Daniela N. de Moraes Garcia | Paulo Alexandre Filho
Daniel Vieira Sant’Anna | Douglas Cunha dos Santos
(Organizadores)
Muito além de aspectos teórico-metodológicos, o tempo de pandemia tem
desvelado a importância de artefatos tecnológicos, na maioria das vezes,
concebidos apenas como ferramentas destinadas à comunicação instantâ-
nea ou simples entretenimento. Assistindo aos baixos resultados das ava-
liações externas e, principalmente, à desvalorização de nosso lugar de fala
como educadores, ainda, buscamos, com anco, a condução de práticas
pedagógicas que envolvam, docentes e discentes, em um processo signi-
cativo. Assim, reunir esses textos, frutos de pesquisa, experiências e estudos
intensos de alguns educadores, alunos do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UNESP, Campus de Marília, é sinônimo de reconhecimento
e concretude de que a educação, como instrumento social, reete as neces-
sidades, bem como as demandas de uma época sem precedentes.
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Professora Livre Docente em Língua In-
glesa pela UNESP. Professora Associada
junto ao Departamento de Letras Mo-
dernas da Faculdade de Ciências e Letras
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - UNESP – Campus
de Assis/SP e Professora e orientadora no
Programa de Pós-Graduação em Educa-
ção- UNESP- Campus de Marília / e-mail:
daniela.nm.garcia@unesp.br
Paulo Alexandre Filho
Doutorando em Educação / PPGE / Facul-
dade de Filosoa e Ciências / Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
- UNESP – campus de Marília/SP / Pro-
fessor de Educação Básica da rede estadual
paulista / e-mail: p.alexandre@unesp.br
Daniel Vieira Sant’Anna
Doutorando em Educação / PPGE / Facul-
dade de Filosoa e Ciências / Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
- UNESP – campus de Marília/SP / Profes-
sor Orientador de Informática Educacional
na rede municipal de Lençóis Paulista/SP /
e-mail: daniel.santanna@unesp.br
Douglas Cunha dos Santos
Mestrando em Educação / PPGE / Facul-
dade de Filosoa e Ciências / Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
- UNESP – campus de Marília/SP / Profes-
sor de Língua Inglesa pelo Programa Língua
Inglesa na UNESP (PLIU) / e-mail: douglas.
cunha@unesp.br
EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS
EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS: práticas em cenários disruptivos
práticas em cenários disruptivos
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 396/2021
Processo Nº 23038.005686/2021-36
ORGANIZADORES


EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS:
PRÁTICAS EM CENÁRIOS DISRUPTIVOS
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Paulo Alexandre Filho
Daniel Vieira Sant'Anna
Douglas Cunha dos Santos
(Organizadores)
EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS:
PRÁTICAS EM CENÁRIOS DISRUPTIVOS
Amado Leonardo André
Micaela Sílvia Simão Fondo Covane
Andresa Lins dos Santos Salvador
Mike Ceriani de Oliveira Gomes
Camila Boarini dos Santos
Murilo Fiorim Bózoli
Camila Fernanda Dias Pavaneli
Natália Morato Mesquita Sabella
Cláudia Virgínia A. Prazim Brasilino
Natália Salles Corrêa
Daniel Vieira Sant'Anna
Nathaly Martinez Alves
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Paulo Alexandre Filho
Daniele Fuganholi Abiuzzi Sant'Anna
Rafael Seidinger de Oliveira
Dayene Ferreira dos Santos
Robson Galdino da Silva
Fábio Arlindo Silva
Tarcísio Paciulo Castilho
Hermínia Rita Rosalem Martins
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2022
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS FFC
UNESP - campus de Marília
Diretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
Graziela Zambão Abdian
Patrícia Unger Raphael Bataglia
Pedro Angelo Pagni
Rodrigo Pelloso Gelamo
Maria do Rosário Longo Mortatti
Jáima Pinheiro Oliveira
Eduardo José Manzini
Cláudia Regina Mosca Giroto
Auxílio Nº 0396/2021, Processo Nº 23038,005686/2021-36, Programa PROEX/CAPES
Ilustração da capa: Alex Júnior Fernandes Bernardo
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
E24 Educação e tecnologias: práticas em cenários disruptivos / Daniela Nogueira de Moraes
Garcia ... [et al.] (org.). Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2022.
275 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-321-2 (Digital)
ISBN 978-65-5954-320-5 (Impresso)
DOI: https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2
1. Educação. 2. Educação Efeito das inovações tecnológicas. 3. Tecnologias
de informação e comunicação. I. Garcia, Daniela Nogueira de Moraes. II.
Alexandre Filho, Paulo. III. Sant’Anna, Daniel Vieira. IV. Santos, Douglas
Cunha. V. Título.
CDD 371.39
Catalogação: André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Copyright © 2022, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Dedicatória
Dedicamos esta leitura às pessoas que, como nós, vislumbram a
educação para além das obscuridades e dos desafios, dos limites, dos livros,
dos conteúdos e das diretrizes. A vocês, professores, educadores, agentes
escolares, diretores, coordenadores e apaixonados pela educação,
empreendemos nossos esforços, aqui, em uma tentativa de entrecruzar
teoria e prática, transformando as adversidades em forças para alçarmos
voos mais altos e resultados mais tangíveis.
“Não devemos ter medo dos confrontos.
Até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas.”
Charles Chaplin
Sumário
Prefácio | Prof. Dr. João Batista Bottentuit Junior
1
3
Apresentação | Organizadores
1
7
Escola étnica: uma experiência que integra tecnologia e diversidade
2
5
Dayene Ferreira dos Santos
Entre o remoto e o híbrido: cenários criados pela pandemia
4
5
Paulo Alexandre Filho; Yngrid Karolline Mendonça Costa
O uso da plataforma Google Sites na educação infantil:
comunicação, registro e visibilidade do trabalho pedagógico em
um contexto pandêmico
6
3
Camila Fernanda Dias Pavaneli; Nathaly Martinez Alves
Letramento digital, leitura e WhatsApp: uma possibilidade de
formar leitores em Moçambique
7
9
Micaela Sílvia Simão Fondo Covane
O teleatendimento de terapia ocupacional como novo
caminho de
cuidado: um relato de experiência
9
5
Natália Salles Corrêa
Google Sala de Aula como ferramenta integradora e
potencializadora do ensino e aprendizagem
10
9
Fábio Arlindo Silva; Cláudia Virgínia Albuquerque Prazim Brasilino;
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Desafios docentes da escola técnica na pandemia: desbravando as
metodologias ativas e recursos tecnológicos para as aulas remotas
Hermínia Rita Rosalem Martins
13
5
Resgatando estudantes com indícios de abandono e evasão escolar
com a prática dos multiletramentos
14
9
Daniel Vieira Sant'Anna; Daniele de Fátima Fuganholi Abiuzzi
Sant'Anna; Robson Galdino da Silva
O uso da tecnologia assistiva para favorecer a participação escolar
de uma criança com paralisia cerebral
16
7
Camila Boarini dos Santos
As
contribuições da tecnologia no ensino remoto: relatos de alunos
surdos pós-graduandos
1
81
Andresa Lins dos Santos Salvador; Murilo Fiorim Bózoli; Tarcísio Paciulo
Castilho
Implicações éticas e desafios tecnológicos na educação em um
cenário pós-pandêmico
201
Mike Ceriani de Oliveira Gomes
Implicações da pandemia na educação brasileira: um estudo sobre
o uso de tecnologias por professores
21
7
Rafael Seidinger de Oliveira
O uso de Fanfics como recursos de letramento em sala de aula
23
3
Natália Morato Mesquita Sabella
A utilização do Statistical Package For Social Science no ensino e
aprendizagem da estatística em Angola
24
7
Amado Leonardo André
Sobre os autores
2
71
12
13
Prefácio
A utilização de recursos tecnológicos em sala de aula já não é mais
novidade, computadores, data show, vídeos digitais, plataformas de
comunicação, tudo isso já faz parte da vida quotidiana dos alunos em todos
os níveis de ensino de muitas instituições escolares e também do ensino
superior. Eles ajudam nas tarefas de gestão, pesquisa, extensão e ensino,
bem como, se bem utilizados, permitem contextualizar melhor os
conteúdos no momento da aula, facilitando desta forma a construção do
conhecimento nos alunos.
Além das tecnologias convencionais, as tecnologias digitais de
informação e comunicação (TDIC) despontam como uma possibilidade
amplamente utilizada por alunos e professores, uma vez que, estes recursos
quando combinados com metodologias adequadas, conseguem
desenvolver uma série de habilidades tais como: raciocínio lógico, trabalho
colaborativo, construtivismo, planejamento, execução de projetos,
comunicação, criatividade, resolução de problemas, entre outros.
Já temos uma série de experiências desenvolvidas por pesquisadores
brasileiros e estrangeiros que atestam a qualidade das TDIC, bem como,
apontam para as vantagens que elas proporcionam aos alunos. O tema já
era destaque no cenário educacional e com a pandemia, ganhou ainda mais
evidência, tanto que temos hoje, congressos e encontros nacionais e
internacionais, que visam estimular professores e alunos a discutirem uma
utilização consciente destes recursos.
A pandemia trouxe a todos nós um misto de muitos sentimentos,
alguns tristes e outros desafiadores, e ainda, muitas descobertas, na medida
que os professores e os alunos aprenderam em tempo muito curto um
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p13-16
14
conjunto muito alargado de metodologias e tecnologias digitais. Graças à
internet e aos muitos recursos que temos à nossa disposição foi possível
continuar as nossas atividades didáticas por meio do ensino remoto.
Muitos ficaram aflitos e desesperados, pois não tinham conhecimentos
suficientes para essa nova realidade, outros se adaptaram tão bem que já
cogitam continuar a utilizar destes recursos no pós-pandemia.
A obra coletiva intitulada Educação e Tecnologias: práticas em
cenários disruptivos cobre uma variedade grande de temas
multidisciplinares tais como: os cenários da etnia e tecnologias, a
fenômeno do remoto e do híbrido na educação, uso da plataforma Google
Sites na educação infantil, letramento digital, leitura e WhatsApp,
teleatendimento de terapia ocupacional, tecnologias digitais como
instrumentos de trabalho para o educador, desafios docentes da escola
técnica na pandemia, resgatando estudantes com indícios de abandono e
evasão escolar com a prática dos multiletramentos, uso da tecnologia
assistiva, contribuições da tecnologia no ensino remoto, implicações éticas
e desafios tecnológicos na educação, Implicações da pandemia na educação
brasileira, uso de Fanfics como recursos de letramento, utilização do
Statistical Package For Social Science no ensino e aprendizagem da
estatística. As produções dos pesquisadores (alunos e professores) se
dividem entre, artigos teóricos de revisão de literatura, assim como,
pesquisas empíricas, em que experiências e dados foram coletados in loco.
Em pleno século XXI não podemos mais pensar em ensino
bancário baseado na transmissão de informações em que nossos alunos são
meros espectadores no processo de suas aprendizagens. Tendo em vista que
o mercado de trabalho exige destes indivíduos características que
perpassam pelo domínio de múltiplos conteúdos e habilidades, tendo
algumas delas como: raciocínio, cálculo, negociação, comunicação para
15
detalhar fatos e acontecimentos, entre muitas outras. Habilidades estas que
deveriam estar muito bem solidificadas para que os mesmos tenham
melhores condições de atuação na sua vida profissional, ou mesmo nas
etapas superiores de seu percurso acadêmico (graduação e pós-graduação).
A obra é com certeza um caminho para que muitos educadores nas
múltiplas áreas do conhecimento possam planejar suas sequências didáticas
e demais experiências pedagógicas com o uso das tecnologias e
metodologias diferenciadas, em escolas, universidades e desta forma,
propiciar uma aprendizagem mais ativa e contextualizada para os alunos
da era digital.
Prof. Dr. João Batista Bottentuit Junior
Universidade Federal do Maranhão - UFMA
16
17
Apresentação
No momento atual, ministrar a disciplina Educação e Novas
Tecnologias: implicações ao currículo da educação básica e superior mostra-se
desafiador. Como educadores, deparamo-nos, a cada dia, com as
fragilidades de um cenário que padece de olhares cuidadosos e políticas
públicas que reconheçam as reais demandas envoltas no processo de ensino
e aprendizagem.
Assistindo aos baixos resultados das avaliações externas e,
principalmente, à desvalorização de nosso lugar de fala como educadores,
ainda, buscamos, com afinco, a condução de práticas pedagógicas que
envolvam, docentes e discentes, em um processo significativo.
A disciplina ministrada acerca de um assunto que, apesar de muito
explorado pela comunidade acadêmica, atrelou-se, fundamentalmente, à
uma pandemia, as possibilidades de continuidade de práticas pedagógicas
e, ainda, questões de natureza socioeconômica que assolam a população
quando pensamos, por exemplo, no acesso à internet de qualidade, bem
como nos recursos básicos capazes de efetivar a aprendizagem mediada
pelas tecnologias.
Muito além de aspectos teórico-metodológicos, o tempo de
pandemia desvelou, para toda a sociedade, a importância desses artefatos,
na maioria das vezes, concebidos apenas como ferramentas destinadas à
comunicação instantânea ou simples entretenimento. Na contempora-
neidade, educadores, gestores e autoridades públicas buscam implementar
estratégias que possam minimizar as fragilidades impingidas pelo
distanciamento na educação, independente, se pensamos na educação
básica ou superior. Todos os envolvidos, quando o assunto é ensino e
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p17-24
18
aprendizagem, não mediram esforços para cumprir com seus objetivos que
se atrelam à missão de disseminar o conhecimento para todos os cidadãos,
conforme nos assegura a Constituição Federal (CF) em seu artigo 205: “A
educação, direito de todos e dever do Estado e da família será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.”
Assim, reunir, aqui, estes textos, frutos de pesquisa, experiências e
estudos intensos de alguns educadores, alunos do Programa de Pós
Graduação em Educação da UNESP, Campus de Marília, é sinônimo de
reconhecimento e concretude de que a educação, como instrumento social,
reflete as necessidades, bem como as demandas de uma época sem
precedentes. Nesse sentido, reconhecemos a necessidade de estabelecer
diálogos que se debrucem sobre o cenário educacional, que estabeleçam
laços entre práticas pedagógicas e se voltem para um dos principais agentes,
no caso, o professor. Conforme já salientamos, o uso das tecnologias na
educação, apesar de tema recorrente nos meios acadêmicos, sempre será
alvo de estudos e debates acalorados, uma vez que muitos aspectos se
imbricam ao ensino mediado por recursos tecnológicos e/ou digitais.
Com o desenvolvimento da sociedade e as reformas político-sociais
da última década, foi requisitado ao professor uma atualização
metodológica que abarcasse o uso das Tecnologias Digitais da Informação
e Comunicação (TDIC), a fim de promover e facilitar o acesso
democrático à educação. Todavia, o que vinha sendo desenvolvido a passos
tímidos, sofreu um salto exponencial perante os acontecimentos recentes,
e, como resultado, o professor deixou a sala de aula para desbravar
caminhos e soluções digitais emergenciais que não conflitassem com as
novas medidas sanitárias adotadas. Percebeu-se, então, uma lacuna entre o
19
avanço tecnológico visto na sociedade e a maneira como ele adentrava as
instituições de ensino: o que antes era postulado como ferramenta
ilustrativa, agora, alcançava o patamar de principal meio de elaboração do
saber.
Dessa forma, buscando um alinhamento entre as práticas pautadas
na utilização de recursos tecnológicos na educação, apresentamos este livro,
composto por autores, discentes do supracitado Programa de Pós-
Graduação que, de alguma forma, compartilharam demandas
emergenciais decorrentes do COVID-19 em suas diversas áreas de atuação.
No primeiro capítulo, Dayene Ferreira dos Santos apresenta um
relato de experiência sobre a aplicação de um projeto multidisciplinar com
a finalidade de promover a conscientização sobre a diversidade e
importância de saberes desenvolvidos por diferentes comunidades da
sociedade brasileira. Justifica-se, portanto, a necessidade de estudos das
Relações Étnicas na escola e a discussão sobre História e Cultura
Afrobrasileira e Indígena, e também, sobre a comunidade rural.
O capítulo de autoria de Paulo Alexandre Filho e Yngrid Karoline
Mendonça Costa apresenta uma reflexão sobre a modalidade híbrida no
ensino fundamental I, discorrendo acerca do retorno gradativo de alunos
e professores à modalidade presencial. Os autores partem da hipótese de
que, para a efetividade da modalidade híbrida, muitos aspectos precisam
ser rearticulados de modo a transfigurar as estratégias teórico-
metodológicas, bem como os recursos utilizados na produção do
conhecimento.
No capítulo 3, as autoras Camila Fernanda Dias Pavaneli e
Nathaly Martinez Alvez discorrem sobre sua experiência com o uso da
plataforma Google Sites junto a salas de berçários como forma de
20
comunicação, registro e visibilidade. Nesse contexto, as tecnologias não
foram utilizadas para a aprendizagem de crianças bem pequenas, mas
foram fontes de grande potencial para mediar a integração creche-família,
além de divulgar o trabalho pedagógico realizado nas escolas, informando
e formando a sociedade sobre a real importância da educação infantil.
O uso das novas tecnologias de informação revolucionou a
educação básica em nível mundial, por possibilitar, aos alunos e
professores, novos mecanismos pedagógicos para administrar e assistir às
aulas perante a necessidade de distanciamento. A autora Micaela Sílvia
Simão Fondo Covane buscou refletir sobre a possibilidade de formar
leitores a partir do WhatsApp, disponível no celular, levando em
consideração o letramento digital. Os resultados mostraram a eficácia da
criação de grupos dentro do aplicativo para o ensino da leitura e a iniciação
ao letramento digital nas crianças do ensino básico moçambicano.
No quinto capítulo, Natália Salles Corrêa compartilha vivências
como terapeuta ocupacional na modalidade de teleatendimento para um
idoso, além de descrever estratégias que foram realizadas. A plataforma
remota Google MEET é abordada ao possibilitar encontros síncronos.
Segundo descreve a autora, o idoso atendido pôde conhecer a tecnologia
de informação e comunicação e promover um novo processo de autonomia
e empoderamento. A experiência retratada engloba, também, o
teleatendimento, em momento pandêmico, como uma forma de prevenir
declínios decorrentes do processo do envelhecimento.
As discussões sobre as tecnologias na educação e os novos desafios
postos impeliram a necessidade de pensar em estratégias viáveis para a
continuidade da oferta das atividades educacionais. Por meio de
diversificadas ferramentas digitais, instituições educacionais, professores e
alunos puderam, minimamente, prosseguir com suas responsabilidades.
21
Os autores Fábio Arlindo Silva, Cláudia Virgínia Albuquerque Prazim
Brasilino e Daniela Nogueira de Moraes Garcia apresentam, neste
capítulo, as potencialidades do Google Sala de Aula, muitas vezes pouco
exploradas pelos professores usuários da ferramenta. Evidencia-se, então,
que o Google Sala de Aula deve ser utilizado pelos professores e alunos em
sua máxima potencialidade pedagógica, não sendo reduzido apenas a um
repositório de conteúdos e informações. Os autores, ainda, ressaltam que
a plataforma deve ser considerada pelos professores como forte aliado do
ensino e da aprendizagem para além do ensino remoto em momento
pandêmico.
No capítulo intitulado "Desafios Docentes da Escola Técnica na
Pandemia: Desbravando as metodologias ativas e recursos tecnológicos
para as aulas remotas", a autora Hermínia Rita Rosalem Martins relata
sobre a necessidade dos professores e profissionais da educação de
aprenderem e se adaptarem ao teletrabalho. A autora, também, retrata os
efeitos da pandemia no ambiente escolar e evidencia as lacunas
tecnológicas dentro das instituições, decorrentes do atual cenário.
O oitavo capítulo, de autoria de Daniel Vieira Sant'Anna, Daniele
de Fátima Fuganholi Abiuzzi Sant'Anna e Robson Galdino da Silva,
discorre sobre os indícios de abandono e evasão escolar sendo ocasionado
por uma multiplicidade de fatores. Relata a relação com a metodologia
aplicada pelos professores, os dificultadores relativos à continuidade escolar
dos estudantes e os desafios atrelados aos empecilhos no acesso e utilização
dos recursos tecnológicos digitais por parte dos professores, alunos e
família. Os autores apresentam o Projeto Busca Ativa Escolar, abrangendo
propostas de mudança da prática docente apoiadas nas teorias dos
multiletramentos, a fim de direcionar novos caminhos metodológicos na
prática pedagógica, para a compreensão e aproveitamento dos conteúdos
22
escolares pelos estudantes e seu aprendizado significativo, resultando na
mudança do cenário atual.
Camila Boarini dos Santos traz, no capítulo seguinte, reflexões
sobre a intervenção do terapeuta ocupacional junto a uma criança com
Paralisia Cerebral. A autora apresenta a implementação da tecnologia para
favorecer sua aprendizagem e participação no contexto escolar. Dessa
forma, busca modificar os elementos da atividade visando um melhor
desempenho escolar desta referida criança. A abordagem leva em
consideração que os acometimentos motores, cognitivos,
comportamentais, sensoriais e de linguagem podem variar amplamente na
Paralisia Cerebral (PC), sendo necessário considerar seu impacto na
participação do estudante nos contextos familiar e escolar. A autora, então,
discorre sobre a necessidade da presença de especialistas, como terapeutas
ocupacionais, a fim de contribuir com os professores e outros profissionais
na identificação e implementação do recurso mais indicado para o
estudante.
O capítulo 10, de Andresa Lins dos Santos Salvador, Murilo
Fiorim Bózoli e Tarcísio Paciulo Castilho, contempla dois relatos de pós-
graduandos surdos, matriculados em um Programa de Pós-graduação, de
uma Universidade pública. A partir destes relatos, os referidos estudantes
declararam-se usuários da Libras Língua Brasileira de Sinais, e tiveram
sua transcrição para o português realizada por uma das autoras deste texto.
Em seu desenvolvimento, consideraram importante apresentar: i) uma
breve revisão da literatura sobre o tema; ii) os relatos dos participantes na
íntegra e, por fim, iii) os resultados, envolvendo comentários sobre
algumas passagens destacadas pelos pós-graduandos em quatro grandes
temas: a) processos de interação entre aluno-professor e demais alunos do
grupo classe; b) usos e domínio das ferramentas virtuais aplicadas ao ensino
23
remoto; c) impactos das tecnologias na vida acadêmica e profissional dos
pós-graduandos, d) acessibilidade dos ambientes virtuais de aprendizagem
no ambiente remoto em Libras.
O próximo capítulo compartilha reflexões e discussões referentes a
alguns aspectos éticos e, socialmente, sustentáveis para a gestão da
tecnologia da educação nos setores públicos de ensino a partir das
realidades vivenciadas com a modalidade de ensino remoto. O autor Mike
Ceriani de Oliveira Gomes apresenta análises que demonstram a
impossibilidade de discutir medidas de reparação de perdas com o ensino
remoto sem avaliar as diferenças de classes sociais como variável
determinante de resultados no setor educacional. Afirma ser importante,
ainda, abordar os conflitos de interesses na reivindicação dessas medidas e
na formulação de debates sobre a tecnologia como perspectiva de
desenvolvimento social sustentável na educação pública em um cenário
pós-pandêmico.
Rafael Seidinger de Oliveira discorre acerca da necessidade de
adaptação em decorrência do período pandêmico e analisa o uso de
tecnologias realizado junto a professores dos anos finais dos ensinos
fundamental e médio. O autor busca identificar e mapear as dificuldades
desses profissionais quanto à inclusão das tecnologias em suas atividades
pedagógicas.
O capítulo 13, de autoria de Natália Morato Mesquita Sabella,
versa sobre a utilização de fanfics e a possibilidade de propor este gênero
como prática pedagógica. Em tempos em que a tecnologia emerge como
suporte de ensino e ganha a atenção de educadores em processo de
letramento, cabe aos educadores proporem práticas mais significativas e
engajadas pela mediação das tecnologias. A autora discorre acerca do
24
referido gênero, letramento digital e formação docente a fim de que
educadores repensem suas práticas cotidianas.
No capítulo seguinte, Amado Leonardo André enfoca o ensino e
aprendizagem da Estatística em Angola, buscando incentivar o uso do
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) e, em particular, na Escola
Superior Pedagógica do Bié. Buscando compreender como se dá o processo
de ensino e aprendizagem e como utilizar o SPSS, evidencia-se a
oportunidade de substituir a forma tradicional de ensinar a Estatística,
baseada nos cálculos e procedimentos, por uma abordagem focada na
análise de dados, apresentando tarefas significativas e motivadoras para que
os alunos desenvolvam a sua literacia estatística.
Os estudos que emergem desse período pandêmico trazem, em seu
bojo, o caráter pioneiro e desbravador daqueles que, dentro da academia,
mostram-se incansáveis na busca de novas formas de aprendizagem em
prol de maior dinamismo, engajamento e adequação diante de
oportunidades e recursos e disponibilizados. Esperamos que essas
produções possam nortear o desenvolvimento de novas técnicas,
abordagens e concepção dos processos de ensino que, mesmo com o
retorno às salas de aula, se fazem necessárias. Esperamos, ainda, que as
experiências aqui compartilhadas ecoem e unam vozes e forças para
buscarmos cenários e dias com mais esperança.
Dra. Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Docente da Disciplina
Em colaboração com Paulo Alexandre Filho, Daniel Vieira
Sant'Anna e Douglas Cunha dos Santos.
25
ESCOLA ÉTNICA:
uma experiência que integra tecnologia e diversidade
Dayene Ferreira dos SANTOS
1
Introdução
O convívio em sociedade requer formas diferentes e inovadoras de
expressar o pensamento humano e busca reunir múltiplos olhares na
tentativa de solucionar problemas. Há uma exigência de que a sociedade
assimile e crie diversos conhecimentos para lidar com fatos e fenômenos
cotidianos, logo, é esperado que a educação possibilite o acesso a esses
conhecimentos que podem ser validados na incorporação às práticas sociais
(TOMAZ; DAVID, 2017). Desse modo, é imprescindível a participação
e autonomia dos estudantes no processo de aprendizagem, uma vez que a
própria aprendizagem é uma ação social e, portanto, faz-se necessário que
sejam incorporadas diferentes perspectivas sobre um mesmo problema a
fim de solucioná-lo ou, ao menos, compreendê-lo.
Na tentativa de entender a realidade e seus fenômenos, elaboramos
um projeto interdisciplinar para conhecer e divulgar os saberes
diversificados que contribuem para a construção histórica, social e
identitária do nosso país. Discutimos problemas e inquietações sobre
diferentes realidades que compõem a sociedade brasileira, tais como
1
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
dayene.santos@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p25-44
26
indígena, rural e africana. Ressaltamos que houve participação dos
membros de gestão escolar ao permitir e fornecer subsídios necessários para
sua realização.
Partindo destes dados, espera-se desenvolver as capacidades e
habilidades de aceitação, compreensão e empatia ao próximo por meio de
pesquisas e produções diversas sobre as diferentes realidades e culturas
regionais e nacionais, de modo a difundir e enaltecer os conhecimentos
científicos e as produções de saberes de diferentes povos. Desse modo,
buscam-se destacar as relações de povos indígenas, africanos e rurais a
partir do desenvolvimento histórico-social da região e do país e, ao mesmo
tempo, relacionar os conteúdos das Ciências aprendidos na escola com os
conhecimentos produzidos por povos de outras culturas, utilizando-se de
ferramentas tecnológicas para a elaboração e divulgação das produções
específicas.
A questão norteadora do projeto investiga se "a participação em
um projeto integrador interdisciplinar promove aos estudantes uma
valorização e conscientização sobre a diversidade e importância de saberes
desenvolvidos por diferentes comunidades para a formação da sociedade
brasileira?”. Buscamos responder à questão adotando uma metodologia de
projeto que incentive a autonomia dos estudantes quanto ao
desenvolvimento de pesquisas e integre o uso de diferentes tecnologias para
divulgação e produção.
O estudo das Relações Étnicas na escola e nas Ciências aponta que
educar não é somente apresentar problemas contextualizados ou recortes
de uma realidade distante como pauta de curiosidade, uma vez que a
contextualização depende de fatores vivenciais do grupo e estes nem
sempre são os do educador; também não é apenas dar exemplos para
motivação, pois a própria realidade que nos envolve gera expectativas na
27
busca de soluções; e tampouco é tratar apenas do cotidiano, pois as relações
sociais exigem bem mais que isso, mas é promover uma educação ampla,
igualitária, justa e plural.
Embora previsto em Lei (10.639 e 11.645), ainda há muito o que
ser trabalhado e executado nas escolas sobre a História e Cultura
Afrobrasileira e Indígena e também sobre a comunidade rural. Uma
alternativa para tratar desses temas em sala de aula é a aplicação de um
projeto interdisciplinar que promova a autonomia dos estudantes
(POMBO et al., 1994) e discuta as temáticas que envolvam os saberes
indígenas, rurais e africanos.
Entretanto, embora haja uma multiplicidade de fatores sociais,
econômicos e culturais que podem ser tratados em trabalhos
interdisciplinares como uma possível solução para integrar as disciplinas
que são incapazes de compreender a realidade isoladamente, ainda há uma
ideia fragmentada do conhecimento no contexto escolar em que os
chamados trabalhos “interdisciplinares” se limitam à escolha de um tema
central que é discutido nas aulas de cada disciplina sem relacionar os
conteúdos desenvolvidos em cada aula (TOMAZ; DAVID, 2017). Para
evitar esse tratamento dos trabalhos interdisciplinares, é necessário
promover encontros para discussão e relação dos conteúdos vistos em aula,
desse modo, os estudantes podem assimilar as ideias apresentadas e
compreendê-las nos contextos apresentados ou vivenciados.
Buscando integrar as diferentes disciplinas e os conteúdos tratados
durante o projeto, reunimos as produções em um site e realizamos
encontros dos estudantes de forma on-line em redes sociais para apresentar
os trabalhos de cada grupo. A seguir, iniciamos com uma apresentação do
referencial teórico que respalda as práticas de sua aplicação, além de
28
reforçar sobre a necessidade de trabalhos que envolvam as temáticas
apresentadas.
Por Uma Educação Igualitária e Diversificada
Nesta seção, descrevemos os pressupostos da construção e
apropriação do conhecimento, bem como discutimos sobre a necessidade
de pesquisas e trabalhos escolares voltados para as questões étnico - raciais.
O conhecimento étnico-racial e a escola
No tocante aos temas levantados para o encaminhamento do
projeto, destaca-se que, embora haja legislação determinando a obrigação
do ensino das relações étnico - raciais na escola, “a realidade das práticas
sociais e escolares ainda é marcada por discriminação, preconceito e
exclusão educacional” (BRASIL, 2012, p. 30). Pinheiro et al. (2008)
revelam que não é possível desvincular a desigualdade social brasileira da
desigualdade racial e que precisamos desenvolver atividades que discutam
sobre estes temas, propondo reflexões para promoção de práticas de
combate às desigualdades, pois “reconhecer a existência do racismo na
sociedade e na escola é condição indispensável para se arquitetar um
projeto novo de Educação que possibilite a inserção social e o
desenvolvimento igualitário dos indivíduos” (BRASIL, 2012, p. 30).
Esse reconhecimento se forma em duas dimensões: a primeira
implica em identificar a existência de preconceitos enraizados, de racismo
estrutural e da discriminação racial que exigem um esforço coletivo e
individual de reflexão contínua, de práticas inclusivas e da busca por
conhecimento para erradicar essa dimensão (BRASIL, 2012). A segunda
dimensão desenvolve a percepção da necessidade de uma releitura histórica
29
de forma crítica, identificando as contribuições das comunidades africanas
e indígenas na construção do conhecimento, no desenvolvimento
humano, reconhecendo, respeitando e valorizando outros diversos
processos civilizatórios que não se relacionam aos padrões eurocêntricos
como, por exemplo, as práticas de cultivo dos habitantes das zonas rurais
brasileiras herdadas de diferentes etnias ou da mesclagem de culturas.
Na escola, podem ser trabalhados temas sobre as culturas e
formação histórico-política da sociedade brasileira. Contudo, não se deve
limitar aos cumprimentos da Lei 9.394/1996 que supera a inclusão de
novos conteúdos, pois é necessário que “se repensem relações étnico-
raciais, sociais, pedagógicas, procedimentos de ensino, condições
oferecidas para aprendizagem, objetivos tácitos e explícitos da Educação
oferecida pelas escolas” (BRASIL, 2004, p. 17).
Políticas podem ser implantadas nas instituições escolares por meio
de projetos e incentivos aos estudos étnicos e diversificados, propor o
contato com conhecimentos não eurocêntricos, promovendo a inserção de
saberes diversificados e compreendendo a sociedade que engloba a escola.
A escola precisa entender a importância dessa temática para a
transformação da realidade brasileira e de suas desigualdades.
Porém, outros segmentos também podem colaborar para isso.
As agências de fomento de pesquisa podem incentivar mais
pesquisas nessa área, buscar mais investimentos para cursos de
formação de professores dessa temática e incrementar
intercâmbios intelectuais Brasil-África e, internamente, com os
povos indígenas. Os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros
(NEAB’s), com suas pesquisas, podem permitir a realização de
mais encontros para veiculação desse tema e lutar por superar os
30
guetos acadêmicos ao trazer a temática étnico-racial para o
protagonismo acadêmico. Por fim, o movimento negro e o
movimento indígena podem dialogar cada vez mais para a
articulação dos debates que visem implementar as já citadas leis
10.639/2003 e 11.645/2008. (SILVA, 2021, p. 146).
O reconhecimento e a reparação são condições necessárias para a
promoção da igualdade racial e valorizam as contribuições dos povos
africanos e indígenas no processo de constituição da identidade brasileira
(BRASIL, 2012). Uma alternativa para o desenvolvimento dessas temáticas
em sala de aula é a implementação de projetos interdisciplinares que
integrem e relacionem esses temas à realidade dos estudantes de modo a
promover autonomia, empatia e mobilizar conhecimentos para discutir
sobre perspectivas diferentes do mesmo assunto.
D’Ambrosio (2013) argumenta que o desafio da educação é
apresentar os conhecimentos que serão utilizados no futuro e que devemos
pressupor que tais conhecimentos são resultados de um acúmulo de
saberes, tradições e teorias que conectam o passado ao presente e nos levam
ao futuro. Para manter o elo entre a teoria e a prática, o passado e o
presente, precisamos realizar pesquisas, de modo que os pressupostos da
teoria e da prática não se desvinculem e promovam um ciclo de
investigações para aprofundar o conhecimento. Em uma ação
interdisciplinar, concordamos que há uma necessidade em pesquisar sobre
os diferentes pontos de vista do mesmo tema a fim de compreendê-lo de
modo amplo.
Os esforços dos indivíduos, bem como de diferentes sociedades
para encontrar respostas aos fenômenos que nos cercam são reconhecidos
e originaram diversos modos de comunicação, variadas religiões, artes e
31
tradições aos quais denominamos conhecimentos. Assim, deve-se buscar
formas de lidar com e conviver com a realidade, de modo a naturalizar os
mais diversos aspectos sociais, históricos e culturais (D’AMBROSIO,
2018).
Como enfatiza D’Ambrosio (2018, p. 50) o que chamamos de
conhecimento, na verdade, “é resultado de um longo processo cumulativo,
onde se identificam estágios, naturalmente não dicotômicos, entre si,
quando se dão a geração, a organização intelectual, a organização social e
a difusão do conhecimento”. Essa percepção foi buscada na realização do
projeto por meio das produções dos estudantes de modo que percebessem
que o conhecimento é uma construção atrelada às dimensões histórico-
social e político-cultural.
O conhecimento interdisciplinar
Projetos interdisciplinares visam intensas trocas entre as áreas do
conhecimento. “O horizonte epistemológico deve ser o campo unitário do
conhecimento, a negação e a superação das fronteiras disciplinares, a
interação propriamente dita” (FRANCISCHET, 2005, p. 3). Nesse
sentido, a aprendizagem é um processo contínuo e constante mediante o
tratamento de uma temática comum às disciplinas. Os temas elencados são
trabalhados sob diferentes perspectivas, mas sempre com um objetivo
comum. Em um projeto interdisciplinar
[...] é dada importância ao caráter teórico - prático; registram-se e
efetivam-se as experiências vividas no cotidiano da sala de aula; faz
revisão e releitura crítica de aspectos retidos na memória; trabalha em
parceria como necessidade de troca e de consolidação do
conhecimento; o ambiente de trabalho transgride todas as regras de
32
controle costumeiro; respeita o modo de ser de cada um e o caminho
que cada um busca para sua autonomia; surge de alguém que já
desenvolvia a atitude interdisciplinar, contamina os outros.
(FRANSCICHET, 2005, p. 8).
Os projetos interdisciplinares promovem discussões e autonomia
surgindo como alternativas para tratar dos estudos étnico-raciais, uma vez
que “o ensino por projetos também pode contribuir para esse processo,
com as relações étnico-raciais como uma temática a ser vista pela ótica da
trans/multi/interdisciplinaridade” (SILVA, 2021, p. 144). Há uma
necessidade de implementar projetos que tratem de temas como este para
superar as tentativas superficiais executadas nas escolas. Silva (2021) afirma
que a
educação antirracista está em sintonia com a transformação das relações
sociais, mas também está intimamente ligada com o desenvolvimento
integral do ser humano, assim como de cidadania, para que nossas
crianças venham a ser adultos conscientes de sua responsabilidade em
prol de um mundo mais igualitário e para o respeito na vivência com
os outros, com sadias relações étnico-raciais. Nesse sentido, é uma
educação que se entende libertária. Portanto, não pode ser apenas
voltada para datas comemorativas, com conteúdos tradicionais, como
por vezes acontece. (SILVA, 2021, p. 145).
Com esse olhar, desenvolvemos o projeto interdisciplinar como
uma alternativa para revelar e discutir essas contribuições, promovendo a
autonomia dos estudantes e possibilitando que conheçam e compreendam
como se formou a sociedade em que se inserem. Enfatizamos a importância
de reconhecer tais contribuições dos povos indígenas, comunidades rurais
33
e africanos para a construção da identidade da região em que se localiza a
escola, tratando com respeito às diferentes culturas, tradições e saberes.
Aliada à tecnologia, a realização do projeto foi possível graças às
ferramentas digitais e às possibilidades de encontro entre os envolvidos de
diferentes localidades em um mesmo espaço virtual. Além disso, a
promoção de recursos digitais despertou o interesse dos estudantes que
descobriram e revelaram habilidades tecnológicas durante suas produções.
Discutimos sobre a tecnologia e o ensino na seção seguinte.
O conhecimento tecnológico
O século XXI traz novas preocupações e, consequentemente, novas
soluções atreladas às tecnologias cada vez mais avançadas. A sociedade
contemporânea desenvolveu habilidades inerentes ao uso das tecnologias,
logo, há uma crescente necessidade de apreender os recursos tecnológicos
e inseri-los como facilitadores das ações do cotidiano (BORBA;
PENTEADO, 2017). Nesse sentido, não poderia ser diferente com a
escola, uma vez que é formadora dos sujeitos dessa nova era, logo,
precisaria estar em harmonia com as demandas atuais.
As novas metodologias de ensino têm discutido sobre o uso da
tecnologia e ações pedagógicas que utilizem recursos digitais e midiáticos
(MORAN et al., 2007). Entretanto, há necessidade de adaptação das
escolas, em especial, na aquisição desses recursos bem como na formação
continuada de seu corpo docente para que o uso das tecnologias seja
eficiente e aprofundado. Como enfatizam Borba e Penteado (2017),
uma questão central para a entrada das novas mídias na escola está
relacionada com o professor. Já há sinais evidentes, tanto na educação
34
básica quanto na própria educação em nível universitário, que, se o
professor não tiver espaço para refletir sobre as mudanças que
acarretam a presença da informática nos coletivos pensantes, eles
tenderão a não utilizar essas mídias, ou a utili-las de maneira
superficial, domesticando, portanto, essa nova mídia. (BORBA;
PENTEADO, 2017, p. 88-89).
Prado (2005) afirma que é preciso compreender sobre as
implicações do uso de tecnologias no processo de ensino e aprendizagem.
Desse modo, o docente pode ser capaz de integrar a tecnologia à prática
pedagógica e evitar a instrumentalização da mesma. Além disso, o professor
deve atuar como mediador para indicar aplicações dos recursos
tecnológicos aos seus estudantes, de maneira a promover a autonomia
digital, entendida como uma comunicação pessoal ou colaborativa entre
docentes e discentes utilizando os diferentes recursos tecnológicos para fins
de aprendizagem (MORAN, 2014). Com esse objetivo,
A aquisição da informação, dos dados, dependerá cada vez menos do
professor. As tecnologias podem trazer, hoje, dados, imagens, resumos
de forma rápida e atraente. O papel do professor papel principal é
ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a
contextualizá-los. (MORAN et al., 2007, p. 29).
A incorporação de tecnologias em contextos educacionais pode
promover aprendizados por meio de diferentes estímulos. Porto (2006, p.
45) revela que são desenvolvidas “outras maneiras de compreender, de
perceber, de sentir, de aprender, em que a afetividade, as relações, a
imaginação e os valores não podem deixar de ser considerados”. Essas
35
aprendizagens auxiliam nas interações sociais, na participação efetiva das
decisões em grupo e na aquisição de novos conhecimentos.
