Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem
ensino. Esses que fazeres se encontram um no
corpo do outro. Enquanto ensino continuo bus-
cando, reprocurando. Ensino porque busco, por-
que indaguei, porque indago e me indago. Pes-
quiso para constatar, constatando intervenho,
intervindo educo e me educo. Pesquiso para co-
nhecer o que ainda não conheço e comunicar ou
anunciar a novidade. (FREIRE, 2003, p. 30).
Este livro é parte dos esforços coletivos
empreendidos no âmbito do Grupo de Es-
tudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura
Cientíca (GEPPECC) por professores
e alunos membros do grupo e vincula-
dos ao PPGE da FFC/Unesp, Campus de
Marília. Nesta obra, foi possível reunir,
20 autores em nove capítulos que trazem
diferentes olhares, relatos de experiências
e resultados de pesquisas que apontam
para os desaos e perspectivas no âmbito
da Educação Básica e do Ensino Superior
em tempos de pandemia e ensino remoto,
ocasionado em virtude da Covid 19. Es-
peramos socializar conhecimentos produ-
zidos por docentes e discentes vinculados
ao PPGE/ Unesp/ Marília e será destina-
da a alunos de licenciatura, pós-graduan-
dos e prossionais da educação em geral.
Com a publicação deste material, espera-
mos socializar conhecimentos produzidos
por docentes e discentes vinculados ao
Programa de Pós-Graduação em Educa-
ção da Faculdade de Filosoa e Ciências/
Unesp, Campus de Marília e será destina-
da a alunos de licenciatura, pós-graduan-
dos e prossionais da educação em geral.
EDUCAÇÃO E PANDEMIA: impactos e desaos
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 396/2021
Processo Nº 23038.005686/2021-36
Araujo e Cordeiro (orgs)
EDUCAÇÃO E PANDEMIA:
IMPACTOS E DESAFIOS
Luciana Aparecida de Araujo
Ana Paula Cordeiro
(Organizadoras)
Luciana Aparecida de Araujo
Ana Paula Cordeiro
(Organizadoras)
EDUCAÇÃO E PANDEMIA:
IMPACTOS E DESAFIOS
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2022
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIASFFC
UNESP - campus de Marília
Diretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
Graziela Zambão Abdian
Patrícia Unger Raphael Bataglia
Pedro Angelo Pagni
Rodrigo Pelloso Gelamo
Maria do Rosário Longo Mortatti
Jáima Pinheiro Oliveira
Eduardo José Manzini
Cláudia Regina Mosca Giroto
Auxílio 0396/2021, Processo 23038,005686/2021-36, Programa PROEX/CAPES
Arte da capa: José Salustiano
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
E24 Educação e pandemia: impactos e desafios / Luciana Aparecida de Araújo, Ana Paula
Cordeiro (org.). Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica,
2022.
288 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-308-3 (Digital)
ISBN 978-65-5954-307-6 (Impresso)
DOI: https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3
1. Educação. 2. EscolasOrganização e administração. 3. Ensino à distância. I.
Araújo, Luciana Aparecida de. II. Cordeiro, Ana Paula. III. Título.
CDD 370.7
Catalogação: André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Copyright © 2022, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Sumário
Prefácio |
rcia Aparecida Gobbi
...............................................................07
Apresentação................................................................................................19
Capítulo 1 – Educação e Pandemia: Um Olhar Sobre as Produções
Acadêmicas (2020-2021)..............................................................................27
Luciana Aparecida de Araujo
Cleriston Izidro dos Anjos
Capítulo 2 A Cultura da Escola e a Sensibilidade em Tempos da Pandemia:
Condições e Desafios da Educação para Novos Tempos.................................65
Manuel João Mungulume
Alonso Bezerra de Carvalho
Capítulo 3 Gestão Escolar e Desafios no Contexto Pandêmico:
Ressignificando Papéis...................................................................................85
Juliana Xavier Moimàs
Patrick Pacheco Castilho Cardoso
Viviane Jaqueline Peron Ferreira
CAPÍTULO 4 As Fragilidades do Ensino Remoto para a Aprendizagem
Matemática no Ensino Fundamental Anos Iniciais......................................115
Camila Aparecida da Silva
Emerson da Silva dos Santos
José Carlos Miguel
Capítulo 5 Ensino Remoto: Avanços ou Retrocessos? Um Relato de
Experiências no Anos Iniciais do Ensino Fundamental.................................145
Maria Teresa Alvares de Paula
Manuela Cristina Tórcia
Capítulo 6 Considerações Sobre a Educação Especial em Tempo de Pandemia
na Perspectiva da Deficiência Visual nos Anos Iniciais da Educação Básica
...................................................................................................................171
José Salustiano Dos Santos
Débora Fabiana Vaz Dellamura
Claudia Regina Mosca Giroto
Capítulo 7 – Anos Finais do Ensino Fundamental: Os Desafios do Ensino da
Língua Portuguesa......................................................................................193
Fábio Vinicius Alves
Luiz Felipe Garcia de Senna
Capítulo 8– Trajetória da Educação à Distância (EaD) no Brasil e os Desafios
na Implementação do Ensino Remoto Emergencial na Educação Superior:
Breve Contextualização...............................................................................221
Gabriel Scoparo do Espírito Santo
Márcia Mendes de Lima
Capítulo 9 - As Dores e Delícias da Docência em um Tempo Desafiador:
Pandemia, Ensino Remoto e Algumas Disciplinas na Graduação em Pedagogia
da FFC-UNESP, Campus de Marília...........................................................255
Ana Paula Cordeiro
Luciana Aparecida de Araujo
Os/As Autores/as........................................................................................281
7
Prefácio
Diálogos Sobre uma Obra Pertinente
A obra Educação e pandemia: impactos e desafios, organizada por
Luciana Aparecida de Araújo e Ana Paula Cordeiro, tem, entre muitas,
uma característica que não pode ser desconsiderada. Ela foi tecida em
tempos da pandemia, ocasionada pelo rus Sars-Cov-2. Faz disso seu mote
e enfrenta o desafio de pensar, em meio ao turbilhão causado por esta
pandemia que parece não ter fim. Apresenta importantes reflexões
relacionando, como o próprio título nos informa, educação à pandemia
que é, inegavelmente, das maiores e mais acachapantes que temos
registrado em nossa história. A hipótese que parece irrefutável é que a
educação se viu profundamente transtornada nesses tempos, essa que
tem sido alvo de tantas formas de exclusão, empobrecimento pelas políticas
públicas, que sob a aparência de busca por torná-la mais acessível e justa
para todas/es/os, desde a creche, enverga-se em frente ao empresariado que
a suga nas entranhas.
Ao debruçarem-se sobre a educação e seus desdobramentos na
pandemia, os autores - que escrevem essa obra a muitas mãos
convocaram-me a pensar sobre as condições enfrentadas por profissionais
da educação no período abordado, o que me motivou a escrita.
Respeitando os limites de um prefácio, busquei me juntar às análises,
práticas e pensamentos produzidos. Destaco, inicialmente, a importância
de obras que recentemente m contribuído com diferentes produções
teóricas, ao registrar a história no moment o mesmo em que ela acontece.
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3.p7-18
8
São registros que podem ser consultados posteriormente, permitindo
àquelas e àqueles que virão, ter um amplo panorama do triste período pelo
qual estamos passando e perceber suas transformações e permanências e o
quanto isso exige de nós.
Nos últimos dias de fevereiro de 2020, identificou-se, no Brasil, a
primeira contaminação pelo Coronavirus Sars-Cov-2. Na Europa,
centenas de casos tinham sido notificados, conferindo-nos um espaço
temporal entre os casos europeus e a chegada da doença no Brasil e sua
disseminação. Este tempo permitiria agir a partir do que se sabia sobre
o Covid, colocando-nos num lugar em que ações preventivas poderiam ter
acontecido. Contudo, não nos valemos desta experiência. Contrariando
essa possibilidade, nos deixamos levar ladeira abaixo, em estado de espera
pelo que seria trágico. Iniciava-se uma pandemia que, até o momento em
que escrevo esse prefácio, parece não ter fim, modificando-se ao bel prazer
das variantes do Sars-Cov-2 e, não , mas também fazendo valer a máxima
de que sem vacinas nos braços, nos acometemos da doença em suas formas
mais brutais.
O bairro do Leblon, na cidade do Rio de Janeiro, um dos metros
quadrados mais caros do mundo, compôs um triste e emblemático cenário,
projetando o que se alastraria pelo país como doença fatal, repito, até a
existência de vacinas
1
. Conhecemos lamentavelmente a primeira vítima da
Covid: uma empregada doméstica, que vivia na casa dos patrões, “para se
proteger do rus e da longa distância a ser percorrida entre sua casa na
periferia do Rio de Janeiro e a de seus empregadores. Era uma trabalhadora
que vivia no local onde trabalhava, reproduzindo relações de exploração,
que nos remetem imediatamente a textos clássicos como Casa Grande &
1
Vale lembrar que a primeira dose da vacina contra a Covid-19 foi ministrada no Brasil em
17/01/2021, em São Paulo.
9
Senzala, de Gilberto Freire, e ao período colonial no qual tanto se aprendeu
sobre tortura e os poderes espalhados no cotidiano das pessoas. O país das
históricas desigualdades de classe, de raça, gênero e etária mostrava, mais
uma vez, sua face hedionda. A morte da empregada doméstica contagiada
pelos patrões, recém-chegados da Itália, mostrava escancaradamente
elementos engendrados nessa pandemia que, à moda brasileira, produzia
ainda mais desigualdades, devido a inoperância, ao descaso e à política de
Jair Bolsonaro, inegavelmente produtora de mortes. Escrevo este texto
num momento em que continuamos a lutar pela vacinação,
comprovadamente eficaz e salvadora de vidas, com mais de 620 mil vidas
perdidas e em que temos no Sistema Único de Saúde (SUS) o serviço
fundamental para divulgação de políticas públicas de saúde que
mantiveram milhões de vidas salvas deste rus e de tantas outras doenças.
Neste contexto pandêmico e de frágeis políticas que dessem
sustento efetivo a maioria da população, importa referir-me também às
populações indígenas, as quais, em meio à pandemia, foram obrigadas a
manifestarem-se contra o Projeto de Emenda à Constituição (PEC) 215,
que se referia à Demarcação de Terras Indígenas. Trata-se de uma das
principais bandeiras da bancada ruralista, transferindo do governo federal
para o Congresso a atribuição de regularizar as Terras Indígenas,
Territórios Quilombolas e Unidades de Constituição. Prevê-se que nova
sistemática, se aprovada, deverá paralisar de vez o processo de oficialização
dessas áreas protegidas.
Moradoras e moradores de Ocupações de terrenos e edifícios, em
grandes centros urbanos e áreas rurais, foram submetidos a ameaças e
processos que removem casas e vidas, de modo concomitante, ao extirpar
direitos, organizações e relações estabelecidas entre todas/es/os. Com
batalhas que envolveram movimentos sociais de luta por moradia e
10
pesquisadores, foi possível obter a suspensão desses processos de remoção,
pelo menos até 31 de março de 2022, embora em recente notícia, se tenha
sabido do não cumprimento do que fora determinado pelo Superior
Tribunal Federal (STF), numa afronta às formulações legais
2
. As pessoas,
sem casa e sem emprego, passaram a ter nas ruas seu lugar de abrigo, único
para onde ir. Sem condições de se manter, famílias inteiras têm ocupado
avenidas e ruas. Estima-se que somente na cidade de São Paulo tenhamos
em torno de 66 mil pessoas em situação de rua, número que era
alarmante antes da pandemia e que aumentou muitíssimo nesses últimos
dois anos
3
.
O ex-ministro do Meio Ambiente, numa de suas falas, em reunião
com ministros, assessores e presidência da República, afirmou a
necessidade de “passar a boiada”. Não dúvidas de que a pandemia foi
usada para fins escusos, para passar toda sorte de projetos e acobertar ações
que inviabilizam as vidas da maior parte da população, em especial
mulheres, negros e negras, crianças. A olhos vistos, a “boiada” vem
passando de forma aviltante, retirando direitos de trabalhadores,
estudantes, indígenas e matando impiedosamente, de distintas maneiras.
Essa breve contextualização é importante para nos aproximarmos
da escrita da obra aqui prefaciada, que não mediu esforços para nos
apresentar práticas e reflexões oriundas de um campo específico: a
educação, que sofreu enormemente pelos descasos em larga escala, dos
quais foi vítima. O livro nos apresenta importantes contribuições a partir
2
Conforme notificou a Rede Brasil Atual (RBA). Disponível em:
https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2021/12/familias-despejadas-sp-stf-remocoes/.
Acesso em: 09 jan. 2022.
3
Agência Brasil. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-10/sao-paulo-
tem-mais-de-66-mil-pessoas-que-vivem-em-situacao-de
rua#:~:text=Publicado%20em%2015%2F10%2F2021,sem%20teto%20na%20capital%20paulis
ta. Acesso em: 09 jan. 2022.
11
de questões aparentemente tão simples, cujos desdobramentos são
fundamentais para pensarmos sobre as diferentes maneiras de se produzir
a educação e a escola, esta última alvo de empresários, que tentam
privatizações direta e indiretamente e abandonam profissionais à sua
própria sorte, esvaziando de sentido o exercício do magistério, que,
aparentemente, pode ser cumprido por qualquer profissional, sem as
devidas formações e remunerações necessárias.
No Brasil, em 2020, 48 milhões de estudantes deixaram de
frequentar presencialmente as escolas em todos os níveis da educação
básica. No Estado de São Paulo, maior rede pública do país, 3,8 milhões
não puderam estar na escola. Vale sublinhar que entre as mulheres a
porcentagem é maior, pois o acúmulo de atividades, muitas vezes, as
impede de continuar os estudos, afinal, entre usar o celular para suas aulas
e dei-lo para seus filhos e suas filhas ou parentes de menos idade, a opção
é que fiquem com elas e eles. Os cuidados com parentes adoecidos também
tomaram o tempo que poderia ser destinado aos estudos. Isso implica
grandemente a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Somente no Estado
de São Paulo, temos menos 60 mil estudantes adultos e adultas nas escolas,
e as mulheres estão majoritariamente entre eles
4
. Não podemos atribuir
esse fato à mera “desistência de ir à escola, em qualquer de suas etapas,
assim como não é possível responsabilizar apenas a pandemia. Ela foi, e
ainda é, um elemento fundamental para o recrudescimento da ausência de
condições para a vida estudantil enfrentada por estudantes de todas as
idades, mas não é o único fator, como sabemos, que a desigualdade
permeia e evidencia nossa história séculos.
4
Conforme dados apresentados no site https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/03/mais-
de-60-mil-adultos-deixaram-de-estudar-durante-a-pandemia-em-sp.shtml. Acesso em: 09 jan.
2022.
12
Educadores viveram momentos em que questões foram postas,
exigindo soluções urgentes: o que fazer com todas/todes/os estudantes,
desde a creche? Dentro de uma cultura escolar, que embora em constantes
mudanças, está bastante consolidada, como proceder à distância, com
práticas pedagógicas que exigem a presença das pessoas, cujas constantes
relações produzem vivamente culturas, conhecimentos variados, para bem
além dos conteúdos escolares e currículos previamente definidos? A
pandemia expôs problemas arrastados por décadas, mas criou outros
muito importantes, para dar continuidade às expectativas educacionais,
para manter e construir vínculos entre pessoas de todas as idades, para
produzir a vida em tempos de mortes. Ao considerarmos as pesquisas e
relatos de práticas contidos na obra aqui abordada, percebe-se que
profissionais da educação, em todas as etapas, incluindo a educação
especial, tão relegada, em esforços contínuos mantiveram a educação
continuamente viva, apesar de descasos.
Aspectos tão investigados por inúmeras/es/os pesquisadoras/es, tais
como, a importância do contato físico, das relações entre todas/es/os e que
produzem os espaços escolares e o conhecimento em distintas áreas foram
colocados em xeque. Corpos de crianças e jovens, suas vozes, anseios,
correrias e debates ricos foram silenciados. O que seria possível, agora num
momento em que se parecia engessar quaisquer dessas práticas, e, de fato,
as engessou, produzindo outras e até mesmo impedindo qualquer prática
escolar, diante de um cenário de miséria, presente em diferentes bairros de
pequenas e grandes cidades brasileiras, em que o acesso à internet era
impossível, bem como, a computadores pessoais, ainda escassos, devido ao
alto custo. Dados da Pesquisa por Amostra Domiciliar (PNAD) Contínua,
realizada em 2019, no Brasil, revelam que 4,3 milhões de estudantes não
tinham acesso à internet e destes 4,1 milhões são de escolas públicas. Isso
13
se deve especialmente a razões econômicas e à indisponibilidade de oferta
de redes de acesso em várias regiões do país. Esse quadro permite-nos
levantar várias hipóteses, sendo uma delas muito plausível, qual seja: as
crianças poderiam deixar suas escolas, pois estavam impossibilitadas de
acessá-las mesmo remotamente.
Seria possível tecer vínculos mediados por uma tela, ou por telinhas
tão pequenas como as de celulares, divididos com adultas e outras crianças
estudantes? O fato é que tais recursos tardaram muito a chegar às famílias,
que ficaram apartadas de conteúdos e interações escolares que começaram
a ser criadas. Tal formato e condições tão adversas levaram a muitas
problematizações; diria que algumas delas deveriam estar em curso
mesmo antes da pandemia. Ela apenas lhes conferiu maior visibilidade.
Muitos encontros ao vivo, que não exatamente - as chamadas lives -
deram tom às reflexões e foram delineando as condições em que estávamos;
cursos de extensão foram realizados e tiveram como intuito promover
reflexões sobre o que estava se passando e engessava, angustiava, adoecia
pessoas, não somente aquelas acometidas pela Covid-19.
Alertas para as abordagens remotas e as possibilidades de tratar as
disciplinas escolares, especialmente no ensino fundamental e a
manutenção ou reformulação das avaliações escolares, aprovações,
continuidade do ano escolar, somavam-se análises necessárias sobre a
urgência em divulgar dados sobre a pandemiaomitidos pelo Ministério
da Saúde –, manter o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), divulgação científica fundamental para que a
população pudesse prevenir-se, vacinar-se posteriormente, conhecer o que
ocorria no país e no mundo. Enfim, as escolas e todas/es/os que a
compõem ficaram à deriva, deriva essa que resultava de um projeto bem
14
arquitetado e relacionado às formas ultra neoliberais de tratar populações
em especial vulneráveis e tão fragilizadas.
É nesse contexto que nos tira o fôlego e exige coragem que Luciana
Aparecida de Araujo e Ana Paula Cordeiro organizam a obra EDUCAÇÃO
E PANDEMIA: IMPACTOS E DESAFIOS. Ao ler os nove capítulos que
o compõem, escritos por muitas mãos, embora apontem criticamente para
a urgência de enfrentarmos a educação entre e após a pandemia, nos
deixam o gosto amargo, eu diria, de que não temos exatamente os novos
tempos, mas a urgência, recrudescida pela pandemia, de enfrentarmos a
terra arrasada, construída ao longo de 500 anos sobre pandemias, pobreza,
diferenças transformadas em tantas desigualdades e fomes.
Esta obra vai ao chão da escola com voos rasantes, apresentando
realidades em que pessoas fazem um esforço para forjar a educação, apesar
de tudo, forjando a própria vida que brota da crueza e das tantas
necessidades. É possível compreender, pelos relatos e reflexões presentes
neste livro, processos criativos ricos que nos remetem a pensar sobre os
sentidos da escola. Afirmo, com base na leitura dos capítulos, que os
mesmos se juntam ao que busco fortemente na tessitura de uma vida que
se faz na educação: a certeza de que a escola pode ser vista como local
produtor de vida e que na pandemia, com a urgência das aulas remotas, de
cuidar de familiares carecidos de comida, a escola se refez em sentidos que
a aproximaram das comunidades que estão em seu entorno. Se afetou a
cultura escolar, sabidamente carcomida por um cotidiano que precisa
ser revisto, embora também aprazível, a pandemia trouxe bons elementos
para pensarmos comunitariamente e outros tantos sobre o que fazer para
enfrentar as agruras diárias.
Enquanto muitos agentes da educação buscavam soluções,
especialmente, professoras e professores, outros davam cabo às mudanças
15
pelas quais o Ensino Médio estava passando e que terão início em 2022,
com ares de fim de pandemia e retorno ao normal, como ainda vários
grupos insistem em afirmar. Normal que deveria ser rechaçado,
questionado, alterado estruturalmente. Colocam-se em prática altas doses
do empreendedorismo travestido de empoderamento de jovens e
mulheres, em que o protagonismo de estudantes não passa de escolhas de
itinerários pedagógicos, projetos de vida e o desenvolvimento de
habilidades socioemocionais. O empresariado e o mercado ditam as regras
para essa mudança curricular do Ensino dio (CATINI, 2020) e deixam
a juventude com um futuro facilmente perceptível: ausente da
materialização de seus direitos, com empregos precários, universidades
privadas e de baixa qualidade, inexistência de pesquisas científicas.
Em relação aos bebês e as bebês, merece destaque a ausência de
relações entre eles e elas e destes com adultas que cuidam e educam. Ao
mesmo tempo em que essa preocupação era colocada em pauta, outras
movimentavam meios acadêmicos e fóruns de pesquisadoras e professoras
em organizações de caráter político. Afinal, que segurança teriam essas
crianças de tão pouca idade, sem vacinas, ao irem para as creches e pré-
escolas? Como se posicionar em meio a uma pandemia, diante da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que afirma: “a educação
infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança de até cinco anos, em seus aspectos
físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família
e da comunidade”, diz o artigo 29. o artigo das Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) define que “a
Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é oferecida em
creches e p-escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais
não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou
16
privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade”. O
espaço doméstico tornou-se o local, não apenas de cuidados, como
também onde ocorriam as práticas educativas de caráter escolar. Repete-se
a indagação: de que lado ficar diante deste quadro? Bebês não podem ficar
diante de telas, por muito que tenhamos avançado, nada substitui mãos
que acarinham, colo em que é possível sentar-se para um aconchego, uma
brincadeira, um afago. Assim, essas urgências compuseram muitas
discussões sobre educação de crianças com pouca idade.
muito trabalho a ser feito como nos relata esta obra, mas como
debatido e exposto em seus capítulos, muito foi feito, ainda que
mergulhado em incertezas. Destacaram-se e tanto os profissionais da
educação, que em sua lida diária com estudantes da educação básica e
ensino superior, educação especial, criaram formas para enfrentar os
resultados, não de uma pandemia, mas fundamentalmente, dos
desgovernos existentes durante a mesma. Todas as autoras e autores desta
obra são também, como consta no título, aquelas e aqueles que
enfrentaram duramente o que estava ocorrendo, que, vale reforçar, o
ensino superior e a produção de suas pesquisas e reflexões não ficou à parte,
ao contrário, produziu ciência, artigos científicos e livros realizados
enquanto procuravam equilíbrio em meio ao mar revolto, um desafio,
inegavelmente. As publicações acadêmicas em artigos, como tratado em
um dos capítulos deste livro, assim como, livros e demais formas de
divulgação científica, demonstram os esforços feitos pela academia para se
manterem vivos e à verve que nos coloca em pé, em diversas ações.
O cenário tão desafiador da educação, em todas as suas etapas,
tornou-se ainda mais, ao longo da pandemia, exigindo muito de
todas/es/os nós. Ganhamos ao ler a obra e pensar nos enfrentamentos
presentes, o que demanda pensar sobre o lado em que estamos nessa guerra
17
que tem envolvido tão de perto a educação e aqueles que a fazem desde a
base, cotidianamente. Luciana e Ana Paula, bem como, Gabriel Scoparo
do Espírito Santo, Márcia Mendes de Lima, Fábio Vinicius Alves, Luiz
Felipe Garcia de Senna, Jo Salustiano dos Santos, Débora Fabiana Vaz
Dellamura, Claudia Regina Mosca Giroto, Maria Teresa Alvares de Paula,
Manuela Cristina Tórcia, Camila Aparecida da Silva, Emerson da Silva dos
Santos, José Carlos Miguel, Juliana Xavier Moimàs, Patrick Pacheco
Castilho Cardoso, Viviane Jaqueline Peron Ferreira, Manuel João
Mungulume, Alonso Bezerra de Carvalho e Cleriston Izidro dos Anjos,
nomes de todas, todes e todos autores, informados aqui de trás para frente,
enfrentam o desafio da escrita num tempo em que insistem em nos dizer
que não devemos produzir pensamentos e demais ações, que a ciência não
nos vale como forma explicativa da vida, que o estudo e a pesquisa são
colocados em segundo plano. Faço coro ao que fora escrito num dos
capítulos desta obra e convido à reflexão: em 2022 teremos um ano de
eleições. Está em jogo a fragilíssima democracia brasileira, a desigualdade
social adensada, as mais absurdas violências cometidas contra povos
negros, indígenas, mulheres e crianças. O cenário exige muito de nós e não
podemos nos silenciar ou nos contentarmos com algumas palavras de
ordem que mais apaziguam nossos egos do que comem lutas efetivas
contra a barbárie. Vamos ler, tomar dos acontecimentos e das recentes
e importantes reflexões.
Parabenizo a todas/es/os e que venham outros diálogos, pois
carecemos demais deles como forma de nos fortalecermos para enfrentar o
que está em curso e o que virá.
Márcia Aparecida Gobbi
18
Referências
CATINI, Carolina. Empreendedorismo, privatização e o trabalho sujo da
educação. Revista USP, [S. l.], n. 127, p. 53-68, 2020. DOI:
10.11606/issn.2316-9036.i127p53-68. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/180045. Acesso em: 11
jan. 2022.
19
Apresentão
Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) divulgou uma notícia que provocou o caos na economia, na
política, na saúde e na educação. O contexto de pandemia em virtude da
Covid 19, doença causada pelo vírus SARS-CoV2, se instalou em todo o
mundo e com ele vieram novas formas de se viver e agir na sociedade. As
condições impostas pelo isolamento e distanciamento social impuseram às
escolas da Educação Básica e de Ensino Superior um novo ritmo de
trabalho. Professores e alunos precisaram se “reinventar” (e não
consideramos o termo um exagero) nos processos de ensinar e de aprender.
Com esse novo contexto, novas formas de realização das atividades
didáticas precisaram ser pensadas e adequadas à realidade e condições
materiais e subjetivas de seus professores e alunos.
As aulas remotas tornaram-se possibilidade para o enfrentamento
e continuidade do ensino. As tecnologias digitais e plataformas virtuais
tornaram-se ferramentas necessárias, em tempos de pandemia. As escolas
de Educação Básica e as Instituições de Ensino Superior tiveram que pensar
em medidas de enfrentamento da situação, para um possível plano de
retomada das atividades, minimizando os riscos de propagação da doença
entre os profissionais da educação e alunos da Educação Básica e Ensino
Superior.
Como parte dos esforços coletivos empreendidos pelos
pesquisadores do Grupo de Estudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3.p19-26
20
Científica (GEPPECC), professores e alunos do Programa de Pós-
Graduação em Educação da FFC/Unesp, Campus de Marília, foi possível
reunir nesta obra nove capítulos, com diferentes olhares e contribuições,
desde relatos de experiências a resultados de pesquisas, que apontam para
os desafios e perspectivas no âmbito da Educação em tempos de pandemia
e ensino remoto, ocasionado em virtude da Covid 19.
Com o intuito de compreender quais as possíveis temáticas,
desafios e perspectivas têm sido abordadas nas produções acadêmicas que
discutem sobre educação em tempos de pandemia, Luciana Aparecida de
Araujo e Cleriston Izidro dos Anjos, abrem as discussões com o capítulo 1
deste livro, intitulado “Educação e pandemia: um olhar sobre as produções
acadêmicas (2020-2021)”. A autora e o autor reuniram 20 artigos que
discutem a educação em tempos de pandemia, desde a Educação Infantil
primeira etapa da Educação Básica até o Ensino Superior,
sistematizados a partir de dois eixos: Implicações da pandemia causada pela
Covid-19 na educação brasileira e propostas de trabalho em tempos de
isolamento e Políticas públicas educacionais e pandemia: direitos e
exclusão.
Considerando que a pandemia impactou de forma negativa a
cultura da escola, que vinha enfrentando as suas complexidades, e, com
a chegada dela, os desafios da prática escolar se agravaram, Manuel João
Mungulume e Alonso Bezerra de Carvalho, no capítulo 2, intitulado “A
cultura da escola e a sensibilidade em tempos da pandemia: condições e
desafios da educação para novos tempos” trouxeram algumas reflexões em
torno dos impactos causados pela pandemia no contexto escolar, bem
como questionaram a qualidade da aprendizagem adquirida mediante
atividades remotas e suas implicações. O capítulo problematiza a atual crise
pandêmica para buscar alternativas que visam assegurar as condições para
21
o acesso e a permanência na escola após o desânimo instalado pela doença
na vida dos alunos, principalmente os de baixo suporte econômico e social.
Consideram que o contexto atual impõe aos fazedores da educação uma
nova postura ética e epistemológica para fazer face às complexidades
impostas pela crise, pois a pandemia afetou a cultura e a sensibilidade da
escola, o que requer uma nova postura de assumir o compromisso de apoiar
os estados emocionais dos alunos. O trabalho questiona as potencialidades
da formação por meio do ensino remoto e os seus limites, apontando
caminhos para a reorganização dos modos de aprendizagem que permitam
uma instrução sem a exclusão, uma vez que, a crise não pode impedir a
democratização do saber.
Refletindo sobre o papel do gestor, peça fundamental para a
mobilização de todo o contexto escolar em situações extremas e/ou como
elemento de articulação e coesão das instituições, em situações
desafiadoras, como é o contexto pandêmico, Juliana Xavier Moimàs,
Patrick Pacheco Castilho Cardoso e Viviane Jaqueline Peron Ferreira, no
capítulo 3 “Gestão escolar e desafios no contexto pandêmico:
ressignificando papéis” discutem os impactos da pandemia sobre a
educação, sob o viés específico dos profissionais da gestão escolar. Neste
capítulo, as autoras e o autor trazem relatos de experiência de duas
perspectivas gestoras diferenciadas, o de uma escola de educação infantil
(0 a 3 anos), e o de uma escola de grande porte, na zona urbana, que atende
à educação infantil, ensino fundamental e educação de jovens e adultos.
No capítulo 4, intitulado As fragilidades do ensino remoto para a
aprendizagem Matemática no Ensino Fundamental Anos Iniciais”, Camila
Aparecida da Silva, Emerson da Silva dos Santos e José Carlos Miguel
trazem uma reflexão sobre os desafios da aprendizagem Matemática no
pós-pandemia da Covid-19. Muitas dificuldades foram registradas nesse
22
período de ensino remoto, dificuldades em âmbitos tecnológicos,
funcionais e pedagógicos, isso porque muitas vezes a própria falta de acesso
à Internet gerava problemas que afetavam diretamente o processo de ensino
e aprendizagem da criança do Ensino Fundamental Anos Iniciais. Os
resultados desse estudo mostram que no pós-pandemia, os problemas de
aprendizagem Matemática se acentuaram ainda mais, e com o retorno
gradativo das aulas presencias, essas dificuldades estão sendo percebidas em
sala de aula. Com isso, concluem que a educação passa por um novo e
complexo desafio que é retomar o processo de aprendizagem da criança e
sanar as lacunas da aprendizagem na Matemática, decorrentes do período
de pandemia.
Maria Teresa Alvares de Paula e Manuela Cristina Tórcia
escreveram o capítulo 5, intitulado “Ensino remoto: avanços ou
retrocessos? Um relato de experiência nos anos iniciais do Ensino
Fundamental”, com o objetivo de relatar o trabalho realizado com uma
turma de ano do Ensino Fundamental, o auxílio das tecnologias, da
família, os avanços e as dificuldades encontradas tanto por alunos quanto
professoras. As aulas remotas possibilitaram o relato de situações nas quais
os alunos não demonstravam o reforço dos laços, nem mesmo progresso e
interesse no que diz respeito ao seu desenvolvimento, tanto emocional
quanto educacional, famílias angustiadas e situações excludentes. Também
foi possível observar que a maioria das famílias se mostraram engajadas na
educação de suas crianças e que as tecnologias podem ser utilizadas a favor
da educação. As autoras concluem que para uma proposta de trabalho com
crianças é imprescindível que seja claramente observado o objetivo da
mesma, bem como a importância do envolvimento de todas as pessoas que
fazem parte desse processo.
23
No âmbito da Educação Inclusiva, as preocupações também são
evidentes no capítulo 6, de José Salustiano dos Santos, Débora Fabiana
Vaz Dellamura e Claudia Regina Mosca Giroto, intitulado “Considerações
sobre a Educação Especial em tempo de pandemia na perspectiva da
deficiência visual nos anos iniciais da Educação Básica”. Nesse capítulo, o
autor e as autoras problematizam aspectos que circundam o período de
escolarização de crianças com deficiência visual nos anos iniciais da
Educação Básica, tais como: intervenção precoce; estimulação visual;
orientação e mobilidade e atividades de vida autônoma (AVA), foram
destacados, pois são necessários para a formação integral das crianças cegas
e com baixa visão. Tal problematização foi baseada em situações de rotina
de escolas de ensino municipal no período pandêmico, a partir dos
questionamentos sobre qual a contribuição desses fatores para o
atendimento dos alunos com deficiência visual dos anos iniciais em tempos
de pandemia e quais iniciativas contribuem para o melhor
desenvolvimento no processo de ensino e aprendizagem desses alunos.
Subsidiados pela literatura consultada, a discussão ora proposta enfatiza a
necessidade de novas abordagens e iniciativas que enriqueçam a prática
escolar no pós-pandemia.
O ensino remoto, no que diz respeito à Língua Portuguesa,
apresentou grandes dificuldades relativas ao ensino, à interpretação,
avaliação e resultados referentes a uma nova forma de ensinar nas escolas
públicas do estado de São Paulo. Com essa preocupação, Fábio Vinicius
Alves e Luiz Felipe Garcia de Senna, no Capítulo 7, Anos finais do Ensino
Fundamental: Os desafios do ensino da ngua Portuguesa”, trouxeram a
visão de dois professores residentes de uma cidade do interior paulista,
professores categoria “O” (contratados por 3 anos) do ensino fundamental:
Anos Finais - dois (EFII), da Secretaria de Educação do Estado de São
24
Paulo (SEDUC), que ministraram as suas aulas em escolas públicas da
periferia da cidade, de modo remoto, para turmas do ao ano do
Ensino Fundamental: Anos Finais. Os autores trazem experiências de dois
anos consecutivos em que a rede da educação paulista teve de se adaptar,
compreender e se reestruturar para que o ensino remoto pudesse ser
implementado e apresentasse, ao menos alguns resultados referentes ao
ensino de Língua Portuguesa, em meio à pandemia. Os autores chamam a
atenção para a importância do papel do professor e nas questões referentes
ao ensino da Língua Portuguesa, na elaboração de estratégias do ensino-
aprendizagem de alunos e sobre a avaliação em tempos de pandemia.
No Ensino Superior, os problemas decorrentes da pandemia não
foram diferentes. Gabriel Scoparo do Espírito Santo, Márcia Mendes de
Lima, trazem no capítulo 8 desta obra, “Trajetória da Educação à distância
(EaD) no Brasil e os desafios na implementação do ensino remoto
emergencial na Educação Superior: breve contextualização, dados oficiais
sobre a trajetória da EaD nos cursos de graduação, resgatando o conceito
de EaD e de Ensino Remoto Emergencial. No capítulo, o autor e autora
indicaram que os principais desafios encontrados pelos docentes do Ensino
Superior foram a implementação repentina do Ensino Remoto, a falta de
capacitação, a resistência ao ensino síncrono e assíncrono, o impacto
socioemocional do trabalho em Home Office, a dificuldade de acesso à
internet e a limitação da comunicação entre os docentes e estudantes.
Concluem que, mesmo nos cursos de EaD convencionais, existem
momentos presenciais fundamentais para a formação, como as atividades
práticas e estágios, elaborados na perspectiva da modalidade educacional.
Destacam também que as atividades remotas realizadas durante o
distanciamento social não podem ser confundidas com a modalidade EaD.
Além disso, a ausência de práticas durante o ensino na pandemia, e os
25
diversos desafios enfrentados favoreceram a defasagem na aprendizagem na
Educação Superior.
Em As dores e delícias da docência em um tempo desafiador:
pandemia, ensino remoto e algumas disciplinas da Graduação em
Pedagogia da FFC-Unesp, Campus de Marília”, capítulo 9 deste livro, Ana
Paula Cordeiro e Luciana Aparecida de Araujo finalizam com um relato
sobre os desafios enfrentados por duas docentes do Curso de Pedagogia da
FFC UNESP, Campus de Marília, em tempos de pandemia e ensino
remoto. Dúvidas, organização de disciplinas para um novo formato,
conciliar aulas síncronas remotas com atividades práticas e também
assíncronas, avaliações e possibilidades de ensino e aprendizagem são
algumas das questões apresentadas. As autoras consideraram alguns limites
e possibilidades de diálogo, interações e aprendizagem em tempos
históricos de pandemia da Sars-Cov2.
Com o intuito de fomentar o debate e as reflexões acerca dos
impactos e desafios enfrentados pela educação em tempos de pandemia,
convidamos o leitor a pensar sobre a temática, compreendendo que esta
reflexão é necessária e não se esgota na discussão desta obra. Ao contrário,
que possamos refletir, questionar, dialogar e superar as marcas desse
tempo.
Luciana Aparecida de Araujo
Ana Paula Cordeiro
26
27
Capítulo 1
Educação e pandemia:
um olhar sobre as prodões acadêmicas (2020-2021)
Luciana Aparecida de Araujo
Cleriston Izidro dos Anjos
Introdução
Apresentamos algumas reflexões tecidas a partir de um
mapeamento realizado com o objetivo de compreender quais possíveis
temáticas, desafios e perspectivas têm sido abordadas nas produções
acadêmicas que discutem sobre educação em tempos de pandemia no
período 2020-2021. As implicações da pandemia de Covid-19 para a
educação têm sido objeto de nossas preocupações desde o anúncio das
restrições sanitárias e medidas de isolamento físico anunciadas no Brasil,
em função do aparecimento dos primeiros casos no país. Atividades
educacionais presenciais foram suspensas e em todo o cenário educacional
brasileiro havia uma série de incertezas sobre a pandemia e seus impactos
na Educação Básica e no Ensino Superior.
O grupo de Estudos e Pesquisas em Pedagogias e Culturas Infantis
(GEPPECI), um dos grupos dos quais a autora e o autor deste capítulo
fazem parte, ao perceber que os primeiros quarenta dias de isolamento
seriam prorrogados e sem data prevista para retorno das atividades
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3.p27-64
28
presenciais, promoveu uma série de ações e debates para pensar sobre os
efeitos da pandemia na educação e na vida das crianças, desde bebês, dentre
as quais destacamos as lives do Geppeci no perfil do grupo de pesquisa no
Instagram® (@geppeci), o Webnário “Infâncias e educação infantil em
tempos de pandemia”, transmitido e disponível no YouTube® (GEPPECI,
2020) e as produções escritas organizadas com a colaboração de
pesquisadores e pesquisadoras de rias instituições, cujas contribuições
foram organizadas em dois dossiês especiais: “As crianças e suas infâncias
em tempos de Pandemia (SANTOS; SARAIVA, 2020) e “Educação
Infantil em tempos de pandemia” (ANJOS; PEREIRA, 2021).
No Ensino Superior, as atividades de ensino, pesquisa, extensão e
gestão também foram significativamente afetadas. Pesquisas e projetos de
extensão com atividades presenciais de campo precisaram ser repensadas,
os cursos de graduação planejados e realizados na modalidade presencial
tiveram que lidar com desafios e problemas que envolvem as dificuldades
de acesso aos equipamentos tecnológicos e à internet pelos/as estudantes,
com a precarização do trabalho docente agravada pela escassez de suporte
para o trabalho em tempos pandêmicos equipamentos, formação para
lidar com as atividades emergenciais não-presenciais, saúde mental do/a
trabalhador/a da educação e outros auxílios materiais e imateriais – e com
uma sobrecarga imensa de trabalho, além daquilo que a Covid-19 causou
nos contextos familiares e pessoais de estudantes e professores/as.
No momento da finalização da escrita deste capítulo segunda
quinzena do mês de dezembro de 2021 e primeira quinzena de janeiro de
2022 –, ainda temos muito mais dúvidas do que certezas sobre o contexto
pandêmico: parcela significativa de adultos/as foi vacinada, mas avanços
no combate à pandemia ainda são necessários; o debate se volta para a
vacinação de crianças, surgem notícias de novas variantes de Covid-19 e
29
circulam nas mídias as notícias sobre a presença de outros vírus (H1N1,
H3N2...).
Em 28 de janeiro de 2022, foi publicado pela Associação Nacional
de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) o Manifesto pelo
direito de vacinação das crianças contra a Covid 19. A ANPED,
comprometida com os estudos e direitos da infância e da adolescência
posiciona-se a favor da vacinação de crianças, a partir dos cinco anos de
idade, que a vacinação para essa faixa etária foi aprovada após rigorosos
testes clínicos.
No campo educacional, os sistemas de educação pouco avançaram
naquilo que poderia ter sido feito no período de isolamento para garantir
um possível retorno seguro e com respeito aos direitos das crianças e de
suas famílias e de todos/as os/as profissionais da educação, tais como as
medidas indicadas pela Frente Nordeste Criança na obra “Caderno de
Direitos - Retorno à creche e à escola: Direitos das crianças, suas famílias
e suas/seus educadoras/es - gestoras/es, professoras/es e funcionárias/os”
organizada por Ana Maria Mello, Fauston Negreiros e Cleriston Izidro dos
Anjos (2020) com a participação de representantes dos estados da região
nordeste do Brasil.
Um clima de retorno às atividades presenciaisna educação e em
outros contextos ora parece estar mais próximo, ora parece estar distante
da realidade. O contexto brasileiro, de múltiplas desigualdades, que se
acentuam cada vez mais, causa um misto de sentimentos que envolvem
indignação, momentos de paralisia e outros de muito trabalho, produção
e ações solidárias, na tentativa de buscarmos algum sentido para tudo isso.
No Brasil, em 2022, teremos eleições para a presidência da
república, o que torna o cerio ainda mais tenso. No entanto, sabemos
30
que as coisas não podem continuar como estão, considerando que muitos
dos problemas que estamos vivendo poderiam ter sido amenizados ou
evitados se houvesse governantes comprometidos com o povo, com a
ciência e com a educação.
O discurso falacioso que nos ronda e que procura nos convencer
de que a pandemia atingiu brancos e negros, homens e mulheres, ricos e
pobres, adultos e crianças, procura mascarar as desigualdades que
envolvem essa realidade. Ao contrário do que dizem, nós não estamos “no
mesmo barco”. Podemos até estar “na mesma tempestade”, mas
alguns/mas enfrentam-na em iates de luxo, enquanto outros/as não
possuem sequer a madeira flutuante do tronco de uma árvore para se
apoiar.
Iniciamos desse modo, pois a pandemia tem afetado a vida de
todos/as nós e a nossa escrita também não passa incólume a isso. Não
podemos aceitar o discurso do “novo normal”, pois o cenário anterior à
pandemia não era normal para aqueles e aquelas que ainda ousam
indignar-se com tantas desigualdades. É preciso manter viva a chama da
indignação, de modo que possamos aprender com tudo isso e, quem sabe,
construir um outro mundo possível: com mais justiça social, humanidade
e solidariedade. Sigamos!
Com o intuito de localizar e sintetizar a literatura encontrada que
discute sobre educação em tempos de pandemia no período 2020-2021,
de modo a identificar as principais tendências das pesquisas encontradas,
suas lacunas e discussões relevantes e avaliá-las criticamente, optamos pela
revisão de literatura (MOREIRA; CALEFFE, 2008) e mapeamento das
produções acadêmicas sobre educação em tempos de pandemia, tendo o
período 2020-2021 como recorte temporal.
31
Para realização dos procedimentos de busca optamos pela
plataforma do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
- Ibict oasisbr
5
, que permite a busca de produções científicas de autores/as
vinculados/as a universidades e institutos de pesquisa brasileiros e em
fontes portuguesas.
A busca foi realizada a partir dos descritores: “Educação”,
“Pandemia”, associadas pelo operador booleano AND, que resultou em
146 produções: 11 dissertações, 4 teses, 114 artigos científicos, 9 trabalhos
de conclusão de curso de graduação, 4 livros, 2 artigos de confencia, 1
relatório e 1 resumo expandido.
Para este estudo, optamos por selecionar apenas os artigos
científicos escritos em língua portuguesa, excluindo, portanto, as teses,
dissertações, livros, relatórios, resumo expandido, artigos de conferência,
trabalhos de conclusão de curso, artigos em duplicidade, artigos em outros
idiomas e as produções que não guardavam correlação com a temática ou
que não possível a leitura por motivos de falhas no link de acesso ou que
não permitiam a abertura do arquivo em formato PDF por falhas no
documento. Considerando tais critérios, foram selecionados 20 artigos que
discutem educação em tempos de pandemia desde a Educação Infantil
primeira etapa da Educação Básicaaté o Ensino Superior. Os conteúdos
extraídos foram reunidos a partir de dois eixos: a) Implicações da pandemia
causada pela Covid-19 na educação brasileira e propostas de trabalho em
tempos de isolamento e b) Políticas públicas educacionais e pandemia:
direitos e exclusão.
5
Portal brasileiro que reúne produção científica em acesso aberto. Disponível em:
https://oasisbr.ibict.br/vufind/. Acesso em: 14 jan. 2022.
32
Implicações da pandemia causada pela covid-19 na educação brasileira e
propostas de trabalho em tempos de isolamento
Reunimos no eixo Implicações da pandemia causada pela covid-
19 na educação brasileira e propostas de trabalho em tempos de
isolamento” doze artigos que discutem implicações causadas pela
pandemia de Covid-19 na educação brasileira, destacando-se trabalhos
voltados para os impactos na formação e atuação docente e o uso das
Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDIC) na
educação em contexto pandêmico.
O artigo de Caroline Cavalcante Nascimento (2020, p. 25),
intitulado “Educação em tempos de pandemia”, trouxe como objetivo
“[...] refletir sobre o fazer educacional, mais especificamente a figura do
artista-docente, em meio à epidemia mundial que assola o globo desde
março de dois mil e vinte”. Para atingir esse objetivo, a autora aborda o
contexto educacional em tempos de pandemia e discute alguns métodos
que vêm sendo utilizados para manter as escolas em funcionamento de
modo não presencial. Apresenta também uma explanação a respeito da
produção artística durante a pandemia de Covid-19, considerando os
meios e reinvenções utilizadas pelos artistas, que são também professores
da Educação Básica. Além disso, foi realizada a análise de uma página
presente na rede social Instagram, em que se encontram obras artísticas
produzidas por professores de arte da Educação Básica de diversas regiões
do Brasil.
