experiências
docentes
Ana Maria de Moura Schäffer
Elize Keller-Franco
Giza Guimarães P. Sales
Rosane Michelli de Castro
(orgs.)
projetos formativos no Pibid
e Residência Pedagógica
Os programas governamentais de formação
docente e Residência Pedagógica emergem no
cenário educacional brasileiro como iniciati-
vas que dão destaque aos espaços práticos
em contextos reais de ensino, pois promovem
as trocas de experiências e o crescimento aca-
dêmico discente e docente. É disso que trata
esta obra, ao apresentar aos leitores ações
que iluminam as relações educativas. Assim,
as experiências narradas no livro compõem
um material que fomenta a cooperação, a
participação, a pesquisa acadêmica e a demo-
cratização do espaço escolar.
EAD
Schäffer; Keller-Franco; Sales; Castro
experiências docentes
9 786554 050098
experiências
docentes
Ana Maria de Moura Schäffer
Elize Keller-Franco
Giza Guimarães P. Sales
Rosane Michelli de Castro
(organizadoras)
projetos formativos no Pibid
e Residência Pedagógica
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1ª Edição, 2023 – Engenheiro Coelho, SP
experiências
docentes
Ana Maria de Moura Schäffer
Elize Keller-Franco
Giza Guimarães P. Sales
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(organizadoras)
projetos formativos no Pibid
e Residência Pedagógica
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Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)
(Ficha catalográca elaborada por Hermenérico Siqueira de Morais Netto – CRB 7370)
Experiências docentes: projetos formativos
no Pibid e Residência Pedagógica
1ª edição – 2023
100 exemplares.
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OP 00232
Schäffer, Ana Maria de Moura
Experiências docentes: projetos formativos no Pibid e Residência Pedagógica / Ana M
aria de
Moura Schäffer, Elize Keller-Franco, Giza Guimarães P. Sales, Rosane Michelli de Castro,
orgs. São Paulo: Editora Unesp; Engenheiro Coelho: Unaspress, 2023.
360 p.
Inclui bibliograa
ISBN: 978-65-5954-331-1 (impresso)
978-65-5954-332-8 (digital)
DOI: https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8
1. Formação docente. 2. Prática pedagógica. I Título.
11 Prefácio
15 Apresentação
21 Prefácio
Parte 1: Práticas formativas no Pibid
Capítulo 1
27 O Pibid como vetor da
constituição identitária docente
Ana Maria de Moura Schäffer
Capítulo 2
43 Pibid: “iniciação à docência” ou
“iniciação à ciência da docência”?
Stella de Mello Silva
Capítulo 3
57 Constituição da autonomia na formação docente no
âmbito do Pibid: algumas reflexões a partir da atuação
colaborativa na perspectiva da educação inclusiva
Claudia Regina Mosca Giroto
Luciana Aparecida de Araújo
Ágatha Assis B. dos Santos
Sumário
Capítulo 4
71 Pibid e formação inicial dos professores
na perspectiva educacional inclusiva
Simone Gomes Ghedini
Rosimar Bortolini Poker
Letícia Romeu Nóbrega
Capítulo 5
83 Da exclusão à inclusão: um
relato de experncia dentro do Pibid
Raquel Pierini Lopes dos Santos
Helen Barbosa Siqueira Emiliano
Capítulo 6
93 Recursos pedagógicos com base em
atividade psicomotora como estratégias
para autonomia no ensino fundamental
Regina Keiko Kato Miura
Rogério dos Santos Ferreira
Ariane Seiko Kubo Yassuda
Capítulo 7
103 O Pibid na música: interação e autonomia
Ellen de Albuquerque Boger Stencel
Capítulo 8
115 O ensino de história, a BNCC e a
formação de professores no Pibid
Dayana de Oliveira Formiga
Capítulo 9
129 A formação dos licenciandos em educação física
por meio do Pibid: saberes adquiridos e construídos
Ivan W. Tertuliano
Rubens Oliveira da Silva
Ledimar Brianezi
Capítulo 10
151 Jogos de matriz africana: percepção, experiências e
práticas no Pibid
Ledimar Brianezi
Rogério de A. Gemeinder
Alan N. Prado
Breno C. dos Santos
ndido P. da Silva Netto
Guilherme de S. Silva
Hadrielly K. S. e Silva
Joabe T. de Andrade
Keila T. Santos
Leonilda B. G. da Silva
Lucas E. Delfino
Lucas W. de O. Santos
Thaíssa P. Laray
Victor G. Franco
Willian V. Espinosa
Parte 2: Práticas formativas
no Programa de Residência Pedagógica
Capítulo 11
165 Programa de Residência Pedagógica e
concepção de formação de professores:
o que nos revela o projeto de uma instituição
Elize Keller-Franco
Catulo 12
185 Contribuições do Programa de residência
pedagógica e estágio supervisionado para
a formação docente: uma relação teórico-prática
Giza Guimarães P. Sales
Rebeca Pizza Pancotte Darius
Denise Andrade M. Oliveira
Capítulo 13
197 Vivências no Programa de Residência Pedagógica
na perspectiva das técnicas freinetianas
Rosane Michelli de Castro
Juliana Barbosa Pires
Lara Rodrigues Gesser
Capítulo 14
209 O Programa da Residência Pedagógica na educação
de jovens e adultos: dos saberes às práticas
Cudia Prioste
Francisco José Carvalho Mazzeu
Ronaldo Revejes Pedroso
Capítulo 15
221 O ensino de ciências por investigação na
formação inicial de professores: vivências e
práticas no Programa Residência Pedagógica
Eglie Rodrigues
Eledir da Cruz Martins
Enios Carlos Duarte
Capítulo 16
237 Vivência musical no Programa da Residência
Pedagógica nas escolas de Engenheiro Coelho
Ailen Rose Balog de Lima
Ellen de Albuquerque Boger Stencel
Capítulo 17
249 Programa de Residência Pedagógica na
licenciatura em pedagogia e educação
infantil: discussões e pautas sobre a brincadeira
como atividade mobilizadora da autonomia
de crianças e professores
Elieuza Aparecida de Lima
Gabriela Carolina Silva
Capítulo 18
259 Projeto Alegria de Viver: o resgate dos
jogos e construção de brinquedos da
cultura popular na Residência Pedagógica
Admilson Gonçalves de Almeida
Danilo de Souza
Magda Jaciara de Andrade Araújo
Mara Ester da Silva
Sarah Fernandes de S. Outeiro Gregol
Capítulo 19
267 O Programa de Residência Pedagógica no
contexto do ensino de ciências por investigação
Tatiana Schneider Vieira de Moraes
Alice Helena Bertola
José Salustiano dos Santos
Camila Bigelli
Capítulo 20
279 “Fizemos história em Engenheiro Coelho:
impactos da Residência Pedagógica
Elder Hosokawa
Rebeca Pizza Pancotte Darius
Thais Gonçalves Silva dos Santos
Giza Guimarães P. Sales
Capítulo 21
295 Aportes da pedagogia freinet no Programa
de Residência Pedagógica no contexto
do curso de pedagogia da Unesp
Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto
Elianeth Dias Kanthack Hernandes
Capítulo 22
311 Residência Pedagógica, Metodologia da
Problematização e estágio: aproximações e
possibilidades para a formação docente
Rebeca Pizza Pancotte Darius
Elize Keller-Franco
Giza Guimarães P. Sales
Capítulo 23
329 O Programa de Residência Pedagógica:
autonomia teórico-prática na formação docente
Tânia Suely Antonelli Marcelino Brabo
Vanilda Gonçalves de Lima
343 Sobre os autores
Através dos séculos, as ações parecem evidenciar que a educação é o bem cultural
mais importante para a humanidade. Isso porque ela torna possível a formação do indi-
víduo para o alcance da satisfação existencial e a integração à comunidade, auxiliando
na configuração estrutural e valorativa da sociedade e do Estado. Em outras palavras,
a educação é o instrumento que permite a concretização das características morais,
éticas e laborais desejadas para o indivíduo e a humanidade.
Deste modo, o papel das instituições educacionais é basilar para a vida e o con-
vívio. Por essa razão, ainda na antiguidade, Platão, em As Leis (Livro II), afirma que a
educação é questão fundamental da polis, ou seja, problema essencial a ser solucionado
pelo Estado. Consequentemente, Montesquieu lembra em O Espírito das Leis (Livro
IV, Capítulo I), que cada tipo de Estado buscará implementar a educação formadora da
espécie de indivíduo que existirá segundo os valores objetivados.
Tais afirmações têm se concretizado no Brasil, que, por meio da Constituição
Federal, configura a educação como um “direito de todos”, cujos objetivos são o “ple-
no desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua quali-
ficação para o trabalho” (art. 205). Assim, a regulação normativa pátria coloca como
padrão educativo de qualidade aquele que é meio eficaz ao alcance, pelo indivíduo, da
plenitude das capacidades intelectuais, físicas, morais e socioemocionais, bem como
da formação cidadã e laboral.
Tal realidade apenas se torna possível mediante a conjugação de esforços centra-
dos na escola e na universidade, que deverão atender à exigência de um ensino teórico-
-prático, conforme o afirma a Lei n.º 9.394/96, ao tratar das diretrizes e bases da educa-
ção nacional (art. 1º, § 2º). Se na escola há o fenômeno da efetivação da educação básica
Prefácio
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p11-14
Experiências Docentes
12
proporcionada à criança e ao adolescente, na universidade tem lugar o ensino superior,
que aprofundará a formação para o convívio social, a cidadania e o mundo do trabalho.
A fim de que tenha eficácia científica e acadêmica, nos âmbitos da existência
individual e coletiva, é que a educação, enquanto fenômeno atrelado à universidade,
deve ocorrer em obediência ao princípio da indissociabilidade entre pesquisa, ensino
e extensão, segundo a Constituição Federal (art. 207). Afinal, enquanto a pesquisa
permite vislumbrar novos horizontes do saber em benefício da humanidade, o ensino
busca transmitir aos estudantes o conhecimento existente surgido por intermédio da
investigação científica, cabendo às atividades de extensão beneficiar a comunidade
sob influência da instituição com elementos ensejadores de uma vida digna, fundada
nos valores da liberdade e igualdade.
É nesse contexto que foram criados pelo Governo Federal o Programa Insti-
tucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e o Programa de Residência Pe-
dagógica (PRP), a serem realizados com a colaboração indispensável da escola e da
universidade. A escola oferece o campo de atuação para as atividades de iniciação à
docência e Residência Pedagógica, proporcionando aos universitários efetiva vivên-
cia teórico-prática e melhor formação de sua identidade profissional. Já a universi-
dade disponibiliza conjunto de saberes científicos e acadêmicos, logo, de natureza
investigativa e didática, que possibilitará o aprimoramento da educação, seja pela
formação adequada de professores, seja pelo contínuo e progressivo desenvolvimen-
to do conhecimento pedagógico.
Por essas razões, consideramos este livro, intitulado Experiências docentes: pro-
jetos formativos no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência e na Re-
sidência Pedagógica, importante para o dlogo sobre o papel dos referidos programas
governamentais vinculados à educação e a função da universidade e do ensino superior
brasileiros. Fruto de prática discente supervisionada e investigações cienficas lidera-
das por professores vinculados à Unesp e ao Unasp ocorridas nos anos 2018 e 2019, esta
obra traz dez capítulos na Parte I, denominada “Práticas formativas do Pibid, e treze
capítulos na Parte II, intitulada “Práticas formativas na Residência Pedagógica”.
O livro aborda aspectos inerentes a ambos os programas governamentais mencio-
nados enquanto instrumentos para a formação da identidade do professor e a tomada
de consciência de tal identidade por todos os profissionais da educação, com atribuição
de imporncia central à autonomia docente e discente, respeito à diversidade e inclusão
na comunidade escolar.
Além disso, trata da necessidade de sistematizar concepções filosóficas, metodo-
logias e práticas inerentes à formação identitária docente, partindo-se do respeito aos
valores que devem nortear e concretizar uma educação escolar brasileira de qualidade,
a saber, a liberdade e a igualdade decorrentes da dignidade humana, segundo expresso
nos princípios do ensino veiculados pela Constituição do Brasil (art. 206).
13
Prefácio
Em decorrência do conteúdo essencial deste livro, que discorre sobre a impor-
ncia funcional do Pibid e da Residência Pedagógica para a educação nacional básica
e superior, fazendo-o de modo teórico-prático a partir de investigações e experiências
implementadas no âmbito daqueles programas, convidamos você para fazer uma jorna-
da de dlogo e reflexão por meio da leitura.
Dr. Afonso Ligório Cardoso
Dr. Lélio Maximino Lellis
Esta produção de natureza didática resulta das experiências vivenciadas e com-
partilhadas na parceria universidade e escola pública no contexto do Programa Institu-
cional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e do Programa de Residência Pedagó-
gica (PRP), os quais fazem parte das políticas públicas de formação docente que estão
na base da missão histórica da Capes, cujos objetivos são qualificar o ensino superior
no país, estreitar os laços entre a universidade e a escola e ampliar o diálogo entre elas.
Refletindo sobre o atual contexto histórico e político e a relevância de debater em
níveis variados as perspectivas de formação acadêmica e profissional, o impacto dessas
políticas públicas sobre o sistema educacional brasileiro se reveste de possibilidades
e merece ser pensado num viés crítico que esteja fundamentado em uma ciência do
conhecimento que não desconsidere o aspecto político e cultural, tampouco esqueça
que são iniciativas públicas importantes, mas que não substituem o investimento na
formação inicial (NERI; SOUSA JÚNIOR, 2020).
Nesse sentido, o Pibid e o PRP provocam deslocamentos nos atores envolvidos na
cena educativa, que resultam em implicações crítico-reflexivas quando estão diante da
práxis pedagógica, a ponto de serem levados a repensar as teorias estudadas na acade-
mia para que a experiência vivencial no contexto real de sala de aula ganhe significado,
desenvolvendo a autonomia e confirmando a vocação docente.
É na esteira dessa percepção que os cursos de licenciatura, considerando-se a sua
natureza e a dos programas de políticas públicas para esses cursos, são responsáveis
pela relação dimica e enriquecedora entre a universidade e as instituições de ensino
de educação básica. Conforme prevê o Parecer CNE/CP nº 09/2001:
Apresentão
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p15-20
Experiências Docentes
16
[...] cursos de licenciatura, que formam especialistas por área de conhecimento ou
disciplina, é frequente colocar-se o foco quase que exclusivamente nos conteúdos
específicos das áreas em detrimento de um trabalho mais aprofundado sobre os
conteúdos que serão desenvolvidos no ensino fundamental e médio. É preciso in-
dicar com clareza para o aluno qual a relação entre o que está aprendendo na licen-
ciatura e o currículo que ensinará no segundo segmento do ensino fundamental e
no ensino médio. Neste segundo caso, é preciso identificar, entre outros aspectos,
obstáculos epistemológicos, obstáculos didáticos, relação desses conteúdos com o
mundo real, sua aplicação em outras disciplinas, sua inserção histórica. Esses dois
níveis de apropriação do conteúdo devem estar presentes na formação dos profes-
sores (BRASIL, 2001, p. 21).
As realizações e pesquisas partilhadas aqui revelam tanto o Pibid quanto o PRP
como espaços de autonomia, inclusão e (re)construção de saberes são discutidas nesta
coletânea ancoradas nas concepções de formação docente e construção da identidade,
conforme Nóvoa (1992), Tardif (2011), Freire (1996), Demo (2002), entre outros. Tendo
em vista que a formação docente é um connuo no processo de tornar-se profissional
da educação, compreender como se desdobra essa formação é uma etapa necessária e
imprescindível para o sucesso da profissão de docente. Da mesma forma, docentes e
pesquisadores altamente especializados também se empenham para cumprir sua tarefa
a fim de que a formação de seus futuros professores se processe no diálogo entre a uni-
versidade formadora e as escolas receptoras.
Os capítulos que compõem esta coletânea pretendem divulgar relatos de experi-
ência, práticas pedagógicas, pesquisa acadêmica e resultados que, de alguma maneira,
mesclam-se com saberes processados na realidade da sala de aula, seja na academia, seja
nas escolas parceiras. Desse modo, os textos estão distribuídos na seguinte ordem: na
primeira parte do livro dedicada ao Pibid são apresentados dez capítulos que transitam
entre relatos de experiência, reflexões teóricas, pesquisa de campo, que versam sobre
formação e identidade docente, perspectivas metodológicas, recursos pedagógicos, edu-
cação inclusiva, entre outros.
A segunda parte, dedicada à Residência Pedagógica, traz treze capítulos que
socializam projetos formativos desenvolvidos na primeira versão do Programa lan-
çado pela Capes mediante o Edital nº 06/2018 no âmbito das duas instituições par-
ceiras na organização desta obra em articulação com as escolas públicas estaduais
participantes do Programa.
Na primeira parte, os textos se dedicam a refletir sobre os impactos do Pibid e
na formação identitária docente, nas IES pública e privada participantes, nas escolas
parceiras, nos coordenadores e supervisores de área. Paralelamente, são destacados
17
Apresentação
frutos acadêmicos colhidos durante a edição dos programas, no período de agosto de
2018 a dezembro de 2019.
Entre as várias constatações identificadas na obra e que se materializam nos re-
latos de experiência e nas pesquisas apresentadas, comprovando o potencial agregador
de saberes do Pibid, esse se apresenta sob a perspectiva de um ecossistema cienfico
que se nutre da discussão e coleta de dados que são organizados, refletidos e validados
na interação universidade, escola e comunidade, cumpre a função de subsidiar uma
reflexão que aponte mudanças que possibilitem pensar o Pibid não como uma política
pública de “iniciação à docência”, mas antes como “iniciação à ciência da docência”,
visto se caracterizar como um campo fértil com objetivo finastico de pesquisas, sob
a ótica de Bourdieu (2004).
Sobre isso, Demo (1998, p. 2) defende que a condição primeira para que haja
cientificismo na educação é que os profissionais da área sejam pesquisadores, “ou seja,
manejem a pesquisa como princípio científico e a tenham como atitude cotidiana. Na
mesma direção, Lüdke (apud ROZA, 2005) discute que professores da escola básica tam-
bém são pesquisadores, fazem ciência, embora a autora alerte para o fato de que, no
geral, sempre que pensamos em pesquisa científica, logo nos vêm à mente os cursos de
pós-graduação. No entanto, é bom lembrar que o ambiente de formação docente é um
campo fértil e um reduto ideal do fazer científico.
[...] a pesquisa ainda é um tabu, devido a sua condição de inserção no perfil profission-
al do professor ser pouco provável, dado a inúmeras resistências entre os acadêmicos
e os formadores e, finalmente, com a rigorosidade exigida nos trabalhos para que
possam ser chamados de pesquisa científica (se alicerça sob enfoques tradicionais,
funda-se no positivismo; se parte de outras modalidades, é pouco científica) (LÜDKE
apud ROZA, 2005, p. 81).
As preocupações de Lüdke (2001) devem ser também a de todos os educadores
que se importam com o fazer científico no seu ambiente docente. No entanto, a própria
condução e gestão de políticas públicas governamentais como o Pibid e o PRP devem ser
fomentadores de um discurso e de uma prática que legitimem o processo de tornar-se
docente como uma prática científica.
Na segunda parte, voltada para o PRP, os capítulos apresentam investigações, ex-
periências e reflexões desenvolvidas na formação inicial de professores a partir das ne-
cessidades reais da escola como forma de buscar mudanças nos processos formativos
para a docência, em especial no que diz respeito à indissociabilidade entre teoria e prá-
tica, contemplando: ensino por investigação; projetos; Problem Based Learning (PBL);
abordagens interdisciplinares; atividades teórico-metodológicas freinetianas dentre as
quais as aulas passeio; resgate dos jogos e brincadeiras populares; Educação de Jovens e
Experiências Docentes
18
Adultos; integração do currículo oficial com o conhecimento local; metodologias ativas
envolvendo iconografia, música e mídias; reflexões sobre as concepções de formação de
professores dentre outras ações e recursos, proporcionando experiências que enrique-
cem mutuamente a práxis pedagógica desenvolvida na educação básica e os processos
formativos na graduação de forma colaborativa.
Embora se possa considerar o PRP recente demais para uma alise acurada de
seus resultados e que pesem os desafios da manutenção do caráter normativo que têm
orientado os componentes práticos da formação, em especial, o estágio, e da conserva-
ção de traços da concepção técnica de formação docente expressa na fragmentação e
disciplinarização ainda visíveis nas diretrizes do PRP, as tessituras apresentadas nos
textos firmam a contribuição do Programa, destacando seu lugar e imporncia para a
agenda das políticas educacionais brasileiras.
Dentre os pontos considerados positivos do Programa, os autores destacam os
seguintes aspectos: ampliação da inserção do graduando na realidade escolar; parceria
entre universidade e redes de ensino públicas, com a valorização das características lo-
cais; articulação entre teoria pedagógica, prática docente e pesquisa cienfica; produção,
inovação e socialização de conhecimentos cienficos, interdisciplinares no âmbito da
escola e da universidade; valorização dos profissionais que atuam na educação básica;
reconhecimento da importância da parceria dos profissionais do ensino superior e da
educação básica na formação inicial e continuada de professores.
De todo modo, a seleção de textos do volume resume e discute diferentes cami-
nhos percorridos nos programas em destaque, introduzindo experiências testadas na
prática e que deram certo para que as licenciaturas das áreas contempladas recebam
as contribuições advindas das interações entre universidade, escola e comunidade e
reconheçam a significativa contribuição dos programas Pibid e RP como políticas
públicas a serviço da educação.
Todas as discussões contempladas nos capítulos aqui apresentados, segundo a
temática em que inseriram as ações norteadoras de cada subprojeto constituinte do
projeto maior que nomeou tanto os Programas Institucionais de Bolsas de Iniciação
à Docência quanto os Programas de Residência Pedagógica das instituições de for-
mação de professores proponentes, ressaltam, por todo o exposto, a viabilidade da
necesria articulação entre teoria e prática em todos os processos que envolvem a
formação docente.
Concluímos com o nosso agradecimento à Capes pelos programas de aperfeiço-
amento à formação docente, às nossas instituições Unasp e Unesp pelo apoio na im-
plementação do Pibid e da residência, às escolas públicas que aceitaram ser nossas par-
ceiras e, muito especialmente, aos docentes orientadores nas IES e aos supervisores e
preceptores nas escolas que acolheram os dois programas.
19
Apresentação
Nas linhas finais desta apresentação, aproveitamos para honrar a contribuição
do professor e colega David Mesquita, in memoriam, por sua participação e dedicação
ao Pibid e ao PRP, para que nos inspiremos e mantenhamos o seu senso de propósito
e comprometimento acadêmico. Esta homenagem brota do reconhecimento daqueles
que tiveram a oportunidade e a satisfação de conviver com ele, acompanhar sua intensa
atividade acadêmica e sentir sua entrega dria ao magistério.
Dedicamos este livro ao professor David Mesquita pela imensa generosidade, em-
patia e pela força com que lutou para levar avante suas atividades até ser levado de nosso
convívio. Estará sempre presente em nossas lembranças.
Ana Maria de Moura Schäer
Elize Keller-Franco
Giza Guimarães P. Sales
Rosane Michelli de Castro
As organizadoras
Referências
BOURDIEU, P. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico.
São Paulo: Edunesp, 2004.
BRASIL, Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP
009/2001. Disponível em: https://bit.ly/3GsMgGz. Acesso em: 10 nov. 2020.
DEMO, P. Educar pela pesquisa. Campinas: Editora Autores Associados, 1998.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LÜDKE, M. (Coord.). O professor e a pesquisa. Campinas, SP: Papirus, 2001.
NERI, A. A. M.; SOUSA JÚNIOR, A. R. PIBID e PRP: políticas públicas necessárias na
formação inicial docente. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 1, n. 1, 2020.
Disponível em: https://bit.ly/3pEQmok. Acesso em: 10 nov. 2020.
NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. (Org.). Os
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ROZA, J. P. A pesquisa no processo de formação de professores: intenções e experiências
Experiências Docentes
20
docentes e discentes e as limitações deste exercício - um olhar sob duas realidades
educacionais. 2005. 159 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação prossional. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
A proposta do livro revela o cuidado e a preocupação da Instituição com a forma-
ção inicial de seus licenciandos, ao relatarem experiências geradas em dois programas
federais que se têm mostrado bastante profícuos, o Pibid e o de Residência Pedagógica.
O título Experiências docentes: projetos formativos no Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação à Docência e na Residência Pedagógica é um convite ao leitor interessado
na formação inicial docente de qualidade a conhecer os projetos formativos. Além disso,
valoriza esses projetos, ao compartilhá-los, e deixa clara a relação universidade e escola.
As organizadoras revelam, na apresentação, a intencionalidade da proposta do
livro, ao admitirem a escola como locus de formação e ao demonstrarem a relação pro-
fícua entre a universidade e a escola pública ou particular. Abre-se possibilidade para
discussão crítico-reflexiva sobre a pxis pedagógica e o viés científico da pesquisa, ao
cientificizar a prática como campo de pesquisa.
Formar bons professores é um compromisso moral, tanto da instituição quanto
dos professores envolvidos nos cursos de licenciatura. Pondera-se sobre o fato de que
a formação atribuída por um currículo carregado de teoria que visa à prática apenas
no momento do estágio supervisionado, que nem sempre acontece a contento, e sobre a
participação dos licenciandos nos programas de iniciação à docência, que descortina a
realidade, estabelece maior vínculo com o campo profissional e, por conseguinte, com-
promisso com a boa prática profissional.
Ao ingressar no Pibid e no Programa de Residência Pedagógica, os licenciandos
têm contato com a função social da docência e sua especificidade. Ambos os progra-
mas possibilitam um encontro com a realidade, tanto aos futuros professores quanto
ao docente da universidade, que passa a olhar a escola pelas lentes de seus alunos e
procede a uma revisão de sua própria prática no ensino superior. A participação nos
Prefácio
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p21-24
Experiências Docentes
22
programas permite uma reconceitualização da realidade escolar, melhor compreensão
da diversidade cultural e da pluralidade de contextos e a percepção da ação de ensinar
como central no caráter profissional docente.
As organizadoras optaram por apresentar um capítulo introdutório em cada parte
e dividir os programas de modo a contemplar o Pibid na parte 1 e a Residência Peda-
gica na parte 2, para revelar a intenção institucional em cada um deles. De leitura fluida
e prazerosa, o texto discorre sobre as experiências da prática, com evidências, quer de
planejamento, quer de imagens das práticas vividas, o que anima e inspira quem lê a
continuar atento ao desenvolvimento de cada capítulo. Ambas as partes prestam um
grande serviço aos leitores, sejam licenciandos, com vários exemplos de boas práticas,
sejam formadores de professores, que poderão se inspirar nas propostas já executadas,
sejam pesquisadores, que em seus grupos de pesquisa põem foco na formação inicial
docente, na constituição identitária da docência, na aprendizagem da docência.
Houve cuidado ao contemplar a complexidade da docência nos seus vários âmbi-
tos: identidade profissional, conhecimento profissional docente, profissionalidade do-
cente e desenvolvimento profissional, que têm início na formação. Ao evidenciar em
cada capítulo o conhecimento profissional gerado pela prática pedagógica, as autoras
observam também que os licenciandos vão se engajando no cotidiano da profissão.
Compartilhar as boas práticas realizadas no âmbito do Pibid (parte 1 do livro)
possibilita aos leitores de diversas áreas bons exemplos de situações da prática. As or-
ganizadoras mantiveram-se atentas a contemplar temas de extrema importância para o
conhecimento profissional docente sobre construção da aprendizagem da docência na
educação física, na música, na história, e também sobre inclusão, BNCC, trabalho com
jogos africanos na matemática, desenvolvimento da autonomia na formação docente, e
sobre recursos pedagógicos, tanto na educação infantil quanto no ensino fundamental.
Os capítulos, não demasiado longos, estão bem escritos, e os leitores terão prazer
na leitura inspiradora e clara sobre as práticas realizadas, que lhes possibilitará constru-
ção reflexiva e pensamento crítico sobre a realidade escolar. A parte 2 é composta por
capítulos que remetem à constituição identitária docente, promovida pelas experiências
junto ao Programa de Residência Pedagógica. O capítulo inicial revela o histórico insti-
tucional do Programa, seguido por capítulos que servem de exemplo aos leitores atentos
à iniciação à docência. Abordam-se temas como: problematização do estágio supervi-
sionado, relação teoria e prática, a música, o papel do brinquedo e da alegria na escola,
a EJA – Educação de Jovens e Adultos; a educação infantil; aprendizagens freinetianas e
a área das ciências por investigação. O projeto institucional oferece, desde 2011, bolsas
de monitoria para estudantes das licenciaturas de artes, ciências biológicas, geografia,
história, letras, matemática e pedagogia.
Cabe ressaltar a boa qualidade da escrita dos capítulos que, ao revelarem a didáti-
ca escolhida e posta em prática, imbricam a teoria e a prática, alavancam o conhecimento
23
Prefácio
profissional docente, tanto de professores em formação inicial, quanto dos professores ex-
perientes que recebem os bolsistas. As evidências indicadas por meio de planos de aula e
fotografias das ações ocorridas nas salas de aula manifestam a vida dos programas na escola.
Outro ponto relevante que emerge da organização do livro em capítulos com for-
mato elucidativo vai ao encontro da figura do professor pesquisador esclarecida por An-
dré (2008), que afirma que ensinar e pesquisar são papéis diferentes. O pesquisador tem
uma visão analítica do contexto, que exige afastamento dele e oportunidade de pensar
sobre ele. Vale-se de procedimentos rigorosos e sistemáticos para produzir conhecimen-
to. Já o professor responsabiliza-se pelo ensino de conteúdos, valores e procedimentos.
Embora planeje suas aulas, depara-se com situações inusitadas que lhe exigem rapidez
de raciocínio e responde pelas consequências de suas ações. Ambos os papéis são exi-
gentes e permitem à universidade que não fique limitada ao campo da pesquisa, mas
que atue no campo da docência, estabelecendo vínculo com a escola, com o efeito dos
projetos junto aos licenciandos, com os alunos da escola envolvida, com os professo-
res experientes que os recebem e são coformadores dos licenciandos. Os programas, ao
unirem vários atores, estabelecem uma corresponsabilização na formação dos futuros
professores e, consequentemente, na aprendizagem de qualidade dos alunos. Esse é o
verdadeiro compromisso educacional, acadêmico e político que a instituição assume.
Saliento o enorme prazer que a leitura me trouxe. Reitero a nobreza do serviço pres-
tado, com exemplos de boas práticas que, de fato, aconteceram, revelando como é possível
construir a docência com decência, efetividade e competência. Parabenizo as organizado-
ras pela construção e pelo esmero com que pensaram a obra.
Dra. Ana Maria Gimenes Corrêa Calil
Referência
ANDRÉ, M. (org.). O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores.
Campinas: Papirus, 2008.
Práticas
formativas
no Pibid
PARTE 1
Por questões de organização, dividimos o capítulo em duas partes. Na primeira,
discorremos sobre as experiências vivenciadas na coordenação institucional do Pro-
grama Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), referente à chamada
pública da Capes oficializada pelos documentos oficiais (Portaria GAB nº 45, de 12 de
março de 2018 e Edital nº 7/2018) e destacamos alguns frutos acadêmicos colhidos no
processo. A edição 2018 teve duração de dezoito meses (agosto/2018 a dezembro/2019).
Na segunda parte, discutimos e apresentamos os resultados de uma pesquisa explora-
tória realizada com os discentes bolsistas ao final da edição do Pibid.
Um dos objetivos da primeira parte é apresentar algumas realizações e alcances
do Pibid durante o período, destacando como a parceria universidade e escola públi-
ca extrapolam os muros de ambas as insncias e impactam toda a comunidade no
entorno delas; outro objetivo é descrever, mesmo que de forma sucinta, a caminhada
conjunta dos 144 bolsistas de iniciação à docência selecionados por edital (mais a con-
trapartida de dez alunos voluntários), distribuídos nas oito escolas inseridas no siste-
ma público de ensino estadual e municipal, acompanhados por dezoito supervisores,
professores efetivos das escolas parceiras, mediante seleção pelas regras da Capes e
seis coordenações de área indicadas pela Instituição de Ensino Superior (IES), com a
respectiva contrapartida de pares voluntários também indicados pela IES para a gestão
dos respectivos subprojetos. Nas escolas parceiras seguiu-se a mesma dimica de su-
pervisores voluntários que contribuíram para o funcionamento adequado do subpro-
jeto no ambiente escolar.
Quanto aos objetivos da segunda parte, buscamos identificar as impressões dos
discentes quanto aos impactos da sua participação no Pibid, no que concerne ao de-
senvolvimento da autonomia do bolsista e à sua constituição identitária no processo
O Pibid como vetor
da constituição
identitária docente
CAPÍTULO 1
Ana Maria de Moura Schäffer
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p27-42
Experiências Docentes
28
de formação docente e como a relação entre universidade e escola pública mediada pelo
Pibid se converte em espaço para a sedimentação dessa identidade.
Pibid – produção e disseminação de saberes
Foram muitos os frutos colhidos nos três campi do Unasp durante o período do
Pibid, marcado por intensas atividades e interações em reuniões, oficinas, feiras, mostra
cultural, eventos acadêmicos e científicos, envolvendo projetos variados que congrega-
ram centenas de participantes e romperam com os limites das salas de aula das escolas
parceiras e da IES e impactaram a comunidade nos arredores das instituições, indo
além de espaços físicos, ao levarem os projetos para a mídia, por meio de programas da
rádio local, pela criação de páginas na Internet, publicação de material digital, entrevis-
tas com profissionais da saúde e criação de jingles que continuam a ressoar em nossos
ouvidos para conscientização e divulgação das ações comunitárias, cuidadosamente
concebidas a partir do interesse dos envolvidos e das necessidades identificadas pelas
equipes das escolas parceiras e da IES.
As oportunidades de troca de experiências e saberes foram vastas; no entanto, por
questões de espaço, destacamos duas; a saber, um dos eventos científicos: “Pibid: autono-
mia e protagonismo na articulação teoria e prática da formação docente”, que reuniu no
campus de Engenheiro Coelho um grande contingente de participantes das respectivas
licenciaturas contempladas nos três campi, composto pelos bolsistas do Pibid, supervi-
sores das escolas parceiras, coordenadores de área e membros da reitoria acadêmica da
IES, além dos convidados palestrantes. Foram 48 trabalhos inscritos, totalizando 175
participantes envolvidos diretamente em projetos do Pibid, cujo material encontra-se
disponível nos Anais do evento, no endereço: https://bit.ly/3dBoFqY.
Um dos objetivos do Programa foi promover a interação entre os pares dos dife-
rentes campi como uma oportunidade de divulgação no espaço acadêmico das experi-
ências e ações conjuntas dos seis subprojetos. O evento foi anunciado nas mídias da IES,
cartazes enviados à comunidade acadêmica e às escolas parceiras, por meio de edital
amplamente divulgado na página do evento (https://bit.ly/3GpLYQQ).
Outros objetivos foram: relatar as experiências vivenciadas em 2019 nas escolas
parceiras e sua contribuição para o crescimento acadêmico e a formação docente; com-
partilhar os saberes; incentivar a pesquisa para melhorar o desempenho dos participan-
tes do Pibid não só no âmbito acadêmico de formação, mas como futuros profissionais
da docência; promover a interação entre os subprojetos para identificação de problemas
comuns e propostas de soluções conjuntas; abrir espaço para envolvimento e diálogo do
Unasp com as gestões das escolas parceiras, bem como da comunidade escolar do entor-
no da IES; apresentar resultados de pesquisas e projetos; e, por último, mas não menos
DOI: https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p27-42
29
O Pibid como vetor da constituição identitária docente
importante, disponibilizar o material apresentado em forma de anais do evento, com as
exigências de ISBN adequadamente atendidas.
Um dos destaques do encontro foi o momento das apresentações de relatos de
experiência, de pesquisas desenvolvidas e das discussões levantadas pelos participantes
com perguntas e sugestões relevantes; outro ponto importante foi a palestra “A pes-
quisa como espaço de autonomia”, ministrada pela professora convidada, uma vez que
a palestrante instigou os ouvintes a repensarem o conceito de “iniciação à docência”,
propondo que o Pibid vai muito além de uma iniciação; ao contrário, é um espaço fértil
de pesquisa científica e produção de material científico.
Outro acontecimento que merece ênfase foi a “1ª Mostra Cultural Educomuni-
cativa”, em 26 de junho de 2019, nas dependências da Escola Estadual Antônio Alves
Cavalheiro, de Engenheiro Coelho, uma das parceiras do Pibid. O subprojeto de letras/
português foi o idealizador da mostra, mas os subprojetos de história, de pedagogia e
de música participaram ativamente com suas especificidades. Houve participação da
comunidade acadêmica da escola e dos pais dos alunos envolvidos na programação.
O evento exemplificou na prática o que é educomunicação, ou seja, o protagonis-
mo dos alunos na constituição significativa, como mentores e organizadores do Progra-
ma, na elaboração de materiais, no planejamento dos modos de divulgação e apresen-
tação dos resultados, confirmando a forte natureza social da educomunicação, em que
todo o trabalho é iniciado a partir dos assuntos que interessam aos alunos, questões que
os incomodam tanto pessoal quanto social e comunitariamente. Os temas escolhidos
pelos alunos da escola parceira, no primeiro semestre de 2019 foram: bullying, maus-
-tratos aos animais, depressão, suicídio e respeito às diferenças.
O recorte acadêmico foi outro item destacado na educomunicação: o conteúdo
programático do docente conduziu o trabalho social e linguageiro dos pibidianos em
sala e mobilizou os alunos das séries envolvidas a produzirem projetos que se basea-
ram sempre nos temas escolhidos; os resultados foram veiculados através de canais de
comunicação variados porque, afinal, conforme declarou a coordenadora do subproje-
to letras/português, professora Stela M. Silva, “a educomunicação se propõe a fazer da
educação algo que comunique e da comunicação algo que eduque”. No caso, os veículos
selecionados para divulgação dos resultados foram a Rádio Dinâmica 87,9 de Engenhei-
ro Coelho, o Facebook e o YouTube.
A programação da mostra cultural foi enriquecida com atrações musicais da Ban-
da Jovem e do quarteto de angolanos da IES, que ofereceu muita música instrumental
e cantada, intercalando a programação que se estendeu até 22h. O evento favoreceu a
aproximação da escola parceira e sua respectiva gestão com a IES e com os subprojetos
do Pibid que lá se desenvolvem, confirmando a necessidade de interação entre escola e
universidade e os resultados positivos advindos dessa relação.
Experiências Docentes
30
Impactos do Pibid
Dedicamos a segunda parte do capítulo à discussão e alise das respostas a
duas perguntas enviadas no e-mail particular de cada discente bolsista, por ocasião
do encerramento da edição do Pibid/2018, no início de janeiro de 2020. Queríamos
saber as impressões dos licenciandos sobre os impactos do Programa no desenvol-
vimento de sua autonomia e no processo de constituição da sua identidade docente
ainda em formação, e como viam a relação entre a universidade e a escola pública
mediada pelo Pibid.
A abordagem do estudo é de natureza qualitativa, amparada no que Minayo (2016)
defende ao destacar que esse tipo de pesquisa se centra na realidade, e essa não pode ser
quantificada, considerando também sua natureza exploratória que possibilita que os
respondentes tenham liberdade para responderem as perguntas. Para Minayo (p. 101), é
o tipo de pesquisa que “requer como atitudes fundamentais a abertura, a flexibilidade,
capacidade de observação e de interação....
O aporte teórico baseia-se em estudos sobre a construção da identidade, de Carlos
Marcelo (1999), Larrosa (2002), Hall (2004) e Nóvoa (1992), os quais abordam a cons-
tituição identitária dos sujeitos no decorrer do processo de construção de si e da auto-
formação. Os dados de alise resultam das respostas às questões enviadas aos bolsistas
por e-mail. Como a pesquisa é interpretativa e qualitativa, importa muito mais a mate-
rialidade lingstica dos dizeres. Portanto, o corpus de análise foi composto pelas res-
postas de 51 alunos, dos 125 que acabaram o período, respectivamente distribuídos nos
subprojetos de biologia, educação física, história, letras/português, matemática, música
e pedagogia, do Centro Universitário Adventista de Ensino (Unasp) – campus de Enge-
nheiro Coelho, Hortolândia e São Paulo.
As perguntas enviadas nos respectivos e-mails dos bolsistas foram: (1) Comente
sobre como a participação no Pibid tem impactado no processo de constituição da sua
identidade docente ainda em formação (como futuro/a professor/a no que se refere a
uma administração e condução autônoma e criativa da sua sala de aula); (2) Qual sua
opinião sobre a relação universidade e escola pública promovida pelo Pibid? Comente
sobre isso.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) acompanhou as pergun-
tas e deveria ser assinado e devolvido no e-mail da pesquisadora juntamente com as
respostas. Embora todos os discentes bolsistas que participaram do Pibid até o final
tenham sido convidados a participar da pesquisa, cerca de 40% responderam às per-
guntas e devolveram o TCLE no e-mail indicado, sendo possível com essa porcentagem
identificar algumas impressões dos pibidianos quanto à participação no Pibid.
31
O Pibid como vetor da constituição identitária docente
Resultados e discussões
A educação, cada vez mais, é alvo de pesquisas, considerando-se as constantes mudan-
ças pela qual tem passado, estando a formação docente inicial e continuada entre os assuntos
que mais requerem mudanças, principalmente quando se toca na questão de como se consti-
tui e se sedimenta o processo de formação identitária docente (LIMA; KOCHHANN, 2018).
Nóvoa (1992, p. 13) ratifica essa realidade, ao dizer que a formação pode:
Estimular o desenvolvimento profissional dos professores, no quadro de uma au-
tonomia contextualizada da profissão docente. Importa valorizar paradigmas de
formação que promovam a preparação de professores reflexivos, que assumam a re-
sponsabilidade do seu próprio desenvolvimento profissional e que participem como
protagonistas na implementação de políticas públicas.
Assim, para que as instituições educacionais tenham professores com as carac-
terísticas descritas por Nóvoa, são necessárias iniciativas e políticas públicas que esti-
mulem os docentes a buscarem sua autonomia através de reflexões sobre a própria for-
mação, no processo em curso e depois de formados. E, entre essas iniciativas, acha-se o
Pibid já consolidado e considerado um espaço especial para reflexão de licenciandos em
formação e uma porta aberta de formação continuada dos professores já atuantes. No
diálogo entre aspirantes à docência e docentes experientes pode haver muitos ganhos,
pois é no intercâmbio no terreno fértil da sala de aula que práticas antigas se renovam e
novas metodologias se instalam. Como defende Paulo Freire (1996), “a educação qual-
quer que seja ela é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática”. Entendemos,
a partir disso, que a educação é uma teoria prática, e os licenciandos só terão condições
de entendê-la mergulhando no espaço de sala de aula, ambiente à disposição dos futuros
docentes oferecido pelo Pibid.
Portanto, a partir do instrumento de pesquisa (questionário com duas pergun-
tas abertas e o corpus de respostas), procurou-se pelo movimento interpretativo refletir
sobre as recorrências presentes nas respostas com elementos em comum para, a partir
delas, sugerir possíveis eixos de alise das impressões dos discentes sobre sua passa-
gem de dezoito meses pelo Pibid e impacto dessa parceria para a constituição de sua
identidade docente.
A partir dos eixos identificados, selecionamos fragmentos dos dizeres dos bolsis-
tas que na materialidade linguística permitem-nos entrever indícios do que estamos dis-
cutindo. Os fragmentos são de licenciandos diferentes e serão identificados como: FrL1,
FrL2, etc. (respectivamente Fragmento de Licenciando 1, Fragmento de Licenciando 2,
e assim por diante). Salientamos, no entanto, que nesse movimento de análise, outros
elementos despontam e podem se tornar eixos que são igualmente importantes, embora
Experiências Docentes
32
nosso foco seja a questão da constituição identitária docente dos licenciandos impulsio-
nada pelo Pibid. Eis os eixos por nós subjetivamente identificados:
Eixo 1 – Pibid como prática que gera autonomia.
Eixo 2 – Percepção da inter-relação teoria e prática.
Eixo 3 – Identificão com a docência (confirmação da vocação).
Eixo 4 – Universidade-escola: uma relação circular.
Eixo 1 – Pibid como prática que gera autonomia
O eixo 1 apresentou elementos que apontaram o Pibid como forte aliado da for-
mação acadêmica, no sentido de que graças à ênfase na prática em sala de aula real, foi
possível construir a própria forma de ensinar, abrindo caminhos para o afloramento da
autonomia docente:
FrL1: “O Pibid abre portas para os futuros docentes vivenciarem com mais
autonomia a prática da sala de aula.
FrL2: “O Pibid me proporcionou experiência em sala de aula [...] Como futura
professora, vou levar esses aprendizados e outros para dentro da sala de aula,
com mais autonomia e confiança.
FrL3:O projeto tem grande relevância para nossas atuações como docentes,
pois promove um cenário que nos leva a observar e participar do contexto
escolar, sendo isso possível em totalidade somente na ptica. [...] O projeto
promove mais segurança e autonomia para quem está iniciando e quer saber
como começar de fato sua prática.
FrL4: “Este projeto [Pibid] foi favorável para resgatar muitas das aprendiza-
gens que obtive no curso de pedagogia e usufruir da oportunidade de captar
novas aprendizagens na prática, conseguindo produzir algumas atuações au-
tônomas como estagiária.
A posição dos licenciandos nos fragmentos permite ratificar os fundamentos
formativos que defendem um processo de formação que não apenas instrumentalize
os licenciandos nas habilidades da docência, mas que vá além, capacitando-os para
33
O Pibid como vetor da constituição identitária docente
exercerem a docência com confiança e autonomia pedagógica. Quando observamos a
materialidade lingstica dos dizeres destacados, emergem sentidos que enaltecem o
Pibid, mas também apontam para o desejo dos discentes de serem profissionais seguros,
além da motivação propiciada pelo Programa para o exercício da docência. É gratifi-
cante perceber esse potencial do Pibid, pois mesmo que estejamos diante de um cenário
em que muitos professores estão desmotivados pela falta de disciplina dos alunos e a
desvalorização de seu trabalho, esses graduandos indicam o desejo de se comprometer
com a docência através de uma atuação competente e profissional.
Percebemos nos excertos, que no processo de inserção dos licenciandos no con-
texto escolar e nas dinâmicas vivenciadas emergem oportunidades de “captar novas
aprendizagens” das práticas que vão aos poucos transformando a concepção de forma-
ção docente desses licenciandos, diferente de outros alunos que não tiveram a oportu-
nidade de participar do Pibid e vivenciar a escola na sua dimensão real. Os fragmentos
nos levam a outra possível interpretação, a de que há nos dizeres dos licenciandos uma
reflexão de si em si a partir das experiências construídas na dimensão factual da escola.
Tardif (2011, p. 64) ratifica o que vimos comentando a partir dos fragmentos,
quando diz que: “o saber profissional está, de certo modo, na confluência entre várias
fontes de saberes provenientes da história de vida individual, da sociedade, da institui-
ção escolar, dos outros educativos, dos lugares de formação, etc.” Considerando essa
perspectiva, trazemos a concepção de Canan (2012) de que o Pibid, de fato, tem leva-
do à construção de saberes nas mais diversas manifestações; isso se verifica, já que os
licenciandos apontam indícios do quanto o Programa lhes têm permitido vivenciar a
docência de forma rica e variada.
Eixo 2 – Percepção da inter-relação teoria e prática
Sobre a percepção da inter-relação teoria e prática, o Pibid, em suas bases, destaca
e reforça a indissolubilidade entre a teoria e a prática, entre saberes acadêmicos e saberes
vivenciados no processo de formação docente. O Programa insiste na importância de os
discentes em formação terem clara percepção dessa não dicotomização; entretanto, os
discentes, ao falarem sobre essa inter-relação, deixam escapar que a dicotomia continua
existindo, ficando evidente que a faculdade é o lugar da teorização, e fora de seus muros,
o espaço de alguma prática. No entanto, o Pibid se legitima como uma ponte entre os
dois mundos (o teórico e o prático), ao repararmos nos dizeres a seguir:
FrL5:O projeto [Pibid] me possibilitou o acompanhamento necessário para
que maturasse a teoria explorando a prática. O espaço da faculdade em si é
visto como um local de teoria. [...] a escola pública [...] foi um facilitador para
experienciar na prática as teorias do aprendizado.
Experiências Docentes
34
FrL6: “Ter o acesso com a escola pública através do Pibid enquanto cursando
o ensino superior, me permitiu uma maior vivência daquilo que aprendo em
sala de aula como aluna do curso de Letras.
FrL7: “O Pibid auxiliou na conciliação da teoria acadêmica com a práxis da
realidade na sala de aula e destravou o “medo” de assumir uma turma.
FrL8:O espaço oportunizado [do Pibid] é o laboratório onde, de fato, eu
pude experimentar [na prática] as teorias apreendidas.
Quer dizer, ao participarem do Pibid e serem inseridos nas escolas por período maior
que o previsto nos estágios curriculares, os licenciandos indicam ter havido aumento da
experiência docente que, no futuro os fará melhores profissionais, e isso, graças à vivência
e à possibilidade de conciliar teoria e prática num ambiente de sala de aula. Ou seja, nos
dizeres emerge a concepção de que o Pibid atua como um caminho onde teoria e prática se
intersectam; conforme discute Canan (2012, p. 38), é também uma forma de valorização dos
docentes. Para Demo (2002, p. 17), “saber pensar não é só pensar. É também e, sobretudo,
saber intervir. Teoria e prática, e vice-versa. Quem sabe pensar, entretanto, não faz por fazer,
mas sabe por que e como faz”. E o “Pibid, além de propiciar uma experiência única, uma
ponte entre a relação teoria e prática ainda na formação inicial, é um esmulo para que os
acadêmicos continuem seguindo a carreira de educador” (CANAN, 2012, p. 39).
Por fim, no FrL8, a metáfora do Pibid como laboratório experimental de teorias
“apreendidas” na faculdade é muito significativa, pois coloca o Pibid como um diferen-
cial importante na formação docente dos licenciandos. Nessa imagem de Pibid como la-
boratório, destaca-se seu caráter propício à construção de metodologias inovadoras com
reflexões e intervenções no processo de ensinar e aprender, além de fomentar diferentes
saberes apreendidos no convívio da realidade do universo escolar.
Outra percepção digna de referência é o emprego do verbo “maturar” no excerto
(FrL5 – “para que maturasse a teoria explorando a prática”) relacionado à inter-relação
teoria e prática. Numa acepção simples, o verbo maturar aponta para um tornar-se melhor,
uma busca de aperfeiçoamento na representação da habilidade buscada. Conforme o sen-
tido figurado, “desenvolvimento, realizão de alguma coisa, normalmente de conteúdo
intelectual
1
. Na relação com o verbo “experienciar”, emerge o sentido de “maturação” de
uma nova experiência, a qual conduz ao fortalecimento da autonomia, da qual não há re-
torno, seja no aspecto pessoal, seja no profissional. São mudanças que se desenrolam e que,
por sua vez, impelem transformações nos graduandos e nas escolas parceiras.
1 https://www.dicio.com.br/maturacao/.
35
O Pibid como vetor da constituição identitária docente
É possível apreender que o processo de maturação do qual fala o FrL5 relaciona-se
à comprovação e avaliação dos saberes adquiridos que se materializam não só pelas ativi-
dades programadas com as supervisões para a prática na sala de aula, mas principalmente
pelas programações extraclasses como projetos comunitários, mostras culturais, vídeos
e todos os outros mecanismos de registros idealizados pelos envolvidos no Pibid. Tais
mecanismos são consolidados com pequenas iniciativas em sala de aula, fazendo com
que crenças sejam desconstruídas ou redimensionadas a partir de interações variadas que
dão lugar à maturação do saber docente. Isso remete ao que defende a educadora Eckert-
-Hoff (2002, p. 20), quando diz que “falar sobre o fazer leva [...] à reflexão e a um processo
de maturação do saber-fazer”. É por isso que as concepções que sustentam uma prática
docente equilibrada e em dia com a realidade escolar devem primeiramente centrar-se na
observação de práticas pedagógicas condizentes com teorias de aprendizagem testadas e
atuais que preparem os alunos para falarem sobre suas práticas.
Os fragmentos nos permitem apreender também que a participação no Pibid tem
orientado os futuros docentes no processo de maturação do saber graças à construção
das bases sólidas propiciada pela relação universidade e escola pública, contribuindo
para que os participantes “encontrem sua verdade na construção da própria identidade
que se realiza na convivência e nas relações sociocomunitárias e transcendentais do dia
a dia” (CHALOUB, 2005).
Ainda coerente com o sentido de “maturar”, surge também o pressuposto de que o
discente em formação se coloca como em condição de preparo, ou seja, seus conhecimentos,
como frutos amadurecidos, estão prontos para serem consumidos, prontos para se disse-
minarem. Conforme Zabalza (1998, p. 84): “o objetivo básico da educação é a mudança e o
crescimento ou maturação do indivíduo, isto é, uma meta mais profunda e complexa que
uma simples aprendizagem intelectual [...] um conjunto de inter-relações dimicas”.
Eixo 3 – Identificação com a docência
Esse eixo perpassa grande parte dos dizeres dos licenciandos por destacar a iden-
tificação com a docência, ou seja, a confirmação da vocação, o que emerge nos dizeres
identificados na materialidade lingstica, apontando a vivência dos futuros docentes
em plena articulação com seus anseios e identidade profissionais. Mendonça e Soares
(2017, p. 7) discutem que o Pibid contribui “grandemente para que, a partir do maior
envolvimento dos alunos com a escola, eles sejam levados a uma maior identificação
com sua futura profissão”. Consideremos os fragmentos a seguir:
FrL9: “[A] experiência que vivi como bolsista do Pibid criou em mim uma
certeza: Quero ser professor!”
Experiências Docentes
36
FrL10:Quando iniciei no projeto Pibid estava quase desistindo da faculdade
[...] e quando me deparei com a sala de aula, apesar de muitos desafios, per-
cebi que queria muito ser professora e lutei para estar hoje no último ano da
licenciatura.
FrL11:O Pibid me proporcionou experiências únicas que contribuíram para
que eu me percebesse como professora, assumindo esse papel e desenvolvendo
meu perfil educacional”.
FrL12:As experiências positivas e os desafios enfrentados ao longo do caminho
reafirmaram minha decisão na área acadêmica.
Os fragmentos não deixam dúvidas de que o Pibid reconstrói a noção de lugar de
produção identitária dos licenciandos em suas diferentes concepções, o que pode ser
observado nos dizeres dos quatro licenciandos, os quais evidenciam uma identidade do-
cente sendo constituída e reafirmada a partir das experiências e vivências no ambiente
escolar. Para Marcelo (2009, p. 112),
É preciso entender o conceito de identidade docente como uma realidade que evolui
e se desenvolve, tanto pessoal como coletivamente. A identidade não é algo que se
possua, mas sim algo que se desenvolve durante a vida. [...] O desenvolvimento da
identidade acontece no terreno do intersubjetivo e se caracteriza como um processo
evolutivo, um processo de interpretação de si mesmo como pessoa dentro de um de-
terminado contexto.
A constituição da identidade docente, por sua vez, se processa numa jornada vi-
venciada pelo sujeito, não de um dia para o outro, ou quando se torna adulto, mas ao
longo de sua vida. No entanto, as experiências por que passa durante a formação podem
cooperar para que o licenciando, aos poucos, se descubra ou reafirme sua vocação do-
cente. Percebemos isso quando FrL9 incisivamente coloca que a participação no Pibid
criou [em mim] uma certeza: quero ser professor!”. Ou a situação de FrL10 que estava
prestes a desistir da faculdade, mas quando se viu diante de uma turma na sala de aula,
teve convicção do que realmente desejava ser como profissional: “Percebi que queria
muito ser professora e lutei para estar hoje no último ano da licenciatura”.
Chama a atenção o quanto a experiência prática pode transformar passos ain-
da incertos ou titubeantes quanto à vocação profissional em posicionamentos firmes e
certeiros. Também isso se revela no dizer do FrL11, quando a discente registra que foi
com as experiências únicas no Pibid que ela “se percebeu como professora”. Há nos frag-
mentos uma identidade docente em construção, cuja vivência factual se converte em
37
O Pibid como vetor da constituição identitária docente
um processo “intersubjetivo”, como diz Marcelo, “de interpretação de si mesma como
pessoa dentro de um determinado contexto” (idem); no caso dos excertos destacados,
esse contexto é a sala de aula.
O FrL10 merece destaque, porque apresenta paradoxos na sua materialidade lin-
guística, ou seja, a aluna confessa seu desejo de desistir da licenciatura, mas por outro
lado, confirma seu desejo de ser professora, “apesar” dos desafios, empregando o verbo
lutar”, com todas as suas nuances significativas que remetem à guerra, conflitos arma-
dos; no entanto, com isso, a discente ratifica a construção de sua identidade como futura
docente, “apesar” das lutas que possam vir à frente.
Além disso, o emprego dos verbos “perceber-se” e reafirmar em FrL10/11/12 rela-
cionados à profissão docente coloca o Pibid como um espaço privilegiado para a cons-
trução identitária docente, visto que para muitos a participação no Programa pode ser
a primeira experiência de se sentir realmente um/a professor/a, ao assumir todos os
encargos dessa profissão. São expressões que convergem para a noção de que a partici-
pação no Pibid se reveste de um locus importante onde a identidade profissional do/a
aluno/a é gerada, construída e referida e que contribui para a confirmação (ou não) da
vocação profissional dos licenciandos.
Há que se lembrar que, conforme indicam Leite, Ghedin e Almeida (2008), no
geral, quando os licenciandos ingressam nos estágios, eles têm muita dificuldade em se
perceberem como professores. Quando lemos os fragmentos dos licenciandos do Pibid,
essa realidade indicada pelos autores parece paradoxal, o que coloca a participação no
Pibid como uma saída para romper com o estigma que ronda o “ser estagiário” que vi
mais à frente, já que no projeto de iniciação à docência os alunos bolsistas são vistos e
recebidos pelas escolas parceiras e pelos alunos como professores em formação, o que os
coloca em uma posição até certo ponto privilegiada.
Nóvoa (1992, p. 10) pontua sobre o processo de constituição da identidade, con-
vergindo para o que emerge nos fragmentos destacados:
A identidade não é um dado adquirido, não é uma propriedade, não é um produto. A
identidade é um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de construção de maneiras
de ser e estar na profissão. Por isso, é mais adequado falar em processo identitário,
realçando a mescla dinâmica que caracteriza a maneira como cada um se sente e se
diz professor”.
Quer dizer, há a reiteração da decisão de ser professor/a, a confirmação da voca-
ção no espaço oportunizado pelo Pibid, cujo movimento de dizer, aos poucos, constitui
a identidade docente. As “experiências” vivenciadas pelos licenciandos e materializa-
das linguisticamente influenciaram a constituição identitária dos sujeitos e reverbera-
ram novas identidades em construção. Isso nos remete a Larrosa (2002 apud LIMA;
Experiências Docentes
38
KOCHHANN, 2018, p. 189), para quem “a ‘experiência’ pode ser compreendida como
‘aquilo que nos acontece’, ‘o que nos toca’, e que ‘os sentidos que damos a esse acontecido
em nós’ produzem também a nossa identidade.
Seguindo a linha de Larrosa (2002), Hall (2004, p. 108) defende que a identida-
de não necessariamente tem a ver com a questão “quem nós somos?”, mas “quem nós
podemos nos tornar?”; o sujeito pode, se entendermos dessa forma, ao questionar-se
desse ponto de vista, produzir novas identidades. Assim, esses indícios de constituição
identitária docente nos ajudaram a entender melhor o processo de vir a ser docente e
os caminhos percorridos para sua formação na passagem dos licenciandos pelo Pibid.
Eixo 4 – Universidade-escola: uma relação circular
Um último ponto a destacar é o potencial do Pibid para inter-relacionar universi-
dade e escola pública, questão envolvida na segunda pergunta da pesquisa. Vale retomar
que entre os objetivos do Pibid está o seu caráter integrador e multidisciplinar que visa
também oportunizar a interação entre universidade e escola pública não só para possi-
bilitar a articulação teoria e prática, mas também elevar a qualidade da formação inicial
de professores enquanto dialoga com a realidade educacional no entorno da IES.
A relação universidade-escola no processo de formação docente se mostra, a partir
das percepções dos licenciandos, como um espaço até certo ponto de trocas, no sentido
de que ambas as instituições nutrem interesses comuns ao sintonizarem ações que cul-
minarão com o aperfeiçoamento dos docentes em exercício nas escolas parceiras e com
a melhora na formação profissional dos futuros professores e de aproximação, conside-
rando que a missão do Pibid é contribuir para diminuir a distância entre os graduandos
e a realidade da escola. Não menos relevante são as carências identificadas pelos gradu-
andos e que contrapõem as instituições. Reparemos nos fragmentos:
FrL13:A relação universidade e escola pública foi de extrema importância,
uma vez que cada um dos lados aprende e contribui para o aprendizado do
o u t r o”.
FrL14:A escola pública em contato com a universidade possibilita a vivência
da experiência docente na prática, e auxilia a construção do profissional [...]
Ela destravou o “medo” de assumir uma turma.
FrL15:A universidade pode estar mais pxima da realidade da comunidade;
[...] [a relação com ela] é importante para conhecer os desafios que enfrentare-
mos como futuros professores.
39
O Pibid como vetor da constituição identitária docente
FrL16: “[A relação] com a escola pública foi um choque, pela falta de estrutura,
materiais e metodologias alternativas para os alunos.
É possível inferir um movimento circular na relação universidade-escola enquan-
to duas fontes produtoras de saber, em que cada uma enriquece a seu modo a construção
do conhecimento da outra. Em especial, nos dois primeiros fragmentos esse movimento
se sobressai, ou seja, há o reconhecimento da participação na escola como experiência
formadora e como espaço de “vivência da experiência docente na prática” (FrL14).
A percepção de que a escola tem o que ensinar para a universidade nessa dialética
soa relevante, ao se pensar que, no geral, costuma-se partir do pressuposto contrário de
que a IES vai à escola parceira para ensinar. No dizer do bolsista do Pibid, “cada um dos
lados aprende e contribui para o aprendizado do outro” (FrL13), num movimento circular.
Essa premissa aponta para a conscientizão de que no encontro de ambas as ins-
ncias educacionais há ganhos para o processo de ensino-aprendizagem na graduação,
por um lado, considerando que, a partir das realidades e necessidades percebidas nas
escolas parceiras, é possível identificar lacunas de conteúdos na graduação que, por sua
vez, podem comprometer a participação dos graduandos em seu processo de iniciação à
docência. Como exemplo, podemos citar a falta de ênfase aos dispositivos eletrônicos de
ensino atuais à disposição, o desconhecimento de bases de dados na área do/a discente,
o descaso com temas transversais que nem sempre são abordados como deveriam em
algumas licenciaturas, levando o licenciando a desconhecer tais temas e não conseguir
discutir e/ou se posicionar diante deles.
Conforme apontam os fragmentos, a vivência na escola parceira através do Pibid
permitiu reflexões que retornaram ao espaço acadêmico, instituindo novos saberes ne-
cesrios e imprescindíveis para que os licenciandos tenham desenvolvidas as compe-
tências necessárias antes de adentrarem a sala de aula. Sem contar a aproximação entre
as instituições educacionais promovida pelo Pibid, a qual estreita os vínculos do futuro
docente com o futuro espaço de trabalho, resultando em comprometimento e identifi-
cação com a carreira docente.
Outro ponto destacado em FrL16 diz respeito ao reconhecimento da contínua pre-
carização das condições de trabalho docente, refletidas na falta de estrutura e de mate-
riais para o ensino, o que causou “um choque” na participante do Pibid. Essa estrutura
deficitária pode ser uma das raes para medos e desistências do magistério, levando à
falta de estímulo para a escolha da docência como carreira profissional, ao consequente
empobrecimento do ensino público e, muitas vezes, a um sentimento de perda da iden-
tidade docente. No entanto, segundo o FrL14, a relação com a escola pública lhe ajudou a
destravar o “medo de assumir uma turma, o que é comum acontecer, segundo Francis-
chett, Girotto e Mormul (2012, p. 98). Para as autoras, o medo é uma sensação comum
quando os licenciandos adentram pela primeira vez a sala de aula, mas aos poucos ele
Experiências Docentes
40
vai sendo superado, graças ao apoio de colegas que estão no mesmo barco e professores
à frente do projeto. Em vez do medo, aos poucos, o amadurecimento e a autonomia da
formação vão assumindo seu lugar.
Considerões finais
Como foi possível inferir, o Pibid vem se consolidando como um contato bem-
-sucedido com a realidade escolar, através da realização e aplicação de planos de ação
que extrapolam os limites institucionais, alcançando a comunidade no entorno da IES
e da escola. São desenvolvimentos significativos que devem ser divulgados, planejados
sempre com base no contexto circundante e comprometidos não só com a formação
profissional e pessoal dos envolvidos, mas também com a transformação social.
Percebeu-se também que o Programa pode ser um instrumento motivador para
a docência durante as licenciaturas, pois as respostas apontaram que muitas vezes a
participação no Programa impediu a evasão escolar, a troca de curso ou a desistência
da docência. Apesar da limitada bolsa recebida, esse recurso ajudou na manutenção
acadêmica e familiar de alguns bolsistas, sendo o Pibid percebido como algo importante
não só para o processo de consolidação de uma formação docente de qualidade, mas
também para a continuidade dos estudos de muitos. É preciso, entretanto, lembrar que
as condições inadequadas de trabalho, a falta de estrutura e de segurança nas escolas,
além de salários pouco atrativos diante da sobrecarga de trabalho têm desanimado li-
cenciandos e provocado abandono da carreira docente.
Destacamos ainda o potencial do Pibid de congregar formação teórica e prática,
valorizar as licenciaturas, ao oferecer aos futuros docentes possibilidades de terem expe-
riências práticas que se juntam aos subsídios teóricos advindos da academia, conforme
indicaram as respostas analisadas. Somado a isso, os licenciandos também indicaram
que sua passagem pelo Pibid os ajudou na sua constituição identitária docente e confir-
mou a sua vocação para a carreira profissional em formação, pois em muitos momentos
estavam a ponto de desistir da licenciatura, ao lerem pesquisas e ouvirem os discursos
midiáticos negativos sobre o ensino público que, via de regra, colocam a ênfase nas de-
ficiências e não nos projetos e programas que têm dado certo.
De modo geral, merece consideração a instrumentalização propiciada pelo Pibid,
pois os participantes da pesquisa destacaram ter diante de si as dificuldades reais ine-
rentes ao processo de ensino-aprendizagem e, com isso, aprenderam a lidar de forma
adequada com os principais desafios e se muniram de confiança para assumirem seu
papel docente com mais segurança. Sem contar que professores bem preparados e va-
lorizados contribuirão para que a qualidade do ensino público melhore, um dos nove
objetivos do Pibid, conforme prevê o primeiro documento sacramentando o seu início,
41
O Pibid como vetor da constituição identitária docente
em 2007 (Edital nº 01/2007, MEC/Capes/FNDE)
2
: “Promover a melhoria da qualidade
da educação básica. Observa-se que a elevação da qualidade da formação inicial dos
aspirantes à docência sempre esteve na matriz que instituiu o Programa.
Referências
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2007. Dispõe sobre o Programa de Bolsa Institucional à Docência - PIBID. Diário Oficial
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Experiências Docentes
42
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ZABALZA, M. Didáctica da Educação Infantil. Rio Tinto: Edições Asa/ Clube do
Professor, 1998.
Este relato de experiência se propõe a discutir uma hipótese levantada a partir da
observação do projeto Pibid (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência)
– Letras-Português (2018-2019), articulado por alunos bolsistas de uma IES do interior de
São Paulo e professores supervisores de uma escola pública da mesma região. As pergun-
tas retóricas advindas da conclusão desta prática, a partir de um olhar sobre as políticas
públicas relacionadas à formação inicial de estudantes, foram: “Por que a distinção entre
iniciação à docência e iniciação científica?”; “Não seria a docência uma ciência?”; “Por que
os órgãos de fomento estabelecem, nos textos de divulgação destes programas, termino-
logias tão díspares?” Nesse sentido, cabe refletir a respeito dos discursos sociais veicula-
dos no que tange à educação neste país e se apropriar do processo pibidiano de atuação.
Portanto, a título de contexto, é importante colocar que a iniciativa Pibid con-
figura-se, segundo o portal do MEC, num programa que oferece bolsas de iniciação à
docência aos alunos de cursos presenciais que se comprometam com o exercício do ma-
gistério nas escolas públicas. Segundo o site supracitado, o Programa tem a intenção de:
[...] unir as secretarias estaduais e municipais de educação e as universidades públi-
cas, a favor da melhoria do ensino nas escolas públicas [...]. Entre as propostas do Pi-
bid está o incentivo à carreira do magistério nas áreas da educação básica com maior
carência de professores com formação específica
1
(grifos da autora).
Sendo assim, partindo deste conceito, os alunos bolsistas se configuram como
sujeitos a partir dos quais se valoriza a ação do magistério, os quais são apresentados à
1 Disponível em: https://bit.ly/3rRgRd4. Acesso em: 09 dez. 2021.
Pibid: “iniciação à
docência ou “iniciação
à ciência da docência”?
CAPÍTULO 2
Stella de Mello Silva
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p43-56
Experiências Docentes
44
educação básica com o intuito de “antecipar o vínculo” entre os futuros professores e as
salas de aula da rede pública.
Em contrapartida, outra política pública educacional oferecida pelo Ministério da Ci-
ência, Tecnologia e Inovações é o Pibic (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cien-
fica) que, por sua vez, compromete-se a “promover uma ênfase científica aos novos talentos
que estão para se formar. Mais especificamente, o Pibic se apresenta da seguinte forma:
Serve como incentivo para se iniciar em pesquisas cientícas em todas as áreas de con-
hecimento. Os projetos de pesquisa nos quais os alunos e as alunas participam devem
ter qualidade acadêmica, mérito cientíco e orientação adequada por um pesquisador
qualicado
2
(grifos da autora).
A questão colocada aqui é que pode haver a possibilidade de os movimentos de
fomento para a formação inicial de profissionais docentes serem lidos, numa alise
pouco acurada, como iniciativas ligadas a um tipo de “solidariedade social” e não a uma
estrutura científica; enquanto que os projetos relacionados à formação inicial de profis-
sionais não-docentes seria fundamentada a partir dos alicerces de uma “vocação cientí-
fica”, de um compromisso com a “pesquisa”, o “engajamento” e a “qualidade acadêmica”.
Isto posto, seria importante discutir sobre o que seja a ciência e se a educação
com todas as suas variáveis, inclusive – configura-se uma ciência. Para tanto, será uti-
lizada neste relato, como referência ao recorte epistemológico da ciência, a obra Os usos
sociais da ciência: por uma sociologia cnica do campo científico, de Pierre Bourdieu
(2004, p. 71-72), na qual lê-se:
A posição do professor, em qualquer nível que seja, me parece, de fato, muito dificil-
mente compatível com a posição do pesquisador. [...] Infelizmente, o que se chama en-
sino, de modo corrente, são lugares de transmissão codificada, rotinizada do saber, e
uma parte considerável da inércia dos campos científicos vincula-se ao atraso estrutur-
al resultante do fato de que as pessoas que ensinam são comumente desconectadas da
atividade de pesquisa. Assim, bizarramente, não é exagerado dizer que o ensino é, em
parte, um fator de inércia. Os professores têm interesses inconscientes pela inércia. Uma
vez que não estão diretamente conectados à pesquisa viva, são solidários da rotina, pelo
simples fato de estarem, estatutariamente, um pouquinho à margem, e eles têm, mesmo,
às vezes, um interesse inconsciente em desqualificar o que é eminente. (grifos da autora)
Os advérbios destacados na citação corroboram a inferência de que o autor
não desdenha da profissionalização docente enquanto campo de pesquisa. Muito
2 http://www.inpe.br/bolsas/
45
Pibid: “iniciação à docência” ou “iniciação à ciência da docência”?
contrariamente a isso, ele reforça a necessidade inconteste de se constituir o ato da do-
cência como algo não banalizado e não rotinizado.
Quando visto por esta ótica, o Pibid em nada se difere do Pibic desde que tenha
sobre si um olhar de campo científico, de espaço de pesquisa, de autonomia profissional
e, por que não, professoral. Ao partir-se do pressuposto de que todo estudo científico
inicia-se de um método científico, observa-se que a proposta Pibid pode configurar-se
um meio de se fazer ciência, já que se vale da estrutura organizacional do método cientí-
fico, a saber: a) geração do problema de pesquisa; b) revisão bibliogfica; c) formulação
de hipótese; d) realizão de um experimento; e) validação ou refutação de hipóteses.
É por conta deste contexto que o tópico seguinte tem por objetivo apresentar a
metodologia de trabalho do Pibid em questão, visando discutir o cunho científico deste
projeto curiosamente não nomeado como “ciência, mas desassociado dela a partir do
próprio termo “docência”.
Método de trabalho – Pibid Letras
Como já é sabido da comunidade acadêmica, o Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação à Docência – antes de ser aplicado em seus espaços finais de atuação – sub-
mete-se a um processo seletivo a partir do qual são avaliados os subprojetos idealiza-
dos pelas IES interessadas na implementação do Programa. No caso do Pibid utilizado
como mote para este artigo, as seguintes ações pertinentes ao projeto de Letras-Portu-
guês foram listadas na proposta aprovada pela Capes (grifos da autora):
1. Estudo do projeto pedagógico da escola parceira, bem como do planejamento do
professor supervisor;
2. Participação nas reuniões pedagógicas da escola parceira;
3. Discussão, por meio de encontros/seminários programados, das propostas didático-
pedagógicas da escola e dos supervisores;
4. Seminários internos Pibid e Encontros de Iniciação Cientíca promovidos pela
própria IES para discussão de conceitos teóricos e pedagógicos da área do ensino de
ngua portuguesa visando à preparação dos pibidianos para uma observação teorica-
mente informada da prática docente dos supervisores;
5. Seminários e encontros para discussão e preparação de materiais didáticos que pos-
sam ajudar os professores supervisores em sua prática docente;
6. Preparão, por parte dos pibidianos, de temas relacionados com o ensino de língua
portuguesa e o desenvolvimento das habilidades orais e escritas na língua materna;
7. Encontros recorrentes entre pibidianos e supervisores para troca de experiências so-
bre os diferentes temas preparados e as diversas metodologias aplicadas em sala de aula;
Experiências Docentes
46
8. Encontros para apresentação e discussão de casos didático-pedagógicos provenientes
da atuação do bolsista na escola parceira;
9. Aplicação, por parte dos pibidianos, com a anuência e colaboração dos supervisores,
de novas estratégias didáticas decorrentes do trabalho colaborativo entre bolsistas e
professores supervisores, a saber: coleta de dados na comunidade por meio de entrevis-
tas locais; entrevistas cedidas à Rádio Universitária da IES, tanto de membros da comu-
nidade quanto dos pibidianos e alunos da educação básica da unidade escolar em que
o Pibid é aplicado; elaboração de jornais e panfletos locais com o intuito de informar e
conscientizar a comunidade; demais produções textuais que tenham, no uso-reexão-
uso das ferramentas linguageiras um sentido de pertencimento e utilidade social;
10. Sistematização semestral de todas as atividades desenvolvidas no âmbito deste
subprojeto por meio da elaboração de um artigo nal, apresentado no Encontro de
Iniciação Científica (Enaic) promovido semestralmente pela IES;
11. Manutenção de um grupo de pesquisa sobre os eixos temáticos da Educomunicação
– fundamentação epistemológica do Pibid de Letras-Português, com a participação dos
alunos-bolsistas, professor supervisor e coordenador do subprojeto de Letras;
12. Elaboração e aplicação de projetos escolares envolvendo os eixos temáticos da Educo-
municação, além de outros projetos que a escola parceira tenha interesse em desenvolver;
13. Criação de produtos educomunicativos como divulgadores de cultura e ciência a
partir das atividades jornalísticas/comunicativas desenvolvidas no semestre.
3
Nota-se que as atividades de planejamento deste Pibid estão amalgamadas às
ações científicas da universidade (vide grifos), incluindo coleta e discussão de dados
– não só com a comunidade acadêmica da IES – mas com a comunidade escolar e com
a comunidade do entorno da escola parceira. Não seria leviano afirmar que, inclusive,
existe uma preocupação com a divulgação científica e cultural do conhecimento cons-
truído em ambiente escolar formal e, de novo, isso pode ser notado nos três nichos
– universidade, escola e comunidade – validados a partir da própria fundamentação
epistemológica eleita pelo subprojeto norteador: a Educomunicação.
E foi somente por conta de um ecossistema científico que, orientados por estas
ações científico-educacionais, o grupo de 24 bolsistas produziu – em conjunto com alu-
nos do ensino fundamental II, professores supervisores e coordenadores de área – ao
longo dos três semestres de trabalho na escola parceira, três materiais educomunica-
tivos, a saber: um programa de rádio local
4
– 2º semestre de 2018; uma série de vídeos
3 Texto adaptado de documentos da autora. Disponível em: https://bit.ly/3lQTmgd. Acesso em 29 set. 2022.
4 Disponível em: https://bit.ly/3pGLT4v. Acesso em 29 set. 2022.
47
Pibid: “iniciação à docência” ou “iniciação à ciência da docência”?
documentais e testemunhais no YouTube
5
– 1º semestre de 2019; um ebook
6
– 2º semes-
tre de 2019.
Os três produtos educomunicativos foram os resultados de três semestres de tra-
balho acadêmico-científico do Pibid que norteia este artigo e todos eles mereceriam um
espaço no presente relato, mas isso será feito em outra oportunidade; por ora, o progra-
ma de rádio (2º semestre de 2018) será o recorte de análise desta pesquisa.
Entendendo a execução do Programa
A princípio – em discussão com os alunos pibidianos, a coordenadora de área do
Pibid-Letras e os professores supervisores – a ideia era inaugurar uma rádio comunitá-
ria na escola. Entretanto, averiguou-se que o próprio município tinha uma necessidade
latente: a rádio local, que atendia à cidade, gostaria de oferecer serviços mais relevantes à
população e não “tocar música sertaneja 24 horas na programação” – segundo palavras
do administrador e locutor da Rádio Dimica FM.
Observada esta demanda e entendendo que seria possível uma interlocução entre o cur-
rículo escolar, o veículo de comunicação da rádio e a necessidade social de amplitude muni-
cipal, iniciaram-se as articulações com os devidos atores sociais envolvidos. A comoção entre
os alunos pibidianos foi notável e, imediatamente à percepção da demanda social, iniciou-se
um trabalho de pesquisa não só entre os próprios universitários bolsistas, mas entre os alunos
do ensino fundamental II da escola parceira e vários textos coletivos, do 6º ao 9º ano, foram
produzidos pelos próprios alunos a partir de entrevistas e pesquisas bibliográficas.
A seguir, no quadro 1, dados extraídos de um dos relatórios parciais enviados à
Capes, referente ao processo de trabalho dos pibidianos com a Rádio Dinâmica FM e a
escola parceira:
Quadro 1 - Dados extraídos de um dos relatórios parciais enviados à Capes
Reunião sobre A criação de uma lauda de rádio” (dez. 2018)
1. Objetivo: identicar os elementos que constituem uma lauda de rádio
2. Descrição da atividade: no dia 02/10/18, utilizaram-se metodologias lúdicas (ativas, imersivas,
analíticas e ágeis – já descritas em outro relatório) com a turma do 8º ano C. A partir de cartolinas
e canetas coloridas como elemento de tecnologia, os discentes elaboraram um modelo de lauda de
rádio, a partir de pesquisa prévia sobre este gênero textual.
5 Disponível em: https://bit.ly/3oBaUyS. Acesso em 29 set. 2022.
6 Disponível em: https://bit.ly/308A3HB. Acesso em 29 set. 2022.
Experiências Docentes
48
3. Resultados alcançados: percebeu-se crescimento não só no processo de aprendizagem dos alu-
nos (percepção estrutural e de finalidade dos gêneros textuais, por exemplo), mas também em
relação à aplicabilidade destes conhecimentos obtidos a partir da produção dos roteiros criados
em sala para apresentação posterior – oral – na Rádio Dinâmica FM. Assim, conteúdos como
“tipos e gêneros textuais”, argumentação, “figuras de linguagem, dentre outros, puderam
facilmente ser relacionados aos roteiros de rádio ao mesmo tempo em que foram instrumentos
úteis de atendimento à comunidade local.
4. Especicidades observadas no processo: a) abordagens lúdicas e interativas – facilitaram a com-
preensão do gênero textual “lauda de rádio”; b) o processo de produção de laudas individuais, com a
tutoria de cada pibidiano, possibilitou que os alunos da escola parceira analisassem a própria produ-
ção textual e adequassem as variedades linguísticas à esfera de circulação do texto em questão; c) as
reuniões entre pibidianos para a elaboração de planos de aula, quinzenalmente, foram essenciais para
o planejamento das intervenções a partir da análise dos dados coletados entre os alunos do 8º ano
(texto diagnóstico, por exemplo), escolha das estratégias (tipo de metodologia ideal, por exemplo)
e reexão sobre os resultados da avaliação nal (aqui não se lê “prova, mas um processo de discus-
são sobre o que foi construído e o que poderia ser aprimorado); d) percebeu-se que os conteúdos
aprendidos na instituição de ensino superior aproximam-se diretamente da realidade escolar – tanto
cognitiva quanto didaticamente; e) observou-se que após o início do Pibid na rede pública em ques-
tão, o professor supervisor (professor regente do 8º ano C) aperfeiçoou sua didática, demonstrando
interesse em diversicar e ampliar sua práxis pedagógica; f) quebrou-se o paradigma de que aula de
português é uma série de regras sem aplicabilidade porque, na elaboração das laudas da rádio e na
gravação oral dos programas, os alunos tiveram a consciência do uso-reexão-uso da língua.
5. Diculdades encontradas no processo: a) certa resistência, por parte da escola participante, quanto
ao grupo de pibidianos e às atividades propostas visto que as ações envolviam dinamismo espacial e
um “barulho” por parte dos alunos; b) o calendário escolar apertado no último bimestre; c) um certo
grau de desinteresse por parte do professor supervisor no início do projeto, o que nos fez repensar a
abordagem frente ao prossional na tentativa de convencê-lo” de que a proposta educomunicativa
traria resultados palpáveis à turma.
Fonte: documentos da autora (dez 2018)
É perceptível o movimento didático-científico na prática dos universitários pibi-
dianos se comparado o relatório parcial acima com a estrutura organizacional do mé-
todo científico, já descrito aqui: a) geração do problema de pesquisa (identificação de
um conteúdo do currículo escolar ao qual deva-se agregar significado e aplicabilidade;
b) revisão bibliogfica (citação da influência da universidade – como fonte teórica –
sobre a realidade escolar); c) formulação de hipótese (percepção de que o estudo da
ngua materna, da forma como se configura hoje, não dá conta das demandas reais
do alunado); d) realização de um experimento (elaboração de um programa de rádio
49
Pibid: “iniciação à docência” ou “iniciação à ciência da docência”?
em que o conteúdo curricular estudado seja aplicado e ressignificado); e) validação
ou refutação de hipóteses (sucesso acadêmico, cognitivo e social da finalização do
programa de rádio).
Interessante notar que no item 5 do quadro anterior, os pibidianos fazem men-
ção às dificuldades encontradas – e enfrentadas – no processo, o que não exclui a
proposta de ter um cunho cienfico. Muito pelo contrário, é na obserncia e na
reflexão sobre as variáveis da pesquisa que se cresce em autonomia científica. Ao
alunado universitário pontuar que houve um “desinteresse por parte do professor
supervisor no início do projeto” nota-se que, paralelamente a este dado, houve uma
preocupação do bolsista em aprimorar seus argumentos e suas intervenções frente à
atividade proposta, no sentido de conseguir um “aliado” na figura do docente para
validar a ação educomunicativa.
É a partir deste contexto que o próximo tópico se inicia, fazendo um recorte mais
específico em relação à posição do professor supervisor como um dos agentes respon-
sáveis pela produção acadêmico-científica do Pibid em diálogo com os alunos bolsistas
e a escola parceira.
Produção acadêmico-científica – Pibid
Em entrevista com os alunos bolsistas do Pibid de Letras-Português (2018-2019),
quando perguntados se enxergavam o Pibid como um projeto científico, de iniciação
científica, se porventura se sentiam pesquisadores durante o processo, as respostas
deram conta de um grupo que se considerou, ao final dos três semestres desta edição,
privilegiado no quesito uso-reflexão-uso das teorias universitárias. Identificaram que
sua percepção do ambiente escolar na educação básica tinha diferenciais em relação ao
restante da turma do curso, conforme se lê nos dois depoimentos a seguir:
Pibidiano A:Eu acho que foi... muito científico... A gente teve que pesquisar,
testar o que a gente estava descobrindo... Era iniciação científica! A gente utili-
zava um método e a gente ia lá e testava. Daí dava certo uma vez e não dava na
outra, ou relativamente. A cada reunião, a cada leitura e a cada planejamento,
era essa sensação. Parecia que a cada semestre ela ficava maior [a sensação de
estar pesquisando].
Pibidiano B:Em nosso caso, do grupo de pibidianos com quem trabalhei, era
ciência, sim! Conhecemos a fundamentação epistemológica da educomunica-
ção e tivemos acesso a teóricos que nos deram embasamento, nos ajudaram
a planejar as aulas. As reuniões quinzenais permitiram que a gente trocasse
Experiências Docentes
50
ideias, reflexões e experiências e, na prática, entendemos a responsabilidade
que é ser considerado um professor e os desafios da função. Os relatórios que
fizemos no final de cada semestre deram a certeza de que estávamos envolvi-
dos num projeto científico e as apresentações dos nossos trabalhos em even-
tos como o Enaic – tricampi da IES – e “Semana de Letras, mostraram que
estávamos envolvidos em “algo maior, algo a ser compartilhado. O tempo da
graduação em Letras é “rápido. Por termos iniciado o Pibid no 2º semestre,
ele foi fundamental para entendermos o que é ser um pesquisador científico, o
que é fazer ciência na educação.
Essa autopercepção acadêmico-científica dos depoentes reforça o tom cientificista
da proposta Pibid, principalmente quando se refere à tríade escola pública, universidade
e pesquisa. O ir e vir entre a prática em chão escolar e os bancos universitários só pôde
acontecer mediante observação, coleta de dados, contrapontos entre fundamentação
epistemológica e prática docente, mudança de estratégias, aplicação de intervenções
inúmeras para, enfim, validar ou refutar a tese inicial.
Entretanto, é importante colocar neste relato de experiência que os alunos bol-
sistas não participaram do Pibid sozinhos, mas estabeleceram vínculos semanais com
os chamados professores supervisores (docentes efetivos da escola parceira). A respeito
destes profissionais, é curioso observar a forma como interpretaram o trabalho dos pi-
bidianos, num primeiro momento. Em relatório mensal enviado para a Capes no início
do projeto (1º semestre de 2018) nota-se, em algumas falas do professor supervisor, ex-
pressões generalizantes e/ou evasivas quanto às atividades e à contribuição dos univer-
sitários, como se vê a seguir no quadro 2 (grifos da autora):
Quadro 2 - Relatório mensal enviado para a Capes no início do projeto
1. Metas a serem alcançadas no mês pelo/a supervisor/a em conjunto com os bolsistas:
Elaboração das histórias na sala de informática (quadrinhos, cordel e contos mitológicos).
Revisão das histórias na sala de informática (quadrinhos, cordel e contos mitológicos).
Ensaio com os alunos para o lançamento do e-book.
2. Atividades realizadas pelo/a supervisor/a, para alcançar as metas:
Incentivo na produção escrita das histórias para o e-book, auxiliando na escrita, quando solicitado.
Providências quanto a tudo o que os bolsistas precisavam para realizar as atividades: preparação da sala de
informática, dicionários, cartolinas, pincéis atômicos, lápis de cor e livros de cordel.
Cobrança da revisão das produções pelos alunos junto com os bolsistas e orientação quanto ao uso correto
da língua portuguesa.
51
Pibid: “iniciação à docência” ou “iniciação à ciência da docência”?
3. Resultados atingidos no período:
Houve boa participação dos alunos com, aproximadamente, 66 estudantes. Os grupos continuaram com a
escrita das suas produções textuais. Cada vez mais, mostraram-se empenhados com os colegas de equipe e
motivados na produção de suas histórias, escrevendo com empenho e criatividade.
4. Metas a serem alcançadas no próximo mês:
Revisão das produções textuais pelos grupos dos alunos.
5. Outras observações relevantes:
Os bolsistas conseguiram fazer com que todos os alunos, cada vez mais interessados, participassem das
atividades propostas por eles, pois queriam ver o trabalho nalizado, pronto. Esperamos que, como sempre,
que um trabalho interessante e criativo, pois isso fará com que eles quem orgulhosos de si próprios e
entendam a importância do desenvolvimento do protagonismo de cada um.
Fonte: documentos da autora (dez. 2018)
O discurso acima pertence a um professor supervisor que estava “há anos”, se-
gundo ele, com a mesma turma. Praticava a mesma didática “há anos” com esta turma
e “sempre deu certo”. Ainda citando suas palavras, o importante para ele era o “aco-
lhimento” e a “reflexão” sobre o fazer pedagógico e que estas “metodologias novas”
eram mais uma das “modinhas pedagógicas” da educação. Entretanto, Pereira (2019)
faz uma séria pontuação a respeito da imporncia da fundamentação teórica como
constitutiva da práxis docente:
Percebemos que há uma clara defesa pelo “talento, nato ou desenvolvido na
prática dria, em detrimento do saber acadêmico, histórico e comprovado. No
entanto, o discurso do “profissional reflexivo” pode nos enganar, nos levando
a pensar que esta reflexão seria a mais importante em todo processo educativo.
Certamente não desprezamos a reflexão sobre as ações práticas, mas neste caso,
temos claramente um discurso contraditório, onde uma expressão sedutora pode
nos levar a uma compreensão fragmentada do papel educativo, por conceber a
formação acadêmica inadequada e o conhecimento prático como sendo o único a
ser considerado (2019, p. 25).
Sendo assim, o próximo tópico discutirá a estrutura final do Pibid em questão, a
fim de que tenhamos clara a posição deste projeto enquanto formador de uma docência
mais científica e pesquisadora, de uma equipe professoral mais comprometida com a
aplicação de uma fundamentação teórica em sua prática, bem como com a cautela de
discutir resultados com seus pares, consigo mesmo e com a comunidade.
Experiências Docentes
52
Discussão
Finalizando as discussões sobre o papel do professorado na contemporaneidade
tendo o Pibid como política pública que incentiva uma profissionalização docente a par-
tir da melhoria da formação inicial de professores, faz-se necesrio retomar a estrutura
organizacional do método científico, a saber: a) geração do problema de pesquisa; b)
revisão bibliogfica; c) formulação de hipótese; d) realização de um experimento; e)
validação ou refutação de hipóteses.
Feito isso, repara-se, a partir da leitura de um dos relatórios parciais enviados
para a Capes pelo coordenador de área do Pibid Letras-Português (2018-19) – projeto
observado neste relato de experiência – que o caminho estruturado é de cunho didático-
-científico, desde a observação inicial da escola parceira até a criação de um produ-
to educacional que, no caso em específico, foram os programas de rádio para a Rádio
Dinâmica FM (alocada no município em que funciona a escola parceira). Seguem, no
quadro 3 etapas descritas no relatório emitido pela docente universitária da IES:
Quadro 3 – Relatório emitido pela docente universitária da IES
Objetivo da atividade Descrição sucinta da atividade Resultados alcançados
1. Visitar a escola parceira, com a inten-
ção de observar o espaço no qual seria
aplicado o projeto.
1. No dia 15 de agosto os alu-
nos-bolsistas visitaram a escola
parceira e foram acompanhados
pela coordenadora do subprojeto
de Letras-Português, bem como dos
professores-supervisores, da diretora
da escola e do vice-diretor. Os pibidia-
nos fizeram anotações do que viram
(materiais tecnológicos disponíveis,
quadras, lousas, biblioteca, cantina) e
do que sentiram (indisciplina, falta de
recursos didático-pedagógicos, alunos
malnutridos).
1. Esta atividade foi relevante no sentido
de apresentar ao aluno-bolsista uma
escola “real” e não aquela “teorizada”
nos bancos da universidade. A indis-
ciplina, a falta de recursos humanos
e nanceiros, a burocracia, a carência
afetiva dos alunos, a necessidade de
planejamento e criatividade para um
docente, todos estes foram elementos
relevantes para a reexão dos futuros
professores.
53
Pibid: “iniciação à docência” ou “iniciação à ciência da docência”?
Objetivo da atividade Descrição sucinta da atividade Resultados alcançados
2. Participar de reuniões quinzenais, com
a intenção de planejar as aulas na escola
parceira, bem como estudar a funda-
mentação teórica do subprojeto.
2. As reuniões quinzenais iniciavam-se
com uma reexão sobre a prática pedagó-
gica e, após este primeiro momento, eram
sempre divididas em: a) compartilhamen-
to de experiências na escola parceira; b)
estudo epistemológico sobre educomuni-
cação; c) planejamento quinzenal de aulas
na escola parceira; d) demandas que não
constavam da agenda.
