SANDRA ELI S. DE O. MARTINS
Pedagoga, Doutora e Livre
Docente em Educação. Professora
assistente doutora do Departamento
de Educação e Desenvolvimento Hu-
mano e do Programa de Pós-Gradu-
ação em Educação, da Faculdade de
Filosoa e Ciências da Universidade
Estadual Paulista, Campus de Marí-
lia. É bolsista Professor Pesquisador
- PQ1. Coordena atualmente o Núcleo
de Atenção Pedagógica e de Inclusão
da FFC/Unesp e membro da Comis-
são de Acessibilidade Local da FFC/
Unesp. É coordenadora adjunta do
Comitê Acadêmico de Acessibilidade
e Deciência, da Associação do Gru-
po de Universidades de Montevideo
- CAAyD/AUGM. Esta coordenadora
da Rede de Pesquisa Diferença, Inclu-
são e Educação (RPI), que integra o
Projeto Diversidade, movimentos so-
ciais e Inclusão – Unesp/ Capes-Print.
Desenvolve pesquisas em Rede Inter-
nacional com subsídios do CNPq, na
mesma temática. É membro da Red
Interuniversitaria Latinoamericana y
del Caribe sobre Discapacidad y Di-
rectos Humanos, coordenada pela
Universidad de La Serena - Chile. É
vice-líder do grupo de pesquisa GEP-
DI - Grupo de Estudos e Pesquisa em
Deciência e Inclusão, cadastrado no
Cnpq. (Fonte: Currículo Lattes).
Email: sandra.eli@unesp.br
ANA PAULA CAMILO CIANTELLI
Doutora e Mestra em Psicologia
do Desenvolvimento e Aprendizagem
pelo Programa de Pós-Graduação
em Psicologia do Desenvolvimento
e Aprendizagem pela Faculdade de
Ciências da Universidade Estadual
Paulista PPGPDA, FC/UNESP/Bauru.
Graduada em Psicologia pela mesma
instituição. Realizou o Programa Dou-
torado Sanduíche no Exterior (PDSE/
CAPES) na Universidade do Algarve
- Faro/Portugal e é membro discente
pesquisador do GEPDI - Grupo de Es-
tudos e Pesquisas em Deciência e
Inclusão - cadastrado ao CNPQ. Atu-
almente está realizando o Pós-douto-
rado no PPGPDA, FC/UNESP/Bauru.
Tem experiência na área de Psicolo-
gia Escolar e Educacional, Psicologia
Social e Educação Inclusiva, atuando
principalmente com os seguintes te-
mas: acessibilidade, deciência, edu-
cação especial, educação inclusiva,
inclusão social, necessidades edu-
cacionais especiais, desenvolvimen-
to humano e processo de ensino e
aprendizagem.
E-mail: aninhaciantelli@gmail.com
Quais obstáculos se fazem presentes nos discursos políticos e
acadêmicos na Educação Superior na contemporaneidade? Quais
discursos teórico-metodológicos tem mobilizado mudanças das po-
líticas institucionais universitárias? Em que avançamos? O que é
necessário alterar para que as universidades sejam mais inclusi-
vas? Que caminhos percorrer para garantir que a pluralidade hu-
mana constitua os modos de existir de diferentes corpos que ha-
bitam e/ou transitam nos espaços da Universidade? Quais planos
e ações são necessários para transformar os obstáculos em facili-
tadores à promoção de culturas, políticas e práticas inclusivas na
Educação Superior? Perguntas como estas e tantas outras foram
capturadas por um devir constante pelo compromisso, dos que se
aventuraram compartilhar percepções encarnadas na multiplicida-
de de compreensões que mobilizaram o título desta obra, “Inclusão
universitária no século XXI: dilemas atuais”.
Inclusão universitária no século XXI
SANDRA ELI SARTORETO DE OLIVEIRA MARTINS
organizadoras
Chamada Programa Universal
MCTIC/CNPq - 2018
Proc. 425167/2018-6
ANA PAULA CAMILO CIANTELLI
dilemas atuais
Inclusão universitária
no século XXI
dilemas atuais
Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins
Ana Paula Camilo Ciantelli
Organizadoras
INCLUSÃO UNIVERSITÁRIA
NO SÉCULO XXI:
dilemas atuais
Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins
Ana Paula Camilo Ciantelli
Organizadoras
Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins
Ana Paula Camilo Ciantelli
Organizadoras
INCLUSÃO UNIVERSITÁRIA NO SÉCULO XXI:
dilemas atuais
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2023
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIASFFC
UNESP - campus de Marília
Diretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
lia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Edvaldo Soares
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho Científico
Aila Narene Dahwache Criado Rocha Unesp/Brasil
Andrea Viera - Udelar/ Uruguai
Fabiane Adela Tonetto Costas UFSM/Brasil
Fabiane Vanessa Breitenbach UFSM/Brasil
Jáima Pinheiro de Oliveira UFMG/Brasil
Julio Enrique Putallaz UNNE/ Argentina
Lucélia Cardoso Cavalcante UNIFESSPA/Brasil
cia Pereira Leite Unesp/Brasil
Marcelo Daniel Barrios D’Ambra- UNNE/Argentina
Maria José Bagnato Udelar/ Uruguai
Sabrina Fernandes de Castro UFSM/Brasil
Chamada Programa Universal MCTIC/CNPq - 2018 Proc. 425167/2018-6
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
I37 Inclusão universitária no século XXI: dilemas atuais / Sandra Eli Sartoreto de
Oliveira Martins, Ana Paula Camilo Ciantelli (org.). – Marília : Oficina
Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2023.
385 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-342-7 (Digital)
ISBN 978-65-5954-341-0 (Impresso)
DOI: https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7
1. Deficiência. 2. Acessibilidade. 3. Políticas Públicas. 4. Inclusão Educacional. 5.
Ensino Superior. I. Martins, Sandra Eli Sartoreto de Oliveira. II. Ciantelli, Ana Paula
Camilo. III. Título.
CDD 378
Catalogação: André vio Craveiro BuenoCRB 8/8211
Copyright © 2023, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico
Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Ensino Superior
Comité Académico Accesibilidad
y Discapacidad CAAyD
Red Interuniversitaria
Latinoamericana y del Caribe sobre
Discapacidad y Derechos Humanos
Rede de Pesquisa em Acessibilidade,
Diversidade e Inclusão
Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho
Grupo de Estudos e Pesquisa em
Deficiência e Inclusão
PPGE - UNESP/Marília
Programa de Pós-Graduação em
Educação Unesp/Marília
Laboratório de Linguagem e
Surdez FFC/Unesp Marília
Cátedra Libre Diseño Universal e Inclusión / UNNE
Programa de Internacionalização Projeto Diversidade,
Movimentos Sociais e Inclusão - PrintCapes/ PPGE
FFC/Unesp - Campus Marília
SUMÁRIO
Prefácio | Georgina García Escala...................................................9
Apresentação | Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins e Ana
Paula Camilo Ciantelli.................................................................15
Capítulo 1
Corpos deficientes, seus movimentos políticos por inclusão e seus
agenciamentos no Ensino Superior Brasileiro: um ensaio à luz da
filosofia da diferença....................................................................27
Pedro Angelo Pagni
Capítulo 2
Do capacitismo ao acesso coletivo no ensino superior..................79
Marivete Gesser
Pamela Block
Lúcia Pereira Leite
Capítulo 3
Políticas, práticas e cultura inclusiva: desafios da gestão
universitária..............................................................................111
Laura Ceretta Moreira
Karin Rank Liebl
Capítulo 4
Aportes para prácticas educativas no excluyentes: experiencia en la
cátedra universitaria de Metodologia Educativa Musical............135
Marisa Andrea Cenacchi
Patricia Silvana San Martín
Capítulo 5
Accesibilidad en el proceso de ingresso a la Universidad
Veracruzana, Xalapa, Veracruz, México.....................................163
Gerardo Contreras Vega
Capítulo 6
Experiencia de implementación del índice de educación inclusiva
en la Universidad Nacional del Nordeste...................................177
Marcelo Daniel Barrios D´Ambra
Norma Elena Bregagnolo
María Natalia Caceres
Julio Enrique Putallaz
Capítulo 7
Retos y oportunidades para la inclusión en la educacion superior
en México.................................................................................207
Judith Pérez Castro
Capítulo 8
Fortalezas y debilidades en la formación para la atención de
personas pertenecientes a colectivos de diversidades en las carreras
de la salud de la facultad de Medicina de la Universidad de
Chile.........................................................................................233
Soledad Reyes Soto
Lorena Iglesias Véjar
Nathalie Llanos Rivera
Carolina Carstens Riveros
Diego Cifuentes Lucero
Capítulo 9
Acessibilidade, barreiras e desafios ao desempenho dos estudantes
surdos no Ensino Superior........................................................257
Maria Helena Martins
Capítulo 10
O INES-BRASIL como facilitador da identificação de barreiras de
acessibilidade em uma universidade pública brasileira................291
Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins
Ana Paula Camilo Ciantelli
Juliana Cavalcante de Andrade Louzada
Capítulo 11
Formação, atuação e perspectivas de docentes da UNIFESSPA na
inclusão de alunos com deficiência............................................335
Katiane Silva dos Santos
Lucélia Cardoso Cavalcante
Sobre as Organizadoras.............................................................367
Sobre os Autores.......................................................................369
11
PREFÁCIO
Prologar un libro siempre es un honor y a la vez un desafío.
Un honor, porque es la presentación del libro; y un desafío porque
debe ser atrayente para captar la atención de las y los lectores, con
la finalidad de invitarles a continuar leyendo. En este caso, el
contenido del texto en mismo es atrayente y desafiante, porque
invita a reflexionar y tomar conciencia acerca de un derecho
humano fundamental: el derecho a la educación de calidad con
equidad, a lo largo de todo el ciclo educacional. Esta reflexión que
nos proponen las y los autores de este libro, nos invita como
ciudadanos responsables a contribuir para que se cumpla este
derecho. Por ello, agradezco a las compiladoras de este libro, Dra.
Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins y Dra. Ana Paula Camilo
Ciantelli, el honor de invitarme a escribir el prólogo.
Inclusão universitária no culo XXI: dilemas atuais es un
texto atrayente y desafiante además porque se adscribe a la
Convención de Derechos Humanos de las Personas con
Discapacidad que establece el derecho a la educación de calidad
con equidad para las personas con discapacidad, normativa
ratificada por la mayoría de los países que conforman la
Organización de Naciones Unidas. También se adscribe a los
acuerdos explicitados en la Conferencia Regional de Educación
Superior del año 2008 y ratificado el 2018 respecto a valorar la
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p11-14
12
educación superior en América Latina y el Caribe como un bien
público social, un derecho humano y universal y un deber del
Estado. Además, se adscribe a los compromisos asumidos por los
estados en la Agenda 2030 para eliminar la pobreza y garantizar un
desarrollo humano, inclusivo y sustentable, estableciendo entre otros
objetivos, garantizar una educación inclusiva y equitativa de
calidad y promover oportunidades de aprendizaje permanente para
todas y todos. En síntesis, este libro nos moviliza a las
comunidades universitarias porque devela, analiza y problematiza
la exclusión de estudiantes con discapacidad y nos desafía a buscar
soluciones de calidad, en conjunto.
Este libro es desafiante también porque, y tal como se
plantea en el documento Balance y Desafíos a la CRES 2018,
existen muchas interrogantes que nos movilizan cuando buscamos
cambios sociales, políticos, culturales, pedagógicos, actitudinales e
institucionales que apunten a garantizar el derecho a la igualdad,
equidad y participación social de todos en la Educación Superior. En
ese contexto, las y los autores de este libro tratan de responder
dichas interrogantes con los hallazgos producto de sus procesos
investigativos. Las y los autores estudian -de manera inter y
transdisciplinar-, algunas de estas interrogantes, tales como:
impacto del modelo económico neoliberal y sus exigencias propias
de la productividad, el capacitismo, políticas y prácticas
universitarias para la inclusión de personas con discapacidad,
acceso universal a los bienes de la cultura, utilización de la web
para garantizar accesibilidad a la información y para demostrar lo
aprendido, evalúan procesos de educación superior inclusiva
basándose en los postulados de Tony Booth y Mel Ainscow
13
(practicas, políticas y cultura), analizan las trayectorias educativas
de estudiantes universitarios con discapacidad, estudian la
percepción de diferentes actores de las comunidades universitarias
respecto a la formación inclusiva, identifican los facilitadores y
obstaculizadores que enfrentas los estudiantes universitarios sordos
en dichas instituciones, entre otras.
Los hallazgos de estas investigaciones además, dan cuenta
de la necesidad de abordar no solo aspectos del acceso a la
información de los contenidos a tratar en clases y participación
académica y social de los estudiantes con discapacidad, sino que
también plantea la necesidad que los estados inviertan más recursos
para la contratación de profesionales especializados a fin de brindar
servicios de apoyo con calidad, capacitar al cuerpo académico y
administrativo, desarrollar una infraestructura accesible y adquirir
apoyos técnicos específicos, entre otras propuestas. Se destaca que,
y tal como lo señala UNESCO y los propios autores, en todas estas
decisiones acerca de las estrategias de enseñanza y de evaluación de
los aprendizajes que no están diseñadas pensando en personas con
discapacidad o en la elaboración de políticas inclusivas, siempre se
debe contar con la participación de las personas con discapacidad
para idear soluciones verdaderamente inclusivas.
Para finalizar, es necesario destacar que la educación
inclusiva es un proceso que transforma a toda la institución de
educación superior porque se ocupa de identificar las barreras al
aprendizaje y participación social que enfrentan los estudiantes con
discapacidad a fin de eliminarlas para garantizar una educación de
calidad con equidad. Si bien estas barreras pueden estar en las
prácticas políticas y cultura de la institución educacional, tal como
14
lo postula Booth y Ainscow, en la universidad puede impactar en
todas las funciones de dicha institución: docencia, investigación,
vinculación con el medio y gobernanza. Sin embargo, y tal como lo
plantea UNESCO, la inclusión y equidad es la base de una
educación de calidad, porque promueve una educación que
dignifica a cada persona y dignifica a la sociedad en su conjunto.
Por ello, las universidades que asumen su compromiso social no
pueden dejar que las personas con discapacidad se vean privadas
del derecho a una educación superior de calidad y equidad, que les
permitirá participar plenamente en la vida política, económica,
social y cultural de sus comunidades, es decir, les permitirá el
empoderamiento para su emancipación. A las comunidades
universitarias a su vez, les permitirá examinar todo su quehacer y
enriquecerse con el aporte de la diversidad de la gran familia
humana.
La Serena, Chile, noviembre de 2022.
Georgina Gara Escala
Universidad de La Serena, Chile
Coordinadora Red Interuniversitaria Latinoamericana y del Caribe
sobre Discapacidad y Derechos Humanos
15
APRESENTAÇÃO
Muitos são os questionamentos em torno das mudanças
necessárias à promoção de políticas sociais, culturais e
educacionais que garantam o direito de igualdade, equidade e
participação social de todos no Ensino Superior.
Inúmeros são os desafios que impedem e/ou dificultam o
acesso e participação de pessoas em situação da deficiência no
Ensino Superior, agravados com complexidade das restrições
decorrentes do isolamento social pós-pandemia Covid-19.
Desse modo, esta obra se dedicará em compreender:
quais dilemas se fazem presentes nos discursos políticos e
acadêmicos na Educação Superior na contemporaneidade? Quais
discursos teórico-metodológicos têm mobilizado mudanças das
políticas institucionais universitárias? O que é necessário modifi-
car para que as universidades sejam mais inclusivas? Que
caminhos podemos percorrer para garantir que a pluralidade
humana constitua modos de existir de diferentes corpos que
habitam e/ou transitam nos espaços da Universidade? Que
planos e ações são necessários para transformar os obstáculos em
facilitadores à promoção de culturas, políticas e práticas
inclusivas na Educação Superior? Perguntas como estas e tantas
outras foram capturadas por um devir constante pelo
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p15-26
16
compromisso, dos que se aventuraram compartilhar percepções
encarnadas na multiplicidade de compreensões que mobilizaram
o título desta obra “Inclusão universitária no século XXI: dilemas
atuais”.
Diante desse contexto ainda excludente, preconceituoso,
desigual, marcado por lutas, resistências, conquistas, escutas,
partilhas, mudanças, transformações que se insere essa obra.
Nessa direção, o presente livro, Inclusão universitária no
século XXI: dilemas atuais”, objetivou estabelecer reflexões
teórico-metodológicas acerca dos processos de exclusão social e
educativa de populações em situação de vulnerabilidade social,
das quais se identificam ou se reconhecem as pessoas em situação
de deficiência. Propõe estabelecer, ainda, reflexões que
priorizassem o diálogo interseccional sobre os modos do humano
ser e estar no mundo, nas suas relações de classe, gênero, etnia,
condição social, entre outras consideradas como marcas
constitutivas da diversidade humana. Por fim, destacou as boas
práticas de desenvolvimento e participação desse grupo aos bens
culturais produzidos nos espaços Universitários em contextos
internacionais distintos.
A obra é fruto de estudos e pesquisas realizados de forma
colaborativa com pesquisadores de diferentes contextos interna-
cionais sobre a temática inclusão e acessibilidade, derivados dos
trabalhos apresentados no “I Encontro de Redes Internacionais
em pesquisas sobre Acessibilidade e Inclusão”, realizado pelos
pesquisadores do Projeto de Pesquisa em Rede denominado de
“Inclusão e Acessibilidade em contextos distintos”, do Programa
UNIVERSAL/CNPq (Proc. 425167/2018-6) que integra
17
pesquisadores da Universidade Estadual Paulista - Unesp/FFC/
Brasil/Marília, da Universidade Federal de Santa Maria -
UFSM/Brasil, da Faculdade de Psicologia - Udelar/Uruguai, da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Nacional
do Nordeste - UNNE/ Argentina. Também conta com a
colaboração de pesquisadores da Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Pará UNIFESSPA/Brasil e pesquisadores/
colaboradores de instituições de Ensino da América Latina e do
Caribe.
Estas ações estão em consonância com o plano de
trabalho no cleo 4 - Acessibilidade, Deficiência e Educação
Inclusiva, do Projeto Internacional de Redes de Pesquisa
denominado “Diversidade, Movimentos Sociais e Inclusão -
Edital PROPG 02/2019, coordenada pelo Prof. Pedro Pagni
Unesp/Marília, no Convênio CAPES-PRINT-UNESP - “Tema
sociedades plurais”, na qual participam alunos de graduação e
pós-graduação de diferentes das instituições envolvidas e
articuladas as universidades parceiras.
Em geral, os propósitos de organização desta obra
congregam o compromisso com as pautas do Comité Académico
de Accesibilidad y Discapacidad, da Associação do Grupo de
Universidades de Montevideo (CAAyD/AUGM)
1
, caracterizado
como um espaço representativo de trabalho coletivo e acadêmico
com o propósito de assessorar o desenvolvimento e implemen-
tação de políticas públicas institucionais de acessibilidade e
inclusão na Educação Superior. Envolve, também, a contri-
1
CAAyD/AUGM:
http://grupomontevideo.org/sitio/que-es-un-comite-academico/
18
buição de pesquisadores da Rede de Pesquisa em Acessibilidade,
Diversidade e Inclusão
2
da Unesp/Brasil e da Red Interuniver-
sitária Latinoamericana y del Caribe sobre Discapacidad y
Directos Humanos
3
, que assumem o compromisso pelo
desenvolvimento e a disseminação de estudos, pesquisas sobre
políticas, culturas e práticas inclusivas, em distintos contextos
universitários e com apoio da Cátedra Libre Diseño Universal e
Inclusión / UNNE , Argentina.
Outras redes de apoio foram relevantes para esta obra,
como o Laboratório de Linguagem e Surdez (LaLiS) composto
por pesquisadores, estudantes da graduação e s-graduação,
bem como professores que tem por objetivo desenvolver, apoiar
o estímulo de ações com enfoque nos estudos e pesquisas na área
da educação bilíngue dentro da Filosofia e Ciências da UNESP -
Campus de Marília. Destaca-se que as atividades do LaLiS estão
vinculadas ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Deficiência e
Inclusão (GEPDI) da Faculdade de Ciências, Unesp/Bauru, que
propõe constituir um espaço de produção e compartilhamento
acerca dos conhecimentos conectados aos temas: deficiência
inclusão social e/ou educacional, políticas públicas, acessibili-
dade, formação inicial e/ou continuada de professores, direito a
informação e/ou a comunicação, com ênfase nas áreas de
Psicologia e Educação.
Agradecemos a Universidade Estadual Paulista "Júlio de
Mesquita Filho" (UNESP) e o Programa de Pós-Graduação em
Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade
2
REPADI - https://www.acessibilidade.unesp.br/
3
RIDDH - http://red-universidadydiscapacidad.org/
19
Estadual Paulista (UNESP) - Campus de Marília -, por apoiarem
as investigações relacionadas ao tema deste livro, oferecendo um
espaço de troca de relações e conhecimento humanizado, onde o
objetivo deste livro se conecta diretamente com a ampliação da
inclusão e acessibilidade dentro da UNESP e na sociedade de
forma geral.
Por fim, agradecemos ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/Programa
Universal) pelo financiamento da pesquisa em rede internacional
que deu fruto a este valioso livro.
Esta obra se apresenta organizada em onze capítulos, sob
a forma de ensaio teórico, revisão bibliográfica e/ou relatos de
pesquisas. Contou com a colaboração de vinte e cinco autores de
diversas instituições públicas de ensino superior de diferentes
países: Universidade da República, Uruguai; Instituto Rosario de
Investigações em Ciências da Educação, Argentina; Universidade
Nacional do Nordeste, Argentina; Instituto de Investigação sobre
a Universidade e a Educação, México; Universidade Veracru-
zana, México; Universidade do Chile, Chile; Universidade do
Algarve, Portugal; Universidade Western, Canadá; Universidade
Estadual Paulista, Brasil; Universidade Federal de Santa
Catarina, Brasil; Universidade Federal do Paraná, Brasil e
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Brasil.
O título do primeiro capítulo do livro Corpos deficien-
tes, seus movimentos políticos por inclusão e seus agenciamentos
no Ensino Superior Brasileiro: um ensaio à luz da filosofia da
diferença”, de autoria de Pedro Ângelo Pagni, trouxe um olhar
genealógico sobre os percursos do movimento da inclusão
20
educacional brasileira. Para tanto, o autor reconstitui as linhas
gerais dos movimentos por inclusão educacional e justiça social
no Brasil promovidos para e pelas pessoas com deficiência,
problematizando os modelos médicos e sociológicos nos quais
parte de suas lutas políticas se apoiaram e o terreno no qual
emergem no presente. Em seguida, analisou o corpo dessas
pessoas em sua singularidade, alianças e comunhão na esfera
pública da perspectiva das filosofias da diferença, com destaque
para o significado de suas presenças na inclusão educacional no
ensino superior brasileiro e para a discussão de seus efeitos de
poder e de saber, produtores de certo deslocamento de seus eixos,
produzido conjuntamente às lutas de movimentos políticos
(como os dos afrodescendentes, de povos indígenas, das
feministas, dentre outros) em busca de justiça social para a
população brasileira marginalizada. Assim, o autor ensaiou um
contorno acerca dos corpos deficientes à luz desse ponto de vista
filosófico da diferença, focando nos desafios a serem enfrentados
assim como alguns caminhos possíveis de lutas, em uma política
de alianças com outros movimentos em prol de inclusão na
educação superior e de justiça social na sociedade brasileira.
O segundo capítulo, de autoria de Marivete Gesser,
Pamela Block e Lúcia Pereira Leite, buscou apresentar as
contribuições dos Estudos da Deficiência para contrapor com o
capacitismo e promover o acesso coletivo ao ensino superior.
Intitulado “Do capacitismo ao acesso coletivo no ensino
superior”, o capítulo, primeiramente, traz uma breve caractere-
zação do tema em geral, conjecturando como os princípios
normativos têm orientado políticas públicas para promover a
21
participação mais expressiva de pessoas com deficiência em
diferentes âmbitos sociais, compreendendo-o como um sujeito
de direitos. Em seguida, retratou o modo como o capacitismo
vem sendo reproduzido nesse vel de ensino, bem como os seus
efeitos na experiência acadêmica de estudantes com deficiência.
Por fim, apresentou algumas contribuições dos estudos da
deficiência, com ênfase na Justiça Defiça (Disability Justice) para
a produção do conhecimento e a construção de práticas
inclusivas.
As autoras Laura Ceretta Moreira e Karin Rank Liebl, no
capítulo Políticas, práticas e cultura inclusiva: desafios da gestão
universitária”, discorrem sobre as políticas e as práticas constituídas
na perspectiva inclusiva, sobretudo, na educação superior. Para
tanto, as autoras analisaram os documentos legais e institucionais
da Universidade Federal do Paraná e as dimensões da inclusão
foram trazidas pelo olhar da cultura, das políticas e das práticas
inclusivas, tendo como foco o Index para a Inclusão de Booth e
Ainscow (2011). As autoras concluíram que o processo de inclusão
não passa, apenas, pela oferta de políticas de acesso, visto que é
preciso, de um lado, que o caráter transversal da permanência
perpasse os princípios institucionais da tríade ensino, pesquisa e
extensão na gestão educacional.
No quarto capítulo, Aportes para prácticas educativas no
excluyentes: experiencia en la cátedra universitaria metodologia
educativa musical”, Marisa Andrea Cenacchi e Patrícia Silvana San
Martin apresentam uma perspectiva teórica metodológica para a
formação de estudantes, visando transformar os problemas da
exclusão escolar ativando os princípios sócio-técnico-culturais da
22
"Acessibilidade-DHD", que se alinham com o Desenho Universal.
Trata-se de um estudo de caso que ocorreu na disciplina de
Metodologia Educacional Musical da carreira de Docência/
Licenciatura em Educação Musical de uma universidade argentina.
As autoras concluíram que a participação sem exclusões é possível
se toda a comunidade educativa estiver sensível ao Outro,
escutando e respondendo às necessidades contingentes, o que
implica colocar em ação a construção da corresponsabilidade na
prática educativa.
O autor, Gerardo Contreras Vega, no capítulo “Accesibi-
lidad en el proceso de ingresso a la Universidad Veracruzana”,
trouxe o processo que é seguido pela Universidade Veracruzana, a
maior universidade pública do sudeste do México, para tornar a
inscrição e o exame acessível aos candidatos com deficiência visual
da instituição. A metodologia utilizada para garantir a
acessibilidade é descrita com base nas Diretrizes de Acessibilidade
de Conteúdo da Web (WCAG), os atributos ARIA e os resultados
obtidos ao longo dos anos em que esse processo foi aplicado. Ao
final, o autor analisa os aspectos positivos e negativos desse
processo.
No capítulo seis, Experiencia de implementación del
índice de educación inclusiva en la Universidad Nacional del
Nordeste” os autores, Marcelo Daniel Barrios D´ambra, Norma
Elena Bregagnolo, María Natalia Caceres e Julio Enrique Putallaz,
trouxeram a experiência ocorrida no Campus de Resistência da
Universidade Nacional do Nordeste de implementação da
metodologia INES na Faculdade de Letras, que permitiu
demonstrar, por meio de diferentes indicadores, a situação atual
23
em que a unidade acadêmica se encontra para garantir uma
educação inclusiva. Os resultados, ainda preliminares, permitiram
estimular transformações na instituição a partir da conscientização
de autoridades e membros da comunidade acadêmica que podem
ser traduzidas em ações, projetos, programas e políticas
institucionais.
No capítulo seguinte, intitulado Retos y oportunidades
para la inclusión en la educacion superior en xico”, Judith rez
Castro analisa a trajetória de um grupo de estudantes com
deficiência de duas universidades públicas no xico, destacando
três momentos: a inclusão educacional - a presença, a participação
e a aprendizagem. De acordo com seus resultados, os estudantes
ainda enfrentam múltiplas barreiras para ingressar na universidade,
porém, as mais importantes são observadas na participação e no
aprendizado. A autora salienta que apesar das barreiras existentes,
os entrevistados sinalizaram como facilitadores da inclusão, o apoio
de seus pares e professores, principalmente no que diz respeito à
participação nas aulas, realização dos deveres de casa, exames e
cumprimento dos procedimentos institucionais, colaborando para
que se sintam parte do grupo e tenham uma boa convivência.
So
ledad Reyes Soto, Lorena Iglesias Véjar, Nathalie
Llanos Rivera, Carolina Carstens Riveros e Diego Cifuentes
Lucero, no capítulo Fortalezas y debilidades en la formación para
la atención de personas pertenecientes a colectivos de diversidades
en las carreras de la salud de la facultad de Medicina de la
Universidad de Chile”, buscam conhecer os pontos fortes e fracos
nas habilidades adquiridas para o cuidado de pessoas de diversos
grupos, a partir da percepção dos membros da Faculdade de
24
Medicina da Universidade do Chile (FAMED-UCh). Para isso,
realizaram entrevistas semiestruturadas, grupos focais e uma
pesquisa on-line com alunos, gestores e egressos das carreiras
ministradas pela FAMED-UCh. Os autores concluíram que a
percepção dos pontos fortes e fracos da formação variam de acordo
com o perfil de cada profissão e que, de um modo geral, não são
identificadas competências específicas que permitam uma melhor
atenção às pessoas pertencentes a grupos de diversidades, embora se
reconheça de forma transversal a importância de competências
transversais que permitam ultrapassar certas dificuldades na prática.
Em Portugal, no capítulo nove Acessibilidade, barreiras e
desafios ao desempenho dos estudantes surdos no Ensino
Superior”, Maria Helena Martins busca conhecer e analisar o
processo de inclusão, as acessibilidades, as barreiras e os desafios ao
desempenho dos estudantes surdos numa Universidade Pública
Portuguesa. Os quatro estudantes surdos que participaram do
estudo responderam um questionário com questões abertas sobre
sua trajetória acadêmica. Os resultados revelaram que estes
estudantes se sentem acolhidos nas turmas pelos colegas e
professores, contudo, referem que ainda existem diversas barreiras
que dificultam a sua verdadeira inclusão no Ensino Superior e que
se relacionam, sobretudo, com as questões relativas à comunicação
e que foram exacerbadas pela utilização das scaras impostas pela
pandemia que se vivenciou. Ademais, os estudantes consideram
que a presença das intérpretes se constitui como um valioso
elemento facilitador para o seu sucesso académico e socialização,
mas referem que é preciso uma mudança coletiva para que sejam
respeitados os seus direitos no contexto do Ensino Superior.
25
O décimo capítulo denominado O INES-BRASIL como
facilitador da identificação de barreiras de acessibiliadade em uma
universidade pública brasileira”, de autoria de Sandra Eli Sartoreto
de Oliveira Martins, Ana Paula Camilo Ciantelli e Juliana
Cavalcante de Andrade Louzada, demonstra quais os indicadores
de barreiras de acessibilidade e inclusão os universitários na
situação da deficiência apontam estar presentes em uma instituição
pública brasileira no interior do Estado de São Paulo. Os dados
foram recolhidos por meio da aplicação do INES - “Inclusão para o
Ensino Superior” (COLÔMBIA, 2017), adaptados e traduzidos
para o contexto universitário brasileiro, via preenchimento no
Google Forms (on-line). Os 19 estudantes retrataram de forma
tímida a existência de indicadores de políticas inclusivas na
instituição, contudo, alertaram para a cor vermelha haver a
prevalência de índices de barreiras metodológicas/pedagógicas,
atitudinais e programáticas, seguidas de índices de 60% a 80% na
cor amarela presente em todas as categorias de barreiras de
acessibilidade e a cor verde (mais de 80%) presente apenas num
indicador das barreiras comunicacional, informacional e
tecnológica. As autoras sinalizam urgência a providências de
medidas e políticas institucionais que visem a organização de um
plano de melhora, capaz de transformar as barreiras em
facilitadores para a promoção de culturas e práticas inclusivas na
universidade.
Por fim, o último capítulo Formação, atuação e
perspectivas de docentes da UNIFESSPA na inclusão de alunos
com deficiência”, as autoras, Katiane Silva dos Santos e Lucélia
Cardoso Cavalcante, buscam responder as seguintes questões:
26
Como docentes universitários significam suas práticas e
experiências com alunos com deficiência? Que indicadores de
inclusão se expressam nas falas de docentes? Para tanto, os docentes
da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará/UNIFESSPA
responderam um questionário com questões fechadas e abertas,
disponibilizado de forma on-line e que abordou informações de
perfil formativo, atuação profissional, relatos e reflexões sobre sua
experiência pedagógica com alunos com deficiência em contexto
universitário. A partir dos resultados, as autoras concluíram que se
faz necessário investimentos públicos nas instituições públicas
federais, para que possam desenvolver serviços de apoios
especializados, com qualidade, visando a contratação de
profissionais especializados, além da necessidade de investimentos
em uma política de formação continuada do docente universitário
que responda aos desafios da prática pedagógica.
Aproveitamos para agradecer o empenho, confiança,
parceria e colaboração de todos os autores presentes nessa obra.
Estamos certas de que este livro contribuirá com a temática da
inclusão e acessibilidade de pessoas em situação de deficiência no
Ensino Superior, possibilitando reflexões, conscientizações,
decisões, soluções, recursos e práticas educacionais inclusivas nos
distintos contextos internacionais.
Ana Paula Camilo Ciantelli
Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins
Organizadoras
27
CATULO 1
Corpos Deficientes, seus Movimentos Políticos por
Inclusão e seus Agenciamentos no Ensino Superior
Brasileiro: um ensaio à luz da Filosofia da Diferença
Pedro Angelo PAGNI
1
Introdução
O acesso das pessoas com deficiência ao ensino superior
tem sido visto como uma das conquistas das lutas de seus
movimentos políticos por inclusão educacional e por justiça social.
Esses movimentos ganharam força nas últimas cinco cadas,
sofrendo alguns reveses nos últimos anos em países da América
Latina e, especialmente, no Brasil. Esses reveses decorreram, de um
lado, da reconfiguração de forças sofridas com a ascensão ao poder
estatal de um ultraliberalismo neoconservador; de outro, das
sombras que acompanharam seus embates internos que, não
1
Professor associado da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Faculdade de Filosofia e Ciências, Campus de Marília.
E-mail: pedro.pagni@unesp.br. ORCID: 0000-0001-7505-4896.
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p27-78
28
obstante a conquista de certo reconhecimento histórico de sua
condição de sujeito de direitos, fez ressurgir nos últimos cinco anos
uma visão retrógrada no sentido integrativo na inclusão
educacional brasileira.
Interessa a este capítulo ensaiar um olhar heterogenealógico
sobre os percursos desses movimentos, partindo do problema da
“indignidade de falar pelo outro” enunciado por Gilles Deleuze em
um debate com Foucault (1990), evidenciando, em grossos traços,
algumas tensões internas e situando historicamente a emergência
de um outro ponto de vista sobre a inclusão educacional brasileira.
O problema enunciado por esses filósofos da diferença é
apropriado neste capítulo para interpelar a dimensão ética ignorada
pelos saberes produzidos sobre a deficiência e as epistemes nas
quais se apoiam para a compreendê-la como um desvio que
necessita de correção, segundo os modelos médicos e alguns
sociológicos, para se aproximar da norma e da regulamentação
social. Esse ponto de vista ético interpela a objetivação daquele
corpo, ao assujeitá-lo a tecnologias de reabilitação à luz daqueles
saberes e ao submetê-lo a dispositivos de poder que ignoram sua
singularidade, invisibilizam sua expressividade e, quando possível,
silenciam seus enunciados discursivos.
Dessa forma, falam sobre esse corpo designado de
deficiente, tratam dele e, por meio de saberes e tecnologias, o
enquadram a uma normalização com vistas a integrá-lo ou, mesmo,
a uma regulamentação social que se propõe inclusiva, porém,
excludente, porque é feita para e não com ele.
Mesmo na passagem de um modelo integrativo para um
modelo político-social inclusivo salientada por uma literatura
29
conhecida (SASSAKI, 1997; MANTOAN, 2003), pouca atenção
foi dada a esse saber produzido conjuntamente a tecnologias que ao
invés de subjugar esses corpos evidenciasse sua potência para se
rever a normatividade e regulação social vigentes, assim como aos
movimentos políticos que empreenderam historicamente em prol
de inclusão educacional e justiça social, assumindo certo
protagonismo em suas lutas pela afirmação da vida, de seus modos
de existir e de ser no mundo. Em outras palavras, numa passagem
de objeto de saberes, de poderes e de políticas públicas a atores ou
parceiros de sua construção.
Este é o objetivo geral deste capítulo ao considerar a
proveniência dos movimentos das pessoas com deficiência.
Especificamente, para isso, analisa-se criticamente as tensões
internas de tais movimentos, os indícios do escape à norma médica
e a normalidade social com o intuito de problematizar os modelos
dos saberes que nelas se pautaram, assim como assinala os poderes
emergentes de um corpo comum como qualquer outro em suas lutas
por educação inclusiva e justiça social.
Mediante tal análise e apontamentos, interessa vislumbrar
no corpo comum formado com a presença de múltiplas inscrições de
corpos deficientes, negros, gays, dentre outros, no ensino superior,
a potencialidade gerada pelos seus encontros e as formas como
agenciam linhas de fuga a uma molaridade e modelagem social,
assim como a sua clandestinidade aos paradigmas de inclusão e de
cultura universitária vigentes.
Dessa forma, se ensaia neste capítulo um olhar
heterogenealógico sobre esses movimentos de pessoas com
deficiência na qualidade de um de seus aliados e se discute a
30
possibilidade de pensar sob a ótica filosófica da diferença a
formação de um corpo comum no ensino superior.
Propõe-se a pensar em um corpo, assim, onde as arestas de
sua inclusão educacional sejam evidenciadas e as suas lutas
devenham latentes, como veias que pulsam no sentido de deslocar
a cultura hegemônica dessas instituições de seu eixo para se abrir ao
acolhimento desse corpo outro, no qual se inscrevem as diferenças
e emerge os devires minoritários de um povo que falta, para usar a
expressão de Deleuze (1997).
O que implica em assumir este ensaio como tangenciando
uma escrita literária que escreve por esse povo, não em lugar dele,
mas em intenção de um por vir, ou melhor seria dizer, de uma
fabulação em que se o contorna, dando relevo a sua presença e a
sua existência, que nem sempre ocupa lugar de fala ou desenha
curvas enunciativas, como é o caso das pessoas com deficiência.
Entre o protagonismo do sujeito de direitos e a objetificação
dos saberes especializados: movimentos políticos das pessoas
com deficiência no Brasil
Os movimentos das pessoas com deficiência na América
Latina e, particularmente, no Brasil ocuparam papel relevante nas
lutas políticas das últimas décadas por inclusão educacional e
justiça social. Júnior e Martins (2010) situaram a emergência desses
movimentos em meados de 1980, com a assunção do
protagonismo por parte das pessoas com deficiência e de seus
aliados familiares e especialistas nas reivindicações por inclusão
educacional e justiça social no Brasil.
31
Por sua vez, Bueno (1993), Januzzi (2012) e outros
sugerem antecedentes pregressos a essas lutas políticas, articulando-
o ao desenvolvimento da área da Educação Especial e a um
movimento social pelas pessoas com deficiência.
Com vistas a pensar na genealogia histórica desses
movimentos, de um ponto de vista diverso dessa restrição a um
campo de saber e daquilo que se denominou de passagem de um
modelo integrativo para um modelo inclusivo anteriormente
mencionado, situarei a sua emergência no contexto político dos
anos 1980, na medida em que esses corpos chamados deficientes se
lançam, por intermédio de algum de seus atores e aliados, na cena
dos debates, protagonizando algumas lutas específicas por direitos
civis e justiça social, abandonando uma posição de subalternidade
às associações que anteriormente os representavam.
O clima propiciado pela abertura política de 1984, com o
fim da Ditadura Civil Militar, mobilizou os ativistas desse
movimento político, com o intuito de diretamente ou por meio de
seus representantes legislativos colaborarem ativamente com a
Assembleia Nacional Constituinte que se responsabilizaria pela
elaboração da Constituição Federal de 1988. Juntamente com
militantes de outros movimentos sindicais, de Trabalhadores Sem
Terra, afrodescendentes, dentre outros, em busca de justiça social,
esses ativistas com seus aliados lutaram por direitos à educação para
todos e de seguridade social. Interessava a eles, também,
introduzirem um capítulo sobre os seus direitos na referida Carta
Magna. Estrategicamente, tendo em vista a federalização das
instituições especializadas para cada deficiência em particular e da
32
impossibilidade de se reunirem numa única confederação, eles se
organizaram em uma comissão que teve papel decisivo nessa luta.
Contudo, se os direitos gerais foram assegurados pela
Constituição de 1988, a conquista desses direitos específicos
somente foi regulamentada com a publicação da Lei no. 13.146 de
06/07/2015 - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(BRASIL, 2015) –, portanto, quase três cadas depois. Por sua
vez, contribuíram para essa conquista uma série de fatores
externos
2
e, não sem algumas tensões, de gradativas vitórias
internas desse movimento da sociedade civil junto à sociedade
política brasileira
3
.
2
Dentre os fatores externos destacamos o decisivo papel da Organização das
Nações Unidas (ONU) que, em 1981, com a proclamação do Ano Internacional
da Pessoa com Deficiência (AIPD), concorreu para a mobilização do movimento
político das pessoas com deficiência no Brasil e em outras partes da América
Latina. No continente, a Organização dos Estados Americanos (OEA) levou à
cabo essa tarefa ao fomentar o Programa de Ações Mundiais para as Pessoas com
Deficiência (Resolução ONU 37/52 03/12/1982) e ao implementá-lo
(Resolução ONU 45/91 14/12/199), no que se denominou de uma década
(2006 a 2016) de ações voltadas a esse púbico em nível global. Essas ações
globais não apenas mobilizaram o movimento potico brasileiro das pessoas com
deficiência, como também contou com a participação de alguns de seus ativistas,
que reciprocamente colaboraram para esse plano global, assim como para sua
implementação nas décadas subsequentes, inspirados por um paradigma de
inclusão educacional e um modelo social de deficiência. Papel crucial
desempenhou também Declarações como a de Salamanca (UNESCO, 1994)
que serviu como um norte para essas ações globais, com grande repercussão para
que o governo estatal brasileiro assumisse um compromisso com esse movimento
transnacional pela inclusão das pessoas com deficiência, ao mesmo tempo em
que fosse pressionado pela sociedade civil a implementar algumas medidas em
relação tanto a esse público quanto à educação inclusiva.
3
Decorreu dos compromissos com os organismos internacionais e a sociedade
civil brasileira algumas propostas que, antecedendo o Estatuto da Pessoa com
33
A implementação de um plano de educação inclusiva no
Brasil, analisado em outra ocasião (PAGNI, 2019b), porém, não
ocorreu sem disputas internas a esse movimento político e sem um
embate significativo com os aliados que, taticamente, engajaram-se
para que essas pessoas se constituíssem em sujeitos de direitos.
Afinal, as disputas internas e esses embates ocorriam largamente
nesse contexto de abertura política brasileira, como revelam as
entrevistas com ativistas desse movimento político das pessoas com
deficiência (JÚNIOR; MARTINS, 2010).
Nessas entrevistas se encontra a menção comum a certo
protagonismo de pessoas com uma determinada deficiência
(deficientes físicos ou cegos, por exemplo) sobre outras (surdos e
deficientes intelectuais), em razão de as barreiras linguísticas e
cognitivas desfavorecerem para alguns o maior intercâmbio com o
mundo normalizado. Ocorreu, igualmente, uma série de
questionamento sobre se aqueles ou aquelas que iam representá-los
junto ao poder público deveriam ser pessoas na mesma condição de
deficiência ou, na qualidade de aliados, com abertura para as
demandas vividas por elas.
As discussões sobre a deficiência” ocorreram, em geral, em
uma situação de registro, isto é, a partir do modo como elas foram
Deficiência em 2015, a publicação da Convenção de Direitos das Pessoas com
Deficiência regulamentado pelo Decreto 6949, de 03 de agosto de 2009
(BRASIL, 2009) e do Plano Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). Por meio dessa regulamentação quanto ao
público e planejamento para a implementação de uma educação inclusiva
garantiu-se o acesso dessa população à espaços públicos, o direito ao trabalho e
ao lazer, o ingresso das pessoas com deficiência em escolas regulares da educação
básica e, gradativamente com a Lei de cotas para o ensino superior de 2003, no
ensino superior brasileiro.
34
concebidas nos campos acadêmicos como os relacionados aos
saberes médicos, sociológicos, psicosociológicos, filosóficos, dentre
outros. Por vezes, se reportaram às representações das próprias
pessoas com deficiência ou de seu reconhecimento, a partir desses
saberes ou daqueles circulantes no senso comum, quando não
presentes no aparato jurídico, nos documentos oficiais que
regularam os seus direitos ou o estatuto de sua condição.
Contudo, parece haver uma determinação daqueles saberes
e dessas práticas circulantes em torno da qual as pessoas com
deficiência se reconheceram na formulação das políticas públicas
inclusivas, muitas vezes elaboradas pelos chamados especialistas,
dentre outros, sem que esse público efetivamente participe de sua
elaboração. Seguiu-se, dessa forma, um padrão frequente em torno
do qual aqueles que se autodenominam de especialistas exerceriam
um poder velado sobre esse sujeito, ignorando o quão seria
“indigno falar pelo outro” e o quanto isso implicaria num exercício
de poder sobre esse outro, quando não de completo abuso ao
legitimar formas de violência e, porque não dizer, de exclusão
exercidas contra ele.
Um sinal de reversão desse jogo de poder, todavia,
começou a ganhar significação no Brasil a partir dos anos 1980,
quando uma rie de movimentos sociais, dentre eles, os das
pessoas com a deficiência começaram a tomar para si o
protagonismo de suas ações e, gradativamente, exigir sua conversão
em uma atitude na enunciação das pautas políticas relacionadas ao
direito desse público à cidadania nos anos 2000.
35
“Nada sobre nós sem nós”
4
foi o lema que emergiu da ação
militante das pessoas com deficiência nesse período. A sua assunção
promoveu maior participação desse público nos marcos dessas
políticas, não obstante as divergências internas entre as várias
deficiências e tensões expressas em um conjunto de entrevistas
organizadas por Júnior e Martins (2010). Juntamente com o
movimento pela vida independente dessas pessoas (SASSAKI,
2004), veiculado em países centrais do capitalismo e que
atravessaram as demandas do movimento político das pessoas com
deficiência no Brasil, essa atitude fez com que elas exigissem maior
participação na elaboração das políticas blicas voltadas a esse
público no período.
Todavia, tal movimento político ainda se encontrava
bastante aliado a um grupo de especialistas que, pautados num
modelo social e na compreensão de que as lutas em jogo
implicavam em reconhecimento e justiça social, forjou uma
proposta de educação inclusiva, marcada pelo paradigma científico
da norma ou da normalidade (PAGNI, 2019b).
No desenvolvimento desse movimento político também se
observou uma mudança do perfil social e no grau de engajamento
4
Originalmente, segundo Sassaki (2007), a frase foi expressa por William
Rowland ativista negro sul-africano, em plena luta contra o apartheid nesse país,
e adotada pela Disabled People South Africa (DPSA) em 1986. Alguns anos mais
tarde, em 2001, foi retomada por Tom Shakespeare em uma palestra sobre a
Deficiência como atitude, proferida numa universidade australiana e, no mesmo
ano, adotado como lema por movimentos como People First, Mencap, Change e
Speaking Up da Grã-Bretanha. Desde então ativistas de todo mundo tem
adotado o lema e transformado essa frase numa bandeira de luta e do
protagonismo das pessoas com deficiência na elaboração de políticas públicas
voltadas a esse público.
36
das pessoas com deficiência graças a emergência de uma série de
organizações menores e dispersas quanto as suas reivindicações por
inclusão educacional e justiça social. Para alguns desses ativistas, a
questão era a de continuar vivo e isto significava não apenas maior
engajamento e ativismo político, mas visibilidade as suas pautas e
agendas comuns, postulando publicamente a condição de ser um
cidadão como qualquer outro.
Essa forma de pensar propiciou a esse movimento político
maior reconhecimento das condições das pessoas com deficiência e
sua afirmação ganhou maior representatividade a partir dos anos
2000, com a propagação de sua representação como um sujeito de
direitos, mediante a implementação de um plano político estatal
inspirado em um paradigma de inclusão educacional e de justiça
social. Esse plano, ainda que apoiado na crítica neoliberal ao
Welfare State, buscava retomar os dispositivos de seguridade deste
último para reparar as desigualdades estruturais da sociedade
brasileira, acirradas com a globalização da economia e do
neoliberalismo.
No contexto político-econômico abordado, o governo
estatal implementou dispositivos de segurança às pessoas com
deficiência, desde meados de 2000 até 2016, possibilitando-lhes,
conforme os princípios liberais, certa igualdade formal perante a lei
e maior oportunidade para atuar em diversos campos da sociedade
civil brasileira. Em plena globalização neoliberal, o movimento das
pessoas com deficiência contou internamente com aliados
importantes.
Assim, no campo político, além dos movimentos da
sociedade civil anteriormente destacados e seus representantes no
37
poder legislativo, os governos de viés social-democrata e sensíveis as
suas demandas como os de Fernando Henrique Cardoso (1995-
2003), Luís Inácio Lula da Silva (2003-2011) e Dilma Rousseff
(2011-2016) (RECH, 2011). Esses governos criaram secretarias
especiais ligadas aos Direitos Humanos, ou próprias, como a
Secretaria Nacional de Direitos às Pessoas com Deficiência, assim
como um compromisso com as pautas da inclusão e da justiça
social.
No campo acadêmico, as tecnologias e ciências da
reabilitação foram acompanhadas de uma tendência a um modelo
social da deficiência no desenvolvimento de algumas áreas do saber
como a Educação Especial. Desse modo, o viés médico desse
campo cedeu espaço para um modelo social da deficiência e
adotaram um paradigma inclusivo mais amplo voltado a esse
público.
A aliança com pesquisadores e educadores especialistas
formados, desse ponto de vista, contribuiu para que a pauta do
movimento se centrasse em questões como a da matrícula de
pessoas com deficiência no ensino regular, a da acessibilidade nas
escolas e em outros espaços urbanos, a das cotas para tal público
conjuntamente a outros grupos denominados “minoritários”
(afrodescendentes, povos indígenas, estudantes em situação de
vulnerabilidade socioeconômica) no ensino superior.
As conquistas obtidas por esse movimento político foram
relevantes até 2016, com a ampliação do número de matrículas de
pessoas com deficiência na escola regular, estabelecimento de cotas
para tal público, conjuntamente a outras diferenças, em algumas
instituições de ensino superior, sem contar o reconhecimento
38
pleno, de que seriam definitivamente sujeitos de direitos e de
justiça social, não sem algum incômodo.
Na ocasião da implementação desse plano de educação
inclusiva e política de justiça social, algumas resistências foram
manifestadas, por exemplo, por parte de comunidades surdas e
associações de deficientes intelectuais que não renunciaram as
instituições especializadas destinadas aos estudantes com essas
deficiências, com autonomia ou funcionamento conectado à escola
regular. Essas tensões produziram em algumas regiões do país um
sistema paralelo de instituições mais integrativas do que inclusivas
que, contraditoriamente, obtinham apoio financeiro estatal para
atender um público que relutava em se matricular no ensino
regular e demandava atendimento educacional especializado.
Nesse sentido, elas se tornaram ainda maior quando os
ataques às conquistas no campo dos direitos civis das pessoas com
deficiência emergiram com as políticas ultraliberais e
neorreacionárias, respectivamente, dos governos de Michel Temer
(2016-2018) e neoconservadoras de Jair Bolsonaro (2018).
Juntamente com os desmanches de políticas de seguridade
social, nesses governos, a supressão da Secretaria Nacional do
Direito das Pessoas com Deficiência e o desmonte de Ministérios
que atendiam os Direitos Humanos indicaram um retrocesso no
setor que culminou no Decreto n.º 10.502 de 30/09/2020, que
fortaleceu as instituições especializadas e o retorno das classes
especiais às escolas regulares.
Salienta-se, ainda que esteja suspenso pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), esse decreto presidencial sinalizou até
onde os ataques às conquistas dos direitos das pessoas com
39
deficiência poderiam chegar no Brasil, assim como o apoio que
teve de parte de seu movimento social que, por vezes, ainda se
pauta numa visão assistencial, paternalista e capacitista de
deficiências ultrapassadas. Esse acontecimento sinalizou, também,
para uma disputa que acompanhou o movimento político das
pessoas com deficiência no Brasil, revertido judicialmente com o
apoio de seus setores majoritários provisoriamente no presente, mas
que ainda motiva muitas discussões e disputas na sociedade
brasileira (CARVALHO, MENESES, PAGNI, 2021).
O que se pode notar é que, além das conquistas
enunciadas, o paradigma científico no qual se apoiou esse
movimento político em busca de legitimação foi atravessado por
tensões internas que, por vezes, resultaram em conflitos dessa
natureza. Entretanto, também trouxe conquistas positivas como as
da ampliação do número de matrículas desse público nas escolas
regulares, a oferta de serviços educacionais especializados na
educação básica, assim como, gradativamente, a possibilidade de
acesso no ensino superior por meio das cotas (BRASIL, 2012) que,
paulatinamente, foram se modificando e, mais recentemente,
abrangendo também a esse público.
O problema é que essas conquistas ainda são vistas pela
cultura escolar e universitária com reservas. Afinal, como disse em
outras ocasiões (PAGNI, 2021), a presença desses corpos, seus
movimentos minoritários aliado a outros devires ou signos das
diferenças –, e agenciamentos comuns evocam a exigência de
transformações profundas dessas instituições.
Esse é um dos desafios que, juntamente aos movimentos
das pessoas com deficiência, ainda temos pela frente da educação
40
básica ao ensino superior, a saber: como criar dispositivos de
inclusão com a participação desses corpos, de seus movimentos
heterotópicos e dos agenciamentos que produzem em relação às
formas de vida comum que habitam essas instituições? Ao mesmo
tempo em que é preciso indagar em como visibilizar, na qualidade
de aliado dessas pessoas, mais do que um “nós” vazio em termos
discursivos, a cartografia da expressividade de processos de
subjetivação outro, ainda não codificados pela ciência? Tais
desafios se justificam como um desdobramento dos movimentos
das pessoas com deficiências das últimas décadas.
No presente, eles demandam a presença não apenas de um
“nós” conflituoso, pois protagonizado pelas pessoas com
determinadas condições (como a dos DF ou DV) em detrimento
de outras (DI ou DA), em aliança com especialistas, familiares e
representantes legislativos (ROCHA, 1991; SASSAKI, 1997;
CRESPO, 2009; LANNA JÚNIOR, 2010). Reclamam também
talvez, mais pela parte dos aliados a formação de um corpo
comum, atravessado por devires minoritários heterogêneos, de
gênero, raça, condição socioeconômica, dentre outras, decorrentes
de alianças mais amplas e estrategicamente pensadas para que, mais
do que representação, participem diretamente das políticas
inclusivas e de justiça social.
Essa participação reclamada não se perfaz somente
mediante o reconhecimento legitimado por saberes e pautas
identitárias propiciadas por esse movimento político que reitera a
sua condição de registro, mas se faz por meio do, no e com o corpo
em que a deficiência se inscreve, de seu encontro com outros
corpos, dos acontecimentos que suscitam e dos agenciamentos
41
comuns que produzem dando forma aos devires minoritários do
referido povo que falta.
A literatura recente tem tentado atribuir um nome a essa
perspectiva em que está bastante parametrizada nas análises de
Foucault, de Butler, das teorias queers, da interseccionalidade,
dentre outras fontes, como sugerido por Gavério (2017) ao analisar
os Disabiliy Studies.
Algumas vezes, essas fontes foram mobilizadas a atribuir
certa interseccionalidade às diferenças (SCHIMIDT; SANTOS;
MENEZES et.al., 2021), por vezes, para criticá-la do ponto de
vista do movimento CRIP ou do feminismo negro (ALMEIDA;
ARAÚJO, 2020), das aproximações com as questões de gênero
(MAGNABOSCO, LEMOS DE SOUZA, 2019) ou, mesmo, da
filosofia da diferença que evocam tanto a inclusão como uma
governamentalidade biopolítica (LOPES, 2004; FABRIS; KLEIN,
2013; LOPES, VEIGA-NETO, 2017; PAGNI, 2019a) quanto a
deficiência em seu caráter ontológico (CARVALHO, 2015;
PAGNI, 2017), sua designação ética como modo de vida (PAGNI,
2018) e a potência de seus agenciamentos para interpelar
politicamente a vida comum (PAGNI, 2021)
5
.
5
Particularmente, nesse debate atual, tenho me situado mais proximamente
dessa última tendência, articulando minha trajetória pregressa de pesquisador do
campo da Filosofia da Educação com as experiências como pai e aliado de lutas
dos movimentos das pessoas com deficiência. Talvez, retraído pela indignidade
de falar por esse outro, e, percebendo o esgotamento do slogan “Nada sobre nós
sem nós”, defenda que seria mais alvissareiro e provocativo proclamar como
enunciado desse desafio: “Nada sobre nós sem esses corpos singulares, sem nosso
corpo comum formado a partir dos encontros com eles” - apoiado nos
argumentos expressos neste ensaio.
42
Dessa perspectiva, os movimentos brasileiros das pessoas
com deficiência têm sido desafiados a se repensar a partir da
potencialidade desses encontros, das alianças com outros nos quais
se inscreve a diferea (de raça, de gênero, de orientação sexual, de
funcionalidade) e de uma expressão coordenada dessa política na
esfera pública. Para tanto, tal perspectiva tem chamado a atenção
para a visibilização das presenças desses corpos na escola regular e
pela cartografia dos movimentos que a habitam, agenciando uma
outra organização da educação inclusiva nos diferentes níveis de
ensino.
