Este livro, fruto de um intenso trabalho de pesquisa de Fabiana O. Koga,
traz uma contribuição original e ímpar para o estudo das altas habilida-
des/superdotação, ao evidenciar o talento musical, pouco valorizado no
cenário educacional atual, tendo em vista que a educação musical não
encontra espaço na maioria dos currículos escolares.
Ao percorrer os capítulos desta obra, é possível compreender a história
do ensino da música, o conceito de talento e talento musical bem como
o cenário das pesquisas nacionais e internacionais sobre este tema. A
autora ainda destaca o importante papel da escola na identicação de
estudantes com talento musical, para que seja oferecido o enriqueci-
mento ou o encaminhamento para projetos e instituições que fomentem
o pleno desenvolvimento destes potenciais. Deste modo, poderão ser
oportunizadas condições para que eles possam seguir no caminho da
prossionalização e da construção de uma identidade.
Assim, a construção do Protocolo para Screening de Habilidades Musi-
cais (PSHM), nas modalidades impressa e virtual contribuirá sobrema-
neira, pois dará visibilidade àqueles estudantes que demonstrem talento
musical conferindo urgência à reexão sobre as políticas públicas para a
educação musical e a educação especial e permitindo a estes indivíduos a
oportunidade de darem os primeiros passos rumos à sua autorrealização.
O livro ora apresentado ao leitor
é fruto da tese de doutorado da Profa. Fa-
biana O. Koga, a quem tive o prazer de
conhecer nas lidas da vida, ela musicista,
eu cientista político. Este estranho encon-
tro de áreas de conhecimento tão dispares
acabou resultando em muitas conversas
sobre os processos didáticos-pedagógicos,
nosso interesse comum. É deste ponto de
vista que escrevo, de modo que este pe-
queno tributo fala mais da autora que da
obra. Fabiana escolheu um tema de pesqui-
sa muito valorizado nesta quadra histórica:
desenvolver um instrumento de detecção
de talento, e o desenvolveu com talento.
O resultado lhe valeria um lugar ao sol no
mercado de educação, ávido por este tipo
de produto por, supostamente, permitir
valorizar o mérito.
Além disso, certamente, uma vez
conquistado o mercado, seu nome seria
inscrito entre concorrentes de melhores
práticas pedagógicas. Tudo isso são apenas
suposições no que se refere ao destino que
Fabiana poderia ter dado ao resultado ob-
tido. Dotada de grande sensibilidade peda-
gógica e social (onde há uma, há outra; se
falta uma, também a outra), ela buscou in-
serir o resultado alcançado numa ação pe-
dagógica militante em favor do desenvol-
vimento das potencialidades do estudante,
arrancando-o da caixinha padrão das práti-
cas neoliberais: vantagem competitiva (ta-
lento), empreendedorismo (investimento
focado no talento), sucesso (superação do
concorrente).
Vale advertir que esta é uma leitura
minha; Fabiana não se propõe a examinar
esta relação. Em sendo assim, como ela se
afasta da prática pedagógica neoliberal sem
a isso se propor? Primeiro, porque ela não
trata o talento como dom, embora certa-
mente haja um elemento subjetivo indivi-
dual, mas como atributo que se desenvol-
ve socialmente, na medida em que, na sua
pesquisa, o talento é inserido nas condições
sociais através da comparação entre ofer-
ta ou não de educação musical, respecti-
vamente na rede privada e na pública;
segundo, porque ela não propõe vincu-
lação entre os resultados obtidos e o tripé
neoliberal (vantagem competitiva, empre-
endedorismo e sucesso), deixando aberta a
possibilidade de pensar o talento musical,
nas suas formas multimodais, como parte
do desenvolvimento integral do estudante.
Enm, a essas considerações se
deve acrescentar que é um trabalho bem
embasado estatisticamente, mas vale o re-
gistro de que este atributo pertence à qua-
licação da pesquisadora, que o mobiliza
para dar conta do seu interesse pedagógico.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio 0798/2018
Processo 23038.000985/2018-89
PROTOCOLO PARA SCREENING DE
HABILIDADES MUSICAIS (PSHM)
PROTOCOLO PARA SCREENING DE HABILIDADES MUSICAIS (PSHM)
Fabiana Oliveira Koga
DRA. DENISE ARANTES-BRERO - Psicóloga
Presidente do Conselho Brasileiro de Superdotação CONBRASD
JAIR PINHEIRO
Cientista político e professor da
UNESP/Marília
PROTOCOLO PARA SCREENING DE
HABILIDADES MUSICAIS (PSHM)
Fabiana Oliveira Koga
PROTOCOLO PARA SCREENING DE HABILIDADES
MUSICAIS (PSHM)
Fabiana Oliveira Koga
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS FFC
UNESP - campus de Marília
Diretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
Graziela Zambão Abdian
Patrícia Unger Raphael Bataglia
Pedro Angelo Pagni
Rodrigo Pelloso Gelamo
Maria do Rosário Longo Mortatti
Jáima Pinheiro Oliveira
Eduardo José Manzini
Cláudia Regina Mosca Giroto
Auxílio 0798/2018, Processo Nº 23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES
Ilustração da capa: KOGA, 2019
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
Koga, Fabiana Oliveira.
K78p Protocolo para screening de habilidades musicais (PSHM) / Fabiana Oliveira Koga.
Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2021.
348 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-113-3 (Digital)
ISBN 978-65-5954-112-6 (Impresso)
1. Educação. 2. Educação especial. 3. Música – Instrução e estudo. 4. Aptidão musical. 5.
Música. I. Título.
CDD 371.9
Copyright © 2021, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - ca
mpus de Marília
DOI: https://doi.org/10.36311/2021.978-65-5954-113-3
Agradecimentos
Uma jornada não é feita por uma única pessoa, mas a partir da
interação e mediação das mais valiosas mentes. Se cheguei a este momento,
certamente foi por conta da amizade e do profissionalismo de muitos
colegas com os quais tive o privilégio e a honra de compartilhar o
conhecimento aqui exposto. A todos vocês minha eterna gratidão!
Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Miguel C. M. Chacon, pela
confiança e por acreditar na minha pesquisa.
Agradeço a co-orientação do Prof. Dr. Sadao Omote. Foi a partir
das nossas conversas que nasceu o primeiro esboço do PSHM. Aproveito
para estender meus agradecimentos ao Grupo de pesquisa Diferença, desvio
e estigma, coordenado pelo Prof. Dr. Sadao Omote, na Universidade
Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC),
campus de Marília/SP.
Agradeço à Profa. Dra. Maria do Rosário Longo Mortatti docente
da Unesp - FFC, por me mostrar os caminhos para a composição da
autoria por meio da escrita do presente livro.
Agradeço à Profa. Dra. Rosemeire Rangni do Grupo de Pesquisa
para o Desenvolvimento do Potencial Humano (GRUPOH) da
Universidade Federal de São Carlos, pela honra de sua leitura crítica a este
livro.
Agradeço à Profa Dra. Cristina M. C. Delou pelo olhar criterioso e
pelas orientações desde a etapa de qualificação da presente pesquisa.
Gratidão por seu apoio e ensinamentos!
Agradeço aos amigos Dr. Jair Pinheiro e a Dra. Denise Arantes-
Brero pela honra da leitura e análise crítica deste livro. Gratidão pela
interlocução!
Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FAPESP pelo apoio no processo 2016/01664-8 intitulado Protocolo para
screening de habilidades musicais (PSHM), de minha autoria. Sem a
colaboração da FAPESP, eu não teria conseguido desenvolver esta pesquisa
que, espero, possa contribuir para o avanço do ensino da música e a atenção
educacional aos estudantes com talento musical.
Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Educação e à
Faculdade de Filosofia e Ciências UNESP, campus de Marília/SP, o qual
também contribuiu para com o acesso e desenvolvimento da presente
pesquisa.
Agradeço meus pais Alfredo e Maria Lourdes, meu esposo Fábio,
minha irmã Amabriane e todos os meus familiares e amigos por
acreditarem na pessoa que eu sou, nos meus sonhos e pelo apoio
incondicional.
A Autora
La comprensión del carácter del talento
demuestra claramente que su desarrollo es un
importante problema socialpolítico. La posibilidad o
capacidade de la manifestación de talentos depende,
muy evidentemente, de las condiciones sociales.
(RUBINSTEIN, 1978, p. 714, grifo do autor).
Sumário
Prefácio................................................................................................11
Introdução...........................................................................................15
Capítulo 1 | Mapeamento da produção científica sobre o talento
musical...............................................................................................43
Talento Musical: que reflexões podem ser feitas?.
Cenário das pesquisas nacionais e internacionais sobre o talento musical
O que se pode dizer sobre o cenário encontrado?
O que se pode concluir a respeito do cenário encontrado sobre o talento
musical?
Capítulo 2 | Percurso de rastreamento e seleção das habilidades.........95
Habilidades musicais: uma possibilidade de mensuração preliminar do
talento musical a partir de parâmetros sonoros
Como selecionar as habilidades musicais?
Análise de construto
Como as habilidades musicais foram selecionadas?
O que se pode dizer sobre a seleção das habilidades musicais
Breves considerações
Capítulo 3 | Criação do protocolo para SCREENING de habilidades
musicais (PSHM)..............................................................................135
Síntese do contexto histórico e aspectos a respeito do método psicofísico
Screening aplicado à área do talento musical
Síntese
Criação dos itens do Protocolo para Screening Habilidades Musicais
Análise semântica
Produção do PSHM em estúdio
Softwares utilizados durante a elaboração dos itens do PSHM
Descrição do material de replicação simultânea de áudio
Design do PSHM
Design da plataforma PSHM
Amostra
Como a amostra foi selecionada?
Projeto Piloto
Melhorias e revisões realizadas durante o projeto piloto: modalidade
manual e virtual
Como ocorreu a aplicação do PSHM na amostra?
PSHM em versão impressa
PSHM versão virtual: refinamento da plataforma
Aplicação 1 e 2: estudo comparativo entre as versões manual e virtual
Aspectos adicionais à aplicação
Análise do desempenho do PSHM
Resultados obtidos com o PSHM
Conclusão das etapas de construção do PSHM
O que podemos concluir a respeito da identificação do talento
musical?..............................................................................................311
Referências.........................................................................................317
Sobre a autora....................................................................................347
11
Prefácio
Ser convidada para prefaciar o livro Protocolo para screening de
Habilidades Musicais (PSHM), de Fabiana Oliveira Koga e aceito com
muito prazer, minha imaginação caminhou entre a cientificidade
apresentada pela pesquisa realizada com muito esmero e a minha imensa
admiração pela música - as grandes obras musicais que deleitam nossos
ouvidos e embelezam o mundo.
Os brasileiros são conhecidos como criativos e alegres em suas
incursões musicais, pois temos artistas, tanto clássicos e populares,
apreciados internacionalmente. E como esses talentos se evidenciaram em
meio a tantas adversidades vividas por um país carente em tantos aspectos?
Falar do talento musical, apesar da grande difusão na sociedade
desde a antiguidade, não parece ser tarefa simples quando nos referimos às
pesquisas acadêmicas. O trabalho de Koga foi contundente ao constatar
poucas investigações sobre o tema no âmbito brasileiro.
No entanto, chama-me atenção na pesquisa desenvolvida, pela
autora, sua crítica profunda às limitações do ensino musical em nosso país,
tendo em vista que desde o ano de 2008 faz parte do currículo escolar, mas
infelizmente não é tratado de maneira respeitosa pelos sistemas escolares.
De acordo com Galvão (2007), baseando em pesquisa de Sloboba (2008),
afirma que a música melhora os estados emocionais, positividade, atenção
e excitação e podem ser otimizadas, quando as pessoas escolherem o que
ouvir.
Desenvolver talento requer conhecimento e envolvimento de
profissionais que estão nas instituições de ensino. A formação inicial de
DOI: https://doi.org/10.36311/2021.978-65-5954-113-
3.p11-13
12
educadores musicais para desenvolver talentos tem limitações, pontua
Ogando (2014), assim como em qualquer outra licenciatura. A falta de
capacitação inicial, continuada e em serviço é uma lacuna anunciada
insistentemente na literatura especializada do talento, que urge ser
preenchida, caso contrário podemos perder grandes promessas musicais.
Mas como fazer a indicação do talento musical?
No livro de Koga é possível entender a preocupação em detectar o
talento musical em nossos escolares, capaz de rastreá-lo de forma inicial.
Seu objetivo principal foi construir um instrumento denominado
Protocolo para Screening de Habilidades Musicais (PSHM). Essa
construção reverte-se de suma importância dada à necessidade de
instrumentos para a avaliação do talento, que seja utilizado na Educação.
Nesta perspectiva Koga menciona “para tornar possível a instauração de
um diálogo inicial entre as áreas da Música e da Educação, especificamente
a área da educação especial”.
A partir da indiscutível contribuição da pesquisa desenvolvida,
entende-se imprescindível sua divulgação nesta obra, que está dividida em
três estudos expressos em capítulos, quais sejam:
No Capítulo 1, denominado Mapeamento da Produção Científica
sobre o Talento Musical, é possível ter conhecimento das produções
nacionais e internacionais sobre o talento musical em que a autora faz
preciosas reflexões no sentido de compreender os aspectos concernentes ao
conceito do talento na área musical. Vale lembrar que nesse capítulo é
assinalado o baixo índice de trabalhos científicos sobre a temática,
principalmente na esfera brasileira, o que nos leva a coadunar com
Fonterrada (2008), citado por Koga, nesta obra: “[...] Infelizmente, no
Brasil, a educação musical não é a realidade de todas as escolas”.
13
O Capítulo 2, Percurso de Rastreamento e Seleção das Habilidades
Musicais, tem como objetivo expor os procedimentos para a construção
do PSHM, baseado em método psicofísico de comparação por pares. Nesse
momento do estudo, percebe-se a criteriosidade estabelecida pela
pesquisadora para a análise semântica e de conteúdo do instrumento.
A Criação do Protocolo para Screening de Habilidades Musicais
(PSHM) é demonstrada no Capítulo 3. O instrumento foi criado e
construído para “viabilizar o mapeamento do talento musical a partir da
acuidade auditiva”. Neste estudo, apresenta-se uma pequena parte do
rastreamento, como também sua produção em forma de áudio e de design,
disponibilizados em plataforma virtual e material.
Diante de tal conteúdo convidativo ao conhecimento e leitura
convido-os a sentir, assim como eu, o empenho da pesquisadora como
também profissional da Música, o interesse em contribuir na detecção de
potenciais em área tão importante que é o talento musical. Desejo ótima
leitura a todos (as).
Maio/2021
Dra. Rosemeire de Araújo Rangni
Profa. Adjunta 4,
Departamento de Psicologia, PPGEEs,
Universidade Federal de São Carlos/SP.
14
15
Introdução
A preocupação com o ensino musical data, segundo Beyer (1993),
de 2500 a.C. De acordo com a autora, buscava-se o ensino e aprendizagem
de instrumentos musicais e da voz com o objetivo de atender a rituais e
cerimônias dos povos daquela época (BEYER, 1993). Nas palavras de
Beyer (1993, p. 05), essa descoberta aconteceu a partir de registros em uma
“[...] pintura de um sacerdote como Pedagogo musical, onde dez damas de
harém encontravam-se cantando num ritual de culto à divindade
acompanhado de palmas e calcar de pés”.
Posteriormente, na China, de 1050 a 256 a.C., época de Dschou,
o ensino de música perpassou o ensino de instrumentos, canto e dança.
Para os chineses “[...] a música tinha uma influência ética muito grande no
indivíduo, sobretudo na formação do caráter” (BEYER, 1993, p. 6).
Já na Grécia, por volta de 380 a.C., houve grande preocupação
com o desenvolvimento e com a aprendizagem musical (GROUT;
PALISCA, 1994). A música para os gregos contribuía para a constituição
da moral e caráter dos cidadãos devido a sua capacidade de afetar o sujeito,
transformando-o (GROUT; PALISCA, 1994). Para os gregos, “[...] a
música influía no humor e no espírito dos cidadãos e, por isso, não podia
ser deixada exclusivamente por conta dos artistas executantes”
(FONTERRADA, 2008, p. 26). Os gregos detectaram o poder da música
sobre as pessoas e, por essa razão, perceberam a necessidade de controle do
trabalho realizado pelos artistas, por parte do Estado. Nesse contexto,
Beyer (1993, p. 7, grifo do autor) discute que:
16
[a] educação musical fazia parte da formação estatal dos jovens até 30
anos. [...] Mais tarde, o ponto de vista político-estatal com o fim da
educação musical desvaneceu paulatinamente, dando lugar à música
como fim em si mesma (artístico ou científico).
Platão, em 380 a.C. na Grécia, foi um importante incentivador da
educação musical, bem como da literatura e da arte, disciplinas, estas, que
já apresentavam certa estrutura naquele período. Platão “[...] insistia na
necessidade de equilíbrio[...]” (GROUT; PALISCA, 1994, p. 21) entre o
corpo e o espírito a partir do contato com a música. Para ele, a música
deveria “[...] ser usada como fonte de divertimento e prazer intelectual, e
não apenas educação” (GROUT; PALISCA, 1994, p. 21). Na perspectiva
de Platão, era preciso haver equilíbrio entre as disciplinas oferecidas e
alertava para o perigo de se supervalorizar uma em detrimento da outra
(GROUT; PALISCA, 1994; BEYER, 1993; FONTERRADA, 2008).
Aristóteles corroborava esse pensamento expresso por Platão.
Entre os séculos IV a.C. e II d.C., Creta foi “[...] precursora na
concepção educacional da música” (BEYER, 1993, p. 6). Somente os
meninos livres tinham o direito de frequentar as aulas de ginástica, as quais
eram coordenadas com as de música. As meninas eram excluídas, bem
como os escravos, o que mostra quão restrito era o ensino da música
(BEYER, 1993). Em Atenas não foi diferente, a música era considerada
positiva para a formação da personalidade, por isso era incentivada e
estimulada. Em Esparta, a ênfase estava no aprendizado de hinos em honra
aos heróis e divindades (GROUT; PALISCA, 1994).
Posteriormente, na Idade Média, por volta do século IV ao século
IX, no continente europeu, a música passou a ser prioritariamente vocal e
voltada para a religiosidade. As escolas passaram a ser sediadas em
mosteiros e catedrais, onde eram ensinados salmos, notas, gramática etc.
17
Pitágoras
1
, por outro lado, estimulou a aproximação da música com a
matemática. Esse seguimento era denominado musicus e o seguimento que
distinguiam aqueles que atuavam na igreja como “cantor” (BEYER, 1993;
GROUT; PALISCA, 1994).
Dentro do contexto religioso associado ao educacional, a figura de
Guido D´Arezzo
2
(991 1050, Roma) tornou-se um marco, porque foi
ele quem introduziu linhas na pauta para a escrita das claves e das notas
musicais, como forma de facilitar a aprendizagem dos alunos. Com a
Reforma, no século X, o canto litúrgico ganha força e foco central nos
mosteiros, local onde ocorriam as aulas de música naquela época.
Conforme foram avançando no século XIII, surgem novas instituições fora
dos mosteiros, como, por exemplo, a casa de Studienhãuser na Alemanha
(BEYER, 1993).
Durante o período medieval (de 800 até aproximadamente 1450
no continente europeu), a educação musical era entendida como algo para
cultuar e louvar a Deus, por isso a igreja tinha grande preocupação na
transmissão desse conhecimento para as crianças. Nessa época, ensinar o
cantochão
3
corretamente era uma normativa, uma vez que, através dele, se
realizava a transmissão da fé ou das tradições (FONTERRADA, 2008).
Na Renascença (c. 1450 até 1600 na Europa/países baixos
4
)
ocorreu uma maior valorização da composição como finalidade artística.
1
Nasceu em 582 e morreu em 497 a. C na Grécia. Matemático e filósofo, desenvolveu, além do
Teorema de Pitágoras, trabalhos nas áreas da música, moral, geografia e medicina.
2
Teórico da área da música. Dedicou-se ao ensino dasica religiosa nos períodos comandados
pelo bispo Teobaldus e, depois, papa João XIX. Foi o criador, ao lado de Boécio, do tratado sobre
prática musical denominado Micrologus (SADIE, 1994).
3
“[...] a música religiosa conhecida como cantochão não tinha acompanhamento. Consistia em
melodias que fluíam livremente [...]. Alguns cantos eram expressos de modo antifônico, isto é, os
coros cantavam alternadamente. Outros eram cantados no estilo de responsório, que se faz com as
vozes do coro respondendo a um ou mais solistas” (BENNETT, 1986, p. 13).
4
Holanda, Bélgica e Luxemburgo na atualidade.
18
Elementos musicais foram reformulados e criados, como a harmonia e a
escrita horizontal da música. A relação social/emocional professor-aluno
foram também melhor estabelecidas. Esse foi o período que recobrou
muitos dos princípios dos gregos, inclusive a popularização da educação
musical aumentou. O pensamento humanista, bem como a música
profana
5
se tornaram cada vez mais forte, propiciando o emprego de
instrumentos musicais em sua composição. Até então, na Europa, não
havia indicativos de música profana, somente aquelas de cunho religioso,
utilizando somente a voz (BENNETT, 1986; BEYER, 1993;
FONTERRADA, 2008).
Comenius (1592-1670, na Europa), se faz exemplo. Ele trouxe
para a prática do ensino de música a formação iniciada pelos sentidos e
pela ação do sujeito. O autor defendia a clareza no ensino da música e
proximidade com a realidade ou cotidiano das pessoas e atenção com a
psyche do jovem. Para ele, a criança deveria ser iniciada no processo de
musicalização a partir do canto e práticas musicais (BEYER, 1993).
Na Europa, com o período barroco em andamento desde o século
XVII (1600 até 1750), de acordo com Beyer (1993, p. 10), “ [..] a criança
não deveria ser avaliada conforme as medidas do adulto, nem deveria ser
educada conforme tais constatações”. Nessa vertente teórica, a leitura das
notas musicais e o canto dos salmos perdem espaço para a produção sonora
(BEYER, 1993; FONTERRADA, 2008). Foi nesse período do século
XVIII que começam a ser criadas as escolas organizadas pelas igrejas
católica e protestantes, bem como pela iniciativa estatal. As escolas
religiosas, em geral, tinham grande preocupação em transmitir o
5
“Paralelamente ao desenvolvimento da música sacra renascentista, houve o rico florescimento das
canções populares, surpreendentemente variadas em estilo e expressando todo tipo de emoções e
estados de espírito (BENNETT, 1986, p. 26). Essasica que crescia fora dos ambientes religiosos,
de acordo com Bennett (1986) era denominada música profana.
19
conhecimento, mas sem descaracterizar a música cristã. É desse período a
publicação A imitação de Cristo, a qual contava com “[...] exercícios e regras
de comportamento ao jovem cristão que deveriam ser cumpridos como
aperfeiçoamento da fé cristã (FONTERRADA, 2008, p. 49).
No Classicismo (1750 até por volta de 1800, no continente
europeu), a abordagem conceitual que regia as composições e o ensino
musical era a “[...] oposição aos ideais clássicos da ordem, do equilíbrio, do
autodomínio e da perfeição dentro de limites bem definidos [...]
(GROUT; PALISCA, 1994, p. 572). A música sintetizava os valores da
época como: os valores e medidas matemáticas associados à música,
aplicação da tonalidade substituindo os modos gregos, predominância da
melodia seguida por acompanhamento, valorização de elementos
dependentes da memória (tema, frases e fragmentos que se repetem). Nesse
contexto, a educação musical começa a contar com a criação dos métodos
ativos (BENNETT, 1986; FORNTERRADA, 2008).
Rousseau
6
(1712 - 1788, na França), Pestalozzi (1745-1827 -
Suíça) e Froebel
7
(1782-1852, na Alemanha) contribuíram para o ensino
musical infantil e para com o surgimento da educação musical. Tanto
Johann H. Pestalozzi quanto Jean-Jacques Rousseau se comprometiam
com a nova ordem social que estava se apresentando na Europa tais como:
mudança nas concepções pedagógicas, apoiada na rotina de atividades, e o
espírito científico (BEYER, 1993; FONTERRADA, 2008).
6
Jean- Jacques Rousseau, filósofo francês “[...] é o primeiro pensador da educação a apresentar
um esquema pedagógico especialmente voltado para a educação musical. De acordo com ele, as
canções devem ser simples e não dramáticas e seu objetivo é assegurar flexibilidade, sonoridade e
igualdade às vozes. As ações propostas por ele não incluem a leitura musical, que só deveria ocorrer
anos mais tarde” (FONTERRADA, 2008, p. 60).
7
Johann Heinrich Pestalozzi, pedagogo suíço, “[...] propôs um tipo de educação que tinha por base
a prática e a experimentação de cunho afetivo (FORNTERRADA, 2008, p. 61) e Friedrich Fröbel,
pedagogo alemão, o qual foi responsável pelo movimento dos jardins de infância defendia a inclusão
do canto e das outras artes na escola. Vislumbrava assegurar o desenvolvimento das crianças para
que elas se tornassem capazes de apreciar uma obra artística (FONTERRADA, 2008).
20
Durante os séculos XIX e XX (1810 até por volta de 1919), em
meio ao Romantismo na Europa, eram discutidas questões ligadas ao
desenvolvimento pquico e à concepção global de desenvolvimento da
criança. A música instrumental ganhou espaço, visto que o foco que se
dava à opera, na época, estava em declínio. Valorizava-se o retorno às
concepções ligadas à música antiga e ainda persistiam algumas convicções
iluministas (FONTERRADA, 2008). “A música romântica pode ser
definida como aquela que se desenvolveu no século XIX, contrariando os
princípios composicionais no Classicismo [...]” (FONTERRADA, 2008,
p. 66). Isso porque o Romantismo passa a primar pela “[...] liberdade, o
movimento, a paixão e a busca do inatingível” (GROUT; PALISCA,
1994, p. 572).
Nesse contexto do Romantismo, a ideia do virtuose ganha
destaque, tanto que esse período é representado por Frédéric Chopin
8
(Polônia, 1810 1849), Franz Liszt
9
(Hungria, 1811 1886) e outros
compositores e intérpretes virtuosos da época. Foi nesse período, para
Grout e Palisca (1994), que músicos amadores e profissionais se
diferenciaram. Nas palavras dos autores,
[a] distinção entre peritos (kenner) e amadores (liedhaber), já nítida no
século XVIII, acentuou-se mais à medida que se foi elevando o nível
da execução profissional. Num extremo encontramos o grande
virtuoso que fascina o público da sala de concertos; no outro, o
8
Pianista e compositor, estudou música desde a infância. Inovou nos aspectos harmônicos e
recursos técnicos do piano. Compôs mais de 147 obras entre concertos, sonatas, mazurcas, rondós,
baladas, prelúdios, noturnos, estudos, poloneses, valsas, variações, impromptus, etc (GROUT;
PALISCA, 1994; SADIE, 1994).
9
Compositor e pianista, recebeu suas primeiras aulas com o pai e aos 12 anos se consagrou como
artista notável. Também inovou na técnica pianística e nas questões de ordem teórica da música.
Sua obra estima-se em 70 canções, além de recitações e óperas, música coral, músicas orquestrais e
de câmara, música para piano como: rapsódias, estudos, valsas, baladas, etc. Também foi autor de
250 arranjos e transcrições (GROUT; PALISCA, 1994; SADIE, 1994).
21
conjunto instrumental ou vocal composto por vizinhos ou
conterrâneos, ou família reunida em redor do piano [...] (GROUT;
PALISCA, 1994, p. 576).
Com a figura do virtuose, houve a necessidade de formação desses
profissionais. Nesse contexto são criados o Conservatório de Paris, em
1794 e The Royal Academy of Music, em 1822 na Inglaterra. Porém não
foram as primeiras escolas de música, pois já existiam os modelos italianos
dos séculos XVI e XVIII, os quais foram criados para atender crianças órfãs
em regime de internato. Rapidamente esse modelo de escola se espalhou
por todo o mundo.
No Rio de Janeiro, em 1845 foi criado o Conservatório Brasileiro
de Música e, em São Paulo, em 1906, foi fundado o Conservatório
Dramático Musical. Essas instituições não tinham ligação com a escola
regular e, mais tarde, seu sistema educacional, baseado na concepção de
excelência técnica, foi contestado devido à valorização excessiva do talento,
deixando em segundo plano o desenvolvimento musical em uma
perspectiva mais global e alargada para todas as pessoas. Essas escolas
primavam pela formação do virtuose da mesma maneira como ocorria nos
conservatórios europeus, desde o início do Romantismo
(FONTERRADA, 2008).
No século XX Hermann Von Helmholtz (1821 1894,
Alemanha, era matemático, médico e físico), Carl Stumpf (1848 1936,
Alemanha, era filósofo e psicólogo), Georg F. Bernhard Reimann (1826 –
1866, Hanôver, era matemático), Carl Seashore (1866 – 1949, Suíça, era
psicólogo), Arnold Bentley (1913 – 2001, Reino Unido, era psicólogo da
música) e Jean Piaget (1896 – 1980, Suíça, era psicólogo) influenciaram a
área da música a partir de suas pesquisas oriundas de outras áreas, como a
Psicologia, mas que dialogavam com a música. Conceitos como o
22
desenvolvimento gradativo, interação, estágios de desenvolvimento, carga
hereditária e o início precoce do ensino musical eram temáticas abordadas
pelos cientistas citados. O ensino da música foi ampliado, e a formação do
virtuose deixou de ser a preocupação central. Independentemente da
manifestação do talento, o ensino de música foi incentivado para todos.
Para atingir o objetivo de musicalizar o maior número de
estudantes possível metodologias
10
diversificadas foram criadas por
educadores musicais como Émile Jacques-Dalcroze (1865 1950,
Hungria), Edgar Willems (1890 1978, Bélgica), Carl Orff (1895 1982
Alemanha), Zoltán Kodály (1882 1967, Hungria), Shinichi Suzuki
(1898 - 1998, Japão), Edwin Gordon (1927 2015, Estados Unidos) e
Keith Swanwick (1937, Inglaterra). Esses métodos são apenas alguns
dentre outros que existem e que foram criados para estimular e desenvolver
a musicalidade nas crianças e jovens (FONTERRADA, 2008; MATEIRO;
ILARI, 2012).
10
São metodologias ativas: o método Willems, o qual tem por base o paralelo entre a natureza, o
homem e a música. A relação entre sensibilidade sensorial, reação afetiva e consciência auditiva,
nesse método, são os responsáveis por levar o sujeito ao desenvolvimento da musicalidade. O
método Dalcroze, o qual tem por base para o desenvolvimento da musicalidade as sensações físicas
ligadas às auditivas, ou seja, som e movimento, integração entre ritmo e psicomotricidade. O
método Orff, o qual tem por base o desenvolvimento de vivências musicais significativas e o corpo
é considerado o ponto de partida para o aprendizado musical. O método Suzuki, o qual é uma
proposta educacional para o desenvolvimento do talento. Nesse método “[...] o talento não é fruto
do acaso, e nem uma forma de herança genética, mas sim consequência do estudo sistemático”
(ILARI, 2012, p. 187). O método Kodály, o qual tem por base a alfabetização e aprendizagem de
conteúdos musicais a partir da sensibilização e vivência musical. O cantar, improvisar e a apreciação
são pontos de partida importantes para a musicalização do sujeito. O método Gordon, o qual tem
por base a audiation, ou seja, a entrada para o universo musical se constitui da mesma maneira que
a aprendizagem da língua materna. Por essa razão, o contato e a vivência musical precisavam ser
intensos desde a mais tenra idade, precedendo o desenvolvimento da linguagem, e simultâneo a ele.
O autor construiu testes para acompanhar o desenvolvimento dos aspectos cognitivos ou sensoriais.
Para ele, o quanto antes investir no desenvolvimento da percepção, maiores serão as chances de a
criança galgar altos patamares de acuidade. A proposta metodológica de Swanwick consiste no
modelo em espiral (material, expressão, forma valor). Esse modelo parte do intuitivo até chegar ao
lógico e do individual para o geral no que diz respeito às experiências musicais do sujeito e sua
interpretação (FONTERRADA, 2008; MATEIRO; ILARI, 2012; KOGA, 2017).
23
A História possibilita analisar que em diferentes épocas houve a
manifestação do interesse pelo ensino de música. Porém, entre os séculos
XX e ao XXI, instaurou-se uma nova concepção a respeito da educação
musical, principalmente em relação ao talento musical. Até o momento,
áreas como a da Educação e da Psicologia abordam o talento musical muito
mais que a da música. Isso devido às marcas profundas geradas pelo
período romântico, no século XIX, na Europa, onde havia os conserva-
tórios especializados no talento musical. As discussões levantadas desde o
século XX ao século XXI focaram a democratização do ensino de música,
desconstruindo a ideia de que o ensino de música era apenas para pessoas
talentosas. Além disso, a escola regular pública se tornou o foco para o
desenvolvimento da educação musical, uma vez que a legislação a incluiu
como disciplina obrigatória (FONTERRADA, 2008).
No Brasil, especificamente, o ensino de música para todos foi
instituído a partir da Lei 11.769/2008, que sofreu modificações que
originaram a Lei 13.278/16. Porém, embora haja essas duas resoluções, a
educação musical está distante de ser acessível a todos os estudantes e,
também, a discussão a respeito do talento musical foi praticamente
anulada, mas essas crianças e jovens ainda continuam existindo nas escolas
e na sociedade brasileira. Embora a música seja uma área de muitas
possibilidades, a pessoa com talento, às vezes, necessitará de recursos
educacionais adaptados e planejamento diferenciado em termos didáticos.
Afinal, o talento musical pode exigir a transposição de grandes dificuldades
ou obstáculos internos e/ou externos da pessoa que o manifesta.
Diante de tudo que se mencionou sobre a Educação Musical em
âmbito histórico e internacional, cabe um questionamento: como a
educação musical brasileira se constituiu?
Os jesuítas foram os primeiros educadores musicais presentes no
Brasil colônia. Porém, foi a vinda de D. João VI e toda a família real, em
24
1808, que movimentou as atividades musicais e artísticas na corte
brasileira, situada no Rio de Janeiro. Todas as atividades eram ligadas à
Capela Real, que ficou, primeiramente, aos cuidados do Padre José
Maurício Nunes Garcia, de 1808 até 1811. No entanto, em 1811, o
compositor Marcos Portugal chega ao Brasil e, não somente contribui para
a reorganização da capela real, como impulsiona a música profana no Rio
de Janeiro. Porém, cabe destacar que a atividade musical não se concatenou
apenas dentro da igreja. No Teatro de Manuel Luiz também ocorriam as
atividades artísticas da corte. Em 1813, ocorreu a fundação do Teatro São
João, em decorrência de a corte portuguesa não desejar mais frequentar o
antigo teatro, devido à presença da classe burguesa emergente (AMATO,
2006; MARIZ, 2005; HOLLER, 2010).
Enquanto a família real esteve na corte, no Brasil, especificamente
no Rio de Janeiro, a música foi bastante incentivada e os compositores se
beneficiaram de oportunidades como bolsas de estudo na Europa. Carlos
Gomes foi contemplado por Dom Pedro II com uma bolsa de estudos,
com o compromisso de se aperfeiçoar e retornar para a corte, no Brasil,
trazendo inovações e ideias para a constituição de obras nacionais
(MARIZ, 2005).
Com a volta da família real para Lisboa/Portugal em 1821, os
incentivos à música perderam força. Nesse momento, Francisco Manuel
da Silva se tornou a única referência musical no Conservatório Brasileiro
do Rio de Janeiro (MARIZ, 2005; AMATO, 2006). A música profana
também declinou, com o agravante de que o Teatro de São João, no Rio
de Janeiro, incendiou-se em 1824, mas foi restaurado e reinaugurado em
1826. Nessa mesma época, em São Paulo foi fundada a Sociedade
Harmonia Paulista, em um período no qual famílias abastadas realizavam
recitais que contribuíam para a formação e projeção de muitos
instrumentistas e compositores (MARIZ, 2005).
25
Com a abdicação de Dom Pedro I, em 1831, a orquestra da Capela
Imperial, que existia na época, reduziu seu quadro de componentes de 100
para 27 e a ausência de escolas de música foi solucionada a partir do
aumento do número de professores privados. A música não era para todos,
apenas para uma parcela da sociedade, a elite. Diante das mudanças,
Francisco Manuel tornou-se importante para que a música nacional
pudesse ser preservada. Com a maioridade de Dom Pedro II, em 1840, a
situação das atividades artísticas foi se normalizando. Foi Francisco
Manuel o fundador do Conservatório do Rio de Janeiro. Em 1841 o
projeto foi aprovado por Dom Pedro II, a partir de discussão realizada na
Assembleia Legislativa do Império. O processo foi demorado, tanto que as
aulas somente iniciaram em 1848.
Com o avanço histórico da Primeira República em 1889 chegando
até 1906, mudanças no cenário musical ocorrem. Uma delas é a criação do
Conservatório Dramático de São Paulo instituição com princípios
pedagógicos pautados no Conservatório de Paris , que ofereceu padrões
artístico-pedagógicos para outras escolas especializadas em todo o Estado
de São Paulo, ainda se desenvolvendo. No entanto, somente a partir de
1920 ocorrem de fato as transformações no ensino de música no Estado.
Foi em 1923 que as escolas paulistas passaram a utilizar o método inglês
Tonic-sol-fa
11
criado em 1911 por Glover e aperfeiçoado por Curwen
(BEYER, 1993; AMATO, 2006).
Conforme as mudanças foram ocorrendo na área da música, de
acordo com informações disponibilizadas pelo Ministério da Educação,
11
Método inglês, o qual “o dó é fixado em uma nota de maior conveniência, proporcionando assim
uma capacidade de leitura relativa do aluno” (BEYER, 1993, p. 11). Na Alemanha foram
acrescentados símbolos manuais a esse método.
26
[o] ensino de música nas escolas brasileiras iniciou-se no século 19. A
aprendizagem era baseada nos elementos técnico-musicais e realizada,
por exemplo, por meio do solfejo. No fim da década de 1930, no
entanto, Antônio Sá Pereira e Liddy Chiaffarelli Mignone buscaram
inovações. Sá Pereira defendia a aprendizagem pela própria experiência
com a música; Chiaffarelli propunha jogos musicais e corporais e o uso
de instrumentos de percussão (BRASIL, 2008).
A efetivação do ensino de música na escola pública no Brasil foi
implementada entre às décadas de 1930 40, com a criação da
Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA), sob a
coordenação de Heitor Villa Lobos. Os princípios que regiam a SEMA
eram: disciplina, civismo e educação artística. Cresceu pelo país o uso do
método criado por Heitor Villa Lobos, o canto orfeônico
12
e, por essa
razão, tornou-se necessária a formação dos professores de música, a qual
passou a ser realizada, tempo depois, pelo Conservatório Brasileiro de
Canto Orfeônico, em 1942. Desde então, em São Paulo, na década de
1960 iniciaram-se os primeiros cursos de formação de professores de
música (AMATO, 2006; 2007).
Porém, em 1961 foi criada a Lei de Diretrizes e Bases nº 4024/61,
que instituiu a disciplina de Educação Musical, substituindo o Canto
Orfeônico, o que gerou consideráveis mudanças no cotidiano escolar da
época (AMATO, 2006).
Na década de 1970, com a Lei de Diretrizes e Bases nº 5692/71,
criada pelo Conselho Federal de Educação, os cursos de Licenciatura em
Educação Artística. Essa legislação englobava as linguagens artísticas
(música, dança, teatro e artes plásticas) e foi instituída como atividade
12
Método que objetivava o desenvolvimento do cidadão brasileiro e suas potencialidades. De cunho
nacionalista e cívico, esse método estimulava o canto coletivo e contribuía para a assimilação rítmica
e melódica de elementos ligados à cultura nacional, inclusive, folclóricos (AMATO, 2007).
27
obrigatória para 1º e 2º graus, não como disciplina. A formação de
professores de artes, em geral, logo passou a ser problemática no contexto
dessa lei, porque havia um predomínio da formação em educação artística
(artes plásticas e visuais). O aspecto positivo dessa lei foi a presença da
música na escola, porém ela não era considerada uma disciplina, mas sim
uma atividade, por isso a dificuldade enfrentada na formação desse
profissional, porque o papel da música e das artes, no geral, e dos
profissionais especialistas, não eram claros para atuação no ambiente
escolar.
Com a Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, essa situação se modifica,
porque a legislação passa a considerar que professores formados nas
linguagens artísticas (artes plásticas/visuais, dança, teatro e música), ou em
uma linguagem específica, poderiam atuar na educação básica, ou seja, os
legisladores procuraram contemplar as especificidades da formação do
professor nas áreas artísticas. Mesmo assim, as artes plásticas e visuais ainda
eram maioria (AMATO, 2006; FONTERRADA, 2008).
A Lei nº. 11.769/08, que alterou a Lei 9394/96 nas cláusulas
dedicadas à orientação do ensino de música, viabilizou o retorno do ensino
da música enquanto disciplina no currículo da educação básica de modo
não polivalente (um profissional responsável pelo ensino de todas as
linguagens artísticas), mas específico (profissional formado em educação
musical). Essa lei foi seguida por algumas instituições escolares públicas e
pela rede particular, mas não de forma geral e nem em todo o país.
(FONTERRADA, 2008).
Em 2016, houve uma mudança considerável no decreto de 2008,
o que tornou necessária uma alteração diretamente no § 6
o
do art. 26 da
Lei n
o
9.394, de 20 de dezembro de 1996, originando a Lei nº. 13.278/16,
que reconhece a existência das linguagens artísticas especificamente (artes
visuais, dança, música e teatro) e a obrigatoriedade de o currículo escolar
28
efetivamente incorporá-las (BRASIL, 2016), mas provoca certo retrocesso
no momento em que deixa em aberto a questão da formação do docente
na área da educação musical, o que abre precedente para que gestores de
políticas públicas pensem na polivalência como um recurso mais viável que
pensar em um especialista para cada linguagem artística.
O cumprimento da lei que legitima o ensino da música na rede
pública de ensino e até mesmo na rede privada ainda não ocorre em todas
as escolas. Caso uma criança ou jovem se interessem pelo estudo da música,
os pais ou responsáveis terão que investir financeiramente (mensalidades)
ou pleitear uma vaga em projetos sociais destinados ao ensino da música.
A esse respeito, Fonterrada (2008, p. 223 – 278) argumenta que:
[d]entro desse quadro, fica claro que as políticas públicas estão a cada
dia mais estreitamente dependentes das decisões políticas e
econômicas. [...]. Aqui também como em outras instâncias da vida
contemporânea, os limites se esvaem: já não existe uma distinção nítida
entre o econômico e o cultural. [...]. O RCN
13
e os PCN
14
lançados
pelo governo entre 1998 e 2000 certamente contribuem para que se
reflita a respeito da inserção da área na escola. No entanto, esse tempo
de ausência deixou marcas profundas no sistema escolar e na cultura
do país; os documentos governamentais não conseguem anular essas
marcas e só preenchem parcialmente as lacunas decorrentes de tantos
anos de exclusão.
Em meio à necessidade de implementação da educação musical que
está prevista em Lei, há outro problema: a identificação do talento musical.
Em diferentes épocas, pessoas dedicadas e motivadas à construção e
produção artística se faziam presentes, o que nos dias atuais não se
13
Referencial Curricular Nacional (RCN).
14
Parâmetro Curricular Nacional (PCN).
29
modificou. Ainda a sociedade conta com sujeitos talentosos em música,
mas esses acabam seduzidos pelas promessas de sucesso garantido propostas
pela mídia voltada ao entretenimento, como as rádios e emissoras de
televisão; podem também acabar convencidos do sucesso fácil, por
empresários do meio artístico, ou, simplesmente, estão invisíveis nas salas
de aulas brasileiras.
O talento musical pode se manifestar precocemente, de acordo
com Robinson (2015). Para a autora, a precocidade é a combinação de
fatores potenciais, funcionamento acelerado na internalização de
elementos culturais e seus significados, além de aspectos motivacionais que
mobilizam a criança de tenra idade
15
.
Para Winner (1996), as crianças precoces em música, especifica-
mente, apresentam memória musical, habilidade para improvisar e fascínio
pela teoria musical (tipos de notações e técnicas); podem apresentar
também habilidade precisa para cantar, compor e executar um
instrumento (performers). Para a autora, essas crianças são precoces,
apresentam fúria por dominar e fazem as coisas a seu modo.
Gama (2006) apresenta em seus estudos crianças de até dez anos
que realizam performances instrumentais, vocais ou composicionais na
qualidade técnica de um adulto. São crianças-prodígio, aquelas que
demonstram uma precocidade extrema em seu desenvolvimento. A autora
exemplifica apresentando o caso da violonista Midori Goto (1971), que
foi spalla da Orquestra Sinfônica de Berlin, em 1986, quando estava
com15 anos. Porém, aos 11 anos já havia se apresentado com a Orquestra
de Nova York em 1982.
Para Kirnarskaya (2004), o sujeito com habilidade musical
demonstra mecanismos psicológicos compostos por aspectos perceptivos
15
Tenra idade: dos bebês até 12 anos aproximadamente.
30
que compõem o chamado ouvido expressivo. São eles: timbre,
dinâmicas, articulação e acentuação. Para a autora, o talento para música
define-se como um alto potencial criativo, que produz e controla níveis
hierárquicos de elementos musicais, o que permite que o sujeito seja capaz
de combiná-los e manipulá-los por meio de um ouvido arquitetônico e
senso estético. Além disso, para a autora, o senso rítmico e o ouvido
expressivo são bases principais da musicalidade.
Willems (2001) enfatiza como centro da musicalidade as
percepções auditivas de ordem fisiológicas, afetiva e mentais, que, para ele,
culminariam no senso melódico, rítmico e timbrístico, bases importantes,
para ele, no que condiz à composição da musicalidade.
Haroutounian (2002) destaca outras habilidades e aponta que o
sujeito com talento para música pode apresentar imaginação, memória
musical, senso intelectual analítico, percepção, reprodução de melodias,
participação assídua em atividades musicais, desejo de dominar um
instrumento, sensibilidade rítmica, capacidade de identificação da textura
musical e habilidade para improvisar. A autora propõe o uso de testes
psicométricos para identificação e avaliação musical do sujeito, como os
testes de Edwin Gordon, os testes de criatividade de Paul Torrance, além
de testes próprios divulgados na obra Arts Talent ID: a framework for the
identification of talented students in arts (HAROUTOUNIAN, 2014).
Alencar e Fleith (2001) discutem que os sujeitos com habilidades
musicais podem apresentar: percepção (habilidade de distinguir entre sons
musicais); memória (habilidade de resgatar ritmos e sons ouvidos);
reprodução (habilidade de recriar); gosto (habilidade individual de escolha
por meio do senso de estética musical); e aptidão artística (habilidade de
expressão emocional e criativa na música realizada pelo próprio indivíduo).
31
Gainza (1988) destaca as seguintes habilidades manifestas que se
conectam com a área da música: sensorial, afetiva, motriz, estrutural,
estética, imitativa, interpretativa, autodidático, resiliência, adaptação e
verbalização de processos. Enquanto habilidades musicais, a autora destaca
o discernimento rítmico, melódico e timbrístico.
Gardner (1995) teorizou sobre as inteligências múltiplas
16
. Dentre
as inteligências, o autor aborda as características da inteligência musical.
Para o autor, tal sujeito apresenta como pontos centrais a habilidade de
discernir entre tons e ritmos; em um ponto mais secundário, ele enfatiza a
habilidade de reconhecimento e discernimento tímbrico.
Para Galvão e Ribeiro (2014), o sujeito que se destaca em música
manifesta uma habilidade elevada para adquirir e dominar a técnica e as
concepções teóricas da área. Além disso, apresenta senso estético e
capacidade para tocar uma peça musical, ao invés de praticá-la somente
executando nota após nota. É capaz de se dedicar à prática deliberada,
superando todas as dificuldades (técnicas, físicas, emocionais e outras) e
limites, por meio da resiliência, da motivação incomum e da superação.