Kelly Cristina Brandão da Silva e Kelly Cristina Garcia de Macêdo
Alcantara (2020, p. 102) em “A (in)corporeidade do professor em tempos
de pandemia e educação à distância”, trouxeram como objetivo nesse
artigo “[...] analisar, à luz da interlocução entre Educação e Psicanálise, os
33
limites e impasses provocados pela educação à distância emergencial, a
partir da discussão de algumas nuances referentes ao corpo, à presença e à
temporalidade, os quais dão sustentação ao trabalho docente”. Nessa
perspectiva, apresentam alguns elementos que as autoras consideram como
tradicionais e ordinários utilizados no trabalho docente em sala de aula,
durante o ensino presencial, com o intuito de refletir sobre os efeitos da
educação não presencial e emergencial em tempos de pandemia,
ocasionada pelo Coronavírus (SARS-CoV-2), situação que fez com que as
escolas fossem fechadas de modo a atender às medidas sanitárias de
distanciamento e não interromper o ano letivo. Os resultados da
investigação indicaram alguns desdobramentos no que diz respeito a
erotização da educação, a função social da escola, a tradição e transmissão
de conteúdos por outros meios que podem indicar tempos de mudanças
no cenário educacional.
Galdino Rodrigues de Sousa, Eliane Medeiros Borges e Ricardo
Dulcatti Colpas, (2020, p. 146) no artigo intitulado “Em defesa das
tecnologias de informação e comunicação na educação básica: diálogos em
tempos de pandemia”, apresentaram como objetivo “[...] problematizar
algumas medidas emergenciais adotadas na educação básica durante a crise
global de COVID-19”. Discutem o uso das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) como ferramentas que podem favorecer o ensino a
distância e minimizar os impactos imediatos que podem levar ao
fechamento das escolas. Para eles e ela, a televisão, a mídia impressa e
digital, podem favorecer o acesso à educação para maior número de
estudantes, principalmente, os alunos que não possuem internet em suas
residências. Como caminho metodológico, utilizam-se “dos Episódios de
Aprendizagem” como alternativa “[...] capaz de propiciar processos
educativos relacionais entre ambientes formais e informais, com foco na
34
interação, no diálogo e na pesquisa, por meio da utilização crítica das TIC
no ensino e aprendizagem”. Esses episódios, são considerados pelos autores
e autora como potencialmente relevantes aos esforços de desenvolvimento
de uma “revolução digital inclusiva pós-pandemia nas escolas (SOUSA;
BORGES; COLPAS, 2020, p. 146). Como resultados, indicam que
potencialmente, a metodologia “dos Episódios de Aprendizagem” pode
favorecer os processos educativos relacionais em ambientes formais e
informais, considerando a interação, o diálogo e a pesquisa, mediante o
uso das TIC no ensino e na aprendizagem de forma crítica.
José Antônio Moreira, Susana Henriques e Daniela Melaré Vieira
Barros (2020, p. 351) publicaram o artigo “Transitando de um ensino
remoto emergencial para uma educação digital em rede, em tempos de
pandemia”, com o objetivo de “[...] apresentar, resumidamente, os
princípios básicos para o design de um ambiente online, relacionado à
organização, seleção de recursos, preparação e avaliação de atividades de
aprendizagem”. Segundo o autor e as autoras, o crescimento das
tecnologias e das redes de comunicação tem provocado mudanças
significativas na sociedade, levando ao surgimento de novos paradigmas,
novas formas de comunicação educacional e também novos contextos de
ensino e de aprendizagem. Concluem que a chegada abrupta do vírus
impulsionou instituições educativas e professores à novas práticas de
ensino, que envolvem atividades remotas de emergência, mas que isso não
se configura como práticas de uma educação digital em rede e de
qualidade.
No artigo “Autoformação docente em tempos de pandemia: da
(im)possibilidade da reinvenção sem cuidado de si”, Tacieli Feltrin e
Natália Lampert Batista (2020, p. 1017) buscaram responder ao seguinte
questionamento: “O que cabe aos educadores em tempos de
35
distanciamento social, reconfiguração das noções de normalidade,
presença e temporalidade? Nesse sentido, tiveram como objetivo “refletir
sobre o impacto da pandemia na docência com especial atenção à
autoformação docente e à noção de cuidado de si em Foucault (2006),
destacando a necessidade de um olhar cuidadoso e crítico para o contexto
escolar contemporâneo”. Para essas autoras, a educação, o ensino e os
processos que ocorrem no contexto da escolarização passam por
transformações importantes, provocando uma desconstrução dos
parâmetros educativos estabelecidos. O cuidado com o outro, com as
relações, inclusive as relações educativas e a (auto)formação se tornam
“eixo de (im)possibilidade”, caso seja pensada por um viés unicamente
tecnológico e mecanicista. As autoras concluem que
[...] as necessidades de reinvenção e fluência tecnológica estabelecidas
para educadores e estudantes em todo o território nacional têm
assumido um compromisso com a manutenção de códigos que não
cabem nesse novo tempo, exigindo o cumprimento de relações
puramente burocráticas em detrimento de uma abertura de
possibilidade ao novo, ao pensar uma educação que produza sujeitos
mais sensíveis ao sofrimento humano, cuidadosos com a ciência e com
a preservação do humano nas relações (FELTRIN; BATISTA, 2020,
p. 1017).
No artigo “Sustentar a Transferência no Ensino Remoto: docência
em tempos de pandemia”, Simone Bicca Charczuk (2020, p. 1), apresenta
as diferenças que marcam o ensino remoto e a educação a distância (EaD),
evidenciando que existem críticas sobre as dificuldades de interação,
muitas vezes compreendidas como inerentes a elas, em ambas as
modalidades. A autora ressalta a importância de se considerar que todo
36
modelo de ensino precisa apontar seus fundamentos teóricos conceituais
que os sustentam. O artigo traz as narrativas a respeito do ensino remoto,
com base no conceito de “transferência”. A autora acredita que “[...] o laço
transferencial entre professor, aluno e conhecimento pode ser estabelecido
no ensino remoto, considerando a escuta e a palavra como representantes
da presença e da corporeidade neste contexto”.
O artigo “Aulas on-line durante a pandemia: condições de acesso
asseguram a participação do aluno?”, de Flávia Catanante, Rogério
Cláudio de Campos e Iranéia Loiola (2020, p.977), é resultado de pesquisa
desenvolvida no município de Miracatu/ SP, a partir de um questionário
fechado que foi aplicado com os/as responsáveis pelos/as estudantes de
uma escola estadual de Ensino Fundamental II (Anos Finais) e de Ensino
Médio. Tiveram como objetivo “[...] aprofundar as reflexões acerca do
momento vivido no processo de escolarização frente à necessidade da
suspensão de aulas para atender o isolamento social, em virtude da Covid-
19”. Analisaram os motivos pelos quais ocorreram a baixa incidência de
acessos às atividades virtuais, mesmo com a declaração desses com relação
às condições de acesso à internet e a existência de equipamento compatível.
Tal afirmação pode justificar-se em função de um ambiente residencial
inadequado, pela ausência de apoio familiar adequada e de pressupostos
culturais. Concluem que o acesso às Tecnologias Digitais da Informação e
da Comunicação (TDIC) não garante o sucesso de estudantes na
participação em aulas virtuais ou até mesmo na realização de atividades
não presenciais.
Em “Aulas de artes em tempos de pandemia e atividades remotas:
como manter o vínculo do professor com os alunos, e dos alunos com a
disciplina?”, Rosana Fachel de Medeiros (2020) apresenta uma experiência
realizada com a disciplina de artes para alunos dos anos finais do Ensino
37
Fundamental a partir de atividades remotas propostas em função da
pandemia causada pelo Coronavírus, impossibilitando encontros
presenciais, o que fez com que o contato entre professores e alunos passasse
a ser virtual e por meio de propostas de atividades online. Segundo a
autora, na escola onde trabalha, não foi possível que todos os alunos
tivessem acesso aos materiais propostos, mas os/as que tiveram a
possibilidade de ter acesso e de realizá-las, fizeram-nas com dedicação e
qualidade, assim como avalia como positivas as trocas de experiências entre
estudantes e professores/as. Para a autora, existe potencialidade no ensino
híbrido na pandemia de modo a favorecer a personalização da
aprendizagem e o protagonismo dos/as estudantes.
No artigo “Pandemia, isolamento social e desigualdades: uma
complexa trilogia para educar”, Camila Carlachiani e Silvia Morelli (2020,
p. 1030) apresentam resultados de pesquisa desenvolvida junto ao projeto
"Sentidos, contradições e desafios da educação em tempos de isolamento
social" na Faculdade de Ciências da Educação e Psicopedagogia da
Universidade Aberta Interamericana, Rosário, Argentina. Trouxe como
objetivo o fornecimento de reflexões sobre as múltiplas implicações da
pandemia de Covid-19 na educação de crianças e jovens. A investigação
foi realizada com estudantes dos níveis primário, secundário e superior e
seus/suas professores/as, analisando os efeitos desse evento global em
contextos locais. As discussões foram realizadas a partir dos seguintes
tópicos de discussão: entre falta e falta de um contexto sem precedentes; o
que foi aprendido, o que resta e o que muda.
Luciane Magalhães Corte Real, Luciane Marilei Pereira Stepanski,
Jaqueline dos Santos Picetti e Luisa Guazzelli Sirangelo (2021, p. 72)
escreveram o artigo “Possibilidades de aprendizagens na pandemia de
Covid-19”, com o objetivo de investigar, mediante pesquisa exploratória e
38
qualitativa, as aprendizagens relatadas pelos/as participantes durante o
período de pandemia. As autoras utilizaram o questionário com perguntas
abertas e fechadas disponibilizado no Google Formulários como
instrumento de coleta de informações. Para as autoras, a vivência em
períodos pandêmicos modifica as relações interpessoais, como foi o caso
da gripe espanhola, em que as pessoas também tiveram que fazer
isolamento para não infectar outras pessoas, como aconteceu com a
pandemia de Covid-19. Os resultados revelam três categorias que se
relacionam: aprendizagens nas relações humanas, organização do tempo e
consumismo. Existe preocupação, por parte dos/as participantes, em
relação ao modo como empregar o tempo disponível no período
pandêmico e sobre o consumo de mercadorias sem a devida necessidade.
Nas relações interpessoais, destacam aprendizagens relacionadas à vida e
sua qualidade, para a saúde, para o aproveitamento do tempo, para a
família, amigos e para o lazer.
No artigo “Impactos da pandemia de Covid-19 na Educação
Infantil em São Gonçalo/RJ”, Maria Tereza Goudard Tavares, Fabiana
Nery de Lima Pessanha e Nayara Alves Macedo (2021) problematizam e
trazem reflexões sobre os impactos da pandemia de Covid-19 na Educação
Infantil, sobretudo no que diz respeito às crianças pequenas das classes
populares que vivem em periferias urbanas da cidade de São Gonçalo,
Região Metropolitana do Rio de Janeiro, RJ. Metodologicamente, as
autoras trabalharam com “a dúvida como método”, a partir das discussões
de Regina Leite Garcia (2009). Para elas, problematizar os impactos da
pandemia na vida de crianças pequenas nos leva a investigar a
(in)visibilidade dessas crianças, em decorrência da interrupção do
atendimento por ocasião do isolamento, e favorece reflexões e práticas que
podem contribuir com a educação e o cuidado dessas crianças,
39
especialmente quando se trata de acolhimento e de processos educativos
das crianças pequenas nas creches e p-escolas públicas municipais.
Eduarda Maria Schneider, Bruna Cristina Tomazini-Neto,
Bárbara Greice Tobaldini de Lima e Silvana Aguero Nunes (2020, p.
1071) no artigo intitulado “O uso das Tecnologias Digitais da Informação
e Comunicação (TDIC): possibilidades para o ensino (não) presencial
durante a pandemia covid-19” buscaram “[...] identificar, descrever e
problematizar quais e como as Tecnologias Digitais da Informação e
Comunicação (TDIC) são indicadas para o ensino remoto”. Para tanto, as
autoras pautaram-se na Análise de Conteúdo Categorial, selecionando 12
materiais entre Lives e Webinários. Foram identificadas 80 diferentes
tecnologias categorizadas em: para comunicação síncrona, para
comunicação assíncrona ou para ambas. Em seguida, foram elaboradas as
descrições de 14 TDIC que podem ser utilizadas de modo síncrono e
assíncrono, apontando suas finalidades e reflexões para o contexto
educacional. As autoras reforçam que as TDIC apresentam características
que podem auxiliar no trabalho interativo e participativo de estudantes,
mas requer uma responsabilidade sobre o modo de ser “aluno e professor”
no uso dessas tecnologias. Para elas, ainda que as tecnologias sejam
meios/recursos para viabilizar o desenvolvimento das atividades, é preciso
destacar que a qualidade deste ensino e desta aprendizagem tem estreita
relação com o planejamento didático, com os objetivos educacionais, com
metodologias e formas avaliativas adequadas, independentemente de serem
aulas presenciais ou à distância.
40
Políticas públicas educacionais e pandemia: direitos e exclusão
No eixo “políticas públicas educacionais e pandemia: direitos e
exclusão”, reunimos oito artigos que discutem direitos particularmente
o direito à educação, a preservação da vida e, ainda, possíveis políticas que
podem combater ou aprofundar as desigualdades e a exclusão das pessoas
que mais tem sofrido nessa pandemia: mulheres e crianças, a população
negra e as pessoas mais pobres.
Considerando o fato de que, em 2020 e em meio à pandemia, o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 30 anos de
existência, Bianca Salazar Guizzo, Fabiana de Amorim Marcello e
Fernanda Muller (2020, p. 1), em “A reinvenção do cotidiano em tempos
de pandemia”, discutem as reinvenções do cotidiano ocasionadas pelo
cenário de isolamento. Do ponto de vista metodológico, apresenta seis
cenas da reinvenção do cotidiano:
[...] e que estão vinculadas, cada uma a seu modo, a três dimensões
específicas: a relação de famílias com as tecnologias; a relação das
famílias com a escola; e a relação das famílias com suas crianças. As
quatro cenas iniciais, exploradas a partir da configuração de estratégia,
indicam esforços para a conformação das formas de organização do
social (GUIZZO; MARCELLO; MULLER, 2020, p. 1).
Os resultados demonstram que esforços por parte dos/as
participantes das cenas para a aceitação das formas de organização social
em contexto de pandemia de forma resignada, tanto no que se refere à
relação das famílias com a tecnologias, como no caso da relação das famílias
com a escola, sugerindo práticas comprometidas com a manutenção de
41
jeitos de existir em contextos de excepcionalidade. Destacam ainda, as
práticas cotidianas das relações entre crianças e famílias, cujos relatos
indicam possibilidades de criação do novo (GUIZZO; MARCELLO;
MULLER, 2020).
Gabriela Sousa Rego Pimentel e Simone Leal Souza Coité (2021,
p. 267) no artigo “Política curricular e Educação do Campo: discussões e
práticas de gestão educacional em tempos de pandemia”, apresentam os
resultados de um estudo sobre o desenvolvimento de atividades de gestão
educacional, realizados em tempos de isolamento, trazendo a percepção
dos dirigentes municipais de educação de 14 municípios da região oeste da
Bahia. Foram sujeitos da investigação, os secretários municipais de
educação. A pesquisa, de abordagem qualitativa, foi exploratória e
documental. A coleta das informações foi realizada mediante questionários
com questões de ltipla escolha, aplicados de forma virtual. Como
resultado da investigação, as autoras demonstraram a necessidade de se
intensificar as ações no que diz respeito a efetividade na atuação da gestão
educacional, de modo a favorecer as práticas pedagógicas em tempos
pandêmicos. Concluem que é importante pensar em ações que garantam
o funcionamento adequado das escolas públicas a partir do contexto da
educação do/no campo e a superação das desigualdades existentes.
Magali Mendes de Menezes e Pedro de Almeida Costa (2021) no
artigo “O Ensino Superior: as Antígonas de nosso tempo pandêmico e o
agravo das desigualdades sociais”, discutem o contexto da pandemia que
alterou o ritmo de vida de todos e todas, agravando as desigualdades sociais
e históricas do país. O racismo, a violência de gênero e a exploração do
trabalho aliados com a profunda fragilidade sanitária, demonstram que
os/as que mais sofrem continuam sendo as pessoas mais pobres.
Considerando esse contexto, a autora e o autor apresentam reflexões sobre
42
a educação, particularmente sobre o ensino superior de uma universidade
pública, problematizando a permanência de processos de exclusão nesse
cenário. Para eles, a implementação de propostas de atividades remotas
pode aprofundar as desigualdades, uma vez que as condições de proposição
e realização são precárias, tendo em vista o fato de que as dificuldades do
público universitário nem sempre estão sendo consideradas, especialmente
dos/as que ingressaram por meio de políticas de ações afirmativas.
O artigo de Alessandra Sampaio Cunha, Joana d’Arc de
Vasconcelos Neves e via Maria Vieira Costa (2021, p. 23), intitulado
“A EJA em tempos de pandemia de covid-19: reflexões sobre os direitos e
políticas educacionais”, apresentou como objetivo “[...] analisar o alcance
do direito a educação de jovens e adultos diante das políticas educacionais
brasileiras e em tempos de pandemia na Amazônia bragantina”. Com base
na abordagem qualitativa e mediante pesquisa documental, as autoras
articularam informações encontradas em pareceres, legislações e estatísticas
da EJA do município de Bragança-PA, com o intuito de realizar um cotejo
com os dados e informações de modo a qualificar a análise. Os resultados
indicam preocupações antigas e novas sobre a Educação de Jovens e
Adultos, agravadas em decorrência da pandemia, dentre as quais: os
projetos de políticas compensatórias que envolvem a redução do tempo
(carga horária) e de conteúdos, o fechamento de turmas e a redução de
número de matrículas, bem como o baixo incentivo da gestão pública para
a realização de programas específicos para a EJA.
No artigo “A Educação Infantil no contexto da pandemia: os
possíveis enfrentamentos após a publicação do Parecer 05/2020”, Cassiana
Magalhães e Cristiane dos Santos Farias (2021, p. 1) tiveram como
objetivo “[...] discutir o Parecer 05/2020 do Conselho Nacional de
Educação (CNE) e os possíveis enfrentamentos no contexto da Educação
43
Infantil”. Para as autoras, a preocupação com a temática está centrada na
garantia dos direitos conquistados pelo campo da educação das crianças
pequenas, educadas em espaços coletivos, que agora vivenciam atividades
online e por meio do uso de Tecnologias Digitais da Informação e da
Comunicação (TDIC), mediante videoaulas e outros recursos virtuais que
podem acentuar as desigualdades sociais existentes em nossa sociedade.
Por meio da pesquisa de cunho bibliográfico, os resultados indicam a
necessidade de resistência em favor das crianças, de modo a se pensar e
criar formas mais adequadas para atendê-las.
Ester Maria de Figueiredo Souza e Lucia Garcia Ferreira (2021),
em “A matrícula como direito do estudante na pandemia da Covid-19”,
abordam a questão do direto à matrícula escolar em tempos de pandemia
do novo coronavírus. As autoras partem do pressuposto que
[...] a matrícula escolar é lastreada pelo direito à educação, conforme se
preconiza na Constituição da República Federativa do Brasil (1988),
simbolizando a validação da identidade estudantil. Para tanto,
referencia-se nas normativas e leis que regem o ordenamento jurídico
brasileiro para cotejar informações de domínio público e apresentam-
se o ensino emergencial e mapeamento da situação de oferta da
educação no país, expondo estratégias para validar o ano letivo, como
também alternativas para terminalidade de estudos (SOUZA;
FERREIRA, 2021, p. 1).
O artigo de Souza e Ferreira (2021) é resultado de pesquisa
qualitativa de cunho exploratório e documental, que reuniu dados para
contextualizar e problematizar os percursos dos/as estudantes. Os
resultados revelaram que, durante a pandemia, o direito de matrícula dos
alunos nas escolas foi assegurado, em maior escala, pelos estabelecimentos
44
públicos de ensino. Por circunstâncias impostas pela Covid-19, a tomada
de decisão para validar esse direito à matrícula, muitas vezes foi protelada
pelas famílias dos/as estudantes.
Preocupado com a “Atuação dos runs de defesa da educação
infantil em tempos de pandemia”, Fábio Hoffmann Pereira (2021)
apresenta o resultado de uma pesquisa exploratória e de levantamento das
ações realizadas pelos runs estaduais de defesa da Educação Infantil entre
os meses de março a junho de 2020. De acordo com o autor, o fechamento
das instituições de Educação Infantil em virtude da pandemia de Covid-
19 também impactou a atuação dos fóruns que precisaram buscar
alternativas de mobilização online de divulgação de suas ações. O
levantamento realizado apresenta informações das páginas e perfis dos
fóruns em blogs, sites oficiais, Facebook e Instagram. Em relação as ações
divulgadas nestas páginas e perfis, destacam-se a transmissão de debates a
partir de lives”, disponibilizadas no Instagram. Em relação as pautas dos
debates ligados à pandemia, destacam-se o trabalho docente exercido de
forma remota e as perspectivas e protocolos para reabertura das
instituições. Outras pautas destacas pelo autor se referem à luta contra as
propostas de inserção da Educação Infantil no PNLD por meio da
aquisição de livros didáticos para a pré-escola e as reivindicações dos
movimentos de Educação Infantil na elaboração e aprovação do "novo"
FUNDEB.
Preocupados com a discussão a respeito dos alunos e das alunas
com deficiência, Alessandra Andrade Cardoso, Gustavo Diniz de Mesquita
Taveira e Guilherme Pereira Stribel (2021, p. 1) elaboraram o artigo
“Educação Especial no contexto da pandemia: reflexões sobre políticas
educacionais”, com o objetivo de “[...] fomentar a discussão entre a
evolução histórica dos processos de inclusão de tais estudantes e as
45
consequências ocasionadas pela necessidade do isolamento em decorrência
da pandemia, a fim de evidenciar a relevância e urgência da consolidação
de políticas públicas educacionais de inclusão”. Para isso, a autora e os
autores realizaram uma análise documental, considerando o panorama
histórico das políticas públicas educacionais voltadas às pessoas com
deficiência no Brasil. Os resultados indicam que grupos que apresentam
diferentes graus de vulnerabilidade, como ocorre com estudantes com
algum tipo de deficiência, ficam ainda mais cerceados do direito à
educação.
Reflexões sobre as tendências dos estudos e pesquisas que discutem
sobre a Educação em tempos de pandemia
A partir dos resultados que retornaram da busca realizada na
plataforma Ibict oásisbr, foi possível reunir as informações a partir de dois
eixos: a) “Implicações da pandemia causada pela Covid-19 na educação
brasileira e propostas de trabalho em tempos de isolamento” e, b) Políticas
públicas educacionais e pandemia: direitos e exclusão”. A partir da
sistematização desses eixos, destacamos algumas das tendências
encontradas nos estudos sobre a educação em tempos de pandemia.
No que diz respeito às temáticas abordadas nas pesquisas, podemos
destacar no eixo a) “Implicações da pandemia causada pela Covid-19 na
educação brasileira e propostas de trabalho em tempos de isolamento”, o
artigo de Nascimento (2020) que buscou refletir sobre a atividade docente,
a questão da temporalidade na docência evidenciada na produção escrita
de Silva e Alcântara (2020), a “autoformação docente em tempos de
pandemia” destacada por Feltrin e Batista (2020) e o artigo de Charczuk,
46
(2020) que problematizou à docência no ensino remoto em tempos de
pandemia.
As Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDIC)
foram objetos de discussão de Schneider, Tomazini-Neto, Lima e Nunes
(2021) e de Catanante, Campos e Loiola (2020) que analisaram os motivos
pelos quais houve baixa incidência de acessos às atividades virtuais, mesmo
com a declaração de acesso à internet e a existência de equipamentos
compatíveis com o trabalho online.
O ensino remoto foi destacado no artigo de Medeiros (2020), em
que a autora defende haver potencialidade na educação híbrida em tempos
pandêmicos, argumentando que o trabalho online e presencial pode
favorecer a personalização da aprendizagem e o protagonismo estudantil.
De modo geral, os artigos destacam o uso das Tecnologias Digitais
da Informação e da Comunicação (TDIC), como ferramentas que podem
favorecer o trabalho pedagógico online e minimizar os impactos imediatos
do fechamento temporário das escolas (SOUZA; BORGES; COLPAS,
2020). Moreira, Henriques e Barros (2020) concluem que o crescimento
das tecnologias e das redes de comunicação tem provocado mudanças
significativas na sociedade, levando ao surgimento de novos paradigmas de
comunicação educacional e também novos contextos de ensino e de
aprendizagem.
Todavia, Catanante, Campos e Loiola (2020) afirmam que às
Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDIC) não
garantem o sucesso dos alunos e das alunas na participação das aulas
virtuais e atividades não presenciais, embora o artigo de Medeiros (2020)
defenda a potencialidade de uma educação híbrida em tempos pandêmicos
47
com o argumento de que isso pode favorecer o trabalho personalizado e
maior protagonismo dos/as estudantes.
Para Schneider, Tomazini-Neto, Lima e Nunes (2021), ainda que
as tecnologias sejam apenas meios/recursos para viabilizar o
desenvolvimento das atividades, o/a professor/a precisa refletir sobre suas
próprias concepções de “aluno e professor” presentes no uso dessas
tecnologias e ter um referencial teórico que sustente a metodologia adotada
por ele/a.
Os impactos e implicações causadas pela pandemia na educação de
crianças e de jovens foram discutidos nos artigos de Carlachiani e Morelli
(2020), de Corte Real, Stepanski, Picetti e Sirangelo (2021) e de Tavares,
Pessanha e Macedo (2020), evidenciando os desafios de investigar e realizar
práticas educativas em um contexto permeado pela Covid-19 e quais
aspectos permaneceram e/ou foram alterados nessas realidades
investigadas, tais como as questões relacionadas ao aproveitamento do
tempo em família, contato com relações de amizade, possibilidades e
limites de atividades de lazer, dentre outras questões. Discutem ainda,
aspectos relacionados aos processos de exclusão e o direito ao cuidado e ao
acolhimento das crianças e jovens, desde as creches, como dimensões dos
processos educativos.
Em relação ao eixo b) “Políticas públicas educacionais e pandemia:
direitos e exclusão”, no artigo de Guizzo, Marcello e Muller (2020) foi
discutido o marco dos 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) que ocorreu em meio a pandemia, problematizando a questão dos
direitos, especialmente o direito à vida e à liberdade.
A política curricular e a educação do campo no contexto da
educação básica foi discutida por Pimentel e Coité (2021), o Ensino
48
Superior e o agravo das desigualdades sociais no cenário pandêmico foi
abordado por Menezes e Costa (2021), a questão do direito e das políticas
educacionais de Jovens e Adultos - EJA em tempos de pandemia foi
abordada por Cunha, Neves e Costa (2021), o direto à matrícula escolar
em período pandêmico problematizado por Souza e Ferreira (2021) e
Cardoso, Taveira e Guilherme Stribel (2021) apresentaram o panorama
histórico das políticas públicas educacionais voltadas às pessoas com
deficiência no Brasil, relacionando-o com o contexto de pandemia.
Dois artigos desse eixo discutiram Educação Infantil, sendo que o
de Magalhaes e Farias (2021) abordou a discussão sobre o Parecer 05/2020
do Conselho Nacional de Educação (CNE) e os possíveis enfrentamentos
no contexto da Educação Infantil e a produção de Pereira (2021) discutiu
a atuação dos fóruns de defesa da Educação Infantil em tempos de
pandemia.
Para Menezes e Costa (2021), a implementação de propostas de
atividades emergenciais em formato remoto aprofunda desigualdades,
tendo em vista as condições precárias para o trabalho docente no Ensino
Superior e as dificuldades de estudantes universitários, principalmente
os/as que ingressam na universidade por meio de políticas afirmativas.
Cunha, Neves e Costa (2021) indicaram preocupações antigas e
novas sobre a Educação de Jovens e Adultos, modalidade tratada muitas
vezes como se fosse parte de políticas compensatórias que envolvem a
redução do tempo e de conteúdos, fechamento de turmas, redução de
número de matrículas e baixo incentivo para a criação de programas
específicos.
Souza e Ferreira (2021) que estudaram o direito do estudante à
matrícula, indicaram que o exercício desse direito ocorreu com mais
49
frequência nos estabelecimentos públicos de ensino, que as matrículas
muitas vezes foram proteladas pelas famílias por circunstâncias impostas
pela Covid-19.
Para não concluir...
O conjunto de artigos apresentados e discutidos, nos permite
ensaiar algumas reflexões sobre os desafios e perspectivas que a educação
tem vivenciado nesses tempos pandêmicos. Diante de um cenário em que
o isolamento físico se faz necessário e é preciso pensar em alternativas para
o campo educacional, os trabalhos que discutem o uso e a presença das
Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDIC) na
educação parecem receber um impulso ainda maior do que o antes
existente. No entanto, antigos problemas, armadilhas e possibilidades
parecem continuar existindo e, aliados a eles, outras ciladas e desafios são
agregados.
No geral, nos parece que os artigos resultados das pesquisas
continuam a alimentar uma polarização entre os que defendem e os que
criticam o uso de TDIC na educação sem uma discussão mais crítica e
aprofundada sobre o tema e que considere o/a estudante e o/a professor/a
como protagonistas dos processos educativos. Em sua tese de doutorado,
Cleriston Izidro dos Anjos (2015) ao investigar as relações das crianças
pequenas com as TDIC destacou a escassez de trabalhos que consideram
as relações das crianças com os aparatos tecnológicos de modo a
compreender seus interesses, necessidades e usos. No entanto, ao olharmos
para o conjunto de trabalhos, nos parece que o problema acompanha
diversas etapas e modalidades educacionais: ou os trabalhos ressaltam o
50
possível caráter inovador do uso das TDIC ou criticam o seu uso,
desconsiderando seus usuários: crianças, jovens e adultos, estudantes e
professores/as.
A discussão sobre as TDIC na educação também precisa considerar
as especificidades da Educação Básica. Na área da Educação Infantil, por
exemplo, a preocupação com as atividades online e com o uso das TDIC
com crianças de 0 a 5 anos e 11 meses, tema abordado por Cassiana
Magalhães e Cristiane dos Santos Farias (2021), tamm foi anteriormente
discutido por Cleriston Izidro dos Anjos e Deise Juliana Francisco (2021)
no artigo “Educação Infantil e Tecnologias Digitais: reflexões em tempos
de pandemia”. Nele, o autor e a autora problematizam a recomendação
para o uso de tecnologias digitais na Educação Infantil considerando a
brincadeira e as interações, os princípios éticos, políticos e estéticos, a
relação família-escola e a legislação brasileirae propõem que tais aparatos
sejam utilizados como suporte de comunicação entre as famílias e as
instituições educacionais.
de considerar ainda que o uso de TDIC na educação, por si só,
não torna os processos educativos inovadores, pois um/a professor/a pode
se utilizar dessas TDIC e continuar trabalhando com práticas autoritárias
e centradas no/a adulto/a. Assim, é fundamental destacar que o que torna
a educação extraordinária e inovadora são os/as estudantes e os/as
educadores/as que, cotidianamente, convivem e se relacionam nos espaços
educativos. Além disso, é preciso investimento na formação de docentes
inicial e em serviço que contribua para uma reflexão crítica sobre as
contribuições e excessos dos usos das TDIC na educação.
Embora não seja o objetivo desse texto, é importante destacar que
essa formação que pode contribuir para uma educação emancipatória de
crianças e de educadores/as não é aquela que está proposta na Base
51
Nacional Comum Curricular (BNCC) e na proposta de Base Nacional da
Formação Docente (BNCFormação), pois elas foram pensadas na lógica
da padronização dos currículos que, em síntese, procura reduzir a formação
docente em cursos para ensinar a aplicar e gerenciar o conteúdo da BNCC.
O que está em jogo é que tais propostas desconsideram vasta produção de
conhecimento no campo da educação, cujas bases envolvem fundamentos
teóricos, áreas científicas e saberes e metodologias de trabalho com
crianças, jovens e adultos. A Associação Nacional pela Formação dos
Profissionais da Educação (ANFOPE
6
), além de outras instituições,
entidades e movimentos, tem produzido uma rie de atividades (lives,
documentos, manifestos...) sobre a formação docente em tempos de
padronização. É tempo de lutar e resistir em defesa da ciência, da saúde e
da educação pública, gratuita, laica e de qualidade para todos e todas, desde
bebês!
Cabe recuperar nessas discussões finais um aspecto apresentado no
início de nossas reflexões: o contexto de múltiplas desigualdades existentes
no Brasil. Esse é um ponto fundamental, pois a exclusão digital também é
uma das dimensões dessas múltiplas formas de exclusão social, ou seja, é
preciso considerar que parcela significativa da população brasileira ainda
não possui equipamentos tecnológicos adequados para participação em
atividades educativas em plataformas digitais, além dos problemas de
acesso à internet.
Nas discussões sobre trabalho e formação docente em tempos de
pandemia é possível depreender um movimento de aprofundamento da
precarização existente na medida em que docentes, das mais diversas
regiões do Brasil e que atuam em diferentes etapas e modalidades, tiveram
6
Para saber mais, acesse o site da ANFOPE (http://www.anfope.org.br/) e seu Canal no YouTube
(https://www.youtube.com/c/AnfopeNacional/featured).
52
pouco ou nenhum suporte formativo e, também, de apoio financeiro e
material para a realização de trabalho educacional em contexto
emergencial. Equipamentos tecnológicos, melhoria de velocidade de
internet residencial, aumento dos gastos com energia elétrica, dentre
outros aspectos, no geral, foram assumidos por docentes sem que houvesse
contrapartidas de suas instituições e governos (estaduais, municipais e
federal). Também é preciso considerar a ausência de suporte emocional,
afinal, professores e professoras também estão enfrentando diversos
problemas na pandemia, sejam pessoais ou gerados pelo exercício
profissional em tempos pandêmicos.
As crianças desde bebês, adolescentes e/ou jovens matriculados nas
instituições educacionais, da Educação Básica ao Ensino Superior, também
estão enfrentando diversos desafios e problemas que vão desde lidar com a
dor da perda de um ente querido até as dificuldades de acesso à internet e
aos equipamentos tecnológicos. São questões complexas e que nos levam a
afirmar que muito ainda precisa ser discutido, estudado e pesquisado,
afinal, a pandemia ainda não acabou e, mesmo que ela acabe em breve,
ainda teremos que lidar com seus efeitos durante algum tempo.
Na perspectiva de que teremos que lidar com os efeitos da
pandemia também após seu fim, embora tenhamos escolhido apenas o
gênero artigo científico e os descritores “Educação”, “Pandemia”
associados pelo operador booleano AND como critérios de inclusão no
mapeamento apresentado, nos chama a atenção o fato de não terem sido
localizados trabalhos que tratem de um possível planejamento de retorno
das atividades presenciais para todos e todas, com exceção das discussões
das áreas dos Estudos da Infância e da Educação Infantil, cujas produções
têm alimentado discussões sobre a pandemia e o pós-pandemia (ANJOS;
PEREIRA, 2021; GOBBI; PITO, 2021; GOBBI; ANJOS; VICENTE,
53
2021; SANTOS; SARAIVA, 2020; CAMPOS; ALMEIDA; BARRETO;
DUMONT; VIEIRA; BAPTISTA; FOCHI; COELHO; CRUZ;
VALVERDE, 2020; MELLO; NEGREIROS; ANJOS, 2020; SANTOS;
SILVA; FARIA, 2020; GOBBI; PITO; MELEÁN, 2020; dentre outras).
No geral, os trabalhos encontrados sinalizam que durante esse
tempo de pandemia, os problemas educacionais existentes foram
agravados e outros problemas surgiram na Educação Básica e no Ensino
Superior: a precarização do trabalho docente está mais evidente, novas
necessidades de formação inicial e em serviço, espaços físicos das
instituições ainda não estão preparados para o retorno presencial seguro,
vacinas demoraram a chegar e, nesse momento, ainda se discute a
vacinação de crianças e a ausência do poder público foi sentida em relação
ao suporte para o trabalho emergencial não presencial em tempos
pandêmicos, além do aumento das desigualdades sociais que têm afetado
toda a sociedade brasileira. Por outro lado, as alternativas de
enfrentamento dos efeitos da pandemia na educação, emergiram pela
atuação de movimentos em defesa da educação Campanha Nacional pelo
Direito à Educação, Frente Nordeste Criança, Fóruns de Educação
Infantil –, das instituições públicas Sistema Único de Saúde,
universidades públicas, grupos de pesquisas... –, de sindicatos e da
iniciativa de professores e professoras que, apesar de também estarem
sofrendo com os efeitos da pandemia em seu trabalho e nas suas vidas
procuram fazer o melhor possível na esperança da construção de uma
educação pública,
gratuita, laica e de qualidade para todos e todas, desde
bebês.
Os desafios estão postos e as alternativas precisam ser
coletivamente construídas por todos e todas que fazem a educação
brasileira estudantes e famílias, docentes e gestores/as, governos, etc e
54
pelas áreas com as quais a educação precisa estreitar os laços de colaboração
e vice-versa: saúde, assistência social, dentre outras. Como diria o poeta,
Carlos Drummond de Andrade, “vamos de mãos dadas”!
Mãos Dadas
Carlos Drummond de Andrade
Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente
55
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56
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64
65
Capítulo 2
A cultura da escola e a sensibilidade em tempos da pandemia:
condições e desafios da educação para novos tempos
Manuel João Mungulume
Alonso Bezerra de Carvalho
Introdução
Com o advento da pandemia, a cultura da escola sofreu adaptações
inesperadas, e isso afetou de forma negativa a socialização e a integração da
escola. Assim, a cultura escolar foi obrigada, além de lidar com as
complexidades existentes, viu -se obrigada a reinventar novos desafios
impostos pela pandemia. A sensibilidade da prática educativa alargou as
suas complexidades e os desafios. É nesta ordem de ideia que esta discussão
se insere, e pretende ser discutida a partir das adaptações que possibilitam
manter as condições e as qualidades de uma educação que adequa aos
novos tempos. As condições e desafios da educação para novos tempos
trata-se de uma reflexão que busca alternativas e possibilidades que
mantenham a consolidação de uma educação democrática e sem perder o
teor da inovação e da integração social.
Tal esforço busca também delinear as possíveis configurações
pedagógicas pós pandemia, com o intuito de minimizar as desistências dos
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3.p65-84
66
alunos, uma vez que, a falta de um apoio pedagógico especializado, pode
fazer com que essas crianças e adolescentes deixem a escola depois de pouco
tempo, ou permaneçam sem progredir para os níveis mais elevados de
ensino. Isso, de certa forma, acentua a desigualdade social. Diante disso, a
educação deve assumir uma nova postura ética e epistemológica para fazer
face às complexidades impostas pela crise. Portanto, a educação como
sendo um instrumento para a construção do humanismo; exige-se dela
uma restruturação e uma reorganização dos modelos da aprendizagem que
permitam uma instrução sem a exclusão, uma vez que, a crise não pode
impedir a democratização do saber.
O grande desafio da educação pós pandemia é de construir
alternativas que possibilitem um apoio dos estados emocionais dos alunos,
torná-los inclusivos, democráticos. Este compromisso se concretiza com a
implementação da cultura de sensibilidade e de empatia com as camadas
sociais mais desfavorecidas, devendo a educação se identificar e se pautar
com os direitos e com a diversidade.
Diante do exposto, o capítulo objetiva analisar o futuro da escola
dentro de um Plano de Educação mais inclusivo, que continue sendo a
marca da esperança social e que nos ajude a viver de forma harmônica e
sustentável. Assim, esta reflexão busca também analisar as implicações da
chamada cidadania digital, avaliar seus desafios e limites, de modo a
contribuir para o delineamento do projeto de uma prática educativa
democrática, emancipatória e sobretudo estabelecer uma articulação não
somente com os anseios tecnológicos, mas que atinja as dimensões de uma
aprendizagem significativa e afetiva dos adolescentes e jovens que, de certa
forma perderam a relação e integração que tinham no convívio escolar.
Por fim, o trabalho far-sepor uma revisão bibliográfica teórica e
prática para articular a cidadania digital dentro da educação inclusiva e
67
emancipatória. É nesta perspectiva que o capítulo se propõe a discutir, e
espera-se contribuir com novas estratégias pedagógicas para fazer face as
atuais mudanças sociais.
Covid-19 e o fracasso da cidadania digital?
Nesta discussão partimos do princípio de que o espo escolar deve
garantir as relações e a integração de todos, este princípio viu-se desafiado
pela Covid, pois a falta das máquinas digitais e internet deixou uma parte
da sociedade sem acesso ao processo educativo. Portanto, a práxis educativa
deve ser construída na base de uma educação que engloba a todos como
preza a declaração Mundial de Educação para todos. Vivemos num
contexto social em que a cidadania digital está longe de satisfazer a todos,
e possibilitar as condições de permanência de todos. Embora que se note a
importância da combinação de processos educativos com as tecnologias
digitais, ainda assim, precisamos refletir em torno da sua capacidade de
inclusão, e ao mesmo tempo reconhecermos a sua importância de uma
educação inovadora por meio da cidadania digital como uma estratégica
pedagógica.
As tecnologias ampliam as possibilidades de pesquisa, autoria,
comunicação e compartilhamento em rede, publicação, multiplicação
de espaços e tempos; monitoram cada etapa do processo, tornam os
resultados visíveis, os avanços e as dificuldades. As tecnologias digitais
diluem, ampliam e redefinem a troca entre os espaços formais e
informais por meio de redes sociais e ambientes abertos de
compartilhamento (MORAN, 2018, p. 53).
68
Numa era como a nossa em que a sala de aula passa a ser virtual,
podemos olhar a cidadania digital como uma alternativa plausível, porém,
devemos questionar as condições e os limites que ela traz para a camada
social desfavorecida, ou seja, a cidadania digital coopera com os
pressupostos da educação inclusiva?
De acordo com a declaração mundial sobre a educação para todos,
pressupõe-se que a educação deve satisfazer as necessidades básicas de
aprendizagem para todos, entretanto é nesta premissa que a cidadania
digital encontra o seu impasse ou limite, ou seja, pois ela não garante as
metas de uma educação emancipatória e democrática, isto é, as tecnologias
digitais impossibilitam a emancipação de educação que englobe e satisfaça
a todos, ou seja, o teor primordial da educação deve ser, seguir o que foi
plasmado pela declaração sobre a educação para todos; também as escolas,
na sua função social, devem orientar-se para a educação inclusiva, pois,
[...] constituem os meios mais capazes para combater as atitudes
discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias,
construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para
todos; além disso, proporcionam uma educação adequada à maioria
das crianças e promovem a eficiência, numa ótima relação custo-
qualidade, de todo o sistema educativo (UNESCO, 1994, p. 4).
Esta ideia é baseada no princípio da educação, enquanto direito
humano fundamental, e é a mais importante chave para a redução da
pobreza e para se alcançar um desenvolvimento social democrático e
harmônico. Portanto, a educação permite que cada indivíduo possa
assumir a responsabilidade pelo seu destino e contribuir para o progresso
da sociedade em que se insere, uma vez que lhe meios para participar
69
no processo do desenvolvimento de forma responsável, quer como
indivíduo, quer como elemento dessa comunidade (IPAD, 2008, p. 3).
Diante do exposto, queremos discutir, analisar e questionar o
futuro da escola dentro de um Plano de Educação mais inclusivo, de modo
que continue sendo a marca da esperança social e humana e que nos ajude
a viver de forma social e equilibrada. A pandemia trouxe mudanças no
cotidiano e na cultura escolar e tais mudanças afetaram de forma
significativa as vivências e os modelos de aprendizagem, e principalmente
quebrou-se a interação dos alunos, que é um dos fatores importantes que
contribui no processo que auxilia para o desenvolvimento do ensino-
aprendizagem. O processo da interação dos alunos no espaço escolar
favorece e fortalece o seu potencial de modo a construir a própria
consciência crítica e participativa, a partir do momento em que a interação
é um exercício para a inserção da argumentação.
Com o advento da covid-19, as escolas viram-se obrigadas a
recorrer às tecnologias digitais como mecanismo ou alternativa da
obtenção de ensino afetivo mas tal estratégia suscita implicações e
problemática da exclusão social através da utilização tecnologia digital e de
certa forma minimiza o esforço da promoção da inclusão educativa, e se
configurando desta forma como um ato de violência simbólica, que se
manifesta de forma suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que
se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação
e do conhecimento (BOURDIEU, 2012, p. 7). Neste sentido, a prática
educativa precisa descobrir e reconhecer a instância afetiva da relação social
e cultural como ocasião única de apreender a lógica da dominação, como
aponta, Bourdieu:
70
[...] exercida em nome de um princípio simbólico conhecido e
reconhecido tanto pelo dominante quanto pelo dominado, de uma
língua (ou uma maneira de falar), de um estilo de vida (ou uma
maneira de pensar, de falar ou de agir) e, mais geralmente, de uma
propriedade distintiva, emblema ou estigma, dos quais o mais eficiente
simbolicamente é essa propriedade corporal inteiramente arbitrária e
não predicativa que é a cultura digital (BOURDIEU, 2012, p. 8).
A Covid-19 se configura como grande desafio para as políticas e
gestão educativas, mas isso não pode, de forma alguma, acentuar a
descriminação social, entre o acesso à cultura digital e à ausência dela. O
ato educativo deve assumir compromisso com os novos paradigmas
emergentes de modo a encontrar espaço para que, as tecnologias digitais
sejam uma prática acessível e abrangente.
Portanto, o processo de reflexão sobre a cidadania digital traz à
tona a realidade dos seus limites, uma vez que vivemos num país em que
uma parte da sociedade o tem acesso da comunicação digital e se tiver,
ainda não oferece as condições esperadas para gerar uma aprendizagem
digna e significativa. E dentro dessas limitações, espera-se que as escolas
reúnam um planejamento de ações para construir o desenvolvimento de
uma educação que mobilize conceitos, habilidades e práticas cognitivas
socioemocionais para o exercício pleno de uma cidadania ativa e
interventiva.
O conceito da cidadania digital além de conter limitações, também
está em evolução, enfrentando um conjunto de desafios que exigem a sua
redefinição. Problemáticas, apontadas como, a exclusão digital, ausência
dela e a falta da mão de obra qualificada, tudo isso geram o impacto
cultural da Sociedade de Informação, que são centrais para a compreensão
das mudanças estruturais em curso (ALVES; MOREIRA, 2004, p. 36).
71
Outro potencial desafio que envolve a cultura digital é o fato das
aprendizagens voltadas a uma participação mais consciente e democrática,
e que produza uma aprendizagem ativa por meio das tecnologias digitais.
