidez. Bauman (2005) argumenta
que todo indivíduo ou a sua maioria, na condição líquido-moderna exerce
passagens em diversas ‘comunidades de ideias e princípios’ que influen-
ciam em sua identidade. Como agravante, os sujeitos passam por mais
de uma dessas comunidades de uma vez, o que dificulta o estabelecimen-
to, distinção e definição do sujeito como pessoa. Os estímulos, vivências,
experiências, conhecimentos adquiridos e relação do sujeito com outros
indivíduos fazem com que nenhum ser humano saia ileso desses encon-
tros. Esses encontros modificam o ser humano e, consequentemente, a sua
identidade. Seria, portanto, uma tarefa laboriosa manter uma identidade
única por toda vida.
Bauman (2005, p. 60) descreve suas críticas às identidades únicas:
Uma identidade coesa, firmemente fixada e solidamente construída
seria um fardo, uma repressão, uma limitação da liberdade de
escolha. Seria um presságio da incapacidade de destravar a porta
quando a nova oportunidade estiver batendo. Para resumir uma
longa história: seria um receita de inflexibilidade, ou seja, dessa
condição o tempo todo execrada, ridicularizada ou condenada
por quase todas as autoridades do momento, sejam elas genuínas
ou supostas – os meios de comunicação de massa, os outros
especialistas em problemas humanos e os líderes políticos -, por
se opor à atitude correta, prudente e promissora diante da vida, e
assim construir uma condição em relação à qual a recomendação
quase unânime é ter cautela e evita-la cuidadosamente.
Bauman (2005, p. 19) expõe que entre as identidades, há sempre
algo a esconder, explicar, desculpar e que “As identidades flutuam no ar,
Richele Grenge Vignoli
170
algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pes-
soas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as
primeiras em relação às últimas”. As identidades são como criações que
o ser humano desenvolve ao longo do tempo e para situações diversas.
Como líquidas, são construídas e descontruídas para contextos diversos e
mantidas ao desejo dos sujeitos. Em suas inflagens, é preciso empenho para
mantê-la, como deve ser para camuflar o que se quer ocultar.
Não é difícil aplicar os preceitos de Bauman (2005, 2008) na so-
ciedade conectada as TIC, quando os sujeitos estão a expor o que são ou
o que parecem ser a todo momento nas redes sociais. A noção de iden-
tidade pode ser empregada no uso de avatares, imagens modificadas por
Photoshop, pseudônimos ou imagens e páginas fake, mas perpassa tais no-
ções para as formas como o sujeito se identifica como indivíduo.
Também para Hall (2006), o sujeito pós-moderno não possui mais
uma, mas várias identidades. A identidade torna-se uma celebração móvel,
e o sujeito não possui mais uma localização estável no tempo e espaço
e está multiplicado em bancos de dados, em mensagens eletrônicas, em
comerciais de TV ou em algum ponto entre a transmissão e recepção ele-
trônica de símbolos (Santaella, 2007). O corpo está hibridizado com as
tecnologias e as noções de identidade foram recontextualizadas. Sob esses
aspectos, Felinto (2006, p. 46) ressalta que “O pós-humano é um sujeito
comunicacional, conectivo, maleável e capaz de alterar sua identidade li-
vremente ou mesmo abrir mão dela em favor de uma coletividade eletro-
nicamente integrada”.
Para tanto, o sujeito da informação pós-moderno é identificado
como parte do sujeito da informação líquido em sua noção terminológica.
Estão no mesmo polo contextual, mas ainda falta ao termo pós-moderno
atribuído ao sujeito, a concepção da realidade pós-humana. O sujeito da
informação da informação líquida ou como sujeito da informação líquido
incorpora as proposituras pós-humanas e do pós-moderno.
No sujeito da informação pós-humano como denominado por
Monteiro, Vignoli e Almeida (2020), as relações dicotômicas entre ser e
máquina são dissuadidas e dissipadas. O antagonismo é substituído e o ser
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
171
humano é compreendido na simbiose com as máquinas. Não há relação de
poder ou de oposição, mas de hibridização entre um e outro. A relação é
benéfica e o ser hibridizado com a máquina constrói conhecimento.
Na relação do sujeito ressignificado na Ciência da Informação, al-
guns elementos são analisados diante do sujeito enquanto humano e na re-
alidade pós-humana, que são: como ser ontológico, o sujeito é visto como
puramente humano e no pós-humano, há acréscimo da máquina e de seres
hibridizados: humanos + máquinas; na esfera epistemológica, visões que
buscam separar o sujeito do objeto e suas interações são dissipadas na rea-
lidade pós humana; a perspectiva antropocêntrica busca ser superada para
uma pancêntrica, já que as hibridizações com a máquina, por exemplo,
são consideradas para além do ser humano; a base filosófica cartesiana do
homem como centro de si mesmo e dotado de Razão é expandida para
outras discussões filosóficas com abordagens diversas; as disciplinas que
discutem esses sujeitos passam a centrar-se em realidades convenientes com
a máquina e suas possibilidades sociotécnicas e semióticas; nas discussões
humano-computador há interação completa de um e outro; de um objeto
calcado na materialidade e de apropriação apenas a seres humanos, a in-
formação é ressignificada para outras substâncias e apropriações e, por fim,
nos debates acerca da inteligência humana, no pós-humano, o sujeito da
informação é compreendido por sua evolução científico-tecnológica que
o auxilia enquanto agente transformador de seu intelecto e em suas capa-
cidades expandidas. Para tanto, o quadro 2 representa o modelo de sujei-
to da informação pós-humano ressignificado na Ciência da Informação e
aplicável a informação líquida.
Quadro 2 – O sujeito informacional humano e pós-humano
Caracteres Sujeito informacional humano Sujeito informacional pós-
humano
Ontológico Humano “puro Humanos, máquinas e híbridos
Epistemológico Sujeito e objeto do conhecimento
como entes separados Superação do dualismo sujeito-
objeto
Perspectiva Antropocêntrica Pancêntrica
Filosofia Filosofia Cartesiana e Racionalista Filosofia Ecológica, Filosofia
pierciana, Filosofia Transcultural,
Filosofia deleuziana etc.
Richele Grenge Vignoli
172
Caracteres Sujeito informacional humano Sujeito informacional pós-
humano
Disciplinas Educação, Comunicação,
Sociologia, Psicologia,
Antropologia, Filosofia etc.
Cibernética, Realidade
Virtual, Inteligência Artificial,
Neurociências, Ciências Cognitiva,
Filosofia da Mente, Semiótica,
Engenharia Semiótica etc
Interação Humana-
Máquina Separação completa entre homens
e máquinas Imbricação completa
Informação Materializada e codificável para
apropriação humana Virtualizada, digitalizada,
transterritorializada e codificada
para todos os tipos de apropriação.
Inteligência Determinada pela evolução
biológica e cultural Condicionada pela evolução
científico-tecnológica
Fonte: Monteiro, Vignoli e Almeida (2020, p. 23).
Conforme descrito pelos autores, o antropocentrismo do sujeito dis-
cutido com visão no usuário/sujeito da informação é revisto como um
novo e possível paradigma na Ciência da Informação. Esse paradigma visa
atualizar os anteriores no sentido de compreender o sujeito e em suas vi-
cissitudes de ampliação sociotécnica e entre os diversos aspectos demons-
trados no quadro 2. Para compreendê-lo e discuti-lo é pertinente instaurar
debates e pesquisas que o contemplem de sua visão ontológica a capaci-
dade de evolução de sua inteligência ao fenômeno da informação líquida.
Monteiro, Vignoli e Almeida (2020, p. 20) demarcam que esse sujeito:
[...] tem como base na inteligência, a realidade e a vida artificial,
o simulacro, o ciberespaço, a robótica, entre outros avanços
sociotécnicos que passam a integrar o pós-humano e ao humano em
rede, tanto on quanto off-line e fundamenta, sob esse paradigma, a
Ciência da Informação.
Esse sujeito não depende mais e apenas de suas capacidades cog-
nitivas para produzir ou obter conhecimento. Esse sujeito se tornou um
complexo sistema interativo e colaborativo de produção de conhecimento
e informação hibridizado com a máquina. A hibridização e a própria cibor-
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
173
guização ocorre de diversos modos e ressignificam objetos e seres que agem
na produção informacional.
Monteiro, Vignoli e Almeida (2020) mencionam que uma visão pu-
rista ou sectária dos agentes da informação devem ser revistas no sentido
de condenarem as tecnologias aos usos diminuídos a mero lazer ou prazer.
Pontos de vistas como esses devem ser evitados e condenados ao ostracis-
mo. As relações e resistências as tecnologias não se sustentam diante dos
sujeitos da informação que estão conectados ou em uso de TIC em estratos
exponenciais da realidade contemporânea.
A informação não se propaga ou é gerada somente no polo material
e a situação recondiciona as práticas exercidas na Ciência da Informação. A
informação é líquida e seus sujeitos também o são, porque ora são passivos,
ora são ativos, ora são humanos, ora são máquinas, ora são hibridizados.
Mas o que os sujeitos não são ou não devem ser é denominados por usuá-
rios da informação. O termo é precário porque condiciona o sujeito a um
receptor, um usuário, um utilizador. O sujeito da informação é um indi-
víduo ativo, que se manifesta e produz informação e conhecimento. Na
condição pós-humana, esse sujeito é ressignificado e se estende as suas hi-
bridizações com a máquina em interações ainda mais profundas e amplas.
O pós-humano insere-se a Ciência da Informação ampliando a no-
ção de sujeito da informação apenas humano, para um sujeito da informa-
ção ressignificado na hibridização com a máquina. Será e é desses imbri-
camentos que esse sujeito maquínico, hibridizado, ciborgue e vívido nas
concepções plurais e sociotécnicas que lhes são conexas, que a Ciência da
Informação necessita se apropriar para compreendê-lo. Esse sujeito não é
mais somente humano, ele é um pós-humano, ele é um híbrido.
Defende-se aqui um sujeito múltiplo, crítico, que recebe, envia, pro-
duz, divulga conhecimento e informação; a informação existe na mate-
rialidade, registrada, mas as suas condições contemporâneas prevalecem
na desmaterialização, no polo virtual; esse sujeito possui determinantes e
contextos plurais, sociais, culturais, políticos, éticos - multiculturais; esse
sujeito pode não estar, mas em sua maioria (coletivo) está hibridizado com
Richele Grenge Vignoli
174
a máquina e é para esses sujeitos, vistos no todo e em suas mais diversas
qualidades e diferenças que a Ciência da Informação deve atuar.
O sujeito da informação na informação líquida é a combinação de
todos os sujeitos em um. É um sujeito em devir, ainda em construção, em
reconstrução, formado pelos determinantes que já lhe convém e que ainda
estão a surgir. É também um híbrido, um sujeito que atua na sociedade por
meio de suas ações e práticas informacionais, que desenvolve e se expressa
por meio da informação e conhecimento que produz. É um sujeito que
utiliza as TIC, que navega em ambientes virtuais, que está hibridizado com
a máquina e entre tecnologias diversas. O sujeito da informação líquida,
pós-moderno e pós-humano é um sujeito social, multicultural e que age na
sociedade por meio de suas manifestações de informação e conhecimento.
É um sujeito que interfere na informação e conhecimento produzidos e
que não é mero espectador dos acontecimentos a sua volta.
O termo líquido significa situar circunstâncias que não mantêm sua
forma ou de objetos que se modificam a todo momento, como é o próprio
tempo, espaço e o sujeito pós-moderno e líquido.
A pós-modernidade e modernidade líquida engendram a base teó-
rica de raciocínio da informação líquida na Ciência da Informação e na
Organização do Conhecimento. Entre seus desdobramentos e como obje-
tos contemporâneos, os não lugares, o ciberespaço, suas camadas escuras
ou profundas e o rizoma, conferem à informação líquida, aportes necessá-
rios para sua definição, caracterização de seus atributos e sustentação teó-
rica. Seu sujeito da informação é revisto nas conjecturas do pós-humano,
entre máquinas e por sujeitos híbridos. O tempo e o espaço desse sujeito
da informação é revisto e está em lugares fugidios, não lugares, espaços
ciber, o próprio ciberespaço. Esse sujeito que é pós-moderno, pós-humano
e líquido engendra-se entre contextos sociais e de produção da informação
e do conhecimento com e a partir da máquina. Esse sujeito da informação
instaura à Ciência da Informação, o tempo e o espaço atual de ampliação
de seu escopo de investigação.
175
C  I 
O  C:
   

A Organização do Conhecimento pode ser compreendida por meio
de seus processos, instrumentos, produtos e teorias dirigidas aos estudos
do conhecimento humano que operam no documento. Os documentos na
Organização do Conhecimento são compreendidos em sua materialidade,
o que significa que são “[...] entendidos em sua concepção mais ampla
enquanto suportes informacionais de qualquer obra” (Guimarães, 2003,
p. 103). Como exemplo, “[...] o texto impresso ou o digital, o áudio (mú-
sica, discurso ou som ambiente), a imagem fixa (fotografia, cartaz, quadro,
etc.), a imagem em movimento (filme, spot de publicidade, etc.), a obra de
arte (escultura, cerâmica), a arquitetura (ponte, fábrica, igreja, etc.) ou um
produto industrial (selo)” (Gil-Leiva, 2012, p. 65). Entretanto, a noção de
documento na Organização do Conhecimento está justaposta ao critério
de materialidade.
Para Zins (2011) existem duas formas principais de conhecimento:
o existente na mente do indivíduo (em seu pensamento, intelecto), e como
coisa ou objeto. Como existente na mente do indivíduo, o conhecimento
é um pensamento, uma crença verdadeira e justificada, como na ideia de
Platão, ou em eaetetus.1 Trata-se do conhecimento subjetivo, o conteúdo
da mente de um indivíduo considerado como verdadeiro e justificável, o
Ideia de diálogo platônico.
Richele Grenge Vignoli
176
próprio conhecimento. Já o saber, encontra-se na mente em três condições:
justificação, crença e verdade (Zins, 2011).
O segundo tipo de conhecimento categorizado na existência obje-
tiva como coisa ou objeto é independente do conhecimento em crenças
ou verdades, e existe sem a necessidade do conhecimento subjetivo. É o
conhecimento sobre as coisas ou objetos da natureza, que se desenvolve
naturalmente. Zins (2011) disserta a respeito do conhecimento universal
em que suas abordagens subjetiva e objetiva são complementares, pois o
conhecimento universal é aquele que ninguém conhece e que não possui
sentido, é um produto do conhecimento subjetivo.
A Ciência da Informação procura transformar o conhecimento ob-
jetivo ao condensá-lo ou sintetizá-lo em linguagens próprias e por meio de
suas técnicas e metodologias advindas da Organização do Conhecimento.
Hiner (2018) indica que a Organização do Conhecimento se define na
Organização do Conhecimento registrado – sua própria objetivação.