Para os autores, esse sujeito permanece na área da música toda a sua vida
porque essa área é construída longitudinal. Para Galvão e Ribeiro (2014),
um performance levaria em média 10 anos para se tornar expert e um
compositor levaria em média 20 anos. Os autores enfocam, com base em
pesquisas, que esses 10 e 20 anos são mínimos, e não uma média, para a
consolidação do trabalho artístico.
As teorizações de Renzulli (2014) permitem observar que os
sujeitos talentosos em música se encontram em âmbito produtivo-criativo.
Diante disso, é importante que a criança talentosa viva oportunidade e
16
Fazem parte das inteligências múltiplas a inteligência linguística, lógico-matemática, espacial,
musical, naturalista, corporal-sinestésica, interpessoal e intrapessoal (GARDNER, 2001).
32
situações de engajamento e encorajamento, meios que permitam a
exploração do processo criativo. A superdotação produtivo-criativa,
como Renzulli (2014) a denomina, é resultante de aspectos da atividade e
do envolvimento humano, cuja ênfase está no desenvolvimento de
pensamentos, soluções, materiais e produtos originais, manifestados por
meio do comportamento, o que, propositalmente, irá impactar o meio
social.
Para Renzulli (2014), a superdotação produtivo-criativa significa
aplicar habilidades em áreas cuja problemática e estudo tenham relevância
pessoal e, assim, possam ser escalonadas em níveis desafiadores de
atividades investigadoras. O autor ainda destaca que as pessoas criativas e
produtivas passam de consumidoras a produtoras de conhecimento, foram
reconstrutoras de conceitos, com representação em todas as áreas do
esforço humano e, em alguns casos, foram reconhecidas como indivíduos
geniais.
Diante das perspectivas apresentadas constam, na bibliografia da
área da Educação, Psicologia, Música etc., instrumentos destinados à
mensuração do talento, inclusive musical. Os instrumentos do universo da
Psicometria testes padronizados para mensurar a inteligência e
habilidadesnão são recentes, pois existem desde Francis Galton (1869)
em Hereditary Genius, Dean Keith Simonton (1984) em Origins Genius,
James M. Cattell (1890) em Mental tests and Measurements, Alfred Binet
(1907) em The Mind and The Brain e Robert J. Sternberg (2005) em The
Theory of Successful Intelligence, mantendo-se até os dias atuais
(PASQUALI, 2013; VIRGOLIM, 2014).
Renzulli (2014) desenvolveu procedimentos de identificação,
avaliação e de intervenção capazes de contemplar dimensões do sujeito
para além da área acadêmica, e evidenciou fortemente a importância de se
identificar o indivíduo com superdotação produtivo-criativa. Para ele, é
33
preciso olhar para o modus operandi do sujeito com a finalidade de observar
o que o autor denomina de comportamento dotado. Esse
comportamento, para o autor, resultaria da intersecção de Três Anéis
17
,
juntamente com a interação personalidade e fatores ambientais. Também
propõe o Modelo de Enriquecimento para toda a escola (SEM), por meio
dos Tipos I, II e III (RENZULLI; REIS, 2014; RENZULLI, 2014;
RENZULLI, 2018). Freitas e Pérez (2012) adicionaram a esses o
Enriquecimento Tipo IV
18
.
Em função das concepções teóricas criadas por Joseph S. Renzulli,
ele e seus colaboradores construíram as Scales for Rating the Behavioural
Characteristics of Superior Students, publicadas na obra de Alonso, Benito,
Guerra e Pardo (2001). Renzulli e Reis (2014) construíram portfólios,
recursos e variados instrumentos disponibilizados nas obras The schoolwide
enrichment model: a comprehensive plan for education execellence e Think
Data, de Renzulli, Heilbronner e Siegle (2010).
Há outros autores que apresentam instrumentos e estratégias para
mensurar o talento. Cohen, Ambrose e Powell (2002) apontam que os
instrumentos de identificação e avaliação da precocidade e do talento
precisam contemplar uma base ampla, além de transcenderem os aspectos
culturais que ainda entravam os instrumentos padronizados. Por essa
razão, conhecer de maneira clara os elementos-base que compõem o
17
Habilidade acima da média: níveis elevados de pensamento abstrato (raciocínio lógico, verbal,
memória e relações espaciais); capacidade para adquirir conhecimento, técnica, além de habilidade
para executar uma ou mais atividade. Envolvimento com a tarefa: define-se por perseverança,
persistência, trabalho árduo, prática dedicada e autoconfiança; Criatividade: define-se por fluidez,
flexibilidade e originalidade de pensamento (RENZULLI, 2014).
18
Tipo I constitui-se de atividades gerais e exploratórias; Tipo II constitui-se no treinamento
em habilidades cognitivas, metacognitivas, metodológicas e afetivas; Tipo III investigação de
problemas reais; Tipo IV aprofundamento em determinada temática ou área de conhecimento
(FREITAS; PÉREZ, 2012; RENZULLI, 2018).
34
fenômeno seria algo imprescindível, mesmo este sendo multifacetado
como é.
Por isso, Benito (2003) recomenda e apresenta procedimentos de
mensuração, os quais são: nomeação, diagnóstico e/ou avaliação e
screening. De acordo com autora, o screening é uma varredura que permite
rastrear 10% da população com possível indicador de precocidade e
talento, em virtude da sua natureza de base ampla, conforme destacam
Cohen, Ambrose e Powell (2002).
Além disso, sua natureza permite um olhar inicial, fazendo com
que passem pelo crivo sujeitos com indicadores de talento, até mesmo
aqueles que aparentam ser talentosos, mas não o são, porém o que não
pode ocorrer é que sejam excluídos, nessa varredura, aqueles que de fato o
são (BENITO, 2003).
Stalnaker (1971, p. 164) já declarava que “[...] sabemos muito
pouco como identificar o talento criador e muito menos sobre seu
desenvolvimento adequado”. Diante disso, lançou um desafio às futuras
gerações dizendo que
[a]s conhecidas estórias de estudantes capazes devem ser desafiadas, se
quisermos processos mais eficientes. [...] Para descobrir o talento
precisamos iniciar novos e ousados métodos baseados numa teoria
sólida e aplicados com imaginação e engenho prático. Aventuras
particulares, como o Programa do Mérito,o devem temer
experimentar, tentar novos métodos, ir além das práticas estabelecidas
(STALNAKER, 1971, p. 165).
O desafio lançado por Stalnaker (1971) de modo algum
desqualifica as importantes descobertas e feitos realizados na área do
35
talento, inclusive musical. Questões a respeito da criação de novos
caminhos e de procedimentos originais dependem muito do propósito
daquele que está à frente de tal empreitada. Às vezes, retomadas podem
trazer mais respostas que tentativas frustradas de tentar uma novidade.
Pode também haver em uma replicação respostas mais satisfatórias do que
cada cientista criar seu próprio método para uma única pesquisa. Não se
trata de haver uma única verdade ou um único caminho, mas talvez
existam muitos caminhos e possibilidades, inclusive simples e óbvias.
Mackworth (1971) é uma outra autora que enfatiza, em seus
estudos, o conceito de originalidade de busca a horizontes desconhecidos.
Marckworth (1971, p. 219),
sintetiza, depois de revisão bibliográfica, que
os autores pesquisados concluíram que,
[...] depois de analisar cuidadosamente mais de 60 das principais
invenções do século XX. Verificaram uma tendência de originalidade
revelar-se em áreas muito diferentes do próprio campo do inventor. O
telefone de ligação automática foi inventado por um empresário de casa
funerária. O inventor da xerografia foi um advogado. [...] A
especialização pode ter prejudicado tanto suas habilidades inventivas,
que hesitam em apresentar suas idéias que excedem seus próprios
assuntos.
A partir das reflexões provocadas por Stalnaker (1971) e
Mackworth (1971), é possível refletir sobre o propósito, não
necessariamente de busca da originalidade em si, mas de retornar às
experiências realizadas pela ciência ao longo da História e, mediante
retomada e replicações, encontrar possibilidades e estratégias que não
desconsiderem o passado, a tradição e, tampouco, deixem de considerar as
transformações atuais pautadas no advento da acessão tecnológica. Não se
36
trata de releitura ou adaptações ou nova versão, mas, a partir da síntese,
olhar um diferente ângulo do objeto com a ajuda de uma metodologia,
segundo Stalnaker (1971, p. 165), fundamentada em uma “teoria sólida”.
Nesse conjunto de reflexões históricas, foi possível encontrar o método
psicofísico de comparação por pares, associado à técnica para screening.
O todo psicofísico
19
possibilitou apreender e analisar estímulos
observáveis e passíveis de mensuração. Tais estímulos são aqueles de que
“[o] mundo externo está repleto [...]” (MANNING, 1974). Trata-se de
objetos subordinados à percepção. Por isso, Manning (1974, p. 02) teoriza
que “[...] serão estímulos para um determinado sujeito, apenas quando
percebidos”. Então, aqui se instaura um problema: como isolar um
estímulo, de tal maneira que ele meça aquilo que de fato foi elaborado para
medir?
Roederer (2002, p. 29) sugere um caminho, no qual
[m]uitas sensações podem ser classificadas em tipos mais ou menos
definidos (as chamadas qualidades sensoriais, se forem causadas pelo
mesmo órgão de sentido) e podemos citar como exemplos o fato de
que as pessoas se relacionam umas com as outras em termos de altura,
volume, qualidade tonal, consonância etc., [...] duas sensações
pertencentes ao mesmo tipo, experimentadas uma após a outra, podem
em geral ser ordenadas pelo indivíduo [...].
Evidentemente o método psicofísico tem suas limitações. Como
não é possível mensurar um fenômeno por completo, o método permite
apreender parte do objeto. Nesse sentido, houve respaldo teórico em
Teplov (1966), Haroutounian (2002) e Kirnarskaya (2004), os quais
19
O Estudo 3 traz a definição e explicações sobre o método psicofísico.
37
discutem as diferentes nuances do talento musical, sendo duas delas a
sensorialidade e a percepção.
Percebeu-se, então, a necessidade de criação de um instrumento
que servisse a esse método. Por isso, Benito (2003) e Borland e Wright
(2004) são bases nesta tese, por apresentarem a técnica para screening, a
qual se caracteriza por uma varredura ou mapeamento. Diante disso, com
base em Pasquali (2010), a construção do Protocolo para Screening de
Habilidades Musicais (PSHM) foi realizada de acordo com as etapas
apresentadas na Figura 1.
Figura 01 planejamento de construção do PSHM
Fonte: Do autor.
Para selecionar as dimensões, tornou-se necessário o
aprofundamento em obras de autores como Seashore (1938), Teplov
(1966), Gordon (2000), Haroutounian (2002) e Kirnarskaya (2004) e
outros. Todos eles teorizam sobre as dimensões percepto-sensoriais e
38
rítmicas. Além disso, exceto Kirnarskaya (2004), todos os demais
construíram escalas padronizadas, testes psicométricos, entrevistas,
questionários ou protocolos de observação.
Nesse contexto, o PSHM é construído, mas é preciso destacar as
contribuições de Rubinstein (1967) e Sloboda (2008), os quais permitiram
reflexões a respeito da elaboração de rotas padronizadas para rastreamentos
dessa natureza e os objetivos de se investir na designação de sujeitos com
tais atributos. A conclusão, diante disso, fundamentou-se em Gordon
(2000, p. 395). Para o autor, “[...] o mais importante, no uso dos testes, é
a melhoria da formação. A atribuição de classificação tem muito menos
relevância”. Ademais, “[p]ara se compreender como as crianças aprendem
música e a melhor forma de professores e pais as poderem guiar e educar
musicalmente, é necessário perceber o papel importante da aptidão musical
na aprendizagem e no ensino da música” (GORDON, 2015, p. 17).
O PSHM, nesse contexto, foi criado de modo impresso e virtual,
objetivando atender as demandas atuais em relação à educação
especializada para o desenvolvimento do talento musical, inclusive porque
o sujeito com talento integra a educação especial.
Por tudo que foi mencionado, se as escolas colaborassem com o
rastreamento do talento musical e encaminhassem os estudantes
identificados para avaliações multimodais ou projetos e instituições
extraescola (escolas especializadas em música) ou permitissem o
desenvolvimento de atividades musicais intraescola (adaptações
curriculares e agrupamentos), conformem orientam Renzulli e Reis
(2014), os estudantes talentosos poderiam ser melhor acompanhados e
atendidos em suas necessidades educacionais.
Ao pensar sobre a etapa de identificação do talento musical no
ambiente escolar, uma questão se instaura: um screening de habilidades
39
musicais construído para a realidade brasileira, para o ensino fundamental,
anos iniciais, de acordo com o método psicofísico de comparação por
pares, daria conta de realizar um mapeamento, revelando, de modo inicial,
casos de talento musical?
Com base nos estudos de Cohen, Ambrose e Powell (2002), Benito
(2003) e Borland e Wright (2004), a técnica para screening constitui-se de
um processo inicial de identificação, que permite rastrear um número
maior de sujeitos com indicativos de talento. Por essa razão, essa técnica
possibilita que sujeitos talentosos não passem despercebidos devido à
amplitude do rastreamento. Não há problema se houver passado pelo
rastreamento uma pequena parcela de sujeitos que não são talentosos
porque, posteriormente, todos que forem rastreados deverão passar pelo
procedimento de avaliação. Essa técnica se torna efetiva quando não há um
número grande de falsos positivos e negativos.
Diante de tudo, o objetivo geral da pesquisa de que resulta esta tese
foi construir um instrumento para screening (mapeamento) de habilidades
musicais capaz de rastrear, de modo inicial, o talento musical.
A tese foi estruturada em três estudos. Essa escolha se baseou na
formação musical da pesquisadora e seu contato com textos musicais
(partituras), os quais denominam-se: sonatas, suítes, concertos e
sinfonias
20
.
Diante dessa estrutura, a tese conta com esta introdução, que
contribui para a contextualização, justificativa da temática e a estrutura da
tese. No Estudo 1, há um levantamento bibliográfico de produções a
20
Diferentes gêneros, os quais constituem-se de várias partes dentro de uma mesma obra. As partes
se relacionam entre si e geralmente não são executadas sozinhas. Em um recital, por exemplo, as
pessoas têm por protocolo não aplaudir entre um movimento e outro (ou entre uma parte e outra),
por se tratar de uma única peça, ou seja, o fato de terminar uma seção não significa que a peça se
encerrou. Esses gêneros podem se constituir desde duas partes ou mais.
40
respeito do talento musical; no Estudo 2 são descritos os procedimentos
de seleção das dimensões (timbre, altura, melodia, intensidade, harmonia,
agógica, duração e padrão-rítmico) e no Estudo 3, há dois relatos: das
etapas de criação e construção do Protocolo para Screening de Habilidades
Musicais (PSHM), e da aplicação desse instrumento em oito escolas
(públicas e privadas) do Ensino Fundamental, anos iniciais, do Estado de
São Paulo, bem como dos resultados obtidos e as análises desse material
sob várias óticas estatísticas. Concluindo, m-se as considerações finais
com a síntese a respeito da presente tese.
A pesquisa de que resulta esta tese foi elaborada para tornar possível
a instauração de um diálogo inicial entre as áreas da Música e da Educação,
especificamente a área da educação especial. O fato de realizar a defesa
desta pesquisa na área da Educação consiste em vislumbrar futuros
diálogos que possam sensibilizar os pedagogos sobre a importância da
música na escola e, principalmente, da parceria e do papel do professor
especialista na identificação do talento musical. A música não é a única
prioridade, todas as linguagens artísticas (teatro, dança e artes plásticas e
visuais) poderiam compor a grade curricular da escola básica.
Embora os músicos tenham receio a respeito da identificação do
talento, eles continuam formando estudantes/alunos com potencial para
galgar nível profissional na área da música. Porém, um dos maiores
problemas na atualidade é a dificuldade do acesso dos estudantes aos
especialistas da área da música. Portanto, como pensar em acesso para
todos que desejam estudar música, se esta não é trabalhada em todos os
ambientes escolares, ficando centrada nas instituições extraescola e, para
alguns, vinculada ao entretenimento e atividades religiosas?
A educação musical deveria ser parte da educação e da cultura
brasileira e, de modo transdisciplinar, extrapolar os muros das escolas, por
meio de seus estudantes talentosos, a fim de atingir diferentes
41
lugares/comunidades, possibilitando o acesso de todos os indivíduos da
sociedade à educação musical e ao estudo profissional especializado dos
instrumentos musicais, estudo vocal, composição, canto e arranjo musical.
43
Capítulo 1
Mapeamento da produção científica sobre o talento musical
O talento é como o atirador, que acerta um alvo que os demais
não o podem; o gênio é como o bom atirador, que acerta um
alvo que os demais nem conseguem ver: eis por que estes se
inteiram do caso apenas mediatamente, portanto tarde, [...]
(SCHOPENHAUER, 2015, p. 469).
Para compreender os aspectos envolvidos na constituição do
conceito de talento musical, foi necessário, um mapeamento da produção
científica, especialmente em âmbito brasileiro, que tratasse desse assunto,
analisando os contextos e os sujeitos/autores que compuseram as discussões
e teorizações.
Como o presente livro tem como ponto central a criação do
Protocolo para Screening de Habilidades Musicais (PSHM), a construção
de um instrumento padronizado requer que se conheça o objeto ou o
fenômeno que se pretende mensurar, conforme sugere Pasquali (2010).
Posteriormente, torna-se importante conhecer suas propriedades e
atributos, porque, a depender de suas variáveis, o instrumento padronizado
pode ser viável ou não.
Diante dessa questão, o Estudo 1 apresentará autores que
fundamentam o conceito de talento, além de descrever a trajetória da
revisão bibliográfica realizada, desde o início do século XX, com o objetivo
44
de aprofundamento no conhecimento sobre o talento musical, objeto de
investigação deste livro.
Talento musical: que reflexões podem ser feitas?
Epistemologicamente, conceitos como “gênio”, “criativo”,
“eminente”, “talento”, “prodígio”, “precoce”, “habilidoso” “excepcional”,
“superdotado”, “dotado”, “experts”, “alto potencial” ou “altas habilidades
foram se consolidando como forma para designar aqueles sujeitos que se
destacam por suas habilidades, inteligência, criatividade, ou seja, aqueles
que se sobressaem em meio a seus pares. Esses termos respaldaram-se desde
concepções divinas/espirituais, associação com a concepção de dom,
teorizações ligadas às neuroses, base biológica, hereditariedade/genética,
até concepções baseadas no desenvolvimento adquirido sistematicamente
(FRIEDMAN; ROGERS, 1998). Desde eno, essa temática se apresenta
desafiadora e complexa, e está distante de ser resolvida (VERNON, 1971),
dada a sua complexidade.
Desde os gregos e romanos, o fenômeno do talento vem sendo
observado e discutido, mas inicialmente o foco não era esse. Os esforços se
centravam na compreensão da palavra “gênio”, segundo Friedman e
Rogers (1998) e Robinson e Clinkenbeard (2008). A princípio a
genialidade foi compreendida como algo sobrenatural ou divino, devido à
capacidade criativa elevada e inovadora do gênio, mas também como algo
resultante de uma desordem, neurose ou loucura (FRIEDMAN;
ROGERS, 1998). Cada época, até chegar ao século XX, deu à genialidade
e ao talento ênfase na concepção de dom ou de desenvolvimento.
Já no século XX, Lev S. Vygotsky (1929 apud DELOU; BUENO,
2001) também teorizou sobre a genialidade resultar de desordem. Embora
45
os objetos de pesquisa desse autor tenham sido outros, o materialismo
histórico dialético, Vygotsky (1929 apud DELOU; BUENO, 2001)
contribuiu conceituando genialidade como um
[...] grau superior de talento, que manifesta-se em elevada criatividade,
tendo extraordinário significado histórico para a vida da sociedade. A
genialidade pode surgir nas mais diversas áreas da criatividade humana-
ciência, arte, tecnologia, política. A genialidade distingue-se do
Talento, principalmente, pelo nível e características de sua obra: os
gênios constituem-se em “pioneiros” de uma nova época histórica em
seu campo. [...] A genialidade, assim como o talento, raramente se
revela concomitantemente em todos os aspectos [...] (VYGOTSKY,
1929 apud DELOU; BUENO, 2001, p. 99
21
).
Vygotsky (1929 apud DELOU; BUENO, 2001, p. 99) destaca um
aspecto importante ao dizer “A genialidade, assim como o talento,
raramente se revela concomitantemente em todos os aspectos [...]”. Por
essa razão, é possível inferir que há muitas maneiras para que um sujeito
manifeste seu talento, o que torna um desafio identificar quem seriam essas
pessoas capazes de mudar os rumos da história, assim como conhecer todos
os elementos que compõem a genialidade, mesmo porque há elementos
que irão ser revelados ao longo da vida. Portanto, a genialidade, em sua
complexidade conceitual, se apresenta como um desafio para aqueles que
pretendem compreendê-la.
De modo mais específico, a genialidade apresenta dois atributos
importantes para Mackworth (1971), os quais determinam a originalidade
21
Delou e Bueno (2001) apresentam a tradução do texto de Lev. S. Vygotsky, o qual conceitua
genialidade. Trata-se de um verbete do Tomo VI da Grande Enciclopédia Médica, colunas nas
páginas 612 a 614, editado pela Cia, Enciclopédia Soviética, em 1929, Moscou. A tradução
juramentada foi realizada pelo tradutor público Mihail Iwanow.
46
da produção dos gênios. o eles: a solução e a formulação de problemas.
Também para o autor, os gênios dão início a um novo período. Eles são
pessoas à frente de seu tempo e suas obras, em alguns casos, atemporais.
Para Mackworth (1971), a solução de problemas é algo mais
comum, e essa perspectiva tem movido e estimulado a sociedade na criação
de ferramentas, utensílios ou recursos que são considerados relevantes,
dada a competitividade e as relações capitalistas. Segundo o autor, formular
um problema, além de mais difícil que pensar a sua solução, é aquilo que
permite novos conceitos e perspectivas, além de necessitar de tempo para
que reflexões possam ser feitas (MACKWORTH, 1971). Por tudo isso, os
gênios são considerados capazes “[...] de localizar a necessidade de um novo
programa baseado numa escolha entre programas existentes e programas
futuros” (MACKWORTH, 1971, p. 229).
A capacidade dos gênios também é um tema de teorização para
muitos estudiosos de diferentes áreas e épocas, como a Filosofia, a exemplo
de Schopenhauer (2015). Para ele, o gênio “[...] contempla outro mundo,
diferente de todos os dos outros [...]” (SHOPENHAUER, 2015, p. 451).
O autor exemplifica dizendo que “[...] se o ser humano normal consiste
em 2/3 de vontade e 1/3 de intelecto, o gênio, ao contrário, consiste em
2/3 de intelecto e 1/3 de vontade” (SHOPENHAUER, 2015, p. 453).
Por isso, para ele, o intelecto “[...] não passa de um instrumento a serviço
da vontade” (SCHOPENHAUER, 2015, p. 476).
Ainda para Schopenhauer (2015), características como a fantasia,
imaginação e o acaso seriam “[...] ferramentas indispensáveis do gênio”
(SCHOPENHAUER, 2015, p. 454). Por isso, para ele, os gênios
trabalham com exemplares até mesmo defeituosos de sua obra e os lapidam
sem tempo específico ou regular, diferentemente do talento, que se
nortearia por uma certa racionalidade e se alinha a uma determinada
47
necessidade e audiência conforme a época na qual o sujeito talentoso vive
(SCHOPENHAUER, 2015).
O TALENTO consegue realizar o que ultrapassa a capacidade de
realização, mas não a de apreensão dos demais: por isso encontra de
imediato os seus apreciadores. Ao contrário, a realização do GÊNIO
vai além não apenas da capacidade de realização, mas também de
apreensão dos outros: por isso não se dão conta dele de imediato. O
talento é como o atirador, que acerta um alvo que os demais não o
podem; o gênio é como o bom atirador, que acerta um alvo que os
demais nem conseguem ver: eis por que estes se inteiram do caso apenas
mediatamente, portanto tarde, e até mesmo o aceitam só de boa-fé
(SCHOPENHAUER, 2015, p. 469, grifos do autor).
Para Solomon (1987), a origem dos gênios vem sendo discutida
em debates filosóficos há mais de 2500 anos, tendo como precursor Platão,
mas ganhou destaque a partir das discussões e criação de recursos e
estratégias de mensuração das capacidades humanas pela área da
Psicologia, a partir das contribuições de Galton (1892) e Terman (1916)
(SOLOMON, 1987). Nesse cenário histórico, é preciso acrescentar as
contribuições de Binet (1916) e Stanford (TERMAN; ODEN, 1951),
dois dos precursores do estudo da mensuração da inteligência.
Witty (1951) também discutiu que o termo “gênio” começou a ser
explorado no século XVII e XVIII, mas se expandiu no início do século
XX. Os estudos de Galton (1869) trouxeram à tona essa questão com a
publicação Herediditary Genus.
Para Bueno e Ricarte (2017, p. 38), as publicações oriundas do
início do século XX, voltadas à mensuração psicométrica como os testes de
inteligência, vislumbravam discutir que
48
[...] os processos de avaliação nasceram em função de necessidades
sociais e, consequentemente, com o compromisso de ajudar a
sociedade a fazer escolhas menos permeadas por vieses de
interpretações pessoais dos avaliadores e baseadas em condições de
equanimidade [...].
O conceito de genialidade, na sua origem, ligou-se mais facilmente
a concepções de divindade que à natureza científica, tornando-se polêmico
desde o século XX perpetuando até o XXI, inclusive na América. As
incertezas a respeito do conceito de inteligência até que ponto ela se
correlaciona com os elementos que determinam o talento do sujeito? —, e
o uso inadequado e as limitações na mensuração dos testes padronizados
provocaram críticas que, até hoje, no século XXI, perpassam a comunidade
científica dedicada a essa temática (GARDNER, 1996a; RENZULLI,
2014)
Nesse contexto histórico, Solomon (1987) discute um importante
ponto que pode ser associado à questão de Gardner (1996a, p. 19), “[...]
porque nós queremos conhecer, quais são as restrições do conhecimento,
e quais são os limites do conhecimento científico sobre o conhecimento
humano?” Ainda cabe acrescentar: qual é a origem da genialidade? O que
a constitui? A esse respeito Solomon (1987) conclui que
[s]e a genialidade provier da genética, uma meritocracia dificilmente
será mais justa que o direito divino dos reis; isso também mitifica a
superioridade inata. Se a genialidade resultar do trabalho, as pessoas
brilhantes hão de merecer a glória e a riqueza que angariam. A
perspectiva comunista diz que qualquer um pode ser gênio se
simplesmente trabalhar para tanto; a perspectiva fascista propõe que os
gênios inatos são uma espécie diferente do resto da humanidade. Muita
gente fica aquém do seu potencial por falta de disciplina, mas uma
49
visita a uma mina de carvão demonstra de modo cabal que o trabalho
árduo por si só não forma gênios nem garante riqueza. A história da
inteligência excepcional não é menos política que a história da
deficiência intelectual ou a da doença mental (SOLOMON, 1987, p.
337).
Solomon (1987), ao mencionar que “[a] história da inteligência
excepcional não é menos política que a história da deficiência intelectual
ou a da doença mental” (SOLOMON, 1987, p. 337), sinaliza que tanto a
área do talento quanto a da deficiência precisaram travar batalhas políticas
na busca pelos seus direitos. Isso vem ocorrendo desde o século XX em
perspectiva mundial. Atender os direitos da pessoa talentosa bem como
dos deficientes m se tornado um desafio moderno da sociedade do século
XXI. O preconceito e estigmas ainda perpetuam e a legislação ainda não é
atendida em sua completude. Por isso, Solomon (1987) encerra sua
discussão sobre a genialidade da seguinte maneira: “[c]orrigir um
preconceito contra a genialidade é uma responsabilidade social em parte
porque a maioria das realizações depende de um contexto social [...]”
(SOLOMON, 1987, p. 382). Para ele, “[...] a genialidade é um rótulo que
só se pode afixar adequadamente depois de um tempo considerável [...]”
(SOLOMON, 1987, p. 383). Para o autor,
[n]ós ajudamos os deficientes na busca de um mundo mais humano e
melhor; devemos abordar a genialidade com o mesmo espírito. A
comiseração impede a dignidade das pessoas deficientes; o
ressentimento é um obstáculo paralelo para as pessoas de enorme
talento. Tanto a comiseração quanto o ressentimento são
manifestações de nosso medo de gente que é radicalmente diferente de
nós (SOLOMON, 1987, p. 383).
50
Muitos mitos ainda pairam sobre a concepção de gênio, os testes
padronizados e psicométricos parecem gerar ainda incômodo sobre em que
momento seriam melhor aproveitados ou se seria mais sensato seu
abandono completo em procedimentos de avaliação de sujeitos talentosos.
Diante dos autores apresentados, o termo gênio seguirá rodeado de
questionamentos, e a forma de sua apreensão também. Então, ainda é
possível falar em genialidade em pleno século XXI? Que concepções a
sociedade contemporânea tem sobre eles?
Em meio a rumores e mitos em torno da genialidade, há um outro
termo, denominado “superdotação” (giftedness
22
), teorizado por,
inicialmente, Galton (1892) e Terman et al. (1926). De acordo com os
autores, o termo foi teorizado em decorrência da necessidade de tornar o
estudo da temática mais racional e menos ligado às questões de divindades
e crenças. Outro fator foi o olhar que se deu à criança pequena. A
precocidade intelectual se tornou foco de atenção, além da possibilidade
de treinamento, inclusive, desde a infância. O termo “gênio”, quando
utilizado para designar crianças, se tornava algo denso demais e gerava
ainda maiores instabilidades, por isso, o surgimento do termo
“superdotado” como uma forma de adequar a designação às crianças, de
modo científico e menos sobrenatural.
Galton (1892), possivelmente, desejava se afastar das concepções
místicas, religiosas, sobrenaturais e, especificamente, relacionadas à
loucura, aspectos que permeavam o conceito de gênio. Tomado pela
22
No dicionário Webster’s (HOUAISS, 2007) não consta o termo giftedness somente Gift, a sua raiz
etimológica. O significado consiste em: doação, presente, talento, dom; na condição de verbo:
dotar, agraciar, dar de presente. Flexionando o verbo no passado Gifted, o significado que se
estabelece, de acordo com o dicionário, é: talentoso, dotado. Em português, como se pode encontrar
nos textos de Renzulli (2004; 2014; 2018), a palavra giftedness é traduzida em português como
superdotação, observa-se o verbo gift + ed +ness.
51
influência da obra de Charles Darwin
23
, Galton (1892) inicia seus estudos
e experimentos com base nas concepções de evolução, hereditariedade e
habilidades naturais do sujeito. Para ele, as habilidades eram adquiridas de
nascença e, em termos de humanidade, havia uma evolução que as
melhorava, conforme a evolução da espécie. Como ele tinha essa
concepção de habilidades inatas, destacou em seus estudos a importância
de olhar para a primeira fase da vida dos sujeitos considerados por ele
extraordinários. Se estimulados, poderiam melhorar ainda mais suas
habilidades. Tudo isso está registrado na obra Hereditary Genius
(GALTON, 1892). Nas palavras do autor,
[e]m conclusão, desejo enfatizar novamente o fato de que a melhoria
dos dons naturais das gerações futuras da raça humana está, em grande
parte, embora indiretamente, sob nosso controle. Podemos não ser
capazes de originar, mas podemos orientar. Os processos da evolução
estão em atividade constante e espontânea, alguns avançando para o
mal, outros para o bem. Nossa parte é procurar oportunidades para
intervir, verificando o primeiro e dando livre jogo para o último.
Devemos distinguir claramente entre o nosso poder neste respeito
fundamental e o que também possuímos de melhorar a educação e a
higiene. Espera-se sinceramente que as investigações sejam cada vez
mais direcionadas a fatos históricos, com o objetivo de estimar os
possíveis efeitos de uma ação política razoável no futuro, elevando
gradualmente o atual padrão miseravelmente baixo da raça humana
àquele em que as Utopias na terra dos sonhos dos filantropos pode
tornar-se possibilidades práticas (GALTON, 1892, p. 07, tradução
nossa
24
).
23
1809 a 1882, biólogo inglês que teorizou sobre a teoria da evolução.
24
In conclusion I wish again to emphasise the fact that the improvement of the natural gifts of
future generations of the human race is largely, though indirectly, under our control. We may not
be able to originate, but we can guide. The processes of evolution are in constant and spontaneous
activity, some pushing towards the bad, some towards the good. Our part is to watch for
opportunities to intervene by checking the former and giving free play to the latter. We must
52
Embora Galton (1892) tenha sido precursor desse olhar mais
científico para a genialidade focando o dom (gift), foram Terman et al.
(1926), segundo Witty (1951), que desdobraram essa concepção,
corroborando as teorizações galtonianas. Nas palavras de Witty (1951), a
“[a]tenção às crianças superdotadas foi estimulada pela publicação de
Galton, Hereditary Genius, em 1869. Terman et al. (1926) acreditaram
naquele livro e fizeram começar uma era de forte interesse na diferença
individual” (WITTY, 1951 p. 2, tradução nossa
25
).
Terman et al. (1926) justificaram seu interesse pelo tema a partir
de quatro tópicos. Primeiramente porque, segundo ele e seus
colaboradores, havia uma concepção mística corrente sobre os gênios, os
quais eram considerados sobrenaturais ou seres movidos por forças que não
eram passíveis de explicação. Lewis Terman desejava romper com essas
queses ligadas a divindades, para trazer o assunto para algo mais
racionalmente explicável. O segundo tópico consistia na ligação da
precocidade intelectual com patologias. O terceiro, era configurado pelo
espírito democrático crescente na Europa do século XX, que vislumbrava
apreciar as diferenças entre os sujeitos, inclusive por seus dons e,
finalmente, o quarto tópico era a preocupação com aspectos de natureza
biológica, genética, psicológica e educacional, porque pouco se sabia sobre
distinguish clearly between our power in this fundamental respect and that which we also possess
of ameliorating education and hygiene. It is earnestly to be hoped that inquiries will be increasingly
directed into historical facts, with the view of estimating the possible effects of reasonable political
action in the future, in gradually raising the present miserably low standard of the human race to
one in which the Utopias in the dreamland of philanthropists may become practical possibilities
(GALTON, 1892, p. 07).
25
Attention to gifted children was stimulated by the Publication in 1892 of Galton’s Hereditary
Genius. Terman belives that this book the beginning of na era of Strong interest in individual
diferences (WITTY, 1952, p. 2).
53
essas questões. Nas palavras de Terman et al. (1926, p. 06, tradução
nossa
26
),
[o]s problemas do gênio são principalmente três: sua natureza, sua
origem e seu cultivo. Este volume está preocupado principalmente com
a natureza do gênio, na medida em que isso é indicado por traços
mentais e físicos de crianças intelectualmente superiores. Sobre a
origem de tais crianças, tem apenas poucos fatos de natureza bastante
geral para apresentar, pois até agora não foi possível fazer um estudo
minucioso da hereditariedade de nossos sujeitos. Sobre a educação dos
superdotados, espera-se que os dados apresentados ofereçam uma luz
considerável, já que o procedimento educativo para ser sensato deve
sempre ser baseado em uma análise da matéria-prima com a qual lida.
Antes da presente investigação ser realizada, nenhum grande grupo de
crianças superdotadas havia sido estudado.
Terman et al. (1926, p. 6, tradução nossa
27
) estão convencidos e
concluem “[a]té que ponto o gênio pode ser criado ou destruído, certo ou
errado, o treinamento é totalmente desconhecido”. Isso porque, para eles,
são necessárias mais pesquisas que permitam analisar o impacto do
treinamento.
De acordo com Witty (1952), no início do século XX, testes de
inteligência foram utilizados na Califórnia, Ohio e em outros estados
norte-americanos com a finalidade de rastrear as diferenças de habilidades
26
The problems of genius are chiefly three: its nature, its origin, and its cultivation. This volumeis
concerned primarily with the nature of genius, insofar as this is indicated by mental and physical
traits of intellectually superior children. On the origin of such children it has only few facts of rather
general nature to present, for it has thus far not been possible to make a thoroughgoing study of
the hereditary of our subjects. On the education of the gifted it is hoped that the data presented
throw considerable light, since educational procedure to be sound must always be based upon an
analysis of the raw material with which it deals. Before the present investigation was undertaken,
no large group of gifted children had ever been studied (TERMAN et al., 1926, p. 6).
27
To what extent genius can be created or destroyed by right or wrong training is entirely unknown
(TERMAN et al. 1926, p. 6).
54
dos estudantes. De 1920 até 1930, foi concedido aos superdotados o
direito à aceleração, enriquecimento ou ajustes no currículo para adequá-
lo às necessidades educacionais dos estudantes superdotados.
Bristow, Craig, Hallock e Laycock (1951) discutiram o conceito
de superdotação (giftedness), em meados do século XX. O primeiro registro
do termo ocorreu a partir do registro no livro da Associação Americana de
Superdotação, algo que representou a concepção do período sobre a
superdotação (giftedness). Esses autores mostram como nesta época a
superdotação era compreendida. Na concepção destes autores,
[a] superdotação mostra-se na posse de um alto nível de inteligência
geral, conforme medido pelos testes tradicionais. Ou pode ser
caracterizada por habilidades especiais de alta ordem que não estão
necessariamente associadas a um alto quociente de inteligência. Em
qualquer programa relacionado à identificação de crianças
superdotadas, portanto, é importante desenvolver métodos de detecção
de indivíduos de alta capacidade intelectual, bem como aqueles que
exibem dons (gift) especiais em áreas como artes, música, mecânica,
ciências, relações sociais, liderança e organização (BRISTOW;
CRAIG; HALLOCK; LAYCOCK, 1951, p. 10, tradução nossa
28
).
Anos depois, na década de 60, Renzulli (2004; 2014) começa a
teorizar sobre a educação para superdotados (gifted education), mas com
uma diferença dos autores anteriormente mencionados e outros
28
Giftedness many show itself in the possession of a high level of general intelligence as measured
by tradicional tests. Or it may be characterized by special abilities of a high order which are not
necessarily associated with a high intelligence quotient. In any program concerned with the
identification of gifted children, therefore, it is important to develop methods of detecting
individuals of high intellectual ability as well as those who exhibit special gifts in such areas as the
arts, music, mechanics, science, social relations, leadership, and organization (BRISTOW; CRAIG;
HALLOCK; LAYCOCK, 1951, p. 10).
55
contemporâneos a ele. O autor utiliza o termo “superdotado” como
adjetivo, e sua análise pauta-se em comportamentos. Por quê? Renzulli
(2018) procura não focar o sujeito em si, mas o serviço educacional a ele
oferecido. Nas palavras do autor, “[...] quando eu me refiro à educação de
superdotados ou programas para superdotados, o adjetivo está no contexto
do significado raiz da palavra o que é dado (gifted)” (RENZULLI, 2018,
p. 22). O autor insiste que “[...] deveríamos rotular os serviços necessários
para o desenvolvimento de altos potenciais, ao invés de rotular os alunos
como sendo ou não superdotados” (RENZULLI, 2018, p. 22).
Outro ponto na obra de Renzulli (2004; 2014; 2018) consiste na
ênfase à superdotação criativo-produtiva, conceituando-a como “[...]
conjunto de traços que engloba a curiosidade, originalidade, inventividade
e uma disposição em desafiar a convenção e a tradição” (RENZULLI,
2018, p. 27). Como a característica principal desse tipo de superdotado é
pautada no perfil criativo, os testes de inteligência são incipientes, mas há
outros tipos de instrumental prontos e validados e outros em construção
(RENZULLI; HEILBRONNER; SIEGLE, 2010).
As teorizações de Renzulli (2014; 2018) e Renzulli e Reis (2014)
permitem refletir sobre o fato de que os sujeitos com comportamento de
superdotação criativo-produtiva teriam grandes chances de alcançarem,
algum dia, o status da genialidade, mas esse não é o foco do autor. Ele
almeja que essas pessoas superdotadas tenham a oportunidade de
realizarem aquilo que desejam, enquanto contribuem para com a
sociedade. Para Renzulli (2014),
[...] a história mostra que as pessoas criativas e produtivas do mundo
foram produtoras e não consumidoras, de conhecimento,
reconstrutoras de pensamentos em todas as áreas do esforço humano,
reconhecidas como indivíduos “realmente superdotados”. A história
56
não se lembra das pessoas que meramente obtiveram boas pontuações
em testes de QI ou daquelas que aprenderam bem as lições, mas não
aplicaram seus conhecimentos de formas inovadoras e práticas
(RENZULLI, 2014, p. 232, grifo do autor).
Devido a sua origem na área da Psicologia, o termo “superdotação”
(giftedness), gera, para Haroutounian (2002), certa polêmica na área da
música e entre os músicos. A autora enfatiza que esse estranhamento ocorre
porque o termo “superdotação” relacionado à música vem sendo tratado,
como no caso do Brasil, por áreas diferentes à da música. Quando há
músicos e educadores musicais discutindo esse assunto, por vezes são em
pequeno número e em uma instituição específica, o que acaba distanciando
e minimizando as discussões a respeito da superdotação na área da música.
Nas palavras de Haroutounian (2002, p. 108, tradução nossa
29
, grifos da
autora):
[e]u comecei a apreciar o impacto que um termo simples como
superdotado pode provocar em uma conversa. Muitas vezes sinto
vontade de sussurrar isso, como nossos avós costumavam fazer quando
mencionavam "câncer". (Gift é, afinal de contas, uma palavra de quatro
letras!).
As razões que podem compor essa polêmica são, de acordo com
Friedman e Rogers (1998), o fato de o termo ainda estar em construção
teórica. Há, ainda, a problemática em torno dos testes psicométricos para
mensurar o talento e a concepção inata, o dom, envolvendo o termo. No
29
I have come to appreciate the impact a simple term such as gifted can elicit in a conversation. I
often feel like whispering it, as our grandparentes used to do when they mentioned "cancer". (gift
is, after all, a four - letter word!) (HAROUTOUNIAN, 2002, p. 108).
57
Brasil, esse receio pode ser causado pela ausência de aulas de música na
escola. Os educadores musicais têm se dedicado a lutar por políticas
públicas que visem a uma educação musical para todos (FONTERRADA,
2008).
Por essa razão, Haroutounian (2002) tem discutido a temática do
talento musical da seguinte maneira: o talento, como aptidão, constitui-se
na capacidade de discriminação de sons e ritmos. Em outras palavras, a
aptidão musical tem papel central no talento musical. Haroutounian
(2002, p. 22, tradução nossa
30
) teoriza essa questão dizendo “ [...] o músico
talentoso ouve cuidadosamente”. Para pensar o talento musical como
aptidão, Haroutounian (2002) se baseia em Seashore
31
(1938) e Gordon
32
(2000), os quais se dedicaram ao estudo e mensuração da acuidade
auditiva.
O talento musical como inteligência, para Haroutounian (2002),
consiste no quanto um potencial pode ser desenvolvido com sucesso. A
inteligência musical enquanto a capacidade de compreender e internalizar
a música. Para conceituar a inteligência musical, a autora se baseia nas
teorizações de Seashore (1938) e Gardner (1993; 2004).
O talento como performance é conceituado por Haroutounian,
com base em Sloboda (2008), Shinich Suzuki
33
, Ericsson, Krampe e
30
[...] the talented musician listens carefully (HAROUTOUNIAN, 2002, p. 22, grifo do autor).
31
1866 a 1949, psicólogo americano, estudioso da área da música e criador do primeiro teste
psicofísico de mensuração da acuidade auditiva para música denominado The measurement of music
talent.
32
1927 a 2015, educador musical americano criador da Teoria da Aprendizagem musical e dos
testes psicofísicos de discernimento auditivo utilizando os elementos musicais denominados
Primary Measures of Music Audiation, Intermediate Measures of Music Audiation, Advenced Measures
of Music Audiation e Music Aptitude Profile.
33
Educador musical e criador do Método Suzuki para instrumentos musicais de corda (violino,
viola, violoncelo e contrabaixo). Para Shinich Suzuki (1898-1998), o talento musical é passível de
desenvolvimento. Para isso são necessários metodologia adequada, acesso ao conhecimento e
58
Tesch-Römer (1993), como uma conquista oriunda de treino sistemático,
educação adequada e alta motivação. Para a autora, pessoas com esse perfil
conseguem interagir com o público a partir da performance e demonstram
resistência para suportarem longos períodos de treinamento. São sujeitos
eminentes, que conseguem ver além do que está aparente no texto musical.
Haroutounian (2002) ainda teoriza o talento como criatividade, a
partir da obra de Joy Paul Guilford (1967)
34
e Ellis Paul Torrance
(1976)
35
. Na concepção teórica da autora, sujeitos com esse tipo de talento
apresentam fluência (ideias pensadas rapidamente), flexibilidade
(diferentes perspectivas), originalidade (iniciadores de um conceito) e
elaboração (capacidade para expandir aquilo que já existe). Elas inovam
tanto em questões interpretativas quanto composicionais. Esse tipo de
talento passaria pelos estágios de preparação (formulação do problema),
incubação (reflexões), iluminação (síntese) e verificação (testagens e
refinamentos).
Quando Haroutounian (2002) aborda o talento como
superdotação (giftedness), para ela o termo se confunde com o conceito de
genialidade, por isso seu uso torna-se complexo. Para a autora, esse termo
tem sua raiz na concepção de dom (gift). Os sujeitos com o talento como
superdotação teriam, como característica, para a área da música, a
capacidade de abstração, o ouvido absoluto ou relativo, memória musical
excepcional, ou seja, trata-se de alguém musicalmente capaz. Seriam
pessoas com uma musicalidade simplesmente inexplicável para a
audiência. A autora complementa as características que compõem a
treinamento sistemático. Em Mateiro e Ilari (2012) e em Koga (2017) há informações referentes
ao método Suzuki e como trabalhar na perspectiva do desenvolvimento do talento musical.
34
Psicólogo americano (1897 a 1987), pioneiro no estudo sobre a criatividade e teórico dos estudos
psicométricos voltados à inteligência.
35
Psicólogo americano (1915 a 2003), estudioso do conceito de Criatividade. Foi autor do teste
Torrance de Criatividade.
59
superdotação com base no Modelo de François Gagné
36
(2000) e no
modelo dos Três Anéis
37
, de Joseph S. Renzulli (2014).
Diante de tudo que se mencionou sobre Haroutounian (2002), o
conceito denominado spark (centelha
38
) é o mais importante. Em suas
palavras, “[a] centelha do talento é experenciada quando alguém, ele ou
ela, se expressa através da música fazendo uma declaração pessoal estética
para outros” (HAROUTOUNIAN, 2002, p. 287, tradução nossa
39
). Para
isso acontecer, segundo a autora, é preciso que haja acesso ao aprendizado
musical.
O termo aptidãotambém provoca discussões na área da música.
Menos polêmico que a palavra superdotação, o termo está repleto de
significados, os quais são: os aspectos orgânicos, hereditários, possibilidade
de desenvolvimento e personalidade.
Esses aspectos foram apontados por Rubinstein (1967) que, ao se
posicionar, definiu aptidão da seguinte maneira: [t]odas as aptidões
específicas do ser humano são, ao fim e a cabo, diferentes manifestações e
aspectos de sua aptidão geral para apropriar-se das conquistas da cultura
humana e seguir desenvolvendo-as (RUBINSTEIN, 1967, p. 706,
tradução nossa
40
). Para o autor, ainda, “[a] aptidão é, portanto, uma
complicada peculiaridade sintética da personalidade, que caracteriza a
36
Domínio das aptidões (Giftedness); catalisadores intrapessoais, catalisadores ambientais, talentos
e processo de desenvolvimento (aprender, treinar e praticar).
37
Habilidade acima da média; envolvimento com a tarefa; criatividade (RENZULLI, 2014; 2018).
38
De acordo com o dicionário inglês Webster’s (HOUAISS, 2007), spark significa faísca, centelha
e, enquanto verbo, animar, inflamar, faiscar e cortejar.
39
The spark of talent is experienced when someone expresses himself or herself through music,
making a personal aesthetic statement to others (HAROUTOUNIAN, 2002, p. 287).
40
Todas las aptitudes específicas del ser humano son, al fin y al cabo, diferentes manifestaciones y
aspectos de su aptitude general para apropiarse las conquistas de la cultura humana y seguir
desarrollándo las (RUBINSTEIN, 1967, p. 706).
