Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Paulo Alexandre Filho
Daniel Vieira Sant’Anna
(Organizadores)
Falar sobre o processo de ensino e aprendizagem, neste momento, exige-nos dois aspectos
preponderantes para a reexão: nosso lugar de fala e nosso percurso de formação. Tais ques-
tões se entrelaçam de tal forma que conceber um em detrimento do outro seria o mesmo
que perceber o mundo material apenas pela lente dos acontecimentos in loco, desprezando
nossas vivências como produtos socioculturais, frutos do acúmulo de construções, tecidas
pela sobreposição temporal das grossas camadas da História. Em pleno século XXI, os ce-
nários educacionais se transguram com a mesma rapidez dos avanços tecnológicos e da
ciência, impondo aos prossionais de educação a ressignicação de suas práticas que outrora
tinham como recursos apenas o giz, a lousa e o livro didático. Para Lévy (1999, p. 11), “[...]
estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explo-
rar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural
e humano.” A utilização das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC),
tempos debatida entre pesquisadores e professores de Educação Básica, tornam-se, diante do
contexto pandêmico, alternativas viáveis para assegurar o conhecimento e, concomitante-
mente, ofertar aos educandos o mínimo de aprendizagem em meio ao cenário repentino e,
por vezes, desolador instaurado desde 2020. De acordo com Schneider (2015, p. 63), “[...] é
preciso reconhecer essas mudanças, compreendê-las e inserir as tecnologias como recursos
potencializadores do processo de ensino e aprendizagem nas práticas docentes.” O ponto
fulcral desta obra reside nos momentos de reexão estabelecidos no transcorrer da disciplina
de Educação e Novas Tecnologias: implicações ao currículo da Educação Básica e Superior,
ministrada pela professora Daniela Nogueira de Moraes Garcia, vinculada ao Programa de
Pós-graduação em Educação (PPGE), da Unesp de Marília. Entre vivências, compartilha-
mentos e estudos teóricos acerca da ementa, ao nal, os alunos foram desaados a legitima-
rem suas vozes e seus diferentes lugares de fala na forma de artigo ou relato de experiência,
ressaltando o uso dos artefatos tecno-digitais como ferramentas capazes de promover apren-
dizagem, disruptividade e empoderamento de jovens que estão amplamente inseridos em
práticas sociais mediadas pela interface de seus smartphones, tablets e notebooks. Nesse sen-
tido, Kalantzis et al. (2020, p. 358) apontam que “[...] a aprendizagem se torna mais efetiva
quando as diversas perspectivas dos alunos são deliberadamente introduzidas em sala de aula
e usadas como recursos.” Em momento algum, deixamo-nos vislumbrar pelas máquinas a
ponto de negligenciarmos a afetividade, o valor das relações e o exercício constante da es-
cuta ativa e do dialogismo entre professores e alunos, pois “[...] por meio de uma pedagogia
crítica e revolucionária podemos resgatar a utopia expressa numa concepção crítico-eman-
cipatória, em que haja a possibilidade de diálogo, interação, transformação e mudança, além
de atender aos desaos do tempo que está por vir” (CORRÊA, 2019, p. 12).
AUTORES
Ana Estela Ferreira
Ana Luiza Luzio da Silva
Bruna Assem Sasso dos Santos
Cilmara C. Rodrigues Mayoral Brunatti
Daniel Vieira Sant’Anna
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Daniele F. Fuganholi Abiuzzi Sant’Anna
Francisane Nayare de Oliveira Maia
Gabriel Scoparo do Espírito Santo
Graciele Fernanda de Souza Pinto
Jéssica Araújo Carvalho
Laura Ribas Vilardi
Miriam Pires Borges
Osvaldo Alves de Brito Júnior
Osvaldo Augusto Chissonde Mame
Paulo Alexandre Filho
Raquel Lazzari Leite Barbosa
Renata de Souza França Bastos de Almeida
Victor César de Oliveira
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Mestre em Letras pela UNESP, FCL/ As-
sis e Doutora em Estudos Linguísticos pela
UNESP, IBILCE, São José do Rio Preto.
Professora Assistente no Departamento de
Letras Modernas e professora orientadora no
Mestrado Prossional em Letras -UNESP/
Faculdade de Ciências e Letras/ Universida-
de Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Fi-
lho” - campus de Assis/SP. Professora orien-
tadora no Programa de pós-Graduação em
Educação- / UNESP campus de Marília/
SP / e-mail: daniela.nm.garcia@unesp.br
Paulo Alexandre Filho
Mestre em Letras pela UNESP/ Faculdade
de Ciências e Letras/ Universidade Estadu-
al Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - cam-
pus de Assis/SP. Doutorando em Educação
/ PGE/ Faculdade de Filosoa e Ciências
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP campus de Ma-
rília/SP / e-mail: p.alexandre@unesp.br
Daniel Vieira Sant’Anna
Mestre em Docência para a Educação Bási-
ca pela Faculdade de Ciências/ Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
- campus de Bauru/SP. Doutorando em
Educação / PPGE / Faculdade de Filosoa
e Ciências / Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” - UNESP cam-
pus de Marília/SP / e-mail: daniel.santan-
na@unesp.br
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio 0798/2018
Processo 23038.000985/2018-89
(res)signicando percursos educacionais
TECNOLOGIAS
E METODOLOGIAS ATIVAS
TECNOLOGIAS E METODOLOGIAS ATIVAS
(res)signicando percursos educacionais
OS ORGANIZADORES
TECNOLOGIAS E METODOLOGIAS ATIVAS:
(RES)SIGNIFICANDO PERCURSOS EDUCACIONAIS
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Paulo Alexandre Filho
Daniel Vieira Sant'Anna
(Organizadores)
TECNOLOGIAS E METODOLOGIAS ATIVAS:
(RES)SIGNIFICANDO PERCURSOS EDUCACIONAIS
Ana Estela Ferreira
Ana Luiza Luzio da Silva
Bruna Assem Sasso dos Santos
Cilmara Cristina Rodrigues Mayoral Brunatti
Daniel Vieira Sant'Anna
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Daniele de Fátima Fuganholi Abiuzzi Sant'Anna
Francisane Nayare de Oliveira Maia
Gabriel Scoparo do Espírito Santo
Graciele Fernanda de Souza Pinto
Jéssica Araújo Carvalho
Laura Ribas Vilardi
Miriam Pires Borges
Osvaldo Alves de Brito Júnior
Osvaldo Augusto Chissonde Mame
Paulo Alexandre Filho
Raquel Lazzari Leite Barbosa
Renata de Souza França Bastos de Almeida
Victor César de Oliveira
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Ma
rília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS FFC
UNESP - campus de Marília
D
iretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
Graziela Zambão Abdian
Patrícia Unger Raphael Bataglia
Pedro Angelo Pagni
Rodrigo Pelloso Gelamo
Maria do Rosário Longo Mortatti
Jáima Pinheiro Oliveira
Eduardo José Manzini
Cláudia Regina Mosca Giroto
Ilustração da Capa: Felipe dos Santos Ribeiro
Au
xílio Nº 0798/2018, Processo Nº 23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES
F
icha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
T
255 Tecnologias e metodologias ativas: (res)significando percursos educacionais / Daniela
Nogueira de Moraes Garcia, Paulo Alexandre Filho, Daniel Vieira Sant’Anna (Org.).
Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2021.
281 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-210-9 (Digital)
ISBN 978-65-5954-209-3 (Impresso)
1. Educação Estudo e ensino. 2. Tecnologia na educação. 3. Estratégias de
aprendizagem. 4. Tecnologias de informação e comunicação. 5. Ensino - Metodologia. I.
Garcia, Daniela Nogueira de Moraes. II. Alexandre Filho, Paulo. III. Sant’Anna, Daniel Vieira.
IV.
Tít
ulo.
CDD 371.3
Copyright © 2021, Faculdade de Filosofia e Ciências
E
ditora afiliada:
Cu
ltura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Este livro é dedicado a todos os professores, alunos e gestores escolares, que
mergulhados nas incertezas diárias da pandemia, respiram educação no
processo de ensinar/aprender, acreditando sempre em dias melhores.
Sumário
Prefácio | Ana Elisa Ribeiro.......................................................... 11
Apresentação | Organizadores....................................................... 15
As metodologias ativas e os multiletramentos no processo de
aprendizagem: propostas educacionais a partir de simuladores e da
realidade aumentada.................................................................... 21
Daniel Vieira Sant'Anna
A leitura como prática cultural, sob o olhar dos multiletramentos e
metodologias ativas.................................................................... 37
Ana Estela Ferreira; Raquel Lazzari Leite Barbosa
Da canetinha ao videogame: reflexões sobre o uso das tecnologias
em duas escolas públicas do interior do estado de São Paulo.......... 59
Bruna Assem Sasso dos Santos; Francisane Nayare de Oliveira Maia
Softwares
educativos: estratégias educacionais para a educação
básica............................................................................................ 79
Daniele de Fátima Fuganholi Abiuzzi Sant'Anna
Ferramentas para as áreas de exatas: compartilhando experiências
no ensino superior sob o olhar dos
multiletramentos e
metodologias ativas....................................................................... 93
Gabriel Scoparo do Espírito Santo
Sistemas educacionais: e-learning vs ensino tradicional................... 107
Graciele Fernanda de Souza Pinto
As tecnologias digitais como instrumentos de trabalho do educador
infantil.......................................................................... 119
Laura Ribas Vilardi
Universidade aberta à Terceira Idade: iniciativas de uso das TDIC
no ensino/ aprendizagem de língua inglesa..................................... 135
Victor César de Oliveira; Daniela Nogueira de Moraes Garcia.
O ensino da matemática e as tecnologias: um estudo das
potencialidades de recursos digitais para o ensino-aprendizagem de
conceitos geométricos................................................................... 159
Osvaldo Augusto Chissonde Mame.
Tecnologia e educação: vivências na Educação de Jovens e Adultos
(EJA)............................................................................................. 177
Osvaldo Alves de Brito Jr..
Experiências de metodologias ativas em contexto pandêmico:
possibilidades e adaptações metodológicas...................................... 189
Jéssica Araújo Carvalho; Renata de Souza França Bastos de Almeida
O PowerPoint em atividades de alfabetização nas aulas remotas por
videochamada............................................................................... 205
Miriam Pires Borges
As metodologias ativas em tempos de pandemia do COVID-19..... 225
Cilmara Cristina Rodrigues Mayoral Brunatti
Estratégias de leitura no Jamboard: uma proposta para o ensino
remoto.......................................................................................... 239
Yngrid Karolline Mendonça Costa; Paulo Alexandre Filho
Língua inglesa: aulas síncronas no Ensino Fundamental I na rede
pública.......................................................................................... 259
Ana Luiza Luzio da Silva
Sobre os autores ............................................................................ 275
11
Prefácio
Educação e pesquisa em tempos de crise ou um prefácio
Ana Elisa Ribeiro
1
Não paramos sequer por um minuto. A crise sanitária mundial,
agravada no Brasil por ter encontrado um ambiente propício de
necropolítica, movimentou as escolas como nunca antes. Em que sentidos,
se muita gente só as viu vazias e desabitadas? As escolas se movimentaram
por dentro, no que precisam fazer de mais fulcral: entregar educação
formal. No entanto, essa movimentação não foi ampla, democrática,
uniforme e efetiva. Em muitos casos, quem via as escolas por dentro
observou um enorme estresse e mudanças radicais nos modos de oferecer
aulas e vários outros tipos de contato (afeto, escuta, entretenimento, apoio
etc., e não sem desgaste). Muitas instituições conseguiram erigir, com
rapidez, uma estrutura capaz de transferir seus serviços para o ambiente
virtual, criando verdadeiros avatares, second life, um ambiente que seria
ocupado então, de outro modo, por professores, professoras, estudantes,
gestores, gestoras e todos os protagonistas do universo diverso, entre papéis
e funções, que faz de uma escola o que ela é (ou consegue ser). Outras
tantas escolas, em muito maior número do que essas primeiras, demoraram
a se reerguer. Embora o corpo docente estivesse ansioso, ávido por
soluções, insone e exausto, depois de muita busca e muito esforço,
inclusive investimento financeiro, sem qualquer apoio infraestrutural
notável do Estado, um conjunto de escolas conseguiu erigir aquela tal
estrutura capaz de trazer a comunidade de volta a um ambiente de
1
Professora titular do Departamento de Linguagem e Tecnologia do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Minas Gerais. Doutora em Linguística Aplicada. Docente e pesquisadora do
Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens, do Bacharelado em Letras e do ensino
médio do CEFET-MG.
12
referência para as aulas, que também foram redefinidas e redesenhadas,
conforme a circunstância exigia. Depois de alguma confusão, estabeleceu-
se a nomenclatura Ensino Remoto ou Ensino Remoto Emergencial, que
foi nada menos que a opção ao colapso, à ausência total de escolas. Bem,
outro grupo de escolas, o que envolve uma quantidade enorme de
estabelecimentos e pessoas, cidadãos e cidadãs brasileiros, não teve
condições de resistir ao desamparo, ao hiato e ao isolamento provocados
pela pandemia. Esse grupo de instituições não conseguiu, mesmo
querendo e sendo pressionado, erguer uma opção, ainda que precária, ao
ensino presencial, aí então impedido, suspenso, proibido em locais físicos.
A meu ver, é falsa a “polêmica” sobre se ensino remoto é bom ou
ruim, se ensina melhor ou pior, se devia ou não ter existido. Um discurso
nessa chave é contraproducente e excessivamente seletivo, ignorante do
que foi a falta de opção de muitos e o esforço descomunal de outros,
mesmo sem precedentes e sem saber direito o que fazer, mas fazendo. Nesse
frame, ficamos com a falsa impressão de que havia outro jeito. Não havia.
E o contato digital nunca foi substituto fiel do encontro físico. Já sabíamos
disso quando fazíamos chamadas videofônicas com parentes que moram
longe. Mas também sabíamos que os efeitos terríveis da saudade podem ser
amenizados e a distância pode ficar mais suportável quando nos valemos
de algumas tecnologias. Minha pergunta remonta aos primeiros dias de
pandemia e suspensão das aulas presenciais: qual era a outra opção?
Simplesmente não havia outro modo, ao menos para os que vivemos no
século XXI, depois da invenção da Internet, tecnologia capaz de nos
conectar, desde que tenhamos em mãos nosso ponto (um smartphone, um
notebook etc.). O melhor que podia haver, nas condições objetivas de 2020,
era conseguir manter o contato, e mesmo os laços, entre escola e
estudantes, durante um período que ainda ignorávamos qual seria.
Certamente, a maioria de nós pensou que seria um “lapso” de quinze dias,
um mês, e que poderíamos remarcar os trabalhos e as avaliações para logo.
Estávamos errados. E foi nessa reconstrução radical que tivemos de
trabalhar por todo este tempo, que, aliás, dura até agora (escrevo em agosto
de 2021, vivendo um prenúncio cambaleante e nem sempre ético de
retorno “híbrido”).
13
Uma obra como Tecnologias e metodologias ativas: (res)significando
percursos educacionais, organizada por Daniela Nogueira de Moraes Garcia,
Paulo Alexandre Filho e Daniel Vieira Sant'Anna, não nasce do descaso,
da preguiça ou da imobilidade de seus autores, como certos políticos e
outros terríveis enunciadores querem fazer crer. Só nasce algo assim do
desejo profundo de experimentar o que a vida profissional impõe e expõe
a cada professor e professora; do intenso trabalho de bastidores, já que o
que se faz na escola quase nunca é visível a quem apenas trafega por fora
de seus muros; da escuta e da observação sistemáticas de tudo o que
aconteceu e continua a acontecer durante este período de incertezas e novas
experiências educativas; da coragem de pensar, repensar, reler, rever,
discutir, descrever, analisar e propor, em especial num momento em que
foi impossível não sentir nada.
Trata-se de um livro que ressignifica, como o próprio título
anuncia. É dedicado, ostensivamente, “a todos os professores, alunos e
gestores escolares, que mergulhados nas incertezas diárias da pandemia,
respiram educação no processo de ensinar/aprender, acreditando sempre
em dias melhores” (veja-se nas primeiras páginas). Como viver bem, se as
incertezas são diárias? Isso seria inaceitável para qualquer parcela de
população, mínima que fosse; mas em nosso país, infelizmente, torna-se
“normal”, já que planejar, esperar e garantir são luxos ou privilégios.
Professores e professoras são pessoas que respiram educação, mesmo
quando sofrem com as condições de trabalho e de sobrevida; são pessoas
que inspiram e também expiram, em outros sentidos, além de transpirarem
muito, a despeito do desprestígio reforçado pelo desincentivo político e
pela criminosa propaganda midiática contra eles. Acreditar em dias
melhores é coisa de professor e de professora. Não fosse isso e seria uma
tragédia muito maior. Pergunto: quem esteve com seus filhos durante os
momentos mais duros da pandemia? Bem, isso se você e sua família tinham
seus pontos de conexão. E agora? Entendemos que esses pontos deveriam
fazer parte de nossa infraestrutura? Já percebemos que nada disso era
novidade?
Três docentes pesquisadores organizaram esta obra, que reúne e
apresenta quinze textos de vinte investigadores e investigadoras, além da
14
apresentação e deste prefácio. Em sua maioria, os capítulos foram escritos
a várias mãos, num esforço coletivo importante e agregador; inspirador
também. Problemas como os nossos, neste país, não se resolverão com
indivíduos jogando por si e contra todos. É preciso que haja união; mas
saber se unir, se reunir e pensar juntos, visando ao bem comum, não é para
principiantes. Às vezes, nem com mais de quinhentos anos um país alcança
essa graça. Mas, ainda bem, há uma categoria de gente que sempre trabalha
com os olhos voltados ao futuro, ao amanhã, ao que ainda existirá. Esses
são os professores e as professoras, que nem teriam razão de existir, não
fosse a chama dessa possibilidade. E, é claro, esta é uma visão otimista do
que desejo que aconteça.
Não vou me estender mais aqui e nem adiantarei os temas e
argumentos dos capítulos que compõem este livro. Isso é feito pelos
próprios organizadores nas próximas páginas. O que pude fazer, na alegria
de integrar, de algum modo, esta tão necessária obra, foi escrever estas
linhas de abertura, juntando minha voz ao vozerio comprometido destes
autores e autoras, confiando que haja amanhãs melhores depois desta crise
gigantesca, que um dia diremos ter atravessado; e mais: ter com ela
aprendido a ser melhores.
15
Apresentação
Desde sempre, na linha de frente de salas de aula, de cenários
incertos e de intenso comprometimento com o processo de
ensino/aprendizagem, os educadores vivenciam, desde 2020, o maior
desafio de todos os tempos. Com trabalho e salários desvalorizados,
importância minimizada e formação a ser cogitada para o futuro, um
cenário educacional emergiu, da noite para o dia e, de forma avassaladora,
escancarou situações antes escondidas sob tapetes.
O advento tecnológico, sempre invadindo nossas práticas
cotidianas, como um tsunami, empurrou a escola para ações emergenciais
visando viabilizar o contato entre educadores e educandos. Como tsunami
mesmo, a pandemia trouxe muitas questões à tona como, por exemplo, o
despreparo de alunos e professores para manuseio de programas,
aplicativos e mídias; a falta de equipamentos e boa conexão a Internet;
dificuldade de acompanhamento, avaliação e aprendizagem e, acima de
tudo, a vulnerabilidade socioemocional diante de um isolamento sem
precedentes.
Esta obra reúne estudos de docentes e discentes do Programa de
Pós- Graduação em Educação, da Linha de Teoria e Práticas Pedagógicas,
da Universidade Estadual Paulista, Campus de Marília. Assim, a partir de
discussões afloradas na disciplina “Educação e novas tecnologias:
implicações ao currículo da educação básica e superior”, ministrada pela
docente organizadora, vislumbraram-se diferentes campos de atuação e
experiências profícuas com vistas à reflexão e construção de conhecimento
em tempos sombrios.
Assim, voltadas para práticas pedagógicas em diferentes contextos,
as reflexões aqui compartilhadas alinham a compreensão do potencial de
uso de tecnologias e mídias sob a ótica das teorias dos multiletramentos e
metodologias ativas para fomentar o ensino/aprendizagem.
16
O primeiro capítulo, de autoria de Daniel Vieira Sant'Anna,
aborda a utilização das metodologias ativas e dos multiletramentos no
processo de aprendizagem dos alunos com vistas ao protagonismo e à
autonomia. Frente ao surgimento de tecnologias digitais e as demandas de
novos conhecimentos e novas metodologias de ensino, o autor aponta
aspectos que ganharam destaque com o isolamento social ocasionado pela
pandemia do COVID-19, indicando possibilidades de práticas
educacionais com apoio de recursos digitais como simuladores e a
Realidade Aumentada para potencializar um aprendizado significativo.
Ana Estela Ferreira e Raquel Lazzari Leite Barbosa trazem, no
segundo capítulo, reflexões sobre a leitura literária na escola, partindo da
concepção de leitura como prática e memória cultural a ser transmitida às
novas gerações. As autoras discutem algumas concepções didáticas pela
perspectiva dos multiletramentos e metodologias ativas como alternativas
pedagógicas para os novos desafios atuais, e ainda, apresentam ferramentas
tecnológicas e mídias sociais que podem contribuir com o processo de
formação leitora dos estudantes.
Considerando perspectivas de ensinar e aprender em uma
sociedade interconectada e, ao mesmo tempo, com grandes desigualdades
sociais e econômicas, o terceiro capítulo compartilha questionamentos
acerca das tecnologias como suportes para práticas em escolas públicas. As
autoras Bruna Assem Sasso dos Santos e Francisane Nayare de Oliveira
Maia apresentam um relato de experiência que evidencia a necessidade de
se construir processos em que todos, de forma dialógica e reflexiva, possam
se legitimar enquanto sujeitos do fazer pedagógico e social.
Daniele de Fátima Fuganholi Abiuzzi Sant'Anna discorre, no
quarto capítulo, acerca de estratégias pedagógicas concernentes à utilização
de softwares educativos no âmbito da Educação Básica. A autora
compreende que, desde que contextualizadas e organizadas, as tecnologias
digitais de informação e comunicação (TDIC), em âmbito educacional,
podem ter potencialidades exploradas através de atividades específicas para
cada faixa da aprendizagem, gerando novas descobertas aos educandos. O
17
estudo compila tipos e classificações de softwares educacionais,
apresentados na literatura científica nacional.
O quinto capítulo registra o compartilhamento de uma experiência
acerca do emprego de ferramentas sob a ótica do ensino de nível superior
em disciplinas de Graduação da área de exatas em um curso de Engenharia
Civil. Gabriel Scoparo do Espírito Santo discute possibilidades de uso de
ferramentas que envolvem simulações, programas de desenho técnico e
mesa digitalizadora, tanto em aulas presenciais quanto remotas, buscando
o engajamento dos alunos e a melhoria na qualidade do debate durante as
aulas.
No sexto capítulo, Graciele Fernanda de Souza Pinto compartilha
conceitos referentes ao e-learning, abarcando uma contraposição da
educação tradicional (presencial) com a educação e-learning, mencionando
suas potencialidades e desafios. A partir das teorias enfocadas, compreende
que a combinação das duas modalidades pode ser benéfica ao processo de
ensino/aprendizagem, à medida que se complementam, maximizando os
resultados e a troca de conhecimento no cenário educacional.
Na sequência, o capítulo intitulado “As tecnologias digitais como
suporte de registro e avaliação para o educador infantil” apresenta o uso
das tecnologias digitais para subsidiar o trabalho do professor como forma
de “produção” e “avaliação”. Laura Ribas Vilardi compartilha sua
experiência referente ao projeto dos “cantinhos”, realizado com uma turma
de maternal I, no qual foi possível vivenciar o trabalho com os três tipos
de conhecimento: o físico, o social e o lógico-matemático (FRAGA, 1988),
com a apresentação de recortes das filmagens feitas durante o projeto, em
formato de fotos.
Victor César de Oliveira e Daniela Nogueira de Moraes Garcia
refletem sobre o ensino/aprendizagem de língua inglesa com a mediação
das tecnologias, no contexto da Universidade Aberta à Terceira Idade. Para
os autores, explorar a ocorrência e a recorrência de ferramentas digitais na
educação para os idosos se faz necessária mediante as novas demandas e a
atualização de um público que cumpre papéis estereotipados na sociedade.
O uso das tecnologias auxilia e dinamiza o processo educativo, bem como
18
integra atividades diárias dos alunos que já usam as tais ferramentas para
outros fins.
No capítulo nove, Osvaldo Augusto Chissonde Mame analisa o
desenvolvimento dos conceitos geométricos, mais especificamente, de
quadrado e triângulo mediado por aplicativos e plataformas digitais para o
ensino da matemática no Ensino Fundamental. O autor compartilha
informações sobre o software Geogebra, reconhecendo seu potencial no
melhoramento das práticas pedagógicas. O estudo sugere que os conceitos
aprendidos pelos alunos nos anos iniciais do ensino fundamental, apesar
de essenciais para formação escolar, relacionam parcialmente teoria e
prática.
Osvaldo Alves de Brito Júnior enfoca, no capítulo dez, a Educação
de Jovens e Adultos (EJA). Acerca de sua prática pedagógica, o autor narra
dois momentos em que o uso das tecnologias impactou os processos de
ensino/aprendizagem em uma escola municipal com classes da Educação
de Jovens e Adultos. Assim, decisões superiores e a pandemia do COVID-
19 com a realização de aulas remotas desencadearam uma intensificação
do trabalho educativo com artefatos e aparatos tecnológicos que serão
relatados no presente estudo.
O capítulo onze centraliza expectativas na Educação Básica diante
de cenário pandêmico. Jéssica Araújo Carvalho e Renata de Souza França
Bastos de Almeida discorrem sobre vivências e possibilidades pedagógicas
mediantes à atual pandemia do COVID-19, sob a perspectiva de uso das
tecnologias e metodologias ativas. As autoras refletem acerca da
implementação de recursos tecnológicos no ambiente escolar para
desenvolver propostas alternativas para a mediação dos processos de
aprendizagem.
Miriam Pires Borges, no capítulo doze, enfoca propostas junto ao
público de segundo ano de alfabetização, em uma escola da Rede Pública
Municipal, por meio de videochamadas pelo WhatsApp. Segundo a autora,
o desenvolvimento de ações de intervenção pedagógica para o
ensino/aprendizagem da leitura, escrita e conceitos matemáticos a partir
do enfoque interdisciplinar mostrou-se muito relevante como forma de
19
reforçar o papel da educação na formação do sujeito. Salienta-se a
importância de promover atividades lúdicas na aprendizagem, elaboradas
através do uso consciente dos recursos da tecnologia.
O capítulo treze apresenta reflexões sobre maneiras pelas quais as
tecnologias e metodologias ativas podem potencializar a educação em
momento de pandemia, considerando as necessidades de continuidade das
aulas e comunicação entre a escola e os estudantes. Cilmara Cristina
Rodrigues Mayoral Brunatti considera as disposições educacionais sobre a
Educação Básica e o uso das tecnologias, baseando-se em duas
competências gerais apresentadas na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) e reconhece a importância de implantação da tecnologia na
escola, de forma organizada.
No capítulo Estratégias de Leitura no Jamboard: uma proposta para
o ensino remoto, Yngrid Karolline Mendonça Costa e Paulo Alexandre
Filho abordam o uso das estratégias de leitura, em tempos de ensino
remoto, utilizando-se do suporte tecnológico oferecido pela ferramenta
Jamboard com crianças a partir do Ensino Fundamental. Os autores
partem da compreensão de que o ensino da leitura mediado pelas
tecnologias digitais esteja em maior consonância com a realidade das
práticas sociais de hoje, independentemente, das necessidades oriundas do
contexto de pandemia.
O capítulo quinze trata do ensino de língua inglesa em anos iniciais
na rede pública à luz das mudanças que impactaram o mundo pelo novo
Coronavírus. Em um primeiro momento, as unidades escolares físicas
precisaram ser fechadas devido ao isolamento social, visando a contenção
da doença. Em seguida, replanejamentos precisaram ser realizados como
forma de dar continuidade ao processo de ensino/aprendizagem. Ana
Luiza Luzio da Silva aborda, brevemente, a reorganização das aulas do
referido componente curricular para o ensino remoto com o uso de novas
tecnologias.
Como podemos observar, esta obra, concebida durante tempos
desafiadores, apresenta experiências e práticas de docentes e discentes em
cenários educacionais diversificados. Esperamos que esta leitura possa
20
fomentar diálogos, abrir espaços e instigar reflexões e, assim, contribuir
para (res)significações em percursos educacionais.
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Paulo Alexandre Filho
Daniel Vieira Sant'Anna
21
As Metodologias Ativas e os Multiletramentos no Processo
de Aprendizagem: propostas educacionais a partir de
simuladores e da realidade aumentada
Daniel Vieira SANT'ANNA
2
Introdução
Na contemporaneidade, atuar como professor está exigindo, dos
profissionais da educação, uma busca constante a novos conhecimentos
tecnológicos e novas metodologias de ensino. Muitas destas se devem à
velocidade em que as novas tecnologias estão sendo desenvolvidas, às novas
demandas e à forma com que a geração conhecida como nativos digitais se
relaciona com elas.
Um fato que veio agravar e realçar esta busca foi a necessidade de
condução de atividades escolares para práticas remotas emergenciais on-
line devido ao isolamento social ocasionado pelo vírus COVID-19. Tal
situação tem gerado cenários desfavoráveis como acesso às tecnologias e,
também, dificuldades apresentadas pelas famílias para auxiliar seus filhos
nas atividades escolares e, ainda, a adaptação dos jovens a este novo
cenário.
Diante do exposto, alguns caminhos ganharam destaque, como o
emprego das metodologias ativas e dos multiletramentos associadas às
tecnologias, possibilitando aos alunos engajamento e entendimento dos
conteúdos através de novas maneiras de apresentação dos conteúdos
2
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
daniel.santanna@unesp.br
22
abordados e, ao mesmo tempo, favorecendo o protagonismo e autonomia
destes discentes na construção do conhecimento.
Para melhor especificidade da formação docente e o favorecimento
do processo de aprendizagem relacionada à utilização das novas
tecnologias, das metodologias ativas e dos multiletramentos, supomos que
não será mais possível ignorar o uso dessas novas possibilidades em sala
para potencializar as práticas de inovação pedagógica.
Para que os estudantes se sintam engajados no processo
educacional, devem assumir a posição de protagonistas de seu aprendizado,
o que pode ser favorecido através das metodologias ativas. Neste contexto,
compreendemos que professores e alunos devem trabalhar e refletir de
maneira colaborativa em pedagogias de projetos interdisciplinares em prol
de propostas que envolvam e possibilitem a aplicação do que se propõe.
O envio de textos estáticos, imagens fixas sobre determinados
conteúdos escolares ou textos em pdf, classificados com e-books, não tem
despertado o interesse nem auxiliado os alunos em seu processo de
aprendizado. Partindo desta premissa, compreendemos ser possível que os
professores busquem apoio nas tecnologias sob o uso dos
multiletramentos, a fim de propor novos materiais e diversificadas formas
de apresentação dos conteúdos, sejam eles dos mais variados componentes
curriculares.
Embora se afirme que os avanços tecnológicos proporcionam uma
forma diferenciada de aprendizagem, o uso destes recursos digitais no
campo educacional ainda é muito recente e por variadas questões como,
por exemplo, formação e capacitação docente, acessibilidade, letramentos,
falta de políticas públicas etc. Todavia, para além de percalços, defendemos
o uso das tecnologias digitais em prol da educação com vistas a uma
vivência motivadora que permita aplicação ao cotidiano escolar e em
práticas de ensinar e aprender.
A perspectiva dos multiletramentos pode fornecer o aporte
necessário para a compreensão destes assuntos, visando minimizar este
distanciamento entre o contexto escolar e a vida cotidiana destes
estudantes. Como exemplo de possibilidades aliadas aos recursos digitais,
23
apresentamos, neste estudo, a utilização de simuladores para os conteúdos
curriculares de Ciências e Matemática e da Realidade Aumentada (RA)
para a etapa de alfabetização, no ensino dos conteúdos curriculares de
Química e Artes.
1 Mudança do cenário educacional
Em tempos de confinamento social e quarentenas provocadas pela
pandemia do vírus COVID-19, deparamo-nos com um novo cenário
emergencial e necessário, resultando no fechamento de estabelecimentos
de diversos setores, inclusive os educacionais. Com isso, algumas medidas
provisóriasforam adotadas para flexibilizar o ano letivo, desobrigando o
cumprimento dos 200 dias letivos para as escolas e universidades, mas
mantendo o cumprimento da carga horária mínima anual de 800 horas na
Educação Básica.
Em virtude da situação de calamidade pública decorrente da pandemia
do COVID-19, a Medida Provisória nº 934/2020 flexibilizou
excepcionalmente a exigência do cumprimento do calendário escolar
ao dispensar os estabelecimentos de ensino da obrigatoriedade de
observância ao mínimo de dias de efetivo trabalho escolar, desde que
cumprida a carga horária mínima anual estabelecida nos referidos
dispositivos, observadas as normas a serem editadas pelos respectivos
sistemas de ensino (BRASIL, 2020a, p. 63).
O sistema educacional, principalmente o público, necessitou
recriar e reinventar as formas de ensino e aprendizagem, tornando a
tecnologia uma grande aliada. Necessitou-se apoiar nos conceitos da
Cultura digital (KENSKI, 2012) que abrangem habilidades relacionadas
ao ler e escrever no contexto digital e, principalmente, na Internet como
possibilidade de acesso, integração e articulação das pessoas.
Sabe-se que a utilização dos recursos digitais na educação implica
em novas formas de comunicar, de pensar, ensinar e aprender, sendo algo
24
essencial para a realização desta prática pedagógica. Neste sentido, a
Competência Geral 5 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
aponta a necessidade de se utilizar das tecnologias disponíveis a fim de
efetivar a comunicação entre professores e alunos, para que se possam
disseminar as informações e promover conhecimentos em conjunto.
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas
diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar e
disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas
e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva (BRASIL,
2018, p. 9).
Apesar de já durar um ano, a pandemia ainda implica em uma
persistente situação de isolamento social e, assim, a prática docente e as
formas de interagir com os alunos estão passando por frequentes
reformulações. Neste período, muitos professores receberam orientações
para utilizar os mais diferentes recursos tecnológicos digitais, como os
Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) e as videoconferências
(TAROUCO et al., 2003), onde alguns autores identificam este período
como Ensino Remoto Emergencial. Porém, o houve tempo hábil para a
sociedade se organizar e, muito menos, para professores que, acreditando
no breve retorno às aulas presenciais, não foram capacitados, orientados
ou assistidos para adaptar suas aulas e seus materiais didáticos. Esta prática
favoreceu (e ainda favorece), em partes, o contato entre docentes e
estudantes, mas resultou, em muitos casos, no envio aos alunos de textos e
imagens estáticas, ou mesmo recomendando a continuidade das apostilas
e livros que já vinham utilizando no início do ano letivo.
Destacamos o bravo trabalho da classe que, mesmo em situação de
exclusão, pela condição socioeconômica de famílias e estudantes
brasileiros, desdobram-se para integrar o cenário educacional deste país.
Frente a esta situação, muitas famílias se encontram em situações
bastante delicadas com a vida escolar de seus filhos. Muitos pais e
25
responsáveis, por terem suas ocupações de trabalho, por não terem didática
ou conhecimentos relacionados ao conteúdo escolar abordado ou acesso às
tecnologias para auxiliar educacionalmente seus filhos, entre outros
motivos, acabam deixando-os em uma situação de abandono escolar. Para
os jovens, ficam mais evidentes os desafios sobre o equilíbrio emocional e
a capacidade de organização para manter os estudos (BRASIL, 2020b),
muito embora, a legislação brasileira preveja a obrigatoriedade para as
crianças e adolescentes, de 4 a 17 anos, a cursarem a Educação Básica,
sendo responsabilidade das famílias e do Estado garantir-lhes uma
educação integral.
Ainda que seja algo corriqueiro, as crianças e adolescentes das
gerações chamados nativos digitais
3
(PRENSKY, 2001; 2012), que detêm
a capacidade de realizarem múltiplas tarefas ao mesmo tempo,
principalmente relacionados às tecnologias digitais, e que cresceram com
ela presente em seu cotidiano, têm exigido que os professores repensem as
metodologias aplicadas em sua prática docente. Ao inserir recursos
tecnológicos no contexto educacional, a aprendizagem pode se tornar mais
envolvente, interativa e significativa, surgindo novas ideias de como
aproveitar as possibilidades que ela pode propiciar.
Mas não basta incluir as tecnologias no contexto educacional se o
método utilizado e antigas concepções de ensinar/aprender se mantém. Os
professores, ao se apoiarem nas novas tecnologias sob a ótica dos
multiletramentos, têm a possibilidade de selecionar e produzir novos
materiais e, por sua vez, oferecer aos estudantes diversificadas formas de
apresentação dos conteúdos curriculares. Práticas pautadas nos
multiletramentos (ROJO, 2012; ROJO; BARBOSA, 2015), com a
associação de escrita, vídeo, fala, áudio, diagrama, imagens, animação, e
outras interações apoiados aos dispositivos móveis, podem fornecer um
interessante suporte para práticas pedagógicas. Segundo Roxane Rojo,
3
Nativos Digitais são todas as pessoas nascidas após 1980, cujo desenvolvimento biológico e social
se deu em contato direto com as tecnologias digitais, computadores e afins.
26
para abranger esses dois “multi” - a multiculturalidade característica
das sociedades globalizadas e a multimodalidade dos textos por meio
dos quais a multiculturalidade se comunica e informa, o grupo cunhou
um termo ou conceito novo: multiletramentos (ROJO, 2012, p. 13).
Explicitamente, os avanços tecnológicos proporcionaram uma
forma diferenciada de aprendizagem, que podem ser aplicados como um
novo conceito de aula, complementando, de forma diferenciada e
inovadora os exemplos disponíveis no material didático. Por outro lado, o
uso destas ferramentas computacionais no campo educacional é muito
recente e passivo de descrença por boa parte dos profissionais da educação,
já que vários dos professores tiveram sua formação universitária realizada
muito tempo (COSTA, 2014) e, mesmo professores formados
recentemente, não tinham em sua grade conteúdos relacionados ao uso das
tecnologias em prol da educação.
O equilíbrio entre a tradição e a modernidade é um grande desafio em
sala de aula, isso ocorre por haver grande diferença de gerações entre
professores e alunos e rápidas mudanças ocorridas na sociedade
provocando uma crise de comunicação entre os personagens
envolvidos (MARIA, 2019, p. 21).
Os professores devem considerar que sua formação e suas
experiências são extremamente importantes, mas, diante da velocidade que
as novas tecnologias surgem, essa capacitação inicial deve ser apoiada ou
complementada por formações que podem ser relacionadas aos estudos
sugeridos em seus locais de atuação docente, ou ainda pela busca particular
de informações, sejam elas as mais variadas possíveis.
Poderíamos mencionar a escassez de investimentos e políticas
públicas que, também, integram o cenário. Destacamos, porém, que
professores e futuros professores podem buscar capacitações considerando
que o conhecimento tecnológico é, também, importante, já que podemos
nos deparar com alunos que trazem uma vivência tecnológica passível de
ser transposta para práticas educacionais relevantes em tempos atuais. Em
27
seguida, compreendemos que é preciso deixar que as novas tecnologias
sejam envolvidas no cotidiano escolar e na vida profissional de cada
professor. Segundo Hardagh e Rodrigues (2019, p. 213), “a Cultura digital
tem provocado uma verdadeira revolução no mundo do trabalho, das
comunicações, na política, economia, produção artística e o poderia ser
diferente na educação e formas de ensinar e aprender”.
Quanto mais avança a tecnologia, mais se torna importante termos
educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas,
entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as
quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos
(MORAN, 2005, p. 12).
Culturalmente, vivemos um tempo onde o desenvolvimento
tecnológico está presente no cotidiano e, por isso, não podemos nos
acomodar a uma educação com métodos ultrapassados (MORAN, 2007;
MORAN et al., 2013), podendo nos orientar na utilização das mídias
digitais, através de metodologias ativas e proativas.
2 O foco no aprendizado do aluno
Compreendendo que aprender exige envolvimento e criação,
vinculando-se, assim, a aprendizagem criativa e a cultura maker
4
,
relacionada à proposta de “aprendizado de jardim de infância ao longo da
vida” (RESNICK, 2020) com referência a forma que as crianças
aprendem, interagindo, experimentando e socializando, exemplificamos
com a figura 1:
4
A cultura maker se baseia na ideia de que as pessoas devem ser capazes de fabricar, construir,
reparar e alterar objetos dos mais variados tipos e funções com as próprias mãos.
28
Figura 1Espiral da aprendizagem criativa
Fonte: Resnick (2020, p. 11).
Pelo entendimento da existência de um padrão na forma da criança
brincar, sua interação com a brincadeira e a forma como ela compreende
e resolve possíveis situações problemas durante este processo, e
considerando que este mesmo padrão pode ser aplicável a outras situações
de aprendizado escolar, devemos oferecer a elas a oportunidade de
deixarem o papel de espectadores e passar a ser protagonistas no processo
de aprendizagem. Segundo Freire (2011, p. 105), “é neste sentido que uma
pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências
estimuladoras da decisão e da responsabilidade [...]”.
Embora cada pessoa tenha um estilo de aprendizagem, que pode
ser favorecido através da leitura, da escrita ou do processo maker e,
portanto, os valores apresentados não sejam são absolutos, Glasser (2001)
relaciona o grau de aprendizagem do estudante ao tipo de mediação
escolhida pelo professor. Apontando que, enquanto o aluno tem um papel
passivo neste processo, geralmente associado às práticas das escolas
tradicionais, realizando leituras dos conteúdos, escutando as aulas e as
explicações, vendo e ouvindo o que lhe é transmitido, os mesmos têm um
nível de aproveitamento menor do que quando lhe é concedida a
oportunidade de relacionar de maneira ativa nesta aprendizagem, através
de discussões e debates, de atividades práticas, de utilizar, de demonstrar
29
e, principalmente, de ensinar, realizando explicações e ilustrações deste
conteúdo.
No momento que o aluno inicia este protagonismo em seu
aprendizado, ele passa a ser o centro deste processo e o professor assume
uma posição de mediador destes conhecimentos, favorecendo o aluno em
sua busca e direcionando-o através dos temas a serem abordados em seu
conteúdo educacional. Assim, poderão abordar alguns princípios
norteadores das metodologias ativas de aprendizagem (BACICH;
MORAN, 2018), como a reflexão, o trabalho em grupo, a autonomia e a
inovação, que poderão ter suporte das tecnologias digitais, inclusive
móveis, promovendo, entre outros aspectos, a diversificação das
metodologias como medidas-estratégicas para a inovação pedagógica.
Através disso, o aluno deverá ter reconhecimento pelo que produz,
aumentando sua autoestima.
Por outro lado, boa parte dos estudantes, principalmente do ensino
básico da rede pública, por questões financeiras, não tem computador ou
boa conexão com a Internet, utilizando de dispositivos móveis como
smartphones (SILVA, 2017) para a integração tecnológica e resolução de
atividades propostas. Isso evidencia a importância que o planejamento das
atividades através dos recursos tecnológicos exige, fazendo-se necessário
uma reflexão da prática docente (ALEXANDRE, 2017) onde os
professores devem analisar qual(is) software(s) utilizará, considerando os
equipamentos que estarão disponíveis aos alunos realizarem as atividades
em casa.
Desta forma, os professores poderão favorecer e potencializar a
realização das atividades e posterior devolutiva aos professores e à unidade
escolar, realizando a adaptação dos materiais a serem enviados aos
estudantes, a fim de melhor atendê-los e favorecendo sua inclusão e seu
processo de aprendizagem e considerando os equipamentos que estes
estudantes têm disponível para sua interação.
30
3 Possibilidades de aplicação ptica das teorias apresentadas
A partir dos preceitos das metodologias ativas e dos
multiletramentos, algumas práticas podem ser indicadas aos professores
como possibilidades na elaboração de materiais didáticos ou novas formas
de apresentar conteúdos aos alunos. Os recursos das tecnologias digitais de
informação e comunicação (TDIC) podem ser suportes, visando favorecer
sua construção de conhecimento tanto nas aulas presenciais quanto,
principalmente neste período de isolamento social, nas atividades on-line.
Para a área de Ciências e Matemática, é possível refletir sobre a
utilização de kits educacionais e simuladores para experiências de
laboratório on-line (BRASIL, 1998). Muitas escolas, principalmente da
rede pública de ensino, não possuem espaço adequado a realização de
experiências associadas a estes conteúdos curriculares, como um
laboratório munido de microscópio, reagentes, cronômetros,
equipamentos de proteção individual ou sequer o mínimo de condições
para promover um estudo direcionado junto aos alunos. Neste sentido, é
possível identificar, ao menos dois sites para apresentação e simulação
aplicáveis a estes componentes curriculares, o Yenka
5
e o Manual do
Mundo
6
.
Os laboratórios virtuais da Yenka constituem uma maneira
interessante de aprender sobre ciência. Este conjunto de softwares
educacionais permitem aos alunos simular experimentos científicos, criar
modelos matemáticos, projetar circuitos eletrônicos ou aprender
programação de computadores. Com ele, professores e alunos podem
simular uma ampla variedade de experimentos com segurança e facilidade.
Para ajudar a começar, é possível assistir vídeos de treinamento gratuitos,
que mostram como criar suas próprias experiências simuladas.
5
Disponível em: https://www.yenka.com/science/. Acesso em: 16 out. 2020.
6
Disponível em: https://manualdomundo.uol.com.br/. Acesso em: 13 out. 2020.
31
Manual do mundo é o maior canal de Ciência e Tecnologia em
Língua Portuguesa do mundo, segundo o Guinness Book!
7
Possui um site e
um canal do Youtube que engloba curiosidades científicas, experiências,
dicas de sobrevivência, manual maker. Explicita, o que tem dentro das
coisas, explicações impossíveis, viagens imperdíveis, entre outros.
Associado aos materiais que disponibiliza e aborda, este canal também
desenvolveu livros e um Almanaque com atividades, experiências, receitas
etc. Em seu canal do Youtube
8
, divulga novos vídeos às terças-feira e
sábados.
De acordo com a descrição apresentada, é notável que estes sites
listados podem auxiliar professores e alunos no processo de ensino e
aprendizagem, por meio dos materiais que disponibilizam de forma
gratuita.
Para a etapa de alfabetização, bem como no ensino dos conteúdos
curriculares de Química e Artes, as TDIC, também, são apontadas como
uma possibilidade educacional com o uso dos dispositivos móveis, apoiada,
por exemplo, na aplicação da Realidade Aumentada (RA), que, segundo
Kirner (2011), trata-se de um sistema complementar ao mundo real,
adicionando componentes virtuais, como sons, imagens e vídeos a objetos
reais, enriquecendo a experiência do usuário com aquele ambiente e/ou
objeto real por meio de ferramentas tecnológicas, como tablets e
smartphones.
A Realidade Aumentada (RA) é direcionada ao objeto, não só os
objetos 3D, mas também a qualquer informação multimídia, como
imagens, pinturas e conteúdos textuais. Através de técnicas e
equipamentos, o objeto virtual toma forma tridimensional e possibilita a
visualização e interação do usuário, como se o objeto fosse real (SOUZA;
GIGLIO, 2015. p. 87-88).
Com a instalação do aplicativo necessário e utilização da câmera de
seu smartphone, é possível interagir com o mundo virtual e,
7
Disponível em: https://www.guinnessworldrecords.com.br/news/2018/8/manual-do-mundo-
celebra-seus-10-anos-recebendo-um-titulo-guinness-world-records. Acesso em: 08 set. 2020.
8
Disponível em: https://www.youtube.com/c/manualdomundo.
32
simultaneamente, com o mundo real. Esta dinâmica possibilita manusear
objetos tridimensionais e explorar um vasto conteúdo de forma simples e,
muitas vezes, gratuita. Dentre as diversas possibilidades de interação com
a RA, apresentam três aplicativos apropriados a conteúdos curriculares
distintos: o ARMolVis
9
, 3D Museu Viewer
10
e o AR Animals
11
.
ARMolVis é um visualizador molecular de RA para produtos do
cotidiano. A química está por toda parte e este aplicativo permitirá que os
usuários identifiquem o nome, a fórmula e a estrutura 3D do produto
químico de vários produtos do dia a dia, incluindo alimentos, utensílios
domésticos, artigos de papelaria e saúde. Após a instalação do aplicativo,
os usuários podem focar a câmera do aparelho sobre fotos 2D de vários
produtos do cotidiano e a molécula correspondente predominante nesse
produto aparecerá em 3D no dispositivo.
3D Museu Viewer é o visualizador de RA que apresenta o Museu
Britânico e o Museu do Louvre. Ele permite colocar cada um dos artefatos
em tamanho real no mundo real, com a capacidade de deslocar-se em torno
de cada estátua em 360º. Traz artefatos antigos e esculturas famosas de
museus diretamente para o ambiente do usuário. É necessário realizar a
instalação do aplicativo no smartphone e utilizar o Cubo Merge, que pode
ser comprado pronto ou montado a partir de moldes disponíveis na
Internet, para interação com as imagens tridimensionais através da câmera
do aparelho.
AR Animals tem como objetivo tornar o aprendizado do alfabeto
mais interessante. Nele, os animais entrarão em operação e serão
interativos no modo 4D após a digitalização dos cartões de animais
fornecidos, contendo uma lista de AZ. Este aplicativo fornece visão 4D
com movimento e som de animais. Para esta interação, é necessário realizar
a instalação do aplicativo no smartphone e baixar os cartões dos animais
9
Disponível em: https://play.google.com/store/apps/details?id=nus.cc.mobile.armolvis. Acesso em:
15 out. 2019.
10
Disponível em:
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.MergeCube.MuseumViewer&hl=pt-BR.
Acesso em: 10 out. 2020.
11
Disponível em: https://play.google.com/store/apps/details?id=com.vspl.aranimal. Acesso em: 13
out. 2020.
33
disponíveis no site do aplicativo. Pode-se girar os animais na vista 4D
movendo o cartão através da interação pela câmera do aparelho.
Outros diversos recursos digitais podem ser listados como aporte
educacional dos estudantes atendendo às especificidades das metodologias
ativas e dos multiletramentos para os mais variados conteúdos curriculares
ou temas afins.
Estando à frente da sala de aula, o professor deve conhecer a
realidade de seus alunos, suas dificuldades e possíveis necessidades
especiais, seu contexto sociocultural e, a partir destas variantes, optar por
quais recursos utilizar e em quais momentos serão necessários ou possíveis
de serem aplicados.
Considerações Finais
Após breve levantamento do referencial teórico e análise do cenário
atual, pode-se afirmar que as novas tecnologias digitais foram
determinantes para que os professores buscassem novos conhecimentos e
novos métodos de ensino, ganhando maior destaque devido ao quadro de
isolamento social ocasionado pelo vírus COVID-19, tendo eles que se
apoiarem em atividades on-line.
Conforme análise e apresentação das sugestões listadas, conclui-se
que as associações destas metodologias viabilizam diversas possibilidades
de recursos digitais aplicáveis à educação, como é o caso dos simuladores e
da Realidade Aumentada, facilitando e potencializando o processo de
aprendizagem e, ao mesmo tempo, dando condições aos estudantes de
assumirem a posição de protagonistas em sua construção de conhecimento.