Barité (2001) defende, assim como Guimarães (2003, 2009), que o co-
nhecimento na Organização do Conhecimento é como um dínamo, um
produto e necessidade social e que é sobre esse prisma, que são investigados
no campo. No ponto de vista dos autores, o conhecimento se torna socia-
lizado quando possui uma materialidade passível de tratamento para sua
conversão em produtos informacionais que poderão gerar outros conheci-
mentos individuais ou coletivos. A saber, o conhecimento nesse ponto de
vista só será socializado quando passar pelos processos da Organização do
Conhecimento, isto é, quando primeiramente materializado.
Em busca de rupturas nos modos de tratar, organizar e pensar o co-
nhecimento na Organização do Conhecimento e na Ciência da Informação,
o quadro 3 foi elaborado contestando a área.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
177
Quadro 3 – Condicionantes do conhecimento na Organização do
Conhecimento
Visão do conhecimento na Organização do
Conhecimento Crítica
Só se torna social quando tratado, como na
Organização do Conhecimento (Guimarães,
2009).
Então o conhecimento não surge de estratos
sociais
Só poderá ser socializado quando objetivado
(materializado) a partir de documentos
(Guimarães, 2003; Rabello, Guimarães,
2006).
1. o conhecimento não depende de sua
materialização para ser socializado;
2. o documento deve sobrepor-se a ideia de
uma materialidade intrínseca no polo virtual
Os documentos são organizados por
conceitos e rigor estrutural (processos e
instrumentos) determinados na organização
social (Barité, 2001).
Sob essa premissa, o conhecimento não pode
ser organizado de outra forma, com outros
critérios além dos referentes da Organização
do Conhecimento
Sua socialização depende também de sua
transformação em produtos informacionais.
Sua representação em produtos
informacionais é condição da Ciência
da Informação e da Organização do
Conhecimento, por isso, não representa toda
a realidade da sociedade
O conhecimento socializado poderá
gerar outros conhecimentos coletivos ou
individuais a partir de sua disseminação
quando organizado na esfera da Organização
do Conhecimento (Barité, 2001).
Nesse caso, desconsidera-se o conhecimento
subjetivo em sua natureza e amarra-o à
premissa que somente quando objetivado
pode ser útil a outras pessoas
A informação poderá gerar outros
conhecimentos que reiniciarão o ciclo de
tratamento do conhecimento na Organização
do Conhecimento
O processo cíclico do conhecimento na
Organização do Conhecimento responderá
por outros ciclos em que sua objetivação
fomentará o desenvolvimento contínuo do
conhecimento materializado
Somente o conhecimento e informação
materializados são tratados, organizados
e reconhecidos na Organização do
Conhecimento e Ciência da Informação
Significa que as áreas têm preferido tratar a
informação em sua materialidade, quando é
possível registrá-la
A Organização do Conhecimento e a Ciência
da Informação atuam sobre documentos
(Hiner, 2018).
As áreas devem atuar sobre o objeto
informação e abandonar a concepção
tradicional de documento
Fonte: Elaborado pela autora (2024).
Em suma, o conhecimento na Organização do Conhecimento per-
passa critérios de objetivação em instâncias de materialização em docu-
mentos para gerar produtos informacionais a partir de processos, instru-
mentos e padrões já estabelecidos e dogmatizados na área.
Richele Grenge Vignoli
178
A Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento recon-
dicionam a gênese do conhecimento a partir de estruturas que criaram em
sua comunidade científica, entre suas técnicas, metodologias e paradigmas,
e não entre estratos atuais da realidade. O forte embasamento no docu-
mento como objeto de estudo das áreas causa atrasos para a compreensão
além de sua materialidade. Ainda que compreendidos em formas e forma-
tos variados, o documento na Ciência da Informação e na Organização do
Conhecimento continua a empregar a noção de materialidade. Se compa-
rado nos ideais de Otlet (1934), há distorções de compreensão, pois para
o advogado, um documento é também um objeto abstrato, isto é, sem
materialidade.
Na socialização do conhecimento na Organização do Conhecimento
segundo seus processos, questiona-se: Como categorizar o conhecimento
advindo das relações e experiências cotidianas, sociais e humano-maquí-
nicas que não carecem de materialização em suas manifestações no polo
virtual? Para contextualizar o questionamento, insere-se à discussão o co-
nhecimento gerado nos ambientes virtuais por sujeitos da informação,
múltiplos e despreocupados com questões de guarda e memória.
O cotidiano dos sujeitos da informação está envolto por novas prá-
ticas de geração de conhecimento e informação que pouco ou nada se as-
semelham às formas padronizadas da Organização do Conhecimento. Essa
informação não possui formatos ou suportes convencionais, não é gerada
somente por especialistas e não está armazenada em apenas um Uniform
Resource Locator (URL). São práticas de geração e comunicação de conhe-
cimento e de informação escorregadias e líquidas, porque não se detêm
a materializações e padrões fixos ou pré-estabelecidos. São objetos con-
temporâneos que desafiam a Organização do Conhecimento e a Ciência
da Informação a reverem suas práticas e, principalmente, suas formas de
compreender a informação.
Sob esses aspectos, a defesa é por uma reflexão acerca do conheci-
mento periférico ou não advindo somente de cientistas, técnicos, especia-
listas. O conhecimento não deixa de ser conhecimento se não for organi-
zado ou não receber uma materialidade.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
179
Com efeito, a Organização do Conhecimento possui em seus cons-
trutos, o tratamento da informação como uma de suas principais atividades.
Com instrumentos e processos instituídos e contextualizados em outros
períodos, o tratamento da informação na Organização do Conhecimento
tem sido realizado por dispositivos anacrônicos. Seus processos, sistemas e
instrumentos são anacrônicos porque foram desenvolvidos para outras rea-
lidades, entidades, temporalidades, tecnologias, sujeitos e modos de gênese
do conhecimento e da informação.
A exemplo, a Classificação Decimal de Dewey (CDD) foi desen-
volvida em 1876, a Classificação Decimal Universal (CDU) em 1906, e a
primeira versão do Anglo-American Cataloguing Rules (AACR) em 1967 e
a segunda e atual em 1978, instrumentos em uso pleno na Organização do
Conhecimento. Ainda que novos instrumentos tenham surgido e que con-
tinuem a surgir como tesauros e projetos de ontologias, a Organização do
Conhecimento tem como um de seus contratempos, a falta de atualização
dos dispositivos que utiliza para organizar o conhecimento e gerar produ-
tos informacionais. A situação insere a Organização do Conhecimento,
seus processos, sistemas e instrumentos em estagnações atemporais.
Outros exemplos podem ser visualizados em tesauros como o
ASIS&T esaurus of Information Science, Technology, and Librarianship
publicado originalmente em 2005 e atualizado em 2019, segundo dados
da Bartoc.org (2021) 2, porém, acessível somente por meio de licença ou
CD-ROM. O Tesauro Brasileiro em Ciência da Informação (TBCI) do
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia foi publicado
em 2014 (Pinheiro; Ferrez, 2014) e segue sem atualização. Ainda que esses
instrumentos recebam atualizações são sempre tardias ou em descompasso
com o avanço das representações sociais e dinâmicas do conhecimento. Por
isso, a Organização do Conhecimento pode ser compreendida como ine-
vitavelmente anacrônica. O tratamento do conhecimento e da informação
é realizado sempre de forma obsoleta e em descompasso com o desenvol-
vimento do conhecimento científico, técnico e, principalmente, popular.
Disponível em: http://bartoc.org/en/node/1411#about. Acesso em: 10 set. 2023.
Richele Grenge Vignoli
180
A respeito das ontologias como uma concepção atual dos sistemas de
Organização do Conhecimento na Organização do Conhecimento, Sales
(2018) comenta que, ainda assim, são sistemas com abordagens teóricas
predefinidas, preestabelecidas, apoiadas em cânones e axiomas de senten-
ças de verdade. O autor evidencia que mesmo com o avanço tecnológico,
que propiciou o aumento nos relacionamentos conceituais, a base de suas
definições continua no território da preconcepção. Isso significa que os
conceitos que sustentam as ontologias são provenientes da mesma sistemá-
tica de operacionalização de seus instrumentos sucessores na Organização
do Conhecimento. As ontologias e os tesauros continuam a serem constru-
ídos em sistemas hierárquicos de Organização do Conhecimento.
Também a terminologia como um campo dedicado ao controle de
termos de uma comunidade especializada (Campos, 2001), visa promover
uma linguagem e controle terminológico próprios por meio de conceitos
endereçados a sujeitos específicos. Nesse sentido, a terminologia tem seus
esforços exauridos para o controle terminológico por meio termos que re-
presentam conceitos destinados a especialistas e nunca para às camadas
populares dos sujeitos da informação.
Dessa forma, as terminologias apresentam obstáculos no polo virtual
e na informação líquida, pois:
1. não são pensadas para representarem conceitos básicos ou não
advindos de sujeitos da informação do ambiente científico, téc-
nico ou empresarial;
2. são termos que por apresentarem conceitos buscam univocidade
ou no máximo, uma relação entre conceitos, quando em sua
combinação;
3. a base principal da teoria geral da terminologia atua no sentido
dos termos aplicados de acordo com seus usos, isto é, um termo
só tem sentido na área/comunidade a qual foi construído.
As terminologias são utilizadas para conhecimentos elitizados que
comportam conceitos como entes autorizados por esses mesmos especia-
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
181
listas. Não são, portanto, entidades de representatividade social. O uso
de terminologias no polo virtual pode não ser apropriado, pois há neces-
sidade de individualizar grupos ou domínios do conhecimento. Como a
informação líquida não tem como propósito a unificação, quer seja por
meio de termos que atenderão uma comunidade específica em espaços que
devem ser acessíveis a todo sujeito da informação, como o ciberespaço, as
terminologias se apresentam em processos limitadores ao objeto. Ao fim e
a cabo, as terminologias parecem ser matéria-prima para instrumentos que
servirão apenas aos profissionais da informação.
Outros obstáculos inerentes aos sistemas de Organização do
Conhecimento utilizados na indexação e/ou classificação são a sua fatídica
obsolescência. A resistência à inserção de novos termos como os sociais,
associados à burocracia para a atualização dos sistemas de Organização do
Conhecimento faz com que os instrumentos se tornem obsoletos rapida-
mente. Isso significa que a linguagem enquanto entidade viva não é acom-
panhada em suas manifestações na falta de atualização dos instrumentos
utilizados para organizar o conhecimento e a informação na Ciência da
Informação e na Organização do Conhecimento.
Sobre a problemática, os tesauros tradicionais, aqueles tidos como
estáticos e sem nenhuma atualização ou acréscimo de termos são desa-
fiados ao descaso e desuso frente os buscadores modernos como o Google
(Hjørland, 2016; Wu, 2018). Frente os buscadores modernos, a urgência
de atualização dos tesauros se faz premente. Além de teorias de suporte
e uma massa de profissionais para a atualização assíncrona dos tesauros,
aportes e conhecimentos da Ciência da Informação, da Organização do
Conhecimento, da Linguística, da Lexicografia e de outras áreas, são neces-
sários para sua atualização e revisão. Hjørland (2016) sugere que o design
dos tesauros deveria ser revisto e que sua avaliação fosse realizada por atu-
alizações com uso de ferramentas semânticas mais flexíveis como os Topic
Maps3, ontologias e uso de linguagens filosóficas. A defesa de Hjørland
(2016) é por instrumentos semânticos flexíveis e não por padrões que difi-
cultam a atualização. A necessidade de atualização é uma preocupação da
“Os topics maps são uma ferramenta que facilita o acesso e a recuperação de informação na web e atua como
mediadora entre um repositório de informação e os usuários do sistema” (Moreiro González, 2011, p. 113).
Richele Grenge Vignoli
182
Organização do Conhecimento, mas ainda sem soluções imediatas pre-
vistas. O contexto dos tesauros continua a ser permeado por ambientes
estáticos no sentido de atualizações e, por isso, pouco aplicáveis aos objetos
virtuais.
A informação tratada para armazenamento e disponibilização em
instituições tradicionais como bibliotecas, centros de documentação, ar-
quivos e outras, mesmo que on-line não reflete a realidade dos sujeitos
da informação. Tem ocorrido que as mesmas práticas realizadas no
tratamento da informação com foco em documentos (materialidade)
foram transferidas para as instituições de informação em versões digitais. A
mesma situação ocorre com instrumentos utilizados para o tratamento da
informação materializada em outros suportes. A constatação do cenário é
que os instrumentos utilizados para organizar e representar o conhecimento
e a informação continuam os mesmos, a exemplo dos tesauros já mencio-
nados, que de impressos e sem atualização, passaram para uma versão digi-
tal. O Tesauro Brasileiro em Ciência da Informação, por exemplo, passou
de uma versão em PDF para uma hospedada em website com buscador.
Há alteração de formato, mas não há mudança de comportamento para
compreender a dinamicidade do conhecimento. O que houve nesse caso
foi uma mudança que facilitou o trabalho do profissional da informação.
Outro exemplo pode ser visualizado na classificação de e-books com
uso da Classificação Decimal de Dewey. Para o sujeito da informação, o
número de classificação é dispensável uma vez que só tem utilidade para
a sua locomoção entre estantes nos espaços físicos. Por isso, o trabalho
de classificar e-books em bibliotecas virtuais é descabido. A ação atende a
profissionais da informação e não a sujeitos da informação, pois não há uti-
lidade prática da ação no contexto virtual. É, pois, um trabalho realizado
por e para profissionais da informação.
Diante das TIC, de objetos contemporâneos, de espaços plurais de
gênese e transferência do conhecimento e da informação por sujeitos da
informação, defende-se que as práticas da Organização do Conhecimento
desenvolvidas para objetos materializados (documentos) não representam
a realidade da informação líquida. Conquanto, sustenta-se que será neces-
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
183
sário o desenvolvimento de novas formas e instrumentos para organizar
o conhecimento e a informação no polo virtual e na informação líquida.
É preciso responder ao que Wersig (1993) questionou a respeito de
como a Ciência da Informação objetiva compreender as novas situações
do conhecimento. O conhecimento que sofre de fragmentação em sua
produção, representação e em suas necessidades que agora fazem com
que os sujeitos requeiram ajuda para compreendê-lo. A questão é como
a Ciência da Informação vai auxiliar na compreensão dessas novas formas
do conhecimento e em como representá-lo em objetos materializados se a
gênese do conhecimento já não ocorre mais dessa maneira.
As formas mais expressivas do conhecimento têm sido visualizadas
em ambientes virtuais, no próprio ciberespaço. Também os modos de di-
vulgação, transferência e comunicação humana têm ocorrido em ambien-
tes virtuais. A construção do conhecimento se intensifica como coletiva em
suas formas virtuais extrapolando a necessidade de materialização de todo
esse conjunto de saberes e práticas sociais. Também por isso, o conheci-
mento, utilizado como base nas teorias da Organização do Conhecimento
e nas práticas do tratamento da informação, é desatualizado e anacrônico.
Não acompanha, portanto, o dinamismo do conhecimento atual.
