Agnes Iara Domingos Moraes
“O livro examina questões cruciais à compreensão da escolarização no
meio rural e convida o leitor a se enveredar nos meandros do uxo his-
tórico inexorável do movimento das ideias. Quem foram os ruralistas do
ensino? Que ações desenvolveram para que o movimento se fortalecesse?
Quais os interesses subjacentes às propostas pedagógicas de uma escola
primária ruralizada e de uma formação especíca do magistério nas escolas
normais rurais? Qual a intencionalidade pressuposta na defesa da xação
dos trabalhadores no campo?”
“Trata-se, como bem sugerido no título, de “ideias em movimento e [d]
o movimento das ideias”. Mas vale o alerta. Hora alguma, a autora lida
com essas proposições como meras abstrações. São ideias encarnadas em
sujeitos e práticas sociais e educacionais. Ideias de cariz nacional, como os
inúmeros livros escritos por Sud Mennucci no diálogo com outros autores
como Alberto Torres e ruralistas de vários matizes. Múltiplos diálogos que
se estendem pelos mais variados recantos do país e atravessaram fronteiras.
Seguindo os rastros das missivas recebidas por Sud Mennucci do exterior,
ganha especial relevo na presente obra a circulação internacional das ideias
do Movimento pela Ruralização do Ensino confrontadas com outras ações
políticas e institucionais relacionadas à educação rural.”
No livro “Ruralização do ensino:
as ideias em movimento e o movimen-
to das ideias (1930-1950)” apresentam-se
resultados de pesquisa de Doutorado em
Educação, que investigou a circulação das
ideias do Movimento pela ruralização do
ensino, entre as décadas de 1930 e 1950.
Os resultados apontam que os integrantes
do Movimento pela ruralização do ensi-
no atuaram em âmbitos nacional e inter-
nacional, envolvendo uma ampla rede de
sociabilidade composta por diversos sujei-
tos, que se valeram de eventos, impressos,
instituições educativas, bem como Socie-
dades e Institutos para levarem a termo a
concepção de educação ruralizada. Ade-
mais, Sud Mennucci foi o principal articu-
lador do processo de circulação das ideias,
da implementação de ações e da materiali-
zação de propostas desse Movimento pela
ruralização do ensino. Trata-se de um livro
fundamental para conhecer as ideias desse
Movimento e o movimento dessas ideias.
Agnes Iara Domingos Moraes
Doutora em Educação, com período sanduí-
che na Universidad de Salamanca - Espanha,
Mestre em Educação, Especialista em Aten-
dimento Educacional Especializado: área da
Deciência Intelectual e Graduada em Pe-
dagogia com Habilitação em Deciência
Intelectual, todos pela Faculdade de Filosoa
e Ciências da Universidade Estadual Paulis-
ta (Unesp), campus de Marília. Professora
da Universidade Estadual de Mato Gros-
so do Sul (UEMS), Paranaíba. Desenvolve
pesquisas sobre história da educação rural,
educação do campo, educação inclusiva e
formação de professores. É autora de livros,
capítulos de livros e artigos publicados em
periódicos acadêmico-cientícos nacionais
e internacionais.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio 0798/2018
Processo 23038.000985/2018-89
as ideias em movimento e o movimento das ideias
(1930-1950)
RURALIZAÇÃO DO
ENSINO
RURALIZAÇÃO DO ENSINO
Agnes Iara Domingos Moraes
Excertos do Prefácio escrito pela Profa. Dra. Rosa Fátima de Souza Chaloba
“Campinas, junho de 2021. Final de outono tristonho, assolado pela tragédia
humanitária de mais de 473 mil mortos pela Covid-19 no Brasil.”
RURALIZAÇÃO DO ENSINO:
as ideias em movimento
e o movimento das ideias (1930-1950)
Agnes Iara Domingos Moraes
Agnes Iara Domingos Moraes
RURALIZAÇÃO DO ENSINO:
as ideias em movimento
e o movimento das ideias (1930-1950)
Ma
rília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS FFC
UNESP - campus de Marília
Diretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
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Jáima Pinheiro Oliveira
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Cláudia Regina Mosca Giroto
Auxílio Nº 0798/2018, Processo Nº 23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação FFC
_________________________________________________________________________________________________
Moraes, Agnes Iara Domingos.
M827r Ruralização do ensino: as ideias em movimento e o movimento das ideias (1930-1950) /
Agnes Iara Domingos Moraes. Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura
Acadêmica, 2021.
276 p.: il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-161-4 (IMPRESSO)
ISBN 978-65-5954-162-1 (DIGITAL)
1. Educação História 1930-1950. 2. Educação rural. 3. Escolas rurais. I. Título.
CDD .370.109
__________________________________________________________________________________
Copyright © 2021, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
DOI: https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-162-1
Aos povos do campo
em especial José Alves de Moraes, meu pai
que continuam, por diferentes motivos,
tendo negado seu direito à educação escolar.
Parece-me que a tarefa do historiador pode ser a de
exumar as ligacões históricas ou, antes, para ser mais
exato, de explorar as connected histories, se adotarmos a
expressão proposta pelo historiador do império
portugues, Sanjay Subrahmanyam, o que implica que
as historias so podem ser multiplas ao inves de falar
de uma historia unica e unificada com ´h´ maiusculo.
Esta perspectiva significa que estas histórias eso
ligadas, conectadas, e que se comunicam entre si.
Diante de realidades que convém estudar a partir de
ltiplas escalas, o historiador tem de converter-se em
uma especie de eletricista encarregado de restabelecer
as conexoes internacionais e intercontinentais que as
historiografias nacionais desligaram ou esconderam,
bloqueando as suas respectivas fronteiras.
(GRUZINSKI, 2001, p. 176)
Sumário
Prefácio | Rosa Fátima de Souza Chaloba...............................................11
Introdução............................................................................................17
O arquivo pessoal de Sud Mennucci: cartas que contam histórias.........33
1 | Sud Mennucci: a maior “autoridade em ruralismo”.........................45
2. “A ruralização do ensino é a solução”?: sujeitos movimentando ideias
.............................................................................................................91
3. “Assim é fazer ruralismo, com trabalho e ação e não com palavras”:
Movimento em ação...........................................................................139
4. Ruralização do ensino: aqui e acolá..................................................181
Considerações finais............................................................................213
Referências.........................................................................................221
Fontes citadas....................................................................................240
11
Prefácio
O movimento das ideias tem sido uma preocupação candente no
pensamento social brasileiro. Um bom exemplo, entre tantos, é o muito
debatido ensaio “As ideias fora do lugar”, do crítico literário Roberto
Schwartz, publicado no livro Ao vencedor as batatas, em 1977. No campo da
Educação, muito já se problematizou acerca de noções como transferência,
importação, influência, utilizados para explicar a presença de modelos
europeus e norte-americanos na educação nacional, o intercâmbio das
inovações pedagógicas aqui... ali... acolá.
A esse respeito, vale lembrar o grande empreendimento que significou
a constituição da Educação Comparada no início do século 19, propondo-se
a investigar, com base em princípios científicos, trocas e intercâmbios
educacionais. Ao longo do século 19, a comparação em educação adquiriu
uma relevância política. Multiplicaram-se os relatórios detalhados sobre as
condições da educação de vários países, especialmente os europeus e os
Estados Unidos, que passaram a servir como modelos. A esse respeito,
Schriewer assinala o quanto os relatórios internacionais e relatórios de viagens,
as exposições universais, os congressos internacionais de política social e
educacional, os centros e institutos de documentação internacional em
formação, não somente estimularam a competição febril entre nações no
campo educativo, mas também fundaram, ao mesmo tempo, uma tradição de
estudos comprometidos com a política, a administração, com a inovação e a
reforma educacionais” (SCHRIEWER, 2002).
https://doi.org/10.36311/2022.978-65-5954-162-1.p11-16
12
Na transição do século 19 para o século 20, a Educação Comparada
se tornou uma importante área de estudos na nascente Ciências da Educação.
Ao longo do século 20, ela assumiu novas abordagens substituindo a ênfase
descritiva por procedimentos mais analíticos e críticos.
No campo da História da Educação, os estudos acerca dos contatos,
trocas culturais e espraiamento das inovações educacionais é mais recente e se
intensificaram nas duas últimas décadas, valendo-se de outros referenciais
teórico-metodológicos como a histórica conectada de Gruzinski, a história
cruzada proposta por Zimmermann e, mais recentemente, na perspectiva
transnacional.
É desta temática atual e instigante que se nutre este livro de Agnes
Iara Domingos Moraes, que se constitui, sem sombra de dúvida, um marco
na historiografia da educação rural no Brasil. Fruto de uma tese de doutorado
defendida no Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de
Filosofia e Ciências da Unesp, campus de Marília, que eu tive a grande
satisfação de orientar, posso afiançar seus inúmeros méritos, dentre os quais
prefiro destacar aqueles mais atinentes à originalidade do estudo.
A relevância do tema é inquestionável. Entre as décadas de 1930 e
1960, proposições com base na ruralização do ensino nortearam políticas para
a educação rural, suscitaram inúmeros debates entre educadores e intelectuais
e resultaram em diversas iniciativas educacionais. Como bem evidencia este
livro, os ruralistas expressavam uma posição conservadora. Eles defendiam o
projeto de um Brasil agrário pautado na fixação do homem no campo e em
posições contrárias à industrialização e à urbanização. A educação escolar era
vista como saneadora do meio rural devendo a escola “atender às necessidades
das áreas rurais e preparar os estudantes para o trabalho agrícola”, assumindo
características pedagógicas específicas, diferenciadas das escolas de ensino
comum.
13
A novidade deste livro reside, justamente, na releitura do Movimento
pela Ruralização do Ensino, feita com muita propriedade. O ponto de partida
são duas problematizações fundamentais: a primeira, a reconstituição histórica
do movimento a partir dos educadores que se auto reconheciam como
ruralistas do ensino e, a segunda, a revisão da noção do Ruralismo Pedagógico.
O enredo histórico do movimento é urdido em torno de Sud
Mennucci, um dos mais emblemáticos propositores do assunto, considerado
por alguns de seus contemporâneos e companheiros de jornada a “maior
autoridade em ruralismo” no Brasil. A interpretação da autora, decorre, assim,
da abrangência das indagações propostas: “quais ideias? Quem as defenderam?
Como elas circularam?”, e da escuta sensível das fontes. O resultado é uma
análise aprofundada do movimento que traz importantes contribuições para
o seu entendimento.
Em relação ao Ruralismo Pedagógico, a reação se volta contra o
anacronismo, dado que o termo passou a ser utilizado no discurso acadêmico
na década de 1980, desconsiderando a denominação empregada pelos
próprios ruralistas. Estamos, assim, diante de uma revisão necessária de
interpretações instituídas.
O livro examina questões cruciais à compreensão da escolarização no
meio rural e convida o leitor a se enveredar nos meandros do fluxo histórico
inexorável do movimento das ideias. Quem foram os ruralistas do ensino?
Que ações desenvolveram para que o movimento se fortalecesse? Quais os
interesses subjacentes às propostas pedagógicas de uma escola primária
ruralizada e de uma formação específica do magistério nas escolas normais
rurais? Qual a intencionalidade pressuposta na defesa da fixação dos
trabalhadores no campo?
Para explorar essas questões, Agnes Moraes se valeu-se de fontes
inéditas com as quais lidou com rigor e acuidade. Ao escudar o corpus de
pesquisa no arquivo pessoal de Sud Mennucci, Agnes não apenas deu
14
visibilidade a esse precioso acervo sob a guarda do Centro de Memória e
Acervo Histórico/ CRE “Mário Covas” SP, como demonstrou a
potencialidade do uso de fontes epistolares para a pesquisa histórica em
educação. Ao “revirar” o acervo, ela perseguiu indícios fundamentais até então
inexplorados sobre a atuação desse educador e sobre a rede de sociabilidade
constituída em torno da ruralização do ensino.
O extraordinário trabalho com as fontes salta aos olhos. A partir da
leitura de 1.680 cartas e telegramas recebidos por Sud Mennucci existentes no
acervo, Agnes selecionou e analisou 442 missivas identificando nelas não só o
conteúdo, mas, também, os remetentes e seus pertencimentos profissionais,
institucionais e espaciais. Lidando com uma operação meticulosa com os
indícios encontrados, a autora pôde rastrear municípios, Estados e países de
onde essas correspondências foram enviadas. O mapeamento desses dados é,
em si mesmo, revelador das conexões estabelecidas pelo movimento. Além
dessas fontes, utilizou recortes de jornais e fontes complementares como a
Revista Brasileira dos Municípios, a Revista do Professor, e ainda livros de autoria
de Sud Mennucci. É dessa profusão de dados que se alinhava o texto
permitindo ao leitor se aproximar dos sujeitos e suas ideias, ruralistas
conhecidos Thales de Andrade, Renato Sêneca Fleury, Noêmia Saraiva,
Amália Xavier, e outros anônimos, mas não menos combatentes.
Outro aspecto inovador deste livro reside na interpretação sobre a
circulação das ideias. Por um lado, chama a atenção para a difusão do
movimento da Ruralização do Ensino no interior do país, e, por outro lado,
põe em discussão as relações e interconexões dessas ideias em âmbito
internacional.
É demais significativo o olhar sobre a difusão desse movimento em
plano nacional, dadas as dimensões do Brasil e as diversidades regionais, além
das desigualdades educacionais existentes entre os Estados brasileiros. A
reflexão proposta no livro reage, por conseguinte, tanto em relação ao
paroquialismo quanto às tendências equivocadas de generalização de processos
15
históricos localizados em determinadas localidades para todo o país. Ao
postular como e por quais meios as ideias dos ruralistas do ensino se
propagaram no Brasil, o livro apresenta uma cartografia detalhada de ações,
eventos, objetos e sujeitos implicados nas ideias em movimento: Semanas
Ruralistas, congressos, publicação de impressos, criação de escolas típicas
rurais e escolas normais rurais, institucionalização dos clubes agrícolas
escolares, a atuação de sociedades civis como a Sociedade dos Amigos de
Alberto Torres e a Sociedade Luiz Pereira Barreto. Ações sincrônicas e
diacrônicas patrocinadas por governos estaduais e municipais, pelo Ministério
da Educação e Saúde (especialmente pelo Inep), mas, também, por
educadores voluntariosos e abnegados e outros vinculados a instituições como
a Igreja e associações diversas.
Trata-se, como bem sugerido no título, de “ideias em movimento e
[d]o movimento das ideias”. Mas vale o alerta. Hora alguma, a autora lida
com essas proposições como meras abstrações. São ideias encarnadas em
sujeitos e práticas sociais e educacionais. Ideias de cariz nacional, como os
inúmeros livros escritos por Sud Mennucci no diálogo com outros autores
como Alberto Torres e ruralistas de vários matizes. Múltiplos diálogos que se
estendem pelos mais variados recantos do país e atravessaram fronteiras.
Seguindo os rastros das missivas recebidas por Sud Mennucci do exterior,
ganha especial relevo na presente obra a circulação internacional das ideias do
Movimento pela Ruralização do Ensino confrontadas com outras ações
políticas e institucionais relacionadas à educação rural.
Não posso deixar de registrar um depoimento pessoal em relação à
trajetória intelectual de Agnes Iara Domingos Moraes. Tive o prazer de
orientar essa entusiasta e promissora pesquisadora no mestrado e no
doutorado. Foram anos de convívio estimulante cultivado pelo compromisso
acadêmico e engajamento político entrevisto na escolha dos temas de pesquisa
e na posição crítica no modo de abor-los. Agnes, também, sempre se
destacou pela solidariedade e gentileza no trato com todos os colegas do grupo
16
de pesquisa e com os professores do Programa de Pós-graduação. O desafio
ao assumir uma pesquisa de tamanha abrangência é, de igual forma,
denotativa de sua competência e determinação.
Caberia ainda destacar vários pontos, mas encerro com uma última
observação demarcando a atualidade deste livro. Continuam em debate e em
disputa na sociedade brasileira propostas de educação para o campo. A
proposta de natureza política e pedagógica passa, também, por um projeto de
nação. Prescrutar o Movimento pela Ruralização do Ensino, além de alargar
o repertório reflexivo sobre a história da educação rural, serve de alerta salutar.
O que se encontra em jogo, no passado e no presente, é a defesa da
democracia, a luta por uma sociedade mais humana e igualitária. Resta saber
qual projeto atende melhor a tais necessidades.
Rosa Fátima de Souza Chaloba
Campinas, junho de 2021. Final de outono tristonho,
assolado pela tragédia humanitária de mais de 473 mil mortos pela
Covid-19 no Brasil.
Referências
SCHRIEWER, Jurgen. Educación comparada: un programa ante nuevos
desafios. In: Formación del discurso en la educación comparada. Barcelona:
Ediciones Pomares, 2002.
17
Introdução
Para um país, como êste, que vive quase exclusivamente do que provém
das fainas agrícolas foi que sempre se teve uma escola puramente
literária [...]. Em oposição, pediam os pioneiros do ruralismo escolar o
estabelecimento de uma escola que impregnasse o espírito do brasileiro,
antes mesmo de lhe dar a técnica do trabalho racional no amanho dos
campos, de alto e profundo sentido ruralista [...].
E a idéia foi marchando, lenta, mas segura, ganhando adeptos, criando
raízes, estendendo-se a todas as camadas, conquistando até o Governo.
Nem podia deixar de ser assim. Há, neste País, uma vocacão histórica
para o ruralismo. (SOUSA, 1950, p. 1098)
A epígrafe acima, de J. Moreira de Sousa
1
, Técnico do Ministério
da Educação, retrata a forma como as ideias pela ruralizaçao do ensino se
configuraram como um Movimento no Brasil, em meados do século XX.
Que ideias eram essas? Quem eram os seus adeptos? Em que período
trataram-se de ideias lentas e em que período trataram-se de ideias com
raízes criadas? Quais Governos aderiram ou apoiaram essas ideias? Quais
1
Joaquim Moreira de Sousa nasceu na cidade de São Bernardo das Russas/CE, em 10 de abril de
1893, e faleceu no dia 6 de janeiro de 1968. Ao longo de sua atuacão profissional, desempenhou
diversas funções, tais como, Diretor da Instrucão Pública do Estado do Ceará, de 1929 a 1930 e de
1931 a 1934, Técnico de Educação e auxiliar Técnico do Ministério de Educacão. Organizou e
instalou a Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte/CE. Publicou, em 1950, artigo intitulado
Educação rural pela escola primária na Revista dos Municípios e, em 1955, livro intitulado Estudo
sobre o Ceará, publicado pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. A trajetória de J. Moreira
de Sousa foi marcada pelo envolvimento com questões rurais (CAVALCANTE, 1999). Sud
Mennucci apresenta J. Moreira de Sousa como “[...] um dos maiores apostolos da educação cearense
e um dos paladinos da ruralização do ensino nacional [...].” (DISCURSO..., 1937, p. 1).
18
ações foram propostas ou implementadas por esses adeptos? Como de que
forma, por quais meios essas ideias circularam?
Essas perguntas remetem ao Movimento pela ruralização do
ensino, que ganha evidência na década de 1930, momento em que era
postulado um Brasil de vocação agrícola pelo ruralismo brasileiro, cujos
pressupostos serviram de base para esse Movimento.
O ruralismo brasileiro tinha como objetivo principal a ruralização
do Brasil. Isso porque o Brasil era considerado, por integrantes desse
grupo, um país vocacionado para a atividades agrícolas, e não um país com
vocação urbano-industrial. Essas eram temáticas candentes, em especial
nas primeiras décadas do século XX, quando o Brasil passava, literalmente,
por um processo recente e incipiente de transformações políticas,
econômicas e culturais importantes, como, desdobramentos da abolição da
escravidão e da Proclamação da República, instalação de indústrias, o
surgimento ou o crescimento de cidades (KREUTZ, 2007; MELLO,
2009; MENDONÇA, 1997; RIBEIRO, 1988).
A defesa da urbanização e da industrialização do Brasil gerava
impactos sociais e, por conseguinte, preocupações de diversos grupos
sociais, entre eles, os ruralistas. Assim, o ruralismo brasileiro tinha entre
seus principais objetivos implementar ações com vistas a transformar o
Brasil em um país agrícola, que, do ponto de vista desse grupo, era,
naturalmente, a vocação nacional (MENDONÇA, 1997).
Dessa forma, nas primeiras décadas do século XX, diversos
intelectuais, partindo de diferentes referenciais teóricos, apresentaram suas
interpretações sobre problemas ou desafios relacionados à questão do
desenvolvimento do Brasil. Os ruralistas também tinham suas
interpretações sobre a condição nacional.
19
Entre os intelectuais ruralistas, destaca-se, por exemplo, Alberto
Torres
2
, autor de uma expressiva produção bibliográfica sobre diversos
assuntos, entre eles, temas relacionados ao pensamento político e social
brasileiro. Em algumas dessas produções estão contidas as principais ideias
que foram apropriadas por gerações contemporâneas e posteriores a ele.
Além de Alberto Torres, outros intelectuais também se destacam na
produção de ideias relacionadas ao ruralismo brasileiro, entre eles,
Carneiro Leão
3
.
Alberto Torres defendia a instrução primária como importante
elemento para a formação da mentalidade brasileira e entendia que seria
necessária instrução primária adequada às especificadas das áreas rurais.
Além disso, Alberto Torres apresentou, em seus escritos, apontamentos
sobre a questão dos imigrantes e da situação dos ex-escravizados, aspectos
considerados desafios que o Brasil precisava enfrentar. Essas temáticas
repercutem em gerações posteriores de ruralistas, em especial no
pensamento educacional, como é o caso de Sud Mennucci, discutido mais
adiante.
2
Alberto Torres nasceu em 26 de novembro de 1865, no município de São João de Itaboraí/RJ,
naquele momento, uma área marcada pela cafeicultura em decadência. Sua família integrava a
burguesia agrária; seu pai foi Juiz de Direito e militante na política fluminense. No que se refere
aos estudos, Torres cursou Medicina e Direito (em faculdades de São Paulo e de Recife). Em relação
a sua atuação profissional, já tendo regressado ao Rio de Janeiro, exerceu esporadicamente a
advocacia. Seu maior envolvimento foi com a área do jornalismo e da política, haja vista sua
vinculação com as causas do republicanismo e do abolicionismo. Ocupou diversos cargos na esfera
pública, entre eles, Constituinte e Deputado Estadual no Rio de Janeiro (1892-1893), Deputado
Federal (1894-1896), Ministro da Justiça e Negócios Interiores e Presidente do Estado do Rio de
Janeiro (1897-1900) (CPDOC/FGV). Para mais informações sobre Alberto Torres, ver, por
exemplo, Pinho (2007).
3
Antônio de Arruda Carneiro Leão nasceu em 2 de julho de 1887, no Recife/PE, e faleceu em 31
de outubro de 1966, no Rio de Janeiro/RJ. Formou-se em Direito, em 15 de dezembro de 1911.
Foi educador; poeta, na juventude; jornalista; advogado; crítico literário; professor de Sociologia,
de Educação Comparada e de Administração Escolar. Entre seus escritos, destacam-se: Educação
(1909), O Brasil e a educação popular (1916) e Problemas de educação (1919) (ARAÚJO, 2002).
20
Alberto Torres afirmava que o brasileiro fora abandonado pelos
seus governantes e que ocorria, no Brasil, uma espécie de exaltação do
estrangeiro, isto é, dos imigrantes. Assim, defendia a interrupção da
imigração e a oferta adequada de instrução escolar às populações de áreas
rurais para trabalhar na agricultura, considerada a solução para o Brasil.
Isso contribuiria para que o Brasil parasse de incentivar a vinda de
trabalhadores extrangeiros, temática importante para Torres, que entendia
a imigração como um problema a ser evitado, inclusive porque uma das
questões que permeava o pensamento desse autor era a defesa do
nacionalismo.
Desse modo, existiam diferentes intelectuais interpretando e
oferendo explicações para a configuração política, econômica e cultural do
Brasil, em especial no que se refere às razões e às soluções para os problemas
nacionais. Algumas explicações eram de caráter eminentemente biológico,
cultural ou econômico. Diversos ruralistas, como, por exemplo, Assis
Brasil (1917), estavam entre esses intelectuais e, no entendimento deles, a
solução para o Brasil estava no desenvolvimento da agricultura, que
demandava especialmente a contribuição da área da educação, porém, não
era qualquer educação, mas, sim, uma educação baseada em princípios
ruralistas.
E, para atingir esses objetivos, além de diversas outras ações visadas
ou implementadas pelos ruralistas, estava a educação das populações
residentes nas áreas rurais brasileiras, que, naquele momento,
configuravam-se como a ampla maioria da população nacional.
A educação concebida e executada em conformidade com os
pressupostos ruralistas era denominada de educação ruralizada, temática
tratada mais adiante. Uma das principais características dessa educação, em
consonância com os princípios ruralistas, era não só atribuir um sentido
21
positivo aos trabalhos agrícolas, como também despertar nas crianças o
gosto por esse trabalho. Assim, o Movimento pela ruralização do ensino
estava em consonância com as ideias defendidas pelo ruralismo brasileiro.
A ruralização do ensino foi uma proposta concebida por sujeitos
participantes desse Movimento para as escolas primárias rurais. Isso deve-
se ao fato de que esses sujeitos consideravam, por diversas razões, as escolas
rurais existentes inadequadas para o meio no qual estavam instaladas,
assim, defendiam a ruralização da escola, ou seja, a implementação da
concepção de educação desse Movimento. Noutras palavras, uma escola
primária rural não necessariamente é uma escola ruralizada, porém, uma
escola ruralizada é sempre uma escola primária rural.
Para implementar a concepção de educação do Movimento pela
ruralização do ensino, como se pode depreender do pensamento de Sud
Mennucci, em especial de seu livro A Crise Brasileira de Educação, o foco
das ações dos sujeitos desse Movimento era a formação de professores,
ponto fulcral de seu projeto educativo.
Ressalta-se que a escolha do tema da pesquisa, da qual são
apresentados resultados finais neste livro, foi motivada, em alguma
medida, por interpretações prévias
4
decorrentes do desenvolvimento, entre
os anos 2012 e 2013, da pesquisa de Mestrado em Educação
5
, sob a
orientação da Profa. Dra. Rosa Fátima de Souza (MORAES, 2014).
A pesquisa de Mestrado teve por objetivo geral reconstituir
aspectos da história da escola primária rural no Estado de São Paulo,
4
“[...] a escolha de um objeto de estudo não é inocente, [...] supõe já uma interpretação prévia,
inspirada por nosso interesse atual.” (STAROBINSKI, 1976, p. 132).
5
Vinculada ao Projeto “História da Escola Primária Rural no Estado de São Paulo (1931-1968):
circulação de referenciais estrangeiros, iniciativas do Poder Público e cultura escolar”, coordenado
pela Profa. Dra. Rosa Fátima de Souza e financiado pela Fapesp Processo 2012/08203-5
(SOUZA, 2012).
22
focalizando três tipos de escolas instaladas em áreas rurais, quais sejam, as
Granjas Escolares, os Grupos Escolares Rurais e as Escolas Típicas Rurais,
que estiveram em funcionamento no período de 1933 a 1968, e que
compuseram o que foi denominado, à época, Escolas Típicas Rurais. Os
resultados apontaram que essas escolas foram concebidas visando ao
atendimento de demandas prementes no momento histórico de sua
implementação. Essas demandas estavam relacionadas, principalmente, à
formação de uma identidade nacional, à fixação do homem no campo, à
difusão do sanitarismo e à formação para o trabalho agrícola. Os três tipos
de escolas estudadas apresentaram diversos pontos convergentes com a
concepção de educação do Movimento pela ruralização do ensino
(MORAES, 2014).
Durante a realização da pesquisa de Mestrado constatou-se, assim,
a importância e o protagonismo do Movimento pela ruralização do ensino,
que, sobretudo entre as décadas de 1930 e 1950, atuou nas áreas da
economia, da política e da cultura, em diferentes regiões do Brasil,
defendendo e colocando em prática sua concepção de escola ruralizada.
Com base nessa constatação, em orientações da Profa. Rosa Fátima
de Souza, em fontes localizadas na pesquisa documental realizada no
Mestrado e após o ingresso, em 2015, no curso de Doutorado, definiu-se
como temática de estudo o Movimento pela ruralização do ensino e foi
desenvolvida a pesquisa que resultou neste livro.
Após a delimitação do tema da pesquisa do Doutorado, da
realizacão da pesquisa bibliográfica e com base na pesquisa desenvolvida
no Mestrado (MORAES, 2014), delimitaram-se o problema, os objetivos
e a hipótese que conduziram à elaboracão deste livro.
Portanto, interessa neste livro entender: como ocorreu, no Brasil,
entre as décadas de 1930 e 1950, o processo de circulação das ideias do
23
Movimento pela ruralização do ensino? Essas ideias foram apropriadas em
diferentes regiões do Brasil? Por intermédio de que ações as ideias do
Movimento pela ruralização do ensino circularam em âmbito
internacional?
Nesse sentido, este livro tem por objetivo geral investigar a
circulação das ideias do Movimento pela ruralização do ensino no Brasil,
entre as décadas de 1930 e 1950. Já os objetivos específicos são: a) analisar
vestígios do processo de circulação das ideias dos ruralistas do ensino em
diferentes regiões do Brasil; b) identificar sujeitos envolvidos, direta ou
indiretamente, na circulação das ideias dos ruralistas do ensino no Brasil,
suas redes de sociabilidade e suas ideias em circulação; c) identificar ações
propostas ou implementadas pelos ruralistas do ensino no Brasil; d)
analisar a atuação de Sud Mennucci no Movimento pela ruralização do
ensino no Brasil; e) analisar se as ideias dos ruralistas do ensino circularam
em âmbito internacional.
No que se refere à circulação nacional, a hipótese é de que as ideias
do Movimento pela ruralização do ensino circularam, no Brasil, entre as
décadas de 1930 e 1950, por intermédio de diversas ações e envolveram
uma rede de sociabilidade, vinculada ao ruralismo brasileiro, que defendia
um projeto de nação eminentemente agrícola. No que se refere à
apropriação, a hipótese é de que, partindo dos pressupostos dos ruralistas
do ensino, essas ideias foram apropriadas em diferentes regiões do Brasil,
de variadas formas. Já no que se refere à circulação internacional, a hipótese
é de que as ideias do Movimento pela ruralização do ensino circularam
nesse âmbito, sobretudo, por intermédio de impressos.
Para fins de delimitação temporal levou-se em consideração que o
Movimento pela ruralização do ensino, no Brasil vem à tona e ganha
repercussão na década de 1930, sendo que, na década de 1960, as ideias
24
dos ruralistas do ensino perderam espaço nas políticas educacionais,
passando a prevalecer o ideário de um ensino comum. Assim, delimita-se
como marco inicial desta pesquisa a década de 1930 e, como marco final,
a década de 1950.
Destaca-se que essa delimitação temporal foi definida com base em
leitura de bibliografia especializada, que apresenta indícios de que foi
nessas décadas que houve maior circulação das ideias do Movimento pela
ruralização do ensino no Brasil, e não somente em algum acontecimento
específico.
Segundo Souza (2009), foi no início do século XX que a educação
escolar no Brasil ampliou-se significativamente. A partir da Proclamação
da República, em 1889, foram instituídas políticas educacionais específicas
para a escola primária, porém, conforme apontam Damasceno e Beserra
(2004), foi somente na cada de 1930 e, mais sistematicamente, nas
décadas de 1950 e 1960 que se intensificaram iniciativas visando resolver
os problemas da educação rural.
Nas décadas de 1940 e 1950, vários programas ou projetos para a
educação rural foram implementados pela União, mediante a atuação
principalmente do Ministério da Educação e Saúde, do Ministério da
Agricultura e do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP).
Assim, nesse momento de expansão das políticas educacionais para
a educação rural no Brasil, os ruralistas do ensino, colocaram, em alguma
medida, em prática sua proposta de escola primária rural. Em 1930, por
exemplo, é publicado o livro A Crise Brasileira de Educação, de autoria de
Sud Mennucci, e que apresenta discussão sobre a ruralização do ensino.
Nas décadas de 1940 e 1950 foram implementadas diversas ações por
sujeitos desse Movimento, como, a demanda pela expansão das Escolas
Normais Rurais.
25
Considera-se que este livro é relevante, tanto na perspectiva
histórica do tempo passado quanto na perspectiva histórica do tempo
presente. No que se refere à primeira perspectiva, ressaltam-se as lacunas
em termos de pesquisas acadêmico-científicas sobre a temática da história
da educação rural. Já no que se refere à segunda perspectiva, considera-se
que, especialmente a partir da década de 1990, a temática da educação
destinada aos povos do campo tem estado em efervescência, pois a
Educação do Campo foi tornada uma política pública e vêm sendo
sistematicamente realizados diversos eventos e outras iniciativas levadas a
termo por movimentos sociais ou organizações ligadas aos povos do
campo, especialmente aqueles envolvidos mais diretamente com a
Educação do Campo, além de iniciativas concebidas ou desenvolvidas no
âmbito acadêmico-científico (TORRES; SILVA; MORAES, 2014).
Destaca-se que, com base na pesquisa bibliográfica, constata-se que
já existiam vestígios e notas dispersas sobre a circulação das ideias dos
ruralistas do ensino. Porém, uma contribuição deste livro é apresentar, de
forma sistematizada, a circulação dessas ideias, inclusive no que se refere às
ações e aos sujeitos envolvidos, direta ou indiretamente, na promoção dessa
circulação.
A pertinência do tema deste livro pode ser confirmada também por
haver, em trabalhos acadêmico-científicos, pontos de relativa confluência,
produzidos recentemente, como, as Teses de Doutorado de Ramal (2016)
e de Basso (2018), bem como a publicação, em 2016, em formato de livro,
da Tese de Doutorado de Bezerra Neto, defendida em 2003 (BEZERRA
NETO, 2003; 2016).
Considera-se que a pesquisa que resulta neste livro contribui para
o preenchimento de lacunas sobre aspectos da história do ensino primário
rural no Brasil entre as décadas de 1930 e 1950, especialmente sobre a
26
ruralização do ensino, temática que continua a demandar pesquisas e a
causar polêmicas.
Nesta pesquisa opta-se pela abordagem da História Cultural,
recorrendo-se principalmente a contribuições de Chartier (1985; 2011),
de Ginzburg (1989), de Gruzinski (2001; 2003), de Le Goff (2013) e de
Prost (2008).
O corpus documental da pesquisa de que resulta este livro está
escudado nas seguintes fontes: a) o arquivo pessoal de Sud Mennucci; b)
um periódico de âmbito nacional a Revista Brasileira dos Municípios, de
1948 a 1959; c) um periódico de âmbito estadual a Revista do Professor,
de 1934 a 1959 e d) livros de autoria de Sud Mennucci (1930a; 1932c;
1935; 1944; 1946b) sobre educação rural publicados no período
delimitado para esta pesquisa.
Considera-se que as fontes selecionadas configuram importante
aporte, seja pelo seu conteúdo, seja, no caso do arquivo pessoal de Sud
Mennucci, pelo seu caráter inédito. Isso porque, a rigor, esse arquivo foi
disponibilizado para consulta pública somente em 2016, pois, até então,
havia restrição para acesso a esse material.
Os documentos foram examinados levando-se em consideração os
apontamentos de Ginzburg (1989) sobre “indícios”, “pistas” ou “sinais”
que caracterizam o “paradigma indiciário”. Esse autor (1989, p. 152)
destaca que esse paradigma tem “[...] capacidade, a partir de dados
aparentemente negligenciáveis, de remontar a realidade complexa não
experimentável diretamente”. Nesse sentido, os “indícios” são
fundamentais, pois, “Se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas
sinais, indícios que permitem decifrá-la” (GINZBURG, 1989, p. 177).
O arquivo pessoal de Sud Mennucci foi escolhido pelo fato de esse
autor ser o principal intelectual do Movimento pela ruralização do ensino
27
no Brasil e também pelo fato de ter sido encontrado, nesse arquivo, um
conjunto de cartas e telegramas trocado entre esse autor e sujeitos de
diferentes Unidades da Federação, bem como de outros países, o que indica
circulação de ideias sobre a educação rural e sobre a ruralização do ensino.
No entanto, foram utilizados também alguns recortes de jornais constantes
nesse arquivo que abordam a questão da ruralização do ensino.
A Revista Brasileira dos Municípios foi escolhida por apresentar
importantes dados de diferentes Unidades da Federação
6
e de Municípios
brasileiros, no que tange à educação rural, inclusive. No entanto, as
discussões sobre educação rural apresentadas nos artigos são feitas
considerando-se aspectos não necessariamente pedagógicos.
Conforme aponta Gruzinski (2003), as conexões entre dimensões
políticas e culturais, local e global, entre sujeitos e momentos históricos,
dentre outros fatores, podem auxiliar a evitar reducionismos e
etnocentrismos. Assim, considerou-se o potencial da Revista Brasileira dos
Municípios para auxiliar no processo de considerar aspectos para além dos
pedagógicos.
Essa Revista, órgão do Conselho Nacional de Estatística e da
Associação Brasileira dos Municípios, publicada de 1948 a 1968 e editada
trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, tinha
“[...] como objetivo essencial a difusão e valorização da política
municipalistica; assim sendo, contribuir[ia], por tôdas as formas possíveis,
para o desenvolvimento econômico e o aperfeiçoamento cultural dos
Municípios brasileiros.” (IBGE, 1948, p. 2). Segundo o IBGE (1948, p.
2), o programa dessa Revista visava
6
Não se ignora o fato de que há significativas diferenças entre as diversas Unidades da Federação
em termos de políticas educacionais para o ensino primário rural no Brasil.
28
[...] informar e educar, assegurando às Municipalidades a mais ampla
colaboração técnica, a elucidação oportunidade e o esclarecimento
adequado, no trato e exame dos problemas administrativos de interêsse
imediato para os governos locais. Trata-se, pois, de mais uma iniciativa
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, inspirada, como tôdas
as demais que já se inscreveram em seu acervo de realizações, no
pensamento de servir o Brasil, contribuindo, na medida das
possibilidades, para o encaminhamento, em têrmos decisivos, dos
problemas de organização nacional.
Entre as décadas de 1940 e 1950, período que é abarcado pela
delimitação temporal desta pesquisa, foram publicados 39 volumes,
totalizando 48 números da Revista Brasileira dos Municípios. Foram
selecionados para análise 20 artigos que abordam o ensino primário rural.
A Revista do Professor foi selecionada como fonte desta pesquisa por
se tratar de um importante periódico, que circulou entre 1934 e 1965,
publicado pelo Centro do Professorado Paulista (CPP), destinado a
professores da rede pública de ensino paulista e que apresenta diversos
artigos sobre a temática da ruralização do ensino.
Essa Revista, entre 1934 e 1965, totalizou 98 números publicados,
sendo 22 na primeira fase, e 76, na segunda. No entanto, desse total, foram
considerados, para esta pesquisa, os 71 números publicados entre 1934 e
1959. Desses 71 números foram selecionados para análise 40 artigos que
abordam, direta ou indiretamente, a questão da ruralização do ensino.
Quanto aos livros de autoria de Sud Mennucci, foram selecionados
aqueles mais relacionados à ruralização do ensino e que circularam, seja em
âmbito nacional seja em âmbito internacional. Foram selecionados os
seguintes livros para análise, A Crise Brasileira de Educação (1930a), O que
29
fiz e pretendia fazer (1932c), Pelo sentido ruralista da civilização (1935),
Ruralização (1944) e Discursos e Conferencias Ruralistas (1946b).
Na análise dessas fontes considerou-se o que Prost (2008) destaca
sobre os “fatos” e a “crítica histórica”. Segundo esse autor, a “crítica
histórica” é dividida por alguns teóricos entre “crítica externa” e “crítica
interna”. A primeira crítica “crítica externa” “[...] incide sobre os caracteres
materiais do documento: seu papel, tinta, escrita e marcas particulares que
o acompanham. Por sua vez, a crítica interna refere-se à coerência do texto,
por exemplo, a compatibilidade entre sua data e os fatos mencionados.”
(PROST, 2008, p. 57). Assim, realizaram-se problematizações e
inferências sobre alguns aspectos que pareciam consolidados entre as fontes
analisadas.
Embora em algumas fontes analisadas apareça o termo ruralismo
pedagógico”, como tem sido frequentemente tratado na produção
acadêmico-científica, nesta pesquisa, optou-se por adotar o termo
ruralização do ensino”.
A esse respeito, Monarcha (2010) explica que, a partir da década
de 1980, passou-se a fazer referência ao Movimento pela ruralização do
ensino como “ruralismo pedagógico”:
Desde o início do século XX, o ‘ruralismo pedagógico’, como será
nomeado pelo discurso acadêmico, converte-se em assunto opulento
nas obras de Silvio Romero e Alberto Torres, opulência magnificada
pela Sociedade de Amigos de Alberto Torres e escritos sociais de
Antonio Carneiro Leão, Belizário Pena e Sud Mennucci. Depois viriam
os congressos de ensino rural e/ou regional, na Bahia e em São Paulo,
e o nunca-acabar de escritos sociais agraristas. A bem dizer, léxico e
fórmulas, ao se institucionalizarem, ampliam a mobilização psicológica
em torno do assunto. (MONARCHA, 2010, p. 152)
30
Conforme salienta Prado (1995), o “ruralismo pedagógico” foi ao
encontro do pensamento educacional do Estado Novo (1937-1945),
devido à importância atribuída ao meio rural pelo governo federal nesse
momento. Exemplificam isso a denominada “Marcha para o Oeste”
7
e o
“Oitavo Congresso Brasileiro de Educação”
8
, que ocorreu em Goiânia, em
1942.
O Movimento pela ruralização do ensino parte de uma crítica à
escola primária destinada, à época, as populações de áreas rurais e propõe
um outro modelo de escola primária. No entendimento de Maia (1982, p.
27, grifos nossos),
Pensava-se num determinado tipo de escola que atendesse as
orientações do ‘ruralismo pedagógico’. Propunha-se uma escola
integrada às condições locais, regionalista, cujo objetivo maior era
promover a ‘fixação’ do homem ao campo. [...] Isto porque a ‘fixação
do homem ao campo’, a ‘exaltação da natureza agrária do brasileiro’
faziam parte de mesmo quadro discursivo com que a oligarquia rural
defendia seus interesses. Por outro lado, o grupo industrial também
ameaçado, pelo ‘inchaço’ das cidades e a impossibilidade de absorver
mão-de-obra, engrossava a corrente ruralista.
A producão historiográfica sobre o “ruralismo pedagógico
9
, termo
recorrentemente utilizado em Teses, Dissertações e artigos selecionados,
aborda, em linhas gerais, os seguintes assuntos: a) concepção de educação
do ruralismo pedagógico (BEZERRA NETO, 2003; 2006; RAMAL,
7
Para mais informações, ver estudo de Prado (1995).
8
Para mais informações, ver estudo de Ávila (2013).
9
Algumas das principais críticas aos ruralistas do ensino encontradas em produções acadêmico-
científicas analisadas sobre essa temática referem-se à ênfase atribuída à educação para combater o
êxodo rural e às condições precárias de vida das populações de áreas rurais.
31
2016); b) práticas e estratégias utilizadas pela cruzada ruralista, como por
exemplo, a Revista Chácaras e Quintais e os Clubes Agrícolas (FIORI,
2002; MOURA, 2003); c) escolanovismo e ruralismo (ARAÚJO, 2012;
CAPELO, 2006); d) formação de professores ruralizados no Estado de São
Paulo (BASSO, 2018); e) Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte
(MAGALHÃES JUNIOR, 2009; MAGALHÃES JUNIOR; FARIAS,
2007a; 2007b; MAGALHÃES JUNIOR; VARELA, 2016; SILVA, 2009);
f) pensamento ruralista de alguns intelectuais, como, Alberto Torres,
Carneiro Leão e Sud Mennucci (FONSECA, 2014; SANTOS, 2016;
TOTTI; MACHADO, 2013); e g) escola primária rural nos estados do
Maranhão, Mato Grosso, Sergipe e São Paulo (BASSO; BEZERRA
NETO, 2013; NASCIMENTO, 2010; SÁ; SILVA, 2014; SILVA;
MESQUITA, 2018).
33
O arquivo pessoal de Sud Mennucci:
cartas que contam histórias
O arquivo pessoal de Sud Mennucci é composto por 11 caixas de
documentos, totalizando 6.170 páginas. Os tipos de documentos contidos
nessas caixas são: cartas, telegramas, recortes de jornais, livros, relatórios,
anais e registros de eventos, comprovantes de compras de imóveis,
rascunhos de livros, artigos, discursos, currículo e memorial de Sud
Mennucci e documentos oficiais (Decreto-lei e Resolução). Considerando-
se a variedade, a quantidade e a especificidade dos documentos desse
arquivo, foi um desafio analisá-lo, sobretudo pelo fato de algumas cartas e
telegramas não permitirem a identificação segura dos remetentes ou, então,
que a compreensão de conteúdo foi difícil ou inviável, devido à grafia
utilizada.
A maior parte dos documentos desse arquivo é composta por
correspondência recebida por Sud Mennucci, que totaliza 3.489 páginas.
Além dessa correspondência, há recortes de jornais da época,
principalmente notícias sobre educação, que totalizam 2.143 páginas. Os
outros 538 documentos abordam assuntos variados, sobretudo
informações sobre a atuação profissional de Sud Mennucci. Foi
selecionada como uma das fontes desta pesquisa essa correspondência. Para
exemplificação, apresenta-se, na Imagem 1, carta de Amália Xavier de
Oliveira enviada a Sud Mennucci em 1948, na qual é abordada temática
relacionada à ruralização do ensino.
34
35
Imagem 1: Carta de Amália Xavier de Oliveira a Sud Mennucci (1948).
O primeiro contato com o arquivo pessoal de Sud Mennucci
ocorreu ainda no Mestrado, quando do desenvolvimento da pesquisa
documental, realizada no primeiro semestre de 2013. Esse arquivo, doado
pela família de Sud Mennucci ao Centro de Referência em Educação
36
“Mário Covas” (CRE), encontrava-se, à época, abrigado na Hemeroteca
10
da Escola Estadual “Caetano de Campos”, localizada no município de São
Paulo. Nessa ocasião foi possível identificar o potencial dessa
documentação para o desenvolvimento de pesquisas e digitalizar uma de
suas caixas.
O segundo contato com esse arquivo ocorreu em 2015, no início
do curso de Doutorado quando, permanecendo vários dias na “terra da
garoa”, foi possível finalizar a digitalização dos documentos. O arquivo
estava temporariamente alocado no CRE, cujo prédio encontrava-se em
reforma, por isso com acesso restrito e não disponível para consulta. No
entanto, o acesso somente foi possível pela solicitude do funcionário
Diógenes Nicolau Lawand, responsável pelo setor de documentação desse
Centro.
Nesta pesquisa, elege-se uma das múltiplas facetas do arquivo
pessoal de Sud Mennucci, qual seja, a sua correspondência, pois, além
dessa, há diversas outras facetas, pois esse arquivo é composto por uma
multiplicidade de tipos de documentos, envolvendo assuntos tanto de
âmbito pessoal quanto profissional. No caso da correspondência de caráter
mais profissional, ainda que em determinados casos seja difícil separar o
pessoal do profissional, destaca-se que foram identificadas cartas e
telegramas que envolveram a atuação de Sud Mennucci em diferentes
momentos da sua vida.
Folheando as milhares de páginas do arquivo pessoal de Sud
Mennucci, o pesquisador depara-se com os sentidos inscritos no ato do
arquivamento da própria vida. Esse arquivo envolve diversas seleções que,
10
O arquivo pessoal de Sud Mennucci integra o conjunto documental da Escola Normal “Caetano
de Campos”, que no decorrer de seu processo de preservação esteve alocado em diferentes
localidades do município de São Paulo. Atualmente essa documentação está alocado no Centro de
Memória e Acervo Histórico do CRE, também no município de São Paulo.
37
por sua vez, envolvem variadas intencionalidades. Há, no mínimo, três
grandes processos de seleção envolvendo esse arquivo: primeiramente, uma
seleção efetuada por Sud Mennucci, em segundo, da família ao doar esse
Arquivo, e por fim, do Centro de Memória ao recebê-lo.
Em especial na primeira e na segunda seleções, não se sabe se houve
ou não documentos que foram excluídos e, caso positivo, caberia
questionar: por quais razões? É importante considerar também a trajetória
do próprio arquivo, do ato de guardar protagonizado pelo próprio Sud
Mennucci, o que ele guardou e o que ele mesmo descartou, a seleção feita
pela família no ato de doação e do Centro de Memória, ao receber.
A constituicão de um arquivo pessoal, no entendimento de Cunha
(2017b, p. 189),
[...] permite formular interrogacões sobre as motivacões do processo de
producao e acumulacao documental, ja que o gesto de guardar
documentos é atravessado por uma fabricacão material e simbólica.
Todos nós produzimos arquivos. Guardamos objetos, documentos
pessoais e isso parece ser um processo tão natural que sequer se percebe
sua existencia: guardados na gaveta da mesa de trabalho, em uma pasta
no fundo do armario, escondidos no meio de um livro esquecido na
estante, entre tantos outros lugares.
Considerando-se esses apontamentos de Cunha (2017b),
apresentam-se alguns questionamentos, não com a pretensão de respondê-
los, mas, sim, visando problematizar e inclusive levar em consideração os
apontamentos de Prost (2008) e Le Goff (2013): por que Sud Mennucci
guardou esses documentos? Quais os critérios por ele utilizados para
realizar essa seleção?
38
Como bem lembra Artières (1998, p. 33), “[...] a constituicão pelo
indivíduo de arquivos pessoais, longe de restringir e de circunscrever, é
formidavelmente produtiva.Porém, esta atividade não é neutra, pois, o
arquivamento do eu, conforme o mesmo autor destaca,
[...] o é uma prática neutra; é muitas vezes a única ocasião de um
indivíduo se fazer ver tal como ele se ve e tal como ele desejaria ser
visto. Arquivar a própria vida, é simbolicamente preparar o próprio
processo: reunir as pecas necessárias para a própria defesa, organizá-las
para refutar a representacão que os outros tem de nós. Arquivar a
propria vida e desafiar a ordem das coisas: a justica dos homens assim
como o trabalho do tempo. (ARTIÈRES, 1998, p. 31)
Assim, reitera-se a importância do arquivo pessoal de Sud
Mennucci para o desenvolvimento da pesquisa que resultou neste livro,
porém, destaca-se que, no processo de análise e reanálise da
correspondência, tentou-se levar em consideração a não neutralidade desse
arquivamento, visto que parte desse arquivo foi organizado pelo próprio
Sud Mennucci. Dessa forma, no processo de análise, tentou-se considerar
os apontamentos de Prost (2008) sobre a crítica às fontes.
Conforme Monsiváis (2014), as
[...] cartas personales como medios de expreción consignan mensajes
que, en ocasiones, son mejores escritos que orales. Las palabras escritas
no se desvanecen con el tiempo, permanecen; no se las lleva, como aire
que son, el viento: perduran en el papel.
39
Há que se considerar que a correspondência de Sud Mennucci
extrapola a dimensão pessoal, pois a maioria das cartas e telegramas, trata
de assuntos vinculados aos cargos públicos ocupados por ele.
Considera-se o gênero epistolar uma importante fonte para
pesquisa histórica. No arquivo pessoal de Sud Mennucci, elegeu-se a
correspondência, pela potencialidade dessa fonte para captar as filigranas
do processo de fermentação e circulação de ideias do Movimento pela
ruralização do ensino, pois nessa correspondência é possível encontrar
ressonâncias das propostas de Sud Mennucci para a educação rural, bem
como vestígios da sua atuação, das representações, das construções de
sentido, entre outras.
Apresentam-se, a seguir, notas sobre os procedimentos
metodológicos adotados para análise desse arquivo. Conforme
mencionado, foi digitalizado todo o arquivo pessoal de Sud Mennucci,
compreendendo 11 caixas de documentos. Para iniciar essa etapa do
levantamento de dados para a pesquisa, foi necessário organizar esse
arquivo digital, classificando-o por tipologias e separando-o em pastas
correspondência, recortes de jornais, livros, currículo de Sud Mennucci,
dentre outros.
Em relação à correspondência, considerando-se o objetivo geral da
pesquisa, realizou-se a leitura das 1680 cartas e telegramas e foi selecionado
um total de 442 que, direta ou indiretamente, abordam a questão da
ruralização do ensino. Apresenta-se, no Quadro 1, correspondência
organizada por categoria e quantidade de referências.
40
Categorias Total por categoria
Ruralismo (1935-1947) 43
Circulação (1923-1948) 192
Objetos culturais (1931-1945) 28
Menções a escritos de Sud Mennucci (1933-1946) 57
Personalidades representativas (1919-1948) 56
Múltiplas categorias (1932-1947) 66
Total geral 442
Quadro 1: Correspondência ordenada por categoria e quantidade de referências.
Fonte: Fontes para o estudo da ruralização do ensino no Brasil (1910-1940) (MORAES,
2019b).
A identificação, seleção e organização da correspondência para
análise foi realizada seguindo a ordenação do próprio arquivo,
compreendendo 11 caixas de documentos. O primeiro passo consistiu em
uma ordenação exploratória.
Para a primeira caixa composta por 327 cartas e telegramas,
estabeleceram-se cinco categorias “Ruralismo”, “Circulação”, “Objetos
culturais”, “Menções ao livro A Crise Brasileira de Educação” e “Outros”.