60
adequação deste para uma atividade” (RUBINSTEIN, 1967, p. 706,
tradução nossa
41
).
Em síntese, para Rubinstein (1967, p. 707, tradução nossa
42
), as
aptidões estão subjugadas ao contraste das forças produtivas entre trabalho
físico, intelectual e “o desenvolvimento em todos os seus aspectos das
aptidões e da personalidade”. Elas estariam na dependência da disposição
do trabalho ou atividades disponíveis na cultura e período histórico. Algo
semelhante foi defendido por Lehmann, Sloboda, Woody (2007). Para os
autores, “cantar em uma banda de rock somente se tornou possível no
século XX no hemisfério oeste, tocar cítara ainda acontece principalmente
na Índia e os pigmeus da chuvosa floresta do Ituri não requerem um crítico
de música” (LEHMANN; SLOBODA; WOODY, 2007, p. 05, tradução
nossa
43
).
Seashore (1938) dedicou-se ao estudo da aptidão musical e criou
um teste para avaliar a capacidade musical de crianças até 10 anos. Isso
porque, segundo ele, a aptidão musical se estabiliza e, até essa idade, a
criança está suscetível a mudanças em seu nível de aptidão, então era
preciso investir precocemente. De acordo com Seashore (1938), a memória
musical, a consciência dos elementos musicais e o senso estético são
condições imprescindíveis para o desenvolvimento musical. Nesse
contexto, ele criou o teste Seashore Measures of Musical (SEASHORE,
1938), com base na psicometria.
41
La aptitude es, por tanto, una complicada peculiaridade sintética de la personalidade, que
caracteriza la adecuación de ésta para una atividade. (RUBINSTEIN, 1967, p. 706).
42
[...] desarrollar em todos sus aspectos las aptitudes de la personalidade (RUBINTEIN, 1967, p.
707).
43
[...] singing in a rock band only became possible in the twentieth century in the western
hemisphere, playing the sitar still mainly happens in India, and the pygmies of the Ituri rain forest
do not require a music critic (LEHMANN; SLOBODA; WOODY, 2007, p. 5).
61
Gordon (2015) seguiu os passos de Seashore e desenvolveu testes
para também mensurar a aptidão musical. O autor entende esse fenômeno
da seguinte forma:
[a]ptidão musical é diferente de desempenho musical. Aptidão musical
é a medida do potencial de uma criança para aprender música;
representa possibilidades interiores. Desempenho musical é o
resultado do que uma criança aprendeu relativamente à sua aptidão
musical; representa realidades exteriores (GORDON, 2015, p. 17,
grifos do autor).
Gordon (2015) afirma que a aptidão musical é inata e que ela
precisa ser desenvolvida o quanto antes, em detrimento da estabilização.
Por isso, o autor enfatiza a identificação e o trabalho musical precoce com
a criança: “[o] objetivo primordial da investigação da aptidão musical
duma criança é permitir ao professor e aos pais adaptar a formação musical
às necessidades musicais de cada criança [...]” (GORDON, 2015, p. 17).
Em busca de outras perspectivas, Gardner (1993) foi um dos
autores que deram contribuições a respeito da teoria das inteligências
múltiplas
44
. Ele observou que muitos sujeitos não eram identificados com
sucesso em testes de inteligência. Além disso, estava bastante relutante com
a definição de Quociente de Inteligência (QI) que, até meados do século
XX, era aceita pela comunidade científica. Em busca de uma melhor
definição, o autor ampliou a concepção, trazendo como discussão central
de sua pesquisa a existência não de uma única inteligência, mas vários tipos
de inteligência, dentre elas a inteligência musical. O autor enfatiza que
44
Para Gardner (1995) as inteligências não operam sozinhas e não há uma única inteligência.
Portanto, o autor conclui que existem as seguintes inteligências: musical, corporal-cenestésica,
lógico- matemática, linguística, espacial, interpessoal, intrapessoal e a naturalista.
62
todas as pessoas têm algum tipo de inteligência. Para ele, então, nesse
contexto e influenciado pelos estudos da neurociência e da plasticidade do
cérebro, as pessoas podem se desenvolver ou serem estimuladas em algum
tipo de inteligência como, por exemplo, a musical, lógico-matemática,
linguística, corporal sinestésica etc.
Para Gardner (1993; 1995), certas partes do cérebro são destinadas
ao processamento da informação musical. Entretanto, ao contrário de
outras áreas, a sica atua em muitas regiões cerebrais o que torna essa
tarefa complexa. Hyde et al. (2009) e Levitin e Tirovolas (2009) são alguns
exemplos de autores que estão envolvidos com os estudos a respeito da
atividade musical no cérebro. Para Gardner (1993; 1995), os elementos
musicais são compostos de diferentes nuances, entre as quais se pode
encontrar tanto aspectos mais cognitivos como criativos.
Para o autor, a inteligência musical se manifesta precocemente,
como nos casos de Wolfgang Amadeus Mozart
45
, Jakob Ludwig
Felix Mendelssohn Bartholdy
46
e Charles-Camille Saint-Saëns
47
, composi-
tores e performances que se revelaram na tenra idade. Para Gardner
(1993), a consciência dos tons, ritmos e timbres associados à criatividade
são elementos centrais do talento musical. Gardner (1993) exemplifica a
manifestação da inteligência musical, especificamente precoce, no seguinte
caso:
Stravinsky lembra que, quando ele tinha dois anos, algumas mulheres
do interior cantaram uma música atraente e tranquila a caminho de
casa, [...]. Quando seus pais lhe perguntaram o que ele tinha ouvido,
eu disse que tinha visto os camponeses e os tinha ouvido cantar, e
45
Compositor austríaco (1756 1791).
46
Compositor alemão (1809 1847).
47
Compositor francês (1835 1921).
63
cantei o que eles cantaram. Todos ficaram surpresos e impressionados
com este recital e eu ouvi meu pai comentar que eu tinha um ouvido
maravilhoso (GARDNER, 1993, p. 121, tradução nossa
48
, grifo do
autor).
Em suas teorizações, Gardner (1993) aponta dois importantes
aspectos: um consiste na precocidade e outro, no desenvolvimento
longitudinal do talento musical.
O termo precocidade não pertence à área da música, ele foi
teorizado a partir dos estudos a respeito da inteligência superior, na área
da Psicologia, como é o caso de Terrassier (2011). O autor definiu o termo
na perspectiva do desenvolvimento intelectual, pautado na vertente dos
testes de inteligência. Nesse sentido, apenas algumas características podem
ser consideradas em áreas artísticas, como é o caso da música.
A precocidade é definida por Terrassier (2011) a partir do conceito
de dissincronia interna e social. Isso porque a criança precoce se desenvolve
de modo diferente, antecipando-se, se comparada a seus pares. A criança
precoce simplesmente não se encaixa nos padrões de desenvolvimento.
Essa dissincronia é sentida no seu nível intelectual, afetivo e psicomotor.
Na área da música, a precocidade foi discutida por Robinson
(1993; 2015), por Winner (1996), a qual considera a precocidade um dos
componentes da superdotação, e Zimmerman (1994). Essas autoras têm
discutido o assunto na área da Educação com a Psicologia. Para Robinson
(1993; 2015), Winner (1996) e Zimmerman (1994), a precocidade
musical caracteriza-se pela aprendizagem acelerada dos conteúdos musicais
48
Stravinsky recalls that when he was two, some nearby country-women had sung an attractive and
restful song on their way home from the fields in the evening. When his parents asked him what
he had heard, "I said I had seen the peasants and I had heard them sing, and I sang what they had
sung. Everyone was astonished and impressed at this recital and I heard my father remark that I
had a wonderful era" (GARDNER, 1993, p. 121).
64
em tenra idade. De acordo com Robinson (1993), a criança precoce em
música pode se destacar em um ou mais domínios, por exemplo, ser um
intérprete incrível e um notório compositor. De acordo com as autoras, a
precocidade pode ser identificada muito cedo na criança, inclusive antes
de outras áreas do conhecimento e, até, ainda quando são bebês.
Ao discutir a precocidade na área da música, torna-se inevitável
discutir o termo prodígio. Ambos são fenômenos restritos à infância.
Para Solomon (1987),
[u]m prodígio é capaz de funcionar no nível de um adulto avançado
em determinado domínio antes dos doze anos de idade. Emprego a
palavra no sentido amplo, incluindo qualquer um que desenvolva em
idade precoce uma aptidão inata profunda, mesmo que o faça de modo
mais gradual ou menos público que os prodígios clássicos. Prodígio
deriva do latim prodigium, um monstro que viola a ordem natural. [...]
A designação “prodígio” costuma refletir timing, ao passo que
“genialidade” reflete a capacidade de acrescentar algo de valor à
consciência humana. Muita gente tem genialidade sem precocidade,
ou prodigiosidade sem genialidade (SOLOMON, 1987, p. 331, grifos
do autor).
Kirnarskaya (2004, p. 333, tradução nossa
49
) define o prodígio
musical como:
[...] um virtuoso pequenino, que não se pode contemplar sem um
sentimento de espanto. Ele ainda pode ser pequeno o suficiente para
49
A wunderkind a tiny virtuoso whom one cannot behold without a feeling of astonishment. He
may still be small enough to walk upright under a table, yet he plays the violin (or the piano or
some other instruments) with assurance. While their peers are playing with dolls or soccer balls the
wunderkinds are already touring as concerts artists (KIRNARSKAYA, 2004, p. 333).
65
andar debaixo de uma mesa, mas tocar violino (ou piano ou outros
instrumentos) com segurança. Enquanto seus colegas estão brincando
com bonecas ou bolas de futebol, os prodígios já estão em turnê como
artistas de concertos.
Na perspectiva de Willems (2011), em síntese, as crianças prodígio
e os sujeitos talentosos aprendem rapidamente, passam pelo processo de
musicalização de modo mais rápido, se comparados aos outros. Os sujeitos
nessas condições podem apresentar três características: sensorialidade
auditiva, sensibilidade afetivo-auditiva e inteligência auditiva, mas não se
trata de uma regra e, sim, possibilidade de a criança ou jovem demonstrar.
Em conclusão, o termo “prodígiopor vezes pode ser confundido
com o gênioe, inclusive com o superdotado(HAROUTOUNIAN,
2002). As definições são demasiadamente tênues, o que dificulta uma
compreensão mais exata ou clara. Porém, Solomon (1987) traz uma
reflexão importante sobre os prodígios. Para ele, trata-se de crianças que,
assim como as com deficiência, geram uma demanda para suas famílias,
obrigando-as a uma reformulação de suas rotinas. Outro ponto importante
é a relação do prodígio com um ser estranho, esquisito, melhor dizendo
depreciado, da mesma forma que um dia na história aconteceu com o
gênio. Kirnarskaya (2004), por outro lado, discute em sua pesquisa que
pode haver uma exploração comercial dessa criança. Para ela, esse é um dos
grandes problemas acarretados pela prodigiosidade.
Ericsson, Krampe, Tesch-Romer (1993) e Ericsson e Charness
(1994) discutem e teorizam sobre o conceito de expertise. Na concepção
dos autores a expertise, em síntese, consiste na capacidade de demonstrar
alta performance em alguma área de conhecimento. Ao mencionar a área
da música, esse termo se relaciona com a performance dos instrumentistas
e cantores, os quais são às vezes denominados virtuoses. Os autores criticam
66
a atribuição do talento à causa de ordem inata, e não mediante o
desenvolvimento. Para eles, faltam pesquisas que visem a identificar aquilo
que de fato é conquistado pelo sujeito ou não. Essa é a posição, também
de Lehman, Sloboda e Woody (2007) e Sloboda (2008), bem como
Galvão e Ribeiro (2014).
Para Ericsson et al. (2007), a prática deliberada leva à conquista da
expertise. Para eles, um artista leva horas e anos para atingir a máxima da
performance, assim como pode acontecer em outras áreas. Para os autores,
a dificuldade de acesso a recursos e conhecimentos, tais como a disciplina
de educação musical, torna inviável para muitos conseguir alcançar a
performance expert.
Ribeiro e Galvão (2018) apresentaram uma diferente perspectiva
para a expertise, trata-se do conceito de expert, o qual é conceituado como
“[...] aquele que, ao acessar o Espaço Potencial da Criatividade,
interagindo com os seus processos de aprendizagem de alto nível, articula-
se nos três espaços relacionais superando as limitações do campo,
transgredindo os padrões do domínio [...]” (RIBEIRO; GALVÃO, 2018,
p. 134). A partir da definição dos autores, torna-se possível pensar nos
músicos populares. Antes, a definição de expertise se remetia ao estudante
de música. Ao contemplar a criatividade, os músicos populares se encaixam
perfeitamente, porque trazem uma performance de alto nível associada à
criatividade, representada pela improvisação.
O termo talento, diferentemente de gênio”, “precocidade” e
prodígiono início designou habilidade, capacidade ou aptidão de um
indivíduo. Na Grécia antiga, bem como durante o Império Romano, a
palavra talento era um substantivo utilizado para nomear o peso ou
moeda utilizada na época. De acordo com o Dicionário Etimológico
Aurélio, em grego, a palavra talento era escrita tálanton e, em latim,
talentu.
67
Com o sentido de moeda, a palavra talentoconsta na Bíblia,
especificamente na passagem do evangelho de São Matheus
50
. Este narra a
história de um homem, com viagem marcada para o estrangeiro, que
chamou os seus três servos e conferiu a eles seus bens (talentos). Ao
primeiro deixou cinco talentos, ao segundo confiou dois e ao terceiro
deixou apenas um talento. O critério da distribuição, segundo o texto
bíblico, foi a capacidade de cada um.
Na passagem desse texto, São Matheus evidencia que um dos
servos trabalhou com afinco e dobrou as moedas, o outro fê-las render,
mas não a ponto de dobrá-las, e o terceiro as guardou, com medo de perdê-
las.
Nessa parábola, São Matheus correlaciona o critério de distribuição
dos talentos com o índice de capacidade dos servos. Ainda consta no texto
a motivação intrínseca e o trabalho deliberado, os quais geram o desfecho
de cada um. No caso da parábola, os talentos foram dados aos servos, eles
contavam apenas com a distinção de suas capacidades, sobre as quais o
texto bíblico não entra em detalhes.
Rubinstein (1967, p. 703, tradução nossa
51
), ao corroborar os
aspectos semelhantes aos da parábola conclui que,
[...] na vida nos encontramos com diferentes indivíduos, os observamos
no trabalho, comparamos seus rendimentos e seguimos o ritmo de seu
desenvolvimento espiritual, podemos nos convencer, a cada passo, de
que, segundo as aptidões, se diferenciam entre si.
50
Evangelho de São Matheus “Parábola dos talentos”, capítulo 25, versículos de 14 a 30.
51
Sin en la vida nos encontramos con diferentes indivíduos, los observamos en el trabajo,
comparamos sus.
68
Para Rubinstein (1967), assim como na parábola, é preciso dar
condições, acesso, oportunidade, para que os sujeitos possam duplicar seus
talentos. Também é preciso que o sujeito se motive e se empenhe para que
os talentos dobrem. Para o autor, a educação e a formação das pessoas
desde a mais tenra idade são elementos-chave para o desenvolvimento dos
talentos. Sobre o assunto, Rubinstein (1967) ainda menciona que cabe um
esforço por parte dos estudiosos para afastar a definição de “talento” das
concepções de “dom” como algo inato e que o talento tem sido
democrático em suas manifestações, porque ocorre em todas as classes
sociais. Além disso, envolve ações políticas e sociais uma vez que pensar o
talento não é a tarefa para uma só pessoa. Rubinstein (1967, p. 711,
tradução nossa
52
) define que o
[t]alento e engenhosidade se distinguem, antes de tudo, por seu
significado objetivo e também pela originalidade de sua eficácia de
rendimento. O talento se caracteriza pela aptidão de produzir grandes
coisas, mas as quais se mantêm dentro de um marco do que foi
alcançado até então.
Ainda para Rubinstein (1967), a personalidade, as formas de
educar-se, a internalização rápida dos elementos, o trabalho, o processo de
ensinamento e a atividade de trabalho são fatores que contribuem para o
desenvolvimento do talento. Nessa mesma linha de definição, Teplov
53
(1966), colega de trabalho de Rubinstein (1967), conceitua que o “[...]
52
Talento e ingenio se distinguem, ante todo, por su significado objetivo y tambièn por la
originalidade de su eficácia o rendimento. El talento se caracteriza por la aptitud de producir
grandes cosas, pero las cuales se mantienen dentro del marco de lo ya conseguido hasta entonces
(RUBINTEIN, 1967, p. 711).
53
Boris Mikhailovich Teplov (1896 1965). Psicólogo russo voltado para o estudo das diferenças
individuais (talento).
69
talento musical é a combinação qualitativamente original de aptidão que
depende da possibilidade de prática com sucesso de atividades musicais
(TEPLOV, 1966, p. 25, tradução nossa
54
).
Teplov (1966) se dedicou a teorizar o talento musical a partir da
percepção e da consciência musical dos sujeitos talentosos para música.
Evidentemente, o autor argumenta que não se pode reduzir o talento à
sensorialidade somente, bem como a qualquer outro elemento musical. O
talento, para ele, seria a junção de diferentes elementos e aspectos musicais,
mas ele se propõe a olhar a percepção ou ouvido musical
55
.
Teplov (1966, p. 71, tradução nossa
56
) enfoca a rota percepto-
afetiva porque a percepção é “[o] sinal característico das aptidões auditivas
é o desenvolvimento precoce é espontaneamente e ocorre sem nenhuma
medida educacional especial, habilidades elementares”. Segundo esse
autor, conhecer o limiar dessas habilidades elementares permite pensar as
etapas educativas seguintes, uma vez que a percepção é o centro do talento
musical.
Influenciado por Rimski-Korsakov
57
, Teplov (1966) preocupa-se
com a conquista da aptidão auditiva superior porque ela acompanharia o
ouvido arquitetônico. Para o autor, o
54
“[...] talent musical la combinaison qualitativement originale d’aptitude dont dépend la
possibilite de pratiquer avec succés I’activité musicale” (TEPLOV, 1966, p. 25).
55
Tanto a palavra ear quanto oreille serão traduzidas como “ouvido” e não “orelha”. Trata-se da
representação do processo teorizado por Willems (2011) de ouvir, escutar e entender, configurando
o processo de recepção sensorial do som, pela orelha, a sensorialidade afetiva do som, o que aquele
estímulo representa para o sujeito e a percepção mental, o que aquilo significa de fato.
56
“[...] le signe caractéristique des aptitudes auditives est le développement précoce et, de plus
spontané aucune mesure pédagogique spéciale, des aptitudes elémentaires” (TEPLOV, 1966, p.
71).
57
Nikolai Andreyevich Rimsky-Korsakov (1844 1908), compositor russo.
70
senso de lógica musical é coroado por uma inventividade decorrente
de uma necessidade íntima de criar, pode ser chamado talento de
compositor ou talento criativo. Acrescentarei que o óbvio corolário das
habilidades superiores é o amor e o gosto da arte. A única consciência
de possuir habilidades musicais posteriores desenvolve a propensão à
arte musical, desperta a curiosidade neste campo e um desejo natural
de perfeição (TEPLOV, 1966, p. 70, tradução nossa
58
).
Em conclusão, para Teplov (1966), a premissa do talento musical
está na manifestação da sensação do som musical, passando pela
sensibilidade de discernimento a partir do ouvido absoluto ativo
59
, ouvido
melódico, ouvido harmônico, imaginação e memória musical e senso
rítmico. Todos esses aspectos seriam, para o autor, gerenciadores do
talento musical.
Influenciada por Teplov (1966), Kirnarskaya (2004) se debruça
sobre a temática do talento musical. Para a autora, o talento musical se
conecta a fatores intuitivos, coragem, motivação, perseverança e paciência.
A personalidade, para a autora, está em jogo na determinação da
construção da carreira do sujeito talentoso, juntamente com a formação da
identidade. Ela acredita que o talento musical é composto por três
componentes básicos:
1 - habilidade (inteligência): adquirir conhecimento,
agarrar algoritmos e dominar habilidades; 2 motivação: unidade de
vontade, necessidade e demanda, desejo de excelência e compromisso; 3 -
58
sens de la logique musicale est couronnée par une inventivité issue d'un besoin intime de créer,
elle peut être dite talent de compositeur ou talent créateur. J'ajouterai que le corollaire évident des
aptitudes supérieures...est I'amour et le goût de I'art. La seule conscience de posséder des aptitudes
musicales sepérieures développe le penchant pour I'art musical, éveille la curiosité dans ce domaine
et un désir naturel de perfectionnement (TEPLOV, 1966, p. 70).
59
O ouvido absoluto ativo, permitindo reconhecer e reproduzir o som. Ele é diferente do ouvido
absoluto que apenas nomeia as notas. Esse ouvido às vezes é reconhecido como ouvido relativo
absoluto porque ele consegue atender ao sentido das notas em seu contexto, ou seja, o sujeito ouve
os elementos, torna-se capaz de reproduzi-los cantando, tocando ou escrevendo a partir da
linguagem musical (TEPLOV, 1966).
71
superdotação/giftedness (criatividade): compor, criar descobrir, inventar e
empreender.
Para Kirnarskaya (2013), as pessoas talentosas manifestam a
capacidade de discernir e aprender sobre os elementos musicais. Elas são
envolvidas pela música, a amam e se dedicam com afinco incomum.
Apresentam criatividade e são movidas por novas experimentações e
descobertas. Então, como o talento musical se estrutura? A autora
considera a base evolutiva humana, tanto que, para ela, a habilidade
auditiva evoluiu consideravelmente entre os humanos, mas também muito
se perdeu, uma vez que a luta pela sobrevincia se modificou.
Ao analisar a estrutura de talento musical criada por Kirnarskaya
(2013), é possível concluir que há uma base comum presente em todos os
seres humanos, que consiste na manifestação e presença do ouvido
expressivo. Esse ouvido permite discernir os sons do cotidiano e os que se
apresentam de modo básico nas canções. A diferença dos sujeitos talentosos
encontra-se no alcance do ouvido analítico, onde estão presentes o senso
rítmico, tonal e a memória musical. Porém esse nível não é a garantia do
talento, ele apenas permite evocar suspeitas a respeito do sujeito que está
apresentando tal condição. Na perspectiva de Kirnarskaya (2013), o
ouvido arquitetônico e a imaginação seriam os indicadores da presença do
talento. Nessa etapa o sujeito apresenta a superdotação composicional
(giftedness), trazendo para o universo musical outras possibilidades de
apreciação e elementos técnicos musicais
Palavras como talento”, genialidade”, expertise, prodígio”,
“precoces”, “superdotados, foram criadas com a finalidade de designar o
fenômeno que, até os dias atuais, tem mobilizado culturas e estudiosos na
busca de compreendê-lo. O que constitui o talento? Qual a sua origem?
Essas são perguntas distantes de uma resposta conclusiva.
72
Nas palavras de Kirnarskaya (2004, p. 283, tradução nossa
60
), o
“[t]alento musical foi organizado e formado em conjunto com a atividade
musical, e profundamente dentro de seu próprio núcleo”. Nesse contexto,
Rubinstein (1967) e Lehmann, Sloboda e Woody (2007) articulam os
fatores culturais e sociais e o trabalho enquanto atividade para o
desenvolvimento do talento. Por tudo isso, uma necessidade latente de
observar e analisar o talento musical. Sabe-se ainda pouco sobre as
peculiaridades culturais do Brasil e seus desdobramentos nos talentos
musicais de crianças, jovens, adultos e idosos. Por essa razão, o objetivo do
estudo 1 é realizar uma revisão bibliográfica, sobretudo focando o Brasil,
com o objetivo e analisar esse cenário a respeito do talento musical. Tal
busca inclui observar avanços nos estudos internacionais e descobertas nos
estudos nacionais, visto que essa ainda é uma área de estudos recente para
muitos países como o Brasil.
Enquanto essas questões permanecem, Haroutounian (2002, p.
289, tradução nossa
61
) aconselha “[...] olhar nos olhos da próxima criança
ansiosa por compartilhar músicas com você [...]” utilizando os recursos
existentes e tentando criar outros porque ela pode ser alguém com muito
talento esperando por uma oportunidade.
Cenário das pesquisas nacionais e internacionais sobre o talento musical
Na atualidade, há grupos de pesquisa debruçados sobre a temática
do talento musical em diferentes universidades e instituições brasileiras.
Por essa razão, torna-se fundamental conhecer as pesquisas realizadas no
60
Musical talent was arranged and formed together with musical activity, and deep within its very
core (KIRNARSKAYA, 2004, p. 283).
61
[...] look into the the eyes of the next eager child who wants to share music with you
(HAROUTOUNIAN, 2002, p. 289).
73
Brasil e no exterior, porque “[...] um trabalho de revisão crítica e de
sistematização é essencial para dar um salto qualitativo nos referenciais
teóricos” (OMOTE, 2014, p. 13) e ampliar o campo de conhecimento
sobre o que foi pesquisado até então e verificar a quais conclusões os
autores chegaram.
Nas páginas a seguir consta o mapeamento referente à produção
científica que se dedica ao estudo do talento musical em âmbito nacional
e internacional. Para concretizar esse procedimento, a pesquisadora optou
pela revisão bibliográfica, conforme orientam Medrado, Gomes e
Sobrinho (2014), com base na estrutura de levantamento bibliográfico de
Glat, Omote, Pletch (2014) e nas orientações de Soares e Maciel (2000).
Como parte do procedimento de revisão sistemática, o período
histórico elencado para a busca compreendeu de 1900 a 2018. A razão pela
escolha desse período se deu em decorrência das transformações iniciais
ocorridas no campo das ciências em meados do ano de 1900 e, em relação
a 2018, por se tratar do período previsto para qualificação e defesa desta
tese.
De acordo com Gardner (1996b), estudos voltados para a ciência
cognitiva estavam em andamento no início do século XX. Pesquisas de
natureza empírica e estudos a respeito do sistema nervoso. Para Gardner
(1996a), no início do século XX foram apresentadas possibilidades para o
estudo da vida mental dos seres humanos, como o pensamento, solução de
problemas, a natureza da consciência, as características da linguagem e da
cultura humana. De acordo com o autor, os teóricos da época se
perguntavam: de onde vem o conhecimento? Como é armazenado e
recuperado? Como pode ser perdido? Por que há diferenças entre um
indivíduo e outro, principalmente, quando acometido por lesão cerebral?
74
Perguntas dessa natureza, bem como o advento tecnológico e a
possibilidade de mensurar empiricamente, quantificando fenômenos
abstratos, permitiram o surgimento de instrumentos de natureza
psicrométrica e psicofísica no início do século XX, além de outras
possibilidades, modificando as formas de mensuração utilizadas até então.
Nas palavras de Gardner (1996a), “o método preferido pela maioria dos
pesquisadores naquela época era a introspecção: a auto-reflexão por parte
do observador treinado sobre a natureza e o curso de seus próprios padrões
de pensamento” (GARDNER, 1996a, p. 26).
Pasquali (2010; 2013) e Bueno e Ricarte (2017) também sinalizam
o início do século XX como um momento de grande transformação para
a ciência, com foco nos estudos do psiquismo humano. É importante
destacar que anteriormente a esse período também ocorriam as medições,
análises de fenômenos e processos da vida humana, tanto que Pasquali
(2010; 2013) e Bueno e Ricarte (2017) discutem que os processos de
medição ocorriam, ainda que de modo rudimentar, anteriormente ao
século XX, desde o Império Chinês em 605 a.C. Porém, é no século XX
que há a sistematização e a criação de um método para realizar a
mensuração de modo padronizado. Por isso, o século XX é considerado
importante para a área do talento.
No início do século XX havia duas tendências no estudo objetivo
da vida psíquica, ou seja, das aptidões humanas. A primeira corrente
caracterizava-se pela observação dos processos mentais, representada por
Alfred Binet e Théodore Simon, e a segunda, tinha como propósito
analisar os processos comportamentais e era representada por Francis
Galton e Carl Sperman
62
(PASQUALI, 2010).
62
Psicólogo e estatístico britânico (1863 a 1945).
75
A ciência inicia sua relação com a música no final do século XIX,
a partir de importantes contribuições de Hermann Von Helmholtz
63
que se dedicou às sensações acústicas , Carl Stump
64
que se voltou
para a Psicologia do som e Karl Reimann
65
, o qual se concentrou nos
estudos da compreensão dos fenômenos musicais a partir de investigações
a respeito do pensamento lógico. Apoiado por métodos científicos e
primando por rigor e precisão, Carl Seashore publica a obra “The measures
of musical talent”, em 1919, objetivando mensurar o talento musical.
Também Arnold Bendly cria um teste para mensurar a musicalidade de
crianças de 8 a 14 anos. Posteriormente Edwin Gordon, em 1965, cria a
obra “The musical aptitude profile”. O mesmo autor, ainda, teoriza sobre a
audiation, importante processo de apreensão e processamento dos
elementos musicais pela criança (FONTERRADA, 2008).
Para Fonterrada (2008), os teóricos anteriormente citados
pertencem ao grupo que se debruçou sobre as formas objetivas de
investigação da musicalidade e do talento. A autora menciona um segundo
grupo, o qual, segundo ela, talvez tenha influenciado as pesquisas no Brasil.
John Sloboda, com a obra The musical mind (1985), David Hargreaves,
The developmental psychology of music (1986) e Dianne Deutsch com The
pschology of music (1982) se fazem exemplos. Esses autores, norte-
americanos, tinham por objetivo estudar os processos composicionais, a
improvisação e a execução musical, além de tentar entender os processos
de desenvolvimento das habilidades musicais entre crianças e jovens.
63
Matemático, médico e físico alemão (1821 1894). Para Herman Von Helmholtz a “[...] a estética
não subtrai a música da jurisdição da acústica e da fisiologia do aparelho auditivo”
(FONTERRADA, 2008, p. 83).
64
Filósofo e psicólogo alemão (1848 a 1936) foi um estudioso da percepção e da consciência dos
sons musicais.
65
Professor e escritor alemão (1857 a 1908), estudiosos de questões ligadas a escuta musical
como: o ato de escutar os sons musicais não é algo passivo, mas uma atividade complexa de
percepção.
76
Também se dedicavam a compreender o desenvolvimento da escuta
musical e o início da alfabetização na música (FONTERRADA, 2008).
Os procedimentos de mensuração do psiquismo no Brasil, de
acordo com Bueno e Ricarte (2017) não têm uma data exata, mas, com a
regulamentação da profissão de psicólogo, por volta de 1962, instrumentos
de medida psicrométrica se consolidaram no país. No âmbito da medição
da musicalidade, não fica claro se houve inserção desse tipo de
procedimento na época, mas nas teorizações de Sloboda (2008) e
Fonterrada (2008) fica clara a influência da Psicologia sobre a área da
música.
A revisão sistemática, por tudo que se mencionou, se inicia em
1900, rastreando se houve a criação ou o uso de algum instrumento de
apreensão do talento musical em procedimentos de investigação científicos
até o ano de 2018.
A compreensão dos sentidos e significados do talento musical e a
trajetória de outros pesquisadores a respeito do tipo de mensuração
pretendida com o uso do PSHM, tornam-se imprescindíveis, uma vez que,
nos dias atuais, o desafio consiste em como e de que modo mensurar o
talento musical.
Para proceder à revisão bibliográfica
66
, foi necessário localizar as
pesquisas nas bases de dados a partir das palavras-chaves, as quais tornaram
possível reunir aquelas pesquisas que atendiam ao objetivo dessa revisão
sistemática. A seleção se deu a partir da leitura do título e do resumo de
cada uma delas. Posteriormente, a organização das pesquisas foi realizada
a partir da criação do banco de dados. Como último procedimento, a
pesquisadora realizou a leitura integral dos textos encontrados com o
intuito de analisar como elas apreenderam o talento musical.
66
Os critérios de busca têm por base os estudos de Mortatti (2000, p. 32).
77
As bases de dados que permitiram rastrear pesquisas em âmbito
nacional foram: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível
Superior (CAPES), a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
(BDTD) e a base de dados Amplificar
67
.
A busca em âmbito internacional foi realizada a partir das bases:
Institute of Education Sciences (ERIC)
68
, Sage full-text collection
69
e Scientific
Eletronic Library Online (SCIELO)
70
, e essa escolha se deu pelos seguintes
fatores (MEDRADOS, GOMES, SOBRINHO, 2014):
Institute of Education Sciences (ERIC): reúne pesquisas da área da
Educação, em âmbito mundial;
Sage full-text collection: reúne pesquisas de diferentes áreas e
temáticas, além de, especificamente, atender a temática da
Educação Especial e educação de superdotados, também
mundialmente;
Scientific Eletronic Library Online (SCIELO): reúne pesquisas
sobretudo da América Latina;
Para a reunião e seleção das pesquisas, foram utilizados os seguintes
descritores: talento”, prodígio”, genialidade”, precocidade”, altas
habilidades/superdotação”, superdotação”, dotação e talento e
expert, todos associados à música, as quais foram devidamente
consultadas no Thesaurus Brasileiro da Educação (BRASED
71
).
67
Indexador da produção acadêmica em música no Brasil.
68
Acesso em: https://eric.ed.gov/.
69
Acesso em: https://journals.sagepub.com/
70
Acesso em: https://www.scielo.org/
71
Vocabulário controlado que reúne termos e conceitos extraídos de documentos do Centro de
informação e Biblioteca em Educação, com relação entre si dos termos, a partir de uma estrutura
constituída da área.
78
Com o resultado da busca pelos termos no banco de palavras do
Thesaurus, a palavra talentofoi encontrada com o significado de aptidão
artística e estrutura cognitiva, o termo prodígio não foi encontrado,
genialidade foi encontrado com o significado de superdotação,
precocidade, com o significado de maturação, altas habilidades/
superdotaçãonão constou no banco de palavras da Thesaurus, mas é
importante destacar que essa é uma expressão adotada pela legislação
brasileira, o termo superdotaçãofoi encontrado com o significado de
excepcionalidade mental, nível de inteligência e pessoa com necessidades
especiais. Dotação e talento são termos que também não foram
encontrados assim como expert, mas foram considerados por haver
pesquisadores no Brasil com linhas de pesquisas que utilizam esses termos,
trata-se dos pesquisadores Zenita Guenther (2012) e Afonso Galvão e
Anna C. M. L. Ribeiro (2014).
Os descritores, posteriormente, foram elencados na língua inglesa
e na espanhola a partir do referencial teórico, portanto, não foram
traduzidos. As palavras obtidas, no inglês, foram: talent and music,
prodigy and music”, genius and music”, precocity and music, hight
ability/ giftedness and music”, giftedness and music”, gifted and talent
and musice expert and music. No espanhol foram obtidos os seguintes
termos: talento y musica, prodigio y musica”, gênio y musica,
precocidad y musica”, altas capacidades y musica”, superdotación y
musica”, “dotación y talento y musica. Os descritores foram selecionados
em espanhol em decorrência da base de dados Scielo.
Com relação à análise dos dados, um banco organizado
considerando o número total de pesquisas encontradas, número de
pesquisas que correspondiam ao propósito da busca, anotando, também,
palavra-chave, autoria, ano de publicação, localidade, tipo de produção
(tese, dissertação, artigo etc), se utilizou ou construiu instrumentos
79
padronizados, entese dos resultados. Preliminarmente, a análise e leitura
se concentraram no resumo das pesquisas e, posteriormente, uma leitura
mais aprofundada daquelas que atendiam aos propósitos dessa revisão
bibliográfica, como forma de assegurar se havia correlação com o objetivo
de busca.
O que se pode dizer sobre o cenário encontrado?
Durante a busca realizada nos bancos de dados da CAPES, BDTD
e Amplificar, foi possível encontrar pesquisas, como as apresentadas na
Tabela 01.
Tabela 01Pesquisas encontradas no período de 1900 a 2018
DESCRITORES
NÚMERO DE PESQUISAS
ENCONTRADAS
TOTAL
CAPES BDTD AMPLIFICAR SCIELO
Talento e música 4 2 7 0 13
Prodígio e música 0 0 0 0 0
Genialidade e música 0 0 0 0 0
Precocidade e música 1 1 0 0 2
AH/SD e música 0 0 0 0 0
Superdotação e música 1 1 4 0 6
Dotação e talento e música 0 0 0 0 0
Expert e música 2 2 0 0 4
TOTAL
8 6 11 0 25
Fonte: Do autor.
80
Ao analisar a Tabela 01, observa-se um maior número de estudos
quando o descritor talentoassociado àsica é utilizado, e, visto que o
banco de dados Amplificar indexa pesquisas na área da música, é dele a
maior parte dos resultados encontrados. Posteriormente, o segundo maior
número encontra-se na CAPES. É preciso destacar que, como a pesquisa
ocorreu em bases de dados diferentes, alguns trabalhos aparecem em mais
de uma base. Independentemente disso, é importante analisar o baixo
índice de estudos sobre a temática em um período grande de tempo.
Dada o baixo índice de pesquisas nacionais, uma análise dos bancos
de dados com abrangência internacional foi realizada e foram encontradas
pesquisas conforme consta na Tabela 02.
Tabela 02Pesquisas encontradas no período de 1900 a 2018
DESCRITORES
NÚMERO DE PESQUISAS
ENCONTRADAS
TOTAL
ERIC SAGE SCIELO
Talento e música 13 1 0 14
Prodígio e música 0 2 0 2
Genialidade e música 0 0 0 0
Precocidade e música 0 0 0 0
AH/SD e música 0 0 0 0
Superdotação e música 3 0 0 3
Dotação e talento e música 12 0 0 12
Expert e música 16 0 0 16
TOTAL
44 3 0 47
Fonte: Do autor.
81
Os resultados na Tabela 02 indicaram maiores índices de pesquisas
utilizando os termos expert, talento e dotação e talento, nessa
ordem. Como a pesquisa foi realizada em mais de um banco de dados,
também apareceram trabalhos repetidos. No portal Scielo foram realizadas
duas buscas, uma em português, mencionada anteriormente, e a outra com
os descritores em espanhol, dada a abrangência dessa base em países de
língua espanhola. No Quadro 01 são apresentadas as pesquisas
encontradas.
Quadro 01 Pesquisas encontradas no banco de dados CAPES
AUTORIA
TULO
ORIGEM
Koga;
Chacon
(2017)
Programa de atenção a alunos
precoces com comportamento de
superdotação: identificação e
proposta de enriquecimento
musical.
Revista Educação
Especial Santa
Maria/Rio Grande do
Sul
Asprilla
(2015)
Educar em la música: uma
aproximación crítica al talento y la
educación musical.
Aula proferida na
Universidade de
Salamanca Espanha.
Torres;
Rodríguez
(2010)
Aptitudes Musicales: utilidade de
su evaliación dentro del proceso de
selección del alumnado de nuevo
ingreso al conservatorio de música.
Publicaciones
Granada/Espanha.
Quesada
(2004)
La expresión y el currículo escolar
Revista Educación
Costa Rica.
Burland;
Davidson
(2002)
Training the Talented
Music Education
ResearchEstados
Unidos.
Molina
(1998)
La improvisación y el linguaje
musical
Revista Eufonia
Madrid.
(continua)
82
(conclusão)
Franco;
Brusaferro; Bava
(1990)
Opposite musical-manual
interference in Young vs experts
musicians
Neuropsychology
Estado Unidos.
Fonte: Do autor.
Nessa busca no banco da CAPES, uma das pesquisas encontradas
é brasileira. Os autores, em geral, utilizam os termos talento”, expert,
aptidão musical, precocidadee comportamento de superdotação”.
De modo geral, há certa ênfase no desenvolvimento do talento, estudos
comparativos, rastreamentos para seleção e musicalização. Diante do
período pesquisado, 1900 a 2018, há um baixo índice de pesquisas, e
Espanha e Estados Unidos aparecem com o maior número de publicações,
como registra o Quadro 02.
Quadro 02 Tese e dissertações encontradas no banco da CAPES e na BDTD
AUTORIA TULO ORIGEM
Abrahão
(2006)
especialistas? Concepções dos professores sobre as
capacidades musicais no ambiente escolar e a
representação gráfica do som de crianças de 3 a 6 anos
de idade.
UNICAMP
Negrisolo
(2009)
em contexto de alta vulnerabilidade social.
PUC/SP
Koga (2015)
música entre crianças precoces com comportamento
de superdotação e crianças com desenvolvimento
típico.
UNESP
MARÍLIA
Gomes
(2016)
Tese O Rap de Mc Criolo entre talentos e
tecnologias.
UNIRIO
(continua)
83
(conclusão)
Ogando
(2017)
Tese - Particularidades do desenvolvimento musical de um
aluno observado com múltiplos sinais de talento entre
estudantes cegos
UNIRIO
Fonte: Do autor.
Ao analisar as pesquisas, verificou-se a baixa quantidade de teses e
dissertações defendidas no Brasil. A dissertação de Abrahão (2006) é a
primeira na área do talento musical, mas ela não enfoca diretamente a
temática, apenas a menciona, mas não a aprofunda. A pesquisa de
Negrisolo (2009) é aquela que de fato discute a temática. As demais
pesquisas aprofundam-na, inclusive em âmbito de avaliação. A
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) aparece com
o maior número de pesquisas, e essas estão locadas no departamento de
Pós-graduação em Música, enquanto as demais estão nas áreas da
Psicologia e Educação.
Quadro 03 Pesquisas encontradas no banco de dados Amplificar
AUTORIA TULO ORIGEM
Santos
(2016)
Comunicação oral - Desenvolvimento de Habilidades
Musicais em Crianças Autistas: Um Projeto de
Extensão e Pesquisa
UNIRIO
Koga;
Chacon
(2015)
Artigo - oficina de enriquecimento musical do
programa de atenção a alunos precoces com
comportamento de superdotação (PAPCS).
UNESP
Ogando
(2015)
Comunicação oral - A garantia dos direitos de
educandos com altas habilidades ou superdotação na
Educação Básica: considerações sobre os desafios no
contexto de aulas de Música
UNIRIO
(continua)
84
(conclusão)
Gomes
(2014)
Comunicação oral - Avaliação, ensino e talento:
construção metodológica para Educação Musical na
Escola Pública
UNIRIO
Santos
(2014)
Comunicação oral - Potencialidades e talento: um estudo
sobre as habilidades musicais em crianças com transtornos
do espectro autista.
UNIRIO
Silva
(2014)
Pôster - Investigação do desempenho em música: a prática
e o talento
vistos através de exemplos da bibliografia específica.
UFBA
Rocha;
Lima
(2013)
Iniciação científica - e para quem não “tem o dom?”:
reflexões sobre o conceito de talento e musicalidade e suas
implicações para educação musical
UNASP
Pedrini
(2013)
Comunicação oral Desenvolvimento musical: dons e
talentos inatos?
UFRGS
Fonte: Do autor.
Na base de dados Amplificar há um volume significativo de
pesquisas sobre o talento musical, a maioria da UNIRIO. É preciso
destacar que esse número de pesquisas é de grande relevância em
decorrência de a temática ser recente e haver certa resistência a esses estudos
na área da música. Entretanto, é significativo o fato de departamentos de
pós-graduação em Música se abrirem para a realização dessa discussão,
diante da necessidade de levar música a todas as pessoas, já que ela continua
ausente em muitas escolas brasileiras (FONTERRADA, 2008).
Quadro 04 Pesquisas encontradas no banco de dados ERIC
AUTORIA
TULO
INSTITUIÇÃO DE ORIGEM
Kurtuldu;
Bulut (2017)
Development of a Self-
Efficacy Scale toward Piano
Lessons
Universidades de Karadeniz
Technical e Omer Halisdemit
(Turquia).
(continua)
85
Cheng;
Southcott (2016)
Improving students’ intrinsic
motivation in piano learning:
Expert teacher voices
Universidade Monash
(Austrália).
Arsic (2015)
Achievement identification and
evaluation of musically gifted
children in lower music school
Escola de música Josif
Marinkovic (Sérvia).
Zieglaer; Straber;
Pfeiffer;
Wormald (2014)
The Nuremberg Music-Ecological
Approach: Why are Some
Musicians Internationally
Successful and Others Not?
Universidade de Erlangen-
Nuremberg (Alemanha) e
Universidade de
Wollongong (Austrália).
Garrett; Moltzen
(2011)
Writing because I want to, not
because I have to: Young gifted
writers’ perspectives on the factors
that “matter” in developing
expertise
Universidades de Auchland
e Waikato.
Tomlinson
(2010)
Cassie: A gifted musician. Socio-
cultural and educational
perspectives related to the
development of musical
understanding in gifted
adolescentes.
Universidade de Griffith
(Austrália).
Chin;
Harrington
(2007)
Supporting the development of
music talent.
Universidade da Califórnia
(Santa Cruz) e Health
Sciences Centre & Western
University (Londres).
Heavner (2005)
The applied music lesson: Teaching
gifted and talented students
utilising principles of comprehensive
musicianship
Universidade do Sul do
Alabama (EUA).
Calvert; Ehle;
Goertz; Arts;
Metzger; Arts
(2004)
Identification of children who are
gifted in music.
Departamento de Educação
de Ohio (EUA).
(continua)
86
Oreck; Owen;
Baum (2003)
Validity, Reliability, and
Equity Issues in an
Observational Talent
Assessment Process in the
Performing Arts.
University, Brooklyn, NY, Biostatistician
in the School of Nursing and the
Department of Preventive Medicine and
Community Health at the University of
Texas Medical Branch, Galveston e
College of New Rochelle in New Rochelle,
NY.
Reis, et. al.
(2002)
A Study of Musical
Talents and Persons
With Williams
Syndrome.
Universidade de Connecticut (EUA),
Universidade de Griffith (Austrália),
Bridges Academy (EUA) e Universidade
de Memphis (EUA).
Oreck; Baum;
McCartney
(2000)
Artistic Talent
Development for Urban
Youth: The Promise and
the Challenge.
Universidade de Yale (EUA).
Zimmerman
(1994)
Making a difference:
differentiated curriculum
units by teachers in the
1993 artistically talented
program
Universidade de Indiana (EUA).
Boylan;
Jening;
Neuman
(1991)
Music: Grades Nine
through Twelve. Black
Swamp Arts Scene
Course of Study:
Talented and Gifted.
Departamento de Educação dos
Estados Unidos.
May (1990)
Music Experts' Views of
an Ideal Curriculum.
Elementary Subjects.
Universidade do Estado de Michigan.
O’neil (1990)
Music Education:
Experts Take New Look
at Performance, General
Music
Association for Supervision and
Curriculum Development, Alexandria,
Va.
Feldman;
Goldsmith
(1990)
Nature's Gambit: Child
Prodigies and the
Development of Talent.
Universidade de Indiana (EUA).
(continua)
87
(conclusão)
Piro (1989)
Laterality for Music Problem Solving Among
Adolescents Gifted in Music, Mathematics
and Dance.
Universidade de Island
(EUA).
Vanderark
(1989)
Self-Esteem, Creativity, and Music:
Implications and Directions for Research.
Universidade do Norte
da Califórnia (EUA).
Jewel (1978)
Teaching Gifted Children Music in Grades
One Through Six.
Universidade do
Estado da Califórnia
(EUA)
Karma
(1973)
The Ability to Structure Acoustic Material as
a Measure of Musical Aptitude: I.
Background Theory and Pilot Studies.
Universidade Helsinki
(Finlândia).
Fonte: Do autor.
No Quadro 04 nota-se uma gama de estudos de origem de
universidades dos Estados Unidos, mas também há uma variedade de
outros países, a exemplo da Finlândia e Turquia. Os termos
superdotado”, prodígio”, experts, aptidão”, foram recorrentes
incluindo o uso de instrumento padronizado; a primeira pesquisa sobre a
temática data de 1973 e a última, registrada pelo de banco de dados, é de
2017.
Quadro 05 Pesquisas encontradas no banco de dados SAGE journals
AUTORIA TULO ORIGEM
Jaap; Patrick
(2011)
The Role of Perceived Self-Efficacy in the
Development of Musical Ability: what can the
study of successful musicians tell us about
teaching music to able children?
University of
Glasgow, United
Kingdom (EUA).