A revolução digital e dos avanços do mundo digital na sociedade
contemporânea, não podem perder a construção de uma atitude crítica,
ética e responsável em relão à multiplicidade de ofertas digitais.
Apesar das limitações e os desafios que acompanham a cultura
digital, também é imperioso reconhecer a sua relevância, pois vivemos num
contexto em que a cultura juvenil está intrinsecamente relacionada com a
cultura digital, este fato torna imprescindível ampliar e aprofundar as
aprendizagens construídas na base das tecnologias digitais, como aponta a
BNCC:
[...] o foco passa a estar no reconhecimento das potencialidades das
tecnologias digitais para a realização de uma série de atividades
relacionadas a todas as áreas do conhecimento, a diversas práticas
sociais e ao mundo do trabalho. São definidas competências e
habilidades, nas diferentes áreas, que permitem aos estudantes buscar
dados e informações de forma crítica nas diferentes mídias, inclusive as
sociais, analisando as vantagens do uso e da evolução da tecnologia na
sociedade atual, como também seus riscos potenciais (BRASIL, 2017,
p. 474).
Desta forma, a cidadania digital é uma estratégia pedagógica que
está inserida na cultura digital, não somente como consumidores, mas se
engajando cada vez mais como dinâmica inovadora e educativa. Uma das
estratégias pedagógicas para novos tempos é de apropriar-se das linguagens
72
da cultura digital para contribuir e produzir conteúdo para o letramento
em diversas áreas do conhecimento
7
.
A qualidade da educação em tempos da pandemia: Desafios para o
desenvolvimento das competências de aprendizagem (de forma virtual)
Perrenoud (1999, p.16) parte do princípio de que desenvolver as
competências não é um papel exclusivo ou hegemônico da escola, pois, o
desenvolvimento das competências trata-se da capacidade de “[...]
mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades,
informações etc.) para solucionar com pertinência ou eficácia, uma série
de situações”. E isso não acontece unicamente no espaço escolar, pois
segundo o autor, afirmar que cabe à escola desenvolver competências, seria
confiar-lhe monopólio.
O autor destaca as competências não como um caminho, mas
como um efeito adaptativo do homem às suas condições de existência.
Desse modo, cada pessoa, desenvolve as competências de maneira
diferente, desde que sejam suficientes ou necessárias para a realização de
suas tarefas, bem como para a resolução dos problemas cotidianos com
maior eficácia.
Diante disso, como garantir o desenvolvimento das competências
no ensino remoto? Como atingir as dimensões especificas de aprendizagem
de cada aluno, na era remota? Essas perguntas constituem mais um desafio
para responder aos indicadores de qualidade de ensino, que se encontra
7
A cidadania digital é uma forma de mobilizar práticas das tecnologias digitais de diferentes
linguagens, mídias e ferramentas digitais para expandir as formas de produzir sentidos (nos
processos de compreensão e produção), aprender e refletir sobre o mundo e realizar diferentes
projetos autorais (BRASIL, 2017, p. 87).
73
cada vez mais devassada. Discutir ou avaliar a qualidade de ensino em
tempos de pandemia, se torna assim, um dos objetivos para apontar
estratégias educacionais, para os novos tempos. Portanto, os Indicadores
de Qualidade na Educação foram criados para ajudar a comunidade escolar
de modo a avaliar e melhorar a qualidade da prática escolar (BRASIL,
2013).
Tal objetivo compreende atualmente examinar os pontos fortes e
fracos da escola, ou seja, a escola tem condições para oferecer um ensino
que ofereçam uma aprendizagem significativa voltadas para a resolução de
problemas relativos à superação de uma situação, como, por exemplo,
[...] saber guiar-se no caminho de volta para casa a partir de um ponto
de referência, o que mobiliza competências de reconhecimento ou
mapeamento espacial; saber lidar com as dificuldades infantis, o que
aciona competências pedagógicas; saber construir ferramentas, o que
estimula competências matemáticas e lógicas, entre outras
8
.
O ensino remoto traz novos desafios e novos questionamentos para
a teoria da aprendizagem significativa
9
, pois a exposição remota pode ser
ineficiente para atingir as dimensões especificas de cada aluno. Portanto,
estamos a caminho de um ofício novo, cuja meta é antes fazer aprender do
que ensinar. A abordagem por competências junta-se às exigências da
focalização sobre o aluno, e dos métodos da aprendizagem significativa.
8
Philippe Perrenoud (1999) e a Teoria das Competências. Disponível em:
http://www2.videolivraria.com.br. Acesso em: 22 out. 2021.
9
A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação se ancora com os novos conceitos
relevantes preexistentes na estrutura cognitiva de quem aprende. Portanto, a aquisição de conceitos
torna-se, então, largamente uma questão de assimilação (MOREIRA, 1982, p. 31).
74
[...] considerar os conhecimentos como recursos a serem mobilizados;
trabalhar regularmente por problemas; criar ou utilizar outros meios
de ensino; negociar e conduzir projetos com seus alunos; adotar um
planejamento flexível e indicativo e improvisar; implementar e
explicitar um novo contrato didático; praticar uma avaliação
formadora em situação de trabalho; dirigir-se para uma menor
compartimentação disciplinar (MEIRIEU apud PERRENOUD,
1990, p. 57).
Assim, as novas metodologias exigem saber comunicar, raciocinar,
argumentar, negociar, organizar, aprender, procurar informações,
conduzir uma observação, construir uma estratégia, tomar ou justificar
uma decisão (PERRENOUD, 1999). Esta ideia é de igual modo
compartilhado pela BNCC (2017), ao adotar o enfoque das decisões
pedagógicas que devem incidir para o desenvolvimento de competências.
Portanto, a BNCC, ao definir as competências, como mobilidade
cognitiva, reconhece que a “[...] educação deve afirmar valores e estimular
ações que contribuam para a transformação do aluno que deve tornar-se
sujeito socialmente ativo e interventivo. Por meio disso, a BNCC destaca
que o aluno ainda deve desenvolver,
[...] conhecimentos, habilidades, atitudes e valores e, sobretudo, do que
devem “saber fazer” (considerando a mobilização desses conheci-
mentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas
complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do
mundo do trabalho), a explicitação das competências oferece
referências para o fortalecimento de ações que assegurem as
aprendizagens essenciais definidas na BNCC (BRASIL, 2017, p. 13).
75
Desta forma, cada comunidade escolar tem autonomia para
refletir, propor e agir na busca da qualidade da educação que desenvolva
tais competências esperadas. A educação para os novos tempos exige que
cada professor ou professora desenvolva dinâmicas e criatividades
necessárias para mobilizar pais, alunos, professores e funcionários para o
debate educativo.
É nesta perspectiva que a práxis educativa deve valorizar os papéis
sociais desempenhados pelos alunos, para além de sua condição de
estudante, e qualificar os processos de construção de sua personalidade
ética bem como seus projetos de vidas.
A missão da educação é de promover a aprendizagem colaborativa,
este é sem dúvida um dos maiores desafios da aprendizagem virtual que é
de desenvolver nos estudantes a capacidade de trabalharem em equipe e
aprenderem com seus pares as dimensões do saber ser, do saber-fazer, e do
saber viver juntos, pois, estes constituem segundo Delors (1998) os quatro
aspectos, intimamente ligados, de uma mesma realidade da condição
humana.
Experiência vivida no quotidiano, e assinalada por momentos de
intenso esforço de compreeno de dados e de fatos complexos, a
educação ao longo de toda a vida é o produto de uma dialética com
várias dimensões. Se, por um lado, implica a repetição ou imitação de
gestos e de práticas, por outro é, também, um processo de apropriação
singular e de criação pessoal. Junta o conhecimento não-formal ao
conhecimento formal, o desenvolvimento de aptidões inatas à
aquisição de novas competências (DELORS, 1998, p. 107).
76
Estes devem ser a meta e o esforço da práxis educativa, uma vez
que a educação também traz alegria da descoberta, experiências singulares
que impactam e complementam as relações sociais. Assim, a prática
educativa deve valorizar a diversidade e vivências culturais e apropriar-se
de conhecimentos que possibilitam entender as relações e interações
humanas.
O impacto da pandemia na educação inclusiva: Abordagem da
democracia inclusiva
Uma das áreas da educação que foi diretamente afetada pela
pandemia é a questão da educação inclusiva. Para fazer face o processo de
ensino e aprendizagem tornou-se cada vez mais decisivo e necessária o
exercício das tecnologias digitais. É neste contexto que surge a preocupação
com a designada “exclusão digital”, um ato que pode colocar em xeque a
democracia plena.
De acordo com Alves e Moreira (2004), o uso das tecnologias na
educação traz algumas limitações significativas para grupo específico a
diversos níveis: de motricidade; de visão; de audição; de expressão oral e
escrita; de memorização, de concentração e de percepção da realidade.
Portanto, segundo estes autores, as limitações digitais, incluem
ainda os cidadãos com condão física fortemente debilitada, seja por
motivos de idade, doença ou outros. Todas estas pessoas encontram
dificuldades específicas para este tipo de modalidade, e que na ótica deles
devem ser consideradas.
77
No combate à exclusão digital, a literacia é um fator essencial, uma vez
que o mero acesso às TIC de nada servirá se as pessoas não possuírem
as qualificações necessárias para as utilizar de forma eficiente. Dada a
velocidade de evolução das TIC, a aprendizagem contínua ao longo da
vida torna-se também uma condição necessária para acompanhar a
evolução tecnológica (ALVES; MOREIRA, 2004, p. 46).
Estas obrigações devem garantir o domínio de uma
telecomunicação democrática sem prejudicar os interesses da educação
inclusiva, uma vez que, os marcos legais que embasam a educação para
todos, reconhecem a educação como direito fundamental compartilhado e
incentivado com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação cultural e social.
A função social da educação democracia, deve pautar-se pela
inclusão social compreendendo a identidade humana em todas as suas
dimensões, pois, estes são princípios e valores assentados na democracia,
na igualdade e no bem-estar social.
É nesse contexto em que a BNCC afirma, de maneira explícita, o
seu compromisso com a educação, reconhecendo a formação humana em
todas as suas dimensões, intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Isso
significa, ainda, assumir uma visão plural e singular da educação
considerando os aspectos de sujeitos na aprendizagem. Deve-se,
[...] promover uma educação voltada ao seu acolhimento,
reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e
diversidades. Além disso, a escola, como espaço de aprendizagem e de
democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática coercitiva de não
78
discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades
(BRASIL, 2017, p. 14).
É este acolhimento que a educação virtual deve ter em consideração
para manter intacta as dinâmicas da educação inclusiva, pois o seu
desenvolvimento da educação por meio tecnológico, impõe desafios a
certas camadas sociais e limita o efeito da educação inclusão.
A escola que acolhe também emancipa, como processo da
construção de seu projeto de vida, promovendo a tolerância as
comunidades locais e globais. Portanto, a educação inclusiva além de
promover o saber democrático, também deve promover a cidadania ativa
como medidas concretas para facilitar o acesso dos cidadãos à informação,
à participação e desta forma fortalecer a educação. A concretização desse
princípio pode ser promovida por uma educação emancipatória, inclusiva
e democrática. Assim, a educação para novos tempos deve criar condições
para uma formação abrangente com ferramentas de informação e de
capacidade para avaliar o seu desempenho no fortalecimento das suas
relações com o tecido social.
O discurso de que o uso da tecnologia na educação limita os
pressupostos pedagógicos da educação inclusiva não se trata de uma
denúncia dos malefícios das novas tecnologias, mas sim, trata-se de um
alerta de que a cidadania digital deve englobar a participação de todos no
processo. Contudo, precisamos tomar cuidado para que,
Neste mundo globalizado pelo fenômeno digital e da democracia
electrónica, somos incentivados a transformar os avanços técnicos em
bem-estar humano, pelo sucesso de uma verdadeira cidadania virtual.
Uma cidadania virtual onde as tensões estão muito presentes. da
79
Internet (redes, servidores e computadores) e nas capacidades
necessárias para usar a Internet que não têm feito aumentar ainda
mais o fosso entre as nações como provocado uma alegada exclusão
digital (ALVES; MOREIRA, 2004, p. 73).
Assim se explica que a Internet seja elogiada e amaldiçoada, e tida
como necessária e até inevitável, mas também vista como uma construção
demasiado dispendiosa para o desenvolvimento moderno e até como fonte
de novas desigualdades. Desigualdades no acesso à educação por falta
desses meios tecnológicos (ALVES; MOREIRA, 2004). São estes fatores
que podem minar o exercício democrático, pois, a democracia,
[...] é um processo dinâmico, ameaçado, constantemente, pelo menor
desequilíbrio social, ao mesmo tempo alimentado, constantemente,
pelos esforços, a imaginação e a inovação. Nesse ponto está sua
superioridade com relação a outras formas de governança: é o único
sistema político capaz de corrigir as suas próprias disfunções
(MATSUURA, 2002, p. 226).
O aprimoramento do uso das tecnologias deve sempre incidir com
os pressupostos de uma educação democrática e inclusiva. Portanto, a
educação inclusiva se configura como uma abordagem compreensiva e
holística, envolvendo todos as esferas sociais e educacionais e os vários
agentes de socialização, inclusive as organizações comunitárias, em um
processo de participação de uma democracia plena e efetiva
(MATSUURA, 2002).
80
Considerações finais
A crise proporcionada em virtude da Covid-19 ocultou a cultura
da escola, e implantou o medo ao desconhecido abalando sobretudo a
sensibilidade estética do processo de ensino e aprendizagem. Este capítulo
procurou discutir alguns dos desafios e implicações da cultura digital,
demarcando as implicações da cidadania digital na educação inclusiva.
As incidências do mundo virtual influenciam o comportamento
social e limitam sobretudo a camada social mais desfavorecida, o que pode
ser um perigo eminente para uma educação democrática e abrangente.
Portanto, o progresso da cidadania digital contém duplo olhar, por um
lado benéfico para os que dominam e manuseiam bem e por outro lado,
tensões entre os que não dominam e falta de acesso facilitado dessas
tecnologias. Embora haja esse duplo olhar, isso não minimiza a
importância da utilização das tecnologias digitais, pois se configuram como
instrumentos e estratégias pedagógicas fundamentais para o
compartilhamento de informações.
O projeto educativo como prática democrática deve reforçar o
domínio da cultura e adotar os mecanismos da cultura digital sem perder
de vista os pressupostos pedagógicos de uma educação inclusiva e
emancipatória. Esta é a proposta que este trabalho se propôs em discutir
e enfatizar a ideia de que os novos tempos educativos devem trazer
equilíbrio para alcançar uma aprendizagem dignamente significativa.
Portanto, as ferramentas utilizadas na cidadania digital oferecem
possibilidades para a mobilização das práticas de linguagem comunicativa
e educacional.
81
Constatamos nessa discussão que o grande desafio da cidadania
digital é de promover uma educação que demostre as dimensões técnicas,
críticas, criativas, éticas e sobretudo estéticas, ou seja, garantir no processo
de ensino-aprendizagem as competências básicas e específicas para que o
aluno consiga compreender e produzir sentidos, de maneira crítica, criativa
e interventiva.
Para tanto, é necessário não somente possibilitar aos estudantes
explorar interfaces técnicas, mas promover e construir a visão do mundo
baseado na cultura digital que reforça as novas formas de socialização e, até
mesmo, novas definições de identidade individual e coletiva. Assim, a
utilização de novas tecnologias digitais deve consolidar o aprimoramento
do conhecimento, capaz de flexibilizar o desenvolvimento da autonomia
moral e intelectual. Por fim, a práxis educativa deve sempre contribuir para
um saber democrático, ético, e harmônico e garantir um olhar de esperança
sem perder de vista as dimensões axiológicas, inclusivas e emancipatórias,
promovendo desse modo o valor social humano.
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democratização eletrônica. Sociedade Portuguesa de inovação: Porto,
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83
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Disponível em: http://www2.videolivraria.com.br. Acesso em: 22 out.
2021.
84
85
Capítulo 3
Gestão escolar e desafios no contexto pandêmico:
ressignificando papéis
Juliana Xavier Moimás
Patrick Pacheco Castilho Cardoso
Viviane Jaqueline Peron Ferreira
Nossas motivações iniciais...
Os anos que compreendem o correr da pandemia por Covid-19
não foram anos fáceis para as diversas áreas sociais. Na educação, em suas
diversas etapas e modalidades, muitas dificuldades assomaram, pois esta se
viu destituída da possibilidade de contato com as crianças, elemento
imprescindível para o desenvolvimento das atividades educativas.
Outros aspectos para os quais a educação deveria olhar com mais
seriedade, ganharam vulto impressionante e imprescindibilidade, como a
parceria com as famílias, a necessidade de boa estrutura tecnológica nas
escolas e a formação dos professores para a inovação e comunicação
mediada por tecnologias, dentre outros aspectos.
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3.p85-114
86
Diante disso, o gestor, figura central para o bom andamento do
cotidiano escolar, se viu diante de novos desafios: como motivar as pessoas
a realizarem bem seu trabalho, quando o risco de vida é eminente?; como
se comunicar com as famílias de forma diferenciada e monitorando a
compreensão das mesmas?; como organizar as dificuldades
materiais/tecnológicas da escola?; como amparar o professor a realizar sua
função com qualidade se o que acontecia dentro das salas de referência,
agora é remoto ou semipresencial?; como garantir o sucesso da
aprendizagem das crianças?. Esses são apenas alguns dos questionamentos
com que o gestor e as equipes das escolas se viram confrontados neste
período.
Nesse contexto, surge a necessidade de refletir sobre como o
contexto pandêmico impactou e ainda continua impactando as realidades
escolares. O presente capítulo tem como objetivo discutir os impactos da
pandemia sobre a educação, sob o viés específico dos profissionais da gestão
escolar. Para tanto, considerar-se-ão relatos de experiências em duas
perspectivas gestoras diferenciadas, o de uma escola de educação infantil
(0 a 3 anos) e o de uma escola de grande porte, na zona urbana, que atende
à educação infantil, ensino fundamental e educação de jovens e adultos.
Os relatos dos gestores em questão terão como pontos fulcrais de
consideração os aspectos: planejamento curricular, relação escola-família e
avaliação dos processos, visto que estes são considerados pelos gestores
pontos nevrálgicos do trabalho da gestão em tempos de pandemia.
Com este trabalho a três mãos, espera-se contribuir para a reflexão
sobre o papel do gestor, peça fundamental para a mobilização de todo o
contexto escolar em situações extremas e/ou como elemento de articulação
e coesão das instituições, em situações desafiadoras, como é o contexto
pandêmico.
87
Fundamentação teórica
De forma muito simplificada, pode-se dizer que o gestor,
independentemente da instituição que coordena, é conhecido como aquele
que gere/administra uma determinada organização e seus recursos
materiais, humanos, financeiros, de informação e tecnológicos, em busca
do alcance de objetivos e resultados, com o máximo de eficiência e eficácia.
De acordo com Paro (2010), quanto maior a complexidade das
tarefas, quanto maior a escassez dos recursos, maior a multiplicidade de
objetivos e do grande número de trabalhadores envolvidos, maior se a
necessidade de que tais trabalhadores tenham suas ações coordenadas por
órgãos ou pessoas com funções administrativas.
As escolas são, portanto, instituições que refletem essa
complexidade por prestarem serviços diretos à comunidade e à sociedade
em que estão inseridas, sendo, por sua função social de instruir as novas
gerações, pilares para a atual conjuntura social. Por este motivo, conforme
Paro (2006), a gestão educacional precisa admitir sua responsabilidade
social, aderindo também a um envolvimento concreto na vida da
comunidade e a uma metodologia de participação solidária de seus
membros. Quanto maior essa participação, maior se a efetividade da
escola e sua capacidade política de responder às aspirações e necessidades
sociais
10
.
10
Importa considerar que Paro (2010) traz reflexões muito pertinentes a esse respeito. Para este
autor, há diferenças patentes entre administração escolar e administração empresarial, uma vez que
expõe que as formas de administrar são avessas e seus fins divergentes. Dessa maneira, embora exista
a preocupação com a eficiência e produtividade (que são contributos da administração capitalista),
nas escolas estão presentes com igual relevância questões humanas, como o desenvolvimento e
qualidade de vida, além de fatores culturais e políticos.
88
Sendo assim, nota-se que o gestor educacional possui uma
preocupação muito específica com a aprendizagem, seus processos e
resultados, demandando de si um bom domínio e conhecimento sobre o
que acontece na sala de referência, sobre como as crianças aprendem, como
os docentes aprendem, além de precisar ser capaz de tomar decisões que
versem sobre planejamento, organização, coordenação de múltiplas
atividades, condução de pessoas, execução e avaliação dos processos, como
se disse, em direção a determinadas metas compartilhadas, por vezes
corrigindo as rotas preestabelecidas para que haja a efetividade das ações
educacionais.
Cabe refletir o quão importante é a experiência pregressa do gestor
também como educador. O ato de gerir uma instituição com uma função
social tão específica quanto uma escola, não pode prescindir do
conhecimento teórico-prático da docência, visto que o gestor que se
encontra imerso apenas na dimensão administrativa de seus fazeres corre o
risco de perder o controle das atividades-meio necessárias para atingir o
objetivo a que dirige toda a escola: o sucesso e aprendizagem das crianças.
Dessa maneira, o movimento de aprendizagem das escolas torna-
se contínuo, porque, uma vez sendo atingidos, objetivos se desdobram,
dando lugar a novos deles. As ações passadas são referenciais para o
planejamento do presente e do futuro (SANTOS, 2002).
Para Santos (2002), um dos principais desafios da gestão escolar é
capacitar as pessoas a funcionarem em conjunto. Todos os componentes
da organização escolar precisam ter em mente suas capacidades, potenciais,
funções específicas e sua responsabilidade para o alcance dos resultados da
escola, mas, mais do que isso, precisam ser liderados ou influenciados
intencionalmente para realizarem bem suas tarefas, maximizando o
desenvolvimento organizacional e pessoal. Isto envolve uma complexa
89
gama de fatores, que inclui as características do líder, as motivações dos
liderados (realização profissional, qualidade de vida), as características da
missão a ser realizada, comunicação, capacitação profissional e a
conjuntura social e política.
Além disso, para o autor, os líderes/gestores são agentes de
mudança, fazendo com que os componentes se desprendam daquilo que
não é mais útil à organização. Este é um processo que envolve resistência e
desconforto nas relações interpessoais.
Atualmente, os aspectos da liderança estão intimamente
relacionados à existência de relações democráticas e relações interpessoais
horizontais dentro das escolas, estando previsto, inclusive, na legislação
educacional (Lei de Diretrizes e Bases e Constituição Federal).
A partir dessas ponderações fica claro que uma escola
verdadeiramente democrática envolverá a criação de estruturas e processos
democráticos pelos quais a vida escolar se realiza, proporcionando
participação nas questões administrativas e políticas; planejamento
compartilhado na escola e na sala de referência; atendimento às
preocupações, expectativas e interesses de todos pais, alunos, direção,
professores, funcionários, comunidade, além do combate a todas as formas
de exclusão e desigualdades presentes na escola e sociedade.
Como decorrência, o desenvolvimento do currículo escolar deverá
proporcionar as mesmas experiências democráticas aos alunos, oferecendo-
lhes o direito de serem ouvidos, a multiplicidade de informações, a
formação de leitores críticos da realidade (HORA, 2007).
Conforme Luck (2009, p. 26), o gestor será o profissional dotado
de competências necessárias para organizar e provocar transformações nas
realidades escolares. Para efeitos de estudo, a ação gestora pode ser dividida
90
em 10 dimensões, agrupadas em duas áreas, de acordo com sua natureza:
1- Organização (sendo todas aquelas ações que tenham por objetivo a
“preparação, a ordenação, a provisão de recursos, a sistematização e a
retroalimentação do trabalho a ser realizado”; estas objetivam garantir uma
estrutura básica necessária para a implementação dos objetivos
educacionais e da gestão escolar. Por si só, essas dimensões não garantem
os resultados educacionais, mas são imprescindíveis para o alcance dos
mesmos.
Os aspectos de organização envolvem [...] a fundamentação
conceitual e legal da educação e da gestão educacional, o planejamento, o
monitoramento e avaliação das ações promovidas na escola, e a gestão de seus
resultados(LUCK, 2009, p. 26), de forma que todas as demais dimensões
e ações educacionais sejam realizadas tendo foco na promoção da
aprendizagem e na formação dos alunos, com qualidade social.
Por sua vez, as dimensões de 2- Implementação: sendo aquelas
desempenhadas com a finalidade de promover as mudanças e
transformações no contexto escolar. É nesta dimensão em que são
propostas e promovidas as transformações das práticas educacionais, de
modo a ampliar e melhorar o seu alcance. Conforme Luck (2009, p. 26)
As competências de implementação envolvem a gestão democrática e
participativa, gestão de pessoas, gestão pedagógica, gestão administrativa,
gestão da cultura escolar e gestão do cotidiano escolar.
Metodologia
Para realizar a reflexão a que se propõe este capítulo, utilizar-se-á,
como percurso metodológico, a análise de dois relatos de experiência, em
91
duas perspectivas gestoras diferenciadas, o de uma escola de educação
infantil, de agora em diante nomeada escola A, junto a seu respectivo
gestor e o de uma escola de grande porte, na zona urbana, que atende à
educação infantil, ensino fundamental e educação de jovens e adultos,
considerando-se escola e gestor C. A razão para admitirem-se os relatos dos
dois gestores é autoexplicativa, tendo em vista que as duas escolas
apresentam certas similaridades (são escolas públicas, municipais,
localizadas em duas cidades do interior de São Paulo) e diferenças que
enriquecem o contexto de análise, ao se observar as faixas atendidas e a
natureza e tamanho das escolas (creche e escola urbana de grande porte).
Metodologicamente, os relatos serão tratados por meio da Análise
de Conteúdo (BARDIN, 1977), e os eixos de discussão previamente
elencados serão: Planejamento curricular, relação família-escola e avaliação
dos processos. Salienta-se que tais eixos foram pensados a priori por serem
considerados, na visão destes pesquisadores, que também são gestores
escolares, os pontos nevrálgicos do trabalho da gestão nos tempos de
pandemia.
Oferecendo um panorama contextual ao leitor, esclarece-se que a
escola A, atende a fase creche da Educação Infantil, tendo como público-
alvo crianças de 4 meses até 3 anos e 11 meses, em período integral, com
média de 84 crianças. A escola possui seis salas, sendo uma de Berçário I,
uma sala de Berçário II, duas salas de Maternal I e duas salas de Maternal
II. Localiza-se na cidade de Lins, São Paulo.
A escola C, situa-se na cidade de Birigui, interior de São Paulo,
atendendo à Educação Infantil (há cinco salas de pré-escola, abrangendo
crianças de quatro a cinco anos e onze meses de idade), Anos Iniciais do
Ensino Fundamental (sendo dezessete turmas, compreendendo de
primeiro a quinto ano) e Educação de Jovens e Adultos (oferecida a duas
92
turmas, em período noturno). Esta é uma escola de grande porte,
atendendo a um total de quinhentos e trinta alunos, no ano de dois mil e
vinte e um. A clientela é composta por uma população carente, e uma
parcela considerável dos alunos reside na zona rural, ou em bairros
próximos, conhecidos por sua vulnerabilidade. Próximo à escola ainda
a construção de moradias e loteamentos populares, o que atrai uma
população migrante, aspecto que se agravou durante a pandemia, tendo
em vista que muitos destes não puderam arcar com seus aluguéis. Apesar
de tais fatores, o bairro é bastante tranquilo. Embora a escola não esteja
longe do centro da cidade (há 5 minutos do centro), poucos
equipamentos sociais no entorno (bibliotecas, museus, teatro, ginásio de
esportes, etc.). A escola foi fundada em 1999 e neste ano conta com diretor
efetivo, após quase 12 anos.
Resultados e Discussões
Eixo A - Planejamento curricular
Puderam ser observadas similaridades no relato dos gestores A e C,
no que se refere ao impacto sofrido pela educação infantil, em seus aspectos
pedagógicos. Ambos apontam a dificuldade de que as famílias realizassem
atividades remotas em conformidade à natureza das atividades na educação
infantil:
Gestor A: [...] o planejamento foi realizado com base no Currículo
Municipal para a Educação Infantil, tendo como eixo norteador as
interações e brincadeiras, aqui um novo elemento se apresenta como
93
impasse, pois a interação e a brincadeira ficam tolhidas em espaços
domésticos que não possibilitam tais ações;
Gestor C: [...] se revelou que a família compreendia as atividades
lúdicas como desnecessárias e sem fundamento educativo, embora os
objetivos específicos fossem explicados com clareza nas comandas.
Houve, assim, um questionamento profundo sobre as atividades
enviadas para casa, de forma que emergiram velhos preconceitos como
os de que crianças pequenas estão aprendendo quando estão sendo
alfabetizadas. Felizmente, esses foram alguns casos, apenas e realizamos
um trabalho “de formiguinha com os pais mais resistentes,
explicando, por áudios, sobre a necessidade de realizar os exercícios
propostos.
Conforme Luck (2009), a ação do diretor escolar será tão limitada
quanto forem suas concepções sobre a educação, gestão escolar e o seu
papel profissional na liderança e organização da escola. Tais concepções
são construídas a partir do desenvolvimento de referencial de fundamentos
legais e conceituais que embasem e norteiem o seu trabalho.
Nota-se que ambos os gestores demonstram conhecimento teórico
e prático sobre a natureza do trabalho com educação infantil (inclusive
citando aspectos legais, como no caso da gestora A). Percebe-se que houve
um esforço em ampliar a compreensão dos familiares a esse respeito e
retrabalhar concepções que poderiam atrapalhar o bom andamento dos
processos de aprendizagem, contudo, o correr de dois anos de pandemia
parece ter prejudicado as instituições neste trabalho de conscientização,
que é, em grande parte, promovido demonstrando o desenvolvimento das
crianças e a atração dos pais para o contexto escolar, mediado pela equipe
gestora e docente.
94
Conforme se poderá notar a seguir, a fala dos gestores A e C
demonstra que, mesmo no contexto pandêmico, buscaram levar seus
professores à superação de obstáculos pela qualificação do planejamento
com novas estratégias:
Gestor A: Diversos links de músicas e histórias também foram
sugeridos com o intuito de garantir minimamente parte da rotina
pedagógica que as crianças teriam no espaço escolar [...] foram
realizadas pesquisas sobre os recursos tecnológicos de cada família. [...]
As propostas pedagógicas exigem algum recurso que a criança possa
não ter em sua residência? As comandas estão claras favorecendo que
qualquer membro familiar possa auxiliar a criança? Todas essas
questões eram debatidas com a gestão escolar que juntamente com a
equipe decidiam quais propostas eram mais significativas e viáveis.
Gestora C: [...] o grande problema foi o de que a maioria dos
professores realizava suas atividades de forma automática. A distância
fez com que precisassem realizar seus planejamentos explicando aos
pais as mediações que deveriam fazer com as crianças. Como se disse,
isto foi muito dificultoso pelo nível de compreensão e de estudo das
famílias, bem como do professor que não estava acostumado a fazer
esse tipo de escrita [...]. Para tentar alcançar as crianças, que havia a
dificuldade de utilizar o auxílio dos pais, as professoras elaboraram site,
vídeos explicativos das atividades, fizeram vídeo chamadas com as
crianças e tentaram aprimorar a comanda das atividades remotas, para
melhor entendimento das famílias, pensaram em jogos e atividades
adaptadas. Chegamos à conclusão de que a melhor alternativa seria
tentar trazer as crianças de volta ao ensino presencial, porque a
mediação nunca é a mesma da que um professor faria em sala de aula
e a falta de intimidade das professoras com a tecnologia deixou um
pouco a desejar. Todas fizeram o possível e algumas até surpreenderam
pela qualidade com que se reinventaram, mas, na realidade, as
95
professoras verbalizaram que estavam trabalhando além de suas
atribuições. Neste ponto convém mencionar que a maioria das
professoras de nossa unidade escolar têm dupla jornada, acumulando
cargos e estando mais de quinze anos na profissão. Tivemos trabalho
em argumentar que, independentemente da situação, sua função seria
zelar pela aprendizagem dos alunos, isto é o mínimo que se deve
garantir. “Dobrar período” é uma escolha do professor, mas
independentemente da situação, o professor deve cumprir os seus
deveres para com as crianças e para com a escola e, no que tange à
melhoria de suas práticas, buscar se atualizar, melhorar deveria ser uma
constante. Ficou claro com a pandemia que isso estava sendo feito de
forma muito tímida. A distância dos alunos fez com que essa demanda
crescesse exponencialmente.
Para Luck (2009, p. 16-17):
O objetivo maior da comunidade educacional revela-se, portanto, o de
se estabelecer uma comunidade de ensino efetivo, onde persevere,
coletivamente, não somente o ideal de ensinar de acordo com o saber
produzido socialmente, mas o de aprender, em acordo com os
princípios de contínua renovação do conhecimento, criando-se um
ambiente de contínuo desenvolvimento para alunos, professores,
funcionários e é claro, os gestores. O conhecimento da realidade ganha
novas perspectivas: a organização do projeto político-pedagógico da
escola e o seu currículo; o papel da escola e o desempenho de seus
profissionais, que devem renovar-se e melhorar sua qualidade
continuamente, tendo o aluno como centro de toda a sua atuação.[...]
o diretor é o profissional a quem compete a liderança e organização do
trabalho de todos os que nela atuam, de modo a orientá-los no
desenvolvimento de ambiente educacional capaz de promover
aprendizagens e formação dos alunos, no nível mais elevado possível,
96
de modo que estejam capacitados a enfrentar os novos desafios que são
apresentados.
É possível reconhecer na fala dos gestores, a dimensão da inovação
a que se refere a autora e que compete ao diretor mediar. No caso do gestor
A, é particularmente interessante que as questões e a busca de soluções
fossem feitas de forma coletiva, perseverando como uma comunidade
aprendente e de forma democrática. na fala do gestor C, os embates
citados deixam transparecer problemas na dimensão da liderança e no
perfil dos professores, pouco abertos à busca da transformação e aquisição
de novos conhecimentos.
Diante disso, cabe a reflexão de que, aparentemente, nas escolas
com maior número de profissionais (com mais tempo de carreira,
inclusive) as inovações tendem a demorar mais a acontecer e encontram
maior resistência, indo ao encontro do que afirma Santos (2002), no que
tange à dificuldade de que mudanças sejam bem aceitas.
A fala dos gestores também evidencia que não havia precedentes
que oferecessem um caminho mais seguro a seguir com a situação que se
gerou no contexto da pandemia. Foi preciso repensar as bases com que se
organiza a educação, em ambos os contextos aqui analisados. Nesse
sentido, a inovação tecnológica e a renovação pedagógica parecem ser
processos que aconteciam de forma frágil no cotidiano dessas escolas,
anteriormente à pandemia. É claro que o gestor não pode fazer imposições
a sua equipe, estes devem estar convencidos da necessidade das mudanças
e, aparentemente, isso ocorreu em situações extremas, quando a
pandemia acelerou tais processos, como única alternativa possível de
alcançar as crianças e famílias.
97
Fica subentendido nos relatos dos gestores A e C que estes,
juntamente aos docentes de suas equipes, tentaram recriar ambientes de
aprendizagem qualificados, mesmo com o obstáculo da distância, mas
termos como “garantir minimamente” e falas como “a melhor alternativa
seria tentar trazer as crianças de volta ao ensino presencial” evidenciam o
quanto isto não foi um exercício ideal e que rendeu os frutos desejados,
mas o ensino remoto foi admitido por força das circunstâncias, não sendo
algo em que os gestores acreditem e que escolheriam como filosofia se não
houvesse pandemia.
Corroborando com essa discussão sobre a relevância das interações
entre as crianças na Educação Infantil, possibilitadas presencialmente no
âmbito escolar e os percalços da pandemia nesse aspecto, Anjos e Pereira
(2021, p. 06-07), trazem que:
Para nortear as atividades-fim dessa etapa da Educação sica, as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL,
2009), indicam princípios éticos, políticos e estéticos e afirmam que
práticas pedagógicas devem possibilitar experiências diversas às crianças
desde bebês, tendo as interações e a brincadeira como eixos do
currículo. Esses princípios são aqueles que caracterizam o
desenvolvimento do trabalho desta primeira etapa da Educação Básica.
Eles somente se concretizam a partir de experiências significativas de
interações das crianças com outras crianças, com os(as) adultos(as),
com os espaços e os materiais organizados intencionalmente para
possibilitar experiências desafiadoras que possibilitam múltiplas
aprendizagens e, consequentemente, o desenvolvimento integral.
A suspensão das atividades presenciais com as crianças a partir da
segunda quinzena do mês de março de 2020 impossibilitou os
encontros que são finalidades, princípios, fundamentos, eixos e práticas
educativas que caracterizam a Educação Infantil.
98
Evidencia-se que a distância física impelida pela pandemia,
inviabilizou as interações entre as crianças e os adultos que ocorrem no dia
a dia nas escolas de Educação Infantil, o que se materializa nos relatos dos
gestores quando abordam planejamento curricular, que as interações e
brincadeiras deveriam nortear todo o trabalho com crianças pequenas, o
que foi prejudicado durante a pandemia.
Prosseguindo as reflexões, volta-se ao ponto em que parte da
dimensão democrática da escola perdeu-se neste período, tanto para
professores e gestores, que tiveram que lançar mão de processos com que
tinham pouco domínio e aos quais eram resistentes. Também houve a
perda da dimensão democrática para as crianças, uma vez que seus
processos de aprendizagem não surtiram os melhores efeitos possíveis de
forma remota (justificando-se que em outros excertos, principalmente do
gestor C, cita-se que, ao passo em que as crianças voltaram presencialmente
à escola, perceberam-se as defasagens adquiridas neste período).
Indo adiante, uma reflexão é pertinente: se os processos de
inovação são tímidos nas escolas, perdas políticas e democráticas estavam
sendo detectadas na missão das escolas desde muito antes, mas uma
inclusão tão brusca da tecnologia talvez também não seja o melhor
caminho, mas sim encontrar um meio termo para essa utilização. Se o
gestor é o profissional dotado de competências e visão ampla para conduzir
uma organização, este também deverá ser o responsável por não deixar que
tudo volte a ser como antes, descartando todo o aprendizado que o período
pandêmico trouxe.
Os relatos dos gestores ainda versaram sobre a dificuldade de que
as professoras realizassem planejamentos sem conhecer as crianças. O
gestor A cita que houve “uma ruptura de vínculos das crianças para com o
professor e/ou atendente de atividades infantis [...]. Planejar para uma
99
criança que não se pode observar, ouvir, conviver, dialogar, sem saber quais
condições possuem para o ensino remoto foi e é um impasse [...]”.
De forma tão contundente quanto, o gestor C afirma ter notado
que “[...] para algumas poucas professoras do grupo, a distância dos alunos,
aparentemente, os despersonalizou, como se não fossem crianças reais,
famílias reais e as mesmas deixaram de se preocupar tanto com os
resultados de sua ação e fizeram o básico, pois o produto -a criança
aprendendo- não era palpável”. Este mesmo gestor acrescentou ao seu
relato que muitos de seus alunos da Educação de jovens e adultos
evadiram-se visto que possuíam “[...] pouca familiaridade com o uso do
celular e o que os atrai para a escola é a possibilidade de aprender
presencialmente”.
A fala dos gestores deixa transparecer a imprescindibilidade da
escola e da presença como estratégias e características de um local ainda
socialmente insubstituível e que, destituído de seus constituintes básicos
(ainda que tivesse maior tradição em buscar melhores condições
tecnológicas e inovações pedagógicas), acabou perdendo em qualidade. A
sociedade ainda almeja uma escola que conserve aspectos de sua tradição.
Eixo B – Relação família-escola
Com a pandemia da COVID-19, a instabilidade com relação à
sobrevivência, ausência de suprimentos básicos, desemprego e a
impossibilidade de aulas presenciais que assolou a realidade brasileira, ficou
mais evidente a dificuldade existente na relação família e a escola, sendo
recorrente nos relatos dos gestores analisados impasses na comunicação
com os responsáveis e para que o ensino remoto de fato fosse realizado,
100
mesmo com a elaboração de estratégias de comunicação com suporte
tecnológico como grupos de WhatsApp e aplicativos mais atrativos,
conforme relatos abaixo.
Gestor A: A comunicação família-escola foi prejudicada durante a
pandemia, nesse sentido, a gestão juntamente com a equipe
implementou canais que favorecessem meios de contato rápido com as
famílias, para isso foi criado um grupo na Whatsapp para cada turma
da escola. Nele eram postadas semanalmente planilhas com sugestões
de sequências didáticas de forma clara, acompanhadas por deos, links
e áudios. As famílias inicialmente estabeleceram mais comunicação,
enviando fotos das crianças, vídeos e fazendo comentários sobre as
propostas. No entanto, com o decorrer dos meses foi observada a
diminuição de devolutivas, bem como a falta de interação relacionadas
às dúvidas e/ou sugestões, mesmo com intervenções da gestão. Em
outra etapa de comunicação, as famílias passaram a buscar sugestões na
escola, juntamente com materiais pedagógicos necessários para a
realização das propostas. Para a retirada desses materiais também foram
realizadas postagens nos grupos e ligações por parte da equipe para os
responsáveis. Mesmo com todas essas estratégias, não foi possível
alcançar 100% das famílias. Os retornos por fotos, vídeos e
comentários continuaram baixos.
A dificuldade também é relatada por outro gestor:
Gestor C: Na relação com as famílias, encontramos como obstáculos a
falta de apoio, o desconhecimento sobre o trabalho da escola e a falta
de instrução dos próprios responsáveis que prejudicaram em muito o
trabalho educativo. As atividades de natureza remota dependeram de
um empenho que as famílias não tinham possibilidade e boa vontade
para oferecer, por questões culturais e pelo fato de que aspectos de
101
natureza social tornaram o aprender um quesito muito dispensável na
sua escala de prioridades. Tornaram-se frequentes as falas de pais
chamados à escola, dizendo que não sabiam ensinar e que isso seria
responsabilidade somente dos professores. Muitas famílias mudaram-
se de endereço ou estavam deslocadas da comunidade e sequer vieram
retirar as atividades, demandando um trabalho extra dos professores,
da coordenação e direção escolar, chegando ao conselho tutelar, nos
casos mais graves. Toda mediação foi feita por telefone, visitas
domiciliares e aproveitando a vinda dos pais à escola para retirada dos
kits merenda, demonstrando o quanto a queso assistencial ganhou
foco durante a pandemia. Notou-se, portanto, o quão frágil era a
parceria escola-família e, mais gravemente, o quanto a escola estava
assumindo e compensando o trabalho desta última, no que se refere à
aquisição de valores humanos básicos pelas crianças.
No relato dos dois gestores é evidente as dificuldades encontradas
no relacionamento com as famílias. Ambos pontuam que estabeleceram
meios de comunicação que julgaram ser mais eficientes, mas que mesmo
assim não atingiram totalmente o objetivo proposto. A fala dos gestores,
mais especificamente do C, sinaliza o desconhecimento da família sobre o
trabalho da escola, bem como a preocupação com o fato da instituição estar
assumindo funções que seriam de competência dos pais, o gestor A
pontua a diminuição da interação dos familiares com a equipe da escola.
Mediante as colocações uma reflexão pode ser estabelecida: dificuldades de
comunicação e falta de clareza das funções de cada segmento em questão
eram inerentes ao contexto escolar antes do período pandêmico e se
tornaram latentes pelas barreiras estabelecidas pela pandemia. Observam-
se aspectos que merecem atenção por parte da gestão escolar visando
fortalecer a parceria entre escola e família.
102
A reflexão sobre a responsabilidade de cada segmento envolvido no
processo educacional das crianças é crucial para a garantia de efetividade
da aprendizagem. Assim, a legislação brasileira menciona a família também
como responsável, a Constituição Federal (1988) artigo 205 diz que “A
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (1996)
no artigo traz que “A educação, dever da família e do Estado, inspirada
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996).
Nas duas legislações a família é colocada também como responsável pelo
ato de educar, ato esse que não se sobrepõe ao papel da escola que trabalha
com o ensino-aprendizagem dos conhecimentos construídos
historicamente, mas se relaciona a princípios, atitudes, valores, vivências
essenciais para o desenvolvimento humano, ensinamentos estes oriundos
do âmbito familiar.
A família e a escola possuem papéis distintos, porém indissociáveis
para que o aluno tenha sucesso escolar. Conforme Dessen e Polonia (2007,
p. 22):
Na escola, os conteúdos curriculares asseguram a instrução e apreensão
de conhecimentos, havendo uma preocupação central com o processo
ensino-aprendizagem. Já, na família, os objetivos, conteúdos e métodos
se diferenciam, fomentando o processo de socialização, a proteção, as
103
condições básicas de sobrevivência e o desenvolvimento de seus
membros no plano social, cognitivo e afetivo.
As falas dos Gestores A e C apontam a necessidade do
envolvimento das famílias no desenvolvimento escolar dos filhos, mas fica
subentendido que ainda falta clareza das responsabilidades dos familiares
nessa parceria, visto que o relato do Gestor C aponta pais afirmando que
o dever de ensinar é dos professores, mas que em contrapartida se
mudaram e se quer comunicaram a escola, bem como no relato do Gestor
A, a ausência de devolutivas das propostas de atividades por parte das
famílias. O apoio dos pais durante a pandemia se tornou fundamental, pois
sem ele o ensino-aprendizagem seria ainda mais prejudicado.
No entanto, apesar das dificuldades apontadas pelos gestores, é
possível identificar em trechos de suas falas que parte das famílias
assumiram o compromisso necessário para que o ensino remoto pudesse
ser realizado, ou ao menos tentado, dentro das possibilidades de cada uma,
conforme os relatos, Gestor A: “[...] apesar de todos os impasses que a
pandemia gerou, parte dos responsáveis mantiveram contato por meio de
devolutivas e demonstravam interesse nas propostas da escola”. Gestor C:
“Felizmente, percebemos que muitos pais também se preocuparam em
fazer as atividades da melhor forma possível, diante de seus
conhecimentos”.
O envolvimento das famílias, ainda que não em sua totalidade, é
evidenciado nos relatos dos gestores, demonstrando a satisfação das
mesmas nessa parceria, que segundo Luck (2009) é fundamental para a
garantia de qualidade tanto no funcionamento da escola quanto no ensino-
aprendizagem dos alunos.
104
Durante a pandemia, dificuldades que eram evidentes foram
ressaltadas e o gestor escolar se viu diante de situações nunca vividas, não
que as situações inesperadas não ocorram nas escolas, essas são frequentes,
mas o cenário mundial exigiu mudanças organizacionais, metodológicas e
de relacionamento com a comunidade de forma rápida e pontual. Isso
pode ser observado nos trechos dos relatos abaixo:
Gestor A: A equipe precisou se articular e pensar em formas rápidas e
efetivas para a comunicação.