Por esse motivo, realizamos o projeto interdisciplinar que integra
o uso de recursos tecnológicos familiares ou não para os estudantes a fim
de promover sua autonomia. Os participantes tiveram a oportunidade de
conhecer novas ferramentas, aprimorar suas habilidades voltadas para o uso
da tecnologia e compartilhar experiências entre seus pares.
Os detalhes do desenvolvimento do projeto estão descritos a
seguir.
Metodologia
Para a realização do projeto, optamos por uma pesquisa qualitativa
e bibliográfica a fim de adquirir subsídios teóricos que valorizem práticas
e metodologias ativas voltadas para discussões sobre estudos étnicos,
diversidade e tecnologia. Buscamos autores na Etnomatemática, História
Crítica, Psicologia e Filosofia da Educação, além de autores que discutem
sobre as Tecnologias na Educação. Nas seções seguintes, apresentamos os
referenciais teóricos que respaldam a criação e desenvolvimento do projeto.
O projeto integrador interdisciplinar iniciou-se no mês de janeiro,
do ano de 2021, e mobilizou as áreas de Biologia, Filosofia, Geografia,
História, Matemática, Química e Sociologia. A escola onde o projeto foi
aplicado pertence a uma rede de ensino particular e está localizada na
cidade de Embu Guaçu, no interior de São Paulo, e abrange turmas do
Ensino Fundamental (Anos Iniciais e Finais) e Ensino Médio.
Direcionado para as 5 turmas de Ensino Médio, os estudantes foram
divididos em grupos de 3 a 8 integrantes, conforme o gênero de texto a ser
produzido. Dentre eles, os grupos escolheram as produções de artigo
36
científico, criação de perfil em rede social, elaboração de vídeo e podcast,
além da criação de site, que reuniu todas as mais de 50 produções realizadas
e que pode ser acessado na Rede Decisão Ética
2
.
O projeto ocorreu em três fases com duração de um trimestre cada,
no ano de 2021. Em contexto de pandemia, parte do projeto foi realizado
em ensino remoto (de janeiro a julho) e parte na modalidade de ensino
híbrido (de agosto a dezembro). A primeira fase reuniu estudos e
produções referentes à cultura indígena. A segunda fase destacou
produções sobre a comunidade rural brasileira. A terceira fase, realizada
pelos docentes, apresentou as contribuições da cultura africana para a
formação da identidade brasileira.
O primeiro encontro foi realizado entre os professores por meio de
reunião virtual. Em contexto de pandemia, foi acordado que as produções
deveriam ser digitais e arquivadas em um site a ser construído pelos
próprios estudantes. Cada docente ficou responsável pela mediação de uma
turma, revezando-se durante o ano, mas foi permitido que os participantes
realizassem estudos em qualquer uma das áreas mencionadas
anteriormente e que solicitassem auxílio aos 5 professores do projeto.
O período para realização das produções variou de dois a três meses
e as entregas foram realizadas no decorrer de uma semana, pois era possível
solicitar ajustes, quando necessários. Uma vez que as produções eram
entregues, os arquivos gerados eram adicionados ao site. Cada trimestre
abordou sobre uma temática de diversidade étnica e cultural e os temas
foram escolhidos conforme a proximidade da realidade escolar com a
comunidade vizinha: a escola está localizada em uma zona rural e a menos
de 30km da reserva indígena Krukutu. Além disso, as cidades vizinhas têm
2
Disponível em: https://dayenesantos6.wixsite.com/rededecisaoetnica.
37
como principal fonte econômica o turismo ecológico e o artesanato, em
especial, produzido por comunidades de artesãos, indígenas e
afrodescendentes. Alguns dos estudantes matriculados pertencem a essas
comunidades e o projeto surgiu como uma oportunidade de valorizar as
tradições de suas famílias.
O primeiro trimestre tratou da comunidade indígena e os
estudantes produziram artigos a respeito da medicina indígena, vídeos e
podcasts sobre o cotidiano de algumas tribos brasileiras, criaram perfis nas
redes sociais apresentando informações sobre religião, cotidiano, história e
culinária, além do desenvolvimento de um jogo de cartas com personagens
do folclore indígena. Todas as produções foram revisadas e inseridas no
site, mas também contamos com a divulgação de produções de terceiros, a
exemplo, um e-book sobre jogos étnicos para ensino de Matemática e um
jogo sobre a comunidade indígena Kaxinawá.
No segundo trimestre, o tema central foi comunidade rural. Por
estar localizada em uma zona rural, a escola recebe estudantes que residem
em chácaras, sítios e fazendas onde a principal atividade econômica é a
agricultura. Desse modo, algumas mídias produzidas contaram com a
participação dos próprios estudantes revelando o cotidiano de suas
famílias.
As produções desse trimestre contaram com a publicação de um
jornal da escola sobre fatos históricos envolvendo a comunidade rural,
criação de perfis em redes sociais para expor os problemas sociais e
econômicos enfrentados pelos trabalhadores rurais, desenvolvimento de
mídias revelando os principais tipos de cultivo e as características da
agricultura brasileiras, além da produção de artigos destacando a
importância das comunidades rurais para o desenvolvimento econômico
38
do país e criação de jogos de cartas com fatos históricos de alguns conflitos
envolvendo comunidades rurais.
Para o terceiro trimestre, apresentamos para os alunos os saberes
herdados da cultura africana, ressaltando a importância de discutir a
história da comunidade africana no Brasil. Devido à organização das
atividades internas da escola, a parte final do projeto foi realizada pelos
próprios docentes com a participação dos estudantes nas aulas das
disciplinas envolvidas. Foram abordados temas como medicina africana,
religião e filosofia africana, História da África, aspectos sociais e
econômicos das comunidades quilombolas brasileiras, geometrias africanas
e contribuições de cientistas negros para o desenvolvimento das Ciências
no Brasil e no mundo.
A avaliação do projeto foi contínua e cada produção foi avaliada
sob uma demanda diferente: as redes sociais e demais multimídias,
incluindo o site, foram avaliadas considerando aspecto visual e áudio,
organização dos conteúdos e fidelidade dos dados; os artigos produzidos
foram avaliados quanto à formatação e normas ABNT, ortografia,
coerência e coesão, aderência do tema ao texto e utilização de fontes
confiáveis; os jogos foram avaliados quanto à apresentação, jogabilidade e
aderência do tema ao jogo.
Os estudantes receberam no início do projeto um manual digital
sobre cada tipo de produção, os aspectos a serem avaliados e o que deveria
ser evitado na escrita, filmagem ou reprodução de imagens. Todas as fontes
utilizadas pelos estudantes foram verificadas, os textos foram submetidos
aos aplicativos detectores de plágio e aceitos para publicação apenas se
apresentassem índice de similaridade menor a 10%. As imagens do site,
vídeos e imagens de jogos foram retiradas de bancos de mídias gratuitas e
licenciadas. A divulgação das produções dos estudantes, incluindo uso de
39
imagens dos mesmos, foi permitida mediante autorização de responsáveis
e da escola.
A integração dos conteúdos ocorreu por meio da divulgação das
produções no site e encontros com pequenos grupos via redes sociais, além
de aulas específicas voltadas para o projeto com a participação de um ou
mais docentes correlacionando os temas e as disciplinas. A seguir,
revelamos os resultados alcançados com a implementação do projeto.
Resultados e Reflexões
No processo de realização do projeto, os estudantes procuraram os
docentes envolvidos para desenvolver suas produções sem comprometer o
mantimento de uma postura autônoma quanto às elaborações do projeto.
As divisões em grupos e de tarefas foram realizadas pelos próprios
estudantes, bem como a escolha dos assuntos a serem destacados nas
produções. A autonomia ficou evidente durante o processo de realização
do projeto.
Diferentes assuntos foram tratados: medicina indígena, agricultura
familiar, conflitos entre povos e de interesses locais, economia rural,
implicações do COVID-19 na população indígena, apresentação de jogos
indígenas e rurais, conexões da matemática com o cotidiano rural e o
indígena, organização política e religiosa de comunidades indígenas,
folclore e muitos outros. A escolha livre desses assuntos destaca as
possibilidades de relacionar os estudos étnico - raciais com as disciplinas
apresentadas na sala de aula.
Foram desenvolvidas mais de 50 produções entre postagens de
redes sociais, artigos, jogos, vídeos e podcast sobre os temas “cultura
40
indígena” e “comunidade rural”. Essas produções estão reunidas no site
construído pelos estudantes sob orientação da professora de Matemática.
Os estudantes revelaram, por meio de depoimentos, que a
participação neste projeto, ainda que desafiadora, foi importante para que
conhecessem as realidades do país e começassem a refletir sobre as
contribuições que esses povos trazem para a identidade brasileira, bem
como reconheceram a necessidade de haver mais projetos como este
integrando diferentes saberes aos conteúdos estudados na escola. Por
mobilizar áreas diversas e tecnologia, uma vez que todas as produções estão
no formato digital, a participação efetiva de boa parte dos estudantes não
foi um problema do ponto de vista pedagógico, pois todos os grupos se
engajaram nas produções e revelaram algumas habilidades nos campos da
escrita, gravação de mídias e divulgação de conteúdos.
Os trabalhos desenvolvidos seguiram as normas técnicas propostas
inicialmente, com baixos índices de similaridade com textos já publicados
anteriormente (menos de 3%), indicando a originalidade dos conteúdos
produzidos. As imagens e fontes utilizadas foram consultadas e estão de
acordo com as instruções iniciais. Por fim, apresentamos as considerações
finais sobre este projeto.
Considerações Finais
O projeto surge como um modelo para demais instituições
escolares que anseiam por uma educação igualitária e diversificada.
Mostramos que é possível que jovens estudantes se interessem pelos
estudos étnico - raciais e desenvolvam produções de forma autônoma e
respeitosa, promovendo reflexões acerca desses estudos e das contribuições
de diferentes povos na história e formação da identidade brasileira.
41
Apesar dos desafios e do momento em que o projeto iniciou, em
meio à pandemia, os estudantes demonstraram as habilidades esperadas e
alguns grupos superaram as expectativas ao produzirem textos e
publicações nas redes sociais que provocam os leitores e os convidam a
refletir sobre os cenários vividos pelos povos indígenas e a comunidade
rural, expondo algumas das dificuldades sociais, econômicas e culturais.
O uso de recursos tecnológicos possibilitou a elaboração desse
projeto e promoveu uma intensa comunicação entre as séries envolvidas,
pois o compartilhamento das produções e a reunião destas no site
permitiram que as turmas conhecessem os trabalhos desenvolvidos pelos
colegas. As divulgações foram imprescindíveis para o sucesso do projeto e
a interação entre a escola e a comunidade local.
A educação de estudos étnico - raciais não é individual e necessita
do trabalho conjunto entre as diversas áreas do conhecimento, da gestão
escolar e da comunidade local. Reconhecemos que não são todas as
instituições escolares que podem realizar projetos como este, mas
ressaltamos que toda atividade que promova os estudos étnico - raciais é
um bom começo para alcançarmos uma educação igualitária, autônoma,
crítica e a favor da diversidade.
Referências
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ed., Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
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2012.
42
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étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e
africana. Brasília: Ministério da Educação, 2004.
D’AMBROSIO, U. Educação Matemática: da teoria à prática. 23 ed., 1
reimp., Campinas: Papirus, 2013.
D’AMBROSIO, U. Etnomatemática: elo entre tradições e a
modernidade. 5 ed., 3 reimp., Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018.
FRANCISCHET, M. O entendimento da interdisciplinaridade no
cotidiano. UNIOESTE- Cascavel, 2005.
MORAN, J. Autonomia e colaboração em um mundo digital. Revista
Educatrix, n. 7, Editora Moderna, 2014, p. 52-37.
MORAN, J. et al. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 13 ed. São
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PINHEIRO, L. et al. Retrato das Desigualdades de gênero e raça.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada3. ed. Brasília: Ipea: SPM:
UNIFEM, 2008. 36 p.
POMBO, O. et al. A interdisciplinaridade: reflexão e experiência. 2 ed.,
Lisboa: ed. Texto, 1994.
PORTO, T. M. As tecnologias de comunicação e informação na escola:
relações possíveis… relações construídas. Revista Brasileira de Educação,
v. 11, n. 31, p. 43-57, jan./abr. 2006.
43
PRADO, M. E. Articulações entre áreas de conhecimento e tecnologia.
Articulando saberes e transformando a prática. In: ALMEIDA, M. E. B.;
MORAN, J. M. (Orgs.). Integração das tecnologias na educação.
Brasília: Ministério da Educação / SEED/TV Escola/Salto para o Futuro,
2005.
SILVA, K. Metodologia das relações étnico - raciais e educação: algumas
reflexões. In: Educação e as Relações Étnico- Raciais, LOBATO, G.
(Org.). Formiga: Editora MultiAtual, 2021.
TOMAZ, V.; DAVID, M. M. Interdisciplinaridade e aprendizagem da
Matemática em sala de aula. 3 ed, Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2017.
44
45
Entre o Remoto e o Híbrido:
cenários criados pela pandemia
Paulo Alexandre FILHO
3
Yngrid Karolline Mendonça COSTA
4
Introdução
A partir da disseminação do COVID-19, as instituições de ensino
precisaram rearticular suas metodologias como forma de assegurar a
continuidade dos estudos aos aprendizes e, ao mesmo tempo, minimizar
as defasagens advindas de uma educação emergencial remota. Para Arruda
(2020, p. 259), “mais do que um problema educacional, o bloqueio do
acesso à escola reconfigurou a sociedade, na medida em que tempos e
movimentos foram desconstruídos, famílias passaram a coadunar as
responsabilidades do trabalho e da vida dos estudantes em tempos
ampliados [...].”
As questões que afetam o cenário educacional perpassam as
escolhas teórico-metodológicas, revelando inúmeros desafios que merecem
ser (re)pensados e (re)dimensionados, tendo em vista as complexidades que
envolvem as instituições de ensino. Nesse sentido, acreditamos que, neste
3
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho- UNESP campus de Marília/SP / professor de Educação
Básica da rede estadual paulista / e-mail: p.alexandre@unesp.br
4
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho- UNESP campus de Marília/SP / professor de Educação
Básica da rede estadual paulista / e-mail: yngrid.karolline@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p45-62
46
momento, todas as pesquisas que abordam os desenlaces do
distanciamento social imposto pelo COVID-19 podem nos fornecer o
subsídio teórico necessário para compreendermos os acontecimentos atuais
e seus possíveis desdobramentos para a educação.
Ressaltamos, inicialmente, o papel preponderante das tecnologias
digitais de informação e comunicação (TDIC) em meio ao processo de
implementação do ensino emergencial remoto, visto que muitos desses
recursos puderam mediar a aprendizagem e viabilizar a comunicação entre
professores e alunos (ALVEZ; FARIA, 2021), (NEVES et al., 2021),
(VALENTE, 2020). Diante do vasto potencial dessas ferramentas, bem
como de sua relevância para o contexto de ensino e aprendizagem, quando
pensamos nas últimas transformações do mundo, sobretudo, nas áreas
científicas e tecnológicas, constatamos a dimensão desses recursos para a
educação do século XXI.
Neves et al. (2021, p. 2) observam que “a pandemia de COVID-
19 impactou os diversos segmentos da sociedade de maneira sem
precedentes, caracterizando-se na maior interrupção do processo ensino-
aprendizagem da história da educação mundial.” Logo, podemos inferir
que muitas das vulnerabilidades, até então latentes no setor da educação,
vieram à tona, demonstrando as fragilidades que assolam escolas,
profissionais da educação e poder público.
Assim, notamos, ainda, muitos desafios a serem superados,
principalmente, pelos educadores, se pensarmos no pós-pandemia da
educação básica. Contudo, a perseverança desses profissionais tem
demonstrado, até o presente momento, a capacidade de se reinventarem e
buscarem alternativas para assegurar o processo de ensino e aprendizagem
dos estudantes. De acordo com Valente et al. (2020, p. 5), “desde então,
inúmeros têm sido os desafios: o suporte tecnológico aos discentes para
47
acompanhamento das atividades remotas, as normatizações das ações e dos
procedimentos, a formação dos professores para a efetivação dessa prática.”
Apesar das polêmicas e diante de um processo de vacinação
avançado, as autoridades públicas competentes sinalizaram o retorno
gradativo dos estudantes e educadores à modalidade presencial, mantendo-
se todos os protocolos sociossanitários, porém com um número reduzido
de alunos. Desse modo, implementou-se o modelo híbrido de ensino e
aprendizagem na educação básica, de modo que os alunos passassem por
um esquema de revezamento, escalonando-se as semanas e os horários de
frequência das aulas. Em razão disso, muitos conflitos e divergências têm
inquietado professores e gestores, tendo em vista as dificuldades que se
atrelam à instauração da modalidade híbrida nas escolas de nível básico,
sobretudo, no ensino fundamental I.
Monteiro (2021, p. 3) nos afirma que "o ensino híbrido, ou
blended learning, uma das grandes tendências da educação do século 21,
pressupõe a combinação de espaços, tempos, atividades e metodologias."
Portanto, vimos a necessidade de refletir sobre o processo de implantação
dessa modalidade, comparando teoria e prática de modo a promover
reflexões acerca do sistema de revezamento que vem sendo empregado na
educação básica, comumente tratado como modelo híbrido, mas que nem
sempre mantém relações estreitas com a definição trazida à luz por algumas
pesquisas (MONTEIRO, 2021), (MOREIRA, 2020), (VALENTE,
2021).
Sendo assim, este artigo tem como objetivo refletir sobre a
implementação das modalidades remota e híbrida, na rede estadual de São
Paulo durante o período pandêmico. Para este estudo, optamos por uma
metodologia qualitativa fundamentada na pesquisa bibliográfica. Dessa
forma, buscamos subsídios em Garcia et al. (2020), Moran (2015) e Bacich
48
et al. (2015). Partimos da hipótese de que, para a efetividade da
modalidade híbrida, muitos aspectos precisam ser (re)articulados de modo
a transfigurar as estratégias teórico-metodológicas, bem como os recursos
utilizados na produção do conhecimento.
Este texto está dividido em três partes, sendo elas: (i)
Fundamentação teórica; (ii) Cenário educacional após o período de ensino
remoto emergencial; e, por fim, (iii) Reflexões sobre a implementação do
ensino híbrido.
Fundamentação Teórica
O contexto de pandemia exigiu das instituições um processo árduo
de reconfiguração dos espaços, metodologias e tempo. Pensar, na
atualidade, sobre os impactos do distanciamento social se faz necessário,
uma vez que as transformações da realidade contemporânea demandam
inúmeras reflexões acerca das possibilidades de enfrentamento das
defasagens advindas da implementação da modalidade emergencial
remota.
Modalidade Emergencial Remota:concepções teórico-metodológicas
As noções de tempo e espaço foram altamente impactadas com a
pandemia do COVID-19. O fato de, repentinamente, terem seus espaços
de práticas mediados pela virtualidade como forma de barrar a propagação
do vírus desencadeou grandes transformações, dentre elas, as escolhas de
metodologias, recursos e estratégias que pudessem contribuir para o
processo de implementação do ensino emergencial remoto.
49
Alves e Faria (2021, p. 33) destacam que “no caso dos professores,
está envolvido, além do uso instrumental cotidiano das tecnologias, a sua
apropriação crítica, usando-a de modo adequado na realização de projetos
multidisciplinares e colaborativos.” Desse modo, as articulações entre
objetos do conhecimento e alunos passaram a transfigurar as práticas, até
então vigentes, em grande parte da educação básica, ou seja, os desafios
educacionais se tornaram ainda maiores, tendo em vista a complexidade
dos acontecimentos.
Nesse sentido, Garcia et al. (2020, p. 5) esclarecem que:
Ensinar remotamente não é sinônimo de ensinar a distância, embora
esteja diretamente relacionado ao uso de tecnologia e, nesse caso,
digital. O ensino remoto permite o uso de plataformas já disponíveis e
abertas para outros fins, que não sejam estritamente os educacionais,
assim como a inserção de ferramentas auxiliares e a introdução de
práticas inovadoras. A variabilidade dos recursos e das estratégias bem
como das práticas é definida a partir da familiaridade e da habilidade
do professor em adotar tais recursos.
As possibilidades de trabalho no ensino emergencial remoto são
variadas, ainda mais quando concebemos as tecnologias digitais de
informação e comunicação (TDIC) como recursos indispensáveis para
viabilizar o processo de ensino e aprendizagem remoto. Todavia, sabemos
dos desafios que rondam esse universo vasto no que se refere aos recursos
que podem ser utilizados. Primeiramente, corremos o risco de cair em
flutuações pedagógicas, ou seja, acreditar que, quanto mais, melhor,
fazendo com que o foco da aprendizagem se perca. Ao contrário disso,
sabemos que o público da educação básica, em razão da faixa etária, tem
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dificuldades em manter a concentração e, ao promover saturações
tecnológicas e/ou midiáticas, estamos favorecendo a banalização e
esvaziamento de sentido do processo de construção do conhecimento.
De acordo com Garcia et al. (2020, p. 11), “a utilização do ensino
remoto envolve os princípios gerais da Didática em atenção a decisões
quanto à escolha do método de apresentação do conteúdo, à manutenção
da atenção, ao interesse e à motivação do aluno e aos resultados da
aprendizagem [...].” Nesse sentido, concebemos as escolhas teórico-
metodológicas imprescindíveis para a estruturação da aula a ser ministrada
por meio da tela de modo que os espaços e o tempo estejam articulados,
sem que haja prejuízo de um ou outro.
Moreira et al. (2020, p. 352) advertem que “[...] na maioria dos
casos, estas tecnologias foram e estão sendo utilizadas numa perspetiva
meramente instrumental, reduzindo as metodologias e as práticas a um
ensino apenas transmissivo.” Sendo assim, o que se percebe é apenas a
transição do presencial para o digital, em que as práticas pedagógicas
mobilizadas são as mesmas de antes, face a face, desconsiderando as
demandas do ensino mediado pela interface. Novas perspectivas se abrem
diante do educador e, ao mesmo tempo, exigem-lhe novas competências
para articular sua forma de trabalho e construir percursos formativos
significativos, capazes de promover o conhecimento entre os pares.
Dessa forma, podemos pensar que o ensino remoto emergencial,
ao mesmo tempo que trouxe à tona diversas possibilidades de abordagem
teórico-metodológica, também, revelou inúmeras fragilidades do sistema
educacional brasileiro. Assim, acreditamos que este contexto de incertezas
e desafios promoveram transformações profundas nos modelos de ensino
e aprendizagem a ponto de ser considerado como divisor de águas quando
se trata de educação, principalmente, de nível básico, uma vez que “a
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produção de artefatos digitais neste contexto de pandemia, revela-se como
um fenômeno da cibercultura e mais um passo no processo civilizatório da
humanidade. Os professores estão fazendo história!” (ALVES; FARIA,
2021, p. 45).
Ensino Híbrido: entre o revezamento e a efetividade
Muitas questões estão sendo levantadas acerca do ensino híbrido,
a partir dos impactos da pandemia. Trata-se, neste momento, de
(re/des)construir caminhos e refletir sobre possibilidades de abordagens
que possam servir de subsídio aos educadores, auxiliando no processo de
intervenção nos mais diversos contextos da educação básica. Notamos que,
até então, questões relativizadas pelo poder público passaram a ser
comprovadas pela população e divulgadas pela grande mídia como, por
exemplo, os diversos problemas a respeito da infraestrutura das instituições
de ensino.
Quase dois anos após o início do surto epidemiológico de COVID-
19, muitos locais optaram pela volta gradativa dos alunos, propondo uma
modalidade híbrida como alternativa. Contudo, atentamos, nesta seção,
para alguns estudos que confrontam a realidade do processo de
implementação do ensino híbrido, tendo, na teoria, pontos de divergência
a respeito daquilo que realmente se espera. Em outras palavras,
confrontamos aqui o real e o ideal, à luz de teorias, independentemente,
das peculiaridades de cada estado, região ou unidade escolar.
Para Moran (2015, p. 27):
Híbrido significa misturado, mesclado, blended. A educação sempre foi
misturada, híbrida, sempre combinou vários espaços, tempos,
52
atividades, metodologias, públicos. Esse processo, agora, com a
mobilidade e a conectividade, é muito mais perceptível, amplo e
profundo: é um ecossistema mais aberto e criativo.
Nesse sentido, compreendemos a educação híbrida como uma
modalidade extremamente enriquecedora, potencializando as capacidades
tanto para ensinar quanto para aprender. Acreditamos que, por se tratar de
modelo de educação que rompe com os padrões e os paradigmas, há
tempos cultivados e perpetuados na educação, a priori, precisamos
compreender que não se trata apenas de revezar os alunos em turnos e/ou
dias. Assim, construímos, teoricamente, uma concepção de ensino híbrido
que extrapola o revezar, o alternar alunos, uma vez que a formação desses
estudantes necessita de um estado de permanência em que se pode
aprender a qualquer hora, em qualquer lugar.
Todavia, sabemos que, grande parte das vezes, esses estudantes
frequentam apenas as aulas presenciais, face a face com professor,
desconsiderando a vasta possibilidade de se construir conhecimento para
além dos muros da escola. Ou seja, as possibilidades de hibridizar os
espaços de conhecimento tornam-se utopias que, na realidade, acontecem
esporadicamente ou sequer se concretizam. Muitos aspectos se atrelam ao
sucesso ou ineficácia do modelo híbrido na educação básica, pois as
condições exigidas para sua implementação vão além dos recursos e/ou,
simplesmente, escolhas teórico-metodológicas.
Moran (2015, p. 28) ressalta, também, que “passamos, em pouco
tempo, de consumidores da grande mídia a ‘prosumidores’ produtores e
consumidores de múltiplas mídias, plataformas e formatos para acessar
informações, publicar nossas histórias, sentimentos, reflexões e visão de
mundo.” Logo, vivenciamos um contexto em que a noção de
53
aprendizagem torna-se cada vez mais abrangente, uma vez que temos a
possibilidade de acessar informações e/ou produzi-las de maneira jamais
vista na humanidade. Em outras palavras, estamos inseridos em uma
sociedade altamente virtualizada/digitalizada e vasta na oferta de
conhecimento.
Contudo, o ponto fundamental da discussão está na maneira como
lidamos com todo esse compêndio de informações que, a nosso ver, para
se transformar em conhecimento necessita passar pelo filtro da reflexão e
criticidade, e não apenas pelo contato ou memorização. Dessa forma,
estaríamos apenas construindo arquivos humanos em vez de pessoas
efetivamente capazes de intervir na realidade e atuar nas práticas sociais do
dia a dia. Para a formação contemporânea, acreditamos que muitas das
competências e habilidades valorizadas pelos currículos da educação básica
precisam ser revistas, pois já não fazem sentido em meio às exigências da
cultura digital, uma vez que “estruturalmente, a escola atual não difere
daquela do início do século passado. No entanto, os estudantes de hoje
não aprendem da mesma forma que os do século anterior” (BACICH et
al., 2015, p. 40).
Observamos uma realidade em que nossos alunos, apesar de todo
esse universo tecnológico, ainda não têm autonomia suficiente para
elaborar, refinar e refletir sobre essas informações e potencialidades desses
instrumentos. Nossa convicção, neste momento, reside na necessidade de
assegurarmos os devidos encaminhamentos para que essas crianças e jovens
consigam transformar informação em conhecimento. Porém, o processo se
torna ainda mais complexo à medida que notamos a necessidade de
transformar pessoas, modelos de abordagem e normativas institucionais.
Por fim, apontamos as demandas referentes à heterogeneidade dos
nossos estudantes, bem como suas necessidades, fragilidades e,
54
principalmente, seus projetos de vida. Quando abordamos apenas o que os
currículos prescrevem, não estamos promovendo uma educação
comprometida com a realidade e com as exigências do século XXI, estamos
apenas transmitindo informações que podem ou não, a depender de nossas
escolhas, transformarem-se em efetivo conhecimento. Bacich et al. (2015,
p. 42) afirmam que “estudantes da mesma idade não têm as mesmas
necessidades, possuem relações diferentes com professores e/ou tecnologias
digitais e nem sempre aprendem do mesmo jeito e ao mesmo tempo. Nem
sempre é necessário que toda a turma caminhe no mesmo ritmo.”
Sendo assim, a realidade da educação básica, na atual conjuntura,
requer transformações de alta complexidade para que a modalidade híbrida
se torne uma possibilidade efetiva para os processos de ensinar e aprender.
Conforme supracitado, as demandas do contexto emergencial remoto têm
nos proporcionado refletir em muito acerca da nossa realidade, bem como
as expectativas a respeito do futuro educacional no Brasil. Portanto,
quando pensamos em ensino híbrido, não podemos nos prender apenas ao
revezamento, mas sim na eficácia daquilo que ofertamos aos nossos
estudantes, sem perder de vista a formação crítico-reflexiva de cada um,
respeitando seus limites, suas escolhas e seu lugar de fala. Para Moran
(2015, p. 28), “todos os processos de organização do currículo, das
metodologias, dos tempos e dos espaços precisam ser revistos. Isso é
complexo, necessário e um pouco assustador, porque não temos muitos
modelos prévios bem-sucedidos dos quais aprender.”
55
Reflexões Sobre os Impactos da Pandemia: novos caminhos, novas
possibilidades
Sabemos que, durante a pandemia causada pelo COVID-19, várias
fragilidades do sistema educacional ganharam destaque, principalmente,
relacionadas às TDIC.
Cabe destacar que a incorporação das TDIC nas instituições escolares
ainda é um entrave na realidade nacional; problemas de infraestrutura
e de formação docente deficitária são variáveis importantes que
interferem diretamente em uma utilização crítica, intencional e
produtiva das tecnologias (BRAGA, 2018; THADEI, 2018 apud
RONDINI et al., 2020, p. 43).
Optamos, aqui, por abordar conceitos esclarecendo os momentos
pelos quais o ensino perpassou desde que a pandemia e o distanciamento
social foram decretados. Evidências demonstram que muitas crianças não
tiveram acesso ao ensino, uma vez que “Em novembro de 2020, portanto
ao final do ano letivo, 5.075.294 crianças e adolescentes de 6 a 17 anos
estavam fora da escola ou sem atividades escolares, o que corresponde a
13,9% dessa parcela da população em todo o Brasil” (UNICEF, 2021, p.
44).
De acordo com os dados deste estudo, a precariedade das condições
de vida dos alunos e aqueles que vivem em áreas rurais das regiões Norte e
Nordeste foram os mais afetados. O atraso para a Educação brasileira,
segundo a pesquisa acima referendada, pode totalizar vinte anos. Portanto,
assistimos, em meio às consequências avassaladoras do COVID-19, o
retrocesso educacional e os impactos nefastos oriundos da pandemia que,
56
em muito, afetou as condições de aprendizagem dentre as camadas sociais
menos favorecidas.
As dificuldades de acesso às novas tecnologias e dos novos desafios
desse modelo de ensino não foram apenas dos alunos. De acordo com uma
pesquisa realizada pela União dos Dirigentes Municipais de Educação
(Undime), “[...] 48,7% das redes municipais de ensino registraram muita
dificuldade para o acesso de estudantes à internet e 24,1% para o acesso de
docentes” (UNICEF, 2021, 53). Os dados estatísticos são muito altos se
pensarmos nos alunos, mas também nos docentes, sinalizando que um
quarto deles não tinha acesso à internet e necessitou de apoio e cursos para
a retomada de suas atividades profissionais.
Além disso, a pesquisa aponta caminhos para resgatarmos essas
crianças que estiveram fora do contexto escolar nestes últimos anos, sendo
o principal desses caminhos, a busca ativa e, novamente, o engajamento
dos profissionais da Educação.
Apesar de todas essas dificuldades, estes superaram vários entraves
impostos pela pandemia e o ensino, que durante este período, tornou-se
possível em razão dos ajustes realizados pela equipe escolar. Retomando o
termo apresentado anteriormente, híbrido significa misturado, e pudemos
notar vários movimentos educacionais para garantirmos que os alunos
tivessem contato com os conteúdos escolares,
No ERE
5
, a aula ocorre num tempo síncrono (seguindo os princípios
do ensino presencial), com videoaula, aula expositiva por sistema de
webconferência, e as atividades seguem durante a semana no espaço de
5
A sigla ERE citada pela autora corresponde ao Ensino remoto emergencial.
57
um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) de forma assíncrona.
(BEHAR, 2020, n.p.).
Além desses formatos, tivemos outro com maior recorrência, pois
“As principais estratégias não presenciais adotadas pelas redes municipais
foram o uso de materiais impressos (95,3%) e orientações pelo WhatsApp
(92,9%)” (UNICEF, 2021, p. 51). Em nossas experiências pessoais como
professores, a maior participação dos alunos ocorreu neste formato de
atividades impressas e contato por meio do WhatsApp com os pais ou com
os próprios estudantes para sanar quaisquer questionamentos.
Acreditamos que, de acordo com o que foi revelado por Rondini
et al. (2020), as mudanças ocorridas nesse período se tornarão parte de
nossa rotina. Não há como pensarmos em voltar para a sala de aula da
mesma forma depois dessas experiências com o ensino remoto. Hoje temos
mais uma ferramenta a nosso favor e que podemos lançar mão para o
processo de ensino e aprendizagem.
Por outro lado, de acordo com Avelino e Mendes (2020, p. 57),
“[...] além de todas as dificuldades já existentes, os alunos terão de
enfrentar um sistema de educação que não tem estrutura suficiente para
ampará-los frente a essa nova realidade”. A pesquisa da UNICEF (2021)
entrou em contato com escolas de todo o país e 41% delas disseram que
não tinham as condições necessárias para a retomada das aulas.
Assim, precisamos ponderar nossas ações, já que seria pouco efetivo
o professor utilizar as TDIC em práticas de ensino, sem que a escola não
tenha as ferramentas básicas para que isso se torne possível, bem como, não
pode indicar para as crianças que não têm acesso a essas ferramentas
atividades para serem realizadas em casa.
58
Salientamos que o professor, como parceiro mais experiente e
mediador do processo de ensino, deve ter autonomia para fazer suas
escolhas de acordo com a sua necessidade e a sua realidade. Além de todo
o exposto, gostaríamos de reafirmar que o ensino híbrido não se tornou
uma transposição dos conteúdos do formato presencial para o ensino
remoto. Acreditamos que a modalidade empregada no processo de ensino
e aprendizagem precisa estar em consonância com os propósitos de
educação crítico-reflexiva, atentando-se, prioritariamente, para as
demandas do século XXI.
Considerações Finais
Neste momento, promover uma educação humanizada torna-se
fundamental para que as relações estabelecidas com os alunos possam se
fortalecer. Já as instituições, como maiores agenciadoras do conhecimento,
precisam desconstruir a ideia de que a efetividade da aprendizagem atrela-
se apenas ao domínio de conteúdos, competências e habilidades. Para além
do modelo de ensino implementado em cada região, ressaltamos a
necessidade de focalizar naquilo que seja viável sob o ponto de vista dos
recursos, formação e público de cada unidade escolar. Uma aprendizagem
híbrida não se instaura do dia para noite, tampouco em meio ao caos social
a que temos assistido por conta dos impactos do COVID-19.
Como apontamos neste trabalho, pensar na implementação da
modalidade híbrida na educação básica ainda é sinônimo de desafios que
demandam não apenas a articulação de boas metodologias mas, também,
excelente formação de professores e infraestrutura adequada. Do contrário,
estaremos, apenas, promovendo a “pedagogia do revezamento”
acompanhada pela educação utópica, em que a realidade e as práticas
contradizem o que se apregoa em planos de ensino, planos político-
59
pedagógicos e ações que, na maioria das vezes, denunciam o
“burocracismo” das instituições em detrimento de práticas eficazes e
balizadoras de defasagens do conhecimento.
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62
63
O Uso da Plataforma
GOOGLE SITES
na Educação
Infantil: comunicação, registro e visibilidade do trabalho
pedagógico em um contexto pandêmico
Camila Fernanda Dias PAVANELI
6
Nathaly Martinez ALVES
7
Introdução
O novo Coronavírus tem impactado a sociedade de forma global
e, por consequência, o setor educacional. Trata-se de uma doença
infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2, que possui alto grau de
contaminação e propagação (OMS, 2020). Nesse contexto, a escola, como
um espaço social, e tendo trocas de diferentes faixas etárias, constitui-se
como local de maior probabilidade de contaminação em massa
(ARRUDA, 2020). Assim, como forma de conter a disseminação do vírus,
as instituições de ensino passaram a atender de forma remota,
interrompendo, desse modo, o ensino presencial.
Desta maneira, buscou-se amenizar os prejuízos no aprendizado
dos estudantes e, para isso, os profissionais da educação passaram a se
6
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
camila.pavaneli@unesp.br
7
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP/ e-mail:
nathaly.martinez@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p63-78
64
reinventar e recorrer ao uso de tecnologias digitais na tentativa de assegurar
o ensino. Conforme salientam Martins e Freitas (2020, p. 25), "os
profissionais tiveram que abrir mão das práticas convencionais de ensino
para entrar em uma realidade, até então, desconhecida e pouco vivenciada
e praticada por boa parte dos docentes.” Assim, iniciou-se o ensino remoto
em caráter emergencial e excepcional, mediado pela tecnologia no qual
docentes e estudantes passaram a desenvolver atividades pedagógicas não
presenciais.
Diante dessa nova configuração, os docentes foram desafiados a
pensar na viabilização do ensino. Mas, como viabilizar o ensino com
crianças na faixa etária de 0 a 2 anos de idade? Pensar na Educação a
Distância (EaD) na Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica,
é inadequado e, também, trata-se de uma prática que não está prevista na
legislação educacional, uma vez que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) não
prevê a utilização de EaD para essa faixa etária. Além disso, a Sociedade
Brasileira de Pediatria (SBP, 2019, p. 7) alerta sobre o uso do mundo
digital de modo que se deve "evitar a exposição de crianças menores de 2
anos às telas, sem necessidade (nem passivamente!)". Portanto, como
pensar em um ensino remoto que considere as especificidades da educação
infantil, pautada na brincadeira e nas interações, além de estabelecer
vínculo e manter a relação família-escola?
É nesse contexto que surgiu este relato de experiência cujo objetivo
é descrever sobre o uso da plataforma Google Sites como ferramenta de
comunicação, registro e visibilidade do trabalho pedagógico no ensino
remoto. Para tanto, este relato foi estruturado em dois momentos, sendo
necessária a importância da tecnologia como promotora de comunicação
entre família-escola, bem como recurso para registro e divulgação do
trabalho pedagógico da educação infantil. Para finalizar, descrevemos o
65
trabalho desenvolvido com o Google Sites em salas de berçários de uma
escola municipal localizada no noroeste paulista.
As Tecnologias como Promotoras de Comunicação, Registro e
Divulgação do Trabalho Pedagógico
Ao olharmos para o uso das novas tecnologias no diálogo entre
família e escola, tendo como foco a educação infantil e, em específico, a
creche, encontramos poucos estudos envolvendo esse segmento como
forma de comunicação com as famílias (SOUZA; EISENBERG, 2021).
De acordo com Reis (1995 apud Almeida e Moran, 2005, p. 40), a
tecnologia “possui múltiplos significados que variam conforme o contexto,
podendo ser vista como: artefato, cultura, atividade com determinado
objetivo, etc.” Deste modo, sua integração no processo educativo pode ser
vista como um instrumento auxiliador do processo de aprendizagem e das
relações pedagógicas estabelecidas entre os membros da comunidade
escolar.
À vista disso, é importante refletirmos sobre o papel das escolas e
como elas se apropriam dos meios informacionais e do seu uso com a
comunidade escolar (SOUZA; EISENBERG, 2021). O exercício do
registro e divulgação das propostas pedagógicas realizadas na escola tem
crescido de forma significativa, tendo em vista o avanço das tecnologias
digitais, nos últimos anos, e devido ao atual contexto pandêmico. Tal
prática possibilita comunicação rápida e direta entre escolas e famílias,
além da divulgação das ações pedagógicas realizadas nas instituições
escolares, possibilitando às famílias conhecimento e visualização do que é
planejado e vivenciado na prática, assim como acompanhamento do
desenvolvimento infantil e estreitamento das relações entre essas
instituições.
66
Neste sentido, é necessário que a escola e a família estabeleçam
parceria, pois possuem um objetivo em comum a ser alcançado: o
desenvolvimento integral dos educandos, tendo em vista que são duas
instituições que detêm um papel fundamental no desenvolvimento dos
indivíduos. Para Libâneo (2010), há uma distinção entre Educação formal
e Educação informal e estas estão presentes na escola e na família,
respectivamente. A Educação formal é “[...] aquela estruturada,
organizada, planejada intencionalmente, sistemática.” (LIBÂNEO, 2010,
p. 88). Em contrapartida, a Educação informal não possui caráter
intencional ou sistematizado, porém, as experiências e conhecimentos que
perpassam esse ambiente refletem diretamente no desenvolvimento dos
indivíduos.
