POLÍTICA EDUCACIONAL
EM RETALHOS
Nathanael da Cruz e Silva Neto
abrigar esses projetos. Além disso, a pró-
pria dinâmica de proposição de projetos
via editais faz com que as ações da Capes
se voltem apenas às áreas contempladas
pelos projetos dos proponentes (as IES
participantes), desconsiderando-se as re-
ais necessidades educacionais. Por m, a
fragilidade dessas iniciativas, executadas
com o estatuto de programas, ca com-
prometida sobremaneira com a recente
política de ajuste scal, que tem provo-
cado cortes drásticos no orçamento da
área de Educação. Concluímos, portan-
to, que a efetiva melhoria da educação,
rumo a uma escola pública, democrática
e de qualidade para todos,pode ser al-
cançada por meio de mudanças estrutu-
rais e efetivas, que possam solucionar os
problemas historicamente constituídos.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
Este trabalho é fruto de pesqui-
sa, desenvolvida durante o mestrado
acadêmico, cujo objetivo foi vericar
se os diversos programas voltados para
a formação de professores da Educação
Básica instituídos pela Capes no perío-
do recente representam efetivamente a
instituição de uma política nacional de
formação de professores. Para tanto, re-
correu-se tanto a autores que discutem
o ensino superior e a pós-graduação no
Brasil, bem como suas interfaces com
esse órgão, o qual possui papel relevante
no contexto das políticas educacionais,
quanto a autores que discutem as políti-
cas públicas para a formação de professo-
res no Brasil e questões ligadas à prossão
docente. Além disso, foram analisados os
documentos legais referentes à criação, à
implementação e às modicações da Ca-
pes ao longo dos anos, bem como os re-
latórios de gestão da instituição. Após a
apresentação da trajetória da instituição
Capes, evidenciando as suas diversas mo-
dicações, apresentamos e analisamos os
resultados de suas políticas voltadas à for-
mação docente da Educação Básica. Os
resultados indicam que, embora os pro-
gramas implementados pela Capes não
deixem de tocar em pontos levantados
por especialistas da área como relevan-
tes e estratégicos para os enfrentamentos
atuais da educação brasileira, o seu cará-
ter fragmentado faz com que essas ações
se constituam em alternativas pontuais e,
por isso, insucientes se consideradas as
reais necessidades educacionais do país.
Em primeiro lugar, são poucas as insti-
tuições de ensino superior que reúnem
condições para concorrerem nos editais
da Capes, e as instituições privadas, nas
quais se concentra a maior parte das ma-
trículas em licenciaturas, não conseguem
JULIO CESAR TORRES - UNESP
a CAPES e a Formação de Professores
da Educação Básica no Brasil
Este livro é resultado de importante estu-
do realizado por Nathanael da Cruz e Silva Neto
sobre o papel da CAPES nas políticas contempo-
râneas de formação de professores da Educação
Básica. Por meio de análise histórica, com aporte
de ampla pesquisa bibliográca e documental, o
autor debruça-se sobre as políticas levadas a cabo
por essa importante instituição pública, cria-
da em 1951, e vinculada ao Ministério da Edu-
cação. Tradicionalmente voltada a questões de
desenvolvimento, regulação e avaliação da pós-
-graduação, o texto situa e contextualiza, para
o leitor, o momento exato em que a CAPES é
deslocada, também, para o epicentro da política
nacional de formação de professores, ocupando
um papel de destaque no campo da formulação e
execução das políticas públicas de formação do-
cente. Desse modo, no contexto do arranjo fe-
derativo brasileiro e do regime de colaboração,
instituído pela Constituição Federal de 1988 e
pela LDBEN/1996, a “Nova CAPES” é elevada
à condição de importante agente na coordenação
das políticas nacionais de formação inicial e con-
tinuada de nossos professores. As fragilidades e fo-
calização das políticas, aponta o estudo, são ainda
o grande desao para o avanço dos programas e
das metas de formação docente. Por m, este livro
é um convite irrecusável para aqueles que alme-
jam conhecer, com riqueza de detalhes, marcos
importantes da história da educação e da política
educacional brasileira.
POLÍTICA EDUCACIONAL EM RETALHOS
Nathanael da Cruz e Silva Neto
POLÍTICA EDUCACIONAL EM RETALHOS:
a CAPES e a Formão de Professores
da Educação Básica no Brasil
Nathanael da Cruz e Silva Neto
Nathanael da Cruz e Silva Neto
POLÍTICA EDUCACIONAL EM RETALHOS:
a CAPES e a Formão de Professores
da Educação Básica no Brasil
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS FFC
UNESP - campus de Marília
Diretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
Graziela Zambão Abdian
Patrícia Unger Raphael Bataglia
Pedro Angelo Pagni
Rodrigo Pelloso Gelamo
Maria do Rosário Longo Mortatti
Jáima Pinheiro Oliveira
Eduardo José Manzini
Cláudia Regina Mosca Giroto
Auxílio Nº 0798/2018, Processo Nº 23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
Silva Neto, Nathanael da Cruz e.
N469c Política educacional em retalhos: A CAPES e a formação de professores da educação
básica no Brasil / Nathanael da Cruz e Silva Neto. Marília : Oficina Universitária ; São
Paulo : Cultura Acadêmica, 2021.
133 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-136-2 (Digital)
ISBN 978-65-5954-135-5 (Impresso)
1. Brasil Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. 2. Educação
básica - Brasil. 3. Professores - Formação. 4. Educação permanente. 5. Brasil – Educação e
Estado. I. Título.
CDD 372.981
Copyright © 2021, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
DOI: https://doi.org/10.36311/2021.978-65-5954-136-2
A meus pais, Silvia e Roberval,
pelo apoio constante e amor incondicional.
Se alguém deseja ser professor é que resolveu devotar sua vida
a estudar e como estudante é que vai ensinar. Como sua luta
por aprender fez-se a sua própria vida, não há problema
relativo a como aprender de que não tenha experiência.
Anísio Teixeira, 1968
Sumário
Prefácio | Silvana Fernandes Lopes ........................................................ 11
Capítulo 1 | Questões introdutórias ..................................................... 13
Capítulo 2 | A Trajetória da CAPES e o Surgimento da Diretoria de
Educação Básica .................................................................................. 23
Capítulo 3 | As políticas da Nova CAPES para a Formação de Professores
da Educação Básica .............................................................................. 59
Capítulo 4 | À guisa de síntese ............................................................ 115
Referências ......................................................................................... 121
11
Prefácio
Propor-se a falar da CAPES já é, por si, uma experiência tentadora
e, ao mesmo tempo, desafiadora. Essa instituição tem povoado o
imaginário do mundo universitário, sendo objeto de preocupação
constante de pesquisadores e professores com a sua métrica de avaliação de
qualidade e seus índices de produtividade. A CAPES é uma velha
conhecida dos programas de pós-graduação. E o que dizer dos programas
da CAPES para a formação de professores da Educação Básica?
Esse é o tema do livro “A CAPES e a política nacional de formação
de professores da educação básica no Brasil”, resultado da dissertação de
mestrado de Nathanael da Cruz e Silva Neto.
Tive o prazer de acompanhar sua trajetória acadêmica no Instituto
de Biociências, Letras e Ciências Exatas da UNESP São José do Rio
Preto, como aluno do curso de Licenciatura em Letras e na sua graduação
sanduíche na Universidade de Coimbra, e como aluno de Mestrado no
Programa de Pós-Graduação em Educação na Faculdade de Filosofia e
Ciências da UNESP Marília. Em todas as etapas, o Nathanael
demonstrou dedicação, seriedade e talento para as atividades acadêmicas e
científicas, que poderão ser facilmente identificados a partir da leitura deste
livro.
Tomando como objeto de estudo as ações da CAPES voltadas para
a educação básica, o autor faz uma análise criteriosa e rigorosa da
bibliografia e da documentação produzida pela instituição, procurando
12
verificar se os diversos programas instituídos representam efetivamente a
constituição de uma política nacional de formação de professores.
Este é, portanto, um livro indispensável para aqueles que
pretendem compreender a política educacional em curso no Brasil e, mais
especificamente, as políticas de formação de professores que vêm sendo
implementadas.
São José do Rio Preto, 20 de abril de 2021
Silvana Fernandes Lopes
13
Capítulo 1
Questões Introdutórias
Nosso objeto de estudo são os programas da Capes voltados para a
formação de professores da Educação Básica. Em sua mais recente
transformação, no ano de 2009, a fundação instituiu uma nova diretoria,
a Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica (DEB), por
meio da qual passa a induzir e fomentar uma série de programas voltados
à formação de professores da Educação Básica, área de atuação inédita no
âmbito dessa instituição. O novo desenho institucional da Capes, a partir
desse ano, é fruto da instituição da Política Nacional de Formação de
Profissionais do Magistério da Educação Básica (BRASIL, 2009).
Ao longo da história da educação brasileira, nota-se um crescente
debate acerca de políticas públicas voltadas à Educação Básica. A formação
de professores é um dos aspectos centrais, que vem protagonizando boa
parte da agenda das políticas educacionais contemporâneas.
Contudo, a carreira docente não vem acompanhada de prestígio
social no Brasil. De acordo com dados do último Censo da Educação
Superior, o número de brasileiros cursando o Ensino Superior vem
crescendo, porém, a quantidade de pessoas ingressando em carreiras ligadas
à docência não cresce na mesma proporção. De 2012 para 2013, o número
total de matrículas em cursos de graduação cresceu 3,8%, mas, no caso das
licenciaturas, o percentual de crescimento foi de apenas 0,55%,
14
concentrando o restante nos bacharelados e tecnológicos. Além disso, as
licenciaturas permanecem, majoritariamente, entre os cursos com menor
relação candidato/vaga nos processos seletivos de ingresso (TORRES et al.,
2013, p. 3).
Esse desinteresse pela profissão pode ser explicado por inúmeros
fatores. De acordo com o estudo de Caldas (2007), sobre o abandono da
profissão docente de professores da rede municipal de educação de
Curitiba (PR), estão, entre os principais fatores: baixos salários, problemas
físicos e psicológicos, infraestrutura precária, violência no ambiente de
trabalho, pressão e cobrança pelos resultados e sentimento de
desvalorização da profissão pela sociedade. De fato, o baixo prestígio social
da profissão docente se reflete na baixa relação candidato/vaga nos exames
de ingresso, bem como na concentração de excedente de vagas nos cursos
de licenciatura, conforme apontam Torres e Pagotto (2013). Ademais, os
problemas apontados por Caldas (2007) são velhos conhecidos, temas que
circulam diariamente pela mídia e afugentam os ingressantes em cursos de
licenciatura. Em alternativa, muitos deles acabam por seguir outros
caminhos que não a docência.
Importante faz-se, entretanto, uma pequena ressalva com relação a
tal desprestígio social. Da perspectiva das classes médias e altas, a profissão
docente, de fato, não representa carreira de prestígio, haja vista que se
observa grande procura por cursos elitistas, tais como medicina, direito,
engenharias, entre outros. No caso das licenciaturas, quando se observa o
contexto socioeconômico de onde provêm os estudantes, estudos
demonstram que se trata, em sua maioria, de alunos provenientes de
escolas públicas, de classe média e baixa e filhos de pais com baixo nível de
escolaridade. Não são raros casos em que os licenciandos representem o
primeiro membro da família a ingressar no ensino superior. Nesse sentido,
15
pode-se afirmar que tal formação constitui uma conquista profissional de
grande valor.
1
Somados à questão do desinteresse, encontramos também os
problemas observados após o ingresso em um curso de formação de
professores. No final dos anos 1930 e início dos anos 1940, em razão da
falta de professores, acrescentava-se à formação de bacharéis, para obterem
a habilitação para o magistério, um ano de disciplinas da área de Educação,
modelo que se denominou popularmente “3 + 1” (GATTI, 2010, p.
1356). Tal modelo demonstra, de maneira clara, a desarticulação
teoria/prática presente na formação de professores, problemática existente
ainda hoje nos cursos de licenciatura. Entretanto, nota-se que muitos
estudantes de licenciatura recorrem aos chamados “estágios remunerados”,
cujo auxílio financeiro proporciona o incremento da própria renda
familiar. Nesses casos, embora possa, muitas vezes, não haver supervisão
que promova a reflexão sobre a atuação nos estabelecimentos de ensino,
não se pode afirmar que não haja vivência profissional que constitua
prática docente concomitante com a formação teórica.
Outro ponto a ser discutido na formação de professores no Brasil
é a deficiência, a inadequação ou mesmo a ausência de formação superior
entre os docentes que atuam na Educação Básica. A Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9394, de 20 de dezembro
de 1996, estabeleceu a obrigatoriedade da formação desse professor em
nível superior. Disso resultou, consequentemente, o aumento acelerado de
cursos de licenciatura voltados para a formação de professores da Educação
Básica, sobretudo para a Educação Infantil e as séries iniciais do Ensino
Fundamental (GATTI; BARRETO, 2009). Ainda assim, continuamos a
evidenciar a falta de professores sem formação adequada para atuar nos
1
Com relação ao perfil socioeconômico de licenciandos, é possível consultar Torres et al. (2013),
Santos et al. (2014), Pizoni (2014), entre outros.
16
Ensinos Fundamental edio, sendo que, muitos deles, sequer possuem
formação superior (MAZZETTO; CARNEIRO, 2002).
É importante referir, ainda, a questão da permanência daqueles que
ingressam em cursos de formação docente. Levando-se em consideração o
baixo prestígio social da profissão, a baixa relação candidato/vaga e, ainda,
a formação deficiente dos alunos do Ensino Médio, é possível que o perfil
socioeconômico dos estudantes de licenciatura possa vir a interferir nos
índices de evasão e, com isso, de concluintes (TORRES; PAGOTTO,
2014). Assim, continuamos a enfrentar os problemas de escassez de
professores em sala de aula, levando a medidas que prejudicam o próprio
ensino, como admitir a docência de professores em disciplinas que não são
objetos de sua formação (as chamadas “correlatas”), ou mesmo permitir o
exercício da docência a profissionais sem formação superior, contrariando
a legislação e as instruções normativas
2
.
De acordo com Saviani (2007, p. 1243),
Efetivamente, a luta dos educadores pela qualidade da educação
pública começa na década de 1920, com a fundação da Associação
Brasileira de Educação (ABE), em 1924; adquire visibilidade com o
lançamento do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932,
e com a Campanha em Defesa da Escola Pública, na virada da década
de 1950 para os anos de 1960, na fase final da tramitação do projeto
de LDB; prossegue com as Conferências Brasileiras de Educação da
2
A Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, conversão da Medida Provisória nº 746, de 22 de
setembro de 2016, popularmente conhecida como Reforma do Ensino Médio, altera o artigo 61 da
LBD 9394/96, acrescentando como profissionais da educação “profissionais com notório saber
reconhecido pelos respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de áreas afins à sua
formação ou experiência profissional, atestados por titulação específica ou prática de ensino em
unidades educacionais da rede pública ou privada ou das corporações privadas em que tenham
atuado”. Tal inclusão parece colocar em xeque a premissa da formação adequada para o exercício
da docência e, inclusive, enfraquece programas como o Parfor (que será abordado posteriormente,
neste livro), que tem por objetivo a adequação da formação de professores em exercício.
17
década de 1980 e com o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública
na Constituinte e na nova LDB; desemboca na elaboração da proposta
alternativa de Plano Nacional de Educação nos Congressos Nacionais
de Educação de 1996 e 1997; e se mantém com grandes dificuldades
neste início do século XXI, na forma de resistência às políticas e
reformas em curso e na reivindicação por melhores condições de ensino
e de trabalho para os profissionais da educação.
O referido Plano Nacional de Educação (PNE), que havia sido
elaborado em 1996 e 1997, foi instituído pela Lei nº 10.172, de 9 de
janeiro de 2001, e vigorou por 10 anos. No texto da lei, na seção que
aborda as questões do magistério da Educação Básica, são estabelecidos 28
objetivos e metas para a formação dos professores e a valorização do
magistério. Tais metas tinham como princípio estruturante a instituição
de uma política global de magistério que implicasse a formação profissional
inicial, as condições de trabalho, salário e carreira, e a formação
continuada.
Todavia, o plano não foi cumprido à risca, mas seus anos de
vigência culminaram na realização, em 2010, da Conferência Nacional de
Educação (Conae), em Brasília, na qual o plano foi refeito e aprimorado
para que as metas fossem alcançadas entre 2011 e 2020. Por questões que
envolvem conflitos de interesses e jogos de poder na arena política, o
trâmite do projeto no Congresso Nacional foi bastante estendido, e, por
isso, a Lei nº 13.005, que o aprova, publicada em 25 de junho de 2014,
modificou a vigência do plano para o decênio 2014-2024. Dentre as 20
metas que o constituem, 3 são voltadas para a questão da formação
docente, a saber:
Meta 15 Formação de professores: para assegurar que todos
os professores da Educação Básica possuam formação específica
18
de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de
conhecimento em que atuam;
Meta 16 Formação continuada e pós-graduação de
professores: para garantir a todos os profissionais da Educação
Básica formação continuada em sua área de atuação,
considerando as necessidades, demandas e contextualizações
dos sistemas de ensino.
Meta 17 Valorização do professor: para equiparar o
rendimento médio dos docentes ao dos demais profissionais
com escolaridade equivalente.
No ano de 2007, o Ministério da Educação (MEC) publicou o
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), no âmbito do Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC), criado no segundo mandato do
Governo Lula (2007-2010). O propósito era constituir uma ferramenta de
prestão de contas da qualidade de ensino, de monitoramento do
desenvolvimento das ações do PNE e de execução de novas ações em favor
da melhoria da educação. Saviani (2007) considera que o PDE “aparece
como um grande guarda-chuva que abriga praticamente todos os
programas em desenvolvimento pelo MEC”. Além disso, o Plano também
assume a agenda do “Compromisso Todos pela Educação”, que havia sido
lançado no ano anterior, como uma iniciativa da sociedade civil.
Por sua vez, profissionais, pesquisadores e especialistas em
educação brasileiros também indicaram a necessidade de atenção às
questões concernentes à formação e à valorização da profissão docente.
Tais apontamentos foram feitos por meio de estudos, de diagnósticos e de
relatórios da situação educacional do país, alguns deles encomendados
pelos próprios órgãos governamentais. Em maio de 2007, o Conselho
Nacional de Educação (CNE) publicou o documento Escassez de professores
19
no Ensino Médio: propostas estruturais e emergenciais, abordando a falta de
professores no Ensino Médio, especialmente das áreas de exatas e de
biológicas, fenômeno que, à época, foi cunhado de “apagão educacional”.
Em consequência disso, também foi apresentado, pelo Diretor de
Estatísticas e Avaliação da Educação Superior do INEP, o relatório
intitulado As licenciaturas e o Ensino Básico brasileiro: diagnóstico,
mostrando que muitos dos problemas apontados no diagnóstico anterior
também se aplicavam ao Ensino Fundamental, além de outras questões
que precisavam ser consideradas no âmbito das políticas educacionais.
Enfim, os documentos apontavam que a questão da formação docente
demandava uma política de alcance nacional, que pudesse apoiar a
formação de quadros qualificados para o exercício da docência.
Esse é o contexto em que surge a Política Nacional de Formação de
Profissionais do Magistério da Educação Básica
3
, instituída pelo Decreto nº
6755
4
, no dia 29 de janeiro de 2009. Entre outras providências, esse
instrumento legal disciplina a atuação da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) no fomento a
programas de formação inicial e continuada de docentes da Educação
Básica. Tradicionalmente voltada a questões relativas à pós-graduação no
Brasil, o órgão passa por diversas modificações, tanto em sua estrutura
quanto em seu campo de atuação, de modo a se adequar ao cumprimento
do decreto. A partir de então, passa a ser chamado de Nova Capes pelos
pesquisadores da área. Vários programas voltados à formação inicial,
3
Doravante Política Nacional.
4
Esse decreto foi revogado pelo Decreto nº 8752, de 9 de maio de 2016. O texto do novo decreto
sugere uma diminuição drástica da participação da Capes nos programas e ações, indicando que
caberá ao MEC desenvolver o Planejamento Estratégico Nacional, aprovado por um Comitê Gestor
Nacional e com duração quadrienal. A Capes é mencionada como responsável apenas pelo fomento
a pesquisa aplicada nas licenciaturas e nos programas de pós-graduação, destinada à investigação
dos processos de ensino-aprendizagem e ao desenvolvimento da didática específica. Tal quadro leva-
nos ao questionamento de um possível fim da Capes para a Educação Básica (BRASIL, 2016a).
20
continuada e à valorização do magistério são lançados no âmbito de sua
nova diretoria, criada para esse fim, a Diretoria de Formação de Professores
da Educação Básica (DEB). Ademais, outras iniciativas, já existentes no
interior do MEC e voltadas à formação docente dessa etapa de
escolarização, passam a ser de sua competência.
O objetivo deste livro está em analisar os documentos que
fundamentam os programas voltados para a formação de professores da
Educação Básica, junto às licenciaturas, que se encontram sob
responsabilidade e gestão da DEB, bem como discutir seus resultados.
Nesse sentido, procuramos responder à seguinte queso de pesquisa: os
diversos programas instituídos pela Capes no período recente representam
efetivamente a instituição de uma política nacional de formação de
professores e, ainda, de um sistema nacional de formação de professores?
Ressalte-se, aqui, que não é analisada a totalidade dos programas
de formação de professores da Educação Básica no âmbito dessa diretoria.
Para este livro, selecionamos uma parte dos programas, adotando como
critério a maior expressividade no tocante ao orçamento de cada uma das
políticas.