Gestor C: A ferramenta dos áudios e ligações telefônicas, em particular,
foi muito importante, porque notamos que a escrita dos professores
nem sempre era bem interpretada e em alguns casos, parecia até
grosseira, de forma que indicamos sempre enviar áudio ou ligar para as
famílias, explicando melhor as situações. Nos recados destinados a toda
comunidade escolar, como nas explicações das regras para retorno,
gravamos vídeos explicativos e publicamos nos grupos de sala e na
página da escola.
Os relatos de ambos deixam claro que o gestor precisou ser ágil e
rápido buscando estratégias com a equipe, inclusive avaliando as
metodologias que apresentavam melhores resultados junto às famílias. O
trabalho em equipe, que diversas vezes é debatido dentro das escolas, teve
que ser colocado em prática de forma bem aligeirada, pois nem as crianças,
nem as famílias poderiam esperar. A capacidade de liderança do gestor,
bem como aspectos democráticos também foram colocados em evidência,
a fala do Gestor A traz a necessidade de articulação da equipe,
demonstrando diálogos entre o grupo para a definição de estratégias. O
Gestor C evidencia reflexões com relação a melhor forma de comunicação
da equipe com pais, evitando mal-entendidos.
105
Assim, um aspecto relevante para discussão em torno da
participação das famílias nas questões educacionais é a reflexão sobre a
gestão democrática, ou seja, em que mediada e em qual grau os
responsáveis pelos alunos vinham participando das ações escolares antes
da pandemia da COVID-19 que por si impossibilitou diversas esferas
da gestão democrática. Conforme Paro (2000, p. 25):
Não pode haver democracia plena sem pessoas democráticas para
exercê-la. A prática de nossas escolas está muito longe de atender ao
requisito implícito nesta premissa. Dificilmente teremos um professor
relacionando-se de forma consequente num processo de participação
democrático da comunidade na escola se sua relação com os alunos em
sala de aula continua autoritária. Se a escola, em seu dia a dia, está
permeada pelo autoritarismo nas relações que envolvem direção,
professores, demais funcionários e alunos, como podemos esperar que
ela permita, sem maiores problemas, entrar a comunidade para, pelo
menos, exercitar relações democráticas?
Então, se a escola tem como meta o envolvimento das famílias com
suas propostas precisa desenvolver estratégias de aproximação, participação
e parcerias frequentes nos diversos aspectos que culminam na
aprendizagem das crianças e que estão presentes no dia a dia da escola.
Apesar das dificuldades relatadas pelos gestores é preciso a
insistência e estratégias visando a participação, isso não se constitui em um
processo rápido, prático e imediato, pois “A participação da comunidade
na escola, como todo processo democrático, é um caminho que se faz ao
caminhar, o que não elimina a necessidade de se refletir previamente a
respeito dos obstáculos e potencialidades que a realidade apresenta para a
ação” (PARO, 2000, p. 17-18).
106
Luck (2009) afirma que quando o diretor compreende a
importância da participação da comunidade nos processos procura
orientar a liderança visando conquistá-la, questionando sua prática com o
intuito de garantir que a comunidade escolar participe das inúmeras
atividades da instituição, valorizando e reconhecendo a participação,
motivando-a.
As autoras Dessen e Polonia (2007, p. 29) reforçam a necessidade
de implementação de estragias que favoreçam a articulação entre essas
duas instituições, família e escola:
A família e a escola constituem os dois principais ambientes de
desenvolvimento humano nas sociedades ocidentais contemporâneas.
Assim, é fundamental que sejam implementadas políticas que
assegurem a aproximação entre os dois contextos, de maneira a
reconhecer suas peculiaridades e também similaridades, sobretudo no
tocante aos processos de desenvolvimento e aprendizagem, não em
relação ao aluno, mas também a todas as pessoas envolvidas.
Assim, por meio das falas dos gestores, é possível inferir que a
parceria da família com a escola é um processo fragilizado, demarcado por
impasses que envolvem os dois segmentos. Os relatos de ambos os gestores
demonstram preocupação nesse sentido, fazendo o possível para
estabelecer e manter o contato com os responsáveis, acionando inclusive
instituições para o apoio em caso contrário (Conselho Tutelar,
mencionado pelo Gestor C). Dessa forma, independente dos percalços
advindos com a pandemia da COVID- 19, faz-se necessária a busca
constante, por parte do gestor escolar, de estratégias de mobilização e
107
engajamento dos pais/responsáveis em todas as instâncias educativas,
visando sempre a qualidade do ensino-aprendizagem das crianças.
Eixo C – Avaliação dos processos
Como se argumentou anteriormente e conforme os referenciais
consultados, fica claro que a avaliação deve ser uma constante em toda a
ação gestora, abrangendo não a avaliação do rendimento dos alunos,
como também a autoavaliação do coletivo escolar e da eficiência dos
processos. Conforme os gestores:
Gestor A: Avaliar todo o processo de aprendizagem durante o período
de pandemia, com crianças muito pequenas, sem poder conviver com
elas, sem visualizar vídeos ou registros pontuais é extremamente
delicado e no mínimo conflituoso. Mediante as devolutivas familiares
e diálogos, os professores e/ou atendentes de atividades infantis foram
realizando registros que garantiram reflexões básicas sobre a efetividade
das propostas pedagógicas realizadas, que as aprendizagens que
ocorrem na Educação Infantil não o mesuradas por instrumentos
avaliativos escritos, ou seja, a presença na escola é essencial para que o
professor e/ou atendente de atividades infantis possa acompanhar os
avanços de cada aluno.Com relação a uma avaliação geral de todo o
processo, é visível que a comunidade escolar precisou se reinventar,
buscar soluções e ideias rápidas para todas as demandas que foram
emergindo, no entanto, a efetivação do currículo foi prejudicada bem
como a relação de comunicação entre família-escola. Pelo fato das
crianças serem muito pequenas, o brincar norteia todo o trabalho
proposto para realização, o que exige a orientação de adultos, no
entanto, a dinâmica familiar também foi impactada pela pandemia,
não sendo cil para os mesmos assumir as funções pedagógicas da
108
escola. Assim, uma série de fatores se associaram e ocasionaram diversos
impasses para a prática educacional na Educação Infantil em que o
gestor precisou atuar, articulando e buscando estratégias junto com a
equipe para que o Currículo pudesse chegar até as crianças,
estabelecendo comunicação com as famílias e gerindo os processos
burocráticos que perpassam todas essas esferas.
Gestor C: As atividades remotas inviabilizavam uma avaliação bem
feita e os vídeos nem sempre captam o real desenvolvimento das
crianças. pudemos saber, efetivamente, o que as crianças sabiam,
com o retorno presencial. Os momentos das sondagens presenciais
foram importantes. Tentamos ao máximo proporcionar esses
momentos e, em alguns casos, avaliar as crianças por vídeo chamada,
mas isso não foi o produtivo, em virtude do ambiente das casas
(televisão ligada, outras crianças, sons domésticos, entre outros).
Criamos instrumentos de avaliação específicos para a educação infantil,
contudo, essa etapa da escolaridade foi a mais afetada no quesito
avaliação, porque as professoras precisavam de muito contato com as
crianças e o estabelecimento de vínculos para saber realmente como
estava o desenvolvimento. Por vezes a criança demonstra timidez, os
vídeos não são bem gravados ou o resultado é manipulado pelos pais.
Notamos que os alunos de todas as etapas atendidas pela escola
progrediram muito mais com o retorno presencial, quando
trabalhamos para recuperar o tempo perdido. [...] Quando avaliamos
o saldo de todo o processo, notamos que muitas das estratégias
utilizadas se deram de forma improvisada (buscamos realizar uma boa
comunicação com as famílias, aprendemos a utilizar recursos em tempo
recorde, nas
formações promovidas em HTPC, lidamos com angústias
diversas nossas e das famílias também, porque não tínhamos tanto
domínio sobre o sucesso da aprendizagem e não podíamos fazer com
que as crianças voltassem imediatamente para a escola –, mas
percebemos que a presença física ainda é a ferramenta mais útil).
109
Luck (2009, p. 43) propõe diversas competências que o gestor
deveria possuir em relação à avaliação e monitoramento dos processos
avaliativos. Em sua fala o diretor:
17. Estabelece na escola práticas de monitoramento de todos os
processos educacionais e de avaliação de seus resultados, em todos os
segmentos de atuação, com foco na maior efetividade das ações
promovidas e melhores resultados de aprendizagem e formação dos
alunos. 18. Avalia continuamente o entendimento sobre os significados
atribuídos ao monitoramento e avaliação de resultados pelos
participantes da comunidade escolar, de modo a superar distorções e
limitações em relação ao seu caráter pedagógico e construtivo. 19.
Envolve e orienta a todos os participantes da comunidade escolar na
realização contínua de monitoramento de processos e avaliação de
resultados de suas atuações profissionais. 20. Promove ações,
estratégias e mecanismos de acompanhamento sistemático da
aprendizagem dos alunos em todos os momentos e áreas, envolvendo
a comunidade escolar, estabelecendo, a partir de seus resultados, as
necessárias ões para melhorar seus resultados. 21. Promove o
monitoramento, de forma participativa e contínua, da implementação
do Projeto Político-Pedagógico da escola, produzindo as adaptações
necessárias ao planejado e suas ações, face a alterações de condições e
necessidades previstas e emergentes. 22. Cria sistema de integração de
resultados do monitoramento e avaliação de modo a agregar os dados
e informações sobre o desempenho escolar e processos de
sua promoção
nos diversos segmentos e dimensões de atuação, em estreita relação
com seus planos de ação. 23. Utiliza e orienta a aplicação de resultados
do monitoramento e avaliação na tomada de decisões, planejamento e
organização do trabalho escolar com foco na melhoria da aprendizagem
dos alunos. 24. Delineia um plano de monitoramento e avaliação
abrangente dos processos de gestão da escola, em todas as suas áreas de
atuação, e de seus resultados. 25. Adota sistema de indicadores
educacionais para orientar a coleta e análise de dados sobre os processos
110
educacionais como condição para monitorar e avaliar o seu
desempenho, de acordo com os objetivos e padrões educacionais.
Quando se observa a proposta teórica em contraponto ao relato
dos gestores, é possível perceber que as competências citadas por Luck
estão, de certa forma, mescladas ao pensamento dos mesmos. Houve
momentos em que relataram ter avaliado o desempenho dos professores, o
da instituição e mesmo a aprendizagem das crianças, monitorando seu
progresso, contudo, percebe-se que isto não ocorreu da forma como
deveria, porque tal concepção está calcada no quesito presença física, tanto
na educação infantil, quanto nas demais etapas. Fica subentendido, na fala
do gestor C que em algum momento, os resultados da aprendizagem
ficaram mascarados pela dificuldade de observação real do que os alunos
sabiam. Mais evidente ainda é o insucesso experimentado com o ensino
remoto.
Pode-se concluir que, tanto teoricamente, quanto em aspectos
práticos, a educação aqui considerada a partir desses dois relatos - não
está preparada para se organizar sobre novos patamares que não os calcados
na expertise humana e na presença física.
Importa fazer um parêntese com a fala do gestor C, no que se refere
às avaliações externas: Não é possível não ter preocupação com os anos
que m por aí, principalmente porque as avaliações externas cobrarão
habilidades que não puderam ser bem desenvolvidas em virtude da
distância ter prejudicado os processos”.
Conforme Luck (2009), os processos avaliativos são necessários
para medir a efetividade das ações educacionais, tendo como seus
componentes básicos que a educação seja eficiente e eficaz. A eficiência
111
dependerá da boa organização e articulação das ações promovidas, do bom
uso do tempo, dos recursos e da adequada mobilização das competências
humanas envolvidas na promoção da aprendizagem dos alunos,
considerando que a educação é um ato intencional, com propósitos bem
definidos.
Todos esses fatores estão implicados no alcance dos resultados, daí
a importância do monitoramento e da avaliação, como processos
interdependentes, cabendo promovê-los de forma associada, uma vez que
“[...] a eficácia (os resultados) observada pela avaliação depende da
eficiência das ações (processos) verificadas pelo monitoramento” (LUCK,
p. 47). Apesar disso, nem toda ão eficiente, realizada de acordo com o
planejado, com bom uso do tempo e de recursos, promove resultados
efetivos no sentido da educação.
Reflete-se, a partir dos excertos mencionados, que houve
monitoramento dos processos por parte dos gestores, contudo os
resultados do período pandêmico serão efetivamente sentidos com o
retorno de todas as crianças à escola.
A fala do gestor C leva à compreensão de que um receio de que
as avaliações externas sejam usadas como medida de culpabilização das
escolas pelo insucesso das estratégias admitidas durante a pandemia, diante
do que concordamos com Luck, para quem:
[...] não é possível fazer monitoramento sem um julgamento
(avaliação) da propriedade das ações, seu ritmo, sua intensidade, etc.
Por outro lado, uma avaliação de resultados, para ser adequada, envolve
uma análise e interpretação dos resultados à luz das condições que os
criaram, o que pressupõe a realização de avaliação (LUCK, 2009, p. 48,
grifos nossos).
112
Entende-se que qualquer resultado pós pandemia deve ser
observado contextualmente, portanto. Diferentes serão os resultados
experienciados na escola A, dentro da especificidade da educação infantil,
enquanto a condição socioeconômica dos indivíduos da escola C deverá
ser um ponto de consideração ao aferir os impactos do período.
Considerações Finais
A partir das discussões realizadas neste breve exercício reflexivo,
pode-se notar que a Pandemia foi uma pausa na forma como a sociedade
se estrutura, não podendo causar menores impactos na escola, uma vez que
esta -reiteramos- é uma das instituições basilares para a manutenção e/ou
transformação das estruturas vigentes.
De certa maneira, regredimos a um grau de necessidade fisiológica,
quando a vida de todos se viu ameaçada. Obviamente, o trabalho como
fim social também se viu questionado, inclusive o trabalho educativo,
quando aprender e ensinar as novas gerações perdeu estrutura e também
certa relevância, quando comparada a outras situações mais urgentes.
Muitos são os anseios de que tudo, inclusive a escola, “volte à
normalidade”, contudo, reflete-se que será necessário lidar por muitos anos
com os reflexos da pandemia, de modo que talvez não se possa voltar à
forma como a escola sempre se organizou.
Se o gestor é o profissional dotado de competências teórico-práticas
e humanas para levar as instituições ao sucesso, que se reconhecer que
a falta de referentes da situação pandêmica levou o gestor a organizar seu
trabalho a partir de tentativa e erro, buscando soluções coletivas mais
acertadas e acolhendo profissionais da equipe escolar, crianças e famílias
113
naquilo que era possível no momento. A ação gestora, portanto, não pode
ser a mesma de tempos comuns, visto que demandas administrativas,
burocráticas e pedagógicas foram consideravelmente transformadas
naquilo que tinham de mais essencial, que é o cotidiano escolar. Contudo,
que se aproveitar o fato de que a pandemia expôs tanto as forças quanto
as fragilidades desse cotidiano e do processo educativo.
As informações e a experiência angariadas durante a pandemia
devem servir de material para a reflexão e transformação da realidade, além
de que deverão subsidiar propostas de ações para que a educação tenha
maior qualidade social, buscando novos caminhos e não retornando por
sobre a sombra dos passos percorridos.
Referências
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infantil em tempos de pandemia: outros desafios para os direitos, as
políticas e as pedagogias das infâncias. Zero a Seis, Florianópolis, v. 23, n.
Especial, p. 03-20, jan. 2021. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/zeroseis/article/view/79179/45389.
Acesso em: 23 jan. 2022.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em
5 de outubro de 1988. Brasília, DF, 1988. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf_legislacao/superior/legisla_su
perior_const.pdf. Acesso em: 30 out. 2021.
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996. Disponível
114
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 30
out. 2021.
DESSEN, Maria Auxiliadora; POLONIA, Ana da Costa. A Família e a
Escola como contextos de desenvolvimento humano. Paidéia, v. 17, n.
36, p. 21-32, 2007. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/paideia/a/dQZLxXCsTNbWg8JNGRcV9pN/?fo
rmat=pdf&lang=pt. Acesso em: 30 out. 2021.
HORA, Dinair Leal da. Gestão educacional democrática. Campinas:
Alínea, 2007.
LUCK, Heloísa. Dimensões da gestão escolar e suas competências. Curitiba:
Editora Positivo, 2009.
PARO, Vitor Henrique. Administração escolar: introdução crítica. São
Paulo: Cortez, 2010.
PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo:
Ática, 2006.
PARO, Vitor Henrique. Participação da comunidade na gestão
democrática da escola pública. In: PARO, Vitor.. Gestão democrática da
escola blica. São Paulo: Ática, 2000. p. 15-27.
SANTOS, Clóvis Roberto dos. O gestor educacional de uma escola em
mudanças. São Paulo: Pioneira/Thomson Learning, 2002.
115
Capítulo 4
As fragilidades do ensino remoto para a aprendizagem
Matetica no Ensino Fundamental Anos Iniciais
Camila Aparecida da Silva
Emerson da Silva dos Santos
José Carlos Miguel
1. Introdução
O presente artigo se propôs a fazer uma reflexão sobre os desafios
da aprendizagem Matemática após o retorno das aulas presenciais em
2021, devido ao fechamento das escolas em função do surto Covid-19.
Essa realidade exigiu uma mudança na condução das atividades escolares
presenciais para o ensino remoto, devido ao fechamento das escolas após o
anúncio da pandemia pela Organização Mundial da Saúde em 2019.
Somente para situar o leitor no contexto em que esse material está
sendo produzido, vale ressaltar que a pandemia ainda não terminou e o
que está ocorrendo é uma redução de casos de mortes em virtude da
vacinação que está ocorrendo no Brasil e no mundo, fazendo com que as
aulas deixassem de ser totalmente por meio de ensino remoto e sendo
transformada em um esquema híbrido, assim sendo as famílias que ainda
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3.p115-144
116
não querem enviar seus filhos para escola por algum motivo, possuem essa
opção.
Ressaltamos que em setembro de 2021 período da escrita desse
artigo, todo o sistema educacional está recebendo grande quantidade de
alunos, sendo que os que ficam em casa é em menor porcentagem.
Podemos constatar a situação da doença no Brasil e em alguns países do
mundo, no gráfico a seguir:
Figura 1 - Ranking casos de Covid-19
Fonte: Gazeta do Povo
11
.
11
NÚMEROS DO CORONAVÍRUS: Entenda o avanço da Covid-19 no Brasil e no mundo.
Gazeta do Povo. Disponível em: https://especiais.gazetadopovo.com.br/coronavirus/numeros/.
Acesso em: 30 set. 2021.
117
Ao analisarmos o gráfico fica evidente que a pandemia não acabou
e a necessidade de todos os estabelecimentos de ensino tomar todas as
precauções e seguir todas as orientações sanitárias necessárias para se evitar
o contágio entre os membros da comunidade escolar.
Outro aspecto a salientar refere-se às justificativas que faremos em
favor do ensino presencial, destacando-se que não fomos contrários ao
período em que as escolas precisaram ser fechadas. Na época, essa ação se
fez urgente e necessária em virtude do número de casos de transmissão e
mortes que ocorriam no Brasil e no mundo, revelando-se imperioso fechar
as escolas para evitar o contágio e salvar vidas.
As falhas e deficiências ocorridas no processo de ensino e
aprendizagem no período do ensino remoto, não é problema do ensino
remoto, mas uma resultante das falhas e deficiências no sistema
educacional brasileiro, as quais na pandemia se potencializaram e ficaram
ainda mais evidentes.
Convencidos da necessidade das atividades remotas durante o
período crítico da pandemia, com a retomada das aulas no ensino
presencial, se faz necessária uma reflexão sobre os caminhos necessários à
retomada dos estudos em atividade presencial e ao mesmo tempo sanar as
defasagens que esse período trouxe para os estudantes do ensino
fundamental, grupo que se objeto desse artigo.
2. As fragilidades do Ensino Remoto na Pandemia
A pandemia de Covid-19 fez com que o sistema educacional se
reinventasse de uma forma rápida e surpreendente para atender as
demandas educacionais que surgiram nesse período. Os professores,
118
estudantes e pais de uma hora para outra se viram defronte a um grande
desafio, manter o processo de ensino e de aprendizagem no período em
que fosse possível ir presencialmente à escola.
Essa nova realidade fez com que os sistemas educativos público e
privado tivessem, a partir desse momento, grande dependência das
tecnologias digitais para continuarem seus trabalhos pedagógicos. No
início, com o uso de canais de Youtube e Whatsapp, para uma adequação
de plataformas de comunicação utilizando o Google Meet garantindo uma
interação em tempo real entre o professor e o estudante nesse processo de
auxiliá-lo na construção do conhecimento matemático nesse período de
ensino remoto. Apesar de todo esforço por parte da comunidade escolar
algumas falhas puderam ser constatadas nesse retorno presencial por meio
de avaliações diagnósticas, principalmente no que se refere as dificuldades
resolução de atividades que exigissem conteúdos trabalhados no período
das aulas remotas. De acordo com Junqueira (2020, p. 33),
Talvez o aspecto mais problemático tenha sido a tentativa de transferir
práticas escolares, conteudistas e centradas no(a) professor(a), para o
formato online a distância, tentando preservar as atividades da sala de
aula presencial. Observou-se, dessa forma, a produção de aulas
expositivas, ao vivo ou gravadas, e a prescrição de tarefas para a fixação
de conhecimentos a serem aferidos.
Conforme Junqueira (2020), muitos profissionais da educação
começaram a utilizar essas tecnologias sem a devida experiência, carentes
de orientação e apoio técnico, material e pedagógico, buscando trabalhar
o conteúdo de Matemática por meio da internet, mas da forma realizada
em sala de aula. Esse aspecto gerou um problema nesse processo, pois no
119
caso da construção do conhecimento matemático alguns conceitos devem
ser trabalhados por meio de situações de aprendizagem que exijam um
envolvimento ativo do estudante nesse processo, como por exemplo,
resolver um desafio proposto pelo docente através de um jogo matemático.
Assim sendo, ao utilizar as tecnologias apenas para reproduzir
práticas conteudistas, em que a interação do estudante se resumia a
resolução de exercícios propostos depois de uma explicação, isso
certamente geraria problemas na construção desse conhecimento
matemático dos estudantes que realizavam essas atividades de forma
remota. De acordo com Piaget (2017, p. 62)
[...] a prática deles não fez grandes progressos, porque os métodos
ativos são muito mais difíceis de serem empregados do que os métodos
receptivos correntes. Por um lado, exigem do mestre um trabalho bem
mais diferenciado e bem mais ativo, enquanto dar lições é menos
fatigante e corresponde a uma tendência muito mais natural no adulto
em geral [...].
Utilizar a internet de forma a reproduzir atividades expositivas se
tornou mais problemática, do que em sala de aula, pois nesse contexto a
indisciplina um fator presencial, foi transformado em uma baixa
interatividade das aulas, pois, como no caso do Google Meet o estudante
não abria sua câmera para participar da aula e ficava em silêncio o tempo
todo.
120
Figura 2 - meras fechadas em aulas online
Fonte: PorvirInovações em Educação
12
.
Outros motivos também levaram os estudantes a não abrirem suas
câmeras durante as aulas online, de acordo com o site da Porvir (SEIS
MOTIVOS, 2021), essa atitude poderia não estar relacionada somente ao
desinteresse pela aula, mas relacionados a outros desafios como ausência de
equipamentos e baixa conectividade, desconforto com a exposição do
ambiente familiar, Cyberbullying, preocupação com a aparência e timidez.
Todos esses fatores acabam levando ao pouco engajamento nas aulas, pois
dependendo da forma que a atividade era conduzida o estudante não se
sentia participante do que estava sendo proposto.
Na questão de equipamentos e baixa conectividade, algo que
impactou a qualidade nesse processo educativo na pandemia foi a
dificuldade do acesso à Internet pelas crianças para desenvolver suas
atividades. Isso foi uma questão que deve trazer uma reflexão sobre
questões de metodologias ativas que apostam na melhoria da qualidade de
ensino por meio de uso da tecnologia, como a sala de aula invertida. A sala
de aula invertida, segundo Simulare (2021), seria uma forma de
12
Disponível em: www.porvir.org. Acesso em: 19 jan. 2022.
121
metodologia ativa que surgiu na década de 90 a partir de pesquisas
realizadas em Harvard e Yale. Nessa modalidade de ensino, os estudantes
aprendem o conteúdo antes do professor ensiná-los, pois o professor nessa
metodologia separaria textos, artigos, vídeos, filmes, podcasts e enviaria um
tema para que os estudantes pudessem estudar esse conteúdo por conta
própria, e posteriormente, por meio de interação com o professor, fazer a
discussão em sala de aula.
A pandemia desnudou e potencializou problemas que se arrastam
anos na educação brasileira e apesar de muita discussão, os
encaminhamentos não se mostraram exequíveis em tempos normais e
muito menos em tempo de desorganização social como foi o que ocorreu
no período de pandemia.
Um dos aspectos que deve ser colocado em consideração dessa
falha no processo educativo, é algo que ficou evidente na pandemia: a falta
de acesso à internet pelos estudantes. Outro aspecto que devemos
considerar é a utilização das tecnologias pelas crianças e adolescentes, como
forma de entretenimento e não como ferramenta de estudos. De acordo
com Junqueira (2020, p. 34)
As fragilidades que permeiam as vidas de milhões de famílias brasileiras
se acentuaram com a pandemia e evidenciaram como as desigualdades
sociais que perduram no país repercutem também no precário acesso
às tecnologias digitais. A pesquisa TIC Domicílios 2018, conduzida
pelo Comitê Gestor da Internet, indicou que, apesar de 93% dos
domicílios contarem com um telefone celular, apenas 19% possuíam
computador de mesa e somente 27% dos domicílios possuíam
computador portil, sendo, na maioria dos casos, apenas um
equipamento por domicílio.
122
Uma pesquisa realizada em 2021 pela União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime), feita em 67% dos
municípios apresentou alguns resultados que devem ser considerados para
compreender essa dificuldade no processo de ensino e aprendizagem
utilizando meios digitais. A pesquisa mostrou que em 2020, 91,9% das
redes educacionais optaram somente por atividades educacionais remotas,
e que 8,1% utilizaram o ensino brido, mesclando tarefas presenciais e
não presenciais.
A pesquisa UNDIME (2021) apresenta que para manter as escolas
funcionando à distância, o material impresso e as orientações enviadas por
WhatsApp foram algo muito utilizado nesse período da pandemia, sendo
que 95,3% utilizaram material impresso e 92,9% fizeram uso de aplicativo
de mensagens. Além disso, foram utilizadas videoaulas gravadas,
orientações por meio das plataformas Zoom e Meet, entre outras, além de
videoaulas ao vivo.
Por meio da pesquisa acima, podemos observar a grande
dependência da internet para que a informação chegasse aos estudantes e
para que fosse garantido o processo de ensino e aprendizagem nesse
período do ensino remoto. Em contraponto a essa situação, o Fundo das
Nações Unidas para a Infância UNICEF (2021) apresentou um estudo
denominado “Impactos primários e secundários da Covid-19 em crianças
e adolescentes”, o qual avaliou o acesso ao ensino remoto durante a
pandemia, relacionando alguns obstáculos para que esse processo não
obtivesse êxito. O estudo apontou que 1 em cada 3 estudantes tem
problemas de conexão à internet para ver as aulas online, além da falta de
tempos dos adultos para auxiliar na realização das tarefas. Nesses dois
aspectos, percebemos que as questões da educação familiar, ou
homeschooling, e a metodologia ativa da sala de aula invertida, são meios
123
que devem ser questionados de serem implantados na realidade brasileira,
seja por dificuldades de acesso para efetivação do ato de ensinar, seja pela
efetividade e eficácia relativas à conceitualização do processo educativo.
Além dos problemas de conexão e acompanhamento familiar nas
tarefas, outros pontos foram levantados como fatores que dificultaram
nesse processo de ensino e aprendizagem, tais como a ausência de
equipamentos tecnológicos adequados e a necessidade de cumprir tarefas
domésticas para auxiliar a família.
O estudo realizado pela UNICEF apresentou que 35% dos
estudantes relataram falta de acesso à internet ou que era de baixa qualidade
o sinal. Outro dado apresentado é que 35% dos adultos da casa não tinham
tempo para auxiliar as crianças e jovens para realizar as lições. A pesquisa
apontou que 31% dos estudantes afirmaram que não possuíam
equipamentos eletrônicos adequados para realizar as atividades escolares e
que 24% deixavam de realizar as atividades escolares para ajudar a família
em tarefas domésticas. Nesse contexto, a pesquisa mostrou que nas famílias
de menor renda, o celular era a único meio da criança acompanhar as aulas
online, fato ocorrido com 65% dos estudantes cujas famílias ganham até
um salário mínimo.
Os impactos reais sobre o aprendizado dos estudantes, podem ser
analisados por meio de uma pesquisa realizada pela Secretaria da Educação
do Estado de São Paulo, na qual foi feita uma análise comparativa dos
resultados do Sistema de Avaliação da Educação sica SAEB Estadual de
2019 e 2021, apresentando uma queda nos níveis de proficiência em
Matemática, em todas as séries finais de fechamento de ciclo.
124
Figura 3 - O Impacto da Pandemia na Educação: resultados em Matemática
Fonte: SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Impacto da
Pandemia na Educação, Avaliação Amostral da Aprendizagem dos Estudantes. Secretaria
da Educação do Estado de São Paulo, 2021. Disponível em:
https://www.educacao.sp.gov.br/wp-
content/uploads/2021/04/Apresenta%C3%A7%C3%A3o-Estudo-Amostral.pdf. Acesso
em 15 mar. 2022.
Outro aspecto apresentado por essa pesquisa foi o resultado do
SAEB de 2021, na Evolução Temporal para o Ano do Ensino
Fundamental, semelhante ao resultado de 14 anos atrás.
125
Figura 4 - O Impacto da Pandemia na Educação: resultados em Matemática
Fonte: SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Impacto da
Pandemia na Educação, Avaliação Amostral da Aprendizagem dos Estudantes. Secretaria
da Educação do Estado de São Paulo, 2021. Disponível em:
https://www.educacao.sp.gov.br/wp-
content/uploads/2021/04/Apresenta%C3%A7%C3%A3o-Estudo-Amostral.pdf. Acesso
em 15 mar. 2022.
As dificuldades que as crianças do Ano do Ensino Fundamental
Anos Iniciais revelam em sala de aula podem ser compreendidas por meios
dos resultados apresentados na pesquisa, ao apontar que houve uma queda
no aprendizado, e que para recuperar essa aprendizagem perdida levariam
11 anos para se chegar nos patamares apresentados antes da pandemia.
A pesquisa realizada pela Secretaria da Educação do Estado de São
Paulo realizou uma análise longitudinal do Ano do Ensino
Fundamental, tendo sido possível porque esses estudantes são os mesmos
que concluíram oano do Ensino Fundamental em 2019. Desse modo,
foi possível comparar o resultado do Sistema de Avaliação de Rendimento
126
do Estado de São Paulo, SARESP, de 2019 ao desempenho alcançado na
pesquisa amostral de 2021.
No caso dos anos iniciais do Ensino Fundamental, o desafio é
grande, pois ao analisarmos os resultados dos mesmos alunos noAno e
no Ano após 15 meses, o nível de proficiência em Matemática foi
menor. Observamos uma queda no índice de aprendizagem de 16 pontos
em Matemática. Assim sendo, as escolas devem se preparar para atender
essa demanda dos estudantes que estão nesse segmento de ensino, pois
analisando esses dados essas dificuldades poderão ser verificadas nos anos
anteriores, necessitando mais de um ensino que exige um processo de
construção de conhecimento mais efetivo e contextualizado, e no caso de
Matemática, a exigir a utilização de atividades que possam auxiliar na
construção do conhecimento gico-matemático.
Figura 5 - O Impacto da Pandemia na Educação: resultados em Matemática
Fonte: Fonte: SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Impacto da Pandemia na Educação, Avaliação Amostral da Aprendizagem dos
Estudantes. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, 2021. Disponível em:
https://www.educacao.sp.gov.br/wp-
content/uploads/2021/04/Apresenta%C3%A7%C3%A3o-Estudo-Amostral.pdf.
Acesso em 15 mar. 2022.
127
Assim sendo, é imprescindível refletirmos sobre a necessidade de se
implementar ações que auxiliem os estudantes para sanar essa queda de
proficiência imposta por esse período de aulas remotas.
Por isso, na sequência, apresentaremos a importância da
valorização do trabalho do professor e do ambiente escolar, para que os
estudantes possam além construir seu conhecimento nas aulas presenciais,
superar as defasagens impostas nesse período de aulas remotas. As análises
sobre a importância de se desenvolver atividades presenciais para auxiliar
no processo de ensino e aprendizagem matemático terá aporte de Piaget e
sua teoria para a construção do conhecimento lógico-matemático, e como
reflexão, as perspectivas teórico-metodológicas da Teoria Histórico
Cultural.
3. A importância das situações de aprendizagem na construção do
conhecimento lógico-matemático
Após analisarmos o impacto no aprendizado das crianças no
período de aula remota em função de problemas com a internet, falta de
acompanhamento das atividades em domicílio, divisão do tempo de
estudo com tarefas de casa, entre outros aspectos, a partir de agora
analisaremos do ponto de vista da Teoria de Piaget o que pode ter
propiciado essa dificuldade de se construir o conhecimento lógico-
matemático nesse período, em crianças do Ensino Fundamental Anos
Iniciais. De acordo com Piaget (1969, p. 42):
A idade dia de sete anos, que coincide com o começo da
escolaridade da criança, propriamente dita, marca uma modificação
128
decisiva no desenvolvimento mental. Em cada um dos aspectos
complexos da vida psíquica, quer se trate da inteligência ou da vida
afetiva, das relações sociais ou da atividade, propriamente individual.
Nesse contexto, percebemos, de acordo com Piaget, a importância
do ambiente escolar para o desenvolvimento das potencialidades da
criança. Piaget (1969), ainda destaca que nesse período pode ser observado
o aparecimento de novas formas de organizações mentais que auxiliam as
construções cognitivas precedentes e ao mesmo tempo assegura um
equilíbrio estável na sequência de ininterruptas construções novas. Desse
modo, pelo que podemos observar, o ensino presencial é algo fundamental
para a construção do conhecimento da criança, não somente pelo espaço
físico, mas pelas situações de aprendizagem propostas pelo professor que
auxiliarão a criança na construção desses novos conhecimentos.
A partir do início da escolarização regular que a criança deixará de
perceber as questões lógicas-matemáticas não mais como atividade
meramente motora, perceptiva ou intuitiva, assim, as atividades
apresentadas pelo professor têm papéis bem definidos no processo de
apropriação das ideias matemáticas, mas são pontos de partida, que depois
serão aprimoradas por meio de uma melhor compreensão das diversas
operações e relações. Conforme Piaget (1969, p. 51):
Um conceito ou uma classe lógica (reunião de indivíduos) não se
constrói isoladamente, mas necessariamente no interior de uma
classificação de conjunto, do qual representa uma parte. Uma relação
lógica de família (irmão, tio, etc.) é compreendida em função de um
conjunto de relações análogas, cuja totalidade constitui um sistema de
parentesco.
129
Assim, da mesma forma para uma criança compreender que 10
unidades é equivalente a 1 dezena, necessariamente ela precisará ter esse
sistema de classificação construído anteriormente, pois caso ela não tenha
realizado essa construção é possível observar por meio da contagem
determinados fatos constitutivos do pensamento matemático, por
exemplo, relacionando vinte oito”, “vinte e nove” e por fim “vinte e dez”,
haja vista ela não compreender ainda que esse “dez” se trata de 10
unidades, devendo ser convertido em 1 dezena.
Nesse aspecto, é importante salientar que as estruturas cognitivas
que farão essa transformação, não são ensinadas, de forma direta, pelo
professor em sala de aula e sim devem ser construídas pela criança por meio
de situações de aprendizagem propostas em sala de aula. O trabalho do
professor é fundamental nesse processo, pois nessa faixa etária do Ensino
Fundamental - anos iniciais, as crianças estão limitadas para compreender
certas operações de forma a apresentar uma dedutibilidade lógica, de
acordo com Piaget (2017). Por isso, necessitam de mediações sobre o real
ou concreto e não sobre as hipóteses anunciadas verbalmente sobre formas
de proposições, algo que foi muito utilizado no ensino remoto.
Conforme Piaget (2017), a experiência lógico-matemática,
consiste em agir sobre os objetos, mas, no caso, em descobrir as
propriedades por abstração a partir, não dos objetos, mas das próprias ações
que se exercem sobre esses objetos. Dito de outro modo, os sujeitos devem
construir um sistema de relações coordenadas em pensamento, portanto,
uma abstração, inserindo nele os objetos e estabelecendo relações.
Uma forma de auxiliar a criança a construir seu conhecimento
sobre os múltiplos e consequentemente compreender melhor como é a
organização da tabuada, pode ser facilmente demonstrada mediante a
construção de uma tabuada com copinhos e pazinhas.
130
Por meio desse exemplo, a criança conseguirá “visualizar” a relação
dos múltiplos por meio da relação entre o número de copinhos e pazinhas
utilizadas para associar a quantidade de pazinhas, com o valor associado à
tabuada. Nesse contexto a criança não é obrigada a “decorar” a tabuada,
ela conseguirá construir formas de ão para chegar ao resultado esperado
por meio da situação de aprendizagem proposta pelo docente.
Com base nesse exemplo, podemos compreender a importância de
uma metodologia ativa em que realmente a criança possa construir suas
estruturas operatórias de inteligência, de acordo com Piaget (2017). Essas
estruturas lógico-matemáticas não são conscientes, são estruturas de ações
e de operações que dirigem o raciocínio da criança, mas que não
constituem objeto de efetiva reflexão, ou seja, a criança para compreender
a tabuada precisa ter se apropriado das estruturas de seriação, classificação
e conservação que não são ensinadas por via direta, e que a criança não tem
consciência sobre a existência delas.
Nesse sentido, o ensino remoto tirou a oportunidade da criança de
ter momentos em que pudesse construir suas estruturas lógico-
matemáticas de raciocínio e hoje a dificuldade que muitos podem
apresentar em sala de aula, não se trata somente de falta de pré-requisitos
ou simplesmente de conteúdo, pode estar ocorrendo uma dificuldade para
a construção dos novos conhecimentos lógico-matemáticos por falta de
estruturas cognitivas que possam auxiliar nessa compreensão e na
construção desse conhecimento trabalhado hoje no ensino presencial.
Nesse aspecto, com o retorno gradativo das aulas presenciais com
um formato híbrido, unindo elementos do presencial e online, é um desafio
que devemos estar atentos. De acordo com Junqueira (2020), um
grande desconhecimento sobre essa pedagogia do modelo híbrido, apesar
da crença em que possa trazer grandes benefícios para o processo de ensino
131
e aprendizagem. Foram publicados alguns estudos científicos sobre o
ensino híbrido que revelaram a necessidade de um aprofundamento nas
pesquisas a respeito desse tema. De acordo com Junqueira (2020, p. 38),
O estudo concluiu que o modelo híbrido produz um desempenho
acadêmico do(a) aluno(a) superior do modelo presencial ou do online.
Mas os autores alertaram para o fato de que evidências sobre quais
métodos específicos de mescla afetam positivamente o desempenho
acadêmico eram frágeis. (...) Pontos a serem melhor compreendido no
modelo híbrido, segundo o documento, se referem às interações entre
alunos e conteúdos e ao papel do(a) professor(a), bem como os tipos
de tecnologias digitais mais adequados para orientar escolhas com fins
pedagógicos.
Como visto, a sociedade deve promover um grande debate e
reflexão sobre o papel social da escola e o que deve ser feito para melhorar
processo educativo, visando transformar a escola em um espaço de
formação integral neste século XXI, em que os currículos ganhem novos
significados visando a formação cidadã de todos os participantes da
comunidade escolar. Lembrando que a educação deve ser considerada um
bem público que ajude a sociedade a se transformar num espaço de
igualdade de oportunidades, por meio de ações que ajudem na promoção
da justiça social em nosso país.
132
4. O processo de ensino e aprendizagem numa perspectiva da Teoria
Histórico-Cultural
Durante este período de pandemia, ficou nítida a importância da
atividade escolar, da convivência entre os pares no ambiente escolar e o
quanto a ausência dessas vivências impactaram a vida dos estudantes.
Segundo Vygotsky (1984), o homem é dotado de funções
psicológicas superiores, que constituem o funcionamento psíquico
humano, o que acaba por diferenciá-lo dos animais, pois são capazes de
fazer um planejamento, tem memória voluntária, imaginação, entre outras
habilidades. Estes processos inatos originam-se das relações entre
indivíduos, ou seja, o homem não se estabelece sozinho, ele necessita de
um convívio em sociedade para estabelecer relações e, consequentemente,
ampliar suas estruturas mentais e comportamentais e assim, poder se
desenvolver.
Em síntese o homem não vive somente no mundo das impressões
imediatas (como os animais), mas também no universo dos conceitos
abstratos, que dispõe, não de um conhecimento sensorial, mas
também de um conhecimento racional, possui a capacidade de
penetrar mais profundamente na essência das coisas do que lhe
permitem os órgãos dos sentidos; quer dizer que, com a passagem do
mundo animal à história humana, -se um enorme salto no processo
de conhecimento desde o sensorial até o racional(LURIA, 1986, p.
12 apud REGO, 2014, p. 47).
A Teoria Histórico-Cultural a ser destacada aqui, advém dos
trabalhos elaborados por vários estudiosos:
133
A teoria histórico-cultural da atividade desenvolveu-se nos trabalhos de
LURIA, RUBINSTEIN e LEONTIEV, continuada depois por
GALPERIN e DAVYDOV, entre outros, e admite-se, em geral, que
surge como um desdobramento da concepção histórico-cultural. Ela
expressa a teoria psicológica da atividade formulada por LEONTIEV
e desenvolvida por seus seguidores. No cerne dessa teoria, está presente
a concepção marxista da natureza histórico-social do ser humano. A
atividade representa a ação humana que mediatiza a relação entre o
homem, sujeito da atividade, e os objetos da realidade, dando a
configuração da natureza humana. Entretanto, o desenvolvimento da
atividade psíquica, isto é, dos processos psicológicos superiores, tem
sua origem nas relações sociais que o indivíduo estabelece com o
mundo exterior, ou seja, com seu contexto social e cultural.
(LIBÂNEO, 2004, p. 116).
Salientamos que Vygotsky (1984) destaca a importância de uma
perspectiva cio-histórica, na qual o desenvolvimento infantil está
diretamente ligado ao papel da interação social no desenvolvimento do ser
humano e como o processo de desenvolvimento é socialmente constituído.
Rego (2014, p. 70-74), fala de uma dimensão social que fornece
instrumentos e símbolos impregnados de significado cultural, e que servem
para mediar a relação do indivíduo com o mundo, e, por conseguinte,
acabam por fornecer, também, seus mecanismos psicológicos e formas de
agir neste mundo, tornando assim, o aprendizado um aspecto necessário e
fundamental no processo de desenvolvimento das funções psicológicas
superiores.
A pandemia comprometeu as possibilidades de relações humanas,
limitando-as aos espaços tecnológicos a partir do uso de equipamentos
134
específicos, ou até mesmo impossibilitando em definitivo estas relações,
para aqueles que infelizmente não possuíam tais ferramentas.
Isso ficou evidente na modalidade de ensino remoto, como citado
no início deste artigo, pois, em pesquisas feitas durante o ano de 2020, pais
e estudantes relataram vários problemas e dificuldades em suas buscas pela
aprendizagem: falta de acesso à internet, falta de equipamentos como
computador, celular ou tablets, sobrecarga de conteúdos, vulnerabilidade
social
13
, problemas emocionais oriundos da perda de familiares e amigos
para a Covid-19, entre outros fatores.
Alguns estudantes relataram saudade da rotina, que estava sendo
muito mais difícil compreender os conteúdos sozinhos, ou que em casa, a
família não explicava como os professores, ou ainda que em casa não
tinham condições de estabelecer alguma troca entre seus colegas de classe
que os ajudassem na melhoria de suas compreensões, contudo, se em casa
estes indivíduos tivessem a estrutura material necessária para o
desenvolvimento de seus processos de aprendizagem.
Algumas cidades e estados, tomaram a iniciativa de imprimir o
material das aulas para que os estudantes não ficassem sem ter acesso aos
conteúdos, algumas inclusive, distribuíram chips para aparelho celular com
pacote de dados, para que os estudantes tivessem como acessar à internet e
acompanhar o máximo possível as aulas. Porém, essas ações não foram
13
Vulnerabilidade social é o conceito que caracteriza a condição dos grupos de
indivíduos que estão à margem da sociedade, ou seja, pessoas ou famílias que estão em
processo de exclusão social, principalmente por fatores socioeconômicos. […] As pessoas
que são consideradas “vulneráveis sociais” são aquelas que estão perdendo sua
representatividade na sociedade, e geralmente dependem de auxílios de terceiros para
garantirem a sua sobrevivência”. “O termo vulnerabilidade social refere-se à situação
socioeconômica de grupos de pessoas com poucos recursos financeiros, de moradia,
educação e acesso a oportunidades para seu desenvolvimento enquanto cidadão”.
Disponível em: https://www.politize.com.br/vulnerabilidade-social/. Acesso em: 20 out. 2021.
135
suficientes para evitar os problemas de aprendizagem que esses estudantes
teriam nesse período.
Com o retorno gradativo desses estudantes em 2021, os professores
precisaram iniciar seus trabalhos com muita cautela, desenvolvendo
estratégias variadas para conseguirem uma caminhada menos tortuosa,
pois a defasagem é muito grande. Avaliações diagnósticas apenas ressaltam
aquilo que foi sendo previsto no decorrer deste período, revisões e
retomadas de conteúdos são frequentes nas salas de aulas, para conseguir
avançar um pouco no ano vigente.
Figura 6 - O Impacto da Pandemia na Aprendizagem nos Anos Iniciais
Fonte: G1 Portal de Notícias
14
.
14
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2021/05/11/alunos-
dos-anos-iniciais-sao-os-que-mais-regridem-na-aprendizagem-com-a-pandemia-no-estado-de-sp-
aponta-estudo.ghtml.
Acesso em: 20 out. 2021.
136
Em se tratando de defasagens e potencialidades, não podemos
ignorar que mesmo sendo pouco, estes estudantes trazem em suas bagagens
algum conhecimento e por conseguinte, um nível de desenvolvimento.
Vygotsky (1984) identificou dois níveis de desenvolvimento: um referente
às conquistas efetivadas, que ele chama de nível de desenvolvimento real
ou efetivo; e, o outro, o nível de desenvolvimento potencial, que se
relaciona às capacidades em vias de serem construídas.