2. Estes encontros foram muito importantes
porque, no momento do compartilhamento
das experiências vividas na escola parceira,
os alunos bolsistas compreendiam que os
desaos que haviam enfrentado na semana
não eram únicos de seus grupos, mas de
todos os outros colegas. Assim, os grupos
se autoalimentavam, tanto em motivação
quanto em ideias teórico-pedagógicas.
Além disso, o estudo pontual sobre Edu-
comunicação expandia as possibilidades
de ação tanto em sala quanto fora dela,
aprofundando o vínculo entre os alunos da
educação básica e os pibidianos.
3. Analisar o plano de ensino e o material
didático fornecido pela Secretaria de
Educação do Estado de São Paulo – em
parceria com os professores superviso-
res – com a intenção de contextualizar o
aluno bolsista da grade curricular com a
qual trabalharia no projeto.
3. Assim que o plano de ensino e o material
didático do município foram solicitados aos
professores supervisores, imediatamente
foram entregues aos pibidianos que, a
princípio, caram impressionados com a
quantidade de conteúdo do material. Após
um planejamento estratégico entre o que
deveria ser trabalhado na escola e as neces-
sidades sociais dos alunos da escola parceira,
traçou-se um plano de ação elaborado a
partir de um trabalho educomunicativo.
3. Notou-se a quantidade relevante de
conteúdos com os quais se trabalha na
educação básica, principalmente na
questão de produção de texto associada
à gramática. Isso gerou nos bolsistas
uma preocupação maior com a própria
formação, com a sua própria necessidade
de embasamento gramatical e textual, a
m de que possam contribuir de maneira
mais competente com a formação dos
alunos da educação básica.
4. Observar o dia a dia em sala de
aula e atuar nela, com a intenção de
tomar conhecimento das demandas da
educação básica no ensino público e
propor intervenções contextualizadas às
necessidades locais.
4. Os alunos bolsistas, observando o ritual
escolar, tiveram que pensar em estratégias
para a criação de vínculo pessoal, antes de
qualquer atuação pedagógica. Prepararam
dinâmicas, levaram premiações para peque-
nas gincanas em sala para, só depois, con-
seguirem o sucesso acadêmico que haviam
esperado logo no primeiro dia de observação.
Também mostraram interesse pelo alunado,
questionando-o sobre suas necessidades
pessoais e coletivas, oferecendo oportunida-
des de superação frente à construção de um
programa de rádio que compartilhasse – e
resolvesse – estas demandas.
4. Os bolsistas notaram que nem sempre
se faz necessária a aula expositiva para
a solidicação de um conceito e que
os próprios alunos sinalizaram estar
cansados desse formato de ensino-
-aprendizagem. Também perceberam
que uma abordagem lúdica – como a
produção de um programa de rádio, por
exemplo – não pode ser desprovida de
fundamentação teórica, de intenções
cognitivas e acadêmicas.
Experiências Docentes
54
Objetivo da atividade Descrição sucinta da atividade Resultados alcançados
5. Participar de ocinas de rádio comu-
nitária, com a intenção de compreender
este veículo de comunicação como uma
ferramenta de educação social.
5. Em parceria com a Rádio Universitária
da IES, num primeiro momento, e,
posteriormente, com a Rádio Dinâmica
FM, do município no qual o Pibid atuava,
os pibidianos conheceram o ambiente
radiofônico, os gêneros textuais com os
quais trabalham (tanto escritos quanto
orais) e todas as possibilidades de formato
de programas deste canal de comunicação,
adequando-os para o estudo curricular
realizado na escola parceira.
5. O maior resultado das ocinas em rádio
foi a questão do autoaprendizado dos pibi-
dianos. A maioria deles percebeu a própria
necessidade de melhorar a articulação
vocal, a coesão e a coerência textuais.
6. Participação no Fórum de Licenciaturas
da IES, com a intenção de compartilhar
experiências advindas de outros cursos
formadores de professores.
6. Alguns pibidianos deste subprojeto
representaram o Pibid de Letras-Português
num Fórum Tricampi da IES, do qual
participaram todos os cursos de licencia-
tura da universidade, incluindo os projetos
Pibid e Residência Pedagógica. Neste
evento, puderam ser expostos os primeiros
resultados, as primeiras impressões dos
alunos bolsistas de Letras, a despeito dos
poucos meses de trabalho nesta proposta.
6. Os alunos participantes deste encontro
compartilharam a satisfação em perce-
berem que o subprojeto do qual faziam
parte já colhia resultados inovadores e
motivadores, independentemente de
estarem, na época, com poucos meses
de trabalho apenas. Também retornaram
motivados com resultados de outros
projetos de outros núcleos do Pibid,
compreendendo que é possível construir
uma escola pública de qualidade.
7. Participação no Congresso Pibid
Tricampi da IES, com a intenção de
socializar, com outros subprojetos, os
relatos de experiência locais (outras
escolas do interior de São Paulo, bem
como em escolas da capital, nos cursos
de educação física, pedagogia, história,
letras, matemática e biologia).
7. Este congresso aconteceu em parceria
com o Enaic (Encontro Nacional de
Iniciação Cientíca) e abrangeu, além do
Pibid e a Residência Pedagógica, todos
os cursos de graduação da universidade.
Houve uma mesa redonda inicial sobre o
tema “Tecnologia e Inovação no Ensino
Superior” e, na sequência, apresentações
de TCC’s, artigos de iniciação cientíca e
relatos de experiência.
7. A despeito da ansiedade dos alunos
pibidianos para apresentarem o primeiro
relato de experiência em congresso,
todos os grupos ofereceram à banca
materiais bem elaborados – estética
e textualmente – dentro do tempo
estipulado e com grande valia acadêmica.
A fundamentação teórica “Educomunica-
ção chamou a atenção dos congressistas
por conta do grau de ineditismo, e outras
práticas (de outras subáreas) agregaram
valor ao trabalho que está sendo rea-
lizado com Letras (como foto-arte em
Educação Física, por exemplo).
Fonte: documentos da autora (dez. 2018)
55
Pibid: “iniciação à docência” ou “iniciação à ciência da docência”?
Portanto, faz-se necesrio repensar o fazer pedagógico a partir de uma ótica
didático-científica sem, é claro, perder de vista o processo subjetivo do ensino-aprendi-
zagem no qual estão colocados – e nunca serão contrariados – o acolhimento, o olhar do
outro, a empatia, e tantas outras habilidades e competências indiscutivelmente neces-
rias para a práxis pedagógica.
Considerões finais
Concluindo as ponderações realizadas até aqui, afirmamos que se faz necessária a
valorização das políticas públicas como vias de (des)construção de paradigmas relacio-
nados à educação e ao papel dos professores no Brasil e, quanto a isso, o Pibid cumpre
seu papel a partir do que se lê em seus editais, à medida que motiva seus alunos bolsistas,
seus professores supervisores e seus coordenadores de área a pesquisarem, contraporem
posições e dados, redimensionarem suas metodologias e sua práxis. Mesmo porque, é
como se lê em André (2008, p. 110): “A concepção de professor como um investigador
e produtor de conhecimentos com repercussão na melhoria da prática pedagógica não
é recente”. E, como o mesmo autor afirma, uma prática docente que envolve pesquisa,
requer “planejamento, discussões, coleta de dados, alises, reelaborações (p. 114).
Entretanto, é necesria uma ressalva no que tange ao ato de pesquisa que, por sua
vez, precede a produção científica no campo da educação: a representação verdadeira e,
portanto, útil para a ação. A respeito disso escreve Bourdieu (2004, p. 18):
Não creio que basta reunir um grupo para produzir a reflexão científica, mas acredito
que, com a condição de instaurar uma tal estrutura de troca que traga em si mesma
o princípio de sua própria regulação, podem-se instaurar formas de reflexão que hoje
não têm lugar e que podem ir além de todas as especulações de especialistas (sobr-
etudo em “cientometria”) e de todas as recomendações de comitês e comissões.
Ou seja, o empoderamento da prática docente pode ser visto a partir da ótica
científica, porque todas as produções culturais são objetos de análises com pretensões
científicas; mas é preciso fugir da dicotomia existente entre aqueles que dizem que basta
saber a teoria sobre o assunto e daqueles que defendem uma relação entre a teoria e a
prática insistindo em relacioná-las apenas com o mundo social ou econômico que as
envolve. Há mais, muito mais dentro do campo científico educacional: o capital cultural,
a reprodução, os excluídos do interior, a violência simbólica, o habitus, as categorias do
juízo professoral – segundo o próprio Pierre Bourdieu elenca.
Por estes e outros motivos, traçados neste relato e/ou observados no cotidia-
no de projetos como o Pibid, é que reitero uma sugestão provocativa de mudança
Experiências Docentes
56
gráfico-semântica da sigla: de Pibid (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência), para Pibicid (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Ciência da
Docência). Mesmo porque, a necessidade de perceber a educação a partir de uma ótica
holística, reitera a visão de Feijão e Justa (2013, p. 34) ao afirmarem que “[...] o modo de
produzir e tratar o conhecimento pela fragmentação sucessiva esgotou sua possibilidade
de continuar a contribuir para o avanço da cultura humana [...]”.
Tratemos, pois, a educação como uma possibilidade de algo que seja maior que a
soma das partes; que transcenda os limites disciplinares e conceituais do conhecimento;
que seja, por fim, uma profissão científica, polivalente, criativa e renovadora.
Referências
AMORIM, S. S.; FERRONATO, C. J. O processo de profissionalização docente e a criação
da Escola Normal em Sergipe (1827-1879). Educar em Revista, [S.l.], v. 29, n. 49, p. 209-
225, jun. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3oElCVf. Acesso em: 30 set. 2022.
ANDRÉ, M. (org.). O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores.
Campinas: Papirus, 2008.
BOURDIEU, P. Travail et travailleurs en Algérie. Paris: Mouton, 1963.
BOURDIEU, P. Les étudiants et leurs études. Paris: Mouton, 1964.
BOURDIEU, P. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia do campo científico. São
Paulo: Editora Unesp, 2004.
FEIJÃO, E. J.; JUSTA, G. Competências e habilidades necessárias ao educador
contemporâneo. São Paulo: Editora Opção, 2013.
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções cientícas. São Paulo: Perspectiva, 2009.
PEREIRA, E. P. R. Discursos e contradições no campo da formação docente: em defesa
da práxis acadêmica. Revista contextura, Belo Horizonte, nº 14, out. 2019, p. 21-32.
Disponível em: https://bit.ly/3EAKUcm. Acesso em: 30 set. 2022.
Neste capítulo abordamos a constituição da autonomia na formação docente pro-
piciada no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid),
a partir da atuação colaborativa na perspectiva da educação inclusiva, tematizada no
subprojeto “Educação Inclusiva e Ensino Colaborativo nos anos iniciais e na educação
de jovens e adultos”, desenvolvido junto ao Núcleo Pibid/Pedagogia, da Faculdade de
Filosofia e Ciências (FFC), da Unesp, campus de Malia/SP, no período de 2018 a 2019.
Vale reforçar que o Pibid é um programa que concede bolsas a alunos de licencia-
tura participantes de projetos de iniciação à docência desenvolvidos por Instituições de
Educação Superior (IES), em parceria com escolas de educação básica da rede pública
de ensino, uma vez que seu regulamento prevê que:
Art. 1º O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, doravante de-
nominado Pibid, tem como base legal a Lei nº 9.394/1996, a Lei nº 12.796/2013 e o
Decreto nº 7.219/2010. Art. 2º O Pibid é um programa da Coordenação de Aper-
feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) que tem por finalidade fomentar a
iniciação à docência, contribuindo para o aperfeiçoamento da formação de docentes
em nível superior e para a melhoria da qualidade da educação básica pública brasilei-
ra. Art. 3º Os projetos apoiados no âmbito do Pibid são propostos por instituições de
ensino superior (IES) e desenvolvidos por grupos de licenciandos sob supervisão de
Constituição da autonomia
na formação docente no
âmbito do Pibid: algumas
reflexões a partir da atuação
colaborativa na perspectiva
da educação inclusiva
CAPÍTULO 3
Claudia Regina Mosca Giroto
Luciana Aparecida de Araújo
Ágatha Assis B. dos Santos
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p57-70
Experiências Docentes
58
professores de educação básica e orientação de professores das IES. Parágrafo único.
O apoio do Programa consiste na concessão de bolsas aos integrantes do projeto e
no repasse de recursos financeiros para custear suas atividades (BRASIL, 2016, p. 3).
Criado pelo Ministério de Educação, em 2007, e implementado pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Fundo Nacional de De-
senvolvimento Educacional (FNDE), com o intuito de valorizar o magistério e contribuir
com a formação de graduandos em licenciatura plena das instituições federais e estaduais de
educação superior, o Programa contempla propostas de projetos de iniciação à docência de
instituições federais e estaduais de ensino superior, além de institutos federais de educação,
ciência e tecnologia com cursos de licenciatura que se enquadrem na avaliação satisfatória
do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Todavia, os estabeleci-
mentos devem ter consolidado convênio ou acordo de cooperação com as redes de educação
básica pública dos municípios e dos estados, prevendo a participação dos bolsistas do Pibid
em atividades nas escolas públicas (BRASIL, 2016, p. 3), considerando os seguintes objetivos:
Incentivar a formação de docentes em nível superior para a educação básica;
Contribuir para a valorização do magistério;
Elevar a qualidade da formação inicial de professores nos cursos de licenciatura,
promovendo a integração entre educação superior e educação básica;
Inserir os licenciados no cotidiano de escolas da rede pública de educação,
proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências
metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdis-
ciplinar que busquem a superação de problemas identificados no processo de
ensino-aprendizagem;
Incentivar escolas públicas de educação básica, mobilizando seus professores
como conformadores dos futuros docentes e tornando-as protagonistas nos pro-
cessos de formação inicial para o magistério; e
Contribuir para a articulação entre teoria e prática necessárias à formação dos
docentes, elevando a qualidade das ações acadêmicas nos cursos de licenciatura.
Com base nesses objetivos, a funcionalidade desse Programa está ligada às Insti-
tuições de Educação Superior interessadas em participar do Pibid, que devem apresen-
tar à Capes seus projetos de iniciação à docência conforme os editais de seleção publica-
dos. As instituições aprovadas pela Capes recebem cotas de bolsas e recursos de custeio
e capital para o desenvolvimento das atividades do projeto. Os bolsistas do Pibid são
escolhidos por meio de processos seletivos promovidos por cada IES (BRASIL, 2016).
A Unesp promove, nesses projetos, a inserção dos estudantes no contexto das
escolas públicas desde o início da sua formação acadêmica para que desenvolvam
59
Constituição da autonomia na formação docente no âmbito do Pibid
atividades didático-pedagógicas sob orientação de um docente da licenciatura e de
um professor da escola.
A articulação das atividades de ensino, pesquisa e extensão permitem aos alunos
dos cursos de graduação um contato mais concreto com as problemáticas e realidade
educacional. Essa possibilidade agrega importante contribuição aos cursos de licencia-
tura da Unesp, bem como para o desenvolvimento de pesquisas, envolvendo alunos e
docentes da universidade. Por outro lado, às escolas parceiras e aos docentes da rede
pública é incentivado e favorecido o contato com a universidade na discussão e imple-
mentação de ações práticas e decorrentes de pesquisas, orientadas por docentes da ins-
tituição. Além disso, a vivência e convivência entre graduandos e profissionais da rede
educacional proporcionam fecundas contribuições para a formação docente e para as
discussões em torno da prática pedagógica de professores.
A opção pela temática da educação inclusiva em articulação ao trabalho colabo-
rativo, voltado aos alunos público-alvo da Educação Especial (PAEE) ocorreu, portanto,
no âmbito do subprojeto anteriormente mencionado, motivada pela possibilidade de,
atrelada à vivência oportunizada pela participação no Pibid, os alunos dos anos iniciais
deste curso de Pedagogia conhecerem, com mais profundidade e em contato com a re-
alidade educacional de seus profissionais e alunado, diferentes nuances da relação entre
a educação inclusiva e a educação especial. Particularmente, tiveram a oportunidade de
aprofundarem conhecimentos sobre os modos de organização escolar relacionados ao
processo de escolarização de alunos público-alvo da Educação Especial (PAEE) (crian-
ças com deficiências, com transtornos do espectro do autismo [TEA] ou com altas ha-
bilidades/superdotação); as metodologias empregadas junto a este público e, especifica-
mente, a atuação colaborativa entre o professor da sala regular e o professor da sala de
recursos multifuncionais, (SRM) responsável pela oferta do atendimento educacional
especializado (AEE), tendo em vista a reorganização do sistema educacional na perspec-
tiva da educação inclusiva (BRASIL, 2008; 2009; 2011).
Tal reorganização, estabelecida pela Política Nacional da Educação Especial na Pers-
pectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), conferiu à educação especial caráter de su-
porte ao processo de escolarização dos PAEE, bem como passou a ser transversal a todas as
etapas e modalidades da educação, desde a educação infantil ao ensino superior, por meio da
oferta de AEE a este público, no contraturno ao período em que foi efetuada a matrícula no
sistema educacional (BRASIL, 2011). Assim como foram definidas as bases para a constitui-
ção e oferta de AEE, bem como foram estabelecidos os critérios norteadores para a formação
docente necesria para a regência das SRM, em que o AEE é ofertado (BRASIL, 2009).
Sob essa reorganização do sistema educacional em todo o território nacional, des-
de 2008, a alfabetização de alunos PAEE que antes ocorria nas classes especiais (até
então a educação especial se constituía como sistema paralelo de ensino), passou a ser
de responsabilidade do ensino regular, portanto, sob responsabilização do professor
Experiências Docentes
60
regente da classe comum. A educação especial, por sua vez, da perspectiva do suporte,
logo, da perspectiva da educação inclusiva, passou a se ocupar, principalmente, da ofer-
ta do AEE, por meio da elaboração do Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), que
deve considerar o apoio pedagógico personalizado às singularidades de cada aluno em
articulação à elaboração de recursos e estratégias que visem à superação de barreiras
instrumentais e metodológicas que possam se constituir em impeditivos à apropriação
do currículo, por parte desses alunos (POKER et al., 2013).
Dessa maneira, a SRM não se constitui como lócus para alfabetização desse pú-
blico, tampouco é responsabilidade do especialista a alfabetização, propriamente dita,
dos alunos PAEE. Entretanto, sob a perspectiva da educação inclusiva, professor da sala
regular, doravante denominado professor generalista, e professor especialista, regente
da SRM, conforme estabelecido nas normativas educacionais vigentes (BRASIL, 2008;
2009; 2011), devem trabalhar colaborativamente visando potencializar, equitativamente,
as oportunidades de apropriação de conhecimentos e, consequentemente, do currículo,
por parte desses alunos.
A título de exemplificação da condição de suporte da educação especial, na pers-
pectiva da educação inclusiva, se considerarmos a situação educacional de um aluno
cego matriculado nos anos iniciais, sua alfabetização deverá ocorrer na sala regular;
enquanto a SRM, a partir da atuação do especialista, lhe oferecerá o AEE que, dentre
outras ações, compreenderá o ensino ou aperfeiçoamento do braille, a depender das
condições dessa criança quanto à sua acuidade visual e domínio deste recurso.
Concomitantemente e a partir da atuação colaborativa entre os professores ge-
neralista e especialista, o braille deverá ser utilizado na sala regular para favorecer ao
aluno a apropriação, por meio deste recurso, de conhecimentos que possibilitem, den-
tre outros aspectos, a apropriação do português escrito. Ou seja, será condição para o
sucesso educacional deste aluno que esses professores atuem em conjunto, assim como
será esperado que o professor da sala regular tenha conhecimento tanto sobre a impor-
ncia do braille quanto sobre a necessidade de seu uso em sala de aula durante o desen-
volvimento das atividades pedagógicas empreendidas. O especialista, por sua vez, nessa
atuação conjunta, pode viabilizar, sob diferentes maneiras, condições para que o pro-
fessor generalista se aproprie desse conhecimento sobre o braille (suas possibilidades
de uso, suas vantagens e benefícios) e não se constitua, por si só, em barreira atitudinal,
metodológica e instrumental ao processo de escolarização desse aluno.
Cabe destacar, ainda, que essa reorganização do sistema educacional também in-
terferiu fortemente nas políticas de formação docente. No que pesem as críticas (que
não serão aqui tematizadas) sobre o reducionismo que marca a compreensão acerca da
formação docente para atuação na perspectiva da educação inclusiva, em termos gerais,
mas, principalmente, no que se refere aos alunos PAEE, com as Diretrizes Curricula-
res Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia (BRASIL, 2006), o conteúdo
61
Constituição da autonomia na formação docente no âmbito do Pibid
anteriormente oferecido no âmbito da graduação foi deslocado para a formação conti-
nuada, em curso de especialização.
Dentre outras consequências, essas normativas acarretaram ao curso de peda-
gogia da FFC a redução das oportunidades de os alunos vivenciarem, durante a for-
mação inicial, práticas de estágios voltadas a este público. Neste sentido, o subprojeto
“Educação inclusiva e ensino colaborativo nos anos iniciais e na educação de jovens e
adultos” se constituiu em importante oportunidade para que os graduandos dos anos
iniciais deste curso pudessem, no âmbito do Pibid, empreender reflexões e ações peda-
gógicas voltadas a este público, a partir da colaboração entre os professores generalista
e especialista, vivência que não necessariamente teriam oportunidade de concretizar se
apenas aguardassem pelas atividades do estágio curricular obrigatório. Tal colaboração,
voltada aos PAEE, é aqui compreendida como o planejamento conjunto, por parte dos
professores generalista e especialista, das propostas pedagógicas direcionadas às espe-
cificidades desse público.
O propósito é garantir a articulação de saberes entre ensino especial e comum, com-
binando as habilidades dos dois professores. Assim, o professor regente da turma
traz os saberes disciplinares, os conteúdos, o que prevê o currículo e o planejamen-
to da escola, juntamente com os limites que enfrenta para ensinar o aluno com
necessidade especial. O professor do ensino especial, por sua vez, contribui com
propostas de adequação curricular, atentando para as possibilidades do estudante,
considerando as situações de ensino propostas e as opções metodológicas, plane-
jando estratégias e elaborando recursos adequados para a promoção de sua aprendi-
zagem (MARIN; BRAUN, 2013, p. 53).
Dessa perspectiva, a atuação colaborativa pressupõe a relação dialógica entre es-
ses profissionais, considerando que os alunos PAEE passam a maior parte do tempo na
classe comum e “[...] é neste local que a inclusão de fato ocorre” (MENDES; VILARON-
GA; ZERBATO, 2014, p. 45).
Frente a este cenário e ao propósito do subprojeto mencionado, verticalizamos
as reflexões ora apresentadas considerando dois aspectos: o Pibid como locus para a
constituição da autonomia na formação docente, subsidiária, posteriormente, da p-
tica docente emancipada e, portanto, determinada pelo protagonismo a ser assumido
pelo professor em sua práxis e em relação com a realidade escolar por ele vivenciada;
e a atuação colaborativa como possibilidade metodológica que valoriza tal autonomia,
viável, portanto, tanto à formação quanto ao exercício profissional da docência, particu-
larmente no que diz respeito aos alunos PAEE.
Obviamente, muitas foram as ações desenvolvidas no âmbito desse subprojeto,
porém, para o aprofundamento dessas reflexões, particularizaremos a estreita relação
Experiências Docentes
62
entre o Pibid, como locus formativo, e a atuação colaborativa, como metodologia cujos
princípios se coadunam aos do Pibid, a partir de situação específica que visa retratar
a autonomia e tomada de consciência do licenciando pibidiano frente ao seu protago-
nismo como agente crítico e transformador de sua própria formação, das condições de
ensino e aprendizagem de seu aluno e da realidade escolar que ambos vivenciam.
Desenvolvimento
Para o aprofundamento dessas reflexões nos reportamos a uma situação específica ex-
traída do diário de campo de uma licencianda pibidiana, matriculada no 2º ano do referido
curso, no qual relatou as atividades realizadas por ocasião de sua participação no subprojeto
em questão, bem como suas próprias reflexões e questionamentos. O uso das informações
ora elencadas foi autorizado pela licencianda por meio de assinatura de Termo de Consenti-
mento Livre e Esclarecido, em conformidade com os preceitos éticos vigentes.
Cabe ressaltarmos que tal situação foi aqui particularizada por considerarmos
que retrata, a título de exemplificação, o processo de tomada de consciência da licen-
cianda tanto sobre a imporncia do Pibid como locus para a constituição de sua auto-
nomia e emancipação quanto sobre a responsabilização dos professores generalista e
especialista que demandam a necessidade de atuação conjunta, numa perspectiva cola-
borativa atrelada às implicações refratadas por e na construção conjunta que tal pers-
pectiva requer, não apenas condicionada à dimensão atitudinal, ou seja, a depender da
vontade individual desses profissionais, mas também, às condições estruturais, desde
os modos como a educação inclusiva se encontra organizada para acomodar a atuação
colaborativa até os modos como efetivamente é materializada na escola e no cotidiano
escolar (GIROTO; CASTRO, 2011).
O excerto extraído do diário de campo remete à situação de acompanhamento, por
parte da licencianda, de uma criança de nove anos, matriculada numa classe de 3º ano do
ensino fundamental de uma das escolas municipais de ensino fundamental parceiras do
subprojeto “Educação inclusiva e ensino colaborativo nos anos iniciais e na educação de
jovens e adultos”. Essa aluna também se encontrava matriculada, no contraturno, numa
SRM, com diagnóstico em estudo, sob suspeita de possuir deficiência intelectual, con-
forme os apontamentos da própria escola, e, de acordo com os dados da documentação
escolar, com grande dificuldade de aprendizagem (BRASIL, 2008; 2009; 2011).
No diário de campo foram reunidas informações colhidas na escola que mencio-
navam que a criança havia sido transferida, desde 2017, portanto, há um ano, aproxima-
damente, matriculada nessa escola parceira. Os dados de sua trajetória, tanto na escola
da qual veio transferida quanto da escola parceira, mencionavam que a aluna ainda não
estava alfabetizada, apresentava dificuldade para se apropriar da escrita e não tinha
63
Constituição da autonomia na formação docente no âmbito do Pibid
interesse nas atividades realizadas, bem como eram indicados acompanhamento psico-
lógico e adoção de limites, por parte dos pais, quanto ao uso do celular.
Diante desse cenário, a licencianda realizou o planejamento de observação tanto
na sala regular quanto na SRM, em conformidade com as diretrizes previstas para o
desenvolvimento do subprojeto, além de realizar o acompanhamento da criança na sala
regular e a elaborar materiais de apoio. Nesse período, participou das reuniões, encon-
tros e discussões com a equipe do projeto, bem como com a orientadora, com vista à
consecução das atividades previstas.
Tendo registrado no diário de campo tanto o planejamento quanto as ativida-
des desenvolvidas, ela também registrou o processo pelo qual passou nesse período, os
apontamentos e os questionamentos. É justamente um excerto que compreendemos
como exemplo desse processo (aqui nos reportamos a um recorte referente às informa-
ções registradas num período específico de cinco encontros semanais) de reflexão-ação
e, por que não considerar, da transformação vivida pela graduanda, aos quais nos inte-
ressa conferir relevância, nessa discussão, conforme segue:
Na aula 1, por se tratar do primeiro contato com a aluna e não dispor de recursos,
elaborei um quebra-cabeça com as figuras de um lago e uma casa, a aluna pintou
o desenho e então fiz o corte das figuras. Elaborei uma história com intenção de na
próxima aula compreender como é a narrativa da aluna, observar a representação
do desenho e exercitar a escrita das figuras principais. Por sugestão da professora da
sala regular, utilizei o alfabeto móvel para estimular a aluna a conhecer o alfabeto,
a organização, com apoio do alfabeto exposto na sala, e leitura do alfabeto [...]. Na
aula 2 questionei a aluna se ela saberia me dizer que história foi contada depois que
ela montou o quebra-cabeças e perguntei se ela gostaria de desenhar e escrever “lago”
e “casa” [...]. Na aula 3 segui a sugestão da professora de exercitar a escrita com letras
móveis. A categoria escolhida foi animais e estimular a percepção da mudança de
consoantes no início da palavra [...]. Na aula 4 optei por seguir a sugestão da profes-
sora para desenvolver com ela (a criaa) o caderno de atividades, embora a criança
não tivesse interesse em realizar a atividade e questionasse sobre a necessidade de
concluir a atividade proposta [...], o que me levou a considerar que talvez a aluna
questione as atividades do caderno de exercícios porque não sejam significativos pra
ela. Verifiquei que não há planejamento entre os professores sobre o que será feito com
a aluna. Cada professor faz seu próprio planejamento. As professoras alegam que são
muitos alunos e fica difícil se encontrarem constantemente para planejarem juntas. A
escola tem interesse, sim, na atuação conjunta, pois a diretora menciona sempre que
está aberta para o trabalho colaborativo, mas quando realmente precisa promover
esse trabalho esbarra em muitas coisas, a começar pela jornada de trabalho das pro-
fessoras que são interessadas, mas a dupla jornada também não permite colaboração e
Experiências Docentes
64
os horários da própria escola [...]. A falia também não se envolve como deveria nem
a escola envolve a falia, a não ser pra solicitar que estabeleça normas para a criança,
em casa, quanto ao uso do celular [...]. Na verdade, a escola estava esperando que
eu atuasse mais como estagiária remunerada, mas conversei com minha orientadora
sobre isso, pois não era esse o objetivo do subprojeto do Pibid. A minha orientadora
fez reunião na escola para retomar os objetivos do subprojeto e explicitar novamente
os objetivos do Pibid, além de resgatar meu papel na escola e no subprojeto, isso foi
importante para assegurar a minha liberdade para agir de acordo com o que estava
previsto no subprojeto e não no cronograma da escola, além de levar em conta as
características de formação previstas no âmbito do Pibid. Depois disso, a professora
da sala regular me deu mais autonomia e pediu minha ajuda no acompanhamento da
aluna [...] então combinei com ela que vou preparar alguma coisa que a aluna possa se
interessar mais [...]. Na aula 5, optei por elaborar material para estimular o interesse
e mostrar a importância de aprender, já que a aluna sempre questionava o motivo do
que era proposto. Das conversas até a aula 5, tomei conhecimento de que ela gostava
de fazer bolo e elaborei quebra-cabeça que no verso formava a figura de um bolo e foi
elaborado livro que dava continuidade ao assunto das aulas que a professora da sala
comum abordava – a fábula “Assembleia dos Ratos”. No livro foi elaborada narrativa
que oferecia continuidade à fábula, de modo que a aluna pudesse interagir com o livro.
Além da assembleia abordada na fábula, a nova história abordou um planejamento
dos ratos, já que a casa estaria vazia para investigar o que teria na despensa, mas ha-
veria de ter ratos corajosos o suficiente para mesmo antes da casa estar livre dos gatos
e pessoas ir até a despensa e descobrir quais eram os ingredientes para os sabores do
bolo, que eles em assembleia decidiram fa-lo. O desfecho propunha que a aluna
escolhesse, dentre os ingredientes, o sabor do bolo que os ratos decidiram fazer, mas
para isso deveria escrever, no livro, o sabor. A aluna escolheu chocolate. Após a leitura
apresentei, o quebra-cabeças que se apoiava na lista de ingredientes e, portanto, a par-
tir da lista ela deveria juntar as peças, separadas por sílabas e aos poucos marcar quais
palavras ela conseguiu formar [...]. A partir dessa aula observei que seria necesrio
conhecer melhor a aluna e os seus interesses, pois quando motivada conseguia se
concentrar e se interessar pela atividade [...]. Acompanhei a aluna na sala regular e
na sala de recursos, auxiliando as professoras na elaboração do planejamento e dos
materiais [...], mas as professoras parecem considerar que tenho conhecimentos su-
ficientes para acompanhar essa aluna, pois atribuíram a mim a responsabilidade por
continuar acompanhando-a e preparando as atividades para ela. Por um lado, isso é
ruim, porque posso ser responsabilizada pelas ações que não derem certo; mas, por
outro, é bom, porque estou podendo sugerir e colocar em prática propostas de plane-
jamento, de materiais e de atividades que partem do interesse da aluna, além de dis-
cutir constantemente com as professoras sobre os resultados obtidos, ajudando ambas
65
Constituição da autonomia na formação docente no âmbito do Pibid
a também pensarem o que e como fazem com a aluna nas suas respectivas salas de
aula. Os textos recomendados e as reuniões com as orientadoras têm auxiliado na
compreensão das dúvidas sobre as possibilidades de atuação com a aluna, além de
ajudar a pensar as atividades [...] (DEPOIMENTO DA ALUNA – excerto selecionado)
Este breve excerto nos permite, ainda que brevemente, indiciar que a licencianda, no
início do acompanhamento realizado, observou a falta de informação sobre a criança, de
maneira a lhe permitir conhecê-la melhor, além da ausência de planejamento específico
para atuação com essa criança no ensino regular em consonância com o PDI elaborado
para o trabalho com a mesma na SRM, tanto no que diz respeito à sala regular quanto
à sala de recursos. Ainda, denotou compreender que a escola, por sua vez, apresentava
dificuldades para se organizar para acomodar o trabalho colaborativo, haja vista a refe-
rência quanto às justificativas apresentadas pelas professoras sobre a indisponibilidade de
tempo e de horário, bem como a de organização da própria escola, que não apresentava
ação específica para sanar tais dificuldades e materializar a atuação colaborativa como
metodologia necessária para o processo e sucesso escolar dos alunos PAEE. Assim como
foi mencionada a dificuldade da escola em envolver a falia no processo colaborativo.
Cabe considerar que o trabalho colaborativo, ainda que recomendado pelas nor-
mativas vigentes (BRASIL, 2008; 2009; 2011), representa grande desafio na atuação jun-
to aos alunos PAEE, pois, em conformidade com o modo que se encontra a formação de
professores no país, o trabalho colaborativo que se destaca é aquele atrelado à formação
de duas categorias de professores: o generalista e o especialista, conforme mencionado
anteriormente. O primeiro, regente da classe regular, é capacitado ao menos com um
nimo de conhecimento e prática sobre a diversidade do alunado, sua heterogenei-
dade e singularidades. O segundo, especializado nas diferentes demandas educativas
características dos alunos PAEE, é responsável pelo suporte necessário e orientações
ao professor do ensino regular, além de ser capacitado à atuação em salas de recursos,
classes e/ou escolas especiais, sendo esse modelo de formação praticado no Brasil, por si
só, determinante para a atuação colaborativa (BUENO, 1999; 2008; GLAT, 2000; GLAT;
PLETSCH, 2004; PLETSCH; GLAT, 2012).
Em igual medida, Marin e Moretti (2014) esclarecem que a relação entre professo-
res especialista e generalista na perspectiva do suporte favorece práticas e diferenciações
pedagógicas por meio das quais ocorrerá a atuação colaborativa, considerando que es-
ses professores dividirão a responsabilidade de planejar, aplicar e avaliar o planejamen-
to proposto, assim como agirão de modo a garantir que o aluno, com base em práticas
diferenciadas e de flexibilização curricular, terá condições de se apropriar dos conheci-
mentos trabalhados com os demais estudantes (MARIN; MORETTI, 2014).
Ainda que o trabalho colaborativo, nesses moldes, não integrasse a cultura dessa
escola parceira de maneira sistematizada, por ocasião do início do desenvolvimento do
Experiências Docentes
66
subprojeto em questão, a graduanda indiciou em seu relato a compreensão da imporn-
cia dessa colaboração, bem como, ao longo desse processo, pareceu se constituir em elo
entre as professoras, ao acompanhar a criança nos dois contextos educacionais (ensino
regular e sala de recursos multifuncionais), ao ponto de obter respeito e credibilidade
traduzidos na autonomia para a condução de si no processo formativo e no protago-
nismo assumido, ao afirmar sua contribuição e papel decisivos tanto no planejamento
quanto acompanhamento das atividades propostas. Por outro lado, o relato ora consi-
derado também aponta, em certa medida, a desresponsabilização da escola na consti-
tuição de um modo de organização que comporte o trabalho colaborativo, assim como
a necessidade de formação continuada direcionada à capacitação para tal colaboração,
por parte de seus professores, bem como à capacitação da gestão para a administração
e resolução dessa problemática.
A autonomia é aqui compreendida como processo constituído pela tomada de
consciência que permite ao aprendiz transpor limites para se constituir professor, ao
mesmo tempo que tal processo agrega condições para o amadurecimento necesrio
ao protagonismo que se traduz em compreensão ativa e responsiva, fruto da alteridade
característica do processo colaborativo (TAMURA, 2018). A tomada de consciência, por
sua vez, remete a um movimento dimico e reflexivo que favorece tanto a análise con-
nua quanto a ampliação também contínua da própria consciência de si e de sua prática.
Resultado dessa tomada de consciência e de maior autonomia no processo for-
mativo pode ser exemplificada pela ação da licencianda que, ao perceber que estava
sendo compreendida pela escola e pelas professoras sob a lógica reducionista com que
os graduandos em situação de estágio têm sido considerados, tratou de buscar maneiras
de expressar à escola e às professoras a necessidade de sua atuação se coadunar com as
características do Pibid, quais sejam:
I – estudo do contexto educacional envolvendo ações nos diferentes espaços escolares,
como salas de aula, laboratórios, bibliotecas, espaços recreativos e desportivos, ateliers,
secretarias; II – desenvolvimento de ações que valorizem o trabalho coletivo, interdis-
ciplinar e com intencionalidade pedagógica clara para o processo de ensino-aprendi-
zagem; III – planejamento e execução de atividades nos espaços formativos (escolas
de educação básica e IES a eles agregando outros ambientes culturais, científicos e tec-
nológicos, físicos e virtuais que ampliem as oportunidades de construção de conheci-
mento), desenvolvidas em níveis crescentes de complexidade em direção à autonomia
do aluno em formação; IV – participação nas atividades de planejamento do projeto
pedagógico da escola, bem como participação nas reuniões pedagógicas; V – alise
do processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos ligados ao subprojeto e também
das diretrizes e currículos educacionais da educação básica; VI – leitura e discussão
de referenciais teóricos contemporâneos educacionais para o estudo de casos didáti-
67
Constituição da autonomia na formação docente no âmbito do Pibid
co-pedagógicos; VII – cotejamento da análise de casos didático-pedagógicos com a
prática e a experiência dos professores das escolas de educação básica, em articulação
com seus saberes sobre a escola e sobre a mediação didática dos conteúdos; VIII – de-
senvolvimento, testagem, execução e avaliação de estratégias didático pedagógicas e
instrumentos educacionais, incluindo o uso de tecnologias educacionais e diferentes
recursos didáticos; IX – elaboração de ações no espaço escolar a partir do dlogo e da
articulação dos membros do Programa, e destes com a comunidade. X – sistematizão
e registro das atividades em portfólio ou instrumento equivalente de acompanhamento;
XI – desenvolvimento de ações que estimulem a inovação, a ética profissional, a criativi-
dade, a inventividade e a interação dos pares (BRASIL, 2016, p. 4).
Dessa perspectiva, a licencianda pareceu avançar na compreensão de que as pro-
postas aprovadas no âmbito do Pibid estão ligadas ao trabalho integrado de formação
docente, no qual a escola e universidade desenvolvem uma dinâmica de integração para a
formação dos futuros professores e o espaço escolar é vivenciado pelos graduandos para a
construção de conhecimentos teórico e prático com o trabalho conjunto entre professores,
alunos, supervisores e gestores da escola, professores e alunos dos cursos de licenciatura.
Considerões finais
A escassez de estudos que aprofundem a relação entre o Pibid como locus para a
constituição de autonomia e protagonismo docente atrelado à metodologia colaborativa
revela a necessidade de tal relação ser cada vez mais valorizada, uma vez que tanto o Pi-
bid quanto a atuação colaborativa se constituem em iniciativas para o aperfeiçoamento
e valorização da formação de professores para a educação básica.
O Pibid, por se alinhar à proposição de agregar valor imprescindível à formação,
na medida em que oportuniza estudar, desenvolver, analisar, participar e elaborar ações
educacionais, com fundamentos didático-pedagógicos, favorece o trabalho coletivo
juntamente a uma intencionalidade pedagógica para o processo de ensino-aprendiza-
gem, contribuindo também como processo, para a análise da prática e da experiência
dos professores das escolas de educação básica, em articulação com seus saberes sobre
a escola e sobre a mediação didática dos conteúdos. Na medida em que analisa a prática
docente e discute os procedimentos pedagógicos à luz de teorias, o Pibid atribui impor-
tante contribuição social pelo apoio direto à escolarização formal de licenciandos.
A atuação colaborativa, por sua vez, e no que se refere particularmente aos alunos
PAEE, conforme tematizado nessa discussão, configura-se como possibilidade meto-
dológica que permite materializar, ao licenciando, não apenas a tomada de consciência
de si, mas também por favorecer a compreensão acerca da realidade educacional e das
Experiências Docentes
68
possibilidades de transformação dessa realidade, a partir do trabalho coletivo, condição
tão valorizada nesse Programa.
Neste sentido, a atuação colaborativa que visa à autonomia e emancipação para
atuação crítica que confere protagonismo ao professor desde sua formação inicial, vai
além do trabalho conjunto entre os professores generalista e especialista, pois prevê a
necessidade de reorganização do sistema educacional para comportar tal possibilidade
metodológica. Dessa forma, não deve ficar condicionada à dimensão atitudinal, mas
precisa ser tecnicamente e cientificamente estruturada, de maneira a considerar e envol-
ver a estreita relação entre as políticas públicas educacionais nos âmbitos federal, mu-
nicipal e estadual; as propostas de formação inicial e continuada, portanto, o papel da
universidade em articulação com a realidade escolar; e determinantes socioeconômicos
que possibilitem a concretude dessa metodologia e a manutenção do Pibid como exem-
plo de programa de sucesso na consecução de políticas de formação inicial docente.
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Implementar uma educação inclusiva, oferecendo condições igualitárias de
aprendizagem para todos, é uma meta que está contemplada nos documentos do go-
verno brasileiro desde 1990. A partir desse momento, surgem novas ideias, trazendo,
paulatinamente, mudanças nas formas de organização e funcionamento das escolas,
assim como nas responsabilidades, compromissos e práticas de gestores e professores.
Considerando a necessidade de transformar os sistemas educacionais cada vez
mais inclusivos, um dos projetos desenvolvidos pelo Pibid, vinculado à Faculdade de
Filosofia e Ciências, campus de Malia-SP, pelo curso de pedagogia, nos anos de 2018 e
2019, nas escolas parceiras, tratou de focar como a escola se organiza e atende os alunos
que apresentam Necessidades Educacionais Especiais (NEE).
Com o objetivo de aprimorar a formação do futuro professor, pretendeu-se, com
o desenvolvimento do projeto, valorizar ações de iniciação à docência junto a esse alu-
nado específico. Os bolsistas puderam vivenciar a realidade escolar por meio do acom-
panhamento das estratégias de diagnóstico dos alunos encaminhados para o Atendi-
mento Educacional Especializado (AEE) nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM)
para analisar e compreender o modus operandi da escola em relação ao atendimento
desse alunado com deficiência, com transtorno de espectro autista e com altas habili-
dades/superdotação, além de outras condições de não aprendizagem. Vale lembrar que,
de acordo com a atual Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Edu-
cação Inclusiva (BRASIL, 2008a), tais alunos devem estar matriculados e frequentar as
salas regulares de ensino, tendo ainda o direito de frequentar o já citado atendimento
Pibid e formação
inicial dos professores
na perspectiva
educacional inclusiva
CAPÍTULO 4
Simone Gomes Ghedini
Rosimar Bortolini Poker
Letícia Romeu Nóbrega
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p71-82
Experiências Docentes
72
educacional especializado, como ensino complementar ou suplementar, o que, vale di-
zer, ainda não vem sendo implementado da forma exigida pelas leis governamentais.
No entanto, o Pibid, em consonância com as exigências das diretrizes do Decreto
nº 8.752 (BRASIL, 2016), que trata da formação de professores e que ressalta que o desen-
volvimento de atividades junto à escola de educação básica deve ser o norteador para a
formação inicial do professor, tem sido um caminho profícuo para que a fundamentação
teórica da licenciatura possa estar vinculada e articulada com a realidade, com os pro-
blemas concretos existentes no cotidiano escolar. Nesse contexto, o projeto do Pibid em
questão, ao focar a educação inclusiva, buscou analisar como a escola vem se organizando
para enfrentar o desafio de atender determinada demanda, cada vez mais presente nas
escolas e nas salas de aula regulares, que é o Público-Alvo da Educação Especial (PAEE).
O foco do projeto na educação inclusiva se deu especialmente em razão da atual
política educacional que tem como base a defesa de um sistema educacional que acolhe e
atende, com qualidade, todas as pessoas, sem exceção. Trata-se da ideia de que todos de-
vem aprender com todos, a criança tem o direito de aprender junto com os pares da sua
mesma faixa etária. Futuros professores em sua formação inicial, por meio desse projeto,
tiveram condições de se preparar para ensinar todos, inclusive alunos em condições
muito diferenciadas de aprendizagem. O bolsista teve oportunidade de conhecer como
a escola tem enfrentado esse desafio da inclusão, quais os recursos humanos e materiais
diferenciados estão sendo utilizados na escola, e quais os serviços da educação especial
têm sido fornecidos para atender às demandas de tais alunos. Esses recursos constituem
suportes fundamentais para apoiar a prática pedagógica do professor na sala regular.
Segundo Glat e Blanco (2007, p.16), para a escola tornar-se efetivamente inclusiva,
é fundamental “formar seus professores e equipe de gestão e rever as formas de interação
vigentes entre todos os segmentos que a compõem e que nela interferem”. A formação
do professor se constitui no alicerce para a viabilização das transformações exigidas na
operacionalização de um projeto de escola que se pauta na inclusão e fundamenta-se em
metodologias e estratégias alternativas de ensino, bem como em formas diferenciadas
de gestão e avaliação. Nessa direção, torna-se imprescindível ao futuro professor uma
formação inicial com possibilidades de conhecer e compreender como a escola vem se
organizando para atender alunos com condições muito diferenciadas de aprendizagem.
Verifica-se que o ensino aos alunos com necessidades educacionais especiais pas-
sou a ser uma nova incumbência dos professores generalistas. Sobre isso, Rodrigues e
Lima Rodrigues (2011) apontam que determinadas competências que antes eram do
domínio único e exclusivo dos professores da educação especial ou das instituições es-
peciais, agora são assumidas pelas escolas e professores regulares. O professor, mesmo
com conhecimento insuficiente da área e com nenhuma ou pouca orientação, tem que
ser capaz de responder a um vasto conjunto de situações e problemas que, ainda há
algum tempo, seriam da competência exclusiva de professores especializados. Alguns
73
Pibid e formação inicial dos professores na perspectiva educacional inclusiva
dos exemplos dessas competências são: o trabalho pedagógico com alunos com dificul-
dades escolares no contexto grupal, o ensino de alunos com condições de deficiência, o
trabalho com alunos com déficit de atenção e hiperatividade, além de outras condições
diferenciadas de aprendizagem que possam existir.
Vivenciar situações do cotidiano da escola, que permitam verificar quais docu-
mentos existem nos prontuários dos alunos com NEE, quais documentos são solicitados
pela escola na matrícula, como são realizados os encaminhamentos dos alunos para os
atendimentos da área da saúde, quais os critérios que a escola usa para o aluno ser ele-
vel para o AEE, como é desenvolvido o trabalho entre a gestão, o professor da classe
regular e o professor da SRM e quais as formas de atendimento pedagógico propostos
para esses alunos, favorece ao bolsista condições de compreender e analisar a logística
pertinente à escola que pode aproximar-se ou distanciar-se da perspectiva educacional
inclusiva. Com isso, a participação nesse projeto pretendeu promover o desenvolvimen-
to do espírito crítico do graduando de pedagogia, levando-o a entender o valioso papel
que o professor da sala de aula regular exerce no contexto de uma escola pautada no
paradigma educacional inclusivo.
Afinal, na Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação in-
clusiva (BRASIL, 2008a), afirma-se que os professores precisam estar preparados para
atuar com toda a diversidade de alunos, nos mais diferentes contextos educacionais,
incluindo-se aí os alunos denominados PAEE, a saber, alunos com deficiência, com
transtorno do espectro autista e alunos com altas habilidades/superdotação.
Diante do exposto, fica evidente a importância que precisa ser dada à formação
inicial dos futuros professores de forma que, ao longo do curso de pedagogia, tenham
oportunidade de conhecer e refletir sobre as diferentes práticas que estão sendo organi-
zadas para atender o alunado que apresenta condições diferenciadas de aprendizagem e,
consequentemente, de ensino. Vale lembrar que esse alunado tem direito ao AEE, que
é oferecido por um professor especializado em educação especial. O professor do AEE,
em colaboração com o professor generalista que atua na sala regular, bem como a orien-
tação do gestor escolar, precisam trabalhar juntos com o intuito de garantir o processo
de escolarização desse aluno. Só por meio desse trabalho em equipe o aluno consegui
caminhar em seu processo de escolarização, tendo acesso, da melhor forma possível, ao
currículo previsto para a série escolar em que se encontra.
Ressalta-se que o trabalho colaborativo entre o professor especialista e o professor
generalista é fundamental, pois só assim os professores irão dividir a responsabilidade
em conhecer, planejar, ensinar, produzir materiais e avaliar o desempenho do aluno. Os
professores poderão garantir que o aluno com NEE construa o seu conhecimento como
fazem os demais estudantes durante as atividades desenvolvidas em sala de aula regular
(CAPELLINI, 2008; MENDES; ALMEIDA; TOYODA, 2011). É por meio desse trabalho
colaborativo realizado entre professores e com o acompanhamento do gestor escolar,
Experiências Docentes
74
que materiais didáticos, bem como estratégias e metodologias de ensino alternativas,
são desenvolvidas e planejadas, elaboradas e aplicadas, por meio de um planejamento
conjunto e bem articulado.
Os bolsistas precisam então ter conhecimento sobre o papel do AEE para a ope-
racionalização da escola inclusiva, atendimento esse que tem como base o que dispõe o
Decreto nº 6.571 (BRASIL, 2008b). Nele, o AEE é definido como “(...) o conjunto de ati-
vidades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, pres-
tado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular”.
Seu objetivo é prover condições de acesso, participação e aprendizagem aos alunos com
deficiência, transtornos do espectro autista e altas habilidades/superdotação matricula-
dos nas salas regulares de ensino.
Dessa forma, de acordo com a Política Nacional de Educação Especial na pers-
pectiva da educação inclusiva (BRASIL, 2008a), e também Decreto nº 6571 (BRASIL,
2008b), tal atendimento precisa estar diretamente articulado com as ações pedagógicas
desenvolvidas pelo professor, haja vista que a escola regular precisa estar preparada para
educar todos os alunos de forma a enfrentar a situação ainda existente de exclusão de
crianças com deficiência, em situação de vulnerabilidade e que apresentam condições
de diferença linguística, étnica, cultural, comportamental ou qualquer outra. A escola e,
com ela, seus professores e gestores, têm a responsabilidade de enfrentar esse desafio de
atender, com qualidade, todas as diferenças que os alunos possam apresentar.
Baseada nessa abordagem conceitual transformadora, as novas políticas imple-
mentadas têm buscado levar a escola comum e seus professores a assumir o compro-
misso de ensinar todos com todos, independentemente das diferentes condições de
aprendizagem que possam existir. Nesse contexto, a educação especial não se configura
mais como serviço que substitui o ensino regular; diferentemente, assume um lugar de
suporte, de apoio à educação regular, devendo, por isso mesmo, realizar um trabalho
interligado com a mesma.
Os serviços, estratégias e recursos produzidos no AEE devem então estar em sin-
tonia com a classe regular e podem subsidiar a prática pedagógica do professor genera-
lista, favorecendo o processo de apropriação dos conteúdos curriculares desenvolvidos.
Nesse sentido, justifica-se que a oferta obrigatória do serviço do AEE deva ocorrer no
período inverso ao da classe regular ou até mesmo dentro dessa sala regular, em coope-
ração com o professor generalista.
Ao tratar do papel do AEE na escola, Braun (2011, p.10) destaca que é “(...) relevan-
te lembrar que o AEE não é o único espaço responsável pela organização das estratégias
de ensino para o aluno com especificidades”. Afirma ainda que “(...) mudar a estrutura
da escola significa modificações na sua dinâmica e na postura daqueles que a organizam.
Então, também terão que passar por mudanças, atitudinais e conceituais, os profissio-
nais que atuam nesse espaço” (BRAUN, 2011, p.10).
75
Pibid e formação inicial dos professores na perspectiva educacional inclusiva
Acrescente-se que, de acordo com as Diretrizes Operacionais da Educação Especial
para o atendimento educacional especializado na educação básica, regulamentada pelo
Decreto nº 6.571 (BRASIL, 2008b), com a Política Nacional de Educação Especial na Pers-
pectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008a), e, ainda, com o Decreto Legislativo nº
186 (BRASIL, 2008c), que ratifica a Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Defi-
ciência (ONU, 2006), a oferta do atendimento educacional especializado deve constar no
Projeto Político Pedagógico da escola de ensino regular, prevendo, em sua organização, a
articulação entre os professores da SRM e os professores da sala comum. Dentre outras
funções do professor especializado que assume o AEE, destaca-se o estabelecimento de
articulação com os professores da classe regular, com o objetivo de disponibilizar servi-
ços e recursos pedagógicos de acessibilidade e de diferentes estratégias que promovem a
participação dos alunos nas diferentes atividades escolares desenvolvidas em sala de aula.
Nesse sentido, o projeto de inclusão desenvolvido pelo Pibid do curso de Pedago-
gia em 2018 e 2019 buscou garantir ao futuro professor vivenciar situações de forma que
pudesse conhecer os desafios existentes na materialização de uma proposta inclusiva
e, também, participasse e refletisse sobre as diferentes estratégias de enfrentamento já
construídas pelas escolas parceiras do Pibid.
Desenvolvimento
Os objetivos gerais propostos no subprojeto intitulado “Educação Inclusiva e En-
sino Colaborativo nos anos iniciais e na educação de jovens e adultos” referem-se à con-
tribuição para o aprimoramento da formação dos graduandos em pedagogia, inserindo-
-os no contexto escolar, tanto no que diz respeito à organização e funcionamento das
salas regulares de ensino como do atendimento educacional especializado. Desta forma,
a experiência aqui descrita teve como propósito destacar para os bolsistas do Pibid a im-
porncia da formação dos futuros professores dentro de uma perspectiva educacional
inclusiva, conforme previsto na legislação brasileira.
O desenvolvimento das ações junto às escolas parceiras foi organizado de modo
a oferecer experiências aos bolsistas em processos inclusivos dentro das próprias esco-
las, ou seja, eles puderam identificar e caracterizar quem são os alunos público-alvo da
educação especial, como as informações são registradas nos seus prontuários, como são
feitos os encaminhamentos para a SRM, onde é realizado o AEE, como esses alunos che-
gam até a escola, como é desenvolvido o trabalho dos professores da SRM e o trabalho
dos professores das salas regulares e, ainda, de que forma são estabelecidas as parcerias
entre professores e entre professores e os serviços externos à escola.
A organização das atividades de formação dos bolsistas dentro dessa perspectiva
foi estabelecida por meio de um projeto desenvolvido pelos professores orientadores
Experiências Docentes
76
juntamente com as escolas parceiras do Pibid. Inicialmente foi realizada reunião dos
orientadores com as bolsistas para apresentação do projeto, definição de ações nas esco-
las e estabelecimento de cronograma de encontros quinzenais.
Após este momento, as orientadoras do projeto e as bolsistas realizaram reuniões
com a equipe gestora das escolas parceiras para apresentação do projeto Pibid, seus
objetivos, frequência de participação das bolsistas nas atividades escolares e a forma
de coleta dos dados dos alunos atendidos no atendimento educacional especializado.
As ações estabelecidas no projeto de formação dos bolsistas incluíram a caracterização
dos alunos do AEE e o conhecimento sobre a organização do atendimento nas escolas
parceiras que participaram do projeto, a saber, escola 1 e 2.
Primeiramente foi solicitado às escolas parceiras a lista dos alunos matriculados no
AEE, e assim, feito o levantamento dos alunos matriculados no referido serviço. Identifi-
cados nas listas fornecidas pelas escolas, cada bolsista ficou responsável em analisar de for-
ma minuciosa os documentos contidos nos prontuários de um grupo de alunos definidos
em reunião com os orientadores. Esta alise detalhada de cada prontuário gerou dados
dos alunos matriculados no AEE. Os dados documentais coletados foram registrados em
uma planilha, que foi sistematicamente apresentada e analisada pelos bolsistas, sendo dis-
cutida cada situação, cada caso particular em reuniões quinzenais com os orientadores.
Tal atividade permitiu aos bolsistas ter um panorama geral das características dos alunos
encaminhados para a SRM, bem como dos problemas em relação às documentações exis-
tentes em seus prontuários. Foram identificados documentos defasados, relatórios antigos
e ausência de informações que pudessem contribuir para o diagnóstico.
Simultaneamente à etapa de discussão dos dados documentais coletados, cada
bolsista realizou observações semanais individuais de cada aluno que fazia parte desse
grupo de alunos específico. As observações semanais focaram o atendimento dos mes-
mos no AEE, em situações de aula na sala regular e também a criança em atividades
livres como no horário do recreio.
O trabalho de observação semanal dos alunos do AEE na sala de recursos mul-
tifuncionais foi muito interessante para os bolsistas, pois puderam conhecer de forma
mais individualizada o nível de competência curricular dos alunos e as dificuldades
de aprendizagem que apresentavam. Com o professor especializado, os alunos rece-
bem um atendimento específico, direcionado às suas necessidades educacionais. Esse
momento proporcionou aos bolsistas vivenciarem a realização de práticas pedagógi-
cas inclusivas, levando a reflexões sobre esta prática e sobre a forma de avaliação dos
alunos atendidos pelo AEE. Puderam ainda analisar como é elaborado um plano de
desenvolvimento individual, com base na avaliação dos alunos, conhecer como se
estabelece a frequência e os períodos de atendimento, como ocorre a parceria entre o
professor da sala de recursos e o professor da sala regular, os benefícios gerados por
esse atendimento para os alunos e os encaminhamentos realizados para avaliações e
77
Pibid e formação inicial dos professores na perspectiva educacional inclusiva
atendimentos de outros serviços como médicos, fonoaudiólogos, psicólogos, fisiotera-
peutas, terapeutas ocupacionais, entre outros.
Dentre as atividades importantes realizadas pelos bolsistas, destaca-se a observa-
ção do aluno na sala de aula regular. Nesse momento, os bolsistas podem acompanhar e
verificar como o aluno participa das aulas, como o professor lida com suas necessidades
educacionais especiais e como o grupo-classe se relaciona com esse aluno. Além disso, os
bolsistas conversaram com os professores a respeito dos ajustes e adequações curriculares
que foram utilizados e sobre o modo de encaminhamento desses alunos para o AEE.
Destaca-se ainda que os bolsistas atuaram diretamente junto aos alunos com ne-
cessidades educacionais especiais e deram apoio pedagógico a esses alunos na sala regu-
lar por meio da elaboração e produção de materiais didáticos e recursos alternativos que
favoreceram a sua aprendizagem.
Além da realização dessas atividades, os bolsistas foram orientados a fazer uma pes-
quisa teórica mais aprofundada do quadro clínico de cada aluno. Nos encontros quinze-
nais realizados com as orientadoras, todas essas informações coletadas foram sistemati-
camente apresentadas e discutidas em grupo. Nesse momento do trabalho, destaca-se que
houve a preocupação com a imporncia do trabalho colaborativo entre o atendimento
educacional especializado e o trabalho pedagógico desenvolvido na sala regular.
A realização de observações semanais no AEE nas escolas e, também, nas salas
regulares de ensino, propiciou a ampliação da quantidade de informações sobre o aluno,
permitindo que a bolsista agregasse novos dados aos estudos de caso que foram sendo
feitos paulatinamente ao longo da vigência do Programa. Destaca-se que os bolsistas
identificaram problemas na continuidade e articulação entre o trabalho realizado na
sala de recursos multifuncionais, sob regência de um professor especializado, e a prática
pedagógica desenvolvida pelo professor generalista na sala regular.
Com as práticas de observação dos alunos nas salas regulares de ensino e nas de re-
cursos multifuncionais das escolas, a coleta de informações com os professores dessas salas e,
com a pesquisa teórica, foi possível contribuir para a complementação dos dados obtidos nos
prontuários escolares dos alunos matriculados no AEE e a elaboração dos estudos de caso.
Para melhor visualização e sistematização dos dados dos prontuários e das obser-
vações, após reuniões sistemáticas com as orientadoras e discussão oral de cada caso, foi
elaborada uma planilha para organização dos dados coletados. A planilha foi gradual-
mente construída, de modo a facilitar a sistematização e alise desses dados. Foram
coletadas informações referentes aos dados pessoais do aluno, documentos enviados
à escola, série e período escolar, horário e frequência no AEE, outros documentos da
vida escolar, documentos referentes à sde, aos atendimentos externos à escola, além
dos dados das observações em salas regulares e nas SRM. O modelo final da planilha
resultou num documento organizado da seguinte forma: documentos pessoais, vida es-
colar, saúde, atendimentos externos à escola, laudo e outras informações relevantes. As
Experiências Docentes
78
reuniões semanais com as orientadoras permitiram a organização dos dados nas plani-
lhas, a elaboração dos estudos de casos e uma melhor compreensão sobre as condições
da escola para atender os alunos com NEE.
Após a conclusão da elaboração final da planilha das duas escolas, com os da-
dos coletados a partir dos registros nos prontuários, em conversa com os professores
e pelas observações, foram tabulados e estabelecidas as seguintes categorias de alise:
documentos pessoais (RG, documentos dos responsáveis, comprovante de residência,
carteira de vacinação, cartão SUS, ficha de matrícula e termo de consentimento livre
e esclarecido), vida escolar (histórico escolar, transferência, relatório pedagógico, con-
vocações, controle de presença/ausência, relatórios diversos, e presença de cuidador),
saúde (atestados, relatórios e receituários médicos, autorização para saúde bucal e re-
lação de medicamentos), atendimentos externos à escola (CMAEE, fonoaudiólogos, fi-
sioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, entre outros) e laudo (deficiências,
transtornos do espectro do autismo, altas habilidades/superdotação, outros laudos, tais
como dificuldade de aprendizagem ou sem laudo) .
Importante destacar que durante a vigência da bolsa ocorreram reuniões perió-
dicas também com as escolas parceiras para atualizar a equipe gestora e os professores
envolvidos. Nessas reuniões foi conversado a respeito das informações dos prontuários
e o andamento do projeto em direção ao preenchimento da planilha de dados com re-
sultados parciais e finais do projeto.
O mapeamento da demanda de alunos matriculados no AEE das duas escolas par-
ceiras do Pibid constatou que apenas 39,9% desses alunos da Escola 1, e 31,2% dos alunos
do AEE da Escola 2 apresentam laudo consistente com o que está previsto pela Política
Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008a),
que considera o PAEE, os alunos com deficiências, transtorno do espectro do autismo e
altas habilidades/superdotação. Segundo as informações coletadas pelos bolsistas, todos
os demais alunos que foram encaminhados ao AEE não se encaixavam nesse perfil, apre-
sentavam apenas dificuldades de aprendizagem ou outros diagnósticos inespecíficos.
Outros problemas que foram identificados pelos bolsistas foi a falta de documen-
tos nos prontrios e a existência de registros desatualizados e inconsistentes. Essa si-
tuação prejudicou sensivelmente a caracterização dos alunos e, consequentemente, a
consolidação dos dados para a realização dos estudos de casos. Em discussão com a
equipe do projeto, concluiu-se que tais problemas, muitas vezes, decorrem da falta de
organização das escolas, pois nem sempre existe clareza quanto à preocupação com a
identificação das necessidades educacionais dos alunos por meio do uso de estratégias
adequadas de coleta de informações.
Um grande problema também verificado foi a forma como os professores do AEE
e da sala regular conduzem o processo de ensino e de aprendizagem desses alunos,
agravando assim a situação de vulnerabilidade. Percebeu-se que não há um trabalho
79
Pibid e formação inicial dos professores na perspectiva educacional inclusiva
colaborativo sistemático que viabiliza a articulação entre as diferentes práticas peda-
gógicas realizadas com os alunos com NEEs. Esses problemas retratam um aspecto ex-
tremamente preocupante, uma vez que revelam, inclusive, a falta de comunicação entre
a gestão e os professores da escola na condução do trabaho com crianças PAEE. Tal
problema estende-se entre a escola e os serviços de saúde e entre a escola e a falia. Isso
compromete o trabalho pedagógico da escola, dificultando que os alunos se desenvol-
vam em sua totalidade, considerando, de fato, suas necessidades educacionais especiais.
Considerões finais
A trajetória descrita das ações realizadas pelos bolsistas durante a vivência do pro-
jeto “Educação Inclusiva” viabilizou condições de inserção dos alunos no cotidiano das
escolas a partir de uma visão na perspectiva de um contexto educacional inclusivo. Por
meio das ações desenvolvidas, os bolsistas puderam conhecer de que maneira a escola
vem se organizando para atender os alunos com necessidades educacionais especiais
e de que forma vem acatando os princípios norteadores da, até então vigente, Política
Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.
O trabalho junto aos bolsistas permitiu despertar o conhecimento sobre a educação
especial e sobre a educação inclusiva; também levou o aluno a verificar, na prática, os pre-
ceitos teóricos apresentados nas disciplinas durante sua graduação. Ao relacionar a teoria
com a prática, o licenciando teve condições de identificar e analisar problemas existentes
nos registros escolares podendo, a partir daí, sugerir possíveis soluções para implementação
de melhores formas de documentação e de coleta de informações sobre as condições dos
alunos. A fragilidade na forma de registrar dados pertinentes aos atendimentos dos sistemas
de saúde e ainda de serviços especializados na área pedagógica, tão essencial para a melhoria
do desempenho escolar dos alunos do AEE, também foi ressaltado pelas bolsistas.
Além disso, os resultados coletados durante a construção da planilha de dados
dos alunos do AEE, aliados às observações em salas de aula regulares e salas de recursos
e, também, dos dlogos com professores regulares e especialistas, evidenciaram que
as escolas encontram dificuldades em cumprir o que efetivamente consta na legislação
inclusiva vigente em nosso país. No entanto, não podemos atribuir os fracassos apenas
às escolas; entendemos que o próprio sistema governamental tem falhado quanto à real
implementação de condições para que a educação inclusiva aconteça conforme previsto
em lei; entre as lacunas, identificam-se falta de investimento e incentivo a profissionais
para que busquem a formação específica em áreas transversais carentes no país, como é
o caso do público-alvo do atendimento especial.
A capacidade de identificar a fragilidade das condições das escolas para atender os
alunos com NEEs ficou evidente nesse projeto. A inserção no cotidiano da escola, a pesquisa
Experiências Docentes
80
e a análise dos prontuários dos alunos bem como a observação do alunado com necessida-
des educacionais especiais nos diferentes ambientes escolares, seja no AEE, na sala regular
e, também, nos ambientes mais livres como recreio e celebrações escolares e reuniões com
professores e gestores, viabilizaram esse processo de amadurecimento e reflexão. Participar
como observador e pesquisador mapeando dados sobre os alunos e identificando aspectos
positivos e negativos de todo esse processo, conhecendo diferentes modalidades de ensino e
práticas utilizadas com esse alunado que tem condições específicas, permitiu que os futuros
professores estejam bem mais capacitados para o enfrentamento desse desafio intrigante
que é garantir um ensino de qualidade para toda a diversidade de alunos.
Ao participar de forma sistematizada dessas ações, os bolsistas tiveram oportu-
nidade de vivenciar o cotidiano da escola de forma verdadeira, real, acompanhando
semanalmente as práticas utilizadas pelos diversos segmentos. Conhecer como a escola
recebe seus alunos, quais documentos são solicitados dos responsáveis, como as dificul-
dades dos alunos são identificadas, quais os procedimentos utilizados para o encami-
nhamento ao AEE e também qual é a atitude do professor da sala regular frente a esse
aluno, permitem que o futuro professor licenciando do curso de pedagogia compreenda
a complexidade desse processo de inclusão escolar.
A partir dessa formação, os bolsistas puderam saber mais como tornar a escola
um ambiente efetivamente inclusivo adaptado às necessidades educacionais dos alunos
nela matriculados. Entenderam que é possível pensar em novas formas de organização
e funcionamento da escola com práticas pedagógicas que garantam a participação e a
aprendizagem de todos. Isso é possível por meio da flexibilização ou, até mesmo, da
elaboração de adequações curriculares realizadas tanto no âmbito da escola e da sala de
aula como também, se necesrio, no âmbito do currículo individual do aluno.
Com base no exposto, concluímos que o subprojeto do Pibid com foco na educa-
ção inclusiva e ensino colaborativo nos anos iniciais e na educação de jovens e adultos,
cumpriu com seu objetivo de contribuir para o aprimoramento e valorização do ma-
gistério com foco na iniciação à docência, utilizando-se de instrumentos baseados na
vivência do cotidiano e reflexões a respeito da realidade escolar em uma perspectiva
educacional inclusiva.
Referências
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BRASIL. Decreto nº 6571, de 17 de setembro de 2008. Dispõe sobre o atendimento
educacional especializado, regulamenta o parágrafo único do art. 60 da Lei no 9.394, de
81
Pibid e formação inicial dos professores na perspectiva educacional inclusiva
20 de dezembro de 1996, e acrescenta dispositivo ao Decreto no 6.253, de 13 de novembro
de 2007. Jusbrasil, 2008b. Disponível em: https://bit.ly/3oAc0Lc. Acesso em: 30 set. 2022.
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Tem ocorrido no Brasil nos últimos anos uma evolução nos marcos legais em prol
de uma inclusão adequada dos alunos com necessidades educacionais especiais (NEE),
configurando-se como uma sustentação proativa às políticas de inclusão nas redes re-
gulares do ensino público. Porém, ainda há muito a se fazer para a eficácia destas leis,
principalmente no âmbito das salas de aula e nas propostas pedagógicas para o ensino
inclusivo nesse caso específico.
Este relato de experiência objetiva oferecer alternativas de práticas pedagógicas que
atendam às necessidades educacionais das crianças atendidas, respeitando as particulari-
dades de cada uma, valorizando suas potencialidades e aplicando os pressupostos da edu-
cação inclusiva às situações específicas. Para isto, apresenta-se um relato sobre a inclusão
de um aluno com deficiência intelectual (DI) nas aulas de uma professora supervisora de
4º ano de uma escola da rede municipal no interior de São Paulo, exemplificando para os
bolsistas do Pibid que é possível alcançar êxito nos processos de inclusão, quando há me-
todologias individualizadas, estratégias de criatividade, dose de carinho e compreensão
aplicadas concomitantemente ao ambiente de sala de aula com situações desse tipo.
A Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015), que entrou em vigor em 2016, em-
basada em outros marcos legais anteriores, reforça o conceito de integração total, avança
na cidadania das pessoas com deficiência ao tratar de questões relacionadas à acessibili-
dade, educação e trabalho e ao combate ao preconceito e à discriminação, assegurando
um sistema educacional inclusivo (MEDANHA, 2016). Essa atenção governamental pro-
ativa para as políticas de inclusão de alunos tem alcançado o ensino fundamental nas
redes regulares do ensino público, incluindo também as crianças com NEE.
Dentro deste contexto teórico e de leis, observam-se iniciativas positivas e
necesrias advindas do Ministério da Educação e da Capes; entre elas, vemos a
Da exclusão à inclusão:
um relato de experiência
dentro do Pibid
CAPÍTULO 5
Raquel Pierini Lopes dos Santos
Helen Barbosa Siqueira Emiliano
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p83-92
Experiências Docentes
84
implementação do Pibid como uma oportunidade para que os participantes bolsistas
do Programa encontrem nas salas de aula da escola pública situações que os coloquem
em contato com alunos com necessidades educacionais especiais, podendo não só se
familiarizar com as diversas didáticas que estimulam a adequada inclusão, como tam-
bém trazer contribuições práticas e criativas para as escolas parceiras. Uma das metas
do Pibid é propiciar experiências diversificadas na prática pedagógica, de modo que os
bolsistas possam observar, refletir e analisar situações de aprendizagem e agregar outras
práticas e metodologias a sua experiência formativa que elevem e apoiem a iniciativa
de formação inicial e continuada e desenvolvam competências e habilidades que trarão
mais segurança aos docentes do futuro.
Quando houver suspeita de que há alunos com algum tipo de NEE, a escola deve
providenciar junto às falias o encaminhamento para um diagnóstico interdisciplinar,
incentivando a identificação e o acompanhamento desses alunos, além de promover assis-
tência consistente às necessidades identificadas e incentivar os professores a criarem um
ambiente que favoreça a integração social e o uso de estratégias pedagógicas diferenciadas
na abordagem de cada caso. Um plano individualizado para cada ano letivo deve ser dis-
cutido entre direção, coordenação, professores, pais e, se possível, os alunos com necessi-
dades educacionais, para garantir que tenham acesso às adaptações logo no início do ano.
Farias e Pires (2014, p. 1) discorrem em seus estudos que se vive em uma socieda-
de na qual é constante uma diversidade sociocultural inquestionável, notadamente nos
espaços escolares, “que demandam atenção, estudos e uma formação fundamentada nas
dificuldades e realidade do cotidiano escolar, sendo estas relacionadas ao ensino/apren-
dizagem, à indisciplina e a outros aspectos relevantes”. Esse posicionamento está de
acordo com os objetivos do Pibid, entre os quais podemos colocar a inclusão como uma
das realidades do cotidiano escolar e que precisa de ações e estratégias apropriadas para
ser levada a efeito e ter seus envolvidos atendidos em todas as suas dimensões.
O Pibid tem oportunizado aos professores da rede municipal de ensino fundamen-
tal, por outro lado, dois níveis distintos de inclusão educacional: um voltado para os alu-
nos e outro para os bolsistas pibidianos. Esses níveis de inclusão, em especial de um aluno
da turma com DI, serão trazidos e discutidos neste relato de experiência de uma profes-
sora atuante em sala de 4º ano da rede municipal da cidade de Engenheiro Coelho/SP e
supervisora do Pibid/Capes na escola municipal de ensino infantil e fundamental.
Dois níveis de inclusão
Quando pensamos nos sujeitos da inclusão educacional, logo nos reportamos aos
alunos incluídos numa determinada turma, na qual os professores têm a tarefa de for-
mular estratégias de acolhimento a estes alunos, a partir dos laudos fornecidos pela
85
Da exclusão à inclusão: um relato de experiência dentro do Pibid
coordenação escolar e das avaliações diagnósticas tanto da equipe psicopedagógica
quanto dos professores. No entanto, a vertente da inclusão pode ser ampliada para os
bolsistas do Pibid, que muitas vezes também dependem de inclusão e aceitação por par-
te da turma e da professora supervisora, de forma a apresentar avanços positivos e har-
monia necessária ao novo conjunto de educadores, com o intuito de, de fato, mobilizar
o crescimento educacional de todos os participantes.
Chamamos atenção para esse segundo nível de inclusão, porque temos acompa-
nhado há pelo menos quatro anos a entrada e saída de bolsistas do Pibid em nossas es-
colas da rede pública e municipal, e o que se vê é que muitas instituições parceiras ainda
não assimilaram o potencial do Pibid para o crescimento e a troca de experiências entre
os pares e, geralmente, tratam os participantes do Pibid com desdém e discriminação,
achando que eles são espiões, críticos, inimigos da escola. Por isso, haveremos de colher
muito mais frutos da parceria entre universidade e escola pública a partir do momento
em que as escolas parceiras entenderem que os bolsistas (futuros docentes) estão na
escola parceira para somar e não subtrair.
Quanto aos alunos com NEE, suas necessidades relacionam-se a níveis de dificul-
dades de aprendizagem diferentes, em graus variados, não sendo tais alunos necessa-
riamente portadores de alguma deficiência visível, mas que demandam algum tipo de
resposta específica relacionada a determinada dificuldade de aceder por completo ao
processo de ensino/aprendizagem (MENEZES; SANTOS, 2001).
Não é de hoje que os debates sobre a inclusão se avolumam a ponto de o tema fazer
parte imprescindível do sistema educacional, ainda que de formas diversas, sem preo-
cupação com a nomeação em si (KUENZER, 1999). No entanto, o que se percebe é que
a realidade do ensino público, no quesito inclusão, impõe exigências cada vez mais in-
cisivas para que a formação docente tenha no currículo teorias e práticas que aparatem
os futuros professores a adentrarem os espaços de ensino com subsídios fundamentados
nas adversidades do cotidiano escolar e nas próprias exigências individuais dos alunos.
É por isso que atuar no contexto educacional contemporâneo demanda professores
que dominem os conteúdos com competências e habilidades que lhes permitam lidar com
a diversidade discente em todas as suas especificidades. O mais relevante é que alcancem
os alunos, preencham seus anseios e atendam às suas necessidades escolares e pessoais.
Será imprescindível que os docentes se munam de competências específicas para que, com
base nelas e nas leituras da realidade e no conhecimento dos saberes tácitos e experiên-
cias dos alunos, selecionem conteúdos e organizem situações em que as interações entre
alunos e conhecimento se estabeleçam, de modo a desenvolver as capacidades de leitura e
interpretação do texto e da realidade, comunicação, análise, síntese, crítica, criação, tra-
balho em equipe e assim por diante. Enfim, que promovam situações para que os alunos
transitem do senso comum para o comportamento científico, de modo a se sentirem parte
do processo educacional e importantes nas suas especificidades (KUENZER, 1999, p. 171).
Experiências Docentes
86
Levando em conta a realidade e as exigências da sala de aula com alunos identifica-
dos com necessidades especiais, apresentamos as alternativas encontradas por uma pro-
fessora da rede pública para alcançar e incluir alunos com dificuldades de aprendizagem
na educação básica. A partir das relevantes experiências metodológicas adquiridas pelos
longos anos em sala de aulas, foram desenvolvidas estratégias de ensino direcionadas para
alcançar alunos especiais. Desse modo, a professora conseguiu promover, como sugere
Kuenzer (1999), situações de aprendizagem para desenvolver as capacidades desses alunos.
Sem descuidar do respeito às especificidades de cada aluno e da valorização de suas poten-
cialidades, os indicativos da educação inclusiva foram sendo aplicados.
Os aspectos práticos e mediatos decorrentes de uma inclusão escolar adequada pode
evitar traumas e desencadear problemas psicológicos, além de auxiliar na dinâmica fami-
liar e impedir que esses indivíduos sejam rejeitados pela sociedade. Isso se comprovou, em
especial, na turma de 4º ano, com dezoito alunos, dos quais alguns apresentavam dificul-
dades especiais: uma estava tratando um quadro depressivo; outra apresentava sintomas
de síndrome do pânico; seis meninos falantes e agitados também apresentavam baixo ren-
dimento escolar e dificuldades de convivência. Dois deles tinham problemas de alcoolis-
mo na falia; um apresentava sintomas de transtorno opositor e TDHA; e os outros dois
tinham déficit de atenção; além disso, um dos garotos ainda estava na fase silábica com
valor de leitura-escrita laudado pela Apae local como tendo “deficiência intelectual leve”.
Ao lidar com alunos com diferenças tão marcantes e especiais, tão importante
quanto ajudá-los na superação de suas dificuldades no momento, é focar no desenvol-
vimento de atividades e práticas no ambiente escolar que motive esses alunos, criando
situações de incentivo e encorajamento para valorizar o bom desempenho dos poucos
que conseguiram seguir de modo mais independente.
No caso, foi importante partir do reconhecimento desses alunos diante da comu-
nidade escolar, dos colegas da classe (incluindo-se os bolsistas do Pibid). Foram inicia-
tivas que ajudaram a destacar e valorizar o bom desempenho junto aos colegas. Estabe-
lecemos metas que, quando cumpridas, eram valorizadas em público e materializadas
com a entrega de pequenas condecorações e outros meios de reconhecimento que servi-
ram de motivação, valorização da participação desses alunos como ajudantes do dia ou
fazendo as atividades propostas e tarefas escolares. Outra estratégia foi organizar um
“mercadinho” com coisas das quais as crianças costumam gostar muito; dessa forma,
a partir do cumprimento de tarefas especiais, os alunos recebiam a moeda construída
pela professora para que pudessem ir ao mercadinho e comprar coisas de interesse.
Esses incentivos podem ser trabalhados bimestralmente com os alunos que foram
destaques” (no sentido que avançaram e melhoraram seu desempenho), porém sem des-
cuidar daqueles alunos que apresentam ótimo desempenho sem demandar esforços e
preocupações dos professores. Por isso foi muito importante estabelecer critérios e fazer
um planejamento para que todos tivessem a oportunidade de participar dos diferentes
87
Da exclusão à inclusão: um relato de experiência dentro do Pibid
tipos de reconhecimento durante o ano letivo. Entendemos que os alunos com maior
proficiência também precisam de intervenções específicas para que se sintam instigados
a continuar se desenvolvendo. É competência dos professores superar mais esse desafio
de diferentes maneiras.
Percebemos que as formas de reconhecimento aumentaram a autoestima dos
alunos, em especial, daqueles especiais que tendiam a apresentar mais dificuldades de
aprendizagem e disciplina. As avaliações diagnósticas são grandes aliadas nesse pro-
cesso, pois é através delas que os professores podem identificar os pontos fortes e fracos
dos estudantes para, a partir dos resultados e dados obtidos, elaborar o planejamento
e organizar a sala para que os alunos trabalhem com a formação de duplas produtivas.
Destacamos, de modo especial, aquele aluno repetente e com deficiência intelec-
tual diagnosticada pela Apae; as metodologias individualizadas, criatividade, dose de
carinho e compreensão planejadas pela professora da turma promoveram a inclusão
desse aluno, indicando a sua plena inserção no contexto escolar e a gradativa melhora
no seu desempenho. Nesse caso especial, destacamos as estratégias de convivência e de
inserção do aluno em atividades em grupo, que estimularam o coleguismo, as ativida-
des de produção textuais significativas e contextualizadas com o ambiente familiar e
a aproximação com os bolsistas do Pibid. Tudo isso foi decisivo para a inclusão não só
desse aluno, mas de todos os outros.
A maioria das atividades foi realizada em duplas ou em grupos, favorecendo a
troca de informações entre as crianças. Percebemos que a interação entre os alunos tam-
bém provocou intervenções no desenvolvimento das crianças, e que, entre um nível e
outro, havia espaço para a aquisição dos conceitos que eram alcançados ou não, depen-
dendo do esforço dos alunos e da cooperação e interação do grupo. Não se pode esque-
cer, no entanto, que há alunos que passam de um nível para o outro mais rapidamente;
outros, porém, são mais lentos, o que não os impede de avançar, contanto que os pro-
fessores estejam atentos e aptos para organizar estratégias metodológicas e caminhos
alternativos com esse objetivo.
Isso está em consonância com a forma como, de repente, o aluno que apresentava
limitações diagnosticadas, começou a interessar-se pela escrita, às vezes lendo alguns
livros bem básicos de ciências. No início, ele não realizava as atividades propostas, se
isolava do convívio social e permanecia desenhando animais e monstros; de repente,
principiou na elaboração de pequenos textos com palavras emendadas, a ponto de no
início de agosto, a partir da proposta em sala de aula de produzir um texto para o dia
dos pais, descrever de forma emocionante sua relação com o pai ausente. O que o levou
a começar a se expressar através da escrita?
Aqui enfatizamos o quanto os “rótulos” podem isolar, silenciar uma criança para
sempre. Nas séries anteriores, esse aluno era rotulado de “o tervel”, prejulgado com
frases prontas e preconceituosas de colegas e educadores: “aquele que não aprende”,
Experiências Docentes
88
“aquele em quem não compensa investir”, entre outros qualificativos desumanos. O pri-
meiro passo foi tentar neutralizar esses rótulos de sua mente e do próprio ambiente
escolar, e a professora conseguiu fazer isso com atitudes e mecanismos que, aos poucos,
apagaram o passado; o aluno, como resultado, despertou e avançou. A leitura em públi-
co também foi estimulada, não somente desse aluno, mas de toda a turma, e ele obteve
êxito mostrando-se prestativo e atento, ainda que, por algumas lacunas e limitações de
anos anteriores, o aluno não tenha atingido os objetivos no conteúdo programático da
série relacionado ao raciocínio logico-matemático.
No tocante à questão familiar desses alunos identificados como exigindo alguma
atenção especial, as famílias de alguns deles não assumiram suas responsabilidades; pelo
contrário, exigiam uma escola que provesse toda a socialização e educação para os filhos, ao
que a escola, por meio de seus docentes e da equipe de coordenação e direção, insistia que
os pais promovessem primeiramente em casa a educação e a socialização básica, para que a
escola pudesse cumprir seu papel de complementar aquilo que já foi iniciado em casa.
Infelizmente, apesar de todos os esforços, temos consciência de que as escolas pú-
blicas brasileiras, no geral, não têm estrutura nem equipe interdisciplinar preparada
para arcar com a educação, saúde e sociabilidade dos seus alunos, a partir do zero. Eles
precisam vir com uma base estrutural de casa, pois o aprendizado da criança em todas
as fases de seu desenvolvimento, tanto da linguagem do pensamento como dos aspectos
cognitivos e afetivos em muito depende da falia; sabemos, infelizmente, que a deses-
trutura familiar é um dos maiores empecilhos para que isso ocorra.
Inclusão dos bolsistas
pibidianos do curso de pedagogia
Um dos objetivos do Pibid é inserir os licenciandos de todas as áreas no cotidiano
de escolas da rede pública, mas de modo específico, destacamos aqueles em formação
inicial no curso de pedagogia, para lhes proporcionar, conforme os documentos oficiais,
oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas
e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de
problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem.
A inclusão torna-se realidade quando os alunos participantes do Pibid e os profes-
sores da escola parceira fazem um trabalho conjunto e os professores supervisores aju-
dam a aproximar os bolsistas dos alunos, inserindo-os com profissionalismo, sem consi-
derá-los apenas estagrios, espiões ou críticos, mas respeitando-os como cooperadores
e partícipes do processo de organização e desenvolvimento das atividades; se isso se
processa naturalmente, haverá ganhos tanto para a formação educacional das crianças
atendidas e para a qualidade de ensino da escola campo, como também transformará o
89
Da exclusão à inclusão: um relato de experiência dentro do Pibid
licenciando em um profissional que conseguirá casar teoria e prática de forma autêntica
e fundamentada.
Algumas ações da supervisora estimularam a inclusão dos pibidianos no processo
educacional da turma, ao colocá-los a par das dificuldades identificadas por ela com o
desempenho dos alunos com NEE. A supervisora aproximou os futuros professores dos
alunos especiais, orientando o grupo do Pibid a como auxiliar tais alunos nas atividades
propostas e nas estratégias para o incentivo da participação das crianças em trabalhos
didático-pedagógicos. Foram colocados à disposição dos bolsistas materiais de pesquisa
e leitura em grupos e individualmente, vários jogos como quebra-cabeças numéricos,
dominó de cálculos mentais, jogos de raciocínio etc., para que os bolsistas conseguissem
ajudar durante as aulas de português ou matemática, sem fugir dos conteúdos progra-
máticos do 4º ano.
A partir dos materiais lidos e discutidos pelo grupo, os pibidianos e a coordenado-
ra de área, incluindo a supervisora, planejaram a confecção de um livro individual pro-
duzido por cada aluno das salas envolvidas, englobando os vários gêneros trabalhados.
O resultado no final do ano letivo comprovou que as crianças precisam de apoio para
percorrer o caminho da aprendizagem, e que, quando lhes é oferecida toda a assistência,
incluindo pistas e instruções, é possível ver frutos inesperados, como o primeiro livro
dos alunos, cujo lançamento foi memorável, aberto ao público e com direito a autógra-
fos dos autores-alunos. Mais uma vez, a experiência apontou para o potencial de um
trabalho em conjunto, para a capacidade dos alunos envolvidos, quando são inseridos
adequadamente no ambiente de ensino. A conquista foi um sucesso e de grande orgulho
para pais e professores.
Em dado momento do ano letivo, foi solicitado pela coordenação do Pibid que
os projetos que estavam sendo desenvolvidos tivessem como tema geral bullying, com
alguns valores a serem trabalhados concomitantemente às matérias trabalhadas nas re-
gências semanais de uma hora. Quatro valores, iniciados com “empatia”, seguidos dos
temas “respeito, generosidade e confiança” deveriam ser vivenciados pelas bolsistas e
repassados aos alunos através de histórias, teatro, jogos, rodas de conversas e outras
dimicas que se adaptassem ao conteúdo.
Outra iniciativa trabalhada pela equipe foi fazer um levantamento socioafetivo da
turma na qual iriam atuar; na pesquisa foram identificados os alunos da turma da profes-
sora supervisora rotulados como “os menos requisitados”, e que poderiam estar sofrendo
a intolerância de colegas e outros professores. Entre eles achava-se um aluno com DI, e que
foi alvo da inclusão da professora de turma. Muitas foram as ações inclusivas dos bolsistas
e da supervisora para atender os excluídos, mas nem todas obtiveram o resultado espera-
do; por exemplo, uma das bolsistas experimentou colocar o aluno com DI junto com um
grupo de quatro meninas para fazerem uma atividade, mas as alunas ficaram com medo
do colega e isso foi imediatamente percebido por ele. Como consequência, o menino ficou
Experiências Docentes
90
isolado e muito irado, jogando seus materiais e sua mesa no chão, além de gritar palavras
impróprias para a bolsista do Pibid. Foram situações que tiveram que ser resolvidas no
momento de sala de aula e que serviram de experiência para os bolsistas frente às novas
atribuições, mediadas sempre com coerência pela supervisora.
O sucesso desta iniciativa é atribuído primeiramente aos próprios alunos por se-
rem protagonistas das atividades, aos alunos bolsistas do Pibid, que sempre os auxilia-
ram e os estimularam, e às orientações da coordenadora do Programa. Trabalhamos de
forma positiva com os alunos que relataram sofrer bullying na sala de aula e no pátio (já
diagnosticados) e intermediamos os relacionamentos, buscando destacar a capacidade
empática que todo ser humano tem, os valores morais e éticos.
Ainda que os professores não realizem momentos de reflexão teórico-pedagógica
com frequência, pelas tantas atividades e sobrecarga, suas ações estão voltadas a um de-
terminado posicionamento teórico, ou a um aglomerado de posições que demonstram
na prática essas teorias. Por isso, quando a supervisora se deparou com situações de
deficiências na inclusão tanto entre seus alunos como em relação aos bolsistas do Pibid,
as suas ações pedagógicas foram pautadas em algum posicionamento teórico; no caso
específico, os estudos de Vygotsky e seus colaboradores, que resultaram na teoria sócio-
-histórica ou abordagem sócio-interacionista (REGO, 2014), serviram para justificar as
posturas das professoras.
Considerões finais
Quanto aos sujeitos desta inclusão, foi possível observar que os bolsistas apresen-
taram maior segurança e aprimoraram suas práticas pedagógicas com base nas teorias
aprendidas na sala de aula e que foram trazidas para o contexto de iniciação à docência
pela sua participação no Pibid. O casamento entre universidade e escola pública, ofi-
cializado pelo Pibid, tem produzido profissionais aptos ao ingresso na carreira do ma-
gistério com muito mais bagagem prática do que outros alunos de pedagogia que não
participaram dessa parceria.
Defendemos que a educação inclusiva vai além da referenciação das necessidades
educativas especiais dos alunos e da implementação de programas específicos como o
Pibid, ainda que esse apresente contribuição expressiva para o espaço de inclusão. As
atitudes junto à criança atendida, ao docente e a toda equipe atuante, incluindo os bol-
sistas do Pibid, ainda têm papel crucial na eficácia da inclusão escolar.
Pela passagem de dezoito meses de experiência no Pibid, a prática pedagógica
foi enriquecida em diversas situações; destacamos o aspecto da inclusão de crianças à
margem da “normalidade” escolar, visto que esse foi o foco do texto. Nesse sentido, foi
possível alcançar os objetivos de qualidade de ensino apregoados pelo Pibid também no
91
Da exclusão à inclusão: um relato de experiência dentro do Pibid
tocante ao processo de inclusão de alunos com NEE, graças à parceria dos bolsistas do
Pibid, pois a troca de experiências oportunizada pela ótima relação entre pibidianos e
supervisora da escola parceira resultou em novos saberes e práticas que nos acompanha-
rão pela vida acadêmica afora.
Referências
FARIAS, C. D.; PIRES, E. P. B. Relato de experiência do subprojeto Pibid pedagogia no
Centro Educacional Ismael Cruz Lima. In: Fórum Internacional de Pedagogia, 6., 2014,
Santa Maria. Anais[...]. Santa Maria: Editora Realize, 2014 Disponível em: https://bit.
ly/3pJOACi. Acesso em: 03 out 2022.
KUENZER, A. Z. As políticas de formação: a constituição da identidade do professor
sobrante. Educação e Sociedade, Campinas, v. 20, n. 68, p. 163-183, 1999. Disponível em:
https://bit.ly/3E8o4vr. Acesso em: 03 out. 2022.
LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deciência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
MEDANHA, S. Com avanços na educação, Lei Brasileira de Inclusão completa um ano.
Senado Notícias, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3dyln7F. Acesso em: 03 out. 2022.
MENEZES, E. T.; SANTOS, T. H. Necessidades educacionais especiais. In: Dicionário
Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível
em: https://bit.ly/3ILAQQv. Acesso em: 03 out. 2022.
REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 25. ed. Petrópolis:
Vozes, 2014.