Conclui-se, também, que a utilização das metodologias ativas
associadas aos multiletramentos m a favorecer os professores e estudantes
no processo de ensino e aprendizagem, pela variedade de possibilidades de
abordagem e pelo subsídio a compreensão de assuntos e dos conteúdos
curriculares, apresentando-se como medida estratégica para a inovação
pedagógica.
34
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37
A Leitura como Prática Cultural, sob o Olhar dos
Multiletramentos e Metodologias Ativas
Ana Estela FERREIRA
1
Raquel Lazzari Leite BARBOSA
2
Introdução
No contexto brasileiro, a pandemia do COVID-19 que marcou os
anos de 2020 e 2021, fez com que educadores de todo o país tivessem que
“trocar” os tradicionais quadros negros, giz e carteiras escolares pelas telas
de computadores, celulares e aplicativos digitais. Sim, de uma hora para
outra, a instituição escolar foi obrigada a buscar outras formas de
organização didática e de aprendizagem e, de forma a rapidamente se
reestruturar para continuar atendendo aos estudantes, agora em suas casas,
tentando dar conta desse novo momento nunca vivenciado na atualidade.
No entanto, muitos desses suportes e recursos digitais não são
necessariamente ferramentas novas criadas durante a pandemia, algumas
inclusive já estão a algum tempo sendo discutidas por pesquisadores de
diversas áreas, ou foram apenas adaptadas de outros contextos sociais para
funcionar como instrumento de aprendizagem.
A discussão em torno do uso de tecnologias na educação, bem
como de métodos de ensino mais apropriados, às novas gerações de
crianças e adolescentes, também, não é assim tão recente, inclusive a nova
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada em dezembro
de 2018, como documento normativo que busca definir o conjunto de
1
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail: ana.estela-
ferreira@unesp.br.
2
Professora adjunta / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus
de Assis/SP e professora orientadora no PPGE / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail: raquel.leite@unesp.br.
38
aprendizagens básicas as quais todos os alunos devem desenvolver ao longo
das etapas da Educaçãosica, estabelece, entre outras premissas que:
A área de Linguagens, no Ensino Fundamental, está centrada no
conhecimento, na compreensão, na exploração, na análise e na utilização
das diferentes linguagens (visuais, sonoras, verbais, corporais), visando
estabelecer um repertório diversificado sobre as práticas de linguagem e
desenvolver o senso estético e a comunicação com o uso das tecnologias
digitais. No Ensino Médio, o foco da área de Linguagens e suas
Tecnologias está na ampliação da autonomia, do protagonismo e da
autoria nas práticas de diferentes linguagens; na identificação e na crítica
aos diferentes usos das linguagens, explicitando seu poder no
estabelecimento de relações; na apreciação e na participação em diversas
manifestações artísticas e culturais; e no uso criativo das diversas mídias
(BRASIL, 2018, p. 471).
Porém, embora a BNCC e outros documentos curriculares atuais
estejam trazendo, para a discussão, o desenvolvimento de habilidades e
competências, especialmente na área de linguagens, que incluem os novos
gêneros discursivos e novas formas e suportes textuais, os materiais
didáticos que chegavam às escolas ainda, até esse momento, eram quase
que estritamente a partir do impresso e em formato tradicional de livros e
apostilas. Nesse movimento, pode-se dizer até que alguns gêneros,
originalmente, criados para o meio digital ou televisivo acabam por ser
“deslocados” de seu suporte quando passam a integrar os livros didáticos,
muitas vezes como atividades descontextualizadas, as quais só deixam, aos
estudantes, um lugar de passividade diante do conhecimento.
Grande parte disso se dá porque muitas práticas relativas à leitura
na escola, por não serem suficientemente discutidas e bem apropriadas
pelos educadores e organizadores dos documentos legislativos e
curriculares, acabam ganhando sentidos um tanto distorcidos no momento
de ensino aprendizagem, o que contribui para perpetuar modos de ensino
que se distanciam da funcionalidade do ato de ler como uma prática
cultural e social.
39
Nesse sentido, pensar as experiências de apropriação cultural da
leitura na escola atualmente, principalmente do ensino de literatura, neste
momento em que as artes e humanidades vem sofrendo ataques
ideológicos em várias esferas da sociedade, é ter como objetivo uma prática
pedagógica que promova realmente um espaço para a leitura na vida dos
estudantes, em especial das camadas populares, e possa assim:
Responder a questões extremamente atuais das sociedades
democráticas, sobretudo por meio do desenvolvimento das capacidades
emocionais, imaginativas e narrativas. Estas últimas, específicas, devem
ser igualmente cultivadas na família, desde o início da vida (PETIT,
2019, p. 10).
As experiências em torno da leitura literária vivenciada pelos
estudantes são um benefício para a vida toda, configurando-se como um
espaço criado dentro de si em que se pode preservar sempre “uma porção
de liberdade, de sonho, de inesperado” (PETIT, 2019, p. 13). Trata-se de
uma necessidade vital ou existencial que opera para “construir um sentido
de sua vida e sua identidade, ler talvez sirva antes de tudo para elaborar um
sentido, dar forma a sua experiência ou ao seu lado escuro, sua verdade
interior, secreta, para criar uma margem de manobra, ser um pouco mais
sujeito de sua história” (PETIT, 2019, p. 43).
As relações entre leitores e textos literários, aqui compreendidas
como uma possibilidade de representar o mundo a partir da busca por
novos significados, também, podem acontecer a partir de outros suportes
que não somente o texto impresso, como tradicionalmente a escola vem
institucionalizando. Não se trata, no entanto, de negar o impresso ou o
mundo dos livros, esperando que este desapareça nos próximos anos, mas
de compreender que “o desejo de suspensão subsiste, mesmo que
assumindo outras formas” (PETIT, 2019, p. 69), ou seja, a necessidade de
estar alhures proporcionada pela leitura literária no papel, também ocorre
com o leitor que lê a partir dos recursos digitais. Muito embora o
imaginário não funcione da mesma forma nesses diferentes suportes, é
40
importante que se pense em maneiras de construir pontes entre eles, uma
vez que:
Ler, mas também observar ilustrações, pinturas ou filmes, cantar,
contar, desenhar, escrever em um blog para compartilhar suas
descobertas, são atividades que servem para interpor entre o real e o eu
todo um tecido de palavras, de conhecimentos, de histórias, de
fantasias, sem o qual o mundo seria inabitável, mesmo que vivamos em
lugares bem mais clementes do que aqueles onde grupos armados se
enfrentam. Servem para emprestar ao que nos rodeia uma coloração,
uma espessura simbólica, poética, imaginária, uma profundidade a
partir da qual podemos sonhar, sair à deriva, fazer associações (PETIT,
2019, p. 49).
No contexto atual, em que os suportes digitais vêm transformando
a leitura e a escrita de maneira bastante profunda, é imprescindível que os
agentes escolares também reflitam sobre novas formas de expressão e novos
espaços para a literatura a partir de combinações e do hibridismo com
outras formas de arte, conforme já aponta Petit (2019):
Nestes tempos de revolução digital em que as referências culturais, bem
como as informações, chegam por diferentes meios, muito
profissionais estão conscientes dessa necessidade de lançar pontes, de
inscrever a palavra escrita em uma abordagem mais vasta. Hoje, muitos
livros escolhidos pelas crianças foram objeto de adaptações
cinematográficas ou televisivas (PETIT, 2019, p. 49).
Já para Certeau (1998), é preciso pensar a leitura como uma prática
criadora em que se deve distinguir o processo de decifração das letras do
saber ler o sentido, ainda que, essas duas atividades em algum ponto se
cruzem. A prática cultural da leitura é, então, um processo muito mais
complexo que decifrar, em que “somente uma memória cultural adquirida
de ouvido, por tradição oral, permite e enriquece aos poucos as estratégias
de interrogação semântica cujas expectativas a decifração de um escrito
afina, precisa ou corrige(CERTEAU, 1998, p. 263). Essa memória que
41
vem, então, do seio familiar, das trocas linguísticas e rituais do cotidiano,
também, deve ser pensada atualmente como estando bastante ligada aos
recursos midiáticos e digitais, uma vez que foi em meio a esses suportes
que as crianças e jovens das últimas gerações nasceram, cresceram e tem
estabelecido sentido para suas práticas e concepções de mundo.
Dessa forma, a leitura como prática cultural é aquela em que o
leitor “combina os seus fragmentos e cria algo não sabido no espaço
organizado por sua capacidade de permitir uma pluralidade indefinida de
significações” (CERTEAU, 1998, p. 265) em que, se não há uma
intrínseca relação entre leitores e textos, não há leitura, não há sentido,
uma vez que ainda segundo o autor, “o texto muda conforme os leitores e
ordena-se conforme códigos de percepção que lhes escapam. Torna-se
texto somente na relação à exterioridade do leitor, por um jogo de
implicações e de astúcias” (CERTEAU, 1998, p. 266).
Pensar a leitura na escola como atividade inventiva e criadora é,
então, buscar com o ensino desconstruir as barreiras criadas socialmente
entre textos e leitores, que, por força da institucionalização do ato de ler
como prática hierarquizada, operou e ainda o faz, impondo por exemplo,
o sentido literal dos textos, usando de métodos de ensino de leitura
excludentes, sacralizando obras literárias para estudantes das camadas
populares, os quais nem sempre tiveram acesso à essas formas discursivas a
partir de uma memória cultural e familiar. Todas essas práticas são o efeito
de um poder social que afasta estudantes da arte literária, uma vez que
oferecer o objeto lido a uma pluralidade de significações pode tornar o
texto uma arma cultural (CERTEAU, 1998, p. 267).
Ainda sobre estas relações, há de se compreender que os leitores
possuem apropriações de leitura específicas e os textos por eles lidos,
também, ganham novos sentidos por meio dos suportes tecnológicos e
digitais em que se ancoram. A prática da leitura escolar é, dessa forma,
“encarnada em gestos, espaços, e hábitos” (CHARTIER, 1991, p. 178) e
o ensino da mesma deve se voltar, pois, para as relações sociais e concretas
em que a leitura literária se insere, compreendendo que são diferentes os
leitores e que há espaço para novas experiências de leitura na modernidade.
42
Fundamentada por essas concepções de leitura é que se reflete,
neste trabalho, sobre o ensino de leitura e literatura na escola a partir de
novas abordagens que incluem a aprendizagem por meio do conceito de
multiletramentos e metodologias ativas, tendo como suporte outras
dinâmicas relacionais, pedagógicas e apropriação de aparatos tecnológicos.
As discussões sobre essas práticas consideradas inovadoras ainda não
possuem um espaço tão amplo de debate nas escolas entre os educadores,
fruto de desconhecimento ou de uma resistência em se apropriar de outros
formatos de ensino, o que dificulta uma formação de leitores mais críticos
e engajados.
Nesse sentido, cabe refletir sobre como a perspectiva dos
multiletramentos e das novas tecnologias pode contribuir para a prática da
leitura como apropriação e memória cultural, bem como, acerca de quais
saberes de leitura podem ser desenvolvidos a partir do uso de ferramentas
e mídias digitais, as quais já fazem parte do cotidiano dos estudantes.
1 A leitura literária na perspectiva dos multiletramentos
e metodologias ativas
Pensar a leitura literária na escola além do discurso que a prescreve
é buscar recursos que a tornem realmente possível e que ajudem a
desenvolver a competência leitora como forma de apropriação cultural,
propiciando às crianças e jovens, principalmente das camadas populares, o
contato e a experiência com a arte. O ensino de leitura na escola, precisa
então, necessariamente dar acesso, por meio da metodologia, à formação
de uma bagagem cultural que envolve um trabalho discursivo como
enunciado, e que por isso possa, também, marcar, criar um espaço nas
dinâmicas escolares para as maneiras próprias de ler do leitor, ou seja, para
o diálogo.
Diante dessas demandas que se impõem à escola como instituição
social, várias pesquisas apontam a área dos multiletramentos como um
recurso para o desenvolvimento da aprendizagem e de, pode-se assim
considerar, práticas de leitura realmente concretas e que respondam às reais
43
necessidades dos estudantes como socialmente atuantes. De acordo com
Rojo (2012), o trabalho com multiletramentos:
Caracteriza-se como um trabalho que parte das culturas de referência
do alunado (popular, local, de massa) e de gêneros, mídias e linguagens
por eles conhecidos, para buscar um enfoque crítico, pluralista, ético,
democrático- que envolva agência de textos/discursos que ampliem
o repertório cultural, na direção de outros letramentos, valorizados
(como é o caso dos trabalhos com hiper e nanocontos) ou
desvalorizados (como é o caso do trabalho com picho) (ROJO, 2012,
p. 8).
A perspectiva dos multiletramentos permite, pois, abordar uma
diversidade de gêneros textuais e discursivos enquanto realidade cultural
diversa, principalmente na atualidade e na forma como as tecnologias e
mídias digitais passaram a impactar o cotidiano das pessoas, promovendo
por vezes outros modos de organização social, seja no mundo do trabalho,
nas relações e dinâmicas sociais e, pelo menos assim deveria ser, as maneiras
de organização das aprendizagens escolares. É importante enfatizar, no
entanto, que o conceito de multiletramentos, segundo Rojo (2012), vai
além da ideia de letramentos múltiplos, e aponta para
multimodalidade ou multisemiose dos textos contemporâneos, os
quais exigem multiletramentos, ou seja, textos compostos de muitas
linguagens (ou modos, ou semioses) e que exigem capacidades e
práticas de compreensão e produção de cada uma delas
(multiletramentos) para fazer significar (ROJO, 2012, p. 19).
Nesse sentido, a leitura de um texto literário, por exemplo, é
potencializada quando em contato com essas outras linguagens ou
semioses através de links, hipertextos, múltiplas linguagens, os quais
movimentam várias capacidades de compreensão e significação. De acordo
com Lemke (2010 apud ROJO, 2012, p. 20), o caráter de hipertexto ou
hipermídia dos textos contemporâneos propicia a construção de novos
44
significados, dada a multiplicidade de combinações possíveis que
permitem, muitas vezes, extrapolar os protocolos de leitura disseminados
nos textos ou suportes, fazendo com que se possa, por exemplo,
Encontrar mais sobre um assunto que os autores sintetizaram, ou
encontrar interpretações alternativas que eles não mencionaram (ou
com a qual concordam ou até mesmo consideram moral ou científico).
Podemos mudar o assunto para adequá-lo ao nosso juízo de relevância
para nossos próprios interesses e planos e podemos retornar mais tarde
para um desenvolvimento padrão baseado no livro-texto. Podemos
aprender como se tivéssemos acesso a todos esses textos e como se
tivéssemos um especialista que pudesse nos indicar a maioria das
referências entre tais textos. Temos agora que aprender a realizar
formas mais complexas de julgamento e ganhamos muita prática
fazendo isso (LEMKE, 2010 apud ROJO, 2012, p. 21).
No entanto, no contexto da sociedade globalizada cujas práticas
sociais se tornam por vezes fragmentadas, é necessário que a escola busque
uma espécie de pluralismo integrativo que gera novas formas de
consciência, ou seja, “ler o mundo criticamente para compreender os
interesses culturais divergentes que informam significações e ações, suas
relações e suas consequências” (KALANTZIZ; COPE, 2006, p. 147 apud
ROJO, 2013, p. 15).
No plano das práticas de ensino de leitura literária, compreende-se
que integrar é buscar cada vez mais o trabalho com texto literário em uma
abordagem discursiva de apreciação estética responsiva, ressaltando o
caráter de democratização que o uso das tecnologias pode proporcionar aos
estudantes enquanto “[...] apropriação múltipla de patrimônios culturais
que abre possibilidades originais de experimentação e comunicação
(CANCLINI, 2008, p. 308).
Essa integração e pluralismo só se torna possível a partir de uma
perspectiva em que o estudante seja protagonista de seu processo de
aprendizagem. E é nesse contexto que Moran (2018, p. 38), tendo como
base as pesquisas de autores como Dewey (1950), Freire (1996), Ausubel
et al. (1980), Rogers (1973), Piaget (2006), Vygotsky (1998) e Bruner
45
(1976), afirmam que “a vida é um processo de aprendizagem ativa, de
enfrentamento de desafios cada vez mais complexos” o que faz com que
um ensino de leitura ainda baseado em transmissão de conhecimento, em
que o professor se considera dotado de todo o saber e o estudante seja visto
apenas como um receptáculo de conhecimento, não proporciona a este
uma compreensão mais aprofundada tanto do mundo quanto de seu
percurso em relação ao conhecimento. Práticas cristalizadas na escola
ajudam a exemplificar isso, tal como a tradicional leitura em voz alta e
explanação sobre o texto feita pelo professor ou as famigeradas listas de
exercícios de interpretação que tanto afastam os estudantes do gosto pela
leitura. De acordo com os autores, é preciso então compreender que
Os processos de aprendizagem são múltiplos, contínuos, híbridos
formais e informais, organizados e abertos, intencionais e não
intencionais. O ensino regular é um espaço importante, pelo peso
institucional, anos de certificação e investimentos envolvidos, mas
convive com inúmeros outros espaços e formas de aprender mais
abertos, sedutores e adaptados às necessidades de cada um (BACICH;
MORAN, 2018, p. 39).
Partindo de uma aprendizagem reflexiva e ativa, o autor tece,
também, algumas considerações sobre o lugar do professor nesse processo,
apresentando-o como um orientador cujo “papel é ajudar os alunos a irem
além de onde conseguiriam ir sozinhos, motivando, questionando,
orientando” (BACICH; MORAN, 2018, p. 40).
Por meio dos conceitos de aprendizagem ativa e híbrida, os autores
definem Metodologias ativas como “estratégias de ensino centradas na
participação efetiva dos estudantes na construção do processo de
aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida” (BACICH;
MORAN, 2018, p. 40) e ressalta que tais processos de aprendizagem
envolvem três movimentos ativos híbridos:
a construção individual na qual cada aluno percorre e escolhe seu
caminho, ao menos parcialmente; a grupal na qual o aluno amplia
46
sua aprendizagem por meio de diferentes formas de envolvimento,
interação e compartilhamento de saberes, atividades e produções com
seus pares, com diferentes grupos, com diferentes níveis de supervisão
docente; e a tutorial, em que aprende com a orientação de pessoas mais
experientes em diferentes campos e atividades (curadoria, mediação,
mentoria) (BACICH; MORAN, 2018, p. 41-42).
Esses movimentos, também, exigem um mapeamento do
conhecimento de cada estudante, de maneira que se possa pensar “diversas
formas e modelos de personalização” (BACICH; MORAN, 2018, p. 41-
42), sendo que um desses é a construção da aprendizagem por meio do
projeto de vida, explicado:
Um caminho interessante para o projeto de vida é a construção de
narrativas, em que cada aluno conta a sua história utilizando as diversas
tecnologias disponíveis e vai construindo o seu e-portfólio com todo o
percurso de aprendizagem (BACICH; MORAN, 2018, p. 46).
Outra forma de aprendizagem ativa e híbrida é apresentada pelo
autor como aprendizagem compartilhada, a qual parte do contato com
situações reais, concretas, na busca de soluções que contribuam, por
exemplo, com a comunidade. “É a aprendizagem-serviço, em que os
professores, os alunos e a instituição aprendem interagindo com diversos
contextos reais, abrindo-se para o mundo e ajudando a modificá-lo
(BACICH; MORAN, 2018, p. 47).
Por fim, vale destacar a chamada aprendizagem por tutoria, que
acontece pelo contato com profissionais mais experientes (professores,
tutores, mentores), e em que
O papel ativo do professor como designer de caminhos, de atividades
individuais e em grupo é decisivo e diferente. O professor torna-se,
cada vez mais, um gestor e orientador de caminhos coletivos e
individuais, previsíveis e imprevisíveis, em uma construção mais
aberta, criativa e empreendedora (BACICH; MORAN, 2018, p. 49).
47
Uma aprendizagem ativa e compartilhada em que o aluno pode,
por um lado apropriar-se de sua própria história, e por outro ser conduzido
a formas de conhecimento mais elaborados, possibilita criar espaços para a
leitura, em específico a literária, como prática cultural, pois promove a
construção de um repertório de experiências por meio do encontro com a
arte, com o estético, o democrático, ético e social.
Por outro lado, compreender a maneira como as novas tecnologias
podem contribuir para esse processo de aprendizagem de leitura literária a
partir das estratégias das metodologias ativas é essencial, principalmente,
como promotoras de maior engajamento e autonomia por parte dos
estudantes, conforme explicam Bachich e Moran
A combinação de metodologias ativas com tecnologias digitais móveis
é hoje estratégica para a inovação pedagógica. As tecnologias ampliam
as possibilidades de pesquisa, autoria, comunicação e compartilha-
mento em rede, publicação, multiplicação de espaços e tempos;
monitoram cada etapa do processo, tornam os resultados visíveis, os
avanços e as dificuldades. As tecnologias digitais diluem, ampliam e
redefinem a troca entre os espaços formais e informais por meio de
redes sociais e ambientes abertos de compartilhamento e coautoria
(BACICH; MORAN, 2018, p. 53).
2 Reflexões sobre algumas ferramentas digitais como recurso para o
trabalho com a leitura literária a partir da sala de aula invertida
As tecnologias e mídias digitais podem auxiliar o professor na
elaboração de sua aula, permitindo que ele exerça mediação, também, em
relação aos materiais didáticos, os quais não precisam ser necessariamente
digitais, tendo sempre em vista o ensino da leitura literária como forma de
apropriação cultural.
No contexto das metodologias ativas, um dos recursos didáticos
utilizado é chamado de Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom),
caracterizada como forma de ensino on-line assincrônica e flexível a qual
permite aos estudantes maior protagonismo no processo de aprendizagem,
48
pois estes entram em contato com os conteúdos antes do encontro
presencial em classe, momento em que o professor já terá inclusive um
diagnóstico do que os estudantes conseguiram se apropriar, bem como das
dificuldades encontradas. Sobre essa metodologia, Bacich e Moran (2018)
explicam:
A aula invertida é uma estratégia ativa e um modelo híbrido, que
otimiza o tempo da aprendizagem e do professor. O conhecimento
básico fica a cargo do aluno com curadoria do professor e os estágios
mais avançados têm interferência do professor e um forte componente
grupal (BACICH; MORAN, 2018, p. 56).
Para que essa organização metodológica funcione, é preciso que
todo um sistema relacional seja invertido. O professor passa a ser mediador
de um processo, realizando a curadoria dos conteúdos, temáticas e
conhecimentos, enquanto orienta diversos caminhos de pesquisa, de
atribuição de sentido por parte dos estudantes, estes não mais colocados
em um lugar de passividade, mas sim, de intensa participação e diálogo.
Sobre o uso da sala de aula invertida, é preciso ressaltar, também,
a importância de a produção de material para os estudantes realizarem
pesquisas, leituras, e exploração on-line, o que vai orientar todo o trabalho
presencial. E é neste aspecto que algumas ferramentas tecnológicas e
midiáticas podem contribuir, pois criam todo um campo de comunicação
e trocas enunciativas, não só a partir de recursos usados na escola, mas
também por outros que fazem parte do dia a dia dos estudantes.
Dessa maneira, este trabalho apresenta algumas reflexões sobre
alguns aplicativos ou mídias que podem ser catalisados dentro do método
da sala de aula invertida, uma vez que já fazem parte do cotidiano tanto de
professores quanto de estudantes, e que por isso, podem ser pensados
criativamente como complementação para as práticas de leitura escolares,
tanto a partir de textos impressos quanto para a leitura na tela, tendo em
vista que “as tecnologias nos permitem ampliar o conceito de aula, de
49
espaço e de tempo, estabelecendo novas pontes entre o estar juntos
fisicamente e virtualmente” (BACICH; MORAN, 2018. p. 8).
O uso desses aplicativos e mídias como ferramentas a favor da
aprendizagem colaboram, também, com o ensino de práticas de leituras
significativas no sentido de estimular “capacidades de leitura” (ROJO,
2004) que proporcionem uma rede de inserção na vida social e cultura
letrada, primordialmente pelo ato de compreender, conforme a autora
explica
ser letrado e ler na vida e na cidadania é muito mais que isso: é escapar
da literalidade dos textos e interpretá-los, colocando-os em relação com
outros textos e discursos, de maneira situada na realidade social; é
discutir com os textos, replicando e avaliando posições e ideologias que
constituem seus sentidos; é, enfim, trazer o texto para a vida e colocá-
lo em relação com ela (ROJO, 2004, p. 2).
Como capacidades de leitura, a autora compreende uma série de
procedimentos e estratégias que devem ser organizados pelos professores,
em específico os de língua portuguesa, para promover as práticas de
letramento e de leitura escolar que vão muito além do ato de decodificar
ensinado nas séries iniciais, e se caracterizam pelas combinações das
capacidades de compreensão, apreciação e réplicatodas dependentes da
situação e das finalidades de leitura, algumas delas denominadas, em
algumas teorias de leitura, estratégias (cognitivas, metacognitivas)”
(ROJO, 2004, p. 2).
De acordo com as palavras de Rojo
leitura é vista como um ato de se colocar em relação a um discurso
(texto) com outros discursos anteriores a ele, emaranhados nele e
posteriores a ele, como possibilidades infinitas de réplica, gerando
novos discursos/textos. O discurso/texto é visto como conjunto de
sentidos e apreciações de valor das pessoas e coisas do mundo,
dependentes do lugar social do autor e do leitor e da situação de
interação entre eles finalidades da leitura e da produção do texto,
50
esfera social de comunicação em que o ato da leitura se dá (ROJO,
2004, p. 3-4).
Alguns desses recursos digitais e midiáticos podem funcionar como
ferramentas para desenvolver capacidades de leitura porque proporcionam
aos estudantes situações de aprendizagem reais em que se pode adquirir
maior repertório cultural e, assim, aprofundar seus conhecimentos
semânticos e de mundo pois possibilita aos estudantes compartilharem
leituras, dados sobre autores, ideias, comentários, fazendo interagir o texto,
o contexto e os valores ali inseridos.
Durante o ensino remoto, uma das ferramentas que mais se
mostrou eficiente nesse momento foi o Formulários Google, também
chamado de Google Forms. Por apresentar muitas possibilidades de
trabalho, o professor pode, através desse recurso, exercitar diversas
habilidades e competências de leitura bem como direcio-lo a diferentes
usos e projetos. Pode ser utilizada para atividades mais simples, mas
também para avaliações, testes de múltipla escolha, até organizar roteiros
diferentes de aprendizagem, o que se relaciona muito bem com a prática
pedagógica da sala de aula invertida. Segundo Gartner (2020), o
Formulário Google é um
Software on-line gratuito que permite a criação de diversos tipos de
formulários, como um banco de dados, enquetes, pesquisas,
questionários, exercícios de múltipla escolha entre outros. As in-
formações são coletadas em tempo real. Funciona nos dispositivos
móveis, laptops e desktops. O programa organiza os dados quanti-
tativos coletados por meio de gráficos (GARTNER, 2020, p. 41).
O Formulários Google é um suporte para o trabalho com as práticas
de leitura quando permite ao professor sistematizar e organizar as
atividades dos estudantes, formando um banco de dados com essas
impressões sobre os textos lidos, a partir de enquetes, pequenos testes, bem
como relacionar gêneros textuais a imagens e vídeos do Youtube. O
51
professor pode, também, organizar, a partir dessa ferramenta, atividades
que trabalhem com as capacidades de inferências locais e globais.
Em uma emergência social como uma pandemia, por exemplo, as
maneiras como as pessoas se reinventam e reorganizam mostram o quanto
as táticas de enfrentamento partem do real, das situações concretas do dia
a dia. Na impossibilidade, em um primeiro momento, de apropriar-se de
ambientes virtuais próprios para a aprendizagem como, por exemplo, o
Microsoft Teams ou Google Classroom, foi através do uso de um aplicativo
fora do contexto educacional que muitas escolas criaram um canal de
contato funcional entre estudantes, professores e familiares: o WhatsApp, o
qual permite o “compartilhamento de imagens, mensagens escritas e de
voz, links, documentos, arquivos, vídeos e outros dados” (ARAGÃO,
2019, p. 56).
Para o trabalho com a leitura literária, o uso do aplicativo
WhatsApp funciona como um suporte a partir do qual se pode disseminar
links, arquivos, livros digitais etc. Por meio dele, podem ser criados grupos
de leitura e discussão dos textos, ou listas de transmissão com conteúdos
literários, que vão promover comentários tanto escritos quanto em áudio
ou pequenos vídeos e até textos autorais dos próprios estudantes. Esses usos
do aplicativo para fins pedagógicos de ensino de leitura se aproximam de
modalidades didáticas de trabalho com a linguagem como a roda de
leitores, a qual segundo Bräkling (2012) possibilita
a socialização das leituras realizadas de maneira independente, com a
finalidade de observar comportamentos leitores já construídos pelos
alunos e, ao mesmo tempo, ampliar seu repertório por meio da
explicitação dos comportamentos de todos. No processo de
socialização, explicitam-se os critérios de apreciação estética em uso
pelos diferentes alunos, criando-se um espaço de circulação dos
mesmos, o que cria a possibilidade de apropriação dos mesmos por
diferentes leitores. Possibilitar, ainda, a discussão e estudo de uma
determinada obra ou de um conjunto de obras do mesmo autor, com
a finalidade de compreender seu estilo pessoal. Pode realizar-se,
portanto, considerando obras de escolha pessoal ou obras selecionadas
pela escola (BRÄKLING, 2012, p. 5).
52
De outra maneira, ferramentas e redes sociais como O Blogger, o
Facebook, Instagram e Pinterest, com os quais as pessoas também já estão
bastante familiarizadas em seu cotidiano, podem ser usadas por meio do
recurso da sala de aula invertida, tanto para envio de instruções e
orientações, quanto como ambiente para leitura de textos literários,
comentários, resenhas, indicações de leitura e socializações de impressões
sobre textos e obras de escritores.
O Blogger (o termo Blog deriva do Weblog ou “diário on-line”) é
um serviço do Google para a criação e publicação de textos, vídeos e
imagens e está mais de uma década circulando pela Web em todos os
nichos possíveis e sendo usado por muito professores apenas como espaço
de busca simples por textos ou atividades. Um olhar mais crítico, no
entanto, revela outras possibilidades de desenvolvimento de capacidades
de leitura, como por exemplo, confrontar opiniões sobre determinado
texto ou assunto relacionando informações a partir do contexto de
produção, além de busca de informações, uma vez que nessa prática de
leitura, “o leitor está constantemente buscando e localizando informação
relevante, para armazená-la por meio de cópia, recorte-cole, iluminação
ou sublinhado e, posteriormente, reutili-la de maneira reorganizada”
(ROJO, 2004, p. 5).
Em complemento a isso, Bernini (2017) afirma que o blogger pode
ser usando no contexto educacional, pois
Geralmente apresenta publicações diversas com textos, imagens, vídeos
e outros recursos, que podem ser de assunto específico ou não. Pode
ser usada para introdução ou extensão do conteúdo da aula, publicação
de trabalhos dos alunos com contribuições de um ou mais autores. Os
blogs geralmente permitem comentários dos usuários, que podem ser
controlados ou não (depende de configuração) (BERNINI, 2017, p.
110).
A rede social Facebook é talvez o site mais popularmente utilizado
no Brasil, já que permite aos usuários criarem perfis a partir de fotos e
descrição de interesses pessoais, caracterizando-se como um ambiente
53
virtual que gera todo um sistema comunicacional tanto de maneira privada
ou pública. Uma possibilidade de uso educacional voltada para as práticas
de leitura literária está no fato de que essa mídia social permite a criação
de grupos temáticos abertos ou fechados, além de páginas específicas sobre
determinado assunto ou nicho, e dessa forma, favorece o contato entre
usuários e textos literários, ainda que fragmentados, bem como com
imagens e vídeos artísticos.
É uma rede de compartilhamento capaz de fazer circular, apesar da
limitação imposta pelo algoritmo, todo um diálogo em torno de obras
literárias, bem como informações acerca de eventos e temáticas a esse
contexto relacionadas, criando assim “links”, ou, como indica Rojo
(2004), “quanto maior é o número de relações que o leitor estabelece entre
o que está lendo e o que já leu, ouviu, conversou, assistiu etc., sobre o
mesmo tema, mais efetivo é o diálogo que ele trava com o texto” A autora
argumenta ainda que,
Ao ler, replicamos ou reagimos ao texto constantemente: sentimos
prazer, deixamo-nos enlevar e apreciamos o belo na forma da
linguagem, ou odiamos e achamos feio o resultado da construção do
autor; gostamos ou não gostamos, pelas mais variadas razões. E isso
pode, inclusive, interromper a leitura ou levar a muitos outros textos.
[...]. Mas também discutimos com o texto: discordamos, concordamos,
criticamos suas posições e ideologias. Avaliamos os valores colocados
em circulação pelo texto e destes, são especialmente importantes para
a cidadania, os valores éticos e políticos. Esta capacidade é que leva a
uma réplica crítica a posições assumidas pelo autor no texto (ROJO,
2004, p. 7).
Outra rede social bastante utilizada socialmente nos últimos anos
é o Instagram, que em uma tradução livre significa “Instade Instant
Camera(câmera instantânea) e Gram” de telegrama, (antiga forma de
enviar uma mensagem por correio). Construído em torno do conteúdo
visual, essa plataforma tem como foco primordialmente o
compartilhamento de fotos, vídeos e stories e, diferente das mídias citadas
anteriormente, não é a mais recomendada para postagem de textos, visto
54
que para além de 125 caracteres, a sua legenda passa a não ser exibida
integralmente. No entanto, isso não significa que essa rede social não possa
ser usada para compartilhamento de conteúdo literários, pois a plataforma
conta atualmente com milhares de páginas criadas por usuários que se
dedicam a esse trabalho, os chamados Bookstagramers ou Instabookers, os
quais publicam, constantemente, resenhas, indicações de leitura,
comentários e realizam até clubes de leitura através das chamadas Lives.
Semelhante ao Instagram, o Pinterest também é uma rede social
criada para seleção de imagens e vídeos. Em um sistema em que cada
usuário cria uma espécie de mural com os “pins” (postagens) sobre
qualquer temática, é possível no contexto das práticas de leitura, criar
murais com sugestões de livros ou outros gêneros, bem como seguir
conteúdos relacionados a isso.
Considerações Finais
O contato com as apreciações estéticas de outros leitores
possibilitada por essas redes sociais, contribui, portanto, para desenvolver
capacidades de leitura que se estruturam a partir da comparação de
informações e textos, como o que explica Rojo,
Ao longo da leitura, o leitor está constantemente comparando
informações de várias ordens, advindas do texto, de outros textos, de
seu conhecimento de mundo, de maneira a construir os sentidos do
texto que está lendo. Para atividades específicas, como as de resumo ou
síntese do texto, esta comparação é essencial para medir relevância das
informações que deverão ser retidas (ROJO, 2004, p. 5).
Além disso, a partir dessas mídias sociais, o professor também pode
criar situações que estimulem que os estudantes elaborem suas próprias
apreciações estéticas, políticas, éticas, como explicado por Rojo,
55
Ao ler, replicamos ou reagimos ao texto constantemente: sentimos
prazer, deixamo-nos enlevar e apreciamos o belo na forma da
linguagem, ou odiamos e achamos feio o resultado da construção do
autor; gostamos ou não gostamos, pelas mais variadas razões. E isso
pode, inclusive, interromper a leitura ou levar a muitos outros textos.
Mas também discutimos com o texto: discordamos, concordamos,
criticamos suas posições e ideologias. Avaliamos os valores colocados
em circulação pelo texto e destes, são especialmente importantes para
a cidadania, os valores éticos e políticos. Esta capacidade é que leva a
uma réplica crítica a posições assumidas pelo autor no texto (ROJO,
2004, p. 7).
É importante, então, ressaltar que essas e diversas outras
ferramentas tecnológicas podem operar como instrumento de
aprendizagem se os educadores conseguirem sair do lugar de
distanciamento que as práticas pedagógicas cristalizadas fabricam. Como
o que exemplifica Menezes (2020, p. 28), “instruções pequenas,
orientações para tarefas podem ser enviadas por e-mail, WhatsApp,
Telegram, Instagram, Facebook, Snapchat e até criadas com um avatar
animado no Voki.com.” desde que se mude o olhar em relação às
ferramentas que, inclusive, já são usadas pela maioria das pessoas e parte
de toda uma cultura social.
É preciso, também, que a leitura literária passe a fazer parte da vida
dos estudantes para que não seja vista apenas como uma atividade escolar,
mas algo a partir do qual eles possam dialogar, responder, criar e recriar
sentidos, compreender e se posicionar criticamente. Que os estudantes
leiam livros, textos, contextos e leitores o tempo todo! O uso de tecnologias
e mídias digitais, a partir dos multiletramentos e metodologias ativas pode
funcionar, então, como um sistema colaborativo em que os estudantes
atuam como protagonistas, compartilhando textos, vídeos, áudios sobre
um determinado tema estudado, por exemplo.
Nesse sentido, o professor precisa estar atento a tudo o que na
realidade pode ser utilizado como aprendizagem, principalmente a partir
da experiência do compartilhamento. E sempre questionar em relação às
práticas de leitura, se o que está sendo oferecido a eles é realmente
56
relevante, motivador e pode propiciar o desenvolvimento da autonomia e
da apropriação cultural.
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58
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59
Da Canetinha ao Videogame:
reflees sobre o uso das tecnologias em duas escolas públicas
do interior do Estado de São Paulo
Bruna Assem Sasso dos SANTOS
2
Francisane Nayare de Oliveira MAIA
3
Introdução
Somos pesquisadoras, integrantes do ensino superior, mas, desde o
início de nossa formação inicial, também, somos participantes da rede
básica e pública de ensino de cidades do interior de São Paulo. No rodízio
de papéis na educação, vislumbramos uma rotina que se molda por desafios
e recompensas.
A comunidade escolar, pelos desafios enfrentados, reconhece
pouco engajamento e práticas obsoletas e, assim, a pressão por mudanças,
acelerada por tempo pandêmico, fez com que se projetasse, nas novas
tecnologias, expectativas de que trariam soluções rápidas para atender
demandas e viabilizar a inovação do ensino.
Entretanto, compreendemos que mudanças não se realizam de
forma demasiadamente simples e que as tecnologias não proporcionarão as
ágeis soluções, do dia para a noite. Apesar de reconhecer que elas nos
permitem ampliar o conceito de aula, de espaço e tempo, de comunicação
audiovisual, e estabelecer novos vínculos entre o presencial e o virtual,
2
Doutora em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
bruna.sasso@unesp.br
3
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail: f.maia@unesp.br
60
entre o estar juntos e o estarmos conectados a distância, ainda há um
caminho a ser percorrido. Destarte:
As tecnologias permitem o registro e a visibilização do processo de
aprendizagem de cada um e de todos os envolvidos. Mapeiam os
progressos, apontam as dificuldades, podem prever alguns caminhos
para os que têm dificuldades específicas (plataformas adaptativas). Elas
facilitam como nunca antes múltiplas formas de comunicação
horizontal, em redes, em grupos, individualizada. É fácil o
compartilhamento, a coautoria, a publicação, produzir e divulgar
narrativas diferentes. A combinação dos ambientes mais formais com
os informais (redes sociais, wikis, blogs), feita de forma inteligente e
integrada, nos permite conciliar a necessária organização dos processos
com a flexibilidade de poder adaptá-los a cada aluno e grupo
(MORAN, 2014, p. 37).
Porém, ensinar e aprender são os desafios maiores que enfrentamos
em todas as épocas e, particularmente agora, em que estamos pressionados
pelo distanciamento social, alternância de modelos presenciais para
remotos ou híbridos.
Como ensinar e aprender em uma sociedade mais interconectada
e ao mesmo tempo com tantas desigualdades sociais e econômicas? Isto
porque os aparelhos eletrônicos (desde os computadores, smartphones,
tablets, lousas digitais, etc.) e a Internet, permitem uma infinidade de
possibilidades de pesquisa, de simulação da realidade, testes, descobertas,
produções, engendrando-se como importantes e poderosos meios para o
ensino e a aprendizagem; mas em um país com tanta desigualdade de renda
como o Brasil, como garantir o uso das tecnologias em suas diversas
realidades? Como se pode falar da tecnologia se ainda não é a realidade
para a maioria? Segundo Avelino e Mendes (2020),
A falta de recursos tecnológicos destinados à educação acaba por
inviabilizar ainda mais o acesso à educação durante a pandemia, se
antes a dificuldade estava em chegar até as escolas, agora muitos alunos
vão enfrentar o fato de não terem recursos suficientemente para
61
acompanhar as aulas on-line e executar as atividades solicitadas
(AVELINO; MENDES, 2020, p. 58).
Nosso objetivo principal é, assim, apresentar nossas experiências à
luz das tecnologias, em duas escolas públicas do interior do estado de São
Paulo, tecendo algumas considerações acerca delas, pensando e retratando
o uso das tecnologias nas nossas práticas atuais e evidenciando as
dificuldades e perspectivas desta utilização. Demonstramos, dessa forma,
os impasses vivenciados entre o que é ideal e real.
Traçamos considerações acerca das dificuldades enfrentadas de
acordo com cada contexto, sobretudo quanto ao contraste de uma
sociedade desenvolvida com escolas periféricas e que não têm acesso à gama
das tecnologias usuais e comuns à realidade que as cercam.
Compartilhamos aspectos dessas experiências sob o olhar dos
multiletramentos e das metodologias ativas vislumbrando como podem
contribuir para uma educação mais humanizadora e democrática,
componentes estes que são essenciais para uma Educação Integral (que
privilegia o ser humano na sua inteireza, isto é, leva em consideração os
âmbitos: cognitivos, afetivos, físicos, socioemocionais e morais).
Segundo Maia (2019), a Educação Integral tem papel central na
legislação educacional brasileira.
A Educação Integral exige mais do que compromissos: impõe também
e principalmente projeto pedagógico, formação de seus agentes,
infraestrutura e meios para sua implantação. Ela será o resultado dessas
condições de partida e daquilo que for criado e construído em cada
escola, em cada rede de ensino, com a participação dos educadores,
educandos e das comunidades que podem e devem contribuir para
ampliar os tempos e os espaços de formação de nossas crianças,
adolescentes e jovens na perspectiva de que o acesso à educação pública
seja complementado pelos processos de permanência e aprendizagem
(BRASIL, 2009 apud MAIA, 2019, p. 26).
62
Ainda de acordo com a autora, essa perspectiva de Educação
Integral tem por objetivo que todos os membros da comunidade escolar se
tornem sujeitos ativos na construção e socialização de conhecimentos. Para
Maia (2019), o debate para construir uma proposta de Educação Integral
representa a criação de estratégias que assegurem a todos os estudantes o
acesso aos meios de comunicação, ao domínio de diferentes linguagens, à
crítica com ênfase na produção de comunicação como instrumento de
participação democrática, por isso faz-se necessário um amplo debate sobre
o uso das tecnologias na Educação.
1 Tecnologia na Educação e seus desafios
Uma das questões mais discutidas no ambiente educacional
atualmente é o uso da tecnologia na Educação. Porém antes de nos
voltarmos a essa questão, faz-se necessário explicitarmos o que
compreendemos por informação, conhecimento e saber. Brandão (2012),
em seu texto “O outro ao meu lado: algumas ideias de tempos remotos e
atuais para pensar a partilha do saber e da educação de hoje”, baseado em
Charlot (2000 apud BRANDÃO, 2012), tece reflexões sobre essas três
categorias e a relação que é estabelecida entre elas.
A primeira categoria apresentada pelo autor é a informação, que,
para ele, é a menos dialógica e exigente, e mais instrumental, sobretudo
nos meios de comunicação em massa. O conhecimento, categoria que tem
um conceito polissêmico, exige um esforço mais íntegro e ativo do diálogo,
sendo um momento de aprendizagem não corresponde apenas a
informações cumulativas e funcionais e “[...] para conhecer através do
aprendizado importa não apenas dominar a técnica ou compreender uma
questão, mas refletir sobre o que se aprende e conhece[...]” (BRANDÃO,
2012, p. 47).
Já o saber, está ligado aos sentidos, símbolos e significados que
partilhamos com redes de pessoas que se conectam através da partilha. E,
ainda, “[...] O saber não é uma matéria do pensar que possa ser acumulada
63
ou que possa ser passada em unidades de um plano para o outro[...]
(BRANDÃO, 2012, p. 48).
Na Base Nacional Curricular Comum (BNCC) (BRASIL, 2018),
compreende-se, por competência, o conjunto de conhecimentos,
habilidades, atitudes e valores que se mobilizam para a resolução dos
diferentes aspectos da vida diária, do mundo do trabalho e do exercício da
cidadania. Dentre as dez competências, duas delas trazem a tecnologia
como habilidade para o aprendizado.
A BNCC (BRASIL, 2018) contempla a tecnologia como cultura
digital, evidenciando como ela deve ser inserida no processo de ensino e
aprendizagem, uma vez que se caracteriza como um documento
normativo, que visa a garantia de uma formação humana integral, portanto
que aprecie e integre as diferentes dimensões e direitos de aprendizagem e
desenvolvimento dos estudantes.
Nesse sentido, reconhece o papel da Educação na afirmação de
valores universalizáveis e defende que o trabalho com as aprendizagens
essenciais deve assegurar o desenvolvimento de dez competências gerais,
nas três etapas da Educação Básica, configurando-se como direitos
essenciais dos estudantes em sua formação, cabendo às instituições
educativas explicitá-los no âmbito das práticas, currículo e projeto político-
pedagógico.
É importante destacar que, ainda no século XXI, há diversos
estudantes que não possuem acesso às tecnologias que se tem usado na
Educação. Nesse sentido, Rojo (2009, p. 89) alerta: “[...] a formação do
aluno deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos
(ditos ‘competências e habilidades’), a preparação científica e a capacidade
para utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação”.
Diante disso, acreditamos que o educador, ao propor sua ação
docente, deverá refletir sobre a sua ação docente, para que possa possibilitar
uma aprendizagem que atenda às exigências do presente século. Para isso,
faz-se necessário levar em consideração as oito inteligências denominadas
por Gardner (1994 apud MORAN, 2018, p. 75-76): “espacial,
64
interpessoal, intrapessoal, cinestésico-corporal, linguística ou verbal,
lógico-matemática, musical e naturalista”.
Além do desenvolvimento das inteligências múltiplas, é
fundamental pensar nas oportunidades de desenvolver a inteligência
emocional. Além de que, na denominada “Era das Relações” (MORAES,
1997 apud MORAN, 2018, p. 68), cabe aos gestores e professores derrubar
barreiras que segregam o espaço e a criatividade do professor e dos alunos
restritos à sala de aula, ao quadro-de-giz e ao livro-texto.
Em face da nova realidade, o educador deverá ultrapassar seu papel
de detentor do conhecimento, para se tornar um investigador, um
pesquisador do conhecimento crítico e reflexivo para que ele possa ser um
docente inovador criativo, articulador e, principalmente, parceiro de seus
alunos no processo de aprendizagem. Vale ressaltar que a formação
profissional do educador necessita de uma redefinição que possibilite
acompanhar a evolução tecnológica que define os contornos do exercício
profissional contemporâneo.
Refletindo sobre o momento pandêmico que o Brasil e demais
países estão passando, desde o final do ano de 2019, o qual gerou uma
reviravolta enorme, inclusive na e para a Educação Nacional. Pegos de
surpresa e sem planejamento prévio, as escolas e todos os demais
prestadores de serviços, com exceção dos recursos indispensáveis (como
setores alimentícios e da saúde), tiveram que parar. No que se refere à
Educação, as escolas tiveram que se readaptar, especificamente em relação
a tecnologia, visto que, devido ao agravamento da pandemia no Brasil, o
ensino passou a ser remoto.
A partir do que já foi exposto, iremos fazer uma breve descrição
das referidas escolas, foco de análise do presente artigo.
65
2 Apresentando os dados das diferentes realidades:
caracterização das escolas4
A primeira escola, doravante denominada Escola A, localiza-se na
zona rural de um município X de, aproximadamente, 45 mil habitantes,
no interior do estado de São Paulo. A escola é municipal e pública e atende
crianças desde a Educação Infantil (a partir dos quatro anos de idade) até
a primeira etapa do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) em período
integral (das 8h às 17h, de segunda à sexta-feira). Atualmente, cerca de 120
crianças se encontram matriculadas, apesar do fluxo (matrículas e
transferências) ser grande, pois depende do período de colheitas,
contratações e dispensas das fazendas ao redor.
Já a segunda escola, designada, aqui, Escola B, localiza-se em um
bairro periférico de um município Y, com 240 mil habitantes
aproximadamente, também do interior de São Paulo e dispõe do Ensino
Fundamental ciclo I nos períodos da manhã e da tarde, além de possuir
do primeiro ao terceiro ano o período integral. Possui, em média, 550
estudantes, atendendo a nove bairros próximos. Além de professores de
Ensino Fundamental, conta com professores de Educação Física,
Informática, além de estagiários de Pedagogia. As experiências relatadas
ocorreram em 2018, tendo como objetivos o desenvolvimento de um
Programa de Educação em Valores e a averiguação de sua eficácia, em uma
escola pública municipal de Ensino Fundamental do interior do estado de
São Paulo. As participantes são crianças, do sexo feminino e masculino, de
08 a 09 anos, de quatro turmas de 3º ano do Ensino Fundamental I de
período integral.
4
Os acontecimentos abordados deram-se em 2018 e 2019.
66
2.1 Diálogo entre educadoras: experiências vivenciadas na escola
2.1.1 O uso de computadores e videogame na zona rural
Desde o início de 2019, a professora do Apoio Pedagógico
5
, no
contraturno do ensino regular da Escola A, iniciou o atendimento a um
aluno (nominado aqui como “Aluno 1”, a fim de garantir o seu
anonimato) que retornara para a escola após dois anos e meio de evasão.
Esse Aluno 1 bem como as demais crianças matriculadas naquela escola
, residia em uma fazenda da zona rural do mesmo município de porte
médio, no interior do estado de São Paulo, e se recusava a frequentar o
ambiente escolar sem que houvesse insistência por parte dos pais.
Ao retornar, então, em meados de 2018, compreensivamente,
apresentava defasagem de aprendizagem em relação a todos os conteúdos
escolares, e, sobretudo, grande dificuldade quanto à aquisição da língua
escrita. Entretanto, a professora da Classe do Apoio notou o interesse do
educando em relação aos esportes, principalmente ao futebol de campo e
times conhecidos. Torcedor da Sociedade Esportiva Palmeiras e da Seleção
Brasileira de Futebol, ele desenvolvia diálogos sobre o alvo de sua
curiosidade com a professora.
Em uma dessas conversas, questionou-a sobre o próximo jogo do
Brasil, enfrentando o total desconhecimento, por parte dela, de
informações. Estava ali, mediante isso, instaurada uma ótima possibilidade
de investigação mais apurada. Seguiram, portanto, para a sala de
informática, que dispunha de alguns computadores do modelo notebook e
com acesso à Internet, onde o aluno, de maneira ativa e protagonista,
pudera obter respostas às suas incertezas.
Mas será que os demais alunos da escola sabiam de tais novidades
ou, também, se encontravam leigos acerca delas? Como informar, de forma
eficiente, a todos sobre aquele tema de relevância, de certa forma, pessoal
e coletiva simultaneamente? Doravante, estavam identificadas a
5
Classe destinada aos alunos que apresentam alguma dificuldade, moderada ou severa, de
aprendizagem, sobretudo quanto à aquisição da língua escrita e/ou conhecimento lógico-
matemático.