Buscou-se uma ordenação do arquivo digital numerando as cartas e em
bloco à parte elaborou-se uma síntese do conteúdo de cada carta
utilizando-se palavras-chave. Destaca-se que na categoria “Outros” foram
inseridas cartas e telegramas que não abordavam assuntos relacionados à
questão da educação rural. Todavia, essa organização inicial não se
mostrou adequada devido à insuficiência das categorias estabelecidas e da
necessidade de releitura das cartas para elaboração das referências, haja vista
a dificuldade de sintetizar os conteúdos em palavras-chave.
41
Para a sistematização da correspondência das outras dez caixas,
estabeleceram-se oito categorias: Ruralismo; Circulação; Objetos culturais;
Menções a escritos de Sud Mennucci; Personalidades; Múltiplas
categorias; Outros; e Ilegíveis.
As cartas e telegramas que não abordavam assuntos que pudessem
contribuir para esta pesquisa, foram inseridas em uma subpasta
denominada “Outros”. Já no que se refere às cartas e aos telegramas cuja
leitura não foi possível efetuar, devido principalmente às características da
grafia, foram inseridas na subpasta “Ilegíveis
11
”.
Após realizar essa etapa de classificação dos documentos,
finalmente foram feitas leituras e elaborado um inventário de fontes
documentais, reunindo 442 referências
12
. Para construção desse inventário
de fontes foram seguidas as normas da ABNT para elaboração de
referências bibliográficas e foram apresentados outros dados, com vistas a
reunir informações mais detalhadas sobre as missivas
13
, conforme exemplo
citado abaixo:
11
Na subpasta “Ilegíveis”, consta um total de 11 cartas que, devido à especificidade da grafia, não
foi possível efetuar a leitura.
12
Essas referências estão disponíveis na Tese como Apêndice A (MORAES, 2019a).
13
Essa forma de inventariar a correspondência foi de suma importância no processo de análise desse
tipo de fonte.
42
SOUSA, J. Moreira de. [Carta] 8 nov. 1935, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Menciona ida de Sud as “terras gaúchas”.
Menciona articulação com o deputado Monte Arrais da bancada cearence
acerca de um “esboço de um projéto de lei, a ser apresentado, no Congresso
Nacional, autorizando Poder Executivo a criar, em cada Estado do Brasil, uma
Escola Normal Rural, de tipo superior”. Informa que presentou com o livro
Crise Brasileira de Educação
o deputado Monte Arrais, que leu e está
interessado na discussão sobre o ruralismo. Faz menção a Raul Bittencourt
(Comissão de Educação da Câmara), da bancada rio grandense do sul, acerca
de articulações ruralistas a serem apresentadas quando da discussão do Plano
Nacional de Educação. Solicita exemplar do livro “A Crise”, cópia de
conferência na A.B.E. e outros mate
riais sobre o ruralismo. Menciona:
“Precisamos fazer que o caso estoire no Congresso.” Faz menção a repercussão
da palestra de Sud no Rio Grande do Sul, diz que a escola em Juazeiro vai bem
e que a Semana Ruralista foi um sucesso. Faz menção a necessidade de
empenho pela ortografia simplificada.
Remetente: J. Moreira de Sousa Auxiliar Tecnico da Diretoria Nacional de
Educação Residencia: Rua Dr. Mendes Tavares, 24 (Carta incompleta,
apenas duas páginas)
Local: Rio de Janeiro
Data: 8 de novembro de 1935
Destinatário: Meu caro Sud
Assunto: Menciona ida de Sud as “terras gaúchas”. Menciona articulação com
o deputado Monte Arrais da bancada cearence acerca de um “esboço de um
projéto de lei, a ser apresentado, no Congresso Nacional, autorizando Poder
Executivo a criar, em cada Estado do Brasil, uma Escola Normal Rural, de tipo
superior”. Informa que presentou com o livro “Crise Brasileira de Educação”
o deputado Monte Arrais, que leu e está interessado na discussão sobre o
43
ruralismo. Faz menção a Raul Bittencourt (Comissão de Educação da
Câmara), da bancada rio grandense do sul, acerca de articulações ruralistas a
serem apresentadas quando da discussão do Plano Nacional de Educação.
Solicita exemplar do livro “A Crise”, cópia de conferência na A.B.E. e outros
materiais sobre o ruralismo. Menciona: “Precisamos fazer que o caso estoire no
Congresso.” Faz menção a repercussão da palestra de Sud no Rio Grande do
Sul, diz que a escola em Juazeiro vai bem e que a Semana Ruralista foi um
sucesso. Faz menção a necessidade de empenho pela ortografia simplifica.
Citação: “Vi pelos jornais, que a idéa do ruralismo esteve luminosamente em
fóco, nas cochilas, pelo seu verbo ardente e empolgante. Não se está certo da
ardencia e empolgancia de seu verbo, quando prega ruralismo.
No processo de análise e reanálise dessa correspondência, foram
considerados critérios, tais como, suporte, data, vocativo, estilos e formas
de despedida, conforme destaca Cunha (2017a), com base em
apontamentos da historiadora Veronica Sierra Blas (2003).
Partindo de apontamentos de Cunha (2017a), de Mortatti (1999)
e de Monsiváis (2014), considera-se que algumas fontes, como, a
correspondência do arquivo pessoal de Sud Mennucci, podem ter passado
por um intencional processo de seleção, conservação e disponibilização
para consulta pública. Assim, tentou-se analisá-las considerando-se que “A
crítica da sinceridade e da exatidão é muito mais exigente em relação aos
depoimentos voluntários.” (PROST, 2008, p. 60).
Foram considerados, ainda, os apontamentos de Le Goff (2013)
sobre a necessidade de o pesquisador não ser ingênuo frente aos
documentos, pois, segundo esse autor (2013, p. 496-497), o documento
44
[...] não é inócuo. É, antes de mais nada, o resultado de uma
montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da
sociedade que o produziram, mas também das épocas sucessivas
durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais
continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio. O documento é
uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento (para
evocar a etimologia) que ele traz devem ser em primeiro lugar
analisados, desmistificando-lhe o seu significado aparente. O
documento é monumento.
Partindo desses apontamentos, considera-se o arquivo pessoal de
Sud Mnnucci um monumento que, não obstantes os desafios demandados
no seu processo de análise, haja vista as implicações do arquivamento do eu,
configura-se como um testemunho eivado de intencionalidades para o
processo de escrita de aspectos da história do Movimento pela rualização
do ensino.
45
1.
Sud Mennucci:
A Maior “Autoridade em Ruralismo
14
14
Orlando Roméro, da Escola de Agronomia de Areia/PB, em carta emitida em 4 de outubro de
1938. Originalmente esse missivista faz referência a Sud Mennucci “como sendo a mais autoridade
em Ruralismo”.
46
A carta que consta na epígrafe acima, escrita por Orlando Roméro
(1938), exemplifica a forma de tratamento, bem como a “representação” e
a repercussão de Sud Mennucci e de seu livro, A Crise Brasileira de
Educação, no processo de concepção e de difusão de ideias sobre a
ruralização do ensino.
Nas fontes analisadas, diversos outros sujeitos prestam deferência a
Sud Mennucci. Rubens Falcão, em texto publicado em 1945 no Jornal
Diário da Manhã, de Niterói/RJ, fazendo referência a Sud Mennucci,
destaca: “Ruralista sincero e convicto, conhecedor do sertão brasileiro de
norte a sul, construiu no Estado essa grande obra que é o grupo escolar
rural de Butantan, a cargo da professora Noemia Saraiva de Matos Cruz.
(FALCÃO, 1945)
15
.
Já Moacyr Campos, em artigo publicado na Revista do Professor,
em 1955, registra:
Desde já, esclareça-se todavia, que o apostolado de Tôrres não se
perdeu. Manteve-se presente, por isso que a bandeira tombada por
ocasião de sua morte, foi empunhada por seus discípulos, à frente dos
quais se ergueu a figura de Sud Mennucci, o laureado autor da ‘A crise
brasileira de educação’, verdadeira bíblia do ruralismo. (CAMPOS,
1955, p. 20)
Os argumentos acima apresentados, fazendo referência ao
protagonismo de Sud Mennucci na difusão das ideias pela ruralização do
ensino, servem de pretexto para abertura deste capítulo, no qual o objetivo
principal é apresentar discussão sobre aspectos do processo do
15
Trata-se de recorte de jornal constante no arquivo pessoal de Sud Mennucci, no qual não consta
o número de páginas.
47
envolvimento de Mennucci com a ruralização do ensino. Em outras
palavras: como Sud Mennucci se constitui ruralista? Como Mennucci vai
construindo seu pensamento e sua notoriedade na sociedade brasileira?
1.1 Sud Mennucci (1892-1948):mais ardoroso, intrépido e destemido
soldado do batalhão de ruralistas da escola primária do Brasil
16
Sud Mennucci
17
, filho de imigrantes italianos, nasceu no dia 20 de
janeiro de 1892, em Piracicaba/SP e faleceu, aos 56 anos, em 22 de julho
de 1948, em São Paulo/SP. Diplomou-se pela então Escola Complementar
de Piracicaba, na turma do ano de 1908.
Em 1910, Mennucci iniciou sua carreira na área da educação como
professor, atuando em uma escola primária rural do município de
Cravinhos/SP. Entre 1913 e 1914, fez parte de uma missão de professores
paulistas que reorganizou o ensino das Escolas de Aprendizes Marinheiros
do Brasil, atuando em uma “Escola de Belém do Pará”. Voltando a São
Paulo, ainda em 1914, foi nomeado professor adjunto no Grupo Escolar
de Porto Ferreira/SP, atuando nesse Grupo até 1918 (MENNUCCI,
1946a).
No decorrer de sua vida, Mennucci esteve envolvido com diversos
acontecimentos ou organizações, entre elas, a Sociedade dos Amigos de
Alberto Torres, a Academia Brasileira de Letras. Além disso, em 1920,
liderou o recenseamento escolar em São Paulo, parte da Reforma Sampaio
Dória, e em 1927, realizou o recenseamento escolar do Distrito Federal
16
J. Moreira de Sousa, em artigo publicado na Revista Brasileiro de Municípios, em 1951.
17
Há diversos trabalhos sobre aspectos da vida e da obra de Sud Mennucci, entre eles: Fonseca
(2014), Giesbrecht ([1997?]), Mattos (2004), Menezes (2015), Monarcha (2007; 2010) e Santos
(2015).
48
(VICENTINI; LUGLI, 2002). Era recorrentemente homenageado por
algumas organizações, bem como convidado para proferir conferências.
Outro aspecto importante da trajetória de Mennucci a ser
mencionado é sua participação, a convite de Fernando de Azevedo
18
, no
Inquérito de 1926. Esse Inquérito abordou o Ensino primário e Normal,
o Ensino Profissional e o Ensino Superior, e somente seis sujeitos foram
convidados a respondê-lo. Nesse Inquérito, Sud Mennucci apresenta
breves comentários sobre a escola primária rural, faz críticas à Escola
Normal vigente e apresenta concordância com as ideias de Sampaio Dória
(AZEVEDO, 1960).
Em 1930, juntamente com Amadeu Mendes e Cimbelino de
Freitas, Sud Mennucci participou da fundação do Centro do Professorado
Paulista (CPP), entidade na qual, com alguns momentos de afastamento,
atuou como Presidente de 1931 a 1948 (GIESBRECHT, [1997?];
MENNUCCI, 1946a). Apresenta-se, a seguir, na Imagem 2, fotografia na
qual Sud Mennucci realiza abertura de Curso de Extensão Cultural,
promovido pelo CPP em 1945.
18
Fernando de Azevedo nasceu em São Gonçalo do Sapucaí/MG, em 20 de abril de 1894, e faleceu
em 17 de setembro de 1974, na cidade de São Paulo/SP. Formou-se em Direito, em 1918.
Trabalhou como professor, bibliotecário, jornalista e crítico literário. Entre suas publicações,
destaca-se: A instrução pública em São Paulo, posteriormente intitulado e publicado como A
Educação na encruzilhada (PILETTI, 2002).
49
Imagem 2: Sud Mennucci, em 1945, em atividade promovida pelo CPP.
Fonte: Giesbrecht ([1997?]).
Mennucci foi, também, Delegado Regional de Ensino de
Campinas e de Piracicaba, Diretor do Ginásio Moura Santose fundou
o Ginásio Paulistano, ambos no município de São Paulo. Além disso,
Mennucci atuou como Diretor Geral do Ensino no Estado de São Paulo
por três períodos, de 24/11/1931 a 24/05/1932, na Interventoria Federal
do General Manuel Rabelo
19
, de 05/08/1933 a 24/08/1933, na
Interventoria Federal do General Daltro Filho, e de 1943 a 1945, na
Interventoria Federal de Fernando Costa
20
(MENNUCCI, 1946a;
VICENTINI; LUGLI, 2002).
19
Em carta de 6 de dezembro de 1932, Manuel Rabelo envia missiva a Sud Mennucci informando
recebimento de dois volumes de seus livros, quais sejam, 100 anos de Instrução Publica e Brasil
Desunido, bem como agradece e lhe oferece os seus préstimos para o que for preciso da capital do
país, Rio de Janeiro (RABELLO, 1932).
20
Fernando de Sousa Costa nasceu São Paulo/SP, em 10 de junho de 1886, e faleceu em 21 de
janeiro de 1946, também nessa cidade. Formou-se em Engenharia Agronômica, pela Escola
50
Sud Mennucci mantinha relações de proximidade política com o
Interventor Federal Fernando Costa e menciona a afinidade desse
Interventor com as ideias dos ruralistas do ensino. No entendimento de
Mennucci (1944, p. 58, grifos nossos), a ruralização do ensino configura-
se como
[...] um programa estruturado em sólidos vigamentos. Já não estamos
em simples esboço ou em fase de propaganda. Já é execução. As linhas
mestras do novo edifício são claras e simples, lógicas e lúcidas. Tendem,
positivamente, ao fim.
Mas, reconheçamos que só o obtivemos quando um agrônomo de
indiscutível mérito tomou conta do comando do Estado e trouxe no
coração esse arraigado e profundo amor pelas cousas da terra e essa
generosa admiração pelo homem dedicado aos labores da terra.
E agora é aguardar os resultados.
Outro sujeito vinculado à administração pública com o qual Sud
Mennucci mantinha relações de proximidade política era com Miguel
Costa, que também viveu em Piracicaba e que na “Revolução de 1930”
também apoiou Getúlio Vargas (GIESBRECHT, [1997?]). Conforme
apontam Vicentini e Lugli (2002, p. 962), nos anos 1930, “[...] Sud
Mennucci fez parte da Legião Revolucionária, entidade partidária de
Superior de Agricultura “Luís de Queirós”, de Piracicaba/SP, em 1907. Ao longo de sua atuacão
profissional ocupou vários cargos. Em 1937 foi presidente do Departamento Nacional do Café;
entre 1937 e 1941 foi Ministro da Agricultura; no início de junho de 1941 foi nomeado Interventor
Federal em São Paulo. Entre suas publicações, destacam-se: Idealismo construtor (1930), Política do
café (1937), As realizações do presidente Getúlio Vargas no Ministério da Agricultura (1941), Novas
terras e terras cansadas (1943) e No governo de São Paulo (1944) (CPDOC/FGV).
51
Getúlio Vargas que, em São Paulo, representava o movimento tenentista
chefiado por Miguel Costa.”
Nesse sentido, Sud Mennucci apresentava afinidades com Getúlio
Vargas. O Presidente da República, Getúlio Vargas, durante seus dois
períodos de governo de 3 de novembro de 1930 a 29 de outubro de 1945
e de 31 de janeiro de 1951 a 24 de agosto de 1954 , manifestou afinidades
com propostas defendidas pelos ruralistas. Em 1952, Vargas publicou o
artigo intitulado “A fixação do homem ao campo e a batalha da produção”
na Revista dos Municípios, defendendo que o
[...] aumento da producão se obterá pela fixacão do homem ao campo,
pela melhoria das condicões técnicas das culturas, pelo
desenvolvimento dos transportes e do sistema de armazenamento e
preservacão das colheitas e por um financiamento que assegure um
nimo anual de producão agrária para os generos de primeira
necessidade. (VARGAS, 1952, p. 366)
A questão do combate ao êxodo rural e, por conseguinte, a fixação
do homem no campo foi também defendida pelos ruralistas do ensino.
Ainda, nesse sentido, há que se considerar os apontamentos de Araújo,
Souza e Pinto (2015), sobre a defesa apresentada e lida perante a
Assembleia Nacional Constituinte de 1933 de Getúlio Vargas de uma
educação profissional e técnica para as populações de áreas rurais. Para
Vargas, a
[...] instrução que precisamos desenvolver, até o limite extremo das
nossas possibilidades, é a profissional e técnica. Sem ela, sobretudo, na
época caracterizada pelo predomínio da máquina, é impossível
trabalho organizado. A par da instrução, a educação: dar um sertanejo,
52
quase abandonado a si mesmo, a consciência dos seus direitos e deveres;
fortalecer-lhe a alma, convencendo-o que existe solidariedade humana;
enrijar-lhe o físico pela higiene e pelo trabalho, para premia-lo, enfim,
com a alegria de viver proveniente do conforto conquistado pelas
próprias mãos. (BRASIL, 1933, p. 138-139 apud ARAÚJO; SOUZA;
PINTO, 2015, p. 71-72)
O posicionamento do então Presidente Vargas sobre a concepção
de educação a ser proporcionada às populações de áreas rurais propicia
indícios para a compreensão da exitosa carreira profissional Sud Mennucci
e das suas relações com a esfera federal, inclusive no que se refere à
ocupação ou exercício de cargos em diferentes órgãos.
Além da área da educação, Sud Mennucci ocupou diversos cargos
ou funções em diferentes setores, departamentos e secretarias estatais, e
desempenhou diversas atividades, entre elas, educador, geógrafo,
sociólogo, jornalista e escritor. No jornalismo, destacou-se por sua atuação
como diretor de O Tempo, jornal varguista, e colaborador em O Estado de
S. Paulo, a convite de Júlio de Mesquita (MENNUCCI, 1946a).
Sud Mennucci apresentou divergências com ideias do
escolanovismo, pois entendia que esse movimento tinha por base
sociedades industrializadas e tentar replicar no Brasil métodos
desenvolvidos em outros países, configurava-se uma espécie de
macaqueação”. Mennucci criticava a transposição, para o Brasil, de
métodos de ensino e de propostas pedagógicas desenvolvidos para países
industrializados (DISCURSO..., 1937).
Em 1929, Sud Mennucci envolveu-se em uma polêmica com o
escolanovista Renato Jardim
21
. Nesse ano, foram publicados 18 artigos no
21
Renato Jardim nasceu em Resende/RJ, em janeiro de 1868, e faleceu em 24 de março de 1951,
na cidade de São Paulo/SP. Formou-se em Medicina, pela Faculdade de Medicina do Rio de
53
Diário de São Paulo e no O Estado de S. Paulo em que Sud Mennucci e
Renato Jardim
fizeram uma discussão sobre assuntos relacionados à
educacão. Segundo Fonseca (2014, p. 15), “A notoriedade desses artigos é
evidenciada devido à repercussão no meio educacional, já que esses textos
foram republicados no ano seguinte na Revista do Ensino de São Paulo e
uma selecão de alguns desses artigos constituiu o livro A Escola Paulista
(1930).”
Em seus artigos Mennucci dizia que as propostas escolanovistas não
tinham relação com a vocação agrícola do Brasil, criticando osamantes
das exterioridades” e a “escola carranca” que os escolanovistas defendiam.
O discurso de Mennucci era “[...] repleto de passagens onde exalta a
educacão paulista e ataca os renovadores, ou seja, aqueles que se diziam
defensores e um ensino baseado nos princípios da Escola Nova(NERY,
2009, p. 209-210).
Em vários momentos de sua trajetória Sud Mennucci manifesta
discordância com as propostas escolanovistas, consideradas, por Mennucci,
uma “macaqueação. Em discurso proferido em 1937 na Escola Normal
Rural de Juazeiro do Norte/CE, por ocasião da colação de grau da primeira
turma de professoras ruralistas do Brasil, Mennucci enfatiza:
Deixai que os ‘tecnicos’, com aspas, os pedagogistas de encomenda,
fabricados com pura pasta estrangeira, sorriam desdenhosos, na sua
ridicula superioridade de quem não entendeu a terra onde viu a luz,
Janeiro/RJ. Atuou como diretor da Escola Normal da Praça, localizada na cidade de São Paulo/SP.
Presidiu a Sociedade de Educação em São Paulo, instituição ligada ao escolanovismo, e que teve
entre seus membros Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, dentre outros. Foi um educador
brasileiro pertencente à geração anterior à de Fernando de Azevedo e Lourenço Filho, aliás, foi
amigo de ambos. Manteve estreitos laços com Sampaio Dória, Lourenço Filho, Fernando de
Azevedo e Almeida Júnior. Entre suas publicações, destaca-se: Escola nova, coletivismo
individualismo (1936) (NERY, 2002).
54
deixai que esses copistas, contumazes de receitas e formulas alheias, que
não sabem compreender a vida nacional a não ser macaqueando os
figurinos que lhes chegam made expressely de Londres, Nova York ou
de París, téntem zombar das conquistas reais que vamos fazendo, apesar
de tudo, no sentido de nos libertármos da tutela alienígena.
(DISCURSO..., 1937, p. 7)
Ainda sobre conflitos com alguns escolanovistas, Sud Mennucci
trocou algumasfubecadas” com Lourenço Filho
22
. Giesbrecht ([1997?])
aponta que em 1931 Lourenço Filho pede demissão do cargo de Diretor
Geral do Ensino do Estado de São Paulo e, poucos dias depois, o
Interventor Manuel Rabelo nomeou Mennucci para ocupar esse cargo.
Mas e Lourenço? Este era o seu velho amigo, nascido em Porto
Ferreira, da família dos Bergstrom Lourenço, seu colega nessa cidade e
que se transferiu depois para Piracicaba, galgando postos até chegar
onde Sud só agora chegava. Mas as relações entre eles não eram mais
aquelas dos bons tempos. Irmão de uma cunhada do Sud, Lourenço
havia se desentendido com ele, por causa de uma declaração nos jornais,
durante a visita de um professor americano a São Paulo, em meados de
22
Manoel Bergstrom Lourenco Filho nasceu em 10 de marco de 1897, na cidade de Porto
Ferreira/SP, e faleceu em 3 de agosto de 1970, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Formou-se em
Direito, em 1929. Ao longo de sua atuacão profissional, desempenhou diversas funções, tais como,
Diretor Geral da Instrucão Pública do Estado de São Paulo; em 1934, foi eleito presidente da
Associação Brasileira de Educação (ABE); em “[...] 1949, organizou e dirigiu o Seminário
Interamericano de Alfabetização e Educação de Adultos, promovido pela OEA e pela Unesco, em
Petrópolis, Rio de Janeiro, oportunidade em que recebeu título de Maestro de las Américas.”; e em
“[...] 1951, foi nomeado Presidente da Comissão Executiva do Centro de Formação de Pessoal para
Educação Fundamental na América Latina e representou o Brasil no Conselho Cultural
Interamericano, ambos com sede no México.” Entre suas publicações, destacam-se: Cartilha do poço
(1929), Introdução ao estudo da Escola Nova: bases, sistemas e diretrizes da pedagogia contemporânea
(1930) e Testes A B C, para a verificação da maturidade necessária à aprendizagem da leitura e escrita
(1933) (GANDINI; RISCAL, 2002, p. 747).
55
1930. Além disso, eles discordavam na aplicação da ‘Escola Ativa’ na
instrução pública, tema que Sud defendia exaustivamente lembre-se
o caso da polêmica com Renato Jardim, dois anos antes. Sud nunca
usou de meias palavras, fosse no jornal, fosse pessoalmente, era
extremamente franco ao defender suas idéias e este caso específico
serviu para azedar a relação entre eles. No entanto, o fato de um sucessor
suceder o outro foi apenas uma grande coincidência. De qualquer
forma, na posse de Sud, a 24 de novembro, os elogios nos discursos
de quem saía e de quem entrava foram mútuos. Mas sabia-se que esse
equilíbrio instável não deveria durar muito entre eles.
(GIESBRECHT, [1997?], p. 62, grifos nossos)
Sud Mennucci não teve tanta projeção quanto alguns
escolanovistas, porém, teve certa projeção no campo educacional paulista,
apresentando algumas propostas, principalmente para área da educação
rural, inclusive por meio de seus livros.
Sud Mennucci escreveu 16 livros relacionados às seguintes
temáticas: literatura, história, geografia, estatística e educação. Alguns
desses livros, como, Discursos e Conferencias Ruralistas (1946b), apresentam
artigos ou conteúdos de palestras e conferencias ministradas. No Quadro
2 apresentam-se, em ordem cronológica, títulos, anos de publicação e
editoras dos livros de autoria de Sud Mennucci.
56
Títulos
23
Ano de
publicação
Editora
24
Alma Contemporanea
1918
Paulo
Humor
1923
Rodapés
1927
A Crise Brasileira de Educacão
1930a
A Escola Paulista
1930b
Brasil Desunido
1932a
Oliveira, Rocha & Cia.
Cem anos de instrucão pública
(1822-1922)
1932b
Oliveira, Rocha & Cia.
O que fiz e pretendia fazer 1932c
Oliveira, Rocha & Cia.
Aspectos piracicabanos do
ensino rural
1934
São Paulo
História do Diário Oficial
1934
Pelo sentido ruralista da
civilizacão
1935
dos Tribunais
Corografia do Estado de São
Paulo
1936a J. R. de Oliveira & Cia.
O precursor do abolicionismo
1938
À margem das ‘Cartas Chilenas
1942
Ruralizacão
1944
São Paulo
Discursos e Conferencias
Ruralistas
1946 [s.n.]
Quadro 2: Livros de autoria de Sud Mennucci.
Fonte: Elaborado pela autora, com base em “Curriculum Vitae” (MENNUCCI, 1946a).
23
Títulos grafados conforme “Curriculum Vitae” de Sud Mennucci (1946a).
24
Destaca-se que somente a informação sobre a editora do livro Corografia do Estado de São Paulo
foi extraída do “Curriculum Vitae” de Sud Mennucci. A informação sobre as editoras dos demais
livros foram localizadas nas respectivas publicações.
57
Sud Mennucci, sobretudo a partir de 1930, passou a escrever sobre
educação rural, entretanto, para as finalidades desta pesquisa, destacam-se
os livros relacionados à temática da ruralização do ensino.
Entre os principais autores tomados por Mennucci para fins de
constituição de seu aporte teórico estão Alberto Torres e Henry Ford
(GIESBRECHT, [1997?]). Além disso, menciona Augusto Comte e Émile
Durkheim em seus escritos.
O encontro entre Sud Mennucci e Alberto Torres, provavelmente,
não ocorreu de forma pessoal, mas, sim, por intermédio das suas ideias
ruralistas, colocadas em circulação, de várias formas, inclusive por meio de
seus livros
O pensamento de Alberto Torres fundamentou a concepção de
educação defendida pelos ruralistas do ensino. Segundo Totti e Machado
(2013, p. 118), “[...] grande parte da essência do pensamento de Alberto
Torres contribui significativamente para a origem do Ruralismo
Pedagógico.
Os escritos de Alberto Torres refletem seu envolvimento com
determinados problemas nacionais e a defesa de um projeto de Brasil
ruralista, tecendo reflexões inclusive sobre a questão educacional. Segundo
Pinho (2007, p. 53), o denominado ruralismode Torres
[...] está expresso em sua crença de que a terra é a base da riqueza, assim
como na defesa da vocação essencialmente agrícola do Brasil,
cultivando o sonho de uma sociedade de pequenos produtores, vivendo
de forma integrada e harmônica à terra.
58
“O profeta do ruralismo”: com essas palavras Moacyr Campos
(1955) define Alberto Torres, cujas ideias poderiam ser resumidas em
quatro pontos:
Primeiro a necessidade de considerar a instrução primária como
elemento básico para a formação exata da mentalidade.
Segundo a conveniência de organizar o aparelhamento escolar sem a
cópia ridícula da legislação estrangeira, quase sempre inadaptável ao
nosso meio e de resultados ineficazes, produzindo a confusão e a
balbúrdia, por não serem atendidos os verdadeiros interêsses nacionais.
Terceiro o imperioso dever de dotar as zonas rurais com instrução
adequada, para formarmos o trabalhador brasileiro, dispensando-nos
da imigração, que não vem solucionar os problemas da nossa
economia, mas, apenas, resolver a situação pessoal do próprio
imigrante.
Quarto o franco estímulo à iniciativa individual em matéria de
ensino, quando bem orientada, pois o Estado ainda não emprega para
a solução do problema cultural da formação da nacionalidade os
grandes elementos imprescindíveis à sua consecução. (CAMPOS,
1955, p. 20)
Entre os livros de Alberto Torres, destacam-se os seguintes: O
problema nacional brasileiro (1914), A organizacão nacional (2002)
25
e As
fontes da vida Brasil (1915). Sua produção bibliográfica serviu de base para
os intelectuais do Movimento pela ruralização do ensino. Em seu livro A
organização nacional, Torres (2002, p. 147-148) defende que o Brasil
25
Primeira edição datada de 1914.
59
[...] tem de ser, em primeiro lugar, um país agrícola. Fora ridículo
contestar-lhe esse destino, diante de seu vasto território. Deve manter,
depois, o cultivo dos produtos necessários à vida e dos que empregam
matéria-prima nacional. É isso que nos impõe a área do nosso
território, a falta de hulha, industrialmente explorável, e o isolamento
geográfico de quase todo o país. O equívoco dos que pensam de outra
forma só pode resultar do prejuízo de que a producão deve constar dos
generos comuns na Europa, e da idéia, arraigada no espírito de muitos,
da necessidade das grandes propriedades, de extensa exploracão
intensiva. O Brasil, exatamente porque é um país tropical e equatorial,
pobre em muitas regiões, e onde a terra e o clima carecem, quase
geralmente, de elementos necessários às culturas européias, deve ser um
país agrícola, não no sentido ianque, de país de vastas propriedades e
fazendas-modelo, mais no de nacão de pequenos proprietários
remediados, vivendo na infinidade de produtos da nossa terra, de
excelente valor nutrivo para seu clima, sendo reservadas as regiões
temperadas para algumas culturas européias e confiado o suprimento
de outros produtos, absolutamente inaclimáveis, assim como o dos
produtos industriais que não tem aqui matéria-prima, às trocas com o
estrangeiro.
No livro A Crise Brasileira de Educação, Mennucci (1930a)
apresenta reflexões sobre uma crise universal da educação e sobre uma crise
educativa brasileira. Nesse livro o autor apresenta um conjunto de
conferências proferidas em 1930. Na primeira edição, de 1930, Mennucci
apresenta um apêndice intitulado “O ensino particular e o nacionalismo”.
Na segunda edição, de 1934, o autor inclui um segundo apêndice
intituladoA Reforma do Ensino Rural”, no qual apresenta alguns
capítulos do livro O que fiz e pretendia fazer, publicado em 1932.
Segundo Mennucci (1930a, p. 93), esse livro
60
[...] se inspirou no inquérito que a Associacão Brasileira de Educacão
promoveu para a sua 4a. Conferencia Nacional, a realizar-se
proximamente em Recife (13), e que ele pretende ser uma espécie de
resposta aos quesitos que João de Toledo, como um dos relatores gerais,
organizou sobre a tese ‘Como preparar o professor rural e como fixá-lo
ao meio em que deve atuar?
Destaca-se que esse livro foi premiado, em 1932, pela Academia
Brasileira de Letras e que teve grande repercussão em âmbitos nacional e
internacional. Pereira Maraides, Osvaldo Fonseca e Romão escreveram
cartas parabenizando Sud Mennucci pelo prêmio da Academia Brasileira
de Letras destinado a seu livro A Crise Brasileira de Educação (FONSECA,
1933; MARAIDES, 1933; ROMÃO, 1933).
Em relação a essa premiação, Fonseca (2014) destacou que entre
os jurados que avaliaram A Crise Brasileira de Educação, estava Edgar
Roquette-Pinto
26
, um dos fundadores da Sociedade dos Amigos de
Alberto Torres. Afirmou também, que, além de Sud Mennucci manter
estreitas relações com essa Sociedade ou seus membros, seu livro
apresentava consonância com as ideias do patrono dessa Sociedade,
Alberto Torres.
Dentre os vários assuntos abordados por Mennucci (1930a) nesse
livro, os mais recorrentes são as críticas feitas à Escola Normal vigente à
26
Edgar Roquette-Pinto nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em 25 de setembro de 1884, e
faleceu em 28 de agosto de 1954, também nessa cidade. Formou-se em Medicina, em 1905, pela
Faculdade Medicina do Rio de Janeiro/RJ. Atuou como professor assistente e como diretor do
Museu Nacional, como médico legista, dentre outros. Foi membro da Academia Brasileira de
Ciências, da Academia Nacional de Medicina, do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e da
Sociedade de Geografia. Em 1924, foi designado para representar o Brasil no XXI Congresso
Internacional de Americanistas, que ocorreu na Holanda e na Suécia. Subscreveu o Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, em 1932 (VENANCIO FILHO, 2002).
61
época e à apresentação de sua proposta de formação de professores
ruralizados. Mennucci (1930a, p. 93, grifos nossos) salienta que “Ora, no
meu plano, embora as solucoes sociologicas tenham incontestavel
primazia, a verdade e que o centro do sistema e a obra educativa e,
portanto, o professor.”
Nesse sentido, a principal proposta de Sud Mennucci, sintetizada
nesse livro, é a formação de professores por intermédio das Escolas
Normais Rurais, ou seja, formação de professores ruralistas. Assim,
entende-se que Mennucci não apresentava somente uma proposta de
formação de professores específica para as áreas rurais, mas, uma proposta
de formação de professores em contraposição à formação oferecida à época.
Sud Mennucci (1932c), no livro O que fiz e pretendia fazer, aborda
defesa e fundamentação da reforma levada a termo durante sua primeira
nomeação como Diretor da Instrução Pública do Estado de São Paulo, na
Interventoria do Coronel Manoel Rabello. O livro é dividido em duas
partes: a primeira, intitulada “O que fiz”, e a segunda, “O que pretendia
fazer”.
Na primeira parte, Mennucci apresenta o Decreto n. 5.335 de 7 de
janeiro de 1932 e esclarece ponto a ponto todos os aspectos de sua proposta
de reforma educacional para a Instrucão Pública de São Paulo. Essa reforma
foi bastante criticada pelo professorado paulista e como meio de apresentar
uma espécie de defesa pública, Mennucci (1932c, p. 10) escreve esse livro,
no qual destaca “Fique, comtudo, o registro: nunca São Paulo e Rio de
Janeiro tiveram tantos jornalistas entendidos de instrução publica como
nesse primeiro semestre de 1932 e unicamente a respeito da reforma
paulista.
Na segunda parte Mennucci apresenta uma proposta de Decreto
que não foi aprovada, porém, segundo ele, essa proposta representava a
62
espinha dorsal” de sua reforma. Tratava-se de uma proposta de
reorganização do ensino rural, mais especificamente de ruralização das
Normais Rurais. Mennucci destaca que tentou aprovar esse Decreto,
porém, foi afastado do cargo de Diretor da Instrucão Pública antes de
aprová-lo.
Destaca-se que a segunda atuação de Sud Mennucci como Diretor
da Instrucao Publica de Sao Paulo foi de 05/08/1933 a 24/08/1933. Nesses
poucos dias como Diretor, Mennucci conseguiu, em 19 de agosto de 1933,
a aprovação do Decreto n. 6.047 (SÃO PAULO, 1933b). Nesse Decreto
Mennucci apresentou algumas ideias já propostas no Decreto n. 5.335,
que não foi aprovado em 1932. Assim, em 1933 Mennucci pôde
operacionalizar um aspecto importante da ruralização do ensino no Estado
de São Paulo, qual seja, decretar a criação da Escola Normal Rural em
Piracicaba. No entanto, conforme demonstrado por Souza (2017), essa
Escola Normal somente foi instalada em 1956.
No livro Pelo sentido ruralista da civilização, Mennucci (1935)
reconstitui a história da educação rural no Estado de São Paulo, como, em
relação a algumas iniciativas realizadas nesse e em outros estados do Brasil
para a divulgação das ideias do Movimento pela ruralização do ensino.
Mennucci destaca, por exemplo, as atividades realizadas na Escola Rural
da Fazenda Barra, por Luiza Guerra, em Casa Branca/SP, e os Clubes do
Trabalho.
Para finalizar, Mennucci (1935, p. 79) aponta sua perspectiva em
relação ao desenvolvimento da ruralização do ensino, afirmando que, em
[...] de 10 annos, o homem do campo não será mais o motivo de
ridiculo que foi até pouco. Será um homem com a cultura dos homens
da cidade porque a ruralização do ensino e, portanto, da educação
63
humana, está vindo com a rapidez do relampago, com brilho dos
meteoros, com a duração do granito.
No livro Ruralização (1944), Mennucci ressalta que a base para o
desenvolvimento industrial brasileiro seria o trabalho agrícola. Fazendo
referência ao Brasil, Sud Mennucci recorre a Durkheim e afirma que:
Somos, senhores, um contrassenso histórico alicercados sobre uma
contraindicacão economica. Do ponto-de-vista da análise
durkheimiana, somos a mais gritante contradicão sociológica.
Mudamos a superestrutura social, mas não queremos mudar a
superestrutura das instituicões complementares. (MENNUCCI, 1944,
p. 127)
Sud Mennucci apresenta seu descontentamento pelo fato de o
Estado de São Paulo não ter estruturado uma proposta de formação
específica para os professores rurais. No entanto, menciona algumas
iniciativas de formação de professor realizadas nesse Estado.
Outro aspecto apresentado por Mennucci nesse livro é a
importância de ruralistas do ensino ocuparem cargos na administração
pública. Nesse sentido, menciona a contribuição do Interventor Federal
Fernando Costa para a operacionalização do Movimento pela ruralização
em São Paulo:
E lá volto eu ao meu velho e irresistível estribilho: sem professor
especializado, que sabe exatamente o que está ensinando e para quem
está ensinando, todo esforço educativo em prol da infância campestre
resulta inutil ou, pior, em pura desambientação do educando.
64
Fernando Costa pensa da mesma forma. E porisso autorizou a instalação
de cursos especiais para professores já diplomados, que serão efetuados,
no correr de um ano, em Escolas Profissionais Agrícolas. E como o
nosso Interventor, as leis se fazem para serem cumpridas, já está na
escola de Pinhal com o seu curso em funcionamento, devendo dar,
ainda neste ano, a sua primeira leva de professores ruralizados.
(MENNUCCI, 1944, p. 55, grifos nossos).
Sobre a contribuição desse Interventor, Mennucci (1944, p. 56,
grifos nossos) menciona, ainda, que “Outra realização de Fernando Costa,
merecedora de todo o nosso aplauso, é a criação, já autorizada, da
Assistência Técnica do Ensino Rural.”
No livro Discursos e Conferencias Ruralistas, Sud Mennucci (1946b)
apresenta dois discursos Saudação ao sertanejo
27
e Hino a Joazeiro
28
e
cinco Conferências A Guerra à Zona Rural
29
; O pensamento de Alberto
Torres
30
; A vida rural e a educação nacional
31
; A Reforma do Ensino Rural
em São Paulo
32
; Aspectos Piracicabanos do Ensino Rural
33
proferidas na
27
Discurso proferido no dia 3 de dezembro de 1934, por ocasião do encerramento do 1° Congresso
do Ensino Regional, na cidade de Salvador-BA.
28
Discurso proferido no dia 5 de dezembro de 1937, na Escola Normal Rural de Juazeiro-CE, por
ocasião da colação de grau “das primeiras professoras ruralistas do Brasil.”
29
Conferência proferida no dia 8 de maio de 1933, no salão nobre da Escola de Belas Artes do Rio
de Janeiro, a convite da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, por ocasião do encerramento do
curso da Escola Regional.
30
Conferência proferida no dia 16 de agosto de 1939, na Faculdade de Direito de São Paulo, a
convite do Grêmio Universitário “Alberto Torres”.
31
Conferência proferida no dia 8 de outubro de 1935, na sede da Associação Brasileira de Educação
no Rio de Janeiro, para curso na Universidade Rural.
32
Conferência pronunciada no Rádio Clube do Brasil na “segunda quinzena” de novembro de
1931, momento em que se realizava a Conferência Nacional de Educação e o Convênio das
Estatísticas Escolares no Rio de Janeiro.
33
Conferência proferida no dia 28 de março de 1934, em Piracicaba, por ocasião do encerramento
do Congresso Pedagógico Regional, organizado pela Delegacia do Ensino de Piracicaba.
65
década de 1930. Trata-se do último livro publicado por Sud Mennucci
antes de seu falecimento.
Pode-se dizer, portanto que grande parte da vida de Sud Mennucci
e significativa parte de sua produção bibliográfica foram dedicadas à
temática da educação rural, mais especificamente do Ruralismo ou da
ruralização do ensino, fato que lhe conferia status de referência nacional
nessa temática. Por conseguinte, ele foi articulador de uma ampla rede de
sociabilidade, que envolveu diversos sujeitos pessoas ou organizações –,
de diferentes pontos do Brasil e de outros países. Essa rede possibilitava aos
ruralistas inserirem-se em diferentes áreas e locais, com vistas a fazerem
circular suas ideias e a conquistarem adeptos para o Ruralismo e, assim,
colocarem em prática seus objetivos.
Menezes (2015, p. 18-19) destaca que
Enquanto o Brasil e, sobretudo a sociedade paulistana, vivenciavam a
era da modernidade, da industrialização, da urbanização, da chegada
da escola nova, na década de 1930, Mennucci (1930) defendia a
necessidade de integralização da zona rural à realidade brasileira.
Argumentando que embora o Brasil fosse, essencialmente um país de
economia agrícola, historicamente, a política nacional favorecia apenas
a expansão das grandes cidades, desencadeando assim o êxodo rural.
Entretanto, o autor deixa claro que o problema não está em beneficiar
as cidades, mas em ignorar o campo, fonte primária da riqueza de uma
nação.
Sud Mennucci defendia que as escolas primárias rurais deveriam
combater o preconceito com relação ao trabalho agrícola, que era associado
à escravidão.
66
A principal proposta de Sud Mennucci foi a criação das Escolas
Normais Rurais, pois a formação oferecida nas Escolas Normais nociva
para as áreas rurais. Os professores formados em Escolas Normais citadinas
menosprezavam as áreas rurais e, por vezes, isso acabava contribuindo para
o êxodo rural.
Além da proposta de criação das Escolas Normais Rurais, quando
Sud Mennucci voltou a chefiar o Departamento de Educação na década
de 1940, criou um curso de especialização sobre práticas agrícolas, para
professores já formados, visando ensinar conhecimentos de agronomia e
sanitarismo.
Na sua cruzada em prol da ruralização do ensino, Sud Mennucci
contou com apoio de Thales Castanho de Andrade
34
que, além de
afinidades pela questão da ruralização do ensino, viveram na mesma
cidade, qual seja, Piracicaba/SP, que viria a ser considerada, por alguns, a
“Méca do ruralismo”. Thales Castanho de Andrade concluiu o Curso
Normal em Piracicaba/SP e, no decorrer de sua vida, manteve estreita
relação com esse município. Exerceu diversas atividades profissionais,
públicas ou privadas, em variadas áreas, entre elas, jornalismo e educação.
Na área do jornalismo, destaca-se a sua atuação na Gazeta de
Piracicaba, na Folha Ferreirense, no Jornal de Piracicaba, no Diário Carioca,
na Revista Vida Moderna, na Revista A cigarra e na Revista de Educação da
Escola Normal de Piracicaba.
Na esfera pública, ressalta-se a sua atuação como vereador, no
município de Piracicaba. Sua carreira como professor teve início em
Jaú/SP, no ano de 1912. Trabalhou em várias escolas e ministrou diversas
34
Thales Castanho de Andrade, filho de industrial do ramo de bebidas, nasceu em Piracicaba/SP,
em 15 de agosto de 1890, e faleceu em 2 de outubro de 1977, em São Paulo (STANISLAVSKI,
2006), foi um importante ruralista. Para conferir mais informações sobre Thales de Andrade, ver
Alexandre (2007), Bragion (2007), Hilsdorf e Alexandre (2013) e Stanislavski (2006).
67
disciplinas. Ocupou outros cargos, como, diretor de escola, inspetor e
assistente técnico de ensino rural e diretor geral do Departamento de
Educação do Estado de São Paulo.
Escreveu diversos livros, alguns deles tiveram grande repercussão e
receberam inclusive reconhecimentos ou premiações, com destaque para o
livro Saudade. Integrou a Academia Piracicabana de Letras, a União
Brasileira de Escritores, dentre outras organizações.
Sobre a produção de livros destinados às populações de áreas rurais,
Mennucci (1935, p. 45) ressalta:
‘Saudade’ era o primeiro antidoto que o magisterio fornecia a essa
insidiosa campanha, pois, pela primeira vez na literatura escolar se fazia
abertamente o elogio da vida campesina e se tinha a coragem de dizer
que ella era superior á vida urbana e que o pobre da roça era um nababo
comparado com pobre da cidade.
Conforme Mota (2006, p. 126), o livro Saudade, de Thales de
Andrade, é uma importante referência, sendo considerado “[...] um
manual de grande ajuda para a prática de leitura e o aprendizado dos
valores ruralistas [...]”. Nesse livro, constata-se que Thales de Andrade
(1922) faz, por um lado, de forma recorrente e unilateral, uma abordagem
elogiosa ao campo, aos seus habitantes e ao modo de vida rural; por outro
lado, faz recorrentemente uma abordagem depreciativa da cidade, de seus
habitantes e dos modos de vida urbanos, reproduzindo, assim, a dicotomia
e a hierarquia entre campo e cidade
35
, porém, esse autor apresenta o campo
como superior à cidade.
Thales tinha envolvimento com assuntos agrários locais ou
nacionais e participou de movimentos ou organizações, como, por
35
Para mais informações, ver Williams (2011).
68
exemplo, o M. M. D. C. (Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo), o
Partido Republicano Paulista e o Partido Constitucionalista.
Pelo seu histórico de atuação, Thales de Andrade pode ser
considerado um dos principais intelectuais do Movimento pela ruralização
do ensino no Estado de São Paulo, e, em alguma medida, no Brasil.
Conforme Hilsdorf e Alexandre (2013, p. 140),
[...] a obra de Thales de Andrade está compromissada e diretamente
relacionada a esse movimento: o conjunto de seus livros para crianças
tem como forte referencial o mundo rural e a educação, assim, nada
mais coerente, em sua produção literária infantil, do que a defesa da
atuação do homem do campo na transformação e aproveitamento do
seu espaço. Isto indicia a crença do autor no modelo do Brasil agrário
como uma opção viável, e a sua escolha da literatura infantil e escolar
como um lugar de sua prática educativa.
Thales de Andrade teve relevante atuação na circulação das ideias
ruralistas, especialmente por intermédio de seu livro Saudade. Durante
aproximadamente 40 anos, Thales foi um importante interlocutor de
Mennucci para tratar de vários assuntos. Em suma, Thales de Andrade foi
um dos impulsionadores da ruralização, da qual outros sujeitos, como por
exemplo, Noêmia Saraiva de Matos Cruz
36
, também fizeram parte.
A professora Noêmia Saraiva “[...] foi convocada e nomeada pelo
então Diretor do Ensino de São Paulo, Professor Sud Mennucci, para
implantar experimentalmente uma escola de educação rural, em 1932,
36
Nascida em 1894, na cidade de Rio Claro/SP (DEMARTINI, 2002). Para mais informações, ver
Demartini (2002), Ecar (2017) e Mota (2006).
69
anexo ao Grupo Escolar do Butantã.” (DEMARTINI, 2002, p. 584-
585)
37
.
Em termos de trajetória acadêmica e profissional, segundo
Demartini (2002, p. 586), Noêmia Saraiva
[...] iniciou, em 1932, suas atividades como professora; em 1933, ficou
afastada da Secretaria da Agricultura para freqüentar alguns cursos
agrícolas e, em 1935, foi nomeada diretora, cargo em que permaneceu
até 1943. Já em 1934, participou do I Congresso de Ensino Regional
na Bahia; em 1939, representou o Estado de São Paulo no Congresso
do Ensino de Minas Gerais. Foi, na ocasião, convidada para
reorganizar o ensino rural de Juiz de Fora, sendo nomeada, em 1943,
Inspetora do Ensino Rural. Depois permaneceu um ano na chefia da
Assistência Técnica do Ensino Rural, passando, em 1952, a prestar
serviços na Superintendência da Escola Profissional e Agrícola, posto
no qual requereu sua aposentadoria.
No Grupo Escolar do Butantan, que, segundo Mennucci (1936b),
configurava-se “uma formosa experiência”, e, conforme Demartini (2002,
p. 587), “[...] servia de modelo na implantação das idéias ruralistas em
escolas [...]”, a professora Noêmia Saraiva conseguiu projeção
principalmente pelas experiências que ela desenvolveu, colocando em
prática os princípios do Ruralismo. Sua formação acadêmica era
diferenciada, pois realizou diversos cursos relacionados a questões agrícolas
e sanitaristas (DEMARTINI, 2002; MENNUCCI, 1936b).
Noêmia Saraiva, conforme Mennucci (1936b, p. 10),
37
Para mais informações, ver Ecar (2017).
70
[...] provou exuberantemente que era «the right woman in the right
place» e que possuia as qualidades, o talento e a competencia requeridas
para transformar uma idéa, que andava no ambiente ainda em forma
de tése, numa realização indiscutivel, colocada pelo seu esforço, pelo
seu desprendimento e pela sua tenacidade, no campo da efetividade
pratica.
Considerando-se as palavras de Mennucci (1936b), pode-se inferir
que a professora Noêmia Saraiva desempenhava papel-chave na
implementação das ideias ruralistas no cotidiano da escola, bem como no
trabalho de divulgação teórico-prática dos preceitos do Ruralismo.
Segundo a professora Noêmia Saraiva, “três problemas
gravissimos” assolavam a maior parte das populações do campo no Brasil.
Esses problemas eram:
1.º A falta de saude que impede o trabalho ativo e persistente.
2.º A falta de instrução que inutiliza os esforços de assistencia
sanitaria e agricula.
3.º A falta de recursos que impede as iniciativas, para a melhoria
educacional e sanitaria.
É um espetaculo desolador a visão de muitas regiões do sertão
brasileiro: MISERIA, IGNORANCIA, DOENÇA! (CRUZ, 1936, p.
18)
Como ressaltado, a autora refutava, pelas razões apresentadas,
tanto a cidade quanto o campo na forma como ele se apresentava no Brasil,
naquele momento histórico. No entanto, Noêmia Saraiva apontava uma
única saída: a adequação do campo à acepção ruralista.
71
Para Noêmia Saraiva, “O homem, que trabalha na Agricultura, fica
compreendendo os segredos, tão grandiosos, da Natureza e avalia a obra
de Deus, a quem renderá sempre culto, se cultivar com amor a terra, que
lhe dará todos os alimentos em recompensa do seu labor.” (CRUZ, 1936,
p. 35).
A professora Noêmia Saraiva apresenta as seguintes frases, segundo
ela, de autoria de Thales de Andrade: “VIVER NO CAMPO É AMAR O
TRABALHO, É AMAR A PATRIA, É AMAR OS HOMENS, É AMAR
A VIDA! VIVER NO CAMPO É AMAR A DEUS! EU QUERO VIVER
ASSIM.” (CRUZ, 1936, p. 179).
Para que se concretizasse esse ideal de campo ruralista era
necessário um perfil de homem do campo consoante com essa proposta.
“Daí começa a formação do homem de que nós precisamos o homem
bom, justo, trabalhador, franco, corajoso e forte.” (CRUZ, 1936, p. 116),
além de “[...] saudavel, bonito e [...] preparado para amar a vida e ser, ao
mesmo tempo, um elemento de valor real para a sua familia, para sua
patria, para a humanidade, enfim.” (CRUZ, 1936, p. 82).
A autora apresenta o campo como “precioso pedaço de paraiso”.
Noêmia Saraiva defende que “A Agricultura é a primeira ocupação do
homem, a mais honesta, a mais util e a que maior soma de felicidade lhe
proporciona.” (CRUZ, 1936, p. 12). O trabalho na Agricultura é, para
essa autora, “[...] o mais nobre que o homem póde fazer: semear plantar
cultivar e crear são os quatro pontos cardeais, dentro de cujo circulo
está o futuro do Brasil e de seus filhos.” Assim, na atividade agrícola estaria
“o futuro da nossa nação.” (CRUZ, 1936, p. 35).
Citando Marti Alpera, Noêmia Saraiva faz referência à necessidade
de “Formar uma mentalidade camponesa com ideias elementares, mas sadias,
firmes e fecundas, desenvolver o espirito de iniciativa, formar homens de ação
72
e uteis á sua familia, á sua gente e sua patria É finalidade da Escola Rural.
(CRUZ, 1936, p. 161-162, grifos da autora).
Segundo Noêmia Saraiva,
A Escola Rural realizará uma grande parte do seu largo programa, se
conseguir despertar nas crianças tanto o amôr pela sua terra, que seja capaz
de preservá-las das tentações da vida das grandes cidades e de arraiga-las
áquela modesta vida campesina, onde poderão achar a fartura, a paz, a
alegria e a felicidade que, dia a dia vai se tornando dificil na vida agitada
e de continua luta dos grandes centros, onde mais impéram o egoismo, o
interesse e a deslealdade, do que o bem estar e a felicidade de cada um.