Mais do que reivindicar direitos civis mediante uma
política identitária, a formação desse corpo comum, marcado pela
deficiência e/ou outras diferenças, é vista a partir de sua
participação ativa no aprimoramento da democracia brasileira, em
um momento em que se encontra tão ameaçada, resistindo às
sombras de um passado patriarcal, hierarquizado culturalmente e
desigual socioeconomicamente.
Essas lutas estão presentes no ensino superior, encontrando
como aliados, graças às políticas de cotas anteriormente
mencionadas, outros corpos atravessados pelos signos da diferença
socioeconômica, da diversidade étnico-racial, das condições de
gênero e da orientação sexual que, ao adentrarem nesse território,
trouxeram para dentro dele seus saberes, suas experiências e sua
gestualidade.
Simbolicamente, a sua presença agencia deslocamentos
incontornáveis na medida em que resiste a uma violência
majoritariamente exercida por práticas de produção de
conhecimento, de circulação desses produtos e, por que não dizer,
43
de sua transmissão. Esta última valoriza uma cultura utilitária
arregimentada pela racionalidade econômica neoliberal, com certo
saudosismo de uma cultura clássica que mantem hierarquizado os
saberes e considerados como superiores a tudo o que vem do que
denominam popular.
Por sua vez, esse elitismo arregimenta, ao mesmo tampo
que inclui, uma exclusão dos saberes, experiência e gestualidade
manifestadas com a presença desses corpos como um dispositivo de
inclusão que se propõe a incluir formalmente para que a exclusão
se efetue nesse terreno simbólico, despotencializando e
despolitizando esse encontro com as diferenças.
Os corpos deficientes e seus encontros de saberes
com o ensino superior
Em algumas ações, bons indícios de combate às
estratégias anteriormente enunciadas de biopoder no ensino
superior. Dentre elas, destacam-se programas como “Encontros de
Saberes” (CARVALHO, 2020) implementado na Universidade de
Brasília (UnB) que, ao valorizar a cultura dos mestres quilombolas,
dos fármacos da floresta e dos povos indígenas e afrodescendentes,
procura reverter o desiquilíbrio gerado pela cultura universitária
brasileira. Para isso, ainda que minoritários na universidade
brasileira, programas como esse, propõe uma troca simbólica e
coloca em circulação outras práticas que deslocam o centro de
gravidade e de poder institucionalizado, convidando à sua
participação mestres quilombolas, rezadeiras que conhecem a
44
fundo os fármacos da floresta e pais de santos capazes de oferecer
outro olhar acerca das religiões ocidentais, dentre outros.
Não se trata somente de propor uma revitalização da
cultura popular trazendo-a para o interior da universidade, mas
uma relação distinta com outras tradições e seus “clássicos”, com a
cultura oral desses povos e com uma cosmovisão que interpela o
eurocentrismo, a escritura e a metafísica nas quais se fundaram as
ciências e a filosofia moderna.
Se essas últimas efetuaram em nome de uma razão única,
universalizante e determinante de juízos preconcebidos, toda sorte
de violência e exclusão desses saberes outros, das múltiplas
racionalidades e experiências empreendidas, os corpos em que se
inscrevem, se expressam e se afirmam reclamando um lugar no
presente, não o de outrora, mas o produzido pela sua resistência,
vibração e inovação crítica no que se refere ao seu encontro com
produção e a circulação acadêmica atuais.
É possível vislumbrar em um programa como o do
“Encontro de saberes” a possibilidade de troca, de tensionamento e
de empoderamento por parte desses corpos. Todavia, inspirado
nesse programa, é possível questionar também se, afinal, os corpos
deficientes, em virtude de sua particularidade, corroborariam ou
não esse movimento? Para ser mais claro, casos como o de toda
uma cultura e língua da comunidade surda. , também, o modo
de ver dos deficientes visuais, que compensaram seu déficit por
meio de um modo próprio de codificar o mundo, de imaginá-lo e,
porque o dizer, de -lo. Há, ainda, os saberes acumulados e
atalhos percorridos pelos deficientes físicos para se locomover
numa cidade cujas barreiras materiais e atitudinais não seriam
45
senão saberes, práticas e experiências decorrentes de um modo de
ser no mundo ignorado pelo saber denominado de científico.
Como pai de uma pessoa com deficiência e partícipe de
uma comunidade em que as trocas ocorrem num plano distinto
com os deficientes intelectuais, é questionável se não haveria ,
nesses modos de ser no mundo, a expressão de uma singularidade,
de uma inteligência ímpar, muito distinta da nossa. Poderia ir
além, ao perguntar: se esse corpo em que a deficiência se inscreve,
ante os bloqueios funcionais, cerebrais, pulsionais ou sociais, não
a criação de linhas alternativas de existência, pouco perceptivas à
nossa ciência e sabedoria? Enfim, o que se interpela é, em suma:
até que ponto esses saberes e práticas não poderiam ser colocados
em circulação no meio acadêmico, na medida que o expressão de
modos de existência significativos, independente de seus déficits
que o habitam, dando visibilidade a eles?
Analogamente aos saberes ancestrais mencionados, a
hipótese aqui enunciada para responder a esses questionamentos é
a de que essas práticas, experiências e modos de existência tanto
singulares quanto comuns poderiam entrar em circulação se
não o estão em virtude do ingresso desses corpos e de sua
presença no ensino superior. Isso porque rompem uma visão que
os como objetos para que se tornem sujeitos capazes de enfrentar
as barreiras físicas, sociais e atitudinais que lhes são interpostas com
o luxuoso auxílio das ciências que os objetificam dessa forma,
porém, com um pendor contra ou de-colonial ou, simplesmente,
anticapacitista. Numa universidade que se dobrou à colonização e
ao produtivismo acadêmico com o advento da globalização da
economia e do neoliberalismo, esse pendor parece ser
46
estrategicamente crucial para ampliar os questionamentos às
epistêmes em que se assenta a atual cultura universitária, seus
processos de produção, circulação e avaliação do saber acadêmico.
A produção acadêmica e a circulação de seus produtos na
universidade brasileira ainda estão marcadas, majoritariamente, por
um paradigma das ciências de meados do século XX, sem o apoio
da revolução epistemológica advinda nesse campo como parte de
um processo político mais amplo e que implique em outro olhar
para a pesquisa acadêmica, nos termos designados por Isabelle
Stengers (2002) e Patrícia Hill Collins (2020).
Essa virada epistêmica no campo da pesquisa universitária,
que ainda é objeto de muitas polêmicas no contexto acadêmico
mundial em razão das questões geopolíticas e que decorrem dos
efeitos movimentos sociais análogos ao analisado, todavia, merece
ser mais bem aquilatada. Isso porque não apenas compreende o
lugar da produção universitária brasileira no contexto geopolítico
mundial, como também a sua diversidade, respeitando a formação
da sociedade brasileira e suas efetivas contribuições em nível global,
dependendo, para tanto, da adoção de estratégias políticas mais
amplas e de um componente ético indispensável.
Esse processo político mais amplo e essa estratégia não se
fazem sem alianças das ruas e dos corpos, como sugeridos por
Judith Butler (2018), tampouco se fixando apenas no âmbito da
representação no plano macropolítico e muito menos
exclusivamente na produção acadêmica em campos especializados.
Ao contrário, taticamente, se fazem a partir do encontro
desses corpos com o dos demais e onde se pode afirmar
produtivamente a potencialidade de suas diferenças, numa batalha
47
travada nas relações de poder institucional e na esfera
micropolítica, onde a apropriação dos saberes e experiências vividos
singularmente se confrontam com o saber e a experimentação
científica. Com isso, ensaiam trocas à luz desse afrontamento dos
jogos de poder majoritários, mobilizando campos distintos e
multidisciplinares para tentar codificar o que esses corpos
deficientes querem subjetivar, e os seus aliados, alguns deles
especialistas, desejam objetivar.
Esse parece ser um solo profícuo que começa a pavimentar
o caminho para elaboração de ferramentas para esse embate pela
afirmação das diferenças propiciadas pelas políticas de cotas no
ensino superior. Nesse território se refina pela cultura acadêmica
dominante uma crítica radical e contundente no sentido de sua
revisão para que efetivamente a universidade se torne inclusiva ou,
caso não, abandone completamente sua tradição majoritária e ao
menos a module e coloque em xeque, no sentido de se reinventar
como instituição.
Isto implicaria em exercer um papel estratégico nas lutas
políticas em prol dos povos colocados à margem da sociedade
brasileira e, ao reconhecer as particularidades da formação desta, se
apresentar com outro posicionamento no contexto acadêmico
mundial quem sabe, menos colonizado, mas focado na
explicitação de sua particularidade regional e na assunção de um
papel decisivo na geopolítica global, advindos das relações sul-sul.
A ressalva para que esses encontros de saberes ocorram, no
que se refere às pessoas com deficiência na universidade, porém, é a
seguinte: se, para a afirmação de algumas diferenças inscritas nesses
corpos que transitam no ensino superior, o acúmulo da produção
48
de saberes desde esse ponto de vista é significativo como
demonstra a literatura sobre o feminismo negro e denota uma
perspectiva interseccional –, para outras ainda é bastante reduzida,
como no caso dos corpos em que se inscrevem a deficiência.
Talvez, isso ocorra, como mostrado na primeira parte do capítulo,
em razão da forma como a deficiência foi objetificada sobre um
corpo orgânico pelos saberes médicos e subjetivada como
representação social de um aparato funcional ou de um sujeito de
direitos sobre o qual se decalca um papel ou se acusa um desvio,
combatendo-o como estigma ou, simplesmente, enquadrando-o a
um modelo social ou jurídico ideal.
A dificuldade em sair desse registro parece ser maior para
esse corpo, assim particularizado, em razão da genealogia histórica
apresentada anteriormente, com as tensões que a acompanham e
alguns embates atuais que radicalizam essas lutas em torno de suas
bioidentidades
6
produzidas a partir de um modelo médico da
deficiência ou de uma acirrada disputa com outras singularidades
sociais por meio de um governo identitário das diferenças (PAGNI,
2020).
As bioidentidades acompanharam e foram constituídas nas
lutas dos movimentos políticos das pessoas com deficiência, ao
6
Ao se apropriar da noção de biossociabilidade (RABINOW, 1999) e de sua
utilização por Francisco Ortega (2003) para argumentar que elas se formam
mediante um procedimento ascético, Pagni designou as bioidentidades como
"traços fisionômicos, genotípicos e fenotípicos, características comportamentais,
dentre outros, definidos por códigos genéticos, antecipando os riscos que
corremos e antecipando os acidentes que eventualmente teremos" (2019a, p.
77). Em torno desses traços biológicos vários grupos ou comunidades se
articulam para reivindicar direitos civis em lutas de afirmação identitárias de suas
diferenças.
49
ponto de os deficientes físicos e visuais disputarem seu
protagonismo com surdos e deficientes intelectuais nas cadas
anteriores.
Numa clara demonstração de que essas pessoas se
reconheceram a partir dos saberes veiculados pelos especialistas,
tomados por seus aliados, assumindo e se afirmando a partir desses
registros identitários, primeiro, conferidos a um corpo orgânico a
partir dos saberes médicos uma denominação ou quadro
diagnóstico da condição e, posteriormente, a sua representação
social e formal, respectivamente, pelos saberes sociológicos e
aparato jurídico.
Assim, seus movimentos lutaram por se reconhecer,
gradativamente, como sujeitos de direitos e novas figuras da justiça
social, advogando a sua inclusão social como esse corpo orgânico,
individualizado a partir desses registros de seu desvio com direito a
ser corrigido e normalizado, não sem uma disputa interna que
parece ter governado como parte da população, distribuída por
signos (DA, DV, DI, DF) e individualizado em corpos
particulares, cujo significado de sua disfunção os caracterizam
como pessoas com deficiência.
Essa significação individualizada desses corpos se
radicalizou no presente, como tem alertado Francisco Ortega
(2009), ao analisar os movimentos das pessoas diagnosticadas
dentro dos Transtornos do Espectro Autista (TEA), nos Estados
Unidos, produzindo uma disputa dos neuro-diversos de altas
habilidades com os de baixas habilidades e seus aliados: os
primeiros, recusando o auxílio estatal indispensável para os últimos
em nome de maior autonomia e liberação do estigma criado
50
socialmente. Ou, mesmo quando vemos parte dos movimentos
pelos direitos à inclusão das pessoas surdas ou com outra
deficiência no Brasil advogarem o retorno das escolas e classes
especiais, como visto recentemente em apoio ao Decreto
Presidencial n. 10.502 sob alegação de que suas comunidades se
beneficiariam dessa medida, livrando do sofrimento a que foram
submetidos pela inclusão educacional ocorrida nas últimas cadas,
restringindo a potência de seus corpos a uma condição orgânica
limitante e revelando as cicatrizes culturais de um passado, que
ainda não foram superadas.
A radicalização de certo identitarismo que ocorreu nessa
direção também pode ser observada em outros movimentos sociais
e políticos como o dos afrodescendentes, feministas, quilombolas,
dentre outros. De modo um pouco distinto, eles tamm foram
capturados por uma forma de distribuição de suas representações
identitárias, por signos e por um governo das diferenças, pois
muitos deles se dividem ao serem governados, se reúnem em torno
de padrões normativos e individualizados, reiterando uma
totalização dessa individuação, verticalizada com o neoliberalismo e
em torno da qual se alicerçaram as promessas de prosperidade
econômica, talvez, como seu dispositivo central de inclusão. Uma
inclusão que, nas últimas décadas, encanta e entusiasma os sujeitos
engajados nas lutas desses movimentos sociais e políticos por sua
inserção no mercado e na economia do consumo.
Ela alude a esse sujeito como uma figura sem corpo
orgânico, muito menos libidinal ou vital, mas a um corpo-máquina
em torno da qual todas as diferenças seriam suprimidas pelo seu
funcionalismo, pela sua utilidade como capital humano ou
51
eficiência na obtenção da renda terreno este em que se avalia
objetivamente o resultado social, se houve ou o prosperidade
individual, sendo esse o sinal de seu sucesso ou fracasso.
No ensino superior, a captura por esses signos, distribuição
e governo identitário das diferenças se , muitas vezes, pelos
próprios processos de ingresso pelas cotas, com dispositivos como
os da identificação ou autodeclaração, como também por um
maquinismo mais forte que, em razão da disputa social mais ampla
que qualifica os cotistas como privilegiados e que ignora (de boa ou
fé) o seu significado histórico para sociedade brasileira,
colocando-os num jogo de ter que provar por sua proveniência que
estão em níveis de desempenho acadêmico similares ou superiores
aos demais jogadores.
Para qualquer outro estudante, essa provação porque é
disso que se trata: a extrapolação dos tradicionais exames
adentrando ao campo de uma moral ascética não é tão exigente
quanto o é para esses corpos que se fazem presentes no ensino
superior. Algo que ocorre em razão da superação de sua condição
ser tomada para si como um caminho para se mostrarem acima da
média e serem reconhecidos nesse universo, mas é preciso dizer
que, embora possam, inclusive, superar os índices estabelecidos e o
fazem com frequência, os signos de “pretos”, “deficientes”,
“mulheres”, “gays” são insuperáveis, visíveis e sedimentados no
olhar alheio, normativo, regulador, vigiados em razão de os
trazerem inscritos em seu corpo e os assumirem como um registro
com o qual se identificam ou são identificados como desvios.
Por sua vez, esse processo de identificação vem carregado
de estigma, de preconcepções e, simbolicamente, de uma carga de
52
violência, ao mesmo tempo de uma exclusão obscurecida, que os
designam como ser menos válido, menor, fora do ser mais válido,
ontologicamente superior, dominante ou majoritário.
O ensino superior brasileiro, analogamente com o que
ocorre mundialmente, foi submetido nas últimas duas décadas a
índices de eficiência e de produtividade, a avaliações e
ranqueamentos internos e externosalgo que alterou, em nome do
aumento quantitativo, a qualidade tanto da produção quanto da
circulação do conhecimento acadêmico nos últimos anos.
Ante o paradoxo enunciado anteriormente, a perspectiva
que captura esses corpos seria a de que, para se corrigir essa
distorção ontológica, ao menos para ser reconhecido nesse meio
mais liberal que o do liberalismo político em épocas de liberalismo
autoritário (CHAMAYOU, 2020), deveria tornar-se mais, contra
tudo e contra todos, superando seus déficits para se provar eficiente
e se empreender a si próprio.
Essa estratégia colocou muitos desses corpos em cena,
reconhecendo em sua performatividade individual alguma
prosperidade econômica ou em relação às competências adquiridas
para a sua formação do capital humano, graças ao seu ingresso
numa maquinaria produtivista, cuja moeda de troca é esquecer os
signos inscritos para dar lugar a um rosto mais palatável e aceito
majoritariamente.
Ao obscurecer os vestígios escavados de suas diferenças, ou,
então, assumi-los oportunisticamente como parte daquele governo
identitário das diferenças em escala micropolítica, sem interpelar
ou resistir mais ativamente à razão governamental macropolítica, a
relação com esse corpo conduz a processos de subjetivação cada vez
53
mais alinhados aos processos majoritários e, portanto, ao
maquinismo do próprio capitalismo.
Neste caso, estudos poderiam ser desenvolvidos no sentido
de um estado da arte sobre as produções acadêmicas que têm
mobilizado os saberes e as pautas desses movimentos políticos
provenientes do corpo em que as diferenças se inscrevem, porém,
tomando-os nessa sua significação daquelas que escapam dessa
linha molar ou desse campo minado em termos micropolíticos.
No outro parece patente um alinhamento que, visto como
único caminho possível para afirmação de suas vidas ou de sua
sobrevivência, não traz escapatória, ou, então, essa escapatória não
é vista, porque apresenta outros caminhos para esses modos de
existência na universidade.
Caminhos esses que podem ser tão árduos, mas vitalmente
mais intensos e eticamente mais vibrantes do que o da ascese moral
exigida e do campo minado do reconhecimento. Isso porque numa
resistência proveniente desses corpos e que os envolve em uma luta
constante, cotidiana, não contra tudo e todos, claras exigências
de estratégias para a produção de novos lances no jogo, graças a
alianças contraídas, assim como coerência com o que vivem,
experienciam e, potencialmente, criam as inflexões desses modos de
vida no encontro com outros.
Se essas formas de resistência, de lutas e novos lances
emergentes desse terreno micropolítico podem provocar
transformações macropolíticas, essa é uma questão que merece ser
discutida num outro momento. O que se presume é que
indícios de uma movimentação desses corpos no que diz respeito
54
não somente ao como suas presenças no ensino superior colocam
em circulação outros saberes, experiências e epistêmes.
Falamos aqui de várias culturas que se formam e ethos que
ainda não foram devidamente mapeados e que poderiam ser
favorecidos se pudessem ser expressos no ensino superior, indo
além da presença desses corpos e fazendo veicular a sabedoria
prática de suas experiências, parcialmente elaboradas e passíveis de
enunciação. Analogamente ao que foi feito com o programa
“Encontros de saberes”, alguns mestres nessas artes de existência
poderiam ser convidados para relatar a si mesmos, como autistas,
cegos, surdos, deficientes intelectuais e físicos que atuam na
universidade ou seus aliados, manifestando suas culturas e modos
de ser no mundo, assim como compartilhando seus desafios em
relação aos diferentes temas, inclusive, alguns comuns a todos os
demais atores dessa instituição.
Encontros com as diferenças, alteridade radical e possibilidades de
formação de um corpo comum no ensino superior:
um novo paradigma de inclusão?
Ainda que se reconheça que as ões apresentadas não
sejam suficientes para transformar o ambiente dessa instituição em
um espaço para o estabelecimento de alianças políticas e para a
formação de corpos que o ocupam, esses atores se deparam com
um limiar complexo para a emergência de uma vida comum,
produtora tanto de inovações de sentidos quanto de alinhamento à
maquinaria social.
55
Refiro-me ao limiar em que seus corpos são atravessados
não somente pelas questões que o objetificam e o qualificam como
“deficiente” para, então, subjugá-lo, senão a esse registro particular
na relação consigo, ao menos a toda uma tecnologia de si que visa
compensar seus déficits e almejar uma correção. Supostamente,
essa correção é para normalizá-lo em nome de um corpo orgânico
escrutinado pela ciência, porém, exercida para dominá-lo sua
mecânica instintual e para justificar a sua condução quanto aos
fluxos de seu desejo, prevenindo a sociedade de seus desvios e
minando sua força irruptiva ou, tenho preferido, ingovernável
(PAGNI, 2021).
Se a diferença ontológica do chamado deficiente decorre
de alguma disfunção orgânica ou, como tenho defendido, de um
acidente que pode ou não se tornar um acontecimento para si, o
seu corpo também é atravessado por outros signos relacionados à
sua condição socioeconômica ou de classe, étnica ou de raça, de
gênero e de sexualidade. Implica em devires mais complexos que
dele provêm e faz emergir enquanto significações de um corpo em
consonância com a forma como essas diferenças são governadas,
subjugadas, conduzidas, assim como se afirmando em face a essas
formas de governo, subjugação e condução em torno da qual
formam uma feição, um rosto, um corpo.
Os movimentos provenientes desse corpo, irredutíveis ao
orgânico e ao linguístico, podem se engajar no âmbito desses
múltiplos atravessamentos e signos das diferenças em lutas que,
como vimos, registando até aqui no caso das pessoas com
deficiência, geram certa distribuição por identidades em
movimentos como o afrodescendente, o feminista, dentre outros,
56
cada qual tentando se afirmar como sujeito de direitos na cena
pública.
Acontece, porém, e cada vez mais, que uma caótica
multiplicidade se impõe e, por vezes, coloca essas lutas quase no
mesmo campo, como mostrado os dados do IBGE sobre o quanto
as pessoas com deficiência, sendo mulheres e negras, têm um índice
ainda menor de renda ou de participação no mercado de trabalho
(TERRA, 2022, p. 01). Essa ocorrência sugere que, por si só, as
demandas desses movimentos confluam para pautas comuns,
saindo de seu registro político identitário para encontrar numa
política de alianças outras estratégias de luta (BUTLER, 2018).
Ademais, a convivência desses movimentos políticos entre
si e, mais particularmente, do encontro desses corpos das ruas às
escolas, passando pelas universidades, produzem trocas de
estratégias políticas, de saberes, de experiências, vislumbrando no
corpo desse outro as linhas de tangenciamento de si.
Em suas peles repercutem dessa forma quase os mesmos
signos de poder e mecanismos de dominação, assim como se
sentem em e pelos seus corpos a vibração de intensidades singulares
no que tange à confluência de devires minoritários entre eles,
vislumbrando conexões em comum.
Para que ocorra certa alteridade entre pares e ímpares faz-
se crucial tornar possíveis as alianças experimentadas pelos diversos
signos da diferença e devires minoritários. Uma alteridade que,
segundo essa chave de leitura esboçada a partir das filosofias da
diferença, pressupõe uma abertura frente aos múltiplos devires
minoritários suscitados pelo corpo deficiente, assim como, provoca
uma alteridade ao apelar aos corpos de aliados como seus pais,
57
educadores e especialistas sensíveis a essa minorização, uma afecção
e um deslocamento ímpar para que mobilizem em si esses devires
comuns, vislumbrando certa familiaridade ou, melhor seria
dizer, um horizonte ontológico à própria humanidade
(CARVALHO, 2015).
Antes de avançar nessa direção, vale a pena destacar que
no ensino superior essas alianças vêm sendo costuradas e ensaiadas,
com trocas bastante profícuas entre os movimentos afrodes-
cendentes, feministas, de pessoas com deficiência, dentre outros.
Muitas vezes, elas ocorrem na medida em que esses movimentos se
dão conta dos limites de suas lutas identitárias e encontrando em
seu limiar embates comuns contra certo eurocentrismo, racismo e
capacitismo da chamada cultura acadêmica. Algo que somente foi
possível na e pela participação dos atores dessas lutas na
comunidade universitária, criando em seu interior outras
comunidades e redes, onde as identidades se alargam em razão dos
desafios postos, das táticas e estratégias desenvolvidas, especial-
mente, em relação às alianças que se impõe nos embates contra
esses aspectos mencionados da cultura acadêmica.
Numa enquete realizada alguns anos numa
universidade do Estado de São Paulo sobre acessibilidade, o
público de estudantes ouvidos, mesmo de professores e
funcionários, não titubearam a salientar o quanto as barreiras
impostas não são somente físicas, mas atitudinais e sociais. Muitas
representações nas respostas apresentaram situações de obesidade,
perdas de memória e étnico-raciais, apenas para ficar numa
variedade dispersiva, como questões que deveriam ser objeto do
acesso ao ensino, situando outros sujeitos e demonstrando que não
58
somente os que eventualmente possam ser caracterizados como
pessoas com deficiência encontrariam barreiras dessas ordens.
Contudo, se observa , conforme indicado nesse breve
estudo (CIANTELLI; PAGNI; AMORIM; MARTINS, 2020), a
necessidade de se repensar a noção a partir de uma perspectiva mais
abrangente, indicando campos de conflncia e de ação política
não restrito aos chamados corpos deficientes, como também a
movimentos spares, agenciado pelo encontro de devires
minoritários e alimentado por suas diferenças reunidos sob o
signo de uma estranha familiaridade.
Na reinterpretação dos resultados desse estudo à luz das
filosofias da diferença, pode-se dizer que, na ocasião, se percebia
o transbordamento desses corpos aos digos da ciência e da
técnica em que se constituíam os saberes sobre a acessibilidade,
assim como, a necessidade de reelaborá-los. Considerava-se, com
isso, a possibilidade de o que extrapolaria as suas particularidades,
mas também de algumas de suas singularidades que se misturavam
a de outros corpos de sujeitos, como professores, funcionários e
estudantes da instituição. Isso porque, não obstante esses últimos se
declararem no campo majoritário dos processos de subjetivação
(Brancos, com gênero e orientação sexual definidas, dentro do
campo da chamada normalidade”), se mostraram sensíveis a esses
outros, dispostos a alianças e a repensar conjuntamente os
dispositivos de inclusão na universidade.
É como se, intuitivamente, esses outros corpos
vislumbrassem em si mesmos um devir deficiente comum a esse
outro, seja pelo fato de terem se percebido em razão de algum
acidente com alguma deficiência ou por projetar o avançar do
59
tempo vital, se dando conta das barreiras advindas com a idade,
seja pelo acontecimento de se sentirem em alguma situação
minoritária (referentes à sua condição étnico-racial, de prove-
niência socioeconômica, de gênero, entre outras), associando-a ao
que eventualmente sofria também esse corpo. Não se tratava, nesse
caso, de uma compaixão desprendida totalmente de si, tampouco,
no outro caso, de uma projeção sobre o corpo alheio do que
poderia ocorrer consigo mesmo, ainda que tanto aquele sentimento
quanto esse recurso projetivo sejam úteis para tornar familiar o que
aparece como estranho.
Dessa forma, o que se observou empiricamente nesse
estudo preliminar foram indícios de associações, sem qualquer
codificação ou interpretação possível, sequer a enunciação de um
“nós”, mas que retomo seguindo um caminho diferente da política
butleriana de alianças, respaldado pelas filosofias das diferenças e
pela vaga noção de corpo comum, que congregaria esse “nós” para
além de todo identitarismo grupal e aquém de toda enunciação
discursiva.
Dessa perspectiva, o móvel do encontro desses corpos não
é apenas a violência ou a opressão sofrida, mas a troca afetiva e a
potência gerada pela confluência de seus devires comuns,
promotoras da possibilidade de cada qual se perspectivar no outro,
aprendendo com seus movimentos e, ao voltar-se às suas próprias
ações, se afirmando de um modo distinto do que eram antes desse
acontecimento. Ao se exprimirem mediante essa transformação de
si e movimento de alteridade, a força dos devires minoritários em
um corpo, formado por essas redes de comunhão, podem confluir
60
e se insurgir contra os devires majoritários do corpo social que o
subjugam, conduzem, excluem.
No ensino superior, a atenção para essa alteridade é
evocada pela possibilidade de encontrar um “nós” provisório nesse
tempo e espaço, por vezes, tomado como parte da estratégia de
lutas. Na verdade, às vezes mais parece um “a gente em que o
distanciamento do “ele” que designa o outro obscurece o que reúne
essas diferenças nem tanto o sofrimento propiciado pela violência
real ou simlica sofrida pelos corpos em que se inscrevem,
tampouco por um processo mimético com os quais eles se
identificam entre sivendo no outro o que também é seu –, muito
menos por simpatia, empatia ou qualquer dessas noções advindas
de um sentimento de outridade consciente. Ao contrário, ela
parece ser agenciada por um estranhamento ao que é familiar nesse
outro, um esforço ético por tornar próximo algo estranho,
mediante a ruptura da indiferença da consciência a uma
identificação qualquer e, ao mesmo tempo, um distanciamento
para que a alteridade almejada se torne radical.
Isso parece ocorrer ante a impossibilidade de se colocar no
lugar desse outro por assimilação. Essa abertura evoca a fabulação
desse outro, encontrando nesse campo a possibilidade não de
represen-lo, mas tangenciá-lo em face ao deslocamento que
produziu e das forças em torno do qual gravitava essa existência
estruturada, normalizada, estática a que boa parte de nós nos
sujeitamos. É essa alteridade sem representação prévia do outro,
ante a presença de um rosto, sem qualquer transcendência, que
possibilita tal familiaridade e, ao mesmo tempo, um
61
distanciamento de si, não egocentrado, no qual emerge a impes-
soalidade, assim como a possibilidade de uma vida comum por vir.
O corpo comum nasce dessa impessoalidade em que o
corpo do outro é tratado e do deslocamento que distende a
configuração de um si mesmo fixo, ampliando tanto a percepção
desse sujeito quanto o de-substantivando para que, ao ser atritado e
agenciado por esse corpo trivial, recobre o eixo gravitacional
deslocado por esse encontro. Entretanto, o eixo recobrado nesse
movimento de transformação de si não seria mais o mesmo, mas
produzido pela compensação de forças suscitadas pelo outro e por
abrigo comum, possibilitando o convívio de corpos singulares,
justamente em virtude de suas diferenças e dessa busca de ambos
por uma relação simétrica entre eles.
Antes de enunciar um “nós”, esses movimentos prévios
constituem uma comunhão indizível independentemente da
capacidade de fala desses corpos e antes mesmo de um sujeito
linguístico para promover tal enunciação. Dessa forma, tal
sentimento ou desejo de comunhão abriga corpos em sua
expressividade e de-substantiva essa operação discursiva, uma vez
que ocorrem mediante um encontro afetivo e uma composição de
forças que almeja uma circulação do poder, um des-
empoderamento de um ou de outro para que a potência de um
fazer junto e de uma troca (não-simbólica?) se efetuem.
Um dos efeitos do encontro com esse outro e dessa
alteridade radical resulta numa experiência de transformação de si
mesmo; outro é que, ante a não redutibilidade desse outro ao
mesmo, uma aliança com ele se perfaz e uma comunhão se produz
em torno do que suscitam afetivamente as forças provenientes desse
62
jogo de um corpo comum em formação. Antes da formação desse
corpo, como sugere José Gil (2002), um paradoxo se impõe entre o
senso comum em que emerge e o bom senso que o captura, pois ele
é habitado virtualmente por inúmeras diferenças e múltiplos
devires que se atualizam, trazendo à superfície da pele organizações
singulares, que ora destacam a sua raça, ora a sua característica
funcional, ora o seu gênero, assim por diante.
A cartografia desse corpo trivial se debruçaria como uma
espécie de pragmática da multiplicidade sobre esse fazer do Corpo
sem Órgãos, segundo Deleuze e Guattari (2012), nos oferecendo,
mais do que um corpo sob o registro do modelo médico ou social,
um campo de inscrição, de territorialização e de reterritorialização
em que o outro se encontra disperso em devires e implica em uma
experiência de alteridade a ser codificada.
Estrategicamente, a importância dessa codificação ou,
mesmo, de sua fabulação é dar corpo aos seus elementos
incorporais, trazendo à superfície da pele seus móveis organizativos
e utilizando essa forma de visibilizá-lo a possibilidade de se livrar de
um corpo próprio, identitário, regido por certo narcisismo,
despossuindo-se dele para liberar o corpo comum.
De acordo com Gil (2002, p. 146), paradoxalmente,
aquele corpo corre o risco de cair em uma armadilha, pois “quando
estamos na plena posse de nosso corpo identitário, então, ficamos
condenados a habitá-las e perversão maior amá-las talvez”. A
formação desse corpo comum ´poderia ser um caminho para liberá-
lo da identidade, de seu reconhecimento como corpo próprio,
como junção de devires minoritários que o encorpam, senão
dando-lhes forma, ao menos reunindo suas forças e alinhando os
63
desejos de um povo que falta, nos termos antes salientados. Isto
implicaria em assumir, por meio da visibilização de suas linhas de
força, um povo por vir, dando relevo a sua presença e a sua
existência em espaços como o da universidade, ainda que não possa
ocupar seu lugar de fala ou desenhar curvas enunciativas com seu
discurso.
Esse parece ser o caso de parte das pessoas com deficiência
e, particularmente, dos corpos surdos, deficiente intelectual e
outros transtornos que limitam simbolicamente sua comunicação
com o mundo oralizado, cognoscente e normotípico. A questão é a
de como mapear o delineamento desse e de outros povos que, ao
adentrarem a um universo em que as barreiras linguísticas,
cognitivas e racionais institucionalizadas como o do ensino
superior, as percebem claramente quase como um interdito à
formação desse corpo comum, não encontrando o abrigo e o
acolhimento anteriormente mencionados, em virtude da aridez,
sedimentação e predeterminação de um corpo social instituído.
Um corpo que somente entende a formação nos nones
trilhados da produção acadêmica e de sua circulação, controlado
molecularmente em sua capilaridade, deixando poucas brechas para
que o comum emerja, penetrando-as e rompendo as estruturas de
uma cultura que o como ameaça.
Nesse sentido, a questão pela qual este ensaio tem
enunciado em suas entrelinhas é a de como deixar de -lo como
uma ameaça, por meio da alteridade radical propagada,
vislumbrando aliados e a emergência de um corpo comum
capazes, quem sabe, de inovar essa cultura, revolvendo essa
64
estrutura e agenciando mudanças profundas nos sedimentos dessa
instituição no Brasil.
Esse seria o corpo a ser cartografado em suas linhas de
fuga, um corpo não orgânico, produzido singularmente pelos seus
encontros com outros corpos, por intensidades que indicariam uma
organicidade e linhas de expressão sem qualquer tipo de falta ou de
déficit funcional produzidos por um padrão normativo qualquer, a
partir do qual se infere sua anormalidade a ser superada ou seu
estigma a ser contornado.
A sua trivialidade é a de que se caracteriza como qualquer
outro, não a diagnósticos prévios de deficiência, estigmas por sua
cor da pele ou por sua condição de gênero, nem mesmo por sua
origem étnica ou orientação sexual, pois, segundo Deleuze e
Guattari (2010; 2012), um Corpo sem Órgãos (CsO) se forma a
partir do encontro com outros corpos, na intersecção e na criação
de zonas de intensidades que forma a modos de existência
singulares.
Desta feita, implica em uma singularidade cuja
ressonância de outras singularidades acordam os devires e
conduzem os fluxos de seu desejo mediante não somente uma arte
que esculpe a existência, mas como um corpo comum que se forma,
no qual se misturam e se enredam, no entreter das forças que o
constituem e das redes formadas pela alteridade com esse outro.
É na superfície da pele que esse corpo comum organiza os
movimentos provenientes do corpo empírico, segundo José Gil
(2002), em uma direção distinta daquela produzida pelas linhas
molares do poder e do maquinismo social vigente. Ao esboçarem
essa linha de fuga ou de errância somente vista por aqueles que
65
comungam ou compartilham de experiências e de sentimentos
comuns, não idênticos, mas tangenciais, trazem à tona desses
corpos a sua latência mais profunda e a enredam em uma superfície
trivial, comum, como qualquer outra, em torno da qual se sentem
pertencentes: como uma rede que os acolhe e os protege.
No ensino superior na falta de um nome próprio, esse
“nós” que escapa a identidade é, por vezes, chamado de coletivos.
São coletivos que se constituem de forma mais ou menos
espontânea, em rede, onde a identificação pela cor da pele, pela
particular deficiência ou pelas questões de gênero que os demarcam
socialmente, muitas vezes, se mesclam, se misturam como corpos
em busca de expressões ou reivindicações comuns. Armam-se, dessa
forma, para as lutas ombro-a-ombro, com diferenças que ressoam
em sua multiplicidade, mais do que na unidade necessária para
qualquer identificação, encontrando uma rede de proteção
mútua, ao mesmo tempo um móvel aglutinador, que os
impulsiona e os entusiasma a se assumirem como margem, se
afirmando pelo que de comum em suas diferenças, em especial a
sua menos valia ontológica para o corpo social.
Não se abatem com essa menos-valia ontológica, uma vez
que aprenderam a resistir nessa direção, se afirmar como um modo
de existência singular cuja comunhão com outras singularidades
acontece por meio dos encontros e, principalmente, reúne uma
convergência das forças pelos agenciamentos comuns
produzidos. E esses corpos estão aí, se empenhando em sair de
sua trivialidade e se formar como um corpo comum no ensino
superior.
66
As suas singularidades estão inscritas em corpos que,
inicialmente, são tratados por “eles” e, gradativamente, em razão
dos agenciamentos dos devires minoritários que suscitam em um e
n’noutro, se assumem como “nós”, dando força enunciativa ao
corpo comum em devir nesse processo formativo. Não se trata de
um “nós” vago, sem corpo, sem agenciamentos comuns desses
devires minoritários, mas um nós que arregimenta em sua
multiplicidade um povo por vir, um povo que falta, mais além do
governo biopolítico da população empreendido pelas políticas
públicas de inclusão, analisados em outra ocasião (PAGNI, 2019a),
pois a forçam ampliar seu alcance e deslocar seu centro em direção
à margem, às periferias.
Essa forma de organização dispensa um a “gente”, para se
fixar em um “nós”. Isso ocorre a porque, mesmo a enunciação
desse “nós” é preciso de um lugar, uma capacidade de enunciação,
que muitos sujeitos acometidos pela surdez, os estrangeiros, os
deficientes intelectuais, os formados em outras culturas ou, mesmo,
menorizados socialmente por sua condição socioeconômica, de
gênero ou de orientação sexual situam-se fora dos jogos de
linguagem vigentes, embora partícipes integralmente dos
dispositivos de poder e da razão governamental que os gestam.
Conside-los nesses jogos e na cultura universitária em
que ingressaram esses corpos, dando forma a corpos denominados
de coletivos, portanto, não é somente escutá-los para que ocupem o
lugar de fala de um “a gente”, cuja enunciação discursiva faz
circular saberes e experiências outras reiterando os dispositivos de
inclusão instaurados no ensino superior. É também mapear essa
passagem dos corpos triviais aos comuns, auscultando-os em seus
67
devires minoritários e nas vibrações que agenciam em um “nós” do
qual fazemos parte, como uma singular etnia que se forma ante a
presença desse outro e que nos faz sentir-se parte dela, vendo-o
como um modo outro de vida comum.
A expressão singular etnia também é inspirada na obra de
Fernand Deligny (2018). O etólogo francês criou essa expressão
numa obra monumental em que procura designar a relação
entretecida na relação dos autistas com suas presenças próximas,
isso é, com os educadores sociais da comunidade de Cévennes,
assim como os demais seres em seu entorno que, como eles, seriam
dessa forma considerados.
Próximas, porque não partiam de um conhecimento prévio
sobre esse outro, tampouco se propunham a enquadrá-los às
tecnologias de poder ao seu alcance para subjugá-los, muito menos
subordiná-los a um território fixo, mas para que gerassem um
vínculo pela familiaridade obtida no cotidiano da relação com eles,
traçando mapas dos movimentos próprios e dos garotos autistas
para, então, decifrar seus gestos mínimos e encontrar traços
errantes comuns que favorecessem o convívio e re-territorializasse o
caminho a seguir.
Deligny (2015) afirma que tanto uns quanto outros fossem
enredados a partir de certa despossessão da vontade de poder por
parte das presenças próximas para, então, serem enredados pelas
teias tecidas em comunhão, sem se atentar para o teor de verdade e
de poder em jogo, ou, mesmo atento somente aos sentidos das
intensidades e da liberação dos fluxos de desejo, que entretecem
um mapa anônimo, porque nem de um, nem de outro, mas
comum aos envolvidos.
68
Essa ontologia relacional do corpo comum, filosoficamente,
pode ser uma perspectiva aberta para se pensar a inclusão
educacional nos mais diferentes níveis de ensino, em particular, no
superior.
A questão é que a sua fonte de inspiração - a singular etnia e
a forma como a comunidade de Cévennes o constituiu -, diz
respeito a um amplo território, circunscrito às montanhas e
praticamente fechado ao mundo exterior, onde somente conviviam
os autistas que habitavam e os educadores sociais, com visitas
esporádicas de psiquiatras, cineastas, filósofos, outros educadores.
Se essa formação do corpo comum teria a possibilidade de ocorrer
em instituições sociais onde o cerceamento, a cultura e dispositivos
de poder são mais acentuados, como é o caso de escolas e de
universidades, eis a questão que gostaria de discutir com mais vagar
no final deste ensaio.
Isso porque as condições dessa comunidade de Cévennes é
distinta daquela enfrentada pela relação dos corpos deficientes,
negros, transgêneros, quilombolas, indígenas, favelado, ou, como
assinalado, uma multidão desses e de outros signos da diferença
que adentram ao ensino superior sem se subjugar totalmente ao seu
governo como corpo social único ou como distribuído cada qual
com a significação com que mais se identifica.
Não se trata apenas de uma distribuição que implica em
uma imensa variedade impossível de ser racionalizada pela
governamentalidade operante, tampouco de uma unidade
produzida em torno dessa última sob um paradigma científico de
inclusão que conclama o acesso de todos à universidade para
69
produzir oportunidades que se sabe de antemão será
aproveitada por alguns.
No mais, implica, também, nas resistências a essas formas
de governamentalidade institucional e de uma ramificação de
linhas de fuga produzidas pela presença trivial desses corpos cujo
alcance de seus mapeamentos são infinitos, dependendo da
disposição à alteridade com e ao acolhimento das tensões trazidas
por esse outro, em virtude tanto da variação quanto da velocidade
desses rizomas produzidos do encontro de corpos que encarnam
uma diferença com o de outras e com o de um rosto que obscurece
tal encarnação para sinalizar um sorriso pálido, um sujeito uno,
integralmente normalizado.
Esse teatro, seguramente, não era experimentado em
Cévennes. havia um ponto zero, um contexto em que as
presenças próximas se interpelavam a si, no sentido de se tornar
inoperante, para então traçar os mapas que, por sua vez, também
eram de incumbência de autistas como Janmari, que exprimiam
gestos e gritos - mínimos para sua significação, máximos para sua
própria existência -, encontrando nos traços comuns os diagramas
de um corpo comum que habita esse território.
Essa outra forma de expressão artística poderia, no entanto,
nos inspirar a educar nosso olhar e a dirigir nossos traços como
presenças próximas que atuam no ensino superior não somente
como aliados - vislumbrando num corpo comum que também é
nosso. Nosso, porque agenciado igualmente por eles e seus
múltiplos signos de diferença, provocando o início de uma
reterritorialização, movida pelos devires minoritários desse povo
que faltava, pois não falta mais, está a povoar a universidade,
70
transformando sua cultura e, quem sabe, trazendo novos sopros
vitais para essa instituição. Quem sabe, mapear esse corpo comum
não seja a possibilidade de encontrar um modo outro de falarmos
de inclusão.
Uma inclusão que não se refira a algo prévio que parte da
modelagem de um corpo orgânico chamado “deficiente”, ou de
uma pele denominada de “negra”, de um nero chamado
feminino” e por se constrói o registro de várias caracterizações
identitárias da diferença imersas em uma mecânica ou
dispositivo de poder e a um maquinismo social abstrato que
personaliza para excluir, mas diz respeito a corpo que se molda a
partir de sua imanência em um mundo, se organizando a partir dos
encontros com outros corpos e de mecanismos de organização
geradas pelas intensidades que o agenciam, conforme circula o
prazer e faz fluir o desejo.
O fato de serem negros, deficientes, mulheres, homos-
sexuais, dentre outros signos, não quer dizer que os minimiza, os
desqualifica, os toma como desvio a ser corrigido, mas somente que
indicam outra organização, mecânica e economia libidinal,
demandando maior esforço para que seja codificado em sua
singularidade pelo gesto cartográfico. E, seguramente, para se
produzir essa codificação é preciso a percepção de um corpo comum
formado entre aquele que gesta a cartografia e esse enigmático
sujeito cartografado, cujo mapa somente pode ser elaborado com
ele, como uma singular etnia a ser decifrada somente na medida em
que aquele se sente pertencente ao mundo habitado por este que,
por sua vez, nota-o como uma presença próxima a si, um aliado
71
que vive consigo, independentemente das diferenças inscritas em
seus corpos.
Para isso, duas ações parecem prioritárias e imediatas. Essa
inclusão que, em tese, formaria o corpo comum, com todo exercício
de alteridade radical e de encontro de saberes que pressupõe, não
começa na universidade, devendo ser expandida em outros níveis
básicos do ensino, desde a educação infantil.
Para isso, , também, a inclusão não deveria representar
apenas acessibilidade, adaptação curricular e apoio escolar para
quem comprovadamente necessita de atendimento educacional
especializado, como também uma reforma de toda cultura escolar,
seguida da formação (continuada) de professores e de uma filosofia
que se ocupasse da diferença, não da normalidade, delineando o
outro olhar e traços evocados anteriormente.
Uma segunda ação decorrente da primeira implica em
pautar essa inclusão educacional no terreno estético em que
emerge, não se furtando em nome de uma ética mesmo a da
diferença a se esquivar de seus efeitos em níveis micro e
macropolíticos, cambiando os jogos de poder em que a escola e a
universidade modernas se estruturam. Penso ser no compromisso
com essas duas ações que passaríamos de aliados ou especialistas, a
presenças próximas, ainda que nem tão próximas, preparando o
terreno para que logo o povo que faltava não falte mais, esteja entre
nós.
72
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79
CATULO 2
Do Capacitismo ao Acesso Coletivo
no Ensino Superior
Marivete GESSER
1
Pamela BLOCK
2
Lúcia Pereira LEITE
3
Introdução
Ao conjeturar a respeito do acesso de diferentes públicos ao
Ensino Superior brasileiro, constata-se que por meio das diretivas
legislativas ou pelas preocupações político-sociais, evidencia-se uma
1
Professora Associada II do Departamento de Psicologia e Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da UFSC. Coordenadora do Núcleo de Estudos da
Deficiência da UFSC. Florianópolis/Santa Catarina/Brasil. Bolsista PQ-
1D/CNPq. E-mail: marivete.gesser@ufsc.br, ORCID: https://orcid.org/0000-
0002-4091-9754
2
Professora do Departamento de Antropologia Cultural da Western University.
Pesquisadora dos Estudos da Deficiência nos Estados Unidos, Brasil e Canadá.
London/Ontario/Canada. E-mail: pblock@uwo.ca,
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1481-0314
3
Professora do Departamento de Psicologia e Programa de pós-graduação em
Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, Universidade Estadual Paulista
(Unesp). Bauru, São Paulo - Brasil. Bolsista Pq/CNPq.
Email: lucia.leite@unesp.br ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2401-926X
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p79-110
80
preocupação e um olhar mais atento aos direitos e à participação
das pessoas com deficiência no mundo acadêmico.
Nessa direção, analisar tal processo relacionado à
deficiência ou às pessoas que se encontram nessa condição se
configura numa proposição importante e de interesse científico e
social, uma vez que os julgamentos, classificações e atitudes que o
público faz em relação a esse segmento populacional determinará
fortemente as possibilidades de participação mais efetiva em
distintas esferas sociais. Ainda, implica em pensar que a formação
de futuros profissionais está atravessada por conceitos, ideias e
valores impregnados de significados sociais que podem estar
sustentados em pilastras formadas de preconceitos e estigmas que
desvalorizam socialmente as pessoas com deficiência.
Portanto, trabalhar criticamente tais temas, desmistificando
concepções e qualificando novos olhares parece-nos ser importante,
sobretudo, quando se pensa em atuar num contexto em que ideias
semeadas podem sustentar práticas profissionais mais plurais. O
debate acerca da deficiência se insere no tema dos direitos
humanos, que assevera que todo ser humano pode desfrutar dos
meios necessários para a realização e alcance de suas possibilidades
sem ser submetido a qualquer tipo de discriminação.
Nesse sentido, a Psicologia e demais áreas do conhecimento
que fazem interface com a educação podem contribuir para o
processo de inclusão das pessoas com deficiência.
Em termos numéricos, a representação materializada de
pessoas com deficiência pode estar distante da realidade, uma vez
que os dados se assentam no censo “Características Gerais da
População, Religião e Pessoas com Deficiência” (IBGE, 2010),
81
haja vista que até o presente momento o recenseamento decenal
ainda não foi operacionalizado pelo Governo Federal.
Na época, ao considerar a população residente no país, foi
notado preliminarmente que 23,9% possuíam pelo menos uma das
deficiências investigadas: visual, auditiva, motora e mental ou
intelectual, índice bastante expressivo. Tais dados foram publicados
em 2012, na Cartilha dos dados do Censo do Brasil. Numa análise
mais refinada em relação ao contingente de pessoas identificadas
com deficiência severa, chegou-se ao percentual de 8,3% da
população brasileira, distribuída em: 3,46% com deficiência visual
severa; 1,12% com deficiência auditiva severa; 2,33% com
deficiência motora severa; 1,4% com deficiência mental ou
intelectual. Em termos absolutos, isso representava, na ocasião,
15.830.813 habitantes, diante da população total de 190.732.694.
Para se chegar a essa amostragem, foram selecionadas pessoas que
responderam afirmativamente que ‘têm grande dificuldade’ e ‘não
conseguem de modo algum’ em decorrência de alguma deficiência
as questões que solicitavam a operacionalização de atividades.
Dados numéricos complementares sobre pessoas com
deficiência no país foram igualmente divulgados pela Pesquisa
Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo IBGE em 2013,
apontando que, dentre os 200,6 milhões de brasileiros, 6,2% da
população maior de 18 anos tinham, ao menos, uma das quatro
deficiências investigadas, sendo: intelectual (0,8% ou 1,6 milhão
de brasileiros), física (1,3% ou 2,6 milhões), auditiva (1,1% ou 2,2
milhões) e visual (3,6% ou 7,2 milhões).
No entanto, o conceito de deficiência é complexo e
multideterminado. Ao seguirmos a lógica temporal, em termos
82
normativos e operacionais, o governo federal publicou o Decreto
Federal n.º 5.296, de 02 de dezembro de 2004, no qual define a
deficiência como uma limitação de ordem individual, como pode
ser percebido na leitura do primeiro parágrafo do Art., a saber:
[...] toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou
função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere
incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do
padrão considerado normal para o ser humano (BRASIL,
2004).
Na mesma regulamentação, que estabelece normas gerais e
critérios básicos para a promoção da acessibilidade, ou seja,
orientando tais práticas, a deficiência é categorizada por tipo de
comprometimento: físico, mental, auditivo, visual ou múltiplo,
sendo especificado cada um deles. A normativa encontra-se vigente
até os dias atuais e evidencia a prevalência de um modelo
biomédico para compreensão da deficiência, ou seja, como um
atributo orgânico e inerente ao sujeito. Nesse viés, tais diferenças
humanas podem ser interpretadas como impeditivas para o
desenvolvimento humano e, consequentemente, para a sua
participação social, corroborando com a ideia de sujeitos desviantes
de um modelo normal ou ideal, ou seja, que apresentam corpos
disfuncionais.
No entanto, as mudanças mais substanciais numa
perspectiva social, tanto na concepção de deficiência como no trato
às pessoas que se encontram nessa condição, começaram a ocorrer
mais acentuadamente após a Convenção Internacional sobre os
83
Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo
assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, sendo que sua
intencionalidade consiste, segundo seu preâmbulo, em:
[...] promover, proteger e assegurar o exercício pleno e
equitativo de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais por todas as pessoas com deficiência e
promover o respeito pela sua dignidade inerente (BRASIL,
2009).
O Brasil signatário se configurou como um Estado-parte,
assumindo as obrigações legais previstas nos documentos. Tais
dispositivos foram ratificados e publicados no país por meio do
Decreto n.º 6.949, de 25 de agosto de 2009, da Presidência da
República. Segundo seu Art. 1º, passa-se a então adotar que:
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos
de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,
podem obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdades de condições com as demais
pessoas.
Mais recentemente, tal definição foi reiterada na Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - (LBI) - Lei n.º
13.146/15. Portanto, percebe-se que a adoção de uma nova forma
de conceituar a deficiência, lançando o de uma definição mais
ampla, dirigindo-se para um modo de explicação causal em que a
84
esfera social passa a ser considerada, promovendo ou não barreiras
para a garantia de participação das pessoas com deficiência.
A LBI traz o conceito de barreiras no seu Art. 3º, inciso V,
definindo-as como:
[...] qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento
que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem
como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à
acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à
comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à
circulação com segurança, entre outros, classificadas em: a)
barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espos
públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo;
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios
públicos e privados; c) barreiras nos transportes: as
existentes nos sistemas e meios de transportes; d) barreiras
nas comunicações e na informação: qualquer entrave,
obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou
impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e
de informações por intermédio de sistemas de comunicação
e de tecnologia da informação; e) barreiras atitudinais:
atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem
a participação social da pessoa com deficiência em igualdade
de condições e oportunidades com as demais pessoas; f)
barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o
acesso da pessoa com deficiência às tecnologias (BRASIL,
2015).
As análises realizadas por Gesser, Block e Mello (2020) têm
apontado que o capacitismo sustenta a produção de todas as
85
barreiras presentes na sociedade. Como será explicitado no tópico
seguinte, ele fomenta a construção de tempos, espaços e formas de
se relacionar a partir de um padrão normativo de sujeito. Assim,
pessoas que diferem desse padrão têm dificuldades de participar da
sociedade.
Pelo interesse do estudo em tela, iremos particularizar as
barreiras que se assentam numa perspectiva atitudinal, visto que
atravessa as relações estabelecidas com as pessoas com deficiência e
podem, sobremaneira, auxiliar, dificultar ou impossibilitar (de
modo visível ou não) a inclusão desses sujeitos em circunstâncias
mais amplas.
Num interessante artigo sobre a revisão jurídica do
conceito de barreiras apresentado na LBI, Vasgliar e Naspolini
(2020) indicam o caráter inovador da norma por ter orientado a
remoção de barreiras para promover a participação social de
pessoas com deficiência. No entanto, as que são perceptíveis e/ou
materializadas na sua concretude parecem ser mais fáceis de
identificar, revisar e/ou deslocá-las, como as barreiras urbanísticas,
arquitetônicas, de transporte, comunicacionais ou tecnológicas.
Exclui-se dessa medida as barreiras atitudinais que podem ser
observadas em comportamentos discriminatórios e/ou impeditivos
manifestos (ou velados) de forma sútil ou acentuada, levando a
obstrução da participação da pessoa com deficiência. Segundo os
autores as barreiras atitudinais podem ser igualmente derivadas em
decorrência de diferenças étnicas, raciais, religiosas, etárias, de
gênero, dentre outras.
Seguindo essa lógica, evidencia-se que o conceito da
deficiência é complexo e pode ser compreendido por meio de
86
diferentes perspectivas, sendo que os significados a ele atrelados
não são estáticos nem universais, mas fruto de uma construção
social, refletindo os padrões comuns vigentes e adotados em uma
sociedade, num determinado tempo e sob circunstâncias políticas e
econômicas (LEITE; LACERDA, 2018).
Tais reflexões são relativamente novas no cenário do Ensino
Superior brasileiro, até porque a presença de pessoas com
deficiência é pouco expressiva, pois, segundo dados veiculados na
Sinopse Estatística da Educação Superior de 2020, realizada pelo
INEP, divulgado em 2022, o total de estudantes com deficiência
alcançava 55.829 das 8.680.354 matrículas, representando 0,64%
da amostra geral.
Destarte, relacionado a essa etapa de ensino, foco do
presente capítulo, concorda-se com Leite et al. (2022, p.17)
quando anunciam que:
[...] as Instituições da Educação Superior podem atuar
significativamente no processo de tradução das prescrições
legais na dimensão da atuação cotidiana, do debate plural e
crítico dos fenômenos culturais, extrapolando as narrativas
politicamente corretas’, mas que, muitas vezes, podem ser
incoerentes com a prática do reconhecimento da diferença.
Extrapolando as prescrições legais e debruçando sobre as
relações sociais, retoma-se as observações sobre as barreiras, agora
nesse contexto educacional. Diniz e Silva (2021) realizaram uma
pesquisa com estudantes universitários com deficiências em
Universidades públicas de Mato Grosso do Sul, cujos objetivos se
centraram na análise de elementos que puderam ser configurados
87
como barreiras e/ou facilitadores na trajetória acadêmica do
público investigado. Os estudantes identificaram várias barreiras
durante o processo formativo. Dentre elas, destacam-se as
atitudinais, em que:
[...] o relacionamento com os demais colegas muitas vezes é
marcado pelo preconceito, manifestado na exclusão dos
alunos com deficiências e no uso de rótulos, assim como no
comportamento de recusa ou esquiva no momento de
compor grupos para realizar as atividades acadêmicas
(DINIZ; SILVA, 2021, p. 464).