67
necessidade e a intencionalidade propícias à disseminação e comunicação
da informação. Surgia, assim, a sutil e primeira edição do Jornal da Escola
6
,
cnica baseada nos pressupostos do Pedagogo Célestin Freinet (1974),
com uma única notícia sobre aspectos do jogo da Seleção brasileira que
aconteceria no final de semana seguinte. O tempo rugia, em defluência da
proximidade do evento que aconteceria há poucos dias à frente, e eram
muitos os fatores que envolviam o planejamento e a execução da pretensão
estabelecida.
Por isso mesmo, o prazo para a organização das ideias, a elaboração
do texto escrito (que era penosa, até então), a escolha sistematizada das
fontes de pesquisa inclusive da imagem que o Aluno 1 desejou que tivesse
(como se fosse imprescindível para a notificação) - a digitação, a
conseguinte formatação e a impressão puderam colaborar com a tomada
de consciência do Aluno 1 no que se refere à relevância desses elementos,
essenciais no decorrer da produção.
Assim, três dias após o começo da curiosa investigação, o projeto
fora concretizado com a entrega de exemplares impressos do jornal
confeccionado pelo aluno com auxílio da professora, de sala em sala.
Passado o final de semana e, portanto, o jogo divulgado, surgiu a
necessidade de difundir informações acerca do jogo anunciado e, com
tamanho afinco e atenção, assistido pelo Aluno 1. Certamente, delineava-
se, apenas, o início do projeto de elaboração do jornal na escola.
À vista disso, mais edições foram planejadas e executadas pelo
Aluno 1 (matriculado no 3º ano do Ensino Fundamental, com os seus
quase 13 anos de idade) e outros alunos do 5º ano, que passaram a
frequentar a Classe do Apoio Pedagógico da escola por indicação da
professora da turma regular do período da manhã da instituição. Alunos
estes que, semanal e espontaneamente, dispunham-se em ajudar na
construção do Jornal da Escola (que manteve o nome dado pelo seu
“fundador”, o Aluno 1), sendo, progressivamente, enriquecido e variado
com assuntos diversos e, especialmente, relacionados ao contexto do qual
participavam.
6
O jornal foi denominado pelo Aluno 1.
68
Já no segundo semestre de 2019, um “Aluno 2”, curiosamente
repetente, do 5º ano da Escola A, durante o atendimento no Apoio
Pedagógico e elaboração de uma das edições do Jornal da Escola (planejado
e organizado pelos educandos, com notícias do cotidiano escolar
principalmente), foi até a mesa de uma das autoras e perguntou se ela
(professora) já havia sofrido bullying alguma vez.
Ao mesmo tempo que ficara surpresa com a pergunta, também,
preocupou-se com os possíveis desdobramentos do questionamento.
Respondeu, então, que sim e que era algo muito chato e triste. E emendou
com uma réplica, questionando-o se ele já havia ou estaria passando,
também. A resposta foi, tristemente, positiva e imediata. Com sentimentos
aflorados, procurou manter-se firme para o auxiliar com o que estava ao
seu alcance naquele momento: tentando transmitir segurança e apoio.
Indagou-o sobre o que estava acontecendo. Ele lhe contou que,
principalmente, os meninos de sua classe o chamavam de burro.
Questionou-o, então, sobre se ele concordava com isso e por quê. Ele disse
que não, porque, apesar de reconhecer grande dificuldade com os
conteúdos escolares, ele sabia e era muito bom de coisas que a maioria
de seus colegas desconheciam, como por exemplo robótica e videogames!
Encadeou, a partir disso, com empolgação, uma solicitação para organizar
um torneio de games. Dessa forma, poderia ganhar (ou pelo menos chegar
à final) e mostrar o seu verdadeiro talento.
A professora encorajou-o a apresentar sua proposta à direção e
coordenação para que pudesse dar, assim, andamento à sua ideia, uma vez
que envolveria a escola toda! Mediante resposta positiva, o aluno deu início
às inscrições do “Campeonato de Games” (nome escolhido por ele),
passando de sala em sala, apresentando e anotando o nome dos alunos que
tinham interesse de participação.
Após isso, com a lista das inscrições em mãos, organizou um
organograma com as chaves (heterogêneas e aleatórias) dos afrontes que
desencadearam disputas em quartas de finais, semifinais até a grande final!
Mediante a necessidade de conseguir um aparelho de videogame para ligar
à televisão da escola e validar o torneio, o referido aluno conversou com
69
um colega de outra classe que se disponibilizou a consultar os seus pais
sobre o empréstimo para a escola.
Com todos os ajustes realizados e sob a organização das crianças e,
especialmente do Aluno 2, o campeonato se iniciou na semana seguinte,
na Classe do Apoio Pedagógico e com a supervisão da professora da
referida classe. O CD do jogo DragonBall Z fora escolhido e trazido pelo
aluno. A cada jogada, os alunos vibravam com os golpes e finalização de
cada combate. Alguns alunos nunca haviam utilizado um videogame antes.
Outros mais experientes se dispunham a ajudar e ensinar os parceiros com
menor familiaridade, em um processo de colaboração muito pertinente.
Após dois dias de disputas, a etapa final se delineou com a
participação do Aluno 2, como previra. Neste contexto, mediante
reconhecimento e aprovação da Direção, o último jogo foi realizado na
quadra da escola, com a presença de todos os alunos, professores e
funcionários.
Para a etapa final, a professora do Apoio Pedagógico, uma das
autoras do presente relato, viabilizou uma tela para incidir o retroprojetor
que seria ligado ao aparelho de videogame e caixa amplificadora de som,
dessa forma, possibilitando que todos os presentes pudessem acompanhar,
visual e auditivamente, cada momento da transmissão virtual. Torcidas
espontâneas se organizaram e o envolvimento da comunidade escolar era
marcante. Assim, o objetivo do Aluno 2 em expor sua sapiência e bom
desempenho a todos, inclusive àqueles que o satirizavam e menosprezavam
na sala de ensino regular, fora concretizado.
Destacamos que, dessa forma e a partir dos relatos aqui
apresentados, na Escola 1, observamos que situações de desconforto foram
desnudadas pela abertura do diálogo e pela cessão de protagonismo aos
alunos envolvidos.
Pretendemos, desde essa primeira apresentação, ressaltar o elo que
há entre o presente escrito com inquietações relacionadas à perspectiva de
ensinar e aprender em uma sociedade mais interconectada e, ao mesmo
tempo, com grandes desigualdades sociais e econômicas.
70
Fica claro que se tratou de uma escola pouco assistida em termos
tecnológicos e que, ainda que em contextos adversos, o papel do professor
fora fundamental, justamente por articular espaços para que a voz dos
estudantes seja importante.
2.1.2 A tecnologia desconhecida: o uso das canetinhas de duas pontas
Durante o ano letivo de 2018, diversas atividades foram realizadas
no projeto de “Educação em Valores”, conforme já citado, estava sendo
desenvolvido com as crianças da Escola B. Dentre as vivências, uma
atividade chamou muito a atenção e gerou reflexões acerca das diferentes
realidades escolares, principalmente, no que se refere ao uso da tecnologia,
já que no decorrer do referido projeto, diversas vezes utilizamos alguns
aparelhos eletrônicos.
Para a realização das atividades, sempre era necessário organizar o
espaço da sala e das carteiras dispostas em fileiras. Em círculos ou em
grupos, ao transmitir informações acerca da atividade a ser desenvolvida e
mostrar o material a ser empregado, as crianças ficaram eufóricas ao se
depararem com as “canetinhas coloridas de duas pontas”. Sem
compreender o motivo de tamanha euforia, curiosidade e olhares
brilhantes, fui surpreendida ao notar que a maioria das crianças não tinha
acesso a canetinhas e, muito menos, “de duas pontas”. Falas como: “isso é
canetinha?; “a gente vai poder usar?”, “como, de duas pontas?”, fizeram
emergir o fato de que o cotidiano escolar está para além de teorias e
conceitos, pois, conforme Freire (2001, p. 41), “[...] não há prática
educativa, como de resto nenhuma prática, que escape a limites. Limites
ideológicos, epistemológicos, políticos, econômicos, culturais[...]”.
Diante do ocorrido, a atividade programada para o dia foi
modificada para que, imediatamente, as crianças pudessem fazer uso
livremente das referidas canetinhas. Foi solicitado que as crianças fizessem
desenhos que expressassem a escola que elas tinham e a escola que elas
queriam. Foi necessário se adequar à realidade daquele momento e
contexto, e isso exigiu um trabalho de ação e reflexão, revelando que o
71
educador precisa estar as especificidades de cada turma e, por extensão, da
escola. Pois, corroboramos com Henz (2012) no qual,
[...] O educador não é aquele que se coloca acima ou adiante de seus
educandos para “instruí-los”, mas é quem, com eles, faz a “caminhada”;
juntos vão descobrindo e (re)aprendendo o que é importante para ser
mais, cada um “dizendo a sua palavra” e “escutando a palavra” do
outro. O processo de ensino- aprendizagem vão acontecendo com uma
reciprocidade de consciências, não carecem de alguém que tudo sabe,
mas alguém que assuma a responsabilidade de conduzir processos em
condições favoráveis à dinâmica dialógica- problematizadora [...]
(HENZ, 2012, p. 90).
Segundo Brandão (2012), a escola pode ser um ambiente em que
todos podem aprender a descobrir e reconhecer as suas bonitezas e
possibilidades, já que o papel do educador, também, é o de propiciar
espaços e momentos para que haja diálogo e uma problematização amorosa
e respeitosa. Foi possível compreender isso após a condução da proposta
descrita da escola B, em que as crianças, com olhares afetuosos e alegres,
apresentaram seus desenhos para todos os colegas de sala e puderam
expressar, por meio de uma linguagem artística, a necessidade de uma
escola que contemple diversas tecnologias, inclusive “as canetinhas de duas
pontas”.
2.1.3 Algumas considerações acerca das vivências
Moran (2000) discorre acerca de aulas-pesquisa nas quais
professores e alunos procuram por novas informações, delimitam
problemas e desenvolvem uma experiência, avançando em um campo
desconhecido. O professor desempenha uma função específica, nesse
contexto, de gerenciador do processo de aprendizagem, ou ainda como
coordenador, uma vez que tudo está em suas mãos, inclusive o ritmo e é o
gestor das diferenças e convergências. Nesse caso, os temas das aulas seriam
72
motivados pelo professor, mas desenvolvidos e pesquisados pelos alunos,
numa construção cooperativa. O professor incentivaria, dessa forma, a
troca constante de informações, a comunicação e a síntese das buscas e dos
resultados encontrados, problematizando, fomentando discussões e
estabelecendo relações.
Cabe lembrar que o conhecimento não se transmite, cria-se,
constrói-se de forma conjunta. Poder-se-ia correr o risco de os alunos
desejarem que o professor continuasse “dando aula” (naquela concepção
do professor apenas falar e o aluno escutar). Como observado nos relatos
das Escolas A e B, os alunos se envolvem quando as aulas partem dos seus
interesses, quando enxergam o real sentido de suas participações,
motivados pelas suas conveniências, curiosidades e necessidades próprias.
Em consonância com as propostas aqui explanadas, “As
metodologias ativas dão ênfase ao papel protagonista do aluno, ao seu
envolvimento direto, participativo e reflexivo em todas as etapas do
processo, experimentando, desenhando, criando, com orientação do
professor” (MORAN, 2018, p. 41). De acordo com o autor, tais estratégias
de ensino são centradas na participação efetiva dos educandos no processo
de construção de aprendizagem, não de forma autoritária, desligada e
rígida, mas interligada, flexível.
Muitos autores, bem como Moran (2000), destacam que o bom
relacionamento com os alunos é imprescindível para o sucesso pedagógico,
sendo fundamental uma relação empática com eles e o mapeamento dos
seus interesses, suas formações, contextos e perspectivas. Assim, vemos, em
ambos cenários apresentados, a sensibilidade das professoras e
pesquisadoras envolvidas em tais vivências.
A partir do que fora compartilhado, como no caso do uso do
videogame em uma das escolas apresentadas, o orgulho, a admiração e o
respeito tomaram espaços que antes eram dominados pela intimidação,
desrespeito e humilhação. Se não fosse o bom relacionamento estabelecido
entre educandos e educadora, o menino que passava por humilhações,
brincadeiras mal-intencionadas e chacotas não se sentiria à vontade para
compartilhar dos seus maus momentos em sala de aula, bem como as
73
crianças que não tinham acesso às "canetinhas" puderam utili-las de
forma livre e impregnada de sentidos para elas.
Nesse contexto, o uso das tecnologias, mesmo com um
equipamento que chega a ser esquecido enquanto tecnologia, por causa de
sua usualidade e habitualidade em muitos contextos ou realidades sociais,
serviu como uma grande ferramenta para a superação de paradigmas e
construção de novos valores, buscando-se a humanidade e reciprocidade
das e nas relações vigentes e estabelecidas.
Os relatos, também, evidenciam a necessidade de processos mais
participativos e relações mais interativas, integrando as aprendizagens e a
vida para além dos muros da escola e limites socioeconômicos,
independentemente do local. Materiais construídos histórica e
culturalmente, porém limitados aos poderes aquisitivos superiores, devem
e precisam se tornar acessíveis, também, aos menos favorecidos.
Além disso, a utilização do Jornal de Escola como meio de
comunicação, expressão e compartilhamento de eventos cotidianos e
novidades da conjuntura escolar, exemplifica a não imposição de projetos
fechados na classe, mas de possibilidades, a partir das quais os caminhos da
aprendizagem vão sendo construídos e enriquecidos com a motivação dos
alunos para participar e aprender.
Destaca-se como esse instrumento oportuniza a descoberta das
competências dos alunos
7
, além de os aproximar dos ambientes virtuais e
contemporâneos, possibilita ao professor desempenhar o papel não de
informador, mas de “orientador, tutor dos estudantes, individualmente e
nas atividades em grupo, nas quais os alunos são sempre protagonistas”
(MORAN, 2018, p. 42), que gerenciam a pesquisa e a comunicação,
dentro e fora da sala de aula, sanando dúvidas, dando sugestões, fazendo
questionamentos e estabelecendo conexões com os diversos assuntos, ao
encontro das ideias expostas por Moran (2000).
7
Como por exemplo: os que se identificam com ilustrações na parte das charges e quadrinhos ,
outros com o universo culinário na seção de receitas , ainda outros com a busca dos interesses
para divulgação para os classificados e os que se identificam com as notícias e sistematização dos
últimos acontecimentos que são os responsáveis diretamente pela elaboração dos artigos.
74
Considerações Finais
Por mais difícil que seja mudar os padrões adquiridos e vigentes
das organizações, dos governos, dos profissionais e da sociedade, o
progresso e superação é urgente! Há, ainda, a necessidade de muitas
adequações, principalmente, quanto aos projetos políticos para minimizar
as diferenças de acesso à informação e às tecnologias (inclusive com a
redução dos impostos sobre a prestação desses serviços) e aumento da
oferta de equipamentos, formações técnicas e profissionais continuadas,
incentivo remunerativo, etc.; evitando a segregação e o analfabetismo
tecnológico, das escolas públicas e comunidades mais carentes.
No que tange às urgências relatadas acima, a pandemia do
COVID-19, presente desde o início do ano de 2020, no Brasil, reforça,
ainda mais, a necessidade de mudanças, visto que todas as instituições de
ensino tiveram que adotar a modalidade de ensino remoto emergencial
para que o ano letivo fosse concluído. De acordo com Avelino e Mendes
(2020),
[...] Pais, alunos e professores que tiveram suas rotinas alteradas no ano
letivo de 2020, por conta do novo coronavírus (SARS-CoV2),
começam a sentir a importância dos quatros pilares da educação, ou
seja, aprender a conhecer, fazer, viver e ser, primordiais nas TICs e
competências socioemocionais (DELORS, 2003). De fato, essas
dificuldades sempre existiram, a diferença é que foram somadas a
outros problemas de amplitudes mundiais. Por fim, os resultados dessa
pandemia, mostrou o quanto a escola exerce um papel fundamental na
vida do aluno, por inseri-los ao convívio social; por mostrar a
importância do papel do professor como mediador, e que repense na
relevância da formação inicial e continuada no que tange às novas
tecnologias. Mais do que saber reconhecer os problemas, cabe aos
políticos, corpo docente, alunos, responsáveis e população em geral,
uma mudança de comportamento, ao ter consciência que, educar vem
atrelado a uma ação (AVELINO; MENDES, 2020, p. 61).
75
Destarte, a chegada das tecnologias à sala de aula (sejam as mais
modernas ou não, como foi com as canetinhas) traz tensões, novas
possibilidades e grandes desafios. Não somente sobre e para o saber usar,
mas, também, para dominar, pesquisar e criar novas possibilidades. Não
apenas para professores, ainda assim para alunos, funcionários, pais e a
comunidade em sua totalidade, integrando o humano e o tecnológico; o
individual, o grupal e o social; partindo-se de onde o aluno está e chegando
ao aluno por todos os caminhos possíveis (múltiplas linguagens), incluindo
as tecnologias num ensino inovador.
Diante do que foi exposto, faz-se necessária uma revolução que
modifique os paradigmas convencionais de ensino que tanto afastam os
professores, alunos e a comunidade escolar do acesso às tecnologias. Não
de maneira superficial, mas verdadeira, alterando o que é essencial:
revendo, ampliando e modificando muitas das formas de ensinar e
aprender, em que os alunos são, verdadeiramente, os protagonistas de suas
aprendizagens e buscam, ativa e autonomamente, pelas respostas que
movem suas necessidades pessoais e interpessoais.
Por isso, todas as experiências compartilhadas no presente texto
revelam como o uso das tecnologias em escolas não centrais, isto é,
periféricas ou pertencentes às classes socioeconômicas mais carentes
enfrentam desafios. Abrem, ainda, um leque de perspectivas de maneira
multilinguística, diminuindo as barreiras e ampliando as contingências
com menos fronteiras (com uma riqueza infindável de interações que
aparecem, novidades na comunicação seja ela afetiva, cognitiva,
presencial ou não).
Equilíbrio é o conceito-chave para uma vida de qualidade e uma
sociedade mais equitativa, equilíbrio para interações espaço-temporais
mais livres, com flexibilidade e maior liberdade de expressão. Aulas como
espaços de pesquisa, descobertas e intercâmbios sociais, afetivos, cognitivos
e culturais são necessárias. Urge mudar a concepção individualista e
afastada para uma mais grupal e cooperativa, da utilização isolada dos
meios de consumo para uma maior participação dos diversos grupos, das
relações unidirecionais, caminhando para outras mais interativas e
76
integrativas, equilibrando as necessidades e habilidades pessoais e
interpessoais.
Enfim, isso tudo com o único objetivo de modificar as estruturas
arcaicas e autoritárias do ensino em uma educação para a liberdade e para
a autonomia, não visando o controle e nem o poder, as quais são as únicas
que podem transformar a sociedade de forma intensa e duradoura, já que
“o poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas
nossas mentes” (MORAN, 2000, p. 63).
Nesse sentido, os relatos apresentados demonstram a relevância em
se discutir a temática da tecnologia em diferentes contextos, uma vez que
foi possível identificar, de forma presencial, que cada ambiente educacional
vivencia uma realidade diferente e sua compreensão se faz necessária para
que a aprendizagem seja carregada de sentidos e significados.
Referências
AVELINO, W. F.; MENDES, J. G. A realidade da educação brasileira a
partir da COVID-19. Boletim de Conjuntura, Boa Vista, v. 2, n. 5, p.
56-62, 2020. Disponível em:
https://revista.ufrr.br/boca/article/view/AvelinoMendes/2892. Acesso
em: 04 abr. 2021.
BRANDÃO, C. R. O outro ao meu lado: algumas ideias de tempos
remotos e atuais para pensar a partilha do saber e a educação hoje. In:
MOLL, Jaqueline et al. Caminhos da educação integral no Brasil:
direito a outros tempos e espaços educativos. Porto Alegre: Penso, 2012.
p. 46-71.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum
Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2018.
FREIRE, P. Política e educação. São Paulo: Cortez Editora. 5. ed. 2001.
77
HENZ, C. I. Paulo Freire e a educação integral: cinco dimensões para
(re)humanizar a educação. In: MOLL, Jaqueline et al. Caminhos da
educação integral no Brasil: direito a outros tempos e espaços educativos.
Porto Alegre: Penso, 2012.
MAIA, F. N. O. “Professora, por que os animais se respeitam e os
humanos não?” a convivência ética pede passagem: educação em valores
em terceiros anos do período integral de uma escola pública. 2019.
Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Filosofia e Ciências,
Universidade Estadual Paulista, 2019.
MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias
audiovisuais e telemáticas. In: MORAN, J. M; MASETTO, M. T;
BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica.
Campinas: Papirus, 2000.
MORAN, J. M. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais
profunda. In: BACICH, Lilian; MORAN, J. Metodologias ativas para
uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre:
Penso, 2018. p. 34-76.
MORAN, J. M. Novos modelos de sala de aula. Educatrix, n. 7, p. 33-
37, 2014. Disponível em:
https://en.calameo.com/read/0028993271fb4d724b1cb. Acesso em: 04
abr. 2021.
ROJO, R. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo:
Parábola, 2009.
79
Softwares Educativos: estratégias educacionais
para a Educação Básica
Daniele de Fátima Fuganholi Abiuzzi SANT'ANNA
1
Introdução
O ser humano, ao longo do seu desenvolvimento, produz
conhecimento e o sistematiza, modificando-se e alterando aquilo que é
necessário à sua sobrevivência. Vivemos em uma sociedade repleta de
recursos tecnológicos e podemos tra-los a nosso favor no ambiente
escolar se compreendermos que as Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação (TDIC) podem ser utilizadas como mediadoras do ensino e
aprendizagem.
É comum vermos crianças interagir com recursos tecnológicos
mesmo antes de aprender a falar ou ler. Assim, com as novas gerações estão
imersas em tecnologias e as entendem como algo natural, sabem acessar a
Internet, usar computador, smartphones, tablets e outros. Esses indivíduos
são conhecidos como nativos digitais, que, segundo Prensky (2001), são
caracterizados por nascerem a partir de 1990 e estarem em contato, desde
a infância, com as TDIC.
Considerando esses fatores, a Educação Infantil é uma fase muito
importante no processo educacional do aluno. Trata-se do momento em
que se inicia a formação humana, onde a criança começa a perceber o outro
e a se perceber, ou seja, começa a entender que é alguém. A escola é o
primeiro ambiente em que as crianças começam a se socializar de forma
mais intensa e frequente, sendo porta de entrada de descobertas de um
1
Mestranda em Docência para Educação Básica / PPGE / Faculdade de Ciências / Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Bauru/SP / e-mail:
daniele.abiuzzi@unesp.br
80
novo mundo. Ao se adotar apenas os recursos de um modelo tradicional
de ensino, a escola se distancia da realidade desses alunos, tornando a sala
de aula, em alguns momentos, em um ambiente cansativo e sem atrativos
para estimular o aprendizado. De acordo com Moran:
[...] haverá uma integração maior das tecnologias e das metodologias
de trabalhar com o oral, a escrita e o audiovisual. Não precisaremos
abandonar as formas já conhecidas pelas tecnologias telemáticas, só
porque estão na moda. Integraremos as tecnologias novas e as já
conhecidas. Iremos utili-las como mediação facilitadora do processo
de ensinar e aprender participativamente [...] (MORAN, 2000, p. 56).
A utilização de recursos tecnológicos, de forma integrada ao
contexto e a faixa de aprendizagem, pode apresentar contribuições
significativas para o processo educacional. Portanto, o uso de softwares para
fins educacionais pode auxiliar no desenvolvimento cognitivo, favorecendo
a interação dos indivíduos com os objetos de estudo e conhecimento. De
acordo com a Competência Geral 5 da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), é necessário:
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas
diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar e
disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas
e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva (BRASIL,
2018, p. 9).
Quando os recursos tecnológicos são bem explorados, contribuem
efetivamente para a melhoria do ensino, despertam a curiosidade e
estimulam a criatividade, permitindo, ao aluno, a apropriação de diferentes
formas de comunicação, a percepção de si e do outro, a formulação de
hipóteses. Além disso, desenvolvem a coordenação motora, a capacidade
de concentração, o raciocínio lógico, a construção de conceitos
81
matemáticos, a discriminação de cores e formas, e a formulação de
conceitos. Sobre a aprendizagem, Friedmann afirma que:
[...] a aprendizagem depende em grande parte da motivação: as
necessidades e os interesses das crianças são mais importantes que
qualquer outra razão para que elas se dediquem a uma atividade. Ser
esperta, independente, curiosa, ter iniciativa e confiança em sua
capacidade de construir uma ideia própria sobre as coisas, assim como
expressar seu pensamento e sentimentos com convicção, são
características inerentes a personalidade integral das crianças
(FRIEDMANN, 2014, p. 45).
Ao integrar esses recursos tecnológicos em ambientes escolares, os
alunos se apropriam mais facilmente dessas habilidades e competências
condizentes com sua fase de desenvolvimento cognitivo e poderão, assim,
desempenhar determinadas funções com sucesso, levando esses
conhecimentos para toda vida.
1 Software: conceitos fundamentais
O computador utiliza a linguagem binária (0 e 1) para interagir
com os usuários, mas para que ocorra a interação é necessário um software,
também denominados software aplicativo, software de sistema ou como
programa. São conhecidos como a parte lógica de um equipamento que
permitem a realização de alguma função específica, ou seja, é uma
sequência de instruções em um tipo de linguagem de programação que
informa a máquina, o hardware, o que fazer, de que forma e em qual
ordem.
Os softwares podem ser classificados de duas formas: os de sistema
e os aplicativos. Os softwares de sistema são programas que permitem a
interação do usuário com a máquina, incluindo, nesta categoria, os
sistemas operacionais (S.O.). Já os softwares aplicativos são os que realizam
tarefas específicas, ou seja, programas de uso cotidiano dos usuários
82
permitindo-os a realização de tarefas, como editores de texto, planilhas
eletrônicas, apresentação eletrônica, navegador de Internet entre outros.
A figura 1 ilustra alguns softwares que os usuários utilizam para
diferentes tarefas, como baixar músicas, navegar pela Internet, antivírus,
aplicativo de conversação e videochamadas e outros mais.
Figura 1 - Softwares Aplicativos
Fonte: Toda Matéria (site)
2
.
2 Software Educacional x Software Educativo
Se considerarmos os softwares educacionais e os educativos,
podemos afirmar que os primeiros a surgirem foram os programas que
utilizavam o método de instrução auxiliada por computador - Computer
Aided Instrution (CAI), nos Estados Unidos e no Brasil e foram
denominados Programas Educacionais por Computador (PEC). São vários
recursos que podem auxiliar os alunos e professores no processo de
aprendizagem de forma a expandir as capacidades, nos quais os softwares
se constituem um deles, criados e pensados para diferentes contextos.
Podem ser considerados educacionais quando são desenvolvidos para
atender a objetivos preestabelecidos com propósito pedagógico e que
orientam o desenvolvimento do usuário.
Nas escolas, encontramos dois tipos de softwares, os educacionais e
os educativos. Apesar da semelhança em sua denominação, eles se diferem
2
Disponível em: https://www.todamateria.com.br/hardware-e-software/. Acesso em: 16 ago. 2021.
83
em sua conceituação. Os softwares educacionais foram criados sem a
finalidade educativa, mas previamente avaliada a sua aplicabilidade,
podem ser usados para algum objetivo educacional. Já os softwares
educativos (SE) são desenvolvidos, necessariamente, para atender aos
objetivos de ensino e de aprendizagem possibilitando ao aluno construir
um determinado conhecimento.
Segundo Oliveira et al. (2001), as características de um SE são as
seguintes:
1- definição e presença de uma fundamentação pedagógica que
permeie todo o seu desenvolvimento; 2- finalidade didática, por levar
o aluno/usuário a “construir” conhecimento relacionado com seu
currículo escolar; 3- interação entre aluno/usuário e programa,
mediada pelo professor; 4- facilidade de uso, uma vez que não se devem
exigir do aluno conhecimentos computacionais prévios, mas permitir
que qualquer usuário, mesmo que em primeiro contato com a
máquina, seja capaz de desenvolver suas atividades; 5- atualização
quanto ao estado da arte (OLIVEIRA et al., 2001, p. 27).
Sendo assim, caracterizado com um recurso interativo, pode ser
integrado aos currículos escolares por toda Educação Básica, favorecendo
a capacidade de concentração e atenção; interpretação de ordens e regras,
raciocínio lógico e a percepção visual e auditiva por meio de som, imagem
e animação.
3 Classificação dos Softwares Educacionais: objetivos e aprendizagem
Segundo Teixeira e Brandão (2003, p. 2), software educacional “é
todo aquele programa que possa ser usado para algum objetivo
educacional, pedagogicamente defensável, por professores e alunos,
qualquer que seja a natureza ou finalidade para o qual tenha sido criado”.
Sendo assim, um software é considerado educacional quando atende aos
84
propósitos de ensino e de aprendizagem, independente dos objetivos ao
qual foram projetados.
Os softwares educativos podem ser classificados de acordo com seus
objetivos pedagógicos, sendo os principais: tutoriais, aplicativos,
programação, exercícios e prática, investigação, simulação, modelagem e
jogos.
Tutoriais - são utilizados para apresentar informações aos usuários
com a intencionalidade de direcionar o aprendizado;
Aplicativos - o voltados para aplicações em atividades específicas
como os processadores de texto, planilhas eletrônicas, apresentação e
outros mais;
Programão - este tipo de software permite que seus usuários
criem seus próprios protótipos de programas e não requer
conhecimentos avançados sobre programação;
Exercício e Prática - denominados, também, como softwares de
exercitação, apresentam exercícios para revisão de certo conteúdo,
tendo como características principais e memorização e a repetição;
Investigação - são capazes de localizar informações
complementares, como os dicionários;
Simulação - permitem criar situações que se assemelham à
realidade;
Modelagem - neste modelo, o aprendiz faz uso de recursos de um
sistema operacional para implementar a realização de experiências;
Jogos - têm o objetivo de ensinar um determinado assunto de
forma lúdica.
85
Figura 2 - Classificação de Softwares Educativos
Fonte: Tavares e Silva (2017).
Os softwares educacionais apresentam características que visam o
processo de ensino e aprendizagem dos usuários e que, segundo Vieira
(2000 apud MARTINS, 2002, p. 12), são classificados de acordo com o
nível de aprendizagem que cada um é capaz de proporcionar.
Sequencial - A informação é apenas transferida. O objetivo do
ensino é apresentar o conteúdo para o aprendiz e ele, por sua vez, deverá
memorizá-la e repeti-la, quando for solicitado. Induz a passividade do
aprendiz.
RelacionalA aquisição de determinadas habilidades permite que
o aprendiz faça relações com variadas fontes de informação. A
aprendizagem baseia-se na interação do aprendiz com a tecnologia e de
forma isolada.
CriativoEsta forma de aprendizagem está associada à criação de
novos esquemas mentais, possibilitando a interação entre pessoas e
tecnologias e, dessa forma compartilhando objetivos comuns. Nesta
modalidade, o aprendiz é participativo.
86
4 Software Livre na Educação
O uso de software livre nas escolas como recurso de apoio ao
processo de ensino e aprendizagem tem sido recorrente e proporcionando
diversos benefícios em toda a Educação Básica. De acordo com Alexandre
(2015),
O software livre se apresenta como uma alternativa bastante viável aos
softwares proprietários, oferecendo benefícios que vão desde a
gratuidade das licenças até o grande potencial de ser melhorado, ter
falhas corrigidas mais rapidamente e ainda pode sobreviver mesmo que
a empresa que o produziu não ofereça mais suporte para ele (porque
outros usuários podem dar suporte por conhecê-lo bem), o que é bom
tanto para o desenvolvedor quanto para o usuário (ALEXANDRE,
2015, p. 2).
Ao adotar esse tipo de recurso, as escolas possuem uma
manutenção quase nula, visto que os principais softwares usados são
gratuitos. Abaixo, apresentamos, após robusta busca, uma relação de
softwares livres, destinados para diversos componentes curriculares, que
podem ser utilizados em âmbito educacional.
Tabela 1 Relação de Softwares Livres relacionados aos Componentes Curriculares
Componentes
curriculares
Softwares Livre
Linguagem e
ensino de Línguas
ABC-Blocks Alfabeto móvel;
Anagramarama Jogo para treinamento de digitação;
DuolingoEnsino de idiomas;
Klettres Aprendizado do alfabeto a partir de sons de letras e
sílabas;
Type Jogo de digitação;
Livrosdigitais.org Site de criação de livros digitais (português);
Stopots - O jogo de stop (adedanha ou adedonha) na Internet;
Wordwall -
Ferramenta de alfabetização composta por uma
coleção organizada de palavras que são exibidas em grandes
87
letras visíveis em uma parede, quadro de avisos ou outra
superfície de exibição na sala de aula.
Matemática
Geogeobra Geometria interativa;
TuxMathScrabble
Palavras cruzadas com expressões
numéricas;
Dr. GeoSoftware interativo para o aprendizado de geometria.
Permite a construção de figuras geométricas interativas;
Sudoku - Jogo baseado na colocação lógica de números;
ModellusModelagem interativa com ensino de matemática.
Geografia
Carta celeste
Observação de estrelas e astronomia com
realidade aumentada;
Google EarthImagens de satélites;
Mapa da terra ao vivo e vista de satélite Mapa terrestre em
tempo real com imagens em 3D;
CelestiaPlanetário 3D;
StellariumPlanetário.
Química
Armolvis Visualização de moléculas em realidade aumentada;
Quiz tabela periódica Aplicativo que avalia os conhecimentos
em elementos da tabela periódica;
Tabela periódica 2020 I
nformações completas sobre
elementos símbolos e compostos;
ChemtoolBalanceador de equações químicas;
KingDraw Chemical Structure Editor
Ferramentas de
estruturas químicas de desenho.
Gráficos e
Desenho
Canva Editor de fotos, vídeos, logotipo e montagens;
Gartic - Jogo on-line de desenhos;
Padlet - Mural ou quadro virtual dinâmico e interativo para
registrar, guardar e partilhar conteúdos multimídia;
Photoscape - O Photoshop do Software Livre;
PicsArtDesenhar, editar, montagens;
TuxPaint Desenho infantil, mas que pode ser usado em todas
as disciplinas.
Multimídia e
Comunicação on-
line
AudacityEditar, criar arquivos de áudio;
Anchor Site de podcast (produção e compartilhamento);
MovaviEditor de vídeo;
KdenliveEditor de vídeo (similar ao Movie Maker);
Powtoon - Apresentações animadas e vídeos animados;
VLC Player de áudio e vídeo (compatível com o youtube).
88
Artes
Google Arts and Culture
Diversos recursos em um só
aplicativo, voltado para o conhecimento cultural e histórico;
Art Museum - Museu de artes.
Jogos (Estratégia e
Raciocínio Lógico)
Coelho SabidoJogo educativo que desenvolve habilidades de
leitura, matemática e criatividade, apresenta níveis diferentes de
dificuldade para cada atividade;
Childsplay
Conjunto de aplicativos para trabalhar com
crianças;
Gcompris Contém diversos aplicativos voltados para o público
infantil;
KlogoTradicional Logo (Parpet);
Make it
Aplicativo para criar jogos, testes, atividades e
histórias.
Sites educativos
Aprende Brasil -
Plataforma de aprendizagem vinculada ao
Livro Didático Integrado para os municípios conveniados;
Árvore de Livros Plataforma de leitura digital, conta com mais
de 10.000 exemplares;
Khan Academy Plataforma adaptativa e gamificada para os
mais diversos componentes curriculares;
Britannica Escola Plataforma de aprendizagem voltada para o
Ensino Fundamental I;
Banco Internacional de Objetos Educacionais Repositório
que contém recursos digitais úteis para a aprendizagem formal
ou não-
formal, com mídias como textos, imagens estáticas
(mapas, gráficos, desenhos ou fotografias) ou animadas (vídeos,
filmes), arquivos de som, e objetos de aprendizagem.
Fonte: Da autora (2021).
Considerações Finais
Vivemos em um mundo no qual as informações e as tecnologias
nos rodeiam, nos mais diferentes setores, e não podemos ignorar os
excelentes recursos disponíveis que podem ser utilizados na área
educacional.
Pensar, refletir, analisar, discutir é o grande desafio que se apresenta
aos educadores do século XXI sobre as possibilidades e resultados da
utilização das tecnologias digitais de informação e comunicação no
89
processo educacional. Se considerarmos a educação do futuro como aquela
que deva proporcionar a formação integral dos indivíduos, para que saibam
viver em sociedade, trabalhar em cooperação, não podemos passar
despercebidos por possibilidades que auxiliam as práticas pedagógicas a
preparar para a vida, tomar decisões, integrar conhecimento. Devemos nos
inspirar em uma educação que prepara o indivíduo para agir, não apenas
reagir.
O processo de implantação de qualquer projeto que envolva as
tecnologias educacionais tem que ser planejado e não improvisado; se a
improvisação acontecer no início do processo, certamente esse projeto não
se efetivará. Para que o ensino com a utilização de recursos tecnológicos
seja de qualidade e atinja seus propósitos, sua instrumentalização deverá
ser, cuidadosamente, estudada mediante objetivos relevantes para a sua
aplicabilidade para o ensino e desenvolvimento da aprendizagem das novas
gerações dos educandos.
Com a entrada de equipamentos tecnológicos na escola,
aumentou-se a busca por softwares para se trabalhar os mais diversos
componentes curriculares. E, assim, observamos que a escola deva
incentivar a comunidade para que busque conhecimento, capacitação e
construa, junto aos alunos, um cenário favorável à aprendizagem pela
utilização de softwares educativos de forma significativa. Dessa forma, o
processo de ensino/aprendizagem poderá ser potencializado, resultando
em motivação com repercussão em maior apropriação de habilidades e
competências almejadas nos diversos períodos de desenvolvimento dos
alunos.
Referências
ALEXANDRE, L. R. B. Utilização de software livre nas escolas da rede
estadual de Teresina- PI. Texto Livre, Teresina/PI, 2015. Disponível em:
http://ueadsl.textolivre.pro.br/2015.1/papers/upload/8.pdf. Acesso em:
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93
Ferramentas para as Áreas de Exatas: compartilhando
experiências no Ensino Superior sob o olhar dos
multiletramentos e metodologias ativas
Gabriel Scoparo do Espírito SANTO
1
Introdução
A educação, também, adentrou na era digital e diversas tecnologias
recentes se tornaram mais acessíveis, principalmente, com a emergência do
smartphone. Por um lado, a constante luta contra notificações e infinitas
possibilidades de estímulos dificultam ao aluno manter o foco durante a
aula toda. Por outro, no contexto pedagógico, a facilidade em demonstrar
sistemas complexos de maneira tridimensional e executar simulações de
modelos representados apenas por equações, acelera a compreensão e
permite uma interação muito maior do aluno com o conteúdo,
literalmente.
Nesse cenário, o ensino superior leva uma vantagem com relação
às outras esferas de ensino, os adultos têm maior autonomia para resolver
os problemas que envolvem o uso das ferramentas tecnológicas e, também,
assumem, de forma mais acentuada, a responsabilidade pelo próprio
aprendizado. Esses dois fatores, obviamente, não são garantias de
aprendizado, mas contribuem muito para a otimização do tempo, o
elemento mais difícil de equalizar quando se pretende qualquer
modificação em algum sistema de ensino.
Dentro desse segmento, há ainda a divisão das diferentes áreas de
conhecimento, e, nesse sentido, a área de exatas apresenta dois fatores que
facilitam a utilização da tecnologia para a aprendizagem. O primeiro é a
1
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail: gse.santo@unesp.br
94
estrutura desse conjunto de conhecimentos em si, por utilizarem a
linguagem matemática, equações transformam-se em gráficos e estes em
modelos tridimensionais, virtualizando a construção de estruturas que
precisavam ser imaginadas ou desenhadas no passado. O segundo é a
utilização de programas já empregados na esfera do trabalho diretamente
no ambiente escolar (XIE et al., 2018), ou seja, a transposição do
conhecimento científico para o didático torna-se, praticamente,
instantânea, o que leva a sensação de um aprendizado mais prático,
aumentando o engajamento dos educandos.
Neste trabalho, compartilhamos experiências de uso de simulações
didáticas, programas profissionais de desenho técnico e mesas
digitalizadoras como ferramentas de aproximação dos estudantes e,
também, facilitadores do processo de ensino-aprendizagem.
1 Simulações didáticas
Desde a origem da ciência moderna, seu objetivo tem sido o de
modelar matematicamente os fenômenos naturais e sociais, destes, os
naturais têm padrões muito mais fáceis de determinar, possibilitando o uso
de equações com muita precisão. No processo de digitalização dessas
ferramentas matemáticas, a facilidade torna-se ainda mais evidente, uma
vez que a própria estrutura dos programas segue os mesmos princípios de
modelagem, por isso, as simulações de fenômenos naturais já são parte do
senso comum.
Infelizmente, as simulações mais realistas são empregadas em jogos
e filmes, sendo pouco aproveitadas como recurso didático. Diversas
universidades em todo mundo empreendem esforços para disponibilizar
materiais gratuitos
2
, e, mais recentemente, algumas empresas
disponibilizaram ferramentas on-line que podem ser acessadas sem custos
por instituições de ensino
3
.
2
http://www.labvirt.fe.usp.br/
3
https://www.tinkercad.com/
95
Um projeto que reúne excelentes simulações e, ainda tem equipes
para traduzi-las para outras línguas, é o PhET Interactive Simulations,
fundado em 2002 na Universidade do Colorado
4
. Com diversas
simulações compatíveis com os navegadores de Internet, permite aos
educandos uma visualização direta e interativa com as equações e
fenômenos que seriam impossíveis de serem reproduzidos em ambiente
escolar. Além das simulações, o projeto ainda compartilha atividades e
aulas já realizadas por outros professores, desenvolvendo uma comunidade
de usuários e possibilitando diferentes pesquisas em torno da
aprendizagem com uso de simulações (WHITACRE et al., 2019).
As simulações têm limitações claras quando comparadas aos
experimentos práticos realizados em laboratório. Todavia, uma vantagem
do ambiente virtual é a possibilidade de visualizar o interior de sistemas
fechados, mostrando mecanismos que estão contidos em recipientes
fechados e não poderiam ser abertos sem comprometer seu
funcionamento. Ainda comparando com experimentos práticos, as
simulações, geralmente, colocam limites para as ações do usuário, o que
auxilia os estudantes a compreender os parâmetros que influenciam
fenômenos específicos e os que não podem ser modificados para que a
modelagem seja válida.
Em nossas experiências, empregamos as simulações em três
momentos diferentes do processo de ensino-aprendizagem.
Primeiramente, em uma apresentação dos conceitos a serem estudados,
como forma de visualização do fenômeno enfocado. O que percebemos é
que os alunos têm dificuldade de imaginar o contexto e condições em que
os fenômenos ocorrem. Sendo assim, nessa etapa, é possível notar que a
relação matemática não foi assimilada, instantaneamente, apenas com a
introdução da simulação, o que mostra a dificuldade de relacionar tantos
conceitos de uma única vez.
Em um segundo momento, utilizamos os dados de um exercício
comum de livro didático que apresentava uma situação com as condições
adequadas e recriamos o caso usando a simulação, confirmando a solução
4
https://phet.colorado.edu/
96
do exercício resolvido de maneira convencional. Nesse caso, notamos um
momento importante do aprendizado da ciência, a capacidade de
relacionar os valores empregados em uma equação com uma situação
“concreta” (MATOS; DA PONTE, 2008).
Por fim, como atividade para os alunos, estabelecemos a
construção de alguns cenários diferentes utilizando a simulação, de forma
que eles pudessem comparar os parâmetros e explicar a relação entre a
variação das grandezas. A percepção de como uma mudança afeta as outras
medidas é um fator que contribui muito para a estruturação do
pensamento matemático. Destacamos que alguns estudantes, inclusive,
comentaram, espontaneamente, que haviam compreendido essa mudança
durante a realização da simulação.
Ao fim do uso da simulação, foi possível observar que os estudantes
têm uma ferramenta completa, sendo esta capaz de melhorar várias etapas
do processo de ensino-aprendizagem até atingir uma boa autonomia com
relação a um determinado conceito ou fenômeno estudado. No entanto,
apresenta, como fragilidade, a simplificação de sistemas que podem ser
muito complexos em outros ambientes, se as condições e parâmetros
utilizados, assim como as limitações no caso de modelos, não forem muito
bem esclarecidos, correndo um grande risco de limitar a capacidade de
análise futura.
2 Desenho técnico como conteúdo e ferramenta
Toda área de ciência aplicada às estruturas ou sistemas recebe,
atualmente, o nome de engenharia. Seguindo essa lógica, a forma como a
ciência tem desenvolvido novos conceitos e estudos sobre os efeitos das
estruturas em si é por meio de programas que contêm, cada vez mais,
parâmetros, chegando a modelos virtuais completos antes da execução de
uma peça, obra ou experimento (PEREIRA FILHO et al., 2018).
Diferentemente do ensino básico em que é possível separar os
tópicos e conceitos em aulas diferentes, quando se trata das estruturas e
97
sistemas, é fundamental compreender a relação entre diferentes conceitos.
Uma ferramenta capaz de ajudar nessa tarefa é a virtualização das
estruturas, ou seja, a construção virtual de objetos ou equipamentos
completos. Neste ponto, surge uma outra dificuldade que é a
aprendizagem do uso dos programas em si, que demanda a prática de cada
estudante e consome muito tempo no processo.
Uma das atribuições dos engenheiros é fazer projetos técnicos, de
modo que na sala de aula o objetivo final já pode ser utilizado como meio
para o aprendizado. Ou seja, pode-se empregar diretamente a metodologia
de Aprendizagem Baseada em Projetos (SILVA et al, 2018), assim, os
estudantes sentem uma preparação para a atuação profissional sem perder
de vista a aprendizagem dos conceitos fundamentais.
A experiência aqui retratada foi com a utilização do programa
AutoCad, da empresa Autodesk
5
, que disponibiliza versões para estudantes
utilizarem, gratuitamente, em seus computadores pessoais, fator que
contribui muito para sua popularização. Computer-Aided Design (CAD) é
uma família de programas para desenhos técnicos auxiliados pelo
computador. Disponíveis no mercado desde a década de 80, já fazem parte
do aparato básico da atuação profissional de todas áreas que empregam
desenhos técnicos como construções, peças, sistemas, etc.
Por ser do núcleo básico da engenharia no Brasil, a maioria dos
cursos tem uma disciplina de desenho técnico em seus primeiros anos.
Além disso, diversos alunos têm contato com o tema em cursos técnicos
durante o ensino médio. Há, ainda, aqueles que já trabalham na área e, por
isso, têm contato com esse programa ou similares. Este lembrete é para que
os estudantes não sejam vistos como tábulas rasas, em uma visão medieval
da educação, mas engajados em um processo de educação que valoriza suas
capacidades e contextos, subsidiados em um diálogo constante.
Como docente da disciplina, cabia a determinação do caminho
metodológico a ser percorrido, dessa forma, o objetivo do nosso projeto
foi desenvolver uma planta para instalações elétricas em uma residência e,
para isso, o conhecimento acerca dos princípios básicos de desenho de
5
https://www.autodesk.com/products/autocad/
98
planta baixa foi tratado como pré-requisito. Durante a execução do
projeto, notamos, como principal aspecto positivo, que os estudantes mais
familiarizados com os comandos e uso das ferramentas não se furtavam a
auxiliar os outros, dando dicas e ensinando caminhos mais simples para o
mesmo resultado. Esse clima de cooperação por si só servia de motivação
para os menos acostumados com a ferramenta e os procedimentos.
Uma dificuldade desse mesmo contexto a ser mencionada é que,
apesar do ambiente favorável, uma minoria ainda não colocava todo o
esforço durante a aula. As conversas no início ou fim de aula sugeriam que
eles tinham vergonha de mostrar que sabiam pouco, enquanto os outros
tinham dúvidas mais “avançadas”. Para diminuir essa defasagem, foi
necessário utilizar outro recurso tecnológico ainda não muito empregado
na relação pedagógica em tempos pré-pandêmicos (SALES;
BOSCARIOLI, 2020), a comunicação via WhatsApp. Assim, as dúvidas
foram resolvidas por mensagens diretas, enviadas ao professor, usando o
WhatsApp fora do horário de aula. Com isso, a turma atingiu um
nivelamento melhor, passando a uma participação ainda maior nas
conversas sobre a melhor forma de executar as etapas do projeto.
Um segundo aspecto positivo dessa metodologia de atuação, foi a
facilidade que os educandos tiveram em trazer questões e curiosidades do
cotidiano para as discussões do projeto. Essa mudança de postura mostra
que havia uma maior atividade mental com relação ao tema fora do horário
de aula, diferentemente das aulas teóricas comuns em que os estudantes
afirmavam não lembrar nem o que havia sido estudado na aula anterior.
Ainda com relação ao engajamento, pudemos notar uma
aproximação significativa quando cada educando teve a liberdade de
escolher a planta baixa inicial para seu projeto. Alguns comentaram que
estavam planejando casas para o futuro, outros tentaram desenhar a casa
em que moravam atualmente. Em todos os casos, eles entendiam aquele
projeto como algo pessoal e que o tempo investido ali não seria apenas para
se constituir em uma avaliação, para entregar um papel para o professor e
receber uma nota. Essa diferença na utilidade do tempo e do serviço
durante as aulas teve um peso muito grande na postura ativa dos alunos.
99
Extrapolando o exemplo para outro cenário, é raro em cursos de
licenciatura, atualmente, que os alunos utilizem seu tempo em sala de aula
para realmente preparar materiais e aulas que possam ser empregados
diretamente. Diversos relatórios e trabalhos das disciplinas acabam ficando
no formato de monografias ou até artigos não publicáveis, por não serem
de pesquisa e apenas de estudos, enquanto poderiam ser ativamente
utilizados como planejamento e preparação direta para a docência.
3 Mesa digitalizadora em aulas a distância
Em 2020, ano no qual se desencadeou a pandemia, todas as
atividades escolares precisaram ser realizadas a distância. Inicialmente, a
grande dificuldade foi caracterizar esse formato de atuação, uma vez que o
modelo classificado como Educação a Distância (EaD), já muito
empregado em cursos de graduação no Brasil, não provinha aulas síncronas
remotas, mas vídeos e textos em uma base para que cada educando
acessasse no momento que lhe fosse conveniente.
A fim de manter o engajamento dos educandos que já estavam em
isolamento forçado, a maior parte das instituições optou por aulas
emergenciais remotas, utilizando ferramentas de reunião on-line. A decisão
sobre as ferramentas digitais que seriam ou não empregadas durante suas
aulas ficou a cargo do professor.
Os programas de apresentação de palestras e aulas foram muito
bem desenvolvidos para imagens e textos prontos, mas já eram empregados
por diversos professores em sala de aula. Para estes, a aula remota não
modificou significativamente o formato das explicações, sendo apenas
transposta para um outro suporte tecnológico. O grupo mais afetado foi o
que engloba professores que realizam contas e demonstrações em lousa,
junto com os educandos. Para estes, os programas de apresentação
tomavam um tempo gigantesco para preparar cada etapa da demonstração
ou conta que fosse apresentada em uma sequência e, ainda, tornavam a
aula pouco dinâmica e participativa.
100
Diversos programas permitem a escrita usando o cursor do
computador, destes, alguns utilizam o conceito de quadro branco
6
, outros
ainda possibilitam a utilização das imagens e textos junto com as
anotações
7
. Nesse contexto, a última dificuldade a ser vencida é a de
escrever utilizando o mouse, fato que exige uma coordenação motora super-
humana. Para romper esta barreira, os desenhistas já empregavam um
aparelho conhecido como mesa digitalizadora
8
, uma superfície sensível a
uma caneta específica e que pode ser empregada para guiar o cursor do
computador no lugar do mouse.