O nível de desenvolvimento real condiz com as conquistas que
estão consolidadas na criança, ou seja, coisas que ela aprendeu e domina
e que não precisa mais da ajuda de um professor ou uma pessoa mais velha
para lidar com aquilo. O nível de desenvolvimento potencial também
condiz com àquilo que a criança é capaz de fazer, que mediante a ajuda
de adultos ou crianças mais experientes, assim a criança realiza tarefas e
soluciona problemas por meio do diálogo, da colaboração, da imitação e
da experiência compartilhada. Por meio do aprendizado é gerada a zona de
desenvolvimento proximal, estando em interação com outros indivíduos,
a criança é capaz de colocar em movimento vários processos de
desenvolvimento que, sem a ajuda externa, seriam impossíveis de ocorrer.
É por isso que Vygotsky afirma que: “[...] aquilo que é a zona de
desenvolvimento proximal hoje se o nível de desenvolvimento real
amanhãou seja, aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje,
será capaz de fazer sozinha amanhã” (VYGOTSKY, 1984, p. 98).
Com base em apontamentos de Rego (2014, p. 74) um plano de
reparo educacional para os estudantes dos Anos Iniciais, poderia se
embasar no conceito de zona de desenvolvimento proximal, porque ela
permite a compreensão da dinâmica interna do desenvolvimento
individual. Mediante a consideração da zona de desenvolvimento
proximal, é possível verificar, não somente os ciclos completados, como,
137
também, os que estão em via de formação, o que permite o delineamento
da competência da criança e de suas futuras conquistas, assim como, a
elaboração de estratégias pedagógicas que auxiliem nesse processo.
Possivelmente, a principal divergência teórica entre a
Epistemologia Genética e a Teoria Histórico-Cultural seja a que se refere
às relações entre desenvolvimento e aprendizagem. Enquanto para a
primeira, é o desenvolvimento que orienta a aprendizagem, colocando
luzes na questão biológica, para a segunda, sem desconsiderar o papel do
componente biológico, é à medida que aprende que o sujeito se
desenvolve.
Parece um problema menor essa divergência, mas não é, no caso
em discussão nesse texto. Vejamos por qual razão. Em estudo no qual
relaciona a aprendizagem desenvolvimental e a própria atividade de estudo,
Repkin (2019) estabelece que as possibilidades de aprendizagem e suas
especificidades podem variar conforme as peculiaridades do
desenvolvimento, as quais para o autor adquirem critério de relevância, ao
adotarmos como elemento distintivo, a perspectiva de acessibilidade ao
conhecimento:
Podemos considerar quaisquer exigências sobre o processo de
aprendizagem, mas a primeira pergunta que aparece no processo de sua
organização é a sua acessibilidade. Se algo não é acessível às crianças,
todos os outros critérios como cientificidade, sequência lógica e
historicidade perdem seu sentido. O critério de acessibilidade
determina o conteúdo e os métodos, de tal modo que realizando as
particularidades do desenvolvimento, alteramos as condições e as
possibilidades (critério de acessibilidade) para o uso de diferentes
métodos de aprendizagem e de realização das particularidades de
138
assimilação dos conhecimentos, das habilidades e dos bitos
(REPKIN, 2019, p. 370).
Como estudar em atividade remota as crianças sem o instrumental
tecnológico mínimo necessário? Crianças pequenas, sozinhas em casa, ou
com os avós de conhecimentos científicos parcos, enquanto os pais
trabalham? Em qualquer dessas situações, postas para milhões de crianças
das camadas populares no Brasil, nem a impressão dos textos ou apostilas,
distribuídas nos portões das escolas por abnegados professores, pondo em
risco a própria saúde, pode resolver o problema: ainda faltaria o tal parceiro
mais experiente no mais rigoroso sentido vigotskiano.
Diante dessa situação tão delicada pela qual estamos passando,
conseguiríamos ajudar estes estudantes se houvesse um engajamento de
toda a sociedade política e educacional, para que pudéssemos identificar as
maiores necessidades destes estudantes, e assim elaborar estratégias, como
por exemplo aulas de reforço para os estudos de Matemática e Língua
Portuguesa, por exemplo, para que estes jovens tivessem a possibilidade de
receber um apoio e assim, almejar um reparo pelos danos sofridos.
Parece-nos inarredável, portanto: minimizar a desigualdade entre
os estudantes, aviltante antes da pandemia, impõe o esforço de reposição
de carga horária e do respectivo conteúdo programático, acrescentando-se,
presencialmente, aos programas de ensino ao menos um percentual
significativo do período letivo perdido. O que não significa invalidar os
esforços desenvolvidos para as atividades de ensino remoto, a se
reconhecer, ao menos no sentido de cuidar das crianças enquanto os pais
trabalhavam, mas considerar o seu tênue alcance didático-pedagógico.
139
E que, a rigor, a distância, não se faz educação, mas ensino, e ensino
de qualidade absolutamente discutível.
5 Conclusões
Rever currículo, aumentar o tempo de estudos, trazer os conteúdos
para a realidade dos estudantes, rever as metodologias e práticas de ensino
e mudar o sistema de avaliação, são ões mínimas que todo o sistema
educacional deveria estar discutindo e alternando nesse momento retorno
das atividades presenciais.
A pandemia proporcionou ao sistema educativo brasileiro uma
oportunidade de rever seus objetivos e reinventar seus processos para que
a educação se torne algo mais próximo da realidade dos estudantes.
Algo deve ser feito, para corrigir essas lacunas e melhorar o processo
daqui para frente, mas infelizmente o que estamos vendo hoje é que a
maioria das escolas voltaram às aulas presenciais como se nada tivesse
acontecido, como se fosse o retorno das férias. Isso nos entristece e nos leva
a concluir que nem a sociedade e, tampouco, os representantes políticos,
fizeram uma reflexão sobre os cuidados, a importância e o respeito que se
deve ter para com o espaço escolar e para com os professores e pessoas que
conduzem a Educação.
Isso trará problemas para o ambiente escolar e a indisciplina será
talvez o problema que todos poderão ver, mas isso é fruto da falta de
interesse que estará atrelada à falta de compreensão dos assuntos abordados
em sala. Os dias estão passando e nada está sendo feito, a escola que
enfrentava antes da pandemia muitos problemas, tem agora seus
problemas potencializados.
140
A registrar, ainda, que de fato as carências dos estudantes foram
ampliadas com a pandemia COVID-19, mas também com a falta de
empatia e acolhimento social, regados com boa dose de negacionismo e
obscurantismo, a ampliar significativamente o sofrimento das pessoas,
estendendo o período de afastamento social, além da insensatez de uma
política econômica a incrementar os mecanismos de concentração de
renda, ocorrendo brutal redução da atividade econômica em geral, mas
ainda assim com excesso de arrecadação de impostos pelo Estado em
função da alta absurda de preços, face à perversidade do desemprego, de
salários congelados ou reduzidos, conjuminando o que os economistas
denominam de estagflação, ou seja, economia estagnada com inflação
demasiadamente alta.
Figura 7 - Projeções da economia brasileira em 2022
Fonte: G1 Portal de Notícias
15
.
15
Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/01/01/economia-em-2022-brasil-
deve-ter-mais-um-ano-perdido-e-flertar-com-recessao.ghtml. Acesso em: 19 jan. 2022.
141
A conclusão que podemos chegar é que se nada for feito de maneira
efetiva, os problemas no ambiente escolar aumentarão e também estaremos
condenando o futuro de nosso país, pois os maiores prejudicados em todo
este período, foram as crianças, os adolescentes e jovens que não terão o
conhecimento, habilidades e atitudes suficientes para resolver problemas
que enfrentarão no seu cotidiano no presente e no futuro.
Por fim, algo a se lembrar positivamente na tragédia humana
vivenciada foi, mais uma vez, a ciência dando resposta rápida e consistente
para o caos da pandemia COVID-19. A atuação das universidades, dos
institutos de pesquisa, enfim, dos centros de excelência acadêmica, foi
impecável, respondendo à altura, com vacinas, aos ataques injustos ao seu
funcionamento, aos cortes de verbas e de bolsas de estudo, cumprindo a
contento o seu papel político-científico e de grande pertinência social.
Referências
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tem-problemas-na-conexao-a-internet-ao-tentar-acompanhar-aulas-on-
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143
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social#:~:text=12%2F2021%20Undime-
,Maioria%20das%20escolas%20municipais%20est%C3%A1%20adotan
do%20estrat%C3%A9gias%20combinadas%2C%20com%20aulas,do%
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145
Capítulo 5
Ensino remoto: avanços ou retrocessos?
Um relato de experiência nos anos iniciais do Ensino
Fundamental
Maria Teresa Alvares de Paula
Manuela Cristina Tórcia
Introdução
Neste capítulo intitulado “Ensino remoto: avanços ou retrocessos?
Um relato de experiência nos anos iniciais do ensino fundamental”,
propomos uma leitura acerca do trabalho docente e de algumas práticas
pedagógicas que permeiam os anos iniciais do Ensino Fundamental
potencializadas pela resposta à Covid 19, na medida em que a pandemia
pelo Corona vírus fez emergir ideais ilusórios de aprendizagem, ora
idealizando uma tomada de lugar da escola física pela escola virtual, ora
uma extinção da pedagogia em prol das tecnologias.
Na contramão dessas proposituras, buscamos elucidar a realidade
do trabalho docente em um relato de experiência, enfatizando o papel da
intencionalidade e autoria do professor no processo educativo ao longo dos
anos iniciais do Ensino Fundamental.
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3.p145-170
146
Na medida em que entendemos o professor como o mediador da
naturalização de novos espaços escolares, bem como de novas ferramentas
para o ensino aprendizagem, refletir sobre possíveis avanços ou retrocessos
na educação dentro do cenário atual implica em convergir o olhar para
estes sujeitos escolares.
É nesse contexto, portanto, que este capítulo se insere, tratando-se
de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, almejando uma
possível compreensão do Ensino FundamentalAnos Iniciais, bem como
da prática docente e seus desafios, agora em face de uma pandemia sanitária
no Brasil iniciada em 2020, a qual instaurou, repentinamente, o final do
longo século escolar iniciado 150 anos antes, de acordo com Alvim e
Nóvoa (2021).
A prática docente no Ensino Fundamentalanos iniciais: desafios do
isolamento social
O Ensino Fundamental passou a ser assim designado a partir da
atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.º 9.394/96
(BRASIL, 1996a), e juntamente com a Educação Infantil e o Ensino
Médio compõem a Educação Básica.
Até o ano de 2009, era a única etapa considerada obrigatória na
educação nacional, o que foi modificado pela Emenda Constitucional
59/2009 (BRASIL, 2009), a qual ampliou a obrigatoriedade, partindo dos
04 anos até os 17 anos de idade. Nessa etapa, espera-se que o educando
venha a desenvolver habilidades curriculares como a alfabetização e o
letramento, por exemplo, mas para além disso, objetiva-se o
desenvolvimento pleno do sujeito.
147
De acordo com o Art. 32 da Lei n. 9394 de dezembro de 1996
(BRASIL, 1996a), a etapa do Ensino Fundamental deve proporcionar ao
educando pleno desenvolvimento, envolvendo adquirir habilidades a fim
de construir atitudes e valores, bem como reforçar laços humanos,
caracterizando explicitamente a prática docente como uma ação social. Em
concordância a isso, cita-se Alvim e Nóvoa (2021, p.11) para quem a
“pedagogia é sempre uma relação humana”, fazendo-se necessário portanto
o outro para nos educarmos.
Desse modo, a partir da última década do século XX, evidencia-se
que a formação docente venha a superar a técnica (SCHON, 2000),
valorizando a identidade docente pautada e formada em uma perspectiva
em que conhecimento teórico e conhecimento prático se articulem em prol
de uma reflexão da própria prática docente.
Valendo-nos desse aparato legal e teórico acerca da concepção
social da prática docente, consideremos que em fevereiro de 2020 se deu o
primeiro caso confirmado de Covid -19 no Brasil, o que obrigou a sujeição
às medidas de restrição de convívio social as quais ainda se mostram
necessárias para a eliminação do vírus causador da doença. Medidas essas
que afetaram todos as esferas da sociedade, em especial no que diz respeito
à educação e ao ensino, em uma adoção emergencial do ensino remoto
enquanto modalidade aplicável a todas as etapas escolares, traduzindo-se
como possibilidade ilusória e excludente de substituição do ambiente
escolar presencial. Ilusória, visto que este por si se constitui como
ambiente de pluralidade e convivência coletiva e social, propulsor de
relações e interações sociais positivas tanto cognitiva quanto
emocionalmente para o educando, bem como se traduz como o ambiente
em que os educadores podem praticar todo o conhecimento constituído
durante a formação inicial e continuada. Por sua vez, explica-se o termo
148
excludente, ao passo em que a adoção do ensino remoto não se configura
como plausível para parte das famílias brasileiras e, consequentemente,
para suas crianças em idade escolar, haja visto que contextos distintos de
acesso ou não aos equipamentos e tecnologias digitais se desenham por
todo o país, emergindo dessa necessidade das tecnologias intrínsecas ao
ensino remoto uma faceta excludente, a qual corrobora em potencializar a
exclusão social existente em meio aos alunos oriundos das classes sociais
mais desfavorecidas. Considerando que um quarto dos brasileiros não
possui acesso à internet e que 46 milhões não acessam a rede
(TOKARNIA, 2020), é relevante ponderar acerca desse aspecto cruel do
ensino remoto, o qual mantém, em pleno Século XXI, uma população às
margens do acesso à educação, população essa que desde outras épocas foi
privada de direitos básicos, configurando e potencializando diversas
desigualdades sociais.
As novas tecnologias e os frutos da revolução tecnológica tendem a
ampliar o distanciamento entre ricos e pobres. [...]. Enquanto um
jovem das camadas abastadas da sociedade tem acesso ao ciberespaço e
a todas as fontes de informação disponíveis em bilhões de sites
espalhados pelo globo, o adolescente das camadas pauperizadas fica
privado de interagir com os produtores de conteúdo, de observá-los,
de questioná-los, de copiar seus arquivos. Para a pessoa incluída na
rede, a navegação estimula a criatividade, permite realizar pesquisas
sobre inúmeros temas e encontrar com maior velocidade o resultado
de sua busca. Quem está desconectado desconhece o oceano
informacional, ficando impossibilitado de encontrar uma informação
básica, de descobrir novos temas, de despertar para novos interesses
(SILVEIRA, 2001, p. 16 apud SOUZA; MELO; SOUZA, 2021, p.
6).
149
Nesse cenário, o ensino remoto foi reconhecido pelo parecer
CNE/CP n. 5, de 28 de abril de 2020 (BRASIL, 2020b) como
possibilidade de continuidade ao processo educacional no Brasil e no
mundo, na medida em que em abril de 2020 noticiava-se que 1,6 bilhões
de crianças e jovens eram afetados pelo fechamento de escolas, em 191
países, representando 90,2% da população estudantil mundial, os quais
enfrentam como consequências, até o presente momento, interrupções e
defasagens no desenvolvimento escolar.
De acordo com Cipriani, Moreira e Carius (2021, p. 3)
Em 28 de abril de 2020, o Conselho Nacional de Educação (CNE)
aprovou as Diretrizes para orientar escolas da Educação Básica e
Instituições de Ensino Superior durante a pandemia (Brasil, 2020b).
Essas sugeriram que estados e munícipios buscassem alternativas para
minimizar a necessidade de reposição presencial de dias letivos, a fim
de manter um fluxo de atividades escolares aos estudantes, enquanto
perdurasse a situação de emerncia. Também, autorizaram os sistemas
de ensino a computar atividades não presenciais para cumprimento de
carga horária, elencando uma rie de atividades não presenciais que
poderiam ser utilizadas durante a situação pandêmica. Videoaulas,
plataformas virtuais, redes sociais, programas de televisão ou rádio e
material didático impresso foram algumas das possibilidades sugeridas.
Na busca por soluções eficientes para evitar o aumento das
desigualdades, da evasão e da repetência, o CNE recomendou que as
atividades fossem ofertadas desde a Educação Infantil.
Nesse sentido, o Estado de São Paulo adotou a oferta de ensino
remoto com suporte via canal televisivo TV Educação, em parceria com o
centro de Mídias Estadual, e nas escolas privadas, o ensino remoto de
150
ser ofertado de acordo com a plataforma educacional on-line que se
considerasse mais assertiva.
Assim, o que se viu e ainda pode ser percebido nas escolas e nas
adaptações emergenciais são aulas e atividades oferecidas virtualmente, via
canal televisivo ou plataformas on-line com conteúdo curricular oferecido
de acordo com a rie e a etapa da Educação Básica, até chegar ao presente
momento, quando algumas escolas e etapas de ensino retornaram quase
que totalmente o ensino presencial, e outras ainda se encontram
totalmente remotas mesmo que seja por opção dos pais e da família.
Atividades pedagógicas no Ensino Fundamental remoto, de acordo
com a Resolução CNE/CP 2, DE 10 DE DEZEMBRO DE 2020
(BRASIL, 2020a), precisam estar em consonância com as competências e
habilidades elencadas pela Base Nacional Comum Curricular (BRASIL,
2017) para o Ensino Fundamental - Anos Iniciais, valorizando a ludicidade
na aprendizagem em uma articulação com as vivências da educação
infantil, de modo que o aluno, progressivamente assimile novas relações
com o mundo, questionando e construindo novos conhecimentos,
respeitando sua infância.
Com o ensino remoto transfigurando as casas nas salas de aula dos
alunos, e o relacionamento aluno-professor sendo estabelecido por meio
virtual, desafios emergiram por meio da pandemia, como a urgência,
tempos anunciada, de uma prática docente que não apenas seguisse
currículos muitas vezes desconexos e alheios à realidade dos educandos,
mas sim exigindo a necessidade de ser pautada nos pilares básicos de
formação da ação docente.
Em meio a tantas superações que se configuram no trabalho
docente, a pandemia projetou um anseio velado de substituição da
151
pedagogia em prol das tecnologias (ALVIM; NÓVOA, 2021), bem como
uma tensão entre a função social do professor caracterizada pelas relações
humanas, e os aparatos tecnológicos pertinentes à sociedade neste século
XXI, que podem se mostrar salvadores ilusórios de um sistema educacional
considerado ultrapassado.
Relatando algumas experiências
No sentido de descrever e relatar possibilidades do encontro com
o conhecimento acontecer em um espaço virtual, e de que maneira, nos
anos iniciais do Ensino Fundamental, a prática docente pode ou não
proporcionar esse tipo de concepção de educação em meio à pandemia e
ao isolamento social, apresentamos um relato de experiência sobre trabalho
realizado com uma turma de ano (anos iniciais), em escola privada no
munício de Pompeia/SP, o auxílio das tecnologias, da família, os avanços
e as dificuldades encontradas tanto por alunos quanto professoras. A turma
era composta inicialmente por 34 alunos. No decorrer do ano houve a
transferência de um aluno para a rede pública municipal.
Em março de 2020, suspenderam-se as aulas presenciais em todo
o Estado de São Paulo a fim de garantir a prevenção do contágio pelo
COVID-19, de maneira emergencial e temporária por meio do Decreto
64.864 (BRASIL, 2020c).
Ante essa situação, a escola privada na qual se insere a turma de
ano dos anos iniciais aqui citada, definiu que o processo de ensino e
aprendizagem não poderia ser rompido, uma vez que havia se iniciado o
ano letivo, decidiu realizar reuniões on-line com professores,
152
coordenadores e demais gestores a fim de refletir sobre o que poderia ser
feito daquele cenário em diante.
Durante todo o mês de abril de 2020, nós professores, produzimos
materiais para disponibilizarmos aos alunos via Sistema Acadêmico da
própria escola.
É válido salientar que os conteúdos escolares são importantes para a
aprendizagem das crianças, porém, se faz necessário conhecê-las para
além das disciplinas escolares, é preciso analisar e contribuir, de forma
direta ou indireta, com os aspectos emocionais, sociais e motores, pois
estes influenciam também na aprendizagem dos conteúdos. Além
disso, deve-se fazer uso de materiais pedagógicos concretos,
brinquedos, dinâmicas para que se torne um ensino mais prazeroso
(ABREU; MOTA; SILVA, 2020, p. 185).
Ressaltamos que, por se tratar de uma escola privada, utilizávamos
o sistema de ensino (livro didático) Somos Educação concomitantemente às
atividades produzidas por nós, denominadas “Trilhas de Aprendizagem”
compostas por etapas e pensadas para serem interativas para com os alunos,
como se estivéssemos dialogando com eles por meio das atividades, como
mostra a imagem a seguir.
153
Figura 1 - Instruções para a Trilha de Aprendizagem de ngua Portuguesa 1
Fonte: Trilha de aprendizagem criada pela professora da turma, com base na
BNCC.
Em seguida, na imagem 2, mostramos o cronograma para a
realização da denominada “Trilha de Aprendizagem de Língua Portuguesa
1” (TLP1)
Fonte: Cronograma elaborado pela professora a partir da trilha de aprendizagem
de Língua Portuguesa.
Figura 2Cronograma da Trilha de Língua Portuguesa 1
154
As trilhas eram compostas, em sua maioria, por 6 etapas, a saber:
Etapa 1 Mapa de Aprendizagem, uma ferramenta de
autoavaliação do aluno que permitia ao aluno saber o que seria
necessário aprofundamento dos estudos e ajudar a rastrear sua própria
compreensão acerca do conteúdo estudado. Ele poderia revisitá-lo
durante todo o processo da trilha;
Figura 3Mapa de AprendizagemEtapa 1
Fonte: Mapa de aprendizagem elaborado pela professora a partir da BNCC
(BRASIL, 2018).
155
Etapa 2 Consistia em um vídeo referente ao assunto proposto
para estudo;
Fonte: Figura elaborada pela professora.
Etapa 3 – Leitura acerca do assunto proposto para estudo;
Fonte: Atividade elaborada pela professora como revisão das atividades
trabalhadas pelos alunos.
Figura 4Vídeo Etapa 2
Figura 5
Leitura Etapa 3
156
Etapa 4 Uma etapa voltada a algo digital, como vídeo ou música,
por exemplo.
Fonte: Figura elaborada pela professora.
Etapa 5 Roteiro de estudos (leituras e atividades contidas nos
“Cadernos” do sistema de ensino mencionado.
Fonte: Roteiro elaborado pela professora a partir do Caderno 1 de Língua
Portuguesa
16
.
16
SER: ensino fundamental 1. multidisciplinar: 3º ano. caderno 1 a 4. 4. ed. São
Paulo: Ática, 2019.
Figura 7Roteiro Etapa 5
157
Etapa 6 Avaliação do tema estudado, consistia em questões
relacionadas ao que foi abordado na trilha e seriam atribuídas notas a
serem computadas para os alunos. Foi pedido que os pais e/ou
responsáveis imprimissem esta etapa para que o aluno pudesse realizar
as atividades propostas e ao final que fotografassem e as enviassem por
e-mail.
Após um mês inteiro sem aulas, apenas com atividades remotas, as
aulas foram retomadas na modalidade virtual (on-line), e aconteceram via
Google Meet. As mesmas tinham duração diária de 4 horas e meia e, as
atividades deixaram de ser enviadas via Sistema Acadêmico em 22 de maio
de 2020 e passando a ser enviadas via Plataforma Plurall (disponibilizada
pelo sistema de ensino utilizado pela escola).
A título de exemplificação e para maior clareza acerca desta
organização, o Plano de Trabalho Remoto a seguir demonstra como foram
organizadas as atividades de estudo de Língua Portuguesa
158
Figura 8 – Plano de Trabalho Remoto – Língua Portuguesa 1º Bimestre
159
Fonte: Elaborado pela professora a partir do material SER: ensino fundamental
1. multidisciplinar:ano. Caderno 1 a 4. 4. ed. São Paulo: Ática, 2019.
Foi nítida a ansiedade gerada nos alunos. Nas primeiras aulas on-
line demonstravam bastante interesse e relatavam estar com saudades de
ver os amigos e professoras. Com o passar dos meses, o desinteresse por
parte de alguns alunos se tornou notório, pois não demonstravam tanto
entusiasmo durante as aulas e nem na realização das atividades propostas.
O que nos fez repensar, replanejar e refletirmos sobre nossa atuação
docente.
Desta forma, seguimos ao longo dos meses e o ensino remoto
trouxe muitas dificuldades. Uma delas foi a falta de equipamentos
apropriados por parte das famílias e um espaço propício para que o aluno
pudesse acompanhar as aulas virtuais. Alguns alunos acompanhavam as
aulas de cima da cama, sofás e até mesmo deitados no chão, outros alunos
não abriam suas câmeras.
Percebemos que as famílias se preocupavam com a educação dos
filhos no que dizia respeito à realização de atividades e avaliações, pois nesta
etapa dos anos iniciais é esperado que o aluno conclua o ciclo de
alfabetização. A preocupação com as “notas” dos filhos gerou inquietações
nas famílias e até mesmo a realização das atividades de alguns alunos que
nos causaram desconfiança sobre a autoria.
160
Luckesi (2014, p. 101) afirma que “[...] notas escolares não
formam, mais aprendizagem sim. Afinal, somos e agimos de forma como
aprendemos ao longo da vida, nas múltiplas e variadas oportunidades que
temos de aprender”.
Em geral, todos os alunos apresentaram as atividades propostas,
obtendo conceito favorável para ingressarem na próxima etapa de ensino.
Também tivemos alunos que não frequentaram o ensino remoto,
alegando indisponibilidade de equipamento nos horários reservados às
aulas, estes, relataram assistir as gravações das aulas que eram
disponibilizadas na Plataforma citada anteriormente, mas não tínhamos
como confirmar se isso ocorria efetivamente.
Em consequência da necessidade de isolamento social o cotidiano
escolar se mostrou totalmente transformado. O aspecto prático ou
processual do currículo necessita envolver deliberações mútuas para cada
fato. Ressaltamos que o vínculo garantido pela influência mútua entre
professor e aluno em aulas presenciais efetiva muito mais a ação do
professor. Assim sendo, podemos afirmar que aulas “no chão da escola” é
quesito indispensável e necessário.
Fez-se imprescindível uma ação de construção de novos
procedimentos voltada à validação de uma boa formação aos estudantes.
O ensino remoto, o qual os professores foram forçados a adotar
implicou diretamente nas suas práticas e, portanto, precisou adotar
diferentes métodos para se comunicar com seus alunos. Nesse momento,
não nos competiu ponderar sobre a eficiência das aprendizagens, mas
prosseguir e persistir nessa experiência das aulas remotas.
Enfim, a ressignificação do ensino, do ser e estar na escola e
experienciar o ensino remoto, de acordo com cada realidade, e encontrar-
161
se ajustado profissionalmente às transformações incitadas pelas tecnologias
e seus diversos recursos, disponibilizados para as aulas em tempos de
pandemia, se constituíram como nossas principais aflições e ansiedades no
campo da Educação Básica, especialmente nos anos iniciais, no correr da
pandemia.
De forma não muito diferente se encontraram os pais e/ou
responsáveis dos alunos. Muitos se mostravam angustiados e aflitos em
relação ao processo de ensino e aprendizagem de seus filhos, mantinham
comunicação diária com a escola e com os professores e seguiam os roteiros
por nós enviados, detalhados e ainda assim emergiam dúvidas a respeito
dos mesmos. Entendemos que os pais e/ou responsáveis não possuem a
formação profissional pedagógica e tampouco as especificidades para que
pudessem intervir de maneira assertiva.
O ensino remoto, em tempos de pandemia, foi o que tivemos
como possibilidade de relação entre professor e alunos. Deste modo,
podemos afirmar que as tecnologias promoveram esse convívio virtual.
Ainda que seja muito importante o uso das tecnologias como aliada
pedagógica, no Ensino Fundamental anos iniciais o processo por esse
caminho não parece ser o suficiente, uma vez que se exigem vivências e
relações sociais juntamente a todo o processo de aprendizagem.
Considerações Finais
Como uma etapa da Educação Básica, os anos iniciais do ensino
fundamental foram fortemente atingidos pelas medidas de isolamento
social que perpassaram a escola e seus alunos.
162
O ensino remoto exacerbou o relato de situações nas quais os
alunos não demonstravam o reforço dos laços, nem mesmo progresso e
interesse no que diz respeito ao seu desenvolvimento tanto emocional
quanto educacional, famílias angustiadas e situações excludentes, das quais
sobressaíam, na medida do possível, alunos com melhores condições
financeiras para adquirir aparatos necessários ao ensino remoto, como
computadores, internet e outros.
Na possibilidade de uma substituição da escola pela casa, o
desinteresse gerado no aluno por se perceber em um espaço entre iguais,
sem possibilidade plausível de transformação e novidade culminando em
novos aprendizados, ficou evidente.
Dados de pesquisas realizadas pela Fundo Internacional de
Emergência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, 2021)
indicaram dados alarmantes no tocante às crianças e aos adolescentes:
embora a doença não os coloque em grupo de risco fisiológico, são as
maiores vítimas veladas da pandemia. E mais ainda: a pesquisa aponta que
6 milhões de responsáveis por crianças e adolescentes não receberam
nenhuma atividade escolar entre julho e agosto de 2020.
Outro dado alarmante é que, ainda se associa a ideia de que a escola
de educação infantil é o único espaço onde a criança pode ser criança. Fora
dela, quer seja em casa, quer seja no Ensino Fundamental, a criança deixa
de ser criança, revelando, portanto, a visão adultocêntrica da infância no
Brasil.
No entanto, observamos em nosso relato de experiência, na escola
local, que a maioria das famílias se mostrou engajadas na educação de suas
crianças, participando com os filhos nas atividades remotas e os auxiliando
em uma parceria com a escola e com os professores.
163
O uso das tecnologias mostrou-se favorável na educação com os
alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, e, fundamentando-nos
em Araújo (2012), entendemos que essa tendência, dentro das
significações apontadas pela autora, emergia de uma conexão necessária
entre o uso das tecnologias pertinentes ao universo dos estudantes e a
prática docente, em um movimento oposto ao de substituição de uma pela
outra como proposto ilusoriamente em um primeiro momento pela
emergência do ensino remoto, e sim como ferramentas potencializadoras
de uma ação docente fomentada pela reflexão e pela pesquisa,
fundamentadas na humanidade das relações aluno-professor para o
encontro com o conhecimento. Tecnologias, por si só, não significam
educação.
Nesse sentido, Cordeiro (2020, p. 04) conclui que
O avanço das tecnologias digitais de informação possibilitou a criação
de ferramentas que podem ser utilizadas pelos professores em sala de
aula, o que permite maior disponibilidade de informação e recursos
para o educando, tornando o processo educativo mais dinâmico,
eficiente e inovador. O uso das ferramentas tecnológicas na educação
deve ser vista sob a ótica de uma nova metodologia de ensino,
possibilitando a interação digital dos educandos com os conteúdos, isto
é, o aluno passa a interagir com diversas ferramentas que o possibilitam
a utilizar os seus esquemas mentais a partir do uso racional e mediado
da informação.
Reflexões sobre a prática docente, sobretudo que, para uma
proposta de trabalho com crianças, é imprescindível que seja claramente
observado seu objetivo, ou seja, sua intencionalidade, bem como a
164
importância do envolvimento de todas as pessoas que fazem parte desse
processo.
E retornamos à questão inicial, enfim, tivemos “avanços ou
retrocessos?”. Podemos ter avançado (um pouco) no quesito “tecnologias”,
mas, se que avançamos efetivamente no que diz respeito às interações
humanas e afetivas? Em tempos de isolamento social, como estavam nossas
crianças? Como foi a preocupação com a questão socioemocional de
professores e alunos? Ainda não conseguimos respostas a essas questões, no
momento, mas cabe a nós refletirmos com certa urgência.
No atual cenário ainda de pandemia e isolamento social, a relação
entre escola/professor e sociedade, precisa ser reorganizada com urgência.
O Covid-19 apenas elucidou o que vinha sendo desenhado no campo
da educação: a necessidade de mudanças profundas no modelo escolar, em
seu ambiente e principalmente nos currículos praticados, que se mostram
esgotado e ultrapassado bastante tempo, sem desprezar as relações
sociais.
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excepcionais a serem adotadas pelos sistemas de ensino, instituições e
redes escolares, públicas, privadas, comunitárias e confessionais, durante
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170
171
Capítulo 6
Considerações sobre a Educação Especial em tempo de
Pandemia na perspectiva da deficiência visual nos anos
iniciais da Educação Básica
José Salustiano Dos Santos
Débora Fabiana Vaz Dellamura
Claudia Regina Mosca Giroto
Introdução
A chegada do novo CoronavírusSarsCov2 no ano de 2020 pegou
todos de surpresa. Rapidamente medidas tiveram que ser adotadas a um
novo modo de vida, a partir do Decreto Estadual 64.881, de 22 de março
de 2020, que define “[...] medida de quarentena no Estado de São Paulo,
consiste em restrição de atividades de maneira a evitar a possível
contaminação ou propagação do coronavírus”. Devido a isso, a Educação
foi fortemente impactada, principalmente com relação ao distanciamento
social e cuidados com a higiene, pois, preservar a vida passou a ser
prioridade. Esse impacto pode ser caracterizado pelas novas propostas de
readequação de aulas presenciais para o ambiental virtual de maneira
remota, portanto, esse nova maneira de ensino não contempla grande parte
dos alunos público-alvo da educação especial (PAEE), tanto com relação a
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3.p171-192
172
tecnologia, quanto aos atendimentos de intervenção e mediação
necessários dos professores considerando as especificidades de cada aluno.
Contudo, o aumento da desigualdade e o abandono escolar ficam em
evidência, claramente se pensarmos em educação especial e inclusão essa
desvantagem fica cada vez maior.
Nesse contexto devemos lembrar sobre o que diz a Lei Brasileira de
Inclusão (LBI), 13,146/2015), no Art. 27. A educação constitui direito
da pessoa com deficiência, sendo assegurado sistema educacional inclusivo
em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a
alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades
físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características,
interesses e necessidades de aprendizagem (BRASI, 2015). De fato, como
prevê esta legislação, deve-se garantir que a pessoa com deficiência seja
incluída de maneira integral à dinâmica da vida. Quando falamos em
inclusão, de acordo com Cardoso (1992), “[...] A aceitação e o pertencer a
um grupo revela à pessoa o que esta tem de belo, pois é prestigiada,
valorizada, acolhida, chamada a contribuir, recebendo o apoio e ajuda
necessária ao seu desenvolvimento e a participação na própria
comunidade”, não se deve apenas garantir espaço, mas sim, que o PAEE
tenha seus direitos garantidos e que sejam respeitadas e valorizadas as suas
potencialidades. As diferenças não devem ser critério de exclusão, para isso
devem existir políticas públicas que garantam que todos tenham de forma
equitativa o acesso ao conhecimento, diminuindo as barreiras existentes.
Na perspectiva da criança com deficiência visual existem
limitações com relação ao processo de alfabetização em ambiente escolar,
principalmente quanto a prática de leitura e escrita e ainda que sejam
utilizados como recursos tanto o Braille, quanto as Tecnologias da
Informação e Comunicação TICs. Quando se tem a visão comprometida
173
o seu principal sentido utilizado é o tato e com a situação atual isso a deixa
mais exposta a contaminação do vírus, o distanciamento social ainda que
necessário, surge como barreira e dificulta ainda mais a dinâmica do
professor. A partir desse contexto, faz-se necessário o questionamento
sobre quais fatores contribuem para o atendimento dos alunos com
deficiência visual dos anos iniciais em tempos de pandemia e sobre quais
iniciativas contribuem para o melhor desenvolvimento no processo de
ensino e aprendizagem desses alunos.
Neste sentido, objetivamos problematizar aspectos que circundam
o período de escolarização de crianças com deficiência visual nos anos
iniciais da Educação Básica, a saber: atividades de vida autônoma (AVA),
intervenção precoce; estimulação visual; orientação e mobilidade e serão
destacados, pois são necessários para a formação integral das crianças cegas
e com baixa visão, principalmente no período de escolarização que
compreende os anos iniciais da Educação Básica.
A reflexão sobre esta temática se faz necessária e pode contribuir
como referencial de suporte para profissionais da área, a fim de auxiliar no
desenvolvimento das potencialidades cognitivas, físicas e afetivas da
criança com deficiência visual, bem como, dar condições para que ela tenha
autonomia e seja participativa na sociedade que vive.
Desenvolvimento
A estrutura organizacional da Educação Básica nacional se divide
em Educação Infantil, Ensino Fundamental, I e II, e Ensino Médio. Cada
etapa tem suas complexidades que têm gerado debates constantes que
permeiam toda essa estrutura educacional.
174
É sabido que cada etapa requer um olhar específico, ou melhor,
uma abordagem específica que, de alguma maneira, contribua com a rotina
escolar. Nos anos de 2020 e 2021 foi notória a necessidade de pensar novas
estratégias e iniciativas que contribuíssem com as atividades práticas dos
núcleos escolares. Neste contexto podemos exemplificar através de uma
visão panorâmica o impacto sofrido pela escola no período de pandemia.
Pois
Democratizar a Educação para o blico-alvo da Educação especial em
tempos de flexibilidade nos meios econômicos e político implica em
mudanças no espaço escolar, na disposição dos atores sociais, no objeto
de intervenção pública, reverberando em rearranjos de acordo com a
nova correlação de forças que pode, a partir daí, se construir de fato em
uma escola inclusiva. Assim, percebe-se que nessa luta constante por
espaços e por efetivação de novas políticas educacionais, a realidade de
enfrentamento ao coronavírus apresenta-se como um momento de
oportunidades de deslocamentos políticos nos campos educacional,
econômico, político e social (CARDOSO; TAVEIRA; STRIBEL,
2021, p. 515).
Vale lembrar que esse texto não tem a proposta de delinear, em sua
totalidade, a rotina que se estruturou a partir da situação pandêmica, nem
apresentar considerações direcionadas a todo escopo da Educação Básica,
mas sim evidenciar aspectos presentes em materiais existentes que foram
discutidos nesses últimos dois anos, direcionadas ao público com
deficiência visual pertencente aos anos iniciais da Educação Básica.
Para termos melhor compreensão do contexto de ensino e
aprendizagem das crianças com deficiência visual e da sua origem do
ensino institucionalizado é importante que saibamos como se deu os
175
primeiros espaços físicos voltados a esse público. Através de José Álvares de
Azevedo, no ano de 1850, o ensino do Braille foi levado a D. Pedro II,
com o intuito de criar um colégio para o ensino de pessoas cegas. Esses
fatos históricos cronológicos são importantes para o nosso processo de
ambientação contextual. Ter acesso a essas informações nos auxilia no
estudo gradativo da área, nos instrumentaliza para entendermos o que
podemos considerar como avanços, ganhos e retrocessos perante as
situações que impactam diretamente na escola e legislações que norteiam
o ensino e a inclusão das crianças com deficiência visual (BRASIL, 2001).
A fundação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, no ano de
1854, marca o início das criações de outros institutos em âmbito nacional,
mesmo que o segundo viria a ser fundado 72 anos depois. “A cronologia
dos acontecimentos em prol da educação de pessoas cegas no Brasil aponta
o surgimento em outros estados do país, seguindo o mesmo modelo
educacional do IBC, as primeiras escolas especiais para alunos cegos”
(BRASIL, 2001) foram:
Quadro 1 Relação dos institutos fundados no Brasil durante o século XX.
1926
Instituto São RafaelBelo Horizonte - MG
1928
Instituto Padre ChicoSão Paulo - SP
1929
Instituto de Cegos da BahiaSalvador - BA
1941
Instituto Santa LuziaPorto Alegre - RS
1943
Instituto de Cegos do CearáFortaleza - CE
1957
Instituto de Cegos Florisvaldo VargasCampo Grande - MS
Fonte: Quadro elaborado pelos pesquisadores a partir do Programa de
Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: deficiência
visual.
176
É importante ressaltar que o Imperial Instituto dos Meninos Cegos
é conhecido, atualmente, como Instituto Benjamin Constant (IBC),
instituição federal que se caracteriza como o primeiro educandário da
América Latina, destinado a pessoas com deficiência visual com o intuito
de promover apoio educacional entre outras abordagens específicas que
corresponda a atuação autônoma dessas pessoas.
“Um grande marco na história da educação de pessoas cegas foi a
criação, em 1946, da Fundação para o Livro do Cego no Brasil, hoje
denominada Fundação Dorina Nowill para cegos” (BRASIL, 2001), que
objetiva, a princípio, a divulgação de livros adaptados ao Sistema Braille e,
nos últimos anos, ampliou os formatos de livros aderindo às novas
tecnologias digitais, como por exemplo o livro falado e o livro digital
Daisy. Proposta que se veiculam além do formato de distribuição impressa,
facilitando o acesso direto ao acervo.
Atualmente o IBC e a Fundação Dorina Nowill, se caracterizam
como as principais instituições de soluções de acessibilidade para a área da
deficiência visual no Brasil. Mesmo que essas instituições sejam mantidas
através de fontes de recursos econômicos diferentes, ambas trazem a
proposta de se trabalhar soluções em acessibilidade, como distribuição de
materiais que contribuem com o a área da deficiência visual e serviços de
apoio a inclusão na perspectiva da Educação Especial, através de cursos de
formação continuada para professores e demais profissionais envolvidos
pedagogicamente com esse público.
uma necessidade de evidenciar que a área da deficiência visual,
assim como a área de outras deficiências, não está integralmente munida
de recursos por essas instituições segmentadas, uma carência estrutural.
Quando pensamos no contexto geral de acessibilidade de determinada área
de uma deficiência temos uma compreensão imediata da sua defasagem
177
por conta de publicações problematizando as situações cotidianas, de
debates acalorados que se pautam nessas problematizações e o impacto
recorrente de medidas de governantes que recai diretamente como um
retrocesso na prática de uma educação inclusiva.
Eis aqui a importância de conhecer e ter acesso a informações que
agreguem elementos de acessibilidade nos espaços educacionais e sociais,
compreender que esses espaços são subsidiados por legislações que
legalizam direitos e acrescem novas demandas para a autonomia da pessoa
com deficiência. Visto que “Na perspectiva da educação inclusiva, o foco
na adaptação não deverá ser nunca na deficiência e sim nos espaços, nos
recursos que deverão ser acessíveis, nas potencialidades dos estudantes e
corresponder às especificidades de cada aluno (CARDOSO; TAVEIRA;
STRIBEL 2021). Por isso a importância de evidenciar iniciativas que
contribuem com a acessibilidade na rotina prática escolar minimizando
barreiras e auxiliando profissionais da educação a terem uma atuação mais
assertiva em suas abordagens didático-pedagógicas, pensando aqui,
diretamente no contexto de escolarização.
Atividades de Vida Autônoma (AVA)
A Atividade de Vida AutônomaAVA, era, até 2001, denominada de
Atividade de Vida Diária AVD, com a Resolução CNE/CEB 2
(BRASIL, 2001), que institui as Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica, a AVD passa a ser designada por
Atividades de Vida Autônoma e Social AVAS. Em 2008, após a
aprovação do documento Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva, o novo termo adotado é Atividades
de Vida Autônoma AVA. As AVD passam a ser [...] uma área de
178
exclusiva competência do Terapeuta Ocupacional (SIERRA, 2009, p.
11).
Para Siaulys (2014) “A assimilação das atividades cotidianas é
fundamental para que qualquer pessoa seja considerada pertencente ao seu
grupo social. Assim, a participação de todas as crianças na vida familiar, na
escola e na comunidade é essencial”. É nessa perspectiva que se torna
demasiado importante o conhecimento, por parte dos professores, das
atividades que contribuem com a boa prática pedagógica, as Atividades de
Vida Autônoma (AVA), anteriormente conhecida como Atividade de Vida
Diária, ferramentas importantes que precisam estar presentes nas
dinâmicas que objetivam a autonomia das crianças.
[...] A realização das atividades do dia a dia ajuda na aquisição da
consciência corporal e na formação da autoimagem positiva, no
conhecimento dos objetos do ambiente e na interação com as pessoas,
além concorrer para o desenvolvimento global e integração sensorial
(SIAULYS, 2014, p. 22).
No processo de desenvolvimento da criança na perspectiva da
prática escolar é necessário que todos envolvidos com essa criança tenham
acesso a conhecimentos específicos que auxiliarão as práticas cotidianas,
pois o papel da escola reflete além do espaço físico escolar, uma vez que o
trabalho do professor se de forma conjunta com outros órgãos
colegiados e outros profissionais responsáveis pelo bem-estar da criança.
De acordo Siaulys et al. (2010) as Atividades de Vida Autônoma
atuam de forma paralela com as práticas socioeducativas, sendo
compreendidas como atividades relacionadas ao cuidado de si, os atos
179
práticos e a importância da alimentação, iniciativas que buscam promover
a aprendizagem referente aos ambientes em que se vive. Os profissionais
conhecendo esses fundamentos buscam articular propostas com o processo
de ensino e aprendizagem, motricidade e o desenvolvimento cognitivo da
criança visando alcançar a sua autonomia. Pensando no contexto desse
texto, “[...] as pessoas com deficiência visual não podem aprender pela
imitação e precisam ser ensinadas a desempenhar as habilidades que lhes
proporcionem independência e autossuficiência para atender as
necessidades da vida prática” (SIAULYS, 2014, p. 24).
Intervenção precoce
Um dos sentidos mais importantes no âmbito sensorial é a visão,
ela é a principal experiência sensorial, através dela podemos ter as primeiras
impressões das coisas (pessoas, objetos etc.) e também adquirimos mais da
metade dos nossos conhecimentos. A visão é composta por: 1- Córnea e
lente (formação da imagem); 2- Íris/ pupila e fotorreceptor (controle de
exposição); 3- Retina, bastonetes e cones (detecção); 4- cérebro
(processamento). Confira no quadro o processo de desenvolvimento da
visão:
Quadro 2 Como é formado o desenvolvimento da visão
Idade
Característica visual
0 mês
Pouco grau de fixação, não responde a estímulo visual, exceto luz.
1 mês
Segue movimento lento de objetos. Inicia a coordenação binocular.
2 meses
Atenção a objetos a distância de 20 cm ou mais.
180
Idade
Característica visual
3 meses
Aperfeiçoa movimentos dos olhos e binocular; Atenção nos objetos
quando os manipula; Reage a cores.
4 meses
Permanece mostrando interesse por objetos pequenos e brilhantes;
Fixa os olhos sobra a mão; Tenta mover-se em dirão ao objeto no
seu campo visual.
5 meses
Desenvolve coordenação olho-mão: esforços sucessivos para agarrar;
procura intencionalmente os objetos com os olhos, mesmo que para
brincar com a luz.
6 meses
Reconhece pessoas; vira os olhos para direita e esquerda.