(CRUZ, 1936, p. 161, grifos da autora)
Para Noêmia Saraiva, a concepção de campo na acepção ruralista
seria alcançada pelo trabalho e pela educação em conformidade com os
princípios desse Movimento. Para isso, era necessário “trabalhar,
rapidamente e com eficiencia (CRUZ, 1936); considera-se essa demanda
incompatível com camponeses com perfil do Jeca Tatu.
Outra mudança indispensável era tirar o homem rural do
isolamento e fazê-lo trabalhar coletivamente: “Todos compreendem,
perfeitamente, que o auxilio mutuo e o trabalho coletivo terão melhores
resultados, do que o trabalho executado isoladamente.” (CRUZ, 1936, p.
52).
A escola era a instituição que poderia moldar as crianças em
conformidade com esse padrão. Por isso “A Escola Primaria, no campo,
deve ser organizada como uma comunidade de trabalhadores.” (CRUZ,
1936, p. 183). Dessa forma, era necessário
73
[...] ensinar aos alunos e levar aos camponeses, por intermedio dos
pequenos campos escolares, as ideias de progresso e os melhoramentos
vantajosos que se podem obter, facilmente, por meios racionais e,
sobretudo, se por intermedio do proprio aluno, conseguir despertar,
vivamente, nos lares campesinos a fé, a confiança na Escola e o
proposito decidido de melhorar suas atuais condições de vida, no que
diz respeito á alimentação, á higiene, á habitação e á saúde. (CRUZ,
1936, p. 160-161).
Portanto, esse perfil de homem do campo seria alcançado por
intermédio da educação ruralista, educação essa apresentada como “[...]
fóco de irradiação para a religião da Natureza [...]” (CRUZ, 1936, p. 182),
com vistas principalmente a fixar o homem no campo e a despertar o amor
pelo trabalho agrícola.
Noêmia Saraiva, em defesa da sua posição e da eficácia da
concepção de ensino ruralista, colocada em prática no Grupo Escolar Rural
do Butantan, argumenta que alunos antes “indolentes, vadios, incapazes
de esforço”, após terem ingressado nessa escola, “Meses depois, já estavam
entusiasmados e procuravam uma ocupação de vulto nas atividades do
clube, e hoje estão todos integrados nos trabalhos gerais da nossa
agremiação.” (CRUZ, 1936, p. 188).
A autora sustenta que todos os alunos “[...] compreendem,
perfeitamente, que auxilio mutuo e o trabalho coletivo dão melhores
resultados do que o trabalho executado isoladamente.” (CRUZ, 1936, p.
188).
Noêmia Saraiva destaca, ainda, que “[...] não é só o gosto e amor
ao trabalho, que [ela tem] notado. É, tambem, a formação de habitos de
observação, de reflexão, de energia, de firmeza de vontade e de iniciativa
creadora.”, ou seja, os alunos afastaram-se do perfil Jeca e se aproximaram
74
do perfil farmer
38
, atingindo, assim, em grande medida, os objetivos da
educação ruralista.
Constata-se, assim, que a visão de mundo dos ruralistas, como, Sud
Mennucci (1930a) e Noêmia Saraiva de Matos Cruz (1936), apresenta
algum nível de afinidade com a perspectiva fisiocrata, como se pode
depreender da análise de textos de Quesnay (1984a; 1984b; 1984c;
1984d), em especial com a terceira máxima geral do governo econômico
de um reino agrícola: “Que o soberano e a nação jamais percam de vista que
a terra é a única fonte de riquezas e que a agricultura é que as multiplica.”
(QUESNAY, 1984c, p. 167, grifos do autor). Além disso, encontram-se,
em escritos de ruralistas, menções diretas ou indiretas a Comte e a
Durkheim ou suas ideias.
1.2 Ideias defendidas por sujeitos vinculados ao Movimento pela
ruralização do ensino
No Brasil, o Movimento pela ruralização do ensino, que vem à tona
e ganha repercussão na década de 1930, estava em consonância com a
concepção agrarista de país e com os pressupostos do ruralismo brasileiro.
A década de 1930 é marcada pela intensificação de políticas
públicas para a escolarização das populações de áreas rurais. Exemplifica
isso o fato de que na Constituição Federal de 1934, pela primeira vez da
38
Partindo de apontamentos de Tolentino (2011, p. 11), farmer seria o “caipira ideal de Lobato”,
ou seja, “[...] pequeno proprietário rural em estilo norte americano, como já sonhara Monteiro
Lobato na década de [19]20. Na sua historinha didática e divulgadora das normas de higiene, além
de um conhecido ‘tônico fortificante’, o caipira Jeca Tatuzinho se curava do impaludismo e também
do atraso: modernizava-se, mecaniza sua propriedade e tornava-se relevante na economia de
mercado.”
75
história da educação brasileira, constou a destinação de uma verba
específica para a educação escolar rural (BRASIL, 1934).
No entanto, conforme Ramal (2016, p. 54), “[...] abordagens
acerca do desenvolvimento da educacão rural no Brasil, já apareciam nos
anos de 1910, mas se intensificam no período 1930 a 1940, já no governo
de Getúlio Vargas.
Especialmente entre ascadas de 1930 e 1950, o ensino primário
destinado às populações de áreas rurais no Brasil era precário e incipiente
39
,
não obstante o fato de que, à época, a maior parte das populações nacionais
estava localizada nessas áreas (SOUZA, 2009).
Destaca-se que a histórica precariedade da escolarização destinada
às populações de áreas rurais não é uma exclusividade do Brasil, mas marca
também a história da educação de outros países, tais como, Espanha, Itália
e México, conforme análise sobre a educação e o mundo rural feita por
Cerecedo e Rico (2018, p. 14):
La escuela rural destinada a los hijos de los campesinos o de los
marineros se tuvo que enfrentar a grandes dificultades: la ‘Cenicienta
de la educación, sin importar a los sectores sociales más poderosos,
aunque ellas representaron en muchos pueblos y aldeas uno de
los lugares de aculturación, que solo alcanzaron a llevarla a efecto de
una forma pobre.
Conforme Ramal (2016, p. 35), essas populações eram preteridas,
em termos de educação escolar, pois
39
Sobre panorama desse ensino no Estado de São Paulo entre as décadas de 1930 e 1940, ver Celeste
Filho (2014).
76
[...] a proporcão de alfabetizacão na zona urbana sempre foi maior do
que na zona rural. Esta perspectiva acentua as diferencas sociais,
concentra políticas públicas voltadas para a educacão urbana, bem
como corrobora uma prática histórica presente no contexto
educacional: o privilégio às classes mais abastadas da populacão urbana
e a educacão que dela se constitui.
Eram vários os problemas constatados nas escolas primárias rurais,
entre eles, condições de trabalho docente, dificuldades de acesso dos
professores às escolas, instalações inadequadas e situação de dependência
dos professores em relação aos fazendeiros ou seus administradores que
cediam espaço para instalação de escolas (MARCONDES, 2012; SOUZA,
2009).
Marca, ainda, essa conjuntura, a existência de diferentes propostas
de educação, resultando em diversas disputas, com destaque para as
protagonizadas pelos escolanovistas defensores de um ensino comum
para todas as populações, independentemente de se tratar de área rural ou
urbana e pelos ruralistas, defensores de um ensino específico para as
populações de áreas rurais (SOUZA; ÁVILA, 2014).
Segundo Prado (1995, p. 14),
Idéias hegemônicas, como as de Sud Mennucci, defensor de uma escola
rural voltada para o trabalho e de um ‘aparelho educativo organizado
em função da produção’ (Mennucci, 1944: 270) foram confrontados
como o pensamento liberal, dentre outros, de Almeida Jr. Este
educador contestava, por exemplo, a afirmação de que a escola rural é,
em parte, responsável pelo êxodo rural.
77
Exemplifica essas iniciativas e disputas a defesa de escolas
tipicamente rurais, que, no Estado de São Paulo, por exemplo, estiveram
em funcionamento entre os anos 1933 e 1968. Essas escolas diferenciavam-
se, pois previam programas de ensino específicos, exigiam formação ou
especialização agrícola de todos os profissionais que nelas trabalhavam,
tinham critérios específicos para sua instalação, como, área de terra
destinada à realização de atividades agrícolas e pastoris, dentre outros
quesitos (MORAES, 2014).
No período de implementação dessas escolas discutia-se, no Brasil,
qual seria a concepção mais adequada de educação escolar a ser destinada
às populações de áreas rurais, bem como a finalidade desse ensino
40
. Assim,
coexistiram, durante algum tempo, no Brasil, dois tipos de propostas
pedagógicas para a educação rural: o ensino comum e o Ensino Típico
Rural.
Jânio Quadros, em Mensagem enviada no mês de março de 1957
à Assembleia Legislativa de São Paulo, define o Ensino Típico Rural:
O ensino típico rural é uma modalidade de ensino especializado para a
criança da roça. Além de programa próprio, relativo ao aprendizado
das atividades agrícolas e higiene rural, caracteriza-se por ser ministrado
nos grupos rurais mediante um sistema de estudo teórico-prático, que
leva o estudante a comparecer à escola nos dois períodos, da manhã e
da tarde. Reveste-se êsse ensino, por esse fato, de rico conteúdo
40
Algumas dessas discussões continuam presentes no cenário educacional brasileiro
na atualidade, principalmente em pesquisas relacionadas à Educação do Campo
(CALDART, 2012; RIBEIRO, 2012). A questão da educação para/no/do
40
campo
configura-se, na atualidade, um assunto importante e estratégico em diferentes
sentidos (MORAES, 2014; TORRES; SILVA; MORAES, 2014). Aliás, é um tema
que ocupa espaços de debates em outros países e também em organismos
internacionais, como, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura e o Banco Mundial, haja vista a questão da interculturalidade.
78
educativo, como curso de preparação da criança e do adolescente, para
as atividades rurais e o convício social da zona agrícola, em que reside.
Constitui tal ensino uma das faces da solução do problema da educação
rural, de tão capital interêsse para a economia do Estado e o seu
progresso político-social. A especialização do professor para estas
atividades é feita pelo Curso de Monitor Agrícola, das Escolas Agro-
Técnica de Pinhal, Jacareí, São Miguel. Concorrentemente a
Assistência Técnica do Ensino Rural promove a realização de curso de
férias intensivos, que se destinam a aperfeiçoar os conhecimentos e as
técnicas didáticas dêstes mestres, no cumprimento de seus encargos
docentes. Em 1956 foram realizados tais cursos nos estabelecimentos
de ensino oficiais de Piracicaba, Jacareí, Franca, Cotia, Piraçununga,
Pinhal e São Manoel, com a participação expressiva de 511 professôres.
(SÃO PAULO, Mensagem..., 1957, p. 63, grifos nossos).
O Ensino Típico Rural estava em contraposição ao ensino comum,
que, segundo Souza e Ávila (2014, p. 22),
[...] fundamentava-se no princípio democrático em matéria de
educação, que postulava a igualdade de oportunidades para todos.
Coerente com esse princípio, considerava um erro a implantação de
um ensino primário dual - um para a cidade e outro para a roça.
Almeida Junior concordava com a necessidade do ensino profissional
rural, desde que não se desvirtuasse a finalidade da escola primária [...].
Destaca-se que as escolas típicas rurais estavam, em alguma
medida, em consonância com a proposta do Movimento pela ruralização
do ensino. Em que consiste a ruralização do ensino? O que estava
subjacente a essa proposta? Quais os seus principais objetivos? Como foi
concebida essa proposta? Quem foram seus principais idealizadores?
79
A discussão que Jorge Nagle apresenta em seu livro Educação e
Sociedade na Primeira República, publicado em 1974, sobre a definição de
regionalização do ensino e de ruralização do ensino, ajuda a responder alguns
desses questionamentos.
Para Nagle (2009, p. 257), A primeira [regionalização do ensino],
que é também a primeira no tempo, se expressa sob a forma de
diversificação da escola, de acordo com as características regionais e, por
isso mesmo, deve ser denominada regionalização do ensino.
Já “A segunda orientação, que deve ser denominada ruralização do
ensino, aparece num segundo momento, associada ou não ao fenômeno de
regionalização, e reflete, antes de tudo, uma tentativa para transformar a
natureza’ da escolarização. (NAGLE, 2009, p. 257).
Ramal (2016), considerando o pensamento de Nagle (2009),
aponta um posicionamento, da parte dos ruralistas do ensino, contrário à
industrialização e à urbanização do país. Os ruralistas do ensino envidavam
esforços para manter as características rurais, tanto do território quanto das
suas populações. Os ruralistas entendem as áreas urbanas como fator de
desvirtuação da cultura e da coesão social consideradas típicas das áreas
rurais.
Assim, o Movimento pela ruralização do ensino não se resumia à
dimensão educacional, mas defendia um projeto de Brasil agrário e em
consonância com os pressupostos do ruralismo brasileiro.
No entendimento dos ruralistas, o Brasil tinha uma vocação
agrícola, assim, seu desenvolvimento econômico deveria ocorrer com base
nessa vocação. Segundo Mendonça (1997, p. 13), o ruralismo brasileiro,
80
[...] ratificado especificamente definido ao longo da Primeira
República, em primeiro lugar como um movimento político integrado
por agências e agentes dotados de uma inserção determinada na
estrutura social agrária e sustentado por canais específicos de
organização, expressão e difusão de demandas. De tal movimento,
cujas nuances apontam para segmentações no seio da classe proprietária
rural e para oposições à sua fração hegemônica, provenientes do que
chamarei de ‘frações dominadas da classe dominante’, identificadas ou
não com oligarquias de estados da federação, originou-se um discurso
igualmente diferenciado e não monocórdio, como o supõem alguns.
Isto porque, do ponto de vista que assumido, a despeito de palavras de
ordem semelhantes, a efetiva mensagem nelas contida diferencia-se no
domínio do político onde, aí sim, explicitam-se as modalidades diversas
de ordem regional e/ou setorial de se implementar um ‘mesmo’
projeto de reabilitação da vocação eminentemente agrícola do Brasil.
Dessa forma, defensores da ruralização do ensino, assim como
defensores do ensino comum, refletiam, no âmbito educacional, uma
disputa mais ampla, qual seja, uma disputa por “[...] um projeto de nação,
isto é, um Brasil que tomasse como base de sua economia a industrialização
ou um Brasil de vocação eminentemente agrícola: para cada projeto, a
defesa de um tipo de ensino.” (SOUZA; ÁVILA, 2014, p. 23, grifos
nossos).
Nessa direção, a forma como recorrentemente estudos acadêmico-
científicos definiram o “ruralismo pedagógico” pode ser depreendida dos
estudos de Paiva (1987), Prado (1995) e Bezerra Neto (2003).
“Ruralismo pedagógico, no entendimento de Paiva (1987, p.
127), configura-se “[...] como tentativa de fazer o homem do campo
compreender o ‘sentido rural da civilização brasileira’ e de reforçar os seus
valores a fim de prendê-lo à terra; para tanto era preciso adaptar os
programas e currículos ao meio físico e à ‘cultura rural’.
81
Conforme Prado (1995, p. 6), ruralismo pedagógico”
[...] pode ser caracterizado como uma tendência de pensamento
articulada por alguns intelectuais que [...] formulavam idéias que já
vinham sendo discutidas desde a década de vinte [1920] e que,
resumidamente, consistiam na defesa de uma escola adaptada e sempre
referida aos interesses e necessidades hegemônicas [do setor rural].
Já no entendimento de Bezerra Neto (2003, p. 11),
O termo ruralismo pedagógico foi cunhado para definir uma proposta
de educacão do trabalhador rural que tinha como fundamento básico
a ideia de fixacao do homem no campo por meio da pedagogia. Ou
seja, um grupo de intelectuais, pedagogos ou livres-pensadores
defendiam que deveria haver uma pedagogia que ajudasse a fixar o
homem no campo, ou que, pelo menos, dificultasse, quando não
impedisse, sua saída desse habitat, considerado natural para as
populacões que o habitaram ao longo de muito tempo.
No entanto, esses eram apenas alguns dos objetivos do “ruralismo
pedagógico”, que tinha objetivos mais amplos e relacionados a uma
filosofia e a uma ideologia correspondentes à visão de mundo dos sujeitos
desse Movimento.
Segundo Souza e Ávila (2013, p. 9), “A ruralização do ensino
ganhou força sobretudo nas décadas de [19]30 e [19]40 quando alguns
intelectuais e educadores passaram a defender uma escola com
características e finalidades específicas para a zona rural.
No entanto, conforme aponta Monarcha (2007, p. 20),
82
[...] o ruralismo de Sud Mennucci, sem dúvida um moderno de sua
época, trafega na contramão do contagiante imaginário urbano-
industrial em ascensão denominado ‘Escola Nova’, segundo ele próprio
das sociedades de grande avanço industrial, porém inadequado para
um Brasil agrário.
A educação e a escola, para os ruralistas do ensino, deveriam ser
adequadas ao ambiente onde estavam localizadas. Deveriam, ainda,
atender às necessidades das áreas rurais e preparar os estudantes para o
trabalho agrícola, porém, em condições diferenciadas daquelas
habitualmente praticadas pelas populações de áreas rurais, consideradas
improdutivas, atrasadas, ineficientes e ineficazes. Isso remete, como
mencionado, aos apontamentos de Nagle (2009) sobre a regionalização e
a ruralização do ensino.
Os ruralistas defendiam uma escola adaptada ao projeto sócio-
político-econômico hegemônico vigente à época no Brasil, com vistas
principalmente a impedir o êxodo rural, difundir o sanitarismo e preparar
as populações para o trabalho agrícola (PAIVA, 1987).
Conforme Souza e Ávila (2013, p. 13), A configuração da escola
rural ocorreu inicialmente pelo reconhecimento de uma diferença espacial,
ainda que a simplificação dos programas e a redução do tempo de duração
do ensino primário esquadrinhasse contornos de uma diferença pedagógica
significativa.”
Para essas autoras (2013), ainda que as primeiras políticas públicas
para o ensino primário rural datem da Primeira República, somente no
final da década de 1940 foram implementados projetos destinados à
constituição de uma escola primária pedagogicamente rural.
83
Até então, a principal diferença entre as escolas primárias rurais e
as demais escolas primárias caracterizava-se pela questão espacial, isto é,
pela localização geográfica, ou seja, se no campo ou se na cidade. A
pertinência da hipótese de uma escola primária pedagogicamente rural,
aventada por essas autoras, pode ser verificada ao se analisar, por exemplo,
o programa de ensino dos Grupos Escolares Rurais e das Escolas Típicas
Rurais (MORAES, 2014).
Souza (2009, p. 150, grifos nossos), fazendo referência aos
ruralistas pedagógicos”, ressalta que, para esse grupo, uma escola
homogênea “[...] não servia ao homem do campo.”, pois,
Inadequada totalmente ao meio [...] concorria, tão somente, para o
êxodo rural. Dessa maneira, eles viam na criação da Escola Rural a
possibilidade de fixação do homem no campo. Imbuídos da crença nas
vantagens da agricultura como alternativa para o desenvolvimento do
país, defendiam a formação de professores para a educação rural,
programas de ensino apropriados às necessidades e interesses da
população do campo e a ampliação das finalidades sociais da escola para
esse meio.
Bezerra Neto (2003, p. 15) destaca que
Foi, nesse contexto, que se desenvolveu a ideologia da fixacão do
homem no campo por meio da pedagogia. Para essa fixacão, os
pedagogos ruralistas entendiam como sendo fundamental que se
produzisse um currículo escolar que estivesse voltado para dar respostas
às necessidades do homem do meio rural, visando atende-lo naquilo
que era parte integrante do seu dia-a-dia: o currículo escolar deveria
estar voltado para o fornecimento de conhecimentos que pudessem ser
84
utilizados na agricultura, na pecuária e em outras possíveis necessidades
de seu cotidiano.
A concepção de educação dos ruralistas, como enunciado,
enfaticamente difundida por Sud Mennucci e outros intelectuais, ia ao
encontro de projetos que tentavam fazer do Brasil um país eminentemente
agrário.
No entanto, subjacentes à propalada ideia de uma educação
adequada à realidade rural estão objetivos mais amplos, relacionados não
somente à visão de mundo ruralista, mas também com a manutenção da
ordem no país, especialmente naquelas regiões em que o alto número de
pessoas desocupadas e o intenso fluxo migratório do campo para a cidade
representavam riscos de tensões sociais.
A característica marcante da corrente do ruralismo pedagógico é a
inquietação com o processo industrial e a formação do proletariado,
atuando como categoria revolucionária, preocupando a corrente
conservadora nacional. Isto leva alguns autores da corrente ruralista a
se ocuparem com a elaboração de propostas de adequação entre
educação, trabalho e campo. Essa forte tendência ideológica ganha
impulso nos anos de 1930, apoiada pelo governo Vargas, no Estado
Novo. (PRADO, 1995, p. 6)
Vários eram os fatores que faziam com que as propostas ou ações
dos ruralistas do ensino fossem ao encontro de objetivos do governo federal
à época, como, a apologia ao nacionalismo, o combate ao êxodo rural e a
qualificação laboral das populações rurais, substituindo, assim, a força de
trabalho de imigrantes pela força de trabalho nacional.
85
Para isso o sanitarismo era uma importante contribuição, visando
tornar essas populações mais produtivas, seja pela melhoria das condições
de alimentação e de saúde, seja pelo emprego de técnicas modernas de
produção e de combate a pragas e outros elementos que prejudicavam a
produtividade agrícola brasileira.
Ainda que se registrassem disputas ou querelas em torno das
concepções de educação, que estavam vinculadas aos respectivos projetos
políticos, verificam-se momentos de interseção entre ruralistas e
industrialistas, haja vista a interseção entre alguns de seus interesses.
Sud Mennucci, em consonância com o pensamento de Alberto
Torres (2002, p. 165), considerava que
O desequilíbrio das sociedades modernas resulta, principalmente, da
deslocação constante das populações das zonas rurais para os centros
populosos, da agricultura para as indústrias, do esforço produtivo para
as manufaturas e para o comércio. O Brasil tem por destino evidente
ser um país agrícola: toda a ação que tender a desviá-lo desse destino é
um crime contra a sua natureza e contra os interesses humanos.
Dessa forma, o Movimento pela ruralização do ensino parte de
uma crítica à escola primária destinada, à época, a populações de áreas
rurais, pois essas escolas eram urbanocêntricas e seus professores não
tinham formação específica.
Em contraposição a essa escola, os ruralistas do ensino defendiam
uma escola fosse ruralizada, isto é, adaptada e específica para populações
de áreas rurais, defendendo, assim, uma concepção de escola ruralizada.
Defendiam, ainda, que a formação de professores destinados a essas escolas
também fosse ruralizada.
86
A concepção de escola ruralizada visava atender aspectos
relacionados às dimensões pedagógica, sanitária, econômica e ideológica.
Em relação à dimensão pedagógica, os ruralistas do ensino
propuseram uma escola menos livresca, que ensinasse conteúdos escolares
concomitantemente aos relacionados às lides agrícolas, considerando a
relação entre teoria e prática (MENNUCCI, 1930a; 1932c; 1935; 1944;
1946b).
Quanto à dimensão sanitária, a concepção de escola ruralizada
visava ensinar hábitos de profilaxia física; ensinar as populações a comerem
melhor, pois havia inúmeras queixas, à época, de que o homem pobre rural
comia mal; prevenir e combater doenças decorrentes de “carência
nutritiva” e de outras ordens, principalmente aquelas relacionadas a
hábitos sanitários; e ensinar estratégias para melhorar as condições de
habitação das populações de áreas rurais (MENNUCCI, 1930a; 1932c;
1935; 1944; 1946b).
Já em relação à questão econômica, a escola ruralizada visava
preparar para o trabalho agrícola, com base na agricultura moderna e
científica, e, com isso, aumentar a produção agrícola e resolver problemas
da economia nacional; fixar o homem no campo, pois havia preocupações
com a “colonização interna”; impedir o êxodo rural e, com isso, tentar
impedir o inchamento das cidades, prevenindo conflitos sociais; contribuir
para resolução de problemas com questões demográficas e de segurança
nacional; e disciplinar as populações de áreas rurais (MENNUCCI, 1930a;
1932c; 1935; 1944; 1946b).
Por fim, em relação à questão ideológica, a concepção de escola
ruralizada visava ensinar hábitos de profilaxia mental e desenvolvimento
do nacionalismo (MENNUCCI, 1930a; 1932c; 1935; 1944; 1946b).
Com base em apontamentos de Carvalho (1998), esses aspectos foram
87
recorrentemente abordados em Conferências da Associacão Brasileira de
Educacão (ABE), marcadas pelo caráter “cívico-nacionalista”.
Ainda que não hegemônicas, as ideias dos ruralistas do ensino
marcaram posição no cenário educacional brasileiro. Diversos sujeitos e
ações foram mobilizados para a circulação das ideias ruralistas no Brasil,
questões essas abordadas nos próximos capítulos.
Considerando-se a perspectiva de Paulo Freire (1978; 1996),
constata-se que a concepção de educação dos ruralistas do ensino era
estranha, isto é, concebida sem a participação da ampla maioria das
populações rurais, que não eram consultadas acerca dessas propostas. Além
disso, entre os principais objetivos da educação ruralista visavam a
governabilidade, com vistas a evitar tensões ou conflitos sociais.
Para atingir esse objetivo era fundamental combater o êxodo rural,
a improdutividade do trabalhador rural, os valores ou ideologias que
ameaçassem, desestruturassem ou prejudicassem a harmonia ou coesão
social, que os ruralistas consideravam como naturais ou típicas das áreas
rurais. Assim, partindo da perspectiva freireana, tratava-se de uma
educação para a domesticação, ou seja, uma educação para, e não das
populações rurais, debate esse retomado e complexificado no Brasil, a
partir da década de 1990, pelo Movimento Nacional por uma Educação
do Campo
41
.
41
Há várias polêmicas sobre interpretações que se fazem acerca dos ruralistas ou dos ruralistas do
ensino. Além disso, a questão do ensino específico ou universal continua a ser objeto de polêmicas
ainda na atualidade, perpassando a história da educação no Brasil e não é uma questão consensual,
mesmo entre setores que adotam abordagens político-ideológicas relativamente próximas entre si,
especialmente entre setores das denominadas esquerdas brasileiras, como por exemplo, Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e
Educação no Brasil” (HISTEDBR) e Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação no Campo
(GEPEC).
88
1.2.1 Arrefecimento das ideias do Movimento
pela ruralização do ensino
O processo de arrefecimento do Movimento pela ruralização do
ensino ocorreu entre o final da década de 1950 e início da década de 1960.
Considera-se que os fatores que contribuíram para esse arrefecimento são
tanto de âmbito nacional quanto de âmbito internacional, sendo que
alguns deles podem estar relacionados entre si. Considera-se, ainda, que
possivelmente esse arrefecimento não seja decorrente de um único fator,
mas de um conjunto de fatores, entre eles os enunciados a seguir.
No que se refere ao âmbito nacional, alguns desses fatores são as
mortes de Fernando Costa, em 1946, de Sud Mennucci, em 1948, e de
Getúlio Vargas, em 1954. Esses três sujeitos, em esferas de atuação
distintas, tiveram papel importante no processo de concepção, circulação
e implementação das ideias do Movimento pela ruralização do ensino. Em
relação à morte de Fernando Costa, Sud Mennucci (MENNUCCI...,
1955, p. 8), em carta enviada a José Américo da Costa, datada de 6 de
novembro de 1946, ressalta que:
Não se engane, porém, supondo que o plano, de que dei uma idéia em
‘Ruralização’, está sendo seguido em São Paulo. Com a morte de
Fernando Costa, entramos numa fase paralização. Há um ano que não
se faz práticamente nada nesse capítulo e que não se dá um passo a
frente. Os novos administradores, embora falem muito das
necessidades da zona rural, não saem do terreno oratório.
Marques (2003), ao discutir a questão agrária no Brasil, apresenta
três momentos diferenciados: o período de meados da década de 1950 ao
89
início da década de 1960, marcado pela presença dos rendeiros ou foreiros;
o período de meados da década de 1970 ao início da década de 1980,
marcado pelos posseiros; já o período que vai do fim da Ditadura civil-
militar até os dias atuais, marcado pela presença dos sem-terra.
Há que se considerar, ainda, no que se refere ao arrefecimento do
Movimento pela ruralização do ensino, outros fatores, concomitantes e
combinados com outros mencionados neste texto, como, a denominada
“Revolução Verde, que, partindo dos apontamentos de Pereira (2012),
marcou a década de 1950 e contribuiu para a intensificação do uso de
tecnologias e equipamentos que, por sua vez, implicaram no aumento do
desemprego no campo brasileiro, estimulando o êxodo para áreas urbanas.
A significativa alteração da proporção entre a densidade
demográfica no campo e na cidade também é um fator a ser considerado,
pois, na década de 1930, quando ocorre a ascensão do Movimento pela
ruralização do ensino, a ampla maioria da população brasileira estava
concentrada em áreas rurais. No entanto, na década de 1960, essa
propoão altera-se significativamente, haja vista o crescimento das
populações concentradas em áreas urbanas.
Outro fator a ser considerado é a criação da Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe (CEPAL), vinculada à Organização das
Nações Unidas (ONU), e que teve impactos significativos na configuração
do desenvolvimento econômico, inclusive do Brasil.
Além disso, esse período é marcado por medidas governamentais,
especialmente durante os mandatos presidenciais de Getúlio Vargas, de
1951 a 1954, e de Juscelino Kubitschek, de 1956 a 1961, que estimularam
o processo de instalação de indústrias no Brasil, com grande participação
de capital estrangeiro, haja vista a política cambial favorável às corporações
internacionais (CAPUTO; MELO, 2009; VIEITEZ, 2019).
90
Segundo Marques (2003), com o Golpe civil-militar de 1964, uma
das medidas adotadas pelo Estado foram as políticas de incentivo à
modernização da agricultura, o que gerou diversos impactos para as
populações de áreas rurais, entre eles, o desemprego, resultando em fluxos
migratórios para a cidade. Talvez, com esse novo direcionamento das
políticas oficiais, a proposta dos ruralistas do ensino já não encontrava
acolhida junto aos novos governantes.
Talvez, o Golpe civil-militar e a repressão aos movimentos sociais
de trabalhadores rurais levada a termo pelos militares tenham contribuído
para a redução das preocupações com as populações de áreas rurais, em
especial no que se refere ao risco em relação à agitação comunistae ao
risco de revoluções
42
.
No entanto, não foram encontrados dados que permitam afirmar
assertivamente que esses fatores foram responsáveis pelo arrefecimento do
Movimento pela ruralização do ensino. Porém, é possível fazer essa
inferência.
***
As ideias defendidas pelo Movimento pela ruralização do ensino
foram postas em circulação por uma rede de sociabilidade composta por
diversos sujeitos de diferentes pontos do Brasil e também de outros países,
tema do próximo capítulo.
42
Vieitez (2019) apresenta diversos excertos de documentos oficiais que exemplificam a
preocupação, a vigilância e a repressão levadas a termo por agentes de segurança do Estado, inclusive
no que se refere às áreas rurais, com vistas a identificar e debelar focos de ação de pessoas ou
organizações supostamente comunistas.
91
2.
“A ruralizão do ensino é a solução”
43
?:
sujeitos
44
movimentando ideias
45
43
Essa ideia foi defendida por Wamberto Dias da Costa em artigo publicado na Revista do Professor
em 1936.
44
A circulação de ideias depende de ações de sujeitos. Nesta pesquisa ressaltam-se ideias e sujeitos
em circulação, pois, no caso dos ruralistas do ensino, as ideias circulavam também por intermédio
dos ruralistas do ensino, que participavam ou realizavam diversas ações, principalmente,
conferências, cursos, exposições sobre temáticas agrícolas, dentre outros. Ou seja, a circulação
ocorria pela própria presença física de alguns sujeitos.
45
Problematização com base em Sirinelli (2003), ao abordar a sociabilidade entre os intelectuais.
92
Assim como Thales de Andrade (1932), cuja carta é reproduzida
como epígrafe deste capítulo, diversos sujeitos escreveram para Sud
Mennucci com o objetivo de abordar assuntos relacionados à ruralização
do ensino. Na carta citada, Thales de Andrade refere-se a Sud Mennucci
como “Chefão” e manifesta receio de que ele deixe a Diretoria Geral do
Ensino sem realizar o principal objetivo da reforma de 1932, isto é, a
“ruralisação das normaes ruraes”, apresentada por Thales como o “coração
da reforma”. Esse missivista finaliza a carta apresentando questionamentos
sobre o risco de, com a eventual saída de Mennucci, não mais ser possível
eles trabalharem juntos na execução desse “programa”.
Neste capítulo, apresentam-se considerações sobre essa troca de
correspondência, que formava uma rede de sociabilidade estabelecida entre
sujeitos que integraram o Movimento pela ruralização do ensino, bem
como sobre sujeitos que manifestaram ou sobre os quais foram
encontrados indícios de algum nível de afinidade com esse Movimento.
2.1 Notas sobre correspondência recebida por Sud Mennucci
Conforme apontado no capítulo I, com base na análise das fontes
e em pesquisas acadêmico-científicas, Sud Mennucci ocupou papel de
destaque na concepção e na circulação das ideias do Movimento pela
ruralização do ensino no Brasil. Sud Mennucci era tratado como “batuta”,
“mestre”, “chefão”, “maior autoridade do ruralismo” e Piracicaba, a cidade
em que ele nasceu e em que desempenhou diversas atividades profissionais,
foi considerada a “Meca do ruralismo”.
Considerando-se o lugar de destaque ocupado por Sud Mennucci
no processo de concepção e de circulação das ideias da ruralização do
ensino, pergunta-se: quem eram os sujeitos que integravam a rede de
93
sociabilidade de Sud Mennucci para fins de interlocuções, por intermédio
de correspondência, para tratar da temática da ruralização do ensino? No
que se refere à correspondência, quem eram os remetentes, quais os locais
e as datas de emissão? Qual o lugar social desses sujeitos? Essas são algumas
das reflexões que se pretende realizar neste capítulo.
Partindo da abordagem de “redes de sociabilidade” de Sirinelli
(1998; 2003), são apresentadas considerações sobre relações estabelecidas
entre sujeitos que integraram ou que manifestaram interesse pelo
Movimento pela ruralização do ensino no Brasil. Para isso, foram
consultados artigos publicados na Revista do Professor, na Revista Brasileira
dos Municípios e, principalmente, em correspondência que compõe o
arquivo pessoal de Sud Mennucci. Apresentam-se análises com base
principalmente em correspondência recebida por Sud Mennucci, entre as
décadas de 1910 e 1940, abordando a temática da ruralização do ensino,
com vistas a identificar sujeitos (pessoas ou organizações) e suas
funções/cargos (lugares sociais), bem como localidades e datas dessa
correspondência.
O arquivo pessoal de Sud Mennucci indica que ele manteve
contato com diversos sujeitos de diferentes localidades e recebia missivas
com as mais variadas finalidades. No entanto, neste capítulo analisa-se uma
média de 100 missivas selecionadas por abordarem, direta ou
indiretamente, a temática da ruralização do ensino
46
.
Foram identificadas missivas emitidas por sujeitos que ocupavam
desde cargos mais elementares até sujeitos com cargos de comando,
inclusive do primeiro escalão dos Poderes Legislativo e Executivo, das
esferas municipal, estadual e federal no Brasil. Foram identificadas,
46
No Apêndice B da Tese (MORAES, 2019a), apresenta-se quadro com 442 missivas, classificadas
por sujeitos e suas funções/cargos, bem como por datas e localidades de emissão.
94
também, missivas de sujeitos de outros países, majoritariamente vinculados
a instituições de ensino ou órgãos governamentais dos Estados Unidos da
América (EUA) e de outros países.
Nessa correspondência eram tratados diversos assuntos, desde os
estritamente particulares até os públicos. Como exemplos, podem ser
citadas missivas com pedidos de remoção, de emprego, de nomeação, de
aumento de salário, de intermediação de contatos com outros sujeitos,
entre outras solicitações. No Quadro 3, apresenta-se a quantidade de
correspondência ordenada por década e por ano de emissão.
Década
Anos
Total por ano
Total por década
1910
Ano de 1910
1
5
Ano de 1911
1
Ano de 1914
1
Ano de 1919
2
1920
Ano de 1920
7
40
Ano de 1921
5
Ano de 1922
2
Ano de 1923
2
Ano de 1924
11
Ano de 1925
5
Ano de 1926
1
Ano de 1927
1
Ano de 1928
2
Ano de 1929
4
95
1930
Ano de 1931
4
199
Ano de 1932
15
Ano de 1933
25
Ano de 1934
8
Ano de 1935
25
Ano de 1936
18
Ano de 1937
20
Ano de 1938
34
Ano de 1939
50
1940
Ano de 1940
23
195
Ano de 1941
23
Ano de 1942
15
Ano de 1943
28
Ano de 1944
11
Ano de 1945
36
Ano de 1946
39
Ano de 1947
18
Ano de 1948
2
[s.d.]
-
3
3
Total geral
-
442
Quadro 3: Correspondência ordenada por década e ano de emissão.
Fonte: Fontes para o estudo da ruralização do ensino no Brasil (1910-1940)
(MORAES, 2019b).
O maior número de cartas trocadas foi registrado nas décadas de
1930 e de 1940, talvez por se tratar do momento de maior atuação de Sud
Mennucci na área da Educação, ocupando cargos de primeiro escalão. No
entanto, a década de 1930 é a de maior frequência, talvez devido à
publicação, em 1930, do livro A Crise Brasileira de Educação que, em 1933,
foi premiado pela Academia Brasileira de Letras. Além disso, em 1930 foi
criado o CPP, organização da qual Mennucci foi presidente por vários
anos. Em 1932, ocorreu a reforma da educação paulista protagonizada por
96
Sud Mennucci e a criação da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres e,
em 1935, da Sociedade Luiz Pereira Barreto.
São apresentados, a seguir, três mapas
47
, visando demonstrar os
locais de remessas da correspondência para Sud Mennucci, separados
conforme os seguintes critérios: a) municípios do Estado de São Paulo, b)
Estados do Brasil e c) países do Continente Americano.
Figura 1. Mapeamento de origem dos sujeitos: Estado de São Paulo.
Fonte: Elaborado pela autora (2018).
No que diz respeito ao Estado de São Paulo, Sud Mennucci
recebeu correspondência de sujeitos de considerando-se a configuração
47
Para a elaboração dos mapas do Estado de São Paulo e do Brasil, foi utilizada a divisão
territorial vigente em 1940; mais especificamente em relação ao Estado de São Paulo,
considerou-se o Recenseamento Geral de 1940 (RIO DE JANEIRO, 1950).
97
vigente em 1940 38 municípios, apresentados, a seguir, em ordem
alfabética e grafados conforme constam no Recenseamento Geral de 1940:
Araras, Araçatuba, Assiz, Bananal, Batatais, Baurú, Bebedouro, Botucatú,
Campinas, Casa Branca, Descalvado, Pinhal
48
, Franca, Guaratinguetá,
Guarujá, Guarulhos, Jaboticabal, Jaú, José Bonifácio, Limeira, Lindóia,
Mococa, Piracicaba, Pirassununga, Piratininga, Pontal, Pôrto Ferreira,
Ribeirão Preto, Rio Claro, Rio Preto
49
, Santos, São Carlos, São Manuel,
São Paulo, Silveiras, Sorocaba, Tanabí e Taubaté. Sud Mennucci recebeu
também correspondência de cinco distritos, quais sejam, Aguaí, Cabrália
Paulista, Cerquilho, Votuporanga e Xarqueada.
Figura 2: Mapeamento de origem dos sujeitos: Brasil.
Fonte: Elaborado pela autora (2018).
48
Denominado atualmente de Espírito Santo do Pinhal/SP.
49
Denominado atualmente de São José do Rio Preto/SP.
98
Analisando-se as localidades dos remetentes no Brasil, constata-se
que Sud Mennucci recebeu correspondência das considerando-se a
configuração vigente em 1940 cinco regiões, de 15 estados e de um
Território. Da Região Centro, Sud Mennucci recebeu correspondência
procedente dos Estados de Goiás, de Mato Grosso e de Minas Gerais. Da
Região Este, dos Estados da Bahia e de Sergipe. Da Região Nordeste, dos
Estados de Ceará, da Paraíba, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte.
Da Região Norte, do Estado de Amazonas e do Território do Acre. Da
Região Sul, dos Estados do Paraná, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do
Sul, de Santa Catarina e de São Paulo. Destaca-se que Sud Mennucci não
recebeu correspondência procedente apenas dos Estados de Alagoas, do
Espírito Santo, do Maranhão, do Pará e do Piauí.
Os dados levantados demonstram que ocorreu intensa circulação
das ideias ruralistas na Região Nordeste do Brasil. Destaca-se, ainda, com
base em cartas analisadas, certo prestígio de Sud Mennucci e do Estado de
São Paulo naquela Região do país. Segundo Giesbrecht ([1997?], p. 95)
“[...] as idéias ruralistas de Sud [...] [tiveram] uma repercussão muito maior
no Norte e Nordeste do que no Sul do País.” Joaquim Alves, escrevendo
de Fortaleza/CE, sujeito que remete recorrentes cartas a Sud Mennucci,
destaca o prestígio de São Paulo naquela Região (ALVES, 1935; 1936a).
Porém, no que se refere a esse prestígio, sem a intenção de deslegitimar os
registros dos interlocutores, há que se considerar, também, as relações e os
interesses existentes entre os sujeitos integrantes dessas redes.
99
Figura 3: Mapeamento de origem dos sujeitos: Continente Americano.
Fonte: Elaborado pela autora (2018).
Os países dos quais foi enviada correspondência para Sud
Mennucci são: Argentina (11 cartas), Bolívia (1), Cuba (1), Estados
Unidos da América (23), México (1), Paraguai (1), Uruguai (2), e
Venezuela (1). A maior frequência de origem dos remetentes foi dos EUA.
É compreensível o fato de os Estados Unidos da América
apresentarem maior frequência, pois esse país era considerado e
100
apresentado como modelo
50
para o Brasil, nas mais variadas áreas, em
especial para a área da Educação escolar, conforme problematizado no
capítulo IV.
2.2 Rede de sociabilidade movimentando ideias
sobre a ruralização do ensino
Neste tópico, são destacadas missivas que estão mais relacionadas,
direta ou indiretamente, ao objetivo geral desta pesquisa, qual seja, a
circulação das ideias sobre a ruralização do ensino. Dessa forma, são
apresentadas problematizações, principalmente sobre missivas cujos
remetentes foram considerados relevantes ou com alguma expressividade,
seja na área da educação, seja em outras áreas.
Para apresentação deste tópico, foram realizadas segmentações,
com vistas à sistematização dos dados. A correspondência disponível no
arquivo foi recebida por Sud Mennucci. Assim, teve-se acesso somente ao
conteúdo do que foi escrito a Sud Mennucci, não havendo, salvo algumas
exceções, acesso ao conteúdo das cartas emitidas por ele.
Apresentam-se, a seguir, alguns dos sujeitos que escreveram para
Sud Mennucci, com o objetivo de demonstrar, principalmente, uma rede
de sociabilidade que, com base nos dados constantes no arquivo, tinha
como principal temática de discussão a ruralização do ensino. A seleção e
apresentação desses sujeitos foi feita conforme o lugar social
51
que
50
Pode-se inferir que uma das razões para a escolha dos Estados Unidos da América como modelo
de educação para o Brasil esteja relacionada à histórica querela acerca
das possíveis razões de o
Brasil ser um país atrasado, estabelecendo-se relações entre esse atraso e questões étnico-culturais.
51
Em relação ao lugar social, ressalta-se que foi considerada a informação constante na
correspondência. No entanto, em alguns casos, com base em dados biográficos, foi possível
confirmar o lugar social de alguns sujeitos. Destaca-se, ainda, que em algumas cartas é apresentado
101
ocupavam e com base na ordem cronológica de data apresentada na
correspondência. Com base nesse critério, percebe-se que faziam parte
dessa rede de sociabilidade integrantes dos Poderes Executivo e Legislativo
brasileiros, das três esferas de governo federal, estadual e municipal ,
sujeitos vinculados à área privada, bem como sujeitos de outros países,
vinculados a setores públicos e privados. Optou-se pela apresentação, de
forma separada, da educação e da agricultura, de forma a colocá-las em
evidência, pelo fato de serem duas áreas-chave para os ruralistas do ensino.
2.2.1 Sujeitos vinculados ao setor público
52
Sud Mennucci recebeu cartas de sujeitos vinculados ao setor
público das esferas estadual e municipal apresentando, por exemplo,
solicitações e agradecimentos pela doação de livros, convites para proferir
conferências e sobre outras questões relacionadas à educação rural. Isso
evidencia a ressonância das ideias da ruralização do ensino no âmbito da
política.
Na esfera estadual, destacam-se Caruso, do Gabinete do Primeiro
Secretário da Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo, Francisca
Rodrigues, deputada estadual de São Paulo, também conhecida como
Chiquinha Rodrigues, Luís Gonzaga Novelli Junior, deputado por São
Paulo à Assembleia Nacional Constituinte, e Gabriel Monteiro da Silva,
funcionário do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.
apenas o nome ou o sobrenome de alguns sujeitos. Em alguns casos, manteve-se essa apresentação,
pois não foi possível localizar outras informações para complementação.
52
Destaca-se que foram apresentados dados biográficos e bibliográficos de alguns sujeitos que se
corresponderam com Sud Mennucci ou que foram mencionados nessas missivas. Sobre alguns
sujeitos, ou não foram recuperadas informações, ou esses sujeitos não foram, devido à falta de dados,
considerados relevantes.
102
Caruso, do Gabinete do Primeiro Secretário da Câmara dos
Deputados do Estado de São Paulo, em 1939, faz menção ao Dr. Carlos
Barbosa de Oliveira, engenheiro e professor no Rio de Janeiro, com quem
conversou “[...] sobre o proximo congresso de ensino internacional, a
efetuar-se no Rio e a conversa cabeceou para o ensino rural, de quem ele é
apologista. Falei a teu respeito; conhece-te, mas não leu a ‘Crise Brasileira
de Educação’ e pediu-me que a obtivesse de ti.” (CARUSO, 1939a, p. 2).
Menciona ainda a viagem do citado engenheiro pelo interior de São Paulo.
Em carta posterior, Caruso consulta Mennucci sobre a recepção do pedido
de exemplar do livro A Crise Brasileira de Educação para o Dr. Carlos
Barbosa de Oliveira e reitera a importância de atender ao pedido, pois o
Dr. Barbosa de Oliveira era professor da “Esc. Pol. do Rio” e de outras
escolas, e tinha circulação internacional, tendo realizado conferência,
proferida em francês na Universidade de Sorbonne, sobre a seca do Cea
(CARUSO, 1939b).
A deputada Francisca Rodrigues, em 1939, envia missiva a Sud
Mennucci informando que a caravana cultural denominada “Bandeira
Paulista da Alfabetização”, atendendo à solicitação do Dr. Juan Oscar
Griot, diretor do Ginasio Lyceu de Durazno, do Uruguai, iria doar 500
livros brasileiros a esse Ginásio, e para tanto solicitava a colaboração de
Mennucci com doação de alguns de seus livros (RODRIGUES, 1939). A
deputada e Sud Mennucci estiveram em Porto Alegre em 1935, integrando
a “Bandeira Paulista de Alfabetização”, presidida por ela e integrada por
outros educadores, além de Mennucci, como Gracita de Miranda Caiuby,
e pelo pianista Tabacow (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 1935a). Como parte
das atividades dessa caravana, Mennucci ministrou palestra sobre o
“Ensino rural”, destacando, entre outros assuntos, que “[...] o primeiro
erro da agricultura no Brasil foi a escravidão negra. Os escravos tinham
103
horror ao trabalho, o mesmo se dando, com muito maior razão, com os
brancos.” (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 1935b).
O deputado por São Paulo na Assembleia Nacional Constituinte
de 1946, Novelli Junior, em carta enviada no dia 2 de maio de 1946, do
Rio de Janeiro, agradece a Sud Mennucci pela remessa dos seus
“magníficos trabalhos” sobre o ensino rural e ressalta que esses trabalhos
irão auxiliá-lo na preparação de seu próximo “discurso na Constituinte”
(NOVELLI JÚNIOR, 1946). Os dados indicam que esse deputado vinha
denunciando, na Assembleia Constituinte, o ensino inadequado oferecido
nas escolas rurais (SOUSA, 1950).
Gabriel Monteiro da Silva, funcionário do Palácio do Catete, em
carta de 1946, do Rio de Janeiro, solicita a Sud Mennucci “belos e
oportunos trabalhos sobre educação ruralista”, para atender ao pedido de
Novelli (SILVA, 1946). Pode-se inferir que essa carta tenha alguma relação
com a correspondência emitida pelo deputado Novelli Júnior citado
anteriormente.
Sud Mennucci recebeu cartas de alguns prefeitos
53
, como, Ricardo
Ferraz de Arruda Pinto, de Piracicaba/SP, e Antonio Alves de Toledo, de
Bebedouro/SP. Recebeu também cartas de pessoas que escreveram em
nome de prefeitos, como Plínio Travassos dos Santos, de Ribeirão
Preto/SP, e Claudino Dias de Sousa, de Barra do Piraí/RJ. Tanto os
prefeitos quanto as demais pessoas que escreveram em seus nomes
apresentaram interesse pelas ideias ruralistas, efetuaram convites para Sud
Mennucci proferir palestras, bem como agradeceram a doação de livros de
autoria desse educador.
53
Além desses prefeitos, Sud Mennucci recebeu cartas de outros convidando-o para proferir
palestras sobre o recenseamento, educação rural e outros assuntos.
104
Claudino Dias de Sousa, secretário da Prefeitura da Barra do
Piraí/RJ, em carta de 19 de maio de 1939, escrita em nome do prefeito,
informa o recebimento de carta de Sud Mennucci, indica o melhor trajeto
para Juiz de Fora sem passar pelo Rio de Janeiro e solicita um livro com
dedicatória, não indicando um título específico (SOUSA, 1939a). Os
dados levantados indicam que esse pedido foi atendido, pois, em carta de
26 de maio de 1939, Claudino apresenta agradecimentos a Sud Mennucci
pela oferta de cinco livros (SOUSA, 1939b).
Antonio Alves de Toledo, vinculado à Prefeitura de Bebedouro/SP,
em carta de 31 de julho de 1939, agradece a Sud Mennucci pela oferta do
livro Brasil Desunido e elogia Mennucci pela sua produção bibliográfica
(TOLEDO, 1939). Outro prefeito, Ricardo Ferraz de Arruda Pinto, de
Piracicaba/SP, em carta de 23 de agosto de 1939, convida Sud Mennucci
a pronunciar conferência no dia 7 de setembro desse mesmo ano em
Piracicaba (PINTO, 1939).
Plínio Travassos dos Santos, vinculado à Prefeitura Municipal de
Ribeirão Preto/SP, em 1938, agradece o envio do livro A Crise Brasileira
de Educação (um exemplar para Plínio e dois para a Biblioteca da Caixa
Escolar Municipal) e informa ter efetuado a leitura desse livro. Menciona
ter enviado um de seus trabalhos para Mennucci e solicita um parecer. O
remetente manifesta preocupação com a melhoria das escolas rurais e diz
contar com a colaboração de Sud para a biblioteca (SANTOS, 1938). Em
carta enviada em 1942, escreve informando que o Dr. Fábio Barreto,
prefeito desse município, “está interessado na reforma do ensino
municipal, principalmente para poder dar devida orientação ao ensino
rural” e, por essa razão, queria realizar contato com Sud Mennucci para
tratar dessa reforma. Plínio Travassos menciona as “virtudes de ruralista”
de Mennucci e diz ter-lhe enviado artigo intitulado “Sugestões para a
maior eficiência das escolas primárias”, publicado na Revista do Arquivo
105
Municipal. Cita a intenção do prefeito de Ribeirão Preto/SP de “libertar
quanto possivel o ensino rural municipal do estadual” e melhorar os
vencimentos dos professores rurais. Para isso pretendia estabelecer
entendimento com o Dr. Fernando Costa. O remetente informa ter doado
ao Dr. Fábio Barreto o livro A Crise Brasileira de Educação. Por último,
menciona o Decreto nº 20.108
54
, publicado no Diário Oficial (SANTOS,
1942).
2.2.2 Sujeitos vinculados à área da Educação
Em relação aos sujeitos vinculados à área da Educação que
enviaram missivas a Sud Mennucci abordando a temática da ruralização
do ensino, foram identificados, também, sujeitos vinculados à esfera
federal, estadual e municipal. Nas cartas, esses sujeitos abordaram
especialmente estratégias visando à circulação e à implementação das ideias
do Movimento pela ruralização do ensino, entre outros assuntos.
Em âmbito federal, destaca-se J. Moreira de Sousa, que também
ocupou cargos no âmbito estadual, como, o de Diretor Geral do Ensino
no Ceará. Em 1935, J. Moreira de Sousa escreveu duas cartas para Sud
Mennucci. Na primeira, datada de 8 de abril, tece elogios à atuação de Sud
Mennucci e informa ter obtido o livro Rodapés, bem como três exemplares
da Revista do Professor
55
que apresentam textos sobre o “1º Congresso
Brasileiro de Ensino Regional” (SOUSA, 1935a).