Na comparação entre aulas remotas utilizando apresentações
estáticas, em que as contas e demonstrações eram apresentadas em etapas,
e aulas com as anotações em tempo real como em uma sala convencional,
notamos o engajamento muito maior no segundo caso. Era esperado que
uma transição muito grande entre uma aula presencial e uma aula
impessoal, como se fosse uma gravação genérica, acabasse afastando os
educandos do processo. Por isso, a busca por essas ferramentas constitui
uma parte importante da metodologia didática.
A possibilidade das anotações sobre imagens e gráficos reúne o
melhor das duas ferramentas, uma vez que diagramas, imagens complexas
e gráficos podem ser preparados antes da aula para que as anotações e
explicações sejam facilitadas. Essa possibilidade já vem sendo testada, há
anos, em sala de aula com o uso de lousas digitais interativas. Todavia,
programas com restrições e a falta de formação para sua utilização
dificultam muito seu manuseio (SILVA et al., 2017).
Outra facilidade identificada no uso dessa ferramenta é a
multiplicidade de cores na escrita. Pode parecer indigno de nota, mas, em
geral, os professores não dispõem de um estojo colorido em suas aulas e o
uso das cores facilita muito a identificação de grupos de soluções ou etapas
durante uma explicação.
6
https://sketchbook.com/
7
https://www.microsoft.com/pt-br/microsoft-365/powerpoint
8
https://www.huion.com.br/
101
Por fim, o aspecto que pode ser considerado negativo é a
dependência da resolução da escrita de acordo com o programa escolhido,
o que pode dificultar a leitura em alguns casos. Também, com relação à
dificuldade na leitura, é necessária uma adaptação do processo de escrita
do professor para que a caligrafia não perca a legibilidade. Considerando
que os dispositivos com preços acessíveis não dispõem de uma tela para
escrita, o professor precisa escrever em uma superfície escura e, geralmente,
pequena enquanto olha para o monitor, posição muito diferente da escrita
em papel ou lousa convencionais.
Considerações Finais
A educação atual, focada na transmissão somente dos resultados da
ciência, leva a uma formação limitada e à reprodução de “verdades
prontas” com uma baixa capacidade de análise. Para ser considerada “de
qualidade”, acaba por soterrar os educandos em uma avalanche de
informações que lhe tomam todo o tempo escolar para “aprender” e
impede que a prática da ciência seja ensinada. Nas instituições de ensino,
ocorrem, ainda, situações que são chamadas de práticas, porém conduzem
o aluno a, apenas, executar uma série de ações preestabelecidas em um
roteiro e anotar o resultado. Ou seja, existe um descompasso entre o que é
considerado como “ativo” nas metodologias tradicionais e o que se espera
com as Metodologias Ativas atuais (MORAN, 2015).
As metodologias ativas propõem uma postura diferente para o
educando, qual seja, a de protagonista desse processo de aprendizagem,
enquanto o professor passa ao papel de orientador e curador dessa
infinidade de informações disponíveis (BACICH; MORAN, 2018). A
interpretação do termo “ativa” costuma levar à imagem de atividades que
envolvem movimento do corpo, manuseio ou construção de objetos,
diversas pesquisas mostram a importância desse envolvimento na
aprendizagem (PAPAVLASOPOULOU et al., 2017), no entanto, as
grandes correntes de teoria da aprendizagem já demonstraram que o mais
importante é a postura mental ativa. Em um jogo de RPG (Role Playing
102
Game), por exemplo, os participantes estão sentados em uma mesa apenas
com fichas e dados e toda ação ocorre no cenário mental.
A catalisadora dessas metodologias na sala de aula atual tem sido a
inserção das novas tecnologias, principalmente, com o smartphone na mão
dos educandos. Professores repetidores de informações perderam sua
função para aulas gravadas em alta resolução, ou textos com hiperlinks e
animações. Ou seja, vivemos o momento histórico da revolução na
educação que não tem mais como voltar a eras p-digitais (FERDIG et
al., 2020).
Com as experiências relatadas nesse texto, notamos que as
simulações aproximam muito os alunos da realidade, ainda com um fator
cativante já que sua interface lembra a dos jogos. A necessidade de decidir
os parâmetros das simulações impede que os alunos mantenham uma
postura passiva e, ainda, facilita a transposição das grandezas medidas para
as equações utilizadas.
O uso de programas profissionais para desenho técnico em sala de
aula possibilita uma mudança na metodologia da aula, em que os
educandos se responsabilizam por seus projetos e buscam formas eficientes
para resolver as questões que surgem no caminho. Nesse processo,
conseguimos desempenhar as funções de curador e orientador,
incentivando a postura ativa dos educandos. A parte teórica ficou resumida
tanto quanto possível a textos e normas enviadas para que fossem estudadas
fora da aula, buscando elementos da sala de aula invertida (VALENTE,
2014).
Por fim, o emprego da mesa digitalizadora serviu como ferramenta
de aproximação da realidade presencial durante aulas remotas
emergenciais, melhorando o engajamento dos educandos e contribuindo
para a fluidez do diálogo em torno da resolução de exercícios e da discussão
de conceitos.
Compreendemos, assim, que as diversas ferramentas apontadas
aqui tornam possível a aplicação de Metodologias Ativas, sendo que a
maior mudança necessária é a dos papéis desempenhados pelos estudantes
e professores. Enquanto a postura mental obrigatória ao estudante for
103
passiva, com o papel exclusivo de executar tarefas e reproduzir afirmações,
não é o fato dele estar em um laboratório ou em casa que tornará o
aprendizado ativo. Cabe ao professor promover um ambiente, ainda que
remoto, em que o estudante tenha a possibilidade e a orientação adequada
para desenvolver sua mentalidade ativa, capaz de solucionar problemas e
fazer avançar a ciência.
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2020.
107
Sistemas Educacionais: e-learning vs ensino tradicional
Graciele Fernanda de Souza PINTO
1
Introdução
No final do século XVIII e início do século XIX, o mundo todo
testemunhou a Revolução Industrial, que causou um impacto significativo
em todos os aspectos da vida humana. Desde então, as pessoas enfrentam
desafios inevitáveis na educação e nas esferas social, econômica e ambiental
(ABUMANDOUR, 2020).
A descoberta mais notável aconteceu nos campos da ciência e da
tecnologia que se constituem os principais elementos para o
desenvolvimento de uma nação em diferentes domínios, como economia,
comércio, indústria, saúde, educação e infraestrutura. Portanto, sistemas
inovadores e avançados em educação têm atraído mais atenção nas últimas
décadas (CHETTY, 2012; EAGLETON; MANOLOPOULOU, 2017).
Recentemente, o campo da Tecnologia Digital de Informação e
Comunicação (TDIC) foi amplamente desenvolvido (ABUMANDOUR,
2020).
O aumento na demanda por novas técnicas educacionais e o
surgimento das TDIC produziram um novo método de aprendizagem
chamado e-learning. E-learning é uma abreviatura que se refere ao
aprendizado eletrônico, sendo utilizado para designar a aprendizagem
através de tecnologias eletrônicas associadas, principalmente, à educação a
distância (VALENTE, 2014).
1
Doutoranda do Departamento de Ciências Biológicas / Faculdade de Ciências e Letras /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Assis/SP / e-mail:
graciele.fernanda@unesp.br.
108
O e-learning surgiu devido à crescente demanda por qualificação
em instituições de ensino superior (IES), bem como à necessidade por
sistemas de educação melhores, apropriados e viáveis. Ao mesmo tempo, o
primeiro sistema de computador com ênfase na educação, voltado para uso
principalmente em universidades, PLATO, foi criado e desenvolvido por
Bitzer e colaboradores em 1962 na Universidade de Illinois. Além disso,
podemos destacar pesquisadores pioneiros no campo do e-learning, como
Uttal (1962), Suppes (1964; 1966) e Ghareb e Mohammed (2016).
1 Estado da arte
Diferentes autores definiram e-learning de acordo com os
fornecedores, a técnica e as ferramentas utilizadas. Entre as muitas
definições, o e-learning foi descrito como o uso da Internet para disseminar
recursos educacionais e materiais de aprendizagem (SHARIFABADI,
2006). Além disso, o sistema desenvolve interação entre alunos e
professores e/ou tutores para aperfeiçoar a experiência de ensino e
aprendizagem (BHATNAGAR, 2016; ABUMANDOUR, 2020). Em
2009, o e-learning foi definido como um sistema de aprendizagem
regulado por mídia eletrônica (KUMBHAR, 2009). Assim, o referido
sistema depende de dispositivos de informática, redes, telecomunicações,
armazenamento e compartilhamento tecnológico (ABUMANDOUR,
2020).
As bibliotecas públicas são importantes ferramentas na divulgação
e apoio ao sistema de e-learning. O objetivo da biblioteca é apoiar,
incrementar e fortalecer o processo de ensino. As bibliotecas, também,
desempenham um importante papel para a disseminação da alfabetização.
A palavra “biblioteca” deriva da palavra latina liber que significa “livro”.
Bibliotecas garantem o fornecimento de materiais pedagógicos, obras
literárias, recursos eletrônicos, periódicos, materiais multimídia, serviços
de referência, entre outros. Ao mesmo tempo, este termo pode se referir a
um edifício ou espaço, que inclui todos os materiais (SHUKLA et al.,
2013).
109
A relação das bibliotecas públicas com o e-learning, foi fortemente
discutida sob diferentes perspectivas por alguns pesquisadores (ABBASI;
ZARDARY, 2012; HAN; YATES, 2016; KUMBHAR, 2009). Também,
a função das bibliotecas digitais/virtuais tem sido indicada como suporte
ao e-learning (ABBASI; ZARDARY, 2012).
Neste sentido, as bibliotecas digitais podem fornecer serviços
digitalizados e recursos eletrônicos via Internet para apoiar o e-learning
(ABBASI; ZARDARY, 2012). A biblioteca acadêmica é fundamental para
o desenvolvimento de habilidades de aprendizagem dentro da universidade
e no aprimoramento de estratégias de e-learning (HAN; YATES, 2016).
Os sistemas de ensino tradicional e e-learning se complementam na difusão
da educação (KUMBHAR, 2009).
As bibliotecas digitais são paradigmas emergentes do rápido
desenvolvimento das TDIC, definidas como entidades virtuais que
oferecem coleções muito grandes, armazenadas em formatos digitais, que
podem ser acessadas remotamente (TRIVEDI, 2010). As bibliotecas
digitais consistem em três elementos principais: os materiais da biblioteca
(dados), informações sobre os materiais da biblioteca (metadados) e as
funções desempenhadas que ligam todos os elementos da biblioteca
(processos) (RAJPUT, 2013; ABUMANDOUR, 2020).
Exemplos de bibliotecas digitais:
(1) Biblioteca Nacional Digital BNDigital,
(2) Portal Domínio Público.
Recentemente, é notável que muitas bibliotecas físicas ou
tradicionais estão digitalizando suas coleções.
Além das limitações do contexto de aprendizagem universitária, no
que se refere à didática tradicional e móveis tradicionais como carteiras e
cadeiras com disposição ancestralmente conhecida, o uso de abordagens
ativas representa uma revolução metodológica. No que diz respeito à forma
de ensinar e aprender, o uso de metodologias ativas proporcionou
mudanças na perspectiva do processo de ensino-aprendizagem, tornando
o aluno agente ativo e participativo o processo de ensino, através de um
110
papel mais central, em relação ao modelo de ensino tradicional, que é
baseado em aulas teóricas e exercícios práticos com recursos tradicionais,
como lousa e giz, que torna os alunos apenas receptores e transmissores
passivos de informações preestabelecidas.
O maior benefício do uso de metodologias ativas é ver o nível de
comprometimento dos alunos que foi gerado durante o processo de ensino.
Enquanto professora, deixo de ser o centro do processo e esse papel é
assumido pelos alunos.
2 Diferentes sistemas educacionais (e-learning e ensino tradicional)
O sistema de e-learning é uma estratégia habilitada para a web que
fornece informações e conhecimento para vários públicos em qualquer
lugar e a qualquer hora (GOÑI et al., 2002; ABUMANDOUR, 2020).
Embora alguns termos apresentem diferença conceitual, existem diferentes
terminologias para e-learning, como web training, web education, educação
a distância via Internet, aprendizado eletrônico, ensino mediado por
tecnologia, ensino dirigido por computador (PADALINO; CIQUETO
PERES, 2007).
Os sistemas de e-learning podem auxiliar os sistemas educacionais
e de ensino tradicionais com o uso de ferramentas modernas (TDIC) e por
meio de diferentes recursos educacionais. Além disso, requer um ritmo
diferente do sistema de ensino educacional tradicional, alunos, professores
e/ou tutores deste processo aprendem a interagir por variados meios,
favorecendo a aprendizagem ao longo da vida. O sistema de e-learning não
possui os fatores tempo e local como limitantes do processo de ensino-
aprendizagem, e estudantes podem se inscrever e aprender qualquer tema
em qualquer lugar, 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Atualmente, muitas IES estão implementando sistemas
educacionais de e-learning. Elas, geralmente, combinam sistemas de
aprendizagem presencial (tradicional / sala de aula) e e-learning , resultando
no que é chamado de “ensino híbrido” (ROCHA et al., 2020). As
111
vantagens e desvantagens de ambos os sistemas de aprendizagem são,
brevemente, descritos na Tabela 1.
Tabela 1 - Vantagens e desvantagens dos sistemas de aprendizagem e-learning e
tradicional
Parâmetro
Sistema de e-learning
Sistema de ensino
tradicional
Acessibilidade
dispositivo com acesso à Internet
(celular, notebook
entre outros).
Os alunos precisam estar
matriculados na IES.
materiais educacionais, banco de
relevantes e confiáveis.
Os alunos são receptores de
conhecimento, são
dependentes das explicações
dos professores, currículo e
materiais educacionais fixos.
professor/tutor e entre si, através
como mensagens em chats,
fóruns, e-mails, entre outros.
Os alunos interagem
diretamente entre si e com o
professor.
Relação entre
professor/tutor e
alunos
O professor desempenha papel de
mediador de conhecimento.
O professor desempenha
papel de transmissor de
conhecimento.
definido. Além disso, os materiais
on-line podem ser atualizados e os
atualizações imediatamente.
Os professores abordam os
alunos de forma direta, por
meio de palestras e
comunicação oral. Assim, os
alunos podem tirar suas
dúvidas instantaneamente.
curricular.
Os alunos são obrigados a
cursar todas as disciplinas da
matriz curricular.
112
Currículo
pedagógico
É adequado por tópicos, módulos
e lições específicas e gerais.
Pouco flexível. Adequa-se a
assuntos aplicados e
detalhados.
velocidade do grupo.
Professores e alunos seguem
estritamente um currículo
fixo.
ajuda os alunos a construírem seu
próprio conhecimento.
Depende da repetição e
alunos são os destinatários.
assistam o conteúdo educacional
on-line ilimitado.
As aulas possuem tempo
limitado e cada semestre
segue um cronograma
definido.
Formação /
disponibilidade
Os alunos podem obter diplomas
doutorado a qualquer momento,
concomitante ao seu trabalho.
Os alunos assistem às aulas
presencialmente e
desempenham diferentes
tarefas, como por exemplo
avaliações para obter o
diploma acadêmico.
Método de
avaliação
qualquer curso e/ou treinamento
simples ou teste de nivelamento.
Os alunos são avaliados
utilizando diferentes critérios.
No final, é gerada uma nota
que representa o desempenho
dos alunos.
alunos através de testes ou tarefas
de múltipla escolha ou respostas
curtas.
O desempenho dos alunos é
avaliado oralmente e através
de testes ou tarefas
dissertativas.
abandonar o curso. Além disso, os
cursos podem se tornar inativos
ou reprovar mais que alunos que
regulares.
É difícil medir o potencial dos
alunos em uma sala de aulas
com mais de trinta alunos.
113
Adequação do
sistema de
aprendizagem
autodidatas.
É adequado para diferentes
tipos de alunos.
histórico, localidade ou tempo.
Às vezes, existe uma idade
‘limitante’ para buscar certas
formações.
Pode ser difícil para cursos com
atividades práticas.
É preferível para cursos que
requerem uma abordagem
prática.
Habilidades dos
alunos
habilidades de gerenciamento de
tempo.
É eficiente e pode aumentar a
motivação e a disciplina do
aluno.
O aluno é responsável por realizar
os requisitos necessários de cursos
on-line
professor/tutor, enviar as tarefas
necessárias dentro do prazo.
Pode construir vínculo entre
alunos e professores. E, ajuda
os estudantes a melhorar sua
personalidade, aumenta sua
autoestima e os ajuda a terem
tranquilidade e segurança na
realização de exames.
Sistema de
aprendizagem
assistir, revisar e salvar as aulas em
hora e em qualquer lugar.
Aulas longas. O tempo
necessário para o processo é
em média 50% superior ao do
sistema de e-learning.
Despesas
Os alunos podem economizar em
despesas como viagens, materiais
pedagógicos e moradia.
A mensalidade de cursos
presenciais (tradicional) é
maior que a do sistema de e-
learning.
Impacto
ambiental
Tem menor impacto ambiental.
não utiliza papel.
Possui maior impacto, dentre
outros,
fatores no
deslocamento (meio de
transporte) de professores e
alunos.
Barreira
tecnológica
limitar o processo e-learning.
Se professores não integrarem
recursos tecnológicos no
conteúdo do currículo, as
habilidades digitais e
114
tecnológicas dos alunos
podem ser diminuídas.
didático em um curso eletrônico
tecnológicas.
aprimoradas.
Fonte: Purdue University Global (2018); Versteijlen et al. (2017).
A partir de todas as proposições acima, pode-se perceber que
ambos apresentam pontos mais ou menos favoráveis. Assim, observamos a
recomendação de uso de ambas modalidades, que é chamado de ensino
híbrido, tratando-se de uma combinação de e-learning e métodos
tradicionais.
Considerações Finais
Atualmente, o e-learning tem expandido significativamente e, em
especial em momento pandêmico, atraído a atenção de educadores e
alunos do mundo todo. O e-learning auxilia os que estão geograficamente
distantes das instituições educacionais e impossibilitados de frequentar
cursos em tempo integral ou parcial como alunos presenciais, como em
situação de distanciamento social, por exemplo. O e-learning garante
equidade de aprendizagem e aumenta as habilidades e competência de
alunos para o mercado de trabalho. Geralmente, o e-learning depende de
três fatores principais:
O professor e/ou tutor e aluno;
Instituição educacional que cria e influencia o processo e;
115
Sistema de gerenciamento de aprendizagem que fornece
comunicação bidirecional entre professor / tutor, instituição
educacional e alunos.
O sistema de gerenciamento de aprendizagem contém os materiais
pedagógicos dos cursos on-line e oferece diferentes ferramentas e técnicas
para avaliar e transformar os cursos on-line em cursos interativos e
interessantes (ABUMANDOUR, 2020).
Há uma necessidade, cada vez maior, de ampliar a educação por
meio do e-learning em uma sociedade movida à tecnologia e gerar
iniciativas que desenvolvam a alfabetização e aumentem a consciência dos
indivíduos em relação à sua formação cidadã e profissional. O e-learning é
considerado um dos processos de ensino-aprendizagem mais rápidos e
emergentes, que revolucionou, significativamente, os sistemas
educacionais em todo o mundo.
A pandemia de COVID-19 fez com que professores e alunos
modificassem a maneira de ensinar e aprender. O e-learning emergiu como
alternativa para manter os estudos, diante do cenário atual. Professores e
alunos, habituados aos métodos tradicionais de ensino, precisaram se
adaptar rapidamente às novas concepções didático-pedagógicas.
Através do e-learning muitas mudanças e inovações benéficas estão
sendo trazidas para o setor da educação. No entanto, não podemos ignorar
ou esquecer dos alunos que não possuem acesso à tecnologia on-line. Esses
pertencem aos segmentos mais pobres da população e a família,
normalmente, possui pouco ou nenhum recurso tecnológico; portanto,
eles acabam perdendo as aulas on-line, por causa dos altos custos dos
dispositivos digitais e/ou planos de Internet. Embora o e-learning apresente
vantagens em relação ao ensino tradicional, deve-se ressaltar que essa
exclusão digital pode aumentar a desigualdade e potencializar lacunas de
aprendizagem.
116
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E-learning AWERProcedia information technology and computer sciene.
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p. 80-89, 2017.
119
As Tecnologias Digitais como Instrumentos
de Trabalho do Educador Infantil
Laura Ribas VILARDI
2
Introdução
O presente artigo tem como objetivo apresentar formas de uso das
tecnologias como ferramentas de auxílio ao trabalho do professor de
Educação Infantil. Abordando fotos e vídeos como documentação e
avaliação do trabalho desenvolvido, enfocamos uma turma de maternal I,
em uma escola do Sistema Municipal de Ensino do município de
Marília/SP, no ano de 2019.
O uso das tecnologias como forma de trabalho, ensino e pesquisa
vem crescendo no mundo todo devido à Revolução Industrial e com a
chamada “Era digital”, que traz avanços e inovações ao mundo
tecnológico, inclusive no campo educacional. Apesar disso, são grandes os
desafios enfrentados pelos profissionais da educação no que diz respeito ao
acompanhamento das crianças que nascem nesse período, uma geração que
possui o contato com os meios de comunicação desde muito cedo
(MORAN, 2000), o que causa a necessidade de inovação das metodologias
e recursos utilizados em sala de aula. Partindo disso, foi pensada uma forma
de registrar as vivências ocorridas durante um projeto em uma sala de
Educação Infantil, considerando o fato de que o registro escrito feito pelas
crianças não é a única forma de documentação, já que a faixa etária na qual
se encontram permite o livre manuseio e exploração dos objetos,
movimento corporal e verbalizações, nas atividades propostas.
2
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
laura.vilardi@unesp.br
120
Dessa forma, serão apresentados, aqui, o projeto desenvolvido,
para que se amplie a compreensão do leitor acerca do contexto, e as formas
de documentação e avaliação utilizadas pela professora da turma.
1 O Projeto “Os cantinhos” no Maternal I
O Projeto “Os cantinhos” surgiu da parceria entre uma Escola
Municipal de Educação Infantil e a Universidade Estadual Paulista
(Unesp) do município de Marília-SP. Destacamos duas frentes de atuação
aqui, sendo elas na escola e em uma disciplina do Programa de Pós-
Graduação em Educação.
Durante o segundo semestre do ano de 2019, a professora do
Maternal I (faixa etária de 2 a 3 anos), a docente responsável por uma
disciplina denominada “Psicogênese do conhecimento” e os discentes do
aprofundamento em Educação Infantil, aplicaram atividades coletivas e
em pequenos grupos (cantinhos), com o intuito de desenvolver os três
tipos de conhecimento nas crianças.
Segundo Chiarottino (1972), Jean Piaget observou o
comportamento de seus filhos, do nascimento aos dois anos, com a
intenção de observar, experimentar e estruturar o fenômeno. Para ele, as
crianças nascem com estruturas hereditárias, os reflexos, e para que se
consolidem é preciso exercício. “Inicialmente o recém-nascido tende a
sugar tudo o que toca; depois, após as maturações necessárias, a tocar tudo
o que olha, a olhar tudo que toca e tudo o que suga etc”
(CHIAROTTINO, 1972, p. 10). Isso se dá devido à formação dos
esquemas de assimilação, sendo o esquema aquilo que é generalizável numa
determinada ação, ou seja, o indivíduo generaliza uma ação,
independentemente de onde a aplica, sendo os novos esquemas formados
a partir dos que foram construídos anteriormente. “Assim, o ‘saber puxar’
depende do ‘saber pegar’ e do ‘saber olhar’ [...]” (CHIAROTTINO, 1972,
p. 10).
121
A modificação dos esquemas é chamada por Piaget de
“acomodação”, que acontece quando há um desequilíbrio no ambiente.
Por exemplo, quando há a necessidade de puxar do que só pegar um
objeto, há um desequilíbrio e a estrutura sofre uma acomodação, e sendo
assim, a ação de puxar passará a assimilar os objetos. Dessa forma, a criança
aplica aos objetos novos todos os esquemas que possui, tentando assimilá-
lo. A partir disso, percebe-se a importância da exploração do objeto e seus
diversos usos. Os primeiros sistemas de esquemas são considerados por
Piaget como sendo os primeiros sinais de comportamento
lógico/inteligente.
Dessa forma, de acordo com Chiarottino (1972, p. 10), para
Piaget, o aprendizado se dá por estruturas hereditárias e desequilíbrios
causados pelo meio.
A primeira noção de conservação da substância se constrói quando
há a noção de conservação do objeto, ou seja, se um objeto que estava ao
alcance de sua visão é retirado e escondido, a criança sabe que ele ainda
existe, procurando o objeto quando possuem aproximadamente 1 ano e
meio. Para Piaget, as estruturas evoluem até a reversibilidade, que é quando
se é capaz de executar uma ação no sentido de ida e volta (saber que se algo
“é feito” pode ser “desfeito”). Apesar do período da construção dos
primeiros esquemas caracterizar ações de ida e volta, ainda não há a noção
de que se trata da mesma ação.
Os períodos definidos por Piaget são:
Período sensório-motor (nascimento até aproximadamente 1 ano
e meio, 2 anos): construção das primeiras estruturas, mas sem
reversibilidade;
Pré-operatório (dos 2 aos 7 anos, aproximadamente): presença das
representações e regulações semi-reversíveis;
Operatório-concreto (dos 7 aos 11 anos, aproximadamente):
noções de reversibilidade e pensamento lógico (uma ação pode ser
desfeita);
Operatório-formal (a partir de 12 anos): reversibilidade completa.
122
1.1 O desenvolvimento do peodo pré-operatório
Os educandos do Maternal I, aqui enfocados, encontravam-se no
período Pré-operatório. Chiarottino (1972) afirma que:
Observando-se uma criança antes e depois da aquisição da linguagem,
temos a impressão de que a origem do pensamento lógico se encontra
na linguagem. Antes a criança estava limitada por seu campo
perceptivo; depois, nós vemos a libertar-se do presente e inserir os
objetos e os fatos num quadro conceitual, o que nos faz crer que
começa verdadeiramente a conhecer (CHIAROTTINO, 1972, p. 15).
Os educandos foram observados não só durante o projeto, mas
durante todo o ano. Nesse processo de aprendizagem, observou-se que a
maioria das crianças iniciaram o ano letivo não falando nada, ou falando
muito pouco, e terminaram com uma grande evolução na linguagem.
Piaget explica que a linguagem aparece ao mesmo tempo que o que é
chamado de “jogo simbólico”, que é a capacidade de representar ou imitar
algo sem a presença desse algo, de distinguir significante de significado, de
atribuir significados diferentes aos significantes. Afirma, porém, que não é
o aparecimento da linguagem que explica a construção do pensamento
lógico, pois para ele a linguagem é um aspecto da função simbólica e o
pensamento anterior à fala (CHIAROTTINO, 1972). A falta de lógica
desse período é suprida pela intuição, ou seja, quando encontram um
problema ao manusear um brinquedo ou jogo, usam suas percepções e
tateios, em função do que é aparente, o que resulta na interiorização dos
esquemas de ação e representação desses esquemas (jogo simbólico).
1.2 Descrevendo as práticas
Nas práticas com o Maternal I, foram aplicados os cantinhos, que
são atividades diversificadas, com base no trabalho do Programa de
123
Educação Infantil e Ensino Fundamental e a Teoria de Jean Piaget
(PROEPE)
3
. Nestas são desenvolvidas estratégias para que as crianças
possam trabalhar e interagir em pequenos grupos, tendo a atividade
explicada pelo mediador, com o objetivo de desenvolver três tipos de
conhecimento: físico, social e gico-matemático. Além disso, os
cantinhos favorecem o desenvolvimento da formação integral, que engloba
as dimensões: cultural, afetiva, sócio moral, física, cognitiva e ambiental.
De acordo com Fraga (1988 apud DUTRA, 2005), o
conhecimento físico refere-se à exploração (pegar, jogar, bater, rasgar, etc.)
e conhecimento das propriedades físicas do objeto, descobrindo suas
características. O conhecimento social refere-se ao mundo exterior, o que
aprendemos socialmente, como por exemplo o nome dos objetos. Por fim,
o conhecimento gico-matemático refere-se à “coordenação das ações
mentais do sujeito sobre o objeto e se inscrevem num quadro de relações,
classificações, ordenações e medidas” (FRAGA, 1988, p. 13 apud
DUTRA, 2005). A partir desses conhecimentos foram escolhidos, junto
com os estudantes do aprofundamento em Educação Infantil da Unesp de
Marília-SP e com a docente, professora doutora Alessandra de Morais,
responsável pela disciplina, as seguintes atividades/materiais/jogos:
Jogo dos pompons- conhecimento físico, jogo de exercício,
conhecimento social, coordenação motora, movimento de pinça e
conhecimento lógico-matemático (com intervenção nessa idade);
Quebra cabeça dos sentimentos- conhecimento físico, jogo de
exercício, conhecimento lógico-matemático, conhecimento social (com
intervenção) e coordenação motora;
Objetos de tecnologia- conhecimento físico, conhecimento social
(com intervenção) e jogo simbólico;
Atividade das tampas- conhecimento físico, coordenação motora,
conhecimento social;
Atividade das garrafas- conhecimento físico, conhecimento social,
sons, musicalização;
3
Ver Assis (2017).
124
Blocos geométricos- conhecimento físico, conhecimento lógico-
matemático e conhecimento social;
Placa das cores- conhecimento físico, coordenação motora,
movimento de pinça, conhecimento lógico-matemático (com
intervenção);
Desenho- função semiótica (capacidade de elaborar
representações), coordenação motora fina e sensibilidade artística.
Essas foram as principais atividades aplicadas no projeto. A professora
aplicou os cantinhos sozinha, depois de um tempo, utilizando os
seguintes materiais/jogos/atividades:
Pintura com o “tijolinho” (giz de cera) - coordenação motora fina,
sensibilidade artística, função semiótica, criatividade;
Peças de encaixe irregular e regular (atividade de construção) -
conhecimento físico, conhecimento social, conhecimento lógico-
matemático, coordenação motora e concentração;
Jogo dos palitos (cores primárias) - construído pela professora
com caixa de ovos e palitos de sorvete- conhecimento físico, jogo de
exercício, conhecimento social, conhecimento lógico-matemático (com
intervenção), coordenação motora e concentração;
Construção de um jogo de boliche - (colocar papel crepom dentro
das garrafas pet) - coordenação motora, concentração, conhecimento
físico;
Garrafas da calma- conhecimento físico e jogo de exercício;
1.3 O Maternal I e os cantinhos
Inicialmente, tentou-se explicar como seria a dinâmica para
participar dos cantinhos (cada placa maior possui apenas quatro espaços
para colocar as plaquinhas dos nomes, ou seja, apenas quatro alunos por
cantinho), porém, percebeu-se que nessa idade a construção de regras
125
acontece com a prática. Dessa forma, durante todo o projeto, a dinâmica
dos cantinhos foi compreendida pela maioria das crianças, com
intervenções e explicações diretas. Durante as aplicações, houve o registro
em vídeos e fotos, para que esse material fosse analisado posteriormente.
Os registros se referem a 6 encontros e 5 de aplicação sem os mediadores
do projeto, ou seja, apenas com a professora. Seguem abaixo, alguns relatos
específicos, feitos por escrito pela professora da turma naquele momento
e, também, autora do presente texto.
Segundo a professora da turma: “Nos primeiros encontros
observou-se dificuldades nas atividades coletivas no que diz respeito à
concentração da turma. Respeitando o tempo de compreensão das crianças
em relação à dinâmica dos cantinhos, abriu-se uma exceção e permitiu-se
que tivesse mais de quatro crianças por cantinho. Dessa forma, as
intervenções foram feitas constantemente para que elas compreendessem
essa dinâmica. No primeiro encontro, 27 de setembro de 2019, observou-
se os seguintes ocorridos: no cantinho dos “Pompons”, as crianças
praticaram jogo de exercício, pois dedicaram-se a preencher a cartela de
ovo. Algumas crianças preencheram de acordo com a cor igual a do
pompom pego com o pegador de saladas e outras apenas preencheram, sem
prestar atenção nas cores. No cantinho das tampas, enquanto as crianças,
também, praticaram jogo de exercício, colocando todas as tampas dentro
de um recipiente uma aluna mostrou um conhecimento social, quando
colocou a tampa de um recipiente que seria de um “sabonete líquido” e
manuseou como se estivesse lavando as mãos. No cantinho das garrafas, as
crianças exploraram os sons e os relacionaram com seus sons
correspondentes - milho com milho, por exemplo”.
2 A documentação por meio digital
A cada encontro, os mediadores seguiam um roteiro, sendo uma
ou duas atividades coletivas, a entrega das plaquinhas com os nomes e fotos
das crianças, a organização e aplicação dos cantinhos. As atividades
coletivas que aconteceram foram: música em roda, sendo: “Bamboleio” e
126
“Cada bicho tem”, desenvolvendo a interação, o afeto, musicalidade,
lateralidade, coordenação motora e conhecimento social. Em dois
encontros, foi feito o “bingo dos bichos”, no qual os mediadores colocavam
o som que os bichos faziam e as crianças os identificavam.
Depois das atividades coletivas, os mediadores entregavam as
plaquinhas com os nomes e fotos, sempre cantando uma música,
personalizando a última frase com o nome da criança que seria entregue a
placa (com exceção do primeiro encontro). A partir disso, era feita a
organização da sala em cantinhos, atividade na qual as crianças
participavam, e em seguida a aplicação dos cantinhos.
No processo de planejamento do projeto, a professora da turma, a
professora da Unesp e os alunos do aprofundamento em Educação Infantil
do curso de licenciatura em Pedagogia discutiam sobre as atividades que
seriam desenvolvidas e, também, sobre como poderiam registrar as ações.
Uma das ideias foi fazer a filmagem das atividades para, posteriormente,
elaborar-se um documentário, o que chamou a atenção da professora da
turma do Maternal I. Assim, uma outra professora da escola, que também
aplicou os cantinhos com sua turma, disponibilizou sua câmera
semiprofissional para as filmagens.
A partir disso, foram feitos os registros com a câmera e o celular
da professora do Maternal I, produzindo material visual por meio de fotos
e vídeos. Concomitante a isso, foi pensada na forma de avaliação do
projeto, que seria feita durante o processo com observação presencial,
retomada com os vídeos e fotos, além dos registros escritos feitos pela
professora. Ao final do projeto, não foi feito o documentário, porém, a
professora selecionou filmagens de forma sequencial, nos quais era possível
observar o desenvolvimento das crianças com as atividades, e elaborou um
vídeo mostrando esse processo, utilizando o programa Windows Movie
Maker. O vídeo possui imagens e explicações conceituais do processo de
aprendizagem que já foram expostas, aqui, anteriormente.
Partindo disso, será apresentada a importância da documentação e
avaliação por meio das tecnologias.
127
2.1 Documentação e Avaliação
Moran (2000) discorre sobre as aulas “tradicionais e ultrapassadas”
que se encontram nas escolas e faz algumas considerações sobre como
mudar esse perfil. Partindo do fato de que a educação atrai investimentos,
inclusive a implantação de tecnologias, o autor comenta sobre a
complexidade do ensino, sobre a diferença entre “Educação” e “Ensino”:
No ensino organiza-se uma série de atividades didáticas para ajudar os
alunos a compreender áreas específicas do conhecimento (ciências,
história, matemática). Na educação o foco, além de ensinar, é ajudar a
integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, a ter uma
visão de totalidade (MORAN, 2000, p. 12).
Ademais, o autor acredita que o maior desafio é ter um ensino de
qualidade que integre todas as dimensões do ser humano e, ainda, afirma
que a mudança da educação é algo ainda distante.
Após tais considerações, Moran (2000) comenta sobre como se dá
o conhecimento na chamada “sociedade da informação”, citando as formas
de conhecimento, que são: a “leitura hipertextual”, o “processamento
multimídico” e o “processamento lógico-sequencial”
4
, além de mencionar
alguns caminhos que facilitam a aprendizagem. Discorre sobre como se
pode mudar as formas de ensinar e sobre os tipos de docentes como
mediador da aprendizagem. Sobre a necessidade de inovação, afirma que
o professor pode encontrar sua forma de integrar as tecnologias, desde que
“[...] aprenda a dominar as formas de comunicação interpessoal/grupal e
as de comunicação audiovisual/telemática” (MORAN, 2000, p. 32). A
partir disso, comenta sobre algumas propostas do uso da televisão e do
vídeo na escola, sendo duas delas o vídeo como “produção” e como parte
da avaliação, que foram as formas de utilização do vídeo no projeto “Os
cantinhos” com a turma do Maternal I, aqui compartilhado.
4
Ver Moran (2000).
128
O vídeo como “produção” pode ser utilizado como forma de
documentar o que foi vivenciado, como forma de intervenção, ou seja,
modificando e/ou acrescentando algo no próprio vídeo com algum
objetivo, como forma de expressão, pois:
A produção em vídeo tem uma dimensão moderna, lúdica. Moderna,
como um meio contemporâneo, novo e que integra linguagens.
Lúdica, pela miniaturização da câmera, que permite brincar com a
realidade, leva-la junto para qualquer lugar (MORAN, 2000, p. 41).
Como forma de avaliação, o vídeo pode ser um material de registro
a ser avaliado, ou seja, o professor pode avaliar o processo de aprendizado
dos educandos, sua forma de trabalhar e replanejar a partir disso.
Dessa forma, a professora do Maternal I utilizou os registros por
meio de vídeos e fotos como “produção” e para avaliar todo o processo e
repensar sua prática.
2.2 Os registros digitais
Durante todo o processo de aprendizado vivenciado por meio dos
cantinhos, como explanado, foram gerados os registros da atuação das
professoras participantes e interação com a turma, que serão apresentados
abaixo em formato de imagens.
129
Figura 1 - Atividade coletiva
Fonte: Da autora (2021).
Na figura 1, apresenta-se um recorte da filmagem feita pela
professora da turma retratando um dos momentos de atividade coletiva,
que era realizada no início da aplicação do projeto. Como avaliação, a
professora pôde ter suporte nas filmagens, além da observação do
momento, nas quais é possível observar que se tratava de um momento de
diversão e descontração, com o objetivo de aproximar as crianças de uma
forma diferente do acostumado. Ademais, essa aproximação facilitava o
próximo passo, que seria organizar a sala para aplicar os cantinhos.
Figura 2 - Atividade das tampas
Fonte: Da autora (2021).
130
Na figura 2, imagem produzida, também, a partir das filmagens,
pode-se observar uma educanda manuseando os objetos disponíveis. Com
o auxílio dessa filmagem, a professora pôde se recordar que a criança
reconheceu o objeto manipulado como sendo de uso social, na atividade
das tampas, o que caracteriza um conhecimento social.
Figura 3 - Compreensão da dinâmica das placas
Fonte: Da autora (2021).
Na figura 3, observamos que há um educando próximo das
plaquinhas e de uma mediadora. Com o auxílio dos registros digitais, a
professora pôde ver e lembrar que o educando estava compreendendo a
dinâmica das plaquinhas pela mediação de uma das alunas do
aprofundamento em Educação Infantil.
131
Figura 4 - Atividade das garrafas
Fonte: Da autora (2021).
Na figura 4, foi registrado o momento no qual um dos educandos
manuseia as garrafas e faz uma relação com algo que vive no cotidiano.
Com esse registro, a professora pôde analisar as ações do aluno e considerar
que ele buscou em seus conhecimentos prévios, algo relacionado com a
ciranda de roda, que fazia parte do seu dia a dia na escola.
Figuras 5 - Jogo dos pompons
Fonte: Da autora (2021).
132
Figura 6 - Jogo dos pompons 2
Fonte: Da autora (2021).
As figuras 5 e 6 retratam momentos nos quais alguns educandos
estavam no cantinho do jogo dos pompons. Com esses registros, foi
possível que a professora, posteriormente, assistisse e se recordasse das
interações ocorridas, que variaram de conflitos mediados por ela até o jogo
de exercício, que diz respeito à ação de colocar os pompons no tabuleiro,
sem regras pré-estabelecidas. Na figura 6, especificamente, a professora
registrou, com seu celular, um momento no qual um educando
demonstrou o estabelecimento de uma regra para suas ações, que era
colocar os pompons de acordo com as cores correspondentes, o que
caracterizou um jogo de exercício.
As figuras apresentadas acima são recortes das filmagens feitas para
registro do projeto descrito e caracterizam exemplos de como o uso das
fotos e filmagens, feitas como “produção”, puderam auxiliar o trabalho da
professora na “avaliação” da turma no decorrer do projeto. Depois da
coleta de imagens por meio digital, a professora do Maternal I
complementou a avaliação da turma, considerando todo o processo
vivenciado durante o projeto. A partir disso, com o programa Windows
Movie Maker, foi elaborado um vídeo mostrando cronologicamente as
133
atividades e aprendizados da turma, além de um artigo científico, que foi
entregue aos responsáveis ao final do ano letivo. Na última reunião de
responsáveis, a professora apresentou o vídeo completo, explicando a
avaliação que contribuiu para que as famílias pudessem conhecer o
trabalho planejado e desenvolvido em sala de aula, assistindo à participação
de seus filhos e compreendendo o processo de evolução da turma no
decorrer do semestre.
Considerações Finais
O uso das tecnologias na escola está em ascensão dia após dia,
acentuado em momento pandêmico.-se nesse uso uma forma de
suporte ao professor, aqui especificamente ao de Educação Infantil,
considerando o fato de que as crianças na faixa etária de 0 a 3 anos possuem
ações relacionadas à exploração e manuseio de objetos, não fazendo
registros escritos que possibilitem uma avaliação de sua aprendizagem.
Assim, o presente artigo apresentou os registros feitos durante o
projeto “Os cantinhos”, realizado pela professora de uma turma de
Maternal I, processo no qual foram utilizadas tecnologias digitais, como o
celular e câmera semiprofissional, ou seja, como “produção”, no intuito de
produzir um vídeo representando o processo de aprendizagem das crianças
e também como parte da avaliação da turma durante o projeto. Utilizou-
se, ainda, o programa Windows Movie Maker para a montagem do vídeo
em ordem cronológica e com toda a explicação. Pode-se encontrar
embasamento teórico a respeito do uso do vídeo como “produção” e
“avaliação” em Moran (2000), que explicita outras formas desse uso e,
assim, as perspectivas descritas, neste artigo, acerca do uso das tecnologias
podem ser compreendidas como auxílio ao professor de Educação Infantil
no processo de avaliação das crianças.
Portanto, vislumbramos as tecnologias como grandes aliadas do
trabalho do profissional da educação, desde que sejam usadas de forma
adequada e para atingir objetivos bem delineados e propostos pelo
educador, inclusive facilitando processos de avaliação.
134
Referências
ASSIS, O. Z. M. PROEPRE Programa de Educação Infantil e Ensino
Fundamental e a Teoria de Jean PIaget. SCHÈME: REVISTA
ELETRÔNICA DE PSICOLOGIA E EPISTEMOLOGIA
GENÉTICAS, v. 9, p. 217-263, 2017. Disponível em:
https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/scheme/article/view/7147.
Acesso em: 08 out. 2020.
CHIAROTTINO, Z.R. Piaget: Modelo e estrutura. Rio de Janeiro: José
Olympio. 1972.
DUTRA, C. C. M. A construção do conhecimento lógico-matemático
na educação infantil: reflexões sobre a prática em sala de aula. 2005. 58
f. Monografia (Especialização em Educação) - Universidade Federal de
Santa Maria, Santa Maria, 2005. Disponível em:
https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/1517/Dutra_Catia_Cilen
e_Morais.pdf?sequence =1. Acesso em: 25 set. 2020.
MORAN, J. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias
audiovisuais e telemáticas, In: MORAN, J., MASETTO, M. e
BEHRENS, M. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas,
SP: Papirus, 2000. Disponível em: https://www.academia.
edu/10222269/Moran_Masetto_e_Behrens_NOVAS_TECNOLOGIAS
_E_MEDIA%C3%87AO_PEDAGOGICA. Acesso em: 20 set. 2020.
135
Universidade Aberta à Terceira Idade: iniciativas de uso das
TDIC no ensino/aprendizagem de língua inglesa
Victor César DE OLIVEIRA
5
Daniela Nogueira de Moraes GARCIA
6
Introdução
As Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC)
aceleram transformações e evoluções no cenário pedagógico, inclusive para
o aprendizado de línguas estrangeiras. Essas novas tecnologias vêm sendo
cada vez mais úteis na educação, acentuadas em tempo pandêmico, e
passaram a complementar os livros didáticos com o desenvolvimento de
aparelhos para reprodução de sons humanos no século XVII, com o
surgimento de mecanismos de projeção no século XX e com a
popularização da interação mediada pelo computador no século atual
(PAIVA, 2015).
A evolução da tecnologia nos possibilita refletir e discutir sobre os
diversos conceitos de ensino-aprendizagem no ensino de línguas
estrangeiras, desde os métodos tradicionais até ações que colocam os alunos
como atores autônomos em seus próprios processos de aprendizagem e que
legitimam o uso das novas tecnologias na educação. Segundo Moran
(2015):
5
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Ciências e Tecnologia / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Presidente Prudente/SP / e-mail:
victor.oliveira@unesp.br.
6
Professora Assistente no Departamento de Letras Modernas / Faculdade de Ciências e Letras /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Assis/SP e
professora orientadora no PPGE / UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
daniela.nm.garcia@unesp.br.
136
Os métodos tradicionais, que privilegiam a transmissão de informações
pelos professores, faziam sentido quando o acesso à informação era
difícil. Com a Internet e a divulgação aberta de muitos cursos e
materiais, podemos aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e com
muitas pessoas diferentes (MORAN, 2015, p. 16).
No entanto, nossa reflexão esdirecionada nos questionamentos
sobre os usos iniciais e a inclusão dessas novas tecnologias para um público
que teria mais dificuldades em se relacionar com as tecnologias devido à
idade, ligado, diretamente, ao envelhecimento..
O envelhecimento relaciona-se, não apenas, ao acúmulo de anos
de vividos (VERAS, 2004) mas considera todas as demais questões que
perpassam a evolução, como por exemplo, as características singulares
biopsíquicas e sociais carregadas por esse público.
O processo de envelhecer possui vários desafios, assim como afirma
Oliveira (2010, p. 16): “Esse fato tem preocupado os que lidam
diretamente com as políticas públicas relacionadas à garantia de melhoria
da qualidade de vida desse contingente, em todos os segmentos da vida
humana”. Tornando-se, assim, necessárias as ações que contemplem os
idosos em diversos contextos de inclusão.
Se por um lado houve grandes avanços tecnológicos da ciência em
relação à quantidade de dias vividos pelo idoso, e até mesmo da qualidade
de vida, por outro, há ainda muito o que ser feito em termos de garantia
de condições favoráveis e de adaptação para no contexto social,
considerando suas dificuldades físicas, psíquicas, culturais e sociais,
decorrentes das várias formas de envelhecimentos. Ao chegarem na
Terceira Idade, os idosos têm se ocupado de atividades que os priorizam,
participando de projetos que lhes permitem serem tratados com excelência
para além de concepções errôneas a respeito deles. Como é o caso da
Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI).
Iniciativas como essas, sem dúvida, propiciarão a desmistificação
do estigma de improdutividade na aprendizagem destinado à figura do
idoso, rótulo esse que tem favorecido a propagação de inúmeros
137
preconceitos e concepções equivocadas dentro da sociedade em torno do
aprender na Terceira Idade (PIZZOLATTO, 2008).
Pautados em questões como socialização tecnológica e integração,
vislumbramos a articulação de contextos de ensino/aprendizagem de
língua inglesa para os idosos participantes da Universidade Aberta à
Terceira Idade e o uso das tecnologias digitais em período anterior à
pandemia do COVID-19. Para isso, faremos uma breve apresentação da
trajetória do estudo conduzido, bem como a discussão das TDIC e ensino
de língua estrangeira (LE) para apresentar, por meio de uma metodologia
qualitativa de pesquisa, os dados colhidos nas aulas de Inglês da UNATI.
1 UTI, UNATI e Terceira Idade
Autores como Caldas e Veras (2004) focalizam seus estudos sobre
a importância da movimentação entre a Terceira Idade e a universidade e
fizeram um levantamento sobre o tema, compondo um panorama de três
gerações da, então, chamada “Universidade da Terceira Idade” (UTI).
A primeira geração de UTI surgiu no final da década de 60, na
França, proporcionando um contexto de atividades culturais e de
socialização sem preocupações com uma educação contínua. Já a segunda
geração de UTI, no ano de 1973 na França, preocupava-se com o ensino
e a pesquisa, promovendo atividades fundamentadas nos conceitos de
participação ativa e estudos sobre o envelhecimento. Na década de 1980,
ainda no referido país, criou-se um programa educacional mais amplo
voltado para os idosos, exigindo cursos universitários formais. E, somente
na década de 1990, é que as universidades brasileiras começam efetivar
programas voltados para a Terceira Idade, partindo das experiências
europeias.
De acordo com Peixoto (1997), as UTIs emergem no Brasil em
um momento em que, na Europa, já estavam na terceira geração e
elaboram uma programação baseada na participação, autonomia e
integração desses alunos com a pesquisa universitária.
138
A inclusão da Terceira Idade no ambiente acadêmico é uma das
funções sociais da Universidade Pública. Objetivando a articulação desses
dois contextos, a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
(UNESP), vinculada à Pró-Reitoria de Extensão Universitária (PROEX),
promove a Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) na qual são
oferecidas oficinas didáticas, artísticas, culturais, físicas e de saúde,
gratuitamente, à população com idade superior à 50 anos em vários
campus da UNESP.
O programa intitulado “UNATI” pode ser encontrado em várias
universidades brasileiras, podendo ser encontrado sob outras
nomenclaturas pelo país, mas mantendo-se os mesmos objetivos, como por
exemplo a “UATI” (Universidade Aberta da Terceira Idade) (PEIXOTO,
1997; CASTRO et al., 2007; RAMOS et al., 2019), “UniSer”
(Universidade do Envelhecer) da Universidade de Brasília (GARCIA,
2017) e a USP 60+ (ROSA et al., 2020). Tais ações possibilitam a educação
continuada, proporcionando a convivência social, a troca de experiências
e a ampliação e atualização do conhecimento no qual as tecnologias estão
inseridas.
De acordo com o Estatuto do Idoso, mais especificamente no
Artigo 21 (Lei nº 10.741 de 01 de outubro de 2003), o poder público tem
o dever de promover oportunidades de acessibilidade ao idoso à educação,
adequando os currículos, metodologias e materiais didáticos aos programas
educacionais a ele destinados. O inciso I, do supracitado Artigo determina
que: “Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às
técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para
sua integração à vida moderna”, ou seja, a garantia de inclusão ao público
da Terceira Idade está prevista em lei.
Sob essa perspectiva, necessita-se de investigações que focalizem o
público idoso nesse contexto de inclusão social. Segundo Lopes (2014, p.
510), “a Linguística Aplicada (LA) ainda não desenvolveu um acervo que
ilumine os diferentes aspectos do processo de ensino e aprendizagem de
segunda língua para adultos da Terceira Idade”. Outros autores (INOUYE
et al., 2018; OLIVEIRA, 2010; FARIA; MONTEIRO, 2007) identificam
139
a necessidade de mais investigações que se ocupem dessa temática, assim
como a importância de iniciativas e programas educacionais que incluam
os idosos.