7 – 8
meses
Tenta pegar objetos além do alcance; Convergência dos olhos.
9 meses
Observa as expressões de pessoas próximas e tenta imitar
1 ano
Boa acuidade visual para perto e longe; Visão binocular; Focalização;
acomodação.
3 anos
Desenvolvimento anatômico do olho está completa; Junta ais
simples, faz contorno de forma simples; monta quebra-cabeças (com
baixa complexidade) e utiliza pistas táteis.
4-5
anos
A distinção de cores é estabelecida; visão de profundidade; Apto para
leitura.
6 anos
Acuidade visual 20/20 (1.0); Maturação do sistema visual.
8 anos
Globo ocular do tamanho de adulto
Fonte: Rodrigues e Padovani (2008, p. 104).
Sendo assim é considerado deficiente visual aquele que apresenta
baixa visão ou cegueira total, de acordo com a “Organização Mundial de
Saúde” (OMS), esse diagnóstico é definido clinicamente por um
especialista através de valores quantitativos de acuidade visual.
181
Quando pensamos no processo de desenvolvimento da criança
com deficiência visual na perspectiva da prática escolar é necessário que
todos envolvidos com essa criança tenham acesso a conhecimentos
específicos que auxiliarão as práticas cotidianas. Sendo assim, o processo
de aprendizagem acontece por outros sentidos remanescentes como: Tato;
Audição; Olfato e Paladar. Para que o desenvolvimento da criança
aconteça de maneira efetiva é necessário que seja realizada a intervenção
precoce, que é um recurso precioso tanto para criança cega, quanto para a
criança com baixa visão.
[...] A criança com deficiência visual necessita de intervenção para que
sejam nela despertados o desejo, a curiosidade e o desejo, a curiosidade
e o motivação para agir sobre o ambiente. Ela e importante ainda
porque acontece no período em que ocorrem as maiores e mais
significativas mudanças no desenvolvimento da criança, nos períodos
mais curtos de tempo. Criança e família têm valor central na
intervenção precoce.
A intervenção precoce inicia-se com a avaliação da criança. Essa
avaliação deve combinar a avaliação funcional da visão e a avaliação do
desenvolvimento global da criança, utilizando procedimentos formais
e a observação do comportamento. É um processo dinâmico, realizado
por equipe interdisciplinar em situação lúdica e de acordo com o perfil
do desenvolvimento da criança (GLAGLIARDO; NOBRE, 2001, p.
18).
De acordo com Glagliardo e Nobre (2001) a intervenção precoce
segue alguns princípios básicos como a estimulação e eficiência visual,
favorecimento do uso da visão nas situações diárias, favorece a relação mãe-
criança, proporciona atividades funcionais pelos órgãos dos sentidos com
182
as funções motoras e cria condições para a construção do universo sensório
motor. Quanto antes se iniciar o processo de intervenção, a criança com
deficiência visual te melhores condições de desenvolvimento e
autonomia.
Estimulação visual
O papel da escola reflete além do espaço físico escolar. O trabalho
do professor se de forma conjunta com outros órgãos colegiados e
outros profissionais responsáveis pelo bem-estar da criança com deficiência
visual. Para que o processo de aprendizagem ocorra, a criança necessita de
estímulos de caráter não visual. Segundo Wally (2011) o primeiro contato
institucional da criança é o que se chama de estimulação precoce.
Desde o nascimento, a partir das interações sociais, a criança deve
receber estímulos, pois é assim que ela começa a ter percepção do mundo,
levando em consideração que cada criança tem seu modo de aquisição das
informações recebidas, independentemente da sua deficiência. No caso da
criança com baixa visão, a estimulação precoce tem a função de reabilitação
ou reeducação visual, para isso é necessário que a criança desenvolva
algumas capacidades de percepção funcional visual como: a coordenação
visomotora; Percepção de posição no espaço; Percepção de relação espacial;
Constância perceptual e Percepção de figura-fundo.
O estímulo visual não vai fazer a criança melhorar o quanto ela
enxerga, mas vai ser um grande facilitador para que ela reconheça o
ambiente, os objetos e também desenvolva suas habilidades, isso contribui
para o processo adaptativo funcional no ambiente em que ela está inserida.
183
A família tem papel fundamental nesse processo, é através dos
estímulos familiares que a criança começa a balbuciar, sentar, engatinhar,
entre outros conceitos que acompanham a evolução dela.
[...] Cabe salientar que não serão apenas os momentos em que a criança
está na sala de estimulação precoce que contarão para seu pleno
desenvolvimento. Nesse sentido, surge como primordial o papel dos
seus cuidadores. É preciso que o mundo seja apresentado e descrito
para que as coisas tenham fundamento a alguém que não enxerga. Na
realidade da nossa escola, podemos perceber que as crianças que
vivenciam momentos comuns a uma criança vidente, tais como: saídas
a locais variados, participação nos momentos familiares, contato com
materiais diversos, acesso a brinquedos, etc., apresentam um
desenvolvimento que podem contribuir para sua aprendizagem
futuramente (WALLY, 2011, p. 5).
No caso das crianças com deficiência visual, elas passam por um
processo de entendimento da utilização do tato que auxiliará em suas
vivências. E quando nos referimos a estimulação precoce pensamos em
tornar a sua vida bem mais próxima possível da realidade que a cerca.
Dentre os vários conceitos a serem ensinados, a criança cega ou baixa visão
precisa se apropriar do Sistema Braille em seu processo de alfabetização,
necessita de materiais adaptados, brinquedos e jogos.
É importante que a criança desenvolva a função simbólica, dessa
maneira ela desenvolve a capacidade de representar mentalmente aquilo
que é citado, sendo assim, ela pode associar a algo que ela tenha tido
contato anteriormente. Outro estímulo é o movimento, para isso a
orientação e mobilidade fará com que ela consiga se locomover sozinha
com o auxílio de bengalas. Segundo Wally (2011) algumas tarefas como,
184
cortar, amassar, rasgar, são consideradas atividades de movimento,
importantes para o desenvolvimento da memória e sequência. O exercício
de atenção proporciona concentração e autonomia para explorar o espaço,
para isso a utilização de materiais sonoros é adequada, tais como músicas e
contação de história. Jogos e brincadeiras são importantes para estimular a
criatividade, o intelecto e o conhecimento do mundo. A criança com
deficiência visual a partir do ato de brincar e através das relações
conseguem explorar objetos e conhecer texturas diferentes, assim como
pela imitação, compreender os papeis desempenhados e representados na
sociedade.
A criança com deficiência visual é uma criança comum, com a
mesma vontade de conhecer e explorar o mundo, a única coisa que a limita
é a sua capacidade de ver. Segundo Wally (2011) a cegueira não pode ser
vista como “desvantagem total”, mas sim deve ser estimulada as suas
potencialidades levando em consideração as especificidades de cada
criança. Para isso não é necessário atividades complexas, mas coisas comuns
do dia a dia, como uma conversa, experimentar um alimento, sentir o
cheiro das coisas, momentos de família e brincadeiras podem potencializar
as capacidades das crianças com deficiência visual.
Orientação e Mobilidade
Mazarro (2003) evidencia que a habilidade de compreender
ambientes é uma conquista gradativa pertencente às pessoas com
deficiência visual que se inicia com seu nascimento e evolui durante as
etapas de desenvolvimento de sua vida. Por isso que, quando pensamos no
ambiente escolar, existe a necessidade de os professores saberem da nova
185
orientação, pensando na criança, toda vez que houver mudanças no espaço
físico escolar. E desde muito cedo as crianças são inseridas em espaços
educativos ficando boa parte do dia sob cuidados de professores e demais
profissionais que estruturam o ambiente escolar.
No período de pandemia surgiu a necessidade de descentralizar as
atividades de ensino sobre orientação e mobilidade do espaço interno
escolar, muitas readequações marcaram a dinâmica do ensino nesses
últimos dois anos, com o avanço dos casos de COVID-19, governantes
criaram decretos e normas que alinhavam a continuidade do ensino no
ambiente domiciliar, mães e pais se tornaram uma extensão direta da escola
para a aplicação dos exercícios e atividades que caracterizaram o
desenvolvimento técnico do ano letivo da escola.
Essa nova realidade exigiu dos professores uma dinâmica diferente
da rotina habitual desenvolvida na escola. Essa situação se intensifica
quando pensamos que parte dos alunos que estão inseridos nesse contexto
são público-alvo da Educação Especial. Neste trabalho a ênfase não está
sendo dada a público geral, mas sim nas crianças com deficiência visual, é
importante evidenciar essa proposta, pois as considerações que estão sendo
apresentadas foram organizadas e sistematizadas para auxiliar os
professores e demais profissionais que fazem parte da articulação da
dinâmica escola e família nesse tempo pós-pandemia.
Por isso a necessidade de apresentar informações técnicas que
auxiliarão a movimentação prática do aluno com deficiência visual, sempre
considerando o seu desenvolvimento motriz e cognitivo. Além dos
conteúdos que fazem parte das temáticas que precisam ser trabalhadas com
os alunos, os professores precisam se apropriar dessas informações e pensar
na melhor maneira de desenvolvê-las em conjunto com a família dessa
criança. Antes mesmo do aluno cego ou baixa visão ter acesso aos
186
conteúdos aplicados pela escola ele precisa estar ambientado em uma
realidade que esteja configurada para lhe dar acesso às informações que
fazem partem do currículo anual escolar que ele esteja estudando.
Pensando na orientação e mobilidade do aluno, Mazarro (2003),
evidencia as três questões básicas que estruturam o processo de orientação
que precisam ser ditas ao aluno com deficiência visual quando vamos
ensiná-lo:
Onde estou?
Para onde quero ir? (Onde está o meu objetivo?)
Como vou chegar ao local desejado?
O autor ainda diz que para o aluno formar essas questões ele deve
passar pelo um processo importante que envolve as seguintes fases:
Quadro 3Fases pertencente ao processo de ensino de orientação.
Percepção
Captar as informações presentes no meio ambiente pelos
canais sensoriais
Análise
Organização dos dados percebidos em graus variados de
confiança, familiaridade, sensações e outros
Seleção
Escolha dos elementos mais importantes que satisfaçam as
necessidades imediatas de orientação
Planejamento
Plano de ação, como posso chegar ao meu objetivo, com base
nas fases anteriores
Execução
A mobilidade propriamente dita, realizar o plano de ão
através da prática
Fonte: Weishaln (1990).
187
A apresentação das fases de desenvolvimento que norteiam o
processo de orientação do aluno com deficiência visual é necessária como
conhecimento técnico que enreda um cotidiano abrangente de atividades
que visam contribuir com a autonomia do discente. A especificações
técnicas dessas fases são muito importantes para o repertório intelectual do
professor que pertence ao quadro de docentes dos anos iniciais da
Educação Básica. Estar munido dessas informações agrega na desenvoltura
da atuação prática gerando mais fundamentos e articulações quando
necessidade de promover o trabalho conjunto da escola com a família e
demais núcleos sociais que a criança com deficiência visual reside ou se
ambienta.
Agora, quando pensamos em mobilidade, Mazarro (2003) diz que
precisamos compreender a remanescência dos sentidos que envolvem as
percepções não visuais, como a audição, o tato (sistema háptico), o olfato,
a cinestesia, a memória muscular, o sentido vestibular. No caso da pessoa
com deficiência visual se movimentar de um ponto a outro é necessário
seguir diretrizes e ser orientada em relação ao seu destino, constituindo
assim um mapa mental do layout do espaço.
Você [...] pode estar utilizando plantas teis durante a orientação de
seu aluno para a mobilidade. A planta tátil pode ser confeccionada no
alumínio, marcado por carretilha de costura, ou em cartolina,
utilizando sucatas, materiais de diferentes texturas, cola plástica, fios
colados e outros materiais que dêem relevo. Mas, não se esqueça, nessa
planta é importante marcar o ponto de referência (onde eu estou).
Quando a criança está nas primeiras séries é importante que, além de
utilizar tais materiais, você deve fazer com que ela trace o caminho para
sua exploração e pedir que reconstrua o espaço. Dessa forma, irá
transferir as relações espaciais simples da sala de aula para uma maquete
construída progressivamente, à medida que for descobrindo novos
188
ambientes. Nessa atividade você poderá avaliar o grau de sua
compreensão.
É de extrema importância que o aluno vivencie o espaço para
compreendê-lo: caso a sala de aula seja quadrada, a base da maquete
deve ter a mesma forma. No caso da sala de aula, o ponto mais
importante é a porta, depois a mesa do professor, a carteira do aluno
deficiente visual, as demais carteiras e as janelas (MAZARRO, 2003,
p. 18).
A mobilidade da pessoa com deficiência exige boa compreensão
dos fundamentos técnicos de orientação, sendo compreendida como, “a
habilidade de locomover-se com segurança, eficiência e conforto no meio
ambiente, através da utilização dos sentidos remanescentes
(WEISHALN, 1990). Por isso, os professores e demais profissionais que
estão diretamente ligados ao espaço interno escolar e, indiretamente, a
outros espaços que a criança com deficiência visual frequenta ou reside
precisam ter acesso a informações que evidencie de forma prática e clara
recursos e atividades que melhorem o desempenho do desenvolvimento
cognitivo e de orientação e mobilidade visando contribuir para o alcance
da autonomia do público aqui enfatizado.
Considerações Finais
Quando pensamos em situações que impactam diretamente na
educação, automaticamente começamos imaginar como elas se estruturam
e qual seria um caminho viável a se tomar para minimizar tais problemas,
precisamos compreender que não uma receita prática para resolução
imediata, mas sim materiais e estudos que apresentam considerações
189
teóricas e práticas gerando iniciativas que melhoram a qualidade de vida
das crianças com deficiência visual e seus familiares na perspectiva da
acessibilidade.
Nem sempre as informações estão alinhadas e sistematizadas de
forma compreensível, por isso que é necessário desenvolver textos que
facilitem esse processo. Considerando a problematização acerca dos fatores
destacados e interferência no processo de escolarização dessas crianças,
foram apresentados elementos importantes para a melhoria de uma rotina
ainda mais impactada com o período de pandemia, fatores importantes
como Atividades de Vida Autônoma, Intervenção precoce, Estimulação
visual e Orientação e mobilidade enredaram esse trabalho buscando
estabelecer um convívio escolar bem mais indicado para buscar a
autonomia das crianças cegas e baixa visão.
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192
193
Capítulo 7
Anos finais do Ensino Fundamental:
Os desafios do ensino da Língua Portuguesa
Fábio Vinicius Alves
Luiz Felipe Garcia de Senna
Este trabalho se alicerça nas visões de dois professores residentes
em uma cidade do interior paulista. Ambos são professores categoria O
(contratados por 3 anos) dos anos finais do ensino fundamental (EFII) da
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEDUC) e ministram as
suas aulas em escolas de ensino público na periferia de suas cidades. Os
professores, de séries que partem do ano até o ano do EF II, se
revezam entre os estudos para qualificação acadêmica e as preocupações
com os estudantes que apresentaram dificuldades, tanto quanto os
professores, no processo de acesso à educação remota e no ensino de Língua
Portuguesa.
O que será apresentado aqui se baseia em experiências de dois anos
consecutivos em que a rede da educação paulista teve de se adaptar,
compreender e se reestruturar para que o ensino remoto pudesse ser
implementado e apresentasse, ao menos alguns, resultados referentes ao
ensino de Língua Portuguesa em meio a pandemia que atingiu todo o
planeta. Aqui será descrito a experiência de dois jovens professores,
especificamente, sobre o ensino, a avaliação e os resultados alcançados por
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3.p193-220
194
eles no período de ensino remoto. Todo o trabalho realizado foi
acompanhado pela coordenação das escolas que os professores lecionam,
desde os materiais utilizados nas aulas até o nível de participação dos alunos
nas atividades propostas.
Situando a Educação em tempos de pandemia
Quando falamos sobre a educação e de como ela tem se
desenvolvido nos últimos anos, precisamos situar o local em que ela se
encontra. O conceito de campo de Bourdieu (2002) fala das disputas
existentes no interior de espaços denominados de campos, um campo é
um espaço social que é constituído de objetos, de pessoas, de forças,
instituições que apresentam condições, condutas, apostas e interesses que
a todo tempo se esbarram e geram atritos que são nascidos de importantes
disputas, geralmente para a manutenção de poder de alguma força ou para
gerar novos conflitos que interessam a novos embates.
No contexto educacional, essas disputas também o aparentes,
assim, diferentes movimentos buscam o seu domínio. Os interesses dos
agentes de um campo podem circular entre outros, como no caso do
campo político que influencia diretamente a estrutura do campo
educacional. Neste último, os conflitos tratam diretamente sobre o modelo
de educação e os conhecimentos que são, ou não, abarcados no guarda-
chuva curricular. Muitas vezes, os interesses dos grupos que atuam nos
campos não ficam evidentes, como explicam Senna e Simão (2019), alguns
movimentos utilizam discursos simplificadores e panfletários para ganhar
apoio popular, mas por trás de toda propaganda estão bandeiras
ideológicas, econômicas e políticas muito bem articuladas. Logo, muitos
195
embates estavam sendo travados no campo educacional antes do período
de pandemia. O novo contexto apenas colocou em provação os diferentes
discursos e suscitou reflexões sobre quais os reais problemas da e na
educação pública brasileira. De acordo com Martinez (2004), o Brasil
nunca foi um país plenamente democrático, seja nos modelos políticos
vigentes, seja no acesso aos insumos básicos para sobrevivência humana,
na verdade, uma grande parte da sociedade brasileira não se identifica com
uma denominada identidade nacional.
A própria ideia de escolarização mudou muito no decorrer da
história, por exemplo, a presença do professor, um orientador ou tutor que
organize os saberes, permanece até a atualidade. a organização escolar
presencial tem suas raízes no século XVIII, ela foi gerida por instituições
religiosas e pelas famílias dos alunos, isso antes de ser uma obrigação do
Estado Moderno. A noção de educação pública é mais recente ainda,
nasceu junto com a Revolução Industrial para formação de mão de obra
especializada.
O projeto político-educacional brasileiro atual tem suas raízes nas
últimas décadas do século XX, com a consolidação da chamada
Constituição Cidadã, de 1988. A Carta Magna estabeleceu que todos os
cidadãos brasileiros detêm direitos iguais à saúde, à educação, à segurança
e à qualidade de vida, porém, como explica Venonezi et al. (2019), a
implementação de tais ideias é, desde então, confrontada por um crescente
e virulento movimento neoliberal, que buscou diminuir o protagonismo
estatal e sufocar os direitos estabelecidos pela Nova Constituição. O ano
de 2016 foi apontado por Venonezi et al. (2019) como o auge do
desmonte, mais do que uma mudança de liderança, a saída da então
presidente Dilma Rousseff (2011-2016), por meio de um golpe político-
parlamentar, marcou um rompimento com os valores constitucionais e,
196
em consequência, com a tendência de maior investimento na educação no
país.
Especificamente no caso do Estado de São Paulo, Barbosa et al.
(2020) aponta uma política de desvalorização que vigora desde, pelo
menos, a década de 1990. O elevado número de professores não efetivos,
a ausência de incentivos para evolução na carreira e de aumento salarial,
que, desde 2016, é menor que o piso nacional, são alguns dos fatores
citados. Ainda antes da pandemia, Barbosa et al. (2020) menciona que os
professores paulistas sofriam com excesso de trabalho, salários baixos e
condições precárias nos espaços laborais. Tudo isso, de acordo com a
autora, é resultado de uma política de administração pública que segue
princípios gerencialistas e que ocasiona situações de competitividade e
individualismo, além de ignorar o caráter coletivo e colaborativo do ato
pedagógico.
Dados da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência
e a Cultura (COVID-19 IMPACT ..., UNESCO) demonstraram que, em
maio de 2020, mais de 70% dos estudantes em todo o planeta passaram
por alguma política de suspensão das aulas presenciais por causa da
pandemia da Covid-19. no Estado de São Paulo estão matriculados
mais de 4 milhões de alunos nos níveis de Ensino Fundamental ou Ensino
Médio. Estes estudantes são acompanhados por mais de 250 mil
professores e o trabalho nos estabelecimentos de ensino é auxiliado por
mais de 65 mil servidores de áreas técnicas ou administrativas
17
. A
suspensão das aulas presenciais no estado paulista ocorreu por meio do
decreto 64.864, de 16/3/2020, a organização do que viria a ser o
17
Educação de São Paulo em Números. Disponível em: https://www.educacao.sp.gov.br/dados-
educacionais.
197
teletrabalho começou com a resolução Seduc-28, de 19/03/2020. Em
pouco tempo, toda uma organização social foi alterada, professores, alunos,
servidores, familiares tiveram que se adaptar ao novo mundo, um
momento em que todas as relações passaram a ser mediadas por
tecnologias.
Como em outros lugares, a educação paulista aderiu ao modelo de
Ensino Remoto Emergencial (ERE). Valente (2020) diferencia esta da
Educação a Distância (EaD) porque, nesta última, o ensino é organizado
em suas instâncias pedagógicas e burocráticas para um contexto não
presencial. O Ensino Remoto Emergencial (ERE) é uma adaptação
temporária causada por situações específicas:
Nesse regime, quase a totalidade das disciplinas teóricas e grande parte
das atividades teórico-práticas passarão a ser ministradas remotamente,
em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), dentro de um sistema
institucional, através do software Moodle e G Suite, pacote oferecido
pela universidade, que integra ferramentas como o Google Classroom
e Google Meet, facilitando o acesso e registro de todas as atividades
planejadas em cada disciplina e, realizadas, de forma síncrona ou
assíncrona, com os docentes e alunos e, entre os alunos, a depender do
que for delineado no plano de ensino. No entanto, em função de
dificuldades de equipamentos ou de entrada em plataforma, outros
aplicativos como WhatsApp e Telegram e redes sociais como Facebook e
Instagram, podem ser utilizados para facilitar o acesso a diálogos, vídeos
e documentos em pdf, desde que o aluno disponha de conexão com a
internet (VALENTE, 2020, p. 06).
O novo momento educacional desafiou paradigmas educacionais,
professores começaram a interagir com plataformas digitais até então
198
desconhecidas, ou pouco utilizadas. A comunidade escolar passou a lidar
com novos desafios resultantes de velhos problemas, como, por exemplo,
a manutenção da comunicação com os alunos. Em muitas escolas públicas,
o contato com os alunos, e seus responsáveis, ocorria por meio de números
de celulares que não funcionavam ou que eram compartilhados por toda a
família do estudante.
O Ensino Emergencial Remoto Paulista
O novo modelo de ensino esbarrou na crônica desigualdade social
do país, que se converteu em uma desigualdade tecnológica, de acesso às
tecnologias de informação e comunicação. O Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) mostrou, em 2020, que o acesso domiciliar
da população brasileira à internet é parecido, em números, ao de
saneamento básico, ou seja, nas regiões com menor infraestrutura social
também menor igualdade no acesso às tecnologias. Em complemento, a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua(PNAD, 2016)
demonstrou que, em 2015, os equipamentos mais utilizados em domicílios
brasileiros para acessar à internet foram: o telefone móvel celular (92,1%),
o microcomputador (70,1%), o tablet (21,1%) e a televisão (7,5%). A
utilização dos telefones móveis celulares aumentou de 53,6% nos
domicílios pesquisados em 2013 para 92,1% em 2015, assim, o aumento
do acesso à internet ocorreu pelo maior consumo de telefones móveis
celulares pelas populações mais pobres. A oferta de modelos mais baratos
foi um dos principais motivos para que estes grupos pudessem utilizar tais
tecnologias.
199
Com essas informações, compreendemos que falar de educação
remota é falar de democratização do acesso às tecnologias e, por
consequência, de políticas públicas, pois estas são indispensáveis para
efetivação desta democratização com a universalização definitiva e com
qualidade (REIS; LEAL, 2021). Como observado, o ensino remoto foi
instaurado em 2020 em uma realidade de desigualdade de acesso, de
precarização da carreira docente e dos estabelecimentos de ensino públicos.
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEDUC) desenvolve
muitas ações de incentivo, reorientação, apresentação de novas práticas e
renovação, porém, o domínio dessas novas habilidades não é percebido no
cotidiano educacional.
Quando discutimos a realidade que estamos inseridos, percebemos
que muitas das questões problematizadas pelas referências aqui reunidas
estão presentes no nosso dia a dia. No início do Ensino Emergencial
Remoto (ERE), os professores receberam treinamentos referentes à
instalação e ao uso dos aplicativos que serviriam de base para o trabalho
pedagógico. Entre eles, destaca-se o aplicativo do Centro de Mídias da
Educação de São Paulo (CMSP), as formações ocorreram por meio da
SEDUC com suporte dos grupos de coordenação, supervisão das escolas e
Diretorias Regionais de Educação (DREs). Os professores também
receberam formações para o uso de outros aplicativos, tais como: Google
Classroom, Google Drive, Google Formulário, Google Meet, Microsoft Teams
e outras plataformas digitais como: Descomplica, Revisa ENEM,
Dragonlearn etc.
Os primeiros problemas surgiram com a dificuldade de muitos
docentes em assimilar o uso das novas ferramentas no cotidiano remoto e
com a baixa tecnologia dos aparelhos que detinham. Como soluções,
primeiro, o Governo Estadual ampliou o Projeto de Apoio a Tecnologia e
200
Inovação (PROATEC), com o aumento de professores que ajudam as
comunidades escolares na apropriação e no uso das novas tecnologias
18
;
segundo, a também ampliação do Programa Professor Conectado com o
Computador do Professor. Os profissionais poderiam, com o programa,
solicitar um reembolso de até R$2.000.00 para a compra de um aparelho
tecnológico de uso pedagógico
19
.
A manutenção de canais de comunicação entre as escolas e os
alunos também foi um dos primeiros problemas identificados e, ainda, não
resolvido totalmente. Os professores, equipados e orientados,
precisavam contatar seus alunos para dar continuidade ao trabalho
pedagógico, os estudantes deveriam ser orientados sobre de que maneira
os estudos prosseguiriam, mas nas situações de busca ativa, os contatos não
funcionavam. Como mencionado, muitos números de telefones não
recebiam ligações ou os celulares eram compartilhados por todo o grupo
familiar, poucos alunos tinham computadores, notebooks e tablets para o
estudo remoto.
Para minimizar a situação, o Governo Estadual iniciou a
distribuição de chips de aparelhos celulares com internet para estudantes
mais vulneráveis
20
, em nossas escolas, a proposta não surtiu o resultado
esperado. A maioria dos alunos vulneráveis não possuía aparelhos para
utilização dos chips. Outra iniciativa foi à transmissão de aulas ministradas
18
Resolução Seduc-7, de 11 de janeiro de 2021, Projeto de Apoio a Tecnologia e Inovação.
Disponível em:
siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/RESOLUÇÃO SEDUC 7.HTM?Time=03/11/2021
11:23:07.
19
Programa Professor Conectado Computador do Professor. 01 set. 2021. Diretoria de Ensino -
Região Centro Disponível em: educacao.sp.gov.br.
20
Chip para estudantes vulneráveis. Disponível em:
https://www.educacao.sp.gov.br/chip-com-internet-prazo-de-adesao-de-alunos-da-rede-estadual-
de-sp-e-prorrogado-ate-proxima-sexta-feira/.
201
por professores do Centro de Mídias da Educação de São Paulo (CMSP)
por canais de televisão aberta, o que poderia atender até 3,5 milhões de
alunos
21
. O aplicativo para celular do CMSP, que de início era utilizado
por gestores das instituições de ensino em orientações e instruções para o
cotidiano escolar, passou a ser utilizados por professores e alunos. Ainda
no início da pandemia, o Governo Estadual criou um programa de auxílio
para famílias beneficiadas pelo, então, Bolsa Família, ou que se
encontravam em situação de extrema pobreza, o chamado Merenda em
Casa
22
. Um programa que gerou um auxílio de R$ 55,00 para cada criança
dessas famílias desassistidas por causa da pandemia.
No caso dos alunos sem nenhum acesso à tecnologia, às escolas
optaram por contatar os responsáveis e informá-los que, com a suspensão
das atividades presenciais, as lições e atividades escolares poderiam ser
retiradas nas diretorias das escolas; que também poderiam ser retirados os
cadernos de atividades para o acompanhamento das aulas do CMSP pelos
canais disponíveis. Durante o ano de 2020, o número de casos de Covid-
19 cresceu em todo o país, o que prolongou o Ensino Emergencial Remoto
(ERE) por mais de um ano. Entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro
de 2021, os professores passaram para um modelo totalmente remoto, em
que todo o trabalho passou a ser mediado por tecnologias.
Por um lado, as primeiras avaliações das atividades remotas
demonstraram uma crítica queda na participação e na aprendizagem dos
alunos, dados bem preocupantes. Por outro lado, o trabalho pedagógico
21
Governo de SP lança aulas em tempo real por TV aberta e celular aos 3,5 milhões de estudantes
da rede estadual. CMSP - Centro de Mídias da Educação de São Paulo. Disponível em:
https://centrodemidiasp.educacao.sp.gov.br/governo-de-sp-lanca-aulas-em-tempo-real-por-tv-
aberta-e-celular-aos-35-milhoes-de-estudantes-da-rede-estadual/de SP lança aulas em tempo real
por TV aberta e celular aos 3,5 milhões de estudantes da rede estadual.
22
Merenda em Casa. Disponível em: https://merendaemcasa.educacao.sp.gov.br.
202
ficou cada vez mais engessado nas aulas transmitidas pela plataforma
CMSP, os professores nas unidades escolares passaram a agir como tutores
que acompanhavam os alunos e tiravam dúvidas pontuais. Neste contexto,
os professores tiveram de se desdobrar para compreender ou decifrar o que
os alunos devolveram como lições e atividades propostas pelo CMSP. A
não busca de atividades nas escolas levou a um desaparecimento de alunos,
impressão corroborada pelos dados levantados pelo Sindicato dos
Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), que
revelaram, entre outras coisas, que: mais de 63,2% dos alunos do Ensino
Médio não receberam nenhum suporte tecnológico durante o ensino
remoto; a evasão escolar foi de pelo menos 15% em escolas paulistas
23
.
o Tribunal de Contas do Estado (TCE) apontou que, em 2020, cerca de
80% dos alunos da rede paulista utilizaram o aplicativo do CMSP por 2
horas ou menos
24
.
Em nossas escolas, estas questões também foram percebidas,
muitos alunos matriculados não compareceram, não realizaram as
atividades enviadas ou buscaram a escola para esclarecimentos. As
devolutivas das atividades ocorreram com um mero reduzido de alunos,
ao menos 10%, e eram centralizadas no que era transmitido pelo CMSP.
Os alunos que assistissem às aulas deveriam responder questões que eram
disponibilizadas no próprio aplicativo. Os resultados eram vistos pelos
professores por meio da SEDUC, portal que era utilizado pelos
professores para postar notas, médias e lançar atividades e presenças para
23
Pesquisa APEOESP/VOX Populi - Impactos da Pandemia na Educação Pública e Aulas
Presenciais. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=HGwxXyI_qoQ&ab_channel=TVAPEOESP.
24
80% dos alunos de SP não passaram de 2 horas em app de aula online em 2020 - 01/07/2021 -
Educação Folha uol. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/07/80-dos-
alunos-de-sp-nao-passaram-de-2-horas-em-app-de-aula-online-em-2020.shtml.
203
os alunos, os docentes que tivessem dificuldades eram acompanhados pela
equipe de suporte tecnológico da escola.
O Letramento do Nativo e do Imigrante Digital
Palfrey e Gasser (2011) explicam que os “nativos digitais” são os
nascidos depois dos anos 1980 e que cresceram habituados com as
tecnologias digitais. Os primeiros jovens a utilizarem das redes sociais para
se comunicarem, além dos jogos eletrônicos e outros aparatos que com o
tempo ficaram mais interativos e interconectados. os chamados
“imigrantes digitais” podem ser os nascidos antes ou que simplesmente não
tiveram as mesmas vivências e apresentam dificuldades para interagir com
as tecnologias. Muitos professores se enquadram no segundo grupo de
indivíduos e sentem dificuldades em lidar com os jovens nascidos na
cibercultura, bem como com as novas tecnologias. O conceito de
“ciberespaço” foi criado pelo francês Pierre Lévy (2010) e pensa a internet
como uma infraestrutura, um meio de comunicação que surge a partir da
conexão que a internet permite. A partir do momento que o “ciberespaço”
passa a fazer parte do cotidiano das pessoas, elas criam e adquirem práticas
específicas destes momentos e lugares, o que resulta na chamada
“cibercultura”.
Na atualidade em que estamos inseridos, os alunos são percebidos
como nativos digitais “periféricos”, os professores como imigrantes
“funcionais”, isso porque, como observado, os estudantes detêm um acesso
constante e longínquo das tecnologias, mas limitado aos aparelhos móveis
como celulares, além do uso focado em jogos e redes sociais; as dificuldades
dos professores no período de pandemia demonstraram que, em maioria,
204
o uso dos aparelhos estava limitado à ligações e o uso de algumas rede
sociais. Nos dois casos, os sujeitos demonstraram dificuldades em inovar
no uso e em se apropriar das novas ferramentas no contexto pedagógico, o
que suscita o conceito de letramento digital.
O conceito de letramento é muito conhecido e difundido no
campo educacional, como explica Soares (2002), é um conceito plural,
trata-se de letramentos, isso por causa das diversas possibilidades de
aprendizagem que o mundo social apresenta. Silva (2012) comenta o
exemplo de uma pessoa que domina a língua escrita e as normas que a
regulam, porém, não domina com facilidade as tecnologias digitais, ele
pode ser um “imigrante”, um sujeito em processo de aprendizagem. Silva
(2012) resgata e dialoga com as discussões de Soares (2002) sobre
alfabetização e letramento para utilizá-las em seu diálogo sobre o uso de
tecnologias na educação. Dessa maneira, Silva (2012) reafirma que
letramento e alfabetização não são opostos, mas complementares, um
sujeito alfabetizado apresenta compreensão dos códigos escritos da língua,
ele pode ler e até escrever, porém demonstrará um domínio maior
quando estiver letrado, isso é, quando compreender os usos sociais da
linguagem. Lógica parecida pode ser aplicada ao letramento digital, pois
um sujeito é letrado digitalmente quando compreende os diferentes usos
sociais que as tecnologias permitem. Não se trata de um uso técnico,
específico, como acessar sites ou softwares, mas de proporcionar ao sujeito
a capacidade de agir criticamente
diante do que interage:
Não é possível letrar digitalmente sem se pensar em alguém que precisa
estar alfabetizado. Não é possível apenas alfabetizar, sem se pensar no
uso social que se fará desse conhecimento nas práticas sociais que
envolvam as ferramentas da Web 2.0. E mais, para que o letramento
205
seja pleno, é preciso que se reflita criticamente acerca do que utilizar,
como e por que no fazer docente (SILVA, 2012, p. 4).
Os professores do século XXI estão em um cenário diferente dos
profissionais formados durante o século XX, por mais que o ambiente
escolar tenha mudado pouco, ou nada nas duas primeiras cadas deste
século, as tecnologias digitais marcaram sua presença no cotidiano escolar.
A partir do rompimento que a pandemia significou do cotidiano
educativo, não se pode confundir a inserção de tecnologias na sala de aula
com um curso de informática:
No contexto do letramento digital, acrescentamos que ser letrado é
poder interagir da maneira descrita pelos autores em ambientes digitais,
isto é, realizando práticas de leitura e escrita que diferem das práticas
tradicionais. É saber pesquisar, selecionar, utilizar as diversas
ferramentas disponíveis para cumprir propósitos variados, é se
relacionar com seus pares, aprender constantemente, construir,
transformar, reconstruir, exercer autoria, compartilhar conhecimento
etc., sempre utilizando os recursos da Web, quer para sua vida pessoal
ou profissional. E, no caso específico dos professores, seja para aula
presencial, a distância ou uma hibridização entre essas duas
possibilidades (SILVA, 2012, p. 4).
O novo momento histórico envolve uma mudança de paradigma
social, os meios de comunicação, de organização e produção estão sendo
afetados pela maior dinamicidade das estruturas sociais e dos sujeitos. A
educação como um todo deve dialogar com essas transformações, ser um
lugar de “inteligência coletiva”, de criação coletiva, para tanto, a formação
206
inicial e a continuada de professores devem ser vistas como centro de todo
planejamento educativo.
Como falado, a SEDUC ofereceu várias formações com o intuito
de impulsionar os saberes docentes e incluir os professores neste novo
contexto, porém, como observado por Freitas, nos anos 2010, os cursos
de formação de professores deram pouca ou nenhuma atenção ao uso de
tecnologias no ambiente escolar. Com isso, os professores do futuro são
formados sem preparo para o futuro que irão encontrar, em levantamento,
Freitas (2010) menciona que poucas licenciaturas apresentam nos
currículos disciplinas relacionadas ao uso de tecnologias.
A emergência de novos letramentos para novas práticas de escrita é
descrita por Maia (2019) como um advento que revolucionou os anos da
década de 1990, a autora inicia a sua análise ao citar que existia um número
muito pequeno de usuários ativos dessas novas tecnologias, grande parte
pertencia a classes A e B no Brasil. Tais mudanças somente ocorreram a
partir de 2012, nessa década o número de usuários de Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC’s) aumentou consideravelmente e elevou
expressividade de pessoas conectadas aos computadores e as novas
tecnologias. Grande parte desses usuários está na classe periférica social, o
que não difere da periferia existente na educação, um campo que aloja uma
parte da população que não tem um grau de letramento e que agora
também se encontra à margem do letramento tecnológico, isso implica no
não acesso à aparelhos de celular que tenham bom funcionamento, à
computadores ou até mesmo a um aparelho de tv que tenha acesso à
internet:
207
Diante desse processo de aproximação entre os sujeitos de periferia e as
TIC’s, é preciso levar em consideração que passa a existir – e a se tornar
cada vez mais relevante a possibilidade de contato entre diferentes
práticas culturais, de modo que o contato entre os grupos periféricos e
as TIC’s acaba sendo fortemente marcado pelo hibridismo com as
práticas cotidianas, o que inclui as práticas de escrita (MAIA, 2019, p.
61).
Assim, mais do que ensinar por outros canais, o professor na
atualidade tem o importante papel de inserir os estudantes no dinâmico e
tecnológico mundo s-pandemia. O que não se resume a passar
atividades e avaliá-las depois, mas em proporcionar novos olhares e novos
saberes sobre a realidade em que os sujeitos estão inseridos e as
possibilidades que estes instrumentos podem oportunizar. Trata-se de
provocar os alunos, provocá-los para que saiam das zonas de conforto e,
com isso, levá-los para novos horizontes, pois, se como disse Freire “a
leitura do mundo precede a leitura do texto”, logo, a leitura do mundo
precede a leitura das tecnologias. Dessa maneira, nesse momento de
fragilização, o professor tamm está em transformação e não mais
espaço para a ideia de que ele apenas deverá transmitir os conteúdos com
modelos engessados. São inúmeros os meios com que o professor se
desdobra para corresponder de forma satisfatória o seu papel social e as
expectativas no exercício de sua função.
Reflexos no Ensino de Língua Portuguesa
Quando consideramos o não acesso, ou o mínimo acesso, dos
alunos à educação, os problemas detectados se tornam transtornos diversos
208
e maiores, eles se somam a uma gama de novos desdobramentos referentes
ao ensino de Língua Portuguesa. Até porque, os materiais impressos pela
SEDUC tiveram grande atraso para a aplicação das lições para diversas
séries dos Anos Finais do Ensino Fundamental. Quando citamos isso,
lembramos que o atraso da entrega do material físico também trouxe
preocupações aos professores, mas ainda assim, os professores das escolas
buscaram adaptar as suas práticas com outros materiais que as escolas
forneceram, além daqueles que normalmente um professor tem como
complementação de vários aspectos do ensino. A Língua Portuguesa,
particularmente, teve maiores dificuldades para a o exercício de sua carga
horária, que esta tem, como exigência, um número de 6 aulas semanais.
A baixa adesão nas atividades remotas repercutiu no ensino de
Língua Portuguesa, com enormes dificuldades de leitura, interpretação e
interação, os alunos se viram frustrados no esforço de entregar o que
podiam com o estudo que era defasado e que agora se mostrava pior do
que antes. Pela primeira vez, as escolas e as suas diretorias entenderam que
o quadro era muito mais grave do que o previsto, claramente os aspectos
externos à escola são uma soma de fatores que interferem diretamente no
rendimento dos alunos, seus resultados são uma reflexão das condições
sociais e gerais da vida da comunidade que as escolas estão inseridas
(ANTUNES, 2006).
A consciência disso é apenas o primeiro passo para resolução dos
problemas existentes, uma reflexão para dentro da escola também deve ser
feita, os momentos de crise são comumente atrelados a momentos de
crescimento, mas para esse caso, a situação em geral agravou a qualidade
das atividades, do ensino e da interação do professor para com seus alunos.
Deparar-se com a falta de tecnologia nas escolas, por parte dos professores
e pela grande maioria dos alunos oriundos da periferia da cidade, levantou
209
uma nova bandeira dentro do ensino, algo que a própria SEDUC buscou
sanar. Ofereceu programas de compra de novos aparelhos para os
professores, além de chips de celular para que os profissionais pudessem
usar a internet para dar as suas aulas de maneira remota. O chip também
foi oferecido para os alunos, eles foram isentos de dados para o acesso ao
aplicativo do CMSP, mesmo assim, a adesão ao chip de celular dos alunos
também foi baixa, ao menos na localidade das escolas aqui citadas, e a razão
disso é a carência das maiorias das famílias que vivem ao redor da
comunidade escolar.
Antunes (2006) fala sobre as mudanças no ensino de Língua
Portuguesa e, principalmente, de como isso acontece desde o Ensino
Fundamental. Uma persistência de uma prática pedagógica que ainda se
reducionista e que usa de frases e palavras desconexas da realidade de
muitos desse estudantes, que no momento, se encontram em casa tendo
aulas de um modo que nunca tiveram e que precisam de alguma forma,
aprender a lidar com o uso de seus aparelhos para estudar e não mais se
divertir. Antunes (2006) lembra que as dificuldades e o quadro
desanimador das escolas se manifestam de várias formas, a primeira delas é
pelas falas de alunos que não gostam de português porque não sabem ou
por considerá-la difícil de aprender, para logo em seguida manifestar que
muitas dessas aulas são chatas ou causaram duras feridas no processo de
aprendizagem.
A primeira dificuldade observada pelos professores abarcou a
comunicação com os alunos, isso porque mal sabiam quem eles eram,
que no ano de 2020, a pandemia permitiu apenas alguns dias de contato
com alguns poucos estudantes. No início do ano letivo, as diretrizes de
isolamento foram instauradas para a segurança da saúde no Brasil. Os
professores tiveram apenas uma breve apresentação no planejamento
210
escolar e, em seguida, as atividades remotas tiveram de ser implementadas,
para tal formação, as escolas do Estado de São Paulo tiveram de adiantar
ao menos 2 recessos para que assim pudessem apresentar as novas diretrizes
para os professores e os alunos da rede. Um reflexo direto do grande
número de professores não efetivos é a não continuidade no trabalho
realizado com os alunos, alguns estudantes ficaram semanas sem
professores ou passaram por vários durante um ano.
Outra dificuldade observada pelos professores dentro da
comunidade escolar passou a ser visualizado mais de perto e está
relacionada à imposição de novos modelos de ensino quando questões
básicas não eram atendidas na modalidade presencial. Oliveira (2016)
lembra que os professores enfrentam muitos desafios para se firmarem
como profissionais, isso envolve a autoridade, o uso da voz nos debates e a
legitimação como profissionais da educação. É recorrente o pensamento
de que mesmo se esforçando, aprendendo e se reciclando para o desafio de
dar aulas de forma remota, os resultados são difíceis de alcançar.
Principalmente quando o professor de Língua Portuguesa se depara com
tarefas que foram pensadas, estruturadas e facilitadas para a resolução sem
muito apoio, e que mais tarde resultam em respostas como “não entendi”,
“não consegui entender a questão”, “eu não sei o meu nome completo por
isso eu não sei o que fazer" e com dizeres totalmente desconexos. As
primeiras tarefas de língua portuguesa foram de sondagens para saber como
estavam os alunos e de como a pandemia estava sendo para eles. Um
direcionamento de acolhimento ministrado em Aulas de Trabalho
Pedagógico Coletivo (ATPCs) e em reuniões efetuadas no CMSP ao longo
do recesso
escolar obrigatório.
Os efeitos da pandemia na educação ainda estão sendo percebidos,
Oliveira (2020) relembra diversos momentos históricos em que sistemas
211
educacionais foram paralisados por eventos adversos como o da pandemia.
Em ntese, ele comenta que não existem soluções ceis para o contexto
atual e que a inserção de tecnologias na relação pedagógica não é sinônimo
de melhorias nas aprendizagens, o fator determinante é o professor. Em
todos os cenários, a presença do professor é o que determina a qualidade
do aprendizado dos alunos. O docente é quem interage, ouve e acolhe os
estudantes, é ele quem percebe as dificuldades e desenvolve o trabalho
pedagógico para ajudá-los.
A avaliação na Educação Emergencial Remota
Por um lado, o contexto de pandemia motivou transformações na
educação paulista que permanecerão no mundo s-pandemia, por outro
lado, como observado, muitas das dificuldades vivenciadas pelos
professores e alunos resultaram de problemas conhecidos e não
resolvidos. A organização da escola é um reflexo da sociedade, e com ela os
seus resultados não foram animadores. Em meio às tarefas, aulas remotas
e atividades realizadas com uma baixa adesão, a SEDUC ainda exigiu mais
um pouco dos professores ao direcionar a grande parte das séries a
realização de Sequências Didáticas e das Avaliações de Aprendizagem em
Processo (AAP’s)
25
. Foram avaliações que tiveram de ser realizadas a priori
On-line, mas sabendo que a adesão também seria muito baixa, as secretarias
das escolas elaboraram uma escala de atendimento e datas para a realização
dessas atividades nas escolas em momentos em que a circulação de pessoas
25
São atividades e avaliações que atestam o aprendizado dos alunos durante os semestres, são
avaliados os componentes de Língua Portuguesa e Matemática, elas são realizadas a cada fim de
bimestre. Elas foram disponibilizadas para resolução nos dois semestres de 2020. Disponível em:
https://www.educacao.sp.gov.br/avaliacao-para-estudantes-da-rede-estadual-e-aplicada-online/.
212
fossem mínimas em seus espaços e laboratórios de informática. Sendo
assim, um dos critérios de avaliação para o primeiro e segundo semestre de
2020 foram os resultados dessas avaliações e sequências de atividades. Vale
ressaltar que a maioria das atividades propostas para os alunos que estavam
em casa se referiam às aulas do CMPS, das apostilas ofertadas pela SEDUC
que chegavam com atraso, além de exercícios de interpretação de texto.