Há décadas os estudos acadêmicos e científicos indicam que o desenvolvimento
psicomotor beneficia a aprendizagem simbólica nas fases iniciais da educação até o ensi-
no fundamental. No período de oito aos doze anos de idade as aquisições de habilidades
psicomotoras se estabilizam (LE BOUCH, 1982; COSTALLAT,1976; DE MEUR, STAES,
1989), ou seja, a fase em que a criança aprende a ler, escrever e a fazer cálculos matemáti-
cos. A ausência de oportunidade para um ambiente favorável ao desenvolvimento infantil
e acesso restrito a esmulos produtivos podem comprometer a aprendizagem em distin-
tas áreas do comportamento social, cognitivo, motor e linguístico. O déficit ou distúrbio
psicomotor poderá, consequentemente, acarretar dificuldade de aprendizagem simbólica.
A criança com dificuldade de aprendizagem apresenta baixo desempenho instrucional,
sofre um processo de exclusão e o encaminhamento para o chamado “reforço escolar”. Infe-
lizmente, ainda hoje, os alunos com dificuldade de aprendizagem são segregados dos demais
colegas da classe para estudos monitorados ou atividade “extraclasse”. Os estudos de Borges
(2010) mostraram que a educação psicomotora nas séries iniciais promove a prevenção de
possíveis dificuldades escolares tais como: diminuição de concentração em atividades acadê-
micas, desordem no reconhecimento de palavras, discriminação de letras e sílabas etc.
As crianças com dificuldade de aprendizagem necessitam de auxilio para o acom-
panhamento adequado e efetivo neste sistema educacional. Muitas vezes, os métodos de
ensino não são funcionais e estão distantes das tecnologias digitais presentes no cotidiano
dos educandos, inclusive de alunos com “baixa renda”. A escola carece de orientações aos
professores sobre como utilizar recursos pedagógicos para dinamizar e motivar as crian-
ças com dificuldade no processo de ensino e aprendizagem. Cada criança apresenta-se,
Recursos pedagógicos
com base em atividade
psicomotora como
estragias para autonomia
no ensino fundamental
CAPÍTULO 6
Regina Keiko Kato Miura
Rogério dos Santos Ferreira
Ariane Seiko Kubo Yassuda
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p93-102
Experiências Docentes
94
naturalmente, com características de aprendizagem e ritmos de motivação de forma dis-
tinta. Observam-se, na rotina escolar, inadequações de habilidades sociais em interação
com pares, falta de percepção de regras instrucionais de contingência acadêmica, ausência
de tolerância em atividades pedagógicas, déficit de atenção e concentração e, principal-
mente, déficit de participação ativa e afetiva em processo de leitura e escrita.
Salles et al. (2010) afirmam que o sucesso ou fracasso no processo de ensino-
-aprendizagem, como por exemplo, na leitura/escrita, sofre a influência de fatores bioló-
gicos, neuropsicológicos, psicossociais (dos contextos familiar e escolar) e pedagógicos.
A realização da prática de ensino com mediação dos bolsistas do Pibid na elabora-
ção e uso de recursos pedagógicos teve por base a adaptação do exame de G. B. Soubiran
e P. Mazo (1980), a partir dos estudos com Ajuriaguerra (1978) e Zazzo (1969) sobre os
problemas de paratonias, sincenesias, lateralização, espaço, tempo e ritmo. Essa visão
metodológica tem base na relação que se desenvolve pela imaginação e expressão, pois
explora movimentos e percepções de conceitos básicos por meio do corpo (longe/perto,
entre outros). Consequentemente, por abordar a percepção dos movimentos, o trabalho
usou a metodologia da psicomotricidade fundamental de base, envolvendo a aplicação
de diferentes exercícios numa progressão determinada (MIURA; YASSUDA, 2015a)
A elaboração e o planejamento de recursos pedagógicos são ferramentas que podem
ajudar o professor a ensinar com eficiência e favorecer uma prática mais dinâmica em sala
de aula. Existem vários recursos de natureza pedagógica, e o que os tornam eficazes são
os cuidados na adequação aos objetivos com que são utilizados. A finalidade educativa é a
maneira como, de fato, esses recursos constituem-se de modo intencional e “meios” para o
favorecimento do processo de ensino-aprendizagem (EITERER; MEDEIROS, 2010).
A escola precisa favorecer a aprendizagem de todos, inclusive, das crianças com
dificuldade de aprendizagem, por meio das adequações para o acesso aos conteúdos
curriculares e recursos pedagógicos distintos (MIURA; YASSUDA, 2015a).
O presente estudo objetivou selecionar recursos pedagógicos, com base em ati-
vidades psicomotoras, para auxiliar os alunos com dificuldade de aprendizagem em
conteúdos curriculares em sala de aula do ensino fundamental.
Desenvolvimento
A sistematização do trabalho no início da docência, por meio do Pibid em uma Es-
cola Municipal de Ensino Fundamental (Emef), ocorreu através do estudo de natureza
aplicada. A característica fundamental desta pesquisa segundo Gil (2019) é o interesse
da aplicação, a utilização e as consequências práticas dos conhecimentos adquiridos.
Preocupa-se menos com o desenvolvimento de teorias e mais com a aplicação imediata
numa “realidade circunstancial” (GIL, 2019, p. 27).
95
Quanto aos procedimentos, valemo-nos da pesquisa de campo, utilizada com o obje-
tivo de conseguir “informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se
procura uma resposta, ou de uma hipótese que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir no-
vos fenômenos ou relações entre eles” (LAKATOS; MARCONI, 2011, p. 186). Este estudo fez
parte de um projeto de pesquisa mais amplo intitulado “Avaliação psicomotora de crianças
no ensino fundamental e o desenvolvimento acadêmico”, sob parecer nº 0970/2014, aceito
pela Faculdade de Filosofia e Ciências – Unesp/Marília-SP, em 26 de março de 2014
Participantes: três alunos com faixa etária entre 8 a 10 anos de idade cronológica e que
frequentam a Emef ensino fundamental, conforme descrito nos quadros 1 e 2. Ressalta-se que
a amostra dos três alunos selecionados se compõe daqueles que apresentam desajustes psico-
motores e dificuldades de aprendizagem, principalmente relacionados à leitura e escrita. Esses
alunos foram indicados pela coordenadora pedagógica e correspondem a uma parte do total
de alunos em atendimento no projeto do Pibid/Capes, conforme se vê nos quadros 1 e 2.
Quadro 1 – Caracterização dos alunos participantes
Participantes A1 A2 A3
Sexo Masculino Masculino Feminino
Idade 8 9 10
Escolaridade 2ª série 2ª série 2ª série
Hipótese diagnóstica Síndrome de Asperger, apatia
Diculdade de aprendizagem,
décit de atenção.
Diculdade de aprendizagem
Fonte: Elaborado pelos autores do projeto (2019).
Quadro 2 – Caracterização dos participantes do Pibid/Capes
Participantes Aluna 1 Aluno 2
Sexo Feminino Masculino
Idade 28 30
Ano de conclusão 2020 2021
Fonte: Elaborado pelos autores do projeto (2019).
O estudo contou com a participação dos alunos e professores de classe regular do
ensino fundamental de uma escola pública. Os materiais para a coleta de dados foram
Experiências Docentes
96
os seguintes: máquina fotográfica, jogos pedagógicos adaptados, diário de campo, por-
tfólio, computador, impressora, livros, sulfite, tesoura, estilete e lápis.
Procedimento: no período de intervenção, os alunos participaram das ativida-
des realizadas pelo menos uma vez na semana, com máximo de duas vezes. As peda-
gogas responsáveis pelas crianças participantes liberaram os alunos durante o horário
de aula para a realizão das atividades propostas por estagiários de pedagogia. Os
espaços para a realização das atividades usados foram o pátio, a biblioteca e a quadra
poliesportiva da Emef. Dependendo do caráter da atividade, um ambiente específico
deveria ser selecionado para sua execução. Em alguns momentos, os alunos perma-
neceram em sala de aula durante as atividades psicomotoras e realizaram suas tarefas
escolares normalmente.
A coleta de dados para fundamentação teórica utilizou como base estudos de Sou-
biran e Mazo (1980), bem como de Aredes e Medeiros (2009) e Oliveira (1992), cujas ati-
vidades psicomotoras incluíram observação em dez tópicos: coordenação motora fina,
coordenação motora global, coordenação óculo-manual, equibrio, esquema corporal,
lateralidade, orientação espacial, orientação temporal, ritmo e noção numérico-alfabética.
Os recursos pedagógicos mais frequentemente utilizados foram adaptados para
auxiliar as crianças na leitura e escrita. O procedimento para coleta de dados por meio
de atividades psicomotoras foi solicitar a cada participante para: a) dizer sobre o tema
de interesse; b) selecionar e elaborar as imagens ou tarefas de interesse do aluno, as
quais foram previamente impressas pelo mediador, conforme o conceito psicomotor; c)
realizar, com ajuda do mediador, a escrita e reescrita ou a prática da estratégia prevista;
d) observar o exercício e a atividade psicomotora.
Neste sentido, no primeiro momento, realizou-se no computador a investigação
de objetos, temas e outros centros de interesse de cada participante. Em seguida, selecio-
naram-se as imagens com os temas escolhidos para cada aluno e elas foram impressas
em folhas com as imagens. Ressalta-se que a seleção das imagens e as atividades psico-
motoras foram divididas nos dias de prática dos participantes do Pibid na escola, com
duração de 45 a 60 minutos. Geralmente houve a realização de duas a três atividades, no
ximo, durante cada atendimento, como descrito nos quadros 3 e 4 abaixo:
Quadro 3 – Elaboração do recurso pedagógico
Recurso Pedagógico Atividade psicomotora Data / Duração
Leitura de livro e reescrita da
história; autorretrato, reconhecendo
as partes essenciais do corpo.
Coordenação motora;
imagem corporal;
esquema corporal;
noção numérico-alfabética.
12/09 – 19/09
45 minutos
97
Recurso Pedagógico Atividade psicomotora Data / Duração
Jogo de montagem de torre com
copos plástico; jogo de pontaria.
Lateralidade;
organização espacial;
noção numérico-alfabética.
26/09
60 minutos
Identicação de ações dos persona-
gens da história;
música e reescrita da letra.
Coordenação motora;
coordenação global;
equilíbrio;
noção numérico-alfabética.
03/10 – 07/10
60 minutos
Jogo com manuseio de pizza;
música e distinção de tonalidade
e sons.
Coordenação motora na;
ritmo; noção numérico-alfabética.
10/10 – 27/10
60 minutos
Calendário funcional;
elaboração de cartaz com a história
infantil (portfólio);
jogo Aprendendo as horas.
Organização latero-espacial;
organização temporal;
noção numérico-alfabética.
12/11 – 22/11
60 minutos
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).
Quadro 4 – Relação de título dos livros infantis
Número do livro Título Autor
1 A foca famosa Sônia Junqueira
2 O galo maluco Sônia Junqueira
3 O macaco e a mola Sônia Junqueira
4 O pato e o sapo Sônia Junqueira
5 O peru de peruca Sônia Junqueira
6 Regina e o mágico Sônia Junqueira
7 O caracol viajante Sônia Junqueira
Fonte: Elaborado pelos autores do projeto (2019).
Resultados e discussão
Após o período de atuação dos participantes do Pibid de setembro a novembro de
2018, em que foram elaborados e utilizados os recursos pedagógicos, principalmente,
Experiências Docentes
98
em atividades psicomotoras de coordenação motora fina, coordenação motora global,
coordenação óculo-manual, equilíbrio, esquema corporal, lateralidade, orientação es-
pacial, orientação temporal, ritmo e noção numérico-alfabética, observou-se, em geral,
por meio da participação mais efetiva e das imagens coletadas, a efetividade dos recur-
sos pedagógicos no que concerne a conceitos de coordenação motora fina, equibrio,
orientação espacial, esquema corporal e ritmo. Com a prática de ensino com base em
atividades psicomotoras, observou-se também uma maior socialização entre os partici-
pantes, assim como a troca de experiências e um ligeiro ganho de autoestima e confian-
ça. A cada interação com os pibidianos evidenciaram-se um dinamismo crescente, mais
espontaneidade, criatividade e momentos de lazer. Ao final do período de iniciação à
docência pelo Pibid, constatou-se que as crianças pareceram apresentar comportamen-
tos mais seguros e maior autoestima, mostraram-se mais sorridentes, comunicativas e
motivadas em realizar as atividades do componente curricular da sala de aula.
Os resultados do uso de recursos pedagógicos mostraram que as crianças com
dificuldade de aprendizagem apresentaram uma melhora significativa, pois essas es-
tratégias auxiliaram na aprendizagem de uma maneira motivadora. Os dados coleta-
dos neste estudo, após a alise de atividade psicomotora dos alunos, demonstram a
criança em situações desafiadoras, em atendimentos coletivos e individuais. Os recur-
sos pedagógicos foram utilizados em um programa de ensino acadêmico coletivo e
individual (MIURA; YASSUDA, 2015a).
Um exemplo da utilização de um recurso pedagógico foi a confecção de um por-
tfólio de acordo com o interesse de cada criança; nas bordas colocaram fotos de cantores,
times de futebol e objetos de seu interesse. A individualidade e as características de cada
aluno foram respeitadas para a elaboração do recurso pedagógico, com as estratégias
anteriormente especificadas. No decorrer da atividade de leitura de livros com história
infantil, os alunos envolvidos no estudo demonstraram mais motivação para a próxima
atividade de leitura e escrita.
Após a realização dessa atividade de uma maneira distinta,
pode-se observar que, com a utilização dessas técnicas, o aluno conseguiu formar as
frases por meio de imagens contidas na história dos livros selecionados.
Durante todos os dias das práticas de iniciação à docência dos graduandos de
pedagogia na Emef, foram realizados o planejamento e a elaboração das adaptações
de recursos pedagógicos para o ensino do componente curricular previsto pela pro-
fessora da sala de aula.
Os alunos participaram de atividades psicomotoras propostas para auxiliar na
melhoria do seu desempenho em leitura, escrita e matemática. As atividades se propu-
seram a desenvolver nas crianças: lateralidade; noção numérico-alfabética; orientação
temporal; memória; coordenação óculo-manual; esquema corporal global; coordenação
motora global; coordenação motora fina; orientação espacial.
99
Ao final do projeto de iniciação à docência, os mediadores questionaram os alunos
sobre a atividade realizada com o uso do recurso de portfólio. Os relatos dos alunos
após a atividade mostraram, por exemplo: “a atividade foi legal, porque tinha a figura da
Barbie” (A3); “gostei de colocar os cantores e as figuras da história do sapo, do pato e da
foca famosa, de verdade” (A1). Assim, também A2 relatou que foi bom, porque colocou
as figuras de seu time de futebol.
A mediadora/bolsista do Pibid realizou perguntas informais com a equipe ges-
tora, composta por coordenadora pedagógica e professoras, sobre o comportamento
das crianças após a intervenção com a utilização dos recursos pedagógicos por meio
de atividades psicomotoras. A professora da aluna A3 relatou que a mediação pelos
participantes do Pibid promoveu melhoras significativas no desempenho acadêmico,
como mais interesse e motivação pelas atividades propostas e apresentação de mais ha-
bilidades sociais adequadas. A coordenadora pedagógica relatou a importância desses
recursos pedagógicos para a motivação das crianças que apresentam dificuldades na
leitura e escrita e constatou uma melhora significativa das crianças que participaram
diretamente das atividades do Pibid em questão.
De uma maneira geral, os resultados desta parceria escola e universidade apon-
taram a imporncia dos recursos pedagógicos para uma aprendizagem mais eficiente.
Com base nisso, é importante que o professor avalie, verifique e elabore os recursos
adequados para um eficaz resultado tanto no desenvolvimento dos alunos como na sua
vida acadêmica e social.
Observam-se vários estudos sobre essa temática de recursos pedagógicos para
o desenvolvimento de ensino e aprendizagem na área da educação e nas áreas afins
(MANZINI; SANTOS, 2002; NERY; BATISTA, 2004; ALVES; BIANCHIN, 2010; COS-
TA et al., 2015). Os estudos demonstram a importância de recursos pedagógicos princi-
palmente no auxílio de crianças com dificuldades de aprendizagem.
Considerões finais
O número crescente de crianças com dificuldades de aprendizagem que chegam
ao ensino fundamental torna-se preocupante a cada dia. Este estudo buscou analisar a
elaboração e o uso de recursos pedagógicos por meio de atividades psicomotoras or-
ganizadas pelos participantes do Pibid de Pedagogia, em uma Emef, com crianças que
apresentavam dificuldades de aprendizagem, por hipótese diagnóstica de desorganiza-
ção simbólica provavelmente decorrente de imaturidade ou disfunções psicomotoras.
Esta oportunidade de aprendizagem, tanto para graduandos em processo de for-
mação docente como para alunos com dificuldade de aprendizagem, evidenciou eficácia
significativa para a melhoria das habilidades psicomotoras. A mediação nesta condição
Experiências Docentes
100
de ensino se mostrou como um meio facilitador para o desenvolvimento de atividades
psicomotoras inerentes à organização das habilidades simbólicas que envolvem a apren-
dizagem escolar e aquisições de aptidões à escrita, leitura e lógica.
Observaram-se muitas crianças com dificuldade de leitura e escrita, o que com-
promete sua aprendizagem. A ideia de utilizar o portfólio foi uma maneira de chamar a
atenção dos alunos e estimular a leitura e a escrita para que a atividade acadêmica fosse
mais prazerosa e dinâmica.
Considera-se que o trabalho na escola de ensino fundamental selecionada foi
relevante para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos participantes do pre-
sente estudo, pois nas atividades de leitura e escrita tornaram-se mais participativos
e motivados. Os recursos pedagógicos contribuíram para o desenvolvimento psicos-
social e a construção do conhecimento acadêmico das crianças. Nesse sentido, é im-
prescindível que os professores se programem, a partir de uma visão prévia das difi-
culdades de seus alunos, para adequar suas metodologias e, assim, alcançar resultados
satisfatórios. A equipe escolar, os professores e a sociedade devem unir esforços para
um trabalho colaborativo que, de fato, alcance os objetivos educacionais como um
todo, contribuindo não só para a melhoria na qualidade do ensino, mas também no
desempenho escolar funcional.
Estudos posteriores, com planejamento de sistematização dos resultados que pos-
sa prever a replicação do presente estudo, em contexto mais amplo, com delineamento
experimental ou controle estatístico poderão contribuir e proporcionar resultados mais
concisos e refinados.
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Experiências Docentes
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O curso de licenciatura em música do Unasp tem participado do Pibid desde
2012, atuando de forma cooperativa com o município de Engenheiro Coelho, cidade
na qual o Unasp está inserido. O subprojeto de música da gestão 2018/2019 contou
com a participação da coordenadora de área, professoras supervisoras, alunos bolsis-
tas e voluntários, os quais semanalmente se deslocavam para a Emef Elisa Franco de
Oliveira, escola municipal no interior de São Paulo. Como a música ainda não consta
nos currículos escolares como disciplina, o Pibid de música teve a importante função
de desenvolver projetos musicais a partir das experiências e interesses musicais de
aprendizagem desta escola.
O objetivo deste artigo é apresentar o processo de interação do curso de licencia-
tura em música do Unasp ao Pibid, descrever os procedimentos de elaboração e exe-
cução do projeto, destacar as vivências, desafios e impacto no desenvolvimento dos
graduandos no ensino superior e dos alunos na escola básica. Ao apresentar este relato,
o enfoque será nas experiências realizadas e como as propostas didáticas de ensino
musical foram desenvolvidas.
Nas últimas décadas, várias teorias foram criadas apresentando a imporncia da
educação musical para a escola e a sociedade. Observa-se a sua relevância para o ensino
de forma geral, o qual contribui para o desenvolvimento de habilidades, sensibilidade e
formação hostica dos estudantes. Hummes (2004, p. 22) afirma:
A música pode contribuir para a formação global do aluno, desenvolvendo a ca-
pacidade de se expressar através de uma linguagem não-verbal e os sentimentos
e emoções, a sensibilidade, o intelecto, o corpo e a personalidade [...] a música se
presta para favorecer uma série de áreas da criança. Essas áreas incluem a “sensi-
O Pibid na música:
interação e autonomia
CAPÍTULO 7
Ellen de Albuquerque Boger Stencel
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p103-114
Experiências Docentes
104
bilidade”, a “motricidade”, o “raciocínio”, além da transmissão e do resgate de uma
série de elementos da cultura.
Na visão de Santos (2016, p. 55), “a música está relacionada ao estudo dos sons,
suas propriedades, seus sentidos e significados, sua forma de organização e estrutu-
ração, sua relação com a sociedade e com a cultura”. Desde a antiga Grécia, a música
era a expressão de liberdade, representava importante aspecto na formação do indiví-
duo. Atualmente, o ensino da música “amplia a compreensão do mundo e potencializa
a inter-relação entre o que sentimos e o que pensamos” (SANTOS, 2016, p. 57). Desta
forma, é necessário que o educando adquira domínio de diferentes processos e técnicas
para uma compreensão dos múltiplos discursos musicais para o desenvolvimento da
autonomia, criatividade e expressividade do fazer musical.
A autonomia é entendida como a capacidade de dialogar com emancipação,
independência e interesse na busca do conhecimento, motivação intnseca e par-
ticipação de forma atuante no processo de ensino e aprendizagem. É apresentada
como um ideal na formação dos alunos e de suas relações. Na visão de Piaget (1998,
p. 117), “é preciso ensinar os alunos a pensarem, e é impossível aprender a pensar
num regime autoritário. Pensar é procurar por si próprio, é criticar livremente e é
demonstrar de forma autônoma.
O comportamento autônomo estará presente quando cada professor e aluno fo-
rem capazes de tomar decisões a partir das próprias escolhas. Para Levek (2016), dar
autonomia é dar oportunidade para o pensamento criativo acontecer. A “autonomia é
fundamental para uma aprendizagem mais eficaz” (LEVEK; SANTIAGO, 2019, p. 97).
É importante que os conhecimentos estejam contextualizados e que tenham
significado para a vida. A prática pedagógica deve estar pautada na autonomia do
educando, ter uma educação dialógica e conduzir ao pensamento crítico sobre sua
realidade. Para Freire (2011, p. 47) “ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua própria produção ou sua construção”. O profes-
sor deve ir para a sala de aula “sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade,
às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em
face da tarefa” de educar.
A participação no Pibid proporcionou uma prática educativa para a formação
da sensibilidade, envolvendo o ser humano em sua totalidade para a promoção de
uma educação que seja, de fato, transformadora. Além disso, o envolvimento com o
Programa ofereceu uma prática educativa continuada aos professores da educação
básica, estreitou os laços entre a universidade e as escolas públicas parceiras, con-
tribuindo para a capacitação e o desenvolvimento tanto dos alunos de licenciatura
quanto para reciclagem e atualização dos professores supervisores na linha de fren-
te na escola pública.
105
O Pibid na música: interação e autonomia
Desenvolvimento
Como uma das principais metas do Pibid de música é “desenvolver projetos mu-
sicais a partir das experiências e interesses musicais de aprendizagem dos alunos das
escolas básicas” (LIMA; STENCEL, 2019, p. 3), um deles foi o subprojeto “Musicando
o alfabeto”, o qual promoveu atividades abrangentes de prática e teoria envolvendo a
temática do letramento, sendo transformado em relato de experiência e apresentado no
Congresso Nacional de Educação (VI Conedu), com o título “Vivências, desafios e im-
pacto do Pibid no curso de licenciatura em música do Unasp”, por Lima e Stencel (2019).
De acordo com a entrevista realizada com os gestores da escola campo, as expectativas
em relação ao Pibid era que o grupo desenvolvesse com os alunos as questões relacio-
nadas a letramento e socializão, bem como promovesse eventos temáticos e ações
comunitárias de acordo com a necessidade do município.
Diante dessa proposta, decidiu-se promover atividades que envolviam prática
e teoria em torno do tema gerador de letramento. Considerando a idade dos alunos
(segundas e terceiras séries) e as dificuldades na leitura e escrita, optou-se em ensinar
música para ajudar a sensorialidade dos fonemas, a acuidade auditiva e a emissão de
sons, partindo da premissa de que um bom ouvido musical ajuda na grafia e a soletrar
bem; logo, crianças que ouvem bem identificam melhor os sons das letras e são capa-
zes de ler e escrever melhor.
De acordo com Jensen (2000, p. 55), o treino musical impacta o processo de leitura
no reconhecimento visual das palavras e na compreensão das relações entre a parte e
o todo, como por exemplo dos fonemas e grafismos. Ilari (2005) apresenta estudos que
apontam para os efeitos da música na alfabetização, demonstrando a relação estreita
entre a percepção musical com o desenvolvimento da leitura e a consciência fonológica.
Ela também faz referência aos estudos de Cutietta (1995, apud ILARI, 2005), destacando
uma intensa relação entre o aprendizado musical e o rendimento de leitura em alunos
com idade escolar. Ilari (2009) explica que desenvolver atividades musicais e jogos ba-
seados em rimas, palavras e ritmos contribui para a aquisição de melhor habilidade
fonológica, maior confiança e motivação nas tarefas de leitura.
Os estudos de Muszkat, Correia e Campos (2000) atestam que diferentes áreas do
cérebro são acionadas a partir de múltiplas experiências musicais vividas pelos alunos.
A partir de novas técnicas de neuroimagem é possível visualizar as mudanças funcio-
nais e topográficas da atividade cerebral em tarefas mentais complexas, entre elas as
atividades musicais. Quando cantamos uma melodia, repetimos uma sequência rítmica,
andamos e nos movemos de acordo com o andamento e a intensidade da música ou
aguardamos o momento de cantar/tocar, o nosso sistema nervoso é instigado a uma
complexidade de combinações fisiológicas e químicas que auxiliam no desenvolvimen-
to dos aspectos cognitivos, físicos e emocionais.
Experiências Docentes
106
Aulas de musicalização infantil também proporcionam alegria, afetividade e mo-
tivação, que de acordo com Piaget (1979), relacionam-se de forma direta ao desenvolvi-
mento cognitivo e à aquisição das habilidades mentais. Desta forma, é muito importante
ter um ambiente estimulador para construir uma rede neural eficaz, com milhares de
conexões cerebrais ativadas durante o período escolar da criança. Ilari (2003) afirma
que quando os alunos são expostos a um ambiente com poucas experiências e uma alta
carga de estresse, essas redes neurais podem ser lesadas.
De forma semelhante, Louro (2016, p. 27) apresenta a imporncia da educação
musical como um “processo pedagógico bem estruturado de alfabetização e sensibili-
zação”. Vários aspectos podem ser observados na prática musical, como por exemplo o
desenvolvimento da psicomotricidade quando se internalizam ritmos com movimentos
repetitivos. Por exemplo, quando os alunos caminham e batem palmas, falam parlendas
e batem no ritmo, ou marcham com a música, percebem as diferentes sensações físicas
do corpo e são capazes de se expressar. O ritmo é capaz de despertar respostas físicas
precisas e espontâneas em todas os alunos, livre de bloqueios psicomotores, pois está
diretamente ligado à parte fisiológica do indivíduo.
Atividades de apreciação, interpretação e criação serviram de alicerce para o sub-
projeto “Musicando o alfabeto” (LIMA; STENCEL, 2019), tendo como referências al-
guns educadores musicais como Murray Schafer (1991; 2001) e Swanwick (2003; 2014).
Partindo do fato de que a música é elemento essencial na formação de futuros cidadãos,
o projeto também objetivou investigar as relações existentes entre os conteúdos traba-
lhados nas aulas de musicalização, servindo-se do embasamento teórico de educadores
musicais como Emile Dalcroze (1865-1950), Zoltán Kodaly (1882-1967), Edgar Willems
(1890-1978) e Carl Orff (1895-1982), que buscaram uma experiência musical na qual as
crianças pudessem sentir e experimentar a música de forma lúdica e espontânea, por
meio do canto, do uso do corpo e da sensibilidade auditiva.
Em educação musical, estes educadores musicais são os principais representantes
dos métodos ativos, “pois passam a considerar a participação ativa do aluno no processo
e disseminam a imporncia do ensino coletivo de música dando ênfase à ação e à prática
musical” (ZAGONEL, 2013, p. 34). Esses métodos apoiam um ensino com um aluno ativo
e atuante, buscando o seu desenvolvimento global. As aulas são dimicas; o corpo, o ges-
to e o movimento são utilizados para a concretização das experiências musicais; o lúdico
e o jogo são utilizados como técnica de ensino-aprendizagem; o corpo e a voz são ampla-
mente utilizados; a música passa a fazer parte como meio de educação (ZAGONEL, 2013).
Na visão de Swanwick (2003), o propósito da música é criar uma experiência em si
mesma, que deve ser agradável e compreensível. Deve contribuir para que cada criança
possa vivenciar a música agora. No ensino escolar, a exploração sensorial, os elementos
imitativos da música devem ser baseados na expressão pessoal e na aquisição de habilida-
des. “O impacto sensorial de materiais sonoros, a caracterização expressiva e a organização
107
O Pibid na música: interação e autonomia
estrutural têm um grau de autonomia cultural que lhes permite ser dominados e retraba-
lhados em tradições muito distantes de suas origens” (SWANWICK, 2014, p. 141).
Musicalizar é tornar a música acessível a todos, usando a música elementar que
está inserida no movimento e na palavra. É desenvolver o gosto musical por meio do es-
mulo, tendo como propostas práticas: desenvolver o prazer de ouvir, reproduzir e criar
música, proporcionando aos alunos a oportunidade de compreender a realidade sonora
que os circunda; focar o trabalho nas rimas, parlendas, canções folclóricas e brinca-
deiras tradicionais infantis, resgatando o repertório cultural brasileiro. A apreciação
musical, senso rítmico, senso melódico, voz, execução instrumental e uso de tecnologias
são considerados pilares de imporncia comprovada na inovação do ensino da música
e deverão ser postos em prática pelos docentes para uma sistematização do âmbito pe-
dagógico (LIMA; STENCEL, 2012, p. 91).
Para Cascarelli (2012, p. 5), “musicalizar é dar acesso e condições para que a criança
compreenda o que se passa no plano da expressão e no plano do significado quando ouve ou
executa música” bem como “proporcionar ferramentas básicas para a compreensão e utiliza-
ção da música como forma de linguagem”. As experiências e vivências na educação musical
devem estar presentes na vida dos alunos por meio de manifestações folclóricas e culturais.
O subprojeto em destaque (LIMA; STENCEL, 2019) também teve em vista a plura-
lidade de significados e contribuiu para a criação de relacionamentos socioculturais entre
licenciandos, escola e comunidade de forma sistemática e amigável. Partindo da premissa
de que o ensino de música se torna mais expressivo quando contextualizado e com inte-
ração multidisciplinar, optou-se em usar como estímulo gerador a música de Toquinho,
“Bê-a-bá, para que, a partir do alfabeto, os alunos ampliassem o seu vocabulário e o en-
tendimento da leitura e escrita. A música começa com o seguinte poema: “com A escrevo
amor, com B bola de cor, com C eu tenho corpo, cara e coração. Com D ao meu dispor
escrevo dado e dor, com E eu sinto Emoção! Com F falo flor, com G eu grito gol....
Desta forma, o subprojeto promoveu atividades abrangentes que deram desta-
que à teoria entrelaçada à prática sempre tendo como base uma temática geradora.
Na música, o compositor fala de várias palavras que seguem a sequência das letras
do alfabeto, e estas abrangem os vários componentes do cotidiano, como cuidado do
corpo, relações interpessoais, diversidade cultural e sustentabilidade. As atividades
desenvolvidas tiveram uma abordagem artístico-musical e nelas foram articulados sa-
beres referentes a produtos que envolvem as práticas de produzir, criar, ler, construir,
exteriorizar e refletir conforme apresentado na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) (LIMA; STENCEL, 2019).
As ações do subprojeto suscitaram as dimensões do conhecimento no contexto
social e cultural, trabalhando a criação, crítica, estesia, expressão, fruição e reflexão.
Foram apresentados em sala de aula assuntos como a sensibilização sonora, percepção,
experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos. Esse
Experiências Docentes
108
processo possibilitou a vivência musical inter-relacionada à diversidade e ao desenvolvi-
mento de saberes musicais fundamentais para sua inserção e participação crítica e ativa
na sociedade, de acordo com a BNCC. Sem dúvida, a escola é o espaço onde as crianças
têm a oportunidade de desenvolverem-se de maneira integral, através de atividades lú-
dicas e prazerosas proporcionadas pela inclusão da educação musical.
A princípio, buscou-se despertar a música interiormente nos alunos, para depois
conhecerem um pouco dos atributos musicais. Foram feitas atividades para desenvolve-
rem o gosto pela descoberta do mundo sonoro por meio de exercícios do cotidiano e da
exploração sonora. Para organizar o trabalho musical dos alunos, buscou-se considerar
as características inerentes de cada turma, bem como partir dos interesses e desejos
deles. Esta forma de metodologia “pode comunicar-se com outras artes. Na dança, pelo
seu trabalho corporal e de movimento [...] mesmo fora das artes, na fase de alfabetiza-
ção, pode auxiliar no aprimoramento e no afinamento de gestos, preparando a criança
para a escrita” (ZAGONEL, 2011, p. 129).
Partindo dessa premissa, o ensino da música buscou refletir valores e costumes da
sociedade; ser apresentado de forma lúdica; preservar contextos históricos para inserir
os alunos dentro da cultura regional; ajudar a integração e interação entre os alunos;
contribuir de forma significativa na leitura e compreensão de textos e desempenho em
matemática; estimular habilidades inovadoras e formas de expressão.
Em uma das atividades realizadas, os alunos realizam atividades rítmicas com o
corpo. Ao receber o estímulo sonoro deviam andar com a música e movimentar o corpo,
conforme as sensações produzidas pela por ela. Por meio “dos movimentos corporais,
o aluno passa a experimentar sensações físicas em relação à música, abrindo caminhos
para a criatividade e expressão” (MARIANI, 2011, p. 29). Já em uma outra atividade, as
professoras mostraram diferentes figuras, e os alunos precisaram identificar o som e
fazer os movimentos correspondentes.
Em outra atividade, os alunos aprenderam a fazer movimentos sem loco-
moção. Eles falam as rimas ou parlendas com gestos, todos juntos de forma si-
multânea. “Cantando e recitando versos, a criança compreende a estrutura da
ngua materna e aprende a reconhecer o significado das nuances na sonoridade
das palavras” (MAFFIOLETTI, 2004, p. 38). Outras atividade proporcionaram aos
alunos que desenvolvessem o senso rítmico, por meio da execução instrumental e
da leitura rítmica.
No segundo semestre de 2019 foi desenvolvido o tema das regiões do Brasil, apre-
sentando uma região em cada aula, com exceção da região sudeste, a qual separamos por
estados para que os alunos conhecessem melhor a região em que moram. Durante as
aulas, foram trabalhados os aspectos musicais de cada região estudada, com a proposta
de implementar as seguintes atividades: conhecimento sobre a cultura (povos influen-
ciadores, roupas festivas, comidas típicas, brincadeiras, estilos musicais mais ouvidos,
109
O Pibid na música: interação e autonomia
patrimônios culturais, belezas naturais e outros), danças, instrumentos e brincadeiras
típicas. De forma concomitante, eles realizaram o “mapeamento” do Brasil separado por
regiões. Os alunos coloriram a região estudada em cada semana.
Para melhor absorção dos conteúdos, os alunos bolsistas – professores pibidianos
– caracterizavam-se, na medida do possível, com roupas similares à cultura da região es-
tudada. Em algumas aulas buscou-se diversificar e trazer para eles a realidade cultural,
juntamente com a música, algo mais palpável e real. Para isso foram produzidos instru-
mentos musicais de percussão como “coquinho” e “sambinha”, feitos com garrafas pet
para ajudar com as compreensões musicais como a pulsação e ritmo.
Como as aulas eram de musicalização infantil, foram incluídos aspectos especí-
ficos da música, como as propriedades do som (altura, timbre, duração e intensidade),
ritmo, pulsação e afinação. Foram usados exemplos musicais da região abordada, e os
alunos precisavam marcar o pulso e o ritmo usando clavas, instrumentos de bandinha
infantil, palmas, pés e instrumentos criados por eles.
Algumas vezes foi usado o mesmo repertório para abordar diferentes qualidades
do som. Os alunos podiam cantar ou tocar. As atividades foram bem variadas, visan-
do a um maior enriquecimento musical. Por exemplo, foir realizada uma atividade
com bambolês, representando a dança portuguesa, típica da região sul do Brasil. De
acordo com cada região, foram desenvolvidas atividades e aprendidas danças, artes
visuais e brincadeiras correspondentes: boi bumbá (região norte); dança catira (Mi-
nas Gerais); Menino da Porteira (Minas Gerais); artesanato moisaco (Espírito Santo);
adoleta (São Paulo).
Os alunos pibidianos perceberam um crescimento gradativo nas turmas que par-
ticiparam do projeto. No início das aplicações das aulas, os alunos eram introspectivos,
com dificuldades em ritmo, pulso, coordenação, disciplina, concentração, participação
e criatividade. Alguns poucos não tinham essas dificuldades no início das aulas de mu-
sicalização. Também foi identificada a total falta de conhecimento quanto à diversidade
cultural que envolvia costumes, raça, sotaque, expressões e afins. Diante dessas ma-
nifestações, os pibidianos puderam intervir de maneira instigante para que os alunos
pudessem conhecer mais e desenvolver um respeito mútuo pela diversidade que nosso
país carrega na sua trajetória e permanência.
No decorrer das aulas, os alunos foram se mostrando mais atentos, empolgados
para as aulas, participativos, disciplinados, dedicados, mais tolerantes com a diversi-
dade. Também mantiveram a memória com os registros dos conteúdos já estudados.
Notou-se um envolvimento maior dos alunos mais tímidos, aumento na criatividade de
cada um, quando ações que antes eram copiadas, ganharam singularidade retratada nas
expressões corporais, nas falas e nas ritmizações improvisadas.
Experiências Docentes
110
Considerões finais
Os resultados obtidos no subprojeto “Musicando o Alfabeto”, relatado em “Vivên-
cias, desafios e impacto do Pibid no curso de licenciatura em Música do Unasp” (LIMA;
STENCEL, 2019), e que retomamos aqui, nos levam a concluir que, apesar dos desafios,
as experiências positivas proporcionadas pelo Pibid superam-nos em muito, fazendo
com que se tornem insignificantes, pois o Pibid contribui para o crescimento dos alunos
e os prepara para terem êxito na vida egressa. Em relação aos estudantes universitários
(os bolsistas), eles aprendem a ser organizados, pois precisam fazer planejamentos e re-
latórios semanais; aprendem a lidar com a direção da escola, professores e funcionários;
de forma geral, adquirem responsabilidades e conhecimento em relação aos atributos
da docência e como refletir sobre a atuação individual e coletiva em sala de aula. Houve
reciprocidade e interesse da parte da escola parceira para o aperfeiçoamento e a prática
na formação inicial dos professores, além da abertura para o intercâmbio e trocas de
saberes com os alunos licenciandos e a Instituição de Ensino Superior (IES).
As atividades desenvolvidas usando a música e o movimento associados à psico-
motricidade foram excelentes formas de estímulo para o desenvolvimento intelectual
e global dos alunos, as quais contribuíram para a aquisição da linguagem, criativida-
de, socialização e raciocínio. Observou-se que a música contribuiu para a estimulação
neural dos estudantes e auxiliou no desenvolvimento dos aspectos afetivos, cogniti-
vos e motores.
Os resultados obtidos nos levam a concluir que, por meio das metodologias que
utilizam som, movimento, cantigas, desenvolvimento do ritmo, uso de rimas e ins-
trumentos musicais, as aulas se tornam dinâmicas e contribuem para alfabetização
dos alunos. Do ponto de vista do aluno da Emef, observou-se que eles têm adquirido
melhor controle na coordenação motora, melhor afinação no canto em grupo, desen-
volvimento rítmico e musical satisfatório e, acima de tudo, comportamento social de
respeito e habilidades sociais. O aprendizado da música oferece uma ponte comunica-
tiva e expressiva para o aprendizado do letramento e contribui para a concentração e
uma melhoria na aprendizagem.
As narrativas das professoras supervisoras do ensino fundamental, que acompa-
nham os alunos da EMEF e da IES, relatam que a execução das aulas de musicalização
feitas de forma lúdica, com a abordagem cultural, oportunizou uma diminuição da di-
ficuldade na aprendizagem, decorrente do planejamento do ensino musical por meio da
integração dos conteúdos.
Sem dúvida alguma, podemos afirmar que o Pibid contribuiu para o desenvolvi-
mento e a reflexão dos alunos universitários, bem como auxiliou de maneira significa-
tiva os alunos da escola básica. Semanalmente os pibidianos saem da universidade para
terem uma experiência real na escola e na sala de aula. Esse processo tem impactado
111
O Pibid na música: interação e autonomia
positivamente a vida de cada estudante. As vivências se multiplicaram a cada novo pla-
no de aula e a cada envolvimento com os alunos e professores da Emef. Os objetivos
foram alcançados e observamos o comprometimento dos pibidianos no cumprimento
de suas tarefas, de forma responsável e criativa.
A interação entre a IES, Emef, coordenação da área, professoras supervisoras, alu-
nos da IES e alunos da Emef foi desafiadora em princípio, mas a partir da troca de
experiências e conhecimentos, houve um intermbio positivo e todos ficaram unidos
e comprometidos com a educação geral e musical. Foram realizados estudos, aplicadas
diferentes formas de apresentar os conteúdos, elaboradas pesquisas, apresentados traba-
lhos e feitas contribuições em encontros formais e informais da educação. De modo ge-
ral, os licenciandos do Pibid refletiram sobre a ação pedagógica realizada e construíram
sua autonomia para se tornarem cidadãos críticos e participativos na sociedade. O Pibid
de Música procurou formas alternativas para contribuir com a formação integral dos
estudantes, por meio da valorização e do desenvolvimento das múltiplas habilidades, da
psicomotricidade, da sensibilidade, da atuação crítica e da própria autonomia.
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O Pibid na música: interação e autonomia
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Este texto tem como proposta apresentar uma reflexão sobre o ensino da disci-
plina de história, as diretrizes curriculares colocadas na Base Nacional Comum Cur-
ricular (BNCC) e as contribuições do Pibid do Unasp campus São Paulo. Inicialmente,
pretende-se desenvolver uma breve introdução sobre o histórico da disciplina enquanto
ciência e da sua transformação nos séculos 20 e 21; em seguida, a discussão sobre os
pametros curriculares presentes na BNCC e a função social dos professores; e por
último, as contribuições do Pibid para a formação de futuros professores de história.
A história é essencialmente uma ciência interdisciplinar, visto que qualquer tema
pode ser estudado por ela, considerando que seu objeto de estudo são os elementos ma-
teriais ou imateriais que restaram das ações humanas no tempo histórico. Os objetos
históricos possuem uma relação direta com o que denominamos documento histórico.
Os documentos são as fontes de pesquisa que os historiadores analisam para escrever
a história e, por isso, fundamentais para serem trabalhados por professores na sala de
aula. A importância do documento está em possibilitar uma representação de como as
pessoas de uma determinada época viveram, quais eram seus pensamentos, costumes,
suas mentalidades, discussões, formas de alimentação, diversões, entre outros aspectos,
que são necessários para a construção da história.
O documento não é inócuo. É, antes de mais nada, o resultado de uma montagem,
consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziram, mas
também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido,
durante as quais continuou a ser manipulado (...) O documento é um monumento.
Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou in-
voluntariamente – determinadas imagens de si própria (LE GOFF, 2003, p. 537 e 538).
O ensino de hisria, a
BNCC e a formação de
professores no Pibid
CAPÍTULO 8
Dayana de Oliveira Formiga
h
ttps://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p115-128
Experiências Docentes
116
A imporncia atribuída ao documento é consequência das mudanças pelas quais
a ciência histórica passou ao longo do século 20, principalmente na sua forma de escrita,
de pesquisa e a ampliação das fontes/documentos. Essas transformações possibilitaram
aos historiadores realizar uma análise da sociedade em seus múltiplos aspectos. Tal re-
novação também aproximou a história de outras áreas das ciências humanas que são
fundamentais para se analisar as transformações sofridas pela sociedade.
Todas as mudanças mencionadas acima – especialmente a interdisciplinaridade e
as novas análises de documentos – tiveram origem nos anos de 1929 com o movimen-
to da Escola dos Annales. Essa escola historiogfica francesa defendia que a história
poderia ser escrita a partir de novos temas construídos com base na pesquisa e nos
questionamentos de fontes/documentos (escritos ou não). Desta forma, os historiadores
constroem o que se denominou por história problema, que essencialmente diz que o
trabalho destes e a função da história visam à compreensão dos motivos, dos porquês,
das práticas sociais, para assim terem condições de analisar as transformações e perma-
nências da sociedade ao longo do tempo e do espaço (FUNARI; SILVA, 2000).
O interesse em problematizar temas promove também uma busca pelas
transformações que ocorreram no mundo material e que são resultantes da ação
das pessoas no tempo e espaço ou do que restou da sua conduta. Desta maneira, a
construção da história teria a função de descobrir o ser humano em suas múltiplas
facetas (BURKE, 1997). Outra função da história é trazer à tona o entendimento da
sociedade e construir um senso crítico a respeito do mundo; é neste momento que
a história acadêmica ou a historiografia deve se conectar diretamente com o ensino
de história (FUNARI; SILVA, 2008).
Esse breve histórico da disciplina tem o objetivo de fazer pensar e refletir o quão
importante é a forma de se ensinar a chamada história problema. Torna-se necessário
para isso repensar o ensino de história e diminuir, desta forma, o abismo existente entre
a academia e as salas de aula. É fundamental iniciar um processo de transformação
no ensino para que os professores do ensino básico possam realmente promover uma
revolução que transforme a forma de os alunos compreenderem a disciplina de história.
O ponto alto dessa revolução é fazer com que os alunos percebam que estão dentro do
processo de construção da sociedade, que são parte da história e fazem-na acontecer.
A partir dessa ótica, os educandos se tornam mais críticos, aprofundam os co-
nhecimentos e saberes sobre a própria cultura e identidade, principalmente percebem o
outro e exercem a alteridade. Tais objetivos certamente podem ser alcançados se inves-
tirmos na formação dos futuros docentes trabalhando e desenvolvendo novas metodo-
logias de ensino e apresentação dos conhecimentos históricos aos alunos, promovendo,
assim, a melhora da qualidade do ensino de história, o interesse pelo seu ensino e a
formação dos futuros cidadãos brasileiros.
117
O ensino de história, a BNCC e a formação de professores no Pibid
O ensino de história, a função
social dos docentes e a BNCC
Ao pensar sobre o ensino de história não se pode ignorar a incômoda crise no
sistema educacional da escola básica em nosso país, que se agrava cada vez mais e se
coloca como consequência da desvalorização da docência, a insurgência de professores
despreparados ou desmotivados, alunos indisciplinados e desinteressados, escolas com
baixo investimento e cheias de problemas de infraestrutura e recursos humanos, entre
outras questões. Tais questões refletem os baixos índices de avaliação da educação bási-
ca e revelam que esta não é uma crise passageira. Isso explica a criação e a necessidade
de um programa de aperfeiçoamento docente como o Pibid e a Residência Pedagógica
que incentive, de fato, a prática da docência – tanto para os graduandos cursando a
licenciatura quanto para professores concursados do estado que precisam ser desafia-
dos por novas práticas para sua renovação e desenvolvimento de novas metodologias e
temas do ensino de história e das demais disciplinas.
É necesrio enfatizar nesse contexto a imporncia da discussão do papel social
dos professores, afinal, devem eles como educadores acreditar que a educação é a arma
única e fundamental para se mudar a percepção de uma nação sobre si mesma, e a úni-
ca forma democrática de se construir uma sociedade mais justa e que forme cidadãos
críticos e conscientes para atuar na sociedade. Dessa forma, coloca-se sobre os ombros
dos professores e da sociedade em geral – mesmo que alguns não se atentem para isso ou
ignorem a questão – a responsabilidade de atuarem na construção dos futuros cidadãos
da nossa pátria amada (KARNAL, 2010). Torna-se essencial entender que no
[...] Brasil, diante do panorama atual, só uma educação de qualidade, que tenha o ser hu-
mano e suas realizações como eixo central, pode nos fazer, como nação, dar o salto quali-
tativo a que tanto aspiramos, por meio da qualificação de nossos jovens. Um país cuja pop-
ulação não sabe ler, que, quando sabe, pouco lê, e quando finalmente lê, pouco entende
(segundo a constatação insuspeita de um órgão da própria ONU), não tem muitas chances
num mundo competitivo exigente de qualificação de sua força de trabalho. Há mais: a era
de comunicação e serviços que estamos prestes a viver tende a substituir força física pela
sutileza da educação formal. Os países que não agirem a favor da História ficarão fadados
a distanciar cada vez mais daqueles outros, ricos ou não, que colocam a educação e a
cultura (incluindo a história) como prioridade real (KARNAL, 2010, p. 21 e 22).
As palavras de Karnal (2010) colocam um sentido de urgência para os investi-
mentos e o aumento da qualidade de ensino no Brasil, bem como na revalorização da
história e de seu ensino. Conforme a discussão sobre as metodologias e o ensino de
história – que se coloca já há algumas décadas – os professores dessa disciplina devem
Experiências Docentes
118
se conscientizar de seu papel social, sua responsabilidade para com a construção da ci-
dadania e ter a clara compreensão de que eles precisam atuar para que os seus discentes
compreendam e atuem positivamente no mundo em que vivem (BITTENCOURT, 1997;
KARNAL, 2010; PINSKY, 2009).
Ao se analisar a educação básica, muitas vezes, tem-se a percepção do descom-
passo entre a história ensinada nas universidades e aquela das salas de aula do ensino
fundamental e médio. Um ensino inerte com foco na memorização e não na problema-
tização, o ensino demasiado de eventos políticos em detrimento das relações sociais e
culturais de determinado período, uma história que parece estar estagnada no século 19
(FONSECA, 2003; SILVA, FONSECA, 2011).
A renovação na historiografia sobre o ensino de história e as aproximações inter-
disciplinares da história se refletem em temáticas relevantes, como a diversidade cultu-
ral, história e cultura indígena, africana e afro-brasileira, meio ambiente, história e lite-
ratura, cinema e história, o uso de novos textos como charges, história em quadrinhos,
jornais e muitas outras, que fazem pensar novos temas e metodologias para a sala de
aula. No entanto, esses exemplos precisam fazer parte de novas formas de se ensinar a
história e ser incorporados pelos professores, contribuindo para que a sociedade receba
docentes a cuja formação se deva seu espírito crítico e sua consciência do imprescindível
papel dos professores na sociedade.
Para a formação crítica e a consciência do papel social é primordial que os profes-
sores de história pautem seu ensino no respeito à diversidade, à tolerância e ao espírito
democrático que tão bem caracteriza a ciência história. Nas palavras de Fonseca (2003),
se atribui à história o papel de disciplina “formadora, emancipadora e libertadora” e
essa é, sem dúvida, sua principal função social.
Deve-se, deste modo, pensar a história enquanto uma disciplina essencialmente
educativa, formativa, emancipadora e liberadora, e tais características foram atribuídas
à história ao longo do tempo.
A história tem como papel central a formação da consciência histórica dos homens,
possibilitando a construção de identidades, a elucidação do vivido, a intervenção so-
cial e praxes individual e coletiva (...) o significado de ensinar história processa-se,
sempre, no interior de lutas políticas e culturais. Logo, discutindo, procuramos desv-
endar a lógica das relações que envolvem tanto a produção quanto a difusão do con-
hecimento, apontando limites, possibilidades, desejos e necessidades historicamente
construídas (FONSECA, 2003, p. 89).
Portanto, cabe aos professores de história serem pesquisadores que invistam cons-
tantemente em formação continuada para cumprir, de forma efetiva, o seu papel social,
especialmente no que tange à produção e difusão do conhecimento e da cultura. Para
119
O ensino de história, a BNCC e a formação de professores no Pibid
isso, é necessário o investimento do estado em pesquisa e estudos, afinal os docentes
precisam ter conteúdo e conhecimento organizado que sejam capazes de “[...] desenvol-
ver o bom e velho espírito crítico entre os alunos” (KARNAL, 2010, p. 22).
Aos docentes de história cabe a tarefa de construir pontes entre o universo cultu-
ral, o conhecimento histórico das sociedades e a cultura do seu educando. Por isso, é
fundamental que esses – mais do que quaisquer outros profissionais da educação – co-
nheçam as bases culturais da sociedade e compreendam o processo de transformações
e permanências pelo qual as sociedades passaram ao longo do tempo e espaço. Esse
processo resultou em revoluções sociais, formas de trabalho e escravidão, entre outros
acontecimentos históricos, que precisam ser compreendidos e ressignificados pelos edu-
candos na atualidade (BITTENCOURT, 2009). Assim as “pontes culturais” devem ser
estabelecidas através de uma linguagem acessível e que estabeleça vínculos e interações
mais profundas com os alunos.
É importante frisar que os educadores historiadores devem cada vez mais apro-
ximar os conteúdos históricos da realidade vivida por seus alunos – evitando sempre o
pecado do anacronismo. Somente desse ângulo os educandos estabelecerão uma iden-
tificação e desenvolverão um sentimento de pertencimento ao processo histórico, afinal
eles também são parte dele. Por isso,
[...] o professor de história, com sua maneira própria de ser, pensar, agir e ensinar,
transforma seu conjunto de complexos saberes em conhecimentos efetivamente en-
sináveis, faz com que o aluno não apenas compreenda, mas assimile, incorpore e
reflita sobre esses ensinamentos de variadas formas. É uma reinvenção permanente
(FONSECA, 2003, p. 35).
É notável e bastante relevante que os professores de história – e não somente eles
– exercem seu papel social carregando uma bagagem cheia de significados, elementos
simbólicos e conhecimentos que foram sendo elaborados a partir de toda a trajetória de
vida e do processo histórico. Desta forma, os educandos poderão igualmente desenvol-
ver um olhar de alteridade perante o outro e o respeito à sociedade, e se houver compro-
metimento e boa formação, o ensino de história será transformador. Afinal
[...] toda prática educativa libertadora, valorizando o exercício da vontade, da de-
cisão, da resistência, da escolha; o papel das emoções, dos sentimentos, dos desejos,
dos limites; a imporncia da consciência na história, o sentido ético da presença
humana no mundo, a compreensão da história como possibilidade jamais como
determinação, é substantivamente esperançosa e, por isso mesmo, provocadora da
esperança (FREIRE, 2000, p. 23).
Experiências Docentes
120
A esperança deve se pautar na formação continuada e no esforço de outros professores
e intelectuais em seguir as diretrizes estabelecidas para a educação básica no Brasil, espe-
cialmente das referências da BNCC (2018). Para a BNCC, é fundamental que a disciplina de
história se transforme em uma ferramenta para que as pessoas possam ter compreensão das
experiências humanas e, principalmente, da sociedade em que vivem. Portanto, é necesrio
que os professores ensinem a história como filha de seu tempo, levem à aprendizagem dos
fatos históricos de forma contextualizada e não distantes do contexto ou do próprio presente.
Segundo as diretrizes nacionais propostas na BNCC, a história deve ser ensinada
através de cinco processos que visam estimular os alunos a realizar uma leitura crítica
dos fatos históricos. Desse ponto de vista, os professores devem pautar suas aulas em
cinco processos:
1º) Identificação: neste primeiro processo ocorre o reconhecimento de uma ques-
tão ou objeto a ser estudado. Deve-se conduzir este primeiro passo através de perguntas,
como “Como descrever esse objeto?”, “Que significados a cultura atribui a ele?”, “Em
que componentes culturais ele pode ser classificado”. Um exemplo prático é pensarmos
no conteúdo da escravidão e do comércio de escravos na modernidade.
) Comparação: nesta segunda fase deve-se descrever e perceber as diferenças e se-
melhanças para se entender melhor um fato ou acontecimento histórico, e principalmente,
os documentos ou fontes históricas. Isso aproxima os alunos de culturas e povos muito
diversos, ao mesmo tempo em que se valoriza a diversidade cultural e a alteridade. É um
preparo para a vida em sociedade e para a cidadania, afinal é um dever respeitar as dife-
renças de pensamentos, opiniões políticas, costumes etc. A meta da disciplina de história
é levar os alunos a estabelecer consensos e não conflitos dentro da sociedade. Um exemplo
sobre a comparação é mencionar que em pleno século 16, a cidade de Tenochtitn, capital
do império asteca, era um grande centro urbanizado com quase um milhão de habitantes,
e que segundo os espanhóis, se parecia com Veneza. No entanto, a rica Veneza teria por
volta de 200 mil habitantes. Esta comparação mostra a dimensão quantitativa e qualitativa,
apontando que tanto os europeus quanto os astecas tinham desenvolvido grandes centros
urbanos e comerciais – portanto, os europeus não poderiam considerar os povos america-
nos como inferiores, conforme fizeram ao se valerem do etnocentrismo e colocar a cultura
europeia como o padrão de desenvolvimento cultural, religioso e político.
) Contextualização: o terceiro momento é aquele em que se deve contextualizar,
localizar lugares e situações específicas em que determinados fatos históricos acontece-
ram e atribuir-lhes significados. A partir disso, os alunos devem ser capazes de identificar
o momento em que uma circunstância histórica é analisada, quais foram as condições
específicas daquela realidade, entre outras questões que levam em conta os referenciais
sociais, culturais e econômicos. Uma forma de entender melhor o terceiro passo é com o
exemplo das cruzadas na idade média, contextualizando as diferenças entre cristãos e mu-
çulmanos, europeus e árabes, ocidente e oriente – bem como os motivos que levaram estes
121
O ensino de história, a BNCC e a formação de professores no Pibid
dois povos a lutar e justificar a guerra por meio da religião. Todos esses questionamentos
ajudam na construção dos contextos e no seu entendimento, e isso prepara o terreno para
questões bem mais complexas da história, como grandes guerras, genocídios etc.
) Interpretação: um dos principais objetivos do ensino de história é a formação de
alunos que consigam ter opinião crítica sobre os conteúdos estudados em sala de aula, e
mais profundamente sobre a própria a vida, a sociedade etc. Portanto, deve-se possibilitar
espaços de debates, opiniões para que, como defende a BNCC, uma infinidade de opiniões
a respeito de um mesmo tema ou objeto possam ser manifestas e respeitadas. É importan-
te ressaltar que a crítica deve ser realizada com respeito e tolerância a opiniões que sejam
contrárias ou divergentes, além de ser pautada na argumentação de fontes e dados, e não
apenas no popular “achismo”. Um exemplo prático seria falar sobre os povos indígenas e a
atual pressão sobre suas terras, como os povos do Parque do Xingu, no Mato Grosso, que
vivem na fronteira do Bioma da Amazônia e o agronegócio brasileiro.
) Alise: a última etapa do processo é a alise, ou seja, quando se passa a
problematizar a própria escrita da história. Portanto, deve-se ponderar a história com
as pressões e demandas de seu tempo como sendo, ao mesmo tempo, um produto social.
Nesta etapa, segundo a BNCC, deve-se estimular os alunos com atividades em que eles
possam construir hipóteses sobre temas e conteúdos discutidos em sala de aula. Devem
os discentes ser capazes de compreender que a história é um produto da sociedade, e que
ela apresenta como principal função interpretar a sociedade, entender as suas demandas,
tensões, problemas de ordem religiosa, cultural, politica, entre outros.
Conforme Trevisan (c2021), a BNCC coloca que os professores, no processo de
ensinar a história, devem conseguir fazer que os alunos sejam capazes de:
1- Reconhecer o “eu” e o “outro” a partir da própria realidade e das referências de
seu círculo pessoal e da sua comunidade; 2- Compreender e diferenciar o público
do privado e o urbano do rural; 3- Conhecer como foi a circulação dos primeiros
grupos humanos; 4- Pensar sobre a diversidade de povos e culturas diferentes e suas
formas de organização; 5- Desenvolver a noção de cidadania, com direitos e deveres;
6- Reconhecer a diversidade, conviver com ela e respeitá-la; e 7- Analisar as diferentes
formas de registros que cada grupo social produz.
O Pibid, a formação de professores e o ensino
de história: análise de uma experiência
Para se alcançar uma educação transformadora e que possa formar alunos crí-
ticos, com conteúdo e bons cidadãos – como já mencionado – é primordial investir
Experiências Docentes
122
na formação dos futuros professores de história. Por isso a importância de programas
governamentais que atuem com foco direto na formação dos licenciandos, como são
exemplos o Pibid e a Residência Pedagógica.
O Pibid promove uma imersão da experiência docente e seu objetivo principal é o
estreitamento da intimidade entre os licenciandos em formação e a sala de aula. Desta
forma, cria-se uma condição de aprendizado e experimentação das práticas docentes.
Esta imersão docente promove uma efetiva ação transformadora através da formação
pedagógica na vida profissional dos futuros educadores da disciplina de história.
Como participante da coordenação do Pibid de História do Unasp campus São
Paulo, apontarei algumas questões de alise que contribuem para a formação docente
dos licenciandos que participaram do Programa na minha gestão. A imersão pedagó-
gica se torna possível pelo formato do Programa que prevê ações formativas em seu
processo de desenvolvimento.
O primeiro passo do trabalho de formação pedagógica do Pibid envolveu um
aprofundamento nos estudos sobre as diretrizes curriculares nacionais do ensino de
história — detalhadas há pouco na síntese dos processos da BNCC e que fundamen-
talmente trazem os pontos de referência da prática de ensino em história. Ao se co-
locar como base, a BNCC propõe uma perspectiva multicultural; nesse sentido, um
primeiro ponto de reflexão foi pensar na imporncia de se discutir e aprofundar
os estudos nas áreas da diversidade cultural, as questões de memória e patrimônio
histórico cultural, o respeito e a desconstrução dos estereótipos ou preconceitos
construídos socialmente.
Para discutir a BNCC e pensar na face multicultural da base comum e do cur-
rículo do estado de São Paulo, escolheu-se desenvolver a formação docente através
da elaboração e participação em oficinas e do Grupo de Pesquisa Ensino de Histó-
ria e Historiografia (GPEEP). As atividades nas oficinas e no GPEEP trouxeram a
discussão dos referenciais dos cinco processos da BNCC e aprofundaram alguns
eixos temáticos, tais como: diversidade cultural; história e cultura africana, afro-
-brasileira e indígena; identidade cultural e memória; cidadania, respeito e precon-
ceito, e principalmente, a forma de se apresentar esses temas e conteúdos através das
metodologias do ensino de história.
Assim, a cada semestre se desenvolvia um determinado número de oficinas (uma
ou duas) que variavam as pesquisas e os estudos nos eixos temáticos mencionados. As
oficinas tinham o seguinte formato: contextualização do tema, relação do tema e o ensi-
no de história, discussão (já que se selecionavam previamente os textos que seriam tra-
balhados), aprofundamento e, finalmente, a aplicação do tema, ou seja, a produção didá-
tica. Em geral, os alunos se dedicavam a produzir e aplicar os planos de aulas, projetos
didáticos, produção de jogos didáticos, organização e produção de atividades e semanas
123
O ensino de história, a BNCC e a formação de professores no Pibid
especiais na escola parceira
1
— como a semana da consciência negra, por exemplo — en-
tre outras atividades que poderiam envolver o cotidiano da escola e a sala de aula.
O envolvimento na etapa das oficinas era muito intenso, pois o objetivo era a pre-
paração dos conteúdos necessários para a formação pedagógica e que são de extrema re-
levância para o contexto da sala de aula. A experiência das oficinas funcionava também
como treinamento de ensino e pesquisa ao propor que os futuros professores exercitas-
sem a pesquisa, leitura e escrita para entender os eixos temáticos que foram coroados
com a produção didática — especialmente regências e semanas especiais. A pesquisa
acadêmica também foi enfatizada com a elaboração de resumos expandidos, pôsteres,
artigos e apresentação em congressos internos do Pibid e de iniciação científica, ambos
promovidos pela própria IES e aberto aos três campi, além dos eventos de iniciação cien-
fica de outras IES públicas, como a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Além disso, discutia-se o papel da BNCC e as relações estabelecidas entre os sa-
beres, competências e habilidades que deveriam ser trabalhadas pelos professores no
cotidiano escolar. Nas reuniões e oficinas, os bolsistas do Pibid eram orientados que
as competências, habilidades e os saberes referem-se aos conhecimentos, e por isso era
fundamental que os eixos temáticos das oficinas, tais como diversidade cultural, his-
tória e cultura africana, afro-brasileira e indígena, identidade cultural e memória, ci-
dadania, respeito e preconceito, e, principalmente metodologias do ensino de história
fizessem parte ativa das construções e propostas de ensino.
Este processo de aprendizado teve como resultado a elaboração de aulas e regên-
cias — além de outras produções didáticas e acadêmicas, como já citado, que de fato
trouxessem uma experiência de aprendizado tanto para os bolsistas do Pibid quanto
para os discentes da escola parceira, que teriam o reforço de um ensino crítico, de qua-
lidade e motivador através de novas metodologias, tais como o cinema, a música, jogos
didáticos, entre outros.
É justamente aí que se destacava para os alunos nas oficinas dos eixos temáticos
a função formadora que a disciplina de história encarna, pois em sua essência ela se
dedica a estudar os homens, seu cotidiano, mentalidade, revoluções, formas de trabalho,
entre outras coisas, ao longo do tempo histórico e espaço, bem como todas as suas for-
mações culturais e sociais.
A sistematização das atividades de formação pedagógica envolvia, além das ofici-
nas dos eixos temáticos, as pesquisas do GPEEH sobre metodologias de ensino de histó-
ria, que buscaram estudar esse grande campo de formação social e cultural da história,
além da intenção clara de melhorar a aprendizagem dos alunos em sala de aula utilizado
novos formatos de aula que foram elaborados pelos licenciandos participantes do Pibid.
1 No projeto Pibid de História do Unasp, a escola estadual parceira foi a Escola Estadual Antônio Alves Cava-
lheiro, em Engenheiro Coelho.
Experiências Docentes
124
Com isso, as metodologias para esses novos formatos ou fontes de ensino para
a história colocaram na pauta: a produção de jogos didáticos históricos, o uso de jor-
nais, HQs (história em quadrinhos), análises iconogficas, filmes, séries, documentá-
rios, educação patrimonial e museu, entre outros. Todas as temáticas eram estudadas
e tinham o intuito de serem aplicadas nas regências e semanas especiais, porém nem
sempre era possível pelos recursos tecnológicos e problemas de infraestrutura da escola
parceira, que apresenta uma baixa nota no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educa-
ção Básica) e, por isso, recebe poucos recursos do governo estadual.
As ações formativas trabalhadas com os licenciandos de história, bem como as
palestras oferecidas aos alunos nos eventos científicos do Pibid oferecidos pela IES ou
fora dela, como aquelas em que se trabalhou a saúde mental dos professores, por exem-
plo, resultaram numa variável produção didática e acadêmica, e, principalmente na ex-
perimentação das atividades da docência e do cotidiano escolar contribuindo para a
formação docente dos participantes do Programa.
Como resultados dessa formação houve também uma reação dos licenciandos do
Pibid, ao problematizarem as situações vivenciadas e levantarem críticas ao sistema de
ensino, discutindo o papel social do professor de história, e como exercer esse papel pode
ser uma revolução silenciosa para melhorar a educação básica e a própria sociedade bra-
sileira. Concomitante a isso, o Pibid possibilitou ainda o processo de conscientização dos
licenciandos sobre o que envolve a responsabilidade de educar; semanalmente os bolsistas
do Programa participavam e atuavam na construção de um ensino de qualidade, enfren-
tando os problemas do cotidiano escolar e da função social dos professores de história.
A formação docente oferecida pelo Pibid reafirma nos licenciandos do Programa
a imporncia da pesquisa na história, pois ao desenvolverem estudos e pesquisas, os
discursos veiculados pelas pessoas, suas ações e mentalidades — questões fundamentais
para o ensino da disciplina de história eram abertamente discutidos e problematiza-
dos. O entendimento tanto das fontes históricas quanto dos recursos metodológicos e
das tecnologias da informação e comunicação (TIC), para se ensinar de maneira crítica
e interativa, recebeu amplo espaço de vivência e discussão.
O entendimento e a experiência de aprofundar temas ligados ao ensino e a metodo-
logias geram licenciandos mais seguros entrarem em cena nas regências e estágios, além
de motivarem-nos a investirem tempo e criatividade no preparo de aulas que de fato en-
volvam os alunos da escola parceira. Muitos foram os relatos de aprovação e interesse
desses alunos ao eles mesmos proporem aulas participativas e dimicas, nas quais foram
levados a pensar sobre o conteúdo e os valores que estavam sendo abordados.
Com isso, a motivação e o preparo dos bolsistas do Pibid impactaram positiva-
mente os seus alunos, quebraram muitos estereótipos referentes à falta de interesse
dos alunos nas escolas públicas. Os depoimentos dos licenciandos foram na direção
da confirmação da tese de que bons professores — com preparo, pesquisa, motivação e
125
O ensino de história, a BNCC e a formação de professores no Pibid
metodologias ativas — podem conseguir trabalhar com uma sala identificada como “di-
fícil” ou desmotivada. O estereótipo de alunos que não têm interesse, muitas vezes, foi
quebrado, pois os participantes do Pibid acreditaram no processo de transformação do
ensino. Como consequência, os alunos que participaram do Pibid se acham não só mais
bem preparados para a carreira docente quanto para o ingresso no mundo acadêmico,
pois é comum que estes bolsistas do projeto em questão melhorem o seu rendimento
acadêmico e sua visão crítica a respeito de sua própria formação, passando até mesmo a
escreverem melhor e a serem mais participativos nas aulas da graduação.
A produção didática desses futuros professores surpreende pela diversidade, indo
desde planos de aula, projeto de ensino, jogos didáticos, semanas especiais e oficinas
produzidas para os alunos da graduação, apresentando temáticas sobre metodologias e
ensino de história nas semanas do curso de história. É significativo pensar que as pro-
duções dos licenciandos do Pibid passaram por um “teste de qualidade”, pois já foram
levadas para as salas de aulas – inúmeras vezes os bolsistas e ex-bolsistas do Pibid que-
rem dar depoimentos sobre o quanto o Programa favoreceu a aprendizagem, a pesquisa
e sua formação docente, em geral.
Considerões finais
Os resultados das discussões, pesquisas e oficinas de formação para os futuros
professores demonstraram a imporncia de se investir em programas que realmente
despertem o senso crítico, a responsabilidade e a conscientização dos docentes diante
de seu papel social.
Ao participaram das atividades formativas, prepararem-se com pesquisas, estu-
dos e discussões, os futuros professores foram despertados para entender o seu papel e a
imporncia de investimento em uma formação continuada. Perceberam na observação
da prática docente que só assim é realmente possível melhorar a qualidade de ensino e a
formação dos alunos e futuros cidadãos brasileiros.
O Pibid, enquanto programa de formação institucional e toda a estrutura de oficinas
e atividades formativas, proporcionaram a oportunidade para que os licenciandos atuem
com mais segurança nas salas de aulas, percebam os problemas e desafios que enfrentarão
no cotidiano escolar e, desta maneira, possam efetivamente ter uma produção didática de
qualidade, envolvendo planos de aulas, regências, projetos e oficinas, entre outras.
A experiência na coordenação do subprojeto de História do Pibid tem mostrado
cada vez mais que os licenciandos de História que participam do Pibid passam a ter uma
perspectiva atuante e questionadora que se estende também para a experiência da gra-
duação, conseguindo inclusive obter rendimentos avaliativos mais altos, em geral, que
os alunos que não se envolveram com o Pibid. Outra percepção importante é a maior
Experiências Docentes
126
dedicação e envolvimento com a pesquisa acadêmica na área de ensino, inclusive com
a produção de trabalhos sobre metodologia e ensino de história, além das participações
em congressos e outros eventos acadêmicos.
Sem dúvida, o resultado mais significativo da percepção de todo o processo de for-
mação docente, discussão da historiografia, das metodologias de ensino de história e da
imporncia do Pibid é o amadurecimento dos licenciandos bolsistas e de sua construção
profissional como docentes. Eles passam a ter uma significativa experiência docente per-
cebendo que a função de professor de história deve ser sempre direcionada no sentido de
se entender, analisar e construir a história das sociedades, tendo como objetos centrais as
relações sociais, transformações e permanências que ocorreram na sociedade ao longo do
espaço e do tempo histórico. A experiência no Pibid reforçou nos bolsistas o pressuposto
de que a educação e o ato de ensinar realmente transformam os educandos. Isso se eviden-
ciou nos relatos de salas de aula inteiras, consideradas indisciplinadas e desinteressadas,
que manisfestaram verbalmente sua transformação, desejo de envolvimento e melhora
decorrentes da intermediação dos bolsistas do Pibid na sala de aula e as diferentes e va-
riadas abordagens e os direcionamentos de ensino e aprendizagem potencializados com
a parceria universidade e escola pública, sendo esses programas governamentais, quando
bem organizados, formas poderosas de aumentar a qualidade do ensino.
Ao conscientizar os futuros professores, investindo em sua formação docente e discu-
tindo as metodologias de ensino de história e historiografia, percebe-se o papel fundamental
que tem a própria disciplina de história na educação formal. A história tem a função de abrir
os olhos e a mente das pessoas para os preconceitos, estereótipos, abusos e erros do passado
e, ao mesmo tempo trabalhar o respeito, a tolerância e a intervenção através de sua majesta-
de — o/a docente — na formação dos futuros cidadãos para que sejam críticos e dispostos a
melhorar a sociedade e, consequentemente, transformar a própria história.
Referências
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BURKE, P. A Escola dos Annales: 1929-1989. São Paulo: Ed. Unesp, 1997.
127
O ensino de história, a BNCC e a formação de professores no Pibid
FONSECA, S. G. Didática e prática de ensino de História. Campinas: Papirus, 2003.
FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:
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TREVISAN, R. BNCC para história: entenda os objetivos de aprendizagem. Nova Escola,
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A formão dos licenciandos
em educação física por meio
do Pibid: saberes adquiridos
e construídos
CAPÍTULO 9
Ivan W. Tertuliano
Rubens Oliveira da Silva
Ledimar Brianezi
Considerando
que a formação do licenciando em Educação Física deve ter um
caráter generalista, humanista e crítico, pautada em uma formação para que a ação
profissional evidencie sólida fundamentação pedagógica cienfica, reflexão filosófica
e conduta ética, o projeto Pibid, subprojeto de Educação Física do Unasp, com a equi-
pe de o Paulo, promoveu ações que permitiram aos bolsistas analisar criticamente
a realidade social, compreendendo o processo educacional para solucionar proble-
mas e intervir na sociedade.
Para isso, o subprojeto apoiou-se em aspectos de pedagogia dos esportes e do mo-
vimento humano para educação no ensino sico, respeitando o edital Capes n° 7/2018
Pibid, que sugere o destaque de atuação prática da educação física nesse período edu-
cacional e acha-se em consonância com o decreto de lei n. 7.219 que cria o Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), que propõe a articulação entre
as escolas da rede pública de educação básica e as IES (FELÍCIO, 2014).
Diante disso, o subprojeto de Educação Física (EF) buscou conduzir o bolsista a
uma ampla reflexão crítica sobre esses diferentes discursos presentes na sociedade (PI-
MENTA, 2012), a fim de que os discentes da escola campo possam agir autonomamente
quando decidirem, dentro ou fora da escola e ao longo da vida, usufruir de práticas
corporais a partir de seus objetivos particulares como o lazer, a promoção da saúde, a
melhoria da aptidão física, a socialização e o bem-estar (NASCIMENTO, 2017), entre
outros. Assim, o subprojeto buscou inserir os bolsistas no campo-escola, visando à
formação do senso prático, sensibilidade de relacionamento, ao entendimento e senti-
mento para com sua responsabilidade social aliada a um olhar crítico.
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p129-150
Experiências Docentes
130
Bases legais para construção
do subprojeto de Educão Física
A partir da resolução CNE/CP no 1, de 18 de fevereiro de 2002 e da resolução
CNE/CES no 7, de 31 de março de 2004, as competências e habilidades dos egressos
em Educação Física devem ser contextualizadas de acordo com as especificidades de
cada etapa e modalidade da educação básica, propiciando a inserção desses no debate
contemporâneo mais amplo, ao envolver questões culturais, sociais, econômicas, co-
nhecimento sobre o desenvolvimento humano e a própria docência. Tais competências
e habilidades devem também abranger as dimensões político-social, ético-moral, técni-
co-profissional e científica, considerando que a intervenção dos profissionais pressupõe
a mediação com seres humanos historicamente situados.
Textualmente, a resolução CNE/CE no 7, de 31 de março de 2004 declara que:
a visão de competência deve ser compreendida além das dimensões do fazer, do saber
fazer ou do saber intervir. O pressuposto dessas diretrizes identifica-se com uma con-
cepção de currículo compreendido como processo de formação da competência hu-
mana histórica. Sendo assim, competência é, sobretudo, a condição de refazer perma-
nentemente nossa relação com a sociedade e a natureza, usando como instrumento o
conhecimento inovador de perspectiva emancipadora.
Além disso, compreende-se que a educação física escolar é o componente curri-
cular que, na escola, tem como objeto de estudo e ensino a cultura corporal de movi-
mento, cultura essa expressa em diferentes manifestações corporais elaboradas pelo ser
humano como: jogo e brincadeira, atividades rítmicas e expressivas, além da dança, do
esporte, da luta, da ginástica, entre outras (SILVEIRA, 2017).
Assim, como Betti (1992, p. 285) afirma, cabe à educação física escolar: “[...] inte-
grar e introduzir o aluno [...] no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai
usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade
física (o jogo, o esporte, a dança, a ginástica) [...]”.
Esses conteúdos tradicionais, atualmente, adquirem diferentes contornos, princi-
palmente quando relacionados a diferentes discursos, valores, significados. Por exem-
plo: a prática da atividade/exercício físico como culto à beleza, os diferentes padrões
da relação entre trabalho e lazer, e as questões relacionadas à saúde e sua promoção na
busca de uma melhor qualidade de vida.
Diante desse cenário, é fundamental que os futuros professores (bolsistas Pibid,
neste caso), dominem os fundamentos da educação física na escola, principalmente
os seus objetivos, conteúdos, as estratégias de ensino e processos de avaliação, para
131
A formação dos licenciandos em educação física por meio do Pibid
desenvolver uma atuação condizente com as necessidades sociais da população (DARI-
DO; RANGEL, 2005).
Esse domínio é imprescindível, pois os alunos podem, de posse dele, atribuir sen-
tidos e objetivos, realizando ações para o componente da educação física, não se limi-
tando àquilo que a área construiu e defende atualmente para esse componente na escola
(FERREIRA, 2009). Dentre os diferentes valores e significados atribuídos por essas dife-
rentes esferas da sociedade estão:
a perspectiva da educação física como componente responsável pela melhoria
da aptidão física e do desempenho esportivo dos alunos, no sentido do esporte
de rendimento e de alto rendimento;
a educação física como recreação e lazer oferecidos aos alunos para passar o
tempo ou recuperar as energias gastas nas atividades pedagógicos desenvolvi-
das por outros componentes curriculares como língua portuguesa, matemáti-
ca, geografia etc.;
a educação física como o componente curricular responsável pela organização
de eventos e festividades na escola;
a educação física como componente curricular restrito à identificação de ta-
lentos esportivos e à promoção do desporto em campeonatos.
A ênfase na aptidão física e em outras concepções de papel didático-pedagógico
para a educação física na escola, como as relacionadas acima, ainda estão, infelizmente,
muito presentes nas escolas públicas, e acabam contribuindo para uma visão de mundo
desigual, individualista, estereotipada e exageradamente competitiva, característica da
sociedade e do homem atuais (SILVEIRA, 2017).
Para transformar esta realidade, é preciso ampliar a visão que os alunos têm sobre
a disciplina educação física, e que sejam capazes de analisar criticamente o mundo que
os cerca. Isto somente será possível com uma consistente fundamentação sobre o papel
da educação física na escola, aliada a um cuidadoso planejamento de conteúdos, estra-
tégias de ensino e processos de avaliação, que conduzam os alunos a uma reflexão mais
profunda das questões apresentadas, culminando no seguinte: (1) a revisão do papel da
educação física como componente curricular; (2) o entendimento de sua finalidade na
escola; (3) seu objeto de ensino; (4) seus objetivos de ensino; (5) os conteúdos específicos
da disciplina; (6) reflexão sobre a necessidade de transformações da prática pedagógica
dos docentes; (7) a reflexão sobre a transformação na relação docente e discente e desses
Experiências Docentes
132
com o conhecimento específico da educação física escolar; e (8) os processos de avalia-
ção, entre outros impactos.
Por conta disso, o presente subprojeto atuou com ações que oferecessem aos bol-
sistas Pibid um conjunto de experiências teórico-práticas relacionadas ao objeto de
ensino deste componente curricular na escola, à cultura corporal de movimento, seus
conteúdos (jogo; esportes coletivos, individuais e de aventura; atividades rítmicas e
expressivas; ginásticas e temas contemporâneos como a promoção da saúde; a relação
entre as diferentes práticas corporais e os padrões de beleza; os cuidados com o corpo,
aspectos sobre treinamento físico-esportivo e o lazer) e objetivos de ensino como inser-
ção, usufruto, crítica e transformação das manifestações corporais da cultura corporal
de movimento pelos alunos da educação básica. O subprojeto também atuou frente às
estratégias didático-pedagógicas e a processos de avaliações, em consonância com todo
o processo de renovação da área proporcionada nas últimas décadas.
A constrão de experiências teórico-práticas
no subprojeto de Educão Física
O subprojeto, respeitando as práxis dos PCN e da Base Nacional Curricular Co-
mum (BNCC), fez com que os bolsistas se aproximassem da realidade do sistema de
ensino. Essa ação permitiu que os bolsistas atuassem, percebessem e compreendessem o
processo de ensino-aprendizagem.
Como o subprojeto ocorreu em uma escola estadual (rede pública de ensino), al-
guns processos foram respeitados para não ferir eticamente o papel do Pibid junto à
escola. Todas as escolas do Estado de São Paulo devem seguir um documento oficial,
elaborado pela secretaria estadual de ensino, que é denominado currículo paulista. Esse
documento oferece orientações didático-pedagógicas para os professores que atuam nas
escolas estaduais (rede pública) desde o ensino infantil, e em cada componente que inte-
gra o ensino fundamental, ou seja, o currículo paulista oferece orientações básicas para
o trabalho dos professores no dia a dia na escola.
Assim, assumindo o apontado acerca do currículo paulista e os postulados sobre a
educação física escolar, o subprojeto de educação física realizado na cidade de São Paulo,
atuou de forma a complementar com propostas didáticas as aulas que o professor supervi-
sor (professor da rede) ministrava junto aos alunos da escola. Para isso, o subprojeto optou
por acompanhar um período letivo, o vespertino. Nesse período, a maior parte dos alunos
eram de 6º ano do ensino fundamental II e, assim, as propostas foram desenvolvidas para
auxiliar e complementar as atividades do professor de educação física junto a essas turmas.
Enquanto estratégias, as propostas tiveram como objetivo o ensino das práticas
corporais preconizadas pelo currículo paulista, por meio de jogos e brincadeiras que
133
A formação dos licenciandos em educação física por meio do Pibid
conduzam, em seu âmago, a cultura corporal de movimento. Outros objetivos também
permearam a construção das propostas didáticas, as quais se encontram no subprojeto
de Educação Física do Pibid (Projeto Institucional, 2018/2019, p. 17) :
Oferecer conhecimentos que permitam um ensino comprometido com qualidade,
preocupado em formar cidadãos solidários, críticos, responsáveis e reflexivos;
Construir a conscientização do papel e da responsabilidade social da educação
física no âmbito educacional, do comprometimento de sua atuação como multi-
plicadores do saber, compreendendo e buscando alinhar a prática profissional ao
que propõe os referenciais curriculares nacionais, estaduais, municipais, obras
de referência na área e os valores bíblico-cristãos;
Oferecer experiências teórico-práticas que possibilitem a compreensão da ne-
cessidade de ampliar o universo de experimentações e conhecimentos a serem
proporcionados aos alunos da educação física escolar na educação básica, a fim
de que os mesmos possam conhecer, usufruir, criticar e transformar as difer-
entes manifestações corporais da cultura corporal de movimento dentro e fora
do âmbito escolar;
Oferecer a compreensão do papel da educação física escolar como componente
de ensino que possui especificidade, conteúdos, objetivos, métodos de ensino e
processo de avaliação que atribui legitimidade no âmbito escolar;
Oferecer discussão, reflexão, experiências teórico-práticas que demonstrem
a necessidade de uma atuação profissional que proporcione uma constante
relação entre os conteúdos tradicionais da EF (jogos; esportes coletivos, in-
dividuais e de aventura; atividades rítmicas e expressivas e as ginásticas) e
temas contemporâneos presentes na sociedade como: corpo e suas dimensões
biológicas, históricas e culturais; promoção da saúde; padrões de beleza e con-
sumo; doenças advindas do sedentarismo e de problemas com a imagem cor-
poral, entre outros;
Oferecer experiências teórico-práticas para proporcionar a inclusão nas aulas
de educação física escolar e a reflexão sobre práticas pedagógicas que, ao longo
da história da educação física promoveram e ainda promovem a exclusão, seja
por gênero, raça e nível de conhecimento prático das diferentes manifestações
corporais da cultura corporal de movimento;
Instrumentalizar para desenvolver autônoma e criticamente planos de ensino e
de aulas sobre os conteúdos da cultura corporal de movimento, levando-se em
considerão objetivos, habilidades e competências previstas nos documentos
de referência da educação básica.
Experiências Docentes
134
Para que todos os objetivos fossem alcançados, os bolsistas, o coordenador de sub-
projeto e supervisor de subprojeto (professor da escola) se encontravam semanalmente
para reuniões acerca dos conteúdos que seriam desenvolvidos, bem como para elabora-
ção dos planos de aula. Nesses encontros, observava-se o conteúdo previsto pelo cur-
culo paulista e, com base nele, elaboravam-se as propostas pedagógicas (planos de aula)
que seriam desenvolvidas na escola (in loco), na semana seguinte. Para construção dos
planos de aula, os alunos bolsistas consultavam referenciais teóricos como livros e arti-
gos, bem como sites de confederações e federações esportivas quando necessário, tendo
o intuito de compreender as regras da modalidade esportiva. Cabe apontar que todos os
planos de aula (desenvolvidos em aula) eram aplicados com a supervisão do professor da
aula, que era o supervisor do subprojeto, e a participação dos alunos bolsistas, os quais
auxiliavam o professor supervisor na condução das aulas.
A construção e aplicação dos planos de
aula do subprojeto de Educação Física
Como apontado acima, as propostas tiveram como objetivo o ensino das práticas
corporais orientadas pelo currículo paulista por meio de jogos e brincadeiras. O uso de
jogos e brincadeiras teve suporte teórico no denominado método global, o qual é apon-
tado pela literatura como um método de ensino possível (GALATTI et al., 2012).
Dietrich, Dürrwächter e Schaller (1984, p. 32) caracterizam o método global como
“[...] a criação de cursos de jogos, que partem da simplificação dos jogos esportivos for-
mais [...] de acordo com a idade, e, através de um aumento de dificuldades na apresen-
tação dos jogos, em direção ao jogo final. Com base nesse método, Galatti et al. (2012,
p. 89) destacam possíveis estratégias didático-pedagógicas que viabilizem o processo de
ensino-aprendizagem, sendo:
4. Brincadeiras e jogos: atividades e jogos que fazem parte da cultura popular infantil,
mas com aproximação para a modalidade, sendo incorporados movimentos e a bola,
sobretudo a de basquetebol.
5. Situações de jogo: são simulações próximas do jogo formal, com ou sem adaptação
das regras, mas em situação reduzida ou ampliada de jogadores e espaço, sendo as
mais comuns o 1x1, 2x2, 3x3, 4x4, 2x1, 3x2, 4x35.
6. Jogos pré-desportivos: jogos com a presença de ao menos duas equipes e alvo(s)
para defender e atacar, dentro de espaço e regras preestabelecidas.
Somado ao exposto, a literatura defende que o uso do método global é mais ade-
quado para o processo de ensino-aprendizagem, pois contempla atividades que visam
à solução de problemas motores sem o uso de atividades estereotipadas e repetitivas,
135
A formação dos licenciandos em educação física por meio do Pibid
como ocorre no método analítico (DIETRICH; DÜRRWÄCHTER; SCHALLER, 1984;
FERREIRA; GALATTI; PAES, 2005; GALATTI et al., 2012; GRECO, 2001), justifican-
do o uso de jogos e brincadeiras como estratégia de ensino-aprendizagem. Além disso,
em todos os planos de aula eram separados momentos de aula para dlogo e reflexão
acerca do conteúdo, os quais tinham como objetivo conduzir os alunos à reflexão sobre
os conteúdos, com a intenção de atender aos objetivos complementares do subprojeto,
conforme citados acima.
Retomando, os alunos atuavam na elaboração de planos de aula durante as reuni-
ões semanais, sempre na presença do coordenador e do supervisor do subprojeto, para
posterior desenvolvimento do plano de aulas junto aos alunos do 6º ano do ensino fun-
damental II. Durante a aplicação do plano de aula, o professor supervisor do Pibid as-
sumia o desenvolvimento das aulas, em todo o tempo acompanhado pelos bolsistas que,
muitas vezes, exerciam a função de regentes nas aulas. Em síntese, durante a aplicação
dos planos de aula, os bolsistas atuavam como auxiliares do professor supervisor e, em
algumas vezes, regentes de alguns.
Como forma de exemplificar esse processo, trouxemos o caso do 6º ano do ensino
fundamental II, período letivo em que o subprojeto atuou. O currículo paulista estabe-
lece que as aulas de educação física para a série em questão devem atender aos seguintes
objetos de conhecimento: jogos eletrônicos; esportes: de marca, de precisão, de invasão
e técnicos-combinatórios; esportes parampicos; ginástica de condicionamento físico;
danças urbanas; lutas do Brasil; práticas corporais de aventura urbanas; corpo e movi-
mento. Esses objetos de conhecimento têm o intuito de conduzir os alunos à aquisição
de inúmeras habilidades, cujos objetivos concernentes a conhecimento e a habilidades
estão pautadas na BNCC (BRASIL, 2018).
Não é intenção deste capítulo apresentar todos os planos de aula, mas algumas
das propostas que o subprojeto de Educação Física elaborou e aplicou durante as aulas
do 6º ano do ensino fundamental II, aulas que ocorreram em uma escola da periferia
da cidade de São Paulo. Antes de apresentá-los, é oportuno dizer que durante os dezoiti
meses do Pibid, foram elaborados e desenvolvidos em aula cerca de setenta planos de
aula, todos alinhados aos objetos de conhecimento propostos no currículo paulista.
Assim, assumindo os objetos de conhecimento do 6º ano, apresentaremos al-
guns dos planos de aula que foram elaborados e desenvolvidos em aula, com o intuito
de apresentar o resultado final das reuniões para elaboração desses planos. A fim de
organizar o conteúdo, os planos serão apresentados de forma a separá-los por objeto
de conhecimento (ver os quatro exemplos abaixo). Para elaboração dos planos de aula,
optou-se por organizá-los durante o Pibid em forma de formurio, por considerá-lo
mais adequado para a compreensão, com base nos modelos propostos por Libâneo
(2018) e Campos (2011).
Experiências Docentes
136
Quadro 1 - Plano 1
Disciplina:
educação física
Objeto de conheci-
mento: esportes
de marca
50 min
Turma:
6° ano
Data:
xx/xx/2019
Objetivos Conteúdos Sequência didática Material
12/09 – 19/09
45 minutos
1. Vivenciar as corridas do
atletismo (velocidade, meio
fundo e fundo).
2. Vivenciar as diferentes formas
de saída do atletismo (saída alta
e saída baixa).
3. Estimular a discussão a respeito
das corridas do atletismo.
4. Trabalhar os elementos centrais
das saídas baixas e altas, fazendo
com que o grupo compreenda
suas diferenças.
- Corridas do atletismo:
velocidade, meio fundo
e fundo;
- Saída baixa;
- Saída alta.
1. Parte inicial: pega-pega dos
animais: os alunos serão divididos
em três grupos. Os grupos
deverão escolher um animal para
representar a sua equipe. Teremos
quatro quadrados ao longo da
quadra, cada grupo cará dentro
de um desses quadrados, mas
sempre teremos um quadrado
vazio. Escolher-se-á uma dupla
para ser a pegadora. Quando o
professor chamar um animal, a
equipe que corresponde a esse
animal, deverá correr para o
quadrado que estiver sobrando. A
saída do quadrado deverá ocorrer
agachada (saída baixa). Obs.:
aqueles que forem pegos deverão
car agachados parados no lugar.
A cada rodada, ao sinal do pro-
fessor, os alunos que foram pegos
tentam ocupar um quadrado
vazio. A dupla pegadora tem o
objetivo de pegar todos.
- Caixa de giz;
- Coletes.
Diálogo com os alunos
para vericar se com-
preenderam as diferentes
corridas (distâncias)
e saídas trabalhadas
em aula.
Diálogo com os alunos
para vericar quais foram
as estratégias utilizadas
para realização das
tarefas.
2. Parte principal: coelho sai da
toca: a quadra será dividida em
duas grandes áreas. As duas
grandes áreas da quadra são as
tocas, e serão escolhidos cerca
de dois pegadores que carão
com coletes. Ao sinal do professor,
os coelhos deverão trocar de
toca sem serem pegos pelos
pegadores. Aqueles que forem
pegos deverão car no lugar dos
pegadores. Variações: diferentes
formas de sair da toca (sentado,
agachado ou em pé).
