Organizadora
Rosângela Formentini Caldas
&
Cidades
Inteligentes
Ciência
da Informação
&
Cidades
Inteligentes
Ciência da
Informação
Organizadora:
Rosângela Formentini Caldas
Cidades
Inteligentes
Marília/O cina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2021
&
Cidades
Inteligentes
Ciência da
Informação
Copyright © 2021, Faculdade de Filosoa e Ciências
Ficha catalográca
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS - FFC
UNESP - Campus de Marília
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Vice-Diretora
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Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
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Normalização
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Imagem da Capa
Rosângela Formentini Caldas
Arte da capa e
Produção Gráca
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Stephanie Cerqueira Silva
Diagramação
Stephanie Cerqueira Silva
Processo CAPES Nº 23038.007497/2017-11
Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação
Convênio AUXPE/PROEX Nº 565/2017, no âmbito da Chamada nº 02/2021
PUBLICAÇÃO DE LIVROS RESULTANTES DE PESQUISAS ACADÊMICO-CIENTÍFICAS
Lucinéia da Silva Batista | Bibliotecária
CRB SP 010373/O
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Ocina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Editora aliada:
Cidades inteligentes e Ciência da Informação
C568 Cidades inteligentes e Ciência da Informação / Rosângela Formen-
tini Caldas (organizadora). -- Marília : Ocina Universitária ; São
Paulo : Cultura Acadêmica, 2021.
278 p. ; 23 cm.
ISBN (Digital) 978-65-5954-146-1
ISBN (Impresso) 978-65-5954-145-4
Inclui Bibliograa.
1. Cidades Inteligentes. 2. Ciência da Informação. 3. Tecnologia.
4. Sustentabilidade. 5. Desenvolvimento Social. I. Título. II. Caldas,
Rosângela Formentini.
CDD 020.182
DOI: https://doi.org/10.36311/2021.978-65-5954-146-1
Prefácio ......................................................................................................5
Cristina Ortega Nuere
Apresentação ....................................................................................... 13
Rosângela Caldas
Introdução ............................................................................................. 21
Rosângela Formentini Caldas
Parte I
Gestão Pública Regional
Capítulo 1: Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes ........................................... 27
Gabriela Viale Pereira
Capítulo 2: Governança em Cidades Inteligentes: uma
análise bibliométrica .......................................................................... 61
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
PARTE II
Fatores Socioculturais
Capítulo 3: As Cidades Inteligentes e a preservação do
patrimônio cultural ............................................................................. 99
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
Capítulo 4: Sistemas de Mediação Cultural para comunidades
indígenas: a eminência de ações socioculturais para as
regiões “ditas” inteligentes ...........................................................139
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
Sumário
PARTE III
Unidades Culturais/Instituições Informacionais
Capítulo 5: Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida ...................................................167
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
Capítulo 6: Arquivos Públicos Ibero-Americanos no contexto
de Cidades Inteligentes ..................................................................205
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
Capítulo 7: Inovação em comunicação museológica: estudo
de caso do SMARTMUSEUM ........................................................249
Mariana Cantisani Padua
Natalia Nakano
Maria José Vicentini Jorente
Sobre os autores ..............................................................................271
Cristina Ortega Nuere
5
Não se pode negar que estamos diante de um proceso
de transformação demográca em que a população mundial
não para de crescer. De acordo com os dados recentes
apresentados pelas Nações Unidas, estima-se que a população
mundial pode crescer cerca de 8.500 milhões em 2030, 9.700
milhões em 2050 e 10.900 milhões em 2.100
1
, com uma maior
concentração nas cidades. Desse modo, compreende-se
que as cidades representam o primeiro nível onde acontece
a interação humana, subsistindo como lugares de inuência
e inovação em un mundo cada vez mais globalizado. Diante
desse cenário, a transformação demográca, industrial e a
consequente aceleração dos investimentos fazem com que
as cidades de hoje sejam tão signicantes. Para responder a
esses desafíos, é preciso pensar em novas respostas porque a
maioria das existentes surgiram em contextos bem diferentes.
Portanto, é indispensável assumir que as mudanças advindas
dos processos modernizadores exigem, em boa medida,
decisões criativas e inovadoras.
A gestão dessas mudanças deve caminhar para a criação
de cidades ecazes, ecientes e sustentáveis com base nos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas
e, para tanto, é necessário focar nos indivíduos. Dito de
outro modo, são eles que precisam ser o foco dos objetivos.
Este modelo de cidade é chamado de cidade inteligente algo
que representa mais do que somente uma cidade “digital”- ou
seja, é preciso haver iniciativas vinculadas à sustentabilidade.
Melhorar as condições com a participação e compromisso de
todos os cidadãos, por meio da utilização dos novos recursos,
deve ser o o condutor dessas cidades inteligentes, já que, no
1 UNITED NATIONS. World Population Prospects 2019: Highlights
(ST/ESA/SER.A/423). New York: Department of Economic and Social Aairs,
Population Division, United Nations, 2019.
Prefácio
Prefácio
6
nal, apesar de não existir consenso em relação à denição do
que seja “cidade inteligente”, pode-se dizer que esse termo
faz referência a um território urbanizado onde os poderes
públicos, instituições e diferentes operações possuem maior
eciência por causa das tecnologias de comunicação.
É exatamente nesse tipo de cidades que a área da
Ciências da Informação e o conhecimento se convergem, visto
que são criados cenários propícios para a pesquisa e produção
de conhecimento cujo objetivo é alcançar melhores padrões
de qualidade que promovam o desenvolvimento social. Tal
fato possui um papel fundamental para a competitividade
econômica, além de ser fonte de inovação e criação, tornando-
se uma ferramenta utilizada para melhorar a vida das pessoas
e a transformação econômica e social. Outros pontos que
devem ser destacados são a criatividade e as soft skills, aspectos
semelhantes que representam peças-chave para a gestão da
mudança e a elaboração de projetos inovadores, conforme
destacado pelo renomado neurocientista, Elkhonon Goldberg
2
,
em seu último livro Creatividad. El cerebro humano en la era
de la innovación”, seja como indivíduos ou como sociedade,
encaramos as novidades de um modo acelerado e, assim, essa
progressão quantitativa nos leva a uma profunda mudança
qualitativa. Em uma sociedade em que o conhecimento e
as habilidades tornam-se obsoletos antes mesmo de se
tornarem rotina, praticamente todos os membros da sociedade
passam a fazer parte do processo criativo. Cabe destacar
que apesar de nem todos gerarem novas ideias, é possível
que esses conceitos, habilidades e ideias sejam aprendidos
e incorporados por todos. A novidade está inexoravelmente
ligada à criatividade, esse apreciado e enigmático dom da
mente humana que impulsiona o progresso.
Para isso, é essencial evidenciar um espaço prioritário
na agenda dos governos locais no tocante à construção de
2 GOLDBERG, E. Creatividad: El cerebro humano en la era de la
innovación. Barcelona: Crítica, 2019.
Cristina Ortega Nuere
7
políticas, implementação e avaliação de suas ações. Um
exemplo que pode ser apresentado é a questão do lazer, isto
é, as cidades inteligentes da atualidade possuem autoridades
locais que se destacam como atores que podem desempenhar
um papel ativo na facilitação de atividades de lazer que são
signicativas não somente para os moradores mas também
para os visitantes. Espera-se que as autoridades locais,
frequentemente sem experiência ou ferramentas necessárias,
elaborem políticas e também estabeleçam uma cooperação
entre cidadãos, organizações não-governamentais, o governo
central e as redes internacionais. Diante do exposto, verica-se
a necessidade de traduzir o conhecimento em informação, pois
embora as tecnologías da informação e comunicação tenham
favorecido as atividades de classicação, armazenamento
e transferência do conhecimento explícito, a gestão do
conhecimento tácito ainda continua sendo um desao para
toda organização. Por todas as questões elencadas, pode-se
salientar que é um grande desao investir em uma sociedade do
conhecimento na era da informação. A coleta, o processamento
e o uso inteligente da informação, base de sustentação das TIC,
é somente o primeiro passo para a geração de conhecimento.
Não se pode negar que a informação é um instrumento do
conhecimento, mas não o conhecimento em si mesmo. No
intuito de possibilitar a gestão e o uso efetivo da informação,
novas estratégias são desenvolvidas por regiões ou cidades
que consideram desaador o avanço para uma sociedade
do conhecimento. O objetivo dessas cidades é propiciar sua
conversão e transmissão em forma de conhecimento.
O relatório intitulado “Rumo às sociedades do
conhecimento”, lançado pela UNESCO
3
, destaca que a sociedade
da informação gira em torno dos avanços tecnológicos
3 UNESCO. Towards knowledge societies: UNESCO World report.
Paris: Imprimerie Corlet, Condé-sur-Noireau, 2005. Disponível em: http://
www.unesco.org/new/en/communication-and-information/resources/
publications-and-communication-materials/publications/full-list/towards-
knowledge-societies-unesco-world-report/. Acesso em: 11 ago. 2021.
Prefácio
8
constantes, enquanto que a sociedade do conhecimento
está assentada na pedra angular da gestão e uso ecaz dessa
informação para facilitar a sua correspondente conversão e
transmissão em forma de conhecimento. Qualquer sociedade
que queira vencer os desafíos enfrentados na atualidade e
conquistar o desenvolvimento político, econômico e social não
pode continuar à margen de um distanciamento qualitativo
que separa esses dois modelos de sociedade emergente. Em
suma, trata-se de criar um conteúdo de valor e, para isso, não
existe melhor forma do que promover projetos inovadores
que apresentem tal objetivo, o qual está sendo desenvolvido
mundialmente, por diferentes órgãos como, por exemplo, A
Organização Mundial de Lazer (World Leisure Organization,
WLO), que desde sua formação em 1952 como um organismo
não-governamental mundial, continua ativa na promoção e
transferência de conhecimento com o propósito de abordar
desaos cada vez mais complexos no âmbito ou campo do lazer.
Assim, uma linha de trabalho é a criação de um Observatório
de Lazer mundial, pois considerando a existência da sociedade
do conhecimento, é importante entender o estado de lazer
no mundo inteiro como uma prática democrática reconhecida
pela Declaração de Direitos Humanos. Tomando como base a
WL Charter for Leisure, a oferta de lazer para a qualidade de
vida é tão importante como a saúde ou a educação.
A Organização Mundial de Lazer possui um conhecimento
integral do lazer e, em concordância, destaca o papel dos
observatórios como intermediários de informação, com o
propósito de facilitar a transferência de conhecimento entre
pesquisadores/acadêmicos, prossionais e legisladores.
A criação desse conteúdo de valor nas cidades inteligentes,
possuem como pano de fundo a Ciência da Informação e
pode ser perfeitamente assumido pelos observatórios que,
tradicionalmente, estão vinculados ao estudo dos fenômenos
naturais que, na sociedade do conhecimento, passam a ser
patrimônio de outras disciplinas como, por exemplo, o campo
Cristina Ortega Nuere
9
do lazer. Uma das principais circunstâncias que favorece a
criação de observatórios é a necessidade de oferecer uma fonte
de informação global, sistematizando as diferentes fontes
de informação existentes. Além disso - continuando com o
exemplo do lazer -, a incorporação da Internet no campo do
lazer acelerou o desenvolvimento das comunicações e das
redes, ampliando, assim, as possibilidades de trabalho em
conjunto e o âmbito de observação dos observatórios.
Assim, por meio da alta procura e ecácia em sua
gestão, os observatórios se tornaram organizações que
promovem a transformação e a transmissão da informação
em conhecimento. Para isso, contam com sistemas integrados
que, por meio da coleta, processamento e uso inteligente
da informação, constituem a primeira etapa no quesito de
geração de conhecimento, destacando-se nas políticas de
tomada de decisão para o alcance de objetivos estratégicos.
Por esse motivo, iniciativas como a criação do Observatório
Mundial de Lazer tornam-se tão relevantes, uma vez que, para
a criação de projetos inovadores, por exemplo, seriam um
marco no contexto da gestão da informação.
Ainda que exista uma considerável produção de
conhecimento sobre os observatórios culturais, as informações
sobre os observatórios de Lazer, do Esporte ou do Turismo,
são pouco explorados ou ainda inexistentes. Assim, no ano de
2019, com o intuito de explorar as estruturas das Cidades de
Lazer e com o objetivo de conceitualizar tais iniciativas a m de
vericar as formas de contributo para a melhoria da qualidade
de vida das pessoas, a Organização Mundial do Lazer, em
uma linha de trabalho estratégica e preparatória, realizou
um levantamento documental, que mapeou 33 observatórios
nos campos do Lazer, do Esporte, da Cultura e do Turismo,
localizados em várias partes do mundo.
Com base nos resultados desse estudo, o estabelecimento
de um Observatório Mundial de Lazer poderia atuar como um
ponto de referência internacional para a informação e um
Prefácio
10
depósito de conhecimento no que diz respeito a pesquisas,
política e prática de lazer. O Observatório deveria abordar a
fragmentação atual das fontes de informação e preencher
os vazios onde existe uma falta de coleta e disseminação
sistemática de informação. Outro ponto que merece destaque
é o fato de o Observatório Mundial de Lazer ser visto como um
meio de ressaltar a importância do lazer em conformidade
com os princípios reetidos na Carta da WLO para o Lazer
-, melhorar o perl do setor de lazer e contribuir para o
desenvolvimento de capacidades, proporcionando certa
visibilidade, além de promover debates sobre as tendências
mundiais de lazer e proporcionar reexões coerentes sobre a
coleta e disseminação de dados.
As sociedades evoluem rapidamente e aquilo que
produzem, em certa medida, prevalece sobre o seu material de
origem fundamental. Portanto, o gerenciamento de mudanças
é um processo longo e extenso que requer uma combinação
equilibrada tanto de uma análise geral, como também
de abordagens especícas. É por isso que a pesquisa e a
orientação política, são mais necessárias do que nunca. Ações
inovadoras são necessárias. Deve-se defender a integração
da área da Ciência da Informação, para dar sentido aos
ambientes complexos em que vivemos e desenvolver soluções,
principalmente para as cidades, para implementar políticas
que gerem melhores resultados para as suas comunidades.
O século XXI segue em um ambiente marcado por novos
desaos que, por sua vez, trazem consigo novas oportunidades
em muitos aspectos, mas sobretudo no que diz respeito
ao desenvolvimento da informação e do conhecimento. A
nova ordem internacional, desastres ecológicos e naturais,
tecnologias de informação e comunicação são alguns dos
novos parâmetros do contexto em que a atividade de
indivíduos e organizações está atualmente enquadrada.
Portanto, para se adaptar aos novos cenários ou mesmo
antecipá-los, é necessário um processo de gestão de mudanças
Cristina Ortega Nuere
11
baseado no uso adequado da informação e do conhecimento,
especialmente dentro das cidades, uma vez que estes foram
consagrados como os grandes motores da política, da
sociedade, do desenvolvimento cultural e econômico. Assim, a
sociedade do conhecimento incentiva as cidades a rever o que
fazem e como fazem para serem mais receptivas e simples,
responsáveis e transparentes, e ampliarem os espaços de
participação cidadã, a m de melhorar a qualidade de vida.
Cristina Ortega Nuere
Diretora de Operações - WLO
Universitat Oberta de Catalunya
Tradução de:
Ellen Vallota Elias Borges
Rosângela Formentini Caldas
Rosângela Caldas
13
Apresentação
O tema deste livro foi inicialmente idealizado, a partir
de uma observação e acompanhamento de diálogos rmados
nas mais diversas áreas do conhecimento, com a proposta de
atuação em Cidades Inteligentes.
A partir do ano de 2005, ao realizamos uma proposta
de pesquisa direcionado a uma universidade pertencente
a comunidade europeia, percebemos a existência de várias
discussões, sobre a aplicabilidade do conteúdo conceitual de
Cidades Inteligentes. Tal contexto emergia com a celeridade de
interesses, pois as localidades que se abriam para a integração
do conceito, despontavam como exemplos de crescimento,
desenvolvimento e qualidade de vida para as suas populações.
No entendimento do diferencial contextualizado na
ocasião para as práticas em questão, vericamos a importância
concreta que se congurava o fundamento desta temática.
Relatórios internacionais eram gerados com o intuito de
apresentar em dados, os resultados de levantamentos distintos
para eixos que se formavam nas áreas de: Comunicação,
transporte, economia e governança. Tais eixos, pareciam
estar centralizados, no entorno da importância dada a
implementação da tecnologia como um assessoramento ao
ambiente, que se despontava no cuidado existente com as
pessoas e seus modos de vida, envoltos em todo este processo.
Ao rmarmos calendário de atuação, agora coma
proposta de pesquisa em curso, iniciamos reuniões com
pesquisadores referenciados internacionalmente na área
de sistemas e engenharia da informação. Ocorreu uma
aproximação com a proposição das Cidades Inteligentes, por
meio da participação em pesquisas, reuniões, discussões,
levantamento de bases de dados e de uma literatura
internacional.
Apresentação
14
Naquele momento, erguemos hipóteses que ampliariam
a visão sobre os tópicos das especicidades dos eixos que
cerceavam esta temática. As mudanças ora apresentadas para
o conceito, incluíam uma proposta inovativa com a premissa de
melhorar a possibilidade de aprofundamento de estudos para
a implementação de práticas mais precisas e fragmentadas,
como se fossem subeixos de ação. A expectativa para o alcance
de novas contribuições, fez com que, pudéssemos pontuar as
localidades sede de objetivos de coleta de dados, a partir do
levantamento das primeiras posições no ranking internacional
das cidades inteligentes. Assim, planejamos conjuntamente às
universidades e governanças de tais localidades, a possibilidade
de um período de permanência, com vistas a observação e
atuação conjunta.
Desde então, temos realizado continuamente a leitura
anual dos relatórios internacionais das cidades inteligentes
e o levantamento da literatura da área, com a nalidade de
identicarmos novos casos e ações sugeridas e realizadas para
um efetivo acompanhamento das transições ocorridas nas
regiões como também realizarmos um melhor entendimento,
do impacto ocorrido para o desenvolvimento das
comunidades. Acreditamos que, ao promover a qualidade de
vida das pessoas por meio da inovação, as cidades inteligentes
inuenciaram diretamente nos índices de desenvolvimento
humano e regional e consequentemente, lideram o condizente
de motivos pelos quais um país poderia se impulsionar
e alçar voo, para sair da pobreza e da desigualdade social.
Portanto, nossa contribuição com as pesquisas em cidades
inteligentes, deu-se em introjetar para além dos eixos bases
de estudos existentes em economia, comunicação, transporte,
governança e tecnologias, tópicos como fatores socioculturais
e de sustentabilidade das comunidades, gestão da informação
e do conhecimento e políticas públicas.
No ano de 2020, publicamos um livro na temática de
Cidades Inteligentes e Desenvolvimento das Comunidades.
Rosângela Caldas
15
Um dos capítulos, abordava os contributos referenciados
a Ciência da Informação naquela circunstância. A partir
daquele momento, recebemos contatos de pesquisadores
e interessados no tema, destacando a importância da
continuidade de estudos desta natureza.
Assim, realizamos um levantamento em bases de
dados internacionais, a m de compilarmos aquilo que se
estava produzindo na área da Ciência da Informação e que
perpassava o tema de Cidades Inteligentes. Outro tópico que
nos pareceu relevante, foi vericar no contexto brasileiro, o
que estava sendo realizado e, entendendo, que muito do que
se produz como as pesquisas de ponta, estão sendo iniciadas
e geradas em programas de pós-graduação, efetuamos um
outro levantamento de dados, mas agora, nas bibliotecas
digitais de teses e dissertações das principais universidades
brasileiras.
Não podemos deixar de mencionar, que paralelo a todos
este processo, acompanhamos em nosso cotidiano de pesquisa
acadêmica, a trajetória daquilo que tem sido produzido nas
atuais pesquisas e relatórios sobre Cidades Inteligentes,
inclusive a existência de novos tópicos que porventura, estão
sendo inclusos ou mais aprofundados, para esta conjectura
e percebemos, que nas sociedades em desenvolvimento,
muito tem-se questionado sobre as possibilidades de oferecer
melhorias de condições de vida aos seus cidadãos. Portanto,
entende-se perfeitamente possível, a integração de áreas
como a Ciência da Informação, com a relevância que se faz
presente para a implementação de Cidades Inteligentes.
Como efeito do levantamento realizado, elaboramos uma
coletânea, que procurou agregar em seu conteúdo, tópicos de
inovação e relevância entre Cidades Inteligentes e Ciência da
Informação. Entendemos que a inserção da área da Ciência
da Informação nas discussões das Cidades Inteligente, pode
ser referencial tanto para o contexto da ciência e tecnologia,
como também para as regiões que podem se beneciar do
Apresentação
16
conteúdo deste material em prol de direcionarem ações que
possibilitem o pensamento e a implementação de seu teor,
em pautas da gestão pública.
O livro “Cidades Inteligentes e Ciência da Informação
encontra-se dividido em três partes: Gestão Pública Regional,
Fatores Socioculturais e Unidades Culturais/Instituições
Informacionais.
Por meio de diálogos pertinentes entre Cidades
Inteligentes e Ciência da Informação, os capítulos compõe
as três partes do livro e procuram levar o leitor, a entender
primeiramente o conceito que está no bojo da proposta de
aproximação dessas áreas, e oferecer tópicos inovadores e
apropriados para gestores, pesquisadores, acadêmicos ou
mesmo pessoas que querem entender e apreciar mais deste
conteúdo.
Na primeira parte, o leitor encontrará dois capítulos
direcionados para a gestão pública, anal, as pesquisas em
governança são indispensáveis, para a compreensão plena das
cidades inteligentes, devido aos aspectos sociais, políticos e
econômicos de um ambiente urbano. Serão apresentadas as
dimensões propostas para a atuação de centros de operações
municipais, contendo quesitos inteligentes a favor da
sociedade. Viabiliza-se o compartilhamento e a integração de
informações entre os diferentes órgãos e sistemas, sugerindo
um modelo multidimensional e como consequência, se expõe
a melhoria na prestação e entrega de informações e serviços
públicos, aumentando a qualidade de vida e o bem-estar dos
cidadãos. o destaque para as relações socioeconômicas,
políticas públicas, habitação e questões habitacionais, que
estão intrinsecamente relacionadas aos aspectos sociais,
econômicos e políticos das regiões.
A segunda parte, comporta tópicos sobre os fatores
socioculturais que devem interagir com as Cidades Inteligentes
uma vez que a cultura congura um dos indicadores dos
relatórios internacionais, utilizada para mensurar os níveis
Rosângela Caldas
17
de cidadania e qualidade de vida das cidades como parte
fundamental da vida coletiva, pois viabiliza a própria existência
das sociedades. Para tanto, existem diversos aspectos da
vida cultural das cidades, como práticas, manifestações,
equipamentos culturais e bens históricos patrimoniais,
que são dinâmicas urbanas e deveriam ser explorados pois
representam a memória de indivíduos e comunidades,
compondo a identidade e o entendimento de pertencimento
dos cidadãos.
O primeiro capítulo da parte II, atenta para o dado
de que existem mais de cem cidades brasileiras inseridas
na plataforma Connected Smart Cities - o que signica, o
interesse das localidades em participarem das iniciativas
sustentáveis e inteligentes -, e para demonstrar as atuações
no âmbito cultural, ocorreu o levantamento daquilo que está
sendo realizado nas três cidades mais bem posicionadas nos
rankings internacionais. Como conclusão, o estudo apontou
que mesmo em grandes cidades, que possuem maior
concentração de recursos e melhores índices de desempenho
na disponibilização e uso das tecnologias inteligentes não
existem estratégias especícas para a aplicação de modelos
inteligentes nas áreas cultural e patrimonial havendo então,
muitas possibilidades de aplicação de técnicas e tecnologias
inteligentes para a preservação e difusão dos bens culturais e
do patrimônio cultural de uma cidade.
A importância cultural que se desponta na trajetória de
nossa sociedade, relaciona elementos no campo da informação
e do conhecimento, democratizando os acessos aos saberes
e proporcionando ações educativas voltadas para diminuição
do distanciamento social. Na sinergia das ações que envolvem
ambientes inteligentes, os fatores socioculturais se apresentam
como bens valiosos para o pensamento de centros urbanos,
portanto, o livro também procura apresentar reexões
sobre um olhar para o futuro, não apenas em fragmentos
populacionais, mas sim, na constituição das sociedades. E
Apresentação
18
nesse aspecto, ocorre a emergência de ações para populações
ricas culturalmente e detidas na complexidade social como
as comunidades indígenas, que contribuem para a explicação
da existência das populações e portanto, é dever do Estado,
integrá-las aos seus espaços.
O segundo capítulo da parte II, apresenta sistemas
inteligentes de mediação cultural, que primam por inovação e
tecnologias de ponta. A ação mediadora, criaria a oportunidade
de aliar e permitir o encontro da cultura e da tradição indígena,
no processo relacional possibilitando trocar e compartilhar
conhecimentos com outras comunidades étnicas, até mesmo
de outros países. Inserimos neste momento, a observação
de uma literatura internacional, que coloca para as Cidades
Inteligentes, itens como eco sistemas, inteligência social,
energia renovável e capital natural.
Locais com aplicabilidade de políticas inteligentes
na sua gestão pública, representam ambientes distintos
de capacidade, habilidades e criatividades diferenciadas
constituídas coletivamente e que devem se utilizar de sistemas
de informação que operam nos espaços físicos, institucionais
e digitais das cidades para a promoção de possibilidades de
ação.
Na parte III, apresentamos a possibilidade de atuação
de arquivos, bibliotecas e museus, no contexto de cidades
inteligentes visto que regiões inteligentes, deveriam possuir
centros de referência em informação, uma vez que estes
poderiam proporcionar diretrizes e embasamento para a
criação de pesquisas e estudos sobre questões ligadas a
cidade e administração urbana, auxiliando no alcance eciente
e ecaz de melhores condições de subsistência e prosperidade
humana e social.
Os capítulos pertencentes a parte III desta coletânea,
apresentam as instituições informacionais, proporcionando
a melhoria dos serviços das localidades inteligentes,
corroborando com o desenvolvimento de estratégias de
Rosângela Caldas
19
gestão e planejamento local. Nos arquivos, foram vericadas as
categorias: Recursos humanos; mercado/usuários; produtos/
serviços; gestão local/pública; e tecnologia. Nas bibliotecas,
o texto apresenta a hibridez, como forma de existência nas
cidades inteligentes pois converge em suas estruturas, as
tecnologias para um acesso informacional que trabalha o
capital social, permitindo a participação da comunidade no
cotidiano da esfera pública. Nos museus, a comunicação possui
ações inovadoras e criativas, como é o caso do smartmuseum,
que orientam o processo de tomada de decisão na construção
das etapas dinâmicas necessárias para o desenvolvimento
de um plano de comunicação para o ambiente digital. As
instituições informacionais, como os arquivos, as bibliotecas e
os museus, possuem em uma de suas premissas, a preservação
dos conteúdos para as gerações futuras. E, nesse cenário, se
apresenta um dos grandes desaos: Combinar a tecnologia,
com ricos ambientes interativos, permitindo acesso aos
conteúdos.
Boa leitura e excelentes descobertas…
Rosângela Caldas
UNESP, Julho de 2021.
Rosângela Formentini Caldas
Organizadora
21
Introdução
Cidades Inteligentes são locais mundialmente
reconhecidos pela prática da inovação e do conhecimento,
propiciando para tanto, ferramentas mais ecazes de um
crescimento urbano e regional eciente. Inúmeros relatórios
no âmbito nacional e internacional e elaborados por
instâncias referenciais, testicam dados de excelência para
tais localidades, em quesitos como: Governança, estrutura
da administração pública, planejamento urbano, tecnologias,
meio ambiente, conexões internacionais, coesão social, capital
humano e economia.
Mais recentemente, temos vericado, por meio de
levantamentos da literatura, que as pesquisas no contexto de
Cidades Inteligentes, têm destacado o mérito da vericação
e a integração de tópicos importantes para organismos
internacionais, que promovem uma cooperação e a defesa do
bem-estar social, a m de almejar o equilíbrio mundial, como
no caso da ONU (Organização das Nações Unidas).
Dentre os tópicos atuais, que temos observado nas
pesquisas de Cidades Inteligentes, encontram-se a Agenda
2030, para o Desenvolvimento Sustentável e ainda uma
preocupação com os ecossistemas de inovação. Assim, as
localidades regionais avançam na seriedade de implementar
uma gestão pública, que não apenas está atenta para os
cuidados primários e básicos para as suas populações,
mas também com um olhar atento, para o alcance de
melhores condições de vida, tomando como exemplo, casos
reconhecidos de equilíbrio para uma administração pública,
que prima pela qualidade e transparência de suas ações, com
o foco no crescimento e desenvolvimento regional.
A informação, o conhecimento, a inovação e as
tecnologias valendo-se de seu intenso uso para a informação
Introdução
22
e comunicação (TIC), são elementos centrais para a existência
das Cidades Inteligentes. Por sua vez, a área da Ciência
da Informação reconhece os equipamentos culturais,
como organizações que disseminam, mediam, elaboram e
integram em diferentes suportes a informação, atuando no
gerenciamento do conhecimento para as práticas inovativas.
Portanto, o campo da Ciência da Informação, muito poderia
contribuir para a implementação e reconhecimento das
Cidades Inteligentes no tocante a projetos inovadores, tanto
no que diz respeito a esfera da gestão pública, como na
atuação dos mais diferenciados segmentos institucionais das
comunidades.
Atento a expressividade de fatores gerados por tais
localidades, o governo brasileiro uniu esforços dos Ministérios
da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e do Desenvolvimento
Regional e lançou, no ano de 2020, o primeiro marco ocial
para políticas públicas aplicadas às Cidades Inteligentes. Tal
iniciativa, visa apoiar as pesquisas que venham a promover
este setor. Assim, o livro “Cidades Inteligentes e Ciência da
Informação”, procura integralizar e promover os diálogos
entre essas instâncias de pesquisa, por meio da aproximação
das possibilidades de contributo advindo desta integração,
ampliando e idealizando objetos de estudos que poderiam
inclusive gerar impactos sem precedentes para a projeção
destes campos do conhecimento, bem como, propor tópicos
de gestão, que colaborem para a melhoria na qualidade de
vida dos cidadãos.
Como vericado, na abrangência de uma premente
conversa com especialistas dessas áreas e da mesma forma, o
minucioso detalhamento realizado com aquilo que tem sido
publicado no âmbito das pesquisas cientícas, permanece
incompatível, não se pensar na otimização de recursos, como
uma visão que excede o indivíduo nas possibilidades do
seu entrosamento com o meio ambiente ao qual vivencia.
Esferas regionais da economia, política, cultura e, agora, de
Rosângela Formentini Caldas
Organizadora
23
um possível desenvolvimento sustentável, passam a ser
questões dialogadas no cotidiano da sociedade e que devem
ser “re”pensadas para o progresso de centros urbanos. Urge
todavia, por parte de seus gestores, formas de condução de
uma administração pública mais consciente e planejada com
o compartilhamento de informações.
Iniciativas de natureza da publicação, produção de
pesquisa, relatórios e relatos de casos de Cidades Inteligentes,
são fundamentais para o entendimento das possibilidades de
dinamismo para a prática da cidadania e de uma plenitude
de qualidade de vida para todos os povos. Conhecimento e
inovação, embasam a tramitação da trajetória do pensamento
para a sociedade acolher as mudanças necessárias para o seu
crescimento. Deste modo, falar sobre a Ciência da Informação,
nesta conjectura, nunca foi tão essencial e preciso.
Rosângela Formentini Caldas
Organizadora
PARTE I
Gestão Pública Regional
Gabriela Viale Pereira
27
Gabriela Viale Pereira
1
1 Danube University Krems, gabriela.viale-pereira@donau-uni.ac.at
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
1 INTRODUÇÃO
Cidades ao redor do mundo têm se deparado com
desaos complexos da crescente urbanização e estão
gerindo as suas operações de forma mais inovadora para
evitar os problemas sociais, políticos e organizacionais desse
fenômeno (GIL-GARCIA; PARDO; NAM, 2015). Atualmente
53% da população mundial (2,06 bilhões de pessoas) vivem
em áreas urbanas (DEMOGRAPHIA WORLD URBAN AREAS,
2015), destes 82,6 milhões estão no Brasil (caracterizando
quase 50% da população brasileira). Como consequência da
rápida urbanização brasileira, sem a devida contrapartida de
políticas voltadas para o bem-estar dos indivíduos que vivem
nas cidades, observa-se crescimento de problemas urbanos,
como o aumento das mortes associadas a causas externas ou
violência, incluindo homicídios, suicídios, acidentes de trânsito,
afogamentos, quedas acidentais, entre outros (ALBUQUERQUE;
SILVA, 2015).
Ao tratar do fenômeno da rápida urbanização, Bloomberg
(2014) arma que a melhor maneira de melhorar a vida de
bilhões de pessoas ao redor do mundo é melhorando a forma
como as cidades funcionam. De acordo com Goldsmith e
Crawford (2014) os governos estão cada vez mais próximos de
um cenário ideal de responsividade, uma vez que, por meio
das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), podem
capacitar, engajar e permitir o envolvimento dos agentes de
governo para que trabalhem para garantir uma vida melhor
CAPÍTULO 1
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
28
para os cidadãos e dos cidadãos para que trabalhem com os
governos locais em soluções compartilhadas para os desaos
e problemas urbanos. Apoiadas pelas TIC, as cidades podem
mudar a forma como os cidadãos consideram o governo local
e o seu engajamento cívico (GOLDSMITH; CRAWFORD, 2014).
Estudos também apresentam fortes indícios de que cidadãos
estão cada vez mais dispostos a usar serviços urbanos baseados
em TIC quando estes ajudam a melhor sua qualidade de vida
nas cidades (YEH, 2017).
As cidades inteligentes são denidas como soluções
inovadoras (em sua maioria baseadas em TIC) para melhorar
a vida urbana em termos de pessoas, governança, economia,
mobilidade, meio-ambiente e subsistência (ANTHOPOLOUS;
REDDICK, 2016; YEH, 2017). Dentre os principais objetivos
das cidades inteligentes está a melhoria da qualidade de vida
dos cidadãos, além do aumento da eciência das operações
municipais e o crescimento econômico local (GIL-GARCIA;
PARDO; NAM, 2016). Dameri e Benevolo (2016) reconhecem
cidades inteligentes como um campo de pesquisa variado,
contudo ainda imaturo na prática. Nesse sentido, Chong et
al. (2018) destacam que apesar da infraestrutura ser uma
questão crítica na implementação de cidades inteligentes, o
engajamento e a colaboração dos cidadãos são essenciais
para a sua implementação.
Nesse sentido, os centros de operações municipais
começam a ser implementados como uma forma de enfrentar a
premência e dinamicidade dos problemas urbanos. Os centros
de operações municipais, no exercício do comando e controle
em operações integradas, têm desempenhado um papel
importante na resposta a eventos sociais e desastres naturais
por meio da comunicação e coordenação (KULA; GULER,
2016). Atualmente, diversos municípios são gerenciados com
base em análises em tempo real, principalmente por sistemas
isolados e controlados por uma única agência (KITCHIN, 2014).
Porém, os centros de operações municipais são uma tentativa
Gabriela Viale Pereira
29
de unicar a gestão dos diversos aspectos das cidades, por
meio do monitoramento e análise de dados públicos e abertos
em um único local, como o centro de operações do Rio de
Janeiro (KULA; GULER, 2016).
Dentre os diversos aspectos na gestão das cidades
estão: o monitoramento da circulação de veículos e da
rede transporte público, do uxo de tráfego e ajuste de
semáforos para evitar engarrafamentos; o monitoramento e
acompanhamento de acidentes em tempo real, permitindo o
correto direcionamento de recursos para o local; a coleta de
dados relativos às condições ambientais, permitindo a medição
da poluição do ar, níveis de água ou atividade sísmica; além de
aspectos como participação pública e accountability, por meio
do monitoramento dos funcionários (KITCHIN, 2014).
De acordo com Agrawal, Kettinger e Zhang (2014), a
capacidade de resposta dos governos está relacionada à medi-
da em que os mesmos atendem as necessidades dos cidadãos.
Por outro lado, Chong et al. (2018) reconhecem a existência
de limitados estudos, com viés prático, que possibilitem a
identicação de problemas e soluções sob a perspectiva dos
cidadãos. Considerando o foco desta pesquisa nos problemas
urbanos como consequência da rápida urbanização, entende-
se que por meio da combinação de processos de negócios e
tecnologias aplicados no governo local tem-se um avanço na
entrega de informações e serviços públicos para a sociedade
e na pronta resposta para os problemas da cidade. Assim,
diante da contextualização do tema, o problema de pesquisa
deste artigo visa responder ao seguinte questionamento:
Como centros de operações municipais são entendidos e
implementados em diferentes cidades?
Assim, é no contexto de cidades inteligentes que está
situada esta pesquisa. Este artigo objetiva identicar as
dimensões e fatores para a implementação de centro de
operações municipais no campo de cidades inteligentes. A
m de examinar como este fenômeno ocorre, foi realizado
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
30
um estudo exploratório, baseado em casos múltiplos. Este
método de pesquisa foi escolhido pela sua característica-
chave de investigação holística que permite a compreensão
das complexas interações e ubíquos entre organizações,
tecnologias e pessoas (DUBÉ; PARÉ, 2003). Centros de
operações municipais têm emergido no Brasil como uma
forma de mitigar as consequências da rápida urbanização sem
um tratamento especíco sobre questões de qualidade de
vida e bem-estar do cidadão, que sofre com o crescimento
dos problemas urbanos. Nesse sentido, foram coletados
dados empíricos para a realização desta pesquisa nos centros
de operações municipais das cidades do Rio de Janeiro, Porto
Alegre e Belo Horizonte.
O artigo está organizado da seguinte forma: a próxima
seção apresenta uma visão geral de governo eletrônico
e inteligente; e cidades inteligentes. Na sequência os
procedimentos metodológicos são apresentados e na seção
seguinte os resultados são descritos e discutidos. Ao nal são
apresentadas as considerações nais deste estudo.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Governo eletrônico e inteligente
Diversos autores têm explorado o tema de cidades
inteligentes, especialmente com foco em governo e governan-
ça (ALAWADHI et al., 2012; ANTHOPOULOS; REDDICK, 2016;
GIL-GARCIA et al., 2015; MEIJER; BOLÍVAR, 2016). Muitos
governos ao redor do mundo estão trabalhando na formação
de cidades inteligentes adotando não a inovação em
tecnologia, mas também se atendo a aspectos como gestão,
governança e políticas. Assim, o termo governo inteligente
é usado para caracterizar as atividades que investem
em tecnologias emergentes juntamente com estratégias
inovadoras para atingir estruturas governamentais mais ágeis
e resilientes e infraestruturas de governança (GIL-GARCIA;
HELBIG; OJO, 2014). De acordo com Awoleye, Ojuloge e Ilori
Gabriela Viale Pereira
31
(2014), governo eletrônico caracteriza-se pelo avanço na
melhoria da entrega de informações e serviços públicos, por
meio de processos de negócio e tecnologias que permitem
que a informação seja alcançada e disseminada em todas as
agências de governo, ampliando a promoção de oportunidades
para os cidadãos de várias formas. Tais oportunidades incluem
serviços públicos, participação e comunicação a qualquer
momento e em qualquer lugar, e principalmente, podendo ser
acessados de qualquer dispositivo a partir da integração dos
serviços de governo com tecnologias inteligentes (AWOLEYE;
OJULOGE; ILORI, 2014).
Um ponto chave ao lidar em um cenário de governo
inteligente é que as organizações, além de aumentarem a
eciência, ecácia e transparência na gestão e na prestação
de serviços públicos (NAM; PARDO, 2014), criem um ambiente
de colaboração com outras organizações e com o público
(MAHESHWARI; JANSSEN, 2014; NAM; PARDO, 2014) e com
todos os stakeholders envolvidos no desenvolvimento de uma
cidade e governo inteligente (AXELSSON; GRANATH, 2018).
Nesse sentido, a interoperabilidade torna-se condição
necessária para colaboração através da troca de informações
e comunicação entre organizações. Para tanto, uma
infraestrutura tecnológica que integre redes de computadores,
sistemas ubíquos, tecnologias virtuais e uma arquitetura
orientada à serviços (GIL-GARCIA et al., 2015) é fundamental
para o estabelecimento de governos inteligentes. Além disso,
processos de medição, avaliação de desempenho e melhoria
são esperados (MAHESHWARI; JANSSEN, 2014), facilitando
assim a participação do público na tomada de decisões e
acompanhamento da prestação de serviços (NAM; PARDO,
2014).
2.2 Cidades inteligentes
As cidades inteligentes caracterizam-se por uma nova
forma de governar com o uso das tecnologias e consequente
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
32
aumento da capacidade da administração pública com foco
na melhoria da qualidade de vida do cidadão, mostrando uma
relação com a denição de governança eletrônica apresentada
anteriormente. De acordo com Anthopoulos e Reddick (2016),
iniciativas de cidades inteligentes são uma forma para os
governos mudarem os espaços urbanos, aumentando a
prestação de serviços públicos e a democracia. Para tanto,
pesquisadores em cidades inteligentes tem buscado uma
visão interdisciplinar, trazendo contribuições de diversas
áreas de conhecimento, tais como: ciência da computação,
engenharia, urbanismo, ciências políticas, economia e ciências
sociais (CHONG et al., 2018).
Alguns autores vêm analisando o conceito de cidade
inteligente por meio de sua relação com tecnologias
emergentes, como Big Data, Internet das Coisas (IoT) e Cloud
Computing (CHATTERJEE; KAR; GUPTA, 2018). Ao analisar a
digitalização e a virtualização no governo da cidade inteligente,
as crescentes possibilidades do setor público de gerar, coletar
e utilizar dados, bem como o gerenciamento de informações
(tecnologia digital, mineração de dados e TIC) e os processos
relacionados de transferência de informações digitais
inuenciam a organização das cidades e o desenvolvimento de
serviços locais (SYVÄJÄRVI et al., 2015). Segundo Costa e Santos
(2016), como as cidades inteligentes fazem uso recorrente de
dispositivos permanentemente conectados (IoT) e produzem
um grande volume de dados, elas podem ser consideradas
como um dos sistemas mais ricos e desaadores para gerar Big
Data. Por outro lado, este grande volume de dados permite
a criação de dashboards em cidades inteligentes que, por
sua vez, possibilitam o aumento do nível de transparência e
accountability como por exemplo tráco e transporte público
em grandes metrópoles (MATHEUS; JANSSEN; MAHESHWARI,
2018).
No âmbito da governança, Meijer e Bolívar (2016) denem
governança de cidades inteligentes como sendo a capacidade
Gabriela Viale Pereira
33
de atrair capital humano e de mobilizá-lo na colaboração entre
os diferentes atores, por meio do uso das TIC. Na denição, os
autores enfatizam os três aspectos principais de uma cidade
inteligente: (1) o foco tecnológico, (2) o foco em recursos
humanos e (3) a governança (colaboração). Na mesma linha,
Osella, Ferro e Pautasso (2016) relacionam o conceito de cidades
inteligentes com a noção de governança, em que se percebe
uma maior intenção na criação de valor para a sociedade por
meio de aspectos como liderança, participação do cidadão,
parcerias público-privadas, accountability, responsividade,
transparência, colaboração, compartilhamento de dados e
informações, integração de serviços e comunicação.
Um modelo integrativo de cidades inteligentes foi
proposto por Gil-Garcia, Pardo e Nam (2015), o qual objetiva
identicar seus principais componentes bem como propor
um conceito compreensivo. Esta proposta é composta por
quatro dimensões: (1) tecnologia e dados, (2) governo, (3)
sociedade e (4) ambiente físico. A tecnologia é vista como
sendo um elemento que reforça e interconecta os demais.
Os autores acreditam que o conceito de cidades inteligentes
é multidimensional e multifacetado, e sua evolução deve
considerar os seguintes componentes: (1) serviço público,
(2) gestão e administração da cidade, (3) políticas públicas e
outros arranjos institucionais, (4) governança, compromisso
e colaboração, (5) capital humano e criativo, (6) economia
do conhecimento e ambiente favorável aos negócios, (7)
construção de uma infraestrutura ambiental e de cidade, (8)
meio ambiente e sustentabilidade ecológica, (9) TIC e outras
tecnologias, e (10) dados e informação.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este artigo foca no estudo de três capitais brasileiras
que implementaram centros de operações em um esforço de
tornarem-se mais inteligentes: a Central de Operações do Rio
(COR), no Rio de Janeiro; Centro Integrado de Comando da
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
34
Capital (CEIC), em Porto Alegre e o Centro de Operações de Belo
Horizonte (COP-BH). Essas cidades foram reconhecidas como
cidades inteligentes
1
e representam a totalidade dos centros
de operação municipais no Brasil no momento em que a coleta
de dados foi realizada. As cidades apresentam diferenças de
contexto em termos de população, demograa, economia e
localização.
Considerando que grande parte dos estudos requer
uma análise de casos múltiplos, para a seleção do método de
seleção de casos múltiplos foi adotada a lógica de replicação
literal, onde as condições dos casos levam para a predição
de resultados similares (YIN, 2009). Neste estudo, foi realizado
uma análise de cruzamento de casos múltiplos apresentados
juntamente na busca de uma maior generalização dos
resultados (YIN, 2009). Esta pesquisa é caracterizada como
um estudo holístico de casos múltiplos, onde cada caso
possui diferentes contextos (três cidades diferentes) e uma
única unidade de análise: a implementação de um centro de
operações municipal.
3.1 Coleta de dados
O modelo de coleta de dados desta pesquisa incluiu
uma variedade de técnicas e fontes de evidências qualitativas
(YIN, 2009), a m de garantir uma triangulação de dados.
Foram realizadas 34 entrevistas semi-estruturadas, nas quais
participaram 37 membros dos três estudos de caso em suas
respectivas centrais de operação municipal (Rio de Janeiro -
07 pessoas, Porto Alegre - 10 pessoas e Belo Horizonte - 20
pessoas). Cada entrevista teve duração aproximada de 1hora, as
quais foram digitalmente gravadas e posteriormente transcritas,
preservando-se o anonimato dos participantes que previamente
assinaram termo de consentimento livre e esclarecido da
pesquisa. Foram selecionados participantes de diferentes
1 Disponível em: http://www.smartcityexpo.com/awards. Acesso em:
5 set. 2021.
Gabriela Viale Pereira
35
funções, experiências e níveis prossionais abrangendo-se um
espectro de distintas perspectivas do mesmo caso. Assim, em
função das especicidades de cada um dos casos, em nível
sênior foram entrevistados diretores e coordenadores dos
centros; membros da equipe administrativa e seus gestores;
conselheiros e gestores administrativos dos centros; analistas
tecnológicos e outros membros da equipe técnica; e gestores
operacionais e de serviços, em especial representantes de
outros órgãos municipais alocados no centro de operações em
estudo.
3.2 Análise de dados
O protocolo de entrevistas incluiu perguntas para as
dimensões selecionadas identicadas na revisão de literatura,
como segue: (1) tecnologia e dados, (2) governo e (3) sociedade.
O protocolo foi baseado na revisão de literatura, apresentando
questões abertas, bem como questões relacionadas a tópicos
especícos. O conjunto de dados primários coletados
demonstrou ser bastante rico não somente em volume
(558 páginas - 231.422 palavras), como também no seu
conteúdo. Além disso, foi realizada análise de documentos
que possibilitou uma excelente triangulação de dados (YIN,
2009). Os documentos analisados consistem no plano de ação
dos centros para o ano seguinte, os regulamentos (quando
disponíveis), site e notícias e relatórios. A estratégia de pesquisa
adotada para este estudo contempla a avaliação de dados
coletados por meio de uma perspectiva teórica (EISENHARDT,
1989; YIN, 2009). Segundo Miles e Huberman (1994), a análise
de dados sob uma perspectiva qualitativa consiste na redução
e exibição de dados, atividades que foram realizadas com
suporte do software QSR NVivo.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Centros de operações municipais podem ser
compreendidos pela sua implementação considerando
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
36
três dimensões: tecnologia, governo e sociedade (GIL-
GARCÍA; PARDO; NAM, 2015). Para garantir a compreensão
multidimensional de centros de operações municipais, os
fatores analisados no capítulo anterior foram distribuídos
nas dimensões mencionadas. Assim, como resultados desta
pesquisa, tem-se um modelo multidimensional de centros de
operações municipais que ajusta o entendimento preliminar
multidimensional de iniciativas de cidades inteligentes (GIL-
GARCIA; PARDO; NAM, 2015) para o contexto de centros de
operações municipais. A compreensão multidimensional
de centros de operações municipais foi moldada a partir de
evidências empíricas dos centros de Porto Alegre, Rio de Janeiro
e Belo Horizonte.
O modelo multidimensional inclui aspectos que não
foram abordados no entendimento preliminar de iniciativas
de cidades inteligentes que emergiu da revisão de literatura.