Mesmo com a busca ativa sendo realizada e com a elaboração dessas
propostas e exigências da SEDUC, os resultados não se mostraram
animadores. Talvez o medo pelo contágio e as dificuldades de
comunicação culminaram em um conselho de classe de segundo semestre
que apresentou resultados pouco satisfatórios para todos, para os
professores, coordenadores, direção escolar e principalmente para os
Departamentos de Ensino.
Uma das escolas apresentava um número de 500 alunos em geral,
porém, somente 35% dos alunos realizaram essas atividades e avaliações.
Mesmo com esse número, as escolas resolveram aprovar vários alunos que
não apresentaram as tarefas remotas, as tarefas que eram para ser buscadas
e devolvidas à escola, nem as sequências e as AAP’s. Esse foi um sinal de
alerta para o próximo ano letivo, que agora, teria um início mais
estruturado e com uma maior mobilidade para todos.
Nessa perspectiva, o início do ano de 2021 teve algumas mudanças
em relação a realização de atividades e elaboração de avaliações para o
decorrer do ano. Uma nova demanda estava chegando para os professores
e as novas turmas tiveram de se readaptar, mesmo com a ida de alguns
alunos no começo do ano letivo. As atividades remotas seguiram sendo
mecanismo de avaliação, mas dessa vez, as atividades foram estruturadas e
seguiram um parâmetro de igualdade para todas as séries, ou seja, todos os
6ºs anos tiveram os mesmos exercícios para Língua Portuguesa,
213
Matemática, Geografia, Ciências etc. Essa foi a tônica para todos os Anos
Finais do Ensino Fundamental.
Além disso, as atividades remotas de cada professor agora eram
realizadas por meio do Chat do aplicativo do CMSP, ou seja, uma aula em
uma sala em separado para cada matéria e nos horários em que os alunos
estariam na escola, a aula era ao vivo e tinha como apoio alguns materiais
que a SEDUC distribuiu, as apostilas do Aprender Sempre e a do
Currículo em Ação. Entretanto, as aulas pelo aplicativo também não
tiveram muita adesão. Em muitas das aulas, os números de alunos não
ultrapassaram quatro, um problema que perdurou até o mês de abril,
quando por ordem da SEDUC e o Governo do Estado de São Paulo, as
atividades escolares começaram a ser retomadas com todos os protocolos
de segurança e distanciamento social, que naquele momento, as taxas de
transmissão estavam em números bem menores, isso porque a vacinação
estava avançando no Estado.
Mesmo assim, poucos pais permitiram a volta dos alunos às aulas
e as salas tiveram, até aquela retomada, uma média de 6 a 7 alunos, algo
que permitiu um trabalho mais próximo e a retomada de algumas poucas
habilidades que necessitavam de um reforço. Porém, as escolas em que os
professores atuaram durantes esses anos decidiram por ter uma
rotatividade entre os alunos, propondo que a cada semana um número de
alunos iriam para as aulas presenciais, enquanto a outra parte ficava em
casa, assistia as aulas do CMSP e realizava as atividades propostas pelas
apostilas que estavam chegando às unidades escolares.
No primeiro semestre de 2021, o tempo de recebimento das
devolutivas diminuiu e aumentou a frequência e o número de responsáveis
que buscaram as atividades propostas nas escolas. No início do segundo
semestre, a realidade mudou bastante, pois um número maior de alunos
214
retornou ao ensino presencial. Neste momento, a SEDUC aumentou o
número de APP’s e sequências didáticas, o que também serviu como meio
avaliativo e requisição de notas para os bimestres de 2021.
Durante a pandemia, a avaliação foi muito utilizada pelos gestores
educacionais para acompanhar e perceber a qualidade do ensino estadual.
Porém, no cotidiano escolar, as diferentes possibilidades avaliativas nem
sequer foram contempladas nas discussões, dado o excesso de obrigações
burocráticas e a baixa participação dos alunos na maior parte do tempo. A
avaliação pode ser um meio de mapear as aprendizagens dos estudantes
com o intuito de promover ões que os motivem (FERNANDES, 2009).
Especificamente, no contexto de ensino remoto, a avaliação pode ser
desenvolvida por uma enorme variedade de caminhos, entre as várias
ferramentas disponíveis para os professores podemos citar três e suas
funcionalidades: como a Kahoot!, que apresenta possibilidades de avaliação
gamificada, com atividades de competição e o uso de testes de múltipla
escolha; a QuizMe, que permite a criação de diferentes “quizzes” com a
inserção de imagens nas atividades; o Google Forms, que é muito conhecido
pela possibilidade de elaboração de avaliações de múltipla escolha ou
dissertativas, de acordo com as necessidades avaliativas. Estes e outros
materiais podem ser utilizados por todos os professores, porém, o principal
empecilho está na centralização da organização escolar, fato que parece ter
piorado no contexto de pandemia. Com a ausência de autonomia
pedagógica, o professor não consegue inovar, pois, ele é constantemente
cobrado pelo acompanhamento das atividades propostas pelo CMSP,
muitas vezes, mais do que sobre o acompanhamento dos próprios alunos.
215
Considerações Finais
O que ficou claro é que mesmo apresentando algumas propostas
de aulas de Língua Portuguesa, por mais simples que fossem, como leitura
e interpretação de textos, as dificuldades foram muito mais que aparentes,
poucas famílias estavam preparadas para esse problema e somente 1 ano
após as soluções oferecidas pela SEDUC, poucos alunos retornaram para a
escola ou buscaram saber o que estava acontecendo. Os que iam atrás de
informações não davam muito retorno ou somente apareciam ao final dos
bimestres para entregar atividades atrasadas ou buscando tais avaliações
para realizar e “não perder o ano”. Poucos se importaram com o conteúdo
a ser trabalhado ou não tiveram tempo para realizar as atividades, muitos
desses alunos dos anos finais do ensino fundamental, principalmente os do
ano, estavam trabalhando, e, por isso, não tinham tempo para poder
realizar as atividades ou assistir às aulas pelo CMSP.
Infelizmente a avaliação para as atividades realizadas não passaram
da resolução de AAP’s e Sequências Didáticas em que na medida do
tempo, não mascararam as dificuldades encontradas pelos professores
dentro desses últimos anos, sendo em tempos epidêmicos ou não. O
Ensino Emergencial Remoto apresentou pouca efetividade e escancarou as
dificuldades de leitura, interpretação e resolução de exercícios com pouca
dificuldade. A maioria das devolutivas das atividades, mesmo com os
professores apresentando outros exercícios e complementando as
habilidades a serem trabalhadas, chegou incompleta ou com cópias de
respostas facilmente encontradas na internet, os professores conseguiram
constatar isso em uma busca muito simples nos buscadores.
As ações apresentadas pela SEDUC contemplaram certa parte dos
professores e alunos, a intenção da inserção das pessoas na tecnologia
216
requer tempo, algo que não tivemos, porém, a grande maioria dos alunos
e dos professores dessas escolas tiveram de reaprender e readaptar as
atividades, e mesmo assim, os resultados não foram satisfatórios ou não
atingiram a intenção almejada pela educação em São Paulo.
As avaliações e as ações efetuadas pelas coordenadorias das escolas
e as suas direções tiveram pouca efetividade e não alcançaram algumas
metas estabelecidas, o que gerou a atenção das Diretorias de Ensino para a
retomada de algumas atividades de reforço para os alunos que estavam no
ensino presencial. Posterior a essas ações, os professores acreditam que a
realização de Sequências Didáticas e AAP’s não corroboraram para os
aprendizados dos alunos, elas apenas deflagraram os problemas que eram
constatados e que, agora, mostram que o trabalho futuro será muito mais
árduo que se imaginava.
Dentro dessas perspectivas, o que fica como aprendizado é que o
uso das TIC’s precisa ser repensado constantemente, afinal, tanto
professores como alunos ainda requerem processos de letramento, dado
que os atuais hábitos foram impostos repentinamente a todos da
comunidade escolar. O aprendizado e letramento tecnológicos precisam
mais do que nunca, abranger a todos aqueles que necessitam estudar e
trabalhar de maneira remota ou quando exigido por força maior, seja como
professor, funcionário de uma empresa, numa consulta ao psicólogo, numa
conversa entre amigos ou parentes.
Ressalta-se que que uma necessidade imediata da atualização
dos professores no quadro do magistério paulista, a SEDUC oferece cursos
a todos, mas também ainda precisa subsidiar a renovação de computadores,
tablets e outros periféricos para a realização da função do ensinar. Algo que
requer políticas efetivas para todas as instâncias educacionais do Estado de
São Paulo.
217
O atual quadro da educação paulista ainda precisa lidar com os
problemas antigos e que necessitam de atenção extrema, principalmente
quando se fala da Língua Portuguesa, sem ela, as outras matérias terão
dificuldades iguais e maiores do que se imagina, pois, isso passa pela
compreensão, interpretação e entendimento mediante a leituras efetuadas
em tudo que fazemos em sociedade. Por ora, pesquisas, dissertações e teses
necessitam ser realizadas com temáticas que possam apontar os dados do
nosso problema, é uma peça fundamental para entender que caminho
seguir no ensino de ngua Portuguesa nas escolas paulistas, sem as
investigações, pouco pode se realizar ou entender o quanto a pandemia
afetou a todos que trabalham na educação e, em especial, em escolas
periféricas que carregaram os velhos e agora lidam com os novos problemas
a serem resolvidos.
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VERONEZI, Beatriz Ciuffi et al. Educação de jovens e adultos no Brasil:
de onde partimos, onde chegamos e aonde precisamos chegar. 2019.
(Trabalho Final de Curso na disciplina Política e Organização da
Educação Básica II, Licenciatura em Pedagogia) - Universidade de São
Paulo, USP, 2019.
221
Capítulo 8
Trajeria da Educação à Distância (EaD) no Brasil e os
desafios na implementão do ensino remoto emergencial na
Educação Superior: breve contextualização.
Gabriel Scoparo do Espírito Santo
Márcia Mendes de Lima
Introdução
Ao longo da história da humanidade, as doenças virais impactaram
na saúde da população mundial: varíola, febre amarela, sarampo, dengue,
zika e chikungunya são alguns exemplos. Em 2020, as atenções voltaram-
se para o surgimento do vírus Sars-cov-2, conhecido popularmente como
Covid 19, sendo que, no mesmo ano, esta foi classificada como pandemia,
devido a sua rápida dispersão pelos meios de transporte e sua forma de
transmissão (NOGUEIRA; SILVA, 2020).
Todos os segmentos da sociedade foram impactados em alguma
proporção pela Covid-19. Em 2020 o novo vírus, que possuía ainda
poucos estudos, causava complicações respiratórias, e em uma parcela da
população poderia evoluir para a síndrome respiratória aguda grave e levar
a óbito (NOGUEIRA; SILVA, 2020).
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3.p221-254
222
A medida mais efetiva para evitar o colapso dos sistemas de saúde
foi o isolamento social com quarentena de 15 dias para infectados pelo
vírus e pessoas que tiveram contato com estes. Diversos países decretaram
lockdown obrigatório e todas as atividades de ensino tiveram que ser
realizadas de forma remota.
As inquietações quanto a conhecer o tema surgiram durante o
trabalho dos autores com ensino remoto em Instituições de Ensino
Superior IES. O processo de pesquisa e publicação de trabalhos
acadêmicos sobre a temática ainda está no começo, e são poucos os estudos
que revelam os desafios na perspectiva dos docentes quanto à
implementação do ensino remoto emergencial no ensino superior.
Diversas instituições suspenderam suas aulas por alguns dias assim
que foram proibidas as aulas presenciais, e instaurou-se uma dúvida quanto
ao modelo a ser adotado, principalmente pela incerteza da duração da crise
sanitária. Muitos alunos, por não conhecerem a legislação, pensaram que
qualquer atividade remota caracterizaria a modalidade Educação à
Distância - EaD.
Mesmo as IES, que deveriam entender essas diferenças, foram
surpreendidas pelo ensino remoto emergencial e pela falta de referências.
Buscaram nos materiais relativos à EaD informações sobre como atuar
nesse momento. Esse cruzamento de referências de diferentes modalidades
aumentou a dificuldade de distinguir os métodos.
A EaD é voltada, mas não exclusiva, para adultos, pressupõe uma
capacidade de gestão do tempo e interesse em aprender por parte do aluno
(NUNES, 2009). Dessa forma, possui um perfil e uma didática própria,
regulada e fiscalizada pelo Ministério da Educação - MEC. A simples
mudança de aula presencial para aula por meio de reuniões virtuais não se
223
configura Educação à Distância, por isso é necessário diferenciar e
compreender as bases para cada um desses conceitos.
A partir desse contexto, o objetivo deste capítulo foi apresentar os
dados oficiais sobre a trajetória da EaD nos cursos de graduação e resgatar
o conceito de EaD e Ensino Remoto Emergencial, para assim poder
determinar os desafios na implementação da proposta do ensino remoto
emergencial pelos docentes do Ensino Superior.
Como percurso metodológico trilhado, para elucidar a trajetória
da EaD foram analisados Leis, Decretos e Portarias que regulamentam e
normatizam a questão. Para buscar informações sobre a temática objeto de
discussão deste capítulo, foi realizado um estudo de revisão de acordo com
os pressupostos de Lüdke e André (1986) e Lima e Mioto (2007). A busca
dos estudos realizada no Portal Brasileiro de Publicações Científicas em
acesso aberto - OASISBR utilizou-se do descritor: “Ensino Superior AND
Pandemia”. A busca retornou um total de 51 trabalhos científicos, sendo
selecionados após leitura exploratória 08 estudos, que possuíam correlação
com o Público-Alvo deste estudo e com o objetivo do capítulo.
Com base nas análises realizadas dos documentos e materiais
encontrados, foi possível identificar as características da modalidade EaD
regulamentada no país. Seu conceito, ainda que abrangente, exige um
projeto pedagógico específico e autorização do Conselho Nacional de
Educação (CNE) para que o curso seja oferecido pela instituição, de forma
diferente das demandas comuns aos cursos presenciais, que tiveram de ser
adaptadas emergencialmente e subitamente para atividades remotas, não
caracterizando, portanto, parte da modalidade de EaD.
224
O primeiro entrave a essa situação foi a falta de acesso generalizado,
pois muitos docentes e discentes não dispunham dos equipamentos
necessários para aulas completamente
remotas. Os que dispunham ainda enfrentavam uma resistência
socioemocional ao trabalho em home office, com suas evidentes limitações
e descaracterizações.
As práticas, consideradas essenciais na modalidade EaD, também
foram percebidas como sendo o principal prejuízo causado pelo ensino
remoto emergencial, configurando uma defasagem na aprendizagem dos
cursos em geral.
Retrospectiva da Educação à Distância no Brasil
A Educação à Distância (EaD) teve seu primeiro curso no Brasil
em 1941, com a criação do Instituto Universal Brasileiro (IUB). Os
materiais para estudo, as dúvidas e avaliações eram enviados por
correspondência. O instituto oferecia cursos livres de formação
profissional, mas o primeiro voltado à formação básica foi o preparatório
para o exame de Madureza Ginasial, realizado por maiores de 19 anos que
não haviam frequentado a escola (FARIA, 2011).
O rádio, que era empregado como instrumento de ensino desde
1937 com a criação do Serviço de Radiodifusão Educativa, também era
empregado nos cursos, servindo de suplemento ao material didático
impresso enviado. No entanto, o papel principal do rádio se deu com o
curso “Rádio e Televisão”, que foi um curso de sucesso do IUB na
década de 1940. Em 1947, o Serviço Nacional de Aprendizagem
225
Comercial (SENAC) lançou a Universidade no Ar, um programa de
ensino à distância via rádio que durou até 1962.
A televisão também foi usada como ferramenta para EaD. Em
1969, foi criado o Sistema de Televisão Educativa (TVE) no Maranhão e
em 1974, no Ceará. As televisões eram poucas e usadas em sala de aula, no
lugar de professores, cujo número era ainda menor (PASSINHO, 2008).
Em 1971, tem-se a criação do ensino médio, chamado degrau na época
(BRASIL, 1971) e a alternativa do ensino supletivo para quem estava fora
da idade escolar ideal, permitia formas de EaD. § Os cursos supletivos
serão ministrados em classes ou mediante a utilização de rádios, televisão,
correspondência e outros meios de comunicação que permitam alcançar o
maior número de alunos (BRASIL, 1971, Lei 5692, art. 25, §2º).
Em 1978, a Fundação Roberto Marinho, em parceria com a
Fundação Padre Anchieta, desenvolveu o Telecurso, programa que foi
largamente utilizado como material para os alunos do supletivo. Em 1976,
o SENAC passou a oferecer cursos de aprendizagem comercial na
modalidade EaD, criando um Sistema Nacional de Teleducação. Diversos
programas foram criados conforme a popularização da televisão, iniciativas
de ensino multimeios, empregando materiais impressos, televisivos e até
encontros presenciais.
Em 1994, a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) criou
o primeiro curso de graduação à distância no Brasil, Licenciatura em
Pedagogia, com apoio do governo estadual e da lé-Université du
Québec (TÉLUQ) (PRETI, 2016), valendo-se da autonomia universitária,
uma vez que essa modalidade de ensino ainda não era regulamentada. No
mesmo ano, é criado o Sistema Nacional de Educação à Distância -
SINEAD a ser implantado pelo Ministério de Educação e Desporto
(MEC) (BRASIL, 1994).
226
Na Lei de Diretrizes e Bases de 1996 (LDB/96), tem-se a
oficialização da possibilidade da EaD em todos os níveis e modalidades de
ensino, o que marca sua chegada ao ensino superior.
Art. 80. O Poder blico incentiva o desenvolvimento e a veiculação
de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades
de ensino, e de educação continuada.
§ A educação a distância, organizada com abertura e
regime especiais, será oferecida por instituições especificamente
credenciadas pela União.
§ A União regulamentará os requisitos para a realização de
exames e registro de diploma relativos a cursos de educação a distância.
§ As normas para produção, controle e avaliação de
programas de educação a distância e a autorização para sua
implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo
haver cooperação e integração entre os diferentes sistemas.
§ A educação a distância goza de tratamento
diferenciado, que incluirá:
I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de
radiodifusão sonora e de sons e imagens;
II - concessão de canais com finalidades exclusivamente
educativas;
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder
Público, pelos concessionários de canais comerciais (BRASIL, 1996,
Lei 9.394, Art. 80).
A partir de então foram desenvolvidas diversas iniciativas, públicas
e privadas, através de programas, consórcios, redes e outros, voltados para
o uso da internet como principal meio de acesso e comunicação. O decreto
227
5662, de 2005, regulamentou de maneira mais completa o artigo 80,
que havia sido tema de decretos em 1998. A EaD foi definida como:
Art. Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância
modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos
processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios
e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e
professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos
diversos. (BRASIL, 2005).
O decreto também estabeleceu e esclareceu as bases para que as
instituições pudessem solicitar a criação de cursos na modalidade EaD.
Alguns momentos do curso foram considerados obrigatoriamente
presenciais como avaliação, estágios, defesa de trabalhos ou prática em
laboratório, que deveriam ser realizados em polos devidamente equipados
e verificados pelo MEC (BRASIL, 2005).
Em 2006, foram instituídos dois marcos regulatórios importantes,
o Decreto 5.773, que definiu as funções de regulação, supervisão e
avaliação das Instituições de Ensino Superior (IES) incluindo os cursos
EaD (BRASIL, 2006). Logo depois, por meio do Decreto 5.800, foi
instituído o “Sistema Universidade Aberta do Brasil - UAB, voltado para
o desenvolvimento da modalidade de educação a distância, com a
finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de
educação superior no País” (BRASIL, 2006, Decreto 5.800, Art. 1º). Com
a prioridade de formar professores para a educação básica, o sistema
desenvolveu polos em diversas universidades federais pelo país. Desde
então, o número de ingressantes na modalidade EaD tem crescido, e
chegado próximo da metade do total de ingressantes em 2019.
228
Gráfico 1 - Número de ingressos em cursos de graduação, por modalidade de
ensino - 2009 - 2019
Fonte: Censo da Educação Superior - 2019 - Notas Estatísticas.
Apesar do ingresso ter chegado a patamares parecidos, o número
de alunos matriculados ainda é superior nos cursos presenciais.
Gráfico 2 - Número de matrículas em cursos de graduão, por modalidade de
ensino - 2009 - 2019
Fonte: Censo da Educação Superior - 2019 - Notas Estatísticas.
O aumento no número de matrículas e vagas no ensino superior é
um dado positivo para educação no país, no entanto a pouca fiscalização
por parte do MEC levou a um posicionamento contrário por parte de
229
várias entidades representantes de classes profissionais com relação à EaD.
O debate começou nos cursos que, mesmo presenciais, exigiam aprovação
dos Conselhos para serem autorizados, como Medicina, Psicologia, Direito
e Odontologia, mas se estendeu para outros conselhos. Como a
manifestação do Conselho Federal de Serviço Social:
Destaca-se o aumento significativo de cursos e de vagas de Serviço
Social na modalidade à distância (EaD), por ser um curso que despende
menos recursos e rende mais lucros ao setor privado ligado à educação,
indicando a precarização da educação superior no Brasil, o que nos
desafia enquanto sujeitos coletivos e individuais, considerando-se: o
mercado dos diplomas, cursos aligeirados, condições precárias de
trabalho para os/as docentes, ausência de bibliotecas, material didático
insuficiente e superficial, falsificação de documentos que comprovam
a integralização do curso, estágios realizados sem supervisão direta,
desrespeito à Lei que regulamenta a profissão e às normativas que
disciplinam o exercício profissional (CFSS, 2011).
O debate continuou nos conselhos, que organizaram grupos de
trabalho e estudo sobre a questão. A portaria do MEC 1.134 de 2016
aproximou ainda mais as modalidades, permitindo que os cursos
presenciais tivessem até 20% da carga horária à distância (BRASIL, 2016).
o decreto 9.057, de 25 de maio de 2017, deu nova redação às
regulamentações do art. 80 da LDB. No decreto não distinção entre os
cursos de graduação da área de saúde como nos anteriores. A resposta da
Câmara de Regulação do Trabalho em Saúde (CRTS) foi uma nota
pública de repúdio à EaD assinada por diversos conselhos federais da área
da saúde e também pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA).
230
É imprescindível que a formação de profissionais da área da saúde
aconteça na modalidade presencial, pois a complexidade das ações
junto a cursos de qualidade duvidosa pode levar a prejuízos,
singularidade que inviabiliza a oferta de cursos de graduação na
modalidade de Educação à Distância (EaD), pois desconsidera que em
todo decorrer do curso a educação na saúde requer interação constante
entre os trabalhadores da área, estudantes e usuários dos serviços de
saúde, para assegurar a integralidade da atenção, à qualidade e a
humanização do atendimento prestado aos indivíduos, famílias e
comunidades (BRASIL, 2018).
Alguns conselhos buscaram medidas judiciais e legislativas, como
o Conselho Federal de Odontologia, que estabeleceu em uma resolução
que disciplinas deveriam ser ministradas apenas na modalidade presencial
(CFO, 2017). Apesar destas recusas das entidades, o número de cursos
oferecidos cresceu anualmente. Para intensificar o debate, surgiram
propagandas de cursos “híbridos”, “flex”, “semipresenciais” e outros
termos não regulamentados pelo MEC.
Em 2020, um novo termo tomou conta da agenda pública em
todos os níveis, o “Ensino remoto emergencial”, em virtude da pandemia
do Covid-19, que demandou quarentena obrigatória. Dessa forma, todas
as atividades tiveram que ser realizadas de forma remota.
Em um primeiro momento, durante a pandemia, houve uma
grande confusão no cenário educacional entre Ensino Remoto
Emergencial e a EaD (Quadro 01), uma vez que a legislação que define
essa modalidade (EaD) é relativamente abrangente.
231
Quadro 01 - Diferenças entre Ensino Remoto Emergencial e EaD.
Ensino a DistânciaEaD
Ensino Remoto Emergencial-ERE
Conceito
Modalidade educacional na qual
a mediação didático-pedagógica
nos processos de ensino e
aprendizagem ocorre com a
utilização de meios e tecnologias
de informação e comunicação,
com estudantes e professores
desenvolvendo atividades
educativas em lugares ou tempos
diversos.
Mudança temporária de
modalidade de ensino onde as
instruções para os alunos ocorre de
forma remota (on-line, impressa,
etc) de modo alternativo devido a
circunstâncias de crise sanitária ou
outras.
Legislação
Decreto 5662/2005
“Art. Para os fins deste
Decreto, caracteriza-se a Educação
a Distância modalidade
educacional na qual a mediação
didático-pedagógica nos processos
de ensino e aprendizagem ocorre
com a utilização de meios e
tecnologias de informação e
comunicação, com estudantes e
professores desenvolvendo
atividades educativas em lugares
ou tempos diversos.” (BRASIL,
2005)
Portaria 343/2020MEC
“Art. Autorizar, em caráter
excepcional, a substituição das
disciplinas presenciais, em
andamento, por aulas que
utilizem meios e tecnologias de
informação e comunicação, nos
limites estabelecidos pela legislação
em vigor, por instituição de
educação superior integrante do
sistema federal de ensino, de que
trata o art. do Decreto
9.235, de 15 de dezembro de
2017.” (BRASIL, 2020b)
Pré-
Requisitos
Projeto Pedagógico de curso
específico aprovado pelo CNE;
Pólos devidamente equipados e
verificados pelo MEC;
Deve ser obrigatório o estágio, a
defesa de trabalhos, práticas em
laboratórios presenciais (BRASIL,
2005).
Uso de tecnologias de informação
e comunicação no período em que
vigorar as circunstâncias de crise
sanitárias ou outras.
232
Mediação
Modalidade com metodologia
específica.
As aulas do curso são
previamente preparadas (Tv,
rádio, livros, internet) e
transmitidas aos alunos de
diversas localidades, que possuem
o curso aprovado pelo MEC.
Apresenta docentes tutores com
aulas presenciais para tirar dúvidas
e realizar orientações.
Cada docente tem autonomia para
trabalhar com diferentes tipos de
recursos (vídeos, textos,
ilustrações, avaliações, exercícios,
slides, plataformas etc.).
E oportunizar diferentes formas de
interação (fóruns, chat, jogos, e-
mail, aulas em tempo real) com os
alunos tanto na forma síncrona ou
assíncrona.
Cada docente prepara a aula para
aquele determinado momento do
ERE.
Atividades que podem ser
desenvolvidas em qualquer
momento ou lugar com acesso à
internet.
Em geral com ambientes virtuais
institucionais.
O contato com os docentes não
limita-se a tutoria, sendo realizado
por diversos meios (e-mails,
whatsapp, meet, etc) em diversos
momentos.
Duração
Período do curso aprovado pelo
MEC em EaD.
Em caráter emergencial, crises
sanitárias ou outras.
Fonte: Elaboração dos autores a partir das referências do CFP (2020), Paiva (2020) e dos
documentos oficiais (BRASIL, 2020c; BRASIL, 2005).
Assim, estabeleceu-se uma distinção entre as duas práticas, como
apresentada pelo Conselho Federal de Psicologia em suas recomendações
aos estagiários em que EaD “[...] pressupõe um projeto pedagógico e curso
específico aprovado pelo CNE”, enquanto o ensino remoto “[...] trata da
intensificação do uso de tecnologias de informação e comunicação no
233
período em que vigorar a necessidade de isolamento social” (CFP, 2020,
p. 10).
Desafios na implementação da proposta de ensino remoto emergencial
pelos docentes do superior.
Em um cenário de incertezas, e com o crescente aumento de
números de casos de infecções pelo vírus no Brasil, a educação brasileira
em março de 2020 passou a trabalhar de forma remota, para evitar a
disseminação do vírus.
A medida foi regulamentada pela Portaria 343, em 17 de março
de 2020, do Ministério da Educação MEC (BRASIL, 2020b), que dispõe
sobre a “[...]substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais
enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - COVID-
19”. Em seu Art. 1º, substitui em caráter excepcional as aulas presenciais
pelo ensino remoto emergencial, mantendo os limites estabelecidos pela
legislação brasileira em vigor, e estabelece exceções para os cursos de
Medicina, os estágios profissionais e as práticas de laboratório dos demais
cursos.
Conforme a portaria apresentou, a validade de 30 dias
prorrogáveis, e, em 15 de abril de 2020, lança-se a Portaria MEC 345,
de 19 de março de 2020 (BRASIL, 2020c), que altera a Portaria 324.
Esta autorizou que as IES substituíssem novamente as aulas presenciais por
atividades em meios digitais. Como impacto repentino da implementação
do ensino remoto nas escolas e IES, afloraram as inseguranças e desafios
por muitas vezes despercebidos durante o processo educativo.
234
De forma aligeirada, toda a educação brasileira reestruturou-se para
um novo formato de ensino inédito, as aulas remotas. As Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs), que são temas conhecidos da
legislação educacional brasileira, apresentam-se como ponto crucial para
assegurar a manutenção do ano letivo de 2020, e poucos trabalhos
acadêmicos estudam a temática até o momento, quanto ao ensino remoto.
As aulas remotas acontecem ao vivo, através das lives, respeitando dias,
horários e possui os mesmos professores presenciais. Estas aulas foram
regulamentadas pelo Ministério da Educação (MEC) em caráter
emergencial, durante o Covid-19 e seguem o cronograma previsto no
semestre do presencial. Na aula remota o material didático é elaborado
pelo professor da disciplina (PONTES; PONTES, 2020, p. 4).
Desta forma, ao passo que os recursos digitais foram incorporados
como as principais técnicas de ensino, surgiram desafios dessa migração
para o ensino remoto, e esses foram apontados pelos docentes em estudos
dos autores (FERREIRA, 2020; SILUS; LEAL; NETO DE JESUS, 2020;
GONÇALVES; PEREIRA; FERREIRA, 2021; VICTÓRIA et al., 2020;
CAMACHO et al. 2020), que se relacionam com:
- A migração imediata para plataformas digitais, sem o devido
treinamento ou capacitação no trabalho com o ensino remoto;
- A dificuldade no uso de recursos tecnológicos;
- A resistência docente ao ensino síncrono e assíncrono;
- A dificuldade de acesso à internet, e internet de baixa qualidade em
muitas localidades;
235
- Falta de recursos adequados ao trabalho, tanto por docentes, como
pelos estudantes;
- Ao impacto sócio emocional do trabalho em home office
26
;
- A limitação da comunicação entre os docentes e estudantes.
Os usos de recursos tecnológicos pelos docentes na educação é um
tema recorrente em trabalhos acadêmicos encontrados nas plataformas de
busca. A integração do ensino das novas tecnologias por meio das TICs no
período da pandemia do Covid-19, exigiu dos docentes uma
transformação da prática pedagógica para o uso do novo ambiente de
trabalho virtual não convencional (PONTES; PONTES, 2020. p. 7).
Essa migração imediata para plataformas digitais, devido à
necessidade do distanciamento social durante o COVID-19, trouxe
diversos desafios, principalmente devido à falta de treinamento e
capacitação no trabalho para o ensino remoto (GONÇALVES; PEREIRA;
FERREIRA, 2021).
Muitos docentes apresentavam dificuldade com uso ou acesso a
recursos tecnológicos, o que pode ser atribuído ao processo de formação
do docente (FERREIRA, 2020; CAMACHO, et al. 2020).
Silus; Leal e Neto de Jesus (2020) destacam que a escassez de
formação continuada é uma realidade presente em muitas IES. E as TICs
na formação docente são um desafio ainda maior na educação superior, e
esta se sobrepôs quando houve a necessidade imediata da utilização dos
recursos digitais e tecnológicos para o ensino remoto durante a pandemia
(PONTES; PONTES, 2020).
26
Home Office: Trabalho em domicílio também identificado com o termo small office, trata-se do
trabalho realizado na casa do trabalhador (ROCHA; AMADOR, 2018).
236
Em reflexão, a mediação da tecnologia no ensino superior,
independente da modalidade de ensino, passa por uma formação docente
contínua, dentro das IES. Possibilitando, assim, que os docentes possuam
a formação necessária para eventualidades, seja a utilização das TICs no
cotidiano das aulas ou para desenvolver um plano de contingência sanitária
nacional (PONTES; PONTES, 2020).
Com a inserção das aulas teóricas no formato não presencial no
ensino superior sobre as diretrizes do MEC no período de pandemia do
Covid-19, as instituições, mesmo as que possuíam ofertas de cursos em
EaD, encontraram desafios na implementação imediata. (PONTES;
PONTES, 2020). Um grande percentual dos docentes não estava
preparado para atuar em aulas remotas, o que ocasionou sobrecarga de
trabalho e aumento no tempo de preparação das aulas em relação às aulas
presenciais (FERREIRA, 2020).
Este processo de preparação, produção de conteúdo e edição
passou a ser cotidiano para os docentes. E mesmo os docentes que possuem
domínio das ferramentas digitais, tinham muitos processos a serem
realizados, antes de postar uma aula nas plataformas digitais ou mesmo
realizar uma “LIVE”.
Os docentes atuaram no ensino remoto com as aulas em tempos
síncronos, presentes ao mesmo tempo que os discentes. Realizaram lives”,
aulas online, aulas práticas demonstrativas e outras. Desta forma, o ensino
remoto apresentou uma nova perspectiva de repensar a transmissão dos
discursos típicos do Ensino Superior. As “lives” e as aulas on-line foram um
ponto importante de aproximação dos docentes de forma ágil das aulas do
dia a dia, diferente de longos discursos acadêmicos (PONTES; PONTES,
2020).
237
E de forma assíncrona, com interação indireta, com a postagem de
aulas expositivas gravadas, de atividades e outros, em portais ou ambientes
virtuais (MOREIRA; HENRIQUES; BARROS 2020).
A implementação do ensino remoto emergencial durante o
distanciamento social do Covid-19 foi uma medida essencial para o
controle sanitário do vírus. O que é preciso questionar é o impacto no
aprendizado dos sujeitos e se a implementação apresentou o suporte
necessário para que se desenvolvessem os processos de ensino e
aprendizagem.
Esse novo cotidiano, com um aumento na sobrecarga de trabalho,
aliado com a mudança de ambiente, com o trabalho em home office, onde
os horários e a rotina se misturam, o estresse e questões emocionais levaram
muitos docentes à exaustão.
O Brasil possui dados alarmantes quanto às doenças ocupacionais
em profissionais da educação, ocupando o segundo lugar na categoria.
Segundo Santos, Silva e Belmont (2021), não se organiza uma nova
realidade escolar de forma brusca e de improviso, como ocorreu com a
migração emergencial para o ensino remoto. Seria necessário abranger e
reorganizar de forma institucional e governamental, para que envolva todo
um processo de planejamento e capacitações.
Imperou-se aos docentes uma virtualização do ensino, que deveria
ser protagonizada por estes, independentemente dos desafios, incertezas,
inseguranças, depressão e sobrecarga de trabalho, causadas por essa nova
realidade sanitária (SANTOS; SILVA; BELMONTE, 2021). A categoria,
perante as exigências educacionais impostas, desenvolveu e ressignificou as
práticas docentes com criatividade, compromisso e responsabilidade.
238
O impacto deste novo sistema emergencial de ensino evidenciou-
se com a precarização das atividades docentes, com o aumento da carga
horária on-line involuntária, e sem nenhuma contrapartida das IES, o que
leva a um impacto não somente financeiro, mas motivacional, emocional,
e que pode refletir-se nas dificuldades dos docentes com o ensino remoto
emergencial, uma vez que é necessário equilíbrio físico, mental e
econômico (SANTOS; SILVA; BELMONTE, 2021).
Um ponto a ser analisado é que mesmo com a possibilidade de
abranger vários discentes, em locais diferentes, as aulas remotas necessitam
de uma estrutura básica e nem todos os sujeitos envolvidos no processo
possuíam os equipamentos ou acesso a recursos necessários fundamentais
para a participação (FIOR; MARTINS, 2020, p. 15).
Vivemos em um país onde uma grande desigualdade de espaços
físicos, de papéis sociais, de condições econômicas, que podem não suprir
as necessidades básicas, culminando na decisão de abandono do curso
(FIOR; MARTINS, 2020. p. 15).
Os docentes, de forma geral, criaram alternativas criativas para a
manutenção do vínculo com os acadêmicos, pensando nas diversas
singularidades do processo de ensino e na efetivação do trabalho docente
em uma nova realidade diversa, na qual nem todos os discentes teriam as
mesmas condições em seus ambientes para desenvolverem a aprendizagem
(LUDOVICO et al. 2020).
Além das adaptações metodológicas à nova realidade do ensino
remoto emergencial, houve a implementação imediata das plataformas de
ensino on-line e o formato de trabalho em home office, que foram citados
em vários trabalhos como fatores importantes que desmotivaram os
docentes. Fatores como dificuldade de acesso à internet de qualidade,
239
horários deslocados ou inconstantes, falta de recursos adequados
(computadores, tablets etc.), atingiram tanto os acadêmicos como docentes
(LUDOVICO et al. 2020; GONÇALVES; PEREIRA; FERREIRA, 2021;
VICTÓRIA et al., 2020).
Outro ponto importante é a discussão da carga horária de aulas
práticas dos cursos superiores. Esta, em um primeiro momento, não
poderia ser ministrada em formato remoto, passando em caráter
excepcional a ser aplicada neste formato (VICTÓRIA et al., 2020).
A Portaria 544, de 16 de junho de 2020 (Quadro 01) (BRASIL,
2020e), abre o precedente para que as aulas práticas e estágios profissionais
possam ser realizados no novo formato. Como requisitos para tal, exige
que sejam elaborados planos de trabalho específicos pelos docentes,
aprovados pelos colegiados de cursos e adensado ao projeto pedagógico do
curso.
Esses elementos são mantidos na Portaria 1.030, de de
dezembro de 2020 (BRASIL, 2020f), e ampliam a carga de trabalho
docente do professor do ensino superior, que passa a ter um número ainda
maior de processos a realizar para executar um p-requisito de uma
disciplina da Educação Superior.
240
Quadro 02 - Inclusão das aulas práticas no formato remoto nos cursos por dispositivos
legais.
Portarias Dispõe Aulas práticas e estágios
Portaria
MEC 343,
de 17 de
março de
2020
Dispõe sobre a substituição das aulas
presenciais por aulas em meios
digitais enquanto durar a situação de
pandemia do Novo Coronavírus -
COVID-19.
Proíbe a substituição ou
aplicação de aulas práticas e
estágios no formato remoto.
Portaria
MEC 345,
de 19 de
março de
2020
Altera a Portaria MEC 343, de 17
de março de 2020.
Mantém-se vedada a
aplicação das práticas
profissionais de estágios e
de laboratório.
Portaria
MEC 473,
de 12 de
maio de
2020.
Prorroga o prazo previsto no § do
art. da Portaria 343, de 17 de
março de 2020.
Mantém-se vedada a
aplicação das práticas
profissionais de estágios e
de laboratório.
Portaria
MEC 544,
de 16 de
junho de
2020. Revoga
as portarias
anteriores
Dispõe sobre a substituição das aulas
presenciais por aulas em meios
digitais, enquanto durar a situação de
pandemia do novo coronavírus -
Covid-19, e revoga as Portarias MEC
343, de 17 de março de 2020,
345, de 19 de março de 2020, e
473, de 12 de maio de 2020.
Permite a possibilidade
desde que:
Elaboração de plano de
trabalho específico;
Aprovação em colegiado;
Adensamento no PPC.
Exceção curso de Medicina.
241
Portaria
MEC
1.030, de
de dezembro
de 2020
Dispõe sobre o retorno às aulas
presenciais e sobre caráter excepcional
de utilização de recursos educacionais
digitais para integralização da carga
horária das atividades pedagógicas
enquanto durar a situação de
pandemia do novo coronavírus -
Covid-19.
Mantém as especificações
da portaria anterior quanto
a práticas e estágios.
Elaboração de plano de
trabalho específico;
Aprovação em colegiado;
Adensamento no PPC.
Exceção curso de Medicina.
Portaria
MEC
1.038, de 7
de dezembro
de 2020
Altera a Portaria MEC 544, de 16
de junho de 2020, que dispõe sobre a
substituição das aulas presenciais por
aulas em meio digitais, enquanto
durar a situação de pandemia do
novo coronavírus - Covid-19, e a
Portaria MEC 1.030, de de
dezembro de 2020, que dispõe sobre
o retorno às aulas presenciais e sobre
caráter excepcional de utilização de
recursos educacionais digitais para
integralização da carga horária das
atividades pedagógicas, enquanto
durar a situação de pandemia do
novo coronavírus - Covid-19.
Revoga o § Sobre o
curso de medicina e
outra providências
242
Portaria
MEC
1.096, de 30
de dezembro
de 2020
Dispõe sobre o retorno às aulas
presenciais, sobre a antecipação de
conclusão de cursos e sobre caráter
excepcional de utilização de recursos
educacionais digitais para
integralização da carga horária das
atividades pedagógicas dos cursos da
educação profissional técnica de nível
médio, das instituições do sistema
federal de ensino, enquanto durar a
situação de pandemia do Novo
Coronavírus - Covid-19.
As práticas profissionais de
estágios permanecem que
exijam laboratórios
especializados, quando
previstas nos respectivos
planos de curso, é aplicável
a excepcionalidade de que
trata o art. desde que:
Aprovada pela instância
competente da instituição
de ensino;
A replicação do ambiente
de atividade prática e/ou de
trabalho;
Propicie o desenvolvimento
de habilidades e
competências esperadas no
perfil profissional do
técnico;
E seja passível de avaliação
do desempenho do
estudante.
Fonte: Elaboração dos autores a partir de documentos oficiais.
As práticas dentro de um curso são um elemento importante na
formação discente. Algumas práticas são insubstituíveis. Podemos citar em
especial as áreas da saúde, engenharia e humanas (MARINATO, 2021).
Ainda são poucas as referências em trabalhos acadêmicos sobre as
atividades práticas e estágios profissionais realizados durante o ensino
remoto emergencial. Estas somente foram autorizadas a partir da portaria
do MEC 544, de 16 de junho de 2020 e algumas práticas foram
adaptadas para o formato de aulas remotas.
243
Victória et al. (2020) observou, durante a aplicação de atividades
práticas em ambiente remoto, que a possibilidade de uma parte das
atividades práticas serem adaptadas para esse formato, por meio de
laboratórios simulados ou mesmo on-line, mas pondera que existem
disciplinas que necessitam de uma interação presencial do discente e que
as atividades online dificultam os debates e trocas de opiniões e atividades
mais complexas, além de que os meios digitais não substituem o papel do
docente como mediador/tutor.
Marinato (2021) destaca que as aulas práticas passaram pelo
mesmo processo de imediatismo que as aulas presenciais, sem um período
de adaptação ou capacitação para docentes ou discentes. Se estabeleceu um
novo formato, ainda não conhecido pelos docentes, aulas práticas online
ou simuladas. Assim, as aulas passaram a ser transmitidas por
videochamada para discentes ou realizadas em simuladores virtuais.
O que esbarra novamente na falta de estrutura, pois a atividade
requer equipamentos para o desenvolvimento, e que não estariam
disponíveis em Home Office (câmera, computador, microfone e uma boa
rede de internet), e que nem todos os docentes teriam a habilidade técnica
para manusear (MARINATO, 2021).
Desta forma, é importante reconhecer que existem múltiplas
conjunturas que foram apresentadas no ensino remoto emergencial,
durante o período de pandemia no Covid-19. Desenvolver medidas
mitigadoras específicas para amenizar o desgaste proporcionado pela nova
rotina do trabalho docente, em um momento que exige respostas ágeis e
inéditas. Parte deste impacto do período poderia ter sido amenizado com
a implementação de políticas públicas que adotem estratégias voltadas para
o apoio e a valorização docente, com a promoção de capacitação e de bem-
estar profissional (FERREIRA, 2020).
244
Considerações Finais
Este capítulo teve como objetivo apresentar os dados oficiais sobre
a trajetória da EaD nos cursos de graduação e resgatar o conceito de EaD
e Ensino Remoto Emergencial, para assim poder determinar os desafios na
implementação da proposta do ensino remoto emergencial pelos docentes
do Ensino Superior.
As aulas remotas, a partir do uso das tecnologias digitais e
plataformas virtuais em substituição às aulas presenciais foram se
constituindo como caminhos para enfrentamento e continuidade do
ensino em tempos de pandemia.
Com base nos documentos analisados e nos materiais encontrados,
foi possível reconhecer que existem múltiplas conjunturas que foram
apresentadas no ensino remoto emergencial, durante o período de
pandemia no Covid-19. Desenvolver medidas mitigadoras específicas para
amenizar o desgaste proporcionado pela nova rotina do trabalho docente,
em um momento que exige respostas ágeis e inéditas foi um elemento
necessário (sugestão). Parte deste impacto do período poderia ter sido
amenizado, com a implementação de políticas públicas que adotem
estratégias voltadas para o apoio e a valorização docente, com a promoção
de capacitação e de bem-estar profissional (FERREIRA, 2020).
Com relação à EaD, foi possível demonstrar que o que ocorreu no
período emergencial de isolamento social, apesar do distanciamento, não
se caracteriza como modalidade EaD, uma vez que esta vem sendo
empregada no Brasil desde sua implantação seguindo um projeto
pedagógico próprio. Ou seja, não basta que as aulas sejam transmitidas por
245
meios digitais, é preciso planejamento e organização de formas e conteúdos
específicos para que um curso seja aprovado na modalidade EaD.
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de 2016. Revoga a Portaria MEC 4.059, de 10 de dezembro de 2004,
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246
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estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 5.773, de 9 de
maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação,
supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos
superiores de graduação e seqüenciais no sistema federal de ensino.
Brasília, DF, 2007.
BRASIL. Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases
para o ensino de 1° e 2º graus, e outras providências. Brasília, DF,
1971.
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diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996.
BRASIL, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira. Censo da Educação Superior - 2019. Brasília, DF, 2020a.
BRASIL. Ministério da Educação. Gabinete do Ministro. Portaria
343, de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas
presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de
pandemia do Novo Coronavírus - COVID-19. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, ed. 53, 18 mar. 2020. Seção 01, p. 39. 2020b.
BRASIL. Ministério da Educação. Gabinete do Ministro. Portaria MEC
345, de 19 de março de 2020. Altera a Portaria MEC 343, de 17
de março de 2020. 2020c.
