Edevania Trevizan
O livro trata das alterações decorrentes de sua implementação do Pro-
grama de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universida-
des Federais (Reuni). Abordando questões de planejamento e execução de
políticas públicas e desvelando as premissas estruturantes no contexto da
elaboração de políticas para a educação.
De maneira mais especíca, a análise destaca as metas denidas entre o
Ministério da Educação e as universidades, e suas implicações na reformu-
lação curricular proposta pelo Reuni que trouxe em seu bojo uma reestru-
turação das carreiras acadêmicas visando o estabelecimento de itinerários
exíveis. Que se encontram entrelaçados aos interesses do modo de pro-
dução do sistema capitalista.
Apesar de se tratar de um programa bem-sucedido do ponto de vista da
ampliação do acesso ao ensino superior público, o Reuni foi implementa-
do na forma de contratos de gestão, com prazo denido para nalização,
deixando as universidades sem recursos para a manutenção da expansão al-
cançada, o que vem sendo observado desde 2013, com a redução do orça-
mento das instituições e dos investimentos federais, o que tem prejudicado
o desenvolvimento do ensino e pesquisa nas universidades.
Edevania Trevizan
É graduada em pedagogia pela Universida-
de Estadual do Oeste do Paraná, campus de
Foz do Iguaçu (2004).
Mestre em Educação pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(2014) e doutorado em Educação pela Uni-
versidade Estadual Paulista Júlio de Mesqui-
ta Filho (2019).
Atuou como Professor Pedagogo na rede
estadual de ensino de 2005 a 2010. Atual-
mente é técnica em assuntos educacionais
da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio 0798/2018
Processo 23038.000985/2018-89
contextos, condicionantes e resultados de
sua implementação
Programa de Apoio a Planos
de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais
(Reuni)
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni)
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais (Reuni):
contextos, condicionantes e resultados de sua implementação
Edevania Trevizan
Edevania Trevizan
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais (Reuni):
contextos, condicionantes e resultados de sua implementação
Ma
rília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS FFC
UNESP - campus de Marília
Diretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
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Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
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Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
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Maria do Rosário Longo Mortatti
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Eduardo José Manzini
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Auxílio Nº 0798/2018, Processo Nº 23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
Trevizan, Edevania.
T814p Programa de apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades federais
(REUNI): contextos, condicionantes e resultados de sua implementação / Edevania Trevizan.
Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2021.
225 p.: il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-172-0 (DIGITAL)
ISBN 978-65-5954-171-3 (IMPRESSO)
1. Educação e Estado. 2. Ensino superior. 3. Universidades e faculdades. I. Título.
CDD 379.0981
Copyright © 2021, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Agradecimentos
A conclusão desse trabalho traz um sentimento de gratidão que
passo a expressar com algumas poucas, mas significativas, palavras
dedicadas àqueles que contribuíram para a sua realização.
Ao professor Dr. Julio Cesar Torres, pela oportunidade
proporcionada, pela dedicação e empenho dispensados, principalmente,
pelo apoio e apontamentos realizados, contribuindo de forma decisiva para
a realização deste trabalho.
Ao professor Dr. Henrique Tahan Novaes, por fazer parte da
banca, cujas reflexões auxiliaram na construção deste trabalho, bem como,
pelo incentivo e apoio dado desde o início da pós-graduação. Por todo seu
esforço e paciência, minha gratidão.
Aos professores Dr. Carlos da Fonseca Brandão, Dra. Maria
Cristina da Silveira Galan Fernandes, e Dra. Claudia Maria de Lima, por
aceitarem o convite para dialogarem e contribuírem diretamente para o
aprofundamento da pesquisa. Seus apontamentos foram preciosos para o
aprimoramento do trabalho.
Aos professores do programa de Pós-Graduação da UNESP de
Marília/SP.
Aos colegas do Grupo de Pesquisa Organizações e Democracia,
pela acolhida e pelas vivências compartilhadas.
Especialmente, a Magela, pela companhia nas intermináveis horas
de viagem e espera, mas sem sucumbir, ao frio ou ao mormaço. Nada podia
nos abalar, afinal tínhamos muito trabalho pela frente.
À Universidade Tecnológica Federal do Paraná pela concessão do
afastamento para cursar pós-graduação, importante reconhecimento
profissional, que permitiu a realização dessa pesquisa.
À Universidade Estadual Paulista - Júlio de mesquita Filho,
especialmente, ao Grupo Técnico De Registros Acadêmicos, pela agilidade
e compreensão no atendimento e aos servidores da FFC, campus de
Marilia, principalmente, da biblioteca e da Seção Técnica de Pós
Graduação pela presteza e paciência.
E, a todos que contribuíram para a construção deste trabalho.
Lista de Abreviaturas e Siglas
BC&H Bacharelado em Ciências e Humanidades
BC&T Bacharelado em Ciência e Tecnologia
BI Bacharelado Interdisciplinar
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento
BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
CAE Conselho Acadêmico de Ensino
CAPES
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior
CAPEX Conselho de Pesquisa e Extensão
CGU/PR Controladoria Regional da União no Estado do Paraná
CNE/CES
Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação
Superior
CNPq
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico
CONSEPE Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão
CONSUNI Conselho Universitário
CPL Curso de Progressão Linear
DE Dedicação Exclusiva
EAPES Equipe de Assessoria ao Planejamento do Ensino Superior
EBTT Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ECTS European Credit Transfer System
EEES Espaço Europeu de Ensino Superior
e-MEC
Cadastro Nacional de Cursos e Instituições de Educação
Superior
FAPESB Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia
FIES Fundo de Financiamento Estudantil
FINEP Financiadora de Inovação e Pesquisa
FMI Fundo Monetário Internacional
GERES
Relatório do Grupo Executivo para a Reformulação da
Educação Superior
GTRU Grupo de Trabalho da Reforma Universitária
IFES Instituições Federais de Ensino Superior
INEP
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira
IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
IPES Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LOA Lei Orçamentária Anual
MEC Ministério da Educação
MEC/MP
Ministério da Educação/Ministério de Planejamento,
Orçamento e Gestão
MSUP Magistério Superior
OEA Organização dos Estados Americanos
OIT Organização Internacional do trabalho
OMC Organização Mundial do Comércio
PAC Plano de Aceleração do Crescimento
PAIUB Comissão Nacional de Avaliação do Ensino Superior
PARU Programa de Avaliação da Reforma Universitária
PDE Plano de Desenvolvimento da Educação
PDI Plano de Desenvolvimento Institucional
PEC Proposta de Emenda à Constituição
PLOA Projeto de Lei Orçamentária Anual
PNAES Programa Nacional de Assistência Estudantil
PPC Projeto Pedagógico de Curso
PPP Parceria Público-Privada
Prouni Programa Universidade para Todos
RAP Relação Aluno por Professor
Reuni
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais
SESu Secretaria de Educação Superior
Sinaes Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior
SISU Sistema de Seleção Unificado
TCC Trabalho de Conclusão de Curso
UAB Sistema Universidade Aberta do Brasil
UCS Universidade de Caxias do Sul
UEL Universidade Estadual de Londrina
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFABC Universidade Federal do ABC
UFBA Universidade Federal da Bahia
UFC Universidade Federal do Ceará
UFCG Universidade Federal de Campina Grande
UFERSA Universidade Federal Rural do Semi-Árido
UFFS Universidade Federal Fluminense
UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora
UFMA Universidade Federal do Maranhão
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFOB Universidade Federal do Oeste da Bahia
UFOP Universidade Federal de Ouro Preto
UFOPA Universidade Federal do Oeste do Pará
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
UFRB Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFSB Universidade Federal Sul da Bahia
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFSJ Universidade Federal de São João Del Rei
UFU Universidade Federal de Uberlândia
UFVJM Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
Unesco Organização das Nações Unidas para a Educação
Unicamp Universidade Estadual de Campinas
UNIFAL Universidade Federal de Alfenas
UNIFESP Universidade Federal de São Paulo
UNILAB
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira
UNIPAMPA Universidade Federal do Pampa
USAID
Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional
USP Universidade de São Paulo
UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Sumário
Prefácio ................................................................................................ 13
Introdução ........................................................................................... 17
Capítulo 1
Condicionantes Históriocos da Universidade: Um Olhar Sobre a
Universidade Pública no Brasil ............................................................. 31
1 As bases iniciais da universidade brasileira e a escola conglomerada 33
2 Documentos norteadores de 1968 e os recentes cursos de Bacharelado
Interdisciplinar ................................................................................. 37
3 Conjuntura das reformas na educação superior brasileira ............... 43
4 Expansão da educação superior ...................................................... 56
Capítulo 2
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais ......................................................................... 61
1 A proposta do Reuni ..................................................................... 62
2 Dados da Expansão ....................................................................... 65
3 Organização curricular dos novos cursos de graduação implementados
a partir do Reuni - Bacharelado Interdisciplinar ............................... 73
4 Cursos de Bacharelado Interdisciplinar nas universidades federais.. 81
5 Pressupostos Teóricos dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar .. 99
Capítulo 3
Expansão das Universidades Federais: Um Olhar Através das
Particularidades das UFABC, UFBA e UTFPR .................................. 117
1 Expansão e Consolidação da UFABC no Contexto do Reuni ...... 118
1.1 UFABC – Breve histórico ..................................................... 118
1.2 Gestão acadêmica ................................................................. 120
1.3 Expansão e consolidação da UFABC no período de 2007 a 2017
................................................................................................... 123
1.4 Bacharelado interdisciplinar ................................................. 132
2 A Expansão da UFBA no Contexto do Reuni .............................. 136
2.1 UFBA – Breve histórico ....................................................... 137
2.2 Gestão acadêmica ................................................................. 139
2.3 Expansão da UFBA no período de 2007 a 2017 ................... 143
2.4 Bacharelado Interdisciplinar ................................................. 158
3 A Expansão e Consolidação da UTFPR ....................................... 160
3.1 UTFPR – Breve histórico ..................................................... 161
3.2 Gestão acadêmica ................................................................. 162
3.3 Expansão da UTFPR no período de 2007 a 2017 ................. 166
3.4 Adequações curriculares ........................................................ 175
4. Considerações Acerca da Expansão Reuni na UFABC, na UFBA e na
UTFPR .......................................................................................... 181
Considerações Finais ...................................................................... 191
Referências ..................................................................................... 201
13
Prefácio
A pesquisa que resultou neste livro é fruto de uma tese de
doutorado que analisou os condicionantes históricos e políticos que
antecederam a elaboração do Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), bem como
as alterações resultantes do seu processo de implementação.
Edevania Trevizan foi uma das alunas do MINTER com a
UTFPR, e tive a honra de orientá-la no mestrado. Foi uma das alunas que
se destacou e foi acolhida na seleção de doutorado, sob orientação do
amigo Julio Cesar Torres. Neste livro Trevizan demonstra sua enorme
capacidade como pesquisadora e seu esforço para a apresentação da
pesquisa para a academia e para um público mais amplo.
Os condicionantes históricos do REUNI entrelaçam-se aos
desdobramentos da contrarreforma do Estado, os quais se configuram nas
transformações implementadas nas políticas educacionais. Assim, a
discussão sobre o caráter do Estado capitalista e a redefinição de seu papel
está inserida em um movimento maior de reformas estruturais do
capitalismo como modo de produção, na sua fase digital-financeira.
A emergência de um novo padrão de acumulação capitalista e a
difusão do ideário neoliberal impuseram a introdução de novos padrões
tecnológicos e formas mais flexíveis de organização do trabalho e da
produção, pautados no paradigma da racionalidade econômica.
14
Resultante das políticas do REUNI, a implementação dos cursos
de Bacharelado Interdisciplinar nas universidades federais como parte das
políticas educacionais do lulismo, vem de encontro as transformações
produzidas no sistema capitalista e alteram a estrutura da universidade. As
consequências desse processo estão expressas na flexibilização dos
currículos, na formação aligeirada e descontextualizada das demais
dimensões do Ensino Superior, principalmente, a pesquisa. Priorizando a
aquisição de competências por meio de itinerários formativos e de
currículos flexíveis, a universidade pública vai se distanciando cada vez
mais das urgentes demandas populares que demandariam um currículo,
uma pesquisa e extensão fora da órbita do mercado de trabalho e dos
interesses do capital, num país que precisa de agroecologia e não de
agronegócio, que precisa de habitação popular autogestionária, e não de
grandes empreiteiras e assim por diante.
A reestruturação curricular inserida nos novos cursos de graduação
denominados de Bacharelados Interdisciplinares está calcada nas
reconfigurações globais do mundo do trabalho, as quais exigem
aprendizagens múltiplas e a aprendizagem de saberes, de competências e de
atitudes. Nessa perspectiva, a formação deve priorizar a aquisição de
competências por meio de itinerários formativos e de currículos flexíveis,
frente às exigências do capital mundializado. Resta saber as consequências
e particularidades deste currículo num país de capitalismo dependente
como o Brasil.
Edevania se valeu de instrumental metodológico apoiado em
ampla pesquisa bibliográfica e análise documental, o que permitiu sólido
referencial teórico para apoiar a geração, coleta e análise de dados.
O produto final da pesquisa que resultou no livro é teoricamente
bem fundamentado e metodologicamente coerente, capaz de abordar e
15
compreender dados da realidade na qual se insere. Os principais
determinantes desta política educacional são matizados para o leitor e
recheados com uma enorme quantidade de dados que mostram a
implementação do REUNI em algumas universidades típicas.
O presente livro apresenta também uma significativa contribuição
tanto para uma melhor compreensão da conjuntura de formulação do
REUNI, atrelado a um processo de reordenamento do Estado capitalista,
marcado pela lógica privatista e mercantil, quanto dos processos específicos
assumidos pelas universidades, cobradas por resultados, e responsáveis pela
formação de cidadãos flexíveis, empreendedores e capazes de se adaptarem às
novas demandas da sociedade capitalista. O leitor pode até se surpreender,
pois esta atualização da universidade se deu debaixo das asas dos
intelectuais da educação do lulismo, porém, ao se estudar o programa
político do melhorismo é possível entender esta conexão entre educação e
a ideologia do melhorismo.
Cabe então destacar que o lulismo deixou suas marcas na política
educacional. A criação dos Institutos Federais permitiu a uma parcela da
classe trabalhadora uma educação melhor, se comparada com a escola
estatal normal. O REUNI permitiu as Universidades sair do fundo do
poço, mas com um custo muito alto, pois tiveram que realizar uma nova
rodada de atualização do seu currículo, da sua pesquisa e da extensão às
necessidades do mercado. Esses são os limites do melhorismo. Nos tirou
da asfixia promovida por FHC mas não tem no seu programa uma
alternativa radical e abrangente para a educação e muito menos para o
trabalho explorado.
Edevania Trevizan não tinha como propósito analisar o momento
atual, mas é preciso destacar que a ascensão da extrema direita com o golpe
de 2016 promove uma nova rodada de estrangulamento da universidade
16
pública: intervenções, corte de verbas, deslegitimação da pesquisa científica
e perseguições explícitas ou veladas fazem parte do cardápio do
ultraneoliberalismo.
Num momento onde a gasolina está perto dos 7 reais em muitos
estados do nordeste, o gás de cozinha acima de 100 reais, a bala da fome
atingindo praticamente metade do povo brasileiro, o desemprego e
subemprego nas alturas, frações do capital e das camadas médias vão sair
às ruas neste 7 de Setembro e tensionar para um maior endurecimento do
governo. Qual a pauta? Nenhum dos fatos acima, mas a ditadura do STF
que impede o governo de fazer as reformas para livrar o Brasil do comunismo.
Mas estes já são novos capítulos da luta de classes à moda brasileira.
Marília, 7 de setembro de 2021
Henrique Tahan Novaes
17
Introdução
Como o fundamental não consiste em adaptar os mecanismos
escolares às necessidades educacionais, mas proceder a essa
adaptação nos limites dos interesses sociais das classes privilegiadas
educacionalmente, as “questões do ensino” podem ser colocadas
numa mesma posição secundária e aleatória.
Florestan Fernandes
O presente livro é fruto de minha tese de doutorado, concluída em
2019 e, desenvolvida na Unesp campus de Marília e advém de inquietações
educacionais vivenciadas há tempos num cenário de globalização e
internacionalização da educação superior.
A pesquisa observou os condicionantes históricos e políticos que
antecederam a elaboração do Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e as
alterações produzidas na universidade federal em decorrência de sua
implementação.
Ao apresentar os antecedentes teóricos da legislação que resultou
no decreto do Reuni e ao analisar as implicações dessa política no interior
da universidade, o trabalho, intitulado Programa de apoio a planos de
reestruturação e expansão das universidades federais (Reuni): contextos,
condicionantes e resultados de sua implementação, aborda questões de
18
planejamento e execução de políticas públicas e se propõe desvelar as
premissas estruturantes no contexto da elaboração de políticas para a
educação.
Embora considerando que a implementação do Reuni assumiu
contornos distintos em cada instituição, buscou-se investigar os impactos
da política de reestruturação e de expansão da educação superior federal na
reconfiguração da universidade federal, mais especificamente, sendo
destacadas as metas acordadas entre o Ministério da Educação e as
universidades, e suas implicações na reformulação curricular postulada
pelo Programa. Vale ressaltar que, no acordo, as universidades federais, em
contrapartida ao aumento de investimentos governamentais,
comprometeram-se a ampliar a oferta de vagas e de cursos, e a
reestruturarem academicamente as carreiras, de forma a estabelecer um
itinerário formativo mais flexível.
De acordo com Dourado (2002), as políticas para educação devem
ser compreendidas e efetivadas como expressão de acontecimentos
históricos e de conjunturas políticas, assumidas no âmbito das relações
sociais. Assim, uma análise contextualizada da implementação dessas
políticas faz-se necessária, para que possamos compreender os interesses
políticos e econômicos que perpassam os espaços públicos e privados.
Verificar quais princípios norteiam as políticas públicas para a educação
possibilita-nos uma melhor percepção de como se formulam os jogos de
interesses presentes.
A crise do capital, nos anos 1970, foi um dos aspectos que resultou
na aceleração do processo de mundialização do capital, com alcances e
consequências próprias que diferem em todos os sentidos dos processos
anteriores, perfazendo novos arranjos, que se referem a um novo estágio
do capitalismo (CHESNAIS, 1996; IANNI, 1997; HARVEY, 1992).
19
Segundo Harvey (1992), o processo de acumulação flexível, parte de uma
reorganização do modo de produção capitalista, com ênfase na
financeirização da economia e na precarização do trabalho, flexibiliza o
processo produtivo, as relações de trabalho e o padrão de consumo.
O processo de financeirização altera as configurações do modo de
produção, por meio da globalização e da reestruturação produtiva,
incorpora novas tecnologias no sistema produtivo e nas formas de
organização. Atua por meio da liberalização e da desregulamentação dos
mercados, enfatizando a necessidade de reformas estruturais no aparelho
do Estado.
As mudanças na forma de organização do capitalismo, bem como,
o grande desenvolvimento da ciência e da tecnologia, afetaram diretamente
os processos de formação na educação superior. “Assim é possível
compreender, sempre considerando a autonomia relativa da atual forma
histórica de reprodução social da vida humana, a racionalidade do
movimento social, que se faz presente nas reformas do Estado e da
educação” (SILVA JUNIOR, 2002, p. 90).
No Brasil, especialmente a partir da década de 1990, as políticas
para o ensino superior sofreram constantes alterações ocasionadas pela
adoção de políticas neoliberais que redefiniram as funções do Estado e do
mercado de trabalho. Ancoradas em um discurso de ineficiência do ensino
superior, instituíram-se novas demandas para a educação, que se somavam
às necessidades do sistema produtivo. Essas orientações expressaram, a
partir de tal conjuntura, a imprescindível necessidade de mudanças, e
sobretudo, defendia-se uma educação mais flexível.
As recomendações do Consenso de Washington formam um
conjunto de medidas de ajuste macroeconômico formulado por
20
economistas de instituições financeiras como FMI e o Banco Mundial, que
defendem a diversificação das instituições de ensino superior e
flexibilização dos sistemas de ensino.
Para Borges (2010), no discurso do Banco Mundial, apresentado
nos documentos La enseñanza superior: las lecciones derivadas de la
experiencia (1995), e La educación en los países en desarrollo: peligros y
promesas (2000), a universidade deve contribuir para o desenvolvimento
econômico. Para a autora,
a educação superior assume a responsabilidade de formação de
competências necessárias ao mercado de trabalho e de produzir
conhecimento e socializá-lo. Segundo essa concepção, a educação
superior, sobretudo a universidade, constitui o lugar, por excelência,
de produção de conhecimento avançado e onde são formados
indivíduos altamente capacitados (BORGES, 2010, p. 372).
As recomendações dadas pelo Banco Mundial para o ensino
superior são no sentido de diferenciação e diversificação do sistema,
princípios que, de certa forma, nortearam as políticas para a educação no
Brasil. Conforme Carvalho (2011, p. 112):
[...] autonomia, centralização do poder decisório, avaliação, formação
de professores, flexibilização curricular, expansão e financiamento
que, embora, provenientes de embasamento legal disperso LDB,
PNE e legislação correlata e específica estavam, intrinsecamente,
relacionados por visão sistêmica da educação superior.
21
O documento La educación superior en los países en desarrollo:
peligros y promesas (2000) considera a flexibilidade como um requisito para
a eficácia na educação superior. As universidades, segundo ele, devem ser
capazes de se adaptarem às mudanças e às transformações do mercado de
trabalho. Trazendo a lume um sistema mais flexível, ter-se-iam maiores
chances de fornecer as competências demandadas pela sociedade
contemporânea.
De acordo com Lima (2007), as políticas promovidas pelo Banco
Mundial, Unesco e OMC, desenvolveram um conjunto de orientações
para a educação superior, que articulam a reestruturação da esfera
produtiva com o reordenamento do papel dos Estados nacionais. Nesse
sentido, as instituições de ensino superior foram afetadas pelas novas
demandas da economia global e pelos novos papéis atribuídos ao Estado.
No Brasil, essas alterações na educação superior passam a ser mais efetivas
a partir dos anos 1990.
A diretriz para o sistema educacional era apoiar a reestruturação
produtiva do país. Essas mudanças foram “orientadas pelas agências
multilaterais, no contexto da universalização do capitalismo, direcionadas
por uma razão instrumental, que se constitui no epicentro de um processo
de mercantilização do trabalho imaterial” (SILVA JUNIOR, 2002, p. 50).
As mudanças no campo educacional são fundamentadas na
transformação do mundo do trabalho, uma vez que a tônica do processo
produtivo capitalista centrou na flexibilização financeira e, neste contexto,
a demanda passou a ser por um perfil de trabalhador que desenvolvesse
múltiplas tarefas e fosse capaz de inovar no processo de trabalho.
De acordo com Silva Junior e Sguissardi (2001), quando as
políticas para a educação superior são baseadas nos imperativos da nova
22
ordem mundial, do mercado globalizado e das novas funções da ciência e
da tecnologia, presencia-se uma mudança de paradigma, pois as “[…]
políticas para a educação superior são subsumidas a uma política de gastos,
ao mercado e ao econômico, não se trata de política genuinamente
educacional, mas de uma política econômica (SILVA JUNIOR;
SGUISSARDI, 2001, p. 246, grifos dos autores). Para Lima (2009), a
reformulação da política de educação superior no Brasil, a partir de 1990,
foi amparada na flexibilização e na diversificação do sistema de ensino
superior.
O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais teve como objetivo ampliar o acesso e a
permanência na educação superior no âmbito das universidades federais.
O Decreto nº 6.096/2007, que o criou, foi complementado pelas
Diretrizes Gerais, documento elaborado pelo Grupo Assessor do Ministério
da Educação nomeado pela Portaria SESu/MEC nº 552, de 25 de junho
de 2007, e efetivado pelos acordos de metas que cada universidade federal
assinou com o Ministério da Educação.
O Reuni apresentava como meta global a elevação gradual da taxa
de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para noventa por
cento, e da relação de alunos de graduação em cursos presenciais por
professor para dezoito, bem como a ampliação do acesso e da permanência
na educação superior. As metas descritas deveriam ser alcançadas a partir
do melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos
existentes nas universidades federais.
Dentre as diretrizes do Programa, destacavam-se a revisão da
estrutura acadêmica e a diversificação das modalidades de graduação,
visando à ampliação da mobilidade estudantil, com a implementação de
regimes curriculares e sistemas de títulos que possibilitassem a construção
23
de itinerários formativos, mediante o aproveitamento de créditos,
possibilitando, assim, a circulação de estudantes entre instituições, cursos
e programas.
De acordo com as Diretrizes Gerais (BRASIL, 2007b), o Reuni
propunha-se a viabilizar um pacto entre governo, instituições de ensino e
sociedade em prol da elevação dos níveis de acesso e de permanência no
ensino superior. A elevação da taxa de conclusão resultaria de uma
administração eficiente das vagas ociosas, facilitada pela flexibilidade
curricular, e de um favorecimento da mobilidade estudantil entre cursos e
instituições diferentes, com aproveitamento de créditos.
Seguindo as orientações do programa, as universidades federais
firmaram, junto ao Ministério da Educação, acordos nos quais se
comprometiam a atender aos objetivos do Programa, com aumento de
vagas de ingresso, redução das taxas de evasão e ampliação da ocupação de
vagas ociosas
.
Para Chaves e Mendes (2009, p. 9), o Reuni, ao vincular o repasse
de verbas orçamentárias ao cumprimento de metas pactuadas, “segue a
lógica gerencial da transformação da gestão pública na lógica
empresarial/gerencial da administração por resultados”, e institucionaliza
os critérios de produtividade e eficiência.
O documento intitulado Reuni Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais: diretrizes gerais (BRASIL, 2007b) considera que a
organização curricular vigente nas universidades federais possui forte viés
disciplinar e profissional, propondo as reestruturações acadêmica e
curricular por meio de mobilidades estudantis e trajetórias flexíveis de
formação.
24
As inovações na estrutura acadêmica e curricular apresentadas, a
partir do Reuni, originaram os cursos de graduação de Bacharelado
Interdisciplinar, implementados, a partir de 2009, em algumas
universidades federais. O Bacharelado Interdisciplinar é definido como um
programa de formação, em nível de graduação, de natureza geral, que
concede diploma de conclusão de curso, organizado por Grandes Áreas do
Conhecimento: Ciências Exatas e da Terra, Ciências Biológicas,
Engenharia/Tecnologia, Ciências da Saúde, Ciências Agrárias, Ciências
Sociais, Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes.
Endossando essa linha de raciocínio, em 2010, o MEC, em
parceria com algumas universidades federais (UFRN, UFRJ, UFOPA,
UNILAB, UNIPAMPA, UFFS, UNIFAL, UFERSA, UFVJM, UFRB,
UFMA), lançou uma orientação para os Bacharelados Interdisciplinares.
O documento enfatiza que as propostas dos cursos de Bacharelado
Interdisciplinar são inovadoras e necessárias para o atendimento das
demandas atuais de formação acadêmica.
Com a implementação desses cursos, o percurso dos graduandos é
dividido em três ciclos. O primeiro, denominado de Bacharelado
Interdisciplinar, com duração de três anos. O segundo, chamado de
específico, com duração de um ano e meio a dois anos, a depender do curso
a ser realizado. E o terceiro corresponde aos cursos de pós-graduação stricto
sensu. Apesar de constarem como ciclos, as etapas são independentes e,
após concluir o curso de Bacharelado Interdisciplinar, o aluno recebe um
diploma de graduação por áreas do conhecimento, necessitando passar por
um processo seletivo para ingressar no segundo ciclo ou cursos específicos,
que correspondem aos atuais cursos de graduação.
O processo de formação dos cursos de graduação de Bacharelado
Interdisciplinar (BI) busca favorecer a adoção de metodologias ativas de
25
ensino e aprendizagem, incluindo propostas de “avaliação reconhecedora
e certificativa de conhecimentos, competências e habilidades adquiridas
em outros espaços e contextos” (BRASIL, 2010a, p. 7). Dessa forma,
verifica-se um conjunto de medidas adotadas pelas universidades buscando
adequarem-se aos objetivos do Reuni. Elas implicam alterações na gestão
das universidades, a busca da racionalidade, da eficiência e da flexibilidade.
Para Lima (2007, p. 177), as alterações curriculares, “sob a aparência de
democratizar o ensino e adequá-lo às rápidas mudanças do mercado de
trabalho, omite a perversa estratégia de certificação em larga escala”.
Diante do exposto a questão que fomentou essa investigação é:
Quais as implicações do Reuni para as universidades federais? Para isso,
verificamos as metas elaboradas por cada universidade selecionada para a
implementação do Reuni, buscando identificar e contextualizar as
alterações realizadas.
Dessa feita, os objetivos da pesquisa concentraram-se em investigar
o processo de implementação do Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), com vistas
a avaliar o contexto e o desenvolvimento do programa, enquanto uma
política pública para o ensino superior, identificando e caracterizando as
implicações desse processo, bem como examinar a dimensão acadêmico
curricular do Reuni, com vistas a evidenciar o processo de diversificação e
diferenciação das modalidades de graduação nas universidades federais,
com a implementação dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar.
Para realizar essa investigação, selecionamos três universidades
federais: Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal
da Bahia (UFBA) e Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR). A escolha de tais instituições foi pautada por diferentes motivos,
os quais passamos a apresentar.
26
A escolha da UFABC deu-se por ter sido criada na vigência do
Reuni, e por ter a referida instituição adotado todas as diretrizes
estabelecidas no Programa, principalmente no que diz respeito à
organização curricular e à implementação dos cursos de Bacharelado
Interdisciplinar.
Já a UFBA, além de ter sido escolhida por que foi precursora do
Projeto Universidade Nova, o qual deu origem a muitas premissas presentes
no Reuni, foi selecionada por ter implementado os cursos de Bacharelado
Interdisciplinar concomitantemente aos demais cursos de graduação já em
funcionamento na universidade.
Por fim, a UTFPR é uma das instituições pesquisadas por ter
adotado alternativas diferenciadas em sua revisão da estrutura acadêmica,
optando pela reorganização dos cursos de graduação sem a implementação
do Bacharelado Interdisciplinar. No debate que travamos sobre a
implementação do Reuni nas universidades selecionadas, comentaremos o
aumento das vagas na graduação, a revisão da estrutura acadêmica, a
reorganização dos cursos de graduação, e a diversificação de suas
modalidades.
Visando a compreender as políticas e as ações implementadas nas
universidades federais, os documentos foram uma das fontes do processo
de investigação. Buscaram-se interpretações que dessem conta da proposta
do estudo, sem esquecer que esses documentos foram produzidos em um
determinado contexto histórico, econômico e social; dessa maneira, os
dados pesquisados retratam essa conjuntura. Por meio dos documentos
consultados, foi possível mapear a expansão realizada nas universidades.
Para melhor organizarmos as argumentações, as discussões sobre
tais temáticas serão desenvolvidas através da análise das seguintes diretrizes
27
do Reuni: diversificação das modalidades de graduação e ampliação da
oferta de educação superior nas universidades federais. Em relação à
diversificação das modalidades de graduação, analisamos a reestruturação
curricular, inicialmente, em todas as universidades federais, por meio da
análise dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar e, posteriormente,
apenas nas universidades selecionadas para o estudo.
Para compreendermos como ocorreu a ampliação da oferta na
educação superior, selecionamos as categorias: acadêmica, administrativa,
infraestrutura e orçamentária, no intuito de verificar se a relação aumento
no número de vagas ofertadas pela universidade foi acompanhada pela
evolução no número de matrículas e estruturas humana, física e financeira.
Com exceção do orçamento, que estava condicionado a liberações do
MEC, as demais categorias faziam parte do plano de metas das
universidades, e deveriam ser geridas por elas.
Dessa forma, para verificar a ampliação da oferta na educação
superior, a análise das dimensões selecionadas possibilita-nos compreender
como se desenvolveu a expansão de vagas, de recursos humanos (docentes
e técnicos administrativos em educação), ampliação da estrutura física e a
questão orçamentária, nos casos da UFABC, da UFBA e da UTFPR.
O recorte temporal foi de 2007 a 2017, embora o Reuni findasse
em 2012. Optou-se por avaliar os dados até 2017, pois se constataram
atrasos durante o desenvolvimento das obras e, em alguns casos, as verbas
provenientes do Reuni continuaram, apesar de reduzidas, como se pode
verificar nos repasses. Entendemos que avaliar os dados até 2017 faz-se
necessário para que possamos compreender os desdobramentos de uma
política educacional com prazo de validade no que diz respeito a sua
implementação e orçamento, mas não no tocante às alterações engendradas
no âmbito organizacional e estrutural das instituições.
28
Os procedimentos utilizados neste estudo foram a pesquisa
bibliográfica e a pesquisa documental. Na pesquisa bibliográfica,
consultamos os bancos de dados de dissertações, teses, artigos e livros, e
nos detemos aos materiais que abordavam a reestruturação do ensino
superior no Brasil e as transformações no mundo produtivo, econômico e
político a partir dos anos de 1970. Na pesquisa documental, por sua vez,
buscamos compreender, apoiados nos diversos documentos elaborados
para a implementação do Reuni, suas implicações nas universidades
federais. As fontes utilizadas para a pesquisa foram os documentos
produzidos pelas próprias IES, tais como, relatórios das Pró-Reitorias de
Graduação que incluem os editais de seleção, matrícula e concluintes,
acordo de metas elaborado pelas universidades para adesão ao Reuni,
Relatórios de gestão das universidades, Projeto Pedagógico, Plano de
Desenvolvimento Institucional e Projetos Pedagógicos dos Cursos de
Graduação, além de informações disponibilizadas nos sites das instituições.
Fizeram parte, também, de nossa análise, diversos documentos gerados no
âmbito do MEC/INEP, sinopses estatísticas e estatísticas oficiais da
educação superior brasileira, Lei de Diretrizes Orçamentárias.
A metodologia utilizada parte do princípio de análise de conteúdo
de documentos, e de comparabilidade com estatísticas oficiais, visando à
compreensão do objeto de estudo, analisando-o nas perspectivas
quantitativa e qualitativa, que, de acordo com Gatti (2003), podem,
juntas, contribuir de forma mais significativa e complexa para os estudos.
As diversas abordagens na pesquisa documental nos possibilitam
realizar uma análise que busca, por meio da interpretação de dados e
informações, apreender uma determinada realidade ou
fenômeno. Facilitando “descrever a complexidade de problemas e
29
hipóteses, bem como analisar a interação entre variáveis, compreender e
classificar determinados processos sociais” (OLIVEIRA, 1999, p. 117).
Dessa forma, este estudo se constitui em uma pesquisa documental
e bibliográfica, na qual os referenciais teóricos buscam contextualizar a
educação nos processos econômicos, sociais e políticos. Caracteriza-se,
portanto, pela análise do Reuni como uma política educacional,
considerando suas imbricações com as políticas de Estado e com as
ideologias vigentes.
Visando, contribuir para o processo de análise do Reuni enquanto
política pública para a educação superior, organizamos o trabalho da
seguinte forma, no capítulo intitulado: Condicionantes históricos da
universidade: um olhar sobre a universidade pública no Brasil, traçamos
um perfil da universidade no Brasil, desde sua implementação até os dias
atuais, com o intuito de contextualizar e de apresentar um registro, ainda
que conciso, do processo histórico de estruturação da universidade no
Brasil. Posteriormente, procuramos contextualizar o Programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni)
no âmbito das reformas educacionais, com vistas a compreender os
condicionantes históricos.
No capítulo dois, Programa de apoio a planos de reestruturação e
expansão das universidades federais, elaboramos uma breve avaliação do
Reuni como política pública de expansão da oferta do ensino superior no
Brasil, e dedicamo-nos aos cursos de Bacharelado Interdisciplinar (BI),
observando-os a partir de seu surgimento durante o processo de
reestruturação curricular proposto pelo Programa. À época, algumas
instituições optaram pela revisão da estrutura curricular, aumentando o
número de disciplinas optativas nos currículos, e outras realizaram
alterações no processo dos cursos de graduação, inserindo os cursos de
30
Bacharelado Interdisciplinar em áreas do conhecimento, como forma de
ingresso na instituição, ou mesmo, como curso isolado. Fazemos uma
análise de tais cursos, trazendo dados das universidades federais que
realizaram sua implementação, no entendimento de que essas
universidades aderiram a todos os objetivos do Reuni, implementando a
reestruturação curricular com a diversificação das modalidades de
graduação.
Já no capítulo três, Expansão das universidades federais: um olhar
através das particularidades da UFABC, UFBA e UTFPR, dedicamos
atenção às universidades definidas para este estudo. Analisando como
ocorreu a evolução no número de alunos, professores e técnicos
administrativos em educação, bem como o aporte orçamentário destinado
a cada universidade no período de 2007 a 2017, debruçamo-nos na análise
dos documentos oficiais das instituições, nos dados do MEC/INEP, e na
lei orçamentária anual sobre a educação superior. Com os debates travados,
pretendemos compreender as diversas nuances do desenvolvimento do
Reuni no contexto das universidades federais. Por fim, as considerações
finais, nas quais se retomamos as premissas propostas e apresentamos os
resultados alcançados com o desenvolvimento da pesquisa.
Temos claro que ao analisar uma reforma no campo da educação
superior, nos propomos, antes de mais nada a um exercício de captar a
realidade vivenciada pelas universidades federais, que se encontram
submersas na sociedade capitalista. E que pensar a universidade, nesses
tempos, cada vez mais sombrios, nos permite analisar quão sufocada está
e, por mais que, de tempos em tempos encontre um respiro é só um hiato
de sobrevivência, um alento antes novamente submergir em adversidades
cada vez mais complexas.
31
Capítulo 1
Condicionantes Históricos da Universidade:
Um Olhar Sobre a Universidade Pública no Brasil
Para compreendermos os impactos e as alterações nas universidades
federais decorrentes da implementação do Reuni, a partir de 2007, faz-se
necessário analisar os condicionantes históricos, econômicos, tecnológicos,
sociais e de cultura organizacional que geriram o referido processo.
Implica, também, contextualizar e apresentar um registro, ainda que
conciso, do decurso histórico de estruturação da universidade no Brasil.
Retomar o processo histórico das universidades no Brasil permite
que apontemos como a história educacional brasileira passa por
transformações e reformulações de ideais que, de tempos em tempos,
retornam ao cenário educacional, sob novas roupagens, e como se nunca
houvessem sido abordadas.
De acordo com Dourado (2002), as políticas para educação devem
ser compreendidas como expressão de acontecimentos históricos e de
conjunturas políticas assumidas no âmbito das relações sociais. Uma
análise contextualizada das políticas educacionais se faz necessária para que
possamos compreender os interesses políticos e econômicos que perpassam
os espaços públicos e privados. Identificar quais princípios norteiam as
políticas públicas para a educação possibilita uma melhor percepção de
32
como se formulam os jogos de interesses que se fazem presentes na
sociedade.