Kozbelt
(2005)
Factors affecting aesthetic success and
improvement in creativity: a case study of the
musical genres of Mozart
Brooklyn college of
the city university of
New York (EUA).
(continua)
88
(conclusão)
Jenkins
(2005)
Prodigies of
nature.
(Sem vínculo institucional)
Londres/Inglaterra
Fonte: Do autor.
O Quadro 05 possibilita observar o baixo índice de pesquisa a
respeito do talento musical no banco da SAGE. Há um predonio de
pesquisas realizadas nos Estados Unidos, sendo a mais atual datada de
2011.
O que se pode concluir a respeito do cenário encontrado
sobre o talento musical?
A realização da revisão bibliográfica permitiu construir o
mapeamento de pesquisas dedicadas à discussão sobre o talento musical,
especificamente no Brasil. As pesquisas encontradas são poucas quando se
compara toda a extensão do período histórico pesquisado. As pesquisas que
foram encontradas são estudos importantes, que possibilitam pensar o
talento musical, inclusive, na perspectiva da diversidade de sua
manifestação.
Diante do número pequeno de pesquisas, o talento musical segue
com questionamentos e atributos ainda por serem conhecidos.
Outro detalhe importante consiste na quantidade de estudos
empíricos e o número de participantes, os quais viabilizam a compreensão
a respeito do fenômeno. No âmbito da pesquisa brasileira a respeito do
talento, esses dados diminuem abruptamente. Ainda são poucos os
dedicados ao estudo do talento musical brasileiro, suas nuances, suas
características culturais, inclusive que mostrem as características da criança
89
e jovens brasileiro diante da vivência musical, pensando cada uma das
regiões do país, as quais se diferem consideravelmente. Além disso, o
mero baixo de participantes e os prazos para conclusão das pesquisas
dificultam possíveis generalizações ou uma discussão ampla e longitudinal
que abranja o contexto cultural e social do país a respeito do talento
musical.
As questões em relação à origem e aplicação da palavra “talento”
como forma de designação do fenômeno podem ser notadas nas pesquisas
encontradas. Os termos e seus conceitos diferem entre as pesquisas e vão
desde concepções do desenvolvimento do talento até sua origem inata.
Desde o termo “genialidade” até o uso de outros termos mais
contemporâneos. Qual a origem desse fenômeno? Por que se manifesta em
algumas pessoas? Manifesta-se em algumas pessoas? Pode ser desenvolvido
ou não? É hereditário? São tantas as dúvidas e questões ao longo dos anos,
que esse assunto se tornou uma das grandes questões científicas.
Diante da polêmica em torno da origem do talento (e a música não
se ausenta desse debate), Renzulli (2018), nas áreas da Psicologia e
Educação, propõe um caminho importante e que talvez permita desvendar
outras possibilidades e reflexões: colocar o foco nos serviços especializados
que serão oferecidos aos sujeitos designados como talentosos, não à pessoa
em si. Para ele, mais importante que designar a pessoa, torna-se substancial
designar os serviços. O autor se posiciona contrário ao uso dos testes
psicométricos, mas utiliza variados instrumentos para rastrear possíveis
casos de talentos e, assim, oferecer-lhes oportunidade e engajamento a
partir do modelo de enriquecimento. Dentre os instrumentos que Renzulli
e Reis (2014) utilizam, estão as escalas padronizadas, bem como
questionários, autonomeação, etc.
90
Na área da música, Haroutounian (2002) também faz uso das
escalas, questionários, protocolos, entrevistas e outros recursos
complementares como se vislumbrou para o PSHM nesta tese.
A partir da História é possível observar a problemática em torno
dos testes psicométricos. No entanto, há uma questão importante que
precisa ser discutida. Os testes são instrumentos da Psicologia e
evidentemente vão mensurar aquilo que se propõem medir (PASQUALI,
2013), ou seja, uns mensurarão a criatividade, outros a inteligência, outros,
a aptidão musical, como é o caso de Seashore (1938). Eles são recursos
criados para atender à demanda de uma área específica e um construto
determinado. No caso de Seashore (1938) e Gordon (2015), seus testes
foram criados para atender à área da música. Tais testes não podem ser
considerados como verdades absolutas ou para determinar o futuro dos
sujeitos (SLOBODA, 2008), mas para orientar as práticas didáticas ou
para compor o quadro de procedimentos de intervenção. O problema não
parece ser completamente resolvido negando a existência da psicometria,
até porque as escalas são utilizadas nos dias atuais, não são testes
psicométricos, mas são padronizadas. Talvez a questão esteja no uso que se
faz desses instrumentos, inclusive a falta de validade das escalas, conforme
apontam Weschler e Farias (2014).
A problemática no uso de recursos padronizados quanto às
questões terminológicas seguirá sua trajetória de dúvidas e
questionamentos, os quais necessitarão de mais discussões e pesquisas.
Porém, não se pode esperar que elas encontrem uma definição a contento,
inclusive unânime, até porque talvez não seja necessário alcançar uma
única definição terminológica ou um único recurso de apreensão do
talento musical, mas cuidar do processo de designação do sujeito,
considerar as expectativas familiares (quando se trata de criança) e a
opinião do sujeito a esse respeito (se ele quer passar por esse processo ou
91
não), infor-lo sobre seus direitos e as oportunidades e acessos a recursos
para se desenvolver, procurar diferentes modalidades de apreensão do
fenômeno, contar com o apoio de uma equipe de especialistas (porque a
designação do talento não pode ser tarefa para uma pessoa apenas e um
único instrumento de mensuração do talento ao longo do processo de
identificação e avaliação) e procurar dar ênfase aos serviços educacionais
que serão oferecidos, conforme orienta Renzulli (2018).
Nas palavras de Renzulli (2014, p. 256),
[a] tarefa de prestar melhores serviços aos nossos jovens mais
promissores não pode esperar até que os teóricos e pesquisadores
produzam uma verdade última e à prova de críticas, mesmo porque tais
verdades provavelmente não existam. Porém, as necessidades e
oportunidades para melhorar os serviços educacionais para esses jovens
já existem em várias salas de aula todos os dias da semana [...], no
poema de Edwin Markham: devemos desenhar nossos círculos
maiores, para que não deixemos de fora nenhum jovem que tenha
potencial para os níveis mais altos da produtividade criativa.
Infelizmente, no Brasil, a educação musical não é a realidade de
todas as escolas (FONTERRADA, 2008), e os projetos sociais não
conseguem cobrir toda a demanda. As escolas e conservatórios municipais
são poucos, e o ensino particular de música pode atingir custos médios a
elevados.
Se fosse realidade em todas as escolas, a educação musical poderia
ser feita nos moldes do Modelo de Enriquecimento de Renzulli (2014;
2018), mas somente as escolas particulares têm se preocupado com essa
disciplina em suas grades curriculares. Por isso, rastrear o talento musical
e desenvolvê-lo tem sido um pensamento distante de sua concretude.
92
Na medida em que o país instaure uma educação musical, será
possível pensar o talento musical. Enquanto isso não acontece, os
rastreamentos podem contribuir para que essa população talentosa se torne
visível aos olhos das gestões escolares, Secretarias da Educação, diretorias
de Ensino e gestores de políticas públicas para a educação musical e
educação especial .
Infelizmente, a mídia tem se apropriado das questões em torno do
talento musical, provendo concursos e programas que exploram
equivocadamente as concepções de talento, inclusive em torno da
genialidade e do prodígio. Isso não ocorre somente no Brasil, mas em
partes do mundo, uma vez que esses programas são mundiais e suas
franquias são vendidas pelo mundo. São crianças, jovens e adultos com
suas famílias, que aceitam ser exploradas em troca de alguns minutos de
aparição na mídia. Há, também, artistas que têm seus talentos explorados
e são levados à exaustão em troca da fama. A esse respeito, a pesquisa de
Rubinstein (1967) possibilita algumas reflexões.
Abordar o talento musical e a possibilidade de seu rastreamento,
por meio da pesquisa que resulta esta tese, tem um propósito distante da
exploração. Nas pesquisas de Koga e Chacon (2017), se tornou evidente a
importância do rastreamento, identificação, avaliação e, o principal, a
oferta de serviços educacionais pautados no Modelo de Enriquecimento de
Renzulli e Reis (2014) para os estudantes com talento. Famílias foram
beneficiadas no momento em que tiveram a oportunidade de passar,
também elas, pelo processo de enriquecimento, bem como os professores
que foram formados na área do talento. Esse tipo de serviço contribui para
a administração da expectativa dos pais, orienta como ajudar o filho
talentoso, contribui para amenizar angústias e, no caso dos professores,
pensar suas estratégias didáticas e formá-los na perspectiva do
enriquecimento.
93
Koga e Chacon (2017) relatam as atividades musicais de
enriquecimento do Programa de Atenção ao Aluno Precoce com
Comportamento de Superdotação (PAPCS), um projeto de extensão
sediado na Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP, campus de
Marília/SP. Nesse mesmo projeto, Koga (2017) relata o desenvolvimento
e o salto qualitativo de Ângela, uma cantora lírica de classe baixa, que
chegou ao projeto apenas tentando vocalizar músicas eruditas e que,
atualmente, após quatro anos de enriquecimento, já é capaz de cantar obras
do cancioneiro erudito, nacional e internacional. Ângela foi identificada e
avaliada por uma equipe multidisciplinar do PAPCS e, posteriormente, ela
e sua família passaram pelo enriquecimento, na perspectiva de Renzulli
(2014; 2018). Ângela passou pela educação musical e, posteriormente,
aulas regulares de canto lírico.
As pessoas têm suas histórias, suas trajetórias e, como Gardner
(1993) defende, também podem manifestar diferentes inteligências.
Então, identificar os talentos ou investir em todos?
As duas coisas parecem sensatas. Nas palavras de Ilari (2013, p.
65), “[...] a música é para todos!” e designar uma pessoa como talentosa
pode contribuir para a constituição da identidade dela e, na perspectiva
teórica de Rubinstein (1967), para sua qualidade de vida. Quem não seria
feliz fazendo aquilo que ama? Essa pergunta sintetiza as teorizações de
Teplov (1966). Para esse autor, a pessoa talentosa em música ama o que
faz. Para Renzulli (2014; 2018), bem como para Gardner (1993),
encontrar pessoas com potencial talentoso permitirá formar líderes mais
éticos, pessoas que possam liderar questões ambientais, políticas, culturais
e sociais que beneficiem o coletivo. Para Gardner (1993), de que vale ter
talento se o sujeito não se constituiu eticamente? Por isso, deve-se
identificar e trabalhar com esse sujeito na perspectiva de seu
desenvolvimento.
94
Um processo de designação do sujeito talentoso pode oportunizar
exatamente aquilo que ocorreu na parábola dos talentos. Quando se sabe
o potencial das pessoas, torna-se possível dar a elas aquilo de que
necessitam e caberá a elas trabalhar para multiplicar. O acesso precisa
existir para todas as pessoas. Por essa razão, a educação musical para todos
poderia promover exatamente o que está na parábola dos talentos. Todos
teriam acesso, mas o talentoso em música poderia tirar maior proveito
dessa oportunidade: essa síntese corrobora, portanto, os estudos de Teplov
(1966), Haroutounian (2002) e Kirnarskaya (2004).
95
Capítulo 2
Percurso de rastreamento e seleção das habilidades musicais
Habilidades musicais são altamente culturais e específicas. Elas variam
através do tempo e espaço e compartilham características importantes com
habilidades de outras áreas do comportamento humano [...]
(LEHMANN; SLOBODA; WOODY, 2007, p. 6, tradução nossa
72
).
O Estudo 2 reúne critérios e procedimentos que contribuíram para
a criação do Protocolo para Screening de Habilidades Musicais (PSHM), o
qual é dirigido ao rastreamento inicial de indivíduos talentosos na área da
música. Para que isso se concretizasse, foi preciso possibilitar uma situação
de discernimento auditivo, na qual estivessem presentes elementos
musicais básicos, tais como altura, ritmo, timbre, melodia, duração,
intensidade e harmonia. Por que esses elementos musicais citados?
“A capacidade de fazer distinções categoriais entre os elementos
musicais é um aspecto fundamental da percepção e da performance
musicais” (SLOBODA, 2008, p. 12). A percepção é parte do dia a dia das
pessoas e quando estão envolvidas no ato de ouvir uma música, a
capacidade de discernimento auditivo já se encontra em ação, mesmo para
aquelas pessoas que nunca estudaram música. Por isso, é possível afirmar
72
Musical skills are highly culture-specific; They vary across time and space; and they share
important characteristics with skills in other areas of human behavior […] (LEHMANN;
SLOBODA; WOODY, 2007, p. 6).
96
que “[q]uando ouvimos música, estamos, de fato, percebendo sete
atributos ou “dimensões” diferentes” (LEVITIN, 2006, p. 26, grifos do
autor), mesmo que não seja uma escuta consciente oriunda de
aprendizagem musical.
Porém, a percepção envolve outros aspectos, além do
discernimento auditivo de elementos ou dimensões musicais, dada a sua
complexidade. Nas palavras de Lehmann, Sloboda e Woddy (2007, p. 5,
tradução nossa
73
):
[N]ós assumimos que fazer e ouvir música envolve diferentes
habilidades e sub-habilidades que são fortemente ligadas ao ambiente
no qual estão sendo usadas, conectando, portanto, toda atividade
musical a um único lugar e tempo cultural.
Nessa perspectiva vale perguntar “[...] qual a melhor maneira de
caracterizar o sistema que está operando naquele momento e lugar?”
(SLOBODA, 2008, p. 318).
Pensando sobre isso, as laudas a seguir apresentarão conceitos
relacionados às dimensões ou elementos musicais. Também foi necessário
realizar um levantamento nos bancos de dados nacionais e internacionais,
considerando a literatura especializada da área da Música e,
especificamente, da Educação Musical e da Psicologia da música. Tal
procedimento foi desenvolvido por meio de revisão sistemática, com a
finalidade de rastrear as dimensões para compor o PSHM.
73
We assume that music making and listening involve a host of different skills and subskills that are
strongly linked to the environment in which they are used, thus connecting every musical activity
to a unique cultural time and place (LEHMANN; SLOBODA; WODDY, 2007, p. 5).
97
Após elencá-las, foi realizada a análise de construto por juízes
especialistas para proceder ao refinamento da seleção final das dimensões
(PASQUALI, 2013; NAKANO; CAMPOS; SANTOS, 2016).
Com todas as etapas concluídas, foi possível atender ao objetivo do
Estudo 2: identificar e selecionar as habilidades musicais para compor o
PSHM.
Habilidades musicais: uma possibilidade de mensuração preliminar do
talento musical a partir de parâmetros sonoros.
Há diferentes rotas que viabilizam a observação e o uso de recursos
investigativos para apreender o talento musical. Estas são: rotas criativas,
cognitivas, ligadas à inteligência musical, memória, imaginação,
sensorialidade e percepção, motivação, psicomotricidade, performance,
aspectos afetivos-emocionais (WILLEMS, 2011). Ademais, estão
envolvidos aspectos sociais, culturais e históricos associados à constituição
das habilidades musicais (SLOBODA, 2008). Dentre tais possibilidades
de rastreamento, está a rota percepto-sensorial, a qual tem como matéria
prima o estímulo sonoro.
Kirnarskaya (2004) pesquisa uma das habilidades musicais mais
antigas da civilização humana: trata-se do ouvido expressivo. A autora o
define como um “[...] mecanismo psicológico de percepção e decodificação
dos parâmetros de conteúdo da música, baseado em propriedades
psicológicas timbre e tempo, dinâmica, articulação e acentuação e
também, em geral, direção e contorno melódico movimento rítmico”
(KIRNARASKAYA, 2004, p. 76, tradução nossa
74
). Com base nessa
74
“ [...] psychological mechanism of percetion and decoding of the content parameters of music,
based on music’s psycho-psychological properties timbre and tempo, dynamics, articulation and
98
autora, o ouvido expressivo tem sua raiz nos modos de interação humana
e da relação homem-natureza. Ele contribuiu para a constituição conjunta
do discurso e do movimento.
Os sons e as batidas estão com o homem desde que ele se constituiu
como homo sapiens, a partir de sua interação com a natureza, com os
animais e outros de sua espécie. O desenvolvimento da rota auditiva
associada à corporal levou o homem ao status de homo musicus em
decorrência do ouvido expressivo que, embora pouco ligado à percepção
aural, por causa de suas características puramente musicais, é considerado
a premissa para o campo aural musical (KIRNARSKAYA, 2004).
Em síntese, com base em Kirnarskaya (2004), o ouvido expressivo
é a essência da musicalidade e, portanto, o ponto de partida para a
constituição do homo musicus. A autora teoriza que o ouvido expressivo
tem raízes profundas no inconsciente e, se ancorado na memória, na
imaginação e, até mesmo, na motivação e afetividade, permite ao sujeito
armazenar um repertório de sons e ritmos em seu cérebro. O ser humano
com ouvido expressivo fez evoluir seu senso rítmico, além da capacidade
de discernimento de tons e ritmos, o que culminou no ouvido analítico.
O ouvido expressivo tem uma raiz histórica e evolutiva, levando o homem
ao alcance da consciência musical.
Para Kirnarskaya (2004, p. 77, tradução nossa
75
) “[...] o ouvido
expressivo é a propriedade fundamental e primária da musicalidade dotada
individual”. A autora relata que 12% das crianças podem apresentar o
ouvido expressivo; dentre elas, estão aquelas com talento musical.
Lehmann, Sloboda e Woody (2007) teorizam que a distribuição da
accentuation and also on the general direction and contour of melodic rhythmic movement”
(KIRNARSKAYA, 2004, p. 76).
75
“[...] the expressive ear is the fundamental and primary property of the musically gifted
individual” (KIRNARSKAYA, 2004, p. 77).
99
habilidade musical na sociedade se dá na seguinte forma: uma pequena
parcela de músicos talentosos, performances, sicos que gostam de
música e o restante da população, interessada pela música, mas sem
treinamento formal.
O desenvolvimento da musicalidade a partir da rota auditiva
interessou dois importantes teóricos da educação musical, Willems (2011)
e Gordon (2015). Na perspectiva teórica de Willems (2011), o processo
que leva à compreensão e à consciência dos sons percorre três pilares: o da
sensação (recepção do som), da sensibilidade afetiva-auditiva (que
representa a necessidade, emoção, memória mnemônica e imaginação) e o
da percepção (consiste na comparação, julgamento, memória de natureza
intelectual, consciência sonora e imaginação construtiva). Gordon (2015)
criou o conceito de audiation (audiação). Para ele, “[a] audiação é para a
música o que o pensamento é para a linguagem” (GORDON, 2015, p.
29). O autor considera a audiação a base da aptidão musical; por isso, na
concepção de Gordon (2015), a percepção auditiva se torna uma condição
preliminar para a audiação.
Historicamente, a habilidade musical, mensurável de modo
padronizado a partir de elementos sonoros como forma de acessar o talento
musical, se tornou foco de interesse no século XX em meio às descobertas
do período, mas o som, como algo mensurável de modo padronizado e
quantificável, já vinha sendo pesquisado mesmo antes do início do século
XX por estudiosos como, por exemplo, Stumpf (1848-1936), Helmholtz
(1821-1894) e Reimann (1849-1919). Esses estudiosos, influenciados por
conceitos oriundos das áreas da Física, Psicofísica e Psicologia
(Psicometria) associada à música, se concentraram no estudo das sensações
acústicas e dos fundamentos do som, da Psicologia do som e sobre a
importância do senso lógico para a compreensão da música
(FONTERRADA, 2008).
100
Habilidade musical, é preciso destacar, é compreendida, no Estudo
2, como a sensibilidade e a capacidade dos sujeitos para internalizar os
elementos musicais como altura, ritmos, melodias, harmonia, intensidade,
duração e agógica (KIRNARSKAYA, 2004).
A compreensão do processamento dos estímulos sonoros pelo
cérebro e a resposta dos sujeitos a eles, no final do século XIX e início do
XX, estava em crescente evolução. Muitos questionamentos pairavam
sobre a comunidade científica; dentre as questões estava: “[c]omo
procedemos para estudar o que um organismo pode ver e ouvir?”
(MUELLER, 1977, p. 13).
Com o decorrer do tempo, o surgimento dos testes psicométricos
na área da Psicologia induziu a criação de testes padronizados e
psicométricos na área da música, como os testes padronizados Seashore
Measures of Music Talent (SEASHORE, 1938), Wing Standardized Tests of
Musical Intelligence (WING, 1962), Bentley Measures of Musical Abilities
(HAROUTOUNIAN, 2002), Primary Measures of Music Audiation,
Intermediate of Music Audiation, Advanced Measures of Music Audiation e
Music Aptitude Profile (GORDON, 2015). Todos esses testes utilizaram o
método psicofísico
76
de comparação por pares, e os estímulos sonoros
selecionados eram constituídos de diferentes parâmetros do som como:
altura, duração, intensidade, timbre, incluindo a memória tonal e rítmica.
Porém essa perspectiva de rastreamento das habilidades musicais
veio se modificando no decorrer do século XX até os dias de hoje, em
função da percepção de que as habilidades musicais envolvem outras
características que não eram mensuradas pelos testes padronizados
(HALLAM, 2006; SLOBODA, 2008). De acordo com Pasquali (2013),
todo teste padronizado deve medir um construto específico. Por essa razão,
76
O Estudo 3 trata da definição e conceitos referentes ao método psicofísico.
101
os testes podem medir partes de um fenômeno e não toda a sua amplitude
(SLOBODA, 2008).
Haroutounian (2002), por exemplo, preocupada com a limitação
de alguns instrumentos e objetivando mensurar o talento musical em toda
sua amplitude, elaborou um plano de identificação e avaliação do talento
musical abarcando diferentes rotas e modalidades de instrumentos para
atender as especificidades desse fenômeno. Para isso, a autora criou
questionários, roteiros de entrevistas, escalas padronizadas, roteiro para
observação da performance musical, portfólios e estratégias para análise de
composições musicais. Fonterrada (2008) aponta ainda o uso de atividades
musicais e estudos de caso como forma de apreensão e compreensão das
habilidades musicais.
Assim como Haroutounian (2002), Lehmann, Sloboda e Woody
(2007) e Sloboda (2008) também se mostraram preocupados com o uso
dos testes, em decorrência das limitações que podem ocorrer diante das
diferenças e necessidades culturais, históricas e prática musical
desenvolvida sistematicamente. Os autores defendem a observação e outras
estratégias de natureza subjetiva e qualitativa para a análise do
desenvolvimento musical.
De fato, qualquer estratégia para rastrear o talento, em geral, feita
por um único instrumento ou por uma única perspectiva como forma de
confirmação, pode ocasionar equívocos. A esse respeito Renzulli (2014;
2018) discute em sua obra, há 40 anos, a ineficácia de procedimentos de
identificação e avaliação do talento que não sejam multimodais. Dessa
forma, o tipo de rota padronizada para o rastreamento de possíveis casos
de talento musical, de modo inicial e preliminar e como parte de um
processo maior de mapeamento, pode contribuir para a identificação do
sujeito talentoso em música. Porém, será imprescindível que o
procedimento de avaliação avance e com o auxílio de outros instrumentos
102
e equipe de profissionais especializados no talento musical e áreas afins à
música. Deste modo, poderá ou
deverá usar-se um teste de aptidão musical para revelar a aptidão
musical duma criança. Sem o uso dum teste, a sua aptidão musical
poderá ficar oculta para sempre. Qualquer criança,
independentemente do seu nível de aptidão musical, pode tirar
proveito da orientação informal estruturada e não-estruturada e da
educação formal em música, mas isso só acontece quando essa
orientação e educação têm lugar com um conhecimento profundo das
suas aptidões musicais. Doutra forma, virá sentir-se frustrada uma
criança com baixa aptidão e outra com elevada aptidão aborrecer-se-á
(GORDON, 2015, p. 23).
Fonterrada (2008), em seus estudos, discute os efeitos de algumas
correntes, no século XX, a respeito da mensuração e compreensão das
habilidades musicais e do talento, o que colaborou para a divisão entre
aqueles que defendem quantificação ou tratamento qualitativo do
fenômeno em questão. Para ela, essas correntes até hoje dividem as
pesquisas em sua forma de tratar o fenômeno, na realização das escolhas
metodológicas, formas de análise e elaboração de instrumentos e
estratégias. Para Farias e Weschler (2014), essas diferentes perspectivas são
importantes, mas desde que haja rigor científico. Na perspectiva das
autoras, há, no Brasil, muitos instrumentos padronizados que não são
validados, o que ocasiona resultados imprecisos.
Questões a respeito do método de apreensão do talento musical
teriam sua raiz em concepções como aquelas que discute Fonterrada
(2008). Um grupo pesquisava a “[...] transmissão da musicalidade e seus
efeitos no ambiente familiar e social e do desenvolvimento de habilidades”
(FONTERRADA, 2008, p. 101) e, para tanto, desenvolveu recursos sob
103
essa ótica. Outro, considerava questões de hereditariedade impactados pelo
meio. Havia, também, uma corrente, foco de interesse desta pesquisa, que
consiste no “[...] desenvolvimento da habilidade musical entre crianças em
idade pré-escolar e adolescentes, tais como o reconhecimento de
parâmetros do som, o desenvolvimento do ouvido absoluto e o início da
escrita musical, entre outros” (FONTERRADA, 2008, p. 102). E ainda
havia um grupo que defendia o uso dos testes de aptidão padronizados
(FONTERRADA, 2008).
A habilidade para discriminar sons e ritmos musicais é parte
integrante de um sistema e estrutura que permite ao sujeito controlar e
utilizar intencionalmente os elementos musicais. Evidentemente essa
habilidade sozinha não permite concluir a existência do talento musical,
mas permite estabelecer hipóteses importantes, que podem se confirmar
ou não (HAROUTOUNIAN, 2002). Na perspectiva dessa autora, os
talentos musicais são capazes de ouvir cuidadosamente os sons e ritmos
devido à capacidade de discernimento dos elementos musicais. Eles
conseguem compreender a estrutura hierárquica da música em decorrência
do desenvolvimento da consciência musical (KIRNARSKAYA, 2004).
A respeito da percepção, pensamento e cognição musical,
Haroutounian (2002) discute o conceito de metapercepção. Para
Haroutounian (2002, p. 6, tradução nossa
77
, grifo do autor) a
“‘[m]etapercepção’ descreve a função cognitiva/perceptual de um músico
ou qualquer artista que faz decisões interpretativas”. A autora define
metapercepçãocomo “[...] o processo de ‘pensar sobre o pensamento’”
(HAROUTOUNIAN, 2002, p. 6, tradução nossa
78
, grifo do autor). Essa
vertente foi compartilhada por Gordon (2015), para quem a
77
‘Metaperception’ describes the cognitive/perceptual funtioning of a musicion or any artist while
making interpretivedecisions (HAROUTOUNIAN, 2002, p. 6).
78
“[...] the process of ‘thinking about thinking’” (HAROUTOUNIAN, 2002, p. 6).
104
metapercepção consiste na descrição da música interna do sujeito (imagem
dos sons e seus sentidos e significados). Para Haroutounian (2002), a
metapercepção acessa o spark (centelha) da musicalidade, do
reconhecimento do potencial musical, senso estético do sujeito e a conexão
entre a performance e a criação musical.
Com base no conceito de metapercepção, associado ao processo de
percepção do som musical, está em jogo a fonte, o meio de propagação e
o receptor. A respeito da fonte sonora (os elementos musicais), as
dimensões básicas que a compõem são: altura, intensidade e timbre.
Porém, é preciso lembrar que esses elementos tem sua origem nas onda
sonora senoidal (RUSSO, 1999; BISTAFA, 2011; WILLEMS, 2011).
Há diferentes tipos de ondas sonoras (RUSSO, 1999). As ondas
que compõem a voz humana e os sons produzidos por instrumentos
musicais são denominados “sons ou ondas complexas, porque elas são
uma série de ondas senóide combinadas, o que dificulta seu controle em
termos laboratoriais. Por isso, [q]uando existe mais de uma frequência,
relacionada harmonicamente, denominamos esta superposição de som
complexo” (MOMENSOHN-SANTOS; RUSSO, 2007, p. 49, grifo das
autoras). Isso, porque,
[a]s propriedades físicas estão ligadas à frequência, intensidade,
velocidade, forma da onda de um estímulo sonoro; porém, as sensações
auditivas lidam com as impressões e julgamentos individuais em
relação ao ruído, vozes humanas, sons musicais, entre outros. Ela se
remete à habilidade dos ouvidos discriminarem as diferenças entre os
estímulos e não diretamente com os mecanismos fisiológicos que
servem de base para detecção ou diferenciação de sons, mas com os
relatos dos ouvintes sobre estes (MOMENSOHN-SANTOS;
RUSSO, 2007, p. 50).
105
Mueller (1977), Russo (1999), Gardner (2001), Bistafa (2002),
Gardner e Martin (2003), Willems (2011) e Silveira (2016) descrevem o
processo de percepção do som. Este entra pela orelha, passa pelo ouvido
médio, onde se localiza o tímpano, depois chega ao ouvido interno, onde
as frequências sonoras são transmitidas ao cérebro, o qual irá interpretar o
estímulo. Especificamente, para Willems (2011), esse processo de
compreensão do som conta com três princípios: ato de ouvir, escutar e
entender, associados à natureza fisiológica (sensorialidade), afetiva (reações
emocionais) e mental (cognitiva). É nesse contexto que “[a]s funções do
sistema auditivo periférico incluem: recepção, detecção, condução e
transdução do sinal acústico em impulsos neuro-elétricos”
(MOMENSOHN-SANTOS; RUSSO, 2007, p. 29).
Hyde et al. (2009) apresentam o impacto dos elementos musicais
processados no cérebro, ocasionado pela exposição à música, seja ela formal
e sistemática ou não. Para os autores, áreas do cérebro se tornam
especializadas em detectar e reconhecer elementos musicais. Bistafa
(2002), inclusive, as separa, entre hemisfério direito e esquerdo. Por
exemplo, no hemisfério direito são processados os estímulos ambientais e
sons de animais, bem como altura, timbre, tonalidade, harmonia, melodia,
memória tonal e compreensão da estrutura textual musical. No hemisfério
esquerdo são processados ritmos e sequências curtas de sons melódicos.
Com bases em estudos como esses de neurociência, testagens
padronizadas em música geralmente utilizam elementos sonoros como,
por exemplo, tom e ritmo, os quais podem ser encontrados nos testes de
Gordon (2000; 2015). Porém, o autor amplia sua testagem utilizando
fragmentos melódicos e instrumentos musicais. Com base na teoria da
106
audiação (audiation
79
), Gordon (1997), antes de criar seus testes
padronizados, realizou um mapeamento com 277 sujeitos, analisando
como eles percebiam o estímulo sonoro, como os sons e batidas eram
processados pelo cérebro (uso de ressonância), atitude diante do fragmento
musical e julgamento. Foram estudos dessa natureza que permitiram ao
autor selecionar os itens que comporiam seus testes.
Gordon (2015), a partir de sua teoria da audiação, com relação à
seleção dos sons e ritmos nos testes, conclui que os sujeitos aprendem a
linguagem da música assim como aprendem a andar e falar. De acordo
com o autor, “[a]udiar enquanto se executa música é como pensar
enquanto se fala [...]” (GORDON, 2015, p. 29). Lecanuet (1996), assim
como Mannes (2011) e Ilari (2013), realizaram um estudo semelhante ao
de Gordon (2015), porém com bebês e fetos antes do nascimento.
Lecanuet (1996), em suas conclusões, em síntese, permite compreender
que o útero é um ambiente rico em frequências e batidas. Esse ambiente
se intensifica no terceiro e quatro meses antes do nascimento da criança.
Nesse período todo o sistema e função auditiva começam a se desenvolver
e, assim que nasce, nas primeiras semanas, o bebê torna-se capaz de
discernir alguns sons, dentre eles a voz materna e paterna. Isso, segundo
Ilari (2006), porque os bebês e as crianças não são “[...] cognitivamente
limitados a um certo tipo de música, sendo capazes de perceber,
discriminar e até armazenar elementos musicais complexos na memória de
longo prazo” (ILARI, 2006).
O discernimento de estímulos, como os sonoros, conforme vai
evoluindo nos seres humanos, torna-se um processo que envolve cada vez
mais a cognição. Seja no concreto ou no campo virtual, a percepção,
79
“A audiação ocorre quando se ouve e se compreende música em silêncio, quando o som da música
já não está ou nunca esteve fisicamente presente” (GORDON, 2015, p. 29). Com base nas
teorizações do autor audiation é traduzida como audiação e o verbo utilizado fica audiar.
107
incluindo a musical, também envolve “[...] um processo complexo de
análise e síntese, incluindo a ‘tomada de decisão’, que situa qualquer forma
dada em uma categoria estrutural particular” (LURIA, 2013, p. 38, grifo
do autor). Tudo isso está em jogo no momento em que um estímulo é
apresentado e o sujeito precisa emitir uma resposta a ele (MUELLER,
1977; BISTAFA, 2002).
Nesse contexto são criados os testes com base no discernimento de
estímulos sonoros utilizando a rota percepto-sensorial. Seashore (1938)
optou pelo uso de altura, intensidade, variações harmônicas, timbres de
instrumentos, métrica, intervalos, duração e outros. Essa escolha se deu
porque o autor concluiu que o talento musical, com atributos sensoriais
oriundos desde o nascimento do sujeito, se organiza de modo hierárquico.
Esses elementos sensoriais, para Seashore (1938), compunham o quadro
das aptidões musicais.
Levitin (2006) aponta como dimensões do som: altura, ritmo,
andamento, contorno melódico, timbre, volume e localização espacial. O
autor elenca esses elementos em decorrência de sua pesquisa a respeito das
diferentes formas de ouvir uma música, as formas da memória de registrar
os eventos sonoros e as diferenças dos ouvintes diante de uma mesma
música. Também o autor discute que, dependendo do tipo de apresentação
do estímulo sonoro, pode haver facilidade, dificuldade ou desafio ao
ouvinte na sua identificação.
Teplov (1966) aponta dimensões semelhantes aos autores citados:
altura, intensidade, acordes, duração, memória musical e senso rítmico.
Influenciado pelos estudos de Rubinstein (1967), Teplov (1966) chega à
conclusão de que a sensibilidade para diferenciar sons exerce grande
influência no rastreamento do talento musical, porque a rota percepto-
sensorial permite acessar a consciência musical do sujeito e,
preliminarmente, o talento. Teplov (1966) apresenta dois tipos de escuta
108
do som. O primeiro, ele denomina aptidão auditiva elementar, e o
segundo, aptidões auditivas superiores. A primeira aproxima o sujeito da
música, e a segunda faz o sujeito, após desenvolvimento musical, ter
consciência e submeter os elementos musicais sob controle criativo. Para
Teplov (1966, p. 69, tradução nossa
80
), o ouvido superior proporciona
“[...] a capacidade de cantar ou reproduzir fielmente uma melodia ou frase”
e a “[...] a propensão para a arte musical” (TEPLOV, 1966, p. 70, tradução
nossa
81
). Para Teplov (1966), as aptidões auditivas elementares envolvem
elementos distintos: ouvido harmônico, senso tonal, senso de
tempo/duração e senso de métrica. As aptidões auditivas superiores
envolvem o ouvido interno, a audição apurada, o ouvido arquitetônico e a
lógica musical (consciência musical).
Para Kirnarskaya (2004), a habilidade musical é composta pelo
ouvido expressivo, senso rítmico e o ouvido analítico. Influenciada pela
obra de Teplov (1966), Kirnarskaya (2004) apresenta o ouvido
arquitetônico como ponto crucial para compreender e fazer música. Para
ela, o sujeito musical entende a hierarquia e a estrutura do som, além da
capacidade de discerni-los e utilizá-los com maestria. São dimensões do
som, para a autora: tonalidade, modos, acordes, melodias, harmonia e
consonância. Kirnarskaya (2004) conclui que
[o] ouvido arquitetônico controla a lógica interna do desenvolvimento
de um pensamento musical, sentindo intuitivamente a relação das
partes com a sua interdependência concomitante. O sentido estético é
o indicador psicológico do ouvido arquitetônico, anunciando a
presença deste último na estrutura do talento musical. O ouvido
arquitetônico está relacionado às associações aural-espaciais e é o
80
“[...] l'aptitude à chanter ou à jouer fidèlement une mélodie ou une phase (TEPLOV, 1966, p.
69).
81
“[...] le penchant pour l'art musical (TEPLOV, 1966, p. 70).
109
arquiteto da futura composição, controlando todas as fases de sua
construção (KIRNARSKAYA, 2004, p. 229, tradução nossa
82
, grifo do
autor).
Haroutounian (2002) também elenca as dimensões musicais,
como: tom, dinâmica, tempo/ritmo, timbre, harmonia e amplia para
outros elementos, como memória musical, criatividade (improvisação,
composição, expressividade e senso estético) e envolvimento (perseverança
e refinamento/trabalho musical crítico). Com base na autora, esses
elementos acessam o talento musical parcial; se utilizados todos os
elementos musicais, acessam o talento musical de modo mais abrangente.
Trehub (2003) em seus estudos também avaliou a percepção
musical. Para a realização das testagens, utilizou dimensões como tom,
duração, intervalos, escalas, melodia e ritmo. A tarefa que solicitou aos
participantes foi a realização da discriminação sonora.
Para Winner (1996), uma das habilidades musicais da criança
talentosa em música “[...] envolve uma grande sensibilidade relativamente
à estrutura musical tons, afinação, harmonia e ritmo” (WINNER, 1996,
p. 107). Para a autora, crianças talentosas apresentam “[...] grande interesse
e encanto pelos sons” (WINNER, 1996, p. 107).
Gardner (2001), ao teorizar sobre a inteligência musical, menciona
como dimensões mensuráveis: tom, ritmo e timbre. Para o autor, esses três
elementos são centrais para o talento musical.
82
“The architectonic ear controls the internal logic of the development of a musical thought ,
intuitively sensing the relationship of parts to the whole and their concomitant interdependence.
The esthetic sense is the psychological indicator of the architectonic ear, heralding the latter's
presence in the structure of musical talent. The architectonic ear relies on aural-spacial associations
and is the ‘architect’ of the future composition, controlling all phases of its construction”
(KIRNARSKAYA, 2004, p. 229, grifos do autor).
110
Autores como Griffith e Todd (1999), Taylor e Greenhough
(1999), Casey (1999) e Large e Kolen (1999) apontam como dimensões
mensuráveis e parâmetros do som complexo: tom associado à tonalidade,
ritmo e métrica. Katz (1999) e Grossberg (1999) dedicam-se à discussão a
respeito da memória, estrutura e complexo melódico, ou seja, expandem a
concepção de dimensões passiveis de mensuração.
Eichert, Schmidt e Seifert (1997) trazem uma discussão bastante
plausível sobre a forma de apresentação do estímulo, principalmente
quando ela ocorrer no computador. Os autores tratam dessa perspectiva
baseados na Psicologia da Gestalt (KOHLER, 1968) associada à
tecnologia. Para os autores, ainda são poucas as pesquisas que se dedicam
à compreensão da organização percepto-sensorial, principalmente quando
ela ocorre por meio do computador. Nessa nova realidade de apreensão do
estímulo sonoro, muitos aspectos estão em jogo: elementos de fonte
primária e outros secundários e, até mesmo, a experiência do sujeito em
relação à tarefa proposta.
Uma preocupação semelhante ocorre com Pasquali (2013), o qual
discute a aplicação de testes psicométricos a partir do computador. No
caso, o autor se preocupa com questões desde a realização do teste no
ambiente virtual até a tabulação dos dados a partir de banco de dados
criado nesse contexto. Em função dessa problematização com o
computador, a questão central instaurada e que envolve a Psicologia da
Gestalt concentra-se na resposta do sujeito a respeito do objeto observado
em relação a quanto sua mudança é sentida por ele. Como o som e o ritmo
são de natureza abstrata, calibrá-los adequadamente e de modo controlado
é um grande desafio, principalmente quando os sons complexos são
utilizados a partir de seus parâmetros ou dimensões.
Em conclusão, o objetivo do Estudo 2 consistiu em realizar a
seleção de dimensões que permitissem compor o quadro de habilidades
111
musicais percepto-sensoriais e rítmicas para assim dar início à criação das
tarefas para cada item do PSHM, que serão descritos no Estudo 3.
Como selecionar as habilidades musicais?
A revisão sistemática se deu em razão da necessidade de encontrar
pesquisas que fizessem uso das habilidades musicais para o rastreamento e
a mensuração do talento musical a partir do método psicofísico,
especificamente, utilizando a comparação por pares, e nos moldes da
técnica para screening.
Essa escolha metodológica tem por base os estudos de Medrado,
Gomes e Sobrinho (2014), que detalham cada uma das etapas necessárias
para a realização da revisão sistemática. Para as autoras,
[o] processo de Revisão Sistemática da Literatura (RSL) se constitui no
resgate, no agrupamento, no mapeamento, na integração, na avaliação
crítica e na interpretação de dados gerados pela atividade de pesquisa,
em qualquer que seja a área do saber humano, no que se refere a um
problema que demande solução imediata, um assunto do cotidiano ou
fenômeno de interesse, por parte do pesquisador (MEDRADO;
GOMES; SOBRINHO, 2014, p. 106).
Após selecionar as habilidades musicais, o segundo passo consistiu
no refinamento dessa seleção. Posteriormente, elas foram submetidas à
análise de construto, conforme orientam Pasquali (2010; 2013), Hutz,
Bandeira e Trentini (2015) e conforme procedem Nakano, Campos e
Santos (2016) em casos de construção de instrumentos. Por essa razão,
foram necessários juízes especialistas em música e em construção de testes
112
padronizados para julgar a pertincia das habilidades musicais, em termos
de capacidade de mensuração dos aspectos componentes do talento
musical, de modo inicial. Ademais, coube a cada especialista contribuir
julgando se as habilidades musicais elencadas atendiam de fato ao método
psicofísico, permitindo a comparação por pares, e a técnica para screening.
A descrição do procedimento de seleção das habilidades musicais
podeser encontrada nos tópicos seguintes.
Análise de construto
Participaram da análise de construto dois grupos de juízes
especialistas da área da música. Cada grupo era composto por quatro juízes
acadêmicos e quatro juízes usuários
83
.
Foi solicitado, também, ao grupo de pesquisa Diferença, Desvio
e Estigma
84
ao qual a pesquisadora pertencia que analisassem as
habilidades (dimensões) selecionadas preliminarmente, verificando se elas
atendiam ao método psicofísico de comparação por pares e, também, à
técnica para screening.
83
São considerados juízes acadêmicos os profissionais do nível universitário, ou seja, aqueles que
desenvolvem pesquisas na área dasica, ao passo que os juízes usuários são aqueles docentes da
rede pública e privada de ensino básico, responsáveis pela disciplina de Educação Musical, aos quais
se destinará o PSHM.
84
Grupo de pesquisa: “Diferença, Desvio e Estigma”, coordenado pelo Professor Dr. Sadao Omote,
na Faculdade de Filosofia e Ciências UNESP, Marília/SP.
113
Como as habilidades musicais foram selecionadas?
Inicialmente a pesquisadora elencou as bases de dados Sage full-text
collection, específicas da área da Educação Especial com publicações e
periódicos referentes ao talento, Resources in Education and Current Index
to Journals in Education (ERIC), Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
dissertações (BDTD) e a base de dados Amplificar, específica da área da
Música.
Também foram consultadas a literatura especializada e duas
revistas internacionais qualificadas na área da música, conforme orientam
Lehmann, Sloboda e Woody (2007). Os periódicos são: Music Perception
85
e Psychology of Music
86
. Em ambas as revistas, o descritor utilizado também
foi habilidades musicais(music abilities).
O descritor habilidades musicais foi selecionado a partir dos
estudos de Teplov (1966), Rubinstein (1978), Lafarga e Sanz (1997),
Shuter-Dyson (1999), Haroutounian (2002), Kirnarskaya (2004) e
Hallam (2006), os quais conceituaram o termo
87
.
A etapa seguinte da revisão consistiu na escolha do período para
rastreamento das pesquisas existentes. O período histórico elencado para a
seleção dos estudos sobre as habilidades musicais foi o início de 1900,
quando houve a construção dos primeiros testes padronizados para a
85
Music Perception. Disponível em: http://mp.ucpress.edu/
86
Psychology of Music. Disponível em: http://journals.sagepub.com/home/pom
87
A pesquisadora atentou para a tradução da palavra “habilidades” na perspectiva musical. Os
autores de base utilizados são russos (com tradução para o inglês e francês) e americanos. No ings,
a palavra “habilidades” pode ser escrita como skill”: “perícia” e “habilidade”, de acordo com o
dicionário inglês-português Webster’s 6ª ed. (HOUAISS, 2007) ou “ability”: capacidade, aptidão,
poder, habilidade, proficiência e talento, de acordo com o dicionário inglês-português Webester’s
6ª ed. (HOUAISS, 2007). Portanto, com base nos autores de fundamentação, a pesquisadora optou
pela palavra “ability” em decorrência do aporte teórico associado à ocorrência de trabalhos a respeito
da medição de habilidades musicais.
114
identificação e avaliação do índice de musicalidade de um sujeito, a
exemplo dos testes de Carl Seashore, Arnold Bentley e Edwin Gordon
(FONTERRADA, 2008). Outros aspectos também influenciaram a
seleção do período escolhido para a revisão bibliográfica.
À medida que o século XX avançava, outros fenômenos ligados à
música ocupavam o foco de interesse dos estudiosos: o incremento da
pesquisa em música nas universidades e o advento da profissão de
psicólogo da música. Pretendia-se determinar o que é musicalidade, e,
apoiando-se no rigor dos métodos científicos, criar métodos confiáveis
de aferição dessas medidas (FONTERRADA, 2008, p. 96).
Preliminarmente, foi disponibilizada para todos os juízes uma
planilha contendo todas as habilidades musicais (dimensões) e alternativas,
que variavam em S (sim), NS (não sei) e N (não), para que os juízes
pudessem assinalar com X expressando sua resposta. Havia um enunciado
explicativo sobre o objetivo da tarefa e também com instruções sobre como
eles deveriam proceder. Correspondente a cada habilidade musical, havia
um campo para que os juízes pudessem registrar suas opiniões e sugestões
frente à alternativa assinalada, ou seja, foi solicitada a eles uma justificativa.
O último procedimento junto ao grupo de pesquisa Diferença,
Desvio e Estigmaconsistiu na apresentação das habilidades musicais em
um quadro contendo um esboço da divisão de todas as dimensões e itens
do PSHM, acompanhadas de uma descrição resumida do comando que
seria dado ao participante e o que seria mensurado em cada uma das
dimensões. A partir das concepções psicofísicas e do método de
comparação por pares, o grupo de pesquisa contribui nesse segundo
momento para o refinamento final de seleção das habilidades musicais.
115
Para realizar a tabulação, foi criado um banco de dados. Nele,
foram registrados conteúdos como o N total de trabalhos encontrados a
partir do descritor, título dos trabalhos, resumos, data, autoria e origem
(centro de pesquisa ou instituição ou universidade).
O registro no banco de dados era realizado após a leitura dos
resumos e quando a pesquisa encontrada continha a seleção ou mensuração
de habilidades musicais associadas ao estudo do talento musical. As
pesquisas, para serem registradas no banco de dados, precisavam enfocar
as habilidades musicais e apresentar testes padronizados utilizando o
método psicofísico de comparação por pares, além de configurarem a
técnica para screening. Após término da busca, os relatos de pesquisa eram
lidos na íntegra.
A partir da seleção das dimensões e itens, a pesquisadora os
submeteu à análise de juízes especialistas. Após o retorno dos juízes, a
pesquisadora tabulou os dados, para os quais foram atribuídosmeros de
identificação para cada item (1, 2, 3, 4 etc.) e números para as
possibilidades de resposta como, sim = 1, não sei = 2 e não = 3. Com base
nas recomendações de Pasquali (2010; 2013) e Hutz, Bandeira e Trentini
(2015), estabeleceu-se o índice de concordância, os quais foram
padronizados por Pacico e Hutz (2015) como se pode observar na Tabela
03.