As crianças de 0 a 3 anos, embora já possam ter tido contato com
as tecnologias digitais, ainda não estão aptas para usá-las a fim de mediar
sua aprendizagem (SILVA, 2017). Assim, quando pensamos no uso da
tecnologia relacionada a essa faixa etária, o principal objetivo é o
compartilhamento das ações pedagógicas com as famílias. A relação
família-escola vem adquirindo maior visibilidade e ganhando espaços nas
políticas públicas, nos projetos político- pedagógicos e nas pesquisas sobre
educação (RESENDE; SILVA, 2016).
Encontramos, em diversos documentos, questões referentes à
relação família-escola, tais como a Constituição Federal (CF) de 1988
(BRASIL, 1988), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
(BRASIL (2010), e o Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024
(BRASIL, 2014). Tanto a família quanto a escola têm o objetivo de educar,
assim, a relação de proximidade e cooperação é necessária, porém, nem
sempre é tão fácil de acontecer. No ensino remoto, tal questão não foi
diferente.
67
No contexto pandêmico, o uso da tecnologia foi para além do
compartilhamento das ações, as famílias passaram a ser as maiores aliadas
das escolas de educação infantil nas ações pedagógicas. Dessa forma,
deixaram de ser passivas do processo pedagógico e passaram a realizá-lo
junto com seus filhos, uma vez que, para a escola chegar até as crianças, era
necessário estabelecer parceria com as famílias. Criar contextos de
brincadeiras, contação de história ou música foram ações que as famílias
passaram a realizar. Porém, muitas dificuldades apareceram, tais como:
dificuldades financeiras; sobrecarga de trabalho; falta de acesso à internet
de qualidade e, principalmente, o não reconhecimento da importância do
trabalho pedagógico realizado na educação infantil, uma vez que, na
maioria dos casos, os familiares em questão não possuem formação
relacionada à área da educação.
Ainda encontramos, em nossa sociedade, concepções
assistencialistas sobre educação infantil e o não reconhecimento dos
direitos da criança. Contudo, a criança é um sujeito histórico e de direitos,
que segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil,
“constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia,
deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos
sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura” (BRASIL, 2010, p.
12). Dessa forma, o direito à escola de educação infantil não se constitui
em razão da família precisar trabalhar, mas sim, um direito que a criança
tem para descobrir, interagir, expressar.
É nesse contexto que reafirmamos a importância do uso das
tecnologias como recurso de registro e visibilidade do trabalho pedagógico
como processo formativo de uma sociedade. Essa visibilidade é
importante, pois promove o “protagonismo da criança, possibilita o
registro de momentos significativos de aprendizagens, compartilha o
68
processo pedagógico com a comunidade escolar e contribui com a
construção da documentação pedagógica” (SOUZA; EISENBERG, 2021,
p. 45).
A divulgação do que ocorre na escola é importante e Moran et al.
(2000) reforçam essa ideia.
A internet é um espaço virtual de comunicação e de divulgação. Hoje
é necessário que cada escola mostre sua "cara" para a sociedade, que
diga o que está fazendo, os projetos que desenvolve, a filosofia
pedagógica que segue, as atribuições e responsabilidades de cada um
dentro da unidade. É a divulgação para a sociedade toda. É uma
informação aberta, com a possibilidade de acesso para todos em torno
de informações gerais. (MORAN et al., 2000, p. 157).
Nesse sentido, descrevemos abaixo o relato de experiência sobre o
uso da plataforma Google Sites com salas de berçários (0 a 2 anos), de uma
escola pública municipal, localizada no noroeste paulista.
Relato de Experiência – Uso da Plataforma do
GOOGLE SITES
no
Ensino Remoto e Presencial
Com a suspensão das aulas presenciais, a educação iniciou o ensino
remoto. E uma das angústias presentes em falas de docentes,
principalmente, da educação infantil, era: Como trabalhar remotamente
com crianças tão pequenas? Iniciaremos esse relato, explanando a
experiência do uso do Google Sites com turmas de berçários, como
explicitado, em um contexto remoto e, posteriormente, presencial.
69
Ao longo do ano de 2020, os profissionais da educação passaram a
repensar os modos de chegar até as famílias. Ao contrário das ações
realizadas com as crianças do Ensino Fundamental e Médio, na Educação
Infantil, o principal meio para realização do trabalho pedagógico a
distância foi através da parceria com os familiares.
Iniciamos o ensino remoto a partir do estabelecimento de contato
com as famílias via aplicativo WhatsApp. Em grupos criados com os
responsáveis, enviamos links de vídeos de contação de história e músicas,
vídeos gravados pelas professoras, imagens, explicações sobre as propostas
pedagógicas e recados. Já no início de 2021, buscou-se amenizar as falhas
identificadas após a experiência do ensino remoto de 2020,
principalmente, no que se refere à organização e divulgação do trabalho,
pois, ao enviar o material a ser trabalhado via WhatsApp, as informações
ficavam perdidas mediante as conversas e fotos enviadas pelos familiares.
Além disso, os relatos de lotação na memória do celular dos responsáveis
eram constantes.
A partir dessas experiências, optou-se pela construção de um site
8
como forma de organizar todo o conteúdo a ser disponibilizado, bem como
divulgar o trabalho realizado com as crianças dos berçários, tanto no
período remoto quanto presencial. Assim, o site foi criado na plataforma
do Google Sites e intitulado como “Divulga berçário”. Nele, as famílias
encontravam no menu algumas abas, tais como: Informação, Material de
apoio, Salas dos berçários, Quem somos.
8
O Site foi idealizado por Camila Fernanda Dias Pavaneli e contou com a participação e parceria
das professoras dos berçários: Débora da Silva Araújo, Isabel Cristina Amadeu Reis, Viviane Boneto
Pinheiro, Cheyenne de Lima Zambom da Matta, Raquel Vieira Coelho da Silva, Reni Aparecida
Antônio Trombi Bulgarelli, Debora Camila Oliveira
70
Na aba Informações, foram disponibilizadas informações que
auxiliariam os pais a compreenderem o processo de desenvolvimento de
seu filho ou filha, temas como birra, alimentação seletiva, desfralde, dentre
outros, foram colocados para informar e auxiliar as famílias em suas
intervenções.
A aba Material de apoio disponibilizava um material produzido
mensalmente com diversas propostas de experiência para as famílias
realizarem junto com as crianças contemplando, assim, o eixo da educação
infantil, que são as brincadeiras e as interações.
Em Salas de berçário foram disponibilizadas informações sobre as
mesmas. A escola aqui enfocada possui cinco salas de berçários. Sendo 3
de modalidade integral, isto é, o período de no mínimo 07 horas e, no
máximo, 10 horas ao dia. Um berçário 1 que atende crianças de 0 a 1 ano
e dois berçários 2 que atendem crianças de 1 a 2 anos, (berçários A e B) e
dois berçários 2 de modalidade parcial (berçários C e D) com atendimento
de, no mínimo, 05 horas ao dia. Cada sala de berçário criou sua própria
página para organizar e disponibilizar seu conteúdo e divulgar o seu
trabalho, como retratado na figura 1.
71
Figura 1 - MENU DO
SITE
DIVULGA BERÇÁRIOS
Fonte: Página do site. Disponível em:
https://sites.google.com/educacao.riopreto.br/divulgabercarios/in%C3%ADcio
E, por fim, foi colocado no site a aba intitulada Quem somosque
traz a formação acadêmica de cada professora e das gestoras da unidade
escolar com intuito de divulgar que as profissionais da Educação Infantil
estão em conformidade com a legislação que preconiza “ter todos os seus
professores com, pelo menos, o curso normal de nível médio”, conforme
Parecer no. 04/2000 da Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação CBE/CNE (BRASIL, 2000). Nessa escola, todas
as docentes têm nível superior em Pedagogia, seis têm pós-graduação lato
sensu e uma professora tem pós-graduação stricto sensu, cursando
doutorado.
Diariamente, era enviado às famílias, via WhatsApp, o link da
página relacionada ao conteúdo programado. Dessa forma, as famílias
eram direcionadas às páginas que continham vídeos de leitura e contação
72
de história, música, proposta de experiência, sugestão, aniversariantes.
Esses vídeos eram selecionados em horários de planejamento tendo
critérios para serem utilizados. Eram gravados vídeos das professoras
fazendo contação ou leitura de livro, música com intuito, também, das
crianças reconhecerem a voz e o rosto quando voltassem presencialmente.
Eram vídeos muito curtos, uma vez que é recomendado que as crianças
não façam uso de telas. Assim, foram utilizados com parcimônia, pois na
educação o desenvolvimento integral das crianças é construído a partir das
ações com o próprio corpo, contendo o movimento, a brincadeira.
Por fim, disponibilizamos uma proposta de experiência, uma por
semana, para as famílias realizarem junto com as crianças e enviarem fotos
e vídeos relatando sobre o contexto, isto é, como foi a organização, como
a criança reagiu, quais foram as dificuldades e se gostaram. A proposta era
explicativa e pontuava a importância dessa experiência para o
desenvolvimento de seu filho ou filha. Além disso, buscamos levar em
consideração alguns aspectos: material e disponibilidade de tempo das
famílias. Dessa forma, era feito envio de materiais necessários para a
realização de propostas que pudessem auxiliar no desenvolvimento integral
dos bebês sem perder de vista que muitas famílias trabalhavam durante a
semana.
Com a proposta enviada, as famílias tinham cinco dias para realizar
e compartilhar as fotos, vídeos e relatos no grupo de WhatsApp,
discorrendo sobre o desenvolvimento da proposta.
73
FIGURA 2 - ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Fonte: Página do site. Disponível em:
https://sites.google.com/educacao.riopreto.br/divulgabercarios/in%C3%ADcio/ber%C3%A7%C
3%A1rio-2-c
A partir do envio realizado pelas famílias, tínhamos contato e
informações de como a criança estava se desenvolvendo. Como forma de
registro pedagógico e reconhecimento pela parceria estabelecida, fazíamos
as devolutivas contendo o modo como a família organizou a proposta e
como fora o envolvimento da criança na proposta. Para realização dessa
devolutiva, foi utilizado o Canva que é uma plataforma de design gráfico
que permite aos usuários criar gráficos de mídia social, apresentações,
infográficos, pôsteres e outros conteúdos visuais. No nosso caso, o
utilizamos como registro pedagógico.
74
FIGURA 3 - PROPOSTA E DEVOLUTIVA PARA AS FAMÍLIAS DA PROPOSTA DE
EXPERIÊNCIA REALIZADA
Fonte: Página do site. Disponível em:
https://sites.google.com/educacao.riopreto.br/divulgabercarios/in%C3%ADcio/ber%C3%A7%C
3%A1rio-2-c
A experiência com o Google Sites no ensino remoto foi
extremamente produtiva diante da facilidade de acesso dos pais aos
75
conteúdos e aos registros. Além disso, o site, no contexto presencial, será
utilizado para divulgar as boas práticas pedagógicas que acontecem dentro
da escola.
Considerações Finais
Este relato teve por objetivo refletir sobre o uso da plataforma
Google Sites como ferramenta de comunicação, registro e visibilidade do
trabalho pedagógico no ensino remoto de uma escola de educação infantil
através do trabalho realizado com bebês de 0 a 2 anos de idade. Dessa
forma, buscou-se compreender como as tecnologias podem ser utilizadas
com crianças bem pequenas.
Nesse sentido, verificamos que o trabalho com o uso das
tecnologias não foi, e nem deve ser realizado como mediadora direta da
aprendizagem. Dessa forma, concluímos que o uso destes recursos pode ser
feito para fins de organização, comunicação, registro e visibilidade do
trabalho pedagógico.
Utilizamos diversas ferramentas para essa construção. Foi dada
ênfase no uso da plataforma do Google Sites, porém, conforme discorremos
neste relato, foram utilizadas outras ferramentas como aplicativo WhatsApp
e plataforma Canva que, também, auxiliaram na produção e na
comunicação.
Ao utilizar o site, favorecemos a criação e a atualização de parceria
junto com as famílias, tornando-se assim um grande potencial para melhor
mediar a integração creche-família. Além disso, informar e formar a
sociedade sobre a importância da Educação Infantil sendo garantia de
direitos da criança. Assim, juntamente com os educadores, as tecnologias
76
são apresentadas como mais uma possibilidade mediadora na parceria e
integração escola-família-comunidade.
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Tecnologias na Educação. In Salto para o Futuro. Brasília: Posigraf,
2005.
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77
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78
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2017. 97f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Escola de
Humanidades, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 2017.
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registros e diálogos. Rio de Janeiro, 2021. 209p. Tese de Doutorado
Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro.
79
Letramento Digital, Leitura e
WHATSAPP
:
uma possibilidade de formar leitores em Mambique
Micaela Sílvia Simão Fondo COVANE
9
Introdução
A necessidade de formar leitores vem desafiando a educação básica
moçambicana, sobretudo nesses tempos de distanciamento social causado
pela pandemia do COVID-19. Desse modo, milhares de crianças se
encontram em processo de retorno presencial às aulas depois de longo
período fora das salas de aulas, sem o contato habitual com o livro didático
e com o professor. No entanto, o WhatsApp tem sido uma das formas mais
utilizadas para promover interação entre alunos e professor, alunos entre
si, professor com a família dos alunos etc.
Moçambique é um país complexo do ponto de vista de sua
estrutura social, política, cultural e econômica. No que concerne à
educação, ainda apresenta índices altos de analfabetismo. Portanto, pensar
no aprimoramento das ferramentas oferecidas pelas novas tecnologias
digitais, dentro e fora da sala de aula, acredita-se ser uma forma viável para
que os professores continuem a ensinar, com um pouco mais de
produtividade.
9
Escrito usando a ortografia de Moçambique exceto as citações. Doutoranda em Educação / PPGE
/ Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -
UNESP - campus de Marília/SP / e-mail: micaela.fondo@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p79-94
80
Há uma concepção tradicional bastante errônea de que as
tecnologias de comunicação prejudicam o desempenho escolar. Com este
artigo, pretende-se mostrar que essa concepção não passa de um mito
historicamente construído e que, com ajuda do WhatsApp, o professor,
sobretudo nesses tempos de calamidades públicas provocadas pelo
COVID-19, pode ensinar a ler e escrever na tela do celular em seu
cotidiano.
A escrita no mundo digital recupera marginalizados contrapontos
históricos feitos a uma concepção de escrita apoiada integralmente no
princípio alfabético. O homem com a escrita digital, reintroduz o
componente logográfico, historicamente desprezado em virtude da
predominância do princípio alfabético, e recria um conjunto híbrido,
concretamente em troca instantânea de mensagens. Novos gestos,
novos instrumentos, novos suportes e escrita revitalizada organizam
novas relações entre os que ensinam, os objetos a serem ensinados e os
que aprendem (ARENA, 2020, p. 78).
Por isso, defende-se que é preciso que a sociedade reconheça o uso
das tecnologias como ferramentas de aprendizagem junto à escola,
professores e crianças. Esse é o primeiro ponto. O segundo seria o
reconhecimento do uso do WhatsApp para o ensino/aprendizagem da
escrita, como ato de atribuir sentidos ao que lê no texto disponibilizado e
criar novas relações com o mundo fora.
A escola moçambicana como instituição de ensino deve assumir o
compromisso de formar cidadãos com um perfil que responda às demandas
da sociedade. Desta forma, o presente artigo foca no uso do aplicativo
WhatsApp como uma nova ferramenta de aprendizado, compreendendo
que:
81
As novas tecnologias nos permitem ampliar o conceito de aula, de
espaço e tempo, de comunicação audiovisual, e estabelecer pontes
novas entre o presencial e o virtual, entre o estar juntos e o estarmos
conectados a distância. (MORAN, 2006, p. 12).
Corroborando a ideia do autor, a escola moçambicana deve abrir o
espaço para que a tecnologia digital faça parte das metodologias
educacionais no ensino básico, porque, além de facilitar a comunicação
audiovisual, potencializam o diálogo entre o professor e os alunos dentro
e fora da sala de aula.
O contato virtual com os alunos do ensino básico por via das
ferramentas digitais disponíveis, no celular, no notebook, pode reduzir de
forma significativa o número de crianças e jovens que se tornam
analfabetos, principalmente no contexto de pandemia em que vivemos.
Nesses termos, é imperioso que os professores, junto com as escolas
como entidades competentes, incentivem a criação de grupos de
WhatsApp, para fins educativos; tendo em vista que, a partir da troca de
mensagens no celular, as crianças terão a necessidade de aprender a ler
mesmo distante do professor e do livro didático, como de costume.
Uma parte mais importante da aprendizagem acontece quando
conseguimos integrar todas as tecnologias, as telemáticas, as
audiovisuais, as textuais, as orais, musicais, lúdicas, corporais. [...] é
importante também diversificar as formas de dar aulas, de realizar
atividades, de avaliar, de integrar os meios de comunicação na escola.
(MORAN, 2006, p. 32-33).
82
Essas e outras ferramentas que as novas tecnologias oferecem
podem proporcionar uma aprendizagem adequada ao aluno e permitir que
ele conheça o mundo à sua volta e enfrente as demandas impostas pela
globalização. Portanto, seria importante que o ensino básico moçambicano
adotasse essas novas tecnologias para diversificar as metodologias de ensino
e aprendizagem da leitura.
A educação escolar precisa compreender e incorporar mais as novas
linguagens, desvendar seus códigos, dominar as possibilidades de
expressão e as possíveis manifestações. É importante educar para usos
democráticos mais progressistas e participativas das tecnologias que
facilitem a evolução dos indivíduos. (MORAN, 2006, p. 36).
Este artigo, dando continuidade às discussões na disciplina
Educação e Novas Tecnologias: implicações ao currículo da educação básica e
superior, ministrada no Programa de Pós-Graduação da Unesp-Marília,
estabelece reflexões sobre a possibilidade de formação de leitores a partir
do WhatsApp, disponível no celular, tendo em conta o letramento digital.
Para tal, numa primeira fase, discuto o conceito de letramento
postulado por Soares (2009) que defende que o letramento digital é ter
acesso à informação e à linguagem escrita, seja no papel ou na tela quando
se tratar das novas tecnologias. Partindo desse pressuposto, é possível
compreender o letramento digital como uma forma de acesso à informação
em vários suportes. Posteriormente, discorro sobre a sua aplicação no nosso
cotidiano e sua viabilidade para a formação do leitor em contexto de
pandemia.
Para compreender a leitura como ato de construção de sentidos,
tomaram-se como base os conceitos de Geraldi (2009), Arena (2010) e
83
Foucambert (2014), segundo os quais ler é questionar o texto e atribuir
sentido ao escrito. Para além destes autores referenciados, não se descarta
a possibilidade de trazer outros que discutem o letramento assim como a
leitura na perspectiva de construir sentidos.
Metodologicamente, esta reflexão desenvolveu-se a partir da leitura
de textos anteriores a este, isto é, foram consultados artigos publicados em
revistas e apresentados em congressos, assim como livros que versam sobre
o tema. Portanto, buscou-se, também, compreender a leitura na
perspectiva da linguagem, assim como os conceitos do letramento digital
defendido pelos pesquisadores da linguística aplicada como forma de fazer
um contraponto com a filosofia da linguagem.
Letramento Digital: entre conceitos e práticas
O termo letramento digital tem sido tema de grandes pesquisas,
sobretudo na área de educação. Segundo Kleiman (2008) e Soares (2009),
o conceito de letramento surgiu no contexto acadêmico na tentativa de
separar os estudos sobre o impacto social da escrita e da alfabetização. Os
autores compreendem que o termo fez parte das pesquisas brasileiras no
final do ano de 1980, traduzido para o novo sentido de literacy e
apropriado por dois campos de estudos nomeadamente: a Linguística
Aplicada e a Educação.
Assim, Soares (2009) aponta que o conceito de letramento, no
âmbito geral, ultrapassa o ato de ler e escrever. De acordo com ela, para o
sujeito entrar no universo do letramento, é necessário apropriar-se do
hábito de buscar uma revista para ler, de frequentar livrarias, revistarias
e/ou bibliotecas, porém, “letramento é o estado ou condição de quem se
envolve nas numerosa e variadas práticas sociais de leitura e de escrita
84
(SOARES, 2009, p. 44). A autora acrescenta ainda que, por muito tempo,
o termo letramento esteve relacionado ao conceito de alfabetização, o que
quer dizer que não havia de certa forma uma separação entre os dois
conceitos.
No que diz respeito ao letramento digital, foco desta reflexão,
Soares (2009) afirma que é usado para se referir à questão da prática de
leitura e escrita possibilitada pelo computador e pela internet, o que
podemos designar como letramento cibernético por facultar o
multiculturalismo nas práticas de leitura e escrita em vários suportes que a
era digital oferece.
Já não podemos mais tratar o letramento (ou a linguagem) como se
fosse o único ou o principal ou o mais importante meio de
representação e comunicação. Há muitas outras modalidades hoje (as
novas tecnologias facilitam o uso de imagem, sons, na representação de
informação), e os espaços [...] onde a escrita está inserida, outras
modalidades podem ser mais proeminentes e mais significativas.
(KLEIMAN, 1995, p. 498).
A aprendizagem da leitura e escrita pode ser feita utilizando
suportes oferecidos pelas novas tecnologias. Nesse contexto, o espaço
digital é apropriado para a iniciação da linguagem escrita, levando em
consideração que, através da imagem e do som, a criança assimila outros
conhecimentos de forma equivalente ao suporte tradicional, neste caso, o
papel impresso.
O conceito de letramento envolve, portanto, sutilezas e complexidades
difíceis de serem contempladas em uma única definição [...] estão as
85
duas principais dimensões do letramento: a dimensão individual e a
dimensão social [...], quando o foco é posto na dimensão individual o
letramento é visto como um atributo pessoal, parecendo referir-se à
simples posse individual das tecnologias mentais complementares de
ler e escrever e quando o foco se desloca para a dimensão social, o
letramento é visto como um ler e escrever, ou nos usos, funções e
propósitos da língua escrita no contexto social. (SOARES, 2009, p.
66).
Porém, em consonância com a autora, ao conceber o letramento
deve-se considerar as duas dimensões, a social e a individual, uma vez que,
para aprender a ler e a escrever, é preciso se ter em conta as dimensões em
que o aprendiz/o aluno está inserido.
As definições de letramento que consideram as diferenças entre leitura
e escrita tendem a concentrarem-se ou na leitura ou na escrita (mais
frequentemente na leitura), ignorando que os dois processos são
complementares: são diferentes, mas o letramento envolve ambos.
(SOARES, 2009, p. 48).
Com o intuito de trazer uma contribuição para a melhoria do
ensino e aprendizagem da leitura no ensino básico moçambicano,
compreendo o letramento como ato indissociável da leitura e escrita,
atentando que, embora sejam habilidades diferentes, não se pode ensinar
uma separada da outra. Nesse contexto, para que a criança seja letrada no
seu verdadeiro sentido, é necessário que seja confrontada com várias
linguagens, desde a tela do celular até a do computador. Num outro
estudo, Dantas e Sousa (2019) compreendem o letramento digital como
sendo uma das:
86
Habilidades individuais e sociais necessárias para interpretar,
administrar, compartilhar e criar sentido eficazmente no âmbito
crescente dos canais de comunicação digital, além de trazer benefícios
para a sala de aula por “apoiar abordagens pedagógicas construtivistas,
centradas no aluno. (DANTAS; SOUSA, 2019, p. 6, apud
DUDENEY, 2016, pp. 17-20).
Como se pode compreender, a criança se torna leitora quando é
inserida em ambiente propício para tal. No caso de letramento digital, ela
deve ser confrontada por vários dispositivos, de modo que crie vivências
significativas e se torne leitora.
Letramento Digital e o Ensino da Leitura
A crise sanitária imposta pelo COVID-19 trouxe inúmeras
mudanças no seio da educação, obrigando professores e alunos a
recorrerem às novas tecnologias de informação como a única possibilidade
de evitar a descontinuidade do processo de ensino e aprendizagem.
Partindo dessa constatação, proponho-me a discutir, nesta seção, a
possibilidade de adotar as novas tecnologias para formar leitores em
Moçambique via WhatsApp já que, no século em que vivemos, a criança é
rodeada de múltiplas linguagens disponíveis na televisão e em dispositivos
portáteis e, apoiando-se no estudo desenvolvido por Souza (2020), que
mostra a eficácia do aplicativo WhatsApp para o ensino e aprendizagem dos
alunos dentro e fora de aulas.
O WhatsApp pode ser a primeira tecnologia que entrou na sala de aula
sem qualquer treino ou supervisão de um administrador, já que
professores e alunos usam isso na sua vida privada, e suas vantagens
87
permitiram que ele se tornasse, naturalmente, uma tecnologia
educacional. (BOUHNIK; DESHEN, 2014, p. 229).
Partindo dessa concepção da autora, é possível pensar neste
aplicativo para o ensino e aprendizagem de leitura no contexto de
pandemia em Moçambique, uma vez que sua simplicidade poderia
abranger muitas crianças desfavorecidas que se encontram fora da escola
por falta de computador. Para Souza (2020), o uso do WhatsApp pode:
Ser explicado por alguns aspectos, dentre eles, o potencial de
usabilidade em diversos modelos de smartphones mesmo aqueles de
tecnologia mais simples; sua elevada popularidade sobretudo, entre
os adolescentes; disponibilização de download gratuito; uso gratuito
ofertado por diversas operadoras de celular; uso intuitivo e de fácil
compreensão; possibilidade não limitada de troca de mensagens,
imagens, vídeos, documentos e áudios, instantaneamente etc.
(SOUZA, 2020, p. 3).
Tratando-se de crianças ainda em fase de alfabetização e de
iniciação de leitura, o WhatsApp possibilita o professor formar um grupo
por turma que funcione como sala virtual (para o envio de atividades e
esclarecer dúvidas, obedecendo à regra de convivência de forma que não
haja desvio do foco com os alunos). O professor, também, pode diversificar
conteúdos, enviando áudios e vídeos para facilitar a compreensão dos
conteúdos complexos e fazer videochamadas (para promover grupos de
estudos com o máximo de 8 alunos). Nas videochamadas, para promover
e facilitar a interação, os alunos podem apresentar trabalhos, desenvolver
88
novas propostas, fazer atividades de leitura em voz alta enquanto o
professor acompanha sua evolução.
Como se pode ver, são diversas as possibilidades que o aplicativo
pode proporcionar dentro do ensino e aprendizagem de leitura assim como
no processo de letramento digital no âmbito geral.
Antes e depois das aulas, as crianças manipulam em casa os teclados
virtuais dos celulares para escolher e fazer avançar as etapas dos jogos,
para ver a performance de um youtuber, para ler um recado da mãe ou
do pai ou da avó ou do avô, ausentes, pelo WhatsApp. As crianças
praticam o ato conjunto de escrever mapeado na citação e, por isso, o
ensino metódico de exercícios para desenvolvimento de consciência
fonológica as levam ao tédio, do mesmo modo quando na escola lhes
ensinam antigas lições, de morrer pela pátria e viver sem razão.
(ARENA, 2020, p. 80).
A aproximação da criança às novas tecnologias faz com que se
familiarize com a linguagem escrita disponível em qualquer dispositivo e
se torne leitor. Os dispositivos digitais manejados pelas crianças no seio
familiar podem ser compreendidos como algo que permeia as relações
entre os sujeitos, promovendo encontros e diálogos com outros sujeitos.
Além do mais, o contato frequente com esses aparelhos estimula a
memória, proporcionando a construção de categorias de compreensão da
realidade por ela vivenciada, a partir das informações e opiniões que estes
oferecem à criança no seu cotidiano.
Sendo assim, é possível compreender a leitura como ato associado
à vida. Arena (2010) olha para leitura como ato de rigor, de buscar e
compreender o enunciado produzido pelo outro que está à espera dessa
89
atividade responsiva do leitor. Nessa perspectiva, um leitor responsivo não
fica à espera que alguém o faça por ele, mas procura revitalizar a sua relação
dialógica com o texto, enquanto o outro questiona e mobiliza o seu
conhecimento do mundo, de modo que perceba o texto à sua disposição.
É o mesmo que a criança faz diante da tela de um computador, do celular
ou no grupo de WhatsApp criado pelo professor.
A leitura propriamente dita não é algo meramente acabado,
pronto, mas é ponto de partida para ativar outras curiosidades e vivências
do leitor como ser histórico, social e dialógico. Assim, ler é estabelecer
diálogo, reconstruir percursos realizados por outros leitores (MENIN,
2010). Na perspectiva da filosofia da linguagem, Volóchinov (2017)
afirma que:
Toda a palavra serve de expressão ao “um” em relação ao “outro”. Na
palavra, eu dou forma a mim mesmo do ponto de vista do outro e, por
fim, da perspectiva da minha coletividade. A palavra é uma ponte que
liga o eu ao outro. Ela apoia uma das extremidades em mim e a outra
no interlocutor. A palavra é o território comum entre o falante e o
interlocutor. (VOLÓCHINOV, 2017, p. 205).
Essa troca interativa com o outro faz com que o leitor não se torne
estéril, que fica à espera de tudo pronto, ou como recipiente de
conhecimentos trazidos pelo professor, como mostram as práticas de
leitura de decodificação adotadas pelas escolas tradicionais. Um leitor
interativo transforma a palavra, o texto ou o diálogo em benefício do seu
conhecimento, pois é com a leitura que o leitor explora e vivencia suas
emoções. Portanto, a criança ao manejar a dispositivo eletrônico, como no
aplicativo WhatsApp, trocando mensagens de textos com alguém, lendo e
90
assistindo videoaulas enviadas pelo professor, está inevitavelmente se
constituindo como leitor.
[...] uma tomada de informações e o que pode variar de uma situação
à outra, é o que se quer fazer com essas informações: sonho, prazer,
especulação, ação, etc. [...] trata-se sempre de uma atividade que
encontra sua significação porque está inscrita no interior de um
projeto. [...] trata-se sempre de tomar as informações que escolhemos
tomar. (FOUCAMBERT, 2014, p. 63).
Sob esse olhar, é possível compreender que o aluno só se torna um
leitor quando consegue desenvolver o seu projeto de dizer e fazer uso dos
enunciados do outro para construir seus próprios sentidos. Nesse contexto,
o WhatsApp é propício para troca de informações com o outro e para se
tornar leitor.
Das reflexões acima tecidas, é possível entender que os precursores
da leitura na perspectiva da linguagem e os defensores do uso dos
aplicativos digitais, no caso do WhatsApp, assim como os do letramento
digital, entram em consonância no que diz respeito à formação cultural do
indivíduo, pois, em todos os âmbitos, a cultura do aluno e os modos de
manejar esses dispositivos estão em primeiro lugar na apreensão e na
transmissão de um determinado conhecimento.
Considerações Finais
Tomando como base as discussões feitas em torno das novas
tecnologias e o letramento digital, senti que, por muito tempo, o campo
da educação sempre colocou de fora as novas tecnologias como
91
possibilidade metodológica na formação de leitores e iniciação ao
letramento digital. Por tal razão, muitas crianças desfavorecidas do mundo
e, em particular, de Moçambique, no contexto de pandemia causada pelo
COVID-19, estiveram fora da rede de ensino pela recusa à apropriação das
novas tecnologias no contexto escolar.
Considerando os princípios sobre o letramento digital e a
importância das novas tecnologias na formação sociocultural dos sujeitos,
a educação básica moçambicana é chamada a responder esse desafio de
modo que haja a diversificação da linguagem dentro e fora das salas de
aula, pois, a criança no seio familiar, inevitavelmente, convive com essas
linguagens diversificadas que as tornam leitora.
Desta forma, para que o sistema educativo forme leitores e
escritores competentes, a criança deve ser exposta a essas linguagens
diversificadas, levando em consideração que é convivendo com o escrito
em diferentes dispositivos digitais que se torna letrado e, ao mesmo tempo,
leitor capaz de construir os próprios sentidos. Portanto, a criança desde a
sua tenra idade, deve ser exposta à diversas informações e manejar diversos
suportes para se constituir como leitor. Neste caso, reitero a queda do mito
construído historicamente e se adotar as novas tecnologias em destaque,
como o aplicativo de troca de mensagens WhatsApp no contexto
pedagógico.
Referências
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instrumento de iniciação no mundo da cultura escrita. In: MENIN, A.
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Paulo: 34, 2017.
94
95
O Teleatendimento de Terapia Ocupacional Como Novo
Caminho de Cuidado um relato de experiência
Natália Salles CORRÊA
10
Introdução
No ano de 2020, presenciamos um novo modo de vida, decorrente
da crise sanitária mundial causada pela pandemia do novo coronavírus
(SARS-Cov-2). O vírus trouxe mudanças significativas para a sociedade,
sendo um deles o distanciamento social. Na vida real, infelizmente nem
todos podiam mantê-lo devido à necessidade de estar em atividades
externas, pois era primordial a manutenção do sustento da família. Outro
ponto relevante deste novo modo de viver foi evidenciado pelos
profissionais de serviços de saúde, de segurança pública e da assistência
social, necessários para o enfrentamento desta crise (BREGALDA et al.,
2020).
Ficou evidente, nos meios midiáticos, o contraponto causado pela
necessidade do distanciamento e o medo da sociedade de procurar os locais
e os serviços, pelo temor de se contaminar. A população que antes era
acostumada a acessar periodicamente serviços de reabilitação e consultas
foi orientada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo
Ministério da Saúde (MS) do Brasil a se ausentar fisicamente dos
10
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail: ns.correa@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p95-108
96
tratamentos e solicitou que, mediante essa situação, ocorresse o uso do
teleatendimento por profissionais da saúde.
Antes do panorama da saúde gerado pela pandemia, o Código de
Ética e Deontologia da Terapia Ocupacional em seu Art. 15, inciso II,
proibia que o profissional disponibilizasse consultas ou prescrição de
tratamentos terapêuticos ocupacionais de forma que não fosse presencial.
Contudo, os novos acontecimentos e as novas exigências da World
Federation of Occupational Therapist (WFOT) trouxeram um novo olhar
sobre o atendimento remoto de modo a descrever a Telessaúde como uma
nova possibilidade a partir do uso de tecnologias digitais de informação e
comunicação (TDIC), utilizadas como estratégias e meios de fornecer os
serviços relacionados à saúde em momentos onde o prestador e o cliente se
encontram em diferentes localizações físicas. Este modelo de atuação pode
ser especificado como teleconsulta, consulta a distância, telemoni-
toramento, teleatendimento, entre outros (SILVA; NASCIMENTO,
2020).
Sabe-se que, antes do novo formato de vida digital desencadeado
pela pandemia, já vivíamos em um cenário onde cerca de 5 bilhões de
pessoas no mundo utilizavam aparelhos de celular (DA REDAÇÃO,
2019). Deste modo, a informação se torna cada vez mais rápida, os modos
de armazenamento de informações se modificam e as tecnologias
encontram maneiras de inovar. Segundo Santos Junior e Monteiro (2020),
a tecnologia era vista anteriormente como recurso que retirava o sujeito do
convívio social, porém hoje ele já é visto como uma forma de produzir o
benefício coletivo. A utilização das tecnologias digitais é algo grandioso
que permite ao usuário ter acesso a diferentes fontes de informação e
conhecimento.
97
Contudo, mesmo com todos os avanços, o processo de
digitalização pode ainda ser excludente quando considerado o público não
muito familiarizado com as tecnologias e seu acesso. Os idosos estão
vivenciando crescente inovação com vistas à tecnologia digital, de modo
que essas transformações podem ocasionar barreiras para acessar bens e
serviços que estão sendo ofertados na modalidade on-line. Leite (2020)
destaca que existe a necessidade de observar e estimular os pontos fortes da
tecnologia para os idosos e, deste modo, fornecer auxílio para a
aprendizagem de novas habilidades, facilitar as interações sociais, a
promoção de uma vida independente e com autonomia, bem como
melhorar a gestão e prestação de serviços de saúde e assistência social,
promovendo a igualdade no acesso a era digital. Permeado pelo contexto
tecnológico e a inclusão digital da pessoa idosa, nasce um novo conceito
que é a “gerontecnologia” que tem como objetivo “prestar um aporte
tecnológico e de cuidado às pessoas idosas e seus familiares cuidadores”
(ILHA et al., 2018, p. 3).
O presente estudo será composto pelo resgate teórico da temática,
a descrição da metodologia utilizada durante o processo de coleta dos
dados referentes à experiência, os resultados e discussões subdivididos pelas
impressões da autora sobre o teleatendimento e, também, sobre o uso das
tecnologias digitais de informação e comunicação. Por fim, apresentam-se
a conclusão e as considerações finais.
O objetivo geral do estudo é compartilhar vivências de uma
terapeuta ocupacional na modalidade de teleatendimento para um idoso,
além de descrever as estratégias que foram adotadas.
98
Metodologia
Para a realização do presente estudo, a abordagem metodológica se
delineia como um relato de experiência de natureza qualitativa. Para a
caracterização do participante, ocorreram as seguintes etapas: (i)
sistematização de experiências; (ii) análise de prontuários do participante,
contendo as evoluções dos atendimentos; e (iii) avaliações padronizadas e
estruturadas pela profissional. Todos os materiais foram separados e
analisados de maneira cuidadosa de modo a preservar as experiências
vividas. Deste modo, este estudo traz reflexões e desafios encontrados
durante os teleatendimentos realizados pela terapeuta ocupacional (T.O.)
que é a pesquisadora.
Por meio da abertura do prontuário do paciente, foi possível
encontrar as evoluções dos atendimentos realizados, processo que ocorre
ao final de todas as sessões. A evolução descreve o paciente quando iniciou
o atendimento, o que foi desenvolvido no dia, as observações da terapeuta
sobre a sessão e como o paciente estava no fechamento daquele
atendimento. Além disso, conta com a anamnese inicial desenvolvida pela
terapeuta para coleta de dados iniciais e as avaliações padronizadas, sendo
elas o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e a Escala de Depressão
Geriátrica (EDG) que foram aplicadas em dois momentos, no último
atendimento grupal em março de 2020 e reavaliados em agosto de 2020.
Ocorreu a sistematização dos dados do prontuário, foram
ordenados os eventos ocorridos de maneira cronológica desde o primeiro
atendimento ao último selecionado para este estudo, separados em
categorias, sendo elas a condição inicial do paciente durante os
atendimentos; as atividades desenvolvidas nas sessões; as observações da
T.O. e como o paciente estava ao final da sessão. Foi possível analisar
99
criticamente as informações levantadas e extrair dados para melhoria do
processo e para serem partilhados.
Como instrumento para coleta de dados, foi utilizada a plataforma
remota Google Meet para que os atendimentos fossem de forma síncrona,
ou seja, em tempo real. Vale (2020) descreve que o uso do Google Meet
possibilita várias maneiras diferentes de interatividade como ferramenta
para o processo de ensino e aprendizagem.
O participante do estudo aqui compartilhado foi nomeado como
Sr. A. para preservação de sua identidade. Ele é do sexo masculino, possui
86 anos, hoje é casado, pai de três filhos, avô de dez netos e bisavô de dois.
Realizou, apenas, os primeiros dois anos do Ensino Fundamental e recebeu
uma parte da alfabetização de maneira informal por um tio quando ainda
era criança. É nascido no sertão do nordeste brasileiro e morador da cidade
de São Paulo, capital, há 64 anos, residindo há 60 anos na mesma casa. O
Sr. A. participou de todas as sessões remotas de terapia ocupacional do
próprio domicílio. Foi-lhe dada a oportunidade de optar pelo cômodo de
sua casa que lhe trazia maior conforto para a realização das sessões. Para
este relato de experiência, foram utilizados documentos referentes aos
atendimentos prestados no período de um ano, sendo de maio de 2020 a
maio de 2021, totalizando 52 sessões.
Para os atendimentos, Sr. A. deveria possuir acesso à internet e e-
mail, para onde seriam enviados os links de acesso, e computador portátil
do tipo notebook com microfone, além de fones de ouvido, pois ele
apresentava perda auditiva. Os dispositivos eletrônicos e a adesão ao
serviço de internet foram medidas destinadas aos filhos do paciente. Outro
parâmetro para os atendimentos foi que houvesse sempre um responsável
por prestar os suportes técnicos (ligar o computador, acessar o link e a
verificar a conexão com a internet). Por meio da rede social WhatsApp, a
100
profissional criou um grupo para a comunicação com os familiares, onde
havia o contato direto com os seus filhos, visando respaldar aquele que era
o responsável do dia. O grupo na rede social, também, foi uma estratégia
para que, após as sessões, fossem ofertados feedback e orientações aos
responsáveis. Durante as trocas, foi estabelecido que, trimestralmente,
ocorreria uma reunião remota em família.
Durante o período deste estudo, o idoso recebeu os atendimentos
semanalmente com duração de cerca de uma hora cada sessão. Optou-se
pelo telemonitoramento, que é uma das modalidades propostas pelo
conselho de Terapia Ocupacional, para o acompanhamento a distância do
paciente que havia sido atendido previamente de forma presencial
(COFFITO, 2020).
Nas primeiras quatro sessões, a terapeuta apresentou as
possibilidades de intervenção entre as telas e utilizando os sites de busca
para resgate de memórias do paciente. Nas demais sessões, foram propostas
orientações a respeito de atividades a serem feitas durante a semana, além
das buscas on-line. A função espelhar um separador do Google Meet foi a
maneira encontrada para mostrar a plataforma do Google, site de busca
selecionado para as pesquisas visto a grandiosidade de informações
ofertadas e a facilidade de explorar as funções. Por meio dos conteúdos que
o idoso demonstrava interesse em pesquisar, a terapeuta ocupacional
realizava as buscas on-line.