Em estudo com interesse semelhante, porém, na
Universidade Federal da Bahia (UFBA) com estudantes com
deficiência visual, Silva e Pimentel (2022, p. 127), na análise de
questões relacionadas ao ingresso e permanência desses graduandos,
puderam observar várias barreiras enfrentadas, [...] “há problemas
na estrutura física em toda a universidade, mas as barreiras
atitudinais agravam sobremaneira o uso das instalações, dos
equipamentos e dos serviços disponíveis”. As autoras relatam que a
revisão e/ou supressão dessas barreiras podem auxiliar na promoção
da autonomia e no desenvolvimento acadêmico de tais estudantes,
tirando-os da invisibilidade.
Pautadas nos argumentos anunciados, o texto em tela busca
apresentar as contribuições dos Estudos da Deficiência para
contrapor com o capacitismo, na tentativa de tensionar as barreiras
atitudinais (explícitas ou não) na intenção de promover o acesso
coletivo de pessoas com deficiência no ensino superior.
88
Capacitismo
O capacitismo é o termo que ativistas da deficiência
escolheram para nomear a discriminação sofrida por pessoas com
deficiência por essas terem corporalidades dissonantes do que é
considerado normativo a partir de um ideal de sujeito universal,
considerado típico por reproduzir um determinado padrão.
Segundo Wolbring (2012), o capacitismo é uma forma
específica de discriminação vivenciada por aquelas pessoas cujos
corpos ou habilidades físicas, mentais, neuronais, cognitivas ou
comportamentais não correspondiam ao padrão típico. O
capacitismo tem sido considerado um elemento basilar na
produção das barreiras presentes nos diversos contextos sociais, à
medida que, com base em um padrão corponormativo, institui-se
tempos, espaços e formas de se relacionar com a deficiência que
não acolhem a diversidade humana.
Inspiradas no pensamento das autoras do feminismo negro
- que destacam a importância de se visibilizar a opressão de raça
para que se possa denunciá-la e fomentar a luta antiracista
(AKOTIRENE, 2018; RIBEIRO, 2019), acreditamos na potência
de se visibilizar o capacitismo e seus efeitos na vida das pessoas com
deficiência. Dessa forma, é possível mobilizar coalizões para o
fortalecimento da luta anticapacitista, necessária e urgente para a
produção de fissuras nos modos normativos de se relacionar com a
deficiência (GESSER; BLOCK; MELLO, 2020).
Campbell (2001, p. 44, tradução nossa) destaca que o
capacitismo é “Uma rede de crenças, processos e práticas que
produz um determinado tipo de corpo (o padrão corporal) que é
89
projetado como perfeito, típico da espécie e, portanto, essencial e
totalmente humano”. A deficiência, por diferir desse padrão de
corpo, é caracterizada como um estado diminuído do ser humano,
algo que deve ser corrigido, curado e até eliminado.
O capacitismo é baseado, então, na compreensão da
deficiência com base no modelo médico, o qual circunscreve essa
experiência como um problema do âmbito individual, localizado
no corpo, restrito ao âmbito privado e familiar. Do ponto de vista
capacitista, a deficiência é uma patologia de origem orgânica, a
qual deve ser prevenida e que, quando isso não for possível,
demanda ações voltadas à cura e à caridade.
As pontuações de Campbell (2009) indicam a compreensão
capacitista da deficiência como um problema individual,
circunscrito ao corpo, produz como efeito a dispersão das pessoas
com deficiência, à medida que essas são incitadas a buscar
tratamentos para seus corpos e soluções individuais para a
construção do acesso ao invés de, coletivamente, lutarem para a
remoção das barreiras que obstaculizam a participação social. A
partir do diálogo com autoras como Taylor (2017) e Campbell
(2009), Gesser, Block e Mello (2020) têm argumentado que o
capacitismo tem um caráter estrutural e interseccional, uma vez
que está presente e é reproduzido em diversas instituições sociais e
afeta em diferente medida pessoas marcadas por múltiplas
intersecções.
Nessa direção, embora os efeitos do capacitismo sejam
muito mais experienciados pelas pessoas com deficiência, Taylor
(2017) destaca que ele afeta, também, outros grupos tais como
mulheres, pessoas negras, pessoas do sul global e todas aquelas
90
pessoas que desviam do ideal normativo. Essas o patologizadas e
lidas como menos capazes.
O diálogo com Campbell (2009) e McRuer (2006) têm
apontado que as normas são produtoras do capacitismo, à medida
que fomentam a construção de espaços, temporalidades e formas
de se relacionar produtoras de barreiras. Situar o capacitismo como
decorrente das normas complexifica a luta anticapacitista, pois
implica direcioná-la para o rompimento com as relações de poder
que são basilares delas. Também, implica em visibilizar o privilégio
que pessoas com corpos normativos têm em contextos que não
foram pensados para proporcionar o acolhimento de pessoas com
corporalidades múltiplas e diversas.
É possível afirmar que o capacitismo fortalece as políticas
neoliberais, pois, ao situar a deficiência como um problema
individual, decorrente do desvio do que é considerado típico da
espécie, deslegitima a luta pelas pessoas com deficiência e suas
famílias por serviços, espaços e formas de se relacionar acessíveis,
preparados para o acolhimento de corporalidades múltiplas,
desobrigando o Estado a fornecê-los (GESSER; ZIRBEL; LUIZ,
2022 no prelo).
Essas políticas neoliberais estão reproduzidas em diversos
espaços, dentre eles, na própria universidade, onde sob a égide do
produtivismo, da competitividade e da uniformização dos tempos e
espaços, o capacitismo tem sido cada vez mais naturalizado e
fortalecido. O modo como o capacitismo se expressa no contexto
acadêmico será abordado no próximo tópico.
91
A expressão do capacitismo no ensino superior
A partir dos nossos estudos recentes, temos identificado que
a categoria capacitismo tem maior potencial analítico e político
para a compreensão dos processos opressivos vivenciados pelas
pessoas com deficiência na universidade. Os motivos para a
utilização dela são: a) por ela ter sido desenvolvida por autores com
deficiência; b) ser utilizada por ativistas da deficiência para
visibilizar os processos de opressão e privilégio decorrentes de ser
ou não pessoa com deficiência; c) ser amplamente utilizada na
literatura internacional; e d) e pelo potencial político e inter-
seccional.
A literatura sobre o capacitismo no ensino superior tem
apontado que, na atualidade, a universidade tem sido organizada a
partir de um modelo neoliberal. Esta instituição, seguindo a lógica
de mercado, valoriza a eficiência, a produtividade e a excelência,
privilegiando sujeitos capazes em detrimento de pessoas com
corporalidades múltiplas e diversas (MCRUER, 2006;
BLACKMORE, 2016; BROWN, 2020; , 2019, LORANDI;
GESSER, 2022).
Conforme é destacado por Kruse e Oswal (2018) e
Merchant et al. (2020), as instituições de ensino superior
dependem de sua capacidade de recrutar estudantes para obter
pontuações altas e produzir conhecimentos que são classificados
por 'especialistas' como de excelência, a fim de obter mais lucro e
prestígio. Assim, “em vez de abraçar a diferença como um reflexo
da sociedade em geral, os ecossistemas acadêmicos buscam
92
normalizar e homogeneizar as formas de trabalhar e de ser
acadêmico (BROWN, 2020, tradução nossa).
Nessa direção, Gillberg (2020) argumenta que pessoas com
deficiência são frequentemente vistas como não acadêmicas ou
intelectualmente mais fracas e menos capazes de contribuir com a
universidade que, atualmente, é fortemente constituída a partir da
lógica de mercado, que demanda sujeitos capazes.
Ademais, Inckle (2018), (2019) e Merchant et al.
(2020) destacam que, reproduzindo a lógica da meritocracia, o
sistema acadêmico recompensa a excelência individual, sendo
esperado que um estudante com deficiência se autogerencie e
construa estratégias para garantir o seu acesso ao conhecimento.
Além disso, a universidade, partindo do pressuposto de que todos
os sujeitos que estão inseridos nela universidade são igualmente
capazes, torna invisível o trabalho extra causado pela necessidade de
ajustar e criar acesso para si mesmo em um contexto com muitas
barreiras presentes nos diferentes espaços da universidade.
Nessa direção, a pesquisa realizada por Merchant et al.
(2020) com pessoas com deficiências visuais ou que usavam
cadeiras de rodas mostrou que esses relataram passar muito tempo
tendo que verificar a acessibilidade do espaço de palestras e o
percurso até o local de eventos antes de acessá-los, e destaca que:
[...] se um indivíduo não pode facilmente participar de uma
conferência, ou tem que gastar tempo e mão-de-obra extras
simplesmente organizando o acesso a um prédio, então,
resta pouco tempo para a produção de resultados de
pesquisa de alta qualidade (MERCHANT, 2020, p. 10,
tradução nossa).
93
Outro aspecto apontado pela literatura é o da reprodução
do modelo biomédico da deficiência, o que tende a individualizar
as estratégias de inclusão no sentido da medicalização das pessoas
com deficiência (apressando-as e corrigindo-as) para reproduzirem
as normas que fundamentam a noção de sujeito capaz.
Esse modelo de compreensão da deficiência influencia a
universidade a oferecer uma resposta individualizada de
acomodação da deficiência, desconsiderando as múltiplas barreiras
arquitetônicas, comunicacionais e atitudinais causadas pela
estrutura institucional. Além disso, a compreensão da deficiência
como sendo de natureza biomédica tende a demandar, por parte
das instituições de ensino superior, documentação comprobatória
(por exemplo laudo médico com CID) como "evidência" de
deficiência para receber serviços de acessibilidade nessas instituições
(HUTCHEON; WOLBRING, 2012).
O capacitismo também se expressa por meio da
(in)visibilidade da deficiência no contexto universitário, no sentido
de produção de um “apagamento” das pessoas com deficiência
como uma categoria analítica (ABES; WALLACE, 2018; BIALKA
et al., 2019; MERCHANT et al., 2020; KRUSE; OSWAL, 2018;
LORANDI; GESSER, 2022). A partir de autores como McRuer
(2006), esse apagamento pode ser explicado como uma tentativa de
homogeneização cultural das corporalidades que compõem a
universidade e pode produzir a domesticação dos corpos, de modo
que tentem performar a capacidade para se afastar da abjeção.
Outro fator de reprodução do capacitismo retratado por
Abes e Wallace (2018) é o da hipervisibilidade dos estudantes com
deficiência no meio universitário, que acabam não sendo mais
94
vistos como pessoas de direitos, mas apenas como suas deficiências
e incapacidades. O estudo realizado pelos autores evidenciou que
os participantes, independentemente de suas deficiências serem
visíveis ou invisíveis, relataram sofrer uma atenção indesejada,
resultando em hipervisibilidade da deficiência e invisibilidade das
outras características identitárias.
As análises de Brown e Leigh (2018) sobre o capacitismo na
universidade também evidenciaram o inmodo das pessoas com
deficiência, com a hipervisibilidade da deficiência, sendo que esses
destacam o desejo de que suas realizações e publicações não fossem
vistas apenas por meio da lente de seu status de pessoa com
deficiência. Importante mencionar que a invisibilidade ou
hipervisibilidade da deficiência também tem sido abordada pela
literatura, a partir de sua articulação com outras identidades
interseccionais (raça/cor, orientação sexual e classe).
Os estudos de Casement, Carpio de los Pinos e Forrester-
Jones (2017), Freedman, Dotger e Song (2020) mostram que os
estudantes com deficiência experimentaram o apagamento dessa
identidade, entretanto, os estudantes com ltiplas identidades
oprimidas - além da de pessoa com deficiência - experimentaram o
apagamento interseccional, tendo dificuldades de serem lidos como
pertencentes a essas outras identidades (por exemplo, LGBT,
negro, indígena). Assim, o capacitismo é experimentado de forma
desproporcional pelos estudantes, cuja deficiência se intersecciona
com identidades marginalizadas, moldando a complexidade da
experiência da deficiência no Ensino Superior.
Ademais, Abes e Wallace (2018) destacam que quando raça
e deficiência se interseccionam uma intensificação da vivência
95
do capacitismo por esse grupo social, uma vez que pessoas negras
foram historicamente “deficientizadas”, o que dificulta ainda mais
o enquadramento delas no protótipo/estereótipo de um estudante
universitário (ABES; WALLACE, 2018).
Corroborando os estudos anteriormente apresentados, a
pesquisa realizada por Mozzi (2020) junto a estudantes com
deficiência, que acessaram uma universidade pública no sul do
Brasil, aponta elementos importantes sobre a reprodução do
capacitismo. A autora identificou que estudantes com deficiência
não requeriam os ajustes e as acomodações a que tinham direito,
mesmo quando os espaços acadêmicos e mobiliários eram
inadequados às suas variações corporais.
No que se refere às estratégias utilizadas pela Universidade,
essas eram voltadas para o atendimento das necessidades
individuais (por demanda), ao invés de serem pautadas na
perspectiva do acesso coletivo (ajustes que vão beneficiar pessoas
com corporalidades com diferentes condições funcionais). Três dos
quatro estudantes com deficiência entrevistados tentavam, o tempo
todo, minimizar a deficiência e performar a capacidade (superar as
barreiras ao invés de solicitar a remoção delas). Os dados
identificados por Mozzi (2020) corroboram os estudos de Ciantelli,
Leite e Nuernberg (2017) e Gesser e Nuernberg (2017) que
destacam que muitas barreiras no ensino superior.
Nossas análises sobre a produção do conhecimento acerca
da reprodução do capacitismo na universidade indica que este é
intrinsecamente relacionado à organização dessa instituição que, a
partir das influências neoliberais, vêm sendo cada vez mais pautada
na meritocracia e implicada com a produtividade e a competiti-
96
vidade. A concepção de deficiência como uma tragédia pessoal
(OLIVER, 1992) e a naturalização da capacidade como algo que
legitima o sujeito para estar na universidade deslegitima o direito
constitucional ao acesso de estudantes com deficiência.
Desse modo, no próximo tópico abordaremos as contri-
buições da justiça defiça para a construção de pesquisas e práticas
profissionais voltadas ao enfrentamento do capacitismo e a
participação de estudantes com deficiência no ensino superior.
Justiça defiça e sua contribuição para o enfrentamento
do capacitismo na universidade
Justiça defiça é o termo que vem sendo utilizado para
traduzir disability justice no Brasil, de modo a preservar o seu
sentido político. Essa tradução foi proposta por Mello e Fietz
4
(Mello et al., 2021), com vistas a abranger o significado de
disability justice, que não condiz com a tradução "justiça da
deficiência" ou "justiça pela deficiência".
Considerando que "defiça"
5
é proveniente do ativismo das
pessoas com deficiência no Brasil, e tem como intuito produzir
4
Na mesa redonda 04, que foi uma das atividades do VII ENADIR Encontro
Nacional de Antropologia do Direito e que contou com a participação de Ana
Mello, Helena Fietz e Gabriela Rondon (2021), as duas primeiras teóricas
propuseram a tradução do termo “Disability Justice” para “Justiça Defiça”.
Defiça é um termo que vem sendo muito utilizado no ativismo das pessoas com
deficiência.
5
Segundo Mello (2019, p. 55) "'Defiça' é abreviação carinhosa e aleijada de
'deficientes', tomada em contexto exclusivamente brasileiro. O termo também se
alinha com a perspectiva dos estudos culturais, ao ser tomado como um
substantivo, ou seja, da mesma forma em que no Brasil usamos os termos
97
coalizões e encontros que visam fortalecer as lutas entre as pessoas
com deficiência, esse parece ser um termo mais coerente para ser
utilizado junto à palavra justiçapara nomear "disability justice"
no Brasil.
Disability Justice é uma perspectiva teórica que emergiu do
ativismo da deficiência. Essa perspectiva surgiu inicialmente em
São Francisco, Estados Unidos. Na sua emergência, foi concebida
majoritariamente por mulheres com deficiência não brancas
(pretas, pardas e asiáticas) e lésbicas (ou bissexuais ou trans),
embora, também, contou com a colaboração de alguns homens
com características interseccionais semelhantes. Dentre estes,
destacam-se Patty Berne, Mia Mingus, Leroy Moore, Stacey
Milbern, Eli Clare e Sebastian Margaret. Os precursores são, na sua
maioria, artistas vinculados a um coletivo chamado Sins Invalid, o
qual se trata de um projeto de performance que aborda temas
como sexualidade, experiência encarnada e corporeidades
deficientes.
Os criadores da justiça defiça (disability justice) reconhe-
ciam os avanços que o movimento de direitos das pessoas com
deficiência (disability rights movement) trouxeram em termos de
garantia de direitos para as pessoas com deficiência. Contudo, não
se sentiam representados por esse movimento que era branco,
heteronormativo e pouco questionador das estruturas sociais
racistas, capacitistas e cisheterosexistas (PIEPZNA-SAMARA-
SINHA, 2018; MELLO; FIETZ, 2021).
“negro” e “indígena” ao invés da expressão 'pessoas de cor', também podemos
falar de 'deficiente'".
98
Havia um forte questionamento acerca do foco dos
disability rights movement ser apenas direcionado à categoria
deficiência, desconsiderando outros eixos de opressão tais como
raça, gênero, sexualidade, idade, status de imigração e religião que
são constitutivos das corporalidades (PIEPZNA-SAMARASINHA,
2018; SINS INVALID, 2019), assim como deixar de considerar a
branquitude como privilégio.
Mingus (2018) e Sins Invalid (2019) têm destacado que
sistemas opressivos, tais como o capacitismo, a supremacia branca,
o cisheteropatriarcado, o colonialismo e o capitalismo trabalham
juntos para oprimir pessoas marcadas por múltiplas intersecções
(de raça, gênero, sexualidades, região, classe social, entre outras).
Desse modo, os apontamentos da autora indicam que a
incorporação dessas intersecções sociais constitutivas dos sujeitos
nas pesquisas e na atuação profissional junto às pessoas com
deficiência é fundamental para a produção de conhecimentos e
práticas que desafiem o capacitismo tão presente no contexto social
contemporâneo.
A justiça defiça tem dez princípios, os quais versam sobre: a
interseccionalidade, a liderança dos oprimidos pelo capacitismo, a
política anticapitalista, o compromisso com a organização de
movimentos transversais, reconhecimento da totalidade, a
sustentabilidade, o compromisso com a solidariedade cruzada à
deficiência, a interdependência, o acesso coletivo e a liberação
coletiva (SINS INVALID, 2019).
Os princípios da justiça defiça marcam fortemente a
premissa de que os contextos sociais devem ser organizados de
modo a garantir a participação de pessoas marcadas por diferentes
99
intersecções, sem deixar ninguém para trás. Assim, eles muito
podem contribuir para a construção de práticas inclusivas no
ensino superior que acolham pessoas com diferentes corpora-
lidades.
Um importante princípio da justiça defiça é o acesso
coletivo, o qual surge do ativismo pela justiça defiça e produz
fissuras e aleijamentos na perspectiva do desenho universal por
meio da incorporação da perspectiva relacional, interseccional e
política (HAMRAIE, 2017), que se justifica com base no
argumento de que nenhum corpo ou mente deve ser deixado para
trás (SINS INVALID, 2019).
Dessa forma, sem negar as contribuições do desenho
universal para amplificar a participação das pessoas com variações
corporais, o acesso coletivo o amplia, mostrando que a criação de
manuais de acessibilidade, embora importante, não é suficiente
para incluir todas as pessoas a partir de suas múltiplas intersecções
com gênero, raça, etnia, regionalismo, deficiência, idade, pobreza,
que intensificam a opressão e dificultam o acesso e a participação
social. Isto porque, dialogando com o pensamento de Judith Butler
(2015), os enquadramentos acerca desses grupos tendem a
dificultar o reconhecimento deles como dignos de direitos.
Ao considerarmos os efeitos desses enquadramentos,
entendemos que Mia Mingus (2018) propõe um acesso libertador
(liberatory access) para a inclusão de pessoas com múltiplas
corporalidades e sensorialidades:
Porque não basta apenas garantir que podemos entrar na
sala ou que a conversa está traduzida ou que podemos ter
100
acesso aos materiais. E não é suficiente para nós
simplesmente compartilhar o que é importante para nós
(embora eu saiba que muitas vezes nem mesmo podemos
compartilhar isso), se ninguém souber como manter o que
estamos compartilhando; se ninguém souber como
entender e se envolver totalmente com o que estamos
compartilhando (MINGUS, 2018, sem página, tradução
nossa).
Ainda, Mingus (2017) destaca que esse envolvimento pleno
pode ser desenvolvido quando se busca cultivar a intimidade de
acesso (access intimacy), que significa o sujeito fazer parte dos
espaços e se envolver plenamente neles. Para tanto, faz-se
necessário desafiar o capacitismo e o isolamento histórico
vivenciado pelas pessoas com deficiência, especialmente, aquelas
que fazem parte de outras comunidades oprimidas. Assim, a
intimidade de acesso é a interdependência em ão, o que implica
convocar as pessoas sem deficiência a habitarem o mundo das
pessoas com deficiência.
A valorização das pessoas com deficiência por aquilo que
podem fazer e oferecer, em contraponto às narrativas dominantes
que as situam como um fardo, também é um elemento importante
a ser considerado. Por fim, a autora destaca que a responsabilidade
pelo acesso precisa passar da dimensão individual para a
responsabilidade coletiva.
Além do acesso coletivo e da interseccionalidade, outro
importante princípio é o da (inter)dependência, que é inerente à
condição humana. Contrapondo-se ao mito do independente -
representado por um ser totalmente autônomo, não deficiente e
101
nem doente, totalmente capaz - autoras como Kittay (2015) têm
destacado que a dependência e a interdependência são inerentes à
condição humana.
Sins Invalid (2019) destaca que a interdependência é
uma condição para a vida em sociedade, sendo fundamental para o
acesso à aprendizagem, à alimentação, à energia e aos demais
insumos fundamentais para a manutenção da vida. Ademais,
consideramos que a promoção de relações de (inter)dependência
nos diversos espaços sociais pode contribuir para romper com o
isolamento histórico a que as pessoas com deficiência estão
subjugadas. Nessa direção, considerar a dependência e a
necessidade de relações de interdependência no contexto do ensino
superior é uma questão de justiça social.
Para finalizar, acreditamos que a justiça defiça tem o
potencial para produzir fissuras no capacitismo, o qual está muito
presente nas instituições de ensino superior e corrobora a
manutenção das barreiras sociais nesse contexto. Com o
compromisso ético-político de não deixar ninguém para trás, essa
perspectiva oferece elementos para construir práticas voltadas à
garantia da acessibilidade com as pessoas com deficiência e
considerando marcadores sociais da diferença tais como nero,
raça, classe social deficiência, dentre outros que contribuem para
legitimar a participação de algumas pessoas e obstaculizar o acesso a
outras pessoas que se distanciam do ideal de sujeito capaz.
Não pretendemos, neste texto, finalizar a discussão sobre a
complexidade de elementos que abrangem o acesso de estudantes
com deficiência ao ensino superior e nem sobre o potencial da
justiça defiça para a promoção da inclusão, mas apontar alguns
102
elementos que podem corroborar para a construção de práticas
educativas inclusivas na universidade.
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110
111
CATULO 3
Políticas, Práticas e Cultura Inclusiva:
desafios da gestão universitária
Laura Ceretta MOREIRA
1
Karin Rank LIEBL
2
Introdução
O acesso de estudantes, público alvo da educação especial,
ao ensino superior é perpassado por diversos desafios, dentre eles as
desigualdades sociais, o capacitismo e a invisibilidade da sua
condição histórica de sujeito de direito, que influenciam de forma
decisiva sua supressão da educação básica.
1
Professora Titular da Universidade Federal do Paraná. Programa de Pós-
graduação em Educação. Coordenadora do Lapeahs (Laboratório de Políticas,
Práticas e Pesquisa Educacionais em Altas Habilidades/Superdotação)
Curitiba/PR/ Brasil. E-mail: lauracm@ufpr,br. ORCID https://orcid.org/0000-
0003-4569-7369
2
Doutoranda em Educação pela UFPR. Mestre em Educação pela Univille.
Professora na Unisociesc São Bento do Sul. São Bento do Sul/SC/Brasil. E-mail:
karinsbs10@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3437-767X
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p111-134
112
O movimento político das pessoas com deficiência no
Brasil vem investindo no processo de mudança cultural e, nas
últimas quatro décadas, atingiu resultados expressivos de cidadania,
conforme complementa Maior:
[...] partindo-se da tutela para o alcance da autonomia, ao
lado da elaboração de arranjos sociais que lhes permitam
exercer seus direitos em um contexto cada vez mais próximo
à vida independente (MAIOR, 2017, p. 35).
Em que pese as influências de ordem econômica, social e
política sofridas pela Constituição Federal do Brasil (CF) de 1988,
que acarretaram inúmeras revisões, ou seja emendas constitu-
cionais, ela repercutiu diretamente no ordenamento jurídico em
prol de direitos sociais. Na atual Constituição, a assinalação dos
direitos precede a organização do Estado, ou seja, é como se o
Estado devesse se organizar em função da prioridade posta aos
direitos da cidadania (CURY, 2013).
O Estado estabelecido pela CF foi o “Estado Social” nos
termos liberais, onde a elaboração e a implementação das políticas
públicas constitui o grande eixo norteador de sua atividade,
pressupondo “uma reorganização dos poderes em torno da função
planejadora, tendo em vista a coordenação de suas funções para a
criação de sistemas públicos de saúde, educação, previdência social,
etc (DUARTE, 2007).
A CF de 1988 ampliou e explicitou os direitos sociais, de
modo mais direto em seu artigo 3º, inciso IV, que dispõe sobre a
necessidade da promoção de bem a todos “sem preconceitos de
113
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação”.
Nesse sentido, apontamos que o disposto no artigo 206,
ao evidenciar a necessidade de a educação propiciar “igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola” precisa ser
evidenciado a partir do respeito às diferenças e não da produção
das diferenças, que levam o específico ser compreendido como
excludente. Isto não significa, entretanto, não assegurar as
condições de acessibilidade de acesso e permanência, mas
compreender que o estabelecimento da legislação, necessariamente,
não oportuniza o direito, visto que não se desenvolve pela lógica
imparcial e inabalável frente às conveniências, portanto é resultado
de formação histórica e social (THOMPSON, 1987).
Booth e Ainscow (2011) evidenciam a inclusão como uma
abordagem assentada em princípios do desenvolvimento da
educação e da sociedade e que está ligada à participação
democrática. Como bem nos lembra Maior (2016), as pessoas com
deficiência são sujeitos de direitos, com autonomia e
independência para fazer suas escolhas, contando com os suportes
sociais que se fizeram necessários.
A inclusão é vista principalmente como a colocação em
prática de valores inclusivos. É um compromisso com
determinados valores que explicam o desejo de superar a
exclusão e promover a participação. Se não estiver vinculada
a valores profundamente enraizados, então a tentativa de
inclusão pode representar a simples adesão a uma moda
qualquer ou atendimento a instruções de cima para baixo
(BOOTH; AINSCOW, 2011, p. 21).
114
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB
9.394/1996), ao estabelecer o direito à educação em seu artigo 4º,
evidencia o acesso aos níveis mais elevados do ensino, trazendo o
princípio da transversalidade como fundamental para que diretrizes
de acesso e a permanência dos estudantes público alvo da educação
especial se evidencie legalmente da educação básica a superior.
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (PNEEPEI) de 2008, reforça a transversalidade
da educação especial apontando que, as ações desenvolvidas no
ensino superior devem proporcionar acesso, permanência e
participação de seu público alvo, ou seja, estudantes com
deficiência, transtornos globais de desenvolvimento
3
e altas
habilidades/superdotação.
Por outro lado, o termo “preferencialmente” posto na LDB
de 1996, ao ser reiterado no artigo 58, na redação dada pela Lei n.
12.796/2013
4
, pode corroborar com a engrenagem da segregação e
impactar os direitos das pessoas com deficiência a participar da
inclusão educacional.
3
A nomenclatura utilizada pela Lei 12.764/2012, que instituiu a Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro
Autista e pela Nota Técnica nº24/2013, que orienta os sistemas de ensino para a
implementação da Lei 12.764/2012 é transtorno do espectro autista. Por sua
vez, o conceito é originário do DSM-5 (2013) que denomina TEA de
transtornos de neurodesenvolvimento, em substituição à terminologia
transtornos globais do desenvolvimento, adotada no DSM IV (1994).
4
No artigo 58, entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de
ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
e altas habilidades ou superdotação (Lei 12.796/2013).
115
Pela via internacional é a Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência, homologada em 2006 pela Organizão
das Nações Unidas (ONU), o documento de maior impacto nos
direitos das pessoas com deficiência e, que sob o preceito nada
sobre nós, sem nós contou com a voz dos movimentos sociais e
das pessoas com deficiência desde sua fase de elaboração. No Brasil,
a referida Convenção passou por várias tramitações e, em 2009,
tornou-se o Decreto n 6.949/2009 com o status de marco
constitucional.
A Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146, 2015) reitera o
direito a um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, que
garanta condições de acesso, permanência, participação e
aprendizagem com a oferta de serviços e recursos de acessibilidade
e, de modo mais específico, em seu artigo 28, a incumbência ao
poder público de assegurar, criar, desenvolver, implementar,
incentivar, acompanhar e avaliar o “acesso à educação superior e à
educação profissional e tecnológica em igualdade de oportunidades
e condições com as demais pessoas” (BRASIL, 2015).
Contudo, as incongruências enfrentadas para as garantias
do Estado salvaguardar um sistema educacional inclusivo denotam
a necessidade de vigilância e avaliação para que as condições de
acesso e permanência estejam na pauta do dia.
5
5
Neste sentido apontamos o autoritarismo e retrocesso do Decreto nº
10.502/2020
5
, intitulado Política Nacional de Educação Especial: Equitativa,
Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida, que vem de encontro a agenda
dos movimentos sociais e das conquistas legais duramente instituídas. O
Decreto foi julgado inconstitucional em dezembro de 2020 pelo STF pois,
infringe várias Leis, Decretos e, principalmente, a Constituição Federal de 1988.
116
As instituições de ensino, sobretudo, as públicas passam por
mudanças oriundas da esfera legal/governamental, assim como,
transformações advindas da participação dos agentes envolvidos no
processo educativo (estudantes, docentes, equipe técnica adminis-
trativa e gestões acadêmicas em geral) e devem estar na busca de
um direcionamento mais inclusivo com mudanças consistentes
entre si ou com relação a um desenvolvimento inclusivo
(BOOTH; AINSCOW, 2011).
Martins, Leite e Ciantelli (2018, p. 16) esclarecem que, no
âmbito educacional, o Decreto 6.949/2009 promoveu avanços
no que concerne às políticas públicas direcionadas à inclusão das
pessoas com deficiência no ensino superior, pois
[...] assegura o acesso ao sistema educacional em todos os
níveis de ensino, tendo como meta a participação em
ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e
social.
Tal perspectiva vai ao encontro do que o Index para
Inclusão (2011) preconiza, uma vez que os autores indicam que os
ambientes inclusivos se o com base na participação de todos os
agentes que dele fazem parte para a elaboração de melhorias nos
processos envolvidos, nesse caso, apontamos o ensino superior
(BOOTH; AINSCOW, 2011).
Cabe destacar que as universidades públicas têm se
movimentado no transcorrer das últimas cadas para ampliar as
condições de acesso nos processos seletivos, sobretudo para os
estudantes com deficiência. Esse movimento, legalmente, se inicia
117
com o Aviso Circular 277 MEC/GM, no ano de 1996, o qual
indicou encaminhamentos de atendimento diferenciado para o
processo de ingresso das pessoas com alguma necessidade específica
no ensino superior e orientou que, as instituições buscassem
garantir recursos educacionais, de infraestrutura e capacitação de
seus recursos humanos para garantir a permanência com qualidade
desses estudantes (MOREIRA, 2005).
Outro aspecto relevante no processo de inclusão está
disposto nos Referenciais de Acessibilidade na Educação Superior
(SINAES, 2013), que traz aspectos importantes das condições
necessárias para a garantia das acessibilidades às pessoas com
deficiência no ensino superior, dispondo-as da seguinte maneira:
atitudinal e arquitetônica; metodológica ou pedagógica, a qual está
imbricada ao trabalho docente; programática, relacionada aos
processos de sensibilização e informação acerca dos dispositivos
legais relacionados à inclusão; instrumental, referindo-se aos
diversos materiais que se fazem necessários para a inclusão dos/das
estudantes; nos transportes, possibilitando condições adequadas
para o deslocamento dos/das estudantes; na comunicação, por
meio da disponibilização de tecnologias assistivas e também
intérpretes para o caso de uso de Libras; e digitais, para a
disponibilização de acervo bibliográfico acessível para este público
de estudantes.
As condições de acessibilidade são fundamentais para que
se concretize uma educão sedimentada no modelo social da
deficiência, o qual entende que a concepção de deficiência também
é de responsabilidade da sociedade, ou seja, deslocando-a da
centralidade em si mesma imposta pelo modelo dico, que
118
preconiza ações normalizadoras. Assim, a sociedade deve
empreender movimentos capazes de promover condições de
acessibilidade, independentemente das condições biológicas.
Ademais, o modelo social da deficiência ultrapassa a
perspectiva do individual, que restringe a deficiência ao próprio
corpo, transportando-a para o modo de como a sociedade se
organiza para diminuir as barreiras de acessibilidade (PICCOLO,
2015; FRANÇA, 2013).
Com a intencionalidade de assegurar ações afirmativas para
as pessoas com deficiência nos cursos técnico de vel médio e
ensino superior das instituições federais, a Lei 13.409/2016 traz
a alteração no texto da Lei 12.711/2012 e inclui, no processo de
reserva de vagas, as pessoas com deficiência para além das pessoas
autodeclaradas pretas, pardas e indígenas.
Conforme Januário (2019, p. 5), tal alteração legal “veio
para resguardar o direito à educação superior para as pessoas com
deficiência”, ampliando as oportunidades de formação para essa
demanda. Não obstante, Martins et al. (2017) ponderam que tais
avanços legais promovem alterações pontuais no que concerne aos
direitos das pessoas com deficiência, mas não necessariamente
valida mudanças no que tange à concepção diante dessas pessoas.
Nesse sentido, que se adentrar aos aspectos de inclusão
com olhar para as culturas, políticas e práticas que devem ser
incorporadas no âmbito da sociedade para que, de fato, o acesso ao
ensino superior esteja imbricado de condições de permanência com
qualidade para todos/as.
O Índex para a Inclusão (2011) indica a importância de se
ampliar a participação de todos e todas para que os espaços
119
educacionais se tornem mais abertos à diversidade, atentando-se
que as mudanças fazem parte de todos os espaços e que estas devem
direcionar-se à cultura inclusiva. Booth e Ainscow (2011) apontam
três dimensões para a efetiva inclusão: culturas, políticas e práticas
inclusivas. A partir da conjunção dessas três dimensões, a inclusão
na universidade pode ser compreendida e analisada, e é nessa
direção que este estudo se direciona.
Método
Dada a natureza do objeto, a pesquisa apresentou uma
abordagem qualitativa. Quanto aos procedimentos metodológicos,
inicialmente, foi realizado um levantamento dos principais aportes
legais nacionais que impactaram a inclusão no ensino superior a
partir da Constituição Federal de 1988. De igual forma, foram
analisados resoluções e editais instituídos na UFPR, no que
concerne ao acesso de estudantes que apresentam deficiências.
Todavia, a análise de documentos demonstra que sua existência
não existe isoladamente e favorece a observação do processo de
maturação ou de evolução de indiduos, grupos, conceitos,
conhecimentos, comportamentos, mentalidades, práticas, entre
outros (CELLARD, 2008).
Desta feita, os documentos foram analisados de forma
crítico-refletiva a partir do período histórico em que foram
instituídos, sem perder de vista seus impactos nas políticas e
práticas institucionais, assim como, evidenciou-se o papel da gestão
e da comunidade institucional no processo de uma mais cultura
inclusiva na universidade.
120
Perspectivas inclusivas na Universidade Federal do Paraná:
desafios para uma cultura inclusiva
O acesso das pessoas com deficiência ao ensino superior
deve estar presente desde o momento da inscrição nos processos
seletivos (vestibulares, ENEM, programas de políticas afirmativas,
etc), para tanto, a acessibilidade nos editais deve estar garantida,
nesse sentido, os portais institucionais devem ter características
específicas de acessibilidade.
Schmitz e Pavão (2018, p. 1118) esclarecem que, ao
refletirmos acerca da inclusão do público da educação especial,
[...] uma atitude que favorece a efetiva participação das
pessoas com deficiência é a acessibilidade dos documentos
digitais criados e disponibilizados em um ambiente
educacional.
Esse aspecto, acerca da necessidade de acessibilidade, está
posto na Lei n°12.527/2011, que regula o acesso à informação e na
Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (2015). Os
editais do ENEM e de inúmeras instituições públicas de ensino
superior vêm disponibilizando para além dos editais em forma de
texto, também, por meio da Língua Brasileira de Sinais, no sentido
de colaborar com a acessibilidade, assim como a organização de
bancas especiais
6
e ou de acessibilidade no decorrer das provas.
6
Exemplificamos com o disposto no Edital n° 41/2022 NC/PROGRAD-
UFPR, ao destacar que serão concedidas condições diferenciadas aos candidatos
com necessidades educacionais especiais (na área auditiva, física, motora, visual
ou múltipla, ou ainda com distúrbios de aprendizagem) para a realização das
121
No contexto da reserva de vagas específicas para pessoas
com deficiência, a UFPR apresenta sua primeira iniciativa por
meio da Resolução 70/08-Conselho Universitário, que delega uma
vaga suplementar em cada curso de graduação, ensino profissio-
nalizante e médio da instituição a partir do processo seletivo do
vestibular de 2008/2009. Por meio dessa resolução o/a candidato/a
não necessita apresentar vulnerabilidade econômica e ter realizado
o ensino médio em escola pública, pois existe a compreeno que a
deficiência é o fator de direito para concorrer à vaga suplementar.
A partir da Resolução 70/08-COUN, a UFPR, quase uma
década antes da Lei 13.409/2016, que alterou a Lei 12.711/
2012, para dispor sobre a reserva de vagas para pessoas com
deficiência nos cursos técnico de vel dio e superior das
instituições federais de ensino, iniciou o delineamento de uma
política afirmativa no sentido de promover a inclusão no contexto
universitário. Quanto a efetividade da Lei 13.409/2016,
espera-se que essa medida reverta a insuficiente participação de
estudantes com deficiência e promova a cultura inclusiva nos
nichos de formação profissional e acadêmica” (MAIOR, 2017, p.
34).
Ainda, como meio de garantir que as vagas reservadas para
esse público sejam ocupadas por essas pessoas, a instituição tem se
utilizado das bancas de verificação/autodeclaração (BVA), as quais
o compostas por uma equipe multiprofissional que, a partir da
provas, desde que comprovadas, mediante apresentação de laudo médico e de
um formulário próprio preenchido (ambos disponíveis para emissão no ato da
inscrição).
122
documentação enviada pelos/as candidatos/as e da realização de
uma entrevista, visa garantir que pessoas que não apresentam
deficiência usufruam do direito da cota/reserva de vaga.
As BVA para candidatos com deficiência se efetivam pela
Resolução n°. 20/17/CEPE- UFPR, que estabelece procedimentos
e critérios para validação de autodeclaração dos processos seletivos
(vestibular e Sistema de Seleção Unificada - SISU). Quanto ao
processo de validação do termo de autodeclaração de candidatos
PCD, a Resolução também institui uma comissão específica de
validação denominada CEV-PCD, que é designada pelo Reitor
(DIAS; MOREIRA; FREITAS, 2019).
Portanto, o/a candidato/a que buscar o ingresso por meio
da reserva/cotas de vagas para as pessoas com deficiência deverá se
submeter às BVA, mediante a autodeclaração, a verificação dos
documentos apresentados
7
e a realização de uma entrevista na
perspectiva biopsicossocial efetivada por uma equipe multidis-
ciplinar, compostas por, no mínimo, três integrantes.
8
Ainda, salientamos que os integrantes das bancas devem ser
profissionais das áreas da saúde, educacional e psicossocial que
tenham ligação com a temática referente aos direitos das pessoas
com deficiência (UFPR, 2017). Nesse sentido, a participação de
pessoas com deficiência é fundamental, pois as BVA não são uma
7
A solicitação dos documentos está detalhada no guia do candidato e apresenta
variabilidade de acordo com a caracterização da deficiência (laudo médico
descritivo, exames clínicos, atestado de funcionalidade, parecer pedagógico e
declaração do candidato de ausência de atendimento especializado na educação
básica).
8
Desses integrantes, ao menos um é integrante do quadro de servidor da UFPR
e um representando a comunidade externa (UFPR, 2017).
123
ferramenta técnico-burocrático, ao contrário, estão imbuídas em
garantir que as políticas afirmativas cheguem de fato aos sujeitos de
direito, visto que sua representatividade foi impedida pelos
históricos processos excludentes. Dada sua complexidade, as BVA
necessitam de constante avaliação e discussões coletivas, onde o
grande desafio é a construção de critérios pautados na avaliação
biopsicossocial.
Este cenário se configurou na universidade em políticas
sistemáticas orientadas por normativas e resoluções, que
foram aprovadas nas instâncias administrativas da
instituição, o que suscitou dos grupos envolvidos um alto
grau de articulação com os representantes da comunidade
universitária (DIAS; MOREIRA; FREITAS, 2019, p. 125).
Por sua vez, 26 anos antes da institucionalização das bancas
de validação/autodeclaração, as bancas especiais foram efetivadas na
UFPR, ou seja, em 1991. Em que pese o período histórico, ainda
extremamente incipiente na organização do arcabouço legal de
políticas e práticas inclusivas no Ensino Superior, essas bancas,
segundo Moreira (2004), representam um mecanismo importante
para intervir junto às dificuldades e necessidades próprias das
deficiências dos/das candidatos e candidatas que possuem
necessidades educacionais especiais.
De certa forma, representam um caminho menos
excludente do que naturalmente se apresenta um concurso
classificatório como o vestibular. Apesar de objetivarem
diminuir as dificuldades dos alunos, em termos de apoios
124
didático-pedagógicos, não podem ser consideradas como
uma proposta de ingresso alternativo ao ensino univer-
sitário. Portanto, precisam ser encaradas como uma ação
que deve ocorrer em todas as instituições de ensino
superior, posto que, por certo, são uma iniciativa que se
engaja num projeto de transformação social (MOREIRA,
2004, p. 60).
As bancas especiais, historicamente, são descritas nos editais
do processo seletivo do vestibular da Instituição, no item que trata
das condições especiais para realização das provas e estabelece que
as condições diferenciadas aos/as candidatos/as que apresentem
deficiência auditiva, sico-motora, visual, múltipla, surdo-cegueira,
surdez, transtorno do espectro autista, TDH, distúrbios da
aprendizagem e transtorno mental estão asseguradas, desde que
declaradas e comprovadas
9
suas necessidades no momento da
inscrição.
Do início da década de 1990 até o concurso vestibular de
2022, são inúmeras as mudanças na organização, na estruturação
física, material e de pessoal das bancas especiais na UFPR. A Lei
13.146/2015 - Lei Brasileira de Inclusão - em seu artigo 30, que
trata de processos seletivos acessíveis, com a oferta de atendimento
preferencial à pessoa com deficiência, evidencia a necessidade de
provas em formatos acessíveis, a disponibilidade de recursos de
acessibilidade e tecnológicos, a dilação do tempo para realização de
9
As condições indicadas no momento da inscrição são analisadas pelo Núcleo de
Concursos, unidade responsável pela coordenação do processo seletivo.
125
provas de seleção e a adoção de critérios de avaliação diferenciados,
que considerem a singularidade linguística da pessoa surda.
As condições de acessibilidade, os apoios didático-
pedagógicos e tecnológicos disponíveis a esses alunos no
momento das provas são recursos fundamentais para seu
desempenho. Em que pesem todas as críticas pertinentes
aos processos seletivos do ensino superior, com destaque
para o concurso vestibular, a existência das bancas especiais
pode ser tomada como uma medida que se engaja num
projeto de mudança social, de reorientação de prumo
político e educativo. (MOREIRA, 2004. p. 211).
Todavia, a importância das ações inclusivas para o ingresso,
como é o caso das bancas especiais, que apoiam e organizam os
recursos humanos especializados, pedagógicos e de tecnologia
assistiva, devem acompanhar políticas e práticas de permanência
que representam um grande desafio, uma vez que a inclusão
[...] envolve colocar valores em ação de modo a minimizar
exclusões e/ou barreiras à aprendizagem e à participação de
todo e qualquer indivíduo, valorizando-o diante da
diversidade [...] (SANTOS et al., 2017, p. 333).
Conclusões
A cultura institucional inclusiva passa pela concretização de
coletividades e gestões educacionais que não naturalizem a
exclusão, que compreendam a necessidade de aportes legais para
126
garantia dos direitos sociais, mas que não permanecem apenas na
legalidade, pois é preciso romper com a linearidade do pensamento
compensatório como o caminho único que incide nas desigual-
dades sociais e nas diferenças. “É preciso re-inventar a inclusão na
diferença e pela própria diferença”. (ORRÚ, 2020, p. 209).
Evidenciamos que uma cultura institucional inclusiva não
destitui o quadro histórico e atual de exclusão social e educacional
que as pessoas com deficiência enfrentam para ingressar e
permanecer da educação básica à superior, mas ela faz parte da
engrenagem que resiste ao não democrático, ao esvaziamento da
luta pelos direitos, ainda lábeis, que necessitam ser consagrados na
sociedade brasileira.
A análise do arcabouço legal que embasa o acesso da pessoa
com deficiência de maneira específica no ensino superior público,
demonstra que seu direito à educação carece de uma permanência
transversal, ou seja, que perpassa a educação básica. A perspectiva
de educação inclusiva numa sociedade lapidada por exclusões
precisa permanecer em vigília constante, pois retrocessos advindos,
também, da” legalidade” de decretos podem estar na ordem do dia.
Uma gestão universitária, preocupada em construir uma
cultura inclusiva, precisa estar atenta aos pilares do ensino, da
pesquisa e da extensão e superar a ideia de que, as instituições
educacionais possuem “lócus de inclusão”, visto que essa premissa
implicaria num reducionismo conceitual que ignora “o processo
conjuntural de exclusão, próprio de uma sociedade extremamente
desigual, que ainda possui o capacitismo como um de seus eixos
valorativos” (MOREIRA, FERNANDES; DAMASCENO, 2022,
p.16). De igual forma, faz-se necessário conceber que políticas e
127
práticas educacionais corroboram para uma cultura inclusiva
transversal sempre que assentadas num processo de avaliação e
reestruturação constante.
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134
135
CATULO 4
Aportes para Prácticas Educativas no Excluyentes:
experiencia en la Cátedra Universitaria de Metodología
Educativa Musical
Marisa Andrea CENACCHI
1
Patricia Silvana SAN MARTÍN
2
1
Doctora en Humanidades y Artes - Mención en Ciencias de la Educación por
la Universidad Nacional de Rosario (UNR). Profesora Adjunta Cátedra
Metodología Educativa Musical, Escuela de Música, Facultad de Humanidades
y Artes (UNR). Asesora pedagógica, Campus Virtual UNR. Investigadora de la
línea de “Dispositivos Intermediales Dinámicos” del Instituto Rosario de
Investigaciones en Ciencias de la Educación (IRICE: CONICET- UNR)
abordando el campo de las tecnologías para la inclusión social, la accesibilidad y
la formación de formadores para prácticas educativas mediatizadas no
excluyentes. Pérez, Santa fe, Argentina. E-mail: marixxi2@gmail.com. ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-7672-1993
2
Doctora en Humanidades y Artes (Universidad Nacional de Rosario, UNR,
Argentina). Investigadora Principal del Consejo Nacional de Investigaciones
Científicas y Técnicas (CONICET). Profesora Titular ordinaria de Metodología
Educativa Musical de la Facultad de Humanidades y Artes (UNR). Docente-
Investigadora Cat. I de la UNR. Directora del Instituto Rosario de
Investigaciones en Ciencias de la Educación (IRICE: CONICET-UNR).
Directora de la línea de Investigación y Desarrollo Dispositivos Intermediales
Dinámicos (IRICE: CONICET-UNR). Rosario, Santa Fe, Argentina. E-mail:
sanmartin@irice-conicet.gov.ar. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7543-
045X
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p135-162
136
Introducción
Desde el 2006 el colectivo identificado como personas con
discapacidad tiene derecho a una educación inclusiva, según lo
establece el artículo 24 de la Convención internacional de
Naciones Unidas sobre los Derechos de las Personas con
Discapacidad (ONU, 2006), ratificada por 187 países. Asimismo,
el acceso a una educación inclusiva y equitativa de calidad y la
promoción de oportunidades de aprendizaje permanente para
todos, es uno de los Objetivos de Desarrollo Sostenible (ODS)
establecidos por la Asamblea General de las Naciones Unidas
(ONU, 2015). Si bien la educación inclusiva se promueve en
numerosos acuerdos e instrumentos internacionales desde la última
década del siglo XX, impactando en las políticas y marcos
normativos nacionales de numerosos países, la problemática actual
radica en acortar la distancia entre el discurso de la inclusión y su
práctica (BLANCO y DUK, 2019).
A pesar de haberse acrecentado la producción teórica y
contar con diversas experiencias y “buenas prácticas” de educación
inclusiva, persisten de forma generalizada condiciones pedagógicas,
culturales, materiales y tecnológicas que continúan excluyendo y
limitando la presencia, la participación y/o el aprendizaje de un
significativo número de estudiantes (ECHEITA SARRIO-
NANDIA, 2016). Muchas de estas barreras se vinculan con el
sostenimiento de formas hegemónicas de diseño y construcción de
tecnologías, recursos educativos e implementación de propuestas
didácticas sustentadas en la lógica de la normalidad y de lo
estándar.
137
A partir de esta problemática, el objetivo de este capítulo es
proponer una perspectiva teórica-metodológica para la formación
de formadores orientada a transformar las prácticas y los entornos
de enseñanza y de aprendizaje físico-virtuales hacia modelos
plurales y no excluyentes que desestructuren la lógica de la
normalidad subyacente. En esta dirección, se presenta un estudio
de caso que corresponde a la cátedra universitaria Metodología
Educativa Musical (en adelante, MEM) de la carrera de
Profesorado/Licenciatura en Educación Musical que integra bajo la
modalidad de taller las aulas físicas y virtuales institucionales.
A continuación, se abordarán los aspectos más significativos
del marco teórico propuesto para luego tratar el caso MEM para
dar cuenta de la puesta en obra de dicho planteo. Finalmente se
arribará a breves conclusiones.
Marco Teórico
Desde los Estudios críticos en discapacidad se considera a la
discapacidad como una construcción artificial, social, histórica,
moderna y colonial, que opera en sistemas de clasificaciones de
sujetos en base a la ideología de la normalidad (YARZA et al,
2020). Asimismo, esta concepción permite romper con la idea de
déficit biológico naturalizado para concebirlo también como un
constructo, una invención para “catalogar, enmarcar, mensurar
cuánto y cómo se aleja el otro del mandato de un cuerpo “normal”
(ROSATO; ANGELINO, 2009, p. 31).
En atención a lo expuesto, evitando las categorizaciones del
alumnado, se propone su consideración desde la filosofía de la
138
alteridad, como Otro: exterior, imprevisible, inapropiable,
inabordable, irrepresentable, un misterio (LEVINAS, 2001, 2002;
DERRIDA, 2000).
Según Levinas (2002), una posición de respeto hacia el
Otro requiere no categorizarlo ni clasificarlo sino reconocerlo como
alteridad, con una exterioridad no reductible al propio
pensamiento, a la propia conciencia, a lo Mismo. Este
posicionamiento suspende la posibilidad de conocer al otro en
términos de diagnóstico y/o clasificaciones porque la
conceptualización, tematización y/o representación, formas de
construcción de conocimientos del paradigma visual occidental,
suprime su alteridad, generando su exclusión.
Sostener una relación con el otro que permanece siendo
otro requiere abandonar la preeminencia visual y adoptar una
actitud de escucha, exponiéndose vulnerable al Otro en una
primera pasividad. A la vez, solicita una activa y sostenida
vigilancia ética (CULLEN, 2010) como autocrítica, atenta a las
concepciones que subyacen en las propias prácticas y discursos,
para descategorizar al Otro cada vez que se lo trata, manteniendo
abierto su sentido en una relación no apropiativa. Este tipo de
relación, la relación Ética lo posible desde el Estar situado
(KUSH, 2000) presentes a nivel simbólico en simetría existencial,
en un marco de respeto y de diálogo.
San Martín (2012), fundamenta que el conocimiento se
construye conjuntamente, tensionado con otros y con uno mismo,
en la propia interrogación, en múltiples dimensiones
espaciotemporales, por lo cual se adscribe en lo pedagógico a la
perspectiva constructivista psicocultural planteada en la obra de
139
Jerome Bruner y el constructivismo dialéctico vigotskyano
considerando al aprendizaje como proceso interactivo e
intersubjetivo. Asimismo, resulta significativo, el legado
pedagógico de Olga y Leticia Cossettini y su experiencia
escolanovista que acontec en la primera mitad del siglo XX
(COSSETTINI; COSSETTINI, 2001). En lo metodológico, esto
implica pensar y poner en obra diseños curriculares que presenten
una organización de contenidos espiralada para poder retomarlos
en el tiempo atendiendo a los distintos ritmos que cada uno en su
singularidad despliega en los procesos reflexivos y analíticos,
críticos y autocríticos, grupales e individuales (SAN MARTÍN,
2002). También la propuesta se nutre de la perspectiva de
“pedagogía inclusiva” (ECHEITA; SANDOVAL; SIMON, 2016;
FLORIAN, 2015) que cuestiona las prácticas de enseñanza
diseñadas para la mayoría con experiencias adicionales o
diferenciales para algunos proponiendo una transformación desde
la práctica docente en el ámbito de la clase. Desde la pedagogía
inclusiva se impulsa al profesorado a brindar lo que siempre
dispone de manera accesible para todos, ampliado los recursos
educativos y ofreciendo un abanico de propuestas alternativas
permitiendo al estudiantado elegir sin predeterminar las
trayectorias de cada estudiante en base a nociones tácitas de
capacidad.
En esta dirección, la propuesta educativa no excluyente
propone sostener una reflexión crítica y autocrítica continua que
cuestione las formas habituales de pensar, actuar, construir,
comunicar, aprender, enseñar y relacionarnos en los entornos
educativos, desestructurando las formas únicas, lo estándar, lo
140
normalizado, formas herederas de la visión hegemónica en la cual
opera la ideología de la normalidad. Siguiendo a Ainscow, Booth,
Dayson (2006), se trata de sostener una vigilancia Ética frente al
otro que orienta a evitar/suprimir barreras resignificadas que
limiten la presencia, la participación y el aprendizaje como se
sintetiza en el siguiente cuadro:
Cuadro 1
Trama de barreras excluyentes
Barreras a la presencia
simbólica subjetiva
físico-virtual
Barreras a la
Participación
Barreras al Aprendizaje
Suprimir la alteridad.
El Otro estará presente
sólo si se sostiene siendo
otro
Inequidad de
posibilidades
Descontextualización -
desvínculo Ser-Estar
a) Invisibilización.
Desconocimiento.
b) Tematización.
c) Herencia cultural
hegemónica produce
una forma de no
visualización
involuntaria.
a) Homogenización
grupal, isocronía y
monocronía.
b) Estigma de las
diferencias.
c) Recursos
estándares.
d) Des-
responsabilización
colectiva: co-
responsabilidad
comunidad del
aula/escuela.
Universalismo abstracto en
contenidos.
b- Descontextualización:
Propuestas para el Ser sin
Estar.
c - Normalización:
trayectorias ideales
isocrónicas y monocrónicas.
d - cita incompetencia:
bajas expectativas según
capacidades. Temor docente
al fracaso de estrategias
inclusivas.
e - Repetición involuntaria.
141
Acorde con lo expuesto, se propone el concepto de “no
excluyente” como reemplazo del rmino “inclusivo” para referir a
un proceso activo sostenido, centrado en las acciones co-
responsables que puede realizar cada participante para evitar y/o
suprimir cualquier tipo de barrera limitante atendiendo también a
las formas “involuntarias de supresión de la alteridad. El cambio
retórico, si bien no implicaría en principio una transformación en
las prácticas, se estima más representativo del compromiso que se
propone. Asimismo, colabora en evitar señalar y/o definir a los
colectivos/estudiantes a “incluir” que muchas veces se realiza en la
justificación del requerimiento de determinadas prácticas, ajustes
y/o apoyos. Como se señaló anteriormente desde la ética
levinasiana la definición conlleva a la supresión de la alteridad.
Asimismo, desde los postulados de pedagogía inclusiva se advierte
cómo el señalamiento refuerza la etiqueta/estigma (FLORIAN,
2015). Además, se estima que podría evitar ciertas estrategias para
incluir (al otro) que suponen implícitamente cierta pasividad de ese
otro incluido y/o relaciones asimétricas, concibiendo al otro activo
y agente.
Finalmente, la actitud no excluyente implica una vigilancia
ética activa y sostenida para la no supresión de la alteridad que
podría habilitar estrategias metodológicas que favorezcan el
tratamiento de las problemáticas de abyección o inclusión
excluyente. Entonces, la toma de conciencia sobre la no exclusión,
requiere un abordaje transversal que se sostenga más allá del
dictado anual de una asignatura, siendo deseable su tratamiento
durante toda la carrera de formación docente.