Com relação aos procedimentos metodológicos, trata-se de uma
pesquisa bibliográfica e documental. De acordo com Sá-Silva et al. (2009,
p. 6), as duas são muito próximas, e o que as diferencia é a natureza das
fontes: “a pesquisa bibliográfica remete para as contribuições de diferentes
autores sobre o tema, atentando para as fontes secundárias, enquanto a
pesquisa documental recorre a materiais que ainda não receberam
tratamento analítico, ou seja, as fontes primárias”.
Com relação à pesquisa bibliográfica, recorremos à literatura
pertinente aos estudos sobre formação de professores no Brasil e sobre a
trajetória e o papel desempenhado pela Capes nas políticas de formação de
21
profissionais do magistério da Educação Básica. Nesse sentido, valemo-
nos, no primeiro caso, das contribuições de Caldas (2007), Gatti (2010),
Gatti e Barreto (2009), Mazzetto e Carneiro (2002), Saviani (2007),
Scheibe (2010; 2011), Torres e Pagotto (2013) e Torres et al. (2013). No
que diz respeito ao percurso da Capes e seu papel, apoiamo-nos em
Barbosa (2009), Castro e Soares (1983), Córdova et al. (1986), Cunha
(1988), Gouvêa (2011), Hostins (2006), Mendonça (1999; 2003), Ristoff
e Bianchetti (2012) e Teixeira (1956).
Quanto à pesquisa documental,-Silva et al. (2009, p. 2)
salientam que “o uso de documentos em pesquisa deve ser apreciado e
valorizado”, uma vez que podemos extrair e resgatar deles uma riqueza de
informações para ampliar o entendimento de nosso objeto de pesquisa.
Tendo em vista tais considerações, utilizamo-nos, para
fundamentar nossas análises, de documentos e dados provenientes da
própria Capes, e mais especificamente, dos relatórios de gestão da sua
diretoria que nos interessa no âmbito deste estudo, a DEB. Além disso,
também recorremos a estudos sobre a situação educacional brasileira,
sobretudo no que concerne à formação docente, e também sobre os
programas da Capes. Muitas vezes, tais estudos são encomendados pelas
próprias instituições e elaborados por pesquisadores renomados. É o caso,
por exemplo, do relatório Escassez de professores no Ensino Médio: propostas
estruturais e emergenciais, solicitado pelo CNE e elaborado por Ruiz,
Ramos e Hingel (2007); do documento Professores do Brasil: impasses e
desafios, proposto pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO) e elaborado por Gatti e Barretto (2009),
ambas da Fundação Carlos Chagas; ou mesmo do Um estudo avaliativo do
PIBID, realizado pela Fundação Carlos Chagas, sob responsabilidade de
Gatti, André, Gimenes e Ferragut (2014), entre outros.
22
Os indicadores educacionais também foram fundamentais para a
construção de nossa pesquisa. Dados tanto do Censo Escolar quanto do
Censo da Educação Superior compõem muitos dos números que
apresentamos para discutir as políticas da Capes. Além dos gráficos, tabelas
e resumos técnicos disponíveis no próprio site do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), os estudos
baseados em dados estatísticos foram de grande valia para nossa pesquisa,
como o Estudo exploratório sobre o professor brasileiro, da Diretoria de
Estatísticas Educacionais do INEP, por meio do qual foi possível extrair
informações não tão facilmente encontráveis nos censos. Vale a pena
mencionar, ainda, que, por vezes, foi necessário recorrer também a dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como é possível
perceber no decorrer da leitura deste livro.
Ainda sobre a pesquisa documental, Sá-Silva et al. (2009 p. 2)
consideram que essa metodologia “possibilita ampliar o entendimento de
objetos cuja compreensão necessita de contextualização histórica e
sociocultural”. Nesse sentido, o presente livro apresenta alguns elementos
do percurso histórico da formação de professores da Educação Básica no
Brasil, e também da trajetória e da atuação da Capes. Mostra-se
fundamental, pois, analisar os documentos considerando o contexto em
que eles foram produzidos.
23
Capítulo 2
A trajetória da CAPES e o Surgimento da
Diretoria de Educação Básica
Neste primeiro capítulo, apresentamos a trajetória da instituição,
desde o seu surgimento até o seu momento atual. Desde a sua criação, no
ano de 1951, ela tem passado por diversas modificações, tanto no que diz
respeito à sua estrutura organizacional quanto aos seus paradigmas de
atuação. Em princípio, o foco era a qualificação de professores para a
Educação Superior, entre outros profissionais de alto nível, e só mais
recentemente passou a atuar também na Educação Básica.
De campanha a fundação: a consolidação da pós-graduação no Brasil
As décadas de 1950 e 1960 foram marcadas por um período de
grande expansão do Ensino Superior no Brasil. O contexto histórico da
época consolidava paradigmas de crescimento econômico pautados na
industrialização acelerada centrada no poder Executivo, desencadeando o
crescimento do setor público e diversificando suas atividades internas. O
processo de migração da população rural para o meio urbano já havia se
iniciado, caracterizando uma sociedade urbano-industrial em expansão e
exigindo transformações institucionais, a fim de estruturar o poder de
24
maneira mais adequada às tendências da nova configuração econômico-
social.
Nesse sentido, a administração pública, aos poucos, foi se
transformando, tornando-se uma complexa estrutura governamental
centrada na eficiência, cuja atenção era voltada para os problemas
econômicos do país. Desse modo, o Estado passou a dispor de
organizações, de técnica e de pessoal, (administrativo, burocrático, técnico,
político etc.), elementos que se mostravam indispensáveis para a execução
de suas atividades. Assim, “o aparelho estatal incorporava o pensamento
tecnocrático e científico, para melhor desempenhar suas funções” (IANNI,
1979, p. 8).
Também nessa época, intensificou-se o processo de expansão do
Ensino Superior, que havia se iniciado nas décadas anteriores, em função
da demanda sobretudo da região centro-sul, onde as aglomerações urbanas
mais cresciam. Assim, a importância do conhecimento passou a ser
despertada na população. De acordo com Cunha (2007), no período de
1954 a 1964, o número de alunos inscritos em curso superior no Brasil
mais que dobrou, passando de 18.894 a 97.481 matrículas. A preocupação
com a expansão não só do ensino em nível superior mas também do
conhecimento científico pode ser evidenciada com o crescimento de
universidades, já que, em 1945, contava-se com cinco estabelecimentos
dessa natureza, e, no final de 1964, o país contabilizava 39 universidades.
Em 11 de julho de 1951, por meio do Decreto nº 29.741, foi
instituída uma Comissão Executiva para promover a Campanha Nacional
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a qual objetivava “assegurar
a existência de pessoal especializado em quantidade e qualidade suficientes
para atender às necessidades dos empreendimentos públicos e privados que
visam o desenvolvimento econômico e social do país” (BRASIL, 1951b,
Art. 2°). Inicialmente, a comissão teria seis meses para a instalação da
25
campanha, contudo, tal prazo foi dilatado para um ano por meio do
Decreto nº 30.286, publicado em 19 de dezembro de 1951.
Para alcançar tais objetivos, a referida Comissão deveria:
a) promover o estudo das necessidades do país em matéria de pessoal
especializado, particularmente nos setores onde se verifica escassez de
pessoal em número e qualidade; b) mobilizar, em cooperação com as
instituições públicas e privadas, competentes, os recursos existentes no
país para oferecer oportunidades de treinamento, de modo a suprir as
deficiências identificadas nas diferentes profissões e grupos
profissionais; c) Promover em coordenação com os órgãos existentes o
aproveitamento das oportunidades de aperfeiçoamento oferecidas
pelos programas de assistência técnica da Organização das Nações
Unidas, de seus organismos especializados e resultantes de acordos
bilaterais firmados pelo Govêrno brasileiro; d) Promover, direta ou
indiretamente, a realização dos programas que se mostrarem
indispensáveis para satisfazer às necessidades de treinamento que não
puderem ser atendidas na forma das alíneas precedentes; e) Coordenar
e auxiliar os programas correlatos levados a efeito por órgãos da
administração federal, governos locais e entidades privadas; f)
Promover a instalação e expansão de centros de aperfeiçoamentos e
estudos pós-graduados (BRASIL, 1951b, Art. 3º).
Percebe-se, pelo texto do decreto, a preocupação com a
especialização, o treinamento e o aperfeiçoamento profissional, e, por
conseguinte, intensificou-se um processo de estruturação e de expansão
dos estabelecimentos onde pudessem ser desempenhadas tais atividades. A
pós-graduação era entendida como uma das necessidades para o
desenvolvimento nacional. De fato, tal visão vai ao encontro do contexto
histórico e econômico da época, que exigia rapidez e eficiência para
satisfazer às novas demandas. Além disso, conforme destaca Gouvêia
26
(2011, p. 50), houve o entendimento da relação economia-educação como
fator importante para o desenvolvimento nacional:
A constituição da comissão foi um reflexo da política
desenvolvimentista, ou seja, do consequente modelo de
industrialização implantado no país e reforçou, ainda, a postura
assumida nos diversos documentos oficiais que enfatizaram a relação
economia e educação, evidenciando a necessidade da formação de
quadros de nível superior para suprir as lacunas determinadas por um
novo ritmo de crescimento econômico.
Quando criada, a comissão subordinava-se ao Ministério da
Educação e Saúde da época, e era composta por representantes de diversas
instituições públicas e privadas, quais sejam: Departamento
Administrativo do Serviço Público (DASP)
5
, Fundação Getúlio Vargas,
Banco do Brasil, Comissão Nacional de Assistência Técnica, Comissão
Mista Brasil-Estados Unidos, Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq),
IBGE, Confederação Nacional da Indústria (CNI), Confederação
Nacional do Comércio (CNE) e um representante do Ministério de
Educação e Saúde. Para Gouvêa (2012, p. 379), “a diversidade dessa
composição é corolário da diversidade dos interesses políticos e
econômicos em disputa em todos os campos”.
Não se pode ignorar, com efeito, a disputa de interesses que
permeava essa diversidade de instituições compositoras da comissão
executiva. De um lado, havia o grupo dos pesquisadores, preocupados com
5
No caso específico do DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público), instituído em
1937, no período do Estado Novo, o órgão era incumbido de assessorar a Presidência da República
nas questões técnicas e orçamentárias, além de representar a primeira grande reforma da
administração pública brasileira na história republicana. Dessa monta, em questões que
envolvessem o aparato político-institucional das políticas públicas, a participação daspiana era tida
como fundamental. Para um aprofundamento do DASP e seu papel na história da administração
pública brasileira, consultar Nunes (1997) e Nogueira (1998).
27
o desenvolvimento científico nacional. Do outro, estadistas preocupados
com a qualificação profissional imediata, com vistas a dar andamento nos
objetivos econômicos nacionais. Córdova et al. (1986, p. 17) nomina tais
grupos como o dos políticos e o dos “pragmáticos”:
a ideia inspiradora da Campanha é nitidamente a dos cientistas que
lutavam, desde os anos 20, pelo seu espaço na Universidade. Mas
durante os debates da Comissão encarregada de programar a
Campanha, tornaram-se fortes as divergências entre estes (que
denomino grupo dos políticos) e os “pragmáticos”, apoiados pelos
representantes das confederações empresariais.
Anísio Teixeira, então Secretário de Estado da Educação da Bahia,
foi convidado pelo Ministro da Educação e da Saúde à época, Ernesto
Simões Filho, para assumir o cargo de Secretário Geral da Comissão.
Coube a ele, portanto, a função de atuar como mediador dos conflitos
entre esses dois grupos de interesse. Assim, “as diretrizes da CAPES
nasceram de um compromisso entre essas duas tendências”
(MENDONÇA, 1999, p. 3).
A educação era entendida por ele como relevante para o
desenvolvimento econômico que se pretendia à época. Por isso, adequar o
sistema de ensino à tendência desenvolvimentista era tão fundamental
quanto as intervenções estatais na economia (GOUVÊA, 2011, p. 49).
Teixeira criticava o tratamento burocrático dado à educação à semelhança
daqueles aplicados às atividades econômicas:
O espírito formal e burocrático de uma falsa técnica administrativa (...)
não distinguiu serviços de contrôle e fiscalização dos serviços de
condução de atividades próprias e autônomas como os de educação.
28
(...) estes serviços passaram a ser regulados de forma idêntica aos de
arrecadação de impostos ou de fiscalização da legislação trabalhista.
Transformou-se a educação em uma atividade estritamente controlada
por leis e regulamentos e o Ministério da Educação e as Secretarias de
Educação em órgãos de registro, fiscalização e contrôle formal do
cumprimento de leis e regulamentos. A função dêsses órgãos é a de
dizer se a educação é legal ou ilegal, conforme hajam sido ou não
cumpridas as formalidades e os prazos legal e regularmente fixados
(TEIXEIRA, 1956, p. 11).
É possível perceber, pois, que se entendia que os princípios técnico-
administrativos que norteavam as ações estatais para os setores ligados à
economia não poderiam simplesmente ser transferidos para o campo
educacional. O tratamento da educação, em especial da Educação
Superior, exigia outras bases, que levassem em conta as especificidades da
área para, assim, permitir o seu pleno desenvolvimento. Tal função caberia,
então, a esse órgão.
Dez anos mais tarde, o Decreto nº 50.737/61 organiza a
Campanha Nacional de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior,
subordinada diretamente à Presidência da República (Art. 1°).
Art. 2° Incumbe à CAPES formular e pôr em execução programas
anuais de trabalho, orientados com os seguintes propósitos: 1 - o
estímulo à melhoria das condões de ensino e pesquisas dos centros
universitários brasileiros, visando a melhor formação dos quadros
profissionais de nível superior do país; 2 - o aperfeiçoamento do pessoal
de nível superior existente, promovido em função das prioridades
ditadas pelas necessidades do desenvolvimento econômico e social do
País; 3 - a realização de levantamentos, estudos e pesquisas sôbre os
problemas envolvidos em seu campo de ação; 4 - a administração das
bôlsas de estudo oferecidas pelo Govêrno Brasileiro a latino-
29
americanos e afro-asiáticos para cursos de graduação e pós-graduação
no Brasil [...] (BRASIL, 1961).
Os primeiros anos de existência da Comissão tiveram o
desenvolvimento de seus trabalhos marcado pela morosidade. Tal fato
pode ser observado, por exemplo, na dinâmica dos trabalhos da comissão
executiva, criada em 1951, mas com o registro de início oficial dos
trabalhos apenas no ano de 1952, e a realização de uma média de duas
reuniões anuais nos três primeiros anos. Também se percebe essa lentidão
quando se observa o início da implementação de bolsas, que começou a
ocorrer em 1963, dois anos após a publicação do decreto. Uma possível
explicação pode ser a disponibilidade de recursos para a concretização das
medidas estabelecidas pelos textos legais, a qual, à semelhança da
atualidade, não se revelavam suficientes, tornando ainda mais difícil a
tarefa da Capes.
Um dos propósitos centrais da empreitada delegada a essa
Comissão foi a preocupação com a formação docente de Ensino Superior.
Teixeira entendia que o desenvolvimento qualitativo das universidades
brasileiras poderia ser alcançado por meio de envio de graduados para a
especialização no exterior, dando início a um processo de
internacionalização no Ensino Superior. Isso revela que tal tendência na
universidade não é uma novidade dos dias atuais. Desse modo, “não
somente se viria a concorrer para o aperfeiçoamento do Ensino Superior,
mas, em verdade, também para ampliá-lo pois a solução importa em
articular o Ensino Superior nacional com as universidades e centros de
estudos superiores do estrangeiro” (CAPES apud GOUVÊA, 2011, p. 53).
Tal objetivo aparece ainda mais acentuado no texto do decreto de 1961,
quando se refere “ao estímulo à melhoria das condições de ensino e
30
pesquisas dos centros universitários brasileiros, visando a melhor formação
dos quadros profissionais de nível superior do país”.
De fato, Teixeira via na formação docente grande relevância para
a concretização de seu projeto maior: a reconstrução da universidade
brasileira, que aconteceria por meio da consolidação da pós-graduação.
Para ele, a universidade precisava se transformar num lócus de ciência e de
pesquisa, ou seja, não executar apenas o papel de transmissora do
conhecimento, mas também de produtora de novos saberes, contribuindo
para a construção de uma cultura brasileira (MENDONÇA, 2003, p.
235). Nesse sentido, percebe-se que, considerando a dualidade de
interesses entre “políticos” e “pragmáticos”, o Secretário Geral da
Comissão priorizava, claramente, os primeiros.
Ristoff e Bianchetti (2012), entretanto, chamam a atenção para o
aspecto excludente dessa iniciativa. Na visão desses autores, os destinatários
dessa “vigorosa política pública” representam uma minoria, a qual eles
chamam, metaforicamente, de “o ápice da pirâmide do sistema
educacional”. Tal assertiva justifica-se pelo fato de as ações dessa
Campanha atingirem “preferencialmente os professores que atuam no ES,
mas que não contam com titulação adequada para desempenharem suas
funções nesse grau de ensino” (p. 799). Critica-se, então, com veemência,
o fato de essa política ser uma iniciativa realizada de “cima para baixo”.
Com relação à estrutura inicial da Capes, nesses primeiros anos de
existência, os trabalhos eram organizados com base em dois grandes
programas: o Programa de Quadros Técnicos e Científicos (PQTC) e o
Programa Universitário (PgU).
O PQTC mostrava-se especialmente voltado para as áreas de
Engenharia, Química, Arquitetura, Administração, Economia e
Veterinária. No âmbito desse Programa, havia três direções norteadoras do
31
trabalho: o levantamento das disponibilidades e necessidades do ps em
relação ao pessoal especializado de nível superior; o levantamento dos
centros de preparação e de aperfeiçoamento pós-graduado existentes no
país, de modo a utilizá-los para promover especializações em atendimento
às necessidades profissionais, técnicas, científicas e culturais; a preparação
e o aperfeiçoamento, no Brasil e no exterior, de especialistas em falta nos
quadros de pessoal do país (GOUVÊA, 2011). Nesse ínterim, caberia,
pois, ao PQTC verificar as deficiências de quadros profissionais no Brasil,
com vistas a suprir tais necessidades de especialização por meio da
promoção de cursos de pós-graduação, dessa forma, contribuindo para o
pleno funcionamento do PgU. Além disso, tinha a tarefa de avaliar as bases
de experiências de pós-graduação já existentes, de modo a utilizá-las ampla
e racionalmente em prol das ações definidas em tais levantamentos.
o PgU objetivava, principalmente, auxiliar o desenvolvimento
das universidades e dos institutos de nível superior. Esse programa era
voltado aos campos das Ciências Biológicas, Medicina e afins,
Matemáticas, Ciências Sociais e Humanidades. Propunham-se melhorias
das condições de ensino e de pesquisa nas instituições universitárias do
país, utilizando-se, para isso, de missões de professores estrangeiros,
visando ao desenvolvimento das instituições e dos grupos de pesquisa
nacionais:
A dinâmica utilizada pelo plano de melhorias incluiu (...) a importação
de professores, assistentes e técnicos estrangeiros para a ministração de cursos
regulares ou de pós-graduação das respectivas especialidades, em
colaboração com as cátedras brasileiras da mesma disciplina. Tal
colaboração evidenciou a preocupação com a consolidação dos centros
nacionais de pesquisa, após a partida dos professores estrangeiros,
através do intercâmbio universitário de professores e assistentes brasileiros
32
para programas de cursos, pesquisas e formação de técnicos (GOUVÊA,
2011, p. 55, grifos do autor).
Desse modo, já observamos o entendimento de iniciativas de
internacionalização e de intercâmbios de saberes como estratégias
produtivas de desenvolvimento do conhecimento científico. Entendia-se
que, por meio do auxílio de professores e de pesquisadores de países cujos
sistemas de pós-graduação já se encontravam consolidados, seria possível
potencializar a consolidação desse nível de ensino no Brasil, entendido
como urgente para o desenvolvimento do país e como tarefa primordial da
Capes. Gouvêa (2011) refere, ainda, que o auxílio às instituições acontecia
via projetos, num funcionamento bastante parecido com a dinâmica da
Capes em seus programas atuais. Tratava-se de projetos de Centros
Universitários, Núcleos Universitários, Unidades de Trabalho
Universitárias ou Missões Universitárias, cujas diferenças residiam,
basicamente, no número de pesquisadores envolvidos, contando sempre
com um professor responsável, enquanto os demais ocupavam a função de
assistentes. No caso das Unidades de Trabalho ou das Missões, o
funcionamento era parecido, tendo como diferença substancial a presença
de professores estrangeiros. De acordo com o autor, o PgU “foi ao
encontro dos anseios da comunidade científica que via na Universidade
um espaço privilegiado para a consolidação da pesquisa no Brasil
(GOUVÊA, 2011, p. 55).
Vale a pena ressaltar, também, a preocupação da campanha com as
Ciências Sociais, área que não tinha muito espaço na agenda das iniciativas
de fomento à pesquisa. Tal fato revela a autonomia de que a agência de
fomento gozava naquele momento e mostra mais uma das mudanças
provocadas por ela no contexto nacional. De acordo com Castro (apud
GOUVÊA, 2011, p. 61):
33
(...) nós (da CAPES) não achávamos que o desenvolvimento era uma
coisa estanque, que se atendia apenas com tecnologia, com ciências
básicas, etc. Sabíamos que há um contexto de implicação e interação
de todas as coisas e por isso mesmo, atendíamos também áreas como
Ciências Sociais, que era uma área abandonada. A CAPES foi a
primeira agência do governo a se preocupar com Ciências Sociais (...).