Resultados e Discussão
No cenário anterior à pandemia, a terapeuta realizava,
semanalmente, atendimentos domiciliares de terapia ocupacional à esposa
de Sr. A, que havia tido um acidente vascular cerebral isquêmico, no ano
101
de 2019, e, preocupados com os esquecimentos e o humor prostrado da
mãe, os filhos solicitaram este serviço. Angustiados com a senioridade do
pai, os filhos solicitaram que o mesmo, também, fosse acompanhado para
que houvesse a manutenção de componentes cognitivos, mesmo com as
esquivas do idoso que dizia não ter interesse em participar de atendimentos
individuais de terapia ocupacional. Assim, a terapeuta passou a realizar
acompanhamentos quinzenais de modo grupal entre Sr. A. e a esposa.
Sr. A., mesmo aposentado, apresentava vitalidade e disposição que
o permitiam sair todas as manhãs dirigindo até a empresa da família, onde
ainda prestava serviços gerais. Os hobbies que exercia aos finais de semana
estavam ligados à manutenção e obras da casa, do jardim e de
gerenciamento do lar. Por meio dos instrumentos padronizados, foi
possível identificar que Sr. A. não apresentava sinais e sintomas de
ansiedade e depressão geriátrica, assim como os componentes cognitivos
estavam acima do esperado para o seu tempo de estudo. Entende-se que o
envelhecer é um processo subjetivo vivenciado segundo as condições
intrínsecas de cada sujeito, condições estas influenciadas por fatores sociais,
culturais e ambientais (COLOMÉ et al., 2011).
Impressões em relação ao teleatendimento
Com o início da pandemia, os atendimentos presenciais foram
suspensos, visando que os protocolos de segurança fossem respeitados,
assegurando o estado de saúde dos idosos e a segurança da profissional.
Cerca de um mês após o início da pandemia e do início do distanciamento
social, momento em que Sr. A. já estava afastado das funções externas da
casa, recebeu a notícia de que o câncer de pele havia voltado, necessitaria
novamente de quimioterapia e um processo cirúrgico. Com os novos
tratamentos, o idoso passou a realizar economia de energia e se manter a
102
maior parte do tempo em repouso, distanciando-se, também, de atividades
que julgava significativas. Diante das mudanças na rotina do pai, os filhos
solicitaram o teleatendimento de Terapia Ocupacional para promoção de
qualidade de vida do idoso.
Além destes fatores, Sr. A. havia apresentado mudanças
comportamentais, como a impaciência e quadros de esquecimento. Ao
notar as alterações, a profissional aplicou, novamente, as escalas
padronizadas e o idoso apontou rebaixamento cognitivo, porém era o
esperado para o tempo de ensino e o aumento nos scores para a
probabilidade de ansiedade e depressão. Sabe-se que, cerca da metade dos
pacientes com câncer, apresenta altos níveis de estresse (LERA et al., 2011).
O isolamento social causado pela pandemia é um fator que, para o
idoso, pode contribuir para o desenvolvimento de doenças cardíacas, além
de gerar sentimentos como tristeza, tédio, sensação de desamparo e
pensamentos suicidas. A busca por uma alternativa de socialização e de
convivência social é uma estratégia que pode propiciar a prevenção destas
condições (MANSO et al., 2018). Utilizar os recursos da tecnologia foi
uma maneira de dar um passo para o futuro, visto que o idoso sabia da
existência destas ferramentas e meios digitais, mas não fazia o uso.
Segundo Corrêa et al. (2020), com as mudanças trazidas pela
pandemia, as ocupações do dia a dia podem apresentar novas formas,
propósitos e significados diferentes do habitual e o que conduziu as
experiências de cada idoso nesse período foram os fazeres possíveis. Por
meio deste pensamento é que foi proposta uma nova experiência ao Sr. A.,
pela escuta ativa, em que foi possível encontrar desejos, sonhos e novas
atividades significativas.
103
Utilizando a escuta ativa, foi possível identificar que Sr. A.
apresentava grande interesse por canais de televisão que falavam sobre
viagens, colecionava livros de geografia e de história; e possuía o desejo,
para o cenário pós-pandemia, de viajar para a cidade de Teixeira de Freita,
na Bahia, onde vivem os irmãos mais novos e estão as suas raízes culturais.
Impressões sobre o uso das TDIC
Vivenciamos dificuldades no processo da utilização das TDIC que
impactaram o processo dos teleatendimentos como as condições de
conexão com a internet. Em algumas vezes, pelo planejamento da sessão, o
material principal seria a apresentação de vídeos da internet a serem
transmitidos, mas devido à falha técnica, isso estava comprometido. Vale
ressaltar que este tipo de falha é de responsabilidade da equipe de telefonia
que realiza as conexões, assim, evita-se a frustração dos envolvidos no
processo de teleatendimento (ALENCASTRO et al., 2020).
Por meio do teleatendimento, além da novidade, a profissional
precisou se reinventar com relação às estratégias para promover o interesse
de Sr. A. para a tecnologia. A solução ocorreu por meio do uso do site de
buscas Google, já que foi possível levar o idoso para a casa dos irmãos, ver
fotos da região em que nasceu, ouvir músicas da época.
Além do uso da tecnologia digital, era necessário elaborar materiais
que seriam impressos e enviados via correio ao paciente. Dentre eles, a
elaboração de roteiros pré-acordados e embasados em livros de geografia.
Sr. A. definia a região do Brasil a ser visitada na sessão e, a partir disso,
buscar as fotos do local, a história, a economia e até a bandeira da cidade
visitada eram partes das tarefas. Ao final, ele era orientado a realizar
atividades fora do contexto do atendimento, sendo elas atividades de
104
escrita, de pareamento, quebra-cabeças e pintura. Desta forma, além de
destacar as ocupações significativas, houve a necessidade de adaptá-las para
o momento de distanciamento social (CORRÊA et al., 2020).
Considerações Finais
As relações humanas mediadas por recursos digitais durante o
processo pandêmico, demonstram a crescente necessidade e dependência
do uso da tecnologia e, neste período, chamou a atenção da United Nations
Economic Commission for Europe (UNECE), o órgão responsável por
cuidar das políticas da inclusão digital, em que foi possível verificar a
divisão digital entre as gerações, culminando nas criações de políticas para
a inclusão digital e empoderamento de pessoas idosas na era digital.
A oportunidade de a Terapia Ocupacional utilizar o telemoni-
toramento na gerontecnologia, em razão do COVID-19, foi uma maneira
da profissão manter um trabalho personalizado ao paciente, adaptar a
rotina e o modo de fazer humano.
O suporte multiprofissional ao idoso contribui na manutenção de
suas capacidades cognitivas, físicas, laborais e psíquicas, e, ao mesmo
tempo, auxilia na manutenção de suas habilidades, proporcionando o
processo de autonomia, independência e maior qualidade de vida para essa
faixa etária.
No teleatendimento, o profissional tem a possibilidade de estar de
maneira direta com o idoso de modo a afetar diretamente nos efeitos do
distanciamento/isolamento social, podendo reduzir os sentimentos de
solidão, tristeza e depressão vivenciados por muitos neste momento.
105
Por meio deste relato de experiência, estes recursos se mostram
como ferramentas que podem auxiliar de maneira positiva para o processo
de garantia da saúde e a participação social do idoso.
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temporária do Artigo 15, inciso II e Artigo 39 da Resolução COFFITO
106
nº 424/2013 e Artigo 15, inciso II e Artigo 39 da Resolução COFFITO
nº 425/2013 e estabelece outras providências durante o enfrentamento
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108
109
GOOGLE
Sala de Aula Como Ferramenta Integradora e
Potencializadora do Ensino e Aprendizagem
Fábio Arlindo SILVA
11
Cláudia Virgínia Albuquerque Prazim BRASILINO
12
Daniela Nogueira de Moraes GARCIA
13
Introdução
Na atualidade, a tarefa de ensinar e aprender é cada vez mais
complexa, requerendo do professor, além dos conhecimentos pedagógicos
e de conteúdos, habilidades com o uso de ferramentas tecnológicas para
além do caráter técnico. Espera-se que o educador encontre caminhos para
explorar pedagogicamente essas ferramentas, em seus mais altos potenciais,
indo além do caráter lúdico, muitas vezes experimentado pelos alunos.
Dessa forma, torna-se fundamental que o contexto educacional
permita novas formas de ensino e aprendizagem, com máxima
intencionalidade ou potencialidade pedagógica. Sendo assim, são
11
Instituto de Educação e Pesquisa em Práticas Pedagógicas (IEP3), Unesp, São Paulo/SP.
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
fabio.arlindo@unesp.br
12
Professora da Universidade Estadual do Piauí / Uespi / curso de Licenciatura Plena em Pedagogia.
Mestre em Educação / PPGE / Universidade Federal da Paraíba / Parnaíba/PI. e-mail:
claudiaprazim@phb.uespi.br
13
Professora Assistente no Departamento de Letras Modernas / Faculdade de Ciências e Letras /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Assis/SP e
professora orientadora no PPGE / UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
daniela.nm.garcia@unesp.br.
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p109-134
110
necessários espaços de trocas de experiências, de compartilhamento de
ações, de protagonismo dos atores envolvidos, de mediação constante e de
avaliação e reavaliação das ações para uma aprendizagem significativa, que
extrapole o uso tarefeiro e sem sentido, muitas vezes feito com as
tecnologias educacionais.
Mas, como fazer com que os professores explorem as ferramentas
tecnológicas em benefício pedagógico máximo? Há preparação, formação
ou uso adequado de ferramentas tecnológicas? Essas perguntas,
certamente, não são fáceis de responder. No entanto, sabemos que o
cenário atual, da pandemia de COVID-19, exigiu, e ainda exige, dos
professores, gestores educacionais e, até mesmo, alunos, a busca por
caminhos alternativos a uma educação presencial, ainda que já existissem,
porém, ainda pouco explorados, evitando-se a descontinuidade dos
processos de ensino e aprendizagem.
Observa-se a necessidade de programas de apoio, de formação
continuada constante, de políticas de formação que levem à aprendizagem,
não só na perspectiva de conteúdos e/ou didático-pedagógica, mas,
também, para a compreensão das tecnologias como mediadoras dos
processos de ensino e aprendizagem. Principalmente, porque as
tecnologias “são produtos de uma sociedade e de uma cultura” (LÉVY,
1999, p. 22), ou seja, são produzidas ou inventadas para influenciar a vida
social e, assim sendo, vão influenciar, também, a escola, que está inserida
nessa cultura social e poderá se beneficiar delas.
Tecnologias Educacionais e Formação de Professores
As discussões sobre as tecnologias na educação vem sendo foco de
investigação de diversos estudiosos há décadas, como observamos a seguir.
111
Para Lévy (1999, p. 173), com o aparecimento de novas
tecnologias na educação, a principal função do professor passa a ser a de
“incentivar a aprendizagem e o pensamento” e não mais a de difusão do
conhecimento, que pode ser realizada por outros meios, outras tecnologias.
Por isso, é fundamental que o professor seja preparado para utilizar
adequadamente a tecnologia.
Moran et al. (2000) afirmam que as tecnologias são importantes
como um instrumento significativo para favorecer e colaborar com a
aprendizagem. Porém, afirmam que elas não assumem a responsabilidade
de solucionar os problemas da educação no Brasil.
Valente (2003) aponta o uso de tecnologias educacionais para
favorecer as interações nos processos de ensino e aprendizagem,
principalmente em ambientes virtuais de aprendizagem.
Segundo Kenski (2012), o uso adequado das tecnologias pode
provocar a alteração de comportamentos de professores e alunos
potencializando o aprofundamento dos conteúdos estudados. A autora
ainda afirma que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC)
irão alterar o processo educativo se forem compreendidas e incorporadas
pedagogicamente pelos atores envolvidos no ensino e na aprendizagem.
Compreende-se daí, que as tecnologias educacionais dissociadas da
intenção pedagógica não expressam potencial educativo, pois é possível
continuar com práticas de ensino tradicional mesmo com o uso das
mesmas.
Mais recentemente, Camargo e Daros (2018) apontam que o
cenário educacional ainda é, em demasia, pautado no ensino transmissivo
e centrado unicamente no conhecimento do professor, e isso tem sido
motivo de muitas insatisfações por parte dos alunos. Por outro lado, o
112
desinteresse dos alunos e as más condições do exercício docente têm sido
queixa recorrente dos professores. Tal panorama sinaliza a necessidade de
discutir o uso das tecnologias digitais associadas às propostas de
metodologias inovadoras e/ou ativas, que são definidas por Bacich e Moran
(2018) como propiciadoras do protagonismo do aluno, oportunizando
uma aprendizagem ativa com vistas à uma aprendizagem tutoriada.
Oliveira (2020, p. 10) menciona que “[...] a pedagogia nova [...] encontrou
nas tecnologias da informação e comunicação uma aliada para o
fortalecimento das metodologias ativas”.
Ademais, é importante ressaltar que diferentes governos vêm
investindo há anos em programas e cursos a nível nacional, que buscam
oferecer formação continuada para professores, voltando-se ao trabalho
com uso pedagógico das tecnologias na educação, tais como: Programa
Nacional de Informática na Educação (ProInfo), criado pelo MEC através
da Portaria de nº 522/1997, com o objetivo de promover o uso pedagógico
de tecnologias digitais da educação na rede pública da educação básica
(BRASIL, 1997); o já extinto programa “Um computador por aluno”
(PROUCA), instituído pela Lei de nº. 12.249/2010 (BRASIL, 2010); ou
mesmo o atual Programa de Inovação Educação Conectada, que iniciou a
implementação de sua primeira fase em 2017, com o objetivo de
universalizar o acesso à internet de alta velocidade, bem como incentivar o
uso das tecnologias digitais na educação básica (BRASIL, 2017).
Além das iniciativas mencionadas, há outras ações promovidas
pelos governos estaduais, municipais e pelas próprias instituições
educacionais voltadas à formação de professores para o uso das tecnologias
digitais de informação e comunicação (TDIC), abrangendo,
predominantemente, os profissionais da educação básica, o que não
significa que a exclusão do ensino superior. Percebe-se que, ano a ano, a
113
discussão e aplicação das metodologias inovadoras associadas às tecnologias
vêm sendo ampliadas, sobretudo neste período de pandemia.
Porém, apesar de haver referencial teórico consistente sobre o uso
das tecnologias na educação e de haver esforços dos governos em oferecer
suporte à formação dos professores, as experiências nesta área ainda são
consideradas insuficientes nas práticas de ensino da maior parte dos
professores do país, ficando sobremaneira evidenciado nas dificuldades que
a educação brasileira tem enfrentado para continuar a oferta de ensino
durante a pandemia vigente.
De modo geral, foi possível observar a falta de uma cultura de
utilização de tecnologias no cotidiano educacional. Muitas instituições de
ensino realizaram uma pausa para refletir e buscar novas estratégias
pedagógicas, com o suporte das TDIC, para que fosse possível dar
continuidade às atividades, dentre elas, as aulas.
Desde o primeiro semestre de 2020, o ensino emergencial no Brasil
vem sendo mediado pelas tecnologias. Para a realização das aulas remotas,
não se pode afirmar que partimos do zero, considerando que a maior parte
das ferramentas digitais que vêm sendo utilizadas pelos professores já
existiam antes da pandemia. Todavia, o contexto alavancou a busca por
essas ferramentas e engajamento dos professores para conhecer as
ferramentas - do ponto vista técnico e pedagógico - para inseri-las em seu
planejamento.
Para Nóvoa e Alvim (2021, p. 03), “[...] a COVID-19 deu um
grande impulso a essas tendências, que se apresentam, agora, como uma
‘inevitabilidade’ para o futuro.” Neste sentido, a necessidade de formação
de professores abordando as TDIC mostrou-se como urgente e uma das
114
primeiras medidas a serem tomadas durante a pandemia para minimizar a
suspensão das atividades pedagógicas.
Dentre as tecnologias que ficaram mais evidentes, recentemente,
podemos apontar o pacote de aplicativos Google para a educação, que são
aplicativos de produtividade para ambientes computacionais, baseados em
computação em nuvem e voltados para atividades de comunicação e
colaboração (WITT, 2015). Esses têm sido muito utilizados por escolas e
universidades, trazendo diversas soluções para a educação, aproximando
escolas, gestores, professores, alunos e famílias na difícil e complexa tarefa
de ensinar e aprender, principalmente nesse momento de pandemia. Suas
contribuições são visíveis e têm influenciado os processos de organização
da educação com aplicativos de uso relativamente simples, dentre os quais
destacamos: Gmail, Agenda, Meet, Chat, Drive, Documentos, Planilhas,
Apresentações, Formulários, Sites, Grupos, YouTube e Sala de Aula.
Diante do exposto, compreende-se que o investimento nas
propostas de formação de professores focadas na preparação para a
utilização das metodologias inovadoras e/ou metodologias ativas, com o
suporte das tecnologias da educação, é um importante caminho a ser
trilhado. Buscamos, nesse caminho, sobretudo estabelecer novas relações
no processo de ensino e aprendizagem para ressignificar as nossas práticas,
desafio que nos convida a dialogar com uma cultura com a qual ainda
estamos nos familiarizando.
Assim, o presente trabalho aborda as potencialidades do Google
Sala de Aula, integrado a outros aplicativos Google. Trata-se de um dos
aplicativos mais utilizados na pandemia, apresentando-se como ferramenta
dinâmica, integradora, que dialoga com várias linguagens de comunicação,
permite a mediação do ensino e da aprendizagem e colabora com uma
educação mais interativa e menos tradicional.
115
GOOGLE
Sala de Aula
O Google Sala de Aula (GSA) ou Classroom, lançado no ano de
2014, é um aplicativo que objetiva funcionar como um ambiente virtual
de aprendizagem (AVA), assim como outras plataformas virtuais de
aprendizagem (Moodle, TelEduc, Canvas, Blackboard etc.). Todavia,
apresenta maior autonomia ao professor para que construa seus próprios
cursos e/ou disciplinas, permitindo, ainda, a integração com outros
aplicativos Google (Gmail, Agenda, Meet, Drive, Documentos, Planilhas,
Apresentações, Formulários, Sites, YouTube etc.) e facilitando os processos
de criação, de colaboração, de armazenamento em nuvem, de
comunicação, bem como de gestão e organização de conteúdos
educacionais.
Segundo Barros (2014), o GSA se apresenta como organizador
para armazenamento em nuvem, facilitando a relação entre alunos,
professores e conteúdos. Witt (2015) complementa que o GSA é um
sistema de gestão de sala de aula para professores, onde é possível gerenciar
várias classes, postar anúncios, compartilhar arquivos, dentre outras coisas.
Schiehl e Gasparini (2016, p. 6) reconhecem o GSA como “uma
sala virtual, onde o professor organiza as turmas e direciona os trabalhos,
usando ou não as demais ferramentas do Google Apps”.
Silva e Santos Júnior (2019, p. 1) relacionam o GSA “à construção
de estratégias didáticas e pedagógicas para orientação do processo de ensino
e aprendizagem e a organização de ambientes virtuais de aprendizagem
adaptáveis”. Relatam, também, o uso em diversas áreas do conhecimento
- Direito, Matemática, História, Química -, apontando, ainda, a
possibilidade de “disponibilizar materiais sobre os conteúdos preparados
em aula, inserir documentos, formulários, vídeos, apresentações, entre
116
outros” (SILVA; SANTOS JÚNIOR, 2019, p. 8), o que possibilita
atividades de interação, de organização e de orientação aos alunos.
De acordo com Carneiro et al. (2018, p. 401), o uso do GSA
constitui-se em prática metodológica diferenciada e empreendedora do
profissional docente em um ambiente escolar de educação
contextualizada".
Sousa Júnior et al. (2017), em estudo sobre o GSA e dispositivos
móveis, descreveram algumas vantagens do uso do aplicativo, tais como:
configuração simples e acesso restrito; fluxo de atividades sem papel;
melhoria na organização; feedback imediato; aprendizagem muito mais
colaborativa; e fácil acesso e segurança de uso. Segundo os autores, o GSA
“possibilitou aos alunos uma visão de que seus smartphones podem ser
uma importante ferramenta de trabalho e não apenas uma ferramenta de
diversão” (SOUSA JÚNIOR, 2017, p. 135).
Dicicco (2016) relata que o uso do GSA torna os estudantes mais
motivados para o aprendizado. Na mesma linha, Souza e Souza (2016),
apontam que o GSA aumenta o interesse, a interação e a colaboração entre
os alunos, favorecendo o processo de ensino e aprendizagem.
Para Santos et al. (2020, p. 49), em estudo sobre as possibilidades
e dificuldades quanto ao uso do GSA, a possibilidade de diversificação do
fazer pedagógico “trazendo dinamicidade e interatividade à sala de aula” é
destacada. Ainda na perspectiva de vantagens e desvantagens de uso do
GSA, Bilthauer e Gianotto (2021, p. 1) apontam como principal destaque
do aplicativo a facilitação da aprendizagem, possibilitando a “diversificação
metodológica ao aliar o uso dos recursos tecnológicos; a organização e
praticidade do ambiente; e a comunicação e interação;” No entanto,
ambos os trabalhos relatam como principal dificuldade, o acesso à internet
117
pelos alunos de escolas públicas, problemática bastante evidenciada
durante a pandemia de COVID-19, e também o uso de seus recursos.
Diante do exposto, fica evidente que o aplicativo Google Sala de
Aula se apresenta como importante ferramenta para melhoria dos
processos de ensino e aprendizagem, principalmente, quando utilizado de
forma planejada, valorizando os aspectos de interação e colaboração
professor-aluno-conhecimento.
Potencialidades do
GOOGLE
Sala de Aula
Como já apresentamos anteriormente, o GSA tem a intenção e
potencial para funcionar como qualquer plataforma de educação a
distância, sendo, dessa forma, um AVA, revelando, fortemente, a
perspectiva de construção e gerenciamento autônomos por parte dos
professores, independentemente do suporte de outros profissionais da
tecnologia da informação (TI).
O acesso ao GSA se dá de maneira bastante simplificada, a partir
da conta Google, sem necessidade de se criar novas contas de usuário,
diferentemente das demais plataformas. Como qualquer AVA, apresenta
muitas funcionalidades, dentre as quais, principalmente, a possibilidade de
integração aos demais aplicativos Google, o que já é, por si só, uma grande
vantagem.
O objetivo desta seção é apresentar as possibilidades de uso das
funcionalidades do GSA para a organização de um espaço educacional
virtual, de modo a potencializar as relações de ensino e aprendizagem por
professores e alunos. Dentre essas funcionalidades, listamos, com descrição
e imagens, as principais ferramentas que podem permitir seu uso, as quais
categorizamos da seguinte forma: ferramentas de comunicação;
118
ferramentas de configuração do ambiente; ferramentas de criação de
atividades; ferramenta de gestão de pessoas; e ferramenta de gestão de
notas.
Ferramentas de Comunicação
Sua principal ferramenta de comunicação é o “Mural” do ambiente
que tem a funcionalidade de um painel de avisos para professores e alunos,
funcionando de modo assíncrono e facilitando a comunicação. Nessa
ferramenta, é possível criar ou programar a postagem de avisos aos alunos,
permitindo que os estudantes interajam entre si e com os professores em
uma espécie de fórum de discussão, muito presente em outras plataformas
educacionais. Além disso, a partir do mural, também é possível ao
professor definir um link, que pode ser permanente ou renovável, para uma
webconferência através do Google Meet, um aplicativo de comunicação
síncrona integrado ao GSA e que poderá ser utilizado em todos os
encontros com os alunos.
O bloco denominado “Próximas atividades” é outra ferramenta de
comunicação que avisa aos estudantes sobre as atividades que necessitam
ser entregues ao professor, melhorando a organização da turma. Também
no mural, há a possibilidade de modificar o layout de imagem do ambiente
ou criar novo a partir de uma imagem externa ao GSA. A figura 1 apresenta
a ferramenta Mural do GSA.
119
FIGURA 1 - MURAL DO
GOOGLE
SALA DE AULA.
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
Ferramentas de Configuração do Ambiente
As ferramentas de configuração do ambiente GSA permitem ao
professor editar configurações, simples e avançadas, para gerenciamento de
turmas, de conteúdos e do processo educacional. Dentre as quais, o nome
da turma e sua descrição, o código da turma para convidar alunos para o
ambiente, por link ou por chave direta de acesso, às configurações de
visualização do mural, a ativação de link para o Google Meet, bem como
configurações de avaliação das atividades. Realizar planejamento a partir
dessas configurações é fundamental para explorar melhor as ferramentas de
criação do ambiente, como ilustram as figuras 2 e 3.
120
FIGURA 2 - ÍCONE DE CONFIGURAÇÃO DO AMBIENTE
GOOGLE SALA DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
FIGURA 3 - FERRAMENTAS DE CONFIGURAÇÃO DO AMBIENTE
GOOGLE SALA
DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
Ferramentas de Criação de Atividades
As ferramentas de criação de atividades permitem o uso pedagógico
mais planejado e intensificado do GSA, aumentando o potencial de
interação entre os envolvidos, melhorando a comunicação e permitindo a
criação de avaliações, a disponibilização de materiais, entre outras coisas.
A partir delas, é possível criar atividades, avaliativas ou não, e postar
materiais nos mais diversos formatos (textos, vídeos, áudios, links para sites
etc.). É, também, nessas ferramentas que se dá o processo de criação do
121
ambiente, integrado aos demais aplicativos Google vinculados ao GSA. A
figura 4 apresenta a tela principal da aba “Atividades” do GSA.
FIGURA 4 - TELA DA ABAATIVIDADES” DO AMBIENTE
GOOGLE SALA DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
A partir desta, é possível criar atividades, perguntas rápidas do tipo
enquete, usar tópicos para organização de todo o conteúdo em módulos
ou unidades, bem como ordenar os conteúdos conforme o professor
necessita, além de ocultar ou deixar visível as atividades criadas. Também,
na aba de atividades, é possível verificar a integração do GSA com (a) o
Google Agenda, um aplicativo de organização e comunicação, que auxilia
os alunos e professores com prazos de atividades postadas no ambiente, e
com (b) o Google Drive, um aplicativo para armazenamento em nuvem,
que organizará os conteúdos postados no GSA.
As ferramentas disponíveis nesta aba do GSA são: atividade;
atividade com teste; pergunta; material; reutilizar postagem; e tema, como
retrata a figura 5.
122
FIGURA 5 - FERRAMENTAS DE CRIAÇÃO DE ATIVIDADES NO AMBIENTE
GOOGLE SALA DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
Dentre as tarefas de criação, a ferramenta “Tema” permite ao
professor organizar os conteúdos em tópicos diferentes, otimizando o
ambiente, facilitando e orientando a aprendizagem dos alunos. Os nomes
dados aos temas são de livre escolha do professor, a depender da sua
disciplina e/ou curso. A figura 6 apresenta, simplificadamente, uma
organização em unidades.
123
FIGURA 6 - FERRAMENTA TEMA DO AMBIENTE
GOOGLE SALA DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
A ferramenta “Atividade” permite ao professor desenvolver
conteúdos no GSA, solicitando ao aluno que produza, também, algum
conteúdo educacional. É possível que seja atribuída uma nota a esta
atividade, tornando-a avaliativa, estabelecendo prazos de entrega,
vinculando a um tema específico do ambiente, além de, se houver
necessidade, selecionar alunos específicos que possam necessitar de
recursos de recuperação.
Uma grande facilidade da ferramenta é a sua integração com outros
aplicativos Google, permitindo que se insiram vídeos do YouTube, arquivos
do Google Documentos, do Google Planilhas, do Google Apresentações ou
qualquer outro material, em qualquer formato, que esteja armazenado no
Google Drive, além de arquivos nos mais diferentes formatos que estão em
seu computador e links para sites da web. Na figura 7, apresentamos uma
tela de configuração da ferramenta “Atividade”.
124
FIGURA 7 - FERRAMENTA ATIVIDADE DO AMBIENTE
GOOGLE SALA DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
A ferramenta “Atividade com teste" permite ao professor
desenvolver conteúdos no GSA, solicitando ao aluno que responda um
questionário elaborado a partir do Google Forms, mais um aplicativo
integrado ao ambiente e utilizado para elaborar avaliações dos mais
diferentes tipos. Para propor uma avaliação neste tipo de atividade, não é
necessário abrir o aplicativo do Google Forms, pois ao criar com a
ferramenta “Atividade com testes”, automaticamente, cria-se um
questionário em branco (blank quiz) para que se possa configurar e
elaborar as questões, utilizando várias linguagens de comunicação
(imagens, textos, vídeos, áudios etc.).
Assim como a ferramenta “Atividade”, citada anteriormente, os
demais aplicativos Google também podem ser integrados à ferramenta, com
as mesmas permissões de inserção de conteúdos que orientarão a atividade.
As figuras 8 e 9 apresentam uma tela de configuração da ferramenta
“Atividade com teste” e um exemplo de “Atividade com teste” criada para
como avaliação escrita (prova) e que foi aplicada com estudantes no nível
125
superior, contando com questões abertas e recursos audiovisuais como a
charge em imagem.
FIGURA 8 - FERRAMENTA ATIVIDADE COM TESTE DO AMBIENTE
GOOGLE
SALA
DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
FIGURA 9 - PROPOSTA DE AVALIAÇÃO ESCRITA (PROVA), A PARTIR DO
AMBIENTE
GOOGLE
SALA DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
126
Ainda sobre a elaboração da avaliação escrita (prova), além das muitas
linguagens de comunicação que podem ser apresentadas no documento, o
professor tem a opção de fazer questões objetivas, de múltipla escolha;
subjetivas, dissertativas, permitindo respostas curtas ou longas; configurar
como questão obrigatória (ou não) para o aluno; inserir a pontuação máxima
da questão; etc. No momento da correção das avaliações produzidas são
geradas informações, tais como: número de alunos que entregaram a avaliação
respondida; gráficos de notas da turma e média e percentuais de acertos em
cada questão. Assim sendo, há possibilidade de oferecer um feedback melhor
direcionado ao aluno em relação às suas respostas, orientando-o sobre como
corrigir, melhorar ou repensar a sua resposta. Ao final, o professor pode liberar
todas as correções para acesso ao feedback e os alunos serão notificados em seus
e-mails.
A ferramenta “Pergunta” permite ao professor elaborar uma única
questão, diretamente no GSA, sem integração com o Google Forms, com
resposta curta ou de múltipla escolha, do tipo enquete. Assim como as
anteriores, é possível, também, atribuir nota a esta atividade, tornando-a
avaliativa e utilizando as várias linguagens de comunicação. A figura 10
apresenta uma tela de configuração da ferramenta “Pergunta”.
FIGURA 10 - FERRAMENTA PERGUNTA DO AMBIENTE
GOOGLE
SALA DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
127
A ferramenta “Material” atua como um repositório de conteúdos,
permitindo a inserção de diferentes formatos e tipos de conteúdo,
integrado ou não aos demais aplicativos Google. É possível, com esta
ferramenta, criar uma espécie de biblioteca, geral ou temática, no GSA. A
figura 11 retrata uma tela de configuração da ferramenta “Material”.
FIGURA 11 - FERRAMENTA MATERIAL DO AMBIENTE
GOOGLE
SALA DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
A última ferramenta de criação do GSA é a “Reutilizar postagem”
que tem como função facilitar a inserção de conteúdos que já foram criados
anteriormente pelo professor em outros cursos/turma, evitando retrabalho
do professor, otimizando a produção de conteúdos educacionais. Com essa
ferramenta, é possível importar de outro curso qualquer conteúdo criado
nas ferramentas: atividade; atividade com testes; pergunta ou material. A
figura 12 apresenta uma tela de sua configuração.
128
FIGURA 12 - FERRAMENTA REUTILIZAR POSTAGEM DO AMBIENTE
GOOGLE
SALA DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
Ferramenta de Gestão de Pessoas
Esta ferramenta tem como principal função enviar convites a
professores colaboradores e alunos, incluir ou excluir participantes, bem
como estabelecer comunicação por e-mail, tendo em vista que é integrada
ao Gmail. Na figura 13, observamos a tela da aba Pessoas” do GSA.
FIGURA 13 - FERRAMENTA PESSOAS DO AMBIENTE
GOOGLE
SALA DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
129
Ferramenta de Gestão de Notas
A última ferramenta, retratada na figura 14, é a gestão de notas do
GSA na qual o professor pode ter uma visão geral da turma, como entrega
das atividades, notas e média geral da turma. É possível, ainda, ao professor
corrigir as atividades e enviar feedback de tarefas.
FIGURA 14 - FERRAMENTA PESSOAS DO AMBIENTE
GOOGLE
SALA DE AULA
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).
Considerações Finais
Conforme mencionamos, o Google Sala de Aula trabalha de modo
integrado a outros aplicativos Google. Consideramos esse ponto como uma
das principais potencialidades da ferramenta, trazendo dinamismo ao
ambiente, melhorando a comunicação e evitando a dependência de
softwares externos aos aplicativos Google. Outro diferencial, se comparado
a outras plataformas, é que o Google Sala de Aula não requer instalação de
softwares, uso de servidores de dados, tampouco a dependência de
profissionais de TI para configurar o ambiente, considerando que o
professor é capaz de gerenciar de maneira autônoma o ambiente,
explorando-o e planejando sua utilização de modo diversificado e
dinâmico, caso deseje.
130
As ferramentas digitais da educação seguem sendo suportes do
ensino e da aprendizagem, não substituindo a mediação do professor ou
resolvendo os problemas de ensino e de aprendizagem tão presentes em
nossa educação. O uso adequado, a utilização do potencial destas
ferramentas cabe, sobretudo, aos órgãos gestores responsáveis pela
educação e às instituições de ensino. Deve partir deles a proposta de ações
concretas que possam habilitar os professores e os alunos para a utilização
segura e eficiente destes recursos.
O uso das ferramentas por si só não traz mudanças nas formas de
ensinar e aprender. O Google Sala de Aula pode tanto ser utilizado como
mero repositório de conteúdos, reforçando o que já possuímos, como pode
levar o professor a ressignificar suas práticas de ensino, explorando
possibilidades interligadas à ferramenta e diferentes formas de
comunicação que se apresentam e devem permanecer para além do ensino
remoto em momento pandêmico.
Apesar de compartilhar informações relevantes sobre o uso do
Google Sala de Aula como ferramenta integradora e potencializadora do
ensino e aprendizagem, é importante mencionar que a pandemia
evidenciou, ainda mais, a disparidade social do país, também no que tange
à inclusão digital, impedindo, muitas vezes, que estudantes em condições
sociais menos favorecidas, sem acesso às tecnologias digitais pudessem
desfrutar dessas oportunidades. Sobre isso, Lévy (1999) destaca que, ao
passo que a comunicação avança, corre-se o risco de ampliar também a
exclusão dessas classes menos favorecidas, sem acesso a essas tecnologias,
fato bastante evidenciado em nosso país.
A dificuldade de acesso à internet de qualidade por parte de uma
boa parcela de alunos e, também, de professores evidencia a exclusão digital
latente no Brasil. Para que possamos, efetivamente, incorporar uso
131
pedagógico dessas ferramentas digitais, dentre elas, o Google Sala de Aula,
explorando suas potencialidades, é preciso que todos (instituição,
professor, aluno) tenham bons equipamentos tecnológicos e acesso à
internet disponíveis, ou seja, o mínimo de infraestrutura adequada, que
permita, inclusive, a presença e interação de todos os indivíduos envolvidos
nas atividades síncronas, por exemplo, que acontecem em tempo real, além
das assíncronas.
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135
Desafios Docentes da Escola Técnica na Pandemia:
Desbravando as Metodologias Ativas e Recursos
Tecnológicos para as Aulas Remotas
Hermínia Rita Rosalem MARTINS
14
Introdução
Em 18 de março de 2020, com a chegada da pandemia no Brasil e
o fechamento das escolas, os docentes foram colocados em teletrabalho,
conforme orientações governamentais. Dessa forma, o ensino remoto
empreendeu mudanças na educação e revelou que não estávamos
preparados para uma mudança radical. Segundo Lévy (1999), Pereira et al.
(2007), Santos (2015) e Couto et al. (2017) deve-se haver urgência para
reformular a trajetória dos procedimentos e instrumentos didáticos da
educação.
Neste momento, a tecnologia se colocou ainda mais a favor da
educação, através dos smartphones/notebooks/tablets, para desenvolver as
competências necessárias ao aprendizado dos alunos. Logo, foi detectada a
fragilidade da falta de equipamentos tecnológicos e de internet de
qualidade para acessar a plataforma Teams, por alguns alunos.
14
Especialista em Informática em Educação / Professora do ensino médio e técnico de Escola
Técnica (Etec) Jacinto Ferreira de Sá / Ourinhos/SP / e-mail: rita.rosalem@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p135-148
136
A tecnologia em rede e móvel e as competências digitais são
componentes fundamentais de uma educação plena. Um aluno não
conectado e sem o domínio digital perde importantes chances de
informar-se, de acessar materiais muito ricos disponíveis, de
comunicar-se, de tornar-se visível para os demais, de publicar suas
ideias e de aumentar sua empregabilidade futura. (MORAN, 2017, p.
2).
Considerando o relato de experiência aqui apresentado, felizmente,
na Etec Jacinto Ferreira de Sá, apenas 2% dos alunos não tinham acesso à
internet e não possuíam equipamentos que suportassem a plataforma
Teams. Tais alunos buscavam as atividades impressas na escola e as
devolviam dentro dos prazos estabelecidos (mensais/quinzenais) para os
professores realizarem as correções.
A partir deste período de 2020, vivenciamos momentos contínuos
de aprendizagem dos professores, para ministrarem as aulas on-line,
aprenderem a usar a nova ferramenta de trabalho remoto e construírem
um ensino diferente do que estavam acostumados. Neste momento, o
ensino presencial deixou de existir, e entrávamos na casa dos alunos por
meio da câmera do computador ou do smartphone, porém com algumas
inquietações em virtude do distanciamento. A maioria dos alunos não
abria a câmera, não participava das aulas e muitos nem entregavam as
tarefas solicitadas para postagem na plataforma Teams. Foram momentos
desafiadores para alunos e professores aprenderem a lidar com os recursos
tecnológicos.
E com isso, passou-se o 1º semestre. O conselho de classe virtual
foi uma experiência nova para todos, tendo um resultado de aprendizagem
muito aquém do que se desejava. Porém, os alunos que conseguiram
entregar as atividades foram promovidos, independentemente, da
137
construção de seu conhecimento. Um período atípico, inusitado para a
educação, para os educadores e, principalmente, para os alunos no tocante
ao desempenho real da aprendizagem, com muitos casos de abandono
devido a não adaptação ao ensino remoto.
Chegamos ao segundo semestre de 2020 sem perspectivas de
retorno presencial, no auge da pandemia. Observamos os números de
mortos crescendo, a ansiedade aumentando e a saúde mental dos
professores, alunos e comunidade escolar abalada. Foram momentos para
a coordenação pedagógica e orientação educacional buscarem suporte
psicológico através de palestras e masterclass com temas que amenizassem
todos esses problemas, sobretudo, os de natureza emocional.
No apogeu da pandemia, a educação prosseguia sem perspectiva
de retorno presencial e finalizou o ano no ensino remoto, com muitos
alunos retidos, evadidos e baixo rendimento. Contudo, ainda tivemos um
percentual razoável de alunos com bom desempenho pedagógico que se
dedicaram a realizar as atividades, participar das aulas remotas, sanar
dúvidas durantes as aulas ou deixar perguntas no chat da plataforma para
os professores.
Em meio à pandemia do coronavírus, experimentamos, em 2021,
o ensino híbrido, desejando o retorno dos estudantes de forma presencial,
principalmente, devido às dificuldades pela falta de acesso às plataformas
on-line e/ou falta de equipamentos eletrônicos. No caso das Etecs, a
proposta de ensino híbrido se apresentou com o pressuposto de que os
alunos estudassem a teoria em casa e levassem, para as aulas presenciais,
apenas suas dúvidas para trabalharem com os professores, desenvolvendo a
parte prática nos laboratórios da escola, no caso das habilitações técnicas.
138
Para atender a necessidade dos docentes, foram realizadas diversas
capacitações internas para metodologias ativas, visando à melhoria das
aulas para comportar a demanda dos alunos, que tinham expectativas de
aulas mais atrativas, nesse momento virtual. Dessa forma, resolveu-se o
problema das aulas teóricas, mas as práticas ainda ficaram com muitas
lacunas, de modo que nossos anseios e expectativas em relação à
modalidade híbrida crescia cada vez mais.
Esses dois anos foram e estão sendo de superação pelos docentes
que se engajaram em aprender novas tecnologias de ensino, além de criar
aulas por vídeo e usar aplicativos como recursos pedagógicos em um
período tão curto, sem deixar de trabalhar as competências
socioemocionais como forma de minimizar os impactos advindo do
contexto pandêmico.