137
A formação dos licenciandos em educação física por meio do Pibid
Corrida com saída sentada: o
professor desenhará na quadra
algumas raias de atletismo utili-
zando giz. Podem ser utilizados
outros tipos de materiais como
ta adesiva, cordas, cones ou
sinalizadores. Cada raia deverá ser
ocupada por uma equipe de até
quatro alunos. Todos os alunos
serão postos sentados ao nal da
raia. No sinal do professor, um
aluno de cada equipe deverá se
levantar e correr o mais rápido
possível até o nal da raia. Ao
chegar ao nal, ele deverá falar
em voz alta o nome do próximo
colega da equipe que, por sua vez,
deverá levantar e sair correndo,
repetindo a tarefa. A tarefa
conclui quando todos da equipe
correrem até o outro lado da
raia. Vence a equipe que concluir
primeiro o trajeto, ganhando
cinco pontos. A tarefa permane-
cerá até uma das equipes somar
vinte pontos. Variação: aumentar
a distância percorrida a cada
rodada, estimulando as ações
com corridas de velocidade, de
meio fundo e de fundo.
Corrida com saída em pé: Idem,
porém a saída será com os alunos
na posição em pé.
Corrida com saída baixa: Idem,
porém a saída será com os alunos
na posição de saída baixa (saída
do atletismo).
3. Parte nal: discussão e reexão
sobre o conteúdo vivenciado
no dia.
Fonte: adaptado de Matthiesen (2009; 2017).
Experiências Docentes
138
Quadro 2 - Plano 2
Disciplina:
educação física
Objeto de conheci-
mento: esportes
de marca
50 min
Turma:
6° ano
Data:
xx/xx/2019
Objetivos Conteúdos Sequência didática Material
12/09 – 19/09
45 minutos
1. Introduzir o aluno na prática da
modalidade bocha.
2. Aprender as diferentes
possibilidades de arremessos
da bocha.
3. Conhecer as regras do jogo
de bocha.
- Arremessos da bocha: Ponto
(Point),
Bocha carregada (Portée),
“Bochada” (Tir).
- Regras da bocha.
1. Parte inicial:
Arremesso de bola ao alvo: serão
formados grupos com até três
alunos. Cada aluno terá uma bola
(bola de tênis), e o grupo terá
um alvo (bambolê). Os alunos do
grupo deverão arremessar a bola
com o objetivo de fazer a bola
parar dentro do bambolê. O alvo
será colocado a uma distância de
aproximadamente 2m. Variação:
aumentar a distância do alvo;
misturar os grupos; trocar a
bola de tênis por uma bola de
borracha.
2. Parte principal:
Arremesso de bola o mais
próximo do alvo: idem, porém
o bambolê será substituído por
uma bola de futsal; os alunos
terão que arremessar as bolas
com o objetivo de parar o mais
próximo do alvo, sem tocá-lo.
O alvo será colocado a uma
distância de aproximadamente
2m. Durante a prática, o professor
continuará a introdução e
explicação das regras do jogo.
Variação: aumentar a distância do
alvo; misturar os grupos; trocar
a bola de tênis por uma bola de
borracha; introduzir diferentes
tipos de arremessos: mão
dominante, mão não dominante,
arremesso rasteiro, arremesso em
parábola etc.
50 bolas de borracha.
40 bolas de tênis.
30 arcos.
Diálogo com os alunos
para vericar se com-
preenderam os diferentes
tipos de arremessos
utilizados na bocha.
Diálogo com os
alunos para vericar
se compreenderam as
regras do jogo.
Diálogo com os alunos
para vericar quais foram
as estratégias utilizadas
para realização das
tarefas.
139
A formação dos licenciandos em educação física por meio do Pibid
Arremesso no alvo afastando a
bola do adversário: seguindo a
mesma formação anterior, os
alunos deverão atuar como se o
colega fosse um adversário de
jogo. Eles deverão arremessar a
bola tentando aproximar a bola
(bocha) do bolim e afastá-la do
colega do bolim. Nesse momento
serão apresentadas e explicadas
as formas de arremesso: point
(arremesso que tem a intenção de
se aproximar o mais perto possível
do bolim); portée (arremesso no ar,
formando um arco parabólico, com
o mesmo objetivo da bocha point);
e tir (arremesso em arco parabólico,
com o objetivo de deslocar outra
bocha – da própria equipe ou do
adversário). Variação: aumentar
a distância do alvo ao aluno;
misturar os grupos; trocar a bola
de tênis por uma bola de borracha;
alterar a ordem de lançamento
entre o grupo.
Jogo da bocha – minicanchas: a
quadra será dividida em inúmeras
miniquadras de bocha (canchas).
O professor deverá demarcar nas
canchas as áreas de jogo (as linhas
de uma cancha). Nessa atividade
os alunos serão divididos em
trios, sendo que cada trio receberá
seis bolas (bochas) de borracha
(duas bolas por jogador). Em cada
minicancha serão colocadas duas
equipes, que disputarão entre si
uma partida de bocha. Para cada
minicancha será colocada uma
bola de tênis como bolim. Para
iniciar o jogo, os representantes
de cada equipe tirarão par ou
ímpar para decidir quem iniciará
arremessando o bolim.
Experiências Docentes
140
A equipe que vencer iniciará
lançando o bolim e arremessando
a primeira bocha. Para que o
lançamento do bolim seja válido,
o jogador deverá conseguir
lançá-lo na área demarcada
como válida, que se encontra
no fundo da cancha. Após a
validade do bolim, as equipes
iniciam a partida com arremessos
alternados entre as equipes. Serão
utilizadas as regras adaptadas
da bocha, ou seja, ao invés de
separarmos os alunos para jogos
em dupla, os seis jogadores
arremessarão a bocha na rodada,
de forma sequencial e alternada
(um por vez, alternando entre as
equipes). A meta é tentar fazer
as bochas da equipe chegarem o
mais perto do bolim, ao mesmo
tempo que tentam afastar as
bochas dos adversários. A equipe
que tiver mais bolas (bochas)
próximas do bolim ganham um
ponto por bola mais próxima.
O jogo segue até que uma das
equipes conquiste, primeiro, doze
pontos. Iniciar com o arremesso
da bocha rasteira (podendo tocar
no meio da cancha). Variação:
inserir a regra do lançamento
aéreo (a bola não pode tocar o
meio da cancha).
3. Parte nal: diálogo e reexão
sobre o conteúdo vivenciado
no dia.
141
A formação dos licenciandos em educação física por meio do Pibid
Referências:
STIGGER, M. P.; SILVEIRA, R. A prática da “bocha” na Soeral: entre o jogo e o esporte. Movimento, Porto Alegre, v. 10, n. 2, p. 37-53, 2004.
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BOCHA - CBBB. Regras. [s.d.] https://www.cbbb.net.br/bocha/. Acesso em: 12 fev. 2019.
Fonte: adaptado de Sttiger e Silveira (2004);
Confederação Brasileira de Bocha – CBB (s.d.).
Quadro 3 - Plano 3
Disciplina:
educação física
Objeto de conheci-
mento: esportes
de marca
50 min
Turma:
6° ano
Data:
xx/xx/2019
Objetivos Conteúdos Sequência didática Material
12/09 – 19/09
45 minutos
1. Introdução aos esportes de
invasão.
2. Experimentar uma das moda-
lidades presentes nos esportes de
invasão: Ultimate Frisbee.
3.Proporcionar o conhecimento
das regras básicas do Ultimate
Frisbee.
4. Vivenciar jogos que utilizem o
Ultimate Frisbee.
- Ultimate Frisbee:
Regras básicas.
Aprendizagem de habi-
lidades motoras básicas
do esporte – lançamento,
recepção do disco e
ocupação do espaço.
1. Parte inicial:
Conhecendo o frisbee: cada
aluno receberá um frisbee para
lançamento. Os alunos deverão
lançar o objeto como quiserem,
objetivando experimentar o lan-
çamento e observando a trajetória
do disco. Variação: lançar com a
mão dominante e com a mão não
dominante; lançar de lado; lançar
de costas etc. Obs.: organizar os
alunos de um lado da quadra e
pedir para lançarem para o outro
lado, assim evitarão acidentes
com o disco. Depois que todos
lançarem, todos podem recolher
o frisbee e continuar a atividade.
2. Parte principal:
Conhecendo o alvo: os alunos
deverão lançar o frisbee com o
objetivo de alcançar um alvo
à frente, demarcado no chão
(círculo desenhado de giz).
Variações: aumentar a distância
do alvo; colocar outro tipo de
alvo (cone); trocar o alvo de lugar,
estimulando o lançamento em
diferentes direções.
Caixa de giz,
20 cones,
coletes para identicação
das equipes,
40 frisbees.
Diálogo com os alunos
para vericar se com-
preenderam os diferentes
tipos de lançamentos e
recepções utilizados no
Ultimate frisbee.
Diálogo com os alunos
sobre as estratégias
utilizadas para ocupação
do espaço.
Diálogo sobre as regras
básicas, para vericar o
entendimento, por parte
dos alunos, das regras.
Experiências Docentes
142
Passe o frisbee: os alunos serão
divididos em três grandes grupos;
cada grupo terá um espaço de
prática, pois a quadra será
dividida em três miniquadras para
realização da atividade. Dentro
de cada miniquadra os alunos
serão divididos em dois grupos,
sendo que cada grupo deverá
fazer duas colunas (com os alunos
bem espaçados uns dos outros).
A brincadeira começa quando o
último aluno de cada coluna pegar
o frisbee e lançar para o colega
da frente, assim sucessivamente
até chegar ao primeiro. Assim que
o frisbee chegar ao primeiro da
coluna, o mesmo deve se deslocar
ao nal da la e começar a tarefa
novamente. Essa dinâmica se
repete com todos da equipe. Vale
ressaltar que, caso os alunos
deixem o disco cair no meio do
percurso, devem retornar o frisbee
ao último integrante da la e
recomeçar os passes. A atividade
termina quando todos os alunos
das duas equipes tiverem realizado
a atividade. Obs.: caso esteja
muito fácil passar o frisbee entre
os colegas, a distância entre os
integrantes da equipe poderá
aumentar. Variação: jogar só com
a mão dominante; jogar só com a
mão não dominante; receber com
duas mãos; receber com uma mão.
Frisbee bobinho: essa atividade
terá a mesma divisão de grupos da
atividade anterior. Entretanto, em
cada quadra os alunos formarão
uma única equipe. Em cada equipe
será escolhido um aluno, que
atuará no papel de “bobinho. O
objetivo da brincadeira é passar o
frisbee entre os colegas de grupo
sem deixar o “bobinho” pegá-lo.
143
A formação dos licenciandos em educação física por meio do Pibid
Caso o frisbee seja pego pelo
“bobinho”, o aluno que perdeu o
frisbee deve se tornar, também,
“bobinho”. O jogo termina quando
só restar um jogador com o
frisbee. Variação: determinar o
tempo de posse do frisbee (ex.:
10 s., 5 s., 3 s.); jogar só com a
mão dominante; jogar só com
a mão não dominante; receber
com duas mãos; receber com
uma mão.
Frisbee 2x2: os alunos serão
divididos em duplas. As duplas
jogarão entre si em miniquadras
(dividir a quadra em uma
quantidade suciente para
atender o número de alunos
existentes na aula), mas na
formação 2x1. Dessa forma,
ocorrerá o jogo propriamente dito,
mas com uma adaptação para
manter superioridade numérica
de uma das equipes. A equipe
que está com o frisbee terá os
dois jogadores em quadra, e a
equipe sem o frisbee apenas um
jogador (vantagem numérica de
ataque). Ocorre o jogo normal-
mente e, quando o jogador em
inferioridade numérica recuperar
o frisbee, seu companheiro entra
em quadra, e um dos jogadores
da outra equipe deverá sair de
quadra. O objetivo é levar o
frisbee até o endzone da outra
equipe. Marca o ponto quando
a equipe alcançar o endzone de
posse do frisbee. Variação: agora
as equipes jogarão em igualdade
numérica (2x2).
Experiências Docentes
144
3. Parte nal: diálogo e reexão
sobre o conteúdo vivenciado.
Fonte: adaptado de GONZÁLEZ; DARIDO; OLIVEIRA,
2017a; FEDERAÇÃO PAULISTA DE DISCO
Quadro 4 - Plano 4
Disciplina:
educação física
Objeto de conheci-
mento: esportes
de marca
50 min
Turma:
6° ano
Data:
xx/xx/2019
Objetivos Conteúdos Sequência didática Material
12/09 – 19/09
45 minutos
1. Aprender os diferentes tipos
de saltos existentes na ginástica
artística (GA).
2. Vivenciar os diferentes tipos
de saltos.
3. Construir a mecânica básica
dos saltos grupado, estendido
e afastado.
4. Compreender a utilização dos
saltos dentro da modalidade.
- Saltos da GA:
grupado,
estendido,
afastado,
giratório.
1. Parte inicial:
Vivo ou morto adaptado:
começando com o vivo ou morto
tradicional. No decorrer da brin-
cadeira, deve-se colocar alguns
elementos da GA, utilizando-se
para isso de algumas palavras-
-chave. Ex.: quando o professor
falar “pipoca, os alunos deverão
realizar o salto estendido. Quando
o professor falar “tesoura, os
alunos realizarão o salto afastado.
Quando o professor falar “panela
de pressão, os alunos realizarão o
salto giratório.
2. Parte principal:
Dança dos Cones: o professor
espalhará pela quadra vários
cones (minicones), e os alunos
andarão pela quadra. Ao sinal
do professor, todos devem saltar
um dos cones. Assim que o aluno
saltar, ele deverá segurar o cone
para que outros colegas não
possam utilizar aquele cone para
saltar. A cada rodada o professor
retirará um cone da quadra.
40 cones pequenos,
12 cordas grandes,
caixa de giz.
Diálogo com os
alunos para vericar
se compreenderam os
saltos da GA trabalhados
em aula.
Diálogo com os alunos
sobre as estratégias
utilizadas para tentarem
vencer as brincadeiras.
145
A formação dos licenciandos em educação física por meio do Pibid
O aluno que não conseguir
saltar o cone deverá realizar uma
estrela ou rolamento da ginástica
(aprendidos na aula anterior). A
atividade segue até que tenha
apenas um cone na quadra. Os
alunos iniciarão com o salto
grupado. Variações: inserir o salto
estendido; inserir o salto afastado;
inserir o salto giratório.
Pular corda: os alunos formarão
grupos, e cada grupo terá uma
corda. Nessa atividade, os alunos
deverão pular corda, sendo que
durante o saltar, eles deverão
apresentar os saltos básicos da
ginástica (grupado, estendido,
afastado e giratório). Os alunos
revezarão entre batedores de
corda e saltadores.
Semáforo dos pulinhos: os alunos
serão separados em grupos de
cinco. Cada grupo terá desenhado
à frente dez círculos (desenhar
com giz). Os alunos deverão saltar
entre os círculos ao comando do
professor. Entretanto, para isso, o
professor utilizará os comandos
análogos ao semáforo: verde,
amarelo e vermelho. A tarefa
deve ser realizada da seguinte
maneira: quando o professor
falar “verde um aluno do grupo
deve iniciar a atividade saltando
rapidamente entre os círculos.
Caso escutem amarelo”, os alunos
devem diminuir a velocidade dos
saltos. Caso escutem “vermelho,
os alunos devem parar de saltar.
Quando o aluno chegar ao nal
da leira de círculos, outro colega
da equipe inicia a atividade.
Durante o percurso de todos
os alunos, o professor utilizará
os comandos: verde, vermelho
e amarelo.
Experiências Docentes
146
Durante o percurso de todos
os alunos, o professor utilizará
os comandos: verde, vermelho
e amarelo. Vence a equipe que
chegar primeiro, com todos os
integrantes, do outro lado da
leira de círculos. Os alunos
iniciarão com o salto grupado. Va-
riações: inserir o salto estendido;
inserir o salto afastado; inserir
o salto giratório; deixar livre o
tipo de salto.
Corrida “pula sela”: utilizando
a mesma divisão da atividade
anterior, os grupos disputarão a
corrida “pulando sela. A corrida
funcionará da seguinte forma:
os participantes saltarão uns
sobre os outros, apoiando a mão
nas costas dos companheiros
agachados, ou seja, selando” as
costas do amigo. Será demarcada
uma área de corrida, a qual
deverá ser percorrida por todas as
equipes (de um lado da quadra
até o outro lado, por exemplo).
Os alunos que estão na “sela
devem estar agachados (mãos
apoiadas no joelho, em forma de
sela), com uma distância de 2m
entre eles. Quem está no nal da
la começará saltando sobre as
costas de cada colega de equipe,
até passar por toda a la, ao sinal
do professor.
147
A formação dos licenciandos em educação física por meio do Pibid
Ao pular o último participante,
o primeiro saltador também
colocará as mãos no joelho e
depois dará um sinal para que
o próximo colega inicie a tarefa,
e assim sucessivamente, até a
equipe completar o percurso.
Vence a equipe que completar
primeiro o percurso com todos os
integrantes passando a linha nal.
Utilizar o salto afastado.
3. Parte nal: reunir os alunos
para um diálogo sobre o que foi
trabalhado em aula.
Fonte: adaptado de GONZÁLEZ; DARIDO; OLIVEIRA,
2017b; NUNOMURA, TSUKANMOTO, 2009
Considerões finais
Diante do exposto, pode-se tecer que o presente subprojeto foi desenvolvido com
a finalidade de construir o perfil do egresso de forma a instrumentalizar os bolsistas
para que fossem capazes de analisar, selecionar e sistematizar os diferentes conteúdos
da cultura corporal de movimento, tendo em vista a adequação às diferentes caracterís-
ticas dos estudantes como: perfil sociocultural, desenvolvimento motor, psicológico e
cognitivo, aspectos e fenômenos sociais (DARIDO; RANGEL, 2005; FERREIRA, 2009;
SILVEIRA, 2017; TERTULIANO; RODRIGUES JÚNIOR; MARTINS, 2019; TERTU-
LIANO; VENDITTI JR.; OLIVEIRA, 2017), mas respeitando os documentos oficiais
propostos pelo currículo paulista.
Com olhares para os dezoito meses de projeto, pôde se observar uma considerável
melhoria qualitativa no desenvolvimento profissional, humano e cristão dos bolsistas.
No início, os bolsistas apresentavam muita dificuldade em desenvolver propostas de
ensino-aprendizagem, o que era esperado, pois estávamos atuando com alunos de se-
mestres iniciais do curso de licenciatura em Educação Física. Por isso, os primeiros
seis meses de projeto foram utilizados para ambientação dos bolsistas junto à escola e
aumento da bagagem cultural e técnica.
O aumento da bagagem cultural e técnica se deu com o uso das reuniões para
leitura e diálogos sobre os conteúdos que seriam a base para construção dos planos
Experiências Docentes
148
de aula. Além dessas reuniões do grupo, os alunos também participaram de reuniões
com outros bolsistas, de outros subprojetos da IES, contribuindo, assim, com a bagagem
cultural. Essas reuniões foram importantes, pois no decorrer do projeto observou-se
melhora na produção de planos de aula pelos bolsistas.
Por fim, consideramos que o subprojeto de Educação Física teve impacto quali-
tativo na vida acadêmica dos bolsistas, contribuindo para que eles pudessem adquirir
competências e habilidades requeridas pelas diretrizes curriculares nacionais para o
egresso de licenciatura em Educação Física. Além disso, os bolsistas constrram rela-
cionamentos profissionais e adquiriram conhecimentos e habilidades de elaboração de
planos de aula, bem como de regência e relacionamento interpessoal, alcançando, assim,
os objetivos assumidos pelo subprojeto.
Referências
BETTI, M. Ensino de primeiro e segundo graus: Educação Física para quê. Revista
Brasileira de Ciências do Esporte, Brasília, v. 13, n. 2, p. 282–287, 1992.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base Nacional Comum
Curricular: Educação é a base. Brasília, DF: MEC; CONSED; UNDIME, 2018. Disponível
em: https://bit.ly/319QjsE. Acesso em: 03 out. 2022.
CAMPOS, L. A. S. Didática da Educação Física. Várzea Paulista: Editora Fontoura, 2011.
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BOCHA - CBBB. Regras. Disponível em: https://
bit.ly/3RxM9P9. Acesso em: 03 out. 2022.
DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação Física na escola: implicações para a prática
pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
DIETRICH, K.; DÜRRWÄCHTER, G.; SCHALLETI, H. J. Os grandes jogos: metodologia
e prática. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1984.
FEDERAÇÃO PAULISTA DE DISCO. Regras Ociais. Disponível em: https://bit.
ly/3E84IGK. Acesso em 03 out. 2022.
FELÍCIO, H. M. S. O Pibid como “terceiro espaço” de formação inicial de professores.
Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 14, n. 42, p. 415-434, 2014. Disponível em:
https://bit.ly/3M0bNuX. Acesso em: 03 out. 2022.
149
A formação dos licenciandos em educação física por meio do Pibid
FERREIRA, H. B.; GALATTI, L.; PAES, R. R. Pedagogia do esporte: considerações
pedagógicas e metodológicas no processo de ensino-aprendizagem do basquetebol. In:
BALBINO, H. F.; PAES, R. R. (Ed.). Pedagogia do esporte: contextos e perspectivas. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
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Experiências Docentes
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No Brasil vivemos em uma sociedade composta por uma ampla diversidade de
pessoas, as quais possuem etnias, gêneros, idade e culturas diversas, e por vezes a rela-
ção entre tais nem sempre é agradável e/ou respeitável (MARANHÃO, 2009); referimo-
-nos especificamente ao negro e à cultura afro-brasileira, um povo que teve parte ativa
na colonização brasileira e ainda o tem, pois foram culturas passadas de pai para filho.
Sabe-se que esse grupo nem sempre é bem visto, recebido e respeitado e, por diversas
vezes, o negro tem sido discriminado direta ou indiretamente na sociedade em que
vive. Alguns se tornam alvo de preconceitos, exclusões e frequentes humilhações na
sociedade da qual fazem parte.
Jogos de matriz africana:
percepção, experiências e
práticas no Pibid
CAPÍTULO 10
Ledimar Brianezi
Rogério de A. Gemeinder
Alan N. Prado
Breno C. dos Santos
Cândido P. da Silva Netto
Guilherme de S. Silva
Hadrielly K. S. e Silva
Joabe T. de Andrade
Keila T. Santos
Leonilda B. G. da Silva
Lucas E. Delfino
Lucas W. de O. Santos
Thaíssa P. Laray
Victor G. Franco
Willian V. Espinosa
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p151-162
Experiências Docentes
152
Compreendendo a importância da inclusão da cultura afro-brasileira no Brasil,
foi sancionada a Lei n° 10.639/2003 no ano de 2003, que impele a obrigatoriedade do
ensino de história e cultura afro-brasileira dentro das escolas nas disciplinas já presen-
tes na grade curricular, objetivando incluir essa cultura para alunos do ensino funda-
mental e médio. Foi essa mesma lei que estabeleceu o dia 20 de novembro como o dia
nacional da consciência negra.
Segundo Tavares (apud MARANHÃO, 2009, p. 11),
o corpo coexistiu e coexiste como dispositivo de poder, de identidade e de linguagem
transparente em seu cotidiano. Nesses grupos, não obstante a presença da comuni-
cação verbal, foi pela comunicação não verbal que se realizou a constrão de estra-
tégias que transgrediram, pela via do lúdico, os rigorosos grilhões do cotidiano do
colonialismo europeu.
Ou seja, o corpo era utilizado como meio de comunicação através da ludicida-
de no cotidiano dos africanos trazidos para o Brasil. Pereira, Gonçalves Júnior e Silva
(2009) perceberam uma lacuna no cumprimento da lei, que diz ser obrigatória a mi-
nistração de aulas com conteúdo africano, principalmente nas aulas de educação física,
pois não havia espaço nas aulas regulares para ministrar esse conteúdo.
O que os jogos e brincadeiras
representam na cultura africana
O tema “jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais e de origem africana” tem
como objetivo resgatar com os alunos a influência étnica das nossas brincadeiras e apro-
fundar o assunto, uma vez que estão se perdendo com o passar do tempo. Segundo
Cascudo e Kishimoto (apud TRINQUINALIA; SOUZA, 2010, p. 8):
os jogos tradicionais infantis fazem parte da cultura popular, expressam a produção
espiritual de um povo em uma determinada época histórica, são transmitidos pela
oralidade e sempre estão em transformação, incorporando as criações anônimas de
geração em geração.
É função da disciplina de educação física fazer o resgate da teoria e da prática dos
jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais e de herança africana, as quais antigamen-
te eram transferidas de geração em geração e que na atualidade são pouco praticadas pe-
las crianças, principalmente aquelas que residem em zonas urbanas. Conforme Ramos
e Weiduschat (2002, p. 2):
153
Jogos de matriz africana: percepção, experiências e práticas no Pibid
O brincar e o jogar são atos indispensáveis à saúde física, emocional e intelectual e
sempre estiveram presentes desde os povos mais antigos; através desses, as crianças
desenvolvem a linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a autoestima,
sendo capazes de enfrentar desafios e construir um lugar melhor para viverem.
A tecnologia está ocupando um espaço significativamente grande na rotina das
crianças, levando-as ao sedentarismo e a atividades passivas e contemplativas, ausentes
de movimento corporal, o que pode se tornar algo perigoso. Resgatar os jogos e brin-
cadeiras tradicionais e de origem africana é importante para incentivar as crianças a
brincarem mais, a desenvolverem habilidades motoras e capacidade de se socializarem
com outras crianças de culturas, cores e classes sociais diversas. Corroborando essa
ideia, Maranhão (2009) afirma que a maneira como educamos nossos filhos, os valores
aprendidos e estabelecidos desde a infância e a convivência com pessoas de culturas e
etnias diversas são os alicerces que vão influenciar as crianças na maneira de pensar,
respeitar outras pessoas e se posicionar em relação a elas.
Neste sentido, apresentamos abaixo diversos jogos e brincadeiras de matriz afri-
cana para que possam ser trabalhados e explorados no ambiente escolar.
Título do jogo: Mancala ou Makala
Materiais necessários: você vai precisar de uma placa de mancala feita a mão, que é composta por duas leiras de seis furos ou poços.
Se não tiver a placa pode-se usar uma caixa de ovos, ou até mesmo fazer buracos na terra. Irá precisar também de pedras, sementes ou
feijões para colocar nos furos.
Local de realização: o jogo pode ser realizado em qualquer lugar, desde que você tenha um tabuleiro, seja ele feito a mão, na terra ou
até mesmo desenhado em algum lugar, e que tenha as pedrinhas também.
Posição inicial: os jogadores deverão estar um de frente para o outro com o tabuleiro na posição horizontal; o jogo é para apenas dois
jogadores por vez.
Desenvolvimento (regras): o jogo começa normalmente com quatro pedras em cada buraco. Sua jogada consiste em escolher um
buraco, retirar suas chas e distribuí-las pelos outros buracos, uma por buraco, no sentido anti-horário (em algumas versões do jogo, no
sentido horário). Quando você passa por sua mancala, você deixa uma pedra nela como se fosse um buraco normal. Mas você deve pu-
lar a mancala do adversário. Se a última pedra distribuída cair na sua própria mancala, você joga de novo. E se ela cair em um dos seus
buracos e ele estiver vazio, você leva para sua mancala não apenas essa pedra, mas todas as pedras que estiverem no buraco adversário
exatamente oposto. Quando os seis buracos de um jogador estão vazios, o adversário coloca todas as pedras que estiverem na metade
do tabuleiro em sua mancala. Somam-se então as pedras, e quem tiver mais, vence.
Encerramento: vence o jogo quem tiver mais pedras.
Disponível em: https://bit.ly/3dapwPc. Acesso em: 03 out. 2022..
Experiências Docentes
154
Título do jogo: Labirinto de Moçambique
Materiais necessários: chão, qualquer coisa que dê para fazer o desenho de um labirinto no chão e se não puder utilizar o chão para
desenhar, pode-se usar papelão ou cartolina.
Local de realização: o jogo pode ser realizado em qualquer lugar que dê para desenhar um labirinto no chão. Caso não tenha um chão
que se possa desenhar, pode-se fazer em um papelão ou cartolina e coloque no chão.
Posição inicial: os jogadores iniciam o jogo na primeira extremidade do desenho, devem estar um de frente para o outro para tirarem
par ou ímpar.
Desenvolvimento (regras): para seguir em frente, tira-se par ou ímpar repetidas vezes; toda vez que um jogador ganhar ele segue
para a extremidade à frente; uma opção também é de os jogadores tirarem papel, pedra, tesoura ao invés do par ou ímpar.
Encerramento: vence o jogo o jogador que chegar à última extremidade primeiro.
Disponível em: https://bit.ly/3CsCs08. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Pegue a cauda
Material necessário: algo bem simples como uma camiseta, colete ou até mesmo um pano de prato.
Local de realização: o jogo pode ser realizado em áreas que contenham espaços para a locomoção das crianças, ou seja, quadras,
pátios, dentre outros.
Posição inicial: os jogadores se posicionam em las para a distribuição do material a ser utilizado. As equipes devem ser posicionadas à
lateral de seu oponente para que o jogo possa ser iniciado.
Desenvolvimento (regras): cada equipe forma uma la segurando pelo ombro ou cintura. O último jogador coloca um lenço no bolso
ou cinto. A primeira pessoa na linha comanda a equipe na perseguição e tenta pegar uma cauda de outra equipe.
Encerramento: ganha quem pegar mais lenços. Se houver apenas duas equipes, vence quem pegar primeiro.
Disponível em: https://bit.ly/3dby9cc. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Queah
Materiais necessários: um tabuleiro e dez peças para cada jogador.
Local de realização: poderá ser realizado em qualquer lugar desde que tenha o tabuleiro e as peças, podendo usar pedras e até o chão
com terra para desenhar o tabuleiro, caso necessário.
Posição inicial: os jogadores carão de frente um para o outro com o tabuleiro entre eles e apenas dois jogadores por vez podem jogar.
A idade recomendada para se jogar é a partir dos 6 anos.
Desenvolvimento (regras): peças se movem ortogonalmente ao longo destas placas de quadrados inclinados ou diago-
nais. Outra característica única é que cada jogador deve ter quatro (e só quatro) peças no tabuleiro. A peça capturada de
cada jogador é reabastecida no início de seu próximo turno com um pedaço de sua reserva (a não ser, claro, que o jogador
não tenha mais peças para reabastecer).
155
Jogos de matriz africana: percepção, experiências e práticas no Pibid
Encerramento: o jogo é nalizado quando acabam todas as peças do adversário.
Disponível em: https://bit.ly/3Gcauoj. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Shisima
Materiais necessários: um tabuleiro e seis peças.
Local de realização: poderá ser realizado em qualquer lugar desde que tenha o tabuleiro e as peças, podendo usar pedras e desenhar
o tabuleiro no chão.
Posição inicial: os jogadores carão de frente um para o outro com o tabuleiro entre eles, e apenas dois jogadores por vez podem jogar.
Desenvolvimento (regras): coloque as peças no tabuleiro. Os jogadores revezam-se, movimentando suas peças um espaço na linha
até o próximo ponto vazio. Seguem revezando-se, movimentando uma cha por vez. O jogador pode entrar no centro, na shisima, a
qualquer momento. Não é permitido saltar por cima de uma peça. Cada jogador tenta colocar as três peças que lhe pertencem em linha
reta. A linha tem que passar pela shisima. Há quatro maneiras diferentes de fazer uma linha.
Encerramento: o primeiro a colocar as três peças em linha reta é o vencedor. Se a mesma sequência de movimentos for repetida
três vezes, o jogo acaba empatado, isto é, não há vencedor nem perdedor. É hora de começar uma nova partida. Os jogadores devem
revezar-se para iniciá-la.
Disponível em: https://bit.ly/3deIJPI. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Mamba
Material necessário: tênis para os participantes.
Local de realização: quadra de esportes, salão ou pátio. Pode ser realizado em qualquer ambiente aberto que facilite a movimentação
dos participantes.
Posição inicial: a brincadeira inicia-se com um pegador, que, no caso, é a “mamba.
Desenvolvimento: a mamba deve sair correndo atrás das pessoas para que se juntem a ela, formando uma la indiana atrás da
pessoa que é a mamba (semelhante ao pega-corrente), mas neste caso somente a mamba pode “pegar”. Caso estejam encontrando
diculdades para completar a “mamba, pode-se criar uma alteração na regra para que as pessoas que encostarem em parte da mamba
também quem pegas; enquanto a brincadeira ocorre, pode-se inventar uma música para que seja a música da mamba.
Encerramento: a brincadeira se encerra quando todos forem pegos.
Disponível em: https://bit.ly/3Dhw6hp. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Ampe
Material necessário: papel e lápis (ou caneta)
Local de realização: quadra de esportes, salão ou pátio. Pode ser realizado em qualquer ambiente aberto que facilite a movimentação
dos participantes.
Experiências Docentes
156
Título do jogo: Ampe
Posição inicial: é feito um círculo com os participantes voltados ao centro do mesmo.
Desenvolvimento: escolha alguém para ser o líder. O líder deve car próximo a quem o desaa em postura de oposição (frente a
frente). O líder deve pular e bater palma sinalizando que vai desaar, em seguida pula novamente e joga uma das pernas para frente;
caso o desaante levante a perna oposta ao líder, o líder anota um ponto e passa para o próximo desaante; caso o desaante levante a
mesma perna do líder, soma-se um ponto ao desaante, e o líder passa para o próximo oponente.
Encerramento: a rodada encerra-se quando todos tiverem desaado o líder. Pode-se fazer uma nova rodada com o mesmo líder ou
trocar o líder para a próxima rodada. Dependendo do número de participantes, a brincadeira torna-se lúdica e os vencedores acabam
por passar despercebidos.
Disponível em: https://bit.ly/3diQ7ta. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Umphuco
Material necessário: pedras de diferentes tamanhos.
Local de realização: espaço aberto.
Posição inicial: em duplas, um em frente ao outro.
Desenvolvimento: algumas pedras são colocadas em um buraco raso. Cada jogador tem uma pedra pelo menos três vezes maior do
que as pedras colocadas no buraco e com esta ele tenta tirar as pedras menores do buraco. Um por um, cada jogador lança a pedra
maior no buraco e recolhe as pedras menores que saíram do buraco.
Encerramento: o jogador que tiver mais pedras ganha.
Disponível em: https://bit.ly/2ZMgbtF. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Acompanhe os pés
Materiais utilizados: não são necessários materiais.
Local de realização: a atividade pode ser realizada em qualquer lugar, desde que tenha espaço para uma roda.
Posição inicial: Os jogadores devem estar em roda, com espaço no meio para que seja possível realizar os passos.
Desenvolvimento: Com origem no Zaire, a brincadeira é uma ótima opção para trabalhar a memória das crianças. Para brincar elas
devem formar um círculo enquanto o líder canta e bate palma. Em um determinado momento, ele para na frente de uma criança e faz
um tipo de dança. Se ela conseguir imitar os passos será o próximo líder. Se não, este escolherá outra pessoa e novamente fará a dança,
até que o novo líder seja denido.
Encerramento: A brincadeira dura o tempo estipulado pelo professor, ou até que as crianças se mostrem cansadas. Não tem vencedor,
pois a cada rodada há um novo líder.
Disponível em: https://bit.ly/3DhRW4c. Acesso em: 03 out. 2022.
157
Jogos de matriz africana: percepção, experiências e práticas no Pibid
Título do jogo: Meu querido bebê (Nigéria )
Materiais necessário: giz para riscar o chão ou caneta e papel grande.
Local de realização: pode ser realizado em qualquer lugar, desde que tenha lugar para desenhar.
Posição inicial: os jogadores devem estar em grupos e espalhados para que seja mais difícil descobrir quem está desenhado.
Desenvolvimento: um jogador é escolhido e deve car de fora, para não ver o que os outros vão fazer. O restante escolhe outro para ser
o bebê. Este deve se deitar no chão para que seja feito o contorno do seu corpo. Depois, ele se junta aos demais e chamam aquele que
foi retirado. O que saiu deve adivinhar a qual corpo aquele contorno pertence. Se acertar, ele pontua e continua em uma nova rodada. Se
errar, outro jogador assumirá seu lugar.
Encerramento: vence quem tiver mais pontos.
Disponível em: https://bit.ly/3pqnIr7. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Yoté
Material utilizado: um tabuleiro com trinta casas (6x5) e 24 marcadores/peças no total, sendo doze de cada cor.
Local de realização: como o jogo é de tabuleiro, pode ser realizado em qualquer lugar, e mesmo que não possua um tabuleiro formal,
o mesmo pode ser desenhado até mesmo no chão.
Posição inicial: cada jogador recebe suas doze peças e o tabuleiro se inicia vazio; para que se dê início ao jogo, um dos jogadores coloca
uma peça em qualquer lugar do tabuleiro conforme sua estratégia.
Desenvolvimento: o tabuleiro começa vazio. Cada jogador recebe doze peças e, por sua vez, cada jogador pode colocar uma nova
peça em um quadrado livre do tabuleiro; ou mover uma peça sua que já esteja no tabuleiro; ou capturar uma peça do adversário. As
peças que já estão no tabuleiro de jogo podem ser movimentadas no sentido horizontal ou vertical para um quadrado adjacente livre.
Qualquer movimento diagonal é proibido. Uma peça é capturada pulando-se por cima dela, horizontalmente ou verticalmente. Saltos
múltiplos em um único movimento são proibidos, mas cada captura permite reter uma segunda peça do adversário, posta em qualquer
quadrado do tabuleiro. A captura de uma peça adversária não é obrigatória. Uma peça não pode mover-se de volta para sua posição
anterior, com a exceção de uma captura.
Encerramento: o vencedor é aquele que capturou todas as peças do adversário.
Disponível em: https://bit.ly/3LZJe. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Terra-mar
Material utilizado: apenas um risco no chão, dividindo-se, assim, de um lado “terra e do outro lado mar”.
Local de realização: essa brincadeira pode ser realizada em qualquer lugar que dê para fazer uma linha/marcação grande no chão
dividindo os dois lados (terra e mar).
Posição inicial: os jogadores cam dispostos ao longo da linha no chão sem pisar nela.
Experiências Docentes
158
Título do jogo: Terra-mar
Desenvolvimento: é escolhido um jogador para dar a voz de comando, que será mar” ou “terra. A partir desta ordem, os jogadores
darão um salto para o lado correspondente. A voz de comando não obedece a qualquer sequência, o que quer dizer que a ordem mar”,
por exemplo, pode ser dada repetidamente. Por outro lado, os jogadores podem ser enganados pelo comandante do jogo, quando este
executar um movimento para o lado contrário ao da ordem que deu. Sempre que um jogador se enganar, saltando para o lado errado,
ou cando no mesmo lado em vez de saltar, sai do jogo.
Encerramento: o jogo termina quando ca apenas um participante, que será o vencedor.
Disponível em: https://bit.ly/3lutJ4W. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Escravos de Jó
Materiais necessários: neste jogo se mostra necessário participantes em uma roda circular e objetos pequenos para que possam ser
passados de mão em mão, como por exemplo, uma pedra. Podem ser utilizados instrumentos musicais ou mesmo um rádio, sendo essa
uma escolha do aplicador da atividade.
Local de realização: pode ser feito tanto em espaço aberto quanto fechado, mas necessário ser realizada uma roda.
Posição inicial: os integrantes vão estar em círculo, sentados ou em pé, mas de preferência sentados, e com o objeto nas mãos esperan-
do o início da música.
Desenvolvimento (regras): após iniciar a música, os participantes vão movendo o objeto em sentido horário e cada momento da
música é um movimento.
Música: “Escravos de Jó jogavam caxangá”(cada participante pega o objeto e passa para o participante da direita simultaneamente,
sendo assim, cada jogador deve ter apenas um objeto nas mãos). tira (levantam o objeto para cima)/ põe, (colocam o objeto nova-
mente no chão)/ deixa car (apontam com o dedo para o objeto no chão)/ guerreiros com guerreiros (voltam a passar o objeto para a
direita)/ fazem zigue, (colocam o objeto na frente do jogador à direita, mas não soltam)/ zigue, (colocam o objeto à frente do jogador à
esquerda, mas não soltam) /zág (colocam o objeto à frente do jogador à direita novamente).
Encerramento: o jogo será um jogo de roda, ou seja, torna-se um jogo lúdico sem qualquer competição e tem seu encerramento
quando a música acaba, mas se os participantes desejarem continuar, podem começar a cantar novamente a música.
Disponível em: https://bit.ly/3KZoiFX. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Saltando o feijão
Materiais necessários: serão necessários, no mínimo, três participantes, uma corda e, se acharem necessário, algo mais sólido para
amarrarem na ponta da corda para que tenham mais rmeza no giro.
Local de realização: pode ser feito em áreas abertas, quadras, áreas verdes, rua (com a devida segurança) e em vários outros lugares,
mas é necessário ter um espaço amplo.
Posição inicial: é escolhido um participante para ser o “balançador”, ou seja, quem irá girar a corda e os outros participantes irão formar
um círculo em volta do balançador.
159
Jogos de matriz africana: percepção, experiências e práticas no Pibid
Título do jogo: Saltando o feijão
Desenvolvimento (regras): o jogo começa com o balançador girando a corda em círculo na altura do tornozelo dos participantes, e
eles não podem deixar que a corda os acerte. Caso acerte, serão desclassicados.
Encerramento: o jogo termina quando sobrar um participante apenas, que será o vencedor.
Disponível em: https://bit.ly/3dg8JKp. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Pegue o bastão (Egito)
Material necessário: é necessária uma vara para cada aluno.
Local de realização: quadra.
Posição Inicial: os participantes estarão em um grande círculo, segurando as varas na frente, com uma ponta tocando o chão.
Desenvolvimento: o professor gritará “troca”. Os jogadores deixarão a vara equilibrada e correrão para a próxima à sua direita e tentarão
pegar antes que a mesma caia. Se o jogador não conseguir pegar a vara antes que caia, ele sai do jogo com sua vara.
Encerramento do jogo: o último que não deixar a vara cair, vence.
Disponível em: https://bit.ly/3EeuQwK. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Gutera uriziga (Ruanda)
Materiais necessários: um grande aro (bambolê, roda de bicicleta etc.) e bastões (cabo de vassoura, bambu etc.).
Local de realização: quadra, campo.
Posição inicial: todos os jogadores cam ombro a ombro em uma linha reta, segurando suas varas.
Desenvolvimento: os participantes devem lançar os bastões no aro e acumular mais pontos. Uma criança é escolhida como líder. O
líder rola o aro. Os jogadores tentam jogar as varas através do aro em movimento.
Encerramento: vence quem acumular mais pontos.
Disponível em: https://bit.ly/3C6UMuk. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Kameshi mpuku ne – o gato e o rato (luba do Congo)
Material necessário: giz comum para lousa (algo para fazer as linhas no chão).
Local de realização: quadra.
Posição inicial: os jogadores se organizam em linhas e colunas iguais (4x4, 5x5 etc.), deixando um espaço de aproximadamente 1
metro entre eles. Em cada linha, as crianças cam de mãos dadas. A seguir são escolhidas três crianças (o coordenador, o rato e o gato).
Experiências Docentes
160
Título do jogo: Kameshi mpuku ne – o gato e o rato (luba do Congo)
Desenvolvimento: para iniciar o jogo, o gato persegue o rato entre as linhas formadas pelos jogadores. Quando o coordenador gritar
"parar o rato", os jogadores soltam as mãos do colega da linha e seguram nas mãos dos jogadores da coluna. Isso muda a direção dos
corredores. O rato e o gato devem car atentos às mudanças constantes entre linhas e colunas.
Encerramento do jogo: o jogo termina quando o rato for pego, ou o tempo limite for atingido.
Disponível em: https://bit.ly/3e1GSBL. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Negação de imposto (Moçambique)
Material necessário: giz ou corda.
Local de realização: quadra.
Posição inicial: é separado apenas um aluno dos demais.
Desenvolvimento: dois grandes círculos devem ser desenhados no chão a uma distância de aproximadamente 10 m. Os participantes
que simbolizam a população cam em um dos círculos. No outro, permanece um jogador sozinho, que simboliza o “sipaio (cobrador de
imposto). Então, ocorre o seguinte diálogo:
Sipaio: – Meus amigos, venham aqui!
População: – Temos medo!
Sipaio: – Medo do quê?
População: – Do imposto!
Sipaio: – Podem vir, não há problema!
Após esta última frase, os alunos que representam a “população devem fugir do círculo, enquanto o sipaio” tenta prendê-los. Os joga-
dores que não forem tocados poderão refugiar-se no círculo onde, anteriormente, o cobrador” estava. Este, por sua vez, deverá conduzir
os jogadores que pegou para o círculo contrário.
Encerramento do jogo: os participantes que foram pegos passam também a ser “sipaios, ajudando a pegar aqueles que estão livres.
Assim, o número de perseguidores vai aumentando ao mesmo tempo que o número de perseguidos diminui. O jogo termina quando
todos os jogadores forem capturados.
Disponível em: https://bit.ly/3xNimK8. Acesso em: 03 out. 2022.
Título do jogo: Mbube, mbube – o leão e o impala” (África do Sul)
Material necessário: materiais não são necessários.
Local de realização: quadra.
Posição inicial: são separados dois alunos dos demais.
Desenvolvimento: todos os participantes formam um círculo. Dois começam a brincadeira, um representando o leão e outro o empala.
O leão deve caçar o empala em um minuto, ziguezagueando entre os demais participantes enquanto grita: “Mbube! Mbube!”.
161
Jogos de matriz africana: percepção, experiências e práticas no Pibid
Título do jogo: Mbube, mbube – o leão e o impala” (África do Sul)
Encerramento do jogo: caso o predador não consiga pegar sua presa no tempo determinado, irá compor o círculo com os demais
companheiros, e o grupo deve eleger um novo leão. Se o leão conseguir pegar o empala, ele escolhe um outro colega para ser o fugitivo.
Disponível em: https://bit.ly/3rvWRfC. Acesso em: 03 out. 2022.
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Práticas
formativas
no Programa
de Residência
Pedagica
PARTE 2
Nos debates sobre a profissão docente, defende-se que o professor ideal deve reunir
conhecimentos da sua área específica, conhecimentos relativos às ciências da educação e
à pedagogia e um saber prático construído na experiência cotidiana com os alunos.
Para Tardif (2011), os saberes que servem de base para a formação docente não
se resumem aos conhecimentos teóricos obtidos na universidade e produzidos pelas
pesquisas na área da educação, mas englobam os saberes que se constroem na prática
cotidiana na realidade escolar, na relação com os pares e no contato com as condições
da profissão. A esses conhecimentos o autor denomina saberes experienciais.
[...] Se é verdade que a experiência do trabalho docente exige um domínio cognitivo
e instrumental da função, ela também exige uma socialização na profissão e uma
vivência profissional através das quais a identidade profissional vai sendo pouco a
pouco construída e experimentada e onde entram em jogo elementos emocionais,
relacionais e simbólicos que permitem que um indivíduo se considere e viva como
um professor e assuma, assim, subjetivamente e objetivamente, o fato de fazer car-
reira no magistério (TARDIF, 2011, p. 108).
A imporncia dos saberes experienciais na profissionalização do ensino e espe-
cialmente na formação docente nos leva a indagar sobre como os cursos de licenciatura
têm incorporado em seus programas de formação os saberes práticos que são adqui-
ridos em situações reais da profissão? Como esses cursos têm promovido a socializa-
ção profissional? Como têm-se dado as relações entre os saberes dos profissionais e os
Programa de Residência
Pedagógica e concepção de
formação de professores: o
que nos revela o projeto de
uma instituição
CA PÍTULO 11
Elize Keller-Franco
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p165-184
Experiências Docentes
166
conhecimentos universitários, entre os professores da educação básica e os professores
pesquisadores e formadores?
A indissociabilidade teoria-prática é um dos aspectos que mais tem despertado
a atenção na formação inicial de professores. Para Tardif (2011, p. 269), “os saberes das
ciências da educação e os saberes profissionais são vizinhos, mas, não se interpenetram
nem se interpelam mutuamente”.
Os condicionantes da cisão teoria-prática podem ser localizados na organização
que tem acompanhado historicamente os cursos de licenciaturas, o conhecido modelo
3+1, no qual em três anos se oferece a formação de bacharel e com mais um ano de for-
mação didática tornam-se licenciados. Outro condicionante pode ser localizado a partir
do momento em que os currículos de formação criaram os estágios como um compo-
nente fora do momento de aula, como um apêndice do currículo, fato que se deu com a
LDB 4.024/61, repetiu-se na LDB 5.692/71 e perdura na atual Lei de Diretrizes e Bases.
Esses desafios guardam relação direta com as concepções de formação que orien-
tam os cursos que formam para a docência. Imbernón (2009), ao referir-se às novas
tendências para a formação de professores afirma:
Uma reestruturação da formação de professores precisa se opor frontalmente a toda
manifestação explícita ou oculta da racionalidade técnica que com outros nomes e
procedimentos nos leva de volta ao passado (competências, planos estratégicos, quali-
dade, eficiência, eficácia...), sem alise, seja nos conteúdos curriculares ou nas formas
de gestão, seja no controle técnico-burocrático da educação e da formação. É preciso
assumir uma perspectiva crítica em educação e formação (IMBERNÓN, 2009, p. 37).
Na mesma direção, García (1999) propõe que os programas de formação de pro-
fessores devem ultrapassar a racionalidade técnica que ainda continua a dominar nesses
cursos. Nesse contexto de considerações, o presente capítulo tem como objetivo levantar
reflexões sobre as concepções que orientam os cursos de formação de professores a par-
tir da alise de um projeto institucional encaminhado à Capes para atender ao edital nº
06/2018, que lança o Programa da Residência Pedagógica, o qual tem como finalidade o
fomento para ressignificação da formação de professores.
A razão de trazermos para reflexão as concepções de formação docente é porque
acreditamos não ser suficiente ter políticas e programas, também é preciso considerar
as concepções de fundo que orientam essas políticas e programas. O fato de haver uma
política e programa gera outra exigência, instala para o debate a questão sob quais bases
estão sendo formulados essas políticas para a formação de futuros professores e como se
desdobram no contexto da prática em seus projetos. O interesse pela temática se insere
ainda nos questionamentos e estudos que vimos desenvolvendo sobre as concepções de
167
Programa de Residência Pedagógica e concepção de formação de professores
formação docente que embasam os cursos e programas que formam esses profissionais
(KELLER-FRANCO, 2014; 2018).
A partir dessa introdução apresentaremos o Programa da Residência Pedagógica, na
sequência trazemos uma síntese sobre as concepções de formação de professores para então
analisar a concepção que orienta o Projeto da Residência Pedagógica de uma instituição.
O Programa de Residência Pedagógica (PRP)
O marco legislatório brasileiro vem dedicando atenção às práticas nos cursos de
formação de professores, inclusive com o aumento de carga horária para esses compo-
nentes curriculares. Tendo em vista esse contexto, foi lançado em 2018 pela Coordena-
ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o edital nº 06/2018 com
chamada para Instituições de Ensino Superior (IES) para participarem do PRP voltado
para a implementação de projetos inovadores que viabilizassem a articulação teoria/
prática mediante a aproximação das escolas públicas e dos cursos de licenciatura na for-
mação para a docência. Poderiam participar da chamada pública instituições públicas,
privadas sem fim lucrativos e IES privadas com fins lucrativos que possuíssem cursos de
licenciatura participantes do Prouni.
Conforme edital, o Programa é uma atividade de formação para estudantes a par-
tir da segunda metade de cursos de licenciatura, a ser desenvolvido em escolas públicas
de educação sica denominadas escolas-campo e que deverão ser reconhecidas pelas
IES para fins de estágio. O estudante (residente) será acompanhado por um docente da
escola-campo (preceptor) e na IES por um professor do curso (docente-orientador). O
Programa conta ainda com um coordenador institucional para mediação e coordena-
ção do Projeto Institucional (PI). Tanto o residente quanto os professores envolvidos
(preceptor, orientador e coordenador institucional) recebem bolsas, mas também está
prevista a participação de voluntários.
Constam como objetivos do Programa: I. Aperfeiçoar a formação nas licencia-
turas mediante projetos que fortaleçam o campo da prática; II. Induzir a reformulação
do estágio supervisionado; III. Fortalecer, ampliar e consolidar a relação entre a IES e
a escola, promovendo sinergia entre a entidade que forma e a que recebe o egresso da
licenciatura e estimulando o protagonismo das redes de ensino na formação de pro-
fessores. IV. Promover a adequação dos currículos e propostas pedagógicas dos cursos
de formação inicial de professores da educação básica às orientações da Base Nacional
Comum Curricular (BRASIL, 2018).
O edital prevê que a residência tenha um total de 440 horas distribuídas entre:
ambientação na escola (60 horas), imersão (320 horas) e elaboração de relatório fi-
nal, avaliação e socialização de atividades. As horas destinadas à imersão devem ser
Experiências Docentes
168
distribuídas entre a regência (100 horas) e o planejamento e execução de pelo menos
uma intervenção pedagógica.
Embora o Programa tenha sido lançado recentemente, a ideia da residência en-
contra manifestações anteriores no cenário educacional brasileiro, tanto na legislação
como na implementação de algumas experiências com terminologias próximas, tais
como residência educacional, residência docente e imersão docente.
Conforme dados trazidos por Faria e Diniz-Pereira (2019), a primeira menção na
legislação se deu em um Projeto de Lei do Senado nº 227/2007 (BRASIL, 2007), insti-
tuindo a residência educacional no âmbito da formação continuada com bolsa de estu-
dos para professores da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental como
etapa obrigatória e ulterior à habilitação, tendo sido o projeto arquivado.
Os autores trazem ainda as experiências desenvolvidas no Programa Residência
Docente que teve início no Colégio Pedro II, para professores da rede pública com diplo-
ma de licenciatura plena e que atuassem em qualquer das áreas/disciplinas oferecidas na
educação básica. Ao final do curso, o residente-docente recebia o título de especialista
em docência do ensino básico (pós-graduação lato sensu) em sua área específica de atu-
ação. Nesses mesmos moldes desenvolveu-se também o Projeto Residência Docente do
Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (CP/UFMG). Esses proje-
tos foram aprovados pela Capes em 2011 e 2013 respectivamente.
No âmbito da formação inicial, os estudos de Faria e Diniz-Pereira (2019) encon-
traram experiências desenvolvidas nos moldes da residência como a implementada pelo
Centro Pedagógico (CP) da Escola de Aplicação da UFMG: o Projeto Imersão Docente
(PID). Desde 2011, o projeto oferece bolsas de monitoria para estudantes das licencia-
turas em artes, ciências biológicas, geografia, história, letras, matemática e pedagogia.
Os licenciandos acompanham continuamente uma turma em todas as disciplinas e nas
atividades nos variados espaços escolares. Além disso, na sua atribuição de 25 horas
semanais desenvolvem uma variedade de atividades como encontros de orientação, par-
ticipação em reuniões pedagógicas, planejamento de aulas, participação na docência e
elaboração de um relato de experiência.
Outra experiência trata-se do Programa Residência Educacional, da Secretaria de
Estado da Educação de São Paulo (O PAULO, 2013), por meio de uma política pública
voltada para a melhoria da qualidade do ensino em escolas estaduais com baixos índices
de desempenho escolar. Estudantes de licenciaturas recebiam bolsa-estágio e auxílio-
-transporte para realizar o estágio nos anos finais do ensino fundamental e do ensino
médio nessas escolas, cumprindo uma jornada de 15 horas semanais com o limite má-
ximo de 6 horas drias.
A experiência mais divulgada e também mais próxima da atual versão do PRP do
MEC, é o seu homônimo, o Programa de Residência Pedagógica (RP) em andamento
169
Programa de Residência Pedagógica e concepção de formação de professores
desde 2009 no curso de Pedagogia da Unifesp - Universidade Federal de São Paulo (GI-
GLIO; LUGLI, 2013; SILVESTRE; VALENTE, 2014).
Conforme apresentado por Silvestre e Valente (2014), a RP da Unifesp tinha como
finalidade levar a termo uma nova forma de organizar os estágios mediante uma pro-
posta articulada de aprendizagens teórico-práticas com valorização dos espaços da edu-
cação pública: a escola, a sala de aula e os sistemas de ensino.
Para atingir essas finalidades, propunha ações sistematizadas, baseadas no diá-
logo e planejamento coletivo envolvendo três protagonistas: o residente – licenciando;
o preceptor – docente da IES responsável pelo residente no estágio; e os professores-
-formadores – profissionais da escola que recebem os residentes.
Nas palavras dos autores, a imersão se constitui em um princípio básico da RP.
Para tal, as horas do estágio deveriam ser desenvolvidas de forma contínua e ininter-
rupta, distribuídas da seguinte forma: 105 horas no ensino fundamental e 105 horas
na educação infantil; 45 horas na educação de jovens e adultos e 45 horas em gestão
educacional. Ainda mencionam 25 horas para encontros com os preceptores na IES e
elaboração de relatórios.
A RP estava organizada em quatro etapas, com duração de aproximadamente qua-
tro a cinco semanas. Na primeira etapa, com um roteiro de observação, os residentes
fazem um reconhecimento do espaço, estabelecem relações com os alunos e professor-
-formador e entram em contato com o plano de ensino em andamento. As observações
são registradas em um caderno de campo.
Na segunda etapa o residente esboça as primeiras ideias sobre a intervenção que
irá desenvolver em sala de aula e dlogos com o professor-formador e preceptor. Na
fase seguinte, o residente desenvolve a sua intervenção mediante o Plano de Ação Peda-
gógica (PAP); na quarta e última etapa, o residente estabelece contato e diálogo com o
professor-formador sobre o seu desempenho na RP.
Em linhas gerais, a RP da Unifesp apresenta muitas semelhanças com o PRP pro-
posto pela Capes, com algumas poucas particularidades, como as denominações para
os atores do processo: na Unifesp, preceptor é o professor-formador da IES; no PRP atu-
al, o preceptor é o formador na escola. Entre as similitudes encontram-se as finalidades
de inovar o estágio e promover uma maior articulação teoria-prática mediante uma
aproximação mais efetiva com as escolas públicas.
Assim, o atual PRP pode ser situado no movimento iniciado na literatura peda-
gógica, a partir da década de 1990 do século 20, que buscava atribuir aos componentes
práticos da formação o status de epistemologia, a epistemologia da prática, e que acabou
se estendendo para a legislação educacional voltada para a formação de professores.
Ressaltamos a importância de termos políticas e programas voltados para a me-
lhoria da aprendizagem para a docência, no entanto, defendemos não ser suficiente pa-
rarmos aí; o fato de termos políticas e programas gera outra exigência, qual seja, trazer
Experiências Docentes
170
para o debate a reflexão sobre quais bases estão servindo de ponto de partida para essas
diretrizes para a formação de futuros professores e sob quais concepções de formação
docente se amparam e se reinterpretam os projetos institucionais.
Um olhar sobre as
concepções de formação docente
A formação de professores é concebida e conduzida sob diversas perspectivas a
depender das concepções dos grupos que alcançaram hegemonia na formulação das
políticas e programas, dos projetos institucionais e dos modelos de formação tácitos ou
explícitos assumidos pelos que estão diretamente envolvidos nos processos formativos,
ou seja, dos docentes formadores.
Defendemos que quaisquer debates e reflexões sobre alternativas de inovação na
formação docente devem passar pelo questionamento das concepções de formação que
subjazem essas iniciativas. Na literatura pedagógica encontram-se autores que têm se
dedicado ao estudo dessas abordagens utilizando terminologias diversas tais como ten-
dências, orientações, paradigmas, tradição e modelos. Para uma visão das discussões e
reflexões sobre os modelos de formação docente, trazemos um recorte de um artigo por
nós publicado (KELLER-FRANCO, 2018), que perpassa os principais autores que têm
se dedicado ao tema.
García (1999) propõe cinco orientações conceituais para a formação de professo-
res: a) orientação acadêmica – essa concepção prioriza a formação do especialista em
uma determinada área. O programa do curso está focado na transmissão de conteúdos
acadêmicos e científicos, sendo o objetivo principal oferecer o domínio de conteúdos
universalmente reconhecidos; b) orientação tecnológica – essa orientação foca a for-
mação na competência técnica, nas destrezas e estratégias necessárias para ensinar. O
professor é visto como um técnico que aplica ou transmite com destreza um conheci-
mento predefinido ou elaborado fora dele. São importantes nessa orientação a definição
de condutas, objetivos de treino e avaliação precisa dos resultados. Há a valorização de
materiais didáticos autoinstrucionais que favorecem que o aluno siga seu próprio ritmo
e regule a sua aprendizagem; c) orientação personalista – se na orientação tecnológica o
domínio dos instrumentos e a técnica para ensinar constituem o foco da formação, na
orientação personalista a pessoa é o centro dessa orientação. O autoconhecimento, a vi-
são de si mesmo e a forma como interage com as situações são essenciais nessa proposta.
Ensinar é mais complexo do que uma técnica e o recurso mais importante do professor
é ele próprio. O papel do Programa de formação de professores consiste em promover o
desenvolvimento pessoal e valorizar o caráter pessoal do ensino, ou seja, busca ajudar a
cada futuro professor a desenvolver suas estratégias individuais, personalizadas diante
171
Programa de Residência Pedagógica e concepção de formação de professores
do fenômeno educativo; d) orientação prática – essa perspectiva valoriza a experiência
como fonte de aprendizagem para a docência. Considera que a docência é uma atividade
complexa, caracterizada pela ambiguidade e incerteza, com situações singulares não
previstas na teoria, cuja aprendizagem é melhor favorecida com os práticos da profissão.
“Isso significa trabalhar com um mestre durante um determinado período de tempo ao
longo do qual o aprendiz adquire as competências práticas e aprende a funcionar em
situações reais” (GARCÍA,1999, p. 39).
A orientação prática para García (1999) pode apresentar-se com duas abordagens: a
tradicional e a reflexiva sobre a prática. A tradicional, já bastante conhecida, defende que
se aprende pela imitação de bons modelos; já a reflexiva sobre a prática tem alcançado
maior difusão com Donald Schon, embora sua origem nos reporte a Dewey, para quem
o ensino reflexivo ocorria onde havia “o exame ativo, persistente e cuidadoso de qual-
quer crença ou forma de conhecimento à luz dos fundamentos que lhe são subjacentes e
das conclusões que retira” (DEWEY, 1959, p. 106). Essa abordagem se constituiu em uma
tendência na formação de professores, observando-se uma dispersão semântica do termo
reflexão: prática reflexiva, reflexão-na-ação, professor como investigador, dentre outras.
De acordo com García (1999), essas diversas definições referem-se a um perfil de professor
flexível, aberto à mudança, que analisa e reflete criticamente sobre a sua prática.
Por último, mas igualmente importante, temos: e) orientação social-reconstrucio-
nista – para o autor, a orientação social reconstrucionista mantém uma estreita conexão
com a teoria crítica aplicada ao ensino e ao currículo. Dessa forma, essa orientação
inclui a análise do contexto social no processo ensino-aprendizagem, adotando uma
perspectiva do conhecimento como construção social.
As concepções de formação não têm variado muito entre os diferentes autores.
Tardif (2011, p. 302) apresenta três abordagens. O modelo do tecnólogo, que se situa
“no nível dos meios e das estratégias de ensino; ele busca o desempenho e a eficácia no
alcance dos objetivos escolares” (2011, p. 302); o prático reflexivo que é “o modelo do
profissional de alto nível, capaz de lidar com situações relativamente indeterminadas,
flutuantes, contingentes, e de negociar com elas, criando soluções novas e ideais” (2011,
p. 302) e; o modelo do ator social que, segundo Tardif (2011, p. 303), espera do professor
o papel de agente de mudanças, ao mesmo tempo em que é portador de valores eman-
cipadores em relação às diversas lógicas de poder que estruturam tanto o espaço social
quanto o espaço escolar”.
Diniz-Pereira (2007; 2014) também organiza as concepções de formação de profes-
sores em três categorias: modelos técnicos, modelos práticos e modelos críticos. De acordo
com o modelo técnico, “a prática educacional é baseada na aplicação do conhecimento
científico e questões educacionais são tratadas como problemas ‘técnicos’, os quais podem
ser resolvidos objetivamente por meio de procedimentos racionais da ciência” (DINIZ-
-PEREIRA, 2007, p. 254). O autor destaca que agências de fomento internacional como o
Experiências Docentes
172
Banco Mundial, entre outras, são os principais patrocinadores de reformas na formação
de professores na lógica da racionalidade técnica. Já o modelo prático de formação emer-
giu a partir do século 20, tendo em Dewey o germe para os modelos atuais de racionalida-
de prática. Esse modelo se contrapõe à racionalidade técnica, defendendo que a formação
dos professores não pode ser concebida como a oferta de um conjunto de técnicas ou
como um manual que os professores recorrem para promover a aprendizagem. O modelo
da racionalidade prática comporta, pelo menos, três vertentes: o modelo humanístico, o
modelo de ensino como ofício e o modelo orientado pela pesquisa.
Por fim, temos o modelo crítico de formação docente, que tem como finalidade
a transformação da educação e da sociedade. Esse modelo intenciona uma educação e
uma sociedade menos opressivas e mais democráticas. O modelo crítico assume, pelo
menos, três orientações: o modelo sociorreconstrucionista, o modelo emancipatório e o
modelo ecológico crítico.
Ao perpassarmos pelas principais concepções que orientam os programas de
aprendizagem da docência, retomamos a indagação sobre o modelo de formação que
tem subsidiado a aprendizagem da docência. Em especial, o projeto em análise que se
insere no contexto de um programa com intencionalidade de mudanças, quais são os
seus fundamentos conceituais? Está fundamentado em bases que trazem uma nova
orientação para a formação de professores?
A análise interpretativa: concepções
de formação que orientam o projeto
A análise está organizada em dois momentos. Primeiramente se faz uma apresen-
tação síntese do projeto foco da reflexão e na sequência se tecem algumas considerações
sobre as concepções de formação com base na análise interpretativa do referido projeto.
O projeto
Conforme a chamada pública emitida no edital Capes nº 06/2018, as IES selecionadas
para a segunda etapa da apresentação de propostas no âmbito do PRP deveriam apresentar
um PI. Este deveria ser elaborado pelo coordenador institucional com apoio dos docentes
orientadores e com o responsável pelo estágio supervisionado na IES, caso possível.
O PI a ser submetido à Capes como requisito da segunda etapa do processo sele-
tivo deveria conter: I) introdução com os seguintes subitens: a) nome do coordenador
institucional; b) informar como os subprojetos se articulam com o projeto institucional;
c) indicar como o projeto de residência poderá auxiliar no aperfeiçoamento do estágio
curricular supervisionado dos cursos de licenciatura da IES; d) objetivos do Projeto
173
Programa de Residência Pedagógica e concepção de formação de professores
Institucional; e) os resultados esperados; f) os indicadores e a forma de avaliação do
projeto institucional; g) informar as atividades contidas no projeto institucional que
poderão propiciar melhorias na escola-campo e que serão consideradas como contra-
partida da IES à rede de ensino. II) Projeto do curso de formação de preceptores. III)
Subprojetos de cada curso (BRASIL, 2018).
O projeto analisado contém os itens propostos no edital. Na parte dedicada a
informação de como os subprojetos se articulam com o projeto institucional, o docu-
mento declara que o PI e os subprojetos da instituição confluem na compreensão da
necessidade de superação da concepção técnica que tem orientado os programas de
formação de professores e, por consequência, as práticas de estágio caracterizadas pela
forte fragmentação entre componentes teóricos e componentes práticos, falta de articu-
lação entre as licenciaturas e as escolas de educação básica, atividades de caráter norma-
tivo e excesso de burocratização, bem como uma instrumentalização técnica baseada na
imitação e reprodução de modelos.
Com base em Tardif (2011), o PI expressa a intencionalidade de superar o modelo
aplicacionista que concebe a escola como um lugar de aplicação dos conhecimentos
teóricos adquiridos no curso. Defende que é preciso considerar a escola como espaço de
produção de conhecimento e seus profissionais como sujeitos de mobilização e trans-
formação de saberes. O PI reforça que a articulação do Projeto Institucional com os
subprojetos converge na finalidade de transcender a racionalidade técnica e orientar-se
na direção de modelos práticos e modelos críticos de formação docente.
A epistemologia da prática é apresentada no documento como o conjunto dos sabe-
res adquiridos com os profissionais da educação em seu espaço de trabalho de forma cola-
borativa e reflexiva. Defende ainda que os estágios mediante a residência deveriam incluir
a dimensão crítica para cumprir com sua parcela de contribuição. Com base nos autores
Silvestre e Valente (2014), ressalta que não é suficiente garantir um tempo de interação
com a prática na escola, tampouco desenvolver um processo reflexivo sobre ela, é preciso
ir além; o estágio deve ser um momento em que o estudante desvele os condicionantes
das situações de ensino, compreendendo a ação docente e o trabalho da escola como uma
prática social em seus determinantes políticos, econômicos, sociais e pedagógicos.
Assim, ao definir a forma como os subprojetos se articulem com o Projeto Institu-
cional, propõe que, desde que mantida coerência com esses princípios, cada curso tenha
flexibilidade para construir projetos próprios e inovadores, abrindo espaço para uma
gama variada de experiências-piloto, que socializadas, compartilhadas e analisadas
contribuam para a produção de conhecimento no campo dos estágios e tragam alterna-
tivas de mudança para a IES. Como objetivos, o PI do PRP (PRP/2018-2019) estabelece:
Aperfeiçoar a formação dos licenciandos mediante as diretrizes e ações pro-
postas no Programa Residência Pedagógica.
Experiências Docentes
174
Oferecer oportunidades aos futuros docentes para vivenciarem situações reais
do futuro campo de atuação de modo a ampliar o conhecimento e a formação
que articula teoria e prática.
Estimular a capacidade de elaborar, executar e avaliar projetos na área da do-
cência e da gestão, assim como em atividades correlatas à área de conhecimen-
to do curso de forma partilhada com a comunidade envolvida.
Desenvolver o processo educativo na sua totalidade, baseado na ação inves-
tigativa, diálogo com o sistematizado e na intervenção social, constituindo a
práxis formativa.
Levantar indicadores para revisão dos currículos dos cursos de formação de
professores e a revitalização do estágio tendo por base a experiência da Resi-
dência Pedagógica.
Contribuir para a análise crítica das condições observadas nos espaços profis-
sionais, com base nos conhecimentos construídos, criando opções de conheci-
mento, compreensão e atuação frente aos problemas diagnosticados.
Formar acadêmicos com a compreensão do papel social e político de suas pro-
fissões e com conhecimento dos processos de investigação.
No item solicitado pelo edital para a explicitação das contribuições do PRP para
o aperfeiçoamento do estágio dos cursos de licenciatura da IES, o PI aponta para a va-
lorização das licenciaturas e da profissão docente pelo fato de que o Programa estimula
voltar o olhar para esse campo que tem ocupado uma posição de desprestigio no âmbito
acadêmico. Defende que o PRP traz relevo às licenciaturas e propicia um novo tipo de
imagem e valorização.
O documento considera ainda que a residência contribui para a revitalização dos
cursos de formação de professores na medida em que estimula para que se questione
construtivamente o significado e a qualidade das práticas formativas e dos currículos
em andamento na Instituição.
Aponta como uma das contribuições visualizadas, o fato de o PRP propor uma re-
lação de maior proximidade com as escolas de educação básica e o estabelecimento de
relações de parceria para a formação de professores. Destaca que, quando essa relação se
dá no contexto de um programa oriundo de uma política nacional, pressiona e confere um
caráter de formalização, mobilizando as instituições formadoras a desenvolverem ações
conjuntas, bem como criando condições para que essas relações de parceria aconteçam.
175
Programa de Residência Pedagógica e concepção de formação de professores
Argumenta que as críticas mais comuns à dimensão formadora do estágio têm-se
dirigido à ausência de ligação entre as atividades formativas do curso e o ambiente onde
são desenvolvidas as práticas educativas. Imputa a isso a dificuldade de abertura das
escolas para receber o estagiário que costuma ser percebido como um estorvo para as
rotinas ali estabelecidas. Apresenta como limites ainda a falta de suporte aos docentes
responsáveis. O bom andamento dos estágios fica à mercê do que Santomé (1998) deno-
minou “cultura do esforço”. O sistema de bolsas caminha na direção de diminuir essa
cultura do esforço, gerar compromisso e responsabilidade e criar condições para uma
formação de qualidade, pois experiências concretas de aproximação demonstram que
essa articulação universidade/escola demanda tempo e dedicação.
O documento ressalta que as contribuições e os aspectos considerados importan-
tes propiciados pelo PRP confluem para a promão mais efetiva de ações formativas
colaborativas e compartilhadas entre os futuros docentes, preceptores das escolas-cam-
po e docentes orientadores, bem como para o desenvolvimento do diálogo entre a IES e
as escolas-campo. Visualiza ganhos nas relações estabelecidas para todos os envolvidos,
pois as idas e vindas, as trocas, os resultados alcançados ou não, estimulam a reflexão
dos participantes sobre a escola, a sala de aula e o processo ensino-aprendizagem. Com
isso, repensam-se aspectos das licenciaturas e dos estágios no ensino superior e na IES.
Acrescenta como importante contributo o estímulo ao desenvolvimento do espíri-
to investigativo dos licenciandos bolsistas em relação ao cotidiano das escolas públicas
e ao trabalho dos profissionais da educação básica; ações mais efetivas na relação teoria-
-prática; a unicidade ensino, pesquisa e extensão é estimulada e adquire sentido; gera-
ção de novos conhecimentos aderentes com as dinâmicas escolares com consequente
melhoria da formação de professores e desenvolvimento de novas compreensões sobre
escola, a formação de professores e o papel do estágio nesse processo.
Em relação aos resultados esperados, o documento diz esperar que o PRP alcance
seu objetivo de aproximar os estudantes dos contextos onde se dá o exercício da pro-
fissão, contribuindo para o crescimento e amadurecimento pessoal e profissional, me-
diante contato com o cotidiano das escolas de educação básica, favorecendo para que
substanciem sua opção de ser professor, bem como auxiliando na aquisição de reper-
rio de vivências que lhes proporcionem confiança e segurança para conduzir processos
de ensino-aprendizagem.
As expectativas estendem-se ainda para a própria instituição e suas licenciaturas.
Espera-se que a experiência com a Residência Pedagógica traga subsídios para repensar o
currículo destes cursos e as propostas dos estágios; contribuição formativa aos docentes da
IES; promoção de relações colaborativas entre instituições formadoras (academia, sistemas
de ensino municipal/estadual e escolas de educação básica), bem como entre os cursos de li-
cenciatura da IES; fortalecimento e descoberta de novas possibilidades da unicidade ensino,
pesquisa e extensão e visibilidade aos cursos de licenciatura tão esquecidos e desprestigiados
Experiências Docentes
176
nos meios acadêmicos. Levanta ainda a expectativa de que a formação com apoio de bolsas
contribua para a atratividade das licenciaturas e para a redução da evasão.
No item solicitado para compor o PI sobre as atividades na escola-campo, o docu-
mento apresenta que a inserção dos licenciandos está prevista da seguinte forma:
INSERÇÃO I – envolve a preparação do aluno para participação no PRP e o Curso de
Formação de Preceptores com convite extensivo aos demais docentes da IES e tam-
bém a todos os docentes e equipe pedagógica das escolas-campo de forma a forta-
lecer comunidades de aprendizagem e favorecer na escola um clima de acolhimento
aos alunos bolsistas. As atividades de formação estão previstas para acontecerem na
IES e nas escolas-campo de forma a estreitar a aproximação entre esses dois locus de
formação. A participação dos estudantes no curso de formação dos preceptores está
prevista constituindo parte de sua formação.
INSERÇÃO II – tem como foco o diagnóstico do contexto escolar em sua multi-
dimensionalidade abrangendo o processo educacional que ocorre na sala de aula
e nos demais espaços educativos. Analisa também as relações que se estabelecem
no seio da comunidade escolar, ou seja, entre equipe pedagógica, docentes e dis-
centes, bem como as inter-relações com a comunidade externa e as demandas da
sociedade contemporânea.
INSERÇÃO III – intervenção do docente em formação no processo educativo para
aperfeiçoamento das especificidades da educação básica, focalizando, sobretudo, o
conhecimento espefico da área com os conhecimentos pedagógicos, permeados por
princípios que sustentam a docência para a formação integral. Nessa etapa de inser-
ção o aluno deverá desenvolver 320 horas de atividades, sendo no mínimo 100 horas
de aulas e as outras 220 horas poderão ser projetos de intervenção a partir de ne-
cessidades levantadas e que contemplem as demais áreas do estágio além da docência,
como gestão, inclusão, dentre outras.
Quanto aos indicadores e à forma de avaliação do projeto institucional, o docu-
mento cita o aperfeiçoamento da formação dos licenciandos, a utilização de coleta de
dados para diagnóstico e intervenção no processo ensino-aprendizagem e aquisição de
repertório didático metodológico, bem como subsídios para repensar o currículo e o
estágio e a formação continuada dos docentes da IES. A avaliação se dará por meio de le-
vantamentos junto aos atores envolvidos, das publicações e na socialização em eventos.
O projeto do curso de formação de preceptores envolvia de forma geral: ativi-
dades de acolhimento das escolas parceiras na IES com apresentação dos envolvidos;
apresentação do PRP; tomada de conhecimento do PI; grupo focal com os preceptores
e equipe pedagógica das escolas-campo. Atividades na escola-campo: a apresentação da
escola com elaboração conjunta do contrato didático (papel dos docentes orientadores,
177
Programa de Residência Pedagógica e concepção de formação de professores
preceptores e residentes); tomada de conhecimento dos subprojetos; discussão sobre
modalidades de acolhimento no estágio (SARTI; ARAÚJO, 2016; GARCÍA, 1999); ofi-
cina sobre tendências pedagógicas (LIBÂNEO, 2001); oficinas com temáticas advindas
das demandas de cada escola-campo.
O último item solicitado no edital referia-se aos subprojetos de cada curso. Con-
forme já mencionado, desde que guardada identidade com os princípios de formação
expressos no PI, estimulava-se a flexibilidade na elaboração dos subprojetos, acredi-
tando-se dessa forma abrir espaços para uma variedade de projetos-piloto. O leque de
propostas incluía o desenvolvimento da residência mediante: trabalho com projetos,
Metodologia da Problematização, ensino por investigação, grupos de estudos e pesqui-
sa, além de planejamento e acompanhamento das ações que se dariam nesses espaços,
envolvendo docente orientadora, residentes e preceptores.
A síntese interpretativa
Buscou-se compreender o modelo de formação que embasa o PI de uma institui-
ção para a condução do PRP, programa este concebido no âmbito das políticas públicas
como alternativa para a indução de mudanças na formação inicial de professores.
Cabe ressaltar que geralmente os processos formativos não se orientam por um
único modelo ou concepção. A formação de professores é concebida de diversas ma-
neiras a depender do perfil de profissional que se deseja e da educação e sociedade que
se queira ter. Contudo, a despeito dos vários modelos que lutam por legitimidade e
hegemonia, é possível identificar orientações predominantes. Autores brasileiros e de
outros países convergem na constatação de que a formação de professores encontra
arrimo nos pressupostos da racionalidade técnica de caráter pragmático, com ênfase
na formação científica e no conhecimento disciplinar, tendo em vista que concebe os
docentes como técnicos especialistas que devem dominar e transmitir conhecimentos
de uma determinada área.
Ao lado da tradição técnica, encontra predomincia, porém em uma escala me-
nor, a orientação prática na linha que defende que se aprende a docência a partir da
experiência e da observação de bons modelos. Nessa linha, Saviani (2009) analisa que,
na realidade brasileira, a formação de professores alternou-se entre o modelo dos conte-
údos cognitivo-culturais, que centra a formação nos conteúdos de uma área específica,
e o modelo pedagógico-didático, que, na linha oposta ao anterior, focaliza a formação
no preparo pedagógico.
O autor argumenta que o primeiro modelo preponderou nas instituições de ensino
superior que preparavam o professor para o ensino secundário, ao passo que o segundo
prevaleceu nas escolas normais que formavam o professor pririo. Pode-se afirmar
que essa situação se perpetua na atualidade. Os cursos de licenciatura, que preparam
Experiências Docentes
178
para as últimas séries do ensino fundamental e médio, tendem a ser moldados pela
racionalidade técnica com ênfase no conteúdo da disciplina que será lecionada, ao pas-
so que a licenciatura em Pedagogia, que forma os professores para educação infantil e
séries iniciais, tende a reforçar o modelo pedagógico-didático.
O modelo de formação de professores denominado reconstrucionista social
(GARCÍA, 1999) ou modelos críticos de formação (DINIZ-PEREIRA, 2007, 2014), apre-
senta-se como uma orientação menos presente nos programas de formação docente.
Essa concepção considera a análise do contexto social no processo ensino- aprendiza-
gem, buscando articular conhecimento e conscientização. Segundo Teitelbaum (2011),
a abordagem crítica tem como finalidade auxiliar os futuros docentes para que questio-
nem e negociem as relações entre teoria e prática, alise crítica e senso comum, apren-
dizagem e mudança social.
O projeto analisado se encaminha na direção de superar a orientação dominante
na formação inicial de professores, ou seja, os modelos técnicos, e se dirige a uma orien-
tação crítica de formação, ao manifestar alinhamento com os pressupostos teóricos-
-metodológicos dessa abordagem.
Nessa direção, o PI orienta-se por uma concepção de formação que articula a
formação específica com a prática docente, de modo que os futuros professores com-
preendam o mundo do trabalho e as possibilidades de intervenção nesse contexto. A
proposta estimula uma aprendizagem da docência mediada pelo pensamento crítico
e reflexivo conforme defendido por Roldão (2007a), para quem a formação deveria
oferecer um sólido saber científico, um domínio técnico didático (pedagógico consis-
tente) rigoroso e uma postura meta-analítica constante. Encontra ainda legitimidade
na concepção crítica de formação, a valorizão e a consideração dos componentes
práticos como campo de conhecimento, orientando-se na perspectiva de uma episte-
mologia da prática, assumidos no PI.
Dessa forma, o movimento de renovação da formação docente passa por uma res-
significação dos fundamentos epistemológicos necessários à profissão. A “epistemologia
da prática profissional” (TARDIF, 2011) tem estado no centro das reformas. “Chama-
mos de epistemologia da prática profissional o estudo do conjunto dos saberes utiliza-
dos realmente pelos profissionais em seu espaço de trabalho cotidiano para desempe-
nhar todas as suas tarefas” (TARDIF, 2011, p. 255).
Para Keller-Franco (2014), considerar a prática como campo de conhecimento,
que se produz na interação entre os cursos de formação e o local no qual se desen-
volvem as práticas educativas, implica conferir a ela um estatuto epistemológico
capaz de superar a visão tradicional que atribui à formação prática um caráter de
aplicação de conhecimentos produzidos fora do contexto real em que acontece o
exercício da profissão, ou ainda, uma instrumentalização técnica baseada na imita-
ção e reprodução de modelos.
179
Programa de Residência Pedagógica e concepção de formação de professores
Pimenta e Lima (2012, p. 49), com base em Sacristán, defendem que na proposta da epis-
temologia da prática, “os saberes teóricos propositivos se articulam, pois, aos saberes de ação
dos professores e da prática institucional, ressignificando-os e sendo por eles ressignificados”.
A epistemologia da prática promove a integração entre universidade e escolas
da educação básica em uma perspectiva de fortalecimento mútuo. Zeichner e Flessner
(2011) referem-se a pesquisas que evidenciam que os modelos tradicionais de forma-
ção nos quais as experiências de campo se dão de forma desconectada do conteúdo
e das práticas pedagógicas dos cursos não contribuem para que os professores em
formação analisem as situações reais implicadas no processo ensino-aprendizagem,
refletindo sobre elas criticamente, para que busquem ações propositivas de cunho
transformador, tampouco para que tomem consciência do caráter político-pedagógi-
co que molda as práticas escolares.
Decorre dessa interlocução entre as instituições formadoras, ações colaborativas
à aprendizagem da docência:
A formação inicial só será eficaz se transformar-se em formação de imersão, também
transformadora dos contextos de trabalho, feita com as escolas, que, por um lado,
coloque os futuros professores em situação que alimente o seu percurso de formação
inicial e, por outro, converta as escolas, os jardins de infância, os contextos de trabal-
hos que os nossos profissionais vão atuar, em tantas outras unidades de formação que
conosco, ensino superior e investigadores, construam parcerias de formação/investi-
gação, desenvolvida dentro da ação cotidiana da escola, transformando-a em espaço
real de formação permanente (ROLDÃO, 2007b, p. 40).
O projeto analisado faz opção pela promoção de ações formativas colaborativas
e compartilhadas entre os futuros docentes, preceptores das escolas-campo e docen-
tes orientadores, bem como pelo desenvolvimento do diálogo entre a IES e as escolas-
-campo, visualizando ganhos nas relações estabelecidas para todos os envolvidos, pois
as idas e vindas, as trocas, os resultados alcançados ou não, estimulam a reflexão dos
participantes sobre a escola, a sala de aula e o processo ensino-aprendizagem.
Conforme destacado por Keller-Franco (2014), essa relação de parceria contem-
pla possibilidades formativas não apenas aos professores da educação básica que, ao
abrirem suas portas para receber a universidade, beneficiam-se com os conhecimen-
tos lá produzidos, como também à universidade e seus docentes, que precisam reco-
nhecer nos professores da educação básica sujeitos que produzem conhecimento e
com quem podem aprender.
Os professores que atuam na formação inicial da graduação encontram-se mui-
tas vezes distanciados, ou em alguns casos, nunca exerceram a profissão no contexto
profissional (educação básica) para o qual estão formando os futuros docentes. Buscar
Experiências Docentes
180
aproximação com os práticos da profissão deve ser considerada uma modalidade im-
portante de formação continuada para os docentes universitários. Como diz Tardif
(2011), os saberes criados e mobilizados através do trabalho recebem pouca legitimidade
nos meios acadêmicos.
A análise sobre a concepção de formação presente no PRP permite argumentar
que a IES deu passos significativos na direção de romper com os modelos técnicos de
formação e encaminhar-se para uma perspectiva crítica. No entanto, parece que não
se conseguiu chegar nas raízes que sustentam a concepção técnica. O PI da Residência
Pedagógica analisado se insere no contexto de uma política maior, que também traz
traços do novo no seu texto, mas subjaz à conservação e à manutenção da tradição,
especialmente na forma de propor a implementação do Programa. Assim, conserva
traços da racionalidade técnica.
A dicotomização teoria-prática não foi atacada e um dos pontos básicos que a
mantém, o lugar marginal que ocupa no currículo na forma do estágio curricular su-
pervisionado. Como defendem Pimenta e Lima (2011, p. 115): “herdada da pedagogia
tecnicista, que reforçou, inclusive, o estágio como componente ‘prático’ e isolado das
disciplinas ‘teóricas’ dos currículos”.
Referentes para a superação vão na direção apontada por Zabalza:
Faz anos que venho defendendo que o estágio prático não é mais um componente dos
cursos (como se representasse mais uma disciplina ao currículo), mas um compo-
nente transversal da formação que deve influir e ser influenciado por todas as disci-
plinas (ZABALZA, 2004, p. 174).
Conservação da racionalidade técnica que contribui para a dicotomização da teo-
ria-prática encontra-se ainda na manutenção da lógica “primeiro formação geral, depois
formação prática”, evidenciada na orientação de que a residência deve ser implementada
a partir da segunda metade do curso.
Assim, é possível levantar a possibilidade de que as licenciaturas, ao buscarem
adequar seus projetos ao previsto no Edital nº 06/2018, deixem de avançar e fiquem
limitadas à proposição de projetos inovadores. As orientações para a implementação da
residência propostas no edital guardam muita semelhança com os moldes do estágio
tradicional. Considera-se que se avançou na alteração dos espaços de aprendizagem da
formação, mas mantém-se inalterada a questão dos tempos dessa formação, ainda frag-
mentados e rígidos nos moldes da racionalidade técnica.
Reconhecemos a imporncia de diretrizes nacionais, mas indagamos se a legisla-
ção a respeito das práticas não tem sido um impedidor de avanços, ao segmentar forma-
ção cienfico-acadêmica e formação prática.
181
Programa de Residência Pedagógica e concepção de formação de professores
Considerões finais
A formação de professores vem sendo alvo de políticas e programas governamen-
tais bem como de pesquisas acadêmicas em razão de vincular-se à melhoria da educação
com a profissionalização docente. No entanto, um dos grandes desafios são os aportes
teóricos sob os quais se concebem as políticas e como essas são recontextualizadas ao
serem implementadas em seus contextos de referência.
Este capítulo objetivou analisar a concepção de formação que orientou o PI elabo-
rado para atender ao Edital do PRP. Pode-se concluir que o referido projeto se apresenta
com possibilidades de mudança, ao fundamentar-se em um paradigma de formação
teórico-metodológico crítico, cujos pressupostos favorecem a superação de aspectos que
se mostram urgentes para a renovação na formação de professores, tais como: relações
mais estreitas entre as instituições formadoras da graduação e as instituições onde ocor-
re o trabalho docente, isto é, as escolas; a vinculação dos pressupostos teóricos e dos
saberes relativos aos conteúdos com a transposição didática, ou seja, a tão propalada
unicidade entre teoria e prática; a superação do modelo aplicacionista, que concebe a
escola como um campo de aplicação da teoria aprendida na universidade, estimulan-
do nos bolsistas licenciandos a compreesão e a valorização das dimicas escolares e
dos profissionais que nela atuam como campo investigativo e de produção do conhe-
cimento; ações mais efetivas de articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão e
a problematização dos condicionantes políticos e sociais que repercutem nas práticas
pedagógicas, dentre outros.
No entanto, ainda se mantêm alguns entraves das concepções de cunho técnico
que foram norteando historicamente as práticas de formação. Não podemos deixar de
considerar que o projeto analisado se insere em uma política educacional e que, embora
não tenha sido foco desse estudo analisar as concepções de formação que orientam tal
política, pode-se dizer que a mesma condiciona os desdobramentos nas microesferas
onde se dá a aplicação.
Assim, embora se considere o princípio da recontextualização, o projeto insti-
tucional ainda conserva traços da tradição em função dos limites que não permitem
estender-se para além dos contornos impostos nas diretrizes para a residência. Essas
trazem avanços no nível das finalidades, na oferta de bolsas de forma a viabilizar a
imersão acompanhada e em parceria entre a universidade e a escola, mas propõem uma
operacionalização muito semelhante à que vinha sendo desenvolvida, especialmente no
que diz respeito ao estágio como um apêndice do currículo, ao invés de permear todos
os componentes da formação. Acrescenta-se a esse debate o fato de a Residência Peda-
gica ser inspirada no modelo da residência médica e aí indaga-se: seria esse um modelo
para a formação de professores, ou deveríamos repensar a formação docente a partir da
complexidade da sua área?
Experiências Docentes
182
Novas pesquisas sobre o PRP, especialmente as que focam em que medida o referi-
do programa traz contribuições para uma revisão das concepções que orientam os pro-
gramas de formação de professores, fazem-se relevantes e poderão fornecer subsídios
para o redimensionamento do programa.
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Ao refletirmos sobre a qualidade da formação docente no país deparamo-nos com
um tema bastante desafiador, cujas demandas em relação à qualidade da educação no
país geralmente estão imbricadas. Nesse contexto, muitas questões vêm à tona, como: a
qualidade dos cursos de licenciatura; a articulação teoria e prática; as formas de viabi-
lização dos estágios supervisionados; bem como a adoção de medidas e programas que
viabilizem um contato maior do licenciando com a realidade das escolas. Dessa forma,
somos levados a pensar a respeito de como mobilizar ações que conduzam os licencian-
dos a se apropriarem dos conceitos teóricos ao mesmo tempo que vivenciam a prática
em sala de aula, articulando os conhecimentos acadêmico-cienficos e metodológicos.
Diante desse questionamento, o objetivo deste texto é discutir em que medida o
Programa Residência Pedagógica (PRP), concebido como uma opção de estágio super-
visionado nos cursos de licenciatura, tem contribuído para promover uma formação
inicial mais efetiva, na medida em que busca promover um maior envolvimento do
residente no cotidiano escolar, por meio da imersão e da prática de regências e, con-
comitantemente, uma maior articulação entre as insncias formadoras (Instituição
de Ensino Superior – IES e escolas-campo). Vinculado à Coordenação de Aperfeiço-
amento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e ao Ministério da Educação (MEC), em
parceria com as IES, o PRP se coloca como uma dessas ações de enfrentamento aos
problemas da formação docente.
Como referencial teórico adotado para conduzir as reflexões aqui apresenta-
das destacam-se: aspectos legais retratados nos documentos e autores que discutem
Contribuições do Programa
de Resincia Pedagógica e
estágio supervisionado para
a formação docente: uma
relação teórico-prática
CAPÍTULO 12
Giza Guimarães P. Sales
Rebeca Pizza Pancotte Darius
Denise Andrade M. Oliveira
https://doi.org/10.36311/202
3.978-65-5954-332-8.p185-196
Experiências Docentes
186
a formação docente e suas implicações no desempenho da prática pedagógica, como
Freire (2011), Sarti e Arjo (2016), Berbel (1995), Pimenta e Lima (2004), Barreiro e
Gerbran (2006) e Piconez (1991).