Além desses dois programas, a estrutura inicial da Capes contava
com dois serviços. O Serviço de Estatística e Documentação (SED) era
responsável pelos arquivos, cadastros, estatísticas, enfim, pela
documentação de todos os dados e documentos relacionados ao Ensino
Superior e às instituições e profissionais envolvidos, tanto no Brasil quanto
no exterior. Nesse sentido, realizava um papel extremamente importante,
pois, por meio dos dados levantados e organizados por ela, delineavam-se
as ações a serem desenvolvidas pelos programas principais. O segundo era
o Serviço de Bolsas de Estudo (SBE), responsável por planejar e
administrar os programas de bolsas de fomento à especialização e ao
aperfeiçoamento dos quadros nacionais, tanto no Brasil quanto no
exterior. Organizavam-se os auxílios financeiros em um sistema de três
tipos: o Tipo A, com bolsas de aperfeoamento destinada a recém-
diplomados que tenham revelado aptidões e desejavam seguir seus estudos
em nível pós-graduado; o Tipo B, voltado a pessoal com experiência
científica ou profissional dedicada ao magistério de Ensino Superior, à
pesquisa ou à aplicação da ciência, ou, ainda, à execução de obras e de
trabalhos que exigiam conhecimentos especializados avançados; e o Tipo
C, auxílio em caráter extraordinário, para suplementar despesas não
previstas pelas bolsas, desde que houvesse interesse da Capes.
Por fim, a Seção de Administração (SA) era responsável por prestar
o apoio logístico aos demais programas e serviços, além de tratar de
questões de protocolo, correspondências, materiais, orçamento,
34
contabilidade, departamento pessoal etc. A organização da Capes em torno
desses dois programas principais revela, pois, o atendimento aos interesses
tanto do grupo dos “políticos”, com o PgU, quanto do grupo dos
“pragmáticos”, com o PQTC. Para Mendonça (2003), o Secretário-Geral
Anísio Teixeira, embora tenha exercido o importante papel de mediador
entre esses dois grupos, sem dúvida, garantia a hegemonia do segundo.
Com relação ao Decreto nº 50.737/61, que de fato organiza e
consolida a Campanha, percebe-se, novamente, o longo intervalo de
tempo entre a criação da comiso executiva e o estabelecimento da Capes.
Tal morosidade pode tanto ser fruto dos conflitos de interesses quanto da
própria burocracia, ainda que houvesse certa autonomia com relação aos
trâmites estatais. A baixa quantidade de reuniões anuais realizadas, por
exemplo, revela como, ainda que se entendesse o caráter urgente do
trabalho desempenhado, os encaminhamentos demoravam para serem
executados. Para Mendonça (2003, p. 293), esse segundo decreto
“consolida, em linhas gerais, uma situação já existente”. Se comparado com
o primeiro, o texto parece apresentar tônica maior sobre a necessidade do
desenvolvimento da ciência e da pesquisa nacionais, quando coloca como
prioridade a questão das condições de ensino e de pesquisa. De fato, essa
era a postura assumida pelas iniciativas da Capes, sobretudo com a sua
política de concessão de bolsas de estudo e de auxílios financeiros.
É interessante referir, também, as mudanças que ocorreram com
relação à própria estrutura da Campanha. A Comissão Executiva foi
extinta, uma vez cumprida a sua tarefa de criação da Capes, e foi criado
um Conselho Consultivo (CC), de livre nomeação da Presidência da
República, responsável por aprovar planos de trabalho, orçamentos e
prestação de contas. A gestão da campanha passou a contar com um
coordenador, um diretor executivo e o referido conselho consultivo. A
nomeação dos membros que ocupariam esses cargos aconteceu somente
35
dois anos depois, em 1963, revelando, novamente, a lentidão conferida aos
encaminhamentos.
Não obstante os danos causados pela Ditadura Civil-Militar
(1964-1985) para a sociedade brasileira em geral e para a vida acadêmica
em particular, paradoxalmente, a universidade brasileira se desenvolveu
acentuadamente durante esse período, a partir de um processo de
modernização, característico da época. De fato, nessa época, o Brasil
percorria, concomitantemente, dois caminhos distintos no que diz respeito
ao desenvolvimento científico nacional. Nesse sentido, Barbosa (2009)
considera que:
Por um lado, os militares foram responsáveis pela dinamização da
ciência no Brasil, criando instituições de ensino superior e agências de
fomento à pesquisa científica e organizando as pós-graduações; por
outro lado, porém, perseguiram e impediram que diversos cientistas
desenvolvessem plenamente suas carreiras (BARBOSA, 2009, p. 100).
Uma das primeiras medidas na Capes após a chegada dos militares
ao poder foi a cassação de Anísio Teixeira. Assumiu o comando da
instituição a professora Suzana Gonçalves, ligada à PUC-RJ, não por sua
importância intelectual no contexto nacional, mas por seu grau de
parentesco com o então Presidente da República Castelo Branco
(BARBOSA, 2009, p. 105). Menos de dois meses após o 1º de abril, foi
publicado o Decreto-lei nº 53.932/64, alterando novamente a
configuração da Capes, que teria sua denominação modificada de
Campanha para Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior. Além disso, o referido decreto fundiu esse órgão com a Comissão
Supervisora do Plano dos Institutos (Cosupi) e com o Programa de
Expansão do Ensino Tecnológico (Protec). Com relação à sua estrutura,
36
ficou subordinada ao Ministério da Educação e Cultura e passou a ser
orientada por um Conselho Deliberativo (CD) (BRASIL, 1964).
De acordo com o decreto, esse Conselho era formado por 9
membros designados pelo Presidente da República, indicados pelo
Ministro da Educação e Cultura, cujos mandatos tinham duração de 3
anos. A Presidência do Conselho cabia ao próprio ministro, e o Diretor da
Diretoria do Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura e o
Presidente do Conselho Nacional de Pesquisas eram membros natos. Fazia
parte das competências do CD, além de definir a política da organização,
aprovar as normas e os planos de trabalho organizados pelos seus órgãos
técnicos, a concessão de bolsas de estudo no país e no estrangeiro, os planos
de aplicação dos recursos e a proposta orçamentária anual.
Na literatura pertinente à história da pós-graduação brasileira,
considera-se que foi no ano de 1965, com a aprovação do Parecer nº
977/65 do Conselho Federal de Educação, que se instaurou de fato a pós-
graduação no Brasil. A recém-sancionada LBD 4.024/61 já previa, em seu
artigo 69, os cursos desse nível de ensino sem, contudo, estabelecer
critérios de credenciamento. Essa tarefa caberia, então, ao Conselho
Federal de Educação (CFE). Esse parecer foi fruto de um aviso
6
do
Ministro da Educação e Cultura, solicitando ao CFE um pronunciamento
que definisse e, se fosse o caso, regulamentasse os cursos de pós-graduação,
“considerando a necessidade de implantar e desenvolver o regime de
cursos-pós-graduação em nosso ensino superior e tendo em vista a
imprecisão, que reina entre nós, sobre a natureza desses cursos” (BRASIL,
1965b).
6
Aviso é a designação para a modalidade de comunicação oficial expedida por ministros de Estado
para outros ministros ou autoridades de mesma hierarquia (BRASIL, 2002b, p. 13).
37
O Parecer nº 977/65, cujo relator foi o conselheiro Newton
Sucupira
7
, trouxe importantes contribuições e elucidações sobre o que “o
legislador deixou expresso em forma algo nebulosa na LDB 4.024/61”. Foi
nesse documento que se distinguiu os estudos de lato e stricto sensu, e
também a própria diferenciação entre mestrado e doutorado, acadêmico e
profissional, cuja inspiração teve como base o modelo norte-americano.
Além disso, sugeriu, em linhas gerais, a carga horária que deveria ser
dedicada a cada nível de estudo, a própria estruturação e funcionamento
do curso (elementos como disciplinas, seminários temáticos, exames de
qualificação), e até mesmo questões relativas aos pré-requisitos e as
estratégias de seletividade intelectual às quais seriam submetidos os
graduados para serem admitidos em tais cursos. Desse momento em
diante, o CFE passou a instituir pareceres, resoluções e outras normativas
específicas de cada um desses aspectos, de modo a disciplinar e estabelecer
critérios de credenciamento de cursos de pós-graduação. Talvez um dos
grandes impulsores desse avanço tão contraditório para o contexto da
época tenha sido a articulação dos interessados:
Nos anos 60, apesar do regime autoritário em processo de acirramento
(a lei nº 5.540/68 foi promulgada apenas um mês antes do Ato
Institucional nº 5), houve uma busca de alianças com professores e
pesquisadores, o que permitiu o desenvolvimento da pós-graduação e
da pesquisa, diferenciando o panorama universitário brasileiro das
demais ditaduras militares latino-americanas (CUNHA, 1988, p. 46).
O desenvolvimento das-graduação no Brasil também foi
contemplado na Reforma Universitária. Ainda que os reais objetivos
7
Newton Sucupira, posteriormente, ficou conhecido como “o pai da pós-graduação”, pois o
documento é considerado marco legal que regulamentou e possibilitou o crescimento desse nível
de ensino no Brasil.
38
estivessem mais ligados à formação profissional imediata, houve a
destinação de elevados recursos para a viabilização desses cursos e a criação
dos Centros Regionais de Pós-Graduação. Cury (2005, p. 15) refere que
“foi no regime militar que a pós-graduação se desenvolveu como
patrimônio institucional da qualificação de docentes e como elemento
fundamental da criação de um sistema nacional de ciência e tecnologia”.
A grande expansão pela qual passou o Ensino Superior nos anos
seguintes à Reforma de 1968 também provocou a busca por continuidade
desses estudos. De igual maneira, o Estatuto do Magistério Superior
Federal (Lei n° 4.881-A), promulgado no mesmo ano do Parecer Sucupira,
impulsionou a procura por cursos de pós-graduação pelos candidatos à
carreira docente. Face a isso, a aferição da qualidade dos cursos de mestrado
e doutorado passou a ser responsabilidade da Capes, em atendimento à
demanda de agências de fomento à pesquisa de mecanismos de avaliação
dos cursos de pós-graduação. A partir de 1981, tanto a discussão
orçamentária das universidades federais quanto o próprio credenciamento
de cursos de pós-graduação pelo CFE passaram a levar em consideração
essas avaliações. Posteriormente, tal sistemática de avaliação passou a ser o
próprio mecanismo de credenciamento de fato (CASTRO; SOARES,
1983). Foi também nesse período que o órgão passou a ser responsável pela
formulação do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG), sendo
reconhecido pelo MEC como a Agência Executiva do Sistema Nacional de
Ciência e Tecnologia.
Nesse contexto, embora o objetivo continuasse a ser o de formação
de recursos humanos qualificados para as atividades docentes, de pesquisa
e técnicas, as diretrizes enfatizaram a institucionalização e o
aperfeiçoamento da avaliação da pós-graduação.
39
Analisando o percurso das políticas de pós-graduação no Brasil,
principalmente nos seus primeiros vinte anos, observa-se que,
inicialmente, visou-se a capacitação dos docentes para atuar nas
universidades, o desenvolvimento da atividade científica e um aumento
progressivo de sua importância estratégica no cenário do ensino
superior e da Ciência e Tecnologia no Brasil. Posteriormente, com a
consolidação da pós-graduação, notadamente a partir dos anos de
1980, a avaliação do desempenho do sistema torna-se o centro das
preocupações [...] (HOSTINS, 2006, p. 141).
O papel avaliativo da Capes passou a ser uma das funções centrais
do órgão até os dias atuais. Esse mecanismo de avaliação tem como
premissa a coleta e a organização de dados que, subsequentemente, são
enviados para a apreciação dos consultores (pares). Os dados coletados são,
essencialmente, de natureza numérica: número de alunos, de bolsas, de
publicações, de comunicações apresentadas em congressos, de recursos
captados etc. Nesse caso, parece também haver alguma influência do
modelo norte-americano. De acordo com Castro e Soares (1983), “é
procedente comparar o sistema da Capes com a tradição norte-americana
de peer reviews, que vem sendo aplicada há muitas décadas e que é feita
com base na reputação dos programas”.
Para Maraschin e Sato (2013), a pós-graduação se expandiu
concomitantemente ao desenvolvimento de uma cultura de auditoria
8
, um
movimento comum em vários países. Tal modelo revela-se um reflexo do
gerencialismo adotado na condução das universidades. Nesse sentido, o
atrelamento entre avaliação e financiamento tem levado pesquisadores e
8
Trata-se de um termo cunhado por sociólogos e antropólogos para descrever uma condição
moldada pelo uso de técnicas e princípios modernos de auditoria financeira, mas em contextos
muito distantes do mundo da contabilidade financeira. Para maiores esclarecimentos, consultar
SHORE, C. Cultura de auditoria e governança liberal: universidades e a política da
responsabilização. MediaçõesRevista de Ciências Sociais, v. 14, n. 1, p. 24-53, 2009.
40
instituições à busca incessante por publicações, designada como
produtivismo acadêmico, o qual gera consequências intensamente
criticadas.
De acordo com Mancebo (2013), podemos destacar, entre os
problemas gerados pelo chamado produtivismo acadêmico, a alteração da
natureza dos estudos e dos objetos de pesquisa, sobretudo no campo das
ciências humanas, ao qual é dirigida a menor parte dos recursos; a
prioridade da quantidade de publicações em detrimento da qualidade,
além do acúmulo dos processos editoriais, que leva a publicações atrasadas
e desatualizadas; a desvalorização da graduação e o desatrelamento ensino-
pesquisa-extensão, que se constituem os pilares do conceito moderno de
universidade; o crescimento de fenômenos como o plágio e a terceirização
do trabalho do parecerista; o adoecimento físico e psicológico dos
profissionais da academia; a perda de sentido da própria carreira
universitária, em que mais importa estar no sistema Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) como pesquisador de
excelência do que buscar a progressão funcional no âmbito da instituição
à qual é vinculado. É importante salientar, ainda, que tais princípios têm
influenciado, inclusive, as políticas de avaliação das universidades para o
trabalho docente em geral. Embora os reflexos negativos sejam sofridos por
todos os membros da academia, sem exceção, a competitividade gerada e a
possibilidade de união de forças para pesquisadores, instituições e
programas de pós-graduação parece falar mais alto, impedindo a resistência
a essa lógica perversa.
No ano de 1992, ocorreu mais uma modificação da Capes. Por
meio da Lei n.º 8.405, ela foi instituída como fundação pública
9
,
9
Fundação Pública “é o patrimônio, total ou parcialmente público, dotado de personalidade
jurídica, de direito público ou privado, e destinado, por lei, ao desempenho de atividades do Estado
na ordem social, com capacidade de autonomia e mediante controle da administração Pública, nos
limites da lei” (MEIRELLES, 2011, p. 87).
41
mantendo seu campo de atuação concentrado na pós-graduação. Os
objetivos estabelecidos por essa lei não se mostram muito distantes do que
vinha sendo praticado até então: subsidiar o MEC na formulação de
políticas para a pós-graduação, coordenar e avaliar cursos na modalidade
presencial e a distância, e estimular, mediante concessão de bolsas de
estudo, auxílios e outros mecanismos, a formação de recursos humanos
altamente qualificados para a docência de grau superior, a pesquisa e o
atendimento da demanda dos setores público e privado (BRASIL, 1992).
Com a Lei n.º 11.502/2007, as competências e a estrutura
organizacional da Capes foram novamente modificadas, e ela passou a
atuar, também, na formação de professores da Educação Básica (BRASIL,
2007b).
Com relação à trajetória da Capes, temos o seguinte percurso:
Quadro 1: Trajetória da Capes
Data
Dispositivo
legal
Descrição
11 de julho
de 1951
Decreto nº
29.741
Instituiu uma Comissão Executiva para promover a
Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior
19 de
dezembro
de 1951
Decreto nº
30.286
Dilata de seis meses para um ano o prazo da
Comissão Executiva para instalar a referida
Campanha
7 de junho
de 1961
Decreto nº
50.737
Consolida a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior, diretamente
subordinada à Presidência da República
1963
-
Nomeação dos cargos de coordenador, diretor
executivo e do Conselho Consultivo
26 de maio
de 1964
Decreto-lei nº
53.932
Denominação modificada de Campanha para
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
42
Nível Superior, fusão com a Comissão Supervisora
do Planos dos Institutos (Cosupi) e com o Programa
de Expansão do Ensino Técnológico (Protec);
subordinação ao Ministério da Educação e Cultura e
criação de um Conselho Deliberativo.
3 de
dezembro
de 1965
Parecer CFE
nº 977
(Parecer
Sucupira)
Distinção entre estudos lato e stricto sensu, mestrado
e doutorado, acadêmico e profissional; estruturação,
carga horária e funcionamento dos cursos de pós
graduação; pré-requisitos e estratégias de seletividade
intelectual para ingresso.
6 de
dezembro
de 1965
Lei nº 4.881-
A
Estatuto do Magistério Superior; impulsionou a
procura por cursos de pós-graduação aos pelos
candidatos à carreira docente; Capes passa a ser
responsável pela avaliação dos cursos de mestrado e
doutorado.
28 de
novembro
de 1968
Lei nº 5.540
Reforma Universitária; destinação de recursos para a
viabilização de cursos e a criação dos Centros
Regionais de Pós-Graduação.
9 de janeiro
de 1992
Lei nº 8.405
Capes é instituída como fundação pública, e
continua centrada na pós-graduação.
11 de julho
de 2007
Lei nº 11.502
Capes passa a atuar também na formação de
professores da Educação Básica
Fonte: Elaborado pelo pesquisador.
A Capes B ou Nova Capes e a atuação na Educação Básica
O ano de 2007 foi marcado pela publicação de relatórios e pelo
estabelecimento de planos de metas para a educação brasileira. Esse ano
culminou com a publicação, em dezembro, do Decreto nº. 6316, o qual
aprova o estatuto da Nova Capes. Abordamos esses documentos na
sequência.
43
Em abril daquele ano, o Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE) foi apresentado ao país pelo do MEC. Resumidamente, trata-se de
um plano coletivo, cujo objetivo é melhorar a qualidade da educação no
país, com foco prioritário na Educação Básica. Em seguida, o então
Ministro da Educação, Fernando Haddad, publicou um novo documento,
intitulado O PDE razões, princípios e programas, no qual defende que o
PDE pretende ir além de uma instrumentalização do PNE, não se
limitando a apresentar diagnósticos dos problemas educacionais.
Esse plano pretende estabelecer um conjunto de ações que
solucionariam problemas educacionais no Brasil. Tais ações parecem
abrigar todos os programas desenvolvidos pelo MEC à época. E é possível
perceber uma ênfase substancial na Educação Básica, pois, das 30 ações
estabelecidas pelo plano, 17 contemplam a Educação Básica, entre elas, o
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), o Piso Salarial do
Magistério, entre outros programas de apoio, como “Transporte Escolar”,
“Luz para Todos”, “Saúde nas Escolas”, “Guias de tecnologias”, “Censo
pela Internet”, “Mais educação”, “Coleção Educadores” e “Inclusão
Digital”. Como não poderia deixar de ser, o estímulo à formação de
professores também constituiu uma das ações propostas, por meio do
Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor).
Ainda no âmbito do PDE, e publicado no mesmo dia, o Decreto
nº. 6.094 implementa o Plano de Metas Compromisso Todos pela
Educação, cuja agenda havia sido lançada no ano anterior como uma
iniciativa da sociedade civil e que traduziu o movimento de um
aglomerado de grupos empresariais preocupados com a Educação Básica.
Entre outras ações, regulamenta o IDEB como mecanismo para aferir a
qualidade da Educação Básica e acompanhar as ações em prol do alcance
44
de tais metas. De modo a viabilizar o apoio cnico e financeiro e participar
do compromisso, os municípios e unidades federadas devem elaborar, com
base na realidade local, um Plano de Ações Articuladas, assinando um
Termo de Adesão voluntária
10
. Saviani (2007, p. 1242) refere a inédita
preocupação qualitativa com a educação, no âmbito da avaliação proposta
pelo PDE:
O que confere caráter diferenciado ao IDEB é a tentativa de agir sobre
o problema da qualidade do ensino ministrado nas escolas de educação
básica, buscando resolvê-lo. E isso veio ao encontro dos clamores da
sociedade diante do fraco desempenho das escolas à luz dos indicadores
nacionais e internacionais do rendimento dos alunos. Esses clamores
adquiriram maior visibilidade com as manifestações daquela parcela
social com mais presença na mídia, em virtude de suas ligações com a
área empresarial. Tal parcela só mais recentemente vem assumindo a
bandeira da educação, em contraste com os educadores que apresentam
uma história de lutas bem mais longa.
Como resultado, esse Compromisso tem chamado a atenção para
a organização curricular e para os trabalhos no âmbito escolar com base na
Prova Brasil e no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
(SAEB). Isso porque essas provas fazem parte da composição do IDEB, e
a ele estão atreladas implicações sobre o financiamento de ações específicas
dos estados e dos municípios no setor educacional. Contudo, há o lado
perverso dessa dinâmica, sobretudo pelo caráter central que ela passa a
10
De acordo com documentos da Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), o diagnóstico da
situação educacional elaborado a partir de visitas técnicas aos municípios signatários é balizado pelas
seguintes dimensões: 1) gestão educacional; 2) formação de professores e dos profissionais de serviço
e apoio escolar; 3) práticas pedagógicas e avaliação; e 4) infraestrutura e recursos pedagógicos.
(http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pde_esc/todospelaedu.pdf). Acesso em 14 abr. 2016
45
ocupar, qual seja, a redução de práticas pedagógicas ao preparo de
avaliações externas.