Como justificativa de inserção do público da Terceira Idade na
universidade e nas aulas de língua inglesa ofertadas, as tecnologias se
mostram pertinentes a todo esse contexto ao permear o dia a dia na
sociedade atual. Assim, sob uma perspectiva de educação inclusiva, o
presente estudo abordará a língua inglesa e a utilização das TDIC junto a
esses alunos que apresentam propriedades singulares que os caracterizam
em relação a outros grupos e nos permitem uma nova visão em relação ao
ensino/aprendizagem de língua estrangeira.
2 TDIC e Ensino de Língua Inglesa
O uso das ferramentas tecnológicas no ensino/aprendizagem de
línguas estrangeiras começa com recursos tipográficos sendo, mais tarde,
aprimorado com o desenvolvimento de outros diversos equipamentos
eletrônicos. Fontana e Cordenonsi (2015) e Gewehr (2016) debruçaram-
se sobre o conceito de TDIC (Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação). Os autores apontam as divergências entre os conceitos de
TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) e TDIC, esclarecendo
que esta inclui as tecnologias digitais. Para Kenski (2012), o conceito
enquadra as tecnologias digitais, ressaltando o processamento de
informação, principalmente, pela comunicação instantânea e busca por
informações automáticas.
Com a rápida evolução das TDIC, podemos notar seus impactos
na sociedade contemporânea. Assim, conseguimos promover discussões
pedagógicas acerca dos diversos contextos de ensino/aprendizagem no
ensino de línguas estrangeiras nos quais as elas estão inclusas.
Dentro dessa perspectiva, pensamos em “novas educações”
(PRETTO; PINTO, 2006), métodos tradicionais e ações que colocam os
140
alunos como atores autônomos em seus próprios processos de
aprendizagem e que legitimam o uso das novas tecnologias na educação.
No entanto, entendemos que a população idosa possui
características específicas na relação com a tecnologia, como “dificuldades
de acesso às novas técnicas e teorizações” (SILVEIRA et al., 2010, p. 5).
Entretanto, isso não significa que eles estão excluídos dos campos
tecnológicos, mas precisam de ações afirmativas que promovam espaços
acolhedores para desenvolver habilidades digitais.
Ao pensar sobre o ensino/aprendizagem de LE, em um contexto
em que as tecnologias estão incluídas, a UNATI da UNESP/Assis junto ao
curso de Licenciatura da Graduação Letras oferecem oficinas de línguas
estrangeiras, sendo elas: Inglês, Espanhol, Francês, Italiano, Alemão e
Japonês em vários níveis de proficiência, do básico ao avançado.
Machado et al. (2009) discorrem acerca da aprendizagem de
línguas estrangeiras na Terceira Idade:
Aprender um segundo idioma é importante para qualquer ser humano;
sendo que, para o idoso, é mais importante ainda, como revela uma
pesquisa, realizada por uma equipe de psicólogos, da Universidade
York, Canadá, divulgada na Revista Veja (2004-p.96), que investigou
a importância da leitura e do estudo para o aperfeiçoamento pessoal. A
pesquisa demonstrou que os jovens e os bilíngues alcançaram melhores
resultados, pois “...quem aprende um segundo idioma retarda, em
muitos anos, os efeitos do envelhecimento no cérebro (MACHADO
et al., 2009, p. 37).
Sendo assim, percebemos que a aprendizagem de línguas
estrangeiras se faz necessária em um mundo globalizado e, considerando a
Terceira Idade, os impactos são bem maiores visto que, como citado,
atinge não só o aperfeiçoamento pessoal, mas também as atividades
biopsíquicas (MACHADO et al., 2009, p. 37).
Ainda na perspectiva das línguas estrangeiras, compreendemos que
o uso de tecnologias no ensino/aprendizagem se faz imprescindível em um
141
mundo internacionalizado e digital. Por conta disso, apresentamos, nesse
artigo, algumas propostas de usos iniciais de TDIC nas aulas de língua
inglesa na Terceira Idade, observando ‘se’ e como ocorrem os usos iniciais
das tecnologias dentro e fora da sala de aula. Em paralelo, esbarramos em
outras temáticas importantes para o entendimento do estudo, como, por
exemplo: a realização de um mapeamento dessas tecnologias, o
conhecimento e compreensão da ferramenta mais utilizada pelos alunos,
bem como a frequência e conteúdos mais acessados e a percepção do idoso
ao olhar para as inovações tecnológicas.
3 Contextualizando o estudo
Apresentamos, aqui, um estudo de caso de cunho qualitativo. Para
Yin (2005, p. 32), “o estudo de caso é uma investigação empírica que
investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida
real”, sendo, também, elucidado por André (2013) como:
[...] os estudos de caso podem ser instrumentos valiosos, pois o contato
direto e prolongado do pesquisador com os eventos e situações
investigadas possibilita descrever ações e comportamentos, captar
significados, analisar interações, compreender e interpretar linguagens,
estudar representações, sem desvinculá-los do contexto e das
circunstâncias especiais em que se manifestam. Assim, permitem
compreender não só como surgem e se desenvolvem esses fenômenos,
mas também como evoluem num dado período de tempo (ANDRÉ,
2013, p. 97).
Consideramos a metodologia de estudo de caso importante pois
analisamos apenas uma turma de inglês para idosos em que um dos autores
manteve, enquanto professor e pesquisador, contato direto com os alunos
durante todo o ano (características fundamentais, também, em pesquisas
qualitativas).
142
A pesquisa foi realizada ao longo do ano de 2019 nas aulas do curso
de Língua Inglesa, estágio avançado, oferecidas aos alunos do programa
Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) na Faculdade de Ciências
e Letras de Assis (FCLAs/UNESP).
Como afirmado, trata-se de uma oportunidade de inclusão que
possibilita o acesso à universidade a partir de serviços criados,
especificamente, para atender às necessidades desta faixa etária, além de
propiciar um espaço de convivência e troca de experiências para estes
alunos.
Os participantes desta pesquisa foram oito alunos brasileiros idosos
(de 58 anos a 77 anos) inseridos na UNATI, como descrito anteriormente,
regularmente matriculados no curso de língua estrangeira avançada (inglês)
em que nos dispusemos, voluntariamente, a ministrar o curso nesse
contexto por volta de 3 anos.
Os dados foram coletados por meio de a) diários reflexivos, b)
questionários que foram aplicados aos alunos e, posteriormente,
armazenados em portfólios e c) notas de campo. Assim, pudemos
encontrar elementos que contribuíram para esta investigação de modo a
observar o processo de ensino/aprendizagem de língua inglesa e a inserção
das tecnologias digitais no cenário educacional descrito.
4 Resultados e discussões
Ao analisarmos os dados, encontramos resultados interessantes que
ultrapassaram nossas expectativas e hipóteses de discussão. No decorrer da
investigação, deparamo-nos com um público familiarizado com as
tecnologias e, a partir daí, focalizamos em seu uso.
Em um questionário previamente estruturado, consultamos os
alunos sobre os usos das tecnologias em um modo mais amplo. Após a
coleta das respostas, elaboramos gráficos digitais para melhor visualização.
O gráfico 1 esclarece a ferramenta mais utilizada por eles no dia a dia.
Vejamos:
143
Gráfico 1 Ferrramenta mais utilizada
Fonte: Dos autores (2021)
O gráfico 1 revela que 87,5% dos alunos usam mais o celular e,
apenas, 12,5% preferem o computador. Entendemos, assim, que os alunos
da Terceira Idade estão buscando, cada vez mais, a facilidade de acesso com
seus aparelhos portáteis que contemplem a usabilidade e acessibilidade
(BESSA, FERREIRA, 2012), já que o celular permite acesso às redes e
conteúdos em qualquer lugar que estejam. Trata-se de informação “na
palma da mão”, literalmente.
A sociedade contemporânea deixou de usar as ferramentas digitais
para fins específicos e passou a usá-las para todas as demandas. Hoje, temos
grande partes das atividades sendo realizadas pela “Internet das coisas”
(IoT) (SANTAELLA et al., 2013), ou seja, podemos usar os meios virtuais
de informações automáticas para procurar uma palavra desconhecida ou,
até fechar portas e janelas, graças à computação ubíqua.
A International Telecommunication Union, ITU (2005, p. 8), sobre
a computação ubíqua e a IoT, afirma que: “uma nova dimensão foi
adicionada ao mundo das tecnologias da informação e da comunicação: a
qualquer hora, em qualquer lugar, a conexão para todas as pessoas será
também a conexão para todas as coisas”.
144
Sendo assim, acreditamos que os idosos não se distanciam dessa
realidade já que optam pelo uso do celular (um aparelho portátil) ao invés
do computador ou notebook, que, embora seja portátil, ainda não cumpre
os requisitos de usabilidade pelo difícil transporte.
Também, faz-se necessário compreender a frequência de uso dessas
ferramentas. Sendo assim, vejamos o gráfico 2 que indica, de forma ampla,
o conteúdo proposto:
Gráfico 2 - Frequência de uso
Fonte: Dos autores (2021).
Assim como no gráfico 1, aqui, também, notamos que os idosos
estão conectados às tecnologias, buscando a facilidade e o uso contínuo das
ferramentas. Sete alunos disseram que “sempre” usam as tecnologias,
seguido por 1 que afirmou “às vezes”. Sendo assim, percebe-se que 100%
dos alunos observados têm contato direto com as tecnologias, incluindo-
se à cultura digital.
145
Dessa forma, confirmamos a hipótese de que os alunos idosos,
nesse estudo, estão inclusos nos territórios digitais tendo a grande maioria
na seção “sempre”.
Cobalchini et al. (2019) elucidam que:
[...] nos dias de hoje, existe uma dependência cada vez maior da
tecnologia à medida em que ela se insere no cotidiano, e isso também
se aplica aos idosos, ou seja, o motivo desta demanda na Maturidade
Positivo está diretamente relacionado ao modelo atual de sociedade,
onde a tecnologia vincula-se às atividades básicas do dia-a-dia, como,
por exemplo, checar o saldo de uma conta bancária por meio de
computadores e/ ou celulares (COBALCHINI et al., 2019, p. 4).
Com isso, podemos inclusive relacionar a “Internet das coisas” e a
computação ubíqua, como já comentado, ao fato de os idosos estarem
conectados com alta frequência. Entretanto, temos que analisar os
conteúdos acessados por eles para compreender os efeitos das tecnologias
no ensino e aprendizagem de LEs.
Depois de analisar as ferramentas mais utilizadas e frequências de
uso, questionamos e mapeamos os conteúdos mais acessados por eles fora
da sala de aula (podendo escolher mais de uma opção). Os resultados
constam no gráfico 3.
146
Gfico 3 - Conteúdos mais acessados
Fonte: Dos autores (2021).
Notamos que os conteúdos mais acessados foram: 1) Conversas
com amigos e Receitas culinárias (8 votos); 2) Acesso à plataforma do
YouTube, Facebook e leitura de notícias (7 votos); 3) Aprendizagem de
inglês (5 votos); 4) Aprendizagem de outras línguas estrangeiras (4 votos);
5) Pesquisa de músicas em inglês e em português (3 votos) e 6) Notícias
de esportes e compras on-line (2 votos). Sendo assim, notamos que os
alunos da Terceira Idade usam as tecnologias para uso de plataformas e
busca dos mais diferentes assuntos, inclusive para a aprendizagem de língua
estrangeira. Se considerarmos que 100% indicaram “Converso com
amigos” e “Culinária”, seguido por “Vídeos no YouTube”, “Leio notícias”
e Uso o Facebook”. podemos observar que o uso tecnológico está mais
priorizado no que se relaciona-se ao “aproximar”, seja pessoas distantes ou
notícias em geral.
Somente em sexto lugar, temos o “Estudo inglês” seguido por
“Estudo outras línguas” e “Escuto músicas em português” e “Escuto
músicas em inglês”. Dessa forma, percebemos que, fora da sala de aula, os
alunos idosos não priorizam a investigação no que tange à língua inglesa,
147
entretanto, também, não a negligenciam. Ainda que não tenha sido a
opção prioritária pelo grupo, os alunos não os deixaram por último, como
foi o caso de “Esportes” e “Compras on-line”.
Assim, compreendemos que a Internet e seu uso se dão em vários
aspectos (também) no dia a dia do idoso, não limitando a um ou outro
aspecto, mas perpassa vários níveis, no qual a aprendizagem de língua
inglesa está inclusa.
Além dos dados registrados nos gráficos, elaboramos um outro
questionário aos alunos em que eles deveriam escrever discursivamente a
respeito das temáticas apresentadas. Buscou-se verificar o contexto no qual
eles estão inseridos e a visão que possuem sobre as novas tecnologias digitais
de informação e comunicação. Para a preservação da identidade, nomes
fictícios foram utilizados. Vejamos alguns exemplos:
Tabela 1 - Pergunta Geral 1
“Você acredita que a Internet tem melhorado ou piorado a vida das pessoas? Por quê?
“Melhorado. É uma maneira de interagir com o mundo” (Maria, 70 anos)
“Se for usado com parcimônia, acredito que melhorou a vida. Não se deixe ficar
escravo da tecnologia, pois as pessoas já não se falam pessoalmente” (Rosário, 69 anos)
“A Internet tem melhorado muito em relação à pesquisa, notícias, política e etc e tem
o lado ruim, pois afasta muito as pessoas, afetivamente” (Elizabeth, 67 anos)
“A Internet ajuda quando é usada moderadamente, para fins culturais, o exagero causa
problemas tanto físicos como morais” (Gisela, 74 anos)
Fonte: Dos autores (2021).
Percebemos que as referidas alunas concordam com o fato de que
a Internet tem melhorado a vida das pessoas. Entretanto, Rosário, Elizabeth
e Gisela mencionam a prudência ao usar as tecnologias. Assim,
interpretamos que, por mais que o gráfico 2 (frequência de uso) nos mostre
que os idosos sempre usam as tecnologias, eles os fazem de forma
consciente (a partir de seus próprios pontos de vista) e crítica, cientes das
limitações do uso.
148
A pergunta geral número 2 refere-se ao uso da tecnologia para a
execução de atividades rotineiras.
Tabela 2 - Pergunta Geral 2
“Como as tecnologias te ajudam no dia a dia?”
“Não precisamos mais ficar esperando horas ou dias para saber as notícias mundiais,
nos comunicamos com rapidez com amigos e familiares” (Neide, 58 anos)
“Relacionar com as pessoas que estão longe, facilitar a vida das pessoas no trabalho
diário com vários equipamentos que reduzem o esforço físico, locomover-se
facilmente” (Eliana, 76 anos)
“Elas ajudam no processo de comunicação oral e escrita, sempre com parcimônia”
(Gisela, 74 anos)
“Pesquisas, aplicativos de banco, receitas, vocabulário e etc” (Elizabeth, 67 anos)
“Agilidade em exames laboratoriais, consultas médicas e etc” (Rosário, 69 anos)
Fonte: Dos autores (2021).
A partir das respostas aqui dispostas, é possível perceber que as
alunas se empenham em usar as tecnologias nas mais variadas formas, seja
para trabalho, entretenimento ou para usos regulares da vida cotidiana.
Reafirmam os lados positivos das tecnologias, principalmente, as
facilidades que elas trazem, como rapidez na comunicação, inclusão à
globalização e, até mesmo, para solucionar questões relacionadas à saúde,
assim como dito por Rosário. Assim, mais uma vez, ressaltamos os efeitos
da IoT e a computação ubíqua.
Seguindo para a pergunta de número 3, questionamos sobre o
possível impacto das tecnologias, de forma bastante ampla, a fim de não
direcionar para um segmento específico.
149
Tabela 3 - Pergunta Geral 3
“Qual impacto das novas tecnologias, em geral, na sua vida?”
“Sensação de que estou conectada com tudo e com todos” (Eliana, 76 anos)
“No processo da comunicação internacional divulgando novos conhecimentos,
mostrando como a globalização é uma realidade. Não se vive sozinho no mundo”
(Gisela, 74 anos)
“O impacto na minha vida é positivo para aproximar quem está longe de mim e
negativo pois afasta quem está no meu lado” (Neide, 58 anos)
“Não troco uma ‘boa conversa’ por um aplicativo, ou seja, TV, WhatsApp, Waze e etc”
(Elizabeth, 67 anos)
“O importante é não se deixar dominar por ela. Saber o limite para não interferir nos
relacionamentos reais” (Neuza, 70 anos)
Fonte: Dos autores (2021).
Nas respostas da tabela 3, notamos que existem algumas
convergências de opiniões. Eliana e Gisela falam, com totalidade, a respeito
dos benefícios das novas tecnologias, principalmente, sobre o sentir-se
pertencente ao mundo tecnológico, como um fator de inclusão digital
compartilhado com o mundo. Entendemos a importância de tal
sentimento das alunas tendo em vista a sociedade que as exclui de inúmeros
contextos, objeto de uma discussão de extrema importância, mas não
objetivada neste artigo.
Por outro lado, Neide, Elizabeth e Neuza falam sobre a carência
afetiva que as tecnologias proporcionam ao afirmarem sobre a não
substituição da aproximação física entre as pessoas, levando-nos a refletir
sobre como a Internet pode aproximar e afastar as pessoas, ao mesmo
tempo.
Após o mapeamento dos usos das tecnologias em geral,
disponibilizamos um questionário anônimo com perguntas específicas do
uso das TDIC no ensino/aprendizagem de inglês dentro e fora da sala de
aula. Seguem algumas respostas compiladas na tabela 4:
150
Tabela 4 - Pergunta Específica 1
“Ao realizar as tarefas, você utilizou algum recurso tecnológico para lhe auxiliar?
Qual?”
“Sim, uso o Google tradutor do celular”
“Sim, o aplicativo Linguee
“Dicionários no tablet”
“Sim, vídeos”
“Não. Fiz lendo algumas atividades passadas e usando a minha memória do
conhecimento adquirido ao longo do tempo”
Fonte: Dos autores (2021).
A primeira pergunta tratou do uso das TDIC fora da sala de aula
para a realização das tarefas propostas nas aulas. Assim, observamos que a
maioria dos alunos usaram, de alguma maneira, as tecnologias ao seu favor
e somente uma resposta contempla seu não uso. Mais uma vez, os dados
apontam para o suporte tecnológico no aprendizado da língua estrangeira.
Sabendo que a maioria das respostas foram afirmativas ao uso de
tecnologia para as aulas, questionamos se elas ajudam ou atrapalham no
ensino/aprendizagem de inglês. Vejamos algumas respostas na Tabela 5:
Tabela 5 - Pergunta Específica 2
“Você acredita que as tecnologias ajudam no ensino/aprendizagem de inglês? De que
forma?
“Sim ajudam muito, acho que ajuda a memorizar o conteúdo, principalmente as
músicas”
“Muito. Auxiliam no sentido de aliar a imagem ao som facilitando o aprendizado”
“No caso de idioma é necessário mergulhar de cabeça no listening e aí precisamos de
equipamentos”
“Com certeza, torna-se mais interessante”
Fonte: Dos autores (2021).
151
Como é possível observar na tabela 5, o público idoso reconhece a
necessidade da utilização das tecnologias dentro da sala de aula. Como
dito, as aulas de línguas estrangeiras tornam-se mais dinâmicas e algumas
habilidades, como o listening (audição), por exemplo, são catalisadas. As
TDIC podem promover aulas mais atraentes para os alunos, sendo
utilizadas como auxílio educacional com o uso de áudio, imagem,
exercícios on-line etc.
O professor, no decorrer do curso, utilizou alguns recursos de
hardwares e softwares nas aulas e, por conta disso, perguntamos sobre o uso
desses equipamentos a fim de conhecer a opinião deles a respeito disso.
Tabela 6 - Pergunta Específica 3
“Você acredita que foi importante o uso de recursos tecnológicos (som, mídias,
YouTube, Google, projetor de tela etc) para o desenvolvimento das aulas?”
“Muito. A tecnologia enriquece e facilita”
“Importantíssimo. O professor soube diversificar adequadamente facilitando a
aprendizagem”
“Os recursos tecnológicos são muito importantes hoje em dia, já se tornaram
extremamente necessários”
“Sim. Tornam as aulas dinâmicas e interessantes”
Fonte: Dos autores (2021).
Assim como no exemplo anterior, o conteúdo da tabela 6 remete
ao uso benéfico das novas tecnologias, como forma de facilitar a
aprendizagem. No entanto, destacam a importância do professor enquanto
mediador desse processo.
Araújo (2018) discorre acerca do uso consciente das TDIC:
Entendo, assim, ser necessário o uso consciente e regular das TDIC
pelos professores em suas disciplinas e contextos específicos, com
currículos flexíveis que favoreçam a utilização e a integração das
tecnologias para transformar a educação no contexto brasileiro, pois o
152
uso das TDIC está cada vez mais presente, e sem volta, no dia a dia
(ARAÚJO, 2018, p. 1595).
Sendo assim, faz-se necessária a postura crítica do professor ao usar
as novas tecnologias na sala de aula para que se estabeleça um planejamento
e uso coerente das tecnologias, segundo as necessidades dos alunos e
demandas da atualidade.
A utilização das tecnologias, como aqui abordada, mostrou-se
benéfica para incluir a Terceira Idade no cenário da língua inglesa. É
possível afirmar que, considerando o uso que já fazem das TDIC como
práticas cotidianas, ajudou a impulsionar o engajamento dos mesmos nas
aulas. Entendemos que se faz necessário que o professor agregue métodos
e abordagens de forma responsável para que se fomente um processo de
ensino/aprendizado de LE relevante e motivador.
Considerações Finais
Ainda que os dados aqui compartilhados ilustrem momento pré-
pandemia, consideramos relevante o fomento de ações que promovam
articulações entre a Terceira Idade e TDIC no que diz respeito,
principalmente, no ensino/aprendizagem de língua inglesa, tendo em vista
que já utilizam as tecnologias no dia a dia para outras funções, pode
maximizar a aprendizagem por meio delas.
Após a análise das respostas discursivas, observamos que, por mais
que os idosos busquem as inovações tecnológicas e façam o uso delas em
vários contextos (inclusive o de aprendizagem de línguas estrangeiras), eles
estão preocupados e acostumados a usar métodos clássicos e pouco
inovadores que são transportados para as ferramentas digitais. Dessa
forma, sugere-se que o professor inove, incluindo outras abordagens e
metodologias variadas para que os alunos consigam usar as tecnologias de
forma que amplie e catalise o processo de aprendizagem.
153
Em suma, pelo estudo apresentado, nota-se que os idosos têm, cada
vez mais, se conectado às novas tecnologias, constituindo-se um público
digital e atualizado mediante um uso mais crítico das TDIC e conteúdos
cibernéticos, na contramão das concepções da sociedade.
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159
O Ensino da Matemática e as Tecnologias:
um estudo das potencialidades de recursos digitais para o
ensino-aprendizagem de conceitos geométricos
Osvaldo Augusto Chissonde MAME
1
Introdução
O contexto em que vivemos, associado à evolução tecnológica e ao
surgimento massivo das metodologias ativas, tem contribuído para o
processo de revolução do ensino nas diversas áreas de conhecimento,
incluindo a matemática.
Segundo Ribnikov (1987), a matemática está fundamentalmente
atrelada à consciência social dos homens. Por isso, apesar da conhecida
singularidade qualitativa, as leis que regem seu desenvolvimento são as leis
gerais para todas as formas da consciência social. E como totalidade, ela é
constituída de diferentes partes, como: aritmética, geometria, álgebra etc.
Assim, no âmbito da presente investigação, focalizaremos na
apropriação dos conceitos geométricos de quadrado e triângulo em
situação escolar (Ensino Fundamental), bem como os recursos
tecnológicos utilizados pelas instituições escolares para o ensino desta área
importante da matemática, que tem sido preocupação de diversos
investigadores e estudiosos em Educação Matemática como Rosa e
Damazio (2012), Pavanello (1993), Lorenzato (2006) e Cardoso (2012).
As questões norteadoras para este estudo de abordagem qualitativa
são: i) Por que a geometria, do ensino fundamental, é usualmente pouco
1
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
chissonde.mame@unesp.br
160
explorada em relação à aritmética e à álgebra? ii) Como ocorre o processo
de formação e desenvolvimento dos conceitos geométricos? Quais
plataformas e aplicativos podem ser utilizados para viabilizar o processo de
ensino-aprendizagem dos conceitos de quadrado e triângulo?
Para dar resposta a essas questões, recorremos à teoria histórico-
cultural, a partir do sistema de ensino Elkonin - Davýdov - Rapkin, ambos
psicólogos russos, em virtude de suas contribuições para o ensino e, por
garantir de acordo Rosa e Damazio (2012), a assimilação de conceitos
teóricos em oposição aos conceitos empíricos como enfatiza o sistema
educacional em vigor, propondo-se a superar a tricotomia existente entre
aritmética, geometria e álgebra. Desse modo, sugere, na preparação do ato
pedagógico, a mudança dos conteúdos e métodos, por entender, que,
desde os primeiros anos de escolaridade, as crianças devem se apropriar dos
conceitos matemáticos com ideia de número real que tem como
fundamento o conceito de grandeza.
A mudança descrita acima, implica igualmente na busca por
ferramentas tecnológicas que possam auxiliar tanto o professor, quanto o
aluno no processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, Wolff et al.
(2013) afirmam que:
A utilização de mídias tecnológicas na Educação matemática como
softwares pode auxiliar o professor na sua prática pedagógica, pois este
é um recurso que possibilita a experimentação matemática, a análise de
construções e resultados (WOLFF et al., 2013, p. 5).
De acordo com os autores, a tecnologia oferece a possibilidade de
mudança na prática pedagógica do professor e a utilização de mecanismos
além do quadro e giz, oportunizando a renovação da abordagem e
explanação de conteúdos curriculares. Possibilita ao aluno criar,
desenvolver, contextualizar, descrever, relacionar, experimentar e resolver
situações-problema, incentivando a investigação, exercitando e
estimulando o raciocínio, favorecendo a aprendizagem de modo que o
educando desenvolva seu potencial intelectual.
161
Dessa forma, reiteramos que o objetivo deste trabalho é analisar o
contexto matemático atrelado à apropriação dos conceitos geométricos em
situação escolar, que conduzem à formação do pensamento conceitual de
quadrado e triângulo no ensino fundamental. Também, analisaremos as
plataformas e aplicativos utilizados no processo de desenvolvimento destes
conceitos matemáticos.
Em termos metodológicos, trata-se de um trabalho de revisão com
abordagem qualitativa, subsidiado pela teoria histórico-cultural a partir do
sistema de ensino Elkonin - Davýdov - Rapkin, e colaboradores. Além
disso, faz articulações com investigadores da teoria da atividade e com os
estudos específicos dos fundamentos da Geometria (POGORÉLOV,
1974), sem perder de vista o materialismo histórico e dialético. De igual
modo, baseamo-nos nos estudos teórico-metodológicos que visam à
utilização das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC)
no ensino da matemática.
1 O Ensino da Geometria no Contexto Escolar:
contribuições da teoria histórico-cultural
As primeiras ideias conceituais de geometria se formam na criança
no período p-escolar, quando esta entra em contato com objetos que
representam figuras geométricas. Tal ato, acontece durante o jogo,
atividade principal da criança em idade pré-escolar (ELKONIN, 2009). Já
a transição do período pré-escolar para o estágio subsequente do
desenvolvimento psíquico ocorre com a presença da criança na escola, em
que a atividade principal dela passa a ser os estudos (LEONTIEV, 2010).
Estes objetos com formas geométricas são inseridos nos programas
dos primeiros dois anos do ensino fundamental, com caráter preparatório,
já que os alunos adquirem noções mais elementares e desenvolvem as
primeiras habilidades na identificação de características externas como, por
exemplo, cor, forma, tamanho e posição a partir do trabalho com
grandezas que se ampliam em anos subsequentes (ГОРБОВ et al., 2008, p.
3). Não se trata de uma adequação dos conceitos geométricos ao campo
162
perceptivo, visual imediato da criança, mas de uma organização desses
elementos de modo que possam expressar a lógica histórica do movimento
conceitual da geometria. Isso, inicialmente, leva-nos ao entendimento de
dupla justificativa que o sistema Elkonin - Davýdov - Rapkin Davýdov e
colaboradores nos oferecem.
A primeira é de cunho epistemológico da geometria, que segundo
Aleksandrov et al. (1976, p. 41), tem “como objeto as formas espaciais e
as relações dos corpos reais, eliminando deles as restantes propriedades,
considerando-as de um ponto de vista puramente abstrat. A segunda se
atrela ao propósito de manter seu pressuposto de que as crianças, ao
chegarem à escola, trazem uma bagagem de conhecimento que não
compete à instituição repeti-lo, mas colocá-lo em movimento de ascensão
com qualificação de conceitos científicos.
Estes aspectos têm gerado problemas na interpretação de alguns
estudiosos em educação matemática como, por exemplo, Nascimento et
al. (2009) e Rivero et al. (2013, p. 2), que, ao se debruçarem sobre o estudo
da geometria no ensino fundamental definem quadrado como: “um
quadrilátero com quatro lados iguais”. E quando a questão é conceituar
retângulos, a situação é a mesma uma vez que tratam de ser “um
quadrilátero cujos ângulos são retos e seus lados iguais”. Já o triângulo é
definido como “uma figura com dois lados iguais e um diferente cujos
ângulos são agudos”.
Como se pode verificar, as definições estão equivocadas porque
existem outros aspectos fundamentais que não as contemplam. No caso do
quadrado como, por exemplo, o fato da definição apresentada excluir o
losango; e quanto ao triângulo, nem todos eles apresentam lado iguais,
como é o caso do triângulo retângulo.
Desse modo, concorda-se com Lorenzato (2006) e Pavanello
(1993) que apontam a matemática moderna e os desajustes entre os planos
temáticos e os livros didáticos como fatores responsáveis pelo
empobrecimento do ensino da geometria.
163
Neste contexto, apresenta-se a seguinte questão: No âmbito da
teoria histórico cultural, de que modo seria o processo de formação e
desenvolvimento dos conceitos geométricos de quadrado e triângulo?
A questão é bastante pertinente quando olhamos para o sistema de
ensino Elkonin - Davýdov - Rapkin e seus colaboradores, articulados com
outros investigadores da teoria da atividade e com estudos específicos dos
fundamentos da geometria (POGORÉLOV, 1974). O ponto de partida
para a formação dos conceitos é, sem sombra de dúvidas, a manipulação
de objetos associados à palavra, de tal modo que as crianças no processo de
assimilação se adaptem às questões externas das figuras geométricas, uma
vez que todo o conhecimento humano é produto de uma atividade prática-
objetiva: o trabalho (DAVÝDOV, 1987). Em relação à matemática,
Ribnikov (1987, p. 12) diz que “os conhecimentos matemáticos foram
adquiridos pelos homens já nas primeiras etapas do seu desenvolvimento
sob a influência, da mais imperfeita atividade produtiva”. Portanto, à
medida que se ia desenvolvendo esta atividade, ela mudava de característica
e crescia um conjunto de fatores que influenciam no desenvolvimento da
matemática.
Neste sentido, Kalmykova (1991, p. 12) afirma que “a base
psicológica necessária para uma correta formação dos conceitos é uma
assimilação tal que permita a criação das condições entre as componentes
abstratas e concretas do pensamento, entre a palavra e a imagem”. Logo,
durante a atividade educativa, o professor necessariamente deve recorrer ao
material visual como base para a formação de conceitos; caso contrário,
dar-se-á uma assimilação puramente formal das noções. Ademais, deve-se
evitar o prolongamento demasiado no uso do material visual, mesmo que
o físico, palpável, possibilite a aprendizagem inicial do conhecimento
matemático (KALMYKOVA, 1991).
Posterior às manipulações de objetos, coloca-se em evidência o
processo de apropriação de entes geométricos que conduzem aos conceitos
de quadrados e triângulos, visto que, eles resultam de um movimento que
se inicia com apreensão dos entes geométricos (ponto, reta e segmento),
que se expandem para a ideia de linhas (reta, curvas, quebradas, abertas e
164
fechadas), por fim, abrangendo o conceito de ângulo e posição de
segmentos de retas (paralelas e perpendiculares).
A partir do exposto acima, Davýdov e colaboradores
(ДАВЫДОВА et al., 2012, p. 14) definem quadrado como um
quadrilátero com características de retângulo, formado de quatro pontos e
quatro segmentos iguais que definem os seus lados, sendo que os pontos
representam os vértices, e os segmentos, seus lados e, todos os seus ângulos
são retos. Ou seja, trata-se de um quadrilátero quebrado-fechado composto
de quatro pontos e quatro segmentos, onde os pontos representam os
vértices do quadrado e os segmentos representam os lados do quadrado e
seus ângulos são retos. Tal definição atende ao pensamento de Pogorélov
(1974, p. 60) ao denominar “quadrilátero uma figura ABCD formada por
quatro pontos A, B, C e D, dos quais, três não se encontram em uma
mesma reta; e por segmentos AB, BC, CD e AD, que unem os pontos.
Além disso, A, B, C, D chamam-se vértices e os segmentos AB, BC, CD e
DA são seus lados”.
Em relação ao conceito de triângulo, Davýdov e colaboradores
(ДАВЫДОВА et al., 2012) concordam com Pogorélov (1974), ao definir
triângulo como uma figura fechada quebrada, composta de três pontos
unidos a três segmentos, seus ângulos agudos. Porém, o triângulo apresenta
outras particularidades em função dos seus ângulos, por exemplo, quando
apresenta um ângulo reto, e os demais agudos, recebe o nome de triângulo
retângulo.
De acordo com Pogorélov (1974), os lados de um triângulo
retângulo, diferente dos demais, têm denominações especiais: o lado
oposto ao ângulo reto se chama hipotenusa e os outros dois lados se
chamam catetos. Os ângulos opostos aos catetos são agudos. Essas
nomenclaturas ainda não são abordadas no segundo ano. A pretensão, no
momento, é que as crianças elaborem a ideia de triângulo como inter-
relação entre linhas poligonais fechadas com o número de ângulos (dois
agudos e um obtuso ou os três agudos). Contudo, isso não é generalizável,
pois há um tipo especial de triângulo retângulo que não tem ângulo
165
obtuso, em vez dele, há um reto. Uma outra particularidade é o triângulo
obtusângulo, tendo em vista que apresenta um ângulo obtuso.
Para finalizar esta seção, importa salientar que estes conceitos
geométricos não são assimilados de forma pronta e acabada, como aventam
alguns pesquisadores que mencionamos acima. Горбов et al. (2008),
colaboradores de Davýdov, recomendam que as crianças entrem em uma
atividade prática direcionada para tal conceito, sugerindo que, durante a
atividade de ensino, o professor deva orientar as crianças, para que na
construção de um quadrilátero, utilizem uma folha de papel.
Essas especificidades do processo de produção do conhecimento
geométrico refletem o pressuposto da dialética materialista histórica, em
que, de acordo com Cheptulin (1982), a prática social é fator determinante
do conhecimento. Para esse autor, o conhecimento começa, funciona,
desenvolve-se, realiza-se e explicita-se na e pela prática. Desse modo,
formam-se as categorias nas quais são refletidas e fixadas as ligações e as
formas universais do ser. Mais adiante, Cheptulin (1982, p. 57) defende
que “o conhecimento representa um processo histórico, do qual o homem
penetra cada vez mais profundamente no mundo dos fenômenos”.
A partir desses fundamentos, Davýdov (1982) e Elkonin (1987)
pressupõem que a divisão do sistema educativo e a organização do ensino
propiciem o envolvimento do estudante em tarefas de estudo, com base
em experiência prática caracterizada por fundamentos científicos, que
proporcionem as condições para o desenvolvimento psíquico.
Durante o processo de ensino, o professor como responsável por
favorecer de forma direta e intencional a apropriação completa dos
conceitos não pode transmiti-los aos alunos de forma acabada e pouco
reflexiva. Em vez disso, devem-se criar as condições didáticas para colocá-
los em ação investigativa, no sentido de identificarem as determinações
internas e externas dos conceitos, mediadas pela relação com os objetos.
Assim, evita-se o formalismo, que, em sua essência, leva os alunos apenas
à reprodução das definições dos conceitos sem terem consciência dos
conteúdos (TALIZINA, 2001).
166
Isso significa que deva existir uma boa organização do ensino que,
ao invés de promover a aquisição de conhecimentos empíricos, promova o
desenvolvimento e a formação do pensamento teórico. Esse pressuposto é
defendido por Moura et al. (2010) ao afirmarem que “na formação do
pensamento teórico do estudante, a organização do ensino deve promover
a realização de atividades adequadas, cujo fim último seja a formação do
pensamento teórico.” Os autores citam Davýdov (1982) que defende a
necessidade de se partir das teses gerais da área do saber e não dos casos
particulares, buscando a célula dos conceitos, sua gênese e essência, o que
se consegue por meio da operação de construir e transformar um objeto
mentalmente. Mais adiante, explicitam que, para o autor, no caso Davýdov
(1982), o método que permite que se reproduzam teoricamente as formas
de representação e contemplação sensorial, o concreto real, é o método de
ascensão do abstrato ao concreto (MOURA et al., 2010, p. 86).
Uma outra consideração importante, para que se garanta o
desenvolvimento do pensamento teórico, é atividade de ensino do
professor, que segundo Moura et al. (2010, p. 90) “deve gerar e promover
a atividade do estudante”. Para os autores, esta deve criar no professor um
motivo especial para a sua atividade: estudar e aprender teoricamente sobre
a realidade. É com esta intenção que o educador planeja a sua própria
atividade e suas ações de orientação, organização e avaliação. De igual
modo, consideram que a formação do pensamento teórico e da conduta
cultural só é possível como resultado da própria atividade do homem, de
modo que tão importante quanto a atividade de ensino do professor é a
atividade de aprendizagem que o estudante desenvolve.
Prosseguindo com a discussão em relação ao papel que deve
desempenhar a educação institucionalizada, no caso aquela realizada pela
escola, defendem que:
O ensino realizado nas escolas pelos professores deve ter a finalidade de
aproximar os estudantes de um determinado conhecimento. Daí a
importância de que os professores tenham compreensão sobre seu
objeto de ensino, que deverá se transformar em objeto de
aprendizagem para os estudantes. Além disso, é fundamental que, no
167
processo de ensino, o objeto a ser ensinado seja compreendido pelos
estudantes como objeto de aprendizagem. Para teoria histórico-
cultural, isso só é possível se esse mesmo objeto se constituir como uma
necessidade para eles. Assim, os conhecimentos teóricos são ao mesmo
tempo objeto e necessidade na atividade de aprendizagem (MOURA
et al., 2010, p. 92).
O exposto acima é a condição necessária e suficiente para que se
tenha, no presente e no futuro, estudantes que, ao se debruçarem sobre os
conceitos geométricos, não o façam com base na lógica formal, mas sim,
com a explicitação teórica necessária, conforme apresentamos
anteriormente os conceitos de quadrado e triângulo, sem a omissão das
partes (entes geométricos), que constituem estes conceitos matemáticos.
Na próxima seção, iremos apresentar as tecnologias, plataformas e
aplicativos utilizados no contexto escolar para o ensino da geometria.
Importa lembrar que, por questões de delimitação do estudo, estes serão
abordados de forma concisa e prática, com atenção ao Geogebra, sem
desconsiderar a importância dos demais no processo de ensino e
aprendizagem.
2 Tecnologias, Plataformas e Aplicativos Utilizados no
Contexto Escolar para o Ensino da Geometria
A preocupação, na presente seção, é de apresentar os recursos
tecnológicos que possam auxiliar o professor na organização do ensino da
geometria, sobretudo, nos conceitos de quadrado e triângulo.
Vale destacar que o emprego das tecnologias, plataformas e
aplicativos, no contexto escolar, vem ganhando cada vez mais espaço,
graças ao advento das metodologias ativas, que influenciam a utilização de
computadores, tablets e celulares. Tais ferramentas auxiliam na
concretização do processo de ensino-aprendizagem, principalmente, no
contexto mundial que a humanidade se encontra por conta da expansão e
168
letalidade do COVID-19, que nos levou a repensar nossas práticas
pedagógicas.
Moran (2007) considera que as tecnologias são pontes que abrem
a sala de aula para o mundo. O autor considera que,
o diferentes formas de representação da realidade, de forma mais
abstrata ou concreta, mais estática ou dinâmica, mais linear ou paralela,
mas todas elas, combinadas, integradas, possibilitam uma melhor
apreensão da realidade e o desenvolvimento de todas as potencialidades
do educando, dos diferentes tipos de inteligência, habilidades e atitudes
(MORAN, 2007, p. 164).
WOLFF et al. (2013, p. 6) consideram que “o uso de softwares na
educação pode auxiliar na compreensão do conteúdo e contribuir no
processo de aprendizagem”. De acordo com os autores, os softwares são
programas que proporcionam a interação entre o usuário e o computador.
Os autores citam Lucena (1992, p. 4), que afirma que “software
educacional é todo aquele programa que possa ser usado para algum
objetivo educacional, pedagogicamente defensável, por professores e
alunos, qualquer que seja a natureza ou finalidade para o qual tenha sido
criado”.
Estas ferramentas, aos poucos, têm ocupado seu lugar no ambiente
escolar. A grande dificuldade, com que as escolas se deparam na atualidade,
está relacionada com a acessibilidade dos respectivos meios e materiais. Ou
seja, as escolas não estavam e não estão preparadas para se confrontar, a
curto prazo, com a popularização das tecnologias. No entanto, de um lado
existem computadores com a instalação dos respectivos softwares, do outro
lado não existe infraestrutura adequada. Apesar de existirem estes desafios,
é notória a receptividade por parte dos alunos na utilização destas
tecnologias, cabendo agora ao professor encontrar métodos adequados
para seu uso em sala de aula, de forma a melhorar os processos pedagógicos
de tal forma que se potencializem conhecimentos, que contribuam para o
seu desenvolvimento intelectual. Este é o ensino organizado pelo professor
com o suporte das tecnologias para se constituir forma internamente
169
indispensável e geral de desenvolvimento intelectual (DAVÝDOV;
MÁRKOVA, 1987).
Wolff (2013) considera que o uso de tecnologias possibilita tornar
os conceitos abstratos e simbólicos do ensino da matemática mais reais,
proporcionando a interação entre o conhecimento, o aluno e as novas
formas de atuação do professor. Esta utilização de tecnologias pode
acontecer através do uso de softwares. Muitas são as oportunidades que o
uso dessas ferramentas educacionais pode oferecer ao Ensino da
Matemática. Contudo, é importante reforçar que, somente o uso sem
reflexão, não se proporciona uma mudança no direcionamento da prática.
Vale ressaltar que existem vários softwares, aplicativos e
plataformas, destinados ao ensino da matemática, particularmente, para a
geometria. Contudo, apontaremos aqui o Geogebra como recurso
metodológico. O Geogebra é um software de geometria dinâmica que
combina conceitos de geometria, álgebra e cálculo em uma única interface
gráfica. É gratuito, desenvolvido para o ensino e aprendizagem da
matemática, com aplicabilidade em todos os níveis de ensino, do ensino
fundamental ao ensino universitário. Foi criado pelo austríaco Markus
Hohenwarter em 2001, na University of Salzburg, e tem continuado o
desenvolvimento na Florida Atlantic University. Informações sobre o
software podem ser obtidas no site www.geogebra.org, além de materiais de
apoio, tutoriais e download do programa. Sendo um software livre, o código
fonte é aberto, permitindo aos seus usuários fazerem alterações para o uso
pedagógico, com compromisso de disponibilizar tais mudanças (WOLFF,
2013).
Este aplicativo permite, aos seus usuários, investigar o processo de
constituição de conceitos matemáticos por meio da experimentação
proporcionada pelo contato com a ferramenta. Neste processo, as suas
propriedades podem ser compreendidas, de forma que, ao serem
manipuladas, elas se mantêm. Deste modo, o software proporciona a
interatividade do aluno com a ferramenta, de modo investigativo, além de
proporcionar a pesquisa da teoria de forma prática através de
demonstrações.
170
Segundo Brandt e Montorfano (2007), a utilização do software
Geogebra pode ser mais significativa para o aluno quando este, por
exemplo, constrói uma reta no plano cartesiano, marcando dois pontos
quaisquer e utilizando o comando reflexão de um ponto em relação ao
outro. Neste momento, o aluno vê surgir, na reta, um outro ponto oposto
em relação àquele marcado anteriormente. É possível identificar que a
distância entre os pontos é a mesma. No quadro-negro, o máximo que o
professor pode fazer é desenhar um ponto oposto ao primeiro e
equidistante ao segundo, e torcer para que o aluno entenda e acredite nisto.
De acordo com Farias (2014), o Geogebra é um software que reúne
geometria, álgebra, cálculo diferencial e integral. Os autores consideram
que o diferencial deste programa é que ele possui um sistema de Geometria
Dinâmica que permite que o usuário realize construções e insira equações
e coordenadas, que podem estar diretamente interligadas, fazendo
modificações quando necessário.
Como se pode verificar, o software apresentado contribui
significativamente no melhoramento das práticas pedagógicas porque
permite que se realizem as atividades propostas, com a rapidez necessária,
bem como facilita o processo de planejamento das aulas, cujo teor incide
na geometria.
No entanto, apesar da contribuição significativa que este recurso
proporciona, não se pode abandonar de uma vez por todas os métodos de
ensino até agora conhecidos, salvo se eles não proporcionarem uma
aprendizagem significativa. Tudo porque, no ensino da geometria, os
recursos tecnológicos, assim como as diversas plataformas e aplicativos
digitais, apenas permitem que os conceitos geométricos sejam apresentados
para os estudantes de modo a favorecer uma visão holística e ampliada dos
conceitos geométricos.
Como podemos demonstrar, o ensino da geometria usando as
plataformas e aplicativos digitais pode fazer com que o estudante não só se
aproprie da forma tradicional de desenvolvimento dos conceitos, como,
também, favorecer uma visão holística sobre a forma de apresentá-los com
base nas diversas plataformas, incluindo apenas o uso do computador.
171
Considerações Finais
Concluímos que, durante o processo de apropriação e assimilação
dos conceitos geométricos de quadrado e triângulo, é importante levar em
consideração a unidade conceitual de ponto, linha reta e segmento atrelada
a outros conceitos como, por exemplo, de infinito. Essa trama conceitual
caracteriza as figuras planas como referenciadas por três ou mais pontos
que, por sua vez, são unidos por segmentos. Como decorrência, cada ponto
incide numa intersecção de dois segmentos que passam a se constituir com
duplo significado: lado da figura e determinação de um ângulo e seus
diferentes tipos. Com isso, ocorre a possibilidade da criança, mesmo nos
dois primeiros anos escolares, elaborar seu pensamento geométrico a
respeito das figuras planas com base teórica.
Assim, por exemplo, o triângulo é entendido pela criança como
uma linha quebrada fechada, estabelecida por três pontos que interceptam
a mesma quantidade de segmentos e que se apresentam como vértices de
ângulos. Além disso, a igualdade e desigualdade do comprimento dos
segmentos que formam o triângulo, também, definem os seus diferentes
tipos (equilátero, isósceles e escalenos), bem como os seus ângulos.
Essa mesma base, tamm, é válida para as demais figuras
poligonais, que se diferenciam pela quantidade de pontos que os definem
e, consequentemente, determinarão seus segmentos e ângulos. Além disso,
determinam algumas especificidades dentro de um determinado grupo
delas. Por exemplo, o quadrado como particularidade do retângulo
(POGORÉLOV, 1974) em relação ao comprimento dos seus lados, mas
preserva a característica comum em relação ao ângulo, isto é, ser reto.
Desse modo, as concepções geométricas das crianças se formam em
bases teóricas científicas, o que sustentam prenúncios de novas
possibilidades conceituais sem apegos extremos à sustentação empírica.
Nesse contexto, os estudantes passam a elaborar hipóteses de que, por
exemplo, uma específica figura retangular só tem aquela superfície pelas
condições: distâncias dos quatro pontos e perpendicularidade dos seus
segmentos. No entanto, à medida que essa distância aumenta ou diminui,
172
a superfície se transforma nas mesmas proporções e se configura um
movimento de infinitude.
Portanto, vale ressaltar que, durante o processo de apropriação de
conceitos, quando em atividade de estudo, a condição pedagógica
necessária é que as tarefas particulares (independente da ação de estudo da
qual se inserem) oportunizem que as crianças se coloquem em ações e
operações investigativas. Porém, com a condição que elas não só percebam,
mas também elaborem pensamentos referentes às características necessárias
para a formação dos conceitos geométricos e, ainda, estabeleçam o vínculo
entre um e outro conceito que refletem um movimento das ideias
produzidas historicamente, que constituem o teor teórico conceitual. Em
outros termos, as apropriações das crianças se dão pela via dos conceitos
científicos e, por extensão, geram o desenvolvimento do pensamento
teórico.
Essa interconexão teórico-conceitual (conteúdo), independente de
objetos físicos mas neles lidos, como síntese é, segundo Davýdov
(1982), expressão do método de ensino apropriado. Ou seja, o método de
ascensão do abstrato ao concreto que se traduz em referências e
pressupostos para uma organização do ensino que possibilita a formação
do pensamento teórico. Só assim, segundo Talizina (2001), é que os
alunos, em atividade de estudo, afirmam sem dúvida, por exemplo, que
um triângulo retângulo é toda figura geométrica que apresenta um ângulo
reto. E, no momento seguinte, diz a autora, para mostrar a eles a figura de
um triângulo com o ângulo reto em uma direção diferente daquela que
acabaram de estudar e, se eles disserem que se trata de um triângulo
retângulo, então, há realmente um pensamento conceitual teórico em
formação. Caso contrário, ocorre uma incapacidade de os alunos
demonstrarem a formação dos conceitos.
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177
Tecnologia e Educação: vivências na Educação
de Jovens e Adultos (EJA)
Osvaldo Alves de BRITO JR.
2
Introdução
Nos moldes das narrativas de professores, efetuo um relato de
prática, mais precisamente, a experiência enquanto professor de língua
portuguesa na Educação de Jovens e Adultos (EJA), nos anos/séries finais
do ensino fundamental, em uma rede municipal de ensino no estado de
São Paulo. Por ocasião da temática que envolve o uso das tecnologias na
educação sob o olhar dos multiletramentos e metodologias ativas, relato
duas vivências a partir de imposições, a primeira, institucional, a segunda,
social. Antes, porém, ressalto que não tratarei de conteúdos e/ou temas do
currículo da área de linguagens, mas sim, como o coletivo de professores e
coordenação pedagógica atuou diante de desafios impostos. Isso posto, não
significa que, para além dos fatos aludidos, não se planejassem práticas
pedagógicas visando aos usos das tecnologias nos respectivos componentes
curriculares.
O primeiro momento aconteceu, quando a Secretaria Municipal
de Educação (SME) decidiu realizar uma avaliação na EJA. Contudo, os
estudantes não teriam, à sua disposição, as provas em formato impresso,
como acontece com os alunos do ensino regular e, até mesmo, em exames
como do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e dos vestibulares
das universidades públicas, por exemplo. Tal medida, anunciada aos
coordenadores pedagógicos, em reunião na Diretoria Regional de
2
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
osvaldo.brito@unesp.br
178
Educação (DRE), causou surpresa aos participantes, pois estes deveriam
retornar às suas respectivas unidades educacionais e, junto ao corpo
docente e gestão escolar, criar estratégias para o cumprimento e adequação
ao que fora divulgado.
Nos horários coletivos, os coordenadores repassaram aos grupos de
professores o conteúdo daquela reunião. O anúncio de tal medida,
também, causou estranhamento aos educadores. Não que fossem
contrários ao exercício de uma avaliação formulada pela Secretaria de
Educação, mas por esta se realizar de modo on-line. É oportuno esclarecer
que, naquele momento, a rede ainda não possuía um currículo próprio
para a EJA, o que depois veio a acontecer em uma construção coletiva.