Para Bastos (2009) e Dias Sobrinho (2009), reformas educativas
são construções de um quadro legal e burocrático preocupado em
responder a determinados problemas dos sistemas econômico e político,
dedicadas a atender projetos mais amplos de um governo ou de um sistema
de poder. As reformas no campo educativo, na sociedade capitalista, têm
forte influência dos sistemas econômico e político, impondo-se como
imprescindíveis.
A investigação foi desenvolvida no sentido de reunir elementos
históricos para a compreensão da questão do ensino superior. Para tanto,
partimos do pressuposto de que a educação superior no Brasil é perpassada
por acontecimentos econômicos, sociais, políticos e culturais de cada
período histórico, repercutindo em fases de expansão e estagnação desse
nível de ensino. Pretendemos fazer uma breve análise das características
predominantes no ensino superior brasileiro, desde sua origem aos dias de
hoje.
Para Sodré (1984), a universidade deve ser compreendida no
contexto de relações internas e externas, fruto de conflitos próprios dessa
instituição no desenvolvimento capitalista. Dessa feita, os impasses
vivenciados pela universidade no Brasil têm correlação com sua história.
Basta lembrar que foi “criada não para atender às necessidades
fundamentais da realidade da qual era e é parte, mas pensada e aceita como
um bem cultural oferecido a minorias.” (FÁVERO, 2006, p. 19).
Assim, se quisermos entender as origens e a construção da
universidade brasileira, é imprescindível considerar as questões de poder
que se fizeram presentes e que contribuíram para que determinadas
33
propostas educacionais se efetivassem. Partindo de uma visão histórica e
política, analisamos a universidade brasileira na sua origem, com a junção
de escolas conglomeradas, no início, às universidades de hoje,
diversificadas e diferenciadas, para, posteriormente, investigarmos os
condicionantes históricos do Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), analisando
tal processo pelo viés da reforma do Estado brasileiro e seus
desdobramentos, os quais se configuram nas transformações
implementadas nas políticas educacionais. Entende-se que a discussão
sobre o caráter do Estado capitalista, e a redefinição de seu papel, está
inserida em um movimento maior de reformas estruturais adotadas como
estratégia para a superação da crise de acumulação de capital.
1 As bases iniciais da universidade brasileira e a escola conglomerada
A universidade no Brasil foi oficializada tardiamente, até mesmo se
comparada aos países latino-americanos vizinhos. De acordo com Oliven
(2002), os espanhóis fundaram instituições universitárias, ligadas a igreja,
já no século XVI.
Já no Brasil, a primeira universidade só foi legalmente reconhecida
em 1920, com o Decreto nº 14.343, de 7 de setembro de 1920, que
instituiu a Universidade do Rio de Janeiro. Várias tentativas anteriores
foram registradas, porém, com sua continuidade interrompida por
decisões políticas e/ou questões econômicas. Sob esse decreto, agruparam-
se três escolas profissionais: Escola Politécnica, Faculdade de Medicina e
Faculdade de Direito, todas do Rio de Janeiro. As duas escolas oficiais, a
Politécnica e a Faculdade de Medicina, continuaram com autonomias
34
didática e administrativa. A Faculdade de Direito, de acordo com o art. 4º,
deveria prover todas as suas despesas exclusivamente com as rendas do
respectivo patrimônio, sem outro auxílio oficial ou vantagem, além dos
outorgados pelos seus estatutos.
Assim, a primeira universidade oficialmente criada no Brasil é
resultado da junção de três escolas tradicionais, sem maior integração entre
elas, cada uma conservando suas características. Sem a preocupação de
estabelecer uma estrutura universitária, com serviços de ensino e pesquisa
comuns e integrados, o que ocorreu foi simplesmente o agrupamento de
escolas sob a direção de uma Reitoria e de um Colegiado, ambos com
reduzido poder deliberativo, pois as escolas continuavam autônomas
didática e administrativamente.
Todos os esforços para a criação de universidades, nos períodos
colonial e monárquico, “foram malogrados, o que denota uma política de
controle por parte da Metrópole de qualquer iniciativa que vislumbrasse
sinais de independência cultural e política da Colônia”. (FÁVERO, 2000,
p. 18-19).
De 1940 a 1950, multiplicaram-se as universidades, mas com
predomínio da formação profissional, sem maiores preocupações com a
pesquisa e a produção de conhecimento. De acordo com Trindade (2008),
após 1945, a expansão do sistema universitário brasileiro tem conexão com
o progressivo aumento da urbanização, que gerou uma demanda por
títulos universitários ligados às profissões liberais.
O ensino superior sofreu intensa expansão quantitativa, concentrada
nos últimos quarenta anos. Duas indicações são suficientes para
ressaltar o caráter do fenômeno. Primeiro, mais de 81% dos
estabelecimentos de ensino superior, existentes no país em 1960, foram
35
criados entre 1930 e 1960. Segundo, a matrícula geral aumentou, num
período de trinta anos, quase seis vezes, passando de 27.501, em 1935,
para 155.781, em 1965. (FERNANDES, 1975, p. 65).
Fernandes (1975) afirma que, a despeito do aumento de
instituições de ensino superior, este ocorreu por simples multiplicação de
unidades existentes, não sendo perceptível o desenvolvimento de efetivas
condições para sua organização e funcionamento. “Os modos
institucionais importados foram submetidos a um permanente processo de
erosão, de esvaziamento e de utilização unilateral, que acabou produzindo
um tipo de escola superior ultra deficiente e irrecuperável”
(FERNANDES, 1975, p. 51).
Nesse entendimento, para Fernandes (1975), a universidade que
se estabeleceu no Brasil não tinha propriamente uma estrutura
universitária, era uma mera conglomeração de escolas superiores: “em
consequência, o que se implantou no Brasil não foi a universidade
portuguesa da época, mas as unidades intermediárias, as ‘faculdades’ e
‘escolas superiores’”. (FERNANDES, 1975, p. 93). Pactuando desse
pensamento, Minto (2011) afirma:
O ensino que se desenvolveu neste período não expressou a existência
de uma política sistemática de formação de nível superior, senão nos
níveis mínimos necessários, caracterizando um processo muito mais de
adaptação às condições concretas da vida econômica, política e sócio-
cultural local do que de indução de transformações estruturais.
(MINTO, 2011, p. 105).
36
Ao refletir sobre as questões da universidade brasileira, podemos
compreender que alguns dos impasses por ela vivenciados podem estar
ligados à própria origem dessa instituição. Para Sguissardi (2011), em se
tratando de educação superior, o Brasil atrasou-se de dois a três séculos em
relação a diversos países do continente, sendo um dos últimos a reconhecer
oficialmente as universidades. Até 1920, a educação superior se resumia
em experiências de Seminários, Conventos e Escolas que, em geral, apenas
atendiam ao imediatismo das exigências do poder burocrático e das
necessidades das elites.
Até a década de 1960 as alterações qualitativas realizadas na
universidade brasileira, foram tão superficiais que este pode ser
considerado o período da “escola superior isolada” e da “universidade
conglomerada.” (FERNANDES, 1975, p. 57).
Para Fernandes (1975), o ensino superior brasileiro ajustou-se aos
requisitos da sociedade estratificada e oligárquica, garantindo o privilégio
social.
Por isso, no momento em que a evolução gradual para a civilização
urbano-industrial sai dos trilhos e é substituída por uma evolução
desorientada e acelerada, ele se torna, subitamente, um “luxo inútil”.
Em toda a parte, as sociedades hegemônicas são forçadas a intervir
diretamente. No Brasil, além das intervenções canalizadas através de
organismos internacionais, deve-se ressaltar especialmente a maciça
interferência norte-americana. Através de mecanismos criados de várias
maneiras (da Aliança para o Progresso, dos acordos MEC-USAID, da
OEA, do Banco Mundial, do Banco Interamericano de
Desenvolvimento, da União Pan-Americana). (FERNANDES, 1975,
p. 111-112).
37
As alterações preconizadas por esses mecanismos causaram
interferências no intuito de consolidar modelos de educação superior para
atender aos requisitos educacionais de uma sociedade competitiva e de
massas. “O que está em jogo não é, naturalmente, a ‘revolução pela
educação na América Latina ou no Brasil. Mas, especificamente, a
constituição de condições para o arranco econômico e cultural, sob o
desenvolvimento dependente” (FERNANDES, 1975, p. 112, grifos do
autor).
2 Documentos norteadores de 1968 e os recentes cursos
de Bacharelado Interdisciplinar
Os relatórios e comissões que antecederam a reforma universitária,
que constituíram o plano de assistência técnica estrangeira,
consubstanciado pelos acordos MEC/USAID: os empréstimos e
cooperação técnica do Banco Mundial; a comissão especial, criada por
decreto em fins de 1967, e chefiada pelo general Carlos de Meira Mattos,
que produziu o Relatório Meira Mattos (1968); o documento Rumo à
reformulação estrutural da universidade brasileira, também chamado de
Relatório Atcon (1966); o Relatório da Equipe de Assessoria ao Planejamento
do Ensino Superior (EAPES), de junho de 1968, criada no âmbito dos
acordos MEC-USAID, em 1965; e o Relatório do Grupo de Trabalho da
Reforma Universitária (GTRU), criado pelo Decreto nº 62.937/68.
Os diagnósticos e as recomendações divulgadas pelos acordos
MEC/USAID, acima mencionados, embora divergentes em alguns
pontos, coincidem na maioria das questões: a educação superior deveria
adaptar seus conteúdos às metas do desenvolvimento nacional. O sistema
de ensino superior deveria ampliar seu atendimento, enfatizando-se, no
38
entanto, a falta de recursos financeiros. Propunha-se a expansão do sistema
de ensino com a racionalização dos recursos e a flexibilidade curricular.
Segue o exposto no Relatório da Equipe de Assessoria ao Planejamento do
Ensino Superior:
A estruturação da Universidade em bases que se possam considerar
racionais exige que se dê especial atenção ao capítulo relativo ao
Mercado de Trabalho Profissional. Na medida em que a Universidade
estiver preparando e formando professores, técnicos, cientistas e
profissionais imediatamente destinados às necessidades do
desenvolvimento do país, estará cumprindo suas finalidades específicas.
(BRASIL, 1969, p. 71).
O relatório da EAPES (Brasil, 1969) afirma que o planejamento
educacional deve ser precedido de um planejamento da mão de obra,
deixando clara a função da universidade de auxiliar no desenvolvimento
do país, adaptando o ensino às necessidades do mercado.
Já para Atcon (BRASIL, 1966), a racionalidade, a eficiência e a
produtividade, próprias das empresas, deveriam ser exigidas nas
universidades, priorizando, a diminuição de custos, o controle da força de
trabalho e da própria organização curricular. O planejamento deveria ser
voltado para conseguir o máximo rendimento, reduzindo-se os custos.
O Grupo de Trabalho da Reforma Universitária (GTRU),
instituído pelo Decreto nº 62.937/1968, “tinha a função de acelerar a
reforma da universidade brasileira, visando à sua eficiência, modernização,
flexibilidade administrativa e formação de recursos humanos de alto nível
para o desenvolvimento do país.” (BRASIL, 1968). Como se percebe, não
se tratava de formular um diagnóstico da presente crise universitária, mas
39
de propor um conjunto de medidas operacionais, as quais permitissem
racionalizar a organização das atividades universitárias, conferindo-lhes
maior eficiência e produtividade.
Além da necessidade de organização da universidade, com base nos
princípios de produtividade e eficiência dos recursos, os documentos
oficiais enfatizam, também, a necessidade de uma reestruturação curricular
dos cursos de graduação. Em todos os relatórios, é mencionada a graduação
por ciclos, com a introdução dos cursos chamados básicos ou de
integração. De acordo com as análises oficiais, esse sistema permitiria ao
aluno a composição do seu programa de estudos, com a assistência de um
serviço central de aconselhamento vocacional, em colaboração com os
diversos departamentos. Os objetivos seriam dar maior elasticidade ao
currículo, propiciando uma formação profissional mais diversificada e
ampla, respeitando-se as inclinações individuais.
O primeiro ciclo ou curso básico visava a recuperar falhas do ensino
secundário, evidenciadas pelo vestibular, orientar para a escolha das
carreiras e proporcionar estudos básicos para o segundo ciclo, chamado de
profissional. O “segundo ciclo curricular”, de duração variada, teria alunos
distribuídos pelos cursos de acordo com os resultados escolares por eles
alcançados no “primeiro ciclo”. Eram previstos, para o segundo ciclo,
cursos que habilitariam os estudantes para o exercício de profissões
regulamentadas por lei; cursos que habilitariam para o exercício de
profissões definidas, mas ainda não regulamentadas por lei; e cursos que
habilitariam para o desempenho de funções profissionais ainda não bem
definidas.
Ao mesmo tempo e em paralelo ao primeiro ciclo, o relatório do
GTRU sugere a inserção de:
40
Um sistema de ‘carreiras curtas’ para cobrir áreas de formação
profissional hoje inteiramente desatendidas ou atendidas por
graduados em cursos longos e dispendiosos. Evitando a
compartimentação rígida e antidemocrática dos dois esquemas, que
poderiam assim reproduzir em novo plano o dualismo da escola média
tradicional, previu-se desde logo ampla circulação do 1º ciclo geral para
os cursos profissionais destinados a carreiras curtas, e vice-versa.
(BRASIL, 1983, p. 31).
Esse sistema teria a função de evitar a compartimentação rígida,
constituindo-se em mais um dispositivo de absorção dos excedentes. Para
o GTRU (BRASIL, 1983), os estudos profissionais de graduação seriam
precedidos de um primeiro ciclo geral, comum a todos os cursos,
prevendo-se, ainda, a criação de estabelecimentos para ministrar o
primeiro ciclo.
Já Atcon (BRASIL, 1966) propôs a criação de centros de estudos
gerais que teriam a função de receber todos os estudantes que ingressassem
na universidade, e, após a etapa de estudos básicos, responsabilizar-se-ia
pelas seleções dos mesmos. Nesse sistema, as escolas superiores com menos
recursos ofereceriam apenas o primeiro ciclo, conferindo grau de bacharel,
como o college norte-americano, e as escolas providas dos recursos
adequados poderiam oferecer um segundo ciclo de cursos profissionais.
Para Cunha (2007), a reforma universitária efetivada pela Lei nº
5.540/68 não expressou, somente, a vontade dos militares. Os temas que
resultaram na reforma já eram discutidos amplamente nas instituições de
ensino, antes mesmo do Golpe de 1964.
41
[...] a concepção de universidade calcada nos modelos norte-
americanos não foi imposta pela Usaid, com a conivência da burocracia
da ditadura, mas antes de tudo, foi buscada, desde fim da década de
1940, por administradores educacionais, professores e estudantes,
principalmente aqueles, como imperativo da modernização e, até
mesmo, da democratização do ensino superior em nosso país.
(CUNHA, 2007, p. 24).
A reforma do ensino superior tinha a finalidade de “colocar a
universidade a serviço da produção prioritária de uma nova força de
trabalho requisitada pelo capital monopolista organizado nas formas
estatal e privada multinacional” (CUNHA, 2007, p. 287). As principais
alterações da Reforma Universitária (Lei n° 5.540/1968) foram a criação
dos departamentos, que substituíram as antigas cátedras, a instituição do
sistema de créditos e do vestibular classificatório, a eficiência
administrativa e a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão nas
instituições de ensino superior.
Para Fernandes (1975, p. 203), a reforma universitária, que, diante
da situação histórico-cultural do Brasil, deveria ser entendida como uma
reconstrução educacional, foi reduzida a um “repertório de soluções
realistas e de medidas operacionais que permitiam racionalizar a
organização das atividades universitárias, conferindo-lhes maior eficiência
e produtividade.”
A reforma foi norteada por dois princípios: o controle político das
universidades públicas brasileiras e a formação de mão de obra para a
economia. Para Fernandes (1975), a iniciativa do governo em liderar a
reforma universitária se deu no sentido de garantir o controle do poder
político conservador, “canalizando as alterações qualitativas inevitáveis em
um sentido aparente puramente técnico, mas, de fato, dominado pelo afã
42
de criar novos mecanismos de tutelagem conservadora do ensino superior
e do tipo emergente de universidade” (FERNANDES, 1975, p. 57-58).
As alterações nos cursos de graduação preconizadas nos
documentos acima mencionados, retornam à pauta das universidades
federais 50 anos após a Reforma Universitária de 1968, denominados,
nesse momento, como Bacharelados Interdisciplinares em Áreas do
Conhecimento.
A criação de tais cursos de graduação, deu-se a partir de 2007 e, foi
embasada em postulados do Decreto nº 6.096/2007. Nele, estava previsto
a revisão da estrutura acadêmica e a diversificação das modalidades de
graduação. De acordo com a letra legal, tais postulados visavam à
ampliação da mobilidade estudantil, com a implementação de regimes
curriculares e sistemas de títulos que possibilitassem a construção de
itinerários formativos, mediante o aproveitamento de créditos e a
circulação de estudantes entre instituições, cursos e programas de educação
superior.
A proposta de criação dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar
implica a formação em três ciclos: bacharelado interdisciplinar em área do
conhecimento, cursos de graduação específicos e cursos de pós-graduação.
Contudo, tanto o primeiro quanto o segundo ciclos levam a um diploma
de graduação, não se constituindo como etapas, mas ciclos independentes
do percurso formativo no ensino superior. O estudante, caso opte por
realizar o segundo ciclo, passa por uma seleção organizada pela
universidade. Apresentando-se como uma nova modalidade de formação
acadêmica, em contraposição aos formatos atuais, os cursos de Bacharelado
Interdisciplinar levam a um diploma de curso superior em nível de
graduação plena, porém sem caráter profissional específico.
43
A ênfase da proposta são a flexibilidade e a interdisciplinaridade,
que, de acordo com o documento Reuni: diretrizes gerais (2007), são
praticadas por um número muito reduzido de cursos de graduação. O
relatório julga que as práticas pedagógicas adotadas nos cursos de
graduação eram tradicionais, e que as turmas, em geral, apresentavam
reduzido número de estudantes.
Os cursos de Bacharelado Interdisciplinar apresentam similitudes
com as propostas de ciclos, mencionadas nos documentos antecessores à
Reforma Universitária de 1968. Prevalece a formação baseada em
competências, com responsabilização do aluno pela aprendizagem,
agregada às noções de empregabilidade e meritocracia. Apresentamos uma
discussão mais aprofundada sobre os cursos de Bacharelado
Interdisciplinar no desenvolvimento no terceiro capítulo.
3 Conjuntura das reformas na educação superior brasileira
Ao analisarmos a reconfiguração das políticas educacionais para a
educação superior, a partir de 1985, bem como, ao situarmos o Reuni no
âmbito das políticas educacionais, apontamos algumas aproximações com
as reformas educacionais na União Europeia, consideramos que elas são
parte de conformações sociais, culturais e econômicas, e, por assim sê-lo,
como elementos nos quais se reproduzem as transformações do modo de
produção capitalista.
Dessa maneira, compreender os processos de reforma da educação
superior implica contextualizá-los no quadro de uma mudança de
paradigma das sociedades contemporâneas, marcadas por aceleradas
reestruturações nos campos econômico, tecnológico, político, social e
44
cultural. “A racionalidade das mudanças na esfera educacional é o
resultado de suas inter-relações com as demais esferas sociais das práticas
humanas e dessas com as transformações gerais da sociedade (SILVA
JUNIOR, 2002, p. 86).
A crise mundial do capital, nos anos 1970, foi um dos aspectos que
resultou na aceleração do processo de mundialização do capital, com
alcances e consequências próprias, que diferem, em todos os sentidos, dos
processos anteriores, perfazendo novos arranjos e apontando para um novo
estágio do capitalismo. (CHESNAIS, 1996; IANNI, 1997; HARVEY,
1992).
De acordo com Gomes, Ferrazzo e Lôbo (2018), a partir de 1970,
iniciou-se, em nível mundial, um período de transformações no setor
produtivo, com a incorporação de novas tecnologias, acarretando
desemprego, queda da taxa de lucros, gerando uma crise estrutural do
capitalismo.
[...] que os ideólogos da burguesia diagnosticam como sendo do
“excesso” de proteção ofertada pelo Estado aos trabalhadores por meio
das políticas sociais. O chamado “Estado mínimo” foi apresentado
como “solução” para a crise, experiência que ganhou espaço no Brasil
a partir da eleição de Fernando Collor (1990-1992). (GOMES,
FERRAZZO e LÔBO, 2018, p. 49).
A inserção capitalista brasileira dependente foi aprofundada na
década de 1990, como resultado da execução de um conjunto de reformas
neoliberais, parte constitutiva da reforma do Estado brasileiro, aliada às
alterações na esfera produtiva e pautadas em práticas da racionalidade
mercantil.
45
Para Torres (2017, p. 356), a necessidade da reforma do Estado se
fundamentava na justificativa de uma “crise fiscal e de financiamento do
Estado, e a ineficácia das políticas públicas”, trazendo à tona “a questão da
descentralização das políticas públicas brasileiras, sobretudo as políticas
sociais, como a Educação, Saúde e Assistência Social.” (TORRES, 2017,
p. 359).
De acordo com Silva Junior e Sguissardi (2001), presencia-se uma
mudança de paradigma quando as políticas para a educação superior são
baseadas nos imperativos da nova ordem mundial, do mercado globalizado
e das novas funções da ciência e da tecnologia. As normatizações
empreendidas na educação brasileira, principalmente, a partir de 1990,
buscaram alinhar o sistema educacional às diretrizes do Banco Mundial
para a educação.
Fomentar la mayor diferenciación de las instituciones, incluido el
desarrollo de instituciones privadas. Proporcionar incentivos para que
las instituciones públicas diversifiquen las fuentes de financiamiento
[...] y la estrecha vinculación entre el financiamiento fiscal y los
resultados. (BANCO MUNDIAL, 1995, p. 4).
Agências de fomento, como o Banco Mundial (BM) e o Fundo
Monetário Internacional (FMI), produziram referenciais e recomendações
que influenciaram nas concepções acerca da educação superior brasileira.
É importante mencionar que tais influências, no entanto, não são uma
mera transferência e migração de políticas, pois as últimas são
recontextualizadas e reinterpretadas dentro de contextos e interesses
específicos.
46
De acordo com Lima (2007, p. 79), o reordenamento do papel dos
Estados nacionais, e a formação de uma nova sociedade burguesa, bem
como as reformas educacionais realizadas nos países periféricos foram
orientadas pelos sujeitos coletivos do capital, tais como Banco Mundial,
Unesco e OMC e “articulada aos próprios interesses da burguesia brasileira
em reproduzir internamente relações de dominação ideológica e
exploração econômica.”
Silva Junior (2003) parte do pressuposto de que essas reformas
constituem um movimento mundial que, apesar de trazerem elementos da
especificidade histórica de cada país, mantêm os traços de “racionalidade
da transição do metabolismo social capitalista” (SILVA JÚNIOR, 2003,
p. 71) pois, a despeito das diferenças, diagnosticam ineficiências das
instituições sociais para desempenharem os novos papéis delas requeridos.
De acordo com Oliveira (2000), a reestruturação do ensino
superior brasileiro é um processo reformista que, articulado aos interesses
do capitalismo global, visa à minimização do Estado, caminhando para a
“mercantilização da educação superior”. (OLIVEIRA, 2000, p. 166),
fortalecido por um discurso acerca da necessidade de que as universidades
assumam novas finalidades, na medida em que a ciência, o conhecimento
e a inovação tecnológica são associados a parâmetros e estratégias de
competitividade (SANTOS, 2011; RISTOF, 2008).
Nesse processo destaca-se algumas reformas no âmbito
internacional dentre elas a reforma de Bolonha que é parte de uma
configuração que vem redesenhando o ensino superior europeu. Cachapuz
(2016) pontua que o Espaço Europeu de Ensino Superior é um processo
globalizante, não apenas uma consequência da globalização econômica,
mas participante dessa lógica.
47
No interior de tais alterações é que se elabora, a partir do ano 2000,
o Projeto Tuning, cujo objetivo foi oferecer uma abordagem concreta da
implementação do Processo de Bolonha nas instituições de ensino
superior, e em diferentes áreas de estudo. Consiste em uma metodologia
dedicada a avaliar programas de estudos implementados em cada um dos
ciclos de estudos de Bolonha. Além disso, o Projeto Tuning iniciado por
instituições de ensino superior da Europa foi expandido para outras
regiões.
Com a influência do Processo de Bolonha, desenvolveu-se para a
América Latina, a partir de 2004, um projeto específico denominado
Projeto Alfa Tuning América Latina, cuja intenção foi difundir o modelo
europeu de ensino superior. O projeto contou com a participação de
alguns pesquisadores e de universidades do continente latino-americano.
Desenvolvido em duas fases, a primeira, entre 2004 e 2007, e a segunda,
entre 2011 e 2014, o programa abrangeu dezenove países da América
Latina
1
. Foi financiado pela Comissão da União Europeia, no âmbito do
projeto Alfa, e coordenado pela Universidade de Deusto, da Espanha, e
pela Universidade de Groningen, dos Países Baixos.
No Brasil, de acordo com as páginas eletrônicas
2
do programa,
participaram da primeira fase (2004-2007) dezenove docentes de
dezenove
3
universidades. Já da segunda fase (2011-2013) participaram
dezoito docentes de doze
4
universidades.
1
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala,
Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e
Venezuela.
2
http://tuning.unideusto.org/tuningal/ (2004-2007) e http://www.tuningal.org/ (2011-2014).
3
UNB, UFBA, UFPE, UFRJ, UFMG, UFC, UFRS, UFOP, UFPA, UFSC, UFU, UNIFESP,
UNICAMP, USP, UERJ, UEL, Mackenzie, PUC/RJ, UCS.
4
UNB, UFC, UFOP, UFPA, UFU, UFSC, USP, UERJ, Anhanguera, PUC/PR, Mackenzie, UCS.
48
O modelo educacional europeu extrapolou suas fronteiras,
alcançando regiões com realidades econômicas bem distintas. O programa
tem a tarefa de definir novas bases curriculares para o ensino superior por
meio de competências genéricas e específicas para cada área do
conhecimento. De acordo com o relatório Reflexões e perspectivas do ensino
superior na América Latina (2007), para a composição das competências,
tanto genéricas quanto específicas, foram consultados acadêmicos,
estudantes, licenciados e empregadores.
O relatório Reflexões e perspectivas do ensino superior na América
Latina (2007) abordou quatro linhas de trabalho: competências, enfoques
de ensino, aprendizagem e avaliação das competências, créditos
acadêmicos e qualidade dos programas. De forma geral, o projeto se baseia
nas competências necessárias para uma sociedade em transformação e, se
articulado às quatro linhas do programa, proporcionará transparência nos
perfis profissionais.
O relatório afirma, ainda, que o processo educativo deve ser
centrado no aluno, exigindo deste mais protagonismo e compromisso. “O
currículo baseado em competências e centrado no aluno permite integrar
a demanda do setor produtivo com o rigor acadêmico.” (BENEITONE,
Pablo et al. 2007, p. 271).
Entre as recomendações do relatório, também se encontram a
flexibilidade e a introdução de um sistema de três ciclos, no qual cada ciclo
deve ser considerado uma unidade autônoma. Os dois primeiros ciclos
deveriam permitir, além do acesso ao ciclo seguinte, a possibilidade de
seguir para o mercado de trabalho.
49
O objetivo é facilitar o acesso a uma educação geral ampla e, também,
à uma visão de educação especializada e para determinados cursos,
muitas vezes interdisciplinares, centrada em competências e
habilidades, pois ambas preparam os indivíduos para viver em
diferentes situações e poder mudar de atividade. (BENEITONE, Pablo
et al. 2007, p. 35).
Para Eiró e Catani (2011), o projeto Tuning corresponde a uma
proposta de colocar em prática a política educacional baseada na formação
por competências, e aprendizagem voltada ao desempenho de tarefas
requeridas pelo mercado de trabalho. Na mesma linha, Bolívar (2009)
afirma que o Projeto Tuning América Latina é orientado pela lógica
empresarial e mercadológica. Pois, de acordo com Dias Sobrinho (2009)
um dos eixos mais importantes de todo esse processo é a rotatividade da
força de trabalho. Nesse sentido, o acordo de Bolonha, possibilita que os
profissionais formados possam ter seus diplomas reconhecidos nos países
signatários.
O novo modelo universitário europeu objetiva dar respostas coerentes
e comuns aos desafios que a globalização impõe, basicamente
relacionados à internacionalidade do livre mercado europeu, à
mobilidade, à empregabilidade (que requer critérios transparentes nos
intercâmbios laborais), à eficiência e à competitividade no mundo.
(DIAS SOBRINHO, 2009, p. 145)
Para o autor, o acordo de Bolonha cria uma convergência na
educação superior europeia, a fim de que esta responda adequadamente e
eficientemente aos problemas da sociedade globalizada. “A Europa que se
busca construir com o processo de Bolonha não é a Europa dos cidadãos,
50
é a Europa das grandes empresas e da competição. Busca-se basear os
currículos na aquisição de competências que respondam ao mercado de
trabalho atual.” (DIAS, 2012, p. 59). Nesse sentido, não somente a
preparação para o mercado trabalho, mas a adequação a este, é tema
central.
Para Ferreira e Oliveira (2010), especialmente nas últimas décadas,
as mudanças ocorridas nos papéis sociais das universidades têm o objetivo
de enquadrar as instituições de ensino superior no processo de
internacionalização da educação superior. A educação superior é vista sob
novas exigências e desafios que apontam para a necessidade de se investigar
o papel da educação superior em um ambiente de globalização capaz de
promover mudanças aceleradas, principalmente no que se refere à
produção do conhecimento e à formação profissional.
Para Silva Junior e Sguissard (2001) as novas propostas para
políticas sociais, em destaque para a educação superior, são elaboradas a
partir do imperativo da nova ordem mundial, do mercado globalizado e
das novas funções da ciência e da tecnologia, estabelecendo parâmetros
para a inserção da educação superior no capital globalizado, alguns deles
com a função de reformular a educação superior e inseri-la no âmbito das
políticas neoliberais.
A proposta do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado
(1995), no governo FHC (1995-2003) estabelece um novo perfil para as
universidades. O documento traz a possibilidade de inserir a educação no
ramo dos serviços não exclusivos do Estado e, como tal, deveria passar por
um processo de publicização
5
. O processo de publicização, nos termos do
5
[...] “publicização transformação de uma organização estatal em uma organização de direito
privado, mas pública não-estatal” (Bresser Pereira, 1998, p. 61). Assim, subsídios fiscais, por
exemplo, que são recursos públicos, podem ser dados ao setor privado da economia.
51
plano em discussão, constituir-se-ia na transferência para o setor público
não-estatal da produção dos serviços não exclusivos do Estado.
Em suma, o que estava em disputa eram as fatias do orçamento público
e as oportunidades de investimentos para o capitalismo monopolista
globalizado, com garantias estatais, tão importantes para o novo
contexto de acumulação num momento de reconfiguração das bases
estruturais do capitalismo na transição para o século XXI. (TORRES,
2017, p. 358).
Toda a exposição do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do
Estado (1995) traz conceitos da administração gerencial, voltada para o
controle dos resultados e descentralizada, evidenciando-se a redefinição do
papel do Estado na qualidade de agente regulador. Desse modo, o Estado
se afasta do papel de executor ou prestador de serviços, mantendo-se,
sobretudo, no papel de regulador. Os conceitos de flexibilização e
descentralização também aparecem no documento.
Outro documento, Mãos à obra Brasil, elaborado por FHC (1994),
ainda no governo de Itamar Franco, afirma que a política para a educação
superior deve promover uma revolução administrativa, capaz de dar efetiva
autonomia às universidades, mas sem deixar de condicionar o recebimento
de verbas a uma avaliação de desempenho estreitamente ligada ao número
de alunos formados e às pesquisas realizadas.
Também nas Diretrizes estratégicas para o fundo verde-amarelo
(2002), ainda no governo FHC, -se uma proposta para aproximação
entre universidades e empresas. Já em seu primeiro item da linha de ação,
emerge a capacitação de recursos humanos para a inovação, destacando-se
a formação e a mobilização de pesquisadores e sua fixação nas empresas,
52
maior mobilidade de pesquisadores entre universidades e empresas, bem
como o apoio a programas de educação continuada por parte das empresas,
com vistas à inovação tecnológica.
O documento prevê, ainda, mecanismo de promoção para o
estímulo aos projetos cooperativos voltados para a inovação, concebidos
por meio da interação entre empresa e universidade. Um dos anseios que
postula é o de benefícios às empresas a partir de pesquisas. Em
contrapartida, o setor empresarial ampliaria seus fluxos de recursos
financeiros para estudos inovadores, de forma que as universidades
poderiam responder aos desafios do mundo contemporâneo.
De acordo com Silva Junior e Sguissardi (2001) os principais
argumentos utilizados para a implementação das mudanças na educação
superior são de que o sistema federal de ensino estaria em crise por não
absorver toda a crescente demanda e por não preparar adequadamente os
universitários para o mercado. Inclui-se, ainda, a crítica ao modelo de
universidade de pesquisa, considerado dispendioso e que seria
insustentável a médio e longo prazos.
Para Lima (2009, p. 148), “a intensa reformulação da política de
educação superior ocorre a partir de um conjunto de leis, decretos e
medidas provisórias”. Destacamos o FIES - Fundo de Financiamento
Estudantil instituído pela Medida Provisória nº 1.827, de 27 de maio de
1999, e convertido na Lei n°10.260, em 12 de julho de 2001, no governo
de FHC e, durante o governo Lula, o Decreto s/nº, de 20 de outubro de
2003, que institui o Grupo de Trabalho Interministerial, encarregado de
analisar a situação atual e apresentar plano de ação visando à
reestruturação, desenvolvimento e democratização das Instituições
Federais de Ensino Superior (IFES); a Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) nº 217/2003, que versava sobre as fontes de financiamento das
53
universidades; o projeto de Lei Complementar nº. 118/2003, sobre a Lei
Orgânica da Autonomia Universitária; o Decreto nº 5.205/2004, que
regulamenta as parcerias entre as universidades federais e as fundações de
direito privado; a Lei nº 10.861/2004, que instituiu o Sistema Nacional
de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes); a Lei nº 10.973/2004 de
Inovação Tecnológica, que versa sobre o estabelecimento de parcerias entre
universidades públicas e empresas; a Lei nº 11.079/2004, com o Projeto
de Parceria Público-Privada (PPP), que abrange um vasto conjunto de
atividades governamentais; a Lei nº 11.096/2005 (BRASIL, 2005a), que
criou o Programa Universidade para Todos (Prouni), que oferece bolsas de
estudo em instituições privadas a alunos de baixa renda, concedendo
isenções de alguns tributos fiscais; o Projeto de Lei nº 7.200/2006, que
trata da Reforma da Educação Superior; o Decreto nº 5.800/2006, que
instituiu o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB); o Decreto de nº
6.096/2007, que criou o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (Reuni); a Portaria Interministerial
MEC/MP nº 22 em 2007, que instituiu o Banco de Professores
Equivalentes; o Decreto nº 7.234/2010, com a criação do Programa
Nacional de Assistência Estudantil (PNAES); e a Lei nº 12.711/2012, que
instituiu o sistema de cotas para o ingresso nas instituições federais de
ensino, já no governo Dilma Rousseff.
Para Ferreira e Oliveira (2016, p. 17), durante o governo Lula da
Silva (2003-2010) a educação superior teve papel de destaque na estratégia
de desenvolvimento econômico e social do Brasil. De um lado, “a
perspectiva da expansão para a inclusão social de segmentos menos
favorecidos da sociedade por meio de ações afirmativas, cotas, assistência e
financiamento estudantil e, de outro, a formação em nível superior
mediante diferentes modalidades de curso”.
54
O Sinaes, instituído pela Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004,
tem como objetivo conduzir o processo de avaliação da educação superior,
definindo, por exemplo, regras para autorizações de IES e de cursos. O
Sinaes conta com uma série de instrumentos complementares:
autoavaliação, avaliação externa, Enade, avaliação dos cursos de graduação
e instrumentos de informação (censo e cadastro). Para Barreyro e Rothen
(2006), o Sinaes é produto de experiências anteriores e traz a retórica do
Estado avaliador e regulador do sistema. Os autores citam exemplos:
a) a Avaliação Institucional, do PAIUB, b) a Avaliação dos Cursos de
Graduação, da Avaliação das Condições de Ensino e c) o Exame
Nacional do Desempenho dos Estudantes, do Provão. A cumulação
dos mecanismos de avaliação foi realizada sem considerar que cada um
deles é produto de valores e paradigmas divergentes: a visão
formativa/emancipatória do PAIUB, fundada na participação e na
autonomia institucional, a visão somativa da avaliação das condições
de ensino e o mecanismo de ranking do Provão. (BARREYRO;
ROTHEN, 2006, p. 971).
O Prouni, instituído pela Lei nº 11.096/2005 (BRASIL, 2005a),
concede bolsas de estudos integrais e parciais em instituições privadas de
ensino superior. Já o Decreto nº 5.800, de 08 de junho de 2006, instituiu
o Sistema de Universidade Aberta (UAB) e, dentre seus objetivos,
destacam-se: oferecer, prioritariamente, cursos de licenciatura e de
formação inicial e continuada de professores da educação básica; ampliar
o acesso à educação pública e reduzir as desigualdades de oferta de ensino
superior entre as diferentes regiões do país.
A oferta da educação a distância incentivou a flexibilização
curricular, diversificou e enxugou os currículos para uma nova demanda
55
de estudantes, instalando novos cursos com duração reduzida, mais baratos
e alinhados com as demandas imediatas e locais da clientela.
Ferreira e Oliveira (2016) observam que as regulações produzidas
para as políticas de educação superior, nesse período, têm articulação com
os processos de acumulação flexível do capital em âmbito mundial e
priorizam o cumprimento de metas e resultados.
Minto (2011, p. 248) assevera que isso possibilita às IES privadas
receberem recursos estatais, “já que se organizam para exercer uma função
social de ‘interesse público’. Prevalece a concepção de educação como
serviço, estando a cargo de cada indivíduo a escolha do melhor ‘produto’
no mercado.”
De acordo com Singer (2012), as normativas para a educação
superior têm se pautado por programas que beneficiaram os interesses
privados, como o Prouni e alterações substanciais no já existente FIES,
bem como, ações que auxiliaram as instituições mantidas pelo poder
público, como o Reuni. Essas medidas impulsionaram a participação do
ensino superior privado no país, que teve um incremento de alunos
matriculados muito maior do que o ensino público, como especificaremos
à frente.
E, o Reuni, criado para reestruturar as universidades federais, foi
um programa com data para término, iniciando-se em 2007, com o
decreto que o instituiu, e posterior adesão das universidades federais, e seu
aporte de verbas estava previsto para 2012.