Em maio de 2007, o CNE tornou público o documento Escassez
de professores no Ensino Médio: Propostas estruturais e emergenciais, um
relatório produzido pela Comissão Especial instituída para estudar
medidas que visem a superar o déficit docente no Ensino Médio (RUIZ et
al., 2007). Dentre as principais causas do problema abordado, estão a
remuneração docente e os baixos índices de concluintes de cursos de
licenciatura, como já mencionado, face à demanda de professores nos
sistemas estaduais de ensino. O relatório apresenta, ainda, o chamado
apagão educacional na Educação Básica brasileira, revelando uma carência
de cerca de 235 mil professores somente para o Ensino Médio, sobretudo
nas áreas de química, física, matemática e biologia (RUIZ et. al., 2007, p.
11)
11
. Destaca-se uma das propostas apontadas por esse diagnóstico, a
defesa da instituição de uma Política Nacional de Formação de Professores:
Instituir uma política nacional de formação de professores é condição
inerente ao Sistema Nacional de Educação, dele se beneficiando na
medida em que se estabeleçam formas e mecanismos de cooperação
entre os entes federativos, e, ao mesmo tempo, contribuindo para
fortalecê-lo pela qualificação de seus agentes. Essa política deve ter
metas ambiciosas, recursos financeiros adequados e ter por base
programas e ações para formação, aperfeiçoamento, avaliação e
promoção dos recursos humanos no campo da educação pública. Os
programas e as ações abrangidos por essa política devem contemplar a
criação de centros de formação inicial e continuada em todos os
estados, regiões metropolitanas e outras consideradas de importância
estratégica, com estabelecimento de metas a serem cumpridas pelos
estados e municípios, bem como pela concertação política visando à
11
Esses dados estão atualizados para o ano de 2014, posteriormente, neste livro.
46
definição de padrões e incentivos a serem inseridos nos planos de
carreira de estados e municípios. As ações dessa política deverão, ainda,
balizar-se pelo conceito de redes de ação e de cooperação, de forma a
criar condições para a atuação integrada dos sistemas de ensino, das
instituições de ensino superior, dos centros de pesquisas voltados para
a Educação e das organizações sociais (RUIZ et al., 2007, p. 18).
Em decorrência da publicação desse documento, o então Ministro
Haddad encomendou um estudo junto ao INEP para verificar a veracidade
dessas informações, que culminou com o referido relatório do Diretor
de Estatísticas do INEP, As Licenciaturas e o Ensino Básico Brasileiro:
Diagnóstico. Segundo Ristoff e Bianchetti (2012), embora o estudo
corroborasse a carência de professores e algumas outras questões relevadas
pelos conselheiros do CNE, apresentou outras constatões, a serem
levadas em consideração pelos formuladores de políticas:
1. havia mais professores atuantes em todas as disciplinas da
educação básica do que a demanda hipotética projetada para o seu
atendimento [(havia 323.109 docentes em exercício a mais do que a
demanda estimada para o ensino fundamental (5ª a 8ª Séries) e médio,
o que equivalia a uma oferta de docentes 44,5% acima da demanda)];
2. nos últimos cinco anos (2001 a 2005), o número de
ingressantes e de concluintes, em todas as licenciaturas, mostrava
crescimento todos os anos;
3. em todas as disciplinas, exceto em Física e Química, havia
mais professores licenciados nos últimos 25 anos do que a demanda
hipotética projetada para o atendimento das necessidades do ensino
médio e fundamental de 5ª. a 8ª. Série;
4. em Física e Química, mesmo que todos os licenciados nos
últimos 25 anos exercessem a profissão de professor do ensino médio,
seria impossível atender à demanda hipotética para o atendimento
47
destas disciplinas. Em Física, a demanda hipotética era
aproximadamente três vezes superior ao número de licenciados nos
últimos 25 anos e, em Química, mais de duas vezes;
5. em todas as áreas, inclusive em Física e Química, o número
de licenciados é consideravelmente maior do que o número de
professores licenciados atuantes, indicando forte evasão profissional
apesar da grande disponibilidade de postos de trabalho (RISTOFF;
BIANCHETTI, 2012, p. 806)
Os documentos e diagnósticos apontavam um caminho possível
para uma efetiva mudança da situação brasileira, exercendo pressão sobre
as autoridades para que tomassem alguma iniciativa de alcance nacional,
que pudesse contribuir para a melhoria da formação de professores. De
fato, reuniões do ministro da educação com a Câmara de Educação Básica
do CNE foram realizadas com o objetivo de elaborar um programa nesse
sentido. Em julho de 2007, dois meses após a apresentação do relatório do
INEP, conforme já referido, foi publicada a Lei nº 11.502, modificando,
novamente, a estrutura e as competências da Capes e autorizando-a a
conceder bolsas de estudo e de pesquisa a participantes de programas de
formação inicial e continuada de professores para a Educação Básica. Em
dezembro, O Decreto nº 6316, que aprova o novo estatuto e os cargos em
comissão da Capes
12
, viabiliza, de fato, a transformação mais profunda
sofrida por essa instituição. Ela passaria, a partir desse momento, então, a
induzir e estimular, em regime de colaboração com os estados, os
municípios e o Distrito Federal, e por meio de convênios com instituições
de Ensino Superior (IES), a formação inicial e continuada de professores
da Educação Básica, fomentando programas de formação e articulando
políticas em todos os níveis de governo, elaborando programas de atuação
12
Atualmente, o estatuto e os cargos comissionados da Capes são disciplinados pelo Decreto
8.977, de 30 de janeiro de 2017.
48
setorial e regional, acompanhando o desempenho de alunos na
licenciatura, e promovendo estudos e avaliações para melhoria de conteúdo
e de orientações curriculares dos cursos de formação de professores. De
acordo com Scheibe (2011, p. 817), “cabe hoje, portanto, a este órgão
vinculado ao Ministério de Educação, a tarefa de implementar ações
sistêmicas que visem à formação dos profissionais da Educação Básica, de
forma a atender às necessidades reais das instituições educativas no
contexto da diversidade regional e das especificidades da educação”. A
Capes com esse novo desenho instala-se, efetivamente, em janeiro de 2008.
A atual estrutura da Capes conta com órgãos colegiados como
instâncias de deliberação. O primeiro deles, o Conselho Superior (CS) é o
órgão colegiado deliberativo, cuja função é estabelecer prioridades e linhas
orientadoras das atividades da instituição, além de apreciar e aprovar
critérios e procedimentos para concessão de bolsas e auxílios, programação
anual, proposta orçamentária, relatórios de atividades, entre outros. Em
seguida, Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES),
responsável por assistir a Diretoria-Executiva na elaboração de políticas e
diretrizes específicas de atuação da Capes no que diz respeito ao Ensino
Superior, além de colaborar, opinar, propor e até mesmo deliberar sobre
questões relativas a esse nível de ensino, tais como programação anual,
acordos de cooperação, acompanhamento e avaliação dos programas de
pós-graduação, propostas de cursos e outras questões ligadas à formação de
recursos humanos de alto nível, ao sistema de pós-graduação e ao sistema
nacional de desenvolvimento científico e tecnológico. O CTC-ES possui
um representante no CS.
Com a nova reestruturação, a Capes passa a contar com um novo
órgão colegiado: o Conselho Técnico-Científico da Educação Básica
(CTC-EB), a atuar conjuntamente com o CS e com o CTC-ES. As suas
funções são equivalentes às do CTC-ES, porém voltadas à formação inicial
49
e continuada de profissionais do magistério da educação básica e à
construção de um sistema nacional de formação de professores. Segundo
o novo estatuto da Capes, passam a ser competências desse recém-criado
Conselho:
I - assistir à Diretoria-Executiva na elaboração das políticas e diretrizes
específicas de atuação da CAPES no tocante à formação inicial e
continuada de profissionais do magistério da educação básica e à
construção de um sistema nacional de formação de professores;
II - assistir as Diretorias de Formação de Professores da Educação
Básica e de Educação a Distância no que diz respeito à consolidação do
regime de colaboração entre todos os níveis de governo;
III - discutir diretrizes de longo prazo para a formação inicial e
continuada dos professores da educação básica;
IV - fixar parâmetros para avaliação da demanda por professores da
educação básica, inclusive para subsidiar a instalação de polos de apoio
presencial;
V - acompanhar a avaliação dos cursos de formação inicial dos
professores nos processos conduzidos pelo INEP;
VI - colaborar na elaboração de propostas relativas à formação inicial e
continuada de professores da educação básica, para subsidiar e
consolidar o PNE;
VII - opinar sobre a programação anual da CAPES, na área específica
de formação de professores e valorização da educação básica;
VIII - opinar sobre critérios e procedimentos para fomento a estudos e
pesquisas relativos à orientação de políticas de formação e conteúdo
curriculares dos cursos de formação de professores da educação básica;
IX - estabelecer parâmetros para avaliação dos programas de fomento
da CAPES;
50
X - propor a realização de estudos e programas para o aprimoramento
das atividades da CAPES na sua área de atuação;
XI - opinar sobre assuntos que lhe sejam submetidos pelo Presidente
da CAPES; e
XII - eleger seu representante no Conselho Superior (BRASIL, 2012b,
Art. 14).
Além disso, são criadas mais duas diretorias vinculadas aos órgãos
singulares: a Diretoria de Educação Básica (DEB) e a Diretoria de
Educação à Distância (DED), ocupando-se dos programas de formação
inicial e continuada de professores nas modalidades presencial e a
distância, respectivamente.
Estava instaurado, portanto, o novo setor da Capes, responsável
pela discussão dos rumos da Educação Básica nacional. Inicialmente, as
novas diretorias da Capes assumiram ações que já eram desenvolvidas no
âmbito do MEC, tais como o Parfor, o Pibid, o Prodocência, o
Observatório da Educação, a Universidade Aberta do Brasil, entre outros,
conferindo continuidade a esses projetos e progressiva ampliação. Em abril
de 2008, alguns meses após sua criação, a DEB apresentou, durante a
Conferência Nacional da Educação Básica (Coneb), algumas linhas de
ação como objetivos a serem alcançados, cujos prazos seriam definidos caso
a caso, conforme recursos financeiros e condições estruturais:
1. todas as disciplinas da EB terão professores licenciados para
ministra-las;
2. nenhuma evasão profissional de licenciados deve encontrar
justificativa na falta de valorização do magistério;
3. todos os professores licenciados deverão ter formação prática
em sala de aula ao longo do curso;
51
4. todos os licenciados serão formados em cursos com currículos
especialmente construídos para a formação de docentes para a EB;
5. todos os níveis de escolaridade, desde a PG stricto sensu à EB,
participarão do esforço nacional comum de melhoria da qualidade da
educação brasileira e da formação docente de forma integrada e
comprometida;
6. os estudantes da EB deverão demonstrar melhora constante
dos níveis de desempenho nos exames nacionais e internacionais;
7. todas as escolas brasileiras deverão apresentar atmosfera
propícia para o estudo, o conseqüente avanço cognitivo dos estudantes
e convívio social harmonioso (RISTOFF; BIANCHETTI, 2012, p.
811).
Ao que nos parece, os dois primeiros itens têm sido rigorosamente
contrariados, sobretudo nos últimos anos. A já referida Reforma do Ensino
Médio, com sua referência ao notório saber, desconsidera a necessidade de
todos os professores da Educação Básica serem licenciados. Igualmente,
questões referidas neste livro e velhas conhecidas da área, relativas à
precarização de salários e de condições de trabalho, não permitem a
concretização do segundo objetivo.
Como se pode perceber, tais propostas antecipam as diretrizes da
política nacional, para a qual esses novos setores estavam conferindo seus
esforços. Scheibe (2011, p. 818) apresenta uma justificativa para a
atribuição à Capes da tarefa de pensar a formação de professores:
A inovação foi uma decisão de governo, explicitada como uma
estratégia para a implementação das políticas vinculadas à valorização
e formação dos profissionais do magistério, tomando como base
exemplar a consideração de que a Capes representou uma alternativa
52
bem-sucedida para a formação de pessoal para atuar no nível superior
de educação.
Resta-nos, contudo, refletir sobre o “sucesso” da Capes com relação
à sua atuação no nível superior. Sobretudo após a concretização do papel
avaliativo da Capes, os níveis de exigência com relação aos programas de
pós-graduação, progressivamente elevados, têm conduzido os
pesquisadores a um quadro de produtivismo acadêmico que, além de
contribuir para a diminuição da qualidade das pesquisas, instaura um
quadro de adoecimento profissional dos docentes e o aumento dos índices
de evasão nos cursos de mestrado e doutorado. Além disso, conforme
demonstramos, a dinâmica de fomento a programas e pesquisas não parece
se distanciar muito do que era executado na primeira estrutura da Capes,
com o Programa Universitário. Tal fato leva-nos a questionar o status bem-
sucedido da Capes e a relativizar o fato de ela ser chamada de “nova” a
partir dessa reconfiguração.
Um ano depois da criação da chamada “Nova” Capes, é lançada a
Política Nacional, materializada pelo Decreto nº 6755, de 29 de janeiro
de 2009, conforme já mencionado. Esse dispositivo legal também
disciplina a atuação da Capes no fomento a programas de formação. Essa
política tem, como princípio norteador, a assunção da formação de
professores da Educação Básica como um compromisso do Estado, com a
colaboração dos entes federados, numa ideia de que ela é parte de um
projeto social, político e ético para a construção de uma nação soberana,
democrática, justa e inclusiva, de acordo com o texto legal. Além disso,
assume também a garantia de padrão de qualidade nos cursos oferecidos
para essa formação, a articulação entre teoria e prática, o reconhecimento
da escola como espaço de formação, das especificidades da profissão
docente e de sua valorização. Por fim, compromete-se com a equidade no
53
acesso à formação inicial e continuada, sua articulação e sua integração
com o cotidiano da escola e com os diferentes saberes e experiências
docentes.
Partindo desses princípios, foram elaborados dez objetivos a serem
alcançados pela implementação de tal política, a saber:
I - promover a melhoria da qualidade da educação básica pública;
II - apoiar a oferta e a expansão de cursos de formação inicial e
continuada a profissionais do magistério pelas instituições públicas de
educação superior;
III - promover a equalização nacional das oportunidades de formação
inicial e continuada dos profissionais do magistério em instituições
públicas de educação superior;
IV - identificar e suprir a necessidade das redes e sistemas públicos de
ensino por formação inicial e continuada de profissionais do
magistério;
V - promover a valorização do docente, mediante ações de formação
inicial e continuada que estimulem o ingresso, a permanência e a
progressão na carreira;
VI - ampliar o número de docentes atuantes na educação básica pública
que tenham sido licenciados em instituições públicas de ensino
superior, preferencialmente na modalidade presencial;
VII - ampliar as oportunidades de formação para o atendimento das
políticas de educação especial, alfabetização e educação de jovens e
adultos, educação indígena, educação do campo e de populações em
situação de risco e vulnerabilidade social;
VIII - promover a formação de professores na perspectiva da educação
integral, dos direitos humanos, da sustentabilidade ambiental e das
relações étnico-raciais, com vistas à construção de ambiente escolar
inclusivo e cooperativo;
54
IX - promover a atualização teórico-metodológica nos processos de
formação dos profissionais do magistério, inclusive no que se refere ao
uso das tecnologias de comunicação e informação nos processos
educativos; e
X - promover a integração da educação básica com a formação inicial
docente, assim como reforçar a formação continuada como prática
escolar regular que responda às características culturais e sociais
regionais (BRASIL, 2009b, Art. 3º).
De modo a alcançar tais objetivos, o Decreto também propôs a
criação dos Fóruns Estaduais Permanentes de Apoio à Formação Docente,
instituídos em cada estado, por meio de ações e programas específicos do
MEC. Os assentos dos fóruns estão garantidos aos representantes dos
órgãos, instituições e entidades que fizerem adesão, a saber:
O Secretário Estadual de Educação e mais um membro
indicado pelo governador;
Um representante do Ministério da Educação;
Dois representantes das Secretárias Municipais de
Educação indicados pela respectiva seção regional da União
Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime);
O dirigente máximo de cada instituição pública de
educação superior com sede no Estado ou seu representante;
Um representante dos profissionais do magistério indicado
pela seccional da Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação (CNTE);
Um representante do Conselho Estadual de Educação;
55
Um representante da União Nacional dos Conselhos
Municipais de Educação (Uncme);
Um representante do Fórum das Licenciaturas das
Instituições de Educação Superior Públicas, quando houver; e
Representantes de outros órgãos que solicitarem
formalmente adesão ao Fórum Estadual.
Entre as principais atribuições dos fóruns, estão a elaboração e o
acompanhamento da execução de um plano estratégico, a definição de
prioridades e de metas dos programas de formação em cada estado, a
proposição de ações específicas para garantia de permanência e rendimento
satisfatório dos professores de Educação Básica, a verificação dos princípios
e dos objetivos da Política Nacional e o acompanhamento da execução dos
planos estratégicos, bem como sua revisão periódica. As diretrizes nacionais
para o funcionamento dos Fóruns Estaduais são estabelecidas pela Portaria
nº 833/2009 do MEC. Não encontramos, ao longo de nossa pesquisa,
resultados concretos desses fóruns.
A cada unidade federativa coube formular seu plano estratégico,
contendo o diagnóstico e as necessidades de formação (desenvolvido por
meio de estudos baseados em dados do Censo), a definição de ações e a
atribuição de responsabilidades. É possível perceber, portanto, a
articulação entre as necessidades específicas de cada região do país e a
capacidade das instituições públicas disponíveis. Nesse sentido, a própria
oferta de cursos passaria a ser realizada a partir de uma ação fundamentada,
coordenada pelos fóruns.
Quanto à Capes, fica a responsabilidade de incentivar a formação
de professores por meio de programas de iniciação à docência e concessão
de bolsas a estudantes matriculados em cursos de licenciatura,
56
promovendo, assim, a articulação entre escola e universidade, e inserindo
o professor em formação no espaço de ensino-aprendizagem da escola
pública. Pode-se dizer, também, que o órgão passou a exercer o papel não
só de fomentador mas também de regulamentador da formação de
professores, em alguns aspectos, já que cabe ao seu CTC-EB a
homologação de cursos de atualização, de aperfeiçoamento e de
especialização nas áreas de sua competência. Isso ajuda a entender, por
exemplo, a criação de uma diretoria presencial e outra a distância, uma vez
que o decreto prevê que, preferencialmente, a formação inicial deve ser
oferecida na modalidade presencial, e a continuada, a distância.
São grandes as responsabilidades e complexos os desafios a serem
enfrentados pela Capes, órgão do MEC que tem conduzido, com
efetivo sucesso, a política de pós-graduação no país durante várias
décadas, mas sem tradição de trabalho junto aos cursos de graduação.
(GATTI; BARRETO; ANDRÉ, 2011, p. 52)
A iniciativa dessa política nacional, de atribuir a um órgão do MEC
a função de gerir um dos aspectos considerados centrais para o
desenvolvimento da educação no país, qual seja, a formação de professores,
sinaliza um processo alternativo à descentralização proposta pela
Constituição de 1988, por meio da autonomia conferida aos sistemas de
educação estaduais e municipais.
Nesse sentido, faz-se interessante mencionar as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores (BRASIL, 2015). O
documento, que visa definir princípios, fundamentos, dinâmica formativa
e procedimentos a serem observados nas políticas, na gestão e nos
programas e cursos de formação de professores, tanto inicial quanto
continuada, parece enfatizar essas preocupações. No âmbito de tais
57
diretrizes, a partir do PNE como epicentro das políticas educacionais,
pensa-se em articular a formação inicial e continuada por meio da
pactuação dos entes federados, efetivando-se o regime de colaboração no
campo da formação de professores.
Vale ressaltar, contudo, que houve resistência à Nova Capes, vinda
de alguns setores da sociedade, do próprio governo, e mesmo da academia.
Ristoff e Bianchetti (2012) referem que as críticas são de diversas naturezas.
Inicialmente, houve rejeição ao uso da modalidade a distância para a
formação de professores. Embora a lei estabelecesse a preferência pela
modalidade presencial para a formação inicial, e a distância para a
continuada, uma afirmação do então ministro Haddad
13
, em reunião com
o Conselho Superior da Capes, deu margem a interpretação contrária.
Ainda nesse sentido, houve crítica de especialistas à polarização entre as
duas modalidades, sob a alegação de não haver argumentos teórico-
epistemológicos para justificar essa divisão na definição de políticas
nacionais.
Outro ponto polêmico foi a possibilidade de criação de um modelo
tecnicista e pragmático de formação de professores, como no caso das
licenciaturas nos IFETs
14
. Também houve críticas sobre o risco de
aplicação da lógica produtivista na Educação Básica, como acontece
atualmente com a pós-graduação
15
. Ademais, o temor de que a reconhecida
13
Em reunião com os conselheiros do CS no dia 4 de dezembro de 2007, o então ministro da
educação Fernando Haddad afirmou que “a formação continuada de professores poderá ser feita a
distância. Em alguns casos, até a formação inicial” (RISTOFF; BIANCHETTI, 2012, p. 808).
14
Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETS) foram criados pela Lei nº
11.892/2008, com a obrigatoriedade de oferecer cursos de formação de professores, sob a
justificativa de ampliar a oferta de vagas de licenciatura na rede federal. Entretanto, a retirada da
formação do ambiente acadêmico-universitário é bastante criticada por especialistas da educação.
Para maiores esclarecimentos, consultar: FREITAS, H. A (nova) política de formação de
professores: a prioridade postergada. Educ. Soc., Campinas, v. 28, n. 100, p. 1203-1230, out. 2007.
