Práticas docentes e
digitalidade:
novos tempos, novas demandas
Daniela N. de Moraes Garcia
Paulo Alexandre Filho
Daniel Vieira Sant'Anna
Yngrid K. Mendonça Costa
(Org.)
Práticas docentes e digitalidade:
novos tempos, novas demandas
Em meio a todas as adversidades dos últimos anos, vimos, nas práticas educa-
cionais, a necessidade de inserção dessas ferramentas digitais capazes de, em
um pequeno período de tempo, alcançar o status de recursos metodológicos.
Sendo assim, a presente obra reúne uma coletânea de textos escritos por alguns
educadores, alunos do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP,
Campus de Marília, a partir de seu lugar de fala/atuação, compartilharam suas
experiências atreladas às tecnologias, tendo como objetivo geral reetir sobre as
práticas docentes mediadas pelas TDIC em tempos de pandemia de modo a (re)
construir percursos no campo educacional. A partir das experiências comparti-
lhadas, reforçam-se as perspectivas de que estamos diante de um campo multi-
facetado e complexo de estudos que contempla práticas pedagógicas, pandemia
e utilização de tecnologias. Todavia, unimos vozes, neste livro, na tentativa de
tecer reexões que fortaleçam ânimos e ofereçam suporte a docentes e pesquisa-
dores apaixonados pela educação, como nós.
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Professora Livre Docente em Língua In-
glesa pela UNESP. Professora Associada
junto ao Departamento de Letras Mo-
dernas da Faculdade de Ciências e Letras
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - UNESP – Campus
de Assis/SP e Professora e orientadora no
Programa de Pós-Graduação em Edu-
cação- UNESP- Campus de Marília /
e-mail: daniela.nm.garcia@unesp.br
Paulo Alexandre Filho
Doutorando em Educação / PPGE / Fa-
culdade de Filosoa e Ciências / Uni-
versidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP – campus de
Marília/SP / Professor de Educação Bá-
sica da rede estadual paulista / e-mail:
p.alexandre@unesp.br
Daniel Vieira Sant’Anna
Doutorando em Educação / PPGE
/ Faculdade de Filosoa e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / Professor Auxiliar I -
Centro Universitário Sagrado Coração
- UNISAGRADO - Bauru/SP / e-mail:
daniel.santanna@unesp.br
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Doutoranda em Educação / PPGE /
Faculdade de Filosoa e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / Professora de Educação
Básica da rede estadual paulista / e-mail:
yngrid.karolline@unesp.br
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0039/2022
Processo Nº 23038.001838/2022-11
PRÁTICAS DOCENTES
E DIGITALIDADE:
novos tempos, novas demandas
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Paulo Alexandre Filho
Daniel Vieira Sant'Anna
Yngrid Karolline Mendonça Costa
(Organizadores)
PRÁTICAS DOCENTES E DIGITALIDADE:
novos tempos, novas demandas
Adriana Alonso Pereira
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Débora Fabiana Vaz Dellamura
Douglas Cunha dos Santos
Filipe Bellinaso
Gabriela Pedroso Cardoso
Isabelle Castilho
Josélia Donizeti Marques Alves Dias
Karina Carro Gomes de Oliveira
Maria Eduarda Tognette
Maria Rosa Delmasso Rodrigues
Patricia Moreira Salina Fernandes Pimentel
Thayse Palmela Nogueira
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2023
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIASFFC
UNESP - campus de Marília
Diretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Edvaldo Soares
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
Henrique Tahan Novaes
Aila Narene Dahwache Criado Rocha
Alonso Bezerra de Carvalho
Ana Clara Bortoleto Nery
Claudia da Mota Daros Parente
Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Pedro Angelo Pagni
Auxílio 0039/2022, Processo 23038.001838/2022-11, Programa PROEX/CAPES
Parecerista: Lívia Maria Turra Bassetto - professora dengua Portuguesa, especificamente de Comunicão Oral
e Escrita para os cursos de engenharia na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR/ Cornélio
Procópio).
Capa: Douglas Cunha dos Santos
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
P912 Práticas docentes e digitalidade: novos tempos, novas demandas / Daniela Nogueira
de Moraes Garcia ... [et al.] (org.). Marília : Oficina Universitária ; São Paulo :
Cultura Acadêmica, 2023.
252 p. : il.
CAPES
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-386-1 (Impresso)
ISBN 978-65-5954-385-4 (Digital)
DOI https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4
1. Prática de ensino. 2. Tecnologias de informação e comunicação. 3. Ensino a
distância Ensino auxiliado por computador. 4. Educação. I. Garcia, Daniela
Nogueira de Moraes. II. Título.
CDD 371.334
_____________________________________________________________________________
Catalogação: André Sávio Craveiro BuenoCRB 8/8211
Copyright © 2023, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
A Deus que nos sustenta e que nos permite sonhar.
A todos/as professores/professoras
que continuam lutando, sonhando e inspirando.
O que vale na vida o é o ponto de partida e sim a caminhada.
Caminhando e sonhando e semeando, no fim terás o que colher...”
Cora Coralina
SUMÁRIO
Prefácio | Marcus Vinicius Maltempi...............................................11
Apresentação | Organizadores ........................................................15
Softwares e aplicativos educacionais: reflexões e possibilidades pós
ensino remoto emergencial............................................................21
Gabriela Pedroso Cardoso
A Plataforma Educação em casa: ensino/aprendizagem em tempos de
pandemia em uma cidade do oeste paulista................................47
Josélia Donizeti Marques Alves Dias; Karina Carrião Gomes de Oliveira
Plataformas digitais na Educação Infantil em tempos de pandemia:
um relato de experiência................................................................69
Thayse Palmela Nogueira
O trabalho com jogos matemáticos antes e durante o retorno às aulas
presenciais.....................................................................................95
Adriana Alonso Pereira
Oficinas sobre o pensar pedagógico em momento pandêmico:
formação docente no Centro de Línguas......................................113
Douglas Cunha dos Santos; Isabelle Castilho; Daniela Nogueira de
Moraes Garcia
Ferramentas digitais no ensino: da trajetória da tecnologia
educacional no Brasil à prática em sala de aula..............................139
Maria Eduarda Tognette
Globalização, tecnologia e educação: do aparelhamento ideológico às
possibilidades de uso....................................................................159
Filipe Bellinaso
O ensino de Língua Inglesa para crianças pequenas: desafios, pontos
e contrapontos.............................................................................183
Patricia Moreira Salina Fernandes Pimentel
As tecnologias no cotidiano de uma pessoa com deficiência visual:
estreitando / ampliando vínculos com a realidade.........................211
Maria Rosa Delmasso Rodrigues
Universidade Virtual do Estado de São Paulo UNIVESP:
compartilhando experiências como facilitadora............................229
Débora Fabiana Vaz Dellamura
Sobre os autores...........................................................................249
11
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p11-14
Prefácio
A atividade do professor é condicionada por muitos fatores,
entre eles, destacamos as tecnologias. Atualmente tendemos a
considerar “tecnologia” somente as digitais e no âmbito de um
recurso ou ferramenta que fazemos uso quando nos é conveniente.
Entretanto, essa é uma visão limitada das tecnologias, pois conforme
McLuhan e Fiore (1969, p. 54 e p. 69)
1
, “Todos os meios
[tecnologias] são prolongamentos de alguma faculdade humana
psíquica ou física. [...] O prolongamento de qualquer de nossos
sentidos altera nossa maneira de pensar e agir o modo de perceber
o mundo. Quando essas relações se alteram, os homens mudam”. De
acordo com essa perspectiva, somos moldados pelas tecnologias ao
mesmo tempo em que as moldamos, em um processo contínuo que
acompanha a evolução da espécie humana. Assim, tanto a pedra
lascada e o domínio do fogo quanto a escrita e o celular são
tecnologias que levaram gerações para serem desenvolvidas (visualizar
uma ponta afiada dentro de uma pedra foi um grande desafio de
imaginação e percepção para o Homo habilis). Não se trata, portanto,
de um acessório ou de algo secundário: nossa relação com as
tecnologias é remota e profunda.
Antigamente, século XIX até meados do século XX, não era
comum a chegada de tecnologias promissoras para a educação nas
1
MCLUHAN, M; FIORE, Q. O meio são as massa-gens: Um inventário de
efeitos. 2a Edição. Rio de Janeiro: Record, 1969.
12
escolas, ainda assim, elas colocavam em movimento pesquisadores e
educadores que buscavam problematizá-las e compreendê-las no
contexto da sala de aula e da prática docente. Isso ocorreu, por
exemplo, com o giz e lousa, com os cadernos e com os livros didáticos,
que por vezes eram responsabilizados por possíveis fracassos ou
problemas de comportamento dos alunos e, portanto, havia quem
defendesse que essas tecnologias fossem banidas da escola. Tal postura
frente ao novo geralmente desconsidera que a tecnologia não é boa
nem por si só, mas depende do uso que fazemos dela, ou seja, está
sujeita à relação que estabelecemos com ela. E na sala de aula e em
outros ambientes de ensino e aprendizagem, é o professor o principal
responsável por planejar essa relação do estudante com as tecnologias.
Além disso, a chegada de novas tecnologias enfrenta a
resistência natural de professores, que para incorporá-las precisam
rever suas práticas, pois as tecnologias não são neutras e sua inserção
na sala de aula requer reflexão e planejamento, sob o risco de ser
contraproducente. E não é o professor que resiste às mudanças
trazidas e possibilitadas por novas tecnologias, pois além dele, gestores
escolares, pais e responsáveis pelos estudantes podem não enxergar
necessidade nelas. Isso porque tais tecnologias não tomaram parte de
sua escolarização e a escola do século XX foi muito bem-sucedida,
haja vista o notável desenvolvimento das sociedades nesse período.
No entanto, nas últimas cadas as tecnologias digitais
ensejaram diversas mudanças no modo de ser e de viver das pessoas
que, associadas a outros elementos, como a fragmentação disciplinar
e a universalização da educação, m questionando o modus operandi
dessa escola, planejada e voltada para um período em que o futuro
13
das pessoas era bem previsível e aprender se confundia com reproduzir
informações acumuladas.
Podemos dizer, então, que atualmente vivemos o início de um
período de transição na educação escolar, do cognitivo analógico,
marcado pela centralidade no professor, ênfase na memorização e
trabalho individual do estudante, com espaços e tempos rígidos, para
o metacognitivo corporificado digital, voltado a desafios e atitudes dos
estudantes no desenvolvimento de projetos em equipe, com espaços
e tempos flexíveis, propiciados e viabilizados pelas tecnologias digitais
de informação e comunicação. Metacognitivo porque se trata de uma
educação que se propõe ir além dos conteúdos disciplinares estanques,
e visa o desenvolvimento pelo estudante da capacidade de se
monitorar e autorregular, de pensar sobre o próprio pensar,
potencializando o próprio aprendizado. E corporificado porque,
associado ao cognitivo, é uma educação que também visa o
desenvolvimento emocional e comportamental do estudante na busca
e solução de problemas encaminhados em sociedade.
As tecnologias digitais possibilitam e são fundamentais nessa
transição, pois viabilizam a autoria e o desenvolvimento de projetos
que podem estimular a autonomia e a criatividade do estudante para
além dos muros da escola. Mas colocar isso em prática é uma grande
tarefa, que envolve a formação do professor, mudanças curriculares,
acesso à Internet de qualidade nas escolas, equipamentos adequados,
apoio técnico ao professor, entre outros. Tal execução precisa ser feita
em etapas e de maneira contínua, com destaque à formação inicial e
continuada de professores. Em Práticas Docentes e Digitalidade: Novos
Tempos, Novas Demandas, encontramos uma rica discussão sobre
educação e tecnologias no recente contexto que infelizmente todos
14
vivemos com a pandemia do Covid-19. Estabelecer tal discussão é
fundamental, pois a pandemia tensionou a educação escolar,
modificou e criou práticas e possibilidades para a educação que
precisam ser refletidas e aproveitadas na transição para o
metacognitivo corporificado digital.
No livro nos deparamos com o ensino remoto emergencial
(ERE), muitas vezes confundido com educação a distância (EaD). O
ERE mantém a desigualdade que marca a sociedade brasileira e
alternativas exitosas são discutidas. Além disso, encontramos reflexões
no contexto da educação com tecnologias, no período pandêmico, em
diversos níveis e disciplinas escolares, e na formação do professor. O
livro é uma contribuição relevante para os que se preocupam com a
prática pedagógica na educação escolar em diferentes contextos e que
buscam problematizar o papel das tecnologias na educação, incluindo
a educação especial.
A educação escolar é uma atividade essencial em nossa
sociedade e está em constante mudança, em especial, durante uma
pandemia que exigiu o fechamento das escolas. Assim, recomendo
fortemente que (futuros) professores e educadores interessados em
tecnologias na educação se dediquem a estudar a obra Práticas
Docentes e Digitalidade: Novos Tempos, Novas Demandas.
Prof. Dr. Marcus Vinicius Maltempi
15
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p15-20
Apresentação
A aprendizagem se constrói sobre os alicerces das práticas de
ensino. Muito além dos desafios e complexidades, o cenário
educacional torna-se contexto legalmente destinado à construção do
conhecimento, tendo em vista as políticas públicas vigentes no país.
Se de um lado temos os amparos legais que sustentam o sistema, do
outro, temos as fragilidades que ainda permeiam as instituições de
educação.
Diante disso, somos levados a (re)pensar, constantemente,
acerca dos desencontros entre esses dois prismas que parecem ser o
grande quando se trata de ensinar e de aprender. Professores,
gestores e alunos demonstram o descontentamento com a realidade
vivenciada por eles cotidianamente, por conta das exigências desse
novo contexto de mundo e as novas maneiras de se (inter)relacionar
com o outro e com as práticas sociais. Essas novas demandas do século
XXI assolam grande parte desses agentes no que diz respeito às suas
expectativas e incertezas.
Outro aspecto a ser ressaltado neste momento de reflexão é a
pandemia causada pelo COVID-19, que forjou, no calor dos
acontecimentos, transformações um tanto quanto radicais quando
analisamos as ações, na maioria das vezes, verticalizadas, advindas de
resoluções normativas formalizadas pelo poder público. Muitos
aspectos foram levantados, entre eles, as potencialidades das
tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) com vistas
a promover situações de ensino e aprendizagem significativas e,
16
concomitantemente, minimizar os desafios impostos pelo
distanciamento social em razão do lastro de disseminação da doença
provocada pelo rus SARS-CoV-2.
Em meio a todas as adversidades dos últimos anos, vimos, nas
práticas educacionais, a necessidade de inserção dessas ferramentas
digitais capazes de, em um pequeno período de tempo, alcançar o
status de recursos metodológicos. Sendo assim, a presente obra reúne
uma coletânea de textos escritos ao final da disciplina Educação e
novas tecnologias: implicações ao currículo da educação básica e
superior”, ministrada pela docente organizadora, em que pós-
graduandos, a partir de seu lugar de fala/atuação, compartilharam
suas experiências atreladas às tecnologias, tendo como objetivo geral
refletir sobre as práticas docentes mediadas pelas TDIC em tempos
de pandemia de modo a (re)construir percursos no campo
educacional.
O primeiro capítulo, de Gabriela Pedroso Cardoso, intitulado
Softwares e aplicativos educacionais: reflexões e possibilidades pós ensino
remoto emergencial traz as mudanças educacionais ocorridas em razão
do COVID-19 para discussão, principalmente, no que se refere à
implementação do ensino remoto emergencial (ERE) e utilização de
aplicativos e sites. Refletindo sobre as metodologias ativas de
aprendizagem e relevância de softwares, destaca possibilidades de uso
também em ensino presencial. Ademais, a pesquisadora nos mostra
os desafios a serem enfrentados a partir das TDIC como recursos
preponderantes para a educação do pós-pandemia, de modo a
valorizar práticas que promovem o desenvolvimento do
protagonismo dos estudantes.
17
No capítulo A Plataforma Educação em casa: ensino/
aprendizagem em tempos de pandemia em uma cidade do oeste paulista,
Josélia Donizeti Marques Alves Dias e Karina Carrião Gomes de
Oliveira refletem sobre o momento globalizado e manifestações de
desigualdades sociais e educacionais a partir dos avanços tecnológicos.
Ainda, estabelecem algumas considerações legislativas a respeito das
tecnologias digitais no Brasil e o exemplo bem-sucedido da
Plataforma Educação em Casa implementada em Marília, interior de
São Paulo, durante o período de ensino remoto emergencial.
No capítulo seguinte, intitulado Plataformas digitais na
Educação Infantil em tempos de pandemia: um relato de experiência, a
autora Thayse Palmela Nogueira discorre sobre suas vivências na
Educação Infantil durante o ensino remoto emergencial. Por meio de
um resgate histórico-legal, traça o caminho que as escolas da cidade
de Marília percorreram para mitigar o isolamento social e garantir o
direito à educação para grande parte das crianças. O estudo retrata
escolhas tecnológicas adotadas pelo município e o conteúdo
pedagógico desenvolvido pela autora-docente.
Adriana Alonso Pereira discute, em seu capítulo O trabalho
com jogos matemáticos antes e durante o retorno às aulas presenciais,
possibilidades de trabalho com os jogos matemáticos tanto durante as
atividades realizadas presencialmente, como durante o ensino remoto
emergencial, no contexto do primeiro ciclo do Ensino Fundamental.
A autora demonstra o quanto os alunos podem desenvolver
habilidades além dos conhecimentos matemáticos com os jogos, de
modo a favorecer a autonomia e protagonismo das crianças em
situações do cotidiano, extraescolares.
18
No contexto do Projeto de Extensão Centro de Línguas e
Desenvolvimento de Professores (CLDP), Douglas Cunha dos
Santos, Isabelle Castilho e Daniela Nogueira de Moraes Garcia
abordam as tecnologias e os professores p-serviço. No capítulo
Oficinas sobre o pensar pedagógico em momento pandêmico: formação
docente no Centro de Línguas, são retratadas oficinas pedagógicas que
foram ministradas visando abordar conteúdos para aproximar o tutor
de língua estrangeira de seu aluno e buscar a reflexão sobre a própria
prática, por meio da análise de demandas e escolhas tecnológicas. A
experiência descrita enfoca o auxílio aos professores em formação
frente aos desafios de um período sem precedentes.
No sexto capítulo, denominado Ferramentas digitais no
ensino: da trajetória da tecnologia educacional no Brasil à prática em
sala de aula, Maria Eduarda Tognette aborda o percurso histórico das
tecnologias do Brasil, desde a cada de 50, com os recursos
audiovisuais até o momento, em que as tecnologias tiveram papel
preponderante para o nosso desenvolvimento cultural. Além disso, a
autora disserta sobre os roteiros ou guias de estudos aliados às
tecnologias e, por fim, apresenta sua experiência com as ferramentas
digitais em dois níveis da Educação Básica: Infantil e Ensino
Fundamental.
Globalização, tecnologia e educação: do aparelhamento
ideológico às possibilidades de uso constitui-se o sétimo capítulo, do
autor Filipe Bellinaso. Tem como objetivo olhar para o debate da
inserção da tecnologia na educação e desmistificar certos discursos
ideológicos sobre o tema e, ao mesmo tempo, refletir sobre tecnologia
e educação como instrumentos para auxiliar na superação das
desigualdades sociais. Dessa forma, assim como Milton Santos olhou
19
para a globalização como fábula, perversidade e possibilidade, aqui,
pretende-se sugerir o mesmo exercício no que se diz respeito à
tecnologia.
Patrícia Moreira Salina Fernandes Pimentel, no oitavo
capítulo, retrata desafios para o processo de ensino e aprendizagem
das Línguas Estrangeiras no período pandêmico a partir da
perspectiva do ensino para além da dominação de código e
decodificação de palavras. Intitulado O ensino de Língua Inglesa para
crianças pequenas: desafios, pontos e contrapontos, o capítulo objetiva
compreender as contribuições das tecnologias para novas práticas
pedagógicas em ensino remoto emergencial, refletindo sobre a
relevância dos conhecimentos teóricos e metodológicos da docência.
A autora aborda pontos e contrapontos para a continuidade das
atividades na pandemia e propõe reflexões e práticas pedagógicas para
o ensino significativo de línguas estrangeiras e o uso de tecnologias
para a aprendizagem e apropriação do conhecimento.
As tecnologias no cotidiano de uma pessoa com deficiência visual:
estreitando/ ampliando vínculos com a realidade, capítulo de Maria
Rosa Delmasso Rodrigues, aborda como a pessoa com deficiência
visual percebe o mundo e o processo pelo qual as realidades lhe são
apresentadas. Neste trabalho, sob a definição de deficiência visual no
campo da saúde e no campo educacional, a autora apresenta dois
relatos de experiência que demonstram como os estigmas criam
barreiras no acesso das pessoas com deficiência aos diferentes espaços
sociais e como as tecnologias podem ajudar na superação de algumas
dessas barreiras, possibilitando o acesso aos serviços e a realização de
diferentes atividades que antes não eram possíveis, além de propiciar
uma melhoria na qualidade de vida.
20
A partir das experiências compartilhadas, reforçam-se as
perspectivas de que estamos diante de um campo multifacetado e
complexo de estudos que contempla práticas pedagógicas, pandemia
e utilização de tecnologias. Todavia, unimos vozes, neste livro, na
tentativa de tecer reflexões que fortaleçam ânimos e ofereçam suporte
a docentes e pesquisadores apaixonados pela educação, como nós.
Desejamos a vocês, leitores, uma leitura de descobertas,
encontros, construções, desconstruções. Mas, acima de tudo, um
diálogo profícuo entre os nossos lugares de fala e os vossos.
Dra. Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Docente da Disciplina
Em colaboração com
Paulo Alexandre Filho, Daniel Vieira Sant'Anna
e
Yngrid Karolline Mendonça Costa.
21
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p21-46
SOFTWARES
E APLICATIVOS EDUCACIONAIS:
REFLEXÕES E POSSIBILIDADES S ENSINO REMOTO
EMERGENCIAL
Gabriela Pedroso CARDOSO
2
Introdução
Quando pensamos em sala de aula, expressões como:Cadê o
link?”, Abre a câmera”, O microfone mudo”, Vou apresentar a
tela”, Professora, a conexão está ruim. Travou. Voltou. Travou de novo.
Caiu”, antes do ano de 2020, não seriam consideradas “comuns”. No
entanto, devido à pandemia do Covid-19 e ao ensino remoto
emergencial (ERE), as escolas fecharam suas portas e os celulares -
outrora artefatos proibidos e malvistos no ambiente escolar - passaram
a ser um dos únicos meios de comunicação e de interação para a
continuidade dos processos de ensino e aprendizagem.
Nesse período, muitas dificuldades perpassaram o caminho
dos estudantes e dos professores, os quais, incansavelmente, buscavam
alternativas e soluções que pudessem contribuir para a continuação,
melhor aproveitamento e dinamização das aulas on-line, a fim de que
os prejuízos fossem minimizados.
Esse processo de digitalização da sala de aula trouxe muitas
dificuldades devido à falta de conhecimento dos alunos e de muitos
2
Mestra em Letras e Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e
Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: gp.cardoso@unesp.br
22
professores. Os alunos tiveram que desenvolver habilidades digitais
comuns para muitos - mas não todos - professores: criar contas de e-
mail, acessar arquivos em drives, editar arquivos em documentos on-
line, fazer pesquisas etc. Os professores, por sua vez, precisaram
desenvolver novas habilidades como editar formulários, ministrar
aulas pela tela, criar atividades diferenciadas, dentre outros. Essas e
outras práticas estão relacionadas ao que chamamos de letramento
digital.
Letramento digital é definido por Xavier (2011, p. 6) como o
“domínio de funções e ações necessárias à utilização eficiente e rápida
de equipamentos dotados de tecnologia digital, tais como
computadores pessoais, telefones celulares, dentre outros recursos
tecnológicos". Para Ribeiro e Coscarelli (2007, p. 9), o nome que
damos, então, à ampliação do leque de possibilidades de contato com
a escrita também em ambiente digital (tanto para ler quanto para
escrever), envolvendo, também, o uso social da leitura”.
É importante ressaltar que cada indivíduo pode ser letrado
digitalmente em alguns aspectos, de acordo com sua realidade de vida,
com suas práticas diárias, mas não em outros (RIBEIRO, 2009).
Podemos exemplificar da seguinte maneira: um professor pode saber
acessar o e-mail e criar um documento em um editor on-line, mas não
saber editar um vídeo ou foto usando aplicativos como seus alunos.
Diante de todas essas dificuldades e com os rumos da
educação cercados por muitas incertezas, houve, no período, muita
reflexão, treinamentos, webinars
3
, pesquisa e produção de conheci-
mento. Devido à presença - inicialmente, imposta - das tecnologias,
3
Webinar ou webconferência é um seminário on-line que permite a interação dos
palestrantes com o público via chat.
23
alguns conceitos começaram a se destacar, especialmente com o uso
de metodologias ativas, que, apesar de serem pesquisadas e
utilizadas algum tempo (MORAN, 2018a), ganharam notoriedade
nos últimos anos, devido ao ensino remoto/híbrido.
Segundo o Google Trends
4
, a pesquisa por "metodologias
ativas", no Brasil, cresceu 33% entre janeiro e junho de 2020;
enquanto a busca por "metodologias ativas com tecnologias digitais",
aumentou, no mesmo período, 87%. Essa metodologia tem sido
destaque de diversos estudos e palestras, visto que pode ser muito
relevante academicamente para os estudantes atuais, os quais estão
cercados pela tecnologia e aprendem de forma diferente.
Além das diferentes metodologias, também ganharam
notoriedade alguns softwares e aplicativos, que se destacaram por
proporcionarem, durante as aulas remotas, dinamização e benefícios
para a comunidade escolar. Dessa forma, o presente artigo tem o
objetivo de demonstrar que, muito mais do que facilidade, vários
desses softwares e aplicativos também contribuem para uma educação
alinhada às metodologias ativas e para o desenvolvimento da
autonomia dos estudantes, da aprendizagem colaborativa ou
adaptativa, especialmente no ensino presencial.
Contudo, apesar de a tecnologia, muitas vezes, ser
considerada uma “inovação”, a demanda por práticas educativas mais
adequadas e voltadas para o letramento digital não pode mais ser vista
como novidade e sim como necessidade, visto que os alunos atuais, a
geração Z, estão habituados às tecnologias e possuem diferentes
4
Google Trends é uma ferramenta do Google que demonstra a frequência de busca
de alguns termos, apresentando gráficos com a constância de buscas de acordo com
a região, com o país e com o período.
24
formas de aprendizagem. Estes possuem acesso rápido à informação e
não conseguem manter a concentração em uma atividade única por
longos períodos de tempo (QUINTANILHA, 2017).
Dessa forma, a partir do presente relato de experiência da
autora com algumas dessas ferramentas no Ensino Fundamental -
anos finais, busca-se refletir, brevemente, sobre as metodologias ativas
de aprendizagem e sobre a relevância de alguns softwares e aplicativos
durante o ensino remoto emergencial, destacando suas possibilidades
de uso mesmo durante o ensino presencial.
Metodologias ativas
Conforme supracitado, durante o ensino remoto, a busca por
informações e conhecimento sobre as metodologias ativas aumentou
significativamente. Acredito que, devido ao fato do distanciamento
social e do ERE, os professores, sem aquela aproximação e a
possibilidade de desenvolver suas aulas da maneira habitual, buscaram
alternativas que pudessem auxiliar os alunos no processo de
aprendizagem, especialmente no momento em que eles encontravam-
se mais “sozinhos”.
Nas metodologias ativas de aprendizagem, o papel
protagonista do aluno é valorizado, dando ênfase em sua capacidade
de criar, resolver problemas, experimentar, inovar etc. Segundo
Dolan e Collins apud Moran (2018b), os alunos aprendem melhor
quando participam de forma ativa da aprendizagem, diferentemente
de quando leem a respeito disso ou de quando os professores apenas
explicam.
25
O objetivo das metodologias ativas é fazer com que os alunos
sejam proativos e que busquem, por meio do fazer e dos desafios, o
conhecimento necessário para atuarem na sociedade. Segundo Moran
(2018b, n.p.), “se queremos que os alunos sejam proativos,
precisamos adotar metodologias em que os alunos se envolvam em
atividades cada vez mais complexas, (…) que tenham que tomar
decisões e avaliar os resultados”, sempre com o apoio do professor e
de materiais relevantes.
Quando os estudantes sentem-se autônomos por sua
aprendizagem, apresentam resultados positivos em relação a diversos
aspectos, tais como: motivação; engajamento; melhora no
processamento de informação e, consequentemente, na aprendi-
zagem; melhor desempenho escolar e até mesmo bem-estar
psicológico. (REEVE, 2009 apud BERBEL, 2011).
Percebe-se que uma prática escolar voltada para os interesses
dos alunos, com atividades que proporcionam o exercício da
autonomia, a exposição de suas ideias e de seus conhecimentos, tal
como proposto pelas metodologias ativas, propicia resultados
positivos no ambiente escolar. De acordo com Berbel (2011, p. 28),
"as metodologias ativas têm o potencial de despertar a curiosidade, à
medida que os alunos se inserem na teorização e trazem elementos
novos, ainda não considerados nas aulas ou na própria perspectiva do
professor”.
Pelo exposto, nota-se que o diálogo, a troca de conhecimento
e de informações entre professores e alunos é a base para a construção
de um aprendizado significativo para os alunos e de uma prática
docente mais contextualizada e, também, expressiva. Apesar dos
26
desafios, existem muitas possibilidades e, principalmente, a
necessidade de mudança dentro do quadro educacional no país.
Durante o ERE, houve a comprovação de que essas
metodologias, especialmente aliadas às tecnologias, podem colaborar
para um processo de ensino e aprendizagem mais atual, relevante e,
até mesmo, prazeroso. Para Nóvoa (2020), é preciso aproveitar todas
essas mudanças do paradigma educacional, fazendo com que essas
novas necessidades sirvam como propulsoras para um processo de
ressignificação e de reinvenção do sistema escolar atual.
Para ele, se antes o sistema escolar estava baseado num
esquema mais “consumista de ensino, em que o aprendizado era
realizado de maneira mais individual, as tecnologias digitais surgiram
para mudar esse quadro. Portanto, faz-se necessário refletir sobre os
aspectos positivos e negativos do ERE e de todas essas mudanças, para
que possamos aproveitar e adequar, quando necessário, essas práticas
para o contexto de aulas presenciais.
Dessa maneira, o próximo tópico traz relatos de experiência
sobre softwares educacionais que foram utilizados durante o período
de ensino remoto, assim como algumas sugestões de uso desses
aparatos no ensino presencial.
Softwares
de aprendizagem
relato de experiência e possibilidades de uso
Se nas aulas presenciais manter a atenção dos alunos podia ser
desafiador, no ERE essa problemática tornou-se ainda maior devido
à distância, às câmeras fechadas e à baixa responsividade de muitos
alunos. No entanto, diante dessa reconfiguração dos papéis docente e
27
discente, novas possibilidades foram se instaurando no paradigma
escolar, elucidando novas alternativas pedagógicas e seus benefícios.
Muitos dos aplicativos que se destacaram no ERE fazem parte
do chamado Sistema de Resposta do Estudante (SRE), o qual é uma
ferramenta para coletar respostas rapidamente dos alunos (um
feedback) e, dessa forma, promover uma aprendizagem ativa. De
acordo com Tomaswick:
SREs são usados em salas de aula grandes ou pequenas para
facilitar o registro de frequência, engajar os alunos em
palestras, garantir que pontos-chave foram entendidos, dar
questionários de baixo risco, ou uma maneira de perguntar
a opinião dos alunos que, normalmente, eles não
compartilhariam confortavelmente. As questões podem
abranger múltipla escolha, verdadeiro ou falso, resposta
numérica e respostas curtas, perguntas de parear, clicar em
imagens ou desenhar. Usando as respostas, um instrutor
pode continuar com o conteúdo, promover mais instrão
se os alunos não tiverem atingido o objetivo de
aprendizagem ou iniciar uma discussão com base nas
respostas. (TOMASWICK, 2017, n.p.).
O SRE começou a ser usado nos anos 60, a partir da
necessidade de mensurar o aprendizado dos alunos e funcionava da
seguinte maneira: havia uma central de comando (a do professor) e
várias estações menores em cada assento dos alunos. O professor,
então, fazia uma pergunta para a turma, que usava os botões do
dispositivo para responder. Apesar de serem uma novidade, eram
28
aparatos pesados, com alto custo e não funcionavam direito (NASU,
2017).
Com o passar dos anos, houve muitos aprimoramentos -
passando pelos modelos com transmissões por meio de ondas de rádio
ou infravermelho - até os dias atuais, em que as pesadas estações foram
substituídas por laptops, smartphones, internet e softwares. Como
exemplos atuais de SRE pode-se citar: Kahoot!, Quizlet, Mentimeter,
WordWall, Socrative, dentre outros.
Dentre os benefícios de uso desses softwares SREs estão: (i) o
anonimato, pois os alunos passam a arriscar mais, visto que não serão
“julgados" por seus colegas, caso deem a resposta errada; (ii) o
entretenimento, pois são jogos com interfaces chamativas que
despertam o interesse dos estudantes; (iii) melhor aproveitamento das
aulas, pois os alunos mantêm-se mais interessados, ativos e
interagindo com o professor; (iv) qualidade da aprendizagem devido
ao maior interesse, ao alto grau de envolvimento e ao maior foco no
aprofundamento da compreensão do aluno ao invés da quantidade de
material abarcado (NASU, 2017).
A seguir, serão apresentados alguns softwares e aplicativos que
foram utilizados durante o ensino remoto emergencial, a fim de
tornar as aulas on-line de Língua Portuguesa mais dinâmicas,
interativas e, dessa forma, contribuir no processo de aprendizagem
dos alunos. Serão relatadas as experiências de uso com as turmas de
e ano do Ensino Fundamental, portanto, podem existir
possibilidades de uso não contempladas na exposição.
29
Kahoot!
Trata-se de um jogo baseado no Sistema de Resposta do
Estudante (SRE) e foi o primeiro a oferecer uma "experiência de jogo
usando princípios de design de jogos, teoria de motivação intrínseca e
fluxo de jogo”, o que o torna uma "combinação de usos de respostas
do público, encenações, uso de vídeos e recursos audiovisuais”
(WANG; TAHIR, 2020, p. 2).
A plataforma Kahoot! foi lançada em setembro de 2013 e tinha
como objetivos oferecer aos professores a possibilidade de criar seu
próprio conteúdo, jogar os quizzes e avaliar os alunos; para os
alunos, os objetivos eram o de jogar sem a necessidade de cadastro e
de forma anônima, divertir-se, ser competitivo e aprender (WANG,
2015).
Apesar de possuir a versão paga - com mais recursos
disponíveis - focarei no uso da versão gratuita. Nessa versão, ao clicar
para criar um novo jogo, três opções possíveis: apresentar
informações por meio do slide; testar o conhecimento por meio do
quiz ou por meio de perguntas de verdadeiro ou falso. Pode-se
mesclar essas opções durante o jogo, trazendo revisões antes das
perguntas, tornando-o ainda mais dinâmico.
30
Figura 1 - Exemplo de pergunta no Kahoot!
Fonte: Kahoot! Criado pela autora (2022)
A interface de todo o programa é muito colorida, como pode
ser visto na figura 1, com a possibilidade de se colocar música de
fundo e, ainda, imagens. Para aumentar a competitividade, o criador
do conteúdo pode inserir tempo de resposta mais curto ou mais longo
(5 a 240 segundos), fazendo com que respostas mais rápidas recebam
maior pontuação, assim como criar perguntas que valem mais pontos.
Em relação ao modo, o professor pode escolher a modalidade
“jogo ao vivo”, fazendo com que todos os participantes da aula - seja
ela on-line ou presencial - tenham acesso ao mesmo tempo, tornando-
se uma competição, ou, ainda, atribuir para que cada aluno jogue
individualmente, onde e quando quiser. Pode-se colocar o link do
jogo em grupos de WhatsApp, enviar por e-mail ou até inserir no
Google Sala de aula.
31
Além da opção de jogo, três outras possibilidades de
estudos para os alunos: "flashcards", "praticar" e "teste-se". No modo
"flashcards", o aluno visualiza a pergunta ou conceito e depois clica
no card para virar o cartão e conferir sua resposta: se estiver correta,
ele clica em “entendi" e segue para a próxima questão; se estiver
incorreta, ele clica em "estudar novamente” e esse cartão será, mais
uma vez, mostrado no decorrer do jogo. Essa opção permite que o
aluno estude no seu próprio ritmo e faça uma autoavaliação de seu
aprendizado.
Na opção "praticar", o aluno terá que responder às perguntas,
porém sem as perspectivas de tempo e pontos, pois o objetivo é que
ele pratique e entenda o conteúdo, podendo, novamente, construir e
avaliar seu aprendizado no seu próprio ritmo. A última opção, "teste-
se", é o jogo em si, com as configurações de tempo, pontos,
recompensas (emoticons do jogo) e um ranking.
Quanto às opções de uso, segundo Wang e Tahir (2020),
muitas pesquisas elencam o Kahoot! como uma ferramenta para sala
de aula invertida, aulas gamificadas, aprendizagem híbrida e
aprendizagem mediada por tecnologias, ou seja, uma ferramenta para
o desenvolvimento das metodologias ativas. Para Akkus et al. (2021,
p. 250):
O Kahoot! tem sido uma das visões mais proeminentes que
incentivam o engajamento dos alunos em sala de aula,
promovem a motivação, o reforço e a repetição. Estudos
anteriores corroboraram o resultado deste estudo, em que
os SREs aumentam a participação e a motivação nas aulas
em que são utilizados.
32
Os benefícios supracitados foram percebidos durante minhas
aulas on-line. Em várias ocasiões, os alunos, inicialmente
perguntavam: vai ter joguinho hoje?”, o que demonstra maior
interesse deles na aula, além de participação ativa. Enquanto
ferramenta pedagógica, o Kahoot! era utilizado de maneira síncrona e
assíncrona, como instrumento de avaliação e, também, de revisão, a
fim de verificar o entendimento dos alunos. Além das atividades do
livro ou daquelas realizadas durante as aulas ministradas em tempo
real, sempre lhes era disponibilizado um jogo para que eles jogassem
no seu ritmo (e podia ser de forma anônima, apenas para praticar) ou
como atividade de tarefa (agora, com identificação e servindo como
instrumento de avaliação).
Compreendo que essa mesma metodologia utilizada durante
o ERE pode ser aproveitada no ensino presencial: na sala de
informática ou na sala de aula, utilizando os smartphones dos
estudantes ou como material de reforço para estudo em casa. É
importante ressaltar as possibilidades de feedback que o aplicativo
oferece, permitindo ao professor adequar, quase que
instantaneamente, as expectativas de aprendizagem, proporcionando
um melhor desenvolvimento da aprendizagem.
Mentimeter
Mentimeter é um aplicativo de apresentações on-line, que,
como o próprio nome sugere, “mede" a audiência e o conhecimento.
A plataforma permite a interação entre o apresentador e os
espectadores por meio de perguntas e respostas, nuvens de palavras,
espaços para perguntas, escalas, ranking e até promover um desafio
33
com uma competição. As respostas são apresentadas instanta-
neamente, promovendo maior dinamismo e interação.
Assim como outros aplicativos similares, a versão gratuita
e a versão que requer pagamento. No entanto, na primeira, é
possível, sem custos, aproveitar os benefícios e transformar a aula (on-
line ou presencial) em um ambiente dinâmico, desafiador e agradável.
Um dos aspectos negativos deste acesso refere-se às poucas opções de
edição, mas esse problema é facilmente contornável por meio de
apresentações preparadas em outras plataformas (Canva, por
exemplo), que podem ser inseridas por meio da oão “imagem”.
Assim como outras ferramentas de SRE, Mentimeter
possibilita avaliar o entendimento dos alunos - que podem manter seu
anonimato - e transforma as perguntas e respostas em um jogo
divertido e dinâmico, além de permitir que os alunos realizem as
atividades a partir do acesso a um smartphone ou o computador da
sala de informática. Ademais, é uma plataforma de gamificação que
oferece um ambiente colaborativo, permitindo que os estudantes
sejam mais ativos, além de ser uma oportunidade de inovação do
processo de ensino. Pichardo et al. (2021, p. 2) reiteram que “o uso
de Mentimeter nos processos educacionais resultaram em estudantes
significativamente mais atentos e participativos, além de promover
inclusão e comprometimento com o processo de aprendizado”.
Como ferramenta pedagógica, existem muitas possibilidades,
tal como usar a nuvem de palavras para mapear os conhecimentos
prévios dos alunos sobre um tema ou até mesmo, ao final de uma
aula, construir um termo que sintetize o que eles entenderam. Com a
ferramenta de múltipla escolha, é possível saber - inclusive com os
34
resultados demonstrados em gráficos - a opinião/conhecimentos dos
discentes a respeito do tema.
Durante as aulas remotas, também, utilizei o Mentimeter em
algumas aulas via Google Meet, a fim de torná-las mais atrativas,
especialmente por causa da competição final. Sempre, ao final da aula
e após as explicações, como forma de retomar conteúdos e de
avaliação da aprendizagem, eu realizava um quiz com os alunos, que
era aguardado ansiosamente desde o início das atividades.
Figura 2 - Exemplo de pergunta no
Mentimeter
Fonte: Mentimeter. Criado pela autora (2022)
No exemplo acima (figura 2), pode-se observar uma das
perguntas da competição, cujo tema eram as figuras de linguagem.
No slide anterior, havia um vídeo (template também disponibilizado
pela plataforma, a qual contribui com o aprendizado multimodal)
com um trecho da música do grupo musical Legião Urbana, da qual
foram retirados alguns trechos com figuras de linguagem e, cabia aos
alunos função de assinalar a resposta correta.
35
Como pode ser visto, dez alunos responderam à questão,
sendo que seis obtiveram sucesso na resposta e os outros ficaram
divididos entre as duas outras opções. Diante dessas informações,
refletimos acerca da frase exibida na tela, reiterando a resposta correta
e explicando as razões pelas quais as outras alternativas estavam
incorretas. Uma vez esclarecidas as dúvidas, avançamos até a última
questão para conhecermos o vencedor daquele dia.