O total de investimentos projetados para o período é da ordem de 2
bilhões de reais. O valor acrescido ao orçamento de custeio e pessoal
de cada universidade aumentará gradativamente, no período de cinco
56
anos, até atingir, ao final, o montante correspondente a 20% do
previsto para 2007. (BRASIL, 2007b, p. 3).
Assim sendo, o Reuni, direcionado à reestruturação das
universidades federais, acaba por gerar um impasse, pois aumenta a
quantidade de vagas por prazo indeterminado, porém gera um aporte de
verbas com prazo definido.
4 Expansão da educação superior
Historicamente, a partir da segunda metade do século XX, o
relativo equilíbrio, em termos quantitativos de instituições e matrículas,
que caracterizava a relação público e privado na educação superior no
Brasil, rompeu-se devido à expansão do sistema, beneficiando, sobretudo,
a iniciativa privada. “Entre 1960 e 1980, o número de matrículas no
ensino superior passou de 200 mil para 1,4 milhão, em um crescimento de
quase 500%; no setor privado, o crescimento foi de mais de 800%”
(SAMPAIO, 2011, p. 29).
O gráfico 1 ilustra a evolução das instituições de ensino superior
no período de 1980 a 2017. Na análise, utilizamos todas as instituições
particulares de ensino superior, sendo elas: universidades, faculdades e
centros universitários, haja vista que, em maior proporção do que já vem
ocorrendo no setor público, a expansão do ensino superior privado se dá
pela diversificação e diferenciação das instituições de ensino. No caso das
instituições públicas, os dados apresentam também, as instituições
estaduais e municipais.
57
A expansão das IES privadas foi mais significativa a partir da
normatização dos Centros Universitários como instituição de ensino
superior pelo governo federal em 1997. Assim, em 2000, havia 1.180
instituições de ensino superior, das quais apenas 176 eram públicas e 1.004
privadas. O decréscimo verificado, no gráfico, no número de instituições
públicas se deve à drástica redução das instituições municipais de educação
superior. Em 1980, 91 instituições eram municipais, e, em 2000, restaram
apenas 54. Em 2010, havia 2.378 IES, sendo 278 públicas e 2.100
privadas. Em 2017, das 2.448 instituições, 296 eram públicas e 2.152,
privadas.
O gráfico 2 apresenta os dados relativos às matrículas nas IES.
58
No período de 1980 a 2017, o número de matrículas nos cursos
presenciais cresceu 282% nas IES públicas e 425% nas IES particulares.
No entender de Chaves (2015), o predomínio do setor privado no ensino
superior brasileiro foi acentuado pelas medidas adotadas pelo governo
federal.
Colaboram para o aumento de matrículas nas instituições privadas
de ensino superior os programas anteriormente mencionados, como o
FIES, com a função de financiar a graduação para estudantes que não têm
condições de pagar pelo ensino superior nas instituições privadas, e o
Prouni, que além de ter a função de ofertar mais vagas aos alunos nas
instituições privadas, é também um agente que contribui para o aumento
das matrículas nas IES privadas, seja no incentivo fiscal ou no
financiamento a longo prazo.
59
Isenções tributárias, isenção do pagamento do salário-educação, bolsas
de estudo para alunos carentes via Fundo de Financiamento ao
Estudante de Ensino Superior (FIES), empréstimos financeiros a juros
subsidiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social-BNDES, o Programa Universidade para Todos PROUNI,
entre outras formas de estímulo ao setor privado. (CHAVES, 2015, p.
432).
Apesar de se pautar em um discurso ideológico de igualdade de
oportunidades de acesso ao ensino superior, o Prouni favorece as
instituições particulares, pois estabelece a isenção de impostos para aquelas
que aderirem ao Programa: “o Prouni constitui-se em mais uma
modalidade de parceria público-privada que objetiva resolver a crise de
inadimplência vivenciada pelo setor privado.” (LIMA, 2007, p. 173).
A partir dos dados apresentados, é possível asseverar que, apesar de
a existência do programa Reuni ter contribuído para uma ampliação das
matrículas nas universidades federais, como analisamos mais
detalhadamente no capítulo 3, o aumento não foi suficiente para a
contraposição do crescimento vivenciado pelo setor privado. Ocorreu,
apesar de o fôlego ao setor público propiciado pelo Reuni, uma expansão
da educação superior fortemente marcada pelo viés privado, pois, como já
observamos, os incentivos governamentais, sejam por meio de isenções
fiscais, FIES ou Prouni, foram primordiais para o crescimento do setor
privado.
61
Capítulo 2
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais
Apresentamos alguns dados da expansão das universidades federais
alcançada através do Reuni, analisando a evolução no número de vagas,
ingressantes, matriculados, servidores administrativos e docentes. Na
sequência, analisamos os cursos de Bacharelado Interdisciplinar (BI),
implementados em algumas universidades federais a partir da
reestruturação curricular proposta no Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Os cursos
mencionados são considerados uma nova modalidade de graduação,
composta por três ciclos. De acordo com o decreto que regulamentou o
Reuni, as alterações curriculares poderiam ser realizadas por meio da
revisão da estrutura acadêmica, com reorganização dos cursos de graduação
e atualização de metodologias de ensino-aprendizagem, bem como da
diversificação das modalidades de graduação. Algumas instituições
optaram pela revisão da estrutura curricular, aumentando o número de
disciplinas optativas nos currículos. Outras realizaram as alterações no
processo dos cursos de graduação, inserindo o Bacharelado Interdisciplinar
em Áreas do Conhecimento como forma de ingresso na instituição, ou
mesmo, como curso isolado.
62
O primeiro ciclo é estruturado em duas etapas: Formação Geral e
Formação Específica. Ao concluir o primeiro ciclo, o estudante recebe um
diploma de graduação e pode ingressar no mercado de trabalho ou optar
por realizar o segundo ciclo. Pode, ainda, ingressar no mestrado,
denominado terceiro ciclo. O segundo ciclo é um curso de caráter
profissionalizante, ou específico, que confere habilitação específica para as
áreas do conhecimento. É possível o seu ingresso na pós-graduação ou no
mercado de trabalho, sem a necessidade de cursar o segundo ciclo.
Descrevemos a estrutura do BI por meio da análise de documentos
oficiais: Projeto Pedagógico de Curso (PPC), informações disponíveis nos
sites das universidades e legislação vigente.
1 A proposta do Reuni
Em documento elaborado em 2006 pela UFBA, intitulado Plano
de expansão e reestruturação da arquitetura curricular na Universidade
Federal da Bahia (2007a), já constavam as metas que se concretizariam no
Reuni, dentre elas as reestruturações acadêmica e curricular do ensino
superior, com ênfase em termos como mobilidade, flexibilidade, eficiência
e qualidade.
De acordo com Almeida Filho (2008), a reforma pretendida com
a Universidade Nova o seguiria o modelo das universidades norte-
americanas, nem tampouco o modelo unificado europeu (Declaração de
Bolonha). Ela pretendia construir um modelo de educação agregando o
que fosse pertinente das duas propostas para o ensino brasileiro, inserindo
novos cursos de graduação denominados Bacharelado Interdisciplinar (BI)
63
que teriam por características a interdisciplinaridade e a flexibilidade, com
vistas a facilitar a mobilidade intra e inter-institucional.
O Reuni propunha, em suas diretrizes, viabilizar um pacto entre
governo, instituições de ensino e sociedade, visando à elevação dos níveis
de acesso e permanência, e do padrão de qualidade da educação superior
no Brasil. A elevação da taxa de conclusão resultaria de uma administração
eficiente das vagas ociosas, facilitada pela flexibilidade curricular e um
favorecimento da mobilidade estudantil entre cursos e instituições
diferentes, com aproveitamento de créditos.
Seguindo as orientações do Reuni, as universidades federais
elaboraram, em conjunto com o Ministério da Educação, acordos de
metas, nos quais se comprometiam a atender aos objetivos do Programa
com o progressivo aumento de vagas de ingresso, além de reduzirem as
taxas de evasão e ampliarem a ocupação de vagas.
A liberação das verbas para as instituições públicas estaria vinculada
ao cumprimento do acordo assinado frente ao MEC, induzindo
fortemente as universidades a participarem do Reuni e a elaborarem seus
respectivos planos de metas. O acordo entre as partes vinculava o repasse
de recursos orçamentários ao cumprimento das metas
fixadas pela
instituição, e o condicionava à capacidade orçamentária e operacional do
Ministério da Educação.
Chaves e Mendes (2009, p. 9) apontam que essa lógica visava à
transformação das universidades “na lógica empresarial/gerencial da
administração por resultados, vinculando o repasse de recursos
orçamentários, tornando-o dependente do cumprimento de metas por
etapas, dentro de prazos estabelecidos, por meio de indicadores
quantitativos.”
64
Assim, o acordo de metas previsto no decreto do Reuni passa a ser
uma forma de viabilizar contratos de gestão com as universidades, pois
vincula o cumprimento das metas, pré-estabelecidas no acordo, à liberação
dos recursos, constituindo-se no que Chauí (1999, p. 7) nomeou como
“universidade operacional”, voltada para cumprir metas de desempenho e
“estruturada por estratégias e programas de eficácia organizacional”.
Para adesão ao Reuni, havia um conjunto de medidas a serem
adotadas pelas universidades, com vistas a se adequarem aos objetivos do
Programa. Essas normatizações implicavam alterações de gestão, nas quais
critérios de racionalidade, de eficiência e de flexibilidade eram primados.
O documento Reuni Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais: diretrizes gerais (BRASIL, 2007b) critica a organização curricular
dessas instituições, acusando-as de pouco flexíveis, com forte viés
disciplinar, profissional e concentrado, sem abertura para outras áreas do
conhecimento.
Araújo e Pinheiro (2010) abordam o acordo de metas do Reuni
como uma forma de regular as relações entre as universidades e o MEC,
orientado para a otimização dos recursos e resultados. Constituiu-se, ainda,
segundo as autoras, em uma política de reconfiguração da universidade
pública, com reformulação curricular e aumento do trabalho do professor
em carga horária e em número de alunos em sala de aula.
Para Chaves e Mendes (2009), trata-se de um modelo de gestão
inspirado na atividade empresarial, cuja intenção é a transferência da
administração para uma “estrutura tecno-gestionária” (CHAVES;
MENDES, 2009, p. 7), na qual o Estado passa a ser visto como parceiro
que contratualiza com as universidades, estabelecendo contratos de gestão,
por meio de acordos e de metas.
65
De acordo com Frigotto (2011), a universidade pública acaba por
tornar-se instituição social prestadora de serviços ligada ao mercado. Ao
relegar a sua referência à esfera pública, e se direcionar ao mercado, “a
universidade perde sua autonomia intelectual, institucional e financeira.
Por isso, a sua produção passa a ser medida ou avaliada em função dos
critérios produtivistas do mercado.” (FRIGOTTO, 2011, p. 250).
2 Dados da Expansão
Nesta fase do trabalho, sistematizamos alguns dados da educação
superior, com vistas a analisar os processos de expansão ocorridos a partir
de 2003, sobretudo o período de vigência do Reuni (2007-2012)
.
A expansão da rede federal de educação superior teve início em
2003 com a interiorização dos campi das universidades federais. “Esta fase,
somada ao segundo momento, por meio do Reuni, trouxe um expressivo
crescimento não somente das universidades federais, mas também de campi
no interior do país.” (BRASIL, 2012b, p. 11).
Para Ferreira, Oliveira e Santos (2016), o primeiro período
compreendido entre 2003 e 2007 instalou novas universidades e campi em
regiões não metropolitanas, o segundo período foi a implementação do
Reuni (2008-2012); e o terceiro período (2012-2014) visou à
continuidade da expansão de novas universidades e de novos campi e a
implementação de políticas específicas de desenvolvimento regional. Para
os autores, a expansão das universidades, nesse período, visou à ampliação
do acesso à educação, mas também ao desenvolvimento econômico das
regiões atendidas, pautada no discurso político e ideológico da educação
como promotora do desenvolvimento econômico. “A expansão mediante
66
interiorização dos campi tornou-se necessária nesse projeto para permitir a
inclusão de grupos historicamente desfavorecidos, para a formação de mão
de obra necessária ao crescimento e desenvolvimento regional”
(FERREIRA; OLIVEIRA, 2016, p. 47).
Na sequência, trazemos alguns dados da expansão das
universidades federais no período mencionado. Primeiramente,
apresentamos, no gráfico 3, o quantitativo de universidades federais
existentes em 2003 e o número delas em 2017. Também apontamos o
quantitativo existente em 2012, ano previsto para a conclusão do Reuni.
De acordo com o documento Análise sobre a Expansão das
Universidades Federais 2003 a 2012 (Brasil, 2012b), houve um
significativo aumento de municípios atendidos por universidades públicas
mantidas pelo governo federal. De 114, em 2003, passou-se, em 2011, a
237 municípios atendidos pelas citadas universidades. Além do processo
de expansão com a criação de novos campi, também se verificou a criação
67
de novas universidades federais. Desde o início da expansão, foram criadas
19 novas universidades.
No gráfico 4, trazemos os dados referentes às vagas oferecidas pelas
universidades federais a partir de 2007.
Na figura acima, é perceptível que, durante o período de concepção
e implementação do Reuni (2007-2012), ocorreu um crescimento de
aproximadamente 72% na oferta de vagas nos cursos de graduação
presencial nas universidades federais, um aumento de aproximadamente
100 mil vagas. Já, após a vigência do Programa, o crescimento das vagas
perdurou, de um lado porque as vagas criadas durante aquele período
foram mantidas e, de outro lado, porque as universidades não conseguiram
implementar todas as vagas previstas em pactuação com o MEC até o ano
68
de 2012. Assim, o crescimento de vagas foi estendido, em alguns casos, até
2015
6
.
A partir de 2014, os relatórios do Censo Inep, passaram a exibir as
vagas disponibilizadas nos editais de seleção para vagas remanescentes, fato
que incrementou em mais de 90 mil as vagas ofertadas. Esse edital é
lançado pelas universidades e tem regras específicas, mas, em geral, são
ofertadas as vagas não preenchidas nos processos de seleção, incluindo o
Sisu.
O gráfico 5 apresenta o número total de ingressantes nos processos
seletivos das universidades federais.
6
O Reuni apresentava uma previsão orçamentária de 2008 a 2012. Entretanto, os repasses do MEC
às instituições se realizaram até 2017 e, em alguns casos, até 2018. É importante destacar que os
maiores valores foram verificados até 2015, nos demais anos, os valores diminuíram
consideravelmente. A prorrogação ocorreu devido a dois fatores, atrasos nas conclusões das obras,
pois o repasse era realizado de acordo com cronograma de execução, bem como, pelos processos de
repactuação que ocorreram em diversas universidades com vistas à readequação do orçamento
previsto. Assim, a implementação do Reuni teve momentos distintos, a depender de cada
instituição.
69
Podemos visualizar que o período compreendido entre 2007 e
2012 correspondeu ao maior acréscimo de ingressantes nas universidades
federais, acompanhando o maior incremento de vagas disponibilizadas. No
período, em comento, o aumento de vagas foi de aproximadamente 100
mil vagas e o número de ingressantes aumentou em 102 mil.
O gráfico 6 apresenta o número de alunos matriculados em
universidades federais entre os anos de 2007 e 2016.
De 2003 a 2017, o número de matriculados aumentou em mais de
500 mil nas universidades federais. No período compreendido entre 2003
e 2007, o aumento foi de 50.817 matrículas. O crescimento exponencial
da expansão das matrículas nos cursos de graduação presencial de
universidades federais, contudo, ocorreu a partir de 2007, no período de
concepção e implementação do Reuni. No período que correspondeu à
vigência do Reuni, 2007 a 2012, o aumento de matrículas foi de 53%.
70
Pelo gráfico, podemos acompanhar que, de 2007 até 2016, o aumento de
alunos matriculados nas universidades federais foi de 76%.
Com relação à localização geográfica das matrículas, trazemos, no
gráfico 7, a distribuição por região da concentração de matrículas das
universidades federais.
Percebe-se que houve um aumento significativo do quantitativo de
alunos matriculados no Sudeste e no Nordeste e, de certa forma, também,
no Sul e no Norte. No Centro-Oeste, como apresentado no gráfico 3, o
número de instituições criadas foi menor, ocasionando, também, um
número menor de matrículas nas universidades federais nessa região.
O gráfico 8 apresenta o número total de concluintes de cursos de
graduação presenciais nas universidades federais, entre 2003 e 2017.
71
Considerando o gráfico 8, podemos visualizar que o número de
concluintes no período de 2003 a 2017 aumentou progressivamente, salvo
algumas exceções - 2006, 2008 e 2012 - em que o número de concluintes
foi menor do que o ano anterior. Mesmo assim, o número de concluintes
é muito abaixo da quantidade de alunos matriculados apresentada pelo
gráfico 6.
O gráfico 9 apresenta o total de docentes em exercício nas
universidades federais.
72
Podemos visualizar que, de 2003 a 2017, o número de docentes
nas universidades federais aumentou aproximadamente 104%, passando
de 44.542, em 2003, para 91.070, em 2017. Durante os anos de 2007 a
2012, esse aumento foi de 45%, e de 2007 a 2016, foi de 69%. É visível,
no gráfico, a ampliação de docentes constatada a partir de 2009, e nos anos
subsequentes.
O gráfico 10 apresenta a relação de servidores administrativos nas
universidades federais, no período de 2003 a 2017.
73
A contratação de servidores administrativos apresentou um
aumento de 91% entre 2003 e 2017. Pelos dados do gráfico 10, pode-se
verificar que o aumento foi mais visível a partir de 2009, na vigência do
Reuni. Isso se deu pelo pactuado nos planos de metas das universidades,
que previam a ampliação de servidores, assim como pela publicação do
Decreto nº 7.232, de 19 de julho de 2010, que estabelecia o quadro de
referência do servidor técnico-administrativo, facilitando a contratação de
servidores, pois permitia às universidades a reposição automática de vagas
originárias de vacâncias (aposentadorias, óbitos, exonerações, entre
outros).
74
3 Organização curricular dos novos cursos de graduação
implementados a partir do Reuni - Bacharelado Interdisciplinar
As inovações nas estruturas acadêmica e curricular apresentadas a
partir do Reuni originaram os cursos de Bacharelado Interdisciplinar. O
Bacharelado Interdisciplinar é definido como um programa de formação,
em nível de graduação, de natureza geral, o qual concede diploma de
conclusão de curso, organizado por grandes áreas do conhecimento:
Ciências Exatas e da Terra, Ciências Biológicas, Engenharia/Tecnologia,
Ciências da Saúde, Ciências Agrárias, Ciências Sociais, Ciências Humanas,
Linguística, Letras e Artes.
Os cursos de Bacharelado Interdisciplinar são experiências
acadêmicas recentes. A fundamentação legal para a sua criação é o artigo
53, incisos I e II, da Lei nº 9.394/96 (LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional), cujo teor assegura às instituições universitárias a
autonomia para a criação de novos cursos, assim como a liberdade de
elaboração de seus currículos.
Enfatizando a necessidade de modelos de formação profissional
mais abrangentes, flexíveis e integradores, o documento Reuni: diretrizes
gerais (BRASIL, 2007b) propõe a associação das reestruturações acadêmica
e curricular, maior mobilidade estudantil e trajetórias de formação
flexíveis, vislumbrando, assim, a redução das taxas de evasão e a utilização
adequada dos recursos humanos e materiais.
[...] a precocidade na escolha dos cursos, altos índices de evasão de
alunos, descompasso entre a rigidez da formação profissional e as
amplas e diversificadas competências demandadas pelo mundo
75
trabalho e, sobretudo, os novos desafios da sociedade do
conhecimento. (BRASIL, 2007b, p. 8).
Conforme apontado no documento, as questões elencadas acima
engessam a formação dos alunos de graduação, e são problemas a serem
superados com a implementação de novos cursos, com a possibilidade de
uma formação superior mais flexível.
Já os Referenciais orientadores para os Bacharelados Interdisciplinares
e similares das Universidades Federais, documento lançado pelo MEC em
2010, e organizado em parceria com algumas universidades federais,
ressalta que a proposta de implementação do BI tem inspiração na
organização da formação superior proposta por Anísio Teixeira para a
concepção da Universidade de Brasília, no início da década de 1960, no
Processo de Bolonha e nos colleges estadunidenses, mas que incorpora um
desenho diferenciado, necessário para responder às nossas próprias e atuais
demandas de formação acadêmica.
A efetivação dos cursos de BI tem nos Referenciais Orientadores seu
documento base. O documento contextualiza e fundamenta o BI,
apresentando sua estrutura, orientando sua implementação e seu
acompanhamento.
Os programas de formação em nível de graduação de natureza geral,
que conduzem a diploma, organizados por grandes áreas do
conhecimento. Grandes áreas são entendidas como campos de saberes,
práticas, tecnologias e conhecimentos, definidos de modo amplo e
geral, em termos de ‘(...) afinidade de seus objetos, métodos cognitivos
e recursos instrumentais’. (BRASIL, 2010a, p. 4).
76
O Bacharelado Interdisciplinar está definido na página eletrônica
da Universidade Federal da Bahia (UFBA) como sendo outra modalidade
de curso de graduação, caracterizada pelo mínimo de 2.400 horas, ou seis
semestres letivos, destinada às formações gerais humanística, científica e
artística, com currículo flexível e articulado, possibilitando, também, o
aprofundamento num dado campo do conhecimento.
A implementação dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar foi
estratégica para o Reuni, mas não necessariamente presente em todas as
instituições, tais cursos visavam a atender a quarta diretriz do Decreto nº
6.096/2007, a qual preconizava a diversificação das modalidades de
graduação, preferencialmente não voltadas à profissionalização precoce e
especializada.
No detalhamento da proposta de adesão ao Reuni as universidades
federais especificaram como seria desenvolvido esse tema. Nas instituições
existentes à época, os cursos de BI foram implementados,
concomitantemente aos cursos já ofertados nas universidades. Tratamos,
mais detalhadamente, das universidades federais e dos cursos de BI
implementados, no quadro 1.
Por hora, apresentamos algumas das alternativas que as instituições
encontraram para viabilizar o cumprimento do inciso citado nos planos de
adesão, sem inserir os cursos de Bacharelado Interdisciplinar. Assim, a
Universidade Federal de São Carlos (2007) se propôs a intensificar os
processos de flexibilização curricular, com vistas a criar espaços
diferenciados de aprendizagem. Já a Universidade Federal de Minas Gerais
(2007), propôs uma adequação do currículo viabilizado pelos
componentes de atividades complementares, na qual “o currículo deve
contemplar necessariamente um núcleo de formação específica, uma
formação complementar e um conjunto de atividades livres.”
77
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2007, p. 24). Na
Universidade Federal de Campina Grande (2007), o foco da proposta de
adesão foi a ampliação de cursos tecnológicos de nível superior. A
Universidade Federal de Ouro Preto (2007) se propõe a reformular os
cursos de graduação com vistas à utilização de novas metodologias e
estímulo à flexibilização curricular. A Universidade Tecnológica Federal
do Paraná (2007a) se propôs a ampliar a oferta de cursos de licenciatura e
implantar o sistema de reopção de curso, promovendo uma reforma
curricular que inclua e padronize a organização curricular, além de ofertar
mais disciplinas optativas nos cursos de graduação.
Quanto às instituições que adotaram os cursos de BI, no que
concerne à diversificação das modalidades de graduação as propostas de
adesão ao Reuni, indicam as ações mencionadas a seguir. A Universidade
Federal de Juiz de Fora (2007) se propõe a combinar o formato tradicional
dos cursos de graduação profissionais com a implementação de três cursos
de Bacharelado Interdisciplinar: Ciências, Artes e Humanidades. Na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2013) o foco é a
flexibilidade da formação, através da implementação do curso de BI em
Ciências e Tecnologia.
A Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
(2007) se propôs a criar novos cursos de graduação contemplando as áreas
de humanas e tecnológicas, incluindo a modalidade de cursos de tecnologia
e a criação de programas experimentais e interdisciplinares de graduação
em grandes áreas do conhecimento: Meio Ambiente, Saúde, Humanidades
e Artes; com currículos flexíveis e “estruturas curriculares constituídas de
um eixo básico comum a todos os cursos e um eixo específico, direcionado
às diferentes modalidades, com vistas à superação da profissionalização
78
precoce e especializada.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES
DO JEQUITINHONHA E MUCURI, 2007, p. 11).
Dessa forma, vamos destacar, a seguir, as universidades federais que
implementaram os cursos de Bacharelado Interdisciplinar. A opção por
analisar a questão do Bacharelado Interdisciplinar está alicerçada no
entendimento de que essas universidades aderiram a todos os objetivos do
Reuni, intencionando alcançar, também, a reestruturação curricular com
a diversificação das modalidades de graduação.
Os cursos de BI são recentes, a maioria deles foi criada a partir de
2009. Por meio do estudo desenvolvido, vamos trazer o quantitativo e as
diferentes nomenclaturas de BI vigentes, pois a nova modalidade de
graduação altera a estrutura acadêmica e traz uma nova dinâmica aos
currículos e às universidades.
Investigar os cursos de Bacharelado Interdisciplinar no contexto
das universidades federais é importante por que discute cursos que
promovem uma reestruturação na forma de organização curricular, e, em
muitos casos, também provocam a reestruturação administrativa da
instituição. Em vista disso, procuramos mostrar as alterações adotadas
pelas universidades para a implementação de tais cursos, por meio da
análise dos documentos norteadores dos cursos de Bacharelado
Interdisciplinar e dos projetos pedagógicos dos cursos.
Os dados iniciais foram obtidos no sistema eletrônico de
acompanhamento dos processos que regulam a educação superior no Brasil
(e-MEC), plataforma de livre acesso para consulta, com posterior
verificação nos sítios das universidades que ofertam tais cursos. Esses dados
nos possibilitaram identificar os cursos de Bacharelado Interdisciplinar
vigentes, bem como as universidades federais que os ofertam. Adotamos,
79
como critério para o levantamento dos dados, os termos: Interdisciplinar,
com restrições a cursos presenciais, gratuitos, bacharelados, em atividade e
ofertados em universidades federais. A partir da identificação de quais
universidades e quais cursos são ofertados, passamos a analisar os
documentos produzidos no âmbito de cada universidade para a
implementação dos cursos de BI, levando em conta a legislação vigente. A
investigação objetivou compreender a sistemática dos cursos de
Bacharelado Interdisciplinar, considerando, para isso, dados como:
duração do curso, carga horária, processos de seleção, vagas e cursos
disponíveis para o segundo ciclo.
Conforme descrito, o quadro 1 apresenta os cursos de Bacharelado
Interdisciplinar em atividade e as universidades federais que o ofertam.
Curs os
Universidades
Bacharelado Interdisciplinar em Artes UFSB, UFBA
Bacharelado Interdisciplinar em Artes e Design UFJF
Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia
UFBA, UFOB, UFMA, UFVJM, UNIFAL,
UFOPA, UFERSA, UNIPAMPA, UFRGS,
UNIFESP, UFSC, UFABC, UFRN
Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Exatas
UFJF
Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Exatas e Tecnológicas UFRB
Bacharelado Interdisciplinar em Ciências UFSB
Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades UFBA, UFSB, UFOB
Bacharelado em Humanidades UNILAB e UFVJM
Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas UFJF
Bacharelado Interdisciplinar em Ciências e Humanidades UFABC
Bacharelado Interdisciplinar em Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas UFRB
Bacharelado Interdisciplinar em Sde UFBA, UFSB, UFOPA, UFRB
Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Agrárias UFVJM e UFOPA
Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Ambientais UFRB
Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia UNIFAL
Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia das Águas UFOPA
Bacharelado Interdisciplinar em Ciências da Terra UFOPA
Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia do Mar UNIFESP
Bacharelado Interdisciplinar em Energia e Sustentabilidade UFRB
Bacharelado Interdisciplinar em Biossistemas UFSJ
Bacharelado Interdisciplinar em Tecnologia da Informação UFRN, UFERSA
Quadro 1 - Cursos de Bacharelado Interdisciplinar nas Universidades Federais
Elaborado pela pesquisadora com dados Plataforma E-Mec e de informações nos sites das Universidades Federais, 2019
80
A partir do quadro 1, pode-se verificar a existência de 21 diferentes
nomenclaturas de cursos de BI, e 18 universidades federais com a oferta
deles. O curso mais recorrente é o de Ciência e Tecnologia, ofertado por
onze universidades, seguido do curso de Humanidades, o qual, por sua vez,
detém o maior número de terminologias: Humanidades, Interdisciplinar
em Humanidades, Ciências Humanas, Ciências e Humanidades. Podemos
verificar, também, cursos de BI nas grandes áreas de Artes, de Saúde e de
Ciências Agrárias, além de uma diversidade de outras formações com
terminologias mais específicas.
Os cursos de Bacharelado Interdisciplinar pesquisados,
geralmente, possuem duração de três anos. Ao fim do primeiro ciclo, o
aluno recebe o diploma de Bacharel na nomenclatura do curso
escolhido. E, caso deseje, o estudante poderá optar por uma formação
específica, a qual corresponderá ao segundo ciclo, em cursos pré-
determinados de acordo com a estrutura de cada universidade, com
duração de dois a três anos.
As formas de seleção para o ingresso no segundo ciclo variam de
acordo com os parâmetros adotados pela instituição, podendo ser
considerado o índice de rendimento acadêmico no primeiro ciclo, ou o
índice de afinidade, que leva em conta a sintonia entre o percurso realizado
pelo aluno com o curso pretendido.
As definições de atuação para o profissional graduado nos cursos
de Bacharelado Interdisciplinar são generalistas, e as atividades são
variadas, mas, geralmente, permeiam as atividades variadas de formação
não específica; os concursos públicos para cargos que requerem apenas
diploma de curso superior, sem definição de área; o setor de serviços, em
cargos de recrutamento de pessoal e de gerência não regulamentados pelos
conselhos profissionais, com obrigatoriedade de diploma específico; as
81
atividades na sociedade civil, como mediador social ou agente de atuação
em sociedades sem fins lucrativos ou ONGs; e cargos de consultoria.
4 Cursos de Bacharelado Interdisciplinar nas universidades federais
Com o intuito de verificar a estrutura e o funcionamento do BI,
faremos uma análise dos cursos em funcionamento. Iniciaremos pelos
cursos de Ciência e Tecnologia, por serem as áreas mais recorrentes, sendo
a modalidade de curso ofertada em maior número de instituições. Para
proceder à análise, lançamos mão dos Projetos Pedagógicos dos Cursos e
dos editais de seleção de alunos para o segundo ciclo.
84
Agrupamos também, nessa tabela, os cursos de BI em Ciências
Exatas e Tecnológicas, e o BI em Ciências, por terem estruturas
semelhantes.
Pelo quadro 2, é possível verificar que, na maioria das
universidades, o curso de Ciência e Tecnologia possui duração prevista de
seis semestres, com 2400 h. As exceções são a UFVJM com 2800 h, a
UFOPA com 3120 h, a UFSB com 2535 h e a UFRB com 2395 h. A
UFOPA, por seu lado, possui algumas particularidades na organização
curricular de seus Bacharelados Interdisciplinares, as quais serão analisadas
à frente.
A carga horária dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar
elencados na tabela está dividida entre disciplinas obrigatórias, eletivas ou
optativas, e complementares. Nesse quesito, percebe-se que a UFBA, a
UFABC, a UNIFESP, a UFRGS e a UNIPAMPA, são as universidades
detentoras de maior carga horária em disciplinas optativas. Quanto maior
a carga horária em disciplinas optativas, maior será a responsabilidade do
aluno, pois ele será o responsável por escolher as disciplinas que irão
compor o seu itinerário formativo.
Após a conclusão dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar em
Ciência e Tecnologia, Ciências Exatas e Tecnológicas, ou em Ciências, o
aluno pode ingressar no mercado de trabalho, ou, ainda, optar por realizar
um curso de caráter profissionalizante ou específico no segundo ciclo. A
transição para o segundo ciclo ocorre por edital específico
. Nos casos em
que o número de interessados em um determinado curso excede o número
de vagas ofertadas, a seleção dos acadêmicos é realizada por meio do índice
de rendimento acadêmico. Ao optar por um curso, mas não atingir a
85
pontuação necessária para alcançar as vagas ofertadas, o estudante é
orientado a uma segunda ou terceira opção, conforme a existência de vagas.
Os cursos disponíveis para o segundo ciclo variam de acordo com
o perfil da universidade. O aluno tem, ainda, a opção de se deslocar para
outra universidade federal para realizar o segundo ciclo, caso o Projeto
Pedagógico do Curso pretendido assim o permita. Geralmente, a opção
está disponível em instituições que ofertam o BI.
Na UFBA, a etapa de formação geral do curso de Ciência e
Tecnologia tem duração mínima de três semestres, e oferta 300 vagas
anuais. Ela é destinada a garantir a aquisição de competências e habilidades
que permitam a compreensão pertinente e crítica das realidades natural,
social e cultural.
A etapa da formação específica oferece aos alunos duas opções, a
saber: o ingresso em uma área de concentração, com estrutura curricular
específica e diferenciada, ou a permanência em uma estrutura curricular
flexível e aberta, denominada de grande área de ciência e tecnologia. A
opção discente deverá ser realizada no momento da matrícula do quarto
semestre, e a seleção para o segundo ciclo é realizada a partir de edital
específico e por meio do coeficiente de rendimento do aluno.
Em relação à UFBA, vale ressaltar que, além dos cursos disponíveis
no quadro 2, para ingresso no segundo ciclo, é possível ao aluno optar,
ainda, pelos seguintes cursos: Biotecnologia, Ciências Biológicas,
Gastronomia, Licenciatura em Ciências Naturais, Saúde Coletiva,
Ciências Contábeis, Comunicação Jornalismo, Comunicação -
Produção em Comunicação e Cultura, Educação Física, Estudos de
Gênero e Diversidade, Filosofia, Geografia, Museologia, Pedagogia,
Psicologia, Serviço Social, Artes Plásticas, Design, Licenciatura em
86
Desenho e Plástica, Superior de Decoração, Instrumento, Dança. Tais
carreiras são consideradas fora da grande área, mas disponíveis no edital do
processo seletivo para ingresso de estudantes graduados nos cursos de
Bacharelado Interdisciplinar da UFBA.
Na UFABC e na UFSB todos os ingressantes passam, inicialmente,
por um dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar ofertados. Somente
após concluir um dos cursos de BI, podem participar do processo seletivo
para realizar os demais cursos ofertados pelas universidades. Esse sistema
também é adotado por alguns cursos da UFERSA e da UFVJM. A forma
de ingresso, tendo o curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia como
um requisito de acesso aos demais cursos de graduação, também é aplicada
aos cursos ofertados pelo campus de Poços de Caldas (MG) da UNIFAL, e
pelo campus de São José dos Campos (SP) da UNIFESP. Os demais campi
das instituições mencionadas, não ofertam cursos de Bacharelado
Interdisciplinar e adotam o ingresso pelos cursos específicos.
Assim, de acordo com o PPC (UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SÃO PAULO, 2013), o ingresso de discentes no Instituto de Ciência e
Tecnologia do campus de São José dos Campos (SP) é anual e ocorre por
meio do Sisu. Os discentes selecionados por esse processo são matriculados
no Curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia. Após a conclusão,
recebem um diploma de nível superior de Bacharel em Ciência e
Tecnologia e podem optar por continuar a formação profissional passando
por um processo de inscrição/seleção acadêmica, via edital, que ocorre
anualmente e são matriculados em um dos cursos de formação específica.
Na UFABC, por exemplo, os alunos são matriculados
automaticamente nas disciplinas a serem cursadas no primeiro período
letivo, “caracterizadas para auxiliar a transição do aluno do Ensino Médio
para os estudos no Ensino Superior”. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO
87
ABC, 2015c, p. 11). Já os alunos que ingressam no Bacharelado em
Ciência e Tecnologia da UFERSA, estudam disciplinas comuns durante
três anos. Após, podem ingressar em um dos cursos de engenharias
ofertados pela universidade.
Os componentes curriculares cursados pelo
aluno nas disciplinas optativas priorizam e direcionam na escolha do curso
específico.
Aqueles estudantes com melhor desempenho em disciplinas com maior
afinidade ao curso terão prioridade na escolha da área. As vagas
remanescentes serão disponibilizadas para uma seleção pública
disponível à reingresso em que não há qualquer distinção de campus
ou reserva de vagas. (UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO
SEMI-ÁRIDO, 2010, p. 104).
A UFVJM (2008), por sua vez, define em seu PPC a necessidade
de possibilitar ao estudante a construção de uma sólida base de
conhecimentos, e o desenvolvimento de competências cognitivas
necessárias ao enfrentamento dos desafios do mundo atual, à inserção
social e ao exercício da cidadania. Para a UFVJM, essas habilidades
“permitirão ao egresso uma flexibilidade suficiente para se adaptar às novas
demandas do mercado de trabalho logo após a formatura.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA
E MUCURI, 2008, p. 19).
Na UFOPA, a estrutura curricular de todos os cursos é composta,
no primeiro semestre, pela Formação Interdisciplinar I e, no segundo
semestre, pela Formação Interdisciplinar II. A Formação Interdisciplinar I
é conteúdo obrigatório e comum a todos os cursos realizados na UFOPA.
88
Possui uma carga de 400h e aborda questões contemporâneas globais a
partir do contexto amazônico.
A Formação Interdisciplinar II é constituída por componentes
curriculares obrigatórios, ofertados pelos institutos dos respectivos cursos.
No caso do BI em Ciência e Tecnologia, ofertada pelo Instituto de
Engenharia e Geociências, a etapa possui um total de 390 h. Assim, temos
na UFOPA 790 h de componentes curriculares obrigatórios, 400 h
comuns a todos os cursos e 390 h ofertadas pelos institutos da
universidade. Os componentes curriculares da formação específica do BI
em Ciência e Tecnologia totalizam, portanto, 2330 h. Vale ressaltar que a
UFPA também oferta a terminologia Bacharelado Interdisciplinar em
Ciência e Tecnologia com princípios e objetivos similares aos demais
cursos de BI. Entretanto, verificou-se que não se trata de um curso em dois
ciclos, pois o PPC não prevê a formação específica em segundo ciclo.
Em relação ao processo de seleção e às vagas disponíveis para os
cursos de segundo ciclo, podemos perceber, pelos números do quadro 2,
que, geralmente, são contempladas a mesma quantidade de vagas
disponíveis para o segundo ciclo. Mesmo em universidades em que o
número de vagas disponibilizadas para o segundo ciclo estão abaixo das
disponibilizadas para o primeiro, podemos observar, por meio dos editais
de abertura de vagas, e editais de homologação de inscritos, que
normalmente o número total de vagas contempla a todos os alunos
interessados em realizar o segundo ciclo, sendo que, em alguns casos, há
ociosidade. Percebe-se uma preocupação, na grande maioria de
universidades, em sanar as possíveis distorções na relação candidato/vaga
no processo de transição para o segundo ciclo.