15
No estado de São Paulo, por exemplo, a presença dessa lógica na educação básica pode ser
verificada pelo pagamento de bônus salarial aos profissionais do magistério atrelado ao Índice de
58
e consagrada atuação da Capes junto à pós-graduação fosse posta a perder
também contribuiu para tal resistência. Os próprios agentes dos setores
governamentais (prefeitos, governadores, secretários estaduais e municipais
de educação, conselhos municipais de educação, dirigentes de ensino, entre
outros) manifestavam preocupação com a chance de diminuição dos
recursos da Capes para a Educação Superior, por terem de ser divididos
com as políticas da Educação Básica. Sobre esse último ponto, a Ministro
da Educação deixou claro que o orçamento da Capes teria profundas
alterações: “o orçamento da CAPES vai mais que dobrar em quatro anos.
Só para 2008, a proposta orçamentária prevê investimentos de R$ 1,3
bilhão. E mais R$ 8 milhões para a construção da nova sede” (RISTOFF;
BIANCHETTI, 2012, p. 808). De fato, segundo o autor, nos anos
seguintes, o orçamento da instituição mais que dobrou.
Todavia, a atual conjuntura econômica do país tem concretizado,
a partir de 2015, um grande corte no orçamento da Capes, no bojo das
medidas de austeridade empreendidas pelo governo federal em busca de
recuperar o equilíbrio econômico e retomar o crescimento. No âmbito das
políticas da Capes, as restrições orçamentárias vêm atingindo, sobretudo,
os programas de Formação de Professores da Educação Básica, a exemplo
do Parfor e do Pibid.
A Capes, portanto, lança mão de iniciativas relativas à Educação
Básica nos anos seguintes à instalação da Política Nacional. De modo a
verificar a efetivação de tais diretrizes, os campos de atuação da Nova Capes
e os impactos dessa política, em termos práticos, faz-se necessário
debruçar-se sobre as ações e os programas implementadas pela Capes no
âmbito da formação de profissionais do magistério. Esse constitui o
objetivo proposto para o capítulo subsequente.
Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (IDESP), o qual é calculado por meio da
combinação de resultados de avaliações institucionais e fluxo escolar.
59
Capítulo 3
As políticas da Nova CAPES para a Formação de
Professores da Educação Básica
Este capítulo discute as políticas implementadas pela CAPES no
âmbito da formação de professores da Educação Básica. Com base nos
documentos analisados, inicialmente, explicitamos o funcionamento da
Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica (DEB),
evidenciando sua organização e dinâmica de funcionamento nesses seus
primeiros anos de atuação, bem como seu entendimento sobre a
valorização dos profissionais do magistério. Seguidamente, apresentamos
os programas de formação inicial e continuada desenvolvidos no âmbito
dessa diretoria, junto às licenciaturas, buscando discutir seus resultados,
sem a pretensão de esgotá-los.
A Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica (DEB)
Conforme mencionado anteriormente, o estatuto vigente da Capes
foi instituído pelo Decreto nº 7.692, de março de 2012. Essa determinação
legal, combinada com a Lei nº 12.695
16
, de julho de 2012, teve como
16
Esta lei representa a conversão da Medida Provisória nº 562, que inseriu às competências da
Capes as atribuições relativas a sua atuação junto à Educação Básica, além da tarefa de regulamentar
as bolsas e auxílios concedidos para essa finalidade.
60
objetivo, entre outros, adequar a Capes ao crescimento da demanda e do
desenvolvimento tanto de programas voltados à formação docente quanto
à internacionalização do Ensino Superior. O Decreto, embora mantivesse
a sigla DEB, alterou o nome da Diretoria de Educação Básica Presencial para
Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica. De acordo com a
própria instituição, a mudança não alterou o trabalho dessa Diretoria, mas,
além de evitar confusões com a Secretaria de Educação Básica (SEB) do
MEC, apresentou de maneira mais clara o foco de sua missão, qual seja,
promover ações voltadas para a valorização do magistério por meio da
formação de professores. No período de 2009 a 2014, segundo o Relatório
da DEB, a gestão da formação de professores para a Educação Básica
representa uma linha de ação marcada pela continuidade dos programas.
Além disso, declara traduzir uma visão política dos titulares dessa diretoria
sobre a relevância social da carreira do magistério da Educação Básica.
Por meio do Website da Capes, em sua página voltada para a
Educação Básica, é possível verificar como a DEB se apresenta
publicamente:
Figura 1: Apresentação da DEB
Fonte: Site da Capes/MEC.
61
Essa página de apresentação refere, também, que o conjunto dos
programas visa a articular três vertentes: a formação de qualidade; a
integração entre pós-graduação, formação de professores e escola básica; e
a produção de conhecimento. Menciona, ainda, que o eixo comum
mantido por tais programas é a formação de qualidade, em um processo
intencional, articulado e capaz de se retroalimentar, chegando à conclusão
de que isso gera um movimento progressivo de aperfeiçoamento da
formação docente.
Tal síntese apresenta as atribuições da DEB definidas no Estatuto
da Capes, que são:
I - fomentar a articulação e o regime de colaboração entre os sistemas
de ensino da educação básica e de educação superior
17
, inclusive da
pós-graduação, para a implementação da política nacional de formação
de professores de Magistério da Educação Básica;
II - subsidiar a formulação de políticas de formação inicial e continuada
de professores da educação básica;
III - apoiar a formação de professores da Educação Básica, mediante
concessão de bolsas e auxílios para o desenvolvimento de estudos,
pesquisas, projetos inovadores, conteúdos curriculares e de material
didático;
17
Embora a articulação dos sistemas de ensino, no contexto do regime de colaboração, sempre
lembrado nos documentos oficiais e na legislação da área, apareça como primeira atribuição da
DEB, essa se apresenta como bastante precária e historicamente marcada por conflitos, disputas e,
sobretudo, indefinições sobre a real capacidade e/ou responsabilidade de cada um dos entes
federados. Ainda que essa questão não seja objeto desta pesquisa, sugere-se que estudos devam ser
feitos na tentativa de se compreender como está se dando, no plano concreto da implementação, a
articulação da política de formação de professores com as metas/estratégias/ações do Plano Nacional
de Educação (BRASIL, 2014), a interface com as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (BRASIL,
2015), bem como a pactuação dos respectivos sistemas de ensino (federal, estaduais e municipais)
na efetiva execução da política “nacional” de formação de professores, tanto inicial quanto
continuada.
62
IV - apoiar a formação de professores da Educação Básica mediante
programas de estímulo ao ingresso na carreira do magistério; e
V fomentar o uso de tecnologias de informação e da comunicação
nos processos de formação de professores da Educação Básica
(BRASIL, 2012b, Art. 24).
Não se pode deixar de mencionar, ainda, o Decreto nº 6755/2009,
que também constitui uma das bases normativas da Capes, ao disciplinar
sua atuação no fomento a programas de formação inicial e continuada de
docentes. A partir de tais prerrogativas, a Fundação passou a lançar diversos
programas nesse sentido. De acordo com a DEB, os programas estão assim
organizados:
Figura 2: Principais programas da DEB/Capes
Fonte: Relatório de Gestão da DEB/Capes 2009-2014.
63
As páginas seguintes são destinadas à apresentação e à discussão dos
programas selecionados para o âmbito deste trabalho. Conforme
mencionado anteriormente, não serão discutidos todos os programas
desenvolvidos no âmbito da DEB, mas, sim, aqueles que apresentam maior
orçamento.
Tabela 1: Recursos investidos na DEB de 2009 a 2014
Fonte: Relatório de Gestão DEB/Capes 2009-2016, volume II, p. 194.
Os dados da tabela 1 permitem verificar qual foi o orçamento da
DEB em cada um dos programas de formação de professores lançados para
o período de 2009 a 2014. Desse modo, fica claro que os dois programas
de maior expressividade no âmbito do orçamento da Capes para a
Educação Básica são o Pibid e o Parfor, que coincidem com os dois
principais programas voltados à formação de professores, e que constituem
o foco principal de análise no âmbito deste livro.
64
Matrículas em cursos de formação inicial de professores no Brasil
Antes de passar à discussão dos programas no âmbito da
DEB/Capes propriamente dita, apresentamos dados de matrículas em
cursos de licenciatura de acordo com último Censo da Educação Superior
(2013). Como a totalidade dos programas a serem discutidos neste livro
tem como foco os cursos de formação de professores, é importante verificar
a distribuição dos licenciandos em termos de filiação institucional e
modalidade de ensino
18
.
Gráfico 1: Número de matculas em licenciaturas no Brasil filiação institucional
(2013)
Fonte: Censo da Educação Superior (2013). Elaborado pelo pesquisador.
O gráfico 1 permite observar que, das 1.374.174 matrículas em
licenciaturas no ano de 2013, mais da metade encontra-se em instituições
18
Ainda que nos pareça uma variável importante, não foi possível encontrar dados sobre a
localização geográfica das matrículas em licenciatura nos indicativos educacionais disponibilizados
pelo INEP/MEC.
65
de natureza privada. Essa informação é de fundamental importância para
as discussões que realizamos a seguir, pois, para concorrer aos editais e
abrigar os programas da DEB/Capes, é necessário preencher uma série de
pré-requisitos, que parecem se aproximar mais do perfil das instituições
públicas do que das particulares.
Gráfico 2: Número de matrículas em licenciaturas no Brasil modalidade de ensino
(2013)
Fonte: Censo da Educação Superior (2013). Elaborado pelo pesquisador.
Ao se examinar o gráfico 2, nota-se que aproximadamente 33% das
matrículas em cursos de licenciaturas encontram-se na modalidade
educação a distância (EaD). Nesse sentido, faz-se importante verificar,
também, se há espaço nos programas da DEB/Capes para os licenciandos
dessa modalidade de ensino, já que representam um percentual
significativo de futuros professores. Igualmente, a questão da filiação
institucional interfere nessa variável, uma vez que esses dados mostram que
as instituições privadas abrigam quase 80% das matrículas em licenciaturas
EaD.
66
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência Pibid
Entre os programas de formação inicial de professores no âmbito
da DEB/CAPES, encontramos o Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência (Pibid), cujo objetivo é o incentivo e a valorização do
magistério e o aprimoramento do processo de formação de docentes para
a educação básica. No âmbito desse Programa, licenciandos participantes
dos projetos recebem bolsas para exercerem atividades pedagógicas em
escolas públicas, o que contribui para a articulação entre a teoria e a prática,
e para a aproximação entre universidade e escola, uma necessidade
apontada por diferentes autores (FARIAS; ROCHA, 2012;
MONTANDON, 2012; FERNANDES; MENDONÇA, 2013; FERRO,
2013).
[...] pode-se mesmo afirmar que a dicotomia teoria e prática concorre
em condições de igualdade com os baixos salários e a desvalorização
social da profissão docente, posicionando-se como um dos maiores
desafios da agenda educacional do país (FARIAS; ROCHA, 2012, p.
43).
Segundo os autores, a aproximação universidade e escola pode
produzir efeitos positivos no campo da formação docente. Primeiramente,
contribuir para o desenvolvimento de práticas formativas inovadoras.
Além disso, constitui vínculo estratégico para estimular o interesse pela
docência, que se tem perdido nos últimos anos. Por fim, representa um
meio de inserir estudantes de graduação no cotidiano de escolas públicas e
qualificar a formação acadêmica.
67
Para Fernandes e Mendonça (2013), a articulação entre ensino
superior e educação básica constitui uma das premissas do Pibid. Ademais,
as autoras consideram que a atuação dos licenciandos no contexto escolar
pode contribuir para o desenvolvimento de novas metodologias de ensino
e diminuir o “choque de realidade” no início da carreira (o que, muitas
vezes, afugenta licenciados da continuidade no magistério).
Vale ressaltar, também, a corresponsabilidade pelo processo
educativo do professor em formação no Pibid. Durante o trabalho nas
escolas, os bolsistas são orientados tanto pelos docentes das licenciaturas,
os chamados coordenadores de área, quanto pelos professores das unidades
escolares, os supervisores.
Figura 3: Desenho Institucional do Pibid
Fonte: Relatório de Gestão da DEB/Capes 2009-2014. Adaptado.
Por meio da figura 3, é possível ter uma ideia da dinâmica de
funcionamento do Programa. Além do licenciando, os outros atores
68
envolvidos (supervisor, coordenador de área, coordenador institucional e
coordenador de gestão) também recebem bolsas. Segundo o Relatório da
DEB, o diálogo e a interação entre eles possibilitam um movimento
dinâmico, marcado pela reciprocidade. Nesse sentido, Farias e Rocha
(2012, p. 48) fazem uma consideração importante quando dizem que “é
no ‘chão da escola’ que as políticas ganham vida e significado. Nesse
contexto, estudantes e professores (escola e universidade) têm um papel a
cumprir”. Os autores afirmam, dessa maneira, que também por meio do
Pibid se materializa a Política Nacional.
Com relação à escola, esta é entendida como espaço formativo, no
qual tanto os docentes da universidade quanto os da escola exercem papel
de coformadores dos licenciandos bolsistas do Programa. De acordo com
Montandon (2012), esse aspecto constitui um dos princípios que
acompanha as bases para as ações decorrentes de políticas públicas para a
educação, neste caso, a articulação entre o MEC, as instituições formadoras
e as redes de ensino básico, que indicam compromissos e responsabilidades
compartilhadas:
Os documentos oficiais sugerem que as ações decorrentes dessas
políticas garantam a qualidade dos cursos presenciais e a distância,
promovendo a articulação entre teoria e prática e entre conhecimentos
científicos e didáticos, reconhecendo a escola como um espaço de
formação. Além disso, incentivam a formação continuada e sua
articulação com a inicial, a atualização teórico-metodológica e o
estabelecimento de programas que reflitam a especificidade da
formação docente (MONTANDON, 2012, p. 49).
Dessa forma, com a presença do licenciando na escola, de modo
articulado e com diretrizes estabelecidas, é possível combater, por exemplo,
69
a problemática apontada por Fernandes e Mendonça (2013, p. 222): a
tradição dos “estágios curriculares que utilizam a escola apenas como local
de cumprimento das horas exigidas pela legislação”, sem compreender que
essa atividade compõe o processo formativo.
Os próprios participantes do Programa reconhecem tal articulação
como profícua para a formação docente. Segundo Montandon (2012, p.
54) “relatos dos alunos envolvidos são enfáticos ao reconhecerem o papel
fundamental da vivência nas escolas para sua formação, principalmente
pelo acompanhamento regular dos orientadores e supervisores”. Por sua
vez, também se reconhecem pontos positivos, pois a presença de
licenciandos contribui para a reflexão e a “atualização teórico-
metodológica” dos profissionais da escola imbricados nesse processo de
coformação. Ademais, também se verifica a perspectiva da formação
continuada no bojo desse programa.
O Pibid foi instituído no ano de 2007, com o objetivo de atender
à carência de professores de ensino médio nas áreas de Física, Química,
Biologia e Matemática, as quais, conforme já referido, enfrentam
dificuldades. Contudo, em 2009, o Programa foi estendido para toda a
Educação Básica, incluindo a Educação de Jovens e Adultos, Indígena e do
Campo (Pibid Diversidade).
De acordo com o Relatório da DEB, em 2014, o Programa contava
com 283 instituições de ensino superior participantes, as quais
contabilizavam 2.996 subprojetos
19
envolvendo 90.254 bolsistas. Quanto
aos estudos sobre os impactos do Pibid, afirma-se que há sintonia entre as
avaliações interna e externa, e que, em síntese, o programa parece ter
impacto em vários dos problemas referidos no âmbito deste livro,
19
De acordo com o regulamento do Pibid, os subprojetos devem ser compostos por pelo menos 5
estudantes de licenciatura, 1 coordenador de área e 1 supervisor (BRASIL, 2013a).
70
nomeadamente, i) a desvalorização do magistério: diminuição da evasão e
aumento da procura por licenciaturas; valorização das licenciaturas na
comunidade acadêmica; definição pelo exercício do magistério por parte
dos que fizeram licenciatura como opção secundária; aprovação de ex-
bolsistas em concursos públicos e cursos de pós-graduação; contratação de
ex-bolsistas pelas escolas onde atuaram; bolsistas Pibid como inspiração
para alunos das escolas públicas; elevação da autoestima e reconhecimento
entre os pares; e ii) a articulação teoria/prática e escola/universidade:
aproximação entre IES e escolas públicas de educação básica; articulação
entre ensino, pesquisa e extensão; diálogo com as instituições formadoras.
Ainda de acordo com o Relatório da DEB, há também outros
impactos, relacionados às metodologias de ensino, ao uso de tecnologias
na escola, ao melhoramento de espaços escolares bibliotecas, laboratórios
, à realização de eventos culturais, e mesmo à construção de
conhecimento a partir das vivências do Programa, tais como a participação
de bolsistas Pibid em eventos científicos, a publicação de estudos
desenvolvidos no âmbito do programa e o aumento do IDEB das escolas
participantes.
Sobre esse último aspecto, a questão da melhoria do IDEB das
escolas parceiras do Pibid é algo problemático para ser discutido ou até
mesmo efetivamente alcançado. Como cada um dos subprojetos do Pibid
trabalha com apenas um dos componentes curriculares da Educação Básica
(com exceção dos subprojetos interdisciplinares, que são a minoria), não
se pode pensar, a partir da experiência do Programa, na melhoria desses
indicadores. Ademais, o IDEB é fruto dos indicadores de fluxo escolar
(variáveis não diretamente controladas pelas ações do Pibid), mais o
resultado do desempenho dos alunos do 5º e do 9º ano do Ensino
Fundamental na Prova Brasil. Essa, por sua vez, avalia apenas os conteúdos
71
de Português e Matemática. Logo, não se pode afirmar que haja relação
direta entre Pibid e IDEB.
Montandon (2012, p. 49) afirma que, embora haja
questionamentos sobre as bases e as características de propostas como essa,
e ainda que elas aconteçam mais no âmbito da formação do que da atuação
docente,
a percepção geral é de que esse é um momento profícuo para se discutir
e participar das várias frentes abertas, uma vez ser aparente a expansão
quantitativa e mesmo qualitativa de ações voltadas à formação docente,
nos seus vários níveis, contextos e formatos.
Nessa perspectiva, a autora conclui que o sucesso do Programa é
inegável, pela oportunidade de formar alunos fora do “protótipo de
docente idealizado” e, ainda, por contemplar a vivência cotidiana com a
docência, com as instabilidades das situações de trabalho e com as
incertezas com as quais o professor se defronta diariamente nos contextos
escolares (MONTANDON, 2012, p. 59).
Segundo Fernandes e Mendonça (2013), o pouco tempo de
vigência do Programa já revelou sua “potencialidade e ousadia” para
enfrentar os problemas estruturais da educação, e pode-se reconhecer que
passos importantes foram dados nessa direção. Contudo, também fazem
uma ressalva quanto à necessidade de se ampliarem os horizontes do
Programa para outros aspectos da carreira. As autoras acrescentam
compreenderem o Pibid como uma política de “transição”:
Porém, ainda se fazem necessárias ações que abarquem outras
dimensões do trabalho docente, como a criação de bolsas de
permanência para os egressos Pibid que optam por exercer o cargo de
professor na Educação Básica, bem como a publicação de editais
72
voltados para o desenvolvimento de pesquisas nas escolas a partir da
proposição de seus professores e envolvimento das equipes de gestão
escolar. Obviamente, são políticas de “transição”, pois o que se almeja
é que a escola e seus profissionais tenham salários dignos e condições
objetivas de infraestrutura para realizarem o trabalho visando uma
escola pública, laica, democrática e de qualidade para todos (p. 234).
Segundo o Relatório da DEB, que apresenta dados de 2007
20
(início do programa) a 2014
21
, o número de bolsistas cresceu de 3.088 a
90.247, conforme se pode observar no gráfico 3, demonstrando um
expressivo crescimento do Pibid e, de alguma forma, sinalizando a
verificação de impacto positivo gerado pelo programa no âmbito da
formação de professores. Ressalte-se que, do total de bolsistas no ano de
2014, 72.840 (80,71%) são licenciandos bolsistas de iniciação à docência,
revelando se tratar de uma ação mais voltada à formação inicial do que à
formação continuada de professores.
Gráfico 3: Evolução do número de bolsas do Pibid (2007 a 2014)
Fonte: Relatório de Gestão DEB/CAPES 2009-2014. Elaborado pelo pesquisador.
20
Embora os números apresentados sejam referentes ao edital de 2007, as bolsas começaram a ser
implementadas somente em 2009. No ano de 2008 não houve edital.
21
Não houve edital no ano de 2014. Os números referem-se às bolsas vigentes no ano, mas
referentes ao edital de 2013.
73
No gráfico a seguir, confrontamos o número de licenciandos
bolsistas e o número de matrículas em cursos de licenciatura de acordo
com o Censo da Educação Superior (2014).
Gráfico 4: Número de licenciandos bolsistas e número de matrículas
(ingressantes) em cursos de licenciatura no Brasil (2007 a 2014)
Fonte: Censo da Educação Superior / INEP. Elaborado pelo pesquisador.
É possível verificar a baixa expressividade do número de bolsas
Pibid oferecidas a licenciandos face ao número de alunos ingressantes
nesses cursos. Ressalte-se, ainda, que os dados apresentados não
apresentam a totalidade de alunos matriculados em cursos de licenciatura,
mas apenas os ingressantes, o que sugere que a proporção de bolsas Pibid
é ainda menor se considerados todos os licenciados. Desse modo, verifica-
se que os objetivos do programa, de aprimoramento da formação dos
professores e da valorização do magistério não têm grande alcance em
relação ao público-alvo em potencial.
No próximo gráfico, apresentamos a distribuição das bolsas do
Pibid por região geográfica.
74
Gráfico 5: Bolsas Pibid por região geográfica em 2014
Fonte: Relatório de Gestão DEB/CAPES 2009-2014, volume I, p. 77.