116
Tabela 03 – Valores mínimos para Razão de Validade de Conteúdo (RVC)
Número de Juízes
RVC
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
20
25
30
35
40
0,99
0,99
0,99
0,75
0,78
0,62
0,59
0,56
0,54
0,51
0,49
0,42
0,37
0,33
0,31
0,29
Fonte: Adaptado de Pacico e Hutz (2015, p. 76).
Visto que para a pesquisa foram convidados oito juízes, o índice de
concordância deve ser de, no mínimo, 0,75. Para Pasquali (2013, p. 108),
“[...] se o item 1 foi assinalado por 8 entre 10 juízes como sendo
representante do fator autonomia, então ele conseguiu concordância 0,80
(8/10) e é retido no elenco”. Já nessa pesquisa, se seis assinalarem sim
em 1 item, este terá conseguido concordância 0,75 (6/8).
A partir da análise de construto, esta pesquisadora realizou um
esboço da versão preliminar das habilidades musicais e as apresentou aos
membros do grupo de pesquisa, os quais deveriam discutir se cada
dimensão e item tinha condições de mensurar aquilo que se propunha
medir. Se era possível que a dimensão “timbre”, por exemplo, poderia ser
117
controlada a ponto de mensurar realmente o timbre e não outras nuances
como altura ou intensidade etc.
O que se pode dizer sobre a seleção das habilidades musicais?
Na Tabela 04 encontra-se o total de pesquisas encontradas em cada
banco de dados:
Tabela 04Ocorrências de pesquisas sobre habilidades musicais
BANCO DE DADOS
N
TOTAL
PESQUISAS
SELECIONADAS
SAGE FULL-TEXT
COLLECTION
ERIC
BDTD
AMPLIFICAR
MUSIC PERCEPTION
PSYCHOLOGY OF MUSIC
455
900
4652
11
687
1037
5
3
1
1
5
7
TOTAL
7742
22
Fonte: Do autor.
Dos cinco trabalhos encontrados na base de dados Sage full-text,
três pertencem à área da Educação Musical e um, à da Psicologia. Quatro
das cinco pesquisas eram dos Estados Unidos e uma, da Grécia.
Cronologicamente, a periodicidade das pesquisas variava entre 1996 a
2014 e as habilidades musicais contempladas pelos estudos estavam
focadas em dimensões como: ritmo, melodia, tom, intervalos e duração.
Das cinco pesquisas, somente uma caracterizava-se como um screening.
Stamou, Schmidt e Humphrey (2010) são um exemplo: eles dedicaram-se
118
ao procedimento de validação para a realidade grega do teste Primary
Measures of Music Audiation (PMMA), criado por Gordon (2000).
Diante das pesquisas encontradas foi possível constatar que elas
operaram na mensuração do ouvido expressivo e senso rítmico,
permanecendo na base do ouvido elementar (TEPLOV, 1966;
KIRNARSKAYA, 2004, GORDON, 2015).
Na base de dados ERIC, das três pesquisas encontradas, duas são
da área da Psicologia com enfoque no desenvolvimento infantil, a outra,
da Educação Musical. Originalmente, duas eram provenientes dos Estados
Unidos e uma, da Grécia, e foram produzidas entre 2005 e 2013. Com
relação às habilidades musicais, os estudos focalizaram dimensões como a
coordenação motora geral, ritmo, melodia, tom e apreciação relacionada
aos fatores emocionais. Todos os estudos estavam pautados na técnica para
screening.
Nessas pesquisas, a mensuração das habilidades musicais avançou
em relação às esferas do ouvido expressivo e senso rítmico, acessando de
modo preliminar o ouvido analítico em decorrência da sondagem a partir
da apreciação musical (TEPLOV, 1966; HAROUTOUNIAN, 2002;
KIRNARSKAYA, 2004).
É preciso destacar que o teste psicométrico Primary Measures of
Music Audiation (PMMA), de Gordon (2000), foi utilizado novamente por
uma das pesquisas encontradas na plataforma ERIC; trata-se do estudo de
Pollatou, Karadimou e Gerodimos (2005). Esse teste de Gordon (2015)
trabalha com duas dimensões: tom e ritmo.
Na plataforma BDTD, o trabalho encontrado de Asnis (2014)
tinha como tema as habilidades musicais relacionadas às habilidades sociais
em pessoas com a síndrome de Willems. Para mensurá-las, a autora
utilizou um instrumento denominado Avaliação de habilidades musicais
119
para adolescentes com a síndrome de Willems, com foco nas dimensões
ritmo e pulso. Asnis (2014) desenvolveu a pesquisa em âmbito nacional,
na Universidade Federal de São Carlos, interior do Estado de São Paulo, e
trabalhou a produção musical a partir da observação do reconhecimento e
manejo instrumental do participante.
De acordo com Kirnarskaya (2004), sujeitos comndrome de
Willems são capazes de identificar a regularidade rítmica e as divisões com
a ajuda de palmas, por exemplo, para torná-las mais concretas.
Na base de dados Amplificar, houve a incidência de um trabalho
datado de 2014, que enfocava habilidades como a percepção e a produção
vocal. A partir dessas habilidades musicais, os autores desse estudo
enfocaram, como dimensões, a memória de longo e curto prazo e a
amplitude melódica. Mais uma vez a atenção se deu sobre o
desenvolvimento musical em âmbito do ouvido expressivo e senso rítmico.
Tal estudo pesquisou a maneira como o sujeito apreende o estímulo e
como responde a ele mediante a produção vocal: evidentemente a memória
está em jogo e o sujeito, através do pensamento, planeja a resposta sonora
melodicamente (MULLER, 1977; TEPLOV, 1966; GRIFFITH; TODD,
1999; BISTAFA, 2002; HAROUTOUNIAN, 2002; KIRNARSKAYA,
2004).
Dos trabalhos encontrados na revista Music Perception, dois se
situam na área da Neurociência, dois, na de Educação Musical e um, na
de Psicologia da Cultura. Esses estudos são do Canadá, Finlândia, França
e uma parceria entre México e Dinamarca. Elas concentram-se entre os
anos de 1985 e 2017. As dimensões elencadas pelos trabalhos são: altura,
batidas e padrão rítmico, tons maiores e menores (enfocando consonâncias
e dissonâncias), harmonia e memória musical. As pesquisas baseiam-se no
método psicofísico, porém não foram todas que realizaram a comparação
por pares ou utilizaram a técnica para screening em decorrência de
120
destinarem-se a mensurar mediante a observação a partir da execução
rítmica, por exemplo, ou melódica.
Nessas pesquisas foi englobada a mensuração do ouvido analítico
de modo inicial. Isso é notado quando surge a dimensão harmonia
(TEPLOV, 1966; RUSSO, 1999; KIRNARSKAYA, 2004).
A revista Psychology of Music apresentou sete artigos, todos dos
Estados Unidos da América do Norte, produzidos entre 1979 e 2015, nas
áreas de Educação Musical, Psicologia da Educação e Musicoterapia. A
autora de um dos trabalhos era servidora do governo americano, dedicada
ao trabalho com famílias em situação de vulnerabilidade. As dimensões
utilizadas foram: tom, melodia, padrão melódico, duração, ritmo,
motivação e memória musical. Todas as pesquisas estavam pautadas nas
concepções psicofísicas, utilizaram instrumentos padronizados e a técnica
de screening.
No Quadro 06, encontra-se a síntese dos instrumentos
padronizados utilizados nas pesquisas rastreadas. As referências do quadro
foram realizadas considerando e priorizando a autoria de criação dos testes
e não a referência das pesquisas que os utilizaram.
121
Quadro 06Síntese dos instrumentos padronizados encontrados nas pesquisas
Base
Instrumento padronizado
Autoria
SAGE
Primary Measures of Music Audiation
(PMMA)
Gordon (1979);
ERIC
Absorption in Music Scale (AIMS)
Sandstrom e Russo
(2010);
The High/Scope Rhythmic
Competence Analysis Test
Weikart (1987);
The Gross Motor Development test 2 Ulrich (2000)
The Musical Ear Test (MET)
Wallentin,
Nielsen,Friis-
Olivarius; Vuust e
Vuust (2010).
BDTD
Relações entre habilidades musicais
e habilidades sociais e pessoas com a
Síndrome de Williams: perspectivas
e limitações
Anis (2014)
AMPLIFICAR
Montreal Battery of Evaluation of
Amusia
Peretz et al. (2003);
Musical Skills Battery
Wise e Sloboda
(2008);
Teste de Amplitude Melódica e Teste
de Memória Operacional tonal
Benassi-Werke et al.
(2012);
MUSIC
PERCEPTION
Pitch Identification Test (PIT)
Pitch Adjustment Test (PAT)
Dohn; Garza-
Villarreal; Ribe;
Wallentin; Vuust
(2014)
Complex Beat Alignment Test (cBAT)
Parental Questionnaire
Einarson; Trainor
(2016)
PSYCHOLOGY
OF MUSIC
Musical Aptitude Profile
Gordon (1965)
Musical Ear Test
Thomas; Silvia;
Nusbaum (2015)
Measure of Musical Abilities (MMA)
Bently (1966)
Fonte: Do autor.
122
De posse do levantamento das habilidades musicais e após
conhecer os instrumentos de natureza psicofísica e que se dedicaram à
realização de rastreamentos, a partir das pesquisas encontradas, foi possível
realizar a primeira versão do processo de seleção e síntese das habilidades
musicais (dimensões), conforme consta no Quadro 07.
Quadro 07 Habilidades musicais e relacionadas
TEMAS: HABILIDADES MUSICAIS
Percepto -
sensoriais
Rítmicas Criação Memória Motora
Envolvimento
com a tarefa
DIMENSÕES DAS HABILIDADES MUSICAIS
mbre
Agógica
(pulsação)
Improvisação Musical Visiomotora
Motivação
Intrínseca
Alturas Duração Composição Bimanual
Motivação
Extrínseca
Intensidade Imaginação Audiomotora Perseverança
Notas
isoladas
Lateralidade
Necessidade
compulsiva
por aprender
Melodia Motora fina
Fúria por
dominar
Harmonia Global
Polifonia
Fonte: Do autor.
No Quadro 07, o termo fúria por dominar
88
foi utilizado com
base nas teorizações de Winner (1996; 1998), a qual definiu-o para
88
O termo “fúria por dominar” criado por Winner (1996, p. 17) designa “uma sede enorme de
conhecimentos”. Para a autora, crianças talentosas “[m]anifestam um interesse intenso e obsessivo,
123
designar uma das características apresentadas por sujeitos com talento,
inclusive em música.
Para a realização da tabulação dos dados, a pesquisadora atribuiu
meros de representação para cada item, conforme está esboçado no
Quadro 08. Apenas os itens foram enumerados, não se fazendo necessário
atribuir números representativos para dimensões, pois sinalizam as áreas
de abrangência dos itens, uma queso organizacional.
Quadro 08 Dimensões e itens que compõem o PSHM
HABILIDADES PERCEPTIVAS/SENSORIAIS
1 – Timbre
2 – Altura
3 – Intensidade
4 - Notas isoladas
5 – Melodia
6 – Harmonia
7 – Polifonia
HABILIDADES RÍTMICAS
8 - Percepção da pulsação
9 – Agógica
10 – Duração
11 - Reconhecer padrões
(continua)
uma aguçada capacidade de concentração, e aquilo a que chamo um desejo violento de dominar”
(WINNER, 1996, p. 17). Para ela, as crianças talentosas podem apresentar “[...] estados de
concentração absoluta durante os quais perdem a noção do mundo exterior” (WINNER, 1996, p.
17).
124
(conclusão)
HABILIDADES DE CRIAÇÃO
12 – Improvisação
13 – Composição
14 – Imaginação
MEMÓRIA
15 – Habilidade de memória musical
HABILIDADE MOTORA
16 – Visiomotora
17 – Bimanual
18 – Audiomotora
19 – Lateralidade
20 – Global
ENVOLVIMENTO COM A TAREFA
21 - Motivação intrínseca
22 - Motivação extrínseca
23 – Perseverança
24 - Necessidade compulsiva por aprender
25 - Fúria por dominar
26 – Motivação
Fonte: Do autor.
Para calcular as respostas dos juízes, esta pesquisadora registrou o
número de opções (sim = 1, não sei = 2 e não = 3), posteriormente calculou
a frequência das respostas por item, gerou o resultado bruto, e calculou a
porcentagem de respostas favoráveis (igual ou acima de 75% na opção
sim). Os itens que atingiam o índice proposto permaneciam no PSHM.
Na Tabela 05 estão os resultados dos índices de concordância dos juízes
em percentual.
125
Tabela 05 Resultado da análise de construto por juízes especialistas
ITENS J1 J2 J3 J4 J5 J6 J7 J8
TOTAL BRUTO PERCENTUAL
S NS N S NS N
1
1 1
1 3
1 1 1 3 6 0 2 75 0 25
2
1 1
1 1
1 1 1 1 8 0 0 100 0 0
3
1 1
1 1
1 1 1 1 8 0 0 100 0 0
4
1 3
3 1
3 1 2 3 3 1 4 37,5 12,5 50
5
1 1
1 1
1 1 1 1 8 0 0 100 0 0
6
1 1
1 1
2 1 2 1 6 2 0 75 25 0
7
1 2
1 3
2 2 2 3 2 4 2 25 50 25
8
1 1
1 1
1 1 1 1 8
0 0 100 0 0
9
1 1
1 3
1 1 1 1 7 0 1 87,5 0 12,5
10
1 1
1 1
1 1 1 1 8 0 0 100 0 0
11
1 2
1 1
1 1 2 1 6 2 0 75 25 0
12
1 1
1 3
1 1 1 1 7 0 1 87,5 0 12,5
13
1 2
1 1
1 1 1 3 6 1 1 75 12,5 12,5
14
1 1
1 3
1 1 1 1 7 0 1 87,5 0 12,5
15
1 1
1 3
1 1 1 1 7 0 1 87,5 0 12,5
16
1 1
1 1
2 1 2 1 6 2 0 75 25 0
17
1 2
1 1
1 1 2 1 6 2 0 75 25 0
18
1 1
1 1
1 2 2 1 6 2 0 75 25 0
19
2 1
1 3
2 1 2 1 4 3 1 50 37,5 12,5
20
2 2
1 3
1 1 2 1 4 3 1 50 37,5 12,5
21
1 1
1 1
1 1 1 1 8 0 0 100 0 0
22
1 1
3 1
1 1 1 1 7 0 1 87,5 0 12,5
23
1 1
1 1
1 1 1 1 8 0 0 100 0 0
24
1 3
1 3
2 3 2 3 2 2 4 25 25 50
25
3 3
1 3
2 3 2 3 1 2 5 12,5 25 62,5
26
3 1
1 1
1 1 1 1 7 0 1 87,5 0 12,5
Fonte: Do autor.
Legenda: J juiz; S sim=1, NS o sei=2 e N não=3.
126
O cálculo do índice de concordância e a busca pelo refinamento
das habilidades musicais pensando o método psicofísico de comparação
por pares e a técnica para screening, permitiram a esta pesquisadora concluir
que as dimensões “notas isoladas”, “polifonia”, “lateralidade”,
“coordenação motora global”, “necessidade compulsiva por aprender” e
“fúria por dominar” deveriam ser excluídas, pois os índices de
concordância foram os mais baixos quando comparados aos itens no geral.
Além disso, no campo de sugestões, os juízes apontaram que, exceto notas
isoladas, os demais itens poderiam ser melhor trabalhados em baterias de
avaliação posteriores, devido à natureza desses itens.
A pesquisadora, após analisar os resultados, concluiu que o item
notas isoladasse confundia com altura”, pois, fundamentalmente, trata-
se do uso de notas musicais. Para os juízes, alturaera um item mais
significativo por sua relação intervalar entre a nota de origem e a nota de
chegada. Apresentar notas isoladas poderia não fazer sentido para o
participante. Etiquetar sons, de acordo com Levitin (2006), não é
sinônimo de indicativo de talento musical, embora haja pessoas com
ouvido absoluto capazes de realizar essa tarefa.
Polifonia foi considerado, pelos juízes, um item muito difícil
para realização de screening; assim como lateralidade e coordenação
motora global. Para os juízes, esses três itens poderiam se melhor
explorados em baterias de avaliação posteriores.
Com relação à necessidade compulsiva por aprendere ria por
dominar, os juízes julgaram ser itens equivalentes e consideraram
desnecessário avaliar essas dimensões no momento de screening. Para eles,
é preciso que haja a prática musical do fazer ou desempenhar
musicalmente, para que se possa observar esse tipo de dimensão. Julgaram,
também, que baterias avaliativas posteriores podem contemplar esses itens
mais adequadamente.
127
O Quadro 09 exemplifica como ficou o quadro de habilidades
musicais com o retorno dos juízes e análise da pesquisadora.
Quadro 09 Habilidades musicais após análise de construto
TEMAS: HABILIDADES MUSICAIS
Percepto-
sensoriais
Rítmicas Criação Memória Motora
Envolvimento
com a tarefa
DIMENSÕES DAS HABILIDADES MUSICAIS
Altura
Agógica
(pulsação)
Imaginação Musical Visiomotora
Motivação
intrínseca
Intensidade Duração Composição Bimanual
Motivação
Extrínseca
Melodia
Padrões
Rítmicos
Improvisação Audiomotora Perseverança
Timbre
Harmonia
Fonte: Do autor.
A pesquisadora notou que era preciso refinar ainda mais as
habilidades, em consonância com o método psicofísico de comparação por
pares. Como forma de discutir essa questão, recorreu ao grupo de pesquisa
“Diferença Desvio e Estigma”, para cujos membros foi disponibilizado o
Quadro 09, contendo as habilidades musicais com a devida descrição. A
pesquisadora explicou o significado conceitual de cada uma das habilidades
e, a partir disso, o grupo sugeriu algumas habilidades que deveriam
continuar e outras que deveriam ser excluídas. Então, a pesquisadora
analisou cada uma das dimensões conforme o método e técnica escolhidos.
Na segunda análise de constructo realizada pela pesquisadora,
permaneceram as seguintes dimensões: habilidades perceptivas/
sensoriais (altura, intensidade, melodia, timbre e harmonia) e
128
habilidades rítmicas (duração, padrões rítmicos e agógica). Essas
habilidades permitem o trânsito entre o ouvido expressivo e senso rítmico
com as bases iniciais do ouvido analítico, conforme fundamentos teóricos
de Teplov (1966), Kirnarskaya (2004) e Sloboda (2008), além de
atenderem ao todo psicofísico de comparação por pares.
As pesquisas de Morrongiello et al. (1985), Gordon (1986),
Peixoto et al. (2012) e Pessato et al. (2012) confirmam os resultados
mencionados acima, uma vez que esses autores trazem resultados de
pesquisas com instrumentos construídos a partir de fundamentos
semelhantes de que resulta esta pesquisa. Desse modo, foi possível
confrontar os resultados da análise feita pelos juízes, as menções do grupo
de pesquisa e o que teorizavam os autores encontrados.
Em síntese, há dimensões que não permitem a estruturação em
pares de estímulo sonoros, mas isso não significa que devam ser
descartadas. Elas podem ser mais bem exploradas em outras baterias
avaliativas que adequem a forma de sua utilização. A criatividade é um
exemplo, porque se torna inviável sua manipulação no formato estrutural
do PSHM, mas sua investigação faz-se fundamental para avaliar o talento
musical. O mesmo ocorre com a motivação, envolvimento e habilidades
práticas musicais. São elementos importantes para a área da música e
podem ser mais bem explorados em sondagens de natureza qualitativa
mediante atividades práticas musicais que possibilitem a observação do
avaliador, entrevistas, descrições, por exemplo.
129
Breves Considerações
A opção por criar um instrumento padronizado nos dias atuais não
se torna uma tarefa fácil. Os próprios referenciais teóricos como Sloboda
(2008) e Fonterrada (2008) trazem críticas consideráveis a esse tipo de
recurso para a mensuração das habilidades musicais como forma de acessar
o talento. No entanto, pesquisas como as de Benito (2003) e Farias e
Weschler (2014) apontam a importância de procedimentos de varredura
para o mapeamento inicial do talento utilizando recursos padronizados.
De acordo com Benito (2003), esse tipo de instrumento, conforme a área
que se propõe medir, consegue rastrear aproximadamente 10% de
possíveis casos de talento. Para Farias e Weschler (2014), o meio científico
deveria encorajar diferentes modalidades de instrumentos para
identificação do talento, desde que tenham rigor científico. Para elas, há
no Brasil, escalas padronizadas, mas sem validade e instrumentos que
apresentam erros em sua construção.
Os testes psicométricos de Gordon (2015) são exemplos de
instrumentos de varredura validados que auxiliam os professores da rede
básica dos Estados Unidos no momento de identificar os índices de
musicalidade dos sujeitos, para que possam investir, de modo intencional
e mais direcionado, no aprendizado musical. Nas palavras do autor,
[c]erca de metade das crianças com aptidões musicais que se situam nos
20 por cento mais elevados das escolas públicas e privadas nunca são
identificadas pelos docentes de música e por isso nunca recebem
orientação formal ou educação especial em música. É uma pena
desperdiçar potencial em música. É uma pena desperdiçar potencial
humano desta natureza (GORDON, 2015, p. 26).
130
A escolha pelo rastreamento a partir da rota percepto-sensorial,
assim como fizeram Gordon (2015) e outros autores apresentados neste
estudo, consiste em duas razões. A primeira é buscar exercícios sonoros
com características que considerem a realidade cultural brasileira com
relação à música, e a segunda é a possibilidade de controle dos estímulos
de modo padronizado e a organização deles em pares de sons para
discernimento. Afinal, a depender do fenômeno e da forma escolhida para
sua apreensão, torna-se complexa a tarefa de apresentar exercícios que
possam ser realizados em uma sala de aula, por exemplo, com todas as
crianças juntas e simultaneamente.
É preciso lembrar que tanto a revisão bibliográfica quanto a
colaboração dos juízes possibilitaram elencar dimensões que se alinham ao
método psicofísico de comparação por pares. Tais dimensões permitem
criar exercícios que contextualizam os elementos musicais. Embora o foco
seja a acuidade auditiva, realizando discriminação de sons e ritmos, a
preocupação maior, durante a elaboração do PSHM, era o de rastrear, de
modo inicial, sujeitos com habilidades musicais a partir da rota sensorial
dentro dos parâmetros do ouvido analítico
89
e não do ouvido absoluto.
O objetivo não se concentra em encontrar pessoas com ouvido
absoluto, mas aquelas que de fato compreendam a relação daqueles sons
no contexto proposto para discernimento (GORDON, 2000). Sobre isso,
discutem Teplov (1966), Winner (1996) e Levitin (2006). Afinal, “[...] o
ouvido absoluto não é uma diferença de percepção, mas sim uma diferença
na nomeação ou talvez na codificação” (LEVITIN, 2006, p. 33). Pessoas
com ouvido absoluto, segundo Levitin (2006), etiquetam os sons
nomeando-os, mas pessoas que apresentam a habilidade do ouvido
89
Esse tipo de ouvido leva em conta a relação entre as notas, ou seja, o contexto. Enquanto, o
ouvido absoluto somente analisa a nota isoladamente, ou seja, a frequência de cada uma
(KIRNARSKAYA, 2004).
131
analítico, segundo Kirnarskaya (2004), demonstram terem desenvolvido a
consciência musical. Elas compreendem o que aquele fragmento sonoro de
modo generalizável representa em um dado contexto.
Embora o PSHM seja um teste padronizado que utiliza estímulo
sonoro como forma de analisar a rota percepto-sensorial, não foi elaborado
para determinar se um sujeito é talentoso para a música ou não, mas foi
criado para gerar hipóteses a respeito se um determinado sujeito manifesta
características ou indicadores de talento para música. Se essa hipótese de
talento musical irá se confirmar, não cabe ao PSHM, mas a outros testes
musicais em etapas de seguintes de avaliação do talento musical.
A criação do PSHM é uma pequena parte de um processo maior e
longitudinal. Ele apenas vem colaborar com os professores, principalmente
os daquelas escolas que não contam com um educador musical, para que
as crianças que manifestam indícios de talento musical possam ser
encaminhadas, sempre que possível, para baterias avaliativas mais
detalhadas e, posteriormente, possam obter uma resposta educativa
adequada e especializada. É preciso destacar que embora haja a
possibilidade de rastrear o talento musical para atender educacionalmente
os sujeitos talentosos, a disciplina de educação musical precisa ser
implementada em todas as escolas e acessível para todos os estudantes.
Afinal, possíveis orientações musicais que as crianças venham a
receber em casa, em decorrência de um membro da família que toca,
instruções formais oferecidas pela escola, Ongs, centros comunitários etc.
podem influenc-las intencionalmente ou não, e, direta ou indiretamente,
irão impactar ser desenvolvimento.
Autores como Teplov (1966), Mueller (1977), Bistafa (2002),
Haroutounian (2002), Kirnarskaya (2004), Willems (2011), Gordon
(2015) e outros mencionados nesta tese, apresentaram a possibilidade de
132
mensuração dos elementos musicais e suas dimensões no processo de
compreensão de como os sons são processados pelo cérebro e a resposta
dos sujeitos a eles. A neurociência vem apresentando seus avanços também
a esse respeito, como se pode encontrar nos estudos de Hyde et al. (2009),
entre outros pesquisadores.
A seleção da rota auditiva se constitui estratégia preliminar para
acessar parte do universo do talento musical, uma pequena porta de
observação e análise para visualizar e investigar premissas e manifestação
inicial desse fenômeno em crianças. O resultado de seleção das dimensões,
conforme descrito no Estudo 2, culminou em oito elementos: timbre,
altura, melodia, intensidade, harmonia, duração, agógica e padrão rítmico,
os quais a priori serão testados durante a construção do PSHM e, até o
final e após a tese, serão revisados com relação à capacidade de mensuração
e eficácia na apreensão inicial do talento musical.
Tanto o método Willems (2011) quanto os de Gordon (2015)
compartilham a importância do desenvolvimento da percepção musical e
da consciência sonora, por serem estes os pilares da musicalidade. Ambos
são unânimes em enfatizar a importância do desenvolvimento musical
precoce. O domínio da música é um sistema de regras e símbolos, os quais
estão condicionados ao tempo de vivência e experiência que se oportuniza
à criança e aos jovens
Em conclusão, vislumbra-se encontrar o ouvido analítico, a partir
da aplicação do PSHM. Se o ouvido analítico estiver manifesto nas
crianças, será possível inferir a presença preliminar do talento musical. O
ouvido analítico é essa “porta de entrada” que o PSHM foi criado para
encontrar. Sem essa central de controle, não existiria o homos musicus,
tampouco o artista (KIRNARSKAYA, 2004), o spark (centelha) não seria
atingido, segundo Haroutounian (2002). O sujeito talentoso para música
apresenta “[...] um grande interesse e encanto pelos sons musicais
133
(WINNER, 1996, p. 107), por isso, a rota percepto-sensorial parece
perfeita para o rastreamento inicial utilizando o PSHM, mas é preciso
lembrar que, a partir do rastreamento, o processo de avaliação se inicia e,
esse sim, será a etapa de confirmação.
135
Capítulo 3
Criação do protocolo para SCREENING
de habilidades musicais (PSHM)
[...] os testes de habilidade musical nunca tiveram o mesmo tipo
de impacto que os testes do “núcleo curricular” têm tido em áreas
como a leitura e a matemática. [...]. Mas, seria sensato tratar os
resultados dos testes com muita preocupação. Particularmente,
seria tolo, e possívelmente injusto, tomar grandes decisões
educacionais com base apenas nos escores dos testes
(SLOBODA, 2008, p. 313).
O Estudo 3 é constituído de um instrumento padronizado
construído com base no método psicofísico de comparação por pares, o
qual será discutido neste estudo. Ele foi criado para viabilizar o
mapeamento do talento musical a partir da acuidade auditiva, com base
nos estudos de Seashore (1938), Teplov (1966), Gardner (1993), Gordon
(2000), Haroutounian (2002), Kirnarskaya (2004) e Willems (2011)
90
.
90
Esses autores sinalizam a rota auditiva como etapa preliminar de investigação do talento musical,
pois a consideram gerenciadora do talento. Porém, a acuidade auditiva não é o único aspecto a ser
rastreado, há outras possibilidades como teorizaram Lehmann, Sloboda e Woody (2007) e Sloboda
(2008). A escolha da pesquisadora, nesse estudo, pela rota auditiva se deu por ser, a percepção
musical, um elemento facilitador à utilização da estrutura de screening e método psicofísico de
comparação por pares, a base metodológica de testes como os de Seashore (1928), Gordon (2000)
e Haroutounian (2002). Além disso, de todas as características que compõem o talento musical, a
rota da acuidade auditiva é aquela que proporciona a gravação do áudio em faixas (pares), que
propicia aplicação geral em massa, simultaneamente sem que um sujeito interfira no outro e permite
hospedagem do material na internet, facilitando a aplicação padronizada e acesso dos usuários de
136
Seashore (1938) elencou 25 elementos musicais em forma de itens,
denominando-os talentos ou aptidões musicais. Para o autor, as
sensações e a percepção musical são pontos preliminares de partida para a
apreensão do talento musical. São elementos musicais: altura, intensidade,
tempo e duração (formas mais simples de sensações) e ritmo, timbre,
consonância e volume (formas mais complexas de percepção). Porém,
ainda há atividades musicais que possibilitam observar o controle dos
elementos musicais, a memória e a imaginação, além da inteligência
musical e a sensibilidade musical.
Para Teplov (1966), o talento musical depende de seis
características base: 1 – sensibilidade para discernir sons; 2 sensibilidade
para discriminar intensidades; 3 sensibilidade para discriminar durações;
4 – sensibilidade para apreciar acordes consonantes; 5 memória musical;
e 6 senso rítmico. Gardner (1993) argumenta que as acuidades de tons e
ritmos são elementos centrais do talento musical. Haroutounian (2002)
discute que a base do talento musical provém da capacidade de discriminar
tons, ritmos e timbre, além da interpretação criativa, metapercepção,
performance, motivação e envolvimento, os quais são melhores observados
em baterias avaliativas mais verticais, longitudinais e, às vezes, individuais.
Para Kirnarskaya (2004), ouvido expressivo, senso rítmico e ouvido
analítico são a base do talento musical. Willems (2011) discute que o
ouvido é uma das bases essenciais para a composição da musicalidade.
De acordo com Sloboda (2008), , em âmbito internacional,
testes padronizados que realizam o discernimento auditivo na área da
música. Segundo Sloboda (2008), os testes psicométricos são: Seashore
Measures of Musical Talent, Wing Standardized Tests of Musical Intelligence,
regiões longínquas do Brasil. Esse formato também permite garantir o baixo custo, uma vez que
não depende de instrumentos musicais reais e outros materiais concretos.
137
Primary Measures of Music Audiation, Intermediate Measures of Music
Audiation, Advanced Measures of Music Audiation e Music Aptitude Profile.
Assim, um screening (rastreamento) de habilidades musicais
construído para a realidade brasileira, para o Ensino Fundamental, anos
iniciais, de acordo com o todo psicofísico e de comparação por pares,
daria conta de realizar um mapeamento, revelando, de modo inicial, casos
de talento musical?
Para atender a essa questão central foi necessário criar a estrutura a
seguir, onde serão descritos: conceitos musicais utilizados, recursos
tecnológicos, as etapas de elaboração dos itens do PSHM, seu design,
descrição da aplicação em campo, análise dos dados, resultados, discussão
e conclusão.
Como nesta tese tratou-se da construção do PSHM, estudantes
com deficiência auditiva e usuários da Língua Brasileira de Sinais, além de
estudantes com paralisia cerebral com maior comprometimento e aqueles
que apresentarem dificuldades para realizar o PSHM, serão encaminhados
para outras baterias avaliativas ou de intervenção mais específica, até que o
PSHM seja adaptado devidamente, atendendo às especificidades dos
sujeitos.
Síntese do contexto histórico e aspectos a respeito do método
psicofísico de comparação por pares
O modo como os seres humanos ouvem os sons, respondem a eles,
e a maneira através da qual os internalizam, podem ser considerados ponto
de partida para a área da música destinada à percepção e às representações
musicais.
138
Para analisar essa relação estímulo-resposta, consta na literatura
especializada o método psicofísico de comparação por pares. Mueller
(1966), Manning (1974) e Roederer (2002) são alguns dos autores que
fundamentam esse método. Na concepção dos autores citados,
o estímulo pode variar ao longo de um grande número de dimensões,
incluindo intensidade, tempo, espaço e as dimensões de qualidade. A
resposta do sujeito pode ser uma resposta verbal ou de outro tipo, tal
como pressionar manualmente um botão (LENT, 2016, p. 175).
Quando se utiliza o método psicofísico de comparação por pares,
é preciso que haja sistematização e rigor no seu uso, para que a resposta
expressa pelo sujeito possa ser analisada com precisão. Roederer (2002)
afirma que[...] o cérebro humano pode trabalhar com sua própria saída
e planejar uma resposta comportamental que é independente do estado
ambiental atual e do corpo [...]” (RORDERER, 2002, p. 32). Assim,
torna-se complexo assegurar o quanto o sujeito de fato emitiu uma resposta
livre de intervenientes. Isso pode ocorrer não somente nesse tipo de
situação, mas em toda aquela que envolve uma resposta dada pelo sujeito
em situação de testagem.
Jung (2012), ao relatar alguns experimentos com o uso de um
circuito, cuja medida estava condicionada a um galvanômetro, observou
que a sensorialidade do participante estava também condicionada à carga
emocional resultante da própria situação experimental, e não somente
centrada nas condições de apresentação do estímulo. Essa é uma questão
difícil de controle, principalmente com crianças pequenas.
O método psicofísico de comparação por pares opera em âmbito
de previsão, ficando na dependência de certas condições iniciais, dos
139
estímulos físicos de entrada e da resposta comportamental emitida pelo
sujeito (ROEDERER, 2002), além de, também, sofrer intervenções
emocionais oriundas das experiências anteriores do sujeito ou da própria
situação gerada pelo experimento em si (JUNG, 2012).
Serão estímulos reconhecidos por um indivíduo aqueles que forem
percebidos, pelo menos 50% das vezes ou quando se percebe o ponto
crucial da mudança no estímulo, também, 50% das vezes (MANNING,
1974).
Nascida em 130 a.C., na Grécia, na área da Astronomia, a
Psicofísica foi criada por Hiparco, o qual desenvolveu uma escala para
quantificar a magnitude estelar. No entanto, o reconhecimento formal
dessa área científica somente foi oficializado em 1860, com a publicação
de Elemente der Psychophysik, por Gustav Theodor Fechner (FEITOSA,
2010).
Schultz e Schultz (1992), ao apresentarem elementos da obra e vida
de Gustav T. Fechner, destacaram que a Psicofísica era resultante da
relação entre o mundo mental e o mundo material. Complementarmente,
para Feitosa (2010), a Psicofísica procurou descrever a relação das
propriedades do mundo físico e a maneira como as pessoas respondem a
elas. Os autores evidenciaram que Gustav T. Fechner, movido por suas
experiências de pesquisa sobre brilho visual e distâncias táteis, sistematizou
três importantes fundamentos psicofísicos: erro médio”, método dos
estímulos constantese métodos dos limiares”.
Segundo os autores, o termoerro médiose caracteriza como um
método que permite ao sujeito (observado) ajustar um estímulo variável,
até que ele seja igual a um estímulo padrão constante.
O método dos estímulos constantes, por sua vez, caracteriza-se
por uma ordem de apresentação dos estímulos em níveis aleatórios, para
140
que o sujeito se mantenha na expectativa da verificação da diferença ou
igualdade do estímulo durante todo o procedimento de mensuração.
Ainda, o cuidado para que os estímulos estejam dispostos aleatoriamente é
uma preocupação para minimizar efeitos de preferência pelo sujeito ou por
posição, caso descubra alguma lógica sequencial de resposta (MANNING,
1974).
Quanto ao método dos limiares, consiste na apresentação de um
par de estímulos para o sujeito. Nele, um dos estímulos estará aumentado
ou diminuído em relação ao outro, para que o sujeito afirme se há diferença
ou igualdade entre eles (SCHULTZ; SCHULTZ, 1992).
Nos estudos de Roederer (2002), as sensações podem ser
classificadas relativamente de modo bem definido. Assim, os pares de
estímulo podem ser ordenados por meio das atribuições de valor “maior”,
“igual” ou “menor” que o outro. Ou ainda, “mais alto”, “mais forte”, “mais
brilhante”, “mais profunda”, e assim por diante.
Para Pasquali (1996), os escalonamentos de estímulos físicos
podem culminar em escalas intervalares psicológicas. Na concepção teórica
desse autor, o termo escalaé mais comumente utilizado pela Psicometria,
como um método em que o escalonamento de estímulos expressa o
construto psicológico. No entanto, para o autor, esse fato não impede o
uso do termo em Psicofísica e em escalas ordinais. Isso porque sempre são
escalonados estímulos (itens) observáveis.
Feitosa (2010) apresenta uma preocupação plausível com relação
ao uso da Psicofísica no universo infantil. Para a autora, ainda não há uma
metodologia contundente com relação à Psicofísica da criança pequena.
Ela reconhece que há alguns esforços sendo realizados para que haja tal
sistematização, mas a Psicofísica ainda precisa dar conta de determinados
aspectos ligados aos comportamentos básicos da criança, como limitações
141
e alterações em seu repertório comportamental. Em idades tenras
91
predominam respostas diversificadas, amplas e dispersas; em contrapartida,
idades mais elevadas apresentam uma tendência de repostas mais
específicas ou objetivas, mas entrariam aqui as respostas planejadas pelo
sujeito, ou seja, ele teria uma maior consciência do que está ocorrendo e,
por isso, estaria suscetível à manipulação de sua resposta (FEITOSA,
2010). Por essa razão, especificamente, o PSHM não foi construído para a
Educação Infantil, por considerar que a criança pequena poderia ter
dificuldade de emissão de uma resposta precisa a partir dos pares de
estímulos.
A partir dos estudos em torno do método psicosico de
comparação por pares, na presente tese, foi possível concluir que as
sensações sonoras podem ser categorizáveis e escalonáveis, além de
possibilitar a mensuração, investigação e levantamento de hipóteses, como
se pode verificar nas obras de autores como Manning (1974), Schultz e
Schultz (1992), Pasquali (1996), Levine (2000), Roederer (2002), Brown
e Peterson (2009) e Feitosa (2010).
Portanto, o PSHM constitui-se como um teste que deverá ser
utilizado para mapear ou rastrear o talento musical preliminarmente.
Porém, para que o PSHM fosse criado, testes de outras realidades culturais
constituíram uma base importante de análise. Autores como Morrongiello
et al. (1985), Gordon (1986), Deutsch (1999), Nunes-Silva e Haase
(2012), Pessato et al. (2012), Peixoto et al. (2012), Cayirdag (2016),
Otacioglu (2016) e Barros et al. (2017), são exemplos de autores que
criaram testes padronizados utilizando a dimensão sonora como estímulo.
91
Crianças no período escolar da Educação Infantil.
142
Screening aplicado à área do talento musical
A técnica para screening é a primeira fase de rastreamento, de
acordo com Borland e Wright (2004). A partir dessa etapa, crianças e
jovens com indicadores de talento podem ser encaminhados para serviços
de atenção educacional especializada ou iniciativas dentro dos ambientes
escolares como, por exemplo, o Modelo de Enriquecimento de Renzulli
(2016). Além disso, os identificados nessa etapa poderão ser encaminhados
para os procedimentos de avaliação multimodais e verticais.
O screening ou mapeamento compreende um processo inicial cujo
“ [...] objetivo é formar um grupo de candidatos aproximadamente dois a
três vezes maior em número do que o corte que, em última análise, nós
identificaremos como potencial talentoso”. (BORLAND; WRIGHT,
2004, p. 29, tradução nossa
92
). Para Renzulli (2014), 15% dos estudantes
necessitam de serviços complementares.
Na área do talento, de acordo com Renzulli (2014), há um grande
conflito entre abordagens de identificação mais flexíveis e outras mais
tradicionais. Nesse contexto, o autor defende a amplitude dos
procedimentos padronizados, para que se tornem sensíveis a ponto de não
deixar nenhum talento fora do crivo e dos serviços educacionais
especializados.
O esquema criado por Borland e Wright (2004) apresenta as etapas
que compõem a fase de screening: avaliações padronizadas e não
tradicionais e nomeação por professores. A confluência dos resultados
92
“[...] goal of which is to form a candidate pool roughly two to three times larger in number than
the cohort that we will ultimately identify as potentially gifted” (BORLAND; WRIGHT, 2004, p.
29).
143
permite encontrar, inicialmente, estudantes com talento musical passíveis
de seguir nos procedimentos e atenção educacional do Team Pool.
Neste Estudo 3, são apresentadas as etapas de criação e construção,
correspondentes à fase I, a qual sinaliza o uso de instrumentos
padronizados. Portanto, o PSHM, nessa fase de construção, compõe uma
pequena parcela do screening, quando comparado ao modelo da Figura 04.
É preciso destacar que há um questionário de caracterização musical
também, o qual possibilita o acesso às informações gerais correspondentes
a cada uma das crianças e jovens, complementando um pouco mais o
rastreamento.
Realizar uma varredura inicial possibilita uma atuação precoce no
processo de desenvolvimento do talento em criança e jovens. Esse tipo de
técnica permite rastrear sujeitos em larga escala, em sala de aula, por
exemplo, além de possibilitar baixo custo e usabilidade
93
(RUF;
MORGAN
, 2008; WALD, 1994), ou seja, instrumentos de rastreio como
o PSHM são de uso fácil e prático para os professores e, se bem construídos
e validados, podem oferecer respostas importantes aos professores sobre
seus estudantes.
Para Rafle (2011), o screening o pode ser o fim de um processo
investigativo, mas o início de um recurso que vise eliminar falsos positivos
(sujeitos erroneamente indicados como possíveis casos de talento) ao longo
do percurso, restando, assim, os casos que de fato necessitem de atenção
educacional especializada e intervenção específica, bem como de
encaminhamentos precisos.
93
O termo “usability” não consta em dicionários bilíngues como Webster’s e, ao traduzir o termo,
“usabilidade” também não consta em dicionários etimológicos. Então, a partir de uma busca em
dicionários especializados em linguagem digital, por exemplo, Aulete (http://www.aulete.com.br),
o termo foi encontrado com o seguinte significado no verbete 1: “grau de simplicidade com que
uma interface ou um programa podem ser usados”.
144
O Quadro10 apresentará resumidamente a diferença entre a
técnica para screening e o procedimento diagnóstico. É preciso ressaltar que
esse quadro foi adaptado de Ruf e Morgan (2008), com o objetivo de
melhor exemplificar e apresentar tais diferenças na área do talento musical.
Quadro 10 Diferenças entre o screening e avaliação
Screening
Avaliação
Objetivo
Rastrear indicadores de talento
musical.
Estabelecer presença ou ausência de
talento musical.
População
Grande número de estudantes com
suspeitas de talento musical e que
estão à margem da Educação
Musical.
Indivíduos com rastreio positivo em
testagens padronizadas de música.
Método De simples aplicação.
Aplicação mais sistemática e em
diferentes modalidades. Alguns
materiais de avaliação são de alto
custo.
Resultado
Geralmente escolhidos em direção à
alta sensibilidade, para não perder
os indicadores potenciais de talento
musical.
Escolhidos para alta especificidade,
com peso dado mais à precisão e
exatidão que aceitabilidade de
hipóteses.
Resultado
positivo
Essencialmente indica a hipótese de
talento musical, necessitando de
procedimentos posteriores
específicos para confirmação.
O resultado fornece um diagnóstico
definitivo de talento musical.
Custo/benefício
Baixo custo e cobre um número
alto de pessoas que terão de ser
rastreadas, para identificar um
pequeno número de casos
potenciais.
Custo mais elevado, o qual pode se
justificar em decorrência da
demanda social, mas às vezes é
inviável para aplicação em grandes
populações.
Fonte: Baseado e adaptado para a área da música do quadro presente nos estudos de
Ruf e Morgan (2008)
94
.
94
Disponível em: http://www.healthknowledge.org.uk/public-health-textbook/disease-
causation-diagnos...
145
A técnica para screening é recomendada por pesquisadores como
Feldhusen e Jarwan (2000), Benito (2003), Reyers e Chapela (2010) e
Farias e Wechsler (2014). As primeiras a mencionaram porque perceberam
uma lacuna de testes que teriam a função de avaliar estudantes com talento.
A partir de um estudo exploratório, tais autoras apresentaram um
instrumento de identificação do talento para ser preenchido por
professores. Tratava-se de uma escala elaborada por Eliana S. de Farias,
denominada “Escala para Nomeação de Dotação Intelectual para
Professores (ENDI p)”. Esse instrumento foi desenvolvido para facilitar
o processo de identificação do talento, por meio de mapeamento ou
rastreamento.
Reyers e Chapela (2010) também conceituaram a técnica para
screening e a colocaram como um procedimento que antecede as avaliações
mais verticais e específicas.
Para Benito (2003), o screening é recomendado para que se possa
encontrar crianças potencialmente talentosas, que podem requerer uma
intervenção educativa precoce e especializada. A vantagem do uso da
técnica para screening, para a autora, é a possibilidade de rastrear todas as
crianças, por ser uma técnica de baixo custo e que pode ser aplicada
rapidamente, de modo simples, para toda a escola, quando comparada aos
procedimentos de avaliação mais específicos, os quais muitas vezes são de
alto custo e necessitam de tempo, até que se possa estabelecer um
posicionamento quanto à condição apresentada pela criança.
Feldhusen e Jarwan (2000) afirmam que a técnica para screening é
um procedimento que permite rastrear muitos estudantes com talento e
concluem afirmando que o screening deveria ser o primeiro instrumento
aplicado nos processos de identificação inicial, antecedendo baterias de
testes mais específicos ou verticais.
146
Até o momento, estudiosos da área da Educação e outros
interessados no estudo do talento, inclusive na área da música, têm feito
uso de diferentes instrumentos como escalas, questionários, entrevistas,
testes psicométricos, avaliações pedagógicas e outros recursos de natureza
específica. Porém, mesmo diante de todo o rigor, ainda muitos indivíduos
acabam excluídos nesses procedimentos avaliativos, em decorrência da
especificidade dos instrumentos de testagem, do custo de alguns
procedimentos de avaliação (que inviabilizam sua aplicação em larga
escala) e, principalmente, do difícil acesso a alguns instrumentos, criados
para outras culturas e que requerem adaptação. Mas há um outro problema
maior inviabilizando os rastreamentos e identificação do talento: trata-se
dos instrumentos não validados e que apresentam erros, por terem sido
submetidos a poucas situações de testagem e com um número incipiente
de sujeitos.
Por essa razão, Renzulli (2014) evidencia uma preocupação com a
exclusão de indivíduos que apresentam potencial criativo e que podem
acabar sem uma oportunidade educacional dirigida, em decorrência das
características e modalidades dos procedimentos de identificação e
avaliação vigentes. Por isso, o autor recomenda o uso de diferentes
modalidades de testes e enfocar os serviços que podem ser oferecidos para
as pessoas talentosas.
Farias e Wechsler (2014) entendem o talento como algo complexo
e dependente de concepções epistemológicas, bem como de instrumentos
e procedimentos de identificação e avaliação fidedignos. Elas defendem a
continuidade do estudo científico do fenômeno do talento e sustentam a
necessidade de criar recursos como escalas e testes válidos e normatizados
para a realidade brasileira, bem como outros tipos de instrumentos que
permitam auxiliar com precisão os processos de identificação e avaliação
de talentosos em diferentes áreas.
147
As reflexões oportunizadas por esses autores contribuem para
pensar algumas das grandes problemáticas para a área do talento no Brasil:
os tipos de instrumentos que estão sendo utilizados para os rastreamentos
e avaliações, e a ausência da validade e fidedignidade de alguns
instrumentos com uso corrente nas escolas e instituições educacionais.
Portanto, esses autores possibilitam e indicam a necessidade de reflexão
sobre esse problema, porque rastrear esses sujeitos talentosos envolve
grandes questões éticas.