Na dimensão tecnologia foram incluídos os fatores
tecnológicos analisados e o uso de dados e informações de
governo. A dimensão societal é representada pelos fatores
de governança que emergiram da análise empírica, assim
como fatores contextuais, que inclui a situação econômica e
aspectos do meio ambiente. A dimensão governo é denida
por fatores estratégicos, organizacionais e gerenciais, políticos
e institucionais e prestação e entrega de serviços públicos. Na
conceitualização de iniciativas de cidades inteligentes, Nam e
Pardo (2014) sugerem que a tecnologia, a gestão e o contexto
político são a base para sua denição considerando uma visão
holística.
4.1 Tecnologia
Para este estudo, a dimensão tecnológica e suas categorias
foram analisadas por meio das três iniciativas de cidade
inteligente. A dimensão tecnológica possui três categorias
principais provenientes da literatura: (1) TIC, (2) barreiras e
desaos, e (3) dados e informação. Os dados foram codicados
Gabriela Viale Pereira
37
em 178 partes, que foram sintetizadas em 36 códigos nais.
Os principais códigos desta dimensão nas respectivas
categorias incluem: (1) adoção de novas tecnologias (big
data, internet das coisas), compartilhamento e integração de
dados, sistemas de monitoramento e integração de sistemas;
(2) interoperabilidade limitada, privacidade e consistência das
informações, limitação orçamentária e atualização tecnológica;
(3) dados geo-localizados, tomada de decisões e planejamento
baseados em dados, dados em tempo real, análise de big data,
cruzamento de dados, integração e abertura de dados.
O progresso de tecnologias como Big Data e Internet
das Coisas (IoT) tem executado um papel imperativo na
operacionalização de iniciativas de cidades inteligentes
(MUTHULAKSHMI; LALITHA; UMA, 2017). O compartilhamento
de informação e a cooperação são os principais elementos na
concepção do uso de TIC para possibilitar uma governança
colaborativa em cidades inteligentes, juntamente com a
participação e o comprometimento de práticas para o processo
de tomada de decisão (VIALE PEREIRA et al., 2017). Nesse
sentido, considerando fatores tecnológicos, dentre os aspectos
mais importantes identicados está o uso das TIC para viabilizar
o compartilhamento e a integração de informações entre
os diferentes órgãos integrados aos centros de operações
municipais. No entanto, os resultados da pesquisa evidenciam
que as iniciativas são caracterizadas especialmente pela
integração dos serviços e dos órgãos governamentais, mas que
existem possibilidades de melhoria na integração de sistemas e
informações.
Conforme Maheshwari e Janssen (2014), a
interoperabilidade dene a condição necessária para
colaboração através da troca de informações e comunicação
entre organizações. Apesar de ainda não ser uma realidade,
percebe-se que a interoperabilidade de sistemas está presente
nas agendas dos centros de operações, sendo essa uma das
principais barreiras identicadas em termos de tecnologia.
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
38
Mesmo que em nível de maturidade tecnológica mais avançada,
a interoperabilidade de sistemas é uma barreira também no
caso do Rio de Janeiro. A falta de interoperabilidade entre
o sistema dos centros e os sistemas legados das agências
integradas torna a gestão das atividades do centro mais
complexa e mais suscetível ao erro, acarretando em perda de
eciência e ecácia para os processos. Ou seja, um sistema
integrador tende a otimizar ainda mais os processos dos
centros de operações municipais. As principais barreiras
identicadas são de interoperabilidade de sistemas e recursos
nanceiros, sendo a necessidade de atualização tecnológica
um dos principais desaos nesse sentido. De forma resumida,
pode-se indicar que:
a. O principal objetivo no uso das TIC nas iniciativas
é viabilizar o compartilhamento e a integração de
informações entre os diferentes órgãos integrados
aos centros de operações municipais.
b. Existem possibilidades de melhoria na integração de
sistemas e informações.
c. A falta de interoperabilidade e recursos nanceiros
escassos são as principais barreiras no âmbito da
tecnologia.
d. A utilização de dispositivos móveis facilita a
comunicação entre agentes de governo.
e. A necessidade de atualização tecnológica é um
desao para as iniciativas.
Um aspecto fundamental para tornar as cidades mais
inteligentes é o uso de dados e informações no governo
(GIL-GARCIA; PARDO; NAM, 2015). Ao analisar as inuências
de iniciativas de dados abertos no contexto de cidades
inteligentes, identicou-se que as mesmas podem ser
consideradas mecanismos potenciais na criação de valor
público. Os mecanismos identicados envolvem todas as
dimensões propostas por Harrison et al. (2012). Em termos
de melhorias intrínsecas, estão relacionados com o uso de
Gabriela Viale Pereira
39
dados para melhor atender as necessidades dos cidadãos e
na criação de novos produtos e serviços privados. Em relação
à ecácia do governo, os dados são usados para a tomada
de decisão e para a melhoria nas situações do cotidiano dos
cidadãos. Em termos de transparência, percebe-se que as
iniciativas estão promovendo o acesso público aos dados da
cidade e informações geradas nos centros. Aspectos como a
participação e colaboração também são identicados pelo uso
de cidadãos como fonte e através da cooperação mútua entre
governo e usuários de serviços de aplicativos. Considerando
esses aspectos, pode-se perceber que iniciativas de dados
abertos em um contexto de cidade inteligente contribuem na
melhoria do acesso à informação pública pela população e na
prestação de serviços públicos. Com isso, pode-se armar que:
a. O uso de dados para apoiar a tomada de decisão é
um dos principais benefícios das iniciativas de cidades
inteligentes.
b. A colaboração pode ser aumentada por meio da
adoção de ferramentas e aplicativos utilizados em
massa pela população.
c. Dentre as funções das instituições parceiras está a
análise do montante de dados gerados e de recursos
para o governo através de plataformas de dados
abertos, assim como da mídia social.
d. O cruzamento de dados contribui para o aumento da
eciência na prestação de serviços públicos, por meio
da otimização dos serviços.
e. A disponibilização de dados abertos de governo
estimula a inovação, por meio da criação de novos
produtos e serviços.
f. Existem possibilidades de melhoria no uso de dados
governamentais em iniciativas de cidades inteligentes.
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
40
4.2 Governo
Para este estudo, a dimensão governamental e suas
categorias foram analisadas por meio das três iniciativas
de cidade inteligente. A dimensão governamental possui
quatro categorias principais provenientes da literatura: (1)
fatores estratégicos, (2) fatores organizacionais, (3) política
e institucional, e (4) barreiras e desaos. Os dados foram
codicados em 249 partes e, em seguida, essas partes foram
sintetizadas em 46 códigos nais. Os principais códigos
desta dimensão nas respectivas categorias incluem: (1)
integração entre agências governamentais, integração de
serviços municipais, optimização do tempo de resposta e
foco no cidadão; (2) integração e transversalidade, liderança,
otimização de recursos e ações estratégicas de treinamento;
(3) relações interinstitucionais, relações intergovernamentais e
gestão de acordos para novas parcerias; (4) recursos humanos
e nanceiros limitados, requerimentos legais e regulatórios,
resistência à mudança, mudança cultural, institucionalização,
necessidade de recursos qualicados e dinamicidade municipal.
Os centros exercem a função de organização líder,
realizando a interligação com organizações e stakeholders
internos e externos. Assim como iniciativas de governo
eletrônico, as iniciativas de cidades inteligentes estudadas
estão pautadas na necessidade de atender demandas de
transversalidade. A interação direta do Prefeito com os órgãos
integrados ao centro é uma forma de garantir, mesmo que
coercitivamente, a transversalidade. Logo, pode-se armar
que:
a. Os centros de operações municipais são diretamente
ligados ao gabinete do Prefeito, que exerce o papel
de líder nos casos analisados.
b. O papel de organização líder é fundamental para
efetivar a integração.
c. A transversalidade pode ser uma medida de
governança e transparência nas ações internas de
Gabriela Viale Pereira
41
governo.
Considerando a interação entre instituições que
ocorre no centro, tornou-se mais fácil gerenciar os recursos,
garantindo uma melhor alocação dos mesmos na prestação
de serviço e consequente otimização dos recursos. Além disso,
a necessidade de treinamentos somada à falta de recursos
próprios dos centros torna-se um desao tanto em termos de
desperdício de recursos em capacitação quanto na ausência de
recursos qualicados pela possível volatilidade dos mesmos.
Com isso, pode-se armar que:
a. A otimização de recursos é um dos principais
benefícios em termos de gestão e organização.
b. necessidade de qualicação e de realocação dos
prossionais para atuação nas iniciativas analisadas.
c. Existe demanda por novos papéis na estrutura
organizacional para lidar com tecnologias emergentes
e com a dinamicidade das cidades inteligentes.
d. Identicou-se a existência de estruturas conitantes
entre a administração tradicional e a dinamicidade da
estrutura de uma cidade inteligente.
e. Para lidar com os desaos em termos de recursos
humanos, sugere-se a denição de ações estratégicas
no modelo de gestão que incluem a capacitação e
treinamento dos agentes de governo para atuação
nos centros.
Recursos nanceiros são essenciais para garantir pelo
menos dois aspectos fundamentais para as iniciativas, recursos
humanos e tecnologia de integração. Apesar das diferenças
em termos de orçamento, todos os casos apresentaram pelo
menos alguma situação em que a restrição orçamentária
provoca falta de recursos humanos. No caso em que os
recursos nanceiros são desembolsados pelos órgãos e suas
secretarias, pode ocorrer de não haver verba, por exemplo, para
pagamento de horas extras no atendimento a uma situação
de emergência. Nesse sentido, percebe-se que a escassez
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
42
de recursos humanos e nanceiros diculta o atendimento
de algumas demandas como deveriam. Considerando este
âmbito, é possível destacar que:
a. Restrição orçamentária e necessidade de
nanciamento são desaos consideráveis para as
iniciativas de cidades inteligentes.
b. Financiamento limitado provoca falta de pessoal para
atendimento de algumas demandas de forma ecaz.
c. A falta de recursos humanos pode acarretar em queda
de eciência do serviço público.
d. A captação alternativa de recursos, como a busca por
parcerias público-privadas, é uma forma de superar
desaos de restrição orçamentária.
Barreiras culturais e resistência à mudança são fatores
recorrentes na integração com o centro de operações
municipais tanto em nível individual quanto organizacional.
Em nível individual, percebe-se uma resistência na migração de
uma estrutura hierarquizada para uma estrutura colaborativa,
em que o representante de um órgão alocado no centro é
de um nível abaixo do que o do seu responsável, mas que
em algum momento pode ocorrer de ele ter que coordenar
uma ação. Nesse caso, a vaidade pode ser uma barreira para
a governança colaborativa. No âmbito organizacional, os
representantes tendem ao individualismo e entendem que
suas funções devem ser geridas e controladas pelo órgão em
que atuam. Além disso, cada órgão possui sua cultura e sua
forma de operacionalizar os processos, o que torna mais difícil
a integração em um mesmo ambiente. Assim, sugere-se que:
a. Existe uma necessidade de mudança cultural que
englobe uma visão de cultura de integração.
b. A denição de diretrizes que conduzem à mudança de
cultura é uma técnica para superar o desao cultural.
No âmbito dos relacionamentos interorganizacionais,
foram identicados diferentes contextos de integração,
Gabriela Viale Pereira
43
vertical e horizontal. Uma das relações mais claras que ocorre
nas iniciativas é a interorganizacional entre diferentes órgãos
da Prefeitura. Além disso, os centros vêm fazendo fortes
parcerias que vão além das agências alocadas no ambiente
de monitoramento. Conforme sugerido por Halchin (2004),
percebe-se uma melhoria na colaboração interna com o
aumento da relação entre os governos federal, estaduais
e locais, facilitando o compartilhamento de informações
(relacionamento intergovernamental). Nesse sentido,
identicou-se que os centros de operações têm parcerias
também com organizações nas diferentes esferas da
administração pública.
As barreiras regulatórias aparecem como um problema
para as iniciativas, considerando o dinamismo de uma cidade
inteligente e as limitações da estrutura de administração da
cidade. Considerando o alto nível de ligação intersetorial em
iniciativas de cidades inteligentes, uma necessidade de
maior desembaraço jurídico para novas parcerias.
Em termos de gestão de convênios e novas parcerias, foi
percebida tanto uma resistência em se tornar parte do centro,
especialmente por órgãos públicos, quanto a necessidade da
gestão de contrapartida para organizações que querem efetivar
uma parceria, principalmente organizações fora do âmbito
governamental. Conforme o centro vai se institucionalizando
e ganhando reconhecimento, mais organizações querem
fazer parte da iniciativa e buscar vantagens. Dependendo
da iniciativa, as mesmas apresentam diferentes estágios de
institucionalização, em que, no caso de Belo Horizonte, a
iniciativa ainda está em processo de regulamentação. O que
se identica é que a institucionalização depende de fatores
contextuais, como a situação econômica do país, além de
questões políticas como o término de mandato. Logo, pode-
se armar que:
a. A falta de conhecimento sobre as atividades do centro
gera resistência por parte de alguns órgãos públicos
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
44
para compartilhar e integrar suas atividades.
b. Uma maior compreensão sobre os aspectos técnicos
da integração proporcionada pelo centro pode
facilitar na aceitação e aderência ao centro por
representantes das agências governamentais.
c. Os centros de operações apresentam diferentes
estágios de institucionalização.
d. Com a institucionalização do centro, o mesmo tende
a tornar-se mais visível e reconhecido no ambiente.
e. O processo de institucionalização de inciativas de
cidades inteligentes passa por diversas provações,
especialmente na busca de uma identidade.
f. A institucionalização de iniciativas de cidades
inteligentes é inuenciada por fatores contextuais.
Considerando os fatores estratégicos na denição de
iniciativas de cidades inteligentes e o mecanismo de accountability
proposto por Barbosa, Faria e Pinto (2007) na denição de
governança eletrônica, identicou-se uma preocupação dos
governos locais para que as ações governamentais atendam
expectativas e demandas da população (responsividade).
Além disso, percebeu-se o aumento da capacidade de
resposta da administração pública, tanto com as ações do
governo com foco no cidadão quanto na ênfase ao controle
de resultados (BARBOSA; FARIA; PINTO, 2007). Ao analisar
as metas dos centros de operações municipais e os fatores
organizacionais, foram identicados diversos mecanismos
que correspondem às métricas para avaliação de iniciativas de
governo. Dentre as métricas identicadas, chamam atenção os
mecanismos para garantir accountability, como a integração
organizacional, a coordenação e o compartilhamento de
informações governamentais; e governança, como o foco
no cidadão, buscando a melhoria da qualidade de vida e a
busca pela transversalidade. Além disso, ferramentas para
solicitação de demandas, além de canais de comunicação e
redes sociais, são altamente disponibilizados pelas iniciativas
Gabriela Viale Pereira
45
e constantemente vericados para garantir que as principais
demandas sejam atendidas. Nesse sentido, os objetivos das
iniciativas analisadas corroboram com um dos principais
objetivos das cidades inteligentes, que, de acordo com Gil-
Garcia, Pardo e Nam (2016), consiste da melhoria da qualidade
de vida dos cidadãos.
4.3 Sociedade
Para este estudo, a dimensão societal e suas categorias
foram analisadas por meio das três iniciativas de cidade
inteligente. A dimensão societal possui cinco categorias
principais provenientes da literatura: (1) governança, (2)
comunicação e participação, (3) transparência, (4) colaboração,
e (5) eciência e efetividade. Estas categorias sumarizaram
33 códigos nais que advieram de 176 partes previamente
codicadas. Os principais códigos desta dimensão nas
respectivas categorias incluem: (1) governança colaborativa,
estrutura hierárquica, tomada de decisão participativa e gestão
de crises para tomada de decisão; (2) interação via media,
interação via redes sociais e canais limitados de engajamento
do cidadão; (3) informação em tempo real e supervisão de
serviços públicos; (4) parceiras intersetoriais e engajamento
cívico; (5) agilidade e aumento da qualidade na resposta de
demandas, aumento da qualidade na entrega de serviços e
processos ágeis.
A governança é considerada colaborativa quando
existe o compartilhamento de responsabilidade para as
decisões sobre operações e ações de governo por meio da
colaboração interna, caracterizada por relacionamentos
interdepartamentais ou interinstitucionais (entre órgãos
públicos). Os centros possuem uma estrutura de governança
hierárquica, representada pela gura do Prefeito no papel de
decisor, juntamente com os representantes do alto escalão de
cada centro.
A convergência dos órgãos em um ambiente
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
46
compartilhado contribui para uma tomada de decisão sobre
as situações demandadas ao centro de maneira participativa
e coordenada, sendo essa uma das principais vantagens do
centro. Como um mecanismo integrado à sala de crise tem-
se os briengs operacionais que servem para garantir o
nivelamento das informações, tanto externas, como a situação
da cidade, quanto internas, como os recursos disponíveis para
atender determinada situação.
Entre os mecanismos de governança identicados estão
os protocolos de operação que são denidos para proporcionar
autonomia aos responsáveis no centro na ausência do Prefeito
ou em situações que não apresentam risco ou consequências
políticas desfavoráveis. Os protocolos denem os processos e
responsabilidade em termos operacionais para cada tipo de
situação. Com isso, pode-se armar que:
a. Os centros possuem uma estrutura de governança
hierárquica.
b. O processo decisório nas iniciativas é pautado na
colaboração e participação.
c. A tomada de decisão em alguns momentos é
autoritária e em outros é conjugada, dependendo da
situação.
d. O papel do líder na tomada de decisão é fundamental.
e. A sala de situação [ou crise] e os briengs operacionais
são uma forma de operacionalizar o processo decisório
colaborativo, a coordenação, a democratização
da informação e a criação de estratégias de ação
conjugadas.
f. Os protocolos de operação proporcionam autonomia
na tomada de decisões, promovendo maior
exibilidade e agilidade aos processos.
Além da colaboração interinstitucional, a governança
também engloba a interação com as partes interessadas.
Nos casos analisados, essas partes são representadas por
Gabriela Viale Pereira
47
parcerias público-privadas (parceria intersetorial) e por
cidadãos individuais e grupos cívicos que, conforme sugerem
Alawadhi et al. (2012), são atores importantes na governança
de iniciativas de cidades inteligentes.
Um dos desaos para os governos na adoção de novas
tecnologias e gestão inteligente é que os agentes devem ser
capazes de seguir esse progresso, necessitando de treinamento
de habilidades. No entanto, dentre as barreiras identicadas
no âmbito organizacional nos centros de operações estão
a restrição orçamentária e a escassez de recursos humanos
qualicados, limitando o avanço em algumas áreas. Parcerias
público-privada-universidades são identicadas como uma
forma de superar esses desaos.
A centralidade no cidadão, quando do processo de
tomada de decisão em cidade inteligente, é um importante
aspecto a ser considerado na análise das contribuições da
governança de cidades inteligentes para a criação de valor
público, incluindo-se o crescimento econômico (MEIJER;
BOLÍVAR, 2016). Foram identicadas duas formas de os
cidadãos envolverem-se e participarem nos assuntos públicos,
diretamente por meio dos serviços de atendimento ao cidadão
e ferramentas disponíveis para comunicação online e por
meio de representantes nas comunidades e bairros. De forma
resumida, pode-se indicar que:
a. As parcerias público-privadas são pautadas na
colaboração mútua.
b. As parcerias intersetoriais são especialmente
representadas por empresas de tecnologia e serviços
de redes sociais.
c. Uma forma de ultrapassar barreiras relacionadas à
escassez de recursos nanceiros e necessidade de
recursos humanos qualicados é através da interação
entre universidades, indústrias e governo.
d. A parceria com universidades pode auxiliar na
formação de pessoas para atuarem em centros de
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
48
operações e iniciativas de cidades inteligentes.
e. Os governos locais estão atentos à participação do
cidadão na solicitação de demandas.
f. Os governos locais promovem a participação do
cidadão por meio de canais de comunicação.
g. Os governos locais estão preocupados em fornecer
feedback à população, por meio dos canais de
comunicação.
h. A participação pública ocorre por meio de atores
intermediários que interagem e participam ativamente
do processo de tomada de decisão nos governos
locais.
i. Os governos locais permitem o acompanhamento
dos serviços da cidade por parte dos cidadãos.
No âmbito da comunicação e participação, identicou-
se que a interação entre o centro e a sociedade ocorre
principalmente por meio da mídia e das redes sociais. Para
viabilizar essa interação, os centros possuem uma sala
de imprensa ou um espaço alocado para as emissoras de
televisão e rádio, a m de proporcionar maior transparência
e participação. Além disso, foram identicadas ferramentas,
como redes sociais, websites e aplicativos que servem como
canais para informar o cidadão sobre as situações da cidade.
O Twitter, especicamente, possui um recurso de alerta que
permite que o usuário seja informado sobre um evento e tome
medidas protetivas.
No âmbito da comunicação, o principal desao é a
falta de canais de comunicação com o cidadão que permita
um melhor entendimento sobre as ações e a existência dos
centros. Identicou-se que a percepção sobre as ações dos
centros é muito baixa pela população, apesar de perceberem
as melhorias na cidade. A criação de canais de comunicação
e divulgação do centro, e o estreitamento da relação com
o cidadão, fazem parte das agendas dos casos analisados.
Considerando este âmbito, é possível destacar que:
Gabriela Viale Pereira
49
a. A comunicação com os cidadãos é um aspecto
fundamental para os gestores da cidade.
b. Identicou-se a criação de canais de informação em
tempo real como recursos para o cidadão.
c. A caracterização do cidadão envolvido nos projetos
varia de acordo com o projeto e a secretaria que ele
está envolvido.
d. As redes sociais são ferramentas para auxiliar na
comunicação e participação do cidadão.
e. As redes sociais são ferramentas muito utilizadas
para monitoramento dos dados de governo pela
população.
f. A sala de imprensa busca proporcionar aspectos
como transparência e participação.
g. Um dos desaos ainda é a falta de canais de
comunicação com o cidadão que permita um melhor
entendimento sobre as ações e a existência dos
centros.
h. Os agentes percebem que as iniciativas beneciam o
cidadão ainda sem o seu conhecimento.
i. A criação de canais de comunicação faz parte das
agendas dos centros.
j. A sala de imprensa nas instalações do centro torna
mais rápido para os cidadãos o acesso às informações
do governo (transparência).
Dentre os resultados das iniciativas analisadas está o
aumento da capacidade do governo em supervisionar as
instituições vinculadas ao centro que prestam serviços públicos,
reforçando o compromisso com a qualidade e aumentando a
satisfação do público (accountability). Por meio do ambiente
integrado proporcionado pelo centro, percebe-se o aumento
da eciência dos serviços públicos, pois além de permitir que as
agências orientem melhor os seus recursos, é possível ampliar
a scalização dos serviços. Considerando a governança,
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
50
conforme denida por Barbosa, Faria e Pinto (2007), que está
relacionada com o aumento da capacidade de resposta da
administração pública com ênfase no controle de resultados,
tem-se que o acompanhamento dos resultados das agências
governamentais é um mecanismo de controle utilizado pelo
Prefeito no Rio de Janeiro para criação de melhores planos
de ação, a m de buscar a melhoria da prestação de serviços
públicos. Esse mecanismo pode resultar em algum nível de
stewardship como um dos valores públicos gerado pela
melhoria da eciência na administração (HARRISON et al.,
2012). Logo, pode-se armar que:
a. O ambiente integrado permite um melhor controle
e scalização sobre os resultados das agências
prestadoras de serviços públicos, impactando na
ecácia dos serviços prestados.
b. Por meio do monitoramento e controle de resultados
tem-se ainda um aumento na eciência dos serviços
públicos.
c. O aumento na ecácia e eciência na prestação e
entrega de serviços públicos tende a aumentar a
satisfação do cidadão usuário dos serviços.
Conforme sugere Odendaal (2003), a integração
organizacional é essencial para que as TIC contribuam
efetivamente para melhoria da governança local. O aspecto
da integração não contribui em termos de comunicação
organizacional, evitando que recursos escassos sejam
desperdiçados em atendimentos duplicados, mas auxilia na
redução de possíveis desigualdades de informação entre
as agências (ODENDAAL, 2003). Ambos os fatores foram
percebidos nos casos analisados, com o aumento da eciência
e ecácia na gestão pública. Estando a eciência na gestão
interna relacionada à proporção entre os resultados gerados
e os recursos aplicados, foram identicados pelos menos
dois aspectos em termos de eciência da gestão pública que
efetivamente ocorreram após a implementação dos centros: a
Gabriela Viale Pereira
51
otimização de recursos e a maior eciência no gasto público.
Considerando a democratização do acesso à informação
pública pelas agências, foram identicados pelo menos dois
benefícios em termos de ecácia na gestão pública, o uso de
dados para a tomada de decisão e a otimização do serviço
pelo cruzamento de dados. Com isso, pode-se armar que:
a. Quanto mais rápidas e ecientes são as intervenções
do governo, maior o impacto na dinamicidade da
cidade.
b. Na medida em que o governo pode identicar mais
facilmente os problemas e integrar mais de uma
agência para solução dos mesmos, isso traz benefícios
econômicos para todos os envolvidos.
c. Com a integração organizacional são reduzidos o
desperdício de recursos, pela falta de comunicação
entre os órgãos, e o retrabalho.
d. Ao centralizar a coordenação de agências, isso ajuda a
responder mais rapidamente e resolver os problemas
de forma mais efetiva.
e. A melhoria na qualidade do atendimento e na
prestação de serviços públicos está entre os principais
resultados dos centros no âmbito da ecácia.
f. O uso de tecnologia nas operações do centro permite
que a tomada de decisão seja baseada em dados e
mais precisa.
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
52
Figura 1 - Modelo multidimensional de centros de operações
municipais
Fonte: adaptada de Gil-García et al. (2015).
Ao analisar os resultados obtidos com a implementação
dos centros de operações municipais, por meio dos fatores
de governança, foram identicados diversos mecanismos que
correspondem às métricas para avaliação de iniciativas de
governo. Dentre as métricas identicadas, chamam atenção os
mecanismos para incrementar: a eciência, como a otimização
Gabriela Viale Pereira
53
dos recursos e agilidade na prestação de serviços; a ecácia,
como a melhoria da qualidade dos serviços prestados;
a colaboração, como o aumento dos relacionamentos
interorganizacionais; e a transparência, como a geração e
disponibilização de informações para o cidadão. Nesse sentido,
percebe-se que as iniciativas analisadas estão alinhadas com
a denição de governo inteligente em que as organizações
aumentam a eciência, a ecácia e a transparência na gestão
interna e na prestação de serviços públicos, além de criar um
ambiente de colaboração com outras organizações e com a
sociedade em geral (MAHESHWARI; JANSSEN, 2014; NAM;
PARDO, 2014).
A Figura 1 ilustra o modelo multidimensional de centros
de operações municipais proposto neste estudo. As três
dimensões estabelecidas por Gil-García et al. (2015) foram
detalhadas e alguns fatores foram reestabelecidos à luz dos
três estudos brasileiros. Sendo assim, questões contextuais,
próprias de países em desenvolvimento com o Brasil foram
sugeridas no referido modelo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mudança na forma como os governos locais respondem
as situações de emergência e a rotina de uma cidade tornam
os centros de operações municipais estratégias importantes
de resiliência e governança inteligente. A melhoria na
prestação e entrega de informações e serviços públicos por
meio da integração de órgãos, interoperabilidade de sistemas
e de estruturas de governança colaborativa é uma forma de
aumentar a qualidade de vida e o bem-estar dos cidadãos.
Esta pesquisa teve como objetivo principal analisar de que
maneira os centros de operações municipais são entendidos
e implementados. Para alcançar o objetivo geral da pesquisa,
múltiplos casos de centros de operações municipais foram
analisados, permitindo comparações e a maximização dos
resultados. Identicou-se que a implementação de centros
Compreendendo centros de operações municipais
no contexto de cidades inteligentes
54
de operações municipais envolve fatores tecnológicos,
organizacionais e gerenciais, além de fatores políticos e
institucionais. Considerando ainda os objetivos da pesquisa,
foram mapeados os principais resultados das iniciativas em
termos de melhoria na entrega de informações e de serviços
urbanos, considerando aspectos relacionados à governança de
cidades inteligentes, dentre eles: comunicação, participação,
parceria e colaboração, transparência e accountability, além
da eciência e ecácia na gestão pública. Identicou-se que
a implementação de centros de operações municipais tem
como resultado uma melhoria na prestação e entrega de
informações e serviços de governo.
Este estudo fornece tanto implicações práticas para os
prossionais de governo que atuam em centros de operações
municipais quanto implicações teóricas para acadêmicos e
prossionais da área. Dentre as principais contribuições teóricas
deste estudo está a sugestão de um modelo multidimensional
de centros de operações municipais que pode ser utilizado
tanto por pesquisadores quanto por prossionais da área de
gestão pública. De acordo com Gil-García, Pardo e Nam (2015),
centros de operações municipais podem ser compreendidos
pela sua implementação, considerando as dimensões de
tecnologia, governo e sociedade. O modelo multidimensional
de centros de operações municipais inclui aspectos que
não foram abordados no entendimento preliminar de
iniciativas de cidades inteligentes que emergiu da revisão de
literatura. Na dimensão tecnologia foram incluídos os fatores
tecnológicos analisados e o uso de dados e informações de
governo. A dimensão societal é representada pelos fatores
de governança que emergiram da análise empírica, assim
como fatores contextuais, que incluem a situação econômica
e aspectos do meio ambiente. A dimensão governo é denida
por fatores estratégicos, organizacionais e gerenciais, políticos
e institucionais e prestação e entrega de serviços públicos.
Apesar de ser uma representação de centros de operações
municipais, o contexto do estudo foi centrado em cidades
Gabriela Viale Pereira
55
inteligentes, podendo o modelo proposto ser aplicado para
outras iniciativas em estudos futuros.
Apesar de seus resultados permitirem uma sólida
reexão sobre o fenômeno estudado, esta tese não é exaustiva
em suas sugestões e propostas. A pesquisa apresenta ainda
algumas limitações, que serão discutidas e justicadas ao
longo dessa seção, assim como propostas de estudos futuros.
Tanto a composição quanto o número de participantes das
entrevistas são diferentes entre os três casos. A seleção da
amostra seguindo a técnica “bola de neve” acabou gerando
composições diferentes, provavelmente pelas diferenças de
tamanho, de tempo de existência e de estrutura organizacional.
Uma forma de minimizar essa situação em estudos futuros
pode ser pela análise prévia dos possíveis entrevistados. O
tempo de existência dos centros pode apresentar alguma
limitação, especialmente o caso de Belo Horizonte, com um
ano de funcionamento quando a coleta de dados foi realizada.
Com o tempo os centros de operações apresentam
indicadores de resultados mais precisos que podem fornecer
dados para análise do impacto das ações do centro em
pesquisa futuras. Além disso, devido às mudanças tecnológicas
constantes, novas tecnologias podem emergir e um estudo
longitudinal pode trazer novas contribuições nesse sentido.
Um dos aspectos a ser analisado em estudo futuros é a
implementação do sistema integrador nos casos de Porto
Alegre e Belo Horizonte. Além disso, a mudança de mandato é
um aspecto que pode ser incluído em um estudo longitudinal,
considerando que uma das dimensões das iniciativas é a de
gestão, especialmente com fatores como a mudança na forma
de governar a cidade.
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Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
61
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
1 INTRODUÇÃO
Em constante mudança, o ambiente urbano é permeado
pela interferência e combinações de fatores internos e externos
tais como relações socioeconômicas, políticas públicas,
habitação e questões habitacionais, entre outros. Todos
eles estão conectados a uma série de produtos e serviços
de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), como a
Internet das Coisas (IoT). O termo Cidade Inteligente, surge
da intenção de interação entre as novas tecnologias sempre
em desenvolvimento, com o capital social e humano, visando
melhorar a qualidade de vida em ambientes urbanos (BATTY
et al., 2012; ALBINO; BERARDI; DANGELICO, 2015; BIBRI;
KROGSTIE, 2017a, 2017b, 2017c).
Uma das principais características, ou aspectos, de
uma cidade inteligente, é a governança inteligente, que está
intrinsecamente relacionada aos aspectos sociais, econômicos
e políticos. No entanto, em estudos envolvendo cidades
inteligentes, é prontamente observado que uma parcela
signicativa é limitada aos aspectos técnicos e tecnológicos,
com pouca evidência de uma abordagem que se relaciona a
questões sociais, essencial para uma melhor compreensão dos
ambientes urbanos inteligentes (GIFFINGER et al., 2007; BATTY
et al., 2012; LYONS, 2018; BIBRI; KROGSTIE, 2017b, 2017c).
A razão pela qual é impossível dissociar governança dos
atuais estudos sobre cidades inteligentes que estão focados
em questões técnicas e tecnológicas é que eles serão usados
CAPÍTULO 2
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
62
em um ambiente urbano, do qual, governança é um aspecto
fundamental. Da mesma forma, os estudos de governabilidade
se tornam um complemento daqueles sobre governança,
pois estão interessados em uma percepção mais abrangente
da dinâmica social, política, cultural e econômica (interna e
externa) de uma cidade inteligente (KOOIMAN, 2008).
Seguindo o contexto mencionado acima, este estudo
tem origem na necessidade de expandir o entendimento
atual das pesquisas cientícas de governança no âmbito das
cidades inteligentes, ao longo dos últimos 20 anos. Assim, a
análise bibliométrica proposta tem como objetivo fornecer:
(i) oportunidades de contribuição cientíca neste campo de
estudo; (ii) métricas para identicar tendências e impacto das
produções cientícas.
As pesquisas em governança são condição sine qua
non para a compreensão plena das cidades inteligentes
devido aos aspectos sociais, políticos e econômicos de um
ambiente urbano. Este estudo é proposto como uma forma
viável de analisar as tendências no campo da pesquisa da
cidade inteligente como um todo, especialmente em relação à
governança inteligente.
2 CIDADES INTELIGENTES
De acordo com Caragliu, Del Bo e Nijkamp (2009), uma
cidade inteligente representa tanto o investimento em capital
humano e social (decisivo para a competitividade urbana)
quanto em capital físico (incentivando o uso de TIC). Entretanto,
uma cidade inteligente deve ser responsável pela participação
do governo e pela excelente gestão de recursos, ou seja, este
novo paradigma de cidades compreende o uso de tecnologia
para melhorar a infraestrutura, produzindo cidades melhores
para viver (ZANELLA, 2014; SHAPIRO, 2006).
Como armado por Schaers et al. (2012), o conceito
de cidade inteligente é multidimensional. É um cenário futuro
que possui objetivos a serem alcançados e uma estratégia de
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
63
desenvolvimento urbano que se concentra na utilização de
inovações tecnológicas para melhorar a qualidade de vida do
cidadão. Portanto, uma cidade inteligente é inovadora, criativa
e frequentemente reinventada, visando uma sustentabilidade
universal (CARAGLIU; DEL BO; NIJKAMP 2009; ALBINO;
BERARDI; DANGELICO, 2015; HAYAT, 2016; BIBRI; KROGSTIE,
2017c).
Seguindo estas denições, várias tentativas foram feitas
para estruturar de maneira mais sucinta e categorizada as
características desejáveis ou centrais de cidades inteligentes,
conseguindo uma maneira de medir e classicar a
“inteligência” de uma cidade. Ginger et al. (2007) e Ginger
e Gudrun (2010) estipulam seis características de uma cidade
inteligente: (1) economia inteligente; (2) pessoas ou capital
social e humano inteligente; (3) governança e governabilidade
inteligentes; (4) mobilidade inteligente; (5) ambiente, gestão e
uso de recursos naturais inteligentes; (6) vivência e qualidade
de vida inteligentes.
3 GOVERNANÇA URBANA INTELIGENTE
Como mencionado anteriormente, este artigo tem
seu escopo limitado para a terceira característica denida
por Ginger et al. (2007), ou seja, a governança inteligente.
Portanto, a governança pode ser compreendida como um
sistema responsável por garantir a interação entre os setores
público e privado. No contexto da cidade inteligente, Ginger
et al. (2007) e Ginger e Gudrun (2010) denem a governança
inteligente como: (i) participação na tomada de decisões da
cidade; (ii) serviços públicos e sociais; (iii) transparência; e (iv)
perspectivas e estratégias políticas.
As pesquisas sobre governança às vezes abrangem alguns
aspectos da governabilidade. Entretanto, a governabilidade
é uma denição mais complexa, pois fornece uma avaliação
do poder ou da capacidade de governar, ou seja, a
governabilidade representa a qualidade da governança em
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
64
qualquer sistema da sociedade (KOOIMAN, 2008). Portanto,
para investigar a governabilidade, é imperativo identicar
e circunscrever um sistema da sociedade a ser governado,
compreendendo o sistema de governança. Idealmente, a
pesquisa em governabilidade deveria ser comum em estudos
urbanos, fornecendo uma melhor perspectiva e compreensão
das forças e atores dentro do ambiente urbano (KOOIMAN,
2008; HARVEY, 2003). Entretanto, o termo e o conceito de
governança são usados em geral, assimilando aspectos da
governabilidade de forma seletiva.
A governança é vista principalmente como mera
ferramenta de governo, suportando uma perspectiva mais
ampla. Esta percepção limitada está frequentemente ligada ao
termo Governança Inteligente, contradizendo a denição dada
por Ginger et al. (2007). Quer seja utilizada de propósito
para tirar proveito desta limitação, ou em consequência de
um ponto de partida técnico e tecnológico, esta questão não
está restrita à governança inteligente. Sendo essa questão,
propositadamente ou não, as limitações ou visões restritas,
pelos formuladores de políticas e atores urbanos, tanto em
relação à teoria como à prática dentro da cidade inteligente,
criando um ideal quase utópico, como defendido por Grossi e
Pianezzi (2017, p. 84):
A utopia da cidade inteligente serve aos interesses
das grandes empresas multinacionais de TIC,
enquanto negligencia a necessidade de respostas
políticas (não apenas tecnológicas) aos interesses
públicos e comuns. Ela transmite valores
neoliberais e molda os problemas urbanos,
tornando visíveis alguns aspectos ao mesmo
tempo em que obscurece outros. Assim, a ênfase
em soluções tecnológicas “superiores” corre o
risco de desviar a atenção de questões, tais como
o amplo impacto da urbanização, que exigem uma
abordagem “baseada no planejamento urbano” a
longo prazo, impulsionada pela vontade política e
ética dos municípios.
Portanto, a esfera política deve ser considerada
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
65
juntamente com os aspectos sociais, a m de expandir a
viabilidade e validade do modelo Smart City como um todo e,
consequentemente, as iniciativas de governança inteligente.
Desta forma, deve haver uma ampliação da denição e
compreensão da governança inteligente, assimilando mais
aspectos dos estudos de governabilidade ou mesmo, sendo
colocada sob uma categoria mais ampla denominada como
Governabilidade Inteligente.
3.1 Entendendo a governança urbana
A percepção do termo Governança Urbana está
muitas vezes relacionada ao papel e à inuência do Estado
na governança, seja de forma normativa ou analítica. O
movimento “do governo para a governança” (RHODES, 1997,
2007) ou teorias estão no centro desta discussão.
Na perspectiva normativa, os governos são frequentemente
colocados numa posição de fracasso e incapazes de atender
às necessidades e desejos dos governados. Esta armação se
baseia nas análises de governos fracassados e instáveis, cujos
atores do mercado e da sociedade civil normalmente assumem
funções governamentais, mitigando o problema. Assim, é
defendida a redução do papel governamental do Estado, de
comandar e governar para apenas dirigir ou menos (RHODES,
1997, 2007; KOOIMAN, 2008; GROSSI; PIANEZZI, 2017), o que
é interessante, considerando que este “estado oco” é um
resultado direto de uma “política de mercado iniciada nos
anos 80” (MARINETTO, 2003).
O problema do ponto de vista normativo é a diculdade
de ver os benefícios das interações entre mercado, sociedade
civil e Estado, bem como a redução dos argumentos para uma
posição mais radical de dissociação quase total do Estado e do
governo, dando plena capacidade ao mercado e à sociedade
civil. Entretanto, não se reconhece que o equilíbrio entre estes
pesará mais para o lado do mercado, ou seja, aqueles que
detêm maior poder sob a forma de capital e inuência política
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
66
(KOOIMAN, 2008).
Quanto à perspectiva urbana, o mercado nanceiro
e imobiliário de um lado e a sociedade civil do outro. Mesmo
como uma sociedade organizada, assumir que existe uma
capacidade suciente de controle da sociedade civil sobre
o capital nanceiro e imobiliário é pelo menos ingênuo. É
necessária uma participação ativa e comandante, não uma
mera direção, do Estado e do governo.
Portanto, um ponto fundamental deve ser abordado:
[...] até que ponto (e sob que circunstâncias) a
mudança ‘de governo (hierárquico) para governo
(colaborativo)’ implica um estilo de governo
mais pluralista e democrático ou, ao contrário,
provoca uma concentração crescente de poder e
enfraquece a democracia. (BLANCO, 2015, p. 124).
Portanto, o uso adequado do aspecto normativo
é justamente para a defesa de uma participação social
ampla e diversicada, atribuindo esta necessidade não pela
incapacidade governamental do Estado, mas pela expressão
democrática real e necessária.
Neste sentido, a percepção analítica da governança está
mais alinhada com as necessidades da governança urbana.
ideias e práticas normativas ligadas a esta perspectiva, mas o
ponto central é a interação, que é mais ecaz do que iniciativas
dissociadas e independentes defendidas na normativa. A
interação, por padrão, deve ser analisada, adequadamente
desenvolvida e customizada para se adequar às necessidades
plurais e em constante mudança de cada singular ambiente
urbano, considerando as relações de poder que a moldaram. A
governança aqui é vista como uma rede, uma malha ou rizoma
de interação entre diferentes fatores e atores, a partir dos
quais os esforços governamentais são realizados em conjunto
(KOOIMAN, 2003). Esta prática seria uma consequência natural
ou uma resposta à crescente diversidade, complexidade e
dinamismo do rizoma urbano social, político, econômico e
cultural.
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
67
Esta perspectiva inclui a análise da governança interativa
em várias escalas e níveis, do local ao global. Esta análise
também pode ser horizontal, revelando como os sistemas
sociais interagem no mesmo nível, permitindo a criação de um
rizoma de interações para melhor prever e resolver problemas.
A denição sucinta desta governança interativa é:
[...] o conjunto das interações tomadas para
resolver problemas sociais e criar oportunidades
sociais, incluindo a formulação e a aplicação de
princípios que orientam essas interações e o
cuidado com as instituições que as habilitam.
(KOOIMAN et al., 2005, p. 17).
Essas interações realizadas por atores em diferentes
escalas e níveis são operadas e limitadas por estruturas
que correspondem a leis, acordos, cultura, possibilidades
materiais (ambientais) e tecnológicas. Da mesma forma que
as estruturas existentes inuenciam os atores, essas estruturas
são reguladas continuamente e alteradas pelos atores da
sociedade. Portanto, a análise de governança requer atenção
a ambos os movimentos.
Este entendimento diferencia a governança da
administração pública e a elaboração de políticas públicas.
Governança é o termo mais inclusivo, seguido de políticas
públicas, sendo a administração pública a mais instrumental.
A governança engloba este último, mas não se limita a eles.
Na literatura, governança é frequentemente sinônimo de
administração pública, mas esta visão limita signicativamente
o estudo e a análise de experiências e práticas.
Neste sentido, a mudança na compreensão da governança
inteligente (ou da governança usada em estratégias e modelos
de cidades inteligentes) representa um desao mais difícil.
É geralmente uma solução tecnológica dentro do escopo
limitado das administrações públicas ou, em alguns casos, das
políticas públicas. Por esta razão, é oferecida pelas empresas
e apresentada pelas cidades como uma solução alternativa e
inovadora para a governança como um todo (DEAKIN, 2014;
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
68
WIIG, 2015). Em outras palavras, soluções inteligentes em
governança são frequentemente utilizadas como desvio ou
paliativo para as questões reais ou como parte de uma estratégia
econômica, onde existe “a primazia da lógica econômica sobre
as questões políticas e sociais; o desenvolvimento urbano corre
o risco de ser impulsionado pela busca do lucro” (GROSSI;
PIANEZZI, 2017). Assim, possibilitando o surgimento de uma
cidade inteligente corporativa (HOLLANDS, 2015).
4 METODOLOGIA
Os métodos utilizados neste artigo foram descritivos
e quantitativos da produção cientíca relativa às seis
características das cidades inteligentes apresentadas por
Ginger et al. (2007) e Ginger e Gudrun (2010), com foco
na governança.
Estas características são, por sua vez, subdivididas em: (i)
espírito inovador, empreendedorismo, imagem econômica e
marcas registradas, produtividade, exibilidade do mercado de
trabalho, inserção internacional, capacidade de transformação;
(ii) nível de qualicação, anidade com a aprendizagem
ao longo da vida, pluralidade social e étnica, exibilidade,
criatividade, cosmopolitismo e mentalidade aberta,
participação na vida pública; (iii) participação na tomada de
decisões, serviços públicos e sociais, governança transparente,
estratégias e perspectivas políticas; (iv) acessibilidade local,
acessibilidade nacional e internacional, disponibilidade de
infraestrutura TIC e sistema de transporte sustentável inovador
e seguro; (v) condições naturais atraentes, poluição, proteção
ambiental, gestão sustentável dos recursos; e (vi) instalações
culturais, condições de saúde, segurança individual, qualidade
de moradia, instalações educacionais, atratividade turística,
coesão social (GIFFINGER et al., 2007; GIFFINGER; GUDRUN,
2010).
Houve três momentos de busca, junho 2017, junho
2018 e janeiro 2019, contemplando no primeiro momento de
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
69
artigos de busca publicados até 2016, no segundo momento
incluiu-se o publicado em 2017 e o último momento de busca
para conrmar as estimativas feitas para 2018. A partir da
tipologia das publicações, foram consideradas publicações
exclusivamente em língua inglesa de periódicos. Obtenção
de todos os resultados das buscas a partir de descritores de
título, palavras-chave e resumo.
Os dados foram obtidos do banco de dados Scopus®
através das delimitações de datas e tipologia previamente
estabelecidas, com os seguintes termos de pesquisa:
a. “Smart city” OR “Smart Cities- para a busca inicial
em cidades inteligentes e a correlação posterior com
as seis características já especicadas;
b. Intelligent city” OR “intelligent cities” or “knowledge
city” OR “knowledge cities” OR “ubiquitous cities” OR
“ubiquitous city” OR “digital city” OR “digital cities”-
para análises mais abrangentes, considerando que
estes termos são uma alternativa para abordar uma
cidade inteligente, e também trazem denições e
teorias próprias.
Para a análise correlacionada e especíca das seis
características denidas por Ginger et al. (2007), foram
utilizados apenas o termo central e com o acréscimo qualitativo
smart”, por exemplo, governance e smart governance”.
Entretanto, a adição do qualitativo não representou uma
mudança signicativa do resultado em nenhuma das seis
características, uma vez que todos os artigos obtidos, incluindo
Smart”, também foram obtidos quando omitidos.
A base de dados Scopus® foi utilizada como fonte
devido a sua multidisciplinaridade e por periódicos de índice
de relevância signicativa. Tal banco de dados serviu como a
principal ferramenta para visualização e análise das buscas.
Além disso, utilizando o número de citações e a métrica
CiteScore (a partir de 30 de abril de 2018), a soma das citações
dos últimos três anos recebidas por uma revista, dividida
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
70
pelo número de documentos indexados nos mesmos três
anos, como o principal sistema de classi cação de periódicos,
autores e artigos.
5 RESULTADOS E ANÁLISES
De acordo com os termos de busca previamente
de nidos, a primeira busca é a mais abrangente através dos
termos smart cityou “smart cities”, retornando 1.886 artigos.
Em 1997, foi publicado o primeiro artigo na área, mas somente
a partir de 2008, as publicações ocorrem anualmente.
quatro períodos sem publicações: de 1997 a 1999; de 1999 a
2003; de 2003 a 2006; e de 2006 a 2008, como apresentado
na Fig. 1.
Figura 1 - Produções cientí cas em “Smart City” ou “Smart
Cities” (de 1997 a 2017) e curva de tendência (para 2018)
Fonte: elaborada pelos autores.
O crescimento das publicações pode ser notado a
partir de 2010, assumindo, desde então, um comportamento
exponencial. Em termos matemáticos, a curva exponencial é
mais proeminente em 2012. Neste ano ocorre a Rio+20, que
tem promovido debates de teorias, políticas e ações em termos
de transporte, economia verde, energia, proteção ambiental,
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
71
mudanças climáticas e outros assuntos relacionados aos
estudos urbanos. Todos estes debates estão diretamente
ligados aos aspectos que uma Cidade Inteligente deve ter.
A partir da Rio+20, o número de publicações continuou a
crescer, quase dobrando ano após ano.
Em 2015, a ONU promoveu uma conferência para
estabelecer a Agenda do Desenvolvimento Sustentável
e as dezessete metas de desenvolvimento sustentável a
serem alcançadas até 2030 (ONU, 2015). O crescimento das
publicações em 2016, quase o dobro em relação a 2015,
pode ser ligado à Agenda de 2030. Um comportamento
semelhante pode ser observado em 2017 desde que a Nova
Agenda Urbana foi publicada em 2016 pela HABITAT III (ONU,
2017). Embora seja difícil estabelecer uma ligação direta com
todos os artigos encontrados, estes eventos são seminais na
elaboração e planejamento de políticas urbanas, portanto,
no contexto de cidades inteligentes (UNIÃO EUROPÉIA, 2018;
KLOPP; PETRETTA, 2017; CAPROTTI et al., 2017).