Ao se observarem os dados desse gráfico, nota-se que a região
nordeste é a que concentra o maior número de bolsistas. De acordo com o
Relatório da DEB, essa não é uma situação comum nos programas
educacionais, pois as regiões sul e sudeste é que normalmente apresentam
maior número de participantes, inclusive em outros programas financiados
pela Capes.
Por seu caráter institucional, os editais do Pibid lançados pela
Capes são destinados a IES que propõem projetos institucionais que
conjugam subprojetos em diferentes áreas do conhecimento (BRASIL,
2013a).
A seguir, apresentamos o número de IES participantes em 2014.
75
Gráfico 6: IES participantes do Pibid por esfera administrativa em 2014
Fonte: Relatório de Gestão DEB/CAPES 2009-2014, volume I, p. 76.
Com relação ao panorama das IES participantes do Pibid, percebe-
se que não há grande diferença entre as instituições públicas e particulares,
ainda que, das 2.368 instituições de educação superior no Brasil, 87,4%
sejam privadas, permitindo perceber que, na realidade, as instituições
públicas tem maior participação no programa do que as privadas.
Há que se levar em conta, primeiramente, que as IES públicas
concentram a maior parte das universidades. Entretanto, as instituições
privadas são as que abrigam 74,9% do total de matrículas em graduação
do país.
Por sua vez, os requisitos para uma instituição concorrer nos editais
do Pibid também constituem uma dificuldade para a participação das
privadas, pois a maioria delas dificilmente consegue reunir condições para
abrigar o Programa, como, por exemplo, possuir docentes com título de
doutor e em regime de dedicação integral para exercerem a função de
coordenadores institucionais, entre outras necessidades e atribuições das
76
IES envolvidas de acordo com o regulamento do programa. Nesse caso, as
IES públicas frequentemente reúnem tais condições, sobretudo as
universidades. Esse fato fica mais evidente ainda quando se observa, no
gráfico 7, as IES por região geográfica, no qual se verifica predomínio de
instituições privadas nas regiões sul e sudeste, mas de instituições públicas
nas demais regiões. De fato, as regiões sul e sudeste abrigam o maior
número de IES e, por esse motivo, maior número de instituições públicas
e privadas que atendem aos requisitos para participarem do Pibid.
Gráfico 7: IES participantes do Pibid por região geográfica e categoria administrativa
em 2014
Fonte: Relatório de Gestão DEB/CAPES 2009-2014, volume I, p. 76.
Na tabela 2, a seguir, mostramos o número de IES participantes e
o número de bolsistas por unidade federativa. É possível perceber que não
há relação direta entre esses dois dados, pois, por exemplo, enquanto o
estado de São Paulo lidera o número de IES, o estado de Minas Gerais
abriga o maior número de bolsistas. Outro exemplo é o estado do Piauí,
77
que em relação ao número de IES é o antepenúltimo da lista, mas em
número de bolsistas é o décimo.
Tabela 2: Número de IES participantes e número de bolsistas em 2014, por unidade
federativa
UF
IES participantes
Número de Bolsistas
%
%
SP
18,37%
9.409
10,43%
MG
13,07%
10.381
11,50%
RS
11,31%
7.427
8,23%
RJ
6,71%
4.013
4,45%
SC
6,01%
4.635
5,14%
PR
5,65%
6.788
7,52%
PE
5,30%
3.953
4,38%
CE
3,53%
3.937
4,36%
BA
3,18%
6.879
7,62%
GO
2,83%
3.255
3,61%
PA
2,47%
1.918
2,13%
ES
2,12%
1.578
1,75%
PB
1,77%
1.897
2,10%
RN
1,77%
2.569
2,85%
MS
1,77%
2.694
2,99%
AM
1,41%
2.994
3,32%
RO
1,41%
746
0,83%
TO
1,41%
1.025
1,14%
DF
1,41%
823
0,91%
MT
1,41%
2.122
2,35%
AC
1,06%
1.116
1,24%
RR
1,06%
1.044
1,16%
AL
1,06%
1.897
2,10%
78
MA
1,06%
1.753
1,94%
PI
1,06%
3.538
3,92%
SE
1,06%
1.596
1,77%
AP
0,71%
260
0,29%
Fonte: Relatório de Gestão DEB/CAPES 2009-2014. Elaborado pelo autor.
Com relação às áreas contempladas pelo Pibid, registrou-se, em
2014, a distribuição das bolsas por 39 diferentes áreas. As áreas mais
contempladas com bolsas foram Pedagogia, Matemática, Biologia,
Interdisciplinar, Letras e Química, todas com mais de 5 mil bolsas,
conforme a tabela 3.
Tabela 3: Áreas contempladas no Pibid em 2014
Área Bolsas Área Bolsas
Pedagogia 11.258 Educ. do Campo 401
Matemática 7.095 Dança 354
Biologia 6.940 Intercultural Indígena 349
Interdisciplinar 5.358
Intercultural Indígena Natur.
Mat.
343
Letras Português 5.315
Intercultural Indígena Ling.
Cód.
326
Química 5.261
Intercultural Indígena Hum.
Soc.
325
Educação Física 4.381 Letras Francês 245
História 4.142 Ciências Agrárias 241
Física 3.805 Psicologia 233
Geografia 3.617 Educ. do Campo Ling. Cód. 164
Letras Inglês 2.047 Ensino Religioso 105
79
Filosofia 1.700 Interdisciplinar Inter. Ind. 104
Ciências Sociais 1.694 Educação Especial 78
Letras Espanhol 1.404 Enfermagem 76
Música 1.253 Educ. do Campo Hum. Soc. 67
Informática 1.179 Letras Libras 60
Artes Visuais 1.065
Interdisciplinar Educ. do
Campo
44
Ciências 681 Letras Alemão 31
Teatro 546 Letras Italiano 23
Educ. do Campo Natur.
Mat.
530
Fonte: Relatório de Gestão DEB/CAPES 2009-2014. Elaborado pelo autor.
Percebemos, por meio desses dados, que o Pibid continua
atendendo às áreas carentes de professores, alvo inicial do programa
quando de sua implementação em 2007. O relatório da auditoria
coordenada do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o Ensino
dio no Brasil, publicado em 2014, apresenta o déficit de professores em
disciplinas obrigatórias nas redes públicas estaduais de ensino. No gráfico
a seguir, apresentamos as carências de professores por área e o respectivo
mero de bolsas nas mesmas áreas no âmbito do Pibid.
80
Gráfico 8: Áreas com déficit de professores no Ensino Médio e número de bolsas
Pibid em tais áreas em 2014
Fonte: Relatório de Gestão DEB/CAPES 2009-2014 e Auditoria do TCU 2014. Elaborado pelo
pesquisador.
A análise do gráfico permite constatar que, das 12 áreas do
currículo escolar contempladas pela auditoria do TCU, 8 possuem maior
mero de bolsistas Pibid que o déficit de professores, algumas delas
superando em quase 10 vezes o número de professores em falta no ensino
médio, como é o caso das áreas de Biologia e de Educação Física, ou
mesmo de História, em que o número de bolsistas Pibid é 16 vezes maior
que o déficit docente. É possível perceber, também, que a área de
humanidades é a que mais supera, em número de bolsistas Pibid, a carência
de professores, com exceção das áreas de Filosofia, Sociologia e Artes, que,
tradicionalmente, são consideradas de menor importância no currículo das
escolas básicas.
81
Com relação às ciências exatas e da natureza, a área que lidera o
ranking de carência de professores, continua sendo a área de Física, em que
o número de bolsistas Pibid não chega a 40% do déficit de docentes.
Com base nesse quadro, percebe-se que não há relação entre a falta
de professores e a implementação de subprojetos e de bolsas Pibid, o que é
compreensível dada a dinâmica do próprio programa, em que os
proponentes (IES) é que definem as áreas a serem contempladas em seus
projetos. Além disso, esses dados também não nos permitem examinar
quais são as regiões que registram tal carência de professores para verificar
se a distribuição regional das bolsas Pibid condizem com essa realidade.
Assim, o Pibid não representa uma estratégia de incentivo à formação de
professores articulada com as necessidades das redes de ensino. Mais do
que isso, os dados mostram que o investimento em formação via Pibid não
representa, de fato, uma iniciativa de formação de professores que possa
reparar o quadro deficitário de docentes, pois, inclusive, não há garantia
de que os bolsistas de iniciação à docência optem pela carreira docente
quando do término do curso.
Avaliações do Pibid realizadas pela Coordenação-Geral de
Programas de Valorização do Magistério (CGV) da DEB, com base nos
relatórios e nos questionários aplicados aos bolsistas do Pibid, apontam
diversos impactos do programa, os quais podemos sintetizar em organizar
em torno de dois eixos: i) impactos do Pibid nas escolas participantes e ii)
impactos do Pibid nos cursos de licenciatura.
Com relação às escolas participantes, registra-se que a presença dos
bolsistas no interior da escola tem contribuído não só para mobilização de
atividades que problematizam a formação docente a partir de questões
pertinentes ao espaço escolar, mas também para a revitalização e
potencialização dos espaços escolares e para a própria reflexão didático-
pedagógica na infraestrutura educacional. Nesse sentido, verificam-se
82
benefícios em laboratórios de ciências, de informática, em bibliotecas,
entre outros espaços, associada a uma formação dos profissionais que
atuam na escola de modo a aproveitar o potencial oferecido por tais
estruturas no enriquecimento das práticas pedagógicas.
Já no que tange aos cursos de licenciatura, o principal impacto
destacado é a maior articulação teoria-prática, um problema enfrentado
em diferentes cursos de graduação e que não é diferente nas licenciaturas.
O programa contribui para a aquisição de conhecimentos próprias da
docência quando envia o formando para escola, espaço de sua futura
atuação profissional, e isso traz novos elementos para o debato nos próprios
cursos de licenciatura. Além disso, aponta-se, também, o aumento do
envolvimento dos próprios docentes nos cursos de licenciatura, os quais,
muitas vezes, imersos no universo da pesquisa acadêmica, acabam
deixando a formação pedagógica dos licenciandos em segundo plano. Por
fim, uma contribuição apontada como relevante é a chamada política de
fixação dos alunos nos cursos, já que o aumento do interesse pela docência
diminui a evasão e o abandono nos cursos de licenciatura, uma
preocupação comum nas IES brasileiras.
No ano de 2014, foi publicado um estudo avaliativo do Pibid, pela
Fundação Carlos Chagas, construído com base nos depoimentos dos
envolvidos (coordenadores, supervisores e licenciandos). De modo geral,
constatou-se que o Pibid é um programa bastante valorizado pelos seus
participantes, e que representa uma política pública significativa no
fortalecimento da formação docente:
Observou-se como o Pibid é valorizado em todos os níveis, por todos
os participantes que responderam aos questionários. Os depoimentos
são muito positivos, em sua imensa maioria; os detalhes oferecidos para
justificar essa positividade são inúmeros e se expressam nas
83
contribuições descritas. Aprimoramentos devem ser implementados
ante o valor atribuído à sua metodologia e às insistentes colocações
sobre a necessidade imperativa de sua continuação pelo seu papel de
dar valor novo às licenciaturas nas IES, de melhor qualificá-las e a seus
docentes, de propiciar melhor formação a futuros professores da
educação básica, de trazer contribuições aos Professores Supervisores e
suas escolas, ao ensino pela criatividade didática. Sem dúvida, pelos
dados até aqui analisados, esse é um programa de grande efetividade
no que se refere à formação inicial de professores (GATTI et al., 2014,
p. 103).
A despeito dessas avaliações, em 2016, o Pibid enfrentou algumas
dificuldades. Em fevereiro, foi publicado um ofício circular pela Capes
informando, em virtude de restrições orçamentárias, a não prorrogação de
bolsas que completassem 24 meses, o que implicaria a exclusão de mais de
45.000 bolsistas. A imediata mobilização de toda a comunidade pibidiana
resultou na suspensão do ofício e na abertura de diálogo entre as entidades
envolvidas (reitores, MEC, Capes e Fórum Nacional dos Coordenadores
Institucionais do Pibid FORPIBID). Em seguida, no mês de abril, foi
publicada a Portaria nº 46/2016 da Capes, propondo um novo
regulamento ao programa, retirando as áreas de Artes, Teatro, Música,
Educação Física e Dança dos editais e tratando o Pibid como um “reforço
escolar”, em que os bolsistas trabalhariam no turno oposto do ensino
regular, sem acompanhamento diário dos professores, voltados
exclusivamente para o letramento e alfabetização, entre outras medidas,
contrariando os princípios do programa até então. Novamente, a
mobilização nacional exerceu pressão sobre a medida e a portaria foi
revogada em junho. Atualmente, apesar de enfrentar sucessivos cortes,
ainda que em proporções menores, há a perspectiva de conversão do Pibid
em uma política de Estado, no âmbito do MEC e com financiamento do
84
FNDE, por meio do Projeto de Lei 5.180/2016, em trâmite na Câmara
dos Deputados (BRASIL, 2016b; 2016c; 2016d; 2016e).
Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica
Parfor
O Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica
(Parfor) foi lançado em 2009, como uma ação emergencial destinada à
formação de professores em serviço. A motivação para a criação desse
Programa foi a quantidade de docentes lecionando na Educação Básica
sem Ensino Superior. Scheibe (2010, p. 986) indica que, em 2009, o país
contava com 600 mil professores sem formação considerada adequada ao
trabalho. De acordo com dados do Censo Escolar, obtidos por meio do
Observatório do PNE, 32,2% dos professores da Educação Básica não
possuíam Ensino Superior naquele mesmo ano. Há que se levar em conta
as implicações negativas de tal quadro, já que, quanto maior o percentual
de docentes atuando com formação inadequada, menor é a nota do IDEB
(FERRO, 2013).
Além disso, as Leis nº 12.056/2009 e nº 12.796/2013 alteraram
alguns dispositivos da LDBEN, incluindo algumas considerações
específicas sobre a formação mínima para os docentes da Educação Básica
(Ensino Superior, em cursos de licenciatura plena, sendo admitida a
formação em nível médio na modalidade normal para a Educação Infantil
e os 5 primeiros anos do Ensino Fundamental), além de estabelecer o
compromisso do governo de “adotar mecanismos facilitadores de acesso e
permanência em cursos de formação de docentes em nível superior para
atuar na educação básica pública”. Assim, o Parfor aparece também como
um mecanismo para garantir ao professorado da Educação Básica a
formação exigida pela LBDEN.
85
O Programa fomenta turmas especiais voltadas exclusivamente
para professores em exercício na rede pública de Educação Básica, em três
modalidades diferentes:
Primeira Licenciatura: para docentes ou
tradutores/intérpretes de Libras que não têm formação em nível
superior ou que, mesmo tendo essa formação, queiram realizar
curso de licenciatura na disciplina ou na etapa em que atuam em
sala de aula;
Segunda Licenciatura: para professores licenciados que
atuam em área distinta da sua formação inicial, ou para
profissionais licenciados que atuam como tradutor/intérprete de
Libras;
Formação Pedagógica: para docentes ou tradutores
intérpretes de Libras graduados, mas não licenciados;
Dentre esses três tipos de turmas especiais oferecidas pelo Parfor, o
Primeira Licenciatura é o mais ofertado, o que revela que a formação inicial
em ensino superior para docentes já em atuação constitui a prioridade
dessa política. Segundo dados da DEB/Capes, a oferta dos cursos do
Parfor, desde sua instituição até o ano de 2014, está distribuída conforme
mostra o gráfico 9. As porcentagens correspondem a um total de 2.428
turmas, em 451 municípios diferentes, e a um total de 79.060 matrículas.
86
Gráfico 9: Oferta de cursos do Parfor por tipo de turma (2009-2014)
Fonte: Relatório de Gestão DEB/Capes 2009-2014, volume I, p. 43.
Os princípios pedagógicos do Parfor compartilham dos mesmos
princípios proclamados no âmbito da Política Nacional, evidenciados no
Artigo 2º do decreto que a instituiu. Tais concepções devem orientar o
planejamento pedagógico das instituições de ensino que ofertam os cursos
do Parfor. São eles:
A articulação entre teoria e prática em todo o percurso
formativo;
A garantia do domínio de conhecimentos científicos e
didáticos;
A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; e
O reconhecimento da escola como espaço necessário à
formação inicial dos profissionais do magistério.
A observância desses princípios visa a reunir condições para se
efetivarem os objetivos do Programa, que se articulam com os objetivos da
Política Nacional, em busca de vencer o grande desafio de elevar a
qualidade da formação docente nas escolas de Educação Básica.
87
Assim como referido na própria LDBEN, a formação inicial de
profissionais do magistério deve ser, preferencialmente, por meio do
ensino presencial, ao passo que a formação continuada pode utilizar
recursos e tecnologias de educação a distância (EaD). Partindo desse
pressuposto, o Parfor Primeira Licenciatura é oferecido na modalidade
presencial, enquanto o Parfor Segunda Licenciatura e a Formação
pedagógica, no âmbito da EaD. Assim, a implementação dos cursos
presenciais na Capes é realizada pela DEB. Os cursos de formação
continuada encontram-se sob responsabilidade da DED, sendo geridos, a
partir de 2012, pelo sistema de gestão da Universidade Aberta do Brasil
(UAB).
Sua operacionalização se dá por meio de Acordos de Cooperação
Técnica (ACTs) entre a Capes e as Secretarias Estaduais de Educação.
Quantos às IES, a participação é efetivada por meio de assinatura de
Termo de Adesão ao ACT, para a oferta de cursos na modalidade
presencial. Segundo dados do Relatório de Gestão da DEB/Capes 2009-
2014
22
, foram firmados ACTs com 26 estados e o Distrito Federal, tendo
142 IES participantes.
Para estarem habilitadas a oferecer turmas do Parfor, as IES devem
apresentar Índice Geral de Cursos com conceito igual ou superior a 3 e,
ainda, o curso de licenciatura no qual a turma especial será implantada
também deve ter índice igual ou superior a 3. No caso de IES que não
fazem parte do sistema federal, deve ser apresentado documento de
autorização dos cursos pelo órgão estadual competente.
O programa também possibilita o credenciamento de instituições
privadas. Quando a oferta de vagas por instituições públicas não for
suficiente para atender à demanda por formação inicial dos professores em
22
Doravante Relatório da DEB.
88
exercício, podem participar IES privadas sem fins lucrativos, mediante
edital realizado pela Capes. O levantamento de tais necessidades e a
solicitação/justificativa deve ser elaborada pelo respectivo Fórum Estadual.
Com relação à participação dos professores em exercício nesses
cursos de formação, esta deve ser formalmente autorizada pelo secretário
de educação, que também atesta o atendimento aos requisitos exigidos pelo
programa.
De acordo com o Relatório da DEB, o ano de 2014 terminou
contabilizando 99 IES participantes, sendo sua distribuição regional
conforme o gráfico 10.
Gráfico 10: Número de IES participantes do Parfor em 2014, por rego
Fonte: Relatório de Gestão DEB/Capes 2009-2014. Elaborado pelo autor.
Percebe-se que o número de IES participantes é liderado,
concomitantemente, pelas regiões Nordeste e Sul, com 26 instituições,
estando a Sudeste apenas um pouco atrás, com 25. Logo em seguida, a
89
região Norte aparece com 17 instituições. A região Centro-oeste é a que
apresenta menor expressividade em termos de instituições participantes,
com 5.
Outro dado interessante de se observar é que as regiões Norte,
Nordeste e Centro-oeste concentram o Parfor em instituições públicas
federais e estaduais, sendo que, nas duas últimas regiões, a proporção entre
federais e estaduais é equivalente. Em contrapartida, nas regiões Sudeste e
Sul, apesar da presença também de instituições públicas da esfera
municipal, há predominância do programa nas instituições privadas,
principalmente no Sudeste.
No próximo gráfico, apresentamos dados sobre matrículas ativas e
sobre IES participantes, dessa vez, de forma percentual.
Gráfico 11: Percentual de IES participantes e matrículas ativas do Parfor em 2014,
por rego geográfica
Fonte: Relatório de Gestão DEB/CAPES 2009-2014. Elaborado pelo autor.
90
Embora não seja esta a região com mais IES participantes, o
mero de matrículas encontra sua maioria no Norte, que concentra
42,9% delas. Em seguida, aparece o Nordeste, com 28,89% das
matrículas. O menor número de matrículas está na região Centro-oeste
(1,21%). Contudo, esse número não é tão discrepante quanto no Sul e no
Sudeste, regiões que concentram grande parte das instituições, mas
apresentam baixo percentual das matrículas, principalmente o Sudeste.
Tais números revelam que não há correspondência entre IES participantes
e matrículas efetivadas nas turmas especiais do Parfor.
Ao se considerarem todas as matrículas do período de 2009 a 2014,
o quadro não se mostra muito diferente, conforme pode ser observado na
tabela 4. Saliente-se que os estados de Alagoas, Sergipe e Goiás não
abrigaram cursos do Parfor (ainda que Goiás possua professores
matriculados em cursos no Distrito Federal).
Tabela 4: Número de matrículas e de turmas no Parfor por região (2009 a 2014)
Região Matrículas Turmas implantadas
Norte
38.994 (47,62%) 1.156
Nordeste
30.110 (37,64%) 914
Centro-oeste
1.316 (2,22%) 54
Sudeste
2.904 (3,75%) 213
Sul
5.736 (8,77%) 91
TOTAL
79.060 2.428
Fonte: Relatório de Gestão DEB/Capes 2009-2014. Elaborado pelo autor.