Diante dessa breve discussão, foi possível analisar que essas
evidências apresentadas sobre o rastreamento do talento musical
necessitam continuidade em procedimentos avaliativos multimodais e em
diferentes perspectivas, até que se possa ter melhores condições para
posicionamento a respeito do talento musical de determinada criança.
Trata-se de um grande desafio para todos aqueles que estudam o talento
musical.
A seguir serão descritos os procedimentos de construção do
PSHM. As etapas desse processo são: a amostra de sujeitos, o processo de
construção dos itens, coleta de dados, análise dos itens, ajustes e
adequações do instrumento.
Síntese
No Estudo 1 foi estabelecido o objeto ou construto de pesquisa e
suas propriedades e atributos; no 2, a revisão bibliográfica, a contribuição
dos juízes, a experiência da pesquisadora na área da música e, então, foram
escolhidas as dimensões para compor o PSHM. Agora, no Estudo 3, estão
descritos os procedimentos que envolveram a criação e construção do
PSHM e a análise de seu desempenho na população selecionada. Constam
148
no Estudo 3 a análise empírica dos itens, análise de construto e validade,
consistência interna e análise fatorial exploratória.
Criação dos itens do Protocolo para screening
de Habilidades Musicais (PSHM)
O PSHM é composto por 127 itens distribuídos e agrupados em
oito dimensões. No início de cada dimensão, há faixas-treino para instruir
o participante a respeito do que fazer em cada uma das dimensões e, com
base no método psicofísico de comparação por pares, ele deverá escolher
se os pares de sons ou ritmos ouvidos são diferentes ou iguais. O Quadro
11 exemplifica a estrutura da PSHM de modo geral.
Quadro 11 Estrutura de criação e construção do PSHM
DIMENES ITENS
Habilidades sensório
-
perceptivas
Timbre 15 pares
Altura 18 pares
Melodia 14 pares
Intensidade 11 pares
Harmonia 20 pares
Habilidades
rítmicas
Duração 16 pares
Padrão-rítmico 19 pares
Agógica 14 pares
Fonte: Do autor.
149
A dimensão alturafoi construída em função da necessidade de
sondagem e discriminação intervalar (sobe e desce das alturas ou notas
musicais), conforme se observa nos trabalhos de Gordon (1986), Casey
(1999) e Willems (2011), que afirmam a importância desse tipo de
habilidade perceptiva.
Tanto na faixa treino quanto na principal do PSHM, a dimensão
alturacaracterizou-se pela frequência se repetindo ou diferindo durante
a realização dos pares de itens. Assim, foi possível percorrer as regiões grave,
médio e agudo, além de alternar as notas em termos intervalares. Para isso,
recorreu-se aos estudos de Guest (1996) como parâmetro para selecionar
as regiões, de modo a correlacioná-las com os limiares de audibilidade
informados por Roederer (2002).
Os intervalos foram elencados a partir de dois critérios. O primeiro
consta na obra de Roederer (2002), o qual afirma que intervalos de altura
primária (oitavas, quintas, quartas e terças maior e menor) se tornam
familiares para o processador central do sistema auditivo, possibilitando
possíveis significados tonais a partir de estímulos dados. O segundo
critério, mais técnico, estava na obra de Guest (1996) e de Persichetti
(2001). Nessas obras foi possível visualizar diferentes possibilidades
intervalares, porque esses autores são especializados em arranjo e
possibilidades de posicionamento de notas, um pertencente à harmonia
tradicional e o outro, à popular.
Alguns exemplos de como os intervalos foram organizados são os
seguintes: lá versus lá, na mesma região ou escala; lá versus , o primeiro
em uma região grave e o outro, no agudo; e utilizando notas diferentes
como: sol versus mi, do versus si etc. Os intervalos foram organizados em
150
três sentidos: modo ascendente e descendente, ou as notas eram mantidas
iguais em termos de direção
95
.
Durante cada etapa de seleção, os intervalos foram organizados em
graus de dificuldade (do item mais fácil para o mais difícil). Por essa razão,
o intervalo de 2ª maior (do e ré, tanto ascendente quanto descendente) foi
criado com o intuito de tornar o item mais refinado. De todos os itens
dessa dimensão, o intervalo de 2ª maior foi o mais próximo em termos de
frequência, e o de 8ª (do e do, tanto ascendente quanto descendente) foram
os mais fáceis em decorrência da maior distância.
As dissonâncias foram evitadas, priorizando um maior número de
consonâncias. Isso ocorreu para minimizar qualquer tipo de indução do
participante ao erro durante o momento de expressar sua resposta.
Referentemente à dissonância, Sadie (1994, p. 269), discute que
ela seria “[D] duas ou mais notas soando juntas formando uma
dissonância, ou um som que, no sistema harmônico predominante, é
instável e precisa ser resolvido em uma consonância”. Essa sensação de
instabilidade, em um procedimento de tomada de decisão rápida, onde o
disparador é um estimulo em comparação com outro, pode gerar angústia
e dúvida no participante, o que pode le-lo ao erro, de modo induzido.
Afinal, a maioria dos participantes dessa pesquisa não tinham experiência
formal em música.
A dimensão intensidade pode ser considerada uma possibilidade
expressiva de variação sonora, em termos de volume (SADIE, 1994).
Sendo assim, expressões ligadas à linguagem musical permitiram a criação
dos pares de comparação.
95
Em Fonoaudiologia, os intervalos entre notas são representados da seguinte maneira: 1:2 (do e
ré, ascendente) ou 2:1 (ré e do, descendente) ou para mesma nota2Xf1(do e do, nota mantida na
mesma frequência) (RUSSO, 1999).
151
A base para estabelecer as gradões de intensidade e parâmetro
para comparação foram os estudos de Roederer (2002), que apresentou a
dimensão intensidade em watt/m
2
, associada aos sinais de dinâmica.
Também constavam no estudo a gradação das intensidades em
porcentagem. O Quadro 12 se faz exemplo.
Quadro 12 Sinais de representação da dimensão intensidade
Representação das gradações
Percentual de diferença
ff - fortíssimo
100%
f - forte
80%
mf moderadamente forte
60%
p - suave
40%
pp muito suave
20%
Fonte: Do autor.
A dinâmica envolve o conceito de volume e, por sua vez,
intensidade, Levine (2006) conceitua o volume como um construto de
âmbito psicológico, com desdobramento na amplitude física.
Haroutounian (2002) apresenta possibilidades de mensuração da
dinâmica em termos de discriminação do volume por meio de pares. A
autora elenca seis gradações de intensidade na música: pp(pianíssimo ou
muito suave), p” (piano ou suave), mp(mezzo piano ou moderadamente
suave), mf (mezzo forte ou moderadamente forte), “f (forte) e ff
(fortíssimo) (SADIE, 1994).
Para Haroutounian (2002), há uma relação de diferença entre as
gradações de dinâmicas, as quais causarão uma sensação auditiva de maior
facilidade ou de maior dificuldade para o participante discernir. Por
exemplo, par de comparação entre ffe pp gerará menos confusão e
equívoco que mf em relação a “f”, ou o par mp versus “p”, em
152
decorrência de sua proximidade. Nesse contexto, os pares foram criados e
combinados entre si em todas as possibilidades, organizados do par mais
fácil para o mais difícil.
A dimensão melodia foi criada com base em Krumhansl (2006),
Willems (2001), Levitin (2006) e Gordon (2015). Para os autores, o
evento melódico seria o resultado das relações entre alturas (notas
musicais) combinadas, formando uma frase ou período, assim como
acontece na língua portuguesa.
Também foi necessário estabelecer um limiar para que o estimulo
fosse bem controlado no momento de apresen-lo ao participante. Sendo
assim, optou-se pelo limiar de 261,63 a 523,55 Htz, conforme se observa
nos estudos de Morrongiello et al. (1985). Essa decisão ocorreu para que
não houvesse variação de região (mudança exacerbada de frequências), algo
que poderia atrapalhar a resposta do participante em relação ao estímulo
proposto.
Haroutounian (2002) recomenda, para o processo de testagens
auditivas, a utilização de séries ou fragmentos melódicos constituídos por
períodos curtos. Dessa forma, o participante não necessita maximamente
de sua memória musical, algo que poderia excluir do teste aqueles
participantes com menor experiência em música.
A melodia foi desenvolvida com base na obra de Wisnik (1989) e
Persichetti (2001), em função das escalas utilizadas para determinar o eixo
tonal. Os itens foram desenvolvidos a partir da escala diatônica e modos
gregos: Jônio, Dórico, Frígio, Lídio, Mixolídio, Eólio e Lócrio. A partir
disso, os pares foram criados buscando o máximo de combinações
possíveis.
A etapa de criação da dimensão “timbre” foi complexa, sobretudo
com relão à existência de diferentes instrumentos na modalidade virtual
153
(software Reason), uma vez que o discernimento tímbrico, por meio de
instrumentos musicais sintetizados, possibilita um maior controle de
variáveis como o controle dos harmônicos e efeitos de mascaramento
produzidos pelos instrumentos. Muitos deles, inclusive, induzem a
mudança no volume, um grande dificultador. Embora a dimensão
“timbre” seja considerada uma superestrutura, como afirma Schafer
(2011), foi possível discernir sons na mesma frequência e amplitude com
o apoio de softwares com instrumentos musicais agrupados.
Haroutounian (2002) recomenda, em seus estudos, testar a
capacidade de discernimento tímbrico dos sujeitos. Também sugere que a
seleção de instrumentos seja apresentada ao participante por meio de
comparação por pares e que haja uma melodia fixa para que o sujeito
testado possa ter um determinado tempo para assimilar o som e relacioná-
lo, em termos cognitivos, memória musical, sem ficar fixado à música, a
qual é executada pelos instrumentos musicais, deve ser segundo plano, e
não se encontra em análise. No PSHM não se solicita que o participante
diga o nome do instrumento, apenas que julgue se o par ouvido foi igual
ou diferente.
Outro cuidado concentrou-se nas recomendações de Russo
(1999), a qual organiza os instrumentos mediante suas faixas de
frequência. Por exemplo, ela exemplifica que o piano atinge de 30 a 4000
Hz, o clarinete, de 147 a 1865 Hz; o oboé, de 233 a 1397 Hz; a flauta, de
262 a 2093 Hz; o trompete, de 165 a 932 Hz; e o trombone, de 62 a 698
Hz e assim por diante. Na família das cordas, o violino está entre 290 a
3500 Hz, o violoncelo, de 125 a 175 Hz e o contrabaixo, de 125 a 2000
Hz. A autora não detalha a frequência da viola, apenas assegura que ela
atinge 110 dBs. Esse procedimento foi importante porque há instrumentos
com maior audibilidade que outros.
154
Mesmo diante de todos esses cuidados, não se pode imprimir
certeza a respeito de essa dimensão estar de fato mensurando o timbre. A
música é uma das áreas de maior complexidade no isolamento preciso dos
estímulos. Com a dimensão timbrenão foi diferente.
Para a combinação dos pares de comparação, foram estabelecidos
os seguintes critérios, com base na formação de grupos musicais como
orquestra e bandas: instrumentos de cordas (dedilhadas e friccionadas), de
sopros, de teclado e de percussão. Os instrumentos mais contemporâneos
e comuns na mídia não foram utilizados, em decorrência do
estabelecimento dos graus de dificuldade pretendidos no PSHM. Também
foram excluídos instrumentos utilizados pela música eletrônica, devido às
distorções e misturas que poderiam induzir o participante ao erro.
É preciso destacar que os instrumentos que estão no Quadro 13
foram aqueles que mais possibilitaram o controle de variáveis interferentes
na proposta da tarefa na dimensão “timbre”. A seleção dos instrumentos
se deu, também, com base nos estudos de Toiviainen (2000), na parte do
método, e de Gordon (1965, 2000, 2015), na do teste propriamente.
Quadro 13Instrumentos selecionados para a dimensão timbre
INSTRUMENTOS DE:
CORDAS
SOPRO
TECLADO
PERCUSSÃO
Violino
Clarinete
Piano
Marimba
Agogô
Viola
Oboé
Órgão
Vibrafone
Bongô
Violoncelo
Flauta
Acordeon
Xilofone
Conga
Harpa
Trompete
Glockenspiel
Maracas
Bandolim
Trombone
mpano
Tambor
Violão
Triângulo
Guitarra
Fonte: Do autor.
155
A combinação dos pares se deu entre instrumentos de um mesmo
tipo, por exemplo, cordas com cordas, sopro com sopro, portanto, violino
versus violoncelo, harpa versus bandolim, clarinete versus flauta, trompete
versus trompete, vibrafone versus xilofone, piano versus órgão, bongô versus
tambor etc. Os pares fora ordenados entre pares iguais e diferentes se
alternando.
Outro parâmetro, durante a elaboração dos itens, foi a obra de
Guest (1996) a respeito da tessitura dos instrumentos, o que viabilizou o
registro das linhas melódicas de modo adequado e na região do
instrumento com maior nitidez. Também, o próprio software Finale, que
mostra a região dos instrumentos e seus limites máximos, tanto para o
agudo quanto para o grave. Essa estratégia foi importante, porque se as
notas da melodia fossem escritas em regiões diferentes da capacidade de
extensão do instrumento, no momento de importação para o software
Reason, o instrumento não emitiria som em decorrência da não existência
da região de desempenho, ou seja, como a região alcance está errada, o
software não reconhece o fragmento melódico.
Outro cuidado com a dimensão timbrefoi o uso de diferentes
melodias a cada bloco de instrumentos. Essa estratégia foi realizada para
evitar o efeito de mascaramento, de modo a provocar o erro do participante
na emissão de sua resposta. Ele era informado, nas instruções e na faixa-
treino que a melodia não estava em análise, apenas o som do instrumento
musical.
No item harmonia, o foco dado concentrou-se em acordes de
tríade (tônica, 3ª maior ou menor e 5ª justa), ou seja, três notas simultâneas
(SCHOENBERG, 2001). Não foram considerados os acordes com 7ª,
nonas e outras notas como as dissonâncias, por se tratar de uma varredura
inicial que precisa considerar a ausência de experiência musical formal da
maioria dos participantes.
156
Para garantir maior exequibilidade, a dimensão harmonia foi
criada a partir do estudo de Wisnik (1989) referente ao sociograma
96
,
voltado para o registro de afinidades atrativas internas que interligam notas
de uma escala pentatônica. Essa relação é tão representativa, segundo
Wisnik (1989), que em uma escala plana (ascendente), os elementos
sonoros apresentarão certa equidade sem grandes destaques entre um bloco
e outro, o que permite certa estabilidade em termos de frequência.
Também foram considerados os estudos de Petroni e Tricarico (1997) e
Parncutt e Mcpherson (2002) referentes ao processamento tonal, a partir
de acordes, pelo cérebro. Elencadas as notas de partida das tônicas, foram
sobrepostas as 3ª maior e menor e a 5ª em cada nota da escala pentatônica.
A nota originou o fá maior (fa + lá + do) e o menor (fá + la bemol
+do) e assim sucessivamente.
Outra providência metodológica se deu a partir da variação das
regiões dos acordes, considerando as regiões estabelecidas por Guest
(1996). Diante disso, utilizou-se a região grave 2 (de 130,81 a 261,63 Hz),
região média 3 (de 261,63 Hz a 523,55) e região aguda 4 (de 523,55 a
1046,5 Hz).
As obras de Zimmermann (1996) e Large e Kolen (1999)
possibilitaram acessar o conceito de duração e encontrar as figuras rítmicas
básicas passíveis de utilização para o discernimento auditivo. O Quadro 14
exemplifica as figuras rítmicas utilizadas.
96
Notas que se interligam por meio da sucessão de 5ª (se houver inversão a relação será em 4ª)
(WISNIK, 1989).
157
Quadro 14 Figuras rítmicas
NOME FIGURA DURAÇÃO/PULSO
Semibreve
4 pulsações
Mínima
2 pulsações
Semínima
1 pulsação
Colcheia
½ de 1 pulso
Mínima pontuada
3 pulsações
Semínima pontuada
1 pulsação e ½
Fonte: Do autor.
Com as figuras rítmicas elencadas, as combinações dos pares foram
iniciadas. O critério norteador se deu a partir da maior diferença de
duração entre as figuras até chegar ao item com a menor diferença.
A dimensão padrão rítmicofoi elaborada a partir dos referenciais
teóricos de Linster (1992), Haroutounian (2002), Gordon (2015)
autores que desenvolveram pesquisas referentes às representações rítmicas
e Frank (2010), que compilou rítmicas relacionadas à cultura musical
infantil brasileira, bem como canções infantis de outros países.
Com base nos estudos de Gordon (2015), foram construídas seções
curtas de padrões rítmicos e variados, em termos de fórmula de compassos,
por duas razões: não requerer memória musical rítmica da criança e não
exigir grandes períodos de atenção focada. Isso porque, segundo Gordon
(2015), crianças pequenas tendem a apresentar curtos períodos de
concentração. Ademais, o autor orienta que é preciso basear os padrões
158
rítmicos em seções variadas, evitando repetições constantes (ostinatos),
pois a criança pode memorizar as sequências utilizando vias lógicas, e não
sensoriais, para responder se os pares foram iguais ou diferentes.
A escolha da obra de Frank (2010) se deu em decorrência de a
autora ter feito uma coletânea de obras do cancioneiro infantil brasileiro.
Nesse compêndio de obras, há incidência de fórmulas de compassos
simples como, 2/4, 3/4 e 4/4 e compostos 6/8, 9/8 e 12/8. Ainda houve a
incidência dos compassos 3/8, 6/4, 2/2, 8/4 e 12/4. É preciso destacar que
algumas dessas fórmulas musicais também são comuns às músicas
comerciais, as populares brasileiras e eruditas. Na coletânea de Frank
(2010), as músicas estavam em uma região boa para audiação das notas e
ritmos, organizadas em poucos compassos, e o tema aparecia no início do
arranjo.
A obra de Haroutounian (2002) foi importante por apontar os
padrões rítmicos como importantes aspectos a serem considerados em
exercícios de discernimento auditivo. Para isso, a autora mostra algumas
possibilidades e estratégias para a apresentação dos exercícios (itens).
Linster (1992) discute como a percepção e a representação rítmica
acontecem em termos de eventos rítmicos. Para ela, o ouvinte desenvolve
uma hierarquia de representações rítmicas com base na estrutura métrica.
Ainda, nesse contexto, a autora sugere o uso dos compassos simples e
compostos, para que o participante possa classificar os padrões rítmicos.
Assim, a conclusão alcançada é a de que não bastaria modificar as células
rítmicas para estabelecer os padrões, também seria necessário alterar as
fórmulas de compassos, inclusive combinando-as entre si.
Na dimensão padrão rítmico, o metrônomo estabelecido foi o de
100 (unidade de tempo: semínima) e as fórmulas de compassos utilizadas
estão descritas no Quadro 15.
159
Quadro 15 Fórmulas de compassos utilizadas
COMPASSOS SIMPLES COMPASSOS COMPOSTOS OUTROS
2/4 6/8 2/2
¾
9/8
3/8
4/4
12/8
5/4
- - 7/8
Fonte: Do autor.
Com relação às figuras rítmicas, foram utilizadas mínimas,
semínimas, colcheias e tercinas, além de figuras rítmicas pontuadas,
combinações de células costumeiramente encontradas na música brasileira
como quiálteras
97
e síncopes
98
. Também foram utilizadas algumas pausas
de curta duração, porém tal uso não foi exacerbado, em decorrência da
preocupação com a nitidez do áudio. A semibreve não foi utilizada, devido
ao uso do som sem altura, o qual não gerava a sustentação necessária para
uma figura rítmica como essa.
A última dimensão criada foi agógica. Com base nos estudos de
Wisnik (1989), Miller, Scarborought e Joanes (1992), e Frank (2010), foi
possível desenvolver itens que explorassem diferentes métricas,
possibilitando despertar, no participante, sensações com relação às
velocidades (rápido ou lento). Os itens foram constituídos em pares e
foram apresentados em diferentes gradações de dificuldade.
Os estudos de Haroutounian (2002) contribuíram para a criação
dos itens da dimensão agógica”, uma vez que a autora discute a
importância de testar variáveis relacionadas à pulsação ou a trica,
97
No dicionário Groove de música, quiáltera é definida como alteração convencional no valor das
figuras rítmicas transformando um grupo ternário em binário (SADIE, 1994).
98
Síncope: deslocamento regular de cada tempo em padrão cadenciado sempre no mesmo valor
(SADIE, 1994).
160
podendo percorrer desde proporções mais lentas, médias até outras mais
rápidas.
A obra de Frank (2010), denominada “Vêm Amigos, vêm cantar”,
foi fundamental também. A seleção ocorreu em função de três objetivos:
peças curtas, com diferentes características melódicas e possibilitar o acesso
a canções brasileiras infantis. Por ser uma coletânea para escolas e para o
trabalho com o solfejo, as notas das melodias eram dispostas de modo
diversificado e de acordo com o limiar de audibilidade.
Quadro 16 Referências das peças musicais selecionadas
OBRAS SELECIONADAS
Obra
Autoria
Sapo Cururú
Folclore brasileiro
O cravo brigou com a rosa
Folclore brasileiro
I’ve come from Alabama
Folclore americano
Alecrim Dourado
Folclore brasileiro
Tema da Sinfonia 40
Wolfgang Amadeus Mozart
Kookaburra
Música infantil da Austrália
Quebra Nozes A fada açucarada (tema)
Pyotr Ilyich Tchaikovisky
Kina Kuri no Kinoshita de
Folclore Japonês
Greensleeves
Folclore Inglês
Frére Jacques
Folclore francês
Kumbayah my lord
Música infantil de Angola
Atte, katte, neva
Música infantil da Finlândia
Geet shabes aich
Música infantil de Israel
Felicidade
Lupicínio Rodrigues
Fonte: Trechos musicais extraídos da coletânea de Frank (2010).
É preciso esclarecer que o foco da dimensão agógicanão consiste
em decodificar a canção, mas sim a velocidade na qual foi executada. Por
161
essa razão, o repertório foi apenas um recurso para que pudesse ocorrer a
discriminação das velocidades. O mesmo fragmento sonoro era
apresentado em forma de par, um dos elementos podendo variar a
velocidade. Portanto, por exemplo, a música Sapo Cururú era
apresentada lenta e posteriormente em uma velocidade mais rápida, mas
às vezes a métrica era mantida.
Miller, Scarborought e Joanes (1992) definem a métrica como uma
sequência de pulsos perecebidos, e aqueles que a discernem apresentam a
capacidade de percepção de espaço entre as sequências pulsantes, o que
permite aferir consciência espacial e cognitiva musical quanto ao raciocínio
em meio ao par de estímulos dado. Quanto mais lenta a métrica, maiores
serão os intervalos dos pulsos; quanto mais rápido, mais próximos serão.
Para Wisnik (1989), os padrões pulsantes atingem três fatores, os quais são
dimensões corporais, somáticas e psíquicas.
Ao término da tarefa de construir cada item das dimensões do
PSHM, com base em Pasqualli (2010; 2013), houve a necessidade de
análise preliminar, projeto piloto e ajustes dos itens com problemas,
conforme descrito a seguir.
Análise semântica
Como primeira etapa, consta o procedimento de gravação das
narrativas instrucionais do PSHM. Na ocasião foi necessário recorrer à
análise semântica
99
, conforme orienta Pasquali (2013).
99
“[...] os juízes são sujeitos da própria população para qual se quer construir o teste” (PASQUALI,
2013, p. 107). Esses juízes são responsáveis por analisar o índice de compreensão do item e se
formaram adequadamente formulados. Como o PSHM basicamente é produzido em áudio, a
fonoaudióloga foi imprescindível para analisar a qualidade da gravação.
162
Participou desse momento uma juíza doutora na área da
Fonoaudiologia. Coube a ela ouvir o material preliminar gravado, com as
narrativas de comando do PSHM. Ela analisou a dião, fluidez, nitidez,
articulação, respiração e qualidade vocal do narrador para a realização dessa
tarefa.
A juíza apontou que não havia nenhum problema com relação à
voz selecionada. No entanto, sugeriu cuidar dos aspectos relacionados à
qualidade do áudio, para não haver ruídos ou chiados de fundo, solicitou
cuidado com os finais de frase, para não haver declínio de volume da voz,
e destacou a necessidade de cuidar para que o texto instrucional fosse mais
simples e curto, em decorrência de o PSHM estar destinado a crianças
entre seis e 11 anos.
Na segunda etapa, ocorreu a reestruturação das narrativas e
algumas faixas de áudio dos itens (exercícios musicais). Nela, a análise
semântica dos itens contou com a participação de uma doutora em
Educação Musical. A especialista ouviu todo o material de áudio do PSHM
e, a partir dele, sinalizou quatro dimensões que ainda necessitavam de
mudanças ou ajustes no áudio gravado, em prol de maior clareza e
objetividade. Essas dimensões foram: intensidade, melodia, timbre e
padrão rítmico.
Com relação à intensidade, a especialista que atuou como juíza
desta etapa da pesquisa argumentou que as diferenças entre as gradações
fortes e fracas estavam confusas e muito próximas o tempo todo. Ela
sugeriu que se criassem distâncias que estabelecessem graus de dificuldades
em etapas, percorrendo um fluxo que se iniciasse em distâncias mais
alongadas (itens mais fáceis) até, aos poucos, chegar às distâncias mais
próximas (itens mais complexos). Ainda apontou a necessidade de
exemplificar melhor, no momento da narrativa instrucional gravada, o que
163
seria a gradação forte e fraco, por meio de exemplos. Foi nesse momento
que surgiu a faixa-treino para cada dimensão.
A especialista sugeriu que na dimensão melodia”, fosse mantida a
mesma direção melódica, alterando apenas os intervalos. Isso porque,
segundo ela, caso a direção melódica fosse foco de mudança, ela deveria
ocorrer em todos os outros exercícios, senão poderia gerar o efeito de
mascaramento.
Na dimensão timbre, a especialista sugeriu que não fosse
utilizada a mesma melodia para todos os itens. Segundo ela, isso estava
ocasionando o efeito de mascaramento também, o que significa que a
melodia estava sendo memorizada e o discernimento tímbrico estava
ficando em segundo plano, quando deveria ser o contrário. Diante disso,
corria-se o risco de não conseguir fazer o participante enfocar o timbre,
ocasionando uma indução ao erro. Então a melodia foi alterada a cada três
pares de instrumentos.
Com relação à dimensão “padrão rítmico, a especialista apontou
a necessidade de retirada da altura de nota. De acordo com a especialista,
não se representa o ritmo utilizando altura de nota, mas batidas
percussivas.
A terceira etapa ocorreu com o estrato de sujeitos da população
alvo da pesquisa. Conforme orienta Pasquali (2013), os sujeitos foram
submetidos ao PSHM e também foram entrevistados com relação à
compreensão e à inteligibilidade dos itens.
Os dez participantes
100
da rede pública e os dez da rede particular,
quando solicitados a explicar o que era para ser feito, na etapa do projeto
piloto, conseguiram reproduzir o comando da tarefa, além de exprimirem
100
Os participantes serão caracterizados no subtópico 2.8.
164
que compreenderam bem as instruções do PSHM, não o considerando de
difícil execução. Os participantes demonstraram certa preocupação com a
folha de resposta, ao sinalizarem o risco de se perderem durante a execução
do teste. A pesquisadora resolveu o problema, colocando letras do alfabeto
(na folha e no áudio) para guiar a ordem dos exercícios e estendeu um
pouco o tempo de resposta, levando em conta o tempo utilizado nos testes
de Gordon (1997; 1986), os quais também solicitam do participante o
discernimento auditivo.
Produção do PSHM em Estúdio
A primeira etapa de gravação dos itens do PSHM ocorreu em um
período de quatro dias, totalizando 18 horas de trabalho.
Nessa etapa, o material produzido pela pesquisadora no software
Finale
101
foi convertido para o formato MIDI, para iniciar a montagem do
PSHM. Os quatro dias de gravação consistiram no ordenamento dos itens,
controle de volume de todos os estímulos sonoros (senóide), correção de
cada item, e foi estabelecido o espaço de resposta entre cada um. A gravação
da voz guia foi produzida, também foi feita a escolha dos timbres
instrumentais, a partir dos samplers contidos no software Reason.
Ao final de cada dia de gravação, o material era levado pela
pesquisadora para que pudesse ser ouvido exaustivamente, a fim de rastrear
e analisar imperfeições e erros contidos nos áudios. Ao se deparar com os
trechos de recall, retornava ao estúdio para refazer o ponto onde estava o
erro no material em áudio, como os trechos de narrativa das instruções
101
Software utilizado para a escrita de partituras.
165
que, após a análise semântica, necessitaram de ajustes e mixagem junto às
outras faixas de áudio.
Outro ponto de recall foi necessário, dada a percepção de erro, no
áudio, durante o projeto piloto.
Em um dos dias de gravação a pesquisadora gravou as letras
identificadoras do teste, sinalizadas durante o projeto piloto pelos
participantes. Nesse dia, o produtor liberou as faixas corridas, e a
pesquisadora, com fone externo, microfone e visualizando o computador,
no espaço exato apresentado pelo gráfico no software Proo tools, oralizava
“A” depois em outro espaço “B” e assim sucessivamente.
Em decorrência do PSHM virtual, cortes entre as faixas de áudio
dos pares itens foram realizados no estúdio.
Finalmente, depois das correções, o PSHM estava pronto para a
aplicação na amostra selecionada de participantes.
Softwares utilizados durante a elaboração dos itens do PSHM
O esboço preliminar dos itens ocorreu por meio do software Finale
e foram tomadas decisões como distribuição aleatória dos itens, localização
das notas em termos de frequência, quantidade de compassos, tempo em
segundos entre os compassos, escolha dos sinais de dinâmica que mais se
adequavam à intensidade, composição da curva melódica, escolha do
padrão rítmico mais adequado, elaboração das sequências de pulsação e
duração e construção dos pares de discernimento na dimensão agógica.
As dimensões com seus itens foram exportadas para MIDI e
importadas para o programa de gravação Proo Tools. Esse programa foi
166
utilizado por causa da possibilidade de controlar os estímulos sonoros de
modo constante, sofrendo alterações apenas quando necessário e pela
existência do software Reason, o qual possibilitou a escolha do timbre de
cada um dos instrumentos musicais de modo sintetizado.
Descrição do material de replicação simultânea de áudio
Para a realização da modalidade física de coleta de dados, foi
necessário o uso de um equipamento composto por um transmissor fixo
modelo UT, com potência de saída 50mW, em 72MHz, com desvio acima
de 30KHz, controle de frequência estimado em 0,005%, harmônicos
espúrios de - 45dB e voltagem de 110 ou 220 Volts; receptores modelo
RX com 5 canais, potência rotativa, estéreo, resposta de frequência de 100
Hz a 12 KHz, sensibilidade de 2 uV para 12 dB, saída com controle de
volume com impedância de 39 a 100 ohms. Os fones de ouvido externos
são em forma de arco com flexibilidade para regulagem manual, frequência
de resposta de 20 a 18.000 Hz e sensibilidade de 98 dB.
Todo esse equipamento é comumente utilizado em eventos,
congressos e conferências com necessidade de tradução simultânea. No
entanto, mesmo destinado à reprodução vocal, ele reproduziu com
qualidade os senoides, timbres de instrumentos e trechos de canções, todos
variando em termos de frequências, pois eram sons de natureza complexa.
Sua utilização foi imprescindível, porque uma das modalidades de
aplicação do PSHM, de natureza coletiva e simultânea, deve ocorrer em
sala de aula. Outro fator preponderante pauta-se no fato de os ambientes
escolares serem demasiado barulhentos, algo que torna inviável a aplicação
de qualquer procedimento musical, de cunho auditivo, sem o auxílio de
fones de ouvido externos.
167
Design do PSHM
O material do PSHM é constituído por um manual instrucional,
uma ficha de controle (exclusiva para o aplicador), teste completo em
áudio (CD), folhas de resposta, máscaras de correção, além da versão para
ambiente virtual (plataforma), para o caso de haver laboratório de
informática na escola.
A etapa 1 é composta pela ficha de informações gerais. Nela o
aplicador deve registrar seu nome, data da aplicação, ano escolar e se é o
professor da turma. A ficha contará com um campo para que se possa
registrar o nome de cada um dos estudantes, o sexo e a idade. Também há
um campo específico, na frente dos nomes dos estudantes, para que se
possa registrar o número de identificação ou login do participante. Uma
das colunas destina-se ao registro de alguma necessidade de adaptação na
aplicação do PSHM e, logo em seguida, em outra coluna há possibilidade
para o registro de alguma justificativa, para o caso de alguma criança não
poder participar da aplicação geral do PSHM.
A ficha foi criada com o objetivo de organizar os estudantes e
possibilitar o planejamento da aplicação coletiva, além de contribuir para
as tomadas de decisões relacionadas aos estudantes impossibilitados de
realizar o PSHM por alguma razão particular, por exemplo, por ausência
no dia da aplicação. O objetivo é que se esgotem todas as possibilidades de
acessibilidade para o uso do PSHM e que todos consigam participar da
aplicação.
O preenchimento da ficha de informações gerais foi fundamental
para a aplicação virtual, porque, com ela em mãos, professores,
coordenadores ou diretores podem realizar o cadastro dos estudantes na
168
plataforma do PSHM para obtenção do login e senha de acesso,
procedimento que precisa anteceder a aplicação.
A etapa 2 é composta pelo manual instrucional para o aplicador, o
qual explicará como proceder com as instruções e aplicação. Por exemplo,
haverá uma indicação de leitura em voz alta de modo padronizado.
Nenhuma instrução adicional poderá ser dada ao participante, para não
correr o risco de instruir as crianças, em uma mesma tarefa, de modo
diferente.
O manual traz um texto inicial breve e explicativo referente ao
conceito de talento musical. Na sequência, relata detalhadamente os
procedimentos que deram origem ao PSHM e, de modo conciso, a
aplicação empírica do teste e a análise dos dados.
O manual, em seguida, traz instruções ao aplicador e o texto que
deverá ser lido ao participante, conforme explicado anteriormente.
Também traz orientações referentes à análise dos resultados ou tabulação,
interpretação e a ficha geral, para que o aplicador possa concentrar os
resultados de todos os participantes em um único documento em
categorias.
Na versão do PSHM para ambiente virtual, tanto a tabulação
quanto a concentração dos dados se dão em um único documento,
convertido automaticamente em forma de relatório. No entanto, embora
haja esse facilitador, a interpretação dos dados precisa ser feita com base
nas instruções contidas no manual instrucional do PSHM.
Os itens são apresentados de modo contínuo, portanto o aplicador
não pode pausá-los para dar maiores chances de resposta aos
participantes. Somente entre as dimensões há a possibilidade de pausa.
Recomenda-se o esclarecimento aos participantes para que, em hipótese
alguma, conversem ou interrompam ou cantem as frases musicais, isso
169
porque a gravação é contínua, sem nenhuma possibilidade de interrupção
ou retorno. Sendo assim, todas as dúvidas e curiosidades deverão ser
sanadas no momento de explicação prévia. Recomenda-se ao aplicador
esgotar todas as dúvidas e curiosidades dos participantes antes de iniciar o
PSHM.
No manual há recomendação para que os participantes possam ir
ao banheiro e beber água antes do início do PSHM. Para casos
excepcionais, o PSHM poderá ser pausado para que o participante possa
atender as suas necessidades fisiológicas, por exemplo. No caso da
plataforma virtual, a pausa ocorrerá somente para o participante em
questão, por causa da programação e do sistema em que se encontra o
PSHM. No caso da aplicação convencional/manual, a pausa se estende
para todos os participantes, uma vez que o áudio dos exercícios é
simultâneo.
O objetivo principal para o uso do PSHM consiste em analisar a
capacidade de discernimento entre pares de sons, batidas rítmicas e
qualidades sonoras ou timbres dos participantes. Eles ouvem o par em
sequência, depois há um o intervalo de três segundos para que possam
assinalar a resposta escolhida, atribuindo julgamento sobre o par de som
ou ritmo ouvido (igual ou diferente).
Além das instruções contidas no manual, no áudio do teste
instruções gravadas no início de cada dimensão como forma de lembrar o
participante sobre a tarefa que deve ser desempenhada.
A folha de resposta foi elaborada a partir de análises e reflexões em
torno das experiências com participantes em testes psicométricos e
psicofísicos relatados nos estudos de Gordon (1986), Gouveia et al.
(2008), Nunes et al. (2010), Peixoto et al. (2012).
170
No formato convencional, a folha de resposta tem formato A4,
com conteúdo impressos frente e verso. Ela contém quatro blocos na
horizontal e na vertical, com letras do alfabeto indicando a sequência de
preenchimento. A seguir um exemplo se faz, por meio da Figura 05.
Figura 02 Exemplo do campo para assinalar da folha de resposta
Fonte: Do autor.
Ao observar cada um dos blocos, é possível identificar, na parte
superior horizontal, dois círculos, sendo um em branco e o outro
preenchido pela cor preta. Esses dois círculos representam a opção
diferente. Os outros dois círculos, na parte inferior do bloco, na horizontal,
representam a opção igual/mesmo. Para registrar a resposta escolhida, o
participante deverá fazer um X na frente da opção que julgar correta.
A etapa 3 foi a elaboração de dois questionários. O objetivo de
criação desse material consiste na necessidade de obter informações
complementares a respeito do participante, como idade, ano escolar, se
gosta de música, se tem o hábito de ouvir música, se toca algum
instrumento ou canta, se estuda em escolas, projetos ou conservatórios
especializados e qual/quais artista(s) ou música(s) favorita(s).
Ambos os questionários são respondidos no início da aplicação do
PSHM; assim a criança tem um tempo para sanar sua curiosidade e
acalmar sua ansiedade a respeito do teste.
171
Design da plataforma do PSHM
O sistema é caracterizado como Web Responsive e estará hospedado
na rede, porém em sistema fechado para controle de uso e atualizações que
forem se fazendo necessárias. A Figura 06 exemplifica a página principal
de acesso.
Figura 03 Página de acesso ao PSHM
Fonte: Do autor.
O PSHM é destinado aos anos iniciais do Ensino Fundamental das
escolas de Educação Básica, e sua construção está destinada à realização de
mapeamentos iniciais, em larga escala, acerca do talento musical. A
plataforma está dividida em três dimensões: área do administrador, área de
cada escola, área dos professores e estudantes.
172
A área do administrador do sistema é caracterizada pelo
gerenciamento das perguntas e respostas, upload dos arquivos de áudio e
vídeo, perfis de acesso das escolas (diretor, coordenadores, professores e
turmas) e dos indicadores de desempenho.
A respeito da área de acesso, a equipe gestora (diretores, auxiliares
de direção e coordenação) fica responsável pelo bom uso da plataforma,
gerenciamento ético dos dados e integridade dos menores envolvidos na
utilização do PSHM. O diretor e o coordenador gerenciam e controlam o
acesso dos professores, das turmas e os indicadores de desempenho.
A última área é caracterizada pela listagem das turmas (com visão
geral e específica dos estudantes), preenchida pelo professor na sua área de
acesso e nas etapas de aplicação do PSHM e indicadores de desempenho,
representados pelo ícone avaliações”.
A área de login das escolas (ou a dos professores e alunos, etc),
contém a versão virtual do PSHM, que deve ser iniciada pelo
preenchimento dos questionários. Com vista a uma maior acessibilidade,
esses questionários estão em formato de vídeo, com a narrativa de todas as
perguntas e as possibilidades de respostas. As perguntas são apresentadas
em telas individuais, juntamente com as opções de resposta. Além de gerar
maior visibilidade à pergunta e à resposta, essa estratégia faz com que o
participante percorra cada uma das questões sem pular nenhuma. Isso
porque ele somente poderá acessar a pergunta seguinte após emitir sua
resposta.
Posteriormente, iniciam-se as instruções, as quais se repetem antes
do início de cada dimensão, sempre em forma de vídeo. Como as
dimensões são oito no total (timbre, altura, melodia, intensidade,
harmonia, duração, agógica e padrão-rítmico), também foram criadas oito
instruções em vídeo. Por essa razão, foi criada uma personagem responsável
173
por transmitir as instruções, tanto das faixas destinadas às dimensões
quanto a leitura dos questionários iniciais.
Por ser criada em formato 2D, a personagem apresenta
movimentos de lábios e mãos, enquanto estiver falando com o
participante. O objetivo pretendido é que ela possa realizar, de modo
interativo, as indicações instrucionais das tarefas, de maneira que a criança
se sinta acolhida nesse universo virtual do PSHM. A personagem transmite
a imagem de uma professora, porque a pesquisadora não quis passar uma
imagem de jogo para a criança (o que poderia acontecer se a personagem
fosse também uma criança), mas de uma atividade que visa a analisar suas
habilidades musicais.
Figura 04 – Avatar 2D da professora Fabi no PSHM
Fonte: Do autor.
174
É preciso ressaltar que na plataforma, assim como ocorre no
material físico, as faixas de itens de cada dimensão estão sincronizadas com
a tela de resposta e ainda são mantidos os três segundos para resposta.
Ao final, a plataforma realiza a contabilização dos dados
gerando um relatório para o professor e possibilita que os resultados
sejam armazenados a partir de um banco de dados. O professor poderá
salvar ou imprimir o relatório elaborado, a partir do seu login. O relatório
foi programado para que os resultados sejam acessados separadamente ou
de todos os participantes.
A versão virtual possibilita que escolas com recursos de internet,
com laboratórios de informática ou tecnologias móveis possam aplicar o
PSHM de modo rápido e dinâmico, como prevê o método para screening..
Com a análise dos dados realizada pelo próprio programa, após o
término da execução do PSHM, o professor tem, em tempo hábil, os
resultados necessários para analisar quais estudantes necessitam seguir em
baterias avaliativas mais verticais e poderá refletir sobre como trabalhar
conteúdos musicais em sala de aula com a finalidade de enriquecimento
para todos.
A tabulação automática minimiza erro humano na contagem dos
acertos e trará ao professor maior possibilidade de tempo para planejar sua
aula, uma vez que não despenderá tempo corrigindo as folhas de respostas.
De modo mais técnico, é preciso destacar que, no decorrer da
criação da plataforma, a pesquisadora notou que os vídeos instrucionais e
áudios não estavam realizando uplaud
102
e o cadastro dos professores não
estava completo. Por essa razão, ela adquiriu os serviços do Registro Br.,
cadastro no GoDaddy e hospedagem da plataforma na Locaweb, para
102
Quando vídeos instrucionais e o áudio dos exercícios são armazenados na plataforma PSHM.
175
ampliar a capacidade de armazenamento e velocidade no uso e
processamento das informações. Para a criação dessa plataforma, a
pesquisadora contou com a colaboração de desenvolvedores. Por mais que
eles não soubessem absolutamente nada sobre talento e música, a união
pesquisadora e desenvolvedores, em trabalho colaborativo, contribuiu para
alcançar o resultado pretendido, a criação do PSHM na rede/virtual.
Os problemas que persistiram foram tratados, conforme o prazo de
garantia, com os desenvolvedores a partir da plataforma Trello.
Em qualquer uma das versões, a aplicação teste demandou tempo
médio de duas aulas, cada uma de 50 minutos, para a ministração completa
das dimensões. Esse tempo pode variar em decorrência da dinâmica,
comportamento dos estudantes e logística da escola.
A criação do PSHM na modalidade material impresso foi realizada
em decorrência da existência de localidades no Brasil com escolas sem
acesso à internet e sem laboratórios de informática, algo que não pode
impedir que seja feita a varredura para rastreamento de estudantes com
talento musical. Também é preciso pensar que há professores com
dificuldade ou pouca intimidade com os recursos tecnológicos. Por outro
lado, há professores que dispõe de pouco tempo para a realização da
correção do PSHM. Por tudo isso, optou-se pela criação das duas
modalidades de execução do PSHM de modo a ampliar o acesso e a
usabilidade do teste. Além disso, com o PSHM em funcionamento na
rede, canais de comunicação poderão ser estabelecidos entre a autora do
teste e seus usuários.
176
Amostra
Participaram da pesquisa 653 sujeitos do sexo masculino e
feminino, com idades de 6 a 11 anos, regularmente matriculados no
Ensino Fundamental, anos iniciais. 411 participantes eram de escolas
municipais da rede pública de ensino e 242, de escolas particulares de um
município na região Centro-Oeste do interior do Estado de São Paulo.
Apenas os estudantes das escolas particulares contavam com aulas semanais
de música, ministradas por especialistas da área. Tanto a rede particular
quanto a pública contavam com laboratórios de informática, e os
estudantes frequentavam semanalmente o espaço para aulas de informática
e da grade comum. As aulas com o especialista da área da informática eram
mais comuns na rede particular.
Como a amostra foi selecionada?
Para a aplicação do PSHM foi necessário entrar em contato com
escolas públicas e particulares para reunir uma amostra significativa e
diversificada de participantes do Ensino Fundamental, anos iniciais.
O contato inicial com as equipes gestoras e professores ocorreu
primeiramente a partir de palestras sobre Educação musical e talento,
ministradas pela pesquisadora, durante o período do mestrado, devido a
convites recebidos; em segundo, no período em que frequentou as escolas
municipais para cumprir três semestres de estágio referentes à Licenciatura
em Educação Musical
103
; em terceiro, no contato, em disciplinas da Pós-
103
De 2014 a 2016 cursei a Licenciatura em Educação Musical, pela Universidade do Sagrado
Coração de Bauru/SP. Neste mesmo período finalizei o mestrado e participei do processo seletivo
para o doutorado na Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP, campus de Marília/SP.
177
graduação, com profissionais da rede de Educação Básica, em sua maioria
professores e gestores que frequentavam o mesmo Programa que a
pesquisadora.
Outra estratégia adotada ocorreu a partir da seleção de endereços e
contato telefônico das escolas, no caso das públicas, disponíveis no site da
Secretaria Municipal de Educação e, no caso das escolas particulares, no
site oficial dos sistemas de ensino com representação na cidade onde
ocorreu a pesquisa.
De posse dos contatos das escolas municipais e particulares
passíveis de participação na coleta de dados, a pesquisadora entrou em
contato para agendar um horário com as equipes gestoras. Como o Comitê
de Ética orienta a não nomeação delas, as escolas receberam numeração (1
a 8), em função do momento em que autorizaram a realização da pesquisa.
A partir do aceite das escolas, a pesquisadora realizou uma reunião
com cada equipe (diretor, auxiliar de direção e coordenação), com a
finalidade de apresentar os objetivos e procedimentos de aplicação do
PSHM e para obter um posicionamento final em relação à realização da
pesquisa.
Na ocasião, a pesquisadora forneceu para cada escola um resumo
sobre o tema da pesquisa, informações referentes ao uso do espaço escolar,
além do cronograma estimado de permanência necessária, parecer do
Comitê de Ética, autorizando a realização da pesquisa, o termo de
autorização da Secretaria Municipal de Educação e, no caso das escolas
privadas, a pesquisadora solicitou a autorização por escrito de seus
mantenedores e/ou proprietários.
Em busca de reunir escolas que de fato quisessem participar, a
pesquisadora adotou como critério de seleção o aceite espontâneo tanto
das escolas quanto dos professores. Esse procedimento contribuiu para que
178
fossem selecionadas escolas de diferentes realidades, sociais e culturais.
Após isso, era preciso que também os pais autorizassem a participação de
seus filhos, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido.
Com relação à entrega desse formulário, algumas escolas
solicitaram que a pesquisadora fosse à reunião de pais e mestres,
pessoalmente, para explicar a aplicação do PSHM. Outras preferiram
realizar, elas mesmas, a entrega dos termos aos pais.
O termo de consentimento, como se observa no anexo 1, contém
informações sobre a pesquisadora, as quais possibilitaram o contato de
alguns pais ou responsáveis legais para sanar dúvidas. Ainda uma outra
possibilidade foi disponibilizada: caso algum pai não tivesse a possibilidade
de ligar para a pesquisadora ou utilizar e-mail ou WhatsApp, a pesquisadora
se comprometeu a ir até a escola para conversar com o responsável ou pais
do menor participante, pessoalmente.