Convém mais uma observação em relação à UFSC e à UFOPA. As
duas não disponibilizam editais de vagas exclusivos para egressos dos cursos
89
de Bacharelado Interdisciplinar. Nos dois casos, o aluno acessa os cursos
de formação específica por meio de editais para portadores de diploma
7
.
No caso do curso de Ciência e Tecnologia da UFOPA, as turmas
dos anos de 2011, de 2012 e de 2013, ingressaram no Bacharelado
Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia com a opção de finalizarem o
curso e optarem por uma segunda graduação, submetendo-se a um edital
de seleção interno. Já para as turmas dos anos de 2014 e de 2015, a
progressão aos cursos disponíveis para o segundo ciclo foi automática. Para
os ingressantes a partir de 2016, a forma de acesso ao segundo ciclo foi,
novamente, alterada, como relatado anteriormente, passou a ser realizada
por meio de editais para portador de diploma de ensino superior. Vale
ressaltar que a política da UFOPA em relação aos cursos de segundo ciclo
varia de acordo com o curso ofertado, como veremos nas tabelas
subsequentes.
O quadro a seguir traz as particularidades dos cursos de
Bacharelado Interdisciplinar na área de humanidades.
7
O preenchimento de vagas por Portadores de Diploma de Graduação é destinado a candidato que,
já tendo concluído um curso superior de graduação (bacharelado, licenciatura ou tecnólogo), queira
fazer um novo curso. Corresponde a um dos editais, lançados pelas universidades, destinado a
preencher vagas remanescentes nos cursos de graduação. Cada universidade rege de que forma e
quantas vezes ao ano o edital será lançado, geralmente uma ou duas vezes, ou até mesmo nenhuma.
O processo de seleção ocorre logo após serem encerradas as chamadas do SISU ou vestibular
interno, desde que esgotada a relação de candidatos aprovados, pois depende da existência de vagas
em aberto.
90
No quadro acima,-se que os cursos de Bacharelado
Interdisciplinar em Humanidades, geralmente, possuem 2400 h, com
exceção da UFJF, com 1760 h, e da UFVJM, com 2550 h. Das sete
Total Obri
Optativa
Limitada
Optativa
Comp
Ciências e
Humanidades
UFABC 9 Quad 400 400 2400 852 972 456 120 Não Edital Interno
Coeficiente de
Rendimento
Cncias Econômicas, Filosofia , P olíticas
Públicas, Planejamento Territorial, Relações
Internacionais, Licenciatura em Filosofia.
o
Bernardo
do
Campo/SP
Ciências
Humanas
UFJF 5 Sem 345 345 1760 300 300 900 260 Não Edital Interno
Coeficiente de
Rendimento
Ciências Sociais, Turismo, Ciência da Religião
e Filosofia
Juiz de
fora/MG
4 Sem 320 240 2400 1440¹ - 360 600 Sim Edital Interno
Coeficiente de
Rendimento
Bacharelado em Antropologia, Licenciatura
em História e Pedagogia.
São
Francisco
do
Conde/BA
4 Sem 320 320 2400 1440 _ 360 600 Sim Edital Interno
Coeficiente de
Rendimento
Bacharelado em Antropologia, Licenciatura
em História, Licenciatura em Sociologia e
Pedagogia.
Redenção/
CE
UFBA
6 Sem 400 424 2400 1020 _ 1020 360 Não Edital Interno
Coeficiente de
Rendimento
Administração, Arquivologia, Biblioteconomia
e Documentação, Ciências Contábeis,
Ciências Econômicas, Ciências Sociais (Lic. e
Bach.), Comunicação – Jornalismo,
Comunicação – Produção em Comunicação e
Cultura, Direito, Educação Física (Lic.),
Estudos de Gênero e Diversidade (Bach.),
Filosofia (Lic. e Bach.), Geografia (Lic. e
Bach.), História (Lic. e Bach.), Museologia,
Pedagogia, Psicologia, Secretariado Executivo,
Serviço Social.
Salvador/
BA
9 Quad 60 2400 840 1140 300 120 o Itabuna/BA
10 Quad 60 2400 840 1140 300 120 Não
Porto
Seguro/BA
11 Quad 60 2400 840 1140 300 120 Não
Teixeira de
Freitas/BA
UFOB
6 Sem 80 46 2400 1020 - 1020 360 Não Edital Interno
Coeficiente de
Rendimento
Licenciatura em Artes Visuais, Geografia e
História; Bacharelado em: Administração,
Direito, Geografia, História e Publicidade e
Propaganda.
Barreiras/
BA
Total Base
Área de
Concentra
ção
Interdisci
plinar
Comp
Humanidades
UFVJM 6 Sem 480 480 2550 750 750 750 300 Sim Edital Interna
Coeficiente de
Rendimento
Licenciaturas em Geografia, História, Letras
Português/Espanhol, Letras Português/Inglês e
Pedagogia.
Diamantina
/MG
Direito, Antropologia e História
Acesso ao II
ciclo
Seleção II
ciclo
Cursos disponíveis para o II ciclo
Interdisciplinar em Humanidades
Humanidades
UNILAB
UFSB
Coeficiente de
Rendimento
Edital Interno
Quadro 3 Cursos de Bacharelado Interdisciplinar na área de Humanidades, ofertados pelas Universidades Federais
Duração
Vagas
I ciclo
Instituição
Curso
TCC
Vagas
II ciclo
80
Elaborado pela pesquisadora com dados do PPC dos cursos, 2019
²UFRB Resolução do CONAC nº02/2011 que assegura a todos os concluintes dos BIs uma vaga nos cursos especificos.
¹Unilab 600h são para o TCC, incluídas na carga horária obrigatória e 240h são de atividades de extensão, incluídas na carga horária complementar.
Cidade
Carga horária
91
universidades que ofertam o Bacharelado em Humanidades, somente a
UFVJM e a UNILAB exigem Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
Não há obrigatoriedade de estágio. A não exigência do trabalho de
conclusão de curso é uma das particularidades dos cursos de Bacharelado
Interdisciplinar.
De acordo com o PPC de Ciências Ambientais da UFRB (2018),
o fato de não se exigir TCC no curso decorre da natureza de formação
propiciada pelos cursos de Bacharelado Interdisciplinar, considerada como
uma formação geral, não se tratando de formação específica voltada para
uma área em particular.
O Bacharelado em Ciências e Humanidades não é um curso com
atividades sequenciais ou seriadas. As disciplinas, comumente, não exigem
pré-requisitos, e o curso é organizado de forma a que o aluno construa seu
percurso formativo, escolhendo na matriz curricular as disciplinas de seu
interesse. Supostamente, estimula-se a autonomia intelectual, pois o aluno
é o responsável por escolher sua trajetória educacional.
O processo seletivo para acesso aos cursos de graduação da UFABC
é anual, sendo realizado por meio do Sistema de Seleção Unificado (SISU).
A inscrição deve ser efetuada em um dos dois cursos de Bacharelado
Interdisciplinar existentes, o Bacharelado em Ciência e Tecnologia, ou o
Bacharelado em Ciências e Humanidades. O ingresso nos cursos de
formação específica é realizado por seleção interna, por meio de edital de
chamada para inscrições nos cursos de formação específica. A Resolução
do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (ConsEPE) nº 31/2009,
assegura a cada concluinte dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar o
direito de ocupar uma vaga em um dos cursos de formação específica,
ofertados pela UFABC.
92
No quadro 3, é possível visualizar as vagas de acesso ao primeiro
ciclo dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades. A
oferta de vagas é muito superior às ofertadas nos cursos profissionais,
atingindo 320, 420, 400 e 400 vagas anuais na UNILAB, na UFVJM, na
UFBA e na UFABC, respectivamente. Isso acarreta um grande número de
alunos em sala de aula, fato que motivou uma reestruturação do PPC do
Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades na UFVJM. Após uma
reestruturação do PPC, a carga horária foi dividida por eixos, e os
estudantes têm orientação para cursar 33,33% da carga horária em cada
eixo. São eles: Eixo de Formação de Base e Complementar: 750 horas;
Eixo Interdisciplinar: 750 horas; Eixo das Áreas de Concentração: 750
horas; Complementar: 100 horas; e TCC: 200 horas. A reformulação da
PPC do curso foi motivada, também, pelo alto índice de evasão. Lê-se no
PPC:
Destacam-se dois fatores que podem estar contribuindo para esta
situação: a superlotação das salas de aula, com turmas que, sob vários
pontos de vista, não favorecem o bom desempenho pedagógico nem a
ação didática que se espera dos docentes comprometidos com a
proposta da interdisciplinaridade, e o nível precário de formação
pregressa dos alunos, que por sua vez, demanda ações pedagógicas
específicas e uma relação professor-aluno mais intensa.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO
JEQUITINHONHA E MUCURI, 2011, p. 19).
Após a reformulação, estabeleceu-se um limite de 60 alunos para
as turmas do Bacharelado em Humanidades. Além disso, foi previsto um
programa de tutoria, no qual os ingressantes passam por um período
introdutório. Nele, são apresentados ao projeto, aos possíveis percursos e
93
às condições de realização do curso para, posteriormente, serem
encaminhados às unidades curriculares.
Os cursos de Bacharelado Interdisciplinar, na UFBA, são
estruturados de forma similar em cinco eixos curriculares: Eixo das
Linguagens, Eixo Interdisciplinar, Eixo da Orientação Profissional, Eixo
de Formação Específica e Eixo Integrador. Os três primeiros semestres dos
cursos correspondem à Etapa da Formação Geral, e os três últimos
semestres são chamados de Etapa da Formação Específica.
A Etapa da Formação Geral é similar para todos os alunos de todos
os cursos de BI, enquanto a Etapa da Formação Específica oferece aos
alunos duas opções, o ingresso em uma Área de Concentração, com
estrutura curricular específica e diferenciada, recebendo ao final do
percurso o título de Bacharel em Humanidades com a respectiva área de
concentração; ou a permanência em uma estrutura curricular flexível e
aberta, denominada de grande área, que proporciona ao aluno uma
formação generalista no campo do respectivo BI, e o título de Bacharel em
Humanidades.
De acordo com os documentos analisados, o Bacharelado
Interdisciplinar em Humanidades promove uma formação generalista. Ao
concluir o primeiro ciclo, o aluno recebe o título de Bacharel em
Humanidades. Esse diploma não tem caráter profissional específico, e o
ingresso no segundo ciclo é opcional.
A seleção para os cursos profissionais ocorre em edital da própria
universidade. Como regra, o candidato optará por até três cursos,
indicando a ordem de sua preferência. Caso o número de postulantes ao
CPL (Curso de Progressão Linear) seja superior ao número de vagas, a
classificação será feita de acordo com o maior coeficiente de rendimentos,
94
ou considerando-se o aluno que cursou mais disciplinas na Área de
Concentração vinculada ao CPL pretendido e que tenha,
concomitantemente, obtido maior coeficiente de rendimento.
Da mesma forma que no curso em Ciência e Tecnologia, a UFBA
prevê no seu edital de acesso ao segundo ciclo cursos fora da grande área:
Arquitetura e Urbanismo, Ciências Biológicas, Gastronomia, Licenciatura
em Ciências Naturais, Saúde Coletiva, Artes Cênicas Direção Teatral,
Artes Cênicas Interpretação Teatral, Licenciatura em Teatro, Artes
Plásticas, Design, Licenciatura em Desenho e Plástica, Superior de
Decoração, Instrumento, Dança.
É importante frisar que, na UFSB, apesar da oferta dos cursos de
Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, em Humanidades
e em Saúde, em todos os campi, os cursos de segundo ciclo são ofertados
em sede específica. Os cursos de Exatas são ofertados em Itabuna, os cursos
de Humanidades e Artes são ofertados em Porto Seguro, e os cursos na
área da saúde estão centrados em Teixeira de Freitas.
O quadro a seguir detalha os cursos de Bacharelado Interdisciplinar
na área da Saúde:
Total Obri
Optativa
Limitada
Optativa Comp
UFBA 6 Sem 300 340 2400 544 748 748 360 Não Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
Bio tecnologia, Cncias Biogicas,
Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia,
Fonoaudiologia, Gastronomia, Licenciatura
em Ciências Naturais, Medicina, Medicina
Veterinária, Nutrição, Odontologia, Sde
Coletiva e Zootecnia.
Salvador/BA
UFSB
60 2400 Não
Itabuna/BA
UFSB
60 2400 Não
Porto
Seguro/BA
UFSB
60 2400 Não
Teixeira de
Freitas/BA
UFRB 6 Sem 260 203 2531 1343 - 1088 100 Não Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
Enfermagem, Psicologia, Nutrição e
Medicina.
Santo Antônio
de Jesus/BA
UFOPA 6 Sem 45 53 2490 1130 600 660 100 Não
Seleção Interna
Coeficiente
de
Rendimento
Farmácia e Saúde Coletiva
Santarém/PA
Vagas
II
ciclo
200
Acesso ao II
ciclo
Seleção II
ciclo
480
1350
210
Carga horária
Elaborado pela pesquisadora com dados do PPC dos cursos, 2019
Quadro 4 Cursos de Bacharelado Interdisciplinar na área de Saúde, ofertados pelas Universidades Federais
TCC
Vagas
I ciclo
Duração
Ins tituição
Curs o
Cidade
Cursos disponíveis para o II ciclo
Medicina, Psicologia, Saúde Coletiva.
Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
360
Bacharelado em Interdisciplinar em Saúde
9 Quad
95
Os cursos de Bacharelado Interdisciplinar na área da Saúde seguem
as mesmas prerrogativas dos demais bacharelados. São cursos abertos, com
escolha do percurso formativo pelo aluno.
Na UFBA, as opções para o segundo ciclo incluem cursos que não
são considerados da grande Área, como por exemplo, Artes Plásticas,
Design, Licenciatura em Desenho e Plástica, Superior de Decoração,
Dança, Comunicação Jornalismo, Comunicação - Produção em
Comunicação e Cultura, Educação Física, Estudos de Gênero e
Diversidade, Filosofia, Museologia, Pedagogia, Psicologia e Serviço Social.
Na UFRB, a estrutura curricular do curso é flexível, sendo
constituída por componentes curriculares optativos, e por atividades de
Educação a Distância (EaD). O Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da
UFRB “propõe uma formação geral no campo da saúde, articulada a
saberes concernentes à cultura humanística, artística e científica, com vistas
ao desenvolvimento de competência política, ética e humanística.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA, 2014,
p. 23).
A UFSB registra em seu PPC que o percurso do curso pode ser
construído e sistematizado pelo estudante. O currículo do curso propõe
“flexibilidade do fluxo, pluralidade pedagógica, atualização e conexão
interdisciplinar em permanente relação com o dinamismo do
conhecimento e das práticas profissionais e de ofícios, visando a construção
de autonomia por parte do estudante.” (UNIVERSIDADE FEDERAL
SUL DA BAHIA, 2016, p. 20).
Em relação às vagas para o segundo ciclo, podemos visualizar no
quadro 4 que o BI em Saúde da UFOPA disponibiliza vagas para o
segundo ciclo por meio de editais específicos. No caso específico do BI na
96
área da Saúde, podemos inferir, após consulta aos editais de homologação
dos resultados do segundo ciclo, que a procura pelo curso de Medicina
excede o número de vagas disponibilizadas. Apesar disso, verifica-se nos
editais correspondentes que a concorrência é menor que nos processos
seletivos do Sisu.
A seguir, apresentamos as particularidades do BI na área de Artes:
Pelo quadro 5, verificamos que os cursos relativos à área de Artes e
suas tecnologias são ofertados por quatro universidades federais. Todas as
universidades realizam processos de seleção para o segundo ciclo, valendo-
se do coeficiente de rendimento acadêmico obtido pelo aluno no primeiro
ciclo.
Na UFSB, o PPC do curso de BI em Artes trabalha com três eixos
estruturantes: a aprendizagem significativa, e a cooperação intersubjetiva,
integrando um sistema de aprendizagem compartilhada e orientada por
problemas e projetos.
Total Obri
Optativa
Limitada
Optativa Comp
UFSB
9 Quad 60 Não Itabuna/BA
UFSB
9 Quad 60 2400 Não Porto Seguro/BA
UFSB
9 Quad 60 Não
Teixeira de Freitas/BA
UFBA 6 Sem 300 159 2400 816 816 408 360 Não
Edital
interno
Coeficiente
de
Rendimento
Artes Cênicas - Direção Teatral, Artes
Cênicas - Interpretação Teatral,
Licenciatura em Teatro, Artes
Plásticas, Design, Licenciatura em
Desenho e Plástica, Superior de
Decoração, Canto, Composição e
Regência, Instrumento,sica, Dança
e Letras.
Salvador/BA
BI em Artes e
Design
UFJF 6 Sem 250 250 2400 540 780 720 360 Não
Edital
interno
Coeficiente
de
Rendimento
Artes Visuais, Cinema e Audiovisual,
Moda, Design e Licenciatura em Artes
Visua is
Juiz de fora/MG
Interdisciplinar
em Cultura,
Linguagens e
Tecnologias
Aplicadas
UFRB 6 Sem 80 80 2415 1428 - 867 120 Não
Edital
interno¹
Coeficiente
de
Rendimento
Tecnologias do Especulo
(Cenografia, Figurino, Iluminação e
Caracterização),sica Popular
Brasileira, Produção Musical, Design
Digital, Polític a ou Ge stão Cultural.
Santo Amaro/BA
Quadro 5 Cursos de Bacharelado Interdisciplinar na área de Artes, ofertados pelas Universidades Federais
Elaborado pela pesquisadora com dados do PPC dos cursos, 2019
¹UFRB Resolução do CONAC nº02/2011 que assegura a todos os concluintes dos cursos de BI uma vaga em cursos específicos.
Bacharelado em Interdisciplinar em
Artes
Carga horária
Acesso
ao II
ciclo
Seleção II
ciclo
Cursos disponíveis para o II ciclo
Cidade
Artes do Corpo em Cena, Som,
Imagem e Movimento
1360
120
720
200
Edital
Interno
Coeficiente
de
Rendimento
TCC
Duração
Instituição
Curso
Vagas
I ciclo
Vagas
II ciclo
90
97
Na UFBA, a estrutura curricular do Bacharelado Interdisciplinar
em Artes oferta aos seus alunos, amplas oportunidades de flexibilização e
autonomia curricular, assegurando percursos curriculares mais
individualizados, “percursos que respondam melhor aos seus anseios
particulares, oferecendo perspectivas profissionais mais flexíveis, e,
portanto, mais adequadas às necessidades cambiantes da sociedade.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2010d, p. 5).
Ainda em relação à UFBA, ocorre a disponibilização dos seguintes
cursos para o segundo ciclo: Comunicação Jornalismo, Comunicação
Produção em Comunicação e Cultura, Educação Física, Estudos de
Gênero e Diversidade, Filosofia, Museologia, Pedagogia, Serviço Social,
Arquitetura e Urbanismo, Ciências Biológicas, Gastronomia, Licenciatura
em Ciências Naturais, Saúde Coletiva, Arquivologia, Biblioteconomia e
Documentação. Esses cursos não foram incluídos na tabela, pois não fazem
parte da grande área de Artes e, geralmente, são comuns a outros
Bacharelados Interdisciplinares ofertados pela universidade.
Na UFJF, os cursos de segundo ciclo, ou bacharelados
profissionais, são ofertados no período noturno, e tem a duração de três
semestres letivos ou um ano e meio. O acesso ao segundo ciclo acontece
uma vez ao ano, por meio de um pedido de reingresso encaminhado pelo
aluno à coordenação do Bacharelado em Design, após a conclusão do
Bacharelado Interdisciplinar em Artes e Design.
São oferecidas 50 vagas por ano para o segundo ciclo. Se as vagas
forem suficientes, o reingresso é feito imediatamente. Caso haja mais de
um candidato por vaga, é realizada uma seleção dos candidatos, a qual
consiste na avaliação do histórico escolar (Índice de Rendimento
Acadêmico peso 30%), e análise conjunta do portfólio de sua trajetória
no Bacharelado Interdisciplinar (peso 70%).
98
Para fins de sistematização, agrupamos os demais cursos de
Bacharelado Interdisciplinar, pois, são cursos ofertados somente por uma
ou duas universidades. Eles estão dispostos no quadro 6:
À exceção do curso de Ciências Agrárias, os cursos da tabela acima,
apesar de possuírem todas as características dos cursos de BI, levam uma
terminologia própria. Direcionam para uma determinada área de
formação, por isso, em muitos desses cursos, a carga horária letiva é maior
do que nos demais cursos de BI. A universidade com mais cursos nesse
sistema é a UFOPA, mas, exceto por fornecer uma terminologia, os cursos
seguem os mesmos critérios dos demais cursos de BI com a oferta de cursos
em segundo ciclo.
Total Obri
Optativa
Limitada
Optativa Comp
UFVJM 6 Sem 320
130 2475 1140 1020 135 180 Sim
Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
Agronomia, Eng. Agrícola,
Medicina Veterinária e
Zootecnia
Una í/MG
UFOPA 6 Sem 240
Portador
de
diploma
2470 2230 90 150 Sim
Edital/portador
de diploma
Reingresso
Agronomia, Biotecnologia, Eng.
Florestal e Zootecnia
Santarém/PA
Ciências Ambientais
UFRB 6 Sem 50 50 2700 2397 153 150 Não
Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
Geografia e Geologia
Santo
Amaro/BA
Ciência e Economia
UNIFAL 6 Sem 300 300 2424 1512 648 264 Não
Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
Administração Pública,
Ciências Atuariais e Ciências
Econômicas com ênfase em
controladoria.
Varginha/MG
Ciência e Tecnologia
das Águas
UFOPA 7 Sem 200 216 2475 2045 190 Sim
Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
Cnc ias Biológicas,
Engenharia Sanitária e
Ambiental, Gestão Ambiental,
Engenharia de Pesca.
Santarém/PA
Ciências da Terra
UFOPA 6 Sem 50 95 2520 1530 930 60 Sim
Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
Ciências Atmosféricas,
Geofísica e Geologia
Santarém/PA
Ciência e Tecnologia
do Mar
UNIFESP 6 Sem 200 160 2520 1600 800 120 Sim
Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
Eng. Ambiental e Eng. de
Petróleo.
Santos/SP
Energia e
Sustentabilidade
UFRB 6 Sem 240 240 2990 2431 187 272 100 Sim
Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
Eng. de Energia, Eng. de
Tecnologia Assistiva, Eng. de
Produção e Eng. de Materiais.
Feira de
Santana/BA
Biossitemas
UFSJ 6 Sem 40
Portador
de
diploma
2412 1530 252 450 180 Sim
Edital/portador
de diploma
Reingresso
Eng. Agronômica e Eng. de
Alime ntos
Sete
Lagoas/MG
UFRN
6 Sem 180 110 2600 1020 1440 140 Não
Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
Eng. de Computação, Eng. de
Software
Natal/RN
UFERSA 6 Sem
160
Não tem
formados
2460 1770 540 150 Sim
Edital Interno
Coeficiente
de
Rendimento
Eng. de Computação, Eng. de
Software
Pau dos
Ferros/RN
Elaborado pela pesquisadora com dados do PPC dos cursos, 2019
Quadro 6 Cursos de Bacharelado Interdisciplinar em áreas diversas, ofertados pelas Universidades Federais
TCC
Instituição
Duração
Vagas
I ciclo
Ciências Agrárias
Curso B acharelado
Interdisciplinar em
Carga horária
Acesso ao II
ciclo
Seleção II
ciclo
Cursos disponíveis para o II
ciclo
Cidade
Tecnologia da
Informação
Vagas
II ciclo
99
Na Universidade Federal de São João Del Rei, para acessar os cursos
de segundo ciclo, os egressos do BI em Biossistemas devem participar do
edital relativo a portador de diploma, seguindo as normas vigentes na
instituição, relativas às transferências externas e à admissão de portadores
de diploma.
O curso de Ciências Agrárias da UFOPA também não
disponibiliza edital específico para acesso ao segundo ciclo, ofertando uma
formação particular no próprio BI, na qual os estudantes do quinto
semestre devem optar por disciplinas direcionadas. Os egressos recebem o
diploma de Bacharel Interdisciplinar em Ciências Agrárias, área de
concentração em Produção Animal, Produção Vegetal, Produtos Naturais,
Recursos Florestais ou Bioquímica.
5 Pressupostos Teóricos dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar
As alterações realizadas nas universidades federais com a
implementação do Bacharelado Interdisciplinar não são apenas de cunho
curricular. Elas modificam a estrutura da universidade que precisa se
adaptar a uma nova forma de ensino e, ao mesmo tempo, continuar
mantendo cursos de formação específica.
[...] estas reformulações, implementadas nos marcos da política de
expansão e reestruturação das universidades federais, difundida pelo
MEC por meio do Programa Reuni, estão alterando a estruturação dos
cursos de graduação e o trabalho docente desenvolvido nesta IFES,
ressignificando as funções sociais da universidade pública. (LIMA,
2009, p. 147).
100
O número de vagas de ingresso nos cursos de BI é muito superior
àquele ofertado em cursos de graduação comuns, podendo alcançar 1.120
vagas anuais, como constatado no quadro 2, alterando a estrutura das
universidades que ofertam os cursos de Bacharelado Interdisciplinar.
Com essa reestruturação, também se modificou a modalidade de ensino,
que passou a abarcar grande número de alunos com numerosas turmas que,
na UFRN, já chegaram a 180 alunos.” (LUCENA; CABRAL, 2015, p. 5).
São poucos os projetos curriculares dos cursos de Bacharelado
Interdisciplinar que mencionam a presença de grande número de alunos
em sala. Na UFRN,
As aulas expositivas do BCT ocorrem em auditórios, salas de aula
amplas e laboratórios do prédio da ECT. Com exceção das práticas de
laboratório, as turmas dos componentes curriculares obrigatórios
possuem em média mais de 100 alunos, podendo esse número chegar
a 140 alunos. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
DO NORTE, 2017, p. 6).
Para atender à grande demanda, o PPC da UFRN (2017) do curso
dispõe de um item denominado equipe de apoio para o “professor de
turmas grandes”. Nele, prevê uma equipe de docentes graduados para
auxiliar na aplicação, na correção de avaliações, no auxílio em dinâmicas
de grupo, na monitoria, na tutoria, na orientação acadêmica, no
treinamento regular para o ensino em turmas grandes, e no atendimento
psicopedagógico aos estudantes. O PPC prevê, também, uma equipe de
apoio extraclasse para auxiliar na logística de apoio ao processo de ensino
aprendizagem, servidores, bolsistas, monitores e tutores. “O desafio aqui é
acompanhar um grupo tão numeroso de estudantes valendo-se de um
101
corpo docente proporcionalmente pequeno e que tem a responsabilidade
acadêmica de desenvolver atividades de pesquisa, extensão e
administrativas.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
DO NORTE, 2017, p. 7).
Na UFVJM, a quantidade de alunos em sala também aparece no
PPC. Diz o projeto:
É preciso pensar em como montar estratégias eficientes para grandes
assistências, afinal haverá 120 discentes no anfiteatro, pois estas
precisam vir acompanhadas de práticas autônomas de aprendizagem;
além disso, discentes e docentes deverão aprender a trabalhar com o
rico auxílio da monitoria; é necessário, a despeito de turmas numerosas,
criarem estratégias para trabalhar em grupo, para permitir a interação
e a troca de saberes e conhecimentos. Por fim, torna-se necessário
reorganizar o processo de ensino. (UNIVERSIDADE FEDERAL
DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI, 2008, p. 32).
Da forma como essa questão é tratada no documento, é o professor
quem deve aprender a trabalhar com turmas maiores, adaptando-se à
demanda, incorporando metodologias “inovadoras” e trabalhando em
conjunto com monitores e tutores. A UFABC também trata a questão
como uma responsabilidade dos docentes. “Para lecionar essas disciplinas
obrigatórias, são necessários enormes esforços e competência por parte dos
docentes, considerando as complexidades dos temas a serem trabalhados
em sala de aula.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2015c, p. 17).
Analisando os projetos pedagógicos dos cursos de Bacharelado
Interdisciplinar, percebe-se que, dentre seus objetivos, geralmente, está o
escopo em proporcionar uma formação flexível e orientada por
102
competências e habilidades, que possibilitam a inserção em múltiplas
interfaces profissionais.
Na Universidade Federal do ABC (2015a), o Projeto Pedagógico
do Curso (PPC) de Ciência e Tecnologia enfatiza que o estudante deve ter
uma orientação multidisciplinar e interdisciplinar, com competência em
autogestão e caráter crítico. Resumidamente, o PPC em comento assevera
que o aluno deve ser capaz de identificar e resolver problemas, enfrentar
desafios e responder a novas demandas da sociedade contemporânea, ter
atitude investigativa, capacidade de trabalho em equipe, capacidade de
comunicação e argumentação, sabendo atuar com empreendedorismo,
além de ser caracterizado por uma “postura flexível e aberta em relação ao
mundo do trabalho e ter capacidade de tomar decisões diante de cenários
de imprecisões e incertezas.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC,
2015a, p. 13).
Já na Universidade Federal da Bahia (2010), o PPC do
Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades considera que o egresso
deverá ser um indivíduo capaz de realizar leituras abrangentes, sensíveis e
críticas da realidade social e do ambiente em que se encontra inserido,
enfrentando as exigências do mundo do trabalho de modo flexível,
competente e hábil, podendo atuar no setor público, no segmento
empresarial e no campo não-governamental associativo.
Na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (2010), de acordo
com o PPC do curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e
Tecnologia, a carreira oferece uma formação generalista, humanista, crítica
e reflexiva, de modo que o egresso possa absorver e desenvolver novas
tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação e
resolução de problemas, considerando em suas análises os aspectos
103
políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais, com visões ética e
humanística, em atendimento às demandas da sociedade.
O projeto pedagógico institucional (UNIVERSIDADE
FEDERAL DO ABC, 2017b, p. 49), por seu lado, justifica a adoção dos
cursos de Bacharelado Interdisciplinar como um meio de “possibilitar a
formação de profissionais de nível superior com base científica sólida,
ampla e interdisciplinar, capazes para atuar e resolver problemas em uma
sociedade que se transforma rapidamente”.
Já no PPC da UFERSA (2010), busca-se desenvolver competências
e habilidades necessárias ao profissional, com vistas a garantir uma boa
formação, tanto teórica quanto prática, capacitando-o a adaptar-se a
qualquer situação, pois o Bacharelado Interdisciplinar pretende a
preparação para o desempenho de ocupações diversas, as quais mobilizem,
de modo flexível, conhecimentos, competências e habilidades.
As descrições apontam para a conclusão de que os projetos
pedagógicos dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar prezam pela
formação generalista, voltada às demandas da sociedade, não obstante
afirmem a universidade como independente das demandas da sociedade
produtiva. No entanto, muitas das competências analisadas como
necessárias são, justamente, aquelas da sociedade mercantil e em constante
mudança, reafirmando compromissos com documentos produzidos pelo
Banco Mundial, Unesco e Alfa Tuning. Habilidades primordiais para
conformar os trabalhadores às novas exigências do mercado de trabalho,
como “produtividade e capacidade para se adaptar a novas tecnologias e
oportunidades.” (BANCO MUNDIAL, 2011, p. 3).
Os projetos pedagógicos dos cursos trazem a necessidade de se
desenvolver competências como tema central. O empreendedorismo
104
também é um vocábulo recorrente, considerado primordial para o egresso.
Na Universidade Federal da Bahia (2010a), as competências e habilidades,
tomadas como referência no Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e
Tecnologia, foram obtidas no Projeto Alfa Tuning.
Para o relatório Alfa Tuning (2007), é necessário, em se tratando
de educação superior, facilitar o acesso a uma educação geral ampla, e
manter uma educação especializada para determinados cursos. O referido
relatório também trata do ensino interdisciplinar, centrado em
competências e habilidades para a comunicação, nas análises criativa e
crítica, no trabalho em equipe e crê na possibilidade de se preparar “[...] os
indivíduos para viver em diferentes situações e poder mudar de atividade”
(BENEITONE, Pablo et al. 2007, p. 35). Note que apesar de defender
comunicação, habilidades criativas e trabalho em equipe, não se espera um
trabalhador consciente e que procure transformar as condições de trabalho,
mas unicamente um trabalhador que se adapte às novas exigências e ao
mercado de trabalho. Descrição facilmente encontrada nos projetos
pedagógicos dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar, “[...] o egresso
estará apto para agir com ética nas esferas profissional, acadêmica e das
relações interpessoais, tomando decisões em cenários de imprecisões e
incertezas.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO
JEQUITINHONHA E MUCURI, 2014, p. 23).
As competências que devem ser trabalhadas são aquelas que
preparam o trabalhador para a flexibilidade e a capacidade de adaptação.
Nesse sentido, “o currículo baseado em competências e centrado no aluno
permite integrar a demanda do setor produtivo com o rigor acadêmico,
fomentando, assim, a pertinência e a qualidade da educação do futuro
profissional. (BENEITONE, Pablo et al. 2007, p. 271).
105
Já o documento da Unesco, Educação um tesouro a descobrir
(1996), enfatiza a necessidade de que a educação desenvolva nas pessoas
qualidades como a capacidade de comunicação, de trabalho em equipe, de
gerenciamento e de resolução de conflitos. O documento julga essas
capacidades como necessárias ao setor de serviços, o qual requer
“competência evolutiva e capacidade de adaptação.” (DELORS et al,
1996, p. 103).
No PPC da UNIFESP (2013) menciona-se o Relatório da Unesco
para a Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI
(DELORS, 1996), bem como se referenda os quatro pilares do
conhecimento lá destacados, a saber: aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a viver juntos e aprender a ser.
Na Universidade Federal de Juiz de Fora (2009), o PPC do
Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas, enfatiza as visões
crítica e criativa na identificação e na resolução de problemas, além de
destacar as capacidades empreendedora, abrangente e cooperativa do
egresso. O curso pretende:
[...] construir um perfil formativo capaz do desenvolvimento de
competências variadas. Pois esta é a matéria-prima da bússola de
navegação na contemporaneidade. Uma formação que permita
multiplicidade e flexibilidade, aliada ao estímulo à pesquisa e ao
próprio conhecimento. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE
FORA, 2009, p. 19).
O PPC do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas da
Universidade Federal do Maranhão (2017) apresenta a oferta das
disciplinas: empreendedorismo, pesquisa científica, inovação tecnológica e
106
auto-organização, de forma que o egresso possa gerenciar e se adaptar às
mudanças do ambiente organizacional.
Na Universidade Federal do Oeste do Pará (2014), o PPC do
Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, destaca a
necessidade de se ofertarem formações generalista, crítica e reflexiva,
capazes de capacitar os egressos para o desenvolvimento de novas
tecnologias.
O PPC do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia
da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (2008),
além da formação generalista, com visões crítica e reflexiva, busca as
capacidades do egresso de se adaptar de modos crítico e criativo, de
articular teoria e prática eficiente e eficazmente. Diz o projeto:
Os egressos deverão ser profissionais com formação generalista,
técnico-científica, com visão crítica e reflexiva. Deverão ser capazes de
se adaptar, de modo crítico e criativo, às novas condições do seu tempo
e propor a resolução de problemas, considerando seus aspectos
tecnológicos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO
JEQUITINHONHA E MUCURI, 2008, p. 22).
O PPC do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia
da Universidade Federal de Alfenas, reafirma a flexibilidade e a capacidade
de adaptação como habilidades primordiais ao egresso.
[...] preparado para os desafios do mundo do trabalho contemporâneo,
flexível e aberto em relação ao mercado, competente para atuar em
equipe multiprofissional e interprofissional, possuidor de uma sólida
107
formação conceitual generalista, e capacitado para atuar em diversas
áreas das ciências e das tecnologias. (UNIVERSIDADE FEDERAL
DE ALFENAS, 2016, p. 22).
Os PPCs analisados trabalham com as competências e as
habilidades ensejadas pelo programa Alfa Tuning. Apesar de instituições e
cursos diferentes, os perfis almejados para os egressos se alinham e seguem
uma perspectiva de aprendizagem centrada no aluno, na qual “suprir as
demandas de uma sociedade mutável em constante reformulação requer
aprendizado permanente e flexibilidade na organização curricular.”
(BENEITONE, Pablo et al. 2007, p. 38).
O objetivo geral do BI em Ciência e Tecnologia é capacitar seus
egressos para uma sociedade em constante transformação, promovendo
uma visão de mundo contemporânea, interdisciplinar, no contexto de
uma formação em que o exercício da ética e da cidadania, atreladas ao
compromisso com o desenvolvimento sustentável, em harmonia com
a natureza e o meio ambiente, seja uma constante. (UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 2015, p. 8).
Assim, o PPC da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(2015) afirma que o curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e
Tecnologia se propõe a ofertar uma formação baseada em competências,
em habilidades e em conhecimentos gerais, alinhada com os estudos
apresentados pela Organização Internacional do trabalho (OIT), pelo
Sistema das Nações Unidas e pela Conferência Mundial de Educação
Superior da Unesco, realizada em Paris em 1998. Pois, de acordo com o
PPC (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL,
108
2015, p.5), as habilidades e competências apresentadas por tais
organizações são “requisitos indispensáveis aos postos de trabalho”.
Para o PPC da Universidade Federal de Santa Catarina, os cursos
de Bacharelado Interdisciplinar “permitem reunir numa única modalidade
de curso de graduação um conjunto de características que vêm sendo
requeridas pelo mundo do trabalho e pela sociedade contemporânea”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2016, p. 21).
E, visam às formações geral e interdisciplinar dos conhecimentos
científicos, com uma abordagem voltada à inovação tecnológica e ao
empreendedorismo.
Os PPCs dos cursos defendem a capacidade de autoaprendizado e
de contínua atualização, promovendo o desenvolvimento de competências
e habilidades para o aprendizado ao longo da vida. Para Ramos (2001),
difunde-se a ideia de que a apropriação de determinadas competências seria
capaz de promover a junção entre a formação e o emprego. Dessa forma,
verifica-se a busca pela superação de um ensino centrado em saberes
disciplinares, por um ensino focado na produção de competências. Em
conclusão semelhante sobre o assunto, Bruno (2011) compreende que essa
forma de conceber o processo educativo apenas garante “o aprendizado de
conhecimento meramente instrumental e as competências trabalhadas são
de caráter adaptativo às exigências do sistema.” (BRUNO, 2011, p. 554).
Como fica evidenciada, a modulação por competências dos cursos
de Bacharelado Interdisciplinar expressa um comprometimento desses
cursos com os processos de produção “de modo que a validade dos
conhecimentos transmitidos seja aprovada por sua aplicabilidade ao
exercício de atividades na produção de bens materiais ou de serviços.”