54
Possivelmente, esteja fazendo referência ao Decreto nº 20.108, de 15 de junho de 1931, que
“Dispõe sobre o uso da ortografia simplificada do idioma nacional nas repartições públicas e nos
estabelecimentos de ensino.” (BRASIL, 1931), assunto mencionado em outras cartas.
55
Possivelmente esteja fazendo menção ao número 8 da Revista do Professor, referente ao período
de dezembro de 1934 a janeiro de 1935.
106
Já na segunda carta, datada de 8 de novembro, menciona a
articulação com o deputado Monte Arrais, da bancada cearense, acerca de
um “esboço de um projéto de lei, a ser apresentado, no Congresso
Nacional, autorizando o Poder Executivo a criar, em cada Estado do Brasil,
uma Escola Normal Rural, de tipo superior”. Informa que presenteou esse
deputado com o livro A Crise Brasileira de Educação e que ele havia lido
esse livro e estava interessado na discussão sobre a ruralização do ensino.
Menciona Raul Bittencourt, da Comissão de Educação da Câmara, da
bancada do Estado do Rio Grande do Sul, acerca de articulações ruralistas
a serem apresentadas por ocasião da discussão do Plano Nacional de
Educação. J. Moreira de Sousa (1935b, p. 2) destaca: “Precisamos fazer
que o caso estoire no Congresso.”. O desejo de que o caso “estoire no
Congresso” demonstra articulações que ruralistas do ensino efetuavam em
diferentes instâncias, inclusive entre ocupantes de cargos no legislativo.
Nessa correspondência, solicita exemplar do livro A Crise Brasileira de
Educação, cópia de conferência na A.B.E. e outros materiais sobre
ruralismo. Informa que a Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte/CE
está em pleno funcionamento e que a Semana Ruralista foi um sucesso.
Faz menção à necessidade de empenho para que a ortografia simplificada
seja implementada na prática. Além disso, menciona a repercussão da
palestra de Sud no Rio Grande do Sul: “Vi pelos jornais, que a idéa do
ruralismo esteve luminosamente em fóco, nas cochilas, pelo seu verbo
ardente e empolgante. Não se está certo da ardencia e empolgancia de seu
verbo, quando prega ruralismo.” (SOUSA, 1935b, p. 2).
Em relação a sujeitos da esfera estadual, destacam-se Joaquim
Alves, inspetor regional do ensino, Maximo de Moura Santos, vinculado
ao Departamento da Educação de São Paulo, e Rubens Falcão, diretor do
Departamento de Educação do Rio de Janeiro.
107
Joaquim Alves
56
atuou como inspetor regional do ensino, integrou
o Instituto do Ceará, escreveu livros sobre o Vale do Cariri e sobre as secas
do Ceará e publicou, na Revista do Professor, artigos intitulados “Ensino
profissional rural” (1936b) e “Organização escolar” (1937).
Entre os anos 1935 e 1939, Joaquim Alves escreveu, de
Fortaleza/CE, seis cartas para Sud Mennucci. Nessas cartas faz referência a
Mennucci como “mestre” (ALVES, 1935) ou “amigo” (ALVES, 1939a) e
aborda assuntos como a passagem de Sud Mennucci pelo Ceará e a
passagem de Amalia Xavier por Fortaleza (ALVES, 1938a).
Joaquim Alves apresenta, também, informes sobre o
desenvolvimento da ruralização do ensino na cidade de Fortaleza/CE. Em
carta enviada em 1938, destaca: “O movimento ruralista arrefeceu um
pouco. Em visto ser necessario uma nova organisação para a localisação das
escolas providas por professoras ruralistas, o que não tardará.” (ALVES,
1938a). Já em missiva de 4 de dezembro de 1939, ressalta: “O movimento
rural aqui continua platonicamente. Só a Escola Normal Rural trabalha,
formando turmas de professoras ruralistas. A deste ano já colou o seu
ultimo gráo. Surgiu uma literatura ruralista nos sertões de Tauá, a Escola
Fazenda.” (ALVES, 1939b). Em carta de 1935, faz referência a alguns
textos enviados a Sud Mennucci: “Muito me agradou, saber que os
trabalhos que lhe enviei sobre ruralismo, agradaram ao mestre [...]. Faz
56
Joaquim Alves de Oliveira nasceu em Jardim/CE, no dia 10 de fevereiro de 1894, e
faleceu em Fortaleza/CE, no dia 8 de junho de 1952. Formou-se em Odontologia em
1920. Atuou como odontologista por um tempo, porém, durante a maior parte de sua
vida, dedicou-se ao magistério público e particular. Atuou como inspetor regional do
ensino e foi professor catedrático do Instituto de Educação Justiniano de Serpa e da
Faculdade de Ciências Econômicas do Ceará. Integrou a Academia Cearense de Letras
e o Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, conhecido como
Instituto do Ceará. Escreveu livros sobre o Vale do Cariri e sobre as secas do Ceará.
Foi considerado um dos “naturalistas da Academia Cearense de Letras” (PAIVA,
[s.d.]).
108
menção ao Estado de São Paulo como referência modelar: “O que não é
aceito ahi, não repercute aqui. Foi e continua sendo assim as cousas do
nosso Brasil.” (ALVES, 1935).
Em carta
57
de 29 de agosto de 1936, Joaquim Alves, vinculado ao
Departamento de Educação de Fortaleza/CE, informa Mennucci sobre a
reassunção de funções junto ao Departamento de Educação. Envia dois
números do Jornal do Commercio de Recife e do último número da Revista
de Geografia e Historia do Ceará. Informa, ainda, a recepção de números
da Revista do Professor com “trabalhos” de sua autoria e solicita outros
números dessa Revista. Agradece pela publicação de seu capítulo
“Introdução á Ciências Geograficas” “na sua Revista do Professor e
informa que está em composição o terceiro número da “Revista de
Geografia e Historia do Ceará”. Além disso, apresenta informação sobre a
intenção do governo do Estado do Ceará de criar uma “Secção de Ensino
Rural”:
O Governador do Estado pretende criar uma Secção de Ensino Rural
e, segundo estou informado, serei o seu diretor. Como São Paulo é o
nosso lider ruralista, tendo como mentor o velho mestre Sud, encareço
a v. a remessa do que houver ahi sobre o assunto e bem assim, sobre a
organização do ensino em geral, pois devo fazer um estudo sobre o que
se passa no sul e necessito de mais dados sobre o grande São Paulo, que
mais fiquei admirando depois de minha visita. (ALVES, 1936a, p. 1)
Essas cartas indicam a proximidade de Joaquim Alves com Sud
Mennucci, além de demonstrar a circulação de Mennucci pelo Brasil.
Nessas cartas, Joaquim Alves menciona autores de livros sobre as secas no
57
Consta no cabeçalho dessa carta: “Sociedade dos Amigos de Alberto Torres”.
109
Ceará e faz menção ao Dr. Thomaz Pompeu Sobrinho
58
, também
considerado um dos “naturalistas da Academia Cearense de Letras”
(PAIVA, [s.d.]).
Maximo de Moura Santos, chefe do Serviço das Instituições
Auxiliares da Escola, da Secretaria dos Negócios da Educação e Saúde
Pública, do Departamento da Educação de São Paulo, remete duas cartas
a Sud Mennucci em 1939, e em ambas o convida para escrever artigo na
Revista de Educação (SANTOS, 1939a; 1939b). No entanto, em uma
dessas cartas solicita que Mennucci prefira “[...] tema referente á
ruralização do ensino.” (SANTOS, 1939a).
Juntamente com Sud Mennucci, Maximo de Moura Santos,
fundara no município de São Paulo, em setembro de 1928, o Gymnásio
Moura Santos (GIESBRECHT, [1997?]). Moura Santos também é
mencionado por Joaquim Alves em uma de suas cartas, por lhe enviar
publicações do Departamento de Educação de São Paulo (ALVES,
1939b).
Destaca-se que em discurso
59
inaugural na Semana Ruralista de
Franca, realizada em 1935, Maximo de Moura Santos refere-se a São Paulo
como o “Estado Pioneiro” do Movimento pela ruralização do ensino e
aponta a necessidade da propaganda desse Movimento entre as elites
(RURALISMO, 1935).
Rubens Falcão
60
foi diretor do Departamento de Educação do Rio
de Janeiro, chefe da Inspetoria de Especialização em Educação de Adultos,
58
Thomaz Pompeu de Souza Brasil Sobrinho nasceu e faleceu em Fortaleza/CE, respectivamente
em 16 de novembro de 1880 e 9 de novembro de 1967. Integrou a Academia Cearense de Letras e
o Instituto do Ceará. Escreveu diversos livros sobre “açudagem, fisiografia, agropecuária, secas e
antropologia” (PAIVA, [s.d.], p. 80).
59
Esse discurso foi publicado na Revista do Professor, em 1935.
60
Rubens Falcão nasceu em Baturité/CE no dia 10 de novembro de 1901 e faleceu em Niterói-RJ
no dia 19 de fevereiro de 1995 (CPDOC/FGV).
110
Secretário de Educação e Cultura, consultor jurídico da Secretaria do
Interior e Justiça, Procurador do Estado, chefe de Relações Públicas da
Campanha de Alfabetização e Educação dos Adultos do Departamento
Nacional de Educação, membro da delegação do Ministério da Educação
e Cultura ao Congresso Interamericano de Educação de Base reunido em
São Paulo, dentre outros. Entre 1942 e 1943, o mencionado diretor
escreveu duas cartas para Sud Mennucci. Em uma delas solicitou que Sud
Mennucci contatasse a professora Noêmia Saraiva para verificar se ela
aceitava ministrar curso sobre atividades rurais (FALCÃO, 1942). Além
desse convite, expressou interesse em que D. Noêmia Saraiva visitasse a
Escola Típica Rural de Resende/RJ. Informou, também, a realização de
“uma exposição com produtos dessas escolas” (FALCÃO, 1943). A
menção à Escola Típica Rural não era fortuita, devido à relevância dessa
modalidade de escola primária à época. A esse respeito, são esclarecedoras
as afirmações de J. Moreira de Sousa (1950, p. 1100), em artigo publicado
na Revista Brasileira dos Municípios:
O Estado do Rio de Janeiro inaugurou, com resultados surpreendentes,
as suas conhecidas escolas típicas rurais
61
, já hoje famosas, tão boas que
o tomadas como modelo pelos interessados que as visitam. Desse
tentame nos deu notícia, em Goiania, e em substancioso relatório,
depois, o Sr. RUBENS FALCÃO, ao tempo Diretor do Departamento
de Educacão do Estado.
Quanto a remetentes da esfera municipal, destacam-se Apiegio
Gonzaga, vinculado à Escola Normal Masculina de Artes e Ofícios; Cyro
de Freitas Gaia; Wamberto Dias da Costa; Basílio de Magalhães; Noêmia
Saraiva de Mattos Cruz, diretora do Grupo Escolar Rural do Butantan de
61
Sobre as Escolas Típicas Rurais do Rio de Janeiro, ver Barros (2012).
111
São Paulo/SP; Amalia Xavier de Oliveira, diretora da Escola Normal Rural
de Juazeiro do Norte/CE; Manoel Rodrigues Lourenço, diretor do Grupo
Escolar Rural “Dois Corregos”; Manoel Alves de Almeida, diretor da
Escola Profissional Rural de Rio Verde/GO; José Cardoso e, por fim,
Ulysses Freire da Paz, inspetor escolar.
Apiegio Gonzaga, vinculado à Escola Normal Masculina de Artes
e Ofícios, em carta de 30 de janeiro de 1933, município de São Paulo, faz
referência a Sud Mennucci como “boníssimo amigo” e se apresenta como
adepto da ruralização do ensino (GONZAGA, 1933). Dos remetentes das
442 cartas e telegramas analisados, Apiegio Gonzaga foi o único a se
apresentar declaradamente como adepto da ruralização do ensino.
Analisando-se outras cartas, essa adesão fica subentendida, porém não
apresentam afirmação como a deste remente.
Cyro de Freitas Gaia
62
, em carta escrita em 1935, de Santos/SP,
considera necessário “dar ás escolas uma feição pratica”, de forma que elas
não sejam apenas um local “para preparar eleitores...” e apresenta a
ruralização do ensino como “movimento de renovação escolar”. O
remetente destaca ainda o ímpeto atuante dos defensores da escola
ruralizada: “Assim é fazer ruralismo, com trabalho e ação e não com
palavras.” (GAIA, 1935, p. 1). Em 1929, Cyro Gaia publicara, na Revista
Educação, artigo intitulado “A escola primária no littoral”, apresentando a
defesa de uma escola primária que oferecesse aos alunos formação
profissional, industrial ou artística, de acordo com o “esperíto regional
[sic]” (GAIA, 1929). Em carta posterior, esse remetente aborda a questão
do censo das escolas primárias (GAIA, 1940).
62
Não foram localizadas informações biográficas deste remetente.
112
Outro interlocutor foi Wamberto Dias da Costa
63
que, em
correspondência datada de 1935, registra elogios ao livro A Crise Brasileira
de Educação e à atuação de Sud Mennucci, apresentado como “patrono
dessa causa [a ruralização do ensino], o Bandeirante da Luz”. O remetente
ressalta, ainda, a importância das Escolas Normais Rurais e do professor
rural (COSTA, 1935).
Ainda sobre a defesa das Escolas Normais Rurais, Wamberto Dias
da Costa, em artigo publicado em 1936 na Revista do Professor, defende a
implementação dessas escolas e a ruralização do ensino como solução para
os problemas do Brasil. Para esse remetente “A ruralização do ensino é a
solução que nos ocorre como medida imediata, salvadora dessa lacuna que
nos prepara para a ruína.” (COSTA, 1936, p. 18).
Ao tecer comentários sobre os problemas sanitários do Brasil,
Wamberto Dias da Costa cita Belisário Pena, apresentado mais adiante.
Além disso, menciona o serviço militar obrigatório como uma das causas
do êxodo rural e defende o serviço militar regional. Segundo esse
remetente, isso é importante para que não ocorra o “fechamento de
fazendas por falta de braços” (COSTA, 1936, p. 18).
As discussões apresentadas por Wamberto Dias da Costa
demonstram que as pretensões dos ruralistas do ensino extrapolavam o
âmbito da educação, haja vista a necessidade e o empenho deles para
conquistar adesão de sujeitos pessoas ou organizações públicas ou
privadas nas esferas municipal, estadual ou federal.
Em carta escrita no ano de 1936, firmada no Rio de Janeiro, Basílio
de Magalhães destaca o sucesso da “bela evangelização ruralista” e o
protagonismo de São Paulo na difusão dessas ideias, referindo-se a
63
Não foram localizadas informações biográficas deste remetente.
113
Piracicaba como a “mecca do ruralismo no Brasil” (MAGALHÃES,
1936a).
Esse remetente informa o empenho da imprensa e de “amigos”
como, “Manéco”
64
, auxiliar do “dr. Luiz Piza Sobrinho” na “cruzada”
ruralista (MAGALHÃES, 1936a). Informa que efetuou duas conferências
“patrioticas”, sendo uma sobre “Caxias” e outra sobre “José Bonifacio”.
Diz ter mencionado Sud Mennucci e seus trabalhos nessas palestras e
também que existia a probabilidade de ele ministrar uma nova conferência
sobre a ruralização do ensino na “Associação dos Amigos de Alberto
Torres” (MAGALHÃES, 1936b).
Basílio de Magalhães destaca, ainda, a importância de se considerar
a “civilização praieira” para o desenvolvimento nacional e informa que
discorreu sobre “Civilização rural e civilização praieira do Brasil” na
Associação Brasileira de Educação (MAGALHÃES, 1936a; 1936b). A
cruzada ruralista significava a atuação presente e efetiva de educadores,
intelectuais e administradores em prol desse ideário.
Como bem expressou Basílio de Magalhães, “Precisamos,
portanto, de uma renascença da physiocracia do século XVIII e de ler e
reler, como um breviario civico, as paginas lapidares, que a visão genial do
Alberto Torres perpetuou, ha vinte-e-um annos, em ‘As fontes de vida no
Brasil’.” Além de Alberto Torres, o remetente menciona Augusto Comte
(MAGALHÃES, 1936a). Conforme mencionado no capítulo I, esses
autores figuram entre as principais referências dos ruralistas. Outro
importante sujeito mencionado por Basílio de Magalhães foi Luiz Piza
64
Giesbrecht ([1997?]) faz referência a uma pessoa apresentada como “Maneco”, que era cunhado
de Sud Mennucci; provavelmente, o remente esteja fazendo referência a essa pessoa.
114
Sobrinho
65
que foi secretário da Agricultura, Indústria e Comércio de São
Paulo e patrono da “Sociedade Luiz Pereira Barreto”.
Noêmia Saraiva de Mattos Cruz, recorrentemente apresentada
como Noêmia Saraiva, diretora do Grupo Escolar Rural do Butantan de
São Paulo/SP, em 1937, envia telegrama a Sud Mennucci, informando
que o “GRUPO ESCOLAR RURAL BUTANTAN ALCANÇOU
OUTRA VEZ PRIMEIRO PREMIO AVES EXPOSICAO NACIONAL
ANIMAES.” (CRUZ, 1937, grifos da autora).
Conforme visto anteriormente, Noêmia Saraiva foi uma ruralista
do ensino com intensa atuação nas atividades de circulação do Movimento
pela ruralização do ensino. Em várias das cartas analisadas, há diversas
menções a “D. Noemia Saraiva”. No entanto, chama a atenção o fato de
haver apenas uma correspondência de Noêmia Saraiva para Sud
Mennucci, haja vista a quantidade de cartas emitidas por outros ruralistas
do ensino. Outro fato que chama a atenção é que, como apontado em carta
de Rubens Falcão, Mennucci teve dificuldades em contatar Noêmia
Saraiva em determinada situação.
Amalia Xavier de Oliveira
66
, diretora da primeira Escola Normal
Rural de Juazeiro do Norte/CE, em carta de 25 de janeiro de 1938, dá
ciência do desenvolvimento da ruralização do ensino no Ceará. Informa
65
Piza Sobrinho é também mencionado por Sud Mennucci (1935) no livro Pelo Sentido Ruralista
da Civilizacão, quando apresenta carta que Sobrinho enviou a Cantídio de Moura Campos,
Secretario da Educacao e Saude Publica. Além disso, Piza Sobrinho proferiu diversas conferências
ou discursos sobre o “problema” agrário do Brasil, como, por exemplo, discurso pronunciado em
sessão de 19 de junho de 1946, na Assembléia Constituinte (O PROBLEMA..., 1946; PIZA
SOBRINHO, 1946).
66
Amalia Xavier de Oliveira nasceu e faleceu em Juazeiro do Norte/CE, respectivamente, em 5 de
abril de 1904 e 5 de dezembro de 1984. Diplomou-se pelo Instituto de Educação do Rio de Janeiro,
sob a direção do Professor Lourenço Filho. Atuou como professora e diretora de Grupo Escolar em
Juazeiro do Norte-CE, além de ter sido diretora da primeira Escola Normal Rural do Brasil. Para
mais informações sobre Amalia Xavier, ver Nogueira (2008).
115
negociação de terreno “onde os alunos poderão trabalhar à vontade.”, e
onde também serão feitas “diversas demonstrações” para o “nosso homem
do campo”. Relata que o livro de “D. Noemia” foi incluído na bibliografia
adotada pelo “Departamento de Educação do Ceará. É mais um passo
agigantado que a nossa terra dá, na estrada do ruralismo.” (OLIVEIRA,
1938).
Em carta de 20 de abril de 1948, informa a Sud Mennucci que
seria realizada, de 25 a 31 de maio daquele ano, em Juazeiro do Norte, a
“3ª Semana Ruralista Brasileira, patrocinada pelo Ministério da
Agricultura”, destacando que Mennucci comporia a Comissão de honra
do evento. Solicita a presença de “ilustres” representantes do Ministério da
Agricultura. Faz menção à necessidade de se educar e enaltecer o homem
do campo e “que no sólo brasileiro repousa a maior parte da Nação.”
(OLIVEIRA, 1948).
Manoel Rodrigues Lourenço
67
, diretor do Grupo Escolar Rural
“Dois Corregos”
68
, estabelecimento subordinado à Delegacia de Ensino de
Piracicaba, escreve para Sud Mennucci em 27 de abril de 1938, tratando-
o como “caro e bondoso colega” e ressalta:
Satisfeitíssimo com a queda, de um grande trecho da muralha que tenta
impedir a onda do ruralismo profícua e necessária para um País que
depende do braço agrícola, venho lembrar-lhe a conveniência de uma
reforma do decreto celebre (8.951); acho que não deve haver grande
facilidade para a criação dos Grupos rurais devido à sinceridade de
67
Remetente assina como Lourenço, porém, com base no conteúdo dessa missiva, infere-se que seja
Manoel Rodrigues Lourenço, segundo Moraes (2014), diretor do Grupo Escolar Rural “Dois
Corregos”. A grafia dessa carta é de difícil compreensão.
68
O Grupo Escolar Rural “Dois Corregos”, posteriormente denominado Grupo Escolar Rural
“Pedro Morais Cavalcanti”, funcionou em Piracicaba e suas atividades ruralísticas enfatizavam a
policultura (MORAES, 2014).
116
muitos colegas, pois, o ruralismo aparece e desaparece no coração e
conceito de muitos conforme a “opinião” do Diretor de Ensino; basta
um boato de que o amigo Sud está de cima, é ‘provavel’, ou que haja uma
possibilidade de um outro Chefe, para brotar relatorios, canteiros
semelhantes à sepultura de uma sinceridade, etc. Precisamos muita
cautela; os vencimentos tambem transformam os Lourencistas ou
Almeidistas em Sudistas de um instante para outro; ja temos provas dos
merecedores e capazes, a estes o [ilegível] merecido do esforço e
perseverança. Na parte referente a vencimentos o decreto deve
conceder, mesmo sem desdobramento cuja inutilidade pessa provas, a
qualquer tempo, 200$ ao diretor 100$ ás adjuntas e 50$ as serventes.
O acréscimo ao diretor justifica-se pelo mais trabalho e preparo das
coisas [ilegível] que deva possuir, após a responsabilidade da eficiência
do Grupo já na sua função alphabetisante, já no ponto de vista
‘ruralista’ melhorando o padrão de vida do morador do campo.
Enfim, caro amigo, como para a reorganização dos municípios não
devemos deixar escapar a ocasião; li e gostei da entrevista sobre o
assunto, a (Folha da noite). (LOURENÇO, 1938, p. 1, grifos nossos)
Essa carta contribui para exemplificar a existência de grupos e
disputas, em diversos setores ou instâncias, que ocorriam, à época, na área
da educação, bem como a preocupação dos ruralistas do ensino com riscos
de perderem espaço em decorrência dessas disputas. Alguns dos
apontamentos de Lourenço ajudam a compreender que a adesão ou o
envolvimento dos professores com a ruralização do ensino variava
conforme os benefícios ou o poder de coação ou coerção de ruralistas do
ensino ocupantes de cargos-chave, como, o de diretor do Departamento
de Educação.
Carmusina Monte Arraes, vinculada à Escola Normal Rural de
Limoeiro/PE, em carta datada de 30 de outubro de 1938, menciona que
uma carta trocada com Sud Mennucci foi “um incentivo ao [...] crescente
117
trabalho pela ‘Voz do Campo’.” e envia alguns exemplares desse impresso
a Mennucci. Relata empenho da diretora da sua escola na difusão da “causa
dignificante da orientação ruralista do ensino no Brasil.” Essa remetente
ressalta, ainda, que o “Espirito que sonha com o soerguimento do Brasil
pela conquista da idéa ruralista, o vosso nome faz parte do numero de um
de nossos mais brilhantes amigos e ‘Voz do Campo’ foi o élo que reuniu
os nossos sentimentos pelo intercambio de idéas.” (ARRAES, 1938, p. 3).
Manoel Alves de Almeida, “diretor e proprietário” da Escola
Profissional Rural de Rio Verde/GO, escreve três cartas para Sud
Mennucci para tratar de assuntos relacionados à ruralização do ensino,
como, a 1ª e a 2ª Semanas Ruralistas (ALMEIDA, 1939a), o 1º Congresso
Normalista de Ensino Rural (ALMEIDA, 1945), dentre outros. Em carta
de 14 de março de 1939 solicita que o Ministério da Agricultura envie à
Escola Profissional filmes sobre agricultura, criações e indústrias, a
exemplo do que ocorrera em 1937, quando foi realizada a 1ª Semana
Ruralista de Rio Verde/GO. Nessa ocasião Sud Mennucci integrava a
Diretoria de Publicidade Agrícola, do Ministério da Agricultura. Além
disso, Manoel Alves de Almeida (1939a, p. 1) convida Sud para participar
da 2ª Semana Ruralista e afirma:
Sabendo de sua grande visão e profundo conhecimento dos assuntos
ruralistas de nossa terra, eis que teria imenso prazer em poder obter sua
valiosa colaboração nesse certamen, onde estudaremos varios assuntos
presos á vida rural, procurando dar orientação a muitos deles, servindo
assim áqueles que obscuramente constróem a base da economia
nacional.
Em carta de 29 de maio de 1939, Manoel Alves de Almeida
informa Sud Mennucci que, “graças á falta de auxilios dos Poderes
118
Estaduais e Municipais”, não foi possível realizar a pretendida 2ª Semana
Ruralista. Destaca que a escola, “fruto da idéa torreana”, está localizada em
um “meio hostil” e que a “obra ruralista ainda encontra sérios obstaculos”
(ALMEIDA, 1939b). A questão das dificuldades enfrentadas pelos
ruralistas do ensino para consecução de suas ideias está presente em
diversas missivas.
José Cardoso, outro missivista, nos anos de 1939 e 1946, escreve
sete cartas a Sud Mennucci. Em carta de 2 de maio de 1939, de Rio
Claro/SP, solicita o envio do livro de autoria de Sud Mennucci com
dedicatória sobre Luís Gama
69
, para preparo de palestra prevista para o
dia 13 de maio de 1939, a convite da diretoria do Ginásio Municipal
“Joaquim Ribeiro” (CARDOSO, 1939a). Em carta posterior, de 16 de
maio desse mesmo ano, o remetente informa a recepção desse livro e a sua
utilização na palestra mencionada (CARDOSO, 1939b). Outro livro de
autoria de Sud Mennucci mencionado de forma elogiosa nas cartas de José
Cardoso é A Crise Brasileira de Educação (CARDOSO, 1939a; 1939b;
1939e).
Em carta de maio de 1939, José Cardoso registra a intenção de
convidar Mennucci para realização de uma “conferência pública” no
município de Rio Claro/SP (CARDOSO, 1939a). Essa intenção foi
concretizada, pois, em cartas de 7 e de 9 de agosto desse mesmo ano, o
remetente menciona de forma detalhada a organização e os preparativos
para receber Sud Mennucci em 12 de agosto de 1939 para ministrar uma
conferência (CARDOSO, 1939c; 1939d). Além dessa conferência, José
Cardoso assinala “uma grande movimentação” que irá organizar em
Pirassununga. Nessa atividade, turmas de normalistas e professores de Rio
69
Livro de autoria de Sud Mennucci, intitulado O precursor do abolicionismo (1938).
119
Claro e de São Manuel irão visitar a Escola Normal e a Escola Agrícola
“Dr. Fernando Costa” (CARDOSO, 1946b).
Em carta de 17 de julho de 1946, José Cardoso, então vinculado à
Escola Normal Oficial de São Manuel/SP, solicita ajuda de Sud Mennucci
para a organização da biblioteca, cedendo “algo que possa ser útil a essa
organização”. Pede informações sobre o interventor Dr. Macedo Soares, a
quem pretende homenagear como patrono dessa biblioteca. Faz menção
às “fubecadas do Elisiário” a Mennucci: “Viu as fubecadas do Elisiário à
sua pessoa? Não gostei delas. Será que é o Elisiário mesmo quem está
falando, ou há alguém por detrás dêle, alguém com ciume da obra que, no
setor educacional e no plano da ruralização, já realizou o autor de ‘A crise
brasileira de educação’?” (CARDOSO, 1946a, p. 2). Essa
correspondência, assim como outras, contribui para indicar a existência de
conflitos, internos ou externos ao círculo dos ruralistas do ensino.
Em relação às “fubecadas” destinadas a Sud Mennucci, é
interessante observar o que aponta Sirinelli (2003, p. 250) sobre a
possiblidade de existência de conflitos ou disputas de variadas ordens entre
intelectuais ou sujeitos participantes de uma determinada rede de
sociabilidade: “A atração e a amizade e, a contrario, a hostilidade e a
rivalidade, a ruptura, a briga e o rancor desempenham igualmente um
papel às vezes decisivo.” Vale ressaltar que diversas cartas contêm
apontamentos ou relatos de conflitos e disputas envolvendo diversos
assuntos pessoais ou profissionais, privados ou públicos , inclusive sobre
a questão da ruralização do ensino.
Ulysses Freire da Paz, inspetor escolar, em 20 de junho de 1945,
escrevendo de Nova York, informa ter visitado algumas instituições de
ensino “Institute of International Education”, “Columbia University” e
“Teachers College” e que foi presenteado com diversas publicações
120
interessantes (PAZ, 1945a). Em artigo publicado nesse ano na Revista do
Professor, apresenta discussão sobre problemas rurais, como condições de
habitação do professor na zona rural (PAZ, 1945b). Os problemas
apontados por Ulysses Freire da Paz incluem temas abordados pelos
ruralistas do ensino.
2.2.3 Sujeitos vinculados ao setor da agricultura
Alguns sujeitos com vinculação direta com a agricultura, área
central para os ruralistas do ensino, também se corresponderam com Sud
Mennucci. Apresentam-se, a seguir, Henrique F. G. Sauer, Nilo de
Albuquerque de Mello e Ayres Azevedo.
Henrique F. G. Sauer, professor de Entomologia na Escola
Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa/MG, em carta de 24 de
janeiro de 1936, menciona a difusão do ruralismo no Estado de Minas
Gerais, sobretudo na Escola Superior em que ele trabalha. O remetente faz
menção ao “Dr. J. C. Bello Lisbôa”, diretor dessa instituição. Destaca a
atuação de Mennucci e do Estado de São Paulo para a difusão da
mentalidade ruralista e para a ruralização do ensino primário (SAUER,
1936). Em relação a Bello Lisbôa, destaca-se ainda que, assim como
ruralistas do ensino, também ministrou conferência na Sociedade dos
Amigos de Alberto Torres (CPDOC/FGV
70
).
70
Considerando-se que nos verbetes disponíveis no Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV), não constam
autor e data, optou-se por fundamentar as informações retiradas desse Centro pela seguinte
remissão: CPDOC/FGV, sem necessariamente indicar o verbete ou tentar presumir uma data. Esses
verbetes podem ser facilmente recuperados por intermédio da busca pelo nome dos sujeitos.
121
Nilo de Albuquerque de Mello, agrônomo, escrevendo de
Natal/RN, em carta datada de 10 de dezembro de 1938, menciona ter lido
com interesse o livro A Crise Brasileira de Educação e faz referência à
reforma da educação para a população rural, destacando que “Felismente
hoje ja não mais educamos o nosso povo com os antigos livros didaticos
cheios de mentiras e frases ócas [...]” (MELLO, 1938, p. 2).
Ayres Azevedo, professor de Economia Rural na Escola de Viçosa,
em carta emitida em 1945, informa ter verificado que “[...] não ha em
portugues um compendio didactico de Economia e Sociologia Rural [...].
Os compendios francezes, italianos e a Economia Politica de C. Gide
suprem até hoje esta lacuna!” (AZEVEDO, 1945, p. 1). Pode-se inferir
que isso indica a necessidade ou o empenho dos ruralistas do ensino na
produção de materiais para fundamentação ou circulação de suas ideias.
Nessa carta, Ayres Azevedo menciona, ainda, que seu trabalho já teve
repercussão nos EUA e que iria viajar para esse país no início de 1946.
Informa que emprestou o livro A Crise Brasileira de Educação, que não foi
devolvido, e ressalta que, para fins de difusão das ideias da ruralização do
ensino, “A propaganda agora é oral!”.
2.2.4 Sociedades e institutos
Sujeitos vinculados a algumas sociedades e institutos também se
corresponderam com Sud Mennucci. Algumas sociedades criadas com
outras finalidades foram utilizadas como uma espécie de palco de
apresentação e de atuação dos ruralistas do ensino. Além disso, algumas
sociedades foram criadas com a finalidade de promover a circulação das
ideias do Movimento pela ruralização do ensino. Mencionam-se sujeitos
vinculados à Sociedade Nacional de Agricultura, à Sociedade dos Amigos
122
de Alberto Torres, à Sociedade Rural Brasileira e à Sociedade Luiz Pereira
Barreto.
A Sociedade Nacional de Agricultura foi fundada no Rio de
Janeiro/RJ, no dia 16 de janeiro de 1897, estando em funcionamento na
atualidade. De acordo com seus estatutos,
[...] a SNA tem por finalidade o exame, o estudo e a colaboração para
a solução dos problemas de interesse dos agricultores, dos pecuaristas e
dos industriais das indústrias extrativas e correlatas, à exceção dos
outorgados por lei às entidades sindicais no que se refere à defesa e
representação classistas. (CPDOC/FGV)
Artur Eugênio Magarinos Torres Filho
71
ocupou importantes
cargos públicos ligados à agricultura. Entre 1944 e 1960, foi presidente da
Sociedade Nacional de Agricultura. Em 1934 “[...] foi designado pelo
presidente Getúlio Vargas para representar a lavoura no Conselho Federal
de Comércio Exterior (CFCE), um dos órgãos de maior importância na
formulação da política econômica do governo.” (CPDOC/FGV). Com a
volta de Getúlio Vargas à Presidência da República, Torres Filho foi
convidado a presidir a Confederação Rural Brasileira, criada em 1951.
Vinculado à Sociedade Nacional de Agricultura, em carta de 11 de
maio de 1932, da cidade do Rio de Janeiro, Artur Eugênio Magarinos
Torres Filho solicita informações a Sud Mennucci sobre a organização do
ensino rural no Estado de São Paulo, apresenta elogios ao livro A Crise
Brasileira de Educação, à atuação de Mennucci no combate ao “êxodo dos
campos” e seu empenho para melhorar os “processos agricolas, pelo ensino
71
Artur Eugênio Magarinos Torres Filho nasceu em Campos/RJ, no dia 16 de janeiro de 1889, e
faleceu no dia 8 de agosto de 1960, nessa mesma Unidade Federativa (CPDOC/FGV).
123
rural”. Consta, no verso dessa carta, que ela foi encaminhada ao Dr. Lahyr
de Castro Cotti, para ciência (TORRES FILHO, 1932).
Lahyr de Castro Cotti era agrônomo e havia publicado na Revista
Educação artigo sobre a temática da orientação agrícola no ensino primário,
afirmando que “A escola rural tornou-se um fator de desorganização da
vida agrícola.” (COTTI, 1932, p. 11), ou seja, esse posicionamento estava
em consonância com um dos princípios básicos de compreensão das ideias
ruralistas sobre a escola primária comum instalada em áreas rurais.
No livro O que fiz e pretendia fazer, Sud Mennucci refere-se a essa
carta recebida de Artur Torres Filho, salientando que ela representou para
ele um alento ao chegar no momento de seu desligamento da Diretoria de
Ensino:[...] para meu consolo e para minha absolvição o mal que se estava
cometendo de imobiliza-lo, chegou-me, na vespera de deixar a Diretoria
Geral do Ensino, este oficio do dr. Arthur Torres Filho, presidente da
Sociedade Nacional de Agricultura, que me rehabilita perante a opinião
publica [...]” (MENNUCCI, 1932c, p. 145).
Em 1932, foi fundada no Rio de Janeiro, em reunião realizada na
sede da Sociedade Nacional de Agricultura, a Sociedade dos Amigos de
Alberto Torres (SAAT). Ela se dissolveu, provavelmente, em 1945. O
principal objetivo dessa sociedade era a discussão dos problemas nacionais,
à luz do pensamento de Alberto Torres (CPDOC/FGV).
Segundo Pinho (2007, p. 171-172), os principais objetivos dessa
sociedade eram:
a) promover o estudo dos problemas nacionais, com o fim de indicar a
adequacão das instituicões aos fatos da nossa experiencia, à luz dos fatos
da política mundial;
124
b) divulgar os ensinamentos de Alberto Torres, por constituírem até
agora, o melhor programa de conjunto dos nossos problemas,
sujeitando-os aos fatos da experiencia e da observacão;
c) promover a publicacão das obras inéditas ou esgotadas de Alberto
Torres (...);
d) promover a metodologia dos assuntos focalizados por Alberto
Torres, bem como os cursos que lhe sejam consequentes, tendo em
vista a integracão dos ensinamentos respectivos na educacão nacional,
sob a forma de compendios didáticos;
e) promover a criacão de centros de estudos torreanos, em todo o país,
para reunir elementos que facam inquéritos e conferencias, onde os
diferentes programas brasileiros sejam examinados em suas próprias
fontes;
f) publicar uma revista mensal onde saiam as conferencias feitas no Rio
e nos Estados, bem como todos os trabalhos considerados úteis ao
estudo dos vários problemas da nacionalidade brasileira;
g) publicar, em volumes, as conferencias e os estudos realizados pela
Sociedade, desde que o orgao competente considere trabalho de valor
real para a interpretacao, analise e propaganda da obra torreana e de
utilidade para o esclarecimento dos problemas nacionais;
h) definir os princípios fundamentais do pensamento de Alberto
Torres (...); i) promover por todos os meios e modos a fraternidade
continental e universal;
j) estimular por todos os meios, o estudo e a solucão dos problemas
rurais brasileiros, sob o triplico aspecto político, social e economico.
Sud Mennucci recebeu uma carta de Helio Gomes, presidente da
SAAT, datada de 12 de abril de 1939, reiterando o convite feito por
Manuel Alves de Almeida para que ele participasse da Segunda Semana
Ruralista, a ser realizada em Rio Verde/GO. Além disso, convidava
125
Mennucci “para escrever um capitulo sobre Educação Rural, a fazer parte
de um livro intitulado ‘Pelo Brasil Rural’, que a SAAT pretende
brevemente editar.” (GOMES, 1939, p. 1). Helio Gomes assim detalhava
a concepção do livro:
O livro será modesto, visando reunir, num volume, varios capitulos
sobre problemas rurais, escritos todos eles por especialistas, como
Saboya Lima (Infancia abandonada nas zoras rurais), Rafael Xavier
72
(Economia Rural), Edgard Teixeira Leite (Credito Rural) Belizario
Pena
73
(Higiene Rural) Saturnino de Brito Filho (Engenharia Rural),
etc. etc. (GOMES, 1939, p. 1)
Os “especialistas” citados por Helio Gomes estavam entre os
fundadores da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, portanto, o livro
foi concebido como estratégia de divulgação dessa sociedade. Os
fundadores dessa sociedade são arrolados por Pinho (2007, p. 169-170,
grifos nossos):
Edgar Teixeira Leite, Alde Sampaio, Fernandes Távora, Juarez
vora
74
, Sabóia Lima, Ildefonso Simões Lopes, Lourenco Baeta
Neves, Alcides Gentil, Heloísa Alberto Torres, Edgar Roquette-Pinto,
José Savaresi, Paulo Filho, Humberto de Campos, Felix Pacheco,
Barreto Campello, Barbosa Lima Sobrinho, Oliveira Vianna, lio
Gomes, Alcides Bezerra, Belisário Penna, Rogério de Camargo,
72
Foi patrono do Banco Agro Escolar do Grupo Escolar “Dom Benevides”, da cidade de Mariana,
em 1946, e Secretário Geral do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) (FONSECA, 2014).
73
Belisário Penna foi uma figura importante no cenário político brasileiro. Foi Ministro da
Educacão e Saúde Pública por aproximadamente tres meses, durante o ano de 1931 (FONSECA,
2014).
74
Segundo Fonseca (2014), entre 1932 e 1934, Juarez Távora esteve vinculado ao Ministério da
Agricultura.
126
Saturnino de Brito Filho, Roberto Marinho, Alberto J. Sampaio,
Magalhães Correa, Prado Kelly, Humberto de Almeida, Porfírio Soares
Neto, Mário Roquette-Pinto, Protógenes Guimarães, Anna Amélia
Carneiro de Mendonca, Raymundo Magalhães, Rafael Xavier e Raul de
Paula.
Entre os vários nomes citados, Alcides Gentil e Humberto de
Campos também figuram na correspondência recebida por Sud Mennucci.
Em carta de 14 de setembro de 1940, Alcides Gentil, entusiasta do
pensamento torreano, diz ter recebido um exemplar do trabalho de Sud
Mennucci sobre o pensamento de Alberto Torres
75
. Elogia a coragem de
Sud Mennucci de não esquecer Alberto Torres como o precursor, em sua
visão um gênio e Mennucci, em decorrência, o apóstolo a serviço da pátria.
Considera o livro A Crise Brasileira de Educação um claro exemplo de como
Sud Mennucci fora fiel às orientações do grande mestre Alberto Torres. “É
nessa caracterização da sua probidade meu prezado colega que reside o
fundamento do meu alto apreço a tudo que sai da sua pena.” Informa ter
enviado o opúsculo intitulado “Para uma nova Ordem!”, que trata da
“necessidade de instituir a politica de carreira” e solicita todas as
publicações de Sud Mennucci sobre Alberto Torres (GENTIL, 1940).
Outro indício da “reputação” dos fundadores da SAAT no campo
educacional pode ser notado em duas missivas de integrantes de
agremiações estudantis do Clube Educacional da Escola Normal
Particular de Rio Claro/SP e do Grêmio da Escola Normal de Casa
Branca/SP , ambas tendo como patrono Humberto de Campos
(DIRETORIA, 1939; MAGALHÃES, 1935).
75
Provavelmente o remetente esteja fazendo referência à conferência intitulada “O
pensamento de Alberto Torres”, proferida no dia 16 de agosto de 1939, na Faculdade de
Direito de São Paulo, a convite do Grêmio Universitário “Alberto Torres”.
127
Ressalta-se que Antônio Arruda Câmara, Edgar Teixeira Leite e
Artur Torres Filho integraram a Comissão da Sociedade Nacional de
Agricultura que participou do I Congresso Brasileiro de Economia,
realizado no Rio de Janeiro, em 1943 (CPDOC/FGV). Além disso, Sabóia
Lima (1935), Alcides Gentil (1938) e Edgar Teixeira Leite (1974)
escreveram livros analisando o pensamento de Alberto Torres (PINHO,
2007). Dessa maneira, os indícios permitem afirmar que os integrantes da
Sociedade dos Amigos de Alberto Torres formavam uma rede de
sociabilidade sólida e coesa.
A Sociedade Rural Brasileira foi fundada em São Paulo no dia 20
de maio de 1919 e permanece em atividade até a atualidade. Composta
por pecuaristas, cafeicultores e agricultores em geral, seu objetivo, expresso
no estatuto de 1924, era “[...] fomentar o desenvolvimento da pecuária, da
agricultura e de todas as indústrias derivadas destas [...]” (CPDOC/FGV).
Raul da Rocha Medeiros, membro dessa sociedade, escrevendo de
São Paulo, em 1947, convida Sud Mennucci a integrar o “Consêlho
Consultivo do Instituto de Economia Rural, que esta sendo organizado
pela Sociedade Rural Brasileira para estudo dos problemas econômicos
nacionais, principalmente daqueles ligados a agricultura.” (MEDEIROS,
1947). Rocha Medeiros foi deputado federal pelo Estado de São Paulo,
entre 1947 e 1949, além de presidente do Instituto Brasileiro do Café, em
1955 (CPDOC/FGV), ou seja, foi um sujeito que teve parte significativa
da sua trajetória marcada pelo envolvimento com questões agrícolas.
A Sociedade Luiz Pereira Barreto foi fundada em São Paulo, em
1935, com o objetivo de difundir conhecimentos, sobretudo aqueles
relacionados à temática da agricultura, às populações de áreas rurais
(ECAR, 2017). Nesse mesmo ano, em reunião promovida por essa
sociedade, Sud Mennucci proferiu palestra abordando a temática da
128
ruralização do ensino, iniciando seu pronunciamento respondendo à
seguinte questão: “Porque sou ruralista” (CONFERÊNCIA..., 1935).
Chiquinha Rodrigues
76
, da Sociedade Luiz Pereira Barreto, em
1938, informa que foi encarregada de “promover uma homenagem ao
Prof. Sud Mennucci” e manifesta a sua satisfação e o seu entusiasmo em
fazê-lo, acrescentando que: “[...] das qualidades do distinto mestre,
considero-o como sendo, nesta hora, o primeiro do Brasil, portanto com
justiça, o representante [legítimo?] da classe.” (RODRIGUES, 1938, p. 1).
Nesta carta, consta no cabeçalho a seguinte consigna: “Preparar o caboclo
é missão do mestre rural” “Preparar o mestre rural é a necessidade do
momento no Brasil”.
Além das sociedades mencionadas, alguns institutos também
foram utilizados como uma espécie de palco de apresentação, de divulgação
e de atuação dos ruralistas do ensino. Destacam-se sujeitos vinculados ao
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao Instituto do
Nordeste e ao Instituto Agronômico.
Mário Augusto Teixeira de Freitas
77
, mencionado e também
autoapresentado como Teixeira de Freitas, escreve para Sud Mennucci, do
Rio de Janeiro/RJ, tratando-o como “Eminente Amigo” ou “Amigo”
76
Aventa-se a hipótese de que seja Francisca Pereira Rodrigues, segundo Fonseca (2014),
uma das idealizadoras da Sociedade Luiz Pereira Barreto.
77
Mário Augusto Teixeira de Freitas nasceu em São Francisco do Conde/BA, em 31 de março de
1890, e faleceu em 22 de fevereiro de 1956, na cidade de Rio de Janeiro/RJ. Formou-se em Direito,
em 1911, pela Faculdade de Ciências Juridícas e Sociais do Rio de Janeiro/RJ. Da atuação de
Teixeira de Freitas (1890-1956), destaca-se como importante contribuição a criação, em 1934, do
Instituto Nacional de Estatísticas, que, a partir de 1938, foi denominado Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, Teixeira de Freitas teve uma importante atuação no que
se refere à educação destinada às populações de áreas rurais, durante o Estado Novo (ANDRADE,
2014). Atuou por 23 anos na Diretoria de Informações, Estatística e Divulgação do Ministério da
Educação e Saúde. Entre suas publicações, destacam-se: O ensino primário no Brasil (1934),
Educação rural (1934) e Formação do homem brasileiro como trabalhador e cidadão democracia (1946)
(LOURENÇO FILHO, 2002).
129
(FREITAS, 1933; 1934). Em carta de 28 de março de 1933, apresenta-se
vinculado à Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, da
Secretaria de Estado da Educação e Saúde Pública, e menciona o “Dr. Raul
de Paula, Secretário Geral da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres”
(FREITAS, 1933). Acrescenta-se que, segundo Pinho (2007), Raul de
Paula foi um dos fundadores dessa sociedade.
Em carta de 10 de abril de 1934, vinculado à Diretoria Geral de
Informações, Estatística e Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde
Pública, Teixeira de Freitas informa que recepcionou, no dia 21 de março,
a professora Maria José Fernandes. Informa que ocorreram alterações no
Departamento de Estatística e que “Léo” passará para “Diretoria na
Fazenda”. Assim, convida Sud Mennucci para ocupar cargo de diretor na
“Diretoria Geral de Estatística”. Menciona professor Lamartine, diretor da
Escola Normal de Pirassununga. Menciona, ainda, a tentativa da
“Convenção Nacional de Educação” para estabelecer “Sistema” ou a
“Confederação” de servos educacionais. Informa que o “Ministro W.
Pires” interessou-se por essa proposta e já incumbiu a A.B.E. de elaborar
um anteprojeto relacionado ao assunto. Faz menção à necessidade de
formação de uma “frente única para assegurar o êxito da Convenção” e
solicita ajuda para articular essa proposta no Estado de São Paulo. Além
disso, informa a apresentação de proposta, à Sociedade dos Amigos de
Alberto Torres, de criação “no sertão baiano [de] uma Colonia-Escola.
(FREITAS, 1934).
Teixeira de Freitas, em telegrama de 18 de dezembro de 1943,
apresentando-se como Diretor de Estatística do Ministério da Educação,
faz menção ao fato de as Escolas Normais Rurais serem uma iniciativa de
Sud Mennucci e discute questões relacionadas à instalação de uma
primeira “colônia escola”, apontando essa iniciativa como um importante
avanço na educação das populações de áreas rurais (FREITAS, 1943).
130
Ressalta-se, ainda, que Teixeira de Freitas, juntamente com José
Augusto Bezerra de Medeiros e Fernando Tude de Souza, foi redator dos
Anais do Oitavo Congresso Brasileiro de Educação (CBE, 1944),
abordado no capítulo III.
Valdemar Lefèvre, do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, em carta emitida em 1940, trata Sud Mennucci como
“Membro do Diretório Regional de Geografía - Capital (São Paulo)” e
comunica que o Secretário da Agricultura receberá Comissão composta,
além do próprio remetente, pelos engenheiros Luiz Flores de Morais Rego,
Paraizo Godinho e Francisco Severo San Juan, para tratar da “Resolução
nº 4 deste Diretório” (LEFÈVRE, 1940).
Otávio Lobo e Perboyre e Silva, respectivamente presidente e
secretário geral do Instituto do Nordeste, em 1947, de Fortaleza, registram
agradecimentos pela doação do livro Discursos e Conferencias Ruralistas e
do folheto que contém a carta que Sud Mennucci enviou ao deputado José
Augusto
78
. Informam, ainda, que Sud Mennucci foi eleito “sócio
correspondente” do Instituto do Nordeste em São Paulo. Os remetentes
destacam a repercussão de Sud Mennucci na região Nordeste do Brasil
(LOBO; SILVA, 1947).
Antônio José Teixeira Mendes, Chefe da Secção de Citologia do
Instituto Agronômico, em carta redigida em Campinas e datada de 1947,
menciona o movimento em prol da instalação, em Piracicaba, da “primeira
Universidade do Interior” (MENDES, 1947a; 1947b). Informa que Luiz
de Queiroz
79
doou ao Estado a “Fazenda São João da Montanha” e que os
deputados piracicabanos Dr. Valentin do Amaral
80
e Dr. Francisco de
78
Deputado federal pelo Rio Grande do Norte, entre 1946 e 1955.
79
Patrono da Escola Superior de Agricultura de Piracicaba/SP.
80
Para mais informações, ver Dicionário de Piracicabanos (PFROMM NETTO, 2013b).
131
Castro Neves já levaram esse assunto à Câmara Estadual (MENDES,
1947a).
2.2.5 Autores de livros ou de cartilhas
Entre os autores de livros ou de cartilhas que enviaram missivas a
Sud Mennucci, destacam-se Leonel Vaz de Barros, Thales Castanho de
Andrade e Renato Sêneca Fleury.
Leonel Vaz de Barros
81
, que assina suas cartas como Leonel ou Léo,
comumente mencionado por outros sujeitos como Leo Vaz, em uma de
suas cartas abordou assuntos relacionados à educação e manifestou sua
preferência pelo “cathecismo positivista de Comte e Conflagração”
(BARROS, 1914). Em outras cartas, esse remetente trata, também, de
“uma briga continua” entre “agricolas e complementaristas” e de outras
questões relacionadas ao ensino agrícola (BARROS, 1910; 1911).
Ainda que tenham sido selecionadas para análise três cartas, no
arquivo pessoal de Sud Mennucci há dezenas de cartas desse remetente.
Essa troca de correspondência, bem como outros acontecimentos, como
viagens, indicam uma relação próxima entre ambos, conforme destacado
por Giesbrecht ([1997?]). Além disso, o remetente pertenceu ao grupo de
redatores de “O Estado de S. Paulo”, jornal em que Sud Mennucci
também atuou como redator. Destaca-se que Leo Vaz é o autor do livro O
professor Jeremias (1920), cuja leitura Fleury menciona em uma carta escrita
a Mennucci (FLEURY, 1922).
Thales Castanho de Andrade, entre 1919 e 1938, enviou a Sud
Mennucci dezenas de cartas, das quais foram, nesta pesquisa, analisadas
81
Para mais informações, ver Dicionário de Piracicabanos (PFROMM NETTO, 2013a).
132
30. Um assunto recorrentemente abordado na correspondência desse
missivista é o livro Saudade. Informa recebimento de carta da Inspetoria
Geral do Ensino do Estado do Paraná comunicando que esse livro foi
aprovado e adotado nas escolas isoladas e nos grupos escolares
(ANDRADE, 1920b). Menciona que essa publicação “Recebeu
excellentes cartas de Afranio Peixoto, Affonso Celso, R. Octavio, A.
Amaral, A. Pujol, M. Alencar, ____
82
Taunay, Leiva, Paulo Moraes, P.
Pestana, J. Sampaio, D. Martins, J. Lourenço, E. Braga, W. Silveira artigos
de L. Barreto, C. Leão, M. Sette, H. Fontes, H. Prates, além de Sud e
Lobato _____ artigos que sahiram no ‘paiz’, ‘O Jornal’, ‘J. Brasil’, ‘A.B.C.
etc, etc... (ANDRADE, 1920a). Recebeu, ainda, um ‘colosso’ parecer de
J. Kophe.” e apoio de Lobato (ANDRADE, 1920a; [19--]). Ressalta que
no “sistema de dois anos” o livro Saudade é ideal para o 2° ano, porém,
para o terceiro ano foi um “fracasso” (ANDRADE, 1921a).