Esses contatos e possibilidades foram fundamentais, uma vez que
familiares dos alunos dos dois tipos de escola fizeram uso desses recursos
para sanar dúvidas variadas sobre o PSHM. As dúvidas mais ocorrentes
foram se haveria custo para as famílias, se seria fora da escola ou do horário
de aula, no caso das escolas públicas, e se essa atividade faria com que a
criança perdesse conteúdo de aula ou se seria uma atividade contínua do
currículo escolar, no caso da rede privada.
Nas escolas em que a pesquisadora se fez presente à reunião de pais
e mestres, os termos foram assinados e entregues naquele momento. No
entanto, na reunião havia algumas pessoas que estavam representando o
responsável legal da criança. Por essa razão, a pesquisadora recomendou
que levassem o termo para casa e que explicassem para o responsável legal
o teor da autorização, assim poderiam optar pela participação ou não da
179
criança. Com relação aos pais que faltaram à reunião, a pesquisadora
enviou o termo de consentimento por meio da criança.
Na rede privada de ensino, os termos foram enviados na agenda
das crianças. De acordo com a equipe gestora e professores, os pais estão
acostumados a assinar bilhetes e autorizações que vão por esse meio e, se
essa dinâmica se modificasse, as autorizações poderiam não vir assinadas.
Diante do exposto, a Tabela 06 foi criada para apresentar o quadro
de adesão à pesquisa pelos participantes, com base no processo de entrega
e retorno das autorizações assinadas.
Tabela 06 Panorama de retorno dos termos de consentimento
Escolas Entregues Retornaram Não retornaram
Rede
Privada
1
2
3
7
86
11
280
424
74
11
104
102
12
0
176
322
Rede
Pública
4
5
6
8
420
227
450
150
141
138
237
97
279
89
213
53
TOTAL
8
2.048
904
1.144
Fonte: Do autor.
A taxa de retorno, como se pode observar na Tabela 6, foi de
44,14%. A adesão participativa na pesquisa esteve vinculada a variáveis,
como: mudança de escola, adesão e aceite dos professores em participar da
pesquisa, efetivamente colaborando com a mediação pesquisadora-
participante, autorização ou não das famílias, o participante não mostrar o
termo para os seus responsáveis, tanto estudantes quanto professores se
esquecerem de entregar os termos para a pesquisadora, a falta dos
180
estudantes no dia da entrega dos termos e o desconhecimento referente à
Educação Musical.
Mesmo com o N de 904 participantes autorizados, cujo termo
chegou até a pesquisadora, realizaram a pesquisa somente 653. Houve uma
baixa de 251 (38,43%) participantes em um universo de oito escolas. Esse
mero de desistentes, após sondagem realizada pela pesquisadora às
equipes gestoras, aconteceu, em sua maioria, por faltas consecutivas, casos
pontuais e evasão e mudança de escola, por se tratar do início do ano,
precisamente, primeiras semanas de aula.
Para o recolhimento dos termos de consentimento livre e
esclarecido, todas as escolas sugeriram para a pesquisadora que considerasse
um prazo de sete dias úteis a contar do dia da entrega para os pais ou para
as crianças levarem. Os termos foram recolhidos pelos professores, que os
repassaram à equipe gestora, e essa informou à pesquisadora que,
prontamente, foi buscá-los.
Com os termos assinados e em mãos, a pesquisadora fez uma lista
com os nomes dos participantes por escola. Mediante o N de participantes,
foi possível realizar a produção gráfica das folhas de respostas e dos
questionários, bem como preparar os fones de ouvido externos com capas
higiênicas e realizar testes preliminares com todo o equipamento de
reprodução do áudio. No caso da plataforma, foi possível realizar o
cadastro de cada participante de acordo com a escola e turma.
A pesquisadora contou com o apoio de uma auxiliar de pesquisa
durante a aplicação manual. Ela foi devidamente treinada e respondeu bem
às tarefas que lhe competiam, contribuindo para que as crianças se
sentissem acolhidas e seguras no ambiente de aplicação do PSHM, sem
emissão de juízo de valor, análises indevidas do ambiente escolar
pesquisado ou interferência na coleta. Ela manteve neutralidade durante a
181
realização do PSHM e soube ser discreta quanto ao que viu a respeito da
rotina escolar. Também contribuiu para que o ambiente cedido pelas
escolas fosse entregue de modo organizado, conforme foi encontrado pela
pesquisadora.
Durante a ministração da plataforma, não foi necessária a presença
da auxiliar de pesquisa, uma vez que a plataforma permitiu maior
autonomia dos participantes, possibilitando que a pesquisadora, sozinha,
atendesse às necessidades e dúvidas surgidas. No entanto, foi necessário
treinar os técnicos de informática responsáveis pelos laboratórios das
escolas. Afinal, eles foram imprescindíveis para a garantia do bom
funcionamento das máquinas e conexão com a internet.
A coleta de dados foi realizada em quatro momentos. A primeira
etapa constituiu-se da aplicação em massa da versão impressa do teste em
escolas particulares e públicas. O segundo momento contou com uma
amostra de participantes da rede pública, escolhida por sorteio, que
realizou o PSHM, versão impressa, duas vezes com intervalo de 60 dias. O
terceiro foi a aplicação da plataforma PSHM em uma escola particular e
outra pública com o objetivo de ouvir os usuários a respeito da usabilidade
e, assim, ajustar e aperfeiçoar itens que ainda apresentavam problemas, e o
quarto, se constituiu na aplicação da versão manual e, posteriormente, da
virtual, em uma única escola, respeitando intervalo de 60 dias.
Projeto Piloto
A realização do projeto piloto ocorreu em duas etapas, na rede
pública e privada: a primeira aplicação foi individual e a segunda, coletiva.
Duas formas de apresentação do PSHM foram utilizadas, uma em
modalidade impressa/manual, e a outra no ambiente virtual.
182
As aplicações individuais e coletivas foram utilizadas para,
principalmente, viabilizar a observação da usabilidade do PSHM com
participantes com menor idade e analisar a ocorrência de erros no material
de áudio, nas folhas de respostas e nos comandos das tarefas.
A pesquisadora realizou a seleção dos participantes para o projeto
piloto por meio de sorteio. Uma amostra de 20 estudantes foi selecionada,
sendo 10 deles da rede pública e 10 da rede particular, um menino e uma
menina de cada turma.
Para a aplicação individual, foi realizado um segundo sorteio em
cada um dos grupos acima, para recrutar apenas um de cada tipo de escola.
Essa aplicação ocorreu antes da aplicação coletiva e se fez necessária para
que a observação do participante fosse mais pontual e para que a entrevista
pudesse ocorrer sem a influência da opinião de outro participante. Esses
dois participantes não compuseram a amostra da aplicação coletiva do
projeto piloto.
A aplicação individual do PSHM, em formato impresso/manual,
ocorreu em uma sala de aula, onde a pesquisadora e a estudante se sentaram
frente à frente. Foram utilizados computador, fones de ouvido externo,
folhas de respostas, lápis e borracha.
Na aplicação piloto do PSHM, versão virtual, o estudante foi até o
laboratório de informática e se sentou em frente ao computador e colocou
os fones de ouvido externos. A pesquisadora ficou próxima a ele, do lado
direito do participante. Após terminar de realizar a plataforma PSHM, o
participante foi entrevistado para que fosse possível obter suas impressões
a respeito do teste.
Para a aplicação coletiva do PSHM, os participantes foram
chamados em suas salas de aula pela pesquisadora. É importante destacar
que essa atividade não interferiu no cronograma curricular da escola, pois
183
fez reunião com a equipe gestora e foi informada do melhor período para
realização, ou seja, a pesquisa constava no cronograma curricular da escola.
Ao chegarem à sala de aplicação do PSHM, todos foram
acomodados em seus lugares e a pesquisadora iniciava sua apresentação e,
em seguida, realizava a leitura das instruções do manual. As dúvidas que
surgiam eram respondidas.
Na versão impressa do PSHM, os questionários eram entregues
para o preenchimento individual. Após ser respondido, a auxiliar de
pesquisa os recolhia e colocava os fones externos e os receptores. Enquanto
isso, a pesquisadora fazia as mediações necessárias aos estudantes que
solicitavam ajuda. Em seguida, a pesquisadora passava criança por criança
ligando o receptor e fazia a regulagem do volume, de acordo com o
feedback do participante. É preciso destacar que o receptor era ligado
sempre partindo do volume zero.
Nesse momento de regulagem dos fones, a pesquisadora deixava
tocando o áudio de um CD com músicas que traziam sons da natureza,
animais, água etc., em intensidade próxima às que apareceriam no PSHM.
Não foram utilizadas músicas com instrumentos, ritmos e harmonias
definidas, para não estabelecer relações com os exercícios que seriam
apresentados no PSHM e também não foram utilizadas frequências ou
variações de baixa ou alta intensidade, para não interferir na proporção
auditiva dos áudios do PSHM. A pesquisadora averiguou com a
coordenação das escolas onde foi realizado o projeto piloto, com a devida
antecedência, se, dentre as crianças autorizadas pelos responsáveis legais,
haveria alguma com deficiência considerada severa ou algum outro
impedimento para realizar o PSHM. Em caso positivo, a pesquisadora iria
providenciar adaptações ou recursos necessários para o participante. Para
os demais casos, a pesquisadora solicitou às redes de ensino que não
revelassem quem eram as crianças com deficiência. Ela não quis
184
internalizar comentários e impressões da equipe gestora, tampouco criar
algum tipo de representação referente ao participante com deficiência,
antes da realização do PSHM. O objetivo era testar o PSHM em termos
de acessibilidade e usabilidade. Todos os participantes foram informados
sobre isso e eram instruídos a comentar com a pesquisadora, ao final,
possíveis dificuldades e dúvidas que ocorressem.
Participou da realização do PSHM, no projeto piloto coletivo,
versão manual, uma menina com autismo de grau moderado. Nesse caso,
a equipe gestora sinalizou a condição da criança em decorrência de suas
necessidades educacionais especiais, como a alta sensibilidade auditiva e o
contato social comprometido. A pesquisadora, então, passou um período
com a participante, para que se adaptasse e se familiarizasse com o
equipamento, principalmente com a colocação dos fones de ouvido
externos. Devido às suas especificidades, tal participante realizou apenas
uma parte do PSHM. Ao desistir de continuar, alegou que estava cansada
e, ao mesmo tempo, apontou para seus ouvidos.
Enquanto realizava o PSHM, a participante mencionada consegui
acertar algumas questões e realmente estava desempenhando bem a tarefa.
Isso foi verificado mediante a verbalização da resposta para a pesquisadora
após os pares de sons e ritmos terem sido executados. Para viabilizar essa
análise, a pesquisadora estava conectada ao mesmo áudio da participante.
Ressalta-se que a própria participante assinalava a opção escolhida na folha
de resposta.
A aplicação virtual do PSHM, no projeto piloto coletivo, foi
realizada no laboratório de informática das escolas participantes. A
pesquisadora chegou com antecedência e, com a contribuição da técnica
de informática, ligava as máquinas e acessava a página do PSHM na
internet e entrava no login da escola. A partir desse acesso, em cada
computador, abria a página do teste para cada uma das crianças. Nessa
185
página, o nome do participante aparecia no topo da tela, do lado direito.
Com os computadores prontos, a pesquisadora se dirigia à sala de aula e
chamava os participantes. Chegando ao laboratório, eles eram chamados
conforme o cadastro que aparecia em cada máquina. Antes de declarar o
início do PSHM, era feita a leitura do manual instrucional. Em seguida
eram respondias todas as dúvidas dos participantes referentes à realização
do PSHM.
Os participantes afirmaram que estavam acostumados com o
laboratório de informática, devido à frequência nas aulas programadas para
esse espaço, mas, mesmo assim, foram necessárias explicações adicionais a
respeito das especificidades e uso dos computadores como: a utilização do
mouse, onde clicar, onde escrever, localização das letras e números no
teclado etc.
Com a realização dessas etapas, os fones de ouvido eram colocados.
Foi utilizada a mesma trilha musical do teste na versão manual, porém esse
acesso ocorreu diretamente do Youtube
104
, em decorrência de os áudios não
serem mais simultâneos.
A partir da aplicação da plataforma, cada computador reproduziu
o áudio independentemente. Os fones foram acoplados nas entradas para
fones das CPU ou rugby dos computadores.
Com os ajustes realizados, os participantes iniciavam a realização
da plataforma PSHM, assistindo ao vídeo de apresentação. Inicialmente
foi realizado o preenchimento dos questionários. Na sequência, as
dimensões e itens. Antes de cada tarefa, havia uma instrução a respeito de
cada dimensão com exemplos de sons ou ritmos diferentes e iguais.
Diferentemente da versão manual, os participantes assistiam a um vídeo
104
Exemplo utilizado no momento da regulagem do áudio nos fones de ouvido externos. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=PLX_IbMKYpQ.
186
onde um avatar realizava as instruções. Durante os exercícios não havia
vídeos, eram apenas áudios e o campo de resposta.
Quando chegavam ao final, os participantes assistiam ao vídeo de
agradecimento pela participação na pesquisa. Na versão impressa/manual,
a própria pesquisadora realizou os agradecimentos.
Melhorias e revies realizadas durante o projeto piloto:
modalidade material manual e virtual
As instruções padronizadas foram imprescindíveis. Além disso,
explicações minuciosas preliminarmente, lidas do manual, foram válidas,
porque o participante foi relembrado da tarefa a cada dimensão. A
padronização das instruções para todos os participantes foi um fator
importante porque a instrução poderia ser lida sempre do mesmo jeito.
Explicar a utilização dos fones de ouvido externos e dos receptores
também foi fundamental, uma vez que tais equipamentos despertaram
interesse e curiosidade nos participantes, no caso da aplicação manual.
Os questionários foram aperfeiçoados, a partir do grau de
compreensão e modo de preenchimento apresentados pelos participantes
no projeto piloto.
Na primeira versão, o questionário um continha 12 questões e o
dois, 11. A 5ª questão do questionário um e a 7ª do dois traziam gêneros
musicais
105
, para que o participante assinalasse sua preferência. No
entanto, observando as dúvidas apresentadas pelos participantes, os
105
Gêneros musicais: Música Erudita, Jazz, Blues, Música sertaneja, Samba, Funk, Bossa-nova,
música gospel, pagode e outros.
187
questionários sofreram reformulação
106
, de modo que o questiorio um
passou a contar com cinco questões e o dois, com sete.
A respeito dos gêneros musicais, a opções foi transformar a questão
fechada em aberta, de modo que o participante ficasse livre para anotar o
nome da música e/ou a banda e/ou artista de sua preferência, transferindo
para a pesquisadora a responsabilidade de enquadrar as músicas ou artistas
ao gênero que melhor os representava. Essa sugestão já havia sido
apresentada pelos juízes que avaliaram os questionários. Por essa razão, ao
analisar o preenchimento dos participantes no projeto piloto, a
pesquisadora optou por adotar a sugestão dos juízes.
Na plataforma, os questionários sofreram modificação no modo de
apresentação. Afinal, da folha de papel para a tela, a mudança foi
considerável. Mais que isso, o banco de dados não estava processando
adequadamente as respostas dos participantes, o que prejudicava a
correção. Por essa razão, o formato de registro da resposta dos
questionários precisou ser modificado. Além disso, a pesquisadora cuidou
para que a forma de responder aos questionários, nas duas versões do
PSHM, não fosse diferente demais. Foi nessa fase do projeto piloto que o
banco de dados foi criado e analisado, principalmente o banco gerado pela
plataforma virtual.
Como as perguntas dos questionários e o campo de colocação das
respostas precisou sofrer modificação no modo de apresentação, a
pesquisadora gravou tanto as questões, quanto as variações de possibilidade
de respostas. Não somente por isso, mas prevendo a acessibilidade,
inclusive, de crianças com deficiência visual.
106
Também contou com a colaboração e contribuições do Grupo de pesquisa “Diferença, desvio e
estigma” coordenado pelo Professor Dr. Sadao Omote.
188
A partir desse recurso disponível pelo computador, a pesquisadora
observou que os estudantes se guiavam melhor pelas informações gravadas
que pela leitura. Isso era verbalizado por eles durante o projeto piloto. No
momento dos questionários, por exemplo, quando um ou outro vídeo
travava por causa da conexão, os participantes reclamavam. Então, a
pesquisadora informava e recomendava a eles que realizassem a leitura das
questões e possibilidades de respostas (todas estavam em caixa alta),
enquanto aguardavam o vídeo carregar. Os estudantes então
demonstravam insatisfação com a possibilidade de realizarem a leitura, pois
preferiam assistir ao vídeo.
A respeito dos questionários, foram estabelecidos critérios para o
registro das respostas. Numerais foram atribuídos para identificar as
escolas, as séries/ano escolar, o sexo da criança e a idade.
Como os questionários apresentavam perguntas fechadas, em sua
maioria, cada uma das gradações de resposta recebeu um numeral. Por
exemplo, a opção gosto muitofoi representada pelo número 1, gosto
pouco, 2, não gosto, 3 e, quando o participante não assinalava, foi
criada a opção 4, não respondeu. Quando o participante assinalava mais
de uma opção, essas eram representadas pelo numeral 5, resposta inválida.
O mesmo critério foi usado para as respostas com alternativas sime
não”.
As folhas de respostas também passaram por refinamento, desde o
design e apresentação dos elementos (os quadros destinados para o registro
da resposta do participante), até os detalhes no material de áudio do
PSHM foram corrigidos a partir da observação em campo.
A pesquisadora observou que o preenchimento da folha de resposta
impressa gerou algumas dificuldades a respeito da localização e sentido do
preenchimento, mesmo havendo as letras do alfabeto. Tal dificuldade não
189
foi sentida na aplicação da plataforma, porque os itens eram apresentados
um por vez, centralizando assim a ordem de colocação da resposta. Além
disso, os participantes precisavam ser bem instruídos a respeito da
representação gráfica das opções diferente e igual. Na folha impressa uma
ficava sobre a outra. Na plataforma, além de ficarem separadas, uma ficou
ao lado da outra distintamente.
A correção, no caso da versão impressa, foi realizada manualmente
a partir de máscaras de correção. Espaços abertos permitiam avistar o “X
realizado pela criança na folha. O numeral 1 foi escolhido como escore
para representar cada um dos acertos e o 0 para representar respostas
erradas.
A plataforma seguiu os mesmos princípios de correção, porém ela
foi programada para contabilizar os acertos do participante de modo
específico e geral. Todos os critérios elencados para correção e constituição
do banco de dados, principalmente virtual, partiram do referencial teórico
de Pasquali (2013).
Outro ajuste necessário nas instruções, no manual, esteve
relacionado à solicitação de ida ao banheiro e para beber água durante a
execução do PSHM. Muitos participantes apresentaram essa solicitação
demasiadamente, alguns inclusive sinalizaram essa necessidade no início da
aplicação devido a problemas de saúde (incontinência urinária). A partir
desse fato o manual instrucional foi revisado, acrescentando a possibilidade
de pausa entre as dimensões. Na versão impressa, todos precisaram esperar
o retorno do participante ao banheiro. Por outro lado, na versão virtual
não foi necessário esperar, porque cada computador reproduziu a
plataforma de modo independente.
Durante o projeto piloto, tanto na escola pública quanto na
particular, inesperadamente alguém adentrou a sala durante a realização
190
do PSHM, pelo menos uma vez. Uma instrução a esse respeito foi
acrescentada ao manual. Nessa pesquisa, de modo preventivo, a auxiliar
de pesquisa foi devidamente treinada para situações como essa. Ela foi
instruída a sair da sala com a pessoa e, do lado de fora, realizar as
explicações necessárias sobre o que estava acontecendo e o porquê de não
interromper a atividade. Por isso, enquanto não estava recolhendo as folhas
de resposta, posicionava-se próximo à porta.
Outro detalhe analisado no projeto piloto foi a conexão com a
internet. Ela não era ruim, porém em alguns vídeos, no momento das
instruções, o participante precisou esperar para que carregasse. A
capacidade das máquinas também foi uma característica importante na
reprodução dos vídeos e uso da plataforma. A pesquisadora percebeu que
uma única CPU atendia a dois e até três monitores, algo que
sobrecarregava o desempenho da máquina. Como no projeto piloto não
havia muitos participantes, a pesquisadora os distribuiu de modo que ficou
um participante por CPU. A partir dessa experiência, a pesquisadora pediu
aos desenvolvedores, bem como à técnica de informática da escola, que
tentassem providenciar meios para a solução desse problema de modo a
não atrapalhar a coleta de dados.
Todos os problemas encontrados no PSHM foram informados aos
desenvolvedores por meio de uma plataforma destinada à assistência
técnica denominada Trello. A partir dela, a pesquisadora tinha a
possibilidade e recursos para exemplificar e sinalizar os problemas
encontrados em campo, por isso ela era uma preferência por parte dos
desenvolvedores.
O tempo total de aplicação do PSHM foi estimado durante o
projeto piloto. A versão manual e a versão virtual apresentam a duração de
duas aulas, ou seja, 100 minutos. A parte de preparação está inclusa nessa
contagem de tempo. A execução do PSHM dura 80 minutos. Somente
191
não está sendo considerada a etapa de buscar os estudantes em sua sala de
aula. Evidentemente, esse tempo pode variar em função das necessidades
de compreensão dos estudantes. No caso da plataforma, essa diferença será
sentida entre os participantes de uma mesma turma. Durante a aplicação
virtual, cada participante realiza o PSHM de acordo com o seu
desempenho individual e no tempo de cada um.
Com a finalização do projeto piloto, as correções e ajustes foram
todos realizados e, então, a pesquisadora foi a campo coletar os dados.
Como ocorreu a aplicação do PSHM na amostra?
Esse subtópico contempla a caracterização das escolas participantes
da pesquisa e os procedimentos de coleta de dados da modalidade impressa
e virtual do PSHM nos espaços escolares. Embora sejam duas versões, é
preciso esclarecer que os conteúdos musicais foram rigorosamente os
mesmos, bem como as instruções, as quais foram fornecidas diretamente
do manual, de modo padronizado, o que possibilitou dar o mesmo
comando nas tarefas para todos os participantes.
PSHM em versão impressa
Conforme descrito no manual do PSHM, em sua versão impressa,
a sala foi organizada de modo que os participantes tivessem um bom
distanciamento uns dos outros. O equipamento foi montado, a matriz de
transmissão com o computador sobre uma mesa em um ponto que
garantisse boa propagação do sinal, e as folhas de respostas foram
posicionadas no canto da sala, para facilitar a troca entre uma dimensão e
192
outra. Sobre cada mesa foi colocado o questionário com um lápis com
borracha e o equipamento de áudio, conforme o número de participantes.
No momento de iniciar o PSHM, as instruções padronizadas eram lidas
diretamente do manual, conforme mencionado anteriormente.
Para a descrição da aplicação do PSHM e análise dos dados,
meros foram atribuídos às escolas de modo que fosse possível designá-
las. Participaram dessa etapa da pesquisa as escolas 1, 2 e 3 da rede
particular de ensino, e as escolas 4 e 5 da rede pública de ensino.
As escolas 1, 2, e 3, em seu material apostilado, reuniam conteúdo
das disciplinas básicas, de artes e, especificamente, de Educação Musical.
Além da disciplina de Educação Musical, essas escolas contavam, em
alguns casos, com atividades musicais, extracurriculares no contraturno
dos estudantes, instrumentos musicais, recursos e materiais para a
disciplina de música, além de um profissional especialista para ministrá-la.
As escolas 4 e 5 trabalhavam conteúdos que estavam pautados no
currículo nacional e no Plano Político Pedagógico específico. Nenhuma
contava com a disciplina de Educação Musical e, quando havia alguma
atividade pontual de música, era extracurricular, na perspectiva de projetos
ou vinculada a alguma festividade da escola.
A escola 4 apresentou um diferencial a respeito da prática musical,
por ter variados instrumentos musicais guardados. A diretora e a
coordenadora disseram para a pesquisadora que esses instrumentos
musicais estavam na escola por conta de ter ocorrido uma iniciativa de
composição de uma banda marcial, porém o projeto não se consolidou. A
equipe gestora afirmou para a pesquisadora que, para 2018, estaria
programado a execução de um projeto para revitalizar e resgatar a banda
da escola.
193
De modo geral, as escolas eram de diferentes regiões da cidade. As
escolas 1, 2, e 3 estavam localizadas em áreas mais centrais e em bairros de
classe média alta, enquanto as escolas 3 e 4 estavam localizadas em bairros
de periferia.
No dia da pesquisa, na escola 1, a coordenação orientou e
encaminhou a pesquisadora até a sala reservada, inclusive a autorizou a
chamar as crianças em suas respectivas turmas. Alguns estudantes
trouxeram a autorização atrasada, então, quando a pesquisadora chamava
os participantes, essas crianças vinham junto com as suas autorizações.
Outros vinham junto com a coordenadora, porque alguns pais faziam a
entrega do termo na direção da escola. Por isso, a pesquisadora sempre
conversava uns instantes com os participantes para se apresentar e explicar
o motivo pelo qual estava na escola, assim os remanescentes tinham tempo
hábil para compor o grupo.
Nessa escola, entre os participantes, havia dois com deficiência
intelectual. Conforme protocolo da pesquisadora, somente depois da
coleta eles foram identificados pela coordenadora, para que a pesquisadora
pudesse sinalizar as folhas de respostas deles.
Nas duas primeiras dimensões, foi necessário acompanhar alguns
participantes, devido à manifestação de dificuldades, porém depois eles
apresentaram autonomia e segurança para seguir até o final sozinhos,
verbalizando que já sabiam o que era para fazer. A pesquisadora e sua
auxiliar, a partir desse momento, apenas monitoravam a distância esses
participantes, bem como os demais.
Na escola 1, devido ao menor número de adesão por turma,
ocorreu a junção de algumas salas. No entanto, a pesquisadora cuidou para
que, em caso de misturar turmas, o 1º ano seria unificado ao 2º, apenas
por conta das especificidades de compreensão e desempenho dessas faixas
194
etárias no PSHM. Os 3º, 4º e 5º anos poderiam realizar o PSHM juntos
sem problemas.
As escolas 2 e 3 foram consideradas juntas. Isso porque a escola 2
é uma unidade de Educação Infantil que expandiu para o Ensino
Fundamental há pouco tempo, portanto, no período da pesquisa essa etapa
escolar estava no início. A escola 3, por sua vez, possuía uma organização
diferenciada em suas unidades. No prédio destinado ao Ensino
Fundamental, constavam somente o 2º, 3º, 4º e 5º ano. O 1º ano estava
na unidade correspondente à Educação Infantil, em outra instalação. Por
serem unidades independentes, conforme informação da equipe gestora,
no período da coleta de dados a diretora não permitiu mobilizar a outra
unidade, e com o aceite da escola 2, a pesquisadora pautou-se nessa
situação para coletar dados na escola 2, no 1º ano, e, posteriormente, na
escola 3, do 2º ao 5º ano.
Na escola 2, a professora regente conduziu a turma até a
pesquisadora. A aplicação se deu na própria sala de aula dos participantes.
Todos os participantes do 1º ano foram autorizados por seus responsáveis,
exceto um menino, cujos pais deixaram isso registrado no termo de
consentimento
107
.
Um dos participantes, que aparentava interesse e concentração pela
realização do PSHM, em alguns momentos queria responder ao teste
aleatoriamente. Então a pesquisadora interveio, expressando a importância
de ele realmente fazer o preenchimento consciente. Após as intervenções,
a pesquisadora constatou que o participante estava apresentando respostas
corretas. Durante toda a aplicação do PSHM, foram necessárias diversas
intervenções com esse participante. Em nenhum momento ele verbalizou
107
Devido à atitude dos pais e as regras impostas pelo Comitê de Ética, o estudante precisou ficar
aos cuidados de uma auxiliar pedagógica na sala de leitura e jogos da escola.
195
ou demonstrou que gostaria de desistir de realizar o PSHM, tanto que a
própria pesquisadora perguntou e sinalizou essa possibilidade em
decorrência de sua conduta.
Também uma das meninas apresentou, do meio para o final, certo
tédio e cansaço. Inclusive ela mesma relatou o cansaço para a pesquisadora,
justificando o grau de dificuldade como o principal ponto de
desmotivação. Esse diálogo ocorreu no momento de recolher e entregar as
folhas de respostas. Mesmo diante disso, ela também não quis desistir de
realizar o PSHM.
Na escola 3, a coordenadora reservou uma sala para que a
pesquisadora pudesse acomodar seu equipamento, e duas funcionárias
foram designadas para dar suporte: para chamar as crianças que haviam
sido autorizadas e trazê-las até onde estava a pesquisadora.
A coordenação solicitou que a pesquisadora informasse com
antecedência os nomes dos participantes, para passar às funcionárias. A
pesquisadora então elaborou a lista em forma de check list, contendo os
nomes das crianças autorizadas e suas respectivas séries.
Na escola 3, surgiram participantes além do previsto, e todos
participaram da aplicação do PSHM.
Na escola 3, a coordenadora reservou uma sala, para que a
pesquisadora pudesse acomodar seu equipamento, e duas funcionárias
foram designadas para dar suporte: para chamar as crianças na sala e trazer
cada série até a sala onde estava a pesquisadora.
A coordenação solicitou que a pesquisadora informasse com
antecedência os nomes dos participantes, para passar às funcionárias. A
pesquisadora então elaborou a lista em forma de check list, contendo os
nomes das crianças autorizadas e suas respectivas séries.
196
Na escola 3, surgiram participantes além do previsto, e todos
participaram da aplicação do PSHM.
Nesta mesma escola, participaram três estudantes com Transtorno
do Espectro Autista, mas apenas o com comprometimento mais severo foi
revelado para a pesquisadora com antecedência, os demais a escola seguiu
o protocolo de coleta. Nesse caso, o contato social prévio foi fundamental.
A pesquisadora realizou um processo de adaptação, utilizando os fones de
ouvido externo, dada a sensibilidade auditiva apresentada pela criança.
Além disso, a pesquisadora perguntou ao estudante se ele queria participar
do PSHM, após ter conhecido o equipamento e a atividade. Ele disse que
sim, portanto, no dia em que sua turma realizou o PSHM, o estudante
estava junto.
A responsável pelo acompanhamento pedagógico (auxiliar) e a
professora responsável pelo Atendimento Educacional Especializado
acompanharam a aplicação do PSHM. Elas foram instruídas sobre como
se portar na realização do PSHM, inclusive não intervir na aplicação do
teste, principalmente com relação aos estudantes autistas. Elas foram
informadas que somente poderiam intervir se a pesquisadora julgasse
necessário.
No caso da auxiliar pedagógica, houve o treinamento para que ela
pudesse acompanhar o estudante autista (severo) na realização do PSHM.
A pesquisadora orientou a auxiliar para não ajudar o estudante, dando a
ele a resposta correta porque, caso isso ocorresse, a folha de resposta dele
seria anulada. A auxiliar se mostrou favorável ao cumprimento das regras,
inclusive estava muito interessada e atendeu com atenção as orientações.
Sendo constantemente observada pela pesquisadora ou sua auxiliar, a
professora, aparentemente, atendeu a todos os combinados.
197
A auxiliar pedagógica foi posicionada ao lado do estudante (estava
do lado esquerdo da profissional). Ele estava com fones de ouvido externo,
receptor, lápis com borracha e folha de resposta, enquanto ela estava com
fones de ouvido externo e receptor apenas. A pesquisadora observou que a
auxiliar não precisou realizar nenhuma mediação porque o estudante foi
capaz de assinalar sua resposta e soube se guiar nos itens a partir das letras
do alfabeto que eram orientadoras na folha. Apesar de segurar o lápis com
dificuldade, o estudante conseguiu marcar a sua resposta durante os três
segundos dados pelo teste.
Depois de um certo tempo no teste, ele declarou cansaço e
incômodo a respeito dos fones de ouvido externos e, por isso, seu teste foi
encerrado.
As instruções foram lidas de modo geral para todos os participantes
e, no caso do estudante autista (severo), a pesquisadora reformulou a
explicação, também contida no manual instrucional, e, durante o início do
teste, ficou junto com ele e solicitou que ele verbalizasse o que era para ser
feito nas primeiras opções de resposta. Com a garantia de que ele
compreendeu, a pesquisadora o deixou junto à auxiliar.
Na escola 4, a pesquisadora seguiu os mesmos padrões
instrucionais descritos no manual do PSHM. Inicialmente, a diretora e,
em alguns dias, a coordenadora acompanharam a pesquisadora na retirada
dos participantes da sala. Após três momentos realizando essa ação, as
gestoras deixaram que a pesquisadora passasse a chamar as crianças, nas
salas, sozinha.
No primeiro dia de coleta na escola 4, houve poucas crianças
autorizadas de cada série, mas conforme as crianças foram percebendo o
teor do PSHM, a partir do relato dos colegas, solicitaram à pesquisadora
novos termos para levarem para os responsáveis legais assinarem. A maioria
198
alegou ter perdido o papel. Desse modo, o número de participantes
dobrou, o que fez com que a pesquisadora permanecesse mais tempo na
escola que o previsto.
Participaram da pesquisa dois estudantes com deficiência: um
autista, com pouco comprometimento, e um estudante com deficiência
auditiva, que possuía implante coclear na orelha direita, e a esquerda
encontrava-se sem audição. A Figura 13 se faz exemplo da mediação
realizada com tal estudante, o qual necessitou de instruções mais
direcionadas e acompanhamento durante a aplicação do PSHM. Ele foi
acomodado na frente, junto com o equipamento da pesquisadora, para
facilitar seu monitoramento. É importante destacar que a frequência do
aparelho do estudante era diferente, portanto não houve interferência nos
demais.
A pesquisadora e sua auxiliar se revezaram para sanar eventuais
dúvidas do restante da classe e acompanhar esse estudante, de modo que
ele nunca ficou sozinho na realização do teste. Esse participante com
deficiência auditiva foi sinalizado pela escola previamente, conforme
combinado com a pesquisadora. Os fones de ouvido externos foram
colocados próximos ao aparelho, por meio do feedback dado pela criança.
Em âmbito geral, na escola 4 poucos estudantes demonstraram
fragilidade de concentração, a maioria tinha a atenção focada. Também foi
possível observar que os estudantes aparentavam tranquilidade e, ao
mesmo tempo, se mostravam curiosos e interessados pelo que iria
acontecer.
A última escola participante da coleta de dados, na modalidade
impressa, foi a escola 5. A princípio, a coleta de dados iria ocorrer nos
períodos matutino e vespertino. No entanto, quando a pesquisadora foi
levar os termos de consentimento, durante a primeira reunião de pais e
199
mestres, foi informada pela auxiliar de direção que não iria poder realizar
a pesquisa no período da tarde, em decorrência da falta de espaço físico e
do cronograma previsto para o semestre. Ela reforçou que somente no
período da manhã havia a possibilidade de disponibilizar um espaço para
a pesquisadora coletar os dados. Nesse contexto, a sala cedida pela escola é
um espaço destinado ao desenvolvimento de projetos, atividades
extracurriculares e, às vezes, de reforço escolar.
Na escola 5, houve uma professora do 5º ano que se negou a
participar da pesquisa, não permitindo que os termos de consentimento
fossem entregues em sua sala. A pesquisadora inferiu que essa conduta da
professora se deu em decorrência da prova externa que iria acontecer
naquele semestre. Por isso, foi conversar com a professora para esclarecer
novamente o teor da pesquisa. A partir da conversa, a professora repensou
a sua decisão, e a turma, então, participou do teste.
A semana cedida para a coleta de dados, na escola 5, foi aquela em
que estava prevista a segunda reunião de pais e mestres do semestre. Então
a pesquisadora chegava antes do período de aula (matutino) e quem a
ajudava era o profissional da limpeza, que abria a sala para ela. Após
montagem do equipamento, a pesquisadora se dirigia ao pátio de entrada
das crianças e quando as funcionárias formavam a fila, ela fazia a chamada
das crianças autorizadas.
A pesquisadora percebeu que, em algumas salas de aula, os
estudantes afirmavam ter entregado o termo de consentimento para a
professora, mas o documento não chegou à pesquisadora. Por isso, em sua
check list, os nomes desses estudantes não constavam. Então, ao se dirigir
às professoras das respectivas turmas para verificar essa questão, as
autorizações eram encontradas e entregues à pesquisadora.
200
No momento em que a pesquisadora foi chamar os estudantes
autorizados do 3º ano A e B, esses relataram a mesma situação. Os
participantes estavam seguros a respeito da entrega da autorização para a
professora, mas ela negou. Então, a pesquisadora interveio e ofereceu a
possibilidade de as crianças levarem novos termos, para que seus
responveis pudessem assinar novamente, mas não foi necessário porque
a professora da turma encontrou as autorizações.
Durante a ministração do PSHM na escola 5, a pesquisadora notou
que entre as turmas do 2º ao 5º ano não houve desistências, mas, de modo
pontual, no primeiro ano houve seis participantes que desistiram de
realizar o PSHM. Embora a pesquisadora tentasse motivá-los, eles
alegaram estar cansados e que não aguentavam fazer a tarefa proposta
parados na carteira. Os demais continuaram normalmente o teste.
Tal desistência não anula a possibilidade de hipótese de talento,
tampouco a de ausência de musicalidade. Infelizmente, essas crianças
apresentavam questões para além da situação proposta pelo PSHM. Como
apontado pela própria equipe gestora, são estudantes provenientes de
situação de abandono, maus tratos familiares e outras situações problema.
Em todas as escolas onde ocorreu o teste, a pesquisadora deu a
devolutiva aos participantes que a solicitaram; ainda foram esclarecidas
vidas e curiosidades a respeito do PSHM.
PSHM versão virtual: refinamento da plataforma
O procedimento dessa fase da coleta foi realizado na Escola 6. A
plataforma foi aplicada e os participantes foram entrevistados, no intuito
de obter a opinião deles sobre o PSHM. Pequenos grupos foram criados
201
para que pudessem, conversando entre si juntamente com a pesquisadora,
expressarem suas opiniões. “[...] Uma das maneiras mais eficazes para
testar a compreensão das tarefas (itens) consiste em verificá-las numa
situação de entrevista com pequenos grupos (3 a 4) em atmosfera de
brainstorming” (PASQUALI, 2013, p. 107).
As instruções procederam normalmente a partir do manual e do
avatar. A plataforma se comportou bem durante a aplicação nessa escola.
A conexão da internet fluiu, mas a pesquisadora foi informada previamente
pela técnica de informática sobre as limitações da rede e dos computadores,
inclusive sobre o fato de que uma CPU era responsável pelo
funcionamento de dois ou três monitores. De acordo com a funcionária,
isso poderia ocasionar erro no processamento da plataforma na internet.
Por essa razão, as crianças foram organizadas em um número que não
sobrecarregasse as máquinas; por outro lado, o número de adesão à
pesquisa, por ano escolar, não era grande.
Mesmo diante de tais dificuldade, a plataforma funcionou bem e
houve apenas dois incidentes: em decorrência da conexão e por conta da
capacidade da própria máquina, a qual era antiga.
A pesquisadora fez o cadastro previamente de cada estudante,
conforme instrução do manual. Os computadores e os fones de ouvido
eram preparados antes de chamar as crianças nas salas de aula. A técnica de
informática ligava as máquinas e abria a página do Google. A pesquisadora,
em seguida, entrava na página de acesso ao PSHM, digitava login e senha.
Depois, abria a página das turmas e seguia para a página de cada um dos
participantes. Esse procedimento durava 20 minutos em média, conforme
o tamanho da turma.
202
Ao chegarem ao laboratório, os participantes eram organizados de
acordo com a página do cadastro que aparecia na tela, a qual trazia o nome
do participante no topo.
Após se acomodarem, a pesquisadora solicitava que aguardassem,
sem mexer em nada, as instruções. Então, ela lia as instruções do manual
e em seguida tirava as dúvidas. Inclusive foi necessário explicar onde clicar
com o mouse e como movê-lo até o campo da alternativa que deveria ser
escolhida. Por mais que as crianças tivessem contato com o laboratório,
elas apresentaram dúvidas a respeito do modo como deveriam navegar pela
página da plataforma.
Na sequência a pesquisadora solicitava aos participantes que
colocassem os fones e, a partir do áudio padrão para regulagem, ajustava o
volume de acordo com a sensação de cada estudante. Em seguida, os guiava
oralmente indicando o início e, a partir desse ponto, os estudantes seguiam
sozinhos, sendo que a pesquisadora sanava individualmente as dúvidas que
surgiam. Nesses casos, o combinado foi: a criança deveria levantar a mão
sem falar e aguardaria a pesquisadora em seu lugar.
Os comentários dos participantes e observações da pesquisadora
foram registrados na plataforma Trello, na qual a pesquisadora foi incluída,
por parte da equipe de desenvolvedores, para a realização de assistência
técnica e apoio, os quais ocorriam em tempo real.
A pesquisadora sinalizava os problemas e as necessidades de
correção no ícone backlog. O desenvolvedor de apoio migrava as
informações para moderate bugs, com o intuito de socializar com toda a
equipe o problema sinalizado. Assim, ao visualizá-lo, o desenvolvedor
principal encaminhava o problema para o ícone critical bugs, o qual
representava a análise da questão com o apoio da equipe.
203
Quando o desenvolvedor principal migrava as informações para in
progress, significava que a origem do problema havia sido detectada e um
dos desenvolvedores já o estava resolvendo. Ao migrar as informações para
test, a pesquisadora sabia que poderia testar o ícone da plataforma com os
participantes.
A partir da devolutiva da pesquisadora no ícone test, os
desenvolvedores sabiam que o problema havia sido resolvido e migravam
a informação para done. Caso contrário, as informações permaneciam no
ícone de teste até que fosse resolvido o problema. Essa ferramenta foi
imprescindível para a comunicação ser fluida e eficaz, estando disponível a
todos os envolvidos.
Ao realizar a aplicação do PSHM, a pesquisadora observou que as
pessoas diferem no uso do computador, em função do nível de
familiaridade com a máquina e com o sistema. É em meio a essas
particularidades que a plataforma precisa funcionar com fluidez, como
outras plataformas que estão disponíveis na rede.
A pesquisadora realizou entrevistas com participantes do 1º ao 5º
ano, após a realização do PSHM.
Na escola 6, realizou o teste um autista de grau severo. A princípio
ele foi ao laboratório para jogar no computador, mas a pesquisadora
mostrou a proposta da atividade e perguntou se ele gostaria de fazer o
mesmo que sua turma. Observando os colegas, ele respondeu que sim. O
estudante estava acompanhado de um estagiário de pedagogia. Em
seguida, a pesquisadora explicou a atividade, conforme previa o manual e
averiguou que, de fato, o estudante havia compreendido. Como o
estagiário presenciou a explicação, a pesquisadora pediu para ele
acompanhar o participante, porém sem aju-lo, pois, nesse caso, o teste
seria anulado. O estagiário ficou a certa distância. Aproximadamente na
204
metade do teste, ele chamou a pesquisadora, pois o participante queria
desistir, alegando que estava cansado de ouvir os sons. A pesquisadora
então tirou os fones e salvou os exercícios feitos pela criança.
A escola 7 também participou dessa etapa da construção do
PSHM. A dinâmica de aplicação foi mantida, conforme mencionado na
escola 6 e de acordo com o manual instrucional. A realização da plataforma
pelos participantes também foi monitorada pelos desenvolvedores, a partir
da plataforma Trello, e a aplicação foi filmada, em virtude da entrevista,
que ocorreu em ordem, do 1º ao 5º ano, no final do teste.
O diferencial da escola 7 em relação à 6 eram as aulas de
informática regulares e específicas. Nessa escola, uma vez por semana, as
crianças tinham aulas de informática especificamente.
A equipe da escola 7 disponibilizou uma funcionária para buscar
os estudantes na sala. Por isso, a pesquisadora elaborou uma lista com os
nomes e as turmas para facilitar. Os professores estavam avisados e
organizavam suas atividades em sala, nos dias da pesquisa, considerando o
momento em que as crianças autorizadas seriam chamadas.
Ao chegarem ao laboratório, os participantes foram acomodados
conforme o cadastro. Foi iniciada a leitura do manual instrucional e,
posteriormente, as dúvidas foram sanadas e eles seguiram na plataforma,
sozinhos.
Na escola 7, a adesão dos estudantes ao PSHM não foi grande, por
isso foi preciso organizar a logística de aplicação do PSHM, uma vez que
o uso do laboratório estava condicionado aos momentos nos quais não
havia aula de informática.
Na escola havia dois laboratórios de informática com
aproximadamente 30 computadores, boa conexão com a internet e uma
205
CPU por monitor, o que possibilitava um bom funcionamento da
máquina, além de uma internet com boa capacidade de navegação.
Aplicação 1 e 2: estudo comparativo entre as versões manual e virtual
A aplicação na escola 8 foi amostral e pareada, considerando
estudantes do 1º ao 5º ano, que realizaram a aplicação do PSHM em
modalidade impressa e, em torno de 60 dias, realizaram a versão virtual.
A escola 8 é municipal e de tempo integral e está localizada em uma
região da periferia da cidade pesquisada. Nessa escola, as crianças os
conteúdos curriculares obrigatórios eram ministrados no período da
manhã e, no turno vespertino, eram realizadas oficinas, incluindo o uso do
laboratório de informática e a quadra esportiva.
Durante uma semana, a pesquisadora aplicou a versão impressa do
PSHM no laboratório de informática, sem interferir na rotina escolar. Esse
momento para a aplicação foi escolhido pela equipe gestora, por se tratar
de um bom período para a atividade.
Nessa escola foi selecionada uma amostra de sujeitos de cada ano,
com base nas autorizações dos responsáveis legais. Esses estudantes foram
informados sobre a realização das duas etapas do PSHM, bem como por
que estavam fazendo essa atividade e quem era a pesquisadora.
Os primeiros a realizar o PSHM foram os do 5º ano. Eles
aprenderam rápido a tarefa e demonstraram fluidez e independência no
preenchimento e realização do teste. Apenas um menino necessitou de
mediação inicialmente, mas depois conseguiu seguir na tarefa com
autonomia.
206
Os estudantes do 3º ano vieram na sequência. Eles foram fluentes
na realização do PSHM e o fizeram com muita autonomia. Apenas um
estudante demonstrou ansiedade para assinalar a folha de resposta, porém,
após mediação, conseguiu atender aos estímulos sonoros e aguardar o
tempo correto para assinalar a folha. Para se certificar, a pesquisadora
solicitou que ele verbalizasse sua resposta, em baixa voz/sussurrando, para
verificar se estava pensando para responder. Após alguns itens, a
pesquisadora percebeu que poderia se afastar.
Os estudantes do 1º ano foram mais trabalhosos, devido à idade.
Eles precisaram de um tempo inicial com a pesquisadora para acalmar suas
curiosidades e dúvidas a respeito do PSHM. Estavam ansiosos, querendo
responder corretamente. A pesquisadora, então, interveio, solicitando mais
confiança ao responder e disse que não se preocupassem com respostas
certas ou erradas, o mais importante era a sensação da escuta, ou seja, o
quanto foi diferente ou igual o som para eles.
Mesmo demonstrando bom desempenho, quatro estudantes do
primeiro ano apresentaram dificuldade. Dois deles conseguiram realizar o
PSHM com autonomia, após mediação da pesquisadora. Uma criança
necessitou de intervenção durante a realização do PSHM, em decorrência
de sua ansiedade para responder a folha em sincronia com os estímulos
sonoros, e outra precisou de mediação pontual, além de ser acompanhada,
de longe, na tarefa constantemente. Esse estudante apresentou muita
dificuldade, no entanto, após a mediação se sentiu seguro e disse para a
pesquisadora “eu consigo!” (fala de um dos participantes do 1º ano). Os
quatro participantes sinalizaram essa mesma frase, quando queriam que a
pesquisadora (denominada “pro”, de professora) se afastasse. Eles diziam
“pro, eu já sei onde está”, “pro, não precisa me ajudar, eu sei!” (fala dos
participantes do 1º ano).
207
O quarto ano foi a penúltima sala; eles também realizaram o
PSHM com autonomia. Quando arguidos pela pesquisadora sobre a tarefa
que iriam realizar, souberam reproduzir a explicação perfeitamente. Poucas
mediações foram necessárias.
