Resultado de uma rigorosa pesquisa, Dez anos de integração do Ensi-
no Técnico ao Médio no Centro Paula Souza: um estudo a respeito da
Habilitação Prossional em Agropecuária, de Bruno Michel da Costa
Mercurio, apresenta análises sobre o Curso de Habilitação Prossional
em Agropecuária, na modalidade de Ensino Técnico integrado ao -
dio (ETIM), do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza
(CEETEPS). A obra traz problematizações e discussões acerca do pro-
cesso histórico de desenvolvimento da educação prossional no Brasil,
contemplando as principais reformas educacionais e a expansão e a re-
ordenação da educação prossional e tecnológica, que levaram à cons-
tituição do ensino médio integrado. As reexões efetuadas têm como
mediações a prática do pesquisador em Escolas Agrícolas e experiências
vivenciadas com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Convido as pessoas interessadas no debate sobre a temática do Ensino
Técnico integrado ao Médio à leitura desta obra, pois se trata de um
estudo signicativo e relevante, especialmente no atual cenário educa-
cional brasileiro.
Essa articulação, sob o respeito a
alguns pressupostos assegurados pelo mar-
xismo clássico, permite que o autor, como
o metal, consiga uma redação com uidez
e desenvoltura discursiva. Isso é muito im-
portante e até certo ponto, raro. Mas, para
as principais investigações que lhe sustenta,
não basta. É preciso, no plano da ciência, ir
além! Tomar partido. Dizer de que lado da
trincheira se posiciona. Bruno Mercurio,
para que não haja confusão nem com o me-
tal, tampouco com a entidade romana, visto
que a uidez precisa dizer o que defende, não
esconde em que lado da luta de classes está.
Com base em uma sólida empiria
acerca das ETIM em agropecuária, o livro
apresenta consistentes inferências. A mais
importe delas, é delatar como as atuais políti-
cas públicas educativas, sobretudo prossio-
nalizantes, procuram atender, em primeiro
termo, as necessidades do capitalismo pe-
riférico brasileiro em sua versão paulistana.
Para quem vive sobre as asas de cera
do irracionalismo que, lamentavelmente,
impregnou os corredores acadêmicos, isso
pode parecer pouco. Ao contrário, asseguro
que não.
Tomar partido em um cenário de
medo político-sanitário, em que as rodas de
conversa, presenciais e principalmente digi-
tais, discutem a possibilidade de um golpe
de Estado, defender a educação omnilateral
é um ato de coragem.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio 0798/2018
Processo 23038.000985/2018-89
A publicação é fruto da pesqui-
sa que o autor realizou para a disserta-
ção de mestrado defendida no Progra-
ma de Pós-Graduação em Educação
da Faculdade de Filosoa e Ciências da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (Unesp), Campus de
Marília. O texto de defesa de mestrado
teve o seguinte título: Integração do En-
sino Técnico ao Médio na Habilitação
Prossional de Agropecuária no Centro
Paula Souza: limites e contradições. A
competente orientação coube ao Profes-
sor Dr. Henrique Novais.
Em um momento em que se va-
loriza os papers produtores de números
para o currículo Lattes, alegra-me en-
contrar um jovem pesquisador com inte-
resse em publicar sua pesquisa na forma
de livro, seja ele impresso e ou digital.
Essa é uma importante oferta que pode-
mos deixar para as gerações futuras. Haja
vista, como indagava Umberto Eco, não
podemos contar, antecipadamente, com
o m dos livros. Quem se antecipou a
decretar o tom de nados para o disco de
vinil, deveria ter se arrependido, pois
a implacabilidade do real mostra como
é perigoso ser idealista (de esquerda, de
centro ou de direita).
Bruno Mercurio, rero-me agora
ao pesquisador, concentra-se em comu-
nicar a análise apreendida sobre o Ensino
Médio integrado na Habilitação Pros-
sional em Agropecuária, ofertada, pelo
Centro Estadual de Educação Tecnoló-
gica Paula Souza (CEETEPS). A autoria
demostra ser referenciado, por um lado,
na prática prossional experimentada
nas Escolas Agrícolas do Centro e, por
outro, na vivência adquirida com a mili-
tância orgânica ao Movimento dos Tra-
balhadores Rurais Sem Terra (MST).
DEZ ANOS DE INTEGRAÇÃO DO ENSINO TÉCNICO AO MÉDIO NO CENTRO PAULA SOUZA
Bruno Mercurio
NEUSA MARIA DAL RI
JOSÉ DERIBALDO GOMES DOS SANTOS
Setembro de 2021
DEZ ANOS DE INTEGRAÇÃO DO
ENSINO TÉCNICO AO MÉDIO NO
CENTRO PAULA SOUZA
um estudo a respeito da habilitação
prossional em agropecuária
Bruno Michel da Costa Mercurio
DEZ ANOS DE INTEGRAÇÃO DO ENSINO TÉCNICO AO
MÉDIO NO CENTRO PAULA SOUZA:
um estudo a respeito da habilitação profissional em agropecuária
Bruno Michel da Costa Mercurio
Bruno Michel da Costa Mercurio
DEZ ANOS DE INTEGRAÇÃO DO ENSINO TÉCNICO AO
MÉDIO NO CENTRO PAULA SOUZA:
um estudo a respeito da habilitação profissional em agropecuária
Ma
rília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS FFC
UNESP - campus de Marília
Diretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
Graziela Zambão Abdian
Patrícia Unger Raphael Bataglia
Pedro Angelo Pagni
Rodrigo Pelloso Gelamo
Maria do Rosário Longo Mortatti
Jáima Pinheiro Oliveira
Eduardo José Manzini
Cláudia Regina Mosca Giroto
Auxílio Nº 0798/2018, Processo Nº 23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
Mercúrio, Bruno Michel da Costa.
M556d Dez anos de integração do ensino técnico ao médio no Centro Paula Souza: um estudo a
respeito da habilitação profissional em agropecuária / Bruno Michel da Costa Mercúrio.
Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2021.
141 p.: il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-174-4 (DIGITAL)
ISBN 978-65-5954-173-7 (IMPRESSO)
1. Centro Paula Souza. 2. Ensino técnico. 3. Ensino médio. 4. Ensino integrado. 4.
Educação e Estado. I. Título.
CDD 373.2463
Copyright © 2021, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
A meus pais, Clarice e José Alberto, por todo o amor, apoio
em minhas escolhas e em meus caminhos.
A meus avós, Geraldo e Sebastiana (in memorian) e José e
Albertina, por serem meus espelhos e referencias.
Dedico.
Agradecimentos
Tantas são as pessoas que passam pela nossa jornada e que deixam
marcas. Tanta gente a quem devo ser grato e que fazem com que esta
jornada tenha um pouco de cada um de vocês. A todos, agradeço.
Agradeço, primeiramente, a meus pais e a meus avós, que sempre
me apoiaram em minhas escolhas ao longo de toda a minha vida.
A minha irmã, que esteve por perto deles, nos momentos em que
eu não pude estar.
A toda minha família, que de tão grandiosa, acabaria por esquecer
alguém, a qual tenho uma profunda gratidão e orgulho de fazer parte.
Aos amigos que me acompanham desde a graduação,
carinhosamente, em especial, ao amigo Abraão, pelos conselhos no início
dessa trajetória; ao amigo Tiago Brentan, por apresentar o Programa de
Educação; e, em meio a essa descoberta, agradeço ao amigo João Bob
Roceiro, por me apresentar o professor Henrique, que me orientou nessa
jornada.
Aos amigos que (re)encontrei nesse retorno a Marília: João, Marco,
Lian, Maria, Giovani e Lucas, pelas cervejas compartilhadas e pelos
momentos de alegria.
A minha amiga-irmã, Renata Caroline, por todo o carinho e por
todo o companheirismo, pelos inúmeros aprendizados, pelas tristezas e
pelas alegrias compartilhadas. Sinto-me grato pelo privilégio de termos
desenvolvido um laço tão forte e duradouro. A sua amizade é um dos
maiores presentes que já tive em minha vida, sem a qual não teria me
encontrado nessa jornada.
Aos tantos amigos inspiradores que encontrei nos espaços do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, aos quais sou grato pelos
ensinamentos compartilhados, aos quais me ajudaram a compreender que
a vida só possui sentido quando aprendemos a ser solidários e caminhar de
mãos dadas.
Aos amigos que a Pós-Graduação trouxe: Aline, Juliana, Alan,
Mônica, Ellen, Fernanda e tantos outros aos quais apoiamos uns aos outros
e que fizeram parte dessa jornada. Ao contrário do que me diziam lá no
começo, graças a vocês, o mestrado não foi uma jornada solitária.
Aos amigos de Lins, que sempre alegraram os finais de semana e
períodos de férias: Alfredo, Mauricio Varela, Rolande, Mauricio Tobler,
Pedro Cabeção, Alessandro, e, em especial, ao Luís, pelos mais de 15 anos
de amizade e de companheirismo, que sempre prevaleceram em meio as
inúmeras divergências ideológicas que possuímos.
Ao professor Henrique, não só pela orientação, mas,
principalmente, pela amizade e pelo companheirismo e pelas
oportunidades oferecidas, que me propiciaram um amadurecimento
enquanto pesquisador. A professora Neusa, cujas indicações e sugestões
foram fundamentais para o amadurecimento do projeto. Ao professor
Deribaldo, pela enorme generosidade, indicando leituras que muito
contribuíram para minha pesquisa. Creio que ainda tenho muito o que
amadurecer como pesquisador, mas sinto, que graças a vocês, consegui dar
saltos, que me possibilitaram avançar.
Aos professores Júlio, Graziela e Luciana por todo o carinho com
os alunos e conhecimento transmitidos.
A todos os colegas do Grupo de Pesquisa Organizações e
Democracia, pelo companheirismo e pelos conhecimentos comparti-
lhados.
Não posso deixar de agradecer aos amigos e os ex-alunos da ETEC
Agrícola de Cabrália Paulista, onde iniciei minha jornada no Centro Paula
Souza, escola e amigos dos quais sinto tanta falta, e aos amigos da ETEC
Agrícola de Garça que tão bem me acolheram.
Por fim, aos amigos Orientadores Educacionais, que há dez anos
seguimos na mesma trajetória, compartilhando experiências, as frustrações
e alegrias do nosso trabalho. E a toda equipe de Gestão Pedagógica
Regional de Marília e Presidente Prudente, por todo o apoio e incentivo.
A todos vocês meu muito obrigado, há um pouco de cada um de
vocês nessa jornada!
Um povo educado não aceitaria as condições
de miséria e desemprego como as que temos.
Florestan Fernandes
Lista de Abreviaturas e Siglas
ATPC - Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo
BNCC - Base Nacional Comum Curricular
CEE/SP - Conselho Estadual de Educação de São Paulo
CEETEPS - Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza
CEETSP - Centro Estadual de Educação Tecnológica de São Paulo
CETEC - Unidade de Ensino Médio e Técnico
CIA - Central Intelligence Agency (Agência Central de Inteligência)
CNE - Conselho Nacional de Educação
CPS - Centro Paula Souza
DCNEM - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
DEETE - Divisão Estadual de Ensino Tecnológico
DISAETE - Divisão de Supervisão e Apoio às Escolas Técnicas Estaduais
EMI - Ensino Médio Integrado
ETEC - Escola Técnica Estadual
ETIM - Ensino Técnico integrado ao Médio
FBI - Federal Bureau of Investigation (Departamento Federal de Investigação)
FFC - Faculdade de Filosofia e Ciências
FHC - Fernando Henrique Cardoso
FNDEP - Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública
GEAGRI - Grupo Executivo de Trabalho do Ensino Agrícola
GFAC - Grupo de Formulação e Análise de Currículo
GPOD - Grupo de Pesquisas Organizações e Democracia
HAE - Hora Atividade Específica
IFTP - Itinerário de Formação Técnico-Profissional
LDB - Lei de Diretrizes e Bases
MEC - Ministério da Educação
MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
PCNEM - Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
PFL - Partido da Frente Liberal
PPGE - Programa de Pós-Graduação em Educação
PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira
PTD - Plano de Trabalho Docente
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SEMTEC - Secretaria de Educação Média e Tecnológica
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura
UNESP - Universidade Estadual Paulista
USAID - United States Agency for International Development (Agência dos
Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional)
Sumário
Prefácio --------------------------------------------------------------------------- 17
Apresentação --------------------------------------------------------------------- 21
Breve Histórico do Ensino Profissional e Agrícola ------------------------- 27
O Ensino Agrícola na Secretaria da Educação --------------------------- 30
As Escolas Agrotécnicas na Secretária de Agricultura ------------------- 33
As Escolas Agrotécnicas regressam a Secretária da Educação ---------- 34
Técnica, Tecnologia e Crise Estrutural do Capital ---------------------- 43
A Educação Profissional na Década de 1980 ---------------------------- 45
Escolas Técnicas Estaduais no Centro Paula Souza --------------------- 48
ENSINO MÉDIO INTEGRADO: UM CAMPO EM DISPUTA - 55
Concepção de Ensino Integrado no Decreto 5.154/2004 e suas críticas
---------------------------------------------------------------------------------- 58
Concepção Burguesa de Formação Integrada e o Centro Paula Souza
---------------------------------------------------------------------------------- 70
Competências Socioemocionais -------------------------------------------- 79
ETIM em Agropecuária ----------------------------------------------------- 83
Trabalho Docente ----------------------------------------------------------- 88
Balanço das relações de forças ao longo de dez anos de construção do
Ensino Médio Integrado ---------------------------------------------------- 90
A Concepção de Integração e a Prática Docente --------------------------- 95
Análise e Interpretação das Entrevistas ------------------------------------ 97
Conclusão ---------------------------------------------------------------------- 121
Referências --------------------------------------------------------------------- 125
17
Prefácio
O livro Dez Anos de Integração do Ensino Técnico ao Médio no
Centro Paula Souza: Um Estudo a respeito da Habilitação Profissional em
Agropecuária é resultado da pesquisa de Bruno Mercurio realizada junto ao
Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e
Ciências da UNESP Marília para obtenção do título de mestre.
Os resultados apresentados na obra também são fruto da
experiência profissional do autor, acumulada ao longo de mais de dez anos
em escolas agrícolas do Centro Paula Souza. Também é preciso sublinhar
que a trajetória profissional do autor está intimamente ligada ao objeto de
estudo apresentado: o Ensino Técnico integrado ao Médio (ETIM) na
Habilitação Profissional em Agropecuária, retomado a partir de 2009,
tendo completado dez anos de implantação em 2019, o qual o autor
acompanhou desde 2010, tendo ajudado em sua implantação em uma das
escolas agrícolas na qual atuou.
Essa larga experiência prática de Bruno Mercurio combinada
com uma pesquisa bibliográfica, empírica e documental sobre educação
profissional resultou num livro agradável e ao mesmo tempo denso sobre
a política de integração entre ensino técnico e geral.
Mercurio retoma todo o percurso histórico do Ensino Profissional
Agrícola no Estado de São Paulo, o debate sobre o Ensino Integrado a
partir das bases de uma Educação omnilateral na década de 1980 e a
retomada desse debate a partir 2004, como parte do horizonte lulista.
18
Ele aponta os caminhos e princípios sobre os quais a política
educacional de retomada do Ensino Integrado foi construída em nível
nacional, supostamente almejando a construção da educação omnilateral.
A maior contribuição de Mercurio é justamente observar a
implementação desta política na particularidade do Centro Paula Souza. É
preciso destacar também que historicamente o Estado de São Paulo se
colocou na vanguarda das reformas educacionais desde o início da
república. No final dos anos 1960 não foi diferente ao criar um sistema de
qualificação próprio para a burguesia industrial paulista e para as empresas
transnacionais que aqui se instalaram. O hoje denominado Centro
Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS) surgiu em
1969 como resultado das demandas educacionais da nova fase de
industrialização no Estado de São Paulo, no Brasil e no mundo.
Ele integra as Faculdades de Tecnologia, e posteriormente as
escolas técnicas já existentes e criadas ao longo das décadas seguintes. Estas
foram importantes para formar mão de obra qualificada e quadros técnicos
intermediários, numa divisão do trabalho explorado-alienado cada vez
mais complexa, num país de capitalismo dependente e associado. Mercurio
também nos mostra o crescimento quantitativo do Centro Paula Souza no
século XXI, em grande medida a reboque do PAC e como um contraponto
a criação dos Institutos Federais.
Se nos anos 1970 predominava a formação de mão de obra
adestrada, típica do regime de acumulação taylorista-fordista, hoje, com o
avanço do regime de acumulação flexível, predomina ao menos no plano
ideológico - a perspectiva das competências, típica do regime de
acumulação flexível e financeirizado, num contexto onde conseguir
carteira assinada e um emprego estável é cada vez mais difícil.
19
A vantagem do CPS é que ele não afirma em nenhum momento
nos seus documentos que irá promover uma educação omnilateral.
Destaco isso porque nos Institutos Federais é muito comum encontrar na
casca termos como educação omnilateral mas na essência a educação se
baseia cada vez mais no empreendedorismo e na formação voltada para o
mercado de trabalho.
Mercurio nos mostra os limites da política de integração entre
ensino médio e técnico, especialmente quando traz para o debate as
percepções dos professores sobre essa política. Problemas clássicos como
sobreposição de conhecimentos, separação nítida entre conhecimento geral
e específico e formação pura e simples para o mercado de trabalho ou para
o vestibular são destacadas por eles.
Para finalizar, creio que este livro é do interesse dos intelectuais
orgânicos do lulismo, para que vejam como um decreto criado lá em
Brasília é implementado lá na ponta, num importante sistema educacional
como o Centro Paula Souza.
De forma geral, trata-se de uma obra relevante para os educadores
e pesquisadores que buscam aprofundar os caminhos percorridos pela
Educação Profissional e Agrícola no Brasil, e para nós, que estamos lutando
pela construção da educação para além do capital e com ela pela superação
deste modo de produção mesquinho, baseado na acumulação de capital e
na produção constante de barbárie.
Marília diante do colapso ambiental.
6 de setembro de 2021,
Henrique Tahan Novaes
21
Apresentação
Este livro é fruto da dissertação intitulada Integração do Ensino
Técnico ao Médio na Habilitação Profissional de Agropecuária no Centro
Paula Souza: limites e contradições, defendida junto ao Programa de Pós
Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp.
O ponto de partida para o desenvolvimento da pesquisa que resulta
nesse livro trata-se da intersecção entre a prática profissional do
pesquisador em Escolas Agrícolas do Centro Estadual de Educação
Tecnológica Paula Souza (CEETEPS) e a vivência com o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conjuntamente ao modo como
se relacionam com a terra, com o trabalho e com a vida comunitária.
As primeiras experiências vivenciadas pelo pesquisador trouxeram
percepções de uma distância considerável entre os conhecimentos
multiplicados nas comunidades organizadas pelo MST e as práticas
adotadas nas Escolas Agrícolas do Centro Paula Souza. A partir dessas
observações, foi possível compreender que a formação oferecida, pelo
Centro Paula Souza, estava distante das condições materiais disponíveis
aos trabalhadores rurais que vivem nessas comunidades. Observamos,
junto aos agricultores dessas comunidades, a reprodução de saberes
ancestrais, os quais propiciavam a prática de um modelo de agricultura de
baixo impacto ambiental e de base ecológica, com pouca utilização de
insumos externos, orientado para a conscientização política, transformação
social, soberania alimentar e reprodução social do campesinato, em
22
oposição ao modelo de produção do agronegócio. No momento das
primeiras observações, esse conjunto de técnicas e de organização da vida
comunitária em direção a uma transição Agroecológica (GUBUR &
TONÁ, 2012) pareciam distantes dos conhecimentos oferecidos nas
Escolas Agrícolas, o que despertou o interesse do pesquisador.
Nesse mesmo período, começaram a ser oferecidas capacitações aos
professores pela Unidade de Ensino Médio e Técnico (CETEC)
relacionadas as temáticas da Agroecologia, Agricultura Sustentável,
Agricultura Urbana, entre outras. Evidenciou-se, assim, a relevância dessas
práticas para o currículo escolar e para a consequente apropriação dos
conhecimentos relativos à agroecologia e às demais práticas relacionadas ao
cultivo em harmonia com a natureza pelos interesses do Agronegócio.
A partir das observações vivenciadas no processo de formulação do
objeto de pesquisa, constatamos que as escolas agrícolas constituem -se em
um vasto campo para pesquisa, análise e compreensão das estruturas e
interesses, aos quais o Técnico em Agropecuária integrado ao Ensino
Médio está alicerçado.
Como ponto de partida de investigação, estabelecemos a
publicação do Decreto n. 5.154/2004, que substituía o Decreto n.
2.208/1997, marcando o início de um novo ciclo na Educação Profissional
de nível médio no Brasil, ao reestabelecer a oferta do Ensino Técnico de
nível médio integrado ao Ensino Médio. No âmbito das escolas agrícolas,
possibilitou o atendimento da demanda de alunos que cursavam o ensino
médio e técnico durante todo dia e, em alguns casos, em escolas distintas
(CEETEPS, 2009, p. 04).
Portanto, o objeto de pesquisa trata-se da Habilitação Profissional
em Agropecuária, oferecida na modalidade de Ensino Técnico integrado
23
ao Médio (ETIM) do CEETEPS. A Educação Profissional, mais
genericamente, e o objeto de pesquisa escolhido estão marcados, no Brasil,
por uma dicotomia, caracterizada por um modelo de educação para a classe
trabalhadora, baseado na dimensão do “fazer”; ao passo que, para as elites,
destina-se um modelo de educação baseado na dimensão do “saber” e no
desenvolvimento das capacidades científicas e culturais. As bases dessa
cisão encontram-se fundamentadas no sistema capitalista, baseado em
relações contraditórias entre quem produz e quem detém os meios de
produção, com classes antagônicas e, consequentemente, um modelo de
escola que atenda aos interesses da classe dirigente e outro modelo de escola
que reproduza a classe trabalhadora, configurando-se em uma “[...]
dicotomia que se processa dentro de um sistema já dualista” (SANTOS,
2017, p. 109).
Um marco importante dessa dicotomia da Educação Profissional,
com relação ao campo do Ensino Agrícola, trata-se do desenvolvimento de
um modelo de Agricultura submisso aos interesses do capital estrangeiro,
denominado de Revolução Verde. Modelo esse que substitui o pressuposto
da necessidade de um projeto de Reforma Agrária, para o desenvolvimento
do campo, pela adoção de tecnologias e de insumos, pela substituição de
um modelo de agricultura biológica por um modelo de agricultura
química, que, segundo essa perspectiva, modernizaria o campo,
influenciando, em muito, a expansão e a estruturação do Ensino Técnico
Agrícola na década de 1970. A expansão das fronteiras agrícolas e escassez
de mão-de-obra qualificada fizeram com que as escolas paulistas se
referenciassem como centros de formação profissional, aptos a atender as
demandas do agronegócio em todo o país. Esse período tem como uma de
suas principais características o modelo denominado Sistema Escola-
Fazenda, concebido pelo professor e engenheiro agrônomo Sigheo
Mizoguchi. Concebido enquanto um modelo educativo que se propunha
24
a desenvolver organismos escolares autossuficientes. (MIZOGUCHI,
1980). Apesar de ter sido, oficialmente, abandonado, o modelo ainda
segue presente na prática das escolas agrícolas através das Cooperativas-
Escola, que se tornaram responsáveis por gerir as fazendas e os alojamentos,
promovendo parcerias com entidades externas e a educação para a
cooperativismo (sob a ótica do capital), contribuindo com o custeio de
despesas cotidianas das unidades escolares.
A investigação proposta nessa pesquisa se dá entre o ano de 2004,
quando o Ensino Médio Integrado (EMI) é retomado pelo Decreto n.
5.154/2004, tendo sua implantação no Centro Paula Souza iniciada em
2009, percorrendo a trajetória dessa modalidade até 2019, quando se
completam 10 anos do ETIM na Habilitação Profissional em
Agropecuária no Centro Paula Souza. Portanto, período em que este já se
encontra consolidado, cabendo realizar um balanço da política
educacional.
A pesquisa encontra se organizada em três capítulos. No primeiro
capítulo, resgatamos as origens do Ensino Agrícola no Brasil, com ênfase
para a trajetória das escolas agrícolas do estado de São Paulo, no século XX,
a fim de contribuir para o resgate histórico das escolas agrícolas. Situamos,
no segundo capítulo, o debate político pedagógico, em torno do
reestabelecimento da possibilidade de integração entre a formação técnica
e o Ensino Médio, a partir do Decreto n. 5.154/2004, tendo como
perspectiva de formação integrada o desenvolvimento de todas as
potencialidades humanas e a superação da redução da preparão para o
trabalho. Analisamos a proposta adotada pelo CEETEPS, fundamentada
na Pedagogia das Competências e seus desdobramentos em Competências
Socioemocionais, compreendidas através do referencial adotado como
padronização de comportamentos e de atitudes exigidas pelo mercado de
25
trabalho. Analisamos os planos de curso do ETIM em Agropecuária e os
demais documentos norteadores da proposta adotada. A partir das
análises, delimitamos as concepções de ensino integrado presentes em
ambas as propostas.