Outros assuntos abordados por Thales de Andrade foram, por
exemplo, pedido realizado por Doria de cópia de Methodo, pois o Dr.
Thompson iria adotá-lo no “Grupo da Avenida e no do Braz”
(ANDRADE, 1920b); informa que o “Governo” cedeu “400
encadernados e 300 brochados com direito a pedir mais” e que não há
“marca nenhuma agricultural” nos exemplares (ANDRADE, [19--]);
solicitação de intervenção para conseguir posto de trabalho (ANDRADE,
1931); informe de que criou um “Gremio Infantil de Horticultura”
(ANDRADE, 1920a); menção ao Clube das Hortas (ANDRADE,
1920c). Menciona “Raimundão”, Pestana, Dr. Amadeu Mendes
83
, dentre
outros (ANDRADE, 1921b).
82
Esses sublinhados são originais.
83
Destaca-se que, juntamente com Sud Mennucci, o Dr. Amadeu Mendes foi um dos fundadores
do CPP, em 1930.
133
Thales de Andrade foi o remetente que enviou o maior número de
correspondência a Sud Mennucci 30 cartas e também o que fez o maior
número de menções a outros sujeitos. A expressividade das suas redes de
sociabilidade talvez seja decorrência principalmente da sua atuação como
escritor de diversos livros.
Renato Sêneca Fleury foi outro sujeito que, recorrentemente,
enviou cartas a Sud Mennucci. Das cartas enviadas entre 1922 e 1937,
foram selecionadas 12 para análise, e na maior parte delas Fleury apresenta
solicitações a Mennucci, tais como: envio de materiais; vaga de emprego
para seu irmão; auxílio para alcançar demanda de aumento dos
“vencimentos” dos “professores-fiscais”
84
; transferência de funcionário
para que ele possa assumir, em comissão, a Delegacia Escolar de Sorocaba;
vaga de emprego em cargos de “direção ou delegacia escolar”, pois não quer
lecionar; na resolução de questões administrativas sobre sua nomeação;
apreciação na Revista do Professor de seus livros: Adolescência e Serie na Roça
(FLEURY, 1922; 1932a; 1932b, 1932c; 1934a; 1934b; 1934c; 1936a;
1937). Outros assuntos abordados pelo remetente são: informe sobre o
envio da Serie na Roça
85
e de outros dois volumes da Bibliotheca Infantil a
Sud Mennucci (FLEURY, 1936b); agradecimento pelo parecer emitido
sobre um de seus contos (FLEURY, 1923) e faz menção a Piza Sobrinho e
a Thales de Andrade (FLEURY, 1936a). Destaca-se que a cartilha Na Roça
foi prefaciada por Sud Mennucci e foi a primeira destinada às escolas rurais
(UMA CARTILHA..., 1935).
84
Infere-se que essa solicitação foi atendida, pois em carta datada de 6 de novembro de 1933, Fleury
registra seu agradecimento (FLEURY, 1933).
85
Para mais informações, ver Messenberg (2012).
134
2.2.6 Sujeitos estrangeiros ou que escreveram de outros países
86
Quanto a sujeitos estrangeiros ou que escrevem de outros países,
destacam-se Elisa Ross e Angelina del Barco Peñero, de Buenos
Aires/Argentina; Wenceslao Montero Jiménez, de Santa Cruz de la
Sierra/Bolívia; sujeito
87
vinculado ao El Espectador Habanero, de
Havana/Cuba; Ignacio Mejía M., da Ciudad de México/México; Vanett
Lawler, de Assunção/Paraguai; Fernando, N. Pradiny Brasil e Bernardina
Carrone, bem como Haydee Recayte, de Montevideo/Uruguai e, por fim,
Rafael Vegas, de Caracas/Venezuela. Os sujeitos vinculados ou radicasos
nos EUA são mencionados no capítulo IV.
Elisa Ross, escrevendo de Buenos Aires/Argentina, em carta datada
de 27 de setembro de 1937, menciona troca de correspondência anterior,
viagem que realizou a São Paulo e seu vínculo com a Escuela Nacional n.
83 de Buenos Aires. Ainda nesta carta, a remetente solicita que seja
informada sobre a data da inauguração do “Centro do professorado” e diz
que tentará participar dessa atividade, mesmo que seja de forma não oficial
(ROSS, 1937a). Já em carta de 19 de novembro desse mesmo ano,
menciona o envio de livros a Sud Mennucci e diz que quando ele quiser
algum livro de autor argentino, basta solicitar a ela. Por fim, consulta
Mennucci sobre informação que recebeu de Angelina del Barco Peñero, de
que em breve ele fará viagem a Buenos Aires, pois a remetente gostaria de
encontrá-lo nessa ocasião (ROSS, 1937b).
Angelina del Barco Peñero, entre 1938 e 1942, enviou a Sud
Mennucci algumas cartas, das quais foram analisadas nove. Nas cartas
86
Diferentemente dos demais tópicos, nos quais os sujeitos são apresentados em ordem cronológica
de emissão das cartas, os sujeitos apresentados neste tópico são apresentados com base na ordem
alfabética dos países a que estavam vinculados ou que constam nas cartas.
87
Identificação ilegível.
135
enviadas nos anos de 1938 e de 1939, dentre outros, aborda dois grandes
assuntos, quais sejam, sobre a possibilidade de realizar uma “excursión al
Brasil con sesenta profesores”, com o objetivo de realizar várias atividades,
como, participar da inauguração do Instituto y Séccion Argentina en la
Biblioteca del Centro del Profesorado” e informa, ainda, que os “Amigos
de la Educación” enviaram convite a todos os países da América para
participação no “Congreso Americano de Educación”. No entanto, como
o “Professorado Paulista” não respondeu, escreve para Sud Mennucci
reiterando o convite. Coloca-se à disposição para representar Sud
Mennucci caso ele não possa participar e não tenha outra pessoa para
represen-lo (PEÑERO, 1938a; 1938b; 1938c; 1938d; 1939). Já nas
cartas enviadas em 1940 e em 1942, essa remetente, vinculada à Asociación
Cultural Argentino-Brasileña “Julia Lopes de Almeida”, dentre outros
assuntos tratados, solicita confirmação de recebimento de cartas anteriores,
pois pretende enviar “Album Histórico y Geográfico de la Argentina”. Em
carta posterior, informa ter enviado a Mennucci, por meio de um
Embaixador, esse álbum, bem como apresenta felicitações pelo 112º
aniversário da Independência e registra sua admiração pelo Brasil
(PEÑERO, 1940; 1942a; 1942b; 1942c).
Wenceslao Montero Jiménez, em carta datada de 18 de maio de
1947, escrevendo de Santa Cruz de la Sierra/Bolívia, menciona troca de
carta anterior e relata diversas dificuldades para realização de viagem a São
Paulo; por isso solicita intervenção de Sud Mennucci, inclusive junto à
Embaixada brasileira, para que ele consiga antecipar sua viagem. Informa
que já está com os materiais preparados para a realização das conferências
a serem proferidas em São Paulo e destaca: “Todo mi interés es satisfacer a
Ud. y al selecto grupo de profesores que representa, así como al noble
pueblo brasilero que tanto se interesa por los problemas americanos, que
136
hoy más que nunca deben preocuparnos intensamente.” (JIMÉNEZ,
1947, p. 2).
Sud Mennucci recebeu, ainda, carta datada de 2 de dezembro de
1937
88
, do periódico El Espectador Habanero El magacen de las tres
Américas, de Havana/Cuba. Nessa carta, o remetente informa a recepção,
com regularidade, do periódico de Sud Mennucci possivelmente esteja
fazendo referência à Revista do Professor e, devido ao grande volume de
publicações que o Directorio Periodístico Americano, “tan apreciado por
centenares de nuestros Compañeros y Amigos en todos los países de
América” recebe, solicita que sejam feitas adequações das temáticas dessa
publicação. Por fim, ressalta que aguarda posicionamento de Mennucci
para que possa ser reativado o envio de El Espectador Habanero (EL
ESPECTADOR..., 1937).
Ignacio Mejía M., do Instituto de Investigaciones Sociales da
Universidad Nacional de Mexico, escreve em 1946, do Distrito
Federal/México, agradecendo pela doação de livros de autoria de Sud
Mennucci e afirma que a “questão agraria é o problema capital do mundo”
(MEJÍA M., 1946). Considera-se, da parte desta autora, oportuna essa
menção ao México para registrar o histórico protagonismo desse país em
termos de educação rural, especialmente pela sua expressividade e pelo seu
pioneirismo no que se refere a Escuelas Normales Rurales.
Vanett Lawler, vinculada ao Music Education Consultant, da Pan
American Union, entre 1945 e 1946, escreveu um total de cinco cartas a
Sud Mennucci, sendo que quatro dessas cartas foram enviadas dos EUA, e
uma, de Assunção/Paraguai. Nessas cartas a remetente aborda variados
assuntos relacionados à educação musical e, em uma delas, agradece pela
88
Segundo o remetente, já havia ocorrido troca anterior de correspondência. No entanto, na
correspondência selecionada para análise, foi localizada apenas essa carta.
137
viagem às cidades paulistas de Piracicaba, de Pirassununga e de Campinas
(LAWLER, 1945a; 1945b; 1946a; 1946b; 1946c). Vanett Lawler também
é mencionada em carta de Charles Seeger (1946). Em carta de 19 de agosto
de 1945, Vanett, escrevendo de Assunção, faz menção ao estabelecimento
de relações e intercâmbios na área da educação com o Brasil (LAWLER,
1945a).
Fernando, N. Pradiny Brasil e Bernardina Carrone
89
,
respectivamente presidente, secretário geral e bibliotecária da Unión
Nacional del Magisterio, de Montevideo/Uruguai, em carta de 1938,
agradecem a doação de livros de autoria de Sud Mennucci e também de
números da Revista do Professor (UNIÓN NACIONAL..., 1938). Outro
remetente de Montevideo/Uruguai é Haydee Recayte, vinculada à
Asociacion Continental de Intelectuales de America. Em carta de 11 de
março de 1948, Recayte acusa recebimento de livros doados por Sud
Mennucci para uma Exposición, cuja inauguração estava programada para
14 de abril desse ano, destacando que: “Allí lucirán sus obras
conjuntamente con los demás Hermanos de Brasil”. Por fim, apresenta
desculpas e justificativa pela demora em responder carta anterior de
Mennucci (RECAYTE, 1948).
Encerrando este tópico, destaca-se Rafael Vegas, missivista
vinculado ao Ministério de Educación Nacional de Caracas/Venezuela
que, em carta de 15 de setembro de 1944, apresenta saudação e agradece a
Sud Mennucci pela cordial acolhida propiciada ao professor Víctor M.
Crozco durante a permanência no Brasil (VEGAS, 1944).
A diversificada correspondência recebida por Sud Mennucci
descortina o dinâmico movimento das ideias acerca da ruralização do
89
Grafia de difícil compreensão.
138
ensino, dentro e fora do país, envolvendo sujeitos, impressos, práticas e
instituições.
A partir e em torno do piracicabano Sud Mennucci, é possível
apreender a constituição de uma extensa rede de sociabilidade formada por
vários homens e poucas mulheres de ação, além de amigos, educadores,
administradores do ensino e políticos que compartilhavam interesses
semelhantes e se apoiavam num entrecruzamento de (re)conhecimento
comum, fortalecendo o movimento das ideias defendidas pelos ruralistas
do ensino. Como bem lembra Julliard (1984, p. 855 apud Sirinelli, 2003,
p. 258), “[...] as ideias não passeiam nuas pela rua; [...] elas são levadas por
homens que pertencem eles próprios a conjuntos sociais.” Elevado à
condição respeitável de líder do Movimento pela ruralização do ensino,
Sud Mennucci coligia e capitaneava solicitações, convites, notas de apreço,
informações sobre iniciativas implementadas e, dessa maneira, conectava
sujeitos e ideias, atuando como um importante articulador na circulação
das ideias do Movimento e influenciando ações e materializações dos seus
princípios.
Para promover a circulação de suas ideias e a consecução de seus
objetivos, os ruralistas do ensino valeram-se de diversas ações, tais como,
implementação de Escolas Normais Rurais (MAGALHÃES JUNIOR,
2009; MAGALHÃES JUNIOR; VARELA, 2016; SILVA, 2009) e
também de outras iniciativas de formação de professores para atuação em
escolas de áreas rurais, como, Cursos de Especialização Agrícola (BASSO,
2018); publicação de periódicos, como, o Jornal Lavrador (SILVA, 2009);
publicação de livros, como, Saudade, de Thales de Andrade (HILSDORF
e ALEXANDRE, 2013); concepção e implementação de Escolas Típicas
Rurais (MORAES, 2014; SOUZA; MORAES, 2015), entre outras ações
envolvendo sujeitos de sua rede de sociabilidade. Essas ações são abordadas
no próximo capítulo.
139
3.
“Assim é Fazer Ruralismo, com Trabalho e Ação
e Não Com Palavras
90
: Movimento em Ação
90
Cyro de Freitas Gaia, em carta datada de 1935, destinada a Sud Mennucci (GAIA, 1935, p. 1).
140
A posição defendida por Cyro de Freitas Gaia, na missiva utilizada
como epígrafe, sobre a questão da necessidade de ações práticas visando a
um Brasil ruralizado, perpassa os escritos de diversos ruralistas, tanto pelo
Movimento pela ruralização do ensino quanto pelo movimento do
ruralismo brasileiro. Neste capítulo são apresentados apontamentos sobre
ações mencionadas ou realizadas, direta ou indiretamente, pelo
Movimento pela ruralização do ensino em diferentes regiões do Brasil,
visando promover a circulação e, principalmente, a implementação de suas
ideias e consecução de seus objetivos.
Algumas das ações enunciadas neste capítulo, por um lado, têm
por finalidade a divulgação das ideias do Movimento pela ruralização do
ensino. Por outro lado, outras ações configuram-se como a materialização
dessas ideias, como é o caso da implementação de instituições educativas,
tais como, Escolas Normais Rurais. No entanto, convém chamar a atenção
para o fato de que, em determinadas situações, a materialização das ideias
configura-se, simultaneamente, em processo de divulgação dessas ideias.
Ressalta-se que algumas ações são promovidas diretamente pelos
ruralistas do ensino. No entanto, no que se refere a outras ações, não foi
possível identificar a participação direta dos ruralistas do ensino, porém,
partindo das ideias por eles defendidas, bem como de sua ampla rede de
sociabilidade que envolvia integrantes dos poderes Executivo e Legislativo,
das três esferas de governo federal, estadual e municipal , sujeitos
vinculados à área privada, bem como sujeitos de outros países, vinculados
a setores públicos ou privados, é possível inferir que, de forma direta ou
indireta, haja algum nível de participação ou de influência de autoridades,
políticos ligados ou simpatizantes de ideias ruralistas.
Era recorrente entre os ruralistas do ensino a necessidade de se
colocar em prática suas ideias. Exemplificam isso os excertos a seguir. J.
141
Moreira de Sousa, em carta de 1935, ressalta: Precisamos fazer que o caso
estoire no Congresso.” (SOUSA, 1935b). João Chiarini, em artigo
publicado na Revista do Professor, em 1952, afirma que “ruralismo não é
poesia”. Cyro de Freitas Gaia (1935) considerava necessário “dar ás escolas
uma feição pratica”, para que elas não fossem apenas um local “para
preparar eleitores...”. Para Gaia (1935), o ruralismo era um “movimento
de renovação escolar” e precisava colocar em prática suas ideias.
Ao se analisar as fontes selecionadas para este livro, bem como
pesquisas sobre essa temática, constata-se que ao longo do período
delimitado, diversas foram as ações implementadas, direta ou
indiretamente, para circulação das ideias do Movimento pela ruralização
do ensino, quais sejam, Eventos, Impressos, Instituições educativas, bem
como Sociedades e Institutos. A seguir são apresentadas informações sobre
essas ações.
As ações apresentadas foram aquelas identificadas nas fontes
consultadas, ou seja, não foi feito um trabalho de pesquisa específico
visando localizar todas as ações concebidas ou implementadas pelos
ruralistas do ensino. Além disso, das ações identificadas nas fontes, foram
mencionadas algumas, com vistas à exemplificação, seja pela riqueza de
dados encontrados nas fontes, seja pela relevância das ações enunciadas,
principalmente no que se refere à consonância com os objetivos desta
pesquisa.
3.1 Eventos: congressos, conferências, palestras, discursos e Semanas
Ruralistas
Entre as ações empregadas para promover a circulação das ideias
dos ruralistas do ensino, destacam-se alguns eventos, previstos ou
142
realizados, de âmbito local, regional, nacional ou internacional que se
sobressaem por tematizarem o ensino primário rural ou a ruralização do
ensino. Esses eventos envolveram congressos, conferências, palestras,
discursos e Semanas Ruralistas.
Destaca-se que alguns eventos foram promovidos com o objetivo
direto de divulgar ou de discutir as ideias sobre a ruralização do ensino,
como, o I Congresso Brasileiro de Ensino Regional, realizado em
Salvador/BA, em 1934. No entanto, outros eventos foram promovidos por
organizações não relacionadas aos ruralistas do ensino, porém,
apresentaram intensa discussão sobre essa temática, como, o VIII
Congresso Brasileiro de Educacão, promovido pela Associacão Brasileira
de Educacão (ABE), realizado em Goiânia/GO, em 1942. A partir da
análise das fontes, foi possível identificar esses e outros eventos, que são
apresentados no Quadro 4.
Título do evento
Local
Ano
Congresso Regional de Ensino de Piracicaba
Piracicaba/SP
1934
I Congresso Brasileiro de Ensino Regional
Salvador/BA
1934
I Conferência Nacional de Educação
-
1941
VIII Congresso Brasileiro de Educação
Goiânia/GO
1942
I Congresso Normalista de Ensino Rural
Campinas/SP
1945
IX Congresso Brasileiro de Educação
Rio de Janeiro/RJ
1945
I Congresso Normalista de Ensino Rural
Campinas/SP
1945
II Congresso Normalista de Educação Rural
Piracicaba/SP
1947
III Congresso Normalista de Educação Rural
Casa Branca/SP
1949
IV Congresso Normalista de Educação Rural
São Carlos/SP
1951
Conferência Interamericana
Caracas/Venezuela
1957
XXI Conferência Internacional da Instrução Pública da
UNESCO
-
1959
I Congresso Nacional dos Municípios
-
(N/I)
Quadro 4: Congressos, conferências, palestras e discursos apresentados por título,
local e ano de realização. Fonte: Elaborado pela autora.
143
O I Congresso Brasileiro de Ensino Regional, promovido pela
Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, sob o patrocínio do Ministério
da Educação e da Saúde Pública e com o apoio do governo baiano, foi
realizado na cidade de Salvador/BA, entre os dias 15 e 30 de novembro de
1934. Isso reitera a inter-relação entre ruralistas do ensino e o Estado
brasileiro, em suas diversas esferas, para promover a circulação e a
implementação das ideias sobre a ruralização do ensino, nesse caso, o
governo federal e o governo da Bahia.
Diversos sujeitos participaram desse Congresso, como se pode
depreender de artigo publicado na Revista do Professor:
Na sessão solene de abertura procedeu-se á eleição da Mesa do
Congresso, que ficou constituida: presidente, dr. João Pedro dos
Santos, secretario d’Estado do Interior e da Justiça da Baía; 1.° vice-
presidente, capitão Ribeiro Monteiro, secretario da Interventoria do
Estado; 2.°vice-predidente, dr. A. Almeida Junior, da representação de
São Paulo; 3.° vice-presidente, professor Guerino Casasanta, da
representação de Minas Gerais; 1.ª secretária, professora D. Lucilia
Miranda, da representação do Estado do Rio; 2.ª secretária professora
D. Maria do Carmo, da representação de Pernambuco; 3.ª secretária,
professora D. Maria Magdalena Pisa, da representação Espirito Santo;
secretario geral, Raul de Paula, da Sociedade dos Amigos de Alberto
Torres. (PRIMEIRO CONGRESSO..., 1935, p. 4)
Destaca-se que também participaram das delegações outros sujeitos
vinculados a organizações públicas e privadas de diferentes estados e regiões
do país (PRIMEIRO CONGRESSO..., 1935).
No decorrer desse Congresso, várias atividades foram
desenvolvidas, tais como, sessões plenárias; discursos e conferências de, por
144
exemplo, Sud Mennucci, Almeida Júnior e D. Amaro Van Emelen; leitura,
pela professora Noêmia Saraiva, do “Relatório dos alunos do 3º do Grupo
Escola do Butantan”; inauguração de um Clube Agrícola na Escola de
Brotas; visita à Escola Agrícola da Bahia e à barragem de Ipitanga; excursão
para algumas localidades do interior do Estado da Bahia, dentre outros
(PRIMEIRO CONGRESSO..., 1935).
Nas sessões plenárias, foram discutidos assuntos relacionados ao
Ensino Primário, ao Ensino Profissional e ao Ensino Normal. No que se
refere ao ensino primário, um dos temas tratados foi a questão das escolas
primárias típicas rurais, organizadas e estruturadas nos moldes de escolas
granjas. Em relação ao Ensino Profissional, destaca-se a questão da
educação técnica, ministrada paralelamente aos processos de trabalho
relacionados a uma profissão elementar (PRIMEIRO CONGRESSO
BRASILEIRO..., 1935).
Em relação Ensino Normal, destaca-se a questão da “formação do
professor especialisado para a zona agrícola”, o que remete à questão da
Escola Normal Rural, que seria “inteiramente diversa da Escola Normal
urbana”, tanto nas matérias quanto nas práticas (PRIMEIRO
CONGRESSO BRASILEIRO..., 1935, p. 12). O “plano” da Escola
Normal Rural deveria compreender dois cursos, quais sejam, o
Fundamental e o Normal. O Fundamental deveria compreender entre
outras matérias, “trabalhos manuaes” e “agricultura geral”. Já o Normal
compreenderia, entre outras matérias, [...] hygiene applicada á zona rural,
agricultura especial, comprehendendo as principaes culturas da zona ou do
Estado, zootechnia, economia rural, technologia rural, [...] agricultura
geral [...]” (PRIMEIRO CONGRESSO BRASILEIRO..., 1935, p. 12-
13).
145
Ainda sobre as discussões em torno da Escola Normal Rural, era
considerado ponto pacífico entre os participantes desse Congresso a
necessidade de criação de Escolas Normais Rurais, sendo que Anibal
Bruno, técnico da Educação de Pernambuco, ressaltou que “[...] o tipo
mais perfeito e completo de escola normal rural éra o que fôra apresentado,
em São Paulo, pelo professor Sud Mennucci [...]” (PRIMEIRO
CONGRESSO..., 1935, p. 24).
Anibal Bruno aponta, ainda, um ponto de dissenso entre os
participantes desse Congresso, no que se refere à proposta, apresentada por
Sud Mennucci, de uma Escola Normal Rural com cursos de sete anos de
duração, haja vista que essa proposta era economicamente inviável para
outros estados. Ainda, no que se refere à duração do curso da Escola
Normal Rural, Anibal Bruno, propõe um curso de duração de quatro anos.
No entanto, J. Moreira de Sousa, representante da Diretoria do Ensino no
Ministério da Educação, defendeu uma proposta de duração de três anos,
conforme ocorria na Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte. Diante
dessa polêmica, Sud Mennucci, mesmo convicto da necessidade de uma
formação de sete anos, concorda com as propostas apresentadas por Anibal
Bruno e J. Moreira de Sousa. Por fim, a decisão final aprovou a proposta
de Anibal Bruno, ou seja, um curso com duração de quatro anos
(PRIMEIRO CONGRESSO..., 1935).
Nesse sentido, há que se considerar que a circulação das ideias da
ruralização do ensino foi peculiar, a implementação de suas ideias não
ocorreu de uma única forma, haja vista as diferentes realidades das
unidades da federação brasileira.
O VIII Congresso Brasileiro de Educacão, promovido pela
Associacão Brasileira de Educacão (ABE), realizou-se em 1942, em
146
Goiânia/GO. No entanto, conforme apontam Mancini e Monarcha
(2017, p. 702),
Anteriormente, a Associacão Brasileira de Educacão (ABE) já havia
realizado sete congressos. O primeiro realizou-se em Curitiba, em
1927, e o tema central foi organizacão do ensino primário; o segundo,
em 1928, em Belo Horizonte, tratou do ensino secundário; o terceiro,
em 1929, em Sao Paulo, deu continuidade as questoes do ensino
secundario; o quarto, no Rio de Janeiro desse resultou a criacao do
Convenio de Estatísticas Nacionais e Convexas; o quinto, em Niterói,
em 1932, colaborando com a Carta Constitucional de 1934, com o
capitulo sobre Educacao; o sexto realizou-se em Fortaleza e o tema
principal foi a organizacao geral do ensino; e o setimo, no Distrito
Federal e o seu tema geral foi educacão física.
No VIII Congresso Brasileiro de Educacão, foram apresentadas
173 teses, procedentes de 22 unidades da Federação. Importantes
intelectuais vinculados ao pensamento educacional brasileiro participaram
desse Congresso, com destaque para Sud Mennucci, Noêmia Saraiva,
Artur Tôrres Filho, Lino Avancini, J. Moreira de Sousa, Paulo Monte
Serrat, D. Amaro Van Emelen e Fernando Tude de Sousa, que foram
alguns dos sujeitos que abordaram a temática da educação rural.
Mancini e Monarcha (2017, p. 707-708, grifos nossos)
apresentam, no excerto a seguir, os temas abordados nesse Congresso:
[...] 1) o provimento de escolas para toda a populacão em idade escolar
e de escolas especiais para analfabetos e idade não escolar, o problema
da obrigatoriedade; 2) tipos de prédios para as escolas primárias e
padrões de aparelhamento escolar, considerando as peculiaridades
regionais; 3) o professor primário das zonas rurais: formacão,
147
aperfeicoamento, remuneracão e assistencia; 4) a frequencia regular à
escola- o problema da desercão escolar, a assistencia aos alunos,
transporte, internatos e semi- internatos; 5) encaminhamento dos
alunos que deixavam a escola primária para escolas de nível mais alto
ou para o trabalho; 6) as ‘missões culturais como instrumento de
penetracão cultural e de expansão das obras de assistencia social; 7) as
colonias-escolas, como recurso para a colonizacão intensiva das zonas
de populacao rarefeita ou desajustada; 9) a coordenacao dos esforcos e
recursos da União, dos Estados, dos municípios e das instituicões
particulares, em matéria de ensino primário.
Sud Mennucci ficou responsável pela relatoria do tema 3,
intitulado “O professor primario das zonas rurais: formacao,
aperfeicoamento, remuneracão e assistencia”. Na conclusão de seu
relatório Mennucci recomenda que se faça um apelo ao Presidente da
República, Getúlio Vargas, para que “[...] funde e mande instalar, desde
já, uma escola normal rural, em cada circunscrição política da nação [...]”
(CBE, 1944, p. 300).
Sobre os temas abordados nesse Congresso, Mancini e Monarcha
(2017, p. 714) ressaltam que
[...] a temática sobre a educacão rural chama a atencão para a
necessidade da educacão higienista e formacão moral; as políticas
educacionais para o trabalhador rural e sua formacão; a terra, o sertão
e o homem do campo; o ruralismo, a educacão, escola rural, a escola
ativa e a renovacão educacional, que são categorias presentes no
período e em muito contribuem para o entendimento da história da
educacão.
148
O IX Congresso Brasileiro de Educação, realizado entre os dias 23
e 28 de junho de 1945, no Rio de Janeiro, foi promovido pela Associacão
Brasileira de Educacão (ABE). Os duzentos educadores brasileiros de
diferentes instituicões do país que participaram desse Congresso
contribuíram para elaboração da Carta Brasileira de Educação
Democrática”.
Nessa Carta é mencionada a criação de um Bureau Internacional
de Educacão, que forneceria as bases da Organizacão das Nacões Unidas
para a Reconstrucão Educacional e Cultura (UNOECR). Alguns dos
signatários dessa Carta foram Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e
Lourenço Filho.
A Carta Brasileira de Educação Democrática (apud GOMIDE,
2012, p. 256-257), no que se refere à educacão das populacões rurais,
apresentou as seguintes recomendações:
1) A organizacão das populacões rurais exige o estudo prévio das áreas
naturais e culturais, em que deve exercer-se, para que, com essa base
objetiva, se projetem programas e métodos adaptados às características
de cada área, capazes de atenderem ao ajustamento o homem ao seu
ambiente.
2) É de desejar-se a criacão de institutos rurais, em cujas atividades
figurem pesquisas sobre a higiene, economia e a sociologia das
populacões do campo, a preparacão de professores para escolas rurais
de segundo grau, e de pesquisadores da vida rural.
3) Além da maior disseminacão de escolas primárias e de escolas
agrícolas, para adolescentes, a obra de educacão destinada às
populacões rurais deverá levar em conta a funcão de outros órgãos de
educacão extra-escolar e de servico social.
149
4) Convém a criacão de escolas normais situadas em zona rural e
organizadas em funcão do meio, para a preparacão do magistério
afeicoado ao trato dos problemas de saúde, de vida economica e social
das populacoes rurais.
5) A obra de educacão rural exige nas zonas de populacão menos
densa, a criação de colônias-escolas do tipo já aprovada no 8°
Congresso Brasileiro de Educacão.
6) Convirá que os órgãos técnicos de educacão entrem em
atendimento com o Servico de Imigracão e Colonizacão e o Conselho
de Protecão aos Índios, para a elaboracão de planos de educacão e
assistencia a imigrantes e indígenas.
7) Recomenda-se a conveniencia da organizacão de missões culturais
destinadas ao aperfeicoamento dos professores rurais, em seu próprio
ambiente de trabalho.
Constatam-se, entre essas recomendações, a necessidade de
programas e métodos adaptados à realidade rural, assim como a preparação
de professores específicos para áreas rurais, com a criação de escolas
normais em zona rural.
Quanto à formação de professores, foi prevista nessa Carta a
implementação de Escolas Normais localizadas em áreas rurais, adequadas
aos meios em que estavam instaladas, visando à formação de professores
que respondesse aos problemas existentes na educação rural. Conforme
consta nessa Carta, “Na pluralidade de padrões para a preparacão do
magistério, deverá existir o de escola normal, com a organizacão e
programas que atendam às necessidades regionais e ao sentido peculiar da
educacão a ver ministrada às populacões rurais;(apud GOMIDE, 2012,
p. 258).
150
Outra forma de promover a circulação das ideias dos ruralistas do
ensino foram as várias Semanas Ruralistas. Essas Semanas foram
implementadas na década de 1930, por inciativa da Sociedade dos Amigos
de Alberto Torres, apoiada pelo Ministério da Agricultura e por secretarias
estaduais e municipais, para propiciar orientações a fazendeiros e
professores sobre questões rurais. Conforme aponta Ecar (2017, p. 87),
O objetivo das semanas ruralistas era ‘levar à nossa populacão do
interior, o ensinamento certo de trabalhar a terra e criar rebanhos,
transmitir-lhe os elementos de educacão rural para melhoria de seu
habitat para levantamento de seu padrão de vida (JORNAL DO
BRASIL, 13 de julho de 1934). A primeira Semana Ruralista foi
realizada em Itanhandu, cidade ao sul de Minas Gerais, de 13 a 20 de
julho de 1934. A proposta da SAAT [Sociedade dos Amigos de Alberto
Torres] era de que os eventos tivessem os centros culturais mexicanos
como molde (JORNAL DO BRASIL, 6 de julho de 1934).
Algumas Semanas Ruralistas levadas a termo por referências do
Movimento pela ruralização do ensino, tais como, Sud Mennucci, Noêmia
Saraiva e Luiza Guerra (MATTOS, 2004), são apresentadas no Quadro 5,
intitulado “Semanas Ruralistas apresentadas por título, local e ano de
realização”.
151
Título do evento
Local
Ano
1ª Semana Ruralista
Itanhandu/MG
1934
Semana Ruralista
Distrito Federal
1935
1ª Semana Ruralista
Juazeiro do Norte/CE
1935
1ª Semana Ruralista
Rio Verde/GO
1937
Semana Ruralista
Quixeramobim/CE
1938
2ª Semana Ruralista
Rio Verde/GO
1939
3ª Semana Ruralista
Juazeiro do Norte/CE
1948
1ª Semana Ruralista
Rio Branco
91
1951
1ª Semana Ruralista
Areia/PB
1952
Semana Ruralista
Bauru/SP
-
Semana Ruralista
Franca/SP
-
Quadro 5: Semanas Ruralistas apresentadas por título, local e ano de realização.
Fonte: Elaborado pela autora.
Como se pode depreender desse quadro, ocorreram Semanas
Ruralistas em diferentes estados, de diversas regiões do Brasil. Destacam-
se as Semanas Ruralistas realizadas em Juazeiro do Norte/CE,
Quixeramobim/CE, Areia/PB, Rio Verde/GO e em Rio Branco.
Em 1938, Joaquim Alves envia missiva a Sud Mennucci
informando a remessa dos Anais impressão oficial da 1ª Semana
Ruralista, realizada em Juazeiro do Norte/CE, em 1935. Além dessa
Semana, segundo Amalia Xavier de Oliveira (1948), Diretora da Escola
Normal Rural de Juazeiro do Norte/CE, entre os dias 25 e 31 de maio de
1948, estava prevista a realização nesse mesmo município, com patrocínio
do Ministério da Agricultura, da 3ª Semana Ruralista.
Segundo Carlos Lobo (1938), Diretor da Produção Animal do
Estado do Ceará, ocorreu, em 1938, uma edição de Semana Ruralista em
Quixeramobim/CE. Foram realizadas diversas atividades práticas nessa
91
Então Território da Boa Vista, atual Estado de Roraima.
152
Semana, como, demonstrações de manejo de arado, de cultivador, de
grade, de extintor de formigueiros, da forma de vacinar o bezerro, dentre
outros. Além dessas atividades, nessa Semana foram vendidas “inumeras
maquinas agrarias aos agricultores”
92
. Carlos Lobo menciona, ainda, que
seria realizada uma Semana Ruralista em Ipu/CE.
Nessa Semana, por fim,
Foram lembrados por ocasião do patriotico conclave e sôb aclamações, os
nomes dos grandes brasileiros que olham para o interior do Paiz e auxiliam e
animam os que vão acordar e avivar a alma indomita da nacionalidade. Assim,
o do grande Presidente Vargas que, numa visão larguissima de estadista
esclarecido, apontou aos brasileiros o verdadeiro o verdadeiro sentido de
brasilidade: A MARCHA PARA O OESTE. O do Interventor Menezes
Pimentel, cujo governo está cumprindo, no Ceará, o ESTADO NOVO e os
seus postulados. Os dos Secretarios de Estado Drs. José Martins Rodrigues e
Placido Castelo, que prestigiram e apoiaram vivamente o útil empreendimento
ruralista. Ainda os de Sud Menuci, de D. Chiquinha Rodrigues ilustre dama
paulista que vem se dedicando com alma e coração ao palpitante problema
nacional que é o ruralismo, e de Lourenço Filho, a quem a instrução do Ceará
deve o melhor de sua organização. (LOBO, 1938, [s.p.])
A I Semana Ruralista de Areia/PB foi realizada entre 14 e 18 de
abril de 1952. Essa Semana foi promovida pelo Servico de Informacão
Agrícola e pela Escola de Veterinária do Nordeste, em cooperacão com a
Superintendencia do Ensino Agrícola e Veterinário e com o Governo da
Paraíba.
92
Sobre a questão do uso de equipamentos ou insumos agrícolas relacionados com a modernização
das técnicas ou tecnologias de produção, ver Leite (1999). Conforme aponta Mendonça (2006a),
em 1915, 90% do arado e 76% dos outros implementos vinham dos EUA.
153
Essa Semana foi presidida pelo Secretário da Agricultura e contou
com a presenca do Governador desse Estado, Sr. José Américo de Oliveira,
bem como de 59 agricultores, 22 técnicos, 46 professores rurais e um
pároco do Estado de Paraíba e de outros Estados vizinhos. Nessa Semana
foram oferecidos 18 cursos, ministrados por técnicos dos Ministérios da
Agricultura e da Educacão; os cursos oferecidos foram:
1 Conservacão do solo Combate à erosão.
2 Mecanizacão. Máquinas agrícolas.
3 Cultura da agave.
4 Cultura da cana-de-acúcar.
5 Cultura do algodão.
6 Combate à saúva.
7 Combate às moléstias das plantas.
8 Cultura das hortalicas.
9 Silvicultura.
10 Fruticultura.
11 Adubacão. Preparo de adubos.
12 Doencas dos bezerros.
13 Verminose dos animais.
14 Alimentacão do gado.
15 Administracão de medicamentos aos animais.
16 Julgamento do gado. Escolha de reprodutores.
17 Combate às pragas das plantas.
18 Inseminacão artificial.
(I SEMANA RURALISTA..., 1952, p. 257)
154
Além desses cursos, foram realizados debates sobre questões
relacionadas aos problemas da vida rural brasileira. Após realização dos
cursos e dos debates, foram apresentados pareceres com algumas
conclusões dos participantes organizadas em três grupos separados:
fazendeiros e técnicos; sacerdotes e professores, quais sejam:
a) todos os problemas rurais devem ser enfrentados em conjunto, isto
é, atingindo não a indivíduos, grupos ou famílias, mas, indistintamente
tôda a zona rural;
b) para levar a bom termo as providências e medidas concernentes ao
crédito ao pequeno produtor, é indispensável o aproveitamento das
organizações locais já existentes ou a serem fundadas, ou sejam
cooperativas distritais e municipais de crédito e produção, associações
e núcleos rurais e a escola rural distrital, paróquias, clubes agrícolas,
clubes das mães e etc. Tais instituições, com a participação direta dos
próprios agricultores, deverão ter características especiais, como:
cooperativas, com raio de ação rural e limitado: associações e núcleos
rurais, também de âmbito municipal; escolas dinâmicas, com
professores competentes no assunto e bem remunerados, livres de
qualquer influência política. (I SEMANA RURALISTA..., 1952, p.
257)
Algumas parcerias foram estabelecidas entre os Estados da Paraíba
e do Rio Grande do Norte, com apoio do Ministério e das respectivas
Secretarias Estaduais de Agricultura desses estados. Outras propostas
foram aprovadas, como, a realização de um curso para os professores rurais
do município e a periodicidade anual para realização de Semanas
Ruralistas.
A 1ª Semana Ruralista de Rio Verde/GO realizou-se em 1937.
Manoel Alves de Almeida, diretor da Escola Profissional Rural, escreveu
155
uma carta para Sud Mennucci em março de 1939, convidando-o para
participar da 2ª Semana Ruralista de Rio Verde/GO:
Sabendo de sua grande visão e profundo conhecimento dos assuntos
ruralistas de nossa terra, eis que teria imenso prazer em poder obter sua
valiosa colaboração nesse certamen, onde estudaremos varios assuntos
presos á vida rural, procurando dar orientação a muitos deles, servindo
assim áqueles que obscuramente constróem a base da economia
nacional.
No entanto, a 2ª Semana Ruralista, prevista para maio de 1939,
não foi realizada. Segundo Manoel, “graças á falta de auxilios dos Poderes
Estaduais e Municipais, deixamos de realizar a pretendida SEMANA
RURALISTA” (ALMEIDA, 1939b). Isso demonstra que nem sempre os
ruralistas do ensino conseguiam, de autoridades públicas, apoio para
implementação de suas ideias.
A 1ª Semana Ruralista de Rio Branco foi realizada entre os dias 20
e 28 de julho de 1951. Na sessão solene de abertura dessa Semana,
discursou o Governador Jerocílio Gueiros, ressaltando a necessidade de
medidas que visem o avanço da economia no setor da produção
agropecuária (PRIMEIRA SEMANA..., 1951).
Dentre as várias proposições aprovadas nessa 1ª Semana Ruralista,
em artigo publicado na Revista Brasileira dos Municípios são apresentadas
12, entre as quais destaca-se, para a finalidade desta pesquisa, a de número
3:
[...] extensão aos agricultores de tôdas as medidas que, beneficiando
os pecuaristas, possam, também, beneficiar aquêles, como sejam a
venda de máquinas agrícolas, arame-farpado, aviamentos, engenhos,
156
etc., para serem pagos a prazo e pelo custo, a dinheiro ou com os
próprios produtos agrícolas; (PRIMEIRA SEMANA..., 1951, p. 402)
Nenhuma dessas 12 proposições trata da educação escolar; todas
elas estão relacionadas a questões atinentes à aquisição de materiais,
construção de novas rodovias, coibição de contrabando de gado, visitas
médicas mensais ao interior do Estado, instalação de uma “Fazenda-
Modelo”, dentre outros.
Além dessas Semanas Ruralistas, nas fontes analisadas, há menções
à realização de Semanas Ruralistas em Bauru/SP, em Franca/SP, no
Distrito Federal
93
, dentre outras.
Conforme dados apresentados, o principal foco das Semanas
Ruralistas era fornecer subsídios aos fazendeiros e agricultores, visando a
implementação de medidas que impulsionassem a produção agrícola.
3.2 Impressos: livros, revistas e jornais
Algumas das principais ações implementadas pelos ruralistas do
ensino para promover a circulação das ideias foram a produção e a
publicação de impressos, tais como, livros, revistas e jornais. Entre os
autores de livros sobre essa temática, destaca-se Sud Mennucci.
Quanto aos impressos, J. Moreira de Sousa (1950, p. 1098, grifos
do autor) ressalta,
93
Nessa Semana Ruralista, Geroncio Caldeira de Alvarenga (1935) ministrou conferência intitulada
“O professor em face da escola rural”.
157
Na literatura, que poderíamos dizer da escola rural, enumeram-se
vários livros editados no País, uns, didáticos - de TALES de
ANDRADE, NEWTON CRAVEIRO, ALDA PEREIRA da
FONSECA, SÊNECA FLEURY; de orientação e doutrina, outros, em
plano mais alto, de SUD MENNUCCI, LEONI KASEFF, NOÊMIA
SARAIVA, WILLIAN COELHO de SOUZA e AMARAL
FONTOURA.
Conforme mencionado, Sud Mennucci escreveu 16 livros, sendo
que muitos deles foram sobre questões relacionadas à temática da
educação, mais especificamente da educação rural. No entanto, destacam-
se os livros relacionados a temática da ruralização do ensino: A Crise
Brasileira de Educação (1930a), O que fiz e pretendia fazer (1932c), Pelo
sentido ruralista da civilização (1935), Ruralização (1944) e Discursos e
Conferencias Ruralistas (1946b). Dentre esses livros, destaca-se a
importância de A Crise Brasileira de Educação, considerado, por exemplo,
por Moacyr Campos (1955), em artigo publicado na Revista do Professor, a
“verdadeira bíblia do ruralismo”.
O livro de Noêmia Saraiva de Mattos Cruz, intitulado Educação
rural: uma aplicação de Ensino Rural na Escola Primária Grupo Escolar de
Butantan S. Paulo, publicado em 1936 e prefaciado por Sud Mennucci,
apresenta atividades realizadas por essa professora no Grupo Escolar Rural
do Butantan. Esse livro destaca-se pelo fato de propiciar elementos práticos
sobre a implementação de aspectos do ensino ruralizado, decorrentes da
sua experiência tanto como professora quanto como diretora desse Grupo.
Segundo Moura (2003, p. 118), outra iniciativa foi o lançamento
do livro Saudade, de Thales de Andrade, considerado uma “espécie de
evangelho ruralista”. Thales de Andrade publicou “[...] sobretudo na
primeira metade do século XX, diversos livros de cunho ruralista,
158
destinados a servir como leitura complementar nas escolas primárias do
país.” (MOURA, 2003, p. 118).
O livro Vale do Paraíba e a Ruralização, de autoria de Ernesto
Quissak, foi escrito em 1945 e não há indícios de que tenha sido publicado.
Foi encontrada cópia datilografada desse livro no arquivo pessoal de Sud
Mennucci. Nesse livro, dentre outros assuntos, Quissak (1945) apresenta
discussão sobre a necessidade de se implementarem, de fato, ações visando
à melhoria da escola rural, pois, nas palavras do autor, “Sic itur ad axtra”.
Outro importante impresso utilizado para propagar as ideias dos
ruralistas do ensino foi a produção de revistas ou de artigos publicados em
periódicos de circulação regional, estadual ou nacional. A relevância das
revistas é corroborada pelos apontamentos de Sirinelli (2003, p. 249), que
destaca:
As revistas conferem uma estrutura ao campo intelectual por meio de
forças antagônicas de adesão pelas amizades que as subtendem, as
fidelidades que arrebanham e a influência que exercem e de exclusão
pelas posições tomadas, os debates suscitados, e as cisões advindas.
Ao mesmo tempo que um observatório de primeiro plano da
sociabilidade de microcosmos intelectuais, elas são aliás um lugar
precioso para análise do movimento das idéias. Em suma, uma revista
é antes de tudo lugar de fermentação intelectual e de relação afetiva, ao
mesmo tempo viveiro e espaço de sociabilidade, e pode ser, entre outras
abordagens, estudada nesta dupla dimensão.
A Revista do Professor, publicada pelo Centro do Professorado
Paulista (CPP), sendo destinada a professores da rede pública de ensino
paulista, circulou entre 1934 e 1965 e nesse período totalizou 98 números
publicados, sendo 22 na primeira fase, e 76, na segunda.
159
Segundo Silva (2006, p. 22), essa Revista, criada em 1934, “[...]
teve sua publicação interrompida entre 1939 e 1949, e foi encerrada em
1965.” Essa autora aponta que em 1949, começou a segunda fase dessa
Revista, quando foram publicados apenas dois números e sua
periodicidade passou a ser irregular. No período de 1950 a agosto de 1957,
essa Revista passou a ter periodicidade trimestral. De agosto de 1957 a
setembro de 1963, essa Revista passou a ser publicada mensalmente, no
entanto, nessa última fase passou a apresentar irregularidades em sua
publicação. No ano de 1960 sua publicação ocorreu mensalmente, nos
anos seguintes voltou a ser irregular e foram publicados apenas três
números entre os anos 1964 e 1965, quando essa Revista deixou de ser
publicada (SILVA, 2006).
A Revista do Professor foi um importante periódico de divulgação
das posições defendidas pelo CPP (SILVA, 2006), sendo que o CPP foi
dirigido por Sud Mennucci de 1933 a 1948, período em que ocorreu
intenso uso dessa Revista para divulgação das ideias em defesa da
ruralização do ensino. No Quadro 6, apresenta-se levantamento de artigos
publicados na Revista do Professor e que, direta ou indiretamente, abordam
a questão da ruralização do ensino.
Autor Título
Ano de
publicação
Noêmia Saraiva de
Mattos Cruz
Ensino rural 1934
-
94
Ensino rural: Trecho do relatório anual de
1933 do diretor superintendente do Instituto
Butantan
1943
94
Indica autoria não identificada.
160
Victor Lino Bambini
A questão do ensino no Brasil e a solução de
Sud Mennucci: O valor científico e
construtivo de “A crise brasileira de
educação”
1935a
Victor Lino Bambini
A questão do ensino no Brasil e a solução de
Sud Mennucci: O valor científico e
construtivo de “A crise brasileira de
educação”
1935b
-
Ensino rural: A nova escola normal rural de
Feira de Sant’Ana, no Estado da Baía.
1935
-
Grupo Escolar do Butantan: Uma grande
vitória do seu “Clube agrícola escolar”
1935
-
Primeiro Congresso Brasileiro de ensino
regional
1935
-
Relatório dos alunos do 3.º ano do grupo
escolar do Butantan
1935
-
Ruralismo: Discurso inaugural da Semana
Ruralista de Franca, pronunciado pelo
professor Maximo de Moura Santos, em 22
de abril de 1935
1935
Wamberto Dias da
Costa
Pela ruralização do ensino no Brasil 1936
-
O Grupo Escolar rural de Carapiranga
1937
-
Um artigo de Sud Mennucci: Na assembléia
legislativa do estado
1937
S. da Paixão
Pela educação ruralista
1939
-
Grupo Escolar do Butantan
1939
-
O ruralismo marcha
1951
161
Jo Chiarini
Ruralismo
1952
-
Congresso Nacional de professores
primários: Realizado em Salvador, Bahia, de
14 a 20 de dezembro de 153, conclusões
finais
1954
-
O ruralismo marcha
1954
Maria Terezinha
Rebouças
Em prol do ruralismo: A alimentação da
criança na zona rural, seus erros e os meios de
remediá-los com recursos locais.
1954
A. Romano Barreto
A crise brasileira de educação: De Sud
Mennucci
1955
Moacyr Campos
O profeta do ruralismo
1955
-
Sud Mennucci e o ruralismo: Uma carta de
flagrante oportunidade
1955
-
Escola Normal Rural de Piracicaba
1956
-
Isto é uma escola normal rural
1956
-
A Escola Normal Rural
1957
-
Lei n. 4.420, de 28 de novembro de 1957
Dispõe sôbre, a instalação de escola normal
rural em Piracicaba, criada pela Lei n. 881,
de 6 de novembro de 1950
1957
-
Escola Normal Rural ‘Prof. José de Mello
Morais’, de Piracicaba
1958
Antônio Osvaldo
Ferraz
Ruralismo: Palestra realizada na noite de 29
de janeiro corrente, no curso de férias sôbre
atividades agrícolas, que se efetua, sob o
patrocínio da assistência técnica de ensino
rural, no clube de ciências de Piracicaba.
1958
-
Decreto n. 33.608, de 15 de setembro de
1958 Dispõe sôbre o exercício da direção
de grupo escolar rural
1959
162
Antônio Osvaldo
Ferraz
Grupo escolar rural “Alberto Tôrres” 1959
Antônio Osvaldo
Ferraz
Três grupos escolares rurais em Piracicaba 1962
-
Criação de Universidades Rurais e outras de
objetivos específicos
1965
Quadro 6: Artigos sobre ruralização do ensino publicados na Revista do Professor.
Fonte: Artigos sobre ruralização do ensino publicados na Revista do Professor (1933-1965)
95
.
Dos artigos reunidos no quadro acima, constata-se que a maior
parte deles foi publicada nas décadas de 1930 e de 1950. Diversos desses
artigos apresentam discussões sobre a questão das Escolas Normais Rurais.
Vários deles não apresentam autoria e alguns deles são de autoria de
sujeitos que integram a rede de sociabilidade de Sud Mennucci, como,
Noêmia Saraiva e Wamberto Dias da Costa.
Outros importantes periódicos foram utilizados para divulgar as
ideias do Movimento pela ruralização do ensino, entre eles, a Revista
Chácaras e Quintais e a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, periódico
de âmbito nacional sobre educação, que circula no Brasil desde 1944 e,
além publicar artigos sobre educação rural, veicula propostas educacionais
associadas às políticas do governo federal.
Além dos livros e das revistas, alguns jornais foram utilizados para
propagar as ideias dos ruralistas do ensino, sendo que alguns desses jornais
eram vinculados a instituições educativas, como, o jornal o Lavrador,
publicação da Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte/CE (SILVA,
2009).
95
Relação de referências reunidas no Apêndice C da Tese (MORAES, 2019a).
163
3.3 Instituições educativas
Algumas instituições educativas foram concebidas com base nas
ideias do Movimento pela ruralização do ensino, tais como, Escolas
Normais Rurais e Escolas Típicas Rurais. Além disso, algumas delas foram
utilizadas para promover a circulação de suas ideias, tais como, os clubes
agrícolas.
3.3.1 Formação de professores
Os ruralistas do ensino consideravam a formação de professores
um aspecto fundamental para o ensino ruralizado. Segundo Thales de
Andrade (1932), o “coração” da Reforma da Instrução paulista de 1932,
proposta por Sud Mennucci, eram as Escolas Normais Rurais. Além da
ruralização das Escolas Normais, principal proposta defendida por Sud
Mennucci, os ruralistas do ensino implementaram outros cursos de
formação de professores, tendo como princípio as ideias da ruralização do
ensino.
Os ruralistas do ensino consideravam necessária a formação de
professores com dominio de conhecimentos, principalmente, de
agronomia e de higiene. Conforme mencionado, Sud Mennucci defendia
a criação de Escola Normal Rural no Estado de São Paulo. Sugeria que as
Escolas Normais tivessem professores médicos e professores agronomos em
seus quadros, visando o ensino de conhecimentos úteis para resolver os
principais problemas da zona rural (MENNUCCI, 1931).
164
A defesa de Sud Mennucci parece ir de encontro ao que defendia
o autor
96
de uma missiva recebida em 29 de junho de 1935, em que é
apresentada discussão sobre as Escolas Normais Rurais, mencionando
inclusive o “erro” da França, em 1905, ao propiciar “nas escolas normaes
ruraes (pequenas universidades alem de outras disciplinas elevadas
sociologia e totemismo). [...] Deram com os burros nagua”. “É perigoso
dar-se ao mestre rural conhecimentos elevados, porque precisamos de
professores ruralistas e não bachareis em assumptos rurais.” (1935, p. 2).
Ainda que Sud Mennucci defendesse a criacão de uma Escola
Normal Rural no Estado de São Paulo, até 1948, ano de sua morte, isso
não ocorreu. Assim, prevaleceram as Escolas Normais urbanas e a formacão
de professores para escolas rurais ocorria por intermédio de cursos de
especializacão. No entanto, segundo Souza (2017), a Escola Normal Rural
de Piracicaba/SP passou a funcionar somente em 1956.
Dessa forma, a primeira
97
Escola Normal Rural implementada no
Brasil foi a de Juazeiro do Norte/CE, em 1934 Lourenço Filho (2001, p.