Como docentes orientadoras do projeto de pedagogia, acompanhamos e orienta-
mos todo o processo de desenvolvimento do PRP, no município de Engenheiro Coelho-
-SP; dessa forma, as percepções aqui discutidas foram decorrentes da observação par-
ticipante realizada por meio das visitas semanais, reuniões de formação e registros dos
processos e resultados. A constante comunicação tanto com os residentes quanto com
a escola-campo para diálogos, interações e orientações nos permitiu intervir de forma
respeitosa e cooperativa. Para Gil (2019, p. 103), “a observação participante, ou obser-
vação ativa, consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do
grupo ou de uma situação determinada”.
As intervenções das pesquisadoras aconteceram por meio de atividades diversas
como: reuniões de formação; estudos reflexivos e discussões de textos com temáticas
sobre formação docente; orientações ao estágio e relação teoria e prática; aplicação da
Metodologia da Problematização (Arco de Maguerez), que se tornou o fio condutor do
estágio do PRP no curso mencionado; acompanhamento do planejamento e das regên-
cias dos residentes e da interação destes com as preceptoras na escola-campo, auxilian-
do em situações que demandavam mediação ou orientação da IES.
Como resultado, foi possível perceber: maior imersão do residente no ambiente
escolar por meio de ações planejadas e acompanhadas; mais compromisso de ambas
as instituições com a formação dos estudantes; desenvolvimento de práticas pedagó-
gicas inovadoras oportunizadas a partir das regências de classe; maior envolvimento
do professor-preceptor uma vez que ambos estão em constante discussão e avaliação
dos planejamentos, revelando assim um processo de construção da práxis que envolve
tanto o professor-preceptor quanto o residente, na medida em que ocorre o processo de
orientação em que ambos podem avaliar e refletir sobre sua prática.
O PRP: alicerçando a formação inicial
Os programas de incentivo à formação docente, nas suas mais variadas moda-
lidades, constituem ações importantes e efetivas que devem ocupar lugar de destaque
nas políticas públicas educacionais, especialmente quando se pretende melhorar o nível
educacional do país. Ao longo das últimas décadas, alguns programas têm surgido com
o intuito de proporcionar uma melhor formação inicial e também continuada aos do-
centes da educação básica em todo o território nacional, especialmente em função das
metas estabelecidas nos Planos Nacionais de Educação (2001; 2014). Dentre essas ações
187
Contribuições do Programa de Residência Pedagógica
e estágio supervisionado para a formação docente
destacam-se: o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor),
Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência), Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e mais recentemente, o PRP, sobre o qual enfoca-
remos nossas reflexões.
Conforme Portaria GAB-Capes nº 45/2018, trata-se de “uma estratégia para a efe-
tividade do processo de indução e fomento à valorização e à qualificação da formação
inicial de professores para educação básica” (BRASIL, 2018a, p. 1). Dentre as grandes
preocupações em relação à qualidade da educação no país, encontra-se a questão da
formação de professores na IES. Nesse sentido, essa questão tem demandado ações go-
vernamentais para melhoria da qualidade dessa formação, considerando que o futuro
docente exercerá o magistério em contextos escolares cada vez mais complexos devido
à própria configuração social atual da escola, da família e das outras instituições sociais.
Com base na necessidade de uma formação inicial que atenda as demandas do
mundo do trabalho, segundo previsão do edital Capes nº 06/2018, o PRP tem como
premissa a “implementação de projetos inovadores que estimulem a articulação entre
teoria e prática nos cursos de licenciatura” (BRASIL, 2018b, p. 1) e promovam a imersão
dos residentes no cotidiano da escola.
Visando maior aproximação entre IES e escolas, o Programa determinava a continui-
dade das ações ao longo de todo o seu período de vigência, no sentido de que cada residen-
te permanecesse na mesma escola, sob o acompanhamento do mesmo professor-preceptor,
sendo sua atuação no Programa considerada como o próprio estágio curricular obrigatório.
A formação de professores no
Brasil: aspectos históricos e legais
As preocupações em relação à formação de professores para atuarem na educação
básica no Brasil remontam há mais de um século e vêm permeando os debates políti-
cos, sociais e educacionais desde o período imperial, quando se efetivou, ainda que de
maneira incipiente, a obrigatoriedade do ensino pririo. Tal ação demandou certa
expansão das escolas de primeiras letras, sem que se houvesse preparado os professores
para atuarem nelas. Diante disso, evidenciou-se a emergente necessidade de criação de
escolas preparatórias para a docência, porém isso só vem a ocorrer algumas décadas à
frente, com a criação das primeiras escolas normais (TANURI, 2000).
A despeito das nossas dificuldades históricas e econômicas, esse tema tem ocupa-
do o topo das discussões quando se buscam explicações para os baixos níveis da educa-
ção no país, especialmente diante das avaliações em larga escala, sejam elas nacionais
ou internacionais. Nessa perspectiva, quando se coloca como um dos principais fatores
para o baixo desempenho dos alunos a falta de uma formação docente de qualidade, a
Experiências Docentes
188
articulação teoria e prática nos cursos de formação inicial e continuada é considerada
como um dos elementos indispensáveis.
Nesse sentido, é imperativo investir na formação docente de forma a garantir à
sociedade profissionais da educação reflexivos, críticos, comprometidos com a missão
de educar para o desenvolvimento, emancipação e formação da cidadania, conforme
destacam Nóvoa (1995), Saviani (2000), Tardif (2011), Freire (2011), entre outros.
Tanto as instituições formadoras quanto os governos têm-se empenhado na tenta-
tiva de encontrar formas de intervenção e políticas que favoreçam a formação docente
no país. Apesar das iniciativas, algumas bem-sucedidas, a questão ainda necessita de
especial atenção e reclama a adoção de medidas efetivas para alcançar um nível satisfa-
tório, capaz de reverter os índices tão desoladores.
Novas configurações passaram a comandar a formação docente no país, desde a
promulgação da LDB 9394/96. Nesse momento, tem-se a priorizão da formação de
professores da educação básica em nível superior, no entanto, admite-se ainda, a título
de transição, a formação em nível médio, como as que ocorriam nas escolas normais e
cursos de habilitação para o magistério (BRASIL, 1996). Em decorrência das exigências
dessa lei, são aprovadas as Diretrizes Curriculares para a Formação de Professores, em
2002, seguidas das diretrizes específicas para cada curso de licenciatura.
Emergem dessas discussões propostas de reorganização do curso de Pedagogia,
o qual vinha sendo questionado por adotar um modelo de formação humanista, com
pouca articulação com a realidade. Em 2006, são aprovadas as Diretrizes Curriculares
para o curso de Pedagogia, por meio da Resolução n.º 1, de 15 de maio de 2006, do
Conselho Nacional de Educação (CNE). Esse documento põe em evidência novamente
o debate histórico sobre a identidade do curso de Pedagogia e sua finalidade, de forma
que, atualmente, esse curso destina-se:
à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil
e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modali-
dade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras
áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. [...] participação na or-
ganização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: I - planejamento,
execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da
Educação; II - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação
de projetos e experiências educativas não-escolares; III - produção e difusão do con-
hecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e
não-escolares (BRASIL, 2006).
No modelo de formação docente previsto na LDB vigente e nas diretrizes para
a formação de professores para a educação básica, a formação inicial dos futuros
189
Contribuições do Programa de Residência Pedagógica
e estágio supervisionado para a formação docente
professores deve contemplar a articulação entre a teoria e prática, a qual deve ser exerci-
da por meio do desenvolvimento das práticas de estágio e experiências que aproximem
o graduando das vivências do ambiente escolar.
Na sua configuração atual, o curso de Pedagogia atende a duas diretrizes: a reso-
lução nº 01/2006 do Conselho Nacional de Educação (CNE), específica para Pedagogia;
e a nº 02/2015, do mesmo conselho abrangendo todas as licenciaturas. Sendo que a úl-
tima está em transição para a resolução nº 02/2019, cujas instituições têm o prazo de
até três anos para se adequarem. Portanto, em menos de uma década após a aprovação
das diretrizes para o curso de Pedagogia, tem-se a aprovação de novas diretrizes para a
formação de professores, por meio da resolução nº 2, de 2015, do CNE. Nessas diretrizes,
o governo reafirma a necessidade da valorização da formação inicial e continuada e sua
responsabilidade frente a essa demanda (BRASIL, 2015).
Em decorrência da aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no-
vamente se tem a edição de uma outra proposta de formação docente. As novas dire-
trizes para a formação de professores (BNC-formação) foram aprovadas, em 2019, por
meio da resolução nº 2, do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2019). Essa no-
víssima proposta vem recebendo duras críticas de educadores e associações de classe,
uma vez que alinha a formação docente à BNCC, de forma a tornar o trabalho docente
como um mero executor de conteúdos previstos e prescritos, contribuindo para o esva-
ziamento do pensamento crítico nos cursos de formação e da autonomia tão necessária
ao desempenho da função docente.
Medidas que promovam a articulação do saber teórico, a troca de experiências
entre professores em formação, professores atuantes e as vivências do cotidiano escolar,
certamente podem render bons frutos e promover uma melhor dinâmica tanto na for-
mação inicial do graduando de Pedagogia quanto para os professores em exercício que
se encontram em processo de formação continuada.
Gatti et al. (2019) mencionam que o descontentamento acerca da formação de
professores engloba uma série de elementos, que vão desde as políticas até as práticas
formativas e formação continuada. Esses elementos dizem respeito ao aligeiramento da
formação, fragilidade da articulação entre teoria e prática e entre universidades e esco-
las, a descontinuidade de programas, entre outros. O desenvolvimento de pesquisas a
esse respeito cresceu significativamente nos últimos cinquenta anos, no entanto, ainda
percebemos que não refletem em impactos positivos na aprendizagem dos alunos.
A despeito de toda a problemática envolvendo a formação de professores no Bra-
sil como nos revela a história da educação e a literatura recente, a iniciativa do PRP
desperta para melhorias no contexto atual. Sabemos que essas melhorias não alteram
profundamente os currículos formativos, mas podem indicar algumas possibilidades.
Experiências Docentes
190
Reflexões sobre o estágio
supervisionado a partir do PRP
Parece haver concordância por parte dos educadores sobre a necessidade de vivên-
cias dos estudantes de licenciatura nos contextos efetivos da educação básica. Vivências
essas que retratem a complexidade do ensino e que possibilitem, em decorrência delas, a
reflexão “como orientação conceitual” (GATTI et al., 2019, p. 187) que integra um con-
junto de conhecimentos: pessoais, profissionais, proposicionais e teóricos.
A dimensão prática nos currículos de formação inicial e nos programas e práticas de
formação continuada é concebida como um elemento articulador que busca inserir o
professor no contexto da prática, prática essa que não se restringe ao fazer, e, sim, que
se constitui numa atividade de reflexão apoiada na teoria (GATTI et al., 2019, p. 187).
Para o aperfeiçoamento e compreensão da realidade do profissional de educação, a
vivência e a prática no ambiente escolar é parte obrigatória do processo de formação docente.
Para Piconez (1991), a prática de ensino passou a ser objeto de preocupação da formação
inicial a partir da década de 1930 do século 20, e o estágio supervisionado, mais tarde, tor-
na-se parte integrante dos cursos de licenciatura. Portanto, ao longo dos anos, educadores
têm procurado fundamentar e estruturar o estágio apoiando-se em leis que apresentam este
componente como qualificação obrigatória para a formação profissional do egresso.
Por meio do envolvimento com o contexto educacional, o estagiário vivencia as li-
mitações, os problemas, as necessidades do cotidiano da escola e reafirma, ou não, sua
escolha. Justamente em decorrência desta demanda educacional, o Programa vem com o
objetivo de “induzir a reformulação do estágio supervisionado nos cursos de licenciatu-
ra, tendo por base a experiência da Residência Pedagógica” (BRASIL, 2018b, p. 1), entre
outros.
Para Gatti et al. (2019, p. 188), é imprescindível a aproximação entre os “espaços de
formação e de trabalho”, por meio de “uma cultura de colaboração, que vise diminuir
a hierarquia entre instituições de ensino superior e escolas, e valorize o conhecimento
dos docentes da educação básica, considerando-os como coparticipantes do processo de
formação dos licenciandos.
Por outro lado, também percebemos necessidade de mudança na postura da ins-
tituição escolar e o caráter inovador do Programa está justamente em integrar IES e
escolas básicas por meio de um planejamento estruturado que estabelece uma relação
de cooperação indo além da lógica da recepção por parte das escolas ao receberem os
estudantes da graduação. De acordo com Sarti e Araújo (2016), o modelo de recepção
se restringe ao processo inicial do estágio, a autorização para permitir a entrada e a
191
Contribuições do Programa de Residência Pedagógica
e estágio supervisionado para a formação docente
permanência do estagrio, a atuação passiva em sala de aula e a realização de regências
de classe sem a participação ativa do professor regente.
O que as autoras propõem é “um nível de envolvimento mais elevado que o da
mera recepção do estagrio”(SARTI; ARAÚJO, 2016, p. 178). Para Freire (2011), só é
possível a formação de um profissional autônomo em sua prática docente se ele for es-
timulado a pensar, a tomar decisões, a assumir responsabilidades, a ter postura ética e
crítica da realidade que circunda a educação. Tal reflexão está imbuída de contradições
para as quais o graduando precisa encontrar meios de lidar. Entende-se que ele esta
mais instrumentalizado a encontrar esses meios à medida que imerge nessa realidade de
maneira intencional, organizada e orientada.
Compreendemos que o aprendizado da docência não se reduz à dimensão técni-
ca, pelo contrário, “o reconhecimento da docência como atividade complexa colocou
em evidência, [...] o professor e sua formação, as habilidades humanas de reflexão, de
deliberação e consciência” (GATTI et al., p. 182). Assim, reconhecer que, enquanto ser
humano, o professor dá sentido à sua prática, faz escolhas, reflete sobre ela, muda rotas e
flexibiliza o planejamento nos faz perceber a necessidade de o futuro professor se formar
também a partir desse conhecimento.
Para Sacristán e Gómez (1998), o enfoque reflexivo da prática traz o esforço da
superação “entre o conhecimento científico-técnico e a prática na aula” (SACRISTÁN;
GÓMEZ, 1998, p. 365), tão necessário na formação inicial e continuada de professores
para superação do professor como “implementador de métodos e técnicas para conquis-
tar resultados” (GATTI et al., 2019, p. 182).
Partem do reconhecimento da necessidade de analisar o que realmente fazem os
professores/as quando enfrentam problemas complexos da vida da aula, para com-
preender como utilizam o conhecimento científico e sua capacidade intelectual, como
enfrentam situações incertas e desconhecidas, como elaboram e modificam rotinas,
experimentam hipóteses de trabalho, utilizam técnicas, instrumentos e materiais
conhecidos e como recriam estratégias e inventam procedimentos, tarefas e recursos
(SACRISTÁN; GÓMEZ, 1998, p. 365).
Neste sentido, partimos de uma visão integradora entre a teoria e a prática, do es-
gio como componente teórico-prático da formação docente, da escola também como
instituição formadora, da ação pedagógica como componente de estudos e investiga-
ções. A partir desse enfoque, é possível perceber em que medida o PRP contribuiu para
a desafiadora integração entre IES e educação básica.
Todo o processo de construção e implementação do PRP possibilitou a imersão na rea-
lidade de cada uma das escolas-campo, por meio de diferentes estratégias, entre as quais des-
tacamos: reuniões de formação ora na IES, ora na própria escola, observação/participação
Experiências Docentes
192
nas salas de aula, a participação em momentos de planejamento da preceptora, entre outros.
Nas reuniões foram realizadas discussões, buscando compreender as peculiaridades do Pro-
grama. Este momento precedeu a elaboração do planejamento por parte dos residentes que,
mediante a observação atenta e dirigida e do dlogo com a preceptora e docentes da IES,
observaram problemáticas que seriam o foco da sua intervenção didática.
O planejamento elaborado e implementado continuamente consiste em identifi-
cação/elaboração de uma problemática central e suas possíveis causas, os pontos-chave
imprescindíveis para compreensão da problemática, a teorização desses pontos, ou seja,
o estudo científico que embasou as propostas que os residentes fizeram para a interven-
ção didática inovadora (BERBEL, 1995).
Vale mencionar que a intervenção didática ocorreu por meio de inúmeras e diferen-
ciadas estratégias, todas elas em consonância com as competências e habilidades previstas
na BNCC, para auxiliar na resolução da problemática encontrada. As estratégias só foram
possíveis devido aos espaços disponibilizados para que os residentes pudessem realizar as
regências de classe sob o acompanhamento das docentes orientadoras e acompanhamento
da preceptora numa visão de acolhimento, diferente de uma postura apenas de recepção,
participando, assim, ativamente da formação profissional desses residentes. Como afir-
mam Sarti e Arjo (2016, p.178): “o professor da classe envolve-se com o estágio, interage
com o estagiário e interfere de forma deliberada nos rumos do trabalho”.
Destaca-se aqui a relevância do papel do docente orientador na condução do pro-
cesso de reflexão no âmbito da IES nos momentos de reunião, do professor de estágio
proporcionando discussões/reflexões e trocas de experiências entre os participantes da
residência e da forma convencional de estágio nas aulas e, especialmente, do preceptor
que deve cultivar a postura acolhedora do residente. Para Sarti e Araújo (2016, p. 178),
o acolhimento tem a ver com “ação específica que pode ser assumida pelo professor da
classe no período do estágio, pressupondo um nível de envolvimento mais elevado que
o da mera recepção do estagiário”.
Pimenta e Lima (2018) expõem que a observação de professores em aula sem a-
lise e participação ativa, levam à imitação de modelos e à mera repetição de práticas em-
pobrecidas e limitadas. Por isso, compreendemos que “o pensamento reflexivo e a capa-
cidade investigativa não se desenvolvem espontaneamente, mas precisam ser instigados,
cultivados e requerem condições favoráveis para o seu surgimento” (BARREIRO; GER-
BRAN, 2006, p. 36). Para Freire (2011, p. 39), “[...] o pensar certo que supera o ingênuo
tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formador”.
A regência de classe como
potencializadora do aprendizado da docência
193
Contribuições do Programa de Residência Pedagógica
e estágio supervisionado para a formação docente
É comum nos cursos de licenciatura percebermos os alunos inseguros quanto à
realidade escolar. Muitas vezes, a partir das experiências que tiveram enquanto estu-
dantes, ou das representações que veem acerca da docência, sejam nos professores uni-
versitários, sejam nos materiais de estudos, ou por outros meios, constroem uma ima-
gem diferente do que de fato é a docência em sua complexa realidade, ora idealizada, ora
vista com pessimismo exacerbado. Por isso, consideramos a necessidade de que sejam
colocados em contato com o contexto escolar desde o início da formação, por meio das
práticas e/ou estágio curricular supervisionado.
A realização do estágio nos momentos de observação, participação e regência tem
sido um desafio para professores orientadores de estágio e das escolas. Existem inú-
meros problemas dificultadores e o PRP vem contribuir abrindo essa possibilidade de
maneira contínua, efetiva e acompanhada. Este programa favorece o envolvimento do
estagiário em atividades de regência, modalidade que nem sempre é possível na escola
regular. O momento da regência é visto como um espaço de significação entre o licen-
ciando e a profissão. A depender da forma como é conduzido por todos os atores en-
volvidos, pode contribuir positivamente para a formação, uma vez que envolve desde o
planejamento, o desenvolvimento da aula ou sequência de aulas até a reflexão por meio
de relatórios e dlogos com os docentes.
Nessa modalidade de colaboração, o professor da classe envolve-se com o estágio, inter-
age com o estagiário e interfere de forma deliberada nos rumos do trabalho. Ele se vê
na posição de realizar intervenções formativas junto com o estagiário, interferindo no
processo e atuando na formação de um futuro docente (SARTI; ARAÚJO, 2016, p. 178).
O estagiário, ao assumir a sala de aula, vivencia uma experiência real, pois, “no mo-
mento da regência, assume o papel do professor, este também tem a possibilidade de criar
e ocupar um lugar, na sua relação com o aluno” (BACCON, 2005, p. 36). Compreendemos
a significação que essa mudança de lugar exerce na formação do licenciando, pois depen-
dendo da forma como o estágio é conduzido, o estagiário pode se sentir como mais um
aluno naquele contexto ou como um outro professor, e aí vemos uma diferença crucial. A
regência é um momento ímpar no aprendizado do estagrio, oportunizando a constru-
ção de conhecimentos práticos que são adquiridos somente no ambiente da sala de aula.
Esses saberes constituem elementos significativos na formação da identidade do futu-
ro professor. “Ajudar o estagiário a desenvolver esse saber deve ser, portanto, um dos objeti-
vos principais do estágio supervisionado” (BACCON, 2005, p. 37). Ainda segundo a autora:
De maneira geral, essa categoria revela que a quantidade ou a variedade dos saberes
construídos durante a regência depende da visão que cada estagiário construiu do
estágio, depois da experiência que cada um vivenciou, ou seja, se ela resultou em uma
Experiências Docentes
194
experiência positiva ou negativa, podendo influenciar muito na sua decisão em ser
professor (BACCON, 2005, p. 131).
Por propiciar uma avaliação reflexiva a partir das experiências vivenciadas em
sala de aula, o momento da regência pode servir como conteúdo de análise para as duas
instâncias formadoras, IES e escolas, sendo um exercício realizado em parceria como foi
a experiência das regências no PRP do Curso de Pedagogia.
Considerões finais
É possível perceber alguns diferenciais da proposta do PRP. Destacam-se: a imer-
são dos residentes no ambiente escolar por meio de ações planejadas e acompanhadas;
o maior compromisso das instituições na formação dos estudantes, pois os agentes res-
ponsáveis em ambas as insncias, superior e básica, contribuíram para o trabalho em
conjunto; a realização de práticas inovadoras nas regências de classe compondo os pro-
jetos desenvolvidos. Esses elementos demonstram e confirmam os aprendizados adqui-
ridos na relação teoria e prática ao longo do processo formativo.
Esta articulação entre as IES e as escolas, no entanto, não ocorre sem dificuldades.
Como toda experiência inovadora, pode acontecer resistência de ambos os lados, mas uma
reflexão do trajeto mostra que essa resistência vai aos poucos sendo superada podendo
haver uma melhora na ação pedagógica que possibilite o crescimento docente e discente.
Outro desafio é a necessidade que a escola tem em cumprir a realização de certas
atividades rotineiras como o uso do livro didático e do caderno, o que ocupa tempo con-
siderável da aula, não possibilitando ao residente explorar outras metodologias em sua
totalidade. Consideramos que essas atividades são importantes, mas quando o volume
delas é grande, torna-se um empecilho ao desenvolvimento de projetos inovadores que
caminham em uma direção diferente. Apesar dos desafios mencionados, o contínuo es-
forço para o dlogo e trocas de experiências possibilita o crescimento de todos os atores
envolvidos, docentes da IES, preceptores e residentes. Entendemos que, embora em fun-
ções diferentes, todos estão em formação. Mobilizar diferentes sujeitos em tempos e es-
paços comuns para as reuniões unindo diferentes visões, experiências, formas distintas
de compreender e pensar a educação é sempre desafiador, mas os sentidos encontrados
nas atividades possibilitaram os resultados positivos dessa parceria.
Referências
BACCON, A. L. P. O professor como um lugar: um modelo para análise da regência
195
Contribuições do Programa de Residência Pedagógica
e estágio supervisionado para a formação docente
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“Os olhos vivos e brilhantes das crianças olham curiosos para tudo ao seu redor. É
vida buscando vida, é curiosidade buscando conhecimento. A cada nova flor que se
abre, folhas que caem ou ao mínimo movimento no chão brilham os olhos curiosos
das crianças, e a construção do conhecimento se inicia em um processo dimico e
dialético” (HUBERT, 2003, p. 61).
Neste texto, como indica o título de maneira geral, temos como objetivo apresen-
tar as vivências proporcionadas no PRP na perspectiva freinetiana. Em agosto de 2018,
ingressamos como residentes bolsistas no PRP criado pela Capes e implementado pela
Unesp, na Faculdade de Filosofia e Ciências – FFC campus de Marília – subprojeto:
“Licenciatura em Pedagogia” que conta com a participação das seguintes docentes: Elia-
neth Dias Kanthack Hernandes, Elieuza Aparecida de Lima, Tatiana Schneider Vieira
de Moraes, Rosane Michelli de Castro, Tânia Suely Antonelli Marcelino Brabo. Tam-
bém contamos com alunos bolsistas e voluntários e com o(a)s preceptores(as) que nos
auxiliam nas escolas.
As escolas parceiras do PRP-Pedagogia são de educação infantil e de ensino fun-
damental – séries iniciais, da rede municipal de ensino da cidade de Marília-SP. Além
dos residentes bolsistas, integram o PRP-Pedagogia, preceptores (professores e professo-
ras das escolas parceiras) e professoras orientadoras, docentes do curso de Pedagogia da
Faculdade de Filosofia e Ciências – FFC/Unesp campus de Malia. As ações e reflexões
cujos resultados ora apresentamos foram orientadas pela Profª Dra. Rosane Michelli de
Castro, mediante o projeto “A aula passeio com professores: conhecendo e ressignificando
Vivências no Programa
de Residência Pedagógica
na perspectiva das
cnicas freinetianas
CAPÍTULO 13
Rosane Michelli de Castro
Juliana Barbosa Pires
Lara Rodrigues Gesser
h
tt
ps
://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p197-208
Experiências Docentes
198
aspectos da história local, em desenvolvimento na escola municipal de ensino funda-
mental – Emef “Profª Reny Pereira Cordeiro”. O projeto tem por objetivo geral:
Proporcionar aos professores da escola de Ensino Fundamental I parceira, mediante a
chamada “aula passeio”, o conhecimento ou o re-conhecimento de locais e monumen-
tos representativos da história local da cidade de Malia-SP, proporcionando-lhes a
recontextualização em espaços históricos da história local da cidade e da história do
Brasil, portanto, a apropriação de saberes para a ressignificação dos conteúdos de
história a serem ensinados mediante processos escolares (CASTRO, 2013, f. 2).
O Programa se desenvolveu em dois momentos: o primeiro é de ambientação,
quando os residentes visitaram a escola parceira e fizeram as observações e alises
sobre a estrutura da escola, seus documentos, organização e ambientes, juntamente com
o preceptor, o professor Altair Borges de Souza, que orientou as residentes na escola.
Além disso, esse preceptor deu instruções sobre uma das maneiras de se elaborar um
semario, planejamento etc. sempre incluindo as residentes nas atividades da escola. E
o segundo momento de imersão, em que foram desenvolvidas as ações planejadas pelas
residentes, sob orientação da orientadora e coordenadora, professora Rosane Michelli
de Castro, e do professor preceptor, Altair Borges de Souza.
Momentos de imersão nos espaços e em
processos escolares: relatos das residentes
Durante o planejamento das atividades, um dos nossos questionamentos foi como
desenvolver possibilidades de se trabalhar leitura e escrita, com sentido e significado,
nos ensinos de matemática e geografia, e, ao mesmo tempo, ofertar às crianças experiên-
cias que proporcionassem vivências ricas para apropriações de conteúdos socioculturais.
Deparamo-nos, então e novamente, com as técnicas de Freinet em especial com a “aula
passeio”, técnica que tivemos a oportunidade de trabalhar num outro momento.
De acordo com Costa (2006, p. 27):
A técnica pedagógica de Freinet é construída com base na experimentação e documen-
tação, almejando uma prática educacional totalmente centrada na criança, atribuin-
do grande ênfase aos trabalhos (atividades) manuais, tendo em vista a formação de
crianças ativas, que serão responsáveis por uma futura transformação social.
Sendo assim, partimos do pressuposto de que para aprender a escrever é necessário
ter o quê, para quê e para quem escrever. Nesse sentido, acreditamos nas propostas de uma
199
Vivências no Programa de Residência Pedagógica na perspectiva das técnicas freinetianas
escrita viva, ao encontro das teorizações freinetianas, com função social no cotidiano das
crianças, possibilitando que elas percebam os conteúdos apreendidos na escola, conecta-
dos no dia a dia, mas, por vezes não percebidos de maneira tão explícita. Nesse sentido,
nada melhor do que o conhecimento de mundo das crianças como ponto de partida para
novas aprendizagens. Trata-se de conhecimento que o professor pode articular ao cur-
rículo, possibilitando ofertar condições para que as crianças compreendam os símbolos
gráficos e o que eles representam na cultura humana, deixando registrada de alguma ma-
neira a experiência vivenciada, no caso, mediante a escrita em seus diferentes suportes.
Segundo Freire (2006, p. 11), o ato de ler “[...] não se esgota na decodificação pura
da palavra escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura
do mundo precede a leitura da palavra [...]”, ou seja, a linguagem e o mundo estão dire-
tamente atrelados, são indissociáveis e a linguagem não pode ser trabalhada e desenvol-
vida em sala de aula isolada da realidade.
Freire (2006) acrescenta que há um contexto relacionado em tudo aquilo que se es-
creve e se lê. Por trás da leitura e da escrita, existem diversas interpretações e realidades
expressas, tanto do leitor quanto do autor. As apropriações históricas refletem na com-
preensão de mundo de cada um. Sendo assim, refletirá na formação leitora das pessoas.
De acordo com Bakhtin (2003, p. 379 apud ARENA 2010, p. 19):
[...] a palavra do outro, ao ser enunciada, exige o desafio da compreensão, porque a
palavra do outro coloca diante do indivíduo a tarefa especial de compreendê-la. (Essa
tarefa não exige em relação a minha própria palavra ou existe em seu sentido outro).
Conforme Magnani (2018, p. 31), “[...] aprende-se a ler e a gostar de ler; aprende-se
a ter satisfação com a leitura; aprende-se a acompanhar modismos de leitura; aprende-
-se a ter critérios e opiniões de leitura; aprende-se a julgar valores estéticos”. E isso é
desenvolvido tanto fora quanto dentro da escola.
Smith (1999) afirma, porém, que aquilo que acontece dentro da sala de aula é
determinante para tornar os alunos leitores ou não. Os professores devem promover
e facilitar o acesso à alfabetização, garantindo que a leitura e a escrita tenham sentido.
Ele destaca também que, “[...] a leitura e a escrita não podem mais ser abordadas sepa-
radamente na aprendizagem, assim como não devem ser abordadas separadamente no
ensino” (1999, p. 124).
Segundo Jolibert (1994), ler é questionar, elaborar hipóteses, é atribuir sentido, e
tudo isso a partir de uma expectativa real. A partir dessas situações, que envolvem as leitu-
ras, são criadas as estratégias de aprendizagem. A autora aponta que (1994, p. 15), “ler é ler
escritos reais, que vão desde um nome da rua numa placa até um livro, passando por um
cartaz, uma embalagem, um jornal, um panfleto, etc. [...]”. Ou seja, ler faz parte de uma
necessidade real diante das situações da vida; por isso ler verdadeiramente faz de alguém
Experiências Docentes
200
leitor, e não aprender primeiro. Significa dizer, de acordo com Jolibert (1994), que se trata
de ler sem passar pelo processo de decifração (leitura fragmentada) ou pela oralização.
Para isso, é preciso dar liberdade para que os alunos se expressem e, nesse sentido,
as formulações freireanas vão ao encontro das freinetianas, em relação ao respeito pela
livre expressão de seus alunos, quando aponta que:
[...] temos de respeitar os níveis de compreensão que os educandos – não importa
quem sejam – estão tendo de sua própria realidade. Impor a eles a nossa compreensão
em nome da sua libertão é aceitar soluções autoritárias como caminhos de liber-
dade (FREIRE, 2006, p. 27).
Quando as crianças se sentem livres para escreverem o que pensam, para expres-
sarem suas visões de mundo, elas se sentem mais seguras e confiantes para arriscarem-se
em relação à leitura e à escrita, e assim vão sentindo gosto e se aprimorando nessas ações.
Para Smith (1999), a leitura não é algo que se ensina, e o papel do professor e da
professora é, portanto, o de proporcionar situações de leitura que envolvam a realidade da
criança. Smith (1999) acrescenta que as crianças estão em contato com a leitura desde o
nascimento, pois a leitura envolve a linguagem falada e as visões de mundo que as cercam.
Nas palavras de Smith (1999, p. 43), “[...] a única maneira de ler é no nível do sig-
nificado e a única maneira de aprender a ler é no mesmo nível. Segundo Smith (1999, p.
65), “[...] é através do sentido que as crianças aprendem a ler, e enquanto elas não conse-
guirem ler suficientemente bem para entender o sentido do que estão fazendo, alguém
deve ajudá-las”. Acrescenta que aprender a ler não acontece de forma instantânea; é um
processo que se desenvolve com o hábito de leitura e o esmulo e ajuda de pessoas a sua
volta (SMITH, 1999).
Essas elaborações apresentadas até o momento vão ao encontro da pedagogia Frei-
net. Esse educador também acreditava na leitura e escrita social e significativa, e princi-
palmente na criança como sujeito ativo da sua aprendizagem. Portanto, abordamos as-
pectos relacionados às técnicas freinetianas, centralmente à “aula passeio”, englobando
aspectos de sua vida e suas principais concepções em relação à educação.
Perspectiva educacional
freinetina e a “aula passeio
Célestin Freinet nasceu em 15 de outubro de 1896, no Sul da França, em 1920,
na pequena aldeia de Bar-sur-Loup (LIMA, 2017). Iniciou seu trabalho numa “escola
instalada numa casa antiga, pobre e escura, que tinha a carteira em muito mau estado,
dispostas em filas, à maneira tradicional” (SAMPAIO, 2007). De acordo com Sampaio,
201
Vivências no Programa de Residência Pedagógica na perspectiva das técnicas freinetianas
Freinet tinha enorme respeito pelas crianças e, a partir disso, começou a estudar, regis-
trando tudo que as crianças diziam e a maneira como se comportavam. Preocupado
com as necessidades de seus alunos, Freinet passa a refletir sobre as práticas pedagógicas
tradicionais. Silva, Lima e Valiengo (2017, p. 675) apontam que,
Há quase um século, um dos aprendizados de Freinet (1976), a partir de sua atuação
como professor, foi que a criança não se interessa por ir à escola para copiar e ler tex-
tos de livros didáticos. Motivado por essa atitude respeitosa e sensível como educador
na escola da infância, Freinet (1976) buscou, a partir de seus estudos e ações pedagógi-
cas, a superação dessa prática educativa.
Na perspectiva freinetiana, dar imporncia para o repertório cultural da criança
é essencial. Segundo Silva, Prestes e Pena (2011), para Freinet, a escola tem um papel de
mediação, pois deve valorizar os conhecimentos prévios da criança e a partir disso gerar
instrumentos que possam propiciar o interesse a novos conhecimentos.
A partir de sua história e de tudo que pensou sobre educação e sobre a criança,
surge a ideia da “aula passeio” que, conforme Sampaio (2007) era realizada por Freinet
diariamente. Nas saídas realizadas por ele, tudo era observado, os trabalhadores, as
flores, as paisagens, o céu. A autora (2007, p. 16) destaca que, “na volta dos passeios a
atmosfera da classe era outra: cada um queria contar o que vira, o que descobrira, queria
mostrar o que trouxera nos bolsos ou lembrar um fato ocorrido durante o passeio [...]
Era a vida entrando na sala de aula”.
Para Silva, Prestes e Pena (2011, p. 4397), “a aula passeio, em contraposição à pe-
dagogia da abstração e do imobilismo, é um modo de colocar as crianças em contato
com a realidade”. Por isso, com a “aula passeio” há um desenvolvimento em diferentes
aspectos, tanto cognitivo como social do aluno.
Segundo Sampaio (2007), um aspecto interessante da pedagogia de Freinet foi a
valorização da expressão livre, tanto dos professores quanto dos alunos. Ambos podiam
expressar suas ideias e opiniões e, dessa forma, o professor deixava de ser o centro da
sala de aula, dando voz e vez as crianças. Essa troca de experiências e ideias gera um
aprendizado muito mais rico e que faz sentido para às crianças.
Além disso, Sampaio (2007) destaca que as crianças de Freinet sentiam que a
curiosidade e a sede pelo saber as levavam a pensar em como solucionar tanto os seus
problemas quanto os da própria comunidade em que viviam, ou seja, um princípio de
escola ativa é o de pensar em uma educação atrelada à evolução social.
As técnicas de Freinet não têm um público alvo-de crianças em específico, poden-
do ser pensada para diferentes escolas, pois o foco principal é o envolvimento da criança
com a sua própria aprendizagem, a construção do seu próprio conhecimento (SILVA;
Experiências Docentes
202
PRESTES; PENA, 2011). Em outras palavras, Scarpato (2004, apud SILVA; PRESTES;
PENA, 2011, p. 4397) aponta que,
Para Freinet, as técnicas de ensino devem complementar o dia a dia escolar, porque
o aluno tem de se sentir motivado, interessado em aprender, em ir à escola. A sua
proposta é de uma pedagogia que procura se adaptar à realidade social e cultural do
morador de favela, de cortiço, casa ou mansão.
A “aula passeio” de Freinet, como técnica privilegiada na pesquisa desenvolvida,
apresenta a imporncia da criança como sujeito histórico, que precisa compreender o
espaço que vive, de forma social, política e econômica, para que assim seja um sujeito
ativo na sociedade.
Já Demo (2002, apud SILVA; PRESTES; PENA, 2011, p. 4397) aponta que,
A valorização do trajeto cultural do aluno deve ser ponto de partida e referência na
construção de conhecimentos e não o limite do desenvolvimento, porque a cultura
não é só memória e preservação é o próprio chão que irá revestir o futuro. “Por isso,
aproveitar o que o aluno já sabe, acumulou de experiência pessoal, apresenta como
identidade cultural é habilidade crucial do professor”.
Para Sampaio (2007), a “aula passeio” era uma verdadeira aula das descobertas.
De acordo com a autora, Freinet iniciou essa prática para que as crianças tivessem
mais contato com o meio em que vivem. Para que trouxessem o mundo que vivem
para dentro da sala de aula. Dessa maneira, elas estariam mais motivadas para a cria-
ção de textos livres.
As “aulas das descobertas” desenvolviam seres humanos mais sensíveis e envolvi-
dos com a natureza e com a questão ambiental. “Mesmo quando ainda não se cogitava
a hipótese de uma crise ambiental, Freinet já desenvolvia em seus alunos uma relação
entre ser humano e natureza [...]” (COSTA, 2011, p. 44).
Segundo Silva, Prestes e Pena (2011), os objetivos e a organização da “aula
passeio” devem ser pensados de forma coletiva. Desde o momento em que se ini-
cia a discussão em relação à sua ideia, que pode ser do professor e da professora,
ou até mesmo das crianças, é importante que as crianças participem ativamente
expressando-se, comunicando, criando e pesquisando. De acordo com Silva, Pres-
tes e Pena (2011, p. 4298), “[...] O ‘tateio experimental, nome utilizado por Freinet
para conceituar a capacidade da criança de realizar uma pesquisa usando a reflexão,
levantando hipóteses e tentando verificá-las” contribui de forma significativa para
o desenvolvimento da “aula passeio”. Costa (2011) afirma que o tateamento expe-
rimental, como princípio norteador da “aula passeio, apresenta a valorização do
203
Vivências no Programa de Residência Pedagógica na perspectiva das técnicas freinetianas
aprendizado que envolve a prática e a construção do conhecimento a partir de situ-
ações que fazem sentido para as crianças, e que fazem parte da sua cultura e levam
à construção do seu pensamento.
Segundo Sampaio (2007, p. 181), a técnica da “aula passeio”:
[...] seja qual for o objetivo da saída, deve ser pensada com muita responsabilidade,
pois ao fazer os planos do passeio, preparar os materiais necesrios, estar atento ao
roteiro da viagem, participar das tarefas durante a saída, o aluno, além de viver um
aprendizado natural e agradável, tem a oportunidade de ampliar as formas de rela-
cionamento com os colegas, professores e acompanhantes.
Portanto, não se deve confundir a “aula passeio” com um momento simples, sem
planejamento, de simples saída da escola. É importante destacar que Freinet, conforme
Silva, Prestes e Pena (2011), não é a favor de uma educação esponnea. Para Freinet,
sempre existiam propósitos a serem atingidos.
Vivências segundo a perspectiva freinetiana
Desde o momento de imersão na Emef Profª Reny Pereira Cordeiro, tínhamos em
mente que, por meio das nossas ações pedagógicas, poderíamos atender as necessidades
da escola. Porém, tivemos que mudar os planos devido a um Projeto referente às bacias
hidrográficas e de tudo que envolve o meio ambiente implementado pela Secretaria Mu-
nicipal da Educação, por conta do momento que a cidade estava vivendo, em meio ao
ano letivo de 2019. Por ser uma necessidade da escola, optamos por desenvolver nosso
projeto juntamente com o projeto do meio ambiente.
Sendo assim, surgiu a ideia de trabalharmos os ensinos de leitura e escrita de
maneira viva, com função social, sentido e significado no processo de ensino e de
aprendizagem, articulando os conteúdos das disciplinas de geografia e matemática,
estudados pelas crianças em sala de aula, mediante a técnica privilegiada “aula pas-
seio” freinetiana, aula que foi realizada no próprio lugar de fala das crianças, no bair-
ro onde residem e onde a escola se localiza. Trata-se de um centro de convivência do
Jardim Damasco II, da cidade de Malia-SP, em que as pessoas podem levar litros de
óleo de cozinha usado e trocar por sabão artesanal, uma das maneiras de reutilizar
o óleo. Nesse sentido, acreditamos contemplar a necessidade da escola, mediante as
ações e reflexões do projeto “A aula passeio com professores: conhecendo e ressignifi-
cando aspectos da história local.
A “aula passeio” no próprio lugar de fala das crianças teve, portanto, o intuito de
propiciar às crianças reconhecer conteúdos aprendidos em sala de aula em atividades
Experiências Docentes
204
por elas vivenciadas em seu cotidiano. A propósito, ressaltamos que a ideia da ida ao
centro foi sugerida pelas crianças numa roda de conversa. A seguir compartilhamos
algumas das etapas do desenvolvimento do projeto:
Quando chegamos à escola, a turma estava preparada para nossa saída com boné,
mera fotográfica profissional, celular, material para anotações, sempre muito atentos
aos detalhes ao longo do caminho. Assim, partimos, caminhando, pela rua frente à
escola. Uma das crianças foi nossa fotógrafa oficial ao mesmo tempo, pois utilizamos a
fotografia como uma forma de registro, considerando que também fazemos leituras por
meio de imagens em jornais, sites, revistas etc.
No dia da aula passeio, pensamos que não realizaríamos nossas atividades, por
conta das condições climáticas. Mas, partimos da Emef Profª Reny Pereira Cordeiro,
passamos por alguns quarteirões até chegarmos ao centro de convivência.
Durante o caminho, conversamos sobre vários assuntos, inclusive sobre o nome
das ruas pelas quais passávamos, tirando fotos, fazendo anotações do que mais chama-
va a atenção das crianças. Infelizmente, o centro de convivência estava fechado, mas o
ponto de coleta de óleo usado fica do lado de fora do centro, então pudemos dialogar
sobre o assunto. Depois, as crianças tatearam o espaço, subiram em árvores, sempre em
busca de tirarem e recolherem o máximo de informações sobre o ambiente, pois, após a
visita, faríamos uma maquete que, posteriormente, seria exposta na escola e na feira do
meio ambiente do município.
Durante o percurso, os olhares das crianças estavam atentos a tudo que se passava
ao redor, desde os detalhes nos espaços até questões ambientais que já haviam estudado
em sala de aula, do que parecia estar certo ou errado ao longo do caminho.
Inclusive em uma das ruas por onde passamos, encontramos um pé de cacau, o
que não é tão comum em nossa região, e isso despertou curiosidade nas crianças em
conhece-lo, pois é a partir dele que é fabricado o chocolate. O proprietário da casa nos
presenteou com cacaus para levarmos à escola. Ainda, encontramos um pé de amora e
as crianças experimentaram.
Pensando no projeto maior, propusemos às crianças que fizessem algum registro
sobre o que vimos e o que mais gostaram durante a “aula passeio. Finalizada a “aula
passeio”, propriamente dita, as crianças estavam bastante motivadas com tudo que vi-
venciaram. Iniciamos, então, o registro dessas vivências, agora com um projeto para
confecção de uma maquete, a fim de explorarmos os conteúdos do ensino de matemá-
tica, entre eles tipos de medidas e fração, sendo que a leitura na perspectiva de mundo
foi contemplada na “aula passeio”, revisada sempre que necessária para a elaboração
da maquete. Trata-se de uma maneira de visualizarmos como as crianças absorveram
tudo o que estava ao seu redor. Nesse momento, a utilização da escrita é essencial para
a elaboração dos registros.
205
Vivências no Programa de Residência Pedagógica na perspectiva das técnicas freinetianas
Para não atrapalharmos o andamento das atividades cotidianas, optamos por tra-
balhar com dois grupos diferentes por semana. Assim, o professor pôde dar continuidade
aos conteúdos com as demais crianças e todas participaram de alguma fase do projeto.
O professor nos apresentou o rascunho da maquete que os alunos fizeram como
registro e tivemos a difícil missão de escolher os primeiros participantes por meio dos
registros, sem saber quem era a criança autora de cada um deles.
O grupo 1 foi organizado com cinco crianças, A, L, L, D, L. A princípio, elabora-
mos uma lista de materiais que usaríamos para a construção da nossa maquete do Cen-
tro de Convivência do Jardim Damasco II. O grupo 2 foi organizado por três crianças,
B, E e V. Trabalhamos com a medida e localização dos elementos que iriam compor os
espaços da maquete e iniciamos a pintura. O grupo 3 foi composto por R, P, A e C. As
crianças deram continuidade à pintura do centro de convivência, academia ao ar livre,
do campo de futebol, rua e calçada.
Finalmente, continuamos a realizar nossas regências com a presença do nosso
preceptor, o professor Altair, e, agora, também com nossa orientadora, Drª. Rosane Mi-
chelli de Castro.
Em seguida, com a finalização da base da maquete, planejamos uma atividade
na sala 05 – sala com multimídia. Pensamos que seria interessante que as crianças re-
visitassem o espaço novamente, por meio de um instrumento que nos permitisse ver o
local sem estar fisicamente lá, pois já havíamos feito essa visita presencial com eles. Por
isso, optamos por revisitarmos os locais da aula passeio por meio de uma ferramenta
tecnológica, no caso, o Google Maps.
Partimos do nome e número da escola, que foi o ponto de partida da nossa aula
passeio. Ficou nítido como as crianças observaram o antes e depois do caminho. Por
exemplo: o que não tinha antes e tem agora? Por que temos um ponto de coleta de óleo
usado? Será que a nossa maquete contempla os elementos importantes que vimos no
centro de convivência? Esse foi um momento rico em que exploramos mais os conteú-
dos do ensino de geografia, por exemplo, o tempo e o espaço, as interferências da vida
humana no espaço geográfico, entre outros conteúdos
Com o grupo 5, finalizamos os trabalhos feitos anteriormente e iniciamos a cons-
trução do centro de convivência do Jardim Damasco II, sempre trabalhando por meio das
medidas. Na continuidade da atividade com a maquete, trabalhamos com o grupo 6 com-
posto por F, G e G. Trabalhamos com as árvores, centro de convivência e sempre retomando
e retocando o que era necessário nos trabalhos realizados anteriormente. No penúltimo dia
de atividade com a maquete, trabalhamos com o grupo 7, composto por H, K e S. Todos os
dias foram dias ricos e de aprendizado, porém esse dia nos marcou, sobretudo com a fala de
uma das crianças: “O que estamos fazendo é conteúdo de matemática” (Aluna K). Logo após
a finalização da maquete, surgiram outras ideias sobre o projeto e conteúdos estudados,
os quais planejamos desenvolver em projeto futuro.
Experiências Docentes
206
Considerões finais
Fazer a “aula passeio” foi uma experiência muito rica, tanto para nós, parceiros (as)
mais experientes, quanto para as crianças. Elas puderam vivenciar e tatear elementos
do seu cotidiano mediante um novo olhar, intencional e voltado a novas apropriações
socioculturais. Podemos afirmar que vivenciamos nosso referencial teórico na prática.
Nesse sentido, foi que optamos elaborar este texto, relatando, brevemente, nossa
trajetória no PRP, juntamente com a apresentação de aspectos sobre o quadro teóri-
co-metodológico das nossas ações e reflexões, de maneira a auxiliar, de forma funda-
mentada e consistente, o professor e a professora no planejamento de suas atividades,
proporcionando às crianças experiências que favoram o pensamento matemático e
geogfico por meio da leitura e da escrita.
Mesmo não apresentadas neste texto, mediante as vozes das crianças pudemos
pensar, a partir de eixos temáticos, possibilidades para a inserção curricular ao conte-
údo programático já existente, utilizando a “aula passeio” como metodologia privile-
giada para se trabalhar aspectos do ensino de matemática e geografia. Enfim, diante de
tudo que foi apresentado até aqui, podemos dizer que como professores(as), estamos em
constante formação; e mesmo diante de toda a demanda da profissão e interferências
externas, conseguimos, por meio do planejamento, proporcionar às nossas crianças ex-
periências ricas que contribuam para o desenvolvimento em sua totalidade, favorecendo
as relações não só entre os conteúdos, mas também na formação humana do ser. Portan-
to, nós, profissionais mais próximos das crianças, precisamos caminhar junto com elas,
respeitando sua essência e a maneira como aprendem.
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https://bit.ly/3SC09bY. Acesso em: 04 out. 2022.
O PRP é uma iniciativa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes). Silva e Cruz (2018) traçam o histórico da criação desse programa,
desde projetos de lei que não foram aprovados até iniciativas de universidades e go-
vernos estaduais e municipais, bem como apontam elementos para uma alise crítica
dos seus pressupostos e implicações. O PRP, assim como o Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), surge no contexto de um problema cada vez
mais acentuado de falta de professores nas escolas públicas e de desinteresse dos jovens
pelos cursos de licenciatura. Segundo Bernardete Gatti,
comparando os dados relativos ao número de concluintes das licenciaturas, presen-
ciais e a distância, verifica-se que nos cursos de pedagogia o número de concluintes,
em cinco anos, caiu pela metade e, nas demais licenciaturas, em torno de 17% (GAT-
TI, 2014, p. 38).
Ao analisar os currículos dos cursos de licenciatura no Brasil, essa autora consta-
ta que “a formação para a prática da alfabetização e iniciação à matemática e às ciências
naturais e humanas é precária [...]” (GATTI, 2014, p. 39)
A Capes lançou, em 2018, o primeiro edital do PRP para seleção de projetos ins-
titucionais de conformação docente (BRASIL, 2018). A Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (Unesp), representada pela Pró-reitoria de Graduação (Prograd),
concorreu com uma proposta institucional, na qual constavam 24 núcleos e subproje-
tos vinculados às diversas licenciaturas desenvolvidas em onze campi da instituição
O Programa da Residência
Pedagógica na educação
de jovens e adultos: dos
saberes às pticas
CAPÍTULO 14
Cláudia Prioste
Francisco José Carvalho Mazzeu
Ronaldo Revejes Pedroso
ht
tps://doi.org/10.36311/
2023.978-65-5954-332-8.p209-220
Experiências Docentes
210
e foi contemplada com 672 bolsas de estudo para estudantes, representando recursos
de R$ 5.777.640,00, além de ter obtido R$ 61.056,00 em verba de custeio das atividades.
A participação da Unesp nos editais da Capes voltados à formação de professores
teve seu início com a atuação no âmbito do Pibid em 2009, sendo contemplada com um
número crescente de bolsas nos editais subsequentes. A Unesp, pelas suas característi-
cas de proximidade com os municípios e forte atuação nos cursos de licenciatura, tem
tido um papel importante na formação de professores no estado de São Paulo. Nesse
contexto, merece destaque a experiência dos núcleos de ensino, programa criado pela
Prograd em 1987 para apoiar projeto realizados em parceria com escolas da rede pública.
Na Faculdade de Ciências e Letras – campus Araraquara, desenvolvemos um
subprojeto vinculado à licenciatura de Pedagogia, cujo enfoque foi a alfabetização. O
subprojeto teve duração de dezoito meses, com início em agosto de 2018 e término em
janeiro de 2020. Foi realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de
Araraquara e envolveu três escolas públicas, sendo que uma delas atendia ao público da
Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A opção pela temática da alfabetização decorreu de pesquisas realizadas no mu-
nicípio e que identificaram sérios problemas no processo de alfabetização das crian-
ças nos primeiros anos do ensino fundamental. Identificou-se que um número exces-
sivo de alunos avançava de etapa com graves problemas na aquisição básica da leitura
e escrita (PRIOSTE, 2017).
Callegari (2015, p. 1), analisando dados da Avaliação Nacional de Alfabetização
(ANA), que abrangeu em 2014 cerca de 55 mil escolas públicas e 2,6 milhões de alunos
do 3º ano do ensino fundamental, constatou que: “1 em cada 4 alunos chega a essa fase
sem saber ler ou fazer operações matemáticas elementares como somar e subtrair. E
quase 45% não sabem escrever corretamente um texto simples”.
Consideramos que a falta de habilidades mínimas na alfabetizão pode gerar um
progressivo sentimento de fracasso e desinteresse pelos estudos, repercutindo em abando-
no da escola, que, por conseguinte, aumenta as chances de jovens que se tornam público-
-alvo do EJA devido à precária alfabetização escolar. Trata-se, portanto, de um ciclo vi-
cioso de históricos e sucessivos fracassos, que deveriam ser abordados em todas as etapas.
Alfabetização de jovens e
adultos no município de Araraquara
No âmbito da alfabetização de adultos, o município também enfrenta dificuldades,
apesar de ter uma taxa de analfabetismo registrada no censo de 2010 de 3,6%, abaixo da
média nacional e do estado de São Paulo. O município desenvolve ações voltadas para a
alfabetização por meio de parcerias com uma organização não governamental que atuava,
211
O Programa da Residência Pedagógica na educação de jovens e adultos: dos saberes às práticas
inicialmente, com alfabetizadores voluntários. Essas ações foram posteriormente inte-
gradas ao Programa Brasil Alfabetizado (PBA), lançado pelo governo federal em 2007,
que possibilitou o pagamento de bolsas a esses alfabetizadores, bem como a distribuição
de livros didáticos do Programa Nacional do Livro Didático para Educação de Jovens e
Adultos (PNLD/EJA). Com a paralisação do PBA em 2019, parte dessas atividades acabou
sendo suspensa ou ficando novamente a cargo de volunrios e entidades religiosas.
Com relação à oferta de EJA nas séries equivalentes ao ensino fundamental, o
quadro é ainda mais difícil, pois o município possui somente duas escolas de ensino
fundamental que oferecem essa modalidade: uma delas é a Escola Municipal de Ensino
Fundamental Rubens Cruz, um dos muitos Centros de Atenção Integral à Criança e
ao Adolescente (Caic); a outra é a escola de ensino fundamental Núcleo de Educação
de Jovens e Adultos Irmã Edith (Neja). As duas escolas foram parceiras do projeto, mas
optamos por focalizar neste artigo a parceria com o Neja.
O Neja Irmã Edith é uma unidade escolar do município de Araraquara/SP criada
oficialmente em 2011, mas sua história se inicia em 2007, ocasião em que sua gestão
pertencia à escola municipal de ensino fundamental Professora Olga Ferreira Campos.
Sua patrona, Maria da Conceição Costa, conhecida como “Irmã Edith Costa”, foi quem
iniciou o projeto de alfabetização de adultos no município na década de 1990 e esteve à
frente dos principais projetos de combate ao analfabetismo em Araraquara, o que resul-
tou na institucionalização de uma unidade escolar específica para esse fim.
O Neja Irmã Edith hoje é reconhecido como um centro de formação e articulação
das ações e políticas de EJA no município, e oferece ensino fundamental de 1º ao 9º ano.
Das quinze turmas em funcionamento, três são salas multisseriadas dos anos iniciais
com foco na alfabetização (1º a 5º ano) e doze são salas dos anos finais (6º a 9º ano).
Nessa instituição escolar são atendidos em torno de seiscentos alunos anualmente, com
faixa etária entre 15 e 80 anos, vindos de diversos bairros da cidade e também de cidades
circunvizinhas como Américo Brasiliense, Guarapiranga, Matão e Motuca.
O perfil dos(as) estudantes é diversificado: adolescentes que tiveram dificuldade
em cursar o ensino fundamental regular, jovens em conflito com a lei encaminhados
pelos órgãos públicos, adultos trabalhadores e em busca de emprego, pessoas afastadas
do trabalho e encaminhadas pelo INSS, idosos aposentados, e muitas outras pessoas que
não tiveram a oportunidade de permanecer na escola na idade correta e que desde a in-
ncia e/ou juventude necessitaram trocar as carteiras escolares pelo trabalho na lavou-
ra, na construção civil, nas casas de família etc. Indivíduos que adquiriram grande parte
de seus conhecimentos através de suas vivências profissionais, de suas experiências de
vida e que não conseguiram concluir sua escolarização por motivos relacionados a mu-
dança de cidade, exploração do trabalho infantil, gravidez na adolescência, situação de
rua decorrente de problemas com álcool e drogas e outros conflitos que culminaram no
afastamento destes da escola.
Experiências Docentes
212
São frequentes os relatos dos estudantes do Neja, de que a escola representa uma
possibilidade de mudança social, de que a conquista da escolarização é um caminho
propício à ascensão pessoal e profissional. Para esses sujeitos, estar na escola e concluir
os estudos é um fator que contribui para aumentar as chances de sucesso na vida.
Nesse cenário de crise econômica, as exigências do mundo do trabalho têm au-
mentado as demandas da educação de jovens e adultos, o que tem impulsionado ações
de governo voltadas para a elaboração e implementação de políticas públicas de em-
prego, trabalho e renda. Para ampliar as chances de acesso à educação e a qualificação
profissional, a prefeitura do município de Araraquara, no ano de 2017, criou o Programa
de Incentivo à Inclusão Social (Piis), que tem como objetivo propiciar inclusão social
através da oferta de educação, qualificação profissional e repasse de renda.
O Programa tem como público-alvo pessoas adultas que se encontram em situa-
ção de vulnerabilidade social e dependência química, como também mulheres vítimas
de violência doméstica, pessoas com deficiência e reabilitandos do sistema prisional.
Essas pessoas foram selecionadas pelas equipes da Secretaria Municipal de Assistência
e Desenvolvimento Social e matriculadas no Neja e no Espaço Kaparaós, um centro de
capacitação social e profissional que possui parcerias com o sistema “S” (Senai, Senac,
Sesi) e oferta cursos de qualificação.
Os alunos que integram o Piis participam de cursos, formações e qualificações
profissionais no período da manhã no Espaço Kaparaós e no período da tarde cursam
no Neja as séries iniciais e finais do ensino fundamental. Aos estudantes é oferecida
uma bolsa de estudos no valor de um salário mínimo de acordo com o percentual de sua
frequência escolar no Programa, o que incentiva e garante a frequência à maioria das
aulas. É uma forma de tentar assegurar o previsto na legislação educacional, que deter-
mina princípios de igualdade de condições para o acesso e permanência na escola aos
alunos da EJA, que, por serem trabalhadores, necessitam da oferta de ensino adequado
às suas necessidades e disponibilidades.
O Programa Piis, até o ano de 2020, atendeu em torno de duzentas pessoas e tem
sido um diferencial no enfrentamento e combate das desigualdades sociais no municí-
pio, como também na garantia de inclusão da população em situação de vulnerabilidade
na educação formal. Esta política pública tem se mostrado estratégica para promover a
inclusão social dos estudantes como também para aumentar as chances de inserção e
reinserção destes no mercado de trabalho.
No que se refere ao desenvolvimento de projetos extracurriculares, o Neja tem
histórica parceria com universidades públicas e privadas e recebe diversos estagiários
de instituições como Unesp, Uniara, Unip e Uniesp. Os universitários são graduandos
dos cursos de letras, pedagogia, ciências sociais, ciências econômicas e ciências bioló-
gicas. Além do estágio curricular supervisionado, esses estudantes desenvolvem ações
de monitoria e contribuem com o trabalho pedagógico voltado para as temáticas de
213
O Programa da Residência Pedagógica na educação de jovens e adultos: dos saberes às práticas
meio ambiente e sustentabilidade, educação financeira, valorização da história e cultura
africana e indígena, identidade de gêneros, informática e inclusão digital, alfabetizão
e outros temas.
Logo, essa parceria entre a escola e as instituições de ensino superior tem contribu-
ído favoravelmente com o desenvolvimento de sua proposta pedagógica. Por outro lado,
esta unidade educacional tem colaborado com o processo de formação inicial dos gradu-
andos, já que tem oferecido espaço e suporte para o desenvolvimento de ações e relações
teórico-práticas que asseguram a estes sujeitos uma vivência escolar diferenciada.
Desenvolvimento das atividades
de Residência Pedagógica no Neja
A proposta do PRP pressupõe ações coordenadas de forma orgânica e interativa
com a rede de ensino, articulando os subprojetos com os projetos pedagógicos das esco-
las e também com as disciplinas do curso de licenciatura. Desse modo, a primeira ação
que tivemos foi a seleção de uma professora para atuar como preceptora dos residentes
e que seria a responsável pela intermediação das atividades a serem desenvolvidas pe-
los bolsistas na escola. No Neja, foi selecionada uma professora do quadro efetivo de
funcionários que já havia trabalhado como supervisora do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) entre os anos de 2014 e 2018 e que havia demons-
trado um bom desempenho nas ações de articulação entre os graduandos, os coordena-
dores do projeto e os gestores da escola. Vale ressaltar que sua atuação como preceptora
do Programa Residência Pedagógica foi muito relevante, visto que nos momentos de
residência dos bolsistas foram promovidas ações e direcionamentos estratégicos que
garantiram um ambiente saudável e propício para a formação inicial desses sujeitos.
Na etapa de ambientação, além da apresentação do projeto e dos bolsistas à equipe
da escola, optamos por realizar um diagnóstico das principais dificuldades e possibili-
dades de intervenção. Esse diagnóstico foi realizado com base no Projeto Político Peda-
gógico, nas observações do ambiente e do perfil de público atendido, além de reuniões
com os docentes e com a equipe gestora.
Nesse processo, identificou-se que os principais problemas enfrentados pela es-
cola estavam relacionados ao absentismo, falta de motivação dos alunos, vergonha de
esclarecer suas dúvidas, falta de material didático com enfoque no processo de alfabe-
tização, problemas relacionados à matemática básica e a necessidade de maior aproxi-
mação dos conteúdos ministrados às necessidades específicas do público jovem e adulto.
Além disso, a direção expôs que havia interesse dos alunos em oficinas de tecnologias da
informação e comunicação direcionadas à empregabilidade.
Experiências Docentes
214
A escola recebeu um total de doze bolsistas que frequentavam os anos finais da
licenciatura em Pedagogia, conforme recomendação da Capes, incluindo residentes vo-
luntários, que não recebiam bolsa e que se prontificaram a cumprir as quatrocentas
horas de atividades previstas no PRP. Os residentes foram distribuídos nas salas de aula
conforme a necessidade da escola e disponibilidade dos professores. Ao longo do projeto,
foram realizadas reuniões quinzenais com os orientadores no campus para acompanha-
mento, avaliação e propostas de atividades, além das reuniões semanais com a precepto-
ra, realizadas no ambiente da escola.
Ainda na fase de ambientação, os bolsistas identificaram que os alunos tinham
muita vergonha de esclarecer suas dúvidas durante as aulas, porém lhes pediam ajuda
individualmente. Foi a partir desta percepção que surgiu a ideia de criar um plantão de
dúvidas em um espaço aberto, fora da sala de aula, onde os alunos poderiam se aproxi-
mar dos estagiários de maneira mais esponnea.
A primeira versão dessa experiência ocorreu alguns dias antes das avaliações do
segundo semestre de 2018 e, por ser uma intervenção bem-sucedida, esses plantões
se tornaram um dispositivo de suporte mais individualizado no processo de ensino-
-aprendizagem. Além disso, como os bolsistas dispunham de notebooks e aparelhos
de celulares com acesso à Internet, estimulou-se o uso das tecnologias da informação e
comunicação (TIC) para realizão de pesquisas escolares, contribuindo para o desen-
volvimento de habilidades de pesquisa com uso de tecnologias conforme proposto pela
Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017).
O segundo projeto pedagógico a ser destacado, e que também tem relação com
as TIC, refere-se ao desenvolvimento de oficinas, no laboratório de informática, com o
objetivo de desenvolver habilidades referentes ao uso do computador e da internet para
elaboração de currículos e pesquisas de emprego. Esse projeto foi recebido com entu-
siasmo pelos alunos no EJA que, em geral, tinham pouco acesso e conhecimentos per-
tinentes à alfabetização digital. Nos contextos das oficinas também eram desenvolvidas
atividades de promão da consciência crítica sobre as mídias digitais.
A BNCC especifica a importância de se tratar as competências críticas em relação
ao uso das TIC, por meio do estímulo à capacidade de
compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de
forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as
escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conheci-
mentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e cole-
tiva (BRASIL, 2017, p. 9).
Ainda no que concerne à importância do desenvolvimento de competências crí-
ticas, destacamos as atividades pedagógicas sobre fake news. Esse projeto pedagógico
215
O Programa da Residência Pedagógica na educação de jovens e adultos: dos saberes às práticas
teve o objetivo de conceituar e analisar o fenômeno das notícias falsas. Foram trabalha-
dos textos jornasticos, a imporncia de fontes confiáveis e as formas de identificar e
combater a disseminação de notícias falsas.
Em relação à desmotivação dos alunos, propusemos um filme-debate que pudesse
trazer reflexões sobre os fatores histórico-culturais relacionados à falta de persistência
nos estudos por meio do filme O menino que descobriu o vento, do diretor Chiwetel
Eijofor (MARCELINO, 2019). Observamos que, em geral, o público do EJA não tem o
hábito de frequentar cinema, portanto essa proposta também teve o intuito de ampliar
o universo cultural a partir de um filme recente, cujos personagens pudessem provocar
identificações com as realidades e dificuldades vivenciadas.
O filme, rodado no continente africano, aborda uma série de temáticas que foram
exploradas em sequências didáticas tais como: a imporncia do pensamento científico,
da ecologia, das políticas humanitárias, da escola e da comunidade, além das questões
étnico-raciais conforme previsto na BNCC e na Lei nº 10.639/03 (BRASIL, 2003).
Também consideramos importante aprofundarmos as questões étnico-raciais da
cultura brasileira em outros projetos pedagógicos, tendo em vista que o público do EJA
nos parece significativamente afetado por um racismo estrutural e histórico, que di-
ficulta a construção de suas identidades conforme destaca Neusa Souza (1983), o que
pode ter impacto no processo de aprendizagem. Nesse sentido, foram realizadas ativi-
dades sobre a construção da identidade da mulher negra por meio de oficina de bonecas
e sequências didáticas com base na leitura obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria
de Jesus. Com essas atividades, procuramos destacar a importância de uma autora bra-
sileira negra e a escrita como forma de denúncia do racismo e das desigualdades sociais.
Importante salientar que as temáticas étnico-raciais e as do uso crítico das TIC
são abordadas na disciplina de “Psicologia da educação IV” no curso de Pedagogia; por-
tanto, os alunos tinham um referencial teórico e puderam avançar em seus saberes por
meio de intervenções práticas e contextualizadas. Nesse sentido, o projeto cumpriu o
que foi estabelecido pelo edital da Capes no que se refere ao objetivo de:
Aperfeiçoar a formação dos discentes de cursos de licenciatura, por meio do desen-
volvimento de projetos que fortaleçam o campo da prática e conduzam o licenciando
a exercitar de forma ativa a relação entre teoria e prática profissional docente, utili-
zando coleta de dados e diagnóstico sobre o ensino e a aprendizagem escolar, entre
outras didáticas e metodologias (BRASIL, 2018, p. 1).
Com relação especificamente às atividades de alfabetização, as principais contri-
buições do projeto à escola estiveram centradas na elaboração e aplicação de jogos peda-
gógicos, nas regências de aulas e nos suportes aos alunos com maiores dificuldades na
Experiências Docentes
216
aprendizagem. Também procuramos explicitar a imporncia da leitura e da escrita no
contexto do cotidiano e, sobretudo, na busca de melhores perspectivas de vida.
Com relação aos resultados para sua formação, os depoimentos dos residentes
(identificados pelas iniciais de seus nomes), em seus relatórios finais revelam diversos
aspectos significativos, dentre os quais podemos destacar:
1. A possibilidade de integrar “saberes e práticas” tendo uma compreensão mais
realista da prática de ensino, da dinâmica e dos desafios do trabalho docente,
sobretudo por meio das atividades de regência de aulas.
A oportunidade de participar do Programa Residência Pedagógica propor-
cionou, a partir de uma inserção ativa na escola, experienciar na prática, os
diferentes desafios que norteiam o trabalho docente.” (M.J.)
O Programa Residência Pedagógica proporcionou a mim uma nova visão
sobre a atuação docente, fato este que reforço, pois foi algo diferente do que
já havia vivenciado com os estágios obrigarios da universidade.” (A.G.)
O Programa Residência Pedagógica foi de extrema importância para mi-
nha formação profissional e acadêmica, uma excelente oportunidade que
possibilita ao graduando adentrar ao mundo de sua profissão, não com as
mesmas responsabilidades de um professor titular de sala, porém viven-
ciando as demandas cotidianas da educação pública, contribuindo para
os estudos teóricos e estes contribuindo para as propostas de atividades
apresentadas nas salas em que o residente atua.” (A.F.)
“No que diz respeito ao processo de formação superior, a possibilidade de
atuação proporcionada pelo Programa mostrou-se claramente essencial
para conhecer a realidade do trabalho dentro da escola, na perspectiva de
um professor e não apenas de um aluno de graduação.” (A.C.D.)
2. A importância da bolsa de estudos como apoio ao residente para que possa se
dedicar com mais tranquilidade às atividades na escola, ainda que esse valor,
por estar congelado há muitos anos, esteja bastante defasado.
“No Programa, além da excelência no aporte à formação acadêmica e pro-
fissional, a bolsa auxílio assegura, mesmo que minimamente, uma estabi-
lidade do graduando, que, em grande maioria, estuda fora da cidade de
domicílio e sem condições financeiras de autossustento.” (A.F.)
217
O Programa da Residência Pedagógica na educação de jovens e adultos: dos saberes às práticas
O valor das bolsas são (sic) insuficientes para manter uma vida universi-
tária com qualidade, de forma que muitos necessitam obter um trabalho
para uma permanência no curso com maior qualidade, que acaba por di-
minuir seu tempo de dedicação aos estudos.” (A.A.)
3. O papel fundamental da preceptora na orientação sobre as atividades, esclare-
cimento de dúvidas e apoio para que a residência seja uma experiência bem-
-sucedida de iniciação à docência.
“Pelo meu empenho recebi confiança e abertura tanto dos alunos, para
auxiliá-los desenvolvendo atividades que atendessem suas maiores dificul-
dades, quanto da professora preceptora X, que manteve seu apoio sobre o
meu trabalho tornando-se uma inspiração, diante do medo, que em alguns
momentos senti, de fracassar.” (A.G.)
As orientações por parte da preceptora e da docente orientadora propor-
cionaram um maior sentimento de segurança quanto à realização das ati-
vidades, como também, para a permanência no Programa, no qual, em
muitos momentos, a inexperiência levava ao sentimento de incapacidade
e frustração.” (A.A.)
4. O papel significativo das reuniões, processos formativos e trocas de experiên-
cia que foram realizados na universidade, em articulação com os projetos e
atividades na escola.
A promoção semanal de espaços de troca de experiências e conhecimentos
com os demais membros do Programa Residência Pedagógica na univer-
sidade foram essenciais para organizar as atividades de modo a torná-la
mais completa e compreendendo os passos a serem dados antes e após a
realização das atividades da residência pedagógica.” (A.A.)
5. A importância do contato com a especificidade da EJA e de seus educandos.
A experiência por mim vivida na Residência Pedagógica foi de grande va-
lia, pois foi por meio dela que esclareci dúvidas sobre a educação de jovens
e adultos, também por meio desta tive a chance de conhecer um dos espa-
ços de atuação do pedagogo, espaço este que ainda não havia tido contato
desde os primeiros anos da graduação.” (A.C.)
Experiências Docentes
218
Como a experiência é ímpar, quando se refere à atuação de professores
na Educação de Jovens e Adultos, a troca de conhecimento por parte dos
professores se faz recompensada quando se vê a vontade de aprender e a
gratidão por parte dos alunos da sala, se fazem visíveis a valorização e as
superações tão latentes neste específico ambiente escolar.” (G.S.M.)
Além de ressaltar a imporncia do Programa para a sua formação, os residentes
apresentaram sugestões para melhoria do curso de Pedagogia, dentre as quais podem
ser destacadas:
“Uma sugestão que gostaríamos de propor é o aprofundamento da formação
no âmbito das relações étnico-raciais, pois pudemos constatar que os conflitos
gerados a partir dessa temática são constantes na instituição escolar.” (J.C.S.)
O curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara
(FCLAR) deixa a desejar na questão da matéria de alfabetização, pois o curso
nos oferece apenas sessenta horas, pude concluir ser insuficiente para habilitar
futuros professores para lidar com a alfabetização no contexto que se encontra
nossa educação pública atual, onde são inúmeras as dificuldades no processo
de alfabetização e letramento, seja na educação infantil, seja na Educação de
Jovens e Adultos (EJA).” (I.C.P.)
As minhas sugestões como aluna do curso de Pedagogia são referentes a abor-
dagens e aprofundamentos em todas as possíveis áreas de atuação do peda-
gogo, não focando somente no ensino regular, mas também na educação do
campo, educação em comunidades indígenas e na EJA também, pois desta
maneira o aluno fica preparado para lidar com as mais diferentes situações.
[...] Durante todo o curso, o foco foi sempre voltado para a infância e a criança,
em momento algum tivemos uma aula específica que tratasse de EJA.” (A.C.V.)
Considerões finais
A realização do Projeto de Residência Pedagógica tendo como foco a questão da
alfabetização representou um desafio inicial pelo fato de que as abordagens e pesquisas
que configuram os saberes acadêmicos nessa área não correspondem necessariamente
às orientações oficiais das redes de ensino e tampouco às práticas das alfabetizadoras.
219
O Programa da Residência Pedagógica na educação de jovens e adultos: dos saberes às práticas
Nesse sentido procuramos criar um espaço de diálogo respeitoso com os sujeitos envol-
vidos, em uma perspectiva de aprendizado mútuo e troca de saberes.
Outro desafio decorreu da formação inicial dos licenciandos de Pedagogia da
Unesp campus Araraquara, que apresenta uma carga horária insuficiente para preparar
adequadamente para o ensino da leitura e escrita, como apontado em um dos depoi-
mentos. No caso da EJA, as características dos estudantes e da modalidade também
são pouco conhecidas pelos licenciandos, que não encontram na estrutura do seu curso
disciplinas voltadas para essa área.
A atuação dos residentes junto a estudantes de EJA com maiores dificuldades de
aprendizagem, se por um lado gerou uma expectativa um pouco irrealista de que pu-
dessem trazer soluções de curto prazo para essas dificuldades, por outro lado possibi-
litou uma intensa vivência de situações de planejamento, regência de aulas e avaliação
pedagógica desses alunos. Os diversos projetos de residência desenvolvidos, tais como
o plantão de dúvidas e o uso mais sistemático das TIC como recurso pedagógico, trou-
xeram resultados efetivos e criaram condições para que a experiência de ensino dos
residentes pudesse ser realizadora, superando medos e inseguranças comuns nessa fase
da formação para o trabalho docente.
Por fim, a atuação das preceptoras, as reuniões frequentes, as atividades comple-
mentares de formação e todo o conjunto de ações articuladas que foram desenvolvidas
contribuíram para oferecer uma formação mais sólida para os residentes, bem como para
fortalecer os vínculos entre a universidade e a escola pública de ensino fundamental.
Referências
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1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional [...]. Brasília, DF: Presidência
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https://bit.ly/3rFKi1F. Acesso em: 04 out. 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Edital CAPES nº 06/2018. Chamada Pública para
apresentação de propostas no âmbito do Programa de Residência Pedagógica. Brasília,
2018. Disponível em: https://bit.ly/3V2t6PW. Acesso em: 04 out. 2022.
CALLEGARI, C. Radicalizar o pacto pelas crianças do Brasil. Instituto Brasileiro de
Sociologia Aplicada. Disponível em: https://bit.ly/3rtTW5X. Acesso em: 04 out. 2022.
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220
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PRIOSTE, C. O homo zappiens e o uso dos dispositivos televisuais: possíveis impactos
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SILVA, K. A. C. P.; CRUZ, S. P. A Residência Pedagógica na formação de professores:
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SOUZA, N. S. Tornar-se negro. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
A escola tem um papel relevante para que os estudantes desenvolvam habilidades
que contribuam para a identificação de fontes confiáveis de informação acerca de te-
mas cienficos. Para isso, é necessária uma formação escolar que permita ao indivíduo
desenvolver autonomia no processo de construção do entendimento sobre o conheci-
mento cienfico. Tal autonomia deve, necessariamente, passar por uma criticidade do
educando estimulada por quem lhe ensina. Freire (1996) afirma que ensinar exige res-
peito à autonomia do educando, vai além do tratamento do conteúdo, devendo oferecer
condições para construção do conhecimento de forma crítica e reflexiva.
Lemke (2006) defende que a educação, em especial o ensino de ciências, deve ter
como objetivo a promoção da melhoria da vida das pessoas, garantindo padrões míni-
mos de bem-estar social a todos. Além disso, deve oferecer maiores oportunidades para
desenvolvimento de habilidades e talentos para serem usados a serviço da sociedade e
dos ecossistemas do nosso planeta.
Um motivo que acreditamos ser uma possível razão que justifica o empreendi-
mento social e político empregado no ensino de ciências está associado ao fato de que
a ciência está intimamente relacionada ao cotidiano da população, interferindo em
diversos aspectos na esfera social, profissional e ambiental. Além disso, é importante
que os indivíduos reconheçam as ciências como empreendimento social humano de
sucesso. Assim, oportunizar ao estudante, desde a inncia, uma educação científica
O ensino de ciências
por investigação na
formação inicial de
professores: vivências
e práticas no Programa
Residência Pedagógica
CAPÍTULO 15
Eglie Rodrigues
Eledir da Cruz Martins
Enios Carlos Duarte
http
s://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p221-236
Experiências Docentes
222
formal ou não formal de qualidade, poderá contribuir para o pleno exercício da cida-
dania empoderando o indivíduo para a tomada de decisões que envolvem aspectos re-
lacionados a temas científicos como o próprio cuidado com o meio ambiente, em escala
local, regional e global.
São diversos os contextos socioambientais e tecnológicos que demandam o
entendimento de conhecimentos científicos para serem compreendidos e avalia-
dos. O equilíbrio entre os objetivos de aprendizagem conceituais, epistêmicos e
sociais do conhecimento cienfico propostos por Duschl (2008) pode favorecer
a negociação de significados e sentidos e, posteriormente, pode conduzir o estu-
dante à resolução de situações-problemas que articulam as relações entre ciência,
tecnologia, sociedade e ambiente.
O domínio conceitual refere-se às estruturas conceituais e aos processos cogniti-
vos utilizados pelos educandos para as explicações do mundo natural. O domínio epis-
têmico compreende o uso das estruturas de geração do conhecimento científico, como a
coleta de dados, o uso de evidências, de princípios e teorias para explicar um fenômeno
e utilizarem dados como evidências para construírem afirmações. O domínio social,
por fim, trata das oportunidades relacionadas à comunicação de ideias e entendimentos
científicos realizados por meio das discussões (DUSCHL, 2008).
Nessa perspectiva, o ensino de ciências deve almejar o processo de alfabetizão
científica definida por Sasseron como sendo a forma pela qual os alunos devem
interagir com uma nova cultura, com uma nova forma de ver o mundo e seus acontec-
imentos, podendo modificá-lo e a si próprio, através da prática consciente propiciada
por sua interação, ancorada em noções e conhecimentos científicos e sobre ciências
(SASSERON, 2008, p. 12).
Em outras palavras, entendemos que a alfabetização científica possui como obje-
tivo formar estudantes para a vida em sociedade com participação cidadã, crítica e res-
ponsável. Uma perspectiva de construção de conhecimento mais global e mais completa
da ciência permitirá ao cidadão tornar-se mais crítico, sabendo posicionar-se frente às
questões científicas. Podemos incluir nessas questões temas como o uso dos recursos
naturais, como água, minérios, o cuidado com a saúde da população e diversos outros
temas relacionados com a ciência e nosso cotidiano.
De forma geral, Sasseron e Carvalho (2011) propuseram três eixos estruturantes
da alfabetização científica: 1) compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos
científicos fundamentais; 2) compreensão da natureza da ciência e dos fatores éticos e
políticos que circundam sua prática; 3) entendimento das relações existentes entre ciên-
cia, tecnologia, sociedade e ambiente.
223
O ensino de ciências por investigação na formação inicial de professores
Nesse sentido, almejar o processo de alfabetização científica no ensino de ciências
é, de certa forma, permitir que os estudantes aprendam sobre ciências para além dos
conceitos, leis e teorias científicas. É envolvê-los na compreensão dos processos relativos
ao desenvolvimento da ciência para permitir ações críticas, investigativas e analíticas
que servirão de subsídios para as aplicações dos saberes construídos pela ciência. De
certa forma, embora o processo de alfabetização científica não se esgote no espaço de
sala de aula, seus eixos estruturantes (SASSERON; CARVALHO, 2011) e as três grandes
dimensões dos objetivos do ensino de ciências (DUSCHL, 2008) devem orientar o de-
senvolvimento curricular do ensino de ciência no espaço da sala de aula.
Dado que o processo de alfabetização científica contempla não apenas os as-
pectos relacionados aos conceitos, mas também os da própria natureza da ciência e
suas relações com a tecnologia, sociedade e ambiente, então, as atividades didáticas
que irão compor a disciplina de ciências deverão contemplar atividades relaciona-
das com os três eixos da alfabetização, e não um ensino de ciências pautado na
memorização de termos e conceitos.
O ensino de ciências por investigação tem sido considerado como uma abordagem
eficaz na perspectiva da promoção da alfabetização científica, uma vez que oportuniza
o contato do estudante com os saberes provenientes de estudos da área, as relações e os
condicionantes que afetam a construção de conhecimentos científicos em uma larga vi-
são histórica e social (SASSERON, 2015). Diante disso, torna-se necessário garantir que
os estudantes não apenas se apropriem dos termos, conceitos e teorias, como também
compreendam a natureza do conhecimento científico e as relações entre ciência, tecno-
logia, sociedade e ambiente (SASSERON; CARVALHO, 2011).
Fundamentado na problematização efetivada e nas interações discursivas entre
os sujeitos epistêmicos da sala de aula, o ensino de ciências por investigação corrobora
para que o aluno percorra um caminho investigativo propondo hipóteses, coletando e
analisando dados, elaborando e comunicando argumentos estabelecidos a partir das
conexões entre os resultados obtidos (CARVALHO, 2019).
Essa abordagem didática (SASSERON, 2015) de ensino fornece liberdade inte-
lectual ao estudante, uma vez que os incentiva a pensar de maneira autônoma. Sequ-
ências de ensino investigativo podem ser planejadas atribuindo menor ou maior grau
de autonomia ao estudante; dessa forma, ocorre uma alterncia entre o protagonis-
mo do professor para o estudante, como é proposto por Carvalho (2014) e Banchi e
Bell (2008) em seus trabalhos de graus de liberdade e grau de abertura para atividades
investigativas, respectivamente.
O enfrentamento realizado pelos alunos diante da problematização, em um con-
texto de ensino de ciências por investigação, resulta no desenvolvimento de explica-
ções coletivas e incorporação de práticas comuns às comunidades científicas (DUSCHL,
2008; JIMÉNEZ-ALEIXANDRE, 2014; KELLY; LICONA, 2018). O engajamento de
Experiências Docentes
224
estudantes por meio de propostas didáticas pautadas no ensino de ciências por inves-
tigação contribui para a compreensão de que o conhecimento científico é produto de
interações sociais e que ocorrem por meio de processos de proposição, comunicação,
avaliação e legitimação do conhecimento científico (KELLY; LICONA, 2018).
Para a implementação de propostas didáticas para a sala de aula em uma abor-
dagem didática do ensino de ciências por investigação, Pedaste e colaboradores (2015)
propuseram a estrutura do ciclo investigativo por meio de uma significativa revisão bi-
bliogfica em que organizaram o ciclo investigativo em cinco fases que correspondem
a: orientação, que compreende o estímulo à curiosidade dos estudantes em relação ao
tema que será investigado; contextualização, que é a fase de apresentação da pergunta
de investigação e a possibilidade de elaboração da hipótese para explicá-la; a seguir, a
fase de investigação, que compreende os processos de planejamento, exploração, inves-
tigação, coleta e alise de dados; e a conclusão, que é a fase final, quando os estudantes
deverão elaborar suas conclusões pautadas nas alises realizadas. Permeando todas as
demais fases do ciclo investigativo, os autores apontam a fase de discussão que é carac-
terizada pelas comunicações e reflexões ao longo de todo o processo investigativo.
Ao olharmos para a ciência ensinada na escola e a ciência praticada em laborató-
rios ou em institutos de pesquisa, fica evidente o estrondoso espaçamento entre uma
e outra. Esse distanciamento é merecedor de atenção, pois, segundo Munford e Lima
(2007), aprender ciências é intrínseco ao interagir com práticas realizadas por cientistas.
Um dos modos efetivos para minimizar esse distanciamento entre a ciência ensinada na
escola e a ciência praticada por cientistas reside em implementar na instituição escolar
as abordagens investigativas no ensino de ciências, pois a investigação auxilia os alunos
a compreenderem ciências e a amplificar o raciocínio científico.
O objetivo deste texto não é defender a formação de cientistas mirins no espaço
escolar, mas sim oportunizar contextos didáticos nos quais os estudantes se apropriem
da linguagem e da forma de produzir conhecimentos científicos.
Trivelato e Silva (2011) defendem que os estudantes devem se apropriar da cultura
científica. Esse processo deve ser estimulado desde os anos iniciais da escolarização e
mediado por alguém que já tenha certo domínio dessa cultura. Nesse sentido, o profes-
sor seria o mediador para os estudantes adentrarem a essa cultura, com o objetivo de
guiá-los em seus estudos, questionar os resultados de seus experimentos, ajudá-los a
entender e elaborar explicações e argumentos.
Portanto, em um programa de formação inicial de professores, são necessários o de-
senvolvimento de saberes docentes inerentes à condução dos estudantes ao processo de apro-
priação da cultura científica e da alfabetização científica. Diante disso, o objetivo do presente
artigo é refletir sobre a abordagem do ensino de ciências por investigação na formação inicial
de professores, considerando os desafios e possibilidades do fazer docente na construção do
conhecimento científico, a partir das vivências e práticas desenvolvidas no PRP.
225
O ensino de ciências por investigação na formação inicial de professores
O subprojeto Ciências Biológicas do PRP/Unasp
No presente artigo, apresentamos as vivências e práticas desenvolvidas a partir do
subprojeto ciências biológicas - formação inicial de professores de ciências e biologia no
Unasp campus SP, cujos objetivos, com base no projeto institucional do PRP-2018/2019,
destacamos a formação de uma comunidade de aprendizagem e prática que envolveu do-
centes universitários, professores da educação básica e discentes do curso de licenciatura
em Ciências Biológicas, com o propósito de desenvolver saberes docentes acerca do ensino
de ciências por investigação para promoção do processo de alfabetização cienfica.
O referido subprojeto era constituído por 24 residentes bolsistas e dois voluntá-
rios, três professores preceptores das escolas-campo, dois docentes colaboradores e um
docente orientador da IES, além de um coordenador institucional. As atividades desse
subprojeto foram realizadas em duas escolas públicas localizadas na zona sul da cidade
de São Paulo, envolvendo 2.372 alunos matriculados nos anos finais do ensino funda-
mental e no ensino médio. A escolha por escolas públicas como parceiras, além de uma
exigência da Capes, baseia-se no compromisso ético e político em preparar profissionais
que contribuam com educação escolar de qualidade para todos. Para o desenvolvimento
das atividades, foi elaborado um plano de trabalho constituído por: oficinas de funda-
mentação teórico-prática e planejamento, atuação em atividades didáticas no ambiente
escolar e registros, relatório e avaliação.
Durante as oficinas de fundamentação teórica que permearam todo o período da
realização do PRP do subprojeto de ciências biológicas, foram oportunizados aos resi-
dentes leitura, discussão, análise e fichamento de textos que abordam temáticas como
alfabetização científica, ensino de ciências por investigação, assuntos relacionados às
unidades temáticas das ciências da natureza, previstas na Base Nacional Comum Cur-
ricular para posterior elaboração de atividades didáticas aplicadas ao ambiente escolar,
e, também, apresentação dos relatos de experiências em eventos de iniciação científica
– Encontro de Iniciação Cienfica (Enaic) e I Encontro Tricampi da Residência Peda-
gógica ocorridos no ano de 2019. Desse modo, buscou-se mobilizar ao mesmo tempo
o conhecimento teórico e a prática pedagógica com vistas a contribuir com a prática
reflexiva que permeia o saber docente. Nesse sentido, concordamos com a definição de
Tardif (2014, p. 36) sobre o saber docente:
É um saber plural, formado pelo algama, mais ou menos coerente, de saberes ori-
undos da formação profissional (saberes transmitidos pelas instituições de formação
de professores, ciência da educação e de saberes pedagógicos), de saberes disciplinares
(saberes mais específicos transmitidos por diversos campos do conhecimento), sa-
beres curriculares (objetivos, conteúdos e métodos definidos pela própria instituição
de ensino) e saberes experienciais (práticos, saber-fazer, saber-ser).
Experiências Docentes
226
Dentre as diversas atividades desenvolvidas no PRP, foram oportunizadas aos
residentes a elaboração de atividades como desenvolvimento, aplicação e avaliação de
sequências didáticas investigativas, jogos com viés investigativo, experimentação didá-
tica, modelagem e dioramas, mapeamento conceitual, e regência em sala de aula acom-
panhada da presença dos professores preceptores em turmas dos anos finais do ensino
fundamental e ensino médio, e posterior trocas de experiências em reuniões mensais de
avaliação, com a presença dos residentes, professores preceptores, professores colabora-
dores e docente orientador do subprojeto de ciências biológicas. Tais práticas se justifi-
cam por considerarmos relevante para a formação pedagógica do residente, a vivência
da realidade que envolve o exercício da profissão docente, e a contínua reflexão de suas
práticas pedagógicas, as quais possibilitam momentos de trocas entre os residentes e as
demais partes envolvidas no PRP conforme será detalhado a seguir.
Vivências e práticas no
subprojeto ciências biológicas
No tempo de vigência do Programa, os alunos participantes realizaram diversas
atividades no espaço escolar, como ambientação e entrosamento com as atividades aca-
dêmicas propostas. Tinham também como requisito realizar cem horas de aula como
regentes, que foram distribuídas em turmas dos anos finais do ensino fundamental e
ensino médio, conforme necessidade e indicação dos professores preceptores. Como
trabalhou-se com o viés do ensino por investigação, as aulas se concentraram basica-
mente em três didáticas: aula prática, que poderia ser demonstrativa ou “mão na massa,
jogos didáticos, e aulas expositivas-dialogadas, permeadas com recursos tecnológicos.
Durante o período de vigência do Programa, os residentes participaram de dois
encontros para socializão das práticas e dos relatos das vivências que estavam tendo
em sala de aula, onde tiveram a oportunidade de trocar experiências a respeito de
suas regências com outros residentes do mesmo curso e de outros cursos, também
envolvidos no Programa.
Nesse contexto de formação inicial de professores de ciências e biologia, desta-
camos alguns exemplos de vivências em sala de aula utilizando metodologias que en-
volvessem os alunos e despertasse neles a curiosidade em aprender ciências, conforme
apresentamos a seguir.
Os residentes 1 e 2 trabalharam com o conceito de dengue usando o jogo didático
como metodologia com os alunos dos sextos anos. O objetivo era promover a cons-
cientização sobre a imporncia da prevenção contra o mosquito Aedes aegypti através
de imagens demonstrando situações e locais onde o mosquito se prolifera e se repro-
duz, além de compreenderem como funciona o ciclo de vida, a transmissão, o agente
227
O ensino de ciências por investigação na formação inicial de professores
transmissor, entre outros fatores que envolvem essa doença. Para tanto, foi construído
pelos residentes uma espécie de semáforo:
“Foram feitos cartõezinhos amarelos (cuidado), vermelhos (perigo) e verdes (protegi-
do) utilizando o EVA. Também foram impressas seis imagens apresentando situações
de risco, de prevenção e de cuidado em relação à dengue, que foram coladas na lousa
e numeradas de 1 a 6. Além disso, elaboramos cerca de quinze questões, que foram
colocadas em uma caixinha, a respeito da transmissão, do agente transmissor, da pre-
venção, sintomas, ciclo de vida, entre outros aspectos da doença. A turma foi dividida
em três grupos (1, 2 e 3), distribuímos uma folha e alguns cartõezinhos da cor am-
arela, vermelha e verde para cada grupo. As perguntas foram sorteadas e os alunos de-
veriam relacionar a imagem da lousa com a cor do caro (amarelo, vermelho e verde)
de acordo com cada situação apresentada, indo até a lousa e colando o carozinho no
local correto. Também havia outras questões e cada grupo deveria escrever a resposta
em uma folha. Ao ler as perguntas, nós deixamos dois minutos para eles pensarem e
discutirem entre eles, respondendo à pergunta. Nas aulas subsequentes, foi aplicada
uma avaliação escrita com os conteúdos trabalhados no jogo, na qual verificou-se um
alto índice de aproveitamento. O mais importante foi verificar que o envolvimento
dos alunos na atividade foi de 100%, interagindo entre si, discutindo e trabalhando
em equipe”. (RELATO DE EXPERIÊNCIA - RESIDENTES 1 e 2)
Segundo os residentes 1 e 2, “foi uma aula inesquecível para nós, pois foi grati-
ficante ver o envolvimento de todos na sala”. Esse relato traz evidências da articulação
entre os referenciais teóricos estudados em nossa comunidade de aprendizagem e os
aspectos práticos contemplados no Programa, uma vez que os residentes, a partir de
referenciais teóricos, elaboram, aplicam e avaliam suas intervenções didáticas. Peres
(2003) aponta que, para o desenvolvimento da autonomia docente, faz-se necessário ter
uma postura reflexiva e crítica acerca do fazer docente. Para a autora, a formação inicial
deve promover a articulação entre teoria e prática para que o futuro professor desen-
volva a sua identidade profissional apropriando-se do conhecimento teórico a seu favor.