142
La Accesibilidad - DHD
En cuanto a los recursos educativos físico-virtuales se tiene
en cuenta la accesibilidad concebida como propiedad de la relación
entre el usuario y el entorno virtual y/o recurso digital en un
contexto mediato, y no como una propiedad intrínseca de los
objetos digitales e interfaces. Esto se inscribe en un trayecto de dos
décadas de antecedentes de Investigación, Desarrollo e Innovación
en torno a lo denominado “Dispositivos Hipermediales
Dinámicos” (DHD). Esta noción refiere a redes socio-técnicas-
culturales, que posibilitan a los sujetos procesos de interactividad
plurales y no excluyentes desde una multiplicidad espacial y
tecnológica heterogénea. Lo característico de estos dispositivos es
que se co-construyen como red con una finalidad explícita
relacionada al campo educativo, laboral, académico, cultural y/o
comunitario. Desde un enfoque socio-técnico decolonial
(THOMAS; FRESSOLI; SANTOS, 2012), un aspecto clave en los
procesos de co-construcción y sostenibilidad del DHD es la
capacidad de agencia de la red para crear y fortalecer alianzas
estratégicas que viabilicen el logro de las finalidades propuestas. De
allí, se propone la noción de Accesibilidad-DHD como proceso
socio-cnico-cultural comunitario que se sostiene en perpetuo
movimiento buscando un equilibrio
dinámico entre las tensiones
de adecuación y articulación, frente a las barreras emergentes que
entraman dimensiones sociales (quienes participan, en potencia
infinitos), discursivas (gramáticas comunicacionales - lenguajes
expresivos) y técnicas (tecnologías utilizadas), vinculadas
143
indisolublemente con las personas en su contexto (CENACCHI,
2019).
La “Accesibilidad-DHD” solicita poner en juego un mayor
número de significantes en los procesos de producción de sentido,
explorando formas multimodales de comunicación, para atender a
las formas disímiles de recepción de los contenidos del contexto de
reconocimiento cuya diversidad es, en potencia, infinita. Por esta
razón se la concibe como “Obra Abierta”
3
, inacabada, en perpetuo
movimiento, dependiente de las singularidades de la red socio-
técnica-cultural e integra al polo de reconocimiento como co-
productores activos en procesos de circulación más horizontales
(CENACCHI; SAN MARTÍN; MONJELAT, 2020). Asimismo,
requiere ser asumida como un compromiso ético sostenido de
vigilar las propias comunicaciones y producciones, atendiendo a la
generación, prevención y/o supresión de cualquier tipo de barrera,
tanto tecnológica como social, que pueda limitar la participación
de cualquier integrante de la red sociotécnica.
Cenacchi (2019), propone cuatro principios dinámicos de
la Accesibilidad-DHD: Percepción, Comprensión, Acción y
Flexibilidad, que se activan siempre en un contexto situado. Los
mismos se elaboraron a partir de la reformulación de los principios
de la WAI
4
y aluden a lo siguiente:
3
Según lo propuesto por Humberto Eco en la década del 60, se remite a una
condición de no acabada de una obra, donde el autor/creador entrega al
interprete la posibilidad de su conclusión, o bien, de su continuación, como
parte de un entramado de relaciones inagotables.
4
Web Accessibility Initiative (WAI), desarrolla pautas y herramientas que
faciliten el acceso a la Web de personas con algún tipo de discapacidad. (Ampliar
en http://www.w3.org/WAI/ ).
144
- “Percepción”: Todos los elementos deben poder ser
percibidos por cualquier sujeto, independientemente de sus
singularidades y/o sus circunstancias/contexto. Vinculado con la
multiplicidad de lenguajes y formatos expresivos/comunicativos
(visualtáctilsonoro).
- Comprensión”: Toda la información y las propuestas
disponibles, deben poder ser comprendidas por cualquier sujeto,
independientemente de sus singularidades y/o sus circunstancias/
contexto. Múltiples formas de presentar la información,
organización de significantes, ayudas, niveles de dificultad diversos,
alternativas simplificadas, resúmenes, esquemas, entre otros.
- "Acción”: Todas las acciones propuestas a los sujetos
deben poder ser realizadas por los mismos, independientemente de
sus singularidades y/o sus circunstancias/contexto.
- “Flexibilidad”: propuesta suficientemente abierta y
flexible para poder adecuarse a cualquier sujeto, independien-
temente de sus singularidades y/o sus circunstancias/contexto.
Método
El estudio de caso de la cátedra anual universitaria MEM
(1
o
año de la carrera “Profesorado/Licenciatura en Educación
Musical”) de cursado presencial (2 hs. 40’ reloj, semanales), se
aborda con un enfoque metodológico cualitativo. Los instrumentos
y técnicas cualitativas (VASILACHIS, 1993) puestas en obra se
cuentan principalmente en la revisión de documentación
institucional, observación participante, cuestionarios y entrevistas,
145
registros etnográficos, etnografía virtual y relevamientos
bibliométricos.
MEM registra en sus sucesivas cohortes un número de
alumnado con una media de 15 estudiantes y se dicta en el marco
Plan de Estudio 2005 desde dicho año. En el año 2015, con la
asistencia a clase de una alumna ciega, se efectiviza un trabajo de
campo específico en el marco de una tesis doctoral en curso y luego
se continúa la investigación a través de otros proyectos acreditados
por la universidad y el CONICET (período 2014-2021). Cabe
mencionar que también se registraron estudiantes con baja visión e
hipoacusia. Dada la amplitud de los datos recabados hasta la fecha
y los límites del presente escrito, se referirá sólo lo más significativo
del estudio, especialmente mencionando algunos aspectos de la
cohorte 2015.
Sobre la integración de Tecnologías de la Información y
Comunicación, desde el año 2008, MEM utiliza la plataforma
Moodle del Campus virtual universitario y despliega una
metodología de taller sico-virtual donde se busca un equilibrio
calificado y dinámico sobre qué actividades y contenidos son más
convenientes de mediatizar a través de dicho campus y cuáles
demandan para su comprensión plena de la presencia física (SAN
MARTÍN et al. 2010). Con relación al campus virtual, se
realizaron evaluaciones con herramientas automáticas en el ingreso
a la plataforma, de expertos en accesibilidad y de usuarios de
lectores de pantallas.
146
Resultados y Discusiones
En la revisión documental efectuada en el o 2014, se
constató que en el Plan de Estudio vigente desde el 2005 y en los
planes anuales de todas las asignaturas de la carrera de Educación
Musical de la institución, no se consignaban contenidos que traten
problemáticas referida a la inclusión educativa ni a discapacidad.
Ante esta situación, el programa anual de MEM 2015 y sucesivos,
propone metodológicamente la aplicación transversal del marco
sobre la no exclusión en objetivos, contenidos, recursos,
bibliografía, diseño de Moodle y consignas.
En el objetivo general se integ la co-construcción de un
marco teórico-metodológico no excluyente que sustento a las
futuras prácticas educativas musicales de las y los estudiantes. En
cuanto al desarrollo de contenidos se proponen recursos, tutoriales
sobre accesibilidad, bibliografía y actividades específicas. También
se fundamenta en la metodología de dictado de la materia que se
centra en la vivencia desde la perspectiva de estudiantes a la vez que
relevar en q medida pueden participar o no de cada propuesta, o
si enfrentan algún tipo de barreras.
Durante el cursado, la evaluación es en proceso y el
alumnado que cumple con los requisitos curriculares de
regularidad queda habilitado para rendir MEM en los llamados
correspondientes al lapso de dos años. En el mismo, deben
presentar una monografía cuyo tema es a elección partiendo de una
problemática educativa musical desarrollada desde los contenidos
curriculares y actividades del cursado fundamentada en la
perspectiva de educación no excluyente.
147
En relación con aula virtual MEM, se contempló un diseño
accesible y que los diferentes recursos y la bibliografía seleccionada
también lo sea. Asimismo, se ofrecen gas de accesibilidad para
que el estudiantado la aplique en sus participaciones y en la
producción de recursos didácticos. Las consignas de actividades
individuales y grupales, sostienen la posibilidad de elección de
formatos de entrega, lenguajes expresivos, contenidos elegidos para
trabajar, tiempos, acciones propuestas, niveles de profundización
creciente. Como se mencionó también se solicita que las
propuestas didácticas diseñadas por las y los futuros docentes
tengan en cuenta los requerimientos de Accesibilidad-DHD.
Entre las actividades propuestas resulta relevante destacar la
presentación personal “cómo llegué a ha-ser sica”, en la cual se
invita compartir las identidades narrativas singulares en el seno
grupal, poniendo en relieve la alteridad en el encuentro dialógico
con el otro, en la escucha de su historia, en una dimensión de
respeto. El formato de elaboración de esta actividad es libre,
siempre teniendo en cuenta que no presenten barreras para sus
compañeros, y considerando la necesidad de disponer versiones
alternativas accesibles para todos, si se necesitaran. En cuanto a
actividades grupales, una propuesta radica en el diseño y puesta en
obra de una clase con intercambio de roles (docentes-alumnos)
dentro del grupo en base a una perspectiva educativa de relevancia
regional. La clase consiste en una serie de actividades
interdisciplinarias vivenciales en torno a un elemento cultural o
natural transversal que resulte significativo para quienes participan.
Otra propuesta a cargo de grupos reducidos consiste en el planteo
148
de clases aplicando diferentes métodos de educación musical,
observando las fortalezas y debilidades de cada método en estudio.
En todas las actividades, a partir de la experiencia se evalúa
y reflexiona sobre las posibilidades y limitaciones de las propuestas,
atendiendo tanto a su valor didáctico como a las posibles barreras
excluyentes que pudiera presentar, planteando alternativas
accesibles.
En el siguiente Cuadro 2, se sintetiza mo se efectivizó
desde MEM la aplicación de los principios de Accesibilidad-DHD.
Cuadro 2
Los principios y el hacer del profesorado
Principios Acciones
Percepción
Uso de múltiples lenguajes expresivos para la transmisión de
información. Bibliografía y recursos accesibles, videos e
imágenes con subtitulado, descripción textual (todo lo visual
ofrecido como texto escrito y/o auditivo. Presentaciones en
pizarra o de diapositivas: descripción oral de todo elemento
visual y lectura del texto. Indicaciones claras para acciones
visuales y/o espaciales.
Información sonora accesible a la vista: uso de subtítulos, textos
impresos como apoyo al aprendizaje de letras de canciones que
se proponían oralmente.
Claridad sonora: buena intensidad, disposición espacial en
círculo o ronda grupal: diálogo frontal y con buena dicción para
habilitar la lectura de labios.
Claridad visual: buenos contrastes de colores en los textos,
preferentemente fondo liso, el tamaño y tipo de letra sin serifa,
se eligieron imágenes de alta calidad y se evitaron las de texto.
Recursos “archivos se incluyeron las extensiones en al inicio del
nombre para proporcionar información equivalente a la ofrecida
149
visualmente por medio de íconos del sistema Moodle que no
admiten el agregado de una descripción textual compatible con
las ayudas cnicas.
Comprensión
Presentación de la estructura de MEM en Moodle
minimizándola a dos columnas, con los bloques a la izquierda y
seccionando el cuerpo del curso en módulos que se
corresponden con las unidades del programa.
Inclusión del programa anual al inicio y una breve descripción
de contenidos en cada unidad del cuerpo del curso. Uso de
etiquetas con títulos jerárquicos y carpetas para organizar la
bibliografía. Vigilancia del correcto marcado de los enlaces con
textos descriptivos del destino y aclaración de acciones
sorpresivas como, por ejemplo, “se descarga”.
Inclusión de materiales de ayuda y video tutoriales para el uso
de la plataforma y un foro de consultas específicas en el aula.
Recursos de soporte textual: incorporación de índices de
contenidos y prioridad a formas ltiples de presentación de la
información, incluyendo cuadros y videos que pueden colaborar
en la comprensión de un tema complejo.
Hoja de Ruta: síntesis de las actividades con hipervínculos que
se van desarrollando durante el cursado. Mensajería personal
enviada sobre tareas y actividades con enlaces a Hoja de Ruta
y/o actividad/recurso específico.
Actividades con directrices que admiten su elaboración desde el
nivel de complejidad que el estudiantado pueda abordar en
forma individual o grupal contextualizado en sus trayectos de
vida. Retroalimentación permanente y acompañamiento
docente: visibilización de potencialidades teóricas, didácticas y
no excluyentes en la producción estudiantil.
150
Acción
Archivos de texto en formatos editables y en PDF (acceso a
dispositivos móviles e impresión) en atención a la preferencia de
interacción de los usuarios y también para evitar barreras.
Recursos digitales y entornos operables por teclado.
Habilitación de diferentes espacios de participación y canales de
comunicación para atender dudas y requerimientos.
Relación dialéctica entre la clase presencial y el espacio virtual.
Seguimiento y asistencia en el proceso de elaboración de la
monografía a presentar en examen final.
Flexibilidad
No establecimiento de formatos, soportes, ni lenguajes
expresivos para la realización de la actividades y presentación de
trabajos prácticos
Recomendaciones acerca del uso de formatos editables y los
softwares de código abierto en la socialización de las
producciones.
Administración temporal que contempla necesidades
individuales, recorridos personales y grupales y la recursividad
espiralada. La actividad en el espacio virtual es asincrónica,
excepto en 2020/2021 que sumó de forma consensuada con el
grupo de estudiantes encuentros sincrónicos semanales o cada
quince días.
La Experiencia de Cursado
Lo propuesto a nivel teórico y en la práctica educativa de
MEM se sintetiza en una acción sostenida y permanente para
visibilizar grupalmente de qué manera está presente tanto de
manera explícita o implícita la lógica de la normalidad. En acuerdo
con Florian (2015), estos supuestos y concepciones heredadas sobre
el estudiantado que los definen en términos de categorías limitan la
posibilidad de generar las transformaciones profundas y extendidas
151
que se requieren en los sistemas educativos. Estas acciones
permanentes han provocado cambios positivos en el estudiantado
donde se ha podido constatar en todas las cohortes la paulatina
toma de conciencia sobre las barreras que se pueden producir en el
acto educativo al tiempo que reflexionan sobre la búsqueda cierta
de alternativas accesibles y no excluyentes.
Con relación a los grupos estudiados, no se registraron
barreras al acceso y a la participación en el espacio virtual de
MEM, especialmente esto se tuvo en cuenta durante el cursado
solo virtual en los años 2020/21 provocado por la situación de
pandemia COVID 19. Con relación a la alumna usuaria de lector
de pantalla (año 2015), ella pudo realizar todas las actividades
propuestas y en el espacio virtual accedió a los recursos necesarios
sin inconvenientes.
En los aportes de los estudiantes tales como trabajos
presentados en la plataforma utilizando la herramienta foro se
observa la atención a las pautas de Accesibilidad-DHD. En primer
lugar, en el trabajo creativo de presentación personal, se pudo
constatar que hicieron uso de su libertad de elección de soporte y
lenguaje expresivo destacando lo positivo y enriquecedor de la
posibilidad de elegir la forma de expresión.
Además, en sus
creaciones predominaron los archivos editables y accesibles. Por
ejemplo, en el grupo del o lectivo 2015, de 18 presentaciones 14
fueron archivos de formato editable (docx, doc, pptx). Cabe
mencionar que un significativo porcentaje de estudiantes
acompañó sus archivos no accesibles con otros accesibles. Por
ejemplo, uno de los trabajos realizado con la herramienta de
presentación “Prezi’ se compartió en el foro junto a la versión en
152
documento de texto y una presentación en acróstico, con formato
netamente visual, fue acompañada de un segundo archivo donde el
acróstico es descrito verbalmente de forma lineal.
En la observación presencial, se pudo constatar cómo se
integraron prácticas de descripción de los aspectos visuales de las
diapositivas en las presentaciones de trabajos prácticos sincrónicos,
especialmente en el año 2015 donde asistía la compañera ciega. En
el mismo año, un estudiante por propia iniciativa, luego de la
entrega de su presentación de diapositivas y socialización en foro,
adjuntó una segunda versión, en la cual incluye la lectura y
descripción de cada placa visual grabada con su voz.
En relación con las consignas grupales sobre perspectivas
activas regionales, al confrontarlo y analizarlo recursivamente desde
las evaluaciones de las distintas cohortes, el alumnado manifestó no
experimentar restricciones de participación, ni se sintieron sujetos a
resultados prefijados ni trayectorias normalizadas. Validaron la
libertad de elección de recursos y se sintieron responsables de
realizar exposiciones contextualizadas tratando de no presentar
barreras a sus pares. A su vez, observaron la potencialidad de estas
actividades para el aprendizaje de diferentes contenidos y la
factibilidad de realización en distintos contextos educativos dada la
flexibilidad que permite la consigna.
A modo de ejemplo, entre las actividades propuestas en la
clase desarrollada en torno al objeto cultural “juego de naipes
TRUCO”, se llevó adelante en el 2015 la creación de naipes
personales con bandejas de polietileno utilizando la técnica del
esténcil (visual) y se aprendió cómo colocar los números y los palos
de la baraja española en Braille (táctil).
153
Otro grupo, el cual estructuró su propuesta sobre el objeto
cultural Zombis abordado desde una perspectiva crítica, utilizó
diversidad de canales de expresión y de acceso a la información. En
la propuesta de este grupo, una de las actividades realizadas
consistió en un recorrido con los ojos vendados, atravesando
obstáculos físicos enmarcados con un clima sonoro alusivo de
carácter envolvente. Aquí el canal preponderante fue el sonoro,
pero el tacto también revelaba información sobre texturas y
elementos y se requería de su uso para avanzar. La necesidad de
aniquilación del Otro diferente fue un eje de debate en el cierre de
la actividad donde fue posible reflexionar sobre la producción de
una industria cultural mediática que modela la construcción del
Otro como enemigo.
Figura 1
Clases grupales activas: propuesta de naipes accesibles
5
5
Barajas con relieve creadas por los estudiantes. Posteriormente se incorpora el
palo en Braille a cada carta.
154
En las reflexiones finales sobre cada experiencia, tanto de lo
vivido en el proceso de composición y puesta en obra del TP
(grupo docente), como de quienes fueron los destinatarios (grupo
estudiantes), se coincide sobre la motivación positiva, los desafíos
de creatividad y las expectativas que genera la experiencia para
ambos roles participantes. A su vez, manifiestan que experimen-
taron activamente con actitud lúdica, sensible y vivencial un
amplio trayecto de aprendizaje de gran número de contenidos. En
cuanto a las presentaciones grupales sobre métodos de educación
musical analizados con los mismos criterios se comparte un
ejemplo donde se puede observar cómo la alumna en
representación de su grupo plantea la problemática en la propuesta
del compositor Murray Schaffer de la década del 60´.
[…] trataba de distinguir el universo sonoro que nos rodea.
Entonces pensamos que mucho a favor tienen las personas
no videntes porque también para nosotros, inclusive,
tendríamos que dejar de lado en este método un poco el
sentido de la vista, para percibir más lo que nos rodea, lo
sonoro. Pero lo que encontramos que tiene mucho en
contra para las personas que tienen hipoacusia, para las
personas que tienen problemas de sordera, y que hay que
emplear otras artes (GRABACIÓN DE CLASE, 2015).
Las reflexiones y propuestas de flexibilizar las consignas y
considerar la accesibilidad partieron tanto de quienes expusieron el
método como también de quienes participaron en la experiencia.
De estas observaciones se destacan las siguientes opciones como
alternativas para avanzar en propuestas no excluyentes: ampliación
155
de recursos, multimodalidad expresiva y proponer consignas
elegibles.
Cabe señalar que la reciente situación de pandemia puso
aún más en relevancia la necesidad de tener en cuenta lo planteado
con respecto a la Accesibilidad-DHD para el desarrollo de las
cursadas. Dado la propuesta de MEM en el aula del campus
virtual, las adecuaciones que se hicieron no presentaron mayores
dificultades y la producción mediatiazada a web fue permanente
e intensa lográndose una dinámica dialógica fluida y participativa.
No obstante, queda claro que por más que se forzó al máximo
tratar de cumplir con los objetivos de MEM, la pérdida de algunas
actividades que se realizaban en presencia física y que son
importantes dentro de los procesos educativos musicales se vieron
imposibilitadas de ser desarrolladas, lo cual impactó en la calidad
educativa. Esto reafirma lo ya expresado en la literatura sobre los
efectos educativos no deseados que ha puesto en evidencia la
pandemia (FARNELL et al, 2021; ANDRÉS; SAN MARTÍN,
2022). A la luz de las propuestas post pandemia y en vistas a un
posible cambio de plan de estudio, la cursada netamente
mediatizada a través del campus ha dejado pruebas consistentes
sobre la importancia de lograr un equilibro saludable y significativo
entre las distintas formas de encuentro interpersonal que se
disponen en el actual contexto físico-digital educativo. En esta
dirección, la modalidad híbrida con un porcentaje de 50% de
presencialidad sica resultaría la más adecuada en vistas a un
cambio de modalidad.
En síntesis, la perspectiva transversal no excluyente, más
al del caso MEM, solicita sin distinción entre profesores y
156
estudiantes, que en las diferentes actividades y secuencias didácticas
que se propongan siempre esté presente la pregunta sobre a quién
estamos dejando fuera. Estudios recientes en contextos de
formación de educadores musicales también ponen en evidencia
que se debe trabajar más en profundidad los aspectos relacionados
a la educación inclusiva (RIVA MEDINA, 2021). Siguiendo a
Larrosa (2009), lo expuesto en este trabajo bajo la hipótesis que el
tránsito por la experiencia constituya un andamiaje para su
aplicación en las futuras prácticas docentes, trasciende el ámbito
disciplinar tratado y a su vez, habilita múltiples caminos de acción
posible. En esta dirección, la Universidad está poniendo en obra
una serie de cursos gratuitos destinado al plantel del profesorado
que incluye entre sus contenidos la perspectiva de Accesibilidad-
DHD.
Conclusiones
La experiencia de la asignatura MEM, muestra en un
contexto situado, las posibilidades de desarrollo transversal de los
principios de Accesibilidad-DHD y el trayecto de apropiación
vivenciado por los futuros educadores musicales.
En el estudio, diversas acciones del estudiantado evidencian
que la toma de conciencia sobre la producción de barreras y la
acción responsable para la búsqueda de alternativas accesibles y no
excluyentes es posible. En este sentido, la actitud de vigilancia ética
frente a la supresión de la alteridad predispuso al conjunto de la
clase a una reflexión autocrítica sobre sus propias prácticas
incentivando el intercambio, la escucha al otro y las búsquedas
157
creativas de respuestas para adecuarse a las situaciones
contingentes.
A partir de lo vivenciado, también pudo constatarse que
poner en obra la Accesibilidad-DHD en prácticas educativas
mediatizadas no sólo contribuye a garantizar el derecho a la
educación inclusiva del colectivo identificado como personas con
discapacidad, sino que constituye un beneficio para la comunidad
educativa en su conjunto. Así, al ampliar los significantes
intervinientes en los procesos expresivos y comunicativos,
diversificar las propuestas de enseñanza y habilitar diferentes
trayectorias posibles de aprendizaje según preferencias,
contemplando flexibilidad, asincronía y co-agencia, es posible
desplegar procesos de enseñanza y aprendizaje que respeten la
singularidad de los sujetos en el marco de la diversidad.
En cuanto al desarrollo de prácticas educativas no
excluyentes, se sostiene que se podrán efectivizar realmente si toda
la comunidad educativa asume el compromiso ético de ser sensible
al Otro, atendiendo a las necesidades emergentes en la vivencia
cotidiana grupal, y de responderle, lo cual implica poner en acto la
construcción de la co-responsabilidad de parte de dicha
comunidad.
Finalmente, se estima que la puesta en obra contextualizada
de la Accesibilidad-DHD en distintos campos disciplinares solicita
de un hacer transformador en la formación de formadores, de un
juego al pensamiento para que la práctica educativa en cualquiera
de sus niveles y modalidades sea un espacio diverso y abierto a la
experiencia que otorga el hacer constituido a partir de los aportes
158
de las innumerables singularidades que lo habitan ejerciendo su
Derecho a la Educación.
Referencias
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prácticas educativas mediatizadas en contexto de Covid-19 en una
Facultad de Ciencias de la Educación. Revista Academia y
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BLANCO, Rosa; DUK, Cynthia. El Legado de la Conferencia de
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163
CATULO 5
Accesibilidad en el Proceso de Ingreso a la Universidad
Veracruzana, Xalapa, Veracruz, México
Gerardo Contreras VEGA
1
Introducción
“La educación es un derecho humano fundamental que
permite sacara los hombres y las mujeres de la pobreza, superar las
desigualdades y garantizar un desarrollo sostenible.” (El derecho a la
educación | UNESCO, s/f). En este sentido la Convención de la
UNESCO relativa a la Lucha contra las Discriminaciones en la
Esfera de la Enseñanza es un instrumento normativo preeminente
en el ámbito de la educación. Esta convención es el primer
instrumento internacional jurídicamente vinculante completa-
mente dedicado al derecho a la educación y se reconoce como pilar
1
Coordinador del Programa de Aprendizaje Basado en Problemas de la
Dirección General de Desarrollo Académico e Innovación Educativa y profesor
de tiempo completo en la Universidad Veracruzana de Xalapa, Veracruz,
xico. Correo electrónico: gcontreras@uv.mx.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5512-3559
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p163-176
164
la Agenda de Educación 2030 y representa una herramienta para el
camino a lograr inclusión de calidad y equitativa para todos.
La Universidad Veracruzana (UV) fue fundada en 1944 y
adquiere su autonomía en 1996. Se ubica en el estado de Veracruz
situado en el Golfo de México. Cuenta con cinco sedes regionales:
Xalapa, Veracruz, Orizaba-Córdoba, Poza Rica-Tuxpan y
Coatzacoalcos-Minatitlán, con presencia en 27 municipios. Por su
matrícula se ubica entre las cinco universidades públicas estatales
de educación superior más grandes de xico.
En los últimos años, su cobertura a nivel estatal atiende el
25% de la matrícula en educación superior, el 9% de jóvenes de 18
a 22 años y 16% de absorción de egresados de educación media
superior. La Universidad atiende una matrícula superior a los 80
mil estudiantes. En educación formal oferta más de 300 programas
educativos de nivel técnico, técnico superior universitario,
licenciatura y posgrado; y en educación no formal cuenta con una
extensa gama de cursos para el aprendizaje de diferentes idiomas,
talleres de arte, de música y los dirigidos a estudiantes extranjeros.
Su oferta educativa cubre todas las áreas del conocimiento,
organizadas en seis áreas académicas: Artes, Ciencias Biológico-
Agropecuarias, Ciencias de la Salud, Económico-Administrativa,
Humanidades y Técnica. (PresentaciónNosotros, s/f)
El ingreso a los programas de grado o licenciatura en la
Universidad Veracruzana se realiza cada año. El proceso de ingreso
se describe en la figura 1.
165
Figura 1
Pasos para el proceso de ingreso a la Universidad Veracruzana.
Fuente: Captura de pantalla de https://www.uv.mx/escolar/licenciatura2022/
Cómo se aprecia en la figura 1 los aspirantes a ingresar a la
UV deben presentar un examen de ingreso, este examen es
elaborado y calificado por una entidad externa a la Universidad,
esta entidad lleva por nombre Centro Nacional de Evaluación para
la Educación Superior (Ceneval), la cual es una asociación civil sin
fines de lucro creada por mandado de la Asociación Nacional de
Universidades e Instituciones de Educación Superior (ANUIES).
El examen que se aplica se le denomina “Examen de Ingreso a la
Educación Superior (EXANI-II)” (Guía-EXANI-II-1.pdf, s/f). Es
importante resaltar que este examen no cuenta con una versión
accesible, por lo que los aspirantes con alguna discapacidad
necesitan de apoyo de otra persona para la presentación del mismo.
Este documento tiene como objetivo presentar el proceso
que se sigue para hacer accesible la inscripción al examen y la
166
presentación de este, para aspirantes que presentan discapacidad
visual.
Método
Tim Berners-Lee, director del W3C e inventor de la Word
Wide Web (Web) dijo “El poder de la Web está en su
universalidad. El acceso para cualquier persona, independien-
temente de las discapacidades, es un aspecto esencial.” (Initiative
(WAI), s/f).
Accesibilidad Web quiere decir que los sitios web,
herramientas y tecnologías están diseñadas y desarrolladas de tal
forma que las personas con alguna discapacidad pueda utilizarlas.
Concretamente las personas pueden percibir, comprender, navegar
e interactuar con la Web y contribuir a la Web.
La Accesibilidad Web incluye las discapacidades que
afectan al acceso a la Web, como lo son: auditivas, cognitivas,
neurológicas, física, del habla y visuales. La Accesibilidad Web
también beneficia personas sin discapacidad que utilizan diferentes
tipos de dispositivos de cómputo (teléfonos móviles, relojes
inteligentes, televisiones, etc.), personas mayores cuyas habilidades
cambian con la edad, personas en situación de discapacidad
temporal.
La W3C (World Wide Web Consortium, Consorcio
WWW) es un consorcio internacional que desarrolla
recoméndaciones y estándares que seguran el crecimiento de la
World Wide Web a largo plazo. La Iniciativa de Accebilidad Web
de la W3C, WAI (W3C Accessibility Initiative, por sus siglas en
167
inglés) desarrolla especificaciones técnicas, pautas, técnicas y
recursos que describen soluciones de accecibilidad y que son
coniderados estándares intermacionales para la accesibilidad web,
por ejemplo WCAG o el ISO/IEC 40500.
Las WCAG está dirigidas a desarrolladores de contenidos
webm desarrolladores de programas de autor, desarrolladores de
herramientas para la evalaución de la accesibilidad web y personas
que necesiten estándares para la accesibilidad web, incluyendo la
accesibilidad móvil. La WCAG 2.0 y WCAG 2.1 son estándares
técnicos de referencia. Contienen 12-13 pautas que se agrupan en
cuantro principios: perceptible, operable, compresible y robusto.
Cada pauta incluye criterios de conformidad, que se pueden
comprobar y que se clasifican en tres niveles: A, AA y AAA.
Actualmente ya existe la versión 3.0 de estas normas.
A nivel de especificaciones técnicas existen las Aplicaciones
de Internet Enriquecidas Accesibles (WAI-ARIA, por sus siglas en
inglés) las cuales proporcionan semántica, de tal forma que los
autores puedan transmitir coportamiento de la interfaz de usuario e
información estructural a las tecnologías de apoyo, como lo es un
lector en pantalla. Las especificaciones de ARIA establece una
ontología de roles, estados y propiedades que definenelmentos
accesibles en la interfaz de usuario.
Para la realización del proceso de ingreso accesible se
utilizaron las Pautas de accesibilidad para el contenido web
(WCAG) versión 2. De igual forma se utilizaron para la generación
del examen de ingreso, el cual las preguntas son proporcionadas
por CENEVAL y se pasan a un sistema de cómputo que permite al
aspirante con discapacidad visual presentar el examen de forma
168
autónoma y sin la necesidad de necesitar otra persona que lo asista
para navegar y responder el examen.
En el proceso de ingreso a la UV se registran cerca de 50
mil aspirantes cada o para presentar el examen de ingreso.
Através de la convocatoria los aspirantes conocen las condiciones,
requisitos del proceso y registran en línea sus datos personales,
escolares, socieconómicos y si presentan una discapacidad.
La logística operativa del proceso es controlada por sistemas
de cómputo que permiten tener oportunamente la información de
cada uno de los aspirantes.
Resultados y discusión
La primera versión accesible del examen de ingresó se llevó
a cabo durante 2014 y se aplicó por primera vez en el año 2015, en
la figura 2 se puede apreciar el proceso cronológico de como se ha
ido trabajando en la Universidad Veracruzana en cuanto al proceso
de ingreso.
169
Figura 2
Cronología del desarrollo de sistema para aspirantes con discapacidad en el proceso de
ingreso a la Universidad Veracruzana
Fuente: Elaboración propia con datos de la Dirección General de Administración
Escolar de la UV.
170
En las figuras 3, 4, 5 y 6 se pueden apreciar capturas de la
convocatoria accesible tanto para personas con discapacidad visual
como para personas con discapacidad auditiva.
Figura 3
Convocatoria accesible para persona con discapacidad visual y discapacidad visual.
Fuente: Elaboración propia captura de pantalla
Figura 4
Captura de datos de discapacidad en el proceso de registro.
.
Fuente: Elaboración propia captura de pantalla
171
Figura 5
Revisión de los documentos y asignación de discapacidad.
Fuente: Elaboración propia captura de pantalla
172
Figura 6
Capturas de pantalla del sistema Tyflos y Koufos.
Fuente: Elaboración propia captura
173
En la tabla 1 se pueden observar los resultados sobre el
número de aspirantes con discapacidad que han presentado el
examen de ingreso a la UV desde el año 2015 y hasta el año 2022.
Como se puede apreciar el número aumenta de forma considerable
con los os, por lo que es necesario continuar con el desarrollo de
estrategias y evaluar lo que se lleva hasta ahora para brindar mejores
oportunidades a los aspirantes con discapacidad. En la tabla 2 se
observan que discapacidad presentan los aspirantes a ingresar a la
UV.
Tabla 1
Aspirantes con discapacidad registrados.
Año Aspirantes
2015 9
2016 30
2017 16
2018 21
2019 34
2020 62
2021 23
2022 92
Tabla 2
Aspirantes registrados y tipo de discapacidad.
Año
Discapacidad
Visual
Física
Auditiva
Intelectual
Total
2015
6
3
0
0
9
2016
5
20
4
1
30
2017
9
5
0
2
16
2018
6
10
4
1
21
2019
3
19
8
4
34
2020
1
31
12
18
68
2021
9
9
3
2
23
2022
9
44
14
25
92
174
Conclusiones
El contar con procesos accesibles de ingreso a la universidad
debería ser una obligación para toda Institución de Educación
Superior. Con el uso de tecnologías y siguiendo normas y
estándares web es posible lograr y garantizar estos procesos de
ingreso a la educación superior. Este es el primero paso para lograr
ser una universidad inclusiva, una universidad para todos, lo que
sigue es garantizar la permanencia en la institución educativa y el
egreso de los estudiantes con discapacidad. Este proceso conlleva
un trabajo no solo en lo tecnológico, sino también en la
sensibilización, concientización de todos los actores que
intervienen en el proceso educativo, desde la parte administrativa,
hasta los mismos estudiantes y claro que con los académicos y
personal que integran a la comunidad universitaria.
El número de aspirantes con discapacidad desde el año
2015 y hasta el o 2022 se ha incrementado de forma
significativa, lo que lleva a seguir con el trabajo con que se cuenta
hasta ahora y realizar una revisión y evaluación para mejorar el
proceso de ingreso, de igual forma es necesario incorporar trabajo
para la discapacidad intelectual y la discapacidad motriz, para el
examen de ingreso.
Con este trabajo se abona a sembrar la semilla en materia
de accesibilidad, pero aún falta mucho por hacer para lograr que
este árbol crezca y se mantenga firme. Es necesario hacer visible el
trabajo que se realizar en favor de las personas con discapacidad y
brindarles las condiciones necesarias para que puedan tener
igualdad de oportunidades.
175
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176
177
CATULO 6
Experiencia de Implementación del Índice de Educación
Inclusiva en la Universidad Nacional del Nordeste
Marcelo Daniel Barrios D’AMBRA
1
Norma Elena BREGAGNOLO
2
María Natalia CACERES
3
Julio Enrique PUTALLAZ
4
1
Máster en Accesibilidad para Smart Cities por la Universidad de Jaén. España
(2018). Especialista en Docencia Universitaria. Resol. N° 147/06-C.S. Es
Coordinador de la Cátedra Libre de Diseño Universal e Inclusión. UNNE.
(2015). Email: mbarriosdambra@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-
0002-1443-6556
2
Profesora en Educación Pre Elemental y Especialista en Jardines Maternales
(Facultad de Humanidades - UNNE). Licenciada en Educación Inicial (UNaF)
y Especialista en Docencia Universitaria (UNNE). Profesora Adjunta dedicación
Semiexclusiva Profesorado y Licenciatura en Educación Inicial - Facultad de
Humanidades UNNE Directora de la Carra de Posgrado Especialización em
infancias, educación y ciudadanía – UNNE - Resol. N° 110/20- C.S. CONEAU
(Sesión N°526/2020). Resistencia, Chaco. Argentina.
Email: normaebregagnolo@comunidad.unne.edu.ar
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8864-0373
3
Diplomada en Discapacidad y Derechos - Facultad de Derecho, Ciencias
Sociales y Políticas - UNNE (2019). Docente - investigador en la Facultad de
Artes, Diseño y Ciencias de la Cultura y en institutos terciarios. Miembro del
Proyecto de Investigación Accesibilidad y Diseño Universal en la UNNE.
Necesidades educacionales específicas y prácticas inclusivas situadas con
estudiantes de grado- PIC19004. SGCyT (2021). Miembro de la Cátedra Libre
de Diseño Universal e Inclusión. UNNE. (2020).
Email: natalia.caceres@comunidad.unne.edu.a ORCID: https://orcid.org/0000-
0003-2145-9278
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p177-206
178
Introducción
Hacer referencia a la Inclusión en el Nivel Superior de
Educación impone la necesidad de realizar algunas consideraciones
iniciales. En principio identificar el marco normativo argentino
donde se refrenda este derecho. Luego proponer puntos de
acuerdos en torno a una variedad de términos que aparecen
vinculados a este: educación superior, discapacidad, inclusión
educativa y diseño universal.
Recuperando los aportes de Grzona (2021) se dirá que un
recorrido histórico por las normativas que recuperan el derecho a la
accesibilidad educativa en Argentina nos lleva a reconocer como
primer antecedente a la Ley Nacional de Educación del año 1993,
la cual ya ofrecía un primer marco regulatorio para la integración
educativa, aunque la misma se limitaba a la educación primaria.
Un segundo avance en este sentido lo ha dado Ley Nacional de
Educación Superior 24.521 y su modificatoria la Ley
25573/02, que establecía en su artículo 2 una mención especial en
torno a la responsabilidad que le cabe al Estado de garantizar la
educación para todos, sin restricción de ningún tipo.
El Estado, al que le cabe responsabilidad indelegable en la
prestación del servicio de educación superior de carácter público,
4
Magíster en Gestión Ambiental y Ecología FAU-UNNE (2003). Especialista
en Docencia Universitaria (FH-UNNE, 2005). Arquitecto UNNE, Argentina
(1986). Profesor Titular por Concurso en la FAU - UNNE categorizado III en
el Programa de Incentivos de la SPU. Director del Proyecto de Investigación
Accesibilidad y Diseño Universal en la UNNE. Representante de la UNNE ante
la Red Interuniversitaria de Discapacidad del Consejo Interuniversitario
Nacional de Argentina CIN (2015 a 2022). Email: julioputallaz@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7423-8252
179
reconoce y garantiza el derecho a cumplir con ese nivel de la
enseñanza a todos aquellos que quieran hacerlo y cuenten con la
formación y capacidad requeridas. Y deberá garantizar asimismo la
accesibilidad al medio físico, servicios de interpretación y los
apoyos técnicos necesarios y suficientes, para las personas con
discapacidad. (Ley 25573/02)
Grzona (2021) hace mención además a una normativa
que si bien, no hace alusión expresa al derecho a la educación de las
personas con discapacidad, amplía las posibilidades de acceso al
nivel, al establecer la obligatoriedad de la educación secundaria. Se
está haciendo alusión a la Ley Nacional de Educación 26206/06.
Pero si hablamos de marcos normativos que aseguran el
derecho a la inclusión educativa hay dos hitos fundamentales que
no pueden dejar de mencionarse. Por un lado, la sanción de la Ley
26.378/08, por la cual Argentina adhiere a la Convención
Internacional de los Derechos de las personas con discapacidad
(CDPCD) , y con ello asume el compromiso de garantizar una
educación inclusiva y de arbitrar las medidas que fuesen necesarias
para lograrlo. Ello queda expresado en la cita que se expone
seguidamente:
los Estados Partes reconocen el derecho de las personas con
discapacidad a la educación. Con miras a hacer efectivo este
derecho sin discriminación y sobre la base de la igualdad de
oportunidades, los Estados Partes asegurarán un sistema de
educación inclusivo a todos los niveles así como la
enseñanza a lo largo de la vida”. Se faciliten medidas de
apoyo personalizadas y efectivas en entornos que fomenten
al máximo el desarrollo académico y social, de conformidad
180
con el objetivo de la plena inclusión” (CDPCD, Art. 24,13
de diciembre de 2006).
Por otro, la sanción de la Ley 27044/14, que eleva a
rango constitucional a dicha convención, imprimiéndole de este
modo un carácter de mayor obligatoriedad a este compromiso.
Como es dable advertir es profusa la cantidad de
normativas que para el caso de Argentina refrendan este derecho.
Una vez recuperado los fundamentos legales sobre los que
descansa la temática, el paso que sigue será realizar algunas
precisiones conceptuales.
Comenzaremos entonces por señalar qué se entiende por
educación superior, para ello recuperaremos un apartado del texto
de la norma marco, la Ley de Educación Superior 24.521
(modificada por la Ley de Educación Superior 25573/02) en la
cual se mencionan las instituciones que quedan comprendidas bajo
esta denominación:
las universidades e institutos universitarios, estatales o
privados autorizados y los institutos de educación superior
de jurisdicción nacional, provincial o de la Ciudad
Autónoma de Buenos Aires, de gestión estatal o privada,
todos los cuales forman parte del Sistema Educativo
Nacional, regulado por la ley 26.206. (Ley Nacional de
Educación. Nº 24.521, 7 de agosto de 1995).
De este modo tenemos una primera aproximación a
nuestro ámbito de estudio, la inclusión educativa en este nivel de la
educación formal. La pregunta que subyace es entonces ¿qué
181
entendemos por inclusión educativa? Para ello cabrá recuperar uno
de los 4 sentidos que propone Grzona para la comprensión del
término, la inclusión educativa desde un plano ontológico, para la
cual se señala que “parte del reconocimiento de la diversidad de los
miembros del contexto educativo, en los diferentes niveles y para
los cuales se proporcionan todos los apoyos, tanto individuales
como a la comunidad educativa”. (GRZONA. 2016. p 2)
Entender la inclusión de esa manera, supone asumir lo
diverso como la norma y no ya lo homogéneo. Esta diversidad sin
embargo al decir de Grzona (2016) no se limita a la persona con
discapacidad, sino que se hace extensivo a la condición de persona
humana. Incluye “diferentes estilos de aprendizaje, inteligencias
múltiples, pertenecer a pueblos originarios, por nombrar algunos, y
no solo a las personas con discapacidad”. (GRZONA. 2016.p. 1)
Pero el caso que nos ocupa a los fines de la presente
investigación se vincula a la atención a la diversidad en relación a la
persona con discapacidad. Por tal motivo cabrá preguntarse
¿quiénes son los sujetos de derecho que quedan comprendidos en
las normas antes mencionadas? O dicho de otra manera ¿q
entendemos por persona con discapacidad?
En este sentido cabe señalar junto con Seda (2017) que el
concepto de discapacidad es dinámico y por lo mismo ha mutado a
lo largo de la historia, un hecho relevante en éste sentido ha sido la
publicación de la Clasificación Internacional del Funcionamiento,
de la Discapacidad y de la Salud (CIF), del o 2001, a partir de la
cual se buscó dejar de lado la connotación negativa que
comportaban dos palabras asociadas a la discapacidad: deficiencia y
182
minusvalía y se procuró ubicar la discapacidad en el entorno y no
en la persona.
Esta mirada en torno a la discapacidad, recupera la
Convención Internacional de los Derechos de las personas con
discapacidad, cuando señala que
Las personas con discapacidad incluyen a aquellas que tengan
deficiencias físicas, mentales o sensoriales a largo plazo que, al
interactuar con diversas barreras, puedan impedir su
participación plena y efectiva en la sociedad, en igualdad de
condiciones con las demás. (CDPCD, Art 1. ,13 de
diciembre de 2006).
En esta misma línea Grzona (2021) nos invita a
reflexionar sobre este nuevo abordaje de la discapacidad cuando
señala que:
En este nuevo marco conceptual, la discapacidad no es una
categoría biológica y/ psicológica e individual, ni una
situación estática con limitaciones inherentes a las personas,
sino que ha evolucionado a favor de una mirada que atribuye
al entorno un compromiso respecto de la eliminación de todo
tipo de barreras que impidan el pleno ejercicio de un rol
activo en la ciudadanía. (GRZONA, 2021. p 2)
Hasta lo aquí esbozado se podría decir que la inclusión
educativa haría referencia a la posibilidad de acceso y permanencia
en el sistema educativo a todas las personas, sin que medie ningún
183
tipo de restricción, eliminando las barreras que dificultan el
ejercicio pleno a la educación como derecho.
Aquí cobra sentido el concepto de Diseño Universal. La
idea de Diseño Universal fue acuñada originariamente por el
arquitecto Ron Mace, y al decir de López, F. A. (2007) vendría a
romper con el modo tradicional de pensar la accesibilidad, en
término dicotómicos de población normal- población
discapacitadas. El citado autor asume que hablar de Diseño
Universal, implica pensar un diseño para todos.
Al solo efecto de dejar s en claro este término, se
esboza en lo que sigue el concepto que propone la Convención
Internacional de las personas con discapacidad, y que habrá de ser
el concepto a seguir en la presente investigación:
“Por ‘diseño universal’ se entende el diseño de
productos, entornos, programas y servicios que puedan utilizar
todas las personas, en la mayor medida posible, sin necesidad de
adaptación ni diseño especializado. El ‘diseño universal’ no excluirá
las ayudas técnicas para grupos particulares de personas con
discapacidad, cuando se necesiten.” (CDPCD, Art. 2,13 de
diciembre de 2006).
El objetivo del estudio fue evaluar el grado de inclusión
que muestra el sistema de educación superior a partir de un estudio
de caso, en el campus de Resistencia de la UNNE (Chaco-
Argentina), en base a la valoración que a este respecto hacen los
propios actores, y en particular las personas con discapacidad. Para
ello se aplicaron diferentes indicadores organizados en formularios
de “existencia”, “frecuencia” y “reconocimiento que propone la
metodología desarrollada por el Prof. Tony Booth, previamente
184
adaptados al contexto específico, a un grupo seleccionado de
estudiantes de dicha facultad.
Método
a - Tipo de investigación/modalidad: Cuali-cuantitativa/Expe-
riencia piloto.
b - Objeto de estudio
b.1 Universo: La aplicación del instrumento (formularios) se
realizó sobre un universo de 17 estudiantes de grado identificados
en situación de discapacidad de la Facultad de Humanidades.
b.2 Encuadre espacio tiempo: El trabajo de campo se llevó a
cabo en el Campus Resistencia, en cuyo predio se encuentran las
Facultades de Arquitectura y Urbanismo, Ingeniería, Ciencias
Económicas y Humanidades. Comprendió el período 2020/2021
confome al avance del Plan de trabajos.
Fundamentos de la definición del universo y el encuadre espacio -
temporal: El motivo del recorte se justifica al solo efecto de poder
circunscribir un área de estudio al cual se tiene facilidad para
acceder a la información y la disposición de las autoridades
específicas. El encuadre temporal obedeció al Cronograma del
Proyecto en red
5
y las posibilidades del equipo técnico.
5
Proyecto de Investigación en Red “Panorama de las condiciones de
Accesibilidad en Universidades en contextos internacionales diferenciados”
(Programa UNIVERSAL. MCTIC/CNQp2018) que la UNNE desarrolla junto
a las Universidades Estadual Paulista (UNESP) de Brasil y la Universidad de la
República (UDELAR) de Uruguay.
185
c - Técnicas y herramientas
c.1 Instrumento principal: Formulario INES adaptado al contexto
argentino y considerando las características de la Comunidad
académica de la UNNE con especial énfasis en las condiciones y
cultura institucional de las facultades con sede en el Campus
Resistencia.
Modalidad de consulta: Envío por correo electrónico de formulario
con glosario aclaratorio.
c.2 Instrumentos complementarios: Documento de trabajo
INES: Un instrumento para pensar la Educación de calidad e
inclusiva / Glosario sobre Discapacidad e Inclusión en la
universidad.
d - Recursos humanos
Se conformó un Equipo técnico con docentes investigadores
designados por las Facultades de Arquitectura y Urbanismo,
Humanidades e Ingeniería con los siguientes roles y
responsabilidades:
Coordinación de actividades y elaboración de los Informes:
Dirección: Ms. Arq. Marcelo D. Barrios D’Ambra.
Equipo técnico: Mg. Arq. Julio Putallaz / Lic. María Natalia
Cáceres (Cátedra Libre DUeI. UNNE).
Análisis, Discusión y adecuación del instrumento a cargo del
Grupo de trabajo interfacultades: Arq. Jorge Jeuzel y Norma
Moreno (FAU UNNE) / Ing. César G. Veroli (FI - UNNE) y
Prof. Norma E. Bregagnolo y Lic. María Phipps (FHUNNE).
Se con con la cooperación del Programa de Accesibilidad e
Inclusión Académica de la Facultad de Humanidades:
186
Equipo técnico: Prof. Norma E. Bregagnolo / Lic. María Phipps.
Resol. 1044/21 – D. FH.
Recolección de datos y coordinación de Entrevistas: Prof. Luciana
Gaudini / Prof. Paola Portillo (Fac. Humanidades. UNNE).
Aspectos logísticos: Sr. Mariano Pino. Secretaría Privada de
Decanato.
Resultados y Discusión
Identificación del perfil de estudiantes con discapacidad en el
campus resistencia La UNNE y su estructura
La Universidad Nacional del Nordeste es una institución
de carácter público y de alcance regional. Se encuentra ubicada en
las provincias de Corrientes y Chaco (Argentina) con sus sedes
principales en las dos ciudades capitales de provincia (Resistencia y
Corrientes) distantes unos 20 km una de otra, La misma atiende a
una población aproximada de unos 50000 estudiantes, y cuenta
con una oferta académica de más de 50 carreras entre sus once (11)
Facultades, de las cuales seis (6) tienen la sede en la ciudad de
Corrientes y cinco (5) en la ciudad de Resistencia. Complementan
esta estructura 3 centros regionales, 7 extensiones áulicas, y algunos
institutos.
Físicamente la institución se organiza del modo que sigue:
para el caso de la ciudad de Corrientes, cuenta con tres campus
universitarios y sedes de algunas facultades que aún no se han
integrado a dichos campus. En el caso de Resistencia, la oferta
académica se concentra en un campus universitario y un edificio
anexo de la Facultad de Ingeniería y otro de la Facultad de Artes,
187
Diseño y Ciencias de la Cultura en ejecución, a los cuales se suman
otras dependencias.
Relevamiento de datos
En el caso particular de la UNNE, el sistema SIU
6
Guaraní cuenta con un apartado para la identificación de
estudiantes con discapacidad mediante una encuesta, la cual se
inicia con la autodeclaración de las y los estudiantes en dicho
sistema, para luego pasar a un cuestionario estructurado en el cual
se solicita información como datos filiatorios, número de libreta,
tipo de discapacidad (visual, auditiva, motora, neurológica,
psicológica, visceral, cardíaca, respiratoria, otras), carácter
(transitoria o permanente), grado (Severa, Moderada o Leve)
fechas ( desde y hasta) en caso de ser discapacidad temporaria, si
posee Certificado Único de Discapacidad (CUD), si posee
cobertura médica y observaciones.
Primera lectura de datos
A partir de los datos aportados por las cuatro Unidades
académicas que conforman el Campus Resistencia, se han
sistematizado datos de 1104 estudiantes que autodeclararon alguna
6
En el ámbito de la Educación Superior en Argentina, el Sistema de
Información Universitaria (SIU) está compuesto por distintas aplicaciones
informáticas utilizadas para la toma de decisiones, el análisis institucional y la
gestión en el ámbito de las universidades nacionales y de organismos de
gobierno.
188
o varias discapacidades predefinidas en el SIU durante el período
2015 a 2019. (Cuadro 1)
Cuadro 1
Estudiantes autodeclarados con discapacidad por oPeríodo 2015 a 2019.
Cantidad
estudiantes
autodeclarados
Arquitectura y
Urbanismo
Ciencias
Económicas
Humanidades Ingeniería
2015
3
161
50
13
2016
100
75
198
75
2017
67
45
74
46
2018
53
36
79
33
2019
36
21
23
7
En base a los datos obtenidos y su correlación con los
dispositivos y herramientas que posee cada unidad académica del
Campus Resistencia, se optó por seleccionar como muestra a los
estudiantes identificados por la Facultad de Humanidades para el
desarrollo de una experiencia piloto para aplicar el formulario
INES, ya que esta Unidad académica cuenta con un área y
programa propio de Discapacidad y eso brinda condiciones más
propicias para el procedimiento a encarar.
189
Implementacion del instrumento INES -UNNE
La implementación del formulario INES
7
se enmarca en
la 2da. etapa del Proyecto de investigación en red y constituye el
cierre del proceso al formalizar el mecanismo de consulta destinado
a estudiantes con discapacidad. Se toma como población objetivo
para la muestra los estudiantes con discapacidad identificados por
el área de Discapacidad de la Facultad de Humanidades de la
Universidad Nacional del Nordeste.
Presenta como antecedente el trabajo de adaptación del
instrumento de recolección de datos INES
llevado adelante por el
equipo de trabajo formado por representantes de Unidades
Académicas del Campus de Resistencia de la UNNE y liderado por
parte del equipo de investigación de la UNNE que integra el
Proyecto.
En el presente informe se relata el proceso y los resultados
obtenidos en la entrevista realizada a un grupo de estudiantes de la
universidad, que presentan alguna discapacidad y que han sido
identificados por el Equipo técnico del Programa de Accesibilidad
e Inclusión Académica de la Facultad de Humanidades
8
7
Índice de Necesidades educacionales específicas. Metodología de abordaje
desarrollada por Tony Booth.
8
Programa de Accesibilidad e Inclusión académica. Facultad de Humanidades
(Resol. Nro. 287/20 C.D. F.H.)
190
Gestión y organización de la etapa
Adaptación del Formulario INES
Para la puesta en marcha de esta tarea el equipo de
investigación convo a referentes de diversas unidades académicas
de la Universidad Nacional del Nordeste con el objeto de poder
conformar un equipo de carácter interdisciplinar que pudiera
aportar diferentes miradas en relación a la lectura del documento
de base INES, y la necesaria re-adecuación del mismo para poder
aplicarlo a las realidades contextuales de la UNNE.
Migración del INES a un Formulario de Google Docs
Asumiendo las bondades que presentan las Tics como
herramientas de apoyo para el proceso de investigación científica
durante el trabajo de campo, se decidió migrar los formularios
propuestos en el Documento de INES, convenientemente
adaptados, a un formulario de Google Forms.
Recolección de datos
Para tal fin se realizaron una serie de reuniones con el
Equipo técnico del Programa de Accesibilidad e Inclusión
Académica de la Facultad de Humanidades, que junto al aval de las
autoridades de esa casa de estudios, habilitaron el proceso de
colecta de datos a través del envío del formulario. En ese sentido el
procedimiento fue respaldado por Resolución de Consejo
191
Directivo de dicha Facultad
9
, garantizando su factibilidad y la
protección de identidad en los datos recolectados.
Este proceso se caracterizó por alteraciones y
discontinuidades a causa de cambios de las autoridades superiores y
responsables de las áreas involucradas en el Proyecto en la Facultad
seleccionada para aplicar la colecta debiendo reiniciar las gestiones
con nuevos interlocutores.
Análisis y procesamiento de los datos
En esta sección se procedió a interpretar los datos
obtenidos a partir de las diversas entrevistas realizadas,
considerando como categorías de análisis los indicadores que
establece el documento INES con cada uno de sus rasgos,
analizando según corresponda su existencia, reconocimiento o
frecuencia.
Al finalizar se presenta un análisis global del escenario
actual en el que se encuentra la Facultad de Humanidades en
virtud de los aspectos analizados y se ofrecen algunas
recomendaciones.
Selección de técnicas
La realización de las entrevistas estuvo a cargo del Equipo
técnico del Programa de Accesibilidad e Inclusión Académica de la
9
Exp. Nro. 28-2021-02039. 17/09/21 por el que se autorizó para la realización
de las entrevistas a los estudiantes con discapacidad Facultad de Humanidades.
UNNE.
192
Facultad de Humanidades. Se trabajó con una muestra
representativa de diecisiete (17) estudiantes de grado identificados
con discapacidad. Se aplicaron entrevistas estructuradas, con
cuestionarios de preguntas cerradas con opciones múltiples,
algunas de las cuales se organizaron conforme a la escala de Likert.
Las entrevistas se hicieron efectivas a partir del envío de
los formularios a través de correo electrónico. La consulta se realizó
en el mes de diciembre de 2021 contando con escasas respuestas,
por lo cual se decidió reiterar el envío en el mes de marzo de 2022,
obteniendo un total de 7 respuestas, aunque lo 5 fueron
verificadas según la identificación de los estudiantes con
discapacidad registrados en la Secretaría Estudiantil de la Facultad
de Humanidades. La muestra obtenida se considera como válida
para proceder a su lectura e interpretación, constituyendo el bajo
nivel de respuestas, un primer rasgo para su caracterización.
Reconstrucción de la información a partir de los datos.
Aproximación a la herramienta de recolección de datos: INES.
Antes de hacer referencia a los resultados obtenidos a
partir de la aplicación del INES, se considera relevante hacer una
breve referencia a lo que supone dicho instrumento.