No ano de 2009, em que se iniciou a implementação do Parfor, o
país contava com quase 70% dos seus docentes de Educação Básica com
91
curso de nível superior, sendo 3,2% desses sem licenciatura. Embora esse
percentual pareça baixo, há que se levar em consideração que, de acordo
com o Censo Escolar, no referido ano, o Brasil contava com 1.977.978
docentes. Ao se observar os índices de cada região, percebem-se as
necessidades formativas de cada uma delas.
Tabela 5: Professores da Educação Básica com nível superior, com e sem licenciatura,
por região geográfica (2009)
Região
Professores da
Educação
Básica
Professores
com nível
superior
Professores
com
licenciatura
Professores
sem
licenciatura
Norte
166.009
54%
47,5%
6,5%
Nordeste
598.703
48,7%
46%
2,6%
Centro-
oeste
140.948
79,6%
76,5%
3,1%
Sudeste
786.179
79%
76,8%
2,2%
Sul
286.139
78,9%
73,9%
5%
BRASIL
1.977.978
67,7%
64,6%
3,2%
Fonte: Observatório do PNE e Censo Escolar. Elaborado pelo pesquisador.
Ao se observar tal quadro, constata-se que a região que apresentava
maiores necessidades formativas era a Norte, com o maior índice de
professores sem licenciatura. Entretanto, a segunda região com maior
número de docentes não licenciados é o Sul, mas que aparece em 3º lugar
com relação ao número de matrículas do Parfor. Observa-se, pois, que não
há relação direta entre índices de professores não licenciados e matrículas
do programa.
92
É fundamental observar também a distorção área de formação e
área de atuação. A tabela seguinte apresenta o percentual de professores
com formação compatível nas áreas em que lecionam, de acordo com
dados referentes ao ano de 2012.
Tabela 6: Professores da Educação Básica com formação superior compatível com a
área/disciplinas em que lecionam (2012)
Fonte: Observatório do PNE. Elaborado pelo pesquisador.
Esses dados permitem verificar, com mais precisão, a proporção de
professores da Educação Básica sem formação adequada para a área em que
atuam. Contava-se, no referido ano, com 44% dos professores dos anos
finais do Ensino Fundamental sem formação adequada, enquanto no
Ensino Médio, 34,9%. De modo geral, em todas as reges, percebe-se que
o percentual de professores sem formação adequada prevalece maior no
Ensino Fundamental, com exceção da região Sudeste, que praticamente
mantêm iguais os índices para as duas etapas de Ensino. É perceptível,
também, que o Norte e o Nordeste são os estados que mais apresentam
diferenças entre os índices de professores adequadamente formados se
comparados o Ensino Fundamental e o Médio. Com base nos dados da
tabela 6, é possível afirmar, pois, que a região com maiores necessidades
93
formativas de seus docentes, nas etapas de ensino indicadas, passa a ser a
região Nordeste, quadro diferente do apontado quando se analisaram os
professores sem licenciatura no ano de 2009 (tabela 5). Como o Relatório
da DEB não apresenta o quantitativo regional de matrículas do Parfor por
ano, não é possível verificar se esses indicadores foram levados em
consideração para a oferta de matrículas do programa a partir de 2012.
Com base nos dados totais, de que dispomos, sugere-se que não houve a
articulação de tais indicadores no desenvolvimento do programa.
Faz-se necessário mencionar, ainda, que, de acordo com o
Relatório da DEB, o número total de matrículas efetivadas no Parfor
corresponde a apenas 27,45% do total de vagas ofertadas, mostrando que,
de fato, há inadequação entre oferta e demanda. Uma das explicações pode
ser a falta de estímulo aos docentes para participarem do programa e
adequarem sua formação. Além disso, conforme já mencionado no início
deste livro, é registrada a queda da procura por cursos de licenciatura, além
da evasão, sobretudo de cursos das áreas de Exatas e de Biológicas. De
acordo com estudo de Rabelo (2015, p. 104), baseado em dados do Censo
da Educação Superior de 2013, a taxa de conclusão de cursos de
licenciatura em Biologia foi de 42,6%. Nas áreas de Matemática e
Química, apenas um em cada três licenciandos obtêm o diploma (34,1%
e 33,9%). A mais preocupante é a área de Física, com taxa de conclusão de
apenas 20,5% dos ingressantes.
Mostra-se interessante, também, apresentar alguns dados relativos
às condições de permanência nos cursos do Parfor. Com base em
questionários aplicados a 4.560 discentes do Programa, foi verificado que
há dificuldades encontradas pelos alunos tanto para a liberação do trabalho
quanto na concessão de apoio institucional por parte das secretarias de
educação. Com relação ao primeiro, 71% afirmaram possuir liberação para
participar dos cursos. Quanto ao apoio, apenas 22% declaram ter algum
94
tipo de auxílio institucional, tais como hospedagem, transporte,
alimentação ou mesmo financeiro. Sobre as dificuldades encontradas, os
aspectos mais mencionados foram o deslocamento e o período de
funcionamento das turmas. Essas questões também exercem inflncia
sobre o fluxo escolar dos cursos do Parfor, cujo índice de evasão é de
18,73% que, segundo a DEB, é inferior à tendência dos cursos regulares,
mas, ainda assim, considerável.
Há, pois, deficiências na articulação entre os órgãos estaduais e
municipais (secretarias de educação) e a Capes, ainda que essa seja uma das
determinações tanto da Política Nacional quanto da LDBEN em relação
as políticas de formação de professores: o regime colaborativo e a
articulação entre os entes federados. De acordo com Montandon (2012,
p. 49), revela-se primordial a necessidade de as ações serem “conduzidas
de forma sistêmica entre União, Estados, Distrito Federal e municípios”.
Essa questão também é levantada por Scheibe (2010, p. 986):
Os entes federados não estão, contudo, suficientemente articulados na
execução das políticas públicas destinadas ao desenvolvimento de tais
objetivos, necessários para a valorização docente, por meio de uma
formação mais articulada e planejada dos quadros para o magistério.
Entretanto, de acordo com a DEB, essas questões ligadas à
permanência e entendidas como obstáculos para a participação no Parfor,
após passarem por análise, seriam encaminhadas às IES e aos Fóruns
Estaduais, com o objetivo de aperfeiçoar as estratégias e o desenvolvimento
do Programa.
Por outro lado, levando-se em conta a literatura produzida sobre o
Parfor, é possível inferir que o programa apresenta considerável potencial
95
para contribuir com a melhoria da qualidade da educação. Valendo-se do
conceito de Rua (2007) de que a análise dos resultados de uma política
pode ser diferenciada em produto, efeito e impacto, Souza (2014, p. 650)
faz a seguinte consideração:
[...] o Parfor presencial apresenta como produto a capacitação de
professores em serviço por IES; como efeito, a profissionalização do
professor pela obtenção da formação exigida pela lei n. 9.394 (Brasil,
1996); e, finalmente, como impacto, a melhoria da qualidade da
educação básica.
Ao se examinarem os indicadores educacionais, os números
mostram que, efetivamente, houve avanços em termos de capacitação
docente. Os dados do INEP, por meio do Observatório do PNE, mostram
que, no ano de 2009, em que se inicia o Parfor, 67,8% dos docentes da
Educação Básica, pouco mais de dois terços, possuíam curso superior, e
dos que possuíam, 3,2% não eram licenciados. Os dados mais recentes, de
2014, dos quais já fazem parte alguns dos diplomados pelos cursos do
Parfor, mostram que esses números subiram para 76,2%, o que por si só
já demonstraria algum impacto positivo dessa política. Entretanto, o
percentual de professores sem licenciatura também continua a crescer,
indo para 8,4%. Tal fato mostra que o crescimento de docentes graduados
foi acompanhado pelo aumento de profissionais sem habilitação para a
docência atuando na Educação Básica. Nota-se, pois, que as estratégias de
estímulo à participação de professores que necessitam ser desenvolvidas
pela Capes precisam dedicar especial atenção àqueles com formação
diferente da considerada adequada para a disciplina/etapa em que atuam.
96
Outros programas voltados à formação inicial
Neste tópico, apresentamos, de forma sucinta, os demais
programas da Capes sob responsabilidade da Diretoria de Formação de
Professores da Educação Básica (DEB).
Prodocência
O Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência) teve
início em 2006, no âmbito da Secretaria de Educação Superior; em 2008,
a CAPES passou a atuar como parceira e, em 2010, assumiu por completo
o financiamento e a gestão. A finalidade do Programa é o fomento à
inovação e à melhoria da qualidade dos cursos de formação para o
magistério da educação básica, na perspectiva de valorização da carreira
docente. Nesse caso, o foco não é o aluno do curso de licenciatura, mas o
próprio curso. Por meio de referenciais diversos, inclusive dos próprios
programas da CAPES, essa iniciativa visa propor inovações e
aprimoramentos na formação de professores.
O Prodocência também tem caráter institucional e os projetos
submetidos à Capes devem estar fundamentados em dados obtidos por
meio de estudos, pesquisas e avaliações no âmbito do Enade e também nos
instrumentos de avaliação da própria instituição, apresentando os
problemas e os desafios identificados e as suas estratégias de superação.
De 2008 a 2014, o programa aprovou 186 projetos das diversas
áreas do conhecimento, envolvendo 1139 licenciaturas em 372 instituições
públicas de ensino superior (IPES). O Relatório da DEB também aponta
que, com base nos formulários respondidos por 73% dos participantes, foi
97
possível levantar um quantitativo médio de 410 escolas e 10.930 alunos de
licenciatura envolvidos no Prodocência apenas no ano de 2012.
As análises de documentos e relatórios, relatos e visitas às IES e
participação em eventos do Prodocência, por parte da equipe da
CGV/DEB, apontam os principais impactos do programa em termos de
inovação na gestão das licenciaturas, nos currículos e nas metodologias de
ensino, além de contribuições em termos de produções decorrentes do
programa.
Programa de Licenciaturas Internacionais PLI
O Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI) foi a primeira
política de mobilidade internacional de estudantes de nível de graduação.
O intuito do programa é o apoio a projetos de melhoria do ensino e da
qualidade na formação inicial de professores, estimulando a inserção de
estudantes de licenciatura em uma universidade estrangeira (graduação
sanduíche), por dois anos, garantindo-lhe uma dupla titulação.
O programa surgiu em 2010 e, nos dois primeiros anos, enviou
estudantes de graduação das áreas de Química, Física, Matemática,
Biologia, Português, Artes e Educação Física para a Universidade de
Coimbra, em Portugal. A partir de 2012, o programa expandiu-se para
mais 10 universidades portuguesas e, em 2013, também para duas
universidades na França.
O PLI é gerenciado pela Diretoria de Relações Internacionais
(DRI) da Capes, e não pela DEB, que atua apenas como parceira, quando
solicitada, razão pela qual não aprofundaremos sua discussão aqui.
98
Universidade Aberta do Brasil UAB
A Universidade Aberta do Brasil (UAB) não representa um
programa voltado à formação de professores, mas a própria formação em
nível superior de profissionais da educação básica. Por meio da modalidade
EaD, a UAB integra 104 IPES, das quais 91 ofertam atualmente diversos
cursos superiores de graduação e pós-graduação a distância. O sistema
também conta com 675 polos de apoio presencial distribuídos em todo o
território nacional.
Tabela 7: Instituições participantes e polos presenciais da UAB em 2014
Região IPES Polos
Norte
11 91
Nordeste
29 218
Centro-oeste
9 59
Sudeste
28 186
Sul
14 121
TOTAL
91 675
Fonte: Relatório da DEB/Capes 2009-2014. Elaborado pelo pesquisador.
Com base nos dados de 2014, verifica-se a presença de 117.667
professores em exercício na educação básica cadastrados na UAB a partir
de 2009, dos quais 38.048 já estão formados e 49.556 continuam com
matrículas ativas. Desses, 48,5% estão matriculados em cursos de
formação inicial e 46,1% em formação continuada.
99
Programas voltados à formação continuada
Mestrados Profissionais
A partir do ano de 2011, a Capes aprovou a implantação de 4
(quatro) mestrados profissionais para professores da educação básica, em
parceria com universidades públicas no âmbito do Sistema UAB. São eles:
ProfMat (área de Matemática), com 4.174 alunos cadastrados e 917 já
formados; ProLetras (área de Letras português), com 848 alunos
cadastrados; ProFis (na área de Física), com 315 alunos cadastrados; e
ProfBio (na área de Biologia), ainda em fase piloto. Há também outros 3
(três) mestrados, os quais foram lançados em 2014, nas áreas de Artes,
História e Administração Pública.
Novos Talentos
Em novembro de 2007, a Academia Brasileira de Ciências
produziu um documento intitulado “O ensino de ciências e a educação
básica: propostas para superar a crise”, no qual se propunha, entre outras
medidas para o aprimoramento da educação básica, a necessidade de se
criarem mecanismos de iniciação às Ciências complementares à educação
formal.
A partir desses apontamentos, surge O Programa de Apoio a Projetos
Extracurriculares: Investindo em Novos Talentos da Rede Pública para
Inclusão Social e Desenvolvimento da Cultura Científica, também conhecido
como Programa Novos Talentos, que visa à realização de atividades
extracurriculares para alunos e professores das escolas da rede pública, as
100
quais devem ocorrer em horário que não interfira nas aulas, valorizando
espaços inovadores, como as dependências das universidades, laboratórios
e centros avançados de estudos e pesquisas, museus e outros. O objetivo
principal é que as atividades aproximem a graduação e a pós-graduação das
escolas públicas, de modo a contemplar o currículo da educação básica e
articu-lo com perspectivas educacionais, científicas, culturais, sociais ou
econômicas inovadoras, e, desse modo, contribuir para o enriquecimento
da formação de alunos e de docentes.
Na perspectiva da Capes, as atividades do programa incentivam o
ensino de ciências e demais componentes curriculares e buscam o
desenvolvimento de talentos, o gosto por aprender e a curiosidade
intelectual. Há, no Novos Talentos, uma vertente de extensão, mas
também uma forte ligação com o desenvolvimento de pesquisas, pois as
atividades desenvolvidas nos projetos representam campo para a realização
de investigações e de estudos na área de educação, mais especificamente,
relacionadas ao ensino de ciências.
Com relação ao funcionamento do programa, ele se dá também
por meio de editais. A instituição participante deve apresentar à Capes um
projeto, que pode ser de uma disciplina ou área específica, interdisciplinar
ou, ainda, transdisciplinar. Esse projeto pode ser dividido em até 4
subprojetos, de modo que cada um tenha, no mínimo, 3 atividades, com
propostas pedagogicamente consistentes e inovadoras e que envolvam
cursos de graduação e/ou programas de pós-graduação. O projeto deve
integrar, também, as escolas públicas onde atuam os professores e os alunos
selecionados para as atividades extracurriculares propostas. De acordo com
o Relatório da DEB, há a perspectiva de, nas próximas edições, articular
esse programa com a Escola de Tempo Integral, o Ensino Médio Inovador
e o Mais Educação, programas do MEC, contribuindo para a ampliação
101
da jornada escolar baseada em uma intencionalidade pedagógica que
efetivamente construa uma cultura de tempo integral nas escolas públicas.
O primeiro edital foi lançado no ano de 2010, e foram selecionados
61 projetos de diversas IPES, que foram desenvolvidos ao longo de 2011.
Já o segundo edital foi lançado em 2012, e os 85 projetos aprovados,
contemplados em 2013, para serem executados nos anos de 2014 e 2015,
todos com 24 meses de vigência.
Por esse motivo, os projetos ainda se encontravam em execução no
ano de 2014, mas dados preliminares mostram que há 56 IPES
participantes, contabilizando 250 subprojetos e 1018 atividades
desenvolvidas. Destaca-se que, nesse programa, participam apenas
instituições públicas. A projeção da CAPES para o número de pessoas
envolvidas nesses projetos é de 6629 alunos de graduão, 1172 de pós-
graduação, 104.603 alunos de educação básica e 23.381 professores da
educação básica.
Com relação às áreas contempladas, o edital de 2012 registra
subprojetos em 65 diferentes áreas do conhecimento, que transitam entre
as Ciências Agrárias, Ambientais, Biológicas, da Saúde, Sociais e Humanas,
muitas delas envolvendo tecnologias.
Como impactos do programa, por meio de análises dos relatórios,
de depoimentos e de eventos, o Relatório da DEB registra:
aproximação das instituições de ensino superior das escolas
da rede pública com ações de extensão articuladas à realidade das
escolas;
promoção do acesso ao conhecimento científico;
capacitação de professores da educação básica em projetos
de ensino criativos;
102
melhora das condições de aprendizagem;
estímulo a carreiras científicas e tecnológicas;
incentivo a inovações metodológicas;
produção de estratégias e de materiais didáticos inovadores;
formação dos alunos da escola pública para responderem às
demandas da sociedade moderna, do mercado de trabalho e do
exercício pleno da cidadania;
valorização da carreira de docente da educação básica e
elevar a autoestima desses professores;
articulação ensino, pesquisa e extensão no âmbito das
IPES.
Cooperação Internacional
À semelhança da estratégia já adotada na qualificação de docentes
e de pesquisadores que atuam na pós-graduação stricto sensu, a DEB
concebeu um programa para oferecer oportunidades de aperfeiçoamento
profissional em instituições estrangeiras de reconhecida excelência também
aos docentes de escolas públicas de educação básica, o Programa de
Desenvolvimento Profissional para Professores (PDPP). A proposta é
promover ações de cooperação internacional, na perspectiva da oferta de
programas, missões de estudos e vivências educacionais inovadoras. Tal
proposta de formação inclui, além de cursos em uma instituição
estrangeira, a vivência de aspectos educacionais, culturais, históricos,
científicos e tecnológicos do país acolhedor.
103
O processo de cooperação internacional teve início com os
professores de línguas estrangeiras, componente curricular do ensino
fundamental e médio, e, em seguida, foram incluídas ações voltadas para
professores de Ciências, Matemática, Educação Infantil e para gestores
escolares. Entre 2010 e 2014, foi registrada a participação de 2.179
professores em programas de cooperação internacional em 6 países,
conforme a tabela 8:
Tabela 8: Participação de professores da Educação Básica em programas de
cooperação internacional de 2010 a 2014
Natureza do Programa Área País Professores
Idiomas
Inglês EUA
1.675
Inglês Reino Unido
99
Francês França
32
Alemão Alemanha
25
Matemática
Matemática Portugal
25
Matemática França
26
Ciências
Física Suíça
125
Química e Física Portugal
92
Língua Portuguesa
Língua Portuguesa Portugal
25
Educação Infantil
Educação Infantil Portugal
25
Gestão
Gestores Escolares Reino Unido
30
TOTAL
2.179
Fonte: Relatório da DEB/Capes 2009-2014, volume II, p.35.
Além das ações supracitadas, a DEB atua no Programa de Apoio
ao Setor Educacional do Mercosul (Pasem) e, com a Organização dos
104
Estados Iberoamericanos (OEI), apoia o Programa Iberoamericano de
Mobilidade Docente e a Rede Mercosul de Mobilidade de Docentes.
Nesses programas, há a participação dos seguintes países: Argentina,
Equador, México, Paraguai, Chile, Colômbia, Uruguai, Peru e Portugal.
Há também cooperação entre Brasil e África, no qual foram
recebidos dez professores do Instituto Universitário de Educação de Cabo
Verde (IUE). Essa missão atendeu a um pedido do IUE, que tem a
intenção de estruturar um programa semelhança ao Pibid em Cabo Verde.
De acordo com o Relatório da DEB, em síntese, os dados da
avaliação realizada com egressos dos programas de cooperação indicam
que:
99% consideram que o curso contribuiu para seu
desenvolvimento profissional;
98% concordam que aumentou sua motivação para a
docência;
Estima-se que, considerando os 643 professores que responderam
aos questionários, cerca de 200.000 alunos são beneficiados pelos
investimentos em seus professores. Ainda, tendo em vista que os
respondentes correspondem a 50% dos participantes desses programas, se
mantidas as mesmas proporções, o número de alunos beneficiados pode
ser dobrado.
Residência Docente
O Programa Residência Docente é um projeto-piloto cujo objetivo
é aprimorar a formação do professor da educação básica com até três anos
de formado, oferecendo formação continuada por meio do
105
desenvolvimento de competências docentes in loco, por meio da imersão
no contexto escolar.
Em 2012, de modo experimental, o Programa de Residência
Docente teve início no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. A partir de
2014, o projeto estendeu-se ao Colégio de Aplicação da Universidade
Federal de Minas Gerais. Há a perspectiva de ampliação do programa para
outros Colégios de Aplicação, de forma a promover sua expansão nacional.
No Colégio Pedro II, o Programa é composto de 500 horas de
atividades do residente, realizadas no período de um ano letivo e
distribuídas em diferentes categorias que englobam atividades presenciais
e a distância, bem como a apresentação, ao final do programa, de um
produto acadêmico relacionado à prática docente, a ser avaliado por uma
comissão. A carga horária é dividida em: i) atividades na área da docência
(65%); ii) atividades em setores administrativo-pedagógico (10%); e iii)
atividades em formação continuada. Ao final, é conferido aos residentes
certificado de Especialista em Docência do Ensino Básico na disciplina
específica de atuação. No Colégio de Aplicação da UFMG, a carga horária
é de 420 horas e a estrutura do projeto é parecida, sendo que há, como
diferença, uma carga horária dedicada à aplicação de projetos objeto de
reflexão e orientação com o professor supervisor no Centro Pedagógico da
universidade.
Formação dos Professores das Olimpíadas de Matemática e Química
A Capes vem apoiando um processo de formação continuada que
envolve os alunos medalhistas de olimpíadas de Matemática e de Química
e seus professores. Esses alunos não só atuam como monitores de seus
106
colegas como ingressam nos cursos de licenciatura e bacharelado nessas
áreas.