Portanto, a expectativa é de que a produção cientíca
nesta área continue a aumentar, como ocorreu entre 2012
e 2017. Neste sentido, um modelo de regressão não linear
representado pela curva em laranja (na Fig. 1) corrobora com
a armação de que a produção cientíca continuará a crescer
com a possibilidade de atingir cerca de 1.253 publicações em
periódicos até o nal de 2018. Pode-se ver que o modelo de
regressão obteve um R2 igual a 0,9295. A precisão do modelo
de regressão foi analisada. Desta forma, uma nova pesquisa
foi realizada em janeiro de 2019, o que resulta em um total
de 1.135 artigos publicados em 2018 (como demonstrado
pela linha azul na Fig. 1), ou seja, uma precisão de 90,58%
em relação ao valor estimado, e um crescimento de 60,7% em
relação ao ano anterior.
Em junho de 2017, esta mesma pesquisa foi realizada
usando a mesma tipologia e termos de busca, limitando as
buscas até 2016. Prevendo nessa época, usando o mesmo
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
72
modelo de regressão, a publicação de 780 artigos em 2017,
e obtendo um coeciente de R2 = 0,93. Em comparação com
os dados obtidos em junho de 2018, o número de artigos
está abaixo da estimativa. Ainda assim, um total de 706
representa um aumento de 47,7% em relação ao ano anterior
e uma precisão de 90,5% em relação ao valor estimado. Se
comparado, o percentual de crescimento de 2017 a 2018 com
2016 para 2017, uma diminuição de 13% no crescimento,
mas não se espera estagnação ou diminuição nas publicações.
Os outros termos para se referir a uma cidade inteligente
ou uma ideia similar foram escolhidos com base em Batty et
al. (2012), Albino, Berardi e Dangelico (2015) e Bibri e Krogstie
(2017c), onde os quatro com impacto e relevância mais
signicativos foram considerados. Todos eles se referem a
aspectos mais especícos cobertos pelos estudos das cidades
inteligentes. Foram encontrados um total de 434 artigos. Estas
publicações tiveram início em 1987, mas desde 1999 tem
ocorrido a publicação ininterrupta de artigos. Os termos e
suas denições são apresentados a seguir:
Digital city refere-se às cidades ou comunidades
onde as infraestruturas de comunicação de banda
larga são utilizadas para atender às necessidades do
governo, dos cidadãos e das empresas (ISHIDA, 2002).
Tentando criar um ambiente na cidade como um todo
de compartilhamento de informações, colaboração
e interoperabilidade (BATTY et al., 2012; ALBINO;
BERARD; DANGELICO, 2015; COUCLELIS, 2004);
Ubiquitous cities é uma expansão das primeiras,
pois visa proporcionar maior acesso a este ambiente
digital, tornando a computação ubíqua disponível aos
elementos urbanos. Ela se resume como a criação de
um ambiente digital urbano, onde qualquer cidadão
é capaz de acessar qualquer serviço em qualquer
localidade, através de diferentes dispositivos
(GREENFIELD, 2006; TOWNSEND, 2013);
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
73
Intelligent citiesfazem um esforço consciente para
usar as TIC, transformando a vida e o trabalho de
formas fundamentais e não apenas complementares.
Tenta apoiar o aprendizado, o desenvolvimento
tecnológico e os constantes processos de inovação,
deixando de lado, de certa forma, o aspecto humano
(BATTY et al., 2012; ALBINO; BERARDI; DANGELICO,
2015; BIBRI; KROGSTIE, 2017c);
Knowledge cityemerge das discussões dentro dos
estudos de cidades inteligentes, como uma forma
de incorporar a discussão do conhecimento ou da
informação sobre o ambiente urbano. Defendendo
estratégias de desenvolvimento baseadas em um
ambiente urbano do conhecimento, utilizando
tecnologias de computação em nuvem, big data e
sistemas de monitoramento urbano (BIBRI; KROGSTIE,
2017a, 2017c).
também o termo Virtual city”, que se refere à
capacidade de interagir com a cidade em um plano virtual
(interligado ao real), ou seja, um híbrido entre o mundo
material e o ciberespaço. Entretanto, este termo não tem um
impacto relevante sobre as pesquisas e práticas desenvolvidas.
Por este motivo, este termo não foi considerado nas pesquisas.
O gráco da Fig. 2 representa as buscas estes termos. Pode-se
observar que, neste caso, a curva exponencial não se ajusta
aos dados. Além disso, o comportamento destes dados é um
tanto aleatório, sendo difícil de prever.
Comparando a Fig. 2 com a Fig. 1, pode-se notar que
2004 é um dos anos sem publicações na “cidade inteligente”.
Este fato pode ser atribuído ao desenvolvimento de projetos
sobre o termo digital citydesde o início da última década
(de 2000 a 2009), tal como mencionado por Coucleilis (2004).
Na época, ainda não havia compreensão e aceitação do termo
smart city”. As publicações em digital cities declinaram ao
longo dos anos, enquanto os outros termos ganharam força,
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
74
especialmente intelligente city(BATTY et al., 2012; ALBINO;
BERARDI; DANGELICO, 2015; BIBRI; KROGSTIE, 2017c).
Figura 2 - Produção cientí ca de outros termos (1987 a 2017)
Fonte: elaborada pelos autores.
Da mesma forma, as publicações baseadas nestes outros
termos aumentaram depois da Rio+20. Em contraste com a Fig.
1, após a Agenda 2030, uma diminuição das publicações.
Entretanto, após a Nova Agenda Urbana, um outro
crescimento. Estes comportamentos podem ser explicados
pela perda de relevância destes termos, assumindo a posição
de porções ou segmentos de uma Smart city. Eles são usados
em conjunto com o termo “smart city” para destacar aspectos
especí cos, com fortes conexões às TIC, big data e sistemas
de sensoriamento e monitoramento urbano. Esta explicação
é especialmente verdadeira com os conceitos de Ubiquitous
citiese Knowledge city”, que cresceram na pesquisa desde
Rio+20 (BATTY et al., 2012; ALBINO; BERARDI; DANGELICO,
2015; BIBRI; KROGSTIE, 2017b, 2017c). Outro fato importante
é a crise de 2008 causada principalmente pela falência do
sistema de nanciamento imobiliário dos Estados Unidos, que
impactou a pesquisa nestes quatro termos, especialmente na
digital city” (WIIG, 2015).
A gura 3 mostra a comparação dos artigos publicados,
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
75
seguindo os parâmetros explorados nos dois grá cos
anteriores, e a soma de ambos, incluindo os dados até 2017.
Em azul escuro os artigos em Smart cities”, em azul claro
os artigos dos outros quatro termos, o total é de 2.320.
Figura 3 - Comparação da produção cientí ca (1987 to 2017)
Fonte: elaborada pelos autores.
A Tabela 1 mostra os 10 principais artigos do campo de
estudo Smart cities”, classi cados pelo número de citações,
ignorando as publicações e citações de 2018 e 2019. Apenas
duas revistas, Cities e Journal of Urban Technology, aparecem
nesta lista e também estão entre as dez primeiras (CiteScore
ranking) revistas sobre Estudos Urbanos, respectivamente,
segunda e décima. Este é um re exo de toda a área da cidade
inteligente, onde o ponto de vista inicial ou o histórico dos
autores não são de estudos urbanos.
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
76
Ciências Sociais que contém estudos urbanos, representa
apenas 13,6% das publicações, Ciências Ambientais representa
5,4%, mas Ciências da Computação e Engenharia (23,7% e
22,00 %, respectivamente) juntamente com matemática, física,
ciências materiais reúnem uma parte mais substancial dos 1.886
artigos considerados. A cidade inteligente é inerentemente
tecnológica por denição, mas ainda é um ambiente urbano,
exigindo assim uma perspectiva de estudos urbanos. Ou
seja, que uma “governança urbana tecnocrática” (KITCHIN,
2014) não substitui a governança como um todo, mas serve
como ferramentas não apenas para o governo, mas para os
formuladores de políticas e a sociedade governarem na forma
de “governança interativa” inteligente (KOOIMAN et al., 2005).
Tabela 1 - Os dez principais artigos ordenados por citações na
busca por “smart city”
Autor(es) Artigo Revista
Cita-
ções
Publisher Ano
Zanella,
A., Bui, N.,
Castellani, A.,
Vangelista,
L., Zorzi, M.
Internet of
things for
smart cities
IEEE Internet
of Things
Journal
1406 IEEE 2014
Hollands,
R.G.
Will the
real smart
city please
stand up?
Intelligent,
progressive
or entrepre-
neurial?
City 730
Taylor &
Francis
2008
Caragliu, A.,
del Bo, C.,
Nijkamp, P.
Smart cities
in Europe
Journal of
Urban
Technology
717
Taylor &
Francis
2011
(continua)
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
77
Autor(es) Artigo Revista
Cita-
ções
Publisher Ano
Kitchin, R.
The real-time
city? Big data
and smart
urbanismo
GeoJournal 524 Springer 2014
Botta, A., De
Donato, W.,
Persico, V.,
Pescapé, A.
Integration of
Cloud
computing
and Internet
of Things: A
survey
Future
Generation
Computer
Systems
499 Elsevier 2016
Neirotti,
P., De Marco,
A., Cagliano,
A.C.,
Mangano,
G., Scorrano,
F.
Current
trends in
smart city
initiatives:
Some
stylised facts
Cities 498 Elsevier 2014
Batty, M.,
Axhausen,
K.W.,
Giannotti, F.,
(...),
Ouzounis, G.,
Portugali, Y.
Smart cities
of the future
European
Physical
Journal:
Special Topics
471 Springer 2012
Jin, J.,
Gubbi, J.,
Marusic, S.,
Palaniswami,
M.
An
information
framework
for creating
a smart city
through
internet of
things
IEEE Internet
of Things
Journal
410 IEEE 2014
Shapiro, J.M.
Smart cities:
Quality of
life, producti-
vity, and the
growth eec-
ts of human
capital
Review of
Economics
and Statistics
364 IEEE 2014
(continuação)
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
78
Autor(es) Artigo Revista
Cita-
ções
Publisher Ano
Perera,
C., Zaslavsky,
A., Christen,
P., Geor-
gakopoulos,
D.
Sensing as
a service
model for
smart cities
supported by
Internet of
Things
Transactions
on Emerging
Telecommu-
ni-cations
Technologies
362
Wiley-Bla-
ckwell
2014
Fonte: elaborada pelos autores.
5.1 Resultados obtidos para Governança no contexto de
Cidades Inteligentes
No primeiro momento da busca, em junho de 2017, em
relação aos artigos publicados até 2016, a projeção para o total
de artigos a serem publicados em 2017 era de 80. No entanto,
como demonstra a Fig. 4, apenas 41 foram publicados. Em
contraste, no segundo momento de busca, em junho de 2018,
considerando os artigos publicados até 2017, a estimativa
para o ano era de 95. Com 98 artigos publicados, 2018 excede
a estimativa e representa um total de 139% de aumento nas
publicações em relação ao ano anterior.
Figura 4 - Produções cientí cas anuais de “governance” em
“smart cities”, e curva de tendência para 2018
“smart cities”, e curva de tendência para 2018
(conclusão)
Fonte: elaborada pelos autores.
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
79
Independentemente do recente aumento das publicações,
com um total de 136 publicadas até 2017, uma visão abrangente
do tema pesquisado, os diversos e complexos ambientes
urbanos e sua relação com a sociedade e o Estado ainda está
longe de ser alcançada. Ao correlacionar a governança com
os outros termos, o resultado é apenas 15 artigos. Além de
números consideravelmente menores, não mostra qualquer
crescimento após os três eventos mencionados em 2012,
2015 e 2016. Inclusive a Agenda 2030 e a Nova Agenda Urbana
tiveram um impacto negativo, resultando em zero publicações
em 2017, e apenas uma no ano anterior.
A tabela 2 representa os dez principais artigos sobre
governança em cidades inteligentes, classicados por citações
relativas a publicações e citações até 2017. Os três primeiros
também aparecem na Tabela 1, e dois deles com outros três
correspondem a cinco de cada dez publicações com pesquisa
mais técnica e centrada em tecnologia.
Tabela 2 - Os dez principais artigos, por citações, de
“Governance” em “Smart Cities”, a partir de janeiro de 2018
Autor(es) Artigo Revista
Cita-
ções
Publisher Ano
Kitchin, R.
The real-time
city? Big data
and smart
urbanism
GeoJournal 524 Springer 2014
Batty,
M., Axhau-
sen,
K.W., Gian-
notti, F.,
(...), Ouzou-
nis, G., Por-
tugali, Y.
Smart cities
of the future
European
Physical Jour-
nal: Special
Topics
471 Springer 2012
(continua)
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
80
Autor(es) Artigo Revista
Cita-
ções
Publisher Ano
Perera,
C., Zaslavsky,
A., Christen,
P., Geor-
gakopoulos,
D.
Sensing as
a service
model for
smart cities
supported by
Internet of
Things
Transactions
on Emerging
Telecommu-
nications Te-
chnologies
362 Wiley 2014
Bakici,
T., Almirall,
E., Wareham,
J.
A Smart City
Initiative: The
Case of Bar-
celona
Journal of the
Knowledge
Economy
187 Springer 2013
Gabrys. j
Programming
environmen-
ts: Environ-
mentality and
citizen sen-
sing in the
smart city
Environment
and Planning
D: Society
and Space
141 SAGE 2014
Meijer, A.,
Bolívar,
M.P.R.
Governing
the smart
city: a review
of the litera-
ture on smart
urban gover-
nance
International
Review of
Administrati-
ve Sciences
127 SAGE 2016
Shelton, T.,
Zook, M.,
Wiig, A.
The ‘actually
existing
smart city’
Cambridge
Journal of
Regions, Eco-
nomy and
Society
119
Oxford
University
Press
2016
Hollands,
R.G.
Critical inter-
ventions into
the corporate
smart city
Cambridge
Journal of
Regions, Eco-
nomy and
Society
113
Oxford
University
Press
2015
(continuação)
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
81
Autor(es) Artigo Revista
Cita-
ções
Publisher Ano
Odendaal, N.
Information
and commu-
nication te-
chnology and
local gover-
nance: Un-
derstanding
the dieren-
ce between
cities in de-
veloped and
emerging
economies
Computers,
Environment
and Urban
Systems
108 Elsevier 2003
Martínez-
-Balleste, A.,
Perez-Martí-
nez, P., Sola-
nas, A.
The pursuit
of citizens’
privacy: A
privacy-awa-
re smart city
is possible
IEEE Com-
munications
Magazine
106 IEEE 2013
Fonte: elaborada pelos autores.
A governança está em sua parte central no campo das
Ciências Sociais, portanto uma porcentagem mais signicativa
de artigos nesta área especíca das cidades inteligentes, em
comparação com toda a área temática, é tomada por este
campo, 35,5%. Seguido pelas Ciências da Computação com
16,2%, Negócios, Administração e Contabilidade, com 10,4%,
e Engenharia e Ciências Ambientais, ambas com 9,3% cada.
5.2 Resultados obtidos para Economia no contexto de
Cidades Inteligentes
A totalidade das produções acadêmicas publicadas em
periódicos com menção e correlação dos termos Smart Citye
Economy”, de 1999 a 2017, é 115. Como pode ser visto na Fig.
5, as pesquisas neste campo seguem a tendência das cidades
inteligentes, apresentando crescimento após a Agenda Rio
+20, Agenda 2030 e Nova Agenda Urbana. Com 56 artigos
(conclusão)
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
82
publicados em 2018, ela se abstém de atingir a estimativa de
58 por uma margem  na (3,44%).
Figura 5 - Produções cientí cas anuais sobre “economy” em
“smart city”, e curva de tendência para 2018
Fonte: elaborada pelos autores.
Existem 65 publicações feitas sob “outros termos” com
correlação com Economy”. Estes termos estão fortemente
ligados a um aspecto mais técnico e tecnológico, também a um
ambiente ou comunidade virtual, notadamente a “digital city”.
Com exceção da Nova Agenda Urbana, os eventos anteriores
parecem não ter in uenciado publicações imediatas na área.
Entretanto, em 2011 e 2014, houve aumentos consideráveis
nas publicações, e fazer uma conexão com o Smarter Cities
Challenge da IBM é inevitável. O Desa o começou em 2010,
onde a IBM procurou promover soluções tecnológicas para
cidades do mundo inteiro, com base na ideia de uma utopia
tecnológica. As cidades participantes se promoveram como um
ambiente criativo e competitivo, onde o empreendedorismo
era valorizado, e o foco no desenvolvimento econômico era
evidente (WIIG, 2015; PAROUTIS; BENNETT; HERACLEOUS,
2014).
O mundo ainda estava se recuperando da crise de
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
83
2008, e a maioria dessas cidades utilizava a plataforma IBM
para atrair investimentos e capital. Em outras palavras, para
promover o crescimento econômico e para evitar ou emergir
da crise. Em meio à crise nanceira imobiliária, foi criado um
ambiente urbano totalmente novo e imaterial, necessitando de
espaços físicos mínimos ou nulos para gerar lucro (WIIG, 2015;
PAROUTIS; BENNETT; HERACLEOUS, 2014). O IBM Challenge é
apenas um exemplo documentado e estudado, para produzir
capital desenvolvendo o ambiente urbano sem comprometer
o espaço físico.
5.3 Resultados obtidos para Pessoas no contexto de
Cidades Inteligentes
O conceito de Smart people” pode ser entendido como
capital humano e social medido pelo nível médio de educação
e anidade com a aprendizagem ao longo da vida em um
ambiente de pluralidade social e étnica. Além disso, como
essa diversidade se comporta em termos de exibilidade
social, econômica e cultural, ou seja, a capacidade de interagir
ou de se movimentar entre classes e grupos sociais. Também
é levada em consideração a capacidade criativa dedicada a
identicar e resolver problemas da comunidade, e também o
nível de cosmopolitismo e, por último a participação na vida
pública (GIFFINGER et al., 2007; GIFFINGER; GUDRUN, 2010).
Para que a cooperação entre Estado, mercado e sociedade
exista, o conceito de “pessoas inteligentes” é essencial, assim o
tripé ca mais equilibrado sem uma perna social extremamente
curta. Tendo como um dos objetivos dar maior consciência
política à sociedade, forçando automaticamente, uma maior
responsabilidade do Estado. Neste sentido, o aspecto humano
das cidades inteligentes ganha um papel mais crítico, como
comprovado pela falta de semelhança com as buscas em
Economy”, elas não são diretamente afetadas pela crise
de 2008 e pelo IBM Smarter Cities Challenge, mostrando
crescimento somente após a Rio+20 e em anos próximos
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
84
às Cúpulas da Agenda 2030 e HABITAT III. 81 artigos foram
publicados em 2017, com um total de 199 artigos no total,
com um aumento de 84% de publicações em relação ao ano
anterior e uma estimativa de 180 publicados no ano seguinte
(Fig. 6). Mostrando a in uência das diretrizes da Nova Agenda
Urbana, assim como a crescente preocupação com o aspecto
humano e interativo e participativo em cidades inteligentes.
De 2017 a 2018 o aumento é de 41,9%, com um total de 115
artigos publicados no último ano, cando aquém da estimativa
de 180 em 36,1%.
Um total de 31 artigos correlacionam o termo “pessoas” e
um dos termos alternativos para de nir uma cidade inteligente.
2013 foi o ano com a maioria (seis) das publicações, até 2018
(8), pouco ou nenhum impacto foi feito pela agenda de 2030
ou pelo HABITAT III. Mesmo depois de um ano sem publicações
(2016), um total de 12 publicações nos anos seguintes, é muito
cedo para estimar um crescimento constante.
Figura 6 - Produções cientí cas anuais de “People” em “Smart
Cities”, e curva de tendência para 2018
Fonte: elaborada pelos autores.
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
85
5.4 Resultados obtidos para o Meio Ambiente no contexto
de Cidades Inteligentes
uma peculiaridade, em relação ao termo environment”,
embora seja usado por Gi nger et al. (2007) para se referir
ao ambiente natural, o mesmo termo pode ser usado para se
referir a um ambiente virtual ou digital. Entre os 460 artigos
encontrados até 2017, in uência tanto da crise de 2008
quanto do Smarter Cities Challenge da IBM, resultando em
artigos sobre o ambiente virtual.
Além disso, o uso do termo environmentem pesquisa
e investimentos em tecnologias sustentáveis como estratégia
de desenvolvimento econômico através de um processo de
capitalismo verde ou da criação de uma marca para a cidade
(WIIG, 2015). Em 2012, não apenas a Rio+20 é um fator que
in uencia a pesquisa, mas também o Manual da ONU sobre
como construir cidades resistentes (ONU, 2012). O impacto da
Agenda 2030 e da Nova Agenda Urbana é novamente notado,
especialmente desde 2016 o crescimento das publicações dos
últimos anos são respectivamente, 68,1%, 44,83% e 72,62%,
com um total de 168 em 2017 e 290 em 2018, atendendo a
59,18% da estimativa de 490 (Fig. 7).
Figura 7 - Produções cientí cas anuais de “environment” em
“smart cities”, e curva de tendência para 2018
“smart cities”, e curva de tendência para 2018
Fonte: elaborada pelos autores.
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
86
As 76 publicações que associam Environmentcom os
termos alternativos para se referir às cidades inteligentes,
corroboram com as observações realizadas. Deve-se notar
que estes termos estão mais intimamente ligados ao
aspecto tecnológico, do que ao humano ou social. Com uma
porcentagem maior de publicações, o termo Environment
refere-se a um ambiente virtual que usa TIC, IoT, Grandes
Dados e Sensores. Se mencionado, o ambiente natural está
fortemente ligado a aspectos tecnológicos.
5.5 Resultados obtidos para Mobilidade no contexto de
Cidades Inteligentes
A produção acadêmica sobre mobilitye Smart City”,
totaliza 165 artigos publicados em periódicos até 2017. Os dois
primeiros sendo publicados somente em 2012, mostrando um
rápido crescimento. A estimativa para 2018 era de 146 artigos,
mas considerando que tanto a produção de 2016 quanto a de
2017 permaneceram abaixo da curva esperada, e com baixo
crescimento, os 102 artigos (69,86% da estimativa) publicados
não representam um resultado surpreendente, mesmo levando
em consideração o crescimento de 72,8% em relação ao ano
anterior (Fig. 8).
Também, quando relacionado aos “outros termos”,
Mobilityapareceu pela primeira vez em 2005, mas apenas
sete publicações foram encontradas. Seis foram publicadas
antes de 2010, em sua maioria relacionadas a digital city
e “inteligente city”, a que foi publicada depois, em 2016, a
Knowledge city”, assim conectada à Smart City”, a mesma é
exata com a publicação de 2018.
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
87
Figura 8 - Produções cientí cas anuais de “mobility” em “smart
cities”, e curva de tendência para 2018
Fonte: elaborada pelos autores.
5.6 Resultados obtidos para Vivência no contexto de
Cidades Inteligentes
Smart Living está diretamente relacionado a uma
visão mais humana das estratégias de desenvolvimento de
cidades inteligentes, e assim como Smart People, mostra um
crescimento das publicações nos últimos anos. Indicando, o
aumento do interesse com a qualidade de vida da população
urbana. Um total de 92 artigos, até 2017, foram publicados
em periódicos, sendo os primeiros oito publicados em 2012, e
mantendo um crescimento constante até 2016, enquanto em
2017 foi registrado um crescimento de 87,5%, com 30 artigos
publicados. A estimativa para 2018 era de 32, mas superando
as expectativas, 48 foram publicados, representando um
aumento de 140% a partir de 2017 (Fig. 9).
Com relação aos outros termos, a produção Livingou
smart livingé tímida, totalizando apenas 16 artigos. Embora
tenha aparecido pela primeira vez ligada ao termo Digital
City”, nenhum estudo tem feito esta relação nos últimos anos.
As pesquisas que utilizam estes termos geralmente se referem
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
88
às casas inteligentes, ou seja, seguindo o viés mais técnico
e tecnológico, abordam a tecnologia como uma ferramenta
para otimizar a experiência da casa. “Vivência” deveria estar
mais relacionado à qualidade de vida em geral, bem como
à experiência de uma cidade inteligente, não excluindo uma
casa inteligente, mas concentrando-se em aspectos mais
amplos, que afetam a cidade como um todo.
Figura 9 - Produções cientí cas anuais de “living” em “smart
cities”, e curva de tendência para 2018
Fonte: elaborada pelos autores.
6 CONCLUSÃO
Existe uma forte correlação entre eventos globais como
o Rio+20, a reunião da ONU que promulgou a Agenda 2030,
o HABITAT III com sua Nova Agenda Urbana, a crise de 2008
e o Desa o das Cidades Mais Inteligentes da IBM. Depois
da Rio+20, ao aumento considerável da produção cientí ca
das Cidades Inteligentes. Também, irrevogavelmente o termo
Cidade Inteligente está em voga; portanto, um comportamento
semelhante é esperado nos próximos anos devido aos eventos
globais mencionados, e por seu valor econômico como
uma estratégia de marca e desenvolvimento que permite à
cidade e seus atores acumularem capital. Como declarado por
cities”, e curva de tendência para 2018
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
89
Anthopoulos (2017), com cada avanço tecnológico em TIC,
IoT, Big Data, Sensing, Ubiquitous Computing e tudo o que se
aplica ao ambiente urbano, novas iniciativas acontecem para
assegurar uma fatia do mercado americano de 3 trilhões de
dólares.
Cidades Inteligentes estão interligadas com múltiplas
áreas de conhecimento, demonstrando a necessidade de uma
abordagem crítica e parcerias e diálogos acadêmicos, uma
vez que tem uma natureza inerentemente multidisciplinar. A
abordagem crítica é essencial para o futuro da pesquisa das
cidades inteligentes, pois há um fetichismo do que é e do que
representa, quase uma fantasmagoria (BENJAMIN, 2002).
a perspectiva negativa, na qual as cidades inteligentes são
um conceito elitista propenso à gentricação, baseado em
estratégias de desenvolvimento que segregam, aprofundam
a desigualdade social e mascaram questões reais com
soluções tecnológicas mal utilizadas, paliativas ou falsas, que
na realidade desviam os olhos do público dos problemas
reais. Por outro lado, existem as ideias totalmente positivas
em que Smart citiesrepresentam soluções viáveis a todos
os problemas urbanos na formulação de políticas, gestão,
governança, estado, mercado e mesmo na sociedade
(HOLLANDS, 2008, 2015; GREENFIELD, 2013; KITCHIN, 2015;
BRENNER; THEODORE 2002a, 2002b).
Como estratégia de desenvolvimento, compromete
pouco espaço físico ou esforços se comparado a alternativas,
para gerar um impacto signicativo na qualidade de vida de
seus cidadãos. Infelizmente ou não, o mesmo vale para gerar
lucro, em alguns casos apenas as estratégias de capitalismo
verde e da criação de uma “marca inteligente” são sucientes
para atrair capital para a cidade, resultando em uma Cidade
Inteligente corporativa. Portanto, os governos e as sociedades
optam por não participar ou são forçados a um esvaziamento
em benefício das corporações e da falsa sábia mão do mercado,
no que diz respeito não apenas ao planejamento urbano,
Governança em Cidades Inteligentes:
uma análise bibliométrica
90
mas a sua operação, polícia, administração, mobilidade, meio
ambiente, habitabilidade e muito mais (HARVEY, 2000, 2005;
GROSSI; PIANEZZI, 2017).
Ainda é verdade a armação de Hollands (2015): “O
conceito de cidade inteligente levanta mais perguntas do
que as responde”. A maioria das publicações e iniciativas
leva em conta apenas os aspectos técnicos ou tecnológicos,
desconsiderando o ambiente urbano, seus habitantes e os
sistemas de interações existentes. Hollands (2015) também
declarou que o discurso da cidade inteligente permanece
“ignorante sobre como as cidades realmente funcionam
sociológica e politicamente, e o fato de que elas são compostas
por um conjunto complexo e diversicado de dinâmicas e
conitos éticos”, e que muitas questões urbanas podem ser
agravadas por soluções tecnológicas pretensiosas (HARVEY,
2012; HOLLANDS, 2015; KITCHIN, 2016).
A m de evitar uma utopia tecnológica (ou distopia), que
oculta uma estratégia de desenvolvimento urbano orientada
para o lucro em detrimento de sua população, as narrativas
tecnológicas e às vezes vazia das Cidades Inteligentes devem
ser abordadas de todos os ângulos. O conceito de uma nova
cidade constantemente reinventada é perigoso, pois promove
a cidade inteligente como uma virada radical na formulação
de políticas e governança urbana, ou como uma salvação para
sistemas e governos fracassados. No entanto é uma estratégia,
um modelo ou um meio pra instrumentalizar e alcançar os
mesmos objetivos de sempre, provocando efetivamente
nenhuma mudança (WIIG, 2015; ANTHOPOULOS, 2017).
Deakin (2014), Bolívar e Meijer (2016) e Meijer e Bolivar
(2015) estão certos ao criticar os modelos e meios atuais para
avaliar e classicar a inteligência de uma cidade, bem como
a necessidade deles. Apontando problemas tanto na área
conceitual, devido às múltiplas denições do que é uma cidade
inteligente e isto torna difícil a padronização, como também
com o método utilizado para alcançar uma certa inteligência
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Ricardo Augusto Souza Fernandes
91
de cidade. Os sistemas, estratégias e modelos atuais servem
principalmente aos interesses corporativos, para gerar capital
para as empresas envolvidas, tendo o Estado e os governos
como aliados e instrumentos.
Agradecimentos
Reconhecimento é devido ao apoio do CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientíco e Tecnológico).
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PARTE II
Fatores Socioculturais
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
99
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
1 INTRODUÇÃO
O aumento da população mundial e o decorrente
consumo de recursos naturais representam uma profunda
preocupação em âmbito global, assim como a migração
cada vez maior de pessoas das áreas rurais em direção aos
centros urbanos, fenômeno que, embora antigo, vinha se
desenvolvendo compassadamente ao longo dos séculos. Em
1950, apenas 30% da população mundial vivia em cidades. Essa
taxa subiu para 56% em 2020, e em 2050, de acordo com um
relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), 68% das
pessoas estarão concentradas em regiões urbanas (UNITED
NATIONS, 2018, p. 2). No Brasil, segundo dados do Censo de
2010 do Instituto Brasileiro de Geograa e Estatística (IBGE),
mais de 75% de seus habitantes encontra-se em cidades (IBGE,
2017, p. 52).
As cidades inteligentes
1
, ou smart cities, vêm sendo
exploradas como uma alternativa capaz de melhorar e tornar
sustentáveis as condições de vida da população das cidades
em geral. Grande parte dos autores que se dedicam a essa
1 A tradução do termo smart city, nas línguas latinas, optou pela
palavra “inteligente” (intelligent, em inglês), embora smart esteja mais
próxima de “esperto” ou “astuto” em português. Assim, é importante
ressaltar que a utilização do termo “cidade inteligente” ou “patrimônio
inteligente” neste trabalho segue a tradução consolidada para o português,
não sendo a palavra “inteligente” uma oposição (e muito menos uma
hierarquização) com relação a cidades ou projetos patrimoniais não
relacionados à smarticação.
CAPÍTULO 3
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
100
temática as denem como estratégias holísticas para mitigar
os problemas urbanos, baseadas em planos, ações e decisões
em algumas áreas-chave da vida em sociedade, tais como
economia, cidadania, governança, mobilidade, meio ambiente
e qualidade de vida, sendo a maioria das soluções mediadas
pelas novas tecnologias da informação e comunicação (TICs).
Existem, contudo, diversos outros aspectos das dinâmicas
urbanas que são pouco explorados no âmbito de projetos de
smart cities em curso e em planejamento. Um deles é a vida
cultural das cidades, constituída por práticas, manifestações
e equipamentos culturais, bem como pelos bens históricos
patrimoniais. Os instrumentos e índices de avaliação de
projetos de smarticação costumam listar a cultura como
um entre vários indicadores para mensuração dos níveis
de cidadania e qualidade de vida de uma cidade. Porém, é
importante ressaltar que a cultura, enquanto “[...] um sistema
de signicados, atitudes e valores partilhados e as formas
simbólicas [...] em que eles são expressos ou encarnados”
(BURKE, 2010, p. 10), não somente é uma parte fundamental
da vida coletiva, como viabiliza a própria existência das
sociedades. Os modos como as pessoas interagem, transitam,
consomem, trabalham vivem, enm são parte dessa
cultura, o que indica a necessidade de considerá-la para além
de um mero indicador, entre dezenas de outros, na avaliação
da qualidade de vida da população.
O patrimônio cultural, mais especicamente, tem tido
menos peso ainda nas discussões sobre as smart cities, mesmo
entre cidades europeias com programas inteligentes bem
estruturados e que possuem vastos conjuntos patrimoniais
como sua referência identitária, tais como Londres, Paris,
e Amsterdã (ANGELIDOU et al., 2017). A preservação do
patrimônio histórico, assim como das demais manifestações
culturais, é necessária ao exercício da cidadania, uma vez que
ele representa a memória de indivíduos e comunidades, peça-
chave para a armação da identidade dos cidadãos, reforçando
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
101
a noção de que a cidade também lhes pertence.
No pequeno nicho da literatura que se dedica à
questão patrimonial nos projetos de cidades inteligentes,
uma tendência recente a se adotar o termo “patrimônio
inteligente”, resumindo assim em uma única denição os
dois campos de atuação a que os estudos se dedicam. Esses
trabalhos, em sua maioria, estão focados na análise de novas
tecnologias para a automatização de diversos tipos de tarefas
do campo patrimonial, desde sensores para controle de
condições ambientais para a conservação de bens históricos
até as diferentes possibilidades de digitalização de acervos e
sua disponibilização na Web, inclusive por meio da realidade
virtual. Porém, seria suciente abordar apenas aspectos
tecnológicos relacionados a essa aparente “nova forma” de se
lidar com o patrimônio histórico e cultural? Que impacto esse
tipo de discussão traria no âmbito dos projetos de cidades
inteligentes, especialmente no Brasil, onde o assunto ainda é
pouco explorado?
Essas são dúvidas que orientaram o presente trabalho,
que teve como objetivo analisar o processo de smarticação
executado nas cidades brasileiras, buscando perceber se os
bens patrimoniais históricos e culturais estariam nele incluídos.
Para tanto, inicialmente foi preciso conhecer em profundidade
o patrimônio inteligente, que representa o ponto de interseção
entre essas duas temáticas, o que foi feito por meio de uma
revisão de literatura exaustiva. A partir do entendimento
das propostas existentes nacional e internacionalmente,
investigou-se as ações smarticantes em curso em três cidades
brasileiras: Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, escolha
baseada na pontuação que esses municípios apresentam
nos principais índices internacionais de cidades inteligentes,
posicionando-as como as mais bem colocadas no contexto
nacional. Foram analisados documentos disponibilizados
pelas prefeituras sobre o planejamento e implantação desse
tipo de estratégia, a partir dos quais foi possível identicar até
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
102
que ponto a área patrimonial e cultural tem sido contemplada
no que já foi feito.
Ressalta-se que é de extrema importância que essa
temática seja mais profundamente investigada por prossionais
da preservação patrimonial, especialmente nas Ciências
Humanas e Sociais, pois as experiências inteligentes, se bem-
sucedidas, podem vir a ser a base de novas políticas públicas,
como já ocorre no âmbito da União Europeia. Essas iniciativas
vêm sendo executadas em diversas cidades brasileiras, e não
é possível armar exatamente quais serão os impactos que
essas ações terão sobre o patrimônio histórico e cultural, uma
vez que a temática, quando abordada, o é por prossionais da
área tecnológica.
Espera-se, dessa forma, que este estudo colabore tanto
para a sintetização de um quadro geral internacional, indicando
as principais tendências exploradas e as dimensões que
ainda precisam ser debatidas, quanto para a análise do
contexto nacional, que ajude a compreender os caminhos
que vêm sendo trilhados para uma preservação inteligente do
patrimônio histórico e cultural.
2 PATRIMÔNIO INTELIGENTE: CAMINHOS CONCEITUAIS
A palavra patrimônio, que, em sua origem, referia-se aos
bens de direito do pai de família que seriam deixados a seus
lhos, uma herança particular, assumiu uma nova signicação
ligada à esfera pública no século XVIII. De acordo com
Choay (2001) e Le Go (2005), a Revolução Francesa de 1789
representou o marco inicial de uma mudança de atitude com
relação ao patrimônio, com a instituição dos chamados bens
da nação: edifícios, monumentos, obras de arte e outros tipos
de bens móveis que pudessem difundir valores patrióticos e
rememorar a história.
Ao longo dos séculos, o conceito de patrimônio foi
sendo ampliado, passando de apenas bens materiais da arte
erudita a toda e qualquer manifestação (inclusive imaterial) da
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
103
história e da memória da sociedade ou de grupos sociais, que
sejam importantes para a formação de sua identidade cultural.
A própria legislação patrimonial brasileira demonstra isso: o
Decreto 25, de 1937, primeira lei elaborada sobre o tema
no Brasil, denia como patrimônio histórico e artístico apenas
bens móveis e imóveis, de valor excepcional:
[...] o conjunto dos bens móveis e imóveis
existentes no país e cuja conservação seja de
interesse público, quer por sua vinculação a fatos
memoráveis da história do Brasil, quer por seu
excepcional valor arqueológico ou etnográco,
bibliográco ou artístico. (BRASIL, 1937, n. p.).
a Constituição Federal de 1988 considerou uma
gama muito maior de manifestações, denominando como
“patrimônio cultural”:
[...] os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação,
à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão; II - os modos de
criar, fazer e viver; III - as criações cientícas,
artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos,
documentos, edicações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor
histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e cientíco. (BRASIL,
1988, n. p.).
Além da ampliação no conceito de patrimônio, as
técnicas de preservação patrimonial também se encontram em
constante atualização. A prática da conservação e restauração,
por exemplo, tinha como objeto inicialmente os edifícios
históricos, principalmente aqueles datados da Antiguidade
Clássica. Ao longo do século XIX a prossão de restaurador foi
se consolidando, bem como a pesquisa sobre outros estilos
artísticos e as melhores técnicas para sua conservação (KÜHL,
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
104
2007). Vários documentos normativos
2
foram editados ao longo
do século XX, destinados à preservação de diferentes tipos
de acervos, sempre acompanhando os avanços cientícos e
tecnológicos das disciplinas que constituem a área patrimonial.
Um dos mais recentes acervos a ser abordado nesse sentido
é justamente o patrimônio digital, como “textos, bancos de
dados, imagens xas e em movimento, áudio, grácos, software
e páginas da web, entre uma ampla e crescente variedade de
formatos” (UNESCO, 2003), recursos efêmeros que demandam
estratégias ativas para sua preservação.
as cidades inteligentes constituem um tópico muito
mais recente na literatura. Segundo Hajduk (2016), o conceito
de smart city começou a ser utilizado a partir da década
de 1990. A primeira menção a esse termo encontrada na
literatura refere-se a uma conferência realizada em 1990 na
cidade de São Francisco, nos Estados Unidos: “Atingindo uma
economia global sustentável: infraestruturas conectadas
cidades inteligentes, sistemas rápidos, redes globais” (GIBSON;
KOZMETSKY; SMILOR, 1992).
Ao longo dos anos 1990 e 2000, os termos digital
cities e smart cities começaram a se popularizar, sendo que,
durante a década de 2000, a utilização do termo digital city
era predominante na literatura (COCCHIA, 2014, p. 28). A partir
de 2010, contudo, as publicações abordando especicamente
as smart cities se multiplicaram, devido, principalmente, ao
2 Dentre eles, destacam-se as Cartas de Atenas (1931 e 1933), sobre
a conservação e restauração de bens históricos; a Recomendação de
Nova Delhi (1956), sobre o patrimônio arqueológico; as Recomendações
de Paris de 1962, sobre a salvaguarda de paisagens e sítios naturais ou
construídos pelo homem, e de 1964, sobre a importação e exportação de
bens culturais; a Carta de Veneza (1964), sobre a conservação e restauração
de monumentos; a Declaração de Estocolmo (1972), sobre o ambiente
humano e a questão da sustentabilidade; a Declaração do México (1985),
sobre políticas culturais; a Carta de Mar del Plata (1997) e a Recomendação
de Paris (2003), sobre o patrimônio imaterial; e a Carta para Preservação
do Patrimônio Digital (2003). Todos esses documentos foram editados no
âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), em diferentes órgãos.
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
105
fomento da União Europeia (UE) a essas iniciativas (HAJDUK,
2016).
Autores como Caragliu, Del Bo e Nijkamp (2011, p. 50)
denem da seguinte forma as cidades inteligentes:
Uma cidade é inteligente quando investimentos
em capital humano e social e infraestrutura
tradicional (transporte) e moderna (TIC)
fomentam o crescimento econômico sustentável
e uma alta qualidade de vida, com gestão
inteligente dos recursos naturais, através de uma
governança participativa.
Já Hollands (2008, p. 305) apresenta uma outra visão:
Territórios com alta capacidade de aprendizado e
inovação, que se baseiam na criatividade de sua
população, em suas instituições de produção de
conhecimento e sua infraestrutura digital para
comunicação.
Embora os conceitos não sejam totalmente uniformes,
dois pontos podem ser considerados consensuais: que as
cidades inteligentes são propostas para se lidar com os
problemas atuais, pensando em um modelo de cidade que se
almeja para o futuro; e que a operacionalização das cidades
inteligentes se por meio das tecnologias de informação e
comunicação (TIC) existentes e daquelas que ainda podem
surgir. Como arma Arroub et al. (2016, p. 180):
Devido ao fenômeno da urbanização, surgiu um
número signicativo de riscos, preocupações
e problemas. Consequentemente, as últimas
administrações têm buscado soluções ótimas,
que podem ser encontradas, de acordo com
os pesquisadores, na “inteligência”. Mais além,
a inteligência pode signicar ser sustentável,
habitável, seguro, verde ou conectado. De fato,
a cidade inteligente pode ser denida como a
busca por alcançar todos esses objetivos usando
as TICs.
Assim, baseando-se em Ginger e Gudrun (2010),
Chourabi et al. (2012) e Zubizarreta, Seravalli e Arrizabalaga
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
106
(2015), que realizaram uma análise sistêmica de todos os
fatores considerados sobre as cidades inteligentes, é possível
identicar sete áreas prioritárias contempladas pelas iniciativas
inteligentes: economia, pessoas (capital humano), governança,
mobilidade, meio ambiente, qualidade de vida e tecnologia.
Com base nesses fatores, Figueiredo (2018) distingue
dois tipos diferentes de aplicação do conceito de cidades
inteligentes. Em um primeiro momento, no início da década
de 2000, empresas de tecnologia e escritórios de arquitetura
propuseram a construção de cidades inteiras do zero, “para
mostrar que a cidade 100% sustentável não apenas estaria
sob nosso alcance como também teria um excelente padrão
de vida” (FIGUEIREDO, 2018, p. 20). Os empreendimentos de
Masdar, na Arábia Saudita, e de Songdo, na Coreia do Sul,
são os principais exemplos desses projetos, que se mostraram
investimentos inviáveis em função da rápida mudança de
tecnologias desenvolvidas no período. Masdar e Songdo,
dessa forma, não chegaram a ser nalizadas, mesmo após um
gasto massivo de recursos.
Em um segundo momento, que vai de 2007 a 2014,
foram desenvolvidos projetos mais realistas, voltados para a
smarticação de cidades reais, com base nas categorias de
ação já citadas. A partir de 2014, entretanto, Figueiredo (2018)
aponta a inserção da smarticação nas agendas nacionais, por
meio de projetos que investem em aplicativos e coleta de dados.
No Brasil, programas nesse sentido foram desenvolvidos em
nível federal, como o “Minha Cidade Inteligente”, e em nível
municipal, com a “Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e
Humanas”.
Até o momento, pouca ou nenhuma menção aos
aspectos culturais das cidades foi feita pelos autores
consultados, e quando existe, constitui um subtópico da área
de qualidade de vida. com relação ao patrimônio cultural,
apenas um autor o menciona: para Neirotti et al. (2014, p. 27),
com relação às aplicações das smart cities “[...] no caso da
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
107
cultura, o envolvimento do público poderia ter como objetivo
melhorar a exploração e atratividade do patrimônio cultural
de uma cidade.”
Percebendo que a preservação patrimonial se encontrava
sub-representada nos trabalhos sobre cidades inteligentes, uma
série de autores deu início a um tópico de estudo denominado
“patrimônio inteligente”, que considera, principalmente, o uso
de alternativas tecnológicas para a preservação e difusão do
patrimônio cultural. Esse tema começou a ser abordado na
literatura a partir da década de 2010 e ainda é um nicho pouco
explorado: realizando uma pesquisa exaustiva em diversas
bases de dados cientícas, foram recuperados apenas 56
estudos totalmente dedicados à área patrimonial em projetos
de cidades inteligentes, sendo a maioria proveniente de países
europeus
3
.
Em 2013 são encontradas as primeiras tentativas de
denição desse campo de estudo. Lupo e Özdil dão o primeiro
passo ao relacionar a preservação do patrimônio com a
disponibilização e utilização de informações difusas, sendo
necessário torná-las “acessíveis, precisas, visíveis e relacionais”
para que a preservação do patrimônio seja considerada
inteligente (LUPO; ÖZDIL, 2013, p. 13). Vattano (2013, p. 269)
relaciona o sucesso das estratégias de cidades inteligentes
“à redescoberta e à melhoria de antigos valores e relações,
graças ao apoio de inovações tecnológicas”. Sendo assim, o
patrimônio cultural seria uma parte essencial das cidades, e
o apoio das tecnologias para sua redescoberta e preservação
constituiriam uma “atitude patrimonial inteligente”.
As discussões tiveram continuidade no ano de 2014 com
a Bienal Internacional de Arte e Gestão do Patrimônio em
3 Foi realizada uma revisão sistemática de literatura para a
recuperação dos 56 artigos relativos ao patrimônio inteligente. A
metodologia adotada para a revisão, bem como os dados analíticos desse
corpus documental, encontra-se descrita em CASTRO, J. M., BARACHO, R.
M. A. O patrimônio cultural nas cidades inteligentes. Em Questão, Porto
Alegre, v. 26, n. 3, p. 298-326, 2020.
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
108
Valladolid, Espanha, onde, de acordo com o Fundo Nacional
Indiano de Arte e Patrimônio Cultural (Indian National Trust
for Art and Cultural Heritage - INTACH), o termo “patrimônio
inteligente” foi mencionado em um grande evento cientíco
pela primeira vez:
Durante o encontro, o INTACH sugeriu dar início a
um programa em que um grupo de especialistas
em patrimônio, com diversas abordagens,
debateria sobre os desaos enfrentados pelo
patrimônio e pelas ações de preservação e
promoção patrimonial no despertar de mudanças
de cenários globais, especicamente no caso das
cidades inteligentes. (INTACH, 2017, n. p.).
A partir de 2015 as publicações referentes a essa temática
praticamente duplicaram em relação ao ano anterior. As
denições encontradas a partir de então, embora ainda façam
menção às cidades inteligentes, local onde esse conceito surgiu,
aproximam-se mais do uso de tecnologias para a preservação
patrimonial, como colocado por Khoshelham (2018, p. 7): “o
patrimônio inteligente refere-se ao uso de tecnologias para
otimizar a tomada de decisões no uso e gestão de edifícios
patrimonializados”. Já autores como Qiu, Li e Sun tentam
inserir outra dimensão a esse conceito, trazendo a perspectiva
humana para a preservação patrimonial: “o patrimônio não é
apenas inteligência técnica, mas também inteligência humana.
Isso requer a construção de um patrimônio inteligente e a
necessidade de se concentrar nas pessoas e nos serviços”
(QIU; LI; SUN, 2015, p. 260).
Unindo essas dimensões, destaca-se a denição de Borda
e Bowen, para os quais:
O conceito de “patrimônio cultural inteligente”
consiste em conectar digitalmente instituições,
visitantes e objetos, em um diálogo. O patrimônio
inteligente foca na adoção de abordagens mais
participativas e colaborativas, disponibilizando
gratuitamente os dados culturais (dados
abertos) e, consequentemente, aumentando
as oportunidades de interpretação, curadoria
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
109
digital e inovação (BORDA; BOWEN, 2017, p. 10).
É importante ressaltar que essa denição indica uma
forma de se lidar com o patrimônio cultural intermediada por
ferramentas tecnológicas, abordagem que não se opõe ao
campo de gestão e preservação do patrimônio cultural, sendo,
na verdade, uma complementação a ele. Assim, acredita-se
que estudos sobre o “patrimônio inteligente” podem ser de
grande valia para engendrar novas formas de preservação,
fruição e difusão do patrimônio cultural.