En principio se di que el INES es un índice construido
para arribar a resultados concretos desde lo cualitativo. Por tanto
los resultados que arroje la lectura del cuestionario habrán de
proponer un análisis en profundidad de los datos.
Por otra parte, el instrumento busca ser un facilitador
para que las instituciones avancen hacia una educación inclusiva
193
Finalmente se dirá que los resultados a partir de la
aplicación del instrumento habrán de servir para medir avances e
indicadores en las instituciones educativas, para este caso, en la
Facultad de Humanidades de la Universidad Nacional del
Nordeste, para a partir del análisis de la situación diagnóstica
actual, construir políticas, estrategias y prácticas que tiendan a una
cultura institucional asegurando una verdadera inclusión educativa.
El formulario INES se estructura en segmentos o bloques
a modo de cuestionario para relevar información sobre la
percepción de los estudiantes respecto a 25 indicadores que cubren
aspectos fundamentales de la Educación Inclusiva relacionados con
12 factores de acreditación institucional, los cuales fueron revisados
y adaptados al contexto particular de la UNNE.
Para el caso de la investigación desarrollada se han
utilizado los cuestionarios de 1 grupo de interés que son los
estudiantes, dejando sin efecto a los cuestionarios vinculados a los
docentes y a los no docentes.
Acerca del instrumento
El cuestionario de la entrevista presenta una serie de
preguntas introductorias, que proporciona datos generales de los
entrevistados: segmento etario, Carrera que se estudia y Facultad
de pertenencia.
Luego se desarrollan preguntas estructuradas que se
organizan en base a un escalograma de Likert, se trata de una
técnica que permite medir las valoraciones de los sujetos con
respecto a ciertos enunciados, de forma cualitativa. Hernández
194
Sampieri y otros (2014) la definirán como un “Conjunto de ítems
que se presentan en forma de afirmaciones para medir la reacción
del sujeto en tres, cinco o siete categorías”. Dicha técnica permite a
los sujetos externar opiniones o juicios valorativos sobre deter-
minados aspectos. Conforme señalan Dieckow y Lansee (2014) las
mismas se elaboran a partir de un tema (indicador) sobre el cual el
sujeto deberá externar una opinión seleccionando entre opciones
posibles, que se estructuran como enunciados de forma decre-
ciente. Los mismos pueden incluir variables cualitativas ordinales
(que indican orden o jerarquía) o nominales (que nombran o
tipifican) Para el caso de la herramienta aplicada se establecen tres
grandes tipos de indicadores: Indicadores de existencia; Indicadores
de frecuencia; Indicadores de reconocimiento.
En lo que sigue se expone un cuadro donde quedan
reflejadas las valoraciones (cualitativas ordinales y nominales,)
consideradas para cada tipo de indicador.
Tabla 1
Codificación de cada una de las categorías por grupo de indicador
Tipo de indicador
Escala
Codificación
Indicadores de existencia
Existe y se implementa
4
Existe y no se implementa
3
No existe
2
No sabe
1
Indicadores de frecuencia
Siempre
4
Algunas veces
3
Nunca
2
No sabe
1
Indicadores de reconocimiento
Si
3
No
2
No sabe
1
Fuente: Fundación Saldarriaga Concha Soraya Montoya González (dir) Carrillo, J y
Aristizaba, G. Índice de Inclusión Para la Educación Superior
195
Como puede observarse, los dos primeros indicadores
(existencia/frecuencia) incluyen variables cualitativas ordinales y el
último considera variables cualitativas nominales.
Además de las preguntas de base que considera el
documento INES, se han incorporado otras preguntas, que buscan
orientar a los entrevistados con respecto a ciertas temáticas, que por
su complejidad se asumen requieren un mayor nivel de explicación.
Análisis y procesamiento de los datos
En este apartado se procederá a analizar los resultados
obtenidos a partir de la aplicación de las entrevistas. A este respecto
cabe señalar que para el procesamiento de los datos se ha decidido
trabajar con gráficos a pastel, que permitan dar cuenta de la
situación actual de la Facultad de Humanidades en temas de
inclusión educativa, de acuerdo a la valoración que hacen los
estudiantes entrevistados.
En lo que sigue se procederá a exponer la información
obtenida en las entrevistas, separado por secciones:
Información Introductoria
En relación a los datos introductorios se puede decir que
el rango etario identificado se encuentra entre los 22 y 36 años; las
carreras identificadas fueros 3: conformados del modo que sigue: 3
estudiantes de la Licenciatura en comunicación social, 1 de la
Carrera de Ciencias de la Información y 1 del Profesorado en
Historia.
196
Del total de las respuestas, 5 pertenecen al grupo de
estudiantes identificados con discapacidad por el Equipo técnico
del Programa de Accesibilidad e Inclusión Académica de la
Facultad de Humanidades mientras que los otros 2 no se
encuentran registrados como estudiantes de la Facultad, según el
reporte del Departamento de Estudios de la dicha Facultad.
Los Indicadores
Toda la información recabada a partir de las entrevistas
habrá de poner en evidencia la percepción de los sujetos en relación
del grado de atención a la inclusión que tiene la Facultad de
Humanidades, con base a indicadores que cubren temas centrales
sobre educación inclusiva.
La misma ha sido evaluada en relación a los 3 indicadores
propuestos por el documento INES: Indicadores de Existencia,
Indicadores de Frecuencia e Indicadores de Reconocimiento.
En lo que sigue se procederá a evidenciar los resultados
obtenidos en cada sección, a partir de los cuestionarios aplicados.
Indicadores de Existencia
A partir de una serie de aspectos cuya observancia se
consideran centrales para garantizar una educación inclusiva, se
analiza la percepción que tienen los sujetos relacionados a la
existencia o no de dichos aspectos en la Facultad de Humanidades.
En este sentido las posibles respuestas se organizan en torno a las
opciones cualitativas ordinales y nominales, que permiten al sujeto
197
externar su valoración. Dichas opciones de respuestas ya han sido
expuestas en la tabla 1. Pero al solo efecto de orientar al lector en
la lectura de los resultados, se vuelven a consignar: Existe y se
implementa; Existe y no se implementa; No existe; No sabe.
Los datos obtenidos en este indicador arrojan un
panorama positivo, en tanto un 60 % señala que la Facultad cuenta
con una política de educación inclusiva que permite reconocer y
minimizar las barreras para el aprendizaje y la participación, un
80% dice que existe y se implementa una política que facilita la
participación y cuenta con estrategias que permiten y facilitan el
acceso y permanencia de estudiantes. Sin embargo no se valora
positivamente cuando se mencionan las políticas de participación
docente y los procesos académicos que desarrollen herramientas de
evaluación flexibles. Los estudiantes desconocen si existen
estrategias de acompamiento para los egresados a la vez que un
60% señalan que existe y no se implementa una adecuada política
de información y comunicación.
A modo de cierre de este primer apartado se puede decir
que los estudiantes consultados reconocen la existencia de una
política de educación inclusiva, que procura garantizar el acceso,
aunque la permanencia de estos en las carreras, e inclusive sus
logros futuros, no cuenta muchas veces, a la mirada de los
estudiantes, con el apoyo debido, tanto en los procesos de
evaluación, de acompañamiento a egresados, como en la
implementación de políticas institucionales.
198
Indicadores de Frecuencia
Desde este indicador se mide el grado de frecuencia que
evidencian ciertas prácticas inclusivas. En este bloque las respuestas
posibles se organizan en torno a los siguientes valores: Siempre;
Algunas veces; Nunca; No sabe.
En este indicador la tendencia se inclina en la mayoría de
las veces a que la Facultad identifica “algunas veces” aspectos
vinculados a la inclusión educativa. Ello aplica tanto para la
identificación de la diversidad estudiantil como para la
identificación de mecanismos para que docentes participen en
procesos de formación (docencia, investigación) para modificar
prácticas educativas en favor de la inclusión.
Otro factor que se juzga como detectable solo algunas
veces (80%) y en el peor de los casos, se desconoce, es el de re
adecuación curricular. Es dato no debe leerse de forma rápida,
dado que los diseños curriculares forman parte de la esencia de la
propuesta formativa. Es precisamente lo que garantiza el acceso a la
educación.
El resultado más positivo en relación a frecuencia, se
evidencia para el caso de investigación, donde un 60% se asume
que siempre se identifican estos procesos y en un 40% se señala
que algunas veces.
Respecto a las preguntas siguientes sobre las estrategias de
mejoramiento continuo, los programas de bienestar universitario y
su articulación con estrategias y acciones vinculadas a la
permanencia de los estudiantes, se denota una falta de
conocimiento con un alto índice de respuestas de no sabe o algunas
199
veces. Este aspecto debe leerse con precaución, dado que bien
podría relacionarse con la deficiencia en las políticas de
información y comunicación detectadas en el bloque de los
indicadores de existencia.
Asimismo las cuestiones referidas a los procesos
administrativos, la estructura organizativa, la administración de los
recursos y de las fuentes de financiamiento para atender y sostener
las acciones vinculadas a la permanencia de los estudiantes
presentan dispares respuestas que dan una visión muy atomizada de
la situación de atención institucional a las demandas que
experimentan los estudiantes.
Indicadores de reconocimiento
En este sentido se busca evidenciar en relación a los temas
centrales vinculados a la inclusión educativa, si los mismos son
reconocidos o no por la institución analizada. A este respecto 3 son
las opciones posibles: Si; No; No sabe.
Al respecto del primer aspecto vinculado con la educación
de calidad, puede observarse que los estudiantes tienen un alto
grado de desconocimiento respecto a cómo la Facultad y/o la
Universidad adhieren a las tendencias, criterios de calidad y
vinculación interinstitucional para el fortalecimiento de la calidad
institucional.
Este aspecto se asume más como una falta de visibilidad
de las acciones que operan en niveles de gestión institucional y no
logran ser identificadas más directamente con las necesidades
estudiantiles.
200
En los otros aspectos, el bloque presenta una valoración
positiva en la mayoría de los ítems consultados. Elevados
porcentajes de las respuestas, entre 60 y 80%, destacan el enfoque
inclusivo de la Institución en la promoción de la interacción con
otras instituciones con aportes concretos en la movilidad de sus
estudiantes y docentes, en programas y proyectos de investigación y
extensión.
En referencia a la situación edilicia, el 60% indica que las
instalaciones y la infraestructura de la Facultad presentan
condiciones que favorecen la accesibilidad de la comunidad
académica teniendo en cuenta sus particularidades y
potencialidades.
Consideraciones finales
Los resultados obtenidos al analizar las variables que
afectan los procesos de inclusión en la educación y su grado de
“existencia”, “frecuencia” o “reconocimiento” nos permiten
evidenciar la situación actual en que se encuentra la Facultad de
Humanidades en materia de aquellos aspectos que se asumen
contribuyen a garantizar una educación inclusiva.
Como aspecto positivo puede señalarse el hecho de que se
admite la existencia de planes y programas en materia de
accesibilidad educativa, con lo cual se podría pensar que en un
plano estratégico, se considera la inclusión.
Además, se reconoce la existencia de proyectos concretos
que facilitan el acceso y permanencia de estudiantes con
201
discapacidad al nivel superior, como sistemas de becas y otros
estímulos.
Un factor para resaltar en este sentido es la promoción de
la interacción con otras instituciones para el intercambio
estudiantil con un enfoque inclusivo.
Otro aspecto relevante es el lugar que ocupa la inclusión
en el ámbito científico, dado que se reconoce, por un lado, el
apoyo a docentes para trabajar en investigaciones en este campo, y
el desarrollo por parte de estos de ciertas temáticas vinculadas con
esta área.
Estos aspectos resultan en principio alentadores, pero no
son suficiente para garantizar la inclusión educativa. Más allá de los
planes y de la difusión de la temática en el campo del
conocimiento, garantizar la inclusión significa realizar acciones
concretas en el ámbito operativo que permitan que realmente que
esos planes pasen de la intención a la acción.
De tal forma, la ausencia de programas de bienestar que
apoyen las trayectorias académicas, no hace sino reforzar la
exclusión.
Otro dato interesante es la falta de implementación de
programas de seguimiento a egresados, con lo cual se advierte que
la institución no atiende un aspecto vital de la inclusión educativa,
como lo son los logros a los que pueden llegar las personas con
discapacidad.
En este sentido habrá de tener en cuenta que propender a
una educación inclusiva no es solo facilitar el ingreso, sino que
supone garantizar la permanencia de los estudiantes a la vez que
202
favorecer los logros de esas trayectorias académicas, en el plano
laboral.
Por otra parte, la escasa implementación de acciones
tendientes a flexibilizar las evaluaciones o bien la escasa
implementación de estrategias de readecuación curricular. Se
presentan como desafíos nodales que se deben resolver, dado que
no se trata solo de garantizar la accesibilidad, sino la verdadera
inclusión educativa en el aula.
Finalmente se advierten dos situaciones que se asumen se
corresponden más con faltas de difusión por parte de la institución
educativa, relacionados a la vinculación con tendencias de calidad
en nivel superior o bien la falta de apoyo en el plano
organizacional, en lo atinente a inclusión.
Recomendaciones
Como podrá observarse el panorama que evidencia la
Facultad de Humanidades frente a la inclusión ofrece aspectos
positivos pero también abre un campo de oportunidades e invita a
la reflexión en torno a los desafíos que debe encarar la institución.
Atentos al diagnóstico realizado conforme a los aportes de
los estudiantes, se considera relevante marcar algunas posibles
líneas de acción, a modo de propuestas, que se asumen podrían
ayudar a trazar un camino más promisorio para la verdadera
inclusión educativa:
Trabajar s a fondo en el nivel de la formación
docente, con el objeto de brindar a los profesores las
203
herramientas necesarias para el logro de evaluaciones
más inclusivas y de readecuaciones curriculares eficaces
Hacer foco en los aspectos estructurales,
organizativo y de administración para mejorar los
circuitos administrativos con miras en la inclusión
educativa.
Desarrollar programas concretos de acompaña-
miento a egresados, con miras de garantizar el logro de
las personas con discapacidad en sus trayectorias
laborales.
Referencias
DIECKOW, L.; LANSSE, E. El Turismo y la investigación.
particularidades de su abordaje. Argentina: Ed. Universitaria
Universidad Nacional de Misiones Posadas, 2014.
GRZONA, M. A. La equidad en los estudios superiores en el
marco de la convención internacional sobre los derechos de las
personas con discapacidad. In: GARCÍA, Karol Stefanía;
MUÑOZ, Julián David Castañeda. Inclusión: reto educativo y
social. Bogotá: Corporación Universitaria Minuto de Dios, 2016.
GRZONA, M. A. Universidad inclusiva y formación profesional
In: HERNÁNDEZ SAMPIERI, R.; COLLADO, F.; BAPTISTA,
L. Metodología de la investigación. 6. ed. Editorial McGraw-Hill.
México: Interamericana Editores, 2014.
204
LOPÉZ, F. A. Los ejes determinantes de las políticas de igualdad
de oportunidades III: La accesibilidad universal y el diseño para
todos, 2007. Thomsom Aranzadi, Ed.
ORGANIZACIÓN de las Convención sobre los Derechos de las
personas con discapacidad. 2006. Disponible en:
https://www.un.org/esa/socdev/enable/documents/tccconvs.pdf.
SEDA, J. Discapacidad y derechos. Impacto de la Convención
sobre los derechos de las personas con discapacidad. Buenos Aires:
Jusbaires Ed., 2017.
Anexos documentales:
Resol. Nro. 48215 – C.S. UNNE. Creación de la Cátedra Libre
Diseño Universal e Inclusión.
Resol. Nro. 695/15 – C.S. UNNE. Creación del Programa UNNE
INCLUSIVA.
Documento de base “Perspectivas, Abordajes y Prácticas inclusivas
en la Universidad”. Autora: Grzona, M. A. Con la colaboración del
Equipo de la Cátedra Libre Diseño Universal e Inclusión de la
UNNE. Coordinación general: Putallaz, J. (2017).
Resol. Nro. 1044/21 – D. FH. 3/09/2021. Designación de las
referentes de la Facultad de Humanidades para integrar el Grupo
de Trabajo que desarrolló la experiencia piloto.
Exp. Nro. 28-2021-02039. 17/09/21. Autorización de la Facultad
de Humanidades de la UNNE para la realización de las entrevistas
a los estudiantes con discapacidad.
205
Documento de trabajo “INES: Un instrumento para pensar la
Educación de calidad e inclusiva”. Grupo de Trabajo. Coord:
Cáceres, M.N. (2021).
Glosario sobre Discapacidad e Inclusión en la universidad. Grupo
de Trabajo. Coord: Moreno, N (2021).
Exp. Nro. 28-2022-01580. 27/05/2022. Elevación del Informe de
la consulta a la Decana de la Facultad de Humanidades de la
UNNE - Prof. Graciela Guarino por parte del Equipo técnico.
206
207
CATULO 7
Retos y Oportunidades para la Inclusión en la
Educación Superior en México
Judith PÉREZ CASTRO
1
Introducción
La inclusión educativa en México ha tenido que recorrer un
largo camino. Sus antecedentes más inmediatos son las políticas de
integración implementadas entre finales de los 90 y principios del
2000, ya que durante décadas los servicios educativos para las
personas con discapacidad se brindaron a través del sistema de
educación especial, el cual, en sus inicios, en la segunda mitad del
siglo XIX, se sustentó en el modelo normalizador-asistencial y
posteriormente en el médico-rehabilitador.
No obstante, a partir de los años 80, la educación especial
sufrió un cambio muy importante, ya que el modelo médico fue
1
Doctora en Ciencia Social con especialidad en Sociología. Investigadora titular
en el Instituto de Investigaciones sobre la Universidad y la Educación (IISUE),
de la UNAM. Ciudad de México, México. pkjudith33@yahoo.com.mx.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5176-0531
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p207-232
208
paulatinamente sustituido por otro de tipo psicopedagógico. Esto
permitió disminuir el peso que, hasta ese momento, se le había
dado a la atención clínica y terapéutica (SEP, 2004). Además, en
este período, la psicología genética de Jean Piaget se introdujo en
nuestro país, lo que allanó el terreno para la investigación educativa
sobre la discapacidad (SEP, 2010).
A partir de los 90, el sistema de educación especial
consolida su papel como educación complementaria a la educación
regular y pasa de un modelo centrado en la intervención, bajo los
principios de normalización y adaptación, a otro orientado en el
proceso de atención, sustentado en las nociones de integración y
necesidades educativas especiales (SEP, 2010). Estos cambios
fueron impulsados, en cierta forma por la discusión internacional
que se estaba dando sobre el tema, especialmente en las
Conferencias Mundiales de Educación para Todos (UNESCO,
1990) y sobre Necesidades Educativas Especiales (UNESCO,
1994).
En el marco de la política educativa mexicana, la
integración quedó definida como “el acceso al que tienen derecho
los menores al currículo básico y a la satisfacción de las necesidades
básicas del aprendizaje” (SEP, 2010, p. 186). No obstante, hacia
principios del siglo XXI, se da otro giro en esta materia. Como ya
dijimos, se crea el Consejo Nacional Consultivo para la Integración
de las Personas con Discapacidad y se promulga la LGPD. En
materia educativa, se emitió el Programa Nacional de
Fortalecimiento de la Educación Especial y la Integración
Educativa (PNFEEIE) (SEP, 2002, p. 37), con el objetivo de
“Garantizar una atención educativa de calidad para los niños, las
209
niñas y los jóvenes con necesidades educativas especiales,
otorgando prioridad a los que presentan discapacidad, mediante el
fortalecimiento del proceso de integración educativa y de los
servicios de educación especial”.
El PNFEEIE se sustentó en dos pilares: el fortalecimiento
de la educación especial y la consolidación del proceso de
integración educativa. Específicamente, sobre la integración
educativa, el documento (SEP, 2002) señalaba que era imperativo
reorganizar las estrategias institucionales, así como desarrollar
mecanismos para valorar las posibilidades de integrar a los menores
con discapacidad o con aptitudes sobresalientes, a la enseñanza
regular. Además, se proponía adecuar los currículos para satisfacer
las demandas específicas de cada estudiante, crear las condiciones
para que los alumnos con necesidades educativas especiales
aprendieran en las mismas escuelas y aulas que sus compañeros, así
como brindar los apoyos a los docentes y padres de familia.
El enfoque integracionista se fortalece con el Programa
Nacional para el Desarrollo de las Personas con Discapacidad
(PRONADDIS) 2009-2012. El objetivo original del
PRONADDIS era mejorar la calidad de los servicios educativos a
nivel nacional y ampliar las oportunidades de las personas con
discapacidad a lo largo de las diferentes etapas de la trayectoria,
ingreso, permanencia, egreso y logro educativo (CONADIS,
2009), sin embargo, lo cierto es que tenía una fuerte tendencia
integracionista, que se reflejaba en su organización, objetivos y
estrategias. Estas últimas se enfocaron fundamentalmente en el
nivel primaria y en las escuelas de educación especial, así como en
el desarrollo de competencias para el mercado laboral. El
210
PRONADDIS tuvo un alcance muy acotado, de hecho, se trata del
programa del que menos registros existen sobre su implementación
y evaluación.
Para la década siguiente, se pusieron en marcha dos
políticas con las que se intentó tener un mayor impacto. En primer
lugar, el Programa Nacional para el Desarrollo y la Inclusión de
Personas (PNDIP) con discapacidad (DOF, 2014). En materia
educativa, en la misma sintonía que los otros programas, el PNDIP
buscó incrementar el acceso, permanencia y egreso de las personas
con discapacidad, en los diferentes niveles, modalidades y tipos del
sistema educativo; fortalecer las acciones de inclusión educativa y
promover la investigación, así como el desarrollo científico y
tecnológico de este sector de la población.
La segunda política fue la Estrategia de Equidad e Inclusión
en la Educación Básica (SEP, 2018), dirigida a los estudiantes con
discapacidad, con aptitudes sobresalientes y con dificultades de
aprendizaje, conducta o comunicación. Lo que se pretendía era
transformar el sistema educativo, para eliminar las prácticas
segregatorias y responder a la diversidad del alumnado, para lo cual
se tomaron como base el Índice de Inclusión de Booth y Ainscow
(2002) y el Diseño Universal para el Aprendizaje (DUA). De este
modo, a lo largo del documento, los esfuerzos se abocaron
básicamente a retomar los planteamientos del Índice y hacer
algunos ajustes de acuerdo con la realidad del sistema educativo
nacional.
Los posibles alcances del PNDIP y de la Estrategia no
alcanzaron a verse, toda vez que, en 2018, cambia el gobierno
federal y con ello los cursos de acción institucional. De este modo,
211
en el contexto de la denominada Nueva Escuela Mexicana, se
publica la Estrategia Nacional de Educación Inclusiva (ENEI)
(SEP, 2019). La ENEI hace suyo el Objetivo de Desarrollo
Sostenible 4 y también incorpora elementos del Índice de Inclusión
sólo que, a diferencia del documento anterior, aborda a la inclusión
desde la perspectiva de la educación para todos y sitúa a la
educación como un derecho humano que el Estado debe asegurar,
de manera que no se dirige a un colectivo en particular, sino a
todos aquellos que han sido excluidos de la educación o que están
en riesgo de exclusión.
Con base en lo anterior, prone los siguientes ejes rectores
(SEP, 2019): 1) Armonización legislativa, 2) Planeación
participativa, 3) Diagnósticos con información nominal y
georreferenciada, 4) Gasto equitativo para la inclusión, 5)
Formación docente, 6) Proyecto escolar para la inclusión, 7)
Participación y cambio cultural, 8) Entornos inclusivos, 9)
Estrategias de evaluación para la educación inclusiva, 10)
Estructura programática y presupuestal y 11) Gobernanza.
Hasta ahora, todavía no hay suficientes elementos para
evaluar los impactos de esta nueva estrategia y saber si, después de
poco más de dos décadas, podemos tener un sistema educativo
incluyente en México, en donde se valore positivamente la
diversidad, se favorezcan las oportunidades de aprendizaje para
todos y todas, y se superen las barreras que segregan o excluyen a
los estudiantes.
212
La inclusión educativa en el nivel superior
Al igual que ocurrió en la educación básica, la inclusión
educativa en el nivel superior en sus inicios partió de una serie de
iniciativas que corte integracionistas. No obstante, una diferencia
significativa es que para la educación terciaria no ha habido una
política a nivel nacional que tenga como fin promover la inclusión
de las personas con discapacidad o de otros colectivos en desventaja
social. En esta situación entran en juego varios factores, entre ellos
la alta diversificación del sistema de educación superior, así como el
estatus de autonomía que tienen las universidades y otras
instituciones de educación superior en xico.
Uno de los primeros esfuerzos por impulsar la discusión a
nivel nacional estuvo a cargo de la Asociación Nacional de
Universidades e Instituciones de Educación Superior (ANUIES)
quien, a partir del trabajo de un grupo de especialistas, publicó el
Manual para la Integración de Personas con Discapacidad en las
Instituciones de Educación Superior (ANUIES, 2002). Su objetivo
era “guiar a los responsables de las instituciones de educación
superior en las acciones encaminadas a incluir, con igualdad y
equiparación de oportunidades, a las personas con discapacidad en
las instituciones de educación superior del país” (p. 10). El Manual
partía de tres enfoques, multicultural, centrado en la persona y
comunitario, sin embargo, su orientación no era clara, ya que en
sus planteamientos traslapaba las nociones de integración e
inclusión, de este modo, sostenía que el sentido de la integración y
de la inclusión dependía de su referente práctico, es decir, que su
213
contenido conceptual podría variar de acuerdo con la cotidianidad
de las acciones.
Unos años después, en 2008, se firma la Declaración de
Yucatán, en donde se reconoc la obligación de las universidades
de promover los derechos humanos de las personas con
discapacidad y, sobre todo, garantizar que pudieran ejercerlos
plenamente y sin discriminación. Para ello, se propuso
implementar políticas y programas de prevención y defensa de sus
derechos, así como para la formación de profesionales y personal
especializados que permitieran mejorar la atención y los servicios
educativos. Cabe señalar que ni el Manual de la ANUIES, ni la
Declaración de Yucatán fueron vinculantes para las instituciones de
educación superior, pero, constituyen sendos precedentes sobre la
discusión que, por esos años, se estaba dando en torno a la
inclusión de la población con discapacidad.
Dadas las condiciones del sistema de educación superior
mexicano, hasta ahora, los avances en la materia han sido diversos,
en general, las instituciones han desarrollado medidas en diferentes
órdenes para responder a las demandas del estudiantado con
discapacidad. En particular, en el sector universitario, se han
implementado las siguientes:
a) Dirigidas específicamente al alumnado con discapacidad
Apertura de departamentos y unidades para la atención a
los estudiantes.
Impartición de carreras o posgrados en línea.
Programas de tutorías o mentorías para el seguimiento y
apoyo académico.
214
Intervenciones psicológicas para el fortalecimiento de los
aprendizajes o de las habilidades sociales.
Distribución de becas u otros apoyos económicos.
Apoyo en la realización de trámites académico-
administrativos, como el examen de ingreso, la
inscripción, el servicio social y la titulación.
Ajustes en las instalaciones sicas, adquisición de equipos
adaptados y software.
Captura digital, impresiones en braille o grabaciones para
la accesibilidad de la información.
Instalación de señalética visual, en relieve o en braille, así
como mapas para el desplazamiento accesible.
b) Dirigidas a toda la comunidad institucional o al público
en general.
Incorporación del tema de la inclusión en la normativa y
políticas universitarias. Comprende la elaboración
lineamientos y programas de desarrollo institucional.
Apertura de programas de posgrado en educación
especial, integración y educación inclusiva, a como de
diplomados y cursos de formación continua.
Campañas de sensibilización sobre la discapacidad y la
inclusión.
Establecimiento de redes de colaboración con oficinas
gubernamentales, comisiones de derechos humanos,
asociaciones de la sociedad civil y otras instituciones
educativas.
215
Elaboración de manuales y lineamientos de arquitectura
incluyente.
Las medidas más comunes han sido las concernientes a la
accesibilidad física, como la construcción de rampas, la adecuación
de los senderos internos y banquetas, la asignación de cajones de
estacionamiento y sanitarios para las personas con discapacidad, la
instalación de elevadores y balaustradas, o bien, la designación de
aulas en planta baja para los estudiantes con movilidad limitada
(CRUZ; CASILLAS, 2017; PÉREZ-CASTRO, 2016). También,
en años recientes, se ha registrado un importante incremento de los
programas de posgrado para la atención de las personas con
discapacidad, en diferentes universidades públicas de todo el país
(JACOBO; JIMÉNEZ; DELGADO, 2019).
En contraste, la apertura de departamentos, unidades o
programas para la atención del estudiantado ha sido menor. Cruz y
Casillas (2017) identifican que lo alrededor de una docena de
instituciones ha recurrido a esta medida, además, sus alcances son
variables, porque en algunos casos se han instalado oficinas a nivel
institucional, mientras que, en otros se ha hecho en las facultades o
carreras. Finalmente, en el rubro de la normativa y políticas
institucionales, en los últimos años, la mayoría de las universidades
públicas han introducido las temáticas de la inclusión educativa en
general y de las personas con discapacidad, en particular, en los
planes institucionales de desarrollo y también han elaborado
lineamientos para ciertas funciones o tareas. No obstante, lo
anterior no siempre ha logrado traducirse en pautas de acción
concretas que favorezcan el trabajo de los estudiantes y profesores.
216
todo
El presente capítulo forma parte de una investigación de
tipo exploratorio-descriptiva, cuyo objetivo fue analizar los alcances
de políticas institucionales para la inclusión, desde la perspectiva de
los estudiantes universitarios con discapacidad. El enfoque fue
cualitativo y la indagación consistió en un estudio de caso, el cual
comprendió tres fases. En la primera, revisamos las convenciones,
tratados y marcos de acción internacionales que, en las últimas dos
décadas, se han emitido en materia de equidad e inclusión, así
como las políticas educativas desarrolladas en xico para el nivel
superior.
En la segunda etapa seleccionamos las instituciones que
fueron parte del estudio de caso. Para ello, seguimos la propuesta
de Stake (2003) y elaboramos las siguientes líneas temáticas: 1)
Antecedentes institucionales sobre la inclusión; 2) Condiciones
actuales para la inclusión; 3) Disponibilidad de información sobre
el alumnado con discapacidad; 4) Diversidad de la oferta
académica y servicios institucionales para la población estudiantil
con discapacidad; y 5) Presencia y participación de las personas con
discapacidad en la vida institucional.
La tercera fase consistió en la realización de entrevistas en
profundidad a una muestra de estudiantes con discapacidad. Para
construir el guion, establecimos las siguientes dimensiones, con
base en la propuesta de Wilches-Chaux (1993): Física, Económica,
Técnica, Institucional, Social, Cultural y Natural. Por último, éstas
se cruzaron con los tres ejes de la inclusión educativa, definidos por
Echeita y Ainscow (2011), presencia participación y aprendizaje.
217
Los sujetos de estudio
Con base en las líneas temáticas, previamente señaladas,
seleccionamos tres universidades públicas, una de tipo federal y dos
estatales. Para los fines de este capítulo, exponemos los resultados
de las dos últimas.
Se hizo un muestreo de tipo intencional, a través de la
técnica de redes o avalancha (GOETZ; LECOMPTE, 1988).
Entrevistamos a un total de 22 estudiantes, 7 mujeres y 15
hombres. La mayoría (13) realizó sus estudios previos (primaria,
secundaria y preparatoria) en el sistema regular, en la modalidad
presencial, mientras que otros 2 los hicieron escuelas regulares,
pero en la modalidad abierta. En contraste, 7 cursaron una parte en
instituciones de educación regular y otra en instituciones de tipo
especial. Con respecto a la edad, 10 de los informantes tenían entre
18 y 21 os, 5 estaban entre los 22 y los 25, 4 tenían entre 26 y
29, y los 3 últimos tenían más de 30 años. Finalmente, 9 de ellos
tenían discapacidad visual, otros 9 discapacidad motriz, 2 tenían
dislalia, 1 más disfemia y el último baja audición.
Resultados y discusión
En este apartado, presentamos las vivencias de los alumnos
con discapacidad durante los estudios universitarios. Los resultados
se organizaron con base en la tríada presencia-participación-
aprendizaje, propuesta por Echeita y Ainscow (2011). Para
identificar a cada uno de los informantes utilizamos códigos, por
ejemplo, E1-M-M, en donde la E corresponde a estudiante, 1 es el
218
número consecutivo de las entrevistas, M identifica el género, en
este caso masculino y la última letra indica el tipo de discapacidad,
A para discapacidad auditiva, D para dislalia o disfemia, M para
motriz y V para visual.
Presencia
Como hemos dicho, en los últimos años, la matrícula de los
estudiantes con discapacidad se ha incrementado paulatinamente
en el nivel superior. Sin embargo, la noción de presencia va más
allá de inscribirse en una institución o programa educativo y llegar
a clases regularmente (ECHEITA; AINSCOW, 2011), sino que
abarca las condiciones para la asistencia del alumnado y el
aseguramiento de dichas condiciones.
En esta investigación, nuestros sujetos ingresaron a la
universidad, pero no todos lo hicieron a la institución ni a la
carrera que en principio querían. En particular, identificamos 5
casos en donde los entrevistados señalaron que, aunque están
conformes y tratan de aprovechar la oportunidad de continuar
estudiando, hubieran preferido tener más posibilidades de escoger.
Al respecto los siguientes testimonios:
[…] yo no quería estudiar en esta universidad… Quería
estudiar en una mejor. Aquí en el estado, no sé, en la
universidad [nombre de la institución], siempre me gustó
esa universidad, pero no la puedo pagar. No tengo dinero,
apenas si me alcanza para ésta. Tuve que estudiar aquí
porque ya no tenía otra opción, sí. E8-F-V
219
[…] pero, en ese momento cambió la vida, entré [a la
universidad], me inscribí, todo eso, pues ya, ahora, me
arrepiento porque no me gusta mi carrera, no me gusta para
nada y lo que quiero es estudiar ya, pero no me dejan, me
gustaría ingeniería en matemáticas. E10-F-D
Una vez que deciden cursar la educación superior, las
personas con discapacidad tienen que solventar diferentes trámites
y requisitos. Si bien esto puede que no signifique mayor problema
para los postulantes en general, para nuestros sujetos sí, dado que
son procesos que fueron pensados para el alumno “promedio”, lo
que produce múltiples barreras para aquellos que no caben dentro
del “estándar”. Algunos de los obstáculos más señalados fueron:
Carencia de apoyos académicos y económicos para presentar el
examen de admisión (17 entrevistados), Falta de ajustes en el
formato de la prueba (12), Ausencia del servicio de asistentes de
lectura para contestar el examen (4), e Instalaciones y mobiliario
inaccesibles (4).
Un estudiante hizo el siguiente comentario sobre el proceso
de admisión que vivieron él y otras personas con discapacidad.
[…] un compañero no poa caminar hizo el examen
arriba; uno estaba ciego no podía hacer el examen porque
no había nadie que le ayudara a hacer el examen; y a mí,
por mi manera de hablar, no me entendían, que no me
trataban igual que a los demás. E18-M-D
Otro de los informantes abun sobre el formato del
examen:
220
Voy a ser sincero, hay partes [de la prueba] que sí, de plano,
no respondí, como por ejemplo en el caso de las
matemáticas, eso porque para es muy difícil en braille,
como le digo, y mental […] pero, lo que es la fraccn, la
raíz cuadrada, todas esas cosas, tanto para la persona que me
explica, ¿mo le voy a entender? E3-M-V
Participación
Ahora bien, cuando las personas ingresan a una institución
educativa, es imperativo brindarles condiciones para asegurar su
permanencia, para que se sientan parte de la comunidad, que
puedan participar en las diferentes actividades, relacionarse con sus
pares, profesores y otros miembros de la institución, que tenga la
posibilidad de expresar sus ideas, puntos de vista o desacuerdos y
que se sientan escuchados. En suma, se debe procurar su
participación plena y que su experiencia en los centros educativos
sea buena y de calidad (ECHEITA y AINSCOW, 2011).
Para nuestros sujetos de estudio, la permanencia en la
universidad fue un proceso agridulce, ya que se toparon con
diversos obstáculos para asistir a los eventos académicos u otras
actividades institucionales (7 entrevistados), integrarse a los
equipos de trabajo (5) y realizar los trámites académico-
administrativos (5). Específicamente, respecto a los eventos y
actividades institucionales, las barreras más recurrentes fueron la
falta de información y la poca accesibilidad física. Dos alumnas
relataron:
221
Pues, al principio en segundo semestre intenté llevar
cultural, pero, no pude terminarlo, porque todos los talleres
de cultura están en planta alta y hay escaleras […] y en
cuanto a deporte llevé un semestre lo que es yoga, pero
igual se me dificultó porque el gimnasio es hacia abajo y
tiene rampa, pero está muy inclinada. E4-F-M
En ese aspecto, no tengo mucho conocimiento. En
ocasiones, he visto que los sábados hacen cualquier evento,
pero, no he participado en ellos. No me entero. Tampoco,
hago actividades culturales o deportivas. E13-F-M
En cuanto a la colaboración en los equipos, los
estudiantes dijeron que sus compañeros no siempre son empáticos,
porque piensan que no tienen los mismos conocimientos y
habilidades que ellos o porque temen que, si los incluyen, atrasarán
el trabajo u obtendrán una nota más baja.
¿De los equipos? ¡Lo peor! Todos se comportan mal y se
creen que yo tengo la culpa, y se enojan conmigo y, al final,
me dejan botado el trabajo o si me dan el trabajo, yo lo
hago, pero, nadie me paga por mi desvelada. E10-F-D
Lo único que siento que me costó mucho fue, siento yo,
integrarme, yo estaba asustada. Ellos, mis compañeros, no
me conocen, bueno, ahorita no si todaa lo sienta, pero,
en los semestres anteriores sí. E9-F-V
Una constante en la inclusión del alumnado con
discapacidad es el problema de las barreras físicas. Como ya
222
señalábamos, en México, las adaptaciones a la infraestructura son
las medidas más visibles y en las que tal vez las universidades han
invertido más recursos. A pesar de esto, 11 de los entrevistados
declararon haber tenido muchas dificultades por la falta de
señalización, la poca accesibilidad de los salones, auditorios y
oficinas, el mal estado de las áreas comunes, la carencia de
mobiliario y equipos e, incluso, la escasez de transporte adaptado.
[…] lo que pasa es que hay parte de la universidad que
están un poco, no sé, son partes que están, no sé, mal
arregladas o son muy peligrosas para […] O sea, en
realidad, mi problema es la parte de desplazamiento entre
los pasillos y los edificios. E6-M-V
Que tomaran en cuenta a las personas con discapacidad,
que nos den salones en planta baja y no en planta alta,
porque yo creo que eso no lo toman en cuenta […]
También que haya otros transportes que sean accesibles.
E12-F-M
Las condiciones físicas no son un asunto menor, porque a
la postre no permiten que los alumnos aprovechen la oferta de
actividades académicas, convivan con sus compañeros o
simplemente se sientan cómodos durante su estancia en la
universidad.
No obstante, a la par de estos problemas, los estudiantes
encontraron compañeros o profesores que los ayudaron. En
especial, la participación en clases fue un tema muy destacado, ya
223
que la mayoría (14 entrevistados) señaló que se habían sentido
acogidos y con las mimas oportunidades que sus compañeros.
[…] siempre me apoyan [los maestros], me gusta participar,
que es lo s importante que no me hago de menos y que
no me subestimo a mismo, vaya, este, siempre me gusta,
este, participar en cuestiones así. E1-M-M
Lo que concierne en el trabajo en nuestro salón de clases,
pues sí, es agradable, los maestros que nos han permitido la
universidad impartirnos clases, pues, son buenos maestros,
aunque muchos de mis compañeros no lo vean de esa
manera, pero nosotros lo vemos así, pues es algo
productivo para nosotros. E14-M-M
Aprendizajes
El tercer componente de la triada de la educación
inclusiva es el aprendizaje, que se remite al logro académico de los
estudiantes, es decir, a los resultados que obtienen más allá de los
exámenes y las pruebas estandarizadas (ECHEITA; AINSCOW,
2011). Desde esta perspectiva, se busca que la comunidad en su
conjunto colabore, estimule y celebre los aprendizajes del
alumnado y que cada persona sea considerada como parte del éxito
educativo de todos y todas (BOOTH; AINSCOW, 2002).
Aquí, las barreras más recurrentes fueron los contenidos
de los programas porque son poco accesibles o muy extensos (8
entrevistados), los criterios para la entrega de las tareas y trabajos
224
(8), el número de cursos por semestre (7) y el limitado repertorio
de estrategias de evaluación (7).
En los siguientes testimonios, los alumnos plantean lo
difícil que fue para ellos entender los contenidos de algunas
asignaturas.
Está muy difícil seguir estudiando así, porque a veces [los
maestros] te piden cosas que no puedes darle por la
manera en que lo piden, no puedo leer como ellos quieren,
por mi discapacidad. E18-M-D
Pue sí, se me hace unas materias pesadas, por ejemplo, una
materia pesada como Pensamiento crítico o de Filosofía, eso
es lo que me dificulta s. Además, no puedo entender
demasiado fácil lo que maestros dicen. E5-M-A
La situación para los alumnos se complejiza tanto por el
número de materias que tienen que cursar cada semestre, como por
las múltiples tareas y trabajos con las que deben cumplir.
Insistimos, para la mayoría del estudiantado universitario,
probablemente, esto no sea un problema, pero cuando la
organización y los contenidos de los cursos no están pensados para
todos y todas, entonces las actividades más cotidianas pueden
significar verdaderos obstáculos.
Hay maestros que te piden la tarea en un día determinado
y, pues, a veces, no, no es que no la haga, deben de
entender, como el braille es muy complicado es s
tardado el proceso de transcripción […] eso ha sido el
225
problema, pues, y creen que uno es, que uno viene aquí a
hacerse, a querer como que engañarlos. E3-M-V
No pues a veces hay dificultades por el trabajo o porque nos
dejan una tarea, tengo que ir a la biblioteca o al ciber
internet y para ser puntuales en las tareas más que nada.
E20-M-M
Otro asunto sensible es el de las formas de evaluación.
Aquí, se observaron variaciones; las personas con discapacidad
visual y auditiva son las que más obstáculos enfrentaron, le
siguieron las que tenían dificultades para comunicarse, mientras
que, los alumnos con discapacidad motriz dijeron no tener mayores
problemas.
Desde que enta la universidad todo ha sido oral, nunca
ha habido un examen escrito y yo le tengo que leer las
respuestas al maestro. Al igual que, si ya se termi el
tiempo y me falta escribir una respuesta, ya ni modo, no
tengo más tiempo. E3-M-V
A veces, son orales [los exámenes] y a veces escritos. Pero,
cuando son escritos siempre tienen que ser letras grandes.
Los maestros lo hacen y después, siempre les tengo, les digo
que necesito tal tipo de letra, tal tamaño de letra, y ellos lo
hacen, pero tengo que recodarles. E6-M-V
Finalmente, junto a estos obstáculos, 11 entrevistados
reconocieron haber recibido apoyo por parte de sus pares y
profesores, ya se para realizar trámites escolares, dar seguimiento a
226
las clases, hacer las tareas, estudiar para los exámenes o
simplemente para convivir en la universidad.
Principalmente, ha sido porque, con otros profesores de
aquí pues ellos me han echado la mano en que se me
facilitara los estudios aquí en la universidad. E15-M-M
Siempre hacemos equipos mis compañeras y yo, pues ya
tenemos cada quien identificado con quien trabajamos y,
pues, nos ponemos de acuerdo. Cuando yo he hecho
equipos, pues sí, mis compañeras han hecho su trabajo y
hemos sacado el trabajo, pues, nos ponemos de acuerdo
bien. E11-F-M
Conclusiones
Es un hecho que las personas con discapacidad están
llegando cada vez más a la educación superior en México. A ello,
han contribuido diversos factores, como el debate que a nivel
internacional y nacional se ha dado sobre los derechos de este
colectivo social, los cambios en la legislación y los marcos legales en
el país, así como la lucha que estas personas y sus familias han
hecho en pro de su inclusión.
Las primeras leyes federales y políticas públicas para
prevenir la discriminación, así como para la atención a las personas
con discapacidad, en nuestro país, se emitieron desde
aproximadamente hace dos décadas y, desde ese momento, esta
problemática ha cobrado cada vez más relevancia, no obstante, la
operacionalización de tales leyes y políticas a nivel de las
227
instituciones educativas y, más específicamente, en las de
educación superior dista mucho de concretarse. Al contrario, los
alumnos con discapacidad aún enfrentan distintas barreras para
ingresar, permanecer y concluir exitosamente los estudios
universitarios. Es decir que, “Estar dentro del entorno inclusivo de
la educación superior, no elimina por solo la experiencia de la
discriminación y la marginación” (HOLLOWAY, 2010, p. 612)
[Traducción propia].
Los testimonios aquí analizados son una muestra de lo
que viven los estudiantes con discapacidad en las universidades
mexicanas. Los obstáculos se hacen presentes en la presencia, la
participación y los aprendizajes, pero, se acrecientan en los dos
últimos. Para la participación, los entrevistados señalaron barreras
organizativas y de gestión, como la falta de información, la poca
accesibilidad de las instalaciones y las dificultades para hacer los
trámites académicos-administrativos; también, identificaron
barreras actitudinales, como la poca disposición de sus compañeros
para integrarlos a los equipos de trabajo.
En el rubro de los aprendizajes, los obstáculos más
recurrentes corresponden a lo que en el Diseño Universal para el
Aprendizaje se denominan las formas de presentación, como las
disposiciones para la entrega de las tareas y trabajos y las estrategias
de evaluacn. A la par, los alumnos mencionaron barreras que
tienen que ver con el currículo, como los contenidos de los
programas y la distribución de las asignaturas por semestre.
Pero, no todo ha sido negativo, ya que los estudiantes
también se han sentido acompañados por sus pares y profesores,
que los han apoyado con su participación en las clases y la
228
realización de las tareas, a prepararse para los exámenes y a cumplir
con los trámites institucionales. Además de convivir con ellos y
hacerlos sentir parte del grupo, algo fundamental para el proceso
de inclusión y de conformación de la identidad de todo el
alumnado, no sólo de aquellos que tienen una discapacidad.
Hoy, en México, la educación superior se reconoce como
un derecho, pero todavía quedan muchas tareas pendientes para
hacerlo efectivo a todos y todas, en especial, a las personas con
discapacidad, cuya presencia en este nivel educativo aún es muy
baja. Algunas acciones que pueden contribuir a ampliar las
oportunidades de este sector de la población son:
En las políticas institucionales. Diseñar programas
de inclusión integrales, en el que participen especialistas
en el tema, académicos universitarios y los propios
estudiantes con discapacidad, y en donde se consideren las
diferentes funciones sustantivas: docencia, investigación y
difusión.
En el modelo educativo y los planes de estudio.
Implementar currículos flexibles, con un número
razonable de cursos que los alumnos puedan tomar de
acuerdo con sus intereses y capacidades, y en los que se
utilicen diferentes métodos de enseñanza que faciliten los
aprendizajes. Cursos en los que se consideren diferentes
formas de evaluación, con actividades pensadas para los
distintos perfiles del estudiantado, con o sin discapacidad.
En la accesibilidad física y de información. Diseñar
manuales para el diseño de espacios incluyentes que
comprendan, además de las instalaciones sicas, la
229
adquisición de equipos y materiales para las personas con
discapacidad, como lectores de pantalla, impresoras
Braille, tecnología asistiva y mobiliario adaptado,
bibliografía digitalizada, en braille o audiolibros.
En los servicios de apoyo. Desarrollar programas
que acompañen al alumnado con discapacidad y
fortalezcan su presencia, participación y aprendizajes.
Asimismo, emprender campañas de orientación
vocacional para las personas con discapacidad que tienen
las calificaciones académicas para ingresar a la educación y
que muchas veces, por la falta de información o por
temor, quedan excluidos.
Finalmente, es imprescindible que las instituciones
cuenten con servicios especializados como intérpretes de
lengua de señas, tomadores de notas, lectores, transporte
escolar adaptado y de búsqueda de alojamiento.
Referências
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Educación Superior. Manual para la Integración de Personas con
Discapacidad en las Instituciones de Educación Superior.
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BOOTH, T.; AINSCOW, M. Index for inclusion. Developing
learning and participation in schools. CSIE, 2002.
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https://www.diputados.gob.mx/LeyesBiblio/ref/lgipd/LGIPD_ref0
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232
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Necesidades Educativas Especiales. Salamanca: UNESCO, 1994.
Disponible en:
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1993. p. 11-44.
233
CATULO 8
Fortalezas y Debilidades en la Formación para la
Atención de Personas Pertenecientes a Colectivos de
Diversidades en las Carreras de la Salud de la Facultad
de Medicina de la Universidad de Chile
Soledad Reyes SOTO
1
Lorena Iglesias VÉJAR
2
Nathalie Llanos RIVERA
3
Carolina Carstens RIVEROS
4
Diego Cifuentes LUCERO
5
1
Facultad de Medicina, Universidad de Chile. Nutricionista, Magister en
Nutrición Clínica de PUC, Diplomada en simulación clínica, Diplomada en
Docencia basada en competências. Santiago/Chile email: maria.reyes.s@uchile.cl
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9622-492X
2
Departamento de Nutrición, Facultad de Medicina, Universidad de Chile.
Nutricionista, Bachiller en Ciencias exactas, Diplomada en Salud Familiar,
Magister en Salud Pública, Diplomada en metodologías para la construcción,
validación y análisis de cuestionarios en salud. Santiago/Chile email:
liglesias@uchile.cl ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1200-7675
3
Departamento de Nutrición, Facultad de Medicina, Universidad de Chile.
Nutricionista Magíster en Nutrición y Alimentos mención Promoción de la
Salud y Prevención de Enfermedades Asociadas a la Nutrición, Diploma en
ciencias de la actividad física. Santiago/Chile. email: natyllanosr@uchile.cl
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6178-1507
4
Dirección de Género, Facultad de Medicina, Universidad de Chile. Socióloga,
diplomada en metodologías cualitativas para la investigación psicosocial,
diplomada en marketing social y estrategias de implementación de RSE, Máster
en Antropología Aplicada, Salud y Desarrollo Comunitario, diplomada en
Derechos Humanos, políticas públicas y gestión global inclusiva. Santiago/Chile.
email: ccarstens@uchile.cl ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4784-6842
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p233-256
234
Introducción
La Facultad de Medicina de la Universidad de Chile
(FAMED-UCh), es el primer centro de formación en medicina en
Chile. En esta facultad se imparten ocho carreras: medicina,
enfermería, obstetricia y puericultura, tecnología médica,
kinesiología, fonoaudiología, terapia ocupacional y nutrición y
dietética.
Su labor formativa se desarrolla bajo los imperativos de la
calidad, la ética, el espíritu de servicio y el compromiso con el
bienestar de la comunidad para contribuir a elevar la calidad de
vida de la población.
De acuerdo con la diversidad cultural propia del país, las
carreras de FAMED-UCh instalan un currículo innovado a través
de un modelo de aprendizaje orientado al desarrollo de
competencias y habilidades transversales, que permita a estudiantes
y egresados(as) desempeñarse con mayor confianza en la atención
de personas culturalmente diversas.
La formación de estudiantes se realiza desde un modelo
bio-psico-social de salud que reconoce cómo las condiciones y
estilos de vida contribuyen significativamente en el proceso de
salud y enfermedad influyendo en su aparición, desarrollo y
prevalencia, de acuerdo a elementos transversales como la clase
social, la nacionalidad, la etnia, el género y diversidad funcional,
5
Departamento de Terapia Ocupacional y Ciencia de la Ocupación, Facultad de
Medicina, Universidad de Chile. Terapeuta ocupacional, Master of Sciences in
Occupational Therapy, Diplomado en Modelo de Ocupación Humana.
Santiago/Chile. email:dcifuentes@uchile.cl ORCID: https://orcid.org/0000-
0002-0752-5024
235
entre otras categorías, reconociendo la interacción entre la
complejidad de la diversidad humana y el medio social donde la
persona se desenvuelve.
En línea con lo anterior, el presente estudio comenzó con
la revisión de los programas de estudio de cada carrera,
identificando siete áreas transversales de formación las que se
identifican actualmente como parte de un sello institucional de la
facultad. Estas áreas son: (i) compromiso social y ético, (ii)
conocimiento disciplinar-profesional, (iii) habilidades básicas para
el desempeño profesional, (iv) fomento y desarrollo de la
investigación, (v) gestión y salud pública, (vi) educación y docencia
en salud y (vii) conocimiento científico. Aunque para efectos del
estudio, solo se consideró aquellas que se vinculan con el ejercicio
profesional y la diversidad cultural de la población atendida por los
servicios de salud (habilidades interpersonales, compromiso social y
ético, conocimiento disciplinar-profesional, gestión y salud
pública).
Este capítulo muestra los resultados del levantamiento de
información en el marco de la investigación financiada por Fondo
de Investigación para el Desarrollo de la Docencia de Pregrado
(FIDOP) de la Vicerrectoría Académica de la Universidad de
Chile, que se plantea por objetivo describir las percepciones que
tienen estudiantes que cursan prácticas profesionales y
egresadas(os) de las carreras impartidas por la FAMED-UCh
respecto de sus fortalezas, debilidades y necesidades de formación
para el ejercicio de la profesión, que se vinculan al género,
diversidad funcional, diversidad cultural asociada a etnicidad y
nacionalidad y diversidad sexo-genéricas.
236
Al profundizar en elementos relevantes para la formación
profesional de carreras de la salud, podemos encontrar las
competencias culturales en salud (CCS) entendidas como la
manifestación de competencias profesionales y habilidades
interpersonales que son capaces de proveer el cuidado pertinente y
apropiado a todas las personas, independiente de si comparte o no
la misma identidad étnica, idioma, marcador cultural, entre otros
(JORGEN et. al, 2018).
Por lo tanto, desde la mirada de las competencias
culturales, se busca la comprensión de la persona usuaria como una
fusión de elementos contextuales y culturales, que permite la
atención de salud con pertinencia y en reconocimiento de su
autonomía. Esta respuesta al cambio demográfico no lo tiene
relación con las habilidades blandas de cada profesional de salud,
sino que además permite crear políticas públicas asociadas, como
leyes, programas y reglamentos que definan estándares para la
atención de personas diversas, que podría ser útiles para entender la
prevalencia de enfermedades o resistencia a tratamientos en
personas que presentan determinantes sociales de salud específicos.
Marco Conceptual
A partir de la identificación de conceptos relevantes,
presentamos una propuesta de glosario que identifica los términos
necesarios para comprender el debate actual de la diversidad
cultural o multiculturalidad en Chile, con la intención de proveer
el marco desde el cual se abordarán las competencias y habilidades,
necesidades, fortalezas y debilidades de la formación de
237
profesionales de la Facultad de Medicina de la Universidad de
Chile desde un enfoque de derechos.
Género
El enfoque de género en cuanto herramienta teórica y
metodológica, busca evidenciar los roles y tareas, funciones y
responsabilidades que experimentan las personas en nuestra
sociedad a partir de las asimetrías y desigualdades que se producen
y reproducen en la población desde una división biológica de los
cuerpos (sexo) y su consiguiente diferenciación social (género).
En ese sentido, la perspectiva política de las relaciones de
género, permitirá identificar las causas interseccionales de carácter
estructural y contextual que generan desigualdad, así como
también la propuesta de medidas legislativas y administrativas
necesarias para la protección de los derechos de las mujeres y las
diversidades sexo-genéricas con el fin de lograr la equidad en la
vida económica y social, cotidiana y privada de las personas.
Personas con discapacidad
El derecho internacional reconoce, a través de la
Convención Sobre Los Derechos De Las Personas Con
Discapacidad del año 2006, condiciones interseccionales de
discriminación y vulnerabilidad que viven las personas con
discapacidad. Así, y desde un enfoque social de la discapacidad,
entendido como un modelo que busca la inclusión de las personas
a través de la eliminación de las barreras de acceso tanto físicas
238
como sociales y actitudinales de la ciudadanía en general, el debate
actual, da cuenta de la intención de acotar las limitaciones
experimentadas por las personas con discapacidad a partir de un
entorno poco accesible (SALEH, 2005). De acuerdo a lo anterior,
Persona con discapacidad es aquella que teniendo una o más
deficiencias sicas, mentales, sea por causa psíquica o intelectual, o
sensoriales, de carácter temporal o permanente, al interactuar con
diversas barreras presentes en el entorno, ve impedida o restringida
su participación plena y efectiva en la sociedad, en igualdad de
condiciones con las demás (LEY, 20.422).
La diversidad funcional, como una denominación no
negativa de la discapacidad, es un concepto propuesto por
Romañach y Lobato (2009), que buscaba superar el estigma
relacionado con el uso de términos peyorativos asociados a la
situación de discapacidad, reconociendo la existencia de diferentes
maneras de habitar y por lo tanto, funcionar en sociedad, que son
determinadas por las diferencias físicas, sensoriales y/o cognitivas
de las personas.
Pueblos Indígenas y Tribales
La legislación internacional sobre los derechos colectivos
de los pueblos indígenas y tribales, a través de sus herramientas más
importantes: Convenio 169 de la OIT y las declaraciones ONU
(2007) y OEA (2016) reconocen y definen a quienes aplican estos
derechos reconocidos con la finalidad de no reproducir prácticas
asimilacionistas, distanciándose así de las legislaciones que tendían
a borrar las diferencias culturales y sus instituciones en pro de la
239
homogeneización de la población. En ese sentido, los convenios
internacionales ratificados por Chile en materia de pueblos
indígenas y tribales reconocen las aspiraciones de los pueblos de
recuperar y mantener sus propias instituciones y formas de vida,
posibilitando un desarrollo económico, social y político que
permitan mantener y fortalecer sus identidades, lengua y
cosmovisión.