Reflexão Sobre o Papel da Escola
A escola precisa repensar o seu papel e a sua atuação diante deste
novo cenário, pois os conhecimentos científicos já não são mais, por si só,
suficientes para assegurar uma formação de qualidade. Com isso, faz-se
relevante o desenvolvimento de outras dimensões humanas, de habilidades
para a resolução de problemas e para a convivência, uma vez que elas
promovem a autonomia dos jovens e adolescentes, preparando-os para os
desafios da contemporaneidade. Conforme o sociólogo Bauman (2003),
vivemos na era da pós-modernidade, ou modernidade líquida, que ele
define como uma época de liquidez, de volatilidade, de incerteza e
insegurança.
Sabe-se que ensino híbrido, ou blended learning, é uma das
tendências da educação do século XXI. De acordo com Sassaki (2015), tal
139
modalidade trata-se da mistura entre o ensino presencial e as propostas de
ensino on-line, integrando a educação à tecnologia, que já permeia
normalmente a vida dos estudantes.
Atualmente, discute-se muito o ensino híbrido, porém esse
conceito já é antigo, mas pouco percebido pela limitada quantidade de
espaços de trabalhos além da sala de aula.
São muitas questões que impactam o ensino híbrido, o qual não se
reduz a metodologias ativas, o mix de presencial e online, de sala de
aula em outros espaços, mas que mostra que por um lado, ensinar e
aprender nunca foi tão fascinante, pelas inúmeras oportunidades
oferecidas, e, por outro, tão frustrante, pelas dificuldades em conseguir
o que todos desenvolvam o seu potencial e se mobilizem de verdade
para evoluir sempre mais. (MORAN, 2015, p. 28).
No Brasil, principalmente nas escolas públicas, os alunos não
possuem a cultura de estudar previamente e levar para a sala de aula apenas
suas dúvidas para discutir com os docentes ou realizarem tarefas práticas
em ambiente próprio. Entretanto, como resolver esse problema? Uma das
maneiras foi oferecer o ensino híbrido, mesmo que o público não esteja
preparado para usufruir dessa modalidade plenamente.
Diante de tudo isso, recorreu-se à metodologia de sala de aula
invertida com a intencionalidade de que os alunos estudassem em casa,
realizassem as tarefas e, no momento presencial, pudessem sanar as
dúvidas. Assim, o objetivo principal era tornar esse momento o mais
efetivo possível para o desenvolvimento da aprendizagem. Dessa forma, o
aluno é estimulado a pensar criticamente, a trabalhar em grupo e a ver mais
sentido no que é ensinado, assumindo a posição de protagonista.
140
Já o professor ganha um papel de facilitador do conhecimento,
diminuindo o tempo de aulas expositivas. Com isso, o educador tem mais
tempo para dar atenção personalizada às necessidades dos estudantes e
acompanhar de maneira mais próxima a evolução de cada um:
Os métodos tradicionais, que privilegiam a transmissão de informações
pelos professores, faziam sentido quando o acesso à informação era
difícil. Com a Internet e a divulgação aberta de muitos cursos e
materiais, podemos aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e com
muitas pessoas diferentes. Isso é complexo, necessário e um pouco
assustador, porque não temos modelos prévios bem-sucedidos para
aprender de forma flexível numa sociedade altamente conectada
(ALMEIDA; VALENTE, 2012 apud MORAN, 2015, p. 16).
Por meio destas afirmações, sabemos que a pandemia impulsionou
a educação a se posicionar para as mudanças, mas essa necessidade já era
idealizadamuito tempo. Portanto, é importante repensar como a
aplicação da educação híbrida pode ocorrer de forma coerente e
responsável para obter o melhor das duas modalidades (presencial e
remota). Nesse sentido, vislumbra-se uma educação híbrida com
efetividade no processo de construção de conhecimentos, quebrando
paradigmas e subindo alguns degraus na qualidade da educação brasileira.
Materiais e Métodos
Desde março de 2020, foram iniciadas capacitações pela instituição
Centro Paula Souza (CPS) para todos os docentes, para utilizar a
plataforma Teams, que seria o suporte tecnológico para as atividades
remotas com alunos, reuniões, comunicações com a comunidade interna e
141
externa. A partir desse momento, as aulas foram migradas para essa
plataforma, de modo que os docentes foram capacitados para ministrá-las
de forma síncrona e assíncrona.
Finalizado o 1º semestre 2020, foi realizada uma pesquisa por meio
de formulário do OneDrive, junto aos docentes para coletar dados das
necessidades de capacitações para auxiliar nas práticas pedagógicas e
conhecer outros recursos tecnológicos que contribuíssem para as aulas
remotas.
As capacitações escolhidas pelos docentes foram: produção de
videoaulas, produção de vídeos curtos, sala de aula invertida, aprendizagem
por projetos, softwares simuladores, conforme figuras 1 e 2.
FIGURA 1 PESQUISA COM DOCENTES DA ETEC JACINTO FERREIRA DE SÁ
Fonte: Organizado pela autora (2021)
142
FIGURA 2 PESQUISA COM DOCENTES DA ETEC JACINTO FERREIRA DE SÁ
Fonte: Organizado pela autora (2021)
Foram realizadas capacitações para os docentes no 2º semestre
2020 durante as reuniões pedagógicas e de planejamento, na plataforma
Teams, utilizados vídeos do Youtube para desenvolver conhecimento sobre
ensino híbrido e metodologias ativas. O resultado dessas capacitações
foram aulas com melhor planejamento e uso dos recursos tecnológicos e
metodologias ativas que contribuíram para melhor aprendizagem dos
alunos.
143
Resultados e Discussões
No ano de 2020 e no 1º semestre de 2021, os professores tiveram
algumas capacitações para atuar nas aulas remotas. Grande parte delas
foram voltadas para as metodologias ativas, tais como: aprendizagem
baseada em problemas, aprendizagem entre times, aprendizagem por
gamificação, sala de aula invertida, mão na massa, aprendizagem
colaborativa, aprendizagem baseada em projetos.
Todas foram desenvolvidas em formato de oficinas virtuais, por
meio do Padlet, PowerPoint e confecção de vídeos curtos de modo que as
formações foram momentos intensos e gratificantes, pois a maioria dos
educadores superou suas dificuldades com a tecnologia e aprendeu a usar
novos aplicativos em prol da qualidade do ensino e de uma necessidade
emergente.
Já para o retorno das aulas em 2021, com a proposta de 35% dos
alunos, a escola foi toda organizada para recebê-los dentro das medidas
sanitárias de segurança. Assim, foram priorizados os alunos que
apresentavam defasagens, nos 1º e 2º semestres de 2020, para as
habilitações técnicas em química, mecânica, edificações, eletrônica,
eletrotécnica, redes de computadores e Ensino Técnico Integrado ao
Ensino Médio (ETIM) em informática para internet, os alunos
frequentaram a escola por poucos dias, porém através do ensino híbrido.
Quanto mais aprendemos próximos da vida, melhor. Teóricos como
Dewey (1950), Freire (2009), Rogers (1973), Novack (1999), entre
outros, enfatizam, há muito tempo, a importância de superar a
educação bancária, tradicional e focar a aprendizagem no aluno,
envolvendo-o, motivando-o e dialogando com ele (MORAN, 2021, p.
1).
144
É perceptível que o ensino híbrido trouxe mudanças e, quando
ocorrer o retorno integral às atividades presenciais, a educação deverá ser
repensada. Essa temática está sendo discutida em diversos eventos da
educação, e visa a aplicação das metodologias que colocam os alunos como
ativos, protagonistas de modo que o momento pedagógico seja mais efetivo
no que tange à aprendizagem.
Quando se fala em ensino híbrido, Fernando Trevisani, pesquisador e
professor da pós-graduação em Metodologias Ativas do Instituto
Singularidades, explica que o online do modelo se refere ao uso de
tecnologias digitais para a coleta e análise de informações pelo professor
para promover a personalização do ensino (BIMBATI, 2021, n. p.).
Para que a personalização do ensino ocorra, é importante levar em
consideração a realidade das escolas públicas, e o percentual de alunos que
não possuem recursos tecnológicos e acesso à internet. Nesse caso, para
alguns estudantes a proposta do ensino híbrido, a parte on-line, se torna
uma barreira causando desinteresse e até abandono dos estudos.
Com a pandemia do coronavírus no Brasil, essas lacunas da
educação ficaram transparentes para a sociedade. Entretanto, para a Etec
Jacinto Ferreira de Sá atingiu 2% dos estudantes, mesmo assim foram
sanadas pela estratégia da escola em emprestar computadores para os
alunos levarem para casa, e doações de smartphones por empresas para
empréstimo, e chips para acesso à internet doados aos alunos pelo Centro
Paula Souza (CPS).
145
Considerações Finais
Os professores se assumiram como autores de uma nova história e
se propuseram a aprender, reaprender, aperfeiçoar suas metodologias de
ensino e se tornaram alunos para ensinar melhor por meio dos ensinos
remoto e híbrido. Dessa forma, conseguiram extrair de um momento
desafiador experiências positivas, mesmo diante de uma pandemia que tem
encerrado a vida de muitas pessoas, desde 2020.
A partir desses momentos de formação aqui mencionados, os
educadores puderam elaborar aulas com outras expectativas e resultados
muito positivos, saindo da zona de conforto, quebrando paradigmas e
superando o medo de inovações. Novas perspectivas educacionais foram e
ainda serão incorporadas ao cotidiano escolar. Precisamos nos aperfeiçoar
e buscar melhorias para que a educação adquira proporções relevantes e
estabeleça significado aos estudantes.
Espera-se que todas essas mudanças tragam um ganho efetivo para
a educação e que seja o momento de usar a tecnologia em prol dela, com
olhar para novas políticas educacionais brasileiras para diminuir a exclusão
tecnológica evidenciada durante a pandemia.
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148
149
Resgatando Estudantes com Indícios de Abandono e Evasão
Escolar com a Prática dos Multiletramentos
Daniel Vieira SANT'ANNA
15
Daniele de Fátima Fuganholi Abiuzzi SANT'ANNA
16
Robson Galdino da SILVA
17
Introdução
A busca constante pela efetiva participação dos estudantes no
contexto escolar é um dos diversos itens que compõem a prática docente.
Os professores, munidos de um vasto repertório pedagógico, têm
condições de oportunizar a continuidade de seu processo escolar a seus
alunos, de forma significativa e reflexiva, minimizando os indícios de
abandono e evasão escolar.
Muito embora, no Artigo 205, a Constituição Federal do Brasil
determine que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988) e que este
15
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
daniel.santanna@unesp.br
16
Mestranda em Educação / Docência para Educação Básica / PPGE / Faculdade de Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Bauru/SP / e-
mail: daniele.abiuzzi@unesp.br
17
Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior / Bacharel em Sistemas de
Informação / Lençóis Paulista/SP / e-mail: robsongaldinodasilva@gmail.com
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p149-166
150
direito esteja determinado, como obrigatoriedade à Educação Básica dos 4
aos 17 anos, a partir da Emenda Constitucional nº 59/200926, ainda é
possível verificar casos de abandono e evasão escolar, principalmente no
ensino médio.
De acordo com Brasil (2020b), a partir de pesquisa realizada com
mais de 33 mil jovens com idades entre 15 e 29 anos, revelou-se que quase
30% deles “[...] pensam em não voltar para a escola, mesmo quando a
pandemia passar. Além disso, entre os que estão se preparando e planejam
fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), 49% já pensaram em
desistir de fazer as provas”.
A partir desses dados, é preciso analisar os fatores que impactaram,
diretamente e indiretamente, os processos de ensino e aprendizagem
durante os momentos de crises, principalmente quando se trata de
pandemias.
Assim, o constante levantamento e análise, sob diferentes ângulos, dos
fatores de influência no processo de ensino-aprendizagem são
fundamentais para a determinação, avaliação e combate dos problemas
da educação brasileira.
O reconhecimento dos elementos que geram avanços e atrasos em uma
visão macro no contexto escolar é o primeiro passo para a mudança do
paradigma da escola contemporânea. (SALVATIERRA, 2019, p. 3).
Devido à pandemia do vírus COVID-19, foram adotadas formas
de distanciamento e isolamento social. Considerando este cenário, os
governantes tomaram medidas “provisórias”, como a implantação do
Ensino Remoto Emergencial (ERE) e a flexibilização dos 200 dias letivos
na Educação Básica.
151
Em virtude da situação de calamidade pública decorrente da pandemia
da COVID-19, a Medida Provisória nº 934/2020 flexibilizou
excepcionalmente a exigência do cumprimento do calendário escolar
ao dispensar os estabelecimentos de ensino da obrigatoriedade de
observância ao mínimo de dias de efetivo trabalho escolar, desde que
cumprida a carga horária mínima anual estabelecida nos referidos
dispositivos, observadas as normas a serem editadas pelos respectivos
sistemas de ensino. (BRASIL, 2020a, p. 63).
Com a adoção do ERE, os profissionais da educação tiveram de se
apoiar nos conceitos da cultura digital para a continuidade de seus afazeres
docentes. Estes conceitos são apresentados por Kenski (2012), como a
prática que abrange habilidades relacionadas ao ler e escrever no contexto
digital e, principalmente, na internet como possibilidade de acesso,
integração e articulação das pessoas.
A Relação Entre a Evasão Escolar e o Projeto Busca Ativa Escolar
Em tempos de crises, a educação é um dos primeiros setores a
serem impactados. No atual contexto da pandemia, algumas medidas de
restrição, nas instituições de ensino, foram adotadas, como afirma Pujol
(2020), quando se refere ao fechamento das escolas e a suspensão das aulas
presenciais, que impactaram aproximadamente 1,6 bilhões de estudantes.
As causas e suas interconexões que ocasionam o abandono dos
alunos no ensino são bastante variadas. Na pesquisa apresentada por Soares
et al. (2015), estes fatores são demonstrados num modelo conceitual e
resumidas conforme se apresenta:
152
Esses são divididos conceitualmente em três grupos, que serão
denominados dimensões. Na primeira dimensão, encontram-se os
fatores ligados à escola como: a qualidade da escola percebida pelo
aluno, a falta de qualidade do trabalho do professor percebida pelo
aluno e a escolha da escola por qualidade/afinidade. Na dimensão do
aluno, tem-se os fatores característicos dos alunos, como as dificuldades
nas disciplinas, as expectativas futuras e características
sociodemográficas. Por último, elencaram-se os fatores ligados à
família, como condição socioeconômica, escolaridade dos pais e o
interesse e incentivo dos responsáveis nos estudos. (SOARES et al.,
2015, p. 764).
Corroborando com a ideia de que as causas da evasão escolar são
variadas, temos Castelar et al. (2012):
(i) pobreza, pois muitas vezes as crianças e adolescentes precisam
complementar a renda familiar e deixam a escola; (ii) pelo fator
cultural, devido aos pais não serem alfabetizados, existe uma falta de
estímulo dentro de casa; (iii) doenças, pois famílias pobres não
possuem acesso a saneamento básico e outras infra-estruturas, levando-
as a ter saúde precária e, consequentemente, abandonarem a escola.
(CASTELAR et al., 2012, p. 3).
Vale ressaltar que a evasão escolar ocasiona prejuízos sociais e
acadêmicos, expondo a fragilidade do sistema educacional. Nesse sentido,
cabe à escola analisar as estratégias de ensino e aprendizagem adotadas.
Em uma escala micro e mais específica, o conhecimento dos
componentes que interferem no processo de ensino-aprendizagem
podem proporcionar dados que podem ser utilizados para a formulação
153
de estratégias visando à melhora na qualidade e desempenho do
processo pelo professor, por exemplo. (SALVATIERRA, 2019, p. 3).
Desta maneira, pode-se entender a intencionalidade e a demanda
na compreensão das intervenções pedagógicas adequadas para o presente
trabalho educativo. Andrada (2018, p. 10), num dado ponto de sua
pesquisa, ao sugerir uma “mudança na metodologia de aula”, apresenta
que parte dos alunos relataram como desejo de mudança “[...] aspectos
referentes à metodologia que os docentes utilizam para dar aula, sendo as
respostas mais comuns: “atividades diferenciadas”; “aulas dinâmicas”;
“aulas fora da sala”; “aulas que se assemelham ao projeto de vida do
estudante”, entre outras.”
Compreende-se que a escola tem um papel fundamental, atuando
como uma mola propulsora para a formação do aluno e que os reflexos
desta “parada” nas aulas presenciais refletirão por muito tempo, mas o
que se observa é que a pandemia ocasionada pelo COVID-19 veio
tornar ainda mais evidente nossa fragilidade em relação à área
educacional, e mais ainda pela utilização, às vezes equivocada, dos
recursos das TDIC disponíveis. (SANT'ANNA, 2021, p. 122).
Ademais, Andrada (2018, p. 11) afirma que os professores das
turmas, “[...] os quais deveriam mediar esse processo através de uma
metodologia adequada, acabam por caminhar na contramão desse dever,
desacreditando os alunos de suas reais possibilidades, visto que eles mesmos
não acreditam que esta forma de ensino promova aprendizagem”, o que
nos leva a refletir sobre a parcela de responsabilidade da escola, sobre o
aproveitamento dos alunos neste contexto escolar.
154
Para Anjos e Miguel (2020, p. 904-905), “a realidade brasileira tem
evidenciado que o baixo rendimento e a desistência dos alunos são
consequências também do distanciamento das famílias o que inviabiliza o
prosseguimento dos estudos dos discentes”. Deve-se, também, considerar
a questão da necessidade de trabalho destes estudantes. Segundo Salata
(2019, p. 120), “[...] o efeito do trabalho com carga horária elevada é
consideravelmente maior para os jovens provenientes de famílias com
perfil socioeconômico mais baixo, cujas probabilidades de abandono são
mais altas”.
Outro aspecto que se mostrou dificultador a esta prática foi a
complexidade dos conteúdos abordados, no qual os alunos apresentavam
dificuldades em compreender os assuntos trabalhados e, por outro lado, as
famílias, muitas vezes, não conseguiam auxiliá-los na resolução dos
mesmos, seja pela falta de conhecimentos prévios ou pela falta de didática
para ensinar seus filhos.
Corroborando com este aspecto, SILVA et al. (2020, p. 1019)
apresentam a relação entre a questão financeira, a evasão e abandono
escolar, apontando o Programa Bolsa Família (PBF) como um importante
aliado a esta questão, obtendo “[...] destaque entre as ações governamentais
que garantem a manutenção do aluno na escola devido ao programa de
transferência de renda atrelado ao desempenho e a manutenção do aluno
na escola”.
Todos estes fatores implicaram na falta de devolutiva de
participação dos alunos junto às suas unidades escolares, o que alavancou
os índices de abandono e evasão escolar neste período. Sendo assim, é
necessário compreender as problemáticas da evasão escolar que afetam os
processos do desempenho tendo, como os fatos de influência, o próprio
aluno, a família, a escola e o seu contexto social.
155
Salientamos que o intuito desta pesquisa não é encontrar um fator
determinante para a condição da evasão escolar, nem, tampouco, apontar
culpados para esta condição. Para Melo e Santana (2020, p. 3), “nesse
sentido, exalta-se a importância da reflexão para a superação das inverdades
que permeiam as teorias postas historicamente sobre evasão e abandono
escolar”. Devemos levar em consideração as questões sociais e econômicas
que acompanham nossos estudantes e as condições familiares, e não nos
direcionarmos para fatores da meritocracia.
Como resposta a esta situação, alguns governantes adotaram o
projeto Busca Ativa Escolar, desenvolvida pelo Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF), em parceria com a União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Colegiado Nacional de
Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e o Conselho
Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), que, além de
identificar os alunos com indícios de abandono, principalmente escolar,
visa resgatar estes estudantes, novamente incluindo-os no campo da
educação.
O Projeto Busca Ativa Escolar é um importante instrumento para
se pensar nas ações e políticas públicas para o enfrentamento da exclusão
escolar. Por meio dela, cada profissional tem uma determinada função que
contempla desde “[...] a identificação de uma criança ou adolescente fora
da escola ou em risco de abandono, até a tomada das providências
necessárias para o seu atendimento nos seus diversos serviços públicos, sua
rematrícula e sua permanência.” (BUSCA ATIVA ESCOLAR, 2021,
n.p.).
Desde o segundo semestre de 2020, diversos municípios aderiram
ao Projeto Busca Ativa Escolar, reconhecendo sua importância e relevância
156
para a continuidade dos trabalhos acadêmicos na Educação Básica e
auxiliando no combate dos indícios de abandono e evasão escolar.
Dificultadores da Continuidade Acadêmica
Com o advento da pandemia do vírus COVID-19, no ano de
2020, as restrições sanitárias e o distanciamento social levaram os
governantes a determinarem a suspensão das aulas presenciais,
inviabilizando as práticas presenciais cotidianas de ensino.
Algumas possibilidades foram adotadas para a continuidade do
processo educacional, como o ERE, que possibilitou aos professores,
através do acesso à internet, conectarem-se aos seus alunos de maneira
síncrona e assíncrona. Porém, muitos empecilhos foram detectados para a
boa condução desta prática, como falta de recursos de infraestrutura e da
própria conexão com a internet, tanto por parte dos estudantes como dos
professores.
Em contrapartida, temos as mazelas do alunado e do professorado, seja
na educação básica, seja na universitária: a falta de conexão, as
limitações de equipamentos, a falta de ambiente tranquilo e de tempo
de uso dos equipamentos quando há muitos familiares para um só
computador. Do lado do(a) professor(a), pesa contra o uso de seus
próprios equipamentos e conexão, em geral sem nenhum amparo
financeiro da instituição para a qual trabalha, e a exigência de maior
tempo de preparação mesmo se mantendo o mesmo tempo e número
de aulas. (ROJO, 2020, p. 41).
Diante disso, as novas condições impuseram, aos professores, a
busca por outras formas de organização do trabalho pedagógico para
157
manter a rotina de estudos perante os alunos. Segundo Coscarelli (1998,
p. 24), “algumas vezes o modo como ensinamos é tão distante da realidade,
isto é, tão diferente da maneira como as coisas realmente funcionam que
não há porque aprender aquilo. E acredite se quiser, nossos alunos sabem
disso e na maioria das vezes nós, professores, não sabemos”. Estes fatores
implicaram na necessidade de mudança, não somente do método, mas
também da metodologia aplicada ao contexto escolar.
A Aprendizagem Através do Letramento Multimodal e dos
Multiletramentos
A partir deste cenário pandêmico, os professores foram orientados
a fornecerem formas diversificadas de apresentação dos conteúdos
curriculares que ministravam, apoiados nas teorias e práticas dos
multiletramentos, fornecendo condições dos alunos compreenderem os
assuntos abordados e, assim, darem devolutivas à escola.
Os multiletramentos são os letramentos viabilizados pelo digital que,
em geral, apresenta textos multimodais viabilizados por diversas
linguagens (imagem estática e em movimento, música, áudios diversos,
texto escrito e oral) e, portanto, exigem saber interpretar várias
linguagens atualizadas em conjunto. Não basta mais o letramento do
impresso: são necessários multiletramentos. (ROJO, 2020, p. 40).
Sendo assim, as práticas multiletradas se relacionam às Tecnologias
Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), uma vez que, no contexto
da pandemia e devido ao distanciamento social, as aulas tiveram que aderir
a novos suportes viabilizando interações, como as plataformas educacionais
e Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). Nota-se que as práticas
158
multimodais, nos espaços digitais, têm o propósito de envolver novos
desafios. Para Bacich e Moran (2018, p. 49), “nesse panorama, o professor
torna-se, cada vez mais, um gestor e orientador de caminhos coletivos e
individuais, previsíveis e imprevisíveis, em uma construção mais aberta,
criativa e empreendedora”.
O que ocorre é: se o(a) docente resolver se valer das propiciações
multimodais e das diversas linguagens que o digital pode combinar,
certamente suas aulas ficarão muito mais interessantes. E se, melhor
ainda, ele(a) dividir com os(as) alunos(as) o protagonismo e lhes
permitir participar como criadores, certamente as aulas serão mais
envolventes ainda. (ROJO, 2020, p. 40-41).
A importância das tecnologias e mídias no contexto social das
pessoas é evidente, mas não basta incluir as tecnologias no contexto
educacional se o método tradicional de ensino e antigas concepções se
mantém. Para que os estudantes tenham condições de compreenderem
efetivamente os conteúdos educacionais abordados, é necessário que os
professores explorem os recursos que estes estudantes têm disponíveis,
sejam eles produzidos para fins educacionais ou não.
Se, por um lado, esse panorama pode parecer problemático, por outro,
encontramos amparo em um aspecto que, não por coincidência, es
na própria natureza da multimodalidade discursiva: os ambientes
virtuais como as interfaces de aplicativos de bate-papo, as plataformas
de redes sociais, os sites de notícias, entre inúmeros outros , gêneros
multimodais em sua essência, estimulam enormemente o resgate e a
construção de sentidos não na soma de significações, mas na ampla
159
percepção dos arranjos semióticos que dão forma à comunicação.
(OLDONI; FREITAS, 2018, p. 130).
A inclusão de práticas de ensino pautadas nos multiletramentos
permite um percurso pedagógico aos professores que transcende as
limitações do livro didático, favorecendo a aprendizagem e, por sua vez, a
devolutiva destas atividades realizadas pelos estudantes à escola,
minimizando os indícios de abandono escolar.
Poderiam ser trabalhadas sob o ponto de vista dos vários
multiletramentos que capacitariam os indivíduos a analisarem,
criticarem, problematizarem e experienciarem ativamente o mundo
que os rodeia com capacidade de promover a dignidade humana, a
empatia e a justiça social. (CARMO, 2021, p. 199).
Diante disso, ressalta-se, também, a importância da utilização dos
multiletramentos em âmbito escolar e sobre seu papel na construção da
criticidade dos educandos, pois leva em consideração o seu trabalho como
um instrumento para a leitura, muito além da palavra. Para Oldoni e
Freitas (2018, p. 129), “é justamente nesse espaço que cabe a discussão a
respeito do letramento multimodal, que tem como competência matriz a
manipulação de recursos semióticos variados na projeção e resgate de
sentidos”.
O que temos chamado de multimodalidade tem relação com as
linguagens e os recursos semióticos mobilizados para a composição de
um texto qualquer um e obrigatoriamente. Os textos que nos
interessam nesta oportunidade são constituídos de palavra ou letra e
160
imagem estática, que, por sua vez, modulam aspectos como a seleção
vocabular, a formação das frases (escolhas de tempo, modo, etc.),
informações necessárias ao gênero, entre outras, quando focalizamos a
linguagem verbal. (RIBEIRO, 2021, p. 108).
Acredita- se que, com a mudança na metodologia adotada pelos
professores, nas práticas pedagógicas e na aplicação dos conceitos dos
multiletramentos, os estudantes têm maiores possibilidades de
compreensão dos conteúdos educacionais, o que gera um aprendizado
significativo e reflexivo. Esta mudança de paradigma pode refletir,
diretamente e indiretamente, nos índices obtidos nas devolutivas destes
estudantes aos professores e na escola, o que proporcionaria uma melhora
significativa nos índices de evasão e abandono escolar vistos atualmente.
Considerações Finais
Sintetizando os dados coletados para este estudo, destacamos a
apresentação dos indícios de abandono, evasão escolar e a multiplicidade
de fatores que interferem no cenário. Dentre eles, propomos uma reflexão
sobre sua relação com a metodologia aplicada por professores, frente ao
cenário da pandemia do COVID-19 que, por estar descontextualizado do
projeto de vida dos estudantes, acaba por distanciá-los do ambiente escolar.
Trazemos uma discussão sobre os dificultadores relativos à
continuidade escolar, relacionado à necessidade de trabalho, falta de apoio
familiar, diversidade do contexto social, numa reflexão sobre as novas
demandas de ensino e aprendizagem, acesso e utilização dos recursos
tecnológicos digitais por parte dos professores e alunos.
161
Apresentamos o Projeto Busca Ativa Escola, aplicado por diversos
municípios brasileiros durante o momento pandêmico e sua contribuição
para o levantamento dos indícios de abandono e evasão escolar. A partir
destes dados, abrangemos propostas de mudança da prática docente,
apoiadas nas teorias dos multiletramentos, com a inserção de recursos
tecnológicos a fim de buscar novos caminhos metodológicos na prática
pedagógica.
Compreende-se que o aproveitamento dos alunos e seu
aprendizado significativo não sejam as únicas razões dos indícios de
abandono e evasão escolar. Todavia, uma mudança nas metodologias e a
adoção de novas práticas pedagógicas podem minimizar, de maneira
significativa, os índices aqui compartilhados, favorecendo a compreensão
dos conteúdos escolares pelos estudantes e possibilitando mudanças no
cenário atual.
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166
167
O Uso da Tecnologia Assistiva Para Favorecer a Participação
Escolar de Uma Criança com Paralisia Cerebral
Camila Boarini dos SANTOS
18
Introdução
A Paralisia Cerebral (PC) foi definida como um conjunto de
desordens motoras permanentes não progressivas, causadas por disfunções
do sistema nervoso central, que acometem o desenvolvimento de
habilidades sensório-motoras. O objetivo do tratamento da PC é melhorar
o desempenho motor, cognitivo e social do indivíduo, favorecendo sua
participação em atividades do cotidiano (CARVALHO, 2013; SILVA;
IWABE-MARCHESE, 2015; SANTOS et al., 2018).
As habilidades funcionais dos estudantes com PC podem sofrer
mudanças que contribuam para sua participação pela interferência da
idade, saúde geral e intervenções terapêuticas ou cirúrgicas. Estudos têm
documentado mudanças nas habilidades funcionais de crianças com PC
por meio do uso da Tecnologia Assistiva (DAY, 2007; ROCHA, 2013;
PIOVEZANNI et al., 2014; ROCHA et al., 2015; MARQUES et al.,
2015; BRACCIALLI et al., 2015; SANTOS et al., 2018).
A Tecnologia Assistiva, doravante TA, atualmente, é conceituada
como área de conhecimento interdisciplinar, composta por produtos,
18
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
camila.boarini@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p167-180
168
recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que buscam
promover a funcionalidade na atividade e participação, de pessoas com
deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando autonomia,
independência, qualidade de vida e inclusão social (BRASIL, 2007).
Dessa forma, a TA correlaciona aspectos da saúde, educação e da
tecnologia, que atrelada ao contexto escolar, proporciona a participação e
desenvolvimento dos estudantes com deficiência, ao permitir ampliação do
acesso ao currículo escolar (CALHEIROS et al., 2019).
A efetiva comunicação entre profissionais da saúde, educação e
usuários de serviços de TA é essencial, pois permite estabelecer e consolidar
uma relação que busca identificar, compreender e satisfazer as demandas
trazidas pelos usuários e pelos profissionais da educação.
Alguns projetos foram desenvolvidos pelos órgãos nacionais para
inserção de recursos de TA nas escolas, entretanto, seu acesso e aplicação
não são tão simples como parecem (BRASIL, 2013; CALHEIROS et al.,
2019; DECRETO BR, 2011).
O estudo de Santos et al. (2018) teve por objetivo identificar quais
recursos de TA estavam sendo utilizados por estudantes com Paralisia
Cerebral na escola e analisar se o seu uso estava relacionado com sua função
motora e comunicativa. Para isso, as autoras utilizaram quatro
instrumentos de avaliação, que foram: Protocolo de Triagem para o
trabalho colaborativo entre saúde e educação (ROCHA et al., 2016); Gross
Motor Function Measure Classification System (GMFCS) (PALISANO et
al., 1997); Manual Ability Classification System (MACS) (ELIASSON et
al., 2006); e Sistema de Classificação da Função de Comunicação (CFCS)
(HIDECKER et al., 2011).
169
Participaram do estudo, cerca de 19 estudantes com idades entre 2
a 12 anos, bem como seus professores. As autoras identificaram que cerca
de 30% dos profissionais não achavam necessário que seus estudantes
utilizassem os recursos de TA, mesmo após as avaliações (GMFCS, CFCS
e MACS) demonstrarem o contrário. Portanto, Santos et al. (2018)
afirmam que os profissionais da educação não estão devidamente
capacitados para identificar as necessidades da criança com deficiência e,
assim, pensar nos recursos de TA que irão favorecer o desempenho,
aprendizagem e acessibilidade desse aluno no contexto escolar.
Nesta perspectiva, estudos (CALHEIROS et al., 2019;
CAPELLINI; MENDES, 2007; LOURENÇO, 2012; ROCHA, 2013)
apontaram que a consultoria colaborativa pode, além de auxiliar na
formação dos profissionais envolvidos, beneficiar a aprendizagem dos
estudantes com ou sem deficiência, visto que ela é entendida como um
procedimento de resolução de problema. Sendo assim, há um período
acompanhado de estágios, que se caracteriza pela ajuda ou resolução de
problemas, envolvendo o profissional que tem responsabilidade por uma
terceira pessoa; relação voluntária, em que ambos os envolvidos
compartilham da solução do problema e o profissional, que recebeu este
auxílio, beneficia-se da relação, de modo que em situações futuras, poderá
controlar as dificuldades com maior sensibilidade e habilidade (IDOL et
al., 2000; ROCHA, 2013).
Calheiros et al. (2019) relataram que, seguindo os princípios da
consultoria colaborativa, os professores não mais devem trabalhar
sozinhos, mas, sim em equipes compostas por especialistas (terapeutas
ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas, dentre outros)
que tenham como princípio o apoio mútuo e a responsabilidade
compartilhada.
170
Lourenço (2012) teve por objetivo avaliar os efeitos de uma
proposta de formação em serviço sobre recursos de alta TA para professores
e profissionais envolvidos com a escolarização de estudantes com PC. Os
resultados indicaram que os profissionais se apropriam do uso do recurso
e o utilizam na rotina escolar quando encontram-se sob a colaboração de
um especialista.
O termo “participação” é compreendido na Terapia Ocupacional
como envolvimento/engajamento em uma situação de vida em que os
indivíduos estão ativamente envolvidos na realização das ocupações com
propósito e significado. Por sua vez, o envolvimento/engajamento
corresponde ao desempenho das ocupações como o resultado da escolha,
motivação e sentido, dentro de um contexto e ambiente que ofereçam
suporte (AOTA, 2014; 2020).
Após a busca de referenciais teóricos para este estudo
(CALHEIROS et al., 2019; CALHEIROS et al., 2018; CALHEIROS;
MENDES, 2016; LOURENÇO, 2012; ROCHA, 2010; 2013),
evidencia-se que os professores e profissionais da escola apresentam
dificuldades para utilizar a TA e que a consultoria colaborativa favorece
tanto a formação destes profissionais quanto uma melhor aprendizagem e
participação para o estudante usuário de TA.
Assim, destacam-se, neste capítulo, reflexões sobre a intervenção
do terapeuta ocupacional junto a uma criança com PC e a implementação
de um recurso de TA para favorecer a aprendizagem e a participação no
contexto escolar.
171
Metodologia
Este estudo se caracteriza como um Relato de Experiência, que, de
acordo com Grollmus e Tarrés (2015), trata-se de uma perspectiva
metodológica de caráter qualitativo em formato de narrativa, com objetivo
de descrever um conhecimento vivenciado enfatizando questões que
sinalizam evidências científicas, de modo subjetivo e detalhado. Uma das
principais justificativas para esse uso é a de que, expondo a experiência
vivenciada, bem como os procedimentos, intervenções e técnicas que
foram aplicadas, é possível refletir sobre a temática a partir da literatura já
existente e identificar novos problemas de pesquisa a serem investigados.
Essa opção pode ser justificada em razão do foco que se pretende
demonstrar nesta análise, a saber: a relação do processamento sensorial
com engajamento em ocupações infantis importantes para o
desenvolvimento da comunicação.
As principais fontes de dados consideradas foram os registros de
prontuário, bem como filmagens. Essa escolha teve por objetivo
demonstrar o trabalho colaborativo realizado pela terapeuta ocupacional
junto aos professores na implementação do recurso de TA.
A partir desse material, foi possível contemplar duas categorias
principais: a) Contextualização geral do caso da criança; e b) Aspectos
específicos em relação ao uso de TA no contexto escolar e clínico.
Contextualização geral de José
José é um menino de 8 anos, muito simpático e curioso, que
apresenta o diagnóstico de Paralisia Cerebral. Mora com seus pais.
Frequenta o segundo ano do Ensino Fundamental I de uma escola estadual
172
e chegou à Terapia Ocupacional (TO) trazido por seus pais para
estimulação do desenvolvimento neuropsicomotor.
Atualmente, José está em atendimento de Terapia Ocupacional e
Fonoaudiologia, fazendo uso de comunicação suplementar e alternativa
com recursos de baixo custo (prancha impressa) e de alta tecnologia
(tablet).
Em relação à vida diária, é independente para as principais
atividades, entretanto, em conversa com os pais e com a professora, foi
possível identificar que ele apresenta desafios para sua participação e
engajamento nas ocupações de sua faixa etária relacionadas à coordenação
motora fina, principalmente, na atividade de escrita.
Durante o processo de escrita, os desafios de sua participação
podem ser atribuídos à dificuldade de manter a pressão trípode no lápis,
além de lentificação para executar as atividades escolares. Sendo assim, foi
proposta a implementação do teclado expandido, apresentado na figura 1,
associado a um monitor para favorecer o desempenho acadêmico da
criança.
FIGURA 1 - TECLADO EXPANDIDO
Fonte: Google Imagens
173
Programa de implementação do teclado expandido
Após diálogo e esclarecimentos realizados junto à escola e à família
sobre a implementação do recurso, foi proposto que José realizasse dois
atendimentos semanais de 50 minutos com a terapeuta ocupacional por
oito semanas e, durante este período, o recurso seria utilizado, apenas, em
ambiente terapêutico.
Ao longo de todo o período de intervenção, José teve participação
ativa na elaboração das atividades propostas para o uso do recurso. Sendo
assim, foi construído, junto à criança, um cronograma das atividades a
serem realizadas nas sessões. Dentre elas, encontravam-se jogos no
Powerpoint, buscas na internet, criação e reconto de histórias. Após oito
semanas de intervenção, ele adquiriu as habilidades necessárias para a
utilização do referido teclado, sendo possível expandir seu uso para o
contexto escolar e domiciliar.
A partir da possibilidade de expansão do emprego do teclado para
outros ambientes, foi possível identificar que, apesar de ter favorecido a
participação de José nas atividades escolares dentro de sala de aula, ao
mesmo tempo limitou-a em outros ambientes, devido ao tamanho e à
necessidade de ter um monitor conectado. Sendo assim, foi proposto junto
à criança um novo programa, o de escrita no tablet, com auxílio de caneta
e adaptador para facilitar sua preensão e desempenho motor.
Desafios para implementação do recurso TA
Durante o período de intervenção proposto para implementação
do recurso de TA, diversos foram os desafios encontrados, visto que além
das questões a serem pensadas em relação à acessibilidade e ao uso do
recurso, foi necessário que a terapeuta ocupacional elaborasse atividades
174
que favorecessem o interesse da criança para o treino. Diante disto, a
parceria entre escola, família e terapeuta ocupacional foi essencial, pois
algumas atividades realizadas na escola e no ambiente familiar, puderam
ser adaptadas em formas de jogos e histórias, possibilitando que a criança
demonstrasse interesse em utilizar o recurso e assim aprimorasse o seu
desempenho.
Considerações Finais
A literatura aqui abordada (ROSA, 1998; JURDI, 2004;
SANTOS et al., 2014; SANTOS et al., 2018) identifica que ter a TA na
escola é proporcionar ao estudante uma estratégia para que ele realize a
atividade de outra maneira, valorizando as suas capacidades e habilidades.
Sabe-se que cada sujeito é único, portanto, é preciso que o
ambiente escolar seja modificado e melhor preparado, que recursos de TA
sejam oferecidos e que os profissionais sejam capacitados para favorecer as
estratégias de seu uso, valorizando as potencialidades da criança e a
participação com seus pares (PELOSI; NUNES, 2011; ROCHA et al.,
2015; SANTOS et al., 2018).
Portanto, o uso da TA na escola pode ampliar as oportunidades de
participação do estudante, modificando os elementos da atividade para que
ele possa, a partir de suas habilidades, ter um melhor desempenho.
Pesquisas destacam que, desta maneira, o estudante com PC pode fazer
uso da TA para ampliar suas habilidades nas atividades de escrita, leitura,
atividades lúdicas, favorecendo assim o processo de aprendizagem (LINO
et al., 2015; SANTOS et al., 2018).
175
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180
181
As Contribuições da Tecnologia no Ensino Remoto:
relatos de alunos surdos pós-graduandos
Andresa Lins dos Santos SALVADOR
19
Murilo Fiorim BÓZOLI
20
Tarcísio Paciulo CASTILHO
21
Introdução
Em decorrência do estabelecido estado pandêmico em virtude do
COVID-19 em 2020 e as restrições impostas, uma nova realidade nos foi
apresentada: o ensino remoto. As instituições, docentes, discentes e equipe
técnica precisaram adaptar-se às demandas tecnológicas e ajustes urgentes
de caráter temporário foram necessários para minimizar os impactos na
formação dos estudantes.