Desse modo, o receio se dava, em grande parte, na forma de organização
do que propriamente no conteúdo.
De acordo com a legislação em vigor, é preciso ter a idade de quinze
anos completos para se matricular no Ensino Fundamental da Educação
de Jovens e Adultos. Nosso público é formado por senhores, senhoras e
adolescentes, tamanha diversidade e heterogeneidade. Segundo eles, as
motivações para frequentar as aulas são diversas: a falta de acesso e
oportunidade na infância e juventude por causa do trabalho; “estudar não
era coisa para mulher”, dizem muitas alunas; “comportamento que tinha
não era adequado”, “então não se tinha perfil para estudar”; “agora não se
tem mais compromisso com marido e a criação de filhos”; “ao frequentar
um grupo religioso sentiu a necessidade de saber escrever para ler os textos
sagrados”; “as humilhações no trabalho de empregada doméstica foram
tantas por não saber anotar recados e não saber falar direito”; “comprovar
escolaridade ser essencial para conseguir emprego”; “frequentar a escola
por determinação da justiça”, como no caso dos alunos em liberdade
assistida.
Acima, elencamos um conjunto de falas exemplares que, ao longo
de nossa atuação como professor da EJA, temos ouvido dos estudantes
como respostas ao serem questionados acerca da motivação de voltar a
estudar. Essas não foram coletadas por meio de formulários de pesquisa,
179
mas depreendidas em atividades em sala de aula, rodas de conversa e outras
situações do cotidiano escolar.
1 Sentidos e significados das palavras prova
e avaliação no contexto da EJA
É, pois, a partir da realidade ora descrita que tínhamos o desafio de
realizar a avaliação externa. De antemão, observamos duas complicações:
as palavras “prova”, “exame”, “teste” e “avaliação” não são bem-recebidas
pela maioria dos estudantes da EJA. Elas intimidam, amedrontam e geram
ansiedade e desgaste em parte dos alunos. Pode-se ter a impressão de que
esse mal-estar seja ocasionado pelas posturas e práticas dos professores, mas
seria um julgamento errôneo. As representações e vivências nas escolas do
passado têm sua contribuição para esse estado de coisas. Não queremos,
com isso, responsabilizar e culpabilizar a geração de professores e gestores
escolares de outrora, afinal, sabemos que determinadas concepções de
educação e práticas pedagógicas não se materializaram aleatoriamente. Ao
contrário, tais concepções dizem respeito às construções coletivas sobre os
processos de ensino-aprendizagem, os papéis pré-determinados de
professor(a) e aluno(a), bem como de escola que se dispunham em
determinadas condições, em determinadas épocas.
As avaliações acontecem porque são parte integrante dos processos
de ensino-aprendizagem, mas sem o caráter punitivo de tempos atrás. As
teorias e práticas pedagógicas na contemporaneidade priorizam os aspectos
qualitativos, a avaliação é contínua e processual, da mesma forma as
recuperações das aprendizagens. Assim, o grupo docente elaborou um
cronograma para atender a uma exigência institucional. Vale ressaltar que
os alunos do EJA dispõe de uma aula semanal com o professor orientador
de informática educativa (POIE). Esta aula é compartilhada com algum
outro professor das disciplinas obrigatórias do currículo e ocorrem no
laboratório de informática. Neste relato, o auxílio deste profissional foi
fundamental para a organização e execução da avaliação externa nas
condições exigidas.
180
No que diz respeito aos estudantes, inicialmente, explicamos que a
avaliação era uma demanda da Secretaria Municipal de Educação (SME)
e que, segundo a qual, o conteúdo, a forma de aplicação e as datas foram
todos decididos em instância superior. A escola ficou responsável por
garantir as condições de espaço e tempo para realização. Esclarecemos a
importância da participação de todos para que, assim, a rede e a escola
pudessem ter um diagnóstico das aprendizagens na EJA para identificar
nossas potencialidades e fragilidades e replanejar nossos percursos diante
dos resultados obtidos.
Apesar de pouca escolaridade, há estudantes com posturas bastante
críticas, capazes de efetuar uma análise apurada e interpretação da realidade
que os rodeia. “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, conforme
postulado por Freire (1989, p. 9). Os alunos fizeram um paralelo com a
extinção do ensino noturno na quase totalidade das escolas da região, o
fechamento de salas da EJA e levantaram a hipótese de que o não
comparecimento para a resolução da prova poderia ser prejudicial, não
apenas para os estudantes, mas também, para a escola. Evidente que nós,
professores, não refutamos tal pensamento, uma vez que temos vivido, ano
após ano, a angústia com a diminuição de salas na rede municipal de
ensino. Pode-se dizer que nossos estudantes responderam positivamente a
esse desafio. Mas, o que nós, professores, aprendemos naquele momento?
O uso de tecnologia já era esboçado por alguns docentes, em maior
ou menor grau. A rede de ensino já iniciara o processo de diários de classe
em meio digital. As iniciativas existiam no sentido de tornar a
documentação e registros pedagógicos on-line. O maior entrave foi a
conexão de Internet e a falta de equipamentos disponíveis. Em uma
tentativa de promover a inclusão de práticas digitais, o governo municipal
havia comprado tablets em quantidade que fosse capaz de atender a uma
turma de alunos, isso antes de se propor a avaliação em meio digital. Os
equipamentos foram usados em atividades com os estudantes e, também,
com os professores. Entretanto, com o tempo, a escola passou a ter
problemas com a conexão e essa situação durou um longo período. Assim,
o uso de tablets se tornou inviável.
181
Para a avaliação externa, foram utilizados os computadores do
laboratório de informática, que eram em número menor ao de alunos. Foi
preciso montar uma escala com os dias e horários para que os estudantes
tivessem acesso às provas e os professores se revezassem para auxiliá-los. O
professor orientador de informática educativa permaneceu, muitas horas
além de sua jornada, em função desta atividade. De modo geral, a escala
de alunos foi eficiente, contudo, alguns estudantes não conseguiram
comparecer nos horários pré-determinados, exigindo que realinhássemos
as estratégias definidas. Os estudantes do último ano/série do ensino
fundamental responderam às questões de múltipla escolha nas disciplinas
de língua portuguesa, matemática, ciências, história e geografia.
2 Pandemia e tecnologias: a experiência no confinamento
Outro relato que vamos compartilhar diz respeito à imposição do
uso das tecnologias em virtude da pandemia de COVID-19 e o
impedimento de aulas presenciais durante o ano letivo de 2020. O
contexto social e histórico fez a prática docente adotar, emergencialmente,
metodologias e ferramentas que antes eram mencionadas, citadas,
estudadas, porém a implementação efetiva ainda caminhava a passos
lentos.
Ao serem adotadas as medidas sanitárias de isolamento e
distanciamento, a escola teve que se valer das tecnologias em todos os níveis
de educação: do Ensino Fundamental e Médio ao Ensino Superior,
inclusive na pós-graduação e nos cursos livres, como os oferecidos pelas
escolas de idiomas, por exemplo. Sem vacinas, sem medicamentos e com
o alto contágio ao redor do planeta, o uso da Internet foi a solução
encontrada pelos governos para dar continuidade aos processos de ensino
e aprendizagem na pandemia. As dúvidas eram e continuam sendo muitas,
já que o Conselho Nacional de Educação (CNE), bem como os conselhos
estaduais e municipais, tiveram que se manifestar diante das consultas das
entidades de educação como as escolas privadas, sindicatos de professores,
182
associação de pais. O ensino remoto e a flexibilização do cumprimento dos
200 dias letivos foram e continuam sendo inevitáveis durante a pandemia.
A rede municipal de ensino em que atuo, como tantas outras,
adotou, institucionalmente, a ferramenta Google Classroom para o período
de teletrabalho. Os estudantes e professores receberam e-mails para acessar
os recursos disponíveis. Em se tratando da Educação de Jovens e Adultos,
novamente, tivemos um grande desafio. A não familiaridade com o uso de
e-mails foi uma delas, mas outro entrave foi a falta ou dificuldade de acesso
à Internet. A pandemia trouxe uma crise sanitária, mas também econômica,
política e social. As desigualdades que, há tempos, persistem no Brasil
foram escancaradas. Em nossa unidade, para entrar em contato com os
estudantes, a gestão escolar e funcionários, que se revezam durante os
plantões presenciais, telefonavam para os números indicados nas
documentações de cada estudante. Muitos de nossos alunos possuíam
apenas um número de celular ao qual não era possível estabelecer contato.
Os professores formaram grupos de WhatsApp para cada turma da
EJA e, também, passaram a telefonar e a enviar mensagens para os alunos.
Aos poucos, fomos obtendo retorno, pois os próprios estudantes
repassavam as informações aos colegas que tinham contato. Foi preciso
ensinar o passo-a-passo para o acesso ao e-mail e plataforma Google
Classroom. Alguns mais jovens logo acessavam, enquanto outros contavam
com o auxílio dos filhos ou de alguém para ajudar. No entanto, grande
parte não foi capaz de desenvolver as atividades propostas por falta de
acesso à Internet, pois o pacote de dados móveis era insuficiente e diversos
estudantes, por falta de condições financeiras, não estavam conseguindo
comprar créditos para os celulares, uma vez que estes são os equipamentos
que a maioria dispõe.
Em reunião, a Secretaria Municipal de Educação decidiu que, para
amenizar tal dificuldade, um material impresso seria produzido e entregue
aos alunos pelos Correios. De fato, isso foi feito, mas a demora na entrega
ou a não atualização dos endereços foi um outro elemento que dificultou
esta outra abordagem. Em entrevistas no rádio e na televisão, o secretário
da educação e o próprio prefeito foram apresentando as ações
183
implementadas. Assim, com esta divulgação, os estudantes foram tomando
conhecimento do material impresso, que foi recebido de modo positivo
por docentes e alunos, pois conseguiu, ao menos, em parte, atenuar um
dos principais problemas. Em um mês, quem havia feito as atividades,
finalizou o material impresso. Contudo, a pandemia não deu trégua ainda
e, sem previsão de retomada das aulas presencialmente, o Google Classroom
foi retomado. Por conta da rapidez e maior divulgação entre as pessoas, o
WhatsApp foi o recurso mais acessível para quem possuía acesso à Internet.
Uma outra dificuldade foi adaptar as atividades a serem
desenvolvidas no meio digital, pois os professores começaram a fazer uso
de variadas linguagens, como vídeos, páginas da Internet e sites de músicas.
A ideia era muito boa, inclusive recomendada pelos estudos dos
multiletramentos, porém, mais uma vez, a desigualdade social atravessou a
prática pedagógica, pois, para assistir aos vídeos, ainda que curtos, nas
várias disciplinas, o consumo de dados móveis seria muito rápido para
aquele que não dispõe de conexão wi-fi. Em mensagem de áudio via
WhatsApp, um aluno nos contou que estava realizando as atividades graças
à generosidade de uma vizinha que havia lhe disponibilizado a senha de
seu wi-fi. Como naquele período estava fazendo frio e, para melhor
conexão era preciso estar próximo ao muro que separa as duas casas, ele
fazia as atividades quando tinha menos vento. Outros alunos e alunas nos
informaram que, infelizmente, não realizavam as atividades por terem que
priorizar os estudos dos filhos em idade escolar, com apenas dois aparelhos
celulares e nenhum computador. Tendo duas ou três crianças, preferiam
que eles realizassem as atividades escolares.
Apesar de não haver aulas presenciais, as escolas passaram a ser
muito procuradas pelos alunos, de modo que as políticas públicas da
prefeitura enviaram cestas básicas aos alunos em situação de
vulnerabilidade social e para quem estava necessitando, o local de retirada
foi a escola. Em várias unidades escolares, professores e funcionários se
reuniram para arrecadar quantias e conseguir reverter, também, em cestas
básicas aos alunos. Como os estudantes tinham acesso aos professores pelo
WhatsApp, quando procurados pelos educadores e questionados do porquê
de não realizarem as atividades, com muito custo acabavam confessando
184
os reais motivos como, por exemplo, o desemprego e a falta de dinheiro,
ou seja, situações bastante complicadas, que nós, educadores, não
conseguíamos nos manter distanciados e nos solidarizávamos com
tamanha adversidade.
De abril a dezembro de 2020, adentrando o ano letivo de 2021,
tivemos altos e baixos na realização de atividades no Google Classroom, mas
o WhatsApp foi nosso maior aliado. O material impresso teve apenas duas
edições e a produção encerrada. Alguns poucos alunos, que estavam em
situação de vulnerabilidade social, foram retornando. Entretanto, não
tivemos mais notícias de muitos outros estudantes. Não sabemos as reais
condições, já que, pelos telefones de contato, não conseguimos retorno.
Tivemos relatos de alunos que contraíram o COVID-19, bem como o
falecimento de uma aluna transexual, vítima de violência de gênero, mais
precisamente o que se denomina transfobia. Professores da unidade foram
contaminados com o vírus, bem como seus familiares, sendo que o esposo
de uma das educadoras faleceu em decorrência da referida doença. Entre
inspetores de alunos e funcionários da secretaria escolar, também, houve
confirmação de testes positivos.
Reuniões pedagógicas e formações oferecidas pela Secretaria de
Educação acontecem pela plataforma Teams, com diversas lives e envio de
links. Nossas conexões a Internet são oscilantes e há um excesso de trabalho
trazido pelo home office. As incertezas eram muitas, ainda mais quando
pensávamos sobre o retorno, sendo que nova onda de contaminação se
espalhava pela Europa. Um mês após o retorno das aulas presenciais, em
2021, as escolas tiveram de ser fechadas outras vez, inicialmente por duas
semanas, com prorrogação de igual período e, novamente, reabertas,
mesmo sem diminuir as taxas de contaminação.
3 Resultados ainda que provisórios
A Secretaria de Educação iniciou, no ano de 2017, discussões para
a construção do currículo da cidade para a EJA em todas as disciplinas.
Cada Diretoria Regional de Educação (DRE) selecionou um educador de
185
cada componente para integrar os grupos de trabalhos (GTs). Os
encontros foram conduzidos por especialistas que, na condição de
formadores, tiveram a tarefa de redigir o documento final para apreciação
dos pares e posterior publicação. A questão das tecnologias ganhou relevo
em todas as disciplinas. Um ganho foi, também, a transformação da função
de Professor Orientador de Informática Educativa (POIE) em Professor
Orientador de Educação Digital (POED).
Evidente que, para alguns, a mudança de nomenclatura era mais
uma das tantas que cada governo eleito efetua na tentativa de deixar a sua
marca e se diferenciar de seus antecessores e não discordamos que tal
atitude é frequente no contexto educacional. Mas, ao estudar o currículo
intitulado Tecnologias de Aprendizagem (2019), deparamo-nos com os
seguintes princípios norteadores: cultura e letramento digitais;
protagonismo, autonomia, inventividade e colaboração; pensamento
computacional. Temos clareza que, para uma mudança de paradigmas, é
preciso ir além das prescrições e publicações institucionais, há que se
investir nos recursos materiais e humanos.
Como perspectivas do século XXI, Behrens (2000) aponta a
educação como pilar para alicerçar os ideais de justiça, paz, solidariedade e
liberdade. O advento da sociedade do conhecimento e a globalização são
apontados como duas transições culminando com mudanças em todos os
níveis que levam a ponderar sobre uma educação planetária, mundial e
globalizante. A autora aborda a formação de professores para o uso de
tecnologias em um contexto de aprendizagem constante, em que as pessoas
precisam estar preparadas para aprender ao longo da vida. Deste modo, o
acesso à rede informatizada desafia o docente a buscar novas metodologias
para atender às exigências da sociedade. Nesta perspectiva, “aliar formação
ético-humanística aos desafios tecnológicos-científicos, sob pena de
construir uma sociedade produtiva e, ao mesmo tempo agressiva, racional
e desumana, acentuando os problemas e as injustiças sociais.” (BEHRENS,
2000, p. 72). Segundo a referida pesquisadora, percebe-se que
186
[...] o inegável desenvolvimento científico e tecnológico leva a refletir
sobre a dicotomia homem-máquina. Essa questionável relação precisa
adquirir sentido e significado, observando-se criteriosamente os
impactos das tecnologias sobre a sociedade e sobre a cultura
(BEHRENS, 2000, p. 72).
No que tange aos processos de ensino e aprendizagem durante a
pandemia, podemos inferir ser prematuro lançar conclusões, ainda que os
efeitos sejam amplamente vivenciados por docentes, estudantes e famílias.
O que destacamos são as atividades oriundas da implementação de
políticas educacionais ainda em gestação, como a modalidade de avaliação
externa concebida pelo município que, em virtude da pandemia, como
tantas outras práticas pedagógicas, teve de ser interrompida. As políticas
educacionais sofrem rupturas e descontinuidades quando influenciadas
por transições e mudanças político partidárias. Durante a pandemia, o
Brasil passou pelo processo eleitoral para prefeitos e vereadores.
Assim, a questão da abertura e fechamento das escolas, adequação
das condições físicas e Internet nas unidades educacionais, aquisição e
distribuição de notebooks para professores, garantir o acesso a Internet por
parte dos estudantes com a distribuição de chips para celulares ou dos
tablets, foram os itens dos programas dos candidatos em suas campanhas
eleitorais. A questão das tecnologias tomou conta do debate educacional,
seus usos e seus impedimentos trouxeram à tona um elemento que, há
tempos, acompanha a realidade no meio educativo: as desigualdades sociais
e econômicas impactam o desempenho e desenvolvimento de nossos
estudantes em todos os níveis de ensino.
Considerações Finais
A aposta nos usos das tecnologias não pode ser vista como a
resolução dos problemas educacionais. Ainda que tenhamos diversos
entraves, determinados artefatos do cotidiano tiveram seus usos bem-
sucedidos, ao contrário de programas e aplicativos recomendados e
187
especializados, seja por falta de domínio dos docentes, dos estudantes, ou,
falta de conexão e acesso a Internet de qualidade que assola parcelas da
população brasileira. Em todo caso, é preciso persistência e paciência.
Assim, concluímos com a refleo de Cortella (2019), que consta em seu
site, onde ele pondera que:
Segundo o grande pensador da educação, Paulo Freire, é preciso ter
esperança para chegar ao inédito viável e ao sonho. Cuidado!
pessoas que têm esperança do verbo “esperar”. Esse grande educador e
filósofo falava da esperança do verbo “esperançar”. Esperar é: “Ah,
espero que dê certo, espero que aconteça, espero que resolva”.
Esperançar é ir atrás, é não desistir. Esperançar é ser capaz de buscar o
que é viável para fazer o inédito. Esperançar significa não se conformar
(CORTELLA, 2019, n. p.).
Referências
BEHRENS, M. A. Projetos de aprendizagem colaborativa num
paradigma emergente. In: MORAN, J. M; MASETTO, M. T.;
BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e Mediação Pedagógica.
Campinas, SP: Papirus, 2000.
CORTELLA, M. S. O verbo esperançar. MARIO SERGIO
CORTELLA, 2019. Disponível em: http://www.mscortella.com.br/o-
verbo-esperancar-4a. Acesso em: 09 abr. 2021.
FREIRE, P. A importância do Ato de Ler: em três artigos que se
completam. São Paulo: Autores Associados. Cortez, 1989.
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria
Pedagógica. Currículo da Cidade: Educação de Jovens e Adultos:
Tecnologias para Aprendizagem. São Paulo: SME/ COPED, 2019.
189
Experiências de Metodologias Ativas em Contexto
Pandêmico: possibilidades e adaptações metodológicas
Jéssica Araújo CARVALHO
1
Renata de Souza França Bastos de ALMEIDA
2
Introdução
O primeiro caso do COVID-19, confirmado no Brasil, foi no dia
25 de fevereiro de 2020, no município de São Paulo. Na última verificação
realizada, dia 08 de agosto de 2021, já contabilizávamos 20.165.672 de
casos confirmados e 563.151 óbitos cumulados em todo país (FIOCRUZ,
2021). A transmissão do vírus acontece, predominantemente, de uma
pessoa para outra, seja por contato próximo, por meio do toque, do aperto
de mãos, gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro ou pelo contato com
objetos e superfícies contaminadas, como celulares, mesas, maçanetas,
brinquedos, teclados de computador, entre outros.
Diante das diferentes possibilidades de transmissão e contágio, o
espaço da escola torna-se, potencialmente, um ambiente propício à
proliferação do COVID-19, o que requereu no início da pandemia e ainda
requer com o seu prolongamento, que as escolas realizassem e continuem
realizando um esforço para que as atividades escolares não parem, pelo
contrário, sejam adaptadas para que todos os alunos sejam atendidos, isso
indica a necessidade de adaptação às metodologias de ensino.
1
Mestranda em Psicologia Social / PPGE / Faculdade de Ciências e Letras / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Assis/SP / e-mail:
jessica.a.carvalho@unesp.br
2
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
renata.bastos@unesp.br
190
Sob as orientações do Governo do Estado de São Paulo, cerca de
3,5 milhões de estudantes retornaram às aulas na rede estadual de ensino
básico a partir do dia 27 de abril de 2020 na modalidade semipresencial,
com atividades escolares não presenciais (SÃO PAULO, 2020a; 2020c).
no mês de outubro de 2020, iniciou-se o plano de retomada opcional das
aulas presenciais, de acordo com o site oficial do Estado de São Paulo.
Tanto o calendário de retomada presencial como a realização de atividades
de reforço nas escolas municipais, estaduais e privadas podem ou não ser
autorizadas pelas prefeituras. (SÃO PAULO, 2020c, n. p.)
Atualmente, o Ministério da Educação recomendou aos estados e
municípios que retomem as atividades presenciais nas escolas, citando a
realidade de outros países que já o fizeram seguindo um rigoroso protocolo
de biossegurança, pois, caso contrário, correríamos o risco de impactar
negativamente, e cada vez mais, o processo de escolarização das crianças e
jovens inseridos nas etapas da educação básica.
Sabe-se que o avanço da vacinação, principalmente dos
profissionais da educação, possibilitou que a partir de 02 de agosto de
2021, as escolas públicas e privadas do Estado de São Paulo funcionem
com capacidade total, desde que respeitando o distanciamento de 1 metro
entre os alunos em sala, o que exigiu um planejamento de retomada
individual para cada unidade. Certamente, o retorno das aulas presenciais,
mesmo que de forma híbrida, tornou-se um desafio para alunos, pais e
professores, pois encontrarão uma nova realidade no funcionamento das
escolas e no comportamento de todos os envolvidos.
Durante os primeiros meses da pandemia, a Fundação Carlos
Chagas (FCC) (2020) em parceria com a UNESCO do Brasil e com o Itaú
Social, estimou, na Pesquisa: Educação escolar em tempos de pandemia na
visão de professoras/es da Educação Básica, que no Brasil “81,9% dos alunos
da Educação Básica deixaram de frequentar as instituições de ensino. São
cerca de 39 milhões de pessoas” (FCC, 2020). A pesquisa ainda destacou
que “Quase oito em cada dez professoras afirmaram que fazem uso de
materiais digitais via redes sociais como estratégia educacional” (FCC,
2020).
191
Dentre as principais estratégias educacionais mencionadas, 77,4%
das entrevistadas relataram o uso de materiais digitais via redes sociais,
seguida de orientações às famílias 54,2%; materiais disponíveis nos sites das
Secretarias de Educação 47,5%; videoaulas gravadas 38,3%; envio de
atividades impressas aos alunos 37,2%; aulas ao vivo (on-line) 29,8% e
comunicação por rádio 0,6%. Em todas as estratégias educacionais citadas,
observou-se a necessidade de adaptações pedagógicas para o novo contexto
de trabalho vivenciado por professoras, professores e alunos.
Corroborando com a pesquisa veiculada e reforçando os dados
levantados, em virtude das exigências do momento e considerando que as
crianças não poderiam permanecer afastadas das atividades escolares,
professoras e professores tiveram que investigar, estudar e implementar
metodologias alternativas que abarcasse o trabalho acadêmico e não
deixasse nenhum aluno para trás. As aulas presenciais deram lugar às aulas
remotas, exigindo das professoras e professores esforço individual, mas
também coletivo, trabalho árduo, envolvendo o planejamento, a
transposição didática, novas estratégias pedagógicas e, acima de tudo,
criatividade.
1 As possibilidades das Metodologias Ativas
Não temos dúvida de que o conhecimento científico e o trabalho
pedagógico organizado devam ocorrer no espaço da escola, no entanto,
devido às circunstâncias que temos enfrentado, a casa se tornou o principal
lugar para as aprendizagens escolares. Antes, um lugar secundário e
complementar à escola, com o avanço da pandemia, ela se tornou o espaço
principal para os estudos e o desenvolvimento acadêmico das crianças.
Assim, as mudanças provocadas pela pandemia não impactaram
somente o comportamento pessoal e social das pessoas, transformou as
relações escolares e exigiu que docentes alterassem as suas rotinas e práticas
pedagógicas, buscando alternativas para o trabalho acadêmico não
presencial com os alunos. Nesse momento, recorrer às tecnologias,
principalmente, às tecnologias da informação e da comunicação foi
192
primordial para estreitar o relacionamento dos alunos com as atividades da
escola.
Para nos ajudar a refletir sobre as relações que se estabelecem entre
as tecnologias e os processos de ensino e aprendizagem, trouxemos Moran
et al. (2000) que, no início do século XX, já discutiam sobre essa relação e
consideravam a tecnologia como uma rápida solução para transformar a
educação, pois “as tecnologias nos permitem ampliar o conceito de aula,
de espaço e de tempo, estabelecendo novas pontes entre o estar junto
fisicamente e virtualmente” (MORAN et al., 2000, p. 8). Os autores, além
de enfatizarem os conceitos de ensino e de aprendizagem, discutiram sobre
o papel do aluno e do professor, o uso das tecnologias, da mediação
pedagógica e da relação de todos esses conceitos que implicam,
diretamente, na prática docente.
Em se tratando da mediação pedagógica, Masetto (2000) destaca
que ela é sempre o resultado das concepções pedagógicas adotada pelos
professores, ou seja, a maneira como o professor entende os processos
educativos e os realiza em sala de aula evidencia o tipo de mediação que
será desenvolvida, ao passo que, professores que adotam uma prática
tradicional que valoriza a transmissão, a memorização e a reprodução do
conhecimento, não se arriscam com as inovações tecnológicas e com as
possibilidades que se apresentam para a construção do conhecimento.
Por outro lado, as concepções pedagógicas que defendem que,
O conceito de aprender está ligado mais diretamente a um sujeito (que
é o aprendiz) que, por suas ações, envolvendo ele próprio, os outros
colegas e o professor, busca e adquire informações , dá significado ao
conhecimento, produz reflexões e conhecimentos próprios, pesquisa,
dialoga, debate, desenvolve competências pessoais e profissionais,
atitudes éticas, políticas, muda comportamentos, transfere
aprendizagens, integra conceitos teóricos com realidades práticas,
relaciona e contextualiza experiências, dá sentido às diferentes práticas
da vida cotidiana, desenvolve sua criticidade, a capacidade de
considerar e olhar para os fatos e fenômenos sob diversos ângulos,
compara posições e teorias, resolve problemas (MASETTO, 2000, p.
140).
193
Demonstrando, assim, que o papel do aluno no processo de
aprender é alçado à posição de protagonista, de aprendiz ativo e
participante, o que requer mudanças no seu comportamento e na relação
com os objetos da aprendizagem. Nessa direção, o professor “também
assume uma nova atitude” (MASETTO, 2000, p. 142), a de que as suas
ações podem facilitar, incentivar e motivar o processo de aprendizagem dos
alunos e, nessa perspectiva, abrem-se possibilidades para os processos de
ensino e aprendizagem.
Segundo Moran (2017):
As metodologias são grandes diretrizes que orientam os processos de
ensino e aprendizagem e que se concretizam em estratégias, abordagens
e técnicas concretas, específicas, diferenciadas.
As metodologias ativas, por sua vez, são estratégias de ensino centradas
na participação efetiva dos estudantes na construção de seu processo de
aprendizagem de forma flexível, interligada, híbrida. As metodologias
ativas, em um mundo conectado e digital, se expressam através de
modelos de ensino híbridos, com muitas possibilidades de
combinações (MORAN, 2017, p. 24).
Deste modo, consideramos essencial a contribuição de
pesquisadores e pesquisadoras do campo didático educacional e das novas
tecnologias, para a implementação de recursos tecnológicos no ambiente
escolar, desenvolvendo propostas alternativas para a mediação dos
processos de aprendizagem, por meio das metodologias ativas. Segundo
Moran (2017, p. 24), “aprendemos de muitas maneiras, com diversas
técnicas, procedimentos mais ou menos eficazes para conseguirmos os
objetivos almejados”.
Thadei (2018) explica que o conceito de mediação educacional, na
perspectiva sócio-histórico-cultural, envolve tanto o ato de mediar, quanto
a compreensão do que se vincula, ou seja, “[...] ensinar e aprender são
processos interativos, nos quais quem ensina também aprende” (THADEI,
2018, p. 191). O ato educativo, neste sentido, refere-se à compreensão da
atividade docente, quando desempenhada intencionalmente na
organização do processo educativo com vistas à mediação, à apropriação e
194
à objetivação das características propriamente humanizadas. Tais
vinculações extrapolam a exposição conteudista e de aprender a aprender,
amplamente criticadas pelas teorias críticas da educação apoiadas na
compreensão materialista de Vigotski (2000) e Duarte (2001).
O contexto da pandemia desvelou, mais uma vez, as desigualdades
econômicas e sociais já existentes na sociedade brasileira, bem como, impôs
novas necessidades à vida humana nos mais variados segmentos.
Consideramos que o cenário educacional já apresentava dificuldades que
apenas se acentuaram. Assim, para atender as demandas emergenciais, o
ensino remoto representa grandes desafios aos profissionais da educação na
busca da manutenção da qualidade do ensino, diante das dificuldades
impostas pelo sistema capitalista, somadas à pandemia. Para tanto,
recuperamos as propostas antagônicas sobre as funções da escola,
concebidas a partir dos apontamentos difundidos por Libâneo (2012), que
denunciou o dualismo perverso imperativo no meio educacional,
[...] indo desde as que pedem o retorno da escola tradicional, até as que
preferem que ela cumpra missões sociais e assistenciais. Ambas as
posições explicitariam tendências polarizadas, indicando o dualismo da
escola brasileira em que, num extremo, estaria a escola assentada no
conhecimento, na aprendizagem e nas tecnologias, voltada aos filhos
dos ricos, e, em outro, a escola do acolhimento social, da integração
social, voltada aos pobres e dedicada, primordialmente, a missões
sociais de assistência e apoio às crianças (LIBÂNEO, 2012, p. 16).
O abismo social, identificado anteriormente, intensifica-se
quando analisamos, contemporaneamente, o desenvolvimento das
potências tecnológicas. Ou quando identificamos a disparidade no acesso
ao suporte tecnológico desenvolvido para os ambientes virtuais
educacionais em tempos de pandemia, a todos os envolvidos no processo
educativo (gestoras, professoras e estudantes).
Os sistemas educacionais comprados por grandes redes de ensino
se colocam diante do discurso hegemônico e neoliberal como equivalentes
aos arranjos criativos desempenhados pelas professoras de escolas públicas.
195
Para superação das dicotomias expressas entre o conteúdo e a forma; entre
as concepções tradicionalistas e as concepções assistencialistas; as práticas
sociais e as práticas educativas; a defesa restrita aos currículos pedagógicos
e a manutenção dos vínculos sociais e afetivos, apontamos a possibilidade
de atuação didática apresentada pela abordagem teórica e metodológica da
Pedagogia Histórico Crítica. Nas palavras de Libâneo (2012, p. 24), “uma
aposta: uma escola que articule a formação cultural e científica com as
práticas socioculturais em que se manifestam diferenças, valores e formas
de conhecimento local e cotidiano”.
Por sua vez, as metodologias ativas ampliam as possibilidades de
apropriação e compreensão da realidade enquanto objeto de
conhecimento. É “[...] esse estar entre se ressignifica diante das realidades
contemporâneas e das práticas mais ativas de ensino e se amplia no que diz
respeito às ações do mediador” (THADEI, 2018, p. 207-208).
2 A pandemia: tecendo reflexões entre as vivências
e possibilidades pedagógicas
O ano letivo de 2020 foi acompanhado de muitas expectativas e
desafios, pois estava retornando como regente de uma turma de 4º ano dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Por mais que já tivesse trabalhado
como regente de outras turmas, fiquei por dois anos afastada e, por isso, a
presença de diferentes sentimentos que ocorre em toda retomada. As
primeiras semanas foram marcadas pela organização do trabalho
pedagógico a ser desenvolvido durante o período letivo, conteúdos a serem
trabalhados, cronogramas das avaliações de cada trimestre, contrato
pedagógico com a turma, avaliações diagnósticas, mapeamento dos alunos
que exigiam um acompanhamento extraclasse, organização do horário das
atividades com outros professores, a construção de uma rotina de trabalho
junto às alunas e aos alunos e, por último, mas não menos importante, o
estabelecimento de vínculos afetivos com a turma.
Com um encaminhamento pedagógico muito produtivo com a
turma, vieram as primeiras notícias do COVID-19, o que implicou na
196
suspensão das aulas devido às orientações dos órgãos de saúde. Após vários
meses de isolamento social, suspensão das aulas e tentativas de retorno
presencial, o cenário ainda nos amedronta e nos leva para o campo da
angústia e das incertezas. Se antes me preparava para retornar à sala de aula
e enfrentar os desafios impostos por ela, agora me preparava para o
desconhecido. É certo, que já havia enfrentado uma situação parecida em
meados de 2009, com a epidemia do vírus da gripe H1N1, em que fiquei
afastada dos trabalhos escolares por volta de uns 30 dias e depois retornei
à normalidade, no entanto, o COVID-19 tem nos surpreendido pela
celeridade no aumento dos casos e pela gravidade com que evolui.
No início do afastamento das atividades de trabalho e isolamento
social, tive a sensação de estar de férias, apesar de poder exercer a
mobilidade somente para os serviços essenciais, as primeiras semanas foram
positivas nesse sentido. Contudo, a situação foi tomando um rumo
inesperado, notícias de lockdown em diversos países, muitos casos
confirmados e centenas e depois milhares de mortos por todo mundo.
Senti que não seria como o vírus da gripe H1N1.
Com as aulas suspensas, as alunas, os alunos e suas falias estavam
em isolamento social já que quem não trabalhava em serviços essenciais,
deveria permanecer em casa para evitar aglomerações e propagação do
vírus. A cada dia novas notícias, acompanhadas de orientações, como por
exemplo, o uso da máscara, delineação do público mais suscetível à doença,
possibilidades de medicações e de condução de estudos para vacinas.
Vislumbrando um desfecho não tão próximo quanto o que era
esperado, em meados de abril de 2020, vieram as primeiras orientações
para as atividades pedagógicas junto às alunas e os alunos e, acompanhadas
dessas orientações, muitos questionamentos, afinal, poucas gerações
vivenciaram uma situação como essa.
Todas as ações pedagógicas construídas e desenvolvidas nas
primeiras semanas de aula, foram interrompidas e não seriam retomadas,
pelo menos da mesma forma, pois não contávamos mais com a
materialidade do espaço da escola e das relações presenciais com a turma.
O cenário tornou-se outro e exigiria de nós, docentes, uma mudança
197
radical na maneira de planejarmos as nossas aulas, de trabalharmos os
conteúdos, de interagirmos com as nossas alunas e nossos alunos, de
explicarmos as atividades, de sanar as dúvidas, enfim, mudanças radicais
ocorreriam nos próximos dias, semanas e meses.
O processo de retomada das aulas nesse novo cenário ainda contava
com uma questão muito importante, a acessibilidade aos recursos
tecnológicos. Tal, se tornou um diferencial nas escolhas a serem realizadas
pelas escolas e, sendo assim, não se elegeu o melhor recurso tecnológico,
mas o recurso que as famílias relataram ter acesso. Destacamos que as
escolas tiveram autonomia para realizar o levantamento do recurso
tecnológico possível para a condução das aulas remotas. Observamos que
variáveis relacionadas aos aspectos sociais, culturais e econômicos foram
preponderantes quando se observou o recurso tecnológico mais comum
nas famílias, o aplicativo WhatsApp.
Para tanto, o aparelho antes denominado apenas de celular e
desprovido de muitas funções, hoje conta com inúmeras funcionalidades
e a denominação de smartphone. Considerando a pesquisa PNAD (IBGE,
2020), a qual “O percentual de pessoas que tinham telefone móvel para
uso pessoal na população de 10 anos ou mais de idade subiu ligeiramente,
de 78,2%, em 2017, para 79,3%, em 2018 [...] Em 2018, esse indicador
chegou a 82,9% nas áreas urbanas e a 57,3% nas áreas rurais” (IBGE,
2020).
No que concerne à dimensão do acesso, a grande maioria das
estratégias educacionais necessita de algum tipo de acesso à Internet, seja
via rede sem fio, via telefonia móvel, via rádio, etc. No Brasil, a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da
Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC, 2018), devidamente
citada pela Agência Brasil (2020), divulgou em seu site que “ Um em cada
4 brasileiros não têm acesso à Internet” (AGÊNCIA BRASIL, 2020),
número que representa 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede.
A mesma agência afirma que,
198
Quase a metade das pessoas que não têm acesso à rede (41,6%) diz que
o motivo para não acessar é não saber usar. Uma a cada três (34,6%)
diz não ter interesse. Para 11,8% delas, o serviço de acesso à internet é
caro e para 5,7%, o equipamento necessário para acessar a internet,
como celular, laptop e tablet, é caro. [...] Para 4,5% das pessoas em
todo o país que não acessam a internet, o serviço não está disponível
nos locais que frequentam. Ou seja, mesmo que queiram, não
conseguem contratar um pacote de internet” (AGÊNCIA BRASIL,
2020, n. p.).
Ainda assim, os smartphones se tornam a cada dia um recurso
tecnológico importante para uso pessoal e profissional. Apesar de alguns
municípios e estados proibirem o uso de equipamentos eletrônicos, seu uso
é permitido para fins pedagógicos desde que com acompanhamento, como
destacado na Lei nº 18.118/2014, do Estado do Paraná:
A Assembleia Legislativa do Estado do Paraná decretou e eu sanciono
a seguinte lei: Art. 1º Proíbe o uso de qualquer tipo de aparelhos/
equipamentos eletrônicos durante o horário de aulas nos
estabelecimentos de educação de ensino fundamental e médio no
Estado do Paraná. Parágrafo único. A utilização dos
aparelhos/equipamentos mencionados no caput deste artigo será
permitida desde que para fins pedagógicos, sob orientação e supervisão
do profissional de ensino (PARANÁ, 2014, n. p.).
Além de receber e efetuar chamadas, os smartphones permitem
interações virtuais que, segundo Saleme e Queiroz (2009), podem ocorrer
de 3 maneiras: a) entre sujeito-sujeito (em tempo real); b) entre sujeito-
sujeito (em tempo virtual e sem interação recíproca); c) entre sujeito-objeto
de conhecimento. Assim, é a partir desses tipos de interações, possibilitadas
pelos smartphone, que a escola pode aproveitá-lo como recurso tecnológico
para inseri-lo no contexto da sala de aula e nos processos que envolvem o
ensino e a aprendizagem de alunos e alunas.
199
No relatório de pesquisa encomendada à Panorama Mobile
Time/Opinion Box (2020) na edição Crianças e smartphones no Brasil de
Outubro-2020, observamos que o smartphone é o principal dispositivo de
acesso a aulas on-line entre estudantes da rede pública (71%), enquanto o
laptop ou computador é o preferido entre alunos de instituições
particulares (70%). Entre crianças de 7 a 9 anos, a proporção que usa
smartphone por três horas ou mais por dia saltou de 30% para 43% em um
ano, o uso do WhatsApp subiu de 36% para 50% no mesmo período. Este
aumento decorre, provavelmente, do uso pedagógico da ferramenta
durante a pandemia.
Considerações Finais
Concluímos este trabalho retomando a contribuição dos
pesquisadores Moran (et al.) e Thadei (2018), ressaltando que os
equipamentos eletrônicos possibilitam interação com os alunos e podem
figurar como um recurso importante para as atividades a serem realizadas
tanto no espaço da escola quanto no espaço da casa. Ainda, podem ser
utilizados para pesquisas referentes aos conteúdos escolares, para tirar
dúvidas com os professores e como uma importante ferramenta para a
socialização do conhecimento de uma determinada disciplina.
Apostamos, dessa forma, nas inúmeras funcionalidades
possibilitadas pelos recursos tecnológicos, destacando a filmagem, a
fotografia, o gravador de áudios, a produção de montagens, a edição de
vídeos e fotos atualizadas, constantemente, por aplicativos cada vez mais
criativos e sofisticados, tais como o Facebook, WhatsApp, os smartphones
substituem, em muitas situações e para muitas pessoas, o próprio
computador.
Ainda, evidenciamos, que a mediação pedagógica desenvolvida
com o apoio da tecnologia, sobretudo dos smartphones, depende não
somente de aparelhos e redes de Internet sofisticados, mas também de
professoras e professores com acesso a esses recursos, que, por sinal, se
200
apresentam com alto custo e com habilidades suficientes para a produção
de materiais e aulas de qualidade.
Referências
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internet, mostra pesquisa número representa 46 milhões que não acessam
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203
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205
O POWERPOINT em Atividades de Alfabetização nas Aulas
Remotas por Videochamada
Miriam Pires BORGES
1
Introdução
Analisando o contexto escolar, notamos que as tecnologias sempre
estiveram presentes nas salas de aula, desde as lâmpadas e ventiladores aos
quais temos acesso no ambiente às ferramentas específicas voltadas ao
desenvolvimento das atividades pedagógicas.
Há cerca de trinta anos, o mimeógrafo era um acessório bastante
utilizado nas escolas para reprodução de atividades que seriam aplicadas
aos alunos. Com o passar dos anos, foi, paralelamente, usado com a
máquina de escrever, tendo os professores a opção de datilografarem os
seus textos e, posteriormente duplicá-los, com o uso do mimeógrafo.
Nas universidades, há cerca de vinte anos, era frequente a utilização
do retroprojetor para a projeção dos textos abordados durante as aulas. Tal
equipamento, na época, embora meio escasso nas escolas públicas de
Ensino Fundamental, era algo que despertava, nos alunos, um olhar atento
e certa curiosidade pelo recurso, dividindo a atenção entre o conteúdo
projetado para o estudo e suas possibilidades de utilização.
Ao longo dos anos, o retroprojetor foi, gradativamente, cedendo
espaço aos projetores de slides, até ser substituído, atualmente, por
aparelhos modernos com acesso a rias mídias digitais.
1
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
borghes.miriam@gmail.com
206
Contudo, na atuação docente, os professores foram, também,
pouco a pouco, adequando-se ao uso dessas tecnologias, muitas das vezes,
adquirindo treinamentos, por meio de cursos de formação continuada ou
no próprio manuseio dos equipamentos no dia a dia escolar.
Nos dias atuais, diferentes recursos midiáticos estão presentes em
muitas escolas. Compondo o cenário educacional, integram-se o
audiovisual, textos, hipertextos e equipamentos que nos proporcionam o
acesso a eles, desde os aparelhos de som tradicionais aos computadores e
projetores multimídias mais avançados.
Diante dessa realidade, podemos refletir acerca da atitude do
professor frente às novas tecnologias e questões como, os desafios em
utilizar e lidar com esses recursos, a importância de treinamentos e
formação, os horários de estudo e reuniões e da própria exploração dos
equipamentos durante o processo de trabalho.
No atual contexto pandêmico, houve a necessidade de
implementação de alguns recursos tecnológicos que, até então, embora
presentes na sociedade atual, não estavam, totalmente, empregados na
aplicabilidade das atividades pedagógicas em sala de aula. Intensificou-se,
assim, o uso das tecnologias digitais de informação e comunicação para
que os alunos tivessem acesso às atividades escolares durante o período de
“distanciamento social”.
Verificou-se, dessa forma, a utilização mais frequente das telas,
como as do computador, tablet e celulares, já que as aulas on-line
constituíram-se possíveis alternativas para o acesso aos conteúdos escolares.
Percebe-se que:
[...] a tela, como novo espaço de escrita, traz significativas mudanças
nas formas de interação entre escritor e leitor, entre escritor e texto,
entre leitor e texto e até mesmo, mais amplamente, entre o ser humano
e o conhecimento (SOARES, 2002, p. 151).
Assim, o presente relato se baseia em experiência em andamento,
realizada com uma classe de segundo ano do Ensino Fundamental, com
207
crianças na faixa etária de sete a oito anos, regularmente matriculadas em
uma escola pública da rede municipal de Marília (SP). Descreve situações
de ensino e aprendizagem voltadas à abordagem dos assuntos das áreas de
Alfabetização e Matemática.
Tem-se, como objetivo geral, possibilitar o acesso dos alunos aos
conteúdos escolares e, como objetivos específicos, propor situações de
intervenção para aprimorar a leitura, escrita e aquisição de conteúdos
matemáticos; utilizar-se dos recursos tecnológicos para aplicação de
atividades que possibilitem a interação entre professora e alunos durante a
pandemia do COVID-19.
A partir do referido contexto e da realidade dos alunos, coloca-se a
seguinte questão: quais recursos tecnológicos podem ser utilizados de forma a
despertar o interesse das crianças pelas aulas e garantir a interação delas com a
professora no processo de ensino e aprendizagem?
O trabalho se justifica à medida que se faz necessária a participação
ativa das crianças em relação aos assuntos abordados e à interação social,
considerando-se, também, fundamental, a mediação docente que oferece
condições de o aluno atingir níveis mais avançados de conhecimento e
adquirir conceitos por meio da troca e diálogo com um adulto mais
experiente.
Para que os alunos se envolvam com os temas em estudo, precisam
ter interesse e motivação em aprender e, por se tratar de crianças na faixa
etária específica, há uma significativa relação entre interesse, motivação e
qualidade das atividades que lhes são ofertadas.
Baseando-se nestas hipóteses, a proposta de intervenção se
consolida, neste trabalho, em uma metodologia que utiliza softwares, como
o PowerPoint, na elaboração de atividades com hiperlinks, textos, joguinhos
e animações com aspecto lúdico, voltadas à alfabetização e aquisição de
conteúdos matemáticos. Para os alunos acessarem as atividades, são
realizadas aulas por videochamadas, por meio do WhatsApp, cujo formato
propicia, ao professor, estabelecer a mediação pedagógica entre o aluno e
os assuntos abordados.
208
Tal experiência com os alunos nos leva a repensar questões como:
a) a utilização dos recursos tecnológicos nas atividades pedagógicas, b) o
papel do professor na sua interação com os alunos durante as aulas nesse
novo formato e c) as concepções acerca do próprio processo de
alfabetização e aprendizagem da matemática.
As atividades desenvolvidas por videochamadas viabilizam a
interação professor e aluno, possibilitando a relação dialógica entre eles. A
abordagem realizada referente à alfabetização foi planejada de modo a
atribuir um sentido à linguagem, com enfoque à sua função social, assim
como os conteúdos matemáticos, no geral, tratados a partir da resolução
de situações-problema e da proposta de jogos.
Sobre o processo de alfabetização, Starepravo (2006) se refere aos
estudos realizados por Emília Ferreiro que:
[...] apontou a importância das interações da criança com o universo
da língua escrita, mostrando as hipóteses que levantam sobre o seu
significado muito antes de receber qualquer tipo de intervenção
escolar. Tais hipóteses só são formuladas mediante a interação com a
língua em sua utilização social, portanto, não fragmentada
(STAREPRAVO, 2006, p. 12).
Já em relação à Matemática, a autora destaca os conhecimentos que
as crianças possuem acerca dos números na convivência fora da escola e
que eles não se apresentam em partes. “Quando a criança depara com uma
sequência mais longa de números, ela tem a oportunidade de perceber as
regularidades presentes na numeração e faz descobertas interessantes”
(STAREPRAVO, 2006, p. 13).
Para abordagem dos conteúdos matemáticos nas aulas virtuais,
foram propostos jogos com hiperlinks elaborados em PowerPoint e
situações-problema usando-se, também, recursos tecnológicos.
Concordamos com Starepravo (2006, p. 16), pois “nos jogos, os cálculos
são carregados de significado porque se referem a situações concretas
209
(marcar mais pontos, controlar a pontuação, formar uma quantia que se
tem por objetivo etc)”.
Outro aspecto a ser destacado, durante o desenvolvimento da
experiência nessas aulas, é a necessidade da pesquisa na ação docente. A
implementação de aulas no novo formato e a busca de estratégias para
contribuir para melhor intervenção pedagógica e, consequentemente, o
aprendizado dos alunos, geram necessidade de pesquisa por parte do
professor da sala e reflexão sobre a sua prática, no sentido de aprimorá-la.
É nesse aspecto, também, que a avaliação contínua assume seu real
significado no processo de ensino e aprendizagem.
Dessa forma, nota-se, com mais intensidade, como se faz relevante
a pesquisa pelo professor, nesse atual contexto, tanto em relação ao uso dos
recursos tecnológicos para a elaboração das aulas, como em relação ao
encaminhamento metodológico na aplicação das atividades de ensino.
Destacamos estudos que validam a pertinência da pesquisa na função
docente, entendendo-a queComo exercício didático, a pesquisa pode
investigar a prática cotidiana dos professores para buscar instrumentos de
investigação que atendam à necessidade das escolas, buscando refletir e
compreender melhor a relação teoria e prática” (PENITENTE, 2012, p.
34).
1 Detalhando a experiência
Para nortear as atividades, utilizamos os seguintes procedimentos:
Leitura sobre o uso das tecnologias na educação com vistas ao papel
do professor na mediação das situações de ensino e aprendizagem;
Acesso a tutoriais e a vídeos do Youtube para a elaboração das
atividades com o uso do PowerPoint;
Contatos com os pais e responsáveis pelos alunos, por meio de
mensagens de textos e ligações telefônicas, para agendamentos de
210
aulas, remanejamentos de atividades e comunicados necessários entre
a escola e as famílias;
Propostas de atividades aos alunos, envolvendo as áreas de Língua
Portuguesa e Matemática, durante aulas em videochamadas, por meio
do WhatsApp;
Observação e acompanhamento dos alunos nas situações de ensino,
construídas nas aulas, por meio de câmera do celular;
Elaboração de relatórios de desempenho produzidos pela professora;
Coleta de depoimentos obtidos a partir de entrevista entre professora
e alunos, com o objetivo de conhecer a percepção das crianças e a
avaliação que fazem acerca das aulas neste formato.
Os alunos participantes dessa modalidade de aula remota representavam a
maioria da classe e foram autorizados pelos pais e responsáveis a
realizarem as atividades com a professora da turma por meio desse
recurso tecnológico.
Os horários e datas das aulas eram previamente agendados com os
responsáveis pelos alunos, procurando manter um cronograma semanal
fixo. Porém, quando necessários, ocorriam remanejamentos, adequando-
se à possibilidade de acesso da criança ao aparelho celular para utilização
nas atividades escolares.
Com algumas exceções, na maioria das vezes, as ligações por
chamadas de vídeo eram iniciadas pela professora e propostas as atividades
aos alunos, individualmente.
O cronograma de agendamento das aulas era organizado de
maneira a garantir a participação de cada aluno, no mínimo uma vez por
semana, podendo a criança ter acesso a mais aulas, caso houvesse a
disponibilidade do aparelho celular, dificuldades de aprendizagem ou
mesmo interesse do aluno em participar com mais frequência.