Migración
En los últimos años la interacción entre las personas
migrantes y la sociedad chilena muchas veces se ha manifestado a
través de relaciones de desigualdad debido, precisamente, a las
jerarquías implícitas de la migración, las que definen a las personas
a partir de la intersección corporizada de raza, género, origen y
clase, entre otras variables.
Estas experiencias situadas de interseccionalidad y, por lo
tanto, de discriminación, se condicen con tres fenómenos que
actualmente se experimentan a nivel internacional y que tienen un
fuerte correlato en el territorio nacional: el racismo, la xenofobia y
la intolerancia, como una sobreposición de categorías que, en
términos relacionales, definen la posición de una persona en el
mapa social. De manera particular, el fenómeno de la migración en
Chile ha aportado a la diversidad cultural del territorio, generando
situaciones de discriminación e incluso violencia contra aquellas
personas que cruzan en sus identidades el color de piel y el provenir
de países pobres del continente.
240
Se planteó un estudio de carácter exploratorio y
descriptivo y debido a la complejidad de la temática en cuestión y
buscando la manera de lograr una mayor comprensión del
fenómeno a estudiar, se consideró que el diseño mixto -que
involucra técnicas de recopilación de datos tanto cualitativos como
cuantitativos.
Muestreo
En términos generales, el muestreo de la presente
investigación es de carácter no probabilístico y para acceder a los de
estudio, se apli la técnica de muestreo por conveniencia
(HERNÁNDEZ; FERNÁNDEZ; BAPTISTA, 2016) que se
caracteriza por determinar un perfil de sujeto de estudio,
seleccionándoles en base a la facilidad de acceso, la disponibilidad y
la voluntariedad de la misma (no aleatorio).
El universo de la muestra corresponde a la totalidad de
estudiantes y egresados(as) de las diferentes carreras de la salud que
cumplan con los siguientes criterios de inclusión:
- Formados con currículo innovado
- Terminado su primera práctica profesional
Al muestreo general, se agregó la cnica de muestreo a
expertos o informante clave, que consiste en la delimitación de un
sujeto de estudio que tiene mayores conocimientos sobre el tema
de estudio. Así, se aplicó una entrevista semiestructurada a las
direcciones de cada una de las ocho escuelas de la salud. En total,
se entrevistaron a ocho personas.
241
Debido al carácter mixto de la investigación, se
desarrollaron dos procesos muestrales, cada uno asociado a uno de
los enfoques utilizados (cualitativo y cuantitativo). En primera
instancia se había planteado la realización de dos grupos focales por
carrera (uno con personas egresadas y otro con estudiantes) de
entre ocho y 12 personas cada uno, sin embargo, después de dos
intentos de convocatoria a grupos focales de egresados por carrera,
no se logró asegurar su asistencia, por lo que fue necesario
reemplazarlas por entrevistas semi estructuradas.
En total de esta parte de la investigación participaron 111
personas egresadas y estudiantes, pertenecientes a las ocho carreras
de la salud impartidas en la facultad. Estas personas están
distribuidas de la siguiente manera:
Tabla 1.
Composición entrevistas y grupos focales (N=111)
Ent: entrevista, GF: Grupos focales. ENF: enfermaria, MED: Medicina, TO:
Terapia ocupacional, FO: Fonoaudiologia, KIN: Kinesiología, NU: Nutrición y
Dietética, OBS: Obstetricia y puericultura, TM: Tecnologia médica. DI:
Director, In: interno; Eg: egresado
242
Técnicas de producción de datos
Se utilizaron fuentes primarias y secundarias de
información para el levantamiento de datos. En primer lugar, se
revisaron los planes de egreso y las matrices de competencias y
subcompetencias de las diferentes carreras. Luego, se comenzó con
la fase cualitativa a través de la aplicación de la cnica de entrevista
semi-estructurada y grupos focales (KVALE, 2011, p. 30). Las
entrevistas semi estructuradas fueron aplicadas a cada informante
clave, así como a la mayoría del grupo de personas egresadas,
ascendiendo al total de 25 personas.
En conjunto con las entrevistas, se desarrollaron grupos
focales, con el objetivo de desarrollar sus percepciones sobre
fortalezas y debilidades en relación con la formación en
herramientas para la atención pertinente a personas pertenecientes
a colectivos de la diversidad, en su desarrollo clínico profesional. Se
consideró que los grupos focales serían la técnica más eficiente para
reunir diferentes voces de un mismo perfil, sin embargo, en la
práctica, fue imposible convocar a las personas egresadas, a pesar de
que confirmaran su intención de participar.
Previo a la entrevista se entregó un consentimiento
informado que debía ser explicado, leído y firmado por la persona
entrevistada, para finalmente proceder a la entrevista, la que fue
grabada y transcrita para desarrollar el posterior análisis.
Los instrumentos cualitativos, la pauta de entrevista y la
pauta de grupo focal, se desarrollaron a través de la
operacionalización de los objetivos planteados, en conjunto con la
revisión bibliográfica. Se estableció una pauta con siete ejes
243
temáticos: descripción sociodemográfica, innovación curricular,
multiculturalidad e interculturalidad; Género; Discapacidad;
Etnicidad y Clase social
Análisis
El material recolectado fue analizado a partir de un
análisis de contenido de tipo temático, describiendo los contenidos
de los textos a través del procedimiento sistemático de
interpretación de los sentidos compartidos por los y las estudiantes,
egresadas y egresados y a los y las directoras de las escuelas de
FAMED-UCh, dando cuenta no solo de los contextos de
enunciación, sino que entregando contenido a categorías analíticas
de carácter teórico y a categorías emergentes construidas a partir de
la segmentación de los textos, para dar respuesta a si a las preguntas
que guían la investigación (SCHREIER, 2012)
Para realizar el análisis se utilizó el software Nvivo, el cual
permitió categorizar las diferentes conversaciones en función de
temas particulares asociadas a las habilidades y competencias
desarrolladas por las y los estudiantes y egresadas y egresados. Los
resultados que siguen a continuación responden a la categorización
previa al análisis y a las categorías que fueron emergiendo a medida
que se revisaban las diferentes entrevistas y grupos focales.
244
Resultados y discusión
Análisis cualitativo
La evaluación del enfoque multicultural y las experiencias
que los y las estudiantes reportan al respecto, varían en función por
un lado de la carrera, pero por el otro de las experiencias que cada
uno y una de estudiantes, egresados/as y directores/as han tenido
con la diversidad cultural.
Respecto a la definición de multiculturalismo los datos
muestran que existen varias formas de conceptualizar este
fenómeno. Pero a pesar de sus variaciones diremos que las
definiciones giran en torno a la realidad empírica de la existencia y
convivencia de múltiples culturas en una sociedad o territorio.
Como veremos en los siguientes apartados, la concepción de
“cultura” para algunos y algunas trasciende a las nacionalidades o
etnias. Lo primero que surge es pensar la multiculturalidad como
manifestaciones de diversidad cultural: “Siento que son las distintas
manifestaciones por las que se pueden expresar las vivencias de las
personas en la sociedad, según su historia, según su contexto físico,
dónde vivan, según su historia ancestral” Mujer, egresada carrera
de terapia ocupacional.
La cultura se asocia con diferentes elementos relacionados
con nacionalidad, país o etnia.Esto último se asocia con algunas
ideas que surgen en las conversaciones y que asocian la cultura, y
por ende la multiculturalidad, con algo que trasciende a las
nacionalidades o etnia. Si bien es cierto que muchos y muchas
estudiantes piden que las competencias multiculturales se traten de
245
manera transversal en las diferentes etapas de la carrera, también lo
es el hecho de que admiten que hay una competencia transversal
que les permite de todas maneras sortear estos desafíos que impone
la diversidad. Esta competencia dice relación con la empatía, el
autoconocimiento y el respeto por la diversidad ligado, por
supuesto, también a las áreas transversales de formación como el
compromiso social y ético y habilidades personales básicas para el
desempeño profesional.
De igual manera, avanzando en las discusiones respecto a
las competencias multiculturales muchos y muchas estudiantes
plantean que existe una formación básica al respecto que les
permite moverse en ese ámbito y que les permite resolver las
dificultades con las que se puedan ir encontrando. En ese sentido,
si bien se piden herramientas más específicas, se plantea que existen
las bases para afrontar desafíos. Los y las estudiantes, internos/as y
egresados/as de forma general reconocen que hay una debilidad si
nos remitimos a la especificidad en cuanto a formación en
competencias multiculturales. Sin embargo, hay unafilosofía” que
se expresa a través de competencias generales relacionadas a
habilidades blandas que permiten superar los desafíos que impone
la multiculturalidad.
Aún cuando estudiantes y egresados/as valoran las
herramientas y competencias blandas como salida a desafíos que
supone la diversidad cultural, también esbozan una crítica que
aparece en forma de recomendación de más ramos que atiendan
esta dimensión, o a la transversalidad de la formación multicultural
en los diferentes ramos de las mallas. En directoras y directores la
visión es positiva, pero sobre la base de que los temas
246
multiculturales en tanto temas emergentes se están, al menos,
“considerando”. La autocrítica acá se dirige hacia la necesidad de
formar a los docentes del claustro en estos asuntos para así hacer
del enfoque multicultural uno transversal a la malla
Finalmente, hay un último elemento que es importante
de tomar en cuenta en cuanto al enfoque multicultural refiere.
Varios y varias de los y las internas plantean que otro de los
problemas que tienen que enfrentar en los servicios de salud
pública se relaciona con la discriminación que deben presenciar por
parte de otros funcionarios de los servicios de salud,
principalmente hacia personas de otra nacionalidad. A modo de
cierre es importante destacar que la percepción general es que no
hay herramientas suficientes para afrontar este tema, lo cual se ve
reflejado en la tabla 7 a continuación donde por lo general se
identifican muy pocas fortalezas en este ámbito. Se entiende, por
cierto, que es un tema emergente. De igual modo se entiende que
las herramientas transversales de la empatía y habilidades blandas
en general que es un sello de la Universidad son competencias
valiosas que al final del día permiten superar los desafíos que la
presencia de múltiples culturas supone. Sin embargo, en algunos
casos estas herramientas no son suficientes. La invitación acá
entonces es a transversalizar el enfoque multicultural, poniendo
énfasis en las dificultades que cada carrera enfrenta al respecto y
que quedan muy bien graficadas precisamente en las experiencias
que de este estudio se recogen
A partir de las respuestas entregadas, que varían en
función de la carrera y de las necesidades particulares de cada una,
pero en términos generales, se reconocen debilidades que se
247
traducen en una serie de recomendaciones que se presentan en la
tabla 2.
Tabla 2
Resumen recomendaciones
Enfoque
Recomendaciones
General
Transversalizar en las mallas y ramos los enfoques de
derechos desde el multiculturalismo, género y diversidades
funcionales.
Capacitaciones a académicos/as y docentes clínicos en
enfoque de derechos.
Contar con mediadores interculturales o intérpretes de
lengua de señas en las prácticas clínicas.
Cursos de Formación General focalizados: oferta vinculada
a intereses de estudiantes y sus áreas de investigación
Levantar cursos optativos enfocados en la comunicación y
habilidades blandas que permitan acortar la brecha de
comunicación con personas extranjeras, sordas o con algún
tipo de discapacidad intelectual.
Curso obligatorio de derechos de diversidades.
Incluir variables de multiculturalismo, género y
diversidades funcionales en el análisis de determinantes
sociales de las patologías.
Tratar estos enfoques desde la interseccionalidad, es decir,
entendiendo que se entrecruzan y que no pueden ser
analizados por solos.
Desarrollo de trabajos de investigación aplicados que
permitan construir conocimientos en torno al enfoque de
derechos de manera colaborativa
Incluir ejemplos clínicos de intersecciones de enfoques en
los diferentes ramos
248
Multiculturalismo
Incluir oferta de CFG referidos a multiculturalismo una vez
terminada la primera práctica. Se pide particularmente un
curso de idiomas que permita atender a personas
provenientes de Haití.
Mediadores interculturales indígenas, o provenientes de
Haití según la necesidad del território
Transversalizar el enfoque multicultural en mallas.
Incluir en las clases casos clínicos referidos a personas
migrantes, personas indígenas y en general de culturas
diferentes a la hegemónica
Incluir variables como nacionalidad o etnia en el análisis de
la prevalencia de determinadas enfermedades.
Diversidad
funcional
Incluir oferta de CFG como lengua de señas una vez
terminada la primera práctica.
Incluir casos clínicos referidos a personas con diferentes
tipos de discapacidad en las clases.
Incluir ramos, CFG o casos clínicos de adultos mayores y
formación en cuidados de personas dependientes.
Tomando en cuenta que algunas carreras tienen mejor
formación que otras en discapacidad, se recomienda
fomentar la transdisciplinariedad ya sea en CFG o en otras
instancias.
En carreras como medicina, se recomienda poner énfasis no
lo en la patología que genera discapacidad, sino que en
las determinantes sociales y en las posibilidades de
reinserción.
Poner mayor énfasis en intervención y rehabilitación
Poner mayor énfasis en el entorno de las personas con
discapacidad y las fortalezas y debilidades que de a
emergen para la rehabilitación y reinserción.
Integrar enfoque de género y diversidades sexuales con
enfoque de personas con discapacidad.
En el caso de kinesiología enfocarse también en
249
discapacidades intelectuales.
nero
Ampliar enfoque de género más allá de la mujer: incluir
diversidades sexuales.
Transversalizar enfoque.
Incluir conocimientos biomédicos en torno a la situación
médica de personas en transición.
En el caso de tecnología dica, kinesiología y
fonoaudiología, la recomendación es incluir el enfoque de
género, el cual, de acuerdo con los y las entrevistadas, no
está presente.
Conclusiones
Dividimos acá los resultados en seis puntos que, creemos,
dan respuesta a la pregunta que guía esta investigación. En
términos generales diremos que las percepciones varían según el
perfil y formación particular en cada carrera, por lo general cada
carrera presenta debilidades y fortalezas a la hora de pensar en las
competencias que las nuevas mallas innovadas están intentando
otorgar.
En segundo lugar, en cuanto a las competencias y sub
competencias dentro de los planes, vemos que estudiantes y
egresados(as) identifican una serie de competencias que no siempre
coinciden con lo que los planes oficiales buscan otorgar. En línea
con el enfoque transversal del compromiso social y ético, algo que
aparece de forma generalizada en las conversaciones y que es
valorado en tanto competencia es el enfoque permanente hacia lo
público y el rol social que cumplen las carreras de la salud en la
Universidad de Chile lo cual, facilitaría una visión crítica del
estudiantado, respecto de su formación y abordajes profesionales.
250
Los resultados arrojan que las competencias que más aparecen y
que en mayor medida reconocen estudiantes y egresados(as) son: el
rol social, la identificación de determinantes sociales de las
patologías, integración de diferentes dimensiones del o la paciente,
la resolución de problemas en un contexto de escasos recursos, la
relación terapéutica o trato hacia los pacientes, el autoaprendizaje,
la autonomía profesional y la práctica clínica. Un resultado de
interés para esta investigación dice relación con que no se
identifican competencias relacionadas con las diversidades, ya sea
funcionales, étnicas o de cultura, de género o de clase social y, de
hecho, una posibilidad de mejora que se vislumbra desde esta
percepción, es un abordaje transeccional de la situación, ya sea
mediante la formulación y propuesta de nuevas competencias o
competencias alternativas que adquieran este enfoque, ya que hasta
el momento, la percepción es que, si bien se busca la integración,
aún faltan instancias transversales y un cambio cultural que observe
las diversidad como un fenómeno complejo, no abordable
mediante “cursos específicos” o alguna actividad particular, que a
través de un enfoque transversal y multidisciplinario.
Los resultados de estos dos primeros puntos permiten
concluir que si bien es cierto que hay algunas imprecisiones e
incongruencias entre lo que la facultad intenta transmitir y lo que
los y las estudiantes perciben, podríamos decir que esta divergencia
es de naturaleza más bien conceptual. Esto, toda vez que
estudiantes reconocen, a través de las fortalezas de la malla
innovada y de las competencias y sub-competencias percibidas,
elementos clave del enfoque de derechos como lo son la condición
social de las enfermedades y el derecho de cada paciente a ser
251
atendido de forma correcta y respetuosa independiente de sus
características sociales. En ese sentido, el enfoque de derechos es
algo que, concluimos, está presente en la formación del
estudiantado y que toma su forma sobretodo en los espacios de
formación práctica.. Ahora bien, es importante tomar en
consideración el punto respecto a que no reconocen la transmisión
de herramientas en torno a enfoques específicos, como diversidades
funcionales, de género, multiculturalismo y de clase, los que
responden a la idea de diversidad cultural que atraviesa este
informe y que también se manifiestan en la práctica. Algunas de las
dificultades que se presentan en torno a estos enfoques podemos
situarlas en un marco un poco más amplio y que supone un desao
para las carreras en cuestión, donde se espera que las y los
estudiantes desarrollen competencias culturales asociadas al género,
la raza, el origen étnico, la diversidad funcional y la clase. El
enfoque transeccional es una posibilidad de integrar estas
competencias, tanto en el razonamiento profesional como en el
espacio clínico de práctica.
Respecto al enfoque multicultural, los resultados sugieren
que no existe claridad respecto a lo que significa este término.
Intuitivamente los y las entrevistadas lo definen en términos
generales como la presencia de múltiples realidades culturales en un
mismo espacio territorial, lo que se acerca de manera clara a los
conceptos debatidos en el informe, particularmente a los derechos
humanos reconocidos. El enfoque multicultural no es el único que
se percibe como débil, lo mismo pasa, por ejemplo, con la mirada
de género. Acá los resultados se centraron particularmente en la
carrera de obstetricia que, si bien es una de las carreras que - en lo
252
declarativo- cuenta con mayor preparación tiene respecto a estos
temas en conjunto con enfermería también es la que levanta
voces más críticas respecto a la falencia de herramientas para tratar
temas de género que exceden a la desigualdad entre hombres y
mujeres. Emerge acá el tema de las diversidades de género, de las
dificultades para tratar a pacientes en proceso de transición de sexo,
del desconocimiento respecto al proceso biomédico y, por ende, de
la imposibilidad de cumplir a cabalidad con el trato que desde el
enfoque biopsicosocial se fomenta.
Y acá, desde la interseccionalidad, entran los otros dos
enfoques que fueron tratados en este estudio, el de diversidad
funcional y clase social. Respecto al primero los resultados arrojan,
nuevamente, que las dificultades varían de carrera en carrera,
mientras que algunas como fonoaudiología perciben“mayor
preparación” para afrontar algunos de los desafíos que supone la
atención a personas con discapacidad, otras como kinesiología
presenta algunas fortalezas en discapacidades motoras, pero
debilidades en discapacidades intelectuales. En términos generales,
la mayor dificultad que se presenta en la mayoría de las carreras
dice relación con discapacidades sensoriales, por un lado, e
intelectuales por el otro. Respecto a las primeras las dificultades se
asocian con poder transmitir correctamente los diagnósticos o
tratamientos médicos a personas con sordera o ceguera. En los
segundos el problema es el mismo, el poder transmitir
correctamente estos diagnósticos a personas con algún grado de
problema cognitivo. En cualquiera de los dos casos el desafío es la
comunicación.
253
El concepto de comunicación aparece de manera
transversal en las diferentes categorías de estudio. En el enfoque de
clases sociales, por ejemplo, si bien es reconocido como el enfoque
fuerte de todas las carreras que componen este estudio, los y las
estudiantes plantean que el mayor desafío es precisamente
comunicar diagnósticos o recomendaciones a personas con
dificultades de lecto-escritura y que esta vez no se asocian con la
diferencia de idiomas como con los y las pacientes haitianas o
con problemas cognitivos o sensitivos como lo es el caso de
pacientes con discapacidad sino que con el origen social y la
posibilidad estructural de acceso a la educación. Si bien el origen
de los problemas de comunicación para cada enfoque es diferente,
el resultado es el mismo: la dificultad de transmitir correctamente.
Es importante, en este sentido y así lo argumentan los y las
propias estudiantes otorgar herramientas para los diferentes
problemas de comunicación. En este punto las dificultades son
varias, por ende, las herramientas que es necesario otorgar pueden
ser diversas.
El informe completo del estudio esta disponible para consulta en el siguiente
link:
https://drive.google.com/file/d/1bEXU701oUmyI11h6TqxkAQNjbgNwtbdH/
view?usp=sharing
254
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257
CATULO 9
Acessibilidade, Barreiras e Desafios ao Desempenho
dos Estudantes Surdos no Ensino Superior
Maria Helena MARTINS
1
Introdução
A implementação das políticas inclusivas internacionais
(UNESCO, 1994; 2017) e nacionais, tem contribuído para um
aumento crescente do ingresso de estudantes com deficiência no
Ensino Superior (ES). A Inclusão, como filosofia educacional,
defende a necessidade de as Instituições de Ensino Superior (IES)
alterarem as suas culturas e práticas educativas para garantir uma
educação com igualdade de oportunidades e equidade a todos os
estudantes, permitindo-lhes o apenas o acesso, mas o sucesso no
seu percurso académico (MARTINS, et al., 2021).
1
Psicóloga Educacional, Mestrado em Educação Especial e Doutoramento em
Psicologia da Educação. Faro/Algarve/Portugal. CIEP-EU, Centro de
Investigação em Educação e Psicologia, Universidade de Évora,
E-mail: mhmartin@ualg.pt . ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5964-4482
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p257-290
258
A inclusão de estudantes com deficiência no Ensino
Superior (ES) é recente em Portugal, não existindo legislação
nacional que regulamente a definição de medidas de apoio e
suporte às práticas educacionais para estes estudantes (MARTINS,
et al. 2021). A primeira referência a estudantes com deficiência no
ES encontra-se na Portaria n.º 787/85, de 17 de outubro de 1985,
na qual é definida a afixação anual de um numerus clausus para
candidatos que apresentem deficncia física ou sensorial.
Na ausência de legislação específica, com o objetivo de
responder ao crescente acesso destes estudantes, as IES têm
procurado adaptar-se a este público, criando gabinetes de apoio e
regulamentos específicos (MARTINS, et al., 2021). Em 2004, por
iniciativa do Conselho de Reitores, Direção Geral do Ensino
Superior e Departamento da Sociedade de Informação, da
Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) foi criado o Grupo
de Trabalho para o Apoio ao Estudante com Deficiência no Ensino
Superior (GTAEDES). Constituído pelas IES que têm gabinetes e
regulamentos de apoio a estes estudantes, pretende proporcionar
um serviço de qualidade aos estudantes com deficiência, promover
a aproximação entre os serviços por meio de troca de experiências,
desenvolvimento de iniciativas conjuntas e racionalização de
recursos.
Em termos evolutivos, num estudo realizado pelo
GTAEDES no ano letivo 2013/2014, foram referenciados pelas
IES 1318 estudantes com deficiência e/ou necessidades específicas,
dos quais 160 apresentavam deficiência auditiva ou surdez.
Relativamente às medidas de apoio individualizado/especializado,
12,5% dos estudantes referiram ter tido acompanhamento de
259
intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (ILGP); 7,5% assinalam
a disponibilização de material de apoio ao estudo em Língua
Gestual Portuguesa (LGP); e 18,7% referem ter tido provas
adaptadas (PIRES, 2015).
No presente ano letivo 2021/2022, autodeclararam-se
2.779 estudantes com necessidades específicas, dos quais 87,7%
frequentam o ensino público e 12,3% o ensino privado, não
estando ainda disponível o número exato de estudantes com
deficiência auditiva ou surdez (DGEEC, 2022).
A literatura da área destaca uma significativa diversidade
de investigações com o objetivo de analisar o processo de inclusão
dos estudantes com deficiência no ES, assinalando a presença de
diversas barreiras atitudinais e de acessibilidade que estes estudantes
encontram no seu percurso académico. Diversos estudos referem
que a entrada para o ES constitui um desafio para todos os
estudantes que têm que se adaptar a uma nova realidade nas suas
vidas, sendo que para o estudante surdo, esta adaptação se torna
ainda mais complexa, pelas muitas barreiras que encontram no
contexto académico (BIGGERI et al., 2020; FIRAT, 2021).
A entrada no ES representa uma mudança significativa
para esses estudantes, atendendo a que se, enquanto frequentaram
o ensino obrigatório, tinham ao seu dispor um conjunto de
medidas de apoio e suporte ao ensino e aprendizagem, no ES
encontram uma realidade distinta.
De facto, a legislação existente no ensino obrigatório
(Decreto-Lei n.º 54/2018 atualizado pela Lei 116/2019)
permite que os estudantes surdos, desde o jardim-de-infância
tenham acesso a um conjunto de apoios diversificados,
260
nomeadamente o acompanhamento de ILG. A legislação preconiza
para esses estudantes a frequência de escolas de referência para a
educação bilingue, uma resposta educativa especializada que
garanta tal modelo, visando o desenvolvimento linguístico, o acesso
ao currículo nacional comum e à inclusão escolar e social. Estes
estudantes têm, assim, a possibilidade de vivenciar a experiência de
uma escola bilingue, onde podem conviver com os pares surdos e
com ouvintes.
Ainda que atualmente muitas IES disponibilizem
diversos tipos de apoio aos estudantes surdos, muitas vezes, a
transição para o ES não é preparada antecipadamente
(MARCONCI, et al., 2013) e, ao ingressar, o estudante surdo -
se sozinho, em desigualdade linguística num universo de ouvintes.
Diversos são os fatores que podem influenciar a inclusão e
o desempenho acadêmico dos estudantes surdos. Alguns estudos
assinalam que estes estudantes revelam dificuldades na inclusão,
destacando insatisfação relacionada à comunicação, quer com os
professores, quer com os colegas (ARAÚJO, et al., 2020;
MARSCHARK, et al., 2016). Em comparação com os colegas
ouvintes, pelas dificuldades relacionadas com a comunicação no
ambiente académico, estão ainda em risco de apresentar um
desempenho acadêmico com resultados mais baixos no ES
(ADKINS, 2020; KISANGA, 2020).
As barreiras na comunicação têm sido apontadas como
um fator muito importante, atendendo a que para serem bem-
sucedidos, estes estudantes necessitam de conseguir comunicar e ter
acesso à comunicação, de forma a acederem aos conteúdos
261
acadêmicos e ainda relacionar-se com os professores, colegas e com
o pessoal não-docente.
Nesse sentido, diversos estudos destacam como
fundamental que esses estudantes tenham acesso a intérpretes de
Língua Gestual no contexto educativo, com apoio em relação à
interpretação e tradução, constituindo-se como um dos fatores-
chave para que possam comunicar e ter sucesso acamico
(CHIBUIKE, 2020; HANAFY; AL-AYDY, 2016;
MOHAMMED, 2020).
Um dos importantes recursos para a inclusão dos
estudantes surdos é o Intérprete de Língua Gestual, reconhecido na
legislação que regulamenta a inclusão das crianças e jovens na
escolaridade obrigatória (Decreto-lei n 3/2008), em que foi
estabelecido que o ILGP deveria participar nas atividades
relacionadas com a comunicação entre surdos e ouvintes, nas aulas,
reuniões, ações e projetos realizados na comunidade escolar, tendo
como objetivo promover a inclusão das pessoas surdas na escola.
Outros estudos assinalam ainda que a comunicação eficaz
e a gestão da sala de aula, bem como a forma como o professor
interage constituem importantes fatores para a acessibilidade com
relação às aprendizagens, influenciando o desempenho acadêmico
dos estudantes surdos (STINSON, et al., 1996; TAYLOR, et al.,
2017). Stinson et al. (1996) referem que em contexto educativo,
muitas vezes, os estudantes e professores tendem a falar ao discutir
ideias ao mesmo tempo, o que impede uma comunicação eficaz
para os estudantes surdos. Neste sentido, Smith e Andrews (2015)
referem a necessidade de os professores utilizarem estratégias que
possibilitem uma comunicação mais eficaz, nomeadamente criando
262
regras de forma que apenas uma pessoa fale de cada vez, abrindo
linhas de visão na sala de aula, desacelerando o discurso e
privilegiando o trabalho em colaboração (CHIBUIK, 2020;
MARSCHARK et al., 2016).
Com o objetivo de analisar as dificuldades em relação à
comunicação destes estudantes, diversos estudos têm salientado a
escassez dos Intérpretes de Língua Gestual nas universidades
(ADKINS, 2020; KISANGA, 2020). Ainda, no que se refere aos
Intérpretes de Língua Gestual, Napier e Barker (2004) defendem a
necessidade de que estes tenham qualificação universitária,
formação educacional, consciência das necessidades individuais e
linguísticas dos estudantes surdos, boas habilidades no uso da
Língua Gestual, bem como consciência das diferenças individuais
entre estes estudantes.
Segundo Kisanga (2020), os estudantes surdos continuam
a enfrentar muitos obstáculos, referindo problemas na
comunicação, inadequação dos intérpretes de ngua Gestual,
resultado este, também, corroborado por Adkins (2020) e Araújo
et al. (2017) que defendem que, muitas vezes, os intérpretes não
estão qualificados com as habilidades e treinos necessários para a
interpretação e tradução em contexto acadêmico no ES. Alguns
pesquisadores sugerem que exista uma relação entre o papel dos
intérpretes e o sucesso acadêmico destes estudantes (FREITAS et
al., 2017; MOHAMMED, 2020).
No mais, Mohammed (2020) assinala que, mesmo com
apoio dos intérpretes, os estudantes surdos recebem menos
informações do que os seus pares ouvintes, atendendo a que
existem períodos em que o contacto visual dos estudantes com o
263
tradutor é interrompido, nomeadamente, enquanto escrevem ou
lêem materiais escritos.
Assinale-se, ainda, que quando os estudantes olham para
o docente que apresenta algum material, não m a oportunidade
de olhar para o tradutor ao mesmo tempo, o que pode levar a
perda de parte da informação (BRAUN, 2018; MOHAMMED,
2020).
Embora na literatura científica nacional se possam
encontrar diversas investigações sobre a inclusão de estudantes com
deficiência no ES, assinale-se a escassez de estudos sobre as
percepções dos estudantes surdos relativamente à sua inclusão no
ES, às acessibilidades, barreiras e desafios com que se defrontam no
ambiente acadêmico.
Nesse sentido, diversas são as questões que se colocam
relativamente aos estudantes surdos, nomeadamente: i) O que
sentem e quais as suas percepções ao entrarem num ambiente
maioritariamente de ouvintes? ii) Se que se sentem incluídos e
aceitos na universidade pelos professores, colegas e pessoal não-
docente? iii) Quais as principais barreiras e desafios que
percepcionam no que se refere à sua inclusão e ao seu desempenho
acadêmico? iv) Quais os principais aspetos positivos que
percepcionam? v) Como percepcionam o acompanhamento dos
Serviços de Apoio e dos ILGP?
Consubstanciando as questões formuladas, como objetivo
geral, pretende-se conhecer e analisar o processo de inclusão de
estudantes surdos por meio dos testemunhos de estudantes que
entraram no presente ano letivo no ES, relativamente às
264
acessibilidades, barreiras e desafios ao seu desempenho, numa
Universidade Pública Portuguesa.
Método
Tipo de estudo e objetivo geral
A investigação que se apresenta é de tipo exploratório,
com um desenho transversal e assenta numa abordagem
qualitativa, descritiva e interpretativa.
Decorrente das questões enunciadas, pretendeu-se como
objetivo geral conhecer e analisar o processo de inclusão de
estudantes surdos por meio de seus testemunhos, relativamente às
acessibilidades, barreiras e desafios ao seu desempenho, numa
Universidade Pública Portuguesa.
Amostra
A seleção da amostra, não probabilística, por conveniência
foi constituída por 4 estudantes surdos, nomeadamente 2 do
nero feminino e 2 do nero masculino. Todos os estudantes
têm um diagnóstico de Surdez Neurosensorial Profunda
(Congénita) e utilizam prótese auditiva (ES1, ES2, ES3 e ES4
2
).
Embora a LGP seja a sua Língua Materna, aprenderam a leitura
labial, a linguagem oral e compreendem o português escrito. Têm
idades compreendidas entre 20 e 22 anos (M = 21; DP = 1,154) e
2
De forma a manter o anonimato os estudantes são nomeados por ES1, ES2,
ES3 e ES4.
265
frequentam a mesma Universidade pública que integra o Ensino
Universitário e Politécnico. A estudante ES3 (género feminino, 22
anos) frequenta o Ensino Universitário, Curso de Gestão de
Empresas. Frequentando o Ensino Politécnico, estão os estudantes
ES1(género masculino, 20 anos), Curso de Ciências Biomédicas
Laboratoriais, a estudante ES2 (género feminino, 20 anos), Curso
de Gestão e o estudante ES4 (género masculino, 22 anos), Curso
de Marketing Digital.
Instrumentos
Para o estudo foi construído um questionário constituído
por questões abertas. A opção pelo questionário teve como
principal finalidade deixar o estudante mais à vontade para
responder, sem as condicionantes da interpretação e tradução.
Na primeira seção, são recolhidos os dados sociode-
mográficos, nomeadamente dados pessoais relativos à idade,
género, tipo de deficiência auditiva/surdez e curso que frequentam.
A segunda seção versa a trajetória acadêmica (e.g.: “Por que
escolheu o curso que frequenta?”; Para ingressar na Universidade
teve adaptações no Exame Nacional? Se teve, quais foram?”). A
última seção recolhe as suas percepções sobre o processo de ensino
e aprendizagem na Universidade, as questões relativas à
acessibilidade, barreiras e desafios ao seu desempenho acadêmico e
ainda sobre a Educação Inclusiva (e.g.: “Fale-me um pouco de si
como pessoa e como estudante do Ensino Superior. Como foi
entrar num ambiente maioritariamente ouvinte?”; “Na sua opinião
o que é necessário ser feito ou melhorado para que a inclusão dos
266
estudantes surdos aconteça na instituição onde estuda e estes
possam ter sucesso?”).
Procedimentos de recolha e análise de dados
Após aprovação pela Comissão Ética da Universidade, os
convites de colaboração foram efetuados por e-mail aos estudantes.
Como critérios de inclusão, teriam que apresentar surdez
neurossensorial, utilizar a LGP como ngua materna e terem
ingressado no ES no presente ano letivo (2012-2022). O estudo
decorreu no s de maio, quando os estudantes estavam com
aulas presenciais, sendo que embora não fosse obrigatório, alguns
docentes e estudantes ainda utilizaram a máscara para proteção da
pandemia por Covid-19.
No primeiro contacto foi explicitado o objetivo do
estudo, solicitada a colaboração, explicitado o anonimato e
confidencialidade dos dados a recolher. Após a disponibilização dos
estudantes para colaborarem, foi combinado data e local para a
resposta. Nessa data, assinaram o consentimento informado, foram
informados do anonimato e confidencialidade das respostas. Foi
ainda disponibilizado um link para que cada estudante respondesse
anonimamente. A investigadora e a intérprete que geralmente
acompanha cada estudante permaneceram num recanto da sala
mais afastado, caso fosse necessário esclarecimento de alguma
dúvida.
A análise dos dados foi efetuada com recurso da
metodologia qualitativa, por meio da técnica de Análise Temática
tipo Reflexiva, segundo o modelo de Braun e Clarke (2006).
267
Assim, numa primeira fase, procurou-se, por meio de uma leitura
cuidada, a familiarização com as respostas, procurando os
significados ou padrões e fazendo uma identificação prévia. Seguiu-
se o processo de codificação inicial, identificando as características
dos dados e organizando-os em grupos com significados e padrões
repetidos, a procura dos temas, a sua revisão e, por fim, a definição
e refinamento dos temas finais. Após estas etapas, foram escolhidos
excertos das respostas considerados representativos da prevalência
dos temas definidos e que documentam as percepções dos
estudantes.
Resultados e discussão
Tendo como referencial o quadro teórico e os objetivos da
pesquisa, a apresentação e discussão é efetuada de acordo com as
temáticas definidas, nomeadamente: i) Trajetória acadêmica; ii)
Desempenho acadêmico, ensino e aprendizagem no ES; iii)
Processo de Inclusão, acessibilidades, barreiras e desafios no ES.
Trajetória acadêmica
No que se refere ao diagnóstico da surdez e idade de
início de aprendizagem da LGP, o ES1 teve o seu diagnóstico aos 4
anos e iniciou a LGP aos 5 anos de idade; a ES2 teve o diagnóstico
com 1 ano e iniciou a LGP aos 2 anos; a ES3 teve o diagnóstico
aos 6 anos e iniciou a LGP aos 9 anos; e o ES4 teve o diagnóstico
aos 3 anos e iniciou a LGP aos 4 anos de idade.
268
Embora todos os estudantes utilizem a LGP como língua
materna, todos fazem leitura labial e utilizam também a oralidade,
embora com algumas limitações. Frequentaram o Ensino Regular
com apoio da Educação Especial, com algumas medidas específicas
no processo de ensino e aprendizagem e, durante o ensino
obrigatório, foram acompanhados por ILGP. Relativamente ao
acesso ao ES, todos entraram pelo Concurso Nacional de Acesso ao
Ensino Superior e tiveram adaptações no exame de acesso,
nomeadamente na avaliação da linguagem escrita, além de terem
usufruído de ILGP durante os exames.
Relativamente à motivação e satisfação face aos cursos
escolhidos, todos os estudantes entraram no curso de primeira
opção e referem que o primeiro ano no ES está a decorrer de
acordo com as suas expetativas.
Desempenho acadêmico, ensino e aprendizagem
no Ensino Superior
Questionados sobre o seu desempenho acadêmico, todos
os estudantes referem ter tido sucesso nas unidades curriculares do
semestre, e no que se refere às do semestre, estão a conseguir
acompanhar as aprendizagens, prevendo também bons resultados.
Assinalam ainda que, maioritariamente, tiveram aproveitamento na
avaliação contínua, sendo que as notas finais obtidas se situam
entre os 12 e 17 valores. Não obstante, a ES3 refere que uma das
unidades curriculares não decorreu como previsto, pelo que teve de
ir a exame, tendo terminado com aproveitamento.
269
Embora se possa antever alguma expetativa de
continuidade no ES e revelem que se sentem acolhidos no
ambiente acadêmico, todos os estudantes manifestam algumas
preocupões, nomeadamente:
Sinto que este ano as matérias foram acessíveis e eu
consegui acompanhar na boa. Vamos ver como vai ser
depois. Dizem que o e o anos são mais
complicados[…] vamos ver, tenho confiança que vou
conseguir. Sei que vou ter de trabalhar, mas estou
habituado, espero continuar a ter apoio da intérprete nas
aulas e que os professores continuem disponíveis para
apoiar (ES4).
Neste ano es tudo a correr bem, diziam-me que era mais
difícil, mas estou a conseguir. No secundário também não
era fácil e eu consegui. Tenho que trabalhar, mas com o
apoio dos professores e da intérprete vou conseguir (ES2).
A análise a estes testemunhos revela que estes estudantes
têm consciência de que têm capacidades, têm vontade para
trabalhar e, sobretudo, acreditam em si mesmos, embora declarem
a necessidade de acompanhamento das intérpretes. Também,
Adkins (2020) e Kisanga (2020) referem que estes estudantes
precisam trabalhar mais do que os seus colegas ouvintes para
atingir objetivos semelhantes. Estas suas percepções e expetativas
positivas revelam-se extremamente importantes, atendendo ao que
a literatura destaca que, pelas dificuldades relacionadas com a
comunicação no ambiente acadêmico, estes estudantes se
270
encontram em maior risco de apresentar um desempenho
acadêmico com resultados mais baixos.
Inquiridos como foi a sua entrada num meio
maioritariamente ouvinte, não referem grandes dificuldades,
embora refiram uma mudança. Atendendo às suas experiências de
vida e ao facto de ser algo a que, segundo os seus testemunhos,
estão habituados o ES1 refere Senti-me normal, porque na
secundária foi igual, fui único aluno surdo da turma e interagi
muito bem, o mesmo que acontece atualmente na universidade” e
a ES2 “Normal, porque eu cresci sempre num ambiente
maioritariamente ouvinte, visto que sou a única surda da minha
família e dos amigos, portanto não me fez muita diferença”.
Referem, contudo, que a transição implicou alguma insegurança,
pois desconheciam o que iriam encontrar, e as atitudes de
professores e colegas. Estes resultados são corroborados em diversos
estudos que assinalam o desafio que constitui a entrada para o ES
(BIGGERI et al., 2020; FIRAT, 2021).
Para se comunicarem com os professores, referem que se
necessário falam oralmente, embora sempre que estão presentes as
ILGP traduzem. A não utilização da LGP com os professores é
justificada por ES4 que refere “Raramente, porque eles
[professores] não entendem a LGP. Basicamente as seguintes
palavras: olá, bom dia, bom, mais ou menos e mal”. Referem
ainda que a comunicação acontece normalmente por meio da
tradução e interpretação das ILGP. Caso estas não estejam, desde
que os professores não estejam a utilizar as máscaras, todos referem
que conseguem fazer a leitura labial.
271
A comunicação com os professores é feita através da
intérprete, que é fundamental em contexto de sala de aula.
Muitas vezes não percebo o que os professores estão a falar,
por causa do som (fonética) e das palavras que utilizam. O
uso da máscara por causa do Covid dificultou também
imenso no início. Agora a maior parte dos professores
não usa máscara e quando o tenho intérprete na aula faço
leitura labial (ES4).
Inquiridos sobre a sua participação nas aulas, são
unânimes em responder que participam, algumas vezes, oralmente,
mas na maior parte das vezes, mediante tradução da ILG. Com os
colegas, referem que fazem trabalhos em grupo, mas que nem
sempre é fácil, conforme o testemunho de ES2:
Sim, realizei alguns trabalhos de grupo. No início, tento
explicar como devem abordar ao falarem comigo, mas
devido às máscaras não foi fácil… e não só, também à falta
de informação relativamente à surdez[...]
Ou de ES4:
Sim, faço trabalhos de grupo com os meus colegas ... Às
vezes falamos no Discord, é que quando eu não percebo o
que estão a falar, mando-lhes mensagens para eles
escreverem e eu perceber. Eles aceitam e escrevem o que
estávamos a falar sobre o trabalho.
272
Os resultados documentam que estes estudantes estão
satisfeitos com a sua inclusão nesta universidade, contrariando
alguns estudos que assinalam que os estudantes surdos revelam
dificuldades na inclusão, insatisfação com a comunicação, quer
com professores, quer com os colegas (ARAÚJO et al., 2020;
MARSCHARK, et al., 2016).
Questionados sobre as suas experiências, a ES2 refere que
“No início dos semestres, falo com os professores e explico quais as
melhores estratégias para que eu consiga perceber e acompanhar as
aulas”, ou ES4 que comenta “Os professores percebem as minhas
dificuldades, tentam ajudar apesar de não terem conhecimento de
LGP”. Relativamente, as estratégias utilizadas pelos professores no
processo de ensino e aprendizagem, relata a ES3 que “Os
professores tentam ficar à minha frente, para assim ser possível
perceber o que dizem; por outro lado, também, recorrem ao registo
de apontamentos no quadro”.
Assinale-se que na literatura da área é referida a
importância da comunicação eficaz e a gestão da sala de aula como
facilitadores para a acessibilidade em relação às aprendizagens,
influenciando o desempenho acadêmico dos estudantes surdos
(TAYLOR, et al., 2017).
No que se refere à avaliação e aplicação das medidas de
apoio ao ensino e aprendizagem definidos para cada um dos
estudantes, de acordo com as suas necessidades pelo gabinete de
apoio ao estudante, embora o ES1 refira que “muito bem, todos
respeitam as medidas que são enviadas”, a ES2 refere Algumas
medidas, sim, e outras, não, acho mesmo que alguns professores
não chegaram a ler as medidas de apoio que lhes foram
273
comunicadas”. Esta opinião é também corroborada por ES3 que
refere que sempre são cumpridas “Nem em todas as disciplinas”.
Inquiridos sobre o que precisa ser melhorado na prática
dos professores, enquanto que para a ES3 e o ES1, tudo parece
estar a decorrer sem grandes problemas comentando “Nada, está
tudo Ok” (ES1), a ES2 revela alguma insatisfação:
Na minha opinião, os professores deveriam ter mais
workshops sobre a sensibilização à surdez, para se
informarem de como devem abordar as pessoas surdas e
quais as melhores estragias para comunicar. Houve uma
situação em que um professor percebeu que eu ouvia
alguma coisa, e então considerou logo que eu conseguia
perceber tudo o que ele estava a dizer.
No mesmo sentido, também o ES4 refere:
Eu acho que os professores têm de aprender a Língua
Gestual Portuguesa, por cursos ou através da internet, por
exemplo através do “Spread The Sign” para comunicarem
com os estudantes surdos. Também têm de falar devagar ou
normal, pois se falarem pido, eu não percebo muito bem
e perco informação, fico frustrado e as minhas
aprendizagens ficam muito aquém do previsto e necessário.
A formação dos professores, a sua sensibilização face às
questões decorrentes da deficiência auditiva e surdez, bem como a
aprendizagem da LGP, são efetivamente questões extremamente
importantes e que têm sido referidas em diversos estudos
274
(ARAÚJO, 2020; BISOL, et al., 2010; GUIMARÃES, et al.,
2020; FOSTER, et al., 1999).
No que se refere à comunicação e relação com os colegas,
em termos gerais, não relatam dificuldades. Segundo os seus
testemunhos, embora os colegas ouvintes não dominem a LGP,
tentam fazer um esforço para comunicar de outras formas.
Assinale-se, contudo, que reconhecem a importância de que a
comunidade ouvinte tenha a oportunidade de, ao longo da
escolaridade básica, aprender a LGP, pois, segundo o ES4
Seria importante que todos os alunos tivessem a LGP como
disciplina obrigatória, tal como temos Inglês, ou outra
língua. Assim seria bem mais fácil e útil para todos. Se
podemos aprender outras nguas porque não a LGP?
Nesse sentido, importa assinalar que o ES deve promover
a criação de um ambiente acadêmico inclusivo, onde todos os
estudantes se sintam acolhidos e participantes com os mesmos
direitos. Para que exista uma verdadeira inclusão, devem ser
disponibilizadas formações sobre as deficiências, nomeadamente a
surdez e onde seja trabalhada a aprendizagem da LGP, quer para os
professores, pessoal não-docente e também colegas ouvintes.
No que se refere ao apoio dado pelas ILGP, todos são
unânimes que o acompanhamento é crucial, mas que é
insuficiente, atendendo a que não têm intérprete disponível em
todas as aulas. Como refere o ES4 “Só tenho uma intérprete. Sinto
que preciso de mais uma intérprete, como no primeiro semestre,
tinha duas e sentia-me mais confortável e apoiado”.
275
Questionados sobre a conclusão do curso, todos os
estudantes revelam que é extremamente importante. Assim, o ES1
refere “Quero mostrar o quão sou capaz de fazer como os outros e
que nada é impossível”, ou a ES2 “Para mim, é importante
concluir o curso, porque é um dos maiores sonhos que tenho desde
sempre, e quero adquirir todas as competências, antes de entrar no
mercado”. No mesmo sentido, também, a ES3 refere “É o meu
sonho realizado” e o ES4 “O mais importante é aprender as
matérias das aulas e ter bases sólidas pois pretendo avançar para o
mestrado nesta área ou uma futura candidatura de trabalho numa
empresa”.
Educação inclusiva, acessibilidades, barreiras
e desafios no Ensino Superior
Inquiridos sobre se sentem incluídos na instituição, todos
os inquiridos concordam que a Universidade pretende um sistema
inclusivo, embora “ainda faltem ultrapassar algumas barreiras”
(ES1), mas como ES3 refere “Já é um passo o que está a ser feito.
Relativamente à sensibilização e conhecimento das nossas
necessidades, muitos professores ainda não estão apetrechados
com as melhores estratégias” (ES2).
Os aspetos que consideram mais positivos na sua inclusão
nesta instituição são de acordo com o ES1 “todos serem simpáticas,
tratarem os alunos surdos com igualdade e respeito”, enquanto a
ES2 assinala:
276
Os professores estão na maior parte das vezes disponíveis
quando tenho dúvidas e gosto quando os professores
tentam incluir os alunos nas aulas, porque tornam as aulas
mais interessantes.
No mesmo sentido, também, o ES4 comenta:
Sinto que existe um esforço por parte da universidade, da
equipa responsável, uma vontade em que me sinta
confortável a tirar o curso e a dar-me motivação para
continuar a estudar.
Relativamente aos aspetos negativos, são apontadas as
barreiras à comunicação devido à utilização das scaras
atendendo à pandemia causada pelo Covid-19, sobretudo, no
início do semestre “A barreira de comunicação devido às
máscaras, foi muito mau…” (ES1)., ou ainda a falta de informação
relativa às necessidades dos estudantes surdos, como refere a ES2:
Quanto a mim, os principais aspetos negativos são ainda a
utilização das máscaras por alguns professores e colegas,
bem como alguma falta de sensibilização e informação sobre
as necessidades dos estudantes surdos. Houve uma situação
em que um professor o queria deixar que a intérprete
traduzisse o teste, mas depois acabou por permitir!”
(ES2).
Esses resultados assinalam a importância dos fatores
relacionados com a comunicação para permitir que os estudantes
277
surdos alcancem um bom desempenho educacional. Este aspeto é
corroborado por diversos estudos que destacam os fatores de
comunicação como um forte preditor para o desempenho
acadêmico dos estudantes surdos (FREITAS, et. al., 2017;
MOHAMMED, 2020).
Questionados sobre o desafio escrita e leitura, os
estudantes não referem dificuldades, não obstante diversos estudos
apontem que os estudantes surdos, muitas vezes, manifestam
dificuldades na leitura, compreensão e expressão (PADDEN;
RAMSEY, 2000). Assinale-se, no entanto, ES2 que refere:
Desde pequena, adoro ler, por isso o é um problema para
mim. O que eu tenho mais dificuldades é na interpretação
dos exercícios, ou o que é pedido para resolver e às vezes
não percebo bem onde o professor quer chegar.
É, nesse sentido, que mais uma vez destacam que é
importante que a ILGP possa “acompanhar nos momentos de
avaliação, retirando dúvidas sobre alguns termos que eu posso não
conhecer e perguntas que eu posso não entender” (ES4).
A falta de recursos humanos, sobretudo mais apoio com
relação a tradução e interpretação são referidos por dois estudantes,
os quais “Não considero que existam barreiras à minha inclusão na
Faculdade, salvo pela insuficiência de intérpretes (ES3), ou
Algumas aulas em que não tenho intérprete e se estiver num
evento, conferência sem intérprete, eu fico mesmo
desapoiado. Assim, cresce uma barreira enorme na
278
comunicação, e na recepção dos conhecimentos e conteúdo
(ES4).
Esses resultados destacam a importância dos intérpretes
de LGP nas IES, como um importante serviço de apoio para os
estudantes surdos, e é corroborado por diversos estudos
internacionais (AL-RAYES & AL-KHARJI, 2010; FREITAS, et
al., 2017; MARSCHARK, et al., 2016; MOHAMMED, 2020).
Segundo Hanafy e Al-Aydy (2016), a presença do intérprete auxilia
na melhoria da qualidade de vida acadêmica, sendo este serviço
prioritário para facilitar a comunicação, além de que deve ser
prestado dentro e fora da sala de aula, de forma a que os estudantes
participem em toda a vida acadêmica.
Efetivamente, um dos papéis mais importantes dos
intérpretes é facilitar a comunicação entre professores e estudantes
surdos, mas, é igualmente importante que a comunicação seja
eficaz também entre os estudantes surdos e ouvintes nos diversos
contextos relacionais fora das salas de aula (AL-RAYES; AL-
KHARJI, 2010; FREITAS, et al., 2017; FOSTER et al., 1999).
Importa, ainda, ter em atenção que, para existir uma comunicação
eficaz, os intérpretes de LGP devem ser profissionais familiarizados
com os requisitos do ES (BRAUN et al., 2018; FOSTER, et al.,
1999; NAPIER; BARKER, 2004), tal como é salientado pela ES2
Sinto ainda que por vezes as ILGP que nos acompanham
não têm conhecimento do que vai ser dado na aula e assim
não conhecem todos os conceitos, o que dificulta a
interpretação e tradão. É importante que estejam
preparadas para o que vai ser dado, ou seja, tem de haver
279
uma articulação entre os professores e elas, porque senão
tudo é mais difícil [...] (ES2).
Esta é, de facto, uma questão extremamente pertinente e
reconhecida em vários estudos que assinalam que os intérpretes
devem trabalhar em cooperação com os docentes e terem
conhecimento prévio das matérias (AL-RAYES; AL-KHARJI,
2010). É, também, fundamental que os inrpretes de LGP
participem nas palestras e reuniões, pois isso ajuda-os a aprender
vocabulário relacionado com os cursos (FREITAS et al., 2017).
Também, Napier e Barker (2004) destacam a importância de
formação educacional a estes intérpretes de forma a prepará-los
para trabalhar no contexto universitário.
Alguns estudos têm indicado que a participação dos
estudantes surdos, quer em discussões nas aulas, quer em outros
eventos, tais como palestras, está muito condicionada, uma vez que
estes têm muita dificuldade em seguir o que se passa,
nomeadamente quando mais de um estudante está falando. Estas
dificuldades assinalam a importância da sensibilização para a gestão
e estruturação dos eventos para responder às necessidades dos
estudantes surdos (MOHAMMED, 2020; STINSON et al.,
1996).
Estes resultados são corroborados pelos estudos de
Chibuik (2020), Marschark et al. (2016) e Smith e Andrews
(2015) que defendem que os professores devem utilizar estratégias
que possibilitem uma comunicação eficaz, promovendo que apenas
um estudante fale de cada vez, abrindo linhas de visão na sala de
280
aula, desacelerando o seu discurso e privilegiando o trabalho em
colaboração.
Como estratégia menos favorável, as estudantes ES2 e
ES3 referem que muitos professores circulam pela sala, enquanto
lecionam as matérias, dificultando aos estudantes surdos a leitura
labial, especialmente quando não está presente a intérprete:
Gostaria que eles [professores] ficassem no mesmo sítio, em
vez de andarem de um lado para o outro. alertei sobre
isso, mas acabam por esquecer e depois não os chateio mais.
Sei que não fazem de propósito (ES2).
Outro aspeto mencionado por todos os estudantes e que
se constitui um desafio, apesar de já estarem habituados a esta
situação, está relacionado com a dificuldade em focalizar, ao
mesmo tempo, o professor, o quadro ou os powerpoints e a
intérprete que está a traduzir, como é referido, por exemplo:
É um bocado complicado, porque enquanto tenho uma
intérprete na sala estou atenta ao que ela está a traduzir e
tento acompanhar o que o professor está a escrever no
quadro a projetar (ES2).
Também, Foster et al. (1999) relatam as dificuldades
elencadas pelos estudantes surdos como o circular pela sala”, a
quebra do contacto visual enquanto o professor escreve no quadro,
um documento ou apresenta um powerpoint.
281
Conclusões
De acordo com os resultados obtidos, a presença de
estudantes surdos no ES ainda se constitui como um desafio não
apenas para as IES, e professores, mas, sobretudo para estes
estudantes. Na universidade em estudo, embora a percepção dos
estudantes seja bastante positiva sobre as medidas de apoio, ainda
persistem diversas dificuldades a serem superadas, como a falta de
formação dos professores, que dificulta a comunicação entre estes e
os estudantes surdos, a utilização de estratégias que favoreçam a
aprendizagem e o desempenho acadêmico, bem como as
dificuldades de comunicação entre os estudantes surdos e os
ouvintes.
A maior parte da comunidade acadêmica é ouvinte e
desconhece muitas especificidades relativas à surdez, além de não
possuir conhecimentos sobre a LGP, o que sobrecarrega emocional,
cognitiva e socialmente o estudante surdo.
Embora tenham decorrido quase três cadas após a
Declaração de Salamanca (1994), parece continuar a haver uma
“maior compreensão sobre as barreiras e dificuldades do que sobre
as soluções” (BISOL, et al. 2010, p. 154), sobretudo no que
respeita os estudantes surdos no ES, ao invés de se caminhar para
um contexto educativo que se fundamente na diversidade e na
heterogeneidade características do ser humano.
É urgente que o sistema acadêmico do ES promova uma
cultura de inclusão que se fundamente no Desenho Universal para
a Aprendizagem. Nesse sentido, as IES devem priorizar o ensino de
qualidade para todos os alunos, garantindo a inclusão, a
282
diversidade e condições de igualdade e equidade no acesso,
permanência, participação e aprendizagem significativa
(MARCONCIN et al., 2013; GUIMARÃES, et al., 2020). que
se repensar o que se entende por ensinar e aprender, desenhar
políticas educativas que respondam às necessidades de todos os
estudantes, implementando estratégias metodológicas que
permitam acolher a heterogeneidade e diversidade de todos os
estudantes, respeitando as suas diferenças individuais.
Importa salientar que o desempenho acadêmico dos
estudantes surdos é afetado por rios fatores de comunicação,
sendo que o acompanhamento e apoio de ILGP pode constituir-se
como um importante facilitador. Professores e intérpretes devem
trabalhar em colaboração, atendendo que a precisão e a eficácia da
tradução são altamente dependentes do conhecimento dos
conteúdos, reduzindo os erros de tradução, de forma que seja mais
eficaz a interpretação e tradução das informações.