Essa é uma ferramenta mais voltada para aulas síncronas, que
pode ser muito bem aproveitada nas aulas presenciais. Caso a sala
tenha os recursos complementares, o professor pode projetar os slides
e explicações e pedir que os alunos respondam às questões por meio
do site, usando seus smartphones. Não necessidade de baixar o
programa e, também, não um grande volume de dados
consumidos, tornando-o uma ferramenta acessível.
Caso o professor deseje, há, também, a possibilidade de pedir
para que os próprios alunos utilizem o site para preparar seminários,
fazendo com que eles desenvolvam práticas de multiletramentos e de
letramento digital, além de interagir com os colegas por meio dos
questionários para mensurar o entendimento do exposto.
Canva
Educacional
O aplicativo Canva Educacional é uma ferramenta on-line -
também disponível em site, sem a necessidade de download - voltada
para a criação e edição de textos, imagens, apresentações educacionais,
layouts para redes sociais, mapas mentais, infográficos, dentre outros
usos. Especificamente na versão Educacional, possui muitos recursos
disponibilizados gratuitamente, permitindo a utilização das com
36
metodologias ativas nas práticas pedagógicas com vistas a um trabalho
dinâmico, visualmente bonito e intuitivo.
É uma plataforma que possui diversas possibilidades de
trabalho tanto para o professor quanto para os alunos. A partir do
primeiro cadastro, realizado pelo docente com o e-mail institucional,
é possível adicionar os alunos em equipes e supervisionar todo o
caminho percorrido por eles, permitindo, assim, que seja oferecido
auxílio, sugeridas modificações e até atribuídas tarefas.
Pedagogicamente, o professor pode enriquecer as aulas com
materiais didáticos mais atrativos, ou criar mapas mentais,
infográficos, listas de atividades com layouts diferenciados ao invés de
usar apenas a lousa ou cópias convencionais, podendo motivar os
alunos. Outra possibilidade é o preparo de apresentações para as aulas
expositivas ou materiais didáticos digitais interativos
5
.
na perspectiva discente, também uma variedade de
possibilidades, como, por exemplo, a produção de mapas mentais dos
conteúdos estudados, criação de apresentações educacionais para
seminários ou de infográficos, edição de imagens, dentre outros. Aliar
a produção desses recursos às metodologias ativas como a sala de aula
invertida, aula híbrida, dentre outras, são excelentes opções de
desenvolvimento de habilidades e conhecimentos necessários para a
sociedade atual.
Várias pesquisas a respeito dos usos educacionais do Canva
têm sido realizadas (ROCHA; MORAES, 2020; FERREIRA et al.,
2020) e atestam para os benefícios, tais como:
5
podem ser arquivos em PDF com hiperlinks ou hipermídias - vídeos, algumas
imagens clicáveis que levam os alunos a outros ambientes para aprofundamento do
conhecimento.
37
A partir da experiência realizada conclui-se que a
ferramenta digital canva, demonstrou enriquecer e
alavancar o processo de ensino e aprendizagem, uma vez
que esse recurso foi evidenciado como meio facilitador no
processo de construção do conhecimento, proporcionando
significativo desempenho, liberdade, autonomia e
equidade das alunas. (ROCHA; MORAES, 2020, p. 10).
Durante o ERE, semanalmente, eu produzia um material
explicativo, o qual era navegável - possuía imagens e links que
direcionavam ao meu canal do YouTube (onde eram postadas as
explicações), ou para sites informativos, para o Drive ou, até mesmo,
para os exercícios da semana (geralmente no Google Forms, no Kahoot,
no LiveWorksheet, dentre outros).
No entanto, o uso pedagógico mais significativo que posso
destacar foi a produção de um jornal, elaborado por algumas alunas
do ano, de forma totalmente on-line por meio de diversas
ferramentas digitais como o Google Docs para edição dos textos e o
Canva para a edição do layout. Durante o desenvolvimento do
trabalho, houve muita aprendizagem por parte das alunas, pois, assim
como previsto nas metodologias ativas, o docente age como um
mediador, auxiliando e orientando, deixando o trabalho centrado nos
alunos.
A decisão de fazer um jornal surgiu a partir da necessidade de
adaptação de um material disponibilizado pela Secretaria da
Educação e considerado de uso obrigatório. Dessa forma, por conter
diversos gêneros textuais da esfera jornalística, resolvemos produzir
38
um jornal para que esses conhecimentos pudessem ser colocados em
prática, promovendo um melhor aprendizado, visto que a
"aprendizagem ativa aumenta a nossa flexibilidade cognitiva, que é a
capacidade de alternar e realizar diferentes tarefas, operações mentais
ou objetivos (…) superando modelos mentais rígidos e automatismos
pouco eficientes” (BACICH; MORAN, 2018, p. 2).
Também, no material disponibilizado havia artigos de
opinião e reportagens sobre tatuagens. Dessa forma, aproveitamos o
tema para compor uma das reportagens do jornal. Algumas alunas se
propuseram a falar sobre profissões, buscando entrevistas com
profissionais das áreas que elas escolheram, enquanto outras
abordaram assuntos de seu interesse (maquiagem e, por se tratar do
mês junino, sobre a tradição da festa junina no Brasil).
Para que eles tivessem a experiência de conduzir uma
entrevista, convidei um tatuador para uma aula on-line, na qual os
alunos fizeram as perguntas (previamente escritas por eles na aula
anterior) e, posteriormente, em um trabalho coletivo, transcreveram
as respostas usando o Google Docs. Depois de escritos e revisados os
textos, começamos a montagem do jornal no Canva.
Durante a montagem do jornal, houve a colaboração de várias
das produtoras, assim como minha colaboração e intervenção
docente, visto que eu estava mais acostumada com algumas
ferramentas. No entanto, em vários momentos, diante das
dificuldades, as alunas buscavam tutoriais no Google ou no Youtube,
demonstrando uma postura ativa para resolução dos problemas.
Considero essa experiência com o Canva como positiva, visto
que, no ano letivo atual, várias dessas alunas, quando necessitaram
realizar algum trabalho escolar, utilizaram a plataforma - que nunca
39
o haviam feito antes da produção do jornal - para a confecção de
cartazes ou de apresentação de slides. Assim, percebe-se a relevância
de se promover o trabalho com essas novas tecnologias, especialmente
essa em discussão, como afirmam Ferreira et al., 2020, n.p.).
acentuamos a relevância de incluir recursos online, como o
Canva, no contexto educacional para auxiliar no processo
de ensino e na aprendizagem, e consequentemente na
formão dos sujeitos que se encontram nos espaços
escolares formais. As propostas pedagógicas para a
Educação Online, não precisam ser alinhadas apenas a
perspectiva tradicional, pode-se diversificar os ambientes
com artefatos tecnológicos para potencializar a
aprendizagem significativa dos estudantes. Articular
software e técnicas pedagógicas com o contexto
educacional se faz essencial para avançar nas estratégias
didáticas inovadoras, e desenvolver outros estudos.
Dessa forma, quando se pensa em práticas educativas voltadas
para os multiletramentos e para as metodologias ativas, ou seja, mais
relevantes para o perfil de alunos da geração Z, ressalta-se a relevância
da plataforma Canva tanto para usos do professor quanto dos alunos,
em aulas a distância ou presenciais.
Liveworksheet
Esta é uma plataforma de atividades on-line, a qual permite o
aproveitamento ou criação de folhas de atividade interativas. Ao invés
de simplesmente ter exercícios dispostos na lousa, pode-se criar
40
atividades de ligar, de arrastar, de preencher, de selecionar, caça-
palavras, interpretação de textos, palavras cruzadas, dentre outros.
a possibilidade de se elaborar atividades isoladas ou até mesmo livros
de atividades (na versão gratuita um limite de dez livros, no
entanto, cada livro pode conter 120 páginas).
Nesse site, o professor pode criar as atividades, selecionar o
tipo de interação que deseja e fazer um gabarito. Quando o aluno
realiza as atividades, a opção de enviar via e-mail para o professor
ou ele pode, imediatamente, checar suas respostas, fazendo uma
autoavaliação de sua aprendizagem, aprofundando aquilo que precisa
compreender melhor, inclusive podendo responder novamente à
atividade.
Figura 3 - Exemplo de pergunta no
Liveworksheet
Fonte: Liveworksheet. Criado pela autora (2022)
Como pode ser visto no exemplo acima (figura 3), um
exercício gamificado de pronomes demonstrativos no qual o aluno
deve escolher a opção correta, o qual pode despertar o interesse dos
alunos por se tratar de uma maneira mais atrativa de realizar as
atividades.
41
Essa foi uma plataforma utilizada por mim durante o ERE,
que, também, é muito prática se considerarmos a modalidade
presencial de ensino, especialmente para os propósitos de uma Sala de
Aula Invertida. Podem-se mesclar momentos de atividades síncronas,
com o professor avaliando na sala de aula, e assíncrona, deixando para
o aluno a autonomia por seu aprendizado, no ritmo que desejar.
Considerações Finais
O presente relato buscou apresentar a experiência com alguns
softwares e aplicativos de aprendizagem que foram utilizados pela
autora, com alunos do Ensino Fundamental - anos finais, durante o
ensino remoto emergencial. Apesar de um período cercado de
incertezas, houve, também, muito conhecimento compartilhado e
aprendizado significativo, os quais não podem ser simplesmente
esquecidos ou anulados no ensino presencial.
Com todos os avanços tecnológicos e com as possibilidades
que nos são apresentadas diariamente, tais como os softwares e
aplicativos de SRE, é possível avaliar o entendimento do aluno quase
que instantaneamente, possibilitando uma adequação dos objetivos
da aula de acordo com o desempenho de cada um, ou seja, um ensino
adaptado para as necessidades dos educandos: sejam elas a de avançar
ou a de retomar o conteúdo.
Buscou-se, ainda, ressaltar a importância de realização de
atividades que consigam aliar as metodologias ativas às tecnologias,
visto que o perfil dos estudantes atuais (da geração z) demanda novas
formas de trabalho e engajamento, haja vista suas características:
altamente tecnológicos, conectados a maior parte do tempo e com
42
pouca disposição para atividades expositivas. (QUINTANILHA,
2017).
Dessa forma, para esse perfil de alunos, as metodologias ativas
destacam-se como muito relevantes para o processo de ensino e
aprendizagem, pois podem ser o ponto de partida para avanços na
reflexão e no processo de aprendizagem por meio da testagem e da
descoberta. Ademais, os jogos e desafios são fundamentais para o
sucesso da aprendizagem, especialmente aqueles que se adaptam às
necessidades dos alunos durante o percurso. (MORAN, 2018a).
Dessa forma, conclui-se que é necessário que continuemos a
colocar em prática todos esses aprendizados, pois diversas
ferramentas disponíveis, sendo muitas delas gratuitas, podendo
auxiliar docentes e discentes no cotidiano escolar, promovendo uma
prática educativa mais colaborativa, dinâmica, atualizada e
significativa.
Referências
AKKUS, I. et al. Student views on the use of online student
response systems: The Kahoot! case. Journal of Qualitative
Research in Education, n. 25, 2021. p. 235-254. Disponível em:
https://enadonline.com/index.php/enad/article/view/1095/182.
Acesso em 04 ago. 2022.
BACICH, L; MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação
inovadora: uma abordagem teórico-prática. São Paulo: Grupo A,
2018. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788584291168
Acesso em: 01 ago. 2022.
43
BERBEL, N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia
dos estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v.
32, n. 1, jan./jun. 2011. p. 25-40.
FERREIRA, L. F. S. et al. O uso do aplicativo Canva Educacional
como recurso para avaliação da aprendizagem na Educação Online,
2020. Disponível em:
https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/6030/5866.
Acesso em 06 ago. 2022.
MORAN, J. M. Contribuição das tecnologias para transformação
da educação. Revista Com Censo #14, v. 5, n. 3, ago. 2018a.
Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-
content/uploads/2018/08/Entrevista_Tecnolo-
gias_Moran_Com_Censo.pdf. Acesso em 12 set. 2022.
MORAN, J. M. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais
profunda, 2018b. Disponível em:
https://www2.eca.usp.br/moran/wp-
content/uploads/2013/12/metodologias_moran1.pdf. Acesso em 30
set. 2022.
44
NASU, V. H. O efeito do Sistema de Resposta do Estudante (SRE)
sobre o desempenho acadêmico e a satisfação discente: um quase-
experimento com alunos de ciências contábeis. 150 p. São Paulo:
2017. Dissertação (Mestrado)Universidade de São Paulo,
Programa de s-Graduação em Controladoria e Contabilidade.
NÓVOA, A. A educação em tempos de pandemia In: Sindicato dos
professores municipais Novo Hamburgo. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=FN- F7i_DpfIo. Acesso em: 02
maio 2020.
PICHARDO, J. I. et al. Students and Teachers Using Mentimeter:
Technological Innovation to Face the Challenges of the COVID-19
Pandemic and Post-Pandemic in Higher Education. Educ. Sci. n.
11: 667. 2021. Disponível em: https://www.mdpi.com/2227-
7102/11/11/667/htm. Acesso em: 03 ago. 2022.
QUINTANILHA, L. F. Inovação pedagógica universitária mediada
pelo Facebook e YouTube: uma experiência de ensino e
aprendizagem direcionado à geração-Z, 2017. Educar em Revista,
Curitiba, Brasil, n. 65, p. 249-263, jul./set. 2017. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/er/a/DtqpqKHBLg59MMfQkKZPfZv/?for
mat=pdf&lang=pt. Acesso em 12 ago. 2022.
RIBEIRO, A. E.; COSCARELLI, Carla V. Letramento digital -
Aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. Belo Horizonte:
Grupo Autêntica, 2007.
RIBEIRO, A. E. Navegar lendo, ler navegando. Nota sobre a
leitura de jornais impressos e digitais. Belo Horizonte: InterDitado,
2009.
45
ROCHA, R. S; MORAES, B. L. C. Aplicação de ferramenta digital
utilizando a
Gallery Walk:
o uso do Canva como estratégia
didática no ensino técnico. Congresso Internacional de Educação e
Tecnologias, 2020. Disponível em:
https://cietenped.ufscar.br/submissao/index.php/2020/article/view/
1687/1325. Acesso em 04 ago. 2022.
TOMASWICK, L. Assessing Student Learning Student
Response Systems. Kent State University Center for Teaching and
Learning. Disponível em: https://www-s3-live.kent.edu/s3fs-
root/s3fs-
public/file/Teaching%20Tools%20in%20A%20Flash%20-
%20Student%20Response%20Systems%20-%20Final.pdf. Acesso
em 03 ago. 2022.
WANG, A. I. The wear out effect of a game-based student response
system. Computers & Education. v. 82, mar. 2015, p. 217-227.
Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0360131514
002516. Acesso em: 05 ago. 2022.
WANG, A. L.; TAHIR, R. The effect of using Kahoot! For
learning - A literature review. Science Direct, 2020. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0360131520300
208?via%3Dihub. Acesso em 04 ago. 2022.
XAVIER, A.C. Letramento digital: impactos das tecnologias na
aprendizagem da Geração Y. Calidoscópio. v. 9, n. 1, jan./abr.
2011. p. 3-14.
46
47
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p47-68
A PLATAFORMA
EDUCAÇÃO EM CASA
:
ENSINO/APRENDIZAGEM EM TEMPOS DE PANDEMIA
EM UMA CIDADE DO OESTE PAULISTA
Josélia Donizeti Marques Alves DIAS
1
Karina Carrião Gomes de OLIVEIRA
2
Introdução
Não como negar o uso da tecnologia nas atividades diárias,
mesmo aquelas mais corriqueiras. A expressão "mundo globalizado"
ficou para trás, agora, é mundo clicado. Em um segundo as
informações alcançam todos os lugares do mundo, mas, infelizmente,
nem todas as pessoas. Nas palavras de Demo (2001, p. 26), “a
educação não pode escapar da fascinação tecnológica, porque é no
fundo a mesma do conhecimento”.
Com a mesma velocidade que conecta, a tecnologia, também,
tem o potencial para excluir. Ela torna muito evidente as
desigualdades sociais educacionais. Basta dizer que, no Brasil, a cada
4 brasileiros, 1 não tem acesso à internet. E, mesmo aqueles que têm
1
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de
Marília/SP / Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura e
Instituições Educacionais (GEPCIE) / e-mail: joselia.dias@unesp.br
2
Especialista em Psicopedagogia pelo Instituto de Ensino, Capacitação e Pós-
Graduação (INDEP) / Marília/SP / Especialista em Gestão Escolar pela
Universidade Federal de São Carlos / UFSCAR / Supervisora de Educação Infantil
da Secretaria Municipal da Educação de Marília / e-mail: ka_carriao@hotmail.com
48
acesso às tecnologias, nem sempre conseguem apropriar-se delas, o
que dificulta a inclusão digital.
Nesse sentido, Martins (2019, p. 2) assevera que “investem-
se grandes recursos para desenvolver novas e sofisticadas tecnologias
que servem ao conforto de uns poucos, enquanto outros não
conseguem satisfazer suas necessidades básicas”.
Ainda com relação às dificuldades de acesso e as desigualdades
sociais que agravam o uso das ferramentas tecnológicas, salienta
Martins,
[...] a conscientização do risco de seu uso, como ocorre,
para citar um exemplo, no caso da socialização das
tecnologias. Basta ver que os benefícios da tecnologia não
são distribuídos igualmente aos membros da sociedade. A
disponibilização desses benefícios dentro das instituições
educativas privadas também é muito diferente daquele
usual nas instituições públicas. [...] De toda forma, como
a tecnologia não é distribuída igualmente, ela cria [...] um
grupo de incluídos e um grupo de excluídos (MARTINS,
2019, p. 5).
Behrens discorre sobre o acesso à tecnologia:
Num mundo globalizado, que derruba barreiras de tempo
e espaço, o acesso à tecnologia exige atitude crítica e
inovadora, possibilitando o relacionamento com a
sociedade como um todo. O desafio passa por criar e
permitir uma nova ação docente na qual professor e alunos
participam de um processo conjunto para aprender de
49
forma criativa, dinâmica, encorajadora e que tenha como
essência o diálogo e a descoberta. (BEHRENS, 2000, p.
77).
Cabe, aqui, um adendo com relação às desigualdades digitais.
Estas refletem ou espelham desigualdades sociais mais amplas,
constituindo desde o fim do século XX mais um lócus de estratificação
social no Brasil. Conforme diferentes estudos indicam, as
desigualdades digitais apresentam forte correlação com critérios de
renda, além da articulação com marcadores sociais da diferença, como
raça, gênero e idade (RIBEIRO et al., 2013).
Serve de alerta as palavras de João Marcelo Borges,
pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e
Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV/DGPE):
O que a gente aprendeu com a pandemia e as desigualdades
no acesso às tecnologias de informação e comunicação é
que, se nós não enfrentamos desigualdades anteriores,
novos desenvolvimentos da sociedade vão não agravar
aquelas, mas reproduzir-se em novos campos. Nós vimos
que as desigualdades, que são a marca principal
socioeconômica da sociedade brasileira, marcaram a
resposta do país à pandemia e vão marcar, necessariamente,
o desenrolar dos próximos passos tanto para estudantes
como para o sistema de ensino. (BORGES, 2021, s.n.).
Outra questão muito importante é: a tecnologia deve estar à
serviço do processo ensino e aprendizagem na mesma proporção que
atinge às pessoas. Ela não é dinâmica no sentido de ensinar/aprender
50
da mesma forma, levando em consideração que nem todos têm o
mesmo conhecimento, o mesmo interesse, nem fazem a mesma
reflexão sobre o mesmo conteúdo. As pessoas estão e aprendem em
momentos diferentes.
Para que haja o processo de aprendizagem, o aluno precisa
criar, interagir, pesquisar, sair de sua zona de conforto e se interessar
pelo que está fazendo. A simples transmissão de conhecimento torna
o processo ensino e aprendizagem obsoleto, acessível, mas não eficaz,
nem produtivo. Nesse sentido, embora não se possa negar a grande
desigualdade tecnológica, assim como social e educacional, observa-
se um crescimento de Projetos Educativos voltados para a inclusão da
Cultura Digital nas Escolas.
Conforme Moran:
A aquisição da informação, dos dados, dependerá cada vez
menos do professor. As tecnologias podem trazer, hoje,
dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O
papel do professor – o papel principal – é ajudar o aluno a
interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los.
(MORAN et al., 2000, p. 29).
Durante o período crítico da pandemia, quando as escolas
tiveram que ser fechadas tendo em vista a necessidade do isolamento,
veio a grande questão: E agora? A Educação, como fica? Até então, o
que se tinham eram as plataformas de ensino a distância (EaD), na
sua grande maioria voltadas ao Ensino Técnico e Superior.
Diante desse cenário, com o intuito de garantir a Educação,
mesmo que minimamente, lançou-se mão das tecnologias digitais que
51
abriram um leque de possibilidades mediante criação de Plataformas
Educacionais, Centros de Mídias, aulas por videoconferência, lives,
modificando as interações humanas e ressignificando o contexto do
processo ensino e aprendizagem.
No decorrer do presente artigo, abordar-se a legislação
pertinente às tecnologias digitais, principalmente com relação à
internet, em tentativas, mesmo que timidamente, de inseri-la como
um direito fundamental na Constituição Federal. Em seguida, uma
experiência vivida em Marília, interior de São Paulo, nas Escolas
Municipais com a implementação da Plataforma Educação em Casa,
durante o período pandêmico. E, por fim, a importância do professor
como mediador das tecnologias digitais para que o processo ensino e
aprendizagem seja garantido de forma humanizadora e igualitária.
Legislação e tecnologias digitais
A Organização das Nações Unidas (ONU) manifestou-se em
um de seus relatórios que o acesso à internet é um direito humano e
que desconectar a população da web viola esta política, apresentando
no comunicado que,
Enquanto bloquear ou filtrar o acesso de usuários à
conteúdos específicos da web, alguns países tomam
medidas para cortar o acesso por completo da rede", diz o
comunicado. A ONU considera o corte ao acesso à
internet, independentemente da justificativa e incluindo
violação de direitos de propriedade intelectuais como
motivo, "uma violação artigo 19, parágrafo 3 º, do Pacto
52
Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. (G1,
2011, s.n.).
O acesso de qualidade à internet é tratado pela ONU como
um dos direitos humanos fundamentais concernentes à liberdade de
expressão e informação e acesso à informação.
Várias foram as tentativas de incluir, na Constituição Federal
(BRASIL, 1988), o acesso à internet no rol dos direitos fundamentais.
Tabela 1 –Propostas de inclusão do acesso à
internet
na Constituição Federal
Origem
da
PEC
Situação Finalidade
Senado
Federal
PEC
6/2011
Arquivada
tencionava inseri-lo nos
direitos sociais previstos
no artigo 6º, CF
Câmara
dos
Deputados
PEC
185/2015
Desarquivada em 2019 e
em tramitação no
Congresso Nacional
busca "acrescentar o
inciso LXXIX ao artigo
da Constituição
Federal, para assegurar a
todos o acesso universal
à Internet entre os
direitos fundamentais
do cidadão"
Senado
Federal
PEC
8/2020
Em tramitação no
Senado
Federal.(13/03/2020)
Aguardando designação
do Relator.
foi proposta em março
de 2020, também tem o
condão de inserir o
direito de acesso à
internet
no rol previsto
no artigo
53
Senado
Federal
PEC
35/2020
Em tramitação no
Senado Federal.
(09/08/2021- Plenário
do Senado Federal.
vem com o objetivo de
alterar os artigos 5º, e
215 da CF88, a fim de
inserir o direito de
acesso à
internet
no rol
de direitos sociais
Câmara
dos
Deputados
PEC
47/2021
Aprovada em Plenário
Acrescenta o inciso
LXXIX ao art. da
Constituição Federal,
para introduzir a
inclusão digital no rol
de direitos
fundamentais.
Fonte: Organizado pela autora (2022)
Em consonância, nas palavras de DEMO:
Em última instância, o "direito de aprender", considerado
cada dia mais direito humano fundamental ao nível do
direito à vida, vai colocar a necessidade de equilibrar
presença física e virtual, porque não é possível no contexto
da vida cotidiana estar sempre sentado numa sala de aula
para escutar professor em hora marcada. (DEMO, 2000,
p. 11).
Entretanto, o grande avanço legislativo veio com a Lei
12.965/2014, (BRASIL, 2014), conhecida como Marco Civil da
Internet que, em seu artigo 4º, inciso I, traz o direito de acesso à
internet a todos dentre os objetivos de seu uso no Brasil.
54
Especificamente com relação à Educação, em uma breve
visualização na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei 9394/1996,
(BRASIL, 1996) observam-se as tecnologias educacionais postas
como instrumentos democratizantes em todos os níveis de ensino.
Entretanto, sua aplicabilidade se de forma muito tímida,
principalmente no tocante à carência de políticas públicas que
viabilizem o acesso efetivo às tecnologias digitais.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um
documento normativo que define o conjunto de aprendizagens
essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas
e modalidades da Educação Básica. Entre as orientações, apresenta o
uso de tecnologia pelas escolas e maior protagonismo do aluno no
aprendizado. A tecnologia permeia a referida Base como um todo.
Entretanto, as competências gerais, especialmente as de número 4 e
5, são mais específicas, como podemos observar abaixo:
4. Utilizar diferentes linguagens verbal (oral ou visual-
motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e
digital –, bem como conhecimentos das linguagens
artística, matemática e científica, para se expressar e
partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos
em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao
entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de
informação e comunicação de forma crítica, significativa,
reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as
escolares) para se comunicar, acessar e disseminar
informações, produzir conhecimentos, resolver problemas
55
e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
(BRASIL, 2018, p. 11).
Na competência 4, a BNCC objetiva diversificar as
linguagens utilizadas em sala de aula, com o ensinamento delas para
os outros alunos, e levar ao entendimento de todos. Na competência
de número 5, notamos a menção ao protagonismo do aluno durante
as práticas escolares. Para isso, a BNCC orienta a criação e utilização
de tecnologias digitais para a comunicação.
Para a Educação Infantil, a BNCC propõe a inseão da
tecnologia nos processos de aprendizagem e desenvolvimento. Entre
os saberes culturais, uma das modalidades que devem ser exploradas
é a tecnologia. Para o Ensino Fundamental, orienta-se o uso da
tecnologia de forma crítica, consciente e responsável em todas as
áreas. Mas a proposta de aplicação mais direta dos meios digitais no
ensino dos alunos é dividida entre as áreas do conhecimento e
disciplinas. Com relação ao Ensino Médio, o uso das tecnologias
aparece em cinco momentos diferentes: Linguagens e suas
tecnologias; Matemática e suas tecnologias; Ciências da natureza e
suas tecnologias; Ciências humanas e sociais aplicadas e; Formação
técnica e profissional.
Escolas fechadas! E agora?
A pandemia causada pelo Coronavírus invadiu nossa casa,
nosso ambiente de trabalho, de lazer e, subitamente, destruiu todas as
certezas que tínhamos até então. Afetou a todos de forma violenta e
impiedosa. Tirou-nos o direito de ir e vir, de trabalhar, de passear, de
56
abraçar, de confraternizar. Tirou-nos, até mesmo, o direito de sorrir
e tivemos, mais que nunca, que aprender a sorrir com os olhos, com
a voz, com a expressão facial e corporal. E, nesse cenário de incertezas,
de novos aprendizados, fomos pegos de surpresa. Ninguém estava
preparado e, diga-se de passagem, ainda não está. De repente,
deparamo-nos com a obrigatoriedade de ficar em casa e promover
aulas remotas. Todo o avanço tecnológico e todos os aparatos digitais
disponíveis não deram conta desse momento. As peças centrais do
processo ensino e aprendizagem, professor/aluno, não estavam aptas
para mudanças tão abruptas e, do dia para a noite, tiveram que se
reinventar.
No início, tudo muito nebuloso. Não se sabia quanto tempo
ficaríamos remotos. Muitas perguntas, nenhuma resposta. Aos
poucos, os Sistemas de Ensino começaram a debater sobre o assunto
e entenderam a necessidade de expandir o ensino remoto, que
existia em alguns formatos EaD.
Em abril de 2020, sob a incerteza de por quanto tempo as
medidas de isolamento social iriam durar, a Secretaria Estadual de
Educação de São Paulo (Seduc) lançou o aplicativo Centro de Mídias
(CMSP) para que os alunos acessassem videoaulas com atividades.
Algumas escolas particulares optaram por transmitir aulas ao vivo via
Meet; outras, aulas gravadas. Alguns municípios ainda desenvolveram
Plataformas educacionais digitais, como é o caso de Marília, em seu
sistema municipal.
Assim, foi lançada a Plataforma Educação em Casa, sobre a
qual explanamos, abaixo.
57
Figura 1 – Plataforma
Educação em Casa
Fonte: Página do site. Disponível em:
https://www.univem.edu.br/educacaoemcasa/
Reconhecemos o grande desafio de planejar uma plataforma
digital para a Educação Infantil, contemplando crianças de 4 meses a
5 anos e 11 meses, que mantivesse um currículo "vivo" e uma relação
dialógica entre escola, família e crianças. Timidamente, essa estrutura
foi tecida, elaborada pelas professoras das turmas, coordenadores
pedagógicos e Equipe Pedagógica da Secretaria Municipal da
Educação.
Para facilitar o acesso aos pais, inicialmente, a plataforma foi
dividida por faixas etárias previstas na BNCC: Bebês, Crianças Bem
Pequenas e Crianças Pequenas. Dentro de cada faixa etária, eram
postadas atividades, chamadas "Vivências" que contemplavam todos
os campos de experiência e direitos fundamentais das crianças,
conforme Parecer 05 do Conselho Nacional de Educação,
No sentido de contribuir para minimização das eventuais
perdas para as crianças, sugere-se que as escolas possam
desenvolver alguns materiais de orientações aos pais ou
responsáveis com atividades educativas de caráter
eminentemente lúdico, recreativo, criativo e interativo,
para realizarem com as crianças em casa, enquanto durar o
58
período de emergência, garantindo, assim, atendimento
essencial às crianças pequenas e evitando retrocessos
cognitivos, corporais (ou físicos) e socioemocionais.
(BRASIL, 2020, p. 9).
Com o avanço da pandemia do Covid-19, a condução de
práticas não presenciais se alongou. Assim, a Secretaria Municipal da
Educação, juntamente com as equipes escolares, buscaram diversos
meios para melhorar o acesso dos alunos às atividades não presenciais,
além de aprimorar o trabalho dos professores via Plataforma para as
aulas remotas.
As escolas não mediram esforços em buscar uma aproximação
virtual entre professores e famílias, de modo a estreitar vínculos e
melhor orientar os pais ou responsáveis na realização destas atividades
com as crianças. Os objetivos das vivências propostas nas atividades
não presenciais estavam embasados nas legislações municipais,
estaduais e federais que regulamentavam as ações remotas, conforme
Pareceres emitidos pelo Conselho Nacional da Educação no ano de
2020.
Art . A realização das atividades pedagógicas o
presenciais deve possibilitar a efetivação dos direitos de
aprendizagem expressos no desenvolvimento de
competências e suas habilidades, previstos na BNCC, nos
currículos e nas propostas pedagógicas, passíveis de serem
alcançados mediante estas práticas, considerando o
replanejamento curricular adotado pelos sistemas de
ensino, redes e escolas. (MARÍLIA, 2021, s.n.).
59
A Equipe Pedagógica da Secretaria Municipal da Educação
acompanhou, de forma pontual, as atividades planejadas e postadas
pelos professores e realizou orientações aos gestores e coordenadores
para qualificar, cada vez mais, as propostas e refletir sobre a adequação
das mesmas para cada faixa etária e suas famílias.
Os docentes aprimoraram a comunicação com as famílias e
alunos, utilizando recursos tecnológicos e estratégias diferenciadas de
acesso síncrono ou assíncrono, como gravação de videoaulas, aulas via
Google Meet (ao vivo), vídeos interativos, entre outros, a fim de atingir
os objetivos propostos para cada faixa etária e buscar configurar o
ensino remoto como algo viável e possível.
Frente à realidade educacional e às desigualdades estruturais
de toda a sociedade brasileira no enfrentamento da pandemia, cabe
registrar as diferenças existentes em relação às condições de acesso ao
mundo digital por parte dos estudantes e de suas famílias, que
muitos alunos não dispunham de internet e recursos tecnológicos
(celular, computador, notebook etc) para as práticas remotas. Diante
disso, as atividades publicadas na plataforma digital no Sistema
Educacional de Ensino de Marília, também, foram disponibilizadas
de modo impresso para os alunos que não dispunham de tais recursos
e, por este motivo, não conseguiam participar das aulas on-line.
O mergulho nas tecnologias digitais, a elaboração das
atividades pedagógicas não presenciais, a reorganização dos
calendários escolares, a readequação dos processos avaliativos e todas
as novas demandas causadas pela pandemia revelaram um caráter de
inovação e criatividade das redes, escolas, professores e estudantes que
apresentaram as soluções mais adequadas para sua realidade, não
60
medindo esforços para a garantia da continuação do vínculo afetivo e
efetivo entre profissionais da educação, famílias e alunos.
As TDIC na Educação: o professor será substituído?
Diante de tudo o que vivenciamos, não podemos negar que a
Educação nunca mais será a mesma. Isto porque os elementos
humanos que a constituem jamais serão os mesmos. O impacto que
a pandemia gerou em cada um, saberemos a longo prazo. No
entanto, dois pontos se fazem ressaltar com relação à Educação: 1) o
professor/a professora são imprescindíveis no processo educacional e
2) o uso acessível às tecnologias digitais é essencial para a promoção
de um processo de ensino e aprendizagem de qualidade, onde os
tempos e espaços são flexíveis e as relações têm a oportunidade de se
desenvolverem de forma mais humanizada e colaborativa.
O que é ser professor hoje? Ser professor hoje é viver
intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e
sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a
humanidade sem educadores, assim como não se pode
pensar num futuro sem poetas e filósofos. Os educadores,
numa visão emancipadora, não transformam a
informação em conhecimento e em consciência crítica,
mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores
da palavra, dos marketeiros, eles são os verdadeiros amantes
da sabedoria, os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles
fazem fluir o saber (não o dado, a informação e o puro
conhecimento), porque constroem sentido para a vida das
pessoas e para a humanidade e buscam juntos, um mundo
61
mais justo, mas produtivo e mais saudável para todos. Por
isso eles são imprescindíveis. (GADOTTI, 2000, p. 7).
Nesse momento de ensino remoto emergencial, nunca ficou
tão clara a necessidade da mediação do professor/da professora. Não
como quem ensina, mas como aquele que favorece, que faz a
mediação, que permeia todo o conhecimento. Não como quem
informa, que isso é possível apenas com um clique em um site da
internet, mas como quem forma, quem auxilia no trato e na seleção
de tantas informações, muitas vezes desnecessárias.
O que a tecnologia traz hoje é integração de todos os
espaços e tempos. O ensinar e aprender acontece numa
interligação simbiótica, profunda, constante entre o que
chamamos mundo físico e mundo digital. Não são dois
mundos ou espaços, mas um espaço estendido, uma sala de
aula ampliada, que se mescla, hibridiza constantemente.
Por isso a educação formal é cada vez mais blended,
misturada, brida, porque não acontece no espaço
físico da sala de aula, mas nos múltiplos espaços do
cotidiano, que incluem os digitais. O professor precisa
seguir comunicando-se face a face com os alunos, mas
também digitalmente, com as tecnologias móveis,
equilibrando a interação com todos e com cada um.
(MORAN et al., 2015, p. 2).
O giz e a lousa, o caderno e o papel atenderam seus objetivos
como instrumentos educacionais por longas cadas. Mas é possível
afirmar que, por si só, podem não atender à demanda evolutiva e de
62
muitas informações na sociedade atual. Não como desenvolver as
competências previstas na BNCC nem garantir o mínimo com
relação aos direitos fundamentais (Constituição Federal) se as
mudanças educacionais não acompanharem as mudanças sociais.
As maneiras de elaborar o currículo, as metodologias
empregadas, a organização do tempo e espaço de ensino-aprendi-
zagem precisam acompanhar as mudanças sociais. Praticamente todos
os atos cotidianos, por mais simples que pareçam, são informatizados:
desde estacionar um veículo nas ruas centrais da cidade, que precisa
da aquisição do ticket via aplicativo, até complicadas transações
bancárias e processuais. E a grande maioria das escolas continua
apenas na educação bancária. A tecnologia digital tem que despertar
a criação, cooperação e interação entre as pessoas, fortalecendo a
convivência social.
Nota-se, pois, que não como manter um currículo
engessado, com conteúdos apostilados e estáticos onde o
protagonismo do aluno no processo ensino e aprendizagem seja
negado. A tecnologia digital usada aleatoriamente não produz
conhecimento. Ela pode atender ao ensino mas, se não houver
integração ao currículo, não promoverá a aprendizagem.
Toda proposta que investe na introdução das TICs na
escola pode dar certo passando pelas mãos dos
professores. O que transforma tecnologia em
aprendizagem, não é a máquina, o programa eletrônico, o
software, mas o professor, em especial em sua condição
socrática. (DEMO, 2001, p. 3).
63
E, por fim, mas não menos importante: a urgente necessidade
de se criar políticas públicas que permitam o acesso de todos a uma
internet de qualidade e o efetivo uso das tecnologias a fim de
minimizar as desigualdades estruturais, educacionais e sociais. Não
basta a tecnologia se o acesso não for igualitário.
Nesse sentido, pudemos trazer um exemplo municipal com a
implementação da Plataforma Educação em Casa. Num momento em
que todas as portas se fechavam, uma luz ao fim do túnel. Claro que
por ter sido uma criação dentro de um ensino emergencial, a
plataforma não conseguiu atingir a todas as famílias, tendo em vista,
justamente, a questão do acesso qualitativo à internet. No entanto, no
momento, foi a melhor opção encontrada. Um sucesso, graças a todas
as partes envolvidas. Uma possibilidade a ser aprimorada,
incrementada e utilizada, num futuro, não como um ensino
emergencial, mas como um ensino híbrido, paralelo e complementar
ao presencial.
Considerações Finais
Frente ao exposto acima, pode-se concluir que o ensino-
aprendizado teve suas estruturas fortemente alteradas pela pandemia
do Covid-19 e, em razão disso, barreiras foram cruzadas. Novos
patamares da educação tecnológica foram explorados por diversas
instituições de ensino. Esse contato impossibilita que se esqueça do
quão benéficas educação e tecnologia podem ser lado a lado.
Entretanto, o uso de tecnologia em sala de aula é uma ferramenta para
o processo de ensino. De acordo com a análise efetuada, depreende-
se que a presença do professor, bem como do meio sala de aula, é
64
essencial para o aprendizado. De mesmo modo, pode-se afirmar que
o aprendizado não está completo e não é garantido apenas com o uso
da ferramenta tecnológica.
Para Cox (2008),
É preciso competência para educar-se continuamente em
acompanhar a dinâmica da atualidade; domínio da
informática para evitar subutilização e/ou supervaloriza-
ção, aversão e/ou endeusamento dos recursos disponibili-
zados por ela; disposição para estudar tendo em vista a
necessidade de educação continuada e “conquista das
ferramentas computacionais; capacidade de ousar para
quebrar as amarras das especificidades das formações
educacionais tradicionais; cumplicidade com o educando
para estabelecer parcerias na busca por soluções e
construções; criatividade para fazer jus ao adjetivo humano
e avançar além de pias de reproduções para criações e
aperfeiçoamentos contínuos; e habilidade para socializar
“saberes” e fazeres com o intuito de garantir o
desenvolvimento da coletividade (COX, 2008, p. 117).
Em suma, professor e tecnologia se completam para um
processo ensino e aprendizagem mais dinâmico, individualizado e
humanizado. Se antes da pandemia o acesso à internet era
imprescindível, agora ele é fundamental. O ensino remoto
emergencial foi implementado, a toque de caixa”, na tentativa de
suprir as necessidades educacionais do momento. Veio com muitas
lacunas que faziam parte das desigualdades anteriores e que não
65
foram solucionadas. Entretanto, as dificuldades encontradas têm que
servir de alerta para o presente e para o futuro.
Refletir e discutir sobre Políticas Públicas de acesso efetivo à
internet e demais ferramentas tecnológicas é essencial para diminuir
as desigualdades sociais e não ser surpreendido, novamente, por outra
calamidade seja ela de qual ordem for. O uso da tecnologia em sala
de aula não pode mais ser pensado como o futuro. A tecnologia é o
presente.
Referências
BEHERENS, M. A. Projetos de aprendizagem colaborativa num
paradigma emergente, In: MORAN, José Manuel. Novas
tecnologias e mediação pedagógica, Campinas: Papirus, 2000.
BORGES, J. M. Estudo mostra que pandemia intensificou uso das
tecnologias digitais. Agência Brasil, 2021. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-11/estudo-
mostra-que-pandemia-intensificou-uso-das-tecnologias-digitais.
Acesso em: 19 ago. 2022.
BRASIL, Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP
5/2020, aprovado em 28 de abril de 2020.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República
Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico,
1988.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB.
9394/1996. Brasil, 1996.
66
BRASIL. Lei no 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece
princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no
Brasil. Brasília, 2014.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum
Curricular. Brasília, 2018.
COX, K. K. Informática na educação escolar. 2. ed. Campinas: São
Paulo, 2008.
DEMO, P. A Tecnologia na Educação e na Aprendizagem [Palestra
ministrada no dia 27/5/2000 no Educador 2000 - Congresso
Internacional de Educação]. UCLA, Los Angeles, jan. 2000.
DEMO, P. Conhecimento e aprendizagem na nova mídia. Brasília,
DF: Plano, 2001.
G1. ONU afirma que acesso à internet é um direito humano.
Notícias em Tecnologia e Games. Equipe de redação, 2011.