Já as residentes 3 e 4 trabalharam com aulas práticas no nono ano do ensino fun-
damental, onde propuseram o estudo das funções inorgânicas – ácidos, bases, sais e
óxidos. A princípio, depois de uma aula teórica sobre o assunto, os alunos receberam
cartões contendo fórmulas moleculares de várias substâncias inorgânicas. Eles foram
instruídos a analisar as fórmulas e achar possibilidades de agrupar características se-
melhantes observadas nas mesmas. Depois de discussões entre eles, chegaram à conclu-
são de que se formariam quatro grupos de subsncias semelhantes, de acordo com as
características das fórmulas moleculares. Nesse momento, houve uma intervenção das
residentes, que explicaram os tipos de funções inorgânicas e suas características.
Experiências Docentes
228
A seguir, em outra aula, os alunos foram orientados a levar para a escola produtos
existentes no seu cotidiano, como detergente, água com gás, refrigerante, água sanitária,
vinagre, limão e leite de magnésia. Ocorreu um experimento com o objetivo de identi-
ficar ácidos e bases utilizando indicador de repolho roxo e pediu-se que observassem a
mudança de cor e propusessem explicações para o ocorrido. Com a interação entre os
grupos e as residentes, os alunos chegaram à conclusão que o extrato de repolho roxo
reagia de forma diferente quando em contato com ácidos ou bases. Dessa forma, eles
puderam perceber, na prática, a ação dos indicadores ácido-base e determinar qual a
função inorgânica de uma substância aleatória. Ao final da atividade, foi aplicada uma
avaliação escrita, com os conteúdos abordados, em que foi possível perceber total envol-
vimento e aprendizado dos alunos.
Os residentes 5 e 6 propuseram uma atividade investigativa que permitiu aos alu-
nos verificar experimentalmente a permeabilidade de diferentes tipos de solo, os quais
foram associados aos biomas da mata atlântica e da caatinga. Com essa atividade, eles
puderam tocar e identificar as diferenças de granulação, cores e cheiros de tipos diferen-
tes de solo e testar sua permeabilidade usando garrafas pet cortadas na forma de funil e
fazendo-se passar água pelas diferentes amostras. Nas palavras dos residentes, “houve o
envolvimento dos alunos, desenvolvendo a curiosidade, que contribuiu para a constru-
ção de novas ideias. Essa abordagem de ensino estimulou muito mais os alunos, pois os
envolveu em troca de experiências e opiniões”
O último exemplo trata da experiência da residente 7, que trabalhou com os alu-
nos do nono ano o conceito de densidade, usando discussão com exemplos do dia a dia
e experimentos feitos em sala de aula. Inicialmente foi colocada a questão: como os bar-
cos de grande porte têm a capacidade e conseguem se manter na superfície do oceano
sem afundar? Houve uma discussão entre os alunos, que puderam colocar suas ideias e
propor hipóteses. A seguir, foi proposta uma experiência usando dois ovos, água pura
e água com sal; cada ovo foi colocado em um copo, um contendo água pura, e o outro
contendo água e sal.
A partir das observações, resgataram-se as ideias iniciais de como o compor-
tamento dos elementos podem se modificar dependendo de onde estão. Assim, foi
aberto espaço para a discussão de outros fenômenos encontrados no dia a dia, como o
feijão e seu processo de cozimento, o óleo de cozinha em contato com a água, a relação
dos icebergs com o gelo, e o fato de a água em estado líquido e sólido ter densidades di-
ferentes. Para finalização da atividade, foi aplicado um teste escrito no qual se consta-
tou que os conceitos foram bem entendidos pelos alunos, bem como as extrapolações
utilizando o mesmo conceito.
Foram muitas outras experiências bem-sucedidas, confirmando que o uso de
abordagens investigativas é muito bem aceito pelos estudantes, e pode oportunizar um
aprendizado significativo sobre o conhecimento científico do mundo natural. Para além
229
O ensino de ciências por investigação na formação inicial de professores
do uso de abordagens didáticas e investigativas, retomamos aqui as discussões apre-
sentadas por Sasseron (2015), que defende que o ensino de ciências por investigação
não é uma metodologia didática, e sim uma abordagem de ensino. Verificamos que os
residentes procuraram desenvolver essa abordagem de ensino, de acordo com Pedaste
e colaboradores (2015), trazendo uma diversidade de temas e recursos metodológicos
para o desenvolvimento do ciclo investigativo.
Esses resultados nos apontam que não podemos associar o ensino de ciências por
investigação apenas a atividades experimentais no contexto de sala de aula, mas é impor-
tante partirmos de diversos recursos metodológicos que contribuam para que os estudan-
tes, com base em situações-problema, possam coletar, manipular e analisar dados a fim
de elaborarem explicações e argumentos acerca do mundo natural. A utilização de textos,
jogos didáticos e aulas dialogadas podem ser utilizadas dentro de propostas investigativas.
Explicitam-se de modo claro nos recentes documentos curriculares nacionais da
área de ciências da natureza na BNCC as orientações sobre abordagens de ensino pelo
viés da investigação. Entretanto, acreditamos que os programas de formação inicial e
continuada ainda necessitam ser aperfeiçoados para o desenvolvimento de saberes ne-
cesrios do ensino por investigação e a promoção da alfabetização científica em todos
os seus eixos estruturantes.
Segundo Kang, Bianchini e Kelly (2013), a dificuldade na implementação do ensi-
no de ciências por investigação nas aulas está relacionada ao fato de que a maioria dos
professores não teve experiência em aprender ciências por meio da abordagem investi-
gativa ao longo do seu período de formação acadêmica. Com base nisso, a formação ini-
cial de professores torna-se um elemento central na preparação de futuros professores
capazes de planejar e executar atividades com uma abordagem investigativa. Estudos
realizados por Capps e Crawford (2013) apontam que os professores apresentam difi-
culdades de implementar o ensino por investigação nas suas práticas drias de sala de
aula, sendo uma abordagem de ensino que se torna desafiadora para professores bem
motivados e qualificados.
Para Asay e Orgill (2010), é importante que os licenciandos pratiquem a implemen-
tação do ensino de ciências por investigação durante o seu percurso de formação inicial,
acompanhados e apoiados por seus formadores. Capps e Crawford (2013) defendem que
o sucesso da implementação dessa abordagem de ensino no contexto da formação inicial
pode ser potencializado em contextos de parcerias entre as instituições de ensino superior
e a escola de educação básica, onde as práticas pedagógicas são colocadas em contexto real.
Por fim, fizemos uma seleção das declarações que constaram do relatório final dos
alunos residentes sobre as impressões deles sobre o Programa, de maneira geral, e a re-
percussão na vida acadêmica deles. Concentramos as declarações dos residentes em dois
pontos: suas impressões pessoais sobre o Programa e como sua formação foi impactada
por ele, a partir de suas experiências da vivência na escola, como demonstrado abaixo:
Experiências Docentes
230
“Proporcionou experiências fantásticas dentro das escolas, de tal modo que me
trouxe um novo olhar sobre o papel do professor, bem como a sua fundamen-
tal importância para a formação de cidadãos.” (Residente 1)
“Foi de fundamental importância para o aperfeiçoamento profissional dos
alunos residentes, pois ofereceu a oportunidade de conhecer na prática como
funciona o ambiente de sala de aula na concepção de um docente, enfatizando
sempre o que era visto na faculdade, só que apenas na teoria.” (Residente 2)
“Proporcionou momentos de aprendizagem, correção, desenvolvimento e fle-
xibilidade que possivelmente não seriam vividos nessa intensidade de maneira
nenhuma em sala de aula na faculdade.” (Residente 3)
Contribuiu grandemente para minha formação profissional como licencianda
em biologia, mostrando como é a realidade em sala de aula, nos aproximando
dos professores preceptores, é como se eles fossem nossos guias, mas de uma
forma que precisávamos deles, eles mostravam que nós também éramos im-
portantes, que auxiliávamos e ao mesmo tempo poderíamos receber a experi-
ência dele para que se tornassem nossas experiências.” (Residente 4)
A experiência em aquisição, com cada aula acompanhada, observação da pos-
tura do professor e o desenvolvimento dos educandos, bem como a familiari-
zação com o ambiente escolar cotidianamente, acrescenta de forma imensurá-
vel a formação como professor.” (Residente 5)
“Participar da vida escolar desde o momento de sala de aula até nas reuniões de
planejamento e conselhos de classe.” (Residente 6)
Momentos entre professores e residentes, com relatos de sua jornada, o início
da sua experiência, quais situações foram marcantes para seu progresso e per-
sistência na área educacional.” (Residente 7)
“O Programa forneceu grandes oportunidades e abriu diversas portas para o co-
nhecimento, interação com outros residentes e me trouxe um vasto campo de co-
nhecimento e me possibilitou o compartilhamento de experiências.” (Residente 8)
A oportunidade de reger aulas para turmas de ensino fundamental ao mé-
dio, em diferentes classes, com assistência de diferentes preceptores, compre-
endendo a necessidade e estrutura da escola, sua realidade, carências, traz
231
O ensino de ciências por investigação na formação inicial de professores
aprendizado consideráveis e essenciais para adequar expectativas do ramo
profissional, atender as especificidades que podem surgir de acordo com o
perfil do aluno ou turma, além de ampliar uma série de aulas, metodologias e
ideias para aplicar e agregar a um portfólio profissional.” (Residente 9)
“Lidar de forma madura com os alunos e enxergar que minha missão como
futura docente da área de ciências e biologia é ensinar, conscientizar e desen-
volver senso crítico e científico nos alunos.” (Residente 10)
O Programa contribuiu com o crescimento pessoal e de formação profissional;
porém, sobre todos esses ganhos, certamente os alunos que receberam as in-
tervenções, diversidade de aplicações e metodologias e criatividade no ensino,
foram os maiores beneficiados, incentivados a tomar gosto pela ciência, assim
como nos sentimos uma primeira vez.” (Residente 11)
A participação no Programa da Residência Pedagógica trouxe experiências
muito ricas para a minha formação acadêmica e profissional como futura
professora; o convívio diário dentro da sala de aula com o tempo, capacita o
profissional para atuar com mais seriedade, responsabilidade, convicção, con-
fiança e autonomia, permitindo que desenvolva um ótimo trabalho, sempre
buscando um aperfeiçoamento profissional, para lidar com as dificuldades e
superar os desafios que vão surgindo ao longo do tempo.” (Residente 12)
“O convívio com os outros residentes e outros professores fixos da escola trouxe
uma visão que como futuros docentes podemos trabalhar juntos através de assun-
tos interdisciplinares e multidisciplinares, onde um único assunto pode ser traba-
lhado em várias maneiras diferentes, capazes de desenvolver diversas habilidades
nos alunos, permitindo que o aluno faça associação desses conteúdos com o seu
cotidiano e alcance vários objetivos dentro das matérias.” (Residente 13)
“Hoje, através do Programa, me sinto mais preparada para enfrentar o mercado
de trabalho, reconheço melhor a nobreza da profissão de professor e o quão im-
portante e bonito é o ato de ensinar e de compartilhar os conhecimentos obtidos
através de anos de estudo. Ter essa oportunidade, acredito que foi a alavanca para
o início de uma vida promissora dentro da carreira da educação.” (Residente 14)
Pela reprodução da fala dos alunos em relação às suas experiências em sala de
aula, podemos perceber que o tempo em que estiveram imersos no cotidiano escolar
desmistificou a ideia que muitos têm de professores e de sala de aula, que seria de puros
Experiências Docentes
232
canais de transmissão de conteúdos. Na rotina do professor existem muitas outras de-
mandas que não essa, mesmo porque o aluno não está ali na escola simplesmente para
absorver conhecimentos, mas o tempo de convívio nesse local conta como construtor de
sua experiência de vida, fato que foi muito bem sinalizado pelos residentes. Não bastou
ter o conhecimento teórico sobre biologia, mas uma vivência emocional que só pode ser
abarcada pela permanência diária nesse ambiente.
Faria e Diniz-Pereira (2019) fazem uma comparação do PRP com a formação dos
médicos que têm em seu currículo acadêmico um período de residência, quando são
imersos no ambiente hospitalar. Assim, para Pacca e Horii (2012, p. 746):
A acessibilidade dos residentes aos especialistas mais experientes; a conquista do olhar do
paciente com confiança no profissional mais graduado, na ação com o paciente; a segu-
rança do profissional em formação se construindo paulatinamente na prática até chegar a
autonomia responsável; a postura que passa do apoio exclusivo na racionalidade técnica
para outra mais humana e focalizada no paciente; uma concepção mais investigativa e
menos definitiva das “verdades” já estabelecidas; a aceitação de possíveis diferentes visões
a serem consideradas e discutidas; além de algumas outras ainda a serem exploradas no
conjunto de dados gerados com as entrevistas. Transpondo para a formação continuada
de professores, estaamos falando da condição do professor reflexivo da sua prática que,
para Schon, seria o professor talentoso equiparado ao artista, ao músico, original e criativo.
Na análise dos depoimentos dos residentes do PRP no subprojeto ciências bio-
lógicas, observamos exatamente essa situação, pois os residentes se sentiram parte do
sistema da escola, inda que amparados pelos preceptores e orientadores, vivenciaram o
genuíno aprender-fazendo. A vivência prática desde a formação inicial torna-se neces-
ria para a construção da identidade profissional docente, que se (re)constrói ao longo
da própria trajetória de atuação, na prática cotidiana da sala de aula.
Nesse contexto, Tardif (2014) explica que o exercício da docência engloba dife-
rentes saberes como saberes de formação profissional, disciplinares, curriculares e ex-
perenciais, sendo este último apropriado no desenvolvimento das práticas que envolve
o trabalho docente. Segundo o autor, os saberes experienciais são “saberes atualizados,
adquiridos e necessários no âmbito da prática da profissão docente e que não provêm
das instituições de formação nem dos currículos. São saberes práticos” (TARDIF, 2014,
p. 48). Entretanto, não menospreza os demais saberes, pelo contrário, todos contribuem
e são incorporados à experiência individual e coletiva do docente, sob a forma de habi-
tus e de habilidades, de saber-fazer e de saber-ser.
Neste sentido, Carvalho e Gil-Perez (2001) explicam que na formação inicial dos
professores deveriam ser incluídas experiências de tratamento de novos domínios, para
os quais não se possui, logo de entrada, a formação científica requerida, mas que se
233
O ensino de ciências por investigação na formação inicial de professores
adquire ao longo da vida profissional. Assim, salientamos mais uma vez a imporncia
do PRP para a própria formação do futuro docente, conforme já elucidado.
Outra contribuição de Carvalho (2019) sobre o fazer docente é no que diz respeito
à abordagem didática investigativa, na qual o professor busca transformar a sala de aula
em um espaço investigativo, onde o aluno, durante as aulas, é estimulado a buscar solu-
ções para os problemas apresentados. Dá-se ao aluno a oportunidade também de saber-
-fazer, estimulando a construção de novos conhecimentos, conforme foi observado nos
relatos dos residentes.
Inda que seja um trabalho árduo, tanto para professores experientes como para
professores iniciantes na carreira docente, a abordagem investigativa contribui não so-
mente com o aprofundamento do conteúdo, mas com a autonomia do educando e com
a aprendizagem significativa. E no que tange à formação inicial docente, a abordagem
investigativa contribui, além dos saberes docentes já apresentado nesse texto, também
com a própria formação dos futuros docentes para que possam apropriar-se do saber-
-fazer ciência em sala de aula.
Considerões finais
O subprojeto ciências biológicas do PRP 2018-2019 do Unasp se propôs a refle-
tir sobre os principais referenciais que englobam o ensino de ciências na perspectiva
do ensino por investigação, tomando como norte principal o processo e promão da
alfabetização científica. Uma comunidade de aprendizagem se formou a partir dessa
temática por meio de todos os sujeitos envolvidos no subprojeto, desde os professores da
IES, os residentes, os professores preceptores e os estudantes das escolas-campo. Nesse
contexto, foi possível contribuir com o processo de ensino e aprendizagem de ciências
sobre um olhar atento à formação inicial dos residentes.
Ao analisar os resultados, verificamos uma apropriação teórica e prática da nossa
comunidade de aprendizagem nos aspectos relacionados à abordagem do ensino de ci-
ências por investigação em diversos aspectos metodológicos, contribuindo assim para
o desenvolvimento de práticas científicas e epistêmicas dentro dos ambientes escolares.
Entretanto, é perceptível que ainda se faz necesrio um aperfeiçoamento nos
aspectos da formação inicial, tomando como norte os três eixos da alfabetização
científica. Para além de elaborar e desenvolver propostas didáticas que priorizem a
compreensão de conceitos, leis e teorias científicas, como foram evidenciadas nas re-
gências ministradas pelos residentes, faz-se necessário o aperfeiçoamento de propos-
tas formativas para a compreensão da natureza da ciência e as relações entre ciência,
tecnologia e sociedade, utilizando aspectos da história da ciência e das questões socio-
científicas no âmbito do espaço da sala de aula.
Experiências Docentes
234
O PRP oportunizou aos licenciandos residentes de Ciências Biológicas a possibi-
lidade de experimentar e vivenciar o espaço escolar com o acompanhamento dos pro-
fessores preceptores que contribuíram sobremaneira com o desenvolvimento de saberes
necesrios à construção da identidade e exercício profissional dos futuros professores
de ciências e biologia em formação.
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O presente capítulo se insere no Programa da Residência Pedagógica (PRP) do Unasp
tricampi (Centro Universitário Adventista de São Paulo) em parceria com a Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) mediante o edital nº 06/2018. O
Programa no Unasp teve a coordenação geral da professora Elize Keller Franco, docente no
curso de Mestrado Profissional em Educação (Unasp campus Engenheiro Coelho).
Especificamente no Unasp campus Engenheiro Coelho, que está localizado nes-
te município do interior paulista, o PRP envolveu os cursos de Pedagogia, Música e
História. Abordaremos neste capítulo especificamente o subprojeto aprovado para a
licenciatura em Música, que teve como docente orientadora a professora Ailen Rose
Balog de Lima, que é também professora de estágio nessa licenciatura.
O Programa de música envolveu 24 estudantes que receberam bolsa de R$ 400,00
mensais durante dezoito meses e mais seis alunos escolhidos, como contrapartida, sem
recebimento de bolsa, para desenvolverem projetos nas escolas da rede pública de ensi-
no estadual e municipal.
As preceptoras, que são professoras da escola de educação básica, acompanharam
os residentes na escola-campo e a docente orientadora coordenou o estágio dos residen-
tes estabelecendo a relação entre teoria e prática e os espaços de formação. O Programa
de Residência Pedagógica
Vivência musical
no Programa da
Residência Pedagógica
nas escolas de
Engenheiro Coelho
CAPÍTULO 16
Ailen Rose Balog de Lima
Ellen de Albuquerque Boger Stencel
https://doi.org/10.36311/
2023.978-65-5954-332-8.p237-248
Experiências Docentes
238
é uma das ações que integram a Política Nacional de Formação de Professores, e tem
por objetivo induzir o aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado nos
cursos de licenciatura, promovendo a imersão do licenciando na escola de educação
básica a partir da segunda metade de seu curso (BRASIL, 2018a).
Entre os objetivos previstos no documento norteador, estão:
aperfeiçoar a formação dos discentes de cursos de licenciatura, por meio do desenvolvi-
mento de projetos que fortaleçam o campo da prática e conduzam o licenciando a exer-
citar de forma ativa a relação entre teoria e prática profissional docente, utilizando coleta
de dados e diagnósticos sobre o ensino e a aprendizagem escolar, entre outras didáticas
e metodologias; Induzir a reformulação da formação prática nos cursos de licenciatura,
tendo por base a experiência da Residência Pedagógica (BRASIL, 2018b, p. 1).
A imersão dos estudantes contempla, entre outras atividades, regência de sala
de aula e intervenção pedagógica, acompanhados por um professor da escola campo
(preceptor) com experiência na área de ensino do licenciando e orientado por docentes
da IES, que colaboram para o desenvolvimento de atividades formativas e didático-
-pedagógicas que acontecem de três formas: preparação do aluno para participar do
Programa e o curso de formação de preceptores; atividades de diagnóstico no espaço
escolar; intervenção do residente. As preceptoras e docente orientadora também acom-
panham os residentes na elaboração de relatórios, portfólios, drios de campo, grupos
de pesquisa, registros e anotações. Todas essas atividades são partilhadas e debatidas
mediante relatos de experiência nas aulas da graduação.
Conforme o projeto institucional (2018-2019) encaminhado e aprovado pela Ca-
pes, o futuro profissional deve ser capaz de reconhecer o referencial político, filosófico
e epistemológico que orienta a sua ação, conquistando sua autonomia profissional, ao
imputar o sentido que deseja para a sua prática. Segundo esse documento, o projeto ins-
titucional e os subprojetos orientam-se por uma concepção de formação que articula a
formação específica com a prática docente, de modo que os licenciandos compreendam
o mundo do trabalho e as possibilidades de intervenção nesse contexto. A proposta
estimula uma aprendizagem da docência mediada pelo pensamento crítico e reflexivo.
O PRP, articulado aos demais programas da Capes, compõe a política educacional
nacional, que tem como premissas básicas o entendimento de que a formação de professo-
res nos cursos de licenciatura deve assegurar aos seus egressos habilidades e competências
que lhes permitam realizar um ensino de qualidade nas escolas de educação básica.
Nóvoa (2009) defende que a formação dos professores deve acontecer dentro da
profissão e indica algumas propostas que visam inspirar os programas de formação
de professores. Uma delas é que a “formação de professores deve assumir uma forte
239
Vivência musical no Programa da Residência Pedagógica nas escolas de Engenheiro Coelho
componente práxica, centrada na aprendizagem dos alunos e no estudo de casos concre-
tos, tendo como referência o trabalho escolar” (NÓVOA, 2009, p. 13). Nessa direção, o
autor propõe que a formação aconteça no exercício da profissão ao considerar que muito
das aprendizagens apenas se dão na prática cotidiana da escola.
Este texto tem o intuito de apresentar as atividades teórico-práticas desenvolvidas
no Programa da Residência Pedagógica no subprojeto de música bem como apresentar
a imporncia para os alunos da licenciatura que participaram de uma prática ativa a
cada semana na escola selecionada no período de dezoito meses.
O objetivo principal do subprojeto de música do PRP é antecipar o vínculo en-
tre os futuros professores e as salas de aula da rede pública com foco na área da edu-
cação musical promovendo a formação para o desenvolvimento dos seguintes pontos
essenciais: proporcionar ao aluno da educação básica a oportunidade de descobrir ou
redescobrir, à medida que toma consciência, o mundo sonoro que está ao seu redor,
procurando integrar-se através do desenvolvimento da expressão musical; desenvolver
as potencialidades musicais do educando, respeitando a assimilação natural de suas fa-
culdades, e perceber os elementos musicais em atividades de apreciação musical através
da voz, corpo, materiais sonoros, brincadeiras, jogos e notações musicais.
Ao longo de toda a história brasileira, a educação musical exerceu papel relevante.
A música sempre esteve associada às tradições e às culturas de cada época (BRASIL,
1997, p. 85). Sendo assim, a vivência musical na educação faz parte da nossa existência
como nação. Podemos evidenciar a imporncia da música sem fazer pesquisa siste-
matizada, apenas perguntando a uma pessoa se considera a música como um elemento
importante para o indivíduo e dificilmente teríamos “não” como resposta. Para tanto,
vemos a imporncia dessa ciência no âmbito escolar.
Schafer (2001) aponta a educação pública como caminho para despoluir a paisagem
sonora contemporânea e, ao mesmo tempo, desenvolver a perspectiva estética das pessoas.
Sempre achei que a educação pública é o mais importante aspecto do nosso trabalho. Em
primeiro lugar precisamos ensinar às pessoas como ouvir mais cuidadosa e criticamente
a paisagem sonora; depois precisamos solicitar sua ajuda para replanejá-la. Em uma so-
ciedade verdadeiramente democrática, a paisagem sonora será planejada por aqueles que
nela vivem, e não por forças imperialistas vindas de fora (SCHAFER, 2001, p.12).
Para Souza (2000, p. 176), “a tarefa básica da música na educação é fazer contato,
promover experiências com possibilidades de expressão musical e introduzir os conte-
údos e as diversas funções da música na sociedade, sob condições atuais e históricas”.
Desta forma, os cursos de formação para a docência em música precisam preparar seus
alunos a terem esta conscientização e a romper a dicotomia entre teoria e prática. É
Experiências Docentes
240
necesrio ter em mente as significações culturais e as experiências que os alunos viven-
ciam em seu cotidiano (SOUZA, 2008).
De acordo com Lopardo (2018), é necessário construir “as rotas do cotidiano” en-
contradas no transcorrer da vida no dia a dia escolar. Muitas vezes nos deparamos com
encruzilhadas as quais exigem mudanças de direção. Outras vezes encontramos mo-
mentos do processo de inserção da música na qual as propostas se adaptam ao processo
de rotina da classe e a vivência musical se torna parte integrante do currículo da escola.
Nesta perspectiva, Lopardo (2018, p. 50), afirma que “a realidade da vida cotidiana,
em qualquer dos espaços/tempos em que ela se dá precisa de um olhar atento a tudo o
que nela acontece, se repete, se cria e se inova. Desta forma, o contato com a realidade
é um momento no qual as descobertas, as frustrações, as alegrias e os desafios se com-
binam e é necesrio que tenhamos uma visão apurada sobre os acontecimentos que se
tecem dentro da escola.
Pode-se considerar que o primeiro passo para o fortalecimento do ensino de mú-
sica se dá pela formação docente, já que esta influencia diretamente as práticas pedagó-
gicas propostas pelos professores.
Vivenciando as práticas musicais
As atividades do subprojeto de música visam ao desenvolvimento do licenciando
nos múltiplos aspectos do conhecer, ser e refletir. Espera-se que o mesmo apresente uma
postura ética e social de forma connua e pontual. Ao desenvolver as competências e
habilidades elencadas, irá articular a cultura organizacional da escola e deverá fazer
uma análise crítica dos processos e rotinas no ambiente de trabalho.
Os alunos estagrios do PRP foram divididos em grupos na escola, ocupando
dezessete turmas de 4º e 5º anos, tendo duas professoras para acompanhá-los. Cada
professora/preceptora ficou responsável por oito alunos e cada dupla de estagiários ficou
com uma ou duas classes estabelecidas para desenvolver suas práticas e pesquisas.
Devido à aprovação da lei nº 11.769/2008 para todo o Brasil, a qual efetivou a
música como conteúdo obrigatório nas escolas e considerando que o município não tem
professores da área, o estágio em parceria ao Programa da Residência Pedagógica se
tornou um forte aliado para o ensino de música nas escolas públicas de Engenheiro Co-
elho, contribuindo não somente para a formação inicial dos estudantes da licenciatura,
como também para a formação continuada dos professores na escola-campo, seja por
meio do curso de formação de preceptores previsto no PRP ou ainda pela interação com
as práticas musicais trazidas pelos licenciandos e o contato com os professores da IES.
O trabalho desenvolvido no subprojeto de música do PRP começou com uma
avaliação da escola, observando sua estrutura e necessidades. A partir do diagnóstico
241
Vivência musical no Programa da Residência Pedagógica nas escolas de Engenheiro Coelho
estabeleceu-se que todos os alunos da turma da manhã da Emef Eliza Franco de Oliveira
do município de Engenheiro Coelho fariam parte deste programa. A partir disto, foi
organizado um plano de ensino para cada turma do projeto, com aulas de musicalização
infantil, coral e atividades extraclasse.
Os residentes organizaram materiais como jogos pedagógicos musicais, elabora-
ram os planos de aulas e iniciaram suas práticas na escola. No início, conheceram as
crianças, testaram algumas atividades, aplicaram jogos pedagógicos e organizaram um
coral com um repertório bem lúdico, incluindo atividades musicais com muito movi-
mento corporal, de forma que pudessem se divertir e se expressar baseados na imitação,
o que contribuiu significativamente para a formação de conceitos musicais como os da
propriedade do som (altura, intensidade, timbre e duração). Para desenvolvimento do
coral, optou-se pela concepção do ato de musicalizar proposta por Gainza (1988, p. 101),
que é “tornar o indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro, promovendo nele, ao
mesmo tempo, resposta de índole musical.
Dessa forma, o objetivo de montarmos um coral infantil na Emef Eliza Franco de
Oliveira foi de justamente musicalizar, ou seja, desenvolver o instrumento de recepção
(ouvido musical) para tornar os alunos sensíveis e receptivos à música e, assim, desenvol-
verem a musicalidade de forma significativa, pois algo só passa a ter significado quando
relacionado com as vivências, aliadas à compatibilidade com a percepção desenvolvida. O
repertório ensinado ao longo do ano teve temas que retratavam o contexto do dia a dia de
seus familiares. Esse assunto será abordado com maior clareza no próximo tópico.
É impossível dissociar a vivência do significado; ou seja, algo que a criança viven-
ciou passa a ter um valor, um sentido, um vínculo. Dessa forma, criar um coral infantil
em que o repertório preparado seja ligado diretamente à vivência dos coristas se mostra
uma ferramenta bastante eficaz no processo de musicalização e desenvolvimento integral
da criança, uma vez que contribui também para uma boa comunicação e expressão. Por
isso foi escolhido um repertório que, de alguma forma, representasse a vida dos alunos.
O coral é um processo de construção do conhecimento, que tem como objetivo
despertar e desenvolver o gosto musical, favorecendo o desenvolvimento da sensibili-
dade, criatividade, senso rítmico, de prazer de ouvir música, da imaginação, memória,
concentração, atenção, autodisciplina, do respeito ao próximo, da socialização e afetivi-
dade, também contribuindo para uma efetiva consciência corporal e de movimentação.
As atividades do coral permitem que a criança conheça melhor a si mesma, desenvol-
vendo sua noção de esquema corporal, e também permitem a comunicação com o outro
a partir de atividades lúdicas.
No início do trabalho foi bastante difícil conseguir uma afinação satisfatória, pela
falta de exposição das crianças à música. A maioria desses alunos têm acesso a um re-
pertório reduzido, tendo contato apenas ao que é veiculado nas mídias de massa. Com
o trabalho vocal desenvolvido desde o início do subprojeto de Música, aos poucos, as
Experiências Docentes
242
crianças foram aprendendo com maior facilidade as canções e participando ativamente
com muita movimentação corporal e melhorando a afinação.
Foi necessário trabalhar o comportamento das crianças, pois estavam acostuma-
das a um ambiente permeado por gritos e indisciplina. Ao trabalharmos com música,
eram esperadas atitudes diferenciadas nas aulas, mas isso nem sempre foi fácil. No en-
tanto, com o passar das aulas, as crianças foram se envolvendo e melhorando quanto
à postura disciplinar. O trabalho com o coral foi desenvolvendo a socialização com o
grupo e a relevância que se dá ao uso correto da voz, estruturando as aulas com os prin-
cípios de relaxamento, alongamento, respiração, aquecimento e desaquecimento.
Outra atividade significativa se originou a partir da sugestão dos residentes e pro-
fessores, que tiveram a ideia de desenvolver um projeto interdisciplinar abrangendo lei-
tura, poesia e música. A partir desta concepção de mesclar música com leitura e poesia,
as aulas de música aplicadas pelos residentes foram planejadas com atividades para des-
pertar nos alunos o gosto pela leitura por meio de práticas que utilizam letras musicais,
as quais traduzem sentimentos universais com os quais muitos sujeitos se identificam.
Todas as propostas a serem aplicadas foram discutidas e alteradas quando neces-
rio, e os residentes realizaram pesquisas sobre diversos temas para desenvolverem
propostas de trabalho de forma consistente e intencional. Para a elaboração das ativida-
des, eles realizaram uma revisão bibliográfica acerca dos conteúdos musicais, em livros
e artigos científicos, buscando educadores musicais como Emile Dalcroze (1865-1950),
Zoltán Kodaly (1882-1967), Edgar Willems (1890-1978) e Carl Orff (1895-1982), entre
outros, que buscaram uma experiência musical em que as crianças pudessem sentir e
experimentar a música de forma lúdica e espontânea, por meio do canto, do uso do
corpo, da sensibilidade auditiva.
Os educadores musicais citados utilizaram muito das músicas da cultura, com
movimentação corporal, canto e brincadeiras de roda, para que tivéssemos mais ele-
mentos para uma melhor compreensão dos conteúdos musicais, acreditando no apren-
dizado de forma prática e se tornando nossa base na preparação das aulas.
Conforme Fonterrada (2005), esses educadores correspondem ao grupo da primeira
geração dos métodos ativos, caracterizados por envolvimento direto e prático com a mú-
sica. Figueiredo (2012) afirma que esses métodos sugerem uma abordagem de ensino para
que todos, sem distinção, sejam capazes de um desenvolvimento musical. Os métodos ati-
vos são resultado de uma prática pedagógica musical voltada aos estudantes em geral, sem
preocupação voltada a alunos de instrumentos, que fazem uso de leitura e escrita musical.
A partir destas propostas, surge a concepção de musicalização, defendendo que,
Musicalizar é tornar a música acessível a todos, usando a música elementar que está
inserida no movimento e na palavra. É desenvolver o gosto musical por meio do es-
mulo, tendo como propostas práticas: desenvolver o prazer de ouvir, reproduzir e
243
Vivência musical no Programa da Residência Pedagógica nas escolas de Engenheiro Coelho
criar música, proporcionando aos alunos a oportunidade de compreender a realidade
sonora que a circunda; focar o trabalho nas rimas, parlendas, canções folclóricas e
brincadeiras tradicionais infantis, resgatando o repertório cultural brasileiro. A apre-
ciação musical, senso rítmico, senso melódico, voz, execução instrumental e uso de
tecnologias são considerados pilares de imporncia comprovada na inovação do en-
sino da música e deverão ser postos em prática pelos docentes para uma sistemati-
zação do âmbito pedagógico (LIMA; STENCEL, 2010, p. 91).
A estrutura do trabalho evidenciou a imporncia da linguagem musical e movi-
mento corporal na educação básica, recorrendo aos documentos oficiais e à literatura
relacionada ao assunto. Foram realizadas reuniões para elaboração do projeto, tomando
como ponto de partida as reflexões realizadas no estágio supervisionado no curso de
licenciatura em Música, bem como as atividades realizadas nas aulas e as reflexões que
foram feitas pelos alunos da graduação em Música acerca da construção docente e a
partir das vivências enquanto estagiários.
Esta proposta buscou oferecer aos alunos da educação básica uma experiência sig-
nificativa com a música, fazendo dela um caminho de conhecimento. A música na esco-
la desempenha diversas funções no processo educacional: proporciona-nos prazer e di-
vertimento, nos ensina e nos integra com outras disciplinas, nos oferece encontros com
o outro, enriquece nossa herança cultural, se transforma em instrumento de expressão,
desenvolve-se como linguagem, nos faz encontrar valores que estavam perdidos ou que
não conhecíamos e nos leva a pensar e a agir como cidadãos.
É preciso dar mais espaço para a música na escola; é necessário reconhecer e valori-
zar a sua contribuição no processo de ensino-aprendizagem e, acima de tudo, é imprescin-
dível trabalhar com a música, seja a área que for. Os recursos usados para as aulas de mú-
sica são de natureza lúdica e, por meio de jogos e brincadeiras, parte-se do nível sensorial.
Como incentivo à formação do futuro professor, Perrenoud diz:
É necessária uma formação específica. É evidente que não se podem formar os professores
para atuar em ciclos “no papel. Ninguém aprende a nadar em um livro. Certos proble-
mas surgirão a partir da experiência e demandarão, então, a constrão das competências
correspondentes. É importante, no entanto, que cada um antes de se comprometer, possa
construir uma representação clara do tipo de ciclos a implantar, dos obstáculos prováveis,
dos modos mais promissores de organização do trabalho (PERRENOUD, 2004, p. 52).
Diante desta colocação, entendemos que a participação no Programa da Residên-
cia Pedagógica veio fortalecer, ampliar e consolidar a relação entre a IES e a escola, pro-
movendo sinergia entre a entidade que forma e recebe o egresso da licenciatura, estimu-
lando o protagonismo das redes de ensino na formação de professores.
Experiências Docentes
244
Os estagrios elaboraram seus planos de aula com o objetivo de promover dife-
rentes situações de aprendizagem que demandavam a observação sobre as relações entre
a linguagem oral e a escrita, bem como os sentidos conotativo e denotativo das palavras
que permeiam as letras das músicas, propiciando aos alunos a expansão do vocabulário,
o domínio da estrutura gramatical, a fluência na conversação e, ainda, o aprimoramen-
to do espírito crítico no que compete à leitura.
É interessante ressaltar a alegria e o olhar curioso dos alunos ao participarem de
cada aula, além do desenvolvimento, interesse e até mesmo desinteresse por temas que
fazem parte do seu currículo escolar. Sabemos que o nosso país enfrenta um desafio
quando se trata de educação; porém os alunos residentes se sentem desafiados a serem
agentes que consigam semear alguma mudança nestas crianças.
Os estagrios que fizeram parte do Programa da Residência Pedagógica da li-
cenciatura em Música do Unasp campus Engenheiro Coelho contribuíram para o cres-
cimento destes alunos da Escola Eliza Franco, em Engenheiro Coelho, atuando como
facilitadores do aprendizado, levando consigo sua bagagem intelectual, adquirindo ou-
tras ao longo do processo, utilizando a criatividade e a ludicidade para tornar os alunos
cidadãos com acesso aos bens culturais e uma formação integral.
Destacamos depoimentos de alguns alunos residentes que participaram do sub-
projeto de Música:
A Residência Pedagógica me proporcionou a experiência que faltava e me fez
perceber que o preparo e o esforço estão acima da aptidão, que a afetividade
no ensino chega antes do conteúdo, que a autoridade é conquistada com amor
e que cada indivíduo é diferente e precisa de um determinado tipo de atenção.
Muitos erros foram cometidos, e aprendi com todos eles.
Agradeço ao curso de Música por ter me proporcionado tantos conhecimentos
e contribuído para o meu crescimento.
Agradeço ao Programa Residência Pedagógica pela experiência proporcionada.
Deixo também meus agradecimentos à Secretaria de Educação da cidade de En-
genheiro Coelho pelo total apoio e abertura para o acontecimento do Programa
e a IES pelos indispensáveis momentos de aprendizado e socialização.
“Diante de todos os trabalhos e experiências que o PRP nos proporcionou, com
certeza observo em minhas aulas um crescimento profissional e enriqueci-
mento nas abordagens em sala.
245
Vivência musical no Programa da Residência Pedagógica nas escolas de Engenheiro Coelho
As aulas práticas nos tornaram mais confiantes em relação ao nosso trabalho.
Certamente seremos profissionais melhores devido a essa oportunidade.
“Durante todo o processo do Programa, todos da coordenação, tanto da Insti-
tuição Unasp, quanto da escola Emef Eliza Franco de Oliveira, onde o projeto
foi aplicado, sempre deram muito suporte para os residentes, melhorando nos-
so comportamento diante das situações encontradas, nos tornando maduros
para as próximas oportunidades.
Diante dessas colocações, ressaltamos que a musicalização é um processo de cons-
trução do conhecimento que estimula o desenvolvimento da memória, sensibilidade,
criatividade, imaginação, concentração, noção rítmica, atenção, o prazer de ouvir músi-
ca, socialização, afetividade, respeito ao próximo, autodisciplina, consciência corporal e
motora e o gosto musical da criança (BRÉSCIA, 2003, p. 45). Portanto, musicalização é
um conjunto de atividades que podem auxiliar na formação mental, motora e social da
criança, inserindo valores comportamentais por meio da música.
Segundo Campos (2000), o objetivo da educação musical é a própria musicaliza-
ção. Musicalizar é favorecer o indivíduo a se tornar sensível e receptivo ao fenômeno
sonoro, com capacidade de promover respostas de índole musical, diz a autora. Sendo
assim, pode-se dizer que musicalidade é a capacidade de responder a estímulos sonoros
conforme a disposição interna e a vivência de cada um.
A musicalização infantil é composta por uma série de atividades que auxiliam na
formação de um ser pensante e no processo da educação musical. A percepção musical,
a informação, assim como a expressão musical deverão ser desenvolvidas ao mesmo
tempo, através de diversas atividades no processo de aprendizagem, ligadas ao interesse
do aluno e à livre exploração do instrumento (CAMPOS, 2000).
Considerões finais
A partir da proposta de demonstrar a imporncia da educação musical para ampliar
o desenvolvimento cultural dos estudantes e da conexão da música como auxiliar dos com-
ponenetes curriculares, em especial com o desenvolvimento da leitura e escrita, percebeu-se
que as aulas de música cumpriram seu papel como recurso auxiliador para melhorar a rela-
ção das atividades musicais com o letramento e interpretação de texto com êxito.
Ao planejar e colocar em prática na sala de aula os conteúdos de música integrados,
em especial com a língua portuguesa, os licenciandos puderam chegar a resultados positivos
como maior envolvimento e aprendizagem significativa dos estudantes, pois quando eles
Experiências Docentes
246
realizavam as atividades em matérias separadas, não conseguiam atingir um resultado tão
satisfatório como no período em que as matérias eram trabalhadas de forma integrada.
Com base nos resultados obtidos, desencadeamos a discussão com os alunos, pro-
fessores e coordenadores da escola trabalhada: será que as formas de ensino utilizadas
atualmente na escola são as mais adequadas? Será que demandam mudanças? Já não
deveria haver uma interdisciplinaridade real e não teórica somente, na qual todo o Pro-
grama a ser ensinado nas diferentes matérias estivesse interligado? São muitas questões
que podemos discutir, mas nem sempre elas são colocadas em pauta.
Observou-se que foi possível incentivar os alunos da licenciatura em Música para
desenvolverem boas aulas com fundamentação teórico-prática, e os resultados alcan-
çados servirão de esmulo para uma docência comprometida e transformadora, pois
muitas crianças que tinham dificuldade para aprender, compreender ou até mesmo se
expressar, conseguiram obter um sucesso muito maior quando as atividades começa-
ram a ser interdisciplinares com apoio da música.
A educação musical se torna relevante na escola para a ampliação do senso crítico
em relação ao fazer artístico, para o desenvolvimento da sensibilidade estética para a
arte de modo geral, para a expressividade corporal e musical, contribuindo para o de-
senvolvimento integral das crianças como seres humanos. Ao se apropriar desse bem
cultural, a criança tem a oportunidade de criar laços sociais e desfrutar da inclusão
social e cultural no mundo da música, ampliando sua participação cidadã.
Este trabalho realizado com os alunos da Residência Pedagógica de música do
Unasp completou um período de dezoito meses, e é possível citarmos três palavras que
formaram um alicerce neste projeto: seriedade, compromisso e comprometimento. É
importante ressaltar que as aulas conduzidas pelos alunos da licenciatura foram cres-
cendo e trazendo uma importante visão da prática pedagógica do ensino de música na
escola de educação básica trabalhada.
Puderam constatar a imporncia da música atuando como recurso auxiliador
e as relações entre atividades musicais visando o letramento com grande êxito. Con-
seguiram sair da teoria e colocar em prática o que autores como Amato (2010) defen-
dem, alegando que não basta somente idealizar, mas também realizar, alcançar uma
experiência e a vivência.
Este trabalho revelou que é possível quebrar preconceitos musicais nas séries iniciais
do ensino fundamental, podendo motivar as crianças para serem mais críticas e abertas,
a ouvir e a apreciar um repertório musical diferente e variado, bem como desenvolver a
interpretação de textos, possibilitando um melhor aprendizado nas demais disciplinas.
Considerando que o subprojeto do PRP teve como objetivo mostrar a influência
da música nas diferentes fases da criança e dimensões do seu desenvolvimento como
o cognitivo, o motor e o afetivo, apresentamos também a música como uma lingua-
gem de expressão dentro das escolas e das salas de aula, proporcionando às crianças, o
247
Vivência musical no Programa da Residência Pedagógica nas escolas de Engenheiro Coelho
conhecimento e a valorização da própria cultura e da cultura que as rodeia. A partir da
ideia de transformar o ambiente escolar em um lugar mais alegre, transmitindo para a
criança a sensibilidade de conhecer os vários gêneros musicais e apreciar a diversidade
do som, os alunos particpantes da Residência Pedagógica obtiveram uma experiência
muito gratificante, pois perceberam nas crianças a alegria de aprender.
Espera-se que o presente relato possa auxiliar os professores, com ou sem for-
mação musical, para o desenvolvimento da criança dentro e fora da escola, lembrando
que existem muitas questões importantes a serem trabalhadas no desenvolvimento des-
tas, sejam elas escolares ou sociais. Finalizamos fazendo nossas as palavras de Gainza
(1988), ao dizer que uma vez que é estabelecido o vínculo entre música e indivíduo,
a música fará por si só, grande parte do trabalho de musicalização, penetrando no
homem, rompendo barreiras de todo tipo, abrindo canais de expressão e comuni-
cação a nível psicofísico, induzindo, através de sus próprias estruturas internas, modi-
ficações significativas no aparelho mental dos seres humanos (GAINZA, 1988, p. 101).
Pode-se observar que os licenciandos envolvidos, no que se refere à sua formação,
puderam encontrar no Programa da Residência Pedagógica caminhos para o aperfei-
çoamento docente; isso porque o projeto, em sua essência, busca proporcionar ferra-
mentas para uma atuação consciente e crítica no contexto escolar. A realização deste
programa e deste subprojeto reforça a necessidade de se investir na área da educação
musical com profissionais preparados e estruturas físicas adequadas, proporcionando a
valorização da música na formação integral do aluno.
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Programa de Residência
Pedagógica na licenciatura
em pedagogia e educação
infantil: discussões e pautas
sobre a brincadeira como
atividade mobilizadora
da autonomia de crianças
e professores
CA PÍTULO 17
Elieuza Aparecida de Lima
Gabriela Carolina Silva
Essa proposta, que conduz de maneira ativa o trabalho pedagógico, possibilita que
as crianças se envolvam em atividades distintas, em espaços e tempos diferentes, prezan-
do, assim, pelo respeito aos seus ritmos, escolhas, preferências e interesses particulares. Ao
mesmo tempo, propicia um trabalho colaborativo, por meio do qual as crianças têm condi-
ções de desenvolverem projetos e pesquisas em pequenos grupos (KUSUNOKI, 2018, p. 59).
Afetada e subsidiada por fundamentos e práticas inspiradoras de Freinet (1896-
1966) e princípios da teoria histórico-cultural (VIGOTSKI, 2009), Kusunoki (2018) mo-
tiva-nos a refletir sobre a formação humana, considerando o papel da educação escolar
como potencializador desse complexo processo. Compactuando com esse fundamento
científico, convidamos o leitor e a leitora a conhecerem aspectos de ações formativas de
professores para a educação básica, a partir de nossa participação no PRP,
1
especialmente
por meio do subprojeto “Leitura e escrita em diferentes áreas do conhecimento” desen-
volvido por docentes da Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp, Marília (SP) e fina-
lizado no início de 2020.
2
Particularmente, as vivências nesse programa ampliaram as
1 Trata-se de um programa formulado e financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes), sendo “[...] uma das ações que integram a Política Nacional de Formação de Professores e tem
por objetivo induzir o aperfeiçoamento da formação prática nos cursos de licenciatura, promovendo a imersão do
licenciando na escola de educação básica, a partir da segunda metade de seu curso” (Cf. https://bit.ly/3dtsY7O).
2 Desse subprojeto participaram seis professoras orientadoras da Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp,
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p249-258
Experiências Docentes
250
possibilidades de reflexões sobre a profissionalidade docente e, por meio delas, ratificou
nossa compreensão da necessária sólida e científica formação de professores, que os am-
pare teórica e metodologicamente para o trabalho com crianças desde a educação infantil.
Com a perspectiva de explicitar aspectos desse percurso formativo, apresentamos,
neste texto, ações vivenciadas nessa edição do PRP, que teve como objetivo inserir e envol-
ver graduandos de licenciaturas em escolas públicas de educação infantil e fundamental
do município de Malia/SP. Trata-se de processo formativo desses graduandos (denomi-
nados no PRP como residentes), supervisionados diretamente por professores atuantes
nessas escolas (caracterizados como preceptores), num trabalho colaborativo com profes-
soras orientadoras da Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp, campus Malia, SP.
Para efetividade dessas ações essenciais nesse programa, foram realizados momentos
de ambientação, imersão e regência em turmas da educação básica, para conhecimento da
realidade escolar e articulação necessária com os estudos empreendidos na universidade.
O retrato destacado nesta exposição traz aspectos das ações realizadas na escola
municipal de educação infantil “Sambalelê”, localizada na zona sul do município de
Malia (SP). Esta escola atendia, à época, um total de vinte turmas em período integral,
sendo crianças de 10 meses a 5 anos. Para efetividade das ações do PRP, embora todas
as turmas estivessem abertas aos trabalhos realizados, no processo de ambientação em
2018, as atividades focaram na “Turma dos Super Amigos” e, em 2019, nos processos de
imersão e regência, a turma parceira dos trabalhos era denominada “Turma dos Piratas”.
Elas eram compostas por, em média, vinte crianças de 5 anos de idade.
Como já assinalado, as ações componentes do PRP foram diversificadas e reali-
zadas no âmbito da universidade e das escolas parceiras. Na universidade, inicialmente,
houve horas de leitura e estudos coletivos para que todos os orientadores, preceptores,
residentes e residentes voluntários pudessem fundamentar-se teoricamente para quali-
ficar seus olhares no momento de ambientação e nos demais. Especialmente na escola
de educação infantil, a ambientação caracterizou-se como momento para conhecer a
escola, os sujeitos que a ambientam, a dinâmica pedagógica que a caracteriza e os espa-
ços que a compõem.
Nesse espaço coletivo de educação de crianças pequenas, as ações desenvolvi-
das no momento de imersão envolveram o acompanhamento da rotina de entrada das
crianças, o trabalho de recepção delas no salão da escola com participação na acolhida
de meninos e meninas e em exercícios de alongamento mediado pelas professoras das
turmas de educação infantil. A partir daí, as vivências eram diversas: rodas de conversa,
Malia, SP, com a parceria de cinco professores preceptores (um de escola municipal de educão infantil
e os demais em três escolas municipais de ensino fundamental), supervisionando grupos de cinco a seis
residentes (bolsistas e voluntários). Vale destacar que, neste texto, estão detalhamentos de aspectos de vi-
vências de uma das residentes participantes do PRP na escola de educação infantil participante das ações
desse programa.
251
Programa de Residência Pedagógica na licenciatura em pedagogia e educação infantil
alimentação, higiene, brincadeiras, dentre outras, até o momento de sono das crianças
que ficavam em período integral na escola parceira do PRP.
O terceiro e último momento foi marcado pelas ações de regência, evidenciadas
na realização de propostas educativas com as crianças de uma turma escola parceira.
Nestas ocasiões, cada residente assumia a liderança do grupo infantil desenvolvendo
ações projetadas, discutidas e refletidas a partir dos contextos vividos na escola, consi-
derando os subsídios científicos apropriados em estudos na universidade.
Neste capítulo, socializamos a escolha de um dos temas orientadores de ações
desenvolvidas no PRP, ao encontro da compreensão da escola de educação infantil
como o lugar efetivo para o brincar, que envolve a criança como sujeito participativo
de todas as ações que nela acontecem. Compactuamos com Mello (s.d.), em seu texto
“Brincar é coisa séria, uma de suas preocupações com a escola da infância, quando
destaca: “Vejo com grande preocupação que, nas escolas da infância, cada dia menos
se brinca”. Os pais e os educadores procuram antecipar a escolarização com apostilas,
cartilhas, tarefas, trabalhinhos que enchem o dia da criança na escola. Parece que es-
ses adultos pensam que vão apressar o progresso tecnológico abreviando a infância e
acelerando artificialmente o desenvolvimento da criança (MELLO, s.d., p. 1). A autora
assevera ainda:
Se não respeitamos essas possibilidades reais de seu desenvolvimento em cada etapa,
não avançamos esse desenvolvimento, corremos o risco de não garantir aprendizagem
nem desenvolvimento e, pior ainda, passamos a treinar nossas crianças, a cansá-las e
a criar nelas uma visão de escola como um lugar ruim e, aí, todo seu progresso futuro
na escola fica comprometido (MELLO,
s.d.
, p. 1).
Para que a escola da infância supere tarefas mecanizadas, que pouco contribuem
ou restringem possibilidades de êxito de alcance da finalidade da Escola de Educação
Infantil (EEI): ampliar as aprendizagens motivadoras de um pleno desenvolvimento hu-
mano na infância. Situações esvaziadas de sentido para as crianças e os residentes foram
discutidas na perspectiva de superá-las mediante planejamento, organização e realiza-
ção de intervenções pedagógicas para que, intencional e conscientemente, pudéssemos
nos apropriar, refletir e enriquecer o acervo e as possibilidades de brincadeiras infantis
no contexto educativo onde eram realizadas as ações do PRP.
Para detalhamentos e discussões do processo vivido pelos envolvidos, este texto
é composto de seções reveladoras de aspectos dos fundamentos científicos orientadores
de nosso trabalho e também dando destaque às ações tecidas na escola durante o perío-
do de desenvolvimento do PRP.
Experiências Docentes
252
Aspectos científicos e das ações
em campo: em foco o envolvimento
ativo de crianças e professores
Não é papel do educador destacar os erros e aplicar castigos a criança, mas é pre-
ciso encorajá-las, pois se as crianças sentirem orgulho de suas obras serão capazes de ir
muito longe (FREINET, 1973, p. 58). As palavras encorajadoras de Freinet (1973) am-
param nossas reflexões com a perspectiva de compreendermos o valor do ensino que,
em lugar de silenciar vozes, pensamentos e atitudes das crianças, cria condições para
meninos e meninas sentirem-se ativos e plenamente envolvidos naquilo que realizam
na escola, desde a mais tenra infância.
Com essa motivação, nesta seção, retratamos como as ações desenvolvidas no PRP
contribuíram significativamente para formação de futuros pedagogos que participaram
como residentes bolsistas e voluntários. Nesse processo, durante a ambientação, foi rea-
lizada análise documental da escola para apropriação de aspectos do trabalho da gestão
escolar que envolve os trabalhos da direção e da coordenação pedagógica de uma escola
e os princípios éticos e teóricos orientadores do Projeto Político-Pedagógico (PPP) da
unidade escolar onde desenvolvíamos nossos trabalhos.
Com base nessa primeira ação, ficou evidenciado que a escola busca amparar os pro-
fessores que lá trabalham, acompanhando e orientando cientificamente suas práticas por
meio de estudos e reflexões coletivas. Cada professora materializa suas intenções didáticas
por meio de um livro diário no qual realiza anotações de acontecimentos da turma.
Os encaminhamentos seguintes expressaram-se nas ações de imersão, essenciais
para desenvolvimento de outras estratégias para conhecer a nova turma de educação
infantil na qual foram desenvolvidos os trabalhos de regências. Essa nova fase também
exigiu uma nova análise documental junto ao PPP para buscar as novas informações a
respeito de projetos e encaminhamentos inovadores que a escola buscava desenvolver.
Nesse momento, cada residente pode se aproximar mais das crianças, estreitando as
relações vividas com o afeto e os conhecimentos necessários para planejamento, organiza-
ção e desenvolvimento dos projetos, tal como, por exemplo, aquele apresentado e discutido
nesta oportunidade. Vale salientar que, em todas as ações previstas e desenvolvidas no PRP,
houve envolvimento entre residentes, professora preceptora e líder da turma de crianças
na qual os trabalhos foram realizados, além da professora orientadora da universidade.
As regências só foram possíveis após intensas vivências com as crianças e a pro-
fessora preceptora. A partir da formulação dos planos de ações, foram elaboradas pro-
postas educativas considerando as condições objetivas em relação ao seu patrimônio
arquitetônico, de materiais e de proposta pedagógica. O êxito do plano de ações deu-se
porque a equipe gestora da escola, professora preceptora e crianças envolvidas se mos-
traram disponíveis e sensíveis às propostas sugeridas.
253
Programa de Residência Pedagógica na licenciatura em pedagogia e educação infantil
Na experiência apresentada neste capítulo, as ações realizadas no cenário esco-
lar — como vivências necessárias para efetividade do PRP — dirigiram-se à atividade
orientadora da ativação e desenvolvimento de capacidades especificamente humanas na
inncia, isto é, a brincadeira. A partir da imersão no seio da escola — particularmente
do grupo de crianças e da professora preceptora — pareceu evidenciada a necessidade
de ampliar o repertório cultural e lúdico daqueles meninos e meninos por meio de ações
com a seguinte temática “resgate e vivências de brincadeiras antigas”.
A base dos trabalhos empreendidos foram fundamentos da teoria histórico-cultu-
ral e princípios e técnicas pedagógicos formulados por Freinet (1896-1966). Este educa-
dor francês, incomodado com a inércia das crianças em situações educativas na escola
de sua época, materializadas em modos tradicionais de ensino e aprendizagem, objeti-
vou diferentes técnicas de ensino e aprendizagem. Neste modelo educativo baseado, por
exemplo, em explicações acerca de conteúdos e cópias de escritos da lousa, as crianças
pareciam pouco envolvidas no que faziam, motivando Freinet (1973) a pensar em quais
seriam os interesses infantis e quais contextos e relações sociais educativas poderiam
atendê-los e ampliá-los. Aparentemente, esses interesses eram mais relacionados aos
acontecimentos fora da sala de aula, e menos com as suas explicações no quadro negro
e no que estava nas páginas do livro didático.
Essas constatações e buscas para superação de práticas educativas enraizadas e
pouco desenvolventes para adultos e crianças impulsionaram Freinet (1973) à formula-
ção de técnicas, conhecidas como “técnicas Freinet. Dentre elas, estão as citadas (mas
pouco apropriadas em sua essência): “livro da vida” e “roda de conversa. Foram esco-
lhas essenciais para planejamento, composição e avaliação de brincadeiras e de situa-
ções em que pudéssemos conversar sobre o que fizemos, o que seria realizado, o que
mais gostaram e sugestões de outras brincadeiras.
De maneira geral e objetiva, o livro da vida constitui-se em um grande caderno no
qual são feitos registros coletivos e diários de acontecimentos de uma turma de crianças,
jovens ou adultos — porque é possível ser elaborado em qualquer nível da escolaridade.
Ele é composto em rodas de conversa, tendo a participação das crianças de uma turma e,
nele, são registradas o que elas consideram as vivências mais valiosas de um dia, poden-
do conter também desenhos ilustrativos das experiências infantis, recortes e colagens,
fotografias, dentre outras possibilidades.
Nas frequentes produções das crianças, Freinet (1973) não exigia a elaboração de
grandes textos: “apenas pequenas frases que eram organizadas posteriormente de ma-
neira lógica e assim pôde perceber que o texto livre estava se tornando páginas da vida”
(FREINET, 1973, p. 29).
Em turmas de educação infantil, o professor é nomeado o escriba da turma, regis-
trando a fala das crianças e considerando que todas elas têm a liberdade de se expres-
sarem da forma que quiserem. O escrito torna-se, assim, parte da memória da turma,
Experiências Docentes
254
que pode ser (re)vista e analisada, com a exigência de participação ativa das crianças no
processo de composição das páginas do livro da vida.
A motivação que sustentou o surgimento dessa técnica foi o exercício de sila-
bação, considerado a maneira mais eficiente para o início da alfabetização na escola
da infância. Freinet (1973) observou que mesmo as crianças consideradas mais “inte-
ligentes” possuíam dificuldade na compreensão de palavras lidas silabicamente. Era
evidente a dificuldade em atribuir sentido a uma frase ou palavra fragmentada, assim
ele argumenta de forma crítica e concisa o porquê ultrapassar a metodologia escolás-
tica. Em sua visão,
O que caracteriza, com efeito, a escolástica, é a obrigação que têm os alunos – de
acordo com os regulamentos, os manuais escolares e o professor – de apresentar um
trabalho que não tem, em geral, cabimento na vida dos indivíduos, e, por conseguinte,
que não os toca nem influencia em profundidade. Este trabalho não é funcional. É
previsto pelos adultos com base na sua cultura de adultos, e é sistematicamente que se
pretende isolá-lo de toda a vida, com receio de que constitua perda de tempo e de que
lhe falte seriedade (FREINET, 1973, p. 30).
De acordo com essa caracterizão, é possível afirmar que a metodologia silábica
é fundamentada na cultura do adulto já alfabetizado, não sendo assim funcional para
as crianças. Freinet (1973, p. 60) expressa que “não basta, por conseguinte, dar à criança
liberdade para escrever, é preciso inspirar-lhe o desejo de fazer, despertar-lhe a necessi-
dade de se exprimir”.
A outra técnica realizada para efetividade da comunicação entre nós e as crianças e
também êxito do registro por meio do livro da vida é a “roda de conversa”. Normalmente,
é realizada duas vezes durante o dia; a primeira para dar início às demais atividades diá-
rias, após o acolhimento das crianças no momento de chegada à escola. Nessa proposta de
trabalho, as crianças podem se expressar contribuindo com narrativas expressivas de suas
ideias, emoções e opiniões, podendo também ser um espaço para contação de histórias.
Na segunda roda, é momento de relembrar as atividades realizadas durante o dia, sendo
a ocasião ideal para registros no livro da vida. Um apontamento para ser destacado é que,
para elaboração da técnica “roda de conversa”, não é necesrio seguir uma regra engessa-
da com apenas dois momentos para diálogos; é possível ser realizada quantas vezes o pro-
fessor e a turma considerarem necessário, tendo em vista que muitos conflitos e projetos
podem ser solucionados ou desenvolvidos durante essas conversas.
255
Programa de Residência Pedagógica na licenciatura em pedagogia e educação infantil
Nessa perspectiva teórica, a escolha temática sobre a brincadeira e outras rela-
cionadas surgiu para reafirmar o direito de brincar e de aprender na EEI. Isso significa
conhecer as brincadeiras que as crianças têm conhecimento e criar contextos em que
elas ampliem seu repertório cultural.
Com a estratégia didática de observação e escuta da criança com todos os nossos
sentidos (RINALDI, 1999), foi possível conhecer as preferências de brincadeira da turma.
Além de se tornar base para os planejamentos das ações pedagógicas para as regências,
esse conhecimento subsidiou relações afetivas e de proximidade da residente e das crian-
ças. Podemos citar algumas atividades que proporcionaram situações brincantes com as
crianças durante esse período: “Vampiro, que horas são?”; “Corrida Pô?”; “Estrelinha”;
pular corda; dobradura de balão.
Essas imagens denotam a singularidade e a potência de um trabalho pedagógico
intencionalmente projetado para o envolvimento ativo de adultos (residentes, profes-
soras preceptora e orientadora) e crianças. Elas provocam também reflexões sobre o
processo de formação de professores como dinâmica e relação intrínseca entre os co-
nhecimentos apropriados na universidade e o campo de trabalho: a escola.
De modo intencional e organizado, as ações propostas e desenvolvidas no âmbito
do PRP permitiram tomadas de consciência de cada residente sobre a complexidade e
cientificidade de seu trabalho docente. Sobretudo, essa consciência foi e é instrumen-
talizada por meio de estudos, discussões e práticas no exercício contínuo de se tornar
professor de crianças pequenas, considerando seus desafios, belezas e possibilidades.
Considerões finais
Podemos concluir que, ao modificar as técnicas de trabalho, modificamos auto-
maticamente as condições da vida escolar e paraescolar; criamos um novo clima; me-
lhoramos as relações entre as crianças e o meio, entre as crianças e os professores. E é,
com certeza, o benefício mais importante com que contribuímos para o progresso da
educação e da cultura (FREINET, 1973, p. 46).
As vivências contextualizadas e apresentadas nas páginas anteriores sinalizam o
exercício fecundo que é a formação docente inicial e a continuada. Neste texto, nosso
esforço foi traçar, em linhas gerais, aspectos do rico processo formativo de adultos e
crianças no PRP no período de agosto de 2018 a janeiro de 2020.
Nos limites deste texto, as tessituras destacadas firmam a emergência de necessá-
rios incentivos a programas de formação inicial e continuada em que o papel intelectual
e profissional do professor seja elemento de reflexão e ação. Como buscamos eviden-
ciar, o complexo processo de formação docente (em especial daqueles profissionais que
trabalham com crianças pequenas) exige investimentos políticos, econômicos, sociais
Experiências Docentes
256
e pedagógicos, compreendendo que se apostarmos no começo da vida – por meio de
condições favoráveis de educação e de atividade – podemos mudar o curso das histórias
de meninos e meninas (O COMEÇO, 2016) capazes de serem dirigentes de suas traje-
tórias e de movimentos dirigidos a superações de processos alienadores cultivados nas
engrenagens de uma sociedade capitalista como a nossa.
A solidez da formação docente envolve a relação da teoria e prática, concreti-
zada durante toda a trajetória do professor como profissional habilitado teórica e di-
daticamente à criação de contextos educativos cada vez mais humanizadores de sua
individualidade e das inteligências e personalidades das crianças. Para efetividade des-
ses processos, exige-se que os cursos de formação docente pautem seus currículos em
fundamentos teórico-metodológicos capazes de instrumentalizar profissionais também
agentes de sua atividade docente em turma de crianças pequenas.
Conforme buscamos ratificar, na infância, a criança está aberta para co-
nhecer o mundo e se apropriar do patrimônio de conhecimentos produzidos pela
humanidade. A atitude do professor diante de uma criança ativa e participativa
é de afetá-la profundamente para que seja autora e aprendiz em seu processo de
formação humana.
Para composição de um cenário potencialmente humanizador para a formação
de adultos e crianças, tivemos o privilégio de atuação pedagógica em uma escola que foi
efetivamente parceira das ações do PRP, acolhendo a essência dos processos educativos
pelo Programa, isto é, a formação inicial docente (e também continuada dos precep-
tores) de modo rico e sólido. Vale, assim, enfatizar o papel assumido pela professora
preceptora como profissional envolvida no acompanhamento, supervisão e aulio du-
rante os diferentes momentos de atividade dos residentes, contribuindo com todas as
ações desenvolvidas e efetivando um trabalho colaborativo tão necessário para a plena
formação de professores.
Referências
FREINET, C. As Técnicas Freinet da Escola Moderna. Lisboa: Estampa, 1973.
KUSUNOKI, K. A. R.O Desenvolvimento do Autocontrole da Conduta na Educação
Infantil: um estudo sobre os cantos de trabalho de Freinet. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Marília, SP.
MELLO, S. A. Brincar é Coisa Séria. Mímeo.(s.d.). (Texto produzido para o trabalho
docente em turmas do Curso de Pedagogia).
257
Programa de Residência Pedagógica na licenciatura em pedagogia e educação infantil
O COMEÇO da vida. Direção de Estela Renner. São Paulo: Maria Farinha Filmes, 2016.
Disponível em: https://bit.ly/3oChBkc. Acesso em: 04 out. 2022.
RINALDI, C. A escuta visível. Réggio Children, 1999.
VIGOTSKI, L. S. Imaginação e criação na infância: ensaio psicológico. São Paulo:
Ática, 2009.
Na educação física escolar, ainda percebemos dificuldades relacionadas ao desen-
volvimento da sua prática pelo professor. A repetição de conteúdo, ou até mesmo aulas
livres, ainda existem nas escolas, embora tenhamos um vasto repertório de atividades
que podem ser contempladas.
A Metodologia de Projetos vem sugerir uma prática em que o aluno possa ser
participativo e ativo e, assim, o professor seria auxiliador no processo de mediação,
construindo juntos o conhecimento. Dessa maneira, são proporcionadas aulas mais
contextualizadas com incentivo da investigação, discussão e a construção de atividades,
criando um ambiente favorável para o estudante experimentar e realizar atividades que
irão ampliar o seu repertório de conhecimentos.
Na tentativa de pensarmos em uma prática pedagógica na educação física escolar
que pudesse contribuir com as proposições teórico-metodológicas que apresentamos,
foi criado o projeto “Alegria de viver: o resgate dos jogos e a construção de brinque-
dos da cultura popular”. Trata-se de um projeto desenvolvido e aplicado durante o
Programa da Residência Pedagógica (PRP), junto ao curso de Educação Física, Unasp
campus Hortolândia/SP, em parceria com uma escola municipal de educação infantil
no interior do estado de São Paulo. O projeto valoriza o jogo, a brincadeira, a arte, a
Projeto Alegria de Viver:
o resgate dos jogos e
construção de brinquedos
da cultura popular na
Residência Pedagógica
CAPÍTULO 18
Admilson Gonçalves de Almeida
Danilo de Souza
Magda Jaciara de Andrade Araújo
Mara Ester da Silva
Sarah Fernandes de S. Outeiro Gregol
https
://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p259-266
Experiências Docentes
260
cultura popular e a construção de brinquedos com materiais recicláveis na perspectiva
de resgatar o prazer de aprender brincando.
Essa parceria firmada no PRP com as escolas de educação básica e os cursos de
graduação em licenciatura foram contundentes no processo de formação dos futuros
docentes, pois os colocou de frente com as questões e problemáticas da educação física
escolar, proporcionando a possibilidade de construção de projetos pedagógicos que en-
riquecessem a vida dos educandos pelo viés da educação física escolar.
Na busca por uma perspectiva de formação prático-reflexiva aos licenciandos,
considerou-se relevante abordar a área da educação física mediante uma abordagem
comprometida com o desenvolvimento global dos alunos da educação básica. E esse foi
um dos objetivos na implementação desse projeto.
Histórico da educação física na escola
A educação física no Brasil tem o seu início no desenvolvimento cultural no pe-
ríodo do Brasil império; apesar de não ter ocorrido de forma cabal, foi nessa época que
surgiram os primeiros tratados sobre a educação física. Ao longo dos anos, existiram
rias concepções orientando essa disciplina, dentre elas citamos: higienismo e milita-
rismo, esportivista, também chamada de mecanicista, tradicional ou tecnicista e recre-
acionista (DARIDO, 2001).
A partir de 1980 começaram a acontecer mudanças nas concepções sobre a
área de educação física devido a um processo que envolve muitas transformações
como pesquisas acadêmicas relacionadas à prática pedagógica de professores desse
componente curricular, dentre outros (DARIDO, 2003). Nesse contexto, ganham
espaço as abordagens, desenvolvimentista, construtivista-interacionista, crítico-
-superadora e saúde renovada.
Historicamente, observamos concepções opostas em relação aos conhecimentos a
serem trabalhados na educação física, uma visão mais tradicional que atribui aos conte-
údos um papel central no ensino e aprendizagem dos alunos e outra em contraposição
que defende uma visão mais progressista, está associada a uma interpretação cogni-
tiva e construtivista da aprendizagem. Nessa última concepção, os conteúdos devem
ser contextualizados para que o aluno consiga ter envolvimento, e assim, alcance uma
aprendizagem significativa.
Darido (2003) defende que as aulas devem contemplar três dimensões para
que o aprendizado ocorra de maneira construtiva e efetiva: dimensão conceitual,
dimensão procedimental e dimensão atitudinal, conforme pode ser visualizado no
quadro abaixo:
261
Projeto Alegria de Viver
Quadro 1 – Dimensões do Aprendizado
Dimensão conceitual
Conhecer as transformações por que passou a sociedade em
relação aos hábitos de vida e relacioná-las com as necessida-
des atuais de atividade física.
Conhecer as mudanças pelas quais passaram os esportes.
Conhecer os modos corretos da execução de vários exercícios e
práticas corporais cotidianas.
Dimensão procedimental
Vivenciar e adquirir alguns fundamentos básicos dos esportes,
dança, ginásticas, lutas, capoeira.
Vivenciar diferentes ritmos e movimentos relacionados às
danças, como as danças de salão, regionais e outras.
Vivenciar situações de brincadeiras e jogos.
Dimensão atitudinal
Valorizar o patrimônio de jogos e brincadeiras do seu contexto.
Respeitar os adversários, os colegas e resolver os problemas
com atitudes de diálogo e não violência.
Reconhecer e valorizar atitudes não preconceituosas quanto
aos níveis de habilidade, sexo, religião e outras.
Fonte: adaptado de Darido (2003),
Ao pensar na aula de educação física no contexto escolar, os conteúdos devem
estar sistematizados, respeitando os aspectos das dimensões citadas acima para uma
melhor organização e respectivamente um melhor aprendizado. A educação física está
vinculada à área de linguagens, sendo as brincadeiras e jogos uma das temáticas que
devem ser contempladas e que contribuem para o desenvolvimento das dimensões con-
ceitual, procedimental e atitudinal.
Alguns autores da área de educação física, como Freire (2002; 2003) e Scaglia
(2005), propõem as brincadeiras como parte integrante dos conteúdos da educação físi-
ca escolar. Sendo assim, tanto a brincadeira como os jogos devem ser vivenciados, fazen-
do parte do planejamento do professor, sendo estes contextualizados para que possam
ser explorados de uma maneira ampla e enriquecedora.
A organização das brincadeiras e dos jogos é importante, pois eles devem ser bem
contextualizados e estruturados de maneira que o aluno consiga compreendê-los. As-
sim, a Metodologia de Projetos sugere um início, o desenvolvimento e o fechamento das
atividades, como explicaremos melhor no tópico seguinte.
Experiências Docentes
262
Por que trabalhar com projetos?
Ao participar de um projeto, o aluno está envolvido em uma experiência educativa
em que o processo de construção de conhecimento está integrado às práticas vividas.
Esse estudante passa a desenvolver seu potencial global. Hernández (1998) diz que os
projetos representam uma nova postura pedagógica, coerente com uma nova maneira
de compreender e vivenciar o processo educativo, de modo a responder a alguns desa-
fios da sociedade atual.
Sendo assim, evidencia-se uma ruptura com a visão tradicional de educação.
Segundo o autor, trabalhar com projetos traz uma nova perspectiva para o processo
ensino-aprendizagem. Por meio dos projetos, aprender deixa de ser um simples ato de
memorização, e o ensinar significa construir conhecimento. Segundo Antunes (2001, p.
15) “um projeto é uma pesquisa ou uma investigação, desenvolvida em profundidade so-
bre um tema ou um tópico que seja interessante e se deseje aprender”. Ele acrescenta que:
A essência e chave do sucesso de um projeto é que representam um esforço investigativo,
deliberadamente voltado a encontrar respostas convincentes para questões sobre o tema,
levantados pelos alunos, professores” (ANTUNES, 2001, p. 15).
Antunes (2001) fala ainda que o objetivo de um projeto não é apenas procurar
respostas corretas e abrangentes, e sim aprender de modo expressivo o tópico estudado.
Embora o aluno seja o centro da aprendizagem, a orientação do professor no projeto é
de suma imporncia, pois viabiliza com amplitude desenvolver o uso das múltiplas in-
teligências e, dessa forma, os alunos podem se organizar para que, conhecendo melhor
suas competências, expressem os resultados de suas investigações.
Favorecer o contato entre os residentes e o trabalho com projetos mostra-se rele-
vante, pois, conforme Franks e Keller-Franco (2020), essa metodologia vem sendo lar-
gamente difundida na literatura pedagógica e nas diretrizes propostas no marco legis-
latório brasileiro; no entanto, ainda pairam dificuldades por parte dos professores em
trabalhar com essa abordagem.
Com base em pesquisa realizada com professores do ensino fundamental, as au-
toras concluem que as concepções dos docentes sobre a aprendizagem baseada em pro-
jetos carecem de uma fundamentação teórica consistente, o que acaba refletindo em
práticas distanciadas dos princípios fundantes dessa proposta. Dessa forma, reitera-se a
imporncia de oferecer aos residentes condições propiciadoras de vivências significati-
vas em relação ao trabalho com projetos.
Segundo Zaballa (2002), trabalhar com a Metodologia de Projetos proporciona uma
visão integrada, complexa e uma aprendizagem com enfoque globalizador. O autor defen-
de que, quando se fala de processos globalizados, os participantes têm um envolvimento
maior para chegar ao conhecimento de um tema que lhes interessa, para a solução de pro-
blemas do meio social ou natural que lhes instigam. A partir dessas reflexões foi possível
263
Projeto Alegria de Viver
pensar, elaborar e aplicar o projeto que denominamos “Alegria de viver: o resgate dos
jogos e construção de brinquedos da cultura popular nas aulas de educação física.
Este trabalho traz uma experiência vivenciada pelos residentes e preceptores
com as crianças nas aulas de educação física, experiência essa que proporcionou res-
gatar as brincadeiras populares, algumas que fizeram parte da inncia dos pais dos
envolvidos, pois tinha-se o interesse de valorizar as brincadeiras tradicionais sem o
uso de recursos e aparatos tecnológicos e a construção de brinquedos com materiais
alternativos e recicláveis.
Proposta de projeto realizado no PRP
Apresenta-se a seguir as linhas gerais do projeto desenvolvido:
Professores: Mara Ester da Silva, Sarah Fernandes de Souza Outeiro Gregol e Danilo
de Souza (preceptores); Admilson Gonçalves de Almeida e Magda Jaciara (docentes
orientadores).
Escola: Emef Professora Patrícia Maria Capelato Basso.
Tema: alegria de viver mediante resgate de brincadeiras da cultura popular.
Turma: alunos do fundamental I.
Quantidade de aulas: 8.
Componente curricular: educação física e artes.
Objetivo geral: proporcionar aos alunos o conhecimento e a vivência das brincadei-
ras e jogos populares na educação física escolar utilizando elementos do componente
curricular de artes.
Objetivos específicos: ampliar o repertório de aprendizagem e estimular a criativi-
dade, a curiosidade, a pesquisa e a solução de problemas frente aos desafios que sur-
girem; conhecer brinquedos e brincadeiras antigos e construir brinquedos da cultura
popular com materiais recicláveis.
Desenvolvimento do projeto
A ideia da construção do projeto “Alegria de viver” teve início com as obras do
artista plástico Ivan Cruz. Ele faz um resgate de brincadeiras e jogos da cultura popular,
sendo estes jogos de grande imporncia no processo de desenvolvimento das crianças.
Assim, foi proposto um trabalho de maneira contextualizada e interdisciplinar com a
área de artes, o qual tivesse mais sentido e um melhor significado.
Experiências Docentes
264
Na primeira etapa, foi sugerido aos alunos que fizessem pesquisas sobre o
artista e sua obra, e assim iniciamos a construção do projeto. Na segunda etapa, já
conhecendo a vida e obra do artista, perguntamos sobre as brincadeiras e os jogos
que gostavam e conheciam. Cada aluno falava o que já conhecia ou apresentava
os dados da pesquisa que tinha feito. Assim, era possível fazer um levantamento
dos conhecimentos prévios das crianças relacionados aos jogos e brincadeiras da
cultura popular para fazer a seleção dos conteúdos e atividades que poderiam ser
aplicadas no decorrer do projeto pedagógico.
Os alunos também fizeram uma pesquisa com os pais ou familiares mais velhos a
fim de saber quais as brincadeiras ou brinquedos que eles brincavam na infância e con-
feccionaram brinquedos reforçando a temática de resgate de brinquedos e brincadeiras
antigas ou folclóricas, como por exemplos: balagandã, bilboquê, peteca, vai e vem, pé de
lata, elástico, cama de gato, entre outros.
Na terceira etapa, com as brincadeiras e jogos já selecionados, começamos as vi-
vências. As atividades foram desenvolvidas em todas as turmas, sendo direcionadas de
acordo com as idades. Nesta etapa, as aulas se iniciavam com uma roda de conversa,
onde eram apresentadas as brincadeiras ou os jogos. Os alunos já traziam algum conhe-
cimento prévio elaborado por meio de pesquisas ou da sua experiência.
A aula era dividida em dois momentos. No primeiro, havia a prática dos jogos e
das brincadeiras; no segundo momento, era realizada a mesma brincadeira, porém com
uma nova proposta, inclusive com as sugestões dos próprios alunos e também dos resi-
dentes, visando instigar a curiosidade e a pesquisa, proporcionando uma multiplicidade
de ações desafiadoras que motivaram e estimularam a criatividade e a redescoberta dos
jogos e brincadeiras, gerando novas propostas e diferentes estratégias para solucionar
os desafios surgido durante as aulas. A releitura das brincadeiras incluía a possibilidade
de integrar outras disciplinas.
Algumas das brincadeiras desenvolvidas foram: brincadeira do ovo choco; pique-
-bandeira educativo; brincadeira da batata quente educativa; atividade de pular corda;
mãe da rua; corrida do saco; bobinhos goleadores; cabra-cega; gincana; que horas são,
senhor lobo?; alerta; coelhinho sai da toca (jogo cooperativo sem perdedores); dança das
cadeiras cooperativas (jogo cooperativo sem perdedores).
Na quarta e última etapa, todos os alunos já tinham vivenciado e criado outras
possibilidades de brincadeiras e jogos. Assim, junto com os residentes e com os alu-
nos, organizamos um fechamento do projeto. Desta maneira, foi enviado um convite
ao artista plástico Ivan Cruz. A ideia era aproveitar todo o material criado pelos alunos
no decorrer do projeto e organizar uma exposição na escola, da qual o próprio artista
estaria também participando.
O fechamento foi na escola e teve participação de todos os alunos, professores e
do artista Ivan Cruz, o qual foi recebido pelos alunos e apresentado à exposição em sua
265
Projeto Alegria de Viver
homenagem. O artista convidou os alunos para fazerem um trabalho conjunto, pintan-
do o muro da escola e registrando suas obras ali, de maneira que elas ficaram registradas
não só na memória dos alunos, uma vez que as mesmas atividades retratadas nas telas
foram vivenciadas nas aulas práticas na quadra de modo que tivesse um significado sem
alterar a dinâmica da brincadeira.
Considerões finais
A educação física escolar precisa, por intermédio das aulas, proporcionar aos es-
tudantes experiências diversificadas, bem como reflexões críticas que promovam novas
significações, compreensões e saberes sobre jogos e brincadeiras, atividades rítmicas
expressivas e dança, esporte, luta, ginástica, atividades circenses, mímica, entre outras.
Assim, torna-se igualmente importante que o docente de educação física promova,
a partir dos conteúdos tradicionais, uma ampla reflexão crítica sobre esses diferentes
discursos presentes na sociedade a fim de que o aluno possa agir autonomamente quan-
do decidir dentro ou fora da escola e ao longo da vida usufruir de práticas corporais a
partir de seus objetivos particulares como o lazer, a promoção da saúde, a melhoria da
aptidão física, a socialização e o bem-estar, entre outros.
A parceria firmada no PRP entre as escolas de educação básica e os cursos de
licenciatura em Educação Física do Unasp campus Hortolândia proporcionou para
o futuro docente conhecer a realidade educacional de uma escola pública municipal,
pois o residente foi colocado em contato com as questões decisivas do fazer profissional,
conduzindo-o a reflexões e ações formativas capazes de prepara-lo de maneira cada vez
mais efetiva para o exercício da profissão, proporcionando de maneira intensa a tão cara
relação teoria e prática na formação docente.
Foi nessa parceria entre professores e alunos que foi desenvolvido esse projeto
pedagógico no contexto escolar da educação básica, que proporcionou o aprendizado
e a pesquisa por parte das crianças, passando assim a ter real significado cada aula de
educação física. Os residentes tiveram a oportunidade de vivenciar uma metodologia
ativa de enfoque globalizador através do trabalho com projetos, e a proposta do PRP
se articulou com o currículo do curso de forma direta, pois este se pauta na apren-
dizagem da docência mediante a articulação teoria-prática valorizando os contextos
reais onde se dá o exercício da profissão como campo de conhecimento, visando a
formação de um profissional diferenciando que valoriza a ética e o respeito pelo ser
humano e o compromisso com a atualização constante mediante a busca por práti-
cas inovadoras que avalizem sobretudo alunos críticos, participativos e atuantes para
uma sociedade cada vez mais justa e inclusiva.
Experiências Docentes
266
Referências
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dificuldades e possibilidades. Perspectivas da Educação Física escolar, Niterói, v. 2, n. 1,
p. 25, 2001. Disponível em: https://bit.ly/3pzRJ7K. Acesso em: 04 out. 2022.
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FRANKS, F. F.; KELLER-FRANCO, E. Aprendizagem baseada em projetos: a concepção
de docentes. Revista Eletrônica Cientíca Ensino Interdisciplinar, Mossoró-RN, v. 6, n.
17, ago. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3owYgAI. Acesso em: 04 out. 2022.
FREIRE, J. B. Educação como prática corporal. São Paulo: Scipione, 2003.
FREIRE, J. B. O Jogo: Entre o Riso e o Choro. Campinas, SP: Autores Associados, 2002.
HERNÁNDEZ, F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto
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SCAGLIA, A. J. Jogo: um sistema complexo. In: FREIRE, J. B.; VENÂNCIO, S. (orgs.). O
Jogo dentro e fora da escola. Campinas: Autores associados, 2005.
ZABALA, A. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para o
currículo escolar. Porto Alegre: ARTMED, 2002.
Este trabalho sistematiza algumas das ações desenvolvidas no âmbito do PRP
(edital Capes nº 06/2018) com ênfase nas metodologias de cunho investigativo relacio-
nadas ao ensino de ciências. O grupo de trabalho foi constituído por quatro residentes
bolsistas, uma residente voluntária, uma professora preceptora (escola básica) e a do-
cente orientadora (universidade) e teve por objetivo discutir, entre outras perspecti-
vas, a inserção do Ensino de Ciências por Investigação (Enci) na escola fundamental,
bem como a introdução das crianças em processos autênticos de investigação científica,
engajando-as em tarefas de resolução de problemas, levantamento e teste de hipóteses,
sistematização e contextualização do conhecimento, visando uma efetiva aproximação
entre o universo da criança e a cultura científica.
O engajamento em atividades investigativas é apontado por Sasseron (2015)
como um caminho para a promoção da alfabetização científica (AC) na escola básica,
processo reconhecido como um dos objetivos centrais do ensino de ciências e possível
de ser efetivado desde os primeiros anos de escolarização. O foco principal da AC é o
envolvimento do aluno com processos científicos e engajamento em situações de toma-
da de decisões individuais e coletivas.
Pesquisas recentes, nacionais e internacionais, na área de ensino de ciências, sa-
lientam a imporncia de ressignificar o processo de ensino e romper com a adoção
de práticas tradicionais, priorizando o desenvolvimento de ações educativas capa-
zes de engajar os alunos em processos investigativos em sala de aula, possibilitando
O Programa de
Residência Pedagógica
no contexto do ensino de
ciências por investigação
CAPÍTULO 19
Tatiana Schneider Vieira de Moraes
Alice Helena Bertola
José Salustiano dos Santos
Camila Bigelli
https
://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p267-278
Experiências Docentes
268
a construção de conhecimento científico e almejando a formação crítica desse aluno,
enquanto cidadão participativo da sociedade em que vive.
O ensino de ciências por investigação pode ser compreendido como uma aborda-
gem didática possível de ser realizada com alguns conteúdos. Nesta perspectiva, o Enci
privilegia o papel ativo do aluno no processo de construção dos seus conhecimentos e
a mediação intencional do professor para que a aprendizagem seja efetivada a partir da
proposição de situações-problema, discussões, observação de fenômenos e engajamento
do aluno com processos científicos (SASSERON, 2015).
O desenvolvimento das atividades investigativas em sala de aula também favo-
rece a criação de um ambiente que estimula a comunicação entre alunos, e entre eles e
o professor, culminando com processos argumentativos, nos quais os alunos são con-
duzidos a formular hipóteses, criar argumentos para efende-los, propondo afirmati-
vas e reunindo fatos que direcionam a explicação das ações investigadas (SASSERON;
CARVALHO, 2011; SASSERON, 2015).
No conjunto dos estudos que enfatizam essa abordagem em sala de aula, Zompero
e Labaru (2011) destacam, a partir de uma alise de cinco pesquisas, que o desenvol-
vimento do ensino por investigação pode ser alcançado a partir de: um problema real a
ser analisado, emissão de hipóteses, planejamento para a realização do processo investi-
gativo, interpretação e, por fim, a comunicação das informações obtidas.
Carvalho (2013) defende a investigação em sala de aula, apontando abordagens
metodológicas que dialogam com essa discussão a partir da proposição de problemas
investigativos, levantamento e teste de hipóteses, resolução do problema de investigação,
análise e interpretação dos dados, construção de relações causais, explicação, socialização
dos conhecimentos construídos e registros. A autora propõe a criação de um ambien-
te investigativo em aulas de ciências, por meio da estruturação de Sequências de Ensino
Investigativas (SEIs) com o objetivo de conduzir os alunos no processo de construção de
novos conhecimentos. A autora aponta ainda que alguns elementos constitutivos da SEI
contribuem para instigar os alunos a partir de uma situação-problema, fazendo-os pensar
e propor soluções para a mesma, incluindo o uso de leituras de textos, atividades experi-
mentais, debates, atividades em grupo, produção de desenhos e textos, entre outros.
Para que essa proposta seja inserida no cenário escolar, as atividades investiga-
tivas precisam ser organizadas a partir do fomento de questões problematizadoras, as
quais se relacionem com aspectos da vida dos alunos, ou seja, problemas reais e desa-
fiadores que podem ser vivenciados e refletidos no contexto escolar, com a orientação
e mediação do professor. É necessário que os alunos se interessem pelo problema a ser
investigado, de forma a se sentirem motivados a resolvê-lo (ZANON; FREITAS, 2007;
ZOMPERO; LABARU, 2011).
Com a compreensão de que o Enci pode representar um caminho possível para
as propostas que almejam a alfabetização científica, emerge a questão central dessa
269
O Programa de Residência Pedagógica no contexto do ensino de ciências por investigação
investigação: como as atividades investigativas podem contribuir para o envolvimento
dos alunos com processos efetivos de alfabetização científica?
Partindo dessa perspectiva, este trabalho objetiva investigar se o ensino de ciências
por investigação contribui para inserção dos alunos dos anos iniciais do ensino funda-
mental em processos efetivos de alfabetização científica, a partir do desenvolvimento de
ações investigativas, intencionalmente planejadas. Dessa forma, buscamos compreender
a imporncia da escrita no contexto das atividades investigativas como uma ferramenta
inerente ao trabalho de construção de conhecimento em um processo investigativo.
Para tanto, foram empreendidas ações na escola-campo com o objetivo de articu-
lar os elementos do Enci com a escola básica, no contexto da alfabetização científica, a
partir da estruturação de duas Sequências de Ensino Investigativa (SEIs), pautadas nos
pressupostos de Carvalho (2013).
A análise dos dados sugere o engajamento dos alunos com situações de registros,
decorrentes de ações intencionalmente planejadas em um contexto investigativo, os
quais podem favorecer a inserção da criança em processos associados ao fazer cien-
fico, representados no recorte desta análise pela necessidade da criança escrever e
comunicar seus achados.
Desenvolvimento
No contexto do Programa da Residência Pedagógica, a investigação foi estrutura-
da com um enfoque predominantemente qualitativo (LÜDKE; ANDRÉ, 2018). Os da-
dos gerados e selecionados para a alise circunscrevem uma abordagem de estudo de
caso, na medida em que ocorre a busca pela compreensão da observação detalhada em
cooperação com os participantes (BOGDAN; BIKLEN, 1994). Os dados gerados tam-
bém permitem a alise e interpretação de fatos e fenômenos exatamente como ocorrem
no real, oriundos da produção de dados, com embasamento numa fundamentação teó-
rica consistente, objetivando compreender e explicar o problema pesquisado, conforme
orientam Lüdke e André (2018).
Importa destacar que os princípios éticos foram adotados com o envio e recolhi-
mento de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) dos pais
dos alunos, bem como os nomes dos sujeitos e da escola-campo foram preservados.
Com base no referencial teórico e metodológico do ensino de ciências por in-
vestigação, foram estruturadas duas regências, as quais foram aplicadas na escola-
-campo em uma turma de 3º ano e em uma turma de 5º ano do ensino fundamental.
A constituição da Sequência de Ensino Investigativa (SEI) foi um processo oriundo
de encontros recorrentes entre a docente orientadora, os alunos residentes, a profes-
sora preceptora (5º ano) e a professora do 3º ano. As temáticas foram sugeridas pelas
Experiências Docentes
270
professoras das turmas em questão por corresponderem aos tópicos do conteúdo pro-
gramático a serem ministrados.