O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou, em 28 de abril
de 2020, a partir do parecer CNE/CP nº 5/2020 (BRASIL, 2020), normas
que orientaram as instituições educacionais sobre a reestruturação do
Calendário Escolar e a organização de atividades não presenciais,
objetivando a retomada e conclusão do ano letivo (2020), flexibilizando os
191
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
andresa.lins@unesp.br
20
Especialista em Tradução e Interpretação em Libras / Professor de Libras - UNESPAR campus
Campo Mourão / e-mail: murilo.bozoli@unesp.br
21
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
tarcisio.paciulo@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p181-200
182
dias letivos anuais e garantindo horas mínimas de estudo. Foram pensadas
formas de garantir o mesmo direito ao acesso a todos, além de
metodologias que não promovessem desigualdades no acesso aos
estudantes e, diante disso, o parecer reuniu um conjunto de estratégias para
retomada do ensino não presencial:
Assim sendo, as atividades pedagógicas não presenciais podem
acontecer por meios digitais (videoaulas, conteúdos organizados em
plataformas virtuais de ensino e aprendizagem, redes sociais, correio
eletrônico, blogs, entre outros); por meio de programas de televisão ou
rádio; pela adoção de material didático impresso com orientações
pedagógicas distribuído aos alunos e seus pais ou responsáveis; e pela
orientação de leitura, projetos, pesquisas, atividades e exercícios
indicados nos materiais didáticos. (BRASIL, 2020, p. 8-9).
Essa realidade nos permite uma reflexão sobre diferentes pessoas
que convivem no mesmo ambiente, embora nem sempre percebidas. Com
aulas remotas e todos na mesma tela, essa visualização e as necessidades
aparentes para obter o conhecimento foram mostradas. Identificamos com
a questão mencionada já que, da mesma forma como aconteceu conosco,
alunos surdos matriculados no curso de Pós-Graduação em uma
universidade pública, outras várias pessoas e suas necessidades foram
desnudadas.
Nas aulas presenciais, muitas vezes não somos vistos, e não há
interação ou visibilidade para a língua de sinais. Todavia, com as aulas
remotas, esta sinalização passou a ser percebida por todos os alunos
presentes na sala virtual, tornando possível nos posicionarmos por meio de
contribuições, opiniões e discussões sobre a temática da aula.
183
A experiência de sinalizar, diante das várias pessoas presentes na
tela do computador ou outros equipamentos, permite uma valorização de
nosso discurso. A possibilidade de expressão de nossos sentimentos é muito
relevante, gerando equidade, inclusão, respeito e empatia. O que
percebemos, nas aulas remotas, foi muito encorajador, considerando que,
nas aulas presenciais, muitas vezes, o aluno surdo acaba isolado, em
interação apenas com o intérprete de Libras. Observamos que, pela barreira
da comunicação, a interação é escassa já que muitos não conversam e nem
pedem nossa opinião. Dessa forma, reconhecemos que, com a utilização
de plataformas virtuais, recurso do chat, e outros recursos visuais, a
inclusão e interação essencial dos surdos com alunos ouvintes podem ser
potencializadas com os que não se comunicam através da Libras.
Nosso objetivo, com este trabalho, é apontar a educação dos surdos
e contribuições da tecnologia para o nosso desenvolvimento educacional e
social. A tecnologia, que já estava presente em nosso cotidiano, seja através
de ferramentas para comunicação, aplicativos de pagamentos ou consultas
on-line, também, contribui para relações sociais, possibilitando a
comunicação entre indivíduos, independentemente de sua localização.
No âmbito educacional e de acesso às informações, os alunos
surdos precisaram se adequar, assim como os demais, atentando-se para a
necessidade de mediação do intérprete de Libras em contextos onde os
ouvintes não se comuniquem em Libras. A disseminação da língua de
sinais no Brasil esteve amplamente relacionada ao seu reconhecimento e
valorização na educação bilíngue para as crianças surdas e,
consequentemente, sua inserção como disciplina obrigatória nos cursos de
Licenciatura nas universidades brasileiras.
184
LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais
Sabe-se que a Libras é reconhecida, nacionalmente, como língua
das comunidades surdas brasileiras, de acordo com o texto da lei 10.436,
de 24 de abril de 2002.
As línguas de sinais, dentre elas, a língua de sinais brasileira, são línguas
de fato e representam uma forma completa de comunicação das
histórias surdas, a língua de sinais brasileira apresenta uma estrutura
gramatical rica, e é usada pelos surdos brasileiros para expressar ideias,
pensamentos, sonhos, arte, estórias e reproduzem discursos, assim
como qualquer outra língua. (QUADROS, 2003, p. 92).
As línguas de sinais, assim como as línguas orais, emergiram da
necessidade humana de se comunicar, sendo priorizadas pelas pessoas
surdas como no primeiro caso devido à sua natureza gesto-visual. A Libras
possui estruturas próprias como todas as línguas, inclusive com todos os
níveis linguísticos de análise: fonológico, morfológico, sintático,
semântico (lexical) e pragmático, como demonstrado pelo estatuto
linguístico das línguas de sinais como línguas naturais. Com a Libras como
língua, as pessoas surdas se constituem como sujeitos e têm conseguido
participar, cada dia mais, de sua comunidade por meio de interações
comunicativas adequadas e crescendo muito em seu percurso escolar
bilíngue e acadêmico.
A Libras é essencial para o aprendizado e desenvolvimento
cognitivo das pessoas surdas, sendo imprescindível para que possam
apropriar-se das experiências do mundo e compreender o contexto em que
estão inseridos.
185
[...] os processos de desenvolvimento do pensamento e da linguagem
incluem o conjunto de interações entre a criança e o ambiente,
podendo os fatores externos afetar esses processos, positiva ou
negativamente. Torna-se, pois, necessário desenvolver alternativas que
possibilitem às crianças com surdez, meios de comunicação que as
habilitem a desenvolver o seu potencial linguístico. Pessoas surdas
podem adquirir linguagem, comprovando assim esse potencial.
(LURIA, 1986, p. 6).
A apropriação do conhecimento produzido na cultura letrada,
especialmente, deve ser feita em sua modalidade linguística, evidenciando
a urgente necessidade de que esses materiais sejam produzidos e/ou
traduzidos em sua língua, ou seja, a Libras.
A tecnologia tem contribuído para a efetivação e distribuição desses
materiais. Através da vinculação em redes sociais e demais plataformas, a
língua de sinais tem sido disseminada e muitos conteúdos sinalizados
gravados têm sido compartilhados, de forma a permitir a vinculação e
aumento do vocabulário em Libras com sinais de outras regiões.
A educação dos surdos passou a vivenciar uma nova era a partir do
uso do computador e da internet, já que eles possibilitaram a interação na
comunicação dos surdos. Por ser uma tecnologia visualmente acessível,
abriram muitas portas para os ouvintes, trazendo uma nova perspectiva aos
surdos, inclusive na educação.
Nas escolas, o uso do computador e internet aproximou o aluno
surdo da realidade. Antes, nas aulas tradicionais, fazia-se necessário o uso
de recursos visuais (desenhos, cartazes) para o letramento do aluno surdo,
mas, agora, com recursos tecnológicos, as imagens conseguem reproduzir
a forma real e o funcionamento de cada objeto. O aluno surdo passa a se
186
sentir incluído, fazendo parte e compreendendo conceitos como os demais,
dado que, a partir de imagens para o letramento, é possível fazer a
construção imagética, desenvolver a criatividade e evoluir a comunicação.
As tecnologias trouxeram um novo olhar sobre a comunicação e,
com o passar do tempo, todos foram se inteirando e aprendendo como
usar recursos tecnológicos. O acesso e a aquisição de um celular e
computador, por exemplo, já foram muito mais dificultosos, mas, com o
avanço da tecnologia, os equipamentos se tornaram mais acessíveis, o que
possibilitou, ao surdo, adquirir e passar a utilizar a tecnologia no dia a dia.
O acesso à internet possibilitou a conversa via chamada de vídeo,
não se fazendo necessária a preocupação com a forma escrita (o que para
alguns surdos ainda é uma barreira: a escrita da língua portuguesa). Além
da chamada de vídeo, em que é possível sinalizar e se comunicar como
pessoalmente, também, há aplicativos que podem ser usados para
converter a voz em texto e, assim, compreender o que a pessoa está falando.
Compartilhamento o Perfil dos Pós-Graduando /
Autores Deste Trabalho
Murilo Fiorim Bózoli, 35 anos, é surdo de nascença, casado e
residente em Maringá- PR. Sua esposa é surda e possuem um filho ouvinte
de 1 ano e 2 meses que é CODA (filho de pais surdos). Seus pais moram
no interior de São Paulo e a comunicação com eles é oralização (só a mãe
sabe um pouco de sinais). Em casa e com amigos surdos, a comunicação é
somente em Libras.
Murilo é graduado em Licenciatura em Letras Libras (Faculdade
Eficaz), especialista em três cursos: Libras, Tradução e Interpretação em
Libras e Educação Especial com ênfase em Deficiência Auditiva
187
(Faculdade Eficaz) e mestrando em Educação (UNESP). Atualmente, atua
como professor de Libras na UNESPAR (Câmpus Campo Mourão) e
ministra cursos de Libras para familiares de alunos surdos e comunidade
em geral no Colégio Bilíngue para Surdos de Maringá (ANPACIN). É,
também, professor na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM-Surdez),
proporcionando, aos alunos surdos, o acesso a informações sociais e
conceitos curriculares para facilitar a compreensão dos conteúdos
abordados na sala de aula.
A seguir, observamos seu relato sobre tecnologias no ensino de
Libras antes e após a pandemia.
Em 2017, me formei em Letras Libras e, em 2019, comecei a trabalhar
como professor de Libras temporário, com aulas presenciais. Também, tive
experiência de ser professor da UTFPR em Campo Mourão. Já lecionei em
Institutos nas cidades de Marialva e Mandaguaçu e, também, no colégio
ANPACIN de Maringá com Cursos de Libras dos níveis básicos ao
avançado. Minha experiência, nesse tempo, foi com aulas presenciais,
avaliando os alunos, fazendo apontamentos e correções quanto à
sinalização. Na modalidade presencial, era possível viabilizar a interação,
o contato visual com os alunos, o compartilhamento e todos se olharem para
conseguir uma melhor sinalização. A maioria dos alunos eram
participativos, as faltas eram raras e isso é muito importante: a difusão da
língua de sinais. Em cursos livres ou nas universidades, é importante o
ensino da Língua de Sinais para que tenhamos profissionais competentes
de áreas diferentes para atender a comunidade surda.
Eu, como surdo, preciso do intérprete de Libras em locais e situações em
que não há acessibilidade, por exemplo, em reuniões na escola ou de
orientação. Quando um aluno quer sanar uma dúvida, a barreira da
comunicação, ainda, está presente e, através da língua de sinais e com a
presença do intérprete, a mediação é viabilizada e poderei compreender o
discurso.
188
A tecnologia já era usada nas aulas presenciais. Para a aula em Libras, que
é visual, a projeção de imagens, por exemplo, permite uma melhor
memorização dos conteúdos, lousas interativas, recursos de gravação de
vídeos. Em março de 2020, fomos surpreendidos com o cancelamento dos
encontros presenciais e a suspensão de aulas. Com todo o planejamento
feito, a orientação foi que eu, professor, ficasse em casa por 30 dias por
segurança já que o COVID-19 tinha chegado no Brasil.
A educação foi atingida e todos sentimos, na pele, as dificuldades, mas não
imaginávamos o que estava por vir. Passados os trinta dias, os professores
foram orientados a acessar uma plataforma para reuniões, para o colégio,
o Zoom e, para a Universidade, Google Meet e, para demais aulas, vídeos
postados no Youtube.
A adaptação para o uso de plataformas exigiu equipamentos de maior
qualidade para comportar tudo o que estava sendo proposto. Os professores
começaram consultar os alunos que tinham equipamentos para conexão de
internet e acesso na plataforma. Constatamos que a maioria tinha acesso à
internet e celular mas, em alguns lugares, a conexão não poderia suportar
conteúdo da aula e, com isso, a visualização do professor e das aulas estaria
prejudicada. Uma nova realidade estava prestes a acontecer, o professor
estaria distante e a barreira da comunicação, mas em sala de aula,
estávamos contornando isso, agora tínhamos uma tela que limitava os
movimentos e apontamentos que eu, como professor da língua de sinais que
é visual, precisava fazer. Uma preocupação que tomou conta foi a
interrupção, já que muitos alunos que estavam se dedicando aos estudos,
pessoas com potenciais de contribuir com a comunidade surda, agora
estavam ameaçados a desistir por conta da tecnologia.
Para as aulas de Libras, é muito importante o contato visual. Assim, as
câmeras precisavam estar abertas no momento da aula, principalmente,
para a visualização do que estava sendo sinalizado pelos alunos para
apontamento de correções, se necessário.
O ponto negativo do uso da tecnologia, nesse contexto, é a conexão. Para
nós surdos, a visualização em telas pequenas não permite uma boa
compreensão do conteúdo, corte dos sinais. Quando tem muitas pessoas em
189
uma sala virtual, não é possível visualizar todos na tela. Caso alguém
interrompa a fala, não é possível visualizar e dependemos que alguém avise
para que a pessoa seja fixada na tela.
As atividades, avaliação e interação foram modificadas com o uso de
plataforma e, consequentemente, a didática das aulas. Passamos a usar o
WhatsApp para comunicação e postagem de vídeos. Para os vídeos longos,
o link já era postado no Youtube, e-mail. Utilizo formulário nos quais faço
atividades e obtenho respostas por meio de questionário. Utilizo, ainda, o
Classroom no qual consigo ter o controle de diversas turmas por nome dos
alunos mas, mesmo com tantos recursos, a visualização, que só é possível
através da câmera aberta na aula, ainda fica prejudicada. Muitas vezes,
trava devido à conexão ou mau tempo, prejudicando a aula e seu
desenvolvimento. Na aula, muitos alunos usavam o chat para se
comunicar e o surdo usando as mãos para sinalizar, porém, parar a aula
para ver o chat, interrompe a sinalização e, automaticamente, perde-se o
contexto. Alguns alunos mandavam feedback e eu fazia essa observação dos
que não conseguiam ligar a câmera, eles até escreviam que estavam
assistindo a aula, mas eu precisava das câmeras abertas para poder avaliar
a forma das mãos ao sinalizar a posição dos sinais etc. Nos relatórios de
avaliação, fiz essas observações sobre câmera fechada, o motivo e a
interação do aluno.
O ano de 2020 foi de muito aprendizado, tínhamos trabalho nas aulas
presenciais mas o uso das plataformas, tão repentinamente, exigiu um
esforço de aprender sobre o manejo desses recursos. Observamos muitos
professores estressados, ansiosos, querendo oferecer o melhor, mas vimos que
não depende só da boa vontade do professor, quando falamos de tecnologia;
recursos externos precisam estar a favor contribuindo para um bom
desempenho do trabalho. Foi de extrema importância aprender a usar
formulários, apresentar tela nas aulas, abrir as classes virtuais,
considerando que, no início, achávamos que seria por pouco tempo, mas a
tendência do remoto veio para ficar. Outro ponto nesse período de início e
adaptação, foram as trocas com outros profissionais de áreas de tecnologia
para auxiliar e dar suporte. Na escola e universidade, por exemplo,
treinamentos de como usar as ferramentas, conversas e trocas com
190
coordenadores e até com familiares que também atuam na área
educacional. O diálogo permitiu aquisição de conhecimentos de áreas que
antes eram desconhecidas.
O trabalho home office com aulas remotas proporciona um desgaste mental
de estar no mesmo ambiente familiar, sem sair, e fixado em uma tela.
Ocupou, também, mais tempo. Por exemplo, antes ter que trabalhar por
seis horas e voltar para casa, desconectar, estar em outro ambiente já
aliviava, porém, hoje o trabalho triplicou e, se não nos policiarmos,
trabalhamos vinte e quatro horas do dia e, ainda, não terminamos tudo.
A situação ainda complica se um profissional trabalhar em mais de uma
instituição com várias turmas de alunos, considerando que cada um tem
seu próprio e-mail. Os reflexos são caixas de e-mail cheias, falta de memória
nos equipamentos, plataformas para arquivar e ter registros, receber
trabalhos e formulários. Virtualmente, demanda um esforço mental, com
leituras, avaliações que, no presencial, era tudo possibilitado em sala de
aula.
Todo o aprendizado não é perdido. No início, a adaptação exige um pouco
mais, porém, depois que estamos habituados às ferramentas, o trabalho flui
melhor. A profissão de professor é isso, aprendendo, evoluindo,
compartilhando conhecimentos e sempre estar atento a possíveis mudanças
para que o ensino alcance seu objetivo de aprendizagem.
Perfil do segundo pós-graduando
Tarcísio Paciulo Castilho tem 35 anos, é paulistano, surdo de
nascença por genético DNA e tem um irmão, também, surdo. É casado,
sua esposa é surda e possuem um filho ouvinte de 3 meses que é CODA
(filho de pais surdos). Residem em São Paulo. A comunicação com os pais
é por meio da oralização (português) “língua materna” e, com os sogros,
também, e, ainda, sinalizam em ASL (American Sign Language).
Gosta do universo GEEK, é apaixonado pelo Super Mario, turma
do Looney Tunes, Star WAR, DC Comics e o Marvel. Coleciona brinquedo
191
raro tipo EDITION e Mc Donald. Tarcísio tem experiência na área de
segurança da informação e é consultor de tecnologia da informação há 16
anos e, também, educador, comunicador e palestrante. Na área
educacional, atua como docente professor de Libras (Língua Brasileira de
Sinais). Tem 4 formações acadêmicas: Mestrando em Educação, linha em
Educação Especial do PPGE na FFC- UNESP -Marília São Paulo -
Cursando; Graduação em Licenciatura em Letras de Libras (Língua
Brasileira de Sinais) na Universidade Federal de Santa Catarina UFSC,
Pólo Joinville SC; Mérito Estudantil Obtendo o melhor índice de
aproveitamento no Curso de Graduação em Letras Libras; Pós-
Graduação em Segurança da Informação na Universidade Cidade de São
Paulo UNICID; Graduação em Rede de Computadores na Universidade
Cidade de São Paulo – UNICID.
Na iniciação escolar, não tinha intérprete e sofreu bullying por não
saber falar as palavras e nem compreender as conversas. Suas notas eram
baixas e, sempre, ficava de recuperação e castigo. No ensino superior,
porém, com a mediação do intérprete de Libras, conseguiu obter melhor
desempenho, socialização, interação e superação. Hoje, vive feliz em
família. Seu relato aborda a tecnologia e o mundo surdo, destacando a
forma de interação e as contribuições da tecnologia para o
desenvolvimento do surdo em sociedade.
No ano de 2020, fomos surpreendidos, aqui no Brasil, pelo COVID-19 e
passamos a viver no período de pandemia. A comunidade surda é
amparada por decretos e leis vigentes sobre a língua de sinais.
Comunicamo-nos através da Libras, língua gestual visual. Assim, já
tínhamos essa visibilidade da importância da utilização das línguas de
sinais através das leis e decretos, mas, ainda, faltava a conscientização já
que não tínhamos um período para experimento de ferramentas de
192
compartilhamento da língua de sinais e a tecnologia atribuída a isso. Antes
da pandemia, estávamos acostumados com o tradicional e não nos
importávamos com inovações, com ferramentas tecnológicas. Os intérpretes
eram contratados e tínhamos esse contato em sala de aula. Esse intérprete,
às vezes, não possuía a formação necessária para desempenhar a função em
sala de aula, mas ele não teria visibilidade já que, somente o aluno surdo
que poderia ser somente um, seria atendido por ele, sem saber exatamente
o que estava acontecendo. No início da pandemia, além da preocupação
que afetou o psicológico de todos, houve a necessidade de adaptação para
uma nova realidade. Mudanças precisariam ser feitas e estratégias
precisariam ser adotadas, e conhecendo o sentimento de empatia pelo
próximo, iniciamos a reflexão sobre nossas ações e, apesar de acostumados
com o tradicional em nossa rotina, fomos invocados à mudança.
Nesse período, queremos destacar o ambiente familiar e o escolar, os
prejuízos que tivemos e, ainda, serão refletidos na formação, por exemplo,
os alunos (no caso o aluno surdo, especificamente) precisam estar em
contato com os demais, interagindo, criando relações e construções
imagéticas de tudo que está vendo para poder assimilar e compreender o
conteúdo explicado. Para alunos ouvintes, é possível que a interação ocorra
por outros meios, mas, para o surdo, somente pela visualização.
No ambiente virtual com aulas remotas como está sendo feito nesse período
pandêmico, a tecnologia contribui para que todos continuem seus estudos,
tentando manter os prazos com programações feitas anteriormente. Mas,
em uma sala virtual que tem a acessibilidade através do intérprete de
Libras, o aluno surdo deve manter a atenção no intérprete, perdendo,
muitas vezes, conteúdo do chat, interação ou discussões que são feitas na
escrita, inclusive pelos demais alunos. Os alunos ouvintes conseguem ouvir
e acompanhar a leitura do texto, fazer anotações, mas o aluno surdo não
consegue porque tem que estar atento à sinalização. Dependendo do nível
de escolarização, pode ser ainda pior, por exemplo, crianças surdas que já
tem a interação familiar através da língua de sinais e se encontram em
uma sala virtual, remotamente com um intérprete, o professor e o grupo de
alunos. Elas nem sempre sentirão a vontade ou conforto para tirar dúvidas,
fazer comentários ou usar o chat já que a barreira, ainda, continua sendo
193
a comunicação, dependendo de sinalizar para o intérprete compreender e
colocar em voz para que os outros compreendam.
Mas, como usar a tecnologia em nosso favor? A tecnologia é muito antiga,
um rádio, por exemplo, que as pessoas usavam para se informar sobre os
acontecimentos, para os ouvintes foi ótimo. Mas, para nós surdos, fomos
privados dessa parte da história, quando a tecnologia foi feita para uso
somente do grupo que ouve, fomos excluídos e dependentes de outros para o
repasse de informações. Em filmes de ficção nos anos 80, já era possível ver
atores se comunicando através de vídeos, interagindo com outros
personagens em lugares diferentes através de chamadas de vídeos. Essa
realidade chegaria mais tarde, os surdos que assistiam a esses filmes viam
uma possibilidade da interação social e uma forma de comunicação visual.
Esse tempo chegou, hoje, com o avanço tecnológico, temos a possibilidade
de realizar chamadas de vídeos, aulas através de plataforma, podendo nos
comunicar com pessoas de qualquer lugar do mundo.
Resultados
a) Processos de interação entre aluno-professor e demais alunos do
grupo classe
A interação entre os alunos surdos, o professor e demais alunos do
grupo acontece através da mediação do intérprete de Libras, que precisa
ter um bom equipamento para ver todos os presentes na sala, inclusive o
aluno surdo que, por sua vez, caso tenha alguma dúvida, pode sinalizar
para que a mediação, através da voz, seja feita para o professor. Também,
precisa ter uma boa conexão, para que haja fluidez na interpretação e não
tenha travamento de tela, que acarreta interrupção na conversa e o aluno
surdo pode ser prejudicado, caso o contexto não seja retomado.
A aprendizagem não precisa ser mais apenas um processo solitário de
aquisição e domínio de conhecimentos. Ela pode se dar de forma
194
coletiva e integrada, articulando informações e pessoas que estão em
locais diferentes e que são de idade, sexo, condições físicas, áreas e
níveis diferenciados de formação. (KENSKY, 2003, p. 52).
Para que essa interação aconteça, são necessários envolvimento,
compreensão e disponibilidade de todos presentes na aula. Os alunos
devem ser orientados sobre as ferramentas oferecidas pela plataforma da
sala virtual e a se comprometerem a utilizar, por exemplo, o recurso de
“levantar a mão” na hora da fala, essa ferramenta é de extrema importância
para o aluno surdo que é visual. Quando isso acontece, ele reconhece quem
está falando, permitindo ampliar a tela para uma melhor visualização do
colega de sala e evitando que o que está sendo interpretado seja somente
de uma pessoa. Quando utilizado esse recurso, o surdo consegue identificar
quem está falando, compreendendo se a explicação é do professor, ou
dúvida, ou sugestão de algum aluno.
b) Usos e domínio das ferramentas virtuais aplicadas ao ensino
remoto
O uso das ferramentas virtuais aconteceu de maneira urgente e
seria temporário mas, com o passar do tempo e avanço da pandemia,
seguindo as recomendações para evitar o contágio e propagação do vírus,
foi necessário expandir o tempo e, com isso, melhorias, inovações e ajustes
nas próprias plataformas foram vistas, tanto para facilitar o uso, como,
também, para comportar os dados e o número crescente de usuários.
a educação, por ser um processo de extrema importância, deve mudar
ao longo do tempo, de acordo com o que é proposto para melhorar sua
aplicação. Entretanto, para que isso ocorra de forma eficaz, é preciso
195
que o educador acompanhe esse processo de evolução da educação. Ele
deve adaptar-se ao novo mundo que se abre cada vez mais às
tecnologias, pois essas tecnologias estão sendo aplicadas fortemente na
educação. (MEIRA, 2016, p. 11).
Logo, se faz necessário aos professores que estão ministrando aulas,
aprender a usar as ferramentas e, com o tempo, obter seu domínio. Nesse
período, também, foi vista a empatia e compartilhamento de alunos com
os professores sobre como usar as ferramentas e recursos disponíveis nas
plataformas, levando em consideração que o domínio só é possível através
do uso constante. Com o passar dos dias, foram observadas aulas mais
interativas, conteúdo compartilhados de maneira mais natural que pouco
assemelhavam ao começo das aulas remotas.
Impactos das tecnologias na vida acadêmica e profissional
dos pós-graduandos
Os impactos gerados pela tecnologia na vida dos surdos apresentam
pontos positivos e negativos. No âmbito acadêmico, apresentam-se pontos
mais negativos do que positivos, devido ao contato visual que é muito
importante para o surdo. Como afirmamos, destaca-se a questão de que,
em aulas remotas, na maioria das vezes, as câmeras dos alunos estão
fechadas, para evitar possíveis travamentos em decorrência do alto tráfego
de dados. Outro ponto interessante levantado, inclusive nos relatos dos
próprios surdos, aborda a questão das anotações da aula, referências feitas
pelo professor quando não se usa o chat como recurso para discussões ou
sugestões, o surdo fica impossibilitado de ver a sinalização pelo intérprete
e fazer anotações de referências etc. O ideal, nesse caso, é usar recursos
196
disponíveis na plataforma, valorizando os aspectos visuais para uma melhor
compreensão e interação do aluno surdo.
Quanto mais recursos auditivos como, por exemplo, quando um
aluno interrompe a fala do professor sem a câmera ligada, ou complementa
alguma fala sem avisar antes, mais o surdo fica sem compreender. Por isso,
o levantar da mão (recurso da plataforma), e o uso do chat para
posicionamentos, o fato do professor fazer citações de referências, nomear
autores e, também, usar o chat, favorecem o aluno surdo que consegue
fazer essas anotações no intervalo, ou tirar um print da tela para depois
anotar.
Já no contexto social, a tecnologia com os recursos disponibilizados
e utilizados de forma correta, possibilitaram uma maior interação do surdo
com outros grupos, aproximando o aluno de pessoas através de chamadas
de vídeos nas quais eles podem sinalizar com outros indivíduos sem a
preocupação da escrita em português. A tecnologia possibilitou, ao surdo,
conhecer novas pessoas, profissionais, viver independente, somente com
recursos que podem fazer a mediação da comunicação como o uso de
aplicativos que escrevem o que está sendo falado e ele pode fazer a leitura,
chamadas de vídeos com intérpretes (que não necessariamente precisam
estar presentes, mas podem mediar a distância mediante uma boa
conexão), ministrar aulas e cursos para o Brasil todo usando as plataformas
e a postagem de vídeos.
c) Acessibilidade dos ambientes virtuais de aprendizagem no
ambiente remoto em Libras
A acessibilidade no ambiente remoto, ainda, é algo a evoluir
conforme a usabilidade. A acessibilidade, segundo as Leis: 10.098
197
(BRASIL, 2000) e 13.146 (BRASIL, 2015), é um direito que garante, à
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, viver de forma
independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social.
O aluno surdo necessita da acessibilidade comunicacional, que é resolvida
através do intérprete de Libras, que faz a mediação das línguas e torna
possível a interação entre professor e aluno surdo.
Nos ambientes virtuais, além do intérprete fluente em Libras,
outros recursos são necessários para o entrosamento e a fluidez na
comunicação, tanto do português para Libras quanto o inverso, de Libras
para o português. Podemos mencionar recursos como um bom
equipamento, computador e câmera para o aluno visualizar melhor a
sinalização e, caso o aluno queira participar da aula compartilhando algum
conteúdo sinalizado e o intérprete deva colocar voz, um bom equipamento
de áudio garante que essa dinâmica funcione melhor. Há casos de ruídos
externos, como a falha na tecnologia que está fora do nosso alcance, falha
na conexão, queda de energia, que podem prejudicar o aprendizado e
comprometer a interação de todos os alunos.
No caso de aulas gravadas, todos os alunos podem assistir e se
inteirar novamente do conteúdo apresentado, mas o aluno surdo que
mantém o intérprete fixado na tela perde essa gravação. Por exemplo,
quando alguém liga o áudio e fala, já, nela, aparece a pessoa falando e não
o intérprete fixado, o que contribui, mais uma vez, para a não compreensão
do conteúdo gravado, dependendo assim do intérprete de Libras para
retomar a fala ou explicar novamente sobre a gravação.
Outro ponto importante é sobre o tamanho do intérprete na janela
sinalizada, não sendo possível, nas plataformas, destacá-lo, podendo
visualizá-lo maior e amenizar o cansaço visual decorrente de três, quatro
ou, até cinco horas de aulas remotas. O conhecimento do intérprete para
198
esse trabalho, também, faz diferença, já que o sucesso da interpretação
depende de pontos, como o posicionamento de maneira ideal, cuidado ao
enquadramento, ao fundo e à vestimenta de forma a evitar distrações dos
alunos surdos que estão visualizando a interpretação através dele. As
plataformas estão, cada vez mais, pensando na acessibilidade para que
todos usufruam da tecnologia, como um recurso pensado para nós surdos:
a legenda. Embora, ainda assim, não se garanta, com exatidão, o que está
sendo falado, e não se substitua o mediador, o intérprete de Libras
desempenha papel fundamental.
Ainda há espaço para melhorias, tendo em vista que, quando
queremos sinalizar para todos da sala entender, não existe um recurso que
reconheça a minha sinalização e transmita na língua oral. Mas, com o
avanço da tecnologia, acreditamos que chegaremos a essa época, na qual
seremos livres para sinalizar e todos terão a compreensão do que
sinalizamos. A mediação do intérprete é importante e, na falta do mesmo,
não recebemos e nem transmitimos o que desejamos nas aulas remotas.
Considerações Finais
Concluímos, por meio dos relatos de experiência aqui
apresentados, que a tecnologia tem sido uma grande aliada na educação
dos surdos e na difusão da língua de sinais, contribuindo para o
desenvolvimento, interação e inclusão social, permitindo que os surdos
estejam nos locais e sejam compreendidos através de recursos digitais,
como aplicativos.
No ensino remoto, ainda percebemos que, embora tenhamos
avanços, ainda requer-se conhecimento dos usuários de como usar a
tecnologia e os recursos visuais disponíveis nas plataformas para beneficiar
199
os alunos surdos e garantir uma melhor interação e absorção dos
conteúdos.
Acreditamos que a presença dos alunos surdos em salas de aulas
online contribui para essas orientações aos professores e demais alunos para,
assim, criar uma conscientização que o aluno surdo é visual e depende de
recursos visuais para a comunicação. Contribui, ainda, para a difusão da
língua de sinais, já que acreditamos que, quanto mais os surdos estiverem
nesses espaços, maior a visibilidade da língua de sinais e a conscientização
de como é importante o uso da mesma para a inclusão e acessibilidade do
aluno surdo.
Referências
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Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência). Disponível em:
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2018/2015/Lei/L13146.htm. Acesso em: 20 out. 2021.
BRASIL. Lei N° 10.098, de 23 de março de 1994. Estabelece normas
gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas
portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida. Brasília, DF, 19
dez. 2000. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei10098.pdf. Acesso em: 05
out. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua
Brasileira de Sinais e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília, 25 de abril de 2002.
200
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação.
Conselho Pleno. Parecer CNE/CP n. 5, de 28 de abril de 2020. Brasília,
DF: MEC/CNE, 2020. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=downlo
ad&alias=145011-pcp005-20&category_slug=marco-2020-
pdf&Itemid=30192. Acesso em: 07 set. 2021.
KENSKI, V. M. Aprendizagem pela Tecnologia. Revista Diálogo
Educacional, Curitiba, v. 4, n. 10, p. 47-56, set/dez. 2003.
LURIA, A. R. Pensamentos e Linguagens: as últimas conferências de
Luria. Porto Alegre: Artes e Científicos. EDU. 1986.
MEIRA, S. L. B. Redes sociais como ferramenta de ensino dos
fenômenos ópticos. UnB / Instituto de Física / Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Física, 2016. Disponível em:
https://docplayer.com.br/63883560-Redes-sociais-como-ferramenta-de-
ensino-dos-fenomenos-opticos.html. Acesso em 01 set. 2021.
QUADROS, R. U. Situando as diferenças implicadas na educação de
surdos: Inclusão/Exclusão. Ponto de Vista: Revista de Educação e
Processos Inclusivos. Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, n.05, p. 001 – 231, 2003.
201
Implicações Éticas e Desafios Tecnológicos na Educação
em um Cenário Pós-Pandêmico
Mike Ceriani de Oliveira GOMES
22
Introdução
Em março de 2020, o Brasil começou a protagonizar um cenário
catastrófico que já estava sendo vivenciado por outros continentes e
diversos países na Ásia, Europa e Oceania: a pandemia de COVID-19.
Influenciando diversos setores profissionais, além da convivência pessoal,
destacamos o setor educacional, tendo sua continuidade condicionada à
reorganização das atividades, de modo a garantir o distanciamento social,
medida necessária para a contenção do avanço da referida pandemia. Nesse
contexto, as unidades escolares, no Brasil e no mundo, passaram a aderir
ao chamado Ensino Remoto (PAIVA, 2020).
Porém, muitos obstáculos devem ser levados em conta na avaliação
da adesão a esse novo formato de ensino-aprendizagem em caráter
emergencial, tais como o desempenho de cada nação ao redor do mundo
a partir de suas condições materiais, o que tem distanciado ainda mais os
países de economia central dos países periféricos no que diz respeito aos
resultados do setor educacional em uma perspectiva nacional (GOHN,
2020).
22
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
mike.ceriani@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p201-216
202
Ademais, tanto os países de economia central quanto os países
periféricos enfrentaram suas dificuldades internas estruturais, fazendo com
que o acesso à educação de qualidade fosse determinado em uma
perspectiva classista. No Brasil, a falta de subsídios aos públicos menos
privilegiados, como dispositivos tecnológicos e conexão à internet, fez com
que a acessibilidade das classes D e E se distanciasse das classes A e B, além
de uma oscilação da classe C que aproximou-a mais das classes D e E
(MACEDO, 2021).
O reflexo da relação de elevação dos níveis de perdas em uma
perspectiva classista está presente nos sistemas educacionais público e
privado. A maior concentração de investimentos no setor privado,
concomitante aos baixos investimentos no setor público de educação
que, por sua vez, também, enfrenta superlotação com a classe C migrando
do sistema privado para o público em virtude das baixas econômicas em
razão da pandemia resultaram em um aumento do abismo já notório
entre os dois sistemas educacionais em termos de infraestrutura, o que
envolve, não somente o acesso às Tecnologias Digitais da Informação e da
Comunicação (TDIC), mas, também, a capacitação de docentes para o
trabalho com essas TDIC (DIAS; PINTO, 2020).
Pensando no contexto brasileiro, este artigo parte do pressuposto
de que a tecnologia tem exercido influência sobre a educação, tanto na
forma de fazê-la quanto na ampliação das desigualdades sociais, que não
começou em um cenário pandêmico, apenas potencializou-se. O objetivo
aqui não é oferecer respostas para a forma de se fazer educação a partir das
TDIC, mas fomentar discussões e reflexões acerca de implicações éticas
que conduzem o uso do suporte tecnológico na educação: seu papel, não
dissociado de diversas realidades socioeconômicas, e suas limitações.
203
Discorre-se, aqui, sobre o processo de apropriação das TDIC em
um cenário pós-pandêmico, dialogando com autores clássicos e
contemporâneos às relações entre educação, tecnologia e currículo. Para
tanto, foi adotada como abordagem metodológica a pesquisa bibliográfica,
visando à “[...] produção do conhecimento científico capaz de gerar [...] a
postulação de hipóteses ou interpretações que servirão de ponto de partida
para outras pesquisas” (LIMA; MIOTO, 2007, p. 44).
A Relação Entre Educação e Tecnologia Sob Uma Perspectiva
Humanista
Antes de tudo, vale ressaltar que a tecnologia na educação está
diretamente vinculada à perspectiva de desenvolvimento social e científico.
Partimos desse pressuposto para responder, entre outras coisas, ao interesse
de pesquisadores pela apropriação das TDIC na educação formal durante
a pandemia.
É importante observar que a tecnologia desenvolvida para fins
educacionais foi articulada para utilização em espaços formais de ensino-
aprendizagem em detrimento a espaços não formais. Gohn (2011) disserta
acerca da educação feita a partir de espaços não formais como forma de
liberdade criativa de se colocar a realidade objetiva dos educandos em uma
relação dialética para sua transformação.
O posicionamento de Gohn (2011) sobre o papel dialético da
educação não formal tem como uma de suas influências a educação
emancipadora em Paulo Freire que não refuta o caráter de
desenvolvimento das tecnologias logo em suas primeiras análises sobre as
mesmas, contudo, reforça a necessidade de sua base teórica e
responsabilidade enquanto aparato útil ao processo educativo. Em outras
204
palavras, a tecnologia na educação deve estar em consonância com a
dialética, tendo a emancipação do sujeito como objetivo principal.
Movido por esse pensamento, Paulo Freire, quando secretário da
educação do município de São Paulo (1989-1991), no Governo Erundina
(1989-1993), realizou com êxito a instalação dos primeiros computadores
em escolas públicas, crente em um modelo educacional voltado ao
desenvolvimento social que estava cada vez mais em voga (FREIRE,
2017a).
A visão de Freire (2017a) sobre a relação tecnologia-educação
extrapola a aquisição de computadores. O educador foi além em sua
gestão, traçando diretrizes educacionais que, em sua totalidade, devessem
dar algum sentido à infraestrutura, ou seja, Freire não limitou sua
preocupação ao “o que usar”, mas também pensou em “como usá-lo”, e
vale destacar: isso ocorreu em um cenário de pleno avanço da globalização
e da implementação de políticas neoliberais em território latino-
americano, inclusive no Brasil. Sendo Freire um declarado opositor a essas
políticas, sua responsabilidade como gestor foi ainda maior frente ao
avanço tecnológico como um potencial antagônico.
Muito antes de assumir a secretaria, ainda no Chile, na condição
de exilado durante a Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1985), Freire
(2017b) escreveu, em 1969, a primeira edição de “Extensão ou
Comunicação?
23
”, na qual discute diretrizes para uma educação do campo
e no campo durante a reforma agrária chilena (1962-1973). Dentre suas
principais afirmações, o educador denotou uma clara descrença na
educação que, mesmo em um contexto político favorável às classes
exploradas, negasse sua dialogicidade, ou seja, uma educação cujo objeto
23
Publicado originalmente: ¿
Extensión o Comunicación? La Concientización en el Médio Rural
.
Prefacio de Jacques Chonchol. Santiago, ICIRA, 1969. 109 p.
205
do saber é transmitido por depósito de um suposto detentor de todo saber
a meros receptores. Essa educação, catalogada como “extensionista”, ou
seja, uma extensão de conteúdo por parte de alguém que sabe para alguém
que não sabe, é classificada como autoritária, sendo a emancipação possível
de alcance apenas pelo conhecimento construído com o diálogo.
A crítica de Freire é facilmente transportada à tecnologia como
ferramenta de aprendizagem como via de mão única, ou seja, não
dialógica, quando mesmo em um cenário de ascensão das classes
exploradas, o modelo de educação bancária por depósito, não é superado.
Nessa condição, a tecnologia enquanto utilizada como ferramenta
pedagógica sem uma diretriz de aprendizagem dialógica, assume o modelo
educacional bancário do sistema de dominação classista.
Complementarmente à visão da tecnologia enquanto opção
satisfatória às classes dominadas desde que dentro de uma orientação
educacional dialógica, Freire (2019) também fundamenta sua concepção
sobre ela a partir de um contexto de desenvolvimento, tendo
sustentabilidade, ética e política como principais variáveis agravantes de
seu pensamento.
A todo avanço tecnológico haveria de corresponder o empenho real
de resposta imediata a qualquer desafio que pusesse em risco a alegria
de viver dos homens e das mulheres. A um avanço tecnológico que
ameaça milhares de mulheres e de homens de perder seu trabalho
deveria corresponder outro avanço tecnológico que estivesse a serviço
do atendimento das vítimas do processo anterior. Como se vê, essa é
uma questão ética e política e não tecnológica. O problema me parece
muito claro. Assim como não posso usar minha liberdade de fazer
coisas, de indagar, de caminhar, de agir, de criticar para esmagar a
liberdade dos outros de fazer e de ser, assim também não poderia ser
206
livre para usar os avanços científicos e tecnológicos que levem milhares
de pessoas à desesperança. Não se trata, acrescentemos, de inibir a
pesquisa e frear os avanços, mas de pô-los a serviço dos seres humanos.