Disponível em:
https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/06/onu-afirma-que-
acesso-internet-e-um-direito-humano.html. Acesso em: 05 ago.
2022.
GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Ed.
Artes dicas, 2000.
MARÍLIA, Resolução SE Nº01/2021. Disponível em:
https://www.marilia.sp.gov.br/portal/diario-oficial/ver/3044. Acesso
em: 07 ago. 2022.
67
MARTINS, M. R. Educação e tecnologia: a crise da inteligência.
Educação (UFSM), v. 44, p. 1- 14, ago. 2019.
MORAN, J. M. et al. Mudando a educação com metodologias
ativas. In: Coleção Mídias Contemporâneas. Convergências
Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens. Vol. II.
Carlos Alberto de Souza e Ofelia Elisa Torres Morales (orgs.). Ponta
Grossa: UEPG/PROEX, 2015. Disponível em:
https://www2.eca.usp.br/moran/wp-
content/uploads/2013/12/mudando_moran.pdf. Acesso em: 01 ago.
2022.
MORAN, J. M. et al. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 6.
ed. Campinas: Papirus, 2000.
RIBEIRO, L. C. Q. et al. Desigualdades digitais: acesso e uso da
internet, posição socioeconômica e segmentação espacial nas
metrópoles brasileiras. Análise Social, v. 207, n. XLVIII (2º), 288-
320, 2013.
68
69
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p69-94
PLATAFORMAS DIGITAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM
TEMPOS DE PANDEMIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Thayse Palmela NOGUEIRA
1
Introdução
O surgimento da doença causada pelo novo coronavírus
(Sars-Cov-2) trouxe mudanças radicais em todas as esferas da vida
social. A combinação entre a rápida contaminação e a ausência de
medidas eficazes, que impedissem sua disseminação, tornaram-na
uma pandemia, anunciada pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) em março de 2020. Com a globalização, o vírus se espalhou
mundialmente e tornou-se impossível contê-lo, de modo que a
medida cabível, naquele momento, foi o isolamento social por meio
de medidas de lockdown.
Globalmente, as nações e Estados foram se organizando para
evitar o aumento das contaminações e os números crescentes de
óbitos. Se por um lado havia um contingente populacional quede
seguir as orientações da OMS permanecendo em casa, respeitando o
isolamento social, guardando a própria saúde e as de familiares, havia,
por outro lado, um contingente que precisava manter o sistema
capitalista em funcionamento, ficando na linha de frente sob um
1
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de
Marília/SP / Docente do Sistema de Ensino do Município de Marília / e-mail:
thayse.palmela@unesp.br
70
intenso fogo cruzado (ANTUNES, 2020). De espectadores das
notícias diárias, tornamo-nos personagens dessa história que afetou
cada pessoa de uma maneira singular.
De ambientes movimentados e superlotados, passamos a
conviver em locais com poucas ou sem pessoas, ruas vazias, escolas
sem alunos. Somado a isso, havia algo novo: a máscara, o álcool para
higienização e a aferição de temperatura ao entrar em qualquer local.
Para sair de casa, os cidadãos de todo o mundo usavam (e ainda usam)
máscaras de proteção que colaboraram na prevenção, buscando
mitigar e controlar os riscos de transmissão viral.
O fechamento das escolas foi essencial para impedir o avanço
dos casos. Segundo Arruda (2020, p. 263), “a escola é um dos espaços
sociais em que maiores trocas e mobilidades de sujeitos de
diferentes faixas etárias, portanto, representa espaço de maior
probabilidade de contaminação em massa”.
Conforme prescrito em lei, em situações emergenciais, a
educação no país pode ser ofertada por meio do ensino a distância,
como assegura o Art. 32 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) 9.394 de 1996, parágrafo 4º: “O Ensino
Fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado
como complementação da aprendizagem ou em situações
emergenciais (BRASIL, 1996).
No Brasil, as instituições educacionais blicas e privadas
depararam-se com o desafio de implantar ações pedagógicas para a
manutenção do processo de ensino e aprendizagem e a continuidade
da garantia do direito à educação, sem atividades presenciais. Apesar
da educação a distância ser uma realidade no país, é comumente usada
no Ensino Médio, destinada “aos jovens e adultos insuficientemente
71
escolarizados”, citado no Artigo 87, § (BRASIL, 1996, s.n.). a
resolução CNE/CEB 3/2018 trata sobre a oferta de até 30% de
atividades a distância para a referida etapa de ensino (BRASIL, 2020).
Nesse cenário tortuoso e sob orientação do Banco Mundial,
em abril de 2020 pelo Ministério da Educação através da Portaria
343, foi aprovada uma medida que autorizou a educação a distância
nos cursos presenciais, permitindo a implementação do ensino
remoto, tendo como plano de fundo a emergencialidade do momento
atípico diante da pandemia, evitando assim, o “crescimento da
pobreza na aprendizagem” (learning poverty) (COLEMARX, 2020, p.
6).
O Conselho Nacional da Educação (CNE), por meio do
Parecer CNE/CP n°5/2020, autorizou a contabilização dos dias
letivos por meio das atividades e aulas remotas oferecidas pelos
sistemas de ensino no país ao longo do ano e, assim, cada estado e
município se organizou para que os estudantes não perdessem o ano
letivo. Medidas como essa foram de suma importância para que o
processo de ensino e aprendizagem de milhares de estudantes não se
estagnasse em virtude da disseminação do vírus Sars-Cov-2.
Diante das flexibilizações legais proporcionadas pela
emergencialidade, observou-se uma profusão de terminologias
direcionadas às ações pedagógicas do ensino remoto emergencial
(ERE). De acordo com Will et al. (2021), o Parecer CNE/CP
05/2020, de 30 de abril de 2020, trouxe uma diversidade de conceitos
como, por exemplo, atividades não presenciais”, “atividades
pedagógicas não presenciais”, “atividades pedagógicas remotas” e
“atividades remotas”, para se referir às práticas escolares realizadas na
pandemia. Apesar desse contingente de nomenclaturas, “os Estados,
72
por sua vez, publicaram normas específicas para atender à situação
pandêmica e criaram estratégias e programas visando à manutenção
do serviço escolar nesse período, segundo suas concepções e
intencionalidades (WILL et al., 2021, p. 3).
Esse breve resgate, com as modificações legais na organização
e oferta da educação brasileira, por meio das portarias e pareceres do
MEC em período de pandemia, serve como norte para que se possa
compreender o processo de reestruturação tecnológica e
organizacional vivenciada no interior dos sistemas educacionais no
país durante o ERE, além de resgatar o debate sobre o trabalho
docente que, subitamente, teve que se reinventar e se ressignificar para
se adequar à tal modalidade de ensino e aprendizagem.
No Brasil, milhões de estudantes foram afetados com a
suspensão das aulas presenciais e esse contingente educacional
evidenciou um complexo processo de mudanças na sua relação com
o ensino. Nesse sentido, o Estado brasileiro, por meio das novas
legislações emergenciais, buscou dar continuidade ao ensino na
modalidade remota, utilizando assim as tecnologias digitais da
informação e comunicação (TDIC) como recursos fundamentais
durante o distanciamento.
Em uma análise do Parecer CNE/CP 9/2020, justifica-se que
o ensino remoto emergencial visa compreender as consequências
decorrentes de um longo período de suspensão das atividades
escolares que podem acarretar e agravar problemas como:
73
- dificuldade para reposição de forma presencial da
integralidade das aulas, suspensas ao final do período de
emergência, com o comprometimento ainda do calendário
escolar de 2021 e, eventualmente, também de 2022;
- retrocessos do processo educacional e da aprendizagem
aos estudantes submetidos a longo período sem atividades
educacionais regulares, tendo em vista a indefinição do
tempo de isolamento;
- danos estruturais e sociais para estudantes e famílias de
baixa renda, como stress familiar e aumento da violência
doméstica para as famílias, de modo geral;
- e abandono e aumento da evasão escolar. (BRASIL, 2020,
s.n.).
O documento, ao apresentar uma análise do caráter
excepcional da educação mediada por tecnologias no período de
isolamento social, reflete sobre a desigualdade estrutural da sociedade
brasileira e até aponta tímidas reflexões sobre isso e, ainda, fragilidades
dos indivíduos sociais, revelando questões referentes à relação das
condições e do acesso à tecnologia, as “diferenças de proficiência,
alfabetização e taxa líquida de matrícula relacionados a fatores
socioeconômicos e étnico-raciais” (BRASIL, 2020, s.n.). Todavia, ao
pensarmos acerca das desigualdades no território brasileiro,
deparamo-nos com “uma ordem de grandeza desta massa desprovida
de meios dignos de vida que ultrapassa 48% da população
economicamente ativa” (COLEMARX, 2020, p. 6).
A proposta deste texto não é tratar sobre a desigualdade
econômica existente no país que ficou mais explícita com a pandemia,
mas sim, compreender que esta, também, foi um fator preponderante
74
para ampliar as vulnerabilidades e riscos ao direito à educação nas
diferentes etapas de ensino. Objetivo esse que deve ser uma bandeira
de luta para nós, educadores, uma vez que o direito e acesso à
educação está garantido em Lei.
Relato de experiência em tempos de pandemia
na Educação Infantil no município de Marília
Até 2020, o uso das TDIC era uma novidade no ambiente
escolar. Na Educação Infantil, as professoras e professores usavam o
celular para registrar as atividades realizadas pelos estudantes com
fotos e procurar referências para sua elaboração. Aquelas ou aqueles
docentes mais ousados usavam aplicativos (apps) de streaming de
música ou o YouTube para vídeos, sendo para complementar as aulas.
No entanto, todo o uso de tecnologia era permeada pelas
recomendações acerca da exposição de bebês e crianças às telas.
De modo geral, o corpo docente usava o computador para
elaboração dos planos de aula e avaliações semanais realizadas em casa
e dentro do ambiente escolar, em que o recurso tecnológico tinha
como objetivo a elaboração de tarefas ou pesquisas rápidas. Vale
destacar que havia poucas máquinas disponíveis para a utilização,
destinadas, em sua maioria, para a equipe gestora, que, inclusive, era
responsável pelo contato com as famílias. O contato com a escola
sempre foi realizado pelo telefone fixo da unidade ou no atendimento
presencial.
Em março de 2020, após eclodir a pandemia, as escolas, em
escala mundial, tiveram que fechar as portas. Em meio ao medo, ao
caos, às incertezas apresentadas pelo momento histórico vigente e, até
75
mesmo, buscando compreensão do que estava acontecendo, era
preciso pensar: “O que faremos com a educação?” “E a Educação
Infantil?” “Como garantir os direitos de aprendizagem dos bebês?” e,
é nesse ponto, que compartilho a minha experiência enquanto
educadora do Sistema de Ensino do Município de Marília.
Fui contratada em maio de 2020, pouco menos de dois meses
do fechamento total das escolas. Em meio à pandemia, deparei-me
com uma escola vazia, com poucos funcionários, sem crianças e com
várias demandas. Inicialmente, o meu trabalho possuía um cunho de
formação acadêmica, em que tivemos um tempo para fazer o estudo
da Proposta Curricular para a Educação Infantil que havia sido
homologada naquele ano.
Este documento surgiu em decorrência da Base Nacional
Comum Curricular em 2017, “que estabeleceu as aprendizagens
essenciais e os direitos de aprendizagem como referência nacional,
tornou-se obrigatório que as redes de ensino elaborassem ou
adequassem seus currículos em todo o território nacional
(OLIVEIRA, 2020, p. 8).
Pensando nessa adequação para a realidade do município, ao
longo dos anos de 2018 e 2019, foram realizados grupos de estudos,
resultantes de um trabalho dialógico e colaborativo com os diversos
personagens do ambiente educacional que buscaram a reformulação
da proposta municipal, pensando nas particularidades da Educação
Infantil. E, apesar de ter sido lançada em meio à pandemia, não trazia,
em seu escopo, a discussão do uso das novas tecnologias,
metodologias ativas ou mesmo a educação remota em tempos de
pandemia.
76
A Proposta Curricular para a Educação Infantil do município
de Marília é um documento para orientar o pensar e agir docente, e
que traz um entendimento global do sistema educacional do
município. Ressalta-se que a Proposta Curricular tem o aporte
ideológico fundamentada na Teoria Histórico-cultural, defendida
por Lev Vigotski (OLIVEIRA, 2020). Esse foi o trajeto conceitual
utilizado “para conceber a educação das crianças desde os primeiros
anos de vida, até os seis anos de idade” (OLIVEIRA, 2020, p. 20).
Por meio da reflexão trazida pela proposta, compreende-se a criança
como um
[...] sujeito histórico e de direitos que, nas interações,
relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua
identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia,
deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e
constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade,
produzindo cultura. (BRASIL, 2010, p. 12 apud
OLIVEIRA, 2020, p. 21).
Conceituar "criança'' é essencial para que as professoras e
professores possam otimizar momentos e aprendizagens com
intencionalidade educativa. Nesse sentido, “criança é um ser da
espécie humana, mas seu processo de humanização se ao longo da
vida, mediante interações e relações estabelecidas com outros
humanos mais experientes que ela tenha contato em sua existência
(OLIVEIRA, 2020, p. 22). Para Vygotski “esse aspecto marca o
caráter indissociável das dimensões cognitivas e afetivas das interações
77
vividas e propiciadas às crianças na vida social e, consequentemente,
na escola.(OLIVEIRA, 2020, p. 22).
Diante disso, cabia a reflexão sobre o impacto do uso dos
recursos tecnológicos nos aspectos do desenvolvimento da criança,
haja vista que a criança experimentaria todas essas vivências mediadas
por uma plataforma digital e seus parceiros mais experientes seriam
seus próprios familiares, que o contato com as outras pessoas estava
impossibilitada devido ao isolamento social.
Em 27 de maio de 2020, o município homologou o Decreto
Número 13.022 que dispõe sobre
[...] o regime especial de atividades escolares não
presenciais no sistema municipal de educação de Marília.
Para fins de cumprimento do calendário letivo do ano de
2020. Como medida de prevenção e combate ao contágio
do novo coronavírus Covid-19 e continuidade à adoção
progressiva de medidas nos órgãos e nas entidades da
administração pública municipal e estabelece outras
providências. (MARÍLIA, 2020, p. 1).
Esse decreto foi importante para a implementação de novos
recursos tecnológicos, para que fosse garantido o direito à educação
das mais de 18 mil crianças matriculadas no sistema de ensino
municipal, dando continuidade à sua escolarização. Em abril do
mesmo ano, a prefeitura de Marília fez uma parceria com o Centro
Eurípides Soares da Rocha - Univem para a implantação de uma
Plataforma Digital de Apoio à Educação On-line. Por meio da
plataforma Google For Education - Google Classroom, foi criada a
Plataforma Educação em casa, em que os estudantes e os docentes
78
foram cadastrados e receberam um e-mail de acesso para o login,
senha e um tutorial explicativo.
Essa plataforma tinha como objetivo desenvolver conteúdo
pedagógico para atender tanto as crianças do Ensino Fundamental
como também do Ensino Infantil durante o período de
distanciamento social. No lançamento da proposta, se pensou nas
famílias que não tinham acesso à internet, computador ou celular, e,
assim, as unidades escolares ficariam responsáveis em disponibilizar o
material produzido de forma impressa.
Diante dessas mudanças rápidas na forma de trabalho
docente, o meu primeiro contato com as famílias seria por meio de
vídeos, que eu ainda não fazia parte do quadro da escola quando da
realização da única reunião. A minha tarefa foi criar um vídeo para
me apresentar como professora da turma de Maternal I, mostrando o
meu rosto, tanto para as crianças quanto seus familiares.
Logo surgiu uma questão: Como fazê-lo? Pois nunca havia
feito um vídeo com essa finalidade. Uma mistura de sensações e
inseguranças foram me dominando, uma vez que era difícil transpor,
para um vídeo, tudo o que eu pretendia trabalhar, a minha forma de
trabalho, quem sou eu, entre tantos outros aspectos em um deo
curto. Com todas essas questões envolvidas, fiz pesquisas sobre a
elaboração de vídeos, sobretudo, acerca do quê? e como falar nos
vídeos?, como agir? Enfim, em uma sociedade em que crescem
profissões de youtubers, influencers e tiktokers, teria que aprender a
fazer os vídeos para acessar alunos e famílias. Um vídeo com duração
de um minuto levou horas de pesquisas e diversas tentativas
frustradas, até que um, entre as dezenas gravadas, ficou razoavelmente
bom e poderia ser enviado. No entanto, uma das normativas era que
79
fossem aprovados pela coordenação para depois serem remetidos às
famílias.
Quanto trabalho! A ideia ingênua foi demonstrar às famílias
que eu seria um aporte educacional em meio às incertezas mundiais,
o que foi uma tarefa muito difícil, porque, em maio de 2020,
ultrapassávamos a marca de 800 mortes diárias. Sem nenhuma
expectativa de mudança desse cenário, resolvi, então, investir todo o
meu tempo em aprimoramento sobre gravação e edição de vídeos,
além de entender sobre composição de imagem, luz, plano de fundo,
enfim, assuntos e temas que poderiam colaborar para tornar os vídeos
mais interessantes.
As primeiras gravações foram extremamente difíceis, pois não
dominava a técnica e não tinha recursos tecnológicos para isso. A
improvisação de tripé, sem equipamentos de captura de som e luz
desregulada não colaboraram para uma excelência nos vídeos, mas era
o que tinha disponível naquele momento, um amadorismo misturado
com uma vontade de tornar aquilo possível. Durante a minha
primeira graduação em serviço social na Universidade Federal dos
Vale do Jequitinhonha e Mucuri, tínhamos um grupo de debate em
que estudávamos o filme como uma linguagem artística, tais como: a
escolha da luz, do vestuário, da sonoplastia entre outros elementos do
filme permitindo que fizéssemos uma análise crítica do mundo do
trabalho, meu objeto de estudo naquele momento. Para analisar os
vídeos, era preciso assistir e se atentar aos detalhes, deste modo, ao
longo dos anos fui desenvolvendo um olhar estético que pude utilizar
durante as minhas próprias produções.
Ao gravar os vídeos, sempre me colocava no lugar das crianças,
por se tratar do público infantil, de 2 e 3 anos, os vídeos deveriam ser
80
lúdicos e curtos, capturando a atenção e transmitindo a proposta.
Assim, muitas questões precisavam ficar bem claras no roteiro para
que pudessem ser transmitidas às famílias e às crianças.
Nesse período, passei a utilizar a arte como recurso de
conectividade entre mim e as crianças, o que acabou se tornando
minha marca. Por meio da música e da dança, fui envolvendo as
famílias e os estudantes. Trazia músicas do repertório musical infantil
conhecida por elas, mas, aos poucos, fui ampliando o senso musical e
tornando o senso estético mais sofisticado, como propõe a Proposta
Curricular Municipal. Sempre busquei levar uma cultura mais
elaborada e meus vídeos precisavam transmitir esse objetivo, afinal, a
teoria Histórico-Cultural nos diz que as crianças aprendem por meio
de vivências com parceiros mais experientes.
Iniciante no ukulele, instrumento musical parecido com o
cavaquinho, eu aprendia a música para tocar e cantar nos vídeos. Tive
que redescobrir, aprender, ressignificar, treinar acordes, afinações e
me frustrar para criar os vídeos. As pessoas diziam: "você se
transforma em outra pessoa no vídeo”, e era essa a ideia. Durante a
gravação do vídeo, imaginava-me no meio das crianças e buscava
trazer a verdade da proposta para elas, tentando falar de uma forma
que, apesar de ser mediada pelas famílias, as próprias crianças
poderiam entender a mensagem. Não era youtuber, mas queria que a
minha turma curtisse aquele momento e até assistissem novamente se
fosse interessante.
E, longe de chegar à perfeição, a frequência com que fazia
vídeos, ia me capacitando para fazê-los cada vez melhor, quando
comparados aos, inicialmente, produzidos. Os feedbacks das famílias
81
eram muito interessantes e, assim, era possível perceber de que
maneira eu conseguia alcançar as crianças.
Com o passar dos meses, as obrigatoriedades da Plataforma
Educação em casa foram aumentando e tudo que era realizado
presencialmente, agora precisaria ser registrado por escrito para
comprovar nosso trabalho. Na Planilha de trabalho home office,
detalhávamos os planejamentos de aula realizados em casa,
evidenciando que a carga horária de trabalho estava sendo cumprida,
até para validar o recebimento dos salários. Durante esse período,
realizamos os semanários, atividades no formato pdf para envio às
famílias com as devidas orientações das atividades, videoaulas,
avaliações semanais e o acompanhamento dos recebimentos das
famílias.
Somado a isso, era preciso realizar a documentação
pedagógica, cujo objetivo é “dar visibilidade às diferentes maneiras de
se compreender a criança, suas realizações e os processos de
aprendizagem” (OLIVEIRA, 2020, p. 216). Ademais, ressalta-se que
A avaliação que resulta da documentação pedagógica,
subsidiada por uma concepção teórica que oferece à criança
lugar privilegiado nas relações, favorece o aperfeiçoamento
das práticas pedagógicas e da formação profissional,
promovendo assim, o máximo desenvolvimento humano
em cada criança. (RAIZER, 2011 apud OLIVEIRA, 2020,
p. 216).
Portanto, a efetiva participação das crianças com as
devolutivas servia de documentação pedagógica para que pudéssemos
82
avaliar, mesmo que remotamente, o processo de ensino e
aprendizagem nesse período de ERE, o que, posteriormente, foi
repensado, porque os vídeos, fotos e áudios representavam um recorte
das vivências que até poderíamos, enquanto educadores, pressupor,
mas não poderíamos afirmar, porque não realizamos as atividades em
conjunto com as crianças.
Realizávamos, periodicamente, o "Jornal da turma'',
2
“Destaque da semana
3
”, “Portfólio individual
4
" entre outras
estratégias de movimentação da plataforma eram pensadas e testadas.
O objetivo era compartilhar as devolutivas, estimulando maior
2
O jornal da turma/escola é um meio de comunicar as notícias mais importantes da
turma e da escola. As crianças participam de todas as etapas de elaboração: da seleção
de notícias, ilustração, impressão, distribuição. Contém os textos ilustrados com
desenhos e fotografias feitos pelas crianças. É um material que, para cumprir sua
função, precisa circular na escola (demais turmas, sala dos Professores, recepção,
cozinha e etc.), e ser enviado para casa e entregue para a comunidade em geral
(mercados, farmácias, salões de beleza e etc.) (OLIVEIRA, 2020, p. 219). Durante
a pandemia, a participação das crianças acontecia por meio das devolutivas das
famílias e a circulação se deu por meio da Plataforma Educação em casa em que toda
a turma tinha acesso.
3
Um arquivo criado no Canva ou no Powerpoint salvo em pdf com algumas
devolutivas da semana cujo objetivo era promover a socialização e estimular maior
participação.
4
O portfólio é um instrumento que reúne de maneira organizada produções e
trabalhos de um período específico. Geralmente utilizados por artistas plásticos e
fotógrafos, evidência, com o material selecionado, qualidades e habilidades
profissionais. No meio educacional, o portfólio assume o caráter de avaliação
formativa, tornando-se uma ferramenta para acompanhar a aprendizagem e o
desenvolvimento das crianças de maneira contínua (OLIVEIRA, 2020, p. 228). No
ensino em casa, os portfólios foram construídos por meio das devolutivas enviadas
pela família, em que os docentes, com um olhar sobre as ações pedagógicas, teciam
comentários sobre a intencionalidade pedagógica e o desenvolvimento da criança a
partir das vivências realizadas.
83
participação das famílias. Para aquelas famílias mais ausentes, era
preciso fazer a busca ativa, de modo a compreender os motivos do
distanciamento da escola. O contato era realizado por telefone ou
WhatsApp, no intuito de compreender as causas da não realização das
atividades e, assim, pensar numa estratégia para aproximar as famílias.
Nesse momento, não havia uma separação entre vida
pública e privada, uma vez que as famílias respondiam a qualquer
hora do dia e da noite em nossos smartphones pessoais, já conheciam
a nossa casa por meio dos vídeos, possuíam o nosso mero de
telefone, dentre outras coisas. A privacidade não existia mais,
tornamo-nos conhecidos, inclusive pelo compartilhamento de nossos
vídeos com outras famílias.
Resultados e discussões
O trabalho realizado na Plataforma Educação em casa era
mensurado por meio do acesso realizado por períodos, em que
tínhamos a dimensão do alcance do trabalho realizado e a quantidade
de acesso pelos logins das crianças na plataforma. Ao passo da
realização das atividades, era preciso fazer o preenchimento da tabela
de “monitoramento do acesso às atividades escolares não presenciais”
com vários campos que precisavam ser preenchidos para o controle
da secretaria da educação. A tabela contemplava os seguintes campos:
nome do aluno, plataforma digital, retiradas na escola, entregues na casa
do aluno, outras estratégias, nenhum tipo de acesso e participação efetiva.
Assim, íamos delineando o perfil da turma a partir da interação na
plataforma, dos feedbacks e devolutivas das atividades e vivências
realizadas em família.
84
Dos 22 alunos matriculados, no período de acesso,
27/04/2020 a 20/07/2020
5
, houve 55% de participação, 27% de
outras estratégias como envio das atividades pelo WhatsApp, ligação,
chamada de vídeo e apenas 14% sem nenhum tipo de acesso. De
21/07/2020 a 15/09/2020, houve 90% de acesso à plataforma, 32%
de outras estratégias, 9% com nenhum acesso e 32% de participação
efetiva. No período de 17/11/2020 a 22/12/2020, tivemos a
participação efetiva de 22,7%.
Apesar de ter aumentado o acesso à plataforma, a realização
das atividades e as devolutivas ainda não eram efetivas, e, na busca
ativa realizada com as famílias, sempre lembrávamos que, apesar de o
ensino não ser obrigatório para a faixa etária dos filhos, era importante
para o desenvolvimento global das crianças. De acordo com a
Constituição Federal, artigo 208, I, por meio da redação da Emenda
Constitucional 59/2009, a “educação básica é obrigatória dos 4 aos
17 anos” (BRASIL, 2009, s.n.).
É preciso ressaltar que havia muitas questões envolvidas, em
meio a pandemia, outras situações se tornaram prioridades e a
educação de bebês e crianças bem pequenas e pequenas foi colocada
em segundo plano. Na medida do possível, as famílias iam se
organizando com essa experiência totalmente nova e buscavam
proporcionar aos filhos e filhas as vivências que eram realizáveis a
depender da realidade de cada grupo familiar. Apesar de não ter
alcançado a totalidade das famílias em todo o processo, sempre
mantive a busca ativa, tentando criar estratégias de acolhimento para
todas as crianças.
5
Dados oriundos de arquivos e acervo pessoal e Plataforma Educação em casa.
85
Avaliação
Em meio aos desafios, percalços, aprendizado e novas
descobertas, o ano de 2020 chegou ao fim, mas, antes disso, era
preciso finalizar o “Relatório de acompanhamento da aprendizagem
e do desenvolvimento da criança” em que, ao invés de descrever os
avanços na aprendizagem e no desenvolvimento de cada criança.
Fizemos uma leitura da interação e relação das famílias com as
vivências e propostas ofertadas ao longo do ano de 2020, o que teria
mais sentido, pois os únicos contatos que tivemos com as crianças
(Drive thru no dia das crianças e na última reunião do ano, com dia e
hora marcada evitando a aglomeração) não eram suficientes para que
pudéssemos descrever o seu percurso educacional.
O ano de 2021 iniciou com o decreto 13.237 de 22 de
janeiro que dispõe sobre a retomada gradual das atividades presenciais
voltadas a alunos das redes particulares e públicas de ensino, em que:
Art. 1°. A partir de de março de 2021, as Unidades
Escolares pertencentes ao Sistema Municipal de Ensino,
bem como os estabelecimentos da Rede Pública Estadual
de Ensino, as Instituições Privadas de Ensino e
Filantrópicas que possuam licença de funcionamento para
atividade de ensino seriado regular, retomarão as atividades
presenciais, nos moldes do Decreto Estadual 65.384, de 17
de dezembro de 2020, respeitando-se o Plano São Paulo,
bem como o Plano de Retomada das Atividades Escolares
Presenciais do Município em relação às Unidades Escolares
Municipais;
86
§ - Nos meses de janeiro e fevereiro de 2021, poderão
ocorrer, no Município de Marília, atividades pedagógicas
de acolhimento, avaliação e de reforço escolar, de
acolhimento, avaliação e de reforço escolar, conforme a
necessidade do estabelecimento de ensino, com presença
limitada de até 20% da capacidade física (preferencial-
mente com horário reduzido);
§ . Para preparação do início do ano letivo, todos os
servidores municipais das Unidades Escolares deverão
retomar suas atividades presenciais no dia 03 de fevereiro
de 2021, de acordo com o Calendário Escolar 2021, do
Sistema Municipal de Ensino. (MARÍLIA, 2021, p. 1).
A partir desse decreto, as escolas foram se organizando para a
retomada das atividades presenciais, evitando a aglomeração e a
necessidade de seguir os protocolos de biossegurança. Em fevereiro de
2021, foram realizados, inicialmente, atendimento com grupos
pequenos de 1 a 3 criaas. Conhecíamos a ansiedade das famílias e
das crianças em relação ao retorno das atividades presenciais, no
entanto, como não havia ainda vacina, deveríamos preservar a
segurança das crianças e famílias, bem como dos servidores
municipais.
Em 2021, iniciei o trabalho com uma turma de Infantil I -
Integral, isto é, crianças de 4 e 5 anos. De fevereiro a março, as
atividades continuaram por meio da Plataforma Educação em casa,
com a esperança de retorno presencial. No entanto, apesar de
experimentarmos algumas semanas presenciais, houve uma onda de
contaminações e um número vertiginoso de novas vítimas, o que
resultou no retorno ao ensino remoto emergencial.
87
Por se tratar de Infantil I, em que o ensino era obrigatório, as
devolutivas eram maiores, bem como o trabalho, devido àintensidade
de vídeos semanais. Em conversa com a professora do período da
manhã, optamos em fazer vídeos diários com as atividades,
descartando o uso do pdf, que conseguíamos nos comunicar
diretamente com as crianças.
As famílias sempre estiveram presentes, mas, por meio das
videoaulas, era possível passar a intencionalidade pedagógica e receber
uma devolutiva. Somado a isso, agora poderíamos explorar, também,
as aulas síncronas, por meio do Google Meet e disponibilizar o arquivo
para que pudessem acompanhar de forma assíncrona. Quando a
criança não podia estar presente ou em casos específicos, realizávamos
uma chamada de vídeo via WhatsApp. Havia, ainda, a troca de
mensagem, proporcionando uma diversidade na comunicação às
crianças.
Em pouco tempo, tornamos o grupo muito unido e
participativo. A busca ativa acontecia em menor proporção que as
famílias haviam compreendido que o ensino remoto emergencial era
necessário. Apesar da virtualidade, as crianças nos reconheciam como
educadoras e as vivências foram muito significativas, tanto para elas,
como para s. Em agosto de 2021, aconteceu a retomada das
atividades presenciais e para evitar o escalonamento, a turma foi
dividida para atender às medidas de segurança. Essa retomada,
todavia, dada sua complexidade, poderá ser compartilhada em futuros
trabalhos.
88
Considerações Finais
As marcas deixadas pela pandemia na vida social ainda
requerem investigação para que possamos, enquanto pesquisadores,
compreender os impactos da tragédia nas diversas esferas da vida
social. As marcas são reais e, muitas vezes, visíveis como, por exemplo,
nos rostos marcados devido ao uso constante de máscara de proteção.
Há, também, aquelas invisíveis que, certamente, exigirão muito mais
atenção e estudo.
Dentro do ambiente escolar, essa realidade não é diferente.
Mesmo em 2022, com o afrouxamento das medidas de
distanciamento social, diminuição de mortes por Covid-19 e a
descaracterização da pandemia para endemia, ainda estamos
vivenciando o momento de pós-retomada das atividades remotas.
Neste, saímos de trás das telas para retomarmos o lugar central do
processo de ensino e aprendizagem, dando continuidade à
escolarização que durante a pandemia foi mediado por outrem ou,
em muitos casos, foi até mesmo negligenciado, colocado de lado pelas
famílias, que deram atenção para os filhos que “mais precisavam” de
apoio, geralmente no Ensino Fundamental e médio. Os bebês,
crianças bem pequenas e pequenas, tiveram uma pausa na oferta de
vivências com intencionalidades pedagógicas que colaborassem para
o seu desenvolvimento.
Durante a pandemia, o trabalho docente realizado
diretamente com as crianças teve que se virtualizar, tornou-se remoto,
realizado em casa, por meio de telas e mediado por outros sujeitos
mais experientes. De educadores, transformamo-nos em comuni-
cadores virtuais (influencers?), cujo objetivo era, de forma dica,
89
propor uma ação pedagógica levando em consideração diversos
aspectos da vida familiar, sem que, ao menos, soubéssemos como era.
“Crianças, hoje vamos desenhar!”. Mas calma, se que a família tem
caderno e riscadores para a atividade? Como desenvolver essa
proposta levando em consideração a singularidade de cada família?
Foi esse cenário que vivenciamos nos últimos anos, com mais
intensidade em 2020 e que se desenrolou, também, para o ano de
2021.
Flexibilidade n
ão foi apenas a terminologia que se deu ao
afrouxamento das medidas de biossegurança ou acerca do isolamento
social, mas foi o novo modus operandi de organização do trabalho
humano, logo o trabalho docente. Recordo-me de um diálogo com
as crianças em que, de um dia para outro, não era mais necessário
aferir a temperatura ao entrar na escola e elas me questionaram o
porquê da mudança, respondi, por baixo de duas máscaras e com o
olhar intrigante: flexibilização!
Mudanças rápidas e respostas velozes, tudo proporcionado na
ponta dos dedos. A vida privada foi tomada pela vida do trabalho,
apesar de ter horário de trabalho, precisava idealizar, roteirizar, gravar,
editar, sem contar, no planejamento do cenário, na maquiagem e nas
roupas para fazer vídeos que duravam menos que 5 minutos. Os
horários de gravação precisavam acontecer em momentos que o
cachorro do meu vizinho estava dormindo, por razões claras. E o meu
celular, obviamente, que não comportou a intensificação do uso,
tendo que adquirir outro aparelho e tantos outros equipamentos para
melhorar a qualidade do meu trabalho.
Todas as mudanças e experiências na organização do trabalho
proporcionadas pelas TDIC resultaram em ganhos inimagináveis,
90
inclusive, tive o reconhecimento pela Secretaria da Educação e fui
convidada a gravar em um estúdio um vídeo para o Centro de Mídias
Educacionais Municipal
6
. O processo de reestruturação organiza-
cional e tecnológico que vivi enquanto educadora, me proporcionou
reconhecer as minhas limitações para lidar com uma geração que
nasceu tendo as telas como meio de sociabilidade, essas que, outrora,
foram interpretadas como vilãs, tornaram-se aliadas para a
continuidade das ações pedagógicas em meio ao risco viral.
Talvez pela minha flexibilidade, tornei esse momento mais
“leve” e, até mesmo, divertido, flertando com a carreira de youtuber.
Brincadeiras à parte, é preciso encarar que passamos por mudanças
radicais, que foram profundas e afetaram o cerne do nosso trabalho.
Não podemos, em 2022, simplesmente virar a página e esquecermos
dos anos de 2020/2021 que marcaram toda uma história, quiçá, uma
geração, e precisamos incorporar a ideia de que somos educadores do
século XXI marcados pela pandemia global de Covid-19.
Referências
ANTUNES, R. Coronavírus: o trabalho sob fogo cruzado. São
Paulo: Boitempo, 2020.
ARRUDA, E. P. Educação remota emergencial: elementos para
políticas públicas na educação brasileira em tempos de Covid-19.
Em Rede - Revista de Educação a Distância, n. 7, v. 1, 2020. p.
257-275.
6
Título do vídeo “Eu cientista” do dia 29/06/2021
https://educacao.marilia.sp.gov.br/-cmemei/
91
BRASIL. Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de
2009. Acrescenta § 3º ao art. 76 do ato das Disposições
Constitucionais Transitórias [...]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/e
mc59.htm. Acesso em: 30 set. 2022.
BRASIL. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei das
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Diário Oficial da União: seção 1,
Brasília, DF, p. 27933, 23 dez. 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm. Acesso em:
13 ago. 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação.
Parecer nº 05, de 28 de abril de 2020. Dispõe sobre a reorganização
do Calendário Escolar e da possibilidade de cômputo de atividades
não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima
anual, em razão da Pandemia da COVID-19. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, n. 83, p. 63, 04 mai. 2020. Disponível
em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=do
wnload&alias=145011-pcp005-20&category_slug=marco-2020-
pdf&Itemid=30192. Acesso em: 13 ago. 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação.
Parecer nº 05, de 28 de abril de 2020. Dispõe sobre a reorganização
do Calendário Escolar e da possibilidade de cômputo de atividades
não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima
anual, em razão da Pandemia da COVID-19. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, n. 83, p. 63, 04 mai. 2020b.
Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=do
92
wnload&alias=145011-pcp005-20&category_slug=marco-2020-
pdf&Itemid=30192. Acesso em: 13 ago. 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação.
Resolução CNE/CEB n° 3 de 21 de novembro de 2018. Atualiza as
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Diário
Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 21 nov. 2020. Disponível
em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=do
wnload&alias=102481-rceb003-18&category_slug=novembro-
2018-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 13 ago. 2022.
COLEMARX. Em defesa da educação pública comprometida com
a igualdade social: porque os trabalhadores não devem aceitar aulas
remotas. Rio de Janeiro: 2020. Disponível em:
https://esquerdaonline.com.br/wp-
content/uploads/2020/04/Colemarx-texto-cr%C3%ADtico-EaD-
vers%C3%A3o-final-b-1.pdf. Acesso em: 10 ago. 2022.
MARÍLIA. Decreto nº 13.022 de 27 de maio de 2020. Dispõe
sobre o regime especial de atividades escolares não presenciais no
sistema municipal de educação de Marília. Para fins de
cumprimento do calendário letivo do ano de 2020. Como medida
de prevenção e combate ao contágio do novo coronavírus covid-19 e
dá continuidade a adoção progressiva de medidas nos órgãos e nas
entidades da administração pública municipal e estabelece outras
providências. Diário Oficial, 2020. Disponível em:
https://educacao.marilia.sp.gov.br/arquivos/regime_especial_10023
748.pdf. Acesso em: 13 ago. 2022.
93
MARÍLIA. Decreto 13. 237 de 22 de janeiro de 2021. Dispõe
sobre a retomada gradual das atividades presenciais voltadas a alunos
das redes particulares e públicas de ensino nas condições que
especifica. Diário Oficial, 2021. Disponível em:
https://educacao.marilia.sp.gov.br/arquivos/retomada_gradual_das_
atividades_presenciais_10025806.pdf. Acesso em: 13 ago. 2022.
OLIVEIRA, K. C. G. (Org). Proposta Curricular para a Educação
Infantil do Sistema Municipal de Ensino de Marília. Marília:
Secretaria Municipal da Educação, 2020.
WILL, D. E. M. et al. Profusão terminológica na denominação das
práticas pedagógicas da Educação Básica durante a pandemia de
COVID-19. Revista EmRede, v. 8, n. 1, p. 1-19, jan./jun. 2021.
Disponível em:
https://www.aunirede.org.br/revista/index.php/emrede/article/view/
726. Acesso em: 13 ago. 2022.
94
95
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p95-112
O TRABALHO COM JOGOS MATEMÁTICOS ANTES E
DURANTE O RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS
Adriana Alonso PEREIRA
7
Introdução
A pandemia ocasionada pelo novo coronavírus gerou uma
série de mudanças em toda a sociedade. Uma das grandes mudanças
se refere à educação, que precisou se adequar às exigências de cumprir
um longo período de distanciamento social. Nesse novo contexto
educacional, o ensino remoto emergencial (ERE) foi considerado
uma alternativa viável, tendo em vista a necessidade de dar
continuidade ao processo de formação dos educandos em todas as
etapas de ensino.
Este tipo de ensino desafiou todos os envolvidos, pois era
necessário que os docentes repensassem o modo de ensinar, pensando
numa aprendizagem significativa para os educandos. De acordo com
Hodges (2020), o ERE difere muito da modalidade de ensino a
distância (EaD), pois este envolve o planejamento de recursos e
estratégias voltadas para objetivos claros e definidos, que demandam
planejamento das ações, enquanto o ERE trata-se de uma emergência,
7
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de
Marília/SP / e-mail: adriana.pereira@unesp.br
96
a qual não necessariamente, teve as ações cuidadosamente planejadas,
com objetivos claros e bem definidos.
Nessa tônica, o uso de dispositivos móveis foi elencado como
uma possibilidade de estruturar a prática pedagógica, a fim de
continuar a exercer a docência mesmo diante de tantos entraves. Os
docentes das diferentes etapas de ensino lançaram mão de tecnologias
digitais de informação e comunicação (TDIC), tais como:
smartphones, computadores, notebooks, lousa digital, mesmo sem
possuir formação adequada para tal empreitada (RONDINI. et al.,
2020).
Diante desse cenário, não foram apenas os professores que
enfrentaram grandes desafios a partir das novas necessidades que
surgiram em decorrência do contexto pandêmico, os alunos, também,
tiveram que se adaptar às novas formas de ensino e aprendizagem.
Mediante tais adaptações, o ensino e aprendizagem da matemática
também sofreu mudanças estruturais importantes.
A literatura especializada destaca a problemática do ensino da
matemática atrelada à proposição de um planejamento docente
ancorado em práticas tradicionais, as quais não favorecem o diálogo e
a compreensão matemática, uma vez que são propostos exercícios
com o objetivo de fixar conteúdos e não de refletir o modo como a
matemática está presente nas situações cotidianas (D’AMBRÓSIO,
1989; MOURA, 1992).