As formas de construção de conhecimento mudaram drasticamente
e não são mais determinadas por autoridades únicas ou reconhecidas por
instituições tradicionais de publicação. Não são, tampouco, condicionadas
a institucionalizações dominantes. É o caso das entidades que prescrevem o
que está ou não no centro das discussões de uma área científica, ou mesmo
as instituições tradicionais de informação como as bibliotecas, centros de
documentação e outras. Por isso, discorda-se do ponto de vista defendido
por Rabello (2019) ao condicionar a informação como um documento
institucionalizado em entidades que aferem o conhecimento e a informa-
ção, seu poder de existência formal.
O conhecimento válido não pode ser compreendido apenas como
aquele advindo de ambientes técnico-científicos, de universidades, empre-
sas ou de literatura publicada por editoras comerciais com fins lucrativos
como na cultura de massas. Não pode tampouco, ser praticado apenas
Richele Grenge Vignoli
184
no contexto de sua institucionalização. Se a Ciência da Informação e a
Organização do Conhecimento continuam a estabelecer que somente o
conhecimento formal ou formalizado a partir dessas instituições é passível
de tratamento, todo um universo de conhecimentos de realidades multi-
culturais será e/ou continuará em desmerecimento. As práticas sociais e
a construção e fragmentação do conhecimento, palavras, termos, lingua-
gens e da própria informação surgem e decorrem de vivências nem sempre
institucionalizantes. As práticas do conhecimento foram alteradas e, por
isso, as formas de organizá-las para a geração de produtos informacionais
necessitam de revisão.
Diante das novas formas de criação do conhecimento de sujeitos da
informação ativos e sempre conectados a múltiplas plataformas e ambien-
tes virtuais, a questão que vem à baila é como a Ciência da Informação e
a Organização do Conhecimento têm atuado nesses cenários. Ainda mais
especificamente, a indagação é para quais sujeitos da informação a Ciência
da Informação e a Organização do Conhecimento têm dirigido suas práti-
cas e estudos, se não se volta para os estratos da realidade.
Na tentativa de evidenciar como a Organização do Conhecimento
realizaria a passagem do tratamento dos objetos materializados aos desma-
terializados, Monteiro (2003) realizou estudo com abordagem filosófica
com objetivo de investigar uma mudança de paradigma na Organização do
Conhecimento virtual no ciberespaço. Em sua proposta, a autora contex-
tualizou seu objeto de investigação e propôs que com a presença do virtual,
outro tipo de realidade passou a coexistir com as linguagens e as obras
para além da coisa ou materialidade. Nesses objetos virtuais, as relações
de intervenção, controle e organização física, além da própria materiali-
dade da representação na Organização do Conhecimento e na Ciência da
Informação urgem por revisão.
Nesse raciocínio, para Monteiro (2003), o ciberespaço não se confi-
na em fechamentos físicos (representação descritiva) ou semânticos (repre-
sentação temática) da informação. Não há espaço, da mesma maneira, para
fechamentos normativos ou editoriais relacionados à forma da informação
registrada. Em sentido filosófico, explica Monteiro (2003), o conhecimen-
to e a informação virtual não são esgotados e, portanto, seus fechamentos
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
185
não se firmam. Inclui-se ainda que no sentido prático e de um conheci-
mento e informação gerados, por exemplo, nas redes sociais, o predomínio
do tratamento materializado continua insustentável.
Os fechamentos físicos, semânticos ou normativos se adequam ou
se adequavam aos objetos convencionais que são estáticos e presos na ma-
terialidade, mas não no contexto virtual. O contexto virtual não pode ser
controlado, como o que é incomensurável e é exatamente sob esse aspecto
que problemas na Organização do Conhecimento acontecem e se man-
têm. Para exemplificar a rigidez dos instrumentos normativos do trata-
mento da informação na Ciência da Informação e na Organização do
Conhecimento, Monteiro (2003) elaborou um quadro (quadro 4) para
expor seu raciocínio.
Quadro 4 – A representação da informação e a referência fixa do
conhecimento
REFERÊNCIA FIXA SENTIDO ÚNICO IDENTIDADE
ÚNICA UNIVERSALIDADE
CLASSIFICAÇÃO
(conteúdo) Reprodução do
modelo hierárquico
das classes, das
estruturas da
linguagem, da raiz
como imagem da
árvore-mundo.
Reprodução das
relações ontológicas
do conhecimento.
Criação de um
sistema de classes
fixas de assuntos,
indicando que há um
só sentido, uma só
classe a ser adotada
para o assunto.
A identidade
do assunto,
dos referentes
ontológicos, baseia-
se na unidade
estabilizada do
Conhecimento.
A universalidade do
conhecimento, a
partir de uma classe,
como extensão da
universalidade das
interpretações dos
textos, das ciências.
A classe, expressa
por um significante,
e transformada em
notação internacio-
nal, conferiu a
homogeneidade onto-
lógica dos referentes
científicos.
Richele Grenge Vignoli
186
REFERÊNCIA FIXA SENTIDO ÚNICO IDENTIDADE
ÚNICA UNIVERSALIDADE
INDEXAÇÃO
(conteúdo) Reprodução
da estrutura da
linguagem, por
meio das instruções
semânticas
que conferem
o fechamento
semântico, através do
significante fundador,
que recolhe todos
os conteúdos ou
significados sob o
termo adotado, que
indica o sentido
certo.
A identidade do
assunto baseia-se na
unidade estabilizada
da linguagem.
Criação e adoção
de linguagens
controladas em
várias áreas do
conhecimento
humano: os tesaurus.
CATALOGAÇÃO
(forma) Formação de um
sistema de descrição
que confere o
fechamento físico
das obras, que indica
uma só direção a ser
tomada à organização
e à localização do
conhecimento.
Identificação única
da obra, por meio
da catalogação, que
atribui a identidade
fixa de autores, obras
e assuntos, sob um
número
Criação e aplicação
de normas e padrões
internacionais
de formatos de
catalogação,
conferindo
universalidade à
identificação das
obras.
Fonte: Monteiro (2003, p. 10, grifo nosso).
Conforme o quadro 4 de Monteiro (2003), as noções de referên-
cia fixa ao conhecimento tratadas com envergadura materializada são evi-
denciadas na Ciência da Informação e na Organização do Conhecimento.
É possível observar que referência fixa, antes categorizada por Monteiro
(2003) como bom senso e senso comum e, nesse caso, demonstra que se
trata de uma constatação única e aceita para representar o sentido tanto
da classificação quanto da indexação e da catalogação. Os sentidos únicos
revelam conceitos estabelecidos nas áreas e o que significam na prática de
suas operações.
Na coluna da identidade única, Monteiro (2003) explica que está
relacionada ao bom senso e identidades fixas como àquelas não alteradas
e estabilizadas para a compreensão do sentido. O bom senso significa na
representação do conhecimento fixo, sua identidade única e estável. Por
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
187
isso, o senso comum e o bom senso significarão, na representação do co-
nhecimento, representações fixas e estabilizadas, o que não condiz com a
realidade de objetos virtuais no ciberespaço.
A busca por sentidos e significados únicos atribuídos a objetos infor-
macionais foi de renomada importância em ambientes físicos e para docu-
mentos materializados. Quando a informação esteve presente somente em
ambientes físicos, fazia sentido organizar o conhecimento e a informação
em entidades fixas de espaço e para sujeitos que pouco se moviam em rela-
ção à informação que buscavam e obtinham. Os fechamentos semânticos
e físicos obtinham sentido durante esses contextos de fixidez tanto do do-
cumento quanto dos sujeitos, mas não o fazem mais.
No ciberespaço o movimento de seus indivíduos é o que o torna vivo
e pululante. Sua capacidade de gerar novos conhecimentos e de movimentar-
-se em relação aos seus sujeitos e de seus sujeitos movimentar-se a ele é o que
promove a liquefação de seus construtos. Tudo que é construído no ciberes-
paço é fluido, temporário e escorregadio. Não há materialização e o conhe-
cimento e a informação precisam ser organizados sobre esses pressupostos.
Por isso, questiona-se: Se o ciberespaço é por essência um objeto des-
materializado, como poderia ser organizado por instrumentos que visam
sua materialização? Os equívocos de interpretação insistem em se tornar
cada vez mais claros diante da Ciência da Informação e da Organização
do Conhecimento que continuam a focar seus investimentos de tempo,
pesquisa e prática a realidades não contemporâneas. Os instrumentos vol-
tados à organização de documentos materializados não conseguem orga-
nizar o conhecimento e a informação desmaterializados ou com materia-
lização inconstante, e esse é o maior desafio do ciberespaço, da Ciência da
Informação e da Organização do Conhecimento. É nesta problematização
que a informação líquida está.
No quadro de Monteiro (2003), algumas palavras foram destaca-
das para evidenciar a fixidez dos processos e instrumentos utilizados na
Organização do Conhecimento para tratar e representar o conhecimento e
a informação. Destacam-se, nesse sentido:
Richele Grenge Vignoli
188
classificação: [fechamento semântico] - classes fixas – uma só
classe – um só sentido;
indexação: fechamento semântico – indica o sentido certo;
catalogação: fechamento físico – uma só direção.
Na classificação, o sentido único é visto no fechamento semânti-
co realizado a partir da definição de classes únicas para os assuntos na
representação do conhecimento. Na indexação, o uso de linguagens de
indexação indica o caminho e sentido únicos dos conceitos que se tornam
termos. Na catalogação, a descrição física do objeto indica seu fechamento
porque o condiciona a um único formato ou forma.
Em todas as afirmações, Monteiro (2003) torna claro os fechamen-
tos semânticos praticados tanto na classificação quanto na indexação, e fí-
sico na catalogação. Se há fechamentos, há determinantes que impõem que
os processos estão findados e que, por isso, não cabem novas interpretações
ou inserções. São tratamentos do conhecimento e da informação estanques
para objetos materializados, e não para objetos virtuais e em construção.
Na coluna de identidade única do quadro de Monteiro (2003), os
processos seguem na direção de um sentido único e estabilizante:
classificação: assunto como unidade de conhecimento estabiliza-
do em referentes ontológicos;
indexação: assunto como unidade estabilizada em linguagens
controladas;
catalogação: objeto como unidade física única e estabilizada.
Os fechamentos identitários permanecem, pois, ao estabelecer uma
notação, termos de indexação ou uma descrição física a um objeto, a inten-
ção é que ele se torne único em sentidos e significados, assim como deten-
tor de uma identidade e localização únicas. A pressão da materialidade e do
controle dos objetos continua premente na busca de uma identidade fixa
ou única para os objetos informacionais. Contudo, a univocidade parece
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
189
arbitrária diante da hibridez das formas, formatos e demais características
da informação que impedem uma descrição física unívoca a qualquer ob-
jeto informacional no ciberespaço. Como híbridos, esses objetos já não
possuem uma forma linear ou única. Qualquer tentativa de fechamento
físico de objetos virtuais será um desperdício de tempo e força de trabalho.
Na indexação, a busca por identidades fixas apresenta-se ainda mais
crítica. Amplamente descrita como uma atividade intelectual e subjeti-
va (Campos, 2001; Cintra et al., 1997; Dias; Naves, 2007; Fujita, 2004,
2017, 2020; Gil-Leiva, 2012; Lancaster, 2004; Oliveira; Grácio; Martinez-
Ávila, 2020) assenta em suas próprias características os seus problemas de
demarcação e exatidão. Se o processo é subjetivo, a identidade única por
meio de termos precisos a um mesmo objeto (consistência)4 é um dilema
que a indexação ainda não conseguiu resolver. Conforme pontuado por
Chu e O’Brien (1993, p. 2, tradução nossa) “A consistência é crítica em
todos os estágios do processo de indexação”. Ademais, a subjetividade é
inerente ao ser humano e na indexação manual, tal condição não pode ser
excluída dessa relação. Se o processo é subjetivo não haverá exatidão - uma
afirmação lógica a ser repensada.
A subjetividade na indexação assenta-se igualmente em questões éti-
cas e classistas na definição de termos. Lancaster (2004) comenta o assun-
to quando explica que o profissional da informação não deve se valer de
preconceitos na escolha de termos de indexação. Do mesmo modo, não é
recomendado que o indexador prevaleça ou desmereça algum assunto que
tenha predileção ou rejeição. A neutralidade deverá ser buscada e ideologias,
favoritismos políticos, religiosos, questões de gênero e sexualidade, além de
outras abordagens do sujeito deverão neutralizar-se diante do objetivo de
indexar termos que representam o objeto e não o sujeito que o indexa.
Na leitura documentária que antecede a indexação, as variáveis lei-
tor, texto e contexto5 em que se aplicam no primeiro elemento, as estru-
A verificação da consistência “[...] ocorre quando é feita uma comparação entre os termos de indexação
definidos por dois ou mais indexadores, para o mesmo documento, certamente são detectadas diferenças
de julgamento de quais termos seriam os mais adequados” (Dias; Naves, 2007, p. 17). Quando não há
similaridade observa-se que ocorreu inconsistência na indexação.
Neste modelo, o leitor, corresponde às estruturas (esquemas) do sujeito e os processos (estratégias) de leitura
que ele utiliza. Geralmente essas estruturas referem-se ao que o leitor é (seus conhecimentos e suas atitudes)
Richele Grenge Vignoli
190
turas e processos, no segundo, a intenção do autor, a forma e o conteúdo,
e no terceiro, os contextos psicológico, social e físico de quem lê (Fujita,
2020), toda a subjetividade da ação é ainda mais exaltante. Então, parte-se
de um procedimento em que as vivências, experiências e ambiente do in-
dexador no momento da leitura, interferem na condução de seu trabalho
de extração de conceitos para a indexação. Não por acaso, a consistência na
indexação demonstra que diversos indexadores indexam um mesmo objeto
de formas muito discrepantes. A situação acontece não apenas porque cada
sujeito (indexador) é um indivíduo único, mas também porque seus con-
textos formativos são outros, assim como podem diferir os instrumentos
normativos utilizados, os objetivos de sua instituição e, acima de tudo, seus
processos cognitivos.
A indexação não pode estabelecer exatidão nos conceitos extraídos
de cada objeto porque não existem termos únicos para nenhum objeto
informacional. Tal situação acontece porque o processo é subjetivo na in-
dexação manual e a definição de um termo unívoco para cada objeto in-
formacional é uma possibilidade de difícil alcance. A assertiva pode ser
verificada na expressão categórica de Lancaster (2004, p. 9) “Em outras
palavras, não há um conjunto ‘correto’ de termos de indexação para docu-
mento algum”. Portanto, as possibilidades da indexação diante da repre-
sentação do conhecimento e da informação são no máximo aproximativas.
