Gabriela Barbosa Nascimento
Patrícia de Carvalho Mastroianni
Marcela Forgerini
Uso de
suplemento alimentar
e seus desfechos na
função cognitiva
da pessoa idosa
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
Gabriela Barbosa Nascimento; Patrícia de Carvalho Mastroianni; Marcela Forgerini
Esta obra é fruto do Projeto de
Extensão “Difusão de Conhecimentos
Científicos e Tradução do conhecimento sobre
suplemento alimentar (SA) e produtos à base
de plantas (PBP) e difusão pelas redes sociais
da Farmácia Universitária” desenvolvido na
Faculdade de Ciências Farmacêuticas com
apoio financeiro e bolsas da Pró-reitoria de
Extensão e Cultura da UNESP (PROEC),
Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD),
Agência Unesp de Inovação (AUIN), Assessoria
de Comunicação de Imprensa (ACI) e
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES) (código de
financiamento 001).
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Uso de
suplemento alimentar
e seus desfechos na
função cognitiva
da pessoa idosa
Gabriela Barbosa Nascimento
Patrícia de Carvalho Mastroianni
Marcela Forgerini
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2024
Gabriela Barbosa Nascimento
Patrícia de Carvalho Mastroianni
Marcela Forgerini
Uso de
suplemento alimentar
e seus desfechos na
função cognitiva
da pessoa idosa
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Copyright © 2024, Faculdade de Filosofia e Ciências
Ficha catalográfica
Nascimento, Gabriela Barbosa.
N244u Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa / Gabriela
Barbosa Nascimento, Patrícia de Camargo Mastroianni, Marcela Forgerini.. – Marília : Oficina
Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2024.
110 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-454-7 (Digital)
ISBN 978-65-5954-453-0 (Impresso)
DOI: https://doi.org/10.36311/2024.978-65-5954-454-7
1. Farmacologia. 2. Idosos. 3. Suplementos dietéticos. 4. Cognição em idosos. 5. Demência
– Prevenção. 4. Ômega-3 (Ácidos graxos). 5. Vitaminas. I. Mastroianni, Patrícia de Camargo. II.
Forgerini, Marcela. III. Título.
CDD 615.3
Telma Jaqueline Dias Silveira –Bibliotecária – CRB 8/7867
Imagem capa: https://stock.adobe.com/br - Arquivo "AdobeStock_102659595". Acesso em 15/03/2024
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-
NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"
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Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
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Renato Geraldi (Assessor Técnico)
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Parecerista:
Prof. Dr. Tácio de Mendonça Lima
Professor Adjunto do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro (DCFAR/UFRRJ).
D  
Gabriela barbosa NascimeNto
Graduanda em Farmácia pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF),
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP).
Patrícia de carvalho mastroiaNNi
Graduada em Farmácia pela Faculdade de Oswaldo Cruz (FOC).
Especialista em Farmácia Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFM-USP).
Doutora em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP). Professora no Departamento de Fármacos e Medicamentos
da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Atua na área de Farmácia
Social, com os temas: Assistência Farmacêutica, Legislação Farmacêutica
e Deontologia, Farmácia Clínica e Hospitalar, Farmacovigilância e uso
racional de medicamentos.
marcela ForGeriNi
Graduada em Farmácia pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-
MG). Doutora em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Ciências
Farmacêuticas (FCF) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (UNESP) e Pós-doutorado pela mesma universidade. Professora no
Departamento de Fármacos e Medicamentos da FCF da UNESP. Membro
do Grupo Técnico de Trabalho de Terapia Personalizada e Genética (CRF-
SP). Atua nas áreas de Farmacogenética e genômica, Cuidado Farmacêutico
e Farmácia Clínica.
A
Esta obra é fruto do Projeto de Extensão “Difusão de Conhecimentos
Científicos e Tradução do conhecimento sobre suplemento alimentar (SA) e
produtos à base de plantas (PBP) e difusão pelas redes sociais da Farmácia
Universitária” desenvolvido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas com
apoio financeiro e bolsas da Pró-reitoria de Extensão e Cultura da UNESP
(PROEC), Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD), Agência Unesp
de Inovação (AUIN), Assessoria de Comunicação de Imprensa (ACI) e
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
(código de financiamento 001).
Agradecemos a pós-graduanda Ana Caroline Silva Santos do
programa de Ciências Farmacêuticas da FCF-Unesp pelo apoio na seleção
e inclusão de imagens e figuras no documento.
S
A .................................................................................. 15
caPítulo 1. a saúde da Pessoa idosa ............................................ 19
1.1 A pessoa idosa ............................................................................... 19
1.2 Função cognitiva ........................................................................... 22
caPítulo 2. comPrometimeNto coGNitivo e o seu maNejo ........ 27
2.1 Comprometimento cognitivo leve ................................................. 27
2.2 Demência e a doença de Alzheimer ............................................... 29
2.2.1 Demência ............................................................................ 29
2.2.2 Doença de Alzheimer ............................................................ 30
2.3. Alternativas complementares na prevenção e no manejo do
comprometimento cognitivo e demência ............................................. 32
2.3.1 Suplementos alimentares (SA) ................................................ 32
2.3.2 Uso de suplementos alimentares no comprometimento
cognitivo e demência ...................................................................... 33
caPítulo 3. testes coGNitivos ...................................................... 43
caPítulo 4. evidêNcias cieNtíFicas do uso de suPlemeNtos
alimeNtares e seus desFechos Na coGNição de Pessoas idosas ... 49
4.1 Suplementação de ômega -3 e função cognitiva ............................. 49
4.1.1 Evidências no uso do suplemento alimentar ômega-3 na função
cognitiva em idosos com comprometimento cognitivo leve (CCL) ....... 55
4.1.2 Evidências no uso do suplemento alimentar ômega-3 (DHA)
na função cognitiva em mulheres idosas saudáveis ............................ 65
4.1.3 Suplementação de ômega-3 e mirtilo e os desfechos na função
cognitiva de pessoas idosas com comprometimento cognitivo .............. 69
4.2 Suplementação de vitaminas do complexo B e os desfechos na função
cognitiva .............................................................................................. 75
4.2.1 Evidências do uso da vitamina B9 associada ao ácido
docosaexaenoico na função cognitiva de pessoas idosas com
comprometimento cognitivo leve ..................................................... 79
4.2.2 Evidências do uso das vitaminas B6, B9 e B12 na função
cognitiva em idosos ........................................................................ 86
4.2.3 Evidências do uso das vitaminas B9 e B12 na função
cognitiva em idosos com diagnóstico da doença de Alzheimer ............ 91
4.2.4 Evidências do uso de bebida com multinutrientes na função
cognitiva de pessoas com doença de Alzheimer prodrômica ................ 96
4.3 Suplementação de probióticos e seus efeitos na função cognitiva ... 102
4.3.1 O uso de probióticos na saúde intestinal e cognição de
pessoas idosas ................................................................................. 103
4.3.2 O uso do probiótico Bifidobacterium na melhora da função
cognitiva de idosos com possível comprometimento cognitivo leve ....... 107
| 11
L  
ADAS-Cog: Alzheimer’s disease Assessment Scale – Cognitive Subscale
ALA: Ácido alfa-linoleico
ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APOE: Apolipoproteína E
BDNF: Brain-derived neurotrophic factor
CCL: Comprometimento cognitivo leve
CDR: Clinical Dementia Rating
CERAD: Consortium to Establish a Registry for Alzheimer’s disease
CFT: Category Fluency Test
COWAT: Controlled Word Association Test
CVLT: California Verbal Learning Test
DA: doença de Alzheimer
DHA: Ácido docosaexaenoico
EPA: Ácido eicosapentaenoico
FCSRT: Free and Cued Selective Reminding test
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
12 |
FSIQ: Full-scale intelligence quotient
GDS: Geriatric Depression Scale
HDL: Lipoproteína de alta densidade
IL-10: Interleucina 10
IL-2: Interleucina 2
IL-6: Interleucina 6
LDL: Lipoproteína de baixa densidade
MEEM: Mini Exame do Estado Mental
MMSE: Mini Mental State Examination
PBP: Produtos à base de plantas
PCDT: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
RAVLT: Rey auditory-verbal learnig test
ROCF: Rey-Osterrieth complex figure test
SA: Suplemento alimentar
TNF-α: Fator de necrose tumoral alfa
UFC: Unidade formadora de colônia
WAIS-R: Escala Wechsler de inteligência adulta revisada
WMS-R: Escala Wechsler de memória revisada
| 13
L  
Quadro 1 - Testes para avaliar o comprometimento da função cognitiva 43
Quadro 2 – Instrumentos e parâmetros de avaliação de desfechos ......... 57
Quadro 3 - Desfechos avaliados após a suplementação da bebida
multivitamínica e ferramentas utilizadas para avaliação dos desfechos .... 98
L  
Figura 1 - Principais sistemas funcionais do corpo humano .................. 20
Figura 2 - Domínios da função cognitiva .............................................. 23
Figura 3 - Exemplos de suplementos alimentares .................................. 32
Figura 4 - Melhora da função cognitiva associada à
suplementação de ômega-3 ou vitaminas do complexo B ....................... 36
Figura 5 - Esquema representando a atuação dos probióticos no
eixo cérebro-intestino resultando na melhora da função cognitiva .......... 37
Figura 6 - Exemplos de formas de obtenção de ácidos graxos
poliinsaturados ....................................................................................... 50
Figura 7 - Alocação randomizada dos 724 participantes em quatro
grupos de estudo ................................................................................... 51
Figura 8 - Alocação randomizada dos participantes em grupo
intervenção (n = 11) e placebo (n = 14) ................................................. 56
Figura 9 - Alocação randomizada dos participantes no grupo
intervenção e grupo placebo .................................................................. 61
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
14 |
Figura 10 - Alocação randomizada das 49 participantes em quatro
grupos de estudo ................................................................................... 66
Figura 11 - Investigação dos benefícios do uso associado de ômega
3 e mirtilo na função cognitiva de pessoas idosas ................................... 69
Figura 12 - Alocação randomizada dos participantes em quatro
grupos de estudo ................................................................................... 70
Figura 13 - Desfechos associados a deficiência das vitaminas do
complexo B ........................................................................................... 76
Figura 14 - Fontes da vitamina B9: suplementos alimentares (forma
sintética) e alimentos (forma natural) .................................................... 80
Figura 15 - Alocação randomizada dos participantes em quatro
grupos de estudo ................................................................................... 81
Figura 16 – Diferença da forma farmacêutica comprimido e
cápsula gelatinosa .................................................................................. 82
Figura 17 - Critérios de exclusão do estudo ........................................... 86
Figura 18 - Alocação dos participantes em grupo intervenção
(n = 57) e grupo placebo (n = 47 ........................................................... 87
Figura 19 - Alocação dos participantes em grupo intervenção
(n = 60) e grupo placebo (n = 60 ........................................................... 92
Figura 20 - Definição de um estudo multicêntrico ................................ 96
Figura 21 - Alocação randomizada dos participantes nos grupos
intervenção (n = 152) e placebo (n = 158) .............................................. 97
Figura 22 - Fluxograma dos grupos de estudo e as respectivas
desistências ............................................................................................. 99
Figura 23 - Alocação randomizada dos participantes nos grupos
intervenção (n = 40) e placebo (n = 40) ................................................. 108
Figura 24 - Atuação do Bifidobacterium breve A1 no eixo
cérebro-intestino ................................................................................... 109
| 15
A
O projeto de Extensão Universitária “Difusão de Conhecimentos
Científicos e Tradução do conhecimento sobre suplemento alimentar (SA) e
produtos à base de plantas (PBP) e difusão pelas redes sociais da Farmácia
Universitária”, também conhecido nas redes sociais como “@encapsulando.
unesp”, é desenvolvido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da
Universidade Estadual Paulista (UNESP) com o apoio da Pró-reitoria de
Extensão e Cultura (PROEC).
O projeto teve início em 2020, remotamente, durante a pandemia
causada pela Covid-19 e o seu principal objetivo é a tradução do conhecimento
técnico-científico por meio da elaboração de materiais didáticos e informativos
para o letramento científico da comunidade científica e da população sobre o
uso racional (correto e seguro) de PBP e SA.
Embora o senso comum e o conhecimento popular sobre os PBP e SA
corroborem para o seu uso e reconhecimento no contexto de cuidados em
saúde, há diversas indicações e modos de uso que não são fundamentados
em evidências científicas ou ainda que oferecem riscos à saúde, como a
ocorrência de eventos adversos e interações medicamentosas (Cercato et
al., 2015).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
16 |
Principalmente durante a pandemia, foi observado o aumento do
uso de SA e PBP para a prevenção e tratamento da infecção por Covid-19
ou de suas sequelas (Braga; Silva, 2021; Guimarães, 2021). O aumento do
uso de PBP e SA, associado a quantidade de informações circulantes, com
destaque para as fakes news, e de notícias sobre os riscos de segurança do uso
irracional desses produtos, configurou uma necessidade social importante.
Nesse livro destacamos o uso de SA, especialmente pela pessoa idosa,
pois o processo de envelhecimento está potencialmente associado a diversas
alterações fisiológicas, como comprometimento da função renal (rins),
hepática (fígado), cognitiva, bem como da farmacocinética e dinâmica de
medicamentos (Peters, 2007). Diante destas alterações, o uso de SA pela
pessoa idosa é motivado pelos possíveis benefícios desses produtos para a
melhora da memória (função cognitiva) (Miquel et al., 2018).
A função cognitiva compreende as habilidades na execução das
tarefas associadas à percepção, aprendizagem, memória, compreensão,
consciência, raciocínio, julgamento, intuição e linguagem (American
Psychological Association, 2019) e, apesar das evidências do uso de SA
como coadjuvante na melhora da função cognitiva e da qualidade de vida
da pessoa idosa, o seu uso inadequado e sem o acompanhamento de um
profissional da saúde está associado a potenciais riscos à saúde.
Portanto, o objetivo deste livro é apresentar um conteúdo didático
e acessível sobre a função cognitiva e os seus domínios e as evidências
científicas sobre a eficácia, efetividade e segurança do uso de SA e seus
desfechos na função cognitiva na saúde da pessoa idosa a fim de promover
o letramento científico e o uso efetivo e seguro de SA. Ainda, apresentamos
a avaliação crítica da qualidade metodológica das evidências, por meio do
uso de ferramentas para análise de qualidade e reporte metodológico, para
que o leitor compreenda os resultados e conclusões dos estudos, bem como
as suas potenciais limitações (vieses).
Boa leitura,
As autoras.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 17
reFerêNcias
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA). Dictionary of
psychology. Washington, DC: APA, 2019. Disponível em: https://dictionary.apa.org/.
Acesso em: 20 jan. 2023.
BRAGA, J. C. B.; SILVA, L. R. D. Consumption of medicinal plants and herbal
medicines in Brazil: consumer profile and its relationship with the COVID-19
pandemic. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v. 4, n. 1, p. 3831–3839,
fev. 2021.
CERCATO, L. M. et al. A systematic review of medicinal plants used for weight loss
in Brazil: Is there potential for obesity treatment? Journal of Ethnopharmacology,
Amsterdam, v. 176, p. 286–296, Oct. 2015.
GUIMARÃES, E. Pandemia aumenta consumo de suplementos alimentares. Estado
de Minas, Belo Horizonte, 15 abr. 2021. Disponível em: https://www.em.com.br/
app/noticia/bem-viver/2021/04/15/interna_bem_viver,1257346/pandemia-aumenta-
consumo-de-suplementos-alimentares.shtml. Acesso em: 3 fev. 2023.