Diante da necessidade de se repensar o ensino e a
aprendizagem da matemática, os jogos matemáticos ganham especial
atenção, considerando que utilizar jogos nas aulas de matemática,
97
[...] implica uma mudança significativa nos processos de
ensino e aprendizagem, que permite alterar o modelo
tradicional de ensino, o qual muitas vezes tem no livro e
em exercícios padronizados seu principal recurso didático.
(SMOLE. et al., 2007, p. 11).
Abordar conceitos matemáticos a partir de jogos matemáticos
possibilita uma série de ganhos na aprendizagem dos alunos, uma vez
que possibilita o desenvolvimento de várias habilidades, a saber: “[...]
observação, análise, levantamento de hipóteses, busca de suposições,
reflexão, tomada de decisão, argumentação e organização, que estão
estreitamente relacionadas ao chamado raciocínio lógico.” (SMOLE.
et al., 2007, p. 11).
Apesar do reconhecimento dos ganhos que podem ser obtidos
a partir do trabalho com jogos matemáticos na sala de aula, é
necessário, também, pensar no bom planejamento das situações de
ensino e aprendizagem, que contemplem o trabalho com jogos. Desse
modo, diante de uma situação emergencial de pandemia, o
planejamento docente teve que ser reestruturado. Foi necessário
repensar recursos e estratégias que melhor atendessem a aprendizagem
dos alunos.
Desse modo, esse estudo teve por objetivo descrever a
experiência docente antes e após o retorno presencial no ensino e
aprendizagem da matemática de uma turma de ano dos anos
iniciais do Ensino Fundamental, de uma cidade do interior do estado
de São Paulo.
A apresentação e discussão dos resultados foram divididas em
dois eixos: 1. Trabalhando com jogos matemáticos durante o período de
98
distanciamento social, no qual apresentaremos e discutiremos a
experiência docente no trabalho com jogos on-line em uma turma de
ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental. No eixo 2.
Trabalhando com jogos matemáticos durante o retorno presencial,
apresentaremos e discutiremos de que modo ocorreu a transição das
atividades matemáticas síncronas para as atividades presenciais, bem
como os ganhos em termos de aprendizagem.
Trabalhando com jogos matemáticos durante o período
de distanciamento social
Como citado anteriormente, neste item, faremos a
apresentação de uma experiência docente em uma turma de ano
de uma escola municipal de anos iniciais do Ensino Fundamental do
interior do estado de São Paulo, contando com a participação de 21
alunos.
A referida escola possui cerca de 220 alunos matriculados,
ancorada nos pressupostos da oferta de uma Educação Integral que
visa o desenvolvimento integral dos educandos em seus aspectos:
físico, intelectual, emocional e cultural. Quanto ao currículo, possui
uma base comum e uma parte diversificada.
A base comum se refere aos componentes curriculares de
Língua Portuguesa, História, Geografia, Ciências, Arte, Matemática,
Educação Física e Ensino Religioso. na parte diversificada, são
contempladas as oficinas curriculares de Leitura e Produção de
Textos, Jogos Matemáticos, Expressões Artísticas: plástica, nica e
musical, Protagonismo, Recreação: jogos e brincadeiras e Língua
Inglesa. Para esse estudo, selecionamos algumas atividades realizadas
99
na modalidade remota e presencial durante as aulas de Jogos
Matemáticos.
As aulas de jogos matemáticos ocorreram três vezes na semana
com duração de 1h30 cada. De 21 educandos regularmente
matriculados, apenas 10 participaram das aulas síncronas
8
. Os que
não participaram destas, buscaram materiais impressos, com
instruções sobre como jogar os jogos.
As aulas de jogos matemáticos on-line foram planejadas com
a intenção de possibilitar que os alunos tivessem oportunidades de
acesso a aulas mais significativas, no que tange ao potencial que a
tecnologia pode fornecer à aprendizagem dos alunos. Desse modo, no
modelo ERE, foram utilizados diferentes sites direcionados ao
trabalho envolvendo a aprendizagem matemática, como por exemplo:
Word Wall, Racha Cuca e Nova Escola, com dicas de jogos síncronos
e assíncronos. Esses sites foram selecionados por estarem de acordo
com os objetivos das aulas propostas, bem como, por apresentarem
uma interface amigável e caráter personalizável, uma vez que diante
de uma classe heterogênea encontramos diversas necessidades de
aprendizagem.
Com a intenção de continuar o processo de formação
matemática, foram propostos diversos jogos on-line para que os
alunos pudessem desenvolver as competências matemáticas referentes
à Proposta Curricular
9
de um município do interior do estado de São
8
Aulas que ocorrem em tempo real, onde educadores e alunos interagem
simultaneamente.
9
Refere-se ao currículo municipal que foi elaborado tendo como norteador a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC).
100
Paulo, fundamentados na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC).
Um dos jogos propostos teve como objetivo explorar o
conceito de fração, bem como a leitura e escrita das representações
fracionárias. Este jogo foi realizado de forma síncrona no aplicativo
Google Jamboard, o qual se parece com um quadro branco em que o
educador pode escrever, desenhar, inserir imagens, notas e resultados
de pesquisa. A imagem a seguir mostra um dos jogos que foi proposto
em aula síncrona:
Figura 1 – Jogo “dominó de frações” no
Google Jamboard
Fonte: Acervo pessoal da autora (2022).
Esse jogo foi escolhido, pois uma das habilidades que os
alunos precisam desenvolver e que deve ser abordada no ano do
Ensino Fundamental anos iniciais refere-se às frações. O educando do
ano ao final do ano deve desenvolver a habilidade de:
Associar as representações 10%, 25%, 50%, 75% e 100%
respectivamente à décima parte, quarta parte, metade, três
quartos e um inteiro, para calcular porcentagens,
101
utilizando estratégias pessoais, cálculo mental e
calculadora, em contextos de educação financeira, entre
outros. (BRASIL, 2018, p. 295).
Apesar da necessidade de desenvolver a habilidade de associar
as representações percentuais às frações, os educandos não estavam
preparados para trabalhar com esses conteúdos, uma vez que não
tiveram aulas síncronas no ano de 2020, portanto, não tinham noções
e pré-requisitos necessários para a compreensão do sistema
fracionário.
Além disso, muitos não tinham como acessar as aulas por
diferentes motivos: falta de equipamentos adequados, falta de
internet, entre outros motivos. A falta de acesso às TDIC foi
amplamente citada em vários estudos realizados no contexto do ERE,
desde a Educação Infantil (GONÇALVES; BRITO, 2020;
KUSONIKI; CONCEIÇÃO, 2021), anos iniciais do Ensino
Fundamental (ANDRADE. et al., 2020; PEREIRA; FRAZON,
2021), até o Ensino Superior (BARBOSA et al., 2020;
CONEGLIAN; FUSCO, 2021).
Apesar das inúmeras dificuldades vivenciadas pelos familiares,
educadores e educandos, o uso das TDIC pode favorecer os processos
de ensino e aprendizagem nas diferentes etapas educacionais, uma vez
que possibilita a integração “[...] profunda e constante entre os
chamados mundo físico e digital. Não são dois mundos ou espaços,
mas um espaço estendido, uma sala de aula ampliada [...].”
(MORAN, 2015, p. 39). Contudo, para que essa integração entre o
mundo físico e digital ocorra, é necessário que haja uma
102
intencionalidade docente ao propor o uso de diferentes recursos
educacionais.
Dito isso, ao propor jogos matemáticos on-line, o educador,
mesmo diante do ensino remoto, precisa compreender o porquê da
escolha de determinado recurso, quais os objetivos educacionais,
entre outros aspectos didáticos pedagógicos que precisam ser
considerados ao propor qualquer tipo de atividade.
A proposta de utilização do jogo dominó de frações no
Jamboard pode ser considerada uma experiência interessante, pois foi
possível verificar, durante a realização do jogo, quais eram as
dificuldades e facilidades dos educandos. Foi, também, possível
trabalhar de forma colaborativa entre pares, retomar conteúdos
essenciais que não foram totalmente compreendidos, tais como:
conceito de número natural, divisão, multiplicação e relação parte-
todo.
Trabalhando com jogos matemáticos
durante o retorno presencial
O retorno presencial às aulas na modalidade presencial neste
município não ocorreu com todas as turmas. Inicialmente, em agosto,
retornaram as turmas de Infantil I até oAno. Para os alunos de 0
a 3 anos as aulas continuaram na modalidade remota.
Nesse retorno, foi possível identificar que os educandos
estavam mais agitados e com muitas dificuldades de aprendizagem.
Dificuldades semelhantes foram identificadas em alguns estudos que
corroboram tais achados (CAO et al., 2020; QUEIROZ et al., 2021).
103
A respeito destas dificuldades de aprendizagem em relação aos
componentes curriculares das diversas áreas do conhecimento,
verificamos que a compreensão matemática foi uma das grandes áreas
afetadas. Diante disso, no retorno presencial, foi aplicada uma
avaliação diagnóstica para identificar quais envolviam a compreensão
de conceitos matemáticos, os quais haviam sido trabalhados durante
o semestre. Com este mapeamento, observamos defasagens
referentes à compreensão de situações-problema e as quatro
operações. Observou-se, ainda, que os alunos ausentes nas aulas
remotas apresentaram mais dificuldades quando comparados aos que
participaram.
Nesse sentido, diante de um cenário de tantas incertezas e
dificuldades, pensar sobre o papel do professor como mediador dos
processos de ensino e aprendizagem tornou-se indispensável, uma vez
que o educador precisou organizar e planejar as aulas num contexto
de incertezas, de medos e angústias de diferentes naturezas; além de
precisar lidar com a transição de um ensino remoto emergencial para
o ensino presencial e que, portanto, com diversos aspectos a serem
considerados, inclusive, questões emocionais dos educandos.
Num contexto de mudanças profundas nas formas de ensinar
a aprender, em um curto período, tornou-se cada vez mais necessário,
pensar no uso intencional das tecnologias e de como o uso pode
favorecer a aprendizagem dos educandos (AGNOLETTO;
QUEIROZ, 2020).
Na busca por aulas mais interessantes de matemática, foi
proposto aos educandos de uma turma de ano, no retorno
presencial, uma gincana matemática com diferentes desafios, os quais
envolviam noções de geometria, espaço e forma, relação parte-todo e
104
divisão, considerando que o conceito da divisão, bem como o
algoritmo
10
da divisão e a compreensão da relação parte/todo era
ainda uma dificuldade dos educandos.
Desse modo, pensamos em formas de tornar o conteúdo mais
atrativo e significativo para os alunos. Buscamos, então, aliar o uso
das tecnologias junto às atividades que envolviam o manuseio de
materiais concretos. A respeito dessa união, Moran (2000) destaca a
importância de uma escola que possibilite modificar a forma de
ensinar e aprender:
Avançaremos mais se aprendermos a equilibrar
planejamento e criatividade, a organização e a adaptação a
cada situação, a aceitar os imprevistos, a gerenciar o que
podemos prever e a incorporar o inesperado. [...] com a
internet podemos modificar mais facilmente a forma de
ensinar e aprender. (MORAN, 2000, p. 138).
Para realizar os desafios propostos na gincana, os educandos
foram divididos em cinco grupos com quatro participantes. A figura
2 exibe a construção de sólidos geométricos utilizando palitos e
massinhas de modelar. Essa atividade foi proposta pois verificou-se a
necessidade de propor desafios que engajassem os educandos num
trabalho colaborativo entre os pares.
Cada grupo recebeu um desafio por vez. O primeiro desafio
era a montagem de um cubo utilizando palitos e massinha, a fim de
possibilitar que tivessem a compreensão ampliada acerca dos sólidos
geométricos, uma vez que a Proposta Curricular do município
10
Técnica na qual se aplica uma série de regras a fim de chegar a um resultado.
105
ancorada no Currículo Paulista e na Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) destaca a importância dos educandos terem a
oportunidade de testar suas hipóteses, construir e reconstruir e ter
contato com os conceitos matemáticos, a partir da manipulação de
diferentes materiais. O grupo que terminasse primeiro deveria chamar
a professora para conferência e aguardar os demais grupos
terminarem.
Figura 2 – Confecção de sólidos geométricos utilizando palitos
de sorvete e massinha de modelar
Fonte: Acervo pessoal da autora (2022).
Foi possível perceber que alguns grupos apresentaram
dificuldades, pois eram visíveis os esforços em manter a estrutura em
pé. As tentativas foram fundamentais para que os grupos pensassem
em estratégias a fim de concluir o desafio. Por este motivo, a
organização em pequenos grupos foi primordial, pois trabalharam de
106
forma colaborativa num esforço contínuo a fim de concluir o desafio.
Sendo assim, consideramos que foi uma atividade em que os
educandos se sentiram engajados e desafiados.
Além da proposta acima, os educandos foram igualmente
desafiados a montar figuras utilizando o tangram. O tangram possui
7 peças e é um quebra-cabeça de origem chinesa, sendo possível
montar mais de 5.000 figuras. Esse quebra cabeça favorece a
abordagem de diferentes conceitos matemáticos, como por exemplo,
geometria e frações.
Figura 3- Desafio do
tangram
(montagem de um barco)
Fonte: Acervo pessoal da autora (2022).
Por meio do uso desse recurso pedagógico, foi possível
perceber que o conceito de fração foi melhor compreendido.
Verificamos que os educandos fizeram várias conexões entre o jogo
dominó de frações, que foi abordado durante o ERE e os desafios
matemáticos propostos durante o retorno presencial.
107
Ao analisar as aulas elaboradas mediante demandas
emergenciais, notamos muitos avanços no que diz respeito à
aprendizagem, como, por exemplo, o visível engajamento dos
educandos durante a realização das atividades propostas. Vivenciar os
conceitos matemáticos utilizando diferentes recursos sicos e
tecnológicos contribuiu para uma melhor compreensão de tais
conceitos. Consideramos que foram momentos propícios para refletir
acerca da importância da matemática e de como aprender conceitos
matemáticos pode ser um processo lúdico e significativo.
Considerações Finais
A pandemia trouxe a necessidade de repensar os aspectos
relacionados ao ensino e aprendizagem dos educandos. Diante disso,
torna-se, igualmente, importante pensar nas diferentes estratégias e
recursos a fim de possibilitar que os educandos tenham oportunidades
de aprender de forma significativa.
Nesse contexto, consideramos que as tecnologias foram
importantes aliadas aos processos de ensino e aprendizagem, contudo,
no contexto do ERE. Ainda assim, o papel da tecnologia precisa ser
repensado que a grande necessidade de uso se deu de forma abrupta
e muitos educadores não tiveram tempo hábil para refletirem sobre as
melhores estratégias e recursos alinhados aos objetivos educacionais
que se pretendia alcançar.
Dessa forma, consideramos que o intercâmbio entre o uso de
recursos digitais e físicos favoreceu, de forma positiva, a continuação
do processo formativo dos educandos durante o distanciamento social
imposto pelo Covid-19, porém, que se pontuar a necessidade de
108
formação docente adequada, bem como garantia de acesso à
dispositivos conectados à internet a todos os educandos.
Foi possível verificar que o uso de tecnologias com objetivos
bem definidos contribuiu para a transição entre o ERE e o retorno
presencial, uma vez que foi possível introduzir conceitos matemá-
ticos, por meio de jogos, os quais tornaram as aulas mais dinâmicas e
lúdicas. Além disso, propor jogos no formato on-line e dar
continuidade no formato presencial permitiu que os educandos
acessassem os conhecimentos matemáticos sob diferentes perspec-
tivas, contribuindo para uma aprendizagem mais significativa.
Referências
AGNOLETTO, R.; QUEIROZ, V. COVID-19 and the challenges
in Education. Bulletin, v. 5, n. 2, 2020. p. 1-2.
ANDRADE, T. P. B. et al. O “ensino remoto” nos anos iniciais do
Ensino Fundamental: desafios e experiências docentes na rede
pública municipal de Fortaleza. Revista Arma da Crítica, Fortaleza,
ano 10, n. 14, dez. 2020. p. 191-206.
BARBOSA, A. M. et al. Aulas presenciais em tempos de pandemia:
relatos de experiências de professores do nível superior sobre as aulas
remotas. Rio de Janeiro. Rev. Augustus, v. 25 n. 51, 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base.
Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110
518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 01 ago. 2022.
109
CAO, L. et al. Miniproteins against SARS-CoV-2. Science, ano 9,
v. 370, sep. 2020. p. 426-431. Disponível em:
https://www.science.org/doi/full/10.1126/science.abd9909. Acesso
em 01 ago. 2022.
CONEGLIAN, C. S.; FUSCO, E.. Transformação digital da
educação para o ensino superior: resposta à sociedade digital em
tempos de pandemia. In: CONCEIÇÃO, Aline de Novaes,
PEREIRA, Adriana Alonso, SOUZA, Maewa Martina Gomes da
Silva. De repente uma pandemia: Discussões sobre os Processos
Educacionais durante o período de Distanciamento Social. Porto
Alegre, RS: Editora Fi, 2021. p. 83-98.
D’AMBROSIO, B. S. Como ensinar matemática hoje? Temas e
Debates. SBEM. Ano II. n. 2. Brasília. 1989. p. 15-19.
GOLÇALVES, E. M. R.; BRITO, A. L. F. M. Ensino remoto na
Educação Infantil em tempos de pandemia: reflexões acerca das
novas formas de ensinar. Revista Práxis, v. 12, n. 1, dez. 2020.
HODGES, C. et al. The Difference Between Emergency Remote
Teaching and Online Learning. EDUCAUSE Review. 2020.
Disponível em: https://er.educause.edu/articles/2020/3/the-
difference-between-emergency-remote-teaching-and-online-
learning#fn3. Acesso em: 01 ago. 2022.
KUSONIKI, K. A. R.; CONCEIÇÃO, A. N. Educação Infantil em
tempos de pandemia. In: CONCEIÇÃO, Aline de Novaes,
PEREIRA, Adriana Alonso, SOUZA, Maewa Martina Gomes da
Silva. De repente uma pandemia: Discussões sobre os Processos
Educacionais durante o período de Distanciamento Social. Porto
Alegre, RS: Editora Fi, 2021. p. 23-40.
110
MOURA, M. O. O jogo na educação matemática. In: O jogo e a
construção do conhecimento. São Paulo: FDE, n.10, 1991. p. 45-
53.
MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias
In: MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS,
Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica.
Campinas, SP: Papirus, 2000.
MORAN, J. M. Educação híbrida: um conceito chave para a
educação, hoje. In: BACICH, Lilian; TANZI NETO, Adolfo;
TREVISANI, Fernando de Mello. (Org.). Ensino híbrido:
personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015.
PEREIRA, A. A.; FRAZON, R. F. Reflexões sobre os aspectos
educacionais do processo de alfabetização durante a pandemia da
COVID-19. In: CONCEIÇÃO, Aline de Novaes, PEREIRA,
Adriana Alonso, SOUZA, Maewa Martina Gomes da Silva. De
repente uma pandemia: Discussões sobre os Processos Educacionais
durante o período de Distanciamento Social. Porto Alegre, RS:
Editora Fi, 2021. p. 41-56.
QUEIROZ, M. G. et al. Educação e Pandemia: impactos na
aprendizagem de alunos em alfabetização. Ensino em Perspectivas,
v. 2, n. 4, 2021. p. 1-9. Disponível em:
https://revistas.uece.br/index.php/ensinoemperspectivas/article/view
/6057. Acesso em: 08 ago. 2022.
111
RONDINI, C. A. et al. Pandemia do covid-19 e o ensino remoto
emergencial: mudanças na práxis docente. Educação, v. 10, n. 1,
2020. p. 41–57. Disponível em:
https://periodicos.set.edu.br/educacao/article/view/9085. Acesso
em: 7 ago. 2022.
SMOLE, K. et al. Cadernos de Mathema: jogos de matemática.
Porto Alegre: Artmed, 2007.
112
113
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p113-138
OFICINAS SOBRE O PENSAR PEDAGÓGICO EM
MOMENTO PANDÊMICO: FORMAÇÃO DOCENTE NO
CENTRO DE LÍNGUAS
Douglas Cunha dos SANTOS
1
Isabelle CASTILHO
2
Daniela Nogueira de Moraes GARCIA
3
Introdução
O processo de imersão tecnológica em escala mundial é uma
realidade notória e podemos afirmar que a sociedade se compreende
e expande por meio dos recursos digitais aplicados ao suporte à vida
diária. O uso das tecnologias associadas às atividades de ensino e
aprendizagem é uma temática que tem ganhado espaço no cenário
educacional (FERDIG et al., 2020; LEFFA et al., 2020b; MENDES
et al., 2020; MENDES; FINARDI, 2018; GIMENEZ et al., 2016;
ARAGÃO; CAJAZEIRAS, 2015; SALOMÃO, 2011). Todavia, em
1
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de
Marília/SP / e-mail: douglas.cunha@unesp.br
2
Graduanda em Letras - Licenciatura - Português-Inglês/ Faculdade de Ciências e
Letras/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Assis SP / e-mail: isabelle.castilho@unesp.br
3
Professora Livre Docente em ngua Inglesa pela UNESP. Professora Associada
junto ao Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Ciências e Letras /
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP - Campus de
Assis/SP e Professora e orientadora do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP - Campus de Marília / e-mail: daniela.nm.garcia@unesp.br
114
decorrência do período pandêmico, seu uso vem sendo modificado:
ora por ser de forma mais ampla e abrangente, ora por se dar por
grupos e ambientes que não o utilizavam antes. O que pensávamos
sobre tecnologia em 2019 não se aplica ao momento atual, motivo
pelo qual temos buscado a averiguação da aplicabilidade de recursos
digitais em diferentes abordagens de ensino.
Partimos da concepção preliminar de que, em se tratando de
uma universidade pública, devem ser articulados três pilares, segundo
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei
9.394/1996): o ensino, a pesquisa e a extensão. É importante ressaltar
que os cursos de Letras visam habilitar seus discentes ao trabalho com
uma língua estrangeira moderna alinhada com o desenvolvimento das
habilidades e competências pressupostas na Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), para atuação no ensino básico. Sendo assim, o
projeto Centro de Línguas e Desenvolvimento de Professores
(doravante CLDP)
4
promove um contexto de muita relevância para
os discentes que desejarem, possam integrar-se à ações de docência
como professores em pré-serviço.
4
É importante esclarecer que, conforme informações disponibilizadas no website da
universidade: “Os Centros de Línguas e Desenvolvimento de Professores (CLDP)
constituem-se como uma ação extensionista da UNESP, vinculada à PROEX, que
têm como escopo de suas atividades a oferta de cursos de línguas estrangeiras à
comunidade externa e interna. Nesse contexto, os cursos de nguas são ministrados
pelos alunos da graduação em Letras (tutores), os quais m oportunidade para
atuarem como professores, desenvolverem pesquisa sobre ensino e aprendizagem de
línguas e, dessa forma, aprimorarem sua formação docente, sob a supervisão dos
docentes da universidade, que atuam no projeto. Trata-se, portanto, de um espaço,
prioritariamente, de Extensão Universitária, mas, ao mesmo tempo, articulado ao
Ensino e à Pesquisa”. (https://www.assis.unesp.br/#!/extensao/legislacao/)
115
O projeto abarca seis línguas estrangeiras diferentes, a saber:
inglês, espanhol, alemão, francês, italiano e japonês. Tendo em vista
os processos que competem a cada uma e para a finalidade deste
estudo, focaremos na experiência de adaptação e nas práticas
individuais de tutores/professores do curso de ngua Inglesa. Estes,
em formação inicial, foram primariamente aprovados em processo
seletivo em 2019, mediante edital, para ministrar aulas em contexto
presencial no ano subsequente. Todavia, em decorrência das
mudanças do panorama global e das normas sanitárias de combate do
Covid-19, foi necessária uma adaptação das práticas, contemplando
o ensino remoto emergencial (ERE), com o início de suas atividades
apenas no ano de 2021 de forma remota.
No presente capítulo traremos, então, uma reflexão sobre as
experiências coletadas durante a aplicação dos cursos de língua inglesa
sob a ótica experimental ao acompanhar o citado grupo de tutores em
sua prática. Com a intenção de preparar e assegurar o bom
desenvolvimento do projeto, foram oferecidas oficinas de formação
sobre o pensar-pedagógico, que serão descritas em detalhe nas seções
posteriores. Buscaremos apresentar, também, um breve relato sobre a
aplicação do curso e a produção resultante desse processo.
Abrimos a seção seguinte com a apresentação do projeto no
qual o trabalho se desenvolveu e os contextos específicos no qual ele
se encontrou.
116
Sobre o Centro de nguas e Desenvolvimento
de Professores (CLDP)
O Centro de Línguas e Desenvolvimento de Professores da
UNESP de Assis (CLDP) advém de um projeto vinculado à Pró-
Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC), que visa a democratização
do ensino de línguas estrangeiras, ofertando cursos de línguas
estrangeiras para as comunidades interna e externa, ou seja, Assis e
demais cidades da região. Todos os cursos são ministrados por
estudantes da graduação de Letras, em sua maioria, voluntários,
proporcionando um espaço de pesquisa e de formação docente. Após
serem selecionados através de um edital, aos alunos em formação
inicial são atribuídas turmas de acordo com os níveis de domínio
linguístico, em pares ou grupos de tutores. Esses pares/grupos se
tornam, assim, responsáveis por todas as atividades docentes da turma
atribuída dentro do curso. Atualmente são oferecidos cursos de língua
alemã, espanhola, francesa, italiana, inglesa e japonesa.
Um dos pilares do Centro de nguas e Desenvolvimento de
Professores é a promoção de um espaço que contribua para o
desenvolvimento dos professores em formação inicial com base em
sua autonomia, e, parte das obrigações do tutor junto ao projeto é,
então, determinar a abordagem metodológica a ser aplicada em suas
aulas e os materiais elaborados de forma a melhor alcançar os
objetivos linguísticos e culturais previamente estabelecidos para a
classe de sua responsabilidade. Dentro do planejamento realizado,
eles também devem determinar quais serão os recursos digitais
utilizados para a condução e otimização das práticas pedagógicas em
inglês. Tais escolhas não se dão de forma arbitrária, mas de acordo
117
com o acompanhamento pedagógico de um professor supervisor da
língua em questão e o suporte de voluntários graduados e pós-
graduados, por meio de reuniões regulares que enfocam o
compartilhamento de experiências e a oferta de oficinas de cunho
pedagógico. Dessa forma, participar do projeto CLDP como tutor é,
então, uma oportunidade de formação.
Levando em consideração que o aluno de licenciatura em
formação inicial apoia-se em sua cultura de aprender (BARCELOS,
1995) e, por conta dela, acaba por reciclar materiais desatualizados e
adotar abordagens de ensino que foram utilizadas durante seus anos
iniciais de aprendizagem, desconhecendo os avanços de pesquisas
sobre a educação e o uso de novas tecnologias para potencializar sua
prática em sala de aula, faz-se necessária uma intervenção expositiva e
reflexiva sobre tais usos e aplicações. Vetromille-Castro e Ferreira
(2016) destacam a importância de, academicamente, contemplar
questões que circundam o emprego das tecnologias na educação e
aprendizagem de nguas, apontando que este é um compromisso
social de cursos de formação docente.
Desta forma, buscamos, nesse período transicional de
pandemia, aproximar nossos tutores do curso de Inglês de novos
recursos digitais disponíveis, não apenas para que sejam utilizados
sem parcimônia ou de forma alegórica (MORAN, 1999), mas para
que suas escolhas reflitam em ações concretas, sistematizadas e
constituam-se como o resultado de um planejamento adequado.
Acima de tudo, espera-se que os objetivos estabelecidos por tutores e
aprendizes de língua estrangeira sejam atingidos, mesmo em situação
controversa excepcional. Discorreremos a esse respeito na seção
118
seguinte, ao tratarmos das oficinas que foram aplicadas em 2021 e
que nortearam o presente trabalho.
Sobre a Oferta das Oficinas
As oficinas de formação pedagógica foram uma estratégia
adotada para garantir, de modo formalizado dentro do projeto, a
troca de experiências entre tutores e ex-tutores. Em 2021, o Centro
de Línguas e Desenvolvimento de Professores da Unesp, Campus de
Assis, possuía onze anos de funcionamento e o curso de inglês,
oferecido anualmente, desde sua abertura, tinha acumulado materiais
e experiências de dezenas de tutores ao longo dos anos.
A partir de 2017, com o apoio da professora supervisora da
língua, adotamos o formato de oficinas pedagógicas para disseminar
todo o conteúdo construído, ampliar a discussão sobre formas de
aprender e ensinar inglês e fomentar a reflexão com os novos tutores.
Discussões essas que se mostraram pertinentes e fundamentais no
contexto atípico em que os cursos se encontraram durante a
pandemia.
Para 2021, as oficinas foram pensadas e formuladas em
conjunto para abarcar os principais anseios dos novos tutores, que,
até então, não traziam consigo nenhuma experiência em sala de aula.
Lembramos que estes eram alunos selecionados em 2019, no primeiro
ano de graduação em Letras, que, mesmo durante seu terceiro ano,
ainda não tinham experienciado a prática docente, fosse ela presencial
ou remota. Dessa forma, após um exaustivo planejamento, os tópicos
selecionados para as oficinas pedagógicas foram: a) Currículo, Plano
119
de Aula e Metodologias de Ensino; b) Planejamento Estratégico e Recursos
Digitais; e c) Metodologias Ativas.
Os conteúdos abordados e discussões que seguiram cada
oficina serão descritos em detalhe nas subseções que seguem.
a) Currículo, Plano de Aula e Metodologias de Ensino
Em se tratando da primeira oficina oferecida, seu objetivo foi,
fundamentalmente, integrar os novos tutores com referências
pedagógicas atuais e esquematizar a prática docente a partir dos
estudos teóricos que eles já traziam de base. O quadro de tutores
participantes desta oficina era composto, majoritariamente, por
alunos do terceiro ano de Letras, que tiveram acesso, presencialmente,
ao Curso de Letras no primeiro ano antes da pandemia (2019) e no
segundo ano (2020) de forma remota. Essa característica atípica foi
considerada na articulação da oficina.
Figura 1 – Apresentação da Oficina sobre Currículos
Fonte: Elaborado pelos autores (2022)
120
Sobre Currículo, trouxemos uma reflexão apontada por Silva
(1999) que afirma que este não é apenas o caminho, o trajeto (como
poderia ser sugerido pela tradução do latim, curriculum) mas,
também, é
(...) sempre o resultado de uma seleção: de um universo
mais amplo de conhecimentos e saberes seleciona-se aquela
parte que vai constituir, precisamente, o currículo. As
teorias do currículo, tendo decidido quais conhecimentos
devem ser selecionados, buscam justificar por que "esses
conhecimentos" e não "aqueles" devem ser selecionados.
(SILVA, 1999, p. 14).
No decorrer da oficina, foi necessário afirmar que o currículo
é, portanto, uma base de sustentação do pensar-pedagógico, a partir
do qual o professor, em sua individualidade e autonomia, desenvolve
suas aulas, o que justifica a importância de pensarmos em um
currículo comum para todos se apoiarem.
O Plano de Aula, por outro lado, refere-se à descrição
específica de tudo que o professor executa em sala de aula durante um
período determinado, tendo em vista aprimorar a sua prática
pedagógica e melhorar o aprendizado dos alunos (LIBÂNEO, 1994).
O planejamento de aula “[...] é considerado uma peça chave para o
alcance de qualquer objetivo profissional. Ele é responsável por
nortear a realização de suas atividades, bem como de suas ações, sendo
imprescindível na carreira de um professor” (PLANO, 2015, s.n.).
Ademais, durante as discussões, percebeu-se que a ideia geral entre os
tutores era de uma tarefa dispensável e trivial da formação docente.
121
A fim de combater a desinformação e ressignificar o
planejamento dentro do contexto específico do projeto, trouxemos a
teoria de Vasconcellos (2002) sobre os planos de aula e a própria
busca pela ressignificação: a necessidade e a possibilidade. O autor nos
mostra que:
Planejar, então, remete a: 1) querer mudar algo; 2)
acreditar na possibilidade de mudança da realidade; 3)
perceber a necessidade da mediação teórico-metodológica;
4) vislumbrar a possibilidade de realizar aquela
determinada ação. Para que a atividade de projetar seja
carregada de sentido, é preciso, pois, que, a partir da
disposição para realizar alguma mudança, o educador veja
o planejamento como necessário (aquilo que se impõe, que
deve ser, que não se pode dispensar) e possível (aquilo que
não é, mas poderia ser, que é realizável).
(VASCONCELLOS, 2002, p. 36)
Os cursos do Centro de Línguas não trazem um currículo pré-
concebido, mas uma base curricular sugerida, pela qual o tutor
pode basear seu planejamento, de modo que seja feita uma reflexão e
adequação para a sua realidade, tal qual destacamos na citação acima,
faz-se indispensável. A primeira oficina, então, encerrou com uma
discussão sobre formas de planejamento que seriam retomadas e
melhor abordadas no próximo encontro.
b) Planejamento Estratégico e Recursos Digitais
A segunda oficina do ciclo foi oferecida quando os tutores
completavam seu primeiro s de aulas ministradas no CLDP. Foi
122
proposta, então, uma roda de conversa inicial para abrirmos o debate
que seria estruturado na sequência. A dinâmica era simples: cada tutor
junto com sua dupla ou grupo apresentava sua turma e suas
observações iniciais, além de trazer algum anseio que os tivesse
afligido. Em sequência, os demais tutores, individualmente,
comentavam sobre como eles próprios poderiam abordar as situações
vividas pelos colegas e quais decisões tomariam. Logo, todos os
tutores puderam perceber as especificidades de cada turma e, com o
suporte do grupo, pensar em soluções possíveis para superar os
desafios. Após a discussão, foram levantadas questões referentes ao
planejamento: Os planos iniciais estavam sendo seguidos? Como eles
poderiam adaptá-los frente à nova realidade remota recém-
descoberta? Quais seriam as estratégias a seguir?
Para falar sobre planejamento estratégico, recorremos,
primariamente, à teoria de Glasser (1998) e sua pirâmide de
aprendizagem (como ilustrado na Figura 2), no qual, segundo o
autor, as pessoas são instintivamente guiadas por quatro princípios
básicos: o pertencimento, o reconhecimento, a responsabilidade e o
divertimento. O autor sugere que o aprendiz, e sobretudo o jovem
aprendiz, precisa se sentir inserido no contexto de aprendizagem e
compreender como esse novo conhecimento irá se aplicar em seu
cotidiano social.
123
Figura 2 – Apresentação da Oficina sobre Planejamento Estratégico
Fonte: Elaborado pelos autores (2022)
Considerando o fato das aulas estarem ocorrendo de forma
remota, outra preocupação abordada, na oficina, foi o quanto o
ensino a distância gerava uma lacuna entre o tutor e seus alunos: a
distância transacional. A forma como os aprendizes de língua
estrangeira e seus tutores se conectam no ensino remoto emergencial
é diferente do tipo de conexão que os mesmos teriam em situação
presencial. Moore (1997), ao apresentar o termo, afirma que
a distância transacional - distinta da distância sica ou
temporal - refere-se ao espaço psicológico ou comunicativo
que separa o instrutor do aluno na transação entre eles,
ocorrendo na situação de aprendizagem estruturada ou
planejada.
(MOORE, 1997, p. 1).
124
Moore (1997, 2002) trouxe, ainda, para nossos tutores, a
reflexão sobre como transpor, de forma efetiva, barreiras psicológicas
que possam podar a construção do conhecimento, mediante o uso de
metodologias efetivas e o planejamento estratégico, além do uso de
recursos e meios de comunicação adequados.
Vargas et al. (2016, p. 3) afirmam que “[...] o professor-tutor
deve ser o facilitador principal do processo de aprendizagem”. No
papel de facilitador, o tutor frente a sua turma deverá possuir, “[...]
além do conhecimento técnico, um elevado grau de sociabilidade e
afetividade para incentivar a coletividade e diminuir a distância
transacional (VARGAS et al., 2016, p. 3).
Com a discussão encaminhada para o uso de recursos digitais,
os tutores se mostraram familiarizados com os tópicos e muitos
empregavam ferramentas e tecnologias em suas aulas. Pacheco (2019)
pondera que, embora existam vastas maneiras de aplicar os recursos
digitais na aprendizagem, é importante notar que seu uso não apenas
tem a capacidade de aperfeiçoar a experiência do educando, mas
também pode garantir que esse processo ocorra de forma mais
completa, ao cobrir áreas que, de forma presencial, poderiam ser
negligenciadas.
Foram apresentados, então, alguns aplicativos educativos no
que diz respeito à língua inglesa e que poderiam ser utilizados, como
o Wooclap e o Playposit, mas devido à falta de tempo no curso, pouco
debatemos quanto às suas possíveis aplicações práticas.
c) Metodologias Ativas
A terceira oficina, e também última do ciclo de 2021, tratou
das metodologias ativas, da aplicação no contexto de ensino remoto
125
emergencial e do momento de transição que os aguardava nos
próximos semestres. A oficina foi realizada próxima ao final dos
cursos e do ano letivo no CLDP, coincidindo com o encerramento
das atividades dos tutores no primeiro ano de aulas, como
explicitamos anteriormente. Os tutores puderam, assim,
compartilhar, entre si, a experiência de ofertar aulas remotas e seu
aprendizado no semestre. Os comentários fomentaram a reflexão
dessa primeira prática docente e promoveram o pensamento crítico
sobre as escolhas docentes adotadas.
De forma demonstrativa, na sequência, foram expostos,
brevemente, os trabalhos de Camas e Brito (2017), Bacich e Moran
(2017) e Leffa (2020a). As autoras Camas e Brito (2017, p. 314)
explicam que “por metodologias ativas, entendem-se as diferentes
formas de desenvolver o processo do aprender que os professores
utilizam, com a intenção da formação crítica de futuros profissionais,
em várias áreas do saber”. Foi importante relembrar a nossos tutores
todo o processo de transição pelo qual eles passaram, ou seja, da
posição de alunos da graduação do Curso de Letras em uma
experiência presencial para a realidade do ensino remoto emergencial
para a posição de professores tutores de turmas on-line dentro do
Centro de Línguas. Importante, também, relembrá-los sobre o
processo inverso porvir, ao transporem suas práticas do ensino remoto
para o presencial, conforme as novas medidas sanitárias mediante a
flexibilização do período pandêmico.
126
Figura 3 – Apresentação da Oficina sobre Metodologias Ativas
Fonte: Elaborado pelos autores (2022)
A utilização de metodologias ativas no ensino, então, não
poderia se limitar apenas àquelas que visassem os ambientes virtuais,
mas, principalmente, as que integrassem o aluno de forma analógica
e digital. A professora Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, na
apresentação do livro Metodologias Ativas para uma educação
inovadora (BACICH; MORAN, 2017) pontuam que:
São muitos os métodos associados às metodologias ativas
com potencial de levar os alunos a aprendizagens por meio
da experiência impulsora do desenvolvimento da
autonomia, da aprendizagem e do protagonismo. Nesse
sentido, ao tratar de problematização, sala de aula
invertida, sala de aula compartilhada, aprendizagem por
projetos, contextualização da aprendizagem, programação,
127
ensino híbrido, design thinking, desenvolvimento do
currículo STEAM, criação de jogos, entre outras, [...]
mostra a relevância do papel do professor e sua autonomia
para criar novos métodos, respeitando os princípios da
metodologia ativa. (BACICH; MORAN, 2017, s/n).
Assim, podemos observar que, na utilização das metodologias
ativas, o foco sai do professor detentor do conhecimento e se desloca
para o aluno, proporcionando o diálogo e a problematização do
conteúdo. E, tão logo a discussão no contexto da oficina rumou para
a relevância das TDIC e dos recursos digitais, deparamo-nos com
Leffa et al. (2020) que afirmam:
o pressuposto é de que esse professor sabe mais, pode mais
e faz mais quando tem o domínio dos recursos a seu dispor,
tanto em termos operacionais, sabendo usá-los, como em
termos de resultados, sabendo direcio-los para seus
objetivos” (LEFFA et al., 2020a, p. 226).
Fica claro no trabalho dos autores que essa suposição nada
mais é que apenas a ideia antropomorfizada da humanidade sobre o
papel do bem físico (ou digital): não é o computador, ou o
smartphone, ou o recurso que torna o conhecimento válido, acessível
e pertinente, mas, sim, a atuação do tutor dentro do contexto do
projeto fazendo uso daquele recurso para atingir resultados que, de
outra forma, no atual cenário pandêmico, seriam prejudicados.
Os efeitos e resultados da realização do ciclo de palestras sobre
o pensar pedagógico podem ser melhor observados segundo a ótica
128
de uma das tutoras que atuou nesse período, como ilustra o relato a
seguir.
Sobre as aulas ministradas no
Centro de Línguas em período pandêmico
Antes de se pensar sobre o contexto específico do curso de
inglês ofertado de forma remota, em 2021, é necessário compreender
o cenário geral no qual ele se insere. De 2010, quando foi criado, até
2019, o CLDP ofereceu apenas aulas na modalidade presencial.
Entretanto, com o início e decorrer da pandemia, foi adotado o
ensino remoto emergencial para dar continuidade às suas atividades.
Com isso, o público atendido pelo projeto que antes era restrito à
região de Assis, expandiu-se para todo o território nacional. Neste
novo formato, o curso de inglês foi oferecido no ano de 2021, com
turmas de Básico 1, 2 e 3
5
ao longo do ano, com duas aulas semanais:
uma síncrona, onde os alunos e os tutores, por meio da plataforma de
videoconferência Google Meet, desenvolviam as atividades simulando
a experiência de sala de aula; e uma assíncrona, onde os tutores
promoviam atividades e conteúdos informativos que poderiam ser
acessados e desenvolvidos de forma autônoma.
Nesta sessão, serão compartilhadas experiências acerca da
turma de Língua Inglesa- Básico 3, sendo as aulas ministradas pelos
então graduandos Isabelle Castilho e um outro tutor com o qual
compartilhava a responsabilidade na condução das aulas. Assim, as
5
Os níveis Básicos 1, 2 e 3 do CLDP seriam equivalentes aos níveis A1 e A2
segundo o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (CEFR).