O tempo de permanência de cada aluno nas atividades escolares
on-line, com a professora, era de, aproximadamente, sessenta minutos.
Nestes encontros, eram trabalhados conteúdos ligados às habilidades de
211
leitura, escrita e conhecimentos matemáticos. Com poucas propostas de
cópias, as atividades eram planejadas segundo a duração das aulas, bem
como as especificidades do formato virtual. A prioridade era que os alunos
participassem, ativamente, de situações de leitura, escrita e matemática,
envolvendo os eixos da alfabetização: oralidade, leitura, análise linguística
e produção textual.
Como já relatado, as atividades propostas foram desenvolvidas por
meio de aulas em videochamada, procurando manter atendimento
individual aos alunos, havendo poucas ocorrências de formação de duplas.
O trabalho individual foi repensado de maneira a considerar os níveis de
aprendizagem de cada um, possíveis dificuldades nos conteúdos abordados
sempre com vistas a aprimorar as habilidades necessárias ao processo de
alfabetização.
As atividades eram iniciadas com uma breve retomada oral dos
assuntos abordados em aula anterior. Em seguida, os alunos registravam a
data e as áreas de conhecimento e propostas a serem trabalhadas. Os
equipamentos utilizados pela professora eram: celular, suporte do aparelho
e computador para apresentação das atividades. Assim, mantendo-se o
distanciamento social demandado pela pandemia, a professora abria a
câmera traseira do celular posicionado à frente da tela do computador para
apresentar as atividades que eram visualizadas pelo aluno em seu próprio
celular.
Por meio da utilização desses recursos, os alunos participavam das
atividades remotas, interagiam com a professora e tinham acesso a
situações de oralidade, leitura, escrita e cálculos, propostos a partir de
diferentes estratégias, entre elas, as elaboradas com o uso do PowerPoint.
Os alunos visualizavam as atividades e respostas dos exercícios pelo celular
e produziam os registros no caderno ou em outro material disponível,
como folha de sulfite.
A professora observava e acompanhava a realização das tarefas pela
câmera e vídeo, estabelecendo durante a aula, relação de diálogo com os
alunos, propondo que comentassem sobre os assuntos trabalhados,
212
expressassem suas opiniões e, também, mostrassem seus próprios registros
das atividades.
2 Algumas atividades desenvolvidas e as percepções
dos alunos sobre elas
Na primeira aula, a história apresentada em slides é uma narrativa
curta, que aborda uma joaninha que queria encontrar um lugar novo para
dormir. O texto, de autoria de Isobel Finn, foi retirado do livro didático de
Língua Portuguesa, Porta Aberta: letramento e alfabetização linguística,
ano, Ensino Fundamental (CARPANEDA; BRAGANÇA, 2008, p. 180-
181). O material escrito foi digitado e organizado em slides, sendo
complementado com imagens para ilustrar os personagens e uso de
recursos do PowerPoint, como os efeitos de movimento e animação.
Este tema foi abordado durante várias aulas e citado, por mais de
uma criança, como um assunto interessante. Os recursos de animação
contribuíram para que a história fosse vista dessa perspectiva pelos alunos.
Embora contivesse um enredo limitado, foi mencionada pelos alunos, já
que os movimentos de efeito nela aplicados, superaram a própria narrativa.
São apresentados, a seguir, trechos da referida história.
213
Fonte: Carpaneda e Bragança (2008, p. 180-181).
O objetivo do trabalho, ao apresentar essa história, foi introduzir o
assunto a ser trabalhado usando recursos que pudessem motivar os alunos
à leitura e à escrita. Textos elaborados com essas características contribuem
para um maior envolvimento dos alunos na narrativa, despertando o
interesse e facilitando a compreensão da narrativa.
Os próximos slides mostram trechos sobre as etapas de vida das
joaninhas. Foram apresentadas por meio de textos, imagens e fotos que
complementaram as explicações da professora e contribuíram para que
fosse despertado o interesse dos alunos pelo tema. Também, citado pelas
crianças como interessante, o assunto foi pesquisado pela professora e
apresentado com o suporte tecnológico.
214
Figura 2 - Etapas de vida das joaninhas
Fonte: Da pesquisadora (2021).
Dentro do contexto do tema e com a finalidade de proposta de
atividade lúdica, os alunos tiveram acesso ao Jogo da Memória, cujas regras
são virar duas peças e formar o par, ganhando um ponto a cada par de
figura correspondente. O objetivo era virar todas as peças durante o jogo,
até conseguir formar todos os pares de figuras iguais.
Figura 3 - Jogo da Memória
215
Fonte: Da pesquisadora (2021).
O jogo da memória, aplicado após o estudo de palavras com a letra
“j”, também, foi mencionado pelos alunos como atividade interessante. O
referido jogo era apresentado na tela do computador da professora e
visualizado pelas crianças no celular. As peças a serem viradas eram
escolhidas pelo aluno e “abertas” pela professora. Por esse motivo, foram
numeradas, para que facilitasse à criança a indicação das peças e à
professora sobre quais delas deveria clicar. No momento do jogo, eram
perceptíveis o entusiasmo e motivação das crianças em virar as peças iguais
e formar os pares. Trata-se de um recurso estratégico importante no
desenvolvimento de habilidades como atenção, concentração e outras
ligadas à memória e, por seu aspecto lúdico, torna-se bem receptivo aos
alunos.
Ainda voltadas à alfabetização, compartilhamos algumas atividades
que foram trabalhadas com a finalidade de desenvolver a leitura e, também,
a análise linguística, de maneira que os alunos refletissem sobre a escrita,
principalmente, no tocante à ortografia.
216
Trata-se de uma atividade com hiperlinks
2
, elaborada pela
professora a partir de figuras pesquisadas em diversos sites. A proposta era
que os alunos identificassem a figura, pensassem na escrita e indicassem à
professora a alternativa correta para que ela pudesse clicar sobre a que fora
selecionada por eles. Por ser uma atividade com hiperlinks, a tela poderia
avançar ou não, dependendo do acerto na escolha da resposta.
Figura 4 - Atividade com hiperlinks
Fonte: Da pesquisadora (2021).
A atividade retratada na figura 5, intitulada “No voo das
joaninhas”, também, tem como finalidade a leitura. Assim que a professora
clicava com o mouse, a joaninha voava e, onde ela parasse, os alunos faziam
a leitura das palavras escritas nos retângulos e juntavam pontos pelo
número de acertos.
2
ou hiperligação é qualquer elemento de um hipertexto (páginas web) que façam referência a outro
texto ou a outra parte deste texto. Ou seja, qualquer área clicável de uma página web é um hiperlink.
Um hiperlink pode também ser referido como um link ou hipertexto.
217
Figura 5 - Joguinho de leitura com efeito de animação
Fonte: Da pesquisadora (2021).
Elaborada sob a forma de um joguinho, sua característica lúdica,
também, é marcante e motivacional, ao passo que os alunos participaram,
interagiram, utilizaram seus conhecimentos e várias estratégias para
realizarem a leitura das palavras. O formato de elaboração da atividade e
os efeitos de movimento, novamente, foram importantes para os resultados
dessa proposta.
Os slides a seguir mostram uma outra atividade com hiperlinks.
Trata-se de um recurso do PowerPoint que motiva e estimula os alunos à
participação, pois eles precisam acertar a resposta para avançar à próxima
tela. A finalidade foi trabalhar conceitos matemáticos por meio da
resolução de situações-problema. Atividades como esta contribuem para
que os alunos sejam motivados a fazerem os cálculos, aplicando estratégias
de resolução para concluir as etapas até a última tela. Estas atividades
envolvendo conhecimentos matemáticos, também, foram apresentadas
pela professora no computador, lidas com a participação do aluno, que
buscava estratégias de resolução e socializava as possibilidades e cálculos
que poderia fazer, indicando uma das alternativas sobre a qual a professora
clicaria.
218
As situações-problema, ilustradas na Figura 6, eram, em seguida,
conferidas, resolvidas com a participação de aluno e professora, fazendo-se
o registro de cálculos e operação matemática e, obtendo a resposta correta,
o aluno a indicava para que a professora clicasse sobre a alternativa e a tela
avançasse.
Figura 6 - Atividade de Matemática com hiperlinks
Fonte: Da pesquisadora (2021).
Coletamos e registramos, a seguir, depoimentos de alguns alunos
que deixaram suas impressões acerca das atividades e desenvolvimento das
aulas. Essas falas foram obtidas por meio de entrevista entre professora e
alunos. Foram feitas as seguintes perguntas: Qual é a sua opinião sobre as
aulas por WhatsApp? O que você acha mais interessante nessas aulas? Qual foi
a atividade que você mais gostou? Por quê? Qual a sua sugestão para melhorar
as aulas, para elas se tornarem mais interessantes? As respostas obtidas foram
organizadas na Tabela 1, porém, sem a identificação de seus autores.
219
Tabela 1 Registro das respostas dos alunos
Aluno
Resposta
Aluno
A
Estou achando legal a aula; gostei mais da joaninha, do ciclo de vida da
joaninha. A sugestão é de dar atividade com criatividade, por exemplo, jogos
de matemática”.
Aluno
B
“Achando bom, estou gostando de estudar. A atividade mais interessante foi
continha em pé. O tema que mais gostei foi das plantas para ajudar o Planeta
Terra e a música foi divertida. A sugestão é de dar outra música”.
Aluno
C
“Estou gostando da aula; a atividade que mais gosto de fazer é prova. A
atividade mais interessante foi a do joguinho da memória, no voo das
joaninhas. No final da aula ter um joguinho”.
Aluno
D
“Eu acho legal; atividades que mais gosto foi Matemática e da joaninha.
Gosto de participar”.
Aluno
E
“Legal, eu gosto de participar. Atividade da árvore, porque tem informações
sobre as árvores”.
Aluno
F
“Legal, gostei de todas; jogo da memória. Gosto das atividades; atividade que
acharia mais legal seria fazer mais continhas, porque gosto de Matemática”.
Aluno
A
(...) As aulas são muito criativas e legais. O que achei mais interessante foi
na matemática mesmo, a matemática do dobro por enquanto. A sugestão:
matemática bem legal”.
Fonte: Da autora (2021).
As falas transcritas, na Tabela 1, foram coletadas por meio de uma
conversa com as crianças, no formato de uma breve entrevista em que elas
puderam comentar sobre as atividades das quais participaram. Como um
importante instrumento de pesquisa, “na entrevista a relação que se cria é
de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem
pergunta e quem responde” (LUDKE; ANDRÉ, 2018, p. 39).
Com as aulas por videochamadas, realizadas, emergencialmente,
pelo ensino remoto, notou-se maior interação entre alunos e professora,
bem como a mediação pedagógica entendida como fator fundamental no
processo de ensino e aprendizagem, para que as crianças possam adquirir
habilidades que, com a atuação docente, metodológica e didaticamente
fundamentada, facilita e possibilita avanços mais significativos no
aprendizado.
Destaca-se, também, a interlocução como aspecto relevante, à
medida que os alunos participaram, dialogaram, opinaram e, por meio do
220
discurso, a professora teve subsídios para acompanhar a aprendizagem das
crianças, avaliando sua própria prática e implementando ações para
melhoria do ensino.
Considerações Finais
Ressaltamos, por meio desta experiência, alguns aspectos que
podemos considerar durante a aplicação das atividades de ensino, como o
envolvimento das crianças com os temas em estudo, boa participação e
compromisso na realização das situações propostas, motivação, interesse e
interação com a professora, sendo esta última facilitada, também, pelo uso
da videochamada. A utilização desse recurso para as aulas, além de
promover maior interesse dos alunos durante as atividades, contribuiu para
que estas se tornassem mais dinâmicas. Assim, a professora pôde dialogar
com os alunos, retomar pontos e conceitos a serem esclarecidos e, por meio
da mediação pedagógica, intervir com ações planejadas que visaram a
aquisição dos assuntos em foco.
Outro aspecto a destacar se refere ao uso do PowerPoint. Os
recursos disponíveis no software possibilitaram a elaboração de slides com
imagens, hiperlinks, textos com animações e joguinhos que, de uma
maneira lúdica, contribuíram para seu aprendizado.
Além dos slides elaborados em PowerPoint, os alunos, também,
tiveram contato com diferentes tipologias textuais e com atividades e
conteúdos específicos referentes ao ano de escolaridade, com enfoque na
leitura, escrita e resolução de situações-problema.
Para a elaboração das aulas, foram utilizados alguns materiais de
apoio como livros didáticos, de onde foram selecionados diversos textos
como poemas, bilhetes, situações-problema e exercícios matemáticos, entre
outros; CD para audição e estudos de músicas trabalhadas durante as aulas
e, por fim, textos pesquisados na Internet.
Planejar ações de intervenção nas áreas de alfabetização e
Matemática, repensar a importância da interação entre professora e alunos
221
e o uso de materiais diferenciados contribuíram para que as crianças se
tornassem mais participativas e interessadas pelos assuntos estudados.
Tais aspectos são relevantes no processo de ensino e aprendizagem,
pois como afirma Starepravo (2006), em relação ao aprendizado da
matemática,
Os alunos criarão procedimentos de solução pessoais, e irão
desenvolver estratégias próprias de cálculo, à medida que as aulas se
tornarem mais desafiadoras, envolventes e permitirem discussões entre
eles, com a mediação do professor ou professora (STAREPRAVO,
2006, p. 41).
Como observa a autora:
Os alunos podem avançar cognitivamente quando analisam e discutem
sobre suas próprias estratégias, a dos colegas ou mesmo do professor,
pois neste caso, tais estratégias poderão ancorar o processo de
elaboração de outras, mais eficazes e que sirvam em novas situações.
É importante incentivar os alunos a tecer o maior número de relações
possíveis entre os números. As crianças devem ser estimuladas a usar as
relações já construídas na elaboração de novas (STAREPRAVO, 2006,
p. 42).
Por fim, destacam-se nessa experiência, as possibilidades de os
alunos exporem as suas estratégias, tanto nos cálculos como nas próprias
situações de leitura, em que, por meio da mobilização de seus
conhecimentos prévios, conseguem atingir os resultados esperados na
solução das atividades propostas.
Uma outra consideração é em relação ao papel do professor que
encontra possibilidades de estabelecer uma relação dialógica com os
alunos. Dessa forma, ele consegue propor estratégias para incentivá-los a
participar das atividades, dando devolutivas diante das respostas e reações
222
que observa e, por um processo de acompanhamento e avaliação, promove
ações pedagógicas que possam facilitar novas aprendizagens.
Referências
CARPANEDA, I.; BRAGANÇA, A. Porta Aberta: letramento e
Alfabetização Linguística. 2 º ano. São Paulo: FTD, 2008. p. 180 – 181.
LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens
qualitativas. Rio de Janeiro: E.P.U., 2018.
PENITENTE, L. A. A. Professores e pesquisa: da formação ao trabalho
docente, uma tessitura possível. Formação Docente, Belo Horizonte, v.
04, n. 07, p. 19-38, jul./dez. 2012. Disponível em:
http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br. Acesso em: 24 set.
2020.
SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na
Cibercultura. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002.
STAREPRAVO, A. R. Jogos para ensinar e aprender Matemática.
Curitiba: Coração Brasil Editora, 2006.
Acessos no Youtube (tutoriais):
CARMO, W. “Jogo da memória em Power Point. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=WmTiaCqsGGE. Acesso em: 08 jul.
2020.
MONTEGUTI, R. D. V. “Como fazer um jogo educativo no Power
Point (criar hiperlinks para ir de um slide a outro). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch? v=xzjdzzxB4lg. Acesso em: 08 jul.
2020.
223
Endereços pesquisados na Internet (fontes das imagens e textos) para
elaboração dos materiais:
https://www.todamateria.com.br/biologia. Acesso em: 28 ago. 2020.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_princi
pal. Acesso em: 29 ago. 2020.
225
As Metodologias Ativas em Tempos de Pandemia do
COVID-19
Cilmara Cristina Rodrigues Mayoral BRUNATTI
1
Introdução
Desde 2020, as nações têm compartilhado da mesma experiência:
a pandemia provocada pelo COVID-19 e a consequente necessidade do
isolamento social. Como mudanças, em relação ao comportamento
humano, foi necessária a adequação em nossas vidas, de modo que as
escolas de ensino regulares passaram por um amplo processo emergencial
de reestruturação pedagógica. Em pouco tempo, professores e profissionais
do ensino tiveram que repensar e reinventar sua prática pedagógica.
Diante disso, a educação se deparou com a necessidade de imergir
no mundo tecnológico, do qual nem todos os professores faziam parte,
principalmente, porque agora há a questão do manuseio de equipamentos
e ferramentas. Não obstante, tiveram que pesquisar quais os programas que
poderiam ajudá-los a chegar às casas dos alunos e, ao mesmo tempo, dar
continuidade ao processo de ensino e aprendizagem.
Em vista disso, o presente artigo tem como objetivo repensar as
tecnologias como aliadas à educação, pois, sem sua adesão em momento
pandêmico, as escolas não estariam aptas a continuarem as aulas ou manter
a comunicação com os alunos e os pais. Em vista que as instituições de
ensino passaram a encontrar maneiras de assegurar que os estudantes
continuem tendo acesso à educação, o ensino tradicional, o qual valorizava
1
Mestra e Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
cilmara.rodrigues@unesp.br
226
a transmissão de conteúdos, ensejou um processo de ruptura para o
contexto digital.
Nesse cenário, compreendemos a importância de abordar as
Metodologias Ativas para a melhoria da aprendizagem no ensino remoto
emergencial ocasionado pela pandemia, e que recentemente, pela crise do
COVID-19, em alguns contextos, adquiriu o caráter híbrido (remoto e
presencial).
A seguir, contextualizamos o cenário pandêmico e possibilidades
de uso das tecnologias e metodologias ativas, como ferramentas
fundamentais para que as instituições escolares busquem continuidade ao
processo de ensino e aprendizagem, ainda que de forma não presencial.
1 A escola e a tecnologia
Na recente conjuntura de pandemia global relacionada ao
COVID-19, faz-se necessária a busca por ferramentas tecnológicas com o
objetivo de possibilitar o processo e, ainda, tornar as aulas mais dinâmicas
e atrativas, no meio remoto. Diante disso, percebe-se que as metodologias
ativas podem ser interessantes estratégias de ensino, como forma de
gerarem ambientes de conhecimento e discussão:
A escola pode transformar-se em um conjunto de espaços ricos em
aprendizagem significativas, presenciais e digitais, que motivem os
alunos a aprender ativamente, a pesquisar o tempo todo, a serem
proativos, a saber tomar iniciativas e interagir (MORAN, 2013, p. 31).
Neste sentido, de acordo com Pérez Gómez (2015), as tecnologias
digitais contribuem não só como apoio ao ensino, mas também como eixos
estruturantes de uma aprendizagem criativa, crítica, empreendedora,
personalizada e compartilhada. Além disso, o autor destaca que o processo
de utilização das tecnologias deve contar sempre com profissionais da
educação abertos e competentes, aptos a manusear essas ferramentas.
227
Neste contexto, durante muito tempo, o smartphone foi visto como
um vilão e se pautaram inúmeras discussões acerca de sua funcionalidade
tecnológica em sala de aula, sobretudo, pelo uso excessivo para jogos e
acesso às redes sociais. Contudo, no atual momento pandêmico, pode ser
considerado importante ferramenta e tem auxiliado no contato com os
alunos, participação, acesso a videoaulas e no envio das tarefas. Ademais,
cabe a reflexão de que talvez o celular não fosse um “vilão” do ensino, e
sim uma opção pouco aproveitada por parte de professores e estudantes,
diante do desafio de torná-lo uma ferramenta tecnológica capaz de auxiliar
nesse cenário pandêmico inesperado.
Alexandre Filho (2020), ainda que diante de um contexto
presencial, apresenta um estudo pertinente referente ao uso de celular na
realização de sequência de atividades desafiadoras capazes de promover
junto aos estudantes um engajamento mais satisfatório. Dessa forma, são
trazidas para a discussão o uso das Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação (TDIC), não apenas como ferramentas responsáveis por
viabilizar o desenvolvimento de uma competência técnica, mas sobretudo
por propiciar uma aprendizagem ativa e protagonista aos alunos de
Educação Básica.
Sendo assim, diante do atual cenário, devemos refletir acerca das
demandas vigentes e buscar flexibilidade e adaptação às práticas
pedagógicas. O uso de metodologias ativas pode ser uma possibilidade para
atender demandas de nosso contexto e paradigmas no aprendizado e,
também, no papel do professor e do aluno, para o profissional de ensino
como orientador e o aluno como protagonista da sua aprendizagem.
Com efeito, esses novos desafios trazem consigo questões a serem
exploradas, as quais poderão potencializar a aplicação e estruturação dos
conteúdos, assim como auxiliar o professor na inclusão e na utilização da
tecnologia como recurso para complementar as suas práticas pedagógicas.
Em meio a esta discussão, cabe trazer as disposições educacionais
acerca da Educação Básica e o uso das tecnologias. A Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018), documento que determina
as diretrizes do ensino nas escolas, compreende a tecnologia como
228
instrumento preponderante para a cultura digital de modo que ela deve ser
inserida no processo de ensino e aprendizagem, constituindo-se como um
de seus pilares. São duas competências gerais que estão relacionadas ao uso
da tecnologia, a quarta e a quinta (BRASIL, 2018), como se pode observar:
4. Utilizar diferentes linguagens verbal (oral ou visual-motora, como
Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital -, bem como
conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para
se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos
em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao
entendimento.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas
diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar,
acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver
problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva
(BRASIL, 2018, p. 9).
Diante disso, evidencia-se que a tecnologia deve ser implantada nas
escolas, de forma organizada, podendo trazer vários benefícios para a
educação. Como forma de adotar essas propostas educacionais disruptivas,
Coll e Monereo (2010) relatam que as competências digitais são
indispensáveis, pois, ao contrário disso, a escola estaria incompleta, no que
diz respeito à integração de seu currículo digital.
Sobre esta percepção, Bacich et al. (2015, p. 47) destacam que “[...]
crianças e jovens estão cada vez mais conectados às tecnologias digitais,
configurando-se com uma geração que estabelece novas relações com o
conhecimento que, portanto, requer que transformações aconteçam na
escola”. Os mesmos autores, em seguida, definem ensino híbrido como
uma mistura metodológica que impacta a ação do professor em situações
de ensino e a ação dos estudantes em situações de aprendizagem.
Para Moran (2015), esse modelo de ensino híbrido favorece
momentos de interação, colaboração e envolvimento com os conteúdos,
bem como considera que o seu uso em um nível mais profundo exige que
229
seja repensada a organização da sala de aula. Neste sentido, a elaboração
do plano pedagógico, bem como os papéis a serem desempenhados pelo
professor e pelos alunos diante das alterações emergenciais exigidas no
processo de adaptação a esse modelo de ensino de interação, contrapõem-
se ao ensino tradicional e às configurações das aulas, com os quais estavam
habituados.
Diante desse cenário, faz-se necessária a busca por ferramentas
tecnológicas que possam contribuir com o processo de
ensino/aprendizagem e promover engajamento e motivação. Como
discutem Bacich et al. (2015) e Moran (2015), os alunos aprendem melhor
quando se aproximam de um mundo em que confiam, tornando-se ativos
e autores de sua própria aprendizagem. Sendo assim, é evidente que a
tecnologia está transformando e abrindo possibilidades de crescimento na
sociedade em que vivemos.
Logo, para Moran (2013), os processos de organização dos
currículos e as metodologias precisam ser revistos, porque a sociedade em
que estamos inseridos está em constante mudança. Ademais, a educação
formal, também, vem passando por vários desafios como, por exemplo,
evoluir para se tornar relevante e conseguir que todos aprendam a
conhecer, a construir seus projetos de vida e a conviver com os demais de
forma competente.
Diante disso, as metodologias educacionais precisam acompanhar
todo esse processo de disruptividade, de modo que os professores possam
ajudar a construir uma atmosfera mais motivadora e significativa para os
conteúdos. No entanto, é necessário esclarecer que haverá diversas
dificuldades que poderão ser superadas, caso a organização dos currículos
seja bem planejada e permita que os estudantes desenvolvam seu potencial
de modo a evoluir cada vez mais.
Para Moran (2015), as instituições escolares mais inovadoras
buscam:
[...] integrar algumas dimensões importantes no seu projeto político-
pedagógico: Ênfase no projeto de vida de cada aluno, com orientação
230
de um mentor; Ênfase em valores e competências amplas: de
conhecimento e socioemocionais; Equilíbrio entre as aprendizagens
pessoal e grupal. Respeito ao ritmo e estilo de aprendizagem de cada
aluno combinado com metodologias ativas grupais (desafios, projetos,
jogos significativos), sem disciplinas, com integração de tempos,
espaços e tecnologias digitais (MORAN, 2015, p. 29).
Com isso, as tecnologias na educação se apresentam, aos
educadores, como meio de inovar o modelo tradicional de ensino e
transformar os estudantes em protagonistas do seu próprio aprendizado.
Dessa forma, o papel desempenhado pelo professor e pelos alunos sofre
alterações em relação à proposta e à configuração de ensino tradicional.
Além disso, a aprendizagem colaborativa é outro processo
facilitado pelas tecnologias, uma vez que a comunicação entre pares,
também, pode ser feita mediante a troca de informações e participação de
atividades em conjunto. Trata-se de uma relação que já se manifesta fora
da escola, através das redes sociais, na qual compartilham interesses,
vivências, pesquisas e aprendizagens. Logo, a escola pode ir além dos muros
já que nossos alunos vivenciam múltiplas interações, sejam elas coletivas
ou personalizadas.
A partir desta perspectiva, Almeida e Valente (2012) afirmam que
estas ações:
[...] propiciam a reconfiguração da prática pedagógica, abertura e
plasticidade do currículo e o exercício da coautoria de professores e
alunos. Por meio da midialização das tecnologias de informação e
comunicação, o desenvolvimento do currículo se expande para além
das fronteiras espaços-temporais da sala de aula e das instituições
educativas; supera a prescrição de conteúdos apresentados em livros,
portais e outros materiais; estabelece ligações com os diferentes espaços
do saber e acontecimentos do cotidiano; e torna públicas as
experiências, os valores e os conhecimentos, antes restritos ao grupo
presente nos espaços físicos, onde se realizava o ato pedagógico
(ALMEIDA; VALENTE, 2012, p. 60).
231
Isto posto, as metodologias ativas estão centradas na participação
efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de
forma flexível, interligada e híbrida. Nesse tipo de metodologia, os
educandos assumem o papel de protagonistas no processo de
aprendizagem, tornando-se mais participativos e reflexivos para
experimentarem, criarem e desenvolverem suas atividades a partir da
mediação do professor.
2 Metodologias ativas
As metodologias ativas se apresentam como uma alternativa para
colocar os alunos como principais agentes de seu aprendizado (BACICH;
MORAN, 2018). Assim, pode-se proporcionar o estímulo, a crítica e a
reflexão nos estudantes, com vistas ao incentivo de condução da aula,
percebendo-se como o centro deste processo. Sendo assim, é possível
trabalhar o aprendizado de uma maneira mais participativa, uma vez que
o envolvimento do estudante é que traz a fluidez e a essência das
metodologias ativas.
A ideia central é fazer com que a experiência da aprendizagem seja
uma cocriação entre professores e alunos, aperfeiçoando a autonomia e o
desenvolvimento dos estudantes como um todo, isto é, eles se tornam
capazes de compreender aspectos cognitivos, socioeconômicos, afetivos,
políticos e culturais.
Por meio das metodologias ativas, o processo de aprendizagem
ocorre de diversas maneiras, pois o profissional de ensino evita passar para
os alunos os conteúdos prontos e acabados, deixando-os menos mecânicos
e repetitivos. Nesta perspectiva, podem ser ofertados vários tipos de
metodologias ativas para o trabalho do educador, os quais possibilitam
provocações nos estudantes bem antes da própria aula, como no caso da
“sala de aula invertida”, em que os alunos se preparam para a aula,
tornando-a um palco estimulante de debates e aplicações.
Para Bacich e Moran (2018), é possível:
232
Fazer isso com tecnologias simples, incentivando que os alunos contem
histórias e trabalhem com situações reais, que integrem alguns dos
jogos do cotidiano. Se mudarmos a mentalidade dos docentes para
serem mediadores, eles poderão utilizar os recursos próximos, os que
estão no celular, como uma câmera para ilustrar ou um programa
gratuito para juntar as imagens e contar, com elas, histórias
interessantes. Há algumas condições para o sucesso da aula invertida: a
mudança cultural de professores, alunos e pais para aceitar a nova
proposta; a escolha de bons materiais, vídeos e atividades para uma
aprendizagem preliminar; e um bom acompanhamento do ritmo de
cada aluno, para desenhar as técnicas mais adequadas nos momentos
presenciais. A combinação de aprendizagem por desafios, problemas
reais e jogos com a aula invertida é muito importante para que os
alunos aprendam fazendo, aprendam juntos e aprendam, também, no
seu próprio ritmo. Os jogos e as aulas roteirizadas com a linguagem de
jogos a chamada gamificação estão cada vez mais presentes no
cotidiano escolar e são importantes caminhos de aprendizagem para
gerações acostumadas a jogar (BACICH; MORAN, 2018, p. 58-59).
Diante do exposto, verifica-se que ensinar/aprender se torna
fascinante quando se convertem em processos de pesquisas e descobertas
constantes, também de questionamento, de criação e experimentação.
Como mencionado, os desafios, problemas e jogos estão presentes no
cotidiano de nossos estudantes, aspecto que demanda dos educadores a
sistematização mais adequada dos planos de ações, envolvendo temas, que
possam ser desenvolvidos por meio dessa técnica, com o intuito de tornar
o conteúdo mais atrativo e, assim, promover o desenvolvimento cognitivo
dos estudantes.
Com isso, o papel do professor nesse processo de formação dos
educandos é o de orientador e organizador, uma vez que escolhe a
relevância dos temas debatidos, haja vista a multiplicidade das informações
disponíveis. Sua atuação é de suma importância, no sentido de reconhecer
a qualidade dos materiais e atividades disponíveis.
233
3 As metodologias ativas na formação de professores
Considerando que as tecnologias digitais estão presentes na maioria
das instituições escolares brasileiras e seu uso foi, emergencialmente,
acentuado, cabe uma reflexão sobre a formação continuada ou inicial de
professores para o emprego de metodologias ativas. Sobre esta percepção,
deve-se avaliar a maneira de implementação das diferentes propostas,
sendo um dos maiores desafios em razão da realidade educacional do
Brasil.
Observa-se que a pandemia tem desencadeado cenários sem
precedentes e, antes, o uso das tecnologias digitais nas escolas se fazia
facultativo, agora passam a integrar práticas e, até mesmo, o acesso entre
educadores e educandos.
Compreendemos que o planejamento pedagógico que norteia a
ação do professor é um suporte imprescindível e deverá ganhar notoriedade
para as práticas vigentes. Concebemos que a pandemia e as demais ações
que têm influenciado o processo de ensino/aprendizagem já iniciaram uma
ruptura com o ensino tradicional, em que o próprio professor é quem inicia
a mudança em sua sala de aula, despertando de forma gradual o interesse
dos demais colegas da escola. Logo, um repensar de posicionamento
deverá, também, afetar o envolvimento de toda equipe da gestão escolar,
incentivando e avaliando o impacto dessas mudanças nas ações de
ensino/aprendizagem e na instituição como um todo.
Masetto (2006) relata a diferença entre ensino/aprendizagem.
Consideramos importante destacar aqui quando afirma:
O conceito de ensinar está mais diretamente ligado a um sujeito (que
é o professor) que, por suas ações, transmite conhecimentos e
experiências a um aluno que tem por obrigação receber, absorver e
reproduzir as informações recebidas. O conceito de aprender está,
ligado mais diretamente a um sujeito (que é o aprendiz) que, por suas
ações, envolvendo ele próprio, os outros colegas e o professor, busca e
adquire informações, dá significado ao conhecimento, produz reflexões
e conhecimentos próprios, pesquisa, dialoga, debate, desenvolve
234
competências pessoais e profissionais, atitudes éticas, políticas, muda
comportamentos, transfere aprendizagens, integra conceitos teóricos
com realidades práticas, relaciona e contextualiza experiências,
sentido às diferentes práticas da vida cotidiana, desenvolve sua
criticidade, a capacidade de considerar e olhar para os fatos e
fenômenos sob diversos ângulos, compara posições e teorias, resolve
problemas. Numa palavra, o aprendiz cresce e desenvolve-se. E o
professor, como fica nesse processo? Desaparece? Absolutamente. Tem
oportunidade de realizar seu verdadeiro papel: o de mediador entre o
aluno e sua aprendizagem, o facilitador, o incentivador e motivador
dessa aprendizagem (MASETTO, 2006, p. 139-140).
Perante o exposto, é possível entender a diferença entre
ensino/aprendizagem, o que facilita ao estudante e ao professor
identificarem quais são realmente seus papéis dentro do processo de
aprendizagem no ambiente escolar. Assim sendo, o aluno se assume como
sujeito e o professor como mediador e orientador desse processo.
De acordo com Bacich e Moran (2018), o professor cuida, dá
apoio, acolhe, estimula, valoriza, orienta e inspira a classe, os grupos e a
cada aluno. Ainda, para os autores, outro aspecto, também, ressaltado é
em relação aos profissionais, já que a eles compete gerenciar intelectual e
afetivamente aprendizagens múltiplas e complexas. Não obstante, esta
percepção exige profissionais melhor preparados, bem remunerados e
valorizados, desafios estes a serem superados pelas políticas educacionais
no Brasil.
Compreendemos que, apesar dos desafios, a formação continuada
é de suma importância aos profissionais da educação que estão inseridos
em ações de metodologias ativas. Neste contexto, demanda-se que o
professor esteja em constante formação, com os pares ou com a equipe de
gestão, principalmente na experimentação e na troca de experiências, as
quais dão a oportunidade de discussão e reflexão da sua própria atuação
em sala de aula, configurando-se como momento rico de aprendizado.
235
Considerações Finais
O cenário causado pela pandemia do COVID-19 vem trazendo
muitas questões relevantes para discussão no que se refere ao processo de
aprendizado, tanto para os alunos quanto para os profissionais da
educação. Destacamos a necessidade de adaptação às metodologias ativas,
até então, pouco utilizadas ou desconhecidas. Apesar do uso da tecnologia
não ser um assunto novo, principalmente, pela sua abordagem na BNCC,
Brasil (2018), como uma ferramenta praticamente indispensável para as
práticas pedagógicas, alguns profissionais ainda se evadiam dela pela falta
de familiaridade ou manejo, por exemplo.
Como mencionado no decorrer do artigo, as instituições escolares
e profissionais da educação estão vivenciando um momento de valorização
e importância para os investimentos e implantação de tecnologias para
conectar alunos e professores. O cenário pandêmico exige reflexão sobre a
necessidade de que, além de ensinar, é necessário realizar as ações junto
com seus professores, principalmente, no que diz respeito às dimensões
envolvidas no processo pedagógico.
Diante dos acontecimentos e mudanças emergenciais ocorridas no
cenário educacional, enfatiza-se a necessidade de capacitação profissional.
Como forma de atender essa demanda de tecnologia, requisitada para
prepararmos de nossas aulas, o efeito prático no ensino é o de transformar
as aulas não só mais atraentes, mas que possam chegar até os estudantes
nesse tempo de distanciamento social e/ou ações de ensino híbrido, de
maneira que estes se sintam motivados e facilite seu processo de
aprendizagem.
Uma vez retomado o contexto pós-pandemia, poderemos
vislumbrar conquistas diante das experiências que as escolas, os professores
e alunos já estão vivenciando. Com isso, poderemos trazer aprendizados
favoráveis para as aulas presenciais ou híbridas, nas quais a tecnologia
estará presente como algo que irá contribuir no dia a dia, favorecendo o
aprendizado, a autonomia e o desenvolvimento dos estudantes.
236
Referências
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uma pedagogia dos multiletramentos na Educação Básica. 2020. 120 f.
Dissertação (Mestrado Profissional em Letras). Universidade Estadual
Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, Assis, 2020.
ALMEIDA, E; VALENTE, J. Integração currículo e tecnologias e a
produção de narrativas digitais. Currículo sem Fronteiras, v. 12, n. 3, p.
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BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum
Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2018.
BACICH, L.; MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação:
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BACICH, L. et al. (Org). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na
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COLL, C.; MONEREO, C. Psicologia da educação virtual: aprender e
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Alegre: Artmed, 2010.
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MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem inovadores com apoio de
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Novas tecnologias e mediação pedagógica. 21. ed. rev. e atual.
Campinas: Papirus. 2013.
237
MORAN, J. Educação híbrida: um conceito chave para a educação, hoje.
In: BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISIANI, F. M (Org).
Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre:
Penso, 2015. p. 27-39
PÉREZ GÓMEZ, A. I. Educação na era digital: a escola educativa.
Porto Alegre: Penso, 2015.
239
Estratégias de Leitura no JAMBOARD:
uma proposta para o ensino remoto
Yngrid Karolline Mendonça COSTA
1
Paulo Alexandre FILHO
2
Introdução
O uso das tecnologias digitais de informação e comunicação
(TDIC), há tempos, vem tomando espaço nas discussos em se tratando
de contexto de ensino-aprendizagem. Por outro lado, apesar do
crescimento exponencial desta área de pesquisa, a qual caminha a passos
largos, observamos que a relação entre teoria e prática ainda se mantinha
irregular, uma vez que, do ponto de vista da realidade concreta das
instituições de ensino, os recursos tecnológicos se faziam pouco presentes
na rotina de alunos e professores.
Contudo, diante dos últimos acontecimentos de ordem global, em
que se instaurou um cenário de pandemia, a vigência de modelos mais
tradicionais, até então presentes nas escolas, exigiu uma transição rápida
para um modelo de aprendizagem totalmente mediado pelas ferramentas
tecnológicas. Não sabemos ao certo quanto tempo levaríamos para
implementar todas essas mudanças se não fosse a disseminação do
COVID-19, pois, em uma escala de tempo muito pequena, assistimos a
todas essas mudanças na educação como tentativa de assegurar aos
1
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
yngrid.karolline@unesp.br
2
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail:
p.alexandre@unesp.br
240
estudantes o processo de aprendizagem e minimizar as perdas em razão do
surto epidemiológico.
Logo, outras formas de se relacionar com os modelos de ensino-
aprendizagem foram requeridas, principalmente, dos profissionais da
educação. Desse modo, as TDIC foram preponderantes para a mediação
dos processos de ensinar e aprender. Nesse sentido, Arruda e Siqueira
(2021, p. 02) apontam que “[...] o comportamento nas relações também
foi alterado. O uso das tecnologias digitais se tornou primordial, mesmo
de forma on-line, para que as diversas áreas impactadas pudessem continuar
operando, principalmente a educação.”
Assim, utilizar as tecnologias se tornou fundamental para que as
instituições de ensino pudessem garantir a continuidade de seus trabalhos
e, ao mesmo tempo, manter o contato entre educadores e estudantes,
mesmo que mediados pela interface da tela. Garcia (2020, p. 43) observa
que “[...] as tecnologias passaram a se constituir sustentáculos na educação,
assumindo o protagonismo para viabilizar ações em muitos contextos e
trazendo desafios para escolas, professores e alunos diante de improteláveis
reconfigurações.
Para este trabalho, temos como objetivo promover estratégias de
leitura, em tempos de ensino emergencial remoto, utilizando-se da
ferramenta Jamboard
3
com crianças do ensino fundamental. De antemão,
ressaltamos que, por se tratar de uma proposição, em momento algum,
objetivamos prescrever uma receita, apresentar respostas prontas e/ou
limitar as discussões acerca do uso de ferramentas tecnológicas em
contextos de ensino-aprendizagem. Pelo contrário, acreditamos que este
artigo poderá fomentar reflexões acerca do tema, tão frutífero diante das
transformações de mundo impostas pelo COVID-19 e, simultaneamente,
tão desafiador e relevante para este momento.
3
O Jamboard é uma das ferramentas livres do Google. É uma tela inteligente, que funciona como
uma lousa digital, mas em modo remoto. O professor pode fazer as anotações em conjunto com os
alunos em aula, ou pode compartilhar um link de uma tela proposta e pedir para que os alunos
participem inserindo suas anotações. Disponível em: https://edu.google.com/intl/pt-
BR/products/jamboard/. Acesso em: 08 de mar. de 2021.
241
Optamos por utilizar, neste trabalho, a metodologia qualitativa
com procedimento bibliográfico, já que essa proposta teórico-
metodológica “[...] é construída a partir dos dados obtidos nas obras
selecionadas, conforme a metodologia proposta e baseada no referencial
teórico construído” (LIMA; MIOTO, 2007, p. 43). Logo abaixo,
apontamos a trajetória a ser construída no transcorrer deste percurso:
A competência leitora na interface da tela: nesta seção, apresentamos a
fundamentação teórica, bem como os autores que subsidiaram a
construção deste artigo, promovendo as relações pertinentes entre
teoria e prática para o desenvolvimento crítico-reflexivo da proposta
teórico-metodológica;
Da teoria à prática de leitura mediada pelas TDIC: uma proposta
teórico-metodológica: neste momento, à luz das teorias elencadas na
seção anterior, empreendemos o desafio de elaborar uma proposta de
abordagem da leitura mediada por recursos tecnológicos;
Considerações finais: por fim, finalizamos nosso texto, reiterando os
principais aspectos discutidos a fim de promover reflexões sobre o
momento atual, em que vivenciamos transformações dia a dia na
educação, em virtude do distanciamento imposto pelo COVID-19,
vislumbrando o futuro educacional diante de todos os impactos
sofridos nos últimos tempos.
1 A competência leitora na interface da tela
A competência leitora se constitui um dos grandes desafios quando
se trata de ensinar e aprender, tanto para educadores quanto alunos. São
inúmeras as discussões e teorias acerca da temática, na maioria das vezes,
abordando metodologias muito produtivas que, certamente, podem ser
utilizadas durante as aulas, independente do componente curricular.
Contudo, na atualidade, torna-se indispensável recrutar as ferramentas
tecnológicas para o trabalho a ser desenvolvido com nossos alunos se
242
pensarmos que muitas pessoas, em algum momento, leem por meio de
recursos digitais.
Assim, refletir sobre a vasta gama de possibilidades que esses
recursos nos oferecem se trata de reconhecer não apenas as imposições
sanitárias do COVID-19, mas, também, a emergência de novos
paradigmas pelos quais o mundo se reconfigura. Para Folleto e Costa
(2021, p. 150), “conciliar os objetos de estudo utilizando abordagens que
vão ao encontro das necessidades dos estudantes, bem como da realidade
em que vivem é o objetivo maior de todo professor que tem
comprometimento com seu papel em uma educação de qualidade”.
Dessa forma, pautamo-nos em modelos e ações a partir das
estratégias de leitura propostas por Harvey e Goudvis (2008) e difundidas
no Brasil pelas autoras Girotto e Souza (2010). Tais estratégias se
constituem ferramentas de metacognição dos atos de ser leitor, pois, como
apresentaremos aqui, as crianças vão se conscientizando das ações e modos
que um leitor experiente realiza durante o processo de leitura, para depois
experenciarem e se apropriarem dessas ações, de modo a torná-las
espontâneas, assim como nós, leitores mais experientes.
Bakhtin (2003), ao falar do modo como nos apropriamos da
linguagem, afirma que vivemos em um mundo de palavras do outro e
somos reflexos (refletimos a partir de como elas nos chegam) e refrações
(no diálogo, devolvemos essa palavra com nossas ‘marcas’) dessas palavras.
Elas nunca voltam para nosso interlocutor da mesma forma, pois elas nos
afetam. Nós as reformulamos a partir de leituras, valores pessoais e relações
estabelecidas entre mim e o outro, assim, quando voltam, são carregadas
de ‘nós’ para o outro.
Quando trabalhamos com a competência leitora e com as
estratégias envolvidas no processo de ler, enxergamos exatamente isso, a
interlocução que deve existir entre leitor e autor. Foucambert (2008)
pontua as ações e modos de ser leitor como dependentes do meio em que
a criança está inserida. No hemisfério ocidental, nós temos um modo de
ler diferente do hemisfério oriental. Em nossa leitura, os olhos ou dedos
percorrem as páginas da direita para a esquerda, folheamos os livros da
243
direita para a esquerda, já no modo oriental, a leitura é feita da direita para
a esquerda nas páginas e o livro começa da última para a primeira página.
Assim, a relação que se estabelece entre sujeito e palavra se constitui
a partir do espaço geográfico e social. As experiências que as crianças nos
trazem são de um recorte ainda menor desse amplo espaço geográfico e
social, que possui características próprias de cultura a partir da região em
que habita. Desse modo, acreditamos que nossa função como professores
é explorar esse conhecimento e ampliá-lo para que as práticas sociais
envolvendo a linguagem sejam efetivas e integradoras para todos.
Temos o costume, muitas vezes, de separar o ensino da leitura do
ensino da escrita, como estratégia de sistematização do conteúdo, contudo
não devemos perder de vista que ambas são indissociáveis e que precisam
estar articuladas em nossa rotina, mesmo que em determinado momento
uma tenha foco secundário em detrimento de outra. Ao trabalharmos a
leitura, devemos considerar que a língua se configura por meio de signos,
que carregam significado, significante e representações ideológicas.
Segundo Vygotsky (1995), o significado é o sentido mais social,
dicionarizado, literal da palavra e o significante é o que torna mais
particular, dependendo das vivências e pensamentos do sujeito. Ao
citarmos para as crianças algo que elas já vivenciaram, sabemos que elas
terão condições de nos trazer o significado e o significante daquela
vivência.
Nossa experiência é com crianças de escola pública de zona
periférica, então, se citarmos uma cidade como Orlando, na Flórida, elas
podem conhecer o significado, que é uma cidade conhecida por ter os
parques da Disney, mas dificilmente terão significantes, pois não têm a
vivência para falar com propriedade da cidade.
O trabalho com as estratégias de leitura deve focar sim no
significado dos signos, mas deve trazer à tona os significantes, pois, nós,
como mediadores da prática, devemos, não apenas, ser o modelo de leitor
para as crianças, mas também, compreender os pensamentos que
perpassam sua cabeça enquanto leem, para que possamos atuar e
desenvolver as máximas possibilidades de sua competência leitora.
244
Além de todo o exposto, deixamos clara a importância da escuta
atenta do professor. No primeiro momento, como modelo e, depois, como
guia das crianças, pois ele precisará ajudá-las a compreender o processo de
realização de cada estratégia e ouvir o modo como estão praticando, para
não somente avaliar se estão conseguindo compreender e tomar
consciência dos atos e ações de ser leitor, mas também, para direcionar o
seu trabalho.
Conhecer os nossos alunos e o repertório pessoal que eles têm sobre
a experiência de vida e experiências leitoras é primordial para o ensino das
estratégias de leitura, porque, ao elencarmos os livros que serão
trabalhados, devemos pensar nas possibilidades que as crianças terão de se
envolver com a leitura e de realizar tais estratégias. Isso ficará mais claro no
tópico em que trabalharemos a sistematização dessas estratégias. Por isso,
ressaltamos que a sistematização não pode ser vista como uma receita, pois
a realidade de cada sala dentro de uma mesma escola é diferente. Portanto,
cada professor deve, a partir dos conhecimentos partilhados neste texto,
repensar e objetivar os melhores caminhos de acordo com as suas
necessidades.
Sabemos que, atualmente, muitos são os estudos que discutem a
leitura e a escrita e, ainda assim, temos uma grande dificuldade em relação
às práticas realmente efetivas, tendo em vista os índices que nos perseguem
em avaliações de larga escala. Por isso, Ribeiro (2018) afirma que:
Embora a educação escolar tenha vasta tradição no estudo dos textos,
nem sempre isso é feito de maneira aprofundada ou realmente
esclarecedora. Atividades de leitura tradicionais nem sempre ajudam a
conduzir discussões que tenham impacto sobre os discursos ou
fomentem a criticidade (RIBEIRO, 2018, p. 29).
Considerando que o contexto escolar, na atualidade, tem como
característica a heterogeneidade e integrar a teoria dos multiletramentos às
situações de ensino-aprendizagem significa construir nosso presente sobre
alicerces coerentes, potencializadores do conhecimento e viáveis com a
245
realidade de nossos alunos na contemporaneidade. Esse processo de
integração, pelo que notamos, em um primeiro momento, trata da
desconstrução de modelos tradicionais, sobretudo, daqueles amparados na
cultura do impresso em que a produção de sentidos acontece de forma
mais linear e, talvez, mais unilateral.
As novas maneiras de interagir e produzir sentidos estão, cada vez,
mais arrojadas de modo que o digital passa a ser ponto essencial da
discussão, envolvendo todas as práticas de linguagem, principalmente, a
leitura. Neste artigo, apesar de priorizarmos a competência leitora,
acreditamos que, em todos os momentos, ela esteja interligada à
competência escritora, já que a relação entre leitura e escrita acontece
espontaneamente quando as práticas de aprendizagem são
estrategicamente planejadas. Nesse sentido, as ações de ler e escrever estão
intimamente interligadas e, concomitantemente, constroem-se juntas,
considerando que a ausência ou presença de uma interfere na outra,
independente de qual metodologia a ser empregada pelo educador.
Desse modo, a pedagogia dos multiletramentos vem ao encontro
das necessidades do cenário atual em que a modalidade remota constitui-
se realidade em todos os níveis de educação no Brasil (ALEXANDRE
FILHO; LEMES, 2020). Na visão de Ribeiro (2021, p. 22), “a leitura se
movimenta também conforme os ventos da tecnologia - manuscrito,
impresso, digital - incluindo-se aí materialidades, inscrições, formatos,
além dos modos de organização social e escolar [...]”. Assim, observamos
que a concepção dos multiletramentos desestabiliza a ideia de tradição e
manutenção de paradigmas em detrimento da absorção do novo e da
diversidade, incluindo-se, sobretudo, a pluralidade de constituições do
sentido, bem como sua compreensão.
O termo letramento, introduzido no Brasil no final do século XX,
apoia-se na concepção de uso social da linguagem, podendo ser ela verbal,
ou não verbal, escrita ou oral. Desse modo, de antemão, já nos deparamos
com a complexidade e, ao mesmo tempo, dificuldade por definir um
termo, tão fluido, tão dinâmico e tão repleto de plasticidade. Rojo e Moura
(2019, p. 11) observam que “[...] os letramentos se ampliam e modificam,
246
tornando-se multiletramentos e novos multiletramentos ou letramentos
hipermidiáticos, entre os muitos modificadores e adjetivos que se
agregaram ao termo original (letramento) [...]”.
A revolução na área tecnológica promoveu, também, uma
transformação do ethos de modo que, culturalmente, as pessoas se
tornaram mais dependentes das ferramentas tecnológicas. A maneira como
a sociedade recebeu todas essas mudanças refletiu-se, notoriamente, não
apenas no comportamento, mas, sobretudo, nas relações envolvendo o uso
das diferentes linguagens. Em meio a esse fervilhar de transformações,
Magalhães e Carrijo (2019, p. 214) observam que “nessa direção, os
multiletramentos consideram as mudanças do mundo e dos ambientes de
comunicação cada vez mais tecnológicos, que influenciam a aprendizagem
escolar, com os quais os estudantes estão em constante contato”.