A organização da SEI (CARVALHO, 2013) compreende um conjunto de ativi-
dades, intencionalmente planejadas, envolvendo um conteúdo escolar e organizado
de modo a privilegiar as discussões dos alunos durante a resolução de problemas,
permitindo o levantamento de hipóteses, a sistematização do conhecimento e o re-
gistro das atividades realizadas. O quadro 1 sistematiza as ações desenvolvidas na
SEI aplicada no 3º ano.
Quadro 1 – SEI aplicada na turma do 3º ano do EF.
TÍTULO: A Classicação dos Seres vivos”
Problema de investigação: Como podemos classicar os seres vivos?
AULA 1
Conversando sobre os seres vivos e não vivos do mundo: apresentação do problema de
investigação, passeio pesquisa e registro.
AULA 2
Conhecendo o grupo dos artrópodes: leitura de livro, atividade de classicação dos
artrópodes e registro das ações.
AULA 3
Classicando o reino animal: atividade de classicação com imagens de diferentes
animais (habitat, locomoção, alimentação, cobertura do corpo e reprodução), circuito
de animais (hamster, peixe, gato, lula, camarão, minhoca, larvas de besouro, tartaruga,
pintinho).
AULA 4
Classicação do reino vegetal: passeio pesquisa para coleta de folhas, leitura de texto
sobre classicação das folhas e registro.
AULA 5
Evidenciando o processo da fotossíntese: realização da atividade experimental e investi-
gativa sobre a fotossíntese, leitura de texto e registro.
AULA 6
Conversando sobre classicação e aplicação do jogo: atividade utilizando chave dicotômi-
ca de classicação de animais e plantas, seguida de leitura de texto sobre cadeia alimen-
tar e realização de atividade lúdica sobre Jogo da cadeia alimentar” e registro.
Fonte: elaborado pelos autores (2019)
Na sequência são destacados os elementos que sistematizam as ações desenvolvi-
das na SEI aplicada no 5º ano (Quadro 2).
271
O Programa de Residência Pedagógica no contexto do ensino de ciências por investigação
Quadro 2 – SEI aplicada na turma do 5º ano do EF
TÍTULO: “Magnetismo”
Problema de investigação: Como os imãs funcionam?
AULA 1
Conversa inicial sobre o tema e seu contexto; aplicação do questionário diagnóstico para sistematizar
as dúvidas e o conhecimento anterior das crianças; roda de conversa e formação de grupos para
manuseio dos kits de experimentação (imãs e magnetismo).
AULA 2
Conversa inicial sobre as atividades desenvolvidas na aula anterior; aplicação de um texto de sistema-
tização de conhecimento “O funcionamento do ímã (NESSMANN, 2006); discussão de curiosidades
relacionadas ao tema “magnetismo e ao funcionamento do ímã (apresentação de vídeo e PPT).
AULA 3
Apresentação da história sobre a cidade de Magnésia e sobre a magnetita; proposta de desenvol-
vimento de uma história em quadrinhos (HQ) sobre o magnetismo; Pesquisa para a casa: bússola
inventada pelos chineses.
AULA 4
Apresentação e discussão da pesquisa realizada sobre a bússola; entrega das HQs; realização da
atividade experimental 1 “Campo magnético”: recipiente de vidro (cuba) e barquinho feito com tam-
pinhas de refrigerantes e ímãs pequenos; Realização da atividade experimental 2 “limalha de ferro .
AULA 5
Continuidade das discussões sobre campo magnético com a atividade experimental 3 “Futebol
magnético. Foi organizado um torneio acerca da proposta da atividade e registro individual por parte
dos alunos..
AULA 6
Leitura do texto de sistematização “Curiosidade Magnética (CARVALHO, 2019); discussão sobre polos
magnéticos e polos geográcos; atividade prática com manuseio de bússola; apresentação e simula-
ção através de planeta Terra confeccionado com bola de isopor.
AULA 7
Realização de um jogo com características de Rolling Playing Game (RPG) sistematizando o con-
teúdo de todas as atividades desenvolvidas durante a regência; organização e seleção das equipes;
Realização das etapas iniciais do jogo mesclando resolução de enigmas e simulação de teatro acerca
do jogo “Caça ao tesouro” com atividades externas; Utilização de informações ligadas ao magnetismo
e utilização da bússola para a fase nal do jogo.
Fonte: elaborado pelos autores (2019)
A partir da aplicação das regências, foram obtidos dados na forma de registros das
crianças (desenho e escrita), os quais foram agrupados e analisados com base em eixos
temáticos estruturados a partir das similaridades entre os agrupamentos realizados. Os
Experiências Docentes
272
eixos temáticos são: 1) registros de classificação; 2) registros de atividade experimental;
3) registros de perguntas; 4) registro de atividade lúdica; 5) registros de texto histórico.
Os registros produzidos pelos alunos ao término das atividades desenvolvidas nas
SEIs foram analisados com base nos eixos propostos, sendo que a presença do eixo “re-
gistros de classificação” ficou evidente na escrita produzida por uma aluna, após a sepa-
ração dos materiais encontrados no passeio-pesquisa, no qual apresenta suas hipóteses
sobre a classificação dos seres vivos (animais e plantas) e dos seres não vivos na 1 ª aula
da SEI do 3º ano (Figura 12).
A análise indica que, dentre as hipóteses da criança, a pena foi classificada como
um elemento do “grupo das plantas”, ou seja, do reino vegetal. Essa confusão é plausível
e aceitável para a idade, uma vez que esses conhecimentos estão sendo construídos e
consolidados pela criança, e observar a pena como um elemento isolado pode dificul-
tar a visualização do animal como um todo. Por isso entendemos que as atividades
de classificação são potentes para trabalhar os conceitos científicos, pois favorecem o
ordenamento dos dados.
Jiménez-Aleixandre, Rodríguez e Duschl (2000) apresentam um conjunto de ope-
rações epistemológicas (indução, dedução, causalidade, definição, classificação, apelos,
consistências e plausibilidade) que orientam a construção dos argumentos utilizados
pelos alunos, os quais contribuem para a inserção na cultura científica e no entendi-
mento dos diferentes aspectos das ciências, bem como no engajamento em discussões
que envolvam temas científicos. Nesse entendimento, os autores apontam a classificação
como uma operação epistemológica para se fazer ciência na medida em que possibilita o
agrupamento de objetos ou organismos de acordo com critérios preestabelecidos.
Sasseron e Carvalho (2008) propõem os indicadores de alfabetizão científica,
nos quais a “classificação de informações” (p. 338) integra um conjunto de indicadores
relacionados ao trabalho com os dados obtidos em uma investigação. As autoras apon-
tam que o ato de classificar informações “constitui-se em um momento de ordenação
dos elementos com os quais se está trabalhando procurando uma relação entre eles” (p.
338). Como apontado pelos autores, classificar não é um único elemento do processo
de AC, mas representa uma habilidade importante que, somada a tantas outras em um
processo investigativo, pode contribuir para elevar os níveis de consciência das crianças
e o envolvimento crescente com a aquisição de significados da linguagem das Ciências.
Na sequência das análises, a discussão se voltou para os registros realizados de-
pois das ações práticas e investigativas. Após a realização do experimento sobre a fotos-
síntese na aula 5 da SEI do 3º ano, as crianças fizeram o registro dessa atividade e o eixo
registro de atividade experimental” fica evidente (Figura 13).
O registro apresenta vários elementos que foram utilizados para a elaboração
do experimento da fotossíntese. A criança descreve os passos realizados durante o
desenvolvimento da experiência, incluindo aspectos relacionados às conclusões finais
273
O Programa de Residência Pedagógica no contexto do ensino de ciências por investigação
observadas pelo grupo. Importa destacar que, apesar de ser um registro individual, a
criança reforça o caráter coletivo da construção do experimento quando utiliza todos
os verbos na terceira pessoa do plural.
Silva (2017) aponta que os registros classificados como “relatos de experimentos”
representam um gênero textual típico da cultura científica e apresentaram mais indícios
da interação dos alunos com a cultura científica, uma vez que evidenciaram, de forma
mais relevante, o uso da escrita enquanto elemento do fazer científico.
A presença do eixo “registro de perguntas” fica evidente na 1ª aula da SEI reali-
zada no 5º ano sobre magnetismo, após a interação do grupo com o kit experimental
(Figura 14).
As perguntas dos alunos refletem as dúvidas que eles possuem sobre o conteúdo
a ser estudo e reafirmam o potencial investigativo da proposta em desenvolvimento,
uma vez que os problemas propostos precisam fazer sentido para os alunos. Sasseron
e Carvalho (2008, p. 339) classificam a pergunta como um indicativo do processo de
levantamento de hipóteses por parte do aluno que “pode surgir tanto da forma de uma
afirmação como sendo uma pergunta (atitude muito usada entre os cientistas quando se
defrontam com um problema).
Munford e Lima (2007) afirmam que nem todas as perguntas efetivadas em
sala de aula possuem natureza investigativa. O mote central envolve a mediação do
professor para saber conduzir os alunos no processo da investigação, ora propondo
questões, ora direcionando a elaboração dos questionamentos dos alunos engajados
no processo investigativo.
No contexto da regência do PRP, os residentes propuseram um momento de siste-
matização de questões por parte das crianças, de modo a inseri-las no processo investi-
gativo, considerando suas dúvidas e hipóteses iniciais sobre os fenômenos que observa-
vam. O eixo “registro de atividade lúdica” ficou evidente quando as crianças registraram
a atividade de futebol magnético realizada na 5ª aula da SEI sobre magnetismo.
As atividades lúdicas compuseram a SEI sobre magnetismo em vários momentos,
no sentido de ampliar a interface estabelecida entre o ato de aprender ciências e a moti-
vação dos alunos como apontam Trivelato e Silva (2011). As autoras também enfatizam
que o jogo pressupõe o emprego de diversas linguagens, articulação entre diferentes
conceitos e áreas, envolvimento com o desafio proposto, bem como o estímulo à socia-
bilização, cooperação e busca por soluções criativas. Assim, os jogos dessa sequência
foram estruturados de modo a fornecer regras para o seu desenvolvimento ao mesmo
tempo em que envolvessem os alunos com alguns conceitos científicos.
O eixo “registros de texto histórico” foi analisado a partir da elaboração da histó-
ria em quadrinhos que foi produzida pelos alunos na aula 3 da SEI sobre o magnetismo,
sendo essa motivada pela leitura de um texto histórico e discussões sobre a descoberta
do ímã (Figura 16).
Experiências Docentes
274
O uso da história da ciência na educação, sobretudo nos anos iniciais, é um ele-
mento a ser explorado com vistas a ampliar a discussão sobre a natureza da ciência e a
percepção mais honesta do trabalho do cientista. Andrade e Martins (2009) apontam
que o estudo de episódios históricos contribui para que o aluno construa uma visão
mais adequada sobre o processo de construção do conhecimento científico e perceba
a ciência não como um ente isolado, mas sim como um componente de um contexto
histórico que sofre influências políticas e sociais, desmitificando a ideia da ciência como
algo atemporal e mágico.
Após alises dos registros produzidos pelos alunos, foi possível perceber o en-
gajamento em processos científicos a partir da resolução de problemas, levantamento e
teste de hipóteses, exploração de materiais, coleta de dados, discussões orais e registro
de informação. Moraes e Carvalho (2017) apontam que, ao vivenciar esse processo de
investigação e fazer uso de diferentes linguagens da ciência, a criança passa a desenvol-
ver habilidades essenciais para o fazer científico, as quais possuem relação direta com
processos de AC, bem como possibilitam a formação de novos conceitos científicos.
Considerões finais
As ações vinculadas ao PRP tiveram como foco o ensino, sobretudo o ensino de
ciências por investigação, mas também possibilitaram a inserção do aluno residente em
contextos amplos de articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão.
Este estudo apresenta capilaridade tanto para a instrumentalização teórica e práti-
ca dos licenciandos envolvidos no contexto da formação inicial como dos professores da
escola básica, que passam a vivenciar novas propostas metodológicas em um contexto de
formação continuada. Essa constatação evidencia as possibilidades de interface entre o
conhecimento produzido na universidade e o conhecimento trabalhado na escola básica,
de modo a vencer as barreiras impostas nesse processo. Evidencia também a constante
necessidade de reflexão sobre a formação e profissionalização do professor em formação e
do professor em exercício. Ademais, os alunos da escola também são favorecidos, uma vez
que se beneficiaram das atividades propostas, intencionalmente planejadas, com o intuito
de articular a promoção da AC a partir do fomento de ações investigativas.
As duas sequências de ensino investigativas aqui apresentadas, estruturadas no con-
texto da regência do PRP, foram potentes para engajar os alunos em tarefas de resolução
de problemas, levantamento de hipóteses, comunicação e compreensão de fenômenos. O
desenvolvimento dessas sequências possibilitou a coleta de dados através das represen-
tações dos registros dos alunos, pois, ao propor uma tarefa de registrar uma situação de
275
O Programa de Residência Pedagógica no contexto do ensino de ciências por investigação
aprendizagem, o repertório do aluno se expande de modo significativo e esses registros
podem expressar evidências do conhecimento adquirido durante as atividades realizadas.
Com essa perspectiva, as SEIs desenvolvidas contemplaram atividades de leitura
e escrita relacionadas com atividades de investigação e experimentação, pesquisa, ativi-
dades lúdicas, sistematização e discussão de conceitos estudados. A relação entre essas
diferentes estratégias se apresenta como uma proposta inovadora para o processo de
ensino e aprendizagem de ciências, na medida em que mobiliza diversas formas do pen-
samento e possibilita o engajamento dos alunos com diferentes estratégias de ensino. O
trabalho investigativo, assim organizado, valoriza o protagonismo da criança durante o
processo de formação de conceitos cienficos.
Ademais, importa destacar a ação autônoma dos residentes na condução das re-
gências, intencionalmente planejadas, bem como na percepção da sala de aula como um
espaço para a construção de conhecimento para o aluno e de pesquisa e de desenvolvi-
mento profissional para o professor, como evidencia Garrido (2018). Dessa forma, a au-
tora complementa que tal constatação somente é possível a partir do momento em que o
professor reconhece suas práticas pedagógicas como um objeto de alise e reflete sobre
a articulação entre as alternativas que qualificam o ensino e melhoram a aprendizagem.
Assim, fundamentados pelo referencial teórico e metodológico do ensino de ci-
ências por investigação, foi possível construir, no âmbito do PRP, situações educativas
capazes de oferecer condições para que professores em formação se apropriem de pro-
cedimentos e referenciais que o instrumentalizem como “um investigador e produtor de
conhecimento sobre o ensino” (GARRIDO, 2018, p. 128). A autora complementa argu-
mentando sobre a necessidade de o professor romper com antigas “certezas pedagógi-
cas” e vivenciar um processo de mudança epistemológica, em que a criticidade seja um
elemento essencial para a promoção de novas práticas pedagógicas.
Por todo o exposto, foi possível evidenciar a articulação entre a universidade e
a escola básica, no âmbito do PRP, a partir da promoção de ações de pesquisa, exten-
são e ensino que, de fato, alcançaram a escola. O Programa nos permitiu vislumbrar
possibilidades de formação de professores que usam a criatividade e a inovação como
estratégia para romper com práticas pedagógicas tradicionais e conceber o Enci como
uma abordagem metodológica possível para a promoção do pensamento crítico e do
protagonismo dos alunos.
Experiências Docentes
276
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Em meados de 2018, o Brasil colhia os frutos de um pós-impeachment e a desilu-
são de um governo transitório enfraquecido por denúncias contundentes de corrupção
na mídia jornastica. Esse período foi marcado por uma crise política que se arrastava
desde 2013 com fortes reflexos na economia nacional (SÁBER, 2018) e foi intensificado
por greves nas universidades federais. A falta de uma política nacional norteadora para
qualidade do ensino básico e ensino superior produziram uma sensação de desalento
(FARIAS; SILVESTRE; JARDILINO, 2017). Para agravar tal panorama, o país expe-
rimentava uma expansão rápida de cursos EAD, atingindo especialmente as licencia-
turas e Pedagogias com a abertura do campo educacional para grandes corporações
internacionais na área da educação.
Nos últimos anos, os cursos de licenciaturas têm vivenciado uma crise estru-
tural que perpassa pela desvalorização do professor, achatamento salarial que se re-
fletiu na redução da atração da carreira do magistério por parte da classe média. A
realidade da redução da demanda por licenciaturas presenciais e a oferta na moda-
lidade EAD começaram a atrair de modo crescente jovens de camadas subalternas
com pouco acesso aos cursos elitizados e tendo como única opção e utopia seguir a
carreira de professores que nas escolas públicas, se tornaram referencial existencial,
humano e motivacional (FECOMÉRCIO, 2020).
Nesse contexto de incerteza e esperança, foi lançado o Programa da Residência
Pedagógica, doravante citado pelas iniciais PRP, com um edital que incluía a previsão
de descontinuidade em caso de falta e recursos, o que felizmente acabou não ocorrendo
Fizemos história em
Engenheiro Coelho:
impactos da Residência
Pedagógica
CAPÍTULO 20
Elder Hosokawa
Rebeca Pizza Pancotte Darius
Thais Gonçalves Silva
Giza Guimarães P. Sales
https://doi.org/10.36311/
2023.978-65-5954-332-8.p279-294
Experiências Docentes
280
e o PRP foi concluído com êxito. O calenrio indicava início em agosto de 2018 e final
em janeiro de 2020, perfazendo um total de dezoito meses de duração do Programa,
com estrutura organizacional e remuneração semelhantes ao Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), que o governo federal, através da Capes e do
Ministério da Educação, idealizou e implementou em 2007. Vale lembrar que o curso
de Pedagogia da Unifesp desenvolveu o piloto do PRP em 2006 e 2007 (GATTI, 2019).
Os indicadores internacionais e nacionais apontavam para a educação brasileira em
situação de falência; com isso, setores suprapartidários começaram a se mobilizar com
a convicção generalizada da educação como necessária prioridade de governo, seja pela
meta social de inclusão ou dos que focam o desenvolvimento econômico do país (LIMA,
2020). Com aprovação pela Capes e início em 2018, o PRP foi visto como um alento aos
cursos formadores de professores, num contexto de enorme incredulidade e desalento.
O curso de licenciatura em História do Centro Universitário Adventista de São
Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho, estava prestes a completar uma década de
existência, estando situado numa instituição confessional de médio porte, tricampi,
com quase 17 mil estudantes, além dos estudantes que iniciavam os cursos na modali-
dade a distância, cuja primeira oferta ocorreu em 2018 em 68 polos incluindo Pedagogia
e Letras, entre outros.
O Centro Universitário Adventista, embora criado em 9 de setembro de 1999, com
presença na cidade de São Paulo, Hortolândia e Engenheiro Coelho, iniciou em sua sede
na zona Sul de São Paulo, como um empreendimento educacional da Igreja Adventista
do Sétimo dia em 1915, denominado Semirio Adventista, numa extensa área rural e
como uma escola formadora de missionários pastores, por meio do curso teológico, e
professoras, por meio do curso normal, para disseminarem a pregação adventista no
Brasil (HOSOKAWA, 2001). Apenas em 1973, fundou-se o primeiro curso superior, na
área da educação, com a Faculdade Adventista de Educação (FAED), que oferecia o cur-
so de Pedagogia e posteriormente demais licenciaturas que foram se expandindo nos
anos 1980 (SALES, 2019).
Com uma filosofia que pregava o afastamento dos grandes centros urbanos, preo-
cupada com a formação espiritual de seus egressos, em 1983 começou a implantar num
dos municípios mais distantes da região metropolitana de Campinas, região de Artur
Nogueira, que surgiu nas proximidades de um projeto do governo estadual de estabele-
cimento de núcleos coloniais no final do século 19 (RABELLO, 1990).
O Unasp campus Engenheiro Coelho-Artur Nogueira surgiu próximo desses mu-
nicípios que acabaram interligados a partir de 1961 com a crise da ferrovia e o avanço
das rodovias locais (FROMBERG-FERREIRA, 2011). A partir de 1983, o Unasp se de-
senvolveu numa extensa área rural entre os limites dos dois municípios. Vários cursos
foram implantados, perfazendo cerca de quinze, sendo quatro na área da educação e Li-
cenciaturas: Pedagogia, Letras, Música e História, que começou em 2010 (KUHN, 2013).
281
“Fizemos história em Engenheiro Coelho”: impactos da Residência Pedagógica
Atualmente o Unasp campus Engenheiro Coelho é uma instituição com quase 5
mil estudantes e cerca de 1.500 estudantes residentes oriundos de mais de vinte estados
do Brasil. Possui o regime de internato e externato. Em agosto de 2012, estimulou o
ingresso no Pibid e, desde então, vem participando de toda as edições com produção de
relatos e experiências marcantes para docentes e discentes envolvidos em experiências
exitosas entre 2012 e 2019, desenvolvendo ricos projetos sobre história e diversidade e
uso de jogos em sala de aula (SCHUNEMANN, H. E. A.; QUADROS, 2017).
Uma das premissas do PRP era a reformulação dos estágios supervisionados nos
cursos de formação de professores, por meio da integração entre os conhecimentos aca-
dêmicos e práticos de maneira inovadora, como se percebe: “Aperfeiçoar a formação
dos discentes de cursos de licenciatura, por meio do desenvolvimento de projetos que
fortaleçam o campo da prática e conduzam o licenciando a exercitar de forma ativa a
relação entre teoria e prática profissional docente” (BRASIL, 2018, p. 1).
A execução do Programa se daria a partir da articulação entre as instituições
formadoras de ensino superior, as IES, e as escolas públicas parceiras, denominadas
escolas-campo, por meio do desenvolvimento de um Projeto Institucional e demais sub-
projetos separados por áreas. No caso do curso de História do Unasp, o subprojeto de
caráter interdisciplinar foi composto junto ao curso de Música, sendo que cada curso
atuou nas suas especificidades. O subprojeto de História foi proposto e desenvolvido
pelo docente orientador, também coordenador do curso de História, alunos do curso de
História selecionados como bolsistas residentes, além de contar com o acompanhamen-
to do preceptor, professor da escola estadual parceira, localizada no município de En-
genheiro Coelho. A participação do coordenador como docente orientador voluntário
foi motivada pelo desejo de apresentar o curso como estratégico para o Unasp do ponto
de vista da formação de profissionais pesquisadores, e com uma vivência de estágio que
atingisse as necessidades dos egressos atuarem nas escolas públicas e privadas.
Contexto histórico do
município de Engenheiro Coelho
O PRP foi aplicado no município de Engenheiro Coelho, que conta com uma po-
pulação estimada em pouco mais de 20 mil habitantes, apresentando o terceiro me-
nor índice de desenvolvimento humano da região metropolitana de Campinas. (IBGE,
2018), o município carece de iniciativas do poder público para melhorias nos diversos
setores da sociedade, incluindo o educacional.
A história local conhecida remonta ao século 16, à tribo dos Kayng, que resis-
tiram à chegada do donio português e à escravidão indígena impetrada pelas ban-
deiras no século 17 (MELIÁ, 1987). A população nativa nas imediações de Limeira e
Experiências Docentes
282
Mogi Guaçu foi lentamente desaparecendo com assimilação, massacres, após sucessivos
confrontos no século 18. A produção açucareira e de farinha localizada e pontual foi
substituída pela extensa monocultura cafeeira no século 19. Ainda no tempo do império,
para o interior paulista foram trazidos escravos de diversas etnias da África e do Nor-
deste e submetidos ao trabalho compulsório.
A chegada de investimentos de capital inglês e norte-americano ao estado de São
Paulo fez estender a malha ferrovria até Guaiquica, onde uma estação foi inaugura-
da, construída pela companhia Estrada de Ferro Funilense (1891-1921) e desativada
em 1961 (EVANGELISTA, 2018).
As queimadas para preparo da terra para a lavoura, a exploração predatória
de madeira e lenha para a construção da via férrea e carvão para movimentar as
locomotivas a vapor geraram intenso desmatamento na região desde final do século
19 entre Campinas e Guaiquica (MARCONDES, 2006). A introdução da citricultura
nos anos 1920 na região entre Limeira e Engenheiro Coelho trouxe outro desafio:
a concentração residual de substâncias organocloradas no solo e lençol freático de-
corrente de décadas de usos de agrotóxicos nas plantações de laranja. Ainda nos
dias atuais, a queima de cana se constitui num importante agravo à saúde da popu-
lação nos meses de inverno.
No início do século 20, as terras de Guaiquica pertencentes a Joaquim Cardoso de
Moraes foram compradas por um imigrante belga, dando origem à Fazenda São Pedro,
dedicada ao cultivo de cana-de-açúcar, algodão e café, transformando-se num próspero
bairro rural de Mogi-Guaçu. Ali, em 22 de outubro de 1909, foi estabelecida a Escola Mas-
culina de Guaiquica, sob a condução inicial do professor João Baptista de Almeida. No
dia 13 de agosto de 1919, foi anunciada a indicação da professora Theodolina Gonçalves
Dias para a nova Escola Mista de Guaiquica, segundo prescrição da lei 1.579, Art. 48, de
19/12/1917, que transformou as escolas masculinas em escolas mistas, estendendo às meni-
nas a oportunidade da alfabetização (CORREIO PAULISTANO, 1909; 1919).
O município de Mogi Mirim foi desmembrado em 1948, e Guaiquica, futura En-
genheiro Coelho, passou a ser administrada por Artur Nogueira até 1991 (FERREIRA,
L.; FERREIRA, S., 2000). Na gestão do governador Jânio da Silva Quadros, em 22 de
junho de 1957, foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo o decreto-lei
4.249 oficializando o grupo escolar que levou o nome de uma personalidade política
local e proprietário das terras de influente falia local (HEFLINGER JÚNIOR; FA-
VERO, 2011) em cuja escola foi idealizado o presente PRP e tem sido utilizada desde
agosto de 2012 como campo de atividades de extensão, estágio e Pibid do curso de
licenciatura em História e Letras. Engenheiro Coelho possuía duas escolas de educa-
ção básica privadas e uma escola estadual com oferta de ensino fundamental e médio;
quatro CEIs, três Emeiefs e uma Emef. As escolas públicas, incluindo o Programa
283
“Fizemos história em Engenheiro Coelho”: impactos da Residência Pedagógica
Educação de Jovens e Adultos (EJA) no início do ano letivo de 2018 somaram 3.800
crianças, adolescentes, jovens e adultos.
Em Engenheiro Coelho, entre 2005 e 2015, o Índice de Desenvolvimento da Edu-
cação Básica (Ideb), embora tenha sofrido oscilações, indicou crescimento de 3,6% em
2005, para 4,9% em 2015, levemente superior à taxa projetada de 4,8% para 2015. O
último Ideb (Anos iniciais do ensino fundamental) apresentou o índice de 5,4% e nos
anos final a taxa de 4,9%. Para 2019, a meta era de 5,8% e o alcançado foi 5,9. Na busca
por melhorias no Ideb como reflexo de uma sociedade em desenvolvimento, Enge-
nheiro Coelho estabeleceu em 2015 algumas metas no Plano Municipal de Educação
(ENGENHEIRO COELHO, 2015).
Experiência do subprojeto de História
no PRP: relatos de um percurso
Buscando dialogar com o PME-EC, o subprojeto de História teve como foco as
seguintes ações:
Desenvolver projetos que contemplem a história da cultura afro-brasileira e
indígena;
Promover a articulação entre as áreas da educação com a saúde, trabalho e
emprego, esporte e cultura;
Analisar as práticas pedagógicas e sua interação e sintonia com os materiais
didáticos;
Desenvolver projetos sobre valores, cidadania, preservação do ambiente esco-
lar, ética, ecologia.
O PRP foi planejado dentro do debate atual na área de ensino de história – em
sintonia com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e com as orientações da
BNCC – que prevê a inclusão da diversidade cultural, da valorização da memória e da
história e o meio ambiente.
Os documentos referenciais do ensino no Brasil indicam uma preocupação com
a transmissão da memória e da história, confirmando o que Le Goff (1990) diz acerca
do valor da memória para sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento. Há também
preocupação com a formação do indivíduo, o respeito as diferenças étnico-culturais
Experiências Docentes
284
num país miscigenado e a formação de educandos que se percebam integrantes de uma
sociedade e conscientes de seu papel histórico-social.
Educadores e historiadores da área de ensino e metodologia de história defendem
que, para atingirmos os objetivos, competências e habilidades propostas hoje no ensino
da disciplina de história precisamos cada vez mais de um professor reflexivo, disposto
a investir sempre em novas metodologias e estabelecer, de fato, um dlogo com os dis-
centes (BITTENCOURT,1997; GUIMARÃES, 2003; KARNAL, 2010).
A integração das Diretrizes Nacionais Curriculares de Música e História e a pro-
posta da Base Nacional Comum Curricular impunham desafios para a integração práti-
ca dos cursos parceiros História e Música no subprojeto autorizado pela Capes.
Dentre as ações previstas, ocorreram aquelas que independiam do sucesso da jun-
ção de ambos os cursos, como:
Diagnóstico dos desafios de aprendizagem e as demandas da escola;
Participação, integração dos residentes na vida escolar e identificação com a
atividade da docência;
Escrita e registro das experiências dos residentes no ambiente virtual ou fí-
sico e/ou relatórios físicos presenciais de acompanhamento do preceptor da
área de história;
Divulgação das práticas e experiências dos residentes em seminários no curso
de graduação com acesso dos preceptores e interessados da comunidade;
Divulgação das práticas e experiências nas redes sociais;
Desenvolvimento de habilidades na seleção e produção de materiais didáticos;
Produção de relatos de experiência pelos residentes em formato científico
e divulgado nos anais dos seminários e congressos internos e externos da
área de ensino.
Com uma média de noventa alunos matriculados no curso, em seis meses de inte-
gralização, foi um desafio alcançar 24 estudantes para concorrer ao edital. Como havia
previsão de junção de cursos diferentes, História fez parceria com Música e seu projeto
foi aprovado, inicialmente para ser levado a efeito com a turma de Música.
Logo nas primeiras reuniões, percebeu-se que o município de Engenheiro Coelho
só possuía uma escola pública de ensino fundamental II. Os estudantes do curso de
285
“Fizemos história em Engenheiro Coelho”: impactos da Residência Pedagógica
Música já atuavam em estágios nas escolas municipais de educação infantil e funda-
mental I e, assim, espalharam-se pela cidade.
Embora conteúdos e metodologias apontassem para afinidades no projeto de músi-
ca e história, com amplas possibilidades de intervenção nas salas de aula, verificou-se uma
barreira estrutural para a aplicação do subprojeto de história e música, pois esta última
não estava contemplada no ensino fundamental II e ensino médio; não havia meios de
efetivar o subprojeto e optou-se, então, que cada graduação seguisse seu caminho.
O grupo de história optou por buscar a integração do currículo oficial com a his-
tória regional, com ênfases em temas de meio ambiente, diversidade e inclusão, com a
ressignificação da formação docente. E, assim, os residentes elaboraram seus planos
de atividade em busca de referenciais teóricos amparados nas metodologias ativas en-
volvendo iconografia, música e mídias. Alguns elementos percebidos no momento da
ambientação e diagnóstico da realidade foram ganhando destaque perante os residentes,
momento esse considerado importante para a imersão posterior no ambiente escolar
com as intervenções (BRASIL, 2018).
O próprio prédio e algumas construções históricas bem descaracterizadas fo-
ram provocações instigantes para dlogo curricular com a história local e outros
campos do saber. A paisagem marcada pelo cultivo da cana-de-açúcar, pelo plantio
de laranja, milho e mandioca há mais de um século, rica nomenclatura local com
nomes indígenas, a letra do hino e o brasão do município com uma rica simbologia
econômica e cultural remetiam a aspectos do povoamento local, fases econômicas,
tecnologia e transporte.
Processo de imersão dos residentes:
desafios, limites e possibilidades
A etapa da imersão dos residentes na escola revelou grande tensionamento de
uma instituição que atende estudantes no limite de sua capacidade física, uma vez
que o edifício escolar fora construído em 1959 dentro de uma conceito arquitetônico
singular do governo Jânio Quadros na década de 1950, numa concepção modernista
(HADLICH, 2009).
Uma sucessão de reformas e adaptações ao longo de décadas desfiguraram o pro-
jeto de setenta anos, enclausurando a escola entre paredes com o erguimento de exten-
sos muros e concertina para melhorar a segurança de suas instalações, construídas nos
limites da praça central da cidade, ocupando boa parte de um quarteirão, numa pro-
priedade escolar delimitada por três ruas centrais. O pátio era reduzido para atividades
práticas, a quadra utilizada pela educação física, tudo no limite da capacidade.
A inexistência de auditório na escola e na cidade, bem como a disncia do Unasp
implicou em uma série de dificuldades logísticas, uma vez que boa parte dos alunos da
Experiências Docentes
286
IES são alunos pertencentes ao regime de internato (moram dentro da instituição) e ou-
tros residem nas proximidades da instituição, que dista cerca de 10 km da região central
de Engenheiro Coelho. Do grupo dos bolsistas residentes, não havia nenhum morador
na área da escola, metade residia no Unasp e em bairros vizinhos ao complexo univer-
sitário. Para chegar até a escola, os residentes dependiam de caronas ou do transporte
público cedido pela prefeitura municipal para os estudantes da rede pública que, em
caráter excepcional, foi estendido aos residentes.
Outro desafio ao projeto foi a atribuição de carga horária do preceptor no período
da tarde e manhã apenas com turmas do sétimo ano do ensino fundamental II. O con-
teúdo programático previa conteúdos desde o período da idade média, passando pelos
povos pré-colombianos e estendendo-se a todo o período colonial brasileiro.
Mesmo diante da complexidade dos horários, foi possível dialogar com o Pibid na
realização de algumas oficinas e programações abertas a ambos os grupos. A escola-
-campo do PRP abrigava também 24 bolsistas do Pibid de História e 24 bolsistas do
Pibid de Letras, todos do Unasp, além de eventuais estagiários avulsos de outras ins-
tituições. A carga horária inviabilizou reuniões e atividades na escola. O transporte
escolar, no limite por conta do uso em todos os períodos, inclusive para deslocamento
dos alunos universitários para o Unasp, era impraticável para projetos fora da classe. As
restrições de saída dos alunos do espaço escolar eram rigorosas.
Perante tais limitações e desafios, os residentes começaram a buscar nas metodo-
logias ativas, na educomunicação, suporte para as suas intervenções e práticas. Perce-
beu-se a possibilidade do uso de meios como, por exemplo, a gravação de voz dos es-
tudantes com a devida autorização dos responsáveis, para divulgação das experiências
pelo rádio e redes sociais. A educomunicação é um campo de diálogo entre duas áreas
que vem se consolidando nas últimas décadas. Para Soares (2000), a comunicação e a
educação compõem um mesmo campo de dlogo e integração, sendo que a relação é
seu elemento constitutivo. Nesse sentido, não se trata da incorporação da tecnologia
na educação somente, mas do campo de diálogo criado na inter-relação com o uso das
tecnologias que, nesse caso, foram softwares e aplicativos de edição de gravação em te-
lefone celular e microfone profissional de rádio. Parte deles foram envolvidos em trans-
missão de eventos do PRP e divulgação de conteúdo nas redes sociais e rádio.
Os estudantes do sétimo ano foram confrontados em uma série de aulas conduzi-
das pelos residentes na etapa final, os quais, com criatividade integraram os conteúdos
curriculares que abordavam arquitetura escolar e religiosa das igrejas com o catolicismo
e a reforma protestante, brasões medievais com a simbologia do município, a represen-
tação iconográfica do Brasil Colonial e fotos antigas de Guaiquica/Engenheiro Coelho
no papel das mulheres, crianças e homens.
Os residentes fizeram a imersão na escola enfrentando desafios estruturais de
uma unidade escolar sem espaço para um grande volume de estagrios, bolsistas e
287
“Fizemos história em Engenheiro Coelho”: impactos da Residência Pedagógica
residentes. A sala dos professores não foi disponibilizada em razão de incidentes pre-
viamente ocorridos. A biblioteca, um espaço ainda disponível, concentrou os residentes
nas suas ações de reflexão e busca de informações dentro da escola. Aos poucos foram
se ambientado quanto aos desafios da disciplina, dos horios, das regras, dos espaços
de poder dos gestores, dos professores, dos funcionários e estudantes. Aprenderam a
interagir com cada um desses atores e protagonistas da ação educativa nas situações
desafiadoras e limites do ensino público.
Execução do subprojeto de História
Nas oficinas e reuniões entre docente orientador voluntário, preceptor, residentes
e a professora de estágio do curso de licenciatura, foi ficando evidente a necessidade de
focar a integração do conteúdo curricular com a história local.
Os residentes assistiram a palestras ministradas pelo docente orientador sobre
a história de Engenheiro Coelho com acesso bibliogfico sobre a cidade e a uma
oficina sobre o potencial da Hemeroteca da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
para enriquecer os conteúdos; dessa maneira, buscou-se produzir aulas que inte-
grassem os conteúdos curriculares com a perspectiva dos novos dados apreendidos
pelos residentes.
Assim, os residentes introduziram para os alunos informações de jornais so-
bre Guaiquica no início do século 20 e estiveram em potencial e reais condições de
contribuírem em sua comunidade com a divulgação de informações atualizadas
sobre a história local. Durante esse processo, duas informações foram corrigidas na
execução do PRP: a fundação da estação em 1º de novembro de 1911, ao invés de 2
de setembro de 1912 (DRIO OFICIAL, 1911; CORREIO PAULISTANO, 1911; HE-
FLINGER JÚNIOR, 2011) e o enigmático nome “Engenheiro Coelho” até então era
conhecido como José Luiz Coelho. Em consulta à Hemeroteca da Biblioteca Nacio-
nal do Rio de Janeiro, foi descoberto que o nome correto do engenheiro é Constante
Affonso Coelho (1850-1912), figura republicana (O SÉCULO, 1912; A REPÚBLICA,
1912; CORREIO PAULISTANO, 1912).
Para tornar possível a divulgação dos resultados, descobriu-se a possibilidade
de fazer uso do rádio e de conceitos da educomunicação. Historicamente, o rádio e a
televisão foram absorvidos pelo campo educacional com dificuldades devido à asso-
ciação que se fazia com o “caráter lúdico e mercantil” (SOARES, 2000, p. 22), deles e
de outras tecnologias. Porém, o uso do computador possibilitou a quebra dessa resis-
tência em parte por ser um recurso útil a professores e alunos em seu trabalho diário,
“possui em si mesmo os meios de produção de que o pequeno produtor cultural – o
aluno e o professor – necessitam [...]” (SOARES, 2000, p.22). Assim, embora perce-
be-se uma ampliação cada vez maior do uso dos recursos tecnológicos na educação,
Experiências Docentes
288
compreendemos que o essencial é o educador ter em mente o que se almeja com esse
uso e não o uso em si.
No caso do projeto em questão, percebeu-se a necessidade de confrontar algu-
mas informações a respeito da história do município para que fosse oportunizado aos
estudantes uma versão mais coerente com os fatos e a forma como eles poderiam sin-
tetizar essa busca e socializar esse conhecimento como protagonistas do fazer peda-
gico foi por meio de tecnologias. Assim, em contato com a Rádio Unasp FM, os alunos
receberam duas oficinas de treinamento no primeiro semestre de 2019, procurando
ter noções de gravação e utilização do software Audacity. Um microfone profissional,
usado também pelos alunos de graduação do curso de Rádio e TV, foi temporariamen-
te alocado para os estudantes.
A velocidade do projeto e a concorrida disponibilidade dos equipamentos
que nem sempre estavam adequadamente configurados limitaram a ampla parti-
cipação dos residentes e dos estudantes. Os interessados em participar do projeto
entregaram permissão dos responsáveis e preencheram o termo de autorização de
gravação de voz.
Duas sessões de gravação foram realizadas; enquanto o professor trabalhava os
conteúdos, uma parte dos alunos se ausentava da classe na sala de informática. Como
sugestão da oficina, uma caixa de papelão e um microfone direcional foram a solução
para reduzir o volume das aulas que vazava de tetos abertos entre algumas salas com
comunicação de ruído. Acrescia-se o barulho intenso de carros e veículos pesados nas
imediações da sala de gravação.
Os estudantes apresentaram expressiva dificuldade de leitura e redação. Foi
solicitado que lessem breves curiosidades trabalhadas em classe, mediante integra-
ção de conteúdos curriculares e história local. Dois a três parágrafos curtos de um
pequeno texto “Você Sabia?” foram produzidos com a declaração do nome e série,
idade, identificação da escola e do projeto. Após ensaios de gravação, erros e acertos,
planejou-se a emissão das mensagens na grade de programação da rádio local por
ocasião do aniversário da cidade, no dia 29 de maio, mas houve perda de grava-
ção, erros de conversão e a edição atrasou. Em três programas da Rádio Unasp FM,
sendo um deles ao vivo, foram apresentados os resultados do PRP e as descobertas
históricas foram divulgadas.
Apesar dos percalços, estudantes e residentes sentiram-se protagonistas da produ-
ção de conhecimento histórico até então desconhecido. Residentes que, até então, man-
tinham pouca relação com o município sede da instituição passam a compreender um
sentido histórico mais amplo, que incluía o estado de São Paulo, o Brasil e o mundo.
Perceberam e passaram a valorizar a relevância da história local num contexto mais
amplo de entendimento e aprendizado significativo duradouro.
289
“Fizemos história em Engenheiro Coelho”: impactos da Residência Pedagógica
Socialização dos Resultados
Os residentes do subprojeto de história foram desafiados a divulgar os resultados
de suas pesquisas e experiências no PRP em eventos externos ao Unasp. Com isso, sub-
meteram trabalhos que foram aceitos por instituições de renome no Brasil e no estado
de São Paulo, como Unicamp e USP, que aceitaram as submissões dos estudantes-pes-
quisadores em três eventos:
9º Seminário Nacional do Centro de Memória – Colóquio de Memória Histórica
da Unicamp. Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural. Unicamp. 30/07/2019.
Título o trabalho: “Identidade social e percepção do patrimônio a partir de um
edifício escolar: contribuições do PRP. Contribuíram para este trabalho os alu-
nos: Felipe Lopes Pereira, Joubert Johnson Nogueira Ferreira e Lucas Almeida
dos Santos. Orientador: Prof. Elder Hosokawa.
27º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP (SIICUSP),
realizado na Faculdade de Educação da USP em 23/09/2019 e a segunda etapa em
05/11/2019. Com a apresentação de três trabalhos, sendo o primeiro: “Ensino de
história regional integrada com o rádio: experiência do PRP”. Contribuíram para
tal trabalho as alunas: Letícia Sponton Cândido, Amanda Marques Vieira e Thais
Caroline de Almeida Lima. O segundo trabalho apresentado teve como título:
“Patrimônio e identidade social: contribuições do Programa de Residência” e con-
tou com a colaboração dos alunos: Lucas Almeida dos Santos, Joubert Johnson
Nogueira Ferreira e Felipe Lopes Pereira. O terceiro trabalho, cujo título: “O uso
de jornais e imagens no ensino de história regional: experiência do PRP”, teve con-
tribuição dos alunos: Daniel Fernandes Teodoro e Mariana de Sena Prado. Todos
orientados pelo professor e docente orientador Elder Hosokawa.
27º Congresso Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) da
Unicamp. 16/10/2019. Nesse evento foram apresentados três trabalhos: o primeiro,
A iconografia, a música e o ensino de história através da educomunicação”, com
os alunos: Daniel Fernandes Teodoro e Mariana de Sena Prado. O segundo tra-
balho, “Metodologias ativas no ensino de história: o uso do rádio como ferramenta
de aprendizagem no PRP”, com os alunos: Felipe Lopes Pereira, Joubert Johnson
Nogueira Ferreira e Lucas Almeida dos Santos. O terceiro trabalho: “Rádio: recurso
tecnológico no contexto educativo na transmissão da história local, com as alunas:
Amanda Marques Vieira, Letícia Sponton Cândido e Thaís Caroline de Almeida
Lima. Todos orientados pelo professor e docente orientador Elder Hosokawa.
Um total de sete trabalhos de iniciação científica e socialização de práticas foram
submetidos e aprovados em dois eventos da Unicamp e USP em 2019, na vigência do Pro-
grama, com integral participação dos residentes. Os mesmos residentes participaram
Experiências Docentes
290
também em dois eventos internos da instituição, um deles de iniciação científica e outro
organizado com a participação dos diferentes subprojetos de Residência Pedagógica tri-
campi, com os títulos dos resumos aceitos, respectivamente:
XX Encontro Nacional de Iniciação Científica (ENAIC) Unasp campus Engen-
heiro Coelho, 11/11/2018, com os seguintes trabalhos: “Caminhos e estradas:
uma reflexão histórico-pedagógica em uma escola na região metropolitana de
Campinas”. Autores: Lucas Almeida dos Santos, Felipe Lopes, Joubert John-
son Nogueira Ferreira; orientador: Elder Hosokawa. “A música e o ensino de
história em escola pública de nível fundamental II na Região Metropolitana de
Campinas”. Autores: Daniel Fernandes Teodoro, Mariana de Sena Prado. Orien-
tadores: Dayana de Oliveira Formiga, Elder Hosokawa e Thaís Gonçalves Silva.
“Jogos e ensino de história. Autores: Thaís Caroline de Almeida Lima, Amanda
Marques Vieira, Letícia Sponton Cândido. Orientadores: Elder Hosokawa e
Dayana de Oliveira Formiga.
I Encontro de Integração das Licenciaturas: Residência Pedagógica do Unasp
campus São Paulo, 08/12/2020, com os seguintes trabalhos: “O jornal como
fonte histórica no ensino de história de Engenheiro Coelho, SP”. Bolsistas: Dan-
iel Fernandes Teodoro; Mariana de Sena Prado. “O ensino da história afro-bra-
sileira: um estudo de caso. Bolsistas: Amanda Marques Vieira; Letícia Sponton
ndido; Thais Caroline de Almeida Lima. “O prédio escolar como mediador
entre passado e presente: contribuições do PRP. Bolsistas: Felipe Lopes Pereira;
Joubert Johnson Nogueira Ferreira; Lucas Almeida dos Santos. Todos orienta-
dos pelo docente orientador Elder Hosokawa.
Por meio dos dados apresentados, é possível perceber o incentivo à pesquisa im-
pulsionado pelo PRP, o que também contribui para o fortalecimento das demais insn-
cias fundamentais do ensino superior, o ensino e a extensão. O edital da Capes indicava
a necessidade dessa articulação: “durante e após a imersão o residente deve ser estimu-
lado a refletir e avaliar sobre sua prática e relação com a profissionalização do docente
escolar, para registro em relatório e contribuir para a avaliação de socialização de sua
experiência como residente” (BRASIL, 2018, p. 18).
Considerões finais
Além do protagonismo dos residentes com imersão na escola, desafiados na bus-
ca de novas metodologias, de dedicação na busca de fontes e bibliografia para suas
291
“Fizemos história em Engenheiro Coelho”: impactos da Residência Pedagógica
incursões na pesquisa histórica, houve um intenso estímulo à participação semanal de-
les nas classes e nas reuniões conhecidas como seminário interdisciplinar.
O projeto gerou repercussão na mídia regional e institucional. Foi divulgado na
Rádio Unasp FM com a participação de dois residentes e docentes orientadores dos cur-
sos de Pedagogia e História. Aspectos do Programa foram transformados em banners,
apresentações orais e resumo divulgados em três encontros de iniciação científica na
USP, Unicamp e Unasp entre 2018 e 2019.
Dos quinze que se formaram em 2019, oito eram bolsistas do PRP e sete do Pibid.
Cinco deles ingressaram no mercado de trabalho na Rede Educacional Adventista, um
indicativo da preferência de alunos formandos na classificação do edital de 2018 e um
claro indicativo de preparo para o mercado. Dos três residentes do PRP, ainda não atu-
antes no mercado de trabalho, um continua sua segunda graduação e outros dois aguar-
dam oportunidade, que ficou complexa em 2020 por conta da pandemia e da conversão
das aulas presenciais em aulas on-line. Cumpriu-se nesses egressos a meta da Diretriz
Curricular Nacional de História (BRASIL, 2001) de articular competências e habilida-
des dos egressos de ensino e pesquisa. Os graduandos tiveram uma ampla oportunidade
de vivenciar em dezoito meses a reflexão, a prática da docência e um olhar crítico trans-
ferido em debate acadêmicos, mesmo que em nível de iniciação cienfica, mas avaliada
por diversos comitês cienficos.
Um dos trabalhos submetidos em 2019 concorreu e foi classificado entre os me-
lhores trabalhos da Faculdade de Educação da USP, sendo finalista com outras áreas e
unidades da USP no 27º SIICUSP. Apesar de não ganharem a final, os alunos egressos de
um curso de três anos, concorrendo com cursos elitistas de cinco e seis anos, sentiram a
sensação de participarem de um programa do governo brasileiro numa instituição priva-
da que os formou para a docência num tempo mais de esperança do que de realizações.
O caminho para os cursos de licenciatura no Brasil pode e deve ser olhado com
mais atenção pelo poder público. Ações como esta do PRP demonstram resultados sa-
tisfatórios. É necessário acreditar no potencial de todos os atores: governo, escola e so-
ciedade, bem como proporcionar meios para o trabalho integrado entre essas esferas.
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A democracia de amanhã é preparada na democracia da escola [...] (FREINET, p. 78).
O Programa Residência Pedagógica (PRP), financiado pela Coordenação de Aper-
feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), articulado com as demais atividades
acadêmicas previstas no PPP (Projeto Político Pedagógico) da Faculdade de Filosofia e
Ciências (FFC), está compondo um projeto de formação de professores no curso de Peda-
gogia da Unesp, campus de Malia, oportunizando aos participantes (residentes bolsis-
tas, residentes voluntários, professores coordenadores e professores preceptores) saberes
que lhes permitam qualificar não somente o ensino oferecido nas escolas de educação
básica e na universidade, mas também nas atividades de extensão e pesquisa acadêmicas.
Após a experiência da implementação do PRP nos anos de 2018-2019, espera-
mos que a vivência de uma nova etapa do projeto (2020/2021) possibilite replicar e
aprofundar o realizado, aperfeiçoando as ações e os encaminhamentos, e que forneça,
ao seu final, importantes subsídios para a tão necessária reformulação do estágio
supervisionado, cujas deficiências e fragilidades são reiteradamente apontadas por
estudantes e pesquisadores da área.
Os pontos considerados positivos e produtivos desse Programa figuram nos se-
guintes aspectos: ampliação da inserção do graduando na realidade escolar; parceria
entre universidade e redes de ensino públicas, com a valorização das características lo-
cais; valorização do ensino presencial, principalmente nas atividades de ampliação da
formação científica na graduação, contemplando as áreas de conhecimento específicos
Aportes da pedagogia
freinet no Programa de
Residência Pedagógica
no contexto do curso de
pedagogia da Unesp
CAPÍTULO 21
Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto
Elianeth Dias Kanthack Hernandes
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p295-310
Experiências Docentes
296
e os conhecimentos pedagógicos, atualizados e sintonizados com os avanços científicos
e tecnológicos; articulação entre teoria pedagógica, prática docente e pesquisa científica;
produção, inovação e socialização de conhecimentos científicos, interdisciplinares no
âmbito da escola e da universidade; valorização dos profissionais que atuam na educa-
ção básica; reconhecimento da imporncia da participação dos profissionais do ensino
superior na formação inicial e continuada de professores; e difusão da relevância da
escola na formação das pessoas, particularmente em sua formação inicial.
Neste capítulo, abordamos parte das atividades desenvolvidas em nossa Residência
Pedagógica, em sua primeira edição, intitulada “Leitura e Escrita nas diferentes áreas do
conhecimento” em parceria com uma das escolas municipais dos anos iniciais do Ensino
Fundamental (Emef), localizada em bairro da zona Sul da cidade de Marília-SP. No perío-
do de ambientação, imersão, observação, participação e regência, os residentes bolsistas e
voluntários, foram acompanhados por um professor preceptor já efetivo na escola.
Na condição de pedagogos em formação inicial, esses residentes organizaram co-
letivamente um plano de ação sob a supervisão de professoras formadoras do curso de
Pedagogia. O plano teve como intuito organizar, por meio da pedagogia Freinet, um
planejamento de ensino compartilhado junto a crianças de uma turma de 4º ano. Diante
da alise e reflexão sobre aspectos educativos oriundos das observações e, ainda, sobre
a imporncia dos respectivos materiais dados a ler na escola para formação de leitores
mirins, a biblioteca foi eleita com área temática do plano de ação intervencionista. As-
sim, primeiro abordamos, neste texto, a pedagogia Freinet e a vida de seu criador e, na
sequência, suas técnicas e princípios norteadores articulados e trabalhados nos planos
de ações intervencionistas durante o PRP; por fim, as considerações finais.
A razão para estudar inicialmente com os residentes a respeito dessa pedagogia
pacifista, forjada no período entre e pós-guerra, deriva inicialmente do fato de que, ape-
sar de muitos dos conceitos e atividades escolares idealizados pelo pedagogo francês
Célestin Freinet (1896-1966) tenham se tornado tão difundidos, ainda assim há muitos
educadores utilizando-os sem nunca terem ouvido falar no autor, como é o caso en-
contrado em nossas escolas marilienses. A exemplo temos: as aulas-passeio (ou estudos
de campo), os cantinhos pedagógicos como os espaços de aprendizagem e a troca de
correspondência entre escolas.
Ademais, a utilização dessas técnicas desenvolvidas por Freinet não significa por si só
que o professor adotou uma prática freinetiana; é preciso lembrar que o educador francês
criou tais recursos para atingir o objetivo maior de despertar, nas crianças, uma consciência
de seu meio, incluindo os aspectos sociais e de sua história. Levar os residentes a refletir, es-
tudar e pesquisar sobre tais recursos observados no período de imersão na escola-campo de
estágio promove o questionamento de como tais atividades se inserem no contexto escolar e
se os professores que as adotam costumam ter consciência de suas possibilidades de inserção
num plano pedagógico mais amplo. De fato, não é necessário conhecer a fundo a obra de
297
Aportes da pedagogia freinet no Programa de Residência
Pedagógica no contexto do curso de pedagogia da Unesp
Freinet para fazer bom uso dessas atividades, mas entender a teoria que motivou sua criação
possibilita sua aplicação integrada e pode torná-las mais férteis.
Célestin Freinet: vida e obra
A educação é transformadora em todos os sentidos da vida humana e muitos
pensadores, ao longo dos anos, dedicaram-se à árdua tarefa de pensar a educação e
revolucionar o ambiente das escolas. Como alternativas aos métodos tradicionais, esses
educadores propuseram diferentes modelos e teorias que podem servir de inspiração
para o aprimoramento das escolas.
Dentre eles, temos Freinet, pedagogo e pedagogista anarquista francês, uma im-
portante referência da pedagogia de sua época, cujas propostas continuam a ter grande
ressonância na educação dos dias atuais. Freinet se identificava com a corrente da escola
nova, anticonservadora, e protagonizou as chamadas escolas democráticas. Segundo
ele, além das técnicas pedagógicas, o ambiente político e social ao redor da escola não
deveria ser ignorado pelo educador.
Como para Freinet a pedagogia comporta a preocupação com a formação de um
ser social que atua no presente, o professor deve mesclar seu trabalho com a vida em
comunidade, criando as associações, os conselhos, eleições, enfim, as várias formas de
participação e colaboração na formação do aluno, bem como direcionar o movimento
pedagógico em defesa da fraternidade, respeito e crescimento de uma sociedade coo-
perativa e feliz. Para Freinet, “a democracia de amanhã é preparada na democracia da
escola” (1996, p.78), epígrafe deste capítulo que sintetiza os preceitos de sua pedagogia,
fruto do seu trabalho em regiões pobres da França. Diversos autores compõem a base
para falarmos sobre vida e obra de Freinet, dentre eles temos: Oliveira (1995), Munhoz
(2010), Elias (1997; 1998), Nascimento (1995), Sampaio (1994), Kanamaru (1997), Saveli,
Althaus e Tenreiro (2005) e Gurgel (2006).
Freinet nasceu em 1896, em Gars, povoado na região da Provença, sul da Fran-
ça. Foi pastor de rebanhos antes de começar a cursar o magistério. Lutou na primeira
guerra mundial em 1914, quando os gases tóxicos do campo de batalha afetaram seus
pulmões para o resto da vida. Em 1920, começou a lecionar na aldeia de Bar-sur-Loup,
onde pôs em prática alguns de seus principais experimentos, como a aula-passeio e
o livro da vida. Em 1925, filiou-se ao Partido Comunista Francês. Dois anos depois,
fundou a Cooperativa do Ensino Leigo, para desenvolvimento e intermbio de novos
instrumentos pedagógicos.
Em 1928, já casado com Élise Freinet (que se tornaria sua parceira e divulgado-
ra), mudou-se para Saint-Paul de Vence, iniciando intensa atividade pedagógica. Cinco
anos depois, foi exonerado do cargo de professor. Em 1935, o casal Freinet construiu
Experiências Docentes
298
uma escola própria em Vence. Durante a segunda guerra, o educador foi preso e adoe-
ceu num campo de concentração alemão. Libertado depois de um ano, aderiu à resis-
tência francesa ao nazismo.
Recobrada a paz, Freinet reorganizou a escola e a cooperativa em Vence. Em
1956, liderou a vitoriosa campanha “25 alunos por classe”. No ano seguinte, os se-
guidores de Freinet fundaram a Federação Internacional dos Movimentos da Escola
Moderna (Fimem), que hoje reúne educadores de cerca de quarenta países. Freinet
morreu em 1966 (SAMPAIO, 1994).
A medida da independência do pensamento de Freinet pode ser deduzida do fato
de ele ter sido perseguido, ao longo da vida, por forças políticas de tendências totalmente
opostas. Embora pacifista, o educador envolveu-se nas duas grandes guerras mundiais
(1914-1918 e 1939-1945). O primeiro conflito ideológico de que participou, no entanto,
se deu na cidade de Saint-Paul de Vence, habitada por uma comunidade conservadora,
que reprovou seus métodos didáticos e conseguiu que fosse exonerado do cargo de pro-
fessor, em 1933. Durante a segunda guerra mundial, em 1940, com a França ocupada
pela Alemanha nazista, foi preso como subversivo, tanto por sua filiação ao Partido
Comunista (PC) como por suas atividades inovadoras no campo pedagógico.
Depois do fim da guerra, passou a ser chamado frequentemente a colaborar com
políticas oficiais e foi tachado de pensador burguês pela cúpula do PC, do qual se desligou
na década de 1950. Pessoalmente, Freinet nunca abandonou sua crença no socialismo nem
seus planos de colaborar para a criação de um ensino de caráter popular na França e em
outros países (ELIAS, 1997; OLIVEIRA,1995; GURGEL, 2006).
Freinet se inscreve, historicamente, entre os educadores identificados com a cor-
rente da escola nova, que, nas primeiras décadas do século 20, se insurgiu contra o
ensino tradicionalista, centrado no professor e na cultura enciclopédica, propondo
em seu lugar uma educação ativa em torno do aluno. O pedagogo francês somou ao
ideário dos escolanovistas uma visão marxista e popular, tanto da organização da
rede de ensino como do aprendizado em si. Em um videodocumentário, intitulado
Coleção Grandes Educadores - Célestin Freinet, é dito que: “Freinet sempre acreditou
que é preciso transformar a escola por dentro, pois é exatamente ali que se manifes-
tam as contradições sociais”. A voz é de Rosa Maria Whitaker Sampaio, coordenadora
do polo São Paulo da Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna
(Fimem), que congrega seguidores de Freinet.
Na teoria do educador francês, o trabalho e a cooperação vêm em primeiro plano,
a ponto de ele defender, em contraste com outros pedagogos, incluindo os da escola
nova, que não é o jogo que é natural da criança, mas sim o trabalho. Seu objetivo de-
clarado é criar uma escola do povo. Segundo Fleuri (1995, p. 67) não foi por acaso que
Freinet criou uma pedagogia do trabalho. Para ele, a atividade é o que orienta a prática
escolar e o objetivo final da educação é formar cidadãos para o trabalho livre e criativo,
299
Aportes da pedagogia freinet no Programa de Residência
Pedagógica no contexto do curso de pedagogia da Unesp
capaz de dominar e transformar o meio e emancipar quem o exerce. Um dos deveres
do professor, segundo Freinet, é criar uma atmosfera laboriosa na escola, de modo a
estimular as crianças a fazer experiências, procurar respostas para suas necessidades
e inquietações, ajudando e sendo ajudadas por seus colegas e buscando no professor
alguém que organize o trabalho (NASCIMENTO, 1995, p. 56).
Outra função primordial do professor, segundo Freinet (1973; 1974a; 1974b; 1976;
1977a; 1977b; 1977c; 1977d; 1978; 1996a; 1996b; 1998a; 1998b; 1998c), em suas mais re-
nomadas e conhecidas obras, é colaborar ao máximo para o êxito de todos os alunos.
Diferentemente da maioria dos pedagogos modernos, o educador francês não via valor
didático no erro. Ele acreditava que o fracasso desequilibra e desmotiva o aluno, por
isso o professor deve ajudá-lo a superar o erro. “Freinet descobriu que a forma mais
profunda de aprendizado é o envolvimento afetivo”, diz Rosa Sampaio no mesmo vide-
odocumentário citado acima.
Ao lado da pedagogia do trabalho e da pedagogia do êxito, Freinet propôs, finalmen-
te, uma pedagogia do bom senso, pela qual a aprendizagem resulta de uma relação dia-
lética entre ação e pensamento, ou teoria e prática. O professor se pauta por uma atitude
orientada tanto pela psicologia quanto pela pedagogia — assim, o histórico pessoal do alu-
no interage com os conhecimentos novos e essa relação constrói seu futuro na sociedade.
Esse aspecto muito particular que atribuía ao aprendizado de cada criança é a
razão de Freinet não ter criado um método pedagógico rígido, nem uma teoria propria-
mente científica. Freinet (1977a; 1977b; 1977c; 1977d) dedicou a vida a elaborar técnicas
de ensino que funcionam como canais da livre expressão e da atividade cooperativa,
com o objetivo de criar uma nova educação. Lançou-se a essa tarefa por considerar a
escola de seu tempo uma instituição alienada da vida e da falia, feita de dogmas e de
acumulação estéril de informação - e, além disso, em geral, a serviço apenas das elites.
“Freinet colocou professor e alunos no mesmo nível de igualdade e camaradagem, diz
Rosa Sampaio. O educador não se opunha, porém, às aulas teóricas.
A primeira das novas técnicas didáticas desenvolvidas por Freinet foi a aula-pas-
seio, que nasceu justamente da observação de que as crianças para quem lecionava,
que se comportavam tão vividamente quando ao ar livre, pareciam desinteressadas
dentro da escola. Uma segunda criação célebre, a imprensa na escola, respondeu à
necessidade de eliminar a distância entre alunos e professores e de trazer para a classe
a vida “lá fora”. “É necessário fazer nossos filhos viverem em república desde a escola,
escreveu Freinet (1996a, p. 45, 49).
A pedagogia de Freinet se fundamenta em quatro eixos: a cooperação (para cons-
truir o conhecimento comunitariamente), a comunicação (para formalizá-lo, transmiti-
-lo e divulgá-lo), a documentação, com o chamado livro da vida (para registro diário
dos fatos históricos), e a afetividade (como vínculo entre as pessoas e delas com o conhe-
cimento). Elias (1997) e Oliveira (1995) corroboram com tal afirmativa.
Experiências Docentes
300
Com a intenção de propor uma reforma geral no ensino francês, Freinet reuniu
suas experiências didáticas num sistema que denominou “escola moderna”. Entre as
principais técnicas de Freinet estão a correspondência entre escolas (para que os alu-
nos possam não apenas escrever, mas ser lidos), os jornais de classe (mural, falado e
impresso), o texto livre (nascido do estímulo para que os alunos registrem por escrito
suas ideias, vivências e histórias), a cooperativa escolar, o contato frequente com os pais
(Freinet defendia que a escola deveria ser extensão da família) e os planos de trabalho.
O pedagogo era contrário ao uso de manuais em sala de aula, sobretudo as car-
tilhas, por considerá-los genéricos e alheios às necessidades de expressão das crianças.
Defendia que os alunos fossem em busca do conhecimento de que necessitassem em
bibliotecas (que deveriam existir na própria escola) e que confeccionassem fichários de
consulta e de autocorreção (para exercícios de matemática, por exemplo). Para Freinet,
todo conhecimento é fruto do que chamou de tateio experimental - a atividade de for-
mular hipóteses e testar sua validade - e cabe à escola proporcionar essa possibilidade a
toda criança (SAMPAIO, 1994).
Muitos outros estudiosos da biografia de Freinet apontam ser o autor pouco utili-
zado nas academias por não ser considerado um pesquisador científico. Todavia, Frei-
net, como autodidata, forjou a pedagogia freinetiana, como base em sua prática peda-
gica, como um educador-pesquisador do “chão da escola”. Produziu uma ciência, mas
uma ciência aplicada e não teórica apenas, no sentido de viver a educação como fruto
das relações entre a criança e a escola, a criança com outra criança, com os adultos e a
comunidade, enfim, dentre outras relações vivenciadas no âmbito escolar e fora dele.
Uma ciência educativa que estimula o pensamento crítico, a análise mais acurada e o
desenvolvimento do pensamento investigativo e científico das crianças.
Dentre suas obras mais conhecidas temos: As técnicas Freinet da Escola Moder-
na (1975), O texto livre (1976), Modernizar a escola (1974a), O método natural I (1977a),
O método natural II (1977b), O método natural III (1977c), A leitura pela imprensa na
escola (1977d), Para uma escola do povo: guia prático para a organização material, téc-
nica e pedagógica da escola popular (1978), Pedagogia do bom senso (1996), Educação
pelo trabalho (1998a), Ensaio de psicologia sensível (1998b), Conselho aos pais (1974a)
e O jornal escolar (1974b).
O PRP, as invariantes
pedagógicas de Freinet e suas técnicas
De acordo com Gurgel (2006), nos dias atuais, o sistema de ensino está totalmente
direcionado para a formação de pessoas aptas para o mercado de trabalho tendo como
foco a empregabilidade. Como consequência disso, desde a educação infantil e anos
301
Aportes da pedagogia freinet no Programa de Residência
Pedagógica no contexto do curso de pedagogia da Unesp
iniciais do ensino fundamental, a essência da criança como sujeito de sua formação está
sendo deixada em segundo plano, como preconizava Freinet à sua época.
O célebre educador francês asseverava sobre o quanto os professores do ensino tra-
dicional são conhecidos por apenas repassar o conhecimento aos alunos, sem que haja
uma troca entre eles. Criticando esse sistema, Freinet denunciava que as crianças são in-
duzidas a seguir os caminhos que seus pais trilharam, facilitando a adaptação e a manu-
tenção do status quo. Por outro lado, a educação seria outra, caso considerasse a essência
da criança e sua capacidade de aprender, respeitando-a. Para ilustrar essa perspectiva que
considera a dimensão de sujeito da criança, o autor utiliza metáforas interessantes:
Tu, como todos os outros educadores, procedes um pouco como aqueles pais que, quan-
to mais foram crianças endiabradas, mais ferozmente severos são para com os filhos; ou
como o adulto que caminha um pouco apressadamente, sem reparar que a criança que
acompanha tem que dar três passos enquanto ele dá um [...]Reages com a tua natureza
de homem, as tuas possibilidades e conhecimentos de adulto, como se as crianças que
te estão confiadas fossem também adultas, com possibilidades semelhantes[...]Põe-te no
lugar dessa criança que acabas de humilhar, com uma nota má ou uma posição inferior
na classificação. Lembra-te do teu próprio orgulho quando estavas entre os primeiros,
e de todos os maus sentimentos que te agitavam quando outros te passavam à frente.
Então compreenderás e hás de suprimir a classificação (FREINET, 1978, p. 56-58).
Para Freinet, a educação deveria proporcionar ao aluno a realização de um traba-
lho real. Como afirmamos, sua carreira docente teve início construindo os princípios
educativos de sua prática. Ele propunha uma mudança da escola, pois a considerava
teórica e, portanto, desligada da vida. Todas as suas propostas de ensino estão baseadas
em investigações a respeito da maneira de pensar da criança e de como ela construía o
seu conhecimento. Mediante a observação constante, percebia onde e quando deveria
intervir e como criaria condições para despertar a vontade de aprender do aluno.
De acordo com Freinet, a aprendizagem através da experiência seria mais eficaz,
porque se o aluno fizer um experimento e isso der certo, repeti-lo-á e avançará no pro-
cesso; porém, não avançará sozinho, pois precisará da cooperação do professor (MELO,
2003; ELIAS; SANCHES, 2007; SCARPATO, 2017). Vamos percebendo, assim, o quanto
a pedagogia Freinet traz grandes contribuições para repensarmos o ensino na escola
pública e o quanto na/com/para a formação de professores inicial e continuada ela se
torna fundamental, particularmente para nós no PRP.
Diante do quadro apresentado até aqui, destacamos o quanto os estudantes e/ou
crianças trabalham de forma colaborativa e cooperativa na perspectiva freinetiana. Por
essa razão, a interação entre elas, com o formador, com as pessoas presentes na escola,
com o meio e com os materiais, promove aprendizagens duradoras e significativas, já
Experiências Docentes
302
que todos os envolvidos estabelecem intensas relações de trocas. Nesse contexto, todos
são ouvidos, e, por meio das negociações feitas entre eles e o formador, se organizam o
trabalho pedagógico e as experiências a serem vividas.
Esse foi um dos princípios assumidos por nós nas escolas em que estivemos
trabalhando na implementação do PRP no ano de 2019, e que esperamos poder conti-
nuar e aprofundar nas próximas edições do Programa, inspirando-nos, inclusive, nas
invariantes pedagógicas preconizadas por Freinet para a construção de um itinerário
de trabalho formativo.
Não sem razão, traçamos um paralelo para as nossas experiências no PRP, funda-
dos nesta pedagogia. Há princípios no saber pedagógico que Freinet considerava inva-
riáveis, ou seja, independentemente do local ou período histórico, certos pressupostos
deveriam sempre ser levados em consideração na prática educativa. Desta forma, pos-
tulou as chamadas “invariantes pedagógicas” (IMBÉRNON, 2012), consideradas como
pilares de sua proposta pedagógica.
Conforme Imbernón, a obra de Freinet que apresenta as invariantes pedagógicas
foi originalmente publicada em 1964. Com esta obra Freinet pretendia realizar um guia
de iniciação para novos professores e, em seu texto introdutório, cita a seguinte defi-
nição de invariantes: “que não varia nem pode variar, quaisquer que sejam as atitudes
pessoais. [...] A invariante constitui a base mais sólida, evita tanto as decepções como os
erros” (FREINET, apud IMBERNÓN, 2012, p. 45).
Segundo Sampaio (1994), Freinet considerava que apenas transmitir conselhos
técnicos para os professores poderia ser insuficiente e, por este motivo, resolveu dar
instruções mais exatas. Com este intuito elaborou as invariantes pedagógicas, estabe-
lecendo uma nova gama de valores escolares, numa busca pela verdade, que deveria ser
feita a partir da experiência e do bom senso.
Sampaio (1994) explica que, na obra original de Freinet, junto a cada invariante,
ele apresentava um teste a ser respondido pelo professor de modo que se tornasse um
pametro para a sua prática pedagógica, de forma a evidenciar a evolução do professor
sempre que ele repetisse o teste ao longo do ano escolar.
Para sinalizar os resultados de tais testes, Sampaio (1994) mostra que no código
pedagógico criado por Freinet havia semelhança com o código de trânsito, pois através
das cores verde, amarela e vermelha, os professores registravam suas respostas. Verde
para quando estivessem atuando de acordo com a invariante em questão, amarelo para
quando uma prática estivesse em desacordo com a invariante e vermelho para quando a
atitude, nas palavras de Imbernón (2012, p. 53) “mais se afastassem das invariantes”. As
invariantes pedagógicas de Freinet, assim são declaradas:
1. A criança é da mesma natureza que o adulto.
2. Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros.
303
Aportes da pedagogia freinet no Programa de Residência
Pedagógica no contexto do curso de pedagogia da Unesp
3. O comportamento escolar de uma criaa depende do seu estado fisiológico,
orgânico e constitucional.
4. A criança e o adulto não gostam de imposições autoritárias.
5. A criança e o adulto não gostam de uma disciplina rígida, quando isto significa
obedecer, passivamente, uma ordem externa.
6. Ninguém gosta de fazer determinado trabalho por coerção, mesmo que, em par-
ticular, ele não o desagrade. Toda atitude imposta é paralisante.
7. Todos gostam de escolher o seu trabalho mesmo que essa escolha não seja a
mais vantajosa.
8. Ninguém gosta de trabalhar sem objetivo, atuar como máquina, sujeitando-se a
rotinas nas quais não participa.
9. É fundamental a motivação para o trabalho.
10. É preciso abolir a escolástica.
11. Todos querem ser bem-sucedidos. O fracasso inibe, destrói o ânimo e o entusiasmo.
12. Não é o jogo que é natural na criança, mas sim o trabalho.
13. Não são a observação, a explicação e a demonstração - processos essenciais da
escola - as únicas vias normais de aquisição de conhecimento, mas a experiência
tateante, que é uma conduta natural e universal.
14. A memória, tão preconizada pela escola, não é válida, nem preciosa, a não ser
quando está integrada no tateio experimental, em que se encontra verdadeira-
mente a serviço da vida.
15. As aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis, como às vezes se crê,
mas sim pela experiência. Estudar primeiro regras e leis é colocar o carro na
frente dos bois.
16. A inteligência não é uma faculdade espefica, que funciona como um circuito
fechado, independente dos demais elementos vitais do indivíduo, como ensina
a escolástica.
17. A escola cultiva apenas uma forma abstrata de inteligência, que atua fora da re-
alidade, fica fixada na memória por meio de palavras e ideias.
18. A criaa não gosta de receber lições autoritárias.
19. A criança não se cansa de um trabalho funcional, ou seja, que atende aos rumos
de sua vida.
20. A criança e o adulto não gostam de ser controlados e receber sanções. Isso carac-
teriza uma ofensa à dignidade humana, sobretudo se exercida publicamente.
21. As notas e classificações constituem sempre um erro.
22. Fale o menos possível.
23. A criança não gosta de sujeitar-se a um trabalho em rebanho. Ela prefere o tra-
balho individual ou de equipe numa comunidade cooperativa.
24. A ordem e a disciplina são necessárias na aula.
Experiências Docentes
304
25. Os castigos são sempre um erro. São humilhantes, não conduzem ao fim dese-
jado e não passam de paliativo.
26. A nova vida da escola supõe a cooperação escolar, isto é, a gestão da vida pelo
trabalho escolar pelos que a praticam, incluindo o educador.
27. A sobrecarga das classes constitui sempre um erro pedagógico.
28. A concepção atual das grandes escolas conduz professores e alunos ao anoni-
mato, o que é sempre um erro e cria barreiras.
29. A democracia de amanhã prepara-se pela democracia na escola. Um regime au-
toritário na escola não seria capaz de formar cidadãos democratas.
30. Uma das primeiras condições da renovação da escola é o respeito à criança e,
por sua vez, a criaa deve ter respeito aos seus professores; só assim é possível
educar dentro da dignidade.
31. A reação social e política, que manifesta uma reação pedagógica, é uma oposição.
32. É preciso ter a esperança otimista na vida (IMBERNÓN, 2012, p. 56-57).
Vemos ademais, pelos estudos realizados em nossos dois grupos de pesquisa, a sa-
ber, “PROLEAO – Processos de leitura e escrita: apropriação e objetivação” e “Implica-
ções pedagógicas da teoria histórico-cultural, o quanto as críticas de Freinet alinham-
-se às de Vygotsky, e o quanto suas técnicas também se alinham às diretrizes apontadas
por ele para nortear procedimentos de aquisição da escrita — temática central de nosso
PRP “Leitura e escrita nas diferentes áreas do conhecimento”.
Com a utilização das técnicas Freinet é possível não somente promover uma apro-
ximação com as ideias vygotiskianas, com as de Bakhtin (1992), já que todos concebem
a expressão do sujeito e a relação com o outro como elementos fundamentais da sua pró-
pria constituição como seres históricos, sociais e culturais. Contrariando a metodologia
tradicional, Freinet inicia o trabalho com a linguagem pela expressão escrita dos relatos
feitos pelas crianças, a partir das experiências significativas que vivem. Dessa forma,
Freinet ensina às suas crianças que escrever é desenhar ideias, sentimentos, informações.
Com este método, denominado por Freinet (1977a; 1977b) como natural de apren-
dizagem da escrita, ele defende a passagem de uma forma de linguagem a outra — do
desenho para a linguagem oral e escrita — e a convivência e utilizão de diferentes lin-
guagens pela criança ao longo do ensino fundamental, preservando e cultivando sempre
e essencialmente o desejo de expressão e de comunicação — para Freinet, necessidades
vitais da criança. Seja pela correspondência interescolar, seja com o jornal da turma, de
parede, os álbuns, os planos de trabalho, o livro da vida, os textos das crianças na peda-
gogia Freinet têm sempre um destinatário, uma funcionalidade, manifestam um desejo
de expressão. Nas palavras de Freinet (1978, p. 60), “quanto à qualidade dos textos, e
sobretudo do trabalho, essa é e será incomparável, porque os nossos impressos foram
vividos e sentidos, logo, completamente compreendidos”.
305
Aportes da pedagogia freinet no Programa de Residência
Pedagógica no contexto do curso de pedagogia da Unesp
A prática pedagógica das técnicas de ensino desenvolvidas por Freinet realiza com
as crianças, em relação à escrita, aquilo que Lísina (1987) chamou de iniciativa anteci-
padora: cria a necessidade da linguagem. Desse ponto de vista, como orienta Vygotsky
(1995), a escrita se baseia no desenvolvimento natural das necessidades da criança. Des-
de o início, apresenta-se à criança como um instrumento cultural complexo e como
uma representação direta da realidade, uma vez que os atos de escrita que testemunha
têm sempre o foco na realidade, em seu significado, e não nos sons que quer grafar.
A imprensa — que na atualidade pode ser substituída pelo uso do computador e
da impressora — é o principal instrumento pedagógico que Freinet introduziu na escola
para a valorização do trabalho com a linguagem escrita. A criança utiliza a imprensa para
escrever motivada pelo resultado: um texto escrito (individual ou coletivo) que expressa
uma experiência significativa seja para o jornal, seja para o registro num álbum, seja para
comunicar aos correspondentes um texto que terá leitores. Consiste na atividade própria
de escrever, não para aprender uma forma de comunicação, mas para comunicar uma
ideia a outra pessoa “como uma complexa atividade cultural” (VYGOTSKI, 1995, p. 201).
A experiência da criança com o mundo se amplia pela sua vivência e registro. Com
a aula-passeio, ela passa a observar a vida ao seu redor com os olhos de quem investiga,
observa, sente prazeres e necessidades. É o momento em que a criança usa todas as suas
habilidades para observar e guardar informações para relatar posteriormente, desen-
volvendo pela própria necessidade a memória, a atenção, a percepção, como defende a
teoria histórico-cultural (VYGOTSKI, 1995).
Ao escrever uma notícia para o jornal escolar ou para o jornal mural, a criança
também experimenta o verdadeiro sentido da escrita: escreve para noticiar algo para
outras pessoas e faz uso da linguagem escrita pela necessidade de transmissão de sua
ideia, de uma mensagem. Isso também acontece com os registros no livro da vida e na
correspondência interescolar, onde também estão presentes o aspecto emocional do en-
volvimento com outras pessoas.
Ao basear-se na livre expressão da criança como aspecto essencial de sua pedago-
gia, Freinet abre espaço para que a aquisição da linguagem escrita ocorra de maneira
significativa, marcada por seu uso social, como forma de comunicação entre pessoas;
contempla as relações apontadas por Lúria (1998) e Vygotsky (1995): a escrita como
objeto funcional, instrumento cultural que serve à objetivação humana (GIROTTO;
SILVA; MAGALES, 2018).
Tanto no que concerne à objetivação como no que concerne à apropriação do co-
nhecimento elaborado que se abre com a apropriação da leitura e da escrita, Freinet
elabora técnicas condizentes às implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural:
ao abandonar os manuais escolares em favor da expressão das crianças, abre, para elas,
as portas das bibliotecas, dos museus, dos laboratórios, dos teatros. Traz para a escola
um pouco do espaço do camarim dos teatros, dos ateliês dos artistas, das gficas, das
Experiências Docentes
306
oficinas de artesãos, com isso buscando ampliar o acesso das crianças ao mundo da
cultura humana, fonte de experiência e humanização.
Considerões finais
A pedagogia Freinet, suas invariantes e técnicas aliadas à teoria histórico-cultural
e à teoria bakhtiniana podem contribuir para a efetivação de uma prática pedagógica
promotora de aprendizagens. No PRP, as técnicas Freinet são compreendidas como um
caminho para práticas que possibilitem a apropriação da cultura pela criança, por seu
uso social, ou seja, para aquilo para o que cada objeto da cultura foi criado e é utilizado
socialmente. Desta maneira, são vistas como uma proposta alternativa para o trabalho
na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, considerando as crian-
ças como produtoras de cultura.
O uso das técnicas Freinet permite que a criança vivencie as práticas sociais e participe
da vida na escola, tendo em vista que a apropriação da cultura se estabelece com a aplicação
de cada técnica, garantindo o protagonismo infantil. Terminamos com um propalado pen-
samento de Freinet, que conclama todos os professores à sua consciência de educador e ao
engajamento formativo de cada um de seus alunos, tão caro à Residência Pedagógica:
Se não voltares a ser como uma criança... não entrarás no reino encantado da pedago-
gia... Longe de procurares esquecer a inncia, habitua-te a revivê-la: revive-a com os
alunos, procurando compreender as possíveis diferenças, originadas pelas diversidades
de meio e pelo tgico dos acontecimentos que influenciam tão cruelmente a inncia
contemporânea. Compreende que essas crianças são, aproximadamente, o que eras a
uma geração, que não eras melhor do que elas, que não são piores do que tu e que, por-
tanto, se o meio escolar e social lhes fosse mais favorável, poderiam fazer melhor do que
tu, o que seria um êxito pedagógico e uma garantia de progresso. Para isso, nenhuma
técnica há de preparar-te melhor do que a que incita as criaas a exprimirem-se, pela
palavra, pela escrita, pelo desenho e pela gravura. O jornal escolar contribuirá para
a harmonização do meio e continua a ser um fator decisivo na educação. O trabalho
desejado, ao qual nos entregamos totalmente e que nos proporciona as alegrias mais
exaltantes, fará o resto. E o sol brilhará... (FREINET, 1978, p. 60).
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Os debates sobre a melhoria da formação de professores no Brasil vinculam-se
ao papel dos estágios supervisionados nos cursos de licenciatura. Tardif (2011) defen-
de que a revisão da formação dos professores deve-se apoiar num sólido repertório
de conhecimentos fortemente articulado com as práticas profissionais. Para tal, ele
propõe que a aprendizagem da profissão seja redirecionada para a escola enquanto
lugar de trabalho dos professores. Nessa perspectiva, o campo onde é exercida a pro-
fissão deixa de ser visto como um espaço de aplicação das teorias produzidas fora dele
para tornar-se um espaço de aprendizagem e formação, bem como de produção de
conhecimento e de práticas inovadoras.
Os estágios vêm sendo considerados como espaços privilegiados para promover
essa interlocução com os ambientes de trabalho. No marco legislatório da educação
brasileira, especialmente nas várias Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação
de Professores da Educação Básica que se estabeleceram a partir das exigências sobre a
formação de professores contempladas na Lei de Diretrizes e Bases de 1996, os estágios
passaram a adquirir o status de dimensão epistemológica, constituindo-se em compo-
nente curricular teórico-prático para a aprendizagem da docência.
No entanto, apesar do relevo concedido às práticas e ao estágio como campo
de conhecimento a partir dos referentes legais, verifica-se a permanência dos dilemas
históricos que o caracterizam. No debate sobre a dimensão social e formadora desse
Residência pedagógica,
Metodologia da
Problematizão e
estágio: aproximões
e possibilidades para a
formão docente
CATULO 22
Rebeca Pizza Pancotte Darius
Elize Keller-Franco
Giza Guimarães P. Sales
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p311-328
Experiências Docentes
312
componente formativo, as críticas mais comuns têm-se dirigido ao modo tradicional
e burocrático em que comumente é conduzido e às concepções fragmentadas que con-
cebem a prática como aplicação de conhecimentos teóricos previamente aprendidos ou
o polo oposto onde a prática sobrepõe-se ao referencial teórico, deflagrando a tão pro-
palada dicotomia teoria e prática. Somam-se a estes, a ausência de vínculos entre as
instâncias formadoras, a academia e a escola.
A esse contexto, no bojo das políticas voltadas para a formação de professores, o
governo federal lançou o Programa da Residência Pedagógica (PRP) mediante o edi-
tal 06/2018 da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes).
Conforme o referido edital, o PRP tem como finalidade reformular o estágio nas li-
cenciaturas por meio de projetos inovadores que promovam a relação teoria-prática e
a parceria entre os cursos de licenciaturas com as escolas públicas da educação básica,
como pode ser visualizado nos objetivos propostos:
I. Aperfeiçoar a formação dos discentes de cursos de licenciatura, por meio do desenvolvi-
mento de projetos que fortaleçam o campo da prática e conduzam o licenciando a exer-
citar de forma ativa a relação entre teoria e prática profissional docente, utilizando coleta
de dados e diagnóstico sobre o ensino e a aprendizagem escolar, entre outras didáticas e
metodologias; II. Induzir a reformulação do estágio supervisionado nos cursos de licen-
ciatura, tendo por base a experiência da Residência Pedagógica; III. Fortalecer, ampliar
e consolidar a relação entre a IES e a escola, promovendo sinergia entre a entidade que
forma e a que recebe o egresso da licenciatura e estimulando o protagonismo das redes de
ensino na formação de professores; IV. Promover a adequação dos currículos e propostas
pedagógicas dos cursos de formação inicial de professores da educação básica às orien-
tações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018c, p. 1).
O edital (BRASIL, 2018a, p. 3) determina que as instituições selecionadas devem
comprometer-se em reconhecer a Residência Pedagógica para efeito de cumprimento
do estágio curricular supervisionado”. O documento prevê que o PRP se desenvolva por
meio de um período de imersão nas escolas-campo para os licenciandos (residentes) que
estejam cursando a partir da segunda metade do curso, mediados pelo docente orienta-
dor na IES, por um professor da educação básica (preceptor) em articulação com o coor-
denador institucional. Os envolvidos recebem bolsas da Capes, havendo a possibilidade
de participantes voluntários tanto para residentes como para docentes orientadores.
O Programa estabelece um total de horas de atividades distribuídas da seguin-
te forma: ambientação na escola-campo (60 horas), imersão (320 horas), elaboração de
relatório final, avaliação e socialização de atividades (60 horas). Essas 440 horas são
desenvolvidas em um período de dezoito meses para os quais são sugeridos dois meses
para preparação dos alunos e curso de formação para preceptores; quatro meses para
313
Residência Pedagógica, Metodologia da Problematização e estágio
ambientação do residente na escola com orientação conjunta do docente orientador e do
preceptor. Nessa fase de ambientação os residentes realizam atividades de diagnóstico
e elaboram o plano de atividades com base na realidade diagnosticada; dez meses para
a realização da imersão na escola, sendo no mínimo 100 horas destinadas a regências e
as demais poderão ser compostas por projetos de intervenção extraclasse; e, dois meses
para a elaboração do relatório final, avaliação e socialização dos resultados.
A ideação do PRP expressa nos documentos legais que a embasam - edital 06/2018
(BRASIL, 2018a) e portaria Capes nº 45, de 12 de março de 2018, alterada pela portaria
nº 175 (BRASIL, 2018b) - denota a intencionalidade de promover uma formação prática
para os estudantes, possibilitando aos mesmos vivenciarem processos de aprendizagem
da docência vinculados aos contextos reais em que irão atuar, perspectivando o estágio
como um espaço de produção de saberes e de práticas inovadoras.
Ao apresentarmos as intencionalidades presumidas no PRP, não desconhecemos
ou desconsideramos os desafios e os limites que subjazem a residência nem mesmo as
críticas colocadas ao Programa; apenas não os tomaremos neste capítulo. Diante da di-
ficuldade que os cursos de formação inicial encontram para desenvolver o estágio como
espaço para investigação e produção de saber em que universidade, escola, estudante
estagiário, professores universitários e da educação básica dialoguem sobre os desafios
educacionais e a complexidade da docência, vamos buscar no PRP um caminho para a
construção de alternativas para ressignificação do estágio. Nessa direção, trazemos para
reflexão a Metodologia da Problematização, a partir do Arco de Maguerez (BORDENA-
VE; PEREIRA, 1982; BERBEL, 1995; 1998), como uma possibilidade.
A experiência da implementação do
Programa Residência Pedagógica com a
utilização da Metodologia da Problematização
A Metodologia da Problematização é uma proposta de ensino, pesquisa e estudo com
ampla repercussão em cursos na área da saúde e que tem se expandido nas últimas décadas
para a área da educação por meio dos trabalhos de Berbel (1995). Ela está estruturada em
cinco etapas interligadas entre si que tem como referência o Arco de Maguerez, criado nos
anos 1970 e estruturado por Bordenave e Pereira (1982) que foram inspirados também na
educação problematizadora de Paulo Freire. Guarda identidade ainda com pedagogia histó-
rico-crítica, proposta nesse mesmo período por Saviani, que prevê a estruturação do ensino
em momentos tendo como base a realidade objetiva e a instrumentalização do educando
para uma ação transformadora na sociedade (SAVIANI, 2005).
Como alternativa metodológica, a Metodologia da Problematização orienta uma prá-
tica pedagógica voltada para o desenvolvimento de estudantes com autonomia intelectual,
Experiências Docentes
314
visando prepará-los para atuar intencionalmente na transformação dos contextos educacio-
nais e sociais. Ela consiste em levar o aluno a: observação da realidade para compreensão
das problemáticas e suas causas, identificação dos pontos-chave para seleção dos aspectos
principais a serem estudados, produção da teorização para aprofundamento teórico sobre
os pontos selecionados, elaboração das hipóteses de solução para propor alternativas que
auxiliem na superação da problemática percebida, aplicação à realidade por meio do desen-
volvimento de projetos ou atividades inovadoras (COLOMBO; BERBEL, 2007).
Trata-se de uma proposta que se assemelha ao método cienfico, embora não seja idên-
tica a ele e que, desenvolvida como método de ensino ou estudo (BERBEL, 1995), pode contri-
buir para a formação de estudantes mais ativos, autônomos e conscientes dos limites impostos
pela realidade e de suas possibilidades. O esquema exposto na figura 1 representa as etapas do
próprio Arco de Maguerez que foi representado por Bordenave e Pereira (1982), como se vê:
Figura 1 – Arco de Maguerez
Fonte: Bordenave e Pereira (1982)
A Metodologia da Problematização se mostrou uma possibilidade para a implemen-
tação do PRP no curso de Pedagogia do Unasp campus Engenheiro Coelho-SP, tendo
em vista que as diretrizes do Programa previam momentos tais como ambientação com
levantamento de diagnóstico e planejamento, imersão para desenvolvimento de ações de
intervenção e reflexão, avaliação e socialização dos resultados. A possibilidade de arti-
culação da Metodologia da Problematização com o PRP se constituiu a partir das bases
teórico-metodológicas da proposta que tem como pressuposto que o ponto de partida e
315
Residência Pedagógica, Metodologia da Problematização e estágio
o de chegada é a realidade, ou seja, parte da observação e problematização da realidade
concreta pelo aluno e finaliza com a aplicação na prática, sendo que nesse ínterim há uma
série de ações que podem orientar e conduzir para uma prática transformadora.
Essa concepção teórico-metodológica permitiu que a Metodologia da Problematiza-
ção, estruturada em uma sequência de etapas, fosse pensada no âmbito do estágio na resi-
dência: observação da realidade associada à ambientação; pontos-chave, teorização, hipóte-
ses de solução e aplicação à realidade associados à imersão na escola com ênfase na aplicação/
intervenção na realidade; e a última etapa para atendimento ao edital, sendo o momento da
socializão das ações. Essas etapas devem ser vistas em seu conjunto e consideradas como
inter-relacionadas, dinâmicas e flexíveis. Tal relação pode ser visualizada a partir da figura 2
que demonstra a estrutura das etapas da Metodologia da Problematização.
Figura 2 – Correlação entre as etapas da Metodologia da Problematização
Fonte: elaborado pelas autoras (2020)
Por ser uma proposta de ensino, estudo e até mesmo pesquisa, foi possível
organizá-la conforme indica a figura 3 na tentativa de demonstrar como as eta-
pas da Metodologia da Problematizão foram organizadas conforme as etapas
estipuladas pelas diretrizes do PRP, indicando a ideia de processo, continuidade
e relação, como segue:
Figura 3 – Fluxograma - Metodologia da Problematização(etapas) do PRP
Fonte: elaborado pelas autoras (2020)
Experiências Docentes
316
É possível observar que não se trata de uma correlação direta, mas de uma se-
quenciação que seguiu as duas lógicas combinadas entre si: a da metodologia e a da
residência. Percebe-se que, em alguns momentos, as etapas do PRP se repetem e/ou
se sobrepõem por dois motivos: primeiro, porque de um ano para o outro, houve mu-
dança na turma de alunos que estavam sob a responsabilidade das preceptoras, sendo
necesria uma nova observação da realidade específica daquela sala de aula; segundo,
porque é natural que os momentos se “misturem: enquanto o residente já está imerso
no universo, também está aguçando suas percepções, portanto, se ambientando ainda,
revendo a problemática, reestruturando os pontos-chave, pesquisando outros autores
não pensados antes, para aprofundar a teorização em um movimento dialético no
qual as fases se intercomunicam. Como afirma Berbel (1998, p. 149) acerca desse pro-
cesso: “na Metodologia da Problematização, após o estudo de um problema poderão
surgir outros, como desdobramento do primeiro, só percebidos pelos alunos com o
estudo aprofundado deste”.