No desenvolvimento dessa análise, percebeu-se que as
grandes áreas de interesse para os autores do “patrimônio
inteligente” são basicamente as mesmas presentes nos estudos
das cidades inteligentes: economia, pessoas, governança,
mobilidade, meio ambiente, qualidade de vida e tecnologia. Os
assuntos tratados em cada um desses tópicos convergem com
aqueles considerados nos estudos sobre cidades inteligentes,
estando o grande diferencial dos trabalhos sobre patrimônio
inteligente na descrição das aplicações tecnológicas. Dentre
os tipos de tecnologia mencionados, destacam-se a Internet
das Coisas (IoT), a Realidade Aumentada (Augmented Reality
ou AR) e as plataformas colaborativas, que possibilitam a
catalogação difusa de bens patrimoniais.
Assim, dado o campo de atuação dos projetos inteligentes
relacionados ao patrimônio cultural, é possível analisar as
iniciativas nacionais nesse sentido, buscando compreender
se os projetos inteligentes no Brasil contemplam ou não a
preservação do patrimônio cultural.
3 PATRIMÔNIO INTELIGENTE NO BRASIL
As cidades inteligentes no Brasil começaram a ser objeto
de iniciativas governamentais em âmbito federal a partir
da década de 2010, sendo o ano de 2012 um marco nesse
sentido, devido ao lançamento do programa federal Cidades
Digitais. Esse programa previa incentivos para a modernização
da infraestrutura dos municípios, de modo a possibilitar
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
110
a implantação de novas tecnologias para ampliação dos
serviços públicos e uma maior conexão com os cidadãos. Ele
contou com duas fases: um projeto piloto, que contemplou 72
cidades, e a segunda etapa, dentro do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), contando com 331 cidades previstas.
Em 2013, outra iniciativa importante foi a criação da
Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas (RBCIH),
no âmbito da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), visando
incentivar a produção de indicadores, legislações e políticas
públicas nacionais sobre o tema. Essa iniciativa foi também
responsável pela criação de uma Frente Parlamentar Mista
em Apoio às Cidades Inteligentes e Humanas, em 2016, e
pela criação do Instituto Brasileiro de Cidades Inteligentes,
Humanas e Sustentáveis (IBCIH), em 2017, que faz parte do
Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da
República.
Em 2019, o programa federal Cidades Digitais foi
encerrado, e em seu lugar foi instituído o Plano Nacional de
Cidades Inteligentes Sustentáveis, no âmbito dos Ministérios do
Desenvolvimento Regional e da Ciência, Tecnologia, Inovações
e Comunicações. Ainda em fase inicial, o Plano prevê a criação
de uma Câmara Nacional de Cidades Inteligentes, composta
por diversos órgãos governamentais, que deverá propor os
temas a serem abordados no Plano dentro de cada uma de
suas áreas técnicas. Com isso, ao longo do tempo, deverão
ser formulados o projeto nacional de cidades inteligentes
e indicadores em três dimensões: econômica, ambiental e
sociocultural, mediados pelas TICs e pela IoT (BRASIL, 2019).
Antes da consolidação de iniciativas federais a respeito
das cidades inteligentes, entretanto, o Brasil contava
com cidades ranqueadas em índices internacionais sobre
a temática, tais como o Global Cities Index, da empresa
norte-americana A.T. Kearney, o Global Power City Index, da
japonesa Fundação Mori, ambos criados em 2008, e o Cities
in Motion Index, da espanhola IESE Business School, criado em
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
111
2014. Esses são alguns dos rankings mais antigos no âmbito
internacional, cujas metodologias estabelecem indicadores
para a classicação das cidades em níveis de inteligência (ou
smartness).
O Cities in Motion Index apresenta 77 indicadores em
nove dimensões distintas: capital humano, coesão social,
economia, governança, meio ambiente, mobilidade e
transporte, planejamento urbano, divulgação internacional e
tecnologia. O Global Cities Index conta com 40 indicadores
também em nove dimensões: negócios, capital humano, troca
de informações, experiências culturais, engajamento político,
bem-estar, economia, inovação e governança. o Global
Power City Index conta com 70 indicadores em seis dimensões:
economia, pesquisa e desenvolvimento, interação cultural,
habitabilidade, meio ambiente e acessibilidade.
Percebe-se uma variedade de fatores a se considerar para
a aferição do nível de inteligência de uma cidade, de acordo
com cada instrumento consultado. Entretanto, a área cultural
das cidades é pouco explorada em todos, possuindo um
número baixo de indicadores no contexto geral dos índices.
Mesmo quando presentes, esses indicadores se relacionam, em
grande parte, à capacidade econômica na cultura local, como
número de hotéis e restaurantes, por exemplo. O instrumento
que leva a área cultural mais em conta é o Global Power City
Index, que possui 16 indicadores
4
, frente aos 70 indicadores
gerais. No Cities in Motion Index, são nove os indicadores
culturais
5
(todos na dimensão de Capital Humano), contra 77
4 São eles: número de conferências internacionais; número de
eventos culturais; valor de exportação de conteúdo cultural; mercado de
artes; atrações turísticas; proximidade a locais do Patrimônio Mundial;
opções de vida noturna; número de teatros; número de museus; número
de estádios; número de quartos de hotel; número de quartos de hotel de
luxo; opções de compras; opções gastronômicas; número de residentes
estrangeiros; número de visitantes estrangeiros (YAMATO et al., 2019).
5 Ensino superior; escolas de negócios; número de estudantes;
universidades; museus e galerias de arte; escolas; teatros; despesas em
lazer e recreação; despesas em educação (IESE, 2019).
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
112
indicadores gerais; e no Global Cities Index são considerados
cinco indicadores culturais
6
, contra os 40 indicadores gerais.
O Brasil também conta com um índice elaborado
especicamente para sua realidade pela empresa de
consultoria Urban Systems, denominado Connected Smart
Cities, que teve sua primeira edição em 2015. O índice conta
com 110 indicadores em 11 áreas: mobilidade, urbanismo, meio
ambiente, energia, tecnologia e inovação, educação, saúde,
segurança, empreendedorismo, economia e governança,
não havendo nenhum indicador relativo à área cultural na
composição desse ranking (URBAN SYSTEMS, 2019).
São 100 as cidades brasileiras consideradas no Connected
Smart Cities, número bem maior do que aquelas que guram
nos rankings internacionais. Ainda assim, esse é um número
baixo, se comparado com os 5.570 municípios existentes no
país. Uma pesquisa realizada em 2017 pelo Comitê Gestor da
Internet no Brasil
7
sobre o uso das TICs para ações de governo
eletrônico revelou que, até então, apenas 18% do total de
prefeituras do país (cerca de 1.000 municípios) possuíam
projetos ou planos municipais de cidades inteligentes (CGI.BR,
2017).
Diante do panorama apresentado, optou por analisar
as iniciativas que vêm sendo realizadas pelas três cidades mais
bem posicionadas nos rankings internacionais: São Paulo,
Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Como esses municípios
apresentam ações mais maduras no campo das cidades
inteligentes, considerou-se oportuno analisá-los em busca de
projetos relacionados à área cultural, tentando compreender
de que forma o patrimônio cultural vem sendo considerado
6 Número de museus; artes visuais e performativas; eventos
esportivos; ofertas culinárias (HALES et al., 2019).
7 O Comitê Gestor da Internet no Brasil foi criado pela Portaria
Interministerial 147, de 1995, sendo responsável pelo estabelecimento
de diretrizes, padrões técnicos e procedimentos relacionados à internet no
Brasil. É composto por membros dos setores governamental, empresarial e
cientíco.
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
113
no âmbito dessas estratégias.
3.1 São Paulo
A cidade de São Paulo passou a gurar em rankings
internacionais relativos a cidades inteligentes (ou “cidades
globais”) no ano de 2008, no âmbito do primeiro Global Cities
Index, criado pela A.T. Kearney. No ano seguinte, começou a
ser considerada pelo Global Power City Index, da Fundação
Mori. Fez parte também da primeira edição do Cities in Motion
Index, da IESE Business School, sendo, em todos esses índices,
a cidade brasileira mais bem colocada em praticamente todas
as edições, como também ocorre no índice nacional Connected
Smart Cities.
As iniciativas entendidas como inteligentes pela Prefeitura
de São Paulo tiveram início na década de 2010, sendo um
dos primeiros projetos a tramitação digital de processos do
Tribunal Regional Federal (TRF) da Região, por meio do
Sistema Eletrônico de Informações (SEI), implantado em 2014
(SÃO PAULO, 2016). A partir de então, foram desenvolvidos
vários programas, como o Governo Aberto, que visa fornecer
informações à população sobre a governança municipal, tendo
como foco a transparência e a disponibilização de bancos
de dados abertos, dois dos indicadores mais importantes
nos rankings das cidades inteligentes. O programa Governo
Aberto conta com um portal de dados abertos, disponíveis
para download, e o portal GeoSampa, mapa digital da cidade
que apresenta diversas camadas de informações disponíveis
para visualização e download.
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
114
Tabela 1 – Iniciativas inteligentes da cidade de São Paulo
Aplicati-
vos
Recur-
sos
Plata-
formas
Portais
Softwa-
res
Eventos
Cidadania
SP 156
[Desen-
volvedor:
Metasix
Tecnolo-
gia]
Pontos
de Wi-Fi
x
Central de
Interpre-
tação de
Línguas
Procon
Paulistano
Essen-
cial
Acessi-
bility
X
Economia
Fiscaliza-
ção Cidadã
[Desen-
volvedor:
ALSP]
X
Ligue os
Pontos
Criado em
Sampa On-
-line
Empreenda
Fácil
Cidade de
São Paulo
x
Estação
Hack
#SP2020
Mayors
Challen-
ge
Governança
x
Scan-
ners
Diário
Livre
GeoSampa
Planeja
Sampa
SISZON
x X
Habitação
x X x
Licencia-
mento
Eletrônico
de Cons-
truções
Habita
Sampa
x X
Meio Ambiente
Limpa Rá-
pido
[Desen-
volvedor:
Green Plat]
Limpa Já
Entulho
[Desenvol-
vedor: CSJ
Sistemas]
Carros
elétricos
Lixeiras
com
GPS
x
Controle de
Transporte
de
Resíduos
Licencia-
mento
Ambiental
Operação
Cata
Bagulho
x X
(continua)
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
115
Aplicati-
vos
Recur-
sos
Plata-
formas
Portais
Softwa-
res
Eventos
Mobilidade
Cartão
Azul Di-
gital
[Desen-
volvedor:
Inova]
Coletivo
[Desenvol-
vedor: Sci-
populis]
X x
CONVIAS
Multas de
Trânsito
x
Campus
Party
Confe-
rência
Tecno-
lógica
Trans-
porte
Hacka-
tona do
Ônibus
Saúde
Agenda
Fácil
[Desen-
volvedor:
Prodam
SP]
X x
Aqui tem
Remédio
Corujão da
Saúde
Telessaúde
x
Hacka-
thon da
Saúde
Segurança
x
Drones,
sensores
e
câmeras
x x x X
Fonte: Castro (2019).
Outros projetos relevantes apresentados pela Prefeitura
de São Paulo dizem respeito ao monitoramento da segurança
pública, com o Programa City Câmeras, e a disponibilização de
pontos de conexão Wi-Fi gratuita para a população, denominado
Programa Wi-Fi Livre. Foram também desenvolvidos, tanto por
órgãos municipais como por empresas privadas em parceria
com a Prefeitura, diversos aplicativos, plataformas e portais
na internet para facilitar o acesso a serviços. Além disso, ao
longo da década, vários eventos vêm sendo promovidos com
o intuito de fomentar o desenvolvimento dessas ferramentas,
tais como os Hackathons
8
na área de saúde e mobilidade.
8 Os Hackathons são eventos que reúnem prossionais das áreas de
desenvolvimento tecnológico em “maratonas”, objetivando a criação de
soluções especícas para uma série de desaos propostos.
(conclusão)
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
116
Outro ponto importante a se destacar são os investimentos da
Prefeitura na aquisição de softwares e equipamentos (sensores,
drones, câmeras, dentre outros). Um resumo dos dados sobre
desenvolvimentos relacionados a cidades inteligentes é
apresentado na Tabela 1, na página anterior.
É importante ressaltar que o governo estadual,
principalmente por meio da Companhia de Processamento de
Dados do Estado de São Paulo (PRODESP), também colabora
para que a rede de ferramentas disponíveis na cidade de São
Paulo seja mais inteligente. Esse órgão estadual é responsável
pela criação de diversos aplicativos que facilitam o acesso aos
mais variados serviços estaduais para a população da capital
(embora possam ser utilizados por habitantes de todo o
estado).
Percebe-se que o poder público vem priorizando a criação
de aplicativos e portais na internet para disponibilização
de serviços à população, especialmente nas áreas de saúde
e empreendedorismo. Por sua vez, as áreas de educação e
cultura, que não chegam a ser mencionadas na tabela acima,
são pouco contempladas pelas iniciativas inteligentes, o que
conrma as observações obtidas até o momento por meio da
análise da produção sobre o patrimônio inteligente. Isso não
quer dizer que as áreas não se beneciem dos projetos em
desenvolvimento, e sim que elas não têm sido consideradas
prioritárias com relação à alocação de recursos e esforços na
estratégia inteligente da cidade, o que ca claro ao realizar a
análise comparativa das ações da prefeitura.
Além disso, é importante destacar que ainda vários
problemas urbanos que podem ser tratados do ponto de vista
dos projetos inteligentes, tais como o controle de tráfego para
minimizar o trânsito carregado da cidade e um monitoramento
mais assertivo relacionado à segurança pública e diminuição
dos índices de violência.
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
117
3.2 Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro é considerado uma das primeiras
cidades brasileiras a adotar medidas inteligentes, o que se
deu, em grande parte, graças a sua participação em grandes
eventos internacionais durante a última década, tais como a
Copa das Confederações de 2013, a Copa do Mundo de 2016,
os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 e a Copa América
de 2019. Devido a isso, diversas cidades brasileiras passaram
por profundas remodelações, sendo o Rio de Janeiro uma das
mais afetadas, em vista de sua posição como local de abertura
e encerramento dos eventos e como sede dos Jogos Olímpicos.
Para lidar com a logística necessária à realização
dos eventos, a Prefeitura criou um centro de operações,
denominado COR.Rio, inaugurado em 2010 como um “quartel-
general de integração das operações urbanas no município”
(RIO DE JANEIRO, 2019a). De acordo com a Prefeitura,
Cerca de 30 órgãos (secretarias municipais e
concessionárias de serviços públicos) estão
integrados no edifício para monitorar a operação
da cidade e minimizar seus impactos na rotina
do cidadão ou durante a realização de grandes
eventos. Durante 24 horas por dia, nos sete dias
da semana, o COR busca antecipar soluções,
alertando os setores responsáveis sobre os riscos
e as medidas urgentes que devem ser tomadas
em casos de emergências, como chuvas fortes,
deslizamentos e acidentes de trânsito. Mais
de 500 prossionais se revezam em diferentes
turnos neste monitoramento da cidade. (RIO DE
JANEIRO, 2019a, n. p.).
Seguindo as denições encontradas na literatura sobre
iniciativas inteligentes, que aliam o uso de tecnologias e a
análise de uma grande massa de informações para racionalizar
o processo de tomada de decisões críticas, o Centro de
Operações do Rio pode ser considerado um equipamento
inteligente, na medida em que
usa alta tecnologia para o gerenciamento
das informações fornecidas pelas agências
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
118
integradas e por diversos tipos de sensores
estrategicamente posicionados. Cerca de 800
câmeras da prefeitura são monitoradas pela
equipe do COR, que também tem acesso a
outras 700 gerenciadas por concessionárias
de serviços públicos e pela Secretaria Estadual
de Segurança Pública. Todas as câmeras e
informações de sensores e softwares podem ser
visualizadas de forma integrada em um telão
de 65 metros quadrados na sala de controle do
COR. Em situações de crise, o centro operacional
conta ainda com sistema de videoconferência
que permite comunicação em tempo real com a
residência ocial do prefeito e a sede da Defesa
Civil municipal. (RIO DE JANEIRO, 2019a, n. p.).
Essa iniciativa vem colocando o Rio de Janeiro como
uma das cidades mais bem posicionadas do Brasil nos
rankings internacionais de cidades inteligentes, atrás apenas
de São Paulo. Com relação ao índice nacional Connected Smart
Cities, a cidade o inaugurou na primeira posição em 2015,
mas apresentou uma queda de posições nos levantamentos
posteriores.
Outras ações inteligentes implementadas na última
década, conforme apontado pela Prefeitura, incluem o aplicativo
do Centro de Operações, também denominado COR.Rio, “que
fornece, em tempo real, informações sobre o que ocorre na
cidade em diversas áreas, como previsão do tempo, transporte
e trânsito” (RIO DE JANEIRO, 2019c, n. p.), além do aplicativo
Saúde.Rio, que permite, inicialmente, que as pessoas avaliem
os serviços de saúde prestados pela prefeitura. Foram também
lançados portais nesse sentido, como o Rio Sempre Presente,
que oferece um canal para “perguntas, sugestões ou críticas”
e a possibilidade de acompanhamento das obras realizadas na
cidade; o portal Carioca Digital, que “agrega todos os serviços
digitais oferecidos pela prefeitura de forma personalizada”
(SCHREINER, 2016); e o portal Data.Rio, iniciativa relacionada
com a transparência governamental e a abertura de conjuntos
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
119
de dados para a população
9
.
Tabela 2 – Iniciativas inteligentes da cidade do Rio de Janeiro
Aplicativos Recursos Portais Eventos
Cidadania
1746 Rio
Rio + Respeito
Zap Carioca
x
Carioca Digital
Rio Sempre
Presente
X
Economia
Trem do
Corcovado
AquaRio
Marinho
Jardim
Botânico
Rio Conectado
(rede de tele-
comunicações)
Riotur
Desao Rio
Ideias
Congresso
Mundial das
Câmaras de
Comércio
Educação
x
Naves do
Conhecimento
(pontos de
inclusão
digital)
x X
Governança
COR.Rio
Centro de
Operações
Alerta
comunitário
(sensores)
Ágora Rio
Data.Rio
Lab.Rio
Meio
Ambiente
AlertaRio x x
Seminário de
Redução
de Riscos de
Desastres
Mobilidade
Táxi.Rio
Ônibus.Rio
x x
Desao
COR – Smart
City
9 O portal Rio Sempre Presente não está mais disponível. O
endereço do portal Carioca Digital é https://carioca.rio/, e do portal Data.
Rio é https://www.data.rio/.
(continua)
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
120
Aplicativos Recursos Portais Eventos
Saúde
Saúde.Rio x x X
Segurança
x Lâmpadas LED x X
Fonte: Castro (2019).
Com relação à infraestrutura para as iniciativas
inteligentes, além da criação do Centro de Operações, a
Prefeitura do Rio investiu, nos últimos anos, na ampliação
de sua rede de telecomunicações, por meio do projeto Rio
Conectado, criando também pontos de inclusão digital para
a população, denominados Naves do Conhecimento. Outra
medida decorrente da criação do Centro de Operações foi a
disposição de sensores pela cidade, para monitoramento das
condições ambientais e de possíveis desastres ambientais,
que resultou em um sistema de alerta para a população, por
meio do aplicativo COR.Rio. Os aplicativos disponíveis para
a população, incluindo o COR.Rio, têm sido desenvolvidos
majoritariamente pela Empresa Municipal de Tecnologia
do Rio de Janeiro (IplanRio), e contemplam a realização ou
agendamento de serviços (1746 Rio e Saúde.Rio), a mobilidade
(Táxi.Rio e Ônibus.Rio) e a disponibilização de informações
(Zap Carioca e Rio + Respeito, um guia de diversidade para
a comunidade LGBTQIA+). Um resumo das iniciativas da
Prefeitura do Rio na última década pode ser observado na
Tabela 2.
As ações executadas na cidade do Rio de Janeiro
são importantes do ponto de vista da governança e do
monitoramento de situações de crise, sendo o Centro de
Operações um instrumento fundamental para a gestão
municipal. Entretanto, não é possível ignorar que a cidade
apresenta uma série de questões que não são cobertas pelas
(conclusão)
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
121
iniciativas inteligentes: assim como o restante do país, a pobreza
e a desigualdade social são problemas que vêm aumentando
a cada ano, bem como os índices de violência, especialmente
no Rio de Janeiro. Embora, de acordo com dados do Instituto
Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro, o número de
homicídios venha caindo no estado uma média de 20% a
menos com relação ao mesmo período de 2018 –, as mortes
causadas por policiais aumentaram em quase 17% em relação
a 2018 (ISP, 2019). Em 2019, os diferentes episódios em que
crianças foram mortas por balas perdidas na cidade do Rio de
Janeiro, dentre outras situações, expuseram a fragilidade das
políticas de combate ao crime adotadas no momento, bem
como a necessidade de que o escopo de monitoramento do
Centro de Operações vá além do que atualmente contempla.
3.3 Belo Horizonte
Belo Horizonte passou a fazer parte dos rankings de
cidades inteligentes em 2014, na primeira versão do IESE Cities
in Motion Index, junto às cidades de São Paulo, Curitiba, Rio de
Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Brasília, Recife e Fortaleza. A
partir de 2015, passou a gurar também no Global Cities Index,
sendo uma das três cidades brasileiras (junto a São Paulo e
Rio de Janeiro) a gurar nesse índice. No ranking nacional
Connected Smart Cities, Belo Horizonte começou em terceiro
lugar, oscilando, nos próximos anos, entre os dez primeiros
colocados.
Os projetos inteligentes de Belo Horizonte são, de fato,
mais recentes do que aqueles observados em São Paulo e no
Rio de Janeiro. Com exceção do processo de remodelação do
transporte público empreendido em Belo Horizonte a partir
de 2010 o sistema de transporte rápido por ônibus (BRT)
denominado MOVE, inaugurado em 2014 –, que é considerado
pela Prefeitura como parte das iniciativas inteligentes da
cidade, as ações datam dos últimos três anos, sendo que
algumas (indicadas com asterisco na Tabela 3) ainda estão em
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
122
fase de planejamento.
Tabela 3 – Iniciativas inteligentes da cidade de Belo Horizonte
Aplicativos Recursos Portais Eventos
Cidadania
PBH App Hotspots x X
Cultura
x x
Mapa
Cultural
BH
X
Economia
BH Supreen-
dente
(turismo)
Fibra ótica
Laboratório de ino-
vação no turismo*
Horizonte criativo*
Laboratório aberto
Prodabel
x
Hackathon
PBH
Hackatur BH
Smart City
Business
Governança
x
Centro integrado
de operações
Dados
abertos
FutureCom
Meio
Ambiente
BH sem
mosquito
Biofábrica
Central geradora de
energias
renováveis*
x X
Mobilidade
Rotativo
digital
SIU Mobile
BHBUS +
BRT Move SISMOB X
Segurança
x
Câmeras
Lâmpadas LED
x X
Fonte: Castro (2019).
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
123
As ações relacionadas ao desenvolvimento de portais
e aplicativos vêm sendo empreendidas basicamente pela
prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Empresa de
Informática e Informação do Município (Prodabel). Esse é um
órgão central na estratégia inteligente de Belo Horizonte,
sediando um espaço de inovação e criação de novas soluções
denominado Laboratório Aberto, onde soluções de empresas
parceiras podem ser testadas e, se aprovadas, passarem a ser
aplicadas em Belo Horizonte e outros municípios. De acordo
com a prefeitura,
a transformação do prédio da Prodabel em um
laboratório aberto faz parte do plano de ações
que visa transformar Belo Horizonte na cidade
mais inteligente do país. Além do laboratório,
estão previstas a troca de cerca de 182 mil
luminárias com lâmpadas de LED em todo o
município por meio de uma parceria público-
privada (sendo que, deste número, cerca de 33
mil terão o chamado Sistema de Telegestão), o
que permitirá criar uma importante infraestrutura
de comunicação; a ampliação da rede de bra
ótica; a abertura de acesso a bases de dados
da PBH, possibilitando o desenvolvimento de
soluções de acordo com as necessidades do
município; a ampliação do número de Hotspots
(pontos com Wi-Fi grátis), passando de 52 para
112, com foco principalmente na população de
vilas e favelas; o fortalecimento dos mais de 300
Telecentros espalhados pela cidade; entre outras.
(BELO HORIZONTE, 2017, n. p.).
O trecho acima menciona quase todas as iniciativas
destacadas na Tabela 3, reetindo justamente o período em
que a cidade se organizava no sentido de um planejamento
inteligente, visando à transformação de Belo Horizonte em
uma das cidades mais inteligentes em termos nacionais.
As ações implementadas têm garantido a posição da
cidade nos rankings internacionais e nacional, mas ca claro,
ao comparar os projetos das três metrópoles aqui analisadas,
que Belo Horizonte ainda possui poucos projetos inteligentes,
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
124
e uma série de outras demandas ainda precisam ser incluídas
no escopo desses projetos, especialmente em áreas ainda não
contempladas, como a saúde e a educação.
3.4 Cultura e patrimônio cultural nas cidades brasileiras
Os dados coletados até então demonstram que, mesmo
em grandes cidades, que possuem maior concentração
de recursos e melhores índices de desempenho na
disponibilização e uso das tecnologias inteligentes, como
São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte (capitais de seus
estados), não existem estratégias especícas para a aplicação
de modelos inteligentes nas áreas cultural e patrimonial
embora possuam um rico cenário cultural e vastos conjuntos
patrimoniais, compostos pelos mais diversos tipos de bens,
sejam eles tangíveis ou intangíveis.
São Paulo, por exemplo, possuía, até 2014, 1.608
equipamentos culturais cadastrados municipalmente e,
com relação ao patrimônio cultural, 82 bens tombados pelo
município, 88 bens tombados pelo estado, 13 bens tombados
em nível federal e outros 108 bens tombados por mais de uma
esfera (municipal e estadual, ou estadual e federal, ou pelas
três simultaneamente) (SÃO PAULO, 2019).
O Rio de Janeiro, por sua vez, possui 64 equipamentos
culturais cadastrados pelo município e 2.273 bens patrimoniais
tombados, sendo 1.598 na esfera municipal, 332 na esfera
estadual, 189 na esfera federal e 150 em mais de uma esfera
ao mesmo tempo (RIO DE JANEIRO, 2019b). Além disso,
trata-se de uma cidade que tem sua paisagem cultural
urbana reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural
da Humanidade, assim como o conjunto arquitetônico da
Pampulha, em Belo Horizonte. A última cidade conta com 821
equipamentos culturais cadastrados e 733 bens patrimoniais
tombados, sendo quase a totalidade desses bens (697) em
nível municipal (14 em nível estadual, 4 em nível federal e 15
em mais de uma esfera) (BELO HORIZONTE, 2019a), conforme
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
125
o Gráco 1.
Gráco 1 Equipamentos culturais e bens patrimoniais
tombados nas três cidades
Fonte: Castro (2019).
A disponibilização desses dados é uma iniciativa que
deve ser analisada sob a ótica dos projetos inteligentes, uma
vez que um dos principais indicadores do nível de “inteligência”
de uma cidade seria, justamente, a elaboração e divulgação de
bases de dados abertos. As três cidades pesquisadas possuem
essa iniciativa, sendo que, apenas no caso de Belo Horizonte,
os dados relativos à cultura e ao patrimônio não se encontram
sistematizados no portal, sendo necessário recorrer a outro
site.
Apesar de contar com dados culturais abertos, nas
prefeituras de São Paulo e Rio de Janeiro poucos desses
conjuntos estão atualizados. No caso de São Paulo, os dados
relativos ao cadastro de bens culturais e bens tombados
do município é de 2014, tendo sido necessário recorrer a
órgãos estaduais e federais para elaborar o gráco relativo ao
número de bens tombados em cada cidade. Entretanto, esses
dados estão disponíveis para download, nos formatos XML,
CSV e PDF. Dados atualizados sobre o patrimônio cultural
JANEIRO, 2019b). Além disso, trata-se de uma cidade que tem sua paisagem cultural urbana
reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, assim como o conjunto
arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte. A última cidade conta com 821 equipamentos
culturais cadastrados e 733 bens patrimoniais tombados, sendo quase a totalidade desses
bens (697) em vel municipal (14 em vel estadual, 4 em nível federal e 15 em mais de uma
esfera) (BELO HORIZONTE, 2019a), conforme o Gráfico 1.
Gráfico 1 Equipamentos culturais e bens patrimoniais tombados nas três cidades
Fonte: elaboração própria, 2019.
A disponibilizão desses dados é uma iniciativa que deve ser analisada sob a ótica
dos projetos inteligentes, uma vez que um dos principais indicadores do vel de “inteligência
de uma cidade seria, justamente, a elaborão e divulgão de bases de dados abertos. As três
cidades pesquisadas possuem essa iniciativa, sendo que, apenas no caso de Belo Horizonte,
os dados relativos à cultura e ao patrimônio não se encontram sistematizados no portal, sendo
necessário recorrer a outro site.
Apesar de contar com dados culturais abertos, nas prefeituras de São Paulo e Rio de
Janeiro poucos desses conjuntos estão atualizados. No caso de São Paulo, os dados relativos
ao cadastro de bens culturais e bens tombados do munipio é de 2014, tendo sido necessário
recorrer a órgãos estaduais e federais para elaborar o gráfico relativo ao número de bens
tombados em cada cidade. Entretanto, esses dados estão dispoveis para download, nos
1608
64
821
82
1598
697
88
332
14
13
189
4
108
150
15
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
São Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte
Equipamentos Culturais Bens tombados pelo município
Bens tombados pelo estado Bens tombados pelo governo federal
Bens tombados em várias esferas
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
126
estão disponíveis apenas na plataforma GeoSampa, mapa
georreferenciado que possui diversas camadas temáticas,
incluindo os bens protegidos. Entretanto, o download desses
dados se somente por meio de arquivos KMZ e Shapele,
que podem ser abertos em outras plataformas de mapas
georreferenciados (como o Google Earth). Não existem,
portanto, dados descritivos ou estatísticos atualizados
disponíveis para download.
no Rio de Janeiro, os conjuntos de dados culturais
são ainda mais antigos, do ano de 2004. Os dados atualizados
encontram-se em um mapa georreferenciado, na plataforma
denominada Patrimônio Cultural Carioca, que possibilita
sua visualização. A plataforma não oferece opção de download
de dados, não possibilitando que plataformas de importação
façam a extração dessas informações. Isso diculta as pesquisas
e elimina as vantagens de uma plataforma inteligente, na
medida em que obriga o pesquisador a coletar manualmente
as informações necessárias.
Com relação a Belo Horizonte, o Portal de Dados Abertos
não conta com informações culturais, estando elas localizadas
na plataforma colaborativa Mapa Cultural BH. Essa plataforma,
entretanto, não é citada no Portal de Dados Abertos e nem
no site da Prefeitura de Belo Horizonte. A plataforma oferece
dados sobre os equipamentos culturais e bens tombados,
localizando cada um deles em um mapa da cidade. Assim
como ocorre com o site do Rio de Janeiro, não existe opção
de download dos dados, sendo necessária a extração manual
de informações. Entretanto, no site da Prefeitura de Belo
Horizonte, existe, para download em formato PDF, a lista
referente a 2019 dos bens tombados da cidade em nível
municipal, estadual e federal, conjunto de informações mais
completo e atualizado das três cidades pesquisadas.
Sobre as ações destinadas à promoção cultural e, mais
especicamente, à preservação patrimonial nas três cidades
abordadas, nenhuma delas apresenta medidas elaboradas
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
127
especicamente para dialogar com projetos inteligentes.
Embora tenham sido criados eventos e/ou equipamentos
municipais para fomentar a inovação tais como os Hackatons
de São Paulo, o Lab.Rio do Rio de Janeiro e o Laboratório
Aberto de Belo Horizonte –, poucos são os esforços públicos
e privados orientados a esses campos no desenvolvimento de
soluções digitais. As iniciativas que mais se aproximam das
áreas cultural e patrimonial são encontradas na cidade de Belo
Horizonte, que apresenta duas propostas, uma direcionada
ao turismo e outra à criatividade: o projeto fuTURISMO e o
projeto Horizonte Criativo.
O projeto fuTURISMO Programa de Pesquisa e Inovação
Turística foi lançado em 2018, com o objetivo de “consolidar
a capital mineira como um destino turístico inteligente, (...)
promovendo a inovação, fomentando o empreendedorismo
e difundindo conhecimento nas áreas de turismo, cultura,
entretenimento, eventos e gastronomia” (BELO HORIZONTE,
2018, n. p.). No âmbito do projeto, foi realizado, ainda em
2018, um evento destinado ao desenvolvimento de soluções
inteligentes para o turismo, denominado Hackatur, além
da previsão de criação de um Laboratório de Inovação no
Turismo. É importante mencionar também o aplicativo BH
Surpreendente, que, embora não faça parte desse projeto
especíco, visa disponibilizar informações para turistas e
moradores de Belo Horizonte sobre os eventos culturais do
local, incluindo o Carnaval e Arraial de Belô.
O projeto Horizonte Criativo foi criado em 2019 com o
objetivo de
[...] oferecer o ambiente adequado para que as
atividades criativas – cultura, criações funcionais,
mídia, tecnologia e inovação possam prosperar.
Além de valorizar a história, a cultura e a produção
local, visa promover Belo Horizonte como cidade
criativa e inovadora. (BELO HORIZONTE, 2019b,
n. p.).
O projeto ainda se encontra em fase inicial, contando
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
128
com a consultoria do programa internacional SAP Social
Sabbatical para o planejamento de suas ações.
Ressalta-se que as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro
possuem sólidos programas de turismo, sendo duas das
cidades mais visitadas do Brasil em 2018, o Rio de Janeiro
foi o destino mais visitado por motivo de lazer, enquanto
São Paulo foi o destino mais visitado para negócios, eventos
e convenções e outros motivos (BRASIL, 2018). Entretanto, o
projeto fuTURISMO, de Belo Horizonte, foi o único citado por
se basear no conceito de destino turístico inteligente, que tem
sido uma das soluções culturais mais pesquisada na literatura
sobre patrimônio inteligente.
A preservação patrimonial, como visto até aqui, não foi
contemplada em nenhuma das iniciativas inteligentes nas
três cidades pesquisadas, sendo pouco provável, inclusive,
que seja uma pauta de iniciativas inteligentes em qualquer
outro município brasileiro. Isso não quer dizer que as ações
de preservação patrimonial não ocorram, assim como foi
mencionado com relação ao turismo em São Paulo e no Rio
de Janeiro. Também não signica que inovações não estejam
sendo aplicadas à prática patrimonial, e sim que os interesses
ligados aos grupos formuladores de projetos inteligentes não
são os mesmos daqueles que se dedicam a melhorar, por meio
de inovações tecnológicas, a preservação patrimonial.
Assim, é importante destacar ações atuais que vêm
utilizando os parâmetros inteligentes para a conservação e
difusão de bens tangíveis ou intangíveis, mesmo que essas
ações não façam parte das políticas municipais patrimoniais.
Em São Paulo, por exemplo, diversos museus e centros culturais,
públicos e privados, possuem aplicativos e audioguias, como
a Pinacoteca de São Paulo, que disponibiliza um aplicativo
para que o visitante consiga, por meio da leitura de QR Codes,
acessar comentários sobre as obras de arte em sua visita.
Outros museus apostam na interatividade, como o Museu
do Futebol e o Museu Catavento. No quesito de conservação
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
129
de bens, a empresa Expomus, em parceria com a francesa
Chenue, criou um espaço de guarda denominado Clé Reserva
Contemporânea, que abriga obras de arte de equipamentos
culturais (públicos ou privados) e de colecionadores
particulares. Nesse espaço foram empregadas técnicas
construtivas e materiais inovadores, bem como softwares
de automação para o controle de temperatura e umidade,
propiciando eciência energética ao espaço e padrões ideais
de climatização para as obras.
No Rio de Janeiro, o Museu do Amanhã, inaugurado em
2015, traz em seu nome a proposta de pensar o futuro por
meio das inovações. Trata-se de um edifício sustentável, com
exposições tecnológicas e interativas sobre temas relacionados
ao universo, ao planeta e à humanidade, que também conta
com uma assistente virtual, desenvolvida pela empresa IBM,
que interage com os visitantes
10
. Já em Belo Horizonte, pode-
se destacar a formação do Circuito Liberdade, em 2010, com a
restauração do conjunto de edifícios históricos que abrigaram
a estrutura do governo do estado ao longo do século XX e
a reutilização dos edifícios como equipamentos culturais
da cidade. Fruto de uma parceria entre o poder público e
instituições privadas, que hoje gerenciam os espaços, foram
abertos museus e centros culturais que fazem extenso uso de
suportes tecnológicos e interativos para a apresentação das
temáticas com que trabalham.
No âmbito das três cidades, aponta-se também a
existência de uma série de aplicativos e websites, elaborados
por empresas privadas ou pessoas físicas, que colaboram
especialmente para o registro de informações sobre o
patrimônio cultural como o Guia do Bem, site elaborado
pela empresa Equipe B Arquitetura, relativo à cidade de Belo
Horizonte e seus bens tombados e para a fruição cultural
tais como o SmartGuide, que oferece audioguias e mapas
10
Disponível em: https://museudoamanha.org.br. Acesso em: 6 set.
2021.
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
130
oine para centenas de cidades, incluindo São Paulo e Rio
de Janeiro, e o 360 Stories, aplicativo de realidade virtual para
destinos turísticos em várias cidades, dentre elas o Rio de
Janeiro.
É possível perceber, portanto, que são muitas as
possibilidades de aplicação de técnicas e tecnologias
inteligentes para a preservação e difusão dos bens culturais
e do patrimônio cultural de uma cidade. Embora algumas das
aplicações encontradas na literatura internacional apresentem
ainda um custo elevado para a realidade brasileira, vários
equipamentos culturais têm demonstrado que o conhecimento
técnico aliado à criatividade pode resultar em soluções que
colaboram sobremaneira para o campo cultural e patrimonial.
Entretanto, é necessário que o poder público, tanto na esfera
municipal quanto estadual e federal, perceba a importância
dessa área e a inclua nos projetos relativos a modernizações
tecnológicas e nas políticas públicas inteligentes, já que estas
têm inuenciado profundamente a forma com que o país
pretende lidar com seu futuro.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo aqui realizado colabora para a compreensão do
papel que a cultura e o patrimônio cultural vêm desempenhando
nos projetos de cidades inteligentes. Infelizmente, nas áreas
que até então vêm sendo abordadas pelo conceito e pelas
ações de cidades inteligentes, na maioria das vezes, não
se inclui a cultura e o patrimônio cultural, o que também é
apontado pelos rankings de cidades inteligentes e o tímido
impacto que as ações culturais representam na consideração
do nível de “inteligência” de um local.
A baixa relevância de indicadores culturais nos
instrumentos de aferição das cidades inteligentes trata-se de
uma questão extremamente problemática. Na medida em que
os governos vêm se esforçando para se inserir no movimento
internacional de fomento às cidades inteligentes, processo
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
131
no qual os indicadores de desempenho são fundamentais, a
área cultural, que historicamente conta com investimentos
reduzidos no Brasil, assume uma posição ainda mais periférica
nas políticas públicas nacionais. Isso ca claro com a análise
das iniciativas dos municípios brasileiros, nos quais poucas
foram as referências a aspectos culturais encontradas.
Acontecimentos como o incêndio que destruiu o Museu
Nacional, no Rio de Janeiro, uma das mais antigas instituições
cientícas e patrimoniais do país, em 2018, apontam a
necessidade de que as políticas relacionadas ao patrimônio
sejam revistas, ao mesmo tempo que demonstram que o uso
das tecnologias inteligentes, tais como os sensores de dados
e sistemas automatizados de controle ambiental, poderiam e
deveriam ser mais amplamente utilizadas para a preservação
patrimonial.
Ressalta-se que o estudo apresentou alguns limites: as
iniciativas pesquisadas foram restringidas àquelas planejadas/
executadas pelo poder público, marcadamente municipal.
Conforme mencionado anteriormente, existem várias soluções
tecnológicas desenvolvidas por empresas privadas, coletivos,
associações e mesmo indivíduos, que concorrem para uma
melhoria efetiva nas condições de conservação de bens
históricos e na fruição dos bens culturais. Entretanto, optou-
se por delimitar a análise ao poder público, uma vez que é
nessa esfera que têm sido propostos os empreendimentos
inteligentes, que se tornaram parte das agendas políticas.
Além disso, é também na esfera pública que se concentram
a maioria dos bens e equipamentos culturais. Esses espaços
dependem do recurso público, em parte ou totalmente, de
instrumentos de incentivo mediados pelo poder público e
de políticas públicas para estarem em funcionamento. Não
houve aqui o objetivo de discutir o modelo de funcionamento
desses espaços como ocorre em parte das publicações
internacionais ao sugerir meios de capitalização do valor
simbólico do patrimônio e dos bens culturais, alcançando sua
As Cidades Inteligentes e a
preservação do patrimônio cultural
132
sustentabilidade econômica –, mas sim apontar que, embora
atualmente patrimônio cultural e poder público estejam, no
Brasil, estreitamente ligados, essa ligação não foi transmitida
aos projetos de cidades inteligentes no Brasil.
A análise de ações privadas relativas ao uso de tecnologias
digitais para a conservação e difusão patrimonial no Brasil
seria o próximo passo para a compreensão da forma como
os campos cultural e patrimonial vêm se apropriando desse
modelo inteligente, baseado na conexão digital de todos
os lugares e objetos possíveis. Não foi possível a realização
de tal etapa, uma vez que, conforme apontado, existem
poucas menções a esses projetos, sendo necessário um
levantamento diretamente junto às instituições culturais, em
nível nacional, tarefa que demandaria um tempo muito maior
ou o trabalho de uma equipe considerável. O que foi discutido
neste estudo, entretanto, constitui o substrato dessa temática,
portanto, novas pesquisas nesse campo já possuem um sólido
ponto de partida: dadas a origem, estrutura e atuação dos
projetos inteligentes no Brasil, cabe agora a investigação do
funcionamento especíco das áreas cultural e patrimonial.
Aponta-se como oportunidades, portanto, tanto a
investigação das ações patrimoniais inteligentes no Brasil,
quanto a ampliação das discussões junto às áreas que vêm
estando à frente dessas iniciativas, tais como a Ciência da
Informação, a Conservação & Restauração, a História e a
Arquitetura, dentre outras, no sentido de formação de linhas de
pesquisa que agreguem um maior número de pesquisadores,
o que se faz necessário para o aprofundamento na temática,
extremamente extensa e complexa.
Acredita-se que a discussão aqui proposta seja
fundamental e extremamente oportuna, na medida em que
o Projeto Nacional Cidades Inteligentes e Sustentáveis foi
lançado em 2019 e ainda se encontra em fase de formatação,
não havendo diretrizes nalizadas. Da mesma forma, os
projetos das cidades analisadas são recentes, havendo espaço
Juliana Martins de Castro Barroso
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
133
para que outras áreas sejam envolvidas. É importante que
prossionais e estudiosos das áreas cultural e patrimonial
tenham conhecimento dessa temática e estejam dispostos a
se engajar nesse diálogo, anal, a cidade que se almeja no
futuro precisa ser construída no presente, todos os dias.
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Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
139
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades
indígenas: a eminência de ações socioculturais
para as regiões “ditas” inteligentes
1 INTRODUÇÃO
A atualidade social global, denominada era do
conhecimento ou da informação, tem exigido das pessoas
aprendizagens contínuas, pois informações e conhecimentos
são elementos diferenciais e imprescindíveis na vida dos
sujeitos e nas relações sociais, inclusive no que diz respeito ao
contexto etnocultural. Por exemplo, o conhecimento decorre, a
princípio, de um processo histórico do cotidiano informacional
que se instala em contextos formais e informais das relações
sociais dos indivíduos, ou ainda das leituras de mundo que
estes têm, gerando signicados para fatores tão expressivos
da ordem do material, imaterial ou simbólico. Portanto, do
resultado desse processo, podemos adentrar no diálogo
cultural e pensarmos um pouco sobre a sua importância e a
necessidade de reetirmos na formação de uma sociedade,
para traçarmos a trajetória daquilo que queremos objetivando
resultados de um crescimento sustentável e inteligente.
Muitas vezes, por não nos atentarmos à importância
cultural na trajetória de nossa sociedade, torna-se difícil a
compreensão da existência de problemáticas que emergem
no âmbito social, consequência da inapropriação do campo
informacional. A Ciência da Informação que é uma ciência
social, tem caminhado em direção ao entendimento de
elementos relacionados à informação e ao conhecimento, a
m de democratizar os acessos aos saberes e de proporcionar
ações educativas voltadas para diminuição das distâncias
CAPÍTULO 4
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
140
sociais, assistindo às sociedades periféricas e marginalizadas.
Para tanto, esta área tem investigado as necessidades
informacionais das minorias e consequentemente, procurado
contribuir com ações que ultrapassam os serviços técnicos
de processamento de produtos e serviços informacionais, se
preocupando em encontrar meios de organizar e aprimorar
os processos de gestão dos uxos de informações e/ou
conhecimentos em prol da otimização dos acessos e posses
desses insumos, possibilitando então, embasar projetos
concernentes a ambientes inteligentes.
A evolução e desenvolvimento de ambientes inteligentes,
ocorre devido aos constantes avanços e inovações das
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) em todos
os contextos e cenários sociais, possibilitando uma integração
cada vez mais profícua, por uma sociedade que prima pela
informação, desenvolve o seu conhecimento e atua com uma
visão globalizada que se destaca pela qualidade de vida de
seus cidadãos.
Nessa dinâmica da sociedade globalizada que busca
melhorias para as suas populações por meio da informação
e do conhecimento, encontram-se os indígenas, povos
reconhecidos pela existência da preservação de suas
culturas nativas, essenciais para uma compreensão da atual
sociedade. Os indígenas, são cidadãos usuários e produtores
de informações e conhecimento, assim, entendemos que
deveriam existir mais estudos na área da Ciência da Informação
que abordem este tema, pois tais comunidades, poderiam
se beneciar da pesquisa, enquanto sujeitos informacionais
que necessitam apossarem-se desses valiosos insumos para
aprimoramentos, capacitações, resoluções de problemas e/ou
simples deleite.
No Brasil devido aos frequentes contatos e convivência
indígena com a sociedade ocidental, gerou-se aos povos
ameríndios a necessidade de obterem informações para
suprirem lacunas de diversos níveis como carências básicas
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
141
diárias e principalmente, de informações registradas e
documentadas para garantir suas terras, saúde, educação e/
ou documentos referentes à história sociocultural destes
povos. Destacamos que essa população possui uma vasta
riqueza etnocultural, de sabres e conhecimentos tradicionais
que merecem ser reconhecidos e valorizados pela ciência e
sociedade ocidental.
Infere-se que a implantação de sistema de informações
e/ou conhecimento de natureza etnológica que facilite a
recuperação, o resguardo e a difusão desses saberes, são
ações de inclusões sociais em ambientes informacionais que
vão de encontro com uns dos objetivos de desenvolvimento
sustentável proposto pela Agenda 2030 em colaboração com
a Organização das Nações Unidas do Brasil (ONU/Brasil) como
um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o
meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos
os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.
Nessa perspectiva da Agenda 2030, a área da Ciência da
Informação poderia gerar relevantes contributos ao propor
práticas colaborativas entre as populações indígenas e a criação
de ambientes inovativos informacionais, como nos acessos
na mediação e na disseminação informacional e cultural, por
meio de ações de sistemas de natureza etnológica que possam
potencializar a interação de sujeitos que buscam informações
dedignas para o entendimento de assuntos sociopolíticos,
inclusive para ações do cotidiano, como o manejo da terra
e de plantio de seus produtos alimentícios e/ou para criação
de animais, autossustentação das comunidades locais, de suas
terras e também para o país.
Frente ao exposto e entendendo a expressividade atual
de assuntos como sustentabilidade, tecnologias, informação,
conhecimento e regiões inteligentes, procuramos reetir
sobre os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS),
estabelecidos pela Agenda 2030 na Assembleia geral das
Nações Unidas (ONU). Haveria, portanto, a possibilidade
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
142
de pensar as Cidades e Comunidades Sustentáveis, na atual
sociedade do conhecimento, global e em rede, frente às
constatações de comunidades periféricas, marginalizadas
em condições de vulnerabilidade como muitas comunidades
indígenas no Brasil? Assim, objetivamos com este estudo,
discutir a proposta relacionada à Ciência da Informação que
possa favorecer a implementação de projetos e políticas de
desenvolvimentos sustentáveis em prol da sustentabilidade
das comunidades indígenas, por meio da disponibilização de
saberes e da facilitação de acessos e posses de conhecimentos
pelos sujeitos ameríndios, como forma de estabelecer e
introjetar aspectos culturais na implementação de regiões
ditas inteligentes.
Consideramos que na atualidade, uma premente
preocupação da ONU, para com o desenvolvimento
de processos de inclusão de ações concretas relativa
aos direitos dos povos indígenas, à sustentabilidade e
etnodesenvolvimento, os quais, se referem à qualidade ou
propriedade sustentável, necessária e imprescindível para
preservação da vida. Atentamos a existência de uma urgente
realização de atividades que desenvolvam planos de combate
à violência e fortaleçam a paz mundial, contra a discriminação
e com o foco na sustentabilidade, inuenciando fatores
econômicos, sociais e ambientais.