A aplicação de avanços tecnológicos com o sacrifício de milhares de
pessoas é um exemplo a mais de quanto podemos ser transgressores da
ética universal do ser humano e o fazemos em favor de uma ética
pequena, a do mercado, a do lucro. (FREIRE, 2019, p. 127-128, grifos
do autor).
Como um intelectual que pensava a educação e o ato de educar a
partir da orientação filosófica humanista, o pensamento de Freire também
penetrou diversas correntes ideológicas progressistas, influenciando
pensadores da ascendente Teologia da Libertação, tais como Betto (2018,
p. 96), que suscita oposição ao modelo bancário nos espaços educacionais
formais, devendo a escola dialogar de forma crítica com a realidade de seu
público, para além de seus muros, caso contrário, ela “[...] corre o risco de
ficar refém da camisa de força de sua grade curricular, como mero aparelho
de reprodução bancária do saber”.
A fala de Betto (2018) traz consigo uma expansão da amplitude
ética do processo educativo presente na filosofia humanista, essencialmente
dialética no que toca à relação educando/a-realidade objetiva, sendo este
processo parte da busca contínua do ser humano por sua constituição
enquanto sujeito histórico.
O que importa é a iniciação dos mais novos em um diálogo com um
legado de realizações e experiências simbólicas que representem os
esforços humanos não só a fim de prover sua subsistência, mas também
de atribuir um sentido à sua existência social e política; um esforço
histórico de constituição do humano a partir das diversas linguagens às
207
quais os homens recorrem na busca de compreensão de sua condição
de habitante de um mundo que se estende para além de sua existência
individual, tanto no passado como no futuro. O ideal humanista de
educação se apresenta, nesse sentido, como um tempo de formação no
qual cada novo habitante do mundo é reconhecido como um sujeito de
aprendizagem; e como um espaço de formação no qual, a partir do
diálogo com uma pluralidade de vozes e linguagens que herdamos do
passado, constituímo-nos como sujeitos do presente. (CARVALHO,
2017, p. 1033).
A relação tecnologia-educação, tendo a corrente humanista como
variável, sugere diretrizes para se pensar em um desenvolvimento
sustentável a partir de novos desafios de mundo contemporâneo, mas
sempre supondo “[...] que as riquezas produzidas pelo engenho humano
devem destinar-se à felicidade de todos e não se restringir àqueles que
agiram para alcançar o fim máximo da acumulação do esforço humano,
transformado em capital, doravante, financeiro” (CHIZZOTTI, 2020, p.
499).
Fica evidente, então, na afirmação de Chizzotti (2020) que, mesmo
o humanismo podendo se reinventar diante de novas perspectivas, o que o
próprio classifica como novo humanismo, sua preocupação é a mesma que
Freire (2019) expõe em sua obra Pedagogia da autonomia: Saberes
necessários à prática educativa, cuja primeira publicação ocorreu no ano de
1996. Isso indica um quarto de século de uma problemática
aparentemente imutável na crítica humanista ao uso da tecnologia, isto é,
a produção desenfreada de riqueza como resultado da exploração de
trabalho e sua distribuição desigual.
Naturalmente, pensadores humanistas como Paulo Freire não
limitaram suas visões e críticas sem reconhecer a progressão da agenda
208
neoliberal nos campos da economia e da educação enquanto um projeto
político da classe dominante. Entre discursos e propagandas motivados por
um suposto interesse de conciliação de classes, isso não foi diferente
quando o ensino superior foi supostamente democratizado com o
surgimento da modalidade de Ensino a Distância, regulamentado na LDB
(BRASIL, 1996), tampouco na adesão ao ensino remoto em caráter
emergencial e preventivo durante a pandemia de COVID-19.
Tecnologia, EAD e Ensino Remoto Durante a Pandemia
Como já mencionado, as diferenças no que diz respeito ao acesso
à tecnologia para o ensino remoto foram percebidas não apenas na relação
entre países centrais e periféricos, mas dentro das próprias nações a partir
de uma perspectiva de classes.
Para entender esse cenário, não é preciso pensar o período
pandêmico, mas voltar à institucionalização do ensino a distância na LDB
de 1996, não levando em consideração o acesso à tecnologia como variável.
Essa nova modalidade, já presente em todos os níveis educacionais, tem
como principal característica “[...] o uso de ferramentas assíncronas, como
fóruns de discussão, atividades com prazos de entrega e também a
possibilidade do uso de gravações e vídeos” (ROTHEN et al., 2020, p.
101). Trata-se de uma modalidade que, dentre outras coisas, proporciona
amplo acesso ao ensino superior, não obstante críticas à perda de qualidade
de ensino pela falta de interação presencial com outros estudantes e tutores.
Analisando a modalidade Ensino a Distância (EaD) com maior
profundidade, fica claro como a perda de qualidade pode compor a crítica
geral às políticas neoliberais na educação, sendo seu público-alvo o que não
conta com acesso ao ensino superior presencial de qualidade. Sua suposta
209
democratização consiste na distribuição de um ensino de qualidade
inferior aos que têm menos condições materiais de preparação para passar
pelos processos seletivos de forte concorrência. E, indo além, a modalidade
EaD “[...] não tem como formar para a experiência do pensamento”, pois
a formação crítica escolar/acadêmica “[...] só pode acontecer numa
instituição educativa real, ou seja, habitada por professores e alunos cujas
relações face a face tecem a vida institucional” (PATTO, 2013, p. 312).
A modalidade EaD, dessa maneira, não democratiza a educação.
Na verdade, ela acaba assumindo uma função reversa: oferece uma medida
paliativa às classes desassistidas pelo poder público e abre espaço ao ensino
superior de qualidade para as classes privilegiadas, e isso se assemelha
quando o ensino remoto tem adesão das classes privilegiadas dentro de um
cenário pandêmico, tendo em conta que, mesmo a tecnologia que
possibilita o acesso das classes menos privilegiadas ao ensino superior na
modalidade EaD, limita o acesso das famílias que contam com poucos
aparatos tecnológicos, sobretudo nos níveis de ensino pré-escolar,
fundamental e médio para o formato de ensino remoto (ALVES, 2020).
O que as leituras sobre o tema indicam é que a variável classe social,
ao menos em um contexto brasileiro, se apresenta como principal
determinante ao acesso à educação de boa qualidade. Sabe-se que o
desenvolvimento tecnológico é uma realidade dada, tal como sua
necessária apropriação em tempos de pandemia. Mas, quem tem se
beneficiado dele?
Esse mesmo questionamento, se levemente reformulado, põe a
variável classe social em evidência fora de período pandêmico: podemos
identificar quem, de fato, estabelece suporte e depende das TDIC para
acesso ao ensino e quem as tem meramente como opção?
210
A questão da tecnologia é ainda mais profunda, mas qualquer
tentativa de colocá-la em análise isoladamente de uma perspectiva de
classes jamais apontará nela um obstáculo para o desenvolvimento social.
Castells (2003) tem observado a ascensão tecnológica global, enumerando
diversos setores profissionais e bens de consumo sujeitos a uma extinção
ou reformulação, sempre observando atores prejudicados não pela falta de
acesso à tecnologia, mas pelo elevado acesso.
Esse paradigma foi invertido durante a pandemia: diversos setores
foram beneficiados pela possibilidade de trabalho remoto, e também pelo
acesso ao ensino remoto de qualidade, evidentemente, no caso das classes
mais privilegiadas. Dessa forma, a tecnologia assumiu-se como via de
desenvolvimento viável, contudo, ela deverá ser discutida ao retomar sua
função desempenhada antes da pandemia, isso porque não é esperado que
a realidade do cenário educacional brasileiro de um momento anterior
criticada por sua desigualdade em uma perspectiva de classes restabeleça
à medida que outras atividades vão sendo retomadas em seu formato
presencial (GATTI, 2020).
Devido a fatores como custos de ingresso e permanência em cursos
de ensino superior, espera-se que o cenário não seja reverso às classes C, D
e E, tendo em vista as necessidades de flexibilização da agenda pessoal dos
estudantes para a difícil tentativa de conciliação entre estudos e trabalho.
É possível afirmar que estes, quando não optarem por uma limitação de
cursos do período noturno e em instituições de fácil acesso por não terem
tido instrução suficiente para o processo seletivo em instituições mais
concorridas, apostem suas esperanças de concluírem um curso de nível
superior na modalidade EaD.
O mesmo ocorre com instituições de nível fundamental e médio.
Todas podem aderir ao formato presencial como assim o faziam antes da
211
pandemia, contudo, os resultados do ensino remoto naturalmente serão
refletidos na retomada das aulas presenciais, evidenciando a distância da
qualidade educacional em uma perspectiva de classes, porém, com alguns
agravantes: a reorganização do sistema escolar quanto à qualificação
docente, passível de intensificação com a nova reforma curricular da lei
13.415, subsumindo o trabalho docente em um momento que em tese
deveria corresponder à recuperação da qualidade da educação do sistema
público de ensino (GOMES, 2021; CASAGRANDE et al., 2019). A isso,
também, soma-se à transferência massiva de alunas e alunos do setor
privado para o público em função da perda de poder aquisitivo da classe C
como sintoma da pandemia.
As diferenças no campo educacional, que deverão ser debatidas
com a retomada das atividades presenciais em sua plena capacidade, trazem
consigo a reflexão sobre a questão ética e política citada por Freire (2019),
no que se refere ao avanço tecnológico. Como já mencionado, não se trata
diretamente de perda causada pelo acesso, mas pela falta de acesso,
colocando as diferenças de classes sociais como principal variável
justificadora da insustentabilidade no período em questão. Também, é
preciso reforçar que, devido à redução da concorrência ao processo seletivo
para ingresso ao ensino superior em termos qualitativos, as classes A e B se
beneficiaram dessas perdas, o que fará com que gestores públicos
considerem a questão da distribuição de tecnologias e medidas
compensatórias de modo a afetar os interesses dessas classes em detrimento
de garantia de maior equidade de acesso das classes C, D e E à educação
de qualidade nos ensinos fundamental, médio e superior.
Ainda que muito se tenha abordado sobre planos de retorno ao
formato presencial, é importante recordar que não foram discutidos planos
viáveis de permanência estudantil à modalidade de ensino remoto,
212
prejudicando, sobretudo, as classes C, D e E que ficaram mais desassistidas.
Nesse sentido, é fundamental considerar planos inclusivos que considerem
quaisquer possibilidades de retorno ao formato de ensino remoto,
reduzindo os impactos que atingiriam os públicos mais vulneráveis.
Evidentemente, devem ser observadas as reações dos estudantes com esse
formato, mas, sobretudo, pensar na relação estudante-tecnologia para antes
do período pandêmico, a fim de compreender sua predisposição às TDIC,
disciplinas de maior ou menor interesse, campos a serem mais bem
trabalhados etc. (GOMES; PIZA, 2020), juntamente às questões de gestão
já levantadas neste texto.
No que diz respeito à fiscalização da gestão e minimização de
perdas, a avaliação de políticas públicas no setor educacional no Brasil para
um momento pós-pandêmico deve considerar, por parte da sociedade,
abordagens muito similares às que ocorreram durante a pandemia, dado
que “[...] as decisões envolvendo as políticas educacionais para o período
da crise foram tomadas com base em interesses privados de empresas,
fundações e organizações nacionais e internacionais representados por
supostos especialistas técnicos e neutros” (GALZERANO, 2021, p. 131).
Em outras palavras, é preciso ter a clareza de que o conflito de interesses
não necessariamente influenciará órgãos de gestão em favor dos públicos
que mais tiveram perdas educacionais durante a pandemia.
Nesse aspecto, pensar na tecnologia de forma sustentável poderia,
em tese, torná-la um aparato compensatório, contudo, tendo em conta
outros conflitos de interesse que, também, permeiam esse campo.
[...] a tecnologia no Brasil sempre esteve a serviço do capital, e que
recursos tecnológicos voltados para a educação sempre partem de
programas e/ou projetos de políticas públicas educacionais que negam
213
a realidade dos diferentes contextos escolares e se preocupam muito
mais com o mercado financeiro do que com a reparação histórica
devida a séculos de exclusão social, e consequentemente, de exclusão
digital. (FIRMINO; FERREIRA, 2020, p. 15).
Retomando o papel da tecnologia na educação para um contexto
pós-pandemia, há que se considerar um debate honesto para a
minimização de perdas, sobretudo as sofridas pelas classes D e E, e a
honestidade desse debate deve pautar os processos de distribuição de acesso
às TDIC e à internet e suas iniquidades, a fim de elaborar novas diretrizes
de gestão educacional para o sistema público de ensino.
Considerações Finais
Conforme enunciado no objetivo deste trabalho, no decorrer do
texto foram tratados os principais temas que devem nortear as discussões
acerca da gestão das TDIC em ambiente escolar, tendo como foco os
grupos mais desassistidos pelo estado e públicos para os quais os resultados
de um sistema educacional precário e de baixa infraestrutura tem sido
revelados no decorrer do ensino remoto e que certamente serão por algum
tempo no pós-pandemia, resultados insatisfatórios.
Entendemos que, de alguma maneira, os públicos mais afetados
devem se organizar para reivindicar medidas reparatórias de órgãos
administrativos, porém, com cautela no que tange à participação de atores
sociais que representam interesses antagônicos aos dos públicos afetados,
tais como gestores que sustentam parcerias público-privadas com a
promoção de políticas que edificam a lógica de separação de classes a partir
do setor educacional.
214
E, para futuras discussões, evocamos a questão central da
tecnologia em quaisquer outros setores e contextos: usar ou deixar-se usar?
Essa questão deve acompanhar consigo os principais dilemas, paradigmas
e variáveis, capazes de gerar novas perguntas que também demandam
atenção: quem se serve da tecnologia e até que ponto ela é aproveitável?
Como estabelecer equidade em uma conjuntura em que a tecnologia
trabalha a favor de políticas neoliberais e potencializa as desigualdades?
Compactuamos com Paulo Freire quando diz que ela só pode ser
sustentável quando responde aos problemas que gera com seu avanço, mas
não esperamos que essa realidade seja alcançada por intermédio dos
principais detentores de influências que têm na tecnologia uma via de
materialização de seus interesses.
Referências
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217
Implicações da Pandemia na Educação Brasileira:
um estudo sobre o uso de tecnologias por professores
Rafael Seidinger de OLIVEIRA
24
Introdução
O interesse por este tema surgiu de discussões acaloradas que os
discentes da disciplina de Educação e Novas Tecnologias: implicações ao
currículo da educação básica e superior tiveram durante as aulas ministradas
no primeiro semestre de 2021. Tais encontros proporcionaram grande
aprendizado relacionado aos impactos que a pandemia decorrente do
COVID-19 vem trazendo, tal como a importância do ensino emergencial
remoto para garantir que os alunos continuassem seus estudos.
Sabe-se que a pandemia tem provocado uma série de mudanças no
cotidiano da sociedade. Com o objetivo de amenizar a proliferação do vírus
causador da doença, diversos setores desenvolveram estratégias para
minimizar a descontinuidade das atividades e, consequentemente, os
prejuízos. Vimos isso acontecer, também, na área educacional, quando os
governantes decretaram a suspensão das aulas presenciais e grande parte
das escolas começaram a oferecer suas atividades pedagógicas na
modalidade remota (SÃO PAULO, 2020).
24
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
rafael.seidinger@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p217-232
218
Essa modalidade de ensino revelou-se alternativa viável para que os
efeitos da pandemia não fossem ainda mais sérios para os estudantes.
Todavia, a migração das aulas presenciais para não presenciais se viu
cercada de tensões, principalmente, para os professores, sobre os quais
discutiremos neste artigo. Sabe-se que os professores, mediante a situação
de pandemia, viram-se obrigados a utilizar as tecnologias num curto espaço
de tempo, sem ao menos passarem por uma formação prévia. Logo, nem
todos estavam aptos para experimentarem esta mudança e reinventarem
suas aulas mediadas pelo uso de tecnologia (MARTINS; FREITAS, 2020).
Diante do excesso de informação, da nova configuração de ensino
e da obrigação de se adquirir novos conhecimentos tecnológicos tão
repentinamente, alguns educadores ficaram adoecidos pela sobrecarga de
trabalho que a pandemia do COVID-19 trouxe (SALAS, 2020).
Desta maneira, a partir de estudos desenvolvidos por Martins e
Freitas (2020), Silva et al. (2020), Nascimento et al. (2020) que discorrem
sobre a nova configuração de ensino que surgiu perante a pandemia, este
estudo tem como objetivo verificar as dificuldades do uso de tecnologias
por professores diante do COVID-19. Para o estudo, foi realizada uma
pesquisa por meio de aplicação de um questionário on-line (Google Forms),
respondido por professores que lecionam no ensino fundamental dos anos
finais e/ou do ensino médio de uma escola pública do interior do estado
de São Paulo.
O trabalho foi estruturado em três partes: a primeira tem o
propósito de apresentar as implicações geradas pela pandemia no âmbito
educacional, principalmente em se tratando dos professores. Na segunda
parte, descreve-se a aplicação de um questionário por meio do Google
Forms para 49 professores de uma escola pública, sendo o questionário
formado por 6 perguntas com o objetivo de verificar dificuldades ao inserir
219
a tecnologia em suas atividades pedagógicas e a terceira parte traz uma
análise dos resultados adquiridos pelo questionário.
Consequências da Pandemia do COVID-19 na Educação
Diante das ligeiras transformações tecnológicas e suas influências
em nossa sociedade, o cenário educacional ainda tem sido grandemente
impactado desde março de 2020, quando a Organização Mundial da
Saúde (OMS) declarou o estado de pandemia em virtude do vírus- SARS-
CoV-2 que ocasiona o COVID-19 (NASCIMENTO et al., 2020).
Com a propagação da doença, diversos estados brasileiros tiveram
que adotar estratégias para barrar sua proliferação que se espalhou em larga
escala, conforme se constata, a seguir, por meio do decreto de número
64.862, de 13 de março de 2020 do estado de São Paulo: “No âmbito de
outros Poderes, órgãos ou entidades autônomas, bem como no setor
privado do Estado de São Paulo, fica recomendada a suspensão de: I - aulas
na educação básica e superior, adotada gradualmente, no que couber”
(SÃO PAULO, 2020).
Como consequência dessa ação, o isolamento social teve que ser
aplicado à população e as instituições de ensino precisaram adaptar-se à
nova demanda proporcionada pelo novo coronavírus. Sendo assim, o
Ministério da Educação instituiu algumas diretrizes com relação às
atividades pedagógicas não presenciais a serem desenvolvidas pelas escolas,
conforme apresenta-se:
I elaboração de sequências didáticas construídas em consonância com
as competências e suas habilidades preconizadas em cada área de
conhecimento pela BNCC; II utilização, quando possível, de
220
horários de TV aberta para programas educativos compatíveis com
crianças e adolescentes; III distribuição de vídeos educativos (de curta
duração) por meio de plataformas online, mas sem a necessidade de
conexão simultânea, seguidos de atividades a serem realizadas com a
supervisão dos pais ou responsáveis; IV realização de atividades on-
line síncronas, de acordo com a disponibilidade tecnológica; V oferta
de atividades on-line assíncronas, de acordo com a disponibilidade
tecnológica; VI estudos dirigidos, pesquisas, projetos, entrevistas,
experiências, simulações e outras; VII realização de avaliações on-line
ou por meio de material impresso a serem entregues ao final do período
de suspensão das aulas presenciais; e VIII utilização de mídias sociais
de longo alcance (WhatsApp, Facebook, Instagram etc.), para estimular
e orientar os estudos, desde que observada a classificação etária para o
uso de cada uma dessas redes sociais. (BRASIL, 2020, p. 13).
Diante desse cenário, professores foram forçados a deixar o ensino
tradicional no formato presencial que, para Moran (2000), poderia se
mostrar mais eficaz quando o acesso à internet era difícil. Todavia, com a
facilidade da conexão e da divulgação de muitos cursos e materiais, o
aprendizado, com suporte tecnológico, pode ocorrer de modo
individualizado e com resultados mais promissores.
Barbosa et al. (2004) reforçam que, antigamente, os alunos
enxergavam o professor como única fonte de informação e conhecimento,
contudo, hoje em dia, existem inúmeras possibilidades de se construir
aprendizagem sem a presença física do professor, é o caso de cursos, livros,
bibliotecas e laboratórios.
Com a pandemia do COVID-19, professores tiveram que buscar
estratégias e passaram a buscar possibilidades na utilização dos recursos
digitais, que, até então, tinham sido pouco explorados ativamente no dia a
dia escolar, em geral. Nesse sentido, para assegurar a realização dos estudos
221
e das demais atividades pedagógicas, o WhatsApp, Google Meet e o Google
Classroom se tornaram recursos fundamentais (CUNHA et al., 2020).
Essas medidas foram tomadas para garantir o direito da educação conforme
relatado na Constituição Federal do Brasil de 1988 em seu artigo 205: “a
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988).
Para os docentes, essa nova configuração de ensino representou
uma série de dificuldades, pois tiveram que se adaptar à nova demanda
que, até então, era desconhecida e pouco vivenciada, sem mencionar a falta
de oferta de formação dos professores para uso das ferramentas digitais no
ensino. Para grande parte dos professores, principalmente, aqueles que são
adeptos à metodologia mais tradicional, a adaptação pode ter sido mais
custosa pela não familiaridade ou uso constante de ações pautadas no
suporte tecnológico. Eles têm, todavia, superado suas limitações e buscado
adequar as tecnologias (MARTINS; FREITAS, 2020).
Por influência disso, algumas unidades federativas do Brasil,
visando contribuir para formação dos professores, promoveram cursos de
capacitação com o propósito de facilitar o manejo nas mídias digitais em
ambiente escolar. Além disso, outras políticas públicas tiveram que ser
aplicadas para assegurar que os docentes tivessem condições de acessar à
internet para o ensino, como o fornecimento de pacote de dados, subsídios
para compra de artefatos tecnológicos, dentre outras estratégias adotadas
(CONSED, 2021).
Silva et al. (2020) afirmam que essa avalanche de informações e de
mudanças, que ocorreu na educação em um curto espaço de tempo,
resultou no adoecimento de muitos educadores, originando transtornos de
222
bipolaridade, ansiedade generalizada, síndrome do esgotamento mental e
outros. Sendo assim, o COVID-19 proporcionou uma fragilização aos
professores por causa do excesso de trabalho e da nova rotina, acarretando
estresse, ansiedade, insônia e outros sintomas que apontam problemas na
saúde mental (SALAS, 2020).
Deste modo, pode-se destacar que a ansiedade gerada pela nova
configuração de ensino, a pressão de gestores escolares, a alta carga de
trabalho e as dificuldades na utilização das tecnologias contribuíram para
agravar o estado de saúde dos professores:
presenciamos a angústia e a exaustão de professoras/es que precisam
garantir empregabilidade, dar conta das tarefas domésticas em um
cenário, muitas vezes apocalíptico, e ainda: alimentar plataformas
digitais, blogs, sites, grupos de aplicativos, canais de vídeos, elaborar
tarefas e vídeoaulas, atender à chefia imediata, às famílias igualmente
angustiadas e acometidas pelas incertezas que o isolamento social traz
e ainda correm o risco de, quando o retorno ao que se tem chamado
de “novo normal” ocorrer, terem que retomar todas essas atividades
laborais e ainda garantir que o currículo seja plenamente trabalhado.
(SILVA, 2020, p. 73).
Frente ao exposto, nota-se que o ensino emergencial remoto deixou
marcas na educação e proporcionou preocupações para os professores, visto
que, além das suas atividades diárias, precisam, agora, manusear as
tecnologias digitais para trabalhar. Logo, como muitos professores não
estão habituados, se tornam vulneráveis para desenvolverem medo, tensão,
frustração, dentre outros problemas emocionais.
223
Com o propósito de analisar as dificuldades do uso das tecnologias
por professores, a seguir, serão apresentados a metodologia utilizada neste
trabalho, os resultados obtidos e, por fim, as considerações finais.
Metodologia
O presente trabalho trata-se de um estudo de caso com abordagem
qualitativa realizado em uma escola pública do interior de São Paulo a
partir de um levantamento feito por meio de questionários. Para Yin
(2001, p. 32), um estudo de caso “investiga um fenômeno contemporâneo
dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre
os fenômenos e o contexto não estão claramente definidos”.
Para isso, contamos com a participação de 49 professores dos anos
finais do ensino fundamental dos anos finais e/ou ensino médio, sendo que
20,4% dos participantes possuem idade de 20 anos até 31 anos, já 24,5%
possuem idade de 31 anos a 40 anos e a maioria dos professores, 55,1%
possuem 41 anos ou mais.
Foi-lhes aplicado um questionário contendo 6 perguntas, sendo 4
delas perguntas fechadas contendo “sim ou não” como respostas e 2
questões abertas, nas quais o professor podia expressar suas expectativas em
relação ao uso das tecnologias no cotidiano escolar.
De primeiro momento, pensou-se na possibilidade da impressão
dos questionários que seriam entregues para serem respondidos. No
entanto, com a finalidade de alcançar maior público, facilitar o acesso e
agilizar o procedimento na coleta de dados, as perguntas foram criadas por
meio da ferramenta Google Forms e compartilhadas no grupo de WhatsApp
dos professores da escola que foram previamente comunicados e
224
manifestaram concordância na participação. Compartilho, a seguir, os
resultados obtidos no supracitado questionário.
Resultados
Compreendo que o grande número de respondentes possa
apresentar contribuições para mapear o posicionamento e desafios
enfrentados pelos docentes a partir de momento pandêmico. A primeira
pergunta que enfoca dificuldades no manejo tecnológico está retratada no
Gráfico 1, a seguir.
GRÁFICO 1 VOCÊ TEVE DIFICULDADES AO USAR A TECNOLOGIA NAS
ATIVIDADES PEDAGÓGICAS?
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
Nota-se que mais da metade desses professores (51%),
responderam que enfrentaram dificuldades ao inserir as tecnologias em
suas atividades pedagógicas, isto pode ser explicado pela ausência de
familiaridade com tais recursos, visto que não observamos ações e nem
políticas públicas mais robustas do Ministério da Educação para
incorporação de tecnologias digitais nas práticas de ensino nas escolas.
225
Boa parte desses professores sinalizaram dificuldades no uso da
tecnologia com o ensino emergencial remoto. Segundo eles, seus principais
obstáculos foram o uso das ferramentas do Google: Forms, Meet,
Classroom. Muitos salientaram que encontraram dificuldades para registro
de aulas e da frequência no diário de classe on-line da Secretaria Digital
Escolar. Já outros escreveram que possuem dificuldades quanto à digitação
e formatação para envio dos roteiros de atividades semanais aos alunos.
A maioria dos professores que responderam ao questionário
acreditam não ter recebido formação suficiente para usar as tecnologias em
suas atividades pedagógicos no cotidiano escolar, conforme apresenta o
Gráfico 2:
GRÁFICO 2 VOCÊ RECEBEU FORMAÇÃO SUFICIENTE PARA USAR AS
TECNOLOGIAS EM SUAS AULAS?
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
O Gráfico 2 corrobora o apontamento de Freitas (2010) acerca do
motivo da ausência de conhecimento para usar as mídias digitais.
Reconhece que isso se deve ao fato de que os professores têm poucas ou
nenhuma disciplina relacionada aos saberes de tecnologias durante suas
226
licenciaturas. Silva et al. (2020) têm a mesma concepção, quando relatam
que as novas práticas do ensino emergencial remoto, ocasionado pela
pandemia do COVID-19 evidenciaram as dificuldades dos professores
com o uso das tecnologias, pois não tiveram as capacitações adequadas
durante o período de graduação e nem em cursos extracurriculares.
Paralelamente ao Gráfico 2, uma pesquisa recente, realizada com
cerca de 15 mil professores de todas as regiões do país, demonstrou que
53% dos docentes pesquisados não tiveram nenhum tipo de formação para
o uso de mídias digitais para a docência, apenas 28,9% dos docentes
afirmaram ter facilidade para o uso desses meios e 17% responderam que
não possuem os meios necessários para ministrar as aulas não presenciais
(GESTRADO, 2020).
Por este motivo, o decreto de nº 9.319, de 21 de março de 2018,
visa encorajar os docentes a buscarem formação, como está exposto no
artigo quarto, inciso II - “viabilizar e incentivar a capacitação de professores
e outros agentes educacionais para utilização pedagógica das tecnologias da
informação e comunicação” (BRASIL, 2018).
Nesta pesquisa foi perguntado, também, se os professores, mesmo
diante das dificuldades, pretendem utilizar as tecnologias digitais
informatizadas como estratégia para ensinar os alunos na disciplina em que
atuam na escola. Quase todos os professores, com exceção de dois,
responderam que querem usar as tecnologias como ferramentas em suas
aulas, pois a tecnologia já faz parte da vida dos alunos, como vemos a seguir
na resposta de alguns deles:
227
Professor 1: “Sim, pretendo usá-las, pois os jovens são adeptos às
tecnologias digitais.”
Professor 2: Sim, pretendo utilizar, porque ajuda na compreensão
do conteúdo e os alunos têm mais interesse.”
Professor 3: “Vou utilizar pois a tecnologia já é algo essencial em
nossas vidas e tornará algo muito importante para todos os alunos.”
Professor 4: Sim. Irei continuar utilizando, pois desperta mais
interesse dos alunos, os recursos visuais, os jogos educativos, plataformas.”
Professor 5: “Sim, porque a utilização desses recursos são meios
facilitadores que permitem tornar o aluno protagonista no processo de
ensino e aprendizagem.”
Diante das mudanças que aconteceram tão repentinamente por
conta do COVID-19 na educação, alguns professores tiveram sua saúde
mental abalada devido ao excesso de atividades, à necessidade de aprender
rapidamente a utilizar novas metodologias de ensino e à insegurança com
relação ao futuro. Isso foi percebido nesta pesquisa, pois, 32,7% dos
entrevistados responderam que acreditam ter desenvolvido em algum
momento problemas emocionais por terem que adotar novas tecnologias
em suas atividades pedagógicas, conforme se apresenta abaixo:
228
Professor 6: “Não possuímos ainda a democracia digital. Outra
situação é que o mundo virtual extrapola a realidade. Antes se tínhamos
horários fixos e tempo para cuidar de outras esferas da vida, agora é como
se estivéssemos conectados 24 horas por dia”
Essa resposta evidencia que alguns dos professores se sentem com
sobrecarga de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento de
problemas emocionais. Ainda neste sentido, Paludo (2020) afirma que a
vida profissional se misturou com a pessoal na época de pandemia, um
exemplo disso está no fato de as redes sociais que serviam de
entretenimento, passaram a servir como estratégia para realização de buscas
ativas dos alunos, tirar dúvidas, indicar prazos, além dos grupos de
WhatsApp que demandam tempo.
Considerações Finais
Conforme o estudo apresentado, a pandemia causada pelo novo
coronavírus fez com que o setor educacional incorporasse uma nova
configuração de ensino. Essa nova configuração constituiu-se possibilidade
a continuidade do processo de ensino-aprendizagem.
Em virtude dessa mudança que ocorreu em um curto período de
tempo, de modo inesperado e que exige que o professor tenha
conhecimento das ferramentas tecnológicas, muitos professores
encontraram dificuldades ao introduzir as tecnologias em suas atividades
pedagógicas, visto que a maior parte deles não tiveram a capacitação
adequada diante do novo cenário instaurado.
Como já afirmado, diante desse cenário de medo e instabilidade,
além da pressão por aprender rapidamente a usar as tecnologias e o excesso
229
de trabalho que foi acrescentado para os professores, muitos deles ficaram
abalados emocionalmente desenvolvendo, em algum momento de sua
atuação profissional, problemas relacionados à sua saúde mental.
Este trabalho demonstrou dificuldades enfrentadas por professores
na inserção das tecnologias digitais em suas atividades pedagógicas,
sobretudo com relação ao uso das ferramentas do Google Meet, Classroom,
na utilização de novos aplicativos e, também, na digitação para elaboração
de roteiros de atividade dos alunos.
Diante do exposto, observamos que a tecnologia alterou cenários,
transformando o cotidiano das pessoas e demonstrando que os
profissionais precisam, cada vez mais, repensar as recentes demandas e
possibilidades proporcionadas por esses novos recursos de forma a
maximizar as práticas pedagógicas.
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233
O Uso de
FANFICS
Como Recursos
de Letramento em Sala de Aula
Natália Morato Mesquita SABELLA
25
Introdução
Este artigo é fruto das reflexões e de várias leituras realizadas
durante a disciplina Educação e Novas Tecnologias: implicações ao currículo
da educação básica e superior (Programa de Pós-Graduação em Educação
UNESP/Marília). A partir dos encontros ocorridos no transcorrer da
disciplina, constatou-se que a perspectiva do letramento se faz mais
presente no cotidiano escolar e que, de forma crescente, são notáveis as
mudanças, especialmente quando consideramos o contexto social que
temos vivenciado nestes últimos anos, em que as tecnologias e redes sociais
ganharam forças.
É notável que as mudanças nas práticas pedagógicas em sala de aula
carecem de reflexão quando observamos que, tanto alunos quanto
professores, queixam-se da eficácia de práticas tradicionais. Em tempos em
que a tecnologia emerge como suporte de ensino e ganha a atenção de
educadores em processo de letramento, cabe a eles proporem práticas mais
significativas e engajadas pela mediação das tecnologias.
25
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail: n.sabella@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p233-246
234
Além disso, pensando nas questões do ensino de leitura e escrita de
textos, comumente, há uma valorização de metodologias e gêneros tidos
como tradicionais que se chocam com as mudanças recorrentes a partir do
cenário pandêmico. Podemos mencionar a utilização de meios eletrônicos
para práticas de leitura e escrita que, devido ao momento pandêmico, têm
ganhado cada vez mais destaque. E, como afirma Cavalcanti (2010, p. 4)
“a mudança de suporte de leitura/escrita do livro ou papel para a tela de
uma máquina provoca mudanças no caráter de tais práticas, novas
habilidades passam a ser requeridas para ler o texto eletrônico, blogs e
websites.
Nesse sentido, compreendemos que, a partir das aceleradas
transformações, a escola precisa se organizar para atender esta demanda de
forma que considere a realidade de seus educandos (SOUZA et al., 2020).
Trata-se de articular as metodologias utilizadas nas práticas de ensino e
aprendizagem com a realidade de mundo em que os estudantes se inserem
de modo a estabelecer relação direta entre as práticas sociais e os objetos
do conhecimento.
Apesar de toda a celeridade, o educador deve ter ciência da
importância do letramento digital, assim como aponta Moreira (2012, p.
4):
[...] há a necessidade de um indivíduo ser letrado digitalmente pois a
necessidade de um indiduo ser letrado digitalmente surgiu a partir da
ideia de que uma fonte digital pode gerar muitas formas de
informações de texto, como imagens, sons, etc. Por isso, uma nova
forma de alfabetização era necessária com o intuito de dar sentido a
essas novas formas de apresentação além do que, se a tecnologia está
disponível para ser usada, deve ser colocada em prática para o maior
235
número de pessoas possível. Nesse caso, é preciso levar em consideração
que essa implementação envolve questões sociais e políticas [...].
Embora possa haver muitos ganhos na parte tecnológica, há, ainda,
muitos desafios apontados por professores alfabetizadores e de Língua
Portuguesa no que se refere ao domínio das tecnologias como recursos
eficazes para obtenção do letramento de natureza digital. Apesar de muitos
alunos estarem expostos a celulares, computadores e tablets repletos de
diferentes tipos de linguagem ainda apresentam dificuldades na leitura e
escrita, ou de fato não leem ou escrevem (BITENCOURT et al., 2020).
Somado a isso, temos o fato de muitos professores serem resistentes
a usar novas tecnologias em suas aulas, apesar de vivermos numa era digital.
Isso se dá, principalmente, por estarmos focados, ainda, em uma educação
centrada no professor e, por isso, cabe-nos pensar em integrar tais
tecnologias desde a formação docente (MOREIRA, 2012).
Aqui, já podemos entender que muitos recursos tecnológicos, que
nos servem como ferramentas, podem proporcionar diversas práticas
interessantes e significativas para o letramento dos alunos. Por outro lado,
não podemos ignorar o fato de muitos educadores não estarem
familiarizados com os supracitados recursos e, ainda, o fato de os
educandos não enxergarem esses artefatos como ferramentas de estudos.
Santos et al. (2019, p. 4) nos apontam:
[...] é preciso fazer com que a escola seja espaço propício para a
socialização e humanização do educando em formação, necessitando-
se inovar as estratégias de (re)significação do processo de ensino na
busca por uma aprendizagem significativa relacionada à leitura e
escrita.
236
As possibilidades de inovação tecnológica e as concepções de leitura
e escrita devem ser encaradas, positivamente, como uma oportunidade
para os educandos assumirem uma postura de autores. Dessa forma,
vislumbramos potencial nas fanfics já que esse gênero permite maior
maleabilidade em sua escrita (BITENCOURT et al., 2020).
Temos, então, de um lado, uma possibilidade emergente para o
cenário educacional, que é o uso de fanfics, que pode se constituir um
recurso valioso e significativo, atraente para os educandos e, de outro,
dificuldades por parte dos docentes para viabilizarem as práticas inovadoras
dada as fragilidades no histórico de formação desses profissionais. Todavia,
com o suporte tecnológico, podem-se buscar formas de ampliar, inclusive,
a compreensão de práticas de leitura e escrita, suas relações com o universo
que nos cerca e as possibilidades de expansão, cabendo aos educadores
[...] verificar o elo de produção sócio-histórico, a finalidade do texto,
seu interlocutor e qual gênero textual se pode escolher para
determinadas situações do trabalho em sala de aula. Precisam perceber
que o domínio da leitura e da escrita possibilita aos indivíduos as
capacidades necessárias para se organizar, participar, refletir sobre suas
habilidades, vivências, cultura, aspectos sociais e familiares,
possibilitando-lhe a ampliação do texto. (SANTOS et al., 2019, p. 4-
5).
A partir da percepção das demandas e do contexto de seus alunos,
os educadores podem propor desafios e conduzir práticas de leitura e
escrita, envolvendo gêneros tidos como tradicionais. Assim, pode-se
utilizar o gênero fanfic como objeto de estudo para o ensino de leitura e
escrita de textos.
237
Sabendo que o educador deve estar atento às mudanças em sua sala
de aula, é inevitável que entenda que haverá, também, uma articulação da
escrita de textos com os meios eletrônicos e que esta promoverá uma nova
gama de gêneros a serem trabalhados (CAVALCANTI, 2010).
Sendo assim, caminhamos, aqui, num sentido em que temos o
conteúdo e as possibilidades de ferramentas para a promoção de uma
prática de letramento significativa já bem consolidada. No entanto, ainda
é preciso, de fato, instrumentalizar educadores e educandos. Ao longo
deste texto, discorro acerca da escolha do gênero fanfic e como ele pode se
apresentar nas práticas pedagógicas, sendo importante apresentar, aqui, a
definição acerca de fanfic ou fanfiction:
Trata-se de uma narrativa ficcional feita com fãs, sem fins lucrativos ou
comerciais, a partir de histórias criadas por outros indivíduos. Essas
histórias podem ser produzidas ou reproduzidas com base em livros,
animes, séries, filmes, novelas, grupos musicais, músicos, atores, entre
outros. (SANTOS et al., 2019, p. 2).
Sendo assim, este artigo tem como objetivo apresentar e discutir a
utilização de fanfics e a possibilidade de propor este gênero como
instrumento de comunicação atrelado às práticas sociais. Desse modo,
reconhecemos as potencialidades deste gênero, bem como seu destaque nos
meios eletrônicos e digitais, já que pode proporcionar uma aprendizagem
mais significativa e contextualizada para os alunos, ainda que esbarre em
questões que tangem a formação docente.
238
A Formação de Professores e o Letramento Digital
Quando tratamos dos recursos digitais em sala de aula, é comum
que se esbarre em questões que acabam por culpabilizar os professores por
não adotá-los, tendo em vista que a grande maioria desses profissionais não
se sente preparado para trabalhar com ferramentas tecnológicas. A
formação docente pouco tem contemplado perspectivas de utilização de
tecnologias digitais de informação e comunicação. Por este motivo, os
professores podem entender essas práticas como ineficazes e não como
possibilidades de fomentar o ensino de leitura e produção de textos.
Devemos considerar que muitas vezes, deparamo-nos com o despreparo
docente para lidar com novas tecnologias e, sob uma outra perspectiva,
alunos expostos a elas com mais frequência.
Tomando por base a definição de letramento digital pelo CiEB
(2018, p. 18), no qual “se refere aos multiletramentos ou modos de ler e
escrever e interpretar informações, códigos e sinais, verbais e não verbais,
com o uso do computador e demais dispositivos digitais” e considerando
que este conceito está englobado na Cultura Digital, apresentada na Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) como competência a ser adquirida
pelos alunos, esse tema passa a ter grande relevância no campo educacional.
Neste sentido, o professor deve buscar capacitação e aperfeiçoa-
mento, seja por iniciativa própria ou oportunizada pelos estados e
municípios, valorizando-se como profissional e dando condições de
fornecer aos estudantes uma nova experiência através das tecnologias
digitais. Entende-se que “[...] investir na formação inicial e continuada do
professor, representa o fortalecimento para a educação, permitindo ao
professor maior autonomia no uso das tecnologias digitais, implementado,
dessa forma, suas práticas pedagógicas” (FRIZON et al. 2015, p. 10193).
239
Junto a isso, temos um novo perfil de aluno que já não vê o
professor como detentor de conhecimentos, mas sim como seu parceiro
mais experiente para auxiliá-lo em suas atividades. Sendo assim,
compreendemos que, assumindo novos papéis, “o professor é parte
inerente e necessária a todo esse processo, em seu lugar insubstituível de
mediador e problematizador do conhecimento, um professor que também
aprende com o aluno” (FREITAS, 2010, p. 348).
Sendo assim, tanto educadores quanto educandos devem construir
relação efetiva com as tecnologias de modo que todos devem se habituar
com tais mudanças cada vez mais rápidas. Logo, entende-se que a formação
de professores caminha a passos lentos para preparar os educadores para
uma realidade que se instaura a partir da utilização de recursos tecnológicos
para mediar práticas de leitura e escrita, em um cenário onde se preza pelo
protagonismo dos estudantes, tornando-se papel fundamental do professor
estabelecer conexões de modo a promover o processo de ensino e
aprendizagem.
O Gênero
FANFIC
Ganha Destaque
A fanfic vem crescendo e ganhando espaço na leitura entre os
jovens e adolescentes, mostrando-se cada vez mais interessante como
instrumento de aprendizagem no processo de ensino (SOUZA et al.,
2020). Desse modo, os ambientes virtuais e a popularização de
smartphones, blogs, Youtube e outras plataformas na internet foram
essenciais para que as fanfics ganhassem forças e se tornassem cada vez mais
reconhecidas (CAVALCANTI, 2010).
Portanto, deparamo-nos com um gênero de grande popularidade
entre jovens e adolescentes em razão de se sentirem representados pelas
240
histórias e personagens deste gênero que, por sua vez, é viabilizado por
meios eletrônicos e redes sociais utilizadas cotidianamente por este
público. Assim, é relevante que os professores se mostrem sensíveis à
demanda e envolvimento dos estudantes de modo a incluir este artefato
em suas aulas que, além de promover os conteúdos necessários, maximiza
a sensação de pertencimento e reconhecimento entre os alunos, mesmo
que a inclusão digital não seja unânime (BITENCOURT et al., 2020).
A importância da
fanfic
como recurso didático
Apesar de ser um gênero muito divulgado, mas pouco explorado
no transcorrer do processo de ensino e aprendizagem, a fanfic necessita
“[...] de maiores discussões e práticas na ação pedagógica para compreender
o gênero, suas características, público a quem se destina [...]” (SANTOS et
al., 2019, p. 10). Assim, ainda que tímida, tem ganhado espaço e,
consequentemente, adentrado nas escolas, revelando-se como uma
ferramenta muito interessante para promover o letramento digital de
jovens e adolescentes.
Souza et al. (2020) compartilham resultados positivos ao utilizar as
fanfics como recursos didáticos, ressaltando que as noções e concepções de
ensinar e aprender estão se transformando e sendo transformadas pela
tecnologia. Trata-se de uma abordagem que valoriza as transformações do
mundo e, ao mesmo tempo, estabelece relações com as vivências dos
estudantes que já estão imersos na digitalidade, tendo na interface seu
principal recurso de mediação.
Este gênero, ainda não tão bem consolidado em situações de ensino
e aprendizagem, pode causar resistência entre os educadores, conside-
rando-se sua flexibilidade no que se refere ao rigor linguístico no processo
241
de escrita. As plataformas de fanfic buscam de certa maneira desenvolver
nos jovens a paixão pela leitura e, também, pela escrita atrelada ao
letramento digital, ou seja, esses espaços digitais atuam no processo de
construção de autores e leitores proficientes de modo a incentivar essa faixa
etária no exercício de práticas, envolvendo linguagem e digitalidade.
A pesquisa de Silva (2019, p. 9) revela que:
O uso pedagógico das fanfictions proporciona um espaço de interação,
de criatividade e de autonomia de pensamento aos alunos,
possibilitando-lhes desenvolver, por meio da relação sinérgica entre
escola e tecnologia, experiências reais de uso produtivo e coletivo da
linguagem que corroboram para sua emancipação.
É possível observar, dessa forma, que o uso de fanfics viabiliza
interação, criatividade e autonomia e, como já mencionamos, permite uma
melhor integração entre educandos e educadores com vistas às novas
demandas do mundo tecnológico.
A revisão de literatura acerca do letramento digital e utilização de
fanfics que foi apresentada por Almeida et al. (2021, p. 14) retrata a
(...) percepção de que o emprego de fanfictions como ferramenta
pedagógica pode ser um produtivo recurso a ser implementado em
ambientes escolares. Além de trabalhar temáticas que despertam o
interesse dos alunos, dada a proximidade com a cultura pop na qual
parte dos adolescentes e jovens adultos estão inseridos, esses materiais
possibilitam aos estudantes incorporarem suas perspectivas pessoais,
pensamentos e opiniões às suas produções textuais, seja em língua
materna ou estrangeira, ou ainda à sua vivência literária.
242
Em consonância com os autores, consideramos, assim, que a fanfic
se apresenta como uma proposta didática promissora, pois promove o
gosto pela leitura, o hábito da escrita e, ainda, permite que o educando
tome contato com obras amplamente reconhecidas da literatura, além de
despertar o interesse, viabilizar inserção, ainda incentiva a produção de
textos, uma vez que o educando pode incorporar suas vivências e
apresentá-los de diversas formas como em ordem falada, escrita,
dramatizada ou musicalizada.
Considerações Finais
A implementação de práticas de leitura e produção envolvendo
fanfics, mesmo que se faça cada vez mais presente na rotina escolar, ainda
depende muito da predisposição de educadores e educandos para inovar.
Com a ascensão de blogs, youtube e websites, as fanfics ou fanfictions
ganharam destaque entre os jovens e se apresentam como recurso
promissor para a produção textual.
Entende-se que o ensino de produção e leitura de textos em sala de
aula ainda é uma temática desafiadora para os educadores que, muitas
vezes, podem não estar familiarizados com novas perspectivas de
letramentos que fomentem o interesse dos educandos em sua prática. Além
disso, deve-se considerar, também, que nem todas as realidades
educacionais estão atualizadas em termos de recursos tecnológicos.
Por um lado, temos professores que não se apropriaram dos
recursos ofertados pelas novas tecnologias. Outro aspecto a ser ressaltado é
o trabalho com os gêneros de natureza digital que podem tornar as aulas
de língua materna mais profícuas e, ao mesmo tempo, mais estimulantes
para os alunos.
243
Partindo da compreensão de que promover práticas pedagógicas
significativas que visam formar leitores e escritores engajados, partindo de
sua realidade e considerando os meios disponíveis para que o façam, revela-
se primordial em nossos dias. Quando o educador se apropria de um
gênero que está ganhando popularidade entre os educandos e sinalizando
contribuições relevantes, oportuniza ações de ensino e aprendizagem
transformadoras que envolvem o protagonismo discente e a mediação
docente para a atuação em novos tempos.
Por fim, utilizar o gênero fanfic em sala de aula é uma prática que
considera aspectos relevantes da vida dos educandos. Além disso,
contempla as habilidades linguísticas necessárias para as demandas de
práticas sociais atreladas ao domínio da linguagem e do letramento de
natureza digital, promovendo, assim, um trabalho muito mais significativo
para educandos e educadores.
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246
247
A Utilizão do
STATISTICAL PACKAGE FOR SOCIAL
SCIENCE
no Ensino e Aprendizagem da
Estatística em Angola
Amado Leonardo ANDRÉ
26
Introdução
Na sociedade atual, a computação constitui-se como ferramenta de
extrema relevância para o processo de revolução técnico-científica em que
as tecnologias estão presentes em todas as esferas da vida social e, a
mesmo, cultural. Podem ser ressaltadas suas vantagens na otimização de
recursos, na comunicação e na atualização da informação, com o suporte
das redes de computadores.
O uso das tecnologias digitais de informação e comunicação
(TDIC) na formação de professores se faz, cada dia, mais necessário,
contribuindo para a transformação da prática pedagógica, do crescimento
humano e, consequentemente, do desenvolvimento da sociedade.
Particularmente, no ensino e aprendizagem da Estatística, exerce um papel
transcendental na medida em que, o aluno pode, segundo os momentos
sócio-históricos concretos, apropriar-se e transmitir experiências
relacionadas com o processamento de dados estatísticos.
26
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
amado.andre@unesp.br
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-321-2.p247-270
248
O computador, em particular, possibilita trabalhar na
representação dos dados estatísticos de forma mais resumida e eficiente
mediante a construção de tabelas e gráficos, cálculo de medidas estatísticas,
ao passo que diminui o tempo no processamento de dados e facilita a
realização de operações complexas para o processamento da informação.
A Estatística Descritiva se dedica à coleta, processamento e análise
de dados e a sua maior utilidade consiste em reduzir grandes massas de
dados e apresentá-los em tabelas, gráficos e medidas numéricas, para a sua
posterior análise e valoração (HOWELL, 2010). As TDIC contribuem de
forma a viabilizar estas análises e, consequentemente, melhorar o processo
de ensino-aprendizagem desta ciência. Elas oferecem novas formas de
trabalho, possibilitam a criação de ambientes de aprendizagem em que os
alunos possam investigar, fazer simulações e construir novas formas de
representação mental, além de desenvolver metodologias que estimulam
ações cooperativas e socializadoras, contribuindo para elevar,
progressivamente, a construção coletiva de saberes (MARTINS, 2011).
As orientações curriculares para o ensino da Estatística e a
investigação em Educação estatística recomendam o uso das TDIC na
realização das tarefas para alcançar os objetivos traçados. Para Martins e
Ponte (2010), a tecnologia é muito útil para o ensino-aprendizagem dos
conceitos estatísticos. Os autores acrescentam que o desenvolvimento dos
meios tecnológicos fez com que surgisse uma nova forma de ensinar
estatística, centrando a atenção nos conceitos e não na forma de calcular.
O presente trabalho aborda o uso do Statistical Package for Social
Science (SPSS) no ensino e aprendizagem da Estatística. Baseamo-nos nos
questionamentos acerca do processo de Ensino e Aprendizagem da
Estatística e na utilização do SPSS em Angola e, em particular, na Escola
Superior Pedagógica do Bié.
249
Fundamentação Teórica
Em Angola, o ensino formal é realizado em língua portuguesa pelo
fato de o país ter sido uma colônia portuguesa. Em 1977, dois anos após a
independência nacional, foi aprovado um novo sistema nacional de
educação no qual “a lei constitucional consagra a educação como um
direito para todos os cidadãos, independentemente do sexo, raça, etnia e
crença religiosa” (INIDE, 2003, p. 7). A sua implementação ocorreu em
1978 e tem, como princípios gerais, os seguintes: (i) Igualdade de
oportunidades no acesso e continuação dos estudos; (ii) Gratuidade do
ensino a todos os níveis e (iii) Aperfeiçoamento docente constante.
Naquela época, o sistema de ensino era constituído por um ensino
geral de base, um ensino pré-universitário ou ensino médio e um ensino
superior. A Estatística, no antigo sistema de ensino em Angola, estava
presente nas 9ª e 10ª classes na disciplina de Matemática.
Em função das novas exigências da sociedade angolana, em 2016,
o estado angolano aprovou a Lei de Bases do Sistema de Educação. A Lei
17/16, de 7 de outubro, apresenta um ensino com perspectiva de
desenvolvimento voltado à realidade do aluno (NACIONAL, 2016). Este
documento define o que se pretende com esta lei e o novo sistema cuja
estrutura integra os seguintes subsistemas: (i) Educação Pré-escolar; (ii)
Ensino Geral; (iii) Técnico-Profissional; (iv) Formação de Professores; (v)
Educação de Adultos e (vi) Ensino Superior. Em seguida, explicitamos
cada um deles.
O Subsistema da Educação Pré-escolar constitui-se a base da
educação, que atende a primeira infância, numa fase da vida em que se
devam realizar as ações de condicionamento e de desenvolvimento psico-
motor.
250
O Subsistema do Ensino Geral engloba um ensino primário de 6
classes (básico obrigatório) e um ensino secundário que integra dois ciclos,
com duração de 3 anos cada. Nos planos curriculares do 2º ciclo do ensino
secundário (10ª, 11ª e 12ª classes), contemplam-se alguns conteúdos
elementares de Estatística, incluídos na disciplina de Matemática.
Essencialmente, contemplam-se conteúdos relativos à Estatística
descritiva, como distribuição de frequências e os gráficos e as medidas de
tendência central e de dispersão. Nestes planos curriculares, esboçam-se,
como objetivos de aprendizagem para o tema de Estatística, “realizar a
análise e interpretação de dados” (INIDE, 2003, p. 15) com vistas à
contextualização dos dados.
No entanto, a unidade de Estatística, nas várias classes do ensino
secundário, está contemplada no final do programa de Matemática e, por
falta de tempo, nem sempre é apresentada e trabalhada com os alunos.
Assim, frequentemente, os alunos terminam o ensino secundário e
ingressam no ensino superior sem a base necessária para a compreensão
dos conteúdos de Estatística previstos neste nível de ensino, trazendo
consigo conceitos mal formulados e revelando inúmeras dificuldades.
Dentro do Subsistema do Ensino Técnico-Profissional, encontra-
se o fundamento do sistema de educação e ensino que assegura uma
preparação técnica e profissional dos indivíduos necessária para a
conclusão de cada um dos seus ciclos, para a sua inserção no mercado de
trabalho sem prejuízo da possibilidade da continuação de estudos no
subsistema de Ensino Superior.
O Subsistema de Formação de Professores é o conjunto integrado
e diversificado de órgãos, instituições, disposições e recursos vocacionados
para a preparação e habilitação de professores e demais agentes de educação
para todos os subsistemas de ensino.
251
Ao Subsistema da Educação de Adultos são integrados, também,
órgãos, instituições, disposições e recursos vocacionados para a
implementação de processos educativos baseados em princípios, métodos
e tarefas de andragogia.
O subsistema de Ensino Superior engloba as Universidades de
Ciências, das quais saem quadros formados nas áreas de Ciências puras e
Instituições Superiores de Educação, cujo perfil profissional é a docência.
Entre estas estão os Institutos Superiores de Ciências da Educação e as
Escolas Superiores Pedagógicas, dedicados exclusivamente à formação de
professores nos diferentes ramos do saber com conhecimentos tecno-
científicos e uma profunda consciência patriótica de modo a que assumam
com responsabilidade a tarefa de educar as novas gerações. Em ambas as
Instituições de Ensino Superior, a Estatística é uma disciplina transversal
no plano curricular do curso de Matemática, ademais é neste subsistema
que o SPSS em Angola deveria ser utilizado para capacitar professores e
futuros professores dos níveis anteriores.
Na seção a seguir, detalhamos as especificidades da Escola Superior
Pedagógica de Bié, objeto da aplicação deste trabalho.
Particularidades na Escola Superior Pedagógica do Bié
No que diz respeito à Escola Superior Pedagógica do Bié, podemos
definir, como objeto de trabalho profissional, o processo educativo e, em
particular, o ensino-aprendizagem no ensino secundário, por ser este o
nível de ensino em que o professor vai desenvolver o seu trabalho. Para a
formação deste profissional, as disciplinas agrupam-se em três áreas,
considerando a sua contribuição para a formação do profissional: área
científica principal, geral e complementar.
252
A área científica principal contempla as disciplinas que contribuem
para a formação na área específica da especialidade do curso; a área
científica geral refere-se às disciplinas que contribuem para a formação do
perfil pedagógico e, finalmente, a área científica complementar inclui as
demais disciplinas que contribuem para a formação integral do profissional
docente, entre as quais se integram as disciplinas de Estatística. Nesta área,
a Estatística tem um papel importante ao possibilitar a descrição dos
acontecimentos educativos e expressar os problemas inerentes à educação
de uma forma clara e precisa, além de contribuir para o desenvolvimento
das habilidades investigativas necessárias ao futuro exercício das funções
docentes.
A Estatística não está incluída no conjunto de conhecimentos
específicos da titulação em si, mas integra um grupo de ferramentas que
servirão para o estudo, a compreensão e desenvolvimento das matérias
próprias de cada especialidade. Por esta razão, o seu ensino resulta, por
vezes, numa tarefa difícil que exige dos professores do ensino superior não
apenas um profundo conhecimento do conteúdo da disciplina mas,
também, da metodologia do seu ensino.
Um outro aspeto a considerar é a sua natureza interdisciplinar, ou
seja, os conceitos estatísticos são manejados em consonância com a
terminologia própria das áreas do conhecimento em que se ministra, por
exemplo: Biologia, Psicologia e Geografia, entre outras. Por isso, são
necessárias (a) preparação prévia e (b) formação permanente dos
professores, com o apoio dos Departamentos de Ensino e Investigação e
grupos de pesquisadores em Estatística. Considerando estes desafios, desde
os primeiros anos do seu funcionamento, em 2005, como uma extensão
do Instituto Superior de Ciências da Educação do Huambo
(ISCED/Huambo) até à sua denominação como Escola Superior
253
Pedagógica em (2009), se realizaram inúmeras mudanças a nível curricular
na disciplina de Estatística.
Inicialmente, não havia um programa específico da Estatística, o
que se constituía um problema que afetava muito o processo de ensino e
aprendizagem. O sistema de conteúdos não se adequava ao perfil de
formação dos estudantes, os quais não contavam com a base matemática
necessária. Além disso, a quantidade de conteúdos prevista para abordagem
tornava difícil a sua execução na prática porque, nas especialidades não
matemáticas, esta disciplina é semestral.
Além disso, deve-se considerar que, apesar do objeto de trabalho
de qualquer aluno formado na Escola Superior Pedagógica ser a docência,
tal se diferencia em função da titulação a que se faça referência, visto que,
por exemplo, um aluno de Matemática e um de Psicologia não têm as
mesmas necessidades de formação nesta área da Estatística. Mesmo tendo
pontos em comum no que diz respeito aos conceitos, o enfoque de estudo,
a profundidade e sua aplicação é muito distinta em ambos os casos.
Atualmente, a Escola Superior Pedagógica do Bié possui programas
das disciplinas Estatística I e II que comporta os seguintes temas: (i)
Desenvolvimento histórico da Estatística; (ii) Conceitos estatísticos
elementares; (iii) Elementos da teoria de amostragem; (iv) Probabilidades;
(v) Variáveis estatísticas; (vi) Classificação e escalas de medição; (vii)
Sistematização sobre estatística descritiva, e (viii) Noções de correlação e
regressão.
É necessário refletir sobre a forma como estes conteúdos estatísticos
são abordados em sala de aula, permitindo a tão necessária mudança do
método expositivo para métodos que permitam aos alunos ter um papel
mais ativo e aprender com compreensão.
254
Tecnologias: vantagens e desvantagens
As tecnologias sempre interagiram com o homem, desde os tempos
remotos da história da humanidade. Frequentemente, o homem busca
inovar e melhorar o seu trabalho com aplicação de novos instrumentos que
facilitam o seu modo de vida no mundo que se torna, cada vez, mais
globalizado.
O uso das TDIC estão mais presentes na vida do homem, o que
permite estabelecer novas relações, adquirir novos conhecimentos,
empregar novas metodologias de aprendizagem, de ensino e de
pensamento, que vão transformando o mundo numa grande aldeia
socializada e global (DOVALA; WANGA, 2019).
Na atual sociedade, onde, muitas vezes, o trabalho humano é
substituído por máquinas, há a necessidade de ser criativo, mas, também,
é preciso compreender que as TDIC não são o ponto fundamental no
processo de ensino e aprendizagem, mas sim uma possibilidade para
proporcionar a mediação entre educadores, educandos e saberes escolares.
Para tal, é necessário compreender que a inserção das TDIC na educação
depende da formação dos professores numa perspectiva que o ajude na
prática docente com suporte das tecnologias.
Para
Castro (2007), as vantagens das TDIC na Educação são: (i)
Motivação dos estudantes; (ii) Gera interesse; (iii) Aumenta o nível de
cooperação; (iv) Potencializa a criatividade; (v) Melhora a comunicação;
(vi) Pensamento crítico e (vii) Multiculturalidade. Por sua vez, o mesmo
autor apresenta as desvantagens das TDIC na Educação que são: (i) Gerar
distrações; (ii) Gerar isolamento; (iii) Filtragem da informação; (iv)
Cyberbullying.
255
Metodologia
Este estudo pauta-se na pesquisa qualitativa, em que há uma
relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo
indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não
pode ser traduzido em números. O ambiente natural foi a fonte direta para
coleta de dados e o pesquisador, o instrumento chave. A interpretação dos
fenômenos foi a atribuição de significados no processo da pesquisa. O
processo e seu significado são os focos principais de abordagem (KAURK
et al., 2010).
Quanto ao procedimento, utilizou-se a pesquisa bibliográfica,
elaborada a partir de material já publicado, constituído, principalmente,
de livros, artigos em periódicos e, atualmente, material disponibilizado na
internet (GIL, 2007). Utilizou-se o paradigma interpretativo que é o
produto de um processo de interpretação de ações desenvolvidas pelos
pesquisadores, que desempenharam um papel chave no contexto do estudo
(AMADO, 2014). Em relação à análise de dados, esclarecemos que o
pesquisador tende a analisar as informações indutivamente.
Uso do
SPSS
no processo de ensino-aprendizagem da estatística em
Angola, em particular na Escola Superior Pedagógica do Bié
O Statistical Package for Social Science (SPSS), ou seja, pacote
estatístico para as ciências sociais, é um software para análise estatística de
dados em um ambiente amigável, utilizando-se de menus e janelas de
diálogo, que permite realizar cálculos complexos e visualizar seus resultados
de forma simples.
Segundo o site Wikipédia, o SPSS, é um software aplicativo
(programa de computador) do tipo científico. Um dos usos importantes
256
deste software é a realização de pesquisa de mercado, sendo classificado
como um dos programas de análise estatística mais utilizados no mundo.
No ano de 1970, foi publicado o primeiro manual de usuário do
SPSS. Por conta desse manual, o software se popularizou entre as
instituições de ensino superior nos Estados Unidos da América. Seu nome
oficial, hoje, é IBM SPSS Statistics e é de propriedade da International
Business Machines Corporation (IBM). Este possui os direitos de venda,
distribuição e desenvolvimento da ferramenta. Entretanto, existem versões
do pacote SPSS livre, cujo aplicativo pode ser, facilmente, baixado. Neste
estudo, utilizar-se-á a versão 20 do referido software.
Depois de instalado o software, sua execução se dá pelo duplo
clique com o botão principal do mouse no seu ícone (figura 1) que,
geralmente, se encontra no menu iniciar, dentro da aba de programas.
FIGURA 1 - ÍCONE DO SPSS
Fonte: Acervo do autor (2021).
O clique no ícone do software dá acesso a uma janela que permite
abrir um arquivo já existente, ou criar uma nova base de dados, como se
apresenta na figura 2.
257
FIGURA 2 - NOVO ARQUIVO
Fonte: Acervo do autor (2021).
No SPSS, pode-se criar um banco de dados ou importar de outro
programa, tal como o Excel, Access ou Data Base. Para criar um novo banco
de dados, dá-se um clique em ‘cancelar’ na janela apresentada na figura 2
e aparece a interface do software, como observamos na figura 3.
FIGURA 3 - INTERFACE DO
SOFTWARE
Fonte: Acervo do autor (2021).
Os menus das janelas principais são muito semelhantes entre si. A
figura 4 retrata o menu da janela de dados.
258
FIGURA 4 - MENU DA JANELA DE DADOS
Fonte: Acervo do autor (2021).
Para Pereira e Patricio (2016), os menus têm as seguintes
funcionalidades:
Arquivo: funções de criar, abrir, ler ou imprimir arquivos
provenientes de outras sessões de análise ou de outros programas (base
de dados, folhas de cálculo).
Editar: funções de modificar ou copiar texto das janelas de
visualização ou de sintaxe; pesquisa de dados e parametrização de
opções diversas.
Visualizar: funções de ativação de diversas barras de botões, fontes,
grelha, barra de status e mostrar os rótulos.
Dados: funções de alteração global dos dados, tais como: transpor
variáveis e casos, criar subconjuntos de casos para análise, inserção de
dados. Estas mudanças são temporárias e não afetam o arquivo, exceto
se efetuada uma gravação com estas alterações.
Transformar: funções de produzir alterações nas variáveis
selecionadas, e para calcular novas variáveis a partir de valores de outras
já existentes. Estas alterações só serão efetivas se gravadas.
Analisar: funções de selecionar os vários procedimentos
estatísticos, como a análise descritiva, análise de variância, correlações,
etc.
259
Utilitários: funções para obtenção de informação acerca das
variáveis, controle da lista de variáveis nas caixas de diálogo e alterar os
menus.
Extensões: código de linguagem de programação.
Janela: Funções de comutar entre várias janelas do SPSS ou
minimizá-las.
Ajuda: ligação à página do SPSS na internet. Ajuda relativa ao
funcionamento do SPSS.
É importante salientar que, após a barra de menu, segue a barra de
ferramenta. A aplicação do SPSS apresenta dois separadores, conforme
ilustra a figura 5.
FIGURA 5 - SEPARADORES DA APLICAÇÃO DO SPSS
Fonte: Acervo do autor (2021).
(i) Visualização de dados: permite visualizar e editar os dados.
(ii) Visualização das Variáveis: permite definir ou alterar as
características de uma variável.
Ao clicar no separador ‘Visualização de variável’, apresenta-se a
figura 6.
260
FIGURA 6 - VISUALIZAÇÃO DE VARIÁVEL
Fonte: Acervo do autor (2021).
A tabela abaixo descreve os campos presentes na visualização de
variáveis, incluindo cuidados a ter e /ou recomendações específicas para
cada um deles.
TABELA 1 CAMPOS, DESCRIÇÕES E RECOMENDAÇÕES DE CUIDADOS
Descrição
Cuidados/ Recomendações
Nome
Designação breve da variável
Cada variável deve ter um nome único,
sendo permitidos, até, 64 caracteres.
Recomendam-
se designações breves,
mas inequívocas.
Tipo
Tipo de variável
Aconselhável utilizar apenas variáveis
numéricas, já que os nomes não
permitem a realização de cálculos.
Largura
Número de dígitos
permitidos em cada célula da
variável
Raramente, é necessário modificar,
intencionalmente, este campo, que não
voltará a ser referido.
Decimais
Número de casas decimais da
variável
No caso de variáveis que só assumem
valores inteiros, deve definir-
se este
campo como (0) zero.
261
Rótulo
Designação mais ampliada
da variável
São permitidos, até, 256 caracteres,
espaços entre palavras, acentos, etc.
Valores
Codificação dos valores
numéricos que as variáveis
nominais e ordinais podem
assumir.
Permitidos, até, 120 caracteres
Omisso
Valor a atribuir à ausência de
resposta ou resposta inválida.
O valor definido em ausente não deve
coincidir com qualquer valor válido que
a variável possa assumir. Ex: 99; 999,
9999
Colunas
Número de caracteres
permitidos por nome
Raramente, é necessário modificar
intencionalmente.
Alinhar
Alinhamento de dados na
janela de visualização.
Raramente, é necessário modificar
intencionalmente.
Medida
Escala de medida da variável,
default: desconhecido
Recomendável que a definição da escala
de medida das variáveis-nominal,
ordinal ou intervalar seja efetuada.
Papel
Papel da variável, default:
input (variável
independente)
Recomendável que seja selecionado
nenhum, já que algumas variáveis
poderão assumir vários papéis.
Fonte: Organizado pelo autor (2021)
Os passos a seguir, referem-se à demonstração de um exemplo com
aplicação do SPSS.
A Universidade Internacional do Cuanza (Unic) entrevistou 40
alunos da Escola de Formação de Professores Marista ˮo Joséˮ do
Cuito/Bié, para saber qual o veículo de informação era mais utilizado:
Jornal (1), Rádio (2), Revista (3) e Televisão (4). Os resultados obtidos são
demonstrados na figura 7.
262
FIGURA 7 - VISUALIZAÇÃO DA VARIÁVEL
Fonte: Acervo do autor (2021).
Usando o SPSS, apresente a tabela de frequências e analise os
resultados.
Resolução:
Passo nº 1: Inserção dos dados na interface do SPSS
Para isso, realizam-se as seguintes ações:
1.1. Abrir o aplicativo: clicar duas vezes no ícone da aplicação
(figura 1)
1.2. Aparecerá a janela retratada na figura 8:
263
FIGURA 8 - CAIXA DE DIÁLOGO DA APLICAÇÃO
Fonte: Acervo do autor (2021).
Dando sequência, deve-se clicar em ‘cancelar’ na figura 8 para
fechar a caixa de diálogo que se sobrepõe à interface do SPSS.
1.3. Ativar a opção vista de variáveis. No campo denominado
“nome” colocar um nome abreviado para a identificação da variável, sem
espaçamento entre caracteres. Neste caso, pode ser “veículo de
informação”. Na coluna “etiqueta”, escrever o nome da variável sem
limitação de caracteres: “veículo de informação mais utilizado”.
1.4. Atribuir valores para a variável: Dar um clique na primeira
célula da coluna “valores”, e aparecerá a seguinte caixa de diálogo,
conforme demonstrado na figura 9.
264
FIGURA 9 - RÓTULOS DE VALOR
Fonte: Acervo do autor (2021).
Na opção “valor”, colocar o valor numérico de cada uma das
categorias da variável e na opção ‘etiqueta’, colocar a modalidade
correspondente a cada valor numérico. Por exemplo, para a modalidade
“jornal”, na opção ‘valor’, colocar o número 1 e na opção ‘etiqueta’ escrever
a palavra “jornal”, em seguida, clicar em ‘acrescentar’, tal como aparece na
seguinte caixa de diálogo apresentada pela figura 10.
FIGURA 10 - PREENCHIMENTO DOS RÓTULOS DE VALOR
Fonte: Acervo do autor (2021).
265
Este procedimento será repetido até concluir a inserção de todos os
valores da variável. Terminado o processo, clicar em adicionar e, em
seguida, em ‘ok’, como apresentado na figura 11.
FIGURA 11 - RÓTULOS DE VALOR PREENCHIDOS
Fonte: Acervo do autor (2021).
No campo “medir”, selecionar a escala de medição da variável.
Neste caso, nominal, conforme ilustra a figura 12.
FIGURA 12 - OPÇÃO DE MEDIÇÃO DA VARIÁVEL
Fonte: Acervo do autor (2021).
Ativar a opção visualização de dados’ no canto inferior esquerdo
da interface e, assim, aparecerá a tabela como retratada na figura 13.
266
FIGURA 13 - VISUALIZAÇÃO DA TABELA
Fonte: Acervo do autor (2021).
Introduzir os dados correspondentes à variável, segundo as
respostas obtidas na entrevista, começando do número 1 até o último
elemento da amostra, como se pode observar na figura 14.
FIGURA 14 - VISUALIZAÇÃO DA TABELA PREENCHIDA
Fonte: Acervo do autor (2021).
Passo nº 2: Construção da tabela de frequências usando SPSS.
Para tal, realizam-se as seguintes ações:
267
2.1: Ir ao menu ‘analisar’ e seguir a sequência: estatísticas
descritivas-frequências, tal como se apresenta na imagem 15.
Ao clicar em ‘frequências’, aparecerá a seguinte caixa de diálogo:
FIGURA 15 - VISUALIZAÇÃO DA CAIXA DE DIÁLOGO
Fonte: Acervo do autor (2021).
Na caixa de diálogo denominada ‘frequências’, clicar na seta para
transportar a variável para o retângulo à direita, conforme representado na
figura 16.
FIGURA 16 - CAIXA DE DIÁLOGO FREQUÊNCIAS
Fonte: Acervo do autor (2021).
268
Logo após, clicar em ‘ok’ e aparecerá a seguinte tabela de
frequências, conforme demonstrado na tabela 2.
TABELA 2 TABELA DE FREQUÊNCIAS
Campo
Frequência
Percentagem
Percentagem
válida
Percentagem
acumulada
1. Jornal
10
25,0
25,0
25,0
2. Rádio
13
32,5
32,5
57,5
3. Revista
9
22,5
22,5
80,0
4.
Televisão
8 20,0 20,0 100,0
Total
40
100,0
100,0
Fonte: Organizado pelo autor (2021)
Passo 3: Análise dos resultados da tabela:
Verifica-se que grande parte dos alunos (32,5%) obtém a
informação a partir da rádio e a menor parte (20%) pela televisão. Estes
resultados podem conduzir o gestor da Universidade do Cuanza a refletir
sobre a necessidade de fazer ou não um investimento em spot publicitário
pela televisão, uma vez que são muito custosos e, apenas a menor parte da
amostra, é que obtém a informação por esta via.
Considerações Finais
De modo geral, em Angola tendo em conta o número reduzido de
laboratórios de informática e a sua ocupação com aulas de informática, não
tem sido possível a utilização dos computadores por parte dos alunos nas
aulas de Estatística II.
269
É importante salientar que deve-se ter maior atenção na elaboração
dos horários para que as aulas de informática ocorram em momentos
diferentes às aulas de Estatística, a fim de que os laboratórios sejam
utilizados, também, para aquelas disciplinas que exigem o uso dos
computadores e o ensino deixe de ser, prioritariamente, teórico.
Dessa forma, a utilização do SPSS poderá proporcionar a
oportunidade de substituir a forma tradicional de ensinar a Estatística,
baseada nos cálculos e procedimentos, por uma abordagem focada na
análise de dados, apresentando tarefas significativas e motivadoras para que
os alunos desenvolvam seu letramento estatístico. Contudo, essa aplicação
não garante, por si só, uma aprendizagem efetiva, sendo fundamental o
papel ativo do professor no estabelecimento e suporte do desenvolvimento
do raciocínio dos alunos.
Referências
ANGOLA. Lei nº 17/16 de 7 de outubro de 2016. Sistema de Educação
e Ensino que estabelece os princípios e as bases gerais do Sistema de
Educação de Ensino. I série nº 170, p, 3994-4011
AMADO, J. Manual de Investigação qualitativa em educação. Coimbra:
Pombalina. 2014
CASTRO, A. N. Fundamentos estruturais e pedagógicos em educação à
distância. Rio de Janeiro/RJ – Brasil. 2007. Disponível em:
http://awu@awu.com.br. Acesso em: 15 ago. 2021.
DOVALA, C. H.; WANGA, O. A. S. Aspetos sociais da utilização das
Tecnologias de Informação e Comunicação em contextos educativos.
Angola. 2, 1-7, 2019.
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HOWELL, D. C.
Statical Methods for Psychology
. Belnont:
Wadsworth, 2010.
INIDE. Caraterização global do contexto angolano e respectivo sistema
Educativo. Luanda: Editora Moderna. 2003
KAURK, F. S. et al. Metodologia da pesquisa: um guia prático.
Tabuna/Bahia: Via Litterarum. 2010
MARTINS, C. Manual de análise de dados quantitativos com recurso
ao IBM SPSS saber decidir, fazer, interpretar e redigir. 1ª ed. Portugal:
Psiquilíbrios Edições, 2011.
MARTINS, M. E. G.; PONTE, J. P. Organização e tratamento de
dados. Lisboa: DGIDC. 2010
NACIONAL, A. Lei de Bases do Sistema de Educação de Angola.
Luanda. 2016
PEREIRA, A.; PATRICIO, T. Guia prático de utilização do SPSS.
Lisboa: Edições sílabo. 2016
271
Sobre os Autores
Amado Leonardo André
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / e-mail: amado.andre@unesp.br
Andresa Lins dos Santos Salvador
Mestrado em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / e-mail: andresa.lins@unesp.br
Camila Boarini dos Santos
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / e-mail: camila.boarini@unesp.br
Camila Fernanda Dias Pavaneli
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / e-mail: camila.pavaneli@unesp.br
Cláudia Virgínia Albuquerque Prazim Brasilino
Professora da Universidade Estadual do Piauí / Uespi / curso de Licenciatura
Plena em Pedagogia. Mestre em Educação / PPGE / Universidade Federal da
Paraíba / Parnaíba/PI. e-mail: claudiaprazim@phb.uespi.br
272
Daniel Vieira Sant'Anna
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / e-mail: daniel.santanna@unesp.br
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Professora Assistente no Departamento de Letras Modernas / PPGE /
Faculdade de Ciências e Letras / Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP – campus de Assis/SP e professora orientadora no
PPGE / UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
daniela.nm.garcia@unesp.br
Daniele de Fátima Fuganholi Abiuzzi Sant'Anna
Mestranda em Educação / Docência para Educação Básica / PPGE /
Faculdade de Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP campus de Bauru/SP / e-mail: daniele.abiuzzi@unesp.br
Dayene Ferreira dos Santos
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / e-mail: dayene.santos@unesp.br
Fábio Arlindo Silva
Instituto de Educação e Pesquisa em Práticas Pedagógicas (IEP3), Unesp, São
Paulo/SP. Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e
Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: fabio.arlindo@unesp.br
273
Hermínia Rita Rosalem Martins
Especialista em Informática em Educação / Professora do ensino médio e
técnico de Escola Técnica (Etec) Jacinto Ferreira de Sá / Ourinhos/SP / e-
mail: rita.rosalem@unesp.br
Micaela Sílvia Simão Fondo Covane
Escrito usando a ortografia de Moçambique exceto as citações. Doutoranda
em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP - campus de Marília/SP
/ e-mail: micaela.fondo@unesp.br
Mike Ceriani de Oliveira Gomes
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / e-mail: mike.ceriani@unesp.br
Murilo Fiorim Bózoli
Especialista em Tradução e Interpretação em Libras / Professor de Libras -
UNESPAR Câmpus Campo Mourão / e-mail: murilo.bozoli@unesp.br
Natália Morato Mesquita Sabella
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / e-mail: n.sabella@unesp.br
Natália Salles Corrêa
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / e-mail: ns.correa@unesp.br
274
Nathaly Martinez Alves
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP/ e-mail: nathaly.martinez@unesp.br
Paulo Alexandre Filho
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / professor de Educação Básica da rede estadual paulista / e-
mail: p.alexandre@unesp.br
Rafael Seidinger de Oliveira
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / e-mail: rafael.seidinger@unesp.br
Robson Galdino da Silva
Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior / Bacharel em
Sistemas de Informação / Lençóis Paulista/SP / e-mail:
robsongaldinodasilva@gmail.com
Tarcísio Paciulo Castilho
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / e-mail: tarcisio.paciulo@unesp.br
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Marília/SP / professor de Educação Básica da rede estadual paulista / e-
mail: yngrid.karolline@unesp.br
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SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Normalização
Kamilla Gonçalves
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Daniela N. de Moraes Garcia | Paulo Alexandre Filho
Daniel Vieira Sant’Anna | Douglas Cunha dos Santos
(Organizadores)
Muito além de aspectos teórico-metodológicos, o tempo de pandemia tem
desvelado a importância de artefatos tecnológicos, na maioria das vezes,
concebidos apenas como ferramentas destinadas à comunicação instantâ-
nea ou simples entretenimento. Assistindo aos baixos resultados das ava-
liações externas e, principalmente, à desvalorização de nosso lugar de fala
como educadores, ainda, buscamos, com anco, a condução de práticas
pedagógicas que envolvam, docentes e discentes, em um processo signi-
cativo. Assim, reunir esses textos, frutos de pesquisa, experiências e estudos
intensos de alguns educadores, alunos do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UNESP, Campus de Marília, é sinônimo de reconhecimento
e concretude de que a educação, como instrumento social, reete as neces-
sidades, bem como as demandas de uma época sem precedentes.
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Professora Livre Docente em Língua In-
glesa pela UNESP. Professora Associada
junto ao Departamento de Letras Mo-
dernas da Faculdade de Ciências e Letras
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - UNESP – Campus
de Assis/SP e Professora e orientadora no
Programa de Pós-Graduação em Educa-
ção- UNESP- Campus de Marília / e-mail:
daniela.nm.garcia@unesp.br
Paulo Alexandre Filho
Doutorando em Educação / PPGE / Facul-
dade de Filosoa e Ciências / Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
- UNESP – campus de Marília/SP / Pro-
fessor de Educação Básica da rede estadual
paulista / e-mail: p.alexandre@unesp.br
Daniel Vieira Sant’Anna
Doutorando em Educação / PPGE / Facul-
dade de Filosoa e Ciências / Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
- UNESP – campus de Marília/SP / Profes-
sor Orientador de Informática Educacional
na rede municipal de Lençóis Paulista/SP /
e-mail: daniel.santanna@unesp.br
Douglas Cunha dos Santos
Mestrando em Educação / PPGE / Facul-
dade de Filosoa e Ciências / Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
- UNESP – campus de Marília/SP / Profes-
sor de Língua Inglesa pelo Programa Língua
Inglesa na UNESP (PLIU) / e-mail: douglas.
cunha@unesp.br
EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS
EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS: práticas em cenários disruptivos
práticas em cenários disruptivos
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 396/2021
Processo Nº 23038.005686/2021-36
ORGANIZADORES
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