No caso do PRP, as etapas da teorização e hipóteses de solução propostas pela
Metodologia da Problematização foram agrupadas indicando que o aprofundamento
teórico possibilitou pensar em alternativas de intervenção. Também foi acrescentado
um tópico que diz respeito ao depois, ao momento da avaliação e reflexão. Em nada es-
ses ajustes alteram a estrutura e os princípios da abordagem, mas foram assim organiza-
dos para preservar as especificidades de cada proposta. Essa articulação ocorre porque
as duas propostas aqui consideradas, a da metodologia e a da Residência Pedagógica,
trabalham intencionalmente mediante a aproximação da realidade para analisá-la criti-
camente à luz da teoria, levantando subsídios para a intervenção transformadora e para
a proposição de novas experiências.
A ambientação
A ambientação pode ser associada à etapa da observação da realidade. O período
de ambientação previsto no Edital 06/2018 (BRASIL, 2018a) tinha como intuito o co-
nhecimento da realidade escolar por parte do residente mediante o acompanhamento
da IES e da escola básica, de forma que o diagnóstico do contexto pedagógico, cultural
e social da escola lhe permitisse construir o plano de atividades a ser desenvolvido no
período de imersão. Ressaltamos que a articulação entre as duas instâncias formadoras
se fez presente em todo o processo devido à própria natureza do Programa, que previa
esse trabalho em conjunto. Assim, enquanto a relação entre docente orientadora da IES,
preceptores e residentes se estreitava por meio de reuniões presenciais ora na escola, ora
na IES, e contatos online, os residentes eram orientados quanto à organização do plane-
jamento que deveria seguir as etapas da Metodologia da Problematização.
317
Residência Pedagógica, Metodologia da Problematização e estágio
Para que esse processo ficasse claro a todos os participantes, foram realizadas reu-
niões para estudos sobre a Metodologia da Problematização a partir dos textos de Berbel
(1995; 1998). Portanto, na etapa de ambientação, os licenciandos tiveram oportunidade
de iniciar as idas às escolas para conhecer a comunidade escolar, perceber a dinâmica de
trabalho da instituição, participar de reuniões de planejamento com as preceptoras etc.
Nas reuniões, o foco era a observação da realidade tanto escolar quanto especificamente
da sala de aula. “Tal observação permitirá aos alunos identificar dificuldades, carências,
discrepâncias, de várias ordens, que serão transformadas em problemas, ou seja, serão
problematizadas” (BERBEL, 1998, p. 142).
Assim, a partir dessa observação sistemática do contexto escolar e da realidade da
sala de aula da preceptora (professora na escola-campo responsável para acompanhar os
licenciandos), foi possível a identificação de problemáticas (BERBEL, 1998) pertinentes
a esse universo. Na reflexão entre docente orientadora, preceptoras e residentes, inú-
meras problemáticas foram se delineando como demandas para intervenção. Ao mes-
mo tempo em que as problemáticas iam se definindo, a análise das causas também era
pensada. Diversas áreas foram elencadas como prioritárias, desde a leitura e escrita na
alfabetização, o raciocínio lógico-matemático nos anos finais do ensino fundamental I,
o desenvolvimento psicomotor das crianças na educação infantil, entre outros.
Portanto, na ambientação, que incluía o momento da elaboração do plano de ati-
vidades proposto pela Capes (BRASIL, 2018a), os residentes levantaram problemáticas
junto à comunidade escolar, elaboraram um planejamento escrito com base na sequen-
ciação da Metodologia da Problematização: observação da realidade - levantamento das
problemáticas da sala de aula juntamente com a preceptora e equipe pedagógica da es-
cola; identificação dos pontos-chave - seleção de assuntos principais que deveriam ser
estudados acerca da problemática; teorização - aprofundamento teórico por parte do
residente com o aporte dos principais autores; hipóteses de solução - elaboração pelo
residente de possíveis ideias para intervenção na realidade da sala de aula; aplicação à
realidade - desenvolvimento de projetos e propostas para auxiliar na resolução do pro-
blema mediante práticas de regências de classe e outras intervenções pedagógicas. Tal
processo teve orientação direta da IES e o acompanhamento das preceptoras.
O processo de imersão
No momento estabelecido como imersão pela Residência Pedagógica, estabele-
ceu-se uma identificação com as seguintes etapas da Metodologia da Problematização:
identificação dos pontos-chave, teorização, hipóteses de solução e da aplicação à re-
alidade. Embora a identificação dos pontos-chave, teorização e hipóteses de solução
já estivessem presentes lá no momento da ambientação informando a elaboração do
Experiências Docentes
318
plano de ação, aqui essas fases foram retomadas e aprofundadas para subsidiar as
vivências práticas de condução de aula e demais intervenções pedagógicas. Essas re-
tomadas são cabíveis e pertinentes uma vez que as etapas da Metodologia da Proble-
matização não ocorrem de forma estanque, pois elas se intercomunicam ao longo de
todo o processo; no entanto, daremos um destaque ao momento da elaboração das
hipóteses e da aplicação à realidade.
Como é de se esperar, a elaboração das hipóteses ocorreu ao longo de todo o
processo, ou seja, à medida que os residentes iam participando semanalmente da re-
alidade da sala de aula, além das reuniões na escola-campo e na IES para orientações
e trocas de experiências, iam construindo suas hipóteses e organizando suas práticas
futuras. “Nesta metodologia, as hipóteses são construídas após o estudo, como fruto
da compreensão profunda que se obteve sobre o problema, investigando-o de todos os
ângulos possíveis” (BERBEL, 1998, p. 144).
Na elaboração das hipóteses de solução, temos que “os alunos confrontam suas
ideias, suas propostas com os dados disponíveis, com as informações disponíveis até
então” (BERBEL, 1995, p. 16). Destacamos como primordial nesse momento de elabo-
ração das hipóteses, que corresponde aos projetos e atividades que os alunos planeja-
ram para serem desenvolvidas nas regências, o papel das professoras preceptoras no
acompanhamento semanal.
Esse acompanhamento fez com que o aluno fosse construindo habilidades reque-
ridas no fazer docente. O olhar das preceptoras, a orientação quanto às ações possíveis
de serem realizadas e outras que deveriam ser adaptadas e reformuladas, proporciona-
ram experiências docentes que permitiram a aprendizagem e o desenvolvimento dos
próprios residentes na formação inicial e intensificou o comprometimento da professora
com o desempenho e formação dos licenciandos.
Percebemos que esse desenvolvimento pode estar refletindo o que traz a proposta:
os resultados deverão voltar-se para algum tipo de intervenção na realidade, na mesma
realidade na qual foi observado o problema, imediatamente, dentro do nível possível de
atuação [...]” (BERBEL, 1998, p. 152) e foi justamente isso que os licenciandos vivencia-
ram. Ao terem o compromisso com a intervenção na realidade, ainda que essa interven-
ção fosse em conformidade com as possibilidades de atuação que tinham pois estavam
em fase de formação inicial, como futuros professores foram levados a mobilizar conhe-
cimentos, habilidades, competências, repertórios esses adquiridos ao longo do processo
formativo por meio dos estudos, observações, confrontações e reflexões contínuas.
Pode-se dizer que a aplicação à realidade foi um momento crucial no Programa,
tendo ocorrido ao longo dos dez meses e de maneira semanal, portanto, connua, ao
invés de momentos estanques. “Esta etapa é destinada à prática dos alunos na realida-
de social. É a fase que possibilita o intervir, o exercitar, o manejar situações associa-
das à solução do problema” (BERBEL, 1995, p. 16). Isso não quer dizer que as etapas
319
Residência Pedagógica, Metodologia da Problematização e estágio
anteriores permaneciam intocadas. Na verdade, foi necessário voltar algumas vezes à
problemática ou mesmo à teorização inicial e reformulá-las, ajustá-las de acordo com
o que a práxis realizada ia revelando.
A proposta metodológica que ora se apresenta como alternativa ao estágio su-
pervisionado demandou a comunicação constante entre IES e escola-campo, o diálo-
go entre os atores envolvidos no processo, o respeito aos saberes que abarcam a esfera
de ação de cada um e o objetivo em comum, que é contribuir para a formação de futu-
ros professores. Esta articulação proporcionada pelo Programa e pela Metodologia da
Problematização teve o “sentido especial de levar os alunos a exercitarem a cadeia dia-
lética de ação-reflexão-ação, ou dito de outra maneira, a relação prática-teoria-prática,
tendo como ponto de partida e de chegada no processo de ensino e aprendizagem, a
realidade social” (BERBEL, 1998, p 144).
Socialização, avaliação e relatório final
Embora a Metodologia da Problematização não traga previsão de uma etapa
posterior à aplicação à realidade como previa o edital do PRP, consideramos que deve
fazer parte da postura de todo estudante, educador ou pesquisador o refletir sobre
sua prática e a disposição em divulgar aos pares as ações desenvolvidas, sejam seus
aspectos positivos ou as limitações e desafios. No caso da realidade que vivenciamos,
os momentos de reflexão e socializão se deram ao longo do processo, em encontros
semestrais no âmbito do curso de Pedagogia e entre os residentes de outros cursos
também, em eventos internos e externos.
A socializão em tais eventos consistiu na exposição da Metodologia da Proble-
matização por parte dos residentes, articulada às etapas da Residência Pedagógica e a
divulgação das intervenções realizadas, dos desafios e dos resultados obtidos. O último
evento foi organizado pela coordenação institucional e contou com a participação de
todos os cursos do Unasp envolvidos no Programa. Ali os residentes tiveram a oportu-
nidade de expor os resultados finais dos projetos realizados. Houve também a participa-
ção dos residentes em um evento externo de iniciação cienfica, o Seminário Interna-
cional de Iniciação Científica da Universidade Estadual de São Paulo - SIICUSP - 2019.
O processo de autoavaliação e avaliação do Programa consistiu numa autorrefle-
xão e reflexão acerca da vivência que tiveram, incluindo a realidade escolar e o ensino
superior, os limites encontrados e as possibilidades. Pode-se dizer que esses momentos
aconteceram ao longo do processo principalmente nos momentos de reuniões em que os
residentes podiam se manifestar e expor suas ideias quanto ao que estavam vivenciando.
Como síntese de todo esse processo, cada residente elaborou um relatório final organi-
zado pela Capes, que nos permitiu sintetizar suas principais impressões.
Experiências Docentes
320
A voz dos residentes sobre a
aproximação estágio, residência
e Metodologia da Problematizão
para a formação docente:
experiências e desafios
A parceria estabelecida entre o curso de Pedagogia e escolas-campo do município
oportunizou aos residentes a imersão no cotidiano escolar. Por se tratar de uma experi-
ência de formação teórico-prática desenvolvida ao longo de dezoito meses, os licencian-
dos puderam realizar suas atividades de estágio no âmbito desse Programa acompanha-
dos pela docente orientadora da IES e mediados pelas preceptoras das escolas-campo.
Durante a vigência do Programa, os residentes participaram de atividades aca-
dêmicas e científicas, que envolveram desde estudo de textos e aprofundamento biblio-
gráfico, diagnóstico da realidade, planejamento, participação em fóruns, eventos de for-
mação, participação em congressos científicos com apresentação de trabalhos nos quais
puderam socializar as práticas desenvolvidas trazendo reflexões sobre as aproximações
entre estágio, Residência Pedagógica e Metodologia da Problematização.
Para a finalização do PRP, era solicitada a elaboração de um relatório final pelos
residentes. Esse documento deveria contemplar o plano de atividades que orientou todas
as ações da residência, o relatório das atividades desenvolvidas e as considerações finais
com as impressões dos estudantes a respeito do Programa e das experiências vivenciadas.
Na primeira parte do relatório, os residentes descreveram as atividades teóricas e
práticas realizadas nos diversos espaços formativos como: atividades internas no âmbito
da IES e das escolas-campo, que consistiram em reuniões de formação e planejamento,
orientações individual e em grupo, ambientação, observação, planejamento de ativida-
des, elaboração de projetos e regências, além de atividades externas como participação
em eventos acadêmicos e congressos com apresentação dos resultados do trabalho e
experiências decorrentes do desenvolvimento dos projetos.
Na segunda parte do relatório, os residentes apresentaram nas considerações fi-
nais suas impressões a respeito do Programa, sugestões para melhorias, se houve arti-
culação entre as instituições envolvidas, além de descreverem as principais dificuldades
encontradas e as principais contribuições do PRP para sua formação.
Os relatórios serviram como instrumento para conhecer as atividades desenvolvi-
das e percepção dos estudantes sobre a participação no Programa. Foram considerados
para análise os relatórios dos 24 residentes. É com base na observação e alise desses
relatórios que apresentamos a seguir a voz dos residentes, como uma síntese da percep-
ção que tiveram durante sua atuação no Programa.
Na descrição das atividades realizadas, observou-se que foi expressiva a referên-
cia à utilização da Metodologia da Problematização/arco de Maguerez como condutora
321
Residência Pedagógica, Metodologia da Problematização e estágio
do processo, dos quais selecionamos alguns registros, caracterizados pelas iniciais dos
residentes entre parênteses:
(P. M. S. L.) “Participamos da ambientação na escola, iniciando, o processo
de imersão nas atividades cotidianas escolares, verificando a infraestrutura e
a organização escolar, e, por meio da observação participativa em sala de aula,
identificamos as problemáticas, que seriam adequadas ao projeto de interven-
ção, com a intenção de trabalhar os problemas identificados. O trabalho foi
fundamentado no método do Arco Maguerez conforme as etapas da Metodo-
logia da Problematização. Primeiramente, observar a realidade, identificar os
pontos-chave, e desse modo, na terceira etapa elaborar a teorização no qual
serão considerados todos os pontos-chave observados na elaboração do tema,
com isso, produzimos as prováveis hipóteses de solução, e, finalmente, aplica-
mos as seguintes hipóteses na realidade.
(E. S. C.) “Ao longo do primeiro semestre da residência, tivemos rodas de con-
versa com as preceptoras, docentes universitários, entrevista com a diretora da
escola e observação na sala de aula. Durante esses momentos, tivemos a opor-
tunidade de verificar em qual problema iríamos focar usando a metodologia
do Arco de Maguerez. Identificamos a problemática na área de matemática, e
a partir daí começamos a planejar juntamente com as preceptoras e docentes
universitárias que nos acompanharam durante o processo.
(L. C. P. S.) “O projeto começou a ser pensado durante a ambientação com as
observações realizadas na escola visando aprendizagem dos alunos median-
te a busca por uma problemática para ser trabalhada. Através de conversas e
questionamentos juntamente com a preceptora vimos que havia necessidades
na área de ciências da natureza, fazendo a interdisciplinaridade com as outras
áreas. Por essa razão, surgiram questionamentos de como trabalhar ciências
da natureza no primeiro ano do ensino fundamental I e como incentivá-los a
serem pesquisadores da realidade que os cerca? Com o acompanhamento dos
profissionais envolvidos, nós residentes trabalhamos as dificuldades encontra-
da em sala de aula, seguindo os passos do Arco de Maguerez. (Grifos nossos)
Dentre os depoimentos explicitados pelos estudantes na parte do relatório de-
dicada à impressão sobre a residência, a recorrência de algumas ideias nos permitiu
elencar temáticas que auxiliam a visualizar de maneira mais clara as percepções dos
residentes em relação às suas experiências no PRP. Destacamos, a seguir, algumas falas
que se mostraram reveladores da percepção que predominou no discurso dos bolsistas,
Experiências Docentes
322
conforme as temáticas elencadas, tais como: articulação teoria e prática - vivência prá-
tica e reflexão; imersão na realidade escolar - experiência adquirida - troca de saberes;
e contribuição para a formação - dificuldades encontradas, conforme observado nos
registros. Os depoimentos estão representados pelas iniciais dos nomes dos residentes.
A respeito da relação teoria e prática, vivência prática e reflexão, temas encontrados
nas falas dos residentes, consideramos o que dizem Pimenta e Anastasiou (2005). Para
as autoras, o processo de “mediação reflexiva” (p. 78) abarca a investigação, que, por sua
vez, envolve o conhecer as teorias em articulação com as experiências e também com o
que percebemos por intermédio da emoção, do afeto, do olhar, ou seja, “conhecer é o ato
que mobiliza o ser humano por inteiro” (PIMENTA; ANASTASIOU, 2005, p. 78). Assim,
percebemos que a RP possibilitou essa mobilização como se evidencia nos comentários:
(G. F. B.) “O contato com a escola provocou em mim um maior entendimento
de como ocorre o processo de ensino e aprendizagem, relacionamento profes-
sor-aluno, teoria e prática.”
(E. S. C.) “O PRP proporcionou a nós, alunos de pedagogia, oportunidades
para relacionar a teoria e prática docente.
(D. P. S.) “Poder participar em sala de aula através da observação e auxílio
junto à professora é maravilhoso, porque se aprende de forma ptica e real.”
(P. A. S.) “A RP me propiciou diversos saberes, ao entrar em contato com a
prática através das observações, regências, leituras, pesquisas, atividades e da
troca de saberes.
(G. F. B.) “Busquei reetir sobre a minha prática tentando descobrir novos
caminhos para que o meu trabalho pudesse ser desenvolvido da melhor for-
ma, para dar condições significativas de aprendizagem para os alunos.” (Gri-
fos nossos)
Pimenta (1997) e Pimenta e Anastasiou (2005) nos auxilia a refletir sobre a experi-
ência que o futuro professor tem da realidade escolar adquiridas nas vivências enquanto
aluno e na observação de seus professores. O desafio da formação, no entanto, é colaborar
com a construção da identidade do professor, em que ele passa a ver-se como tal, e para
isso “[...] os saberes da experiência não bastam” (PIMENTA, 1997, p. 43). Assim, elementos
como imersão na realidade escolar e as experiências adquiridas em decorrência da vivên-
cia proporcionada pela RP ganham um sentido especial quando vistos à luz do processo
de uma construção da identidade docente, conforme demonstram os excertos:
323
Residência Pedagógica, Metodologia da Problematização e estágio
(K. B. S.) “A RP me deu a oportunidade de perceber de perto a realidade de
uma sala de aula. Pude imergir totalmente no ambiente escolar e conhecer
todas as áreas que a pertencem.
(N. S. N. P.) “Com a experiência da RP você consegue ver a realidade e como
é uma sala de aula, os seus problemas, as coisas boas, como ensinar, técnicas
usadas pela professora que podemos usar futuramente.
(M. Y. O.) “O contato direto com a escola, observar seu desenvolver diário
trouxe experiências significativas, principalmente durante as regências de aula.
(P. M. S. L.) “Atualmente sinto mais segurança para futuras regências, além
das dicas fundamentais dos orientadores e preceptores, tive a experiência de
aplicar as metodologias ativas e a ludicidade nas regências.” (Grifos nossos)
Retomando o pensamento de Pimenta (1997) e Pimenta e Anastasiou (2005), é consenso
que o ensino demanda a mobilização de saberes específicos, pedagógicos e da experiência e
que, longe de serem blocos distintos e desarticulados, embora por tanto tempo tenham sido
trabalhados assim na formação de professores, precisam ser considerados em conjunto a partir
da prática social de ensinar. Nesse sentido, termos como aprendizado, conhecimento e ex-
periência também se mostraram presentes em boa parte dos discursos, além de expressões
similares que denotam a mesma percepção e são vistos dentro de um contexto de significado:
(J. D. S. L.) “Na RP temos a oportunidade de aprender outras áreas do conhe-
cimento, pois temos encontros de socialização, onde todos podem compar-
tilhar seus projetos e resultados, mostrando assim que há possibilidade da
interdisciplinaridade.”
(E. S. C.) “Tem sido uma experiência única e de grande aprendizado, consigo
me ver dando aula e melhorando nos aspectos que os preceptores me ajuda-
ram a ver.
(G. F. B.) “A experiência em sala de aula tanto observando, quanto participan-
do, foram de suma importância e enriquecimento para o meu aprendizado e
dos colegas residentes.
(N. S. N. P.) “O nosso crescimento é fantástico tanto intelectual como humano.
Aprender no dia a dia nos torna profissionais muito melhores para o futuro.
(Grifos nossos)
Experiências Docentes
324
Concordamos com Barros e Moraes (2002, p. 16), quando mencionam que “a qua-
lificação dos profissionais da educação constitui-se em uma importante preocupação na
busca de alternativas que propiciem a melhoria do trabalho educativo na organização
escolar”. Embora saibamos que outras variáveis também sejam importantes, como a
formação pessoal e cultural do estudante, as condições de trabalho na escola, a pouca
valorização do professor, entre outras, consideramos que a articulação da formação ini-
cial com a formação continuada e com a realidade das escolas pode trazer contribuições.
Assim, expressões como desenvolvimento, formação acadêmica e profissional também
se fizeram presentes nas percepções demonstradas pelos residentes:
(A. C. P. P.) “A RP foi de grande relevância para meu desenvolvimento pro-
fissional, pois o contato direto com a escola, observar seu desenvolver diário
trouxe experiências significativas, principalmente durante as regências de aula.
(A. C. M.) “Contribuiu para minha formação acadêmica e prossional, ofere-
cendo base para o início da docência, enfrentamento das dificuldades em sala
de aula, mostrando a realidade da escola.
A análise dos relarios nos permitiu observar ainda que alguns depoimentos
englobavam mais de uma temática, como se vê a seguir:
(L. C. P. S.) “Com a experiência que o projeto nos proporcionou permitiu nos
aproximar mais da realidade de uma sala de aula, melhor relacionamento entre
teoria e prática, além de uma formação mais completa e significativa.
(S. P. S. N. C.) “Com a RP estou adquirindo segurança sobre o que fazer e o que
não fazer, de forma prática. São experiências e aprendizagens adquiridas que
contribuem para minha formação prossional.” (Grifos nossos)
Como foi possível observar por meio da alise dos depoimentos, o PRP pro-
porcionou aos licenciandos uma diversidade de experiências formativas carregadas de
significados e permeadas por um conjunto de vivências relacionadas ao fazer docente
e ao enfrentamento das dimicas da vida escolar. Portanto, evidencia-se que, por
meio de uma real imersão no cotidiano escolar, aliada ao acompanhamento efetivo
por parte dos preceptores, o residente é capaz de relacionar os conhecimentos teórico-
-práticos da formação.
Em continuidade à alise dos relatórios, foi possível observar algumas dificulda-
des mencionadas pelos residentes encontradas durante o desenvolvimento de suas ativi-
dades de estágio da RP. De acordo com Barros e Moraes (2002), muito do que é estudado
325
Residência Pedagógica, Metodologia da Problematização e estágio
nos cursos de formação passa a ideia de uma escola idealizada, cujas características
são definidas com certo distanciamento da “escola com todas as suas complexidades”
(BARROS; MORAES, 2002, p. 20). No entanto, ressaltamos a importância de que, na
formação, sejam consideradas as condições da escola que existe. Sobre as principais
dificuldades encontradas, apontamos os seguintes depoimentos:
(L. R. A. F.) “Posso dizer que as primeiras aulas foram difíceis, os planos de aula
preparados não davam muito certo, as crianças perdiam o foco com facilidade,
mas, agora posso dizer com certeza que sei fazer um plano de aula e aplicá-lo
com clareza.
(M. K. M. O.) “Foram muitas as diculdades encontradas como indisciplina,
falta de controle da turma, carências da rede pública e a principal dificuldade
em colocar o projeto em prática. Isso porque as crianças se dispersavam muito
rápido. Porém, com o tempo fomos compreendendo a realidade e adaptando
tudo, até começa a dar certo.
(M. M. C. F.) “Durante a RP, encontramos diversas diculdades, já que é um
mundo novo para nós que estamos aprendendo. Percebi que ensinar não é
um trabalho fácil, requer muito esforço e dedicação, mas se for feito do jeito
certo, sempre buscando novos conhecimentos, é possível guiar os alunos para
o caminho do sucesso também. Dessa forma, posso afirmar convictamente
que o PRP teve um papel fundamental na minha formação, me auxiliou em
diversos momentos e me proporcionou uma reflexão significativa da minha
prática pedagógica.” (Grifos nossos)
Diante do exposto, foi possível observar expressões recorrentes quanto à qualida-
de das ações desenvolvidas durante todo o processo formativo, experiências adquiridas
durante a imersão no contexto escolar, superação do medo e insegurança quanto ao en-
frentamento da sala de aula, percepção da articulação entre a teoria adquirida no curso
e o enfrentamento de situações práticas durante as regências. Portanto, mais do que
relatos de experiências da prática dos estágios realizadas no âmbito da RP, o que se pôde
depreender dos depoimentos coletados se relaciona mais enfaticamente à percepção em
relação à contribuição formativa proporcionada aos residentes.
Dessa forma, é passível de compreender que é por meio da imersão que se aproxima
o licenciando e futuro docente do cotidiano escolar, permitindo, a partir das práticas de
regência e demais atividades desenvolvidas durante toda a execução do Programa, que
vivenciem o fazer docente e vislumbrem algumas ações como reveladoras de possibili-
dades de enfrentamento aos desafios do trabalho do professor. É por meio do trabalho
Experiências Docentes
326
pedagógico de qualidade, da articulação entre teoria e prática e da parceria entre as ins-
ncias formadoras, amparados por políticas de formação inicial e continuada de quali-
dade que certamente veremos o reflexo no desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.
Considerões finais
A formação de professores no Brasil, desde as primeiras iniciativas com as escolas
normais no século 19 até a atualidade, continua despertando discussões. No centro des-
ses debates a formação prática figura como um dos grandes desafios.
Uma explicação para a perpetuidade da situação está na concepção que tem orien-
tado os componentes práticos do ensinar e aprender a profissão docente. Predominan-
temente, a formação prática traduzida especialmente no estágio, tem sido orientada sob
uma lógica instrumental, de ênfase técnica, também denominada na historiografia edu-
cacional como modelo “artesanal, no qual subjaz a compreensão de que a aprendiza-
gem da docência se dá mediante a imitação de profissionais em exercício.
Nessa perspectiva, o estágio será considerado como bem-sucedido à medida que
o licenciando mais se aproximar dos modelos observados e reproduzi-los em suas “re-
gências”. Assim, o estágio se limita à observação da sala de aula e reprodução de “aulas-
-modelo, reduzido em sua dimensão reflexiva mediante a ausência de articulação teoria e
prática, da alise do contexto escolar e de seus determinantes políticos e sociais. Os equí-
vocos dessa visão podem ser dimensionados em Pimenta e Lima (2012, p. 37) ao alertarem
que “a prática pela prática e o emprego de técnicas sem a devida reflexão podem reforçar a
ilusão de que há uma prática sem teoria ou de uma teoria desvinculada da prática”.
Na tentativa de superar esse enfoque, especialmente nas últimas décadas do sécu-
lo 20, a perspectiva da prática instrumental deu lugar ao criticismo. Essa perspectiva de
estágio centrou-se na análise das falhas da escola, dos seus profissionais, das políticas
educacionais, dos determinantes sociais e econômicos sobre a educação, caindo na crí-
tica verbalista prenhe de uma abordagem propositiva.
O redimensionamento dessa situação passa pela superação da concepção de que
a escola é o locus da aprendizagem prática e a universidade o locus da teoria, sendo
necesrio estabelecer nexos entre essas duas instâncias formadoras para que a leitura, a
interpretação e a compreensão da realidade sejam refletidas em completo imbricamento
com a teoria, e todas se informando mutuamente.
Tal perspectiva figura nas finalidades do PRP ao definir-se como a imersão pla-
nejada dos docentes em formação no ambiente escolar. Na experiência aqui relatada, a
vivência e a experimentação de situações concretas do cotidiano foram objetos de re-
flexão constantes mediante o uso da Metodologia da Problematização, sendo esta uma
327
Residência Pedagógica, Metodologia da Problematização e estágio
possibilidade viabilizadora do movimento de articulação teoria e prática e aproximação
das instituições formadoras.
No âmbito conceitual, o resgate dos princípios que embasam e estruturam a Me-
todologia da Problematização em diálogo com os desafios que se colocam para o estágio
e os encaminhamentos que se descortinam para o mesmo, bem como as expectativas
apresentadas no PRP, revelaram uma identidade de princípios, finalidades e processos
para ressignificação do ensino e aprendizagem da profissão.
A aproximação entre estágio, residência e Metodologia da Problematização abre
possibilidades para uma formação que valoriza a compreensão das situações vivencia-
das e observadas na escola e nos sistemas de ensino a partir da problematização das
ações e das práticas amparadas com as explicações teóricas para estimular a ação trans-
formadora. Nesse sentido, aprender a profissão docente no decorrer do estágio envolve
ambientação/observação/problematização; investigação/aprofundamento/alise de
soluções e intervenção/avaliação do processo.
No âmbito operacional, a condução da Residência Pedagógica com a Metodo-
logia da Problematização conforme revelado nas falas dos licenciandos se mostrou
um campo fértil para que os estudantes experienciassem vivências teórico-práticas,
imersão na realidade, trocas de saberes com os profissionais em situações de trabalho
e com os colegas, dentre outros.
O PRP propunha que as IES desenvolvessem experiências piloto para inovar o
estágio em seus cursos de licenciatura. Assim, a Metodologia da Problematização apre-
sentou-se como uma alternativa para conduzir a situação, pois a sua organização me-
todológica e os princípios que a embasam impelem para a relação intnseca que existe
entre o campo teórico e o campo da prática.
Referências
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termos ou diferentes caminhos? Interface - Comunicação, Saúde, Educação, p. 139-154,
1998. Disponível em: https://bit.ly/3y9zABz. Acesso em: 04 out. 2022.
Experiências Docentes
328
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2018a. Disponível em: https://bit.ly/3dw8OKc. Acesso em: 04 out. 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria Capes nº 45/2018, de 12 de março 2018.
Dispõe sobre a concessão de bolsas e o regime de colaboração no Programa de Residência
Pedagógica e no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid). Brasília,
2018b. Disponível em: https://bit.ly/3dEZ00l. Acesso em: 04 out. 2022.
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TARDIF, M. Saberes docentes e formação prossional. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
O presente texto visa apresentar e analisar as contribuições teórico-práticas do
PRP referente aos anos de 2018/2019 desenvolvido na unidade escolar parceira da ins-
tituição de ensino superior (IES), possibilitadas à formação docente dos(as) discentes
de Pedagogia que participaram como bolsistas e voluntários, tendo em vista vivenciar
a experiência docente já na formação inicial na graduação.
O PRP, promovido e financiado pela Capes, é desenvolvido por instituição de
ensino superior (IES) em parceria com a educação básica, nas unidades escolares es-
taduais e municipais. Caracteriza-se como ação efetiva de política pública educacional
voltada à formação profissional para o magistério de futuros(as) licenciados(as), que
atuarão na educação brasileira.
O desenvolvimento do PRP aconteceu em um período de dezoito meses, tendo
início em agosto de 2018 e término em janeiro de 2020, visando ao cumprimento de
440 horas de atividades organizadas conforme o cronograma estabelecido pelos docen-
tes orientadores abaixo apresentado:
Agosto e setembro de 2018: período de preparação dos alunos para participação no Programa pelo docente
orientador.
Outubro de 2018 a janeiro de 2019: período de ambientalização do residente na escola e preparação do plano de
atividades da residência em orientação conjunta com docente orientador e preceptor, com carga horária de 60 horas
na unidade escolar.
Fevereiro a novembro de 2019: período de imersão na escola, com carga horária de 320 horas, sendo destinadas,
no mínimo, 100 horas para realização de regências em salas de aula.
O Programa de
Residência Pedagógica:
autonomia teórico-
ptica na formação
docente
CAPÍTULO 23
Tânia Suely Antonelli Marcelino Brabo
Vanilda Gonçalves de Lima
https://doi.org/10.36311/2023.978-65-5954-332-8.p329-342
Experiências Docentes
330
Dezembro de 2019: período de elaboração do relatório nal das atividades do PRP, com carga horária de 20 horas.
Janeiro de 2020: período de realização de avaliação e socialização dos resultados dos objetivos alcançados no Progra-
ma de Residência Pedagógica (PRP, 2018/2019).
O cumprimento das atribuições legais da função de preceptor no PRP e da carga
horária de desenvolvimento do Programa de 440 horas foi consolidada e subdividida
em dois períodos fundamentais: atividades de ambientalização e de imersão/regência
pedagógica, incluindo na carga horária os encontros semanais e mensais de reuniões,
momentos de leitura e elaboração de planos de atividades, aplicação de regência e elabo-
ração de relatórios teórico-práticos.
A partir da aprovação do subprojeto pela Capes, deu-se início ao desenvolvimento
das ações prevista no projeto institucional. No processo de seleção, cada docente orien-
tadora acolheu quatro discentes bolsistas e um(a) discente voluntário(a) para partici-
par de seus respectivos subprojetos. O PRP teve por base atividades de orientação e de
realização de ações pedagógicas dos(as) bolsistas diretamente na escola em três etapas
interligadas, a saber: ambientalização, imersão e regência, sob a orientação e acompa-
nhamento da docente orientadora e da professora preceptora.
No período de ambientalização na escola, os residentes foram acolhidos e de-
senvolveram atividades de apresentação e reconhecimento do espaço escolar para
maior conhecimento da instituição de ensino da rede municipal. Nessa perspectiva,
realizaram acompanhamento e pesquisa exploratória da rotina escolar por meio da
observação e registro em “drio de bordo” das atividades do cotidiano escolar como:
organização da escola, realização do horário de recreio, além do acompanhamento,
observação e participação nas intervenções pedagógicas sob a orientação e supervisão
da professora em sala de aula, a preceptora do Programa, com base na supervisão da
docente orientadora. Realizaram também leitura e alise crítica do Projeto Político
Pedagógico (PPP) da unidade escolar.
Os encontros aconteceram semanalmente, com carga horária de sete horas, sendo
quatro horas de acompanhamento e intervenção direta em sala de aula e três horas para
reunião de planejamento e orientação com a preceptora, em colaboração com a docente
orientadora, no próprio espaço escolar.
No período de imersão, iniciado em fevereiro de 2019, os residentes aprofunda-
ram o processo de observação e intervenção pedagógica por meio do planejamento co-
laborativo com a preceptora e docente orientadora e atuação direta com as crianças na
aplicação de regências pedagógicas em sala de aula, demonstrando apropriação, domí-
nio e autonomia no processo de formação e atuação docente.
As reuniões de planejamento do plano de ações do PRP também aconteciam no
próprio espaço escolar durante o horário de realização das aulas semanais da disciplina
331
O programa de Residência Pedagógica
de língua inglesa. Neste intervalo, a preceptora tinha um tempo livre que utilizava para
realização das reuniões de estudos, planejamento das atividades e para avaliação das
ações pedagógicas de desenvolvimento do Programa.
Ao longo do período de desenvolvimento do PRP, os residentes foram acompa-
nhados pela preceptora nas diversas reuniões gerais e eventos promovidos pelo Pro-
grama que aconteceram na Unesp campus de Malia, organizados e realizados sob a
coordenação das docentes orientadoras da instituição de ensino. Essas atividades foram
fundamentais para o processo de formação inicial dos(as) estudantes/residentes.
A formação profissional docente tem início nos cursos de graduação e se estende
por todo o período de exercício profissional do(a) pedagogo (a), ou seja, consiste em um
processo contínuo. Por tal razão, apresenta-se como elemento de atenção especial desde
o início do processo da formação no curso de licenciatura, sendo intensificado no perí-
odo de realização do estágio curricular, pois essa atividade caracteriza-se como crucial
na formação profissional docente, tendo em vista a possibilidade de aproximação teó-
rico-prática dos conhecimentos pedagógicos no contexto da realidade socioeducativa.
Pimenta e Lima (2005/2006) ressaltam que, historicamente, os conceitos de teoria
e prática nos cursos de formação de professores sempre foram vistos como conceitos es-
tanques, fragmentados ideologicamente, ou seja, desarticulados da relação entre teoria
e prática. As autoras propõem a superação dessa fragmentação com base no conceito
de práxis, a qual redireciona o desenvolvimento da atividade de estágio para uma ação
investigativa vinculada à reflexão e intervenção na própria dinâmica da vida escolar,
envolvendo os professores, crianças, toda a equipe escolar, falias e toda a sociedade.
A proposta de formação docente do PRP, promovida pela Capes, defende a con-
cepção de estágio proposto por Pimenta e Lima (2005/2006), pois o concebe como prá-
xis, na perspectiva de desenvolvimento da atitude investigativa de formação docente
fundamentada na estreita relação existente entre teoria e prática.
Candau (1984) também ressalta a importância da unicidade estabelecida entre
os conceitos de teoria e prática no processo de formação docente inicial e continuada,
pois constitui-se numa relação que contempla múltiplos fatores, ou seja, caracteriza-se
como uma relação multidimensional, que envolve as dimensões político-social, técnica
e humana do fazer pedagógico em sala de aula.
Nessa perspectiva conceitual, todas as pessoas envolvidas no processo educativo
constituem-se como sujeitos históricos responsáveis pelo processo de transformação de
si mesmo e de toda a sociedade. Conforme Pimenta e Lima (2005/2006, p. 11) “A profis-
são docente é uma prática social, ou seja, como tantas outras, é uma forma de se intervir
na realidade social, no caso, por meio da educação que ocorre, não só, mas essencial-
mente nas instituições de ensino”.
A atividade do estágio, compreendida como atividade teórico-prática possibili-
ta ao sujeito aprendiz maior aproximação da realidade, tendo em vista conhecê-la de
Experiências Docentes
332
forma crítica, dimica e multidimensional, capacitando-o para atuar em sua transfor-
mação como, verdadeiramente, uma atividade de investigação.
Pimenta e Gonçalves (1990) ressaltam que a finalidade do estágio consiste em pro-
piciar ao estagiário a possibilidade de vivenciar concretamente a verdadeira realidade
sociopolítica em que atuarão como futuros professores. No caso específico, o espaço
de atuação profissional do futuro professor é a instituição escolar, ou seja, constitui-se
como espaço indispensável para haver, de fato, a concretização da práxis pedagógica.
A pesquisa no estágio, como método de formação dos estagiários futuros profes-
sores, se traduz pela mobilização de pesquisadores que permitam a ampliação e alise
dos contextos onde os estágios se realizam. Mas, também e, em especial, na possibili-
dade de os estagiários desenvolverem postura e habilidades de pesquisador a partir das
situações de estágio, elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compre-
ender e problematizar as situações que observam (PIMENTA; LIMA, 2005-2006, p. 15).
A proposta de estágio como atividade de investigação por meio de elaboração e
realização de projetos de pesquisa apresenta-se como uma concepção de formação pro-
fissional que integra dois processos fundamentais na formação profissional do discente:
a de docente e a de pesquisador, ou seja, docente-pesquisador de sua própria prática
pedagógica, no contexto sociocultural e político em que está inserido.
Conforme Sacrisn (2005, p. 12), teoria e prática são indissociáveis no processo
de formação da subjetividade do sujeito, ou seja, do professor, tendo em vista a existên-
cia da relação dialógica entre o conhecimento pessoal-subjetivo e a ação prática educa-
tiva, concretizando-se em uma relação dialética entre os saberes históricos e os saberes
da experiência prática de cada professor como sujeito-protagonista de seu fazer peda-
gico. Ainda conforme Pimenta e Lima (2005/2006, p. 16):
[...] o papel da teoria é oferecer aos professores perspectivas de analisar para com-
preender os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si mesmos
como profissionais, nos quais se dá sua atividade docente, para neles intervir, trans-
formando-os. Daí, é fundamental o permanente exercício da crítica das condições
materiais nas quais o ensino ocorre (PIMENTA;LIMA, 2005/2006, p. 16).
A unidade entre teoria e prática constitui-se, portanto, na base indispensável da
formação inicial e continuada à formação profissional docente. Os conhecimentos te-
óricos são ferramentas utilizadas pelo professor para analisar criticamente a realidade
escolar de forma mais ampla incluindo a sociedade como um todo, visando intervir
diretamente na transformação, tendo em vista a superação das possíveis problemáticas,
em busca da construção da prática educativa transformadora de si e de toda a sociedade.
Nesse contexto, o edital Capes 06/2018 fundamenta o PRP na concepção de estágio
como atividade de formação do docente-pesquisador, ou seja, a formação da docência
333
O programa de Residência Pedagógica
aliada à formação do pesquisador, pois estabelece como exigência ao residente-bolsista
a efetiva elaboração e desenvolvimento de um projeto de pesquisa como requisito básico
das ações de atuação teórico-prática diretamente na escola e, especificamente, na sala de
aula, por meio da aplicação da atividade de regência pedagógica, promovendo e fortale-
cendo o desenvolvimento da autonomia profissional na atuação docente.
O estágio promovido pelo PRP propiciou aos residentes o desenvolvimento de impor-
tantes habilidades necessárias ao processo de investigação, apropriação de conhecimento e
de análise crítica da realidade específica da unidade escolar quanto aos aspectos da di-
mica geral de gestão educacional da unidade escolar e da gestão pedagógica em sala de aula.
Atendendo aos princípios teórico-metodológicos do PRP, as docentes responsá-
veis pela coordenação do Programa da Unesp campus de Malia elaboraram e encami-
nharam para aprovação da Capes o subprojeto institucional intitulado “Licenciatura em
Pedagogia – leitura e escrita em diferentes áreas de conhecimento”, com o objetivo de
integrar os princípios norteadores da política institucional de formação de professores
da Unesp e propiciar o aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado do curso
de Pedagogia da Faculdade de Filosofia e Ciências, promovendo a imersão do licencian-
do em escolas de educação básica a partir do 3º ano do curso.
Direitos humanos e gênero na
escola: práticas pedagógicas na
perspectiva dos valores humanos
na formação inicial à docência
O subprojeto que desenvolvemos contou com a orientação da Profª Tânia Suely
Antonelli Marcelino Brabo, intitulado “Direitos humanos e gênero na escola”. Partici-
param na condição de residentes, as alunas bolsistas: Letícia Araújo da Silva; Maria de
Fátima Diniz Dutra; Otília Andressa Dal Evedove Pinto e Vitória Panizio Quirino, além
do discente voluntário Everton Santana de Oliveira Junior.
O desenvolvimento do subprojeto teve por objetivo propiciar a formação ini-
cial e continuada dos discentes bolsistas do curso de Pedagogia e da preceptora aos
conhecimentos relacionados aos direitos humanos, instituídos pelo Plano Nacional
de Educação em Direitos Humanos - PNEHD (BRASIL, 2003), fruto do comprometi-
mento do Estado em parceira com a sociedade organizada, em defesa da construção
histórica da sociedade civil.
As ações do PNEDH (BRASIL, 2003) resultam da articulação entre os poderes da
República Brasileira, a saber: Poder Executivo envolvendo os governos (estaduais, mu-
nicipais e do distrito federal), os organismos internacionais, as instituições de educação
superior e a sociedade civil organizada.
Experiências Docentes
334
Nesse contexto, são responsáveis pela coordenação e avaliação das ações desen-
volvidas as entidades públicas e particulares como a Secretaria Especial dos Direitos
Humanos da Previdência da República (SEDH), e o Ministério da Educação (MEC),
juntamente com o Ministério da Justiça (MJ) e Secretarias Especiais.
A temática abordada no subprojeto foi de suma importância para a formação ini-
cial e continuada dos professores, pois a preocupação com a formação do pedagogo
em direitos humanos foi posta em discussão a partir das Diretrizes Curriculares da
Educação Básica (BRASIL, 2013), conforme explicita Brabo (2012), ressaltando que uns
dos objetivos da inserção da temática dos direitos humanos nas diferentes modalida-
des da educação básica consiste em “[...] promover a inserção da educação em direitos
humanos nos processos de formação inicial e continuada dos(as) trabalhadores(as) da
educação, envolvendo-os em um diálogo sobre maneiras de aplicar os direitos humanos
em sua prática cotidiana [...]” (BRASIL, 2009, p. 29 apud BRABO, 2012, p. 226).
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica (BRASIL, 2013) também trazem a
discussão da temática da questão de gênero como tema a ser discutido nas escolas desde
a formação inicial dos futuros docentes.
A respeito da formação de pedagogos em direitos humanos e gênero na escola,
podemos ressaltar que os princípios gerais estavam contemplados na Constituição Fe-
deral (BRASIL, 1988), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394 de
20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), que estabelecem os princípios do direito de
todo(a) cidadão(ã) à educação gratuita e de qualidade, explicitando os pressupostos do
processo de democratização da educação como direito de todas as pessoas em todas as
fases da vida. Os Pametros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL, 1997) também
apresentam em seu texto o reconhecimento dos valores humanos, tendo como objetivo
explícito a formação para o exercício da cidadania, bem como evidencia a questão de
gênero (BRABO, 2012).
Nesse sentido, as discentes bolsistas e o voluntário iniciaram as atividades do
PRP realizando ações de participação colaborativa no período de ambientação e
imersão no ambiente escolar. Entretanto, logo passaram a desenvolver atividades de
investigação, planejamento, orientação e aplicação de regências, acompanhadas pela
preceptora em sala de aula. Dessa forma, o PRP desenvolveu-se na escola com duas
turmas de crianças do 4º ano do ensino fundamental, ambas do período da tarde e
contando com vinte e nove estudantes em cada sala, sob a nossa responsabilidade e de
outra professora parceira do projeto.
O subprojeto “Direitos humanos e gênero na escola” teve início com a realização
de uma roda de conversa com as crianças refletindo sobre “O que são direitos humanos?”.
A partir dessa discussão apresentamos a proposta de desenvolvimento do projeto a ser
desenvolvido em sala de aula. As crianças concordaram e elaboramos coletivamente o res-
pectivo projeto investigativo a partir da própria linguagem e conhecimento das crianças.
335
O programa de Residência Pedagógica
Vivenciando os direitos
humanos e gênero na escola
Após esta primeira atividade, refletimos coletivamente e reelaboramos a justificativa
que foi “Estudar direitos humanos para mudar nossa vida”, tendo como objetivo geral
“aprender sobre direitos humanos e gênero na escola e exercer a cidadania. A metodologia
escolhida para seu pleno desenvolvimento foi a participativa e dialógica na perspectiva
de colocar em prática, no dia a dia, através de roda de conversa, de debates acerca de
situações-problema envolvendo o tema do projeto e, também, tendo como recursos a lei-
tura informativa e posterior escrita, reflexões através da arte (com música, dança e vídeos).
As referências principais foram o Plano Nacional de Educação em Direitos Huma-
nos (BRASIL, 2003), a Declaração Universal dos Direitos da Criança (ONU, 1959) e o
Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990).
A avaliação ocorria através da observação, dos posicionamentos nos debates, da
escrita após leitura de textos que versavam sobre os temas do projeto, através de dese-
nhos, participação e envolvimento durante todas as atividades desenvolvidas.
Com o projeto investigativo elaborado coletivamente, iniciamos as atividades pe-
dagógicas com o estudo da Declaração Universal dos Direitos da Criança. Dessa forma,
os residentes desenvolveram as regências com base na metodologia dialógica estabeleci-
da com as crianças em sala de aula.
Os princípios da Declaração dos Direitos da Criança constituíram-se nos conte-
údos das regências, pois, em cada aula, havia a exploração de um dos dez princípios da
Declaração, que se davam por meio da leitura, interpretação oral e escrita de produções
textuais de diferentes gêneros discursivos, também com atividades de desenhos, recor-
tes/colagens, modelagens, apreciação musical e documentários temáticos.
No segundo semestre do ano letivo de 2019, os 4º anos participaram do desenvol-
vimento do projeto “Bacias de tratamento de esgoto de Malia; os bolsistas abraçaram
a temática e desenvolveram práticas de regências relacionadas à educação ambiental,
tendo em vista promover a formação e o desenvolvimento da consciência ambiental.
O trabalho pedagógico com os direitos humanos e gênero abrange diferentes e
importantes temáticas como a diversidade humana, o respeito, a dignidade, o bullying,
a inclusão social e deficiências, dentre outras. Nesse sentido, foram exploradas tais te-
máticas por meio de diferentes estratégias como leitura literária e informativa, aprecia-
ção de vídeos, músicas, realização de dramatizações e produções textuais de diferentes
gêneros discursivos, individuais e coletivas, conforme explicitado acima.
Em relação à diversidade humana, essa temática foi explorada de forma lúdica
com o apoio e manuseio de bonecos de tecido doados pela professora orientadora. Os
bonecos representavam pessoas com deficiências físicas (com uso de muletas e de cadei-
ra de rodas), de mulheres vitimizadas pelo tratamento do câncer usando lenços, outros
Experiências Docentes
336
representando a diversidade do povo brasileiro (pessoas negras africanas, indígenas, la-
tinas, europeias, asiáticas - chinesas e japonesas), dentre outras.
As crianças gostavam muito dos bonecos, pois se identificavam com eles, o que os
levou a fazerem parte da dinâmica cotidiana da sala de aula. Denominamos os bonecos
de tecidos como nossos “amigos especiais”. Durante as aulas, as crianças pegavam os
bonecos e ficavam com eles no colo e, assim, aprendiam a conviver de forma harmonio-
sa com a diversidade humana, sem discriminação e preconceitos.
Os discentes bolsistas e o discente voluntário estiveram constantemente envol-
vidos com as atividades do PRP e na concretude do projeto de regência com base nos
direitos humanos e gênero na escola, o qual propiciou-lhes o conhecimento da dinâmica
cotidiana da escola e da sala de aula frente ao sistema de ensino em que a unidade esco-
lar encontra-se vinculada, ou seja, a rede municipal de educação.
Durante o período de regência pedagógica, os discentes bolsistas e o discente
voluntário tiveram oportunidade pedagógica de colocar em prática os conhecimentos
teórico-metodológicos nas diferentes atividades de elaboração e desenvolvimento do
planejamento das regências. Inicialmente, eles elaboravam as aulas de regências sob
a nossa colaboração e acompanhamento. Depois, desenvolveram tais atividades com
maior autonomia e segurança, enviando o planejamento apenas para revisão, pois já
haviam elaborados entre eles todo o planejamento didático-pedagógico.
O processo de autonomia de trabalho pedagógico das residentes e do aluno vo-
luntário foi fruto de muito compromisso e envolvimento, esforço e comprometimento
com o PRP proporcionado aos discentes, pois, por meio da proposta de regência, todos
ampliaram seus conhecimentos teóricos e vivenciaram-nos na prática pedagógica em
sala de aula com as crianças, realizando a relação entre teoria e prática. Ao final do pro-
jeto, eles demonstraram autonomia, segurança, capacidades e habilidades necessárias
ao exercício profissional docente, pois já tomavam iniciativa de atitudes didáticas no
contexto da sala de aula nas interações pedagógicas com as crianças.
O PRP muito contribuiu para com o processo de formação docente inicial do futuro
pedagogo, bem como propiciou a formação continuada das professoras na condição de pre-
ceptora e de docente orientadora. Aprendemos muito com a energia, vitalidade e entusiasmo
pedagógico dos alunos residentes, frutos da apropriação de conhecimentos teóricos consoli-
dados na base teórico-metodológica dos conhecimentos pedagógicos crítico e humanizado.
Os três períodos do PRP foram essenciais no processo de formação inicial das discen-
tes bolsistas e do discente voluntário, pois, por meio desse projeto, tiveram a oportunidade
de conhecer e analisar a dinâmica de funcionamento da escola e da sala de aula no período
de ambientalização, de observar e acompanhar a prática pedagógica da professora precep-
tora em sala de aula no período de imersão e, de fato, estabelecer a relação teoria e prática na
ação pedagógica de regência no processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos de direi-
tos humanos e gênero na escola a partir das temáticas abordadas durante o desenvolvimento
337
O programa de Residência Pedagógica
do subprojeto “Direitos humanos e gênero na escola”, vinculado ao subprojeto maior do PRP
intitulado “Leitura e escrita em diferentes áreas de conhecimento”.
Durante o desenvolvimento do projeto, foram realizadas diversas e diferentes ati-
vidades de leitura de livros literários, reportagens, notícias, contos, histórias em quadri-
nhos, gibis, revistas, livros didáticos e, ademais, análise de obras arsticas, interpreta-
ção oral e escrita de situações problema e muitos momentos de rodas de conversa, tendo
em vista problematizar e debater questões relacionadas às temáticas abordadas em cada
um dos encontros das residentes bolsistas e residente voluntário.
Estivemos presentes em muitas atividades em sala de aula, acompanhando, partici-
pando e interagindo diretamente com as crianças. Essa relação tornou-se de fundamental
imporncia para as crianças, para as residentes e o voluntário, bem como para a professora
preceptora. Esta presença serviu de exemplo de ação profissional do docente da universidade
direto com a unidade escolar do ensino fundamental, especificamente em sala de aula.
Neste breve relato, é possível constatar que a realização do PRP foi muito im-
portante para todos os envolvidos, pois ampliou os conhecimentos teórico-práticos das
residentes bolsistas e do discente voluntário em relação à dinâmica cotidiana da escola,
bem como do vivenciar do processo pedagógico diretamente em sala de aula. Consta-
tamos, ademais, o processo de relacionamento humano estabelecido entre professora
e crianças, a relação das próprias crianças umas com as outras, bem como com todo o
cotidiano da unidade escolar.
Consideração finais
O PRP teve como propósito propiciar o desenvolvimento do processo de formação
docente dos graduandos do curso de Pedagogia, direcionando-o à escola sob o acompa-
nhamento do docente orientador da IES e do preceptor da unidade escolar.
Dessa forma, cada residente desempenhou sua atribuição para que os objetivos es-
tabelecidos pelo Programa fossem atingidos. Assim sendo, todas as discentes bolsistas e
o discente voluntário cumpriram as devidas atribuições estabelecidas pelo PRP, junto ao
desenvolvimento do subprojeto “Direitos humanos e gênero na escola” por nós orientado.
As principais ações desenvolvidas pelas residentes bolsistas e pelo residente vo-
luntário durante o desenvolvimento do projeto podem ser relacionadas ao período de
ambientação como a pesquisa exploratória de (re)conhecimento da unidade escolar, lei-
tura, discussão e análise do Projeto Político Pedagógico, observação e participação das
práticas pedagógicas. Participação ativa no desenvolvimento do projeto “Artes visuais”
do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, no final do segundo semestre de 2018, e no
projeto “Educação ambiental, vinculado ao projeto “Bacias de tratamento de esgoto de
Malia”, e das atividades teórico-práticas de regência pedagógica.
Experiências Docentes
338
As relações interpessoais estabelecidas com as crianças também merecem ser des-
tacadas, pois as discentes bolsistas e o discente voluntário estabeleceram um vínculo
muito forte de amizade e relação humana que foi se fortalecendo, cada vez mais, a cada
encontro semanal, durante todo o período de desenvolvimento do PRP.
As ações de regência pedagógica foram fundamentais para a formação e atuação
docente do futuro profissional da educação, ou seja, o professor. As bolsistas e o discente
voluntário foram, gradativamente, desenvolvendo autonomia, segurança e familiarida-
de com a temática abordada de modo a constitrem-se como verdadeiros professores.
Durante as atividades do PRP, pudemos perceber o fortalecimento gradual do com-
prometimento profissional de cada uma das discentes bolsistas e do discente voluntário
para com a prática docente, pois sempre demonstravam alegria e prazer em estar sema-
nalmente em sala de aula ministrando as regências, pesquisando recursos, adaptando as
linguagens, tendo em vista a qualidade do processo de ensino e aprendizagem das crianças.
A relação profissional estabelecida e fortalecida entre os integrantes do próprio
subprojeto “Direitos humanos e gêneros na escola” demonstrou compromisso do tra-
balho coletivo, tendo em vista o alcance de objetivos em comum. Essa relação é funda-
mental para o desenvolvimento do trabalho em equipe e colaborativo para garantir a
qualidade da educação pública.
Nessa perspectiva, o PRP teve seus objetivos alcançados, pois as discentes bol-
sistas e o discente voluntário desenvolveram o subprojeto de forma assídua, demons-
trando comprometimento político-pedagógico, responsabilidade social e domínio dos
conteúdos das temáticas abordadas, pois não apresentaram dificuldades em acatar as
orientações didático-pedagógicas e, sim, foram além delas, buscando informações, pro-
blematizando situações por meio de jogos e brincadeiras, dinâmicas, leituras literárias,
interpretações e produções textuais de diferentes gêneros discursivos.
O desenvolvimento do projeto em questão resultou em produção teóricas apre-
sentadas em dois momentos importantes de encerramento semestral do PRP, os quais
foram acompanhados e orientados por nós, docente orientadora da IES e professora
preceptora da unidade escolar.
O primeiro semestre do ano letivo de 2019 foi finalizado com as atividades do
II Seminário Residência Pedagógica, com a participação do grupo na apresentação de
trabalhos na categoria pôster e comunicação oral de texto resumo. Todas as discentes e
o discente voluntário produziram um resumo e apresentaram no semirio. Também
teve a participação da professora preceptora com o trabalho intitulado “Declaração dos
Direitos da Crianças: ponto de partida para debate, leitura e escrita em sala de aula”.
O segundo semestre do ano letivo de 2019 foi encerrado com a realização das
atividades do “III Seminário de Residência Pedagógica”, no qual todas as discentes bol-
sistas e o discente voluntário elaboraram e apresentaram trabalhos acadêmicos cien-
ficos com base nas vivências práticas proporcionadas pelo PRP. Foram produzidos e
339
O programa de Residência Pedagógica
apresentados trabalhos com textos completos na modalidade comunicação oral. Par-
ticipamos do evento apresentando o texto produzido em parceria, intitulado “Relação
teoria e prática na formação docente: o processo de inserção do futuro pedagogo na
prática pedagógica no contexto escolar”.
As experiências teórico-práticas na formação docente, propiciadas pelo PRP, pro-
puseram uma nova perspectiva de realização de estágio curricular que foi muito além
da observação distanciada do graduando de licenciatura frente à prática pedagógica
em sala de aula. Essa nova proposta de estágio visou à formação ativa do graduando de
licenciatura, especificamente, no caso do futuro pedagogo, pois essa vivência teórico-
-prática é indispensável em sua formação, principalmente, frente à complexidade da
educação na sociedade contemporânea.
Nessa perspectiva, “[...] a complexidade da educação como prática social não
permite tratá-la como fenômeno universal e abstrato, mas sim imerso num siste-
ma educacional, em uma dada sociedade e em um tempo histórico determinado [...]”.
(PIMENTA;LIMA, 2005/2006, p. 20). A complexidade da educação resulta de um tem-
po e lugar histórico determinado, ou seja, a escola representa o espaço constituído, local
histórico-social de materialização das relações humanas e culturais.
O estágio curricular passa a ser considerado como componente curricular inte-
grado ao corpo de conhecimento do curso de Pedagogia, isto é, de formação para o exer-
cício da licenciatura, ou seja, à prática docente (PIMENTA; LIMA, (2005-2006). Essa
proposta de estágio tem por finalidade integrar os conhecimentos teóricos aos conhe-
cimentos práticos, tendo em vista a formação profissional do licenciando para a efetiva
atuação docente aliada ao campo da pesquisa, ou seja, visa à formação do docente-pes-
quisador frente ao trabalho coletivo.
[...] o estágio prepara para um trabalho docente coletivo, uma vez que o ensino não
é um assunto individual do professor, pois a tarefa escolar é resultado das ações co-
letivas dos professores e das práticas institucionais, situadas em contextos sociais,
históricos e culturais (PIMENTA; LIMA, 2005/2006, p. 21).
O PRP teve por base a proposta de formação teórico-prática do licenciando, especifi-
camente do graduando do curso de Pedagogia. O subprojeto “Leitura e escrita em diferentes
áreas de conhecimento” apresentou uma proposta de formação profissional docente de ar-
ticulação entre os conhecimentos teóricos e práticos, tendo em vista a proposta de atuação
efetiva do residente em sala de aula por meio da regência pedagógica, atividade que resultou
do trabalho coletivo de pesquisa, elaboração e desenvolvimento de planejamento didático-
-metodológico, aplicação prática e avaliação do processo de ensino e aprendizagem escolar.
A temática do subprojeto “Direitos humanos e gênero na escola” favoreceu o tra-
balho em coletividade, propiciou a discussão, o debate e fortaleceu a relação dialógica
Experiências Docentes
340
entre os próprios residentes com as crianças e das crianças entre elas, tendo em vista a
garantia do direito à participação nas ações efetivas de formação para e na cidadania.
O desenvolvimento desse projeto contribuiu para nossa formação continuada, na
condição de professora preceptora e docente orientadora, fortalecendo o trabalho cole-
tivo, estreitando as relações humanas e desenvolvendo as habilidades de atuação como
preceptora, com a atribuição de orientar e acompanhar o processo de formação do pro-
fissional docente na educação básica.
Esperamos que o PRP tenha continuidade nos próximos anos por meio da realiza-
ção de novas edições, pois é de fundamental imporncia para a formação de profissionais
da licenciatura, ou seja, para a capacitação e atuação do profissional docente, tendo em
vista a formação do docente-pesquisador de sua própria prática pedagógica e formação
inicial dos discentes dos cursos de licenciaturas, proporcionando-lhes aprendizagens te-
órico-práticas do fazer pedagógico de forma autônoma, crítica e consciente da realidade
escolar, sendo verdadeiramente os protagonista de sua formação profissional docente.
Podemos constatar que a proposta de Residência Pedagógica como estágio teóri-
co-prático desenvolvida pelas discentes bolsistas e discente voluntário contribuiu para
o aprofundamento do conhecimento teórico e da prática pedagógica, pois foi possível
vivenciar a idealizada práxis, tão necesria ao pleno desenvolvimento da educação de
qualidade, sem desconsiderar o vivenciar de relações humanas inspiradas no ideal de
democracia ampla, contribuindo para a realização da cultura dos direitos humanos e
para relações sociais de gênero igualitárias.
Referências
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BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 16 jul. 1990.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDB. 9394/1996. Brasília: DF, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, DF: SEF, 1997.
BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de
Educação em Direitos Humanos. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos;
Ministério da Educação, 2003.
341
O programa de Residência Pedagógica
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica: Ministério da
Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral.
Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
BRABO, T. S. A. M. Políticas de formação de educadores e educadoras: Direitos Humanos
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BRABO, T. S. A. M. Direitos Humanos e Gênero na Escola. Marília: Unesp, 2019.
CANDAU, V. A didática em questão. Rio de Janeiro: Vozes, 1984.
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formação do professor. São Paulo: Cortez, 1990.
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Poíesis, v. 3, n. 3 e 4, p. 5-24, 2005/2006. Disponível em: https://bit.ly/31EZgu4. Acesso
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S. G.; GHEDIN, E. (orgs.). Professor reexivo: gênese e crítica de um conceito. 3. ed. São
Paulo: Cortez, 2005.
ADMILSON GONÇALVES DE ALMEIDA
Doutor em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Mes-
trado em Educação Física pela mesma universidade. Especialista em educação física es-
colar e aprendizagem motora. Possui graduação em Educação Física e Pedagogia. É do-
cente no Centro Universitário Adventista de São Paulo, campus Hortolândia. Docente
orientador no PRP-Educação Física - Unasp campus Hortolândia (2018-2019 e 2020).
ÁGATHA ASSIS BANDEIRA DOS SANTOS
Graduanda do curso de Pedagogia, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mes-
quita Filho (Unesp), campus de Malia-SP. Participou como bolsista do Pibid-Unesp
(2018-2019).
AILEN ROSE BALOG DE LIMA
Mestra em Música pelo Centro Universitário Católico Salesiano. Graduação e
Bacharelado em Música pela Universidade São Judas Tadeu. Graduação em Educação
Artística - Música pela Faculdade Marcelo Tupinambá e professora de musicalização
infantil na educação básica e conservatórios e de musicalização infantil e inclusão, prá-
tica pedagógica musical e metodologia da educação musical na licenciatura em Música
do Unasp campus Engenheiro Coelho. Professora supervisora dos estágios da licen-
ciatura em Música do Unasp e coordenadora da pós-graduação em Educação Musical.
Foi coordenadora do Pibid de Música do Unasp desde 2012. Docente orientadora do
PRP- Música- Unasp campus Engenheiro Coelho (2018-2019 e 2020).
Sobre os autores
Experiências Docentes
344
ALAN N. PRADO
Bolsista Pibid – Subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia-SP.
ALICE HELENA BERTOLA
Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (Unesp), FFC, campus de Malia. Foi residente bolsista do Programa de Residên-
cia Pedagógica – Capes (2018-2019). Atualmente é pós-graduanda em Psicopedagogia e
Neurociências pela Universidade Paulista (Unip) e atua como auxiliar de gestão escolar
na Escola Waldorf Cora Coralina de Malia.
ANA MARIA DE MOURA SCHÄFFER
Pós-doutora pelo Departamento de Linguística Aplicada pela Universidade Esta-
dual de Campinas (Unicamp). Doutora em Linguística Aplicada pela mesma universi-
dade. Professora colaboradora do Mestrado Profissional em Educação do Centro Uni-
versitário Adventista de São Paulo, campus Engenheiro Coelho até 2019. Pesquisadora
nas áreas de tradução, gênero, linguagem inclusiva e tradução bíblica. Coordenadora do
Grupo de pesquisa Tradutor e Intérprete (GETI-CNPq-Unasp). Coordenadora institu-
cional do Pibid – Unasp (2018-2019).
ARIANE SEIKO KUBO YASSUDA
Graduanda do curso de Pedagogia, Faculdade de Filosofia e Ciências – Unesp/
Marília-SP.
BRENO C. DOS SANTOS
Bolsista Pibid – Subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia/SP.
CAMILA BIGELLI
Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (Unesp), FFC, Campus de Malia. Foi residente bolsista do Programa de Resi-
dência Pedagógica – Capes (2018-2019) e Núcleo de Ensino da Unesp Marília (2017).
Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia Moral e Educação Integral
(GEPPEI). Tem experiência na área de educação bingue (inglês/português) e nos se-
guintes temas: espectro do autismo e programas e procedimentos de leitura e escrita.
345
Sobre os autores
CÂNDIDO P. DA SILVA NETTO
Bolsista Pibid – Subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia/SP.
CYNTIA GRAZIELLA GUIZELIM SIMÕES GIROTTO
Livre-docente em Leitura e Escrita pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Pós-doutora em Leitura e Literatura Infantil pela Universidade de Passo Fundo. Dou-
tora em Educação pela Unesp. Mestra em Educação pela Universidade Federal de São
Carlos. Pedagoga pela Unesp. Docente do curso de Pedagogia da Unesp - campus de
Malia. Compõe, na mesma universidade, o quadro de orientadores do Programa de
Pós-Graduação em Educação, liderando linha de pesquisa do grupo PROLEAO “Pro-
cessos de leitura e de escrita: apropriação e objetivação”. Participa de mais dois grupos
de pesquisa “Implicações Pedagógicas da Teoria Histórico-cultural” (Unesp - Marília) e
“Formação de professores e as relações entre as práticas educativas em leitura, literatura
e avaliação do texto literário? (Unesp - Presidente Prudente). Integra o grupo de pesqui-
sadores do CELLIJ (Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil). Atuou
como coordenadora de área Pibid e docente orientadora do PRP-Unesp.
CLÁUDIA PRIOSTE
Professora Assistente Doutora no Departamento de Psicologia da Educação da
Faculdade de Ciências e Letras - Unesp (Araraquara). Graduação em Psicologia; mestra
e doutora em Educação, pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Es-
gio de doutorado na Universidade Paris VIII - França e no Institut Mutualiste Mont-
souris, Departement de Psychiatrie de Ladolescent. É autora do livro: O adolescente e
a internet: laços e embaraços no mundo virtual, que recebeu os prêmios Jabuti e ABEU
em 2017. Coordena o grupo de pesquisa: “A formação do sujeito na era digital” - cer-
tificado pelo CNPQ. Possui experiência nos seguintes temas: psicologia da educação;
aprendizagem; alfabetização; fracasso escolar; educação e cultura; formação de profes-
sores; psicalise, arte e cultura; educação crítica para as mídias digitais; tecnologias da
informação e comunicação (TIC) na educação; cibercultura; juventude; gênero; sexuali-
dade; psicanálise e educação; mídias digitais e infância.
CLÁUDIA REGINA MOSCA GIROTO
Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista - “Júlio de Mesquita
Filho” (Unesp). Possui graduação em Fonoaudiologia. Professora Assistente Douto-
ra no curso de Pedagogia e do Programa de Pós-graduação em Educação – Unesp
- Malia/SP e do Programa de Pós-graduação em Educação Escolar (PPGEE), da
Experiências Docentes
346
Faculdade de Ciências e Letras (FCLAr), campus de Araraquara-SP. É vice-líder do
Grupo de Estudos e Pesquisa em Atividade e Desenvolvimento Infantil (GEPADI).
Tem experiência nas áreas de Educação, com ênfase em educação inclusiva, educação
especial, linguagem escrita e surdez, e na área da saúde, com ênfase em políticas pú-
blicas intersetoriais em saúde e educação e desmedicalização da educação. Atua na
formação continuada de professores para o atendimento educacional epecializado de
alunos público-alvo da educação especial. Atuou como coordenadora de área Pibid e
docente orientadora do PRP-Unesp.
DANIELA S. SANTOS
Bolsista Pibid – Subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia/SP.
DANILO DE SOUZA
Especialista em Educação Física escolar pela Unicamp e Bodybuilder coach pela
Uniguaçu. Possui licenciatura e bacharelado em Educação Física pelo Unasp campus
Hortolândia. Professor da rede estadual paulista, na rede municipal de Limeira e Hor-
tolândia-SP.
DAYANA DE OLIVEIRA FORMIGA
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra em
História Social pela mesma universidade. Graduada em Licenciatura em História pela
Universidade Estadual de Londrina. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Ensino de
História e Historiografia. Docente do Unasp campus Engenheiro Coelho, coordenadora
de estágio supervisionado. Coordenadora de área do Pibid – Unasp campus Engenheiro
Coelho (2012-2020).
DENISE ANDRADE M. OLIVEIRA
Mestra em Educação pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp).
Autora de livros de literatura infantil para leitores iniciantes e em processo. Atuou como
professora alfabetizadora. Coordenadora de estágio supervisionado e docente do Unasp
campus Engenheiro Coelho no curso de Pedagogia. Integrante do Grupo de Pesquisa
CNPq FORME - Formação de Educadores. Docente orientadora voluntária no subpro-
jeto Pedagogia do PRP- Unasp campus Engenheiro Coelho (2018-2019).
347
Sobre os autores
EGLIE RODRIGUES
Mestra em Ensino de Ciências – modalidade Qmica pela Universidade de São
Paulo (USP). Programa interunidades, bacharel e licenciada em Qmica pela mesma
universidade (1993). Professora no Centro Universitário Adventista de São Paulo, cam-
pus São Paulo, de 2010 até o momento, nos cursos de Ciências Biológicas e Pedagogia.
Professora de química no Colégio Adventista da Liberdade. Pesquisadora nas áreas de
ensino de ciências e educação ambiental.
ELIEUZA APARECIDA DE LIMA
Doutora e Mestra em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Pro-
fessora do Departamento de Didática e do Programa de Pós-graduação em Educação
Unesp - Malia. Atua no Grupo de Estudos e Pesquisa em Especificidades da Docência
na Educação Infantil - GEPEDEI. Atuou como Docente orientadora do PRP- Unesp -
subprojeto “Leitura e Escrita em Diferentes Áreas do Conhecimento” (2018-2019).
ELDER HOSOKAWA
Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Bacharel e Li-
cenciado em História pela FFLCH e Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo. Atuou como docente na Rede Adventista de Educação; docente na graduação e
pós-graduação na Universidade Santo Amaro (Unisa), no Instituto Hoyler (São Paulo)
e Unasp campus São Paulo e Engenheiro Coelho. Atualmente coordena o curso de li-
cenciatura em História no Unasp campus Engenheiro Coelho e leciona em vários cur-
sos presenciais e na educação a distância. Colaborador no Grupo de Pesquisas GEAN-
-AGOGE (CNPq-Unasp). Docente orientador voluntário no subprojeto História do PRP
- Unasp campus Engenheiro Coelho (2018/2019).
ELEDIR DA CRUZ MARTINS
Mestre em Ambiente e Desenvolvimento Regional (Geografia), pela Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT). Possui Pós-graduação em Mediação Pedagógica e
Novas Tecnologias aplicada ao Ensino, Unasp campus São Paulo. Possui Pós-graduação
em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Unasp campus São Paulo. Possui gra-
duação em Geografia - licenciatura e bacharelado, pela Universidade Federal de Mato
Grosso. Atualmente é docente no Colégio Unasp campus São Paulo e no curso de bacha-
relado e licenciatura em Ciências Biológicas do Unasp campus São Paulo e no curso de
Pedagogia no Centro Universitário Adventista de São Paulo – Unasp.
Experiências Docentes
348
ELIANETH DIAS KANTHACK HERNANDES
Pós-doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da FCT/Unesp.
Doutora e Mestre em Educação pela FFC da Unesp, campus de Marília. Professora
credenciada junto ao Programa de Pós-Graduação da FCT da Unesp de Presidente
Prudente. Professora Assistente Doutora vinculada ao Departamento de Administra-
ção e Supervisão Escolar – DASE da FFC da Unesp de Malia. Fundadora e vice-líder
do Grupo de Avaliação de Políticas Públicas – GAPE (Unesp-Marília); participa de
forma atuante dos Grupos de Pesquisa: PROLEAO - Grupo de Pesquisa Processos de
Leitura e de Escrita: apropriação e objetivação (Unesp-Marília); “Formação de pro-
fessores e as relações entre as práticas educativas em leitura, literatura e avaliação
do texto literário” (Unesp-Presidente Prudente). Pesquisadora nas áreas de Formação
de professores e gestores; Política e Avaliação Educacional, e Ensino da Leitura e da
Escrita. Coordenadora do Programa de Residência Pedagógica- PRP (2018-2019) e
Professora Supervisora do PRP (2020-2021).
ELIZE KELLER FRANCO
Doutora e Mestra em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP). Possui graduação em Pedagogia. Atualmente é docente permanente
do Programa de Mestrado Profissional em Educação do Centro Universitário Adventista
de São Paulo, campus Engenheiro Coelho. Coordena o grupo de pesquisa CNPq FORME-
Formação de Educadores. Coordenadora institucional do PRP- Unasp (2018-2019).
ELLEN DE ALBUQUERQUE BOGER STENCEL
Doutora em Música, práticas interpretativas, aspectos teóricos e pedagógicos de
instrumento (piano) pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestra em
Música pela Andrews University - Michigan, EUA. Coordenadora e docente do curso
de licenciatura em Música do Centro Universitário Adventista de São Paulo – campus
Engenheiro Coelho (Unasp). Autora da coleção de didáticos Arte e Música para séries
iniciais da CPB (Casa Publicadora Brasileira). Pesquisadora do Grupo de Educação Mu-
sical do Unasp. Coordenadora de área - Arte/Música do Pibid – Unasp (2018-2019).
ENIOS CARLOS DUARTE
Doutorando em Ensino de Ciências e Mestre em Ciências pela Universidade de
São Paulo (USP). Graduado em Ciências com habilitação plena em Biologia. Atuou
como docente da educação básica na rede pública e privada. Docente e coordenador do
curso de bacharelado e licenciatura em Ciências Biológicas do Unasp campus São Paulo.
349
Sobre os autores
Desenvolve pesquisa na área de ensino com os temas ensino de ciências por investigação,
interações discursivas e argumentação científica. Coordenador de área do Pibid (2010-
2017). Docente orientador do PRP (2018-2019).
FRANCISCO JOSÉ CARVALHO MAZZEU
Livre-docência em Fundamentos da Alfabetização pela Unesp (2019); Doutora-
do em Fundamentos da Educação, Mestrado em Metodologia do Ensino (1992); Gra-
duação em Pedagogia (1986), todos pela UFSCar (1999); Professor adjunto no Depar-
tamento de Educação e docente no Programa de Pós-graduação em Educação Escolar
da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, campus de Araraquara. Experiência na
área de Educação de Jovens e Adultos, com ênfase na relação entre Trabalho e Edu-
cação, atuando principalmente nos seguintes temas: alfabetização de jovens e adultos,
alfabetização de crianças e formação de professores para as séries iniciais do ensino
fundamental. Desenvolve e orienta pesquisas fundamentadas na psicologia histórico-
-cultural e pedagogia histórico-crítica.
GABRIELA CAROLINA SILVA
Pedagoga pela Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp, campus de Marília (SP).
No ano de 2020 atuou como residente voluntária do Programa de Residência Pedagógi-
ca. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Especificidades da Docência na Edu-
cação Infantil – GEPEDEI. Também desenvolveu ações como bolsista (Pró-reitorias de
extensão e de graduação da Unesp, Pibic, PRP e Fapesp) em projetos de extensão uni-
versitária e de iniciação científica.
GIZA GUIMARÃES PEREIRA SALES
Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Marília). Mes-
tra em Educação pela mesma universidade. Pós-graduação em Psicopedagogia cnico-
-institucional e Pós-graduação em Gestão da Educação Infantil pela ESAB; graduada
em Pedagogia pela Unesp e em Letras pela Universidade Federal do Amapá (Unifap).
Sócia-fundadora do “Espaço Potencial” - Associação de pais e amigos da Criança e do
Jovem Autista (Marília); Vice-líder do Grupo de pesquisa HIDEA Brasil (CNPq-Unesp)
e colaboradora nos Grupos de pesquisa FORME- Formação de Educadores e GEAN-
-AGOGE (CNPq-UNASP). Docente do Unasp campus Engenheiro Coelho nos cursos
de Pedagogia, História, Letras e Música (presencial e ensino a distância). Docente orien-
tadora voluntária no PRP – Pedagogia – Unasp campu Engenheiro Coelho (2019). Co-
ordenadora institucional do PRP – Unasp no Edital CAPES 2020.
Experiências Docentes
350
GUILHERME DE S. SILVA
Bolsista Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia/SP.
HADRIELLY K. S. E SILVA
Bolsista Bolsista Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp campus
Hortolândia/SP.
HELEN BARBOSA SIQUEIRA EMILIANO
Especialização Lato Sensu em Psicopedagogia Institucional pela Universidade
Castelo Branco; Especialização Lato Sensu em Educação Inclusiva pela Faculdade do
Noroeste de Minas (FINOM); Graduada em Bacharel em Direito pela Universidade Es-
tadual do Norte Pioneiro Paraná; Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário de
Araras; Especialização em Atendimento Educacional Especializado (AEE) pela UEG,
Universidade Aberta do Brasil. Fundadora e coordenadora da Pré-escola “Centro Edu-
cacional Sementinha”, em Campinas. Supervisora do Pibid em 2011 e de 2018 a 2020 do
subprojeto de Pedagogia do Unasp campus Engenheiro Coelho na escola campo Emeief
José Forner - Engenheiro Coelho – SP.
IVAN WALLAN TERTULIANO
Pós-doutor pelo Departamento de Educação Física da Universidade Estadual
Paulista (Unesp/Rio Claro). Doutor em Desenvolvimento Humano e Tecnologias pela
mesma universidade. Mestre em Educação Física pela Escola de Educação Física e Es-
portes da Universidade de São Paulo (USP). Licenciatura Plena em Educação Física pela
Universidade Nove de Julho (Uninove), São Paulo, SP. Linhas de pesquisa: psicologia
do esporte, com ênfase na influência dos estados emocionais no rendimento atlético; a
influência da expatriação na vida dos atletas. Coordenador de área do Pibid.
JEFERSON DAS NEVES
Supervisor Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia/SP.
JOABE T. DE ANDRADE
Bolsista Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia/SP.
351
Sobre os autores
JOSÉ SALUSTIANO DOS SANTOS
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), FFC, campus de Marília. Gra-
duado em Pedagogia pela mesma universidade e em Design Gráfico pelo Centro
Universitário Eurípides de Malia (Univem). Pós-graduado no curso de Especia-
lização em MBA em Marketing e Negócios pelo Centro Universitário Eurípides de
Malia (Univem). Foi residente bolsista do Programa de Residência Pedagógica –
Capes (2018-2019). Atualmente é docente no Curso de Design Gráfico do Centro
Universitário de Marília (Univem), educador social na Associação dos Deficientes
Visuais de Marília (ADEVIMARI), membro do Grupo de Estudo em Pesquisa Peda-
gógica e Cultura Científica (GEPPECC).
JULIANA BARBOSA PIRES
Aluna graduanda residente – PRP – Programa de Residência Pedagógica criado
pela Capes e implementado pela Unesp – Faculdade de Filosofia e Ciências – FFC/cam-
pus de Malia – subprojeto: “Licenciatura em Pedagogia – Leitura e escrita em diferen-
tes áreas de conhecimento” – 2018-2019.
KEILA T. SANTOS
Bolsista Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia/SP.
LARA RODRIGUES GESSER
Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho, Unesp campus de Malia, com aprofundamento em Gestão em educação – 2019.
Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas HiDEA – Brasil – História das disciplinas
escolares e acadêmicas no Brasil. Bolsista no PRP. Professora do 1º ano do ensino fun-
damental I na escola Maple Bear de ensino bilíngue.
LEDIMAR BRIANEZI
Doutorado e Mestrado em Educação Física pela Universidade São Judas Tadeu
(USJT), São Paulo, SP. Especialização em Fisiologia do Exercício pela Universidade Fede-
ral do Estado de São Paulo (Unifesp), São Paulo, SP. Graduação em Educação Física pela
Faculdade Adventista de Educação Física (Unasp campus Hortolândia). Coordenador e
docente dos cursos de Educação Física (licenciatura e bacharelado) no Unasp campus
Hortolândia. Atua na área de Educação Física com ênfase em Anatomia, Cinesiologia
Experiências Docentes
352
e Aspectos Neurofuncionais em Educação Física com experiência em Competições Es-
colares e Escola de Iniciação Esportiva. Coordenador de área do Pibid Unasp campus
Hortolândia (2018-2019 e 2020).
LEONILDA B. G. DA SILVA
Bolsista Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia/SP.
LETÍCIA ROMEU NÓBREGA
Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp, campus de Marília - SP. Par-
ticipou como bolsista do Pibid (2018-2019).
LUCAS E. DELFINO
Bolsista Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp, Hortolândia/SP.
LUCAS W. DE O. SANTOS
Bolsista Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp, Hortolândia/SP.
LUCIANA APARECIDA DE ARAÚJO
Pós-doutorado pela Fundação Carlos Chagas. Doutora e Mestra pela Universida-
de Estadual Paulista – Unesp. Possui graduação em Pedagogia, Professora Assistente
Doutora da Unesp - campus de Marília – SP, na graduação, no curso de Pedagogia, e
no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE). É vice-líder do Grupo de Estu-
dos e Pesquisas em Alfabetização Cientifica (GEPAC). Tem experiência em formação de
professores, pesquisa pedagógica, pesquisa com crianças e alfabetização cienfica. Foi
coordenadora do subprojeto Pedagogia/Alfabetização Científica (2014-2017).
MAGDA JACIARA DE ANDRADE ARAÚJO
Doutoranda em Ciências da Saúde pela Faculdade de Ciências Medicas da Uni-
versidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp). Mestrado em Ciências da Saúde pela
Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ). Especialização em Artes e Neuropsicopeda-
gogia. Possui Graduação em Educação Física Docente Unasp campus Hortolândia.
353
Sobre os autores
MARA ESTER DA SILVA
Licenciada em Educação Física pela Escola superior de Educação Física de Cru-
zeiro/SP. Possui Graduação em Pedagogia e Supervisão Escolar pela Uninove/SP. Atua
como professora de Educação Física do ensino fundamental II e médio na rede pública
municipal da cidade de Hortondia-SP.
RAQUEL PIERINI LOPES DOS SANTOS
Mestra em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Lato
sensu em Inclusão Social/Educação Especial pelo Unasp campus Engenheiro Coelho,
graduada em Pedagogia pela Universidade Luterana do Brasil, graduada em Tecnólogo
em Informática pelas Faculdades Integradas do Tapajós e graduada em Licenciatura
Plena em Matemática pela Unip. Coordenadora de área – Pibid- Pedagogia – Unasp
campus Engenheiro Coelho (2015 a 2019).
REBECA PIZZA PANCOTTE DARIUS
Doutora em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/
Araraquara). Mestra em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Especialista em Docência no Ensino Superior pela Faculdade Adventista Paranaen-
se (FAP). Graduada em Pedagogia pela UEM. Trabalhou na rede pública municipal
e estadual do Para. Atualmente docente e coordenadora do Curso de Pedagogia
no Unasp campus Engenheiro. Integrante do Grupo de Pesquisa CNPq FORME -
Formação de Educadores. Docente orientadora do PRP-Pedagogia- Unasp campus
Engenheiro (2018-2019) e coordenadora de área – Pibid - Pedagogia - Unasp campus
Engenheiro (2020).
REGINA KEIKO KATO MIURA
Docente do Departamento de Educação e Desenvolvimento Humano - Faculdade
de Filosofia e Ciências – Unesp/ Marília-SP.
ROGÉRIO DE ARAÚJO GEMEINDER
Pós-graduado em Educação Física Escolar pela Universidade Cândido Men-
des. Pós-graduado em Gestão de Pessoas pela Universidade Anhanguera Educacional.
Graduado em licenciatura e bacharelado em Educação Física pelo Unasp Hortolândia.
Experiências Docentes
354
Professor da rede municipal de ensino de Hortolândia-SP. Preceptor do Programa de
Residência Pedagógica e Professor Supervisor do Pibid (2018 - 2019).
ROGÉRIO DOS SANTOS FERREIRA
Graduado em Pedagogia, Faculdade de Filosofia e Ciências – Unesp/ Marília-SP.
RONALDO REVEJES PEDROSO
Doutorando em Educação Escolar pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação Escolar da Unesp/FCLAR. Mestre em Educação Escolar Unesp/FCLAR.
Graduado em Matemática pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de Catan-
duva IMES-FAFICA, e em Pedagogia pela Universidade Nove de Julho - Uninove.
Pós-graduação Lato Sensu em Novas Tecnologias no Ensino da Matemática pela
Universidade Federal Fluminense UFF; em Psicopedagogia Institucional, pela Fa-
culdade de Itápolis FACITA. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educa-
ção Infantil e Teoria Histórico-Cultural da UNESP/FCLAR. Atuou como Professor
Supervisor do Pibid, promovido pela Universidade Estadual Paulista Unesp (2014-
2018) e como Professor Mentor do Programa Híbrido de Mentoria, promovido pela
UFSCAR. Professor coordenador da modalidade de Educação de Jovens e Adultos
na rede municipal de ensino de Araraquara-SP.
ROSANE MICHELLI DE CASTRO
Pós-doutorado pela Fundação Carlos Chagas. Doutora e Mestra em Educação pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Professora assistente na
graduação em Pedagogia - Unesp e professora permanente junto ao Programa de Pós-Gra-
duação em Educação da mesma universidade. Possui Graduação em Pedagogia pela Unesp
e Graduação em Educação Física pela Universidade de Marília Membro do Conselho Edito-
rial Acadêmico da Ed. Oficina Universitária - FFC-Unesp/Malia, consultora ad hoc da Re-
vista de Estudos Pedagógicos (Rbep) e integra o quadro de assessores científicos da Funda-
ção de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Líder e pesquisadora do Grupo
de Pesquisa Hidea Brasil - História das disciplinas escolares e acadêmicas no Brasil (CNPq/
Unesp). Atuou como Coordenadora de área Pibid e docente orientadora do PRP-Unesp.
ROSIMAR BORTOLINI POKER
Doutora e Mestra em Educação pela Faculdade de Filosofia e Ciências (Unesp).
Graduação em Pedagogia pela mesma universidade. Professora assistente doutora
355
Sobre os autores
da Unesp, vinculada ao Departamento de Educação Especial exercendo atividades
nos cursos de Pedagogia e Terapia Ocupacional. Atua na área de Educação, com
ênfase em Educação Especial e Educação Inclusiva. Tem publicações nessas dife-
rentes áreas de atuação, possui experiência como professora pesquisadora em for-
mação continuada para professores da educação especial, na modalidade presencial
e na modalidade de ensino a distância (Convênio SEESP/MEC) e presta assessoria
pedagógica a redes de ensino. Atuou como coordenadora de área Pibid e docente
orientadora do PRP-Unesp.
RUBENS OLIVEIRA DA SILVA
Supervisor do Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp campus São Paulo/SP.
SARAH FERNANDES DE SOUZA OUTEIRO GREGOL
Especialista em Educação Física Escolar e Musculação e personal training pela Es-
cola Superior de Educação Física de Muzambinho - MG. Possui graduação em Educação
Física pela mesma faculdade e Pedagogia pela Faculdade Campos Elísios. Docente nas
escolas da Prefeitura do município de Hortolândia-SP.
SIMONE GOMES GHEDINI
Doutora em Ciências Biológicas (Genética) pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Mestra em Educação: História, Política, Sociedade pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Possui graduação em Fonoau-
diologia pela Universidade de São Paulo. Professora Assistente Doutora da Unesp na
graduação, cursos de Pedagogia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Tem experiência
na área de Educação, com ênfase em Educação Especial. Atua também na formação
continuada de professores para o atendimento educacional especializado de alunos
público-alvo da educação especial. Atuou como coordenadora de área Pibid e docente
orientadora do PRP-Unesp.
STELLA DE MELLO SILVA
Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
(Unesp-Rio Claro). Mestra em Divulgação Cienfica e Cultural pela Universidade Es-
tadual de Campinas (Unicamp). Professora de graduação no Centro Universitário Ad-
ventista de São Paulo (Unasp), em cursos presenciais e na educação a distância. Coorde-
nadora institucional do Pibid tricampi – Unasp campus Engenheiro Coelho (2020-21).
Experiências Docentes
356
Membro do Grupo de Pesquisa do CNPq na Unesp, em Estudos e Pesquisas em Pe-
dagogia Universitária (GEPPU). Membro do Grupo de Pesquisa do CNPq no Labjor/
Unicamp, em Comunicação, Ciência e Sociedade.
TÂNIA SUELY ANTONELLI MARCELINO BRABO
Docente do Departamento de Administração e Supervisão Escolar e do Progra-
ma de Pós-Graduação em Educação da Unesp, campus de Marília. Líder do Grupo de
Pesquisa NUDISE- Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual na Educação. Membro do
NUDHUC - Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania de Marília. Atuou como coorde-
nadora de área Pibid e docente orientadora do PRP-Unesp.
TATIANA SCHNEIDER VIEIRA DE MORAES
Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da USP de São Paulo. Mes-
tre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. Licenciada
em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Fi-
lho” (Unesp), IB, campus de Botucatu. Atualmente é professora assistente doutora
junto ao Departamento de Didática da Unesp, FFC, campus de Malia, líder do
Grupo de Pesquisa e Estudos sobre Alfabetização Científica (GEPAC) e membro do
Grupo de Estudos e de Pesquisa em Especificidades da Docência na Educação In-
fantil (GEPEDEI). Atua como professora coordenadora do Programa de Residência
Pedagógica da Unesp, FFC, campus de Marília e coordenadora geral do Programa
Núcleo de Ensino da Unesp, FFC, campus de Malia. Tem experiência na área de
Educação, com ênfase em Alfabetização Científica, Ensino de Ciências por Investi-
gação e Formação de Professores.
THAIS GONÇALVES SILVA
Mestranda em Educação pelo Unasp campus Engenheiro Coelho, graduada
em licenciatura em História pela mesma instituição e pós-graduada em Docência
Universitária pela Faculdade Campos Esios. Docente de Prática de Ensino em His-
tória para graduação (2018-2019) e sociologia para Ensino Médio (2018). Leciona
História no Colégio Unasp campus Engenheiro Coelho. Volunria em diversos
projetos educacionais pelo mundo - Índia, Quênia, Argentina, Áustria e Amazônia
brasileira. Participante do projeto Pibid de 2012-2015 e voluntária no Projeto Resi-
dência Pedagógica (2019).
357
Sobre os autores
THAÍSSA P. LARAYA
Bolsista Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia/SP.
VANILDA GOALVES DE LIMA
Professora preceptora – PRP – Programa de Residência Pedagógica criado pela
Capes e implementado pela Unesp – Faculdade de Filosofia e Ciências – FFC/campus de
Malia – subprojeto: “Licenciatura em Pedagogia – Leitura e escrita em diferentes áreas
de conhecimento” – 2018-2019.
VICTOR G. FRANCO
Bolsista Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia/SP.
WILLIAN V. ESPINOSA
Bolsista Pibid – subprojeto de Educação Física do Unasp campus Hortolândia/SP.
Experiências Docentes
358
experiências
docentes
Ana Maria de Moura Schäffer
Elize Keller-Franco
Giza Guimarães P. Sales
Rosane Michelli de Castro
(orgs.)
projetos formativos no Pibid
e Residência Pedagógica
Os programas governamentais de formação
docente e Residência Pedagógica emergem no
cenário educacional brasileiro como iniciati-
vas que dão destaque aos espaços práticos
em contextos reais de ensino, pois promovem
as trocas de experiências e o crescimento aca-
dêmico discente e docente. É disso que trata
esta obra, ao apresentar aos leitores ações
que iluminam as relações educativas. Assim,
as experiências narradas no livro compõem
um material que fomenta a cooperação, a
participação, a pesquisa acadêmica e a demo-
cratização do espaço escolar.
EAD
Schäffer; Keller-Franco; Sales; Castro
experiências docentes
9 786554 050098