A relevância do presente estudo reside na importância de,
ao se investigar os fatores que afetam o desempenho acadêmico dos
estudantes surdos no ES, mais facilmente se conseguirá criar
contextos que favoreçam os processos inclusivos, contribuindo para
superar e resolver as dificuldades e os desafios com que estes se
deparam.
Existem várias limitações neste estudo, nomeadamente o
facto de apenas se fundamentar nos testemunhos de quatro
estudantes surdos, pelo que os resultados devem ser interpretados
com precaução. Outra limitação é que o estudo foi realizado
apenas numa única universidade, portanto, os resultados não
podem ser generalizados. Também, o viés de resposta dos
283
participantes que podem ter sido menos abertos a discutir as suas
experiências, devido à natureza sensível do assunto, além de que
estavam a responder na instituição que frequentam, se constitui
como limitação.
Pesquisas futuras devem tentar coletar uma amostra mais
significativa. Teria sido particularmente importante incluir
elementos do corpo docente, ILGP, membros das famílias dos
estudantes e colegas. Combinar as vozes dos estudantes e
comunidades acadêmicas em várias instituições de ES permitiriam
ainda uma exploração mais profunda das considerações levantadas
no presente estudo.
Futuras pesquisas devem também investigar as
dificuldades, desafios e barreiras que os estudantes com deficiência
sentiram e que os levaram a abandonar o ES. A pesquisa
longitudinal também pode ser uma importante contribuição para
melhor compreender os fatores que influenciam o desempenho
acadêmico destes estudantes. Além disso, também é
particularmente importante focar a atenção na investigação de
atitudes e práticas educacionais e incluir os discursos de professores
inclusivos.
«Este trabalho foi financiado por fundos nacionais através da FCTFundação
para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UIDB/04312/2020»
284
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290
291
CATULO 10
O INES-BRASIL como Facilitador da Identificação
de Barreiras de Acessibilidade em uma
Universidade Pública Brasileira
Sandra Eli Sartoreto de Oliveira MARTINS
1
Ana Paula Camilo CIANTELLI
2
Juliana Cavalcante de Andrade LOUZADA
3
1
Pedagoga e Doutora em Educação. Professora Assistente Doutora do
Departamento de Educação e Desenvolvimento Humano e do Programa de Pós-
Graduação em Educação, da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade
Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", FFC-UNESP/Marília/SP/Brasil. E-
mail: sandreli@marilia.unesp.br. ORCID: http://orcid.org/0000-0002-4247-
1447
2
Psicóloga, Doutora e Mestra em Psicologia do Desenvolvimento e
Aprendizagem pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia do
Desenvolvimento e Aprendizagem pela Faculdade de Ciências da Universidade
Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", FC-UNESP/Bauru/Rio Claro/SP/
Brasil. E-mail: aninhaciantelli@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-
0003-3605-6009
3
Educadora Física, Doutora e Mestra em Educação pelo Programa de Pós-
Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade
Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" FFC-UNESP/Marília/SP/Brasil.
E-mail: juliana.louzada@unesp.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3599-
6744.
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p291-334
292
Introdução
As políticas de ações afirmativas desenvolvidas nas últimas
décadas possibilitaram às coletividades populacionais em situação
de vulnerabilidade e marginalizados socialmente (pessoas em
situação de deficiência, pessoas de baixa renda econômica, negros,
indígenas, LGBTQIAP+, mulheres etc.) o acesso à Educação
Superior, no Brasil, até então restrita à elite brasileira.
Programas de ações afirmativas apoiadas em valores de
justiça social e de direitos humanos passaram a defender
equiparação de oportunidades a todos, quanto ao acesso aos bens
fundamentais e materiais, alicerçados no desenvolvimento de
políticas de combate à pobreza, à discriminação praticada contra a
coletividade de vulneráveis e marginalizados socialmente, às
desigualdades sociais e de pessoas em situação de exclusão social e
educacional (ONU, 1948; UNICEF, 1990; UNESCO, 1994;
UNESCO, 1998).
No Brasil, desde a década de 1990, diferentes perfis
populacionais tiveram acesso à Educação Superior impulsionada
pela implementação de certas políticas, como o Fundo de
Financiamento Estudantil (FIES), em 1999; o Programa
Universidade para Todos (PROUNI), em 2005; o Programa de
Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
(REUNI), em 2007; o Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM); o Sistema de Seleção Unificada (SiSU), a partir de 2009;
o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAEs), em
2010; e a Lei 13.409 (BRASIL, 2016), em 2016.
293
Em consonância com tais tratativas legais, nota-se o
desenvolvimento de ações mais alinhadas ao atendimento das
demandas específicas de pessoas em situação de deficiência, acerca
da garantia à participação na Educação Superior. Dentre elas,
destacam-se: o Decreto 5.296/2004 (BRASIL, 2004), a
Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), o Decreto 6.949/2009
(Brasil, 2009), o Decreto 7.611/2011 (BRASIL, 2011) e a Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - LBI (BRASIL ,
2015).
A LBI amparada na Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), ratificada
pelo Decreto 6.949 (BRASIL, 2009), reconhece a deficiência
como um fenômeno resultante da interação dessa pessoa com uma
ou mais barreiras, às quais, a depender do contexto, exigirão a
remoção das barreiras que dificultam a participação de todos de
uma vida digna em sociedade.
Defender a remoção de barreiras e o acesso de coletivos
considerados em situação de vulnerabilidade, ao Ensino Superior,
com especial atenção aos que se reconhecem em situação de
deficiência
4
, convoca-nos a nos afastarmos de ideias associativas
dos que buscam considerá-las presas às
4
Termo utilizado pelas autoras, a fim de situar a compreensão da deficiência,
com base nos estudos produzidos no campo do conhecimento em ciências
humanas, em diálogo das áreas de Educação, de Direitos Humanos, Psicologia
Social, Antropologia, Filosofia, entre outras.
294
[...] classificações/denominações universais em torno da
normalidade/anormalidade, fundamentadas numa concep-
ção abstrata e a-histórica de sujeito, que servem para
sustentar conceitos fechados e premissas estruturadas numa
lógica determinista (BERBERIAN; MARTINS, 2015, p.
35).
A partir de reflexões que primam pela superação da
opressão de corpos na contemporaneidade, no mundo, este texto
assume o compromisso de dialogar sobre a situação de deficiência
no lugar de existir da humanidade, imersa nas relações culturais,
políticas, econômicas, de formas de vida em sociedade. Em outros
termos, esse modo de agrupar pessoas ‘semelhantes e ‘diferentes’,
propagando a homogeneização de corpos, saberes, vivências,
comportamentos, entre outras formas de valorar, tipificar a
existência humana, acenam desafios para pensar as diferenças
como a única condição constitutiva capaz de explicar a natureza do
desenvolvimento humano, conforme asseveram Martins, Ciantelli
e Nunes (2022, p. 02).
Assim, a presença de pessoas em situação de deficiência, na
Educação Superior, é considerada ainda um fato recente no Brasil.
Contudo, dados atualizados do Resumo Técnico do Censo da
Educação Superior (INEP, 2020) apontam que 59.001 estudantes
em situação de deficiência efetivaram a matrícula em 2019,
perfazendo 0,7% do total das matrículas informadas pelo INEP -
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira, no Ministério da Educação, número considerado baixo,
quando comparado aos indicadores estatísticos de matrícula para o
público em geral.
295
Desde então, pessoas em situação de deficiência, apoiadas
em pautas dos movimentos sociais, passaram também a exigir, com
maior evidência, a expansão da matrícula na educação superior,
por intermédio da Lei 13.409 (BRASIL, 2016), que altera a Lei
12.711, de 29 de agosto de 2012, a qual dispõe sobre a reserva
de vagas para grupos em situação de vulnerabilidade econômica e
social, em cursos cnicos de nível médio e superior das
instituições federais de ensino. De maneira análoga, a
implementação de políticas inclusivas e de reserva de vagas,
timidamente, tem sido pautada no plano de desenvolvimento
institucional de diferentes universidades, de forma mais presente,
nos últimos dez anos.
No entanto, nota-se, ainda, haver uma série de barreiras à
participação de pessoas em situação de deficiência, nesse nível de
educação, as quais, portanto, exigirão a oferta de atendimentos
educacionais específicos, de recursos, tecnologias e ajustes razoáveis
para oportunizar em igualdade de condições a realização dos
exames dos processos seletivos, nas ofertas de estratégias que
garantam o aprendizado e o desenvolvimento acadêmico dessa
população no Ensino Superior.
Ao se referir às barreiras de acessibilidade e de inclusão de
educacional, Sassaki (2009) orienta que sua identificação pode ser
classificada e estudada em seis dimensões: 1) arquitetônica
(relacionada às barreiras físicas); 2) comunicacional (ligada às
barreiras na comunicação entre pessoas); 3) metodológica
(associada às barreiras nos métodos e técnicas de lazer, trabalho,
educação etc.); 4) instrumental (voltada às barreiras nos
instrumentos, ferramentas, utensílios etc.); 5) programática
296
(relativa às barreiras incutidas nas políticas públicas, legislações,
normas etc.) e 6) atitudinal (atinente a preconceitos, estereótipos,
estigmas, discriminação etc.).
Na leitura do Referencial de Acessibilidade na Educação
Superior (BRASIL, 2013), observamos o acréscimo de mais duas
dimensões: as barreiras de acessibilidade nos transportes, as quais
se referem às restrões de utilização de uso de veículos, nos pontos
de paradas, na mobilidade pelas calçadas, no uso dos terminais,
estações e todos os outros equipamentos que compõem as redes de
transporte (BRASIL, 2013, p. 38); e as barreiras de acessibilidade
digital, congregando restrições para o alcance dos equipamentos,
programas e conteúdo e informação em formatos alternativos,
entre outras.
Para a remoção das barreiras de acessibilidade nos diversos
contextos sociais, o artigo da LBI (BRASIL, 2015) descreve
como:
[...] qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento
que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem
como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à
acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à
comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à
circulação com segurança, entre outros, classificadas em: a)
barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espos
públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo;
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios
públicos e privados; c) barreiras nos transportes: as
existentes nos sistemas e meios de transportes; d) barreiras
nas comunicações e na informação: qualquer entrave,
297
obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou
impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e
de informações por intermédio de sistemas de comunicação
e de tecnologia da informação; e) barreiras atitudinais:
atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem
a participação social da pessoa com deficiência em igualdade
de condições e oportunidades com as demais pessoas; f)
barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o
acesso da pessoa com deficiência às tecnologias. (Brasil,
2015)
A partir de uma enquete sobre acessibilidade com
estudantes universitários com e sem deficiência, docentes e
funcionários, Ciantelli, Pagni, Amorim e Martins (2021) discutem
o tema para além das concepções presas a definições vinculadas à
eliminação de obstáculos para a circulação das pessoas aos espaços
comuns e acesso às edificações estruturais/arquitetônicas,
caracterizando esta última como uma das dimensões mais
observadas e citadas pelo senso comum e nos estudos em
diferentes áreas do conhecimento.
Os achados ainda sugerem reflexões que ultrapassam a
visão de acessibilidade no campo dos estudos em Educação
Especial, por evidenciarem que os ajustes razoáveis, as tecnologias
assistivas, entre outros recursos e/ou serviços especializados
descritos na LBI (BRASIL, 2015) deixam de considerar outros
modos de opressão que traduzem as singularidades pessoais,
culturais, sociais das múltiplas corporalidades de ser e estar no
mundo, tendo em vista ou não a situação de deficiência. Em
outros termos, o estudo recomenda dialogar sobre a acessibilidade
298
em uma perspectiva interseccional e transversalizada da
participação de um sujeito real, no cotidiano da práxis
universitária (CIANTELLI; PAGNI; AMORIM; MARTINS;
2021; MARTINS; CIANTELLI; NUNES; 2022).
Em face de tais ponderações, denuncia contradições de
uma lógica demarcada por valores do capitalismo, do lucro, da
concentração da riqueza, na qual o ensino técnico/produtivista
parece preponderar na práxis pedagógica do cotidiano da
universidade. Para alguns casos, os respondentes do estudo de
Ciantelli, Pagni, Amorim e Martins (2021) mencionaram que a
acessibilidade está relacionada com demandas específicas
vinculadas a fatores de obesidade, de lentidão para aprender, de
aspectos de discriminação étnico-raciais, de gênero, entre outras;
demandas estas pouco visibilizadas nas formas de organização do
currículo, da estrutura e funcionamento do Plano Político
Pedagógico dos cursos nas instituições de Ensino Superior.
Portanto, ao revisitar essa temática, os autores
recomendaram considerar reflexões que elucidam marcadores de
exclusão social, atitudinal e educacional que interatuam com
barreiras limitadoras de acesso aos bens culturais produzidos pela
humanidade (CIANTELLI; PAGNI; AMORIM; MARTINS,
2021). Para explicar as formas de opressão e exclusão, nesse
âmbito de ensino, destacam a presença da dialética entre o
binômio exclusão/inclusão para combater o capacitismo presente
na sociedade e, por conseguinte, nas práxis universitárias.
Em outras palavras, propõe que estejamos em posição
aguerrida contra a lógica neoliberal da performatividade individual
de corpos, ancorada na ideia de competências adquiridas para
299
formação acadêmica como suficientes para responder à cultura do
produtivismo. Tal postura apenas reforça e ignora que diferentes
corpos e modos de funcionamento existam e possam ser
visibilizados nas práticas cotidiana da universidade.
o obstante essas afirmativas, alguns trabalhos têm se
dedicado a estudar as barreiras de acessibilidade nos espaços
universitários para denunciar práticas que dificultam a trajetória
acadêmica de estudantes em situação de deficiência. Em geral,
acenam à presença de barreiras nos espaços e nas relações sociais
relacionadas aos âmbitos comunicacional e metodológico, ao
tomar, como exemplo, os processos seletivos de exames
vestibulares que ignoravam o direito de os surdos acessarem os
editais em Libras (SILVA; MARTINS, 2018).
Ademais, outros estudos se propuseram levantar e analisar
as barreiras atitudinais em torno da compreensão da deficiência,
inclusão e acessibilidade pela comunidade acadêmica
(CIANTELLI; PAGNI; AMORIM; MARTINS, 2021). As
barreiras atitudinais enfrentadas por estudantes que se
reconheciam com Transtorno do Espectro Autista foram
observadas por Olivati e Leite (2019), na medida em que
retrataram esforços para manterem seus corpos invisíveis nas
relações do cotidiano na universidade, denunciando, assim,
atitudes capacitistas, sendo este último tema amplamente debatido
na obra de Gesser, Block e Mello (2020).
A respeito, notamos outros estudos que pontuam
percepções de sofrimento, estigmas e preconceitos vivenciados por
estudantes em situação de deficiência, nas relações com colegas da
turma não deficientes; ausência de propostas interdisciplinares e
300
intersetoriais que pudessem promover práticas de acessibilidade e
inclusão na universidade, segundo focaliza o estudo de Katz et al.
(2022). O debate de acessibilidade, reconhecimento da diversidade
e planejamento de ações constitui o foco da pesquisa de Ciantelli e
Leite (2016), que aludem para práticas de sensibilização e
conscientização sobre o tema em uma universidade brasileira.
Outros ainda asseveram aspectos da ausência de políticas
institucionais de formação continuada dos docentes e de ausência
da oferta e desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas
nesse nível de ensino (OSÓRIO, 2022). Por fim, observamos
estudos que se dedicaram a discorrer o sobre as barreiras, mas
foram capazes de apontar facilitadores à promoção de culturas
inclusivas na universidade (PÉREZ-CASTRO, 2019; DINIZ;
SILVA, 2021). Entretanto, apesar de localizar uma variedade de
estudos a respeito do tema, poucos foram os que se propuseram
estudar as políticas de avaliação da qualidade da educação inclusiva
no Ensino Superior, entre outros aspectos.
Posto isso, o capítulo objetivou demonstrar quais foram os
indicadores de barreiras de acessibilidade e inclusão por
universitários na situação da deficiência em uma instituição
pública.
Os dados foram obtidos por meio da aplicação do Índice
de Inclusión para Educación Superior - INES (COLÔMBIA,
2017) em algumas instituições da Colômbia, preocupadas com a
avaliação de um plano de melhora na inclusão e acessibilidade
desses espaços (GOYENECHE; RUIZ, 2021), recentemente
utilizado em uma pesquisa de doutoramento de Louzada (2022),
coautora neste trabalho.
301
O INES foi criado como parte central da política de
organização das Diretrizes Institucionais da Educação Superior da
Colômbia (COLÔMBIA, 2017) e possui como foco indicadores
que analisam os níveis de políticas, culturas e práticas inclusivas no
contexto universitário, buscando levantar dados acerca de
diferentes grupos presentes nas universidades que devem ter seus
direitos e necessidades atendidas. O instrumento pode ser aplicado
em estudantes, docentes e funcionários das instituições e está
dividido em três questionários (escala tipo Likert, que varia de 3 a
4 pontos), os quais buscam, por meio de 12 fatores e 25
indicadores, compreender e caracterizar os processos políticos
institucionais para a promoção da inclusão e acessibilidade nesses
contextos, valorizando a pluralidade e a diversidade humana.
Louzada e Martins (2022) adaptaram e traduziram o
instrumento para a realidade brasileira, por valorizar a participação
da comunidade acadêmica na avaliação da qualidade e oferta da
educação inclusiva no Ensino Superior.
Método
Procedimento de Coleta de Dados
O presente estudo deriva de um projeto em rede
denominado “Acessibilidade e Inclusão em Contextos
Universitários Diferenciados” (Chamada Programa Universal
MCTIC/CNPq- 2018 Proc. 425167/2018-6 atual). Trata-se de
um projeto internacional que envolve quatro universidades
públicas: Unesp (Brasil), UFSM (Brasil), Unne (Argentina) e
302
Udelar (Uruguai), tendo como objetivos gerais delinear o perfil de
estudantes em situação de deficiência matriculados em cursos de
graduação, nos contextos investigados, bem como identificar e
analisar as barreiras de acessibilidade nas universidades públicas,
sob o ponto de vista desses sujeitos.
5
Dessa forma, apresentamos um recorte desse projeto,
debruçando-nos sobre as barreiras de acessibilidade e inclusão que
estudantes de graduação e pós-graduação em situação de
deficiência enfrentam, em uma das unidades da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, localizada no interior
do Estado de São Paulo, no Brasil.
Para tanto, os estudantes dessa faculdade foram
convidados, inicialmente, por e-mail institucional e posteriormente
por e-mail reencaminhado pela pesquisadora, a responder, de
forma on-line, o índice “Inclusão para o Ensino Superior INES-
Brasil” (LOUZADA; MARTINS, 2022), por meio da ferramenta
Google Forms, no período de dezembro de 2019 a março de 2021.
O período de coleta de dados se estendeu por mais de um ano, em
razão do baixo índice de respostas inicial, provavelmente, tanto
pela proximidade do período de férias da instituição no ano de
2019, como pelo cenário de pandemia da COVID-19 a partir do
5
A pesquisa ainda está em consonância com os estudos do Núcleo 4 -
Acessibilidade, Deficiência e Educação Inclusiva, do Projeto Internacional de
Redes de Pesquisa “Diferença, Inclusão e Educação- CAPES/PRINT (Edital
PROPG 02/2019 Proc. AUXPE Nº 88881.310517/2018-01), o qual integra o
Projeto de Rede Internacional de Pesquisa “Diferença, Inclusão e Educação”,
coordenado pelo Prof. Pedro Pagni Unesp/Marília, no Convênio CAPES-
PRINT-UNESP - “Tema sociedades plurais”.
303
ano de 2020. O tempo médio de orientação e preenchimento do
índice foi de 13 minutos (LOUZADA, 2022).
O instrumento foi composto, inicialmente, pelo termo de
consentimento livre e esclarecido TCLE e perguntas
relacionadas ao perfil dos estudantes (nome, sexo, idade, curso,
ano de ingresso, período; possui algum tipo de deficiência:
Transtorno Global do Desenvolvimento
6
ou Altas Habilidades/
Superdotação? Em caso afirmativo, qual?), segundo modelo
utilizado pelo Formulário do Sistema de Graduação SisGrad e
do Formulário do Sistema de Pós-Graduação SisPG da
instituição, seguido das perguntas do INES.
Vale registrar que, antes de se começar a aplicação do
instrumento, a pesquisa foi submetida à apreciação do Comitê de
Ética e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
(CAAEE), com parecer favorável, sob protocolo n.
94374418.2.0000.5398, na Plataforma Brasil.
Procedimento de Análise de Dados
Os dados obtidos pelo preenchimento do índice foram
primeiramente tabulados e organizados em uma planilha do Excel,
6
De acordo com a nova versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos
Transtornos Mentais (DSM-V, 2020) e com a Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11) (OMS,
2022), a terminologia Transtornos Globais do Desenvolvimento deixou de ser
utilizada e agora se adotou o termo Transtorno do Espectro Autista (TEA), que
contempla diferentes características antes compreendidas e identificadas
separadamente.
304
realizando-se o cálculo de distribuição por frequência das respostas
em cada um dos indicadores e análise descritiva das respostas.
Seguindo as orientações de alguns autores (COLÔMBIA,
2017; ANGEL; PEREZ, 2020; GOYONECHE; RUIZ, 2021), os
percentuais de resposta dos indicadores de cada eixo foram
associados a uma matriz de semaforização, todavia, com base nos
estudos de Louzada (2022), optou-se por agrupar algumas
categorias de interesse para melhor exploração da análise dos dados,
conforme demonstrado no quadro a seguir.
Quadro 1
Semaforização com agrupamento de algumas categorias de interesse
Tipo de Indicador
Categoria de Interesse
Cor
Porcentagem
Frequência
Sempre - Algumas
vezes
Menos de 60%
Entre 60% e 80%
Mais de 80%
Existência
Existe e se
implementaExiste e
não se implementa
Menos de 60%
Entre 60% e 80%
Mais de 80%
Reconhecimento
Sim
Menos de 60%
Entre 60% e 80%
Mais de 80%
Fonte. Adaptado da Colômbia (2017, p. 18).
Dessa forma, as respostas/porcentagens dos respondentes
eram somadas, segundo as categorias de interesse de cada
indicador, resultando numa porcentagem e cor da semaforização,
na qual o vermelho sugere alta prioridade de mudanças, o amarelo
aponta prioridade mediana de mudanças e o verde sinaliza baixa
prioridade de mudanças institucional, em termos de suas
305
percepções da comunidade acadêmica (estudante cem situação de
deficiência) focalizarem a presença com maior evidencia das
fortalezas e obstáculos para o desenvolvimento de políticas de
acessibilidade e inclusão na universidade.
Após essa etapa de análise, as pesquisadoras fizeram uma
leitura dos indicadores de acordo com as diferentes concepções de
barreiras propostas por Sassaki (2009), pelo referencial de
acessibilidade na Educação Superior (BRASIL, 2013), pela LBI
(BRASIL, 2015), em diálogo com as contribuições dos achados do
estudo de Ciantelli, Pagni, Amorim e Martins (2021), acerca da
compreensão do termo “acessibilidade”.
Nessa perspectiva, vários encontros foram realizados pelas
proponentes do estudo, em parceria com os membros do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Deficiência e Inclusão e (GEPDI -
cadastrado no CNPq/Unesp), caracterizado professores universi-
tários e estudantes da pós-graduação/ graduação expertos em
pesquisas na área de psicologia, da educação e da deficiência.
A partir da leitura da bibliografia e das normativas
consultadas, os expertos efetuaram exaustivas leituras dos dados
coletados, visando compreender de que modo se vinculariam aos
âmbitos de barreiras de acessibilidade descritos na bibliografia
mencionada, sendo possível aglutiná-los em cinco eixos temáticos:
1) barreiras urbanísticas, arquitetônicas e nos transportes, 2)
barreiras nas comunicações, na informação e tecnológicas, 3)
barreiras atitudinais, 4) barreiras metodológicas/pedagógicas e 5)
barreiras programáticas.
Tendo em vista tais prerrogativas, somamos à análise dos
indicadores nos eixos levantados dados sobre as normativas,
306
documentos, programas e projetos institucionais, dentre outros
documentos ligados às políticas, culturas e práticas inclusivas
presentes no ambiente universitário, para serem correlacionados
com as respostas dos participantes aos indicadores do INES-Brasil.
Assim, os indicadores dos índices qualificados pela
semaforização foram analisados com base na categorização da
compreensão sobre as respostas dos participantes do estudo, em
uma perspectiva interseccional dos estudos da deficiência, da
acessibilidade e inclusão, em diálogo com a observância de ações
afirmativas de coletivos em situação de vulnerabilidade social na
universidade, descrita nas políticas institucionais sobre o tema.
Desse modo, o tratamento dos documentos normativos
ocorreu a partir do entendimento dos âmbitos de acessibilidade em
relação aos múltiplos fatores sociais, políticos e econômicos que
interatuam com a diversidade humana, nos permitindo posicionar:
[...] contrários a todas as formas de opressão, violência,
aprisionamento e exclusão social estribadas na diferença.
Para tanto, faz-se urgente e emergente conhecermos e
compreendermos a extensão da força disposta nos
mecanismos produzidos para exclusão social, bem como
acerca das desigualdades e desvantagens históricas e sociais”
em que estas se (re)produzem (ORRÚ, 2020, p. 04).
E, ainda,
[...] é preciso repudiar a ambição colossal trazida pela
cultura imperiosa da lucratividade desmedida, pela cultura
do confisco colonial e do poderio patriarcal que nos
307
envolveram e nos amoldaram conforme o conservadorismo
de suas bases e que, ainda hoje, com distintos trajes,
perdura. Resistir ao ódio e a fatal indiferença quanto às
condições de vida de outros seres humanos, indiferença
como produto da naturalização dos problemas sociais e de
um processo agudo de des-humanização, é possível por
meio da constituição de um pensamento crítico e
rompimento com todas as formas de apoio às opressões aos
menos favorecidos, por conseguinte, ruptura com a
permissividade e a omissão social (ORRÚ, 2020, p. 4).
Portanto, não sejamos ingênuos de ignorar que as barreiras
de acessibilidade se alimentam da ressonância em marcos do
binômio da inclusão/exclusão, e que se manter alerta para a
multiplicidade de sentidos em torno de compreensões mais
alargadas se um ato sempre revolucionário com respeito aos
estudos da deficiência e da Educação Inclusiva.
Assim, com o intuito de destacar os eixos temáticos aos
quais a instituição precisa direcionar maiores ações com foco de
mudança, de sorte a reduzir as possíveis barreiras presentes nesse
espaço, optou-se por apontar o “nível de modificação” de cada
indicador. Dessa forma, calculou-se a diferença percentual obtida
da subtração da semaforização de 100% (cenário ideal) do
resultado alcançado pelos respondentes, naquele indicador,
resultando num percentual denominado “nível de modificação”,
ou seja, o quanto a instituição ainda precisa se debruçar sobre esse
indicador, para que modifique e alcance um ideal de inclusão e
acessibilidade. Por conseguinte, níveis de modificação acima de
40% sinalizam maior atenção e serão discutidos posteriormente.
308
Resultado e Discussão
Participaram do estudo 19 estudantes, sendo 13 estudantes
de graduação, 10 do sexo feminino e 3 do sexo masculino, com
idade entre 20 e 55 anos, e seis estudantes de pós-graduação, todos
do sexo masculino, com idade entre 24 e 39 anos, com diferentes
necessidades educacionais específicas (NEE), conforme demons-
trado no quadro a seguir.
Quadro 2
Participantes autodeclarados em situação de deficiência
Situação de
deficiência
Quantidade Curso
Surdez 4
Mestrado em Educação (1); Mestrado
sem informar (2); Pedagogia (1)
Deficiência
Auditiva
7
Pedagogia (4); Arquivologia (1);
Relações Internacionais (1); Terapia
Ocupacional (1)
Deficiência
Física
3
Doutorado em Educação; Ciências
Sociais; Filosofia
Visão
subnormal
2 Doutorado em Educação
TGD 2 Arquivologia
Não Informou 1 Pedagogia
Fonte: Dados da pesquisa
309
Como observado, a deficiência auditiva apresentou maior
prevalência (37%) entre os participantes, seguida da surdez (21%),
da deficiência física (16%), da visão subnormal e TGD (ambos
com 10,5%). Um estudante de Pedagogia não informou sua
situação. A maior parte dos estudantes de graduação estudam no
período noturno (53,8%), enquanto os estudantes de pós-
graduação, em período integral (66,6%). Além disso, o ano de
ingresso dos estudantes de graduação variou de 2013 a 2021; e dos
estudantes de pós-graduação, de 2017 a 2021.
Os resultados evidenciaram que os estudantes retrataram
timidamente a existência de indicadores de políticas, culturas e
práticas inclusivas na instituição. Contudo, percebemos, a partir
da semaforização, no primeiro tema, alerta para a presença de um
alto índice de exigência de modificação no âmbito de barreiras
metodológicas/pedagógicas, considerado como o eixo que mais
demonstra necessidade de modificação, visto que todos os seus
indicadores (5) foram sinalizados em vermelho (sinal de alerta).
Em seguida, encontramos o eixo de barreiras atitudinais,
onde apenas um indicador foi destacado na cor amarela, enquanto
os demais na cor vermelha (4), e, depois, o eixo de barreiras
programáticas, que possui seis indicadores na cor vermelha e
quatro na cor amarela. O eixo barreiras de comunicação,
informação e tecnológica, apesar de referir informações dirigidas
aos indicadores vermelhos, foi o único eixo que apresentou o
semáforo da cor verde, em um indicador, demonstrando que os
participantes julgam que esse indicador contempla as questões
de inclusão e acessibilidade, na instituição.
310
No eixo barreiras urbanísticas, arquitetônicas e nos
transportes, observamos um indicador na cor amarela,
evidenciando nível mediano de modificação, conforme se pode
notar nos temas descritos, apresentados a seguir.
Eixo de Barreiras Programáticas
Dos 10 indicadores presentes nesse eixo, seis sinalizaram
maior necessidade de atenção: “3.1 Participação de Docentes”
(47,4% na semaforização); “6.3 Políticas em educação inclusiva”
(47,4%); “1.1 Barreiras para aprendizagem e participação”
(52,6%); “1.2 Identificação e caracterização dos estudantes”
(52,6%); “9.2 Permanência Estudantil” (52,6%) e “2.1
Participação de estudantes” (57,9%), conforme pode ser observado
no Quadro 3.
Quadro 3
Apresentação dos eixos, indicadores, semaforização e níveis de modificação
no eixo Barreiras programáticas
EIXO INDICADOR
%
SEMAFORIZ
ÃO
NÍVEL DE
MODIFICÃO
BARREIRAS
PROGRAMÁTICAS
1.1 Barreiras
para
aprendizagem
e
participação
52,6 47,4
2.1 Participação
de
estudantes
57,9 42,1
3.1 Participação
de
docentes
47,4 52,6
1.2
Identificação
e
52,6 47,4
311
caracterização
d
os estudantes
6.3 Políticas em
Educação
Inclusiva
47,4 52,6
8.1
Regulamentação
da
Educação
Inclusiva
63,2 36,8
9.2
Permanência
estudantil
52,6 47,4
11.1 Programa
de
satisfação
universitária
68,4 31,6
12.1 Programas
susten
táveis de
Educa
ção
Inclusiva
63,2 36,8
12.2 Apoio
financeiro
e
estudantil
73,7 26,3
Fonte: Dados da Pesquisa
Cabe pontuar que compreendemos por barreiras
programáticas aquelas presentes nas políticas públicas, leis,
decretos, regulamentos, entre outros (SASSAKI, 2009; BRASIL,
2013; BRASIL, 2015), para além das considerações do campo da
Educação Especial, conforme explicitado na introdução deste
texto. Pelos resultados demonstrados nesse eixo, é possível
asseverar que a universidade dispõe de políticas, programas e
312
projetos vigentes na instituição capazes de auxiliar na remoção de
barreiras dessa natureza. Como principal documento da
instituição, em termos políticos, destaca-se o Plano de
Desenvolvimento Institucional (PDI), o qual apresenta algumas
dimensões diretamente ligadas aos indicadores em condição de
alerta pelos estudantes em situação de deficiência: Dimensão 1
Ensino de Graduação e Dimensão 6 Gestão e Avaliação
Acadêmico-Administrativa.
Com efeito, a instituição dispõe de um PDI com ações
que podem auxiliar na remoção de barreiras, porém, que se
problematizar porque essas barreiras são observadas no ambiente
universitário, na visão dos respondentes, e de que modo estas
podem ser eliminadas. Na atualidade, esses impasses se constituem
um dos maiores desafios da gestão universitária.
Eixo Barreiras Metodológicas/Pedagógicas
Quadro 4
Apresentação dos eixos, indicadores, semaforização e níveis de modificação no eixo
Barreiras Metodológicas/Pedagógicas
Eixo Indicador
%
Semaforização
Nível de
modificação
Barreiras
Metodológicas /
Pedagógicas
4.2 Avaliação flexível
52,6
47,4
3.2 Docentes inclusivos
42,1
57,9
4.1
Inte
rdisciplinaridade e
flexibilização
curricular
47,4 52,6
8.2 Estratégias de
intervenção,
avaliação e
melhoramento
57,9 42,1
313
10.1 Ações
administrativas
e de
gestão
57,9 42,1
Fonte: Dados da Pesquisa
Todos os indicadores deste eixo sinalizaram estado de
atenção: “3.2 Docentes inclusivos (42,1%); “4.1 Interdisci-
plinaridade e flexibilização curricular” (47,4%); “4.2 Avaliação
flexível” (52,6%); “8.2 Estratégias de intervenção, avaliação e
melhoramento” (57,9%); “10.1 Ações administrativas e de gestão”
(57,9%).
Assim como no eixo anterior, o Plano de Desenvolvimento
Institucional (UNESP, 2016) apresenta três dimensões que
sugerem relação com as demandas desencadeadas por esses
indicadores: Dimensão 1 - Ensino de Graduação; Dimensão 4
Extensão Universitária e Dimensão 6 Gestão e Avaliação
Acadêmico-Administrativa.
Este eixo aglutina informações da visão dos respondentes
sobre a presença de barreiras relacionadas à prática docente, à
diversificação curricular e aos processos adotados para o
desenvolvimento da aprendizagem e avaliação dos alunos, entre
outras questões identificadas nos referenciais de acessibilidade,
na Educação Superior do SINAES (BRASIL, 2013).
Apesar de se observar que tais eixos fazem parte das
dimensões descritas no Plano Desenvolvimento Institucional da
universidade pesquisada, os dados coletados nesse eixo dialogam
com as ações disseminadas pela Comissão Local de Acessibilidade e
Inclusão (CLAI) e da importância da presença desses temas, no
Projeto Político-Pedagógico (PPI), sugerindo haver uma distância
314
dos documentos com a sua implementação no contexto
universitário.
Eixo Barreiras de Comunicação, Informação e Tecnologia
Quadro 5
Apresentação dos eixos, indicadores, semaforização e níveis de modificação
no eixo Barreiras Comunicação, Informação e Tecnologia
Eixo Indicador % semaforização
Nível de
modificação
Barreiras de
Comunicação,
Informação e
Tecnológica
8.3 Sistema de
I
nformação Acessível
47,4 52,6
5.1 Interlocução da
instituição
em
contextos
acadêmicos
nacionais
e
internacionais
84,2 15,8
5.2 Relações externas
de
professores e
estudantes
57,9 42,1
Fonte: Dados da Pesquisa
Nesse eixo, verificamos a prevalência de indicadores que
sinalizaram maior atenção para os itens “8.3 Sistema de
Informação Acessível (47,4%) e “5.2 Relações externas de
professores e estudantes(57,9%). Avaliado de forma satisfatória
pela comunidade acadêmica, ao evidenciar a cor verde, o indicador
“5.1 Interlocução da instituição em contextos acadêmicos
nacionais e internacionais” demarcou que 85% das respostas
aludem a uma boa percepção da comunidade acadêmica sobre esse
item.
315
O percentual elevado desse indicador pode ser justificado
pelo trabalho de divulgação efetuado pela AREX (Assessoria de
Relações Externas) junto à comunidade acadêmica, somada à
maior cobrança das agências de fomento à pesquisa pela
internacionalização acadêmica e por ser um indicador mais
abrangente a todos os membros da comunidade, não somente às
pessoas em situação de deficiência.
Aspectos direcionados a mapear a presença desses
indicadores podem ser constatados no item de internacionalização,
descrito no Plano de Desenvolvimento Institucional (Dimensão 2
- Ensino de Pós-graduação) e em várias resoluções publicadas pela
universidade (UNESP 48, 2010; 19, 2010; 37, 2011;
73, 2014; 85, 2020; UNESP 86).
Eixo Barreiras Atitudinais
Quadro 6
Apresentação dos eixos, indicadores, semaforização e níveis de modificação
no eixo Barreiras Atitudinais
Eixo Indicador
%
Semaforização
Nível de
modificação
Barreiras
atitudinais
6.2 Investigação/Pesquisa.
Redes
de
Cooperação
em Educação
Inclusiva
73,7 26,3
9.1 Programas de bem-estar
unive
rsitário
57,9 42,1
6.1 Investigação, inovação e
criação
artística e cultural, na
Educação
Inclusiva
47,4 52,6
316
7.1 Extensão, projeção social e
contexto
regional
47,4 52,6
10.2 Estrutura organizacional
47,4
52,6
Fonte: Dados da Pesquisa
Dos cinco indicadores presentes nesse eixo, quatro
sinalizaram maior necessidade de atenção: “6.1 Investigação,
inovação e criação artística e cultural, na educação inclusiva”
(47,4%); “7.1 Extensão, projeção social e contexto regional”
(47,4%); “10.2 Estrutura organizacional (47,4%); e “9.1
Programas de bem-estar universitário” (57,9%). De modo
análogo aos eixos anteriormente descritos, observamos uma
consonância desses indicadores com as ações descritas nas
diferentes dimensões descritas no PDI, direcionadas a atender à
eliminação das barreiras atitudinais na universidade (Dimensão 4 –
Extensão Universitária). Foi ainda possível notar a presença de
informações das comissões/coordenadorias instituídas para auxiliar
na promoção da Educação Inclusiva na universidade, a exemplo da
CLAI Comissão Local de Acessibilidade e Inclusão, das
Comissões de Assessoramento e da CAADI Coordenadoria de
Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade.
As comissões e coordenadorias exercem um papel
fundamental no processo de remoção das barreiras atitudinais e
busca por inclusão e acessibilidade no Ensino Superior. Ciantelli et
al. (2017) referem a semelhança da estrutura organizacional das
comissões de acessibilidade presentes nas instituições públicas
estaduais, com os propósitos desenvolvidos sobre essa área, pelos
núcleos de acessibilidade, nas universidades federais.
317
Eixo Barreiras Urbanísticas, Arquitetônicas e nos Transportes
Quadro 7
Apresentação dos eixos, indicadores, semaforização e níveis de modificação
no eixo Barreiras Urbanísticas, Arquitetônicas e nos Transportes
Eixo Indicador
%
Semaforização
Nível de
modificação
Barreiras
Urbanísticas,
Arquitetônicas
e nos
Transportes
11.2
Instalações e
Infraestrutura
73,7 26,3
Fonte: Dados da pesquisa
Os resultados observados nesse eixo apontam para a
presença do item “11.2 Instalações e Infraestrutura”, no qual
73,7% dos estudantes responderam que isso ocorre sempre e/ou
algumas vezes, indicando a presença de ões de melhorias em
acessibilidade urbanística, arquitetônica e nos transportes. Tais
dados dialogam com as dimensões ou ações descritas no PDI
(2016) direcionadas à remoção de barreiras; nesse caso, a
Dimensão 5 - Planejamento, Finanças e Infraestrutura destaca,
dentre suas ações, “assegurar e otimizar a infraestrutura necessária
às atividades da Unesp”, o que sugere a tendência de resposta
favorável verificada nesse indicador.
Discussão Geral
Os universitários apontam que as barreiras de acessibi-
lidade foram observadas em diferentes âmbitos urbanísticos,
arquitetônicos, de transportes, comunicações e informação,
318
atitudinais e tecnológicos –, reiterando os achados da literatura na
temática (CIANTELLI; LEITE, 2016; SILVA; MARTINS, 2018;
OLIVATI; LEITE, 2019; CIANTELLI, 2020; CIANTELLI;
PAGNI; AMORIM; MARTINS, 2021; DINIZ; SILVA, 2021;
MARTINS et al., 2021), porém as respostas permaneceram fixas
aos âmbitos descritos nas áreas da Educação Especial. Acredita-se
que estes achados, em geral, revelam uma intimidade dos
respondentes com o conjunto de conhecimento e das normativas
que orientam a literatura nesta área.
No eixo “Barreiras de Comunicação, Informação e
Tecnologias”, observamos que as respostas foram mais propositivas
para a presença de indicadores modificação mais acessível e
inclusiva no item de internacionalização das atividades acadêmicas,
no contexto institucional.
A despeito de os resultados no eixo de acessibilidade
urbanística, arquitetônica e nos transportes indicarem atenção para
a cor amarela, revelam aspectos mais ascendentes em torno do
tema. Acredita-se que tais resultados ocorram pela observação da
comunidade acadêmica, em seu cotidiano, somada à disseminação
dos discursos políticos sobre a temática, os quais evidenciam ações
de planejamento das edificações, das situações de mobilidade
urbana e de organização dos espaços, numa perspectiva mais
acessível, possibilitando que tais achados fossem mais perceptíveis
nas ações e políticas de comunicação adotadas pela universidade.
O mesmo se deu para os quatro indicadores de
acessibilidade programática, que envolveram (1) os indicadores de
regulamentação de ações que permitem a Educação Inclusiva; 2) a
existência de programas e projetos que prezam pelo bem-estar do
319
estudante, cujos recursos, equipe e espaços de práticas são
acessíveis e pertinentes para promover a Educação Inclusiva; 3) o
fomento e operacionalização de programas que promovem a
educação inclusiva pela instituição e 4) programas que apoiam
convênios de cooperação com entidades que financiam o acesso e
permanência do estudante na instituão.
Essa avaliação mais assertiva nos possibilita apontar a
presença de políticas institucionais dirigidas a essa temática, bem
como as diferentes comissões e coordenadorias de que a
universidade dispõe (Comissão Local de Acessibilidade e Inclusão -
CLAI, Coordenadoria de Permanência Estudantil - COPE;
Comissão Permanente de Permanência Estudantil CPPE), mais
bem percebidas pelos participantes, na universidade investigada.
Apesar dessa constatação, é preciso olhar com maior
atenção para o eixo de “barreiras atitudinais”, visto que os
resultados obtidos neste apontam alerta para os itens observados,
anunciando necessidade de mudança, pois a maior parte deles está
sinalizado em vermelho, o que nos leva a inferir que as barreiras
atitudinais foram consideradas como maior obstáculo por parte
desses estudantes. Estudos sobre as barreiras atitudinais referem
pouca participação de estudantes em situação de deficiência nas
atividades de lazer/cultura e saúde, como mostram os indicadores;
na verdade, esses entraves parecem apenas reforçar e/ou
desencadear a presença/existência/manutenção de outras barreiras
(CIANTELLI; LEITE, 2016; CIANTELLI; LEITE;
NUERNBERG, 2017; CIANTELLI; PAGNI; AMORIM;
MARTINS, 2021).
320
No eixo metodológico/pedagógico”, chamaram a atenção
evidências de respostas para sobreposição e porcentagem
concernentes à sinalização vermelha. Na percepção dos indica-
dores, nesse eixo, os respondentes apontam para um sinal de alerta
de práticas de interdisciplinaridade e flexibilidade curricular, com
vistas a facilitar a aprendizagem e o desenvolvimento de capaci-
dades e potencialidades da diversidade estudantil, aproximando-se,
de modo análogo, dos itens vinculados ao eixo de barreiras
programáticas.
De acordo com Leite e Martins (2012), faz-se necessário
reformular as práticas pedagógicas, a partir de investimentos na
formação inicial e continuada de professores, se quisermos
implementar a inclusão educacional, instrumentalizando-os para
atender às necessidades educacionais de estudantes em situação de
deficiência. Visto que o processo de inclusão no Ensino Superior é
recente no cenário brasileiro, ações como as citadas anteriormente
pelas autoras são urgentes na realidade mencionada.
Para os indicadores descritos no eixo de “Barreiras de
Comunicação, Informação e Tecnologia”, este foi o único a
apresentar-se na forma mais propositiva e ascendente para cor
verde, quando comparado com os resultados dos outros eixos,
ligados à internacionalização. Acredita-se que o dado representa
uma atitude positiva dos respondentes para as ações das atividades
de divulgação da Assessoria de Relações Internacionais da Unesp,
nos meios de comunicação da Universidade, conforme abordado
anteriormente, divergindo significativamente dos resultados
encontrados para os demais indicadores e eixos neste estudo.
321
Considerações Finais
O presente capítulo demonstrou quais foram as fortalezas e
os obstáculos de acessibilidade e inclusão enunciadas por
universitários na situação de deficiência, em uma instituição
pública. De maneira geral, os dados retrataram a presença de
indicadores nas dimensões da acessibilidade arquitetônica,
notadamente observados por acadêmicos, com e/ou sem
deficiência, convergindo com os achados na literatura da área da
Educação Especial, referenciados no escopo do estudo
(CIANTELLI; LEITE, 2016; SILVA; MARTINS, 2018;
OLIVATI; LEITE, 2019; CIANTELLI, 2020; CIANTELLI;
PAGNI; AMORIM; MARTINS, 2021; DINIZ; SILVA, 2021;
MARTINS et al., 2021).
Com maior evidência das respostas para os indicadores de
modificação de barreiras metodológicas/pedagógicas e atitudinais,
os dados sugerem o desenvolvimento de políticas afirmativas
dirigidas ao acolhimento das múltiplas corporalidades presentes,
no cotidiano da universidade, numa perspectiva mais
interseccional e transversal do tema.
Corroborando os estudos de Ciantelli, Pagni, Amorim e
Martins (2021), espera-se que os dados desta pesquisa promovam
reflexões sobre visões cristalizadas, no campo da Educação
Especial, que sejam capazes de ultrapassar a visão de acessibilidade
descrita na LBI (BRASIL, 2015), e em outras normativas e
literatura discutidas neste texto, vinculada aos estudos em
Educação Especial, para reconhecer diferentes modos de vidas e
corpos que se ajustem aos modos de organização das sociedades
322
neoliberais, dentro de uma lógica produtivista. Nesse contexto,
que se discutir como garantir a participação de um sujeito
concreto e situado, cuja presença, por vezes na relação com o
outro, desvela formas de opressão sob seus corpos e modos de vida,
dentro e fora dos ambientes universitários.
Considerando tais ponderações e a partir da constatação de
que os achados, neste texto, indicaram respostas abaixo de 60%
dos índices levantados na semaforização, ressaltando os indicadores
em vermelho, o estudo sugere ser necessário estabelecer um olhar
atento para mudanças que permitam transformar as barreiras em
facilitadores para a inclusão e, por conseguinte, possam mobilizar a
comunidade acadêmica para produzir culturas, políticas e práticas
inclusivas, orientadas a:
- disseminar informação acerca do que é inclusão
educacional e acessibilidade ao Ensino Superior;
- tornar conhecidas as normativas institucionais, por parte
da comunidade acadêmica;
- colocar-se na escuta das necessidades educacionais
específicas desses estudantes;
- desenvolver estratégias de sensibilização e conscientização
sobre o tema;
- promover estratégias que possibilitem ao sujeito se
colocar no lugar do outro;
- garantir maior participação das pessoas em situação de
deficiência nas ões de planejamento das políticas institucionais,
como membro destas, nos diferentes órgãos colegiados
acadêmicos.
323
De posse dessas informações, elaborar um plano de
melhoria, com ações para modificar a condição apresentada pelos
estudantes em situação de deficiência, parece ser um caminho
promissor, rumo a perspectivas para traçar desenhos e atitudes
mais inclusivas ligadas a sujeitos concretos presentes nos espaços
universitários.
Somado a esses aspectos, trata-se de discutir o tema para
superar a lógica assentada nas diversas formas de relações
econômicas, sociais, culturais e políticas, conforme afirma Sposati
(1999, p. 67), na qual “a exclusão social é a impossibilidade de
poder partilhar. O que leva à vivência da privação, da recusa, do
abandono e da exclusão social [e educacional], inclusive com
violência às formas de negação a um conjunto de direitos de acesso
aos bens materiais e produzidos pela humanidade, em que corpos
marginalizados, vulnerabilizados, os quais se reconhecem em
situação de deficiência, lutam para erradicar o capacitismo que
nega e/ou impede que suas demandas sejam pautadas nas agendas
das políticas institucionais universitárias.
Por fim, o uso da semaforização como metodologia de
tratamento dos dados, nesta pesquisa, favoreceu discorrer sobre
como a comunidade acadêmica avalia os indicadores de barreiras
de acessibilidade e inclusão, com base na simbolização
caracterizada nas cores representadas pelo vermelho, amarelo e
verde. Por conseguinte, a prevalência dos indicadores sinalizados
em vermelho impôs, com maior recorrência, sinais de alerta
quanto às fragilidades da instituição em face dos indicadores
analisados. Embora a cor amarela representa tímidos avanços para
um conjunto de indicadores que apontam traços constitutivos das
324
singularidades humanas, como a prerrogativa por um devir da
organização do ambiente universitário, os achados aludem para a
implementação de usos de instrumentos de avaliação da Educação
Inclusiva no Ensino Superior com essa finalidade.
O INES-Brasil tem sido considerado uma estratégia
valiosa, de trabalho coletivo e de participação dos membros da
comunidade acadêmica (estudantes, docentes e gestores) nas
decisões político-administrativas, dirigidas à implementação de
melhorias no plano de desenvolvimento institucional no Ensino
Superior. Conforme demonstrados nos estudos de Louzada (2022)
e Louzada e Martins (2022), a utilização desse instrumento abre
caminhos para ampliar a participação e o protagonismo de diversos
coletivos que se situam à margem das decisões políticas/
administrativas da Universidade, no caso do estudo, sobretudo,
ancoradas nas percepções daqueles que se manifestaram em
situação de deficiência.
Posto isso, promover ações nesta perspectiva, pode se
tornar um percurso profícuo para potencializar a diversidade
humana, o respeito a ser diferente, a convivência democrática e a
justiça social como valores fundantes do desenvolvimento da
Educação Superior no Brasil.
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334
335
CATULO 11
Formação, Atuação e Perspectivas de Docentes
da UNIFESSPA na Inclusão de Alunos
com Deficiência
Katiane Silva dos SANTOS
1
Lucélia Cardoso CAVALCANTE
2
Introdução
Os movimentos sociais a favor da inclusão educacional,
tanto em nível internacional como nacional, culminaram em
conferências e documentos reguladores de políticas em educação
1
Pessoa baixa visão, graduada em Pedagogia na Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Pa- UNIFESSPA. Participou do núcleo de acessibilidade e
inclusão acadêmica - NAIA/UNIFESSPA como bolsista apoiadora. Executou
atividades de pesquisa como bolsista PIBIC/PNAES. Marabá/Pará/Brasil. Email:
katianne.2607@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7209-5967
2
Professora Doutora da Faculdade de Ciências da Educação da Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará. Professora e coordenadora do Programa de
Mestrado Profissional em Educação Inclusiva/PROFEI/UNIFESSPA.
Marabá/Pará/Brasil. E-mail: luceliaccr@unifesspa.edu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1765-9456
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-342-7.p335-366
336
inclusiva. Destacamos a Declaração da Educação para Todos
(UNESCO, 1990), que apresenta como meta primordial o acesso
de todos à educação, destacando que as necessidades básicas de
aprendizagem da pessoa com deficiência requerem atenção especial
e, portanto, são necessárias medidas que garantam a igualdade de
acesso à educação; assim como a Declaração de Salamanca
(UNESCO, 1994), documento orientador para a garantia dos
direitos educacionais, que enfatiza que a educação da pessoa com
deficiência deve ser parte integrante do sistema educacional e que
as escolas devem acolher a todos, independentemente, de suas
condições físicas, intelectuais, sociais e emocionais; a Convenção de
Guatemala (1999), que incrementa pressupostos e busca orientar a
prevenção e eliminação das formas de discriminação direcionadas
às pessoas com deficiência para propiciar a sua plena integração à
sociedade.
A Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) suscitou a proposta de
inclusão de alunos com deficiência, da educação infantil à educação
superior, especificando que a transversalidade da educação especial
no Ensino Superior deve ocorrer por meio de ações que
desencadeiem o acesso, permanência e participação dos alunos e
que, deve envolver planejamento e a organização de recursos e
serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas
comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos
e pedagógicos, que devem ser disponibilizados em processos
seletivos e no desenvolvimento de todas as demais atividades que
envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão (BRASIL, 2008).
337
No Brasil, o movimento em prol da efetivação de políticas
públicas relacionadas aos direitos da pessoa com deficiência de
acessar etapas mais elevadas do ensino revela-se, ainda, muito
tardio, expressa um viés discriminatório de que a educação superior
como um bem social não está acessível para todos. É possível que a
crença na incapacidade que marcou a história das pessoas com
deficiência no mundo e no Brasil, tenha alimentado uma crença
limitadora até onde a pessoa com deficiência poderia chegar
academicamente.
Quando esse quadro passa a ser revertido e as políticas de
afirmação passaram a oportunizar acesso via políticas de cotas e
permanência dos alunos com aprendizagem qualificada, a realidade
das universidades sobre o processo de inclusão vivido nos convida a
analisar esses contextos cientificamente, especialmente, quanto a
seus indicadores de inclusão e acessibilidade.
As condições de inclusão e acessibilidade na educação
superior (BRASIL, 2008; 2015) dependem de muitos atores que
integram a comunidade universitária. A escuta de cada um dos
atores é fundamental para se avaliar a efetivação de políticas
educacionais. Neste estudo, ouvimos docentes que vivenciaram
experiências com alunos com deficiência em cursos de graduação
na UNIFESSPA, no esforço de identificar indicadores de inclusão
com a acessibilidade pedagógica/metodológica como um direito
fundamental.
A despeito dos avanços no desenvolvimento de tecnologias
assistiva, produções sobre a política de ações afirmativas, de
inclusão e acessibilidade, a formação do professor universitário para
atuar na diversidade tem se destacado como ponto central nos
338
debates. Pois sua atuação requer conhecimentos pedagógicos e da
educação especial, capazes de orientar suas práticas na perspectiva
inclusiva. estudos que evidenciam que uma das possíveis causas
que provocam a evasão de estudantes com deficiência na educação
superior está na falta de acessibilidade metodológica como prática
inclusiva (FERRARI; SEKKEL, 2007).
Os alunos universirios com deficiência precisam de
condições acessíveis e atuações fundamentadas em princípios
inclusivos, integram o conjunto de direitos para o currículo de
formação acadêmico-científica sejam acessados por este público de
alunos de forma qualificada. Para tanto, a atuação docente é
decisiva aliada a políticas institucionais e, portanto, para inclusão
acadêmica dos alunos. Tal como expresso no Documento
Orientador Inclui:
A inclusão das pessoas com deficiência na educação superior
deve assegurar-lhes, o direito à participação na comunidade
com as demais pessoas, as oportunidades de desenvol-
vimento pessoal, social e profissional, bem como não
restringir sua participação em determinados ambientes e
atividades com base na deficiência. Igualmente, a condição
de deficiência não deve definir a área de seu interesse
profissional. Para a efetivação deste direito, as IES devem
disponibilizar serviços e recursos de acessibilidade que
promovam a plena participação dos estudantes (BRASIL,
2013, p. 12-13).
É preciso significar a prática inclusiva e estimular docentes
e demais da comunidade acadêmica a compreender sobre as
339
dimensões de acessibilidade, em especial, a pedagógica como
instrumento de formação e transformação. Para tanto, políticas
institucionais que precisam ser reestruturadas de modo que se
busque o equilíbrio entre todas as dimensões que desenham e
refletem os valores inclusivos (BOOTH; AINSCOW, 2012).
O aprofundamento didático-pedagógico com a
transversalidade da educação especial na perspectiva inclusiva,
poderá alcançar uma maior qualidade no ensino universitário. O
uso de tecnologias assistiva, recursos pedagógicos e com o princípio
do desenho universal para aprendizagem de todos (NUNES;
MADUREIRA, 2015) o preceitos da ptica pedagógica
inclusiva, necessários de serem trabalhados com o docente
universitário.
As práticas pedagógicas inclusivas se constituem uma das
dimensões para inclusão na educação superior, analisando como a
formação e atuação do docente possibilitam um trabalho inclusivo
e quais indicadores de inclusão se evidenciam de modo a garantir a
participação e permanência dos estudantes com deficiência em uma
universidade pública paraense.
Compreendendo a educação como um direito humano e
que grupos, como as pessoas com deficiência, transtorno do
espectro autista e superdotação, demandam condições acessíveis e
serviços em educação especial que precisam se transversalizar na
educação superior e em todas as dimensões e atividades acadêmico-
científicas.
Este estudo integra uma Rede de Pesquisa em
Acessibilidade, Diversidade e Inclusão da Unesp (REPADI -
https://www.acessibilidade.unesp.br/), e conta com a participação
340
de pesquisadores que atuam no Comitê Acadêmico de
Discapacidad y Accesibilidad/Associação do Grupo de
Universidades de Montevideo (CAAyD AUGM) e na Red
Interuniversitária Latinoamericana y del Caribe sobre Discapacidad
y Directos Humanos (RIDDH - http://red-universidady
discapacidad.org/) e sistematiza alguns indicadores de inclusão no
contexto universitário, dialogando com trajetórias de docentes na
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pa UNIFESSPA,
analisa experiências de docentes com alunos que apresentam
necessidades específicas.