Uma forma de acelerar os processos de desenvolvimento
das comunidades étnicas, poderia estar na oferta de sistemas
de gestão de saberes de natureza etnológica que possam
disponibilizar informações e/ou conhecimentos através das
tecnologias de informação e comunicação, de modo remoto,
através de redes de Internet, impactando diretamente as
comunidades indígenas brasileiras, introjetando-as no
ambiente inteligente das regiões.
Maria Aparecida Jacques de Arruda
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143
2 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
(
TIC
)
COMO INSTRUMENTO DE MEDIAÇÃO CULTURAL
No contexto social do século XXI, com os constantes
avanços e inovações das Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs) em todos os cenários sociais, urge a
necessidade de atualizações e adequações de uma sociedade,
que caminha paralelamente no âmbito das inovações em
variados contextos como: tecnológicas, sociais, econômicas,
políticas, educacionais e culturais.
Neste cenário, os povos indígenas que muito
tempo estiveram exclusos das sociedades eurocêntricas,
conquistaram após muitas lutas e batalhas, diversos direitos
e empoderamentos sobre suas terras, educações especícas,
políticas ambientais e sociais e também, apossaram-se das
novas tecnologias de informações e comunicações (TICs), as
quais, se dimensionarmos como instrumentos de mediação,
possibilitou-os a comunicarem-se a longa distância, a
contactar-se com outras etnias ou outros povos.
Os dispositivos tecnológicos, portanto, tem favorecido
aos indígenas, tanto o acesso a várias informações de
diferentes formatos textos, vídeos, imagens, sons –, como a
possibilidade de gerar dados para o armazenamento de bases
e sistemas inovadores, disponibilizando assim, conhecimentos
e olhares intrínsecos ao âmago de suas vivências. Deste modo,
as TICs, tem conseguido ofertar à sociedade, uma troca de
diálogos e possibilidades de informação ímpar, aproximando
o entendimento social, por meio de uma mediação cultural na
inovação em prol das populações étnicas brasileiras.
2.1 Tecnologias e Sistemas de Informação Cultural
Michalak (2012) apud Landoy (2019) argumenta que na
atualidade, alguns dos principais fatores que impulsionam
as mudanças sociais surgem das tecnologias de rede com
seus poderosos motores de buscas. Essas tecnologias estão
disponíveis para toda a sociedade, assim como as tecnologias
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
144
sociais
1
, entre outros serviços e produtos que facilitam os
acessos e a interação entre sujeito e o objeto de informações
e de conhecimentos.
Neste sentido, Almeida (2014) fala que as comunidades
virtuais e em rede vem se democratizando e incorporando
diversas possibilidades de comunicação e formas de
experimentação da realidade em diferentes graus de saberes
e apropriações que delas resultam. À vista disso, visualiza-se
que as comunidades indígenas brasileiras, de forma ainda
tímida estão se apropriando, experienciando e inserindo-se
nessa realidade tecnológica, virtual e informacional. Fato este
considerado como mudanças paradigmáticas,
[...] no sentido de apropriação e utilização das
novas tecnologias da informação e comunicação
(TICs) é uma forma de (re) apropriação e
disseminação da informação por grupos
sociais tradicionalmente alijados dos processos
organizacionais que advém do modelo
informacional vigente. (MELLO, 2019, p. 170).
Ao se apropriarem dessas tecnologias e respectivamente
de informações disponíveis em meios eletrônicos e online,
esses povos alijados adquirirem autonomia na construção
de saberes e empoderamento étnico-social-cultural, não
na utilização das novas TICs, mas também na construção de
novos espaços em suas culturas, na aquisição de direitos e
no desenvolvimento etnocultural e/ou etnodesenvolvimento.
Neste sentido, Dodebei (2011) apud Pinto (2009) arma
que devido à materialidade das informações digitais, elas
constituem, inclusive, parte da cultura material da sociedade.
Vislumbramos que os indígenas se apropriem das TICs
e ambientes digitais para acessarem e apossarem-se de
1 Tecnologia Social é a ferramenta que agrega informação e
conhecimento para mudar a realidade. Conjunto de técnicas, metodologias
transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a
população e apropriadas por ela, que representam soluções para inclusão
social e melhoria das condições de vida. ITSBRASIL. Disponível em: http://
itsbrasil.org.br/conheca/tecnologia-social/.
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
145
informações e conhecimentos de natureza etnológicas, que
lhes asseguram aprendizagens e competências informacionais,
reexivas e críticas. Neste sentido, congura-se a adoção de um
Sistema de Bibliotecas Digitais e online, de saberes e culturas
étnicas e indigenistas. As bibliotecas digitais são tecnologias
que proporcionam e facilitam a seleção, armazenamento,
organização e a disponibilização de informações às pessoas que
podem acessa-las de qualquer lugar que tenha um dispositivo
eletrônico conectado à rede de internet. Pertinente ainda que
as TICs seja instrumento de mediação e agregação de valor
aos processos culturais, informacionais ou comunicacionais,
gerando ganhos em termos de conhecimento aos sujeitos
envolvidos (ALMEIDA, 2014).
Neste sentido, interessante destacar que, em países
como Canadá
2
, Índia
3
e Austrália,
4
os povos indígenas
contam com essas facilidades tecnológicas para a gestão
do conhecimento em seus espaços informacionais, que
preservam e disponibilizam saberes sobre ervas e medicinas
tradicionais, agricultura, alimentação, trabalhos artesanais
entre outros, pois, uma Biblioteca Digital e online especícas
para as comunidades indígenas é uma metodologia moderna
para além da disseminação da informação, mas também uma
ferramenta impresente.
Destacamos que são espaços inteligentes e sustentáveis
que garantem a preservação dos saberes e/ou conhecimentos,
que agregam outras formas de resguardo dos conhecimentos
tradicionais, seus hábitos/culturas; as tecnologias digitais
proporcionam novas formas de mediar e compartilhar essas
informações e/ou sabres culturais ao aproximar usuário, mídia
2 University of British Columbia. Disponível em: https://guides.
library.ubc.ca/c.php?g=307208&p=5011598. Acesso em: 6 set. 2021.
3 Traditional Knowlege Digital Library. Disponível em: http://www.
tkdl.res.in/tkdl/langdefault/common/Home.asp?GL=Eng. Acesso em: 6 set.
2021.
4 National Library of Australia. Disponível em: https://www.nla.gov.
au/what-we-collect/indigenous. Acesso em: 6 set. 2021.
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
146
e informação permite uma relação dialógica.
2.2 Mediação Cultural e Diversidade Etnológica
No contexto da Ciência da Informação, parafraseando
Almeida (2008), “dentre os muitos conceitos de mediação
que alcançam transversalidade nas disciplinas cientícas [...]’,
destacam-se, para os propósitos deste trabalho, reexões
e discussões da mediação consciente em uma perspectiva
de direcionar o indivíduo para apropriação da informação,
para consciência crítica e ao protagonismo social, ignorando
demais conceitos nas outras áreas, por exigir discussões mais
profundas.
No entendimento de Gomes (2014, p. 52), a mediação
promotora do protagonismo social,
[...] confere à ação mediadora certa característica
de substrato ao autoconhecimento e ao
entrelaçamento da humildade e da autoestima
dos interlocutores dessa ação é a mediação
consciente; no momento que o prossional
entende que esta mediação possui sentido de
compartilhamento de cooperação, de abertura
ao diálogo, à crítica e à criatividade, de abertura
também entre o velho e o novo.
Com essa concepção a mediação da informação se
ajusta na inter-relação dialógica a qual viabiliza ao prossional
buscar a realização do trabalho compartilhado e colaborativo,
apresentando sua condição de protagonista social (GOMES,
2019).
Das concepções aparentes de mediação cultural e
mediação da informação no âmbito da Ciência da Informação
Almeida (2008), entende que a mediação é inerente às ações
sociais, e inter-relacionadas entre partes de um sistema social
e de processos de compreensão intersubjetiva, o que introduz
a mediação humana nos processos, através dos quais, as ações
são coordenadas. A ação mediadora é uma ação que alia e
permite o encontro das ideias, da cultura, do pensamento e do
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
147
conhecimento num processo relacional entre atores e agentes
(ALMEIDA JUNIOR, 2015) e, os espaços de mediações culturais
contribuem para as interações e conexões de sentidos entre
mediadores e mediados, sujeitos e objetos.
A mediação cultural e/ou do conhecimento, normalmente
necessita de um terceiro elemento externo na qualidade de
mediador, para intervir e solucionar possíveis conitos em
torno do objeto de desejo, da obra de arte ou do saber, da
informação ou qualquer outro artefato a ser entendido,
apropriado e adquirido. “A ação do elemento terceiro tem
sempre um impacto sobre o ambiente (mais frequentemente
o ambiente social) no qual ela se situa” (DAVALLON, 2006, n.
p.), o mediador neste caso, se interage a partir de articulações
linguísticas, a comunicação ou diálogos, conforme relata
Baktein (1981) apud Gomes (2019), e nessa ação mediadora,
o objeto da transmissão são os signos e signicados que
garantem a preservação e a posse e/ou acesso à cultura
ultrapassando barreiras do tempo e do espaço (GOMES, 2019).
A mediação no entendimento de Abdullahi (2008, p.
383) é um mecanismo fundamental de desenvolvimento
especicamente humana. Este autor diz que, a mediação
originou-se a partir da tríade sujeito, ferramentas culturais
e objetos e sobre essa trilogia surgem a estrutura e o
desenvolvimento de processos psicológicos do homem
mediante atividades práticas culturalmente mediadas e
historicamente desenvolvidas.
Nesse sentido, Hall (1997) diz que os humanos são seres
interpretativos e instituidores de sentidos, e a ação humana
possibilita atribuir e denir signicados e sentidos para as
coisas, codicar, organizar, regular e normalizar maneiras de
comportamentos uns em relação aos outros. Diz ainda que,
são os sistemas de códigos de signicados que permitem o
homem entender as ações alheias e dar sentido às próprias
ações (HALL, 1997), ou seja, a comunicação e o diálogo são
principais elementos da mediação.
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
148
Os homens, segundo Abdullahi (2008) frequentemente
recorrem à cultura para explicarem ou justicarem fracassos ou
sucessos de desenvolvimentos e/ou milagres econômicos de
determinado país. O autor diz que, a diversidade social e cultural
não é útil per si, mas essencial para o desenvolvimento e
evolução de uma nação. Por tanto, gerenciar a diversidade e
as identidades culturais não é um desao para poucos, tais
como os estados étnicos e multiculturais da África e na Ásia.
No mundo todo, relata o autor, contém em torno de cinco
mil grupos étnicos e um terço desses países tem ao menos
uma minoria substancial, em torno de 10% (dez por cento)
da população, que faz parte de grupos étnicos ou religiosos
(ABDULLAHI, 2008, tradução nossa).
O Brasil é um dentre esses países multiculturais,
principalmente de etnias indígenas. De acordo como último
Censo IBGE de 2010, a diversidade de povos indígenas no país
era de 256 etnias distintas com mais de 150 línguas diferentes,
totalizando 896.917 pessoas, sendo a maior parte dessas
populações espalhadas por milhares de aldeias, localizadas
em 724 Terras Indígenas de Norte a Sul do País (POVOS
INDÍGENAS NO BRASIL – PIB).
Portanto, em questões culturais e diversidades, este
país possui uma forte representatividade. Além dos povos
indígenas, também uma representatividade de comunidades
quilombolas, descendentes africanos, asiáticos entre outros
que fazem do Brasil uma terra rica de culturas miscigenadas.
Este território é rico também em biodiversidade, o qual detém
milhares de espécies vegetais, microrganismos e animais que
podem ser encontradas no Pantanal, Floresta Amazônica,
Cerrado e Mata Atlântica.
Por isso, a importância de resgatar informações dessa
diversidade cultural e produtos originários da biodiversidade,
como as plantas medicinais cultivadas pelos ameríndios, para
organizar, armazenar em formatos digitais para posterior
recuperação, através do auxílio de um dispositivo tecnológico
como mediador da informação, do conhecimento ou qualquer
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
149
outro artefato a ser entendido, apropriado e adquirido por
sujeitos que desses insumos necessitarem.
Para essa ação mediadora aos povos originários, tem
como fundamental e imprescindível a constituição de um
espaço informacional especíco, de natureza etnológica,
como Bibliotecas e/ou Repositórios informacionais, digitais
e online, que viabilizam o gerenciamento e/ou gestão dos
saberes ali armazenados. Por certo, nessa perspectiva de uma
gestão mediadora, o indivíduo será direcionado à apropriação
do saber de forma racional e crítica.
3 GESTÃO DE SABERES: A INFORMAÇÃO ETNOLÓGICA
NA GERAÇÃO DE CONHECIMENTO
A informação e/ou saberes indígenas têm diferentes
interpretações e entendimentos de modo peculiar entre
estudiosos indigenistas, antropólogos e sociólogos de
diferentes países e culturas. Na concepção deste estudo,
procuramos relatar as denições mais comuns tais como:
conhecimento indígena se refere ao conhecimento acumulado
ao longo da vida de gerações, de uma comunidade local em
um ambiente especíco; são saberes únicos, tradicionais,
locais desenvolvidos em torno de condições especícas, de
acordo com o PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O
MEIO AMBIENTE (MOLE; EKWELEM; DIN, 2018).
3.1 Informação como recurso do saber etnológico
De acordo com Ochalla (2007), Grenier (2008) apud Mole
Ekwelem e Din (2018), o conhecimento indígena é um corpo
sistemático de saberes adquiridos pela população local através
do acúmulo de experiências informais e da compreensão
íntima do ambiente em uma determinada cultura e etnia.
Esses saberes representam vivências interculturais, sabedoria
e conhecimentos exclusivos, os quais são armazenados nas
mentes das pessoas que ali convivem.
Esses saberes e/ou conhecimentos tradicionais têm como
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
150
guardiões as pessoas locais como os agricultores, os artesões,
os tos terapeutas, as mulheres, os criadores de gado, ovelhas,
cabras, porcos, galinhas, entre outros, que são os responsáveis
pelo sistema de armazenamento e preservação natural desses
insumos. Esses conhecimentos, não estão escritos, nem
registrados em nenhum suporte físico, são conhecimentos
tácitos, encontrado nas memórias, principalmente dos anciões
e quando estes morrem, é como se uma biblioteca tivesse sido
incendiada (MOLE; EKWELEM; DIN, 2018).
Devemos repensar sobre a instituição de sistemas
de gestão para o acondicionamento desses saberes/
conhecimentos, com o foco na sua preservação efetiva.
Talvez pela intangibilidade destes fatores, esquecemos da
expressividade de pensarmos que os jovens e as crianças de
uma determinada comunidade devem ter a possibilidade
de, no futuro, resgatar esses saberes e repassarem para
outras gerações, na organicidade do crescimento de uma
comunidade.
Consideramos ainda, que esses saberes indígenas existem
nas sociedades e comunidades desde tempos imemoriais,
sem que a população nativa percebesse, ultrapassaram essas
fronteiras locais e tomaram proporções mundiais. Assim, não
efetivamente comunidades que não tenha elementos desses
saberes e/ou conhecimentos (OCHALLA, 2007). Abrange o
conhecimento, a inovação e as práticas tanto de comunidades
indígenas, quanto, das comunidades ocidentais.
Essas práticas e inovações desenvolvidas a partir desses
saberes etnoculturais, selecionados e organizados em sistemas
informacionais digitais que a Ciência da Informação propões
para o desenvolvimento sustentável e o etnodesenvolvimento,
às comunidades indígenas brasileira na perspectiva da gestão
de um sistema de Biblioteca Digital Indígena.
Um sistema de gestão de saberes étnicos, vai ao encontro
dos desejos de suprir e/ou fomentar carências informacionais
e de documentos dos povos indígenas brasileiros que sofrem
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
151
constantemente com falta de documentos que comprovem
seus espaços, que garantem seus direitos e que amparem suas
reivindicações, frente ao poder público e à sociedade nacional.
3.2 Gestão do Conhecimento
A gestão do conhecimento é entendida como um
modelo gerencial que visa melhorar o desempenho de uma
organização através da produção, armazenamento, mediação,
compartilhamento e aplicação do conhecimento em uma
instituição organizacional.
Gerenciar o conhecimento frente ao complexo cenário na
atual sociedade, na qual as mudanças são constantes, exige-
se repensar de forma estratégica as práticas, os processos e
tomadas de decisões nas organizações informacionais para
assim, se manterem atualizadas e facilitarem a interação entre
as pessoas e o acesso ao conhecimento ali existentes, visto
que, informação e conhecimentos são elementos de alto valor
que movem o mundo, são produtos de bens e serviços nas
organizações de grande importância para o aprendizado e
aprimoramento intelectual das pessoas que o adquirem.
A gestão de saberes e/ou conhecimentos de natureza
etnológica surge da premente necessidade para contribuir com
as organizações étnicas no Brasil no sentido de evidenciar a
importância da gestão de saberes e conhecimentos indígenas
aos povos tradicionais e demais comunidades, apresentando
subsídios teóricos para futuros estudos. Visto que, gestão do
conhecimento se refere a uma abordagem multidisciplinar
em relação aos propósitos de uma organização (organizações
étnicas) que busca melhores práticas de criação e uso de
saberes e do conhecimento, conectando as fontes de geração
com as necessidades de aplicação do conhecimento para o
desenvolvimento e inovações a partir do conhecimento.
No entendimento de Valentim (2003),
[...] gestão do conhecimento é o conjunto de
estratégias para criar, adquirir, compartilhar
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
152
e utilizar ativos de conhecimento, bem como
estabelecer uxos que garantam a informação
necessária no tempo e formato adequados, a
m de auxiliar na geração de ideias, solucionar
problemas e tomar decisões.
O processo aqui citado, é fundamental para proporcionar
melhorias nos uxos informacionais de uma instituição,
agregando valor e controle e junto às ferramentas, técnicas e
procedimentos de gerenciamento, dinamizam a performance
da instituição organizacional/informacional.
Para Davenport e Prusak (1998), gestão do conhecimento
é um conjunto integrado de ações que visam identicar,
capturar, gerenciar e compartilhar todo o ativo de informações
de uma organização. É a estratégia que transforma bens
intelectuais da organização em informações registradas e o
talento dos seus membros, em maior produtividade, novos
valores e aumento de competitividade. (MURRAY, 1996 apud
ALENCAR; FONSECA, 2015, p. 4). Com esse ponto de vista
que acreditamos em transformar saberes intelectuais em
bens materiais e de valor através de um sistema de gestão de
conhecimento indígena registrados.
Compreende-se também que GC é um processo por meio
do qual se obtém e utilizam recursos básicos (econômicos,
físicos, humanos, materiais) para o manejo desse ativo no
âmbito social (MORAES; FADEL, 2008, p. 28).
Destarte, a gestão está inerentemente agregada à
capacidade da organização social em utilizar e adequar
as diversas fontes, suportes e tipos de conhecimentos
organizacionais no desenvolvimento de competências e
capacidades inovadoras para de forma estratégico fortalecer
o crescimento organizacional.
Assim, entende-se a gestão do conhecimento indígena
dotado de conhecimentos tácitos e explícitos, considerando
que esses conhecimentos são originários da relação
sociocultural nas comunidades étnicas, munidos de estruturas
cognitivas e emocionais que inclui valores, crenças e suposições
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
153
vividas e compartilhadas na realidade entre os membros da
organização e a partir desses conhecimentos surgem novas
estruturas e renova-se as já existentes.
A partir do exposto sobre a dinâmica da gestão como um
processo eciente para a organização, seleção, armazenamento
e disponibilização de saberes, da cultura e do conhecimento
em um sistema informacional, consideramos esse processo
indispensável aos povos indígenas brasileiros, devido ao
acumulo diário de informações geradas nas comunidades
etnológicas e em todas as demais esferas da sociedade.
3.3 Identicação da realidade brasileira
No Brasil, existem sistemas informacionais, que
integram o assunto relacionado aos povos indígenas, como
é o caso do Sistema de informações da Saúde Indígena
5
,
responsável por agrupar os dados epidemiológicos dos
distritos sanitários e o Sistema indigenista de Informações
6
,
criado pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e que agrega
conteúdos sobre a localização de aldeias e terras indígenas
e a legislação indigenista. Existem ainda, outros sistemas
importantes como: O Hórus (Sistema Nacional de Gestão da
Assistência Farmacêutica) e o SISABI (Sistema de Informação
de Saneamento em Áreas Indígenas).
5 Disponível em: http://www.ccms.saude.gov.br/saudeindigena/
asesai/sistemasdeinformacao.html. Acesso em: 6 set. 2021.
6 Disponível em: http://sii.funai.gov.br/funai_sii/index.wsp. Acesso
em: 6 set. 2021.
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
154
Figura 1 – Sistema Brasileiro Indigenista de Informações
Fonte: capturada pelas autoras.
A FUNAI, disponibiliza ainda em seu site, a biblioteca
Curt Nimuendajú
7
, com um acervo especializado em temas de
política indigenista e questão ambiental, contando com uma
coleção de cerca de 50 mil registros, entre livros, folhetos,
periódicos, coleção de recortes de jornais, obras de referência,
monogra as, dissertações e teses. Porém, ao entrarmos no site,
veri camos que nem todo este material, está disponibilizado
para a consulta online.
7 Disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/servicos/
biblioteca. Acesso em: 6 set. 2021.
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
155
Figura 2 – Sistema de informações criado pela FUNAI
Fonte: capturada pelas autoras.
Na gura 2, podemos observar, informações referenciadas
às ações que envolvem a FUNAI, como políticas, demarcações
de terras, gestão ambiental, etnodesenvolvimento, serviços,
notas e uma aba especíca, de acesso à informação, que
contém informes sobre: a instituição; ações e programas,
participação social, convênios existentes, licitações e contratos,
auditorias internas e ainda, um espaço reservado para a lei
brasileira de Acesso à Informação. Quanto ao conteúdo
exclusivo, aos estudos e o representativo do conhecimento
indígena, vericamos a Biblioteca Curt Nimuendajú, que é um
serviço ofertado pelo site.
Observamos, portanto, que na vericação de um
levantamento macro, de sistemas de informações indigenistas,
no Brasil, ainda existem limitadas iniciativas e especícas a
algumas áreas, como no caso da saúde, entretanto, entendemos
ser escassas tais disposições, frente a representatividade que
esses povos trazem ao contexto de seu país.
A UNESCO
8
, por meio de seus relatórios, indica temas
que devem ser praticados, para a atuação de informações
indigenistas. O conhecimento local auxilia a tomada de
decisão sobre aspectos fundamentais do cotidiano, portanto é
8 Disponível em: https://en.unesco.org/links. Acesso em: 6 set. 2021.
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
156
importante a referência a habilidades e losoas desenvolvidas
pelas sociedades e o seu entorno natural. Para indígenas, esse
conhecimento é essencial para a devida compreensão de sua
complexidade cultural integralizados em: linguagens, sistemas
de classicação, práticas de uso de recursos, interações sociais,
rituais e espiritualidade. Dentre os temas que poderiam
ser explorados, temos: biodiversidade, ciências políticas,
mudanças ambientais e transmissão de conhecimento.
Assim, atuar com a identicação e transmissão de
conhecimento indígena, é uma importante forma de interpretar
a diversidade cultural mundial e consequentemente,
fornecer uma base para o desenvolvimento sustentável local.
Ações e pesquisas brasileiras, frente ao vasto e importante
cenário das populações indígenas, deveria se beneciar, de
programas como o Link (Sistemas de Conhecimento Local e
Indígena) da UNESCO e promover a pesquisa com questões
contemporâneas de gestão da biodiversidade, fortalecendo
compromissos com cientistas e indivíduos que atuam na linha
de frente das políticas.
4 REGIÕES INTELIGENTES E CONHECIMENTO ETNOLÓGICO:
A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO PARA A CONSOLIDAÇÃO DE
AMBIENTES DESENVOLVIDOS
Regiões inteligentes são locais que se destacam
nos quesitos de inovação e conhecimento, propiciando
o crescimento urbano e desenvolvimento local. Portanto,
ao pensarmos na implementação de centros inteligentes,
de se ter o pensamento voltado para uma mudança de
gestão pública, em prol do oferecimento de melhorias nas
condições de vida dos cidadãos. Porém, não podemos pensar
em termos como crescimento, desenvolvimento e mudanças,
sem entendermos o “como” chegamos até o momento atual
ao qual nos inserimos enquanto sociedade. Assim, existe
a necessidade de um resgate da trajetória sociocultural
vivenciada na localidade que queira implementar mudanças,
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
157
rumo ao desenvolvimento das regiões.
Locais com aplicabilidade de políticas inteligentes
na sua gestão pública, representam ambientes distintos
de capacidade, habilidades e criatividades diferenciadas
constituídas coletivamente e que devem se utilizar de sistemas
de informação que operam nos espaços físicos, institucionais
e digitais das cidades para a promoção de possibilidades
de atuação. Para Komninos (2006), cidades inteligentes
integram atividades e sistemas intensivos em conhecimento;
rotinas incorporadas de cooperação social que possibilitam
o compartilhamento de conhecimento e de inovação;
infraestrutura avançada de comunicação e espaços digitais para
gestão de conhecimento e inovação; e capacidade comprovada
de inovar e resolver problemas. Anal, a capacidade de inovar
e gerenciar a incerteza são fatores críticos na caracterização
da inteligência e sabermos lidar com tais questões, seria o
diferencial da gestão e dos diferentes postos tomados, para o
capital humano e social.
A princípio, entendemos que o acúmulo de conhecimento
de natureza etnológica, de diversos assuntos (agricultura,
artesanatos, tecelagens, pigmentações, toterápicos e outros),
são gerados sistematicamente entre as pessoas da comunidade,
devem ser registrados em algum tipo de suporte para que se
preserve ou seja repassada, avaliada e/ou acrescida de maiores
detalhes por aqueles que a ela se reportar ou necessitar. Os
conhecimentos indígenas, pelo fato de serem do tipo tácito,
não codicado ou sistematicamente registrado se tornam de
difícil transferências ou compartilhamento por aqueles que o
possui, entende e preservam em suas memórias, para outras
pessoas que não seja íntimo do sujeito informado.
Interessante destacar que o conhecimento indígena, é
um valioso capital social etnológico e seu principal ativo é
investir na luta pela sobrevivência para produzir alimentos
e fornecer abrigo ou obter controle de suas terras, de seus
espaços e de suas próprias vidas (OCHOLLA, 2007). Inclusive,
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
158
os processos de documentação (registros) de suas terras
como comprobatório e garantia de posses são exemplos de
informações valiosas que já se encontram preservados, apesar
de estarem em Repositórios Públicos Estatal.
Um dos maiores desaos na atualidade seria a constituição
de Bibliotecas e/ou Repositórios com informações de natureza
etnológica desenvolvidos e gerenciados pelos próprios
indígenas
[...] signicam o fomento de novas práticas
documentárias que se inserem nas dinâmicas
de poder da sociedade hodierna, formações
que permitem novas reexões sobre o papel do
arquivo, do documentar e da informação para
estratos antes excluídos dessas práticas. (MELLO,
2020, p. 120).
Esses desaos seriam, ao que se refere, mais
especicamente, aos processamentos técnicos
biblioteconômicos, arquivísticos e museólogo porque, para
esses processos exigem-se várias fases como seleção do
material, registros, catalogações e sua disponibilização aos
consulentes.
Na contemporaneidade, com as facilidades das
tecnologias da informação e comunicação e das mídias
digitais, os processos documentais devem ser digitalizados
e armazenados em formatos que possam ser acessados
remotamente com auxílio da Internet. Mesmo as comunidades
indígenas rurais, que as vezes necessitam acessar a Internet
no prédio da Escola, não cam totalmente desassistidos de
informações. Assim, é pertinente considerar a gestão de
serviços informacionais no formato digital, eletrônico para
uma ação mediadora eciente e proativa.
Segundo Mello (2020), é possível encontrar na atualidade,
atividades de documentação de natureza etnológica, por
comunidade tradicionais e não mais aquelas mantidas
pelo Estado; isso demonstra ação de empoderamento e
capacidades de sujeitos indígenas em se desenvolverem
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
159
e caminharam por conta própria, representando novas
congurações informacionais que se inserem na dinâmica de
poder da moderna sociedade, construindo a partir desse novo
entendimento outras formas legitimas de saberes, promovendo
práticas nunca antes pensadas devido à imposição colonialista
epistêmico.
O nosso século, exige a premissa da agilidade nas ações
para a tomada de decisões. O saber lidar e obter a informação
se destaca na base de uma gestão profícua e que vence
desaos. Para Abdoullaev (2011), os novos princípios, políticas,
processos e objetivos do desenvolvimento: estratégias,
modelos e soluções do mundo, são eco inteligentes. O mundo
é sinérgico impulsionado pelo capital natural e porque não
dizermos, etnológico na trajetória sociocultural da formação
das comunidades? O capital social, tecnológico e digital, como
a internet/teia de coisas, conhecimento e inteligência social,
para as fontes de energia renovável, emerge como um Mundo
Inteligente, convergindo o Cyber, Social em mundos físicos
possíveis de acontecer.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendemos que os saberes e/ou conhecimentos
indígenas, são bens valiosos, ricos culturalmente e em
experiências históricas, se ajustando facilmente às mudanças
sociais, econômicas, ambientais e políticas. Assim, no
levantamento realizado por este estudo, procuramos
exteriorizar alguns pontos importantes não apenas para
regiões que se prezam por patamares de desenvolvimento,
mas também para aquelas ditas inteligentes.
Ao pensarmos em conceitos estabelecidos em pesquisas
referenciais da área, sobre regiões inteligentes, vericamos que
a inovação, deve ser uma forma presente em centros urbanos
e de elevada implementação da tecnologia nas mais variadas
descobertas de possibilidades. Entretanto, o pensamento do
conceito para os centros urbanos, não pressupõe aniquilar
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
160
outros que existem no bojo da formação das sociedades, como
é o caso da existência de populações que se encontram, em
muitos países, à margem de tais localidades. As comunidades
indígenas, pertencem a uma trajetória complexa cultural,
que muito contribuem para a explicação da existência das
populações e, portanto, é dever do Estado, integrá-las aos
seus espaços.
Identicamos algumas ações de preservação da cultura
indígena, por meio de pesquisas de inovação e implementação
de tecnologias, em países como Canadá, Índia e Austrália. O
Brasil é um dentre esses países multiculturais, principalmente
de etnias indígenas. De acordo como último Censo IBGE, a
diversidade desses povos, era de 256 etnias distintas com
mais de 150 línguas diferentes, contextualizando uma forte
representatividade em questões culturais e diversidades.
Visualizamos algumas perspectivas, frente a esses
conhecimentos, ao acreditarmos na possibilidade dos próprios
indígenas se voltarem para novas práticas da documentação
de saberes e informações etnológicas. São práticas de
gestão dos conhecimentos em benefício próprio, de suas
comunidades, de seus entes étnicos; a gestão de saberes e/ou
conhecimento com o auxílio das ferramentas tecnológicas e
da Internet possibilitará abrir portas para mundos nunca antes
conhecidos, inclusive essas tecnologias possibilitarão trocar e
compartilhar conhecimentos com outras comunidades étnicas,
até mesmo de outros países, pois ela amplia e ultrapassa
fronteiras geográcas.
Regiões inteligentes que possuem comunidades
indígenas, deveriam promover estudos de inovação que
integrem sistemas de educação, saúde, e cultura por meio da
mediação. A representação de sistemas para tais comunidades,
comportaria um ciclo orgânico, de favorecimento pleno para
uma sociedade que reconhece a sua base de sua formação
social. Bibliotecas digitais, por exemplo, são uma realidade de
espaços inteligentes e sustentáveis e garantem a preservação
Maria Aparecida Jacques de Arruda
Rosângela Formentini Caldas
161
dos saberes e/ou conhecimentos, agregam para tanto, outras
formas de resguardo de informações tradicionais, hábitos
culturais e preservação da memória.
Destacamos que as tecnologias digitais proporcionam
novas formas de mediar e compartilhar essas informações e/
ou sabres culturais ao aproximar usuário, mídia e informação,
permite uma relação dialógica e o desenvolvimento de
pensamento crítico, criativo e inteligente. Outra sugestão
de ação para as comunidades indígenas, poderia comportar
Sistemas de mediação cultural ue por meio de dispositivos
tecnológicos, favoreceriam o acesso a várias informações
de diferentes formatos, possibilitando a geração de
conhecimentos e disponibilizando informações de vivências,
para um empoderamento étnico sociocultural.
A ação mediadora cria oportunidade de aliar e permitir
o encontro das ideias, da cultura, do pensamento e do
conhecimento num processo relacional que garante o acesso à
cultura ultrapassando barreiras do tempo e do espaço. Haveria
um reconhecimento das populações e assim poderíamos
entender melhor os problemas e rever políticas públicas
existentes e/ou necessárias para serem criadas.
Reetimos ainda, que temas relacionados à emergência
de ações para populações ricas culturalmente e detidas na
complexidade social de suas introjeções na atual sociedade,
como os indígenas, carregam em seu bojo, o mérito de uma
premente necessidade para a sua permanência e cuidados
de existência. Porém, sistemas inteligentes, destacados para
o desenvolvimento de suas regiões, primam por inovação e
tecnologias de ponta, podendo soar como polêmicos, frente
ao resguardo de tradições, hábitos culturais e manufaturas
dos povos indígenas. Entretanto, não podemos olhar para o
futuro, pensando tão somente em fragmentos populacionais,
mas sim, na constituição das sociedades.
Sistemas de Mediação Cultural para comunidades indígenas:
a eminência de ações socioculturais para as regiões “ditas” inteligentes
162
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25.
PARTE III
Unidades Culturais/
Instituições
Informacionais
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
167
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
1 INTRODUÇÃO
Cidades inteligentes, são localidades destacadas como
referenciais na participação cidadã de suas comunidades,
oferecendo notáveis índices de qualidade de vida para as suas
populações. Nesse cenário, as bibliotecas, enquanto espaços
de acesso à educação e à cultura, podem contribuir por meio
da disseminação e produção de informações estratégicas para
a governança de tais localidades.
A instituição biblioteca, ao fornecer suporte informacional,
estimula as atividades de leitura e aprendizado, instigando o
aspecto de um crescimento sociocultural dos indivíduos, o
que pode expressar a indicação de favorecimentos para outras
esferas da gestão pública, como na ordem da economia e de
políticas públicas ecazes para a melhoria do cotidiano das
comunidades. Desse modo, a biblioteca pode ser considerada
como um espaço de participação cidadã, integralizando nas
cidades, uma cooperação em quesitos de gestão, conhecimento
e inovação.
Por meio da urbanização e, consequentemente, com a
migração da população do campo para os centros urbanos,
as atividades como a de locomoção, comércio e produção
em larga escala da manufatura, passaram a ser estruturadas
dentro das cidades. Assim, tais localidades, foram sendo
reorganizadas em termos populacionais, necessitando
portanto, de investimentos em recursos e infraestrutura, de
modo a fornecerem qualidade de vida aos cidadãos que
CAPÍTULO 5
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
168
abrigam. Pode-se dizer, que foi nesse contexto, que nasceram
as cidades inteligentes pois, ao combinarem tecnologia e
recursos humanos, desenvolveram projetos que até hoje,
auxiliam no crescimento e melhoria dos centros urbanos.
Como destacam Kanter e Litow (2009), uma cidade
inteligente infunde informações em sua infraestrutura
em prol de impactar em fatores urbanos estratégicos,
como conveniência, mobilidade, eciência de processos,
conservação de energia, qualidade do ar e da água, correção
de problemas, recuperação de desastres, tomada de decisões
e implantação de recursos, buscando melhorá-los e torná-los
mais satisfatórios. Isto posto e, destacando que as bibliotecas
são instituições que centralizam suas atividades no manuseio,
tratamento e disseminação da informação, as Tecnologias
de Informação e Comunicação (TIC) se caracterizam por
serem ferramentas estratégicas auxiliares dos processos de
propagação e geração de conhecimento nos variados setores
da sociedade (OLIVEIRA, 2019b), a m de facilitar a adaptação
urbana e a atuação cidadã. Ou seja, em localidades inteligentes,
as bibliotecas são centros informacionais estratégicos.
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
(2001), a palavra biblioteca se origina do grego biblíon (livro)
e teke (caixa, depósito), de modo a representar um local de
depósito/armazenagem de livros. Contudo, historicamente,
não foram livros os suportes informacionais presentes
nessas localidades, sendo esses variados conforme a tecnologia
utilizada na época, como é o caso das tabletas de argila, dos
rolos de papiro e de pergaminho, dos códices, dos periódicos
impressos, até os recursos digitais ou nas nuvens.
Para mais, os serviços e as ações das bibliotecas envolvem
contextos especícos a serem trabalhados, de acordo com as
características das comunidades que objetivam atender. Logo,
a promoção e o acesso à informação nessas organizações
impactam públicos diversicados, que se diferenciam de
acordo com mudanças sociais e regionais de suas localidades.
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
169
Isto posto, procurou-se entender como as bibliotecas
localizadas em cidades inteligentes, podem corroborar com o
desenvolvimento das comunidades em que atuam. Portanto,
o objetivo deste estudo, foi o de levantar, na literatura da área
da Ciência da Informação, as possibilidades de atuação das
bibliotecas em cidades inteligentes tanto no âmbito nacional,
como no internacional, destacando os produtos e os serviços
que estas podem oferecem às suas comunidades.
Tendo em vista que esta temática ainda é pouco
referenciado no âmbito da Ciência da Informação, a abordagem
deste estudo é qualitativa, do tipo exploratória. Como destaca
Gil (1999), a pesquisa exploratória serve a problemas de
pesquisas pouco explorados e com hipóteses não concisas,
com a nalidade de desenvolver e esclarecer conceitos e ideias.
O método utilizado foi a Pesquisa Bibliográca, pois
buscou-se demonstrar a importância das bibliotecas como
instituições desenvolvedoras de projetos de pesquisa e
inovação em cidades inteligentes. A Pesquisa Bibliográca,
segundo Lima e Mioto (2007, p. 44):
[...] é sempre realizada para fundamentar
teoricamente o objeto de estudo, contribuindo
com elementos que subsidiam a análise futura
dos dados obtidos. Portanto, difere da revisão
bibliográca uma vez que vai além da simples
observação de dados contidos nas fontes
pesquisadas, pois imprime sobre eles a teoria,
a compreensão crítica do signicado neles
existente.
Este capítulo visou contribuir para demonstrar a
importância das bibliotecas no contexto das cidades
inteligentes, na medida em que essas alinham o uso, o
tratamento e a disseminação da informação às necessidades
de suas comunidades. Para tanto, realizou-se um levantamento
bibliográco na Base de Dados de Periódicos em Ciência da
Informação (BRAPCI) e na Library and Information Science
Abstracts (LISA), por entender que estas bases abrangem
o contexto nacional e internacional da área da Ciência da
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
170
Informação.
Os descritores utilizados na busca booleana da BRAPCI
foram: “cidades inteligentes” AND “biblioteca” e na LISA: smart
cities/intelligent cities AND librar*”. Não houve delineação
de tempo, mas, delimitou-se a pesquisa a artigos escritos nas
línguas catalão, espanhol, francês, inglês e português, idiomas
em que a autora possui uência.
No âmbito da BRAPCI, o universo de pesquisa se
constituiu dos artigos levantados utilizando-se os descritores
nos campos: Título, palavra-chave e resumo, sem delimitação
de tempo. O universo de pesquisa, na LISA, abrangeu os
artigos recuperados ao se usar o descritor “smart cities”, como
assunto principal, e librar*, no campo “em qualquer lugar”.
A pesquisa, em ambas bases de dados, aconteceu nos
meses julho e agosto de 2020. O levantamento de dados para
a coleta, ocorreu a partir da leitura do título, resumo e palavras-
chave dos artigos em que os descritores se apresentavam de
forma conjunta e, então, da leitura de seus textos completos.
A hipótese girou em torno da ideia de que as bibliotecas
são instituições estratégicas na construção e desenvolvimento
de cidades. Logo, a atuação de bibliotecas em cidades
inteligentes, bem como os serviços e os produtos que elas
oferecem às suas comunidades, permitem que as mesmas
atuem como centros de informação em suas localidades.
2 CIDADES INTELIGENTES
De acordo com Komninos (2002), a conjuntura das
cidades inteligentes expõe a convergência entre tecnologias,
políticas públicas e participação ativa da comunidade em
projetos dessas localidades, de modo a trabalhar com a
informação a serviço do capital humano. Portanto, o signicado
do termo cidades inteligentes perpassa o uso das TIC, essas
ferramentas estratégicas de desenvolvimento (LEMOS, 2013).
Nessa perspectiva, pode-se dizer que o conceito de cidades
inteligentes teve dois momentos: um relacionado ao uso
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
171
das TIC na gestão e compartilhamento de dados em centros
urbanos; e outro envolvendo a comunidade e seus atores
como protagonistas – modelo atual.
A m de atender a esse cenário, é preciso trabalhar com
dados e informações que auxiliem na criação de pesquisas
e projetos de inovação nessas localidades. Com a expansão
tecnológica e inovadora dos territórios, decorrentes do
fenômeno da globalização, os governos passaram a investir
em produtos e serviços para auxiliar na relação com seus
parceiros/opositores (OLIVEIRA, 2019a), e é que surgem as
cidades inteligentes.
Para Fernandes (2007), a globalização, por meio do
uso de tecnologias e pessoas, impactou na inovação e no
incremento da competitividade, acarretando novas estratégias
de desenvolvimento de cidades e regiões, essas baseadas
no capital humano, ou seja, nas habilidades intelectuais
dos indivíduos para gerar novos conhecimentos dentro de
instituições. Nessa prerrogativa, Weiss et al. (2015) destacam
que o discurso da cidade inteligente deve apontar para uma
forma pragmática e factível sobre como o desenvolvimento
sustentável e a democratização do acesso e bom uso da
informação podem ser materializados.
Segundo Ginger et al. (2007), as características das
cidades inteligentes fazem parte de um contexto interligado,
que essas podem ser identicadas através de elementos
congruentes ao desenvolvimento prospectivo em atividades
ligadas à política, negócios e população, isto é, Economia
Inteligente, Governança Inteligente, Mobilidade Inteligente,
Ambiente Inteligente e Vida Inteligente. Dessa maneira, a
inteligência, no contexto das cidades, pode ser observada
na conexão entre pessoas (capital humano e intelectual)
e tecnologias, de modo a otimizar o uso de bens materiais
(infraestruturas de transporte, redes de distribuição de
energia, recursos naturais) e ativos intangíveis (capital humano
e intelectual de empresas, organizações e órgãos públicos)
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
172
(NEIROTTI et al., 2014). Isto posto, um dos maiores desaos do
Estado na administração das cidades é
[...] criar comunidades ricas em informação,
interconectadas e capazes de gerar [...] um
aprendizado contínuo sobre como podem
ampliar as oportunidades aos cidadãos.
(STRAPAZZON, 2009, p. 94).
De acordo com Alawadhi et al. (2012), existem oito
categorias a serem trabalhadas em projetos de cidades
inteligentes. A saber: 1. tecnologia, 2. gestão e organização,
3. contexto político, 4. governo, 5. pessoas e comunidades, 6.
economia, 7. infraestrutura e 8. meio ambiente.
A categoria tecnologia se refere aos sistemas de
gerenciamento de dados governamentais, utilização de mídias
sociais para comunicação entre a sociedade e os organismos
públicos e aplicativos para dispositivos móveis auxiliadores de
serviços públicos. A categoria gestão e organização trabalha
os modelos organizacionais centralizados ou colaborativos e
seus meios de comunicação e interação no compartilhamento
de informações e recursos organizacionais. O contexto político
enfatiza como os acordos departamentais e as posições políticas
denem práticas em projetos de inteligência. a categoria
governo enfoca a governança participativa e a participação
cidadã nas atividades da cidade, bem como o feedback acerca
das atividades desenvolvidas na região das cidades inteligentes.
Para tanto, pessoas e comunidades são importantes, na medida
em que é preciso que a governança conheça as necessidades
dos habitantes das cidades que gerem, utilizando suas ideias e
opiniões em prol de aprimorar os serviços ofertados. Assim, a
categoria economia procura levantar subsídios para melhorar
as condições econômicas e sociais das cidades, fomentando
seu crescimento e aumentando a competividade, por meio
de mão de obra qualicada e inovação. Logo, a infraestrutura
das cidades inteligentes deve permear serviços de informação
e comunicação, a m de manter um governo transparente e
participativo. Por m, a categoria meio ambiente traz a visão
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
173
de cidades ecologicamente sustentável.
Dito isso, as cidades inteligentes visam a propiciar espaços
de inovação urbano-regional, onde a população contribua
para com o progresso dessas localidades. Nesse ponto de
vista, instituições de pesquisa, como bibliotecas, arquivos e
museus se mostram essenciais, uma vez que são espaços que
propiciam novidades tecnológicas, desenvolvendo produtos e
processos de inovação (KOMNINOS, 2002).
No caso especíco das instituições bibliotecas, pode-se
dizer que as bibliotecas de cidades inteligentes são híbridas,
pois, para além da convergência de tecnologias, assim como
nas cidades inteligentes, a biblioteca híbrida deve
[...] ser um espaço cultural, que favoreça a
promoção de diálogos, onde indivíduos e
tecnologias interagem, a m de que a informação
preservada na biblioteca ganhe vida à medida
em que é útil aos usuários e, portanto, usada.
(SILVA; CALDAS, 2017, p. 7).
À vista disso, a próxima seção deste capítulo trabalhará,
especicamente, com os tipos de bibliotecas, seu contexto e
função.
3 O CONTEXTO E A FUNÇÃO DAS BIBLIOTECAS
Ao se pensar no conceito que permeia as bibliotecas,
destaca-se a relação existente entre as coleções públicas ou
privadas de livros e documentos, organizadas para leitura,
estudo e consulta. Cabe ressaltar que conservar foi, durante
séculos, o principal objetivo das bibliotecas, todavia, suas
metas se alteraram quando, com as mudanças advindas
das sociedades, a presença do leitor foi abrindo espaço
para a procura da instituição em atender às necessidades
informacionais de seus usuários.
Nesse sentido, passou-se a trabalhar com as informações
ali armazenadas, conjuntamente com a cultura de seus
usuários. Dito isso, o sentido contemporâneo da palavra faz
menção a todo conjunto de dados registrados em diferentes
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
174
tipos de suportes de informação (BELLEI, 2002).
Desse ponto de vista, o livro eletrônico amplia a ideia
de biblioteca para uma instituição universal (CHARTIER,
1999). Isto posto, a biblioteca pode ser conceituada como ‘a
sala de estar da comunidade’ [e] funciona como motor de
desenvolvimento social e pessoal” (IFLA; UNESCO, 2003, p.
26, grifo do autor), uma vez que contribui para a criação e
a manutenção de uma sociedade informada e democrática,
devendo seus serviços estarem acessíveis a todos.
De acordo com Baganha (2004, p. 93, grifo do autor),
o atual modelo de bibliotecas inspira-se nas bibliotecas dos
países nórdicos e procura
[...] ser aquilo a que se chama um open space,
um local aprazível onde os documentos são
agrupados pelo seu valor, pelo seu conteúdo,
pelo critério da informação e não pelo seu
suporte físico.
Logo, o prossional bibliotecário tem por função
analisar esses documentos, a m de representá-los (em forma
de índices, catálogos e bases de dados) e tornar o acesso à
informação abrangente às diferentes classes sociais.
A biblioteca, portanto, tem a função de promover o acesso
às informações geradas em sociedade, buscando contribuir
para com a criação e o compartilhamento de conhecimento
entre os indivíduos. Nesse sentido, como destacam Moro,
Estabel e Behr (2014), a qualidade dos serviços das bibliotecas
é alcançada quando as mesmas não só conseguem identicar
as necessidades dos seus usuários, como também atingem
as suas expectativas em relação aos serviços prestados pela
instituição.
Ao assumir seu papel perante a comunidade, a biblioteca
reconhece sua função social, adequando seus serviços à
preservação e à difusão de conhecimentos. Desse modo,
o seu corpus institucional passa a englobar desde suportes
documentais diferenciados até o trabalho com a cultura e o
público.
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
175
Para Silva (2017), o contexto das bibliotecas passou por
quatro épocas informacionais: a Época do Papel, a Época do
Sistema de Comunicação de Massa, a Época do Computador
e a Época das Redes, atual estadia dessas instituições. Tais
épocas demonstram que as mudanças ocorridas em sociedade
e, principalmente, os tipos de tecnologias e suportes de
informação existentes, inuenciam nos diferentes modelos de
bibliotecas.
A biblioteca da Época do Papel faz parte dos primórdios
dessas instituições, pois, baseia-se em documentos escritos
e impressos, meios esses designados como analógicos. Essa
instituição se aloca na transição da informação custodiada
por mosteiros, para a metade do século XVIII. Tais localidades
caracterizavam-se por contribuir com o aumento da
alfabetização dos poucos indivíduos que possuíam o acesso à
informação no período – a monarquia e os membros da Igreja
Católica.