No terceiro capítulo, procedemos às análises dos dados coletados
durante entrevistas aplicadas com coordenadores pedagógico,
coordenadores de curso e docentes da base comum do ensino médio de
duas escolas agrícolas. Buscamos compreender o modo como os
professores compreendem a integração escolar e como ela é vivenciada no
ambiente escolar.
Ao final, seguem nossas conclusões da pesquisa. Esperamos que
este livro, fruto da pesquisa realizada no âmbito do Programa de Pós-
Graduação em Educação possa contribuir para o debate a respeito das
políticas educacionais para Educação Profissional de nível médio, em
especial, para o ensino agrícola.
Lins, 20 de abril de 2021.
Bruno Michel da Costa Mercurio
Discente do Programa de Pós Graduação em
Educação da Unesp / Marília
Orientador Educacional no Centro Paula Souza
27
Breve Histórico do
Ensino Profissional e Agrícola
Antes de adentrarmos, ao objeto da pesquisa, assumimos ser
necessário traçar um breve histórico sobre o ensino profissional agrícola no
Estado São Paulo, com intuito de contribuir com a análise do atual estágio
em que se encontram as políticas educacionais para o ensino profissional e
como se inserem no contexto do ensino profissional agrícola.
Estimulados pelo poder público, os primeiros registros de ensino
agrícola datam de 1836, quando a Assembleia Legislativa do Estado de São
Paulo determinou a criação de uma “Fazenda Normal de Agricultura”, em
uma cidade próxima a capital paulista. Quase 20 anos depois, o governo
Imperial criou, em 1855, a Escola de Instrução Primário e Superior para
meninos, em Iguape; e para as meninas, em Sorocaba.
Segundo o Presidente da Província, esta instrução podia se denominar de nível
médio e seriam escolas adaptadas às necessidades agrícolas da população. Em
1879 são criadas as Escolas Práticas de Agricultura ou Fazendas-Modelo. Lê-se
no relatório presidencial que, com o auxílio da Província, o governo imperial
parece disposto a manter nesta Província todas as demais escolas desta natureza.
Em 1887, dá-se a criação do Imperial Instituto de Campinas (HOLANDA,
2004, p. 155 apud NICOLINI, 2016, p. 73).
Em 1901, foi criada a Escola Agrícola “Luiz de Queiróz”, em
Piracicaba, subordinada à Secretaria de Agricultura. Em 1931, a Escola
28
ingressou na categoria de instituição de Ensino Superior, regulamentada
pelo Decreto n. 5.206/1931 e, em 1934, passou a integrar a Universidade
de São Paulo.
O modelo agrário exportador, presente desde a colonização,
induziu o Governo Federal a organizar e a regulamentar o ensino agrícola
por meio do Decreto n. 8.319, de 20 de novembro de 1910, denominado,
por Narowski (2019), de certidão de nascimento da Educação Rural no
Brasil. O documento buscava atender as necessidades do processo de
tomada do campo pelo capital, dividindo o ensino agrícola em quatro
categorias, a saber: (i) Ensino Agrícola de Nível Superior, (ii) Ensino
Agrícola de Nível Médio, (iii) Aprendizes Agrícolas e (iv) Primário
Agrícola (SOBRAL, 2009, p. 82).
Após a publicação do referido Decreto, o Estado de São Paulo
organizou seus dois primeiros Aprendizados Agrícolas, localizados nos
municípios de Iguape
1
e de São Sebastião. Esses estabelecimentos
educacionais tinham o objetivo de formar chefes de culturas, de
administradores e de capatazes.
Devido a inúmeras condições adversas, a iniciativa não obteve
êxito, principalmente, pois não possuía a infraestrutura necessária, pela
escassez de profissionais qualificados para dirigir os estabelecimentos, por
questões financeiras e, até mesmo, pela baixa demanda de alunos. Segundo
Sobral (2015), as políticas educacionais centradas no ambiente urbano,
muito em função da crescente urbanização provocada pelo processo de
industrialização vivenciado nesse período, demonstravam o desinteresse do
poder público em desenvolver uma modalidade de ensino especifica para
1
Apesar da criação em 1855, os primeiros registros de relacionados ao funcionamento da escola datam
de 1903 (STRIEDER, 2009).
29
o campo, o que levou a uma tendência à marginalização das iniciativas
existentes.
Nesse cotejo, iniciou-se um processo de debates sobre a educação
para o campo, denominado de ruralismo pedagógico. Em decorrência do
avanço da urbanização e, consequentemente, do êxodo rural, motivado
pela industrialização e pela incapacidade de absorção da massa de
trabalhadores que migravam do campo para cidade, o que provocou uma
inquietação com os rumos da população do campo, conduziu-se uma
reflexão a respeito de propostas pedagógicas que aliassem a educação com
o trabalho no campo, que
[...] concebia uma pedagogia de cunho pragmático uma vez que fazia menção
direta da relação entre educação e trabalho, numa simbiose em que a educação
em função da economia ambiente, a educação como sustentáculo, como
reflexo, como incentivo da produção, a educação como propulsora, agente e
reagente, da organização do trabalho (MENNUCCI, 1946, p. 89 apud
RAMAL, 2011, p. 10).
Havia, também, uma preocupação com a perda da identidade do
homem com o campo, servindo como marca da identidade nacional, o
que, “[...] segundo os ruralistas [...] pouco a pouco se perdia devido ao
processo de industrialização e urbanização pelo qual passava o Brasil na
época” (RAMAL, 2011, p. 20).
As reflexões, quanto ao caráter dualista da educação brasileira,
fazem-se, também, presentes entre os intelectuais que compartilhavam das
ideias do movimento. Para Ramal (2011), essa visão justificava-se devido
às acentuadas diferenças entre os espaços urbano e o rural, pois, na medida
em que a industrialização avançava, as diferenças acentuavam-se pela
30
promoção do desenvolvimento, apenas nos locais, que se urbanizavam.
Assim, o campo e a cidade eram vistos como espaços antagônicos.
O Ensino Agrícola na Secretaria da Educação
Silva e Marques (2014), com base em Shigeo Mizoguchi,
delimitam três momentos de do Ensino Agrícola no Estado de São Paulo,
os quais adotamos para a demarcação cronológica dessas distintas fases. O
primeiro momento é o do Ensino Agrícola na Secretaria da Educação,
entre 1934 e 1955.
Nesse contexto, por meio do Decreto n. 7.073, de 6 de abril de
1935, o Governo Estadual de São Paulo criou a primeira Escola Estadual,
destinada à formação profissional de nível médio da área agrícola no
município de Espírito Santo do Pinhal, denominada Escola Profissional
Agrícola Industrial e Mista, cuja estrutura e regimento serviram de modelo
para as outras escolas que a sucederam, dentre as quais destacamos as
escolas de Jacareí, fundada no mesmo ano, e de São Manuel, fundada em
1939.
Em 1942, a Secretária de Agricultura desenvolveu um projeto
paralelo, fundando dez Escolas Práticas de Agricultura, nos municípios de
Amparo, de Araçatuba, de Bauru, de Guaratinguetá, de Itapetininga, de
Marília, de Pirassununga, de Presidente Prudente, de Ribeirão Preto e de
São José do Rio Preto. Para gerir essas escolas, foi criada a Diretoria de
Ensino Agrícola. Nesse projeto elas diferenciavam-se das Escolas
Profissionais Agrícolas Industriais e Mistas, fundadas em Espírito Santo do
Pinhal, em Jacareí e em São Manuel, tendo um perfil mais prático e
moralizador, pois se destinavam a receber alunos com pouca instrução,
31
analfabetos e semialfabetizados, do sexo masculino. Entretanto, o projeto
não apresentou o sucesso esperado, sendo extintas, posteriormente,
mantendo-se apenas a escola de Presidente Prudente.
Na década de 1940, o ministro da Educação e da Saúde Pública,
Gustavo Capanema, iniciou uma série de reformas que foram
complementadas por Raul Leitão da Cunha, que o sucedeu, após o fim do
Estado Novo, sendo denominadas de Leis Orgânicas do Ensino.
Em 1946, é promulgada a Lei Orgânica do Ensino Agrícola,
dividida em três decretos lei. O Decreto Lei n. 9.613, que definiu as bases
organizacionais para o Ensino Agrícola até o 2º grau, essencialmente
destinado à formação de trabalhadores para o campo. O Decreto Lei n.
9.614 determinava que o Ministério da Agricultura deveria expedir as
instruções necessárias às normas de organização e de regimento da Lei
Orgânica do Ensino Agrícola, além de estabelecer os procedimentos aos
quais os estabelecimentos de ensino deveriam recorrer para obter
reconhecimento, para a adaptação dos estabelecimentos de Ensino
Agrícola, fossem eles municipais, estaduais ou privados. Por fim, o Decreto
n. 38.042 que regulamentou os Currículos do Ensino Agrícola.
Em comparação às legislações anteriores, a reforma proposta por
Capanema e por Cunha estabeleceu diretrizes para todos os níveis da
educação nacional, além de estabelecer a não equivalência entre os cursos
propedêuticos e os técnicos.
As Leis Orgânicas, ao contrário, contemplaram os três departamentos da
economia, regulamentando o ensino técnico profissional industrial,
comercial e agrícola. Contemplaram também, os ensinos primário e normal,
até então assunto da alçada dos estados da Federação. Nem por isso o conjunto
das Leis Orgânicas e sua legislação complementar propiciaram ao sistema
educacional a desejável unidade a ser assegurada por diretrizes gerais comuns a
32
todos os ramos e níveis de ensino. Persistia o velho dualismo: as camadas mais
favorecidas da população procuravam o ensino secundário e superior para sua
formação, e aos trabalhadores restavam as escolas primárias e as profissionais
para uma rápida preparação para o mercado de trabalho. (SHIROMA;
MORAES; EVANGELISTA, 2011, p. 24).
Desde as primeiras legislações referentes à Educação Profissional,
as estruturas da dualidade estrutural da educação brasileira foram sendo
reforçadas. As bases dessa dualidade encontram-se no sistema capitalista,
fundamentado em relações contraditórias entre quem produz e quem
detém os meios de produção e que, por sua vez, apropria-se dos frutos da
produção. Segundo Santos (2019), essa contradição manifesta-se na
educação, ao apresentar a necessidade de se produzir um modelo de
educação específico para os trabalhadores, articulado com o sistema de
produção, gerando, um modelo de ensino voltado aos filhos da classe
trabalhadora, no qual, desde muito cedo, tem-se a preocupação com a
inserção no mercado de trabalho, com ênfase na formação profissional. Por
outro lado, as camadas mais abastadas, cujas condições financeiras
permitiam a seus filhos dedicarem mais tempo aos estudos e a almejarem
o ingresso no Ensino Superior, eram atendidas com um modelo de ensino
baseado em uma formação propedêutica, “[...] associando os currículos
enciclopédicos à formação geral como expressão concreta de uma distinção
social mediada pela educação” (CIAVATTA & RAMOS, 2011, p. 29).
Em resumo, uma escola para a classe trabalhadora, pautada no
desenvolvimento de capacidades relativas ao trabalho e, para as elites, uma
escola pautada no desenvolvimento das capacidades científicas e culturais.
[...] a educação da classe trabalhadora se caracterizou por uma dimensão,
apenas na dimensão do fazer, enquanto as elites, os dirigentes foram tendo a
33
escola primeiro, no sentido de uma formação que desenvolva as capacidades
sensíveis, estéticas e também comunicacionais e científicas (RAMOS, 2014, p.
19).
Assim, tem-se um modelo de educação voltado para a burguesia e
outro para a reprodução da classe trabalhadora, promovendo uma
dicotomia (divisão) sobre o que de fato já era dual (SANTOS, 2019).
Em 1951, a Superintendência do Ensino Profissional é renomeada
para Departamento do Ensino Profissional. Após a renomeação, o
departamento elaborou um amplo plano para a revitalização da situação
precária em que estava o Ensino Agrícola paulista, com ênfase na criação
de novas escolas e de novos cursos e na contratação de profissionais
habilitados para o seguimento, além da revisão dos programas de ensino e
da atualização dos recursos didático-pedagógicos e tecnológicos. Em 1954,
por meio da Lei n. 2.521, de 12 de janeiro, as Escolas Profissionais
Agrícolas Industriais Mistas passaram a ser denominadas de Escolas
Agrotécnicas, objetivando o atendimento aos dispositivos da Lei Orgânica
do Ensino Agrícola. Essas transformações permitiram, também, que os
alunos egressos obtivessem acesso ao segundo grau (SILVA &
MARQUES, 2014).
As Escolas Agrotécnicas na Secretária de Agricultura
O segundo momento de organização do Ensino Agrícola de São
Paulo inicia-se em 1956, com a transferência das Escolas Agrotécnicas para
a Secretária de Agricultura. Com o intuito de acomodar as escolas, é criada
a Diretoria de Ensino Agrícola na nova pasta e o Departamento de Ensino
34
Profissional é encerrado na pasta da Educação. Esse período é marcado
pela descontinuidade das políticas educacionais e pela dificuldade de
manutenção e de gestão dessa modalidade de ensino. Em 1957, o Estado
de São Paulo contava com 157 escolas de Iniciação Agrícola, embora nem
todas tivessem sido, plenamente, instaladas. Já em 1961, eram apenas 9
escolas de Ensino Agrícola, das quais 5 eram de nível primário (Itu,
Jundiaí, Monte Aprazível, Presidente Prudente e Rancharia), denominadas
de Escolas Práticas; e 4 eram de nível médio (Espírito Santo do Pinhal,
Jaboticabal, Jacareí e São Manuel), denominadas de Escolas Agrotécnicas.
As Escolas Agrotécnicas regressam a Secretária da Educação
Após 13 anos de tramitação no Congresso Nacional, é
promulgada, em 20 de dezembro de 1961, a Lei n. 4.024: a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A previsão de uma legislação
sobre as competências da União sobre a educação estava prevista na
Constituição de 1946.
O longo debate em torno dá aprovação da legislação ocorreu
devido ao embate entre dois grupos políticos antagônicos. De um lado, a
centro-esquerda, que considerava o dever de educar prerrogativa exclusiva
do Estado. Dentre os defensores desta perspectiva estava Anísio Teixeira.
De outro lado, a direita, encabeçado por Carlos Lacerda, que defendia que
o dever do estado deveria estar limitado a traçar as diretrizes do sistema
educacional, devendo o poder público aplicar recursos em escolas privadas,
a fim de garantir o acesso à educação para famílias de baixa renda através
da concessão de bolsas. Nessa proposta, estavam representados os interesses
35
do setor privado da educação, majoritariamente dominado por
congregações católicas.
A posição do grupo liderado por Carlos Lacerda saiu vitoriosa,
tendo sido aprovada no texto da lei a maior parte das posições deste grupo,
como podemos constatar no texto do artigo 3º da referida Lei.
O direito à educação é assegurado:
I - pela obrigação do poder público e pela liberdade de iniciativa particular de
ministrarem o ensino em todos os graus, na forma de lei em vigor;
II - pela obrigação do Estado de fornecer recursos indispensáveis para que a
família e, na falta desta, os demais membros da sociedade se desobriguem dos
encargos da educação, quando provada a insuficiência de meios, de modo que
sejam asseguradas iguais oportunidades a todos (BRASIL, 1961, s/p.).
Em 5 de julho de 1963, por meio do Decreto n. 42, inicia-se um
novo processo de transferência do Ensino Agrícola no Estado de São Paulo.
As Escolas Agrotécnicas e toda a estrutura do Departamento de Ensino
Agrícola da Secretaria de Agricultura são retransferidas para a Secretaria da
Educação (SILVA; MARQUES, 2014). Esse terceiro momento é marcado
pelo maior ciclo de expansão do ensino agrícola no Estado de São Paulo.
A partir de 1964 são criados quarenta e um Ginásios Agrícolas, que
corresponderiam às Escolas de Iniciação Agrícola, enquanto as Escolas
Agrotécnicas passaram a ser denominadas de Colégios Técnicos Agrícolas. Ao
longo das décadas de 1960 e de 1970 foram criados inúmeros Colégios
Técnicos Agrícolas, totalizando 35 unidades. A expansão do Ensino Agrícola
na década de 1970 ficou marcada pelo sistema de ensino denominado de
Escola-Fazenda, criado pelo Professor e Engenheiro Agrônomo Sigheo
Mizoguchi.
36
O Sistema Escola-Fazenda tinha por objetivo desenvolver
organismos escolares autossuficientes, partindo de uma perspectiva
tecnicista, ligada à ideia de racionalização do trabalho, por meio de sua
fragmentação, da separação das atividades em etapas de elaboração e de
execução, com ênfase em atividades repetitivas, do controle da produção
pelos setores de gerenciamento da produção, da supressão do trabalho
intelectual e, consequentemente, da precarização e da alienação do
trabalhador (SILVA, 2016). Essas são caracteristicas típicas do taylorismo
e do fordismo, promovendo a racionalização, a objetividade e a
operacionalidade do processo educacional, garantindo a formação de
indivíduos aptos a atenderem aos interesses do mercado trabalho. Segundo
Silva (2016), do [...] paradigma taylorista decorre a fragmentação
curricular, no trabalho pedagógico, ao dividir o conhecimento em áreas e
disciplinas com suas cargas horárias por séries e turmas de forma aleatória
(SILVA, 2016, p. 200).
Para Soares (2004), esse modelo educacional tem inspiração nas
teorias Ralff Tyler, quem “[...] centra sua visão de currículo na
predeterminação dos objetivos, na seleção e organização das experiências
para refletir esses objetivos, seguidas de avaliações para verificar se os
objetivos foram atingidos(SOARES, 2004, p. 01).
A implementação de políticas educacionais de enfoque tecnicista
contou com o apoio de um agente interno de fundamental importância, o
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), fundado em 1961, por
empresários de São Paulo e do Rio de Janeiro, articulados com empresários
multinacionais e com a Escola Superior de Guerra, com o intuito de
orientar as políticas educacionais aos interesses da indústria (SILVA,
2016), orientados pela Teoria do Capital Humano de Theodore Schultz,
tendo como pressupostos básicos a eficiência, a racionalidade e a
37
produtividade. “Falava-se em instrumentalizar os alunos para a realização
de operações e buscava-se uniformizar as experiências pedagógicas, com
modelos curriculares produzidos por especialistas a partir de seus
laboratórios” (SOARES, 2004, p. 02).
A reforma educacional promovida pela Ditadura Cívico-Militar,
através da Lei n. 5.692/1971, reorganiza as bases organizacionais com o
intuito de ajustar a educação aos ideais tecnicistas e aos interesses da
modelo econômico capitalista. A formação profissional adquire
centralidade e torna-se compulsória no segundo grau, visando a formação
de trabalhadores aptos a atender aos interesses do capital econômico,
caracterizado por um novo período de industrialização subalterna,
conhecido, historicamente, como milagre brasileiro. Além disso, havia as
pressões da classe média, que ansiava pela expansão de vagas no Ensino
Superior.
As reformas educacionais promovidas durante o regime militar
seguiram as recomendações de relatório produzidos por agências
internacionais, com destaque para os acordos celebrado entre o Ministério
da Educação e United States Agency for International Development,
conhecidos como acordos MEC/USAID.
No que se refere ao Ensino Agrícola, essas políticas educacionais
buscaram a promoção do desenvolvimento de um modelo de agricultura
que atendesse aos interesses do capital estrangeiro, através da inserção de
novas tecnologias e de insumos adaptados ao campo e expansão das
fronteiras agrícolas, compondo o pacote denominado de Revolução Verde,
constituído a partir dos espólios industriais dos pós-II Guerra Mundial e
outros conflitos que a sucederam, através do direcionamento de
tecnologias, originalmente, criadas para produzir artefatos bélicos e, até
mesmo, químicos. A Revolução Verde vendia-se através do discurso de que
38
por meio do controle da natureza através de uma base científico-
tecnológica, sob a justificativa de resolver a fome no mundo, visto que se
compreendia que a fome era uma questão relacionada a produção agrícola.
Caracterizado pela produção de sementes em laboratório,
irrigação, mecanização, o uso de insumos químicos e produção em grandes
extensões de terra, aliado a um viés ideológico de valorização do progresso,
o pacote da Revolução Verde desencadeou uma série de problemas de
ordem ambiental, social, política e econômica. Para os defensores desse
modelo, os problemas causados poderiam ser solucionados através de
inovações tecnológicas. A partir de uma análise crítica, é possível constatar
que a Revolução Verde produz um contexto de transformações estruturais
muito mais complexos, considerado como um veículo de desigualdade
social, marginalizando a população do campo, o que se caracteriza como
um obstáculo ao desenvolvimento da agricultura camponesa e para as
políticas de Reforma Agraria, ao priorizar políticas de desenvolvimento que
se relacionam ao ideário tecnicista.
A alteração das relações entre o homem e a natureza, através do
rompimento dos ciclos ecológicos pela utilização de insumos e sementes
químicas provocou a dependência dos agricultores por sementes e por
insumos externos, que não produzem os resultados esperados quando não
combinados, o que ameaçou a diversidade das espécies nativas e,
consequentemente, colocou em risco a segurança alimentar em diversas
regiões do planeta, inclusive no Brasil.
Além de afetar a soberania alimentar, através da aplicação do
mesmo pacote tecnológico em grandes extensões de terra, precarizando o
trabalho no campo e interrompendo os ciclos de reprodução social e
cultural dos camponeses e dos povos originários. A monocultura a partir
de grandes extensões de terras, além da disponibilidade de terras em
39
produção, há a necessidade de se constituir um estoque disponível para a
expansão (LEITE & MEDEIROS, 2012).
Coincidentemente ou não, durante o Governo de João Goulart
(1961-1964), período em que a Revolução Verde e o modelo agrário
exportador expandiam no Brasil, houve uma tentativa de desenvolver um
projeto de Reforma Agrária, organizada pelo então Ministro do
Planejamento Celso Furtado. No entanto, após grande pressão da
burguesia, que temia pelo avanço de ideias progressistas no governo
Goulart, o depôs, através do golpe cívico militar em 31 de março de
1964 (STEDILE, 2012).
A interferência do capital estrangeiro, tendo como principal agente
operacional o Banco Mundial, exerceu um papel fundamental na execução
das políticas educacionais.
Segundo Leher (1999), o Banco Mundial muda sua postura com
relação aos países periféricos, a partir da gestão de Robert McNamara
(1968-1971), ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos (1961-1968),
passando a adotar uma política de controle social, a partir também das
políticas educacionais. Dessa forma, o Banco Mundial passa a ser o
Ministério Mundial da Educação para os países periféricos. Toda a
engenharia social e política externa estadunidense para a América Latina
estava pautada no medo do avanço do socialismo e o surgimento de uma
nova Cuba.
De acordo com Leher (1999), essa nova orientação do Banco
Mundial teve sucesso não pela eficácia das diretrizes adotadas, mas, sim,
pela influência desempenhada em países periféricos e pelo processo de
descolonização na África e Asia, impedindo que esses países entrassem na
esfera de influência da União Soviética.
40
Associada às políticas promovidas pelo Banco Mundial na América
Latina e pelos demais agentes externos, em 1973, é criada a Coordenadoria
Nacional do Ensino Agrícola (COAGRI), com a finalidade de garantir o
financiamento internacional e de promover os interesses estrangeiros para
a agricultura no Brasil estabelecidos nos Acordos MEC/USAID, que
envolviam, também, o Ministério da Agricultura. Para garantir tais
objetivos, foi lançado o Plano de Desenvolvimento para o Ensino Agrícola
do segundo grau,
[...] um fundo de natureza contábil, fato que permitiu um avanço considerável
nas escolas, uma vez que os recursos advindos da comercialização de produtos
agropecuários produzidos pelas escolas, passaram a ser reaplicados e não mais
recolhidos ao Tesouro Nacional (SOARES, 2004, p. 03).
Esses programas eram [...] planejados nos gabinetes em Brasília,
pelos tecnocratas da COAGRI e até os conteúdos programáticos são
empacotados” (ALBUQUERQUE, 1984, p. 133 apud SOARES, 2004, p.
03).
Nos moldes Revolução Verde, esse processo de modernização da
agricultura produzia relações de dualidades na agricultura, integrando o
agricultor a esse novo modelo, de modo a o alçar a um exemplo de
agricultor do futuro; ao passo que o agricultor tradicional e todo o saber
adquirido, através da relação entre homem e natureza, além da herança
cultural, fica rotulado como atrasado. O técnico em Agropecuária passa a
ter um papel relevante nesse período, pois passa a ser o agente direto de
disseminação do pacote da Revolução Verde, desqualificando os saberes
tradicionais, impulsionados pelos programas de extensão rural, através dos
convênios desenvolvidos entre Brasil e os Estados Unidos da América.
41
A Revolução Verde e a política educacional tecnicista, vinculadas
as recomendações de agentes estrangeiros, orientou a expansão e a
estruturação do Ensino Técnico Agrícola, na década de 1970, atuando na
formação do modelo de profissional adequado aos interesses promovidos
pela Revolução Verde.
Como consequência de todo esse processo, temos a intensificação
da proletarização do trabalhador rural, negando-lhe o vínculo com a terra
e os saberes tradicionais constituídos através dos vínculos com a natureza
e com a comunidade, os quais conduziam o trabalho realizado pelo homem
do campo, substituído pelo trabalho alienado, através do qual já não detém
o conhecimento sobre todo o processo em que a atividade realizada está
inserida. As consequências desse processo são extremamente danosas à
população do campo, a começar pela intensificação do êxodo rural, já
citado, expulsão do trabalhador rural, de populações indígenas e
quilombolas, entres outros. Somado ao emprego da violência contra esses
grupos, tendo como consequência os altíssimos índices de violência no
campo, que ainda persistem, e a marginalização social nas cidades e todos
os problemas sociais que deste derivam.
Diante de todo este cenário, a década de 1970 representou o
período áureo do Ensino Técnico Agrícola no Estado de São Paulo,
atuando na formação profissional com vistas a atender as necessidades de
uma massa de trabalhadores promovida pela Revolução Verde, em meio
ao processo expansão das fronteiras agrícolas em direção as regiões centro-
oeste e norte, atraindo muitos alunos oriundos destas regiões.
Em decorrência de todas essas transformações e da importância do
Ensino Profissional Agrícola, constitui-se um perfil de profissional agrícola
que compõe, até hoje, a identidade dos alunos das escolas agrícolas
paulistas. Identidade essa que está relacionada, intimamente, à formação
42
profissional pautada pelos interesses do capital estrangeiro e da Revolução
Verde.
Na segunda metade da década de 1970, a Secretária da Educação
passa por um processo de reorganização administrativa por meio do
Decreto Estadual n. 7.510, com realocação das Escolas Agrícolas para a
Coordenação de Ensino do Interior. Dessa forma, passaram a
subordinação dos mesmos sistemas de controle e de supervisão do Ensino
Regular. Em meio a esse processo de padronização, o Sistema Escola-
Fazenda é extinto nas Escolas Agrícolas Paulista, ao menos oficialmente,
visto que as diferenças materiais vivenciadas em uma escola agrícola,
permitia que atividades, relativas a esse modelo, continuassem enraizadas.
As medidas implementadas pela reforma educacional, promovida
pela Lei n. 5.692/1971, que introduziu a compulsoriedade do ensino
profissionalizante no segundo grau, não atingiram o efeito esperado,
devido às dificuldades em implementar o ensino profissionalizante e aos
anseios da classe média, voltados para o acesso à Universidade e,
consequentemente, para uma formação de segundo grau que preparasse
para o acesso. Diante desses anseios, o setor privado foi o grande
beneficiário da profissionalização compulsória.
Diante desse quadro, observa-se um acentuado movimento dos filhos da classe
média das escolas públicas para as privadas na busca de garantir uma formação
que lhes permitisse continuar os estudos no nível superior. Esse movimento
alimenta o processo de desvalorização da escola pública estadual e municipal,
pois era e continua sendo a classe média que tem algum poder de pressão junto
às esferas de governo (BRASIL, 2007, p. 09).
43
Em razão do insucesso da medida e das dificuldades em
implementar a formação profissional compulsória, foi promulgada, em
1982, a Lei n. 7.044, na nova legislação, a qualificação para o trabalho foi
substituída pela preparação para o trabalho, algo impreciso e que, no corpo
da lei, mantém a profissionalização no segundo grau, mas, na prática, essa
já não existia mais. Reforçava-se, assim, a ausência de identidade dessa
etapa da formação escolar: não se tem mais o propósito de preparar o aluno
para a inserção no mercado de trabalho, tampouco se garante o acesso ao
ensino universitário, diante da crescente demanda.
No que se refere às escolas secundárias de formação profissional,
entre essas, os Colégios Técnico Agrícola, a medida não causou impactos,
com essa modalidade de ensino continuando a ser oferecida até meados da
década de 1990, quando o Decreto n. 2.208/1997 impõe uma nova
regulamentação para o Ensino Técnico.
Técnica, Tecnologia e Crise Estrutural do Capital
É conveniente realizar alguns apontamentos em relação à
concepção de Técnica e de Tecnologia comumente utilizadas. Há um
longo debate sobre as definições a respeito dessas categorias, sobre o qual
não pretendemos nos aprofundar, mas, apenas, situar as concepções
utilizadas no currículo da Educação Profissional, acompanhadas de um
apelo ideológico-econômico para a profissionalização da educação.
Comumente, a concepção de técnica adotada parece estar associada ao
domínio de determinado conhecimento referente a um ofício específico,
enquanto a tecnologia é colocada como um fator de propulsão do homem.
Portanto, o uso desses termos, no contexto da educação profissional,
44
encontra-se empregado a serviço do capital e de sua acumulação por uma
pequena camada privilegiada e detentora dos meios de prodão.
Historicamente, as categorias de Técnica e de Tecnologia
relacionam-se ao processo de desenvolvimento das forças produtivas e,
consequentemente, às relações sociais. Em sua história, a humanidade
passou por diversos saltos evolutivos das forças produtivas, produzindo
técnicas que possibilitaram o domínio do homem sobre a natureza. Por sua
vez, quando pensamos na Tecnologia, pensamos em algo mais elaborado,
fruto de um processo que envolve o pensamento crítico, ou seja, a
racionalização da técnica (KUSSLER, 2015).
Esse processo se dá a partir da Modernidade, da constituição da
ciência e do pensamento científico, a Tecnologia se constitui enquanto a
Filosofia e a Ciência da Técnica. Dessa forma, compreende-se de que se
trata de categorias mistificadas: ora percebida enquanto prejudicial, por
agravar as desigualdades, ora alavancada a um patamar de “caminho para
salvação”.
Frente a perspectiva de Crise Estrutural do Capital, diferenciando-
se das demais crises do capital, de caráter conjuntural; por tratar-se de uma
crise que não se resolve dentro das estruturas do próprio capital, portanto,
uma crise de longa duração. Os caminhos encontrados pelo capital para
sua crise, constituem se em medidas paliativas decorrentes de suas
próprias contradições irreconciliáveis entre capital e trabalho; pautado por
medidas econômicas neoliberais, e seus desdobramentos na minimização
do Estado, Desemprego Estrutural, devastação incontrolável do meio
ambiente, de Sociabilidade, em face ao individualismo e avanços das
pautas de direita em oposição as perspectivas de sociabilidade baseadas na
solidariedade. Pela primeira na história, o capital encontra-se em conflito
com suas próprias contradições, dentro de seus limites, o capital coloca a
45
humanidade frente a real possibilidade de destruição (MÉSZÁROS,
2000).
Em face da atual conjuntura da crise estrutural do capital, esta
contribui para agravar a disparidade no acesso à tecnologia, entre países
centrais e periféricos.
Pois, ao consumir passivamente os artefatos e elementos tecnificados de toda
ordem e espécie produzidos nos países de capitalismo central, garante, em
relação dialética com tais países, o direito ‘indestrutível’ para que estes
abocanhem, em condições privilegiadamente superiores, a divisão social
internacional do trabalho. (SANTOS, 2019, p. 90).
Em ambas as posições, ignora-se a relação produtiva entre o
homem e a natureza, o que contribui para o fortalecimento do ideário,
presente nas políticas educacionais, de que a Educação Profissional de nível
médio se trata do melhor caminho para os filhos dos trabalhadores
(SANTOS; RIBEIRO; SABINO, 2020).
A Educação Profissional na Década de 1980
No início da década de 1980, durante a gestão do governador
Franco Montoro, foi criado o Fórum de Educação do Estado de São Paulo,
tendo o Ensino Agrícola seu espaço reservado. Em 1984, cria-se o Grupo
Executivo de Trabalho do Ensino Agrícola (GEAGRI); posteriormente em
1985, é criada a Divisão de Supervisão e Apoio às Escolas Técnicas
Estaduais (DISAETE), responsável pela administração das escolas técnicas
até 1991.
46
Com o fim da Ditadura Cívico-Militar e o consequente processo
de redemocratização, na década de 1980, deu-se a convocação da
Assembleia Nacional Constituinte. Contexto histórico esse que favoreceu
o debate em torno de um projeto para uma nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional.
As discussões em torno do projeto fortaleceram a comunidade
educacional por meio do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública,
em que estavam representados mais de 30 entidades nacionais sindicais,
acadêmicas, religiosas e profissionais.
O primeiro projeto para a nova Lei de Diretrizes e Bases,
apresentado pelo deputado Octávio Elísio (PMDB/MG), em 1988, “[...]
sinalizava a formação profissional integrada à formação geral nos seus
múltiplos aspectos humanísticos e científico-tecnológicos” (FRIGOTTO;
CIAVATTA; RAMOS, 2005, p. 03). Como forma de atenuar a dicotomia
entre formação geral e formação profissional, introduziu-se o conceito de
politecnia.
Politecnia diz respeito ao domínio dos fundamentos científicos das diferentes
técnicas que caracterizam o processo de trabalho produtivo moderno. Está
relacionada aos fundamentos das diferentes modalidades de trabalho e tem
como base determinados princípios, determinados fundamentos, que devem
ser garantidos pela formação politécnica. Por quê? Supõe-se que, dominando
esses fundamentos, esses princípios, o trabalhador está em condições de
desenvolver as diferentes modalidades de trabalho, com a compreensão do seu
caráter, sua essência (SAVIANI, 2003, p. 140).
Apresentada na Assembleia Nacional Constituinte, a proposta
previa a organização do Ensino Médio sob as bases da politecnia, sem se
propor a criar de uma infinidade de formações específicas, que atendessem
47
todas as demandas encontradas pelo capital, “[...] mas sim de incorporar
no ensino médio processos de trabalho reais, possibilitando-se a
assimilação não apenas teórica, mas também prática, dos princípios
científicos que estão na base da produção moderna” (FRIGOTTO et al.,
2005, p. 14). A concepção de politecnia, presente no projeto, não se
aproximava do ensino profissionalizante de segundo grau, implementada
na década de 1970, durante o Regime Militar; na verdade, contrapunha-
se a este, “[...] pois, a visão adestradora e fragmentária de educação e
formação profissional sob a ótica da polivalência e da multifuncionalidade
do trabalhador” (FRIGOTTO, 2012, p. 278).
Diante do esgotamento das políticas adotadas anteriormente e dos
avanços da crise estrutural do capital, o Banco Mundial adota o ideário
neoliberal, impondo drásticas reformas estruturais, tornando os países
latino-americanos ainda mais dependentes do FMI e do Banco Mundial.
Essas reformas atingem o Brasil, a partir dos governos de Fernando Collor
e de Fernando Henrique Cardoso (FHC), iniciando um desmonte do
Estado, com reformas em sua estrutura, desemprego estrutural e um
gigante processo de privatização, sob a justificativa de adaptar o Brasil ao
contexto da globalização.
Em meio a esse cenário de reformas no Estado, chanceladas pelos
organismos internacionais a serviço do capital, o projeto da LDB aprovado
em 1996 estava muito distante dos anseios e das aspirações da comunidade
educacional. Os descaminhos na tramitação do projeto e o processo de
impeachment de Fernando Collor acabaram por atrasar os trabalhos. Em
1994, FHC é eleito presidente da República, em uma aliança entre PSDB
e PFL, indicando uma nova ofensiva conservadora. Em 1995, o senador
Darcy Ribeiro (PDT/RJ) apresenta um projeto substitutivo, resultante dos
acordos com o governo FHC e seu ministro da Educação, Paulo Renato
48
Costa Souza, sendo sancionado por FHC, sem nenhum veto (SHIROMA;
MORAES; EVANGELISTA, 2011).
Escolas Técnicas Estaduais no Centro Paula Souza
Em 1991, tem início o quarto ciclo histórico do Ensino Técnico
Agrícola. Com a publicação do Decreto n. 34.032, a DISAETE, junto a
toda sua estrutura física e de recursos humanos, que estava alocada na
Secretaria da Educação, é transferida para a Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, passando a ser denominada
de Divisão Estadual de Ensino Tecnológico (DEETE).
Em face ao quadro de desestruturação, em que se encontravam as
escolas técnicas agrícolas do Estado de São Paulo, retomam-se, em 1992,
os estudos políticos pedagógicos para essa modalidade do ensino
profissional, com destaque uma proposta baseada nas Cooperativas-Escola
das Escolas Agrícolas Paulistas na década de 1970, que funcionavam como
um dos pilares do Sistema Escola-Fazenda, e que foram desativadas após o
abandono desse modelo no Estado de São Paulo. Em 1993, o DEETE
constituiu um Grupo de Trabalho por meio da Resolução n. 3, da
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, com o
intuito de elaborar um projeto de viabilização e de implantação de
Cooperativa-Escola de Alunos nas Escolas Agrícolas. Nesse mesmo ano,
inclui-se, na grade curricular do Técnico em Agropecuária, a disciplina de
Cooperativismo e Associativismo (BELEZIA, 2006).
Dois anos após a mudança de pasta, uma nova transferência é
promovida por meio do Decreto n. 37.735/1993. A partir de 1º de janeiro
de 1994, toda a estrutura do Ensino Técnico Paulista é transferida para o
49
CEETEPS, criada pelo Decreto Lei de 6 de outubro de 1969, com o
intuito de atender ao projeto de criação de cursos superiores de curta
duração, orientados para formação de força de trabalho devidamente
integrada e capacitada para atender as demandas impostas pelo modelo de
expansão industrial, dependente do capital externo e que caracterizava o
modelo econômico implantado pela Ditadura Cívico-Militar .
Inicialmente, abrangendo as recém criadas Faculdades de
Tecnologia de São Paulo e de Sorocaba e, posteriormente, em 1988,
abrangendo, também, a formação profissional de nível técnico, com a
criação das duas primeiras escolas técnicas do Centro Paula Souza: a Escola
Técnica de São Paulo e a Escola Técnica de Taquaritinga.
A absorção de toda a estrutura do ensino técnico pelo Centro Paula
Souza resultou na necessidade de reestruturação na instituição. Em meio a
esse processo, foi realizado, em março de 1994 o I Seminário de Ensino
Técnico Agrícola Paulista. Segundo Beleza (2006), o evento definiu as
diretrizes para o Ensino Técnico Agrícola, dentre elas: (i) destacar o
desenvolvimento de ações pedagógicas da Escola com o intuito de
contribuir para o desenvolvimento do pequeno e do médio produtor rural;
(ii) viabilizar a permanência dos alunos na escola, através do regime de
internato; e (iii) organizar o ensino técnico agrícola a partir do
desenvolvimento das Cooperativas-Escola, enquanto uma ferramenta
potencializadora de ações pedagógicas.
Belezia (2006) destaca a elaboração de um Projeto de Implantação
das Cooperativas-Escola, inicialmente com seis unidades, mas prevendo a
implantação em todas as escolas agrícolas no prazo de três anos.
Desta feita, a Cooperativa-Escola participa ativamente no processo de ensino
e aprendizagem, como um organismo responsável pela viabilização das
50
atividades da Escola, inserindo-a na realidade do mercado e tornando ágil a
administração e gestão dos recursos disponíveis, evitando a excessiva burocracia
estatal e dando oportunidades aos alunos de atuarem nos processos produtivos
de forma integral e participativa (CONSTANTINO & OLIVEIRA, 2013, p.
510).
As cooperativas-escola consolidaram-se nas escolas agrícolas,
adquirindo um importante papel pedagógico e na gestão dos recursos
disponíveis e financiamento, o que lhes permitiu explorar os potenciais
econômicos dos setores produtivos das escolas, além de produzir uma
diversidade de produtos, que tendem a ser comercializados, gerando
receitas e suprindo necessidades das unidades escolares, que vão desde a
contratação de recursos humanos, devido à ausência de concursos públicos
para o preenchimento de cargos vagos por conta de aposentadorias, de
desligamentos e de falecimentos, problema recorrente em todas as
unidades do Centro Paula Souza, mas que se agrava nas escolas agrícolas,
por conta da necessidade de trabalhadores para gerir as fazendas e para dar
suporte aos alunos em regime de internato, até a aquisição de insumos e
de equipamentos utilizados nas atividades pedagógicas. Além de
desempenhar um relativo papel pedagógico na formação do aluno,
permitindo com que o aluno tenha contato desde a matéria-prima,
passando pelas etapas de beneficiamento, de comercialização e de contato
com outros produtores.
A gestão das cooperativas é composta por uma diretoria executiva,
eleita em Assembleia Geral. Geralmente, ocupam o posto de presidente da
Cooperativa-Escola alunos que tenham completado a maioridade.
Também compõe a organização das Cooperativas-Escola, a Comissão
Técnica de Apoio e Execução (COTAE), composta, exclusivamente, por
6 alunos; o Conselho Fiscal, composto por três membros titulares e três
51
suplentes; Comitê Educativo, cuja finalidade é levar à diretoria executiva
as sugestões e demandas dos associados; e o Professor Orientador, indicado
para função pela Direção Escolar.
Na esfera das políticas educacionais, os anos de 1990 ficaram
marcados pela aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira, a Lei n. 9.394/1996, subordinada a critérios estabelecidos pelo
Banco Mundial, em consonância com o neoliberalismo. Instituída pelo
Decreto n. 2.208/1997, a Reforma da Educação Profissional
regulamentou essa modalidade de educação por meio do parágrafo 2º do
artigo 36 e dos artigos 39 a 42 da nova LDB, configurando a educação
profissional em três níveis: básico, técnico e tecnológico. Prevendo que o
nível técnico, poderia ser oferecido de forma concomitante ao Ensino
Médio ou subsequente a esse, após sua conclusão.
As diretrizes apoiadas pelo Banco Mundial indicam um processo
de desuniversitarização e de formação profissional aligeirada. Segundo essa
política, inclusive em acordo com o Ministério da Educação do Brasil,
Paulo Renato de Souza, não é papel da Universidade produzir
conhecimentos novos. Esse papel caberia ao setor produtivo, que poderia
buscar no mercado os pacotes tecnológicos necessários. A produção de
conhecimento deve ser restrita há alguns centros universitários, capazes de
adaptar os pacotes tecnológicos produzidos nos países centrais à realidade
local e formar uma elite dirigente, incumbida de produzir conhecimentos
necessários para manutenção do controle social.
Segundo Santos (2017), a nova LDB “[...] tratou de esquartejar
ainda mais a histórica dicotomia educativa capitalista à moda brasileira”
(SANTOS, 2017, p. 230). O parágrafo 4º do artigo 36 deixa aberta a
possibilidade de a iniciativa privada expandir seus negócios nesse setor. Ao
abrir esse nicho da iniciativa privada, o governo atende a dois objetivos de
52
orientação neoliberal: o primeiro refere-se a isentar o governo de custear
uma formação técnico-científica articulada ao Ensino Médio; trata-se de
um tipo de formação mais oneroso ao orçamento público do que a
formação propedêutica; o segundo abre a possibilidade de o empresariado
lucrar com a educação do trabalhador (SANTOS, 2017).
A nova legislação manteve as orientações tecnicistas presentes
desde a década de 1970, visto que está inspirada “[...] fortemente pela
Teoria do Capital Humano e a pedagogia das competências, dissociou o
Ensino Médio propedêutico do ensino profissional” (GAMELEIRA &
MOURA, 2018, p. 13). Ramos (2011), a Reforma Educacional,
promovida pela nova LDB, propõe-se a resolver os problemas relacionadas
educacionais através do reforço dos elementos tecnicistas na educação e
dos paradigmas da Pedagogia das Competências, mas desconsidera que
esses não são problemas apenas de ordem pedagógica.
Obedecendo às mudanças promovidas pelo Decreto n.
2.208/1997, a partir de 1999, o Centro Paula Souza passa, então, a
oferecer o Ensino Técnico em Agropecuária de forma concomitante e
subsequente, com duração de 4 semestres. Além da possibilidade de o
aluno cursar o Ensino Médio regular ter, na mesma unidade escolar, a
opção de ingressar no curso de formação técnica a partir do 2ª ano. O
decreto sofreu diversas críticas de setores da educação e de trabalhadores,
por promover a dicotomia entre formação propedêutica e para o trabalho,
pelo viés produtivista, entre outros. Segundo Ramos e Civatta (2011), as
Diretrizes Curriculares Nacionais, pregavam um currículo baseado em
competências, que tendem “[...] a uma abordagem condutivista do
comportamento humano e funcionalista de sociedade, reproduzindo-se os
objetivos operacionais do ensino coerentes com os padrões taylorista-
fordistas de produção” (CIAVATTA & RAMOS, 2011, p. 11).
53
No início do século XXI, todas as escolas técnicas passam a ser
denominadas de ETEC, fortalecendo o projeto de consolidação da rede e
de instrumento de propaganda de governo do grupo político no comando
do estado desde 1995. Segundo os dados apresentados pela pesquisa de
Silva e Marques (2014), em 2001, o Centro Paula Souza era composto por
64 escolas técnicas (urbanas), 35 escolas técnicas agrícolas, 9 Faculdades
de Tecnologia e 12 classes descentralizadas (convênio com Prefeituras para
a oferta de cursos técnicos voltados para a economia local). A partir de
então, iniciou-se um grande processo de expansão do Ensino Profissional
Técnico e Tecnológico, promovido pela administração pública estadual.
A insatisfação com o Decreto n. 2.208/1997 por parte de diversos
seguimentos da sociedade civil, ligados a educadores, estudantes e
trabalhadores, culminou em sua revogação e na substituição pelo Decreto
n. 5.154/2004, fruto de um amplo debate entre diversas forças, o qual
discutiremos no capítulo seguinte. O Decreto de 2004 reestabeleceu a
possibilidade de integração entre a formação geral do Ensino Médio e
formação profissional.
A implementação do Ensino Técnico integrado ao Médio (ETIM)
de Agropecuária nas Escolas Técnicas Agrícolas do Centro Estadual de
Educação Tecnológica do Centro Paula Souza, deu-se por meio da Portaria
n. 21 de 2009, tendo sua implementação intensificada nos anos seguintes.
A integração entre formação geral e profissional, almejada por diversos
setores, em contrapartida, induziu há uma redução da oferta de turmas
modulares que atendessem o concomitante e o subsequente dessa
Habilitação Profissional. Reduzindo as possibilidades de acesso à formação
profissional de nível médio aos trabalhadores do campo, que não tiveram
a oportunidade de formação profissional durante o Ensino Médio ou que
estavam impossibilitados de dedicarem um período de mais de 8 horas
54
diárias aos estudos. Nessa modalidade, é possível o ingresso para aqueles
que já concluíram o Ensino Médio ou que estejam cursando a partir da 2ª
série do ensino médio, possibilitando conciliar trabalho e estudos.
O curso na formatação modular (concomitante e/ou subsequente)
está disponível em apenas 4 unidades para o ingresso em 2021
2
, tendo
como justificativa o baixo número de escolas onde é ofertado, a elevada
demanda exigida no vestibulinho
3
e/ou os altos índices de evasão agravados
pela pandemia de Covid-19
4
, que excluiu o acesso aos estudos dos alunos
em situação de vulnerabilidade econômica e/ou tecnológica. A modalidade
integrada ao Ensino Médio, em 2021, será oferecida em 28 unidades
agrícolas do Centro Paula Souza, 6 unidades a menos do que quando se
iniciou a pesquisa. Soma-se aos fatores que induzem ao fechamento de
turmas, a adequação das Habilitações Profissionais a nova BNCC, cuja
gestão do Centro Paula Souza tem induzido e estimulado.
As 34 escolas agrícolas que integram o Centro Paula Souza
compõem uma rede formada por 223 escolas técnicas e por 73 faculdades
de tecnologia, segundo dados da instituição em 2019, com praticamente
todas elas enfrentando diversos problemas estruturais e de recursos
humanos.
Concluída esta breve construção de uma linha cronológica sobre o
Ensino Técnico Agrícola no Estado de São Paulo, buscamos, nos capítulos
que se seguem, compreender as concepções de Ensino Integrado presentes
no Decreto n. 5.154/2004 e na proposta adotada pelo Centro Paula Souza,
2
No início da coleta de dados para a pesquisa, em 2019, o Técnico em Agropecuária, na modalidade
concomitante, era oferecido em 13 unidades; para 2021, a oferta do curso foi reduzida em quase 70%.
3
Processo seletivo para ingressos nos cursos técnicos do Centro Paula Souza.
4
A Pandemia de Covid-19 tem dizimado milhares de vidas, tendo ultrapassado a marca de 300 mil
mortes no Brasil.
55
assim como analisar como os docentes compreendem a integração no
ambiente escolar.
Ensino Médio Integrado: Um Campo em Disputa
Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) afirmam que a origem do
referido Decreto está nas lutas empreendidas na década de 1980, durante
o período da redemocratização e da Assembleia Constituinte. Momento
marcado pelo fortalecimento das lutas sociais, dentre as quais se destaca a
mobilização do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP).
Trata-se de um movimento que perpassou as décadas de 1980, 1990, 2000 e
continua a sua defesa e seu horizonte por políticas públicas de formação
humana em detrimento de políticas públicas para formação de recursos
humanos. Trata-se também de uma ação, em certa medida, institucionalizada
que congrega em seu interior, outros movimentos sociais, sindicatos, correntes
parlamentares e instituições e iniciativas, características pouco presentes nas
análises clássicas sobre os movimentos sociais. (MARTINS & ALMEIDA,
2016, p. 02).
Objetivou-se, com esse movimento, fortalecer a luta por garantias
constitucionais, em prol de um sistema público e gratuito de educação,
além de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Conforme já
discutido no capítulo anterior, esse movimento sofreu um duro revés após
a aliança conservadora entre o Partido da Social Democracia Brasileira
(PSDB) e o Partido da Frente Liberal (PFL), encabeçada por FHC. O
projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação em discussão no
56
Congresso Nacional foi substituído pela proposta apresentada pelo
Senador Darcy Ribeiro e todos os demais desdobramentos já apresentados.
Entre as dificuldades de se estabelecer um projeto educacional
transformador, Frigotto (2016) destaca as influências dos interesses da
burguesia local, submissa aos interesses do capital estrangeiro e que nunca
desenvolveu um projeto de nação, cujos interesses sempre estiveram
relacionados à manutenção de privilégios, por meio de ditaduras militares
e de golpes institucionais.
[...] há por parte da classe burguesa brasileira, por seu braço político, jurídico
e burocrático uma resistência ativa e permanente às reformas estruturais e um
sistemático protelar as medidas efetivas de garantia do direito universal à
educação básica pública, assim como o direito à saúde pública (FRIGOTTO,
2016, p. 59).
Em 2002, a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, respaldada por
uma forte base de apoio popular, representou a possibilidade de ruptura
com as velhas estruturas que impediam a construção de um projeto de
desenvolvimento nacional. Logo nos primeiros meses do governo Lula
(2003-2010), em meio às perspectivas de um governo progressista, é
retomado o debate em torno da Educação Profissional, tendo em vistas a
substituição do Decreto n. 2.208/1997, que separava a formação
profissional e formação geral no Ensino Médio, por uma nova legislação
que possibilitasse a integração entre ambas as bases, contemplando os
anseios dos mais diversos setores engajados nesse debate.
Vinculada ao Ministério da Educação, a Secretaria de Educação
Média e Tecnológica (SEMTEC) promove dois seminários nacionais, com
o objetivo de ampliar o debate, a saber: Ensino Médio: Construção Política
57
e Seminário Nacional de Educação Profissional: concepções, experiências,
problemas e propostas. Os seminários foram realizados, respectivamente, em
maio e em junho de 2003. As contribuições levantadas nos seminários
fomentaram o debate, produzindo um amadurecimento sobre o tema.
Segundo Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), mantiveram-se “[...] as
contradições e disputas teóricas e políticas sinalizadas desde o início do
processo, culminando no Decreto 5.154/2004, de 23 de julho de 2004”
(FRIGOTTO et al., 2005, p. 02).
O debate ficou marcado pelo estabelecimento de três posições. A
primeira delas propunha a revogação do Decreto de 1997, buscando
pautar a elaboração de uma Política de Ensino Médio e Educação
Profissional, tendo em vista que a LDB contemplava as mudanças
propostas, além de compreender que a efetivação das mudanças através de
um novo decreto, equivaleria a dar continuidade ao método impositivo
adotado pelo governo anterior. A segunda posição, de caráter mais
conservador, propunha a manutenção do Decreto, vislumbrando
alterações mínimas. Por fim, a terceira posição partilhava da ideia da
revogação do referido Decreto, associada à promulgação de um novo
Decreto (FRIGOTTO et al., 2005).
O debate polarizou-se entre as duas primeiras posições, uma vez
que a terceira assumia que a revogação do Decreto não garantiria as forças
políticas necessárias para aprovação no Congresso Nacional de uma nova
Política de Ensino Médio e Educação Profissional, além do risco dessas
pautas serem apropriadas por forças conservadoras e serem submetidas aos
interesses do mercado.
No âmbito da elaboração das políticas para o ensino médio e para a educação
profissional, a revogação do Decreto n. 2.208/97 tornou-se emblemática da
58
disputa e a expressão pontual de uma luta teórica em termos da pertinência
político-pedagógica do ensino médio integrado à educação profissional. Isto
passou a exigir uma postura política: ou manter-se afastado do processo,
movimentando-se na crítica, buscando criar forças para um governo com
opção e força de corte revolucionário. Ou entender que é possível trabalhar
dentro das contradições do Governo que possam impulsionar um avanço no
sentido de mudanças estruturais que apontem, no mínimo, mais
realisticamente, o efetivo compromisso com um projeto nacional popular de
massa (FRIGOTTO et al., 2005, p. 04).
Em meio às sinalizações do governo de que não se colocaria
enquanto um governo de mudanças profundas, no sentido de mudanças
estruturais, viu-se a necessidade de caminhar em direção da construção de
um novo decreto.
Nesse sentido, os formuladores do novo decreto ressaltam a
necessidade dessa opção, apesar de todas as contradições contidas,
ressaltando a importância dos setores progressistas em demarcar posições
no campo de disputa das concepções adotadas pelas políticas educacionais.
Longe de atender todas as demandas propostas pelos setores
progressistas, levantadas desde a década de 1980, o Decreto n. 5.154/2004
reintroduziu a possibilidade de integração entre formação geral e formação
profissional no Ensino Médio. Marcado pelas contradições, dispostas por
posições, o Decreto é uma expressão da capacidade das camadas
privilegiadas em manter seus interesses.
Concepção de Ensino Integrado no Decreto 5.154/2004 e suas críticas
Conforme abordado anteriormente, o Ensino Médio trata-se de
uma etapa de formação do indivíduo que carece de identidade, uma etapa
59
de “caráter pendular”: há períodos na história em que esteve voltado para
a formação profissional; em outros, voltado para uma formação
propedêutica (FARIAS & RAMOS, 2019). Essa inconstância, em uma
etapa tão importante na formação do indivíduo, coloca-se em um
contexto, no qual Ramos (2014) define esse sujeito, como sendo um
sujeito em disputa entre concepções em luta na sociedade.
Porque a formação que ocorre nessa etapa de ensino pela especificidade
psicológica desse momento, e também pelo tipo de relação que esta formação
tem com as ciências é fundamental para definir a própria sociedade e a
configuração social na totalidade. É uma fase em que a concepção de educação
é muito importante na vida dos jovens. Nessa fase, a relação entre ciência,
conhecimento científico e produção, modo de produção da existência,
processo econômico, de geração de riqueza, distribuição de riqueza e trabalho,
divisão social do trabalho, se manifestam (RAMOS, 2014, p. 17).
Segundo Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), o Ensino Médio
integrado ao Técnico é uma condição social e histórica necessária para
construção de um Ensino Médio unitário e politécnico, mas que não se
confunde totalmente com este, visto que a conjuntura real não o permite.
Portanto, o ideário da politecnia buscava e busca romper com a dicotomia
entre educação básica e técnica, resgatando o princípio da formação humana
em sua totalidade; em termos epistemológicos e pedagógicos, esse ideário
defendia um ensino que integrasse ciência e cultura, humanismo e tecnologia,
visando ao desenvolvimento de todas as potencialidades humanas. Por essa
perspectiva, o objetivo profissionalizante não teria fim em si mesmo nem se
pautaria pelos interesses do mercado, mas constituir-se-ia numa possibilidade
a mais para os estudantes na construção de seus projetos de vida, socialmente
determinados, possibilitados por uma formação ampla e integral
(FRIGOTTO et al., 2005, p. 10).
60
Os formuladores da proposta compreendem a Politecnia a partir da
conceituação adotada por Saviani (2003), que, através da análise dos
termos politecnia e educação tecnológica, na obra de Marx, sugere que
ambos oferecem o mesmo conteúdo, porém, reconhecendo os limites no
emprego dessas categorias. Todavia, justificam a opção por conter os
elementos de uma educação politécnica e os germens para sua construção.
Contudo, para além da questão terminológica, isto é, independentemente da
preferência pela denominação ‘educação tecnológica’ ou ‘politecnia’, é
importante observar que, do ponto de vista conceitual, o que está em causa é
um mesmo conteúdo. Trata-se da união entre formação intelectual e trabalho
produtivo, que no texto do Manifesto aparece como ‘unificação da instrução
com a produção material’; nas Instruções, como ‘instrução politécnica que
transmita os fundamentos científicos gerais de todos os processos de produção’;
e n’O capital, se enuncia como ‘instrução tecnológica, teórica e prática’
(SAVIANI, 2003, p. 162).
Cabe ressaltar que se trata de uma abordagem que está longe de
constituir um consenso entre os estudiosos do tema. Paollo Nosella
(2007), a partir dos estudos de Manacorda (1991), que trata a respeito da
diferenciação das categorias.
O que Manacorda diz é que, embora nos textos de Marx as expressões
‘politecnia’ e ‘tecnologia’ se intercalem, só a expressão ‘tecnologia’ evidencia o
germe do futuro, enquanto ‘politecnia’ reflete a tradição cultural anterior a
Marx, que o socialismo real de Lenin impôs à terminologia pedagógica de sua
política educacional (NOSELLA, 2007, p. 145).
Para Nosella (2007), a expressão politécnico carrega entre o senso
comum letrado “[...] o mesmo sentido registrado nos dicionários, e
61
ninguém, entre os muitos que eu próprio de forma espontânea entrevistei,
associava ao ensino politécnico ao ensino socialista (NOSELLA, 2007, p.
143). Dessa forma, segundo o autor, o termo politecnia encontra-se
apropriado pela concepção burguesa de educação e caracteriza-se como
insuficiente para explicitar os germes da proposta educacional marxista.
Mesmo reconhecendo a contribuição da análise de Nosella (2007),
Frigotto (2012) reafirma a posição de Saviani (2003), justificando que a
opção terminológica independe da questão terminológica.
O que parece claro é que as diferentes denominações dadas por Marx, para
qualificar a educação ou instrução que interessa à classe trabalhadora e que se
contrapõe à educação burguesa, se forjam no plano histórico real e
contraditório das relações sociais capitalistas. Assim, o caráter mais ou menos
verdadeiro ou o que anuncia o germe do novo se manifesta na expressão de
educação politécnica ou tecnológica (FRIGOTTO, 2012, p. 278).
A partir dessa breve análise, quanto às contradições contidas no
emprego da categoria politecnia no debate a respeito do Ensino Integrado,
consideramos uma proposta que une todas as dimensões da vida; assim, o
trabalho é concebido como mediador das relações entre o homem e a
natureza. Ao passo que, como perspectiva, a formação omnilateral
expressa-se na integração de todas as dimensões da vida no processo
educativo.
O que queremos ressaltar é a diversidade. Então descobrir e desenvolver a
capacidade de cantar, de emocionar, de produzir emoções com requinte
técnico, ao mesmo tempo estar dentro de uma fábrica, e ao mesmo tempo amar
e se relacionar socialmente. Ora, essa é a formação omnilateral na sua essência
(RAMOS, 2014, p. 20).
62
Utilizar os termos politecnia e omnilateral, acarreta um longo
debate, principalmente, ao assumirmos uma posição teórica de que o
desenvolvimento de todas essas potencialidades somente será possível por
meio da superação da dualidade estrutural da educação, a qual é intrínseca
ao modo de produção capitalista. Dessa forma, efetiva-se essa superação
somente através da superação do modo de produção capitalista, o que
garante o desenvolvimento de todas as potencialidades humanas,
constituindo a omnilateralidade.
Dessa forma, reconhecemos as limitações e as contradições da
proposta, bem como as limitações socioeconômicas, que decorrem da
desigualdade social no Brasil, obrigando muitos adolescentes a ingressarem
no mercado de trabalho muito antes de concluírem o Ensino Médio.
Contexto esse que justifica uma formação aligeirada, mesmo sob o viés
(contraditório) de uma proposta de formação de inspiração socialista,
justificando que a necessidade de adquirir uma profissão não pode esperar
pelos estudos universitários. Caminhando nesse sentido, o Documento
Base Educação Profissional Técnica De Nível Médio Integrada ao Ensino
Médio (BRASIL, 2007), sugere uma solução transitória, de médio ou longo
prazo, mas que, segundo seus formuladores, contemplaria as dimensões
cientificas, tecnológicas, culturais e para o trabalho. Apresentam-se, assim,
os fundamentos para o desenvolvimento de uma base unitária de formação
geral integrada a uma formação técnica de nível médio, permitindo, ao
jovem, a inserção no mercado de trabalho. Tal proposta torna-se viável por
estabelecer a travessia para uma para uma nova realidade, “[...] numa
perspectiva que não se confunde totalmente com a educação tecnológica
ou politécnica, mas que aponta em sua direção porque contém os
princípios de sua construção” (BRASIL, 2007, p. 24).
63
Segundo Gameleira e Moura (2018, p. 11), “integrado” diz
respeito ao conteúdo e à forma da proposta. O grande desafio dessa
proposta é “contribuir para superação” da dualidade estrutural e não para
sua “superação” em si, uma vez que essa é decorrente da divisão em classes
antagônicas da sociedade capitalista, não sendo possível a superar apenas
através de mudanças pedagógicas.
Ramos (2005) apresenta os sentidos nos quais se pauta o Ensino
Médio Integrado. O primeiro sentido é o filosófico, que expressa uma
concepção de formação humana baseada na integração de todas as
dimensões da vida: o trabalho, a ciência e a cultura, convergindo com a
concepção de formação omnilateral.
O segundo envolve o sentido político, que, antes mesmo de ser um
sentido, é colocado por Ramos (2005), como uma prática, que torna
indissociável à Educação Profissional da Educação Básica. Por fim, o
terceiro sentido trata do epistemológico, descrito como o sentido que trata
da integração dos conhecimentos em uma totalidade. “Assim, o professor
de geografia, ao saber de história e de matemática, química e da disciplina
técnica estão interligadas os conhecimentos vão adquirindo razão de ser
numa perspectiva integrada, por dentro da organização do currículo”
(RAMOS, 2005, p. 24).
No Documento Base encontram-se os princípios do Ensino Médio
Integrado. O primeiro princípio trata da Formação Humana Integral e
compreende as formações geral e profissional, enquanto partes
indissociáveis, buscando enfocar o trabalho enquanto princípio educativo,
incorporando a dimensão intelectual ao trabalho produtivo, com o intuito
de superar a dualidade que se dá pela divisão do trabalho. Dessa forma, os
trabalhadores são formados, de modo que possam, também, ser dirigentes
e exercerem a cidadania, além de superar a formação para o trabalho, em
64
seu sentido simplista e operacional, incorporando as bases cientificas e
tecnológicas apropriadas e suas bases históricas e sociais. Portanto, uma
formação completa que supõe capacidade crítica de reflexão sobre o
mundo e compreensão das relações sociais que envolvem todos os
fenômenos. Para que esse princípio seja desenvolvido, é necessário que se
parta do pressuposto de que se faz necessário “[...] compreender que
homens e mulheres são seres histórico-sociais que atuam no mundo
concreto para satisfazerem suas necessidades subjetivas e sociais e, nessa
ação, produzem conhecimentos” (BRASIL, 2007, p. 42). O segundo
pressuposto trata da compreensão da realidade concreta enquanto
totalidade, representando a síntese de múltiplas relações.
O segundo princípio trata do trabalho, ciência, tecnologia e cultura
como categorias indissociáveis da formação humana. Compreende-se o
trabalho como mediação primordial na produção da existência e na
objetificação da vida humana. Sua dimensão ontológica é o ponto de
partida para a produção de conhecimento e da cultura, enquanto o caráter
teleológico demonstra a consciência do homem sobre suas necessidades e
de planejar os meios para satisfazê-las, distinguindo-o dos demais animais.
“A compreensão do real como totalidade exige que se conheçam as partes
e as relações entre elas, o que nos leva a constituir seções tematizadas da
realidade” (BRASIL, 2007, p. 47). Contudo, os fenômenos constituem-se
em conhecimento somente quando o ser humano se apropria deles,
tornando-os força produtiva e útil para si. A produção de conhecimento
constitui ciência; conhecimento, aqui compreendido como o que é
sistematizado através de conceitos, que representam as relações
determinadas e apreendidas sobre a realidade e sobre um processo
histórico.
65
A tecnologia, compreendida enquanto mediação entre a ciência e
a produção, que se expressa no contexto escolar através de seus marcos
históricos e as respectivas transformações produzidas nas relações de
trabalho, relaciona-se com a ciência através da produção industrial, e
apresenta-se como uma extensão das capacidades humanas. Por fim, a
cultura enquanto norma de comportamento dos indivíduos convivendo
em sociedade e como expressão da organização político-econômica dessa
sociedade é compreendida, em seu sentido mais amplo, como “[...]
processo de produção de símbolos, de representações, de significados e ao
mesmo tempo, prática constituinte e constituída do e pelo tecido social”
(BRASIL, 2007, p. 44).
O terceiro princípio tratado é o trabalho como princípio educativo.
No que diz respeito à perspectiva de integração do trabalho, da ciência e
da cultura, a profissionalização está além da mera formação para o
atendimento das necessidades do mercado de trabalho, proporcionando,
também, “[...] a compreensão das dinâmicas socioprodutiva das sociedades
modernas, com as suas conquistas e os seus revezes, e habilitar as pessoas
para o exercício autônomo e crítico de profissões, sem nunca se esgotar a
elas” (BRASIL, 2007, p. 45).
A Pesquisa como Princípio Pedagógico: o trabalho como produção
de autonomia, quarto princípio, refere-se à potencialização da pesquisa,
por meio do trabalho, produzindo autonomia intelectual, de forma
intrínseca ao ensino, orientada para busca de soluções para a vida
cotidiana. Os estudantes são estimulados para a curiosidade sobre o mundo
que os cerca, gerando inquietudes. Objetiva-se, assim, a produção de
conhecimentos que, para além do valor de troca, produza valor de uso e
contribua para melhorar as condições de vida coletiva, além de despertar o
66
estudante para a pesquisa no contexto escolar e contribuir para o
desenvolvimento de diversas capacidades ao longo da vida, como,
[...] interpretar, analisar, criticar, refletir, rejeitar ideias fechadas, aprender,
buscar soluções e propor alternativas, potencializadas pela investigação e pela
responsabilidade ética assumida diante das questões políticas, sociais, culturais
e econômicas (BRASIL, 2007, p. 49).
O quinto e último princípio, Relação Parte-Totalidade na
Proposta Curricular, aponta que o conhecimento da totalidade se dá
através de suas partes, nas quais se identifica a possibilidade de conhecer
fatos que contenham a essência do real, além de distinguir aquilo que é
acessório e de conhecer o sentido objetivo contido nos fatos. No contexto
escolar, isso significa identificar os componentes e os conteúdos que
permitam produzir relações profundas entre os fenômenos que devem ser
apreendidos e a realidade em que se inserem.
A construção do currículo e do Projeto Político Pedagógico deve
realizar-se enquanto prática coletiva, o que, quando considerada a
democracia nas instituições brasileiras, inclusive na Escola, é um fato que
se faz mais por um discurso do que, propriamente, pela prática pedagógica,
tornando a discussão a respeito do currículo e do Projeto Político
Pedagógico um desafio ainda mais complexo. Enquanto premissa
orientadora do projeto de integração entre a formação geral e a
profissional, sugerimos a centralidade e o aprofundamento do caráter
humanista do ato de educar. Não esperamos, ainda, que as condições para
a integração sejam dadas; na ausência dessas, mostra-se necessário as
reivindicar e construí-las a partir do envolvimento da comunidade escolar,
67
portanto, a integração é um “[...] processo que se constrói no fazer
cotidiano da escola” (RAMOS, 2014, p. 26).
Segundo Ferreti (2016, p. 82), o desenrolar desse processo teve
dois diferentes desfechos. Ao passo que as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio representaram um avanço considerável,
um “[...] documento afinado com as bases teóricas, filosóficas e políticas
da escola unitária na perspectiva da formação politécnica e omnilateral”,
construído coletivamente, a partir da participação democrática de diversos
atores presentes na escola, fazendo com que o documento vá além de uma
mera peça burocrática. A Educação Profissional teve um desfecho bem
diferente.
[...] apesar do empenho dos educadores, ficaram, mercê do parecer da Câmara
de Educação Básica do CNE, marcadas pelo hibridismo entre a concepção
político-educacional pautada pela formação politécnica e omnilateral e a
fundamentada na formação por competência (FERRETTI, 2016, p. 85).
Para Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005, p. 21), a revogação do
Decreto n. 2.208/1997 possui um sentido simbólico e ético-político, uma
vez que representava o ideário do projeto neoliberal e de “[...] afirmação e
ampliação da desigualdade de classes e do dualismo na educação”
(FRIGOTTO et al., 2005, p. 21). O Decreto n. 5.154/2004 não reverte,
por si só, os retrocessos promovidos na década anterior, e, ainda, revelaria
contradições que indicam a persistência de forças conservadoras, as quais
atuam pela manutenção de seus interesses, e a timidez do governo no
sentido de promover rupturas e reformas estruturais em direção a um
projeto nacional voltado para as massas.
68
O caráter contraditório da construção do Decreto de 2004 resulta
do embate entre diversas forças do campo progressista e conservador,
produzindo um documento com diversos pontos de divergência.
O debate da Educação Profissional travado por integrantes de várias linhas
de pensamento sempre foi um ponto tenso de incongruência na educação,
representando, em última análise, as determinações da postura do Estado
quanto ao reforço do dualismo educacional, num caminho marcado por
inúmeras tensões e polarizações (SANTOS; RIBEIRO; SABINO, 2020, p.
44).
Santos (2017) reforça que o objetivo da integração seria aumentar
a escolarização e melhorar a qualidade da formação de jovens e de adultos
trabalhadores (BRASIL, 2007, p. 06). O documento base Educação
Profissional: concepções, experiências, problemas e propostas (BRASIL, 2003),
segundo Sandra Marinho (2003, p. 202 apud SANTOS, 2017, p. 233),
reforçaria “[...] a ideia de reduzir a educação profissional a fins e valores do
mercado, ao domínio de métodos e técnicas da produtividade”.
Em perspectiva semelhante, Freitas (2011) argumenta não ser
democrático colocar a educação unicamente a serviço dos empresários,
pois, na sociedade, há muitos outros agentes. O autor evoca um amplo
debate em torno do projeto educativo destinado à juventude, lembrando
que tal projeto não pode estar circunscrito à limitada objetividade dos
testes e das métricas de organismos internacionais.
Com a promulgação do Decreto n. 5.154/2004, observamos a
ampliação da possibilidade de uma formação profissionalizante precoce
para os filhos de trabalhadores. O novo decreto não resolve a questão da
dicotomia história, ao manter a possibilidade de separação entre ensino
69
propedêutico e educação profissional. Mesmo reconhecendo a matrícula
única para o Ensino Médio integrado a Educação Profissional, o Parecer
n. 39/2004, do Conselho Nacional de Educação (CNE), estabelece que os
conteúdos do Ensino Médio e da educação profissional são de natureza
distintas (SANTOS, 2017). Ao manter a possibilidade de oferta do Ensino
Técnico subsequente e concomitante, o referido Parecer preserva o nicho
de interesse do setor empresarial, garantindo a manutenção da venda de
um modelo de formação aligeirada aos trabalhadores e seus filhos.
Segundo Santos, Ribeiro e Sabino (2020), ao contrário do que
propunham os formuladores do Decreto n. 5.154/2004, ao invés de
caminhar rumo a uma formação humana integral, o referido Decreto
caminharia em sentido contrário, cedendo a um modelo de formação
alinhada aos interesses do mercado e colocando o ingresso no mercado de
trabalho, como justificativa para este alinhamento.
O ajuste do currículo aos interesses do mercado traz consigo um
vocabulário repleto de expressões que impõem uma visão ideológica, em
que o “novo” trabalhador deve estar disposto a se transformar para garantir
sua sobrevivência (SANTOS et al., 2020). Introjetando, no trabalhador, o
conformismo e a aceitação a perda de direitos, como sendo partes do
processo de formação “resiliente” do trabalhador.E reforçado a partir da
apropriação de categorias de tradição marxista pelos interesses educacionais
da burguesia em seus projetos de expansão mercadológica, tendo como
pano de fundo o ideário de que a educação é a solução para todas as
questões provocadas pelo próprio capital.
Na atual ordem econômica global neoliberal, a denominada educação
tecnológica, bem como formação politécnica, ou integral, tem fácil tratamento
na mídia burguesa. A forma como é apresentada leva a sociedade a acreditar
70
em sua eficácia como antídoto para vários dos problemas que a sociedade
enfrenta, entre eles o do desemprego (SANTOS, 2019, p. 77-78).
Com exceção do retorno da possibilidade de integração, ocorreram
poucos avanços. O Decreto garante a continuidade dos nichos de mercado
que interessam aos conglomerados empresariais, que, por lucrarem com a
dicotomia entre a formação propedêutica e técnica, mantêm-na. Apesar da
tentativa dos formuladores em flertar com uma proposta de educação que
almeja ser revolucionária, tem-se, em síntese, uma demonstração das
políticas conciliatórias promovidas ao longo dos governos Lula e Dilma,
que garantiram a manutenção dos campos de influência e de interesse da
burguesia, preparando o terreno e executando o Golpe Institucional de
2016.
Concepção Burguesa de Formação Integrada e o Centro Paula Souza
A proposta curricular de integração entre o Ensino Médio e as
Habilitações Profissionais de nível médio na modalidade de Ensino
Técnico integrado ao Médio (ETIM) adotada pelo Centro Paula Souza
tem sua primeira versão publicada em 2006, passando por uma atualização
em 2011. A fundamentação legal para a proposta está na LDB e nas
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica
(CEETEPS, 2006).
O processo de ensino-aprendizagem é orientado por onze
princípios pedagógicos (CEETEPS, 2011), resumidos no Quadro 1.
71
QUADRO 1. PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS DO CENTRO PAULA SOUZA.
Princípios
Descrição
Ensino-aprendizagem com foco no
desenvolvimento de competências
O eixo de trabalho pedagógico deixa de estar
orientado para o desenvolvimento de
conhecimentos e passa a ser orientado para o
desenvolvimento de competências.
Leitura crítica da realidade e inclusão
construtiva na sociedade da informação
e do conhecimento
Compreende que a leitura crítica da realidade
é um pressuposto fundamental para o
tratamento das informações disponíveis,
garantindo que possam ser transformadas em
conhecimentos. Dessa forma, o cidadão é
inserido na sociedade do conhecimento,
como seu produtor.
A aprendizagem como processo de
construção coletiva em situações e
ambientes cooperativos
Pautada em relações de respeito mútuo, as
quais contribuirão para a produção de um
ambiente favorável à aprendizagem coletiva.
Compartilhamento da Responsabilidade
do ensino-aprendizagem por professores e
alunos
O professor dividirá, com os alunos, a
responsabilidade pelo aprendizado, atuando
como um “estimulador” de situações e
oferecendo as bases materiais para os alunos
desenvolvam o conhecimento.
Respeito à diversidade, valorização da
subjetividade e promoção da inclusão
Propõe a inclusão, o respeito a diversidade e o
direito de serem inseridos de acordo com o
ritmo de aprendizado do aluno, além de
garantir ao aluno as bases materiais e
didáticas necessárias ao processo de ensino-
aprendizagem.
Ética de identidade, estética de
sensibilidade e política de igualdade
Busca o reconhecimento das identidades dos
alunos, promovendo (i) a heterogeneidade;
(ii) o convívio, a partir das diferenças; e (iii) a
autonomia. Ao passo que a estética da
sensibilidade estará relacionada ao
desenvolvimento de capacidades criativas,
72
empreendedoras, iniciativa, além do exercício
da cidadania e do reconhecimento dos
direitos humanos.
Autonomia e protagonismo na
aprendizagem
Relaciona-se à identificação e ao
reconhecimento de condições, para que os
alunos desenvolvam esses princípios e, por
sua vez, desenvolvam a competência de
aprender a aprender.
Contextualização do ensino-
aprendizagem
Estabelecer relações entre a teoria e a prática,
bem como o estímulo para a construção e
para a produção de conhecimento.
Interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade
Trata do direcionamento dos conhecimentos,
objetivando à promoçãoda interação entre
diversas áreas do conhecimento, construindo,
assim, um direcionamento da aprendizagem
interdisciplinar para a transdisciplinar.
Problematização do conhecimento
Contextualização de situações-problema sob
enfoques diversos.
Trabalho por projeto no
desenvolvimento e na avaliação do
ensino-aprendizagem
Construção de um projeto de ensino-
aprendizagem coletivo, contando com a
participação dos alunos, incentivando a
autonomia, a cooperação, a automotivação e
o protagonismo, além de fornecer
diagnósticos sobre o aprendizado
desenvolvido.
Fonte: adaptado de CEETEPS (2011).
As competências a serem desenvolvidas nos componentes
curriculares são divididas, pela proposta curricular, em três funções
(Representação e Comunicação; Investigação e Compreensão e Contextua-
lização Sociocultural), que, segundo o documento, correspondem a “[...]
um conjunto de competências voltadas a consecução de um mesmo
73
objetivo” (CEETEPS, 2011, p. 13). As competências selecionadas tiveram
como base a lista apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio (PCNEM) e estão compostas por habilidades, por
valores e por atitudes, por instrumentos e por procedimentos de avaliação.
Ao final de cada série, o documento apresenta uma lista de competências
que o aluno deverá ter desenvolvido no período, assim como o perfil do
aluno concluinte do Ensino Médio.
O documento elenca, também, as temáticas a serem desenvolvidas
em cada um dos componentes curriculares da Base Comum do Ensino
Médio, bem como os instrumentos e os critérios a serem adotados para
avaliação e a ênfase nos aspectos qualitativos para a avaliação da
aprendizagem do aluno.
A Proposta Curricular do Centro Paula Souza (CEETEPS, 2006;
2011) apresenta as competências que os alunos deverão desenvolver ao
final de cada série e ao final do curso. O docente deverá, então, organizar
seu Plano de Trabalho Docente (PTD) seguindo as orientações a respeito
das competências, das habilidades e dos valores, os quais deverão ser
adquiridos ao final de cada série e em cada um dos componentes
curriculares.
As competências emergem em um contexto de reestruturação das
forças produtivas do capital, isto é, em um contexto de eliminação de
postos de trabalho e de redefinição de seus conteúdos mediante aos avanços
tecnológicos, promovendo um reordenamento de inúmeras profissões.
Dessa forma, as competências, “[...] a partir de procedimentos de avaliação
e de validação, passam a ser consideradas como elementos estruturantes da
organização do trabalho” (RAMOS, 2012, p. 536). Os diplomas perdem
o seu caráter de excelência perante a uma determinada profissão,
adquirindo importância a qualificação real do trabalhador, ou seja, a
74
empresa passa a requerer do trabalhador competências que estejam
associadas aos postos de trabalho. As competências são apresentadas
enquanto propriedades instáveis. Em uma gestão pautada pelas
competências, o trabalhador está submetido a validações constantes.
Segundo Santos (2015), uma reportagem denominada “Os novos
pensadores da Educação”, da Revista Nova Escola (publicação de grande
circulação no meio educacional), em sua edição de agosto de 2002,
apresentou, entre outros, Phillipe Perrenoud (2000), autor da obra “Dez
novas competências para ensinar”, através de uma fórmula que apresenta
os passos necessários para se alcançar o sucesso. Sem o devido
aprofundamento crítico, tornou-se referência no Brasil no início do século
XXI para o estudo das competências, a partir de uma visão da educação a
serviço do capital. A respeito da abordagem estabelecida por Perrenoud
para as competências, Ramos (2011) argumenta que, para o autor, “[...] a
mudança fundamental no currículo ocorreria em relação ao referencial a
partir do qual se selecionariam os conteúdos, ou seja, não mais a partir das
ciências, mas da prática ou das condutas esperadas” (RAMOS, 2011, p.
774).
A partir da perspectiva de Zarifian (2003), Ramos (2001)
compreende as competências enquanto a “[...] conquista de iniciativa e de
responsabilidade do indivíduo sobre as situações profissionais com as quais
ele se confronta; a competência é uma inteligência prática das situações
que se apoiam sobre os conhecimentos adquiridos e os transformam [...]”
e “[...] a faculdade de mobilizar os recursos dos atores em torno das mesmas
situações, para compartilhar os acontecimentos, para assumir os domínios
de corresponsabilidade [...]” (RAMOS, 2012, p. 535). Santos (2015)
compreende, por sua vez, que o trabalhador, submetido a esse paradigma,
receberá uma dupla qualificação: em primeiro lugar, relacionada a sua
75
contribuição no processo de produção; em segundo, em relação a seu lugar
na hierarquia salarial. Para Santos (2015), não deveria haver uma distinção
entre competência e qualificação, compreendendo que as competências se
relacionam com a construção da qualificação (SANTOS, 2015, p. 97).
No plano pedagógico produziu-se um deslocamento do ensino
pautado em saberes disciplinares para o de produção de competências
verificáveis em situações-problema ou em tarefas específicas, por meio dos
quais se possa verificar a aquisição da competência requerida. No que diz
respeito ao CPS, esse posicionamento das competências enquanto
norteadoras da prática pedagógica é central.
Na organização da Proposta Curricular (CEETEPS, 2011),
primeiramente, são apresentadas as competências, as habilidades e os
valores e, após essa explicitação, são apresentados os temas (conteúdos) a
serem desenvolvidos pelo professor, que terá como norte a aquisição das
competências. Por isso, as listas de temas que deverão ser trabalhados para
construção de conhecimentos em cada componente curricular são
apresentadas no final da relação das competências das três séries do curso
(CEETEPS, 2011). A construção dos conhecimentos fica submetida ao
processo de adaptação ao meio material e social, impostos por situações as
quais os alunos deverão dominar.
A pedagogia das competências passa a exigir, então, tanto no ensino geral
quanto no ensino profissionalizante que as noções associadas (saber, saber
fazer, objetivos) sejam acompanhadas de uma explicitação das atividades (ou
tarefas) em que elas podem se materializar e se fazem compreender, explicitação
essa que revela a impossibilidade de dar uma definição a essas noções
separadamente das tarefas nas quais elas se materializam (RAMOS, 2012, p.
536-537).
76
Dessa forma, a validação dos conhecimentos transmitidos
reconfigura o papel do professor a um mero avaliador da aplicabilidade do
exercício de atividades na produção de bens e de serviços ou, também,
como “proletarização do professor”, caracterizado, segundo Peçanha, pela
[...] destituição dos professores daquelas dimensões do processo pedagógico
destinadas à concepção e ao planejamento, que passariam ao controle de
instâncias externas no novo modelo de burocratização escolar. Trata-se de uma
expressiva corrosão dos poderes dos sujeitos da educação diante do aumento
do poder do capital sobre a práxis pedagógica, engendrando na constituição do
modelo escolar pós-fordista - que se caracteriza pelo avanço das teorias do
capital humano sobre os projetos educacionais críticos (PEÇANHA, 2014, p.
286).
Consequentemente, reconfigura-se o papel da escola, através da
criação de elos entre as escolas e as empresas, quer por meio de documentos
oficiais, como a Classificação Brasileira de Ocupações, ou por meio das
diretrizes curriculares, ou, até mesmo, pela ação direta de empresas junto
às escolas, implantando “filosofias” de trabalho compatíveis com as
empresas, através de seminários, de palestras e de visitas técnicas,
direcionando o desenvolvimento do aluno para o ideal desejado pelas
empresas.
De modo geral, a pedagogia das competências surge em meio a um
leque de modelos inovadores, que contam com o apoio de diversos
organismos internacionais, adaptados a novos paradigmas educacionais,
institucionalizando novas formas de educar os trabalhadores no contexto
político-econômico neoliberal.
Ramos (2001) refere-se a um processo de descolamento da
qualificação para competência, produzindo um contexto desfavorável ao
77
trabalhador, pautado pela instabilidade revestida de “resiliência”, e o
deslocamento da possibilidade de construção de um projeto de educação
emancipador. Posição essa que é complementada por Santos (2015), ao
afirmar que
[...] o chamado paradigma das competências é mais um aparato ideológico
utilizado pelo capital que ganha foro privilegiado dentro da educação,
destacadamente no currículo da educação profissionalizante e, de modo
especial, na graduação tecnológica (SANTOS, 2015, p. 102).
Dentre os agentes orientados a introduzir o programa educacional
neoliberal nas políticas educacionais, destaca-se para a ação do Todos pela
Educação
5
, composto por tentáculos de diversos grupos empresariais. Entre
os principais representantes desse grupo estão a Fundação Lemann, a
Fundação Roberto Marinho, a Fundação Itaú Social, a Fundação
Telefônica Vivo, a Fundação Victor Civita, o Instituto Gerdau, o Instituto
Natura, o Instituto Ayrton Senna e outros, que dispensam maiores
apresentações, atuando com o objetivo de estabelecer políticas
educacionais que atendam aos seus interesses.
Esse tentáculo do capital é responsável por orquestrar o projeto de
Reforma do Ensino Médio, aprovada na Lei n. 13.415/2017 e a nova Base
Nacional Comum Curricular (BNCC); reforçando o paradigma da
Pedagogia das Competências, e, estabelecendo 10 competências gerais a
serem desenvolvidas ao longo da formação do aluno no decorrer da
educação básica.
5
Trata-se de uma organização civil composta por empresários de diversos seguimentos que atua na
disputa pela formulação de políticas públicas com o intuito de direcionar recursos financeiros aos
interesses mercadológicos que lhes é interessante.
78
Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos
(conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e
socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida
cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL,
2018, p. 08).
As competências elencadas na BNCC estão agrupadas, de acordo
com o documento, da seguinte maneira: (i) conhecimento; (ii)
pensamento científico, crítico e criativo; (iii) repertório cultural; (iv)
comunicação; (v) cultura digital; (vi) trabalho e projeto de vida; (vii)
argumentação; (viii) autoconhecimento e autocuidado; (ix) empatia e
cooperação; e (x) responsabilidade e cidadania (BRASIL, 2018). As
competências gerais têm chegado às escolas através de múltiplas
interpretações, guiadas por intelectuais e por instituições, que, em sua
maioria, representam os interesses empresariais para a educação.
Prontamente disposto a acolher as mudanças, antes mesmo da
finalização da formatação da BNCC, o Centro Paula Souza inicia estudos
para reformulação da sua proposta curricular e publica, em 2019, um novo
documento, adaptando a Proposta Curricular do Ensino Médio e Técnico
a nova realidade da BNCC.
Santos (2005) realiza uma importante constatação, ao destacar que
esse paradigma educacional se trata de uma ressignificação do ideário
tecnicista, implantando no Brasil e demais países periféricos, a partir dos
programas como, o Sistema Escola-Fazenda, desenvolvidos sob os
auspícios do Banco Mundial e os convênios estabelecidos por meio dos
acordos MEC-USAID. Podemos constatar que esse paradigma
educacional representa um retrocesso, a partir da perspectiva, pela qual
vem sendo desenvolvido, em consonância com as diretrizes do capital. Isso,
79
pois, não será da burguesia que virá uma proposta de educação
emancipadora para os trabalhadores.
Competências Socioemocionais
No processo de reformulação das matrizes curriculares dos cursos
técnicos integrados ao Ensino Médio, competências e habilidades
adquirem protagonismo no processo de construção dos currículos, de
acordo com o Centro Paula Souza. Além das competências, das habilidades
e dos valores, observados nas Propostas Curriculares de 2006 e de 2012 e
no Plano de Curso, em que se relacionam ao desenvolvimento cognitivo e
às temáticas abordadas nos componentes curriculares, passam a constar no
documento síntese da proposta curricular base para adequação à BNCC,
as Competências Pessoais ou individuais.
Essas competências inserem-se em um contexto que exige, cada vez
mais, do trabalhador. Não basta ter a disciplina sobre o corpo e sobre o
acúmulo de saberes disponíveis aos interesses econômicos da organização,
a disciplina sobre a mente do trabalhador adquire níveis mais elevados,
recrutando competências, não identificadas em seu currículo por meio de
sua formação acadêmica e experiência profissional.
[...] a nova fase do capital retransfere o saber fazer para o trabalho,
apropriando-se de sua dimensão intelectual, procurando envolver mais
intensamente a subjetividade operária. Ao mesmo tempo, transfere parte do
saber intelectual para as máquinas informatizadas que se tornam mais
inteligentes, reproduzindo parte das atividades a elas transferidas pelo saber
intelectual (ANTUNES, 2002, p. 42-43 apud KUENZER & GRABOWSKI,
2016, p. 27).
80
Esse novo rol de competências ingressa nas escolas sob a
denominação de Competências Socioemocionais. No Brasil, essa
abordagem adquire relevância a partir de 2013, quando o CNE
encomenda um estudo à Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO) sobre a inserção intencional de práticas
pedagógicas voltadas para o desenvolvimento de habilidades
socioemocionais, objetivando contribuir para o sucesso escolar na
educação básica (ABED, 2014).
Paras Abed (2014), as instituições de ensino não têm
acompanhado a velocidade das transformações vivenciadas no mundo. De
tal forma, que propõe a necessidade de novos paradigmas pedagógicos que
adequem o estudante a essa nova realidade vivenciada. A pesquisadora
defende que a escola deve ir além de um espaço de disseminação dos
conhecimentos acumulados ao longo da história, mas, também, deve
desenvolver habilidades emocionais e criativas, que contribuam com a
construção de um mundo melhor. Trata-se de uma estratégia de integração
entre os conteúdos dos componentes curriculares e os demais aspectos
humanos. Essa abordagem carrega, também, um significado para a
integração. “Integrar é ‘tornar inteiro, completar’, é re-unir (unir de novo)
o que na realidade nunca foi separado, foi apenas pensado em separado.
Tornar inteiro é resgatar a unicidade, recompor as células, restituir o ser”
(ABED, 1996, p. 06 apud ABED, 2014, p. 11).
As competências socioemocionais são apontadas em diversos
estudos como exercendo influência sobre a saúde e bem-estar dos
indivíduos (ABED, 2014; GONDIM et al., 2014; SANTOS et al., 2018).
Adotada e multiplicada nos espaços de formação continuada do
Centro Paula Souza, a abordagem tem sido a desenvolvida pelo Instituto
Ayrton Senna (2019), um dos tentáculos do Todos pela Educação, cujo
81
modelo adotado subdivide as 10 competências gerais da BNCC em cinco
macrocompetências, quais sejam: (i) abertura ao novo, diz respeito à
flexibilidade diante de situações “desafiadoras, incertas e complexas e tem
relação com a disposição para novas experiências estéticas, culturais e
intelectuais”; (ii) autogestão, compreendida como a “capacidade de ter foco,
responsabilidade, precisão, organização e perseverança com relação a
compromissos, tarefas e objetivos estabelecidos para a vida”; (iii)
amabilidade, “compreendida como a capacidade de ser “solidário e
empático, ou seja, ser capaz de compreender, sentir e avaliar uma situação
pela perspectiva e repertório do outro”; (iv) engajamento com os outros,
relacionada “à motivação e à abertura para interações sociais”; e, por fim,
(v) resiliência emocional, que se refere “à capacidade de aprender com
situações adversas e lidar com sentimentos como raiva, ansiedade e medo”
(INSTITUTO AYRTON SENNA, 2019).
Essas macrocompetências, por sua vez, encontram-se divididas em
17 competências socioemocionais, que, segundo o Instituto Ayrton Senna,
melhor se adaptam ao contexto educacional brasileiro. Cada uma dessas
cinco macrocompetências compõe um grupo, em que estão inseridas as 17
competências socioemocionais. A macrocompetência abertura ao novo
abrange as competências socioemocionais de “curiosidade para aprender”,
de “imaginação criativa” e de “interesse artístico”; a autogestão, as
competências socioemocionais de “determinação”, de “organização”, de
“foco”, de “persistência” e de “responsabilidade”; a amabilidade, as de
“empatia”, de “respeito” e de “confiança”; o engajamento com os outros, as
de “iniciativa social”, de “assertividade” e de “entusiasmo”; e, por fim, a
resiliência emocional agrupa as competências socioemocionais de
“tolerância ao estresse”, de “autoconfiança” e de “tolerância a frustração”.
82
Esse desdobramento do paradigma das competências na educação,
fundamentado nos mesmos alicerces das competências cognitivas, deve ser
muito bem analisado, pois interessa, não somente aos segmentos
empresariais, que agem sobre as políticas educacionais, mas, também, aos
saudosistas da educação tecnicista e engessada, uma perspectiva de
formação de caráter moralizador e padronizador. É a cereja do bolo da
Pedagogia das Competências, como afirma Freitas (2018).
Amplia-se a padronização para áreas relativas ao desenvolvimento da
personalidade dos estudantes, ampliando-se igualmente os processos de
violência cultural. Como tais aspectos poderão ser incluídos em avaliações
nacionais (e, portanto, na prática das escolas), abre-se um perigoso precedente
quanto ao controle moral da formação dos estudantes, com repercussões
danosas na formação dos jovens e na convivência das escolas (FREITAS, 2018,
p. 84).
Identificamos a necessidade de estar alerta, quanto aos processos de
violência cultural. Processo esses que tendem a desenrolar, a partir da
adoção das competências socioemocionais sem o devido cuidado ou
quando há um direcionamento proposital. Considerando nosso objeto de
pesquisa, o ETIM na Habilitação Profissional em Agropecuária, que,
historicamente, é subjugado a uma condição de atraso cultural e de
marginalização, há a possibilidade de se produzir um contexto de supressão
de determinados aspectos culturais ligados ao campo e à condição
camponesa, em nome de padrões culturais, esteticamente, aceitos por um
determinado padrão de perfil profissional.
Freitas (2018) alerta-nos, ainda, que a junção de uma BNCC,
baseada em competências socioemocionais, tende a promover a
competição, que já se faz tão presentes em cursos de formação profissional
83
e sob a orientação da pedagogia das competências. As competências
socioemocionais inserem-se dentro de um modelo de sociedade baseado
na acumulação do capital, não só no sentido econômico propriamente,
como, também, no sentido ideológico, sendo necessário as decodificar para
melhor compreender seus reais significados, “[...] portanto, está nas
concepções que subjazem a estas habilidades [...] o conceito de sociedade
e de educação que o neoliberalismo toma como fundamento coloca os
indivíduos em um cenário de competição entre eles” (FREITAS, 2018, p.
114), produzindo um paradigma inadequado ao papel da escola, além de
capturar a subjetividade do trabalhador.
ETIM em Agropecuária
Ao analisarmos os Planos de Curso do ETIM em Agropecuária
encontramos poucas alterações em suas versões que vigoraram nos últimos
dez anos, salvo por alterações na matriz curricular. No documento
encontramos a justificativa para a implementação da modalidade ETIM
para essa habilitação profissional, os objetivos, a organização do curso, o
perfil profissional esperado ao final de cada série, as atribuições e as
responsabilidades do profissional, áreas para o exercício de atividades
profissionais. Todos relacionados aos potenciais econômicos do
Agronegócio e às demandas do mercado trabalho (CEETEPS, 2017).
A Habilitação Profissional em Agropecuária foi a primeira
oferecida pelo Centro Paula Souza na modalidade ETIM, autorizado pela
Portaria CETEC n.21, de 7 de janeiro de 2009, está organizado em três
séries, cada uma com duração de um ano letivo. Ao concluir o curso, o
aluno recebe o diploma Técnico em Agropecuária em Nível Médio,
84
estando habitado para o exercício profissional, junto ao conselho da
categoria e ingresso no Ensino Superior.
No ano letivo de 2009, contabilizaram-se 1.076 matrículas no
ETIM em Agropecuária, segundo informações disponíveis no Banco de
Dados da Coordenadoria de Ensino Médio e Técnico (CEETEPS, 2020).
O pioneirismo dessa habilitação Profissional, na adoção do ensino
integrado, deve-se ao histórico da própria habilitação profissional,
oferecida na modalidade de integração entre Formação Geral e Formação
Profissional até 1998. Tendo cessado a oferta nessa modalidade por conta
das imposições promovidas pelo Decreto n. 2.208/1997.
Ao considerar as estruturas e as condições oferecidas nas escolas
agrícolas, compreendemos seu protagonismo nessa retomada, visto que
estas possuem refeitório e residência escolar para receber e para acolher os
alunos oriundos de outras cidades e regiões do país. Fato característico dos
cursos técnicos de agropecuária no Estado de São Paulo, que, ainda, atraem
alunos de diversos estados da região centro-oeste e norte, motivados pela
expansão das fronteiras agrícolas.
Na organização curricular são retomados os princípios
pedagógicos, as divisões das competências e seus respectivos habilidades,
valores e atitudes, instrumentos e procedimentos de avaliação.
Com relação à formação profissional, são apresentadas as
competências, as habilidades e as bases tecnológicas desenvolvidas em cada
componente curricular. Os componentes curriculares, que compõem a
formação geral, são responsáveis por prover as bases científicas necessárias
para o desenvolvimento das bases tecnológicas nos componentes
curriculares da formação profissional.
85
Entre os componentes curriculares desenvolvidos na formação
profissional, merece destaque o Cooperativismo e o Associativismo, cujas
bases tecnológicas são desenvolvidas seguindo a exigência para o mercado
de trabalho (CEETEPS, 2017), distante de uma perspectiva crítica e de
análise, a partir do cooperativismo baseado na Autogestão e no Trabalho
Associado. No que diz respeito ao componente curricular Agricultura
Orgânica, apenas uma de suas bases tecnológicas está relacionada à
Revolução Verde e ao mercado de trabalho; quanto às demais, relacionam-
se ao uso de defensivos agrícolas alternativos, à rotação de culturas com o
intuito de proteger o solo, aos princípios da agroecologia, entre outros.
A partir das análises apresentadas na Proposta Curricular, no Plano
de Curso e na observação assistemática (RUDIO, 2007), constatamos que
a integração da formação geral e da formação profissional na modalidade
ETIM tem, como uma de suas bases fundamentais, o processo de ensino-
aprendizagem pautado na interdisciplinaridade. Entende-se a
interdisciplinaridade como a abordagem de um determinado conteúdo,
simultaneamente, em dois ou mais componentes curriculares, através de
diversos instrumentos pedagógicos e tendo como resultado instrumentos
avaliativos compartilhado entre diversos componentes curriculares.
Os documentos analisados sugerem práticas que contribuam para
efetivar o modelo de integração proposto e que se relacionam com a
concepção de interdisciplinaridade oferecida, como a organização do
horário de aulas com componentes curriculares da formação geral e
formação profissional no mesmo período, com o intuito de os aproximar.
Além de uma diversidade de instrumentos pedagógicos, que incluem a
organização de visitas técnicas, de seminários, de atividades práticas e de
outros, que contêm com o envolvimento de professores de componentes
curriculares de ambas as bases de formação.
86
Com relação ao Plano de Curso, entre 2009 e 2019 foram
identificadas duas alterações em suas matrizes curriculares. Na mais recente
alteração, homologada pela Portaria CETEC n. 754, de 10 de setembro
de 2015, o ETIM de Agropecuária conta com uma carga de horas-aula de
4.720 horas-aula, sendo que cada hora aula possui 50 minutos. As
alterações observadas nas matrizes curriculares referem-se à inserção e à
retirada do componente curricular de Língua Estrangeira Espanhol, que,
originalmente, não constava na matriz curricular, tendo sua oferta
opcional inserida na grade da segunda série. Na matriz em vigor, a oferta,
como componente curricular opcional, está inserida na grade da terceira
série. Além desse componente curricular, a Biologia, na matriz curricular
aprovada no ano de 2013, foi excluída da grade da terceira série, causando
grande descontentamento entre os alunos, que declaravam que sua
formação estava prejudicada, devido à importância da Biologia para a
formação dos alunos dessa habilitação profissional, além de terem a
preparação para os vestibulares e o Exame Nacional do Ensino Médio
prejudicadas. Em 2015, o componente curricular de Biologia volta a ser
oferecido em todas as séries em uma nova reformulação. A respeito da
organização curricular, Borro (2018) destaca o caráter impositivo do
currículo, afirmando que
[...] os conhecimentos que constam no plano de curso do Etim Agropecuária
não foram fruto de vivências, anseios e dificuldades de discentes e docentes do
curso, considerando especificidades de cada grupo, escola e região. Os
conhecimentos são impostos via plano de curso por um laboratório de
currículo. Esse laboratório é formado por uma equipe do CPS, com o auxílio
de alguns docentes que desejam opinar nos planos de curso; são pensados e
selecionados competências, habilidades, bases tecnológicas/conhecimentos,
atribuições e perfis dos alunos concluintes, entre outros, com o intuito de
serem cumpridos por todos os docentes e alunos nas diferentes escolas agrícolas
em todas as regiões onde se encontram esses cursos (BORRO, 2018, p. 65).
87
No Plano de Curso (CEETEPS, 2017), enfatiza-se a necessidade
de o Plano estar adequado às demandas do mercado de trabalho.
Os temas ‘geração de emprego’ e a preocupação com o ‘mercado interno e
externo’ são mencionados também nos itens ‘tendências da Agropecuária para
o Brasil’ e ‘as vantagens da integração Agricultura Pecuária’ no plano de curso
em questão. Observa-se, portanto, a intenção de justificar a implementação e
manutenção do curso em virtude da importância da Agropecuária, e de se
formar profissionais desta área para compor o abrangente mercado de trabalho
(BORRO, 2018, p. 62).
O Centro Paula Souza realiza um grande trabalho, ao alinhar o
currículo de seus cursos, aos interesses do mercado, não só na construção
dos documentos, como, também, no cotidiano das escolas. Conforme já
mencionado, o elo com as empresas é reforçado e incentivado por parte
das instancias formuladoras das propostas curriculares e de supervisão
escolar. A elaboração de parcerias com empresas que possam fornecer desde
vagas de estágio, a profissionais para ministrar palestras, workshops e visitas
técnicas, até mesmo insumos para as aulas, são incentivadas e valorizadas,
captando os interesses empresariais e colocando a formação de seus alunos
à disposição. O discurso claro e o objetivo da instituição são esses: formar
trabalhadores qualificados e aptos aos interesses do mercado de trabalho.
Quanto aos demais objetivos da formação do aluno, como, por exemplo,
o exercício da cidadania e o acesso ao Ensino Superior, são desejáveis.
Contudo, o objetivo principal reflete-se na empregabilidade dos alunos
após a conclusão dos cursos, chegando a mais de 76%
6
.
6
Dados do Portal do Centro Paula Souza. Disponível em: https://www.cps.sp.gov.br/empregabilidade-
de-alunos-formados-pelas-fatecs-e-de-92/. Acesso em: 20 fev. 2021.
88
Trabalho Docente
Nas unidades do Centro Paula Souza, o trabalho docente
encontra-se em um quadro de grande instabilidade. Não há contratação
por jornada de trabalho, mas por hora-aula, o que obriga o docente a
buscar aulas em diversas unidades para completar sua carga horária e a
própria renda, estimulando a competição entre docentes, sobre essa
situação em que se insere o docente. Sobre esse cenário, Freitas (2018)
produz a seguinte análise.
A reforma empresarial da educação concebe o magistério da mesma forma que
concebe a escola, inserido em um livre mercado competitivo, e neste cenário,
os salários são tornados dependentes dos resultados esperados, sem direito à
estabilidade no emprego e tanto quanto possível sem sindicalização.
Estabilidade, salários iguais, previdência e sindicalização são condições que
impediriam o mercado de produzir ‘qualidade’ na escola (FREITAS, 2018, p.
109).
Agravando mais esse quadro está a desprofissionalização da carreira
docente, com profissionais de diversas áreas e sem uma formação
apropriada, ingressando na carreira docente como um meio de
complementar a renda, ou, até mesmo, em decorrência do desemprego na
área de atuação, promovendo uma situação de precarização do trabalho
docente, definida nos corredores das escolas como “bico”. Esse perfil de
docente, que não tem nessa função seu meio de vida e/ou sua principal
fonte de renda, aos olhos dos gestores das políticas educacionais
neoliberais, tende a ser visto como um elo entre a escola e o mercado de
trabalho, contribuindo para trazer para escola o modelo de profissional que
o mercado espera, estreitando ainda mais o papel da escola, apenas como
89
formadora de trabalhadores, distanciando ainda mais de uma proposta de
formação integral.
Aprovada na Lei n. 13.415, a reforma do Ensino Médio tende a
agravar ainda mais esse quadro. Ao alterar o inciso IV do artigo 61 da LDB,
passou a reconhecer como profissionais da educação aqueles que possuírem
“notório saber”, reconhecidos pelos sistemas de ensino, fato que, a
princípio, não parece promover mudanças significativas na contratação de
docentes, visto que esse perfil de docente está presente na Educação
Profissional há muito tempo, porém a preferência na atribuição de aulas
pertence aos docentes portadores de diploma de licenciatura plena,
inclusive fazendo com que os sistemas de ensino, promovessem programas
de Formação Pedagógica para não portadores de diplomas de licenciatura
plena. Esse cenário gera um clima de instabilidade jurídica.
Cabe ressaltar que, no Centro Paula Souza, o Programa Especial de
Formação Docente para as Disciplinas do Currículo da Educação Profissional
de Nível Médio teve sua última turma iniciada no ano de 2012. Portanto,
para os próximos anos teremos um agravamento no quadro de
desprofissionalização da carreira docente na Educação Profissional de
Nível Médio com a desresponsabilização dos estados e de seus respectivos
sistemas de ensino em promover programas de formação profissional.
Os conhecimentos científicos e relacionados à prática docente são
substituídos pelo domínio das competências exigidas pelo mercado de
trabalho, associada ao processo de instabilidade na carreira docente. Em
decorrência do aumento de contratações com prazo determinado,
facilitando o descarte dos docentes que não se adequam a ensinar as
competências exigidas.
90
No contexto das escolas agrícolas, essas medidas tendem a
contribuir ainda mais para a contratação de profissionais comprometidos
(i) com o projeto agrário exportador do Agronegócio; (ii) com a produção
de commodities; (iii) com os pacotes tecnológicos, associados ao uso da
tecnologia de ponta empregada a agricultura, como nos casos das culturas
de Algodão ou Soja, mas, que tem se aprofundado em outros culturas,
como , o café e cana-de-açúcar, que, até pouco tempo demandavam grande
contingente de trabalhadores, além da utilização de insumos químicos e
biotecnologia (cf. LEITE; MEDEIROS, 2012). Prefere-se esse público,
em detrimento aos conhecimentos de interesse imediato da agricultura
familiar e dos modelos de produção sustentáveis para o campo, restritos a
conteúdos delimitados e sujeito aos interesses dos docentes por essas
temáticas.
Balanço das relações de forças ao longo de dez anos de construção do
Ensino Médio Integrado
Frigotto (2016) descreve a conjuntura do golpe institucional
contra a presidenta Dilma Rousseff como sendo, até mesmo, pior que a
conjuntura da ditatura empresarial militar (1964-1985). “A classe
burguesa brasileira e seus vínculos com as burguesias dos centros
hegemônicos do capital, já não precisam diretamente da mão armada, tem
a arma da grande mídia para tornar interesses de minorias como se fossem
da grande maioria” (FRIGOTTO, 2016, p. 65).
As medidas de austeridade adotadas durante o governo de Michel
Temer (2016-2018), que tem como norte a Emenda Constitucional n.
95/2016, que congela os investimentos públicos nas áreas de saúde, de
91
educação e de assistência social por 20 anos, dá a sustentação política para
a implantação da reforma do Ensino Médio e para a adoção da BNCC.
Com a eleição de Jair Bolsonaro, para a presidência da República
em 2018, o grande acordo nacional estabelecido entre a burguesia
nacional, o capital estrangeiro, a grande mídia, setores do judiciário e, até
mesmo, o Serviço Secreto Norte Americano, por meio da Agência Central
de Inteligência (CIA), em inglês Central Intelligence Agency, e do Escritório
Federal de Investigação (FBI), em inglês Federal Bureau of Investigation,
ganha contornos mais agressivos (VIANA & NEVES, 2020).
No governo de Jair Bolsonaro, a situação tem se agravado a cada
dia. Há uma clara perseguição a todos aqueles que se colocam em oposição
ao governo; com maior ênfase, aos membros de movimentos sociais, de
organizações e de partidos de esquerda. Essa perseguição política alcançou
seu ápice junto ao Ministério da Educação, cujos nomes que comandam a
pasta são indicações da linha ideológica do governo, formada pelo pseudo
- filósofo Olavo de Carvalho e seus seguidores, além da ala evangélica que
compõe a base do governo. Esses dois primeiros anos de governo Bolsonaro
foram marcados pela ausência de um projeto para a educação, mas que, na
prática, constitui-se como um projeto de desmonte de programas,
perseguições e corte de recursos.
O ápice do projeto de perseguição ideológica trata-se do “Escola
sem Partido” ou “Lei da Mordaça”, nomes populares do projeto de Lei do
Senado n. 193/2016. Trata-se de uma ferramenta de controle, de repressão
a docentes e de silenciamento do pensamento crítico, transformando o
papel da escola em mero transmissor de conhecimentos, previamente,
definidos pela régua ideológica do Ministério da Educação. Apesar de o
Supremo Tribunal Federal já ter julgado a inconstitucionalidade do
conteúdo do projeto, o conteúdo ideológico do projeto segue sendo
92
difundido em âmbito municipal e estadual, representando ameaças à
liberdade da prática docente. Encontrando apoio popular através da
estratégia midiática adotada pelo governo, por meio do estabelecimento de
um gabinete paralelo, o Gabinete do Ódio
7
, responsável por disseminar
notícias falsas por meio de portais de notícias ligados a grupos da extrema
direita e de páginas e de perfis falsos em redes sociais, legitimando as ações
do governo e desmoralizando adversários.
Apesar dos enormes retrocessos vivenciados nos últimos cinco
anos, Frigotto (2016), em suas análises sobre a primeira década de vigência
do Decreto n. 5.154/2004, aponta para “a percepção da relevância de
buscar-se avançar na perspectiva do Ensino Médio integrado vem
ganhando mais espaço” (FIGROTTO, 2016, p. 67), ao indicar um ligeiro
aumento no número de matrículas no Ensino Médio Integrado da rede
federal, alcançando a marca de 30,7% das matrículas em 2017.
Como relação ao Centro Paula Souza, constatamos que o número
de matrículas no Ensino Técnico integrado ao Médio representava 1,23%
do total em 2009, saltando para 32% do total de matrículas em 2019
8
. No
que diz respeito à Habilitação Profissional em Agropecuária integrada ao
Ensino Médio saltaram de 1.076 matrículas em 2009 para 4.965 em 2019,
crescimento de mais de 460% (CEETEPS, 2020).
Em meio ao cenário de disputas entre forças políticas progressistas
e conservadoras, identificamos pequenos avanços cunhados pela resistência
ao avanço do projeto neoliberal, em oposição a grandes retrocessos, os
7
Segundo a Deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo Jair Bolsonaro na Câmara de
Deputados, há um Gabinete no Palácio do Planalto responsável por produzir e veicular distorções de
fatos e notícias com o intuito de favorecer a imagem do Presidente da República, assim como, difamar
opositores, através de notícias falsas ou de interpretação duvidosa.
8
Foram contabilizadas as habilitações profissionais integradas ao Ensino Médio, sob as modalidades
ETIM, Mediotec, Novotec Integrado e MAS (articulação entre o Ensino Médio integrado e Nível
Superior).
93
quais ainda não podemos mensurar, quantitativamente, quanto ao Ensino
Médio, mas que, qualitativamente, as projeções não são favoráveis, ao
tomarmos como base a Reforma do Ensino Médio.
As análises apresentadas neste capítulo buscam apresentar as
concepções que fundamentam as propostas para o Ensino Médio
Integrado presentes no Decreto n. 5.154/2004 e na proposta adotada pelo
Centro Paula Souza. Enquanto a proposta original contida no novo
decreto, com suas contradições, tem como horizonte construir a travessia
para uma formação politécnica e omnilateral, a proposta adotada pelo
Centro Paula Souza segue um caminho inverso e de desidratação da
proposta original, baseada na pedagogia das Competências, segundo a qual
o sentido de integração está relacionado ao desenvolvimento cognitivo
junto aos conteúdos dos componentes curriculares. O currículo escolar
encontra seus limites no desenvolvimento das competências relacionadas
aos interesses do capital, de caráter específico e imediatista.
Compreendemos, assim, que a proposta adotada pelo Centro Paula Souza
não contribui para superação da dicotomia entre formação propedêutica e
formação profissional no Ensino Médio, ao contrário, tende a acentuar
essa divisão. Tal proposta encontra seus limites na inserção do jovem no
mercado de trabalho, enquanto trabalhador apto às demandas exigidas
pelo capital.
A alta competividade, o estresse, o acúmulo de pressão e outros
fatores ligados ao ambiente têm contribuído para o desenvolvimento de
transtornos mentais e emocionais (OMS, 2017). Transtornos mentais e
comportamentais estão entre as principais causas de demissões, no Brasil,
segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017); demissões
relacionadas a estes fatores, já alcançam o terceiro lugar. O foco no
desenvolvimento de competências pautadas no trabalho tende a contribuir
94
para agravar esse quadro, reforçando a necessidade de o trabalhador
adequar-se à modelos padronizadores de comportamentos, gerando uma
sobrecarga emocional.
Diante das propostas analisadas, concluímos que “[...] na realidade
brasileira o Ensino Médio integrado, na perspectiva da educação
omnilateral e politécnica é algo inaceitável à classe burguesa brasileira e seus
intelectuais” (FRIGOTTO, 2016, p. 66). Para Santos (2019), o que “[...]
se registra ao longo da história da educação no capitalismo é a negação da
formação integral como ‘aquela que une cabeça (intelecto), corpo (mãos) e
fantasia (espírito)” (SANTOS, 2019, p. 54).
95
A Concepção de Integração
e a Prática Docente
Como meio de analisarmos as concepções de integração entre a
base comum do Ensino Médio e a formação profissional entre docentes na
Habilitação Profissional de Agropecuária foram aplicadas entrevistas
semiestruturadas a docentes de duas unidades escolares agrícolas. A partir
do roteiro estabelecido para as entrevistas, procuramos identificar as
concepções, as contradições e as dificuldades levantadas pelos docentes, em
relação à integração, relacionando-as aos princípios pedagógicos e à
metodologia de integração inseridos na Proposta Curricular do Centro
Paula Souza (CEETEPS, 2011) e no Plano de Curso do ETIM
Agropecuária (CEETEPS, 2017).
Em razão do distanciamento social, como medida preventiva
contra a disseminação da Covid-19, optamos por realizar as entrevistas
através do aplicativo Microsoft Teams, adotado pelo Centro Paula Souza
para a realização das aulas remotas e com o qual os docentes estão
adaptados.
Com relação à escolha das unidades escolares, elas foram
selecionadas devido à proximidade entre ambas e eventuais intercâmbios
entre professores. Para evitar comparações entre as unidades escolares, visto
que esse não é o objetivo desta pesquisa, tampouco apontar se uma ou se
outra unidade escolar que está mais próxima de um modelo de formação
96
integral considerado ideal para a instituição, optamos pela utilização de
nomes fictícios para as escolas e para os docentes entrevistados.
Foram selecionados para as entrevistas três docentes em cada
unidade escolar, com perfis específicos, a saber: (i) docente que ocupe a
função de coordenador do Núcleo Pedagógico, (ii) docente que ocupe a
função de Coordenador de Curso e (iii) docente da Base Comum do
Ensino Médio. Tal distribuição justifica-se pelo intuito de captar as
concepções a respeito da integração, a partir dos níveis hierárquicos da
organização da gestão escolar, a qual, segundo o Regimento Comum das
Escolas Técnicas Estaduais do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula
Souza, organiza-se da seguinte maneira.
Artigo 15 Compõem a administração da Etec:
I Direção;
II Coordenação Pedagógica;
III Serviços Administrativos;
IV Serviços Acadêmicos;
V Serviços de Relações Institucionais.
Parágrafo único - A estrutura organizacional, as atribuições dos responsáveis
pelos serviços, bem como suas competências, serão definidas por normas do
Conselho Deliberativo do CEETEPS, de acordo com a dimensão,
complexidade e proposta pedagógica de cada Etec (SÃO PAULO, 2013).
A Coordenação Pedagógica atua junto à Direção no planejamento
pedagógico da unidade escolar, além de ser o elo com a equipe de
Supervisão Regional. Cabe ao coordenador pedagógico multiplicar, em sua
unidade, as diretrizes de trabalho encaminhadas pela equipe de Supervisão
e elaborar o Projeto Político Pedagógico da Escola em acordo com as
mesmas diretrizes. Por sua vez, os Coordenadores de Curso desempenham
as funções descritas no caput do artigo 27.
97
Os coordenadores de curso atuam de maneira próxima aos
docentes, dando-lhes suporte, e junto ao Orientador Educacional, no
suporte aos alunos, elaborando projetos que visem a integração,
promovendo atividades, análises e interpretações dos dados relativos ao
curso.
Cabe esclarecer que os docentes designados para as funções de
Coordenador Pedagógico e Coordenador de Curso desempenham,
também, a função docente em sala de aula. Para o exercício das funções de
coordenação, deverão submeter projetos de coordenação para a atribuição
de Horas de Atividades Específicas (HAE) e deverão ser aprovados pela
Direção da Unidade Escolar e pela Supervisão Pedagógica Regional. A
quantidade de HAE atribuídas aos coordenadores varia em cada unidade
escolar, de acordo com a quantidade de classes em funcionamento no ano
letivo em exercício. Dessa forma, os docentes designados para as funções
de coordenação completam suas jornadas de trabalho no Centro Paula
Souza com as aulas atribuídas para estes.
Análise e Interpretação das Entrevistas
A partir dos dados coletados nas entrevistas semiestruturadas,
analisamos e interpretamos, buscando identificar a concepção dos docentes
entrevistados a respeito da integração, assim como o conhecimento a
respeito dos princípios pedagógicos apresentados na Proposta Curricular
do Centro Paula Souza. Estabelecemos um roteiro com perguntas
definidas previamente, aplicadas sob a mesma ordem para todos os
entrevistados. A partir dos questionamentos elaborados, os entrevistados
98
tiveram a liberdade para se aprofundar nos questionamentos aos quais
sentissem necessidade.
A ETEC dos Eucaliptos está a 357 quilômetros de São Paulo e es
integrada a Supervisão Pedagógica Regional de Bauru e de Araçatuba.
Nessa unidade, foram entrevistados (i) Álvaro, coordenador pedagógico há
14 anos e docente de Física; (ii) Carlos, coordenador de curso há 8 anos e
docente de Biologia; e (iii) Rosa, docente de Química. Todos os docentes
entrevistados lecionam no ETIM em Agropecuária desde a primeira
turma, iniciada na unidade em 2013.
A unidade identificada como ETEC Ouro Negro, localizada em
município a 405 quilômetros de São Paulo, está integrada a Supervisão
Pedagógica Regional de Marília e de Presidente Prudente. Nessa unidade,
foram entrevistados: (i) Lucio, coordenador pedagógico há 4 anos e
docente de Física; (ii) Carla, coordenadora de curso há 1 ano e docente de
Língua Portuguesa; e (iii) Rodolfo, docente de Geografia. Lucio e Carla
lecionam no ETIM Agropecuária desde a primeira turma na unidade
escolar em 2009 e Rodolfo desde 2013.
Com o intuito de evitar comparações entre as unidades escolares e
de facilitar a interpretação dos dados, apresentamos os dados a partir da
função ocupada pelos entrevistados na hierarquia da gestão escolar, de
acordo com a seguinte ordem: Coordenadores Pedagógico, Coordenadores
de Curso e Docentes.
Apresentaremos, a seguir, os quadros com as respectivas questões e
os dados levantados a respeito. O Quadro 2 apresenta os dados levantados
a partir do questionamento referente ao conhecimento dos documentos
norteadores da Proposta Curricular Integração e do Plano de Curso.
99
QUADRO 2. CONHECIMENTO DOS DOCUMENTOS NORTEADORES DA
PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO CURRICULAR DO CENTRO PAULA SOUZA
Entrevistados
Questão
Álvaro
"Eles têm conhecimento, só que eles vão lembrar, por exemplo,
quando foi e que documento que é. Eles vão lembrar da
proposta. Por exemplo, eu fiz uma reunião [pedagógica] outro
dia, que eu lembrei todas as propostas pedagógica, de cada
ano... Então assim, eu revisei todas as propostas com eles, até
agradeci eles por ter colaborado, a maioria por ter participado,
ter atuado. Porque não adianta você passar a proposta e o
professor não aceitar. A gente tem que saber conversar para as
pessoas aceitarem a proposta e desenvolver ela.”
Lucio
"Então, o plano de curso eu conheço bem... Agora, as
propostas, a gente lembra, mas como eles são um pouquinho
longos, se você perguntar o que que diz, o que trata
exatamente, agora não vou lembrar."
Carlos
que as alterações cada ano que entra é uma atualização nova do
plano [de curso] que vem..., mas assim, ler a fundo cada
alteração que vem proposta a gente sabe que tem algumas
coisas.
Carla
entender muito bem, não."
Rosa
você mencionou, não. Eu não me lembro."
Rodolfo
gente fazia PTD, o plano de curso, eu falo, eu brinco com os
alunos que é a nossa Bíblia."
Fonte: elaborado pelo autor.
No que diz respeito aos dados apresentados quanto ao
conhecimento dos documentos norteadores da Proposta de Integração do
Centro Paula Souza, observamos, na fala de Álvaro, uma referência aos
100
demais docentes, porém, os dados são insuficientes para compreender se
refere às Propostas Curriculares, ao Planos de Curso, aos demais
documentos norteadores ou aos Projetos Político Pedagógico da unidade
escolar. Para ele, os docentes, incluindo-se, possuem conhecimento a
respeito, além de trabalharem o documento referido em reuniões
pedagógicas. Lucio afirmou conhecer as Propostas Curriculares, mas não
possuir um conhecimento aprofundado; e com relação ao Plano de Curso
demonstrou ter mais familiaridade com este documento. A fala de Carlos
aponta para uma situação que se aproxima da anterior, indicando
familiaridade com o Plano de Curso e eventuais alterações e sugestões de
propostas de trabalho em documentos complementares. Carla apontou
não possuir familiaridade com os documentos. Rosa mencionou só
conhecer o Plano de Curso; ao passo que Rodolfo apontou a importância
do Plano de Curso para a elaboração do PTD e nortear o trabalho docente.
QUADRO 3. PARTICIPAÇÃO EM CAPACITÕES EM QUE FORAM
ABORDADOS OS PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS DA PROPOSTA DE
INTEGRAÇÃO CURRICULAR
Entrevistados Questão
Álvaro
"Sim, sim. O centro já fez reuniões sim. Exemplificou até por meio
de atividades. Mas só que eu falo assim, a proposta vem boa, mas o
grupo tem que trabalhar a proposta, é um trabalho árduo. O
coordenador pedagógico não pode desanimar, ele tem que atuar
junto com o [coordenador] de curso, junto ao Orientador
Educacional com os alunos."
Lucio
"Eu participei de algumas, então, eles cobram bastante essa
integração, porque na verdade é um curso só... Então, uma [base]
precisa dar apoio ao outro [base] e dar suporte, mas nem todos ainda
pensam assim não."
101
Carlos
"... a gente teve uma capacitação com a equipe da supervisão, isso
em 2017, para discutir essa questão do curso, os projetos para
trabalhar... depois a capacitação que eu tive que foi de coordenação.
A questão dos trabalhos interdisciplinares."
Carla
"Não."
Rosa
"Não."
Rodolfo
"Olha, por incrível que pareça eu já fiz muita capacitação, mas é
sempre voltada mais para área técnica... Pode ter sido abordado, mas
especificamente, não."
Fonte: elaborado pelo autor.
Ambos os coordenadores pedagógicos relatam ter participado de
capacitações, nas quais foram abordados os princípios pedagógicos da
integração e os desafios em sua implementação. Com relação aos
coordenadores de curso, Carlos relatou ter participado de uma capacitação
referente em 2017 e ter participado de outras capacitações de temáticas
diversas; enquanto Carla afirmou não ter participado de nenhuma
capacitação a respeito, assim como Rosa. Quanto a Rodolfo, ele afirma ter
participado de diversas capacitações, mas não se recordar de capacitações
cujo tema específico tenha sido os princípios pedagógicos da instituição.
QUADRO 4. PARTICIPAÇÃO EM CAPACITÕES CUJO TEMA ERA O
DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS
Entrevistados Questão
Álvaro
"Sim, sim, bastante! Assim, nós fomos pela supervisão regional muito
bem preparados, para as competências socioemocionais..."
Lucio
"Capacitação em si, não, e assim, em algumas reuniões que a
supervisão fez, sempre falava."
102
Carlos
Então eu fiz na minha área, né. Na área aplicada a agropecuária... na
área de microbiologia... Como trabalhar a questão prática e ensino de
metodologia ativa, esse tipo de capacitação. Como trabalhar com
projetos, focado na disciplina que eu trabalho no Agropecuária.”
Carla
"Também não."
Rosa “Não participei."
Rodolfo
"Ah sim, acredito que toda a capacitação que eu participei, abordou
sim, tanto na prática quanto na teoria; e a gente vê que eles associam
sempre aquele curso, aquela capacitação com isso daí mesmo, com a
competência e com a habilidade. Então, sim."
Fonte: elaborado pelo autor.
Em seguida, questionamos aos entrevistados sobre a participação
em capacitações, cujo tema tenha sido o desenvolvimento das
competências, em referência ao currículo escolar, pautado no
desenvolvimento de competências. Álvaro afirmou ter participado de
várias capacitações, mas fazendo referências as competências
socioemocionais, cuja abordagem passou a ser aprofundada em 2020, sob
a orientação do Instituto Ayrton Senna. Lucio afirmou que, em algumas
reuniões com a equipe de supervisão escolar, a temática é abordada. Carlos
informou ter participado de capacitações em sua área de atuação, Biologia,
e em áreas aplicadas à Agropecuária e à Microbiologia, citando
capacitações voltadas para o trabalho com metodologia ativa e projetos,
mas não esclareceu quanto a abordagem a respeito do desenvolvimento de
competências. Carla e Rosa afirmaram não terem participado de nenhuma
capacitação a respeito. Enquanto Rodolfo afirmou que nas capacitações
que participou a temática foi abordada através de elucidações teóricas e
práticas.
103
QUADRO 5. COMPREENSÃO A RESPEITO DA INTEGRAÇÃO DA BASE
NACIONAL COMUM E DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Entrevistados Questão
Álvaro
"Eu percebo assim, é um trabalho que tem que ser de professor em
professor, né. E ir incentivando e animando, porque eles têm
conhecimento da proposta, mas entender a integração é só
praticando... Eu falo que uma forma legal de entender, é a atividade
interdisciplinar... porque vai casar a matéria da parte técnica com a
base nacional comum... É porque a proposta, se você ver no plano de
curso do integrado, ela cita toda hora o interdisciplinar. Porque se não
tiver o interdisciplinar, você não consegue integrar."
Lucio
"Eu entendo assim... um componente curricular da base nacional
comum, por exemplo... deve dar suporte a parte de formação
profissional... Então, tudo é importante... então, um complementa o
outro."
Carlos
"...aplicar realmente na rotina do curso, os conceitos da base comum
com disciplina técnica... Ah então eu acho que a gente tentou fazer
isso sempre, fazendo capacitação e durante a elaboração dos PTD para
os professores trabalhar essa questão de integração. O que que a
disciplina da base comum pode articular..., mas a gente também
sentiu uma certa rejeição, assim, para não alguns professores que tem o
método tradicional, tem professores que já são de carreira, assim como
aí tem professores mais antigos, que teve uma dificuldade grande de
tentar pelo menos aplicar, tentar..."
Carla
"...todo o currículo aí tem a sua importância na formação... a gente vê
na maioria das escolas técnicas, nesses vinte e poucos anos que eu
tenho passado... a parte técnica da muito valor só ao técnico.... Eu
acho que tem que ter uma ligação, tem que ter entendimento, tem que
estar ligado as bases."
104
Rosa
"Eu sinto assim, uma falha muito grande na integração, no sentido
assim, da gente, da nossa prática docente mesmo... assim, por
exemplo, quando a gente olha as disciplinas técnicas, você vê uma
aplicação..., mas quando a gente olha para disciplina de química no
currículo, ela é, assim, é praticamente isolada nela. Não dá indicativo
de integração, de aplicação, de uma interdisciplinaridade, no caso aí,
com as disciplinas técnicas. Então, eu ainda vejo como muito
separado; a base comum da parte técnica... Eu sinto assim, de você
não ter momentos ali de troca entre os professores, por exemplo, o
ATPC que a gente tem na rede. Acaba acho que até dificultando.
Teria assim, eu percebo que qualquer esforço que exista para integrar
melhor a parte técnica com a base [comum], ela fica assim, de inteira
responsabilidade do professor, e principalmente, que ele use o seu
tempo fora da escola para fazer isso.
Rodolfo
"Eu acho que é impossível existir uma sem a outra... Eu também acho
fundamental e eu acho impossível, por exemplo, o aluno aprender um
e não aprender outro. Eu acho que todos estão ligados, um é
importante para o outro e é o que a gente percebe mesmo, o aluno
quando vai mal em várias e quando vai bem, vai bem em todas. Eu
acho que é interligado os dois; não tem como separar."
Fonte: elaborado pelo autor.
Quanto à compreensão a respeito da integração entre a Formação
Geral e a Formação Profissional, Álvaro citou que está é construída no dia
a dia, de professor para professor, através de atividades interdisciplinares e
que o Plano de curso do ETIM Agropecuária faz a ligação entre os
conteúdos de ambas as bases com o intuito de estimular a integração. Lucio
demonstrou compreender a integração, enquanto uma complemen-
tariedade entre as bases, com a Formação Geral oferecendo suporte para a
parte técnica. Carlos aproxima-se da perspectiva de Álvaro, quando afirma
ser necessário aplicar a rotina do curso, promover a integração através da
ligação dos conceitos desenvolvidos na Formação Geral com a Formação
105
Profissional, indicando a dificuldade dos docentes em trabalharem com
essa integração do currículo. Carla compreende haver um rebaixamento da
Formação Geral com relação à Formação Profissional, afirmando ser
necessário haver uma ligação entre as bases. Para Rosa, há falhas no
processo de integração e na prática docente, que o currículo do curso não
apresenta indicativos que promovam a integração, a falta de espaços como
as Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPC) para promover
discussões, segundo a docente, a integração, quando ocorre, é de iniciativa
do docente que possui mais bagagem a respeito e utiliza o seu tempo fora
da escola para planejar ações. E, por fim, Rodolfo, compreende a
integração enquanto um processo de ligação entre as bases de formação.
QUADRO 6. REUNIÕES REGULARES OU MOMENTOS EM QUE SÃO
DISCUTIDAS AÇÕES DE INTEGRAÇÃO
Entrevistados Questão
Álvaro
"Sim, sim... tem alguns professores aqui que leem o plano bastante até
a gente discute. A gente enxerga assim, se você pega o plano de curso,
você pega a base nacional comum de biologia, química, você vai ver
que no mesmo ano casa com alguma matéria da agropecuária, porque
quando é feito em São Paulo é feito certinho. É que tem que ser,
assim, minuciado por todos que vão dar aula, coordenador de curso e
pedagógico."
Lucio
"Normalmente nos planejamentos. Deixa aberto a gente fazer isso,
você lembra, você já participou de alguns, as reuniões pedagógicas
utilizam para essa finalidade."
Carlos
"Então o que foi feito: eu conversando com o [coordenador]
pedagógico e os outros professores que gostam de trabalhar com
projetos, e também, você deve saber aí que não é todos que gostam,
são poucos ainda..."
106
Carla
“Já teve algumas... Eu acho que precisa de mais. Mais reuniões, mais
explicações, que por enquanto, eu acho, no meu entendimento, as
coisas tão sendo, assim, jogadas!”
Rosa
"Olha, normalmente as reuniões pedagógicas que deveriam... Às vezes
tem lá, por exemplo, projeto interdisciplinar, mas o que aparece aos
professores mostrando como faz. Eu sinto uma falta de uma formação
melhor mesmo, assim, de que apontasse possibilidades, que colocasse
integrado mesmo; sempre acaba aparecendo que é tipo assim, se você
quiser fazer você faz. E aí aquele negócio, né. Fica na correria do dia a
dia, acaba não acontecendo como eu acho que poderia acontecer. E
reuniões específicas para isso... que deveria ser as reuniões de curso...”
Rodolfo
Sim, com exceção de [nome da escola], que eu percebia que tinha bem
menos ou tinha de outras formas que não seja com esse nome...
Depois daquela reunião geralzona com as escolas que eu estou falando,
que são maiores, dá para fazer isso. Dividia por grupos de professores
por curso, aí discutia isso sim, tanto no ETIM quanto no técnico."
Fonte: elaborado pelo autor.
Com relação ao questionamento a respeito da existência de
reuniões ou de momentos de planejamento de ações que contribuam com
o desenvolvimento da integração, Álvaro não respondeu diretamente à
questão, mas citou análises relativas ao currículo escolar, sinalizando a
possibilidade para desenvolver a integração. Anteriormente, já havia citado
que ações relativas à integração eram discutidas durante as reuniões
pedagógicas e de planejamento. Lucio informou que as ações são
planejadas durante o planejamento e as reuniões pedagógicas. Carlos não
citou uma situação específica em que sejam discutidas ações, mas
107
demonstrou haver um debate a respeito com o intuito de reunir docentes
com experiências e com habilidades em desenvolver projetos. Carla
afirmou já ter participado, mas declarou a necessidade de ocorrerem mais
momentos para o planejamento das ações. Enquanto Rosa comentou que
há algumas reuniões pedagógicas onde o planejamento de ações é
abordado, mas com pouco embasamento. Sobre o espaço para professores
que desenvolveram ações as demonstrarem, Rosa destaca a necessidade de
haver mais espaços para a promoção de ações que contribuam com a
integração. Rodolfo cita que em outras escolas técnicas pela qual já
trabalhou havia momentos para planejar ações após as reuniões de
planejamento.
QUADRO 7. PERCEPÇÃO DOS ALUNOS A RESPEITO DA INTEGRAÇÃO
SEGUNDO OS DOCENTES
Entrevistados Os alunos conseguem visualizar a integração?
Álvaro
“Conseguem. Mas assim, o professor precisa tá falando e na hora da
avaliação... ele [o aluno] vai ver que na hora da avaliação, a mesma
menção em todas as matérias envolvidas, ele entende completamente
interdisciplinar...”
Lucio
“Olha, alguns sim, mas tem alguns que não. Então não é unânime,
não. Eu percebia isso muito lá no passado, os terceiros anos eles
achavam que a parte profissional só que interessava, aí, eu até ficava
bravo com eles: ‘mas é a hora que vocês forem prestar o vestibular,
vocês estão esquecendo que para o vestibular é importante toda base
comum e não só a profissional?’. Aí eles caiam na realidade, então, por
isso que as duas são importantes... A maioria não vai ficar só como
técnico, a maioria quer prestar um vestibular para ir para faculdade,
então, é importante essa integração nesse sentido.
108
Carlos
“Então eles não tinham muito essa visão de trabalhar, mas em 2019
entrou uma turma boa, era assim, os professores que voltaram a elevar
um pouco nível de conceitos, de dificuldades, colocar problemáticas
no conteúdo e a turma aceitou bem. Teve muitos alunos de escola
particular. E, só que o ano passado entrou uma turma melhor ainda...
um mês, um mês e pouquinho de aula, já estava se surpreendendo
com essa capacidade deles de entender essa problemática, jogar
situações problemas para eles discutirem... uma turma, assim, bem rica
nesses conceitos, de pegar, de ter essa iniciativa para trabalhar suas
ideias, então assim, estava funcionando bem... eu acho que para
trabalhar com projeto vai ser uma turma muito produtiva. Então vai
ser nossa referência essa turma, nessa ideia.”
Carla
“Não são todos [que conseguem], eu acho que precisava de mais, não
sei se seria mais diálogo ou mais ações, alguma coisa assim, que chame
mais atenção. Porque é assim, nós temos adolescentes e cada um tem
um jeito de entender as coisas. E esse entendimento não atende ele,
não atinge a todos.
Rosa
“Eu acho muito difícil, porque, como eu te disse, até para os
professores é confuso, né. A gente percebe, assim, pela fala que a
maioria, por exemplo, da aula no Agro, da aula em outros cursos, e
tipo assim, as mesmas aulas sem nem muitas vezes há um olhar
diferenciado para tentar integrar. Mesmo que sozinho ali, durante a
sua própria aula. É a mesma aula e como se fosse um curso de ensino
médio e aí o Agro, é como se fosse um curso separado... eu acho que
vai muito do professor, cai muito na responsabilidade do professor de
fazer isso. Então, por exemplo, tem professor que vai lá e fala: “você
viu tal coisa, como que é lá na aula prática”; e tentar trazer esse
movimento, mas se não é feito isso pelo professor o currículo por si só
e até aqui na minha instituição, a gente não tem, assim, tem às vezes
uns lembretes, né. Numa reunião de planejamento: “há importante
que o aluno perceba”. Mas assim, parece que a sensação que fica na
reunião de planejamento e depois é esquecido.”
109
Rodolfo
“Eu acho que sim, é lógico que lá o aluninho do 1º ano, a gente
sempre falando o que é isso que tá fazendo, porque ele não assimila,
não tem essa maturidade. Vamos dizer assim, mas conforme eles vão
passando de ano... segundo, terceiro, eles ganham mais... eles
assimilam mais o jeitão da Etec. Eu acho que eles conseguem perceber,
sim!”
Fonte: elaborado pelo autor.
Quanto à percepção dos alunos com relação à integração segundo
os docentes, Álvaro afirmou que ela está associada ao trabalho do docente
e ao uso de instrumentos de avaliação que produzam uma mesma menção
em diversos componentes curriculares. Segundo Lucio, essa percepção não
é unanimidade, uma vez que o aluno tende a compreender a existência de
uma integração quando se dá conta da necessidade de se preparar para o
vestibular, demonstrando uma tendência do aluno em se interessar mais
pelos componentes curriculares da formação técnica. Carlos associa a
capacidade de enxergar a integração por parte do aluno ao ingresso da
turma de alunos de 2019, quando ingressaram um grupo de alunos com o
qual os professores conseguiam aprofundar as temáticas e os conceitos,
permitindo-lhes associar conteúdos e visualizar a integração entre os
componentes curriculares. Já Carla apontou que não são todos os alunos
que conseguem visualizar a integração, afirmando ser necessário
aprofundamentos e diálogos que contribuam para que o aluno construa
uma visão a respeito da integração. Rosa argumentou ser difícil que o aluno
tenha essa percepção, pois, para o docente, também, não está claro. Ainda
segundo Rosa, a dificuldade aumenta quando o docente utiliza a mesma
aula para diversas turmas e de diversos cursos, sem fazer a devida
contextualização com os cursos e por mais que a busca por esse olhar seja
cobrada dos docentes, falta aprofundamentos. Por fim, Rodolfo
110
compreende que, conforme os alunos vão amadurecendo e vivenciando a
experiência de cursar uma formação técnica integrada ao Ensino Médio,
constroem uma percepção quanto à integração das bases.
QUADRO 8. COMPREENSÃO DO DOCENTE A RESPEITO DO TRABALHO
INTERDISCIPLINAR
Entrevistados Questão
Álvaro
porque a proposta, se você ver no plano de curso do
integrado, ela cita toda hora o interdisciplinar. Porque se não
tiver o interdisciplinar, você não consegue integrar. Ou então,
fica difícil, e aí continua trabalhando isolado, se não tiver essa
integração... A gente enxerga assim, se você pega plano de
curso, você pega a base nacional comum de biologia, química,
você vai ver que no mesmo ano casa com alguma matéria da
agropecuária, porque quando é feito em São Paulo é feito
certinho."
Lucio
“Olha, se o trabalho interdisciplinar fosse feito...fosse feito
realmente como necessário, eles progrediriam muito mais...
Então o envolvimento seria a principal arma para esse
desenvolvimento... Tem alguns professores que tem essa
dificuldade de fazer essa interdisciplinaridade.”
Carlos
“Sim, eu entendo que o trabalho interdisciplinar tem que ser
adotado como uma prática cotidiana do aluno... o professor
tem que entender que ele tem que estudar bem a proposta,
tanto do plano de curso e na elaboração do PTD dele... o
professor também deve se reinventar no sentido de que é
importante. Ele tá trabalhando isso e ele vê que os conceitos
que ele já trabalha há anos pode muito bem ser aplicado como
um conceito para trabalhar de uma forma interdisciplinar, se
ele conseguir entender isso, vai ficar muito mais fácil para ele
passar para os alunos... ele vai conseguir também transmitir
isso para os alunos para que eles consigam trabalhar.”
111
Carla
"...eu acho que se fosse bem trabalhado, essas atividades
teriam um resultado... E então, eu acho muito importante
sim, mas aí é uma coisa que tem que ser trabalhado, por
exemplo, vai trabalhar lá em outubro, vamos começar a pensar
agora... é um trabalho a longo prazo...”
Rosa
“Então, eu acredito que tem um potencial grande, desde que
seja encarado como mais seriedade. Que tem a mesma no
estudo do embasamento teórico, do que seria esse trabalho, de
uma formação mesmo... Dos professores para entender como
seria dinâmica e colocar mesmo em prática no sentido de... eu
acredito assim, que, principalmente a gente que conversa isso
na escola... os alunos tem muita disciplina, então, seria uma
ferramenta muito boa no sentido do aluno se debruçar para
estudar um tema e ele ver esse tema em uma completude
maior, sobre vários aspectos, da física, da biologia, da parte de
botânica que eles têm lá, de toda a parte, ou seja, dos animais
e tal, ao invés de ver tudo meio picado; e na cabeça dele
contar com a sorte dele fazer um insight de conectar essas
informações e conhecimento.”
Rodolfo
“Eu acho muito importante, muito importante para o aluno,
principalmente, porque permite ele colocar em prática aquele
conhecimento que ele vem adquirindo e ele não fica igual um
óculos antigo, monofocal. Não, ele fica multifocal, ele
consegue assimilar, a perceber mais coisas, então aumenta o
leque dele... consegue colocar em prática aquilo que ele
aprende. Então, eu acho que contribui muito para o aluno, ele
consegue utilizar na interdisciplinaridade tudo isso daí.”
Fonte: elaborado pelo autor.
Questionamos os docentes a respeito da compreensão sobre o
trabalho interdisciplinar e como poderia contribuir para a integração.
Segundo Álvaro, o desenvolvimento de atividades interdisciplinares é uma
112
condição indispensável para o desenvolvimento da integração. Lucio
compreende a importância do trabalho interdisciplinar no desenvolvi-
mento da integração, mas levanta a dificuldade com que muitos docentes
têm em trabalhar a partir de uma perspectiva interdisciplinar. Carlos
argumenta que o trabalho interdisciplinar deve ser uma prática cotidiana
na formação do aluno e que o docente deve procurar se aperfeiçoar para
trabalhar sob essa perspectiva, possibilitando que o aluno, também, passe
a enxergar a integração entre os conteúdos. Para Carla, se os trabalhos
interdisciplinares fossem bem executados, haveria bons resultados,
ressaltando a necessidade de planejamento dos projetos interdisciplinares.
Rosa argumenta que há um grande potencial no trabalho interdisciplinar,
o qual deve ser aprofundado, através do fornecimento de estudos e de
embasamento teórico aos docentes, para que possam trabalhar, a partir de
temáticas com grande amplitude, desenvolvendo, no aluno, uma visão
ampla sobre a temática e não apenas contar com a sorte de que o aluno
associe os conhecimentos adquiridos nos diversos componentes
curriculares. Rodolfo compreende o trabalho interdisciplinar como uma
oportunidade de o aluno aprofundar o seu olhar sobre os conhecimentos
que adquire.
Coletamos, por fim, dados a respeito da jornada de trabalho dos
docentes. Entre os docentes entrevistados, apenas um leciona em apenas
uma unidade escolar. Dois docentes relataram lecionarem em duas escolas
técnicas e que estão aposentados na rede estadual paulista. Um docente
leciona em uma ETEC e em uma escola da rede estadual paulista. Um
docente leciona em uma ETEC e em uma escola da rede municipal. Um
docente que leciona em duas escolas técnicas e uma escola da rede privada.
A coleta de dados a partir das entrevistas demonstra que os
docentes não estão familiarizados com as bases documentais que sustentam
113
a Proposta Curricular de Integração da instituição. Quando há alguma
familiaridade, essa é referente ao Plano de Curso, documento necessário
para que os docentes elaborem o Plano de Trabalho Docente. Percebemos
que o conhecimento e o contato com os documentos norteadores se
distanciam na medida em que a hierarquia da gestão escolar vai se
aproximando da sala de aula.
O Centro Paula Souza possui uma vasta rede de formação
continuada gerida pela Coordenadoria do CETEC, com uma oferta
diversa de cursos de formação continuada para docentes e para servidores
técnico-administrativo, sob diversas modalidades: presenciais,
semipresenciais e a distância; possibilitando que os docentes busquem
conhecimentos pedagógicos que possam contribuir com suas práticas
docentes. Todavia, a partir dos dados coletados, percebemos que as
formações referentes à proposta pedagógica da instituição ficam restritos
aos ocupantes das funções de gestão escolar, sendo responsáveis por
multiplicar as informações em suas unidades. A esse respeito, é relatado
por dois docentes a ausência de espaços de formação e de troca de saberes
que possam colaborar com o desenvolvimento de uma proposta de
integração curricular, demonstrando a percepção dos docentes quanto à
necessidade de aprofundamento de conhecimentos. Com destaque para o
relato em que é apontada a ausência de espaços como o ATPC no Centro
Paula Souza, além de minar o trabalho da instituição, ao permitir que os
docentes e que servidores se capacitem, mas não garante que haja
momentos para que multipliquem os conhecimentos adquiridos com os
colegas.