A pesquisa orientou-se pelos seguintes questionamentos:
Como docentes universitários significam suas práticas e
experiências com alunos com deficiência? Que indicadores de
inclusão se expressam nas falas de docentes? Trata-se de um recorte
da percepção dos docentes sobre a implementação da política de
inclusão e acessibilidade na UNIFESSPA no contexto das práticas
docentes vividas.
Método
A pesquisa segue uma abordagem qualitativa, adotando um
perfil de estudo exploratório e de caráter descritivo que possibilitou
uma aproximação conceitual sobre a temática investigada.
Resgatando as perspectivas dos participantes do estudo, utilizando
como instrumento de pesquisa um questionário que, segundo
Marconi & Lakatos (2003), a utilização deste tipo de instrumento
auxilia na produção de dados informativos e entre suas vantagens,
proporciona menos risco de distorção nas informações obtidas.
341
Na pesquisa qualitativa, existe uma liberdade teórico-
metodológica na realização do estudo e seu caráter descritivo
possibilita a descrição de fatos e fenômenos da realidade e, por ser
uma pesquisa de representação exploratória, o pesquisador
aprofunda o estudo nos limites de uma realidade (TRIVIÑOS,
1987).
A proposta metodológica foi realizada por meio de um
estudo de levantamento, modos de conceber dos docentes
universitários sobre suas experiências quanto a acessibilidade
pedagógica com alunos com deficiência.
O estudo foi desenvolvido no âmbito da Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará UNIFESSPA, criada em 2013,
a partir do desmembramento da Universidade Federal do Pará
(UFPA), e que possui 5 campis com suas localizações em Marabá
(sede que possui três unidades diferentes), Rondon do Pará,
Santana do Araguaia, São Félix do Xingu e Xinguara. Atualmente,
a instituição pesquisada oferta 42 cursos de graduação (licenciatura
e bacharelado) presenciais e 18 de pós-graduação. São mais de
cinco mil alunos matriculados e mais de dois mil profissionais
formados pela instituição (UNIFESSPA, 2013).
Nesse contexto, tem aumentado o quantitativo de
estudantes com deficiência, conforme dados institucionais
3
.
Identificamos 176 discentes com deficiência matriculados em 32
cursos de graduação da UNIFESSPA e no conjunto dos cursos se
tem um total estimado de 365 docentes que provavelmente,
3
Disponibilizado pelo Núcleo de Acessibilidade e Inclusão Acadêmica da
UNIFESSPA. 2022.
342
ministraram/ministram disciplinas em turmas com este público de
alunos.
A UNIFESSPA possui atualmente alunos com deficiência
visual (baixa visão, cegos e visão monocular), com deficiência física,
transtorno do espectro autista, deficiência auditiva e surdos, os
quais têm provocado cotidianamente transformações no contexto
universitário considerando as diferentes dimensões de
acessibilidade. O investimento da universidade em políticas de
inclusão e acessibilidade levaram à criação do Núcleo de
Acessibilidade e Inclusão Acadêmica (NAIA) responsável pelos
serviços pedagógicos de apoio especializado e que se vincula como
órgão suplementar à Reitoria.
É neste cerio, de uma universidade do interior da
Amazônia, no estado do Pará, que este estudo foi desenvolvido nos
anos de 2021 e 2022.
Para a produção dos dados, foi utilizado como instrumento
de pesquisa, um questionário contendo questões de múltipla
escolha concernente ao perfil dos professores (identificação e
formação) e 16 questões subjetivas abordando a temática e focadas
na temática do estudo.
Participaram do estudo, docentes que ministram aulas em
cursos de graduação na UNIFESSPA, que possuem alunos com
deficiência em suas turmas. As informações foram obtidas por meio
de questionário semiestruturado com os seguintes eixos: 1.
(in)formação; 2. atuação e 3. indicadores de inclusão na perspectiva
do docente. Na busca pelos colaboradores da pesquisa, foram
enviados convites/solicitações para 365 docentes. Alguns não
responderam ou não se sentiram aptos a participar diante do perfil
343
solicitado
4
, aos que aceitaram, foi enviado o questionário, com a
apresentação prévia do Termo de Consentimento livre e
esclarecido e autorização de participação no estudo.
A identidade dos 107 docentes participantes foi mantida
sob sigilo e seus nomes foram substituídos por códigos com a letra
inicial do nome docente: D e a numeração sequenciada de 1 a 107.
Os questionários foram respondidos de dezembro de 2021 a
janeiro de 2022.
Os dados foram sistematizados, tabulados e organizados
para as análises (resultados e discussão dos dados), a partir de dois
eixos temáticos: a) Práticas docentes e as experiências com alunos
com deficncia; b) Possíveis indicadores de inclusão a partir do
olhar docente.
Resultados e Discussão
Partindo das indagações: Como docentes universitários
significam suas práticas e experiências com alunos com deficiência?
Que indicadores de inclusão se expressam nas falas de docentes?
Foi possível conhecer como os professores analisam e refletem
sobre as suas práticas no ensino superior quanto ao caráter
inclusivo, e ainda nos permitiu extrair alguns direcionamentos para
potenciais inclusivos e acessíveis nessa relação professor-aluno com
deficiência – políticas institucionais.
4
O critério de participação na pesquisa: ter ministrado aulas em cursos/turmas
que possuem alunos com deficiência.
344
Práticas docentes e as experiências com alunos com deficiência
Os docentes universitários descreveram inúmeras experiên-
cias, nos diversos cursos e perfil formativo. Havendo uma
convergência perspectiva relacionada ao reconhecimento de que
lacunas na formação docente para atuar com o aluno com
deficiência. Como apontado em alguns estudos, o déficit na
formação dos docentes acaba por originar a insegurança destes
diante da dúvida de como lidar com a presença do aluno em suas
turmas (ES; SILVA 2020; Poker et al, 2018).
A acessibilidade pedagógica é um direito que integra o
conjunto de direitos dos alunos com deficiência à educação. Não é
uma exigência oficial demarcada nos processos de seleção docentes
para atuar na educação superior, dominar conhecimentos da área
de educação especial, inclusão e acessibilidade. Contudo, defende-
se que são necessárias iniciativas institucionais que possam
condicionar participações docentes e demais servidores em espaços
de formação que abordem temáticas de princípios inclusivos,
acessibilidade e dos direitos humanos.
Nesta linha de discussão, considerando a trajetória como
docente, foi indagado aos participantes se houve participação dos
mesmos em algum curso, formação, disciplina ou outro tipo de
processo formativo em que tenha sido abordado temáticas a
respeito da educação especial, inclusão e/ou acessibilidade, sobre o
qual, obteve-se: que 64 (59,8%) dos respondentes afirmaram não
ter participado de nenhum tipo de formação acerca do tema; e 43
(40,2%) docentes declararam ter tido formação abordando a
inclusão educacional. Conforme expressaram: “Na formação não
345
tive uma abordagem específica sobre a inclusão” (D1); “Não existiu
nenhuma abordagem sobre o tema (D17); “Não trabalhei ou
estudei sobre o tema(D39); “Não houve questão específica nas
matrizes curriculares” (D77).
Para os docentes que atuaram/atuam em turmas com
estudantes com deficiência, buscamos saber se enfrentaram/
enfrentam algum tipo de desafio em sua prática pedagógica: 78
(72,9%) afirmaram ter experienciado algum tipo de desafio; e 29
(27,1%) declararam não ter vivenciado. Conforme as declarações
dos docentes, foi possível identificar alguns desses desafios:
A demora em obter informações específicas para o caso e o
uso de recursos como o acesso a textos adaptados (D7);
O principal desafio é sempre desenvolver o meu repertório
comportamental para me adaptar às características do meu
aluno, no que sempre contei com o apoio da nossa equipe
do NAIA (D78);
O desafio que enfrento é não ter qualquer tipo de
treinamento ou capacitação para trabalhar com estudantes
com deficiência. Acho importante ter (D102);
Mediar a aula entre as necessidades do discente e com
deficiência e o restante da turma (D8);
Aluno com deficiência que necessitava de flexibilização na
avaliação (D31);
346
Planejar a aula de forma que a mesma aula atenda a todos
de forma inclusiva (D79).
Os desafios apontados pelos docentes referem-se,
majoritariamente, ao sentimento de despreparo para desenvolver
seu trabalho pedagógico de forma inclusiva, questões didáticas na
condução do ensino de modo que atenda às necessidades
específicas deste alunado. Destacam conhecimentos necessários à
prática pedagógica inclusiva. Para Silva (2021), a política
institucional de inclusão simboliza a efetivação da transversalidade
da educação especial e inclusiva na educação superior,
compreendendo que o aluno com deficiência tem direito de ter
participação plena e êxito acadêmico. A cultura inclusiva é de toda
instituição, por esta razão, a acessibilidade pedagógica depende do
fortalecimento de políticas de ações afirmativas institucionalmente.
Assim, os docentes defendem:
É urgente a necessidade de cursos que capacitem os
docentes nesta temática (D81);
Sei que o meu aluno utiliza um leitor de tela, mas não sei
como funciona, nunca fui apresentada ou observando ele
utilizar (D58);
Eu preciso fazer um curso de especialização no tema.
Mesmo que seja on-line (D10).
Conforme analisou Martins (2019), na formação docente
que atua na educação superior é praticamente inexistente alguma
347
disciplina na qual o conteúdo aborde discussões acerca das
necessidades do estudante com deficiência, limitando o docente a
associar as especificidades destes estudantes a crenças individuais, o
que compromete a oferta de um ensino inclusivo. Dessa forma, a
solicitação por espaços contínuos de formação se torna a principal
necessidade declarada pelos docentes.
Para Silva (2021), os desafios a serem enfrentados por esses
alunos e pelos docentes, referente à metodologia acessível,
demandam esforços para uma interlocução em prol da
implementação do processo pedagógico inclusivo. A carga de
trabalho do trabalho docente constitui-se em uma das justificativas,
assim como a falta de tempo do docente para aprimorar seus
conhecimentos capazes de favorecer a implementação de processos
educacionais inclusivos. A falta de estimulação sentida pelo docente
é provocada por poucas oportunidades de formação continuada
que atendam suas necessidades formativas para a supressão das
barreiras pedagógicas.
No geral, os cursos de graduação e pós-graduação são
incipientes e até inexistentes de conteúdos de educação especial,
inclusão e acessibilidade. As práticas inclusivas estão diretamente
associadas à formação docente, tal como identificamos nas falas a
seguir:
Hoje me sinto pouco capacitada para ministrar aulas para
pessoas no espectro autista. Considerando o contexto atual,
é fundamental que tenhamos essa formão (D20).
348
É premente defender investimentos na formação
continuada docente, necessários à prática pedagógica inclusiva,
como uma condição precípua. A responsabilidade pela inclusão na
educação superior não deve recair totalmente ao docente, e em suas
práticas, ações institucionais, condições de trabalho e de serviços
especializados que contribuam para a participação do aluno com
deficiência nas atividades vivenciadas por todos na universidade
(FONSECA, 2017; RABELO, 2020).
Ao analisarem a participação do estudante com deficiência,
tivemos outras perspectivas: “Eu imagino que eles tenham um grau
de dificuldade maior, a depender do que está sendo avaliado
(D10); “Eles tentam participar, mas possuem dificuldade até
mesmo para se expressarem(D11); “Quando a aula e os materiais
didático-pedagógicos são acessíveis às suas limitações, os discentes
correspondem de forma exitosa(D12); “Noto, de maneira geral,
maior dificuldade no aprendizado, pom, grande interesse em
aprender (D20); “São bastante participativos e me ajudaram a
entender como proceder com seus casos” (D27).
É comum, ainda, a centralidade da condição da deficiência
em um “problema” ou “dificuldade” atribuída aos alunos com
deficiência. Concomitantemente, crença de que seu
desempenho pode ser exitoso, desde que haja condições adequadas
e acessíveis. É preciso avançar numa concepção baseada no modelo
social de deficncia, que destaque as barreiras sociais e, no caso, as
barreiras pedagógicas. Assim, cumpre compreender, conforme o
artigo, que a:
349
Art. [...] pessoa com deficiência aquela que tem
impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou
mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva
na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas (BRASIL, 2015).
Para Masini e Bazon (2005), a forma de como se ensina
precisa considerar formas diversas de apropriação do conhecimento
por parte dos alunos. O desafio reside na tarefa de trabalhar uma
pedagogia para e com reconhecimento da diversidade, de modo
que a participação com aprendizagem efetiva aconteça, superando
barreiras pedagógicas provocadora de processos de
exclusão/opressão (RABELO, 2020).
Nessa esteira reflexiva, reportando-se aos desafios
enfrentados, o docente, na pesquisa denominado por D106,
descreve:
A linguagem adaptada ao contexto escolar do aluno[...] a
necessidade de constante formação sobre o papel e as
pedagogias desenvolvidas em sala de aula. Trabalhar com
alunos com deficiência é um desafio para o professor que
teve formão curricular sem orientação sobre isso (D106).
Analisa-se que o desenvolvimento de práticas pedagógicas
inclusivas demanda abordar o objeto de conhecimento que se quer
ensinar, pensar as diferentes formas que estes conhecimentos
poderão ser aprendidos e, portanto, como poderão, didaticamente,
350
ser ensinados, considerando a diversidade de alunos e as condições
de acessibilidade aos diferentes públicos.
Assim, depreende-se que a mobilização de conhecimentos
de conteúdos específicos da área não acontece à revelia dos
pressupostos pedagógicos e didáticos na perspectiva inclusiva, mas
articulando conhecimentos profissionais teóricos e práticos que
estruturam a formação docente.
A formação de professores tem sido apontada como uma
urgente necessidade no cerio educacional em todos os níveis e
modalidades de educação, incluindo a educação superior. A
interação do professor com os alunos com deficiência é
fundamental para que ele conheça suas necessidades específicas e
suas potencialidades (REIS; EUFRÁSIO; BAZON, 2010).
Sobre a existência de serviços de apoios especializados na
UNIFESSPA, os docentes descreveram:
Acompanhamento do aluno na sala de aula, orientação ao
professor sobre que instrumentos didáticos e pedagógicos
devem ser usados, orientação como fazer processo de
avaliação (D19);
Sim. Sempre vejo as notícias sobre esse apoio. passaram
na sala de aula fornecendo algumas informações e também
tenho alunos que são bolsistas do NAIA (D47);
Acredito que o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão
Acadêmica esteja avançando na proposição de políticas de
ações afirmativas para estudantes com deficiência (D76);
351
[...] existe as atividades desenvolvidas com o NAIA, que
contam com a ajuda de monitores D39);
Sim. Poticas voltadas para prover melhor acessibilidade,
melhores equipamentos em aula, cotas em vestibular, etc
(D40);
Sim. Neste especial, cito o Núcleo de Acessibilidade e
Inclusão Acadêmica (NAIA) da UNIFESSPA como o
espaço pedagógico onde são desenvolvidos trabalhos
voltados ao apoio educacional especializado para o público
de estudantes com deficiência (D72).
A existência de serviços em educação especial advindas de
um setor institucionalizado como o NAIA, em diferentes ações de
apoio ao ensino, extensão e pesquisas, parece atender os preceitos
da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva Inclusiva,
sobre a criação e dotação de pessoal, recursos, tecnologias e serviços
de acessibilidade (BRASIL, 2008).
Possíveis indicadores de incluo a partir do olhar docente
Ao perguntamos se os docentes observam e/ou identificam
indicadores relacionados à acessibilidade pedagógica na
universidade, com a possibilidade de marcações em mais de uma
alternativa, obtivemos de respostas que: 64 (59,8%) fizeram a
adaptação metodológica ou didática na aula; 24 (22,4%)
destacaram a adequação do currículo; 60 (56,1%) consideraram
uso de recursos tecnológicos para acessibilidade; 69 (64,5%)
352
verificaram disponibilidade de materiais adaptados; 29 (27,1%
mencionaram modificações nos procedimentos avaliativos; 59
(55,1%) afirmaram haver orientação ao docente; e 14 (13,1%) não
tiveram observação a nenhum desses indicadores.
Sobre iniciativas docentes diante das demandas específicas
de alunos com deficiência, apresentamos excerto de falas que
descrevem:
A única coisa que fiz, após conversar com a mãe do aluno
no espectro autista foi não fazer o trabalho em grupo e
estender o prazo de entrega das avaliações individuais
(D63);
As únicas adequações que fiz foram relativas a discentes
cegos, na forma de adequação da minha linguagem, de
modo a evitar falas cuja compreensão exigisse capacidade
visual (D97);
Um outro docente ainda menciona:
Tive uma aluna com problemas de atenção e um aluno
cego. No primeiro caso precisei de fazer encontros com ela e
o aluno que a acompanhava para dirigir melhor o trabalho a
fazer. No segundo caso, precisei de aprender a fazer
descrições de tudo o que era apresentado (D14).
Na direção do que analisa Santos e Fumes (2009), a
necessidade de desenvolver práticas inclusivas no âmbito acadêmico
para com aluno com deficiência, garantindo acessibilidade
353
metodológica, tanto na didática como no uso e produção de
recursos e materiais utilizados na apresentação dos conteúdos e
para a expressão de conteúdos por parte dos alunos com
deficiência, que enfrentam diferentes barreiras para aprender com
autonomia.
Temática recorrente em vários momentos das respostas
sistematizadas pelos professores participantes do estudo, consistia
em frisar a carência formativa:
Precisamos ter mais palestras, discussões sobre a importância
dessa temática da educação especial e também treinamentos
mais práticos, oficinas de preparação. Tenho contato com
pessoas que fizeram licenciatura e conversando sobre esse
assunto percebo que mesmo o contexto histórico é ainda
pouco conhecimento para muitos de nós que fizemos
bacharelado (D37);
Realização de Cursos. Tamm acredito que um estudo
semelhante a este poderia ser feito com os próprios alunos e
divulgado para os professores, pois ninguém melhor que
eles mesmos para nos dar o feedback se as medidas que
estamos adotando estão de fato os ajudando (D28).
Questionou-se, ainda, sobre a adequação em práticas,
planos e/ou em avaliações de aprendizagem, e os docentes
apresentam:
Sim, mas sem nenhum conhecimento, mais por instinto ou
buscando informações na internet. Como não fui avisado
não tive tempo de planejar (D14);
354
Na avaliação do aluno com baixa visão, tive que fazer uma
prova com letras grandes e mais simples, pois ele teve
muitas dificuldades para acompanhar o conteúdo (D47);
Não, apenas compreendo a dificuldade de se expressar com
avaliações escritas e considero isso para definir a nota
(D66);
Em uma disciplina precisei adequar o material a um aluno
cego. O material consistia no grafismo indígena. Obtive
apoio do Naia para reproduzir o material de forma que o
aluno pudesse ler as gravuras (D87).
Capellini e Santos (2005) apontam que a carreira
profissional do docente da educação superior visa a investigação e o
ensino, necessitando de uma formação permanente. A apropriação
de conhecimentos teóricos e práticos para fundamentar a atuação
docente na educação superior, na perspectiva inclusiva, requer a
criação de espaços de trocas de experiências que contribua com a
identificação de alternativas pedagógicas acessíveis.
Sobre o que poderia contribuir como formação, um dos
docentes sugere:
Cursos práticos com oficinas, um professor praticando com
o outro, por exemplo, a descrição de gráfico, de equações e
outras questões [...]. Ainda materiais que consigam dar
suporte ao aluno que apresenta cegueira, para que consiga
ter compreensão do conteúdo (D58).
355
Conhecimentos pedagógicos que fundamentam as práticas
educativas precisam dialogar com conhecimentos da área da
educação especial de modo transversal na formação inicial e
continuada de docentes. E, em se tratando de docentes
universitários, para almejar a transformação de práticas pedagógicas
excludentes, é premente que os currículos de formação abranjam
conhecimentos necessários à prática pedagógica inclusiva e
acessível, que amplie a visão e compreensão da docência e que
considere todas as dimensões que merecem um aprofundamento
prático conectado ao teórico (GLAT; PLETSCH, 2010).
As instituições têm ofertado propostas e ações que não tm
sido suficientes para alcançar resultados que consigam atender às
demandas educacionais específicas dos alunos com deficiência,
garantindo sua participação efetiva no processo de formação
acadêmica com aprendizagem qualificada.
Ao convidarmos os docentes participantes para dialogar
sobre o que tem sido disponibilizado pela instituição de eventos
formativos na área, obtivemos os seguintes relatos: “Tem, contudo,
existe pouca participação dos docentes” (D74).
Ainda, sobre os relatos:
Não tenho conhecimento. Talvez tenha algum e-mail ou
outra comunicação curta sobre estas oportunidades, mas
não lembro no momento. Não lembro de nada que tenha
me chamado a atenção ou que me motivasse a realizar a
formação citada (D33).
Nesse sentido, continuam outros professores: “oferta, mas
necessidade de oficinas que mostrem como fazer e não somente
356
uma atividade de poucas horas com um palestrante falando sem
a prática” (D58). “Os espaços que foram promovidos me ajudaram
bastante e tentei aplicar as recomendações o mais rápido possível
(D71).
Vimos, claramente, considerações divergentes entre
docentes que desconhecem ou ainda criam parâmetros para
escolher participar ou o do que é ofertado, a depender do que
lhe desperta interesse, e estes imputam críticas também à
insuficiência ou concentração em palestras teóricas. Ao mesmo
tempo em que se evidenciam falas que reconhecem as
contribuições das iniciativas institucionais de formação docente e
de servidores técnicos, discentes e terceirizados que podem
participar dos espaços de formação propiciados.
Magalhães (2013) argumenta que a partir da experiência
profissional, o docente identifica lacunas existentes na sua
formação e que o mesmo precisa lidar com esses enfrentamentos
que existirão ao atuar na educação superior. Ao se deparar com os
desafios, cria-se uma zona de estímulos para a busca de parcerias
colaborativas para a promoção do ensino inclusivo.
Conforme sublinham Pantaleão e (2017), para o
docente uma formação continuada deve compreender ampliação
dos seus conhecimentos para que consigam responder o que
emerge como desafio de sua prática, não sendo um complemento
formativo, mas expansão da sua formação que deve ser contínua e
permanente. As iniciativas institucionais como política poderão
contribuir para a construção de uma cultura acessível e inclusiva no
contexto universitário e contribuir com a qualidade no ensino.
357
Outrossim, por meio de diálogos e reflexões podem
mediatizar o desenvolvimento de práticas inclusivas, o olhar sobre
as reais condições das práticas, considerando que a docência
universitária tem seus saberes estendidos aos mais diversos campos
do conhecimento, e formação traçada ao mínimo para o ensino
aponta para um eventual contato com temáticas relacionadas à
diversidade.
Ao descrever uma situação da prática, um docente reflete:
Quando me vejo frente a um desafio que não conheço
procuro pesquisar e verificar como poderia melhorar. Como
trabalho com tecnologia muita coisa pode ser utilizada em
favor do aluno com deficiência e talvez eles tenham sucesso
onde alunos sem nenhum tipo de entrave não conseguem
obter êxito (D36).
Reportando-se ao docente e suas aptidões, Glat e Nogueira
(2003) defendem que uma formação contributiva para o fomento
das práticas inclusivas depende do diálogo com os alunos com
deficiência, da disponibilidade do docente em aprender e buscar a
transversalidade da educação especial em suas práticas, com o apoio
do setor especializado como os núcleos de acessibilidade, acrescenta
Rabelo (2020).
Segundo Glat e Nogueira (2003), sala de aula, o docente
tem o papel de compreender que as necessidades e
desenvolvimento dos alunos como um todo são heterogêneos, esta
premissa, por si , exige uma intencionalidade na condução da
prática pedagógica na perspectiva do desenho universal para
aprendizagem – DUA - que consiste em propor diferentes maneiras
358
de apresentar o conteúdo a ser ensinado, garantir diferentes
alternativas de representação destes conhecimentos e oportunizar
diferentes maneiras de expressão do conhecimento apreendido,
garantindo uma aprendizagem de todos e com qualidade.
(NUNES; MADUREIRA, 2015).
O sentimento de “preparo” e domínio de conhecimentos
teóricos e práticos tão presentes nas falas dos docentes, que
embasem o processo educativo na universidade orientada por
princípios inclusivos, parece ser possível, na visão dos entrevistados,
quando se assegura momentos em que o próprio professor
universitário aprenda em como pode atuar didaticamente de forma
intencional. Reconhecer que precisa de formação é um indicador
importante na direção da efetividade de uma educação que inclua a
todos e todas sem discriminações e barreiras.
Ao serem questionados se, institucionalmente, a
UNIFESSPA dispunha de um setor que orientasse e oportunizasse
espaços de formação aos docentes, estes informaram: “Imagino que
sim, porque na universidade o Núcleo de Acessibilidade e
Inclusão Acadêmica, bastante atuante, mas não tive a oportunidade
de participar de nenhuma atividade ainda(D59); “O melhor que
pode, mas precisa melhorar ainda mais(D40); “Sim, mas ainda
está longe do adequado (D80); “Não. Acredito que possa ser
melhorada a oferta deste tipo de formação(D94); “Acredito que
sim, mas eu não estou muito bem-informado” (D47).
A existência de um setor responsável para prestar serviços
em educação especial e apoiar o processo de inclusão acadêmica na
UNIFESSPA mostra-se como um indicador relevante de
efetividade de princípios inclusivos, contudo, é salutar que os
359
docentes tenham ciência da existência e do papel que o núcleo tem
no apoio à inclusão acadêmica na UNIFESSPA.
Conclusões
O estudo trouxe cenário de práticas com alunos com
deficiência na UNIFESSPA, com perspectivas bastante variáveis de
compreensões sobre a deficiência, algumas associadas ainda a
dificuldades e problemas. Por outro lado, revelou olhares sobre a
deficiência como algo que depende da supressão de barreiras
externas ao aluno que apresenta essa singularidade. A maneira
como o docente constitui modos de enxergar seu aluno com
deficiência, impacta em como irá interagir com o mesmo no
processo pedagógico na perspectiva de incluir ou excluir das
atividades curriculares e das interações cotidianas na universidade.
Daí decorre a importância de se avançar na compreensão da
deficiência fundamentada no modelo social de deficiência.
Outro aspecto importante, relaciona-se à predisposição
docente em aprender como desenvolver didáticas acessíveis, ao
conhecer melhor seu aluno com deficiência. Em muitos relatos e
reflexões que os dados trouxeram, foi possível identificar a busca
por autoformação pelo docente, ou, ainda, busca por orientação no
NAIA, sobre como proceder para tornar seu ensino mais acessível.
Este tipo de interlocução é crucial para consolidar a acessibilidade
pedagógica nos cursos da UNIFESSPA.
De outra parte, são evidentes considerações de docentes
que criticam como insuficientes as políticas institucionais para
apoiar o desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas. É
360
preponderante o clamor por espaços de formação continuada mais
sistemáticas. Contudo, quando observamos contradições nos
discursos docentes, sobre existir espaços de formação, orientação
para direcionar sua prática dentro dos princípios inclusivos, cabe
inferir que fatores que têm incidido sobre a participação ou não
em espaços de formação quando esses são oportunizados.
Ainda, com o estudo, confirmou-se sobre a existência de
iniciativas de formação continuada, logo é necessário analisar que
fatores tem interferido nos casos dos professores que declararam
não existir iniciativas ou que não participaram.
Nas práticas pedagógicas narradas pelos docentes no
processo de interação com os alunos, contar com o suporte do
NAIA e avaliações que fazem dos espaços de formação, apontam
para indicadores positivos de inclusão acadêmica na educação
superior da UNIFESSPA. Todavia, identificamos avaliações de que
as formações e trabalho de apoio especializado ofertados pelo
núcleo se encontram insuficientes para atender todo o conjunto de
demandas específicas do alunado com deficiência.
Um aspecto importante que o estudo evidenciou é a
necessidade de que as universidades possam contratar pessoal
especializado para ampliar a equipe do núcleo de acessibilidade,
sinalizada por um dos docentes participantes e que merece
destaque como uma demanda reprimida pela interrupção de
concursos públicos, códigos de vagas que não foram criados e
autorizados pelo MEC de especialistas como áudio descritores,
revisores braile, tradutores e intérpretes de Libras categoria E, guia-
intérprete, cuidadores, acompanhantes especializados, entre outros,
361
que precisam atuar de modo interdisciplinar e multidisciplinar nas
universidades.
As barreiras pedagógicas poderão ser suprimidas de forma
plena, quando houver investimentos na educação superior de
forma séria e sem interrupções por parte do governo federal, em se
tratando de universidades públicas federais, das políticas de ações
afirmativas fortalecidas, consolidadas e não sucateadas com cortes e
bloqueios orçamentários como temos presenciado nos últimos anos
no Brasil.
Conclui-se que avanços, com alguns indicadores de
inclusão a partir das análises feita por docentes atuantes com alunos
com deficiência, que vivenciam desafios vários para efetivar os
princípios de inclusão e acessibilidade na UNIFESSPA, entretanto,
é preciso investir na supressão dos desafios que persistem, que
dependerá além da formação continuada de docentes
universitários, do compromisso potico governamental com a
educação para todos e todas, inclusiva e acessível.
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n.º 1, separata.
366
367
Sobre as Organizadoras
Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins
Pedagoga e Doutora e Livre Docente em
Educação. Professora assistente doutora do
Departamento de Educação e Desenvolvimento
Humano - DEPEDH e do Programa de Pós-
Graduação em Educação, da Faculdade de
Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista, Campus de
Marília. Concluiu Pós-doutorado no Programa de Linguística da
Universidade Federal de São Carlos. É bolsista Professor
Pesquisador - PQ1. Coordena atualmente o Núcleo de Atenção
Pedagógica e de Inclusão da FFC/Unesp e membro da Comissão
de Acessibilidade Local da FFC/Unesp. É coordenadora adjunta do
Comitê Acadêmico de Acessibilidade e Deficiência, da Associação
do Grupo de Universidades de Montevideo - CAAyD/AUGM.
Desenvolve estudos e pesquisas no Laboratório de Linguagem e
Surdez Lalis. Esta coordenadora da Rede de Pesquisa Diferença,
Inclusão e Educação (RPI), que integra o Projeto Diversidade,
movimentos sociais e Inclusão Unesp/ Capes-Print. Desenvolve
pesquisas em Rede Internacional com subsídios do CNPq, na
mesma temática. É membro da Red Interuniversitaria
Latinoamericana y del Caribe sobre Discapacidad y Directos
Humanos, coordenada pela Universidad de La Serena - Chile.
Desenvolve assessoria científica de agências de fomento (CNPq,
FAPESP, CAPES, Unesp, entre outras) e de periódicos científicos.
Demonstra produção de conhecimento nas áreas: Educação
Inclusiva, Educação Superior e Estudos Surdos em Educação. É
vice-der do grupo de pesquisa GEPDI - Grupo de Estudos e
368
Pesquisa em Deficiência e Inclusão, cadastrado no Cnpq. (Fonte:
Currículo Lattes). Email: sandra.eli@unesp.br
Ana Paula Camilo Ciantelli
Doutora e Mestra em Psicologia do Desenvolvi-
mento e Aprendizagem pelo Programa de Pós-
Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e
Aprendizagem pela Faculdade de Ciências da
Universidade Estadual Paulista PPGPDA,
FC/UNESP/Bauru. Graduada em Psicologia pela mesma institui-
ção. Realizou o Programa Doutorado Sanduíche no Exterior
(PDSE/CAPES) na Universidade do Algarve - Faro/Portugal e é
membro discente pesquisador do GEPDI - Grupo de Estudos e
Pesquisas em Deficiência e Inclusão - cadastrado ao CNPQ.
Atualmente está realizando o Pós-doutorado no PPGPDA,
FC/UNESP/Bauru. Tem experiência na área de Psicologia Escolar
e Educacional, Psicologia Social e Educação Inclusiva, atuando
principalmente com os seguintes temas: acessibilidade, deficiência,
educação especial, educação inclusiva, inclusão social, necessidades
educacionais especiais, desenvolvimento humano e processo de
ensino e aprendizagem.
E-mail: aninhaciantelli@gmail.com
369
Sobre os Autores
Carolina Carstens Riveros
Socióloga, diplomada en metodologías cualitativas
para la investigación psicosocial, diplomada en
marketing social y estrategias de implementación
de RSE, Máster en Antropología Aplicada, Salud y
Desarrollo Comunitario, diplomada en Derechos
Humanos, políticas blicas y gestión global inclusiva.
E-mail: ccarstens@uchile.cl
Diego Cifuentes Lucero
Terapeuta ocupacional, Master of Sciences in
Occupational Therapy, diplomado en Modelo de
Ocupación Humana. E-mail: dcifuentes@uchile.cl
Gerardo Contreras Vega
Licenciado em Informática por parte de la
Universidad Veracruzana y Maestro en Ciencias
de la Computación por parte de la Fundación
Arturo Rosenblueth. Profesor de tempo completo
de la Facultad de Estadística e Informática de la
Universidad Veracruzana (UV), imparte clase en la Licenciatura en
Redes y Servicios de Cómputo, la Licenciatura en Ingeniería de
Software y en la Maestría en Sistemas Interactivos Centrados en el
Usuario. Desde el 2015 coordinado el examen de ingreso a la
370
Universidad Veracruzana de aspirantes con discapacidad Visual.
Actualmente participa en el proyecto Edutech Asistencia
tecnológica a la accesibilidad en la Educación Superior Virtual, que
cuenta con fondos del proyecto Erasmus+ de la Comunidad
Europea. Ha desarrollado diferentes trabajos relacionados con
tecnología de asistencia para personas con discapacidad visual.
Coordina el Programa de Aprendizaje Basado en Problemas de la
UV. E-mail: gcontreras@uv.mx
Georgina García Escala
Profesora de Estado en Educación Diferencial
(Universidad de Chile), Magíster en Lingüística
Aplicada (Pontificia Universidad Católica de
Valparaíso, Chile) y Doctora en Planificación e
Innovación Educativa (Universidad de Alcalá,
España) Ha trabajado en el sistema de enseñanza regular, en
escuelas especiales y en universidades. Se desempeña como
académica del Departamento de Educación, Facultad de
Humanidades, Universidad de La Serena (Chile). Fue
coordinadora del Programa de Apoyo a la Discapacidad en dicha
Universidad. Posee publicaciones en adquisición del lenguaje en
poblaciones especiales e inclusión educacional. Fue elegida
coordinadora nacional de la Red de Educación Superior Inclusiva
(RESI) desde el año 2011 hasta el año 2018; coordinadora
nacional de la Red de Universidades Estatales Chilenas por la
Inclusión de Estudiantes en Situación de Discapacidad desde el
o 2018 hasta el año 2022 y coordinadora de la Red
Interuniversitaria de América Latina y el Caribe sobre
371
Discapacidad y Derechos Humanos desde el año 2022 a la fecha.
Forma parte del Equipo Técnico Interdisciplinario, Prueba de
Selección Universitaria adaptada para estudiantes con discapacidad
(PAES- DEMRE). El año 2020, en contexto de crisis sanitaria por
Covid 19, crea un programa de radio para niños y niñas: La
Pallalla.
Judith Pérez Castro
Doctora en Ciencia Social con especialidad en
Sociología. Investigadora en el Instituto de
Investigaciones sobre la Universidad y la
Educación-UNAM México. Líneas de
investigación: inclusión y equidad en educación,
políticas educativas, ética y valores profesionales.
Email: jkjudith33@yahoo.com.mx
Juliana Cavalcante de Andrade Louzada
Doutora e Mestra em Educação pelo Programa de
Pós-Graduação em Educação da Faculdade de
Filosofia e Ciências - UNESP/Marília (linha de
pesquisa: Educação Especial). Possui graduação
em Licenciatura Plena em Educação Física pela
UNESP/Bauru. Atua principalmente nos seguintes temas:
Educação Inclusiva, Acessibilidade no Ensino Superior, Educação
Física para pessoas com deficiência e Educação Escolar. Membro
do grupo de pesquisa GEPDI/CNPq (Grupo de Estudos e
Pesquisa em Deficiência e Inclusão). Participou ativamente do
372
projeto de pesquisa em rede financiado pelo Observatório em
Educação OBEDUC/CAPES - Acessibilidade no Ensino Superior
(Edital No. 49/2012). Já desenvolveu pesquisas nas áreas de saúde,
qualidade de vida e fisiologia do exercício). E-
mail:ju_louzada@hotmail.com
Julio Enrique Putallaz
Magíster en Gestión Ambiental y Ecología FAU-
UNNE (2003). Especialista en Docencia
Universitaria (FH-UNNE, 2005). Arquitecto
UNNE, Argentina (1986). Profesor Titular por
Concurso en la FAU - UNNE categorizado III en
el Programa de Incentivos de la SPU. Director del Proyecto de
Investigación Accesibilidad y Diseño Universal en la UNNE.
Necesidades educacionales específicas y prácticas inclusivas situadas
con estudiantes de grado- PIC19004. SGCyT. Iniciador y actual
responsable de la Cátedra Libre “Diseño Universal e Inclusión”
(Res. 482/15 C.S. UNNE (2015). Fue Decano de la
Facultad de Arquitectura y Urbanismo (2008-2012). Es
Representante de la UNNE ante la Red Interuniversitaria de
Discapacidad del Consejo Interuniversitario Nacional de Argentina
(CIN), de la que fue Coordinador Ejecutivo en el período de abril
de 2017 a junio de 2019. E-mail: julioputallaz@gmail.com
373
Karin Rank Liebl
Graduada com licenciatura plena Educação Física
pela Universidade da Região de Joinville -
UNIVILLE (2008) e em Pedagogia pela Uninter
(2020). Especialista em Educação Física escolar,
lazer e recreação (IPGEX), em Gestão Pública com
ênfase em Políticas Públicas (IFPR), em Gestão Escolar,
Administração, Supervisão, Orientação e Inspeção pela Faculdade
Única (2022) e em Educação Inclusiva, Especial e Políticas de
Inclusão pela Faculdade Única (2022). Mestre em Educação pela
Universidade da Região de Joinville UNIVILLE (2020).
Doutoranda em Educação pela UFPR, sob orientação da
Professora Doutora Laura Ceretta Moreira, na linha de pesquisa
Diversidade, Diferença e Desigualdade Social em Educação.
Pesquisadora dos temas:educação especial, avaliação da e na
educação e políticas públicas educacionais inclusivas. Com
experiência na Educação Básica, com atuação docente em
Educação Física, na Coordenação Escolar e elaboração de
programas e projetos educacionais para a rede municipal de ensino
de São Bento do Sul/SC. Experiência como docente no curso de
Educação Física - licenciatura e bacharelado na Universidade do
Contestado (UnC) - campus Mafra/SC (entre 2019 e 2021). Atua
como docente e conteudita para a disciplina Tópicos Especiais e
Educação Inclusiva do curso de pós-graduação EAD em Educação
Especial da Universidade da Região de Joinville UNIVILLE; na
Unisociesc campus São Bento do Sul nos cursos de Pedagogia,
Fisioterapia e Biomedicina, na graduação Semi Presencial e Digital
para o nima Educação, docente em cursos de extensão universitária
para o nima Educação e conteudista para o nima Educação. Foi
374
bolsista CAPES, durante o mestrado, com estágio docência
concluído no período entre junho e outubro do ano letivo de 2018
no curso de Educação Física (UNIVILLE-campus Joinville) na
disciplina Diversidade e Educação Inclusiva, totalizando 32
horas/aula. Atualmente bolsista de doutorado da UNIEDU.
E-mail: karinsbs10@gmail.com
Katiane Silva dos Santos
Pessoa baixa visão, graduanda do curso de
Licenciatura em Pedagogia na Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará - UNIFESSPA.
Participou do núcleo de acessibilidade e inclusão
acadêmica - NAIA/UNIFESSPA como bolsista
apoiadora. Executou atividades de pesquisa como bolsista
PIBIC/PNAES. E-mail: katianne.2607@gmail.com
Laura Ceretta Moreira
Possui Licenciatura em Educação Especial pela
UFSM e em Pedagogia pela FIC- Santa Maria/RS.
Mestrado em Educação pela UFSM e Doutorado
em Educação pela USP. É professora Associada IV
da UFPR, no Setor de Educação no
Departamento de Planejamento e Administração Escolar e no
Programa de Pós-Graduação em Educação. Tem experiência na
área de Educação Inclusiva, Política, Gestão e Planejamento
Educacional. Atua principalmente nas seguintes temáticas de
pesquisa: diferença, diversidade, inclusão e desigualdade social,
375
educação especial, ensino superior, acessibilidade, altas
habilidades/superdotação e transtorno do espectro autista.
Coordenadora o NAPNE (Núcleo de Apoio às Pessoas com
Necessidades Educacionais Especiais) na UFPR. Vice
Coordenadora do NEPAHS (Núcleo de Estudos e Práticas em
Altas Habilidades/ Superdotação); Membro da Diretoria do
ConBraSD (Gestão 2019-2020) Coordenadora de Inclusão e
Diversidade da UFPR; Preside o Fórum Nacional de Acesso ao
Ensino Superior (FNAES).
E-mail: laurac.moreira@gmail.com
Lorena Iglesias Véjar
Nutricionista, Bachiller en Ciencias exactas,
Diplomada en Salud Familiar, Magister en Salud
Pública, Diplomada en metodologías para la
construcción, validación y análisis de
cuestionarios en salud. E-mail: liglesias@uchile.cl
Lucélia Cardoso Cavalcante
Licenciada em Pedagogia pela Universidade
Federal do Pará/Campus de Marabá (2003).
Possui Formação específica na área de
Alfabetização (aperfeiçoamento). Especialização
em Psicopedagogia Clínica e Institucional. É
mestra e doutora em Educação Especial pela Universidade Federal
de São Carlos/UFSCar no Programa de Pós-Graduação em
Educação Especial. Possui experiência na docência do Ensino
376
Público Municipal e no ensino superior pela UFPA e
UNIFESSPA. Atuou em vários projetos de ensino, pesquisa e
extensão da UFPA de 2003 a 2013. Atuou como Técnica
Pedagógica da UFPA e Universidade Federal do Sul e Sudeste do
Pa - Marabá de 2006 a 2016. Coordenou Programas de Extensão
nas áreas: Formação de Professores em Arte - Educação, Economia
Solidária e na área de Educação Especial. Coordenou de 2009 aos
dias atuais projetos de pesquisa, de ensino e programas de extensão
na área de Educação Especial. Exerceu o cargo de coordenadora de
Extensão do Campus da UFPA/Marabá de fevereiro de 2007 a
janeiro de 2010. Possui formação na área de Libras, Braile,
áudiodescrição e Programa TEACCH. Atualmente é professora
Adjunta da área de Educação Especial da UNIFESSPA. Professora
do Programa de Pós-Graduação PROFLETRAS/UNIFESSPA,
atuando em pesquisas na área de surdez. É professora do Programa
de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da
UNIFESSPA, com orientações na área de inclusão, formação de
professores e o ensino inclusivo em Ciências e Matemática. É
professora do Programa de Mestrado Profissional de História em
Rede/UNIFESSPA orientando pesquisas na área do ensino de
História inclusivo. E coordenadora do Programa de s-graduação
do Mestrado Profissional em Educação Inclusiva - PROFEI em
Rede Nacional. É pesquisadora do Grupo de Pesquisa
OBSERVATÓRIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL?
Oneesp da Universidade Federal de São Carlos. Atualmente é líder
de dois Grupos de Pesquisa: "Grupo de Pesquisa em Educação
Especial: Contextos de formação, políticas e práticas de educação
inclusiva e acessibilidade" e "Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Tecnologias Assistivas e Acessibilidade" do CNPQ pela
377
UNIFESSPA. E atua como coordenadora do Núcleo de
Acessibilidade e Inclusão acadêmica - NAIA da Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará - UNIFESSPA desde o ano de
2014. Integra atualmente a Comissão Assessora em Educação
Especial e Atendimento Especializado em Exames e Avaliações da
Educação sica, como especialista consultora do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira/INEP, Portaria N 985, de 25 de novembro de
2019/INEP/MEC. E-mail: luceliaccr14@gmail.com
Lúcia Pereira Leite
Livre-docente em Psicologia da Educação. Pós-
doutorado junto ao Programa de Pós-graduação
Em educação Especial (PPGEEs - UFSCar).
Graduada em Psicologia, pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -
UNESP/Bauru. Mestrado e Doutorado em Educação pela
UNESP/ Marília. Professora Associada do Departamento de
Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia do
Desenvolvimento e da Aprendizagem, da Faculdade de Ciências -
UNESP/Bauru. Líder do GEPDI - Grupo de Estudos e Pesquisa
em Deficiência e Inclusão. Membro do GT Psicologia e Políticas
Educacionais - ANPEPP. E-mail: lucia.leite@unesp.br
378
Marcelo Daniel Barrios D´Ambra
Máster en Accesibilidad para Smart Cities por la
Universidad de Jaén. España (2018). Especialista
en Docencia Universitaria. Resol. N° 147/06-C.S.
Facultad de Humanidades. UNNE (2009).
Arquitecto. FAU - UNNE (1995). Docente
investigador con categoría de Jefe de Trabajos Prácticos en la
Cátedra Arquitectura II - UPC. FAU - UNNE desde 1996.
Categorizado V en el Programa de Incentivos de la SPU. Miembro
del Proyecto de Investigación Accesibilidad y Diseño Universal en
la UNNE. Necesidades educacionales específicas y prácticas
inclusivas situadas con estudiantes de grado- PIC19004. SGCyT.
Es Coordinador de la Cátedra Libre de Diseño Universal e
Inclusión. UNNE. (2015) y se desemeñó como Representante
alterno de la UNNE ante el Comité Académico Accesibilidad y
Discapacidad de la Asociación de Universidades Grupo
Montevideo – AUGM (2020 a 2022).
Email: mbarriosdambra@gmail.com
Maria Helena Martins Professora na Faculdade de
Psicologia e Ciências da Educação da Assistente na
Universidade do Algarve. Formada em Educação
Pré-Escolar, Escola Normal de Educadores de
Infância de Évora, licenciada em Psicologia
Educacional, Instituto Superior de Psicologia
Aplicada de Lisboa, Mestrado em Educação Especial na Faculdade
de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, e
Doutorada em Psicologia da Educação, Universidade do Algarve.
379
Atualmente é Coordenadora do Gabinete de Apoio ao Estudante
com NEE da Universidade do Algarve. Pertence ao Centro de
Investigação em Educação e Psicologia da Universidade de Évora.
Os principais interesses integram temáticas como a Inclusão e
Políticas educativas; Intervenção Precoce; Avaliação e Intervenção
em Educação Especial e Necessidades Educativas Especiais;
Políticas de Inclusão e Ensino Superior; Psicologia do
Desenvolvimento e Psicologia da Educação; Resiliência e
Vulnerabilidade desenvolvi-mental; Saúde, Bem-Estar e Psicologia
Positiva; Gerontopsicologia, Envelhecimento e Resiliência.
E-mail: mhmartin@ualg.pt
María Natalia ceres
Diplomada en Discapacidad y Derechos - Facultad
de Derecho, Ciencias Sociales y Políticas - UNNE
(2019). Técnica en Turismo por la UNNE (2008)
y Licenciada en Hotelería y Turismo por la
Universidad Nacional de Quilmes (2013).
Actualmente cursa la Maestría en Desarrollo y Gestión del
Turismo en la Universidad Nacional de Quilmes (programa
virtual) y un Curso de Posgrado en Metodología de la
Investigación en Ciencias Sociales de la Universidad Nacional de
Buenos Aires (UBA). Profesora Adjunta en la Facultad de Artes,
Diseño y Ciencias de la Cultura y docente en institutos terciarios.
Investigadora integrante del Proyecto de Investigación
Accesibilidad y Diseño Universal en la UNNE. Necesidades
educacionales específicas y prácticas inclusivas situadas con
estudiantes de grado- PIC19004. SGCyT (2021). Miembro de la
380
Cátedra Libre de Diseño Universal e Inclusión. UNNE. (2020).
Desarrolla proyectos de Extensión, dirige Tesinas de grado y
participa en Cursos de capacitación para municipios para el
Ministerio de Turismo de la Provincia de Corrientes.
E-mail: natalia.caceres@comunidad.unne.edu.a
Marisa Andrea Cenacchi
Doctora en Humanidades y Artes - Mención en
Ciencias de la Educación por la Universidad
Nacional de Rosario (FHyA-UNR). Profesora de
Educación Musical (FHyA-UNR). Docente
Adjunta tedra Metodología Educativa Musical
(FHyA-UNR). Asesora pedagógica, Dpto. Educación, Campus
Virtual UNR, desde 2008. Integrante del grupo de investigación
sobre Dispositivos Hipermediales Dinámicos IRICE (CONICET-
UNR). Estudia el campo de las tecnoloas para la inclusión social,
la accesibilidad y la formación de formadores para prácticas
educativas mediatizadas no excluyentes.
E-mail: marixxi2@gmail.com
Marivete Gesser
Professora do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da UFSC. Graduada em Psicologia,
Mestre em Psicologia Social pela PUC-SP e
Doutora em Psicologia pela UFSC. Realizou seu
Pós-doutorado em 2018 na State University of
New York/Stony Brook/NY/USA onde atuou como Visiting
Scholar estudando as contribuições dos Estudos da Deficiência
381
para a atuação de psicólogas/os nas políticas sociais. É
coordenadora do NED - Núcleo de Estudos da Deficiência da
UFSC - no qual realiza atividades de ensino, pesquisa e extensão
no campo dos estudos da deficiência de matriz feminista. Estuda a
interface entre os Estudos da Deficiência de matriz feminista com a
Psicologia, as Políticas Públicas e a Educação Inclusiva.
E-mail: marivete.gesser@ufsc.br
Nathalie Llanos Rivera
Nutricionista Magíster en Nutrición y Alimentos
mención Promoción de la Salud y Prevención de
Enfermedades Asociadas a la Nutrición, Diploma
en ciencias de la actividad física.
E-mail: natyllanosr@uchile.cl
Norma Elena Bregagnolo
Profesora en Educación Pre Elemental y Esp. en
Jardines Maternales (UNNE). Licenciada en
Educación Inicial (UNaF) y Especialista en
Docencia Universitaria (UNNE). Se encuentra
en el período de elaboración de Tesis del
Doctorado en Educación de la UNNE - Docente-Investigadora
Categoría IV en el marco del Programa de Incentivos de la
CONEAU (Convocatoria 2015). Docente investigadora
extensionista Integrante del Grupo de Investigación Formación
Docente y Educación Infantil - FODEI - Área de investigación:
Formación docente en Educación Inicial, Ingreso Universitario y
382
Educación de las Infancias desde la perspectiva de derechos.
Profesora Adjunta dedicación Semiexclusiva Profesorado y
licenciatura en Educación Inicial - Facultad de Humanidades
UNNEResistencia, Chaco, Argentina.
E-mail: normaebregagnolo@comunidad.unne.edu.ar
Pamela Block
Professor - Sociocultural Anthropology in
Western University/Canadá. PhD 1997 (Duke
University). My research interests include
“disability culture”, cultural perceptions of
disability, and the scholarly intersections of
disability, anthropology. I study disability experience on
individual, organizational and community levels, with past funded
research involving socio-environmental barriers,
empowerment/capacity-building, and health promotion. My
qualitative research methodologies combine historical and
discourse analyses with community-based ethnographic,
authoethnographic, and participatory approaches. I am particularly
interested in the intersections of gender, race, economic status,
sexuality and disability in movements for disability liberation
(justice and rights) and disability oppression (eugenics,
sterilization, mass-incarceration and killing) in Brazil, the United
States and Canada. My current research involves the experiences of
people with complex medical conditions who rely on technologies
such as mechanical ventilation and 24/7 skilled nursing for
survival. I actively support initiatives related to the cultural,
383
activitist, and scholarly emergence of neurodivergence and
disability indentities in Brazil and other Global South Countries.
E-mail: pblock@uwo.ca
Patricia Silvana San Martín
Doctora en Humanidades y Artes (Universidad
Nacional de Rosario, UNR, Argentina).
Investigadora Principal del Consejo Nacional de
Investigaciones Científicas y técnicas
(CONICET). Profesora Titular ordinaria de
Metodología Educativa Musical de la Facultad de Humanidades y
Artes (UNR). Docente-Investigadora Cat. I de la UNR. Directora
del Instituto Rosario de Investigaciones en Ciencias de la
Educación (IRICE: CONICET-UNR). Directora de la línea de
Investigación y Desarrollo Dispositivos Intermediales Dinámicos
(IRICE: CONICET-UNR). Rosário, Santa Fé, Argentina.
E-mail: sanmartin@irice-conicet.gov.ar
Pedro Angelo Pagni
Professor associado da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho. Possui graduação
em Educação Física pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (1987), mestrado
em História e Filosofia da Educação pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1994), doutorado
em Educação (1999) e Livre-docência em Filosofia da Educação
(2011) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho. Foi coordenador do GT-Filosofia da Educação da ANPEd
384
(2012-2013). Tem experiência na área de Educação, com ênfase
em Filosofia da Educação, atuando principalmente nos seguintes
temas: filosofia da educação, filosofia da educação no brasil,
filosofia contemporânea e educação e ensino de filosofia,
biopolítica e inclusão escolar.
E-mail:pedro.pagni@unesp.br
Soledad Reyes Soto
Nutricionista, Magister en Nutrición Clínica de
PUC, Diplomada en simulación clínica,
Diplomada en Docencia basada en competencias,
Diplomada en Evaluación de los aprendizajes por
competencias. E-mail: maria.reyes.s@uchile.cl
385
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Revisão e Normalização
Taciana Soares de Oliveira
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
SANDRA ELI S. DE O. MARTINS
Pedagoga, Doutora e Livre
Docente em Educação. Professora
assistente doutora do Departamento
de Educação e Desenvolvimento Hu-
mano e do Programa de Pós-Gradu-
ação em Educação, da Faculdade de
Filosoa e Ciências da Universidade
Estadual Paulista, Campus de Marí-
lia. É bolsista Professor Pesquisador
- PQ1. Coordena atualmente o Núcleo
de Atenção Pedagógica e de Inclusão
da FFC/Unesp e membro da Comis-
são de Acessibilidade Local da FFC/
Unesp. É coordenadora adjunta do
Comitê Acadêmico de Acessibilidade
e Deciência, da Associação do Gru-
po de Universidades de Montevideo
- CAAyD/AUGM. Esta coordenadora
da Rede de Pesquisa Diferença, Inclu-
são e Educação (RPI), que integra o
Projeto Diversidade, movimentos so-
ciais e Inclusão Unesp/ Capes-Print.
Desenvolve pesquisas em Rede Inter-
nacional com subsídios do CNPq, na
mesma temática. É membro da Red
Interuniversitaria Latinoamericana y
del Caribe sobre Discapacidad y Di-
rectos Humanos, coordenada pela
Universidad de La Serena - Chile. É
vice-líder do grupo de pesquisa GEP-
DI - Grupo de Estudos e Pesquisa em
Deciência e Inclusão, cadastrado no
Cnpq. (Fonte: Currículo Lattes).
Email: sandra.eli@unesp.br
ANA PAULA CAMILO CIANTELLI
Doutora e Mestra em Psicologia
do Desenvolvimento e Aprendizagem
pelo Programa de Pós-Graduação
em Psicologia do Desenvolvimento
e Aprendizagem pela Faculdade de
Ciências da Universidade Estadual
Paulista PPGPDA, FC/UNESP/Bauru.
Graduada em Psicologia pela mesma
instituição. Realizou o Programa Dou-
torado Sanduíche no Exterior (PDSE/
CAPES) na Universidade do Algarve
- Faro/Portugal e é membro discente
pesquisador do GEPDI - Grupo de Es-
tudos e Pesquisas em Deciência e
Inclusão - cadastrado ao CNPQ. Atu-
almente está realizando o Pós-douto-
rado no PPGPDA, FC/UNESP/Bauru.
Tem experiência na área de Psicolo-
gia Escolar e Educacional, Psicologia
Social e Educação Inclusiva, atuando
principalmente com os seguintes te-
mas: acessibilidade, deciência, edu-
cação especial, educação inclusiva,
inclusão social, necessidades edu-
cacionais especiais, desenvolvimen-
to humano e processo de ensino e
aprendizagem.
E-mail: aninhaciantelli@gmail.com
Quais obstáculos se fazem presentes nos discursos políticos e
acadêmicos na Educação Superior na contemporaneidade? Quais
discursos teórico-metodológicos tem mobilizado mudanças das po-
líticas institucionais universitárias? Em que avançamos? O que é
necessário alterar para que as universidades sejam mais inclusi-
vas? Que caminhos percorrer para garantir que a pluralidade hu-
mana constitua os modos de existir de diferentes corpos que ha-
bitam e/ou transitam nos espaços da Universidade? Quais planos
e ações são necessários para transformar os obstáculos em facili-
tadores à promoção de culturas, políticas e práticas inclusivas na
Educação Superior? Perguntas como estas e tantas outras foram
capturadas por um devir constante pelo compromisso, dos que se
aventuraram compartilhar percepções encarnadas na multiplicida-
de de compreensões que mobilizaram o título desta obra, “Inclusão
universitária no século XXI: dilemas atuais”.
Inclusão universitária no século XXI
SANDRA ELI SARTORETO DE OLIVEIRA MARTINS
organizadoras
Chamada Programa Universal
MCTIC/CNPq - 2018
Proc. 425167/2018-6
ANA PAULA CAMILO CIANTELLI
dilemas atuais
Inclusão universitária
no século XXI
dilemas atuais
Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins
Ana Paula Camilo Ciantelli
Organizadoras