Com o aumento do acesso à informação, proporcionado
pela invenção da Prensa de Gutenberg, ainda na Época do
Papel, surgem bibliotecas demarcadas pela visão do indivíduo
enquanto membro de uma sociedade, ou seja, o acesso à
informação analógica não podia ser mais individual, devendo
ampliar-se para os demais cidadãos. Trata-se da Época do
Sistema de Comunicação de Massa, composto, principalmente,
pelo trabalho com a alta burguesia. Esse período coincide
com as abordagens de Taylor e Ford, no século XIX, as quais
reetiam a comunicação da informação no poder da indústria.
A biblioteca da Época do Computador encontra-se
respaldada no nal do século XIX e no início do século XX,
onde a informação, em teoria, deveria estar acessível a todo
e qualquer cidadão, independentemente da sua classe social.
Essa época pareia-se com a geração de novas abordagens
estratégicas de implantação de tecnologias analógicas. São
informações disponibilizadas em suportes informacionais
eletrônicos ou computadorizados, todavia, não digitais.
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
176
Com o advento das tecnologias invisíveis, destacando-se
a Internet, nos anos 1980, as bibliotecas passaram a constituir
a Época das Redes, importante período para o redesenho da
sociedade. São chegadas, para o contexto dessas instituições,
as TIC, que mudaram o status do usuário “de simples receptor
passivo para produtor ativo de conteúdos” (NASSAR, 2008, p.
193). Nesse cenário, trabalha-se com o fornecimento e com a
participação do indivíduo no desenvolvimento da informação
em meio digital. Há, portanto, os aprendizados individual e
coletivo, a m de caracterizar a informação como elemento
central na rede de relações em sociedade.
Cabe destacar que essas épocas, embora demarcadas
por tempos na história do homem, ainda caracterizam os
diferentes tipos de bibliotecas existentes nos dias de hoje, de
modo que o analógico e o digital podem coexistir em uma
mesma instituição. Dessa maneira, o estudo das épocas de Silva
(2017) mostra que a instituição biblioteca sofreu mudanças
signicativas em sua estrutura com o passar dos anos, devido
à losoa que permeia a sua criação, o que traz a presença da
sociedade para a especicação de seus contextos.
Ademais, as tecnologias inuenciam diretamente no
tipo de suporte informacional no qual a informação será
disponibilizada e, posteriormente, acessada. Nessa perspectiva,
a concepção de biblioteca como um depósito de livros
lugar a uma instituição preocupada com a comunidade na qual
está inserida e para a qual destina seus produtos e serviços
(BAGANHA, 2004).
Pode-se dizer, que a biblioteca é um demonstrativo da
sociedade em que está inserida, sendo produto das relações
sociais entre os indivíduos e a instituição. Nesse ponto de
vista, o tipo de biblioteca é determinado pelas funções e
pelos serviços que ela oferece (independentemente de serem
esses em meio analógico ou digital), além da comunidade que
atende e do seu vínculo institucional.
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
177
3.1 Tipos de bibliotecas
Levando-se em consideração que “o tipo de biblioteca
é determinado pelas funções e serviços que oferece, pela
comunidade que atende, e pelo seu vínculo institucional”
(SISTEMA, 2019, n. p.), as bibliotecas podem oferecer seus
produtos e serviços de maneira pública ou particular. Entre tais
classicações, existem aquelas instituições que são mantidas
pelas suas comunidades, e não se caracterizam nem por serem
públicas, nem privadas – bibliotecas comunitárias.
No âmbito público, os produtos e os serviços oferecidos
são, em sua maioria, gratuitos, sendo o trabalho dessas
instituições mantido pelo governo, para desenvolver a
sociedade como um todo. Destaca-se que a política de
empréstimo de recursos informacionais dessas bibliotecas
varia de acordo com o tipo de obra a ser emprestada.
No que concerne ao cenário particular, as bibliotecas
são mantidas por instituições privadas, por organizações de
pesquisa, por fundações, por colecionadores individuais ou
por grupos de colecionadores. O acesso às suas coleções pode
ser aberto ou fechado ao público em geral, dependendo das
prerrogativas da instituição.
Quanto às funções e aos serviços oferecidos pelas
bibliotecas, para a American Library Association and Institutions
(ALA), órgão que promove, internacionalmente, as bibliotecas
e a educação literária, os tipos básicos de bibliotecas são
quatro: biblioteca universitária, biblioteca pública, biblioteca
escolar e biblioteca especializada (ALA, 2019).
De maneira geral, as bibliotecas universitárias objetivam
apoiar as atividades de ensino, pesquisa e extensão das
universidades em que estão localizadas, atendendo,
prioritariamente, alunos, pesquisadores, professores e a
comunidade acadêmica em geral. Essas instituições se vinculam
a uma unidade de ensino superior pública ou privada.
A biblioteca pública objetiva atingir os diversos interesses
informacionais da comunidade à qual está localizada,
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
178
ampliando, de maneira gratuita, o acesso à informação. Criada
e mantida pelo Estado, atende desde bebês até a terceira
idade, incluindo pessoas com diferentes tipos de deciência.
A biblioteca escolar trata dos interesses informacionais
dos alunos, professores e funcionários das escolas em que se
situam, em consonância com os seus projetos pedagógicos.
Localizam-se dentro de unidades de ensino pré-escolar,
fundamental e/ou médio, sendo que seu atendimento pode ser
ampliado para os familiares dos alunos e para a comunidade
do seu entorno.
A biblioteca especializada volta-se para um campo
especíco do conhecimento e seu acervo contempla usuários
interessados em uma ou mais de suas áreas. Alia-se a uma
instituição pública ou privada, podendo, quando alojada em
uma unidade de ensino superior, se caracterizar como uma
biblioteca universitária.
Na mesma linha de pensamento, para o Sistema
Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), órgão progenitor no
favorecimento da formação do hábito de leitura na sociedade
brasileira e no estímulo às comunidades de bibliotecas no
acompanhamento do desenvolvimento sócio-cultural do
país, atualmente, existem nove tipos de bibliotecas. A saber:
biblioteca universitária, biblioteca pública, biblioteca pública
temática / biblioteca especial, biblioteca nacional, biblioteca
escolar, biblioteca especializada, biblioteca/centro de
referência/documentação, além da biblioteca comunitária e
dos seus pontos de leitura (SNBP, 2019). Porém, neste estudo,
as bibliotecas comunitárias são tratadas em conjunto com os
pontos de leitura, uma vez que se entende que os segundos
são uma concretização governamental das primeiras.
A biblioteca pública temática, ou biblioteca especial,
possui acervos e serviços especializados para um determinado
público, podendo ser denominada de Biblioteca Pública
Especial. “A diferença entre a biblioteca especializada e a
especial é que esta não se distingue pelo assunto, ou pelo tipo
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
179
de acervo, mas pelo seu público” (ARRUDA; CHAGAS, 2002, p.
41).
Logo, as bibliotecas públicas temáticas, ou especiais,
tratam de públicos em situações pessoais menos favorecidas,
como pessoas internadas em hospitais, estrangeiros, indivíduos
com algum tipo de deciência, moradores de rua, prisioneiros,
dentre outros. Seu ambiente se congura para representar a
temática a qual trabalha, bem como as coleções que compõe
o acervo, os serviços oferecidos e a programação cultural.
A biblioteca nacional tem por função reunir e preservar
toda a bibliograa de um país. Logo, em cada país existe
uma biblioteca nacional, onde toda produção bibliográca
produzida no local deve, em tese, ser enviada para a instituição.
As bibliotecas/centros de referência/documentação
são bibliotecas especializadas que atuam com foco no
acesso, disseminação, produção e utilização da informação a
públicos que desejam a referenciação de documentos sobre
determinado assunto (resumos e resenhas). Muitas delas não
possuem acervo próprio.
As bibliotecas comunitárias são espaços de incentivo e
acesso ao livro, mantidas pelos indivíduos que fazem parte das
comunidades às quais estão inseridas. Portanto, não possuem
vínculo direto com o Estado. Sua materialização ocorre por
meio dos pontos de leitura, isto é, de espaços de leitura criados
em instituições dos mais diversos tipos, de modo a promover
o acesso à leitura. Possuem apoio de programas do governo,
como um estímulo à criação de bibliotecas comunitárias.
Desse modo, pode-se compreender que os tipos básicos
de bibliotecas, advindos da Antiguidade, percorridos pela
Idade Média, modicados no Renascimento e visualizado no
século XXI, são os indicados pela ALA. Esses tipos, embora
com objetivos diferenciados, possuem suas especialidades,
como é o caso da biblioteca pública, que pode ter como
subespecialidades a biblioteca pública temática e a biblioteca
nacional. A biblioteca comunitária é ocializada por meio
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
180
de pontos de leitura. as bibliotecas/centro de referência/
documentação se encaixam como subespecialidades das
bibliotecas especializadas.
Ainda, abarcando os tipos de bibliotecas mencionados,
encontram-se as bibliotecas híbridas, instituições que buscam
a convergência não apenas de tecnologias, mas, de serviços,
em prol de oferecerem maior acesso à informação, juntamente
com desenvolvimento social das comunidades em que atuam
(BIBLIOTECAS DO BRASIL, 2019). Dito isso, a biblioteca híbrida
é uma tipologia de biblioteca que pode ser tanto pública,
universitária, escolar, comunitária, quanto especializada, na
medida em que o que está em jogo é a sua função, e não
seu vínculo institucional. Tais bibliotecas, por serem o objetivo
de estudo desta pesquisa, serão tratadas a fundo a partir do
próximo capítulo desta tese.
É o mesmo caso, por exemplo, das bibliotecas vivas,
que possuem o intuito de promover serviços e produtos
dinâmicos e de grande atração para indivíduos de todas as
classes socais (SP LEITURAS, 2013). Essa tipologia, embora
comumente empregada em bibliotecas públicas, é passível de
ser trabalhada em todos os outros tipos de bibliotecas.
3.2 Bibliotecas Híbridas
De acordo com Orera Orera e Pacheco (2017), as
bibliotecas híbridas se caracterizam por serem novos modelos
de bibliotecas, surgidas na chamada Sociedade da Informação
e do Conhecimento, e representam o predomínio das novas
tecnologias, a globalização e o volume cada vez maior de
informação em formato eletrônico. Em tais bibliotecas existe
o trabalho dos, como Baker (2004) denomina, conservadores
híbridos, ou bibliotecários híbridos, prossionais que antecipam
a produção e a organização de suas diversas coleções, de
acordo com as necessidades informacionais dos usuários e
das políticas institucionais da organização, convergindo, em
um mesmo acervo, diferentes temáticas, tipos de suportes e
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
181
recursos informacionais.
Segundo Garcez e Rados (2002, p. 45), “o nome biblioteca
híbrida deve reetir o estado transacional da biblioteca, que hoje
não pode ser completamente impressa nem completamente
digital”. Dessa maneira, os produtos e serviços oferecidos
aos usuários necessitam ser de qualidade, agregando valor à
comunidade quando adaptados à diversidade de indivíduos,
independentemente de suas localidades. Portanto, o papel
das bibliotecas híbridas é
[...] identicar pequenos grupos de usuários
e oferecer serviços mais especializados de
valor agregado, com grande exibilidade e
criatividade em sua realização e forma, por
meio do diagnóstico do que o usuário deseja,
realizado de uma forma continuada. (GARCEZ;
RADOS, 2002, p. 46).
Nessa perspectiva, entende-se que as bibliotecas híbridas
agregam diferentes tecnologias e fontes de informação,
convergindo produtos e serviços que se utilizam de tecnologias
como ferramentas estratégicas para unir a melhor parte do
cenário dos recursos impressos, bem como do meio digital.
Logo, infere-se que a
[...] diversidade informacional que contém a
biblioteca híbrida se traduz na criação de uma
interface capaz de fazer a integração entre os
diferentes formatos de que dispõe a biblioteca
tradicional acrescentado dos novos formatos
digitais. (MONTEIRO et al., 2006, p. 6).
Zafalon (2008) considera as bibliotecas híbridas como
aquelas que não só possuem acervo constituído em formatos
analógico e digital, sob uma diversidade de mídias, mas, que
permitem o acesso físico e em tempo real a acervos que,
muitas das vezes, são automatizados. Portanto, Santa Anna
(2014) destaca que as bibliotecas híbridas são anteriores às
digitais, designando-se como mediadoras entre as bibliotecas
analógicas e as digitais, o que favorece a diversidade de
serviços, oferecidos tanto em ambiente físico (atuação
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
182
presencial) como em ambiente digital (atuação remota). “Esse
novo conceito de biblioteca se estende às unidades tradicionais
que se encontram a caminho da automação e informatização
de seus produtos e serviços” (SANTA ANNA, 2014, p. 9-10).
Para Santa Anna (2015), as bibliotecas híbridas seriam
caracterizadas por possuírem diferentes recursos para viabilizar
o armazenamento, o processamento e a disseminação dos
documentos gerenciados pela instituição. Nesse cenário,
o autor destaca que a terminologia biblioteca híbrida está
relacionada ao surgimento das bibliotecas digitais.
Miranda, Leite e Suaiden (2008) descrevem que, no
contexto das bibliotecas híbridas, as bibliotecas físicas
continuarão existindo, embora hasteadas nas mais
avançadas tecnologias, dando suporte aos novos serviços
em rede e disseminando conteúdos por via da acessibilidade
documentária. Dessa maneira, a estrutura da biblioteca híbrida
[...] entrelaça todos os conceitos em um
único pensamento, e cria uma nova versão
de biblioteca, que se utiliza das tecnologias
e usufrui de um acervo digital, mas também
mantém o formato tradicional ao disponibilizar
um acervo físico. (CAVALCANTE; BRITO; VLAXIO,
2016, p. 48).
De acordo com Silva et al. (2018), além da combinação
de recursos, as bibliotecas híbridas exigem uma cultura
de acolhimento, inovação em softwares e treinamento de
usuários. Assim, a ideia de bibliotecas híbridas “[...] parte de
uma visão extensionista do conceito de bibliotecas, nas quais,
por meio do conhecimento construído, exige-se o exercício
da cidadania” (SILVA et al., 2018, p. 406). Nessa perspectiva, ao
passo que esses ambientes requerem um ceticismo quando
entendendo que nem tudo o que está em um meio tradicional é
necessariamente antiquado, e que nem tudo que está em meio
digital é necessário, induzem a uma visão subjetiva quando em
tratando dos sujeitos que interagem com a instituição, a m
de entender suas motivações e necessidades informacionais.
Ainda, segundo Silva et al. (2018), ao se trabalhar com as
Rafaela Carolina da Silva
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183
bibliotecas híbridas é preciso levar em conta sua arquitetura,
serviços e produtos oferecidos, relações sociais, design da
informação, convergência de linguagens, aprender a aprender
ao longo da vida, melhoria futura, funcionários, usuários,
coleção, design interno, design externo, gerenciamento local
da informação e gerenciamento externo da informação.
Para Silva, Jorente e Caldas (2017, p. 278), nas bibliotecas
híbridas existe “[...] uma maior dialogicidade dos produtos
e serviços, uma vez que uma convergência de mídias
tecnológicas e de linguagens”. Nesse contexto, os processos
tradicionais desempenhados pela biblioteca passam a contar
com diversos tipos e formatos de tecnologias informacionais,
sendo esses uma complementação das mídias digitais às mídias
tradicionais. Marcas et al. (2000) arma que a biblioteca híbrida
é uma mistura entre a biblioteca tradicional e a digital, levando
em consideração as coleções tradicionais das bibliotecas, assim
como as disponíveis em diferentes mídias eletrônicas. Logo,
os elementos da biblioteca digital serviram para aumentar, em
vez de substituir, as bibliotecas convencionais, trazendo, nos
ambientes híbridos, fontes eletrônicas e baseadas em papel,
usadas lado a lado.
A terminologia biblioteca híbrida se refere a um estágio
de provisão da informação, ou seja, “[...] ao conceito de uma
entidade mais ampla de compartilhamento de recursos,
geogracamente dispersa” (OPPENHEIM; SMITHSON, 1999, p.
100, tradução nossa), além de uma entidade particular, no caso,
o prédio da biblioteca. Para tanto, nessas localidades, há uma
convergência na ação dos prossionais da informação, assim
como das formas de comunicação institucional, para que a
informação chegue até o usuário. Para Oppenheim e Smithson
(1999), os projetos de bibliotecas híbridas devem concentrar-
se na necessidade de integrar o que foi recentemente
disponibilizado, promovendo, aos seus usuários, o acesso a
esses conteúdos. Na biblioteca híbrida
[...] a apresentação de recursos eletrônicos aos
usuários e os desenvolvimentos devem caber
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
184
dentro da infraestrutura física existente da
biblioteca. A biblioteca híbrida simplesmente
apresentará uma interface diferente para o
usuário. (OPPENHEIM; SMITHSON, 1999, p. 237,
tradução nossa).
Na biblioteca híbrida, há “[...] uma ampla gama de novos
e interessantes trabalhos para o pessoal, independentemente
de sua formação educacional” (FIND, 1999, p. 3?, tradução
nossa), que as informações em papel são trabalhadas em
paralelo à informação eletrônica, necessitando o bibliotecário
híbrido saber como trabalhar com a informação registrada
em diferentes mídias. Dessa maneira, Villa Barajas e Alfonso
Sánchez (2005, p. 12, tradução nossa) destacam que
[...] a motivação que existe por detrás do
conceito de biblioteca híbrida é a necessidade e
lidar com a diversidade, sendo ela um problema
importante quando as bibliotecas lutam por um
mundo onde a informação seja globalizada.
Portanto, o que se está em jogo é o acesso à informação
em grande escala.
Para López Jiménez e Alfonso Sánchez (2005), as
bibliotecas híbridas são modelos de bibliotecas em que
o usuário, por meio de uma interface Web, páginas ou
telas de computador, podem acessar os recursos digitais.
Tal acesso ocorre através de pesquisas na internet, fontes
primárias (revistas eletrônicas, materiais digitalizados), fontes
secundárias (bancos de dados, CD-ROM), catálogos (Online
Public Access Catalog (OPAC) locais, catálogos de consórcio),
acesso a editoras e livrarias, intermediários comerciais e
serviços de informação em tempo real. Assim, os autores
consideram que “a denominação biblioteca híbrida é a mais
adequada na transição do tradicional para o virtual, porque,
sem renunciar aos documentos impressos, transita do digital
ao virtual” (LÓPEZ JIMÉNEZ; ALFONSO SÁNCHEZ, 2005, p. 11),
mantendo assim, espaços físicos e virtuais em sua estrutura.
A ideia por trás do rótulo de biblioteca híbrida
não é nova e foi expressa por pesquisadores que
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
185
reconheceram a necessidade de juntar todos os
tipos disponíveis de recursos de informação, a
m de chegar a um ambiente de informação
totalmente interligado. (BREAKS, 2002, p. 100,
tradução nossa).
Dessa maneira, a biblioteca híbrida mantém seus acervos
tradicional e digital, utilizando a Web como um mecanismo
a mais de entrega, onde os usuários podem ter acesso às
informações eletrônicas, localizando também recursos físicos
relevantes. Para tanto, os modelos de trabalho da biblioteca
híbrida visam integrar uma ampla variedade de recursos de
biblioteca tradicionais e novos da maneira mais uniforme
possível, por meio de meta-informações impressas e digitais.
Nessa perspectiva, “o termo biblioteca híbrida é um rótulo
para ajudar a construir o pensamento sobre como as bibliotecas
estão se desenvolvendo” (BREAKS, 2002, p. 107, grifo do autor,
tradução nossa).
De acordo com Orera-Orera (2007, p. 330, tradução
nossa), a biblioteca híbrida é
[...] uma entidade mista, onde convivem
documentos tradicionais com informação digital
e serviços que ocorrem nas dependências físicas
da biblioteca, juntamente com outros, oferecidos
via Internet.
Portanto, essas bibliotecas atendem usuários presenciais
e remotos, sendo uma soma do real e do virtual. Para Orera-
Orera (2007), alguns aspectos relevantes dessas bibliotecas
são o 1) o novo papel do bibliotecário, cuja importância é
cada vez maior, devido à grande quantidade de informação
existente e à necessidade de tratá-la com critérios de qualidade
denidos; e 2) a gestão da informação, que passa a exigir o
oferecimento de treinamentos diversicados, para abranger a
diversidade de prossionais requeridos nos diferentes papeis
desempenhados pelas bibliotecas.
Segundo Vuren e Latsky (2009), é nas bibliotecas
híbridas que os prossionais da informação desenvolvem
seu verdadeiro papel, uma vez que necessitam tornar o
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
186
conteúdo do passado disponível e acessível a todos. Sendo
assim, as bibliotecas híbridas precisam “[...] considerar, cada
vez mais, as possibilidades e oportunidades de contribuição
para o conteúdo através da criação e gestão de repositórios
institucionais” (VUREN; LATSKY, 2009, p. 5, tradução nossa).
Por esse motivo, Koltay (2008) considera que as bibliotecas
híbridas são frequentemente identicadas como bibliotecas
digitais. No entanto, como destaca Ramírez Céspedes (2006,
p. 3, tradução nossa), falar em biblioteca híbrida é
[...] dizer de um ambiente intermediário entre a
biblioteca tradicional e a biblioteca virtual, onde
coexistem ambos formatos, podendo existir
serviços tradicionais, assim como em ambiente
digital.
Logo, o ambiente dessas bibliotecas é interativo
e estimulante, passível de construir uma relação de
multiculturalismo de dados, informação e conhecimento,
estando o conceito de hibridez presente na promoção da
informação. Nesse contexto, assim como Vuren e Lasky (2009),
Silva e Caldas (2017) armam que as bibliotecas híbridas
são possíveis quando se trabalha a estrutura institucional
em conjunto com os prossionais atuantes na instituição, de
modo a construir o acesso e o uso inteligente da informação.
Corrall (2010), Arora (2008), Weber (2004) e Hampson
(1998) destacam, mais uma vez, que as bibliotecas híbridas
promovem o acesso à informação tradicional, baseada em
papel, bem como a recursos mediados eletronicamente. Dessa
maneira,
[...] a biblioteca híbrida e a informação prossional
híbrida podem ser interpretadas como uma
estratégia de sobrevivência em resposta a um
ambiente em mudança. (GARROD, 1999, p. 187,
tradução nossa).
Esse requisito está de acordo com uma parte da denição
da biblioteca híbrida, que é um serviço que oferece serviços
impressos e eletrônicos. Em vista disso, a biblioteca híbrida é
mais do que uma entidade física real, ou seja, é “[...] uma raça
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
187
cruzada que visa atender às necessidades do novo ambiente
de aprendizagem” (GARROD, 1999, p. 191, tradução nossa),
tendo um olho xo no futuro e se xando na prática atual.
Pineld (1998) conclui que o objetivo da biblioteca híbrida
deve ser criar uma biblioteca integrada para permitir que os
usuários se movam facilmente entre recursos de informação
impressos e eletrônicos, tanto locais quanto remotos. Portanto,
[...] o desao associado ao gerenciamento da
biblioteca híbrida é encorajar a descoberta de
recursos e o uso de informações do usuário nal,
em uma variedade de formatos e a partir de
várias fontes locais e remotas, de uma maneira
perfeitamente integrada. (PINFIELD et al., 1998,
p. 1, tradução nossa).
Desse modo, a biblioteca híbrida não deve ser vista como
uma fase transitória entre a biblioteca convencional e a digital,
mas, como um modelo de melhoria a longo tempo, com foco
nos interesses dos usuários.
Making e Craven (1999) ressaltam a formação de redes
de computadores e internet, assim como de pessoas em
ambiente físico, a m de proporcionar o compartilhamento
de informações em longa escala nas bibliotecas híbridas. O
desao básico das bibliotecas híbridas seria, então, adquirir
um entendimento comum de suas denições, objetivos
e missões (AFZALI, 2008). Nessa perspectiva, a ideia de
bibliotecas híbridas inclui a necessidade de entender melhor
as necessidades e o comportamento dos usuários e, para
tanto, a competência em informação, que deve fazer parte
do trabalho dos diferentes departamentos da biblioteca, para
que os prossionais possam atuar de modo a reconhecerem
o potencial da biblioteca híbrida (EDWARDS; WYNNE, 1999).
Assim, para que o ambiente da biblioteca híbrida possa atender
a todos os usuários da instituição, as diferenças culturais
precisam ser reconhecidas pela gestão dessas bibliotecas,
necessitando que tais localidades ofereçam uma diversa gama
de fontes de informação, criando novas formas de comunicar
e de disseminar descobertas, para facilitar, entre usuários, a
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
188
discussão sobre a informação recebida (HAMPSON, 1999).
Trata-se, portanto, de um espaço de aprendizagem contínua,
onde funcionários e usuários precisam adquirir uma variedade
de habilidades para lidar com as informações apurada.
4 ATUAÇÃO HÍBRIDA DAS BIBLIOTECAS EM CIDADES
INTELIGENTES: UMA VISÃO PANORÂMICA DO
LEVANTAMENTO DE DADOS
O levantamento de dados demonstrou que na BRAPCI
não foram encontrados artigos relacionados à temática das
bibliotecas em cidades inteligentes, o que vai ao encontro da
discussão, trazida anteriormente neste capítulo, de que o
tema desta pesquisa ainda é pouco explorado no campo da
Ciência da Informação. Esse resultado também denota que,
em especíco no caso do Brasil, ainda não existem pesquisas
publicadas sobre o assunto em periódicos cientícos da área
da Ciência da Informação.
A busca na LISA retornou 15 artigos, no entanto, apenas
quatro trabalhavam os descritores smart citiese library de
forma conjunta (TRIPATHI; SINGH, TRIPATHI, 2016; KULKARNI,
DHANAMJAYA, 2017; PICHMAN, 2019; SIMEONE, 2020).
Percebe-se que a maior parte desses estudos estão sendo
desenvolvidos na Índia (duas pesquisas: Tripathi, Singh e
Tripathi (2016) e Kulkarni e Dhanamjaya (2017), ambos sobre
bibliotecas públicas. Isso se deve ao fato de a Índia ser um país
em desenvolvimento, que está buscando melhores condições
de vida à sua população e, para tanto, o tipo de biblioteca
escolhido.
Quadro 1 – Artigos analisados
Título: Smart library for smart cities
Ano Autores País
Tipo de
Biblioteca
2016
Sneha Tripathi; Manendra Kumar
Singh; Aditya Tripathi
Índia Pública
(continua)
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
189
Atuação das bibliotecas em cidades inteligentes
- Promoção do desenvolvimento sustentável, em busca de uma sociedade
democrática.
- As bibliotecas são centros de convergência de conhecimento.
- Os serviços e o alcance das atividades das bibliotecas são aprimorados
com o acesso dessas unidades às TIC.
- Bibliotecas se baseiam em uma arquitetura de compartilhamento de
informações.
Título: Smart libraries for smart cities: a historic opportunity for
quality public libraries in India
Ano Autores País
Tipo de
Biblioteca
2017
Sheshagiri Kulkarni; M. Dhanam-
jaya
Índia Pública
Atuação das bibliotecas em cidades inteligentes
- Bibliotecas em consonância com os objetivos da Agenda 2030.
- Facilitam a inclusão social e o desenvolvimento sustentável.
- Rede de bibliotecas.
Título: Beyond makerspaces: how to create a solverspace
Ano Autores País
Tipo de
Biblioteca
2019 Brian Pichman
Estados
Unidos
Acadêmica
Atuação das bibliotecas em cidades inteligentes
- Promovem o exercício físico, boa alimentação e estilos de vida saudáveis.
- São pontos de acesso para a alfabetização.
- Promovem a igualdade de gênero e o empoderamento feminino.
- Trabalham com atividades de conscientização no uso da água.
- Propiciam discussões acerca da conservação da eletricidade e uso da
luz solar.
- Apoiam usuários e empresas.
- Permitem o acesso dos usuários à Internet.
- Constroem lixeiras e as colocam em suas comunidades.
- Discutem alterações climáticas, conscientizando a população.
- Promovem a paz e a justiça.
- Bibliotecas como centros de segurança e de informação em suas
comunidades.
(continuação)
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
190
Título: The smart city as a library
Ano Autores País
Tipo de
Biblioteca
2020 Michael Simeone Canadá Não especica
Atuação das bibliotecas em cidades inteligentes
- Bibliotecas como infraestruturas sociais.
- Preservam e promovem acesso dos cidadãos aos registros das organi-
zações.
- Adequam suas atividades à população para a qual a cidade inteligente
foi construída.
Fonte: elaborado pelas autoras.
As demais pesquisas ocorreram no contexto dos Estados
Unidos (PICHMAN, 2019) e do Canadá (SIMEONE, 2020), países
desenvolvidos economicamente e próximos geogracamente,
mas, com a diferença de que os Estados Unidos possuem
cidades inteligentes consolidadas, por investir nelas e em
bibliotecas, e o Canadá ser um país relativamente novo, em
busca do desenvolvimento de seu território. O Quadro 1 é uma
sinopse dos artigos analisados (citados na seção Referências).
A Figura 1 destaca a atuação híbrida das bibliotecas em
cidades inteligentes, de acordo com a literatura analisada.
Pode-se observar, que tais instituições são tidas como centros
procurados para o uso informacional.
Figura 1 – Principais formas de atuação das bibliotecas em
cidades inteligentes
Fonte: elaborada pelas autoras.
Nota: Recurso do Software Voyant.
(conclusão)
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
191
Tripathi, Singh e Tripathi (2016) trabalharam as bibliotecas
públicas em cidades inteligentes na Índia. Os autores
destacaram o papel dessas bibliotecas, que vai ao encontro
do desenvolvimento sustentável e da transformação da
sociedade em uma coletividade democrática. Nesse sentido,
as bibliotecas públicas em cidades inteligentes devem ser
centros de convergência de conhecimento, isto é, atender a
todas as necessidades informacionais de sua comunidade,
moldando seus produtos e serviços a ela, o que é aprimorado
com o uso das TIC. Logo, tais bibliotecas devem se basear
em uma arquitetura organizacional de compartilhamento
de informações, a m de permitir o acesso a uma grande
variedade de informação, suporte e usuários.
Tal perspectiva vai ao encontro do ideal de biblioteca
híbrida, uma vez que essa deve fornecer serviços consistentes
para recursos locais ou remotos, independentemente do
tipo de seu suporte (RUSSELL; GARDNER; MILLER, 1999). No
mesmo ponto de vista, assim como Lemos (2013), Tripathi,
Singh e Tripathi (2016) dissertam que as cidades inteligentes
têm como base as TIC, mas, perpassam seu uso, na medida
em que essas são apenas ferramentas estratégicas a serviço
do desenvolvimento de atividades que visem a participação
cidadã.
Kulkarni e Dhanamjaya (2017) também estudaram as
bibliotecas públicas de cidades inteligentes da Índia, destacando
essas instituições como oportunidades de desenvolvimento
na região. Para os autores, tais bibliotecas devem trabalhar
em consonância com os objetivos da Agenda 2030, da
Organização das Nações Unidas (ONU), isto é, auxiliarem na
erradicação da pobreza e da fome, contribuírem para a saúde
e bem estar da população, para uma educação de qualidade,
para a igualdade de gênero, para o acesso da população à
água limpa e saneamento, à energia acessível e despoluída,
a um emprego digno e, dessa forma, contribuírem para o
crescimento econômico. Sobretudo, tais bibliotecas atuam na
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
192
indústria, inovação e arquitetura, reduzindo as desigualdades ao
fornecerem acesso à informação de qualidade, conscientizando
o desenvolvimento de comunidades sustentáveis, o consumo
e a produção responsáveis, o combate às alterações climáticas
e a proteção da vida, debaixo da água e sobre a Terra, em prol
da justiça na sociedade. Dito isso, estabelecem parcerias entre
instituições, a m de alcançarem tais metas (NAÇÕES UNIDAS
BRASIL, 2015).
Para Kulkarni e Dhanamjaya (2017), as bibliotecas
públicas, em cidades inteligentes, facilitam a inclusão social
e o desenvolvimento sustentável, trabalhando em redes de
bibliotecas (uma central e liais na mesma cidade), de modo
a distribuir as suas coleções de acordo com as necessidades
informacionais de comunidades especícas. Essa visão vai de
encontro com o objetivo das bibliotecas híbridas, pois, como
arma Pineld (1998), esse tipo de biblioteca deve permitir
que os usuários tenham acesso a recursos de informação
impressos e eletrônicos, tanto locais quanto remotos,
havendo a instituição que se adaptar aos seus usuários. Ao
mesmo tempo, arma o que Ginger et al. (2007) enfatizaram
sobre as características das cidades inteligentes, ou seja, que
essas fazem parte de um contexto interligado, desenvolvendo
atividades ligadas à política, negócios e população.
Pichman (2019) estudou as bibliotecas acadêmicas de
cidades inteligente dos Estados Unidos, essas vistas como
centros de segurança e de informação em suas comunidades.
Foi observado que tais localidades trabalham com programas
que, para além do auxílio à alfabetização (como atividades
de contação de histórias, para crianças, e clube da leitura,
para adultos), atuam na conscientização de discentes sobre
a importância de se fazer exercícios físicos, ter uma boa
alimentação e manter um estilo de vida saudável. Ademais,
tais instituições promovem campanhas sobre a igualdade de
gênero, o empoderamento feminino, os malefícios do bullying
e conscientização do uso da água, propiciando discussões
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
193
acerca da eletricidade e uso da luz solar, em direção aos
objetivos da Agenda 2030. Ainda, buscando atingir os
objetivos da Agenda 2030, tais bibliotecas, por meio do
auxílio ao desenvolvimento de currículos, apoiam os usuários
que desejam se candidatar a um novo emprego. Além disso,
buscam a sustentabilidade ao construírem, juntamente com
os usuários, lixeiras e as colocarem em suas comunidades,
fomentando, assim, o consumo e a produção responsáveis.
Nessa perspectiva, discutem alterações climáticas, bem como
promovem a paz e a justiça ao compartilharem informações
públicas e permitirem que a população tenha contato com
líderes locais.
Trata-se, então, de atuar em uma cultura de acolhimento,
onde o conhecimento é construído a partir do exercício da
cidadania (SILVA et al., 2018). O conceito de Silva et al. (2018)
está relacionado às bibliotecas híbridas, e muito se encaixa
ao trabalho de Pichman (2019). O estudo de Pichman (2019)
infere, sobretudo, as categorias a serem trabalhadas em
cidades inteligentes propostas por Alawadhi et al. (2012).
A saber: 1. tecnologia, 2. gestão e organização, 3. contexto
político, 4. governo, 5. pessoas e comunidades, 6. economia,
7. infraestrutura e 8. meio ambiente.
Por m, a pesquisa Simeone (2020) relata um estudo
desenvolvido no contexto das bibliotecas (não foca em um
tipo especíco) de cidades inteligentes do Canadá. O autor
entende tais instituições como infraestruturas sociais, isto é,
como ambientes que, para além de promoverem a interação
entre a comunidade de usuários, permitem uma interação mais
próxima desses com os bibliotecários, em prol de facilitarem
a compreensão do sistema organizacional da biblioteca, bem
como o uso da informação. Isto posto, as bibliotecas de cidades
inteligentes têm o papel de preservar e promover o acesso
dos cidadãos aos registros de outras instituições da região,
de modo a torná-los úteis às necessidades informacionais
de seus usuários, e não apenas acessíveis. Portanto, essas
Bibliotecas no contexto das Cidades Inteligentes:
perspectiva de atuação híbrida
194
localidades devem adequar suas atividades à população para
a qual a cidade inteligente foi construída, em prol de tornar
seus usuários participativos em sociedade.
O pensamento de Simeone (2020) relaciona-se com o
ideal de Pichman (2019) (talvez por ambos autores habitarem
países com perspectivas de atuação parecidas). Destaca-
se a importância de as bibliotecas de regiões inteligentes
entenderem as necessidades e o comportamento dos usuários,
para que os prossionais da informação possam atuar de
modo a reconhecerem suas necessidades informacionais. Esse
ponto de vista vai na direção do conceito de biblioteca híbrida
proposto por Edwards e Wynne (1999), onde a competência
em informação se mostra um fenômeno a ser trabalhado em
bibliotecas. Além do mais, a ideia de Simeone (2020) expõe
a proposta de Komninos (2002), em que a conjuntura das
cidades inteligentes deve se basear na participação ativa da
comunidade em seus projetos, a m de considerar a informação
a serviço do capital humano.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste capítulo foi alcançado, uma vez que foi
possível compreender os modos de atuação das bibliotecas
em cidades inteligentes, entendendo que essas desenvolvem
produtos e serviços híbridos às suas comunidades, em prol
de constituírem um ideal de inovação e pesquisa. Tenciona-
se que essas bibliotecas devem funcionar como espaços de
participação cidadã, em que sujeitos e sentidos possam se
constituir e se (trans)formar, por meio do acesso à informação
de qualidade e relativas às necessidades informacionais das
comunidades às quais essas instituições estão inseridas.
Tendo em vista esse cenário e com base na coleta de
dados, pode-se dizer que as bibliotecas de regiões inteligentes,
são centros de uso da informação. O seu adequado uso,
inuencia na estratégia e segurança de suas localidades e
capacitam ainda a atuação em modos e formas híbridas, isto
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
195
é, a biblioteca converge tecnologias e torna o acesso aos seus
produtos e serviços mais democrático. Para tanto, embasam
a sua estrutura organizacional a ponto de inclusive, expandir
as suas funções, mirando para objetivos de repercussão de
mudanças da sociedade, como no caso da Agenda 2030.
Atuariam, dessa forma, como centros sustentáveis, em uma
rede institucional que engloba infraestruturas sociais e que, ao
mesmo tempo, permite a participação da comunidade no dia
a dia da esfera pública.
Assim, ao se congurarem como equipamentos culturais
híbridos, as bibliotecas de cidades inteligentes movimentam
os seus esforços para o desenvolvimento de uma gestão da
informação partícipe às suas comunidades e à esfera pública,
pautada pela inovação. Portanto, mais do que um processo
com etapas de uxo informacional como: Identicar as
necessidades e uso; mapear; coletar; organizar; armazenar;
acessar; e compartilhar a informação com eciência, a atuação
das bibliotecas, em cidades inteligentes, pode ser denida
como uma losoa gerencial que visa articular pessoas,
ferramentas, ambientes e ideias para a criação de projetos que
propiciem maior acesso à informação por parte da sociedade.
Evidencia-se que as bibliotecas em cidades inteligentes,
são agentes potenciais para a transformação de suas
comunidades em âmbito intelectual e social, porque, além
de mediadoras, são entidades ativas no acesso à educação,
à informação e ao conhecimento. Nessa prerrogativa,
qualquer que seja a sua tipologia, a atuação das bibliotecas
em cidades inteligentes, deveria se integralizar e ir além da
alfabetização informacional, com vistas a tratar de assuntos
como: A proposição de políticas públicas; o uso adequado da
informação; a conscientização cidadã; a preservação do meio
ambiente; a igualdade de gênero, paz e justiça.
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Rosângela Formentini Caldas
205
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
1 INTRODUÇÃO
Os arquivos públicos são centros responsáveis pela
custódia e disseminação de documentos provenientes das
atividades administrativas do Estado, tendo como objetivo
oferecer informações que sirvam como prova e testemunho
histórico das atividades desenvolvidas. São núcleos com
potencial estratégico que podem subsidiar a construção de
conhecimentos e a positiva gestão de órgãos públicos e de
seus serviços.
Essas instituições possuem informação ligada à memória,
cultura e administração das cidades, representando fontes de
pesquisa que podem auxiliar em projetos relacionados ao
desenvolvimento eciente dos centros urbanos, subsidiando
direta e efetivamente as tomadas de decisões governamentais
e as discussões referentes a projetos de inovação praticados
por clusters, grupos de pesquisa e outros protagonistas sociais.
Neste sentido, o relatório da Organização Mundial das
Nações Unidas (UN HABITAT, 2016) arma que os centros
urbanos do século XXI são polos sociais, culturais e econômicos
que possibilitam a inovação de produtos e serviços em
escala internacional. Os investimentos em infraestrutura e
tecnologia proporcionam a disseminação de informação,
que contribui com a administração dessas localidades. As
unidades arquivísticas públicas colaboram com a difusão do
conhecimento necessário para a consolidação deste cenário.
Uma administração pública eciente proporciona
CAPÍTULO 6
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
206
produtos e serviços de qualidade para seus habitantes,
fazendo bom uso dos recursos nanceiros, técnicos e humanos
disponíveis, objetivando o bem comum do corpo social e a
prosperidade administrativa.
A gestão no âmbito público das cidades é responsável
por avanços na saúde, economia, transporte, educação e
política. Na contemporaneidade, o Estado desenvolve políticas
públicas e planos estratégicos de ação governamental em
consonância com a sociedade, buscando vericar as requisições
da população em relação aos serviços públicos, traçando uma
administração que se de forma bilateral, com o uso da
estratégia bottom-up, ou seja, trazendo ideias da comunidade
para as discussões governamentais. Os planos estratégicos de
ação, dente outros aspectos, precisam atentar-se a quesitos
ligados ao planejamento estrutural das cidades, facilitando o
amplo e eciente acesso a serviços populares de qualidade.
Para atender as novas concepções de governança
participativa e estrutura projetada, o conceito de smart
cities ou cidades inteligentes destaca-se por idealizar o
desenvolvimento econômico, social e cultural baseado em
aspectos ligados à informação, dados e conhecimento e o
investimento em Tecnologias da Informação e Comunicação
(TIC) é uma estratégia utilizada pelo poder público para a
disseminação de informações e transparência política.
Ademais, as regiões inteligentes prezam para que a
população, entidades, empresas, associações e pesquisadores
sejam politicamente participativos e fomentem as discussões
acerca de medidas para a progressão urbana, por meio de
pesquisas cientícas e debates sociais.
É de grande valia para as pesquisas e discussões acerca
do planejamento das urbes pensar em mecanismos para
consulta de documentos e informações referentes à estrutura
urbana, administração pública e histórico político/social, que
auxiliariam no entendimento das questões alusivas as cidades
e suas necessidades. Um dos recursos para o entendimento
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
207
desta conjuntura são os arquivos públicos permanentes
pois, para Bellotto (2004), além de zelarem pelo patrimônio
documental, proporcionam os usos cientíco, social e cultural
dos documentos.
Regiões inteligentes devem possuir centros de referência
em informação, uma vez que estes poderiam proporcionar
diretrizes e embasamento para a criação de pesquisas e
estudos sobre questões ligadas a cidade e administração
urbana, auxiliando no alcance eciente e ecaz de melhores
condições de subsistência e prosperidade humana e social.
Sendo assim, o estudo procurou entender como os
arquivos poderiam ser considerados centros de referência
em informação, proporcionando a melhoria dos serviços
das localidades inteligentes nas quais estivessem inseridos,
corroborando com o desenvolvimento de estratégias de gestão
e planejamento local. É uma ferramenta informacional, explorar
a relação dos arquivos públicos com as cidades inteligentes
pois tal contexto, poderia auxiliar e promover a gestão pública,
exaltando a importância em aspectos estruturais de política,
do âmbito social e de embasamentos econômicos e culturais,
para além de possibilitar o entendimento do arquivo como
uma entidade ativa e funcional, trazendo novas abordagens
em relação as suas atividades.
A pesquisa pretendeu ainda contribuir com estudos
brasileiros na área de Ciência da Informação (CI) e Arquivologia
no tema cidades inteligentes e para tanto, o objetivo procurou
identicar e dar subsídio as ações dos arquivos públicos
em cidades inteligentes ibero-americanas. Como objetivos
especícos, almejou-se: Levantar as cidades ditas inteligentes
no contexto iberoamericano; averiguar as características
das smart cities; vericar as possíveis atuações dos arquivos
públicos na gestão pública; e identicar as ações realizadas
pelos arquivos públicos no âmbito dos elementos conceituais
das cidades inteligentes.
A abordagem do estudo foi qualitativa, do tipo descritiva
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
208
e exploratória. Os métodos utilizados foram a pesquisa
documental, o estudo de campo e a análise de conteúdo.
Os instrumentos de coleta de dados foram a planilha
de observação dos websites, o questionário e a entrevista,
que fundamentaram-se nos cinco conceitos relacionados por
Caldas (2009, p. 122): Recursos Humanos, Mercado/Usuários,
Produtos/Serviços, Gestão Local/Pública e Tecnologia; e nas
subcategorias referentes a cada classe, identicadas por meio
da análise de conteúdo.
O universo de pesquisa foi composto por treze arquivos
localizados em cidades inteligentes da ibero-américa e
pertencentes ao Programa IberArquivos, responsável por
fomentar o acesso, organização, descrição, conservação
e difusão do patrimônio documental da região (ESPAÑA,
2017b). O cenário ibero-americano foi selecionado por possuir
como línguas predominantes o português/espanhol e conter
semelhanças culturais e sociais com a realidade brasileira.
Foi possível o estabelecimento de uma análise proporcional
e compatível entre as instituições arquivísticas, uma vez que
pretendeu- se vericar as possíveis relações entre o arquivo e
as cidades inteligentes. As instituições participantes da coleta
de dados estão sediadas nos seguintes países que possuem
cidades inteligentes: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa
Rica, Equador, Espanha, México, Panamá, Peru, Portugal,
República Dominicana e Uruguai.
Com a pesquisa, foi possível identicar que os arquivos
públicos devem atuar como espaços inovadores, unidades
referenciais de informação em projetos e práticas ligados à
melhoria das cidades e regiões inteligentes.
2 CIDADES INTELIGENTES
O surgimento do termo cidades inteligentes e suas
características perpassam o surgimento das TIC e sua inuência
na gestão e compartilhamento de dados nos centros urbanos.
Essa era a questão fundamental que envolvia as cidades digitais
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
209
(LEMOS, 2013), regiões que tinham as tecnologias como foco
para o seu desenvolvimento. Em um segundo momento, o
termo passa a abordar a tecnologia como ferramenta para
o planejamento e desenvolvimento de cidades, envolvendo
também e de uma maneira protagonista, a comunidade e
seus atores sociais. Tornou-se necessário o investimento e
preocupação com a disseminação de dados e informações
de maneira eciente e ecaz, a m de auxiliar na criação de
pesquisas e projetos de inovação para essas localidades.
2.1 Surgimento e historicidade Social
A atual conjuntura das cidades inteligentes (KOMNINOS,
2002) apresenta uma convergência entre tecnologia, políticas
públicas e participação ativa da comunidade em projetos de
em prol dessas regiões, destacando o papel da informação a
serviço do capital humano.
A expansão tecnológica e inovadora dos territórios fez-se
necessária por conta dos impactos trazidos pela globalização,
como a aproximação de regiões e a maior concorrência de
mercado. Dessa forma, os governos precisavam investir em
produtos e serviços, dentre eles os de informação - que
pudessem auxiliar na relação com parceiros e/ou opositores.
A globalização mundial acarretou em novas estratégias
de desenvolvimento das cidades e regiões, nas quais “[...]
elementos como a tecnologia, a inovação e o conhecimento
adquirem um papel central no incremento da competitividade”.
(FERNANDES, 2007, p. 2).
Para elaborar as estratégias de mercado e produzir
os novos produtos e serviços de inovação, é necessário o
investimento em capital humano, ou seja, as pessoas e o suas
habilidades intelectuais para gerar novos conhecimentos.
Assim, as discussões acerca das cidades inteligentes
estão cada vez mais em evidência, visto que a preocupação
com o meio ambiente, economia, cultura, desenvolvimento
sustentável e compartilhamento de informações são questões
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
210
importantes para o progresso de centros urbanos.
Quando o foco da otimização dos centros urbanos deixa
de ser apenas a evolução e o acesso às tecnologias por parte do
cidadão e do governo, passando a incluir pautas econômicas,
sociais, políticas e culturais em suas discussões sobre
planejamento urbano, surge o termo “cidades inteligentes” ou
smart cities”.
O termo cidade inteligente tem sido usado no cenário
político como sinônimo de modernidade. O foco dos discursos
são as infraestruturas tecnológicas, mas diversas iniciativas
que abrangem o capital humano, relações sociais e interesses
ambientais também são apontadas “[…] como importantes
motores do crescimento urbano” (CARAGLIU; DEL BO;
NIJKAMP, 2011, p. 66).
Albino, Bernardi e Dangelico (2015) armam que o
conceito de smart cities está longe de limitar-se à aplicação de
tecnologias na estruturação e expansão das cidades.
A falta de uma denição universal para o termo leva
os pesquisadores das distintas áreas do conhecimento a
tentar denir características que possam ser identicadas e
mensuradas nessas localidades.
A multiplicidade de variáveis que envolvem uma
região inteligente reivindica um novo modelo para a gestão,
desenvolvimento e inovação urbano-regional. Esse modelo se
com base nos conhecimentos locais, por meio da inteligência
social e em rede, possibilitando inovações tecnológicas,
econômicas e administrativas, o que torna o espaço urbano
inteligente (KOMNINOS, 2009).
Com a intenção de propiciar um espaço de inovação
urbano-regional, um dos maiores desaos do Estado na
administração das cidades é
[...] criar comunidades ricas em informação,
interconectadas e capazes de gerar [...] um
aprendizado contínuo sobre como podem
ampliar as oportunidades aos cidadãos.
(STRAPAZZON, 2009, p. 94).