A defesa por uma indexação manual/humana em detrimento da au-
tomática (Dias; Naves, 2007) acabará por recair sempre na subjetividade
e aproximação. Por outro lado, “Um programa de computador indexará
sempre igual, bem ou mal, um documento sem que intervenha no con-
texto” (Gil-Leiva, 2012, p. 82). Outro ponto é que os termos selecionados
para representar um objeto no contexto virtual serão sempre provisórios,
visto que a cada nova atualização de seu conteúdo, novos termos podem
surgir e se apresentar como mais próximos do objeto. Não há indexação
e os processos referem-se ao que ele faz durante a leitura (habilidades a que ele recorre); o texto corresponde
ao material a ser lido e apresenta os seguintes aspectos: a intenção do autor, a estrutura e o conteúdo. O
autor determina cada um dos aspectos ao organizar suas idéias [sic]; e o contexto corresponde aos elementos
extratexto, que podem influenciar na compreensão da leitura. Giasson destaca três tipos de contexto:
o contexto psicológico (intenção de leitura, interesse pelo texto...), o contexto social (por exemplo, as
intervenções dos professores e dos colegas...) e o contexto físico (o tempo disponível, o barulho...) (Fujita,
2004, p. 5).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
191
que resista ao tempo. Isso significa que a indexação funciona a princípio,
no objeto primário, mas pode não o representar após sua reconstrução
no ciberespaço tanto em forma quanto em conteúdo. Seus contextos re-
constroem seus significados. Por isso, mesmo não faz sentido buscar uma
identidade única para objetos informacionais virtuais.
Em relação à confecção de resumos documentários na atualidade,
sua utilidade já não parece primordial como quando havia insuficiência de
armazenamento tecnológico. No contexto web é possível recuperar com
facilidade os textos em formato full-text em cenário muito distinto da dé-
cada de 1980. As bibliografias ou índices nos formatos de index ou abstracts
como o Medical Abstract ou Chemical Abstract eram úteis enquanto siste-
mas impressos de resumos e listas de referências, que informavam a seus
leitores onde e como encontrar determinada publicação. Havia dificuldade
para a recuperação da informação, pois a web não estava desenvolvida e
popularizada como atualmente. Ou os computadores não eram realidade,
ou não possuíam capacidade tecnológica de armazenamento e, por isso,
os resumos e as listas de referências bibliográficas faziam bem o papel de
representação de seus trabalhos completos. Entretanto, com a web e cibe-
respaço e com acesso a múltiplas bases de dados de acesso aberto, os me-
canismos de busca como o google, a confecção de resumos, especialmente
para os textos que já o possuem, não demonstram a sua aplicabilidade ou
necessidade como uma tarefa do profissional da informação.
Dito em outras palavras, não parece ser necessário representar por
meio de resumos, o que está disponível na íntegra na web e no ciberespaço
e que na maioria das vezes, já apresenta um resumo. O trabalho e o ensino
de elaboração de resumos e de manuais não parece mais uma necessidade
do profissional da informação no ambiente virtual e na informação líqui-
da. São atividades que perderam sua importância ao longo do tempo e que
não são aplicadas no polo virtual. Nessa lógica, há práticas dos profissio-
nais da Ciência da Informação que necessitam ser revistas enquanto sua
utilidade no cenário virtual e no contexto da informação líquida.
Também como produto da indexação, os índices como o que pos-
sibilita o encontro de “Relação de palavras ou frases, ordenadas segundo
determinado critério, que localiza e remete para as informações contidas
Richele Grenge Vignoli
192
num texto” (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2004, p. 1, grifo
nosso) requer modificações na Organização do Conhecimento e na Ciência
da Informação para além de sua materialidade em texto.
Para Gil-Leiva (2012, p. 88) “Um índice serve para ligar um objeto
à sua localização”. Os sentidos aplicados aos índices na Organização do
Conhecimento costumam ser mantidos na noção de documentos e suas
formas de encontrar determinadas informações ou suas frações. É possível
encontrar, por exemplo: palavras, frases, parágrafos, epígrafes ou páginas
(Gil-Leiva, 2012).
No mesmo sentido dos resumos, a necessidade de produzir ou capa-
citar profissionais para a confecção de índices conflui por uma remodelação
em ambientes virtuais. Os hipertextos no contexto virtual são índices que
apontam a várias direções ao mesmo tempo, mas não somente para textos.
Na recondução de sentidos e aplicações, Monteiro e Giraldes (2019, p. 04)
trazem uma nova definição para os índices contemporâneos, os próprios
mecanismos de busca: “Um índice é um paratexto, cuja ordem epistêmica
é diferente dos textos que indexam, mas apresentam, cada vez mais, frag-
mentos maiores de conhecimento em seu corpo”. Os índices contemporâ-
neos como mecanismos de busca são recontextualizados para os ambientes
virtuais entre o fluxo livre de informações, sujeitos da informação autô-
nomos e tecnologias semióticas. Os índices se tornaram verdadeiras “[...]
bússolas informacionais” (Monteiro; Giraldes, 2019, p. 5).
Apesar da remodelação dos índices à contemporaneidade, Monteiro
e Giraldes (2019) evidenciam que o instrumento não perdeu sua capacida-
de de organizar o conhecimento. Aconteceu que sua natureza pragmática e
semiótica se mantiveram na ação de indicar, apontar e mostrar (Monteiro;
Giraldes, 2019) para onde a informação está e agora em como acessá-la
prontamente. Houve mudança de comportamento no entendimento das
autoras em relação aos índices ao extraírem das TIC e do ciberespaço, as
formas ideais de organizar e disponibilizar a informação aos sujeitos da
informação no ambiente e espaços virtuais. Nota-se que não cabe ao pro-
fissional da informação a construção de modelos pragmáticos para orga-
nizar todo tipo de conhecimento, mas compreender como organizá-los de
acordo com a realidade das sociedades e objetos contemporâneos.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
193
De todo modo, na leitura documentária para indexação repousa nos
modelos ou metodologias existentes, outras inconstâncias para praticá-la
nos contextos do conhecimento e informação virtual, na informação lí-
quida. As metodologias existentes (Fujita; Alves; Almeida, 20206; Fujita;
Neves; Dal’Evedove, 2017) buscam traçar diretrizes para localizar assuntos
nos diferentes tipos de texto entre estruturas textuais e macroestruturas que
não englobam a diversidade de itens utilizados na comunicação humana.
A referência que se faz é a respeito do que circula nas redes sociais, e-mails
e entre dispositivos eletrônicos como smartphones por meio de memes7,
Graphics Interchange Format (GIF)8, emojis9, vídeos curtos, podcast10 e ou-
tros formatos não contemplados por meio de texto escrito. Essas formas
de comunicação não costumam ser contempladas nos modelos de leitura
documentária, assim como não são pensadas em suas formas de indexação.
Nesse sentido, a dúvida é compreender como serão construídos modelos
de leitura documentária para fins de indexação para objetos com estruturas
textuais tão disformes e não textuais ou ainda não desenvolvidos.
Contudo, essas novas formas de comunicação representam o modo
como os sujeitos da informação se comunicam em esfera científica, de
massa, corporativa e outras. Não são apenas formas de comunicação, mas
também, construções sintéticas de expressões, conhecimento, informação
e/ou mensagens que os sujeitos da informação desenvolvem para serem
ouvidos/lidos em todas as nervuras do ciberespaço. Há um pressuposto
Neste material, consta um modelo para obras derivadas de textos de ficção de Sabbag (2020). O modelo
é interessante porque explora outras formas não convencionais de organizar o conhecimento advindo de
plataformas colaborativas de construção do conhecimento. Entretanto, a dúvida é se já existem unidades de
informação tradicionais como bibliotecas incorporando essas realidades em seus acervos ou bases de dados
como informação a ser disseminada a sua comunidade de sujeitos da informação.
“Conjunto de fórmulas ou produtos culturais que, após transmitidos, proliferam de maneira autônoma,
sem controle por parte das mentes receptoras, à imagem de um vírus” (Neiva, 2013, p. 362).
“Um formato de arquivo de imagem desenvolvido por CompuServe Inc. É projetado para transmissão on-
line eficiente de varredura de cores [de] imagens. GIF é amplamente usado na *World Wide Web para
incorporar imagens em páginas da web” (Ngondi; Butterfield, 2015, p. 772-773).
Emojis ou emoticons são combinações de sinais de pontuação, e às vezes outros caracteres, usados pela
primeira vez em e-mail e com a intenção de transmitir o humor do escritor; emoticons também são chamados
de smileys, independentemente do humor. Os caracteres padrão do teclado são usados para fazer rostos de
lado na linha (Ngondi; Butterfield, 2015, p. 675). Os emojis atuais são atualizações dos smileys com diversas
expressões em formato de imagens.
10 “Disseminação de arquivos digitais de vídeo ou de áudio disponibilizados na internet” (Neiva, 2013, p.
438).
Richele Grenge Vignoli
194
implícito de que as pessoas se comunicam e necessitam de informação em
outros formatos, por outras mídias ou na mistura de todas elas. O que se
pode afirmar é que o sujeito da informação não se comunica ou tem inte-
resse somente por texto e pela palavra escrita. Por isso, a indexação e a lei-
tura documentária possuem processos e instrumentos que não se aplicam
totalmente às massas informacionais.
Apesar de citarem a preocupação com o público a ser atendido
em suas necessidades informacionais na recuperação da informação pro-
veniente do sucesso da indexação (Fujita, 2017, 2020; Gil-Leiva, 2012;
Lancaster, 2004), o poder condicionante dos instrumentos que controlam
o saber em termos aceitos na comunidade científica da Organização do
Conhecimento ainda é unânime. Se o contrário fosse verdade, a indexação
seria realizada mais por linguagens naturais do que por controladas. Ao
contrário, quase todo o esforço da indexação e também da classificação é
no sentido de uso das linguagens controladas.
As linguagens de indexação ou controladas, assim como os vocabu-
lários controlados, guardam em si problemas subjacentes já em suas no-
menclaturas. O termo controlado já indica em si um fechamento quer
seja semântico ou de outras inserções de significados. A Organização do
Conhecimento apresenta alguma resistência à inclusão da abertura e/ou in-
serção da linguagem natural ao processo de indexação, visto, por exemplo,
na adesão das folksonomias. A aplicação da folksonomia na Organização do
Conhecimento poderia incorporar a realidade do sujeito da informação às
práticas estabilizantes da indexação e classificação calcadas no preciosismo
dos conceitos e terminologias. O argumento não se reflete na substituição
das linguagens controladas, mas em sua consideração equilibrada para bus-
car representar a realidade do conhecimento e seus sujeitos da informação.
Obviamente, a folksonomia apresenta problemas relacionados à es-
truturação de conceitos e significados e, por isso, são desvalorizadas11 na
11 Entretanto, pesquisadores e o Grupo #FOLKCoLAB - Colaboratório de Pesquisas e Práticas sobre
Folksonomia e Sistemas Híbridos de Organização do Conhecimento tem se dedicado a estudos da
folksonomia em cenário brasileiro e como o primeiro grupo de pesquisa do CNPq dedicado a temática. O
grupo de pesquisa é afiliado a Universidade Federal do Rio de Janeiro e ao Departamento de Biblioteconomia
da Universidade. Disponível em: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/8700865134850810. Acesso em:
12 ago. 2023.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
195
Organização do Conhecimento. Seus problemas polissêmicos, a falta de
padronização de termos e/ou de termos com sentido apenas a determina-
dos sujeitos, são exemplos de sua falta de adesão na área. Mas nesse ponto,
os profissionais da informação podem intervir em uma espécie de filtragem
e equilíbrio entre as linguagens controladas e a do povo (folsksonomia).
Com uma organização social do conhecimento, a folksonomia poderia ser
conduzida como participante entre os termos selecionados para represen-
tar o conhecimento e a informação. Ademais, a organização social do co-
nhecimento como ação da folksonomia representa a realidade dos sujeitos
da informação no ciberespaço e, principalmente, em como eles entendem
e podem vir a buscar a informação que necessitam.
Para Brandt e Medeiros (2010), os sujeitos da informação indexam
seus conteúdos por termos que representam conceitos, mas que não são
estruturados como na Organização do Conhecimento. Há sempre um ri-
gor pré-estabelecido e questões de escolha que impõem sobre qual tipo de
conhecimento poderá ser organizado e tratado no escopo da Organização
do Conhecimento. Esse conhecimento aceito não advém do povo ou das
massas, de contextos não institucionais e formais de criação ou estruturas
textuais não convencionais. A afirmação, que é incômoda, pode ser consta-
tada quando se questiona de onde advém o conhecimento e a informação
que a Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento recebem
como válidos para tratamento nas áreas.
No processo da classificação, os obstáculos mencionados na inde-
xação são postergados na ação, já que os mesmos termos condicionan-
tes e estabilizantes serão classificados em sistemas de Organização do
Conhecimento. Os termos ou palavras-chave resultantes da indexação se-
rão classificados por sistemas numéricos ou alfanuméricos que tornarão
o conhecimento e a informação estáticos e fixos. Uma vez atribuído um
número de classificação, o objeto tem sua identidade e local fixo para per-
manecer. Outrossim, o objetivo da Classificação Decimal de Dewey ou da
Classificação Decimal Universal é possibilitar a recuperação dos objetos
(materializados) nas estantes. Ainda que procurem unir assuntos, a obso-
lescência de seus vocábulos não consegue englobar termos atuais.
Richele Grenge Vignoli
196
Diante da realidade da classificação, acredita-se que a Classificação
Decimal de Dewey e a Classificação Decimal Universal têm sido utilizadas
apenas como signo indicial, para indicar a localização dos materiais na uni-
dade física. Desse modo, o indivíduo realiza a busca informacional em um
catálogo on-line, e vai fisicamente à unidade de informação para recuperar
o material impresso segundo classificação nas estantes.
Novamente, observa-se que a Ciência da Informação e a Organização
do Conhecimento têm, no máximo, realizado as mesmas ações subjacentes
aos documentos (materializados) nos objetos virtuais. Não há mudança ex-
pressiva, mas apenas uma transferência física de atividades para o contexto
virtual. As práticas não foram alteradas, o foco está apenas no formato e
não em como a realidade condiciona e solicita as áreas toda uma mudança
de comportamento e de instrumentos frente os desafios atuais. Para orga-
nizar a informação líquida serão necessários instrumentos e sistemas não
lineares, flexíveis e abertos a reconstruções constantes. Não se pode tratar
como fixidez e solidez o que é fluído e líquido.
Obviamente, muitos estudos da Organização do Conhecimento têm
sido realizados especificamente a respeito de estruturas semânticas, ontolo-
gias e unidades complexas do conhecimento na web. Porém, ainda assim, o
peso do objeto materializado no diálogo da Organização do Conhecimento
continua a persistir mesmo quando “transferido” para o ambiente on-line.