(RAMOS, 2001, p. 222). A característica em pauta reflete na busca por
um profissional que tenha “competências, habilidades, atitudes e
109
capacidade de absorver novas tecnologias”. Ou seja, que tenha condições
de se adaptar às diferentes situações de empregabilidade ou mesmo de
desemprego. Nesse sentido, busca-se um trabalhador que seja maleável e
que esteja “preparado para a mobilidade permanente entre diferentes
ocupações numa mesma empresa, entre diferentes empresas e, até mesmo,
para o subemprego ou para o trabalho autônomo”. (RAMOS, 2001, p.
249).
Bolívar (2009) afirma que o ensino centrado em competências nos
Bacharelados Interdisciplinares, passa a ser compreendido como um
conjunto de habilidades que podem ser treinadas e adaptadas de acordo
com as demandas da sociedade capitalista. Para ele, “a tarefa universitária
fica limitada a algumas competências as quais lembram as elaboradas para
formar, selecionar e recrutar recursos humanos para o mundo da empresa”.
(BOLÍVAR, 2009, p. 122). Assim, Bolívar (2009) afirma que a lógica das
competências acaba por subordinar o ensino universitário ao mundo do
trabalho.
Como não escondem os seus mentores, na sociedade globalizada se
quer contar com um mercado de trabalho flexível, formar indivíduos
que possuem competências para se adaptar a um futuro de trabalho em
transformação, numa aprendizagem ao longo da vida. (BOLÍVAR,
2009, p. 121).
Para Afonso (2015, p. 271), a aprendizagem ao longo da vida
possui muitos significados, podendo sugerir a necessidade de acesso a
sistemas de educação ou a “formação em função de lógicas econômicas
instrumentais relativas às mutações no mundo do trabalho e às supostas
exigências da empregabilidade.”
110
Para Antunes (2010), a aprendizagem ao longo da vida, inserida
nas dimensões da sociedade e economia do conhecimento, tende a trazer
um posicionamento em favor da economia visando à competitividade.
Os cursos de Bacharelado Interdisciplinar foram implementados
nas universidades federais com a justificativa de que as carreiras, até então
existentes, mantinham uma visão compartimentalizada do conhecimento,
por sua linearidade na formação. Apresentados como nova modalidade de
graduação, visando proporcionar uma visão mais abrangente e plural da
sociedade, contribuindo para uma formação cultural e humanística, a nova
modalidade, contudo, aparentemente serviu ao cumprimento de
demandas da sociedade capitalista. A citação a seguir, ajuda a alicerçar a
conclusão exposta:
Educar para a Sociedade do Século XXI implica em repensar a
educação e o papel que as universidades devem desempenhar como
instituições de educação. É preciso, ainda, repensar a sociedade e as
novas modalidades de cursos e diplomas que essa sociedade está por
exigir. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2015c, p. 12-13).
Para Andrade, Castro e Cappelle (2011), a proposta de
diversificação prevista no decreto introduz uma forma genérica de
modalidade de graduação, na qual, somente os graduandos que concluírem
o segundo ciclo receberiam diplomas de profissões regulamentadas. Na
concepção de Gomes, Ferrazzo e Lôbo (2018, p. 50),
Trata-se, todavia, de proposições no campo da educação de formação
“flexível” segundo a lógica do mercado, que inclui noções
supostamente novas, mas que de “novo” engendram
111
fundamentalmente a responsabilização do fracasso aos trabalhadores.
Não por acaso, disseminam-se noções vinculadas às bandeiras da
“competência”, “empregabilidade”, “qualidade total”,
“empreendedorismo”, entre outros.
Para Magalhães (2011), a reformulação curricular proposta pelos
cursos de BI está calcada nas reconfigurações globais do mundo do
trabalho, as quais exigem as aprendizagens múltiplas e a inserção de saberes
e atitudes. Por tal lógica, torna-se imprescindível valorizar uma formação
universitária capaz de construir atitudes e experiências diversas, uma
formação universitária mais ampla e preocupada com o mercado de
trabalho instável. Nessa perspectiva, é imprescindível uma formação que
tenha como prioridade a aquisição de competências “para circular no
mercado de emprego altamente flexível e volátil da sociedade e da
economia do conhecimento [reduzindo] a educação superior a projectos
de formação de eus empregáveis”. (MAGALHÃES, 2011, p. 640).
A preocupação de se criarem novas possibilidades para o trabalho,
confere a universidade a responsabilidade de oferecer uma formação que
possa inserir os educandos em um mercado de trabalho flutuante e, cada
vez mais, excludente. Não há preocupações reais com a modificação das
condições de vida e de trabalho, apenas de adaptação ao mercado de
trabalho. Essa necessidade de atender às demandas do sistema produtivo e
ao “mercado competitivo, instável e em permanente metamorfose, assume
centralidade, nesse momento de readequação do ensino de graduação, que
é objeto de mudanças nos currículos, projetos pedagógicos dos cursos e
normalizações acadêmicas” (ARAÚJO, 2011, p. 136).
No Parecer CNE/CES nº 266/2011, que aprova os Referenciais
orientadores para os bacharelados interdisciplinares e similares das
112
Universidades Federais, a importância dada à formação por competências,
por habilidades e aos conhecimentos gerais é, novamente, congruente e
alinhada aos estudos apresentados pela Organização Internacional do
Trabalho (OIT), pelo Sistema das Nações Unidas e pela Conferência
Mundial de Educação Superior da Unesco, realizada em Paris no ano de
1998.
No parecer, são apresentados como fatores importantes para a
implementação do BI as conexões entre trabalho e educação superior,
defendidas por especialistas da OIT: flexibilidade, inovação, criatividade,
motivação, espírito empreendedor, largo espectro de competências
genéricas em variados campos do conhecimento, especialmente das novas
tecnologias, que formam a base das diversas competências profissionais, e
capacidade de enfrentamento da incerteza. O parecer defende, ainda, a
perspectiva das “múltiplas especializações” (BRASIL, 2011, p. 4), fator
considerado primordial para garantir a empregabilidade.
Garantindo, o
alinhamento da proposta dos Bacharelados Interdisciplinares com uma
dinâmica de formação na educação superior no contexto da era do
conhecimento (BRASIL, 2011, p. 4).
O Parecer CNE/CES nº 266/2011 denota uma preocupação com
a formação de competências, habilidades e conhecimentos gerais e básicos
em grandes Áreas do Conhecimento, enfatizando a necessidade de
formação alicerçada em teorias, metodologias e práticas que fundamentem
os processos de produção científica, tecnológica, artística, social e cultural.
Trata-se de uma formação de “base interdisciplinar com perspectiva
curricular flexível, voltada para a mobilidade acadêmica e o intercâmbio
interinstitucional.” (BRASIL, 2011, p. 5).
Os Referenciais orientadores enfatizam a necessidade de flexibilidade
curricular e a possibilidade de o aluno escolher seu itinerário formativo.
113
Dessa forma, segundo eles, “a universidade brasileira poderá reunir as
condições fundamentais para responder aos desafios do mundo do
trabalho, das novas dinâmicas de desenvolvimento do conhecimento e da
cidadania do século XXI.” (BRASIL, 2010a, p. 3).
Para Lima (2007), a flexibilização curricular, “sob a aparência de
democratizar o ensino e adequá-lo às rápidas mudanças do mercado de
trabalho, omite a perversa estratégia de certificação em larga escala”
(LIMA, 2007, p. 177). Segundo Mancebo (2010), a diversificação da
educação superior é um processo no plano internacional, com
transformações que tendem a levar a um “sistema pós-secundário”, com
múltiplos arranjos institucionais, fortemente incentivados por organismos
internacionais.
Em síntese, ocorre toda uma nova tendência, já designada oficialmente
como educação terciária termo proposto pelo Banco Mundial, em
título de 2003 que confunde, não raramente, a educação superior
com ensino pós-secundário, compreendendo: tutorias remotas,
encurtamento de carreiras, flexibilização de currículos, importação de
modelos educativos baseados na “aquisição de competências
profissionais”, certificação de saberes e destrezas, reciclagem de
competências. (MANCEBO, 2010, p. 42).
Cursos de graduação com uma duração menor, com um número
de vagas para ingresso de alunos nos processos seletivos muito maior,
quando comparados aos atuais cursos de graduação, grande percentual da
carga horária em disciplinas optativas, com o propósito de flexibilidade,
conforme dados apresentados nas tabelas e corroborado pelos autores
citados. Demonstram que os cursos de Bacharelado Interdisciplinar
114
surgem para adequar as universidades às novas exigências do sistema
produtivo.
Para Severino (2009) o processo de adaptação do ensino superior
ao mercado, aumenta a responsabilização do indivíduo sobre sua
formação, cabendo ao aluno, além da escolha de disciplinas que viabilizem
sua formação, uma maior responsabilidade sobre o seu sucesso ou
insucesso nos cursos de graduação.
Todos esses fatos apontados acabam por responsabilizar o aluno
por sua formação, pois é ele que escolhe o seu percurso formativo, estando
seu sucesso ou seu fracasso diretamente associado as suas escolhas. “O
indivíduo, como aprendiz, é que é responsável pela sua formação, não é o
processo em si do ensino”. (SEVERINO, 2009, p. 260).
Novamente, para Severino (2009), as funcionalidades da lógica
econômica, aplicadas à educação desenvolvem uma competitividade como
à aplicada aos postos de trabalho. A educação passa a ser “centrada no
desempenho dos indivíduos, visto como um agregado de competidores
pelos postos do mercado de trabalho e não parceiros na condução de um
projeto. Cada um deve construir seu portfólio de competências
individuais” (SEVERINO, 2009, p. 259).
Mancebo (2015) afirma que o sistema universitário internacional
e nacional vem passando por transformações com vistas a diversificação e
implementação de múltiplos arranjos institucionais que atendam “às
demandas especializadas do processo de crescimento econômico e
mudança social e, ainda, o que é particularmente importante, à necessidade
de uma expansão da rede, mas com forte contenção nos gastos públicos
(MANCEBO, 2015, p. 5).
115
Através da análise dos PPCs consultados, é perceptível que apesar
de enfatizarem uma formação humanista, incorrem em contradições que
deixam claro o quanto os cursos de Bacharelado Interdisciplinar estão
dedicados à formação de indivíduos para a adaptação ao mercado de
trabalho. O próprio parecer do CNE, mencionado acima, enfatiza a
necessidade de modalidades de graduação mais flexíveis, buscando
competências profissionais mais adequadas às novas exigências da
sociedade produtiva.
116
117
Capítulo 3
Expansão das Universidades Federais:
Um Olhar Através das Particularidades das UFABC,
UFBA e UTFPR
Os desdobramentos da implementação do Reuni foram analisados
tendo por base a reconfiguração gerencial a que estão submetidas as
instituições públicas de ensino superior, e a necessidade colocada naquele
momento de se adequarem a um conjunto de ações regulatórias na busca
da racionalidade, da flexibilidade e da eficiência, intentos do Reuni.
Em um primeiro momento, analisamos os documentos
norteadores das universidades: projeto pedagógico institucional, plano de
desenvolvimento institucional e projeto pedagógico dos cursos, a partir dos
seguintes vieses: gestão acadêmica e autonomia universitária, com o intuito
de contextualizar a forma como a universidade se posiciona frente a essas
questões.
Posteriormente, analisamos as seguintes variáveis relacionadas ao
processo de expansão por meio do Reuni: acadêmica: vagas, cursos, pessoal
(docentes e técnicos); infraestrutura e financeira. A reestruturação
acadêmico curricular, também será tratada, com vistas a identificar qual a
estratégia adotada pela universidade para atender a essa diretriz do Reuni.
118
Os dados foram obtidos em sinopses estatísticas da educação
superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP), na Lei de Diretrizes Orçamentárias e nos dados obtidos
em documentos oficiais da UTFPR, tais como relatórios de gestão e
relatórios da Pró-Reitoria de Graduação.
1 Expansão e Consolidação da UFABC no Contexto do Reuni
Criada em 2005, a UFABC não precisou formalizar a adesão ao
Reuni com o plano de metas, como todas as demais universidades federais,
pois, conforme o Relatório do Primeiro Ano do Reuni (BRASIL, 2009), a
UFABC já estava inserida no âmbito das inovações pedagógicas previstas
pelo Programa. Dessa forma, apesar de não ter aderido oficialmente ao
Reuni, elaborando um plano de metas como as demais universidades
federais, a criação da instituição ocorreu durante a formulação do
Programa e, por assim sê-lo, a universidade adotou todas as normativas do
decreto.
De acordo com dados das Leis Orçamentárias Anuais (2007-
2017), a partir de 2014, a universidade deixou de receber verba para a
implementação, recebendo recursos para reestruturação e expansão de
instituições federais de ensino superior.
1.1 UFABC Breve histórico
A UFABC foi criada pela Lei nº 11.145, sancionada em 26 de
julho de 2005 (BRASIL, 2005b), e, posteriormente, alterada pela Lei nº
119
13.110, de 25 de março de 2015 (BRASIL, 2015). A universidade, desde
sua origem, foi concebida como multicampi, prevendo, além do campus de
Santo André, a abertura de outros campi na região do ABC paulista.
Atualmente, a UFABC possui dois campi, Santo André e São Bernardo do
Campo.
As atividades acadêmicas no campus de Santo André/SP foram
iniciadas em setembro de 2006, em edifício alugado, em salas de aulas e
laboratórios instalados de forma provisória. Já no campus de São Bernardo
do Campo/SP, as atividades tiveram início em 24 de maio de 2010,
também em prédio alugado. Em 2012, as atividades acadêmicas de São
Bernardo foram remanejadas para a nova sede, em prédio próprio.
A UFABC oferta dois cursos para o ingresso na instituição: o
Bacharelado em Ciência e Tecnologia (BC&T) e o Bacharelado em
Ciências e Humanidades (BC&H). O BC&T é ofertado em Santo André
e São Bernardo do Campo. O BC&H é ofertado em São Bernardo do
Campo. Além, dos cursos de ingresso a UFABC oferta mais 24,
considerados cursos de segundo ciclo, conforme trataremos na sequência.
Conforme o relatório de gestão (UNIVERSIDADE FEDERAL
DO ABC, 2017a, p. 26), a instituição se propõe a “assumir um papel
determinante para a formação de quadros capacitados para setores chaves
da economia regional e nacional”. O relatório aponta que a universidade
“conta com o diferencial de um projeto pedagógico inovador, voltado para
uma formação flexível e interdisciplinar, cujo maior objetivo é sua
adaptação às novas demandas do conhecimento” (UNIVERSIDADE
FEDERAL DO ABC, 2017a, p. 27).
120
1.2 Gestão Acadêmica
O Plano de Desenvolvimento Institucional da UFABC (2013b) e
o Projeto Pedagógico Institucional (UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ABC, 2017b) estabelecem a interdisciplinaridade para os cursos de
Bacharelado Interdisciplinar, o regime curricular quadrimestral, os turnos
matutino e noturno, e as matrizes curriculares flexíveis como eixos de
organização didática da UFABC. Esses temas são tidos como paradigmas
curriculares que orientaram a implementação da instituição e a elaboração
dos projetos pedagógicos de seus cursos. Nos termos dos documentos
mencionados, “apesar dos desafios internos, a UFABC não deve abdicar
do seu papel de liderança nacional na implantação deste novo modelo
pedagógico, que visa revolucionar a estrutura acadêmica tradicional do
ensino superior brasileiro.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC,
2013b, p. 45).
O documento da UFABC (2017b) enfatiza a “busca por novos
modelos educacionais que preparem as pessoas para participar, como
profissionais e cidadãos, dos complexos processos e decisões que
conformarão o futuro.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2017b,
p. 6). Dessa forma, o modelo interdisciplinar adotado pela UFABC é
caracterizado pela ausência de departamentos, considerados barreiras na
comunicação entre os membros da comunidade universitária
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2017b). Utilizando a estrutura
de centros interdisciplinares, “que congregam profissionais e cursos das
mais diversas áreas, todos compartilhando a responsabilidade pelos
Bacharelados Interdisciplinares.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ABC, 2017b, p. 24).
121
O ensino é baseado no “uso de técnicas inovadoras de
aprendizagem ativa e ubíqua, como a educação mediada por tecnologia.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2017b, p. 12). A aprendizagem
ubíqua diz respeito ao uso das tecnologias na educação, remetendo à ideia
aprendizagem que não se limita ao espaço da sala de aula, incluindo a
educação a distância, ambientes virtuais e dispositivos móveis.
Para Severino (2009), as novas tecnologias são uma ferramenta
para a educação, possuem uma potencialidade que não pode ser ignorada.
Entretanto, o processo de construção/aquisição do conhecimento exige
muito mais do que a capacidade de transmitir informações. Dessa forma,
Meios potencializadores são necessários e bem-vindos, mas continuam
sendo meios, à espera de quem possa explorá-los como sujeitos
competentes, criativos e críticos. Não há também como confundir a
capacidade de transmitir informações, o que essa tecnologia permite
fazer com grande eficiência, com compartilhar o processo de produção
de conhecimentos, o que demanda muito mais do que um repasse
eficaz de dados. Em se tratando de conhecimento, o que está em jogo
é a formação do sujeito e não sua mera instrução. (SEVERINO, 2009,
p. 264).
Para o referido autor (2009), as tecnologias na educação devem ser
utilizadas com cautela, para que não se tornem um fim em si mesmas. Elas
devem ser uma ferramenta de auxílio ao processo educativo.
A porta de entrada para a UFABC são os cursos de Bacharelado
Interdisciplinar. Após três anos de formação generalista, que já garante um
diploma de nível superior, os estudantes podem optar por realizar os cursos
específicos e, assim, após um processo seletivo interno, cursar os demais
122
cursos de graduação ofertados pela instituição, considerados cursos de
segundo ciclo. Assim, após a conclusão de um dos cursos de Bacharelado
Interdisciplinar, de três anos de duração, são necessários mais dois anos de
estudos, para obter o título em um dos cursos de Engenharia e, no caso
dos demais bacharelados e licenciaturas, mais um ano.
Os cursos de Bacharelado Interdisciplinar estão organizados por
eixos. O Bacharelado em Ciência e Tecnologia organiza-se em: Estrutura
da Matéria, Processos de Transformação, Energia, Comunicação e
Informação, Representação e Simulação. Os eixos que orientam a
organização do Bacharelado em Ciências e Humanidades são: Estado,
Sociedade e Mercado, Pensamento, Expressão e Significado, Espaço,
Cultura e Temporalidade, Ciência, Tecnologia e Inovação, Epistemologia
e Metodologia.
A UFABC é caracterizada pela ausência de departamentos, pela
organização curricular flexível e pela interdisciplinaridade. A organização
acadêmica da UFABC é estruturada por meio de uma matriz transversal
que possibilita a interação entre os seus núcleos acadêmicos. Nessa
estrutura, os professores são vinculados a três centros interdisciplinares:
Matemática, Computação e Cognição; Ciências Naturais e Humanas;
Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais. A gestão dos centros é
realizada por meio dos Conselhos de Centros, e as questões relativas aos
cursos de formação específica estão a cargo das coordenações dos cursos.
Cabe, por fim, dizer que todos os docentes da UFABC devem ser
credenciados ao menos em um dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar,
podendo credenciar-se em até três cursos específicos.
123
Em relação à questão da autonomia universitária, o PDI da
UFABC sinaliza a necessidade de se pensar em outras formas e fontes de
financiamento institucional. Diz o documento que,
[...] a universidade deve buscar soluções compatíveis para a captação
de recursos e sua utilização para o desenvolvimento econômico, quem
sabe até sinalizando ao sistema federal de ensino superior um novo
entendimento sobre a autonomia universitária, sob a ótica dos
recursos. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2013b, p. 106).
Na concepção do PDI, a autonomia está diretamente interligada
ao econômico, significando o “gerenciamento empresarial da instituição”
(CHAUÍ, 1999, p. 2), no sentido de captação de recursos. A preocupação
é efetiva, pois os recursos destinados pelo Ministério da Educação às
universidades têm se tornado cada vez mais diminutos, e as instituições
precisam fazer malabarismos para conseguir fechar o orçamento, como
trataremos mais à frente.
1.3 Expansão e consolidação da UFABC no período de 2007 a 2017
Apresentamos alguns dados da expansão efetuada na UFABC nos
últimos anos. Os dados foram obtidos em sinopses estatísticas da educação
superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP), e nos dados apresentados em documentos oficiais da
UFABC, sobretudo, relatórios de gestão e relatórios da Pró-Reitoria de
Graduação.
124
Como mencionado anteriormente, a universidade iniciou suas
atividades em 2006. Na ocasião, foram ofertadas 1.500 vagas para um
curso de graduação, o Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e
Tecnologia, no campus de Santo André. Até 2009, o ingresso na
universidade era realizado através de processo seletivo vestibular. A partir
de 2010, o ingresso nos cursos de graduação passou a ser realizado pelo
Sistema de Seleção Unificada do MEC (Sisu), em modalidade fase única,
exclusivamente com base nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio.
A tabela 1 apresenta os dados da expansão acadêmica realizada na
UFABC de entre 2007 a 2017.
Pela tabela apresentada, podemos visualizar que, a partir de 2010,
a UFABC ofertou 16 cursos de graduação. Ano em que foram iniciadas as
atividades no campus de São Bernardo do Campo, que inicialmente,
ofertou dois novos cursos de ingresso Bacharelado Interdisciplinar em
Ciências e Humanidades e Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e
Tecnologia, que somado aos cursos específicos de formação em segundo
ciclo que passaram a ser ofertados, em Santo André, proporcionaram esse
salto na oferta de cursos de graduação, conforme visualizado na tabela.
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Vagas
1.500 1.500 1.500 1.700 1.700 1.960 1.960 1.960 1.960 1.960 1.960
Curs os
1 1 1 16 20 20 25 25 25 27 27
Processo seletivo*
848 1.500 1.799 1.697 1.715 2.360 1.960 1.960 1.968 1.960 1.960
Remanescentes ou
outras formas**
0 5 31 0 0 50 553 1.201 1.734 278 250
Total
848 1.505 1.387 1.697 1.715 2.410 2.514 3.161 3.702 2.238 2.210
Matrícula (me ta) 1.500 2.538 4.500 4.690 5.800 7.862 9.086 9.967 11.218 12.210 13.906
Matrícula
(alcançada)
932 1.622 2.617 4.184 5.523 7.277 8.542 9.258 11.413 12.099 12.670
Concluíntes
132 476 680 828 949 1.110 1.429 1.663
Ingressantes*
Tabela 1 - Indicadores da e xpans ão acadêmica na graduação UFABC 2007-2017
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do Relatório de Gestão, Prograd (UFABC em Números) e dos Censo INEP - 2007-2017
*Processo seletivo são vagas de novos alunos por processo de exame vestibular ou processo unificado SISU
**Remanescentes ou outras formas: transferências, ingresso como portador de diploma ou editais de preenchimento de vagas ociosas
125
Em 2014 e 2015, houve um grande número de alunos ingressantes
por processos de vagas remanescentes. Isso ocorreu porque muitos dos
antigos discentes optaram por realizar a seleção novamente, reingressando
na universidade. Reingressando, o estudante eliminaria as disciplinas em
que o coeficiente de rendimento estava baixo, e entraria com processo de
reaproveitamento de créditos, utilizando as disciplinas com bom
rendimento acadêmico, correspondendo a uma estratégia encontrada por
estudantes com baixo desempenho acadêmico para melhorar seu
coeficiente de rendimento, visando participarem de processos de seleção
para auxílio estudantil e mobilidade internacional, além de alcançarem
melhor classificação na seleção para o segundo ciclo.
[...] nos últimos anos, até 10% das vagas ofertadas foram ocupadas por
estudantes reingressantes, em busca de “limpar” o currículo. Esse
movimento de parte dos estudantes equivale à evasão, e neste ano de
2015 foram aprovadas regras para diminuir essa prática. Assim, é
esperado que ao longo dos próximos anos a “Taxa de Sucesso da
Graduação” e “Grau de Participação Estudantil” se estabilizem em
níveis superiores aos atuais. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC,
2016, p. 186).
A prática do reingresso como subterfúgio para a melhoraria do
currículo, conforme demonstra a citação, foi combatida pela UFABC,
especialmente porque eleva as taxas de evasão. Pois, o aluno abandona o
curso que já estava realizando na instituição para ingressar em outro.
Segundo a universidade, à época, “a evasão, representada pela soma dos
cancelamentos voluntários e abandonos, foi o motivo mais significativo de
perda de alunos.” (UFABC, 2016, p. 172).
126
Em relação aos concluintes, o Relatório de Gestão
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2016) afirma que, apesar do
curso de Bacharelado Interdisciplinar ter um prazo para a conclusão
estipulado em três anos, são poucos os estudantes que o concluem no
tempo mínimo. Geralmente, os alunos precisam de quatro anos para a
integralização curricular. Dos ingressantes de 2011, apenas 7% concluíram
no prazo previsto.
Ao final de 2017, a universidade em questão contabilizou 12.670
alunos matriculados em cursos de graduação. No período destacado na
tabela, a UFABC teve um aumento de 11.738 alunos, colaborando, para
tanto, os processos de implementação e consolidação da UFABC.
Nesse mesmo período, somaram-se 1.365 alunos matriculados nos
41 cursos de pós-graduação, sendo 27 cursos de mestrado e 14 cursos de
doutorado. A tabela 2 apresenta os dados da expansão acadêmica na pós-
graduação stricto sensu.
Pelo grande aumento de cursos de mestrado e doutorado
evidenciados na tabela acima, é possível inferir que a UFABC não poupou
esforços para consolidar sua pós-graduação stricto sensu. O aumento na
quantidade de cursos foi acompanhado pela evolução de alunos
matriculados. O número de alunos na pós-graduação stricto sensu
aumentou de 96 alunos, em 2007, para 1.365 alunos, em 2017.
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Mestrado 5 6 6 7 15 17 19 21 23 24 27
Doutorado 4 4 4 5 6 6 8 10 13 13 14
Mestrado 84 143 190 219 403 665 748 748 810 830 908
Doutorado 12 19 59 98 140 172 238 280 323 382 457
Tabela 2 - Indicadores da e xpansão acadêmica na pós-graduação UFABC 2007-2017
Nº de cursos
Matrículas
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do Relatório de Gestão, UFABC em numeros e dos Censo INEP - 2007-2017
127
Na tabela 3, sistematizamos os dados acerca da expansão do quadro
de docentes e servidores administrativos da UFABC.
No período de 2007 a 2017, o efetivo de docente passou de 113
para 708 professores, correspondendo a um aumento de 595 profissionais.
O aumento no número de servidores administrativos foi um pouco maior,
correspondendo a 657 novos servidores.
Apresentamos, a seguir, os dados relativos à expansão docente e de
alunos na UFABC.
Podemos perceber que não obstante ao aumento no número de
docentes, o aumento no número de alunos foi muito maior, no mesmo
período. Estabelecendo uma relação direta de alunos de graduação e pós-
graduação por professor, em 2007, tínhamos 09 alunos por professor e,
em 2017, 19,8 alunos por professor. Se, considerarmos somente os alunos
de graduação, a relação aluno por professor em 2017, se mantém alta,
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Docentes 113 179 299 402 432 503 513 537 580 635 708
TAES* 92 109 284 390 524 571 588 751 737 761 749
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do relatório UFABC em numeros- 2007-2017
*Técnicos administrativos em educação
Tabela 3 - Docentes efetivos ecnicos administrativos em educação UFABC 2007-2017
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
113
179 299 402 432 503 513 537 580 635 708
Graduação
932 1.622 2.617 4.184 5.523 7.277 8.542 9.258 11.413 12.099 12.670
Pós-graduação 96 162 249 317 543 837 986 1.028 1.133 1.212 1.365
Total 1.028 1.784 2.866 4.501 6.066 8.114 9.528 10.286 12.546 13.311 14.035
Docentes
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do relatório UFABC em números- 2007-2017
TABELA 4 - Quantitativo professor/aluno graduão e aluno pós-graduão UFABC 2007-2017
Alunos
128
correspondendo a 17 alunos por professor. Nesse quesito, considerando
todos os alunos, a média da UFABC chega perto dos 18 alunos por
professor, preconizados pelo Reuni.
O Relatório de gestão de 2011 já apontava um aumento do trabalho
docente: “a carga didática exigida dos professores vem aumentando a cada
quadrimestre em decorrência do aumento do número de discentes e da
criação de novos cursos, refletindo no aumento da oferta de disciplinas”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2012, p. 25).
A tabela 5 apresenta os dados da expansão física da UFABC,
representada pela área construída.
Entre 2007 e 2017, a UFABC precisou construir seus campi e
consolidar sua infraestrutura, por isso percebemos, por meio dos dados
apresentados na tabela 5, uma evolução na área construída de mais de cem
mil metros quadrados.
Apresentamos, a seguir, dados sobre o orçamento da UFABC.
Utilizamos os dados disponíveis no Projeto de Lei Orçamentária Anual
(PLOA) e na Lei Orçamentária Anual (LOA). Tanto na PLOA, quanto na
LOA, o detalhamento dos créditos orçamentários do Poder Executivo
Federal destinado ao Ministério da Educação está disponível no volume 5.
Os documentos mencionados apresentam os recursos obtidos em todas as
fontes de financiamento e o detalhamento dos dados é feito por instituição.
Para elaboração da tabela, foram deduzidos os valores enquadrados no
2007 2008 2009 2010 2011 2012
2013 2014
2015 2016 2017
Área construída 30.000 57. 845 58.543 61.820 66.859 72.175 92.929 104.818 109.344 142.832 136.034
Tabela 5 - Expansão em m² da área construída UFABC 2007-2017
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados dos Relatórios de Geso 2007-2017
129
grupo de despesas: pessoal e encargos sociais. Dessa forma, nos possibilita
uma melhor visualização dos valores destinados a manutenção do ensino.
Ao analisarmos a coluna investimentos, que é a parte do orçamento
destinada a construções e aquisição de equipamentos, percebemos que os
anos de 2009, 2011, 2012, e 2014, foram os pontos fortes para as
edificações. Após 2014, a parcela destinada a investimento foi menor. Nos
termos do Relatório de gestão 2017, “o orçamento para investimentos da
UFABC que chegou ao montante de R$ 80 mil no exercício 2012, caiu
para R$ 42 mil em 2016, chegando ao valor de R$ 23 mil em 2017”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2018, 292).
O relatório de gestão do exercício 2010 apontava que, devido ao fato de a
universidade estar em fase de consolidação, a necessidade de recursos para
investimentos era maior, tanto em obras para edificação dos prédios, como
em mobiliário e em equipamentos para os laboratórios didáticos e de
pesquisa. Registram-se nos relatos que as “dotações orçamentárias foram
inferiores às solicitações da universidade e precisaram de complementação,
o que tornou os valores mais próximos ao solicitado pela UFABC.” (2011,
p. 65). Mesmo assim, provocou sérios atrasos na aquisição de
equipamentos para os laboratórios, afetando a qualidade dos cursos, “o
valor total ficou abaixo das necessidades do processo de implantação da
universidade.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2011, p. 65).
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
LOA/exercício 66.996.065 59.347.263 110.107.016 69.419.636
120.495.680 137.756.562 126.536.824 164.000.036 90.798.962 102.893.194 74.738.671
Lei +créditos 78.228.895 70.293.665 131.292.096 76.596.875 134.107.611 181.713.947 153.562.175 167.485.510
112.603.531 104.323.870 82.514.290
Empenhado
67.474.178 59.347.264 110.107.017 69.419.635 120.495.683 137.756.562 126.536.824 164.000.036 90.798.962 102.913.194 74.738.671
Investimentos
59.984.746 43.700.000 86.008.376 30.203.755 83.923.779 80.900.083 64.846.598 87.249.074 26.610.307 42.566.919 23.381.598
Implantação 60.079.746 40.344.831 39.909.039 18.138.000 34.360.199 76.519.920 70.105.411
Reuni 88.471.452 26.653.507
Tabela 6 - Orçamento UFABC em R$ - 2007-2017
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados da Lei orçamentária anual 2007-2017
130
Ao compararmos o total de recursos destinado na Lei Orçamentária à
UFABC com o aumento no número de alunos da instituição, será possível
compreender que, embora o valor ofertado à universidade entre os anos
2007 e 2017 tenha sido ascendente, seu orçamento foi extremamente
prejudicado nesse período, pois:
Entre 2010 e 2017, a área construída e o número de alunos (graduação
+ pós-graduação) cresceram respectivamente 120,0% e 265,5%. No
mesmo período o orçamento de custeio corrigido pelo IPCA caiu
38,8%. Se fizermos a comparação com 2012, ano em que a UFABC
teve seu maior orçamento de custeio (corrigido), o cenário é parecido.
Entre 2012 e 2017 a área construída e o número de alunos cresceram
88,5% e 102,7%, respectivamente enquanto o orçamento de custeio
corrigido caiu impressionantes 55,1% no período. (UNIVERSIDADE
FEDERAL DO ABC, 2018, p. 292).
O Relatório de gestão, exercício 2017, também pontua que
associado à queda do orçamento esteve não apenas o aumento do número
de alunos, mas os gastos com manutenção que, oriundos da obtenção de
sedes próprias, impactaram diretamente nos serviços prestados pela
universidade. Diz a instituição:
Com a inauguração de um prédio, necessariamente ocorrem
majorações ou mesmo realização de novos contratos visando à limpeza
e manutenção predial, entre outros. Aumentos nos números de
estudantes matriculados na graduação e na pós (algo que nos foi
colocado como meta pelo PNE) ainda mais com as cotas para os
estudantes de baixa renda quase automaticamente elevam as
demandas por bolsas socioeconômicas, materiais didáticos para
131
laboratórios, e afins. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2018,
p. 293).
Ao longo de 2017, acrescenta-se, ainda, a lenta liberação do
orçamento, “os limites foram sendo liberados à proporção de 1/18 avos da
LOA por mês.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2018, p. 293).
De acordo com o Relatório de gestão, exercício 2016, a UFABC lançou mão
de um acompanhamento constante, de ajustes e cortes, para conseguir
terminar o ano de 2016 sem dívidas. Relata o documento:
Diversas campanhas de conscientização quanto aos gastos vêm sendo
realizadas, bem como já houve severa redução de contratos de prestação
de serviços, como portaria, segurança e limpeza, todavia estas reduções,
além de precarizar os serviços prestados pela instituição, não estão
sendo suficientes. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2017a,
p. 28).
Foram realizados diversos cortes em serviços como diárias e
passagens, cursos de capacitação e bolsas de monitoria acadêmica.
Ademais, foram tomadas “medidas como o desligamento parcial dos
elevadores, a redução da frequência da limpeza dos prédios, a redução dos
serviços de zeladoria, a suspensão das ligações internacionais das salas dos
docentes, o recolhimento de celulares corporativos” (UNIVERSIDADE
FEDERAL DO ABC, 2016, p. 22). Toda a situação desencadeou,
também, a suspensão do projeto de construção de um novo bloco em São
Bernardo do Campo.
132
1.4 Bacharelado interdisciplinar
Na sequência, analisamos a relação de alunos nos cursos de
Bacharelado Interdisciplinar, estabelecendo um comparativo com a
quantidade de alunos que realizam os cursos específicos.
De acordo com o Plano de Desenvolvimento Institucional
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2013b, p. 49), os cursos de
Bacharelado Interdisciplinar são definidos como “exemplo do modelo de
educação em ciclos, introduzido pela Declaração de Bolonha”. As
justificativas expostas no PDI (2013) para a implementação dos cursos de
BI foram evitar a precocidade e imaturidade dos discentes nas escolhas de
carreira, o desenvolvimento de estruturas curriculares flexíveis, permitindo
mudanças de percurso formativo, conforme aspirações e necessidades, e o
estímulo à autonomia do sujeito na construção de seu percurso formativo.
“O BC&T se caracteriza pela flexibilidade da organização curricular, na
qual o aluno monta uma combinação de módulos obrigatórios, eletivos e
livres, que correspondam às suas necessidades e desejos, bem como às
tendências do mercado de trabalho” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ABC, 2010a, p. 10).
A redução da evasão e a redução no tempo de formação também
são pontos destacados no Plano de Desenvolvimento Institucional
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2013b). Os cursos de
Bacharelado Interdisciplinar apresentam uma estrutura curricular que
permite “a formação de alunos no nível superior em menor tempo previsto
(3 anos), uma vez que possuem duração menor do que a de um curso
convencional profissionalizante.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ABC, 2013b, p. 49).
133
Para o ingresso no segundo ciclo, a UFABC oferta três editais por
ano. Com exceção de 2010, primeiro ano da oferta dos editais, tendo sido
lançado apenas um edital. Em 2012, por conta de uma greve nacional de
técnicos e docentes, a universidade lançou apenas dois editais. Em 2013,
como compensação, foram quatro editais.
A tabela 7 apresenta os dados dos editais de vagas para os cursos de
formação específica.
Com exceção do ano de 2010, a UFABC oferta mais vagas para os
cursos específicos do que para os cursos considerados de ingresso na
universidade, ou cursos de Bacharelado Interdisciplinar. Estabelecendo um
comparativo com a tabela 1, podemos perceber que a instituição ofertou,
entre 2010 e 2011, 1.700 vagas e, a partir de tal período, passou a ofertar
1.960 vagas para ingresso pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Já as
vagas para os cursos específicos, desde 2011, ultrapassaram as 2.000 vagas
anuais.
Podem concorrer aos editais portadores do título de Bacharel em
Ciência e Tecnologia, ou de Bacharel em Ciências e Humanidades da
UFABC, bem como alunos matriculados nos cursos de Bacharelado
Interdisciplinar da UFABC que tenham completado com aproveitamento,
Cursos
Cursos de 2010
2011 2012 2013
2014
2015 2016 2017
Engenharia
1.000
1.674 1.756
2.566 2.093 1.900 1.807
1.834
Bacharelado
340
611 768
1.393
1.022 964 856
757
Licenciatura
160 299
309 582 430
406 358
323
Bacharelado 1.364
950 887
740 691
Licenciatura
197 146 142
139
139
Total
1.500
2.584 2.833 6.102 4.641
4.299 3.900
3.744
Tabela 7 - Vagas nos cursos espeficos da UFABC
Específicos para Ciência
e Tecnologia
Específicos para
Ciências e Humanidades
Elaborado pela pesquisadora através de dados dos editais de chamada para os cursos de formação específica da UFABC
134
no momento da inscrição, ao menos 150 créditos. A seleção para o
segundo ciclo é realizada por meio de editais de chamada para inscrições
nos cursos de formação específica da Universidade Federal do ABC. Os
critérios de classificação são baseados no coeficiente de rendimento, e no
índice de afinidade do aluno. Para o cálculo do índice de afinidade, são
considerados o número de créditos obtidos em disciplinas obrigatórias, de
opção limitada e livres do curso pretendido. Cada concluinte dos cursos
de Bacharelado Interdisciplinar pode cursar até três cursos específicos.