De acordo com o Relatório da DEB, embora esses projetos sejam
experimentais, seus frutos já sugerem à Capes uma formalização para atuar
em rede e de modo a que professores de medalhistas formem outros
professores da rede pública, e alunos medalhistas sejam monitores de
outros alunos, auxiliando-os no domínio das disciplinas estudadas.
No bojo deste programa, são oferecidas bolsas aos professores que
orientam os alunos ao longo do processo formativo, configurando também
uma iniciativa de formação continuada para esses professores. São bolsistas
também os supervisores, os coordenadores de área e o coordenador
institucional, responsável pelo projeto nas IES. As atividades de formação
em torno das olimpíadas de Matemática, em suas duas fases, já concederam
1511 bolsas, e as atividades para as olimpíadas de Química, 395 bolsas.
Tabela 9: Bolsas concedidas em atividades de formação
Modalidade de Bolsas
Olimpíadas de Matemática
Olimpíadas de
Química
(2014)
Fase I
(2014)
Fase II
(2015)
Iniciação à Docência
156 263
313
Supervisor
281 415
62
Coordenador de Área
172 222
19
Coordenador
Institucional
1 1
1
TOTAL
610 901
395
Fonte: Relatório da DEB/Capes 2009-2014. Elaborado pelo pesquisador.
107
Vale ressaltar que, no caso das olimpíadas de matemática, também
aos alunos medalhistas são oferecidas bolsas do Programa de Iniciação
Científica Júnior, estas sob responsabilidade do CNPq. No ano de 2014,
foram 6.000 medalhistas/bolsistas, e, em 2015, 8.000 medalhistas/
bolsistas.
Rede Nacional de Educação e Cncia
A Rede Nacional de Educação e Ciência é um programa que visa ao
desenvolvimento de metodologias que facilitem o aprendizado,
desmistificando a Ciência, buscando novos caminhos para um ensino
eficiente. A iniciativa envolve 28 grupos em 18 universidades públicas
brasileiras, de forma descentralizada.
As atividades desenvolvidas pelo programa trabalham em torno de
cursos experimentais de curta duração e estágios. Todas as universidades
participantes oferecem, no período de férias, cursos destinados a alunos do
ensino médio e professores do ensino básico da rede pública, os chamados
“Cursos de Férias”. Nessas atividades, são elaboradas experiências em
diversas áreas das ciências naturais e da saúde, em geral monitoradas por
estudantes de pós-graduação da instituição.
No ano de 2014, a Rede apoiou 15 projetos, 13 em universidades
públicas e 2 na fundação Oswaldo Cruz, sendo 2 no norte, 3 no nordeste,
7 no sudeste e 4 na região sul.
108
Programas de formação associada à pesquisa
Observatório da Educação
O Observatório da Educação (Obeduc) foi criado em 2006 em
parceria CAPES/INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira). Visa articular a produção acadêmica e a
formação de profissionais com a pós-graduação em educação, estimulando
a formação de mestres e doutores cujas pesquisas tenham como ponto de
partida a utilizão dos indicadores educacionais existentes no INEP, por
meio, ainda, do trabalho coletivo de construção do conhecimento,
envolvendo mestrandos, doutorandos, professores da educação básica,
alunos dos cursos de licenciatura e pesquisadores das IES.
Os projetos do Obeduc precisam estar vinculados a programas de
pós-graduação reconhecidos pela Capes e com linhas de pesquisas voltadas
à educação. Os programas podem organizar-se em Núcleos Locais
compostos por um PPG de uma IES ou Núcleos em Rede, formados por
até três PPGs de IES distintas. E os projetos podem ter duração de 2 a 4
anos.
As bolsas desse programa são oferecidas aos coordenadores dos
projetos e aos mestrandos e doutorandos envolvidos nos projetos de
pesquisa. A partir de 2008, o programa passou a oferecer também bolsas
aos estudantes de licenciaturas e de graduação e aos professores de escolas
públicas que se envolvam nas pesquisas, de modo a estimular a integração
entre pós-graduação, cursos de formação de professores e escolas de
educação básica.
Nos editais lançados entre 2006 e 2013, o Obeduc apoiou 243
projetos. Entre os projetos ativos no ano de 2014, participaram 96 IES que
109
abrigaram 186 programas de pós-graduação de diferentes áreas, para a
execução de 151 projetos, sendo 111 Núcleos Locais e 34 Núcleos em
Rede. Tais números totalizam 2.513 bolsistas, entre os quais 151
coordenadores, 147 doutorandos, 397 mestrandos, 920 professores da
educação básica e 898 graduandos. Não houve edital no ano de 2014 em
razão de restrições orçamentárias.
De acordo com o Relatório da DEB, o Obeduc contribuiu, ao
longo de seus anos de existência, para a construção de conhecimento nas
seguintes áreas:
a) avaliação institucional e da aprendizagem: construção e análise de
indicadores de qualidade do ensino-aprendizagem, do trabalho
didático e da carreira docente; indicadores de desempenho dos sistemas
de ensino; determinantes da qualidade de ensino.
b) educação e desenvolvimento: financiamento da educação; mercado
de trabalho e educação; demografia e educação; análise do fluxo
escolar; educação e inclusão social;
c) abordagens multidisciplinares de áreas de conhecimentos afins:
ciências humanas, ciências da natureza e linguagens;
d) alfabetização como um processo essencial ao exercício das práticas
sociais de leitura, numeramento, oralidade e escrita, ao sucesso escolar,
à inserção no mundo do trabalho e ao pleno exercício da cidadania; e
e) temáticas relacionadas à diversidade e aos desafios contemporâneos
da educação brasileira, incluindo a relação entre educação e pobreza
(BRASIL, 2014a, p. 109).
Com relação aos produtos gerados, podemos perceber que há um
grande número de publicações, entre teses, dissertações, artigos, livros e
trabalhos em eventos, conforme o quadro abaixo:
110
Tabela 10: Produtos gerados pelo Observatório da Educação
Edital
Monografias
Teses
Dissertações
Eventos realizados
Livros publicados
Artigos publicados em
periódicos
Capítulos de livro
Trabalhos apresentados
e publicados em
anais
2006
16 29 90 61 90 111 - 248
2008
45 12 80 58 - 110 - 423
2009
6 4 16 - 13 - 20 196
2010
112 26 152 714 105 260 - 1.285
2012
Em vigência em 2013 e em 2014
TOTAL
179 71 338 833 208 481 20 2.148
Fonte: Relatório da DEB/Capes 2009-2014. Elaborado pelo pesquisador.
É importante ressaltar que o edital de 2009, especificamente, foi
uma edição especial do Programa, denominada Observatório da Educação
Escolar Indígena (OEEI), que teve o mesmo formato, porém com foco na
educação básica intercultural indígena e prioridade para a formação de
professores e de gestores educacionais para os Territórios
Etnoeducacionais. Com a ampliação do número de propostas dessa
natureza, a partir do edital de 2010, as temáticas relacionadas à educação
indígena foram incluídas no programa.
Vale a pena referir, também, que o Relatório apresenta produção
técnica, tanto de caráter didático-pedagógico, como materiais didáticos e
paradidáticos diversos, atividades de inovação tecnológica e curricular,
quanto de ferramentas de gestão, além de produtos relacionados ao
desenvolvimento institucional das IES participantes, como fortalecimento
111
de programas de pós-graduação e de grupos de pesquisa, formação de
parcerias interinstitucionais, melhorias de infraestrutura, entre outros.
Para uma ideia geral do alcance do programa, a tabela abaixo
mostra a quantidade de IES e de PPGs participantes:
Tabela 11: Instituições de Ensino Superior e Programas de Pós-Graduação
participantes do Observatório da Educação em 2014
Região IES PPGs
Norte
3 5
Nordeste
17 28
Centro-oeste
8 17
Sudeste
37 78
Sul
29 57
TOTAL
94 185
Fonte: Relatório da DEB/Capes 2009-2014. Elaborado pelo pesquisador.
Divulgação Científica
Feiras de Ciências e Mostras Científicas
O Programa de Apoio a Feiras de Ciências e Mostras Científicas é
realizado em parceria com o CNPq, para fomentar a realização de Feiras
de Ciências e Mostras Científicas. O objetivo é que as feiras e mostras
sejam instrumentos para a melhoria dos ensinos fundamental, médio e
técnico, além de ressaltar a capacidade de autoria de alunos e de
112
professores, de valorizar metodologias didáticas experimentais de estimular
carreiras científico-tecnológicas.
Entre os anos de 2010 e 2014, foram realizados 510 eventos dessa
natureza, em âmbito municipal, estadual, nacional ou mesmo no formato
itinerante.
Tabela 12: Feiras e Mostras científicas apoiadas pelo programa de 2010 a 2014
Editais 2010 2011 2012 2013 2014 Total
Nacionais
5 5 7 6 4
27
Estaduais
30 23 26 20 18
117
Municipais
71 48 59 72 83
333
Itinerantes
0 0 16 17 0
33
TOTAL
106 76 108 115 105 510
Fonte: Relatório da DEB/Capes 2009-2014, volume II, p. 164.
Olimpíadas Científicas
Também em parceria com o CNPq, no Programa de Apoio a
Olimpíadas Científicas, a Capes realiza Chamadas Públicas de apoio à
realização de Olimpíadas Científicas, desde 2011. Segundo o Relatório da
DEB, as Olimpíadas têm contribuído para destacar alunos e professores de
diversas escolas do país, e há um forte impacto no desempenho escolar dos
jovens que participam dos eventos, com registros de bons resultados a
mesmo em certames internacionais. Para a Capes, além de divulgar a
ciência, olimpíadas dessa natureza mobilizam não apenas os alunos, mas
113
toda a comunidade escolar, contribuindo para a melhora de seu
desempenho.
De 2011 a 2014, o programa apoiou 43 olimpíadas diversas,
porém circunscritas, em sua maioria, aos estados do Rio de Janeiro e em
São Paulo, sendo apenas 1 delas em Santa Catarina, 1 no Rio Grande do
Norte, 1 na Paraíba, 1 em Goiás e 4 em Minas Gerais.
Gráfico 12: Olimpíadas Científicas apoiadas pela Capes de 2011 a 2014, por estado
Fonte: Relatório de Gestão DEB/CAPES 2009-2014. Elaborado pelo pesquisador.
115
Capítulo 4
À guisa de síntese
A presente pesquisa teve como objetivo analisar os documentos que
fundamentam os programas voltados para a formação de professores da
Educação Básica, junto às licenciaturas, que se encontram sob
responsabilidade e gestão da DEB, bem como discutir seus resultados. Para
tanto, elegemos os dois principais programas da Capes para a Educação
Básica, no tocante à dotação orçamentária, para a análise de resultados: o
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e o Plano
Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor).
Com relação ao suporte teórico, valemo-nos de autores que
discutem o ensino superior e a pós-graduação no Brasil, bem como suas
interfaces com a referida instituição, a qual possui papel relevante no
contexto das políticas educacionais, e tamm de autores que discutem as
políticas públicas para a formação de professores no Brasil e questões
ligadas à profissão docente, a saber: Ianni (1979), Castro e Soares (1983),
Cunha (1988; 2007), Nogueira (1998), Mendonça (1999; 2003),
Mazzeto e Carneiro (2002), Cury (2005), Hostins (2006), Saviani (2007),
Barbosa (2009), Scheibe (2010; 2011), Gatti (2010), Gatti, Barreto e
André (2011), Gouvêa (2011; 2012), Farias e Rocha (2012), Montandon
(2012), Ristoff e Bianchetti (2012), Fernandes e Mendonça (2013), Ferro
(2013), Mancebo (2013), Maraschin e Sato (2013), e Souza (2014), entre
outros.
116
Por se tratar de uma pesquisa documental, ressalte-se que levamos
em conta, para a análise de nosso objeto, o contexto de produção dos
documentos examinados, o que nos exigiu a consideração de elementos
históricos e sociais em nossas análises.
No segundo capítulo, apresentamos a trajetória da instituição
Capes, primeiramente enquanto Campanha de formação de professores
para o Ensino Superior e de profissionais de alta qualificação, passando
pela sua contribuição para a consolidação da pós-graduação no Brasil e,
mais recentemente, a sua atuação na Educação Básica no que concerne à
formação de professores, por meio da criação de uma Diretoria de
Formação de Professores da Educação Básica (DEB). Nesse sentido, foi
possível perceber que há uma complexidade na história da instituição,
permeada por diversas mudanças e por muitos conflitos de interesse,
mediante as políticas de Estado que se desenharam ao longo da história do
país.
No capítulo 3, apresentamos as políticas da Capes após sua
reestruturação e atuação no âmbito da formação de professores da
Educação Básica, primeiramente, apresentando o funcionamento da DEB
e um panorama das matrículas em cursos de licenciatura no Brasil, para,
posteriormente, apresentar os programas voltados à formação docente da
Educão Básica e discutir seus resultados.
Com o desenvolvimento de nosso estudo, procuramos responder à
seguinte questão de pesquisa: os diversos programas instituídos pela Capes
no período recente representam efetivamente a instituição de uma política
nacional de formação de professores e, ainda, de um sistema nacional de
formação de professores?
Foi possível constatar, no âmbito deste trabalho, que os programas
lançados pela DEB não deixam de tocar em pontos levantados por
117
especialistas da área como relevantes e estratégicos para os enfrentamentos
atuais da educação brasileira.
Todavia, as referidas ações constituem-se em alternativas pontuais
e, por isso, insuficientes se consideradas as reais necessidades educacionais
do país. Ainda que a seleção de projetos por editais, com apreciação pelos
pares, confira transparência aos investimentos realizados, as instituições de
Ensino Superior brasileiras que reúnem as condições técnicas e acadêmicas
para concorrerem nos editais da CAPES são poucas, fazendo com que parte
considerável dos projetos concentrem-se nas universidades públicas.
Entretanto, a maior parte das matrículas em cursos de formação inicial de
professores estão nas IES privadas, sendo grande parte delas faculdades
isoladas, as quais não conseguem abrigar esses projetos.
Outro fator importante nesse sentido tem relação com essa
proposição de projetos via editais. Por conta dessa dinâmica, as políticas
da DEB/Capes acabam por se voltarem apenas às áreas contempladas pelos
projetos dos proponentes (as IES participantes), desconsiderando-se as
reais necessidades educacionais.
É importante problematizar, ainda, a participação da Educação a
Distância no bojo dos programas e políticas implementadas pelas Capes.
Conforme constatamos, há uma série de pré-requisitos a serem cumpridos
pelas instituições de ensino superior para que possam concorrer nos editais
da Capes e, em nenhum deles, verificamos a possibilidade de participação
de licenciandos da EaD. Os documentos examinados não deixam claro se
há ou não espaço para essa modalidade de ensino nas políticas da
DEB/Capes.
No caso do Pibid, entendemos que o programa concentra
inúmeros pontos positivos no que tange à formação de professores da
Educação Básica, sobretudo no que diz respeito às vivências dos futuros
118
professores na escola, entendida também como espaço de formação.
Contudo, concordamos com o entendimento do programa como uma
política de “transição”, conforme apontado por Fernandes e Mendonça
(2013): não se pode conceber o Pibid como uma iniciativa permanente
para combater a falta de interesse na carreira docente. Esta, por sua vez,
deve se dar por meio da efetiva melhoria das condições de trabalho da
profissão.
O Parfor, por sua vez, mostrou-se uma importante medida para a
adequação da formação dos profissionais da educação, sobretudo aqueles
que já se encontravam em atuação nas redes de ensino. Entretanto, a
recorrência de elevada quantidade profissionais sem a formação
considerada adequada para magistério é fruto da própria precarização do
trabalho docente. Não entender essa política como uma medida paliativa
é assumir que o déficit de professores sempre estará presente no setor
educacional, dificuldade que, de fato, deve ser sanada por meio de
mudanças estruturais.
Ainda que não se desconsiderem os avanços dessas e das demais
políticas da DEB/Capes, esses programas efetivam-se de forma
fragmentada, sem atingir questões fundamentais. Ou seja, a pontualidade
dessas ações na formação de professores compromete, em nível macro, a
abrangência dessas políticas públicas.
A política de ajuste fiscal recente, para fazer frente à crise
econômica e contornar a incapacidade do setor público de financiar seus
gastos, contribui para o quadro pouco animador, e demonstra, mais uma
vez, a fragilidade dessas iniciativas. O corte drástico no orçamento da área
de Educação tem comprometido não somente o avanço desses projetos,
mas, principalmente, inviabiliza até mesmo as atividades minimamente
essenciais.
119
A própria manutenção dos programas de pós-graduação stricto
sensu, que ao longo dos anos veio se mostrando tradicional reduto e
prioridade da Capes, tem sofrido com os cortes das verbas públicas. A
efetiva melhoria da educação, rumo a uma escola pública, democrática e
de qualidade para todos, só pode ser alcançada por meio de mudanças
estruturais e efetivas, que possam solucionar os problemas historicamente
constituídos.
121
Referências
BARBOSA, C. F. Olhares sobre a Capes: ciência e política na ditadura
militar (1964-1985). Revista de História (Salvador), v. 2, p. 99-109,
2009.
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Política Nacional de Formação dos Profissionais da Educação Básica.
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assistência financeira do Programa Dinheiro Direto na Escola; altera a
Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007, para contemplar com recursos
do FUNDEB as instituições comunitárias que atuam na educação do
campo; altera a Lei no 10.880, de 9 de junho de 2004, para dispor sobre
a assistência financeira da União no âmbito do Programa de Apoio aos
Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos;
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SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Normalização
Livia Pereira Mendes
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
POLÍTICA EDUCACIONAL
EM RETALHOS
Nathanael da Cruz e Silva Neto
abrigar esses projetos. Além disso, a pró-
pria dinâmica de proposição de projetos
via editais faz com que as ações da Capes
se voltem apenas às áreas contempladas
pelos projetos dos proponentes (as IES
participantes), desconsiderando-se as re-
ais necessidades educacionais. Por m, a
fragilidade dessas iniciativas, executadas
com o estatuto de programas, ca com-
prometida sobremaneira com a recente
política de ajuste scal, que tem provo-
cado cortes drásticos no orçamento da
área de Educação. Concluímos, portan-
to, que a efetiva melhoria da educação,
rumo a uma escola pública, democrática
e de qualidade para todos, só pode ser al-
cançada por meio de mudanças estrutu-
rais e efetivas, que possam solucionar os
problemas historicamente constituídos.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
Este trabalho é fruto de pesqui-
sa, desenvolvida durante o mestrado
acadêmico, cujo objetivo foi vericar
se os diversos programas voltados para
a formação de professores da Educação
Básica instituídos pela Capes no perío-
do recente representam efetivamente a
instituição de uma política nacional de
formação de professores. Para tanto, re-
correu-se tanto a autores que discutem
o ensino superior e a pós-graduação no
Brasil, bem como suas interfaces com
esse órgão, o qual possui papel relevante
no contexto das políticas educacionais,
quanto a autores que discutem as políti-
cas públicas para a formação de professo-
res no Brasil e questões ligadas à prossão
docente. Além disso, foram analisados os
documentos legais referentes à criação, à
implementação e às modicações da Ca-
pes ao longo dos anos, bem como os re-
latórios de gestão da instituição. Após a
apresentação da trajetória da instituição
Capes, evidenciando as suas diversas mo-
dicações, apresentamos e analisamos os
resultados de suas políticas voltadas à for-
mação docente da Educação Básica. Os
resultados indicam que, embora os pro-
gramas implementados pela Capes não
deixem de tocar em pontos levantados
por especialistas da área como relevan-
tes e estratégicos para os enfrentamentos
atuais da educação brasileira, o seu cará-
ter fragmentado faz com que essas ações
se constituam em alternativas pontuais e,
por isso, insucientes se consideradas as
reais necessidades educacionais do país.
Em primeiro lugar, são poucas as insti-
tuições de ensino superior que reúnem
condições para concorrerem nos editais
da Capes, e as instituições privadas, nas
quais se concentra a maior parte das ma-
trículas em licenciaturas, não conseguem
JULIO CESAR TORRES - UNESP
a CAPES e a Formação de Professores
da Educação Básica no Brasil
Este livro é resultado de importante estu-
do realizado por Nathanael da Cruz e Silva Neto
sobre o papel da CAPES nas políticas contempo-
râneas de formação de professores da Educação
Básica. Por meio de análise histórica, com aporte
de ampla pesquisa bibliográca e documental, o
autor debruça-se sobre as políticas levadas a cabo
por essa importante instituição pública, cria-
da em 1951, e vinculada ao Ministério da Edu-
cação. Tradicionalmente voltada a questões de
desenvolvimento, regulação e avaliação da pós-
-graduação, o texto situa e contextualiza, para
o leitor, o momento exato em que a CAPES é
deslocada, também, para o epicentro da política
nacional de formação de professores, ocupando
um papel de destaque no campo da formulação e
execução das políticas públicas de formação do-
cente. Desse modo, no contexto do arranjo fe-
derativo brasileiro e do regime de colaboração,
instituído pela Constituição Federal de 1988 e
pela LDBEN/1996, a “Nova CAPES” é elevada
à condição de importante agente na coordenação
das políticas nacionais de formação inicial e con-
tinuada de nossos professores. As fragilidades e fo-
calização das políticas, aponta o estudo, são ainda
o grande desao para o avanço dos programas e
das metas de formação docente. Por m, este livro
é um convite irrecusável para aqueles que alme-
jam conhecer, com riqueza de detalhes, marcos
importantes da história da educação e da política
educacional brasileira.
POLÍTICA EDUCACIONAL EM RETALHOS
Nathanael da Cruz e Silva Neto