Conquanto, é salutar ressaltar que a conversão esperada não cabe
na alteração de formatos do analógico ao digital, pois essas ações já são
realizadas e não representam mudança comportamental substancial na
Ciência da Informação, na Organização do Conhecimento e entre seus
pesquisadores e profissionais. A expectativa é que a mudança seja compor-
tamental no sentido de compreensão de que há todo um universo possível
no ciberespaço que reconduz as práticas de conhecimento e informação
na sociedade. Na conversão esperada e necessária é preciso que a Ciência
da Informação e organização reconduzam suas formas de representar o
conhecimento e a informação na web e ciberespaço e na ruptura de uma
informação estática e amorfa para uma informação líquida.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
197
Portanto, os fechamentos semânticos e físicos mencionados por
Monteiro (2003) se expandem nas áreas também na entrada do objeto nos
sistemas ou acervos das instituições. Os fechamentos são iniciados desde a
entrada do objeto no acervo ou sistema/unidade de informação e os ques-
tionamentos realizados nesse sentido são: De onde esses materiais são deri-
vados? É somente do contexto científico e técnico como de livros, artigos
científicos, literaturas, manuais? Há estratos da sociedade nesses objetos
que não comportam o conhecimento institucionalizado convencional-
mente? Nota-se claramente um fechamento no recebimento de materiais e
informações que são pautados nas decisões de entrada desses objetos, que
são de classe e, por isso, classistas.
Na seleção e aquisição desses materiais, somente o que é adquirido
(ainda que por doação ou permuta) por entidades institucionais como em-
presas, editoras ou bases de dados é que compõe ou comporá esse acervo,
pois sabe-se de antemão que o conhecimento popular ou advindo de peri-
ferias não é exatamente válido na Ciência da Informação. O que advém do
conhecimento público e gratuito e disponível no ciberespaço sem corrom-
per questões de direitos autorais tem dificuldade de ser inserido aos acervos
e sistemas da área quando não institucionalizados, quando não possuem
uma autoria, editora ou ficha catalográfica padronizada, por exemplo.
Nesse caso, as decisões e fechamentos classistas permanecem na entrada
desses objetos nos acervos, nos sistemas, nas bases de dados.
Os fechamentos físicos e semânticos já foram evidenciados por
Monteiro (2003) e decorrem dos processos de tratamento físico e temático
da informação. Quanto à saída como participante do processo técnico-do-
cumental exposto por Gil-Leiva (2012), e que é um reflexo representativo
da própria Organização do Conhecimento, outras constatações são ins-
tauradas decorrentes do conhecimento vivo, das realidades sociais e atuais,
essencialmente nas circunstâncias das TIC e do ciberespaço.
Em resumo, esse conhecimento não pode e, muitas vezes, não tem
sido representado na Organização do Conhecimento e na Ciência da
Informação, pois:
Richele Grenge Vignoli
198
os processos e instrumentos utilizados não se relacionam com a
realidade de gênese do conhecimento e informação atuais;
os instrumentos utilizados para organizar o conhecimento bus-
cam fixar sentidos e identidades na materialização da informação;
os instrumentos utilizados para organizar o conhecimento são,
em sua maioria, fundamentados para o tratamento de documen-
tos e oriundos da Documentação;
os instrumentos utilizados para organizar o conhecimento e a
informação são obsoletos ou de pouca ou nenhuma atualização;
os produtos oriundos dos processos de tratamento da informa-
ção não compreendem a realidade dos sujeitos da informação;
os sujeitos de informação não realizam buscas informacionais
de modo hierárquico ou da forma como a Organização do
Conhecimento conduz suas práticas;
a atribuição de sentido pelo sujeito não é estagnada, tampouco
pode ser a representação do conhecimento por eles gerada;
não é possível descrever um objeto em forma unívoca tanto em
forma quanto em conteúdo quando os objetos se tornaram hí-
bridos e com múltiplos significados;
não é possível descrever um objeto com única linguagem quan-
do o contexto é hipermidiático;
os sujeitos da informação são múltiplos e não só humanos;
não é possível continuar organizando o conhecimento e a infor-
mação tendo como referência o registro material;
o conhecimento é derivado de outros fatores condicionantes e não
advém somente de contexto técnico-científicos e empresariais;
o conhecimento e a informação não apresentam linearidade
textual;
o conhecimento e a informação são fenômenos líquidos.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
199
Tais pontos indicam que os fechamentos da entrada da informa-
ção e do conhecimento são classistas, físicos e semânticos e refletem na
saída da informação, de seus produtos para os sujeitos da informação. Os
sujeitos da informação desses processos fechados terão acesso a frações
pouco representativas do conhecimento e da realidade em que estão in-
seridos. A compreensão de que o conhecimento e a informação estão em
um devir contínuo deve ser a máxima da representação e da Organização
do Conhecimento. A defesa é na abertura dos processos de tratamento
da informação como uma informação líquida e por uma compreensão
ampla de uma informação desapegada de materialidade e padronizações
formalizadas.
Para tanto, a informação líquida:
não busca excluir ou menosprezar a informação materializada
e registrada, mas possui interesse em enaltecer sua qualificação
como ente imaterial e que nunca poderá ser registrada no mol-
des tradicionais;
não intenciona ser apenas virtual, mas tem sua essência na vir-
tualidade, pois é o cenário ao qual as manifestações sociais tem
se propagado com maior intensidade na condição pós-moderna
e atual;
não busca padrões ou unificações em formatos, formas, conteú-
dos, pois no contexto de sua liquidez, não pode prever ou asse-
gurar essas especificações ao longo do tempo e mesmo em tempo
real;
não transfere as formas de tratar e organizar a informação para os
meios digitais ou virtuais, isso já é realizado há anos. Mas trata
de incentivar a criação de novas formas e instrumentos para or-
ganizar a informação e o conhecimento que já são genuinamente
virtuais;
não é mais uma nomenclatura ou “moda” para nomear a infor-
mação, pois trata-se de uma forma encontrada e com base na te-
oria de Bauman para discutir a informação que é fluida, volátil,
Richele Grenge Vignoli
200
sem parada, sem controle, de difícil organização e que acima de
tudo, desafio os profissionais da informação a repensarem suas
práticas tradicionais.
A informação líquida foi pensada, conceituada e idealizada para que
a comunidade científica e profissional da Ciência da Informação reflita
e perceba que a informação se tornou um fenômeno contemporâneo de
ampla discussão em seus modos de tratar, organizar e disseminar em um
contexto líquido, entrópico e pós-moderno.
201
R
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. Revisão e tradução Ivone Castilho
Benedetti. 5 ed. rev. ampl. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 1026 p.
AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES (ANATEL). Painéis de
dados. Brasília, DF: Anatel, 2021. Disponível em: https://informacoes.anatel.gov.br/
paineis/acessos. Acesso em: 30 jun. 2021.
ALBAGLI, S. Ciência aberta em questão. In: SENA, A. R. M. de et al. (org.). Ciência
cidadã e determinação social da saúde: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro: ICICT/
FIOCRUZ, 2016. 110 p. (Coleção Diálogos Interdisciplinares I – PPGICS/ICICT/
FIOCRUZ).
ALBAGLI, S.; CLINIO, A.; RAYCHTOCK, S. Ciência aberta: correntes interpretativas
e tipos de ação. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 434-450, nov. 2014.
ARAÚJO, C. A. A. A Ciência da Informação como ciência social. Ciência da
Informação, Brasília, DF, v. 32, n. 3, p. 21-27, set./dez. 2003.
ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e Ciência da
Informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros; São Paulo:
Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014. 215 p.
ARAÚJO, C. A. A. Correntes teóricas da Ciência da Informação. Ciência da
Informação, Brasília, DF, v. 38, n. 3, p. 192-204, set./dez. 2009.
ARAÚJO, C. A. A. O conceito de informação na Ciência da Informação. Informação
& Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 20, n. 3, p. 95-105, set./dez. 2010.
Richele Grenge Vignoli
202
ARAÚJO, C. A. A. O fenômeno da pós-verdade e suas implicações para a agenda
de pesquisa na Ciência da Informação. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de
Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 25, p. 1-17, 2020.
ARAÚJO, C. A. A. O sujeito informacional no cruzamento da Ciência da Informação
com as ciências sociais. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA
DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 14., 2013, Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis:
ANCIB, 2013. Disponível em: http://enancib.sites.ufsc.br/index.php/enancib2013/
XIVenancib/paper/viewFile/142/263. Acesso em: 4 ago. 2023.
ARAÚJO, C. A. A. O que são práticas informacionais? Informação em Pauta,
Fortaleza, v. 2, out. 2017. Número especial.
ARAÚJO; R. F.; PEDRI, P. Publons: uma plataforma de visibilidade para revisão por
pares no âmbito da ciência aberta? Cadernos BAD: Revista da Associação Portuguesa de
bibliotecários, arquivistas e documentalistas, Lisboa, n. 1, p. 59-69, 2018. [Atas da 9ª
Conferência Luso Brasileira sobre Acesso Aberto].
ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário brasileiro de terminologia arquivística.
Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005. 232 p. (Publicações Técnicas, n. 51).
ASSIS, J.; MOURA, M. A. Folksonomia: a linguagem das tags. Encontros Bibli:
Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 18, n.
36, p. 85-106, jan./abr. 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). ABNT NBR
6034: informação e documentação: índice: apresentação. 2. ed. Rio de Janeiro: ABNT,
2004.
AUGÉ, M. Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade.
Tradução Maria Lúcia Pereira. 9. ed. Campinas: Papirus, 2012.
BARITÉ, M. Organización del conocimiento: um nuevo marco teórico-conceptual em
Bibliotecología y Documentación. In: CARRARA, K. (org.). Educação, universidade e
pesquisa. Marília: Unesp-Marília-Publicações; São Paulo: FAPESP, 2001. p. 35-60.
BARNETT JUNIOR, T. et al. Cisco Visual Networking Index (VNI) complete
forecast update, 2017–2022: APJC Cisco Knowledge Network (CKN) presentation.
CISCO: United States, 2018. p. 432
BARNHART, F. D.; PIERCE, J. E. Becoming mobile: reference in the ubiquitous
library. Journal of Library Administration, United States, v. 52, ed. 6-7, p. 559-570,
2012.
BARRETO, A. de A. A condição da informação. São Paulo em Perspectiva, São Paulo,
v. 16, n. 3, p. 67-74, jul. 2002.
BARTLING, S.; FRIESIKE, S. Preface. In: BARTLING, S.; FRIESIKE, S. (ed.).
Opening science: the evolving guide on how the internet is changing research,
collaboration and scholarly publishing. New York: Springer Open, 2014. p. 352-378.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
203
BATTELLE, J. A busca. Campinas: Campus; Rio de Janeiro: Elsevier, 2001.
BAUMAN, Z. Entrevista com Zygmunt Bauman. [Entrevista cedida a] Maria Lúcia
Garcia Pallares-Burke. Tempo Social, São Paulo, v. 16, n. 1, jun. 2004.
BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução Carlos Alberto
Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
BAUMAN, Z. Medo líquido. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro:
Zahar, 2008.
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar,
2001.
BAUMAN, Z. Tempos líquidos. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2007a.
BAUMAN, Z. Vida líquida. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2007b.
BENEVENUTTO, F. E.; SILVA, M. R. da; MOSTAFA, S. P. A repercussão de
Gilles Deleuze na Ciência da Informação. DataGramaZero: Revista de Ciência da
Informação, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, ago. 2015.
BENTES PINTO, V. Interdisciplinaridade na Ciência da Informação: aplicabilidade
sobre a representação indexal. In: BENTES PINTO, V.; CAVALCANTE, L. E.; SILVA
NETO, C. (org.). Abordagens transdisciplinares da Ciência da Informação: gêneses e
aplicações. Fortaleza: Edições UFC, 2007. p. 105-142.
BERNARDET, J. O que é cinema. São Paulo: Brasiliense, 1980. 118 p. (Coleção
Primeiros Passos).
BIBLIOTHECA. Bibliotecas da UDESC agilizam serviços com implantação de
sistema de autoatendimento. 2021a. Disponível em: https://www.bibliotheca.com/
pt-br/bibliotecas-da-udesc-agilizam-servicos-comautoatendimento/. Acesso em: 20
jul. 2023.
BIBLIOTHECA. Como as novas tecnologias estão transformando as bibliotecas.
2021b. Disponível em: https://www.bibliotheca.com/pt-br/como-as-novas-tecnologias-
estao-transformando-as-bibliotecas/. Acesso em: 20 jul. 2023.
BILLSUS, D. et al. Adaptive interfaces for ubiquitous web access. Communications of
the ACM, United States, v. 45, n. 5, p. 34-38, 2002. Disponível em: https://dl.acm.org/
doi/fullHtml/10.1145/506218.506240. Acesso em: 6 set. 2023.
BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de filosofia. Tradução Desidério Murcho et al.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 437 p.
BORKO, H. Information science: what is it? American Documentation, United
States, v. 19, n. 1, p. 3-5, jan. 1968.
Richele Grenge Vignoli
204
BOSTROM, N. Superinteligência: caminhos, perigos e estratégias para um novo
mundo. Rio de Janeiro: DarkSide, 2018.
BRAGA, G. M. Informação, Ciência da Informação: breves reflexões em três tempos.
Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 24, n. 1, p. [1-8], abr. 1995. Número especial:
[25 anos Pós-Graduação em Ciência da Informação do IBICT].
BRANDT, M.; MEDEIROS, M. B. B. Folksonomia: esquema de representação do
conhecimento? TransInformação, Campinas, v. 22, n. 2, p. 111-121, maio/ago. 2010.
BRIET, S. Quest-ce que la documentation? Paris: Éditions Documentaires Industriales
et Techniques, 1951. 48 p. Disponível em: http://martinetl.free.fr/ suzannebriet/
questcequeladocumentation/briet.pdf. Acesso em: 6 ago. 2023.
BUCKLAND, M. K. Information as thing. ASIS&t, Maryland, United States, v. 42, n.
5, p. 351-360. june 1991.
BUCKLAND, M. K. e landscape of information science: the American Society
for Information Science. Journal of the American Society for Information Science,
United States, v. 50, p. 970-974, 1999.
BUNGE, M. Epistemologia: curso de atualização. Tradução Claúdio Navarra. 2. ed.
São Paulo: T. A. Queiroz: Editora da Universidade de São Paulo, 1980.
BUTTERFIELD, A. NGONDI, G. E.; KERR, A. (ed.). A dictionary of computer
science (Oxford quick reference). 7th ed. United Kingdom: OUP Oxford, 2016.
CADORE, L. A. Curso prático de português. São Paulo: Ática, 1995.
CAMPELLO, B. Introdução ao controle bibliográfico. 2. ed. Brasília, DF: Briquet de
Lemos, 2006.
CAMPOS, M. L. A linguagem documentária: teorias que fundamentam sua
elaboração. Niterói: EdUF, 2001.
CAPURRO, R. Epistemologia da Ciência da Informação. Tradução Ana Maria Rezende
Cabral et al. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO (ENANCIB), 5., 2003, Belo Horizonte. Anais [...]. Belo Horizonte:
ANCIB, 2003. Disponível em: http://www.capurro.de/enancib_p.htm. Acesso em: 11
ago. 2019.
CARDOSO, A. M. P. Retomando possibilidades conceituais: uma contribuição à
sistematização do campo da informação social. Revista da Escola de Biblioteconomia
da UFMG, Belo Horizonte, v. 23, n. 2, p. 107-114, jul./dez. 1994.
CASATI, F.; GIUNCHIGLIA, F.; MARCHESE, M. Liquid publications: science
publications meet the web: changing the way scientific knowledge is produced,
disseminated, evaluated and consumed. Povo, Trento, Italy, [p. 4-46], dec. 2007.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
205
CHADHA, A. et al. Deepfake: an overview. In: PROCEEDINGS OF SECOND
INTERNATIONAL CONFERENCE ON COMPUTING, COMMUNICATIONS,
AND CYBER-SECURITY, 203., 2021, Delhi. Proceedings [...]. Delhi, India: Spring,
2021. p. 557-566.
CHIGNARD, S. A brief story of open data. Paris Tech Review, France, 2013.
CHU, C. M.; O’BRIEN, A. Subject analysis: the critical first stage in indexing. Journal
of Information Science, United States, v. 19, p. 434-454, 1993.
CINTRA, A, M. M. et. al. Para entender as linguagens documentárias. 2. ed. rev.
atual. São Paulo: Polis/APB, 1997. 92 p.
CISCO. Cisco annual internet report (2018–2023) white paper. 2020. Disponível
em: https://www.cisco.com/c/en/us/solutions/collateral/executive-perspectives/annual-
internet-report/white-paper-c11-741490.html. Acesso em: 11 set. 2023.
CITIZENSCIENCE.GOV. About citizenscience.gov. [20--?]. Disponível em: https://
www.citizenscience.gov/#. Acesso em: 14 set. 2023.
CLARKE, A. Gabriel Naudé and the foundations of the scholarly library. e Library
Quarterly: Information, Community, Policy, Chicago, United States, v. 39, n. 4, p.
331-343, Oct. 1969.
CLINIO, A.; ALBAGLI, S. Cadernos abertos de laboratório e publicações líquidas:
novas tecnologias literárias para uma Ciência Aberta. Reciis: Revista Eletrônica de
Comunicação Informação & Inovação em Saúde, Rio de Janeiro, n. 11, p. 1-17, nov.
2017. Suplemento.
COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo. Iluminuras, 1997.
CONEGLIAN, C. S., GONÇALEZ, P. R. V. A.; SEGUNDO, S. J. E. O
profissional da informação na era do big data. Encontros Bibli: Revista eletrônica
de biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 22, n. 50, p. 128-
143, set. 2017.
CORREIA, M. C. S.; ZANDONADE, T. O conceito de informação como
conhecimento registrado. RICI: Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação,
Brasília, DF, v. 11, n. 1, p. 83-102, jan./abr. 2018.
CORSO, A. Uma breve introdução aos computadores vestíveis: corpo, tecnologia e
ficção científica. In: SIMPÓSIO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
PESQUISADORES EM CIBERCULTURA, 7., 2013, Curitiba. Anais [...]. Curitiba:
ABCiber, 2013. Disponível em: https://abciber.org.br/simposio2013/anais/pdf/Eixo_8_
Imaginario_Tecnologico_e_Subjetividades/25145arq01409944085.pdf. Acesso em: 13
jul. 2023.
CRUZ, R. do C.; ARAÚJO, C. A. A. Sujeito informacional, conceito em emergência:
uma revisão teórico-conceitual em periódicos Íbero-Americanos. Informação &
Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 30, n. 1, p. 1-22, jan./mar. 2020.
Richele Grenge Vignoli
206
CUNHA, M. B. da; CAVALCANTI, C. R. de O. Dicionário de biblioteconomia e
arquivologia. Brasília, DF: Briquet de Lemos, 2008. 451 p.
DALBELLO, M. A genealogy of digital humanities. Journal of Documentation,
United Kingdom, v. 67, n. 3, p. 480-506, 2011. Disponível em: www.emeraldinsight.
com/0022-0418.htm Acesso em: 12 ago. 2023.
DAY, R. E. Death of the user: reconceptualizing subjects, objects, and their relations.
Journal of the American Society for Information Science and Technology, United
States, v. 62, n. 1, p. 78-88, 2011.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Tradução
Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995. 94 p. (Coleção
TRANS, v. 1).
DERVIN, B.; NILAN, M. Information needs and uses. ARIST, [S. l.], v. 21, p. 3-33,
1986.
DIAS, E. J. W.; NAVES, M. M. L. Análise de assunto: teoria e prática. Brasília, DF:
esaurus, 2007. 116 p. (Estudos avançados em Ciência da Informação, 3).
DONATI, L. P. Computadores vestíveis: convivência de diferentes espacialidades.
Conexão: Comunicação e Cultura, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 93-102, 2004.
DUARTE, B. T.; JUVÊNCIO, C. H. Controle bibliográfico, uma revisão é necessária?
o universo documental e a questão terminológica. Encontros Bibli: Revista Eletrônica
de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 25, p. 1-12, 2020.
Especial.
ENCONTROS BIBLI: REVISTA ELETRÔNICA DE BIBLIOTECONOMIA E
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Código de ética da revista, 1996- . Encontros Bibli,
Florianópolis, 2020?]. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/codigo_
etica. Acesso em: 16 jun. 2021.
FEATHER, J.; STURGES, R. P. International encyclopedia of information and
library science. 2th ed. New York: Routledge, 2003.
FECHER, B.; FRIESIKE, S. Open science: one term, five schools of thought. In:
BARTLING, S.; FRIESIKE, S. (ed.). Opening science: the evolving guide on how
the internet is changing research, collaboration and scholarly publishing. New York:
Springer Open, 2014. p. 17-47.
FELINTO, E. A comunicação dos autômatos: o imaginário do pós-humanismo
na internet (Conclusões de uma pesquisa). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 29., 2006, Brasília, DF. Anais [...]. Brasília, DF:
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM),
2006. p. 1123-1145.
FELINTO, E.; SANTAELLA, L. O explorador de abismos: Vilém Flusser e o pós-
humanismo. São Paulo: Paulus, 2012. (Coleção Comunicação).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
207
FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. rev. aum. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
FIDENCIO, M. V.; MONTEIRO, S. D. Web invisível: compreendendo a
invisibilidade no ciberespaço. In: SEMINÁRIO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
(SECIN), 5., 2013, Londrina. Anais [...]. Londrina: Universidade Estadual de
Londrina, Departamento de Ciência da Informação, 2013. p. 683-700.
FORESTI, F.; VARVAKIS, G.; VIEIRA, A. F. G. Ubiquidade e Ciência da Informação.
RICI: Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 12, n. 1, p.
191-216, jan./abr. 2019.
FRANCELIN, M. M. A epistemologia da complexidade e a Ciência da Informação.
Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 32, n. 2, p. 64-68, maio/ago. 2003.
FRANCELIN, M. M. Configuração epistemológica da Ciência da Informação no
Brasil em uma perspectiva pós-moderna: análise de periódicos da área. Ciência da
Informação, Brasília, DF, v. 33, n. 2, p. 49-66, maio/ago. 2004.
FUJITA, M. L. S.; ALVES, R. C. V.; ALMEIDA, C. C. de. (org.). Modelos de leitura
documentária para indexação: abordagens teóricas interdisciplinares e aplicações em
diferentes tipos de documentos. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2020.
FUJITA, M. S. L. A leitura documentária e o processo de compreensão do indexador:
memorial de investigação científica. In: FUJITA, M. S. L.; NEVES, D. A. de B.;
DAL’EVEDOVE, P. C. (org.). Leitura documentária: estudos avançados em indexação.
Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2017. p. 15-50.
FUJITA, M. S. L. A leitura documentária na perspectiva de suas variáveis: leitor-texto-
contexto. DataGramaZero: Revista de Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 5, n.
4, ago. 2004.
FUJITA, M. S. L. A leitura em análise de assunto para identificação e seleção de
conceitos: orientações a todos leitores com objetivo de indexação. In: FUJITA, M. S.
L.; ALVES, R. C. V.; ALMEIDA, C. C. de. (org.). Modelos de leitura documentária
para indexação: abordagens teóricas interdisciplinares e aplicações em diferentes tipos
de documentos. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2020. p.
17-42.
FUJITA, M. S. L.; NEVES, D. A. de B.; DAL’EVEDOVE, P. C. (org.). Leitura
documentária: estudos avançados em indexação. Marília: Oficina Universitária; São
Paulo: Cultura Acadêmica, 2017.
FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO
(FAPESP). Programa FAPESP de pesquisa em eScience: eScience. São Paulo: FAPESP,
2015. Disponível em: https://fapesp.br/publicacoes/2015/folder_escience.pdf. Acesso
em: 12 ago. 2023.
Richele Grenge Vignoli
208
FURTADO, J. A. O mito da biblioteca universal. Cadernos BAD: Revista da
Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Museólogos, Portugal, n. 2, p.
37-55, 2007.
GANDOMI, A.; HAIDER, M. Beyond the hype: big data concepts, methods, and
analytics. International Journal of Information Management, Netherlands, v. 35, p.
137-144, 2015.
GARCIA, J. C. R.; TARGINO, M. das G. Open peer review sob a ótica de editores
das revistas brasileiras da Ciência da Informação. In: ENCONTRO NACIONAL DE
PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 18., 2018, Marília.
Anais [...]. Marília: ANCIB, 2018. p. 1-21. Disponível em: http://enancib.marilia.
unesp.br/index.php/XVIII_ENANCIB/ENANCIB/paper/view/19/824. Acesso em: 3
jul. 2023.
GATTIKER, U. E. e information security dictionary: defining the terms that
define security for e-business, internet, information and wireless technology. Boston,
EUA: Kluwer Academic Publishers, 2004.
GIL-LEIVA, I. Aspectos conceituais da indexação. In: GIL LEIVA, I.; FUJITA, M.
S. L. (ed.). Política de indexação. São Paulo: Cultura Acadêmica; Marília: Oficina
Universitária, 2012. p. 31-63.
GLOSSARY GARTNER. Big data. 2021. Disponível em: https://www.gartner.com/en/
information-technology/glossary/big-data. Acesso em: 2 jul. 2023.
GNOLI, C. Ten long-term research questions in knowledge organization. Knowledge
Organization, Germany, v. 35, n. 2/3, p. 137-149, 2008.
GONZÁLEZ-TERUEL, A.; ABAD-GARCÍA, M. F. Information needs and uses:
an analysis of the literature published in spain, 1990–2004. Library & Information
Science Research, United States, v. 29, n. 1, p. 30-46, Mar. 2007.
GUIMARÃES, J. A. C. A análise documentária no âmbito do tratamento da
informação: elementos históricos e conceituais. In: RODRIGUES, G. M.; LOPES, I. L.
(org.). Organização e representação do conhecimento na perspectiva da Ciência da
Informação. Brasília, DF: esaurus, 2003. p. 100-118.
GUIMARÃES, J. A. C. Abordagens teóricas de tratamento temático da informação
(TTI): catalogação de assunto, indexação e análise documental. Ibersid: Revista de
Sistemas de Información y Documentación, v. 3, p. 105-117, 2009.
GUINCHAT, C.; MENOU, M. Introdução geral as ciências e técnicas da
informação e documentação. Tradução Miriam Vieira da Cunha. 2. ed. corr. aum.
Brasília, DF: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, 1994. 540 p.
GUZMÁN GOMEZ, M. Ciencia de la Información: interdisciplinariedad y cambio
de paradigma. Ciencias de la Información, Instituto de Información Científica y
Tecnológica La Habana, Cuba, v. 36, n. 1, p. 3-11, enero/abr. 2005a.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
209
GUZMÁN GOMEZ, M. El fenómeno de la interdisciplinariedad en la ciencia de la
información: contexto de aparición y posturas centrales. ACIMED: Revista Cubana de
la Información en Ciencias de la Salud, Ciudad de La Habana, Cuba, v. 13, n. 3, p. 1,
jun. 2005b.
HALL, S. A identidade cultural da pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva
e Guaracira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. 107 p.
HINER, P. e terminological and disciplinary origins of information and knowledge
organization. Education for Information, Netherlands, v. 34, n. 1, p. 135-161, 2018.
HJØRLAND, B. Does the traditional thesaurus have a place in modern information
retrieval? Knowledge Organization, Germany, v. 43, n. 3, p. 145-159, 2016.
HJØRLAND, B. Fundamentals of knowledge organization. Knowledge Organization
Germany, v. 30, n. 2, p. 87-111, 2003.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2001. 2922 p. Elaboração de Instituto Antônio Houaiss de Lexografia
e Banco de Dados da Língua Portuguesa.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). PNAD
contínua TIC 2019: internet chega a 82,7% dos domicílios do país. Brasília, DF:
Agência IBGE Notícias, 2021a. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/
agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/30521-pnad-continua-tic-
2019-internet-chega-a-82-7-dos-domicilios-do-pais. Acesso em: 28 ago. 2023.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa
mostra que 82,7% dos domicílios brasileiros têm acesso à internet. Brasília, DF:
ASCOM, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/mcom/pt-br/noticias/2021/
abril/pesquisa-mostra-que-82-7-dos-domicilios-brasileiros-tem-acesso-a-internet.
Acesso em: 30 jun. 2023.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Projeção
da população do Brasil e das Unidades da Federação. População brasileira às
10:35:13 de 30/6/2021. Brasília, DF: IBGE, 2021b. Disponível em: https://
www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9103-estimativas-de-populacao.
html#:~:text=Popula%C3%A7%C3%A3o%20estimada%20do%20pa%C3%ADs%20
chega,residentes%20nos%205.570%20munic%C3%ADpios%20brasileiros. Acesso
em: 30 jun. 2023.
JAMESON, F. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. Tradução
Maria Elisa Cevasco. São Paulo: Ática, 1997.
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. 3. ed. rev. ampl.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
JENKINS, H. Cultura da convergência. Tradução Susana Alexandria. São Paulo:
Aleph, 2013.
Richele Grenge Vignoli
210
JONES, W. e future of personal information management: part i: our information,
always and forever. Califórnia, United States: Morgan & Claypool Publishers, 2012.
(Serie Synthesis lectures on information concepts, retrieval, and services, #21).
JUVÊNCIO, C. H. Paul Otlet no Brasil: da bibliografia à documentação, uma história
sendo contada. Tradução Taiguara Villela Aldabalde et al. In: OTLET, P. Tratado de
documentação: o livro sobre o livro teoria e prática. Brasília, DF: Briquet de Lemos/
Livros, 2018. p. xxix-xliv.
KOSSOY, B. Fotografia & história. 2. ed. rev. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. 176 p.
LACERDA, F. Arquitetura da informação pervasiva: projetos de ecossistemas de
informação na internet das coisas. 2015. 226 f. Tese (Doutorado em Ciência da
Informação). Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
LANCASTER, F. W. Indexação e resumos: teoria e prática. 2. ed. Brasília, DF: Briquet
de Lemos, 2004.
LE COADIC, T. A Ciência da Informação. Tradução Maria Yêda F. S. de F. Gomes. 2.
ed. rev. atual. Brasília, DF: Briquet de Lemos Livros, 2004. 124 p.
LEMKE, A. B. Gabriel Naude and the ideal library. e Courier, International
Organization, v. xxvi, n. 1, Spring, p. 27-44, 1991.
LÉVY, O. O que é virtual? Tradução Paulo Neves. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2011.
(Coleção TRANS). 160 p.
LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Tradução Luiz
Paulo Rouanet. 9. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da
informática. Tradução Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. (Coleção
TRANS). 208 p.
LÉVY, P. Cibercultura. Tradução Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34,
1999. (Coleção TRANS). 272 p.
LI, L. Building the ubiquitous library in the 21st century. In: WORLD LIBRARY
AND INFORMATION CONGRESS: 72ND IFLA GENERAL CONFERENCE
AND COUNCIL, 72., 2006, Seoul. Proceedings [...]. Seoul, Korea: IFLA, 2006.
Disponível em: https://archive.ifla.org/IV/ifla72/papers/140-Li-en.pdf. Acesso em: 28
jun. 2023.
LIBRARIES THE INTERNET OF THINGS: what does a world where billions of
everyday objects connect to each other and share information mean for libraries? Next
Space, Ohio, n. 24, p. 4-9, Jan. 2015. Disponível em: https://www.oclc.org/content/
dam/oclc/publications/newsletters/nextspace/nextspace_024.pdf. Acesso em: 1 jul.
2023.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
211
LLOYD, A. Trapped between a rock and a hard place: what counts as information
literacy in the workplace and how is it conceptualized? Library Trends, United States,
v. 60, n. 2, p. 277-296, 2011. [Information Literacy Beyond the Academy, Part 1:
Towards Policy Formulation, edited by John Crawford].
LINARES COLUMBIÉ, R.; ROMERO QUESADA, M. A. Gabriel Naudé y los
orígenes de la Bibliotecología. Bibliotecas: Anales de Investigación, Cuba, v. 13, n. 1, p.
96-102, enero/jun. 2017.
LYOTARD, Jean-François. O pós-moderno. Tradução Ricardo Correia Barbosa. 3. ed.
Rio de Janeiro: José Olympo, 1988.
MAIA, F. C. de A.; FARIAS, M. G. G. Revisão por pares aberta: uma análise dos
periódicos científicos indexados no Directory of Open Access Journals. Encontros
Bibli: Revista eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v.
26, p. 1-21, 2021.
MANN, S. “Wearable computing as means for personal empowerment.In:
INTERNATIONAL CONFERENCE ON WEARABLE COMPUTING ICWC-98,
1., 1998, Fairfax, VA. [Proceedings] [...]. Fairfax, VA: [s. n.], 1998. Disponível em:
http://wearcam.org/wearcompdef.html. Acesso em: 13 out. 2024.
MANN, S. EyeTap technology. [20--?]a. Disponível em: http://www.eyetap.org/
research/eyetap.html. Acesso em: 13 jul. 2023.
MANN, S. Wearable computing. In: e encyclopedia of human-computer
interaction. 2 th ed. United States: Interation Design Foundation, [20--?]b. Cap. 23.
Disponível em: https://www.interaction-design.org/literature/book/the-encyclopedia-of-
human-computer-interaction-2nd-ed/wearable-computing. Acesso em: 13 jul. 2023.
MARÍN ARRAIZA, P. M.; LIBERATORE, G. ; VIDOTTI, S. A. B. G. Publicação
científica ampliada: desafios desde as ciências sociais e humanidades. In: ENCONTRO
NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, (ENANCIB), 19.,
2017, Londrina. Anais [...]. Londrina: ANCIB, 2018. p. 5219-5234. Disponível em:
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/102938. Acesso em: 16 jun. 2023.
MARQUINA, J. Las 10 palabras que definirán la biblioteca del futuro. Desiderata:
Biblioteconomía en Espãna, Sevilla, Espãna, n. 17, año iv, p. 84-87, abr./jun. 2021.
MARTÍNEZ DE SOUSA, J. Diccionario de bibliología e ciencias afines. 3. ed. muy
aum. Gijón: Trea, 2004.
MATTELART, A.; MATTELART, M. História das teorias da comunicação. Tradução
Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Loyola, 1999.
MÉNDEZ, E. Cultura aberta: conocimiento compartido. Anuario inkEPI: Análisis
de Tendencias en Información y Documentación, Espãna, v. 9, p. 126-131, enero,
2015.
Richele Grenge Vignoli
212
MIORANDI, D. et al. Internet of things: vision, applications and research challenges.
Ad Hoc Networks, Netherlands, v. 10, p. 1497-1516, 2012.
MIRANDA, M. L. C. de. A organização do etnoconhecimento: a representação do
conhecimento afrodescendente em religião na CDD. In: ENCONTRO NACIONAL
DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 8., 2007, Bahia.
Anais [...]. Bahia: ANCIB, 2007. Disponível em: http://www.enancib.ppgci.ufba.br/
artigos/GT2--341.pdf. Acesso em: 5 ago. 2023.
MONTEIRO, S. D. A dobra semiótica e os agenciamentos maquínicos: por uma
ontologia das tecnologias da informação e comunicação. In: CERVANTES, B. M. N.
(org.). Horizontes da organização da informação e do conhecimento. Londrina:
EDUEL, 2012. p. 63-96.
MONTEIRO, S. D. A organização virtual do conhecimento no ciberespaço.
DataGramaZero: Revista de Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 4, n. 6, dez.
2003.
MONTEIRO, S. D. A organização virtual do conhecimento no ciberespaço:
os agenciamentos de sentido e do significado. 2002. 267 f. Tese (Doutorado em
Comunicação e Semiótica) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação e
Semiótica, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2002.
MONTEIRO, S. D. O Ciberespaço: o termo, a definição e o conceito.
DataGramazero: Revista de Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, jun.
2007.
MONTEIRO, S. D. Por uma cartografia conceitual da web invisível: a dobra oculta
do ciberespaço. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 23, n. 3, p. 23-31,
2013.
MONTEIRO, S. D.; ABREU, J. G. de. O pós-moderno e a Organização do
Conhecimento no ciberespaço: agenciamentos maquínicos. DataGramaZero: Revista
de Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 10, n. 6, 2009.
MONTEIRO, S. D.; FIDENCIO, M. V. As dobras semióticas do ciberespaço: da web
visível à invisível. TransInformação, Campinas, v. 25, n. 1, p. 35-46, abr. 2013.
MONTEIRO, S. D.; GIRALDES, M. J. C. O que é um índice [[contemporâneo]]?
Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 29, n. 4, p. 5-22, out./dez. 2019.
MONTEIRO, S. D.; VIGNOLI, R. G.; ALMEIDA, C. C. de. O pós-humano como
paradigma emergente na Ciência da Informação. Informação & Sociedade: Estudos,
João Pessoa, v. 30, n. 4, p. 1-28, 2020.
MOREIRA, W. Provocações deleuzeanas para as linguagens documentárias. InCID:
Revista de Ciência da Informação e Documentação, Ribeirão Preto, v. 1, n. 2, p. 21-36,
2010.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
213
MOREIRO GONZÁLEZ, J. A. Linguagens documentárias e vocabulários
semânticos para a web: elementos conceituais. Salvador, BA: EDUFBA, 2011. 130 p.
MOSTAFA, S. P. Epistemologia ou filosofia da ciência da informação? Informação &
sociedade, João Pessoa, v. 20, n. 3, p. 65-73, set./dez. 2010.
MOSTAFA, S. P. Gilles Deleuze e a Ciência da Informação. In: SEGUNDO, J. E. S.;
SILVA, M. R. da; MOSTAFA, S. P. (org.). Os pensadores e a ciência da informação.
Rio de Janeiro: E-papers Serviços Editoriais Ltda, 2012. p. 110-125.
MOVIMENTO CIÊNCIA CIDADÃ (MCC). Manifesto pela ciência cidadã. 2012.
Disponível em: http://www.movimentocienciacidada.org/. Acesso em: 14 set. 2023.
NEIVA, E. Dicionário Houaiss de comunicação e multimídia. São Paulo: Publifolha,
2013. 692 p.
NOH, Y. A study on next-generation digital library using context-awareness technology.
Library Hi Tech, United Kingdom, v. 31, n. 2, p. 236-253, 2013.
NOH, Y. Imagining library 4.0: creating a model for future libraries. e Journal of
Academic Librarianship, United States, v. 41, n. 6, p. 786-797, 2015.
O’REILLY, T. What is web 2.0: design patterns and business models for the next
generation of software. O’Reilly Media, 2005.
OLIVEIRA, E. C. P. de. Revisão por pares aberta: análise das revistas open access. In:
ABEC MEETING, 2., 2018, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Associação Brasileira de
Editores Científicos (ABEC), 2018. p. 1-5. Disponível em: http://dx.doi.org/10.21452/
abecmeeting.2018.180. Acesso em: 3 jul. 2023.
OLIVEIRA, H. P. da C.; VIDOTTI, S. A. B. G.; BENTES PINTO, V. Arquitetura da
informação pervasiva. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015.
OLIVEIRA, L. P. de.; GRACIO, M. C. C.; MATÍNEZ-ÁVILA, D. Instrumentos,
processos e produtos do tratamento temático da informação: um estudo nos anais da
ISKO-Brasil (2012-2019). Scire, Zaragoza, v. 26, n. 1, p. 47-56, enero/jun. 2020.
OLSON, N.; NOLIN, J. M.; NELHANS, G. Semantic web, ubiquitous computing,
or internet of things? A macro-analysis of scholarly.publications. Journal of
Documentation, United Kingdom, v. 71, n. 5, p. 884-916, 2015.
OLSSON, M. R. Re-visiting our concept of users. Australian Academic & Research
Libraries, Australia, v. 47, n. 4, p. 300-303, 2016.
OPEN ACCESS. History of the open access movement. 2020. Disponível em:
https://open-access.net/en/information-on-open-access/history-of-the-open-access-
movement. Acesso em: 23 jul. 2023.
OPEN DATA HANDBOOK.ORG. Open data guide. [2020]. Disponível em: http://
opendatahandbook.org/. Acesso em: 22 jul. 2023.
Richele Grenge Vignoli
214
OPEN KNOWLEDGE FOUNDATION. Whats is open? [2020]. Disponível em:
https://okfn.org/opendata/. Acesso em: 22 jul. 2023.
OPEN SCIENCE TRAINING HANDBOOK. Glossary. [2018]. Disponível em:
https://open-science-training-handbook.gitbook.io/book/glossary. Acesso em: 23 jul.
2023.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Infodemic. Genebra: OMS,
[2020].
ØROM, A. Information science, historical chances and social aspects: a nordic outllok.
Jornal of Documentation, United Kingdom, v. 56, n. 1, p. 12-16, Jan. 2000.
OTLET, P. Tratado de documentação: o livro sobre o livro teoria e prática. Tradução
Taiguara Villela Aldabalde et al. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 1934. 742 p.
OXFORD LANGUAGES. Android. [20--]. Disponível em: https://languages.oup.
com/. Acesso em: 14 dez. 2022.
PARADA, A. E. Más allá de a Ciencia de la Información: tendências de uma disciplina
em movimento perpetuo. Información, Cultura y Sociedade, Argentina, n. 32,
[editorial], p. 5-10, jun. 2015.
PARRA, H. Z. M. Ciência cidadã: modos de participação e ativismo informacional.
In: ALBAGLI, S.; MACIEL, M. L.; ABDO, A. H. (org.). Ciência aberta, questões
abertas. Brasília, DF: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia; Rio
de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), 2015. p.
121-142.
PAULA, L. T.; MICHALSKI, R. Os bots de disseminação de informação na conjuntura
das campanhas presidenciais de 2018 no brasil. Múltiplos Olhares em Ciência da
Informação, Belo Horizonte, v. 9, n. 1, p. 223-235, 2019.
PERENS, B. e open source definition. [2007 ou 2008]. Disponível em: http://
perens.com/OSD.html. Acesso em: 23 jul. 2023.
PEREZ MATOS, N. E.; SETIEN QUESADA, E. Bibliotecología y ciencia de la
información: enfoque interdisciplinario. ACIMED: Revista Cubana de la Información
en Ciencias de la Salud, Ciudad de La Habana, Cuba, v. 18, n. 5, nov. 2008.
PIMENTA, R. M. Big data e controle da informação na era digital: tecnogênese de
uma memória a serviço do mercado e do estado. Tendências da Pesquisa Brasileira em
Ciência da Informação, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 3-19, jul./dez. 2013.
PINHEIRO, L. V. R. A Ciência da Informação entre sombra e luz: domínio
epistemológico e campo interdisciplinar. 1997. 276 f. Tese (Doutorado em
Comunicação) - Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Rio de Janeiro, 1997.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
215
PINHEIRO, L. V. R. Pilares conceituais para mapeamento do território epistemológico
da Ciência da Informação: disciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade
e aplicações. In: BENTES PINTO, V.; CAVALCANTE, L. E.; SILVA NETO, C.
(org.). Abordagens transdisciplinares da Ciência da Informação: gêneses e aplicações.
Fortaleza: Edições UFC, 2007. p. 71-104.
PINHEIRO, L. V. R.; FERREZ, H. D. Tesauro brasileiro de Ciência da Informação.
Rio de Janeiro; Brasília, DF: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
(IBICT), 2014. 384 p.
PINHEIRO, L. V. R.; LOUREIRO, J. M. M. Traçados e limites da Ciência da
Informação. Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 24, n. 1, p. 1-19, abr. 1995.
Número especial: 25 anos Pós-Graduação em Ciência da Informação do IBICT.
PRYTHERCH, R. Harrod’s librarians’ glossary and reference book: a directory of
over 10,200 terms, organizations, projects and acronyms in the areas of information
management, library science, publishing and archive management. 10th. ed. England:
Ashgate Publishing Limited, 2005.
RABELLO, R. A Ciência da Informação como objeto: epistemologias como lugares
de encontro. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 17, n. 1, p.
2-36, jan./mar. 2012.
RABELLO, R. A face oculta do documento: tradição e inovação no limiar da
Ciência da Informação. Orientador: José Augusto Chaves Guimarães. 2009. 334 f.
Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências,
Universidade Estadual Paulista, Marília, 2009.
RABELLO, R. A informação institucionalizada e materializada como documento:
caminhos e articulações conceituais. Brazilian Journal of Information Studies:
Research Trends (BRAJIS), Marília, v. 13, n. 2, p. 5-25, jun. 2019.
RABELLO, R. Documento e institucionalidades: dimensões epistemológica e política.
Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação,
Florianópolis, v. 23, p. 138-156, 2018.
RABELLO, R. História dos conceitos e Ciência da Informação: apontamentos
teórico-metodológicos para uma perspectiva epistemológica. Encontros Bibli: Revista
Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 13, n. 26, p.
16-46, 2 semestre 2008.
RABELLO, R. Noções de sujeito em modelos teóricos na Ciência da Informação: do
enfoque no sistema à consideração da agência em contexto. Informação & Sociedade:
Estudos, João Pessoa, v. 23, n. 3, p. 57-71, set./dez. 2013.
