O presente texto, pensado na perspectiva
da Filosoa da Educação, toma como base
o alerta adorniano de que o imperativo pri-
meiro de toda educação é o de que Auschwitz
não se repita. Na dialética entre civilização e
barbárie, Auschwitz é a irrupção na história
da barbárie perpetrada. Nestes tempos som-
brios, vivemos um continuum: do nazifascis-
mo daquele momento chegamos ao fascis-
mo do nosso tempo. Na atual conjuntura, de
exacerbação do autoritarismo e de projetos
autocráticos, a hipótese é que temos uma
atualização destes elementos sob a égide do
neoliberalismo e do advento das Redes Sociais,
além da potencialização da capacidade de
manipulação das subjetividades dos existen-
tes pelo uso dos algoritmos. É possível, ain-
da, educar numa civilização cujo legado tem
sido a barbárie? Nosso problema é político.
No contexto do problema, o objetivo se es-
tabelece: reetir sobre a questão do fascismo,
no sentido de se pensar a educação como
condição de emancipação.
João Vicente Hadich Ferreira, Doutor em
Educação pela Universidade Estadual Pau-
lista (UNESP). Mestre em Educação e li-
cenciado em Filosoa pela Universidade
Estadual de Londrina – UEL. Professor ad-
junto do Curso de Pedagogia / Campus de
Cornélio Procópio e do Programa de Pós-
-Graduação em Educação (PPEd) / Campus
de Jacarezinho, ambos da Universidade Es-
tadual do Norte do Paraná – UENP. Inte-
grante do “Grupo de Pesquisa e Ensino em
Políticas Públicas em Educação e Processos
de Escolarização” – GEPEPEE (UENP) e
do Grupo de Pesquisa “Teoria Crí-tica: Fi-
losoa, Educação e Cultura” (UNESP).
A extrema relevância e atualidade deste livro [...] se torna evidente quando con-
sideramos a advertência de Theodor Adorno sobre a persistência das condições
objetivas geradoras do fascismo, mesmo no interior de sociedades democráticas.
[...] O leitor não terá diculdade em reconhecer a extrema atualidade deste livro
[...], pois sua reexão repercute problemas que não fazem parte de um passado
histórico superado, mas reverberam na sociedade brasileira atual, sob o impulso da
catástrofe ética e social representada pelo bolsonarismo recente. É relevante notar
que o início da pesquisa de doutorado que originou a presente obra, data do ano
de 2017, época em que o ovo da serpente estava sendo lentamente gestado, trans-
parecendo na mentalidade moralmente perniciosa do movimento “Escola sem
partido”. [...] Um dos grandes méritos da reexão exposta neste livro consiste em
desmisticar a repulsa pública pela esfera da política, que em si mesma integra o
conjunto de sintomas da síndrome fascista. Ao contrário da mentalidade de recusa
da política, o autor realça a urgência de uma politização autêntica e autônoma da
esfera do poder, para que se torne possível um exercício público potencialmente
resistente à disseminação da barbárie. [...] Hannah Arendt [...] nos lembra que
“política” é a esfera do debate público entre diferentes, movido pela perspectiva
de um mundo comum. A verdadeira política se traduz no exercício da liberdade
potencialmente voltada para o rompimento do estado de exceção que na realidade
atual silencia o debate público e massacra todos aqueles que representam a dife-
rença. [...] O fascista [...] não deseja conservar nada, pois seu desejo, reprimido,
ou muitas vezes declarado, se dirige à destruição de tudo aquilo que for possível,
desde a vida das pessoas que existem à margem da normalidade social, até as pró-
prias instituições democráticas. [...] Em sintonia com as reexões de Theodor
Adorno, Hannah Arendt, e outros pensadores voltados para a crítica do fascismo,
[...] para entender o que é a educação, nesta obra, devemos nos afastar dos aspec-
tos instrumentais muito presentes na escola, buscando compreender esse termo
como sinônimo de formação do espírito, em sentido contrário à barbárie. [...] Os
leitores que estiverem sintonizados com uma compreensão ampla da educação,
voltada para a desbarbarização e pacicação da sociedade, e sobretudo dirigida ao
combate a todo tipo de preconceito, saberão encontrar neste livro uma obra de
leitura intelectualmente estimulante, esclarecedora e prazerosa.
AUTORITARISMO, FASCISMO E EDUCAÇÃO
SINÉSIO FERRAZ BUENO
João Vicente H. Ferreira
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 396/2021
Processo Nº 23038.005686/2021-36
AUTORITARISMO,
FASCISMO
E EDUCAÇÃO
João Vicente Hadich Ferreira
ainda a premência de que
Auschwitz não se repita