82-83) destaca alguns aspectos sobre o processo de implementação dessa
Escola:
A idéia foi levantada pelo então diretor-geral do ensino desse Estado, o
sr. Joaquim Moreira de Sousa, que, já em 1931, havia apresentado ao
IV Congresso Nacional de Educacão um estudo relativo à organizacão
do ensino normal; sugeriu esse técnico que o ensino normal tivesse
organizacão federal, isto é, fosse disciplinado pelo governo central, e
96
Assinatura do remetente ilegível.
97
Pesquisas em andamento, vinculadas ao Projeto “Formação e Trabalho de Professoras e
Professores Rurais no Brasil: PR, SP, MG, RJ, MA, MS, MT, PE, PI, SE, PB, RO e RS (décadas
de 40 a 70 do século XX)”, apresentam dados que indicam a implementação de Escolas Normais
Rurais antes da de Juazeiro do Norte. No entanto, considera-se necessária a conclusão dessas
pesquisas para que esses indicativos sejam confirmados.
165
que na preparacão dos mestres se incluísse o estudo de higiene rural, a
prática da agricultura e a de indústrias rurais. Em suas próprias
palavras, seria preciso ‘formar na alma do povo, por intermédio do
mestre primário, a consciencia sanitária e a consciencia agrícola, de que
está a depender a grandeza do Brasil. Logo depois, propunha ele ao
governo do Estado do Ceará que o ensino da agricultura e de indústrias
rurais passasse a ser feito em todas as escolas normais; em 1933,
considerando mais de frente o problema, propos a criacão de uma
escola normal rural, a ser instalada num dos municípios do interior.
Ainda, analisando-se os apontamentos de Lourenço Filho (2001,
p. 82-83), constata-se a presença de um argumento recorrente nos debates
para levar a termo a educação rural, qual seja, a questão financeira, como
foi apontado durante o I Congresso Brasileiro de Ensino Regional, quando
do debate sobre a duração necessária dos cursos das Escolas Normais
Rurais.
o havendo recursos de parte do governo, insistiu o sr. Moreira de
Sousa com as autoridades estaduais no sentido de que fosse expedido
um decreto pelo qual se admitisse a realizacão do projeto por entidade
privada, com pequeno auxílio dos poderes públicos. Isso foi afinal
aceito. Gracas aos esforcos de uma dedicada professora, Amália Xavier
de Oliveira, criou-se, então, em Juazeiro do Norte, uma associacão
privada, que se ofereceu para fazer instalar e manter a escola normal
rural prevista. Desde logo oferecia casa, terreno e material didático.
Lavrou-se acordo entre a associacão e o governo do Estado, vindo a
organizacão a iniciar seus trabalhos em 1934, com um curso primário
e outro de adaptacão ao curso normal propriamente dito, ou
intermediario. A direcao esteve primeiramente entregue ao dr. Placido
Castelo, logo porem substituido pela professora Amelia Xavier de
Oliveira, que nessas funcões tem permanecido.
166
Sud Mennucci proferiu discurso no dia 5 de dezembro de 1937
nessa Escola Normal, por ocasião da colação de grau “das primeiras
professoras ruralistas do Brasil.” Nesse discurso, Sud Mennucci manifesta-
se sobre a questão da Escola Normal Rural, apontando o protagonismo do
Ceará no processo de ruralização das Escolas Normais e diz que, na
realidade, a “Méca do ruralismo” não é Piracicaba, mas, sim, “o Cariri
cearense” (DISCURSO..., 1937). Na Imagem 3, apresenta-se fotografia
de Sud Mennucci com essas professoras.
Imagem 3: Sud Mennucci com a primeira turma de professoras diplomadas pela Escola Normal
Rural de Juazeiro do Norte/CE (1937).
Fonte: Arquivo de Sud Mennucci (DISCURSO..., 1937).
Além da Escola Normal Rural de Juazeiro/CE, sabe-se do
funcionamento da Escola Normal Rural de Limoeiro/PE, Iguatu/CE,
167
Ipu/CE e Quixadá/CE, dentre outras. Silva e Costa (2019), em revisão
bibliográfica realizada sobre esse assunto, encontraram indícios de
funcionamento de 52 Escolas Normais Rurais no Brasil.
Segundo Basso (2018), devido à inexistência de Escolas Normais
Rurais no Estado de São Paulo, foram oferecidos Cursos de Especialização
Agrícola nos municípios paulistas de São Carlos, Casa Branca, Espírito
Santo do Pinhal e São Manuel.
3.3.2 Escolas Típicas Rurais
Outra iniciativa é a criação das Escolas Típicas Rurais. Em 1933,
segundo o Art. 256 do Código de Educacão do Estado de São Paulo, as
Granjas Escolares foram criadas (SÃO PAULO, 1933a). O Decreto n.
6.047, de 19 de agosto de 1933, publicado durante a gestão de Sud
Mennucci como Diretor do Ensino do Estado de São Paulo, além de
outras providencias, previa a criacão dos Grupos Escolares Rurais. Já as
Escolas Típicas Rurais foram criadas em 1945, pela Portaria 31, de 1 de
setembro de1945 (MORAES, 2014).
As Escolas Típicas Rurais tinham programas de ensino
diferenciados, exigiam formação ou especialização agrícola de todos os
profissionais que nelas trabalhavam, tinham critérios específicos para sua
instalação, como, área de terra destinada à realização de atividades agrícolas
e pastoris, dentre outros.
O programa de ensino dos Grupos Escolares Rurais e das Escolas
Típicas Rurais foi fixado pelo Ato nº. 16, de 23 de fevereiro de 1949,
168
conforme apontam Meneses e Mendes
98
(1960). Nesse Ato são
apresentados os conteúdos relativos às Atividades Agrícolas e a Higiene.
Segundo esse Ato, a Comissão da Assistência Técnica do Ensino Rural,
responsável por estudar e propor um programa de ensino para os Grupos
Escolares Rurais e para as Escolas Típicas Rurais, resolveu:
1) Manter, na parte referente às técnicas fundamentais, o que está em
vigor para o ensino primário comum.
2) Fazer adaptação do programa de Noções Comuns, Geografia e
História, tendo em vista os objetivos visados pela Escola Rural.
3) Elaborar programa especial sôbre questões Agrícolas e de Higiêne.
(apud MENESES; MENDES, 1960, p. 8)
Os conteúdos referentes a Atividades Agrícolas eram, para os 1º e
2º anos, rudimentos de prática de “Semeadura, germinação,
transplantação, tratos culturais e irrigação, na horta e jardim.” e “Criação
de pequenos animais.” Para o 3º ano os conteúdos eram “Horta escolar e
domiciliar”, “Noções sôbre adubação das plantas hortícolas” e “Valor
economico e alimentar das hortaliças”. Já para o 4º ano os conteúdos eram:
“Horticultura”, “Jardinocultura”, “Silvicultura”, “Fruticultura”,
“Avicultura”, “Apicultura”, “Piscicultura”, “Agricultura Geral” e
“Sericultura” (apud MENESES; MENDES, 1960, p. 8-11).
Ainda, relacionado ao programa referente a Atividades Agrícolas,
para o 4º ano destinado ao público feminino, previam-se os seguintes
conteúdos: “Puericultura” “O que se deve entender por puericultura.
98
Os professores João Gualberto Meneses e João Batista Gurgel Mendes organizaram o documento
intitulado “Legislação do Ensino Rural”, que reúne as legislações sobre o Ensino Rural em vigor no
ano de 1960.
169
Mortalidade Infantil. Suas causas e meios de combate.”, “Higiêne geral;
banho, vestuário.”, além de “A formação da personalidade sadia: a)
interdependência do desenvolvimento físico e mental; b) o lar sadio sob os
aspectos material, moral, mental e social; c) inter-relação entre a criança e
a comunidade sadia.” (apud MENESES; MENDES, 1960, p. 11).
Fica evidente no programa de Atividades Agrícolas a questão dos
conteúdos da educação direcionada especificamente às mulheres.
Os conteúdos previstos para a área de Higiene eram, para os 1º e
2º anos, compostos pelos seguintes conteúdos: Higiene pessoal, do
vestuário e da habitação, que incluía o “Asseio das mãos e dos pés”, o
“Asseio do vestuário” e o “Asseio da habitação: a) dependências internas;
b) das dependências externas; c) lixo”. Para o 3º ano, os conteúdos eram
Higiene coletiva e da alimentação “Esgotos e fossas: tipos, conservação e
utilização” e “A escolha, preparação e conservação dos alimentos”. Já para
o 4º ano os conteúdos eram Higiene da saúde “Doenças em geral” e
“Socorros de Urgência “Moléstia cujos micróbios ou vermens são
eliminados principalmente, pelas dejeções dos doentes: a) febre tifóide,
desinterias; b) verminoses; ancilostomose ou amarelão; tênia ou solitária.”
e “Envenenamentos e mordeduras de cobras.” (apud MENESES;
MENDES, 1960, p. 8-11).
O Ato número 16, mencionado, bem como o ato número 67, de
1950, eram conhecidos como “‘Ato Dezesseis’” ou “‘Programa do Ensino
Rural’” entre os professores. Esses Atos configuravam-se como a “essência
do Ruralismo” e precisavam ser cumpridos, tanto em termos práticos
quanto em termos teóricos, para que, assim, a ruralização fosse efetivada
na escola (apud MENESES; MENDES, 1960, p. 11).
170
Meneses e Mendes (1960, p. 11) ressaltam lacuna dos ruralistas do
ensino, em termos de materiais didáticos para apoio das atividades em
conformidade com os cânones do Movimento pela ruralização do ensino:
[...] uma das grandes falhas do Ruralismo consiste na inexistência de
‘cartilhas’ ou bibliografia de fácil aquisição ou manuseio para a
aplicação do ensino teórico-prático das atividades agro-pecuárias e de
higiêne rural, reclamadas pelo programa acima. Acrescente-se que a
maioria do professorado rural desconhece tais programas, ou não sabe
como realiza-los.
Messenberg (2012, p. 157) também apresenta crítica à cartilha e
os três livros de leitura que compõem a série Na Roça, de autoria de Renato
Sêneca de Sá Fleury:
A série Na roça foi publicada dentre inúmeras cartilhas, livros de leitura
e séries graduadas de leitura que estavam sendo publicadas por
diferentes editoras. [...] ela foi a primeira série de leitura publicada pela
Companhia Melhoramentos, com destinação específica aos alunos das
escolas isoladas, localizadas na zona rural. Porém, o conteúdo
apresentado nos livros que integram a série Na roça não era
significativamente diferente do conteúdo apresentado em séries de
leitura que também circularam naquele momento histórico.
Na Revista do Professor, edição de 1935, há menção à cartilha Na
Roça, que foi prefaciada por Sud Mennucci, e apresentada por essa Revista
como “campe[ã] da ruralização do ensino no Brasil”. Segundo o artigo em
questão, essa cartilha estaria “[...] fadada ao melhor êxito, mesmo por ser a
primeira destinada ás escolas rurais.” (UMA CARTILHA..., 1935, p. 9).
171
Dos apontamentos de Messenberg (2012), pode-se considerar a
procedência do que apontam Meneses e Mendes (1960), já que a série Na
roça, de Renato Fleury, não era uma proposta concebida para as escolas
primárias rurais, em conformidade com os princípios preconizados pelos
ruralistas do ensino. Pode-se inferir, considerando-se o que aponta
Messenberg (2012), que a série Na roça constituiu-se em um material
urbanocêntrico, porém, com algumas adaptações para as escolas rurais.
No que se refere à formação de professores, Moraes (2014) destaca
a criação dos Grupos Escolares Rurais, que foram criados como uma
espécie de escola para prática de ensino da futura Escola Normal Rural de
Piracicaba, em consonância com a concepção educacional vigente à época.
Moraes (2014) localizou 253 apontamentos sobre as Escolas
Típicas Rurais no Estado de São Paulo, sendo que cinco apontamentos
foram sobre Granjas, 82 apontamentos foram sobre Grupos Escolares
Rurais e 166, sobre Escolas Típicas Rurais. Porém, Moraes (2014)
encontrou vestígios de funcionamento somente de uma Granja e de 12
Grupos Escolares Rurais; sobre Escolas Típicas não foi encontrado
apontamento. Essas escolas não foram uma iniciativa restrita ao âmbito do
Estado de São Paulo.
Para exemplificar, apresentam-se algumas informações sobre dois
Grupos Escolares Rurais. O Grupo Escolar Rural do Butantan,
posteriormente denominado “Alberto Torres”, localizado em São
Paulo/SP, foi convertido em Grupo Escolar Rural em 1933, porém, passou
a funcionar de maneira oficial somente em 1935. Esse Grupo foi dirigido
pela professora Noêmia Saraiva
99
de Matos Cruz e entre as atividades
agrícolas nele desenvolvidas estava a plantação de legumes e hortaliças.
99
Para mais informações sobre essa professora e sua atuação no Grupo Escolar Rural do Butantan,
ver Ecar (2017) e Mota (2010).
172
O Grupo Escolar Rural de Coruputuba, posteriormente
denominado Grupo Escolar Rural “Antonio Bicudo Leme”, foi instalado
na Fazenda Coruputuba, localizada no município de
Pindamonhangaba/SP, vinculado à Delegacia Regional de Ensino de
Taubaté/SP. Esse Grupo situava-se [...] numa fazenda onde há todo o
conforto e bem-estar pregado por Sud Mennucci.” (FERRAZ, 1958, p. 5).
Na imagem 4, apresenta-se foto do prédio desse Grupo.
Imagem 4: Prédio do Grupo Escolar Rural “Antonio Bicudo Leme”, de
Pindamonhangaba/SP.
Fonte: Museu Histórico e Pedagógico Dom Pedro I e Dona Leopoldina e do Arquivo
Histórico Dr. Waldomiro Benedito de Abreu de Pindamonhangaba/SP
(CORUPUTUBA, [s.d.], p. 87).
173
3.3.3 Clubes
Outra ação dos ruralistas do ensino com vistas à concretização de
suas propostas foi a criação de Clubes, como, Clube do Milho, Clube do
Trabalho e Clube Agrícola (BASSO, 2018; MOTA, 2010; MOURA,
2003).
Moura (2003) destaca a criação, em 1921, do Clube do Milho, em
Piracicaba/SP, com o objetivo de despertar nas crianças o amor e o respeito
pela vida rural. Mennucci (1935, p. 45-46) faz menção a esse Clube e
destaca a contribuição de Thales de Andrade:
Ainda em 1921, e por iniciativa do [...] professor [Thales de Andrade],
se criava em Piracicaba o 'Clube do Milho', tentativa destinada a
incentivar as crianças da cidade o amor pela agricultura e o respeito
pela faina a que se entregam os lavradores, ensinando-lhes a cultivar
nos quintais de suas casas plantas uteis ou simplesmente ornamentais.
O Clube teve grande êxito na produção de vegetal que lidava o nome,
recolhido, num dia de festa, ao Largo da Matriz no meu nome pilha
que foi vendida em benefício da Caixa Escolar de um Grupo da cidade.
Destaca-se também a criação de Clubes de Trabalho pela Secretaria
da Agricultura, Indústria e Comércio (MOTA, 2010). Entretanto, foram
os Clubes Agrícolas que tiveram uma maior disseminação no país. Eles
constituíram uma inciativa do Ministério da Agricultura que em 1940,
após alguns de seus técnicos, todos agrônomos, retornarem de viagens de
estudos aos EUA, passaram a implementá-los no Brasil (MENDONÇA,
2006b).
174
No entanto, a Comissão Brasileiro-Americana de Educação das
Populações Rurais (CBAR), criada em 1945, foi responsável por
institucionalizá-los, obtendo inclusive subsídios, como uma modalidade
de difusão de ensino rural sob alcada do Ministério da Agricultura.
O projeto dos Clubes Agrícolas foi baseado nos Clubes 4-H (head,
heart, hands and health) estadunidenses, criados em 1937, cujo lema era:
cabeça, coração, mãos e saúde.
Os Clubes Agrícolas tinham que enviar anualmente ao Ministério
da Agricultura relatórios, apresentando informações sobre seu
funcionamento, com vistas a fornecer dados para atualização da cartilha
“Brincar e Aprender”, de Fleury Filho, que era adotada por essa instituição
educativa.
J. Pinto Lima, Carlos Buhr e Guaraci Cabral de Lavor (1958, p.
9), autores do livro intitulado Clubes Agrícolas, publicado pelo Ministério
da Agricultura brasileiro, destacam que:
Junto as escolas públicas e particulares, especialmente no interior, os
clubes agrícolas constituem complemento necessário e imprescindível.
Se educar é preparar para a vida, a alfabetização por si só não satisfaz:
é preciso, também, despertar nos cidadãos os trabalhos agrícolas, de
modo a criar nos jovens, desde a infância, a consciência do seu valor
como fatores positivos na sociedade.
Entre 1940 e 1944 foram registrados 886 Clubes Agrícolas no
Brasil. Em 1947 o Ministério da Agricultura informou a existência de
1.450 Clubes Agrícolas. Em fins da década de 1950, os Clubes Agrícolas
continuavam em pleno funcionamento, supostamente contribuindo para
175
o ajustamento da escola primária rural ao meio a que pertence, totalizando
2.183 Clubes no ano de 1958 (MENDONÇA, 2006b).
J. Pinto Lima, Carlos Buhr e Guaraci Cabral de Lavor (1958, p.
41-43) apontam que os objetivos dos Clubes Agrícolas são:
1 Incumbir na consciência de seus sócios o amor à terra, o sentimento
da nobreza das atividades agrícolas e a idéia do seu valor econômico e
patriótico.
2 Dignificar o trabalho manual, elevar e engrandecer a vocação e a
profissão do agricultor.
3 Mostrar os perigos do urbanismo e do abandono dos campos.
4 Desenvolver o espírito de cooperação na escola, na família e na
coletividade.
5 Incentivar a policultura e proporcionar a aprendizagem de métodos
agrícolas racionais, pondo em prática os princípios da agricultura
científica e demonstrando os rendimentos das lavouras e criações bem
tratadas.
6 Suscitar no espírito dos sócios, especialmente meninas, a verdadeira
significação da palavra lar’.
7 Colaborar para o melhoramento permanente da vida rural,
tornando-a mais agradável e aperfeiçoando-a sob o ponto de vista da
sociabilidade, da estética e da cultura geral.
8 Formar e cultivar hábitos de economia e orientar os sócios sôbre a
melhor aplicação do seu dinheiro.
9 Fazer a propaganda, na comunidade rural, da vivenda bonita,
confortável, alegre e higiênica, ensinando os sócios a achar belas a
ordem e a limpeza.
10 Proteger os animais e as plantas.
176
11Avaliar pelo reflorestamento, organizando o bosque do clube em
terreno que deve ser doado pela Prefeitura ou proprietário local;
preparando os viveiros que forneçam mudas aos sócios; aconselhando
os lavradores a reflorestar parte das áreas de suas fazendas; conseguindo
que toda árvore derrubada seja substituída por duas outras que se
plantam.
12 Florir as janelas das casas dos sócios e realizar, todos os anos, o
concurso das janelas floridas.
13 Comemorar a 21 de setembro o Dia da Árvore e dedicar um dia
à comemoração anual da principal cultura ou criação local.
14 Conseguir das autoridades municipais e estaduais, bem como dos
particulares, que couberem na extinção da saúva, e instituir, no último
trimestre do ano, o Dia da Saúva, para demonstração do combate
coletivo àquela praga.
15 Influir para que as praças, ruas e estradas da localidade sejam
arborizadas.
16 Organizar uma cooperativa para venda dos produtos das
plantações e criações dos sócios.
17 Difundir as regras da alimentação sadia como base da boa saúde,
ensinando apreciar o valor nutritivo dos alimentos e os processos
racionais de prepará-los.
18 Organizar uma biblioteca.
19 Combater as queimadas, a erosão, as doenças e pragas das lavouras
e criações.
20 Enaltecer a vida e a obra dos grandes pensadores, naturalistas,
cientistas, sociólogos e homens de ação, cujas idéias e realizações
tenham tido influência decisiva nos domínios científico, social, técnico
ou econômico da vida nacional.
177
Como se pode depreender da análise dos apontamentos de J. Pinto
Lima, Carlos Buhr e Guaraci Cabral de Lavor (1958), os objetivos dos
clubes agrícolas apresentam consonância com as ideias do movimento
ruralista brasileiro, bem como do Movimento pela ruralização do ensino,
como, a fixação do homem no campo e o desenvolvimento do apreço pelos
trabalhos manuais, duas questões fundamentais para os ruralistas e que
eram diretamente relacionadas com a educação ruralizada.
Ressalta-se que os objetivos dos Clubes Agrícolas no Brasil são
praticamente os mesmos dos Clubes 4-H dos EUA. Sobre esse aspecto, J.
Pinto Lima, Carlos Buhr e Guaraci Cabral de Lavor (1958, p. 70),
destacam: “A educação rural não pode limitar-se a simples alfabetização.
Ela deve ser marcada pelo acentuado espírito de realização que caracteriza
o clube agrícola, de cujos trabalhos cada ponto oferece os mais variados
assuntos de interesse para o ensino.”
3.4 Sociedades e institutos
Sociedades e institutos tiveram um papel relevante na consolidação
do Movimento pela ruralização do ensino no Brasil. Mencionam-se como
exemplos a Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, a Sociedade Luiz
Pereira Barreto e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP).
A Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, criada em 1932, foi
uma organização cujo trabalho teve repercussão exitosa em outras
Unidades da Federação com objetivo de difundir e de implementar as
ideias ruralistas, inclusive aquelas relacionadas à educação. Já a Sociedade
Luiz Pereira Barreto, tinha objetivos semelhantes aos da Sociedade Amigos
de Alberto Torres, porém, sua atuação era restrita ao âmbito do Estado de
São Paulo (MATTOS, 2004; MOURA, 2003).
178
O INEP, criado em 1937, teve entre seus diretores Lourenço Filho
e Anísio Teixeira. Além disso, lançou, em 1944, a Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos. J. Moreira de Sousa (1950, p. 1102, grifos nossos)
destaca a importante contribuição desse Instituto, nos anos 1950, ao
ofertar cursos para professores de escolas primárias rurais. No entanto,
lamenta a inexistência das Escolas Normais Rurais que, como apontado,
eram o foco dos ruralistas do ensino.
O Instituto Nacional de estudos pedagógicos, sob a influência
orientadora do atual Govêrno, em mais de um documento público,
salienta a tendência para o mais decidido ruralismo da escola primária e
vai além das palavras, pois entrar agir, edificando, na zona rural,
milhares de prédios, para escolas primárias, uns, para escolas normais,
outros, sendo certo que a política que o norteia, na atual administração
federal, é no sentido de dar às populações do Interior a escola que
melhor se adapta à sua psicologia e melhor atende às suas necessidades
econômicas. Mais de um curso tem promovido referido Instituto, para
professorâs públicas de escolas primárias dos Estados, sendo de estimar
que os mesmos se repitam, até que venham as escolas normais rurais
prometidas, rurais pela posição, no meio geográfico, mas rurais,
sobretudo, pelo espírito, pelos processos e pelos objetivos especiais a
alcançarem.
Dentre os cursos oferecidos pelo INEP destaca-se o intitulado
“Problemas de Educação Rural”, realizado em 1949 e ministrado pelo
professor Robert King Hall, da Columbia University. Entre os temas
abordados nesse curso, estava “O papel da escola primária rural na
segurança nacional” (INEP, 1950), dado que contribui para corroborar
argumentos apresentados no Capítulo IV. A atuação desse professor no
Brasil é recorrentemente citada em fontes analisadas, haja vista a
179
representatividade desse professor, bem como pelo fato de o curso
mencionado ter sido promovido e financiado pelo INEP, como apontado,
uma instituição de abrangência nacional. Apresenta-se, a seguir, na
Imagem 5, fotografia na qual o professor Robert King Hall aparece.
Imagem 5: Professor Robert King Hall em atuação no curso “Problemas de Educação Rural”.
Fonte: INEP (1950).
Da análise desses dados, constata-se que os ruralistas do ensino
utilizaram diversas ações visando promover a circulação das suas ideias e
atingir os seus objetivos. Essas ações envolviam as áreas da política, da
economia e da cultura, porém, com uma forte ênfase na educação escolar.
Essas ações ocorriam por diferentes formas, quais sejam, oral, escrita,
180
imagéticas, entre outras, e eram promovidas por iniciativas públicas e
privadas.
As ações visando promover a circulação envolveram sujeitos das
esferas pública e privada, nacionais e internacionais, autoridades do
Judiciário, Executivo e Legislativo dos diferentes níveis de governo. Ou
seja, os ruralistas do ensino tinham uma ampla rede de sociabilidade, que
atingia diferentes regiões e longínquos pontos do Brasil.
As estratégias e as táticas adotadas pelos ruralistas do ensino estão
em consonância com a argumentação apresentada por Cyro de Freitas
Gaia, em missiva utilizada como epígrafe deste capítulo: “Assim é fazer
ruralismo, com trabalho e ação e não com palavras.” (GAIA, 1935, p. 1).
181
4.
Ruralização do Ensino: Aqui e Aco
182
A carta de Hespelt (1946), reproduzida na epígrafe, exemplifica a
estratégia utilizada por Sud Mennucci que, por intermédio do envio de
seus livros, visava promover a circulação das ideias sobre a ruralização do
ensino. Neste capítulo, apresentam-se análises sobre aspectos dos
conteúdos da correspondência de Mennucci que elucidam o processo de
circulação das ideias dos ruralistas do ensino em âmbito internacional.
Analisam-se, também, relações entre aspectos da educação rural brasileira
e programas dos Estados Unidos da América e da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
100
para a
América Latina.
4.1 Correspondência enviada dos EUA para Sud Mennucci
Para além do âmbito nacional, no qual, como demonstrado, Sud
Mennucci manteve expressiva troca de correspondência com diferentes
sujeitos de variados pontos do Brasil, há que se destacar, pelas suas
especificidades e relevância para as finalidades desta pesquisa, um
segmento dos sujeitos da rede de sociabilidade de Sud Mennucci sobre
educação rural, quais sejam, organizações ou pessoas estrangeiras
101
radicadas no Brasil ou no estrangeiro.
Como exposto no capítulo II, Sud Mennucci manteve troca de
correspondência com sujeitos de diferentes países, quais sejam, Argentina,
Bolívia, Cuba, México, Paraguai, Uruguai, Venezuela e EUA, sendo que
100
Organização criada em 1944, para tratar de assuntos relacionados à ciência e à cultura de países
vinculados à ONU.
101
Exceções: Manoel Cardoso e Brenno Silveira, sobre os quais há indícios que sugerem que seriam
brasileiros.
183
este país registra a maior frequência de troca de correspondência,
totalizando 23 cartas.
Apresentam-se, no Quadro 7, sujeitos ou instituições que
escreveram cartas a Sud Mennucci informando o recebimento e
registrando agradecimentos pelo envio de livros de sua autoria (BRALS,
1946; CARDOSO, 1947; CAYOT, 1947; CROOHA, 1946; HESPELT,
1946; HILTON, 1946; KENISTON, 1946; MEICHE, 1947; ROWE;
ALBA, 1946; 1947; UNIÃO..., 1946) ou, em alguns casos, dizendo que
utilizaram ou utilizariam esses livros em atividades, como, conferências ou
aulas
102
(MEICHE, 1946; TERAN, 1947; VILLELA, 1946).
Nome
Instituição
Data
Local
Carlos M. Teran
Prof. of Latin American
Civilization, no Michigan Estate
College
1947
East Lansing
Michigan
E. Herman
Hespelt
Prof. of Spansh (New York
University)
1946 New York
Esther G./J.
Crooha
Goucher College 1946 Maryland
Hyward
Keniston
DEAN (University of
Michigan)
1946 Michigan
L. S. Rowe e
Pedro Alba
Diretor Geral e Subdiretor da
União Panamericana
1946 e
1947
Washington
Lavinia Costa
Villela
- 1946
Belmont
Massachusetts
Manoel Cardoso
The Catholic University of
America
1947 Washington
Mary E. Cayot
Carnegie Endowment for
International Peace
1947 New York
102
Esses dados são apresentados conforme constam nas cartas, inclusive no que se refere às
abreviações.
184
Prof. E. Meiche -
1946 e
1947
San Antonio
Texas
R. A. Brals
Director do The New York
Public Library Acknowledge
1946 New York
Ronald Hilton
Stanford University
1946
Santa Ynez
União
Panamericana
- 1946 Washington
Quadro 7: Sujeitos ou instituições dos EUA que enviaram cartas a Sud Mennucci.
Fonte: Elaborado pela autora.
A seguir apresenta-se, com maior detalhamento, outro bloco de
sujeitos, também dos EUA, que se corresponderam com Sud Mennucci.
Considerando-se os dados levantados, esses sujeitos são mais relevantes
para as finalidades desta pesquisa
103
.
Arnold Tschudy, representante ou Diretor do Coordinator of
Inter-American Affairs of the United States of America, escreve, entre
1944 e 1946, do município de São Paulo, 13 cartas a Sud Mennucci, sendo
que uma delas é assinada juntamente com Frank. H. Oram (ORAM;
TSCHUDY, 1944). Arnold Tschudy trata de assuntos referentes à
realização de exposição e ao envio de trabalhos de crianças brasileiras à
American Association of University Women (TSCHUDY, 1945c;
1946b). O remetente aponta o intercâmbio de materiais e de ideias entre
Brasil e EUA e destaca, com pesar, o declínio de Sud Mennucci ao convite
do governo estadunidense para realização de viagem de observação e
estudos naquele país (TSCHUDY, 1944a; 1944b; 1944c; 1944d; 1945b;
1945d; 1945e; 1946c). Em carta de 18 de fevereiro de 1946, informa que
está partindo para Nova York para assumir o cargo de Vice-Presidente
Executivo do Inter-American Council e, na impossibilidade de se despedir
103
Os nomes dos remetentes e das instituições a que estavam vinculados, bem como outros dados,
são apresentados conforme constam na correspondência.
185
de Mennucci pessoalmente, escreve-lhe apresentando agradecimentos
pelas “inúmeras provas de gentileza e de amizade”. Informa o endereço
temporário da Inter-American Council, diz que será um prazer receber
Mennucci em momento oportuno e que está à disposição (TSCHUDY,
1946a).
Outra missiva, de 25 de abril de 1945, demonstra a relação de Sud
Mennucci com Arnold Tschudy e, por conseguinte, com os EUA. Nessa
carta, Tschudy manifesta satisfação pela publicação, no dia 12 de abril de
1945, no Diário Oficial, pelo Departamento de Educação, de circular que
recomenda a organização dos Clubes Panamericanos nas escolas do Estado
de São Paulo. Ressalta que essa iniciativa irá “contribuir para uma maior
aproximação entre os países da América”, destacando que informará o
governo dos EUA sobre essa iniciativa e que está certo “de que a mesma
será recebida em Washington com grande entusiasmo.” Esse missivista
destaca, por fim, a contribuição que Mennucci vinha dando à difusão dos
ideais panamericanos nas escolas (TSCHUDY, 1945a).
Frank H. Oram, “diretor-interino” do Office of Inter-American
Affairs of EUA, também escreve, entre 1944 e 1945, quatro cartas a Sud
Mennucci, agradecendo a colaboração com o Departamento de Educação
para a realização do “Curso de Extensão Cultural e Mostruário de Livros
Educativos Norte-americanos”. Nessas cartas, menciona, também, a
participação, principalmente dos professores: J. Oliveira Orlandi
(bibliotecário chefe) e Elisiario Rodrigues de Souza (assistente de
publicidade) (ORAM, 1945a). Além disso, acusa e agradece recebimento
de ofício de indicação de três educadores brasileiros para realização de
curso de aperfeiçoamento nos EUA e manifesta satisfação pela
possibilidade, informada por Sud Mennucci, do financiamento do
governo do estado para o envio de, no mínimo, mais três educadores
paulistas para esse aperfeiçoamento nos EUA (ORAM, 1945b). Esse
186
remetente informa, ainda, a assinatura de um acordo entre os EUA e o
Ministério da Agricultura, Diretoria do Ensino Agrícola, para o
desenvolvimento do ensino rural no Brasil (ORAM, 1945c).
Além de Arnold Tschudy e Frank. H. Oram, Rone Amorim,
também vinculado ao Office of Inter-American Affairs, envia missiva a Sud
Mennucci em 1945, fazendo menção à exibição de “Films Strips” em
escolas da capital paulista (AMORIM, 1945).
Adolf A. Berle Jr., Embaixador dos EUA, escreve a Mennucci em
1945, do Rio de Janeiro, acusando o recebimento de solicitação e
autorizando a publicação de sua conferência “pronunciada por ocasião do
encerramento do Curso de Extensão Cultural”. Esse remetente, menciona,
ainda, intercâmbio cultural entre Brasil e EUA (BERLE JR., 1945).
Brenno Silveira, redator e tradutor da Pan American Union, em
carta datada de 1947, de Washington, informa possibilidades de
cooperação para publicações, coloca-se à disposição de Sud Mennucci e
solicita o envio de publicações de sua autoria (SILVEIRA, 1947a; 1947b).
Esses foram os sujeitos identificados na rede de sociabilidade de
Sud Mennucci e que, direta ou indiretamente, eram vinculados a
organizações públicas ou privadas estadunidenses. Esses sujeitos ocupavam
cargos-chave em organizações estratégicas para promoção da circulação das
ideias do Movimento pela ruralização do ensino, tais como universidades,
bibliotecas e outras organizações.
Ressalta-se, ainda, que nesse momento, vários acontecimentos
contribuíram para as interlocuções entre Sud Mennucci e sujeitos
vinculados a organizações dos EUA, em especial representantes do governo
ou de instituições governamentais. Um desses acontecimentos foi a
Segunda Guerra Mundial, que teve diversos desdobramentos em termos
de geopolítica internacional. Devido as suas dimensões territoriais,
187
localização estratégica, recursos naturais, entre outros fatores, foi necessário
que os EUA adotassem medidas para continuar a deter a hegemonia, em
termos políticos, econômicos e culturais, sobre o Brasil, hegemonia essa
que estava relacionada, entre outros fatores, à questão da agricultura, cujo
êxito, segundo os ruralistas do ensino, dependia majoritariamente da
educação escolar.
As ideias do Movimento pela ruralização do ensino foram
defendidas por vários sujeitos de diferentes regiões do país e estiveram, de
alguma forma, articuladas a referenciais estrangeiros em circulação no
Brasil e em âmbito internacional.
Bezerra Neto (2003, p. 15) destaca que
A defesa das propostas do ruralismo pedagógico não se restringiu aos
educadores, visto que alguns governantes aderiram a elas, criando em
suas áreas de influencia algumas escolas rurais, mas em grande medida,
deixaram de atender partes das reivindicacões de seus defensores,
sobretudo devido as dificuldades que havia para se encontrar
professores que quisessem lecionar no campo. Mesmo esses
governantes que, de alguma forma, atenderam às reivindicacões dos
pedagogos ruralistas, não ficaram imunes a alguns importantes
questionamentos.
Ainda, segundo esse autor, o “ruralismo pedagógico” “[...] se deu
o apenas no Brasil, mas em várias partes do mundo. Intelectuais,
considerados nacionalistas trataram de difundi-lo.Assim, as ideias dos
ruralistas do ensino foram difundidas [...] tanto no Brasil, como no
exterior, uma vez que estas propostas estiveram presentes, transformando-
se em práticas, tanto na América Latina, como na América do Norte e
Europa.” (BEZERRA NETO, 2003, p. 17).
188
Ainda que Sud Mennucci defendesse um ensino que atendesse às
especificidades ou demandas nacionais, a ruralização do ensino, direta ou
indiretamente, estabelecia, em alguma medida, conexões com ideias
pedagógicas em circulação no Brasil e também advindas do exterior, ao
mesmo tempo em que difundiam seus escritos em outros países.
A seguir, são apresentados alguns apontamentos visando
demonstrar conexões entre Brasil, EUA e UNESCO. Além disso, são
apresentados apontamentos sobre outras formas de relações entre
intelectuais da área da educação e representantes do governo brasileiro,
visando demonstrar diversas formas de interlocução bidirecional, porém
não necessariamente em condições de igualdade, entre Brasil e EUA. Além
disso, são apresentados acordos, comissões, convênios e campanhas entre
esses dois países, bem como ações da UNESCO para a educação rural na
América Latina.
4.2 Presença dos EUA na educação rural brasileira
Desde a Primeira República, os EUA já mantinham relações com
o Brasil, porém destacam-se, neste tópico, alguns exemplos dessas relações
registrados entre as décadas de 1930 e 1950, período que corresponde à
delimitação temporal desta pesquisa. É importante destacar isso, pois,
conforme Mendonça (2006b, p. 146),
A historiografia especializada é enfática ao destacar a presença norte-
americana junto à agricultura e à educação no Brasil. Entretanto,
parece desconhecer que esta presença não era nova, datando da
Primeira República, quando atuaram inúmeras Missões Educativas
destinadas, especificamente, ao fomento da produção de alimentos.
189
Entre os exemplos dessa relação durante a Primeira República, bem
como em anos anteriores, menciona-se a presença de estadunidenses no
Brasil e de brasileiros que estudaram nos EUA ou que, por diversos
motivos, tiveram contato com ideias desenvolvidas nos EUA e propuseram
sua replicação no Brasil. O agrônomo estadunidense Benjamin Hunnicut,
por exemplo, ocupou, em 1898, cargo de direção da Escola Agrícola de
Lavras/MG. Carlos Botelho, “dico e agrônomo” formado nos EUA e
que foi Secretário de Agricultura de São Paulo no quadriênio 1904-1909,
enfatizou a importância da concepção da “moderna agricultura” para São
Paulo, aprendida naquele país. Assis Brasil, também considerado “profeta
do ruralismo”, após sua atuação como diplomata em Washington, entre
1898 e 1901, passou a defender a implementação no Brasil de princípios
da “agricultura científica” e da “moderna agricultura” aprendidos nos EUA
(MENDONÇA, 1997).
A defesa contundente por Assis Brasil (1917) da importância da
educação rural foi abordada na conferência pública intitulada “A vida do
campo e a reforma rural”, proferida em Belo Horizonte, em 8 de novembro
de 1915
104
:
A differença entre a minha acção e a de outros patriotas tão sinceros
como eu e mais meritorios está em que eu ataco a questão pela raiz. O
lemma da minha politica é - Educaçao e Riqueza. Povo ignorante e
pobre será sempre escravo, ou em perigo de ser escravizado. A cada
balanço que a onda dos acontecimentos imprime á nau que carrega os
destinos da Patria, vemos o perigo da imminencia da mão de ferro que
nos há de empolgar, para nos salvar... provavelmente para nos perder.
(BRASIL, 1917, p. 47, grifos nossos)
104
Essa Conferência foi realizada em 1915, porém, reeditada em 1917, por ordem do “Secretario
dos Negocios do Interior do Estado de São Paulo” para leitura nas escolas públicas desse Estado
(BRASIL, 1917).
190
Outro exemplo dessa relação, conforme aponta Mendonça (1997,
p. 32), foi a criação da Sociedade Brasileira para Animação da
Agricultura
105
, criada em Paris, em 1894, “[...] num contexto em que a
influência europeia era ainda marcante na determinação dos fluxos de
capitais, tecnologia e ideias destinados à América Latina.” No entanto,
“Em matéria de conhecimentos aplicados à agricultura, a mudança de
sinais a favor do modelo americano seria ligeiramente posterior,
correspondendo a outras agremiações da classe proprietária.”
Entre os sujeitos dos EUA que enviaram missivas a Sud Mennucci,
há alguns vinculados a organizações estratégicas, em termos geopolíticos,
para a hegemonia estadunidense no continente americano. Entre essas
organizações destacam-se a Pan American Union e o Institute of Inter-
American Affairs.
Vanett Lawler, Charles Seeger e Brenno Silveira eram vinculados à
Pan American Union. Essa organização foi criada, incialmente com outra
denominação, em 14 de abril de 1890, durante a Primeira Conferencia
Pan-Americana, em Washington. A Pan American Union foi responsável
pela efetivacão de um conjunto de ações definidas nessa Conferencia e de
outras ações visando divulgar o pan-americanismo (MINELLA, 2013).
Arnold Tschudy, Frank. H. Oram e Rone Amorim eram
vinculados ao Institute of Inter-American Affairs. Em relação a essa
organização, vale destacar, conforme aponta Mendonça (2006b), sua
vinculação com programas governamentais dos EUA, como, a “Política de
Boa Vizinhança”. Sobre essa questão, Mendonça (2006b, p. 100) afirma:
105
Mendonça (1997) informa que encontrou poucas informações sobre essa sociedade.
191
A ‘Política da Boa Vizinhanca’ do presidente Roosevelt, nos anos 1930,
estreitou os contatos com a América Latina através do Institute of
Inter-American Affairs (IIAA), criado em 1942 e responsável pelo
primeiro programa de ‘assistencia técnicadestinado a melhorar as
condicões de saúde, educacão e agricultura na Latino-américa (Leavitt,
1964: 221). Segundo alguns autores, o Servico de Cooperacão norte-
americano funcionaria como entidade de fundos e equipes mútuos,
porém dotada de organizacão semiministerial, mobilizada em funcão
de projetos específicos, sempre envolvendo os governos latino-
americanos em seu co-patrocínio. Seu status semigovernamental
conferiu-lhe razoável liberdade para suplantar as resistencias usuais às
inovacõescontidas na aplicacão desses projetos, sendo elas dirigidas
por técnicos norte-americanos.
Em conformidade com essa política, os EUA implementaram
diversas ações que, direta ou indiretamente, afetaram ou envolveram o
Brasil. Entre essas ações, destacam-se acordos, comissões, convênios,
campanhas, que são exemplificadas adiante. No entanto, constatam-se
críticas de ruralistas do ensino a alguns convênios que não eram cumpridos
adequadamente. Sud Mennucci, em carta enviada a José Américo da
Costa, datada de 6 de novembro de 1946, ressalta: “O próprio Convênio
de Educação Rural, feito entre os Estados Unidos da América do Norte e
o Brasil, e por êste transferido a São Paulo, no âmbito dêste Estado, não
vai além das Escolas Práticas de Agricultura.” (MENNUCCI..., 1955, p.
8).
Além do Institute of Inter-American Affairs, destaca-se que o
Ministério da Agricultura do Brasil e a Inter-American Education
Foundation Inc., dos EUA, firmaram convênio para a criação e a instalação
das missões rurais. Essas missões contavam com apoio financeiro do Brasil
e dos EUA, sendo que esse último país fornecia, também, “recursos
humanos” (LEITE, 1999, p. 32).
192
Na mesma direção pode ser citado o “Acôrdo entre a República
dos Estados Unidos do Brasil e The Institute of Inter-American Affairs,
Repartição Corporativa do Governo dos Estados Unidos da América, para
a realização de um Programa Cooperativo de Educação nas zonas rurais”
(BRASIL, 1952).
Destaca-se, ainda, a relação com a American International
Association for Economic and Social Development (AIA), que patrocinou
a criação, no Estado de Minas Gerais, em 1948, da Associação de Crédito
e Assistência Rural (ACAR) (LEITE, 1999). Segundo Leite (1999), essa
Associação posteriormente passou a ser denominada Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) de Minas Gerais, que
continuava em funcionamento até a data de conclusão desta pesquisa.
Mendonça (2006a) refere-se também a um tratado firmado entre
os EUA e o Ministério da Agricultura do Brasil, em 1942, que deu origem
à Comissão Brasileiro-Americana para a Producão de Generos
Alimentícios, que tinha entre seus objetivos a aceleração da formação de
trabalhadores rurais para a intensificação da produção de alimentos, fator
de fundamental importância para o “esforco de guerra. Vale ressaltar que
acordos entre o Ministério da Agricultura e os EUA passaram por
alterações a partir do envolvimento direto desse país na Segunda Guerra
Mundial (GOMIDE, 2012; LEITE, 1999; MENDONÇA, 2006a;
2006b).
Foi realizado, ainda, o programa de cooperação técnica
internacional, denominado “Ponto IV”, entre os EUA e os países latino-
americanos. Esse programa foi proposto pelo presidente dos EUA, Harry
Truman, em 1949. O “Ponto IVtinha entre os seus objetivos contribuir
para a constituição de um “cordão sanitário”, visando impedir o avanço do
comunismo na América Latina (MENDONÇA, 2006a).
193
Quanto ao “cordão sanitário”, segundo Barreiro (2010, p. 15),
“Acreditavam que, na luta ideológica, os povos famintos assimilariam
melhor a propaganda comunista, do que as nações prósperas.” Nesse
sentido, a educação escolar desempenharia papel central no combate à
contaminação ideológica das populações de áreas rurais.
No Brasil, o Ponto IV foi implementado por meio de dois
acordos com o governo dos EUA, quais sejam, o Acordo Básico de
Cooperação Técnica, de 1950, e o Acordo de Serviços Técnicos Especiais,
de 1953. Esse programa representou a consolidação do primeiro
compromisso entre Brasil e EUA para a assistencia técnica e abrangeu as
áreas da economia, administração pública, administração orçamentária e
financeira, bem como agricultura, recursos minerais, energia nuclear,
saúde, educação, transportes, dentre outras (CPDOC/FGV).
Para Mendonça (2006a), esse programa diferenciou-se por ter
colocado a educação como tática para evitar ou mitigar conflitos nas áreas
rurais e promover o crescimento econômico.
Na área de educação, o Ponto IV dedicou-se à formação de professores
que viessem por sua vez a formar profissionais para a indústria. Atuou
inicialmente junto à Comissão Brasileiro-Americana de Educação
Industrial, criada em 1946, a qual fornecia técnicos e equipamentos
para 23 escolas industriais. Essa comissão seria reorganizada em 1957
com o objetivo de permitir que a cooperação técnica se exercesse através
de uma instituição permanente. O Ponto IV criou ainda o Centro
Nacional de Treinamento de Professores para o Ensino Industrial em
Curitiba e promoveu a Campanha de Formação de Geólogos, trazendo
ao Brasil professores norte-americanos. Foram estabelecidos convênios
com alguns estados visando ao aperfeiçoamento de professores
primários. Além de promover a vinda de técnicos e professores norte-
194
americanos, o Ponto IV concedia a brasileiros bolsas de estudos nos
Estados Unidos. (CPDOC/FGV)
106
Ainda em decorrência de acordos firmados na década de 1950
entre os EUA e o Ministério da Agricultura, destacam-se iniciativas, tais
como, as de assistência aos trabalhadores de áreas rurais: Missões Rurais,
Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (1947), Campanha
Nacional de Alfabetizacão Rural (1952), fundacão do Escritório Técnico
de Agricultura Brasil-Estados Unidos (1954), Campanha Nacional de
Erradicação do Analfabetismo (1958), dentre outras.
Conforme apontado em estudo desenvolvido pela FGV (1979, p.
10),
A idéia que fundamenta a prática de ‘Missões Rurais’ é a de ação educativa
integral para soerguimento geral das condições de vida material e social de
pequenas comunidades rurais [...]. A 1ª Missão Rural de Educação, no
entanto, só começou a funcionar em 1950, no município fluminense de
Itaperuna [...].
Em relação à Campanha Nacional de Educação Rural (CNER)
107
,
criada em 1952, “[...] no segundo mandato de Getúlio Vargas, oficializada
em 1956 no governo de Juscelino Kubitschek e extinta em 1963, [...]
[pode-se dizer que ela] objetivou adequar o homem do campo ao plano de
desenvolvimento economico por meio da Educacão de Base.
(BARREIRO, 2010, p. 14). A proposta da Campanha Nacional de
Educação Rural tem relação com a perspectiva de desenvolvimento
comunitário estadunidense.
106
Sobre esse assunto, ver o verbete “Ponto IV”, publicado pelo CPDOC/FGV.
107
Campanha análoga também foi realizada na Espanha (HERNANDÉZ DÍAZ, 2000).
195
Paiva (1987, p. 197) aponta que a Campanha Nacional de
Educação Rural foi criada “[...] depois da realização da experiência de
Itaperuna [município no qual foi realizada a 1ª Missão Rural de Educação
no Brasil]. Sua criação é um dos pontos altos de todo o movimento em
favor do ensino rural, de grande importância [...] desde os anos [19]20.”
De acordo com Mendonça (2006b), a Campanha de Educação de
Adolescentes e Adultos (1947) e a Campanha Nacional de Erradicação do
Analfabetismo (1958) foram baseadas na perspectiva das Missões Rurais,
visando promover a alfabetização de adultos e o desenvolvimento
comunitário.
Sustentada com recursos derivados do Fundo Nacional de Educação
Primária, a [...] [Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos]
geraria intensa polêmica com relação a seu objetivo de educar adultos,
em detrimento da ampliação da rede de ensino elementar regular. A
defesa realizada pelos dirigentes da Campanha consistiu em afirmar
que a atuação sobre o adulto acabaria estimulando as matrículas nas
escolas primárias comuns, donde seu lema: ‘é por amor à criança que
devemos educar adolescentes e adultos’. (MENDONÇA, 2006b, p.
145)
Destaca-se, também, a Comissão Brasileiro-Americana de
Educação das Populações Rurais (CBAR). Essa Comissão, gerenciada pelo
Ministério da Agricultura do Brasil, funcionou entre 1946 e 1948 e foi
resultante de acordo firmado, em outubro de 1945, entre esse Ministério
e a Fundacão Interamericana de Educacão (MENDONÇA, 2006a).
196
Em 20 de outubro de 1945 firmou-se, no Rio de Janeiro, um acordo
entre o Ministério da Agricultura e a Fundação Interamericana de
Educação (Incorporação), sobre a Educação Rural, a vigorar de 19 de
janeiro de 1946 a 30 de junho de 1948, podendo ser prorrogado
mediante acordo escrito e ficando sujeito à troca de notas entre o
ministério das relações exteriores e a Embaixada dos Estados Unidos
da América. (FGV, 1979, p. 14)
Entre as atividades previstas ou realizadas pela CBAR estavam:
estudos relacionados à sociologia rural, realização de Semanas Ruralistas,
fundação de clubes agrícolas, criação de instituicões de ensino agrícola e
expansão de Centros de Treinamento de Operários Agrários. Os clubes
agrícolas baseiam-se, com alguma variação, no modelo dos Clubes 4-H
estadunidenses, conforme mencionado no capítulo III.
Além de acordos celebrados com o Ministério da Agricultura
brasileiro, destacam-se, também, acordos firmados com o Ministério da
Educação e Saúde Pública do Brasil, como, para concessão de bolsas de
estudo nos EUA, destinadas a especialistas desse Ministério.
Foram firmados, também, com os EUA, outros acordos,
convênios, tratados, campanhas, entre outras ações que envolveram, ora o
Ministério da Agricultura, ora o da Educação e Saúde Pública
108
, ora
ambos. Apresentam-se, neste livro, aqueles considerados mais relevantes
para fins de exemplificação.
Além desses acordos, convênios, tratados, campanhas, há que se
considerar, ainda, como fator de aproximação ou de estreitamento das
108
Mendonça (2006a) destaca que, entre 1930 e 1950, ocorreu disputa entre o Ministério da
Agricultura e o Ministério da Educação e Saúde Pública pelo controle do ensino agrícola. Na década
de 1940, por exemplo, o ministro Gustavo Capanema e outros sujeitos vinculados ao poder público
defendiam que todas as instituições de ensino existentes no país deveriam ser de aada do
Ministério da Educação e Saúde Pública.
197
relações entre Brasil e EUA na área da educação rural, as históricas e
declaradas preferência e admiração, instigadas, de alguma forma, pelos
EUA, entre intelectuais e governantes brasileiros, pelo modelo
estadunidense de educação escolar. Como exemplo dessa admiração, vale
citar J. Roberto Moreira
109
, que apresentava a escola rural estadunidense
como modelo para o Brasil, destacando que “[...] em 1934, a escola rural
americana era já uma escola típica, estritamente associada aos problemas e
questões locais.” (MOREIRA, 1949, p. 853-854), posicionamento
também defendido pelos demais ruralistas do ensino.
Com base em dois pedagogos estadunidenses, quais sejam, J.
Minor Gwynn e Robert King Hall, J. Roberto Moreira (1949, p. 853-854)
destacou também que
[...] pela própria compreensão do complexo fenômeno comunidade,
verifica-se que, em nossos dias, se deseja que a escola se empenhe na
mais extensa e exaustiva forma de serviço social que existe. E esta
intenção tem profunda razão econômica: a escola simplesmente
alfabetizante é relativamente cara em função dos serviços que presta.
De que valerá, no Oeste paranaense ou nos confins de Goiás, um
trabalhador rural que saiba ler, mais que não saiba tirar da terra o
máximo que esta lhe oferece econômicamente?
Assim, J. Roberto Moreira (1949) defendia que a escola rural
brasileira deveria estar vinculada com questões práticas e afins às atividades
109
João Roberto Moreira nasceu em Mafra/SC, em 27 de março de 1912, e faleceu em 21 de maio
de 1967, em San Juan de Puerto Rico/Porto Rico. Formou-se em Filosofia, em 1951, e em
Pedagogia, em 1954. Trabalhou como professor e ocupou diversos cargos na administração pública.
Entre suas publicações, destacam-se: A educação em Santa Catarina: sinopse apreciativa sobre a
administração, as origens e a difusão de um sistema estadual de educação (1954) e Introdução ao estudo
do currículo da escola primária (1955) (PAIXÃO, 2002).