129
informações presentes neste estudo são apontadas sob a perspectiva
apenas da tutora.
Após a primeira oficina, ofertada em setembro, a elaboração
do curso seguiu a base p-estabelecida comentada, de maneira a
reforçar a discussão sobre o currículo exercer a função de ser mais do
que um mero caminho. Refletir sobre a visão do indivíduo e do
mundo por meio dos conteúdos comunicativos, gramaticais e
temáticos é demonstrar no que se acredita que deva ser ensinado e de
qual forma.
Sendo assim, a professora pré-serviço percebeu que estruturar
o plano de aula era indispensável, até mesmo para que se
vislumbrassem as necessidades da turma. Nesse sentido, a partir do
planejamento, identificou-se uma necessidade de ordenação das
atividades, de tal forma que a tutora, juntamente com seu colega
tutor, determinaram que trabalhariam com a metodologia de
projetos.
130
Figura 4 – Plano de ensino do Curso de Inglês Básico 3
Fonte: Elaborado pelos autores (2022)
O projeto escolhido, junto com os cursistas, foi a construção
de um pequeno podcast sobre o pós-pandemia, tema que, por fim,
abrangeu esse período como um todo. Ficou estabelecido que as aulas
assíncronas focariam na construção do roteiro e a gravação dos áudios
de um podcast, áudios de um podcast, além da leitura e produção de
textos sobre a pandemia e dos conteúdos que contemplavam o ensino
da gramática da língua inglesa.
131
As aulas síncronas destinaram-se a reflexões sobre a pandemia,
à prática oral da língua inglesa e para tirar dúvidas sobre o tema
gramatical trabalhado (no caso, Simple Future), aplicando, assim, o
método de sala de aula invertida. Contudo, montar um podcast exigiu
muito mais do que apenas a elaboração de um script e a gravação de
um áudio. Era necessário um planejamento estratégico e uma
excelente avaliação dos recursos digitais disponíveis.
Nesse momento, a segunda oficina, em outubro, ofereceu
grande suporte no preparo e apresentação de recursos tecnológicos
acessíveis para a gravação e postagem do podcast. Por meio da troca
de experiência docente, no âmbito da oficina, foi definida a
plataforma Padlet. Ademais, não bastava apenas a escolha de um
recurso, mas era, igualmente, relevante a capacitação e o
conhecimento para operar a ferramenta, mostrando aos alunos como
tal ferramenta poderia auxiliá-los a atingir os objetivos traçados. O
projeto do podcast promoveu, também, uma redução da distância
transacional que o planejamento e escolha de uma metodologia
ativa oportunizou uma nova forma de transpor as barreiras
psicológica e física impostas pela pandemia para a construção do
conhecimento.
Por fim, a última oficina contribuiu para o planejamento de
ações subsequentes previstas para o ano de 2022, refletindo sobre as
práticas de 2021 e buscando aperfeiçoá-las para o semestre
subsequente, dando continuidade às ações pedagógicas em Língua
inglesa junto à turma.
Em um processo de autoavaliação das ações realizadas, foi
possível perceber que as atividades, assim como atenção às
especificidades das turmas, devem ser consideradas durante o
132
planejamento e, também, no momento da condução. É importante
ter muita sensibilidade por parte dos professores/tutores de modo que
ajustes e remanejamentos possam ser realizados nas propostas, se
necessários. Em relação ao podcast, observou-se que a duração do
projeto articulado junto aos cursistas foi longa, gerando-lhes certo
cansaço ao final do curso, consequentemente desinteresse. Porém, o
fruto do projeto, intitulado pelos alunos de Pandemicast, propôs
reflexões sobre esse período doloroso, de forma a trazer uma ideia de
aproximação e acolhimento.
Com o apoio dos tutores, os alunos conseguiram escrever
roteiros (scripts) na língua-alvo, de forma a aplicar os conceitos
aprendidos em ambiente virtual durante as aulas de forma orgânica e
inserida no contexto proposto pela atividade.
De qualquer maneira, em meio a desafios, é possível afirmar
que os ganhos foram significativos em termos de formação docente,
tanto na condução das aulas, quanto na elaboração das atividades e
no uso significativo de recursos tecnológicos, gerando momentos
importantes de crescimento e reflexão. No que diz respeito aos
cursistas, o aprendizado na língua inglesa, em momento de pandemia
e grandes incertezas, também delineia ganhos e, especificamente, no
que se refere à elaboração do podcast, ao contexto de comunicação e à
utilização de recursos tecnológicos, de modo que proporcionou novas
possibilidades de se expressar sobre temática relevante, a pandemia,
na língua-alvo, tornando o processo significativo para eles.
Na seção seguinte, deixamos nossas considerações acerca dos
processos vivenciados na oferta dos cursos de forma paralela, as
oficinas pedagógicas e os possíveis caminhos que pesquisas futuras
possam tomar.
133
Considerações Finais
Podemos afirmar que a pandemia do Covid-19 impactou
diversas áreas da sociedade, o que inclui a educação. A partir da
experiência com esse grupo de tutores atuantes no contexto do Centro
de nguas e Desenvolvimento de Professores, em 2021, buscamos
apresentar um breve panorama acerca de ações desenvolvidas.
Compartilhamos, neste trabalho, perspectivas que englobam
a formação docente, especificamente os tutores, estudantes da
graduação em Letras e professores pré-serviço, que tiveram o início de
sua prática docente interrompida no CLDP e, dessa forma, foi
necessário que buscassem meios alternativos para que as aulas de
línguas fossem promovidas.
Com a introdução do ensino remoto emergencial e a
possibilidade de começar as atividades de tutoria dentro do projeto
Centro de Línguas, houve uma recuperação de espaços formativos
que eram tidos como seguros. Sendo assim, os graduandos que
haviam sido aprovados em processo seletivo realizado em 2019
puderam se integrar ao cenário inicial de docência mediante a oferta
de cursos de língua inglesa.
Como explicitado, faz-se muito importante que estes sejam
assistidos, pedagógica e linguisticamente, de modo que tenham
segurança para adentrar a sala de aula (física ou virtual) como
professores/tutores responsáveis pelas turmas. Sendo assim, a
realização das oficinas pedagógicas durante o ano de 2021 pôde
garantir ambientes de discussão, e aplicabilidade de teorias estudadas,
além de resgatar, nas teorias tradicionais, elementos fundamentais que
pudessem ser readaptados e estruturados de forma a se adequar às
134
(novas) metodologias ativas de ensino e novas demandas em tempos
de pandemia. Foram oportunizadas influências muito significativas
na formação docente que muitas vezes não encontram caminhos no
contexto de cursos de Letras, por exemplo.
O uso de recursos digitais se mostrou como um grande
parceiro, de forma a aproximar o tutor de língua estrangeira de seu
estudante, e, ao mesmo tempo em que lidávamos com um
distanciamento físico, conseguimos diminuir a distância transacional,
com planejamento estratégico de longo prazo. É importante
mencionar que, como visto mundialmente, ainda esbarramos em
questões de acesso à conexão e equipamentos e, também, de preparo
tecnológico. Todavia, foi possível observar, nos professores/tutores,
uma ampliação de visão para buscar possibilidades, refletir sobre
práticas, analisar demandas e lidar com desafios inimagináveis gerados
por um tempo sem precedentes.
Os tutores do CLDP, na complexidade de sua experiência,
tanto como estudantes da graduação em situação remota, quanto
como professores pré-serviço dentro do projeto, ressignificaram, com
o uso das TDIC esse sentido de presença, de estar presente e se fazer
presente como estudante/professor. A exemplo da produção do
podcast no grupo de Língua Inglesa - Básico 3, uma atividade de
criação que coordena o uso de aplicativos digitais para a gravação e
disponibilização, e as competências na língua-alvo para a elaboração
dos roteiros, vemos que, quando aplicadas com planejamento e
inseridas no contexto pedagógico, as TDIC permitem que a interação
professor/ estudante/professor aconteça de forma proveitosa, mesmo
quando fisicamente distantes.
135
Ainda em tempos desafiadores, compreendemos que estudos
mais aprofundados precisam ser conduzidos para observar o impacto
do ERE e compreender se os avanços tecnológicos vislumbrados
durante esse momento emergencial se aplicarão em um cenário pós-
pandêmico.
Referências
ARAGÃO, R.; CAJAZEIRA, R. Reflexões sobre a formação de
professores: relatos sobre o uso de tecnologias educacionais na
experiência docente. In: JESUS, D. M.; MACIEL, R. F. (Orgs.)
Olhares sobre tecnologias digitais: linguagens, ensino, formação e
prática docente. Campinas: Pontes Editores, 2015. p. 301-324.
BACICH, L.; MORAN, J. Metodologias ativas para uma Educação
inovadora: uma abordagem teórico prática. Editora Penso, 2018.
BARCELOS, A. M. F. A Cultura de aprender língua estrangeira
(inglês) de alunos formandos de letras. 1995. 140, LI f. Dissertação
(mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Estudos da Linguagem, Campinas, SP. Disponível em:
http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/269102.
Acesso em: 20 abr. 2021.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB.
9394/1996
CAMAS, N. P. V., BRITO, G. S. Metodologias ativas: uma
discussão acerca das possibilidades práticas na educação continuada
de professores do ensino superior. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v.
17, n. 52, abr./jun, 2017. p. 311-336.
136
FERDIG, R. E. et al. Teaching, Technology, and Teacher
Education during the COVID-19 Pandemic: Stories from the Field.
Association for the Advancement of Computing in Education
(AACE). 2020. Disponível em:
https://www.learntechlib.org/p/216903. Acesso em junho de 2020.
GIMENEZ, T. et al. Policies for English language teacher education
in Brazil today: Preliminary remarks. PROFILE Issues in Teachers'
Professional Development, v. 18, n. 1, 2016. p. 219-234.
GLASSER, W. Choice theory: a new psychology of personal
freedom. 1998.
LEFFA, V. J. et al. Humanismo, pós-humanismo e pós-
humanidade: como chegamos à linguística aplicada das coisas. In:
LEFFA, Vilson J. FIALHO, Vanessa Ribas. BEVILÁQUA, André
Firpo. COSTA, Alan Ricardo. (Orgs.) Tecnologias e ensino de
línguas: uma década de Pesquisa em Linguística Aplicada. Santa
Cruz do Sul: EDUNISC, 2020a. p. 225-251.
LEFFA, V. J. et al. Tecnologias e ensino de nguas: uma década de
pesquisa em linguística aplicada. 1. ed., Santa Cruz do Sul:
EDUNISC, 2020b.
LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo, Cortez, 1994.
MENDES, A. A. P. et al. (Org.). Educação e Tecnologias: Desafios
dos Cenários de Aprendizagem 1.ed. Curitiba: Bagai, 2020.
MENDES, A, R,; FINARDI, K. R. Linguistic Education Under
Revision: Globalization and EFL Teacher Education in Brazil.
Education and Linguistics Research, ano 4, v. 1, 2018.
137
MORAN, J. M. Internet no ensino. Comunicação & Educação, n.
14, 1999. p. 17-26. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/36839. Acesso
em: 02 ago. 2022.
MOORE, M. G. Theory of transactional distance. In: D. Keegan
(ed.), Theoretical principles of distance education. London and
New York: Routledge, p. 22-39, 1997.
MOORE, M. G. Teoria da Distância Transacional. Revista
Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância. São Paulo, 2002.
PACHECO, C. A. Aluno tecnológico: o perfil do aluno e sua
relação com o professor na era digital. Dissertação (Mestrado em
Educação) Universidade Federal de GoiásRegional Jataí, 2019.
PLANO de aula para professores. Escola Educação, 2015.
Disponível em: https://escolaeducacao.com.br/plano-de-aula/.
Acesso em: 15 ago. 2022.
SALOMÃO, A. C. B. Vizinhança global ou proximidade imposta?
Impactos da comunicação intercultural mediada por computador
sobre o papel da cultura no ensino de língua inglesa. D.E.L.T.A., v.
27, n. 2, São Paulo, 2011, p. 235-256. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
44502011000200003. Acesso em: 03 ago. 2022.
SILVA, T. T. Documentos de Identidade: uma introdução às
teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
138
VASCONCELLOS, C. S. Planejamento: projeto de ensino e
aprendizagem e projeto político-pedagógico. São Paulo: Libertad,
2002.
VARGAS, L. et al. A interatividade e a distância transacional na
educação a distância: um estudo preliminar. SIED:EnPED.
Pelotas/RS, 2016.
VETROMILLE-CASTRO, R.; FERREIRA, K. S. Redes sociais na
formação de professores de línguas. In: ARAÚJO, Júlio; LEFFA,
Vilson J. Redes Sociais e ensino de línguas: o que temos de
aprender. São Paulo: Parábola Editorial.
139
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p139-158
FERRAMENTAS DIGITAIS NO ENSINO: DA TRAJETÓRIA
DA TECNOLOGIA EDUCACIONAL NO BRASIL À
PRÁTICA EM SALA DE AULA
Maria Eduarda TOGNETTE
1
Introdução
Em meio à pandemia, o uso dos recursos audiovisuais na
educação se potencializou para o acompanhamento de atividades
remotas. O reajuste das aulas por meio de aparelhos móveis, como o
celular, o computador, a televisão e o rádio foram essenciais para que
a Educação continuasse oferecendo formação em todos os níveis de
ensino, tendo em vista que uma das medidas sanitárias para a
contenção da disseminação do novo coronavírus foi o distanciamento
social.
Nesse contexto, é pertinente discutir sobre a tecnologia
educacional no Brasil e os recursos audiovisuais, uma vez que se
articulam com a disseminação de objetos, máquinas, além de
instrumentos vinculados ao ensino e aprendizagem com vistas à
construção do conhecimento. Nesse sentido, tais ferramentas
tornam-se imprescindíveis para a educação em tempos hodiernos.
1
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de
Marília/SP / Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura e
Instituições Educacionais (GEPCIE) / e-mail: eduarda.tognette@unesp.br
140
Quando se menciona a história desses recursos e a sua
trajetória, é válido destacar sua difusão no final dos anos de 1950 e
principalmente nos anos de 1960 e 1970, devido ao sistema
capitalista de produção, que se estabelecia nessa época no país, bem
como ao discurso tecnicista (SOUZA; OLIVEIRA, 2018). Como
estratégia para uma educação de qualidade, os recursos audiovisuais
foram selecionados para um processo mais efetivo, pois poderiam
atingir um maior número de pessoas, em um curto espaço de tempo
e com menor custo. Isto é, tais instrumentos foram apontados como
a salvação para o ensino, em especial, para a população rural, onde se
concentrava grande número de analfabetos.
A tecnologia educacional viabiliza o discurso pedagógico, em
que os mais novos recursos introduzidos pela sociedade adquirem um
papel fundamental no processo educativo, como o cinema, o rádio,
os aparelhos de projeção, os retroprojetores, a televisão e outros.
Apesar dessa difusão do ensino remoto emergencial (ERE) e
do uso de novas tecnologias em sala, ainda é necesrio ensinar os
educandos a acessarem o conhecimento e não apenas as informações,
ou seja, precisamos formá-los para além da superficialidade.
Para promover essa discussão, o trabalho se amparou em uma
revisão bibliográfica referente ao tema, bem como exemplos da
prática vivenciada por mim, enquanto educadora nesse período
pandêmico.
Desta forma, a discussão dividiu-se em três momentos: no
item 1, A trajetória da tecnologia educacional no Brasil, em que trago
um breve histórico sobre como a tecnologia foi tendo visibilidade no
meio educacional; no item 2, Aprendizagem significativa por meio de
roteiros de estudos, discuto sobre algumas pesquisas que comprovaram
141
a eficácia de roteiros de estudos aliado às tecnologias para uma
aprendizagem significativa para os estudantes; no item 3, O trabalho
por meio de ferramentas digitais: relatos de vivência, compartilho duas
experiências vivenciadas por mim em sala, uma na Educação Infantil
e outra no segundo ano do Ensino Fundamental, evidenciando a
possibilidade do trabalho com as ferramentas digitais para
aprendizagem e desenvolvimento dos educandos.
A trajetória da tecnologia educacional no Brasil
Como citado anteriormente, neste item, a discussão se dará
em torno de um breve histórico da tecnologia educacional brasileira.
Em 1973, Nélio Parra investigou quais contribuições os
recursos tecnológicos poderiam trazer para o ensino e propôs uma
teoria baseada na percepção da imagem mental, amparada na
psicologia genética de Jean Piaget, para explicar positivamente o uso
desses meios.
Nélio Parra foi professor adjunto do Departamento de
Metodologia do Ensino e Educação Comparada e coordenador do
curso de Didática da Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo. A partir da busca pelos pressupostos teóricos e metodológicos
da tecnologia educacional e as suas possibilidades de aplicação no
contexto brasileiro, ele passou a defender que os recursos audiovisuais
no processo de aprendizagem podem realizar e avaliar a totalidade do
processo educativo de modo que o pesquisador leva suas ideias para o
ensino superior.
O estudo de lio Parra considera que ao fazer o uso de
objetos tecnológicos dentro da sala de aula é importante observar os
142
processos comportamentais e a participação do estudante, sendo a
imagem mental uma construção interior pela qual as ões da criança
perpassam, tornando-se fundamentais para a aquisição do
conhecimento. Os recursos audiovisuais bem utilizados, planejados e
produzidos podem despertar a atenção dos estudantes, mantendo o
seu interesse por mais tempo de forma superior à mera exposição oral
(PARRA; PARRA, 1985).
As ideias e livros publicados por esse autor foram considerados
inovadores nas décadas de sessenta e setenta. Por meio dos recursos
audiovisuais, Parra e Parra (1985) estabeleceram um vínculo entre a
tecnologia educacional e a renovação didática, promovendo um novo
olhar para o estudante, uma vez que o uso desses recursos passa a ser
um desafio e uma fonte de informação, que irá possibilitar a análise,
investigação e comparação da mensagem. Assim, a tecnologia
educacional assume um papel mais amplo, em que propõe otimizar
os sistemas de formação e atingir o sucesso educacional.
De acordo com Souza e Oliveira (2018), em 1960, a educação
foi alvo das estratégias criadas pelo crescimento industrial e
econômico no Brasil. De forma eficiente, deixa para trás o ensino
tradicional e passa a destacar novos meios que tornaram o processo
educativo mais efetivo, contribuindo com as tarefas dos professores e
a aprendizagem dos estudantes.
Pode-se dizer que a tecnologia educacional se propagou no
Brasil nas décadas de 1960 e 1970, num período dominado pela
ideologia do desenvolvimento nacional, construindo-se em um
“movimento” pautado na cientificidade, eficiência e inovação, com
ampla repercussão na educação brasileira.
143
Assim, Parra (1977) traz em sua obra algumas ideias de
Brunswic para falar sobre a tecnologia da educação. O autor Brunswic
(apud PARRA, 1977) destaca que usar esse recurso
2
significa
conceber um modo sistemático de realizar e avaliar a totalidade do
processo de aprendizagem. O autor explica a necessidade da atividade
por parte do estudante como elemento indispensável para o
desenvolvimento mental, de modo que é fundamental a participação
ativa do sujeito seja qual for o recurso utilizado em aula. Os
deslocamentos do olhar, suas transposições e as comparações que faz
dos diversos elementos apresentados poderão garantir a formação da
imagem mental, ou seja, é por meio da ação que o indivíduo poderá
apreender o significado das coisas.
Algumas estratégias e procedimentos metodológicos a
respeito dos recursos audiovisuais são sugeridos pelo autor, como
questões bem formuladas, que mobilizem esquemas operatórios dos
estudantes, problemas que os levem a classificar, a representar, a
transpor, a analisar, a sintetizar, a discutir em grupo. De acordo com
o autor, esses são exemplos que os desafiará em busca de uma solução
e fará com que eles atuem embasados nesta informação.
Parra (1977) afirma que os instrumentos tecnológicos surgem
para responder aos desafios do atual ensino. Assim, partindo da ideia
de que a aprendizagem depende da atividade do estudante, os recursos
tecnológicos possibilitam a criação e permitem a ele desenvolver sua
aprendizagem em seu próprio ritmo e estilo, uma vez que a escola
precisa tornar o indivíduo autônomo, capaz de pensar por si próprio
2
Os recursos audiovisuais são entendidos como os meios gráficos, fotográficos,
eletrônicos ou mecânicos, que visam oferecer opções para que se possa atingir com
sucesso os objetivos educacionais.
144
e de aplicar métodos adequados de pesquisa, análise e crítica de novos
conhecimentos.
Desse modo, em 1971, na Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo, foi realizado um estudo por parte de
alguns docentes, inclusive o professor Nélio Parra. Havia 198
estudantes matriculados no curso de Didática para Licenciatura e foi
desenvolvida uma cnica que se denominou Laboratório de
Aprendizagem. De acordo com os seus pressupostos, o laboratório
procurava colocar o estudante em contato direto com os conteúdos,
por meio de uma variedade de recursos e materiais, fazendo com que
ele buscasse soluções para os problemas.
O laboratório dispunha de uma variedade de recursos
audiovisuais, como o flanelógrafo, quadros didáticos, diapositivos,
filmes, gravações, televisão e computadores. Era permitido ao
estudante que trabalhasse de acordo com o seu ritmo, sem pressão de
horários e conforme os seus interesses específicos.
Outro ponto importante do laboratório foi o “roteiro” ou
“guia de estudos”, em que os problemas a serem solucionados ou os
trabalhos a serem feitos precisavam ser determinados e planejados
pelo estudante, para que ele trabalhasse com a mínima interferência
do professor, sendo a sua participação a mais discreta possível com a
função de incentivar os estudantes. Essa técnica envolvia a assimilação
de conteúdos e a autonomia.
Os resultados dos testes aplicados não mostraram diferenças
das médias dos estudantes entre uma “aula formal” e uma aula no
laboratório, que de acordo com os objetivos propostos, alguns pontos
ainda precisavam de reajustes. Porém, o autor concluiu que a
investigação realizada no Laboratório de Aprendizagem permitiu uma
145
maior satisfação e entusiasmo por parte dos estudantes, sendo eles
próprios, os agentes da aprendizagem.
Por conseguinte, um dos objetivos da educação é o
desenvolvimento do estudante e os recursos tecnológicos podem
auxiliar nesse processo, permitindo ao professor assumir o papel de
educador, além de criar ambientes diferentes de aprendizagem.
Aprendizagem significativa por meio de roteiros de estudos
Para analisar ainda mais a relação entre tecnologia e
conhecimento, é importante ressaltar as ideias de Morais et al. (2018)
que destacam o ritmo acelerado das novidades tecnológicas pela qual
a sociedade é impactada, em que o indivíduo tem acesso a muita
informação, mas não ao conhecimento, em que esse precisa ser
construído a partir das expectativas de aprendizagem, isto é, os
educadores precisam desenvolver interações pedagógicas para que os
estudantes relacionem as informações e construam o conhecimento.
Os estudantes aprendem o que vivenciam, ou seja, é
necessário atualizar seus esquemas de conhecimento, compará-los
com o novo, identificar semelhanças e diferenças, para que assim
consigam se deparar com uma aprendizagem significativa, ou seja,
uma aprendizagem que possui sentido e significado diante de uma
vasta quantidade de informações.
Os educadores são capazes de gerar o conhecimento e
desenvolver sua capacidade de liderar a aprendizagem para que
possibilitem a construção da autonomia de cada estudante. Essa
autonomia reflete a capacidade que o indivíduo tem de tomar
146
decisões, a liberdade de escolha, o poder avaliar as situações e escolher
entre elas.
Dessa forma, as autoras compartilham uma proposta
pedagógica referente à EMEF Presidente Campos Salles, em que a
metodologia de ensino é adaptada à realidade local da escola. Assim,
citam os roteiros de estudo junto ao uso qualificado da tecnologia
para uma aprendizagem significativa.
Por meio das colocações das autoras percebe-se que na escola
os estudantes ficam motivados quando aprendem por meio das
tecnologias. Os problemas de comportamento diminuem e a atenção
aumenta. Porém, a tecnologia precisa ser empregada de modo
contextualizado, de forma que a proposta pedagógica venha sempre
em primeiro lugar e que se tenha o uso regulado, para que ela consiga
ser uma grande aliada no processo de ensino e aprendizagem.
Os educadores e os estudantes tornam-se autores desse
processo, em que promovem novas formas de compreender e garantir
o acesso à informação de modo abrangente e igualitário. Para
desenvolver a metodologia ativa, é fundamental propiciar aos
educadores recursos e práticas didáticas que possibilitem o “ensinar”
diante de diferentes estudantes, cenários e ambientes.
Dessa forma, o roteiro de estudo auxilia os estudantes para
um aprendizado significativo e que leva ao conhecimento, uma vez
que coloca em prática o ensino de forma lógica e contextualizada. Por
exemplo, os estudantes explicitam o que sabem sobre o tema,
desenvolvem interações pedagógicas para conseguirem relacionar as
informações pesquisadas e a partir disso construírem o conhecimento.
Nesse contexto, também é válido destacar os conceitos
ressaltados por Salíes e Shepherd (2018) a respeito dos letramentos
147
digitais em ambientes de aprendizagem que desafiam as práticas
tradicionais de ensino.
As autoras mencionam que a noção de letramento digital
pode ser entendida pelas ações mediadas por artefatos específicos,
como textos escritos, computadores e celulares. Implica em
competências relacionadas com a leitura e a escrita, que incluem o
entendimento crítico de tecnologias, a habilidade de selecionar, filtrar
e avaliar as informações, o que se designa por um somatório de
conhecimentos sobre as ferramentas digitais.
Compreender as demandas dos letramentos digitais não é um
processo fácil, pois exige muitos desafios, como saber procurar
informações, saber criar textos, saber usar as plataformas e
ferramentas digitais. Além disso, é necessário pensar nas condições
sociais em que se inserem os letramentos digitais, em relação às
práticas e às habilidades de construir o conhecimento.
Os estudantes precisam desenvolver entendimentos sobre o
problema, usar suas competências, conhecimentos e atitudes, para
que fora do ambiente escolar eles possam utilizar suas habilidades para
processar as informações e ferramentas digitais de forma autônoma,
multifuncional e reflexiva. Afinal, o letramento digital é um aspecto
do desenvolvimento para o decorrer da vida.
As tecnologias possibilitam aos estudantes uma aprendizagem
de modo integrado, que introduz a transformação do conteúdo,
permitindo a interação de diferentes espaços e horários. A
aprendizagem móvel inclui a contextualização, a espontaneidade, as
novas formas de se fazer arte e de acessá-la.
Portanto, frente às ideias apresentadas, é possível refletir que
desde a década de 1970, Nélio Parra enfatiza o uso dos recursos
148
tecnológicos como instrumentos auxiliares para a aprendizagem,
possibilitando a análise, o pensamento crítico e a autonomia do
estudante. Além disso, um estudo experimental comprova que por
meio dos recursos tecnológicos é possível identificar no estudante o
entusiasmo, a satisfação, a mobilização e o interesse, pelo fato dele
próprio ser o agente da aprendizagem.
É fundamental considerar os saberes prévios dos estudantes,
para que junto das informações que os educadores buscam em livros
e sites, eles possibilitem o acesso à informação de qualidade e a uma
aprendizagem que tenha sentido e significado ao estudante,
alcançando assim, o conhecimento. Quando se aprende por meio
desses recursos, as autoras Morais et al. (2018) relatam o
comprometimento, a atenção, melhoras no comportamento e um
aumento na aprendizagem. Elas ainda ressaltam que a tecnologia
pode ser uma grande aliada do processo de ensino e aprendizagem se
for empregada de forma reflexiva.
Nesse sentido, é válido usar a tecnologia durante as aulas, mas
é preciso saber usá-la, pois ao ter o contato com a ferramenta, o
estudante precisa saber explorá-la, saber tirar benefícios em relação ao
seu estudo. Por esse motivo, é importante a noção do letramento
digital e dos caminhos a serem seguidos.
O trabalho por meio de ferramentas digitais: relatos de vivência
Nos anos de 2020 e 2021, em meio à pandemia do Covid-19,
foi realizado o acompanhamento de atividades remotas, o que levou
à reflexão sobre os novos recursos didáticos utilizados nesse modelo
de ensino. Assim, durante o último ano, tivemos a oportunidade de
149
acompanhar alguns estudantes da Educação Infantil e do Ensino
Fundamental I, que recebiam auxílio referente às aulas on-line e às
tarefas de casa. O ensino remoto exigiu adaptações tanto por parte
das escolas, dos professores, quanto das crianças e jovens.
Dessa forma, durante o ensino remoto em 2020 foi proposta
uma atividade para uma turma de segundo ano do Ensino
Fundamental (20 estudantes). O objetivo dessa atividade era mapear
o conhecimento do estudante acerca de um gênero textual tendo as
ferramentas digitais como instrumentos auxiliares nesse processo,
como demonstra a tabela abaixo:
Tabela 1 – Plano de Aula 1
PLANO
DE
AULA
1
anoFundamental I
Língua Portuguesa
Contos acumulativos e de repetição.
Duas aulas de 50 minutos.
Formação do leitor literário. Análise linguística e
semiótica.
150
Objetivos e
habilidades
(EF02LP26) Ler e compreender, com certa autonomia,
textos literários, de gêneros variados, desenvolvendo o gosto
pela leitura.
(EF02LP01) Utilizar, ao produzir o texto, grafia correta de
palavras conhecidas ou com estruturas silábicas
dominadas, letras maiúsculas em início de frases e em
substantivos próprios, segmentação entre as palavras, ponto
final, ponto de interrogação e ponto de exclamação.
(EF12LP03) Copiar textos breves, mantendo suas
características e voltando para o texto sempre que tiver
dúvidas sobre sua distribuição gráfica, espaçamento entre as
palavras, escrita das palavras e pontuação.
(EF02LP07) Escrever palavras, frases, textos curtos nas
formas impressa e cursiva.
Materiais e
recursos
pedagógicos
Lousa, giz, caderno, lápis e computadores.
Organização da
sala
A sala foi dividida em duplas ou grupos para a realização dos
exercícios e reservou a sala de informática para o momento
do jogo.
Avaliação
(opcional)
Durante o decorrer das aulas foi analisado o desempenho de
cada estudante, como a execução dos exercícios.
Fonte: Organizado pela autora (2022)
Os contos acumulativos são histórias encadeadas. Esse gênero
nasce da tradição oral e de coletâneas, mas sua estrutura se diferencia,
pois é um conto popular construído por frases, ações ou gestos que se
articulam em seriação e é caracterizado pela repetição dos elementos
151
que vão sendo acrescentados à narrativa e são repetidos na mesma
ordem.
Desse modo, ao introduzir o tema com os estudantes, foi
necessário explicar que um conto acumulativo se define pela repetição
dos elementos durante a história. Nesse sentido, questionamos se
alguém havia escutado sobre esse gênero e qual conto conhecia,
para que pudessem socializar entre a sala as respostas e ideias
apresentadas. Eles ainda não conheciam esse tipo de texto.
Em seguida realizamos a leitura do conto acumulativo “O
caso do Bolinho
3
”, de Tatiana Belinky, e os personagens foram
representados por meio de objetos com diferentes cores de canetas,
copos, canecas, entre outros.
Após a leitura foi entregue aos estudantes o texto escrito, para
que pudessem realizar a leitura individualmente. Além disso, algumas
questões de interpretação foram solicitadas, conforme apresentadas
na tabela abaixo:
Tabela 2 – Questões elaboradas aos estudantes
QUESTÕES
1. Em dupla, respondam:
a) Como era o Bolinho?
b) Por que o Bolinho rolou da janela?
c) Como o Bolinho chegou até o quintal?
d) O que a Raposa disse para enganar o Bolinho e
comê-lo?
3
Disponível em: https://wordwall.net/pt-br/community/o-caso-do-bolinho-
ca%C3%A7a-palavras. Acesso em: 25 jul. 2022.
152
2. Enumere os trechos de acordo com os acontecimentos na
história.
- Bolinho, Bolinho, pra onde vai rolando?perguntou a
Raposa.
- Pela estrada afora, como você está vendo.
- Bolinho, Bolinho, cante-me uma cançãopediu a
Raposa.
- Bolinho, Bolinho, eu vou papar vocêdisse o Lobo.
- Não me pape não, seu Lobo, deixe eu cantar uma canção
pra você.
- Bolinho, Bolinho, eu vou papar vocêdisse a Lebre.
- Não me pape não, dona Lebredisse o Bolinho.
- Deixe eu cantar uma canção pra você.
3. Que tal produzir um novo fim para o conto? Escreva junto de um
colega e fiquem atentos à escrita correta das palavras e ao uso
adequado da pontuação.
Fonte: Organizado pela autora (2022)
Após a realização e correção desses exercícios junto dos
estudantes, foi lançado um desafio, que pudessem fazer em grupos:
Desafio: quem consegue recitar o trecho da música que o Bolinho
canta para os animais? Lembrem-se da ordem correta em que os
personagens vão aparecendo na história”. Assim, por meio desse tema
também foram trabalhadas a gramática e a prática da escrita, sendo
propostos outros exercícios, conforme apresentados na tabela abaixo:
153
Tabela 3 – Proposta de exercícios elaborados aos estudantes
EXERCÍCIOS
Para realizar as atividades a seguir utilize o conto acumulativo e de
repetição “O caso do Bolinho”.
1. Procure no texto trabalhado os sinais de pontuação que foram
utilizados. Faça uma lista com os nomes dos sinais de pontuação e
explique qual a sua função.
2. Por que esse conto é um conto acumulativo e de repetição?
3. Qual a frase que todos os animais utilizavam para avisar o Bolinho
que iriam co-lo? Não esqueçam da pontuação correta.
4. A música que o Bolinho cantava era bem legal. E a letra dela ia
aumentando cada vez que um animal diferente aparecia. Reescreva
no caderno a última versão da música, quando todos os animais
apareceram, utilizando a letra cursiva.
5. O tulo da história é: “O caso do Bolinho”. A palavra “caso
poderia ser substituída por:
(A) problema
(B) história
(C) brincadeira
(D) piada
6. Na frase: “Antes que a Lebre pudesse piscar um olho”, a expressão
em destaque se refere:
(A) à dificuldade que a lebre tinha para enxergar.
(B) à localização em que o bolinho se encontrava.
(C) ao tempo que a Lebre levou para decidir comer o Bolinho.
(D) à fome que a Lebre estava.
Fonte: Organizado pela autora (2022)
154
Portanto, para concluir essa história foram propostos três
jogos interativos: “ache o par”
4
; “labirinto”
5
e “caça-palavras
6
, que
podem ser encontrados na internet e se tornaram interessantes para
nós por trazerem personagens da história explorada. Todos foram
jogados em duplas, sendo que esse momento ocorreu na sala de
informática, para que os estudantes interagissem e conciliassem a
aprendizagem com a tecnologia. Com essas propostas, foi possível
trabalhar memória, concentração, atenção, leitura e interpretação.
Figura 1 - Telas dos jogos
on-line
propostos aos estudantes
Fonte: Organizado pela autora (2022)
Uma outra proposta de atividade foi desenvolvida
especificamente com uma aluna da Educação Infantil, de 3 anos, que
também usou os recursos tecnológicos como meios auxiliares.
4
O objetivo do jogo é relacionar o nome do personagem com a sua imagem.
5
O aluno precisa traçar o caminho correto e desviar dos obstáculos.
6
É preciso encontrar os nomes dos personagens da história no quadro.
155
Tabela 4 – Plano de Aula 2
PLANO
DE
AULA
2
rie / ano
Creche - Maternal I
Área do
conhecimento
Matemática
Conteúdo
Formas geométricas.
Tempo de
realização
Uma aula de 30 minutos.
Objetos de
conhecimento
Espaços, tempos, quantidades, relações e
transformações.
Objetivos e
habilidades
(EI02ET01) Explorar e descrever semelhanças e
diferenças entre as características e propriedades dos
objetos (textura, massa, tamanho).
(EI02ET05) Classificar objetos, considerando
determinado atributo (tamanho, peso, cor, forma,
etc.).
Materiais e
recursos
pedagógicos
Computador.
Avaliação
(opcional)
Durante o decorrer da aula foi observada a interação e
o interesse da aluna com a atividade.
Fonte: Organizado pela autora (2022)
A aula foi iniciada com o deo “Formas geométricas para
crianças”, que mostrava algumas formas básicas como o círculo, o
triângulo, o quadrado, o retângulo, entre outros exemplos que se
associavam com objetos do cotidiano.
156
Após assistir ao vídeo, algumas questões foram levantadas a
respeito das formas geométricas vistas e a sua relação com os objetos
presentes na sala, inclusive sobre suas semelhanças e diferenças.
Questionamos se ela conseguia listar algum brinquedo do qual
gostava muito e que poderia ser parecido com as formas trabalhadas.
Ela conseguiu relacionar o objeto.
Assim, na última etapa, foi proposta uma interação através do
software Paint, em que se criaram algumas das formas geométricas
vistas anteriormente e a aluna tinha que identificar essas formas, além
de escolher uma cor para pintá-las.
Figura 2 - Atividade sobre as formas geométricas
Fonte: Organizado pela autora (2022)
157
Considerações Finais
Diante dos assuntos levantados, neste capítulo, é importante
destacar a ideia do autor Nélio Parra, que mostra uma metodologia
dos recursos audiovisuais frente aos princípios de uma didática
renovada, em que o estudante precisa utilizar técnicas ativas, que o
faça analisar, representar e localizar os estímulos apresentados. Isto é,
o estudante precisa contextualizar e fazer parte do processo de ensino
e aprendizagem.
Nesse sentido, foi possível realizar algumas atividades que
ressaltam a adequação do plano de aula conforme o conhecimento e
a realidade dos estudantes e da comunidade em que se atuou. No
decorrer das aulas, foi observado o interesse por parte desses
estudantes, o entusiasmo com a atividade que envolvia o computador
e a sua autonomia ao executar a tarefa.
Com isto, é válido destacar o sucesso que se obteve com as
atividades realizadas por meio do uso da tecnologia, em que os
estudantes conseguiram alcançar o conhecimento e desfrutaram das
aulas com satisfação. Além do mais, esse estudo demonstra que é
possível executar tarefas com ferramentas digitais simples e em
qualquer etapa do ensino, inclusive na Educação Infantil.
Referências
BELINKY, T. O caso do Bolinho. Disponível em:
https://wordwall.net/pt-br/community/o-caso-do-bolinho-
ca%C3%A7a-palavras. Acesso em: 27 jul. 2022.
158
MORAIS, S. P. et al. Metodologias ativas de aprendizagem:
elaboração de roteiros de estudos em "salas sem paredes". In:
BACICH, Lilian; MORAN, José. Metodologias ativas para uma
educação inovadora. Porto Alegre: Penso Editora Ltda, 2018, p.
395-424.
PARRA, N. Metodologia dos recursos audiovisuais: estudo
fundamentado na psicologia genética de Jean Piaget. São Paulo,
Saraiva, 1977 reimpressão.
PARRA, N; PARRA, I. C. C. Técnicas Audiovisuais de Educação.
Edição. São Paulo: Pioneira, 1985.
SALÍES, T. G.; SHEPHERD, T. G. Letramentos digitais: diálogo
com práticas sociais em tempos de acessibilidade. In: MARQUES-
SCHAFER, Gabriela; ROZENFELD, Cibele Cecilio de Faria.
Ensino de línguas e tecnologias móveis: políticas públicas,
conceitos, pesquisas e práticas em foco. São Paulo: Edições
Hipótese, 2018, p. 27-51.
Smile and Learn. Formas geométricas para crianças - Vocabulário
para Educação Infantil, 2019. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=1JoBjaLewf0&t=19s. Acesso
em: 28 jul. 2022.
SOUZA, R. F.; OLIVEIRA, R. B. A Tecnologia Educacional na
investigação histórica da cultura material escolar. In: SILVA, Vera
Lucia Gaspar da; SOUZA, Gizele de; CASTRO, César Augusto.
(Org.). Cultura material escolar em perspectiva histórica: escritas e
possibilidades. Vitória: EDUFES, 1 ed. v. 1, 2018, p. 358-390.
159
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p159-182
GLOBALIZAÇÃO, TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO:
DO APARELHAMENTO IDEOLÓGICO ÀS
POSSIBILIDADES DE USO
Filipe BELLINASO
1
Introdução
O presente artigo é resultado do trabalho final da disciplina
Educação e Tecnologia, ministrada pela Prof.ª Dr.ª Daniela Nogueira
de Moraes Garcia, para o Programa de Pós-Graduação em Educação
da Unesp Campus de Marília. Ao longo desta disciplina, foi
realizado um conjunto de reflexões sobre a utilização do instrumental
tecnológico dentro do processo educativo, sobretudo, no que se diz
respeito aos impactos causados pela pandemia do Covid-19.
Neste sentido, este trabalho busca realizar uma reflexão
prático-teórica que tem como base algumas das experiências
vivenciadas por mim ao longo deste período. Somado a isso, surgem
diferentes influências do meu processo formativo, que vão desde
minha formação em Ciências Sociais, minha pós-graduação em
Educação e a minha pesquisa sobre trabalho docente e educação a
distância (EaD).
1
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de
Marília/SP / e-mail: filipe.bellinaso@unesp.br
160
Para que se delimite o objetivo principal deste estudo, faz-se
necessária a descrição de um breve relato. Ao longo dos dois primeiros
anos da pandemia do Covid-19 (2020-2021), ministrava aulas de
História e Geografia na Rede Pública, do Estado de São Paulo, no
município de Alvinlândia, cidade de três mil habitantes, localizada no
oeste do Estado, entre as cidades de Marília e Ourinhos.
Quando foi determinado que deveríamos realizar aulas
virtuais, procurei compreender de que forma seria mais interessante
realizá-las. Amparando-me em alguns conhecimentos prévios que
possuía sobre utilização de softwares, resolvi utilizar o Open
Broadcaster Software Studio (OBS Studio)
2
. Basicamente o que
desejava, era fazer com que na tela do estudante aparecesse de forma
predominante os slides da aula para que ele pudesse acompanhar, e
em tamanho menor, a câmera com a minha imagem, para que ele
pudesse me observar.
Assim que consegui aplicar o que desejava, passei a utilizar em
minhas aulas e, na primeira semana, recebi dois relatos de estudantes
que me chamaram atenção. O primeiro deles foi de um estudante do
nono ano, dizendo que os recursos utilizados por mim tornavam a
aula mais dinâmica e próxima daquilo que era comumente
visualizado por eles em canais do Youtube. O estudante estava
claramente animado e motivado a estudar, simplesmente, pelo fato
de utilizar o OBS Studio. Alguns dias depois, recebi outro relato, agora
de uma aluna do sétimo ano, dizendo que não compreendia por que
ela conseguia assistir à aula de todos os professores, mas a minha aula
era a única que ficava congelando a imagem. A aluna não estava
2
Programa que proporciona diferentes ferramentas para a realização de streamings.
161
conseguindo assistir a minha aula, pois eu estava utilizando o OBS
Studio, que tornava a transmissão mais pesada.
Não demorou muito para notar que a mesma tecnologia que
proporcionava maior engajamento para determinado estudante, era
responsável também por inviabilizar o processo de ensino e
aprendizagem de outra aluna. Em outras palavras, a tecnologia estava
realçando as desigualdades, fazendo com que aqueles que possuíam
maior acesso às tecnologias tivessem condições de assistir às aulas, e
os que tinham menor ou nenhum acesso, não conseguissem.
Poderia citar outros exemplos, como a baixíssima adesão dos
estudantes às aulas on-line ou até mesmo, a existência de estudantes
da zona rural que nem sequer tinham acesso à internet, mas escolhi o
relato acima por exprimir melhor a preocupação que me surgiu
naquele momento. Dessa forma, a tecnologia no espaço educacional
pode servir tanto como um instrumento pedagógico que dialoga com
o mundo de muitos estudantes, como também pode ser utilizada
propositalmente, ou, na maioria dos casos, involuntariamentepara
a intensificação das desigualdades sociais.
Mediante a isso, este trabalho tem como objetivo a realização
de reflexões sobre a utilização de tecnologias na educação, buscando
evidenciar alguns mitos e algumas possibilidades, e com isso, debater
de forma mais ampla, a questão que se decorreu daquele relato:
Estamos utilizando a tecnologia como meio transformador ou como
meio de acentuação das desigualdades?
162
Milton Santos e a Globalização
As contribuições do geógrafo brasileiro Milton Santos sobre a
questão da globalização fornecem elementos teóricos extremamente
ricos para a temática deste trabalho. Em sua obra, Santos (2003)
mostra a possibilidade de olharmos para o fenômeno da globalização
sobre três perspectivas diferentes: como fábula, como perversidade e
como possibilidade.
Para o autor, a globalização pode ser vista como uma fábula,
que em outras palavras, consiste na forma como ela é ideologicamente
difundida e defendida, enquanto fenômeno dos adventos tecnoló-
gicos permite uma maior integração entre as diferentes nações,
viabilizando uma maior interação entre estes.
Desse modo, a globalização como um processo evolutivo do
modo de produção capitalista proporciona maiores condições de
acumulação de capital, uma vez que as fronteiras espaciais e temporais
passam a ser rompidas. Nas palavras do autor:
Sem as fábulas e mitos, este período histórico não existiria
como é. Uma dessas fábulas é a tão repetida ideia de aldeia
global. O fato de que a comunicação se tornou possível à
escala do planeta, deixando saber instantaneamente o que
se passa em qualquer lugar [...]. Um outro mito é do espaço
e do tempo contraídos, graças, outra vez aos prodígios da
velocidade [...]. Fala-se, também, de uma humanidade
desterritorializada, e essa ideia dever-se-ia outra, de uma
cidadania universal. (SANTOS, 2003, p. 41-42).
163
Dando sequência, Santos (2003) afirma que a globalização
também pode ser vista como perversidade, que nas palavras do autor
é o fenômeno na forma como ele realmente se apresenta na realidade
concreta, como instrumento de intensificação das desigualdades
sociais.
Quando se observa a realidade concreta decorrente da
globalização, segundo Santos (2003), é notável a existência de uma
tirania do dinheiro e da informação, que permite o desenvolvimento
de uma competição desigual, que por sua vez determina a pobreza
para os mais excluídos. Para o autor, “a concorrência atual não é mais
a velha concorrência, sobretudo porque chega eliminando toda forma
de compaixão” (SANTOS, 2003, p. 46).
Por fim, Santos (2003) nos propõe olhar a globalização por
uma outra perspectiva. Para o autor, a globalização perversa não cria
condições para a emancipação e felicidade humana, e nesse contexto,
faz-se necessário o desenvolvimento de utopias para que a
humanidade possa sonhar.
Para o geógrafo, a globalização perversa é resultado de longo
processo de construção histórica e ideológica. Com isso, por mais
utópico que se pareça propor uma nova forma de globalização, não
significa que seja irreversível mudar a forma como está estruturada
hoje.
Diante do que é o mundo atual, como disponibilidade e
como possibilidade, acreditamos que as condições
materiais estão dadas para que se imponha à desejada
grande mutação, mas seu destino vai depender de como
disponibilidades e possibilidades serão aproveitadas pela
164
política. Na sua forma material, unicamente corpórea, as
técnicas talvez sejam irreversíveis, porque aderem aos
territórios e ao cotidiano. De um ponto de vista essencial,
elas podem obter um outro uso e uma outra significação.
A globalização atual não é irreversível. (SANTOS, 2003,
p. 173-174).
A globalização do mundo contemporâneo é caracterizada por
estar inserida dentro período técnico-científico-informacional.
Diariamente, novas tecnologias e novas descobertas científicas são
realizadas. Desse modo, nunca se investiu tanto em ciência,
tecnologia e elementos relacionados à informação. Para deixarmos de
desenvolver uma globalização perversa, faz-se necessário deslocar esses
recursos para combater as desigualdades sociais, a divisão de renda, a
exclusão social, a falta de cidadania etc. Não é pela ausência de
aparatos técnicos e materiais que não acontece a outra globalização.
A obra de Milton Santos nos leva a refletir sobre a globalização
e, mais especificamente, evidencia como esta tem servido de
instrumento para intensificar e aumentar as desigualdades sociais, por
mais que se apresente potencial para acabar com tais desigualdades. A
globalização, que poderia ser uma ferramenta para combater as
contradições do capitalismo, acaba se tornando instrumento de
exclusão.
O questionamento levantado com base na experiência
evidenciada anteriormente, dialoga com as reflexões de Milton
Santos. Quando olhamos para a inserção de tecnologia na educação,
esta está servindo como instrumento de reforço às desigualdades
sociais ou como meio de superação destas desigualdades?
165
Assim como Milton Santos fez ao abordar a globalização,
podemos observar a inserção da tecnologia na educação, sob três
lentes: como ela é dita (fábula), como ela é (perversidade) e como ela
poderia ser (possibilidade).
A Tecnologia como Fábula
Por mais que tenha se tornado um assunto extremamente
abordado durante a pandemia, o debate sobre a utilização de
tecnologias na educação não é novidade. Nesse sentido, as tecnologias
digitais de informação e comunicação (TDIC) se tornam grandes
aliadas da educação, de acordo com Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), principalmente,
pós-consenso de Washington (1989).
Um excelente meio de realizar um recorte para compreender
um pouco mais sobre o discurso tecnológico na educação, é através
do debate da educação a distância (EaD), uma vez que esta
modalidade de ensino consiste sobretudo na junção destes dois
elementos, educação e tecnologia. O documento proveniente da
“Conferência mundial sobre educação para todos” (UNESCO, 1996)
na cidade de Jomtien, na Tailândia, reuniu diversas nações, agências
internacionais, associações profissionais e personalidades para discutir
sobre a educação mundial.
Torres (2001) afirma que o documento proveniente da
conferência objetivou servir de referência para outros países, tendo
como principal intenção o combate ao analfabetismo. Dentre o
conjunto de ações sugeridas está a “gestão e uso de serviços de
educação a distância” (UNESCO, 1996, s.n.). A partir deste
166
momento, os termos “educação a distância” e “tecnologia passam a
ser cada vez mais recorrentes.
De acordo com Benini (2012), documentos como a
“Declaração de Nova Delhi sobre educação para todos” (UNESCO,
1998) e a “Declaração de Salamanca sobre os princípios, política e
práticas na área das necessidades educativas especiais” (UNESCO,
1994), por mais que não abordassem diretamente a questão da EaD
e da tecnologia, foram de suma importância para o debate acerca da
superação das distâncias geográficas e do aumento de produtividade
educacional.
Porém, Benini (2012) faz questão de destacar o “Relatório
para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o
Século XXI”, intitulado posteriormente como “Educação: um tesouro
a descobrir” (DELORS, 1996). Este documento foi redigido por uma
série de pesquisadores e intelectuais da educação. Segundo o autor, o
termo “tecnologia aparece cerca de cem vezes ao longo do
documento, comumente associado a dois discursos ideológicos: a) o
da modernização da educação e b) o da neutralidade científica. Nas
palavras do autor, “existe uma clara positivação do processo
tecnológico, uma espécie de salvacionismo messiânico de ciência
desinteressada, pura e neutra” (BENINI, 2012, p. 108).
Cabe destacar aqui que estas duas perspectivas ideológicas
provenientes do debate da inserção da tecnologia na educação vão
permanecer até os dias de hoje. Cabe também destacar que são
discursos que atualmente não se limitam apenas no que se diz respeito
à inserção da tecnologia na educação, mas também nas diversas
esferas, sobretudo de trabalho, ainda mais em um contexto pós-
pandêmico.
167
No que se diz respeito ao termo “educação a distância”, de
acordo com Bellinaso (2017, p. 28), ele aparece associado a outros
discursos ideológicos, como a modernização do processo de ensino e
aprendizagem, o barateamento da educação, a democratização do
acesso ao ensino, as superações espacial e temporal e, sobretudo, o
desenvolvimento da autonomia do estudante. Assim, ressalta-se a
importância desses discursos ideológicos envolvendo tecnologia e
educação sob diferentes vieses e formas de percepção/compreensão da
realidade. É importante destacar que a ideia de tecnologia, na maioria
das vezes, está fundamentada nos discursos ideológicos, tais como:
neutralidade tecnológica, modernização da educação, democratização
do acesso ao ensino, desenvolvimento da autonomia do estudante
(NOVAES, 2007).
A Tecnologia como Perversidade
Para olharmos a tecnologia como perversidade, ou em outras
palavras, enxergar como ela vem sendo aplicada na educação em larga
escala na realidade concreta, pode-se percorrer caminhos distintos.
Para os objetivos deste trabalho, primeiramente, é importante
compreender onde esse discurso em prol da inserção da tecnologia se
encontra dentro de uma conjuntura macro. Por seguinte, é
importante refutar o caráter da neutralidade tecnológica e, por fim,
evidenciar com base na realidade, algumas das aplicações.
Para começar a enxergar a tecnologia como perversidade, faz-
se necessário compreendermos os interesses macros por trás da sua
difusão ideológica. Como foi observado no tópico anterior, é a partir
dos anos de 1990 que a tecnologia passa a ganhar cada vez mais espaço
168
e penetrar nos discursos relacionados à educação. Também foi
evidenciado, que sobretudo para os países da América Latina,
incluindo o Brasil, um grande marco nesse processo foi o chamado
Consenso de Washington.
De acordo com Montaño (2003), o Consenso de Washington
foi um evento que ocorreu em 1989, que reuniu órgãos de
financiamento internacional provenientes de Breton Woods (Banco
Mundial, Fundo Monetário Internacional FMI, Banco
Interamericano de Desenvolvimento - BID) e diversos representantes
dos governos latinos, tendo como objetivo formal a elaboração de
“recomendações e “orientações” para auxiliar no processo de
desenvolvimento econômico desses países. Pode-se observar que o
Consenso de Washington possui três grandes objetivos informais:
a) a primeira, dirigida à estabilidade macroeconômica, persegue
o superávit fiscal, reduzindo o déficit da balança comercial e
reestruturando (desmontando) o sistema previdenciário; b) a
segunda, dedicada às reformas estruturais, tem por objetivo a
liberalização financeira e comercial, a desregulamentação dos
mercados e a privatização das empresas estatais; c) a terceira,
definida como retomada dos investimentos e do crescimento
econômico. (MONTAÑO, 2003, p. 30).
Quando analisado, fica evidente que o papel central do
Consenso de Washington consistia em criar mecanismos para
incentivarpara não dizer, imporas práticas neoliberais nos países
latino-americanos. Não é à toa, que a década de 1990 no Brasil, vai
ser marcada por governos que claramente adotaram a agenda
neoliberal, começando com o mandato de Fernando Collor (1990
169
1992) e se consolidando nos mandatos de Fernando Henrique
Cardoso (1994 – 2001).
O neoliberalismo como resultado do processo de
reestruturação contínua do capital afeta as diversas áreas da sociedade,
incluindo, a educação. Quanto à agenda neoliberal para educação,
pode-se afirmar que esta se divide em três pilares principais: a) a
mercantilização da educação, em outras palavras, a transformação
cada vez mais exponencial da educação em mercadoria e fonte de
mais-valia; b) o aprofundamento das relações pública e privada, em
que se torna cada vez mais comum, organismos multilaterais,
instituições privadas e think tanks, exercendo influência sobre as
diretrizes educacionais dos países e; c) o aligeiramento das formações,
onde se um massivo crescimento de cursos técnicos e tecnólogos,
além da utilização da EaD como mecanismo para tal objetivo.
Desta forma, não é ao acaso que se tem um crescimento
exponencial da oferta de escolas e universidades privadas a partir dos
anos de 1995 no Brasil, muito menos, a crescente defesa por parte da
UNESCO para o estreitamento das relações público e privada. Com
isso, é notável que o crescente discurso da inserção da tecnologia na
educação está diretamente ligado aos interesses de uma agenda
neoliberal.
Em meio a esse contexto, surge a defesa da neutralidade
tecnológica. É importante ter em mente que o desenvolvimento de
ferramentas para auxiliar nas atividades humanas é anterior ao
desenvolvimento do modo de produção capitalista. Contudo, a partir
do momento em que este se torna hegemônico, gradativamente, ele
transforma as múltiplas áreas que compõem a sociedade em
instrumentos de acumulação de capital. Nesse sentido, de acordo com
170
Marx (2008) e Mészáros (2004), é evidente que o desenvolvimento
tecnológico da atual sociedade não ocorre de acordo com os interesses
em resolver as necessidades humanas, mas sim, está relacionado aos
interesses do capital. Em outras palavras, se a tecnologia não
proporciona acúmulo de capital, ela se torna inviável dentro desta
sociedade neoliberal.
A ideia de que a ciência segue um curso de
desenvolvimento independente, de que as aplicões
tecnológicas nascem e se impõem sobre a sociedade com
uma exigência férrea, é uma simplificação demasiadamente
grosseira e com objetivos ideológicos. (MÉSZÁROS,
2004, p. 266).
Em sua principal obra, “O Capital”, Marx (2017) dedica um
capítulo exclusivo para analisar as consequências da inserção das
novas tecnologias de sua época, no caso, os grandes maquinários
provenientes da Primeira Revolução Industrial nas fábricas inglesas.
Neste capítulo, intitulado “Maquinaria e Grande Indústria”, o
pensador alemão evidencia as seguintes consequências da inserção
desta tecnologia para o operariado de sua época: o aumento da
jornada de trabalho; a polivalência; a simplificação do trabalho;
desemprego e o aumento da divisão do trabalho.
Em seu trabalho “Grande Industria Virtual: EaD e a
precarização docente”, ao olhar para a realidade da EaD brasileira, em
que grande maioria se concentra nas mãos das universidades privadas,
Bellinaso (2021) observa que a inserção da tecnologia no trabalho
docente tem acarretado uma precarização com as mesmas
171
consequências daquelas levantadas por Marx cerca de 200 anos atrás.
Porém, é possível evidenciar outros fatores de precarização como: o
surgimento de novas doenças derivadas do trabalho; a ausência de leis
trabalhistas específicas; a fragmentação da classe docente etc.
Outro elemento presente na obra de Bellinaso (2021) são
dados sobre a realidade da EaD no Brasil, que não andam em
consonância com o discurso de democratização do acesso ao ensino.
Ao analisar os dados do Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa
IPEP e da Associação Brasileira de Educação a Distância ABED,
alguns aspectos chamam a atenção. O primeiro deles é o fato de que
a grande maioria das universidades de modalidade a distância do país
se encontram na região sudeste e abrigam, na sua grande maioria,
estudantes da mesma região, que por sua vez, é a mesma região do
Brasil que possui a maior oferta de educação presencial.
Outro fato que chama atenção é o número de evasão, que em
média, ao longo dos últimos 5 anos, permanece em torno de 25%, ou
seja, um a cada quatro estudantes de educação a distância desiste do
curso. Cabe mencionar também, que ao realizar um perfil do
estudante brasileiro que opta pela educação a distância no Brasil, se
tem um predomínio de pessoas entre 30 e 40 anos, que trabalham,
que buscam uma formação pida com o objetivo de conseguir um
diploma, e com isso uma maior estabilidade de trabalho, podendo ser
compreendido como uma consequência direta do processo de
aligeiramento das formações proposta pela agenda neoliberal.
Com isso, é notável que a inserção da tecnologia na educação
dentro da agenda neoliberal tem se tornado cada vez mais um
instrumento de acentuação e consolidação das desigualdades sociais.
172
Mas, isso não significa que a tecnologia não possa ser utilizada na
educação como uma possibilidade.
A Tecnologia como Possibilidade
Não é necessariamente pelo fato de a tecnologia estar atrelada
aos interesses do capital que não se deve utilizá-la. Se partíssemos
deste princípio, a própria educação institucionalizada deveria ser
abandonada, pois é mais do que evidente, que está cada vez mais se
consolidando enquanto aparelho ideológico do Estado do que como
instrumento de emancipação. Mas o caminho não é este.
Para conseguirmos enxergar e utilizar a tecnologia na
educação como possibilidade, utilizando-se da frase de Lenin, é
necessário realizar “a análise concreta da realidade concreta” (LENIN,
1977). Em outras palavras, compreender e analisar o local onde está
inserido e quem são os agentes que compõem esse espaço é
fundamental para não intensificar as desigualdades sociais.
O desenvolvimento de uma educação a distância pela
Universidade Federal do Amazonas (UFAM) com o objetivo de
atender as populações ribeirinhas da Amazônia, que necessitariam de
uma viagem de três dias de barco para chegar até uma escola
presencial, é um exemplo da utilização da tecnologia em prol da
diminuição das desigualdades sociais.
Porém, não gostaria de centrar o debate, neste momento, em
grandes ações, mas sim, através de pequenos relatos de ações realizadas
em minhas aulas durante a pandemia, com o objetivo de mostrar que
dentro do cotidiano escolar, é possível criar possibilidades de
utilização da tecnologia como possibilidade.
173
Como dito anteriormente, durante a pandemia do Covid-19,
ministrei aulas de Geografia e História na rede pública de educação
do Estado de São Paulo, no município de Alvinlândia, onde, grande
parte dos meus estudantes, tinha quase nenhum contato com
tecnologias, além de uma grande defasagem em ambas as disciplinas.
Quando iniciaram as aulas on-line, uma das grandes dificuldades era
a presença dos estudantes, e a participação daqueles que estavam
presentes.
Com o objetivo de trazer uma maior participação dos
estudantes dentro de um contexto totalmente desfavorável e
buscando trabalhar com conceitos importantes das disciplinas da qual
ministrava, no início das aulas utilizei dois recursos tecnológicos
como uma forma de interação, incentivo e estímulo aos estudantes.
O primeiro recurso utilizado foi o GeoGuessr
3
, que consiste
em um jogo on-line. Seu funcionamento se da seguinte forma: o
jogo vai te mostrar algum lugar do mundo através do Google Street
View
4
(como mostra a figura abaixo), através dos elementos presentes
na figura, você precisa adivinhar o mais próximo possível, a localidade
daquela região.
3
Jogo de descoberta geográfica.
4
Recurso do Google do qual possibilita vistas panorâmicas de diversas localidades
do mundo.
174
Figura 1 – Exemplo de Atividade no GeoGuessr
Fonte: Página do site. Disponível em: https://www.geoguessr.com/
Como eu realizava as atividades com os estudantes? Após as
apresentações iniciais da aula, esta era a primeira atividade realizada
com eles, com o objetivo de cativar sua atenção. No computador do
professor, acessava o site e espelhava a tela para que os alunos
pudessem ver, e eram eles quem tinham que opinar. No início, é
natural que eles achassem o jogo extremamente difícil, mas a cada dia,
ensinava alguma dica e articulava esta a algum conteúdo, de forma
que o estudante não se interessasse pelo jogo, mas também
compreendesse a teoria.
A primeira dica oferecida aos alunos foi observar a mão em
que os carros se movimentam na rua, que na grande maioria dos
casos, é algo muito rápido e simples de se observar. Se a mão for
inglesa, logo se sabe que aquele país é pertencente ao Reino Unido ou
foi uma das colônias britânicas. Com esta dica, foi possível dialogar
com os estudantes sobre os processos de colonização do século XV e
175
do século XVIII, a questão da imposição cultural por parte dos países
europeus, o porquê de o Reino Unido ser conhecido como “o reino
onde o sol nunca se põe” e, por fim, quais foram as colônias
britânicas.
A segunda dica, foi procurar por placas, outdoors, faixas e
qualquer outro elemento que possa apresentar alguma forma de texto
na imagem e, com isso, adivinhar qual é a língua falada naquela
localidade. Com esta segunda dica, pode-se aprofundar ainda mais no
debate das colonizações do século XV e do século XVIII e sobre a
imposição cultural europeia de forma mais ampla, não se limitando
apenas ao Reino Unido. Além disso, foram trabalhadas brevemente
as diferentes matrizes linguísticas.
Outras dicas que também foram fornecidas ao longo das aulas
foram, por exemplo, observar os traços físicos entre as pessoas
presentes na imagem e, dessa forma, foi possível trabalhar a questão
da diversidade cultural, que por sua vez permitiu uma reflexão sobre
os preconceitos raciais. Outra dica extremamente interessante, foi a
observação das vestimentas, que em alguns casos possibilitam a
identificação da localidade, e em outras não, dado ao processo de
globalização e de padronização cultural. Observar a fauna e a flora,
quando estas se fazem presentes e, a partir disso, abordar algumas
reflexões sobre as características destas e, assim, por diante.
Outra atividade realizada no início das aulas com o objetivo
de cativar a atenção e a presença dos estudantes se deu através da
utilização de outro advento tecnológico, o Worldle
5
, que também se
trata de um jogo on-line em que é oferecida uma imagem da área
5
Jogo on-line que tem como objetivo descobrir o país correspondente com base na
área territorial fornecida.
176
territorial de um determinado país, e se tem seis tentativas para acertar
qual o país correto. Quando se erra, o jogo lhe informa a distância
que aquele país, que você colocou, está do país correto, e a direção em
que o país correto se localiza em relação ao país tentado. Observe a
figura abaixo.
Figura 2 – Exemplo de Atividade
Worldle
Fonte: Página do site. Disponível em: https://worldle.teuteuf.fr/
177
Assim, como na atividade anterior, o jogo era realizado logo
no início da aula, com o objetivo de engajar os estudantes. O processo
era o mesmo, o jogo era acessado no computador do professor e
espelhado para a tela dos estudantes que deveriam tentar adivinhar
qual país era.
Nessa atividade, quando encontrado o país correto,
aproveitava-se para estudar sobre aquele país em específico: qual era
sua capital; línguas faladas; foi colônia ou não; quando ocorreu sua
formação ou sua independência; etc. Elementos que serviam tanto
para a formação dos estudantes, mas que também ofereciam
informações importantes para quando se dava a realização da
atividade anterior.
Em alguns casos, a própria curiosidade dos estudantes
permitia que novas oportunidades de ensino ocorressem. Em um
determinado dia, uma aluna me perguntou sobre o fato de que muitos
países da África apresentarem suas fronteiras em linhas retas,
diferentes dos países dos demais continentes. Essa pergunta permitiu
a possibilidade de explicar para eles as consequências do
neocolonialismo e da Conferência de Berlim, que partilhou o
continente africano entre as principais potências europeias.
O resultado de ambas as atividades foi uma maior presença e
participação dos estudantes nas aulas on-line. Conforme foram
conseguindo maior autonomia para conseguir alcançar as respostas
corretas, mais se sentiam agentes ativos, e isso os estimulava não a
frequentarem as aulas, mas como a adquirir mais conhecimentos
sobre Geografia e História. Esses dois pequenos relatos são apenas
uma ação micro da qual pode-se olhar para a tecnologia e pensá-la
como um instrumento de possibilidade.
178
Antes de adentrar a conclusão deste artigo, é necessário
evidenciar uma última questão. Assim como Milton Santos avaliou
sobre a globalização, o uso da tecnologia na educação vai deixar de
ser uma possibilidade transformadora para ser uma realidade
transformadora em todas as suas esferas quando a humanidade
superar o capitalismo. Enquanto o desenvolvimento tecnológico
estiver atrelado aos interesses do capital e não em ser resposta às
necessidades humanas, a tecnologia apresentará uma maior facilidade
como acentuadora das desigualdades sociais do que como
possibilidade transformadora.
Em seu estudo sobre a educação, Mészáros (2008) evidenciou
que para conseguirmos pensar na educação enquanto instrumento de
emancipação e transformação humana, e não como um aparato
ideológico do Estado, é preciso que se rompa sua relação com o
capital, em suas palavras, é necessário o desenvolvimento de uma
educação para além do capital.
A razão para o fracasso de todos os esforços anteriores, e
que se destinavam a instituir grandes mudanças na
sociedade por meio de reformas educacionais cidas,
reconciliadas com o ponto de vista do capital, consistiae
ainda consiste no fato de que determinações
fundamentais do sistema do capital serem irreformáveis.
(MÉSZÁROS, 2008, p. 26-27).
Da mesma forma, o uso da tecnologia na educação auxiliará
plenamente para a emancipação e transformação social quando estiver
para além do capital.
179
Portanto, a nossa tarefa educacional é, simultaneamente, a
tarefa de uma transformação social, ampla e emancipadora.
Nenhuma das duas pode ser posta á frente da outra. Elas
são inseparáveis. A transformação social emancipadora
radical requerida é inconcebível sem uma concreta e ativa
contribuição da educação no seu sentido amplo, tal como
foi descrito neste texto. E vice-versa: a educação não pode
funcionar suspensa no ar. Ela pode e deve ser articulada
adequadamente e redefinida constantemente no seu inter-
relacionamento dialético com as condições combinantes e
as necessidades da transformação social emancipadora e
progressiva em curso. Ou ambas têm êxito e se sustentam,
ou fracassam juntas. (MÉSZÁROS, 2008, p. 76-77).
Nesse sentido, semelhantemente à questão educacional, a
utilização dos meios tecnológicos na educação em prol da
emancipação humana exige uma superação do capital, como afirma
Mészáros, tornando-se uma tarefa ao mesmo tempo educacional e
social.
Conclusão
Como foi demonstrado ao longo deste trabalho, a simples
inserção de tecnologia na educação não significa necessariamente um
processo de melhoria do ato educativo, muito menos garante a
superação das desigualdades sociais. Quando se observa a realidade
concreta, é possível constatar majoritariamente a utilização dos meios
técnicos-científicos-informacionais como instrumentos de acentua-
ção das desigualdades, ou como afirma Milton Santos (2003), como
180
mecanismos de perversidade. Mas assim como Santos (2003)
destacou que é possível e necessário pensar uma globalização como
possibilidade. s, docentes, membros do espaço escolar, agentes
políticos e cidadãos, devemos compreender a realidade em que
estamos inseridos e a realidade dos múltiplos agentes que compõem
os espaços escolares para que dentro dos nossos limites, possamos
subverter o caráter ideológico da tecnologia e utilizá-la como
instrumento de diminuição das desigualdades sociais.
Referências
BELLINASO, F. O trabalho docente no ensino a distância (Ead)
nas Universidades Privadas Brasileiras: caminhada rumo a
precarização? 2017. 74 p. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharel em Ciências Sociais) - Universidade Estadual Paulista
(Unesp), Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília, 2017.
BELLINASO, F. Grande indústria virtual: Ead e a precarização
docente. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2021.
BENINI, E. G. Política educacional e educação a distância: as
contradições engendradas no âmbito do trabalho docente. 2012.
284 p. Tese (Doutorado em Pedagogia) - Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul. PPGEdu/CCHS/Campo Grande/MS, Campo
Grande, 2012.
DELORS, J. et. al. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório
para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o
século XXI. São Paulo: Editora Cortez, 1996.
181
LENIN, V. Que fazer? Problemas candentes do nosso movimento.
In: LENIN, Vladmir. Obras Escolhidas. vol. 1. Moscou: Progresso/
Lisboa: Avante, 1977.
MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo:
Expressão Popular, 2008.
MARX, K. O Capital. Livro I. São Paulo: Boitempo Editorial,
2017.
MÉSZÁROS, I. O poder da ideologia. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2004.
MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital. São Paulo:
Boitempo Editorial, 2008.
MONTAÑO, C. Terceiro setor e questão social: Crítica ao padrão
emergente de intervenção social. São Paulo: Cortez, 2003.
NOVAES, H. T. O fetiche da tecnologia: a experiência das fábricas
recuperadas. São Paulo: Expressão Popular, 2007.
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à
consciência universal. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
TORRES, R. M. Educação para todos: a tarefa por fazer. Porto
Alegre: Artmed Editora, 2001.
UNESCO. Declaração Mundial sobre Educação para Todos:
satisfação das necessidades básicas de aprendizagem. Jomtien, 1990.
Edição publicada no Brasil em 1996. Disponível em:
182
https://www.unicef.org/brazil/declaracao-mundial-sobre-educacao-
para-todos-conferencia-de-jomtien-1990. Acesso em: 12 ago. 2022.
UNESCO. Declaração de Nova Delhi sobre Educação para Todos.
Nova Delhi, 1993. Edição publicada no Brasil em 1998. Disponível
em: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Direito-a-
Educa%C3%A7%C3%A3o/declaracao-de-nova-delhi-sobre-
educacao-para-todos.html. Acesso em: 12 ago. 2022.
UNESCO. Declaração de Salamanca, sobre os Princípios, Política
e Práticas na área das Necessidades Educativas Especiais, 1994,
aprovada na cidade de Salamanca, Espanha em 10 de junho de
1994. Disponível em:
http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001393/139394por.pdf.
Acesso em: 11 ago. 2022.
183
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p183-210
O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA PARA CRIANÇAS
PEQUENAS: DESAFIOS, PONTOS E CONTRAPONTOS
Patricia Moreira Salina Fernandes PIMENTEL
1
Introdução
Para embasar o presente capítulo, parte-se do locus de atuação
como professora de Inglês, em uma Escola Informal de Idiomas, no
interior do estado de São Paulo. O objetivo é compreender os desafios
para o processo de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras para
crianças pequenas e como as tecnologias contribuíram para novas
práticas pedagógicas durante o período pandêmico.
Para isso, destacamos as tecnologias utilizadas em ensino
remoto emergencial (ERE) e consideramos a mudança na atuação do
professor de língua estrangeira ao revisitar suas práticas de outrora em
confronto com as atuais, refletindo sobre a relevância dos
conhecimentos teóricos e metodológicos da docência. Portanto,
busca-se pensar, não somente nos desafios, pontos e contrapontos
para a continuidade das atividades do ensino de línguas no período
pandêmico, mas, também, propor reflexões e práticas pedagógicas
para o ensino significativo de línguas estrangeiras e o uso de novas
1
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de
Marília/SP / e-mail: patricia.fernandes-pimentel@unesp.br
184
tecnologias, para promover a aprendizagem e apropriação do
conhecimento.
Compreendemos que estamos diante de um tema complexo e
sensível, visto que inúmeras contraposições sobre a relevância do
ensino de línguas estrangeiras. É importante considerar o mundo
globalizado em que estamos imersos, as muitas linguagens e línguas
utilizadas, e que o domínio de pelo menos uma língua adicional é
uma exigência mínima que tem levado uma parcela da população
brasileira a buscar tal aprendizado, cada vez mais cedo.
Contudo, o ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira
é relevante para as crianças em tão tenra idade? Quais contribuições
que o conhecimento pode trazer, a partir de vivências e experiências
na cultura e língua estrangeira, para estudantes de Educação Básica
no Brasil? Essas questões norteiam as discussões, que especificamente
neste capítulo, tratarão dos estudantes que se encontram na faixa
etária de 3 a 6 anos, correspondentes à Educação Infantil e ao Ensino
Fundamental do ciclo I. Portanto, vale ressaltar que a transição entre
os ciclos da Educação Básica pode e deve ser continuada, sem
promover uma mudança brusca e segmentada.
É importante entender que
A aprendizagem de Língua Estrangeira é uma possibilidade
de aumentar a autopercepção do aluno como ser humano
e como cidadão. Por esse motivo, ela deve centrar-se no
engajamento discursivo do aprendiz, ou seja, em sua
capacidade de se engajar e engajar outros no discurso de
modo a poder agir no mundo social. (BRASIL, 1998, p.
15).
185
As reflexões apresentadas partem de visitas às próprias ões e
práticas pedagógicas como professora de língua estrangeira de crianças
a partir dos 3 anos, articuladas a referenciais teóricos com um breve
estudo bibliográfico de autores e pressupostos da Teoria Histórico-
cultural, que trouxeram a proposição teórica para compor as
discussões, além de um breve diálogo com autores da Filosofia da
Linguagem e textos sobre a temática.
O procedimento metodológico adotado na elaboração deste
capítulo foi uma revisão de literatura. Inicialmente foi realizado o
levantamento bibliográfico e um diálogo tanto de documentos
oficiais e de documentos pedagógicos norteados pela observação das
próprias práticas pedagógicas com estudantes na faixa etária referente
à Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental.
Um breve diálogo com documentos oficiais
A Educação Infantil tida como direito no Brasil, a partir de
1988, e considerada como a primeira etapa escolar em 1996, é marco
importante na nossa história e, desde então, tem passado por
mudanças políticas, práticas e de gestão. Aumentos da contratação
dos sistemas privados para a Educação Infantil preocupam
especialistas, mostrando que sistemas apostilados ignoram princípios
de gestão democrática além da autonomia dos professores. Entende-
se o método como um norte a ser seguido e não uma tarefa a ser
cumprida.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
destaca que o currículo da Educação Infantil, que engloba crianças de
0 a 5 anos, deve articular saberes considerando a criança como sujeito
186
histórico e de direitos, e suas propostas pedagógicas deverão
considerá-la como centro do planejamento curricular, nas vivências,
nas interações, nas relações e práticas cotidianas, desenvolvendo sua
identidade pessoal e coletiva, ao brincar, imaginar, fantasiar, desejar,
aprender, observar, experimentar, narrar, questionar, desenvolvendo
sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura e
conhecimento de mundo. (BRASIL, 1996).
Ao perceber que o ser humano é produto do momento
histórico e da sociedade e cultura de que participa,
compreende que seu desenvolvimento é resultado e não
condição do processo de aprendizagem. Isso significa
concretamente que a aprendizagem, ou, em outras
palavras, as experiências vividas impulsionam o
desenvolvimento. Sem aprendizagem sem experiências
vividas não desenvolvimento humano. Ou seja, a
relação aprendizagem-desenvolvimento deixa de ser
entendida como desenvolvimento natural que cria
condições para a aprendizagem e passa a ser entendida
como aprendizagem que impulsiona o desenvolvimento. O
desenvolvimento deixa de ser entendido como natural e
passa a ser entendido como cultural, social e
historicamente condicionado. (MELLO; FARIAS, 2010,
p. 55).
O Ensino Fundamental é uma etapa extremamente
importante para o desenvolvimento integral do ser humano. Os
estímulos que a criança recebe, nesta fase, definem seu sucesso escolar
e profissional. A construção de valores, as atitudes que norteiam as
187
relações interpessoais e o contato do estudante com o objeto de
conhecimento fazem parte desta etapa.
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a criança
desenvolve a capacidade de representação, indispensável
para a aprendizagem da leitura, dos conceitos matemáticos
básicos e para a compreensão da realidade que a cerca,
conhecimentos que se postulam para esse período da
escolarização. O desenvolvimento da linguagem permite a
ela reconstruir pela memória as suas ações e descrevê-las,
bem como planejá-las, habilidades também necessárias às
aprendizagens previstas para esse estágio. A aquisição da
leitura e da escrita na escola, fortemente relacionada aos
usos sociais da escrita nos ambientes familiares de onde
veem as crianças, pode demandar tempos e esforços
diferenciados entre os alunos da mesma faixa etária.
(BRASIL, 2013, p. 110).
Ainda, a Declaração dos Direitos Humanos traz a proposta
pedagógica que tem como objetivo garantir os princípios das crianças,
como observa-se:
A proposta pedagógica das instituições de Educação
Infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a
processos de apropriação, renovação e articulação de
conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens,
assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à
confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à
convivência e à interação com outras crianças. (BRASIL,
1996, p. 18).
188
Nesse sentido, observamos que, do ponto de vista da
legislação, crianças nessa faixa etária têm seus direitos garantidos e
resguardados. Contudo, a realidade nos demonstra que grande parte
do público da Educação Infantil vive imerso em contexto digital de
modo que pensar na perspectiva dos multiletramentos entrelaçado às
vivências ofertadas pelas tecnologias digitais de informação e
comunicação (TDIC) torna-se fundamental na contemporaneidade.
A seguir, por meio de subsídios teóricos, promove-se uma breve
reflexão acerca das possibilidades de trabalho envolvendo recursos
tecnológicos e multiletramentos, tendo como público-alvo crianças
do ciclo Infantil e Fundamental.
Um diálogo com os autores sobre a temáticatecnologias e
multiletramentos
A escola atual precisa fazer uso de saberes diversos e as práticas
pedagógicas precisam ser repensadas e reorganizadas para alcançar as
crianças e promover o ensino e aprendizagem, incentivando a
criatividade. A informação hoje, chega em segundos, e, muitas vezes,
nem se faz necessária uma busca ou pesquisa que as notícias
alcançam as pessoas por vários meios tecnológicos e de comunicação.
A população está inserida em uma revolução tecnológica que
tem transformado, não somente a forma de trabalho, mas também a
maneira como os seres humanos atuam na sociedade e com o outro.
Tem, ainda, transformado relacionamentos, que a interação e as
relações acontecem de maneiras diversas, como: mensagens de textos
via WhatsApp com abreviações e tipos de expressões próprias
formando comunidades ímpares.
189
Com essa mudança, também, na comunicação, destaca-se a
ideia de “multiletramentos”, pois o letramento antes sistematizado e
dependente da norma culta, passa a ser aplicado em diversos
contextos profissionais, culturais e sociais, além da influência das
novas tecnologias de comunicação.
Vivemos a era da informão, na qual a sociedade é
impactada pelo ritmo acelerado das novidades
tecnológicas, resultado evidente do acúmulo e evolução do
conhecimento científico. O número de informações
disponibilizada é imensa e aumenta em grande velocidade,
sendo que a internet gera infinitos caminhos para
investigação de cada tópico levantado. Estamos no auge da
era da informação, mas não vivemos na era do
conhecimento. O estudante tem acesso a muita
informação, mas o conhecimento tem que ser construído.
O que eu falo é meu conhecimento, para quem ouve, é
informação. Se o indivíduo que ouve aceita e usa a
informação na vida prática, vira conhecimento para ele.
Conhecimento é a informação em ação prática. Mas como
construir este conhecimento? Para responder a esta
questão, é preciso refletir sobre como os estudantes
aprendem. (BACICH; MORAN, 2018, p. 396).
Os autores, ainda, destacam a necessidade de atualizar o
conhecimento, pontuar diferenças e semelhanças com o novo, para
promover uma aprendizagem significativa, carregada de sentido e
significado, pois as crianças aprendem nas vivências e a partir delas se
apropriam do conhecimento.
190
A tecnologia e as práticas precisam ser utilizadas dentro de um
contexto e de uma intenção, questões que devem ser consideradas
pelo professor no processo de ensino e aprendizagem e durante as
ações pedagógicas. Para Ribeiro (2009),
Letramento digital é a porção do letramento que se
constitui das habilidades necessárias e desejáveis
desenvolvidas em indivíduos ou grupos em direção à ação
e à comunicação eficientes em ambientes digitais, sejam
eles suportados pelo computador ou por outras tecnologias
de mesma natureza. (RIBEIRO, 2009, p. 30).
A ideia de letramento propõe que o ensino e aprendizagem
promovam quatro orientações e pressupostos: a Prática Situada, a
Instrução Ostensiva, o Enquadramento Crítico e a Prática
Transformada.
A estrutura de Multiletramentos visa complementar não
criticar ou negar - as várias práticas de ensino existentes. O
caso dos Multiletramentos é que todos os quatro aspectos
são necessários para um bom ensino, ainda que não de
forma rígida ou sequencial. E quando todos os quatro
aspectos são colocados juntos, cada um é pelo menos
suavizado e, na melhor das hipóteses, transformado pelos
outros. (KALANTZIS; COPE, 2008, p. 230).
Lopes (2018), Kalantzis e Cope (2008) pontuam que não é
possível descontextualizar ou fragmentar partes pequenas letramento
(literacy bits) das práticas sociais que estão inseridas e ainda ter
191
significado. O letramento não se caracteriza como um único evento,
de codificação e decodificação, mas vem carregado de práticas sociais,
cultura, interlocutores e concepções, portanto letramentos.
O surgimento das novas tecnologias de informação e
comunicação na sociedade promoveu mudanças nas práticas
pedagógicas e interação e relação entre os sujeitos professor-
estudantes. A evolução tecnológica estabelece novas práticas,
interações e relações sociais, frente a esse contexto, estudiosos da
educação e linguagem, conceituam multiletramentos. Esse termo se
designa em dois diferentes aspectos: multiplicidade crescente
"multissemiose dos textos em articulação” e a “multiplicidade de
culturas em contato com o mundo globalizado” (LOPES, 2018, p.
236).
Segundo o diálogo com os pesquisadores que norteiam a
temática em estudo, considerar as multiplicidades de multiletramento
(culturais e de linguagens) “multiplicidade de culturas, expressas
por diferentes linguagens e seus usos em contexto específicos
(LOPES, 2018, p. 237), uma educação contextualizada, carregadas
de sentido e significado, é essencial para pensar a reestruturação e
transformação dos eventos sociais da vida humana e sua necessidade.
Então pensar em letramentos, novos letramentos, multiletra-
mentos e tecnologia nos dias atuais, é considerar nossas crianças e o
espaço social no qual estão inseridas. E cabe ao professor/mediador a
intencionalidade de suas práticas pedagógicas para alcançar o interesse
de seus alunos para que o ensino e aprendizagem da língua inglesa
tenha sentido e significado, e que a apropriação do conhecimento se
a partir das vivências e na interação e relação com o outro, em seu
tempo e espaço social.
192
Na próxima seção, busca-se uma breve articulação entre
práticas, vivências e tecnologias digitais de informação e comunicação
(TDIC). Diante do repertório teórico apresentado, vislumbra-se
promover reflexões essenciais para o desenvolvimento profícuo do
processo de ensino e aprendizagem direcionado a crianças. Vale
ressaltar que a fundamentação desenvolvida, nesta seção, ampara-se
na Teoria Histórico-Cultural.
Práticas, vivências e tecnologia
Ao pensar a atividade da criança e do professor, a Teoria
Histórico-Cultural destaca a concepção de atividade, como um novo
lugar à criança, que participa de sua construção do conhecimento
como o próprio sujeito da atividade que realiza - o autor.
Considerando essa experiência em momentos com as crianças
e dialogando com os estudiosos dos pressupostos da THC, considera-
se que a aprendizagem da criança sucede através da relação com
objetos culturais, da compreensão do seu uso social, partindo da
interação ‘mediada socialmente’ e sua atividade (ação), ou seja, a
criança aprende para se desenvolver. Segundo Mello (1999, p. 7 apud
MAGALHÃES, 2015, p. 63) “[…] as relações do indivíduo com a
cultura constituem condição essencial para esse desenvolvimento”. Se
a criança não tem esse contato com a cultura, com seus pais e
antecedentes, o aprendizado não acontece, os adultos e professores,
considerados os parceiros mais experientes, são aqueles que interferem
na interação e na relação da criança com o mundo.
A Teoria Histórico-Cultural ressalta práticas pedagógicas
como processo de humanização, portanto, é necessário compreender
193
o papel do professor como quem promove o desenvolvimento.
Lembrando que deve ser articulado um trabalho livre e autônomo, de
criação, de escolhas de caminhos, de pensar em recursos, estratégias e
intencionalidade. Magalhães (2015) aponta alguns aspectos de Mello
(2009, p. 1-2):
[...] acesso das crianças à cultura nas suas formas mais
elaboradas e que extrapolam a cultura a que a criança tem
acesso na vida cotidiana; a expressão das criaas por meio
de múltiplas linguagens; e ainda, a atividade das crianças
em situações significativas em parceria com os adultos em
espaços intencionalmente organizados para promover a
expressão infantil e o acesso das crianças à cultura.
(MAGALHÃES, 2015, p. 64).
Refletindo sobre as práticas e ações pedagógicas, ressalta-se a
importância do diálogo, considerando a criança como sujeito
histórico, social e cultural, para entender e elaborar as atividades e,
posteriormente, propor e trazer para o espaço de aprendizagem, de
uma maneira que seria mais natural para ela.
A importância da compreensão dialética deve acontecer com
intencionalidade do mediador mais experiente, em cada atividade, em
cada troca de saber nos espaços da escola e em diversos momentos do
cotidiano do estudante e professor. Um momento que pode ser
citado, talvez, para representar essa compreensão dialética seria
quando se faz os combinados da turma, pois eles precisam fazer
sentido para as crianças, elas precisam ser autoras e participantes desse
diálogo, para significar e fazer sentido.
194
A THC compreende o desenvolvimento humano como um
processo de aprendizagem, ou seja, as vivências e experiências
impulsionam o desenvolvimento; considerando o ser humano como
produto histórico da sociedade e cultura. Rompe-se com a ideia da
criança incapaz, quando se considera que a criança aprende para se
desenvolver, sendo um desafio para as ações e práticas pedagógicas.
Sobre todos esses aspectos e revisitando ações e práticas
pedagógicas em momentos e vivências no espaço de aprendizagem,
com crianças de 3 a 6 anos, na experiência aqui compartilhada, é
possível perceber a interação entre os pares e o papel de mediadora
em atividades realizadas em vários momentos com os estudantes,
possibilitando que sejam sujeitos ativos, com ões significativas e em
espaços organizados para promover o desenvolvimento, apropriação
do conhecimento e novas vivências e experiências.
É relevante pensar nas condições adequadas para realizar uma
educação que possibilita e promove o desenvolvimento humano na
criança durante a infância, sem os privar das brincadeiras e jogos
característicos dessa fase, considerando a sua relação com o mundo
cultural no qual está inserida sem restringir seu acesso às formas
mais elaboradas da cultura histórica e socialmente acumulada. Da
mesma forma, organizar a escola como um lugar de cultura é
extremamente importante, proposta não muito fácil, quando se
trabalha em instituições tradicionais, com posturas disciplinares
rígidas para as crianças.
A função social dos signos envolve o pensar, o agir, o sentir e
a história no mundo em que os sujeitos estão inseridos, isto é, o signo
se constrói em um espaço social, entre sujeitos e se constituem na
história humana. Volóchinov (2017, p. 109) adverte que “[...] todo
195
signo surge entre indivíduos socialmente organizados no processo de
sua interação”. É a linguagem, partindo de sua concepção, passando
por situações dialógicas e se formando como produtos de sentidos e
das relações dos sujeitos, é social. Nos dias atuais, considerar o
cotidiano das crianças e o mundo em que estão inseridos, para se
pensar as práticas e ações pedagógicas seja em escola formais ou
informais, é fundamental dialogar com as tecnologias e utilizá-las
como parte das atividades propostas dentro e fora dos espaços de
aprendizagem para promover ensino e desenvolvimento delas.
O uso das tecnologias pode se tornar um desafio, com pontos
e contrapontos, para a promoção do conhecimento com a
intencionalidade do professor, ou como um distrativo para a
interação e relação com o outro sem cunho científico e crítico, se o
uso se der de forma indiscriminada e sem proposição.
A seguir, compartilho minha experiência com o público
infantil em que as tecnologias digitais de informação e comunicação
foram fundamentais para a realização das práticas de ensino e
aprendizagem. O uso de aplicativos com estudantes dessa faixa etária
possibilita a inserção de recursos tecnológicos ainda com crianças
pequenas, promovendo o contato com diversas linguagens e
diferentes formas de construir sentido.
Abordando minha experiência
Na experiência, aqui, retratada, durante as práticas com os
estudantes de 3 a 6 anos, destacam-se as tecnologias utilizadas no
cotidiano, como: televisão para a projeção do livro, para filmes,
músicas e vídeo; computadorpara a projeção, e pesquisas, músicas,
196
jogos, histórias, etc; livro digital; música para organizar os espaços de
aprendizagem e atividades entre os estudantes (estudantes -
estudante) e professor - estudante; preparo e projeção de slides para
introdução de novos desafios, assuntos e conteúdo; recursos para
jogos, como Kahoot!, Baamboozle, Gartic, Esl games plus; e Canva -
para elaborar cartazes, informes e comunicação (como bilhetes para
reuniões, recados para os estudantes).
As práticas pedagógicas conduzidas com o suporte dos
recursos tecnológicos promoveram dinamismo nos momentos de
aprendizagem a partir das ferramentas, auxiliando e motivando a
interação entre professor e estudante, e entre pares, fomentando a
troca e apropriação de saberes.
É importante destacar que, além das tecnologias, ressaltam-se
demais práticas, como Act out! (Teatro troca de papéis), projetos
individuais e coletivos (com reciclagem, máscaras, sobre datas
comemorativas e assuntos abordados durante as aulas), dança da
cadeira, gincanas, livros de literatura (leitura de imagens/objetos e
história oralizada pela professora, contação de histórias), descrição de
imagens ou objetos presentes no espaço em que estavam inseridos (ou
mesmo roupas, mochilas, sapatos, etc.) entre outras atividades e
brincadeiras para promover o protagonismo e autoria das crianças.
Diante das questões aqui apontadas, observa-se a importância
em considerar e compreender o desenvolvimento dos seres humanos,
para pensar a organização de propostas de atividades baseadas nas
experiências e diferentes vivências nos mais variados eventos sociais,
no cotidiano de situações de vida e, principalmente, na escola durante
a aprendizagem escolar, que o estudante assume novas formações que
lhes são básicas como, por exemplo, a tomada de consciência e
197
apreensão, incidindo em seu desenvolvimento como um todo,
possibilitando outras relações com a realidade que o cerca, consigo
mesmo e com o outro.
Considerar a relação entre teoria e práticas pedagógicas,
pontuando a importância de organizar o ambiente e os espaços
múltiplos da escola devem ser ações cotidianas do professor. O espaço
em que aconteciam os momentos de ensino e aprendizagem com as
crianças pequenas, era organizado e pensado, considerando a faixa
etária, contextos, eventos sociais, temáticas – com almofadas, tapetes
de atividades, um fantoche para interação, pelúcias, livros de
literatura para os pequenos, cadeiras e mesas pequenas e coloridas, e
um espaço amplo para atividades diversas. A estrutura física da escola
proporciona momentos de troca e vivências nos demais espaços, como
a cozinha, anfiteatro, terraço externo superior, área de convivência e
espera, uma estante/biblioteca de livros e revistas diversas.
Destacamos, na Figura 1, algumas atividades desenvolvidas
juntamente com as crianças no espaço escolar nas práticas em língua
inglesa, como: Means of transportation Trem porta lápis - Eu que fiz!,
Organizar a mesa, Project Robot - feito por s reciclados, Game time
brincar e aprender / Let´s count! números / Cores e movimentos /
Coordenação, atenção e aprendizado.
198
Figura 1 – Atividades elaboradas com as crianças
Fonte: Organizado pela autora (2022)
Os diversos espaços da escola podem servir de ambiente para
o ensino e aprendizagem de língua estrangeira. Ressalta-se, aqui, que
o mais importante é desconstruir a ideia de que o único ambiente
199
possível para a construção do conhecimento seja a tradicional sala de
aula com sua disposição de carteiras em linha reta, lousa e giz.
Quando pensamos na apropriação de uma língua estrangeira, não
podemos deixar de pensar na interação entre os pares e,
principalmente, nas possibilidades que o contexto pode ofertar por
meio de estímulos visuais, táteis e olfativos.
O ensino de inglês para crianças pequenas e a pandemia
Em um cenário mundial, no ano de 2020, instaurou-se a
pandemia do Covid-19. No Brasil, sua proliferação conciliada com a
crise política, social, sanitária e econômica levou milhares de pessoas
a óbito. Como medida protetiva, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) recomendou o distanciamento social, modificando as relações
sociais e transformando os lares em espaços múltiplos.
Neste contexto, o Ministério da Educação (MEC) estabeleceu
as portarias: Portaria 343, de 17 de março de 2020 que “Dispõe
sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais
enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus -
Covid-19 MEC” (BRASIL, 2019) e a Medida provisória 934, de
de abril de 2020 que “Estabelece normas excepcionais sobre o ano
letivo da educação básica e do ensino superior decorrentes das
medidas para enfrentamento da situação de emergência de saúde
pública de que trata a Lei 13.979, de 6 de fevereiro de 2020”
(BRASIL, 2020, p. 1).
Considerando a excepcionalidade do momento pandêmico
em que vivemos, implementou-se uma nova modalidade de ensino
nas escolas, o ensino remoto emergencial (ERE), o qual aumentou
200
ainda mais as diferenças sociais, devido às condições de acesso à
internet e ao acesso e manejo das tecnologias necessárias para iniciar e
dar continuidade ao ensino.
As dificuldades da aprendizagem pelo ensino remoto,
também, ficam evidentes, nas trocas e vivências entre os pares. Com
esse distanciamento todos perdem, professores, estudantes e famílias.
Considerando a perspectiva da relação existente entre a criança e o
meio, e suas diferentes faixas etárias, concluímos que o meio é
dinâmico e sem as aulas presenciais, todos encontramos novos
desafios para o processo de ensino e aprendizagem. Podemos
mencionar, por exemplo, a dificuldade de familiarização às
tecnologias e à nova modalidade de ensinar e aprender, para a
continuidade do ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras,
foram inúmeras.
Inicialmente, destacamos a conversa inicial com as famílias
para explicitar o funcionamento das atividades para que as crianças
dessem continuidade às aulas de inglês. Em seguida, deparamo-nos
com a redução expressiva do número de crianças nas turmas e as
incertezas sobre a manutenção de turmas pequenas por parte da
escola. E as demais dificuldades foram surgindo como, por exemplo:
a decisão da plataforma a ser utilizada para as aulas on-line, a
comunicação com os familiares para explicar o uso da plataforma, os
equipamentos tecnológicos de professores e famílias, a comunicação
com as famílias e os profissionais da escola via WhatsApp se tornou
uma constância, inúmeras reuniões on-line, etc.
Após momentos de reflexões, debates e decisões, as atividades
on-line se iniciaram, infelizmente com um número muito reduzido de
estudantes. A plataforma ZOOM foi utilizada, com recursos como
201
'Whiteboard' - quadro branco para explicações, brincadeiras, gravação,
e apresentação de tela; as chamadas tinham duração de quarenta
minutos (40min), portanto, era necessário enviar um novo link ou
código de acesso, um desafio e tanto, principalmente com crianças
pequenas, pois algumas delas não conseguiam realizar o processo
sozinhos, dependendo de um membro da família ou um adulto para
o retorno à aula na referida plataforma.
Outro desafio que pode ser mencionado para a continuidade
do processo de ensino e aprendizagem da língua inglesa para crianças
pequenas na modalidade on-line foi a elaboração e condução de
atividades nas quais as crianças continuassem sendo os autores, ativos,
criativos, participativos.
Uma situação complexa, com pontos e contrapontos a serem
considerados, e pensados para promover o processo de aprendizagem
das crianças. Bakhtin (2011, p. 379) afirma que o entendimento da
nossa cultura e da cultura do outro, se na relação com a palavra do
outro, “a palavra do outro coloca diante do indivíduo a tarefa especial
de compreendê-la [...] As complexas relações de reciprocidade com a
palavra do outro em todos os campos da cultura e da atividade
completam toda a vida do homem.”.
Uma vez instaurado o ERE, o processo de transformação das
ações e práticas pedagógicas aconteceu de maneira gradual, com a
participação e diálogo entre professor e estudante constantes. Sendo
assim, algumas das atividades anteriormente conduzidas de forma
presencial aconteceram de formas diversas e o uso das tecnologias e
dos recursos, como games, música, projetos e os sites e jogos, elencados
anteriormente, foi intensificado, sofrendo ajustes, quando necessário.
202
Em momento de isolamento social, o espaço em que a criança
estava inserida, durante os encontros, passou a integrar o ambiente de
ensino e aprendizagem e, assim, passou a compor a realização de
práticas pedagógicas em língua inglesa, como: apresentação de alguns
brinquedos e compartilhamento com os pares, detalhando as
características utilizando palavras em inglês, brincadeiras como
traga algo green (verde ou de qualquer outra cor) ou big (grande)
dependendo do contexto que estava sendo visto na aula, etc. A leitura
do livro de literatura foi realizada por meio da apresentação de slides,
elaborados pela professora, contemplando uma intensificação de
imagens em cada página além do texto escrito, “oralizado” pela
professora.
Dando sequência ao relato, durante o ERE, a comunicação,
troca de informação e recados eram realizados através de grupos de
WhatsApp, utilizando cartazes elaborados no Canva. A figura 2, a
seguir, exemplifica a elaboração de materiais de divulgação
(comunicação e recados) a serem enviados aos pais.
Figura 2 – Comunicação e recados
Fonte: Organizado pela autora (2022)
203
Podemos observar, por meio da imagem 2, as múltiplas
linguagens utilizadas no processo de composição dos sentidos. Desse
modo, os textos multissemióticos cumprem não apenas com a função
social de comunicar, mas também de enriquecer as possibilidades de
sentido, seja pelas imagens, seja pelas cores, ou até mesmo pelo som
ou movimento. O fato de se tratar do público infantil e, sobretudo,
em razão das inúmeras ferramentas digitais recorrentes na atualidade,
os multiletramentos se tornam uma proposta coerente com a
realidade das crianças.
Considerando a concepção de linguagem como instrumento
cultural, trazida na discussão ao longo deste capítulo, destaca-se o
quanto a linguagem “[...] encarna como todos os instrumentos
criados pelos homens em suas relações sociais e históricas, os valores
humanos e as suas funções nessas relações, que transformam o
instrumento e por ele são transformados durante o movimento
histórico” (ARENA, 2017, p. 19).
A seguir, são apresentadas fotos de uma das atividades
realizadas na modalidade on-line com as crianças. A partir de um
assunto trazido pelo material didático (MD), sobre comidas favoritas,
foi realizado umBrainstorm(chuva de ideias) para identificar quais
comidas as crianças conheciam e quais não, em inglês. Em seguida,
foram realizadas algumas atividades trazidas pelo MD, para, então,
iniciar um jogo utilizando o Kahoot!. Finalmente, foi solicitado para
as crianças que ilustrassem suas comidas favoritas, que foi fotografada
pelos pais ou por eles mesmos e enviado à professora por WhatsApp.
204
Figura 3 – Ilustrações realizadas pelos estudantes
Fonte: Organizado pela autora (2022)
A teoria dos multiletramentos é de suma importância quando
pensamos no poder de alcance das multissemioses. Outro aspecto
relevante está no estímulo visual e/ou auditivo que os recursos
tecnológicos possibilitam. Não podemos deixar de mencionar a
responsabilidade do educador no processo de elaboração, aplicação e
acompanhamento dessas atividades, uma vez que a intencionalidade
precisa estar clara e com propósitos bem definidos.
Considerações Finais
Partindo da noção de que o conhecimento é dinâmico, e não
estático e que as crianças são sujeitos histórico-sociais, portanto
produtores de cultura, compreende-se que o papel da educação é,
como atividade mediadora, possibilitar a emancipação do sujeito e,
ainda, uma possível superação das relações de dominação.
Ao buscar embasamento teórico-metodológico, o professor se
capacita para pensar e elaborar melhor a intencionalidade de suas
205
práticas e das atividades a serem desenvolvidas; enquanto medeia todo
processo, tem a responsabilidade de sistematizar a aprendizagem pré-
escolar e escolar para promover o desenvolvimento, e inserir o
estudante no processo histórico-social no qual se constitui. É
fundamental que o professor lance mão das teorias tradicionais,
redefina seu papel e pense em novas propostas de atividades e
estratégias didáticas para seus estudantes.
Ampliar os saberes, vivências e experiências das crianças,
promovendo a passagem de sua experiência cotidiana para a complexa
atividade humana, como a arte, as ciências, o conhecimento mais
elaborado - articular as vivências da vida cotidiana com a cultura – é
o papel essencial da escola. É no processo de viver as experiências que
lhes são apresentadas que as crianças vão formando sua personalidade
e sua inteligência, como a forma se relacionar com os outros e com as
coisas, imaginação, autonomia, autoestima, o respeito pelo outro
refletido no respeito que o/a professor/a tem com suas ideias e ões.
O professor pode promover e ampliar o seu contato com a
cultura, e conhecer essas possibilidades de ampliar as experiências
cotidiana das crianças através da cultural da comunidade,
considerando que a criança é capaz de se desenvolver o conhecimento
científico - ampliação da experiência cotidiana das crianças- por meio
da cultura disponível em sua comunidade cada vez mais global.
Pode-se destacar a importância do espaço da escola nesse
processo de apropriação de conhecimento e aprendizagem na
interação com o outro. Sendo a cultura - a herança cultural da
humanidade - a fonte das qualidades humanas, o espaço da escola
deve ser o lugar dessa herança cultural nas suas formas mais
elaboradas.
206
A sociedade e o ensino vêm se transformando cada vez mais
rapidamente o conhecimento é dinâmico por isso exige que o
professor busque sempre novas propostas e estratégias didáticas para
desempenhar, refletir, e ter consciência de sua função de educador.
O professor precisa estar atento e preparado para essas
questões ao preparar seu planejamento, pois as atividades propostas
devem ter intencionalidade de desenvolver o conhecimento e
aprendizagem da criança, para além do que ela conhece.
Considerando essas reflexões, é fácil salientar como é essencial
a formação do professor para além do ensino de métodos, conteúdo
e currículo, e como o conhecimento de teorias metodológicas,
recursos e estratégias didáticas são fundamentais para apoiar nossas
ações e práticas pedagógicas.
Em suma, ainda que em tempos tão desafiadores de
pandemia, o ensino deve promover práticas com significação,
integradas, conectadas às demandas, pautadas na inovação, trazendo
a potencialidade do conhecimento de mundo e cultura. E, ainda, o
aprendizado de uma língua estrangeira deve fazer parte de um
processo educacional que se propõe a elevar os estudantes para a
condição de sujeitos históricos e críticos, que percebem e
compreendem a linguagem e sua natureza como constituidora das
consciências.
207
Referências
ARENA, D. B. Considerações em torno do objeto a ser ensinado:
língua, linguagem escrita e atos culturais de ler e de escrever. In:
MORAES, D. R. Silva; GUIZZO, A. R. (Org.). Coletânea de
artigos: Humanidades nas fronteiras: imaginários e culturas latino-
americanas. 1. ed. Foz do Iguaçu: Unila/Unioeste, v. 1, 2017, p. 13-
28.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo
Bezerra. 6. ed.São Paulo: Martins Fontes, 2011.
BACICH, L.; MORAN. J. (Orgs.). Metodologias ativas para uma
educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre:
Penso, 2018 [e-PUB].
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB.
9394/1996. De 20 de dezembro de 1996. BRASIL.
BRASIL. Medida Provisória 934, dede abril de 2020.
Estabelece normas excepcionais sobre o ano letivo da educação
básica e do ensino superior decorrentes das medidas para
enfrentamento da situação de emergência de saúde pública de que
trata a Lei 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Disponível em:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/medida-provisoria-n-934-de-
1-de-abril-de-2020-250710591. Acesso em: 20 set. 2021.
BRASIL. Ministério da Educação. PCN Parâmetros Curriculares
Nacionais (5ª a 8ª séries)ngua Estrangeira. Secretaria da
Educação Fundamental. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998.
208
BRASIL. Ministério da Saúde. O que é a COVID-19? Governo
federal, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-
br/coronavirus/o-que-e-o-coronavirus. Acesso em: 17 set. 2021.
BRASIL. Portaria 343, de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a
substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais
enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus -
COVID-19.MEC. Disponível em:
https://abmes.org.br/legislacoes/detalhe/3017/portaria-mec-n-343-
2020. Acesso em: 20 set. 2021.
KALANTZIS, M.; COPE, W. Language Education and
Multiliteracies. S. May and N. H. Hornberger (eds), Encyclopedia
of Language and Education, 2.ed, v. 1: Language Policy and
Political Issues in Education, 195–211. #2008 Springer
Science+Business Media LLC.
LOPES, J. G. Novos letramentos, multiletramentos e protótipos de
ensino produção e análise de um livro digital interativo. Revista
Triângulo, Uberaba - MG, v. 11, n. 2. 2018. p. 231–251.
Disponível em:
https://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/revistatriangulo
/article/view/2754. Acesso em: 20 ago. 2022.
MAGALHÃES, C.; ARTUR, A. Documentar a aprendizagem para
avaliar e comunicar. Repositório Científico da Universidade de
Évora. 2015. Disponível em: https://core.ac.uk/reader/154812666.
Acesso em: 02 ago. 2022.
209
MELLO, S. A.; FARIAS, M. A. A escola como lugar da cultura mais
elaborada. Revista Educação, Santa Maria, v. 35, n. 1, p. 53-68,
jan./abr. 2010. Disponível em:
http://www.ufsm.br/revistaeducacao. Acesso em: 01 ago. 2022.
RIBEIRO, A. E., Letramento Digital: um Tema em Gêneros
Efêmeros. Revista da ABRALIN, v.8, n.1, p. 15-38, jan./jun. 2009.
VOLÓCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem:
problemas fundamentais do método sociológico na ciência da
linguagem. Tradução: Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo.
São Paulo: Editora 34, 2017.
210
211
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p211-228
AS TECNOLOGIAS NO COTIDIANO DE UMA PESSOA
COM DEFICIÊNCIA VISUAL:
ESTREITANDO/AMPLIANDO VÍNCULOS
COM A REALIDADE
Maria Rosa Delmasso RODRIGUES
1
Introdução
Ao pensarmos no sujeito e na sua formação enquanto pessoa
humana temos que ter um olhar capaz de percebê-lo no contexto em
que está inserido em relação ao tempo e espaço. Isso porque, o
conhecimento é algo construído socialmente através das relações do
sujeito com o outro e com o mundo que o cerca.
A realidade em que vivemos é basicamente percebida e
captada através da visão e a comunicação na maior parte das vezes se
através de sinais e imagens visuais. Quando falamos sobre pessoas
com deficiência visual podemos dizer que existem duas categorias,
dentre elas, a cegueira e a baixa visão.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu cegueira
como a acuidade visual menor do que 3/60 no melhor olho, com a
melhor correção óptica, além de definir a incapacidade visual
1
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de
Marília/SP / e-mail: mrosadelmasso@gmail.com
212
acentuada (baixa visão) como a acuidade menor do que 6/60 no
melhor olho, com a melhor correção óptica.
Do ponto de vista educacional, o diagnóstico considera o
tipo de sistema que a pessoa irá utilizar na leitura e na escrita. Para as
pessoas com cegueira, na "[...] ausência total de visão até perda total
de luz, o processo de aprendizagem se dará através da integração dos
sentidos: táctil-cinestésico-auditivo-olfativo-gustativo, utilizando o
Sistema Braille, como meio principal de leitura e escrita (BRUNO,
1997, p. 7 apud GALVÃO et al., 2015, p. 146). para as pessoas
com baixa visão "[...] o processo educativo se desenvolverá por meios
visuais, ainda que seja necessária a utilização de recursos específicos”
(idem).
Pensando no desenvolvimento da pessoa com deficiência
visual, o contexto social é importante para promover esse
desenvolvimento. As dificuldades da pessoa com deficiência visual em
se inserir na vida social decorrem da posição que a sociedade atribui
a sua situação atípica. A consciência de como a sua diferença é
encarada socialmente é o ponto de partida e principal força motriz do
seu desenvolvimento psíquico.
Sedimentada sob fortes bases perceptivas, as relações do ser
humano com o mundo são construídas a partir do invisível, do que
não é dito, do que é sentido, percebido. Prestes (2010) concorda com
esse argumento ao discutir o processo de socialização da pessoa com
deficiência e dos familiares, afirmando que eles,
[...] passam por um particular processo de socialização no
qual aprendem a respeito da sua condição social especial e
de como as pessoas comuns da sociedade pensam a respeito
213
deles. Nessa socialização, podem incorporar as crenças da
sociedade a respeito deles e desenvolver auto-identidade de
pessoas imperfeitas e desacreditadas (ou desacreditáveis)
socialmente [...] fala-se mais e mais de inclusão, sem pensar
que não se trata de incluir, trata-se sim de conhecer as
diversas possibilidades para o desenvolvimento humano e
de estar aberta a elas numa relação dialógica genuína.
(PRESTES, 2010, p. 191).
Sou uma pessoa com deficiência visual e sinto diariamente os
reflexos de uma sociedade que ainda nos com descrédito,
colocando a deficiência antes da pessoa. A seguir, discutiremos alguns
casos que vivenciei e que ilustram e podem promover reflexões
teóricas sobre a percepção da sociedade que desacredita na capacidade
de atuação profissional da pessoa com deficiência visual. Trarei
também algumas situações em que o uso das tecnologias digitais de
informação e comunicação (TDIC) viabilizou meu processo de
inclusão profissional e escolar.
Discurso e prática da inclusão
Os relatos que irei compartilhar dizem respeito a situações
vivenciadas em minha carreira profissional. Após ser aprovada em
concurso público, vi a minha possibilidade de trabalhar ser frustrada,
em virtude de ato ilícito do Poder Público, o qual declarou-me
incapaz, por ser deficiente visual, na avaliação da perícia médica, sem
oportunizar a avaliação da compatibilidade da deficiência com o
cargo, visto que não havia uma equipe multiprofissional para realizar
esta avaliação, evidenciando ato de discriminação.
214
Tal situação ocorreu duas vezes, uma no concurso Público
Municipal da cidade do interior do estado de São Paulo para Diretora
de escola em 1993 e o outra no concurso de uma cidade do litoral
Norte do estado de São Paulo, para professora da educação básica,
realizado em 2007.
Vale ressaltar que, em 2007 havia ocorrido a Convenção
Internacional da Pessoa com Deficiência, realizada em Nova York, a
qual passou a focar a deficiência não na pessoa, mas sim no corpo
social. Isso representou um grande avanço, mas ainda exige a
mediação de todos para que as pessoas com deficiência tenham
igualdade de oportunidades e condições. Entretanto, apesar desta
Convenção ter, em 2009, adquirido o poder de emenda
constitucional, ela não foi acolhida pelos órgãos públicos dessas
cidades. No dia a dia, ainda continuaram focando a deficiência ao
invés de fazerem a mediação por meio dos recursos tecnológicos de
acessibilidade existentes, e que possibilitam exercer funções que
antes seriam impossíveis e que agora podem garantir o direito de
igualdade e oportunidades, tais como: a utilização dos computadores
com leitores de telas e softwares de programas de acessibilidade,
scanners etc.
De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, o não
cumprimento do parágrafo 2, do Artigo , da lei 7853 (BRASIL,
1989) é considerado como omissão. O Parágrafo segundo diz que:
A pena pela adão deliberada de critérios subjetivos para
indeferimento de inscrição, de aprovação e de cumpri-
mento de estágio probatório em concursos públicos não
exclui a responsabilidade patrimonial pessoal do
215
administrador público pelos danos causados. (BRASIL,
1989, s.n.).
É possível observar que os municípios agiram com total
afronta ao princípio da isonomia, uma vez que apesar de promoverem
concurso para o cargo de professor, destinando vagas para portadores
de deficiência, negaram a posse, justamente em razão da deficiência
visual, desprezando toda a minha experiência anterior, declarando-
me inapta sem ao menos me dar posse no cargo a fim de ser avaliada
por equipe multidisciplinar, desrespeitando princípios constitucio-
nais importantes, tais como aqueles referentes à dignidade da pessoa
humana, da legalidade, da igualdade, os quais, servem como alicerce
do Estado Democrático de Direito, infringindo assim os artigos 1°,
III, e IV, 5°, e 7°, inciso XXXI da Constituição Federal, a Política
Pública para integração do deficiente físico à sociedade, os artigos 43
e 44 do Decreto 3.298/99, o art. 20 da Lei 8112/90, a Declaração
Universal dos Direitos do Homem e a Convenção Interamericana
para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Pessoas Portadoras de Deficiência. Portanto, para fazer valer meus
direitos assegurados em lei, precisei enfrentar uma verdadeira batalha
judicial; sem contar meu estado psicológico que diante de todos esses
desgastes foi se fragilizando cada vez mais.
Corrobora com o raciocínio acima a notícia veiculada na
página do Conselho Nacional da Justiça (CNJ), a qual determinou
aos órgãos do Poder Judiciário que a avaliação da compatibilidade da
deficiência com o cargo deve ser feita durante o estágio probatório.
De acordo com a matéria, ao apresentar seu voto-vista, o conselheiro
Rubens Curado esclareceu que: “Garantir à pessoa com deficiência o
216
direito à avaliação da compatibilidade entre atribuições do cargo e a
sua deficiência, durante o estágio probatório é a solução que mais
coaduna com a integração social desejada pela sociedade democrática"
(FERREIRA, 2014, s.n.), a teor do que dispõe a Constituição Federal
e a Convenção Internacional sobre os direitos das Pessoas com
Deficiência, ratificada pelo Brasil e com força de emenda
constitucional. Parecendo que, toda e qualquer dificuldade teórica de
compatibilidade pode ser superada no curso do estágio probatório, a
depender do talento, da operosidade, das habilidades e das atitudes
do candidato.
Ressalta-se ainda que para ser aprovado nas provas de
conhecimento, é assegurado ao candidato o direito de demonstrar, na
prática do dia a dia do estágio probatório, não apenas a
compatibilidade da deficiência com as atribuições do cargo, mas que
detém talento, habilidades e atitudes suficientes para, eventualmente,
suprir e superar a sua deficiência.
Importante salientar que é dever do órgão empregador e da
empresa disponibilizar recursos tecnológicos, bem como realizar as
adaptações necessárias no ambiente de trabalho visando uma inclusão
efetiva, pensando em estratégias que favoreçam a interação com o seu
grupo de trabalho.
A falta de qualificação profissional é também uma grande
barreira para a sua inserção. As escolas não oferecem ainda um
ambiente totalmente inclusivo, o que dificulta a sua permanência na
escola.
Oportuno também ressaltar que, se qualquer candidato
portador de deficiência visual é inicialmente considerado inapto ao
cargo de pedagogo, seguindo esse raciocínio, não poderíamos sequer
217
falar em inclusão de estudantes deficientes visuais nos cursos de
pedagogia. Estabelece o art.da Lei Federal 7.853 Art. 2°:
Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas
portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos
básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao
trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à
infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da
Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal,
social e econômico. (BRASIL, 1989, s.n.).
O Poder Público cometeu ato ilícito, nos termos do art. 186
do Código Civil “aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002,
s.n.).
Conforme afirma Lorenzo (2016), ao estudar as percepções
de profissionais de recursos humanos de empresas sobre o processo de
contratação de pessoas com deficiência, destaca a dificuldade que esses
profissionais apresentam para definição das vagas destinadas ao
cumprimento das cotas, bem como da seleção e avaliação dos
candidatos. Faz-se necessário, além da necessidade de capacitação dos
mesmos, também a importância dos serviços e profissionais
especializados frente a essa demanda.
Na situação, o dano é evidente, uma vez que precisei enfrentar
longa batalha judicial para me valer de um direito líquido e certo, não
bastasse a perda material, em razão de ser impedida de trabalhar, tive
a perda emocional, decorrente da frustração de ser aprovada em um
218
concurso público, alvo almejado por tantas pessoas, e ser ilegalmente
impedida de trabalhar e obter o próprio sustento.
Consegui assumir a direção da escola somente após 17 anos,
visto que mesmo a justiça tendo me concedido o direito de assumir,
ocorreram manobras que fizeram tomar posse no papel, mas me
aposentaram por invalidez. Demandou mais tempo e tive que tomar
outras medidas. Uma delas foi que assumi outros trabalhos juntando
todas as provas suficientes da minha capacidade bem como as perícias
realizadas que comprovaram a minha aprovação em outros concursos.
Todo ano, procurava os responsáveis do órgão que me retirava e
questionava por que não podia trabalhar nesta cidade, contrariando
toda a legislação o qual me garantiu este direito.
Bem, sabemos que o Brasil possui uma farta legislação que se
fosse cumprida, garantiria a verdadeira inclusão. Mas, a maior barreira
são as negligências e o preconceito daqueles que deveriam ser os
exemplos no cumprimento das leis e o despreparo dos que atuam
direta e indiretamente no processo da inclusão.
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
nº.9394/96 (BRASIL, 1996), a educação especial tem como objetivo
a formação do indivíduo para o exercício de sua cidadania de forma
inclusiva. Dentre as áreas de atendimento está a profissionalização da
pessoa com deficiência, designada a assegurar a inclusão desses
indivíduos no mercado de trabalho.
Na busca de realizar um trabalho de qualidade, procuro
refletir em minhas ações verificando e garantindo que as mesmas
sejam pautadas no que é justo e se o fruto do meu trabalho contribui
de forma efetiva para a mudança e transformação da realidade que
nos cerca.
219
Ao atuar como diretora de Escola Municipal de Educação
Infantil (EMEI), procurava visualizar cada criança na sua
especificidade, pensando no que de concreto aquela ação contribuiria
para o seu pleno desenvolvimento na formação da sua cidadania.
Sempre conversava sobre quais os problemas apresentados pelos
professores, pais e, com as crianças nos diálogos, analisava a fim de
identificar alguns problemas ou dificuldades que poderiam estar
vivendo no ambiente escolar ou familiar, intervindo de forma
positiva. Quando não se conhece o outro, é necessário estarmos
abertos para as novas experiências que se apresentam diante de nós.
Infelizmente, ainda é a Lei de Cotas o principal motivo para
as contratações. Percebe-se um avanço na sociedade em relação à visão
sobre a deficiência, porém verifica-se ainda um grande
distanciamento entre discurso e ações práticas. Tais representações
são um reflexo dessa ambiguidade manifestada nas empresas.
Repercutindo em grande prejuízo para as pessoas com deficiência que
procuram inserir-se no mercado de trabalho, facilitando ou
dificultando o ingresso, determinando perfis de vagas, de salários e
outras formas de reconhecimento.
Goffman (1988) afirma que a pessoa com deficiência carrega
o estigma do desacreditado, pairando sempre sobre ela a dúvida em
relação às suas capacidades. Os recursos tecnológicos desempenham
um papel fundamental na garantia de direitos das pessoas com
deficiência. Bachic e Moran (2018, p. 17) ampliam o debate para a
educação ao afirmarem que:
220
A educação não é a preparação para a vida, ela acompanha
a própria vida, o desenvolvimento do ser humano, sua
autonomia e aprendizagem por meio da experiência e da
reflexão sobre a experiência que impulsiona estabelecer
relações, tomar consciência, construir conhecimento e
reconstruir a experiência.
Compartilho do pensamento da Escola Nova de John Dewey,
pautada pelo aprender fazendo (learning by doing) em experiências
com potencial educacional, se fazendo presente em tempos de
metodologias ativas integradas com as TDIC. Dewey (1959) propôs
uma educação entendida como processo de reconstrução e
reorganização da experiência pelo aprendiz.
Aliada ao movimento como forma de tornar possível e efetivo
a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade e nos seus
diferentes segmentos, criou-se a Tecnologia Assistiva que é
[...] uma área do conhecimento, de característica
interdisciplinar, que engloba produtos, recursos,
metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam
promover a funcionalidade, relacionada à atividade e
participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou
mobilidade reduzida, visando sua autonomia,
independência, qualidade de vida e inclusão social.
(BRASIL, 2007, p. 3).
Clemente (2008) considera que a inserção de pessoas com
deficiência no trabalho é um processo contínuo e crescente, em
função da ampliação do entendimento de que estas pessoas têm
221
possibilidades de ingressar no trabalho, bem como do avanço das
tecnologias assistivas. Destaca-se a questão da permanência no
trabalho, sendo que este é outro aspecto importante de ser analisado,
visto que a inserção ocorre por força de lei, mas as condições para que
o funcionário continue nas empresas nem sempre acontecem e, dessa
forma, cria-se obstáculo ao desempenho efetivo e permanência na
empresa.
Temos que compreender que a falta de conhecimento, dos
que contratam, sobre a existência de recursos tecnológicos que
possibilitam que a pessoa com deficiência possa desempenhar suas
atividades laborais.
No caso da pessoa com deficiência visual, uma variedade
de softwares e ledores de tela tornando possível que os usuários possam
escolher o que mais atenda às suas reais necessidades. Tendo esta
ferramenta como base a utilização de um sintetizador de voz que
informa sobre todos os elementos que são exibidos na tela do
computador, possibilitando também a leitura dos elementos textuais.
A intensa expansão do uso social das tecnologias digitais de
informação e comunicação (TDIC) sob a forma de
diferentes dispositivos móveis conectados à internet sem
fio, utilizados em diferentes espaços, tempos e contextos,
observada na segunda década do século XXI, gerou e
continua gerando mudanças sociais que provocam a
dissolução de fronteiras entre espaço virtual e espaço físico
e criam um espaço brido de conexões. (ALMEIDA,
2018, p. 9).
222
Olhando as possibilidades através dos novos
recursos pedagógicos utilizados em sala de aula
No período em que as aulas passaram a ser remotas devido à
pandemia, tivemos que nos reinventar, um ajudando o outro,
descobrindo aplicativos e outras tantas possibilidades para conseguir
implementar o novo modelo de educação. Nestes encontros e
desencontros, de novas práticas sem a prática, foi-me solicitado por
uma professora da escola que eu pudesse criar um vídeo com o meu
cão-guia, em que eu explicava para as crianças da turma, de 2 a 3 anos
de idade, sobre o que faz um cão-guia e qual a sua importância para
uma pessoa com deficiência visual. Seria postado o vídeo na
plataforma das aulas on-line.
Neste período, eu atuei como diretora desta escola de
Educação Infantil do interior de São Paulo. Eu me vi sem qualquer
experiência, tendo que gravar um vídeo falando com crianças tão
pequenas sem que elas estivessem no mesmo espaço e tempo comigo.
Sem poder interagir com elas, pensar como falar e ao mesmo tempo
pensar o que poderiam querer me perguntar e de que forma deveria
conduzir toda esta dinâmica, trazendo para elas uma curiosidade em
querer saber através do vídeo e capturar a sua atenção.
Apesar de ter sido uma gravação sem profissionalismo e
utilizando o meu celular por meio das dicas de um outro professor da
escola, consegui realizar a gravação
2
. Muitos pais e crianças, por não
haver aula presencial, não me conheciam e tão pouco o meu cão-guia.
2
O vídeo pode ser acessado em:
https://drive.google.com/file/d/1tvuDotX2qkA4nLCmj6AnPzbqObdRyY-
F/view?usp=sharing
223
Ao irem até a escola a fim de retirar os materiais impressos ou pegar a
cesta que estava sendo disponibilizada, ou mesmo para pedir alguma
informação, no primeiro momento, assustavam-se não com o cão-
guia mas ao perceberem que a diretora era cega.
As crianças antes da pandemia estavam acostumadas
comigo e com o meu cão-guia e gostavam muito de passar perto da
sala ou entrar para cumprimentá-lo. Ao gravar o vídeo, vi a grande
oportunidade de que a informação fosse passada de forma mais rápida
para a comunidade, pois sabemos que uma criança pode ter um irmão
com deficiência visual em outra sala ou em outra escola. Em um
primeiro momento, eram muitas as inquietações não somente a
respeito do do meu cão-guia, mas também sobre mim, uma pessoa
com deficiência no cargo de direção, que chegou a lugares não
imaginados pelo senso comum da sociedade, ou seja, minha história
poderia/pode, apoiar e inspirar outras pessoas.
em outra escola, após a pandemia, atuando como
professora de atendimento educacional especializado, uma professora
me pediu se poderia ir com o meu cão-guia até sua turma para que
seus alunos conhecessem o trabalho dele. Entretanto, como ele
estava aposentado e passando por um tratamento de saúde, eu disse
que no momento ele não poderia sair, mas disponibilizaria o deo
para as crianças e, assim, que ele estivesse recuperado o levaria até
turma.
Foi muito interessante como o deo aproximou pessoas e
pôde criar empatia nas crianças, pois eu não era daquela escola e estava
naquele dia fazendo o acompanhamento de uma criança cega da
turma do infantil II e ao me verem no parque as crianças correram
224
como se me conhecessem a anos me abraçando e perguntando
quando levaria o meu cão-guia para eles conhecerem.
Percebi que as crianças começaram a interagir com esta
criança que não era nem da turma. O vídeo provocou uma mudança
na forma de ver o outro com deficiência, tendo em vista que gerou
uma empatia e uma compreensão de que o não enxergar não significa
ser incapaz. Pelo contrário, a referência que transmiti a eles foi de uma
pessoa cega que podia andar sozinha e ser diretora de uma escola. E o
cão guia foi para eles um ponto de interesse, mas gerou muitos
frutos, ocorrendo a mudança de olhar para o outro com deficiência.
Na convergência entre espaços presenciais e virtuais
surgem novos modos de expressar pensamentos,
sentimentos, crenças e desejos, por meio de uma
diversidade de tecnologias e linguagens midiáticas
empregadas para interagir, criar, estabelecer relações e
aprender. Essas mudanças convocam participação e
colaboração, requerem uma posição crítica em relação à
tecnologia, à informação e ao conhecimento, influenciam
a cultura levando à emergência da cultura digital
(BACICH; MORAN, 2018, p. 14).
Nota-se, portanto, o quanto a tecnologia, neste caso, foi capaz
de aproximar pessoas e fazê-las compreender a realidade do outro,
respeitando-o e enxergando as suas potencialidades.
225
Considerações Finais
Todos nós vivemos um período muito difícil com a
pandemia. Muitas mortes e muitas vezes famílias inteiras atingidas
pela Covid-19. O isolamento social efetivado por esta situação atingiu
a todos de modo a fortalecer os hábitos e práticas sociais que
demandam o uso das tecnologias. Não tem como voltar atrás, o que
a pandemia desencadeou foi um passo gigantesco para um mundo
novo, também digital, onde não se é possível ainda dimensionar o que
isto significa. Sobre as práticas pedagógicas pode se dizer que a nova
realidade que se instalou não tem espaço para as velhas práticas
pedagógicas de sala de aula. Será necessário que a educação repense o
seu fazer pedagógico e repense, sobretudo, o seu papel social atrelado
às novas tecnologias, principalmente, no campo da inclusão escolar.
Devido a tantos desafios, faz-se necessário refletir sobre as
práticas pedagógicas dos professores para que sejam práticas inclusivas
visto que as consequências atingem diretamente na formação de
pessoas com deficiência, tornando mais forte a desigualdade e,
consequentemente, a exclusão que como uma cadeia, vai provocando
outras perdas, comprometendo também a inserção no mercado de
trabalho.
Com um olhar atento ao processo de inclusão, devemos
sempre reavaliar o que deve ser mudado ou repensar estratégias que
possam contribuir efetivamente para essa inclusão, pautando-se nas
reais necessidades da pessoa com deficiência.
Os relatos de experiências apresentados neste trabalho
demonstram que a mudança do pensamento sobre a pessoa com
deficiência ocorre quando efetivamente conseguirem ocupar os
226
seus espaços de direito. Sabemos que somente através das interações
que ocorrem entre os sujeitos e as suas relações com o mundo nos
diferentes contextos é que se pode formar verdadeiras conexões de
aprendizagens ricas e significativas, conhecendo o real e não o
imaginário que distorce a realidade e impede o pleno conhecimento.
Os recursos tecnológicos, sem dúvida, desempenham um
papel fundamental para a inclusão da pessoa com deficiência não
no trabalho, mas nas diferentes atividades da vida humana,
alavancando e abrindo novos horizontes em áreas jamais imaginadas.
De acordo com o pensamento de Aristóteles ao ouvir esqueço, ao ver
me lembro e ao fazer aprendo”. As metodologias ativas e tecnologias
assistivas são grandes aliadas para uma prática que possibilita uma
experiência mais rica e significativa de aprendizagem.
Através desse pensamento, cada vez mais devem-se unir
esforços para que haja ampla divulgação e capacitação para a
utilização de tais recursos tecnológicos, pois compreendemos que não
basta criá-los, é necessário que se viabilize a formação docentes sobre
como utilizar tais recursos a favor de uma escola e uma sociedade
verdadeiramente mais inclusiva.
Referências
ALMEIDA, M. E. B. Apresentação. In: BACICH, Lilian.;
MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora:
uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. p. 9-13.
BACICH, L.; MORAN, J. (Org.). Metodologias ativas para uma
educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre:
Penso, 2018.
227
BRASIL. Decreto 3.298. Regulamenta a Lei n. 7.853, de 24 de
outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração
da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de
proteção, e outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,
Seção 1, p. 10. 21 dez. 1999.
BRASIL. Lei 7853. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras
de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria
Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. 1989.
BRASIL. Lei 10.406. Institui o Código Civil. 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. LDB. N. 9.394, 1996.
BRASIL. Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da
Pessoa com Deficiência. Comitê de Ajudas Técnicas. Tecnologia
Assistiva. Brasília: CORDE, 2007.
CLEMENTE, C. A. Trabalho decente: leis, mitos e práticas de
inclusão. Osasco, SP: Ed. do autor, 2008.
DEWEY, John. Democracia e educação: introdução à filosofia da
educação. 3a. ed. São Paulo: Nacional. Tradução de Godofredo
Rangel e Anísio Teixeira, 1959.
FERREIRA, G. Análise da compatibilidade da deficiência com o
cargo deve ser feita no estágio probatório. Agência CNJ. Jusbrasil.
2014. Disponível em:
https://cnj.jusbrasil.com.br/noticias/113718449/analise-da-
compatibilidade-da-deficiencia-com-o-cargo-deve-ser-feita-no-
estagio-
probatorio#:~:text=Na%20avalia%C3%A7%C3%A3o%20de%20
228
Curado%2C%20garantir,a%20Constitui%C3%A7%C3%A3o%20
Federal%20e%20a. Acesso em 07 ago. 2022.
GALVÃO, N. S. et al. Deficiência visual e o acesso aos conteúdos
textuais no Ensino Superior. Revista Entre ideias: Educação,
Cultura E Sociedade, v. 4, n. 1, 2015. Disponível em:
https://periodicos.ufba.br/index.php/entreideias/article/view/7149.
Acesso em: 02 ago. 2022.
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da
identidade deteriorada. 4. ed. Rio de. Janeiro: Zahar, 1988.
LORENZO, S. M. Inserção de pessoas com deficiência no
mercado formal de trabalho a partir da percepção dos profissionais
de recursos humanos das empresas. 2016. Dissertação de Mestrado
Programa de Educação Universidade Estadual Paulista - Campus de
Marília, 2016.
PRESTES, Z. Quando o é quase a mesma coisa: análise de
traduções de Lev Semionovitch Vigotski no Brasil - repercussões no
campo educacional. 2010. 295 f. Tese (Doutorado em Educação) -
Faculdade de Educação, Universidade de Brasília (UnB), Brasília,
2010.
229
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-385-4.p229-248
UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
UNIVESP: COMPARTILHANDO EXPERIÊNCIAS
COMO FACILITADORA
Débora Fabiana Vaz DELLAMURA
1
Introdução
Diante de um cenário pandêmico e dos diversos desafios
encontrados pelos profissionais da educação, é evidente que o
momento trouxe, às claras, questões que acentuam a desigualdade
social e os problemas existentes, de tal maneira que medidas
precisaram ser tomadas rapidamente.
Os professores tiveram que se adaptar à nova modalidade de
ensino, de modo que alguns fatores precisaram ser pensados como:
letramento digital, recursos on-line, métodos, didática de ensino,
interação social, além da infraestrutura nas escolas para este
acontecimento emergente. Enfim, educadores se reinventando,
buscando conhecimentos e se esforçando para a manutenção do
processo de ensino e aprendizagem, com o menor prejuízo possível.
Houve muitas dificuldades durante esse percurso, mas não
podemos negar que tais experiências deixarão para a educação
registros ricos de inovação, novos métodos e recursos tecnológicos
1
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de
Marília/SP / Compõe a Diretoria da Associação dos Deficientes Visuais de Marília
(ADEVIMARI) / e-mail: debora.dellamura@unesp.br
230
que foram utilizados com o intuito de estreitar o distanciamento
social e minimizar os danos causados pela pandemia em virtude do
Covid-19.
Devido a esses acontecimentos, pensar sobre a importância do
papel do professor torna-se inevitável e, ao mesmo tempo, a
necessidade de que esteja sempre buscando conhecimento para os
novos desafios. Sendo assim, os conhecimentos tecnológicos e
didáticos foram de suma importância para atender as exigências atuais
e todas as demandas que surgiram a partir da pandemia.
Diante desse contexto, o presente trabalho se refere à minha
experiência como aluna e facilitadora, na disciplina “Estratégia de
aprendizagem para mediação pedagógica na educação a distância”
ofertada pelo programa Formação didático-pedagógica para cursos
de modalidade a distância” na Universidade Virtual do Estado de São
Paulo - UNIVESP. Durante esse período, ingressei, também, no
Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP, Campus de
Marília como aluna regular.
Nesta experiência de formação, deparei-me com inquietações
e questionamentos, como, por exemplo: Como utilizar ferramentas
digitais a favor da Educação? Como aprimorar a mediação pedagógica
no ensino a distância? Como aproveitar as estratégias utilizadas no
período de pandemia em um cenário s pandêmico? Considero de
grande importância pensar na formação continuada para ampliar o
conhecimento e aprimorar a prática docente.
A supracitada disciplina auxilia na aplicação dos
conhecimentos adquiridos durante o curso assim como na
organização do tempo e sistematização dos materiais. Essa disciplina
discute temas importantes no contexto da educação a distância (EaD)
231
como comunicação dialógica, feedback de qualidade e metodologias
ativas. A intenção é que no fim do curso o aluno tenha segurança para
atuar na docência em EaD com embasamento de qualidade.
Para tanto, este relato será estruturado por eixos: 1- Uma breve
introdução à temática; 2- A estruturação do curso e disciplina; 3- O
relato de experiência como aluna e facilitadora do programa; 4
Considerações finais.
As reflexões existentes, aqui, partiram do referencial teórico
adotado Libânio (1994) e Freire (2005). Estes autores compuseram,
de maneira significativa, o meu conhecimento e a minha
compreensão sobre processo de didática e docência.
A metodologia utilizada para este relato é a revisão
bibliográfica, tendo, como fundamentação, Moreira (2004) que
afirma que o ato de revisar significa retomar determinado conteúdo
com olhar mais crítico. Para ele, pode haver crítica se os objetivos
estiverem claros e bem formulados. A revisão bibliográfica, também,
serve ao próprio autor do trabalho, para que este aumente seu
conhecimento sobre determinado assunto.
Estruturação do curso
O Programa “Formação didático-pedagógica para cursos de
modalidade a distância” tem por objetivo engajar a atuação dos novos
pós-graduandos, iniciando-os no exercício de sua prática pedagógica
em educação a distância, mediada por tecnologias digitais de
informação e comunicação (TDIC). Para isso, o programa oferta
cursos aos alunos regularmente matriculados nos programas de pós-
graduação stricto sensu em níveis de mestrado, mestrado profissional e
232
doutorado das universidades Estaduais do Estado de São Paulo, como
Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP) e Universidade Estadual Paulista (UNESP),
tendo a anuência do orientador por escrito. O curso tem duração de
2 (dois) anos e requer o ingresso mediante aprovação em processo
seletivo. Os facilitadores são matriculados no curso de “Especialização
em processos didático-pedagógico para cursos e modalidade a
distância”, fruto da parceria das faculdades citadas anteriormente
(USP, UNICAMP e UNESP), em conjunto com o Centro Paula
Souza.
Em relação às disciplinas, podemos mencionar o professor
autor que é responsável pelo desenvolvimento do conteúdo e os
discentes que são alocados, bimestralmente, como facilitadores em
disciplina do curso de graduação, de acordo com o conhecimento de
sua área de formação, podendo colocar em prática sua aprendizagem.
Cabe ao facilitador cumprir com a carga horária de doze horas
semanais de dedicação ao curso, sendo 4 horas para participação no
curso teórico e oito horas para o desenvolvimento de atividades
práticas realizadas com os alunos de graduação da Universidade
Virtual Estadual.
A respeito das atribuições do facilitador, podemos elencar:
acompanhar as atividades realizadas pelos discentes, estimular
reflexão dos alunos sobre os conteúdos adquiridos, com
apontamentos que reforcem a teoria e a prática profissional, estimular
a integração dos alunos, responder os e-mails e tirar as dúvidas,
reportar ao supervisor as dificuldades encontradas pelos alunos,
auxiliar no planejamento, na organização e execução das atividades
dos projetos em grupo e trabalhos individuais. Além disso, deve
233
avaliar as atividades e atribuir conceitos no Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA) e Sistema acadêmico, participar dos
encontros/reuniões semanais com o supervisor, mediar a
comunicação dos conteúdos entre o professor autor e os alunos
(através de encontros síncronos e/ou lives gravadas), colaborar com a
coordenação do curso nas avaliações das disciplinas, fazer
planejamento das suas atividades semanais/mensais/bimestrais, traçar
planos de ação e estabelecer contato caso haja outro facilitador
alocado na mesma disciplina.
Esse curso oferece aos facilitadores uma bolsa mensal e, para
sua validação, é necessário fazer e enviar um relatório sobre os estudos
do dulo de formação e as atividades práticas que são realizadas com
os alunos do curso de Pedagogia/UNIVESP, o facilitador deve fazer
análise sobre sua atuação e refletir sobre sua desenvoltura. Os
relatórios passam por avaliação, de acordo com os seguintes critérios:
descrever as atividades realizadas e como podem contribuir para sua
formação (30%), fazer articulação entre as atividades práticas e os
conteúdos do módulo (30%), fazer uma autoavaliação do
desempenho das suas atividades práticas (20%), cumprir as atividade
previstas pela instituição e coordenação da mediação (20%). Feito
isso, cabe ao facilitador enviar o relatório no prazo estipulado.
A disciplina
A disciplina de que trata o presente objeto de estudo é
denominada “Estratégia de aprendizagem para mediação pedagógica
na educação a distância”, ofertada no período de abril do ano de
2022. É a primeira disciplina cursada pelos facilitadores do programa.
234
Apresenta a duração de três meses e é composta por nove temas, a
saber: 1- Relatório; 2- Primeiros passos: AVA e rotina de mediação; 3-
Comunicação dialógica e estar junto virtual; 4 - Material didático e
metodologia; 5- Avaliação: a importância do feedback; 6- O feedback
qualitativo; 7- Semana de revisão e encerramentos das disciplinas; 8-
Prova e outros instrumentos de acompanhamento; 9- Olhando para trás,
aonde cheguei?.
O material para a condução da disciplina foi produzido por
uma equipe multidisciplinar, formada por professores, designers
instrucionais e profissionais que fazem a mediação e docência junto
aos estudantes.
Tema 1
Relatório
Nesse primeiro momento, acontece a apresentação das
atividades do Programa aos facilitadores, viabilizando a organização
das atividades e tempo dedicado ao curso teórico e atividades práticas
que serão desenvolvidas junto aos alunos do curso de
Pedagogia/UNIVESP. São, ainda, compartilhadas as devidas
orientações para a elaboração do relatório e dos critérios avaliativos.
Também, é nesse módulo que ficam disponíveis as datas de entregas
dos relatórios e os links destinados para envio, esclarecendo que estes
são disponibilizados apenas nas datas, com o prazo de 5 a 7 dias.
235
Tema 2
Primeiros passos: AVA e rotina de mediação
Inicialmente realiza-se a apresentação do módulo e o conceito
de Ambiente Virtual Aprendizagem (AVA), podendo assim ter uma
compreensão mais ampla sobre o modelo pedagógico e sua
abordagem, métodos de gerenciamento de tempo para auxiliar na
rotina do facilitador.
Durante os temas, são colocadas situações-problema
recorrentes no dia a dia do facilitador. Dessa maneira, o facilitador
consegue se ver imerso no contexto e pensar como poderia atuar se
acontecesse o ocorrido com ele.
Para o aporte teórico, foram utilizados os autores Almeida e
Grubishi (2011), que discutem sobre ensino e aprendizagem; e Maia
(2012) que teoriza, sobre ambientes virtuais de aprendizagem. Os
materiais são divididos em 3 eixos: i) o Ambiente Virtual de
Aprendizagem e a sua organização; ii) o perfil dos alunos da
UNIVESP; e, por fim, iii) o planejamento e organização.
AVA: é uma sala de aula virtual, em que os alunos conseguem
ter acesso às disciplinas e encontrar seus colegas de turma,
facilitadores de aprendizagem, as discussões e atividades, além de
acesso às suas notas. O AVA utilizado é o BlackBoard que foi
customizado pelos designers da universidade e personalizado para
atender os interesses, bem como as necessidades da instituição. Para
isso, foi criado um tutorial através de vídeo dinâmico. É fundamental
que o facilitador tenha conhecimento e saiba utilizar o AVA e todos
os recursos disponíveis.
236
Perfil dos alunos UNIVESP: O intuito da instituição é
atender majoritariamente os alunos oriundos da escola pública, que
devido à necessidade de trabalhar para auxiliar nas despesas de casa,
têm pouco tempo para se dedicar aos estudos, mas que visam a
posições profissionais melhores e melhores condições de vida para
suas famílias. Os alunos do EaD têm uma rotina atribulada e precisam
de flexibilidade de horários e de facilidade de acesso ao conteúdo. A
UNIVESP tem o objetivo de auxiliar na transformação da sociedade
por meio do desenvolvimento humano e profissional e, para isso,
utiliza-se da educação digital e metodologias inovadoras. Conhecer o
perfil dos alunos é importante para a compreensão, planejamento e
desenvolvimento das atividades.
Planejamento e organização: É necessário para os alunos de
cursos a distância planejarem sua rotina com os horários bem
definidos de acordo com as atividades que serão desenvolvidas e, ao
mesmo tempo, se disciplinar para que consigam cumprir com a
demanda de estudos. Esse tópico traz modelos, dicas e estratégias para
auxiliar o facilitador durante o desenvolvimento da disciplina, bem
como estratégias de mediação.
Tema 3
Comunicação dialógica e acompanhamento de alunos
Esse tema trata a importância do diálogo e da reflexão para a
construção do conhecimento, desse modo, o diálogo é utilizado como
ferramenta essencial para acolher e motivar o aluno. Não podemos
falar de diálogo sem lembrar de Paulo Freire quando diz que:
237
Não diálogo, porém, se não um profundo amor ao
mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do
mundo, que é um ato de criação e recriação, se o amor
que a infunda.
Sendo fundamento de diálogo, o amor, é também diálogo
[...]. (FREIRE, 2005, p. 91).
A UNIVESP trabalha com concepções pedagógicas
dinâmicas, colocando os alunos no centro do processo de
aprendizagem, sendo que a maneira como o aluno é tratado influencia
diretamente no processo de aprendizagem. Visto isso, cabe ao
facilitador ouvir os graduandos com empatia, colocando-se no lugar
deles, considerando suas características culturais, socioeconômicas e
afetivas, a fim de compreender o contexto onde esses cursistas se
inserem. Portanto, devem receber atendimento claro, com cortesia e
atenção. O facilitador deve estabelecer diálogo como os alunos em
fórum temático de discussão, fórum de dúvidas e encontros síncronos
e deve também ouvir as suas necessidades e angústias com para que
possa orientá-los e propor soluções estratégicas e pontuais.
O tema traz também a teoria da distância Transacional como
o avanço mais importante para a educação a distância em que seus
[...] procedimentos especiais de ensino dividem-se em dois
grupos, além de um terceiro grupo de variável que descreve o
comportamento dos alunos. A extensão da distância
transacional em um programa educacional é função destes três
grupos de variáveis. Estas o são variáveis tecnológicas ou
comunicacionais, mas sim variáveis em ensino e aprendi-
zagem, e na interação entre ensino e aprendizagem. Estes
238
grupos de variáveis são denominados Diálogos, Estrutura e
Autonomia do Aluno. (MOORE, 2002, p. 3).
O autor traz a importância do vínculo emocional dos
participantes e o entrosamento dos envolvidos para que haja presença
social, e o ambiente virtual seja humanizado, de modo que, ao final
do processo os resultados de aprendizagem sejam mais significativos.
No final do tema 3, o facilitador consegue explorar os
materiais do tema, realizar as atividades propostas, compreender o
papel do mediador, a EaD, entender a importância do diálogo nas
interações com os alunos, iniciar e fomentar as discussões, pensar com
empatia e ser respeitoso e ofertar atendimento de qualidade. Para
todas as atividades e atendimentos é necessário que ele tenha padrões
de conduta, e utilize a netiqueta (um conjunto de boas maneiras e
códigos de conduta).
Tema 4
Material didático e metodologia
O contato mais próximo do aluno UNIVESP é o facilitador.
É a ele que o aluno recorre quando tem dúvidas ou precisa de
orientação e motivação, portanto, para que o facilitador atue com
eficiência é necessário conhecer as metodologias utilizadas pela
instituição e o modelo pedagógico. Lembrando que as disciplinas são
bimestrais, os conteúdos são divididos em 8 módulos compostos por
videoaulas, textos para leitura, atividades, fóruns e recursos
multimídias. Os materiais base são de leitura obrigatória, os
materiais de apoio são para aprofundamento do tema. 40% da nota é
239
composta por atividades avaliativas no AVA, os outros 60% são de
prova presencial (Realizada no polo ao fim do bimestre, conforme o
calendário acadêmico do curso), além das disciplinas regulares existe
o projeto integrador PI (Atividade semestral que articula os
conhecimentos adquiridos no curso em um contexto prático), que é
realizado em equipe na sua comunidade de acordo com a matriz
curricular do curso.
Na segunda metade do curso, é realizado o estágio obrigatório
e ao fim da graduação também é necessário realizar o Trabalho de
Conclusão de Curso TCC (com entrega de monografia e
apresentação oral). Por se tratar de um curso a distância, todo contato
realizado é por meio virtual e o sistema que faz parte do dia a dia do
estudante é o AVA. Outro sistema é o portal do aluno e também o
Sistema de atendimento eletrônico (SAE) (centro de atendimento dos
estudantes da UNIVESP). Todos esses sistemas são acessados através
do login e senha do usuário.
Para o desenvolvimento dessas atividades, é destacada a
importância das metodologias ativas que são estruturadas por meio de
estratégias pedagógicas que colocam os alunos no centro da
aprendizagem. Dessa maneira, o aluno passa a ser o ator principal e
responsável pela sua própria aprendizagem. Essas metodologias
ganham força conforme são adotadas as TDIC nos espaços
educacionais. Fazem parte das metodologias ativas estratégias como
Aprendizagem Baseada por Problemas, prototipagem, sala de aula
invertida, design thinking e fishbowl.
240
Tema 5
Avaliação: a importância do
feedback
O feedback é de suma importância por se tratar de uma das
principais estratégias formativas na educação a distância para a
promoção reflexiva do conteúdo e da construção consistente de
saberes. Não se trata apenas de comentários motivadores, ele
proporciona aos alunos a oportunidade de refletir sobre os conteúdos
do estudo e auxilia para que eles atinjam os objetivos de aprendizagem
que são previstos durante a disciplina. O aluno consegue pensar sobre
o processo de como foi e como está sendo sua compreensão acerca de
determinada temática. Assim, ele pode fazer os ajustes necessários
para prosseguir com a construção do seu conhecimento.
O facilitador quando passa o feedback ao aluno deve tomar
cuidado para que ele não seja um feedback afetivo emocional
(Comentários motivadores), e seja um feedback formativo, orientando
o aluno onde ele pode melhorar, para que ele avance no seu processo
de aprendizagem, sem o feedback o aluno talvez não consiga
identificar sozinho onde pode melhorar seu desempenho. Para a
realização de um bom feedback é importante que o facilitador
conheça os tipos de avaliações e as suas funções, tendo sempre no
pensamento: Como devo avaliar? Quando devo avaliar? Quem estou
avaliando? E o que avalio?
Na educação a distância as avaliações podem acontecer de
maneira individual ou em grupo (trabalhos, projetos e afins), é
importante levar em consideração as variações. As atividades de
avaliação podem acontecer durante a entrada no curso (testes, provas,
formulários), com o objetivo de saber qual o conhecimento que o
241
aluno tem, e o que posso ensinar a ele; Durante o curso (formativa),
que acontece em vários momentos do curso (Projetos, runs de
discussão e outros) com o intuito de trazer a percepção da
compreensão do aluno sobre o conteúdo estudado; E ao término do
curso, ou módulo (Somativa), com intenção de observar como o
aluno progrediu ao longo do tempo.
A autoavaliação e coavaliação (entre os pares) podem ser
utilizadas também na educação a distância. Esse módulo traz o
conhecimento dos diversos tipos de avaliação e suas funções. As
propostas de avaliações podem ser combinadas, para que não se tenha
um método de avaliação, mas que é possível ter diferentes
estratégias de avaliações para determinados momentos.
Tema 6
O
feedback
qualitativo
O feedback qualitativo traz aos estudantes uma devolutiva de
seus acertos e erros, para que possam melhorar e progredir nas
próximas avaliações. A estruturação do feedback tem uma linguagem
empregada, permite trazer clareza e objetividade, deve ser usada com
coerência textual e com responsabilidade. O feedback qualitativo pode
trazer resultados significativos na vida do estudante e a intenção é que
o aluno não se sinta perdido quando estiver estudando a distância,
visto que por se tratar de um curso presencial os alunos não têm as
trocas entre seus pares, suas atividades assíncronas são realizadas
individualmente, de modo que existe um tempo de maturação para a
adaptação desse aluno de forma que ele se sinta caminhando junto
com a sua turma. Desse modo, para que o aluno tenha uma boa
242
adaptação, é necessário que haja interação e familiaridade com a
interface, além de comunicação constante com o facilitador, para que
o aluno se sinta amparado e motivado a participar das atividades.
Tema 7
Semana de revisão e encerramentos das disciplinas
A hora da revisão é um momento oportuno para retomar
junto com os estudantes os conteúdos trabalhados, sistematizar os
conceitos e tirar dúvidas antes da realização das provas. Nesse
módulo, é possível conhecer algumas ferramentas para realização de
uma revisão de qualidade.
A revisão pode ser através de mapas conceituais, infográfico,
mapa mental, pontos principais dos textos base, vídeoaulas, vídeos
gravados pelo professor/facilitador e webconferência (live) realizadas
pelo professor autor e facilitador.
Tema 8
Prova e outros instrumentos de acompanhamento
As provas são instrumentos de acompanhamento e são
utilizados como critérios para verificação da aprendizagem dos
alunos, de modo que os critérios utilizados para a correção das provas
devem estar explícitos aos alunos. O facilitador tem um papel
importante nesse processo que é dar feedback das provas e atividades
avaliativas aos alunos de graduação da UNIVESP. Esse módulo
relembra a importância da avaliação de qualidade, do feedback e do
feedback de qualidade, para serem aplicados durante a correção das
243
provas. Para cada método avaliativo é necessário se ter consciência
quanto aos propósitos, para que seja considerado o desempenho do
aluno.
Tema 9
Olhando para trás, aonde cheguei?
Por fim, esse período de reflexão é de suma importância. A
autoavaliação é parte fundamental do processo pedagógico,
principalmente para serem identificadas as fragilidades que ocorreram
durante o processo, assim pontos de requerem mais atenção podem
ser melhorados em uma próxima oportunidade. O material base do
percurso do facilitador de aprendizagem UNIVESP auxilia na
reconstrução do caminho até aqui, trazendo relação entre as
atividades práticas com as teóricas do curso. Para a UNIVESP, as
avaliações institucionais auxiliam na melhoria do processo de ensino
e aprendizagem e em possíveis correções de falhas pontuais.
Meu relato de experiência como aluna
e facilitadora do programa
No programa, os facilitadores são alocados para mediar o
ensino e a aprendizagem dos alunos de graduação da UNIVESP.
Ingressei no programa no fim do estado de emergência do estado de
São Paulo (Pandemia Covid-19) em abril de 2022, alocada na
disciplina de “Psicologia da Educação” Turma 005. Comigo, foram
inseridos, também, 3 facilitadores que dividiram as atividades de
mediação.
244
Durante o bimestre foram desenvolvidas atividades específicas
que se relacionam diretamente com a mediação na disciplina regular.
É interessante lembrar que, durante os desenvolvimentos das
atividades, foram conduzidas reuniões com a equipe da UNIVESP
que contribuíram com a estrutura prática de atividades dos
facilitadores. Digo isso porque as reuniões, via plataforma
Collaborate, foram muito importantes para elucidar as ações previstas
para os facilitadores.
Outro fator importante foram as reuniões com a supervisora,
sempre solícita, ajudando-nos com nossas dificuldades, fazendo
apontamentos relevantes para melhorarmos nosso desempenho como
professores facilitadores. A participação da professora autora da
disciplina foi maravilhosa, trouxe clareza dos conteúdos da disciplina
“Psicologia da Educação” e foi muito gratificante esclarecer as dúvidas
direto com o professor autor.
Entre os facilitadores, aconteciam reuniões com o objetivo de
planejar e sistematizar as atividades a serem desenvolvidas no bimestre
e, também, ajustar o roteiro e agenda para o início das lives e da
manutenção do fórum de discussão. Foram divididas as tarefas das
semanas posteriores e um mapeamento para melhor organização das
funções semanais.
No fórum, foi designado que cada facilitador ficasse
responsável pelo seu acompanhamento 2 dias da semana, sendo 1
facilitador de segunda/quarta, 1 facilitador de terça/quinta e 1
facilitador de sexta e sábado. Por parte dos facilitadores, foi definido
que todos deveriam interagir, sanando as dúvidas e estimulando a
reflexão dos alunos, para que nenhum estudante ficasse sem respostas
por mais de 24 horas.
245
As reuniões e encontros entre facilitadores, para mim, foram
momentos especiais, que a equipe é composta por membros de
cidades e de instituições diferentes, assim como o nível de formação,
uns do curso de mestrado e outros do doutorado, alguns com
experiência prévia como facilitadores e, ainda, outros como eu que
havia acabado de ingressar no programa. Posso afirmar que esses
momentos promoveram aproximação e uma troca muito profícua de
experiências, tornando o trabalho mais prazeroso e harmonioso.
Para as lives, cada dia um facilitador ficava responsável por
apresentar o tema e abordar os principais conceitos referentes à
temática da semana, enquanto os demais participavam com
problematização, relato de experiência e contribuições conceituais.
É importante evidenciar que todo o processo de estudo e
acesso aos conteúdos contemplam a formação docente e formação
continuada dos professores e, na condição de facilitadora, grandes são
as contribuições que irão impactar minha prática docente.
As atividades práticas que desenvolvi, neste bimestre, foram
de suma importância para minha desenvoltura pessoal e profissional,
desde o planejamento e organização semanal, adequações necessárias
da minha rotina pessoal, estudos e pesquisas que contribuíram com a
dinâmica das minhas responsabilidades como professora e
pesquisadora. Fazer essa atividade de organizar, planejar, sistematizar
as ideias, foi uma experiência muito prazerosa, mas ainda requer
muito aprendizado.
A disciplina “Estratégias de aprendizagem para a mediação
pedagógica na educação a distância” contribuiu muito para a prática
do professor facilitador, trazendo apontamentos relevantes para que
fossem garantidas as necessidades dos alunos e encurtando o
246
distanciamento em momento pandêmico. Dessa maneira, o aluno se
sentia mais à vontade para participar nas lives e nos runs de
discussões.
Foi possível observar que a UNIVESP proporciona proximi-
dade entre a própria instituição e os facilitadores, mesmo se
configurando em um contexto geral como o ensino remoto e EaD. A
universidade utiliza ferramentas digitais e tecnológicas que
contemplam bem as necessidades dos cursistas. Sendo assim, vários
eventos digitais são promovidos nas plataformas de audiovisual,
materiais tutoriais são elaborados e uma preocupação no sentido
de que os cursistas sejam atendidos seja pelo envio de e-mails, oferta
de plantões de dúvidas e acesso rápido e direto com o supervisor,
dentre outros. Todas essas ferramentas e possibilidades são
importantes para os alunos que estão em processo formativo e para os
professores que estejam em processo de formação continuada, pois,
na atual conjuntura (pandemia), a realidade da educação está
mudando, possibilitando novas abordagens tecnológicas de ensino.
Assim, ter acesso a conteúdos por meio de tecnologias ou recursos
específicos é algo necessário para a dinâmica de muitos processos
formativos da área da Educação.
Percebo que esta nova experiência proporcionou novas
perspectivas de pensar a educação com novas abordagens didáticas
utilizando recursos digitais para o desenvolvimento de aulas e acesso
a informações fundamentais sistematizadas para seu uso via acesso
remoto. Trata-se de uma nova perspectiva que, certamente, irá trazer
crescimento e robustecer minha formação docente e minhas práticas
pedagógicas.
247
Considerações Finais
O presente relato teve o objetivo de compartilhar as atividades
desenvolvidas no contexto da Universidade Virtual do Estado de São
Paulo, junto à disciplina “Estratégias de aprendizagem para a
mediação pedagógica na educação a distância”, evidenciando como
esta influenciou minha prática de mediação docente no ambiente de
ensino a distância como professora facilitadora do programa.
Apresentou, ainda, possibilidades a partir de ferramentas digitais,
métodos e estratégias que podem ser utilizadas no cenário
educacional, visando qualidade e engajamento no ensino/
aprendizagem dos cursistas.
É importante destacar o quanto essa disciplina contribuiu
para o meu processo de formação docente e aprimoramento de
mediação pedagógica no ensino a distância. Durante o período
pandêmico, muitas dessas práticas e métodos foram utilizados devido
o distanciamento social, mostrando-se eficazes no processo de ensino
e aprendizagem. Compreendemos que, possivelmente, irão
permanecer em um cenário pós pandêmico e articular novas
propostas e perspectivas educacionais.
Esperamos que o breve relato aqui exposto possa contribuir
para um repensar das práticas docentes no momento em que fomos
desafiados a buscar novos contextos e novos recursos para o processo
de ensino e aprendizagem. Possibilidades significativas podem
integrar a caminhada formativa de docentes e alunos por meio de
ferramentas, plataformas e programas em EaD.
248
Referências
ALMEIDA, J. L. V.; GRUBISICH, T. M. O ensino e a
aprendizagem na sala de aula numa perspectiva dialética. Revista
Lusófona de Educação. n. 17. 2011. p. 65-74. Disponível em:
https://revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/article/view/236
5. Acesso em: 03 ago. 2022.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Paz e Terra. Rio de Janeiro.
2005.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
MAIA. M. C. Ferramentas da Web 2.0 associadas aos LMS no
ensino presencial. In: LITTO, Fredric. M.; FORMIGA, Marcos
(Orgs.). Educação a distância: o estado da arte, v. 2. Pearson
Education do Brasil. São Paulo. 2012. Disponível em:
http://www.abed.org.br/arquivos/Estado_da_Arte_1.pdf. Acesso em
26 set. 2022.
MOORE, M. G. Teoria da distância transacional. Trad. Wilson
Azevedo. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância,
São Paulo, v. 1. ago. 2002. p. 1-14. Disponível em:
https://doi.org/10.17143/rbaad.v1i0.111. Acesso em: 01 ago. 2022.
MOREIRA, W. Revisão de literatura e desenvolvimento científico:
conceitos e estratégias para confecção. Janus, n. 1, ano 1, Lorena,
São Paulo. 2004. Disponível em:
https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/19/o/Revis__o_de_Literatura_
e_desenvolvimento_cient__fico.pdf. Acesso em 27 set. 2022.
249
SOBRE OS AUTORES
Adriana Alonso Pereira
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: adriana.pereira@unesp.br
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Professora Livre Docente em Língua Inglesa pela UNESP. Professora
Associada junto ao Departamento de Letras Modernas da Faculdade
de Ciências e Letras / Universidade Estadual Paulista "Júlio de
Mesquita Filho" - UNESP - Campus de Assis/SP e Professora e
orientadora do Programa de Pós-Graduação em Educação - UNESP
- Campus de Marília / e-mail: daniela.nm.garcia@unesp.br
bora Fabiana Vaz Dellamura
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / Compõe a Diretoria da Associação dos
Deficientes Visuais de Marília (ADEVIMARI) / e-mail:
debora.dellamura@unesp.br
Douglas Cunha dos Santos
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: douglas.cunha@unesp.br
250
Filipe Bellinaso
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e
Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
- UNESPcampus de Marília/SP / e-mail: filipe.bellinaso@unesp.br
Gabriela Pedroso Cardoso
Mestra em Letras e Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade
de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
gp.cardoso@unesp.br
Isabelle Castilho
Graduanda em Letras - Licenciatura - Português-Inglês/ Faculdade de
Ciências e Letras/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP campus de Assis SP / e-mail:
isabelle.castilho@unesp.br
Josélia Donizeti Marques Alves Dias
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas
sobre Cultura e Instituições Educacionais (GEPCIE) / e-mail:
joselia.dias@unesp.br
Karina Carrião Gomes de Oliveira
Especialista em Psicopedagogia pelo Instituto de Ensino, Capacitação
e Pós-Graduação (INDEP) / Marília/SP / Especialista em Gestão
Escolar pela Universidade Federal de São Carlos / UFSCAR /
251
Supervisora de Educação Infantil da Secretaria Municipal da
Educação de Marília / e-mail: ka_carriao@hotmail.com
Maria Eduarda Tognette
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas
sobre Cultura e Instituições Educacionais (GEPCIE) / e-mail:
eduarda.tognette@unesp.br
Maria Rosa Delmasso Rodrigues
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: mrosadelmasso@gmail.com
Patricia Moreira Salina Fernandes Pimentel
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: patricia.fernandes-
pimentel@unesp.br
Thayse Palmela Nogueira
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / Docente do Sistema de Ensino do
Município de Marília / e-mail: thayse.palmela@unesp.br
252
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro BuenoCRB 8/8211
Normalização
Taciana Soares de Oliveira
Capa
Douglas Cunha dos Santos
Diagramação
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Práticas docentes e
digitalidade:
novos tempos, novas demandas
Daniela N. de Moraes Garcia
Paulo Alexandre Filho
Daniel Vieira Sant'Anna
Yngrid K. Mendonça Costa
(Org.)
Práticas docentes e digitalidade:
novos tempos, novas demandas
Em meio a todas as adversidades dos últimos anos, vimos, nas práticas educa-
cionais, a necessidade de inserção dessas ferramentas digitais capazes de, em
um pequeno período de tempo, alcançar o status de recursos metodológicos.
Sendo assim, a presente obra reúne uma coletânea de textos escritos por alguns
educadores, alunos do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP,
Campus de Marília, a partir de seu lugar de fala/atuação, compartilharam suas
experiências atreladas às tecnologias, tendo como objetivo geral reetir sobre as
práticas docentes mediadas pelas TDIC em tempos de pandemia de modo a (re)
construir percursos no campo educacional. A partir das experiências comparti-
lhadas, reforçam-se as perspectivas de que estamos diante de um campo multi-
facetado e complexo de estudos que contempla práticas pedagógicas, pandemia
e utilização de tecnologias. Todavia, unimos vozes, neste livro, na tentativa de
tecer reexões que fortaleçam ânimos e ofereçam suporte a docentes e pesquisa-
dores apaixonados pela educação, como nós.
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Professora Livre Docente em Língua In-
glesa pela UNESP. Professora Associada
junto ao Departamento de Letras Mo-
dernas da Faculdade de Ciências e Letras
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - UNESP – Campus
de Assis/SP e Professora e orientadora no
Programa de Pós-Graduação em Edu-
cação- UNESP- Campus de Marília /
e-mail: daniela.nm.garcia@unesp.br
Paulo Alexandre Filho
Doutorando em Educação / PPGE / Fa-
culdade de Filosoa e Ciências / Uni-
versidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP – campus de
Marília/SP / Professor de Educação Bá-
sica da rede estadual paulista / e-mail:
p.alexandre@unesp.br
Daniel Vieira Sant’Anna
Doutorando em Educação / PPGE
/ Faculdade de Filosoa e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - UNESP – campus
de Marília/SP / Professor Auxiliar I -
Centro Universitário Sagrado Coração
- UNISAGRADO - Bauru/SP / e-mail:
daniel.santanna@unesp.br
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Doutoranda em Educação / PPGE /
Faculdade de Filosoa e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - UNESP – campus
de Marília/SP / Professora de Educação
Básica da rede estadual paulista / e-mail:
yngrid.karolline@unesp.br
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0039/2022
Processo Nº 23038.001838/2022-11