ESTUDO, TRABALHO E AGROECOLOGIA
apontamentos sobre a formação técnica
do MST (PR)
João Henrique Souza Pires
O livro de João Henrique Souza Pires é fruto de uma rica combinação entre
seus estudos no mestrado em educação, na Universidade Estadual Paulista,
e sua trajetória de militância no interior do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST).
Leitoras e leitores encontrarão, aqui, uma análise das práticas de formação de
técnicos em agroecologia desenvolvida nos centros/escolas controlados pelo
MST. Especicamente, das práticas pedagógicas e metodológicas do 2º curso
de técnico em agroecologia integrado ao ensino médio, realizado na Escola
José Gomes da Silva (Paraná). O contexto em que se realiza a análise também
deve ser destacado, pois refere-se à uma mudança que ocorre na tentativa de
superação da matriz dominante sobre a questão agrária no Brasil, construída
desde o período da Ditadura Civil-Militar sob a famigerada “revolução ver-
de”.
Como contraponto a essa matriz conservadora, o estudo de Pires tem como
eixo estruturante o que denomina de “transição” à agroecologia, cujas con-
cepções e histórico no Brasil são analisados. No âmbito das atividades educa-
cionais do MST, a relevância dessa transição encontra na análise da constru-
ção dos Centros/Escolas de Agroecologia do Paraná um momento decisivo.
Pode-se dizer, assim, que uma das principais contribuições deste livro está na
forma como ele nos ajuda a compreender as razões pelas quais a transição para
a matriz agroecológica e as atividades educacionais autônomas do MST con-
formam um único e mesmo processo, ainda que esse não seja hegemônico no
interior do movimento.
As profundas contradições que vêm marcando o avanço do “agronegócio”
no campo brasileiro, inexoravelmente acompanhado de avanços destrutivos
sobre os ecossistemas ainda existentes e relativamente preservados, tornam
redundante falar da atualidade dessas temáticas. Que a leitura do livro seja,
portanto, um convite ao engajamento nas lutas do nosso tempo, em todos
campos, mas especialmente neste que emerge da fusão entre agroecologia e
educação.
O livro de João Henrique Souza
Pires intitulado Estudo, trabalho e agroe-
cologia: apontamentos sobre a formação téc-
nica do MST (PR) apresenta os resultados
de pesquisa muito relevante. A relevân-
cia encontra-se no fato de que o texto
coloca em destaque um tipo de forma-
ção técnico-educacional diferenciada
implantada por um movimento social.
Além disso, esse tipo de formação arti-
cula ensino e trabalho produtivo, em es-
pecial na agroecologia.
O MST é um dos maiores e mais
conhecidos movimentos sociais da Amé-
rica Latina. Desde sua fundação, que
ocorreu no ano de 1984, buscou concre-
tizar três de seus principais objetivos: ob-
ter a terra; forjar uma educação segundo
as necessidades e interesses dos povos do
campo; e organizar o trabalho sem a ex-
ploração típica do capitalismo.
A agroecologia foi adotada pelo
MST nos anos de 2000. A partir da crí-
tica à denominada revolução verde e ao
agronegócio, que trouxeram sérias con-
sequências para a reforma agrária, como,
por exemplo, o uso intensivo de agrotó-
xico, sementes transgênicas e contami-
nação da terra e da água, o MST passou a
desenvolver a matriz sócio-produtiva da
agroecologia. Ao adotar a agroecologia,
o MST se confrontou com os interesses
do agronegócio e, ao mesmo tempo, as-
sumiu uma proposta cientíca e tecno-
lógica de produção no campo, que tenta
utilizar técnicas menos degradantes do
meio ambiente, e resgatar os saberes tra-
dicionais dos povos, progressivamente
destruídos pelo modelo agrícola hege-
mônico.
Para desenvolver a agroecologia
em seus assentamentos e acampamen-
tos, o MST, em especial no Estado do
Paraná, observou que a educação geral
e a formação técnico-cientíca de seus
militantes era um elemento fundamen-
tal. Desse modo, dentre as ações adota-
das, o MST-PR criou Centros e Escolas
de Agroecologia, dos quais destacamos
a Escola Latina Americana de Agroe-
cologia, o Centro de Desenvolvimento
Sustentável e Capacitação em Agroeco-
logia, a Escola José Gomes da Silva e a
Escola Milton Santos.
Neste trabalho, o autor analisa a
formação técnico-cientíca e as práti-
cas pedagógicas e metodológicas do 2º
Curso Técnico em Agroecologia e En-
sino Médio Integrado desenvolvido na
Escola José Gomes da Silva (EJGS), de
2010 a 2013. Para tanto, Pires analisa a
proposta de formação técnica em agro-
ecologia, o Projeto Político Pedagógi-
co (PPP) e o Projeto Metodológico da
EJGS, tomando por base o processo de
ensino e aprendizagem da Turma Revo-
lucionários da Terra. A qualidade des-
te texto oferecido aos leitores faz com
que os interessados na temática possam
compreender o que é a agroecologia e
acompanhar a implantação e o desenvol-
vimento de um Curso do MST.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
ESTUDO, TRABALHO E AGROECOLOGIA
João Henrique Souza Pires
NEUSA MARIA DAL RI | UNESP
LALO WATANABE MINTO | UNICAMP