A tabela 8 apresenta a quantidade anual de alunos inscritos nos
editais de chamada para os cursos específicos.
Os resultados da tabela 8 foram obtidos pela soma do quantitativo
de alunos dos três editais anuais para matrícula em cursos de formação
específica, e pela exclusão dos valores repetidos, uma vez que cada discente
pode se inscrever em até três (03) cursos específicos.
Podemos observar na tabela 9 que as vagas para os cursos
específicos não são preenchidas, ficando muito aquém do esperado. A
tabela apresenta os dados dos alunos por curso na UFABC.
2013 2014 2015 2016 2017
Bacharelado
1.364 950 887 740 691
Licenciatura
197 146 142 139 139
Tabela 8 - Inscritos nos editais de cursos pós-BI a UFABC 2013-2017
Elaborado pela pesquisadora através de dados dos editais de chamada para os cursos de formação específica da UFABC
135
Apesar de ofertar 1.500 vagas em 2010, o número de matriculados
na UFABC foi de apenas 231 alunos. Embora tenha ocorrido um
crescimento no número de matrículas nos cursos específicos, esse aumento
não acompanhou o de ingressos. Em 2011, havia 5.523 alunos nos cursos
de Bacharelado Interdisciplinar. Em 2014, quando os mesmos alunos
deveriam ter concluído o BI, somente 2.257 alunos estavam frequentando
os cursos específicos. Uma diferença de mais de 3.000 discentes. Caso
façamos igual comparação nos anos subsequentes, a diferença se mantém.
Em parte, ela pode ser explicada pela demora na conclusão do BI. Como
mencionamos, os estudantes demoram mais tempo do que o previsto para
concluir o curso. Por outro lado, também é possível creditar os números
em pauta ao grande montante de alunos que optam por fazer apenas o
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Ciência e Tecnologia - BC&T 932 1.622 2.617 3.989 5.124 5.720 5.713 6.175 6.789 7.268 7.486
Ciências e Humanidades - BC&H
195 399 702 973 1.239 1.612 1.701 1.998
Cncias Biológicas 3 11
32 21 49
57 58 79
Ciência da Computação 2 23
38 53 97
165 203 275
Física 1 7
15 19 35
55 64 87
Matemática 1 5
14 11 16
29 33 47
Química 10 22
41 44 79
104 122 134
Neurociência
16 42 71 78 102
Ambiental e Urbana 2 30
97 155 247
301 320 363
Energia 3 54
11 154 262
335 336 357
Informação 1 9
26 56 121
213 212 260
Instrumentação, Automação e Robótica 4 52
146 164 287
360 417 456
Materiais 1 37
119 138 228
298 324 367
Aeroespacial
3 24 55 79 155 258 287 343
Biodica
2 24 43 56 95 159 178 219
Gestão
3 63 202 225 346 372 395 405
Química 3
15 24 40
59 56 66
Cncias Biológicas 5
15 9 16
36 31 52
Física 1
6 9 20
49 50 73
Matemática 1
12 14 23
39 58 76
Ciências Econômicas
51 135 162 207
Filosofia
3 15 20 25
Planejamento Territorial
1 10 43 51 53
Políticas P úblic as
2 10 58 88 122
Relações Internacionais
2 21 69 100 160
Licenciatura
Filosofia
1 4 11 14 17
932
1.622 2.617
4.184 5.523 6.422 6.686 7.414 8.401 8.969 9.484
231 371 887
1.253 2.257 3.291 3.657 4.345
*Pós Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia
**Pós Bacharelado Interdisciplinar em Ciências e Humanidades
***Alunos podem estar vinculados em mais de um curso, por isso o número total de alunos por curso não é igual ao número total de alunos matriculados na UFABC
Total Bacharelado Interdisciplinar
Total Pós Bacharelado Interdisciplinar
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do relatório UFABC em números- 2007-2017
Pós BC&H**
Bacharelados
Tabela 9 - Matrículas nos cursos de ingresso na UFABC e nos cursos pós-Bacharelado Interdisciplinar
Engenharias
Bacharelados
Bacharelado
Interdisciplinar em
Licenciaturas
Pós BC&T*
136
primeiro ciclo de estudos, ou seja, o Bacharelado Interdisciplinar, não
participando da formação específica.
2 A Expansão da UFBA no Contexto do Reuni
A adesão da UFBA ao Reuni, foi aprovada em outubro de 2007, e
sua implementação ocorreu a partir de 2008, resultando em um conjunto
de mudanças no perfil acadêmico da instituição. A UFBA adere ao Reuni
“considerando a possibilidade de ampliar a oferta dos seus cursos de
graduação, tanto no que diz respeito ao número de cursos, quanto a de
vagas de ingresso, além de vislumbrar a possibilidade de interiorizar seus
cursos.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2012b, p. 10).
Com a adesão ao Reuni, a UFBA estabeleceu um processo de
reforma curricular, a qual visava atender as premissas do Decreto nº
6.096/2007, quais sejam, a interdisciplinaridade e a flexibilidade
curricular. A principal ação, com vistas a instituir esse preceito, foi a
implementação dos cursos de BI em quatro áreas do conhecimento. São
elas: Humanidades, Artes, Tecnologias e Ciências e Saúde.
A universidade que resultou do período de expansão e de
reestruturação tem em torno de 50.000 integrantes. São 36.578 alunos na
graduação, e 7.045 estudantes na pós-graduação, além de docentes,
servidores técnicos administrativos concursados, e trabalhadores
terceirizados.
137
2.1 UFBA Breve histórico
A Universidade Federal da Bahia foi instituída oficialmente em 08
de abril de 1946. Sua constituição englobou a articulação de unidades
isoladas, públicas e privadas, de ensino superior, que se estabeleceram no
estado da Bahia desde o início do século XIX. Os estabelecimentos de
ensino superior que deram origem à Universidade Federal da Bahia foram
o Colégio Médico-cirúrgico da Bahia, criado pelo Príncipe Regente, Dom
João VI, em 1808; os cursos de Farmácia e de Odontologia, criados em
1832 e, em 1864, respectivamente; a Academia de Belas Artes da Bahia,
criada em 1877; a Faculdade de Direito, criada em 1891; a Escola
Politécnica da Bahia, datada de 1897; a Faculdade de Ciências Econômicas
da Bahia, fundada em 1934; e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
de 1941. O curso de Agronomia, embora criado em 1859, só se incorporou
à Universidade Federal da Bahia em 1967, simultaneamente ao curso de
Medicina Veterinária.
Todas as elencadas unidades de ensino superior constituíram o
núcleo inicial da UFBA. Conforme explicitado no capítulo 2, a UFBA,
como grande parte das universidades brasileiras, foi criada a partir da
junção de escolas superiores isoladas. Essa questão é relatada no próprio
Plano de Desenvolvimento Institucional (UNIVERSIDADE FEDERAL
DA BAHIA, 2012b, p. 8),
[...]em que pese o Decreto-Lei de 1946 que criava a nova universidade,
não se pode afirmar que, naquele momento, surgia uma verdadeira
universidade, mas sim uma reunião de escolas já existentes, que exigiam
um amplo esforço da sua administração para se constituir em um
efetivo sistema universitário.
138
Foi somente a partir do início da década de 1970 que foram criados
os primeiros cursos de pós-graduação da UFBA. Inicialmente cursos de
mestrado, integravam a “política nacional de qualificação de docentes
universitários, preparação de quadros profissionais avançados e incremento
às atividades de pesquisa.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA,
2012b, p. 9).
Até meados dos anos 2000, a UFBA foi a única instituição
universitária federal no estado da Bahia. Hoje, são mais quatro novas
UFES, a saber: a Universidade Federal do Vale do São Francisco
(UNIVASF), criada em 2002, presente em três estados nordestinos
8
, a
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), criada em 2005, a
Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), criada em 2013, e a
Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), também fundada em 2013.
De acordo com os documentos norteadores, a UFBA, ao longo de
sua trajetória, “foi sempre partícipe ativa do cenário cultural baiano e
enfrentou conjunturas políticas e econômicas diversas que facilitaram, em
alguns casos, ou dificultaram, em outros, sobremaneira sua atuação e
desenvolvimento.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2012b,
p. 9).
O Programa de Expansão da Educação Superior Pública, fase I,
iniciado em 2003, assegurou a interiorização da UFBA com a criação de
dois campi: Anísio Teixeira, na cidade de Vitória da Conquista, e Reitor
Edgard Santos, em Barreiras, objetivando o aumento de vagas da educação
superior. Ambos foram criados em 2006, com a oferta de doze cursos em
Barreiras, e cinco cursos em Vitória da Conquista.
8
A UNIVASF possui campi nos municípios de Petrolina-PE, Juazeiro-BA, Senhor do Bonfim-BA,
Paulo Afonso-BA e São Raimundo Nonato-PI.
139
2.2 Gestão acadêmica
A Universidade Federal da Bahia (2008a) propõe que os currículos
dos seus cursos de graduação atendam aos seguintes princípios gerais:
flexibilidade curricular, autonomia do sujeito em relação a sua
aprendizagem, articulação entre os campos do saber e atualização de
conhecimentos.
O Plano de Desenvolvimento Institucional da UFBA (2008)
preconiza estruturas flexíveis, abertas a diversos itinerários formativos que
possibilitam aos estudantes se deslocarem entre cursos e instituições, com
aproveitamento de estudos. “A flexibilidade, característica fundamental
que estará presente nas novas modalidades de formação e nos futuros
cursos profissionais ampliará a possibilidade de movimentação interna
dos estudantes entre cursos e programas.” (UNIVERSIDADE FEDERAL
DA BAHIA, 2008d, p. 61).
De acordo com o Projeto Pedagógico Institucional da UFBA (2005),
as mudanças tecnológicas, e na forma de produzir informações, promovem
alterações na organização das relações de trabalho. Esse processo de
alteração demanda “trabalhadores com características substantivamente
diferentes do perfil tradicional, ou seja, sujeitos abertos, capazes de
aprender ao longo da vida, de tomar para si próprios a sua formação
permanente, de serem empresários do seu próprio saber.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2005, p. 6).
Dentro dessa realidade, a formação profissional na UFBA, segundo
os documentos oficiais da instituição, “deverá acarretar uma redefinição da
função docente e dos métodos de acesso ao conhecimento, a partir de um
novo paradigma de ciência e educação cujas relações deverão resultar
140
mudanças estruturais no ato de ensinar” (UNIVERSIDADE FEDERAL
DA BAHIA, 2005, p. 6).
Para atingir os preceitos por ela perseguidos, a UFBA adequou os
currículos dos cursos de graduação, inserindo “uma proporção significativa
de conteúdos de natureza optativa, possibilitando ao aluno definir, em
parte, o seu percurso de aprendizagem” (UNIVERSIDADE FEDERAL
DA BAHIA, 2018b, p. 72). O Regimento Geral da UFBA (2010b) define
que os componentes da estrutura curricular são constituídos em unidades,
e divididos, primeiro, quanto à modalidade, em disciplinas, consideradas
estruturas sistematizadas; atividades, estruturas mais flexíveis, como
oficinas, seminários, ateliês, exposições, produções técnicas e artísticas,
projetos de pesquisa, laboratórios integrados, trabalhos de campo,
módulos disciplinares; estágio; atividades complementares; e trabalho de
conclusão de curso. Ademais, em segundo plano, são definidos quanto à
sua natureza em obrigatórios, considerados indispensáveis à integralização
do curso; optativos, componentes cujos conteúdos têm estreita relação
com a formação pretendida; e livres, conteúdos programáticos que não
têm, necessariamente, relação direta com a formação pretendida.
A estrutura universitária da UFBA foi redesenhada, com a
aprovação de um novo Estatuto e Regimento Geral, em 2010. As principais
alterações foram a instituição da Pró-Reitoria de Pesquisa, Criação e
Inovação, separada da P-Reitoria de Ensino de Pós-Graduação, e a
redefinição da estrutura e das atribuições dos órgãos colegiados superiores
já existentes Conselho Universitário (CONSUNI) e Conselho Superior
de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE). Foram, ainda, instituídos
mais dois Conselhos Superiores, o Conselho Acadêmico de Ensino (CAE)
e o Conselho de Pesquisa e Extensão (CAPEX); foram revistas as
141
competências do CONSUNI e do CONSEPE, havendo, inclusive, a
redistribuição delas para os conselhos acadêmicos.
O processo de transformação da UFBA, com a expansão do Reuni,
impôs a revisão de seu marco regulatório geral. Em 2009, foi aprovado
um novo Estatuto em substituição ao que se encontrava vigente desde
2000. O Conselho Estatuínte, criado via Reunião dos Conselhos
Superiores, aprovou também o Regimento Geral da Universidade que
consolidou e integrou um conjunto de resoluções e normas editadas
entre 1995 e 2008. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA,
2018b, p. 30).
A partir de 2014, o ingresso nos cursos de graduação na UFBA
passou a ser realizado pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), após
classificação na prova do Enem. Por meio do processo seletivo, é possível
acessar tanto os cursos de BI, quanto os cursos de progressão linear ou
cursos específicos.
A Resolução nº 02/2008 do Conselho de Ensino, Pesquisa e
Extensão, estabelece que os cursos de graduação da UFBA devem ser
estruturados nas modalidades licenciatura, bacharelado ou formação
profissional, e podem ser organizados como cursos de progressão linear, na
qual os alunos integralizam a formação acadêmica num único percurso
curricular, ou cursos de dois ciclos, o primeiro, constituído pelo
Bacharelado Interdisciplinar, e o segundo pelo conjunto de componentes
curriculares específicos, organizados de modo a complementar a formação
em cursos de profissões regulamentadas, de acordo com a legislação
vigente.
142
Em texto introdutório ao Estatuto e Regimento Geral da UFBA
(2010b), o então Reitor Naomar de Almeida Filho sinaliza que, apesar do
preceito constitucional da autonomia universitária, artigo 207 da Carta
Magna, a determinação constitucional não tem aplicação direta nas
universidades, haja vista que a ausência de uma lei orgânica ou alguma
norma complementar sobre o assunto restringe as instituições às mesmas
regras de operação e de gestão de qualquer das repartições públicas federais,
enrijecendo suas possibilidades de atuação. Nessa ocasião, Almeida Filho
reitera fala publicada pela Folha de São Paulo (2009),
As universidades federais encontram-se travadas por aparato normativo
que compromete tanto a missão acadêmica de formar com qualidade
quanto o dever de buscar eficiência e economicidade como instituição
pública. [...] Não obstante, é proibido mudar rubricas de custeio
porque o Orçamento da União é prefixado. [...] Projetos pedagógicos
seguem, na minúcia, diretrizes curriculares estabelecidas por órgãos
externos de regulação, influenciados por interesses corporativos e
mercadológicos. Linhas de pesquisa contemplam prioridades definidas
por agências de fomento; programas de extensão respondem a
demandas ou determinações de organismos governamentais, não-
governamentais e empresariais.
Para Almeida Filho (2009), o Estado brasileiro ainda não
enfrentou a questão de qual é a universidade que a sociedade brasileira
precisa. Para ele, “temos que definir se a universidade necessária para este
Brasil do Século XXI é uma burocracia, mais uma repartição pública, ou
se é uma verdadeira instituição de conhecimento e criação, ciente e ciosa
de sua autonomia.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2010b,
p. 5).
143
2.3 Expansão da UFBA no período de 2007 a 2017
Passamos a analisar alguns dados da expansão realizada pela UFBA.
Os dados foram obtidos nas sinopses estatísticas da educação superior do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP), e em indicadores presentes em documentos oficiais da UFBA, tais
como relatórios de gestão e relatórios da Pró-Reitoria de Graduação.
A adesão da UFBA ao Reuni foi aprovada pelos Conselhos
Superiores daquela universidade em outubro de 2007, e implementado a
partir de 2008. O acordo denominado de Proposta de Inclusão da
Universidade Federal da Bahia ao Reuni (2007b), estabelecia um conjunto
de metas a serem cumpridas pela universidade, dentre as quais destacamos:
oferecer 4.510 novas vagas na graduação e ampliar,
gradativamente, as vagas nos cursos existentes;
atingir, até 2012, 37.807 estudantes matriculados, número
que representaria um aumento de 83% em relação a 2007;
elevar, progressivamente, até o final do Programa, a relação
professor/aluno para 18;
reestruturar a arquitetura curricular da UFBA, com a
implementação de novas modalidades de cursos de graduação
baseadas nas diretrizes e dimensões do Reuni.
De acordo com o documento (2007b), as metas seriam alcançadas
objetivando melhor aproveitamento das instalações e equipamentos nos
três turnos. A proposta previa, ainda, a contratação de 533 novos
professores com equivalência em dedicação exclusiva, e de 426 servidores
técnicos administrativos.
144
No que tange à alteração da estrutura curricular, a implementação
dos cursos na modalidade BI construía-se em uma nova alternativa na
educação superior. “Esses cursos propiciarão formação universitária geral e
terão terminalidade própria, mas poderão, também, constituir etapa prévia
aos cursos profissionais que assim o prevejam.” (UNIVERSIDADE
FEDERAL DA BAHIA, 2007b, p. 16).
Para os cursos já existentes na universidade, a proposta da UFBA
(2007b) previa a readequação dos projetos pedagógicos com o escopo de
atender as demandas do Reuni, dotando-os, sobretudo, de maior
flexibilização estrutural. Determinava o acordo:
Em respeito à autonomia das unidades acadêmicas, quanto à adesão ao
modelo de dois ciclos de graduação, foi prevista a escolha da alternativa
de manutenção dos cursos nos moldes atuais, de um só ciclo e com
ingresso específico. Entretanto, todos os cursos deverão adequar seus
projetos pedagógicos de forma a contemplar os princípios estabelecidos
no Reuni. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2007b, p. 17).
A tabela 10 apresenta dados consolidados acerca da expansão
acadêmica da UFBA.
2007 2008
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Vagas 4.246 4.256 6.996 7.991 7.991 7.991 7.991 7.426 7.426 7.426 7.426
Cursos 66 66 100 112 112 112 112 99 99 100 116
Processo seletivo* 4.056 4.036 6.473 7.252 7.208 7.539 6.142 5.700 6.237 6.083 5. 991
Remanescentes ou
outras formas**
171 96 494 553 392 480 763 560 1.566 1.516 1.332
Total 4.227 4.132 6.967 7.805 7.600 8.019 6.905 6.325 7.803 7.599 7.323
Matrícula
(alcançada)
20.731 24.075 25.050 28.173 31.196 31.807 32.059 33.177 33.804 34.371 36.578
Concluintes 2.884 2.946 2.918 3.217 3.008 3.138 3.067 3.387 3.435 3.411 4.212
Tabela 10 - Indicadores da expansão acadê mica na graduação UFBA 2007-2017
Ingressantes*
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do Relatório de Gestão, Prograd (UFABC em Números) e dos Censo INEP - 2007-2017
*Processo seletivo são vagas de novos alunos por processo de exame vestibular ou processo unificado SISU
**Remanescentes ou outras formas: transferências, ingresso como portador de diploma ou editais de preenchimento de vagas ociosas
145
Pela tabela, percebemos que, no período analisado, a universidade
ofereceu 3.745 novas vagas nos cursos de graduação, ofertando, com 46
novos cursos de graduação. A proposta inicial previa o aumento de 4.510
vagas e 37.807 alunos. Ela não foi alcançada durante a vigência do Reuni.
Em 2012, havia 31.807 alunos matriculados na graduação e, em 2017, a
universidade alcançou um total de 36.578 alunos matriculados, ou seja,
manteve-se aquém da meta.
Há de se observar que, no segundo semestre de 2013, o campus
Reitor Edgard Santos (Barreiras) foi integrado à Universidade Federal do
Oeste da Bahia, deixando de fazer parte da UFBA. A decisão causou um
decréscimo de cursos e ingressantes na UFBA, conforme se pode notar nas
estatísticas publicadas em 2014. O campus em questão ofertava 12 cursos
de graduação, contabilizando mais de 1.300 estudantes.
O Relatório de Gestão 2016 (UNIVERSIDADE FEDERAL DA
BAHIA, 2017) considera alguns fatores que estimularam a desistência e
evasão de muitos alunos na graduação, entre eles, atraso no início dos
semestres previstos para 2016, devido à greve de servidores administrativos
e professores, que perdurou por 5 meses no ano de 2015, desencadeando
uma “redução do número de matrículas na primeira chamada e nas
chamadas subsequentes[...]. Por outro lado, a demora para o início do
semestre provocou uma desistência de vários alunos que fizeram sua
matrícula, mas não compareceram para o início das aulas.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2017, p. 52).
Além disso, o relatório menciona a questão da mobilidade em
decorrência da seleção Sisu, “o que é positivo, mas isso ocasiona a
desistência de candidatos de fazerem matrícula, e a realização de chamadas
subsequentes não consegue preencher todas as vagas, por conta do não
146
acompanhamento pelos candidatos dos editais de chamadas para
matrícula.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2017, p. 52).
Ainda a respeito da evasão apontada como um fator que contribuiu
para o não atendimento à meta pactuada o Relatório de Gestão 2016,
menciona que os “alunos que se matriculam em determinado curso,
começam a fazer as matérias, mas abandonam os estudos no primeiro ou
segundo semestre; trata-se daqueles casos de alunos que prefeririam estar
em outro curso e entraram em curso que não era sua prioridade.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2017, p. 53).
A evasão de alunos em todos os níveis têm sido um dos problemas
enfrentados, sendo que a UFBA apresenta uma evasão média de 43%
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2007b, p. 10). A
universidade busca adotar medidas, além dos programas de assistência
estudantil, capazes de corrigir essa distorção. Na tentativa de resolver essa
questão, a UFBA também desenvolve atividades, como maior divulgação
das chamadas de matrícula, com matérias em jornais, envio de correio
eletrônico personalizado para os candidatos e orientação presencial, editais
de seleção de vagas residuais para preenchimento de vagas ociosas,
palestras, debates e seminários com vistas a fortalecer a orientação
acadêmica.
Para o combate de vagas ociosas, a UFBA lança mão de editais de
seleção para vagas residuais. Em 2015 e 2016, foram disponibilizadas mais
de 1.400 vagas, alcançando uma “ocupação de 80% em média, sendo que
há cursos com preenchimento completo e outros com preenchimento
parcial.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2017, p. 52-53).
Em 2017, foram disponibilizadas 1.431 vagas, e o processo seletivo
resultou em 1.097 candidatos aprovados.
147
Mesmo não alcançando o crescimento pactuado, a UFBA, no
período de 2007 a 2017, obteve um considerável aumento de seus índices
de matrículas em relação a períodos anteriores ao Reuni. Ofertou 50 novos
cursos de graduação, e elevou em mais de 15.800 o número de
matriculados na graduação, quase dobrando o contingente do ano de
2007.
A tabela na sequência apresenta os dados da expansão na pós-
graduação stricto sensu.
Pela tabela 11, percebemos que, entre 2007 e 2012, a UFBA
ampliou em 48% o número de cursos de mestrado e doutorado,
terminando 2017 com um aumento de 74% no número de cursos pós-
graduação stricto sensu. Houve, no período, um ritmo de expansão
contínuo, marcado por um crescimento que culminou com 58 novos
cursos de pós-graduação.
A proposta de inclusão da Universidade Federal da Bahia no Reuni
previa a expansão das matrículas na pós-graduação, até 2012, em 38%. No
período de 2007 a 2012, a universidade atingiu uma ampliação de 37%
no número de alunos matriculados em programas de mestrado e
doutorado. De 3.246 matriculados em 2007, passou-se para 4.448 em
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Mestrado 47 49 54 66 67 70 74 77 77 79 82
Doutorado 31 34 38 41 44 46 48 51 52 52 54
Mestrado 2.224 2.163 2.293 2.420 2.364 2.532 2.831 2.989 2.918 3.096 3.866
Doutorado 1.022 1.096 1.379 1.575 1.732 1.916 2.090 2.328 2.665 3.062 3.179
Tabela 11 - Indicadores da expansão acadêmica na pós-graduação UFBA 2007-2017
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados da Prograd - UFBA em numeros e dos Censo INEP - 2007-2017
Nº de cursos
Matculas
148
2012, chegando a 7.045 em 2017. Resultando, no período entre 2007 a
2017, em uma ampliação de 117% no número de matrículas.
Apresentamos a seguir, o número de docentes e técnicos
administrativos efetivos atuantes na UFBA entre 2007 e 2017.
Como já dito, a proposta do Reuni previa a contratação de 533
novos professores com equivalência em dedicação exclusiva. É possível
perceber na tabela a contratação de 402 novos docentes com dedicação
exclusiva até 2012. Um déficit em relação ao previsto de 131 docentes.
Considerando os dados até 2016, o contingente de contratação aumenta
para 562 docentes, somente então, registrando o alcance da meta acordada
no Reuni.
Além dos docentes em regime de dedicação exclusiva, a UFBA
possui docentes, efetivos que atuam em regime de 40 horas e de 20 horas.
Quando consideramos o número total de docentes efetivos, temos os
seguintes dados: 268 docentes em regime de 20 horas, e 191 docentes em
regime de 40 horas em 2007; 331 e 259 em 2012, e 289 e 285 em 2017.
Em relação aos servidores técnicos e administrativos, a proposta
previa a contratação de 426 trabalhadores. Apesar de ser um número
inexpressivo, considerando a expansão prevista no número de cursos, e de
alunos de graduação e de pós-graduação, percebemos, ao acompanhar a
2007 2008
2009 2010 2011
2012 2013 2014 2015
2016 2017
Docentes
1.746 1.768
1.961 2.085 2.257
2.279
2.233 2.275 2.337 2.416
2.505
TAES* 3.289
3.212 3.244 3.273
3.279
3.258
3.197 3.225 3.195
3.126
2.968
*Técnicos administrativos em educação
Tabela 12 - Docentes efetivos e técnicos administrativos em educação UFBA 2007-2017
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do relatório UFBA em numeros- 2007-2017
149
evolução dos dados na tabela 12, que o total de servidores na universidade
em 2012 sofreu uma redução de 31 servidores, em relação ao montante de
técnicos atuantes na UFBA no ano de 2007. Ao considerarmos o ano de
2017 a redução no número de servidores na universidade, em comparação
a 2007 foi de 321.
O Relatório de Gestão de 2015 (UNIVERSIDADE FEDERAL DA
BAHIA, 2016), ao tratar da questão, explica o decréscimo de servidores
técnicos como decorrência de aposentadorias em cargos já extintos, fato
que não libera uma nova vaga para concursos, inviabilizando sua
substituição e induzindo o crescimento do número de trabalhadores
terceirizados. De acordo com dados dos relatórios de gestão, em 2007 a
UFBA possuía 951 servidores terceirizados, número que chegou a 2.273
em 2017. O Relatório de Gestão 2015 trata da questão dos servidores
terceirizados, mencionando que a,
[...] crescente terceirização de trabalhadores para distintas áreas de
atividades nas Universidades se constitui num risco atual e potencial,
que pode fragilizar áreas de atuação relevantes, onde a formação, o
desenvolvimento e constituição de vínculos dos trabalhadores com suas
atividades são fundamentais para a excelência das ações da
Universidade. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2016, p.
142).
Introduzida pelo Decreto nº 200/1967, e complementada pela Lei
nº 5.645/1970, a terceirização no serviço público foi definida como a
contratação ou concessão de execução indireta de serviços pelo setor
privado. Até 2017, os serviços passíveis de terceirização tinham sua
regulamentação no Decreto nº 2.271/1997, representado por atividades
150
de conservação, limpeza, segurança, vigilância, transportes, informática,
copeiros, recepção, reprografia, telecomunicações e manutenção de
prédios, equipamentos e instalações. Vale ressaltar que o Decreto nº 9.507,
de 21 de setembro de 2018, complementado pela Portaria Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão nº 443, de 27 de dezembro de
2018, ampliou a gama de serviços que podem ser terceirizados, permitindo
a terceirização de atividades técnicas auxiliares de arquivo e
biblioteconomia, de laboratório, de comunicação, de execução de obras,
serviços de escritório, atividades auxiliares de apoio à gestão de
documentação, serviços de tecnologia da informação, além de outras
atividades. Vedando a terceirização, somente, para as áreas de tomada de
decisões, atividades consideradas estratégicas para o órgão ou entidade,
atividades que sejam inerentes às categorias funcionais abrangidas pelo
plano de cargos do órgão ou da entidade, e atividades relacionadas ao poder
de polícia.
O Relatório de Gestão 2013 aponta que o crescimento do número
de alunos na graduação e na pós-graduação, além do crescimento do total
de atividades de pesquisa e de extensão, não tiveram “correspondente
incremento nos quadros de servidores técnicos administrativos, o que tem
dificultado a melhoria dos indicadores de desempenho acadêmico da
instituição.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2014, p. 27).
Na tabela seguinte, sintetizamos o quadro de expansão de alunos e
de docentes, nessa tabela, estão incluídos todos os docentes efetivos, ou
seja, além dos professores em dedicação exclusiva, também os docentes em
regime de 40 h e 20 h semanais.
151
Na tabela 13, temos uma ideia geral da expansão realizada na
UFBA. Enquanto o número de matrículas aumentou 19.646, a
contratação de professores foi de 759 docentes. Isso nos traz uma relação
direta de 15 alunos por professor na graduação. Em se considerando a pós-
graduação, a equivalência cresce para 17 alunos por professor. Em 2007, a
universidade apresentava uma média de 13 alunos por professor. A UFBA,
ao fim do Reuni, quase atingiu o percentual de 18 discentes para um
docente, meta do referido programa.
Apresentamos a seguir os dados, em metros quadrados, da área
construída na UFBA ao longo dos anos de 2007 a 2017.
Pela tabela, percebemos um crescimento de 124 mil metros
quadrados. O valor menor verificado está localizado em 2014, e decorre
do desmembramento do campus Reitor Edgard Santos, com sede em
2007
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
1.746 1.768 1.961 2.085 2.257 2.279 2.233 2.275 2.337 2.416 2.505
Graduação 20.731 24.075 25.050 28.173 31.196 31.807 32.059 33.177 33.804 34.371 36.578
Pós-graduação 3.246 3.259 3.672 3.995 4.096 4.448 4.921 5.317 5.583 6.158 7.045
Total 23.977 27.334 28.722 32.168 35.292 36.255 36.980 38.494 39.387 40.529 43.623
TABELA 13 - Quantitativo professor/aluno graduação e aluno pós-graduação UFBA 2007-2017
Docentes
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do relatório UFBA em numeros- 2007-2017
Alunos
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Área construída 262.631,46 262.631,46 292.986,02 307.884,94 349.383,54 354.265,79 354.265,79 338.894,44 350.969,36 386.671,14 386.671,14
Tabela 14 - Expansão em m² da área construída UFBA 2007-2017
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados dos Relatórios de Gestão 2007-2017
152
Barreiras/BA. Nos relatórios de gestão da UFBA, anteriores a 2014, o
cômputo do referido campus era considerado na metragem da UFBA.
O Relatório de Gestão do exercício 2013 elenca alguns entraves na
conclusão e entrega das obras de construção e reforma, oriundos da falta
de pessoal técnico capaz de acompanhar o “volume de obras e com
qualificação necessária para a complexidade de planejar, projetar e fiscalizar
grandes projetos de construção, ampliação e reforma, em limitado período
de tempo, como os exigidos para um campus universitário.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2014, p. 27). O relatório
aludido cita, também, como uma grande dificuldade para a conclusão das
obras, o abandono de obras por parte das empresas, isso depois de usar de
todos os mecanismos protelatórios possíveis.
Além dos impasses já destacados, com o agravo da crise econômica
iniciado em 2014, restrições orçamentárias com relações às verbas
destinadas em anos precedentes começaram a ser aplicadas às
universidades. Com o mesmo contingente de gastos de anos anteriores,
esse fato “levou a um desequilíbrio de contas que se projetou sobre o ano
de 2015 e afetou diretamente as obras iniciadas nos anos anteriores.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2018b, p. 27).
No ano de 2014, havia na UFBA 15 obras em andamento, muitas
com o cronograma atrasado. A instituição, como já comentado, justifica
tais acontecimentos como fruto da “restrição de recursos orçamentário-
financeiros e [de] diversas dificuldades na gestão dos contratos [as quais]
fizeram com que algumas dessas obras fossem paralisadas”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2015, p. 46). As ampliações
de infraestrutura na UFBA foram diretamente afetadas pela restrição
orçamentária, ademais,
153
[...] a expansão da área física da UFBA irá exigir ampliação dos recursos
em manutenção e limpeza, vigilância e segurança patrimonial,
consumo de água e energia elétrica, entre outros serviços continuados
essenciais. Além disso, não se ampliou satisfatoriamente o quadro de
servidores docentes e técnico-administrativos e a dependência de
serviços terceirizados de apoio administrativo aumenta a demanda por
recursos de custeio. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA,
2015, p. 46).
Na sequência, apresentamos os dados relativos ao orçamento da
UFBA, coletados nas Leis Orçamentárias Anuais.
Analisando a tabela, nota-se que o orçamento da UFBA, não
acompanhou o expressivo aumento de alunos e de cursos da universidade,
havendo, inclusive, no que tange aos investimentos, uma redução a partir
de 2015, atingindo níveis semelhantes ao praticado em 2007, momento
no qual a instituição recebia 8 mil novos alunos, perfazendo mais de 39
mil matriculados, somados os cursos de graduação e pós-graduação.
Os repasses destinados ao Reuni tiveram aportes maiores em 2013,
2014 e 2015. Pelos problemas apontados nos relatórios de gestão da
universidade, como atraso nas obras e problemas nas licitações, os repasses
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
LOA/exercício 80.522.684 85.270.258 109.550.716 167.799.271 184.018.946
215.931.625 244.707.950 223.267.446 229.324.552 254.645.929 236.689.570
Lei +créditos 84.124.259 118.298.179 139.473.085 191.838.988 207.081.761 253.022.040 313.822.894 263.148.151 320.151.195 284.716.172 252.314.444
Empenhado 80.725.309 85.270.260 109.550.716 167.799.271 184.012.349 215.931.625 244.707.950 223.267.446 229.324.552 254.645.929 236.689.570
Investimentos 12.590.703 16.833.088 30.414.330 57.227.399 42.562.683 58.454.821 36.836.659 31.958.228 11.793.480 19.103.732 17.387.802
Reuni 23.563.254 46.042.661 58.536.023 59.106.813 57.786.146 64.337.828 92.670.475
Tabela 15 - Orçamento UFBA em R$ - 2007-2017
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados da Lei orçamentária anual 2007-2017
154
oriundos do Reuni, que se tratava de um acordo por etapas realizadas,
atrasaram. Os atrasos nas conclusões das edificações e das reformas, de
acordo com a instituição, prejudicaram o cumprimento dos prazos
previstos no Reuni.
O Relatório de Gestão 2012 aponta os esforços da UFBA para
modernizar e agilizar a gestão, visando “racionalizar e dinamizar a
administração em seus aspectos executivos, gerenciais e operacionais”.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2013, p. 51). Menciona,
ainda, os desafios resultantes do processo de expansão frente ao:
[...] financiamento da rede federal de ensino superior, a concretização
da adequação da infraestrutura, a recomposição dos quadros de
servidores docentes e técnico-administrativos e a manutenção e
ampliação de medidas que garantam condições de acesso à educação
superior e permanência, com qualidade. (UNIVERSIDADE
FEDERAL DA BAHIA, 2014, p. 26).
O processo de expansão do ensino superior no Brasil, com a
interiorização e a criação de novas universidades, o aumento no número
de cursos e de vagas e o aporte de recursos, ocasionou um crescimento de
despesas com manutenção e funcionamento das universidades. A UFBA,
no ano de 2014, já anunciava a situação de restrição das universidades
federais: a “necessidade de investimentos, para fazer frente a nova realidade
com qualidade e compromisso social, a insuficiência dos recursos
aportados já se faz sentir.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA,
2014, p. 26). E, ainda,
155
No exercício 2013 a UFBA enfrentou sérias dificuldades para fechar o
ano sem deixar para o exercício seguinte despesas correntes. Além disso,
a manutenção do bloqueio da maioria das emendas parlamentares
individuais e, especialmente, da emenda de bancada, que destinava à
UFBA dez milhões de reais em capital, prejudicou em muito o processo
em curso de modernização das unidades universitárias e o cronograma
de execução de obras. Lamentavelmente, pela projeção realizada até
este momento, em 2014, as dificuldades serão ainda maiores.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2014, p. 26).
O relatório de gestão (UFBA, 2015) também aponta o decréscimo
de 40% no orçamento de investimentos de 2012 para 2013. Como pode
ser observado na tabela 15. Relata a instituição: “proveniente de uma
emenda parlamentar de bancada, no valor de 30 milhões de reais em 2013
que em 2014 não foi contemplada no orçamento. Considera-se que não
houve compatibilidade entre o orçamento final aprovado e as necessidades
da UFBA.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2015, p. 98).
Com a queda orçamentária, a universidade precisou limitar os empenhos.
O relatório de gestão da Universidade Federal da Bahia (2015),
aponta que esse incremento no orçamento de investimentos em 2012 foi
decorrente de verbas provenientes de emendas parlamentares de bancada.
Esses aportes orçamentários auxiliam as instituições em determinados
momentos, mas não tem nenhuma garantia de continuidade.
De acordo com o Relatório de Gestão 2015, o cenário de
instabilidade orçamentária atingiu, também, as agências de fomento à
pesquisa, tanto federais quanto estaduais: “CNPq, CAPES, FINEP e
FAPESB. Em especial, houve forte redução nos valores de fomento ao
custeio da pós-graduação, bem como a suspensão pela CAPES de missões
ao exterior e de estágios de doutorado sanduíche” (UNIVERSIDADE
156
FEDERAL DA BAHIA, 2016, p. 45). Além da redução, também ocorreu
o contingenciamento. Os recursos financeiros para as universidades
passaram a ser liberados em diversas parcelas, ao longo do ano. Os
recursos financeiros foram efetivamente disponibilizados nos últimos dias
de dezembro, e mesmo no dia 31 de dezembro. Adicionalmente, a variação
cambial tornou obsoleto os orçamentos de equipamentos importados.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2016, p. 45).
A redução no aporte de recursos representou uma grande
dificuldade para a manutenção da UFBA. “Aliado a isto, o montante de
recursos inscrito em despesas de exercícios anteriores ao final de 2014,
configurando expressivo déficit, impôs grandes limitações à execução
orçamentária no exercício” (UFBA, 2016, p. 38). Não bastasse o déficit, o
Relatório de Gestão 2015 aponta, ainda, que a liberação mensal de recursos
foi irregular e insuficiente durante o ano de 2015, “o que ocasionou
paralisação de atividades de grupos de serviços terceirizados, encerramento
de contratos com empresas prestadoras de serviços e irregularidade nos
serviços deste tipo.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2016,
p. 38).