247
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria MEC 473, de 12 de maio
de 2020. Prorroga o prazo previsto no § do art. da Portaria 343,
de 17 de março de 2020. 2020d.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria MEC 544, de 16 de junho
de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em
meios digitais, enquanto durar a situação de pandemia do novo
coronavírus - Covid-19, e revoga as Portarias MEC 343, de 17 de
março de 2020, 345, de 19 de março de 2020, e 473, de 12 de
maio de 2020. 2020e.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria MEC 1.030, dede
dezembro de 2020. Dispõe sobre o retorno às aulas presenciais e sobre
caráter excepcional de utilização de recursos educacionais digitais para
integralização da carga horária das atividades pedagógicas enquanto durar
a situação de pandemia do novo coronavírus - Covid-19. 2020f.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria MEC 1.038, de 7 de
dezembro de 2020. Altera a Portaria MEC 544, de 16 de junho de
2020, que dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em
meio digitais, enquanto durar a situação de pandemia do novo
coronavírus - Covid-19, e a Portaria MEC 1.030, dede dezembro
de 2020, que dispõe sobre o retorno às aulas presenciais e sobre caráter
excepcional de utilização de recursos educacionais digitais para
integralização da carga horária das atividades pedagógicas, enquanto
durar a situação de pandemia do novo coronavírus - Covid-19. 2020g.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria MEC 1.096, de 30 de
dezembro de 2020. Dispõe sobre o retorno às aulas presenciais, sobre a
248
antecipação de conclusão de cursos e sobre caráter excepcional de
utilização de recursos educacionais digitais para integralização da carga
horária das atividades pedagógicas dos cursos da educação profissional
técnica de vel médio, das instituições do sistema federal de ensino,
enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - Covid-
19. 2020h.
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254
255
Capítulo 9
As dores e delícias da docência em um tempo desafiador:
pandemia, ensino remoto e algumas disciplinas da Graduação
em Pedagogia da FFC-Unesp, Campus de Marília
Ana Paula Cordeiro
Luciana Aparecida de Araujo
Introdução
Vamos iniciar este capítulo de forma um tanto inusitada. Porque
os acontecimentos que nos trouxeram a escrevê-lo não merecem mesmices.
Inicialmente ele se parecerá com uma daquelas histórias de ficção científica
que líamos no fim do culo XX. Mas... É vida real. Iniciemos!
No ano de 2020 uma pandemia assolou o planeta Terra,
espalhando-se por todos os continentes. Um novo vírus, perigoso e letal
mudaria os rumos de cerca de sete bilhões de pessoas, em todos os lugares
do planeta: SARS- Cov2, o Corovírus, que desde 2019 trazia enorme
preocupação por seu potencial de se tornar uma pandemia. Pouco
sabíamos sobre a COVID 19 até então, a não ser que os sintomas da
doença infecciosa poderiam atingir de forma variada as pessoas, desde
sintomas leves, parecidos com os de uma gripe comum, até sintomas muito
graves, como falência respiratória. Constava que os mais atingidos seriam
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-308-3.p255-280
256
idosos e pessoas de certos grupos considerados “de risco”, como diabéticos,
asmáticos, obesos e cardíacos. A transmissão, devido à globalização, foi
muito rápida e se espalhou, chegando ao Brasil. Isso levou à necessidade
de isolamento social e interrupção de diversas atividades presenciais,
atingindo as aulas e atividades escolares, desde a Educação Infantil até o
Ensino Superior.
No dia 13 de março de 2020 tivemos nosso último dia de aulas
presenciais junto à Universidade Estadual Paulista, na Faculdade de
Filosofia e Ciências, Campus de Marília-SP. A partir do dia 17 daquele
ano, interrompemos nossas atividades presenciais. De março a agosto de
2020 tivemos um período de grandes incertezas, medos, anseios, reuniões,
reorganização do pensamento, novas aprendizagens e novas ferramentas
virtuais para o desenvolvimento e realização das atividades de ensino
durante o enfrentamento da pandemia.
A partir dessas considerações iniciais, este capítulo tem por objetivo
apresentar um relato sobre os desafios enfrentados por duas docentes do
Curso de Pedagogia da FFC-Unesp, Campus de Marília, em tempos de
pandemia e ensino remoto. Dúvidas, organização de disciplinas para um
novo formato, limites e possibilidades de aprendizagem e socialização em
tempo histórico de pandemia da Sars-Cov2 são algumas das questões aqui
apresentadas.
1- Ensino e aprendizagem durante a pandemia: primeiros desafios
Muitas questões de março a agosto de 2020 se impuseram no
ensino superior público de uma das maiores universidades do Estado de
São Paulo: como seriam as aulas remotas? Teriam todos os alunos
257
condições e recursos para acompan-las? Como organizaríamos as
atividades síncronas e assíncronas? E como ficariam as disciplinas cujas
especificidades envolvem atividades práticas? Teriam todos os professores
condições e conhecimentos necessários para dominar as ferramentas e
novas formas de organização do trabalho?
Com muitas dúvidas, expectativas e também força de vontade e
esperanças, demos continuidade ao primeiro semestre de 2020 no mês de
agosto. Nossas disciplinas, todas no curso de Pedagogia: “Jogos e atividades
Lúdicas” (primeiro semestre), “Didática” (primeiro semestre),
“Metodologia do Trabalho Pedagógico: arte e movimento” (segundo
semestre- Aprofundamento em Educação Infantil), “Trabalho de
Conclusão de Curso” (primeiro semestre) e Pesquisa Pedagógica (segundo
semestre) passaram a ocorrer de forma on-line, síncrona (aulas) e
assíncrona (atividades complementares).
Enfim, com o trabalho que se reiniciou do ponto de vista das aulas
na graduação, pudemos observar e sentir todo o processo das aulas remotas.
Bancas, orientações, s-graduação não pararam, mas as aulas na
graduação estavam interrompidas desde o mês de março, como dissemos.
Segundo o Conselho de Curso de Pedagogia e nosso Projeto Político
Pedagógico, junto de decisões após consultas e discussões junto à
comunidade acadêmica, ficou determinado que teríamos aulas síncronas
via a ferramenta Google Meet e atividades assíncronas, devidamente
explicadas e registradas na ferramenta Classroom. Nossas disciplinas
costumam ter 75 horas aula em 16 encontros. Ficou determinado que no
Ensino Remoto, para que tudo pudesse correr bem e não exaurir docentes
e alunos, um tempo razoável para cada encontro seria no mínimo e em
torno de 120 minutos.
258
Como dividir e organizar as atividades síncronas e assíncronas foi
o primeiro grande desafio, principalmente em se tratando de disciplinas
como “Jogos e Atividades Lúdicas” e “Metodologia e prática do trabalho
pedagógico: arte e movimento”. Estas disciplinas possuem muitos
momentos de atividades práticas. As ementas e objetivos de tais disciplinas
organizam-nas de forma a que elas levem alunas e alunos do Curso de
Pedagogia a, para além dos estudos e leituras teóricas, vivenciarem
momentos de jogos e do fazer artístico dentro das linguagens do campo da
Arte: artes visuais, teatro, música e dança/movimento.
Estas disciplinas, em momentos presenciais, antes da pandemia,
eram ministradas, do ponto de vista prático, não apenas na sala de aula,
mas em diversos espaços da Faculdade, tais como quadra de esportes,
gramado, brinquedoteca móvel (Projeto Ludibus), anfiteatros e auditórios
e espaços diversos da Faculdade em saídas fotográficas, entre outros
momentos.
Também na disciplina de Metodologia e prática do trabalho
pedagógico: Arte e movimento realizamos no ano de 2019, para além das
aulas teóricas, Oficinas de Artes com convidados de diversos campos para
falarem sobre seus trabalhos e oferecerem vivências e atividades
relacionadas às Linguagens artísticas. Nos questionávamos em relação a
como todo este trabalho teórico-prático poderia ser realizado via a
plataforma digital Google Meet. Como atividades de jogos tradicionais, de
quadra, que demandam espaço e interação seriam realizadas? Como as
atividades artísticas, tais como saídas fotográficas, jogos dramáticos e
teatrais, atividades de dança e movimento seriam realizadas via Google
Meet? Foram necessários novos planos, reordenamento das ideias e
reorganização das atividades para que o primeiro semestre de 2020 pudesse
ser retomado.
259
2- A retomada
O reinício do semestre se deu com alguns problemas próprios da
conjuntura do momento histórico: dificuldades de docentes com as novas
ferramentas, necessidade de tempo, local e ajustes para a realização das
atividades nos respectivos lares, dificuldades em relação a questões
materiais, velocidade de internet, necessidade de aproximação maior com
nossos alunos e alunas e ajustes na comunicação; dificuldades dos alunos
em relação a compartilhamentos de computadores e internet em casa, pois
com a pandemia muitas famílias permaneceram em estudo e trabalho
remoto, o que tornava a internet lenta, em muitos casos.
Foram criadas salas virtuais via Google Meet, salas de atividades
(Classroom), ferramentas do Google utilizadas para o desenvolvimento das
aulas. Fora isso, para a comunicação com os alunos ainda tivemos à
disposição o e-mail institucional do SISGRAD- Sistema de Graduação,
bem como formamos grupos de whatssap para cada turma. Todos/as e os
alunos/as tiveram acesso a nossos números de celulares para comunicação,
caso precisassem. Programas de ensino, cronogramas, textos e materiais
foram disponibilizados no Classroom. As aulas síncronas, via Google Meet
ocorreram todas as semanas e foram complementadas com as atividades
assíncronas. Esta foi uma das formas de compensar algumas das atividades
práticas que desenvolvíamos presencialmente em outros espaços da
Universidade para além da sala de aula, como exposto.
Exemplificando algumas das importantes mudanças nas disciplinas
teórico-práticas, em “Jogos e atividades lúdicas” buscamos desenvolver as
atividades práticas intercalando propostas assíncronas com atividades
síncronas. A parte teórica da disciplina foi muito tranquila. Percebemos
um grande empenho de alunas e alunos para se auxiliarem em novos
260
aprendizados e uso de ferramentas, bem como houve também muita
solidariedade entre docentes e discentes em relação às dificuldades
encontradas. As aulas síncronas tiveram uma duração equivalente às aulas
presenciais na Universidade, com mais pontualidade, inclusive, pois
muitos de nossos alunos são trabalhadores e muitas vezes o fato de terem
que se deslocar para a Universidade depois de um dia inteiro de trabalho
levava a atrasos. No período da manhã iniciamos as aulas às 8 horas. No
noturno às 19:30 h. Trabalhamos a teoria de forma bastante dinâmica, por
meio de aulas teóricas, rodas de conversa, debates, seminários e
apresentações de trabalhos. A participação dos alunos e alunas foi boa e
houve muita adesão.
Em relação ao campo teórico, apenas para exemplificar as
possibilidades do ensino remoto e o que foi desenvolvido, trabalhamos
com as questões do dico de forma interdisciplinar, com textos do campo
da História dos jogos (KISHIMOTO, 2001, 2002), da filosofia
(BENJAMIN, 1984), da Sociologia (CORSARO, 2011), da Psicologia
(VIGOTSKII, LURIA, LEONTIEV, 2001), entre outros. Os textos
foram lidos e discutidos ao longo das aulas síncronas. Em relação às
atividades, com base em Weiss (1993) desenvolvemos atividades
assíncronas de confecção de brinquedos com material reciclável. As turmas
tiveram tempo para a realização da atividade e a apresentaram
individualmente ou em duplas pelo Google Meet.
Em todas as aulas as/os alunos/as tiveram como incumbência
realizar um momento de atividades práticas relacionadas ao assunto do dia.
Grupos ficaram encarregados de realizá-las a cada semana. Por exemplo: se
o assunto se referia a “tipos de jogos”, como de construção, educativos ou
tradicionais, um grupo desenvolveria atividades e propostas ligadas a estes
tipos de jogos para a turma. Mais uma vez a adesão foi muito boa. Houve
261
propostas de jogos eletrônicos, jogos tradicionais adaptados para o trabalho
via internet, jogos teatrais, inclusive com uma atriz convidada que ofereceu
atividades síncronas que foram realizados por todos com as câmeras
abertas, apresentação de brinquedos, análise de brinquedos e suas
implicações sociais, culturais e ideológicas. Em uma das aulas houve a
discussão do brinquedo como objeto cultural, capaz de encerrar diversos
sentidos e significados.
Discutimos o quanto as questões e imposições de gênero estão
presentes até mesmo nos discursos sobre cores consideradas socialmente
adequadas a meninas e meninos. As meninas costumam receber presentes
relacionadas à casa e cuidados com o lar, como bonecas e utensílios
domésticos de brinquedo, em tons que variam do rosa ao lilás. meninos
recebem todos os tipos de brinquedos como foguetes, carrinhos, bolas,
games, armas de brinquedo, muitos deles voltados para uma certa
construção de masculinidade que a sociedade deseja.
Não raro, nas escolas, em projetos como o Ludibus, coordenado
por nós, vimos meninos virarem motivo de chacota de outros coleguinhas
porque queriam brincar com a casinha de bonecas. Vimos meninas serem
impedidas pelos meninos de brincarem de carrinho. Buscamos, com nosso
trabalho desconstruir estereótipos machistas de gênero, calcados no
binarismo e na ideia de que meninos tudo podem e meninas devem estar
apenas voltadas ao “lar”, ao mundo da vida privada. Discutimos também
questões étnico/raciais, aparência de bonecas que em nada se assemelham
às meninas brasileiras, a invisibilização de algumas etnias e seus traços nos
brinquedos disponíveis no mercado, entre outras questões. Também
tratamos da questão da indústria do brinquedo, como ela surgiu, em que
momento histórico e como ela age no imaginário de crianças e de pais,
com textos de Walter Benjamin (1984).
262
Num dos seminários de um grupo de trabalho, em uma das turmas
tivemos uma gratíssima surpresa! Os alunos do grupo, ao abrirem as
câmeras, estavam caracterizados como brinquedos: soldadinho de
chumbo, com um leve sotaque alemão fez a apresentação de Walter
Benjamin, que apareceu trajado para uma “entrevista”. Uma boneca
bailarina fez perguntas ao filósofo, relacionadas ao texto discutido.
Perguntas como: “Senhor Benjamin, poderia nos dizer como surgiu e
cresceu a indústria do brinquedo?”; “É verdade que o senhor considera os
brinquedos miniaturizados mais adequados e belos que os brinquedos com
características grandes, coloridas e realistas que temos hoje? – E Benjamin
ia respondendo às perguntas feitas pelos alunos e alunas vestidos/as de
“brinquedos”. Foi um trabalho maravilhoso e muitíssimo criativo, que se
utilizou da linguagem teatral, cênica, com cuidados e referências às artes
visuais para falar sobre um referencial teórico denso e aprofundado. E tudo
isso de forma totalmente adequada ao formato de aulas síncronas, on-line,
que estamos tendo. Não é pouco, se pensarmos que alunos e professores
tiveram pouquíssimo tempo para aprender a manusear ferramentas novas,
a repensar aulas e contextos, a reorganizar o ensino e aprendizagem.
Os alunos ficaram incumbidos de textos e atividades, mas eram
totalmente livres em relação à forma de apresentações. As únicas exigências
eram o domínio do assunto, o compartilhamento das atividades e o
fomento às discussões, respeitados nossos horários, para que não fosse
muito cansativo para todos. O resultado de todos os trabalhos foi muito
satisfatório. Em alguns casos, jogos tradicionais que realizávamos na
quadra da Universidade foram adaptados para o computador e foi muito
divertido jogá-los. Nestes momentos, podemos dizer com muita certeza
que os alunos nos ensinavam muito, pois entendiam muito mais das novas
263
tecnologias virtuais por terem nascido dentro da perspectiva do virtual
em suas vidas.
Outro fator muito interessante a destacar é a questão do quanto
vida privada e vida blica se misturaram. Em diversos momentos
conhecemos os gatinhos ou cãezinhos de estimação da moçada; mães, pais,
irmãos, avós e filhos por vezes deram um “olá” na janela virtual aberta;
casas, quartos, cantinhos de estudos mostraram um pouco mais da
personalidade e gostos de cada um e uma. Rimos muito com situações
inusitadas e a sensação de proximidade com alguns foi muito forte. Esta
questão da proximidade x distanciamento também merece ser destacada.
Em alguns casos, nós, como docentes, nos sentimos muito sós, vendo
apenas “janelas virtuais” fechadas e fotografias e letras de iniciais de alunos
em nossa frente. Em outros casos, nos sentíamos muito próximos, inclusive
em outros momentos acadêmicos, conversando com pessoas, em lives ou
como convidadas em aulas de s-graduação com pessoas que estavam do
outro lado do mundo, como em África. Todas estas experiências nos deram
um conhecimento que não tínhamos e novos aprendizados.
Figura 1 - Brinquedos feitos com material reciclável por alunos do curso de
Pedagogia da FFC-Unesp e doados ao Projeto Ludibus
Fonte: Arquivo pessoal, por Ana Paula Cordeiro.
264
Disciplinas como Didática e Trabalho de Conclusão de Curso
também foram ministradas no primeiro semestre, envolvendo reflexões
teóricas, rodas de conversa, constante contato e reflexões, bem como
orientações sobre pesquisas.
A disciplina “Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)”, teve como
objetivo favorecer a articulação entre teoria e prática por meio da pesquisa
científica. Nesse sentido, a disciplina deverá dar condições ao aluno de
analisar problemas relacionados ao campo educacional com base em
procedimentos teórico e metodológicos adequados à sua investigação.
Sendo assim, o aluno matriculado na disciplina de TCC deverá elaborar
individualmente o projeto de pesquisa científica, buscando delinear o
problema, hipótese, objetivos gerais e específicos, referencial teórico e
metodológico, critérios de análise dos dados obtidos, plano de trabalho e
cronograma. Ao final da pesquisa, esta deverá ser apresentada a uma banca
julgadora. O aluno poderá optar pela redação da monografia ou artigo
científico. Para os alunos que optarem pela escrita do artigo, este deverá
ser submetido a uma revista e apresentar comprovante de submissão no dia
da defesa. Durante a disciplina, os alunos realizaram:
Aprofundamento dos tópicos referentes ao processo e ao projeto
de pesquisa; escolha do tema, problema, hipótese, objetivos, referencial
teórico e metodológico e análise de dados;
Aulas sobre diferentes abordagens de pesquisa: pesquisa
bibliográfica, histórica, abordagens quantitativa e qualitativa e
diferentes instrumentos de coleta de dados, tais como: observações,
entrevistas, análise de documentos, entre outros;
Elaboração de monografia e artigo científico;
265
Orientações individuais e coletivas com a professora da disciplina
de TCC e com o respectivo orientador (a);
Oficina de Base de dados, com a bibliotecária da FFC;
Oficina de ABNT, também com a bibliotecária da FFC;
Participação com apresentação do projeto de pesquisa no
Seminário de TCC.
Cabe destacar, que durante toda a disciplina de TCC, as formas
escolhidas para o contato com os alunos foi o Classroom, e-mail
institucional e via WhatsApp.
As estratégias de ensino utilizadas para as atividades remotas foram
as aulas síncronas pelo Google Meet, no mesmo horário das aulas
presenciais e atividades assíncronas com acesso a gravações e conteúdos
dispostos no Google Classroom e e-mail institucional, vídeos com acesso
por plataformas como Youtube, slides, textos e instruções para realização
das atividades, com duração de 120 minutos.
Em relação ao Seminário de TCC, este tem se configurado como
um evento anual da disciplina, mas neste ano de 2021, foi organizado pelos
membros do Grupo de Estudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura
Científica (GEPPECC). Podem participar do Seminário de TCC, alunos
regularmente matriculados na disciplina “Trabalho de Conclusão de
Curso”, oferecida como disciplina optativa, para o ano de Pedagogia.
Os membros do GEPPECC, alunos vinculados ao Programa de Pós-
Graduação em Educação, participaram da organização e coordenação das
mesas temáticas. Essa parceria entre alunos de graduação e pós-graduação
é profícua para todos, uma vez que possibilita ao aluno de pós-graduação
avaliar e contribuir com os pesquisadores iniciantes, no que diz respeito às
suas temáticas e objetos de investigação.
266
O Seminário de TCC deste ano foi organizado em 6 salas
temáticas, reunindo em dia 5 trabalhos. Na mesa “Educação Especial
Psicologia”, as temáticas abordadas foram as seguintes:
1) “A análise do desenvolvimento de alunos do Fundamental II com
Transtorno do espectro do autismo em tempos de pandemia segundo a
visão docente”;
2) “Diretrizes legais para a educação Bilíngue de crianças surdas em fase
inicial de escolarização;
3) “Novas perspectivas na inserção de pessoas com deficiência auditiva no
ambiente escolar”;
4) “Relações entre o desenvolvimento empático e as incivilidades no ensino
fundamental”;
5) “Teatro e surdez: revisão sistemática sobre o panorama Brasil e Chile”;
6) “Importância de atividades próprias para o estádio sensório motor: Uma
pesquisa bibliográfica”.
Na sala de Educação Infantil (1) Educação Inclusiva, destacaram-
se as temáticas:
1) “Comunicação Emocional de Bebês: Reflexões a partir de uma Gestão
Participativa”;
2) “Cuidados de rotina em turmas de crianças menores de três anos:
situações potenciais de aprendizagem e desenvolvimento?”;
3) “Organização de práticas pedagógicas docentes na Educação Infantil-
Creche: uma análise da produção acadêmica (2006 -2021)”;
4) “Educação Inclusiva e políticas públicas: compreendendo o seu papel
frente aos alunos com necessidades educacionais especiais”.
267
A terceira sala, foi a Educação infantil, que trouxe os temas:
1) “A Literatura Africana e Afro-brasileira em creches como combate ao
racismo e a imagem inferiorizada sobre o negro no Brasil, abrindo caminho
para uma mudança no currículo educacional, buscando a valorização do
negro”.;
2) “A organização espacial como potencializador do desenvolvimento
infantil”;
3) “O Desenho infantil sob a ótica da sociologia da infância: registros e
culturas”;
4) “Práticas de leitura na pedagogia Freinet: o olhar de uma professora da
educação infantil”;
5) Cenários da Natureza: espaços potenciais para o desenvolvimento do
jogo protagonizado na Educação Infantil”.
Na mesa 4 destacaram-se os trabalhos no campo da Matemática:
1) “Análise de artigos, dissertações e teses sobre o tema de
proporcionalidade nos anos iniciais do ensino fundamental”;
2) “O Ensino de Matemática na Educação de Jovens e Adultos”;
3) “Os desafios enfrentados por professores dos anos iniciais no ensino de
Matemática sob a perspectiva de inclusão”.;
4) “Associação de alunos como instância de organização discente nas
escolas normais”.
Temáticas relacionadas a gestão escolar foram reunidas na mesa 5,
intitulada GestãoPolíticas Públicas – Democracia EscolarCiência”:
268
1) “Avaliação das condições estruturais das escolas públicas estaduais da
cidade de Marília como subsídios para a Reforma do Ensino Médio (lei
13.415/2017)”;
2) “Democracia escolar segundo Celestin Freinet nos tempos atuais”;
3) “Perfil dos estudos sobre Natureza da Ciência no Ensino Fundamental:
uma pesquisa Bibliográfica”;
4) “Perfil dos estudos sobre raciocínio científico na Educação Infantil a
partir da análise das bases de dados internacionais”;
5) “Políticas Públicas e avaliação da aprendizagem na EJA: estudo
exploratório em um município do interior paulista”.
Por fim, a mesa 6 intitulada: Alfabetização Formação de
ProfessoresProdução Acadêmica, que reuniu os seguintes projetos:
1) “A contribuição do arquivo pessoal da Professora Maria do Rosário
Longo Mortatti para produção acadêmica”;
2) “Alfabetização de crianças Letas em Varpa Estado de SP”;
3) Formação de Professores na perspectiva de Élie Bajard - Educação
Infantil”;
4) Formação de Professores- Perspectiva de Élie Bajard na Educação
Fundamental”;
5) Freinet e a alfabetização de crianças: um estudo sobre as pesquisas
desenvolvidas na área”.
Todas as apresentações foram realizadas pelo Google Meet. A
programação, contendo os trabalhos, com dia, horário e link das salas foi
disponibilizado na sala do Classroom e também por whastApp, no grupo
da sala de TCC.
269
Foi uma atividade muito enriquecedora para os alunos de
graduação, pois essa é a única atividade que favorece a apresentação dos
trabalhos para uma mesa avaliadora, antes da defesa dos trabalhos. Além
disso, esses alunos recebem contribuições dos pós-graduandos e docentes
sobre suas pesquisas, podendo acatá-las ou não. Cada participante recebe
também um certificado de apresentação de projetos no Seminário de TCC.
No segundo semestre trabalhamos com a disciplina de
“Metodologia e prática do trabalho pedagógico: arte e movimento”. Esta
disciplina é oferecida no segundo semestre do quarto ano do Curso de
Pedagogia, apenas para o Aprofundamento em Educação Infantil. Diversas
foram as discussões sobre o papel da Arte no curso de Pedagogia e sobre a
possibilidade de esta disciplina fazer parte do corpo do curso, dentro da
perspectiva das disciplinas de “Conteúdo, metodologia e práticas de
ensino”, oferecidas no terceiro ano do Curso de Pedagogia em relação a
diversas áreas do conhecimento, como Língua Portuguesa, Matemática,
Ciências, História e Geografia, Literatura Infantil, etc. Mas a disciplina
sempre permaneceu na Habilitação em Educação Infantil e depois no
Aprofundamento em Educação Infantil. Sendo assim, apenas alunos e
alunas que optarem pelo aprofundamento terão o direito de cursar a
disciplina.
Nas aulas presenciais trabalhamos com atividades teóricas e com a
prática de “oficinas artísticas” dentro das variadas linguagens da arte. O
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) traz, em
seu volume 3, intitulado “Conhecimento de Mundo”, três campos dentro
da Arte: Música, Artes visuais e Movimento/dança. Não referência, por
exemplo, ao Teatro. Lembramos que em documentos oficiais como os
Parâmetros Nacionais para o Ensino de Arte (1997), quatro linguagens
principais: Artes Visuais, Teatro, Música e Dança. A BNCC (2018) amplia
270
a discussão, como o campo “artes integradas”, para além destas, citadas.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil propõe
também que o trabalho seja desenvolvido de acordo com a tríade “criação,
apreciação e reflexão”, abordagem conhecida como “triangular”, adaptada
no Brasil pela arte-educadora Ana Mae Barbosa (1978) um dos nomes
mais conhecidos e respeitados no campo da Arte no Brasil.
Desta forma cabe ao professor de Arte estimular os processos de
criação e experimentação artística de seus alunos nos diversos campos da
Arte, levá-los a conhecerem artistas, autores, teóricos e analisarem suas
obras. D o termo “apreciação”, que Barbosa não considera o mais
adequado, porque parte do pressuposto de que teríamos que “gostar” ou
necessariamente “apreciar” uma obra apenas por ela estar num museu,
galeria ou porque algum crítico de arte disse ser boa. O objetivo é observar,
conhecer, justamente para que se possa “refletir” sobre a obra.
A partir da tríade “criação, apreciação/observação e reflexão”
desenvolvemos nosso trabalho junto à disciplina e às turmas, tanto do
diurno quanto do noturno. Uma coisa muito importante de destacar foi a
importância que teve a Arte e as manifestações artísticas em tempos de
pandemia. Lives, músicas e diversas manifestações artísticas foram
importantes e um verdadeiro “alento em tempos de isolamento social.
O isolamento atingiu, de certa forma, a todos, em todas as partes
do planeta, mesmo os continuaram com o trabalho presencial. Medidas de
proteção, fechamento do comércio, recomendações da Organização
Mundial da Saúde impuseram novos ritmos às pessoas. Músicos tocaram
nas sacadas dos apartamentos de seus prédios, séries de TV sobre a
pandemia foram produzidas, as pessoas partilharam Arte das mais diversas
formas.
271
No Brasil podemos dizer que a pandemia reacendeu a discussão
sobre Arte e Cultura, num país que extinguiu o Ministério da Cultura
desde o ano de 2018. A cultura perdeu a pasta, se tornando secretaria de
outro ministério. Mais do que nunca, tornou-se importante falar sobre
Arte no Brasil em tempos de pandemia.
A disciplina “Metodologia e prática do trabalho Pedagógico: arte e
movimento” tornou-se também um grande desafio, tendo em vista a forma
como era desenvolvida presencialmente, como Oficinas em linguagens
artísticas e vivências para a transposição via ensino remoto. Optamos por
desenvolver aulas teóricas com conversas e diálogos sobre Arte, conceitos,
referenciais teóricos e documentos oficiais em metade dos encontros. Na
outra metade vivenciamos o desafio de desenvolver as oficinas via Google
Meet. Ficou acordado que as atividades assíncronas oferecidas e colocadas
no Classroom seriam apresentadas de forma presencial nas oficinas. Desafio
aceito, optamos pelas seguintes oficinas: Artes visuais, com duas oficinas,
sendo uma especial sobre Fotografia; Movimento/dança; Música e Teatro,
com uma oficina de cada linguagem. Ao todo tivemos cinco oficinas de
trabalho e apresentações de atividades, mais os encontros para discussões
teóricas. Como forma de avaliação apresentamos também um conjunto de
atividades a serem desenvolvidas. Foram elas:
1- Realizar um desenho com tema livre, com lápis preto ou de cor. Pode
ser com giz de cera e pastel, também.
272
Figura 2 - Exemplo de desenho livre com giz pastel
Fonte: Arquivo pessoal, por Ana Paula Cordeiro.
2- Realizar uma pintura livre com tinta de pintura a dedo ou guache.
3- Colagem. Recorte pedaços de figuras humanas de papel de revistas,
folhetos de propaganda ou jornais. Ex: cabeças, pernas, braços, tronco.
Cole apenas uma parte do corpo humano da figura na folha. Ex: apenas a
cabeça, apenas os pés. Deixe um espaço para desenhar o restante do corpo.
Se você colou uma cabeça, deixe espaço e desenhe o restante do corpo. A
ideia é misturar colagem com desenho. E também trabalhar com o corpo
humano e realizar obras inusitadas. A proposta também trabalha com a
espacialidade, a criatividade e a coordenação motora fina.
4- Recorte e colagem com figuras variadas e justapostas. Recorte figuras
variadas e cole-as formando uma composição.
5- Mandala. Desenhe um círculo numa folha de papel sulfite. Dentro do
círculo desenhe coisas que você considera boas em sua vida. Fora do
círculo, as coisas ruins do mundo, que você gostaria que ficassem longe de
você.
273
6- Junte folhas secas, sementes, flores, areia e outros objetos totalmente naturais
e elabore uma obra de arte em forma de quadro.
Figura 3 - Obra de arte com folhas secas, sementes, flores,
areia e outros objetos.
Fonte: Arquivo pessoal, por: Ana Paula Cordeiro.
7- Crie um instrumento musical com sucata. Ex: grãos, tampinhas de
refrigerante, etc.
8- Faça um trio de imagens fotográficas escolhendo um entre os seguintes temas:
“paisagens”; “caminhos/estradas”; roupas/acessórios”; “tons de azul”;
“cenas urbanas”; “brinquedos”.
274
Figura 4 - Exemplo de cena urbana e exemplos de fotos em tons de azul
Fonte: Arquivo pessoal, por Ana Paula Cordeiro.
9- A partir de uma obra visual famosa, elabore uma releitura, guardando o
essencial da obra e introduzindo sua criatividade e individualidade.
10- Crie um pequeno monólogo (em teatro monólogo é uma cena de peça em
que o ator, achando-se , fala consigo mesmo ou se dirige ao público,
expressando seus pensamentos) escolhendo um entre os seguintes temas: “sentido
da vida”; “universidade”; “prisões”; “situação engraçada”; “felicidade”;
“quem sou eu”.
275
11- Máscaras de prato de papelão: você precisará de pratos de papelão, pis,
tintas ou canetinhas, elástico. Você pode criar carrancas, animais,
personagens, etc. É preciso medir bem a altura dos olhos, no próprio rosto
e recortar. Também é preciso observar bem o furo para o elástico, que
amarra a máscara ao rosto.
12- Pintando os sentimentos. Peça para a criança desenhar e/ou pintar a
“felicidade”; a “tristeza”; a “dor”, o “medo” e outras emoções e
sentimentos.
13- Desenhando com barbantes. Peça para a criança desenhar e colar
barbantes no contorno do desenho. Pode-se pintar depois, com lápis ou
até tinta. Pode-se também fazer com fios coloridos de lã.
14- Elabore esculturas com massinha ou argila.
15- Carimbos divertidos. Elabore carimbos com algodão, rolhas, esponjas,
talheres de plástico, etc. Coloque tintas de cores variadas em uma
superfície, como um pratinho de plástico, e, então, é molhar o objeto e
carimbá-lo em um papel.
16- Elabore um mosaico com papel picado, sobre uma folha de sulfite ou
cartolina, caso queira fazer algo maior.
17- Crie uma coreografia, a partir de uma de suas sicas preferidas.
18- Experimentando suportes. Usar papéis de todos os tipos, inclusive
papelão para fazer uma tela durinha. Os pincéis e lápis podem ser
substituídos por cotonetes, folhas, algodão, etc.
19- Desenhe a sua “cidade ideal”. O que teria na cidade dos seus sonhos?
20- Com palitos de sorvetes, cola, canetinha e papel, crie figuras humanas e
lindos personagens!
276
Dentre estas atividades, os e as alunos/as poderiam escolher cinco
delas para realizar seus projetos de trabalho e apresentar durante as oficinas.
O resultado foi o melhor possível, no ano de 2020/2021! Os trabalhos
foram apresentados em aulas síncronas, on-line, na plataforma do Google
Meet. Dentre as atividades, a tríade de fotografias foi a preferida e a mais
realizada. Alunas construíram instrumentos musicais, realizaram desenhos
e pinturas e uma aluna optou pela realização do monólogo. Ela o
apresentou abrindo sua janela no Meet e utilizou-se, inclusive, de figurino,
cenário e sonoplastia!
A arte foi trabalhada dentro da perspectiva de diversos autores,
principalmente da de Ernst Fischer (1971), que fala sobre sua necessidade
e seu caráter dialético, capaz de nos fazer lidar com razão e emoção,
subjetividades e objetividades, com o belo” e o “feio”, com aproximações
e identificação com a obra e a não identificação com o que se vê.
Consideramos que as plataformas como Google Meet foram essenciais
para o desenvolvimento do trabalho com arte via ensino remoto. As
atividades mais destacadas, apreciadas e realizadas foram as de Artes
Visuais. Mas consideramos que outras linguagens também puderam ser
bem desenvolvidas e realizadas, apesar das limitações e do distanciamento.
A mais prejudicada, nesse sentido, foram as vivências na linguagem da
Dança/movimento. Mesmo assim, as discussões teóricas foram profícuas
em relação a este campo.
Considerações Finais
Não foi e não tem sido fácil viver e trabalhar, produzir
conhecimento e aprender em tempos de pandemia. As dificuldades são
277
muitas e na FFC-Unesp, teremos mais um semestre de ensino totalmente
remoto pela frente. Os desafios são grande e as incertezas quanto ao futuro,
enormes!
O que levaremos deste tempo histórico: tivemos que, em
pouquíssimo tempo, aprender coisas novas, vivenciar situações antes por
nós desconhecidas, lidar com o temor do contágio pela Sars-Cov2,
dialogar, negociar, aprender juntos o manuseio de ferramentas digitais de
comunicação, lidar com a perda de entes queridos que se foram durante a
pandemia, etc.
Enfim, tempos muito difíceis. Mas mostraram tamm o quanto
nós, enquanto seres coletivos e pensantes somos capazes de aprender, de
colaborar uns com os outros e de buscar soluções para problemas graves e
complexos! Que o conhecimento e a Arte nos guiem!
Encerramos, enfim, sem pensar propriamente no fim e com muitas
incertezas quanto ao futuro. Para tais temores, podemos recorrer à poesia
e que bom que a temos.
278
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes
esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito,
Vamos de mãos dadas.
(Carlos Drummond de Andrade)
Referências
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1978.
BENJAMIN, Walter. Reflexões: A criança, o brinquedo, a educação. São
Paulo: Summus, 1984.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil. Secretaria da Educação Fundamental.
Brasília: MEC/SE, 1998.
279
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Arte. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SE,
1997.
BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular.
Brasília, 2018.
CORSARO, Willian. Sociologia da Infância. Porto Alegre: Artmed, 2011.
FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. Rio de Janeiro, Zahar, 1971.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a
educação. São Paulo; Cortez, 2001.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São
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UNESP. Plano de Ensino da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso.
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UNESP. Regulamento do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Marília,
2019.
VIGOTSKII, Lev Seminovich; LURIA, Alexander Romanovich;
LEONTIEV, Alex N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São
Paulo: ícone, 2001.
WEISS, Luise. Brinquedos e engenhocas: atividades lúdicas com sucata.
São Paulo: Scipione, 1993.
280
281
Os/As Autores/as
LUCIANA APARECIDA DE ARAUJO
Pós-doutorado pela Fundação Carlos Chagas. Doutorado e Mestrado pela
Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp, Campus de Marília. Docente do curso
de Pedagogia e do Programa de s-Graduação em Educação da FFC/Unesp,
Campus de Marília. der do Grupo de Estudos em Pesquisa Pedagógica e
Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1147-5039.
E-mail: luciana.a.araujo@unesp.br
ANA PAULA CORDEIRO
Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho. Docente do Departmento de Didática da FFC Unesp, Marília. Docente
do curso de Pedagogia e do Programa de Pós-graduação em Sociologia-mestrado
Profissional/ProfSócio. Vive-lider do Grupo de Estudos em Pesquisa Pedagógica
e Cultura Científica (GEPPECC) da FFC/ Unesp/ Marília.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1040-4909.
E-mail a.cordeiro@unesp.br
ALONSO BEZERRA DE CARVALHO
Livre-Docente pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Pós-Doutorado
em Ciências da Educação na Universidade Charles de Gaulle, Lille França.
Doutor em Filosofia da Educação pela Faculdade de Educação da Universidade
de São Paulo (USP). Docente do curso de Ciências Sociais e de Filosofia e do
Programa de Pós-Graduação em Educação da FFC/Unesp, Campus de Marília.
Líder do Grupo de Pesquisa em Educaçaõ Ética e sociedade (GEPEES).
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5106-2517.
E-mail: alonso.carvalho@unesp.br
282
CAMILA APARECIDA DA SILVA
Doutoranda e Mestra em Educação pelo Programa de s-Graduação em
Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências Unesp Campus de Marília.
Professora de Matemática do Ensino Fundamental Anos Finais da Rede
Particular de Ensino. Membro do Grupo de Estudos em Pesquisa Pedagógica e
Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3892-4236.
E-mail: mila_ap_silva@yahoo.com.br
CLAUDIA REGINA MOSCA GIROTO
Mestrado e doutorado pela Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp, Campus de
Marília. Docente do curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em
Educação da FFC/Unesp, Campus de Marília. Pesquisadora do Grupo de
Estudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6267-8085.
E-mail: claudia.mosca@unesp.br
CLERISTON IZIDRO DOS ANJOS
Pós-Doutorado em Educação pela Faculdade de São Paulo (USP). Professor
Adjunto do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas
(CEDU/UFAL/Brasil), atuando na graduação em Pedagogia e no Programa de
Pós-Graduação em Educação (PPGE/CEDU/UFAL). Coordenador do Grupo
de Estudos em Pedagogias e Culturas Infantis (GEPPECI).
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1040-4909.
E-mail: cianjos@yahoo.com.br
283
DÉBORA FABIANA VAZ DELLAMURA.
Pós-graduada em psicopedagogia com Ênfase em Educação Especial pela
Faculdade Católica Paulista (FACAP), Marilia/SP. Mestranda em Educação pela
Faculdade de Filosofia e Ciências, FFC/Unesp, Campus de Marilia. Apoio
acadêmico no Centro Universitário Eurípides de Marília - UNIVEM. Professora
de Educação Infantil na escola Cora Coralina de Marília/SP. Membra do Grupo
de Estudos em Pesquisa e Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https//orcid.org/0000-0002-3736-0232.
E-mail: dfvdellura@gmail.com
EMERSON DA SILVA DOS SANTOS
Doutorando e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp, Campus de Marília.
Professor de Matemática do Ensino Fundamental Anos Iniciais e Finais da Rede
Particular de Ensino. Membro do Grupo de Estudos em Pesquisa Pedagógica e
Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5241-772X.
E-mail: esantos01@ig.com.br
FÁBIO VINICIUS ALVES
Mestre e Doutorando em Educação pela Faculdade de Filosofia e Ciências,
FFC/Unesp, Campus de Marília.Professor do Ensino Básico II da Secretaria
Estadual de Educação do Estado de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos
em Pesquisa Pedagógica e Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9899-2375.
E-mail: fabio.alves@unesp.br
284
GABRIEL SCOPARO DO ESPÍRITO SANTO
Doutorando em Educação pela Faculdade de Ciências e Filosofia, FFC/Unesp,
Campus de Marília. Mestrado pela Faculdade de Ciência e Tecnologia, Unesp,
Campus de Presidente Prudente. Assistente de Suporte Acadêmico na Faculdade
de Ciências e Engenharia FCE/UNESP, Campus de Tupã. Membro do Grupo
de Estudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6181-0865.
Email: gse.santo@unesp.br
JOSÉ CARLOS MIGUEL
Livre-Docente em Educão Matemática pela Universidade Estadual Paulista
J´lio de Mesquita Filho. Professor Associado vinculado ao Departamento de
Didática e ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de
Filosofia e CiênciasFFC UNESPCampus de Marília. Líder do Grupo de
Pesquisa sobre Formação de Educadores (GP FORME) e Pesquisa sobre
Educação de Jovens e Adultos (GEPEJA), ambos da Unesp.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9660-3612.
E-mail: jocarmi@terra.com.br
JOSÉ SALUSTIANO DOS SANTOS
Mestrando em Educação pela Faculdade de Ciências e Filosofia, FFC/Unesp,
Campus de Marília. Educador Social na Associação dos Deficientes Visuais de
Marília (ADEVIMARI). Docente no Curso Superior de Design Gráfico do
Centro Universitário Eurípides de Marília - UNIVEM. Membro do Grupo de
Estudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6139-1955.
E-mail: salustiano.santos@unesp.br
285
JULIANA XAVIER MOIMÁS
Mestrado pela Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp, Campus de Marília.
Diretora de escola na Prefeitura Municipal de Birigui, São Paulo. Membro do
Grupo de Estudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9625-6251.
E-mail: julyanamoimas@hotmail.com
LUIZ FELIPE GARCIA DE SENNA
Mestre e Doutorando em Educação pela Faculdade de Filosofia e Ciências,
FFC/Unesp, Campus de Marília. Professor do Ensino Básico II da Secretaria
Estadual de Educação do Estado de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos
em Pesquisa Pedagógica e Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2875-2434.
E-mail: luiz.senna@unesp.br
MANUEL JOÃO MUNGULUME
Mestre e Doutorando em Educação pela Faculdade de Filosofia e Ciências,
FFC/Unesp, Campus de Marília/SP. Membro do Grupo de Estudos em Pesquisa
Pedagógica e Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3996-3950.
E-mail: mjmungulume@gmail.com
MANUELA CRISTINA TORCIA MORETI.
Pós-graduanda em educação pelo Instituto Federal de Minas Gerais, Campus de
Arcos. Mestranda em educação pela Faculdade de Filosofia e Ciências,
FFC/Unesp, Campus de Marilia. Membro do Grupo de Estudos em Pesquisa
Pedagógica e Cultura Científica (GEPPEC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0123-7889.
E-mail: mtorcia3@hotmail.com
286
MÁRCIA APARECIDA GOBBI
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Professora da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, atuando na licenciatura
em Ciências sociais, Pedagogia e junto ao Programa de Pós-Graduação em
Educação. Coordenadora do Grupo de Pesquisas Crianças, Práticas Urbanas,
Gênero e Imagens.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9850-0190.
E-mail: mgobbi@usp.br
MÁRCIA MENDES DE LIMA
Doutoranda em Educação pela Faculdade de Ciências e Filosofia, FFC/Unesp,
Campus de Marília. Mestrado em Ciências Ambientais, UNIR - Campus Rolim
de Moura. Membro do Grupo de Estudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura
Científica (GEPPEC). Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do
Instituto Federal de Rondônia.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7655-7364.
E-mail: marcia.lima@ifro.edu.br
MARIA TERESA ALVARES DE PAULA
Mestranda em Educação pela Faculdade de Filosofia e Ciências FFC/Unesp,
Campus de Marília. Professora do Ensino Fundamental Anos Iniciais, na cidade
de Marília. Membro do Grupo de Estudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura
Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4309-1710.
E-mail: mariatedepaula@gmail.com
287
PATRICK PACHECO CASTILHO CARDOSO
Doutorando e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp, Campus de Marília.
Diretor de Escola na rede municipal de Ensino de Araçatuba/ SP. Membro do
Grupo de Estudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura Científica (GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4226-7585.
E-mail: patrickpachecoprof@hotmail.com
VIVIANE JAQUELINE PERON FERREIRA
Especialista em Gestão Escolar pela Universidade do Oeste Paulista-Unoeste,
Presidente Prudente. Diretora de Escola na Prefeitura Municipal de Lins/ SP.
Membro do Grupo de Estudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura Científica
(GEPPECC).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6391-8068.
E-mail: vjperon@hotmail.com
288
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Normalização
Lívia Pereira Mendes
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem
ensino. Esses que fazeres se encontram um no
corpo do outro. Enquanto ensino continuo bus-
cando, reprocurando. Ensino porque busco, por-
que indaguei, porque indago e me indago. Pes-
quiso para constatar, constatando intervenho,
intervindo educo e me educo. Pesquiso para co-
nhecer o que ainda não conheço e comunicar ou
anunciar a novidade. (FREIRE, 2003, p. 30).
Este livro é parte dos esforços coletivos
empreendidos no âmbito do Grupo de Es-
tudos em Pesquisa Pedagógica e Cultura
Cientíca (GEPPECC) por professores
e alunos membros do grupo e vincula-
dos ao PPGE da FFC/Unesp, Campus de
Marília. Nesta obra, foi possível reunir,
20 autores em nove capítulos que trazem
diferentes olhares, relatos de experiências
e resultados de pesquisas que apontam
para os desaos e perspectivas no âmbito
da Educação Básica e do Ensino Superior
em tempos de pandemia e ensino remoto,
ocasionado em virtude da Covid 19. Es-
peramos socializar conhecimentos produ-
zidos por docentes e discentes vinculados
ao PPGE/ Unesp/ Marília e será destina-
da a alunos de licenciatura, pós-graduan-
dos e prossionais da educação em geral.
Com a publicação deste material, espera-
mos socializar conhecimentos produzidos
por docentes e discentes vinculados ao
Programa de Pós-Graduação em Educa-
ção da Faculdade de Filosoa e Ciências/
Unesp, Campus de Marília e será destina-
da a alunos de licenciatura, pós-graduan-
dos e prossionais da educação em geral.
EDUCAÇÃO E PANDEMIA: impactos e desaos
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 396/2021
Processo Nº 23038.005686/2021-36
Araujo e Cordeiro (orgs)
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