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
211
2.2 Conjuntura Informacional
A informação e o conhecimento produzidos devem
ser disseminados para que tornem-se insumos para novas
pesquisas. O ciclo de aprendizado e elaboração de projetos e
ideias deve ser contínuo nas cidades inteligentes, pois:
Inteligente aqui é sinônimo de uma cidade na
qual tudo é sensível ao ambiente e produz,
consome e distribui um grande número de
informações em tempo real [...]. A cidade passa
a ser um organismo informacional que reage e
atualiza todos sobre suas condições [...] (LEMOS,
2013, p. 48).
Logo, as cidades inteligentes devem ser traduzidas
em dois patamares: reetindo um território com base
no conhecimento e cooperação social e institucional; e
promovendo uma infraestrutura de comunicação avançada,
fornecendo capacidade de inovação e gestão dos territórios
inteligentes (FERNANDES, 2007).
Para Strapazzon (2009, p. 93) “As smart cities são, antes,
a etapa mais avançada do relacionamento entre convergência
tecnológica, gestão de cidades, qualidade de vida e
competitividade econômica”.
Uma cidade mais inteligente infunde informações
em sua infraestrutura física para melhorar as
conveniências, facilitar a mobilidade, adicionar
eciências, conservar a energia, melhorar a
qualidade do ar e da água, identicar problemas
e corrigi-los rapidamente, recuperar-se de
desastres, coletar dados para tomar melhores
decisões e implantar recursos de forma ecaz
[...]. (KANTER; LITOW, 2009, p. 2, tradução nossa).
Os dados utilizados no dia-a-dia das cidades inteligentes
devem ser gerenciados de forma a facilitar sua recuperação
e acesso. Este trabalho deve ser realizado por prossionais
especializados em tratar sistematicamente a informação e
disseminá-la. O processo garantirá credibilidade e conança
por parte dos usuários.
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
212
Entende-se que a possibilidade de medir, captar e
monitorar dados acerca do funcionamento cotidiano dos
centros urbanos requer a incorporação da gestão inteligente
e integrada dessas informações, proporcionando facilidade na
comunicação e interação entre sistemas, pessoas e objetos.
“[...] As cidades inteligentes [...] expressam a necessidade de
uma reformulação radical das cidades na era da economia
global e da sociedade baseada no conhecimento” (SOUZA,
2012, p. 172).
Essa sociedade destaca-se pela importância que às
informações e ao conhecimento, entendendo o seu valor
estratégico e intelectual. Além disso, os indivíduos têm
consciência das mudanças que a informação pode gerar em
suas vidas e da importância do acesso a elas. O Estado também
obriga-se a ser mais explícito em seus negócios, pois sabe que
a população está atenta e cobrará sua transparência.
Uma das novas formas de organização e cidadania que
podem ser vericadas nas cidades inteligentes são os centros
tecnológicos que, para Duarte (2005) são características da
sociedade da informação e as cidades articulam atores públicos
e privados para as pesquisas de inovação. Sendo assim, “[...] os
polos de inovação, espontâneos ou induzidos, consolidam-se
em áreas urbanas ‘ricamente informadas’ – com infraestrutura
tecnológica, social, econômica, cultural e cientíca” (DUARTE,
2005, p. 130).
Nestes locais, a democratização e compartilhamento
de informações “[...] favorece a formação de comunidades
participativas, além de serviços de governo inteligente mais
ágeis, transparentes e ecientes” (SOUZA, 2012, p. 173). Na
perspectiva de compartilhamento de informações, deve-se
levar em consideração os meios de propagação atuais, que
envolvem ambientes físicos e digitais.
O conceito de cidades inteligentes ultrapassa o aspecto
puramente tecnológico ao contemplar o envolvimento de
pessoas a instituições interessadas em seus projetos que
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
213
“[...] possam fornecer contributo para o desenvolvimento
de uma abordagem mais acessível, informativa, interativa e
participativa no ambiente urbano” (MECHANT et al., 2012, p.
86, tradução nossa).
Em 1976, nos Estados Unidos, foi criado o Escritório da
Casa Branca de Política de Ciência e Tecnologia (OSTP), com o
desígnio de aconselhar o Presidente e sua equipe em assuntos
relacionados a ciência, engenharia, tecnologia, segurança,
saúde, relações exteriores e meio ambiente, a m de fornecer
dados tocantes as principais políticas, planos e programas
do Governo Federal nas questões relacionadas a ciência,
tecnologia e gestão pública (WHITE HOUSE, 2018).
Por outro lado, na China, a estratégia adotada pelo
governo para atrair capital estrangeiro foi investir nas indústrias
com a meta de conseguir acesso às tecnologias externas. O
Ministério da Ciência e Tecnologia criou políticas nacionais de
inovação, “[…] para conceber e implantar zonas econômicas
especiais e parques tecnológicos de modo a aproximar os
empreendedores das universidades para desenvolvimento de
novas tecnologias” (OLIVEIRA; CARVALHO, 2017, p. 4079).
Outro projeto de smart cities instaurado na China
é o Smart Tuanjie Lake, em um subdistrito de Pequim com
aproximadamente 50.000 habitantes. Utilizando plataformas
digitais, os moradores podem reportar problemas sobre a
cidade, como buracos nas estradas e luzes quebradas. Como
essas informações, o trabalho dos agentes que efetuarão os
relatórios e reparos da situação é muito mais rápido e ágil
(CHAN; ANDERSON, 2015).
Tais iniciativas envolvem investimento nanceiro e
tecnológico que, muitas vezes, não são possíveis para países
em desenvolvimento. Porém, as estratégias de ação, como
buscar cooperações estrangeiras para obtenção de recursos
e rmar parcerias com instituições nacionais de ensino e
pesquisa auxiliam na obtenção de dinheiro e/ou na economia
de custos.
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
214
No Brasil, os projetos que envolvem parcerias entre
instituições do setor público e privado estão em andamento.
A Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas é uma
entidade sem ns lucrativos, que reúne funcionários das
prefeituras municipais, professores de institutos de ensino
público e empresários do setor de tecnologia e inovação a
m de conceber uma rede de informações acerca de regiões
inteligentes, estimulando sua implantação, pesquisa e negócio.
Para isso, foi criado o documento: “Brasil 2030: cidades
inteligentes e humanas”. Além de proporcionar diretrizes
para o funcionamento e scalização de cidades inteligentes, o
projeto idealiza a criação de um Selo de Cidades Inteligentes e
Humanas que, “[…] com cores diferentes, certicará o nível em
que a cidade se encontra ano a ano, com indicadores a serem
elaborados pelas instituições participantes do projeto” (REDE
BRASILEIRA DE CIDADES INTELIGENTES E HUMANAS, ANO, p.
2).
3 ARQUIVO PÚBLICO
Esta seção apresentará a função dos arquivos públicos
na sociedade, permeando a história de sua criação e a
mudança de objetivos de acordo com a época e sociedade
em que estão situados. Essas instituições progrediram de
apenas “depósito” de documentos para Centros Referenciais
de Informação, responsáveis pela custódia e disseminação de
documentos e informações úteis para o desenvolvimento de
uma administração pública justa e transparente; formação de
cidadãos bem informados e com direitos garantidos e; pelo
fomento à pesquisa da história e cultura locais.
3.1 Funções das Instituições Arquivísticas Públicas
Os Arquivos Públicos são instituições substanciais da
Administração Pública. Responsáveis pela tutela e disseminação
de documentos e informações, colaboram para a garantia
da integridade de direitos aos cidadãos e continuidade da
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
215
democracia nos territórios.
Segundo Schellenberg (2004), os arquivos tiveram
origem na antiga civilização grega, por volta dos séculos IV
e V a. C, com o intuito de conservar documentos ociais.
Posteriormente, na época da Revolução Francesa, países como
França, Inglaterra e Estados Unidos criaram arquivos para
auxiliar a eciência governamental, garantindo o tratamento
adequado da documentação proveniente da administração
pública. Segundo Jardim (1995, p. 46):
As atividades administrativas apresentam dois
atributos: são dependentes e subordinadas
as outras (e controladas por essas), as quais
determinam os especicam os ns a atingir; são
executivas no sentido de que atacam uma escolha
ou norma anterior à qual dão continuidade para
a consecução nal dos interesses e objetivos
xados. Assim, a administração pública tem sido
identicada como uma função condicionada a
um objetivo e uma organização, isto é, atividade
voltada para assegurar a distribuição e a
coordenação do trabalho dentro de um escopo
coletivo.
A informação pública possui objetivos que vão de
encontro ao funcionamento da administração do Estado,
provenientes de uma atividade que determina qual será a
sua nalidade. Ao longo da trajetória dos arquivos, pôde-se
observar que suas atribuições foram alteradas de acordo com
as necessidades da época e do contexto histórico em que
atuavam. Assim, percebe-se que o conceito de arquivo sofre
alterações em paralelo a mudanças políticas, econômicas,
culturais e sociais das comunidades.
A atuação e atribuição dos arquivos, deve variar de
acordo com as mudanças culturais de seu ambiente, portanto,
a descrição de suas aplicabilidades também acompanha
esse percurso histórico-social. Herrera (1991) destaca ainda,
funções na preservação de documentos que servem como
prova ou testemunho de atividades já ocorridas - acumulados
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
216
ao longo da existência de uma instituição ou indivíduo.
Arquivo é um ou mais conjuntos de documentos,
seja qual for sua data, forma ou suporte material,
acumulados em um processo natural por
uma pessoa ou instituição pública ou privada
no transcurso de sua gestão, conservados,
respeitando a ordem original, para servir como
testemunho e informação para a pessoa ou
instituição que os produzem, para os cidadãos
ou para servir de fonte histórica. (HERRERA,
1991, p. 89, tradução nossa).
A questão da “acumulação” estava muito ligada com
os suportes que os arquivos custodiavam. A preocupação
maior era a preservação dos documentos em si. A informação
e o conhecimento que poderiam ser produzidos eram
preocupações secundárias. As mudanças relacionadas com o
cuidado em zelar pela informação arquivística e, principalmente
sua disseminação, tiveram mais força com a expansão do
conceito de pós-custodialidade:
O paradigma pós-custodial, emergente no
nal do século XX, possui uma perspectiva que
coloca a Arquivística no campo da Ciência da
Informação, pois entende que o objeto cientíco
da mesma não pode mais ser o documento
de arquivo, mas sim a informação. Por esse
motivo, esse paradigma contrapõe-se ao
paradigma custodial voltado para valorização
do documento de arquivo de valor permanente.
(SOARES; PINTO; DA SILVA, 2015, p. 22).
Com essa nova perspectiva informacional, algumas
denições de arquivo atrelaram as nalidades de prova e
testemunha à função de fonte de informações para pesquisa
de administradores, cidadãos e historiadores. Neste sentido, a
concepção de “sistemas integrados de arquivos”, com o intuito
de aproximar as instituições e seus acervos, proporcionando
maior eciência na gestão e disseminação de informações é
uma consequência da preocupação cada vez mais constante
com o acesso, visto que para Jardim (1995, p. 30) os elementos
constitutivos destes agrupamentos são:
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
217
Legislação normalizadora de aspectos interiores
e exteriores ao sistema, dos direitos e obrigações
de usuários e do patrimônio documental; os
arquivos; os documentos, conforme o ciclo vital;
a informação em seu circuito interno (no âmbito
da organização produtora) e externo (outros
arquivos e centros de informação.
O circuito externo de informação é uma das novas
características dos arquivos modernos e da pós-custodialidade,
visto que o foco na informação como produtora de
conhecimento começa a ser revelado. Reis (2006) salienta que
na contemporaneidade, os arquivos adquirem a função de
centros de memória do passado de uma nação e objetos de
investigação histórica.
Os documentos ociais denem as relações
do governo para com os governados. São a
derradeira prova de todos os direitos e privilégios
civis permanentes e a prova imediata de toda
propriedade temporal e direitos de ordem
nanceira que originam ou ligam às relações do
cidadão para com o governo. (SCHELLENBERG,
2004, p. 32).
Como prova de direitos e privilégios dos atores sociais,
os documentos arquivísticos são Bens Públicos, Patrimônio
da Comunidade. Barbosa e Silva (2012, p. 62) armam que
ocorreu uma mudança nas políticas culturais e nas noções
de cultura e patrimônio. As funções do governo também
sofreram alterações e por isso, o cargo dos arquivos no século
XXI não é mais servir à administração pública, mas ao cidadão
e a sociedade, “[...] devendo auxiliar a administração, auxiliar o
Estado a garantir os direitos de cidadania. Proteger a memória
pública é dever do Estado; conhecê-la, um direito do cidadão”.
As funções dos arquivos públicos não se esgotam na
preservação do direito ao passado, mas vão além, preservando
o direito ao presente, quando o indivíduo encontra documentos
ou informações que resolvam problemas cotidianos e ainda
o direito a um cenário futuro mais promissor. Nesta relação
é que um espaço público é legitimado, passando a ter um
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
218
signicado. O papel primordial que compete aos arquivos
hoje e que justica a sua existência ao lado da sociedade
é agregar uma função social às ações que desenvolvem, às
informações que produzem e transferem e à memória coletiva
que preservam (MARINHO JUNIOR; SILVA, 1998, p. 26).
Os documentos de arquivo são preservados em
consequência de demandas sociais e políticas, pois a criação e
trâmite desses registros são necessários para o funcionamento
adequado de instituições públicas e a sua custodia pelos
arquivos é uma consequência desse processo. As informações
ali descritas são provas das ações do governo e testemunham
as relações deste com a sociedade, por isso a importância de
serem preservados e geridos (MACHADO; CAMARGO, 2000).
Neste sentido, os arquivos que possuem políticas
concretas para acolher as demandas informacionais da
comunidade são estratégicos, pois “[...] reúnem registros
para a defesa de direitos de quem produz o documento, no
cumprimento da missão de agente estatal e servem de fontes
de informações para os cidadãos” (SILVA, 2013, p. 45).
As demandas informacionais da comunidade devem ser
atendidas por meio do desempenho das funções sociais do
arquivo público, que podem ser exercidas de três maneiras:
[...] a) garantir o pleno acesso aos documentos e,
por extensão, às informações neles contidas, seja
para ns de pesquisa acadêmica, seja para ns de
comprovação de direitos; b) exercer, em nome
da comunidade e da administração, a guarda e
respectiva proteção da memória coletiva daquela
população; e c) elaborar tantos instrumentos
de pesquisa quantos forem necessários para,
por um lado, garantir uma maior vida Útil dos
documentos [...] e, por outro, facilitar a pesquisa
por parte dos usuários [...]. (MARINHO JUNIOR;
SILVA, 1998, p. 23).
Além das funções sociais relacionadas ao acesso,
proteção e preservação da informação, o trabalho realizado
pelos arquivos também pode colaborar com outras esferas
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
219
da sociedade, no tocante a economia, educação, cultura,
política e gestão. Marinho Junior e Silva (1998) destacam que
a informação arquivística serve como:
[...] insumo à produção de bens materiais,
simbólicos e de novos conhecimentos; como
instrumento de apoio à decisão; como suporte
para a defesa de interesses; como material
informacional para o ensino e a aprendizagem;
enm, como fator de possibilidade de
emancipação da cidadania. (MARINHO JUNIOR;
SILVA, 1998, p. 23).
Entendendo a contribuição teórica que os arquivos
podem trazer para a otimização dos processos e provisões
sociais, Schellenberg (2004) arma que a razão para a criação
dessas organizações, além da função administrativa, também
teve um cunho social, pois os documentos arquivísticos
constituem fontes de formação cultural, assim como livros,
peças de museus, obras de arte, entre outros.
Os arquivos públicos possuem uma atividade social,
com projeções perante sua comunidade, “[...] trazendo-lhe a
necessária dimensão popular e cultural que reforça e mantém
o seu objetivo primeiro” (BELLOTTO, 2004, p. 227).
3.2 Arquivos Públicos como Centros de Referência em
Informação
Os estabelecimentos responsáveis pela guarda e
promoção de dados tem tido mais espaço e visibilidade na
sociedade devido ao crescimento da demanda por serviços
de informação. O arquivo público pode ser percebido como
um dos “[…] potenciais espaços inovadores e agentes de
desenvolvimento e conhecimento” (FERNANDES, 2007, p. 2)
que contribuem para a progressão das regiões inteligentes,
devido a sua capacidade estratégica e informativa.
A informação produzida por órgãos públicos, privados
ou pessoas físicas pode possuir diversas aplicações e segundo
Rosseau e Couture (1998) ela tem potencial estratégico nas
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
220
decisões e ações de um organismo e/ou poder de prova e
testemunho histórico, propiciando evidenciar decisões e ações
passadas.
Os arquivos são [...] um instrumento de trabalho
e de riqueza. [...] E não se pode tê-la em matéria
de boa administração, se não for apoiado
num perfeito conhecimento dos processos
anteriores que permita aos intermediários com
certa mobilidade adquirir o que constrói a
força do Estado, a perenidade e a força de uma
democracia, a igualdade de todos perante as leis
e os regulamentos. (VALETTE, 1973, p. 12).
O conhecimento dos processos anteriores se nos
arquivos públicos, que são uma fonte de informação primária,
local em que os indivíduos e a administração pública podem
obter dados integrais acerca dos processos e atividades de
gestão da comunidade, o que permite a interpretação desses
dados com o mínimo de interferência possível, garantindo sua
conabilidade e precisão.
Esse contexto, portanto, faz com que o arquivo
não se reduza à mera instituição de guarda de
memória, mas extrapole tal função. Ele representa
um forte meio necessário para a denição social
e cultural, assumindo, assim, uma postura de
mediação na conquista de direitos, no que tange
à aquisição de informações e à criação de novos
conhecimentos. (BARROS; AMÉLIA, 2009, p. 60).
Na sociedade do conhecimento, o arquivo deve atuar em
conformidade com as tendências tecnológicas e cientícas,
pois os indivíduos ocupam vários espaços sociais ao mesmo
tempo e os centros de informação precisam acompanhar
essa tendência para potencializar sua transmissão. Assim,
em consonância com as TIC, o arquivo deve reorganizar seus
processos, produtos e serviços, ocasionando no suprimento
da necessidade informacional do cidadão (BARROS; AMÉLIA,
2009).
De acordo com Caldas (2011, p. 65) o arquivo é uma das
unidades que
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
221
[...] são agentes diretos das áreas econômica
e social, visto que, enquanto centralizam
informações para o benefício da sua comunidade,
conseguem disseminar [...] as suas obras por
meio de sistemas de informação [...].
Para Barros e Amélia (2009) essas organizações são
indispensáveis para o empreendimento de pesquisas.
O arquivo, nessa compreensão, adquire uma
nova postura, não apenas de guardião da
memória, mas, sobretudo, como um espaço de
referência da produção do conhecimento, que
incita a efervescência da informação de maneira
dinâmica e atualizada. (BARROS; AMÉLIA, 2009,
p. 57).
Com a nalidade de auxiliar na disseminação, recuperação
e preservação dessas informações o arquivo necessita cada
vez mais fazer uso das TIC como auxilio para a sua visibilidade
perante a sociedade, que, segundo Barbosa e Silva (2012, p.
46) é fundamental para demonstrar a importância do acervo
informacional, sendo necessário “[...] dar publicidade ao que
é público, mas que muitos não conhecem; em construir,
através do conhecimento desse patrimônio, a noção do seu
valor”.
Vê-se que numa sociedade de mudanças, na qual o homem
volta ao centro de seu trabalho, o conhecimento deixa de ser
visto como mera aquisição de informação e a ser entendido
na dimensão da construção, o que incorre na apropriação da
informação pela experiência do sujeito; mesmo considerado
fator mercadológico, o conhecimento é reconhecido não
na esfera econômica, mas na da construção e valorização do
sujeito como pessoa que se forma e se desenvolve na e pela
cultura (BARRETO, 2005, p. 176).
É necessária uma mudança na “[...] ênfase na gestão
da informação [que] desloca-se do acervo para o acesso,
do estoque para o uxo da informação, dos sistemas para
as redes [...]” (JARDIM, 1998, n. p.). Para atender a essa nova
abordagem, o arquivista, prossional da informação, deve:
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
222
[...] encarar as demandas e direitos de uma
sociedade cada vez mais ávida por informação
como deveres do seu ofício, compreendendo
esse momento de fazeres, deveres e direitos
de informação como transcurso natural
de amadurecimento e fortalecimento da
democracia. (GUEDES, 2014, p. 71).
O fortalecimento da democracia por meio do acesso à
informação também demanda que os “espaços de informação”
sejam repensados. Os arquivos tradicionais são reestruturados
de acordo com as novas demandas sociais e aparatos
tecnológicos e precisam espelhar essa atuação também no
contexto digital, transformando-se em Centros Referenciais
de Informação:
[...] conjugando exemplares de papel, dados
antigos digitalizados e dados online, numa
situação na qual é estabelecido um diálogo,
favorecido pelas TICs, entre passado e presente,
necessitando ser consideradas a conservação,
tanto do suporte como da memória, e as
diferentes formas de recepção, aprendizagem e
construção do conhecimento. (BATISTA, 2010, p.
97).
Como consequência da preocupação com a inovação dos
espaços físicos e digitais dos arquivos e de sua competência
estratégica, essas instituições tornam-se equipamentos que
promovem o acesso à informação e são, assim como as
bibliotecas, “[...] um espaço propício para discussões, debates
e reexões [...] principalmente em relação às concernentes
ao planejamento e desenvolvimento das cidades” (PALETTA;
VASCONCELOS; GONÇALVES, 2015, p. 2).
4 COMUNIDADE IBERO-AMERICANA
Com o término das ditaduras portuguesa e espanhola e o
arrefecimento da Guerra Fria, a democratização proporcionou
condições para que, segundo Gomes:
[...] Espanha e Portugal e as suas ex-colónias
[aproveitassem] as potencialidades políticas,
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
223
sociais e económicas deste espaço histórico,
cultural e linguístico coerente, que partilha
valores constitutivos do Estado de Direito e
certas tradições jurídicas. (GOMES, 2011, n. p.).
Com esse objetivo, a iniciativa da Comunidade
Iberoamericana (CoIBA) foi projetada nos anos 70 para
promover a democracia no espaço em que se dene (GOMES,
2011). A partir dessa iniciativa e de algumas reuniões nos
anos seguintes, “[...] convocou-se a Primeira Cúpula Ibero-
Americana de Chefes de Estado e de Governo, que teve
lugar em Guadalajara, no México, em 1991”, com o intuito de
criar um ambiente para reunir os países da ibero américa em
um diálogo multifacetado (SEGIB, [2014], p. 5, grifo do autor).
Além da Cúpula, foram criados órgãos ibero-americanos
de cooperação, a saber: Organização de Estados Ibero-
americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
Organização Ibero-americana de Segurança Social (OISS),
Organização ibero-americana de Juventude (OIJ) e Conferência
de Ministros da Justiça dos Países Ibero-americanos (COMJIB).
Em 2004, origina-se a Secretaria- Geral Iberoamericana
(SEGIB) como organismo permanente da Conferência ibero-
americana. Dessa forma, esses órgãos constituem o Sistema
Ibero-americano.
1
A Comunidade Ibero-Americana de Nações é um
espaço de cultura e de cooperação, formado por
um tecido rico de ação efetiva no qual participam
ativamente os Governos e a sociedade civil.
Com duas línguas veiculares, o espanhol e o
português, constitui um dos espaços do mundo
com maiores anidades. Esta anidade convive
com uma grande diversidade, que é a essência
do espaço ibero-americano. A partir dessa
diversidade, assumimos o desao de construir
uma aliança ao serviço da paz, da democracia,
dos direitos humanos e do desenvolvimento
sustentável económico e social (SEGIB, [2014], p. 6).
1 Disponível em: https://www.segib.org/pt-br/. Acesso em: 24 jul.
2018.
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
224
A comunidade ibero-americana possui iniciativas
que contribuem signicativamente com a preservação e
disseminação do Patrimônio Cultural e Documental dos
países que a integram. A organização entende a importância
de informações referentes ao histórico político, social,
administrativo e cultural que esse bem público documental
possui para o desenvolvimento dos territórios. Alguns dos
projetos e programas de cooperação ibero-americana são
relacionados as áreas da cultura, coesão social e conhecimento.
Uma das preocupações desse setor é com o património cultural
e documental, incluindo-se ações
[...] relacionadas com a formação e a promoção
de arquivos documentais, sonoros e audiovisuais,
assim como os programas de consolidação
de bibliotecas e museus nos países ibero-
americanos. (SEGIB, [2014], p. 61).
Destacam-se projetos desenvolvidos na ibero américa -
entre os anos de 2011-2014 no que diz respeito ao patrimônio
cultural e documental da região. Entre as atividades realizadas,
destaca-se o programa IBERARQUIVOS, criado em 1998, com
o objetivo de fomentar o acesso, organização, descrição,
conservação e difusão do patrimônio documental da região,
fortalecendo a capacidade dos prossionais e a promoção
dos arquivos de qualquer natureza, como Arquivos Gerais
da Nação, Arquivos Municipais, Arquivos de instituições de
Direitos Humanos ou de Povos Indígenas (ESPAÑA, 2017).
A contribuição efetiva com o Espaço Cultural Ibero-
americano ocorre por meio da concessão de ajuda em
projetos arquivísticos de convocatórias anuais. Mediante um
fundo nanceiro, desde 1999 até 2018, foram apoiados 1.275
projetos em países ibero-americanos, com um investimento
total de 5.166.035 euros e 1.671.854 dólares. Os países que
fazem parte dessa iniciativa atualmente são 16: Argentina,
Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, Filipinas,
México, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, Porto Rico, República
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
225
Dominicana e Uruguai.
2
Como exemplo, o projeto IberArquivos, estimula o
acesso dos cidadãos aos arquivos de sua região e a cultura,
além de intensicar a transparência administrativa e o
exercício dos direitos fundamentais, como base indispensável
para o desenvolvimento. Os projetos são concebidos de
maneira nacional e supranacional, preservando a memória e
as tradições ibero-americanas. Além deste projeto, um Plano
Ibero-americano para Reconhecer, Proteger e Salvaguardar o
Patrimônio Cultural foi criado em 2016 com o intuito de:
[...] Posicionar a cultura como eixo transversal
ao desenvolvimento [...] Desenvolver e difundir
o Código Ibero-Americano de Património
Cultural, e promover o desenvolvimento de um
plano de proteção e salvaguarda do património
cultural de cada país, de acordo com a legislação
internacional e local. (SEGIB, 2016, p. 21).
O documento abrange três eixos de atuação, com
indicadores para medir seu impacto em um período inicial de
quatro anos (2017-2020).
2 Disponível em: http://www.iberarchivos.org/pt/. Acesso em: 26 jul.
2018.
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
226
Figura 1 - Eixos do Plano Ibero-americano de Patrimônio
Cultural
Fonte: elaborada pelas autoras com base em SEGIB (2016).
Na gura 1, o eixo 1 apresenta questões ligadas a
proteção e planejamento do patrimônio cultural, com foco na:
cooperação entre os países ibero-americanos para a formação
de regulamentos e legislações ligados a proteção e salvaguarda
do patrimônio cultural, respeitando os instrumentos normativos
internacionais; denição de critérios para a elaboração de
registros, catálogos e inventários nacionais que dialoguem com
os outros países ibero-americanos, contando com o auxílio
de agentes como “[...] universidades e instituições públicas e
privadas que trabalham na matéria, bem como gestores locais
e comunitários que vivem e usufruem do património cultural”
(SEGIB, 2016, p. 25), capacitando esses colaboradores para
um melhor e mais adequado trabalho com estes materiais,
focando na difusão e sensibilização da população baseada na:
[...] melhoria do conhecimento social da legislação
e nos instrumentos de que esta dispõe para a
proteção do património. O objetivo é reduzir o
distanciamento existente entre a sociedade e a
tutela do património, que muitas vezes este é
entendido como propriedade do Estado e não
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
227
como propriedade coletiva, da qual todos somos
corresponsáveis. (SEGIB, 2016, p. 25).
De acordo com o Plano da SEGIB (2016, p. 26-27), para o
patrimônio cultural ser entendido como propriedade coletiva,
a sua conservação, salvaguarda e apropriação social (descritas
no eixo 2 da gura 1) devem levar em consideração propósitos
como: delimitar novas estratégias para a conservação
preventiva do patrimônio “[...] adiantando-se ao dano para
impedir ou atrasar a destruição do bem”, com planos de
emergência e gestão de riscos face a situações de crise; garantir
a preservação do patrimônio imaterial por meio de medidas
de identicação, documentação, promoção, etc.; sensibilizar
sobre a importância da proteção do acervo público com
medidas sociais e educativas; promover “[...] a investigação,
o desenvolvimento e a inovação aplicada à conservação e
salvaguarda do património cultural”, tornando a sociedade:
[...] parceira e corresponsável dos trabalhos
de proteção, conservação e salvaguarda do
patrimônio [...] em primeiro lugar informando
e comunicando adequadamente, em segundo
lugar, desenvolvendo vias de participação e,
em terceiro lugar, promovendo o apoio as
comunidades que sustentam e mantem o
patrimônio. (SEGIB, 2016, p. 27-28).
As vias de participação da comunidade em relação a
esse capital podem ser estabelecidas através da difusão do
patrimônio cultural na era digital (gura 5, eixo 3), com:
[...] política digital para a cultura, facilitando
o acesso democrático ao patrimônio através
do uso das novas tecnologias. O fomento das
plataformas digitais contribui para a salvaguarda
do patrimônio cultural imaterial, respeitando
os direitos das suas comunidades portadoras,
e contribuindo para a sua recriação contínua,
e transmissão intergeracional nos contextos
apropriados. (SEGIB, 2016, p. 29).
Para tanto, torna-se importante: digitalizar o acervo,
impulsionando redes de difusão; preservar o patrimônio
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
228
digital, com vistas a migração de conteúdos e mudança de
suportes, caso seja necessário; denir normas para o uso da
informação digital e digitalizada, protegendo a propriedade
intelectual; criar plataformas digitais que potencializem a
disseminação da informação e capacitar os prossionais para
os desaos da era digital (SEGIB, 2016).
O Programa IberArquivos é uma iniciativa importante
da Comunidade Ibero- Americana para a preservação do
Patrimônio Documental, demonstrando a preocupação dos
países integrantes deste grupo em disseminar informações
para a sociedade de modo a auxiliar na perpetuação e
valorização de sua cultura e história.
5 METODOLOGIA
Os métodos utilizados para o desenvolvimento da
pesquisa foram a pesquisa documental, o estudo de campo
e a análise de conteúdo. A abordagem foi qualitativa, do tipo
descritiva e exploratória. Pretendeu-se obter dados descritivos
sobre os arquivos nas cidades inteligentes, buscando
compreender sua dinâmica e serviços junto ao governo e a
população.
O universo de pesquisa foi o contexto ibero-americano
compreendendo um arquivo público de cada país que possuía
uma cidade inteligente e que participava do programa
IberArquivos. O programa IberArquivos foi selecionado por ser
uma referência de preservação do Patrimônio Documental da
Ibero-América. Segundo a Secretaria Geral Ibero-Americana
3
,
vinte e duas nações integram a comunidade ibero-americana
e dentre estas, dezesseis possuem cidades inteligentes
apontadas no ranking Cities in Motion (2018).
Cities in Motion é uma plataforma de pesquisa
desenvolvida pelo Centro de Globalização e Estratégia e
pelo Departamento de Estratégia da IESE Business School. O
3 Disponível em: https://www.segib.org/pt-br/cumbres-iberoame
ricanas/. Acesso em: 11 out. 2018.
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
229
projeto reúne especialistas de diversos lugares do mundo,
de instituições públicas e privadas com foco em governos
locais. Seu objetivo é promover ideias que levem as cidades
a terem iniciativas sustentáveis e inteligentes, além de possuir
uma abordagem inovadora para a governança das cidades e
um modelo urbano baseado em um ecossistema sustentável,
atividades inovadoras, equidade entre os cidadãos e o território
conectado (IESE, 2017, 2018).
Dentre os dezesseis países com cidades inteligentes,
treze deles são integrantes do programa IberArquivos,
assim, o universo de pesquisa é formado pelas seguintes
localidades: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica,
Equador, Espanha, México, Panamá, Peru, Portugal, República
Dominicana e Uruguai.
De forma complementar, foi consultado o Censo-Guía
de Archivos da Espanã e Iberoamérica, mantido pelo Ministerio
de Educación, Cultura y Deporte da Espanha e criado pela
lei espanhola 16/1985 (ESPAÑA, 2017a). O Real Decreto
1708/2011, estabelece um Sistema Espanhol de Arquivos
e regula as normas e o acesso do Sistema de Arquivos da
Administração Geral do Estado e de seus Organismos Públicos.
O projeto foi ampliado a outros arquivos de países hispanos
para contribuir com a difusão e conservação do patrimônio
documental.
A pesquisa documental foi realizada nos websites
institucionais dos arquivos públicos dessas cidades inteligentes
e o estudo de campo, permitiu uma maior compreensão da
instituição arquivística relatada na coleta efetuada no Arquivo
Nacional do Brasil pois, por meio de uma visita à unidade, foi
possível observar o ambiente e a atuação deste centro, bem
como realizar uma entrevista com seus colaboradores.
Para a categorização dos dados, utilizou-se a análise de
conteúdo, denida por Bardin (1977, p. 42) como um método
que investiga as comunicações com procedimentos de
[…] descrição do conteúdo das mensagens,
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
230
indicadores (quantitativos ou não) que permitam
a inferência de conhecimentos relativos às
condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens.
A análise de conteúdo auxiliou na identicação de
ações dos arquivos públicos em cidades inteligentes ibero-
americanas e na vericação das possíveis atuações dessas
unidades na gestão pública de regiões inteligentes.
Destaca-se que, tanto os Arquivos Nacionais quanto
as Direções Gerais, estão sediados nas cidades inteligentes
mais bem pontuadas de seus respectivos países, de acordo
com a classicação do Cities in Motion. O único país que foge
à regra é o Brasil, pois a cidade do Rio de Janeiro aparece
como a segunda mais bem pontuada do país, porém, esta
dessemelhança talvez possa ser explicada por uma questão de
tradição, porque a localidade foi a capital do país até 1960 e
o Arquivo Nacional permaneceu em sua sede original, mesmo
após a mudança para Brasília.
Os países mais bem colocados no ranking das cidades
inteligentes são europeus, sendo Espanha (25º) e Portugal
(52º). Na América Latina, são Argentina (76º) e Chile (86º),
porém com uma distância a ser considerada. As demais nações
estão entre a 94º e 154º posições.
O Quadro 1 apresenta os vinte e dois países pertencentes
a ibero-america, suas posições no ranking Cities in Motion e
nas cidades as quais encontram-se as instituições arquivísticas.
Vericou-se que os países Andorra, El Salvador e Nicarágua
pertencem ao contexto ibero-americano, porém não possuem
colocações no ranking. Assim, estes países não participaram
da coleta de dados.
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
231
Quadro 1Arquivos em Países ibero-americanos de Cidades
Inteligentes
PAÍS CIDADE
CITIES IN
MOTION
INSTITUIÇÃO DO
IBERARQUIVOS
Andorra
Argentina
Buenos
Aires
76º Archivo General de la Nación
Bolívia Santa Cruz 145º
Brasil
Rio de Ja-
neiro
126º Arquivo Nacional
Chile Santiago 86º Archivo Nacional de Chile
Colômbia Bogotá 117º Archivo General de la Nación
Costa Rica San José 102º Archivo Nacional de Costa Rica
Cuba Havana Archivo General de la Nación
El Salvador
Equadror Quito 140º Archivo Nacional del Ecuador
Espanha Madri 25º
Subdirección General de los
Archivos Estatales
Guatemala
Cidade de
Guatemala
141º
Honduras
México
Cidade do
México
107º Archivo General de la Nación
Nicarágua
Panamá
Cidade do
Panamá
94º Archivo Nacional de Panamá
Paraguai Asunción Archivo Nacional de Asunción
Perú Lima 131º Archivo General de la Nación
Portugal Lisboa 52º
Direção-Geral do Livro, dos
Arquivos e das Bibliotecas.
Arquivo Nacional da Torre do
Tombo
República
Dominicana
Santo
Domingo
154º Archivo General de la Nación
Uruguai Montevideo 100º Archivo General de la Nación
Venezuela Caracas 162º
Fonte: elaborado pelas autoras.
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
232
Vale mencionar, que no caso do Brasil, por ser o país
origem da pesquisa, foi realizada uma visita para realização
de uma observação participativa e aplicação de entrevista aos
gestores entendendo-se que essa fase seria essencial para
identicação dos pontos de convergência entre os arquivos
públicos e as cidades inteligentes.
6 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
A análise foi realizada com base no diagnóstico, nas
coletas realizadas online pelas páginas ocias das instituições
e na vericação de questionários, entrevistas e visita realizada.
As categorias determinadas para a identicação dos dados, se
embasaram na proposta de Caldas (2009), a saber: Recursos
Humanos, Mercado/Usuários, Produtos/Serviços, Gestão
Local/Pública e Tecnologia.
A ibero-américa tem quase setenta e três por cento de
seus vinte e dois países apontados no ranking Cities in Motion
de iniciativas e cidades inteligentes. De acordo com essa
constatação, os esforços da Comunidade Ibero-Americana em
alcançar regiões em que a sociedade e o Governo participam
ativamente de sua gestão, com iniciativas de cooperação e
desenvolvimento sustentável, cultural, econômico e social
estão alcançando seus objetivos. Os países ibero-americanos
mais bem colocados no ranking (Espanha e Portugal) são
localizados na Europa e estão consideravelmente a frente dos
países latino americanos. Compreende-se que o investimento
nos países latinos precisa ser potencializado para que eles
possam competir diretamente com os países europeus da
ibero-américa.
6.1 Recursos Humanos
Brasil, Colômbia, Costa Rica, Espanha, Peru e Portugal
informam sobre os ofícios de seus colaboradores, classicados
de acordo com as funções exercidas, mas sem especicar os
campos de atuação e a especialização necessária. No que diz
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
233
respeito a capacitação e aperfeiçoamento dos colaboradores,
Equador e Panamá não apresentam dados sobre esta temática
em suas páginas.
O incentivo à educação existe por meio do oferecimento
de especializações e divulgação de cursos de bacharelado
e pós graduação. Um caso destaque é o da Colômbia, que
salienta a importância do compartilhamento de informações
entre a equipe e incentiva esta atitude por meio de uma
biblioteca virtual que concentra dados e informações acerca
dos treinamentos realizados, para posterior consulta de todos
os colaboradores.
Com base nas características e funcionamento das smart
cities, percebeu-se que existe um paralelo entre a iniciativa
do arquivo colombiano e uma possível atuação dos arquivos
públicos nessas regiões. As discussões realizadas por atores
sociais como cidadãos, governo, especialistas e pesquisadores
pode ser fomentada por centros de informação físicos e
online, como o caso dos Arquivos Públicos. Dentre as 13
instituições estudadas, 11 apresentam atividades voltadas para
a capacitação/aperfeiçoamento da equipe, representando um
total de 85% dos arquivos e demonstrando um alto índice
de preocupação com a formação de pessoal qualicado. Em
relação à formação de equipes multidisciplinares, 54% dos
arquivos fornecem informações acerca da diversidade de
colaboradores atuando para seu funcionamento.
De acordo com os dados, os arquivos estão preocupados
com a formação e capacitação de seus colaboradores, os
recursos humanos da instituição. De fato, essa realidade
demonstra uma abordagem paralela aos princípios de cidades
inteligentes, que observam as pessoas como capital intelectual
atuante na valorização de instituições e localidades.
6.2 Mercado/Usuários
Observou-se que dentre os 13 websites vericados, existia
alguma forma de interlocução disponível para o usuário. O
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
234
Arquivo do Chile utiliza as redes sociais, o website institucional
e Sistemas Públicos de atenção aos usuários como canais de
comunicação. Serviços de ouvidoria e órgãos responsáveis por
atender as demandas de queixas, denúncias, reclamações e
sugestões são apresentadas pelos Arquivos do Brasil, Chile,
Costa Rica e República Dominicana. A Colômbia possui um
Sistema exclusivo para as diligências de seus usuários, sendo
possível acompanhar a situação de cada processo por meio da
ferramenta e solicitar auxílio para a compreensão de questões
arquivísticas.
O Sistema de Portugal oferece: reservas de documentos,
solicitação de certicados, canais interativos para obtenção
de informações, entre outros. O Facebook foi apontado como
um canal de comunicação. Existe uma área de Perguntas
Frequentes nas instituições do Brasil, Colômbia e Peru.
Formulários Online para contato na Espanha, México, Peru,
Portugal, República Dominicana e Uruguai.
Evidencia-se que a Costa Rica elabora relatórios
anuais de Estudo de Usuários para o arquivo intermediário,
notarial e histórico. Os anos de referência são 2010, 2015
e 2017 e demonstram que o motivo de maior procura do
Arquivo foi para trabalho (anos de serviço em instituições
públicas), seguido da pesquisa (temas notariais, investigações
genealógicas), trâmite administrativo e uso acadêmico, tendo
os dois últimos o mesmo volume de procura. Os usuários
externos em 2017 eram formados pela comunidade em geral,
com mais da metade do percentual; depois, estudantes,
setor privado e pensionistas. Em 2015, entre os prossionais
que mais procuraram os serviços da instituição, destacam-
se os advogados, correspondentes à 58% dos usuários, os
assistentes legais (9%) e os mensageiros (6%). No ano de 2010,
886 pessoas zeram uso do arquivo histórico, em sua maioria
estudantes, advogados e historiadores.
Menos do que a metade dos Arquivos (46%) apresentam
informações sobre Estudos de Usuários/Pesquisa de Mercado;
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
235
77% fazem controle das visitas físicas e/ou virtuais e; 46%
estabelecem meios para o feedback do atendimento. Seria
importante que as informações sobre os usuários fossem
divulgadas por todas as instituições arquivísticas, pois é
com base nelas que podem ser elaboradas estratégias de
divulgação, disseminação e atração de usuários, além de
atendimento personalizado. Possuir setores exclusivos para
tratar de assuntos pertinentes as demandas da comunidade
também é de grande valia para o atendimento eciente e
ecaz dos usuários.
Gráco 1 Canais de Comunicação em Arquivos Públicos
Ibero-americanos
Fonte: elaborado pelas autoras.
6.3 Produtos/Serviços
Os arquivos possuem serviços que se conguram
no atendimento das necessidades informacionais dos
cidadãos, como microlmagem, digitalização, certicação
de documentos e transcrições paleográcas. As instituições
desenvolvem ainda atividades inovadoras que auxiliam na
promoção do patrimônio cultural arquivístico e inserção do
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
236
Arquivo Público como centro de referência em informação
para a sociedade e o governo.
Além das funções técnicas, os produtos e serviços
mais comumente oferecidos são: assessoria arquivística
para instituições públicas e privadas, publicações técnicas
e temáticas (artigos, manuais, etc.), exposições, cursos de
capacitação, visitas guiadas, biblioteca especializada, revistas
institucionais, promoção de eventos, espaços para reuniões/
atividades e vendas de publicações.
Existem também, meios de divulgação e atração de
novos usuários como: uma área com notícias atualizadas no
website; redes sociais; publicações temáticas relacionando
documentos custodiados com datas, eventos históricos e/
ou culturais; boletins informativos; e-mail disparado para os
usuários cadastrados receberem noticações e atualizações
sobre as atividades da organização; alguns arquivos possuem
programas de rádio com informações temáticas sobre a
instituição, seu acervo e fatos históricos; calendário de eventos,
exposições Itinerantes e catálogo de exposições.
Os parâmetros relacionados aos Produtos/Serviços dos
arquivos de cidades inteligentes estão sendo atendidos, pois
100% dos arquivos apresentam oferta ampliada, iniciativas
de promoção/difusão e instrumentos de busca, porém, em
escala e variedade diferentes. O critério de atualização precisa
ser vericado, pois apenas 23% dos arquivos demonstram
realizar essa atividade rotineiramente. A oferta ampliada de
produtos e serviços à população e a administração pública de
acordo com as demandas identicadas é um diferencial de
atuação que pode ajudar os arquivos a consolidarem-se como
centros referenciais de informação, uma vez que seus usuários
vislumbram a ampla possibilidade de produtos e serviços que
podem obter naquela instituição.
As atividades focadas em grupos sociais distintos
permitem que a população possa se ver representada em
suas necessidades especícas, como é o caso das atividades
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
237
voltadas para o público infantil, portadores de necessidades
especiais, mulheres, negros, entre outros. Para atender essas
singularidades é preciso que a avaliação e atualização dos
produtos e serviços seja feita de maneira periódica, pois as
mudanças sociais são rápidas e precisam ser contempladas nas
atuações dos arquivos públicos, que tem seu trabalho voltado
para atender a comunidade. Os arquivos ibero-americanos,
não apresentavam informações sobre essa conjectura em seus
websites institucionais.
O investimento em divulgação do acervo e suas atuações
pode ser impactante para a efetiva utilização dos produtos
e serviços das instituições arquivísticas. Iniciativas como
os programas de rádio, envio de e-mails personalizados,
empréstimo de acervo para exposições itinerantes e demais
iniciativas que possibilitem a proximidade entre os documentos,
a informação e a realidade dos indivíduos fazem com que o
papel social do arquivo seja melhor compreendido.
Em cidades inteligentes, os serviços públicos são
construídos mediante a participação da comunidade, assim,
a constante atualização dessas conveniências deve responder
as demandas sociais, que variam de acordo com a situação
economia e política de um território. A oferta ampla de recursos
para a facilidade da vida urbana é uma das solicitações da
população as governanças horizontais.
6.4 Gestão Local/Pública
Os Arquivos da Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica,
Equador, México, Panamá, Peru, República Dominicana e
Uruguai não possuem parcerias com o governo. Apenas Chile,
Espanha e Portugal promovem atividades efetivas em conjunto
com a administração pública. No Chile, o Cuenta Pública
(2017) apontou que o Ministério da Fazenda, em parceria com
o Arquivo Nacional, desenvolveu um projeto-piloto intitulado
“Piloto de gestão documental para o Estado”, cujo propósito
foi gerar um modelo de transferência eletrônica para os
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
238
serviços públicos, permitindo um processo de transferência
da documentação eletrônica do governo para o Arquivo. A
subdireção geral dos arquivos espanhóis é um projeto do
governo, sob a responsabilidade do Ministério da Cultura e
Esporte.
Existem iniciativas voltadas para a assessoria,
padronização e gestão da documentação pública em boa parte
dos Arquivos Nacionais ibero-americanos. Em sua maioria, são
projetos com originários das próprias instituições arquivísticas
para auxiliar no tratamento e uso das informações, atendendo
aos objetivos e missões de um arquivo público. São poucas a
colaborações mútuas entre governo e arquivo para implantação
de projetos. Este é um cenário que precisa ser repensado para
a atuação em cidades inteligentes, pois para ser um centro
referencial de informações os arquivos precisam trabalhar
de forma conjunta com o Estado. Os projetos criados com
relação à documentação pública atendem as necessidades
de preservação do patrimônio e gestão documental eciente,
porém, é necessário investir em projetos que tenham como
foco o valor estratégico da informação.
A categoria de Gestão Local/Pública possui características
fundamentais para a atuação efetiva dos arquivos públicos em
cidades inteligentes e apresentou dados pouco favoráveis. O
fomento à pesquisa e as parcerias com o Estado acontecem
em apenas 4 países (Chile, Colombia, Espanha e Portugal) no
total.
Eventos sobre desenvolvimento urbano e regional
não foram encontrados nos arquivos nacionais, porém, os
estudos de usuários demonstram que temáticas relacionadas
à urbanização, geograa e história urbana estão entre as mais
procuradas, sendo assim, existem documentos relacionados
a este assunto nos acervos que poderiam ser utilizados para
a promoção de reuniões, exposições, palestras e cursos
sobre o tema. É preciso repensar esta situação para que os
arquivos possam ser companheiros de atuação do Governo.
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
239
A teoria sobre cidades inteligentes revela que as instituições
de pesquisa e informação devem elaborar parcerias diretas
com a administração pública, para poder desenvolver projetos
que beneciem a prosperidade das regiões inteligentes,
principalmente no que diz respeito à pesquisa, inovação e
planos estratégicos.
6.5 Tecnologia
Os arquivos que apresentam acesso virtual aos acervos
o fazem de maneira parcial, nenhum deles disponibiliza os
fundos e coleções completos. São eles: Brasil, Chile, Colômbia,
Espanha, Peru, Portugal e República Dominicana. A maioria
dos países mantêm os sites atualizados e preocupam-se em
postar informações constantemente nas redes sociais: Brasil,
Chile, Colômbia, Costa Rica, Espanha, México, Peru, Portugal e
República Dominicana.
Alguns arquivos oferecem eventos voltados para a área
tecnológica, pensando na atuação arquivística, na facilitação
das atividades e no compartilhamento de informações. Esses
eventos poderiam tomar uma proporção maior e contemplar
as tecnologias relacionadas ao ambiente urbano e a gestão
pública, abrangendo aspectos das cidades inteligentes. Os
produtos e serviços online são um modo de facilitar a busca
por informação dos usuários, assim, a atualização dos websites
e disponibilização do acervo para visualização são iniciativas
que fornecem autonomia para os pesquisadores.