Os desafios que a contemporaneidade nos coloca são inúmeros. Ao
refletir sobre a inserção, cada vez maior, das ferramentas tecnológicas em
nosso dia a dia, Moran (2015, p. 35) ressalta que “o ensinar e o aprender
acontecem em uma interligação simbiótica, profunda e constante entre os
chamados mundo físico e digital. Não são dois mundos ou espaços, mas
um espaço estendido, uma sala de aula ampliada, que se mescla, hibridiza
constantemente”. Portanto, apontamos, neste trabalho, a importância de
lançar mão das tecnologias sempre interligadas ao uso das metodologias
ativas.
Em um primeiro momento, o intento ao se amparar nas
metodologias ativas recai na ressignificação das práticas pedagógicas
tradicionais. Dessa forma, acreditamos que muitas dessas estratégias
mantêm seu valor e podem ser mantidas, pois “ressignificar” não implica,
necessariamente, em anular, ou invalidar. Pelo contrário, concordamos
com a ideia de que se pode promover o ensino-aprendizagem ativo e
protagonista, partindo de uma aula expositiva, por exemplo. A grande
questão é não permanecer, apenas, nessa forma de abordagem, tendo em
vista os recursos de que dispomos na atualidade. Sunaga e Carvalho (2015,
p. 115) enfatizam que “[...] a tecnologia não veio para substituir a sala de
aula tradicional, e sim para garantir que novos recursos sejam utilizados
247
com eficácia por meio de uma integração dos aprendizados presencial e on-
line”.
Instigar os alunos de modo a levá-los a empreender suas próprias
estratégias no processo de resolução de uma situação-problema, exercendo
seu protagonismo diante de aprendizagens desafiadoras e capazes de
transcender o papel passivo de receptor, em outras palavras, significa
possibilitar que se tornem agentes de seus caminhos. De acordo com
Moran (2018, p. 02), “o que constatamos, cada vez mais, é que a
aprendizagem por meio de transmissão é importante, mas aprendizagem
por questionamento e experimentação é mais relevante para uma
compreensão mais ampla e profunda”.
Na sequência, embasados pelas teorias descritas nesta seção,
descrevemos uma proposta teórico-metodológica para o ensino da
competência leitora a partir do uso das TDIC. Reiteramos que se trata de
um protótipo, por assim dizer. Portanto, todas as descrições e
apontamentos não são rígidos e podem ser repensados de acordo com a
realidade de cada espaço, público e recursos disponíveis, procurando “[...]
uma interligação simbiótica, profunda e constante entre os chamados
mundo físico e digital” (MORAN, 2015, p. 35).
2 Da teoria à prática de leitura mediada pelas TDIC:
uma proposta teórico-metodológica
Nesta seção, tentamos discutir, a partir de nossas práticas, como
podemos colaborar no ensino da leitura, mesmo à distância, considerando
o novo momento vivido, que nos exigiu (re) pensar nossas práticas e
incorporar, a todo custo, o que a nova Base Nacional Curricular Comum
(BNCC) nos indicou ao tratar sobre
[...] tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica,
significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as
escolares), para se comunicar por meio das diferentes linguagens e
248
mídias, produzir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver
projetos autorais e coletivos (BRASIL, 2018, p. 65).
Isto posto, discutimos, aqui, o ensino das estratégias de leitura
(GIROTTO; SOUZA, 2010) utilizando recursos digitais, neste caso,
livros de literatura infantil digitalizados, aliado à uma das ferramentas livres
do Google, o Jamboard. Primeiro, vamos explorar as estratégias de leitura
de modo sucinto e, em seguida, possibilidades de ação a partir da
ferramenta do Google.
Como já anunciado, consideramos as estratégias de leitura como
um exercício de metacognição dos atos e ações de ser leitor, ou seja, uma
tomada de consciência dos pensamentos que percorrem em nossa mente
quando temos contato com um texto novo ou mesmo um texto já
conhecido, em outro momento de nossa vida. Leitores experientes podem,
inclusive, utilizar-se de muitas das estratégias sem nomeá-las ou conhecê-
las. Para nós, fica claro que as estratégias ocorrem simultaneamente.
Contudo, optamos por separá-las, apenas, para elucidarmos melhor cada
uma delas para que, durante o processo de ensino-aprendizagem, as
crianças entendam a diferença de cada uma e pratiquem, para depois
começarmos a misturar.
Segundo Girotto e Souza (2010), temos oito estratégias de leitura:
conexão texto-leitor; conexão texto-texto; conexão texto-mundo;
inferência, visualização; sumarização; síntese; e perguntas ao texto. Todas
as estratégias dependem de outra essencial, considerada por Arena (apud
GIROTTO; SOUZA, 2010) como o guarda-chuva das estratégias, que é
o conhecimento prévio.
Anunciamos, acima, a importância do professor conhecer seus
alunos e sua realidade para a proposição de histórias possíveis de serem
trabalhadas, porque o conhecimento prévio é o que as crianças já sabem
sobre determinado assunto ou o que elas já tiveram de experiência em suas
vidas, que podem trazer para colaborar com o texto. Se elas nunca ouviram
uma história sobre lobo, não podemos esperar que façam conexão com o
texto de Chapeuzinho Vermelho. Então, conhecer as crianças e seus
249
conhecimentos prévios é a base para o trabalho com as estratégias de
leitura.
As conexões, como o nome supõe, são links que fazemos a partir
de nossos conhecimentos prévios com o texto escrito ou com a ilustração
presente no material a ser explorado pelo professor. Segundo as autoras
(GIROTTO; SOUZA, 2010), a conexão texto-leitor significa conectar
algum elemento do texto ou ilustração com algo que aconteceu em minha
vida; a conexão texto-texto, relaciona o texto ou imagem que a criança está
tendo contato com outro texto, desenho animado ou história conhecida;
e, por fim, a conexão texto-mundo, em que a criança deve relacionar uma
palavra ou o contexto da leitura ou imagem com notícias, acontecimentos
e experiências mais globais, que ela possa ter acessado por meio de jornais,
noticiários, Internet etc.
A inferência é uma estratégia que as crianças utilizam muito,
mesmo inconscientemente. São as antecipações que fazemos durante a
leitura, tentando criar hipóteses sobre o que pode vir na história,
afirmando as hipóteses ou criando novas suposições. Além disso, a
inferência deve permitir que as crianças façam suposições de palavras que
não conhecem, tentando buscar o seu significado a partir do contexto,
assim como nós, leitores experientes, fazemos normalmente. Nem sempre
recorremos ao dicionário como forma de estimular as crianças a buscarem
elementos que as ajudem na compreensão de palavras, apoiando-se no
contexto sem precisarem, necessariamente, do dicionário.
A estratégia de visualização nos permite imaginar um cenário a
partir de um texto descritivo, mas não utilizando somente o nosso sentido
de visão, mas todos os sentidos, olfato, tato, paladar e audição. Isso pode
parecer abstrato para nós, mas pensemos, quando nos deparamos com uma
história que pode falar da infância, de um dia de chuva no campo, sentia
o cheiro de terra molhada. Se tivermos essa experiência, podemos fechar
os olhos e imaginar a cena, recordar do cheiro da terra, do barulho da
chuva no telhado. Assim, as crianças devem aprender a fazer.
A sumarização e a síntese caminham juntas. Na estratégia de
sumarização, devemos ensinar as crianças a buscarem a essência do texto,
250
algo que elas têm muita dificuldade, normalmente. Então, podemos fazer
o uso de um quadro separando os elementos essenciais, que não podem
faltar na história dos elementos que são detalhes, que estão ali para
enriquecer a história, mas que se tirarmos não compromete a essência.
Devemos buscar textos que não sejam tão complexos, por isso,
normalmente, nos primeiros momentos de ensino, usamos textos
informativos, científicos, porque os de literatura infantil geram maior
dificuldade.
A síntese depende da sumarização pois reescrevemos a história ou
texto lido a partir dos pontos essenciais elencados anteriormente e, ao final,
trazemos contribuições pessoais ao texto, deixando nossas marcas como
leitores, não apenas para reproduzir o que já foi produzido.
Por fim, mas não menos importante, temos as perguntas ao texto.
Para Girotto e Souza (2010), aprender a fazer perguntas é essencial, porque
a leitura de um texto, como concebemos, deve estabelecer um diálogo entre
o autor e leitor. Concordamos com Cosson (2011) que a leitura é solidária
e não solitária. Portanto, quando ensinamos as crianças a perguntar,
devemos ensinar que há perguntas que serão respondidas no próprio livro
e há perguntas que ficarão sem resposta.
O livro “Aquilo” de Ricardo Azevedo (1990) é um exemplo. O
autor traz imagens dizendo que aquilo causou um alvoroço na cidade, teve
gente que ficou feliz, gente que ficou triste, gente que riu, outros ficaram
com medo. Então mostra uma dicotomia e, no final, não apresenta o
referencial de ‘aquilo’, terminando em uma obra aberta. As crianças podem
ir se perguntando o que é aquilo, tentando responder a pergunta. Elaborar
perguntas é tentar captar a essência do texto, quem sabe elaborar
perguntas, compreende o escrito e é capaz de falar sobre ele.
Para o ensino das estratégias, além de saber sobre os conhecimentos
prévios da criança, o professor deve saber que é o exemplo leitor em sala
para o primeiro contato com as estratégias. Girotto e Souza (2010)
chamam o primeiro momento de Modelação. Neste momento, o professor
é quem faz a leitura do texto em voz alta, dizendo para as crianças tudo o
251
que aquela história lhe remete relacionando à estratégia trabalhada naquele
dia.
O segundo momento é o da Prática Guiada, em que o professor
age como orientador das crianças, fazendo a mediação do uso da estratégia
elencada. Pode ser iniciado pela leitura feita pelo professor com a
participação da sala toda, em grupos e o professor faz um rodízio de grupos,
mas o objetivo é o professor guiar as crianças em conjunto para que
pratiquem as estratégias de forma a compreenderem bem como devem
realizá-la.
Há o terceiro momento em que as crianças precisam ter mais
autonomia, por isso, consideramos a possibilidade a partir dos anos finais
do primeiro ciclo do Ensino Fundamental, pois as crianças devem estar
alfabetizadas, que é a Prática Independente. Como o nome sugere, neste
momento, o professor pode apoiar as crianças por meio de quadros
norteadores sobre a estratégia trabalhada, porém, a criança fará a estratégia
sozinha.
Tendo em vista o momento pandêmico, propomo-nos a pensar em
um trabalho remoto com tais estratégias. Participamos de um evento em
que as autoras Gonzaga et al. (2021) trouxeram sua experiência leitora com
crianças do sexto ano do Ensino Fundamental, utilizando a ferramenta
livre do Google, o Jamboard, o que nos despertou a pensar sobre o ensino
das estratégias por meio desta ferramenta.
Consideramos que o momento de modelação poderia ser feito por
meio das aulas on-line, mas para a prática guiada ou independente, o
Jamboard poderia nos auxiliar muito, já que, mediante o link, as crianças
poderiam inserir suas notas colaborativas de acordo com o livro a imagem
ou texto postados. Abaixo, trazemos um exemplo da estratégia de leitura
conexão texto-texto feito no Jamboard, trabalhando com uma página
específica do livro “A ervilina e o princês”, de Sylvia Orthof (2010), que
julgamos apresentar figuras clássicas para suscitar conexões nas crianças.
252
Figura 1 - Estratégia de conexão texto-texto realizada no Jamboard
Fonte: Orthof (2010, p. 07).
Neste exemplo, poderíamos colocar a página do livro e apenas uma
pergunta para as crianças, provocando-as a se lembrarem de alguma
história. Ao compartilhar o link com a sala, eles poderiam fazer a lousa
colaborativa, adicionando suas anotações. Assim, além de uma partilha
com os demais colegas, cada um teria a sua conexão marcada, de modo
individual, e todos teriam acesso ao mesmo material no momento que lhe
fosse mais oportuno acessar.
Trazemos, abaixo, também, um exemplo com uma conexão que,
por vezes, julgamos difícil para as crianças por subestimá-las, mas, quando
trazemos temas relevantes e atualizados, as crianças conseguem fazer as
conexões texto-mundo.
253
Figura 2 - Estratégia de conexão texto-mundo realizada no Jamboard
Fonte: Twiter (31 jan. 2019)
4
.
O exemplo da imagem acima foi trabalhado em momento
oportuno com uma de nossas salas, no terceiro ano do Ensino
Fundamental, ainda em ensino presencial. Um dos alunos não apenas sabia
do ocorrido em Brumadinho, como nos precisou o número de mortos até
aquele momento. Isso demonstra que as crianças estão cientes de
acontecimentos mais globais.
Em sua utilização, o professor poderia estipular um prazo para o
acesso dos alunos às atividades para depois retomar com um diálogo em
momento oportuno de suas aulas, podendo, inclusive, desenvolver as
demais estratégias aqui apontadas.
Trabalhar um livro inteiro na plataforma não é viável já que há leis
de direitos autorais a serem observadas, então podemos fazer uso de
algumas imagens, referenciando a obra em que retiramos, em que seja
possível abordar a estratégia elencada. As imagens, também, precisam estar
em formato apropriado.
A promoção da leitura deve ser fomentada considerando estratégias
e ferramentas às quais os alunos tenham acesso para que, em caráter
4
Disponível em: https://twitter.com/humorpoliticobr/status/1091054333402198017. Acesso em:
14 mar. 2021.
254
emergencial, o processo de ensino-aprendizagem se consolide. Em
situações de ensino presencial, o compartilhamento de ideias e interação
das crianças poderia se consolidar, de uma maneira ainda mais organizada
e colaborativa, tendo em vista as possibilidades de discussão de ideias e
hipóteses, reformulando e sofisticando esse debate em conjunto.
De maneira breve, compartilhamos apenas um recorte de
possibilidades de prática envolvendo a competência leitora, mediada pelo
uso da ferramenta Jamboard. A contribuição de ferramentas como essa
podem trazer grandes contribuições se bem articuladas e, ao mesmo
tempo, minimizar as dificuldades geradas pelo distanciamento social e
incentivar o acesso aos conteúdos pretendidos.
Considerações Finais
Sabemos que, como educadores, pesquisadores e, acima de tudo,
pessoas, que jamais imaginamos viver um período tão conturbado como o
atual. Tampouco imaginamos que, em um período curto de tempo, sem
formação adequada, teríamos de nos reinventar e apropriar de ferramentas
nem sempre utilizadas em nossa prática dentro das escolas.
Desse ponto de vista, buscamos contribuir, minimamente, com as
possibilidades de abordagem dos conteúdos que trabalhamos em sala de
aula, de uma maneira mais atrativa para as crianças, a partir de recursos
tecnológicos. Sabemos das dificuldades apresentadas em relação ao acesso
e utilização das novas tecnologias e suas ferramentas, mas, acreditamos no
professor como agente mediador responsivo, que, mesmo frente aos
desafios impostos pelo COVID-19, é capaz de se reinventar e ressignificar
suas práticas.
Acreditamos, também, que apesar de tudo, estamos evoluindo
muito no ensino atrelado às novas tecnologias e que, ao voltarmos, segura
e integralmente, às rotinas presenciais, demonstraremos melhor preparo
para a utilização dos recursos utilizados durante este tempo, de modo a
255
ofertar diferentes possibilidades de aprendizagem e conhecimento para
nossos alunos.
Referências
ALEXANDRE FILHO; P.; LEMES, R. M. Os novos e multiletramentos
a partir do contexto da COVID-19: possibilidades de abordagem. In:
SOUZA, F. M.; MONTEIRO; J. C. S.; OLIVEIRA, L. R. (Ogs.).
Cenários escolares em tempo de pandemia: as contribuições das
tecnologias digitais. São Paulo: Mentes Abertas, 2020.
ARENA, D. B. A literatura infantil como produção cultural e como
instrumento de iniciação da criança no mundo da cultura escrita. In:
SOUZA, R. J. et al (Org.). Ler e compreender: estratégias de leitura. São
Paulo: Mercado de Letras, 2010.
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259
Língua Inglesa:
aulas síncronas no Ensino Fundamental I na rede pública
Ana Luiza Luzio da SILVA
1
Introdução
O ensino remoto surgiu como possibilidade, assim que questões de
isolamento social começaram a emergir em março de 2020, englobando,
também, o fechamento das escolas. A partir desse momento, foi necessário
um replanejamento de atividades, considerando que, naquele momento,
não haveria possibilidade de condução de aulas no formato presencial.
No contexto das escolas públicas, em especial no Ensino
Fundamental, as transformações foram significativas e exigiram uma
reorganização pedagógica, considerando que as práticas demandam
readaptação, tendo em vista o uso das tecnologias. A reconfiguração atende
a um dos objetivos que é “[...] saber utilizar diferentes fontes de informação
e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos [...]”
(BRASIL, 1998, p. 8) previstos para serem atingidos nesse nível de ensino.
Os laboratórios de informática eram, até antes da pandemia, o local
da escola onde aconteciam atividades relativas ao uso de computadores,
mas, ainda assim, de modo muito esporádico. Com as aulas remotas, novas
estratégias de ensino precisaram ser, emergencialmente, implementadas, e
outras ferramentas tecnológicas se tornaram essenciais para auxiliar nesse
processo.
Este estudo aborda a experiência de aulas síncronas de Língua
Inglesa, no Ensino Fundamental I, através da ferramenta do Google Meet.
1
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências / Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail: ana.luzio-
silva@unesp.br
260
Partimos desta experiência, em uma unidade escolar pertencente ao
sistema municipal de ensino, para relatar a trajetória de adoção do ensino
remoto e discutir as possíveis vantagens e dificuldades dessa modalidade.
É importante esclarecer que a área de ensino da língua inglesa para
crianças (LIC) tem se destacado nos últimos anos nos debates acadêmicos.
Apesar de ainda carecer de políticas públicas direcionadas para o ensino de
língua estrangeira na primeira infância, as iniciativas vêm se fortalecendo.
Os estudos direcionados para essa área têm se destacado com produções
relevantes sobre a temática (ROCHA, 2010; CONTRERA, 2018). Nesse
sentido, cada vez mais, justifica-se discutir a respeito da importância de
LIC.
Não identificamos diretrizes oficiais específicas para o ensino de
língua inglesa nos anos iniciais. Com a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), havia uma expectativa de que essa prática fosse contemplada,
mas isso não aconteceu. A BNCC seguiu o que estava previsto na Lei de
Diretrizes e Bases (LDB), segundo a qual, a garantia do ensino de língua
estrangeira é contemplada, apenas, a partir do sexto ano, ou seja, no início
do Ensino Fundamental-II (anos finais). Assim, a oferta de uma língua
estrangeira no Ensino Fundamental-I (EF-I) é de caráter optativo e tem se
caracterizado como uma estratégia de alguns sistemas municipais, como
componente do currículo diversificado. Segundo Rocha (2010), no ensino
privado, essas iniciativas são mais recorrentes, inclusive com a alta
incidência de escolas bilíngues.
De acordo com as legislações sobre o tema, o Parâmetro Curricular
Nacional de Língua Inglesa de 1998 versa sobre a maneira pela qual o
ensino deva ocorrer e os objetivos a serem atendidos:
[...] a aprendizagem de uma língua estrangeira deve garantir ao aluno
seu engajamento discursivo, ou seja, a capacidade de se envolver e
envolver outros no discurso. Isso pode ser viabilizado em sala de aula
por meio de atividades pedagógicas centradas na constituição do aluno
como ser discursivo, ou seja, sua construção com sujeito do discurso
via língua estrangeira. Essa construção passa pelo envolvimento do
261
aluno com os processos sociais de criar significados, por intermédio da
utilização de uma língua estrangeira (BRASIL, 1998, p. 19).
Desse modo, a língua estrangeira garante aos estudantes o
desenvolvimento das habilidades discursivas, além de possibilitar uma
circulação mais empoderada dentro da sua própria língua materna. Seu
oferecimento a partir dos anos iniciais visa fortalecer o processo de ensino
e aprendizagem dos alunos, além de enriquecer sua dimensão intercultural.
1 Fundamentação Teórica
Ao abordar as aulas síncronas de língua inglesa, existem dois
objetos definidos: o campo da linguagem, pois estamos tratando do ensino
de línguas, e o das tecnologias, o que se justifica pelas aulas ocorrerem em
suporte digital. Para tratar das concepções referentes à linguagem, a
referência aqui adotada foi a da Filosofia da Linguagem. No campo das
novas tecnologias, o suporte teórico metodológico foi o proposto por
Bacich e Moran (2018), que defendem uma nova concepção de Educação.
Como referencial teórico metodológico, a opção foi pelos estudos
bakhtinianos, assim como fez Rocha (2010), por considerar que o ensino
de uma língua estrangeira compreende o momento em que um sujeito
circula por diversos tipos de discursos (oral, escrito). De acordo com o
Círculo de Bakhtin, não é possível viver em uma sociedade sem considerar
o que há por trás do discurso. Pensar em uma aula de Língua Inglesa deve,
portanto, levar em consideração que existe um movimento de
transculturalidade representado pelos signos que é explicitada abaixo:
Os signos também são objetos únicos e materiais e [...] qualquer objeto
da natureza, da tecnologia ou de consumo pode se tornar signo. Neste
caso, porém, ele irá adquirir uma significação que ultrapassa os limites
da sua existência particular. O signo não é somente parte da realidade,
mas reflete e refrata uma outra realidade, sendo por isso mesmo capaz
262
de distorcê-la, ser-lhe fiel, percebê-la de um ponto de vista específico e
assim por diante (VOLÓCHINOV, 2017, p. 93).
A humanidade não tem uma relação direta com os objetos, essa é
mediada a partir da linguagem. Pode-se dizer que a linguagem entra como
uma porção de representação simbólica capaz de permear essa relação. É
necessário esclarecer que existe, portanto, o mundo dos signos capaz de
refletir e refratar significações que vão além da concretude.
Nenhum signo cultural permanece isolado se for compreendido e
ponderado, pois ele passa a fazer parte da unidade da consciência
verbalmente formalizada. A consciência sempre saberá encontrar
alguma aproximação verbal com o signo cultural. Por isso, em torno
de todo o signo ideológico se formam como que círculos crescentes de
respostas e ressonâncias verbais. Qualquer refração ideológica da
existência em formação, em qualquer material significante que seja, é
acompanhada pela refração ideológica na palavra: fenômeno
obrigatório concomitante. A palavra está presente em todo ato de
compreensão e em todo ato de interpretação (VOLÓCHINOV, 2017,
p. 101).
Para compreender a realidade, é necessário explicitar que a mesma
não possui origem natural. Na verdade, sua característica é ser ideológica,
pois refrata e reflete o mundo enquanto concretude. Assim, um objeto
pode ser chamado de signo por carregar em si essas refrações e reflexos,
representações que se constroem de modo material-histórico, em
condições coletivas:
Um signo só pode surgir em um território interindividual, que não
remeta à “natureza” no sentido literal dessa palavra. [...] É necessário
que esses dois indivíduos sejam socialmente organizados, ou seja,
componham uma coletividade apenas nesse caso um meio sígnico
pode formar-se entre eles (VOLOCHINOV, 2017, p. 96-97).
263
Um enunciado dentro dessa perspectiva nunca está isolado ao ser
produzido por um sujeito. Este só pode ser sujeito a partir das suas relações
com o outro. A dialogia é um conceito primordial dentro da Filosofia da
Linguagem (FL), pois carrega uma concepção filosófica
de homem,
segundo a qual:
Todo enunciado, por mais significativo e acabado que seja, é apenas
um momento da comunicação discursiva ininterrupta (cotidiana,
literária, científica, política). No entanto, essa comunicação discursiva
ininterrupta é, por sua vez, apenas um momento da constituição
ininterrupta e multilateral de uma dada coletividade social. Disso surge
um problema importante: o estudo do elo entre a interação concreta e
a situação extraverbal mais próxima e, por meio desta, a situação mais
ampla. As formas desse elo são diversas e cada uma delas condiciona as
diferentes significações que as situações adquirem em momentos
variados (por exemplo, esses elos variam em conformidade com cada
um dos momentos das situações de comunicação artística ou
científica). A comunicação discursiva nunca poderá ser compreendida nem
explicada fora dessa situação concreta. A comunicação verbal está
diretamente relacionada às comunicações de outros tipos, por terem
surgido no terreno comum de comunicação produtiva
(VOLÓCHINOV, 2017, p. 219-220).
Dessa forma, é possível afirmar que a partir do enunciado (o que
foi dito) se estabelecem ligações pois essa concepção da FL tem uma visão
de mundo pautada na dialogia, segundo a qual:
Outra é a perspectiva de uma teoria dialógica, que necessariamente
deve reconhecer a infinitude do processo dialógico, em que todo dizer
e todo dito dialogam com o passado e o futuro, e paradoxalmente deve
reconhecer a unicidade e irrepetibilidade dos enunciados produzidos
em cada diálogo (GERALDI, 2012, p. 20).
Compreendemos que, dentro do ensino de língua estrangeira, o
processo dialógico está em pauta a todo o momento, considerando que os
264
enunciados se entrelaçam e é necessário garantir ao aprendiz a consciência
desse processo.
2 A Trajetória do Ensino Remoto em uma Rede Municipal
Em 2020, a partir do fechamento das escolas, como dito, todas as
aulas foram reformuladas. Isso significou, em um primeiro momento, um
processo de migração para plataformas digitais, além da proposta de
alternativas para os alunos que não possuíam acesso à Internet.
Em um momento inicial, as equipes gestoras das unidades escolares
precisaram se reunir em formato virtual com os técnicos da Secretaria
Municipal de Educação da área da informática, para a realização de uma
capacitação para o uso das ferramentas digitais e das novas tecnologias para
o novo formato de ensino que estava por surgir.
Esse momento formativo foi estendido ao corpo docente, visando
capacitá-lo, ainda que de maneira incipiente, para atender às novas
demandas educacionais. Para tratar desse tópico, é necessário abordar as
novas tecnologias e de que maneira estão incorporadas na rotina escolar.
Para abordarmos essa temática, de acordo com Moran (2013), é
fundamental compreender a importância dos meios de comunicação que:
[...] operam imediatamente com o sensível, o concreto, principalmente
a imagem em movimento. Combinam a dimensão espacial com a
cinestésica, onde o ritmo toma-se cada vez mais alucinante (como nos
videoclipes). Ao mesmo tempo utilizam a linguagem conceitual, falada
e escrita, mais formalizada e racional. Imagem, palavra e música
integram-se dentro de um contexto comunicacional afetivo, de forte
impacto emocional, que facilita e predispõe a aceitar mais facilmente
as mensagens (MORAN, 2013, p. 33-34).
O autor, ainda, destaca o papel da linguagem audiovisual, que
consegue ir além da capacidade consciente:
265
A força da linguagem audiovisual está no fato de ela conseguir dizer
muito mais do que captamos, de ela chegar simultaneamente por
muitos mais caminhos do que conscientemente percebemos e de
encontrar dentro de nós uma repercussão em imagens básicas, centrais,
simbólicas, arquetípicas, com as quais nos identificamos ou que se
relacionam conosco de alguma forma (MORAN, 2013, p. 34).
As equipes gestoras se reuniram com o corpo docente das unidades
escolares para promover a capacitação. A plataforma escolhida foi o Google
Classroom, em parceria com uma universidade do município, que ofereceu
a parte técnica de cadastro dos alunos e docentes no sistema, bem como a
criação de e-mails institucionais para esta finalidade
2
. As aulas no formato
remoto foram, inicialmente, elaboradas pelas coordenadoras das unidades
escolares de forma coletiva, abrangendo os componentes curriculares
obrigatórios: Língua Portuguesa e Matemática.
Para atender a todos, foi pensada em uma estratégia que
contemplasse os alunos com dificuldades ou ausência de acesso à Internet.
Estes teriam como opção irem até a unidade escolar uma vez por semana
para retirar as cópias impressas das atividades. Essa alternativa é vista como
uma modalidade de Ensino Híbrido cuja concepção apresentamos a seguir:
Híbrido significa misturado, mesclado, blended. A educação sempre foi
misturada, híbrida, sempre combinou vários espaços, tempos,
atividades, metodologias, públicos. Esse processo, agora, com a
mobilidade e a conectividade, é muito mais perceptível, amplo e
profundo: trata-se de um ecossistema mais aberto e criativo (MORAN,
2015, p. 27).
As atividades foram elaboradas em um modelo preestabelecido,
com o timbre oficial da escola. Dessa forma, os professores deveriam
formular suas propostas semanais detalhando como seria a execução de
cada exercício. Assim que esta proposição fosse validada pela coordenação
da unidade escolar, os professores deveriam disponibilizá-la na plataforma
do Google Classroom.
2
Essa parceria foi realizada sem custos entre a Secretaria Municipal de Educação e a universidade
em questão. Optamos por preservar o nome da instituição.
266
De acordo com as orientações iniciais, foram vedadas algumas
modalidades de exercícios como aqueles que exigissem que os alunos
precisassem colorir, ou ligar, caça-palavras, entre outros, dada a
impossibilidade de serem realizadas no formato remoto. Após o primeiro
mês de atividades com os componentes curriculares obrigatórios,
entraram, na plataforma, os componentes diversificados do currículo como
a Educação Física e a Língua Inglesa.
Para uma melhor organização, os professores de inglês foram
divididos em grupos de acordo com as turmas atendidas no Ensino
Fundamental I. Como atualmente a Língua Inglesa é oferecida apenas a
partir do segundo ano, foram criados quatro grupos, que ficaram
responsáveis pela elaboração das aulas de cada uma das turmas. Uma vez
por semana, essas aulas deveriam ser compartilhadas para que todos os
professores pudessem ter acesso e fazer as devidas alterações, sugestões de
acordo com a realidade de sua comunidade escolar. A partir dessa
dinâmica, os subgrupos possuíam autonomia para organizar a estruturação
das aulas.
Como no início do ensino remoto não houve postagem de aulas
de Língua Inglesa, o grupo se organizou em reuniões para repensar o Plano
Anual de Ensino que havia sido elaborado em fevereiro de 2020, para
definir quais objetos de conhecimento seriam abordados durante os
primeiros meses de aula remota
3
.
3 A Opção pelas Aulas Síncronas
No início das aulas remotas, as atividades eram postadas,
semanalmente, no Google Classroom, e os alunos que não possuíam acesso
a Internet poderiam retirá-las na unidade escolar de forma impressa. Desse
modo, pode-se afirmar que as atividades se desenvolviam de forma
3
Não havia, nesse momento, nenhuma perspectiva quanto ao retorno das aulas presenciais,
portanto, esse planejamento foi feito de forma preliminar.
267
assíncrona, pois não exigiam a interação entre os alunos e o professor de
inglês.
Neste processo de ensino remoto, uma das possibilidades foi a
adoção de aulas síncronas como alternativa. É importante delimitar que as
atividades de Língua Inglesa foram, basicamente, elaboradas a partir de
fichas com atividades coloridas, e visando, ao máximo, facilitar a
compreensão dos alunos e de seus familiares. Observou-se que, no
momento de ensino pandêmico, os familiares atuam como mediadores no
processo de ensino e aprendizagem, exigindo que o professor adapte suas
atividades para que estas sejam acessíveis.
No caso da língua estrangeira, este fator deve ser levado em
consideração em especial. Por este motivo, alguns professores adotaram o
uso de vídeos se configurando como aulas assíncronas, sendo esses
materiais de apoio para as atividades disponibilizadas semanalmente.
Como em algumas unidades escolares, os professores do ensino regular
passaram a ministrar aulas síncronas uma vez por semana via Google Meet,
com o objetivo principal de corrigir as atividades. Assim, foi oferecida essa
alternativa, e com caráter facultativo, aos professores de inglês.
A justificativa pela oferta de aula síncrona se pela necessidade
de, em língua estrangeira, ser fundamental a interação entre professor e
aluno. Nas atividades propostas, sempre foram sugeridos vídeos como
recursos para facilitar a compreensão oral dos alunos. No entanto, essa
alternativa não supre, de forma adequada, as demandas educacionais para
esse componente curricular, que tem como foco principal, nessa faixa
etária, a produção oral.
Considerando que, nas aulas de língua inglesa deve se priorizar a
oralidade, surgiram questionamentos acerca de como essa habilidade seria
contemplada, e se esses alunos não estariam sendo prejudicados, uma vez
que o contato com o professor inexistia. Uma das alternativas pensadas foi
a elaboração de vídeos para que as questões pertinentes à pronúncia dos
conteúdos fossem preservadas.
Não sendo possível abordar questões como o acesso dos alunos a
Internet, pois essas não perpassam a competência pedagógica dos
268
professores, uma das alternativas foi a oferta de aulas síncronas utilizando
a ferramenta do Google Meet, em que:
O professor atua como coordenador, motivador, elo do grupo. [...] O
professor utiliza uma parte do material preparado de antemão
(planejamento) e enriquece-a com as novas contribuições da pesquisa
grupal (construção cooperativa). Assim o papel do aluno não é o de
"tarefeiro", o de executar atividades, mas o de co-pesquisador,
responsável pela riqueza, pela qualidade e pelo tratamento das
informações coletadas. O professor está atento às descobertas, às
dúvidas, ao intercâmbio das informações (os alunos pesquisam,
escolhem, imprimem), ao tratamento das informações. O professor
ajuda, problematiza, incentiva, relaciona (MORAN, 2013, p. 48).
É importante destacar que as aulas síncronas são caracterizadas por
atividades desenvolvidas ao vivo e que exigem interação simultânea entre
professores e alunos, sendo geralmente realizadas por meio de
videochamadas.
Essa iniciativa foi tomada em algumas unidades escolares que
tentavam ofertar aos alunos mais oportunidades de interação com os
professores a partir das tecnologias disponíveis. O uso das aulas síncronas,
no ano de 2020, foi em caráter experimental, não sendo obrigatória a
presença dos alunos. Para ter um maior alcance, a estratégia adotada foi a
da gravação das aulas e a posterior postagem nos grupos das turmas no
WhatsApp e no mural da plataforma. Desse modo, os alunos que ficassem
impossibilitados de assistir à aula, poderiam acompanhá-la de maneira
assíncrona em um momento posterior.
A configuração desses encontros se dava com a organização das
turmas de acordo com os anos pela professora de inglês, ou seja, reuniu
todos os segundos anos do período da manhã e ofereceu um horário de
aula com duração de quarenta minutos. Não se exigia a obrigatoriedade na
participação das atividades on-line, mas, com o passar do tempo, a adesão
foi aumentando. Durante as aulas, a professora abordava os conteúdos
trabalhados nas propostas de atividades disponíveis tanto na plataforma do
269
Google Classroom, quanto na modalidade impressa, além de possibilitar o
intercâmbio oral com os alunos.
Um exemplo dessas aulas foi a utilização do Google Maps como um
recurso para aprender a localização de pontos da cidade. Este foi
mostrando, para os alunos, diferentes lugares na cidade com imagens reais,
utilizando-se da realidade aumentada. Sendo assim, os alunos, inclusive,
sugeriram lugares para serem “visitados” e um deles foi a Estátua da
Liberdade em Nova Iorque. Com esta proposta, foi possível exercitar a
produção oral desses vocábulos.
Nessa aula, os alunos puderam visualizar, também, a partir do
recurso do compartilhamento de tela e do Google Maps, alguns pontos da
cidade, tornando a aula um momento colaborativo, em que as crianças
escolhiam os locais e a professora os localizava. Dessa forma, além de
garantir o aspecto lúdico da atividade que é essencial nessa faixa etária, foi-
lhes garantida a possibilidade do ensino cooperativo pautado na
participação ativa dos estudantes.
Considerações Finais
A adoção de aulas síncronas on-line como estratégia ainda é recente
e pouco utilizada pelos professores de Língua Inglesa, embora já esteja,
lentamente, sendo disseminada no contexto público municipal, pelos
professores da sala regular. É importante mencionar alguns desafios, ao
fazer a opção por essa modalidade. O acesso a equipamentos e Internet é
um ponto sensível que demanda atenção por parte das políticas públicas
de modo a garantir a inclusão digital. É importante destacar que existem
diversos benefícios proporcionados pelo uso da Internet, conforme são
explicitados a seguir:
A Internet pode ajudar a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental,
a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão
sendo descobertas por acerto e erro, por conexões "escondidas". As
conexões não são lineares, vão "linkando-se" por hipertextos, textos
270
interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes
de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das
sequências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter
dificuldades em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na
adaptação a ritmos diferentes: a Internet permite a pesquisa individual,
em que cada aluno trabalhe no seu próprio ritmo, e a pesquisa em
grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa (MORAN,
2013, p. 53).
Destacamos que houve uma aceitação considerável por parte da
comunidade escolar, diante da iniciativa das aulas de língua inglesa on-line,
considerando que essas eram praticamente inexistentes em outras escolas
da rede municipal. No entanto, a dificuldade principal que pode ser
mencionada é a questão da acessibilidade. Ao oferecer as aulas síncronas,
um número maior de alunos conseguia assistir, pois o acesso pelo celular a
partir do Google Meet é bastante simples, enquanto que, para a plataforma,
muitos relatavam a dificuldade com o tamanho das imagens na tela desse
dispositivo.
No entanto, persistia um obstáculo que era a disponibilidade de
um dispositivo para assistir às aulas, e, por essa razão, foi adotada a
estratégia da gravação e posterior divulgação da mesma, para que um maior
número de alunos tivesse acesso.
Dessa maneira, no momento síncrono era possível ressignificar as
aulas de língua inglesa que haviam sido descaracterizadas ao serem
digitalizadas e transformadas em atividades que excluíam seu principal
foco. A participação foi aumentando semanalmente e gerava sempre, nos
alunos e familiares, o desejo pelas próximas aulas, despertando dessa
maneira o interesse. Assim, pode-se concluir que:
O conhecimento não é fragmentado mas interdependente, interligado,
intersensorial. Conhecer significa compreender todas as dimensões da
realidade, captar e expressar essa totalidade de forma cada vez mais
ampla e integral. Conhecemos mais e melhor conectando, juntando,
relacionando, acessando o nosso objeto de todos os pontos de vista, por
271
todos os caminhos, integrando-os da forma mais rica possível
(MORAN, 2013, p. 18).
Apesar dessas aulas possuírem um caráter experimental como foi
explicitado anteriormente, a comunidade escolar envolvida recebeu, de
maneira muito positiva, essa iniciativa. Nos quintos anos, houve pedidos
para que essas aulas tivessem uma duração maior, visando uma melhor
preparação desses alunos para o próximo ciclo do Ensino Fundamental.
Dessa forma, cabe salientar a relevância da língua estrangeira na
formação desses alunos, considerando que:
[...] a aprendizagem de uma língua estrangeira deve garantir ao aluno
seu engajamento discursivo, ou seja, a capacidade de se envolver e
envolver outros no discurso. Isso pode ser viabilizado em sala de aula
por meio de atividades pedagógicas centradas na constituição do aluno
como ser discursivo, ou seja, sua construção como sujeito do discurso
via língua estrangeira. Essa construção passa pelo envolvimento do
aluno com os processos sociais de criar significados, por intermédio da
utilização de uma língua estrangeira (BRASIL, 1998, p. 19).
Os alunos são vistos como sujeitos produtores de discurso e,
durante as aulas remotas síncronas, foi possível priorizar a oralidade, a
partir da interação entre a professora e as crianças. A estratégia adotada foi
abordar as atividades postadas nas aulas em forma de slides e oferecer
complementos como vídeos disponíveis no Youtube, ou de autoria própria,
e dessa forma:
A força da linguagem audiovisual está no fato de ela conseguir dizer
muito mais do que captamos, de ela chegar simultaneamente por
muitos mais caminhos do que conscientemente percebemos e de
encontrar dentro de nós uma repercussão em imagens básicas, centrais,
simbólicas, arquetípicas, com as quais nos identificamos ou que se
relacionam conosco de alguma forma (MORAN, 2013, p. 34).
272
Observamos, nessa experiência, que em virtude do caráter
emergencial deflagrado pela pandemia, as aulas síncronas foram capazes de
promover habilidades que são essenciais para o processo de ensino e
aprendizagem. Essas aulas não substituem os momentos presenciais, mas
garantem, para esses alunos, condições de interação com vistas a amenizar
o sofrimento de estudar em isolamento social.
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hoje. In: BACICH, L.; NETO, A. T.; TREVISANI, F. M. (Orgs.).
Ensino Híbrido: Personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre:
Penso, 2015.
MORAN, J. M. et al. Novas tecnologias e mediação pedagógica.
Campinas: Papirus, 2013.
ROCHA, C. H. Propostas para o inglês no ensino fundamental
público: plurilinguismo, transculturalidade e multiletramento. 2010.
Tese (doutorado em Linguística Aplicada) - Instituto de Estudos da
Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010.
VOLÓCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem
problemas fundamentais do método sociológico na ciência da
linguagem. Tradução Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São
Paulo: Editora 34, 2017.
VOLÓCHINOV, V. N. A construção da enunciação. In: GERALDI,
João Wanderley (Org. Trad., Notas.). A construção da enunciação e
outros ensaios. São Carlos: Pedro & João Editores, 2013.
275
SOBRE OS AUTORES
Ana Estela Ferreira
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / Membro do grupo de estudos GEPLENP (Grupo
de Estudos e Pesquisas sobre Linguagem, Ensino e Narrativa de
Professores) da Unesp-Assis/SP. Professora de Língua Portuguesa na
Secretaria Estadual de Ensino de São Paulo / e-mail: ana.estela-
ferreira@unesp.br
Ana Luiza Luzio da Silva
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: ana.luzio-silva@unesp.br
Bruna Assem Sasso dos Santos
Pedagoga / Mestre e Doutora em Educação / PPGE / Faculdade de
Filosofia e Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail: bruna.sasso@unesp.br
Cilmara Cristina Rodrigues Mayoral Brunatti
Mestra e Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e
Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” -
UNESP campus de Marília/SP / e-mail: cilmara.rodrigues@unesp.br
276
Daniel Vieira Sant'Anna
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: daniel.santanna@unesp.br
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Professora Assistente no Departamento de Letras Modernas / PPGE /
Faculdade de Ciências e Letras / Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP campus de Assis/SP e professora orientadora
no PPGE / UNESP campus de Marília/SP /
e-mail: daniela.nm.garcia@unesp.br
Daniele de Fátima Fuganholi Abiuzzi Sant'Anna
Mestranda em Docência para Educação Básica / PPGE / Faculdade de
Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” -
UNESP campus de Bauru/SP / e-mail: daniele.abiuzzi@unesp.br
Francisane Nayare de Oliveira Maia
Pedagoga / Mestre e Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de
Filosofia e Ciências / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP campus de Marília/SP / e-mail: f.maia@unesp.br
Gabriel Scoparo do Espírito Santo
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: gse.santo@unesp.br
277
Graciele Fernanda de Souza Pinto
Doutoranda do Departamento de Ciências Biológicas / Faculdade de
Ciências e Letras / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP campus de Assis/SP /
e-mail: graciele.fernanda@unesp.br.
Jéssica Araújo Carvalho
Mestranda em Psicologia Social / PPGE / Faculdade de Ciências e Letras
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Assis/SP / e-mail: jessica.a.carvalho@unesp.br
Laura Ribas Vilardi
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: laura.vilardi@unesp.br
Miriam Pires Borges
Mestranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / Professora da Rede Municipal de Marília (SME)
/ e-mail: borghes.miriam@gmail.com
Osvaldo Alves de Brito Júnior
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: osvaldo.brito@unesp.br
278
Osvaldo Augusto Chissonde Mame
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / Bolsistas do Instituto Nacional de Gestão Bolsa
Estudos - INAGBE- Huambo- Angola. / Professor Auxiliar da
Universidade José Eduardo dos Santos e do Instituto Superior Politécnico
da Caála - Angola. / e-mail: chissonde.mame@unesp.br
Paulo Alexandre Filho
Doutorando em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: p.alexandre@unesp.br
Raquel Lazzari Leite Barbosa
Professora adjunta / Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP campus de Assis/SP e professora orientadora no PPGE
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre
Linguagem, Ensino e Narrativa de Professores - GEPLENP da Unesp-
Assis/SP e-mail: raquel.leite@unesp.br
Renata de Souza França Bastos de Almeida
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: renata.bastos@unesp.br
Victor César de Oliveira
Mestrando em Educação / PPGE / Faculdade de Ciências e Tecnologia /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Presidente Prudente/SP / e-mail: victor.oliveira@unesp.br
279
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Doutoranda em Educação / PPGE / Faculdade de Filosofia e Ciências /
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
campus de Marília/SP / e-mail: yngrid.karolline@unesp.br
Pareceristas
Este livro foi submetido ao Edital 001/2021 do Programa de Pós-
graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, câmpus
de Marília e financiado pelo auxílio nº 0798/2018, Processo Nº
23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES. Contamos com o apoio
dos seguintes pareceristas que avaliaram as propostas recomendando a publicação.
Agradecemos a cada um pelo trabalho realizado:
Adriana Pastorello Buim Arena
Alberto Luiz Pereira da Costa
Alexandre Filordi de Carvalho
Américo Grisotto
Ana Claudia Saladini
Ana Maria Klein
Angelica Pall Oriani
Carlos Bauer
Carlota Boto
Celia Regina Rossi
Cinthia Magda Fernandes Ariosi
Claudia Cristina Ferreira
Cristina Maria Carvalho Delou
Daniel Ferraz Chiozzini
Domingos Leite Lima Filho
Erika Porceli Alaniz
Francismara Neves de Oliveira
Genivaldo de Souza dos Santos
Giza Guimarães Pereira Sales
Joana Tolentino
Jose Deribaldo Gomes dos Santos
Lalo Watanabe Minto
Lia Leme Zaia
Luciana Aparecida Nogueira da Cruz
Luciano Mendes de Faria Filho
Márcia Lopes Reis
Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes
Maria de Fatima Felix Rosar
Maria José Viana Marinho de Mattos
Maria Lucia Marques
Marta Sueli de Faria Sforni
Mauro Castilho Gonçalves
Nadia Aparecida Bossa
Nilza Sanches Tessaro Leonardo
Ofelia Maria Marcondes
Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues
Rita Melissa Lepre
Sandra Aparecida Pires Franco
Simone Wolff
Sonia Bessa da Costa Nicacio Silva
Virgínia Pereira da Silva de Ávila
Comissão de Publicação de Livros do Edital 001/2021 do
Programa de Pós-Graduação em Educação
da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, campus de Marília
Graziela Zambão Abdian, Patricia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo José Manzini e Rodrigo Pelloso Gelamo
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno – CRB 8/8211
Normalização
Lívia Pereira Mendes
Ilustração da Capa
Felipe dos Santos Ribeiro
Diagramação
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Paulo Alexandre Filho
Daniel Vieira Sant’Anna
(Organizadores)
Falar sobre o processo de ensino e aprendizagem, neste momento, exige-nos dois aspectos
preponderantes para a reexão: nosso lugar de fala e nosso percurso de formação. Tais ques-
tões se entrelaçam de tal forma que conceber um em detrimento do outro seria o mesmo
que perceber o mundo material apenas pela lente dos acontecimentos in loco, desprezando
nossas vivências como produtos socioculturais, frutos do acúmulo de construções, tecidas
pela sobreposição temporal das grossas camadas da História. Em pleno século XXI, os ce-
nários educacionais se transguram com a mesma rapidez dos avanços tecnológicos e da
ciência, impondo aos prossionais de educação a ressignicação de suas práticas que outrora
tinham como recursos apenas o giz, a lousa e o livro didático. Para Lévy (1999, p. 11), “[...]
estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explo-
rar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural
e humano.” A utilização das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC),
tempos debatida entre pesquisadores e professores de Educação Básica, tornam-se, diante do
contexto pandêmico, alternativas viáveis para assegurar o conhecimento e, concomitante-
mente, ofertar aos educandos o mínimo de aprendizagem em meio ao cenário repentino e,
por vezes, desolador instaurado desde 2020. De acordo com Schneider (2015, p. 63), “[...] é
preciso reconhecer essas mudanças, compreendê-las e inserir as tecnologias como recursos
potencializadores do processo de ensino e aprendizagem nas práticas docentes.” O ponto
fulcral desta obra reside nos momentos de reexão estabelecidos no transcorrer da disciplina
de Educação e Novas Tecnologias: implicações ao currículo da Educação Básica e Superior,
ministrada pela professora Daniela Nogueira de Moraes Garcia, vinculada ao Programa de
Pós-graduação em Educação (PPGE), da Unesp de Marília. Entre vivências, compartilha-
mentos e estudos teóricos acerca da ementa, ao nal, os alunos foram desaados a legitima-
rem suas vozes e seus diferentes lugares de fala na forma de artigo ou relato de experiência,
ressaltando o uso dos artefatos tecno-digitais como ferramentas capazes de promover apren-
dizagem, disruptividade e empoderamento de jovens que estão amplamente inseridos em
práticas sociais mediadas pela interface de seus smartphones, tablets e notebooks. Nesse sen-
tido, Kalantzis et al. (2020, p. 358) apontam que “[...] a aprendizagem se torna mais efetiva
quando as diversas perspectivas dos alunos são deliberadamente introduzidas em sala de aula
e usadas como recursos.” Em momento algum, deixamo-nos vislumbrar pelas máquinas a
ponto de negligenciarmos a afetividade, o valor das relações e o exercício constante da es-
cuta ativa e do dialogismo entre professores e alunos, pois “[...] por meio de uma pedagogia
crítica e revolucionária podemos resgatar a utopia expressa numa concepção crítico-eman-
cipatória, em que haja a possibilidade de diálogo, interação, transformação e mudança, além
de atender aos desaos do tempo que está por vir” (CORRÊA, 2019, p. 12).
AUTORES
Ana Estela Ferreira
Ana Luiza Luzio da Silva
Bruna Assem Sasso dos Santos
Cilmara C. Rodrigues Mayoral Brunatti
Daniel Vieira Sant’Anna
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Daniele F. Fuganholi Abiuzzi Sant’Anna
Francisane Nayare de Oliveira Maia
Gabriel Scoparo do Espírito Santo
Graciele Fernanda de Souza Pinto
Jéssica Araújo Carvalho
Laura Ribas Vilardi
Miriam Pires Borges
Osvaldo Alves de Brito Júnior
Osvaldo Augusto Chissonde Mame
Paulo Alexandre Filho
Raquel Lazzari Leite Barbosa
Renata de Souza França Bastos de Almeida
Victor César de Oliveira
Yngrid Karolline Mendonça Costa
Daniela Nogueira de Moraes Garcia
Mestre em Letras pela UNESP, FCL/ As-
sis e Doutora em Estudos Linguísticos pela
UNESP, IBILCE, São José do Rio Preto.
Professora Assistente no Departamento de
Letras Modernas e professora orientadora no
Mestrado Prossional em Letras -UNESP/
Faculdade de Ciências e Letras/ Universida-
de Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Fi-
lho” - campus de Assis/SP. Professora orien-
tadora no Programa de pós-Graduação em
Educação- / UNESP campus de Marília/
SP / e-mail: daniela.nm.garcia@unesp.br
Paulo Alexandre Filho
Mestre em Letras pela UNESP/ Faculdade
de Ciências e Letras/ Universidade Estadu-
al Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - cam-
pus de Assis/SP. Doutorando em Educação
/ PGE/ Faculdade de Filosoa e Ciências
/ Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - UNESP campus de Ma-
rília/SP / e-mail: p.alexandre@unesp.br
Daniel Vieira Sant’Anna
Mestre em Docência para a Educação Bási-
ca pela Faculdade de Ciências/ Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
- campus de Bauru/SP. Doutorando em
Educação / PPGE / Faculdade de Filosoa
e Ciências / Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” - UNESP – cam-
pus de Marília/SP / e-mail: daniel.santan-
na@unesp.br
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
(res)signicando percursos educacionais
TECNOLOGIAS
E METODOLOGIAS ATIVAS
TECNOLOGIAS E METODOLOGIAS ATIVAS
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OS ORGANIZADORES