Por todo o exposto nos relatórios de gestão, é possível inferir que a
UFBA vem consolidando esforços que visam à redução de despesas, como
a “racionalização de gastos, revisão de contratos e melhoria em eficiência
geral, possibilitando conter dentro dos limites do possível a expansão de
demandas e despesas” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2016,
p. 38). Não bastassem os fatos relatados, com a publicação do Decreto nº
8.859
9
, de 26 de setembro de 2016:
9
O Decreto n° 8.859, de 26 de setembro de 2016, altera o Decreto nº 8.670, de 12 de fevereiro de
2016, e dispõe sobre a programação orçamentária e financeira, estabelecendo o cronograma mensal
de desembolso do Poder Executivo para o exercício de 2016.
157
[...] parte substancial, próximo a 10 milhões de reais, foi bloqueado no
orçamento da UFBA. Esta importante restrição de recursos de
investimento impossibilitou que se desse continuidade a projetos de
obras e reformas, evitando que se reiniciassem algumas obras que
permanecem paralisadas. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA,
2017, p. 61).
O Relatório de Gestão da UFBA (2016) aponta mais dificuldades
enfrentadas pela instituição, a saber “a restrição orçamentária dos recursos
da ação 8282 do Reuni, a partir de 2016”, bem como a não liberação dos
recursos provenientes de “emenda parlamentar (bancada) para a
Construção do Refeitório da Universidade Federal da Bahia”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2016, p. 41).
Os cortes, contingenciamentos e descontinuidades no orçamento,
a liberação paulatina e fragmentada dos recursos orçamentários, vêm
afetando a UFBA e a “sustentabilidade financeira se compromete caso a
situação econômica nacional não se estabilize e se retome a regularidade
dos repasses financeiros para o pagamento das obrigações da universidade.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2018a, p. 264).
Os cortes e contingenciamentos comprometem os serviços e a
manutenção ambiental e predial da UFBA. No processo de expansão da
UFBA, apesar do aumento do número de matriculados na graduação e na
pós-graduação, a demanda por servidores não acompanhou a expansão.
Além disso, foram relatados atrasos na conclusão de obras, redução e
contingenciamentos de recursos, prejudiciais ao funcionamento da
universidade, a qual se vê obrigada a buscar formas e meios para dar
continuidade as suas atividades de ensino, pesquisa e extensão.
158
2.4 Bacharelado Interdisciplinar
Na UFBA, o curso de Bacharelado Interdisciplinar é ofertado junto
aos demais cursos específicos. O ingresso nos cursos de graduação é
realizado por meio do Sisu, e o discente pode optar por realizar um curso
em dois ciclos, ou ingressar em um dos cursos de progressão linear, sem a
necessidade de cursar o BI para acessar os cursos específicos.
Os cursos de BI foram implementados a partir de 2009 e são
considerados cursos de graduação em regime de ciclos. A universidade
oferta o Bacharelado Interdisciplinar em Artes, em Ciência e Tecnologia,
em Humanidades e em Saúde.
Os cursos de Bacharelado Interdisciplinar são divididos em dois
blocos, cada um com três eixos. O primeiro é integrado pelos eixos de
linguagens, interdisciplinar e integrador, o segundo é composto pelos eixos
orientação profissional, específico e integrador. O eixo integrador
corresponde às atividades complementares. Cada um dos eixos é composto
por módulos de componentes curriculares divididos em obrigatórios,
opcionais e livres. Os eixos perfazem uma carga horária de 2400 h.
A seleção para o segundo ciclo é realizada por meio de editais
lançados pela universidade. A UFBA reserva 20% das vagas nos cursos
específicos para os egressos do BI. As vagas, quando não ocupadas, são
disponibilizadas na seleção geral (Sisu).
Sistematizamos os dados dos cursos de Bacharelado
Interdisciplinar na tabela abaixo:
159
A redução do número de cursos verificada em 2013 diz respeito à
desintegração do campus Reitor Edgard Santos em Barreiras/BA.
Pode-se perceber pela tabela que o número de alunos matriculados
nos cursos de Bacharelado Interdisciplinar está crescendo, alcançando
5.405 alunos em 2017, no entanto, se todas as vagas disponibilizadas para
o curso fossem preenchidas, o total de alunos seria de 12.020, perfazendo
uma defasagem de 6.615 matrículas. Outro fator que pode ser considerado
é a relação entre matrículas e graduados, onde o número de graduados é
baixo. Com uma média de 4 mil alunos matriculados, o número de
diplomados, em todos os anos analisados, se mantém abaixo dos 600
alunos.
Em relação aos editais de seleção para os cursos de segundo ciclo,
a UFBA lança um edital por ano, no qual os alunos são classificados para
ocuparem as vagas do primeiro e do segundo semestres. Os editais, a partir
de 2016, estão disponíveis para consulta. Neles podemos verificar a
disponibilização em 2016 de 1.244 vagas, em 2017 de 1.331, em 2018 de
1.306 e, em 2019, de 1.300 vagas para os egressos do BI nos cursos
específicos. Dessas vagas foram ocupadas: 383 em 2016, 464 em 2017,
557 em 2018, e 429 em 2019. Percebemos uma baixa procura dos alunos
do BI pelos cursos específicos.
2009
2010
2011 2012
2013 2014 2015 2016 2017
Cursos 7
10
10 10
8 8 8 8 8
Vagas 980
1.460
1.460 1.460
1.460 1.300 1.300 1.300 1.300
Matriculados 562
1.984 3.063
3.789
4.323 4.435 4.652 4.840 5.405
Diplomados 156
339 426 450 529 488
Tabela 16 -Cursos de Bacharelado interdisciplinar na UFBA 2009-2017
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do Relatório de Gestão, Prograd (UFABC em Números) 2007-2017
160
3 A Expansão e Consolidação da UTFPR
Ao analisar a expansão promovida pelo Reuni na Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), tomamos por base o conjunto
de metas, prazos e indicadores pactuados, no acordo entre a universidade
e o MEC, pensando nas dimensões acadêmica, administrativa,
infraestrutura e financeira, avaliando o aumento de vagas na graduação,
pessoal (docentes e técnicos), orçamento e ampliação da estrutura física,
bem como as mudanças na estrutura curricular dos cursos e na organização
pedagógica.
A adesão da UTFPR ao Reuni foi homologada pelo Ministério da
Educação em janeiro de 2008. O Plano de reestruturação da UTFPR deixa
claro que a adesão ao Reuni se deu pela possibilidade de ampliação do
quadro de servidores e do aporte de recursos financeiros.
A “possibilidade
de ampliação do quadro de servidores e do aporte de recursos financeiros
previstos, sofrerão notável aceleração [...] principalmente aqueles
direcionados aos discentes e docentes, quer pela criação e ampliação de
programas assistenciais e acadêmicos.” (UNIVERSIDADE
TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2007a, p. 12). A proposta
de expansão da UTFPR está alicerçada em dois aspectos, “a mobilidade
acadêmica, interna e externa, e a flexibilização curricular.”
161
3.1 UTFPR Breve histórico
A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), é criada
pela Lei nº 11.184, de 7 de outubro de 2005. De acordo com o Plano de
Desenvolvimento Institucional 2018-2022, (UNIVERSIDADE
TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2018b), a instituição tem
sua gênese na criação das Escolas de Aprendizes Artífices em várias capitais
do país, em 23 de setembro de 1909.
De acordo com o documento (UNIVERSIDADE
TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2018b), a instituição inicia
suas atividades em 1910 como Escola de Aprendizes Artífices. Nesse
período, o ensino se restringia aos conhecimentos elementares (primário),
e ofícios nas áreas de alfaiataria, sapataria, marcenaria e serralheria. Em
1937, a escola começou a ministrar o ensino de 1º grau, sendo denominada
Liceu Industrial do Paraná, no contexto da Revolução de 1930.
Em 1942, recebeu o nome de Escola Técnica de Curitiba,
ofertando o ensino industrial básico e o ensino técnico. Em 1943, tiveram
início os primeiros cursos técnicos, a saber: construção de máquinas e
motores, edificações, desenho técnico e decoração de interiores.
Ainda conforme registrado no PDI da UTFPR (2018b) em 1959,
a instituição passou a se chamar Escola Técnica Federal do Paraná. Os
primeiros cursos superiores de curta duração de engenharia de operação,
construção civil e elétrica, foram criados em 1974. Quatro anos depois, em
1978, a instituição foi transformada em Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná (Cefet-PR), passando a ofertar cursos de
graduação. Os primeiros cursos de pós-graduação foram criados em 1988.
As primeiras unidades no interior do Paraná foram implementadas a partir
162
de 1990, com o Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Técnico, o
CEFET-PR.
A transformação da instituição em Universidade Tecnológica
(UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ,
2007b) acarretou modificações na unidade organizacional do antigo
CEFET-PR. As unidades de ensino descentralizadas, seis na ocasião
(Medianeira, Cornélio Procópio, Pato Branco, Ponta Grossa, Campo
Mourão e Dois Vizinhos) ganharam o status de campus.
Atualmente, a UTFPR conta com 13 campi, distribuídos nas
cidades de Apucarana, Campo Mourão, Cornélio Procópio, Curitiba,
Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Guarapuava, Londrina, Medianeira,
Pato Branco, Ponta Grossa, Santa Helena e Toledo.
3.2 Gestão acadêmica
Os princípios destacados no Plano de desenvolvimento
Institucional da UTFPR (2009c) são a interação com a comunidade, a
oferta de cursos que atendam às demandas locais e regionais, e a integração
com o segmento empresarial, com os quais a UTFPR procura manter
laços, utilizando-se do “binômio: universidade-empresa; atualização dos
currículos dos cursos da universidade em consonância com as tecnologias
empregadas pelas concedentes de estágio/emprego aos estudantes/ egressos
da Instituição” (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO
PARANÁ, 2009c, p. 44). Dessa forma, uma das características da UTFPR
é
o estreito vínculo com o setor produtivo, abrangendo atividades como:
estágios curriculares, projetos cooperativos e serviços tecnológicos, cursos
de educação continuada e mesas redondas com empresários e supervisores
163
de estágio.” (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO
PARANÁ, 2007a, p. 10).
O Plano de Desenvolvimento Institucional da UTFPR enfatiza a
interação da universidade com as empresas e as entidades vinculadas ao
setor produtivo. A interação em comento é formalizada pelas parcerias em
projetos de pesquisa tecnológica da universidade com as empresas.
Apesar de salientar a integração entre a universidade e as empresas,
o documento em análise postula que “a formação humana e integral não
pode ser entendida apenas como requisitos para formar um bom
trabalhador, um bom profissional ou um bom empreendedor.”
(UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ,
2009c, p. 46). A instituição entende que a formação deve desenvolver um
sujeito autônomo e cidadão.
A UTFPR, por sua natureza e características de instituição de
ensino profissional e tecnológico, busca “contemplar o desenvolvimento
de competências profissionais tecnológicas, gerais e específicas, incluindo
os fundamentos científicos e humanísticos necessários ao desempenho
profissional e a uma atuação cidadã.” (UNIVERSIDADE
TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2009, p. 50).
Os cursos são organizados de modo a que o discente tenha a
possibilidade de fazer itinerários formativos alternativos. “Visando a maior
flexibilidade, os pré-requisitos nos cursos de graduação deverão ser
minimizados, podendo ser dispensados, desde que a organização didático-
pedagógica do curso assegure a sequência lógica dos conteúdos.
(UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ,
2009c, p. 53).
164
O Plano de Desenvolvimento Institucional da UTFPR (2018b)
estabelece como meta a busca de alternativas para a superação de modelos
de ensino organizados com estruturas curriculares inflexíveis, fragmentadas
e hierarquizadas, possibilitando percursos acadêmicos flexíveis e
diferenciados:
Currículos menos densos devem, também, ser buscados, dentro de
uma tendência presente nas principais instituições de ensino do Brasil
e do mundo, visando à formação de um profissional com perfil
moderno, adequado às demandas presentes e que podem ser projetadas
para cenários futuros. (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA
FEDERAL DO PARANÁ, 2018b, p. 40).
O rompimento com o enfoque disciplinar e sequenciado é
entendido pela UTFPR como uma necessidade para a sociedade atual.
Nessa linha, o PDI (UTFPR, 2018b, p. 38) adota a flexibilidade curricular
e o trabalho por competências, focando no “desenvolvimento de
competências profissionais tecnológicas, gerais e específicas, incluindo os
fundamentos científicos e humanísticos necessários ao desempenho
profissional e a uma atuação cidadã.”
A gestão administrativa e acadêmica em uma universidade com
estrutura multicampi tem como princípio a “coexistência entre a
integração e a autonomia” (UTFPR, 2018b, p. 50).
Na UTFPR, de acordo com o Plano de Desenvolvimento
Institucional (UTFPR, 2018b), essa integração é realizada por meio da
definição de políticas e diretrizes institucionais nas áreas de ensino,
pesquisa, pós-graduação, extensão e gestão administrativo-financeira. Com
um modelo de organograma no qual a gestão institucional “atua sob forma
165
matricial no gerenciamento desta estrutura multicampi.”
(UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ,
2018b, p. 50).
A estrutura universitária constitui-se do Conselho Universitário,
Reitoria, suas Assessorias (Desenvolvimento Institucional,
Desenvolvimento Acadêmico, Relações Internacionais, Educação Aberta,
Assuntos Estudantis), quatro Diretorias de Gestão (Avaliação,
Comunicação, Gestão de Pessoas e Tecnologia da Informação), e quatro
Pró- Reitorias. São elas, Pesquisa e Pós-Graduação, Graduação e Educação
Profissional, Relações Empresariais e Comunitárias, Planejamento e
Administração. Conta, também, com 13 Diretorias de campi. A P-
Reitoria de Extensão, comum na maioria das universidades brasileiras, na
UTFPR denomina-se Pró-Reitoria de Relações Empresariais e
Comunitárias, enfatizando o vínculo com o setor produtivo.
Os cursos de graduação presenciais são ofertados em três
modalidades: cursos de tecnologia, bacharelados e licenciaturas,
distribuídos nos 13 campi. Atualmente, são 22 cursos de tecnologia, 16
cursos de licenciatura e 68 bacharelados, dentre os quais, 52 são cursos de
engenharias.
O Estatuto da UTFPR (2009a) trata, em seu art. 2º, da questão
das autonomias didático-científica, disciplinar, administrativa, de gestão
financeira e patrimonial. Nele, postula a ênfase na formação de “recursos
humanos, no âmbito da educação tecnológica, nos diferentes níveis e
modalidades de ensino, para os diversos setores da economia”
(UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ,
2009a, p. 3).
166
O Projeto Político-Pedagógico Institucional da UTFPR (2007b,
p. 9) enaltece a questão da autonomia universitária e as “possibilidades de
buscar recursos adicionais e de ampliar a mobilidade com instituições
nacionais e internacionais, dentre outros aspectos.” Mas, não menciona
quais seriam esses recursos, nem sua procedência.
3.3 Expansão da UTFPR no período de 2007 a 2017
A tabela 17 apresenta os dados da expansão alcançados na UTFPR.
Na coluna que demonstra a evolução dos cursos de graduação, inserimos
uma divisão dos cursos de graduação, pois, no acordo de metas para a
adesão ao Reuni, a UTFPR considerou apenas os cursos de bacharelado e
licenciatura. Isto posto, estava descrito no Plano de reestruturação e
expansão da UTFPR Reuni (2007a), a previsão de criar 29 cursos de
graduação, ofertando 4.884 novas vagas nos cursos de graduação,
atingindo 24.734 matrículas nos cursos de graduação, até 2012.
Ao final de 2012, podemos visualizar que a UTFPR superou o
pactuado no sentido de cursos de graduação, chegando a 2012, com 37
novos cursos de bacharelado e licenciatura. Assim como na questão de
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Vagas
3.355 3.754 4.940 5.480 6.460 6.805 7.110 7.966 8.458 8.725 8.986
Bach e Lic*
25 32
38 42 46 62 63 73 78 81 83
Tecnologias
27 27 24 27 27 25 26 26 24 24 25
Todos
52 59 62 69 73 87 89 99 102 105 108
Ingressantes
3.741 4.119 4.964 7.106 7.246 7.475 7.025 7.851 8.445 8.764 8.579
Matrícula
(alcançada)
11.794 12.505 13.044 15.813 18.468 19.640 21.247 23.147 25.785 27.548 28.608
Concluintes
1.264 1.548 1.450 1.454 1.588 1.735 2.093 1.872 2.041 2.348 2.632
*Bach e Lic
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do Relatório de Gestão e do Censo INEP - 2007-2017
Cursos
Bacharelados e Licenciaturas
Tabela 17 - Indicadores da expansão acadêmica da UTFPR 2007-2017
167
abertura de novas vagas, cujo previsto eram 4.884, ao final de 2012, a
universidade oferecia 6.805 novas vagas nos cursos de graduação. Quando
consideramos somente os cursos de bacharelado e licenciatura, seriam
6.184 novas vagas. Percebe-se que a expansão das vagas na graduação não
se limitou ao período de 2007 a 2012, representando, ao final de 2017,
um aumento de 5.631 novas vagas na graduação, e aumentando em mais
de 17 mil as matrículas na graduação.
Na análise dos indicadores de expansão acadêmica, destaca-se o
aumento gradativo no número de matrículas ao longo do período 2007 a
2012, passando-se de 11.794, em 2007, para 19.640, em 2012.
Alcançando-se, 29.031 alunos, em 2017. A expansão verificada na
UTFPR, resultado de sua adesão ao Reuni, contribuiu para ampliar a
“atuação no interior do Estado do Paraná, com a oferta de cursos de
graduação, principalmente em cursos de engenharias e licenciaturas, além
do crescimento da pós-graduação Stricto Sensu.” (UNIVERSIDADE
TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2015, p. 67-68). No
entanto, ao comparar com os dados previstos, percebemos que apesar de
ter cumprido e, inclusive, superado as metas previstas no que concerne, as
vagas anuais e cursos de graduação, o total de alunos matriculados no final
de 2012 ficou abaixo do pactuado. A baixa ocorreu, em grande parte,
devido aos índices de evasão registrados na universidade. Uma auditoria
da Controladoria Geral da União (CONTROLADORIA REGIONAL
DA UNIÃO NO ESTADO DO PARANÁ, 2017) apontou que os índices
de evasão da UTFPR giravam em torno de 38%. O documento destaca
que:
[...] 1/3 das evasões ocorrerem logo no 1º semestre praticamente sem
frequência de aulas), existe um elemento intrínseco, de cunho pessoal
168
do aluno, que motiva a evasão. Fatores como indecisão da escolha do
curso, não adaptação ao ritmo da vida universitária e outras
dificuldades de caráter pessoal influenciam no abandono do curso.
(CONTROLADORIA REGIONAL DA UNIÃO NO ESTADO
DO PARANÁ, 2017, p. 4).
O relatório aponta, ainda, que alunos que ingressaram no curso
registrado como segunda opção, no processo de seleção, apresentaram
maior propensão à evasão.
De acordo com a versão resumida do Relatório de gestão
(UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ,
2019a) em 2017, teve início um processo de reestruturação dos cursos da
UTFPR para melhorar os índices de evasão, retenção e conclusão dos
cursos. Foram aprovados ajustes e atualizações nas diretrizes curriculares
dos cursos de graduação, regulamentada a criação e a oferta de disciplinas
na modalidade semipresencial e na modalidade não presencial.
De acordo com os dados UTFPR (2017), dos 24.304 alunos
computados em cursos de bacharelado e licenciatura, 21.344 são alunos de
bacharelado, e somente 2.960 fazem cursos de licenciatura. Os cursos de
licenciatura foram criados para cumprir a meta pactuada no Reuni, com a
abertura de um curso de licenciatura em cada campus. Com exceção do
campus de Guarapuava, que não oferta licenciatura, e dos campi de
Curitiba e Pato Branco, com cinco e duas licenciaturas, respectivamente,
todos os outros ofertam apenas um curso de licenciatura.
Para a pós-graduação, o Plano de reestruturação da UTFPR
(2007a) previa dez novos programas de mestrado, e um de doutorado. A
tabela 18 apresenta os dados de expansão na pós-graduação.
169
Pelos indicadores, pode-se afirmar que a UTFPR superou a meta
proposta em relação aos cursos ofertados. Com dezenove novos cursos de
mestrado, e quatro novos doutorados ao final de 2012.
O número de cursos de pós-graduação stricto sensu ofertados pela
UTFPR cresceram mais de 300% entre os anos de 2007 e 2012. O total
de alunos passou de 376 para 869. A expansão foi registrada, também, até
2017, atingindo-se o total de 56 cursos, um aumento de 86% e 2.774
alunos matriculados.
Na sequência, apresentamos os dados relativos ao número de
servidores da instituição.
Em 2007, o quadro geral de docentes efetivos da UTFPR, era
composto por 1.211 docentes efetivos. Destes, 975 do Ensino Básico,
Técnico e Tecnológico (EBTT), e 236 do Magistério Superior (MSUP).
2007 2008 2009
2010
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Mestrado
6 8 11 12 22 25 30 36 41 46 48
Doutorado
1 2 2 2 3 5 6 7 7 8 8
Mestrado
322 384 358 454 622 716 1.079 1.183 1.494 1.990 2.288
Doutorado
54 62 78 89 105 153 247 294 368 453 486
Tabela 18 - Indicadores da expansão acadêmica na pós-graduação UTFPR 2007-2017
Nº de cursos
Matculas
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do Relatório de Gestão, e dos Censo INEP - 2007-2017
2007 2008
2009 2010 2011 2012
2013 2014
2015 2016 2017
Docentes
1.211 1.297 1.447 1.601 1.665 1.959 2.186 2.353 2.473 2.521 2.531
TAES*
639 733 815 884 909 976 1.026 1.159 1.174 1.169 1.156
Tabela 19 - Docentes efetivos e técnicos administrativos em educação UTFPR 2007-2017
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do do Relatório de Gestão - 2007-2017
*Técnicos Administrativos em Educação
170
Na ocasião, os servidores técnicos administrativos somavam 639
trabalhadores.
O documento firmado entre MEC e UTFPR (2007a) previa a
contratação de 679 docentes em regime de dedicação exclusiva (DE), e de
200 servidores técnicos administrativos. Ao final de 2012, o total de
docentes correspondia a 1.959, sendo 1.066 EBTT e 896 MSUP. Ente
2007 e 2012, é possível visualizar que a UTFPR contratou um total de
748 docentes efetivos, destes, 660 docentes do MSUP e 88 docentes do
EBTT. Ao compararmos o montante com os números de 2007,
percebemos que a universidade efetivou as metas previstas. Em 2017, o
quadro de professores estava composto por 2.531 docentes efetivos, sendo
906 EBTT e 1.605 MSUP. Com os dados, é possível aferir que a UTFPR
manteve o foco na contratação de docentes para o MSUP, e na redução
dos docentes do EBTT.
Os técnicos administrativos, por sua vez, no ano de 2012,
somavam 976, sendo 337 admitidos entre 2007 e 2017. Pelo exposto, no
que diz respeito à contratação de servidores técnicos, a universidade
alcançou a meta prevista de contratar 200 servidores administrativos no
período. Os técnicos administrativos somavam, em 2017, 1.156
servidores, um total de 517 novos contratados.
Na tabela abaixo, agrupamos os dados relativos aos matriculados
em cursos de graduação e programas de pós-graduação, correlacionando-
os ao total de docentes efetivos.
171
Analisando a tabela, vê-se a relação direta de alunos por professor
e considerando os alunos de pós-graduação. Ela passou de 10 discentes por
docente, em 2007, para 12,3 em 2017. Assim, no tocante à Relação Aluno
por Professor (RAP), a meta de 18 discentes por um docente estipulada
pelo Reuni não foi atingida.
A tabela 21 apresenta informações sobre a infraestrutura física da
UTFPR. Os dados demostram a expansão anual de área construída
coberta, em metros quadrados.
Até 2012, a área construída da UTFPR foi ampliada em 96.684
m². Semelhante expansão foi verificada nos anos subsequentes e, em 2017,
a UTFPR totalizava 361.799 m², um aumento de 219.786 m² desde a
assinatura de sua inclusão no Reuni.
2007
2008 2009
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
1.211 1.297 1.447 1.601 1.665 1.959 2.186 2.353 2.473 2.521 2.531
Graduação
11.794 12.505 13.044 15.813 18.468 19.640 21.247 23.147 25.785 27.548 28.608
Pós-graduação
376 446 436 543 727 869 1.326 1.477 1.862 2.443 2.774
Total
12.170 12.951 13.480 16.356 19.195 20.509 22.573 24.624 27.647 29.991 31.382
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados do Relatório de Gestão - 2007-2017
TABELA 20 - Quantitativo professor/aluno graduação e aluno pós-graduação UTFPR 2007-2017
Docentes
Alunos
172
Nos relatórios de gestão dos anos de 2015 e 2016, a UTFPR
destaca a falta de recursos para a manutenção e conservação predial da
universidade:
[...] os bens imóveis que se encontram em estado de conservação
regular, sem valor, muito ruim ou necessitando de reparos importantes
permaneceram, no exercício de 2016, no mesmo estado, pois não
houve recursos orçamentários e financeiros suficientes para as devidas
adequações. (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO
PARANÁ, 2017b, p. 181).
A ampliação da estrutura física somada ao maior número de alunos
necessita do respectivo aumento orçamentário, o que não está ocorrendo,
como podemos visualizar na tabela 22, que apresenta os dados do
orçamento da universidade ao longo do período estudado.
Analisando a tabela, verifica-se que, já em 2014, os recursos
provenientes da Lei de Orçamento Anual sofreram um decréscimo em
relação ao orçamento de anos anteriores. Até 2015, os valores recebidos
pela UTFPR provenientes do Reuni, tiveram aportes significativos. Os
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
LOA exercicio 29.520.498 39.596.352 71.639.696 96.867.063 139.263.966 121.628.742 176.548.922 170.719.937 160.350.122 192.581.401 179.216.531
Lei +créditos 30.022.703 65.380.969 80.774.886 103.496.764 160.904.675 160.676.303 203.020.060 201.748.819 241.453.328 210.761.087 183.951.567
Empenhado 29.530.867 39.596.356 71.639.693 96.867.066 139.263.973 121.628.742 176.548.922 170.719.937 160.350.122 192.581.401 179.216.531
Investimentos 4.248.017 6.917.548 32.634.107 45.737.056 78.350.202 47.449.787 64.255.438 56.607.302 38.570.349 44.853.350 27.821.069
Reuni 42.746.514 43.190.312 40.327.726 47.440.312 70.117.380 26.776.555 96.799.525 64.102.445 96.799.525
Tabela 22 - Orçamento UTFPR em R$ - 2007-2017
Elaborado pela pesquisadora a partir de dados da Lei orçamentária anual 2007-2017
173
recursos destinados a investimentos, também foram reduzidos. Em 2011
atingiram seu maior valor 78 mil, já em 2017, os recursos foram pouco
mais de 27 mil.
Em 2007, a UTFPR contava com, aproximadamente, 12 mil
alunos. O contingente contrasta com os 31 mil discentes em 2017,
momento em que a dotação teve menor valor comparada ao ano posterior.
A Prestação de contas exercício 2007 menciona que os “recursos obtidos
através de Convênios e de Emendas Parlamentares foram importantes para
a implantação dos novos campi” (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA
FEDERAL DO PARANÁ, 2008, p. 256). Esses recursos, apesar de
incrementarem o orçamento das instituições, não são contínuos, haja vista
que dependem de apoio político para sua efetivação. Nos relatórios de
gestão, conseguimos perceber a descendência do orçamento da instituição
na rubrica investimentos:
Há que se destacar aqui que, embora houvesse dotação orçamentária
prevista, não foi liberado limite de empenho para que a totalidade do
orçamento fosse executada, sendo que o impacto maior foi no grupo
de despesa de investimento. Neste, havia dotação total em 2014 de R$
76.839.369,07 sendo que o limite de empenho foi de apenas R$
56.607.317,67, sendo que a diferença não liberada se refere a emendas
de bancada. (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO
PARANÁ, 2015, p. 106).
A partir de 2015, foram determinados contingenciamentos
10
que
afetaram a questão orçamentária das universidades. Nesse contexto, “várias
10
Decreto nº 8.456, de 22 de maio de 2015; Decreto nº 8.670, de 12 de fevereiro de 2016; e
Decreto nº 9.018, de 30 de março de 2017.
174
ações previstas para o exercício não foram possíveis de executar,
prejudicando de forma direta as ações de ensino, pesquisa e extensão da
UTFPR. [...] os repasses financeiros foram feitos de forma irregular, e
muito aquém das necessidades reais.” (UNIVERSIDADE
TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2018a, p. 99).
Verifica-se nos relatórios de gestão uma preocupação em conter os
gastos. A UTFPR vem adotando políticas que estimulam ações para a
economia de despesas, tais como:
[...] adoção de critérios de sustentabilidade em suas aquisições, zelando
de forma responsável pelo patrimônio público na área de serviços
gerais, buscando conscientizar a comunidade a utilizar racionalmente
os recursos disponibilizados, tanto no que se refere à economia de
energia elétrica, água, telefonia e materiais de escritório, como na coleta
seletiva de seu lixo; contribuição na ampliação física da universidade,
com projetos que visam ao melhor aproveitamento da luz natural e das
águas pluviais. (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL
DO PARANÁ, 2016a, p. 188).
Com os cortes e contingenciamento dos recursos, as universidades
federais procuram formas para reduzir as despesas, mesmo que tenham que
deixar de ofertar serviços ou reduzir os valores destinados aos programas
de ensino e pesquisa. Percebe-se que as universidades tentam se adaptar à
demanda disponível de recursos, sujeitando-se à incessante caçada às
emendas parlamentares no afã de não ficarem com dívidas e contas
atrasadas.
175
3.4 Adequações curriculares
O documento Diretrizes Gerais do Reuni (Brasil, 2007b) estabelece
alguns procedimentos para a apresentação das propostas ao programa.
Dentre elas, destaca-se a necessidade de incluir a flexibilização curricular
nos cursos de graduação, possibilitando a construção de diferenciados
itinerários formativos. A revisão da estrutura acadêmica, a reorganização e
a diversificação dos cursos de graduação tornam-se, então, para as
universidades que aderiram ao programa, um elemento imperativo.
Nesse quesito, a UTFPR buscou a reorganização curricular de seus
cursos de graduação, sem, todavia, optar por cursos de graduação de
Bacharelado Interdisciplinar. A organização curricular dos cursos da
UTFPR, segundo o documento Plano de expansão e reestruturação
(UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ,
2007a), acarretou mudanças nas diretrizes curriculares, nos regulamentos
acadêmicos, e nos projetos pedagógicos dos cursos e da universidade. A
priorização da flexibilidade curricular foi construída por meio da redução
do número de pré-requisitos e do total de disciplinas obrigatórias, dando-
se vazão à maior presença de disciplinas optativas. Lê-se no original:
[...] a revisão das atuais diretrizes curriculares internas dos cursos de
graduação, visando ao atendimento da flexibilidade como característica
fundamental na estrutura curricular, a construção do projeto
pedagógico de curso orientado para permitir a mobilidade acadêmica
interna e externa, o incentivo à interação com a pós-graduação, o
incentivo à interdisciplinaridade. (UNIVERSIDADE TECNO-
GICA FEDERAL DO PARANÁ, 2010, p. 258).
176
Para atender a essa premissa, a universidade organizou os currículos
dos cursos em núcleos básicos, módulos obrigatórios e optativos, com
ênfase na flexibilidade da formação. De acordo com as Diretrizes
curriculares para os cursos de graduação da UTFPR (UTFPR, 2017a), os
cursos estão estruturados de maneira a propiciar a flexibilidade curricular
por meio de atividades complementares, da redução de pré-requisitos e da
mobilidade acadêmica. Além disso, os Projetos Pedagógicos dos Cursos de
Graduação presenciais da UTFPR “poderão prever a oferta de até 20% da
carga horária do curso, excetuando-se a carga horária destinada a Estágio
Curricular obrigatório e Atividades Complementares, na modalidade
semipresencial” (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO
PARANÁ, 2017a, p, 5).
De acordo com o Regulamento da organização didático-pedagógica
dos cursos de graduação da UTFPR (2014b), o regime adotado para os
cursos de graduação é semestral. As unidades curriculares ou disciplinas
podem ser obrigatórias, optativas e eletivas, ofertadas de forma presencial,
semipresencial e a distância.
No primeiro ano, o aluno é matriculado em todas as
disciplinas/unidades curriculares do primeiro período do currículo do
curso. Observados os pré-requisitos e a existência de vagas, o aluno pode
adiantar unidades curriculares previstas para os períodos posteriores ao que
se encontra.
Para facilitar a mobilidade acadêmica as Diretrizes curriculares para
os cursos de graduação da UTFPR (2017a) colocam como prioridade para
os cursos de graduação a utilização de disciplinas comuns.
177
Os Cursos de Graduação da UTFPR serão organizados de modo a
permitir a flexibilidade curricular (modularização; ênfase; habilitação;
enriquecimento curricular, realização de componentes curriculares em
outros semestres, dentre outros), possibilitando ao aluno formação em
áreas afins e/ou correlatas. (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA
FEDERAL DO PARANÁ, 2017a, p. 2)
No Plano de reestruturação e expansão da UTFPR Reuni (2007a,
p. 44), a instituição se comprometeu ofertar 13 cursos de licenciatura com,
no mínimo, um curso em cada campus. “A ampliação na oferta dessa
modalidade de curso é considerada prioritária pela universidade no âmbito
do Reuni.”
Em 2007, a UTFPR ofertava apenas um curso de licenciatura em
matemática, no campus de Pato Branco. Em 2012 a instituição já contava
com 13 cursos de licenciatura e, em 2017 foram ofertados 17 cursos.
De acordo com Plano de reestruturação e expansão da UTFPR
Reuni (2007a), a instituição é diferenciada por atuar em diferentes níveis e
modalidades de ensino, sob uma única base compartilhada de
infraestrutura física, de recursos de custeio e de recursos humanos. A
Instituição atua nas atividades de ensino pela oferta de cursos na: educação
profissional técnica de nível médio, na graduação e na pós-graduação lato
e stricto sensu.
Nesse período de implementação do Reuni e de consolidação da
instituição como universidade, ocorreram diversas alterações no perfil de
cursos ofertados. Em 2007 a dinâmica dos cursos ofertados pela instituição
se constituía na oferta de 27 cursos de educação profissional técnica de
nível médio, 75 cursos superiores de tecnologia, 7 cursos de bacharelado,
16 cursos de engenharia e 1 curso de licenciatura. Em 2012 foram
178
ofertados 10 cursos de educação profissional técnica de nível médio, 25
cursos superiores de tecnologia, 13 cursos de licenciatura, 34 cursos de
engenharia e 15 cursos de bacharelado. Já em 2017, foram ofertados 4
cursos de educação profissional técnica de nível médio, 22 cursos
superiores de tecnologia, 17 cursos de licenciatura, 51 cursos de engenharia
e 16 cursos de bacharelado. Pelo exposta acima, podemos perceber que no
período contemplado, entre 2007 e 2017 a instituição alcançou o pactuado
no que diz respeito a abertura de cursos de licenciatura. Mas, também
fortaleceu a oferta de cursos de engenharia.
De acordo com o Plano de reestruturação e expansão da UTFPR
Reuni (2007a), outra característica que diferencia a instituição
[...] é o estreito vínculo com o setor produtivo, abrangendo atividades
como: estágios curriculares, projetos cooperativos e serviços
tecnológicos, cursos de educação continuada e mesas redondas com
empresários e supervisores de estágio. Essa convivência com o mundo
do trabalho imprimiu aos currículos da UTFPR uma preocupação com
a formação empreendedora dos estudantes (UNIVERSIDADE
TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2007a, p. 10)
A organização didático-pedagógica dos cursos de graduação da
UTFPR, trabalha com a noção de competências e habilidades na formação
profissional. “Possibilitar ao aluno a aquisição de conhecimentos
tecnológicos, de competências e de habilidades que permitam participar
de forma responsável, ativa, crítica e criativa da vida em sociedade”
(UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ,
2016b, p. 16).
179
Desde 2015, os relatórios de gestão da universidade vêm
apresentando recomendações da Controladoria Regional da União no
Estado do Paraná (CGU/PR), para otimizar os índices da instituição. Os
dados referentes ao número de alunos evadidos dos cursos de graduação,
motivaram uma recomendação por parte do mencionado órgão, sugerindo
a implementação dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar na UTFPR.
A análise foi realizada sobre dados cadastrais e acadêmicos dos alunos
que mantiveram ou ainda mantém vínculos com a UTFPR entre 2012
a 2017 (1º semestre), no quantitativo total de 52.365 matrículas, [...]
foram observadas 19.879 desistências, perfazendo um índice de evasão
global de 38%. (CONTROLADORIA REGIONAL DA UNIÃO
NO ESTADO DO PARA, 2017, p. 3).
No Relatório de avaliação dos resultados da gestão (2017), a
Controladoria regional da união no estado do Paraná afirma que a análise
dos dados da universidade evidenciou que “33% das evasões ocorreram no
1º semestre do curso, com predominância na ocorrência de reprovação por
faltas, indicando que as evasões ocorreram sem frequência de aulas; 51%
das evasões ocorreram até o final do 1º ano” (CONTROLADORIA
REGIONAL DA UNIÃO NO ESTADO DO PARANÁ, 2017, p. 4).
No documento, a Controladoria Geral da União cita os índices de
evasão da UTFPR e critica a estrutura baseada em departamentos, segundo
ela, esse fato “dificulta a agilidade no processo de flexibilização/adaptação
estrutural que se entende nos atos de reestruturar/criar/encerrar
disciplinas e cursos, atendendo as demandas sociais, de mercado e
tecnológicas.” (CONTROLADORIA REGIONAL DA UNIÃO NO
ESTADO DO PARANÁ, 2017, p. 6).
180
O órgão de controle vê na implementação dos cursos de graduação
de Bacharelado Interdisciplinar uma alternativa para a questão da evasão.
Para a Controladoria Geral da União, os cursos de graduação na
modalidade Bacharelado Interdisciplinar possibilitam a otimização da
estrutura física e humana, “unindo duas turmas, gera sobra de um docente,
o que gera uma oportunidade de alocar este docente para outra atividade”
(CONTROLADORIA REGIONAL DA UNIÃO NO ESTADO DO
PARANÁ, 2017, p. 7). A conclusão da CGU/PR é pautada na
compreensão de que turmas iniciais maiores, comuns em cursos de BI,
reduzem a quantidade de docentes necessários. Justificando que as turmas
iniciais dos ciclos básicos podem ser maiores, o documento deixa claro os
motivos para a indicação da implementação de tais cursos: a economia
mesmo com taxas de evasão semelhantes, o custo por aluno que cursa o
BI é significativamente menor do que os cursos tradicionais.”