Identificamos dificuldades institucionais quanto ao avanço na
construção do ensino integrado e que, também, passa pelo campo da
comunicação, já que as informações recebidas pela coordenação
114
pedagógica e que devem ser transmitidas a toda a equipe pedagógica não
estão disponíveis a todos os receptores. A esse fenômeno a comunicação
organizacional denomina de ruído na comunicação e “[...] refere-se a
barreiras de diversas ordens, que prejudicam a comunicação, sejam elas
obstáculos, erros ou distorções. Identificar e classificar esses ruídos permite
a tentativa de tentar mitigá-los” (PIZZAIA; SANTANA, 2015, p. 1). As
causas para o ruído na comunicação podem ser as mais diversas, dentre as
mais comuns: (i) questões tecnológica, (ii) falhas na comunicação interna,
(iii) ausência de conhecimentos a respeito, (iv) jornada de trabalho docente
fragmentada, entre outras. Reforça o fato de se tratar de uma falha de
comunicação, as falas dos próprios docentes que não tem muita
familiaridade com a proposta curricular da instituição.
Com execeção de Rodolfo, os docentes demonstraram não possuir
clareza quanto a participação de capacitações relacionadas ao
desenvolvimento de competências, seja pela dificuldade em associar a
temática com as capacitações ofertadas, ou então, com relação à falta de
clareza a respeito.
A importância da interdisciplinaridade como ação fundamental
para o desenvolvimento de uma proposta de integração, encontra-se bem
destacada nos relatos de todos os docentes entrevistados. Destaca-se, na
fala dos coordenadores pedagógicos, a dificuldade de trabalhar, a partir da
perspectiva da interdisciplinaridade, devido à resistência e/ou a falta de
conhecimento dos docentes. Vemos relatado nas falas dos próprios
docentes a necessidade de aprofundamentos a respeito, o que se materializa
na dificuldade em desenvolverem atividades que integrem os componentes
da Formação Geral e Profissional nos projetos relacionados à área técnica
agrícola.
115
Observamos, também, uma relação entre a interdisciplinaridade e
a integração enquanto sinônimos na fala dos docentes. A
interdisciplinaridade é apontada pela Proposta Curricular como um
princípio pedagógico que pode contribuir para o diálogo entre os
conhecimentos. Pontuamos, ainda, que integração e interdisciplinaridade
não são sinônimas. Segundo Rodrigues e Araújo (2017), a
“interdisciplinaridade” promove a comunicação e a superação da
fragmentação entre os diversos campos do conhecimento; enquanto a
“integração” objetiva aumentar as possibilidades de integrar as diversas
dimensões da existência humana através da organização do currículo
escolar. Dessa forma, compreendemos que integração e que a
interdisciplinaridade se relacionam e complementam-se, sendo, pois, um
principio pedagógico que contribui para o desenvolvimento da integração.
Ramos (2011) ressalta a necessidade da prática interdisciplinar que, para
além da transversalidade dos conhecimentos, adotar, também, a
perspectiva epistemológica assumindo o trabalho como principio
educativo.
[...] o trabalho como princípio educativo mediação de primeira ordem entre
o ser humano e o meio ambiente , as estratégias pedagógicas adquirem ênfase
no sentido de possibilitar a compreensão do processo social, cultural e histórico
da ciência e da tecnologia mediado pelo trabalho (RAMOS, 2011, p. 71).
No que tange a percepção a respeito da integração curricular,
constatamos não haver um discurso homogêneo, tampouco uma base
teórica de conhecimentos que permitam a construção de concepção de
ensino integrado. Podemos afirmar que a percepção dos docentes é bem
incipiente, relacionada à complementariedade entre ambas as bases. Os
116
relatos das entrevistas demonstram que o movimento de construção de
integração ainda é muito tímido e limitado a ações pontuais. Verificamos
que há interesse em se avançar na construção do ensino integrado por parte
dos docentes, mas que esbarra na falta de conhecimento e espaços para a
sua construção.
Ao analisar as indicações do Plano de Curso (CEETEPS, 2017),
com relação à construção da integração, verificamos que o “[...] ensino-
aprendizagem nesta modalidade deverá priorizar a integração em todos os
sentidos entre a Formação Profissional (Ensino Técnico) e a Educação
Geral (Ensino Médio)” (CEETEPS, 2017, p. 131), de modo que se
relacionem e complementem-se através do desenvolvimento de projetos
interdisciplinares. Segundo a proposta, a formação geral deverá prover a
formação profissional, através do desenvolvimento das bases científicas,
necessárias para o desenvolvimento das bases tecnológicas requisitadas para
a formação profissional na Habilitação Profissional de Técnico em
Agropecuária.
Segundo Ramos (2011), a construção do currículo integrado, sob
a perspectiva de formação integral, deve ser pensada a partir da relação
entre as partes e a totalidade.
Ele organiza o conhecimento e desenvolve o processo de ensino-aprendizagem
de forma que os conceitos sejam apreendidos como sistema de relações
históricas e dialéticas que constituem uma totalidade concreta. Esta concepção
compreende que as disciplinas escolares são responsáveis por permitir
apreender os conhecimentos já construídos em sua especificidade conceitual e
histórica; ou seja, como as determinações mais particulares dos fenômenos que,
relacionadas entre si, permitem compreendê-los (RAMOS, 2011, p. 776).
117
Esteve ausente nos relatos das entrevistas, mesmo constando no
Plano de Curso, o desenvolvimento de projetos produtivos, de visitas
técnicas, de atividades práticas e o desenvolvimento do Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC); modalidades de ensino que visam a
integração. Os instrumentos pedagógicos citados são comumente
desenvolvidos nas unidades escolares agrícolas e estimulados,
principalmente, por conta do potencial de integrar os mais diversos
componentes curriculares, demonstrando a dificuldade dos docentes em
reconhecer essas práticas como integrativas. Além dessas, notamos a
ausência de relatos a respeito dos projetos de HAE, nos quais os docentes
submetem à Direção Escolar e à Supervisão Pedagógica Regional um
projeto extraclasse, cuja finalidade pode ser diversa, mas que tenha como
finalidade envolver o aluno no desenvolvimento de atividades em que
possam aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula, como, por
exemplo, projetos relacionados a Olericultura Orgânica, Compostagem,
bem-estar animal ou até mesmo a Cooperativa-Escola, por meio de
projetos produtivos.
As Cooperativas-Escola possuem uma enorme importância na
gestão financeira das unidades escolares, além de contribuírem para o
desenvolvimento do aluno. Contudo, toda a proposta curricular do Centro
Paula Souza está limitada aos interesses do capital, pouco desenvolvendo a
autogestão, uma vez que o fio condutor que as reja seja composto “[...] de
valores mercadológicos e, sem dúvida, as [...] [impeça] de possibilitar com
efetividade a auto-organização dos alunos” (BORRO, 2018, p. 84).
O Plano de Curso oferece, também, uma lista de princípios
pedagógicos, assim como na Proposta Curricular, além de procedimentos
didáticos com propostas para desenvolvimentos de atividades.
118
Por sua vez, a percepção que os docentes têm a respeito da visão do
aluno sobre a integração tende, também, a ser fragmentada e diversa, visto
que os docentes carecem de uma construção conceitual mais elaborada a
respeito do ensino integrado.
Gameleira e Moura (2018) realizam um valioso levantamento de
categorias identificadas que se constituem como obstáculos para
implantação do Ensino Médio integrado, as quais observamos, também,
nos relatos das entrevistas realizadas para a presente pesquisa, a saber:
“desconhecimento conceitual da proposta”; “falta de formação docente
inicial e continuada”; “apoio pedagógico inconsciente”; “pouca e restrita
discussão sobre a integração curricular”; “justaposição de disciplinas, ao
invés de integração”; “sobrecarga de trabalho docente”; “práticas
integradoras ineficazes ou pontuais e isoladas” e “falta de planejamento
docente coletivo” (GAMELEIRA & MOURA, 2018, p. 17-18).
Somando-se a essas, acrescentamos a categoria ruído na comunicação.
Dessa forma, totalizam-se nove categorias em que se encontram os
obstáculos para o avanço da construção do ensino integrado.
Apesar da incipiência nos relatos dos docentes a respeito de uma
concepção de formação integração e das categorias que constituem
obstáculos para a materialização do ensino integrado, é preciso recordar
que estamos diante de uma proposta curricular pautada em um paradigma
pedagógico consonante aos interesses do capital, do qual não devemos
esperar um grande aprofundamento. De modo geral, os relatos
apresentados pelos docentes apresentam uma visão utilitarista em relação
ao ensino integrado e que parece estar condizente com a perspectiva de um
currículo pautado no desenvolvimento de competências.
O questionamento de Santos (2015) indaga sobre a reflexão com
relação aos limites da Proposta Curricular adotada pelo Centro Paula
119
Souza. Essa proposta produz bons resultados com relação à colocação no
mercado de trabalho e, até mesmo, quanto à inserção em universidades.
Contudo, limita-se aos objetivos imediatos relacionados aos interesses do
capital, ao qual interessa a formação aligeirada voltada para a preparação
para o trabalho e estar apto para alimentar o mercado educacional do
Ensino Superior.
A proposta do CPS, de tornar possível o trabalho com projetos
interdisciplinares, sem que haja a dissolução dos componentes curriculares
estruturados é válida, mas não contempla a crítica às relações sociais dos modos
de produção econômica do Capitalismo, pelo contrário, busca formar
profissionais com características que visem às expectativas do setor
mercadológico, inclusive a polivalentes, formação de profissionais com muitas
habilidades diferentes para sanar as necessidades do mercado de trabalho
(BORRO, 2018, p. 76).
Embora o Plano de Curso empregue a categoria “polivalência” no
sentido de transcender as atividades fragmentadas, buscando alcançar o
conhecimento global da produção, esse se encontra em contradição, visto
que o enfoque dos componentes curriculares é formar para atender ao
Agronegócio (BORRO, 2019).
Após as discussões dos dados, verificamos os obstáculos e as
dificuldades para a construção do Ensino Médio integrado em unidades
escolas agrícolas do Centro Paula Souza. Há que se considerar a existência
de aspectos positivos, principalmente, em relação à prática docente. O
ETIM Agropecuária destaca-se das demais habilitações profissionais,
oferecidas pelo Centro Paula Souza, por possibilitar ao aluno, além da
formação profissional, a vivência na escola, a participação em atividades
produtivas e a possibilidade de desenvolverem a auto-organização e a
120
convivência coletiva, demonstrando imenso potencial para o
desenvolvimento do aluno em suas diversas dimensões. Conforme
demonstra Borro (2018), a proposta de integração desperdiça todo o
potencial existente, “[...] pois é parcial, fragmentada e artificial, tendo em
vista que se trata de um ‘processo de trabalho’ sem método laboral, ou seja,
sem organização” (BORRO, 2018, p. 79).
Por mais que o docente tenha boa vontade em aprofundar os
conhecimentos a respeito da proposta curricular de integração, há, ainda,
barreiras referentes à ausência de espaços de construção de conhecimento,
além da própria jornada exaustiva, conforme verificamos nas falas dos
participantes.
Constatamos que a Proposta Curricular adotada pelo Centro Paula
Souza apresenta inúmeras contradições que a distância da possibilidade de
construir um horizonte de “travesseira”, conforme almejavam os
formuladores do Decreto n. 5.154/2004, ao adotar os paradigmas da
Pedagogia das Competências em uma proposta curricular direcionadas
para os interesses do mercado, ignorando todo o potencial existente ao
desenvolvimento de todas as potencialidades da existência humana.
121
Conclusão
A insatisfação com o Decreto n. 2.208/1997 culminou em sua
revogação e substituição pelo Decreto n. 5.154/2004, possibilitando a
oferta do Ensino Médio integrado a Formação Profissional, sendo
retomada pelo Centro Paula Souza e nomeada como Ensino Técnico
integrado ao Médio a partir de 2009. A Habilitação Profissional em
Agropecuária foi pioneira, já em 2009 e completando dez anos de
implementação em 2019.
A partir das análises, verificamos que a concepção de ensino
integrado, baseada no Decreto de 2004, almeja uma formação integral,
tendo o trabalho como princípio educativo e o desenvolvimento de todas
as potencialidades humanas, reconhecendo os limites dessa proposta.
Limites esses que decorrem das condições materiais e da desigualdade
social brasileira, que exigem uma formação profissional voltada para o
mercado de trabalho. Todavia, possui como horizonte uma travessia que
não se confundem com educação politécnica e omnilateral, mas que
contém os gérmens para sua construção. Santos, Ribeiro e Sabino (2020),
em contraposição, afirmam que, ao cedermos a um modelo de formação
alinhada aos interesses do mercado e ao colocarmos o ingresso no mercado
de trabalho como justificativa para esse alinhamento, distanciamo-nos de
uma proposta de formação humana em todas as suas dimensões.
Com relação à concepção presente na proposta do Centro Paula
Souza, verificamos que está fundamentada sob o Paradigma da Pedagogia
122
das Competências, promovendo o deslocamento do trabalho pedagógico
do campo de desenvolvimento de conhecimentos para o desenvolvimento
de competências. As competências inserem-se em um contexto de
reestruturação das forças produtivas do capital, de eliminação de postos de
trabalho mediante aos avanços tecnológicos e de reordenamento de
inúmeras profissões. Em meio a esse contexto, os diplomas perdem seu
caráter de excelência, adquirindo importância a qualificação real do
trabalhador. Requerer-se do trabalhador competências que estejam
associadas aos postos de trabalho. As competências constituem-se como
propriedades instáveis, colocando os trabalhadores como sujeitos a
processos de avaliação constantes. Em contraposição a uma proposta que
almeje uma formação integral, no sentido do desenvolvimento das
potencialidades humanas, a proposta desenvolvida pelo Centro Paula
Souza, apresenta-se como uma formação imediatista e, em sentido único,
voltada para capacitação, visando ao mercado de trabalho, ou,
propriamente, um modelo educacional a serviço do capital. Os elementos
caracterizadores da Pedagogia das Competências reforçam as características
tecnicistas dentro do contexto do Ensino Agrícola, apresentando-se como
uma atualização do Sistema Escola-Fazenda.
As características supramencionadas materializam-se na análise do
Plano de Curso. Fica nítida a preocupação em desenvolver uma formação
alinhada às demandas do Agronegócio. O Componente Curricular de
Cooperação e Associativismo não apresenta, por exemplo, o
aprofundamento a temáticas relacionadas a Autogestão e ao Trabalho
Associado. A válvula de escape encontra-se no Componente Curricular de
Agricultura Orgânica, no qual apenas uma das bases tecnológicas está
associada a Revolução Verde e ao mercado de trabalho, as demais
encontram-se associadas a práticas de agricultura sustentáveis. Verificou-se
que a base fundamental da integração no CPS, refere-se ao processo de
123
ensino-aprendizagem, pautado na interdisciplinaridade, no sentido de um
determinado conteúdo ser abordado, simultaneamente, em dois ou mais
componentes curriculares, tendo como resultado instrumentos avaliativos
compartilhados.
A precarização da carreira docente, por sua vez, está associada a esse
processo promovido pelas competências de deslocamento do domínio dos
conhecimentos para o domínio das competências exigidas para o mercado;
sujeito às instabilidades promovidos pelo processo, visto o aumento dos
contratos temporários, promovendo a instabilidade na carreira docente e a
possibilidade de descarte do docente que não absorve as competências
exigidas pelo mercado.
Apesar de todo o retrocesso político pelo qual o Brasil tem se
aprofundado desde 2016, a relevância do Ensino Médio Integrado tem
crescido nos últimos anos, fato que se reflete no número de matrículas
nessa modalidade de ensino. Em 2019, as matrículas, no EMI da Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, alcançaram a
marca dos 30% e, no Centro Paula Souza, o Ensino Técnico integrado ao
Médio, a marca de 32%.
Com relação a concepção de integração apresentada pelos
docentes, apesar de não ser homogênea, está marcada pela percepção de se
tratar de uma junção das bases, sendo que a Base Comum do Ensino
Médio deve fornecer as bases conceituais necessárias para o
desenvolvimento dos componentes curriculares da formação profissional.
A partir da compreensão de que se trata de uma escola agrícola, com um
contexto diferente das demais, e tendo como base os relatos dos docentes,
avaliamos ser necessária uma maior aproximação entre os docentes da
formação profissional e da Base Comum do Ensino Médio, devendo ser
estimulada, para que se possa aprofundar o processo de integração.
124
Devemos ter em conta, também, a jornada de trabalho docente, que faz
com que lecione em mais escolas, passando pouco tempo na escola
agrícola, não permitindo com que este vivencie o ambiente escolar,
carecendo de mais repertório para promover o diálogo mais aprofundado
entre os diversos campos do saber e as dimensões da existência humana.
Compreendemos, por fim, que a proposta curricular adotada pelo
Centro Paula Souza, encontra-se distante de uma perspectiva de travessia
para a educação politécnica e a formação omnilateral, limitando-se a uma
junção de componentes curriculares que busca formar o aluno de acordo
com as demandas do capital. Por outro lado, a ausência de uma concepção
bem formulada entre os docentes, demonstra que a Integração do
Currículo é um campo em aberto, por conta das falhas da instituição em
capacitar os educadores para que os educadores trabalhem em acordo com
a proposta curricular da instituição, assim como do olhar crítico dos
docentes, que compreendem que o papel da escola e do docente, vai muito
além de formar mão-de-obra para o mercado de trabalho, por sua vez, cabe
ao docente, a partir das contradições em que está submetido, promover
estratégias que possibilitem a integração a partir de um olhar crítico;
condição necessária para uma formação que vá além dos limites impostos
por um modelo baseado na inserção da lógica de produção capitalista,
formando pessoas com capacidade crítica para compreender as relações
sociais e de produção a qual estão submetidas.
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Pareceristas
Este livro foi submetido ao Edital 001/2021 do Programa de Pós-graduação em
Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, câmpus de Marília e
financiado pelo auxílio nº 0798/2018, Processo Nº 23038.000985/2018-89, Programa
PROEX/CAPES. Contamos com o apoio dos seguintes pareceristas que avaliaram as
propostas recomendando a publicação. Agradecemos a cada um pelo trabalho realizado:
Adriana Pastorello Buim Arena
Alberto Luiz Pereira da Costa
Alexandre Filordi de Carvalho
Américo Grisotto
Ana Claudia Saladini
Ana Maria Klein
Angelica Pall Oriani
Carlos Bauer
Carlota Boto
Celia Regina Rossi
Cinthia Magda Fernandes Ariosi
Claudia Cristina Ferreira
Cristina Maria Carvalho Delou
Daniel Ferraz Chiozzini
Domingos Leite Lima Filho
Erika Porceli Alaniz
Francismara Neves de Oliveira
Genivaldo de Souza dos Santos
Giza Guimarães Pereira Sales
Joana Tolentino
Jose Deribaldo Gomes dos Santos
Lalo Watanabe Minto
Lia Leme Zaia
Luciana Aparecida Nogueira da Cruz
Luciano Mendes de Faria Filho
Márcia Lopes Reis
Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes
Maria de Fatima Felix Rosar
Maria José Viana Marinho de Mattos
Maria Lucia Marques
Marta Sueli de Faria Sforni
Mauro Castilho Gonçalves
Nadia Aparecida Bossa
Nilza Sanches Tessaro Leonardo
Ofelia Maria Marcondes
Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues
Rita Melissa Lepre
Sandra Aparecida Pires Franco
Simone Wolff
Sonia Bessa da Costa Nicacio Silva
Virgínia Pereira da Silva de Ávila
Comissão de Publicação de Livros do Edital 001/2021 do
Programa de Pós-Graduação em Educação
da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, campus de Marília
Graziela Zambão Abdian, Patricia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo José Manzini e Rodrigo Pelloso Gelamo
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno – CRB 8/8211
Normalização
Kamila Gonçalves
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Resultado de uma rigorosa pesquisa, Dez anos de integração do Ensi-
no Técnico ao Médio no Centro Paula Souza: um estudo a respeito da
Habilitação Prossional em Agropecuária, de Bruno Michel da Costa
Mercurio, apresenta análises sobre o Curso de Habilitação Prossional
em Agropecuária, na modalidade de Ensino Técnico integrado ao Mé-
dio (ETIM), do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza
(CEETEPS). A obra traz problematizações e discussões acerca do pro-
cesso histórico de desenvolvimento da educação prossional no Brasil,
contemplando as principais reformas educacionais e a expansão e a re-
ordenação da educação prossional e tecnológica, que levaram à cons-
tituição do ensino médio integrado. As reexões efetuadas têm como
mediações a prática do pesquisador em Escolas Agrícolas e experiências
vivenciadas com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Convido as pessoas interessadas no debate sobre a temática do Ensino
Técnico integrado ao Médio à leitura desta obra, pois se trata de um
estudo signicativo e relevante, especialmente no atual cenário educa-
cional brasileiro.
Essa articulação, sob o respeito a
alguns pressupostos assegurados pelo mar-
xismo clássico, permite que o autor, como
o metal, consiga uma redação com uidez
e desenvoltura discursiva. Isso é muito im-
portante e até certo ponto, raro. Mas, para
as principais investigações que lhe sustenta,
não basta. É preciso, no plano da ciência, ir
além! Tomar partido. Dizer de que lado da
trincheira se posiciona. Bruno Mercurio,
para que não haja confusão nem com o me-
tal, tampouco com a entidade romana, visto
que a uidez precisa dizer o que defende, não
esconde em que lado da luta de classes está.
Com base em uma sólida empiria
acerca das ETIM em agropecuária, o livro
apresenta consistentes inferências. A mais
importe delas, é delatar como as atuais políti-
cas públicas educativas, sobretudo prossio-
nalizantes, procuram atender, em primeiro
termo, as necessidades do capitalismo pe-
riférico brasileiro em sua versão paulistana.
Para quem vive sobre as asas de cera
do irracionalismo que, lamentavelmente,
impregnou os corredores acadêmicos, isso
pode parecer pouco. Ao contrário, asseguro
que não.
Tomar partido em um cenário de
medo político-sanitário, em que as rodas de
conversa, presenciais e principalmente digi-
tais, discutem a possibilidade de um golpe
de Estado, defender a educação omnilateral
é um ato de coragem.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
A publicação é fruto da pesqui-
sa que o autor realizou para a disserta-
ção de mestrado defendida no Progra-
ma de Pós-Graduação em Educação
da Faculdade de Filosoa e Ciências da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (Unesp), Campus de
Marília. O texto de defesa de mestrado
teve o seguinte título: Integração do En-
sino Técnico ao Médio na Habilitação
Prossional de Agropecuária no Centro
Paula Souza: limites e contradições. A
competente orientação coube ao Profes-
sor Dr. Henrique Novais.
Em um momento em que se va-
loriza os papers produtores de números
para o currículo Lattes, alegra-me en-
contrar um jovem pesquisador com inte-
resse em publicar sua pesquisa na forma
de livro, seja ele impresso e ou digital.
Essa é uma importante oferta que pode-
mos deixar para as gerações futuras. Haja
vista, como indagava Umberto Eco, não
podemos contar, antecipadamente, com
o m dos livros. Quem se antecipou a
decretar o tom de nados para o disco de
vinil, deveria ter se arrependido, pois
a implacabilidade do real mostra como
é perigoso ser idealista (de esquerda, de
centro ou de direita).
Bruno Mercurio, rero-me agora
ao pesquisador, concentra-se em comu-
nicar a análise apreendida sobre o Ensino
Médio integrado na Habilitação Pros-
sional em Agropecuária, ofertada, pelo
Centro Estadual de Educação Tecnoló-
gica Paula Souza (CEETEPS). A autoria
demostra ser referenciado, por um lado,
na prática prossional experimentada
nas Escolas Agrícolas do Centro e, por
outro, na vivência adquirida com a mili-
tância orgânica ao Movimento dos Tra-
balhadores Rurais Sem Terra (MST).
DEZ ANOS DE INTEGRAÇÃO DO ENSINO TÉCNICO AO MÉDIO NO CENTRO PAULA SOUZA
Bruno Mercurio
NEUSA MARIA DAL RI
JOSÉ DERIBALDO GOMES DOS SANTOS
Setembro de 2021
DEZ ANOS DE INTEGRAÇÃO DO
ENSINO TÉCNICO AO MÉDIO NO
CENTRO PAULA SOUZA
um estudo a respeito da habilitão
prossional em agropecuária
Bruno Michel da Costa Mercurio