198
econômicas do meio no qual estavam instaladas. Segundo esse autor, esse
novo sentido era o da “[...] educação nos Estados Unidos, e tende a sê-lo
no mundo inteiro” (MOREIRA, 1949, p. 853).
Os EUA, conforme demonstrado, são apresentados como
referência para o Brasil, tanto em relação ao sentido da escola primária
rural, quanto em relação à formação de professores para essas escolas.
O professor típico norte-americano, que exerce suas funções em escolas
de uma ou duas classes, é sempre uma mulher jovem, solteira, de mais
ou menos 24 anos, cuja origem social é uma fazenda ou vila.
Geralmente sua educação consiste em quatro anos de curso secundário
e de um ou dois anos de preparação profissional, mais ou menos,
orientada para as atividades rurais e escolares.
Se, com êsse tipo de professor, os americanos conseguiram realizar uma
escola rural que tem preenchido suas funções primordiais, não apenas
em face da criança, mas também da comunidade, não há nenhuma
razão para exigir mais na formação do professor rural brasileiro.
(MOREIRA, 1949, p. 855-856)
Dessa forma, inspirado nos EUA, J. Roberto Moreira (1949)
defendia uma formação de professores reduzida, tanto em termos de
programa de ensino quanto em termos de duração, para as escolas
primárias rurais. Reitera-se que essa proposta divergia da apresentada por
Sud Mennucci, que defendia formação ampla de professores, realizada em
Escola Normal Rural, com duração de sete anos.
Ainda, sobre o modelo estadunidense, J. Roberto Moreira (1949,
p. 853, grifos nossos) ressalta:
199
Entretanto, a concepção de educação nova que tivemos no Brasil,
anteriormente à última guerra, foi mais teórica que realmente prática e
efetiva. Também na França e nos países europeus, em geral, a educação
nova, embora se realizando, não o foi no sentido do serviço social, de
reconquista e readaptação progressiva da sociedade comunal a padrões
mais elevados de vida coletiva. A escola se atinha em atender à criança
no seu desenvolvimento, tendo em vista suas necessidades biológicas e
psicológicas.
Se nos dias atuais, nos Estados Unidos a escola se volta para a
comunidade e procura ser uma instituição essencialmente comunal,
intimamente associada a todas as atividades locais, este é um fenômeno
americano.
Essa discussão remete a duas questões recorrentes entre as décadas
de 1930 e 1950 no Brasil, quais sejam, a relação entre teoria e prática e a
defesa de uma escola ruralizada. Esses pontos eram centrais para os
ruralistas do ensino, que defendiam um ensino primário rural menos
livresco, mais prático e adequado ao meio em que a escola estava inserida
(SOUZA; ÁVILA, 2014).
Constata-se que o debate sobre uma escola ruralizada não era
exclusividade do Brasil, pois ocorria também nos EUA, como se pode
verificar, a partir dos argumentos de Moreira (1948, p. 23):
Não me quero opor à tese do Professor ALMEIDA JÚNIOR, que para
isso me falta autoridade, em prol do programa mínimo para tôdas as
escolas elementares ou primárias, mas é preciso pôr em relêvo certas
considerações amáveis que o ruralista norte-americano T. LYNN
SMITH teceu relativamente a essa tese: ‘A educação elementar na
cidade e no campo seria constituída dos mesmos elementos, mas tais
elementos seriam selecionados de modo a retratar os valores reais da
civilização em ambos os seus aspectos, rural e urbano - e não
200
selecionados de forma tal que faça uma grande parte dos estudantes
desejar a suposta vida melhor das cidades.’ Eu penso que a proposição
adversativa do período acima é, pedagogicamente, mais importante
que a principal. Da exata compreensão dos princípios que ela encerra
e da sua perfeita aplicação depende o dinamismo educacional.
No entanto, esse debate não se restringia à área educacional, mas
estava ligado a questões mais amplas, como, o combate ao êxodo rural e,
por conseguinte, a fixação do homem rural no campo. Conforme
apontado no capítulo I, a escola ruralizada era considerada fundamental
para a consecução desses objetivos (MORAES, 2014).
A relação entre a escola e questões sociais mais amplas do país fica
evidente no caso brasileiro. Porém, essa preocupação não era uma
exclusividade brasileira, como se pode verificar em apontamentos de
Moreira (1949, p. 857-858):
Atendendo, ainda, a esta necessidade imperiosa de orientar num
sentido regional e comunal os currículos escolares do ensino primário,
foi convidado a vir ao Rio de Janeiro, em 1949, o Professor ROBERT
KING HALL, da ‘Columbia University’, onde no ‘Teachers College’
é responsável pela Secção de Educação Comparada. Conhecedor, por
contato pessoal, de quase todos os sistemas educacionais do mundo,
especialmente dos em vigor nas Américas, aquêle mestre norte-
americano pôde orientar os professôres estaduais que freqüentavam os
cursos mantidos pelo Ministério da Educação, a respeito da
regionalização da escola, de sua ambientação comunal e do seu papel
instrumento de reforma social, num sentido democraticamente
progressista.
201
Além disso, a circulação de referenciais estadunidenses na área da
educação rural teve apoio oficial do governo federal brasileiro. Evidencia
isso o fato de que o professor Robert King Lynn Hall, conforme
mencionado no capítulo III, circulou, com apoio do INEP, por diferentes
Unidades da Federação para proferir palestras e ministrar cursos para
professores brasileiros (MOREIRA, 1949; SOUSA, 1950).
A presença do professor Robert King Lynn Hall no Brasil é
mencionada em diversos artigos da Revista do Professor e da Revista
Brasileira dos Municípios. Entretanto, além de King Hall, outros sujeitos
são mencionados em artigos analisados, como, o ruralista estadunidense T.
Lynn Smith (MOREIRA, 1948) e o Sr. José Artur Rios, professor de
Sociologia na Universidade de Louisiana (I SEMANA..., 1952).
Os dados apresentados elucidam conexões entre o Brasil e os EUA,
especialmente no que se refere à educação, mais especificamente a
educação escolar para as populações de áreas rurais. Essa questão remete
aos apontamentos de Gruzinski (2001, p. 176), ao tratar da história
conectada: “Diante de realidades que convém estudar a partir de múltiplas
escalas, o historiador tem de [...] restabelecer as conexões internacionais e
intercontinentais que as historiografias nacionais desligaram ou
esconderam, bloqueando as suas respectivas fronteiras.”
4.3 Presença da UNESCO na educação rural brasileira
Apresentam-se, neste tópico, breves notas sobre algumas iniciativas
da UNESCO que envolveram, direta ou indiretamente, o governo e
intelectuais brasileiros, em especial no que se refere à educação escolar para
populações de áreas rurais.
202
Em meados do século XX, a educação rural tornou-se questão
relevante no debate educacional em diversos países do Ocidente,
destacando-se a atuação de organismos internacionais, como a UNESCO
que, além de se constituir em celeiro de elaboração e difusão de ideias sobre
o tema, foi responsável pela formulação de políticas de abrangência
internacional. Segundo Gomide (2012), a educação rural para a América
Latina já figurava entre as preocupações da UNESCO desde os primeiros
documentos publicados por essa organização, e o Brasil, pelas suas
especificidades, figurava entre os países considerados prioritários para os
programas da UNESCO.
Lourenço Filho, em 1953, recebeu convite da UNESCO para
elaboração de estudo intitulado “Preparação de pessoal docente para
escolas primárias rurais”. Esse estudo foi publicado
110
por essa organização
em frances e em ingles, na obra intitulada La formation profissionnelle du
personnel enseignant primaire.
Nesse estudo, dentre outros assuntos, Lourenço Filho (2001)
111
apresenta descricão detalhada das experiencias de formacão de professores
realizadas pela Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte/CE, cujo
funcionamento teve início em 1934, e pelos servicos de treinamento,
formacão e aperfeicoamento realizados na Fazenda do Rosário, localizada
no município de Betim/MG e que passou a funcionar em 1948.
Após descrição dessas duas experiências, Lourenço Filho (2001)
apresenta, nas conclusões do estudo, nove pontos sobre o problema da
formacão do professor rural no Brasil, apresentando, em alguns deles,
relação direta com o sentido que a UNESCO vinha dando a esse assunto.
Para fins de exemplificação, destaca-se o ponto 7:
110
Foi publicado, também, em 1953, na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.
111
Utiliza-se versão do estudo de Lourenço Filho que foi publicada em 2001, em coleção organizada
por Ruy Lourenco Filho.
203
Quer a experiencia de Juazeiro do Norte, que vem de 1934, quer a do
centro da Fazenda do Rorio, mais recente, tem exercido sensível
influencia no estudo dos problemas da educacão rural do País. Alguns
Estados vizinhos ao Ceará tem enviado mestres para estágio na Escola
Normal Rural de Juazeiro; bolsistas de muitos Estados tem sido
enviados também para cursos de treinamento na Fazenda do Rosário.
Aquela tem sido sede de reuniões de estudo da vida rural; nesta, ainda
pouco se reuniu o I Seminário de Estudos Rurais, do qual
participaram representantes de 16 Estados brasileiros. Entre as
conclusões desse Seminário figura a sugestão para criacão de um
Instituto de Educacão Rural, destinado a pesquisas sobre o assunto e à
formacão dos professores de Escolas Normais Regionais. Essa mesma idéia,
aliás, já antes fora agitada por uma comissão organizada pelo Instituto
Brasileiro de Educacão, Ciencia e Cultura, que é, no Brasil, a comissão
nacional da Unesco. (LOURENÇO FILHO, 2001, p. 99-100, grifos
nossos)
Gomide (2012) ressalta que o estudo de Lourenço Filho sobre as
experiencias de formacão de professores brasileiros subsidiou o
pensamento da UNESCO, o que, da perspectiva desta pesquisa,
demonstra a circulação de produções de intelectuais brasileiros sobre
educação rural. Além disso, Lourenço Filho (2001) relata experiências de
formação de professores para áreas rurais que foram implementadas com
base nas ideias dos ruralistas do ensino. Assim, ainda que Lourenço Filho
não seja considerado, a partir dos critérios desta pesquisa, um ruralista do
ensino, pode-se dizer que ele colocou, de forma indireta, aspectos das ideias
do Movimento pela ruralização do ensino para circular em âmbito
internacional.
De fato, como assinalado anteriormente, nos anos 30 do século
XX, evidenciou-se no Estado de São Paulo uma disputa entre partidários
da Escola Nova, defensores da escola primária comum, como, Almeida
204
Junior, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo, e afetos à ruralização do
ensino, como Sud Mennucci (SOUZA; ÁVILA, 2014). Não obstante, é
reconhecida a atuação de Lourenço Filho na educação rural, tendo ele
liderado a implantação da Campanha Nacional de Educação Rural no
Brasil, a partir de 1952, além de ter participado de vários congressos
internacionais representando o governo brasileiro e elaborado estudos
comparados sobre o tema nas décadas de 1950 e 1960
112
. Maiores esforços
investigativos são necessários para se compreender em profundidade a
concepção de educação rural desse educador e sua atuação na área, além de
suas aproximações e distanciamentos em relação ao Movimento pela
ruralização do ensino. Porém, nos limites deste livro, buscou-se indicar a
amplitude da discussão sobre educação rural e sua circulação, apropriação
e possíveis deslocamentos.
Como chamam a atenção Marta Carvalho e Joaquim Pintassilgo
(2011, p. 11), “[...] a circulação de modelos culturais não significa a mera
transposição deles para uma dada realidade”. Os múltiplos discursos sobre
a educação primária rural e a formação de professores rurais, aqui e acolá,
foram assumindo diferentes sentidos. A propósito dessa questão, ressaltam
esses autores:
112
De acordo com o estudo de Souza (2013), Lourenço Filho visitou o México em 1947, quando
participou da III Conferência Geral da UNESCO. Posteriormente, em 1951, este educador realizou
uma viagem de estudos ao México, a pedido do Ministro da Educação e Saúde, Simões Filho,
dedicando-se ao exame da educação rural em desenvolvimento naquele país. Sobre essa viagem de
estudos, Lourenço Filho elaborou um minucioso relatório intitulado “A Educação Rural no
México”, publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, em 1952. Ainda sobre as incursões
de Lourenço Filho no âmbito da educação rural, menciona-se o documento elaborado por esse
educador intitulado “Educação Rural: documento preparado para a IV Reunião do Conselho
Interamericano Cultural Organização dos Estados Americanos”.
205
As teorias pedagógicas em voga ou as experiências escolares de
referência são sempre apropriadas, com alguma criatividade, pelos
educadores que circulam, física e simbolicamente, pelo mundo
pedagógico que vai entretecendo uma rede de relações constitutivas do
suporte humano para a circulação internacional de um pensamento
pedagógico cada vez mais globalizado. O que circula, na verdade, não
são o pensamento ou as experiências originais, mas uma espécie de
‘vulgata’, ela mesma sincrética, contaminada por referências
‘indígenas’. A questão não é, pois, a de procurar raízes ou influências
diretas, mas, particularmente, a de especificar a forma original como as
ideias são apropriadas na tentativa de resposta a condições particulares
do contexto, resultando numa espécie de ‘mestiçagem’ ou ‘hibridismo’
pedagógico. (CARVALHO; PINTASSILGO, 2011, p. 11)
Entre os dias 5 de agosto e 8 de setembro de 1948, ocorreu o
Seminário de Educacão para a América Latina, patrocinado pela
UNESCO e pela Pan American Union. Participaram do seminário 52
professores de 18 países do continente americano e nessa ocasião foram
discutidos problemas relativos à educação escolar que afetavam os países
participantes.
Segundo Gomide (2012), nesse Seminário, a UNESCO e a Pan
American Union propuseram prestar, aos países participantes, assessoria
sobre os seguintes temas: Campanha de Alfabetização e Educação de
Adultos, Educação Rural, Educação Vocacional, Formação de professores
e Educação para a paz.
Desse Seminário resultou um documento, no qual a UNESCO
recomendou aos países latino-americanos que fosse priorizada uma
concepção de formação de professores que atendesse às demandas
relacionadas à alfabetização e à cultura popular, haja vista que a educação
“vocacional” era de suma importância para o enfrentamento dos
206
problemas de desenvolvimento econômico e social da América Latina
(GOMIDE, 2012).
Outra recomendação da UNESCO foi em relação ao papel central
da escola primária para combate ao analfabetismo. Além disso,
apontamentos sobre a intenção da UNESCO de, juntamente com a Pan
American Union, adquirir materiais, proporcionar cursos e fomentar a
publicação de livros sobre a temática da cultura popular.
Entre os dias 23 de abril e 8 de maio de 1956, realizaram-se em
Lima/Peru a Conferencia Regional sobre Educacão Primária Gratuita e
Obrigatória na América Latina e a Segunda Reunião Interamericana de
Ministros de Educacão.
Nessa Conferência foi discutido o documento intitulado “Projeto
Maior n. 1”, da UNESCO, que tratou da melhoria e da generalização do
ensino primário na América Latina, definindo um conjunto de objetivos a
serem atingidos no período de 1957 a 1967. Esses objetivos são:
a) generalizacão e melhoria do ensino primário, especialmente nas áreas
rurais;
b) reforcamento qualitativo e quantitativo do pessoal docente de graus
primário, em particular os mestres rurais, mediante formacão regular
de novos mestres e aperfeicoamento dos professôres em exercício;
c) formacão de professôres das escolas normais;
d) aperfeicoamento em nível universitário de especialistas em educacão
(administradores, inspetores, especialistas em programa, conselheiros
diretores de escolas, professôres de pedagogia etc);
e) outorga de um certo número de bôlsas de aperfeicoamento em altos
estudos de educacão. (PROJETO MAIOR, 1959, p. 31)
207
Para isso ficou estabelecido que os países latino-americanos
receberiam assistência técnica de especialistas da UNESCO. O Brasil
participou desse Projeto e recebeu, dentre outros, 20 bolsas de estudos
concedidas pela UNESCO para preparação de professores, diretores e
inspetores de escolas normais de diferentes estados brasileiros (GOMIDE,
2012).
Assim, por intermédio do Projeto Maior n. 1, a UNESCO passou
a efetivar “[...] as primeiras orientacões exógenas para a educacão no
Brasil.. Em decorrência desse projeto, ficou decidido que [...] o cidadão
brasileiro deveria receber a formacão escolar em nível primário e os
professores deveriam realizar a sua formacão inicial nas escolas normais,
em cooperacao com a Escola Normal Rural Interamericana de Rubio, na
Venezuela.” (GOMIDE, 2012, p. 79).
Em junho de 1953, realizou-se em Genebra/Suíça, a XVI
Conferencia Internacional de Instrucão Pública. Nessa conferencia, a
UNESCO e os países membros trataram da formação de professores
primários, resultando na Recomendação n. 36
113
da UNESCO, publicada
em 1954.
A Recomendação n. 36 abordava a obrigatoriedade da escola
primária; a atuação, a formação e as condições de trabalho dos professores;
a criação de órgão para administrar a formação de professores, dentre
outros aspectos. Para levar a termo essa Recomendação, a UNESCO
apontou a possibilidade e a sua disponibilidade de contribuir em termos
morais, materiais e financeiros com os países que apresentassem maiores
dificuldades.
113
A Recomendacão n. 36 foi publicada em 1954, com o apoio do INEP, na Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos.
208
Para a UNESCO, a formação de professores primários deveria
[...] compreender não somente estudos psicológicos e pedagógicos e a
prática de ensino, mas também cursos especiais relacionado, por
exemplo, ao estudo dos fatos sociais, da economia doméstica, da
higiene, da educacão física, do canto, do desenho, dos trabalhos
manuais, da agricultura, etc. (UNESCO, 1954, p. 80 apud GOMIDE,
2012, p. 88)
Ressalta-se, no entanto, que, já em 1946, a UNESCO
recomendava a obrigatoriedade da inclusão da temática da higiene em
escolas primárias, secundárias e Escolas Normais. Conforme a
Recomendação n. 20 da UNESCO,
Além da higiene das grandes funcões corporais, da alimentacão e dos
desportos, serão ensinados aos alunos maiores, de ambos os sexos a
puericultura, os socorros de urgencia e a higiene do trabalho
profissional. Deverá ser reservado um lugar à higiene mental e à higiene
da recreacao e do descanso. (UNESCO, 1946, p. 286 apud GOMIDE,
2012, p. 89, grifos nossos)
Além dos mencionados, há outros documentos da UNESCO
relativos à educação rural. No entanto, foram priorizados esses
documentos, por abordarem, de forma mais direta, no período delimitado
para esta pesquisa, temáticas tratadas pelos ruralistas do ensino,
principalmente no que diz respeito à formação de professores para áreas
rurais, questão de suma importância para esse Movimento.
209
Gomide (2012) ressalta que, entre 1945 e 1959, subjacentes aos
documentos da UNESCO, estavam previstas medidas visando a formação
de um consenso, ou seja, “formas unitárias de pensamento para
construção de sujeitos pacíficos e tolerantes, em torno do
desenvolvimento capitalista, em conformidade com a geopolítica ocidental
do momento posterior à Segunda Guerra Mundial.
***
Com base em análise das fontes e de bibliografia sobre a temática,
constata-se uma espécie de triangulação entre Brasil, EUA e UNESCO,
necessária para a dominância dos EUA na América Latina. Por um lado,
Fernandes (2015) aponta a consonância entre perspectivas ideológicas dos
EUA e da UNESCO para a América Latina. Por outro lado, há que se
considerar também a estreita relação entre Brasil e EUA. No entendimento
de Gomide (2012, p. 233),
A participacão dos intelectuais Anísio Teixeira, Lourenco Filho e João
Roberto Moreira; as concepcões, discursos e trabalhos apresentados
por eles, nas Conferências Internacionais de Educação e a redação da
Carta Brasileira de Educação Democrática(1945), são evidências da
estreita sintonia entre as concepcões brasileiras e as da UNESCO [...]
[entre 1945 e 1959].
Nesse sentido, constata-se também estreita relação entre Brasil e
UNESCO, em especial no que se refere à educação para as populações
rurais. Segundo Gomide (2012, p. 233), “É evidente a interferencia da
UNESCO nas politicas educativas implantadas no Brasil nesse percurso
historico.. Por outro lado, Gomide (2012, p. 233) também “[...]
confirmou a interferencia do Brasil no plano teleológico [...] da
210
UNESCO. Pode-se inferir, no entanto, que se trata de uma “interferência”
subordinada, haja vista o tipo de relação mantido entre Brasil e EUA.
Essa relação resultou na adesão e na participação do Brasil em
diferentes iniciativas da UNESCO. Talvez isso seja decorrente do estreito
e histórico alinhamento, existente há décadas, entre Brasil e EUA, em
especial no que se refere às propostas para educação das populações de áreas
rurais.
Constata-se que, após quatro décadas de adesão e de execução de
convênios e acordos, na década de 1950, o Brasil já estava devidamente
alinhado com as perspectivas ideológicas, políticas e econômicas dos EUA,
estando, portanto, em condições de se tornar uma espécie de promotor da
circulação das diretrizes da UNESCO que, por sua vez, estavam em
consonância com as políticas dos EUA para a América Latina.
Em termos geopolíticos, pode-se inferir que essa relação era
conveniente e necessária para os EUA, pois, diante de eventuais resistências
ao imperialismo estadunidense, que repercutia inclusive nos organismos
internacionais, como, a ONU e a UNESCO, era conveniente, colocar o
Brasil, um país do terceiro mundo, como difusor do discurso da UNESCO
sobre a educação rural para a América Latina, pois essa estratégia poderia
ser uma forma de se ampliar as possibilidades de aceitação ou, ao menos,
de se reduzir eventuais resistências a programas da UNESCO.
As propostas dos ruralistas do ensino estavam em consonância com
as ideias da UNESCO, sobretudo no que diz respeito à formação de
professores para as áreas rurais. Há que se considerar, ainda, que as
propostas dos ruralistas do ensino apresentavam muitos pontos
convergentes com os projetos dos EUA para a América Latina. O fato, por
exemplo, de a Reforma de 1932, proposta por Sud Mennucci, priorizar a
formação de professores para áreas rurais, deve-se ao entendimento de que
211
esse aspecto seria fundamental para o êxito das ideias dos ruralistas do
ensino, pois a adesão e a participação ativa dos professores, como se pode
constatar das fontes analisadas, eram de fundamental importância para esse
objetivo. Outro indicativo da ênfase dos ruralistas do ensino na formação
de professores é o fato de que, durante 15 anos, Sud Mennucci esteve
vinculado ao CPP, entidade da qual participou, com alguns momentos de
afastamento, desde a criação dessa entidade até sua morte.
Conforme demonstrado, as ideias dos ruralistas do ensino
circularam em âmbito internacional, exemplo disso é o fato de alguns
livros
114
de Sud Mennucci terem sido enviados para outros países. Além
do envio de livros, a correspondência que Sud Mennucci recebia,
principalmente dos EUA, também exemplifica essa circulação. Isso é um
indicativo de que Sud Mennucci tanto tinha contato, de diversas formas,
com ideias educacionais dos EUA, quanto, de várias maneiras, tinha suas
ideias difundidas naquele país, ainda que, nesta pesquisa, não se possa
mensurar a abrangência dessa difusão.
Há que se considerar, ainda, que os ruralistas do ensino recebiam
também ideias de referenciais estrangeiros por meio de iniciativas, tais
como: convênios e acordos entre Brasil e EUA; adesão a programas da
UNESCO; visitas de professores estadunidenses para ministrar formações;
cursos; materiais e implementos agrícolas; treinamentos; clubes agrícolas;
envio de professores para estudar nos EUA; visitas de caravanas de
professores outros países para o Brasil; e viagens de professores brasileiros
para observação de experiências realizadas nos EUA.
Portanto, constata-se que, por um lado, houve ressonância de
referenciais estrangeiros nas ideias defendidas pelo Movimento pela
114
Não foram recuperadas informações sobre se os livros de Sud Mennucci foram traduzidos para
outras línguas, o que, caso positivo, poderia potencializar as chances de circulação de suas ideias.
212
ruralização do ensino. Por outro lado, as ideias dos ruralistas do ensino
também tiveram circulação em âmbito internacional, pois, como
demonstrado, foram difundidas, por diversos sujeitos e de variadas formas,
em diferentes países, em especial pelos EUA e pela UNESCO.
Constata-se, ainda, que a rede de sociabilidade de Sud Mennucci
com sujeitos nacionais e internacionais, em especial com os EUA e com a
UNESCO, deve-se ao fato de que, em grande medida, as ideias dos
ruralistas do ensino estavam em consonância, parcial ou total, com
preocupações de significativas frações de grupos dominantes do setor
agrícola e do setor urbano, de autoridades do governo federal brasileiro,
dos EUA e da UNESCO, em especial no que se refere: a combater o
comunismo por intermédio da consolidação de um “cordão sanitário”; a
evitar tensões sociais; a aumentar e modernizar a produção de alimentos; a
promover a conformação social e a contribuir para o fortalecimento do
modelo econômico capitalista; a formar sujeitos “pacíficos e tolerantes”,
que “amassem o campo” e que desempenhassem, ordeiramente, seu papel,
conforme a organização de sociedade concebida pelos ruralistas.
213
Considerações Finais
A elaboração desta pesquisa teve como ponto de partida os
seguintes questionamentos sobre as ideias defendidas pelo Movimento pela
ruralização do ensino: que ideias eram essas? Quem eram os seus adeptos?
Em que período trataram-se de ideias lentas? Em que período se trataram
de ideias com raízes criadas? Quais Governos aderiram ou apoiaram essas
ideias? Quais ações foram propostas ou implementadas por esses adeptos?
Como de que forma, por quais meios essas ideias circularam?
Considera-se que esses questionamentos, em alguma medida, foram
respondidos ao longo deste livro.
Constata-se que Sud Mennucci configura-se como o principal
intelectual, tanto no processo de elaboração de textos que embasaram
ideias e práticas de ruralistas do ensino em diferentes regiões do país,
quanto no processo de circulação das ideias do Moviemnto pela ruralização
do ensino.
Mennucci recebeu quantidade significativa de cartas e telegramas
de diferentes regiões do Brasil e também de outros países. Essa
correspondência apresenta indícios de que ele enviou respostas a vários de
seus remetentes. Além disso, ele enviava sua produção bibliográfica a
diversos sujeitos ou organizações de diferentes regiões do país e do exterior,
seja em decorrência de pedidos recebidos, seja por iniciativa própria.
Os sujeitos envolvidos na rede de sociabilidade de Sud Mennucci
tinham variados perfis, especialmente no que se refere à atuação
214
profissional, como, integrantes do Judiciário, Executivo e Legislativo, das
três esferas de governo federal, estadual e municipal , sujeitos vinculados
à área privada, bem como sujeitos de outros países, vinculados a setores
públicos ou privados.
Não raramente, Sud Mennucci era tratado com deferência por
diversos de seus interlocutores; entre essas formas de tratamento estavam,
por exemplo, “batuta”, “chefão” e “primeiro do Brasil”. Mesmo quando
não estava ocupando cargos públicos, é possível constatar a
representatividade que ele disfrutava entre sujeitos dessa rede de
sociabilidade. Assim, considera-se que Sud Mennucci teve papel-chave,
principalmente em âmbito nacional, na concepção de ideias, produção de
materiais e na circulação das ideias do Moviemnto pela ruralização do
ensino.
No que se refere aos sujeitos integrantes da rede de sociabilidade
de Sud Mennucci, foram identificados diversos nomes representativos,
especialmente na área da educação. Entre eles, destacam-se: Thales de
Andrade, Renato Sêneca Fleury, Noêmia Saraiva, Amália Xavier e J.
Moreira de Sousa.
Esses sujeitos formavam, especialmente entre si, uma rede de
sociabilidade, que não se restringia aos defensores da ruralização do ensino.
As fontes indicam também que suas relações não ficavam restritas ao plano
da esfera pública ou profissional, mas, comumente, envolviam relações
familiais e pessoais, implicando inclusive pedidos de favores diversos,
como, vagas no serviço público, remoções, verbas, proteção, espaços para
publicação, textos de autoria de Mennucci para publicação, entre outros.
Esses sujeitos também mantinham interlocuções com sujeitos de
outras redes de sociabilidade ou mesmo de grupos políticos com
perspectivas, em alguns aspectos, divergentes do Movimento pela
215
ruralização do ensino. Essas relações eram, em termos, fundamentais para
o êxito dos ruralistas do ensino na inserção bem sucedida em determinadas
áreas públicas, mesmo quando não estavam ocupando cargos-chave no
serviço público.
Constata-se que, ainda que os ruralistas do ensino apresentassem
propostas direcionadas ao ensino primário rural, a ênfase de suas iniciativas
era a formação de professores ruralizados, nas tão defendidas Escolas
Normais Rurais, isso porque os professores ruralizados colocariam em
prática e contribuiriam para a difusão das ideias sobre a ruralização do
ensino. Ainda que as Escolas Normais Rurais, se comparadas às demais
Escolas Normais, tenham sido instaladas em quantidade significati-
vamente inferior, os ruralistas do ensino tiveram êxito na implementação
de suas propostas, mesmo que não conforme o planejado. Isto é, os
ruralistas do ensino tinham uma proposta para formação de professores
ruralizados e, dentro das possiblidades, implementaram essa proposta.
Ressalta-se, no entanto, que os ruralistas do ensino não formavam um
bloco unívoco, pois existiam divergências e disputas internas a esse
Movimento. Porém, existia uma disputa mais acirrada entre a concepção
de formação de professores defendida por Sud Mennucci, principal
intelectual do Movimento pela ruralização do ensino, e pelos
escolanovistas, disputas essas decorrentes das divergências entre as
concepções de educação de ambos.
Outro aspecto a ser destacado é que os ruralistas do ensino eram
vinculados a frações de grupos dominantes do setor rural. Considerando-
se apontamentos de autores que discutem a Educação do Campo, como,
Caldart (2012) e Molina (2006), ressalta-se que a educação ruralizada
configurava-se uma educação para o campo e visava à disciplinarização e à
formação de força de trabalho saudável para produção, principalmente de
alimentos. Para os ruralistas do ensino, bem como para outros grupos
216
dominantes, as populações das áreas rurais eram consideradas
improdutivas, atrasadas, indolentes e, principalmente, incapazes de decidir
sobre os rumos da própria vida. Exemplifica isso o fato de que a educação
ruralizada era concebida visando atender interesses de grupos dominantes.
Partindo de apontamentos de Paulo Freire (1978; 1996), a concepção de
educação dos ruralistas do ensino tinha por objetivo a domesticação das
populações rurais, que, especialmente naquele momento, eram vistas pelo
Estado e por grupos dominantes como potenciais alvos e adeptos da
agitação comunista.
Considera-se confirmada a hipótese da pesquisa que resultou neste
livro. Foram encontrados, nas fontes selecionadas, abundantes vestígios de
que as ideias do Movimento pela ruralização do ensino circularam, no
Brasil, entre as décadas de 1930 e 1950, por intermédio de diversas ações,
tais como, eventos, impressos, instituições educativas, Sociedades e
Institutos, bem como envolveram uma rede de sociabilidade, composta por
sujeitos, vinculados ou não ao ruralismo brasileiro, que defendia um
projeto de Brasil eminentemente agrícola. Destaca-se que a circulação das
ideias dos ruralistas do ensino não ocorreu de forma homogênea nas
diferentes regiões do Brasil.
Constata-se, ainda, que as ideias do Movimento pela ruralização
do ensino foram apropriadas em diferentes regiões do Brasil, de variadas
formas e conforme as especificidades de cada região, como, no caso da
implementação das Escolas Normais Rurais. Sud Mennucci defendia que
essas Escolas propiciassem uma formação que tivesse duração de sete anos,
no entanto, isso não foi consenso em diferentes regiões do Brasil, pois
foram implementadas Escolas Normais Rurais cujos cursos tinham
duração de três ou de quatro anos.
217
Já no que se refere à circulação internacional, constata-se que as
ideias do Movimento pela ruralização do ensino circularam por intermédio
do envio de livros de Sud Mennucci e da Revista do Professor a diferentes
países da América e da Europa, bem como pela publicação de estudo de
Lourenço Filho (2001), a pedido da UNESCO, no qual são relatadas
experiências de formação de professores para áreas rurais no Brasil e que
foram concebidas com base nas ideias dos ruralistas do ensino. Além disso,
vieram para o Brasil, inclusive em decorrência de convênios ou acordos
firmados pelo governo brasileiro, representantes de organizações de outros
países, especialmente dos EUA, e também foram enviados sujeitos,
especialmente professores, para o exterior, com a finalidade de, por
exemplo, participar de cursos de aperfeiçoamento.
Além da confirmação da hipótese, como parte dos resultados da
pesquisa, destacam-se quatro pontos considerados relevantes para
compreensão e problematização do Movimento pela ruralização do ensino.
São questões que instigam e demandam pesquisas para aprofundamento.
O primeiro ponto destacado é que, como apontado, por um lado,
as ideias dos ruralistas do ensino circularam para além do âmbito nacional.
Por outro lado, os ruralistas do ensino receberam e se apropriaram de
referenciais educacionais estrangeiros. Isso remete aos apontamentos de
Gruzinsk (2003) sobre as dimensões políticas e culturais, local e global,
conexões entre sujeitos e momentos históricos, que podem auxiliar a evitar
reducionismos e etnocentrismos.
As ideias defendidas pelos ruralistas do ensino apresentam relações
com diversos referenciais educacionais, com vistas à constituição de uma
proposição de educação escolar necessária e adequada às especificidades do
ruralismo brasileiro, que defendia um projeto de Brasil eminentemente
218
agrícola. Assim, de certa maneira, os ruralistas do ensino representavam,
na área da educação, as ideias desse grupo.
Alguns aspectos das ideias dos ruralistas do ensino estavam em
consonância com interesses diversos, como: a) de diferentes frações de
grupos dominantes tanto do setor agrícola quanto do setor industrial, no
poder ou não; b) do governo federal brasileiro; e c) das proposições,
discursos, orientacões e recomendacões dos EUA e da UNESCO para a
América Latina.
O segundo ponto diz respeito às relações entre Brasil e EUA,
especialmente no que se refere a questões agrícolas. No entendimento de
Mendonça (2006b), a historiografia especializada destaca a presença
estadunidense na área da agricultura e da educação somente após a
Primeira República, porém, não ressalta que já se registravam, no Brasil,
atividades nessas áreas, envolvendo esses dois países antes desse período.
Partindo dos argumentos de Mendonça (2006b), ressalta-se, ainda,
algum nível de envolvimento, desde a Primeira República, dos EUA com
questões relacionadas à educação das populações de áreas rurais no Brasil.
Ou seja, as relações entre Brasil e EUA, no que se refere à educação rural,
antecede a década de 1930, ainda que nesse momento tenha sido
constatada significativa ampliação da participação dos EUA em questões
relacionadas à educação rural brasileira.
O terceiro ponto é que, ainda que de forma incipiente, aspectos
que envolveram as ideias do Movimento pela ruralização do ensino já
estavam colocados nas Reformas de 1812 e 1879, que previam o ensino,
no 2° grau da instrução pública, de nocões de lavoura, horticultura e
“conhecimentos essenciais aos agricultores, aos artistas e comerciantes”,
bem como que nas Escolas Normais também houvesse matérias que
abordassem “princípios de lavoura e horticultura”. Além disso, durante a
219
Primeira República registram-se diversas inciativas voltadas à educação das
populações rurais, com marcante participação dos EUA.
Assim, quando os ruralistas do ensino adentram a essa seara, o eito
já estava arado, fertilizado e semeado. Os ruralistas do ensino foram uma
espécie de continuadores de propostas que já estavam em andamento desde
o início da Primeira República, ainda que de forma incipiente, não
sistematizada e com outras especificidades.
Os ruralistas do ensino inovaram por sistematizarem uma proposta
educacional adequada aos interesses do ruralismo brasileiro, porém, por
diversas razões, alguns aspectos dessa proposta interessaram a outros
grupos sociais. Destacam-se, ainda, as ações dos ruralistas do ensino para
promover a circulação e a consecução de suas ideias, afinal, conforme
apontado por Chiarini (1952), sujeito vinculado a esse Movimento,
“ruralismo não é poesia”.
Sud Mennucci (1936b), ao prefaciar o livro de Noêmia Saraiva, faz
referência a ela como “The right woman in the right place” (A mulher certa
no lugar certo). Partindo dessa expressão e com base nos dados levantados,
pode-se inferir que os ruralistas do ensino foram os sujeitos certos, no lugar
certo, no momento certo e que, como apontado, atendiam às necessidades
e aos interesses postos, sobretudo entre as décadas de 1930 e 1950. Isso,
talvez, explique, em parte, o êxito e o apoio, recebido do governo federal
brasileiro e dos EUA por esse Movimento para a circulação e consecução
de suas ideias.
Por fim, quarto ponto, constata-se que, após a morte de Sud
Mennucci, ocorrida em 1948, a ruralização do ensino teve continuidade,
ainda que com novas configurações e outras especificidades, decorrentes
de alterações nas conjunturas nacional e internacional, arrefecendo entre o
final da década de 1950 e o início da década de 1960. O processo de
220
arrefecimento, conforme apontado, possivelmente seja resultado de um
conjunto de fatores, dentre os quais a morte de Sud Mennucci também
figura. Essa inferência parece corroborada pelo argumento de Mennucci
de que, após a morte do Interventor Federal Fernando Costa, em 1946, a
ruralização do ensino entrou em uma fase de “paralisação”.
Portanto, reiterando, a semente da ruralização do ensino já estava
plantada antes da entrada de Sud Mennucci nessa seara e continuou a ser
cultivada, mesmo após sua morte, por, no mínimo, mais uma década.
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ALMEIDA, Manoel Alves de. [Carta] 14 mar. 1939a, Rio Verde [para]
MENNUCCI, Sud, Rio de Janeiro. 1f. Convite para participar da 2ª
Semana Ruralista de Rio Verde que seria realizada em maio de 1939.
Solicita, ainda, que sejam enviados, pelo Ministerio da Agricultura à Escola
Profissional, filmes sobre agricultura, criações e indústrias, a exemplo do
que ocorreu em 1937, quando foi realizada a 1ª Semana Ruralista de Rio
Verde - GO.
ALMEIDA, Manoel Alves de. [Carta] 29 mai. 1939b, Rio Verde [para]
MENNUCCI, Sud, [[s.l.]. 2f. Informa recebimento de carta. Informa que
“graças á falta de auxilios dos Poderes Estaduais e Municipais, deixamos
de realizar a pretendida SEMANA RURALISTA”. Informa que recebeu
publicações de Sud, as quais já estão disponíveis na biblioteca da Escola
Profissional Rural de Rio Verde. Menciona que já possuía o livro “CRISE
BRASILIRA DE EDUCAÇÃO desde quando, em 1935 iniciei meu
trabalho junto á Sociedade Alberto Torres, no Rio.” Diz que a escola é
“fruto da idéa torreana”, esta localizada em um “meio hostil” e que a “obra
ruralista ainda encontra sérios obstaculos”. Reitera a intenção de realizar a
Semana Ruralista.
ALMEIDA, Manoel Alves de. [Carta] 2 out. 1945, Rio Verde [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 2f. Faz menção ao “1º Congresso
Normalista de Ensino Rural, a realizar-se em Campinas, de 22 a 27 de
outubro de 1945. Informa ser diretor e proprietário da Escola Profissional
241
Rural, em Rio Verde “Goiaz”. Pretende enviar um trabalho para esse
Congresso.
ALVARENGA, Geroncio Caldeira de. O professor em face da escola rural.
Conferencia pronunciada na Associação dos professores primarios, do
Distrito Federal durante a Semana Ruralista. 13 de novembro de 1935. 16
p.
ALVES, Joaquim. [Carta] 15 out. 1935, Fortaleza [para] MINNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Menciona troca de correspondência anterior. Informa o
envio para Sud Mennucci de cópia de artigo sobre o ensino rural. Solicita
Revista do Professor. Faz menção ao “Dr. Thomaz Pompeu Sobrinho”.
Informa o envio de um exemplar da Revista Fortaleza, “orgão da
mentalidade moça de minha terra.” Manifesta interesse pelos trabalhos de
Pedro Escobar, funcionário do Departamento de Educação de São Paulo.
ALVES, Joaquim. [Carta] 29 ago. 1936a, Fortaleza [para] MINNUCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Informe de reassunção de funções junto ao Departamento
de Educação. Remessa de dois números do Jornal do Commercio de Recife
e do último número da Revista de Geografia e Historia do Ceará. Informe
de recepção (de números da Revista do Professor com “trabalhos” de sua
autoria) e solicitação de números da Revista do Professor. Informe sobre a
intenção do Governo do Estado do Ceará de criação de uma “Secção de
Ensino Rural”. Agradecimento pela publicação de seu capítulo
“Introdução á Ciências Geograficas” “na sua revista” (Revista do Professor).
Informa que está em composição o terceiro número da Revista de Geografia
e Historia do Ceará.
ALVES, Joaquim. Ensino profissional rural. Revista do Professor, São
Paulo, ano III, n. 14, p. 7-10, abr. 1936b.
ALVES, Joaquim. Organização escolar. Revista do Professor, São Paulo, ano
IV, n. 21, p. 29-30, out. 1937.
242
ALVES, Joaquim. [Carta] 26 abr. 1938a, Fortaleza [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Menciona a passagem de Sud Mennucci pelo Ceará e a
passagem de Amalia Xavier por Fortaleza. Informa que recebeu 10
exemplares de “A crise Brasileira de Educação” e que os distribuiu “entre
os mais capazes de apreenderem a sua orientação”. Informa envio de cartas
a Sud. Faz menção a possiblidade de “Nas Fronteiras do Nordeste”.
Menciona envio de alguns artigos que escreveu e publicou na imprensa
local e pretende transformá-los em livros. Pergunta sobre a excursão de
professores paulistas à Argentina. Pergunta sobre a Revista do Professor tem
circulado. Informa que optou por trabalhar no “Colegio Militar”.
ALVES, Joaquim. [Carta] 24 nov. 1938b, Fortaleza [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Informe de que enviou para Sud Mennucci três livros de
autoria de Rodolfo Teofilo sobre as secas no Ceará e os Anais da Primeira
Semana Ruralista, realizada em “Juaseiro” em 1935 (justifica a demora no
envio dos Anais, dizendo que o atraso deve-se ao fato de a impressão ter
sido “oficial”). Informa que seu livro Estudos de Pedagogia Regional será
publicado em 1938. Solicita os últimos números da Revista do Professor.
ALVES, Joaquim. [Carta] 21 out. 1939a, Fortaleza [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Envia um exemplar de “Estudos de Pedagogia Regional” e
também os últimos quatros números de “Valor”. Menciona carta anterior.
Informa que reuniu nesse livro trabalhos seus, como uma forma de deixar
registrada sua passagem pelo “Departamento”. Menciona dois outros
livros seus que talvez não enviaria para publicação: “A Geografia do Ceará”
e “Tecnica do Ensino Rural”. Informa ter recebido e agradece o envio de
quatro números da Revista do Professor.
ALVES, Joaquim. [Carta] 4 dez. 1939b, Fortaleza [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Faz menção a uma carta anterior. Informa o envio de um
volume de O CEARÁ, publicado sob a direção de Raimundo Girão e
Martins Filho, no qual consta uma reportagem sobre a Escola de
Agronomia do Ceará. Informa que recebeu do professor Moura Santos
publicações do Departamento de Educação de São Paulo e como forma de
243
agradecimento envio um exemplar de seu livro Estudos de Pedagogia
Regional. Menciona novamente os livros A Geografia do Cea e Tecnica do
Ensino Rural e analisa a possiblidade de publicação. Menciona publicação
em O CEARÁ de trabalho de sua autoria intitulado “Evolução Social do
Sertão”. Solicita opinião de Sud sobre “Estudos de Pedagogia Regional” e
ressalta que “livro publicado no norte é livro caído no poço”. Informa de
que seu livro teve divulgação em jornais locais, que remeteu exemplares
para o Rio de Janeiro e que precisa difundir esse livro (conta com a ajuda
de Sud), pois “A propaganda é coisa seria.”
AMORIM, Rone. [Carta] 18 out. 1945, São Paulo [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Faz menção a exibição de “Films Strips” nas escolas da
capital.
ANDRADE, Thales Castanho de. [Carta] [19--], [S.l.] [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Menciona que o “Governo” cedeu “400
encadernados e 300 brochados com direito a pedir mais” e que não há
“marca nenhuma agricultural” nos exemplares. Menciona apoio de Lobato
ao Saudade.
ANDRADE, Thales Castanho de. [Carta] 7 jun. 1920a, Piracicaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 6f. Informa que criou um “Gremio Infantil de
Horticultura”. Menciona que o Saudade “Recebeu excellentes cartas de
Afranio Peixoto, Affonso Celso, R. Octavio, A. Amaral, A. Pujol, M.
Alencar, ____ Taunay, Leiva, Paulo Moraes, P. Pestana, J. Sampaio, D.
Martins, J. Lourenço, E. Braga, W. Silveira artigos de L. Barreto, C. Leão,
M. Sette, H. Fontes, H. Prates, além de Sud e Lobato _____ artigos que
sahiram no ‘paiz’, ‘O Jormal’, ‘J. Brasil’, ‘A.B.C.’ etc, etc... . Recebeu um
‘colosso’ parecer de J. Kophe.” Menciona Thompson, Fernando Costa,
Lourenço, Thales, Amadeu, Kuhlmann, Pashoal, Carlindo, Prof.
Jeremeas, Afranio, Menotti, Proença, Carlos Silveira, Samuel, Dr.
Fernando Costa, Erasto, dentre outros. Informa compra de um prédio.
244
ANDRADE, Thales Castanho de. [Carta] 19 jun. 1920b, Piracicaba
[para] MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Informa recebimento de carta da
Inspetoria Geral do Ensino do Estado do Paraná comunicando que
Saudade foi aprovado e adotado para as escolas isoladas e grupos escolares.
Informa que escreveu para o “General” falando do Saudade, do Encanto e
verdade e do Gremio.
ANDRADE, Thales Castanho de. [Carta] 4 nov. 1920c, Piracicaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 3f. Faz menção ao Saudade e ao Clube das
Hortas. “Estar em Piracicaba e não ensinar, que ideal! Tratarei de ‘hortas’,
‘pomares’ e ‘jardins’”.
ANDRADE, Thales Castanho de. [Carta] 9 jan. 1921a, Piracicaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 6f. Menciona diversas publicações de sua
autoria. Diz que no “sistema de dois anos” o livro Saudade é ideal para o
2° ano e que no terceiro ano é um fracasso. Diz ter sonhado com Lourenço
Filho, Sud Mennucci, Sampaio Dorio, Procopio de Carvalho e Candido
Motta.
ANDRADE, Thales Castanho de. [Carta] 10 abr. 1921b, Piracicaba
[para] MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 3f. Faz menção ao “Raimundão”,
Pestana, Amadeu, dentre outros. “Se a inveja fosse moeda... estavas
millionario.”
ANDRADE, Thales Castanho. Saudade. 3. ed. São Paulo: Jornal de
Piracicaba, 1922.
ANDRADE, Thales Castanho de. [Carta] 11 mar. 1931, Piracicaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Recomenda o Sr. Daniel Kroll e pede
intervenção para um posto de trabalho “Impressa”.
ANDRADE, Thales Castanho de. [Carta] 28 jan. 1932, Piracicaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Manifesta receios de Sud Mennucci deixar a
Diretoria sem realizar o principal do programa, qual seja, a “o coração da
245
sua reforma: a ruralisação pelas normaes ruraes”. Apresenta
questionamentos sobre risco de, com essa alteração, não mais poder atuar
com Sud Mennucci na execução de seu desse programa.
ARRAES, Carmusina Monte. [Carta] 30 out. 1938, Limoeiro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 4f. Informe de que uma carta trocada com Sud
foi “um incentivo ao [...] crescente trabalho pela ‘Voz do Campo’.” Relata
empenho da diretora da sua escola na difusão da “causa dignificante da
orientação ruralista do ensino no Brasil.” Informe de que envia exemplares
de a “Voz do Campo”.
AZEVEDO, Ayres. [Carta] 10 dez. 1945, Bananal [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 2f. Relata atuação na Escola de Viçosa como professor de
“Economia Rural” e informa ter verificado que “não ha em portugues um
compendio didactico de Economia e Sociologia Rural em portugues. Os
compendio francezes, italianos e a Economia Politica de C. Gide suprem
até hoje esta lacuna!”. Menciona que seu trabalho já teve repercussão nos
EUA. Informa o envio de um relatório de sua autoria. Informa que
emprestou o livro “A crise brasileira de Educação”, que não foi devolvido,
e diz que “A propaganda agora é oral!”. Informa que irá para os EUA no
início de 1946.
BAMBINI, Victor Lino. A questão do ensino no Brasil e a solução de
Sud Mennucci: O valor científico e construtivo de “A crise brasileira de
educação”. Revista do Professor, São Paulo, ano I, n. 12, p. 21, jun./jul.
1935a.
BAMBINI, Victor Lino. A questão do ensino no Brasil e a Solução de
Sud Mennucci: O valor científico e construtivo de “A crise brasileira de
educação”. Revista do Professor, São Paulo, ano II, n. 13, p. 4-5, ago./set.
1935b.
246
BARRETO, A. Romano. A crise brasileira de educação: De Sud
Mennucci. Revista do Professor, São Paulo, ano XIII, n. 24, p. 5, mai.
1955.
BARROS, Leonel Vaz de. [Carta] 26 out. 1910, Piracicaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Relata “uma briga continua” entre “agricolas
e complementaristas”. Menciona rompimento total entre professorandos e
professorandas.
BARROS, Leonel Vaz de. [Carta] 18 abr. 1911, Piracicaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 6f. Faz menção a supressão de matérias que
foram substituídas por uma “cadeirinha de pedagogia... e pelas applicações
á agricultura e zootchinia”. Diz que “taes applicações só existem no
regulamento”.
BARROS, Leonel Vaz de. [Carta] 2 nov. 1914, Itápolis [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 10f. Menciona leitura e Binet e de Vasconcellos.
Menciona preferencia pelo “cathecismo positivista de Comte e
Conflagração”.
BARROS, Leonel Vaz de. Professor Jeremias. Piracicaba: Bom Texto, 1920.
BERLE JR., Adolf A. [Carta] 13 nov. 1945, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Acusa recebimento de solicitação e
autoriza a publicação de sua conferência “pronunciada por ocasião do
encerramento do Curso de Extensão Cultural”. Faz menção ao
intercambio cultural entre o Brasil e o EUA.
BRALS, R. A. [Carta] 10 dez. 1946, New York [para] MENNUCCI, Sud,
São Paulo. 1f. Agradece pela doação dos livros A ruralização e Discursos e
conferências ruralistas.
CAMPOS, Moacyr. O profeta do ruralismo. Revista do Professor, São
Paulo, ano XIII, n. 24, p. 19-23, mai. 1955.
247
BRASIL, Assis. A vida do campo e a reforma rural. Conferencia Dr. Assis
Brasil, realizada em Bello Horizonte em 1915 e mandada reeditar pelo
Secretario dos Negocios do Interior do Estado São Paulo para leitura nas
Escolas Publicas. São Paulo: Secretaria dos Negócios do Inferior, 1917. 48
p.
BRASIL. Decreto nº 20.108, de 15 de junho de 1931. Dispõe sobre o uso
da ortografia simplificada do idioma nacional nas repartições públicas e
nos estabelecimentos de ensino. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-20108-
15-junho-1931-560684-publicacaooriginal-83803-pe.html. Acesso em:
25 nov. 2018.
CARDOSO, José. [Carta] 2 mai. 1939a, Rio Claro [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 3f. Solicita livro de Sud sobre Luís Gama, com dedicatória, para
realização de palestra no dia 13 de maio, a convite da Diretoria do Ginásio
Municipal Joaquim Ribeiro. Menciona intenção de levar Sud para Rio
Claro para realização de uma “conferência pública”. Faz menção elogiosa
ao livro A crise brasileira de educação. Recomenda saudações ao prof. Lulo.
CARDOSO, José. [Carta] 16 mai. 1939b, Rio Claro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Informa recepção do livro “Luiz Gama” e
informa que o utilizou em uma palestra que proferiu. Faz menção elogiosa
ao livro A crise brasileira de educação.
CARDOSO, José. [Carta] 7 ago. 1939c, Rio Claro [para] MENNUCCI,
Sud, São Paulo. 2f. Manifestação de entusiasmo por receber o prof. Sud,
esposa e filhos em Rio Claro, no dia 12 de agosto de 1939, para pronunciar
conferência sobre o poeta Amadeu Amaral. Informa que um grupo de 80
pessoas da Escola Normal de Pirassununga, juntamente com o diretor
dessa escola, prof. Lamartine, estarão presentes para assistir à conferência.
Informa que os diretores das Escolas Normais de Limeira, São Carlos e
Piracicaba estarão presentes ou enviarão representantes. Informa sobre a
248
programação das atividades do dia 13 de agosto, domingo, dia posterior à
conferência.
CARDOSO, José. [Carta] 9 ago. 1939d, Rio Claro [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 2f. Solicita confirmação de presença do Sud no encontro a ser
realizado em 12 de agosto de 1939. Informa que “Imprensa, rádio,
autoridades locais, professores e alunos das escolas, intelectuais e homens
do trabalho, todos nestes dias ouvem a voz dos meus alunos, falando
intensamente do prof. Sud Mennucci. Menciona carta anterior. Menciona
vinda de aproximadamente 80 pessoas de Pirassununga e que várias pessoas
das cidades vizinhas foram convidadas. Informa ter conseguido que “três
jornais locais [...] se ocupem, na edição de domingo próximo, da
personlidade de Sud Mennucci”. Solicita que Sud não esqueça dos oito
livros, com dedicatório, para os alunos do remetente.
CARDOSO, José. [Carta] 9 dez. 1939e, Rio Claro [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Apresenta e solicita ajuda de Sud ao prof. João Funari, que
foi aluno da escola Normal de Pirassununga. Menciona o livro A crise
brasileira de educação.
CARDOSO, José. [Carta] 17 jul. 1946a, São Manuel [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Remete jornal local para que Sud tenha
conhecimento do que ocorre em São Manuel. Menciona que esteve com o
prof. Faria Neto e que “aprendeu a ler” com D. Candinha, irmã de Faria
Neto. Envia, para conhecimento, uma carta do prof. Jorge Leme. Solicita
ajuda para organização da biblioteca, ou seja, o envio de “algo que possa
ser útil a essa organização”. Pede informações sobre o interventor Dr.
Macedo Soares, a quem pretende homenagear como patrono dessa
biblioteca. Faz menção as “fubecadas do Elisiário”.
CARDOSO, José. [Carta] 2 out. 1946b, São Manuel [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Diz que no mês de novembro irá fazer “uma
grande movimentação em Pirassununga”. Nessa atividade turmas de
normalistas e professores de Rio Claro e de São Manuel irão visitar Escola
249
Normal e Escola Agrícola Dr. Fernando Costa. Dona Carolina Ribeiro
será convidada para ministrar palestra de encerramento. Convida Sud
Mennucci para participar desse evento. Pessoas citadas: Prof. Vitor Manuel
Romano e Dona Carolina Ribeiro.
CARDOSO, Manoel. [Carta] 6 jan. 1947, Washington [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Agradece pela doação de dois volumes
de autoria de Sud Menncucci, quais sejam, “A ruralização” e Discursos e
conferencias ruralistas. Pessoas citadas: Liynn Smith Louisiana State
University.
CARUSO. [Carta] 16 fev. 1939a, São Paulo [para] MENNUCCI, Sud,
[s.l.]. 2f. Faz menção ao Dr. Carlos Barbosa de Oliveira, engenheiro e
professor no Rio de Janeiro, com quem conversou “sobre o proximo
congresso de ensino internacional, a efetuar-se no Rio e a conversa
cabeceou para o ensino rural, de quem ele é apologista. Falei a teu respeito;
conhece-te, mas não leu a “Crise Brasileira de Educação” e pediu-me que
a obtivesse de ti.” Menciona viagem de Carlos Barbosa de Oliveira pelo
interior de São Paulo.
CARUSO. [Carta] 1 mar. 1939b, [s.l.] [para] MENNUCCI, Sud, [s.l.].
1f. Consulta sobre a recepção de pedido de exemplar do livro “Crise
Brasileira de Educação” para o Dr. Carlos Barbosa de Oliveira. Menciona
que o Dr. Carlos Barbosa de Oliveira é professor da “Esc. Pol. do Rio” e
de outras escolas e tem circulação internacional (Conferência em francês
na Sorbonne sobre a seca do Ceará).
CAYOT, Mary E. [Carta] 24 abr. 1947, New York [para] MENNUCCI,
Sud, São Paulo. 1f. Agradece pela doação dos livros A ruralização e
Discursos e conferências ruralistas.
CHIARINI, João. Ruralismo. Revista do Professor, São Paulo, ano X, n. 11,
p. 15-16, fev. 1952.
250
CONFERÊNCIA ruralista Na reunião de hontem da Sociedade “Luiz
Pereira Barreto” falaram os srs. Sud Mennucci e Oracy Gomes. Diario de
S. Paulo, 23 jun. 1935.
COSTA, Wamberto Dias da [Carta] 1 jun. 1935, [s.l.]. [para] Senhores e
senhoras, [s.l.]. 2f. Apresenta críticas elogiosas à atuação de Sud Mennucci
e a seu livro “A Crise Brasileira da Educação”. Apresentando-o como
“patrono dessa causa, o Bandeirante da Luz”. Ressalta a importância das
Escolas Normaes Ruraes e o papel do professor rural.
COSTA, Wamberto Dias da. Pela ruralização do ensino no Brasil. Revista
do Professor, São Paulo, ano III, n. 14, p. 15-18, abr. 1936.
COTTI, Lahyr de Castro. A orientação agrícola no ensino primário.
Revista Educação, São Paulo, v. 7, p. 11-17, abr./mai. 1932.
CROOHA, Esther G./J.. [Carta] 20 dez. 1946, Maryland [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Agradece a doação de dois volumes de
autoria de Sud Menncucci, quais sejam, “A ruralização” e “Discursos e
conferencias ruralistas”.
CRUZ, Noêmia Saraiva de Mattos. Ensino rural. Revista do Professor, São
Paulo, ano I, n. 3, p. 19-20, mai. 1934.
CRUZ, Noêmia Saraiva de Mattos. Educação rural: uma aplicação de
Ensino Rural na Escola Primária Grupo Escolar de Butantan S. Paulo.
Rio de Janeiro: Edições Rio Branco, 1936.
CRUZ, Noêmia Saraiva. [Telegrama] 31 [nov.] 1937, São Paulo [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Informa que o “GRUPO ESCOLAR
RURAL BUTANTAN ALCANÇOU OUTRA VEZ PRIMEIRO
PREMIO AVES EXPOSICAO NACIONAL ANIMAES.”
251
DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Encontra-se, desde domingo, nesta capital, a
“Bandeira Paulista de Alfabetisação. Porto Alegre, 22 outubro 1935a.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Uma conferencia do professor Sud Menucci.
Porto Alegre, 1 novembro 1935b.
DIRETORIA do Clube Educacional “Humberto de Campos” da Escola
Normal Particular de Rio Claro. [Carta] 21 ago. 1939, Rio Claro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Agradecimento pela aceitação de pronunciar
conferência em Rio Claro na “[...] primeira reunião pública promovida
pelo clube na Escola Normal.” Agradecimento pela doação de um
exemplar, para cada membro do Clube Educacional, do livro “A Crise
Brasileira da Educação”.
DISCURSO pronunciado na cerimonia de colação de gráu das primeiras
ruralistas do Brasil. Turma de 1937. Joazeiro do Norte: Escola Normal
Rural, 1937.
EL ESPECTADOR Habanero. [Carta] 2 dez. 1937, Havana [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Faz referência a troca de
correspondência anterior. Menciona acordo anterior de troca regular entre
periófico de Sud Mennucci e “El Espectador Habanero El magacen de
las tres Américas”. Informa a recepção com regularidade do periódico de
Sud Mennucci e pelo grande volume de publicações que o Directorio
Periodístico Americano recebe, solicita que sejam feitas adequações das
temáticas dessa publicação. Por fim, ressalta que aguarda posicionamento
de Mennucci para que possa ser reativado o envio de “El Espectador
Habanero.
FALCÃO, Rubens. [Telegrama] 20 dez. 1942, Niterói [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Solicita que Sud contate D. Noemia
Saraiva para verificar se ela aceita “ministrar curso de atividades rurais pt
Inauguração oficial todos os cursos dia quatro de janeiro entrante pt”.
252
FALCÃO, Rubens. [Carta] 25 jan. 1943, Niterói [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Faz menção à dificuldade de Sud em contatar D. Noemia
Saraiva. Deseja a visita de D. Noemia Saraiva à escola típica rural de
Resende. Informa realização de “uma exposição com produtos dessas
escolas”.
FALCÃO, Rubens. O governo Amaral Peixoto e a orientação ruralista do
ensino. Diário da Manhã, Niterói, 25 out. 1945.
FERRAZ, Antônio Osvaldo. Grupo escolar rural “Alberto Tôrres”.
Revista do Professor, São Paulo, n. 47, p. 16, set. 1959.
FERRAZ, Antônio Osvaldo. Ruralismo: Palestra realizada na noite de 29
de janeiro corrente, no curso de férias sôbre atividades agrícolas, que se
efetua, sob o patrocínio da assistência técnica de ensino rural, no clube de
ciências de Piracicaba. Revista do professor, São Paulo, ano XVI, n. 38,
p.5-6, jan. 1958.
FERRAZ, Antônio Osvaldo. Três grupos escolares rurais em Piracicaba.
Revista do Professor, São Paulo, ano XX, n. 66, p. 8, jan./fev. 1962.
FGV. Fundação Getúlio Vargas. Estudo retrospectivo de educação rural
no Brasil. Rio de Janeiro, 1979.
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 16 mar. 1922, Rio Claro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Solicita programas e horários da “Reforma”.
Menciona leitura do livro “Prof. Jeremias” e apresenta discussão sobre um
método de ensino.
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 5 abr. 1923, Rio Claro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Agradece pelo parecer de Sud Mennucci
sobre escrita de seu conto.
253
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 2 jan. 1932a, São Paulo [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Sugere seu irmão para ocupar uma vaga de
emprego no Departamento de Sud. Mennucci.
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 8 jan. 1932b, Sorocaba [para]
MENNUCCI, Sud, [S.l.]. 4f. Informa que esta liderando um movimento
que demanda aumento dos “vencimentos” dos “professores-fiscais” e pede
auxílio de Sud Mennucci para alcançar essa demanda.
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 20 mar. 1932c, Sorocaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Sugere que Sud Mennucci transfira “Plinio”,
para que ele possa assumir, em comissão, a Delegacia Escolar de Sorocaba.
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 6 nov. 1933, Sorocaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Menciona Ribas e pede para Sud Mennucci
se aproximar de Dr. Azzi. Agradece pelo auxilio “à volta aos antigos
vencimentos”.
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 25 jun. 1934a, Sorocaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 3f. Informa ter procurado Sud Mennucci em
São Paulo, porém, não encontrou. Diz ter conseguido falar com o
Secretario, que lhe apresentou duas possiblidades: “uma comissão na
Normal de S. Carlos” ou “na Normal livre de Agudos. Menciona ter
recusado ambas as propostas, pois não lhe representam melhoria material
de que necessita, o que lhe convêm são cargos de “direção ou delegacia
escolar”.
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 27 jul. 1934b, Sorocaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Informa sua saída de Sorocaba. Pede
intervenção de Sud junto ao secretario Altefender. Menciona aceitar
mesmo que na condição de comissionado cargos de Delegado de Ensino
ou de Diretor de Ginásio, pois não quer lecionar.
254
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 5 ago. 1934c, Sorocaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 4f. Faz menção a dificuldades com nomeação
para cargos de trabalho e pede apoio e intervenção de Sud.
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 15 mar. 1936a, Sorocaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Informa que desiste da nomeação para
Ribeirão Preto. Faz menção a Pisa Sobrinho. Pede intervenção de Sud para
resolver questões administrativas sobre sua nomeação. Pede notícias de
Thales. Faz menção ao comissionamento de Faria Neto.
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 18 mar. 1936b, Sorocaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Informa envio de “Serie na Roça” e dois
volumes da “Bibliotheca Infantil”. Solicita a honra das palavras de Sud a
respeito dessas publicações na Revista. Informa que enviará novas
publicações de “Bibliotheca Infantil”, “Adolescência” e “Educação Rural”.
Confirma recepção de telegrama de Sud. Faz menção a Pisa Sobrinho e ao
Dr. Canti (__). Pede colocação profissional a Sud.
FLEURY, Renato Sêneca. [Carta] 29 jan. 1937, Sorocaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Informa envio de um artigo para a Revista
do Professor. Cobra de Sud apreciação na Revista do Professor de seus
livros: Adolescência e Serie na Roça.
FONSECA, Osvaldo. [Carta] 11 ago. 1933, Pirassununga [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Parabeniza pela “nomeação para o mais alto
cargo do magistério público paulista”. Menciona e elogia a trajetória de
Sud Mennucci, inclusive a confiança depositada pelo atual Governo. Faz
menção à premiação da Academia Brasileira de Letras pelo livro “A Crise
Brasileira de Educação”.
FREITAS, M. A. Teixeira de. [Carta] 28 mar. 1933, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Faz menção à estadia de Sud no Rio de
Janeiro. Menciona três obras de Sud. Menciona “Dr. Raul de Paula,
Secretário Geral da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres”. Informa
255
que sugeriu que Sud realizasse conferência sobre o ensino rural na
Sociedade, que aprovou a sugestão.
FREITAS, M. A. Teixeira de. [Carta] 10 abr. 1934, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 3f. Informe de recepção, no dia 21 de março,
da professora Maria José Fernandes. Informe de alterações no
Departamento de Estatística. Informe de que “Léo” passará para
“Diretoria na Fazenda”, o que fará com que fique vago o lugar de diretor
da antiga “Diretoria Geral de Estatística”, que deverá passar para o
“Ministério da Justiça”. Convite a Sud para ocupar cargo de diretor na
“Diretoria Geral de Estatística”. Menção ao “apêgo [de Sud] às cousas da
educação.” Menção à Manifestação de entusiasmo por receber o prof. Sud,
esposa e filhos em Rio Claro, no dia 12 de agosto de 1939, para pronunciar
conferência sobre o poeta Amadeu Amaral. Informa que um grupo de 80
pessoas da Escola Normal de Pirassununga, juntamente com o diretor
dessa escola, prof. Lamartine, estarão presentes para assistir à conferência.
Informa que os diretores das Escolas Normais de Limeira, São Carlos e
Piracicaba estarão presentes ou enviarão representantes. Informa sobre a
programação das atividades do dia 13 de agosto, domingo, dia posterior à
conferência. Tentativa da “Convenção Nacional de Educação” para
estabelecer “Sistema” ou a “Confederação” de serviços educacionais.
Informe de que o Ministro W. Pires interessou-se pela proposta e já
incumbiu a A.B.E. de elaborar um anteprojeto relacionado a esse assunto.
Menção à necessidade de formar uma “frente única para assegurar o êxito
da Convenção”. Solicitação de ajuda para articular essa proposta no
Estado de São Paulo. Apresentação de proposta à Sociedade dos Amigos
de Alberto Torres de criação “no sertão baiano [de] uma Colonia-Escola.”
FREITAS, Teixeira [Telegrama] 18 dez. 1943, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Acusa a recepção de telegrama. Faz menção
ao fato de as Escolas Normais Rurais serem de iniciativa de Sud Mennucci,
que “TANTO FEZ EM PROL VENCIMENTO PROGRESSIVO DO
PROFESSORADO VG NAO PODERIA SER TAMBEM CRIADOR
DA PRIMEIRA COLONIA ESCOLA? E ESSE CREIA UM DOS MAIS
256
IMPORTANTES PONTOS DO NOSSO IDEARIO QUANTO
EDUCACAO POPULACOES RURAIS PT”.
GAIA, Cyro de Freitas. A escola primária no littoral. Revista Educação,
São Paulo, v. 6, p. 280-284, mar. 1929.
GAIA, Cyro de Freitas. [Carta] 18 jan. 1935, Santos [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Faz menção à publicação do “Decreto dos Clubes do
Trabalho”, uma “vitória”. Informa que Araçatuba já tem verba para a
criação do primeiro Clube. Considera necessário “dar ás escolas uma feição
pratica” e não ser apenas um local “para preparar eleitores...” Apresenta o
ruralismo como “movimento de renovação escolar”.
GAIA, Cyro de Freitas. [Carta] 28 mai. 1940, Mococa [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Pergunta como anda o recenseamento e
questiona a falta de ligação do censo com a escola primária. Informa que
recebeu um ofício de João B. F. Pinheiro comunicando sua posse como
“Delegado Municipal local”. Discute aspectos do escoamento da safra de
laranja.
GENTIL, Alcides. As idéias de Alberto Torres. 2. ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1938.
GENTIL, Alcides [Carta] 14 set. 1940, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Menciona trabalho de Sud sobre o
pensamento de Alberto Torres e “A crise da educação brasileira”. Faz
menção ao encaminhamento de opúsculo intitulado Para uma nova
Ordem!, que trata da “necessidade de instituir a politica de carreira”.
Solicita tudo o que for publicado sobre Alberto Torres.
GOMES, Helio. [Carta] 12 abr. 1939, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, Rio de Janeiro. 1f. A Sociedade dos Amigos de
Alberto Torres reitera o convite de Manuel Alves de Almeida para Sud
Mennucci participar da “Segunda Semana Ruralista de Rio-Verde, a
257
realizar-se em Junho proximo.”, em “Goiaz”. A Sociedade dos Amigos de
Alberto Torres convida Sud a “integrar a Caravana Torreana que
comparecerá áquele certame ruralista.” A Sociedade reitera o convite “para
escrever um capitulo sobre Educação Rural, a fazer parte de um livro
intitulado ‘Pelo Brasil Rural’, que a Sociedade pretende brevemente
editar.”
GONZAGA, Apiegio. [Carta] 30 jan. 1933, São Paulo [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Menciona ter procurado Sud por três vezes.
Parabeniza pela organização que Sud fez no “jornal”. Menciona ter
encontrado com o amigo China e diz ter falado com o Máximo. Faz
menção ao livro São Paulo e suas Grandezas. Faz menção ao seu livro que
tem por finalidade combater o êxodo rural. Menciona ser adepto da
ruralização do ensino e ao “Ramalho”. Solicita auxílio no processo de
remoção de seu genro.
HESPELT, E. Herman. [Carta] 5 dez. 1946, New York [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Agradece pela doação dos livros A
ruralização e Discursos e conferências ruralistas.
HILTON, Ronald. [Carta] 31 dez. 1946, Santa Ynez [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Informa recebimento dos livros
Discursos e Conferências Ruralistas, A Ruralização”, “A Margem das Cartas
Chilenas” e “Machado de Assiz”.
I SEMANA rural do Clero Paulista. Revista Brasileira dos Municípios, Rio
de Janeiro, v. 5, n. 19, p. 482, jul.-set. 1952.
I SEMANA RURALISTA de Areia. Revista Brasileira dos Municípios, Rio
de Janeiro, v. 5, n. 18, p. 257-258, abr.-jun. 1952.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA. Apresentação. Revista Brasileira dos Municípios, Rio de
Janeiro, v. 1, n. 1-2, p. 1-2, jan.-jun. 1948.
258
INEP. Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Problemas de
Educação Rural. Curso promovido pelo I.N.E.P., em 1949, a cargo do
Prof. Robert King Hall, da Columbia University, N. Y. Rio de Janeiro:
INEP, 1950. 105 p. (n. 47).
JIMÉNEZ, Wenceslao Montero. [Carta] 18 mai. 1947, Santa Cruz de la
Sierra [para] MENNUCCI, Sud, São Paulo. 2 f. Menciona troca de carta
anteior. Relata diversas dificuldades para viagem a São Paulo e solicita
intervenção de Sud Mennucci, inclusiva junto a Embaixada brasielira, para
que ele consiga antecipar sua viagem. Informa que já está com os materiais
preparados para a realização das conferências a serem proferidas em São
Paulo.
KENISTON, Hyward. [Carta] 30 nov. 1946, Michigan [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Agradece pela doação dos livros A
ruralização e Discursos e conferências ruralistas.
LAWLER, Vanett. [Carta] 19 ago. 1945a, Assunção [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Faz menção ao estabelecimento de relações
e intercâmbios na área da educação. (traduzida)
LAWLER, Vanett. [Carta] 19 ago. 1945b, Washington [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Menciona viagem a Piracicaba e diversos
sujeitos que conheceu nessa ocasião, como por exemplo, Lourenço Filho;
M.r. Lozano; M.r. Dutra; Donna Cotinha. Trata de assuntos relacionados
a educação musical.
LAWLER, Vanett. [Carta] 24 mai. 1946a, Washington [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Menciona Mis Brunilda Cárts de
Santiago do Chile. Faz menção ao brasileiro José Vieira Brandão na bienal
de música em Cleveland, Ohio.
LAWLER, Vanett. [Carta] 19 jul. 1946b, Washington [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Agradece pela carta e pela cortesia
259
dispensada a Mis Brunilda Cárts. Agradece pela viagem a Piracicaba,
Pirassununga e Campinas.
LAWLER, Vanett. [Carta] 26 jul. 1946c, Washington [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 2f. Informa que a Divisão de Música da
União Pan-Americana deseja realizar a publicação de um livro de canções
que incluiria músicas tradicionalmente populares de todos as vinte
Repúblicas Americanas. Solicita auxílio de Mennucci com o envio de uma
lista das músicas do Brasil.
LEFÈVRE, Valdemar. [Carta] 10 mai. 1940, São Paulo [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Comunica que o Secretário da
Agricultura receberá comissão composta por: Engenheiro Luiz Flores de
Morais Rego, Engenheiro Paraizo Godinho, Engenheiro Francisco Severo
San Juan, Engenheiro Valdemar Lefévre, para tratar da “Resolução nº 4
deste Diretório”.
LEITE, Edgar Teixeira. Alberto Torres: ecologista. Carta mensal, Rio de
Janeiro, n. 234, v. XX, set. 1974.
LIMA, Augusto Sabóia. Alberto Torres e sua obra. 2. ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1935.
LIMA, J. Pinto; BUHR, Carlos; LAVOR, Guaraci Cabral. Clubes
Agrícolas. Rio de Janeiro: Serviço de Informação Agrícola, 1958.
LOBO, Carlos. Semana Ruralista de Quixeramobim. Recorte de Jornal,
Ceará, 23 ago. 1938.
LOBO, Otávio; SILVA, Perboyre. [Carta] 8 jan. 1947, Fortaleza [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Agradece pela doação de livro Discursos e
conferencias ruralistas e de folheto que contem carta que Sud Mennucci
envio ao Deputado José Augusto. Informa que Sud Mennucci foi eleito
260
“sócio correspondente” em São Paulo do Instituto do Nordeste. Destaca a
influência de Sud Mennucci no Nordeste.
LOURENÇO, Manoel Rodrigues. [Carta] 27 abr. 1938, Piracicaba [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Menção à “queda de um grande trecho da
muralha que tenta impedir a [vinda] do ruralismo profícuo e necessario
para um pais que depende do braço agrícola [...].” Faz menção ao decreto
8.951. Menciona a dificuldade para criação dos “Grupos Rurais” “[...]
pois, o ruralismo aparece e desaparece no coração e conceito de muitos
conforme a ‘opinião’ do Diretor de Ensino; basta um boato de que o amigo
Sud está de cima, é ‘provável’, ou que haja uma possiblidade de um outro
chefe, para brotar relatorios, canteiros semelhantes à sepultura de uma
sinceridade, etc.” Precisamos de muita cautela; os vencimentos tambem
transformam os Lourencistas ou Almeidistas em Sudistas de um instante
para outro [...]”. Menção ao ruralismo como fator de melhoramento do
“padrão de vida do morador do campo.”.
MAGALHÃES, Julio Geraldo. [Carta] 25 ago. 1935, Casa Branca [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Informa ter recebido um livro de autoria de
Sud e menciona não ter agradecido antes, pois pretendia fa-lo
“conjuntamente com os demais membros da Caravana Ruralista aqui em
nossa Escola Normal no dia vinte e seis.” (Caravana não realizada). Faz
menção aos livros O que fiz e pretendia fazer e A crise brasileira de educação,
que recebeu do prof. Líno Avancini. “A ambos [os livros] em os venho
fazendo perambular de mãos em mãos de meus professores e colegas [...]
contribuindo para a maior difusão de suas ideias com as quais formulou a
mais brasileira das reformas do ensino [...]” Espera que o Sud possa visita-
lo no próximo mês. Informa que estava previsto um espetáculo em
homenagem à Caravana Ruralista e cujo produto seria destinado ao Clube
Agricola”.
MAGALHÃES, Basílio de. [Carta] 16 ago. 1936a, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 3f. Agradece pelos livros: A crise brasileira de
educação, Pelo sentido ruralista da civilização e Aspectos piracicabanos do
261
ensino rural. Faz menção a Piracicaba como a “mecca do ruralismo no
Brasil”. Informa o empenho da imprensa e de amigos na “cruzada”
ruralista, cita “Manéco”, auxiliar do “dr. Luiz Piza Sobrinho”. Recomenda
a importância de se considerar a civilização praieira para o
desenvolvimento nacional. Menciona o pensamento de Augusto Comte.
Faz menção ao sucesso da “bela evangelização ruralista” e o protagonismo
de São Paulo na difusão dessas ideias. Faz menção a palestra de Waldemar
Ferreira. Menciona o problema do “jaguncismo ou cangaceirismo” e a
necessidade do Poder Público incorporar a população sertaneja. Informa
que envia cópia do parecer, do qual foi relator “por parte do Instituto
Historico e Geographico Brasileiro, sobre o ‘Plano Nacional de
Educação’”.
MAGALHÃES, Basílio de. [Carta] 8 set. 1936b, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Informa que efetuou duas conferências
“patrioticas”, uma sobre “Caxias” e outra sobre “José Bonifacio”. Informa
que tratou na “Associação Brasileira de Educação, da ‘Civilização rural e
civilização praieira do Brasil’”. Diz ter mencionado Sud e seus trabalhos
em sua palestra. Menciona a probabilidade de ministrar uma nova
conferência sobre o ruralismo na Associação dos Amigos de Alberto Torres.
Diz ter lido os livros: “Húmor”, “Brasil desunido” e “Historia do Diario
Official”, porém, ainda não leu “O que fiz e o que pretendia fazer”. Diz
que entregou ao Alfredo Baltazar da Silveira os volumes enviados por Sud.
Faz menção a tradução de “Stecchetti”.
MARAIDES, Pereira. [Carta] 21 jul. 1933, Silveiras [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Menciona ter recebido “a representação do ‘Jornal do
Estado”, aceitando-a. Parabeniza o “util artigo ‘Guerra á zona rural’” e pelo
prêmio da Academia Brasileira de Letras pelo livro A crise brasileira de
educação. Envia um artigo sobre a “ruralisação, de [ilegível - parece
mencionar autoria], grande adepto. É para o ‘Jornal do Estado’”
MEDEIROS, Raul da Rocha. [Carta] 8 jul. 1947, São Paulo [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Convida Sud Mennucci para integrar
262
o “Consêlho Consultivo do Instituto de Economia Rural, que esta sendo
organizado pela Sociedade Rural Brasileira para estudo dos problemas
econômicos nacionais, principalmente daqueles ligados a agricultura.”
MEICHE, E. [Carta] 15 dez. 1946, San Antonio, Texas [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 2f. Agradece a doação de livros de autoria
de Sud Menncucci e informa que serão muito úteis para o preparo de
conferências. Menciona ser francês.
MEICHE, E. [Carta] 14 mar. 1947, San Antonio - Texas [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Agradece carta recebida de Sud Menncucci
e dedicatória feita no livro. Menciona estar vinculada a Universidade de
Santa Maria em San Antonio Texas.
MEJÍA M., Ignacio. [Carta] 16 dez. 1946, México, D.F. [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Agradece a doação de dois volumes de
autoria de Sud Menncucci, quais sejam, “A ruralização” e “Discursos e
conferencias ruralistas”. Afirma que a “questão agraria é o problema capital
do mundo”.
MELLO, Nilo de Albuquerque de. [Carta] 10 dez. 1938, Natal [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 2f. Informa a recepção do livro “Crise
Brasileira da Educação” e informa ter lido esse livro com “interesse”. Faz
menção à reforma da educação para população rural.
MENDES, Antônio José Teixeira. [Carta] 27 mai. 1947a, Campinas
[para] MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Menciona o movimento em prol
da instalação em Piracicaba da primeira Universidade do Interior.
Menciona que Luiz de Queiroz doou ao “Estado a Fazenda São João da
Montanha”. Informa que os deputados piracicabanos Dr. Valentin do
Amaral e Dr. Francisco de Castro Neves já levaram esse assunto à Câmara
Estadual.
263
MENDES, Antônio José Teixeira [Carta] 7 jul. 1947b, Campinas [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Faz menção à troca de carta anterior.
Envia recorte do Jornal de Piracicaba com publicação de artigo do Sud,
transcrito do Jornal de São Paulo; trata-se de assunto relacionado à “causa
da Universidade em Piracicaba”.
MENESES, João Gualberto de Carvalho; MENDES, João Batista
Gurgel. Legislacão do Ensino Ruraldispositivos em vigor e que se
referem direta e especificamente ao Ensino Rural. São Paulo, 1960.
MENNUCCI, Sud. Alma Contemporanea: ensaios de estética. São Paulo:
Editora Cultura Brasileira, 1918.
MENNUCCI, Sud. Humor. São Paulo: Piratininga, 1923.
MENNUCCI, Sud. Rodapés. São Paulo: Piratininga, 1927.
MENNUCCI, Sud. A crise brasileira de educacão. São Paulo: Piratininga,
1930a.
MENNUCCI, Sud. A Escola Paulista. Polemica com Sr. Renato Jardim.
São Paulo: COPAG, 1930b.
MENNUCCI, Sud. A reforma do ensino rural em S. Paulo. Educação, São
Paulo, v. IV, n. 1 e 2, p. 3-11, ago./set. 1931.
MENNUCCI, Sud. Brasil Desunido. São Paulo: Typografia Siqueira.
Salles Oliveira, Rocha & Cia., 1932a.
MENNUCCI, Sud. Cem anos de Instrucão Pública (1822-1922). São
Paulo: Typografia Siqueira. Salles Oliveira, Rocha & Cia., 1932b.
264
MENNUCCI, Sud. O que eu fiz e pretendia fazer: defesa e
fundamentacão da reforma do ensino de 1932. São Paulo: Piratininga,
1932c.
MENNUCCI, Sud. Aspectos piracicabanos do ensino rural. Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo, 1934a.
MENNUCCI, Sud. Historia do diário oficial (1891-1933). São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 1934b.
MENNUCCI, Sud. Pelo Sentido Ruralista da Civilizacão: subsídios para
a história do ensino rural no estado de São Paulo (1892-1935). São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1935.
MENNUCCI, Sud. Corografia do Estado de São Paulo. Rio de Janeiro:
Edicões Rio Branco, 1936a.
MENNUCCI, Sud. A guisa de prefácio. In: CRUZ, Noêmia Saraiva de
Mattos. Educação rural: uma aplicação de Ensino Rural na Escola
Primária Grupo Escolar de Butantan S. Paulo. Rio de Janeiro: Edições
Rio Branco, 1936b. p. 9-10
MENNUCCI, Sud. Luiz Gama: precursor do abolicionismo no Brasil.
São Paulo: Brasiliana, 1938.
MENNUCCI, Sud. À Margem das cartas Chilenas. São Paulo: [s. n.],
1942.
MENNUCCI, Sud. A Ruralizacão. São Paulo: Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo, 1944.
MENNUCCI, Sud. Curriculum Vitae. São Paulo, 1946a. (Impresso)
265
MENNUCCI, Sud. Discursos e Conferências Ruralistas. São Paulo: [s. n.],
1946b.
MOREIRA, J. Roberto. A administração municipal e o ruralismo
pedagógico. Revista Brasileira dos Municípios, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1-2,
p. 17-26, jan./jun. 1948.
MOREIRA, J. Roberto. Educação para o Brasil rural. Revista Brasileira
dos Municípios, Rio de Janeiro, v. 2, n. 8, p. 847-858, out./dez. 1949.
NOVELLI JÚNIOR, Luís Gonzaga. [Carta] 2 mai. 1946, Rio de Janeiro
[para] MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Agradece a remessa dos “magníficos
trabalhos” de Sud Mennucci “sobre ensino rural”. Ressalta que esses
trabalhos irão auxiliar “na confecção do meu próximo discurso na
Constituinte”.
OLIVEIRA, Amalia Xavier de. [Carta] 25 jan. 1938, Joazeiro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Acusa e agradece o recebimento da coleção
da Revista do Professor. Informa o envio de retratos da escola. Informa
negociação de terreno localizado em frente à escola, “onde os alunos
poderão trabalhar à vontade.” Informa que serão feitas “diversas
demonstrações” “para o nosso homem do campo”. Informe de que o livro
de “D. Noemia” foi incluído na bibliografia adotada pelo “Departamento
de Educação do Ceará. É mais um passo agigantado que a nossa terra dá,
na estrada do ruralismo.”
OLIVEIRA, Amalia Xavier de. [Carta] 20 abr. 1948, Juazeiro do Norte
[para] MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Informa que será realizada, de 25 a 31
de maio de 1948, em Juazeiro do Norte, a “3ª Semana Ruralista Brasileira,
patrocinada pelo Ministério da Agricultura”. Informa que o nome de Sud
está na comissão de honra dessa Semana. Solicita que sejam trazidos
ilustres representantes do Ministério da Agricultura. Faz menção à
necessidade de se educar e enaltecer o homem do campo e “que no sólo
brasileiro repousa a maior parte da Nação.”
266
O PROBLEMA rural em S. Paulo. Discursos pronunciados pelos srs. drs.
Luis de Toledo Piza Sobrinho, Secretario da Agricultura, Industria e
Commercio do Estado de S. Paulo e Odilon Braga, Ministro da
Agricultura da Republica, em 20-VI-936. São Paulo: Empreza Graphica
da “Revista dos Tribunaes”, Minas 1946. 39 p.
ORAM, Frank H. [Carta] 22 out. 1945a, São Paulo [para] MENNUCCI,
Sud, São Paulo. 1f. Agradece pela colaboração do Departamento de
Educação para realização do “Curso de Extensão Cultural e Mostruário de
Livros Educativos Norte-americanos”. Menciona a participação nessas
atividades, principalmente, dos professores: J. Oliveira Orlandi
(bibliotecário chefe) e Elisiario Rodrigues de Souza (assistente de
publicidade).
ORAM, Frank H. [Carta] 26 out. 1945b, São Paulo [para] MENNUCCI,
Sud, São Paulo. 1f. Acusa e agradece recebimento de ofício de indicação
de três educadores para aperfeiçoamento nos EUA. Pede currículo de
profa. Iracema e Castro Amarante. Faz menção ao professor Flavio
Sampaio, Elisiario R. de Souza e profa. Odete Teixeira Viegas. Menciona
a possibilidade informada por Sud do financiamento do governo do estado
para o envio de no mínimo mais três educadores paulistas para
aperfeiçoamento nos EUA.
ORAM, Frank H. [Carta] 25 out. 1945c, [s.l.] [para] MORAIS, J. de
Mello; MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Informa assinatura de um
acordo entre EUA e o Ministério da Agriculta/Diretoria do Ensino
Agrícola, para o desenvolvimento do ensino rural no país.
ORAM, Frank. H.; TSCHUDY, Arnold. [Carta] 23 jun. 1944, São Paulo
[para] MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Menciona providencias para
“intercâmbio de idéias e de material” com os EUA. Apresenta
congratulações a Sud Mennucci exposição de atividades Panamericana
realizada e agradece pelo convite.
267
PAIXÃO, S. da. Pela educação ruralista. Revista do Professor, São Paulo,
ano VI, n. 22, p. 19, nov. 1939.
PAZ, Ulysses Freire da. [Carta] 20 jun. 1945, New York [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 3f. Informa que chegou em New York e
que “desde logo” se aproximou dos “meios” educacionais, conforme
previsto no “programa previamente traçado”. Menciona ter visitado o
“Institute of International Education”, a “Columbia University” e o
“Teacherr’ College”. Informa ter sido presenteado com diversas
publicações interessantes e menciona/descreve o título de 12. Destaca que
pensa que a viagem será proveitosa e manifesta seu desejo de que suas
experiências possam ser úteis/aproveitadas pelo Departamento que Sud
Mennucci dirige.
PEÑERO, Angelina del Barco. [Carta] 30 jan. 1938a, Buenos Aires [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Faz menção a dificuldades encontradas para
organização de uma caravana de professores com destino ao Rio Janeiro.
Menciona questão da inauguração do Instituto y Séccion Argentina en la
Biblioteca del Centro del Profesorado”. Menciona recepção de carta de
Mennucci.
PEÑERO, Angelina del Barco. [Carta] 23 mai. 1938b, Buenos Aires
[para] MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 4f. Trata da possibilidade de realizar uma
“excursión al Brasil con sessenta professores”.
PEÑERO, Angelina del Barco. [Carta] 9 jul. 1938c, Buenos Aires [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 3f. Menciona viaje ao Brasil de um grupo de
algumas estudantes e faz menção a possibilidade encontrar Sud Mennucci.
PEÑERO, Angelina del Barco. [Carta] 22 ago. 1938d, Buenos Aires
[para] MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Informa que os “Amigos de la
Educación” enviaram um convite a todos os países da América para
participação no “Congreso Americano de Educación”. No entanto, como
268
o “Professorado Paulista” não respondeu, escreve para Sud Mennucci
relembrando/reforçando o convite. Coloca-se à disposição para representar
Sud Mennucci caso ele não possa participar e não tenha outra pessoa para
represen-lo.
PEÑERO, Angelina del Barco. [Carta] 5 jul. 1939, Buenos Aires [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Informa a Sud Mennucci sobre sua vinda ao
Brasil juntamente com outras duas pessoas e solicita que lhes seja
providenciada hospedagem. Diz que participará da inauguração do
Instituto Brasileño Argentino, dentre outras atividades.
PEÑERO, Angelina del Barco. [Carta] 7 set. 1940, Buenos Aires [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Apresenta saudações pelo 112
aniversário de independência do Brasil.
PEÑERO, Angelina del Barco. [Carta] 25 ago. 1942a, Buenos Aires [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Menciona atentado ocorrido no Brasil
e manifesta solidariedade. Solicita confirmação de recebimento de cartas
anteriores, pois pretende enviar “Album Histórico y Geográgico de la
Argentina”.
PEÑERO, Angelina del Barco. [Carta] 5 set. 1942b, Buenos Aires [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Felicitação pelo aniversário da
independência e registro de admiração pelo Brasil.
PEÑERO, Angelina del Barco. [Carta] 9 set. 1942c, Buenos Aires [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 2f. Menciona confecção de álbum
histórico sobre a Argentina, enviado a Mennucci por meio de um
Embaixador.
PINTO, Ricardo Ferraz de Arruda. [Carta] 23 ago. 1939, Piracicaba
[para] MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Convite para pronunciar
conferência no dia 7 de setembro de 1939 em Piracicaba. Informe de que
o “Orfeon da Escola Normal” fará uma apresentação nessa “reunião”.
269
PIZA SOBRINHO, Luís de Toledo. O problema agrário do Brasil.
Discurso pronunciado em sessão de 19 de junho de 1946, na Assembléia
Constituinte. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1946.
PRIMEIRA SEMANA ruralista Rio-Branquense. Revista Brasileira dos
Municípios, Rio de Janeiro, v. 4, n. 15, p. 401-402, jul.-set. 1951.
PRIMEIRO CONGRESSO Brasileiro de ensino regional. Revista do
Professor, São Paulo, ano I, n. 8, p. 03-44, dez. 1934 a jan. 1935.
PRIMEIRO CONGRESSO BRASILEIRO de ensino regional. Rio de
Janeiro: Impressa Oficial, 1935. 40 p.
PROJETO MAIOR. O que é o projeto maior n.º 1 da UNESCO: Para a
generalização e melhoria do ensino primário na América latina. Revista do
Professor, São Paulo, ano XVII, n. 48, p. 31-32, out./nov. 1959.
QUISSAK, Ernesto. Vale do Paraíba e a Ruralização. Guaratinguetá, 1945.
(Digitado).
RABELLO, Manoel. [Carta] 6 dez. 1932, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Acusa o recebimento de dois volumes
dos livros: “100 anos de Instrução Publica” e “Brasil Desunido”. Agradece
e oferece-lhe os préstimos na capital Rio de Janeiro.
REBOUÇAS, Maria Terezinha. Em prol do ruralismo: A alimentação da
criança na zona rural, seus erros e os meios de remediá-los com recursos
locais. Revista do Professor, São Paulo, ano XII, n. 19, p. 17, fev. 1954.
RECAYTE, Haydee. [Carta] 11 mar. 1948, Montevideo [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Acusa recebimento de carta anterior e de
doação de livros de Mennucci para Exposición que se será inaugurada em
270
14 de abril de 1948. Apresenta desculpas e justificativa pela demora em
responder a carta de Mennucci.
RODRIGUES, Francisca Pereira. [Carta] 23 mar. 1938, [s.l.]. [para]
ILEGÍVEL, [s.l.], 1f. Informe de que foi encarregada de “promover uma
homenagem ao Prof. Sud Mennucci”; apresenta sua satisfação e seu
entusiasmo em fazê-la e acrescenta: “[Início ilegível] das qualidades do
distinto mestre, considero-o como sendo, nesta hora, o primeiro do Brasil,
portanto com justiça, o representante [legítimo] da classe.”
RODRIGUES, Francisca. [Carta] 2 mai. 1939, São Paulo [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Menciona que a Bandeira Paulista da
Alfabetização atendendo a solicitação do Dr. Juan Oscar Griot, diretor do
Ginasio Lyceu de Durazno do Uruguai, irá doador 500 livros brasileiros a
esse Ginasio. Nesse sentido, solicita a Sud Mennucci alguns exemplares.
ROMÃO. [Carta] 22 jun. 1933, Santos [para] MENNUCCI, Sud, [s.l.].
1f. Faz menção ao encontro com o “careca Peliciotti”. Felicitações pela
consagração na Academia Brasileira de Letras do livro A crise brasileira de
Educação. Menciona Flavio Pinto Cesar, filho de Otaviano Pinto Cesar de
Piracicaba, primo “2º grau” do remetente.
ROMÉRO, Orlando. [Carta] 4 out. 1938, Areia [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Faz menção a Sud como “a maior autoridade em
Ruralismo”. Manifesta interesse e solicita exemplar de “Crise Brasileira de
Educação”.
ROSS, Elisa. [Carta] 27 set. 1937a, Buenos Aires [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 2f. Menciona troca de correspondência; viagem que realizou a
São Paulo; estar vinculada a Escuela Nacional n. 83 de Buenos Aires.
Solicita que seja informada sobre a data de inauguração do “Centro do
professorado” e diz que tentará participar dessa atividade mesmo que seja
de forma não oficial.
271
ROSS, Elisa. [Carta] 19 nov. 1937b, Buenos Aires [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 1f. Menciona envio de livros que fez a Sud Mennucci e diz que
quando ele quiser algum livro de autor Argentina, basta solicitar-lhe.
Consulta Mennucci sobre informação que recebeu de Angelina de que em
breve fará viagem a Buenos Aires.
ROWE, L. S.; ALBA, Pedro. [Carta] 29 mai. 1946, Washington [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. “A Biblioteca Comemorativa de
Colombo saúda V. S. muito atenciosamente e agradece a remessa das obras
abaixo indicadas. A ruralização, por Sud Mennucci”.
ROWE, L. S.; ALBA, Pedro de. [Carta] 13 mai. 1947, Washington [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Em nome da Biblioteca Comemorativa
de Colombo agradece Mennucci pela doação de alguns de seus livros. (Não
menciona os livros).
RURALISMO: Discurso inaugural da Semana Ruralista de Franca,
pronunciado pelo professor Maximo de Moura Santos, em 22 de abril de
1935. Revista do Professor, São Paulo, ano II, n. 12, p. 12-13, jun./jul.
1935.
SANTOS, Maximo de Moura. [Carta] 20 jun. 1939a, São Paulo [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Convite para Sud Mennucci escrever
artigo na Revista de Educação e “[...] preferisse tema referente á ruralização
do ensino.
SANTOS, Maximo de Moura. [Carta] 24 jul. 1939b, São Paulo [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Convite para Sud Mennucci escrever artigo
na Revista de Educação.
SANTOS, Plinio Travassos dos. [Carta] 16 nov. 1938, Ribeirão Preto
[para] MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Informa e agradece pelo envio do livro
“A Crise Brasileira da Educação” (1 para Plínio e 2 para Biblioteca da Caixa
Escolar Municipal). Informa que efetuou a leitura desse livro. Menciona
272
ter enviado um de seus trabalhos para Sud e solicita um retorno sobre. O
remetente manifesta preocupação com a melhoria das escolas rurais. Conta
com a colaboração de Sud para a biblioteca.
SANTOS, Plínio Travassos dos. [Carta] 14 abr. 1942, Ribeirão Preto
[para] MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Informa que o Prefeito Dr. Fábio
Barreto “está interessado na reforma do ensino municipal, principalmente
para poder dar devida orientação ao ensino rural.” e quer contatar Sud.
Menciona as “virtudes de ruralista” de Sud. Menciona o envio a Sud do
artigo “Sugestões para a maior eficiência das escolas primárias”, publicado
pela Revista do Arquivo Municipal. Menciona intenção do Prefeito de
“libertar quanto possivel o ensino rural municipal do estadual.” O Prefeito
pretende estabelecer entendimento com Dr. Fernando Costa sobre “a
conveniência [...] do Estado cuidar exclusivamente do ensino urbano,
deixando o rural para o município. Alem disso, deseja melhorar os
vencimentos dos professores rurais municipais, para que sejam de fato
professores rurais, e rodeá-los de garantias e facilidade capazes de os
fixarem definitivamente.” Informa que doou ao Prefeito o livro “Crise
Brasileira de Educação”. Menciona o Decreto 20.108, publicado no Diário
Oficial. Pede recomendação ao “sr. Benedikto”.
SAUER, Henrique F. G. [Carta] 24 jan. 1936, Viçosa [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 3f. Menciona a difusão do ruralismo em
Minas Gerais, em especial na Escola Superior de Agricultura e Veterinária
de Viçosa e destaca o nome deu diretor “Dr. J. C. Bello Lisbôa”. Destaca
a atuação de Sud e do Estado de São Paulo para a difusão da mentalidade
ruralista e para a ruralização do ensino primário.
SEEGER, Charles. [Carta] 28 ago. 1946, Washington [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Menciona recepção de carta de Sud
Mennucci a Miss Vanett Lawler. Menciona Mr. Lozano. (Escrita em
inglês)
273
SILVA, Gabriel Monteiro da [Telegrama] 12 [ilegível] 1946, Rio de
Janeiro [para] MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Solicitação de “belos e
oportunos trabalhos sobre educação ruralista”, para atender Novelli.
SILVEIRA, Brenno. [Carta] 25 fev. 1947a, Washington [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Na função de redator e tradutor de
publicações em língua portuguesa da União Panamericana se coloca a
disposição de Sud Mennucci. Pede que Sud envie publicações suas e outras
que considere interessante.
SILVEIRA, Brenno. [Carta] 11 mar. 1947b, Washington [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Agradece amabilidade em uma carta de
Sud Mennucci e o apoio do Sud para divulgação de atividades culturais
em nosso país. Menciona possibilidades de publicações e de cooperação
para publicações.
SOUSA, Claudino Dias de. [Carta] 19 mai. 1939a, Barra do Piraí [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Em nome do Prefeito informa o recebimento
de carta. Indica o melhor trajeto para Juiz de Fora sem passar pelo Rio de
Janeiro (capital). Solicita um livro com dedicatória (não informa qual).
SOUSA, Claudino Dias de. [Carta] 26 mai. 1939b, Barra do Piraí [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 1f. Agradece pela oferta de cinco livros de Sud
Mennucci.
SOUSA, J. Moreira. [Carta] 8 abr. 1935a, Assis [para] MENNUCCI,
Sud, [s.l.]. 2f. Informa que obtém o livro Rodapés e 3 exemplares da Revista
do Professor que apresenta textos sobre o “1º Congresso Brasileiro de
Ensino Regional”. Tece elogios quanto à atuação de Sud.
SOUSA, J. Moreira de. [Carta] 8 nov. 1935b, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Menciona ida de Sud as “terras gaúchas”.
Menciona articulação com o deputado Monte Arrais da bancada cearence
acerca de um “esboço de um projéto de lei, a ser apresentado, no Congresso
274
Nacional, autorizando Poder Executivo a criar, em cada Estado do Brasil,
uma Escola Normal Rural, de tipo superior”. Informa que presentou com
o livro “Crise Brasileira de Educação” o deputado Monte Arrais, que leu e
está interessado na discussão sobre o ruralismo. Faz menção a Raul
Bittencourt (Comissão de Educação da Câmara), da bancada rio grandense
do sul, acerca de articulações ruralistas a serem apresentadas quando da
discussão do Plano Nacional de Educação. Solicita exemplar do livro “A
Crise”, cópia de conferência na A.B.E. e outros materiais sobre o ruralismo.
Menciona: “Precisamos fazer que o caso estoire no Congresso.” Faz
menção a repercussão da palestra de Sud no Rio Grande do Sul, diz que a
escola em Juazeiro vai bem e que a Semana Ruralista foi um sucesso. Faz
menção a necessidade de empenho pela ortografia simplifica.
SOUSA, Joaquim Moreira de. [Carta] 8 nov. 1935, Rio de Janeiro [para]
MENNUCCI, Sud, [s.l.]. 2f. Trata de diversos assuntos relacionados a
ruralização do ensino.
SOUSA, Joaquim Moreira. Educação rural pela escola primária. Revista
Brasileira dos Municípios, Rio de Janeiro, v. 3, n. 12, p. 1095-1105,
out./dez. 1950.
TERAN, Carlos M. [Carta] 10 abr. 1947, Michigan [para] MENNUCCI,
Sud, São Paulo. 1f. Acusa recepção dos livros “A ruralização” e “Discursos
e conferências ruralistas” e informa que usará os livros nas aulas de
civilização latino-americana.
TOLEDO, Antonio Alves de. [Carta] 31 jul. 1939, Bebedouro [para]
MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. Agradece pela oferta do livro Brasil
Desunido” de autoria de Sud e elogia a sua produção.
TORRES FILHO, Artur Eugênio Magarinos. [Carta] 11 mai. 1932, Rio
de Janeiro [para] MENNUCCI, Sud, São Paulo. 1f. O remetente solicita
informações sobre a organização do ensino rural no Estado de São Paulo.
Faz menção ao livro “A Crise Brasileira de Educação”, a atuação de Sud
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no combate ao “êxodo dos campos” e do empenho de Sud de melhorar os
“processos agricolas, pelo ensino rural”. No verso da carta consta o nome
encaminhamento ao “cidadão doutor Lahyr de Castro Cotti, para que se
digne de informar (21-5-1932).
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Normalização
Nathanael da Cruz e Silva Neto
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Agnes Iara Domingos Moraes
“O livro examina questões cruciais à compreensão da escolarização no
meio rural e convida o leitor a se enveredar nos meandros do uxo his-
tórico inexorável do movimento das ideias. Quem foram os ruralistas do
ensino? Que ações desenvolveram para que o movimento se fortalecesse?
Quais os interesses subjacentes às propostas pedagógicas de uma escola
primária ruralizada e de uma formação especíca do magistério nas escolas
normais rurais? Qual a intencionalidade pressuposta na defesa da xação
dos trabalhadores no campo?”
“Trata-se, como bem sugerido no título, de “ideias em movimento e [d]
o movimento das ideias”. Mas vale o alerta. Hora alguma, a autora lida
com essas proposições como meras abstrações. São ideias encarnadas em
sujeitos e práticas sociais e educacionais. Ideias de cariz nacional, como os
inúmeros livros escritos por Sud Mennucci no diálogo com outros autores
como Alberto Torres e ruralistas de vários matizes. Múltiplos diálogos que
se estendem pelos mais variados recantos do país e atravessaram fronteiras.
Seguindo os rastros das missivas recebidas por Sud Mennucci do exterior,
ganha especial relevo na presente obra a circulação internacional das ideias
do Movimento pela Ruralização do Ensino confrontadas com outras ações
políticas e institucionais relacionadas à educação rural.”
No livro “Ruralização do ensino:
as ideias em movimento e o movimen-
to das ideias (1930-1950)” apresentam-se
resultados de pesquisa de Doutorado em
Educação, que investigou a circulação das
ideias do Movimento pela ruralização do
ensino, entre as décadas de 1930 e 1950.
Os resultados apontam que os integrantes
do Movimento pela ruralização do ensi-
no atuaram em âmbitos nacional e inter-
nacional, envolvendo uma ampla rede de
sociabilidade composta por diversos sujei-
tos, que se valeram de eventos, impressos,
instituições educativas, bem como Socie-
dades e Institutos para levarem a termo a
concepção de educação ruralizada. Ade-
mais, Sud Mennucci foi o principal articu-
lador do processo de circulação das ideias,
da implementação de ações e da materiali-
zação de propostas desse Movimento pela
ruralização do ensino. Trata-se de um livro
fundamental para conhecer as ideias desse
Movimento e o movimento dessas ideias.
Agnes Iara Domingos Moraes
Doutora em Educação, com período sanduí-
che na Universidad de Salamanca - Espanha,
Mestre em Educação, Especialista em Aten-
dimento Educacional Especializado: área da
Deciência Intelectual e Graduada em Pe-
dagogia com Habilitação em Deciência
Intelectual, todos pela Faculdade de Filoso-
a e Ciências da Universidade Estadual Pau-
lista (Unesp), campus de Marília. Professora
da Universidade Estadual de Mato Gros-
so do Sul (UEMS), Paranaíba. Desenvolve
pesquisas sobre história da educação rural,
educação do campo, educação inclusiva e
formação de professores. É autora de livros,
capítulos de livros e artigos publicados em
periódicos acadêmico-cientícos nacionais
e internacionais.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
as ideias em movimento e o movimento das ideias
(1930-1950)
RURALIZAÇÃO DO
ENSINO
RURALIZAÇÃO DO ENSINO
Agnes Iara Domingos Moraes
Excertos do Prefácio escrito pela Profa. Dra. Rosa Fátima de Souza Chaloba
“Campinas, junho de 2021. Final de outono tristonho, assolado pela tragédia
humanitária de mais de 473 mil mortos pela Covid-19 no Brasil.”