(CONTROLADORIA REGIONAL DA UNIÃO NO ESTADO DO
PARANÁ, 2017, p. 74). Em igual diapasão, o documento pontua:
De modo geral, os cursos de BI permitem um melhor aproveitamento
dos recursos humanos e físicos da universidade. A infraestrutura
necessária é menor, porque as salas podem ser ocupadas de modo
ótimo. O atendimento dos alunos também é realizado com ganhos de
escala. Os professores de institutos com grande evasão de alunos, como
no caso da Matemática, Química e Física, são facilmente concentrados
e alocados para o ciclo básico. (CONTROLADORIA REGIONAL
DA UNIÃO NO ESTADO DO PARANÁ, 2017, p. 75).
Não obstante as críticas que realiza e, contrariamente suas próprias
colocações, o documento do órgão de controle reconhece que “não há
evidências de que os Bis tenham reduzido a evasão universitária, que é a
181
principal causa de ineficiência no sistema de ensino superior brasileiro.”
(CONTROLADORIA REGIONAL DA UNIÃO NO ESTADO DO
PARANÁ, 2017, p. 74).
Ao fim da leitura das recomendações da CGU/PR, é possível
perceber que o órgão, sugere a implementação na universidade dos cursos
em dois ciclos, como alternativa para a redução da evasão com um único
objetivo de reduzir os gastos. Afinal, o próprio documento conclui que a
redução da evasão, por meio da criação de cursos de Bacharelado
Interdisciplinar, não dispõe de evidências concretas. Entretanto, os cursos
de dois ciclos são mais vantajosos, pois “as turmas iniciais dos ciclos básicos
podem ser maiores, possibilitando ganhos de escala que os cursos
tradicionais não possuem” (CONTROLADORIA REGIONAL DA
UNIÃO NO ESTADO DO PARANÁ, 2017, p. 74).
Na sequência do trabalho desenvolvemos uma análise dos
resultados alcançados, visando à compreensão do contexto das alterações
realizadas nas universidades federais brasileiras após a implementação do
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais Reuni. Fazendo uma explanação pelo viés das
dimensões trabalhadas: acadêmica: vagas, cursos, pessoal (docentes e
técnicos), infraestrutura e financeira.
4. Considerações Acerca da Expansão Reuni na UFABC, na UFBA e na
UTFPR
A partir dos dados obtidos pudemos constatar que na
implementação do Reuni, as três universidades pesquisadas aumentaram o
182
número de matriculados. E, que, apesar das metas não terem sido atingidas
no prazo previsto, as alterações nas universidades federais são visíveis.
No caso da UFABC, a instituição criada em 2006, teve seu
processo de consolidação concomitante ao Programa, mesmo não
elaborando o acordo de metas, ela adotou as prerrogativas presentes no
decreto, inclusive no que diz respeito às inovações acadêmico curricular.
Nesse sentido a UFABC, é uma instituição diferenciada no que diz
respeito a questão curricular. A universidade oferta para ingresso, apenas
os cursos de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia e
Bacharelado Interdisciplinar em Ciências e Humanidades. Somente após
a conclusão de um desses cursos os alunos podem participar de um
processo seletivo interno para ingressar nos demais cursos de graduação,
ofertados na instituição. Ou seja, todos os alunos matriculados na UFABC
realizam, obrigatoriamente, um dos cursos de BI ofertados e, após sua
conclusão recebem o diploma de graduado no Bacharelado Interdisciplinar
em Ciência e Tecnologia ou em Ciências e Humanidades, podendo optar
por ingressar no mercado de trabalho ou realizar um dos cursos de segundo
ciclo ofertados pela instituição, ou ainda, concorrer nos processos seletivos
para pós-graduação stricto sensu. Os alunos podem concorrer várias vezes
nos processos para ingresso em cursos de segundo ciclo e, podem fazer até
três cursos específicos ofertados.
Os dados mostraram que a UFABC ofertou 26 novos cursos de
graduação passando de 932 alunos matriculados para 12.670, totalizando
um aumento de 11.738 novas matrículas. Em relação a pós-graduação
stricto sensu foram 32 novos cursos, as matrículas passaram de 96 alunos
para 1.365 alunos. No mesmo período, o número de servidores
administrativos em educação aumentou em 657 servidores e o de
professores em 595.
183
Os dados evidenciam que a Relação Aluno por Professor (RAP),
em 2007 era de 9 alunos por professor, ao final de 2012, foi de 16 e, ao
final de 2017 atingiu 19,8 alunos por professor, ultrapassando da meta
estipulada pelo Reuni de 18 alunos por professor. Essa relação foi possível
devido ao modelo de cursos de graduação implementado na UFABC, que
proporciona um maior número de alunos ingressantes através dos cursos
de Bacharelado Interdisciplinar. Dessa forma, ao fazermos uma estimativa
de alunos ingressantes por curso, levando em conta que a instituição realiza
um processo seletivo anual, através do Sisu e, considerarmos, não somente
os dois cursos de ingresso, mas todos os cursos ofertados pela instituição,
teríamos em 2017, considerando que foram 2.210 ingressantes para 27
cursos de graduação um total de 82 alunos por curso.
Em relação a estrutura física, até 2017 a universidade construiu
130 mil m². A questão orçamentária, assim como nas demais instituições
federais, vem se agravando no decorrer dos anos. O orçamento anual que
até 2012 estava num constante crescente, em 2013 foi menor que no ano
anterior e, apesar de em 2014 ter esboçado uma recuperação ela não se
estendeu aos anos posteriores. Sendo que, em 2015, 2016 e 2017 atingiu
valores inferiores aos de 2011. Os valores destinados aos investimentos
também sofreram drástica redução a partir de 2015.
A UFBA havia pactuado, no acordo de metas, uma ampliação de
4.510 novas vagas na graduação com o objetivo de alcançar 37.807
estudantes até 2012, número que representaria um aumento de 83% em
relação a 2007. No período compreendido entre 2007 e 2017, os dados
verificados na UFBA foram de 50 novos cursos de graduação,
configurando uma ampliação de 3.745 vagas na graduação até 2012 e, de
3.180 até 2017. A redução nas vagas foi ocasionada pelo desmembramento
do campus Reitor Edgard Santos em Barreiras/BA que foi integrado à
184
Universidade Federal do Oeste da Bahia, deixando de fazer parte da
UFBA. Pelos dados apresentados é possível perceber que a UFBA não
atingiu o pactuado em relação a abertura de vagas na graduação. Em
relação ao número de estudantes matriculados que em 2007 era de 20.731,
chegou a 31.807 em 2012, da mesma forma que em relação a abertura de
vagas, a quantidade de estudantes matriculados não foi atingida. Mas,
chegou próximo a meta pactuada em 2017, com 36.578 estudantes
matriculados, correspondendo a um aumento de 15.847 novas matrículas.
Para a pós-graduação foi prevista uma ampliação de 38% no
número de alunos matriculados. Pudemos constatar que no período
compreendido até 2012, foram criados 38 cursos de pós-graduação stricto
sensu com 4.448 estudantes matriculados. Correspondendo a um aumento
de 37%, bem próximo a meta pactuada e, até 2017 a ampliação na pós-
graduação foi de 117%.
A instituição almejava a contratação de 533 professores e de 426
técnico-administrativos. Pelos dados apresentados é possível verificar a
2012 ocorreu a contratação de 533 docentes, atingindo a meta pactuada
no acordo e, até 2017 esse número chega a 759 docentes. A RAP verificada,
considerando os alunos da pós-graduação passou de 13 alunos por
professor em 2007, para 16 em 2012 e, 17,4 em 2017. Mesmo não
atingindo o número de alunos previsto no acordo de metas e,
consequentemente não alcançando os objetivos do Reuni de elevar o
número de alunos por professor para 18, pode-se perceber que o
crescimento constante no número de matrículas, deixou a instituição
muito próximo a essa meta em 2017.
Já, em relação aos servidores administrativos a UFBA iniciou o
período com 3.289 servidores administrativos em educação, finalizando
com 2.968 servidores. O número de servidores técnicos administrativos
185
em educação diminuiu, no período estudado, foi verificado uma redução
de 321 servidores em relação a 2007.
Quanto a questão da estrutura física a UFBA, mesmo enfrentando
diversos problemas na entrega das obras teve sua estrutura física ampliada
em 124 mil metros quadrados até 2017. O orçamento da instituição, foi
reduzido a partir de 2014, com exceção de 2016 que teve um valor um
pouco acima do verificado nos dois anos anteriores, mas em 2017 o valor
da LOA foi inferior ao destinado em 2013. O valor da parcela para
investimentos também foi reduzido, a partir de 2013.
A UFBA passou por uma reestruturação curricular implementando
os cursos na modalidade de Bacharelado Interdisciplinar, mas diferente da
UFABC, não são os únicos cursos para o ingresso na instituição. No
processo seletivo, coexistem com os demais cursos ofertados, sendo todos
considerados cursos de ingresso. Dessa forma, o aluno pode optar por
ingressar nos cursos de bacharelado interdisciplinar e depois fazer uma
seleção para os cursos específicos, ou ingressar diretamente nos cursos
específicos.
No caso da UFBA, foram implementados os cursos de Bacharelado
Interdisciplinar em: Artes, Ciência e Tecnologia, Humanidades e Saúde,
estes compõem o primeiro ciclo. Já, os cursos de segundo ciclo integram-
se, apenas parcialmente a esta proposta. Pois, os cursos de BI não são uma
etapa formativa para todos os ingressantes da UFBA, a instituição manteve
o ingresso para os cursos específicos por meio do Sisu. O acesso ao segundo
ciclo é realizado por meio de edital interno e a instituição reserva 20% das
vagas para os egressos dos cursos de BI.
A UTFPR, havia previsto no acordo de metas a abertura de 32
cursos de graduação, atingindo ao final do período um total de 29.524
186
alunos matriculados. Pudemos constatar que durante a vigência do Reuni
foram criados 37 cursos de graduação, superando a meta pactuada.
Entretanto, quando analisamos a relação de alunos matriculados
verificamos que a meta não foi atingida, pois, a instituição alcançou 19.640
alunos matriculados, 10 mil alunos a menos que o pactuado. Apenas em
2017, a instituição chegou perto de atingir a meta com 28.608 matrículas.
A instituição não atingiu a meta no prazo previsto, devido ao
problema de evasão enfrentado pela universidade. A questão da evasão foi
intensificada com a unificação dos processos de seleção através do Sisu, que
possibilitou aos estudantes a escolha de vagas e de cursos em diferentes
lugares do Brasil. Dessa forma, a instituição acaba recebendo alunos de
diversos estados brasileiros, o que resulta em diversas dificuldades para os
estudantes, seja a distância da família, a questão financeira, pois os
programas de assistência estudantil, não são suficientes para suprir a
demanda. Em estudo realizado por Gómez et al (2015, p. 83) ressalta que
“a evasão dos alunos pode ser resultado desse movimento migratório
promovido pela implantação do Sisu.” E que na maioria dos casos os
alunos acabam desistindo do curso para realizar outro curso superior em
instituições mais próximas da cidade de procedência.
Em relação a pós-graduação foram previstos a oferta de 11 novos
programas, em 2012, a instituição ofertou 19 novos programas de
mestrados e 4 de doutorado, finalizando o período com 30 programas em
nível pós-graduação stricto sensu e 2.774 alunos matriculados
O plano de metas previa a contratação de 679 docentes em regime
de dedicação exclusiva, foi possível verificar até 2012 a contratação de 748
docentes, superando a meta prevista para o Reuni. Dessa forma, devido ao
número de alunos não ter sido alcançado pôde-se verificar, no caso da
187
UTFPR que a RAP pouco se alterou, sendo 10 em 2007, 10,4 em 2012 e
12,3 em 2017, abaixo das metas do programa.
A previsão era contratar 200 técnicos administrativos, ao final de
2012 foi verificado a contratação de 337 servidores, bem acima do
previsto. Mesmo assim, pode-se perceber, ao compararmos as três
instituições pesquisadas que a UTFPR tem o maior percentual de alunos
por servidor. Assim, em 2007 a UTFPR apresentava uma média de 19
alunos por servidor, em 2012 foram 21 alunos por servidor e, em 2017
essa relação representava 27 alunos por servidor. A UFABC apresentou os
seguintes dados: 2007 a instituição possuía 11 alunos por servidor, em
2012 esse número atingiu 14,2 e, em 2017 foram constados 18,7 alunos
por servidor.
Já no caso, da UFBA, que finalizou o período com menos
servidores do que possuía anteriormente, foram verificados os seguintes
dados: 2007 a instituição apresentava 7,2 alunos por servidor, em 2012 os
dados evidenciaram 11 alunos por servidor e, em 2017 essa relação chegou
a 14,6. Ou seja, apesar de termos verificado no período estudado, que o
número de alunos por servidor quase dobrou, no comparativo as demais
universidades pesquisadas, a UFBA, ainda apresenta um percentual menor
de alunos por servidor.
A estrutura física da UTFPR aumentou até 2012, em 96.684 m²,
no Plano de reestruturação e expansão da UTFPR Reuni (2007a) a
ampliação prevista foi de 52.905 m², nesse item a instituição superou o
pactuado. A partir de 2014 o orçamento da universidade vem sofrendo
reduções. Em 2017, o valor foi menor do que o disponibilizado para 2013.
A parcela destinada aos investimentos, também foi reduzida sendo que o
valor destinado em 2017 foi menor do que o de 2009.
188
A implementação dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar
atendia a diretriz do Reuni, a qual preconizava, a diversificação das
modalidades de graduação, preferencialmente não voltadas à
profissionalização precoce e especializada. Apesar de constar no decreto,
essa diretriz não foi considerada obrigatória e foram aceitas outras formas
para atender ao dispositivo como: reformulação dos cursos de graduação
com vistas à utilização de novas metodologias e estímulo à flexibilização
curricular, adequação do currículo viabilizado pelos componentes de
atividades complementares e aumento da carga horária optativa nos cursos
de graduação. A UTFPR realizou uma reestruturação dos cursos de
graduação ofertando matérias optativas e reduzindo os pré-requisitos,
optando por não ofertar os cursos de Bacharelado Interdisciplinar.
Transformada em universidade em 2005, nesse período, a instituição
buscou consolidar bases para sua afirmação enquanto universidade,
reduzindo os cursos de natureza técnico e tecnológicos e priorizando os
cursos de engenharia e licenciatura.
Entretanto, conforme se constatou, no caso da UTFPR, outros
órgãos como a Controladora Regional da União no Estado do Paraná
(2017), ao fazer o relatório de avaliação sobre os resultados da gestão no
ano de 2017, recomenda como uma possível solução para a questão da
evasão a implementação dos cursos de BI sob a justificativa de melhor
aproveitamento dos recursos humanos e físicos da universidade. Mesmo
reconhecendo que as taxas de evasão dos cursos de BI e específicos são
semelhantes, a CGU/PR aplica essa recomendação, pois entende que, com
turmas iniciais maiores, o custo por aluno que cursa o BI é
significativamente menor do que os cursos tradicionais.
Apesar dessa recomendação estar justificada pelos altos índices de
evasão, pode-se constatar, especialmente, no caso da UFABC, que a
189
inserção dos cursos de BI não altera a evasão na universidade. Mesmo se
constituindo em uma instituição diferenciada pudemos verificar que as
questões relativas à evasão são similares às das duas outras universidades
pesquisadas. Nos relatórios de gestão das instituições estudadas é possível
verificar a dificuldade encontrada quanto a questão da evasão. Na UFABC,
“a evasão, representada pela soma dos cancelamentos voluntários e
abandonos, foi o motivo mais significativo de perda de alunos.”
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC, 2016, p. 172).
A UFBA, afirma que uma das causas da evasão são os estudantes
que se matriculam em determinado curso, mas abandonam os estudos no
primeiro ou segundo semestre, pois, “entraram em curso que não era sua
prioridade.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 2017, p. 53). A
universidade, faz menção ao processo seletivo do Sisu que apresenta
desafios e, não preenche todas as vagas da instituição. A alternativa adotada
pelas universidades para preencher as vagas não ocupadas é a realização da
seleção para vagas residuais. Em 2015 e 2016, na UFBA foram
disponibilizadas 1.400 vagas para o edital de vagas residuais, “um número
praticamente igual às vagas do Sisu de meio de ano.” (UNIVERSIDADE
FEDERAL DA BAHIA, 2017, p. 53).
O que nos remete ao Relatório de Gestão (UNIVERSIDADE
TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2019a, p. 37), que aponta
que as principais causas de evasão formalizadas pelos alunos, “estão
relacionadas à situação vocacional e socioeconômica do estudante.” A
dinâmica do Sisu facilita a matrícula de estudantes em universidades de
todo o país, levando-os a matricularem-se em instituições distantes. De
acordo com dados do Censo da educação superior 2017, no ano em
comento, 31.881, correspondendo a 10% dos novos alunos das
instituições federais se matricularam em uma unidade da federação
190
diferente daquela de sua residência e, do total de ingressantes 69.256 ou
21% fizeram o Enem mais uma vez em 2017, mesmo já frequentando uma
IFES.
Por todo o exposto, verifica-se um conjunto de medidas adotadas
pelas universidades em busca de suas adequações para o alcance dos
objetivos do Reuni. As inovações acadêmicas relatadas pelas IFES vão
desde a reformulação de sua estrutura acadêmica à reestruturação de cursos
e modelos acadêmicos e curriculares.
As universidades ampliaram sua estrutura física e o número de
alunos matriculados, mesmo não alcançando o pactuado no ano previsto,
chegaram muito próximo a meta em 2017, por outro lado, o orçamento
das instituições vem sendo reduzido, ano após ano, desde de 2013. Se não
bastasse, a parcela destinada a investimento também foi reduzida.
A redução dos recursos necessários para a manutenção de estruturas
prediais das universidades federais prejudica as atividades de ensino e
pesquisa, pois são necessários recursos para viabilizar a manutenção da
estrutura física, dos equipamentos e dos materiais de laboratórios, para que
estudantes e professores tenham disponíveis os recursos necessários para o
bom desenvolvimento da aprendizagem e das atividades de pesquisa.
191
Considerações Finais
Neste trabalho, propusemo-nos a investigar o contexto e o
desenvolvimento do Reuni nas universidades federais, examinando a
dimensão acadêmico-curricular do programa, com vistas a caracterizar o
processo de reestruturação curricular por meio da implementação dos
Cursos de Bacharelado Interdisciplinar, analisando as implicações do
Reuni, através dos dados de três universidades federais: Universidade
Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). A pesquisa teve
natureza bibliográfica e documental, as discussões foram baseadas na
análise da revisão da estrutura acadêmica, diversificação das modalidades
de graduação e ampliação da oferta de educação superior nas UFES.
O Reuni, implementado no governo Lula, apresentou-se como a
principal ação política de expansão das universidades públicas federais após
um longo período de sucateamento, investindo em infraestrutura e
contratação de servidores. Introduzindo um sistema de metas de
desempenho para as universidades federais, associado a um acréscimo de
recursos orçamentários, com prazos pré-determinados.
O processo de expansão das universidades públicas federais teve
como metas a abertura de novas vagas, ampliação no número de cursos e
matrículas, diversificação das modalidades de graduação, e melhor
aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas
universidades federais. O Decreto 6.096/2007 vinculava os repasses ao
192
cumprimento das etapas, e condicionava o atendimento dos acordos à
capacidade orçamentária e operacional do Ministério da Educação.
Analisando a conjuntura de formulação do Reuni que, de acordo
com Lima (2007), Ferreira e Oliveira (2010), Dourado (2008) e Silva
Júnior (2003), está inserida em um processo mais amplo do
reordenamento do Estado capitalista, a expansão da educação superior tem
sido objeto de políticas educacionais centradas em processos de
diversificação e de diferenciação institucionais, marcados por uma lógica
privatista e mercantil, em um processo que vem demonstrando
continuidade no cenário da política educacional brasileira.
Partiu-se do entendimento de que vem sendo realizado um
movimento de adequação das esferas educacionais ao sistema produtivo,
articuladas com o processo de mundialização e reestruturação do
capitalismo. Materializando a constituição da universidade pautada por
resultados, e com maior articulação entre os sistemas educativos e o setor
produtivo. Dessa forma, a universidade é entendida como responsável por
formar um cidadão flexível, empreendedor e capaz de se adaptar as
demandas da sociedade.
Outro ponto que se destaca é a reestruturação curricular, com a
revisão da estrutura acadêmica e a reorganização dos cursos de graduação,
além da introdução dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar. Essas
alterações instituem um sistema meritocrático responsabilizando os
indivíduos pela sua formação, principalmente ao introduzir sistemas
formativos flexíveis, onde o aluno deve escolher qual deve ser a base de sua
formação. Para Severino (2009), esse processo impõe aos estudantes uma
responsabilização sobre sua formação, pois é ele que escolhe o seu percurso
formativo, estando seu sucesso, ou seu fracasso, diretamente associado as
suas escolhas.
193
Para compreender como se desenvolveu o Reuni, realizamos, no
capítulo 3, uma breve avaliação dos dados de todas as universidades
federais quanto à questão de aumento no número de universidades, vagas,
matrículas e servidores. Isso nos permite afirmar que, no período
compreendido entre 2007 a 2012, foram criadas 4 novas universidade
federais, a ampliação da oferta de vagas aumentou 72% nos cursos de
graduação presencial, e o aumento de matrículas foi de 53%.
Posteriormente, analisamos os cursos de Bacharelado
Interdisciplinar implementados nas universidades federais com o objetivo
de diversificação das modalidades de graduação. Foi possível perceber que
18 universidades Federais implementaram tais cursos: UFABC, UFBA,
UFERSA, UFJF, UFMA, UFOB, UFOPA, UFRB, UFRGS, UFRN,
UFSB, UFSC, UFSJ, UFVJM, UNIFAL, UNIFESP, UNILAB,
UNIPAMPA.
Dessas, a UFABC, a UFERSA, a UFSB e a UFVJM, possuem os
cursos de BI como cursos de obrigatórios para o ingresso na instituição.
Assim, todos os estudantes ingressantes passam, inicialmente, por um dos
cursos de Bacharelado Interdisciplinar ofertados. Somente depois podem
acessar um dos cursos de formação específica. A forma de ingresso, tendo
o curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia como um requisito de
acesso aos demais cursos de graduação, também é aplicada aos cursos
ofertados pelo campus de Poços de Caldas (MG) da UNIFAL, e pelo
campus de São José dos Campos (SP) da UNIFESP. Na UNIFAL e na
UNIFESP, esse sistema é adotado somente nos campi de Poços de Caldas
(MG) e de São José dos Campos (SP), os demais campi das instituições
mencionadas, não ofertam cursos de Bacharelado Interdisciplinar, e
adotam o ingresso pelos cursos específicos.
194
Os cursos ofertados, 21 diferentes nomenclaturas, são programas
de formação, em nível de graduação, de natureza geral, organizados por
Grandes Áreas do Conhecimento: Ciências Exatas e da Terra, Ciências
Biológicas, Engenharia/Tecnologia, Ciências da Saúde, Ciências Agrárias,
Ciências Sociais, Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes. Os cursos
implementados nas universidades federais são os seguintes: BI em Artes,
BI em Artes e Design, BI em Ciência e Tecnologia, BI em Ciências Exatas,
BI em Ciências Exatas e Tecnológicas, BI em Ciências, BI em
Humanidades, Bacharelado em Humanidades, BI em Ciências Humanas,
BI em Ciências e Humanidades, BI em Cultura, Linguagens e Tecnologias
Aplicadas, BI em Saúde, BI em Ciências Agrárias, BI em Ciências
Ambientais, BI em Ciência e Economia, BI em Ciência e Tecnologia das
Águas, BI em Ciências da Terra, BI em Ciência e Tecnologia do Mar, BI
em Energia e Sustentabilidade, BI em Biossitemas e BI em Tecnologia da
Informação.
Assim, com exceção da UFABC, da UFERSA, da UFVJM e da
UFSB, as três primeiras instituídas em 2005 e a quarta instituída em 2013.
A reestruturação de modelos de graduação implementados, a partir do
Reuni, em várias instituições, convivem com a continuidade de estruturas
acadêmicas e organizacionais tradicionais já existentes.
No terceiro capítulo, analisamos três universidades federais pelo
viés da expansão ocasionada pelo programa Reuni. A primeira, a UFABC
em fase de consolidação, pois sua criação ocorreu durante os trâmites de
implementação do Reuni. A segunda, a UFBA, instituição centenária e de
grande importância no cenário nacional e, a terceira, a UTFPR em fase de
afirmação, pois passou em 2005 por um processo de transformação de
Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), para Universidade
Tecnológica. Nos três casos foram visíveis as alterações nas instituições,
195
durante e após o desenvolvimento do Reuni. Com a ampliação no número
de alunos, cursos de graduação e programas de pós-graduação stricto sensu.
Apesar de verificarmos que, no prazo pactuado, as universidades
não conseguiram atingir a meta de alunos matriculados, a expansão foi
muito expressiva. A análise dos dados demonstra que, até 2012, a UFABC,
que estava em fase de consolidação, ampliou as matrículas na graduação
em 680%, a UFBA ampliou em 53%, e a UTFPR em 66%. Quando
avaliamos os dados até 2017, o percentual é ainda maior, mais de mil por
cento na UFABC, 76% na UFBA, e 142% na UTFPR.
Pelos dados apresentados, pode-se evidenciar que as universidades
pesquisadas se empenharam para cumprir as metas pactuadas, e que houve
uma expansão nos cursos e nas matrículas da instituição. Esse crescimento
compreendeu a abertura de novos campi, especialmente no interior, a
expansão no número de instituições, bem como a ampliação vagas e cursos
nos programas de graduação e pós-graduação, oriundos dos acordos de
metas do Reuni, assinados entre as universidades federais e o MEC.
Nesse sentido, o Reuni é um programa bem-sucedido do ponto de
vista de ampliação do acesso ao ensino superior público. Entretanto, apesar
do bem-intencionado objetivo de expansão na oferta de educação superior,
a implementação do Reuni ocorreu na forma de contratos de gestão e com
prazo definido para término. Além disso, nesse mesmo período, verificou-
se um grande aumento de alunos nas instituições privadas fomentado por
programas governamentais como o Prouni e o FIES, que alavancaram a
mercantilização da educação brasileira.
Quanto a questão da reestruturação acadêmica o Reuni se mostrou
como um elemento indutor para a implementação de cursos de graduação
em ciclos, denominados de Bacharelados Interdisciplinares, que
196
correspondem a cursos generalistas, com uma duração menor, com um
número de vagas para ingresso de alunos nos processos seletivos muito
maior, quando comparados aos atuais cursos de graduação, grande
percentual da carga horária em disciplinas optativas e currículos flexíveis
com o propósito de adequar as universidades às novas exigências do
mercado capitalista, comprometida, cada vez mais, com as atividades
produtivas e com os parâmetros de mercado voltada às demandas de
empresas.
Os cursos de Bacharelado Interdisciplinar prezam por uma
formação generalista e, não obstante, afirmem a universidade como
independente das demandas da sociedade produtiva, introduzem
competências estreitamente correlacionadas a sociedade mercantilizada,
reafirmando compromissos com documentos produzidos pelo Banco
Mundial, Unesco e Alfa Tuning. É perceptível, que apesar de enfatizarem
uma formação humanista, incorrem em contradições que deixam claro o
quanto os cursos de Bacharelado Interdisciplinar estão dedicados a uma
formação que visa a adaptação ao mercado de trabalho.
Enfatizando a necessidade de uma formação flexível e orientada
por competências e habilidades, que possibilitam a inserção em múltiplas
interfaces profissionais, com capacidade de autoaprendizado e de contínua
atualização, promovendo o desenvolvimento de competências e
habilidades para o aprendizado ao longo da vida. Habilidades primordiais
para conformar os trabalhadores às novas exigências do mercado de
trabalho, competitivo, instável e em permanente metamorfose. Se espera
que a universidade ofereça uma formação para inserir os educandos em um
mercado de trabalho flutuante e, cada vez mais, excludente. Não
demonstra preocupações reais com a modificação das condições de vida e
de trabalho, apenas de adaptação ao mercado de trabalho.
197
A criação dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar com forte viés
de atendimento as necessidades do capital, nos remete ao defendido por
Fernandes (1975) que, ao se referir as alterações na sociedade urbana
industrial, o autor, cita a crítica a universidade existente, que trata o ensino
superior como um “luxo inútil” e precisa passar por readequações para
preparar os estudantes para as novas exigências do desenvolvimento
dependente. Esse processo de adaptação as novas demandas da sociedade
capitalista é o que vem ocorrendo com a inserção dos cursos de
Bacharelado Interdisciplinar, que se apresentam com um caráter
humanista, mas, na verdade, consistem em cursos generalistas e aligeirados.
É no reordenamento da sociedade capitalista que percebemos
claramente essa ingerência sobre a educação, nesse momento, se acirram as
críticas sobre a sua qualidade e sua utilidade, principalmente da educação
superior, aflorando o discurso a respeito da necessidade de adequações para
preparar os estudantes para as novas formas de trabalho.
De fato, a educação superior precisa de mudanças para atender de
forma igualitária os diversos setores da sociedade, mas precisamos de uma
educação que almeje a transformação dessa sociedade e, não simplesmente
vise se adaptar as alterações da sociedade capitalista e cada vez mais
excludente.
Dessa forma, o Reuni depois de um longo período de descaso com
as universidades mantidas pelo governo federal, trouxe uma esperança,
uma promessa de investimentos e de ampliação. Com a possibilidade de
aumento no número de alunos, docentes, servidores e estrutura física. Foi
um período dinâmico para as universidades federais, entretanto, findado o
período programado, cessaram as verbas destinadas ao programa, e o
orçamento das instituições vem sofrendo drásticos cortes e
contingenciamentos, ano após ano. E esse contexto que aumentou o
198
número de alunos e de programas de assistência estudantil, ofertando
acesso e possibilidades para que esses alunos permanecessem nas
instituições concluindo os cursos iniciados, mesmo que insuficientes para
atender a demanda, não teve previsão de continuidade. Mas não só isso.
Findo o programa, as verbas destinadas para as universidades passaram por
cortes, deixando as instituições com uma demanda maior frente um
orçamento em declínio.
Um período de expansão programado e com data para terminar,
seguido por um período de cortes no orçamento, este sim, sem previsão de
término. O Reuni se caracterizou por ser um programa com viés gerencial
que operacionalizava a realização de contratos de gestão entre o MEC e as
universidades, acarretando uma expansão quantitativa, com aporte
limitado e provisório de recursos.
Os dados evidenciam, que se por um lado houve expansão
acadêmica a mesma não foi acompanhada de seu aporte orçamentário. A
educação para ofertar qualidade de ensino e fazer pesquisa, necessita de
investimentos contínuos, não apenas através de programas de tempos em
tempos, seguidos de longos períodos de sucateamento.
Hoje, passados sete anos do término previsto para o programa, as
universidades estão passando por uma situação de redução e
contingenciamento de recursos. De acordo com nota da UFBA (2019), a
instituição teve R$ 55,9 milhões bloqueados pelo Ministério da Educação
(MEC), correspondendo a 40% do orçamento de custeio. A franca
expansão da UFBA nos últimos anos contrasta com um cenário de
progressivo encolhimento do orçamento. A UFBA vem controlando os
gastos com água, energia elétrica, e otimizado a prestação de serviços de
segurança, portaria, limpeza e manutenção.
199
No caso da UFABC, o bloqueio representa R$ 15,9 milhões. Em
nota, a universidade informou que o corte afeta toda a universidade em
seu papel social de formação de profissionais, e na produção de ciência e
tecnologia.
Na UTFPR essa intervenção restringiu em 36,25% o
planejamento de aplicação de verbas de custeio. A orientação da reitoria
para os campi UTFPR (2019b) é a de manter apenas os gastos estritamente
essenciais para garantir a continuidade, dentro do possível, das atividades
de ensino, pesquisa e extensão, concentrando os esforços para a
manutenção de programas estudantis e para o pagamento de despesas
básicas, como água, luz, telefone, limpeza e segurança.
A redução do orçamento, verificada nas três universidades
pesquisadas, ocorre também nas demais instituições federais. De acordo
com dados do G1, em 2017, as universidades federais tiveram o menor
repasse de verbas em sete anos. Entre as 63 instituições, 90% operam com
perdas reais em comparação a 2013. A redução da verba está na contramão
da recente política de expansão da rede federal de ensino superior.
De acordo com Mancebo, Silva Júnior e Oliveira (2018, p. 6), em
função do corte de verbas, constata-se nas universidades federais, além do
abandono da infraestrutura física dos campi, “a amarga tarefa de
reconfigurar diversos procedimentos internos, para fazer frente à expansão
(do período anterior) que lhes legou mais alunos, cursos, campi e forte
interiorização, sem financiamento para a devida consolidação”.
Nesse momento de contingenciamento de recursos, as
universidades vêm somando esforços para se manter em funcionamento,
buscando minimizar os impactos nas atividades de ensino, pesquisa e
200
extensão, além da assistência estudantil, transferindo os cortes do
orçamento para as unidades administrativas e de gestão.
As consequências desse processo estão expressas desde a
flexibilização dos currículos, adoção do ensino a distância como uma forma
de baratear as despesas e atender um número maior de alunos, a
intensificação do trabalho docente, principalmente, com foco no ensino e
as debilidades referentes à estrutura física da universidade, que não estava
preparada para atender com qualidade a uma maior demanda de alunos,
resultando em uma baixa qualidade de ensino.
A história mostra que a educação no Brasil tem sido utilizada como
uma ferramenta para consolidação das políticas de ordem capitalista. Nesse
sentido, as reformas e políticas dirigidas à educação estão conectadas ao
contexto sociopolítico de sua implementação. Assim, a estratégia do
governo Lula de conciliação de classes, sob um programa de governo
engendrado por frações da burguesia e da burocracia sindical, com algumas
concessões aos trabalhadores. Baseia-se na tentativa de postular uma
mudança gradual na sociedade através da qual se realizam alguns
programas para as classes trabalhadoras visando reduzir as reivindicações e
articulações populares.
Em suma, não é com um programa ou reforma educacional que
serão superados os embates na universidade e muito menos no modo de
produção capitalista. Dessa forma, não podemos esperar grandes
mudanças quando tratamos de reformas que se situam nos marcos
capitalistas, principalmente, se essas reformas nascem por meio de
legislações emanadas diretamente de setores do governo. Ou seja, não são
frutos de debates da sociedade civil ou dos grupos envolvidos. Para
Mészáros (2005) o reformismo, mesmo que minimize os problemas e as
distorções sociais não busca a solução para os problemas estruturais.
201
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da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) ao Programa de Apoio
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Pedagógico do Curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e
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procopio/nota-oficial-contingenciamento-orcamentario-na-utfpr. Acesso
em: 20 fev. 2021.
Pareceristas
Este livro foi submetido ao Edital 001/2021 do Programa de Pós-graduação em
Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, câmpus de Marília e
financiado pelo auxílio nº 0798/2018, Processo Nº 23038.000985/2018-89, Programa
PROEX/CAPES. Contamos com o apoio dos seguintes pareceristas que avaliaram as
propostas recomendando a publicação. Agradecemos a cada um pelo trabalho realizado:
Adriana Pastorello Buim Arena
Alberto Luiz Pereira da Costa
Alexandre Filordi de Carvalho
Américo Grisotto
Ana Claudia Saladini
Ana Maria Klein
Angelica Pall Oriani
Carlos Bauer
Carlota Boto
Celia Regina Rossi
Cinthia Magda Fernandes Ariosi
Claudia Cristina Ferreira
Cristina Maria Carvalho Delou
Daniel Ferraz Chiozzini
Domingos Leite Lima Filho
Erika Porceli Alaniz
Francismara Neves de Oliveira
Genivaldo de Souza dos Santos
Giza Guimarães Pereira Sales
Joana Tolentino
Jose Deribaldo Gomes dos Santos
Lalo Watanabe Minto
Lia Leme Zaia
Luciana Aparecida Nogueira da Cruz
Luciano Mendes de Faria Filho
Márcia Lopes Reis
Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes
Maria de Fatima Felix Rosar
Maria José Viana Marinho de Mattos
Maria Lucia Marques
Marta Sueli de Faria Sforni
Mauro Castilho Gonçalves
Nadia Aparecida Bossa
Nilza Sanches Tessaro Leonardo
Ofelia Maria Marcondes
Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues
Rita Melissa Lepre
Sandra Aparecida Pires Franco
Simone Wolff
Sonia Bessa da Costa Nicacio Silva
Virgínia Pereira da Silva de Ávila
Comissão de Publicação de Livros do Edital 001/2021 do
Programa de Pós-Graduação em Educação
da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, campus de Marília
Graziela Zambão Abdian, Patricia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo José Manzini e Rodrigo Pelloso Gelamo
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Normalização
Lívia Pereira Mendes
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Edevania Trevizan
O livro trata das alterações decorrentes de sua implementação do Pro-
grama de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universida-
des Federais (Reuni). Abordando questões de planejamento e execução de
políticas públicas e desvelando as premissas estruturantes no contexto da
elaboração de políticas para a educação.
De maneira mais especíca, a análise destaca as metas denidas entre o
Ministério da Educação e as universidades, e suas implicações na reformu-
lação curricular proposta pelo Reuni que trouxe em seu bojo uma reestru-
turação das carreiras acadêmicas visando o estabelecimento de itinerários
exíveis. Que se encontram entrelaçados aos interesses do modo de pro-
dução do sistema capitalista.
Apesar de se tratar de um programa bem-sucedido do ponto de vista da
ampliação do acesso ao ensino superior público, o Reuni foi implementa-
do na forma de contratos de gestão, com prazo denido para nalização,
deixando as universidades sem recursos para a manutenção da expansão al-
cançada, o que vem sendo observado desde 2013, com a redução do orça-
mento das instituições e dos investimentos federais, o que tem prejudicado
o desenvolvimento do ensino e pesquisa nas universidades.
Edevania Trevizan
É graduada em pedagogia pela Universida-
de Estadual do Oeste do Paraná, campus de
Foz do Iguaçu (2004).
Mestre em Educação pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(2014) e doutorado em Educação pela Uni-
versidade Estadual Paulista Júlio de Mesqui-
ta Filho (2019).
Atuou como Professor Pedagogo na rede
estadual de ensino de 2005 a 2010. Atual-
mente é técnica em assuntos educacionais
da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
contextos, condicionantes e resultados de
sua implementação
Programa de Apoio a Planos
de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais
(Reuni)
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni)