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mundo, negando-lhes a capacidade de criar e recriar, e fazendo com que
permaneçam estagnados.
Por outro lado, a ação dialógica, segundo Freire ([1970], 2011), é
composta de colaboração, de união, de organização e de uma síntese
cultural. Colaboração porque, ao invés de conquistar e dominar o outro,
os sujeitos se encontram para pronunciar e transformar o mundo, num
encontro em que, mesmo havendo funções diferentes, mesmo havendo os
líderes revolucionários, não se age como proprietários dos outros, mas em
comunhão, estabelecendo uma relação de confiança e de diálogo. União
porque, ao invés de desunir para tornar fraca a classe oprimida, a classe
oprimida mantém-se unida entre si e com seus líderes, a fim de lutar pela
transformação da realidade desumana que vivencia. Organização porque,
contrariamente à manipulação, há o testemunho, ousado e amoroso, que
une e torna coerentes as ações. Síntese cultural, porque nunca se chega à
cultura do outro para impor, para negar, para mudar, mas para conhecer,
para respeitar, para valorizar.
Em oposição à forma opressora de relacionar-se, Freire propõe o
diálogo: “O diálogo é o encontro amoroso dos homens, que mediatizados
pelo mundo, o ‘pronunciam’, isto é, o transformam, e, transformando-o,
o humanizam para a humanização de todos.” (FREIRE, [1969], 1977, p.
43). No diálogo, portanto, não cabe a conquista ou a manipulação, não
cabe o domínio de um sobre o outro, mas o reconhecimento do outro
como sujeito, com seus valores, suas ideias, suas ações, seus pensamentos,
enfim, como agente transformador.
E ele prossegue, em outro lugar: “Não há diálogo, porém, se não
há um profundo amor ao mundo e aos homens. Não é possível a pronuncia
do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há amor que a
infunda.” (FREIRE, [1970], 2011, p. 110). O amor é o fundamento do
diálogo. Não é possível encontrar diálogo nas relações de dominação,