O uso das TIC pelo Poder Público na estruturação e
funcionamento de cidades inteligentes é uma das principais
características dessas comunidades. Ademais, a tecnologia a
serviço da promoção e disseminação de informações cruciais
para o planejamento urbano também é um aspecto abordado
na literatura. Os arquivos como centros referenciais de
informação em cidades inteligentes devem atentar-se a esses
quesitos para aprimorar a utilização de recursos tecnológicos
nos procedimentos executados pela instituição.
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
240
Além das ações identicadas, entende-se que as
instituições arquivísticas de regiões inteligentes podem ofertar
seus espaços físicos e virtuais para a formação de grupos de
discussão e pesquisa que debatam categorias relacionadas ao
desenvolvimento urbano e regional, melhoria da qualidade
de vida, aspectos tecnológicos, ambientais, dentre outras
temáticas que contemplam o desenvolvimento das cidades.
Observou-se a atuação com foco em atender as demandas
da comunidade e do setor público, além da preocupação
em preservar o patrimônio cultural e documental de suas
nações e da ibero-america como um todo. Isso reforça a ideia
de Arquivo como centro de referência em informação para
o trabalho do Estado e os projetos relacionados as cidades
inteligentes, pois o objetivo dos arquivos públicos é servir
como fonte de provas, testemunho histórico e administrativo
de sua nação.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Identicou-se no universo do estudo, ações realizadas
pelas instituições arquivísticas de cidades inteligentes ibero-
americanas que podem ter impacto na gestão pública dessas
regiões. A área que precisa de maior atenção e investimentos
é a relacionada com o Governo/Administração Pública, pois
os arquivos precisam estabelecer parcerias efetivas que
demonstrem o seu potencial informativo e estratégico.
Em cidades inteligentes, o governo local, universidades,
empresas, cluster, pesquisadores e cidadãos reúnem-se para
discutir ideias e programas de melhoria. As TIC são ferramentas
importantes para potencializar o alcance dessas discussões e
fundamentais para o desenvolvimento dessas localidades. Isto
posto, o arquivo público precisa ter seu papel fundamentado
nessa relação, pois ele pode ser a base informativa e documental
para essa governança multidirecional e participativa.
Taynara Almeida de Oliveira
Rosângela Formentini Caldas
241
Gráco 2 Dimensões dos eixos de atuação dos Arquivos
Públicos Ibero-americanos
Fonte: elaborado pelas autoras.
Faz-se necessário que a visão sobre os arquivos públicos
seja revisitada, entendendo essas instituições como localidades
que proporcionam subsídios para o desenvolvimento
econômico, social, cultural e político. Em alguns websites foi
possível visualizar a ligação entre o arquivo e os portais de
transparência pública. Provavelmente este fato tem conexão
com as leis de acesso e disseminação da informação de
cada país, que deve estabelecer as regras de divulgação do
conteúdo. No futuro, seria importante a realização de uma
pesquisa que comparasse essas leis e identicasse o impacto
em seus arquivos públicos.
Nenhum dos diretores e funcionários entrevistados
durante este trabalho soube identicar ações dos arquivos
nacionais relacionadas à regiões inteligentes. Ademais, estudos
sobre cidades inteligentes ainda são escassos no campo da
Ciência da Informação carecendo de novas pesquisas que
abordem esta temática e contribua para o profícuo diálogo
entre tais áreas.
Arquivos Públicos Ibero-Americanos
no contexto de Cidades Inteligentes
242
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Mariana Cantisani Padua | Natalia Nakano
Maria José Vicentini Jorente
249
Mariana Cantisani Padua
Natalia Nakano
Maria José Vicentini Jorente
Inovação em comunicação museológica:
estudo de caso do SMARTMUSEUM
1 INTRODUÇÃO
Os museus têm se destacado na era digital por serem
espaços dígito-virtuais que permitem o acesso ao patrimônio
cultural e histórico, por meio da Web, e do uso de diferentes
suportes e mídias. Com o crescente desenvolvimento
das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), as
relações entre museu e público/visitante estão em constante
transformação. Assim, contemporaneamente, existe a
crescente demanda pela digitalização do patrimônio cultural
e uma demanda por tornar as coleções mais acessíveis. Uma
coleção organizada a partir de objetos digitais, localizada em
diferentes suportes e formatos, proporciona conectividade e
vários pontos de acesso.
Nesse contexto, o acesso e a recuperação da informação
nos websites de museus transcendem os métodos tradicionais
de comunicar e interagir com os visitantes. Os museus dígito-
virtuais se caracterizam pela imaterialidade, ubiquidade,
hipertextualidade, estímulo à interatividade e tendência à
comunicação multidirecional. Considerando que o objetivo da
instituição de memória é preservar o conteúdo para gerações
futuras e apoiar seu uso e administração por muitas gerações
(SCHEIBENZ, 2004), um dos grandes desaos que se apresenta
para os museus, arquivos e bibliotecas é combinar a conexão
digital com ricos ambientes interativos e permitir o acesso ao
conteúdo independentemente da natureza da instituição e da
tipologia das coleções.
CAPÍTULO 7
Inovação em comunicação museológica:
estudo de caso do SMARTMUSEUM
250
Diante do potencial dos ambientes digitais e das TIC,
os museus necessitam adotar ferramentas e aprimorar as
estruturas para disponibilizar seus patrimônios por meio
de múltiplas narrativas em plataformas interoperáveis e
interativas, possibilitando o acesso por meio de diferentes
suportes e mídias. Novos espaços informacionais associados
às TIC estão surgindo, possibilitando a disseminação de
informação tanto no meio digital quanto físico - os chamados
espaços informacionais híbridos. Esses espaços possibilitam
uma fusão dos conteúdos informacionais presentes tanto
no ambiente físico como virtual. Incluem-se, nesse cenário
possibilitado pelas TIC, as transformações ocorridas nos
centros de informação como as bibliotecas, os arquivos e os
museus.
É nesse contexto museal contemporâneo que se delineia
o objetivo deste estudo: apresentar e discutir um estudo de
caso inovador e criativo, o SMARTMUSEUM.
Contemporaneamente, as instituições e organizações
necessitam se redescobrir ou se reinventar continuamente
em relação à geração de novos produtos/serviços - a partir da
adoção de uma consciência inovadora, a m de acompanhar
as transformações da sociedade em rede. A criatividade e a
inovação de produtos/serviços se traduzem na exploração de
novas ideias ou na aplicação de melhores soluções. Não existe
um único modelo para solucionar os problemas relacionados
às interações e à experiência do internauta, porém, a pesquisa
cientíca pode apresentar soluções e diferentes saídas para
diferentes pers e contextos. Assim, motivar um olhar diferente
e diversicado de abordagens que convivem paralelamente e
se encontram na criatividade se faz necessário (RUOTSALO et
al., 2013).
Para estimular a competitividade e a geração de riquezas,
vários museus buscam implementar soluções multimídias para
aprimorar a experiência dos visitantes, seja in loco, ou na busca
e recuperação por informações relacionadas aos objetos e
Mariana Cantisani Padua | Natalia Nakano
Maria José Vicentini Jorente
251
coleções museais. Esses sistemas permitem que o conteúdo
digital constitua uma eciente entrega das informações
aos visitantes por meio da Web e possibilitam que esses
conteúdos sejam marcados e salvos para referência futura.
No entanto, parece que tais serviços de acesso ao conteúdo
não são atraentes o suciente para a maioria dos indivíduos
que interagem com esses sistemas, os visitantes têm uma
preferência por adquirir informações pertinentes no local das
exposições. Essa é uma das razões pelas quais a tendência
atual é a busca por melhorias, pela geração de ideias e de
inovações criativas que possibilitem estimular e aprimorar as
experiências relacionadas ao patrimônio cultural (RUOTSALO
et al., 2013).
Dentre as ações inovadoras e criativas que o
SMARTMUSEUM apresenta está relacionado ao funcionamento
e às funcionalidades implementadas no sistema que foi
projetado para aprimorar o acesso personalizado ao patrimônio
cultural nos ambientes informacionais digitais. O objetivo
principal do sistema é moldar as necessidades informacionais
dos visitantes ao recomendar objetos museais com base no
perl do visitante e informações sobre o contexto em que este
se encontra (localização física e motivação do visitante). Assim,
quando um visitante se interessa por um objeto em particular,
o sistema pode recuperar informação sobre aquele objeto
e relacionar o seu conteúdo a partir da Web. Esse modelo
conceitual pode ser referência para as áreas da Ciência da
Informação (CI), do Design e da Museologia em ambientes
híbridos de museus.
Neste momento é indispensável analisar o contexto
de realidade do objeto museal em ambientes virtuais, pois
o objeto não precisa existir sicamente para ser real, ele
pode ser fruto de uma projeção virtual ou uma simulação
de reconstrução gráca bidimensional ou tridimensional. O
objeto museal é um ator e também agente de informação,
atua por meio das histórias contadas por estes objetos que
Inovação em comunicação museológica:
estudo de caso do SMARTMUSEUM
252
fazem surgir lembranças para os visitantes, muitas vezes de um
tempo não presente. É a partir da contemplação ou imersão
que o visitante constrói discursos narrativos. Podemos dizer
que existe uma temporalidade museológica nas exposições,
os objetos museais são revestidos de realidade, signicados
e manifestações culturais do homem. É nessa perspectiva que
o visitante constrói redes de intencionalidades, através das
lembranças e das memórias.
A partir dessas considerações apresentadas, podemos
indagar: De que forma a interação com esses objetos é
incrementada pelo SMARTMUSEUM para que o visitante tenha
a melhor experiência possível no ambiente digital do museu?
Os princípios do Design da Informação e suas subáreas
como o Design de Experiências e o Design de Interação
podem contribuir com a criação de experiências envolventes e
efetivas para o acesso, a disseminação, o compartilhamento e
para a efetivação do processo comunicacional nos ambientes
híbridos de museus.
Diante da contemporânea situação dos ambientes de
bibliotecas, arquivos e museus, torna-se urgente desenvolver
ações e exercitar a comunicação e o compartilhamento
das informações custodiadas nessas instituições para que
o visitante alcance o objetivo pretendido ao interagir com
os objetos digitais nos ambientes informacionais dessas
instituições culturais.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de caso, fundamentado em
pesquisa bibliográca e exploratória, no qual sugere-se um
referencial teórico baseado no Design da Informação, Design
de Experiência no âmbito da comunicação museológica.
Apresentamos o projeto SMARTMUSEUM que busca o
incremento da interação com os objetos digitais museológicos
e, portanto, eciente comunicação museológica e experiência
nos ambientes digitais de entidades museológicas. Eciência,
Mariana Cantisani Padua | Natalia Nakano
Maria José Vicentini Jorente
253
no contexto deste trabalho, signica oferecer resposta
satisfatória às necessidades de informação que o sujeito
busca no ambiente, ou mesmo antecipar essas necessidades.
Este estudo justica-se, pois, segundo o mapa estratégico
dos museus, as questões relacionadas à preservação, difusão
e acesso, bem como função social, educação e pesquisa
compreendem pelo menos 50% das ações estratégicas do
museu (IBRAM, 2016).
No contexto Europeu, os estudos do início do século XXI
trataram de investigar as informações contidas nas unidades
de informação de museus. No estudo de Di Blas et al. (2002),
foram identicados três núcleos essenciais de informações: a
apresentação do website (informações de caráter genérico);
a apresentação do museu (questões que remetem para seu
ambiente físico); e o museu virtual (informações que remetem
para suas coleções e informações no ambiente digital).
Outros estudos seguiram no início do século, ainda sem foco
nas tecnologias da Web 2.0, grande parte das investigações
estavam relacionadas às tipologias das páginas online, suas
características, conteúdos e funcionalidades (KRAVCHYNA;
HASTINGS, 2002; THOMAS; CAREY, 2005).
As instituições museológicas estão em constante
evolução, e esses ajustes estratégicos afetam diretamente a
comunicação do museu. Pesquisas recentes da área apontam
que os desaos decorrentes da globalização proporcionam
emergências e novas oportunidades oferecidas pelas inovações
tecnológicas (KHAWAN, 2021). Entre as pesquisas recentes,
podemos citar os estudos de Corona (2020), em que a autora
trata da museologia e da comunicação nos museus virtuais,
e Yu (2020) que expõe um estudo voltado para a utilização
do Big Data como tecnologia para aprimorar a comunicação
museológica em exibições virtuais. O sentido de comunicação
museológica que utilizamos aqui é o da comunicação
enquanto prática social que objetiva a produção e circulação
da informação em diferentes mídias e artefatos, fazendo uso
Inovação em comunicação museológica:
estudo de caso do SMARTMUSEUM
254
de técnicas e meios especícos.
Nesse sentido, a estratégia de comunicação de uma
instituição deve abranger as ações de divulgação das produções
realizadas pela instituição, suas atividades, pesquisas,
exposições, entre outras informações de disseminação e
consolidação da imagem institucional nos âmbitos locais,
regionais, nacionais e internacionais. Não se constitui como
objetivo desse estudo elencar todas as ferramentas digitais
disponíveis utilizadas pelas instituições museológicas, para
atender a sua imensa diversidade e constante mutação.
Incidimos a nossa análise na apresentação do SMARTMUSEUM
o SI relacionado a ele.
Mais contemporaneamente, grandes investimentos em
projetos a nível das TIC têm sido considerados de forma a
manter a vitalidade das instituições culturais no contexto
das potencialidades permitidas pelas tecnologias digitais
(KHAWAN, 2021).
Assim, este capítulo apresenta um estudo de caso
inovador que une vários artefatos em uma experiência de
visita que se estende pelo espaço e pelo tempo, por meio das
visitas ao ambiente do museu e da utilização do Sistema de
Informação (SI) que estimula, estende e cria conhecimento a
respeito das visitas realizadas no ambiente digital por meio das
possibilidades que o sistema oferta, previstas no seu design e
descritas em seção própria do SMARTMUSEUM.
3 O DESIGN DA INFORMAÇÃO EM AMBIENTES DIGITAIS
DE MUSEUS
Na era da Internet, as mídias digitais estão cada vez
mais inseridas nas práticas cotidianas e, dessa forma, os
museus podem se beneciar com a aplicação de princípios
de Design em seus espaços, assim como aplicá-lo para o
desenvolvimento dos serviços que oferecem. O que torna os
museus virtuais únicos não são apenas as informações que
neles contêm, mas sim de que forma são apresentadas: os
Mariana Cantisani Padua | Natalia Nakano
Maria José Vicentini Jorente
255
contextos em que os objetos são apresentados dentro de suas
coleções; a organização das expograas; e, a proposta deste
estudo como ocorre à interação com essas informações e sua
recuperação. Por meio da organização dos objetos museais,
neste caso, realizado pelo SMARTMUSEUM, o Designer deve
entender e construir uma teia de signicados (uma narrativa),
para que o internauta consiga traçar seu próprio caminho,
com o objetivo de transformar o sujeito com a possibilidade
de gerar e comunicar conhecimento (ROCHA, 1999).
Steve Vassalo (2017), autor do livro The Way to Design, que
trata da importância do Design para empresas de tecnologia
localizadas no Silicon Valley, dene Design como algo maior
do que simplesmente a proposição de uma estética ideal. Na
contemporaneidade, a tecnologia avança de forma a facilitar
o projeto e a criação de produtos e serviços, proporcionando
fácil acesso, como por exemplo, públicos leigos podem
utilizar programas (softwares) que criam o próprio código/
programação da interface que se está projetando, tornando a
interface e/ou solução visual completamente funcional.
O problema resolvido com uma tecnologia é tão
importante quanto a aparência do produto. Vassallo (2017, p.
48, tradução nossa) aponta que:
A questão chave para o Design é encontrar o
propósito de um produto ou de uma organização
- o problema que será solucionado - e então,
cuidadosamente, certicar-se de que cada
faceta da solução suporta o objetivo proposto.
É importante treinar uma equipe ou uma
organização a valorizar o Design. Modelar os
princípios do Design e aplicá-los como uma
metodologia, dessa forma, encontramos o
porque e como resolver o problema.
É quase impossível compreender a magnitude de uma
escultura de Aleijadinho ou uma pintura como Operários
de Tarsila do Amaral, na tela de um computador. Ao visitar
o Museu Nacional de Imigração Japonesa, por exemplo, é
emocionante estar ao lado de uma armadura Samurai, pois o
Inovação em comunicação museológica:
estudo de caso do SMARTMUSEUM
256
visitante ao visualizar a obra pode imaginar o que sentiu ou
o que experimentou o Samurai que vestiu aquela armadura e
escalar as montanhas antes de sair para uma batalha. Nesse
sentido, os desaos para o desenvolvimento de ambientes
digitais de museus demonstram ser de alta complexidade.
Para Castellary (2018, n. p.),
O museu foi uma das primeiras instituições de
memória que ousou enfrentar o desao das
TIC. Desde o início da cultura digital, existem
experiências importantes a respeito disso.
Nos anos 1990, foram numerosos os museus,
começando com a National Gallery, em Londres,
que publicaram conteúdo em várias mídias.
Desde então, esta linguagem hipermídia tem
sido implementada nos museus em três áreas: o
que podemos qualicar como ‘sobre o museu’,
‘a partir do museu’ e ‘dentro do museu’. Quando
falamos sobre o museu se trata do apoio oine,
que foi desenvolvido principalmente nos anos
1990; a partir do museu seria o caminho online;
e dentro do museu seria a incorporação de
elementos interativos na narrativa do museu,
em suas próprias instalações. Grande parte
dos museus, em escala internacional, optou
fundamentalmente pelo ‘a partir do museu’, o
que seria favorecê-los, especialmente os de arte
ou história, como forma de aderir à era digital e
amealhar mais público.
Na Internet, na maioria dos projetos de ambientes
digitas de museus, os internautas não têm a possibilidade de
visualizar um artefato agregado a outros artefatos do mesmo
período ou da mesma região. Essa contextualização se torna
de suma importância para o internauta que está pesquisando
sobre um movimento artístico, por exemplo, as correlações
entre os objetos digitais podem colaborar para uma melhor
compreensão do que os artistas de um determinado século
criaram, quais as correntes que dali se sucederam, e assim por
diante.
Semedo (2015) se refere a dois tipos de narrativas
Mariana Cantisani Padua | Natalia Nakano
Maria José Vicentini Jorente
257
encontradas nas análises e estudos de museus e dos seus
espaços expositivos. A primeira se refere ao efeito Foucault
(MASON, 2005), o modelo se fez presente a partir da década de
1980 e trata das relações de poder e conhecimento, assinalando
para questões de descontinuidade, quebras e não-linearidade.
O segundo modelo trata de abordagens textuais em que “os
museus funcionam como sistemas de comunicação e a leitura
do objeto de análise como um texto permite a exploração das
suas estruturas narrativas” (SEMEDO, 2015, p. 4).
Mantendo a contextualização em mente, os museus
dígito-virtuais devem deixar de ser apenas coletores de
informações para se tornarem curadores de experiências. Para
que a comunicação nas interfaces dos ambientes digitais de
museus seja transparente, que não cause uma sobrecarga
cognitiva ao visitante, os recursos de Design da Informação
devem orquestrar os aspectos materiais e informacionais do
ambiente digital, bem como os aspectos sensoriais, cognitivos
e humanísticos dos sujeitos que interagem com o ambiente,
considerando que o aprimoramento da ecácia de ambientes
digitais não é de ordem meramente técnica, resolvido
unicamente pela Ciência da Computação.
O processo de Design, segundo Mozota (2003, p. 13),
possui quatro características essenciais, os 4Cs do Design.
São elas: Criatividade - Design requer a criação de algo que
não existe; Complexidade Design envolve decisões com um
grande número de parâmetros e variáveis; Compromisso
Design requer equilibrar requerimentos múltiplos e algumas
vezes conitantes; e Escolha Design requer fazer escolhas
entre várias possíveis soluções para os problemas. Para Best
(2006, p. 112), “Design é rigorosamente um processo cíclico de
questionamento e criatividade”.
Por outro lado, Brown e Katz (2009) não o processo de
Design como etapas, armando que ele se desenvolve através
de espaços de trabalho que se sobrepõem. Estes espaços são
traduzidos em ideias e, o espaço de implementação, no qual
Inovação em comunicação museológica:
estudo de caso do SMARTMUSEUM
258
as melhores ideias são desenvolvidas em um plano de ação
completo e totalmente concebido (BROWN; KATZ, 2009, p. 64).
Figura 1 – O processo iterativo do Design
Fonte: Padua (2019).
Vale reforçar que são espaços que se justapõem, iterativos,
ao invés de serem estágios sequenciais de uma metodologia
(Figura 1). Brown e Katz (2009) explica que esses espaços
acontecem em dois tipos de pensamentos - o divergente e o
convergente: para o autor, o pensamento divergente é para
multiplicar ideias e o pensamento convergente direciona para
uma solução.
Mariana Cantisani Padua | Natalia Nakano
Maria José Vicentini Jorente
259
Anteriormente, os métodos de Design estavam
relacionados somente à atividade projetual. Atualmente, em
um cenário cada vez mais reconhecido como sendo de grande
complexidade, entende-se o Design de acordo com o World
Design Organization, antigo International Council of Societies of
Industrial Design (WDO-ICSID), que destaca o papel do Design
para a concepção de objetos, processos, serviços e sistemas, a
partir de uma perspectiva sistêmica.
O WDO destaca que o Design é um processo estratégico
de solução de problemas que impulsiona a inovação, estabelece
o sucesso do negócio, além de proporcionar uma melhora na
qualidade de vida por meio da criação e soluções em produtos,
sistemas, serviços e experiências inovadoras. É uma prossão
que perpassa diferentes áreas do conhecimento, e dela se
apropriam de forma transdisciplinar, além disso aproveita a
criatividade para resolver problemas e cocriar soluções com a
intenção de otimizar um produto, sistema, serviço, experiência
ou negócio. Na sua essência, o Design oferece uma maneira
mais otimista de olhar para o futuro, reformulando problemas
como oportunidades. Ele conecta inovação, tecnologia,
pesquisa, negócios e clientes para fornecer novos valores e
vantagens competitivas em esferas econômicas, sociais e
ambientais (WDO-ICSID, 2015).
No âmbito da grande área do Design, Burdek (2006)
menciona que esta se consolidou como uma disciplina
autônoma com um respeitável corpo de saber, a partir do
m do século XX, e, portanto, compartilhando características
conceituais, estão as disciplinas especializadas como o Design
da Informação (DI) e o Design de experiências. Nesse cenário,
o designer da informação deve ter um papel no processo
criativo de resolução de problemas e atuar com o uso de
perspectivas inovadoras para a humanização das tecnologias,
de forma a contribuir para o desenvolvimento econômico e
cultural.
O DI apresenta a informação como objeto central de
Inovação em comunicação museológica:
estudo de caso do SMARTMUSEUM
260
estudo. Capurro (1992) sugere em sua revisão do artigo O que
é a ciência da informação? que o foco dos estudos de Sistemas
da Informação (SI), dos estudos de tecnologia da informação,
está intimamente relacionado às possibilidades que essas
tecnologias têm em relação às capacidades corporais dos
indivíduos, o que não implica em avaliar apenas a usabilidade
e a ergonomia (questões estruturais) dos SI. Orna e Stevens
(1991), delineiam uma relação/aliança entre SI e Design da
Informação, e levam em conta todas as dimensões da existência
humana, que vão além de questões estéticas e corporais,
incluindo a percepção e o comportamento do indivíduo como
um todo.
O DI surge como uma disciplina que aborda questões
do projeto como um todo, que compreende estudos além das
questões estruturais, destacando a organização da informação
em espaços físicos e digitais, lidando com a representação de
forma tridimensional, produzindo signicado e compreensão.
Estas áreas se aproximam e coincidem com os saberes
e fazeres tecnológicos, com as disciplinas envolvidas
na elaboração de projetos, com os relacionamentos
interdisciplinares, e os vários atores envolvidos com cada uma
das etapas relacionadas.
Para se discutir as experiências criadas e moldadas
por meio da tecnologia e deliberadamente pensar o Design
de experiências, é importante ter em mente a questão
principal deste estudo: o Design dessa tecnologia entende
as características cruciais de interação do visitante com o
ambiente informacional digital do museu?
Segundo Norman (2011, n. p.),
nós sabemos como projetar ‘coisas’ que realizam
ações concretas e particulares. Mas como
devemos projetar estas experiências? Através
dos pontos apontados por Hassenzahl, elas não
podem ser projetadas, elas podem ser suportadas,
ou seja, pode-se projetar focando nas aordances
de experiências, porém, no nal cabe ao usuário
Mariana Cantisani Padua | Natalia Nakano
Maria José Vicentini Jorente
261
que utiliza o produto construir seu caminho para
a experiência.
Neste ponto encontra-se um da complexidade do
objeto estudado, pois que se considerar que a concepção
de experiência descrita pelos próprios sujeitos tem potencial
para alterar o conceito da própria categoria “experiência”,
e a forma de se projetar o Design da Informação de todo o
processo como uma totalidade. a criação de experiências
consideradas inspiradoras e signicativas por meio da
apropriação da tecnologia, segundo Hassenzahl, é uma
responsabilidade dos atores que interagem com o sistema
(HASSENZAHL, 2013).
Percebe-se que avaliar a experiência da dimensão do uso
(ou a dimensão da experiência) é um processo que envolve
fenômenos dinâmicos. O Designer do espaço informacional
deve denir um conceito de navegação no qual ocorra a fusão
de vários elementos e várias fases a serem consideradas. Entre
essas denições encontram-se: os objetivos do ambiente
digital, os concorrentes do mercado, os tipos de sujeitos que
o ambiente pretende alcançar, os objetivos dos indivíduos que
irão interagir com o ele e os cenários em que as interações
ocorrerão. O projeto selecionado para o estudo de caso é um
projeto híbrido, ou seja, transita entre espaços físicos e digitais.
4 SMARTMUSEUM: estudo de caso
O projeto SMARTMUSEUM foi idealizado como um
sistema móvel e onipresente de recomendação para a Web
de dados, ou seja, o desenvolvimento da aplicação se deu
a partir do levantamento das necessidades de informação
dos visitantes em acesso local (context-aware) ao patrimônio
cultural com reconhecimento de contexto.
As funcionalidades do sistema SMARTMUSEUM pode
ser instruída por meio de três cenários: 1) Cenário móvel
ao ar livre: o visitante se movimenta pela cidade e recebe
informações sobre locais interessantes e de seu interesse; 2)
Inovação em comunicação museológica:
estudo de caso do SMARTMUSEUM
262
Cenário interno móvel: em ambientes fechados nas instalações
do site, o visitante recebe informações sobre objetos, e as
inter-relações com seu per l e preferências são realizadas pelo
sistema; e 3) Cenário da área de trabalho: o visitante insere ou
edita manualmente seu per l em um computador antes ou
depois de realizar uma visita (RUOTSALO et al., 2013).
O sistema SMARTMUSEUM (Figura 2) utiliza as linguagens
da Web semântica como forma de representação de dados. As
ontologias são usadas para preencher a lacuna semântica entre
descrições de conteúdo heterogêneo, entradas de sensores e
per s de visitantes. O sistema faz uso de uma estrutura de
recuperação de informações em que os dados de contexto
e o agrupamento de resultados de pesquisa são usados na
recomendação de conteúdo adequado para os visitantes que
interagem com o sistema.
Figura 2 – Funcionamento técnico do SMARTMUSEUM
Fonte: Ruotsalo et al. (2013, p. 9, tradução nossa).
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O sistema consiste de quatro componentes principais
implementados como serviços da Web: um serviço de
metadados, um serviço de contexto, um serviço de perl de
visitante e um serviço de ltragem.
O serviço de metadados é responsável por armazenar
os metadados obtidos no rastreamento da Web. Ou seja, para
atualizações o rastreador verica URLs (Universal Resource
Locators) designadas para o local onde o visitante se encontra.
Cada URL aponta para uma saída de dados, de acordo como
o esquema RDFs (Resource Description Framework) de um
determinado provedor de dados. O serviço de metadados envia
os dados para que ocorra a indexação no serviço de ltragem
que também atua como um hub (conexão/relacionamentos)
quando um cliente móvel solicita recomendações ou
atualiza o seu perl de visitante. As questões referentes ao
relacionamento das estruturas de ligação para representar
e relacionar os dados depende do conjunto de ligações na
estrutura de um RDF, que tem características facilitadoras na
fusão dos dados e utiliza URIs (Uniform Resource Identier)
para nomear a relação entre os recursos e a utilização desse
modelo. Esse conjunto de ligações permite que os dados
estruturados ou semiestruturados possam ser mixados,
expostos e compartilhados entre diferentes aplicações.
Os dados são representados via RDFs na forma de triplos
e são mapeados para três elementos principais para suportar a
ltragem de informações de reconhecimento de contexto: uma
descrição física, uma descrição de conteúdo e uma descrição
de contexto. A descrição física abrange as propriedades de um
objeto relacionadas à sua localização física e acessibilidade; a
descrição do conteúdo descreve o conteúdo do objeto, como
o assunto, o criador e o local de fabricação; e a descrição do
contexto inclui informações relacionadas ao contexto anexadas
ao objeto, como o público-alvo, e uma razão pela qual o
visitante pode ou deseja examinar o objeto. Os três elementos
foram implementados ao introduzir as três propriedades de
Inovação em comunicação museológica:
estudo de caso do SMARTMUSEUM
264
nível superior, por exemplo, as propriedades dc: description,
dc: title e dc: subject podem ser conguradas para incluir a
propriedade de conteúdo em um RDFs superior, podendo ser
utilizado para diferentes pers de visitantes que possuem as
mesmas preferências (RUOTSALO et al., 2013). A ideia é que
isso possa acomodar qualquer esquema subjacente e qualquer
conjunto de ontologias de domínio. Todo o raciocínio adicional
é baseado nas relações RDFs e especicadas nas ontologias
de domínio e no balanceamento das três propriedades de
nível superior, o que pode ser empregado para melhorar a
indexação e o balanceamento de recursos na fase de ltragem.
O serviço de contexto mapeia dados contextuais para os
conceitos denidos nas ontologias. São analisados dois tipos
de informações de contexto: informações que os visitantes
oferecem voluntariamente para entrada - itens que são difíceis
de capturar por meio de sensores, como a duração de uma
visita a um local especíco, a motivação do internauta para uma
visita e a capacidade para consumir o conteúdo oferecido pelo
sistema; e recursos que podem ser capturados pelos sensores
embutidos nos dispositivos móveis, como receptores de GPS,
acelerômetros e leitores RFID (Radio Frequency Identication),
para identicar objetos ou a localização do visitante. Os
dados contextuais são adquiridos a partir das entradas desses
sensores. Os sensores geralmente fornecem os dados em
alguma forma numérica, mas não especicam a semântica da
entrada.
As entradas do sensor e as preferências de contexto
inseridas manualmente pelo visitante/turista são enviadas para
o serviço de contexto, que as mapeia para alterar e conceituar
as ontologias. A representação de contexto resultante,
juntamente com as preferências do visitante indicadas por
meio do feedback de relevância, através da recuperação de
objetos digitais, é enviada ao serviço de perl do internauta.
Considera-se que esse seja o diferencial do SMARTMUSEUM,
o que o torna único.
Mariana Cantisani Padua | Natalia Nakano
Maria José Vicentini Jorente
265
O serviço de perl do visitante, por sua vez, constrói
um perl de visitante a partir dos dados de contexto e das
preferências do internauta inferidas com base no feedback de
relevância. O perl do visitante é enviado para o serviço de
ltragem, que recupera objetos para o internauta de acordo
com seu perl. Além disso, o servidor de metadados retorna
metadados e conteúdo de objetos relacionados, como vídeos
anexados ou conteúdo multimídia externos. Estes são enviados
para o componente de visualização e apresentados para o
visitante na interface gráca do sistema móvel (RUOTSALO et
al., 2013).
O serviço de ltragem é responsável por duas tarefas:
a primeira é a indexação do conteúdo que o serviço de
metadados obtém ao rastrear a Web, e a segunda é a ltragem
de recomendações na solicitação do internauta, ao utilizar seu
dispositivo móvel. Na fase de ltragem, o sistema apresenta o
conjunto de triplos gerados pelo serviço de perl do usuário
e os dados de contexto como entrada; o sistema executa a
ltragem com base no perl do visitante; e em seguida, o
conjunto resultante de objetos é agrupado de acordo com os
triplos correspondentes na fase de ltragem. A lista nal de
recomendações é retornada ao sistema de metadados, que
passa o resultado para o visitante em seu dispositivo móvel
(RUOTSALO et al., 2013).
Os resultados de experimentos realizados em laboratório
demonstraram que o raciocínio baseado em ontologias, a
expansão de consultas, o agrupamento de resultados de
pesquisa e o conhecimento de contexto levaram a melhorias
signicativas no desempenho das recomendações para o
SMARTMUSEUM. Os resultados dos testes de campo mostraram
que a usabilidade do sistema atende às expectativas dos
visitantes nas interações em contextos especícos (RUOTSALO
et al., 2013). Os resultados dos estudos do SMARTMUSEUM
indicaram que a representação e recuperação de conteúdo
semântico podem melhorar signicativamente o desempenho
Inovação em comunicação museológica:
estudo de caso do SMARTMUSEUM
266
dos sistemas de museus.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade conectada tem provocado mudança nos
hábitos e no comportamento informacional dos indivíduos,
e esses, por sua vez, demandam mudanças nos sistemas
informacionais disponíveis em busca de maior conveniência e
serviços inteligentes personalizados.
Os museus possuem três principais áreas de ação:
conservação (aquisição, conservação preventiva e restauração);
informação (inventário da coleção, pesquisa e publicação); e
comunicação (exposição, ações pedagógicas e ações culturais).
Para Tobelem (2011) as atividades no espaço museológico
devem ser encaradas de forma holística.
É importante reconhecer que o museu deve atuar
fundamentalmente como canal de comunicação com a
sociedade. O museu rearma-se na contemporaneidade como
um espaço aberto, que atende à função do homem como
indivíduo e do homem como um ser social. Nesse sentido,
através da investigação do exemplo do SMARTMUSEUM e suas
ações comunicacionais interativas e de inovação, reetimos
sobre o potencial de contribuição que as TIC têm para os
museus.
O desao de criar e organizar coleções pessoais, pelos
visitantes através da utilização de recursos informacionais,
como no projeto do SMARTMUSEUM, não são exclusivos para
os internautas que navegam nos ambientes digitais de museus.
Alguns estudos apontam para pesquisas de outras áreas do
conhecimento que utilizam os recursos baseados na Web, os
quais desenvolveram ferramentas que permitiram a criação
de coleções pessoais, através do emprego de marcadores
ou tags, que são descritos ou marcados com palavras que o
identicam, de forma a categorizá-los (GOLDER; HUBERMAN,
2005; HAMMOND et al., 2005; LUND et al., 2005; MATHES,
2004; QUINTARELLI, 2005).
Mariana Cantisani Padua | Natalia Nakano
Maria José Vicentini Jorente
267
As instituições de memória, arquivos, bibliotecas e
museus, foram criadas sob a égide da preservação dos
conteúdos para gerações futuras. E, nesse cenário, um dos
grandes desaos que se apresentam é combinar a conexão
digital com ricos ambientes interativos e permitir acesso ao
conteúdo.
Com a apresentação do projeto do SMARTMUSEUM
pretendemos orientar o processo de tomada de decisão na
construção das estratégias necessárias para o desenvolvimento
de um plano de interação e recuperação de informação para o
ambiente digital de museu eciente, e que consequentemente
possa promover uma experiência satisfatória.
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Sobre os autores
Cristina Ortega Nuere
É Diretora Cientíca e de Operações da World Leisure Organization
- WLO. Doutora em Lazer e Desenvolvimento Humano e Mestre em
Gestão Cultural pela Universidad de Deusto, na Espanha. Concilia a
sua atividade principal na WLO, com a atuação docente que realiza
na Universitat Oberta de Catalunya, Espanha. Autora de diversos
livros e artigos, destacando-se o livro “Observatorios Culturales.
Creación de Mapas de Infraestructuras y Eventos”. A obra lançada
no ano de 2010, na cidade de Barcelona, se transformou em
referência para os observatórios culturais, sendo um modelo de
utilidade adotado em várias cidades e países. Colabora ainda nos
quesitos de desenvolvimento e avaliação de políticas culturais para
localidades e instituições internacionais, tais como: As Capitais
Europeias da Cultura; o Consejo Vasco de la Cultura (CVC) do
Governo Basco; e o Observatorio Vasco de la Cultura, em Bilbao
na Espanha.
E-mail: cristina@worldleisure.org
Gabriela Viale Pereira
É professora em sistemas de informação no Departamento de
Governança eletrônica e Administração da Danube University
Krems e pesquisadora do Center for Technology in Government
da University at Albany. Possui pós-doutorado pelo Centro de
Pesquisas em Administração Pública e Governo da Fundação
Getulio Vargas e doutorado em Administração pela Escola de
Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul. Coordenadora do projeto internacional “Fortalecimento
da Capacidade de Governança para Cidades Inteligentes e
Sustentáveis” (CAP4CITY). Sua pesquisa está focada em governo
digital e governança relacionada a TIC, especialmente no contexto
de cidades inteligentes. Gabriela é autora e co-autora de mais
de 40 publicações na área de governança digital. Além disso,
ela tem trabalhado com uma variedade de organizações, como
Nações Unidas, ITU e Council of Europa, e é membro do Conselho
da Digital Government Society e do IFIP WG 8.5 in ICT & Public
272
Administration.
E-mail: gabriela.viale-pereira@donau-uni.ac.at
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7602-3052
Juliana Martins de Castro Barroso
Historiadora formada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC
Minas), com especialização em Gestão do Patrimônio Histórico
e Cultural pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Mestre e Doutoranda em Gestão & Organização do
Conhecimento pela Escola de Ciência da Informação da UFMG,
desenvolvendo pesquisas sobre o uso de tecnologias inteligentes
(smart technologies) e sobre a organização do conhecimento em
ambientes digitais para a preservação do patrimônio cultural.
Atuou como parecerista na área de preservação de acervos
culturais no âmbito do Ministério da Cultura e como gestora da
Rede Memória das Instituições de Minas Gerais (Remig). Desde
2009 atua na gestão de acervos culturais em diferentes suportes,
desde a seleção e composição de acervos de memória institucional
até sua organização, registro e disponibilização para o público.
E-mail: julianamartins.castro@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7848-0399
Maria Aparecida Jacques Arruda
Mestre em Biblioteconomia pela Ponticia Universidade Católica
de Campinas (PUCCAMP) e doutoranda do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) UNESP/Marília.
Faz parte do Grupo de Estudos “Informação, Conhecimento e
Inteligência Organizacional” e da Linha de Pesquisa: Gestão,
Mediação e Uso da Informação do PPGCI/ UNESP. Colaboradora do
Centro Referencial de Propriedade Intelectual e Inovação (CERPII)
do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Seus
interesses de pesquisa são: Gestão de Sistemas de Bibliotecas
Digitais de natureza etnológica.
E-mail: maria.arruda@ufms.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0952-070X
273
Maria José Vicentini Jorente
Livre Docente em Cultura Digital e Informação Pós Custodiada
em Redes de Colaboração. Professora visitante na Universidad
Carlos III de Madrid. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação da UNESP de Marília. Especialista em
Design de Produto. Licenciada em Artes pela Fundação Armando
Álvares Penteado (FAAP) e em Letras pela Universidade de São
Paulo (USP). Professora Adjunta em Regime de Dedicação
Integral à Docência e à Pesquisa da Unesp Campus de Marília,
Departamento de Ciência da Informação. Docente dos cursos de
graduação em Arquivologia e Biblioteconomia e dos cursos de
mestrado acadêmico e doutorado em Ciência da Informação da
UNESP. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Design e
Recuperação da Informação LADRI na UNESP/Marília. Membro
do Grupo Novas Tecnologias em Informação (GPNTI) da UNESP.
Investigadora nas áreas de Informação e Tecnologia, Curadoria
Digital, Mídias, Intersemiótica, Design de Informação e Questões
de Gênero relacionadas às TIC. Membro dos conselhos dos cursos
de Biblioteconomia e de Arquivologia e do Conselho de Pós-
Graduação em Ciência da Informação da UNESP de Marília. Membro
de comissão cientíca de agências de fomento e periódicos na
área da Ciência da Informação.
E-mail: mj.jorente@unesp.br
ORCID MJ: https://orcid.org/0000-0002-0492-0918
Mariana Cantisani Padua
Pós-doutoranda no Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNDP/
CAPES) pela UNESP, no Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação. Doutora pelo PPGCI/UNESP, campus Marília. Mestre
em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba.
Graduada em Design com habilitação em Comunicação Visual pela
Pontifícia Universidade Católica de Goiás /PUC-GO. Integrante do
Grupo de Pesquisa Novas Tecnologias da Informação (GPNTI) e
investigadora do Laboratório de Pesquisa em Design e Recuperação
da Informação (LADRI/UNESP). Pesquisadora colaboradora do
CITCEM (Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço
e Memória) sediada na Faculdade de Letras da Universidade do
Porto. Membro de comissão cientíca de periódicos na área do
Design da Informação e da Ciência da Informação. Possui interesse
274
de pesquisa nas seguintes áreas: Design da Informação, Design
de Interação, Experiência do Usuário (User eXperience - UX),
Museologia, Ciência da Informação e Arquitetura da Informação
pervasiva.
E-mail: mariana.cantisani@unesp.br
https://orcid.org/0000-0003-1245-3608
Natália Nakano
Pós-doutoranda Júnior pelo CNPq no Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação (PPGCI) da UNESP de Marília. Doutora
e Mestre pelo mesmo programa. Integrante do Grupo de Pesquisa
Novas Tecnologias da Informação (GPNTI) e colaboradora do
Laboratório de Pesquisa em Design e Recuperação da Informação
(LADRI). Trabalha com foco em questões de acesso à informação,
acessibilidade, serviços de informação na era digital, bem como
design de plataformas de Ensino a Distância, e Serviço de Referência
Virtual em bibliotecas universitárias. Estuda o papel das Tecnologias
de Informação e Comunicação (TIC) nas mudanças relacionadas à
transformação do paradigma pós-custodial e sua ampliação nas
sociedades pós modernas. Recentemente o foco de estudo se
expande e inclui as plataformas digitais de EaD, e como a Ciência
da Informação, e nela o Design da Informação podem contribuir
para que o acesso nessas plataformas seja eciente no contexto
da complexidade brasileira. Sua experiência prossional inclui
docência na Unesp no campus de Marília e produção de conteúdo
para a modalidade de Ensino a Distância para a Universidade de
Marília. Membro de comissão cientíca de periódicos na área da
Ciência da Informação.
E-mail: natalia.nakano@unesp.br
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-3217-2515
Rafaela Carolina da Silva
Mestre em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação da Unesp, na linha de Pesquisa Gestão,
Mediação e Uso da Informação. Bolsista FAPESP. Membro do
Grupo de Pesquisa Informação, Conhecimento e Inteligência
Organizacional. Fez estágio de pesquisa na Universidade de Robert
275
Gordon, Escócia, Reino Unido. Especialista em Psicopedagogia
Institucional pela FUNDEPE. Graduada em Biblioteconomia pela
Unesp. Autora de livros, capítulos de livros e artigos publicados
em revistas cientícas nacionais e internacionais. Dedica-se à
pesquisa cientíca, trabalhando na interdisciplinaridade dos
temas: Bibliotecas híbridas; Conceito de hibridez em bibliotecas;
Desenvolvimento social; Gestão da informação; e Desenvolvimento
de comunidades.
E-mail: rafaela.c.silva@unesp.br
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-9684-0327
Renata Maria Abrantes Baracho Porto
Professora Associada da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), no Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização
do Conhecimento e no Programa de Pós-Graduação em Ambiente
Construído e Patrimônio Sustentável. Pós-doutorado / Visiting
Scholar na University of South Florida (USF/USA). Doutora em
Ciência da Informação pela UFMG com PDEE na The Pennsylvania
State University - USA, Mestre em Ciência da Computação DCC-
UFMG, possui graduação em Arquitetura e Urbanismo e em Ciência
da Computação. Presidente da Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-Graduação em Ciência da Informação - ANCIB (2014-2016).
Member of International Institute of Informatics and Systemics -
IIIS International Federation for Systems Research - IFSR, IEEE,
ICOM, ICOMOS. Atuação nas áreas de cidades inteligentes, Building
Information Modeling (BIM) e Sistemas de Informação.
E-mail: renatabaracho@ufmg.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8335-9646
Ricardo Augusto Souza Fernandes
Graduação em Engenharia Elétrica com Ênfase em Computação
pela Fundação Educacional de Barretos (2006). Mestre (2009) e
Doutor (2011) em Engenharia Elétrica pela Escola de Engenharia
de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC/USP). Professor
Associado junto ao Departamento de Engenharia Elétrica da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Coordenador do
tema Industry and Cities Revolution: Industry 4.0 and Smart Cities
276
do PrInt-CAPES. Membro gestor do IEEE Task Force on Open Data
Sets da Power & Energy Society. Editor Associado do International
Journal of Electrical Engineering Education. Experiência em
Sistemas Elétricos de Potência, Processamento de Sinais e Machine
Learning, atuando principalmente com Smart Grids.
E-mail: ricardo.asf@ufscar.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2361-6505
Rosângela Formentini Caldas
Docente da UNESP, atua no Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação e no Departamento de Ciência da
Informação. É membro do Conselho Departamental, da Comissão
de Ações Culturais (CAC), da Rede Impacta da UNESP e do
grupo de pesquisa “Informação, Conhecimento e Inteligência
Organizacional”, vinculado ao CNPq. Participou e idealizou
propostas de estruturação e reestruturação de cursos da UNESP
e coordena o Centro Referencial de Propriedade Intelectual
em Ciência da Informação (CERPII). Com o apoio da Capes e
da Fundação Gulbenkian, realizou tanto seu doutorado pleno
na Universidade do Minho/PT, como também pesquisas em
reconhecidas instituições culturais e universidades da Europa. Foi
presidente de Conselho Municipal de Cultura, representante titular
do SISEM e membro do Instituto de Políticas Públicas da UNESP.
Tem interesse em temas como: Cidades Inteligentes, Estruturas
Culturais Públicas e Desenvolvimento de Comunidades.
E-mail: r.caldas@unesp.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6020-9197
Taynara Almeida de Oliveira
Bibliotecária e Arquivista formada pela UNESP, foi bolsista do
Programa de Educação Tutorial (PET) de Biblioteconomia. Realizou
o seu mestrado em Ciência da Informação no ano de 2019, pelo
Programa de Pós-Graduação da UNESP. Organizou, participou e
foi convidada de eventos nacionais e internacionais na área de
Gestão da Informação e do Conhecimento. Possui publicações
e pesquisas em temas relacionados à gestão do conhecimento,
desenvolvimento de comunidades e cidades inteligentes.
277
Atualmente está inserida na modalidade growth hacking com
prática no ramo de marketing digital.
E-mail: deoliveirataynara@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6953-8488
Victor Garcia Figueirôa-Ferreira
Jurista de formação pela Universidade Católica de Pernambuco
(2013), onde desenvolveu pesquisas em direito internacional
público, direito à diversidade, cultura de paz, macrobioética,
direito e desenvolvimento e direito à cidade. Mestre (2019) e
Doutorando em Engenharia Urbana pela Universidade Federal
de São Carlos, com foco em Cidades Inteligentes, Governança e
Governabilidade, economia política e direito à cidade. Membro do
Brazilian Research and Studies Center (BRaS) da universidade de
Würzburg, Alemanha.
Email: ferreira.victorgf@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7834-7675
278
SOBRE O LIVRO
Catalogação
Lucinéia da Silva Batista
CRB SP 010373/O
Normalização
Stephanie Cerqueira Silva
Arte da capa e
Produção grá ca
Maria José Vicentini Jorente
Stephanie Cerqueira Silva
Imagem da capa
Rosângela Formentini Caldas
Diagramação
Stephanie Cerqueira Silva
Assessoria Técnica
Renato Giraldi
O cina Universitária
Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23 cm
Tipologia
Segoi UI
Papel
Pólen Soft 80g (miolo)
Cartão 250g (capa)
Tiragem
100
Impressão e Acabamento
Nossa Impressão
Editoração
O livro Cidades Inteligentes & Ciência da Informação reúne
especialistas e pesquisadores referenciais no campo da Ciência
da Informação, com a  nalidade de promover a aproximação das
áreas. Por meio de um diálogo com os temas mais destacados
na atualidade do contexto das cidades inteligentes, convidamos
os leitores a explorarem o entendimento e as possibilidades
dos desa os que se despontam para este assunto. Cidades
Inteligentes são locais reconhecidos pela prática da inovação e
do conhecimento, propiciando a diversidade de ferramentas
e cazes para o crescimento urbano, estabelecendo espaços para
a geração de melhoria na qualidade de vida populacional. Com
o intuito de contribuir frente as possibilidades que se abrem
para as novas práticas em tópicos estratégicos de Gestão Pública
Regional, Fatores Socioculturais e Unidades Culturais/Instituições
Informacionais, esperamos abrir a re exão para a necessidade de
aproximação de áreas que produzem conteúdos tão signi cativos
e que poderiam centralizar as suas pesquisas para o crescimento
e desenvolvimento das regiões.