MIQUEL, S. et al. Poor cognitive ageing: vulnerabilities, mechanisms, and the impact
of nutritional interventions. Ageing Research Reviews, Kidlington, v. 42, p. 40–55,
Mar. 2018.
PETERS, A. e effects of normal aging on nerve fibers and neuroglia in the central
nervous system. In: RIDDLE D. R (ed.). Brain aging: models, methods, and
mechanisms. Boca Raton (FL): CRC Press/Taylor & Francis, 2007. Chap 5, p. 97-126.
18 |
| 19
C 1
A    
1.1 a Pessoa idosa
De acordo com a Política Nacional de Saúde da
Pessoa Idosa, o conceito de saúde da pessoa idosa é
relacionado mais a sua condição de independência e
autonomia do que pela presença de um problema de
saúde (Brasil, 2006).
O foco da saúde da pessoa idosa está relacionado à funcionalidade
global, que é a capacidade de cuidar de si mesmo e realizar as suas atividades
de forma independente e autônoma.
Neste contexto, a autonomia da pessoa idosa pode ser comprometida
durante o processo de envelhecimento, uma vez que ocorrem importantes
alterações fisiológicas em todos os sistemas, incluindo na função cognitiva
(Balaram; Balachandran, 2022). Por sua vez, essas alterações podem estar
potencialmente associadas à processos neurodegenerativos, que podem
resultar em doenças como a doença de Alzheimer (DA), doença de
Parkinson e doença de Huntington (Morley, 2018).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
20 |
Logo, a independência e autonomia da pessoa idosa estão associadas
ao funcionamento adequado dos sistemas funcionais principais do corpo
humano, sendo eles a cognição, mobilidade, humor e comunicação
(FIGURA 1) (Moraes, 2012):
Figura 1 - Principais sistemas funcionais do corpo humano.
Cognição: capacidade mental
de compreensão e resolução
dos problemas cotidianos.
Mobilidade: capacidade de
alcance, postura, locomoção,
capacidade aeróbica e
continência esfincteriana.
Comunicação: capacidade
de trocar informações, ideias,
sentimentos, sendo esta
dependente da visão, audição,
fala e motricidade orofacial.
Humor: motivação para as
atividades diárias e interação
social.
Fonte: Elaborada pelas autoras (2023).
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 21
As atividades básicas de vida diária da pessoa idosa envolvem tomar
banho, vestir-se, alimentar-se e todas elas devem ser realizadas de maneira
independente e, a gravidade do comprometimento da execução dessas
atividades, refletirá diretamente em seu grau de dependência.
Logo, o comprometimento dos sistemas funcionais, apresentados
acima, é responsável pela incapacidade e pelas chamadas “grandes síndromes
geriátricas”, caracterizadas pela presença de comprometimento cognitivo,
instabilidade postural, problemas de comunicação, incontinência,
problemas relacionados à mobilidade e movimentação, entre outros
(Bonfiglio; Umegaki; Kuzuya, 2019).
Dentre as síndromes geriátricas, destacamos a iatrogenia, que é
caracterizada por possíveis danos à saúde da pessoa idosa. A iatrogenia
é multifatorial e inclui as mudanças decorrentes do processo natural de
envelhecimento, a presença de multimorbidade e polifarmácia, ocorrência
de eventos adversos a medicamentos, intervenções inadequadas durante
o processo de cuidado em saúde, entre outros fatores (Stevenson; Davies;
Martin, 2019).
Portanto, a saúde da pessoa idosa deve ser avaliada de modo a
assegurar a promoção, proteção e recuperação de sua saúde, a garantia de
acesso de modo igualitário e o uso seguro e racional de medicamentos, além
de monitorar e resolver possíveis problemas relacionados a farmacoterapia
(Brasil, 2004).
Curiosidade: Você já ouviu falar em “idosos frágeis?”
Idosos frágeis ou em situação de fragilidade são aqueles que
estão acamados, hospitalizados ou que vivem em instituições
de longa permanência e/ou que apresentam problemas de
saúde associados à incapacidade funcional, como acidente
vascular e doenças neurodegenerativas (Brasil, 2006).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
22 |
1.2 FuNção coGNitiva
A cognição permite ao indivíduo a capacidade de decisão, de
compreensão, aprendizagem, memória, linguagem e resolução de
problemas do cotidiano, garantindo a realização das suas atividades de vida
diária (American Psychological Association, 2019).
A função cognitiva é formada pelos domínios de (Harvey, 2019):
Memória: memória de trabalho (capacidade de manter,
acessar e usar as informações) e semântica (armazenamento de
informações verbais em longo prazo).
Função executiva: capacidade de execução, resolução de tarefas
e raciocínio.
Atenção e concentração: atenção seletiva compreende na
capacidade de não se distrair e foco em informações relevantes,
enquanto a concentração, também chamada de atenção
sustentada, refere-se à capacidade de manter a atenção por um
longo período.
Velocidade de processamento: habilidade em compreender e
resolver tarefas o mais rápido possível.
Linguagem: capacidade de expressão e compreensão da
linguagem oral e escrita.
Habilidades motoras: equilíbrio, habilidades manuais e
velocidade motora.
Sensação e percepção: a partir da sensação, a pessoa consegue
detectar estímulos de acordo com a visão, audição, tato, paladar
e olfato, enquanto a percepção se refere à habilidade sensorial a
ser processada e reconhecida, como a capacidade de identificar
objetos, sons e lugares.
Função visuoespacial: capacidade de se localizar no espaço.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 23
Na ilustração abaixo podemos visualizar de maneira didática como
cada eixo da função cognitiva está relacionado a execução de atividades da
vida diária (FIGURA 2).
Figura 2 - Domínios da função cognitiva.
Fonte: Elaborada pelas autoras (2023).
O comprometimento dos domínios cognitivos supracitados é
considerado um estágio intermediário entre o envelhecimento normal
e a ocorrência de patologias, como a demência (Jongsiriyanyong;
Limpawattana, 2018).
Com o objetivo de atender as necessidades da pessoa idosa, o serviço de rastreio
em saúde é essencial para identificar previamente possíveis necessidades não
atendidas, problemas de saúde ou fatores de risco
(Conselho Federal de Farmácia, 2016).
Este rastreio pode ser realizado apoiado na utilização de alguns
instrumentos de fácil e rápida aplicação e que podem auxiliar na
identificação do comprometimento da função cognitiva, tais como:
Avaliação Clínica da Demência (Clinical Dementia Rating - CDR) (Morris,
1993).
Mini Exame do Estado Mental (Mini Mental State Examination – MMSE ou
MEEM) (Folstein; Folstein; Mchugh, 1975).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
24 |
Escala Geriátrica de Depressão (Geriatric Depression Scale - GDS) (Yesavage;
Sheikh, 2008).
Fluência verbal (Borkowski; Benton; Spreen, 1967).
Teste do relógio (Sunderland et al., 1989).
Reconhecimento de dez figuras (Nitrini et al., 1994).
Lista de 10 palavras do Consortium to Establish a Registry for Alzheimers disease
(CERAD) (Morris, 1989).
Esses instrumentos são descritos detalhadamente no quadro 1
(página 43).
reFerêNcias
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA). Dictionary of
psychology. Washington, DC: APA, 2019. Disponível em: https://dictionary.apa.org/.
Acesso em: 20 jan. 2023.
BALARAM, K.; BALACHANDRAN S. Psychopharmacology in the Elderly: Why
Does Age Matter? e Psychiatric Clinics of North America, Philadelphia, v. 45, n. 4,
p. 735-744, Dec. 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resolução
CNS Nº 338, de 06 de maio de 2004. Aprova a Política Nacional de Assistência
Farmacêutica. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2004/
res0338_06_05_2004.html . Acesso em: 20 jun. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.528, de 19 de outubro de 2006. Aprova a
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/
bvs/saudelegis/gm/2006/prt2528_19_10_2006.html. Acesso em: 24 jan. 2023.
BONFIGLIO, V.; UMEGAKI, H.; KUZUYA, M. Quality of life in cognitively
impaired older adults. Geriatrics and Gerontology International, Richmond, v. 19, n.
10, p. 999–1005, Aug. 2019.
BORKOWSKI, G.; BENTON, A. L.; SPREEN, O. Word fluency and brain damage.
Neuropsychologia, Oxford, v. 5, n. 2, p. 135–140, 1967.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 25
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Serviços farmacêuticos diretamente
destinados ao paciente, à família e à comunidade: contextualização e arcabouço
conceitual/Conselho Federal de Farmácia. Brasília, DF: Conselho Federal de Farmácia,
2016. Disponível em: https://www.cff.org.br/userfiles/Profar_Arcabouco_TELA_
FINAL.pdf. Acesso em: 20 jan. 2023.
FOLSTEIN, M. F.; FOLSTEIN, S. E.; MCHUHG, P. R. ‘Mini-mental state’. A
practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. Journal of
Psychiatric Research, Oxford, v. 12, n. 3, p. 189–198, Nov. 1975.
HARVEY, P. D. Domains of cognition and their assessment. Dialogues in Clinical
Neuroscience, Oxfordshire, v. 21, n. 3, p. 227–237, Sep. 2019.
JONGSIRIYANYONG, S.; LIMPAWATTANA, P. Mild Cognitive Impairment in
Clinical Practice: A Review Article. American Journal of Alzheimer’s Disease and
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MORAES, E. N. Atenção à saúde do idoso: Aspectos Conceituais. Brasília, DF:
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MORLEY, J. E. An Overview Of Cognitive impairment. Clinics in Geriatric
Medicine, San Francisco, v. 34, n. 4, p. 505-513, 2018.
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C 2
C  
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2.1 comPrometimeNto coGNitivo leve
O comprometimento cognitivo leve (CCL) é caracterizado por
alterações cognitivas que envolvem esquecimento e problemas de atenção,
linguagem, reconhecimento de pessoas e a orientação no tempo e espaço
(Radanovic; Stella; Forlenza, 2015). Portanto, o CCL não compreende
somente o comprometimento da memória, mas também de outros
domínios que compõem a função cognitiva (Anderson, 2019) – relembre
os domínios nas páginas 22 e 23.
Durante o diagnóstico de CCL deve-se considerar a avaliação
cognitiva do indivíduo e de todo o seu domínio funcional, como, por
exemplo, a execução de tarefas diárias de compras e o planejamento de
finanças (Radanovic; Stella; Forlenza, 2015).
O CCL é classificado em amnésico, amnésico + múltiplos domínios
e de múltiplos domínios, a depender das manifestações clínicas presentes
(Gauthier, 2006):
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CCL amnésico: há o comprometimento somente da memória
episódica (lembrança de experiências pessoais, de tempo, lugar
e emoções);
CCL de múltiplos domínios: não há alteração na memória,
mas de outros domínios da função cognitiva, como nas funções
executiva, linguagem e visuoespacial;
CCL amnésico + de múltiplos domínios: além do
comprometimento da memória episódica, há alterações em
outros domínios da função cognitiva, como na função executiva,
linguagem e praxia (capacidade de executar um ato motor).
Um estudo identificou que o CCL amnésico tem maior
probabilidade de progredir para a doença de Alzheimer,
enquanto o CCL amnésico + de múltiplos domínios pode
progredir para a doença de Alzheimer (DA) ou demência
vascular (Radanovic; Stella; Forlenza, 2015).
As manifestações clínicas do CCL podem apresentar o início de alguns
problemas de saúde, sendo considerado um estágio intermediário entre o
envelhecimento normal e condições neurodegenerativas (Jongsiriyanyong;
Limpawattana, 2018).
A conversão do CCL para a demência depende de inúmeros fatores,
chamados de não modificáveis, genéticos, marcadores genéticos para
demência (e.g., APOE ε4), e os modificáveis, que compreendem a presença
de comorbidades como diabetes mellitus, hipertensão arterial, fibrilação
arterial, dislipidemias, entre outras (Campbell et al., 2013).
Um aspecto importante a ser destacado é que não necessariamente o CCL irá
progredir para uma condição de saúde neurodegenerativa!
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
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Neste sentido, como comentado no item 1.2, a partir da aplicação
de testes e avaliações clínicas funcionais é possível rastrear a presença
de comprometimento cognitivo e investigar se ele é proveniente do
envelhecimento ou se está relacionado a algum problema de saúde
neurodegenerativo (Bruscoli; Lovestone, 2004).
2.2 demêNcia e a doeNça de alzheimer
2.2.1 Demência
A demência é melhor caracterizada como uma síndrome e não como
uma doença específica (Gale; Acar; Daffner, 2018).
Síndrome: conjunto de sinais e sintomas observados em vários processos
patológicos diferentes e sem causa específica.
A demência é definida como qualquer comprometimento na função
cognitiva que seja significativo o suficiente para interferir na execução de
tarefas diárias e independência da pessoa (Gale; Acar; Daffner, 2018).
É caracterizada pela neurodegeneração e deterioração progressiva da
função cognitiva (Prince et al., 2013) e compreende a expressão clínica
de várias entidades patológicas [(DA), demência com corpos de Lewy,
vascular, frontotemporal, alcoólica e mista (DA + vascular)] (Breijyeh;
Karaman, 2020).
É considerada um problema de saúde de alta incidência e prevalência
e o número total de pessoas com diagnóstico de demência no mundo
é projetado para 75,6 milhões em 2030 e para 135,5 milhões em 2050
(World Health Organization, 2023), além de um custo mundial estimado
em 818 bilhões de dólares (Prince et al., 2015). O Brasil, por exemplo, está
entre os nove países com maior número de casos de demência (Nichols et
al., 2022; Prince et al., 2013).
Considerando que a DA é a demência mais prevalente (Burns; Iliffe,
2009), abordamos mais sobre ela no item 2.2.2 (Breijyeh; Karaman, 2020).
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2.2.2 Doença De alzheimer
Aprendendo alguns aspectos sobre a fisiopatologia da DA:
A DA é caracterizada pelo comprometimento cognitivo e neurodegeneração
progressiva e sua prevalência tem sido significativa devido ao aumento da
expectativa de vida e do envelhecimento populacional (Breijyeh; Karaman, 2020).
É classificada como de início precoce e tardio, a depender da idade em que
pessoa apresenta o início dos sinais e sintomas clínicos da doença (Burns; Iliffe,
2009).
A DA de início tardio é o subtipo de maior prevalência e está diretamente
relacionada ao aumento da idade (Rao; Degnan; Levi, 2014).
É um problema de saúde considerado multifatorial e que envolve fatores como
a idade avançada, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, obesidade, uso
de algumas classes farmacológicas (i.e., benzodiazepínicos), fatores genéticos
(polimorfismos), alimentação, hábitos de vida, fatores ambientes (exposição a
metais), entre outros (Breijyeh; Karaman, 2020; Cacabelos, 2020; Luccheta;
Mata; Mastroianni, 2018).
O diagnóstico precoce da DA nem sempre é realizado de forma
simples, pois ela pode ser confundida com o comprometimento cognitivo
normal do processo de envelhecimento, o que não se enquadra nos critérios
de demência (Qiu; Ronchi; Fratiglioni, 2007).
O estágio inicial da DA é lento e gradual e quando a doença atinge
um estágio intermediário, os sinais e sintomas se tornam mais claros e
específicos. Embora o quadro de perda de memória e comprometimento
cognitivo sejam marcadores clínicos importantes da doença, e, muitas
vezes, o primeiro sintoma apresentado para a investigação, há sintomas não
cognitivos que também podem apresentar a doença (Cerejeira; Lagarto;
Mukaetova-Ladinska, 2012).
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
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Tais sintomas são denominados sintomas comportamentais e
psicológicos da demência. Sendo assim, apatia (41%), transtorno depressivo
maior (24 - 32%), alucinações (23%) e ansiedade (17 -27%) são manifestações
comuns no início do quadro demencial (Lyketsos et al., 2002; Lyketsos et al.,
2000). Logo, tanto sintomas cognitivos, quanto não cognitivos devem ser
investigados durante o diagnóstico diferencial para DA.
Após o diagnóstico, a farmacoterapia da DA é disponibilizada
gratuitamente pelo Ministério da Saúde por meio da inserção do paciente
no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da doença de Alzheimer
(PCDT). No entanto, a farmacoterapia possui efeito paliativo, pois apenas
alivia os sintomas clínicos da doença, uma vez que não é possível reverter o
quadro clínico ou impedir o seu avanço (Brasil, 2017). Ademais, o arsenal
terapêutico para o manejo da DA é limitado.
Os medicamentos da classe dos anticolinesterásicos (donepezila,
rivastagmina e galantamina) e antagonistas não competitivo do receptor
NMDA do glutamato (memantina) são usados em monoterapia ou em
associação (anticolinesterásico + memantina), a depender da gravidade da
doença (Brasil, 2017; Forgerini; Zaine; Mastroianni, 2023).
Portanto, a DA é um problema de saúde complexo, progressivo
e não possui cura e o tratamento visa reduzir a progressão da doença e
proporcionar qualidade de vida ao paciente.
É neste contexto que discutimos o uso de suplementos alimentares (SA)
como adjuvantes da farmacoterapia da DA, bem como na melhora da função
cognitiva da pessoa idosa sem o diagnóstico de doenças neurodegenerativas.
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2.3. alterNativas comPlemeNtares Na PreveNção e No maNejo do
comPrometimeNto coGNitivo e demêNcia
2.3.1 SuplementoS alimentareS (Sa)
Primeiramente, o que é um SA?
Os SA são produtos para ingestão oral, apresentados em formas farmacêuticas
e destinados a suplementar a alimentação de indivíduos saudáveis com
nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos, isolados ou
combinados (FIGURA 3) (Brasil, 2018).
Figura 3 - Exemplos de suplementos alimentares.
Vitaminas isoladas ou
combinadas entre si
(vitamina E e vitamina C)
Minerais isolados ou
combinados
(ferro e magnésio)
Associação entre
vitaminas e minerais
(vitamina D e cálcio)
Fonte: Elaborada pelas autoras (2023).
Os SA não são enquadrados como medicamentos específicos, uma vez que
não apresentam petição específica e comprovação de eficácia e segurança para
indicação terapêutica proposta nos termos da Resolução da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA) - RDC n° 24, de 14 de junho de 2011
(Brasil, 2011).
De acordo com a ANVISA, os SA são isentos de registro sanitário
e estão disponíveis nas formas farmacêuticas de cápsulas, comprimidos,
líquidos, pós, pastilhas e gomas de mascar (Brasil, 2011).
É importante que no rótulo de SA sejam apresentadas as seguintes
informações:
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
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Recomendação de uso;
Grupos populacionais para o qual o produto é indicado, incluindo a
faixa etária;
Quantidade e a frequência de consumo para cada um dos grupos
populacionais indicados.
Além disso, no rótulo devem ser incluídas as seguintes advertências
em destaque e negrito:
Este produto não é um medicamento”;
Não exceder a recomendação diária de consumo indicada na embalagem”;
Mantenha fora do alcance de crianças”.
2.3.2 uSo De SuplementoS alimentareS no comprometimento
cognitivo e Demência
Qual é a relação do uso de sa e o comPrometimeNto coGNitivo?
Primeiramente, durante o processo de envelhecimento há maior
risco do desenvolvimento de deficiência nutricional devido à problemas
de absorção de nutrientes ou ingestão alimentar ineficiente (Fabian
et al., 2012) – destaca-se que se trata de um processo multifatorial e
potencialmente facilitado pelas alterações fisiológicas derivadas da idade
avançada (Norman; Hab; Pirlich, 2021).
Ainda, a má nutrição em pessoas idosas é reconhecida como
um problema de saúde pública desafiador, associado ao aumento da
morbimortalidade e declínio físico, que impacta diretamente na execução
das tarefas diárias e na qualidade de vida (Norman; Hab; Pirlich, 2021).
Diante deste cenário, o uso de SA pela pessoa idosa é frequente,
bem como uma alternativa para suprir carências nutricionais, prevenção
de problemas de saúde crônicos e para o controle de condições como
a sarcopenia e perda de densidade óssea e muscular (Amarya; Singh;
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Sabharwal, 2015; Walrand, 2018). Ademais, o uso de SA em associação
com a farmacoterapia, ou seja, como adjuvante, é prevalente nesta
população (Ford et al., 2018). Quanto mais problemas de saúde a pessoa
idosa possuir, maior é a probabilidade do uso de SA e de maneira excessiva
e irracional (Ford et al., 2019). No entanto, o uso de SA somado a presença
de doenças crônicas ou uso de polifarmácia, aumenta a ocorrência de
evento adversos (Viana, 2023).
Portanto, muitas são as razões que favorecem o início do uso de
SA, com destaque também para a expectativa da melhora da memória
(função cognitiva), especialmente devido ao estigma social relacionado ao
comprometimento cognitivo e a demência. Neste contexto, os potenciais
benefícios do uso de SA na função cognitiva da pessoa idosa e em desfechos
associados à neurodegeneração, como a inflamação crônica e alteração da
neuroplasticidade, têm sido investigados (Fadó et al., 2022; Swaminathan;
Jicha, 2014).
Considerando que o arsenal terapêutico da demência é limitado
e o tratamento é paliativo, uma vez que não é capaz de reverter o
comprometimento cognitivo já instalado, alternativas vêm sendo
exploradas como adjuvantes do manejo dessa condição de saúde (Kwok
et al., 2020), bem como para a prevenção do início do comprometimento
cognitivo (Coley et al., 2018; Kim et al., 2021).
e Quais são as evidêNcias cieNtíFicas do uso de sa Na FuNção coGNitiva?
Os ácidos graxos de ômega-3, vitaminas do complexo B e probióticos
se destacam no contexto da função cognitiva. De maneira breve, nesta seção
são apresentados os potenciais mecanismos destes SA na função cognitiva e
no capítulo 4 as evidências de seu uso são abordadas em detalhes.
Ômega-3
Durante o processo de envelhecimento há potencial redução
da fluidez da membrana neuronal devido ao aumento de colesterol e à
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
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diminuição dos níveis de ácidos graxos poliinsaturados, principalmente no
hipocampo, córtex e hipotálamo (Dyall, 2015).
A diminuição nos níveis de ômega-3 é preocupante, uma vez que eles
representam cerca de 50% de todos os ácidos graxos presentes no sistema
nervoso central (Calder, 2016) e estão envolvidos na regeneração de axônios e
dendritos (Assisi et al., 2006).
Logo, os ácidos graxos do tipo ômega-3 são importantes para a
manutenção das funções neuronais e a sua baixa ingestão pode contribuir
para o aumento do processo inflamatório, que pode ser um fator de risco
para o desenvolvimento de CCL e DA (Troesch et al., 2020).
Em estudo conduzido com 25 participantes com mais de 70 anos e
diagnóstico de CCL foi observada melhora da função cognitiva e na fluência
semântica após 12 meses de suplementação de ácido docosaexaenoico
(DHA) associado ao ácido eicosapentaenoico (Rondanelli et al., 2012).
De maneira semelhante, foi verificada melhora do desempenho cognitivo
de 46 participantes com diagnóstico de CCL ou DA após 24 semanas de
suplementação da associação desses dois ácidos graxos (Chiu et al., 2008).
Vitaminas do complexo B
A suplementação de vitaminas do complexo B pode reduzir os
níveis de homocisteína (Chen et al., 2021; Cheng et al., 2016; Li
et al., 2021). A homocisteína é um aminoácido presente em reações
dependentes de vitamina B – sem as vitaminas do complexo B, há
o acúmulo da homocisteína – e a hiperhomocisteinemia, ou seja, o
aumento da concentração de homocisteína plasmática, tem sido
considerada um fator de risco para o desenvolvimento de demência
(Smith et al., 2018). Também foi observado que a redução da
concentração de homocisteína diminui a velocidade de atrofia cerebral,
e, consequentemente, pode diminuir a progressão do comprometimento
cognitivo (Douaud et al., 2013).
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Neste contexto, uma revisão sistemática recente identificou que
a suplementação de vitaminas do complexo B pode exercer um efeito
significativo na função cognitiva, postergando o aparecimento dos sintomas
do CCL (FIGURA 4) (Martínez; Salas; Ballestín, 2022).
Figura 4 - Melhora da função cognitiva associada à suplementação de
ômega-3 ou vitaminas do complexo B.
Suplementação de ômega-3 ou
vitaminas do complexo B
Melhora da função
cognitiva
Fonte: Elaborada pelas autoras (2023).
proBióticos
Os probióticos são microrganismos vivos que quando administrados
nas doses adequadas, podem conferir benefícios à saúde (Brasil, 2012).
Entre os benefícios atribuídos aos probióticos, se pode citar a atuação no
eixo intestino-cérebro, que compreende um sistema de comunicação
bidirecional entre a microbiota intestinal e o sistema nervoso central
(FIGURA 5) (Rhee; Pothoulakis; Mayer, 2009) e que está envolvido
na neuroinflamação, síntese de neurotransmissores (e.g., serotonina),
modulação do sistema imunológico, entre outros processos (Mörkl, 2020).
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
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Figura 5 - Esquema representando a atuação dos probióticos no eixo
cérebro-intestino resultando na melhora da função cognitiva.
Fonte: Elaborada pelas autoras (2023).
Pesquisadores investigaram como a suplementação de probióticos
pode influenciar nos sintomas de doenças neurodegenerativas e na
inflamação, que é um fator de risco ao desenvolvimento de CCL e demência
(Barter et al., 2021; Calsolaro; Edison, 2016). As evidências segurem que o
uso de probióticos altera a composição da microbiota intestinal e modula a
inflamação a partir da diminuição de bactérias que podem induzir fatores
pró-inflamação, como as espécies Eubacterium e Prevotellaceae (Palm
et al., 2014), que foram diminuídas após a suplementação associada de
Bifidobacterium bifidum BGN e Bifidobacterium longum (Kim et al., 2021).
Confira no capítulo 4 em detalhes as evidências da suplementação de
ômega-3, vitaminas do complexo B e de probióticos na função cognitiva.
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C 3
T 
testes para aValiar a função cognitiVa
Antes de apresentar as evidências cientificas dos desfechos da
suplementação na função cognitiva da pessoa idosa (vide capítulo 4),
descrevemos os testes cognitivos frequentemente aplicados nos estudos
discutidos neste livro (QUADRO 1).
Quadro 1 - Testes para avaliar o comprometimento da função cognitiva.
Teste Descrição Referência
Alzheimer’s disease
Assessment Scale –
Cognitive Subscale
(ADAS-Cog)
Avalia o estado funcional e é utilizada para classificar
a gravidade de distúrbios cognitivos e não cognitivos
em pessoas com diagnóstico de doença de Alzheimer.
É formada por testes que avaliam domínios de
memória, práxis e linguagem, como recordação de
palavras, nomeação de objetos e dedos, comandos,
práxis construtivas e práxis ideacional, orientação,
reconhecimento de palavras, linguagem, compreensão
da linguagem falada, dificuldade em encontrar palavras
e recordação das instruções do teste. A pontuação varia
de 0 a 150 de acordo com a soma do número de erros
cometidos em cada tarefa. Quanto maior a pontuação,
pior o desempenho do paciente.
[1]
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
44 |
Avaliação Cognitiva
de Montreal
Avalia a memória por meio da recordação de palavras,
função visuoespacial e executiva, fluência na linguagem,
atenção, concentração e orientação do paciente no tempo
e espaço.
[2]
Bateria de Testes
Neuropsicológicos
Compreende a associação dos seguintes testes: Escala de
Memória de Wechsler, Teste Auditivo de Aprendizagem
Verbal de Rey e Controlled Word Association Test (COWAT)
que avaliam a fluência fonológica e Category Fluency Test
(CFT) que avalia a fluência semântica.
[3]
Bateria Repetível
para Avaliação do
Estado Neuropsico-
lógico
Teste utilizado para apoiar o diagnóstico de demência
na pessoa idosa. É composto por testes que avaliam a
memória imediata (recente) e tardia, linguagem, função
visuoespacial e atenção.
[4]
California Ver-
bal Learning Test
(CVLT)
Teste para avaliação da memória por meio da recordação
de uma lista de palavras.
[5]
Consortium to
Establish a Registry
for Alzheimer’s
disease (CERAD)
São aplicados testes clínicos e neuropsicológicos para
medir os sintomas cognitivos iniciais da doença de
Alzheimer, classificando os pacientes em presença (leve e
moderada) ou ausência de demência.
[6]
Escala de Depressão
Geriátrica (EDG)
Conjunto de 30 perguntas para avaliar como o paciente
se sentiu nas últimas semanas. Ao final do questionário,
as respostas podem identificar casos de depressão leves e
severos.
[7]
Escala de estadia-
mento da demência
[Clinical Dementia
Rating (CDR)]
Escala empregada para classificar a gravidade da doença
de Alzheimer e o score é de 0 a 3 pontos A pontuação da
escala pode classificar o paciente com comprometimento
leve, moderado ou severo.
[8]
Escala de memória
de Wechsler Revisa-
da (WMS-R)
Instrumento de avaliação e detecção do comprometimento
da memória, incluindo a memória de curto e longo prazo
e de trabalho.
[9]
Escala Wechsler de
Inteligência Adulta
Revisada (WAIS-R)
Avaliação da função cognitiva e inteligência a partir de
testes de memória, compreensão verbal, raciocínio e
velocidade de processamento.
[10]
Fluência verbal Avaliação por meio da nomeação de palavras em uma
sequência, com letras específicas do alfabeto, durante o
período de um minuto.
[11]
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 45
Free and Cued
Selective Reminding
test (FCSRT)
Teste de memória em que o paciente deve apontar e
nomear 16 itens, objetos e desenhos apresentados em
cartões e imagens.
[12]
Mini Exame do
Estado Mental
(MEEM)
É um dos instrumentos mais utilizados no mundo
e avalia a função cognitiva do paciente e permite o
rastreamento de quadros demenciais. Abrange orientação,
memória, atenção e habilidades específicas como nomear
e compreender, totalizando um score de 30 pontos.
O MEEM auxilia no diagnóstico clínico da doença
de Alzheimer e no monitoramento da efetividade da
farmacoterapia.
[13]
Produção oral
controlada
Avaliação de restrições fonológicas quanto ao
pronunciamento de palavras.
[14]
Dysexecutive
Questionnaire
Avaliação de atividades cotidianas, bem como da
memória e função executiva a partir de um conjunto de
testes clínicos.
[15]
Subteste Intervalo
de Dígitos –
Escala Wechsler de
memória
Avaliação da memória por meio da recordação imediata
de uma extensão de dígitos em ordem crescente.
[16]
Tarefa de lista de
compras
Avaliação da memória por meio da recordação do nome
de alimentos comuns encontrados no supermercado.
[17]
Teste de
aprendizagem
verbal de Hopkins
Avaliação da memória por meio da recordação de uma
lista de palavras que são ditas pelo examinador.
[18]
Teste de Aptidão
Cognitiva Básica
Teste cognitivo a partir de subtestes que avaliam a
memória, velocidade mental, função visuoespacial,
linguagem, reconhecimento de figuras e de palavras.
[19]
Teste de
Classificação de
Weigl
Avalia a capacidade da percepção de estímulos. São
utilizadas formas geométricas que se diferem quanto à
forma, cor, tamanho e espessura e em cada uma delas
há símbolos de naipe (copas, paus, ouros e espadas) e o
paciente é solicitado a classificá-las várias vezes de acordo
com estímulos e critérios propostos pelo examinador.
[20]
Teste de Corsi Avaliação da memória visuoespacial utilizando cubos
geométricos em que o examinador sugere sequências
específicas desses cubos e o paciente deve tentar repetir
corretamente todas as sequências.
[21]
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46 |
Teste de figuras
complexas de Rey-
Osterrieth (ROCF)
Avaliação neuropsicológica da memória, função
visuoespacial executiva, planejamento e estratégias de
organização e solução de problemas. O paciente desenha
uma figura complexa, apresentada previamente, e, após
um tempo, deve se lembrar da mesma e desenhá-la
novamente.
[22]
Teste de memória
da realidade
São posicionados alguns objetos domésticos em cômodos
e após um tempo, o paciente deve lembrar o nome de
cada objeto e a sua localização.
[23]
Teste do relógio
Avaliação cognitiva da função visuoespacial e orientação
realizada por meio da elaboração de um desenho de
relógio analógico pelo paciente, com todos os números
nos lugares corretos e sinalizando uma determinada hora
solicitada pelo aplicador do teste.
[24]
Teste Stroop Avalia a velocidade de processamento de informações por
meio da leitura de palavras e de leitura e nomeação de
cores de acordo com a cor em que a palavra está escrita.
[25]
Trail-Making Test Avalia a velocidade psicomotora por meio da conexão de
dígitos desenhando uma linha com lápis e avaliação da
memória, em que dígitos e letras devem ser colocados em
uma ordem específica.
[26]
Fonte: Elaborado pelas autoras (2023).
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C 4
E   
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4.1 suPlemeNtação de ômeGa -3 e FuNção coGNitiva
No processo do envelhecimento da pessoa idosa, se observa
mudanças neurológicas relacionadas às alterações epigenéticas, disfunção e
envelhecimento celular, alterações na comunicação intercelular, no sistema
imunológico, inflamação crônica, entre outros fatores que são importantes
para o bom funcionamento dos domínios cognitivos (Hou et al., 2019).
Com o envelhecimento também há menor fluidez da membrana
neuronal devido ao aumento de colesterol e à diminuição dos níveis de
ácidos graxos poliinsaturados, principalmente no hipocampo, córtex e
hipotálamo (Dyall, 2015). Isto é um problema, uma vez que o ômega-3,
principalmente o ácido docosaexaenoico, é responsável por cerca de 50%
de todos os ácidos graxos presentes no sistema nervoso central (Calder,
2016), além de ser importante para regeneração de axônios e dendritos
(Assisi et al., 2006) e regulação da resposta imunológica (Heude;
Ducimetière; Berr, 2003).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
50 |
Um exemplo de ácido graxo poliinsaturado é o ômega-3, sendo este dividido
em três tipos: ácido alfa-linolênico (ALA), ácido eicosapentaenoico (EPA) e
docosaexaenoico (DHA) (Baleztena et al., 2017).
Esses ácidos graxos não são sintetizados em quantidades consideráveis
pelo nosso organismo, tendo origem em produtos marinhos como óleo de
peixe, peixe, algas e mariscos (Waitzberg; Garla, 2014) (FIGURA 6).
Figura 6 - Exemplos de formas de obtenção de ácidos graxos
poliinsaturados.
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
O ômega-3 também possui atividade anti-inflamatória, e o EPA,
por exemplo, aumenta a liberação de serotonina a partir da redução da
sinalização inflamatória de prostaglandinas, pois elas são responsáveis
por inibir a liberação de serotonina (Patrick; Ames, 2015). Essa ação é
importante, pois pessoas com diagnóstico da doença de Alzheimer (DA)
podem apresentar o acúmulo da proteína β-amiloide, que está associada a
um processo de inflamação, e uma dieta rica em DHA reduz precursores
inflamatórios, como as citocinas (Calder, 2016).
A critério de ilustração, podemos citar um estudo que reportou a
importância do ômega-3 nas funções neuronais:
Foi conduzida uma análise exploratória secundária a partir dos dados de
um ensaio clínico randomizado cujo objetivo foi identificar a quantidade
ideal de ômega-3 presente nas hemácias que pode atuar na prevenção do
comprometimento cognitivo (Coley et al., 2018).
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 51
Foram incluídos 724 participantes acima de 70 anos, sem diagnóstico
de demência e com queixas de memória subjetiva e limitações na execução
de alguma atividade de vida diária ou lentidão na velocidade de locomoção.
Os participantes foram divididos em quatro grupos aleatoriamente
(FIGURA 7):
Figura 7 - Alocação randomizada dos 724 participantes em quatro
grupos de estudo.
Grupo 1 Grupo 2
Duas cápsulas de 800mg de DHA +
225mg de EPA por dia + intervenção
no estilo de vida
Duas cápsulas de placebo (sem
ômega-3) por dia + intervenção no
estilo de vida
Grupo 3 Grupo 4
Duas cápsulas de 800mg de DHA +
225mg de EPA por dia
Duas cápsulas de placebo (sem
ômega-3) por dia
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
O período de duração do estudo foi de três anos.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
52 |
desFechos avaliados
Os desfechos abaixo foram avaliados por geriatras, neurologistas e
neuropsicólogos no início do estudo, após seis meses e após um, dois e três
anos:
Níveis de ômega-3 nas hemácias foram avaliados a partir de amostras de sangue
coletadas em jejum.
Função cognitiva (testes Mini Exame do Estado Mental (MEEM), Clinical
Dementia Rating (CDR), Free and Cued Selective Reminding test (FCSRT)).
Humor (Geriatric Depression Scale (GDS)).
Atenção! Este estudo avaliou os dados de um ensaio clínico prévio
e objetivou investigar somente os efeitos da intervenção de ômega-3,
associada ou não a mudanças dos hábitos de vida. Portanto, foram
analisados 362 participantes que receberam ômega-3 e 362 que
receberam placebo.
Para avaliar os efeitos do tratamento com ômega-3 foram incluídos
724 participantes, sendo 362 do grupo intervenção e 362 do grupo placebo.
Já para analisar a associação dos níveis basais de ômega-3 e o risco de
comprometimento cognitivo, 362 participantes do grupo placebo foram
considerados (porque eles não estavam recebendo a intervenção).
Após a intervenção, foi observado que:
Quanto menor o nível de ômega-3 nas hemácias e mais avançada a idade,
maior foi o comprometimento cognitivo observado;
Os participantes que receberam a intervenção de ômega-3 apresentaram menor
taxa de comprometimento cognitivo quando comparado ao grupo que recebeu
o placebo;
Não foi possível estabelecer uma quantidade precisa de ômega-3 que possa
atuar efetivamente na prevenção do comprometimento cognitivo ou que
pode predizer se uma pessoa possui risco de desenvolver o comprometimento
cognitivo;
Os autores sugeriram que pessoas idosas sem diagnóstico de demência e com
nível de 5% de ômega-3 nas hemácias podem se beneficiar com a suplementação
para a prevenção do comprometimento da função cognitiva.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 53
limitações do estudo
- Este estudo realizou uma análise chamada de “post-hoc”. Os autores
conduziram o estudo com os participantes e dados de um ensaio clínico
que avaliou os efeitos da suplementação de ômega-3 na prevenção da
DA, ou seja, o estudo não foi desenhado especificamente para avaliar a
quantidade ideal de ômega-3 presente nas hemácias que pode atuar na
prevenção do comprometimento cognitivo.
- Tendo em vista que o ensaio clínico inicial avaliou a suplementação
de ômega-3 na prevenção da ocorrência de demência, é esperado que os
participantes incluídos sejam mais saudáveis do que a população idosa em
geral.
- Apesar dos achados relevantes dos pesquisadores, é importante identificar
quais pessoas se beneficiaram com a suplementação de ômega-3 para a
prevenção “personalizada” de doenças neurodegenerativas - portanto, a
conclusão dos autores não pode ser extrapolada para a população idosa
em geral.
coNclusão
Os participantes idosos sem diagnóstico de demência que possuíam
baixos níveis de ômega-3 tiveram maior risco de comprometimento da
função cognitiva, ou seja, a baixa concentração de ômega-3 foi identificada
como um potencial fator de risco para o comprometimento cognitivo.
Nesse contexto, identifica-se a importância da manutenção dos níveis
de ácidos graxos do tipo ômega-3 para o neurodesenvolvimento adequado
e proteção da função neuronal, o que pode ser alcançado a partir de uma
alimentação rica e balanceada.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
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impulsive behavior. e FASEB Journal, Rockville, v. 29, n. 6, p. 1–16, Jun 2015.
WAITZBERG, D. L.; GARLA, P. Contribución de los Acidos Grasos Omega-3 para
la Memoria y la Función Cognitiva. Nutricion Hospitalaria, Madrid, v. 30, n. 3, p.
467–478, Jun. 2014.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 55
4.1.1 eviDênciaS no uSo Do Suplemento alimentar ômega-3 na
função cognitiva em iDoSoS com comprometimento cognitivo
leve (ccl)
Para saber mais sobre os tipos de estudos, acesse o QR code abaixo:
estudo 1
Um ensaio clínico randomizado duplo-cego foi realizado com
pessoas idosas italianas com diagnóstico de comprometimento
cognitivo leve (CCL) a fim de avaliar a eficácia da suplementação de
ômega-3 na função cognitiva (Rondanelli et al., 2012).
metodoloGia
critérios de iNclusão
Pessoas acima de 70 anos com diagnóstico de CCL;
Residentes em instituição de longa permanência há pelo menos três
meses;
Com pontuação maior que 24 no teste de rastreio cognitivo MEEM
(indica presença de CCL).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
56 |
critérios de exclusão
Foram excluídas pessoas idosas com diagnóstico de diabetes mellitus ou
hipertensão arterial não controlados;
Com níveis séricos de creatinina > 2mg/dL.
Os 25 participantes foram divididos em dois grupos de modo
aleatório (FIGURA 8):
Figura 8 - Alocação randomizada dos participantes em grupo intervenção
(n = 11) e placebo (n = 14).
Grupo 1 (intervenção) Grupo 2 (placebo)
11 participantes 14 participantes
Cápsula contendo: Cápsula contendo:
720 mg DHA
286 mg EPA
16 mg vitamina E
160 mg fosfolipídios de soja
95 mg triptofano
5 mg melatonina
Placebo, ou seja, sem os
componentes da intervenção.
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
- Os participantes foram orientados a tomar duas cápsulas uma vez ao dia,
uma hora antes de dormir, durante 12 semanas.
- As cápsulas dos dois grupos eram idênticas.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 57
- Todas as refeições eram monitoradas e balanceadas pela instituição de
longa permanência.
- Os participantes mantiveram o uso do tratamento medicamentoso
durante todo o estudo.
Atenção!
Estudo duplo cego: os investigadores e participantes foram cegados
e, portanto, não sabiam quem estava recebendo a cápsula contendo
os suplementos ou a cápsula placebo.
Os desfechos avaliados no início do estudo e após o período de
suplementação de 12 semanas são descritos a seguir (QUADRO 2):
Quadro 2 - Instrumentos e parâmetros de avaliação dos desfechos.
Desfecho avaliado Instrumento e parâmetros
Função cognitiva Aplicação do teste Mini Exame do Estado Mental.
Memória de curto prazo Aplicação do teste de Corsi.
Linguagem Aplicação do teste de fluência semântica.
Humor Aplicação da Escala de Depressão Geriátrica.
Funções executivas Aplicação do Teste de Classificação de Weigl.
Função visuoespacial Aplicação do Teste de figuras complexas de Rey-
Osterrieth.
Memória de longo prazo Aplicação do teste de Aprendizagem auditivo-verbal
de Rey.
Avaliação de composição
corporal
Avaliada a partir de medidas antropométricas como
peso, altura e índice de massa corporal.
Avaliação nutricional Aplicação de questionários para avaliar a perda de
peso, estilo de vida, número de refeições diárias,
ingestão de alimentos e líquidos, autonomia
alimentar e autopercepção de saúde.
Adesão ao tratamento Foi realizada a contagem do número de cápsulas
que deveriam ser tomadas por cada participante e o
total de cápsulas realmente tomadas por eles.
Eventos adversos Avaliado por meio do autorrelato dos participantes
e observação direta de eventos adversos pelos
pesquisadores.
Fonte: Elaborado pelas autoras (2023).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
58 |
Na página 43 os testes cognitivos supracitados são apresentados com
mais detalhes (QUADRO 1, capítulo 3).
resultados
Os pesquisadores observaram melhora na função cognitiva (aumento
da pontuação do teste MEEM) e na fluência semântica (linguagem) dos
participantes do grupo intervenção;
Após o período de intervenção, nenhum participante relatou a ocorrência
de eventos adversos;
Não houve perda de participantes, ou seja, todos finalizaram o estudo.
Uma possível justificativa para a melhora da função cognitiva
observada após a suplementação é o mecanismo de ação do ômega-3, que
atua mantendo a fluidez da membrana celular e o bom funcionamento
dos neurotransmissores = função neuroprotetora (proteção dos neurônios)
(Carrie et al., 2009).
Ainda, a melatonina e o triptofano, que foram associados ao ômega-3
nesta intervenção, também podem agir como coadjuvantes no manejo
do CCL, pois podem evitar a progressão do comprometimento para um
quadro demencial (Cardinali; Furio; Brusco, 2010).
Houve melhora no estado nutricional dos participantes do grupo 1, que
receberam a intervenção;
Os participantes de ambos os grupos aderiram à intervenção.
Não foi observada melhora significativa dos desfechos de memória de curto
e longo prazo, função executiva e visuoespacial, bem como no humor.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 59
limitação do estudo
O estudo incluiu um número reduzido de participantes (25 pessoas
idosas), o que pode comprometer a generalização dos resultados para
outras populações.
coNclusão
A suplementação de ômega-3, do tipo DHA e EPA, associada ao
triptofano e melatonina, foi eficaz no manejo do comprometimento
cognitivo relacionado ao avanço da idade de pessoas acima de 70 anos
vivendo em uma instituição de longa permanência.
reFerêNcias
CARDINALI, D.; M. FURIO, A.; I. BRUSCO, L. Clinical Aspects of Melatonin
Intervention in Alzheimers Disease Progression. Current Neuropharmacology,
Sharjah, v. 8, n. 3, p. 218–227, Sep. 2010.
CARRIE, I. et al. PUFA for Prevention and Treatment of Dementia? Current
Pharmaceutical Design, Sharjah, v. 15, n. 36, p. 4173–4185, Aug. 2009.
RONDANELLI, M. et al. Effects of a diet integration with an oily emulsion of DHA-
phospholipids containing melatonin and tryptophan in elderly patients suffering from
mild cognitive impairment. Nutritional Neuroscience, Oxfordshire, v. 15, n. 2, p.
46–54, Mar. 2012.
estudo 2
Foi conduzido em ensaio clínico randomizado, duplo-cego,
na Malásia, com objetivo de avaliar a eficácia, segurança e
tolerabilidade da suplementação com ácidos graxos ômega-3,
ácido docosaexaenoico (DHA) + ácido eicosapentaenoico (EPA),
na função cognitiva de pessoas idosas com comprometimento
cognitivo leve (CCL) (Lee et al., 2013).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
60 |
ParticiPaNtes
critérios de iNclusão
Foram incluídas pessoas idosas (> 60 anos) com diagnóstico de CCL.
O diagnóstico de CCL foi realizado a partir de uma avaliação
neuropsicológica feita por psicólogos e as pessoas deveriam atender aos
seguintes critérios:
- Queixa de memória
- Função cognitiva global preservada
- Atividades de vida diária e instrumentais normais
- Não ter diagnóstico de demência e depressão
- Possuir problemas cognitivos anormais para a idade
critérios de exclusão
Pessoas idosas com diagnóstico de doença neurodegenerativa, psiquiátrica ou
transtorno mental, diabetes mellitus não controlada, câncer e insuficiência
renal;
Que consumiam álcool em excesso;
Que fizeram o uso de suplementos de ômega-3, vitaminas B6, B12 e E, folato
ou Ginkgo biloba no ano do estudo.
Foram incluídos 36 participantes e eles foram alocados,
aleatoriamente, em dois grupos (FIGURA 9):
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
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Figura 9 - Alocação randomizada dos participantes no grupo intervenção
e grupo placebo.
Grupo 1
(Intervenção)
Grupo 2
(Placebo)
Três cápsulas contendo em cada
uma, 430 mg de DHA e 150mg
de EPA, uma vez ao dia, por 12
meses
Três cápsulas contendo em cada
uma, 600 mg de ácido linoleico
(óleo de milho), uma vez ao dia,
por 12 meses.
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
As cápsulas dos dois grupos eram idênticas.
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62 |
desFechos avaliados:
Memória: aplicação da reprodução visual I e II, testes da Escala de Memória
Wechsler-Revisada (WMS-R), RAVLT, Intervalo de Dígitos para trás da Escala
Wechsler de Inteligência Adulta Revisada (WAIS-R).
Função cognitiva e demência: Mini Exame do Estado Mental (MEEM).
Função executiva e atenção: teste do desenho do relógio e teste de intervalo de
dígitos para frente (subtestes do WAIS-R).
Velocidade psicomotora: teste de símbolo de dígito teste e substituição do
WAIS-R.
Função visuoespacial: raciocínio matricial e projeto de blocos de WAIS-R.
Humor: Escala de Depressão Geriátrica.
Níveis de ômega-3 (DHA e EPA): foram coletadas amostras de sangue no
início do estudo, após seis meses e no final do estudo (após 12 meses).
Segurança e tolerabilidade da intervenção: autorrelato de evento adverso ou
intolerância à suplementação.
Adesão ao tratamento: monitorada a partir de consultas mensais. Foi realizada
a contagem das cápsulas na última semana de cada mês e, após a contagem, as
cápsulas para o próximo mês eram fornecidas.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 63
resultados
Apenas um participante do grupo 1 (intervenção) desistiu do estudo devido
uma lesão na coluna, e, portanto, 35 participantes completaram o estudo.
Foi observada melhora significativa da memória, função executiva e
atenção nos participantes do grupo 1 (intervenção).
Essa melhora pode ser justificada pela ação do DHA e EPA na
melhora da memória e função cognitiva de pessoas idosas (Moral; Fortique,
2019).
A suplementação foi considerada segura e bem tolerada - os eventos adversos
relatados foram constipação (intestino preso) e desconforto gastrointestinal
leve.
A adesão ao tratamento foi considerada alta: 94,5% (grupo 1) e 93,8%
(grupo 2).
Para os desfechos de velocidade psicomotora, função visuoespacial, humor
e na pontuação no teste MEEM não foram observadas diferenças entre os
grupos.
Os participantes se queixaram da dificuldade de engolir as cápsulas
e os participantes do grupo 1 (intervenção) também relataram gosto de
peixe após a ingestão das cápsulas, o que pode comprometer o cegamento,
ou seja, o participante que não sentir o gosto de peixe pode inferir que está
no grupo que recebeu o placebo.
limitações do estudo
- Apesar das cápsulas dos grupos intervenção e placebo serem visualmente
idênticas, os participantes do grupo intervenção, que receberam DHA +
EPA, relataram gosto de peixe após a ingestão das cápsulas. Esse relato
consiste em uma possível limitação, pois pode comprometer o cegamento
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
64 |
dos participantes e pesquisadores, e, consequentemente, a avaliação
imparcial da eficácia da intervenção.
- Número amostral reduzido (n = 35).
coNclusão
A suplementação de ômega-3 em pessoas idosas com CCL, por 12
meses, foi eficaz na melhora da memória, função executiva e atenção.
reFerêNcias
LEE, L. K. et al. Docosahexaenoic acid-concentrated fish oil supplementation in
subjects with mild cognitive impairment (MCI): A 12-month randomized, double-
blind, placebo-controlled trial. Psychopharmacology, Berlim, v. 225, n. 3, p. 605–612,
Aug. 2013.
MORAL, A. M. D.; FORTIQUE, F. Omega-3 fatty acids and cognitive decline: a
systematic review. Nutrición Hospitalaria, Madrid, v. 36, n. 4, p. 939-949, Aug. 2019.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 65
4.1.2 eviDênciaS no uSo Do Suplemento alimentar ômega-3 (Dha)
na função cognitiva em mulhereS iDoSaS SauDáveiS
Ensaio clínico randomizado, duplo cego, conduzido nos Estados Unidos que
avaliou os efeitos da suplementação de ácido docosahexaenóico (DHA) e de dois
nutrientes carotenoides (luteína e zeaxantina) na função cognitiva de mulheres
idosas saudáveis (Johnson et al., 2008)
metodoloGia
critérios de iNclusão
Mulheres saudáveis com idade entre 60 e 80 anos;
Não tabagistas.
critérios de exclusão
Mulheres que fizeram o uso de algum suplemento alimentar nos dois meses
anteriores ao estudo;
Mulheres que fizeram uso de suplementos contendo carotenoides (substâncias
que conferem pigmentos) nos seis meses anteriores ao estudo.
49 participantes foram divididas aleatoriamente em quatro grupos
(FIGURA 10):
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
66 |
Figura 10 - Alocação randomizada das 49 participantes em quatro
grupos de estudo.
Grupo 1
(14 participantes)
Grupo 2
(11 participantes)
Cápsula contendo 800 mg de
DHA, uma vez ao dia
Cápsula contendo luteína 12 mg +
0,5 mg zeaxantina, uma vez ao dia
Grupo 3
(14 participantes)
Grupo 4
(10 participantes)
Cápsula contendo 800 mg de
DHA + 12 mg luteína, uma vez
ao dia
Cápsula placebo (sem suplemento
alimentar), uma vez ao dia
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
Estudo duplo cego: Os investigadores e os participantes foram
cegados, ou seja, não sabiam quem estava recebendo o suplemento
alimentar ou o placebo.
Todas as participantes também receberam uma bebida energética
nutricional contendo 10 g de proteína e 14 g de gordura para que
a luteína fosse melhor absorvida.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 67
desFechos avaliados
Os testes cognitivos foram aplicados em todas as participantes, no
início do estudo e no final da intervenção (quatro meses):
Recuperação de memória de longo prazo: teste de fluência verbal.
Velocidade e precisão da linguagem: aplicação do teste Stroop.
Humor: aplicação da Escala de Humor NES2.
Memória de curto prazo: aplicação do teste de extensão de dígitos, teste de
lista de compras, teste de lista de palavras, teste de apartamento (Memory in
Reality).
Alimentação: avaliada por meio da aplicação de questionário para verificar
se houve mudança na ingestão dietética das participantes. A alimentação foi
avaliada no início, após dois meses de estudo e no final da intervenção (quatro
meses).
Adesão ao tratamento: avaliada por meio autorrelato das participantes, além
da contagem das cápsulas de cada participante.
resultados
Recuperação da memória de longo prazo: melhora significativa verificada
nos grupos 1 (uso de DHA isolado), 2 (uso de luteína associada a zeaxantina)
e 3 (uso de DHA associado a luteína).
Memória de curto prazo: melhora significativa do desempenho das
participantes do grupo 3 (uso de DHA associado a luteína) nos testes de lista
de compras, lista de palavras e no teste de apartamento (Memory in Reality).
O DHA e a luteína parecem interagir beneficamente na regulação da
função cerebral (Johnson et al., 2008).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
68 |
Atenção!
Lembre-se que o DHA é um ácido graxo ômega-3!
Velocidade e precisão da linguagem e humor: não foi observada
melhora em nenhum dos grupos;
Alimentação: não houve diferença na ingestão dietética dos participantes
ao longo do estudo;
Adesão ao tratamento: As participantes foram aderentes à intervenção e
a ingestão da bebida energética (adesão de 97%).
limitações do estudo
- Como possível limitação, podemos citar que os participantes do grupo
1 (suplementação apenas do DHA) apresentaram no início do estudo
melhores pontuações nos testes cognitivos quando comparado aos outros
grupos. Isso pode ter limitado a capacidade de detectar com maior precisão
as melhorias cognitivas desse grupo após o período de suplementação;
- Poucas participantes incluídas (n = 49);
- Tempo reduzido de follow-up para evidenciar os benefícios da
suplementação a longo prazo;
- Os pesquisadores relataram que oito participantes desistiram do estudo,
mas não reportaram em quais grupos elas estavam alocadas e as razões.
coNclusão
A suplementação de DHA associada a luteína por quatro meses foi
eficaz na melhora da função cognitiva de mulheres idosas saudáveis.
reFerêNcia
JOHNSON, E. J. et al. Cognitive findings of an exploratory trial of docosahexaenoic
acid and lutein supplementation in older women. Nutritional Neuroscience,
Oxfordshire, v. 11, n. 2, p. 75–83, Apr. 2008.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 69
4.1.3 Suplementação De ômega-3 e mirtilo e oS DeSfechoS na função
cognitiva De peSSoaS iDoSaS com comprometimento cognitivo
Foi conduzido um ensaio clínico randomizado duplo-cego que avaliou os
efeitos da suplementação de ômega-3 associado a mirtilo no declínio cognitivo
de pessoas idosas (Mcnamara et al., 2018) (FIGURA 11).
Figura 11 - Investigação dos benefícios do uso associado de ômega 3 e
mirtilo na função cognitiva de pessoas idosas.
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
O mirtilo é uma fruta que contém antocianinas e o seu consumo tem
sido associado a vários benefícios relacionados à função cognitiva e
envelhecimento, incluindo a melhora da memória (Shukitt-Hale et
al., 2015).
metodoloGia
Foram incluídas pessoas com idades entre 62 e 80 anos que
apresentavam declínio cognitivo subjetivo de acordo com testes aplicados
durante o recrutamento dos participantes, como:
- Clinical Dementia Rating (CDR)
- California Verbal Learning Test (CVLT)
- Avaliação Cognitiva de Montreal
- Geriatric Depression Scale (GDS)
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
70 |
Declínio cognitivo subjetivo é quando uma pessoa tem queixas de
sua função cognitiva, mas ao ser avaliada por um profissional não há o
diagnóstico de comprometimento cognitivo leve (CCL).
Foram excluídas Pessoas:
Com diagnóstico de demência, diabetes mellitus, doença renal e
hepática, distúrbios de coagulação sanguínea e problemas de saúde
mental que impedem a execução das atividades diárias;
Com CCL;
Em uso de suplementos alimentares com ação antioxidante (e.g.,
vitamina C) e anti-inflamatória (e.g., cúrcuma);
Em uso de medicamentos;
Com alergia a frutos do mar;
Usuários de drogas de abuso.
94 participantes foram divididos aleatoriamente em 4 grupos
(FIGURA 12):
Figura 12 - Alocação randomizada dos participantes em quatro grupos
de estudo.
Grupo 1 (21 participantes): receberam apenas ômega-3
- 4 cápsulas de óleo de peixe contendo cada uma 400 mg de
EPA + 200mg de DHA, por 24 semanas.
- 1 pacote de 12g com pó inerte (placebo) duas vezes ao dia,
misturado com água e consumido no café da manhã e no
jantar, por 24 semanas.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 71
Grupo 2 (24 participantes): receberam apenas mirtilo
- 4 cápsulas de óleo de milho (placebo) por dia, por 24
semanas.
- 1 pacote de 12g com pó de mirtilo duas vezes ao dia,
misturado com água e consumido no café da manhã e no
jantar, por 24 semanas.
Grupo 3 (26 participantes): receberam ômega-3 + mirtilo
- 4 cápsulas de óleo de peixe contendo cada uma 400mg de
EPA + 200mg de DHA, por 24 semanas.
- 1 pacote de 12,5 com pó de mirtilo duas vezes ao dia,
misturado com água e consumido no café da manhã e no
jantar, por 24 semanas.
Grupo 4 (23 participantes): receberam placebo
- 4 cápsulas de óleo de milho (placebo), por 24 semanas.
- 1 pacote de 12g com pó de placebo duas vezes ao dia,
misturado com água e consumido no café da manhã e no
jantar, por 24 semanas.
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
- Deveriam ser tomadas duas cápsulas no café da manhã e duas no jantar.
- Os participantes foram instruídos a manter as cápsulas sobre refrigeração
(na geladeira).
- Todos os participantes foram instruídos a consumir peixe de água fria no
máximo uma vez por semana e evitar o uso de suplementos que continham
óleo de peixe.
- Os participantes receberam uma lista de frutas e alimentos de cor vermelha
a serem evitados durante o estudo, como vinhos tintos, sucos e geleias.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
72 |
desFechos avaliados
FuNção coGNitiva:
Avaliação da memória, do aprendizado e da função executiva.
Avaliação das atividades de vida diária, da velocidade psicomotora e função
executiva.
As avaliações foram realizadas no início do estudo e nas semanas 24 e 48.
aNálises bioQuímicas e FisioloGia:
Coleta de amostras de sangue, após jejum noturno, para avaliar quantidade de
ácidos graxos nas hemácias, níveis de glicose e insulina.
Avaliação da presença de antocianinas na urina.
Avaliação da pressão arterial.
A urina foi coletada após o jejum noturno e antes da ingestão diária do pó de
mirtilo ou placebo no início do estudo e na semana 12.
medidas aNtroPométricas:
Altura, peso e circunferência abdominal.
GeNotiPaGem da aPoliPoProteíNa e (aPoe)
Variante genética que pode indicar a propensão de uma pessoa desenvolver à
doença de Alzheimer. O alelo ε4 é o de maior risco para a doença.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 73
resultados
76 participantes completaram o estudo.
Houve perda de quatro participantes no grupo 1, cinco no grupo 2, seis no
grupo 3 e três no grupo 4, por motivos de: sintomas gripais, psoríase, vertigem
e constipação.
Como o número de eventos adversos relatados foi pequeno, os pesquisadores
sugeriram que o principal motivo de desistência foi a duração do estudo (48
semanas).
FuNção coGNitiva:
Grupo 1 (recebeu somente ômega-3): melhora significativa da função
cognitiva  essa melhora se manteve na semana 48, quando os participantes
já não estavam mais recebendo a suplementação.
Grupo 2 (recebeu somente mirtilos): melhora significativa da função
cognitiva. No entanto, essa melhora não se manteve na semana 48.
Grupo 3 (receberam ômega-3 + mirtilos): não foi observada melhora na
função cognitiva.
Quantidade de ácidos graxos presente nas hemácias: foi observado
aumento nos grupos 1 e 3 e após o fim da suplementação os níveis
diminuíram. A suplementação de ômega-3 em portadores ou não de
APOE ε4 não diferiu.
Presença de antocianinas na urina: aumento da excreção de antocianinas
nos grupos que receberam a suplementação de mirtilos (grupos 2 e 3).
Não foi observado nenhum efeito da suplementação nas
concentrações de glicose e insulina em nenhum dos grupos.
Genotipagem APOE: 63% dos participantes (n=59) possuíam os alelos
ε3/ε3, 12% (n=11) os alelos ε3/ε2, 25% (n=23) os alelos ε3/ε4 e apenas
1,1% (n=1) os alelos ε4/ε4. Não houve diferença nos resultados cognitivos
quanto ao participante ser portador ou não do alelo ε4 (potencial marcador
de maior risco para o desenvolvimento de demência).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
74 |
limitações do estudo
- Apesar de ter sido avaliado, não foi reportado se houve mudança das
medidas antropométricas dos participantes (peso e circunferência da
cintura) após a suplementação.
- Não foi avaliada a adesão à suplementação.
coNclusão
A suplementação isolada de ômega-3 ou mirtilos foi associada à
redução dos sintomas de declínio cognitivo, bem como dos problemas na
memória dos participantes que receberam somente a suplementação de
mirtilos.
A suplementação combinada de ômega-3 e mirtilos não foi
associada à melhora da função cognitiva, um resultado inesperado pelos
pesquisadores, uma vez que era esperada a potencialização da melhora da
cognição a partir desta associação.
reFerêNcias
MCNAMARA, R. K. et al. Cognitive response to fish oil, blueberry, and combined
supplementation in older adults with subjective cognitive impairment. Neurobiology
of Aging, Amsterdam, v. 64, p. 147–156, Apr. 2018.
SHUKITT-HALE, B. et al. e beneficial effects of berries on cognition, motor
behavior and neuronal function in ageing. British Journal of Nutrition, Cambridge, v.
114, n. 10, p. 1542–1549, Sep. 2015.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 75
4.2 suPlemeNtação de vitamiNas do comPlexo b e os desFechos
Na FuNção coGNitiva
O complexo de vitaminas B compreende oito tipos de vitaminas
que possuem diversas funções.
Auxilia na síntese de aminoácidos, funcionamento do sistema
imunológico, formação das hemácias e prevenção de malformação
fetal (Brasil, 2018).
Ácido fólico
(Vitamina B9)
Auxilia no metabolismo de proteínas, carboidratos, gorduras e
homocisteína e na formação das hemácias (Brasil, 2018).
Cobalamina
(Vitamina B12)
As vitaminas do complexo B são encontradas em alimentos como
carne, leite e laticínios (Gille; Schmid, 2015). Estão relacionadas à
manutenção e bom funcionamento do coração, dos ossos e envelhecimento
saudável e a falta dessas vitaminas pode prejudicar a saúde, especialmente
a de pessoas idosas (Porter et al., 2016).
Dentre as consequências da deficiência das vitaminas do complexo
B, se destacam (FIGURA 13) (Green et al., 2017):
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
76 |
Figura 13 - Desfechos associados a deficiência das vitaminas do
complexo B.
Prejuízo dos sentidos tato, olfato,
paladar, visão, audição e equilíbrio
(função nervosa sensorial) e dos
movimentos.
Comprometimento cognitivo
Doenças ósseas, como a
osteoporose
Depressão Perda auditiva
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
Também há relato de que com o aumento da concentração de vitamina
B (especialmente B12), há diminuição da homocisteína plasmática e da
velocidade da atrofia cerebral (uma possível causa de comprometimento
cognitivo) (Smith., et al 2010).
Diante disso, as vitaminas do complexo B são amplamente utilizadas
e muitas pesquisas têm avaliado os benefícios de sua suplementação na
função cognitiva.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 77
Evidência científica: uma revisão sistemática avaliou a eficácia de suplementos
com vitaminas do complexo B na prevenção do comprometimento cognitivo
leve (CCL) e da demência. Os autores buscaram estudos nas bases de dados
PubMed, Web of Science e Cochrane CENTRAL (Martinéz et al., 2021).
Foram incluídos estudos:
- Conduzidos entre 2011 e 2021;
- Que avaliaram a suplementação das vitaminas A, B1, B2, B3, B5, B6,
B9, B12, H, C, D, E ou K nos desfechos relacionados à função cognitiva;
- Ensaios clínicos randomizados e estudos observacionais.
Foram excluídos estudos:
- Com dados insuficientes para avaliar os resultados obtidos;
- Conduzidos in sílico, in vitro (células) e animais, comentários, opiniões,
relatos de experiência, cartas ao editor, revisões e protocolos.
resultados
Foram incluídos 27 estudos conduzidos com participantes acima
de 45 anos e com função cognitiva normal, com CCL ou diagnóstico da
doença de Alzheimer (22.243 participantes). Destes estudos, 14 avaliaram
os desfechos da suplementação de vitaminas do complexo B na função
cognitiva.
Foi observado que:
A suplementação de vitamina B9 (ácido fólico) associada a vitamina B12
foi relacionada a melhora do desempenho dos participantes em testes
cognitivos;
A vitamina B1, isolada ou associada ao ácido fólico, foi associada a uma
melhora significativa das pontuações nos testes cognitivos;
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
78 |
Foi evidenciado melhor desempenho dos participantes nos testes cognitivos
após a suplementação com vitamina B9.
limitação do estudo:
Os autores restringiram o ano de publicação dos artigos incluídos
(2011 – 2021), o que pode ter acarretado na perda de estudos relevantes
que avaliaram os desfechos da suplementação de vitaminas do complexo B
na prevenção do CCL.
coNclusão:
A suplementação das vitaminas B1, B9 e B12 foi associada com a
melhora da pontuação dos participantes nos testes cognitivos, indicando
potencial melhora da função cognitiva.
reFerêNcias
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução
Normativa - IN nº 28, de 26 de julho de 2018. Estabelece as listas de constituintes, de
limites de uso, de alegações e de rotulagem complementar dos suplementos alimentares.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2018.
GILLE, D.; SCHMID, A. Vitamin B12 in meat and dairy products. Nutrition
Reviews, Oxford, v. 73, n. 2, p. 106–115, Feb. 2015.
GREEN, R. et al. Vitamin B12 deficiency. Nature Reviews Disease Primers, London,
v. 3, n. 17040, p. 1-19, Jun. 2017.
MARTÍNEZ, V. G.; SALAS, A. A.; BALLESTÍN, S. S. Vitamin Supplementation and
Dementia: A Systematic Review. Nutrients, Basileia, v. 14, n. 5, p. 1–23, Feb. 2022.
PORTER, K. et al. Causes, consequences and public health implications of low
B-vitamin status in ageing. Nutrients, Basileia, v. 8, n. 11, p. 725, Nov. 2016.
SMITH, A. D. et al. Homocysteine-lowering by b vitamins slows the rate of accelerated
brain atrophy in mild cognitive impairment: A randomized controlled trial. PLoS
ONE, San Francisco, v. 5, n. 9, p. 1–10, Sep. 2010.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 79
4.2.1 eviDênciaS Do uSo Da vitamina B9 aSSociaDa ao áciDo
DocoSaexaenoico na função cognitiva De peSSoaS iDoSaS com
comprometimento cognitivo leve
Foi conduzido um ensaio clínico randomizado duplo-cego na
China que avaliou os efeitos da suplementação de ácido fólico
(vitamina B9) associado ao ácido docosaexaenoico (DHA) na
função cognitiva e nos níveis de citocinas inflamatórias em
pessoas idosas com comprometimento cognitivo leve (CCL) (Li
et al., 2021).
Relembrando! Citocinas inflamatórias são moléculas que são liberadas em
processos inflamatórios como uma resposta do nosso sistema imunológico
(defesa do nosso organismo).
critérios de iNclusão
Pessoas idosas (> 60 anos) com diagnóstico de CCL. O diagnóstico foi realizado
de acordo com o Manual Estatístico de Transtornos Mentais desenvolvido pela
Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association, 2013).
Que não possuíam diagnóstico de transtornos mentais, como depressão,
esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar;
Que não fizeram nos três meses anteriores ao estudo o uso de nenhum
medicamento que prejudicasse o estado nutricional e o metabolismo do folato
ou de ácidos graxos (gorduras);
Que possuíam um bom estado de saúde e boa visão e audição (ver e ouvir
bem) para fazer os testes propostos no estudo.
O folato é a forma natural da vitamina B9, encontrada, por
exemplo, em carnes, ovos e leite, enquanto o ácido fólico é a forma sintética
encontrada em suplementos alimentares (FIGURA 14).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
80 |
Figura 14 - Fontes da vitamina B9: suplementos alimentares (forma
sintética) e alimentos (forma natural).
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
Foram incluídas 240 pessoas idosas que foram divididas aleatoria-
mente em quatro grupos para receberem a intervenção durante seis meses
(FIGURA 15):
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 81
Figura 15 - Alocação randomizada dos participantes em quatro grupos
de estudo.
Grupo 1 (n = 60) Grupo 2 (n = 60)
Um comprimido de 800 µg de ácido
fólico + duas cápsulas de 800 mg de
DHA, uma vez ao dia.
Um comprimido de 800 µg de
ácido fólico + duas cápsulas de
placebo, uma vez ao dia.
Grupo 3 (n = 60) Grupo 4 (n = 60)
Um comprimido de placebo (sem
ácido fólico) + duas cápsulas de 800mg
de DHA, uma vez ao dia.
Um comprimido de placebo (sem
ácido fólico) + duas cápsulas de
placebo (sem DHA), uma vez ao
dia.
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
O ácido fólico foi fornecido na forma de comprimido e o DHA na
forma de cápsulas. O comprimido de placebo continha amido de milho e
a cápsula de placebo continha óleo de soja.
Qual a diferença das formas farmacêuticas de cápsula e comprimido?
Na forma farmacêutica de cápsula, o princípio ativo é revestido
com material gelatinoso e na de comprimido não há esse revestimento
- o princípio ativo e os excipientes são compactados (FIGURA 16)
(Mastroianni; Carradore; Varallo, 2012).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
82 |
Figura 16 - Diferença da forma farmacêutica comprimido e cápsula
gelatinosa.
Comprimido Cápsula gelatinosa
Fonte: Ilustração do Canva (2023).
Os desfechos avaliados foram:
FuNção coGNitiva:
Aplicação de dois testes que avaliaram a linguagem (testes de aritmética,
extensão de dígitos e vocabulário) e a função cognitiva geral (conclusão de
imagem, desenho de blocos, montagem de objetos)
Testes aplicados: Teste da Escala Adulta de Inteligência Revisada de Wechsler
(WAIS-RC) e pelo Teste do Quociente de Inteligência em Grande Escala
(FSIQ)
Parâmetros bioQuímicos:
Amostras de sangue foram coletadas no início do estudo e após seis meses de
suplementação para avaliar os níveis de folato, homocisteína, DHA e citocinas
inflamatórias
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 83
Relembrando!
Homocisteína: é um aminoácido presente em reações dependentes de
vitamina B12 e sem essa vitamina a homocisteína é acumulada (Brasil,
2018).
Citocinas inflamatórias: em pessoas no estágio inicial de CCL podem
ser observados altos níveis de citocinas inflamatórias, tais como fator de
necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucina 6 (IL-6) (Calsolaro; Edison,
2016).
adesão ao tratameNto:
Foi monitorada por telefone uma vez por mês, durante seis meses
resultados
212 participantes completaram o estudo.
QuaNto à FuNção coGNitiva:
Foi observada melhora da função cognitiva dos idosos dos grupos 1 (uso
de ácido fólico + DHA), 2 (uso de ácido fólico + placebo) e 3 (uso de
DHA + placebo). No entanto, os melhores resultados foram observados
nos idosos do grupo 1 (uso de ácido fólico + DHA).
QuaNto aos Parâmetros bioQuímicos:
Os níveis de ácido fólico nos grupos 1 (ácido fólico + DHA) e 2 (ácido
fólico) aumentaram significativamente, não havendo diferença significativa
entre os grupos;
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
84 |
Os níveis de homocisteína dos participantes dos grupos 1 (ácido fólico +
DHA) e 2 (ácido fólico) diminuíram significativamente. Com o aumento
da concentração do ácido fólico (vitamina B9), há a diminuição dos níveis
de homocisteína (Porter et al., 2016).
Os níveis das citocinas inflamatórias reduziram significativamente nos
grupos 1, 2 e 3, sendo que a diminuição foi maior no grupo 1, que recebeu
ácido fólico + DHA.
Os níveis de DHA aumentaram significativamente nos grupos 1 e 3.
Houve a perda de 28 participantes, pois eles não conseguiram
completar os testes aplicados sem ajuda, sendo:
- Cinco do grupo 1 (uso de ácido fólico + DHA);
- Sete do grupo 2 (uso de ácido fólico + placebo);
- Sete do grupo 3 (uso de DHA + placebo);
- Nove do grupo 4 (placebo).
limitações do estudo
Não foi reportado se os pesquisadores avaliaram a ocorrência de
eventos adversos da suplementação e, apesar de um dos desfechos do
estudo ser a avaliação da adesão, não ficou claro se os participantes foram
bons aderentes à intervenção.
coNclusão
A suplementação de ácido fólico (vitamina B9), combinada ou não
com o DHA, melhorou a função cognitiva de pessoas idosas com CCL.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 85
reFerêNcias
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). e Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders (DSM-5). 5th ed. Washington: American Psychiatric
Association Publishing, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Instrução Normativa- n° 28, de 26 de julho de 2018.
Estabelece as listas de constituintes, de limites de uso, de alegações e de rotulagem
complementar dos suplementos alimentares. Disponível em: https://antigo.anvisa.gov.
br/documents/10181/3898888/IN_28_2018_COMP.pdf/db9c7460-ae66-4f78-8576-
dfd019bc9fa1. Acesso em: 22 jan. 2023.
CALSOLARO, V.; EDISON, P. Neuroinflammation in Alzheimers disease: Current
evidence and future directions. Alzheimers and Dementia, Chicago, v. 12, n. 6, p.
719–732, Jun. 2016.
LI, M. et al. Effect of folic acid combined with docosahexaenoic acid intervention on
mild cognitive impairment in elderly: a randomized double-blind, placebo-controlled
trial. European Journal of Nutrition, Berlim, v. 60, n. 4, p. 1795–1808, Maio 2021.
MASTROIANNI, P. C.; CARRADORE, M. D.; VARALLO, F. R. Formas
farmacêuticas que requerem orientações específicas para o uso correto de medicamentos.
In: MASTROIANNI, Patrícia de Carvalho; FORGERINI, Marcela (org.). Dispensação
de Medicamentos Essenciais de uso ambulatorial. São Paulo: Universidade Estadual
Paulista, Cultura Acadêmica, 2012, Cap. 4, p. 19.
PORTER, K. et al. Causes, consequences and public health implications of low
B-vitamin status in ageing. Nutrients, Basileia, v. 8, n. 11, p. 725, Nov. 2016.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
86 |
4.2.2 eviDênciaS Do uSo DaS vitaminaS B6, B9 e B12 na função
cognitiva em iDoSoS
Foi conduzido um ensaio clínico na China que avaliou os efeitos da
suplementação associada das vitaminas B6 (piridoxina), B9 (ácido fólico) e
B12 (cobalamina) nos níveis plasmáticos de homocisteína e sua relação com a
função cognitiva (Cheng et al., 2016).
Foram incluídos participantes com idades entre 55 e 94 anos e com
altos níveis de homocisteína no sangue (hiperhomocisteinemia).
Foram excluídos indivíduos que possuíam os seguintes problemas de
saúde (FIGURA 17):
Figura 17 - Critérios de exclusão do estudo.
Insuficiência renal
grave
Doença hepática Diabetes mellitus
Hiper ou
hipotireoidismo
Problema auditivo Problema ocular
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 87
Câncer
Doenças do sistema
nervoso
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
104 participantes foram incluídos e divididos em dois grupos de
acordo com idade, escolaridade e pontuação no Teste de Aptidão Cognitiva
Básica que avalia a função cognitiva (FIGURA 18):
Figura 18 - Alocação dos participantes em grupo intervenção (n = 57) e
grupo placebo (n = 47).
Grupo intervenção (57 participantes) Grupo placebo (47 participantes)
Uma cápsula contendo 10 mg de
vitamina B6 + 800 µg de vitamina B9 +
25 µg de vitamina B12, uma vez ao dia,
por 14 semanas.
Uma cápsula de placebo (sem as
vitaminas do complexo B), uma vez
ao dia, por 14 semanas.
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
desFechos avaliados:
Função cognitiva: aplicação do Teste de Aptidão Cognitiva Básica.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
88 |
Parâmetros bioquímicos: concentrações de homocisteína e das
vitaminas B6, B9 e B12.
Foram coletadas informações sobre o uso de medicamentos e de suplementos
e todos os participantes foram orientados a manter a alimentação regular e
registrar os alimentos consumidos.
resultados
83 participantes, sendo 44 mulheres e 39 homens, completaram o estudo.
Houve a perda de:
- 15 participantes do grupo intervenção devido a ocorrência de eventos
adversos (distensão abdominal = inchaço e prurido = coceira) e por
desistência em finalizar o estudo.
- Seis participantes do grupo placebo devido adoecimento e desistência em
finalizar o estudo.
Após a intervenção, houve:
Melhora significativa da função cognitiva dos participantes do grupo
intervenção, ou seja, que recebeu a suplementação com as vitaminas B6,
B9 e B12.
Aumento significativo da pontuação no Teste de Aptidão Cognitiva Básica
após a suplementação;
Redução significativa em cerca de 16% da concentração de homocisteína
no grupo que recebeu a suplementação (intervenção);
Aumento significativo das concentrações de vitamina B6, B12 e B9 no
grupo que recebeu a suplementação (intervenção);
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 89
Nível elevado de homocisteína é um fator de risco para o
comprometimento da função cognitiva.
Para diminuir a homocisteína no nosso organismo é necessário nível
adequado de vitaminas do complexo B, uma vez que na ausência ou
deficiência destas vitaminas, há acúmulo de homocisteína (Oulhaj
et al., 2010).
Também há evidência de que a suplementação de vitaminas do
complexo B, principalmente quando associadas, melhoram a função
cognitiva a partir da diminuição dos níveis de homocisteína (Cheng
et al., 2021).
limitações do estudo
- O estudo não foi randomizado, isto é, não foi feita a alocação dos participantes
nos grupos de modo aleatório, e sim de acordo com idade, escolaridade
e pontuação no teste que avaliou a função cognitiva dos participantes. A
não randomização é um viés importante, pois pode influenciar de maneira
tendenciosa a avaliação dos resultados obtidos no estudo.
- Perda de participantes devido a ocorrência de eventos adversos associados
ao uso da suplementação.
coNclusão
A suplementação de vitaminas do complexo B associadas (B6 + B9 +
B12) foi eficaz na redução dos níveis séricos de homocisteína em indivíduos
com hiperhomocisteinemia (homocisteína elevada) e no aumento das
pontuações dos testes que avaliam a função cognitiva.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
90 |
reFerêNcias
CHEN, H. et al. Effects of folic acid and vitamin b12 supplementation on cognitive
impairment and inflammation in patients with Alzheimer’s disease: a randomized,
single-blinded, placebo-controlled trial. Journal of Prevention of Alzheimer’s disease,
Berlim, v. 8, n. 3, p. 249–256, May. 2021.
CHENG, D. et al. B vitamin supplementation improves cognitive function in the
middle aged and elderly with hyperhomocysteinemia. Nutritional Neuroscience,
Oxfordshire, v. 19, n. 10, p. 461–466, Dec. 2016.
OULHAJ, A. et al. Homocysteine as a predictor of cognitive decline in Alzheimer’s
disease. International Journal of Geriatric Psychiatry, Hoboken, v. 25, n. 1, p. 82–90,
Oct. 2010.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 91
4.2.3 eviDênciaS Do uSo DaS vitaminaS B9 e B12 na função cognitiva
em iDoSoS com DiagnóStico Da Doença De alzheimer
Foi conduzido um ensaio clínico randomizado simples
cego na China com o objetivo de avaliar os efeitos da
suplementação de ácido fólico (vitamina B9) associado a
cobalamina (vitamina B12) em marcadores de inflamação
e na progressão (evolução) do comprometimento cognitivo
em participantes com diagnóstico da doença de Alzheimer
(DA) (Chen et al., 2021).
Você sabe o que é um ensaio simples cego?
Nesse tipo de estudo apenas os participantes não sabem se são do
grupo intervenção (pessoas que recebem a suplementação) ou placebo
(pessoas que não recebem a suplementação). Logo, os investigadores não
foram cegados no estudo, ou seja, eles sabiam a alocação dos participantes!
metodoloGia
Foram incluídas pessoas idosas com diagnóstico da DA.
Foram excluídas pessoas em uso de qualquer suplemento alimentar nos três
meses anteriores ao início do estudo e que apresentavam pontuação inferior
à 22 na avaliação da função cognitiva (foi aplicada uma ferramenta chamada
Avaliação Cognitiva de Montreal) (Roalf et al., 2017).
Todos os participantes mantiveram o uso da farmacoterapia para
o manejo da DA, como a memantina e inibidores da acetilcolinesterase
(rivastigmina, galantamina e donepezil) e foram divididos em dois grupos
(FIGURA 19):
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
92 |
Figura 19 - Alocação dos participantes em grupo intervenção (n = 60) e
grupo placebo (n = 60).
Grupo intervenção (60 participantes):
receberam três comprimidos de 400µg de
vitamina B9 + dois comprimidos de 25 µg de
vitamina B12, diariamente pelo período de seis
meses
Grupo placebo (60 participantes):
receberam três comprimidos de amido + dois
comprimidos de amido, diariamente pelo
período de seis meses
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
Os comprimidos deveriam ser ingeridos sempre após o café da manhã.
Os comprimidos dos grupos intervenção e placebo eram idênticos, ou seja,
não havia diferença de sabor, forma, cor ou tamanho dos comprimidos.
Os desfechos avaliados foram:
Função cognitiva: foi avaliada no início do estudo e após seis meses, a
partir do uso de duas ferramentas:
Alzheimer’s disease Assessment Scale – Cognitive Subscale (ADAS-Cog)
Essa ferramenta avalia a linguagem (linguagem falada,
compreensão, busca de palavras e recordação das instruções faladas
durante o teste), memória (recordação de palavras, reconhecimento
de palavras e orientação) e práxis (avalia a capacidade de reconhecer
um desenho geométrico e conseguir desenhá-lo sozinho) (Rosen et
al., 1984).
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 93
Avaliação Cognitiva de Montreal
Usada para avaliar função visuoespacial e executiva, nomeação de
palavras (o paciente deve repetir frases ditas pelo avaliador), atenção
e evocação tardia (avalia a memória e são ditas cinco palavras ao
paciente e após 5 minutos ele deve repeti-las corretamente).
Parâmetros bioquímicos: foram coletadas amostras de sangue
no início e ao final de seis meses da intervenção para avaliar os
níveis de:
Vitaminas B9 e B12.
Homocisteína.
Citocinas inflamatórias como interleucina 2 (IL-2), 6 (IL-6), 10 (IL-10),
fator de necrose tumoral (TNFα), entre outras.
Citocinas inflamatórias são moléculas que são liberadas em
processos inflamatórios como uma resposta do nosso sistema
imunológico.
Adesão ao tratamento: foi monitorada a partir de telefonemas regulares.
resultados
Foram incluídos 120 participantes. Destes, 19 desistiram de continuar
no estudo e, portanto, 101 participantes finalizaram a intervenção. Nove
participantes do grupo intervenção e 10 do grupo placebo desistiram por
se recusarem a fazer os testes para avaliar a função cognitiva, por pararem o
uso da intervenção, devido problemas de saúde ou óbito.
Após a intervenção foi observado melhor desempenho cognitivo dos
participantes do grupo 1, ou seja, que receberam a suplementação com as
vitaminas B9 e B12, na Avaliação Cognitiva de Montreal e no ADAS-Cog.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
94 |
Quanto aos parâmetros bioquímicos, no grupo intervenção houve maior
concentração sérica de vitamina B9 e B12 e diminuição dos níveis de
homocisteína e das citocinas inflamatórias IL-2 e TNFα.
Um estudo prévio identificou que a suplementação de vitaminas
do complexo B está relacionada ao melhor desempenho cognitivo,
principalmente devido à manutenção dos níveis de homocisteína (Gil
Martínez; Avedillo Salas; Santander Ballestín, 2022).
A redução da homocisteína no nosso organismo está relacionada aos níveis
adequados de vitaminas do complexo B, uma vez que na ausência ou deficiência
dessas vitaminas, há o acúmulo de homocisteína (Oulhaj et al., 2010).
Além disso, a presença de inflamação é um fator de risco para o declínio
cognitivo, principalmente quando essa inflamação ocorre na região do cérebro
responsável pela formação das memórias (hipocampo) (Ma et al., 2016).
limitações do estudo
- O estudo foi simples cego, ou seja, apenas os participantes não sabiam
se eram do grupo intervenção (que receberam a suplementação com as
vitaminas B9 e B12) ou placebo. Essa é uma limitação importante, pois
os investigadores não foram cegados e sabiam a alocação dos participantes,
o que pode comprometer a imparcialidade necessária para a análise dos
desfechos;
- Os autores não reportaram se os participantes aderiram a intervenção;
- Não foram reportados os eventos adversos associados ao uso da
suplementação e se a mesma foi considerada segura.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 95
coNclusão
A suplementação associada das vitaminas B9 e B12 pode melhorar
o desempenho cognitivo de pessoas com diagnóstico de DA, além de
diminuir os níveis de homocisteína e de citocinas inflamatórias.
reFerêNcias
CHEN, H. et al. Effects of folic acid and vitamin b12 supplementation on cognitive
impairment and inflammation in patients with Alzheimer’s disease: a randomized,
single-blinded, placebo-controlled trial. Journal of Prevention of Alzheimer’s disease,
Berlim, v. 8, n. 3, p. 249–256, May. 2021.
GIL MARTÍNEZ, V.; AVEDILLO SALAS, A.; SANTANDER BALLESTÍN, S.
Vitamin supplementation and dementia: a systematic review. Nutrients, Basileia, v. 14,
n. 5, p. 1–23, Feb. 2022.
MA, F. et al. Folic acid supplementation improves cognitive function by reducing the
levels of peripheral inflammatory cytokines in elderly Chinese subjects with MCI.
Scientific Reports, London, v. 6, n. 37486, p. 37486, p. 1–11, Nov. 2016.
OULHAJ, A. et al. Homocysteine as a predictor of cognitive decline in Alzheimer’s
disease. International Journal of Geriatric Psychiatry, Hoboken, v. 25, n. 1, p. 82–90,
Oct. 2010.
ROALF, D. R. et al. Briding cognitive screening tests in neurological disorders: a cross-
walk between s-MoCA and MMSE. Alzheimer’s & dementia: the Journal of the
Alzheimer’s Association, Hoboken, v. 13, n. 8, p. 947-952, Aug. 2017.
ROSEN, G. et al. A New Rating Scale for Alzheimer’s. American Journal of
Psychiatry, Washington, p. 1356–1364, Nov. 1984.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
96 |
4.2.4 eviDênciaS Do uSo De BeBiDa com multinutrienteS na função
cognitiva De peSSoaS com Doença De alzheimer proDrômica
Foi conduzido um ensaio clínico multicêntrico randomizado
e duplo cego a fim de investigar os efeitos de uma
suplementação de multinutrientes na melhora da função
cognitiva e de medidas de avaliação relacionadas à doença de
Alzheimer (DA) (Soininen et al., 2017) (FIGURA 20).
Figura 20 - Definição de um estudo multicêntrico.
Estudo multicêntrico: engloba
mais de um local, como um
conjunto de hospitais ou clínicas,
em um mesmo país ou em países
diferentes.
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
metodoloGia
Foram incluídas pessoas idosas:
Com diagnóstico de DA prodrômica, isto é, na fase de comprometimento
cognitivo e funcional leve;
Em acompanhamento em clínicas de memória em cidades da Finlândia,
Alemanha, Holanda e Suécia.
Com pontuação mínima de 24 pontos/30 pontos no Mini Exame do Estado
Mental (MEEM) – o que evidencia comprometimento cognitivo leve.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 97
Foram incluídas pessoas idosas:
Em uso da farmacoterapia da DA (donepezil, rivastigmina, galantamina e/ou
memantina);
Em uso de suplementos alimentares com ômega-3, vitaminas B6, B12,
ácido fólico e vitaminas C ou E em doses acima de 200% da ingestão diária
recomendada;
Com transtornos depressivos;
Histórico de acidente vascular cerebral, sangramento intracraniano ou outra
lesão cerebral;
Usuários de drogas ou etilistas (consumidores frequentes de bebidas alcoólicas);
Que participaram de outro ensaio clínico nos 30 dias anteriores ao início do
estudo.
Os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos
(FIGURA 21):
Figura 21 - Alocação randomizada dos participantes nos grupos
intervenção (n = 152) e placebo (n = 158).
Grupo intervenção
(152 participantes)
Grupo placebo
(158 participantes)
Ingestão de 125 mL da
bebida de multinutrientes, 1
vez ao dia, por 24 meses.
Ingestão de 125 mL de
bebida placebo (sem os
multinutrientes), 1 vez ao dia,
por 24 meses.
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
98 |
A bebida de multinutrientes consistiu na associação de ácido eicosapentaenoico
(EPA), ácido docosahexaenoico (DHA), vitaminas B12, B6, B9, E e C,
monofosfato de uridina, colina, fosfolipídios e selênio.
Por não estar em uma forma farmacêutica, esta intervenção não é considerada
um suplemento alimentar!
A bebida era semelhante em aparência e sabor entre os dois grupos (intervenção
e placebo).
No quadro 3 são apresentados os desfechos avaliados no estudo
(QUADRO 3).
Quadro 3 - Desfechos avaliados após a suplementação da bebida
multivitamínica e ferramentas utilizadas para a avaliação dos desfechos.
Desfecho avaliado Forma de avaliação
Função cognitiva - avaliada
no início do estudo, e nos
meses 6, 12 e 24.
Função executiva (capacidade de planejamento e
execução de tarefas).
Memória (teste Neuropsychological Test Battery).
Estadiamento da demência (Clinical Dementia
Rating - CDR).
Atrofia cerebral = redução da massa cerebral
(ressonância magnética).
Parâmetros bioquímicos -
avaliados no início do estudo e
nos meses 3, 6, 12 e 24;
Concentrações séricas de lipoproteína de alta
densidade (HDL) e lipoproteína de baixa densidade
(LDL).
Níveis de DHA e EPA.
Eventos adversos - avaliados
nos meses 1, 2, 3, 4, 5 e 6 e
depois bimestralmente por 18
meses
Monitoramento por meio de telefonemas.
Adesão Avaliada por meio do autorrelato dos participantes
e registro da quantidade de bebida consumida
diariamente.
Fonte: Elaborado pelas autoras (2023).
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 99
Todos os participantes que tiveram progressão do comprometimento
cognitivo e evoluíram para demência durante a intervenção poderiam
permanecer no estudo e iniciar o uso da farmacoterapia indicada
(anticolinesterásicos e/ou memantina).
resultados
A média de idade dos participantes foi de 71 anos, variando de 50
a 86 anos.
Houve desistências em ambos os grupos, sendo 32 perdas no grupo
intervenção e 33 no grupo placebo (FIGURA 22):
Figura 22 - Fluxograma dos grupos de estudo e as respectivas
desistências.
Grupo intervenção (n=152) Grupo placebo (n=158)
Perdas (n=32)
Outros motivos (n=11)
Eventos adversos (n=9)
Recusa em continuar o estudo (n=8)
Óbitos não relacionados ao estudo
(n=4)
Perdas (n=33)
Outros motivos (n=16)
Recusa em continuar o estudo (n=10)
Eventos adversos (n=6)
Óbitos não relacionados ao estudo
(n=1)
120 participantes completaram o
estudo
125 participantes completaram o
estudo
Fonte: Elaborado pelas autoras (2023).
A taxa de adesão dos participantes à intervenção foi considerada alta
em ambos os grupos.
Após a suplementação com a bebida multinutrientes por 24 meses não
foi observada diferença significativa no teste Neuropsychological Test Battery,
que avalia a função executiva e memória.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
100 |
Não houve melhora dos níveis de LDL após a suplementação.
Foi observada melhora da pontuação do CDR, da atrofia cerebral do
hipocampo (região do cérebro em que são formadas as memórias) e
aumento dos níveis de HDL dos participantes que receberam a bebida
multinutrientes.
A incidência de eventos adversos foi considerada semelhante entre os
grupos (sem significância estatística) e os eventos mais reportados foram:
Dor nas costas: grupo intervenção (n=10) e grupo placebo
(n=5)
Quedas: grupo intervenção (n=11) e grupo placebo (n=8)
Dor de cabeça: grupo intervenção (n=9) e grupo placebo (n=12)
Infecção urinária: grupo intervenção (n=7) e grupo placebo (n= 9)
Diarreia: grupo intervenção (n= 7) e grupo placebo (n=14)
Vertigem: grupo intervenção (n=6) e grupo placebo (n=12)
Cistite: grupo intervenção (n=6) e grupo placebo (n=9)
22% dos participantes do grupo intervenção e 19% dos participantes
do grupo controle tiveram evento adverso grave. Entretanto, nenhum
dos eventos adversos graves foi associado ao consumo da bebida de
multinutrientes.
limitação do estudo
Este estudo avaliou a suplementação da bebida multinutrientes na
cognição de pessoas com diagnóstico de DA prodrômica. Entretanto, o
declínio cognitivo dos participantes incluídos neste estudo foi considerado
mais leve do que o esperado, o que pode comprometer os achados dos autores.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 101
coNclusão
O consumo da bebida de multinutrientes por 24 meses foi eficaz
na melhora das pontuações no teste CDR, que indica o estadiamento da
demência, redução da atrofia cerebral e aumento dos níveis de HDL de
pessoas com a DA prodrômica.
reFerêNcia
SOININEN, H. et al. 24-month intervention with a specific multinutrient in people with
prodromal Alzheimers disease (LipiDiDiet): a randomized, double blind, controlled trial.
e Lancet Neurology, Amsterdam, v. 16, n. 12, p. 965–975, Dec. 2017.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
102 |
4.3 suPlemeNtação de Probióticos e seus eFeitos Na FuNção
coGNitiva
SANTOS, A. C. S.; MASTROIANNI, P. C.; FORGERINI, M. Evidências
do uso de psicobióticos na saúde mental. Araraquara: Faculdade de Ciências
Farmacêuticas, 2022. Acesso disponível em: https://www2.fcfar.unesp.
br/Home/Alunos/naf/versao-digital---cartilha-1-psicobioticos-e-saude-
mental---2022-12-12-diagramada_finalizada.pdf. Acesso em: 8 jan. 2023.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 103
4.3.1 o uSo De proBióticoS na SaúDe inteStinal e cognição De peSSoaS
iDoSaS
Foi conduzido um ensaio clínico randomizado duplo-cego
multicêntrico que avaliou os benefícios do consumo de probióticos
na saúde intestinal e comprometimento cognitivo de pessoas idosas
(Kim et al., 2021).
metodoloGia
Foram incluídas pessoas acima de 65 anos e excluídas aquelas em
uso de probióticos, antibióticos, anti-inflamatórios e medicamentos para o
trato gastrointestinal nos últimos três meses.
Durante o recrutamento dos participantes foi realizada a avaliação da
capacidade física e da função cognitiva por meio da aplicação da ferramenta
Mini Exame do Estado Mental (MEEM). Pessoas que não conseguiam
viver de forma independente – sendo evidenciado por meio de pontuações
baixas no teste MEEM – também foram excluídas.
Os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos:
Grupo intervenção (32 participantes): receberam duas cápsulas contendo
Bifidobacterium bifidum BGN 4 (1×10
9
UFC) e Bifidobacterium longum
(1×10
9
UFC), em óleo de soja, duas vezes ao dia, por 12 semanas.
Grupo placebo (31 participantes): receberam duas cápsulas contendo em
cada uma 500 mg de óleo de soja, duas vezes ao dia, por 12 semanas.
Tanto as cápsulas do grupo intervenção, quanto do grupo placebo,
deveriam ser tomadas após o café da manhã e à noite. As cápsulas dos dois
grupos eram semelhantes em embalagem, cor, sabor e odor.
Os participantes não podiam fazer uso de outros suplementos ou
consumir iogurte que possuíssem probióticos durante o período do
estudo!
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
104 |
Os desfechos avaliados foram:
Função cognitiva: avaliada por meio dos domínios de linguagem,
memória, função visuoespacial, atenção e função executiva (Consortium
to Establish a Registry for Alzheimer’s disease).
Humor, depressão, estresse e qualidade de vida: aplicação do teste
Escala de Depressão Geriátrica.
Fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF, do inglês Brain-
derived neurotrophic factor): avaliação dos níveis séricos de BDNF, um
marcador bioquímico neuronal importante para a formação sináptica
dos neurônios, respostas imunológicas, aprendizagem, memória e
estresse.
Efeitos do uso dos probióticos: foi avaliada a melhora nos hábitos
intestinais, ou seja, frequência e quantidade de defecação; sensação
de evacuação incompleta; odor das fezes; frequência de gases; sons
intestinais e distensão abdominal (sensação de abdômen inchado) e
frequência de diarreia.
Medidas antropométricas: medição do peso corporal, altura e cálculo
do índice de massa corporal (IMC).
Análise da microbiota intestinal: o DNA bacteriano da microbiota
intestinal foi isolado a partir do exame de fezes - essa análise foi
realizada para identificar a composição da microbiota dos participantes
e se as bactérias “boas” presentes no probiótico chegaram viáveis no
trato gastrointestinal e se houve redução das bactérias consideradas
patogênicas (“ruins”).
Os desfechos foram avaliados no início do estudo, na semana quatro,
oito e 12, e apenas a função cognitiva foi avaliada no início, na semana
quatro e 12.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 105
resultados
53 participantes finalizaram o estudo, sendo que houve 10 perdas
por retirada do consentimento, sendo cinco do grupo intervenção e cinco
do grupo placebo.
Após a intervenção (uso do probiótico):
Foi identificada melhora na flexibilidade mental (capacidade de mudar
de pensamento, ter novas ideias e conseguir fazer planejamentos) dos
participantes do grupo intervenção na semana 12 do estudo;
Foi identificado aumento no nível sérico de BDNF no grupo intervenção;
Houve melhora dos hábitos intestinais (gases) dos participantes do grupo
intervenção;
Houve diminuição da composição da microbiota intestinal de bactérias
associadas à inflamação no grupo intervenção (bactérias “ruins”) -
Eubacterium, Allisonella, Clostridiales e Prevotellaceae;
Foi observada uma correlação negativa entre os níveis de BDNF e a presença
das colônias de Eubacterium e de Clostridiales, ou seja, o aumento dos níveis
de BDNF foi associado a redução da quantidade de bactérias patogênicas
(“ruins”);
Houve redução do estresse dos participantes no grupo intervenção;
Não foi relatado nenhum evento adverso;
Foi observado aumento do estresse dos participantes do grupo placebo;
Não houve diferença na melhora na qualidade de vida em nenhum dos
grupos;
Não houve diferença significativa entre os grupos quanto a maioria dos
domínios de função cognitiva avaliados.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
106 |
limitações do estudo
- Apesar dos autores terem avaliado as medidas antropométricas dos
participantes, não foram reportados os resultados dessas medidas.
- O estudo incluiu um número amostral pequeno (n = 53), o que pode
limitar a inferência (generalização) desses resultados.
coNclusão
A suplementação com a associação dos probióticos Bifidobacterium
bifidum BGN 4 (1×10
9
UFC) e Bifidobacterium longum (1×10
9
UFC)
atuou no eixo intestino-cérebro de pessoas idosas saudáveis e promoveu
melhora da saúde cognitiva e mental por meio da alteração da composição
da microbiota intestinal (redução das bactérias patógenas).
A interação entre a microbiota e o sistema nervoso central também
foi evidenciada pela alteração dos níveis de BDNF, um fator importante
para aprendizagem e formação de memória.
reFerêNcia
KIM, C. S. et al. Probiotic supplementation improves cognitive function and mood
with changes in gut microbiota in community- dwelling older adults: A randomized,
double-blind, placebo-controlled, multicenter trial. Journals of Gerontology - Series A
Biological Sciences and Medical Sciences, Oxford, v. 76, n. 1, p. 32–40, Jan. 2021.
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 107
4.3.2 o uSo Do proBiótico BifiDoBacterium na melhora Da função
cognitiva De iDoSoS com poSSível comprometimento cognitivo leve
Foi conduzido um ensaio clínico randomizado duplo-cego com o objetivo de
avaliar se a suplementação do probiótico Bifidobacterium breve A1 (B. breve
A1) poderia melhorar a função cognitiva de pessoas idosas com suspeita de
comprometimento cognitivo leve (CCL) (Xiao et al., 2020).
metodoloGia
Foram incluídas pessoas com possível CCL e:
Idade entre 50 e 79 anos;
No mínimo 22 pontos no teste Mini Exame do Estado Mental
(MEEM)  teste que avalia a função cognitiva e nessa pontuação
indica um possível CCL.
Foram excluídas as pessoas que:
Possuíam diagnóstico de demência;
Possuíam histórico de condições de saúde como diabetes
mellitus, depressão, distúrbios do sono e doença hepática, renal
ou cardíaca;
Realizaram cirurgia no trato gastrointestinal;
Gestantes e lactantes;
Em uso de SA e medicamentos que podem alterar a função
cognitiva;
Praticavam exercícios ou estavam em dieta;
Com hábitos de vida não saudáveis e alimentação não balanceada;
Histórico de abuso de drogas;
Trabalhavam no período noturno;
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
108 |
Participaram em outros ensaios clínicos nos últimos 3 meses;
Realizaram exame de sangue no mês anterior ao início do estudo.
Os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos
(FIGURA 23):
Figura 23 - Alocação randomizada dos participantes nos grupos
intervenção (n = 40) e placebo (n = 40).
Grupo intervenção
(40 participantes)
Grupo placebo
(40 participantes)
Duas cápsulas de probiótico
B. breve A1 (1×10
10
UFC cada
cápsula), uma vez ao dia, por 16
semanas.
Duas cápsulas contendo amido
de milho, uma vez ao dia, por 16
semanas.
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
As cápsulas dos dois grupos eram idênticas em aparência, tamanho
e cheiro.
Desfechos avaliados (no final e no início do estudo):
Função cognitiva: avaliação da memória, função visuoespacial,
linguagem, atenção com aplicação do teste Bateria Repetível
para Avaliação do Estado Neuropsicológico (versão japonesa)
(Randolph et al., 1998).
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
| 109
Parâmetros bioquímicos para avaliação da segurança: coleta
de amostras de sangue  os autores não reportaram quais
parâmetros foram avaliados.
Peso corporal.
Adesão ao tratamento.
resultados
Dos 80 participantes incluídos, apenas um não completou o estudo
por ter realizado o uso de um medicamento que melhorava a função
cognitiva, o que consistia em um critério de exclusão.
Após a intervenção foi observada melhora significativa da função
cognitiva  memória, função visuoespacial e linguagem (FIGURA 24).
No entanto, não houve melhora na atenção. A adesão ao tratamento foi de
97,5% no grupo placebo e 100% no grupo intervenção.
Figura 24 - Atuação do Bifidobacterium breve A1 no eixo cérebro-intestino.
O probiótico B. breve A1 atua no eixo
intestino-cérebro e pode reduzir processos
inflamatórios e melhorar o sistema
imunológico, o que pode justificar a melhora
na função cognitiva observada após a sua
suplementação (Kobayashi et al., 2017).
Eixo
cérebro-intestino
Fonte: Ilustração elaborada pelas autoras (2023).
A suplementação foi considerada segura porque não foram relatados
eventos adversos e não houve alterações em parâmetros sanguíneos e
biológicos.
Gabriela Barbosa Nascimento, Patrícia de Carvalho Mastroianni e Marcela Forgerini
110 |
limitações do estudo
Foi proposta a avaliação de parâmetros hematológicos e bioquímicos
dos participantes, mas os autores não reportaram quais foram os exames
realizados e monitorados durante o estudo, bem como os resultados.
Apesar de ter sido reportada alta taxa de adesão ao tratamento, não
foi reportado como ela foi avaliada.
coNclusão
A suplementação de B. breve A1 por 16 semanas foi associada a
melhora da função cognitiva de pessoas idosas com suspeita de CCL.
reFerêNcias
KOBAYASHI, Y. et al. erapeutic potential of Bifidobacterium breve strain A1 for
preventing cognitive impairment in Alzheimers disease. Scientific Reports, London, v.
7, n. 1, p. 1–10, Oct. 2017.
RANDOLPH, C. et al. e Repeatable Battery for the Assessment of Neuropsychological
Status (RBANS): Preliminary clinical validity. Journal of Clinical and Experimental
Neuropsychology, Oxfordshire, v. 20, n. 3, p. 310–319, Jun. 1998.
XIAO, J. et al. Probiotic Bifidobacterium breve in improving cognitive functions of older
adults with suspected mild cognitive impairment: a randomized, double blind, placebo-
controlled trial. Journal of Alzheimers disease, Amsterdam, v. 77, n. 1, p. 139–147,
Sep. 2020.
cataloGação Na Publicação (ciP)
Telma Jaqueline Dias Silveira
CRB 8/7867
Normalização
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CRB - 8/7963
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sobre o livro
Gabriela Barbosa Nascimento
Patrícia de Carvalho Mastroianni
Marcela Forgerini
Uso de
suplemento alimentar
e seus desfechos na
função cognitiva
da pessoa idosa
Uso de suplemento alimentar e seus desfechos na função cognitiva da pessoa idosa
Gabriela Barbosa Nascimento; Patrícia de Carvalho Mastroianni; Marcela Forgerini
Esta obra é fruto do Projeto de
Extensão “Difusão de Conhecimentos
Científicos e Tradução do conhecimento sobre
suplemento alimentar (SA) e produtos à base
de plantas (PBP) e difusão pelas redes sociais
da Farmácia Universitária” desenvolvido na
Faculdade de Ciências Farmacêuticas com
apoio financeiro e bolsas da Pró-reitoria de
Extensão e Cultura da UNESP (PROEC),
Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD),
Agência Unesp de Inovação (AUIN), Assessoria
de Comunicação de Imprensa (ACI) e
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES) (código de
financiamento 001).
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