Richele Grenge Vignoli
216
RABELLO, R.; GUIMARÃES, J. A. C. A relação conceitual entre conhecimento
e documento no contexto da Organização do Conhecimento: elementos para uma
reflexão. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO (ENANCIB), 7., 2006, Marília. Anais [...]. Marília: ANCIB, 2006.
p. 1-22.
RAMOS CHÁVEZ, A. Información líquida em la era de la posverdad. Revista General
de Información y Documentación, Madrid, España, n. 28, v. 1, p. 283-298, 2018.
RAYWARD, W. B. Organização do Conhecimento e um novo sistema político
mundial: ascensão e queda das ideias de Paul Otlet. Tradução Taiguara Villela Aldabalde
et al. In: OTLET, P. Tratado de documentação: o livro sobre o livro teoria e prática.
Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 2018. p. ix-xxvii. Tradução com alterações do
artigo publicado em Transnational Associations/Associations Transnationales, revista da
União Internacional de Associações (n. 1, v. 2, p. 4-15, de 2003).
RAYWARD, W. B. e history and historiography of information science: some
reflections. Information Processing & Management, United Kingdom, v. 32,
n. 1, p. 3-17, Jan. 1996. DOI: https://doi.org/10.1016/0306-4573(95)00046-J.
Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/
pii/030645739500046J?via%3Dihub. Acesso em: 4 nov. 2024.
RAYWARD, W. B. e origins of information science and the International Institute
os Bibliography/International Federation for Information and Documentation (FID).
Journal of the American Society for Information Science, United States, v. 48, n. 4,
p. 289-300, 1997.
REITZ, J. M. Dictionary and information science. Westport, Connecticur, London:
Libraries Unlimited, 2004. 788 p.
RENDÓN ROJAS, M. A.; GARCÍA-CERVANTES, A. El sujeto informacional en el
contexto contemporâneo: un análisis desde la epistemología de la identidad comunitária
informacional. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da
Informação, Florianópolis, v. 17, n. 33, p. 30-45, jan./abr. 2012.
RESMINI, A.; ROSATI, L. Pervasive information architecture: designing cross-
chanell user experiences. Nova Jersey, United States: Elsevier, 2011.
ROBREDO, J. Do documento impresso à informação nas nuvens: reflexões. Liinc em
Revista, Rio de Janeiro, n. 1, p. 19-42, mar. 2011.
SALES, R. de. Devir-rizoma: tumulto na organização e representação do conhecimento.
Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 259-275, nov. 2018.
SANTAELLA, L. A ecologia pluralista das mídias locativas. Revista FAMECOS, Porto
Alegre, n. 37, dez. 2008.
SANTAELLA, L. Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. São
Paulo: Paulus, 2014. (Comunicação).
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
217
SANTAELLA, L. Cultura e artes do pós-humano: da cultura das mídias à
cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.
SANTAELLA, L. Linguagens líquidas na era da mobilidade. 2. ed. São Paulo: Paulus,
2007. (Comunicação).
SANTAELLA, L. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São
Paulo: Paulus, 2004. (Comunicação).
SANTOS, B. de S. Introdução a uma ciência pós-moderna. 6. ed. Porto:
Afrontamento, 1989.
SANTOS, B. de S. Um discurso sobre as ciências. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
SANTOS, J. F. dos. O que é pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 2012. (Coleção
Primeiros Passos, 165).
SARACEVIC, T. Ciência da Informação: origem, evolução e relações. Perspectivas em
Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 41-62, jan./jun. 1996.
SARACEVIC, T. Information science. Journal of the American Society for
Information Science, United States, v. 50, n. 12, p. 1051-1063, Oct. 1999.
SARACEVIC, T. Interdisciplinary nature of information science. Ciência da
Informação, Brasília, DF, v. 24, n. 1, p. 36-41, 1995.
SAVOLAINEN, R. Information behavior and information practice: reviewing the
umbrella concepts” of information-seeking studies. Library Quarterly, Chicago,
United States, v. 77, n. 2, p. 109-132, 2007.
SCHNOOR, J. L. Citizen science. Environmental Science & Technology,
Washington, DC, n. 5923, Sept. 2007.
SCHRADER, A. M. In search of a name: information science and its conceptuals
antecedents. Library and Information Science, United Kingdom, v. 6, p. 227-271,
1984.
SHANNON, C. E.; WEAVER, W. A teoria matemática da comunicação. Tradução
Orlando Agueda. São Paulo: DIFEL, 1975.
SILVA, A. M. da. A informação: da compreensão do fenómeno e construção do objeto
científico. Porto, Portugal: Edições Afrontamento, 2006. 176 p. (Comunicação/Artes/
Informação, 1).
SILVA, A. M. da; RIBEIRO, F. Das ciências documentais à Ciência da Informação:
ensaio epistemológico para um novo modelo curricular. Porto, Portugal: Edições
Afrontamento, 2002. 812 p. (Biblioteca da Ciência do Homem Plural, 4).
SILVA, B. D. de O.; SABBAG, D. M. A. Fandom como instrumento de ação cultural:
a produção participativa e o compartilhamento nas bibliotecas públicas brasileiras. Em
Questão, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 257-285, maio/ago. 2020.
Richele Grenge Vignoli
218
SILVA, B. D. de O.; SABBAG, D. M. A.; GALDINO, R. Fandoms e fanfictions: novas
perspectivas para o profissional da informação. Revista Brasileira de Biblioteconomia
e Documentação, São Paulo, v. 13, 2017. Número especial CBBD.
SILVA, M. S. Web design responsivo. São Paulo: Novatec, 2014.
SILVA, R. C. da; CALDAS, R. F. Gestão de bibliotecas públicas híbridas em prol do
desenvolvimento de comunidades. Brazilian Journal of Information Studies: Research
Trends (BRAJIS), Marília, v. 10, n. 3, p. 76-83, 2016.
SILVA, R. C. da; CALDAS, R. F. Las bibliotecas públicas híbridas en el contexto
brasileño. Palabra Clave, La Plata, v. 6, n. 2, p. e020, 2017.
SMIT, J. A informação na Ciência da Informação. InCID: Revista de Ciência da
Informação e Documentação, Ribeirão Preto, v. 3, n. 2, p. 84-101, jul./dez. 2012.
SOCIENTIZE GREEN PAPER ON CITIZEN SCIENCE IN EUROPE. Socientize
Green Paper on Citizen Science in Europe. 2013. Disponível em: https://eu-citizen.
science/resource/9. Acesso em: 13 set. 2023.
SON, M.; SHIN, D.; SHIN, D. An XML based user context language for personalized
service in ubiquitous digital library. In: INTERNATIONAL CONFERENCE
ON ADVANCED LANGUAGE PROCESSING AND WEB INFORMATION
TECHNOLOGY, 2008, Dalian, China. Proceedings [...]. Dalian, China: [s. n.], 2008.
p. 367-372. DOI: 10.1109/ALPIT.2008.54. Disponível em: https://ieeexplore.ieee.org/
document/4584395. Acesso em: 1 jul. 2023.
SOUZA, R. F. de. Áreas do conhecimento. DataGramaZero: Revista de Ciência da
Informação, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2 abr. 2004.
STRAUBHAAR, J.; LAROSE, R. Comunicação, mídia e tecnologia. Tradução José
Antônio Lacerda Duarte. São Paulo: Pioneira omson Learning, 2004. 303 p.
TÁLAMO, M. de F. G. M.; SMIT, J. W. Ciência da Informação: a transgressão
metodológica. Fortaleza: Ed. UFC, 2007.
TANUS, G. F. de S. C. Enlace entre os estudos e os paradigmas da Ciência
da Informação: de usuários a sujeitos pós-modernos. Revista Brasileira de
Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 144-173, jul./dez. 2014.
TANUS, G. F. de S. C.; ARAÚJO, C. A. A. Proximidades conceituais entre
arquivologia, biblioteconomia, museologia e Ciência da Informação. Biblionline, João
Pessoa, v. 8, n. 2, p. 27-36, jul./dez. 2012.
TENNANT, J.; MOUNCE, R. Open research glossary. 2015. Disponível em: https://
figshare.com/articles/Open_Research_Glossary/1482094. Acesso em: 24 jul. 2023.
THE EUROPEAN LIBRARY. [Interface]. 2020. Disponível em: https://www.
theeuropeanlibrary.org/. Acesso em: 01 jul. 2023.
A informação líquida no contexto da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento
219
THE GUARDIAN. Revealed: 50 million Facebook profiles harvested for Cambridge
Analytica in major data breach. Londres, 17 mar. 2018a. Disponível em: https://www.
theguardian.com/news/2018/mar/17/cambridge-analytica-facebook-influence-us-
election. Acesso em: 2 ago. 2023.
THE GUARDIAN. What is Cambridge Analytica?: the firm at the centre of
Facebooks data breach. Londres, 19 mar. 2018b. Disponível em: https://www.
theguardian.com/news/2018/mar/18/what-is-cambridge-analytica-firm-at-centre-of-
facebook-data-breach. Acesso em: 02 ago. 2023.
THE INTERNATIONAL BANK FOR RECONSTRUCTION AND
DEVELOPMENT (IBRD); THE INTERNATIONAL DEVELOPMENT
ASSOCIATION (IDA). [Brasil e Estados Unidos]. United States: e Word Bank,
2019. Disponível em: https://datos.bancomundial.org/indicador/IT.NET.USER.
ZS?view=chart. Acesso em: 30 jun. 2023.
THE MCKINSEY GLOBAL INSTITUTE (MGI). Open data: unlocking innovation
and performance with liquid information. United States: McKinsey & Company, 2013.
TRILLO, F. La ciencia de la información es ¿interdisciplinaria o transdisciplinaria?
2009. Disponível em: http://eprints.rclis.org/13768/. Acesso em: 14 jun. 2023.
VAN DIJCK, J. Confiamos nos dados?: as implicações da datificação para o
monitoramento social. Matrizes, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 39-59, jan./abr. 2017.
VICENTE-SAEZ, R.; MARTINEZ-FUENTES, C. Open science now: a systematic
literature review for an integrated definition. Journal of Business Research, United
States, v. 88, p. 428-436, july. 2018.
VIGNOLI, R. G. A topografia da dark web e seus não lugares: por um estudo das
dobras invisíveis do ciberespaço. 2014. 153 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da
Informação) – Departamento de Ciência da Informação, Universidade Estadual de
Londrina, Londrina, 2014.
VIGNOLI, R. G.; MONTEIRO, S. D. A dark web e seu conteúdo informacional. In:
SEMINÁRIO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (SECIN), 5., 2015, Londrina.
Anais […]. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Ciência
da Informação, 2015a. Disponível em: http://www.uel.br/eventos/cinf/index.php/
secin2016/secin2016/paper/viewFile/266/186. Acesso em: 8 jun. 2023.
VIGNOLI, R. G.; MONTEIRO, S. D. Dark web e seus não lugares: por um estudo
das dobras invisíveis do ciberespaço. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p.
140-166, 2015b.
VIGNOLI, R. G.; MONTEIRO, S. D. Deep web e dark web: similaridades e
dissiparidades no contexto da Ciência da Informação. TransInformação, Campinas, v.
32, p. e190052, 2020.
Richele Grenge Vignoli
220
VIGNOLI, R. G.; RABELLO, R., ALMEIDA, C. C. de. Informação, misinformação,
desinformação e movimentos antivacina: materialidade de enunciados em regimes
de informação. Encontro Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da
Informação, Florianópolis, v. 26, p. 1-31, 2021
WAL, T. W. Folksonomy. 2007. Disponível em: https://www.vanderwal.net/
folksonomy.html. Acesso em: 16 set. 2023.
WEISER, M. Some computer science issues in ubiquitous computing.
Communications of the ACM, United States, v. 36, n. 7, p. 75-84, July. 1993.
WEISER, M. e computer for the 21 st century. Scientific American, United States,
p. 94-104, Sept. 1991.
WERSIG, G. Information science: the study of postmodern knowledge usage.
Information Processing & Management, United Kingdom, v. 29, n. 2, p. 229-239,
Mar. 1993.
WIENER, N. Cibernética ou controle e comunicação no animal e na máquina.
Tradução Gita K. Ghinzberg. São Paulo: Polígono; Editora da Universidade de São
Paulo, 1970. 256 p. Título original: Cybernetics or control and communication in the
animal and the machine.
WILSON, T. D. Human information behavior. Informing Science, United States, v. 3,
n. 2, p. 49-55, 2000. Special isseus on informacion sicence researc,.
WÓJCIK, M. Wearable computing in libraries: applications that meet the needs of
users and librarians. Library Hi Tech, United Kingdom, v. 37, n. 4, p. 735-751, 2019.
DOI: 10.1108/LHT-04-2019-008. Disponível em: https://www.emerald.com/insight/
content/doi/10.1108/LHT-04-2019-0081/full/html?skipTracking=true. Acesso em: 4
nov. 2024.
WU, Y. Enriching a thesaurus as a better question-answering tool and information
retrieval aid. Journal of Information Science, United States, v. 44, n. 4, p. 512–525,
2018.
ZINS, Redefinindo a Ciência da Informação: da “Ciência da Informação” para a
ciência do conhecimento.Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 21,
n. 3, 2011.
221
R  
RIchELE GREnGE VIGnOLI
Pós-doutora em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação (PPGCI) da Unesp, campus de Marília em
2024. Doutora em Ciência da Informação em 2021 pelo PPGCI Unesp,
Marília. Mestre em Ciência da Informação pelo PPGCI da Universidade
Estadual de Londrina em 2014. Especialista em Gestão de Bibliotecas em
2010 pela Universidade Estadual de Londrina. Graduada em Biblioteca
em 2009 pela Universidade Estadual de Londrina. Estuda a Ciência da
Informação e a Organização do Conhecimento no conceito de informação
e na epistemologia dos campos sob as tecnologias da informação e comu-
nicação. Lecionou na Unesp, na Universidade Federal de Rondonópolis
e na Universidade Estadual de Londrina nos cursos de Biblioteconomia,
Arquivologia e Secretariado Executivo.
cATALOGAçãO nA PUbLIcAçãO (cIP)
Telma Jaqueline Dias Silveira
CRB 8/7867
nORmALIzAçãO
Elizabete C. de Souza de Aguiar Monteiro
CRB - 8/7963
cAPA E DIAGRAmAçãO
Gláucio Rogério de Morais
PRODUçãO GRáfIcA
Giancarlo Malheiro Silva
Gláucio Rogério de Morais
ASSESSORIA TécnIcA
Renato Geraldi
OfIcInA UnIVERSITáRIA
Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
fORmATO
16 x 23cm
TIPOLOGIA
Adobe Garamond Pro
2024
SObRE O LIVRO
Richele Grenge Vignoli
A INFORMAÇÃO LÍQUIDA NO CONTEXTO DA
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E DA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO Richele Grenge Vignoli
A informação
líquida no contexto da
Ciência da Informação
e da Organização do
Conhecimento