O segundo ano foi a última turma a realizar o PSHM nesse
formato de aplicação. A maioria dos estudantes, a partir das instruções,
demonstrou autonomia e fluidez. No entanto, seis deles demonstraram
dificuldades, inclusive foi necessário que a pesquisadora ficasse próxima a
eles, para observar os momentos de desatenção, baixa estima e conversas
paralelas, e até desentendimentos entre uma criança e outra. Porém, ao
longo do teste, foi nítida a melhora comportamental dos participantes, a
partir da intervenção da pesquisadora.
A aplicação virtual do PSHM teve início a partir do 5º ano, depois,
4º, 3º, 1º e 2º ano. Os participantes foram chamados em suas salas de aula
pela pesquisadora. Os professores estavam cientes que a pesquisadora iria
buscá-los, então os organizava.
Ao adentrarem o laboratório de informática, a pesquisadora
chamava um por um pelo nome, de acordo com o cadastro realizado em
cada computador. O acesso à plataforma, a partir do login, era feito pela
pesquisadora antes de chamar a turma na sala. A técnica de informática
colaborava, abrindo a página do PSHM nos computadores para a
pesquisadora apenas colocar o login e a senha.
Os fones de ouvido eram regulados em volume a partir da escuta
da música padrão. Em seguida ouviam o vídeo de apresentação e as
instruções, que eram lidas do manual. A partir disso, eles iniciavam a
plataforma, respondendo ao questionário inicial e, na sequência, ao teste.
Caso houvesse dúvidas, a pesquisadora sugeriu que levantassem a mão,
assim ela iria até o participante para verificar o que estava acontecendo.
208
A turma do 5º ano realizou o PSHM em silêncio e foram poucos
os momentos nos quais a pesquisadora foi solicitada. Os participantes
demonstraram autonomia, inclusive se recordavam, vagamente, do PSHM
impresso.
A rotina de aplicação foi a mesma para o 4º. ano. Nessa série os
participantes solicitaram mais a pesquisadora, em decorrência de dúvidas.
Alguns estudantes demonstraram ansiedade, tanto que clicaram alguns
ícones antecipadamente às instruções e até fechavam a página do teste por
engano. Em outras situações, clicavam com muita força o mouse, fazendo
as páginas avançarem rapidamente. Para esses casos, a pesquisadora
precisou zerar/cancelar as respostas do questionário, iniciando-o
novamente e explicando como utilizar o mouse.
Uma participante solicitou desistência. Trata-se de uma estudante
com sensibilidade auditiva. Quando avisou a pesquisadora que iria desistir,
ela solicitou falar em particular. Nessa conversa explicou que sofre de
frequentes infecções de ouvido e que, por isso, consulta o médico
regularmente. Diante disso, a pesquisadora informou que não haveria
qualquer problema, mas consultou a equipe gestora, posteriormente para
averiguar. De acordo com a professora regente, a estudante realmente tem
esse problema.
Com a turma do 3º ano foram necessárias mediações, porque os
estudantes queriam falar e cantar durante o teste, algo inviável, por se tratar
de sons musicais. Mesmo diante da agitação típica da idade, conseguiram,
após intervenção, realizar fluentemente o PSHM em silêncio. Houve
alguns problemas com a conexão com a internet e com dois computadores,
mas tudo foi prontamente resolvido com a colaboração da técnica de
informática.
209
Nessa turma, um menino estava claramente colocando as respostas
aleatoriamente. A pesquisadora interveio, explicando para ele o sentido de
ele estar realizando o PSHM e novamente resgatou as instruções, inclusive
o próprio participante explicou a tarefa para a pesquisadora. Mesmo assim,
o estudante continuou registrando respostas aleatórias. Consultado, o
participante disse que queria continuar. Quando o teste foi encerrado, a
pesquisadora descartou sua folha na tabulação dos dados, pois não houve
atenção no registro das respostas.
O 2º ano realizou o PSHM demonstrando maior segurança, se
comparado à primeira aplicação. Estavam ansiosos e aguardavam a
pesquisadora, desde quando souberam de sua presença na escola.
Demonstravam expectativas para com a participação na pesquisa no
computador. Todos os procedimentos foram seguidos de acordo com o
manual.
O 1º ano foi a última turma a realizar o PSHM virtual. Nessa
segunda etapa houve a desistência de 5 participantes, que não conseguiram
ir até o final. Dois alegaram cansaço, em outro era perceptível o
“sofrimento psíquico”, mesmo com a mediação da pesquisadora. Uma
criança estava brincando com o computador, acessando outras funções e
páginas que não estavam relacionadas ao teste, chegou a travar o
computador e estava incomodando a colega ao lado. A pesquisadora
conversou com ela sobre isso, mas não obtendo melhora, optou por dar
como finalizado o teste. O último participante desistente alegou que estava
cansado e, além disso, afirmou não gostar tanto de música a ponto de ir
até o final. Mesmo presenciando a desistência dos colegas, os demais
participantes não perguntaram por que os colegas saíram da sala e
tampouco quiseram desistir.
210
Em todas as escolas, durante a coleta de dados, foi possível perceber
aspectos difíceis que precisaram ser administrados pela pesquisadora para
que fosse possível a realização desta pesquisa no ambiente escolar.
O contato com a escola é o primeiro dificultador para que o aceite
da pesquisa seja deferido. A equipe gestora e os professores precisam
conhecer bem os propósitos da pesquisa e, sobretudo, estabelecer laços de
confiança com o pesquisador. A equipe precisa sentir que o pesquisador
está ali não apenas para julgar o que está equivocado ou errado, mas para
responder a um problema de pesquisa.
O segundo consiste na assinatura dos termos de consentimento
pelos pais ou responsáveis. Muitas crianças querem participar, mas seus
pais não as autorizam, outras perdem ou não trazem o termo assinado, e
até os professores se atrapalham com os termos que a eles são entregues.
Diante disso, o pesquisador não tem como realizar a coleta de dados com
os estudantes que não trouxeram o termo de consentimento (normas do
Comitê de Ética), algo que cria uma difícil situação entre participante e
pesquisador.
Os procedimentos éticos, como o termo de consentimento livre e
esclarecido que se destinava aos pais e responsáveis legais das crianças, são
normativos das universidades, portanto, são regras que não devem ser
negligenciadas. Por isso, não foi permitido que uma criança realizasse o
teste sem autorização dos pais ou responsável. Caso acontecesse, essa
situação poderia gerar um grande conflito, prejudicando a pesquisa e a
relação do pesquisador com a escola que confiou o seu espaço.
Outro fator complexo é o espaço escolar para atividades de
pesquisa. As escolas contam com poucos espaços e salas. A maioria que
negou participação nessa pesquisa, o fez em virtude de falta de espaço físico
e de tempo no currículo escolar. Cada vez mais as escolas encontram-se
211
com pouco tempo para atividades que não sejam de ordem curricular.
Além disso, como não há aulas de música em todas as escolas, muitas não
valorizam esse tipo de pesquisa.
É preciso evidenciar os aspectos positivos. As crianças
demonstraram que são capazes de emitir suas opiniões, vontades e desejos,
além de seguir regras e normatizações, inclusive negociar quando se fazia
necessário. Elas demonstraram persistência: em alguns casos, mesmo
presenciando a desistência de alguns colegas, foram capazes de escolher
permanecer na atividade.
Em resumo, foi importante dar a oportunidade às crianças de
expressarem sua opinião a respeito do PSHM. Ferramentas, como o
PSHM, no momento em que são elaboradas, precisam considerar a
diversidade de pessoas que poderão usufruí-las. Por isso, o retorno do
usuário é de extrema importância. Infelizmente, nesse momento, a
limitação do PSHM concentra-se nos estudantes usuários da Língua
Brasileira de Sinais e outras deficiências mais específicas e de grau
acentuado em comprometimento. Os próximos passos vislumbram torná-
lo cada vez mais acessível, possibilitando outras formas de respostas aos
itens.
Afinal, o talento musical não escolhe classe social e tampouco se
restringe às pessoas de desenvolvimento típico, como atestam a
percussionista escocesa com deficiência auditiva Evelyn Glainne e o
pianista e concertista Noboyuki Tetishui, com deficiência visual e
intelectual.
212
Aspectos adicionais à aplicação
Na Escola 2 a professora manifestou interesse em acompanhar a
aplicação do PSHM em sua turma. Então, a pesquisadora ofereceu as
informações
108
necessárias. Além disso, a docente aceitou realizar o teste,
para que pudesse conhecer sua estrutura. Após o término, a professora
regente quis saber se o PSHM, no futuro, seria utilizado apenas por
educadores musicais ou se, ela, por exemplo, enquanto professora com
formação em Pedagogia, poderia aplicá-lo. A pesquisadora afirmou que
qualquer professor poderá utilizar o PSHM, desde que possua formação
básica em música ou que tenha passado por treinamento prévio para u-
lo. A pesquisadora enfatizou que sem esse pré-requisito, não há como
compreender os resultados.
Durante a ministração do PSHM na escola 2, estava presente a
professora de música. Ela observou, mas não permaneceu mais que cinco
minutos na sala. Após o termino do PSHM, antes de deixar a escola, a
pesquisadora a procurou para conversar, mas ela já não se encontrava no
local.
Na escola 3 a professora do atendimento educacional especializado
participou da aplicação do PSHM. Ela se sentou distante dos estudantes e
fora do campo de visão daqueles com deficiência. Para que pudesse
compreender melhor o que estava acontecendo, a pesquisadora perguntou
se ela gostaria de realizar o PSHM. Ela então aceitou. Foram entregues os
fones, o receptor e as folhas de respostas. Infelizmente ela não preencheu
108
A pesquisadora instruiu a professora regente para que ela não causasse interferência na realização
do PSHM, como, por exemplo, ajudar alguma criança ou comentar o PSHM enquanto estivesse
sendo aplicado.
213
todos os capôs das folhas de resposta. Por essa razão, não foi possível
tabular seu desempenho no PSHM.
Na escola 6, no dia da primeira coleta de dados, a técnica de
informática responsável pelo espaço do laboratório onde ocorreu a coleta,
ficou curiosa a respeito do PSHM, então foi convidada pela pesquisadora
a realizá-lo. Sabendo que haveria duas modalidades de aplicação, a técnica
quis conhecê-las.
Na escola 4, a semana cedida para a pesquisadora foi aquela em
que os alunos do 5º. ano realizariam uma prova obrigatória do governo
federal. Considerando que os estudantes poderiam estar ansiosos antes
dela, ou cansados após sua realização, a pesquisadora deixou-os para
realizarem o PSHM por último, ou seja, quatro dias após a prova externa,
apesar de a diretora afirmar que eles estão acostumados com esse tipo de
situação.
Ademais, na escola 4 havia uma turma com vários estudantes que
frequentavam o Projeto Guri
109
no contraturno escolar e em outro local.
Por essa razão, a pesquisadora destacou a folhas de respostas dessa turma
como forma de monitoramento, posteriormente, dos resultados. Em
outras escolas públicas, como é o caso da 4, não havia a mesma quantidade
de estudantes de música.
109
Projeto Guri é um programa de ensino musical gratuito, que atende crianças entre 6 e 18 anos
ou até 21 anos como acontece na Fundação Casa, onde o projeto realiza suas atividades também.
Ele é mantido pelo governo do Estado de São Paulo e é organizado em polos regionais, os quais são
os responsáveis por acompanhar as sedes municipais. Disponível em:
http://www.projetoguri.org.br. Infelizmente, em 2019 as atividades deste projeto foram encerradas
pelo governo do Estado de São Paulo alegando contenção de verba.
214
Análise do desempenho do PSHM
Para proceder à análise, um banco de dados no excel foi criado para
armazenar e concentrar os dados oriundos da tabulação dos resultados do
PSHM impresso/manual e virtual.
Na etapa seguinte, as folhas de respostas do PSHM, modalidade
impressa, foram ordenadas e corrigidas. Já os resultados na modalidade
virtual foram tabulados automaticamente e exportados. Nessa fase, a
pesquisadora contou com o auxílio de juízes, os quais conferiram os
resultados computados no banco de dados, principalmente no que diz
respeito à tabulação dos dados manuais. A conferência da correção das
folhas de respostas manuais foram realizadas primeiro depois a conferencia
dos dados registrados no banco de dados.
Nesse aspecto, o uso do computador facilitou a correção das opções
de respostas dos participantes porque, uma vez programado e calibrado
adequadamente o banco de dados da versão virtual, a pesquisadora
observou que a máquina minimiza o erro humano que pode ocorrer
durante a tabulação dos dados.
Para as respostas certas, a pesquisadora atribuiu o escore 1 e para
os erros atribuiu o escore 0, conforme orienta Pasquali (2013). A soma dos
resultados 1 e 0 gerou um escore parcial, por dimensões, e a soma dos
escores parciais gerou um escore geral por participante. Devido à natureza
dos dados gerados pelo PSHM os procedimentos estatísticos (Statistical
Analysis Software), testes não-paramétricos, utilizados contemplavam a
mensuração de variáveis ordinais (FIELD, 2009).
Também foi imprescindível analisar o índice de respostas aleatórias
ou ao acaso, a pesquisadora utilizou o teste binomial, calculando item para
cada grupo e participante por dimensão (PASQUALI, 2010; 2013).
215
Como forma de análise da capacidade de mensuração de cada um
dos itens, a pesquisadora utilizou o teste qui-quadrado (X
2
). Essa análise
divide o os resultados no item em duas metades, a fim de comparar a
ocorrência de respostas certas em relação às erradas (PASQUALI, 2010;
2013).
Outro teste estatístico utilizado foi de confiabilidade Alfa de
Cronbach com o objetivo de verificar a consistência interna de cada item
por dimensão (PASQUALI, 2010; 2013).
O testes estatístico de Wilcoxon foi utilizado também para
mensurar se poderia haver diferenças estatisticamente significantes entre a
realização do PSHM em modalidade virtual e manual (FIELD, 2009;
BRUNI, 2011).
Também foi utilizado, a análise fatorial exploratória para analisar
a correlação entre os fatores (dimensões) na identificação inicial do talento
musical (FIELD, 2009).
Como o foco principal de análise era verificar a capacidade de
mensuração dos itens do PSHM, foi necessário avaliar se o teste estava
dando indicativos de mensuração do construto. Para essa finalidade, a
pesquisadora utilizou o teste estatístico W de Kendell para as dimensões
(FIELD, 2009).
Também foi utilizada a análise fatorial exploratória para analisar a
correlação entre os fatores (dimensões) na identificação inicial do talento
musical (FIELD, 2009; PASQUALI, 2013).
O teste estatístico Kruskall-Wallis também foi utilizado com o
objetivo de averiguar possíveis diferenças significantes entre os anos
escolares (1º versus 2º e assim sucessivamente) por escore total. Também,
a partir do mesmo teste estatístico foi feita a verificação se haveria diferença
estatisticamente significante entre meninas versus meninos (FIELD, 2009;
BRUNI, 2011).
216
Utilizando o teste estatístico Main Whitney foi possível mensurar
se haveria diferenças estatisticamente significante entre os resultados das
respostas dadas pelos estudantes da escola pública versus a particular. É
preciso destacar que nas escolas da rede particular havia a presença do
profissional especialista na área da música (FIELD, 2009; BRUNI, 2011).
Mediante uso da estatística descritiva, não-paramétrica, a
pesquisadora fez a análise dos resultados dos questionários. Essa análise
tem por objetivo ajudar na comparação dos escores dos participantes, a
partir do perfil constituído através dos questionários. Por exemplo, qual
grau de contato com a música tem o participante que obteve alto escore?
Quem era o participante que obteve o mais baixo escore? Etc.
Por ser uma etapa inicial, o PSHM, ainda não conta com uma nota
de corte ou escore definitivo. Esta etapa será posterior e no decorrer das
aplicações futuras e em outras realidades. Por isso, o uso dos procedi-
mentos não-paramétricos neste momento (FIELD, 2009; BRUNI; 2011;
PASQUALI, 2010; 2013).
Resultados obtidos com o PSHM
De acordo com Pasquali (2013, p. 125, grifo do autor), “[a]
dificuldade de um item pode ser afetada por respostas dos sujeitos que não
são dadas em função de sua aptidão, mas simplesmente por chute”.
Também podem haver sujeitos que podem dar respostas aleatórias em
decorrência “[...] da má disposição do sujeito em responder ao teste,
incompreensão das instruções, gozação e outros” (PASQULI, 2013, p.
153). Por isso, foi necessário verificar se houveram respostas dadas ao acaso
considerando participantes por dimensão e itens para cada grupo de
participantes. A partir da Tabela 07 foram apresentados os resultados
obtidos com o uso do teste estatístico binomial.
217
Tabela 07 Teste binomial referente à dimensão timbre
ITENS
REDE PÚBLICA
REDE PARTICULAR
n=51
n=45
n=61
n=38
n=32
n=22
n=34
n=37
n=30
n=32
p
p
P
p
p
p
p
p
p
p
A 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
B
0,092
0,016
0,443
0,627
0,020
0,052
0,024
0,008
0,585
0,020
C
0,005
0,002
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
D 0,011 0,007 0,000 0,000 0,000 0,017 0,000 0,000 0,000 0,000
E
0,002
0,072
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
F
0,401
1,000
0,609
0,005
0,597
0,832
0,229
0,511
0,099
0,001
G
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
H
0,011
0,007
0,000
0,000
0,000
0,052
0,000
0,000
0,000
0,000
I 0,000 0,007 0,000 0,000 0,000 0,004 0,000 0,000 0,000 0,000
J
0,002
0,000
0,000
0,000
0,000
0,134
0,000
0,000
0,000
0,000
K
0,011
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
L
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
M
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
N 0,161 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
O
0,002
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
Fonte: Do autor.
A Tabela 07 permite inferir que os resultados foram favoráveis, mas
é preciso destacar a discrepância, em algumas séries, para os itens B e F.
Trata-se dos pares clarinete versus flautae bandolim versus harpa”. Estas
duplas de instrumentos musicais apresentou semelhança sonora para os
participantes, em geral, por isso permite inferir que são itens de nível mais
difícil que os demais itens. É preciso destacar que são instrumentos
musicais da mesma família e próximos em timbre talvez isso explique o
não discernimento dos participantes em geral. Independentemente da
dificuldade, são itens importantes porque, uma criança com a acuidade
auditiva refinada, pode conseguir discernir esses itens. Portanto, torna-se
218
fundamental testagens futuras para esses itens, além de ajustes em seu
áudio para torna-los um pouco mais claros.
O próximo resultado, na Tabela 08, permitiu analisar os resultados
do teste binomial referente à dimensão altura.
Tabela 08Teste binomial referente à dimensão altura
ITENS
REDE PÚBLICA
REDE PARTICULAR
n=51
n=45
n=61
n=38
n=32
n=22
n=34
n=37
n=30
n=32
p p P p p p p p p p
A
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
B
0,092
0,000
0,000
0,000
0,000
0,134
0,000
0,000
0,000
0,000
C 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,004 0,000 0,000 0,000 0,000
D
0,401
0,036
0,798
0,256
0,597
0,134
0,608
0,001
0,099
0,050
E
0,011
0,000
0,000
0,000
0,000
0,052
0,001
0,000
0,000
0,000
F
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
G
0,401
0,233
0,000
0,000
0,110
0,286
0,003
0,001
0,000
0,001
H 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
I
0,780
0,551
0,001
0,000
0,007
0,832
0,229
0,000
0,000
0,000
J
0,011
0,016
0,002
0,627
0,377
0,001
0,121
0,324
0,585
0,377
K 0,262 1,000 0,609 0,002 0,860 0,004 0,058 0,020 0,001 0,215
L
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
M
0,092
0,000
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
N
0,024
0,000
0,124
0,627
0,860
0,001
1,000
0,188
0,016
0,020
O
0,024
0,135
0,200
0,418
0,597
0,001
0,392
0,511
0,000
0,215
P 0,000 0,007 0,000 0,627 0,377 0,000 0,024 0,511 0,856 0,110
Q
0,049
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
R
0,000
0,000
0,002
0,418
0,860
0,004
0,024
1,000
0,001
0,020
Fonte: Do autor.
Os valores discrepantes que aparecem, por cada ano escolar,
possibilitam analisar que há itens difíceis e aqueles que todos os
participantes acertaram, itens muito fáceis. Trata-se dos itens D, G, I, J,
K, N, O, P e R. Esses itens necessitarão uma revisão detalhada para
219
verificar se permanecem no PSHM ou não. Afinal, esses itens não estão
mensurando adequadamente. De acordo com Pasquali (2010; 2013),
quando isso acontece, a permanência do item no teste precisa ser
reavaliada.
A Tabela 09 trará a continuidade dos resultados no teste binomial
referente à dimensão melodia.
Tabela 09Teste binomial referente à dimensão melodia
ITENS
REDE PÚBLICA
REDE PARTICULAR
n=51
n=45
n=61
n=38
n=32
n=22
n=34
n=37
n=30
n=32
p
p
P
p
p
p
p
p
p
p
A
0,002
0,072
0,004
0,034
0,050
0,004
0,009
1,000
1,000
0,020
B
0,005
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
C
0,049
0,001
0,001
0,014
0,002
0,017
0,024
0,511
0,585
0,597
D
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
E
0,005
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
F
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,004
0,000
0,000
0,000
0,000
G
0,161
0,233
0,798
1,000
0,377
0,004
0,229
0,001
0,362
0,020
H
0,002
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,002
I
0,005
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
J
0,000
0,000
0,000
0,005
0,050
0,000
0,001
0,099
0,200
0,597
K
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
L
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,003
0,000
0,000
0,000
M
0,005
0,002
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,003
0,016
0,860
N
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
Fonte: Do autor.
A análise possibilitou o acesso aos valores discrepantes de p
referente aos itens C, G e J, os quais permitiram inferir possíveis problemas
e/ou alto índice de dificuldade. Os demais itens, pelos valores de p, foram
respondidos adequadamente (MANNING, 1974; MULLER, 1977;
ROEDERER, 2002; PASQUALI, 2010; 2013).
220
Na Tabela 10 estão os resultados no teste binomial referente ao
item intensidade.
Tabela 10Teste binomial referente à dimensão intensidade
ITENS
REDE PÚBLICA
REDE PARTICULAR
n=51 n=45 n=61 n=38 n=32 n=22 n=34 n=37 n=30 n=32
p
p
P
p
p
p
p
p
p
p
A
0,024
0,000
0,000
0,000
0,000
0,017
0,000
0,000
0,000
0,000
B
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,004
0,000
0,000
0,000
0,000
C
0,262
0,000
0,000
0,000
0,001
0,052
0,000
0,000
0,000
0,000
D
0,011
0,233
0,433
0,014
0,215
0,017
0,392
0,743
0,099
0,050
E
0,049
0,007
0,000
0,000
0,000
0,052
0,003
0,000
0,000
0,000
F 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,052 0,001 0,000 0,000 0,000
G
0,576
0,072
0,000
0,002
0,000
0,286
0,000
0,000
0,000
0,000
H
0,011
0,551
0,124
0,073
0,597
0,004
0,608
0,008
0,043
0,002
I
0,002
0,002
0,000
0,000
0,000
0,001
0,024
0,000
0,000
0,000
J
1,000
0,551
1,000
0,256
0,050
0,832
0,121
0,188
0,016
0,000
K
0,001
0,001
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,000
0,000
Fonte: Do autor.
Os itens com valor discrepante de p foram: D, G, H e J. Os demais,
permitem inferir que não houve respostas dadas ao acaso. Provavelmente,
os itens em destaque foram aqueles, os quais os participantes apresentaram
maior dificuldade para responder (MANNING, 1974; MULLER, 1977;
ROEDERER, 2002; PASQUALI, 2010; 2013).
Na Tabela 11 estão os resultados no teste binomial referente à
dimensão harmonia.
221
Tabela 11Teste binomial referente à dimensão harmonia
ITENS
REDE PÚBLICA
REDE PARTICULAR
n=51
n=45
n=61
n=38
n=32
n=22
n=34
n=37
n=30
n=32
p
p
P
p
p
p
p
p
p
p
A 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000
B
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,585
0,050
C
0,011
0,000
0,000
0,256
0,215
0,001
0,000
0,324
0,856
0,215
D 0,000 0,000 0,000 0,000 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
E
0,000
0,135
0,040
0,871
0,110
0,134
0,058
1,000
0,099
0,007
F
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
G
0,000
0,000
0,000
0,002
0,000
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
H
0,000
0,036
0,040
0,073
0,597
0,000
0,058
0,511
0,585
0,860
I 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,016 0,000
J
0,000
0,000
0,001
0,256
0,020
0,000
0,000
0,003
0,200
0,007
K
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,000
L
0,000
0,000
0,609
0,256
0,007
0,004
0,000
0,008
0,856
0,377
M
0,005
0,766
0,798
0,256
0,377
0,000
0,058
0,511
0,099
0,000
N
O
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,002
0,000
P
0,000
0,371
1,000
0,256
0,215
0,000
0,001
1,000
0,099
0,007
Q 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
R
0,000
0,072
0,002
0,418
0,050
0,001
0,009
0,511
0,585
1,000
S
0,005
0,007
0,02
0,871
0,11
0,004
0,058
0,324
0,005
0,002
T
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
Fonte: Do autor.
Os resultados no teste binomial permitiram encontrar valores
discrepantes nos itens C, E, H, M, P, R e S. Esses itens podem estar
indicando índice grande de dificuldade levando, assim, o participante à
uma resposta aleatória ou são itens, os quais os participantes podem ter
julgado como itens com problema em sua construção, ou seja, itens com
pouca clareza. No restante, pode-se inferir que os itens não apresentam
222
problemas devido aos valores de p (MANNING, 1974; MULLER, 1977;
ROEDERER, 2002; PASQUALI, 2010; 2013).
Na Tabela 12 serão apresentados os resultados, no teste binomial,
dos itens da dimensão agógica.
Tabela 12Teste binomial referente à dimensão agógica
ITENS
REDE PÚBLICA
REDE PARTICULAR
n=51
n=45
n=61
n=38
n=32
n=22
n=34
n=37
n=30
n=32
p
p
P
p
p
p
p
p
p
p
A
1,000
0,072
0,010
0,005
0,000
0,832
0,000
0,000
0,016
0,000
B
0,092
0,371
0,306
0,034
0,050
0,134
0,229
0,000
0,000
0,000
C
0,000
0,371
0,002
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,016
0,020
D
0,002
0,766
0,004
0,073
0,110
0,004
0,003
0,001
0,099
0,050
E
0,092
1,000
0,040
0,014
0,377
0,523
0,121
0,020
0,000
0,215
F
0,161
0,135
0,306
0,073
0,050
1,000
0,864
0,188
0,856
0,020
G
0,401
0,766
0,200
0,418
0,215
0,832
1,000
0,324
0,856
0,597
H
0,011
0,371
0,200
0,256
0,215
0,832
0,608
0,008
0,000
0,007
I
0,024
0,551
0,306
0,871
0,007
0,832
0,229
0,000
0,099
0,000
J
0,401
0,007
0,010
0,014
0,000
0,017
0,000
0,000
0,000
0,000
K
0,161
0,766
0,443
0,005
0,007
0,52
0,121
0,008
0,001
0,000
L
0,001
0,001
0,000
0,005
0,002
0,286
0,000
0,000
0,000
0,001
M
0,049
0,007
0,000
1,000
0,050
0,286
0,024
0,003
0,856
0,215
N
0,024
1,000
0,072
0,256
0,020
0,832
0,608
0,003
0,000
0,000
Fonte: Do autor.
Os resultados encontrados indicaram valores discrepantes nos itens
A, E, F, G, H, I K, M e N. Esse resultado encontrado permitiram inferir
que os itens apontados são muito difíceis e, outros, muito fáceis. Também
é preciso considerar que esses itens indicados com resultados discrepantes
podem estar acometidos por algum erro na sua construção (MANNING,
1974; MULLER, 1977; ROEDERER, 2002; PASQUALI, 2010; 2013).
223
Na Tabela 13 poderão ser encontrados os resultados no teste
binomial dos itens da dimensão duração.
Tabela 13Teste binomial referente à dimensão duração
ITENS
REDE PÚBLICA REDE PARTICULAR
n=51 n=45 n=61 n=38 n=32 n=22 n=34 n=37 n=30 n=32
p
p
P
p
p
p
p
p
p
p
A
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,000
0,002
B
0,780
0,016
0,000
0,000
0,000
0,052
0,000
0,000
0,000
0,000
C
0,401
0,036
0,000
0,000
0,000
0,286
0,000
0,000
0,000
0,000
D
0,001
0,072
0,072
0,002
0,215
0,134
0,121
0,020
0,043
0,002
E
0,049
0,001
0,004
0,000
0,020
0,134
0,392
0,000
0,043
0,000
F
0,005
0,072
0,609
0,627
0,860
0,523
0,024
1,000
0,362
0,002
G
0,401
0,766
0,124
0,256
0,110
1,000
0,003
0,000
0,001
0,020
H
0,262
0,002
0,000
0,000
0,000
0,523
0,000
0,000
0,000
0,000
I
0,401
0,135
0,010
0,014
0,007
1,000
0,229
0,003
0,000
0,000
J
0,401
0,072
0,000
0,000
0,000
0,523
0,001
0,000
0,000
0,000
K
1,000
0,135
0,000
0,000
0,001
0,832
0,001
0,000
0,005
0,000
L
0,000
0,007
0,000
0,014
0,001
0,017
0,009
0,000
0,200
0,000
M
0,161
0,001
0,000
0,000
0,000
0,523
0,000
0,000
0,000
0,000
N
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,043
0,000
O
0,780
0,135
0,000
0,000
0,110
1,000
0,000
0,000
0,000
0,000
P
0,262
1,000
0,020
0,256
0,215
1,000
0,003
0,000
0,000
0,000
Fonte: Do autor.
Os resultados permitem concluir que os itens B, F, G, I, K, J, M,
O e P apresentaram valores discrepantes de p., o que permite inferir que
os participantes podem ter feito tais assinalamentos pela facilidade ou
dificuldade no momento da realização do teste. Ainda é preciso considerar
a possibilidade de haver problemas durante a elaboração destes itens
224
destacados com valores discrepantes (MANNING, 1974; MULLER,
1977; ROEDERER, 2002; PASQUALI, 2010; 2013).
A seguir, na Tabela 14, estarão os valores no teste binomial dos
itens da dimensão padrão-rítmico.
Tabela 14Teste binomial referente à dimensão padrão-rítmico
ITENS
REDE PÚBLICA REDE PARTICULAR
n=51 n=45 n=61 n=38 n=32 n=22 n=34 n=37 n=30 n=32
p p P p p p p p p p
A
0,011 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000
B
0,780 0,135 0,000 0,000 0,000 0,052 0,000 0,000 0,000 0,000
C
0,000
0,371
0,798
0,418
0,215
0,052
0,229
0,047
0,001
0,007
D
0,011 0,072 0,000 0,034 0,000 0,052 0,121 0,000 0,000 0,000
E
0,011 0,135 0,072 0,143 0,377 0,832 0,864 0,001 0,000 0,002
F
0,002 0,016 0,000 0,256 0,000 0,134 0,058 0,008 0,000 0,110
G
0,001
0,016
0,000
0,005
0,000
0,017
0,003
0,020
0,856
0,215
H
0,780 0,016 0,000 0,000 0,050 0,052 0,058 0,000 0,000 0,000
I
0,000
0,000
0,000
0,014
0,002
0,134
0,000
0,000
0,099
0,000
J
0,011 0,036 0,072 0,627 0,597 0,134 0,392 0,188 0,585 0,110
K
0,401 0,233 0,000 0,000 0,000 0,001 0,001 0,000 0,000 0,000
L
0,024 0,551 0,004 0,000 0,050 0,052 0,608 0,000 0,000 0,000
M
0,005
0,002
0,010
0,034
0,002
0,134
0,229
0,047
0,585
0,000
N
0,005 0,371 0,000 0,014 0,215 0,134 0,000 0,000 0,043 0,002
O
0,401 0,371 0,004 0,014 0,000 0,134 0,009 0,000 0,000 0,000
P 0,049 0,016 0,000 0,000 0,000 0,286 0,000 0,000 0,000 0,000
Q 0,092 0,766 0,000 0,000 0,000 0,004 0,000 0,000 0,000 0,000
R 0,000 0,001 0,000 0,005 0,001 0,052 0,001 0,020 0,000 0,000
S 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,024 0,000 0,000 0,000
Fonte: Do autor.
225
Diante dos resultados, os itens com valores discrepantes
encontrados são: B, C, E, G, H, J, K, L, M, O e Q. Esse resultado indicou
que havia itens muito difíceis e outros muito fáceis. Por isso, há valores
discrepantes e há itens que indicam que todos os participantes acertaram.
Porém, é preciso destacar que também é possível inferir problemas na
construção desses itens discrepantes. Os demais demonstram, a partir dos
resultados de p, que cumpriram bem sua tarefa (MANNING, 1974;
MULLER, 1977; ROEDERER, 2002; PASQUALI, 2010; 2013).
Posteriormente, com a análise de item, o segundo passo realizado
foi, a partir dos escores parciais, o cálculo estatístico do X
2
(qui-quadrado).
Cada dimensão foi dividida em 2 metades, para comparar a ocorrência de
respostas certas (1) e respostas erradas (0) (FIELD, 2009; BRUNI, 2011;
PASQUALI, 2013).
Na Tabela 15 estão os resultados, no item timbre, no teste qui-
quadrado (X
2
) referente os estudantes da rede pública de ensino.
226
Tabela 15Resultado dos estudantes da rede pública no teste qui-quadrado
(dimensão timbre)
Itens
1º ano (n=51) 2º ano (n=45) 3º ano (n=61) 4º ano (n=38) 5º ano (n=32)
X
2
P X
2
P X
2
P
X
2
P
X
2
P
A 14,294 0,000 18,689 0,000 22,443 0,000
VC VC
B 3,314 0,069 6,422 0,11 0,803 0,370 0,421 0,516 6,125 0,013
C 8,647 0,003 9,800 0,002 39,361 0,000 30,421 0,000 28,125 0,000
D 7,078 0,008 8,022 0,005 42,632 0,000 34,105 0,000 18,000 0,000
E 10,373 0,001 3,756 0,053 33,197 0,000
VC
18,000 0,000
F 0,961 0,327 0,022 0,881 0,410 0,522 8,526 0,004 0,500 0,480
G 14,294 0,000 16,200 0,000 49,590 0,000
VC
15,125 0,000
H 7,078 0,008 8,022 0,005 49,590 0,000 30,421 0,000 24,500 0,000
I 16,49 0,000 8,022 0,005 36,213 0,000 30,421 0,000 21,125 0,000
J 10,373 0,001 13,889 0,000 30,311 0,000 34,105 0,000 18,000 0,000
K 7,078 0,008
11,756 0,001 39,361 0,000 30,421 0,000 24,500 0,000
L 12,255 0,000 18,689 0,000 39,361 0,000 34,105 0,000
VC
M 12,255 0,000 30,422 0,000 24,,934 0,000 34,105 0,000
VC
N 2,373 0,123 18,689 0,000 33,197 0,000
VC
18,000 0,000
O 10,373 0,001 33,800 0,000 30,311 0,000 23,684 0,000 12,500 0,000
Fonte: Do autor.
Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
Os resultados indicaram que os itens obtiveram resultados
significativos, porque estão, no geral, p<0,05, porém, no 4º ano, os itens
A, E, G e N e, no 5º ano, os itens A e L foram itens que todos os
participantes acertaram, enquanto que o item M, no 5º ano, não obteve
nenhum acerto. Esse dado demonstra que esses itens podem não estar
mensurando adequadamente (PASQUALI, 2010; 2013). Outros aspectos
observados foram: item F no 1º, 2º, 3º e 5º ano, item B no 3º ano e o item
A no 4º ano apresentaram os resultados de p discrepantes, o que também
227
indica problemas nesses itens. Em relação aos demais, os resultados
indicam que estão mensurando adequadamente o construto.
Analisando cada um dos itens problema, na dimensão timbre,
foi possível concluir que: o item A era formado pelos pares trompete versus
trompete, item B era composto por clarinete versus flauta, item E
formado pelo par violino versus viola, item F formado por “bandolim
versus harpa, item G formado pelo par acordeon e órgão, item M formado
pelo par de instrumentos “bonversus congae o item N era formado
pelo par de instrumentos triângulo versus ago. Nesse bloco de pares de
instrumentos, há conjuntos fáceis como “acordeon versus órgão, mas há
outros muito difíceis, como é o caso do item F. A diferença entre
“bandolim versus harpa foi tênue para os participantes, os resultados de p
comprovam essa afirmação.
Na Tabela 16, os resultados referentes à dimensão timbre”, no
teste qui-quadrado (X
2
) e na rede particular de ensino serão apresentados
a seguir.
228
Tabela 16 – Resultado dos estudantes da rede particular no teste qui-quadrado
(dimensão timbre)
Itens
1º ano (n=22) 2º ano (n=34) 3º ano (n=37) 4º ano (n=30) 5º ano (n=32)
X
2
P X
2
P X
2
P
X
2
P
X
2
P
A 18,182 0,000 30,118 0,000 29,432 0,000 22,533 0,000 VC VC
B
4,545
0,033
5,765
0,016
7,811
0,005
0,533
0,465
6,125
0,013
C
11,636
0,001
23,059
0,000
25,973
0,000
VC
28,125
0,000
D
6,545
0,011
VC
25,973
0,000
26,133
0,000
VC
E 11,636 0,001 23,059 0,000 22,730 0,000
VC
VC
F 0,182 0,670 1,882 0,170 0,676 0,411 3,333 0,68 12,500 0,000
G
14,727
0,000
23,059
0,000
25,973
0,000
22,533
0,000
VC
VC
H
4,545
0,33
26,471
0,000
29,432
0,000
22,533
0,000
24,500
0,000
I
8,909
0,003
VC
25,973
0,000
22,533
0,000
24,500
0,000
J 2,909 0,088 26,471 0,000 25,973 0,000 26,133 0,000 28,125 0,000
K 14,727 0,000 26,471 0,000 25,973 0,000 19,200 0,000 24,500 0,000
L
11,636
0,001
26,471
0,000
33,108
0,000
VC
28,125
0,000
M
11,636
0,001
26,471
0,000
29,432
0,000
22,533
0,000
24,500
0,000
N
14,727
0,000
26,471
0,000
VC
22,533
0,000
VC
O 14,727 0,000 19,882 0,000 25,973 0,000 22,533 0,000 18,000 0,000
Fonte: Do autor.
Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
De modo geral, os itens ficaram abaixo de p>0,05, o que permite
concluir que estão mensurando adequadamente. No entanto, os itens D e
I no 2º ano, N no 3º, C, E, e L no 4º e A, D e E no 5º não o estão, uma
vez que todos os participantes acertaram. Nos itens B, no 4º ano, e F do
1º ao 3º, os valores de p indicam dificuldade do item.
Os pares de itens que receberam acerto total dos participantes
faziam a oposição entre os seguintes instrumentos: trompete e trompete,
oboé e trombone, violino e viola, vibrafone e xilofone e maracas e maracas.
Os pares difíceis foram: item B, clarinete e flauta e bandolim e harpa.
A construção da dimensão timbrefoi de grande complexidade,
em decorrência de sua natureza física. Ao apresentar um par de
229
instrumentos musicais para o participante, não está em jogo somente a
qualidade do instrumento, mas a intensidade e até mesmo a altura,
inclusive o próprio processamento do som no cérebro. Por exemplo, uma
nota na região grave do piano certamente parecerá mais forte que uma nota
no agudo do mesmo instrumento (GORDON, 1965; TEPLOV, 1966;
ROEDERER, 2002). De acordo com Roederer (2002), há uma outra
questão envolvida, também, no discernimento tímbrico. Para o autor,
“[...] a identificação ocorre num estágio muito mais elevado da função
cerebral cognitiva do que a sensação estática do timbre” (ROEDERER,
2002 , p. 220). Além disso, “[a]o ouvir um som complexo, nosso sistema
auditivo presta mais atenção à resposta do mecanismo central de alturas
(que fornece uma única sensação de altura) [...]” (ROEDERER, 2002, p.
217, grifo do autor). Portanto, torna-se desafiador refinar essa dimensão,
isolando ao máximo essas questões de mascaramento.
A próxima dimensão analisada foi altura. Os resultados são
apresentados na Tabela 17 referentes a rede pública de ensino no teste qui-
quadrado (X
2
).
230
Tabela 17Resultado dos estudantes da rede pública no teste qui-quadrado
(dimensão altura)
Itens
1º ano (n=51) 2º ano (n=45) 3º ano (n=61) 4º ano (n=38) 5º ano (n=32)
X
2
P X
2
P X
2
P
X
2
P
X
2
P
A 12,255 0,000 24,200 0,000 36, 213 0,000 34,105 0,000 28,125 0,000
B
3,314
0,069
18,689
0,000
30,311
0,000
30,421
0,000
28,125
0,000
C
12,255
0,000
27,222
0,000
46,049
0,000
34,105
0,000
24,500
0,000
D
0,961
0,327
5,000
0,025
0,148
0,701
1,684
0,194
0,500
0,480
E 7,078 0,008 13,889 0,000 39,361 0,000 34,105 0,000 18,000 0,000
F 29,824 0,000 30,422 0,000 46,049 0,000
VC
28,125 0,000
G
0,961
0,327
1,800
0,180
22,443
0,000
20,632
0,000
3,125
0,077
H
12,255
0,000
30,422
0,000
46,049
0,000
34,105
0,000
28,125
0,000
I
0,176
0,674
0,556
0,456
11,951
0,001
20,632
0,000
8,000
0,005
J 7,078 0,008 6,422 0,011 10,246 0,001 0,421 0,516 1,125 0,289
K 1,588 0,208 0,022 0,881 0,410 0,522 10,526 0,001 0,125 0,724
L
18,843
0,000
21,356
0,000
42,639
0,000
VC
VC
M
3,314
0,069
18,689
0,000
39,361
0,000
34,105
0,000
VC
N
5,667
0,017
16,200
0,000
2,770
0,096
0,421
0,516
0,125
0,724
O 5,667 0,017 2,689 0,101 1,984 0,159 0,947 0,330 0,500 0,480
P 26,843 0,000 8,022 0,005
27,557 0,000 0,421 0,516 1,125 0,289
Q
4,412
0,036
21,356
0,000
36,213 0,000
VC
VC
R
14,294
0,000
16,200 0,000 10,246 0,001 0,947 0,330 0,125 0,724
Fonte: Do autor.
Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
No geral, os itens mensuraram adequadamente, em decorrência
dos valores de p>0,005. Porém, no 4º ano, todos os participantes
acertaram os itens F, L e Q. No 5º ano, todos acertaram os itens L, M e
Q. Em termos de itens complexos por conta dos valores de p, os resultados
permitiram sinalizar, no 1º ano, os itens I e D; no 2º ano, K e I; no 3º, D
e K; no 4º, J, N, O P e R; e no 5º ano, os itens D, K, N, O, P, J, R.
Ao analisar as notas musicais que compõem os exercícios dos itens
da dimensão altura, os itens mais fáceis são aqueles que apresentaram
distância relativamente grande entre as notas, os mais difíceis continham
231
distâncias menores; também, havia itens com notas repetidas com o
indicativo de dificuldade, conforme o resultado de p. Nesse caso, foi
possível inferir que o índice de dificuldade pode ter sido provocado pela
região onde estavam localizadas as notas: grave ou agudo, embora alguns
casos localizam-se na região média. É preciso ressaltar que foram
respeitados os limiares de audibilidade, mas, mesmo assim, efeitos de
mascaramento nesses itens discrepantes (ROEDERER, 2002). Nesse
contexto, para Krumhansl (1997; 2006, p. 64) “[d]e todas as dimensões
físicas, a altura é talvez a mais diferenciada perceptualmente, a mais
elaborada cognitivamente,
[...]”. Isso, porque, não se trata de notas isoladas,
mas a relação que estabelecem em intervalos, por isso, a exigência cognitiva
exacerbada dependendo da distância entre as notas. O efeito de
mascaramento e a memória musical são aspectos difíceis de controlar
nesses casos.
Na continuidade da apresentação dos resultados referentes à
dimensão altura, na Tabela 18 estão os resultados provenientes da rede
particular.
232
Tabela 18 – Resultado dos estudantes da rede particular no teste qui-quadrado
(dimensão altura)
Itens
1º ano (n=22) 2º ano (n=34) 3º ano (n=37) 4º ano (n=30) 5º ano (n=32)
X
2
P
X
2
P
X
2
P
X
2
P
X
2
P
A
14,727
0,000
23,059
0,000
33,108
0,000
22,533
0,000
28,125
0,000
B
2,909
0,088
26,471
0,000
29,432
0,000
19,200
0,000
24,500
0,000
C
8,909
0,003
26,471
0,000
25,973
0,000
26,133
0,000
VC
D
2,909
0,088
0,471
0,493
11,919
0,001
3,333
0,068
4,500
0,034
E
4,545
0,033
11,765
0,001
29,432
0,000
16,133
0,000
21,125
0,000
F
14,727
0,000
26,471
0,000
VC
VC
VC
G
1,636
0,201
9,529
0,002
11,919
0,001
22,533
0,000
12,500
0,000
H
14,727
0,000
26,471
0,000
VC
22,533
0,000
28,125
0,000
I
0,182
0,670
1,882
0,170
VC
19,200
0,000
15,125
0,000
J
11,636
0,001
2,941
0,086
1,324
0,250
0,533
0,465
1,125
0,289
K
8,909
0,003
4,235
0,040
6,081
0,014
10,800
0,001
2,000
0,157
L
14,727
0,000
23,059
0,000
33,108
0,000
VC
28,125
0,000
M
11,636
0,001
16,941
0,000
25,973
0,000
26,133
0,000
28,125
0,000
N
11,636
0,001
0,000
1,000
2,189
0,139
6,533
0,011
6,125
0,013
O
11,636
0,001
1,059
0,303
0,676
0,411
16,133
0,000
2,000
0,157
P
14,727
0,000
5,765
0,016
0,676
0,411
0,133
0,715
3,125
0,077
Q
14,727
0,000
19,882
0,000
29,432
0,000
26,133
0,000
VC
R
8,909
0,003
5,765
0,016
0,027
0,869
10,800
0,001
6,125
0,013
Fonte: Do autor.
Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
Os dados permitem concluir que a maioria dos itens são
significativos, por estarem abaixo de p >0,05, e estão mensurando o
construto. Há alguns itens em défice: o item N, no 2º ano, não está
mensurando adequadamente, porque metade dos participantes erra e a
outra metade acerta; os itens F, H e I do 3º ano também não estão
mensurando bem, pois houve acerto de todos os participantes. No 4º ano
todos os participantes acertaram os itens F e L. A mesma coisa aconteceu
com os itens C, F e Q.
Diante dos resultados é possível inferir que os itens que
apresentaram maior dificuldade são: no 1º ano, I e G; no 2º, D e O; no
233
3º, R, O, P e J; no 4º, P e J; e no 5º ano, estão os itens J, K, e O. Essa
dificuldade es ocorrendo em decorrência de duas circunstâncias: a
proximidade das notas associada à região de execução do exercício, mesmo
que respeitando os limiares de audibilidade e a direção dos intervalos. Tais
aspectos também ocorreram em pesquisas como as de Teplov (1966).
Após a dimensão altura, a próxima, em análise, foi a dimensão
melodia, cujos resultados constam na Tabela 19.
Tabela 19Resultado dos estudantes da rede pública no teste qui-quadrado (itens da
dimensão melodia)
Itens
1º ano (n=51) 2º ano (n=45) 3º ano (n=61) 4º ano (n=38) 5º ano (n=32)
X
2
P
X
2
P
X
2
P
X
2
P
X
2
P
A
10,373
0,001
3,756
0,053
8,672
0,003
5,158
0,023
4,500
0,034
B
8,647
0,003
24,200
0,000
39,361
0,000
30,421
0,000
VC
C
4,412
0,036
11,756
0,001
11,951
0,001
6,737
0,009
10,125
0,001
D
12,255
0,000
27,222
0,000
33,197
0,000
34,105
0,000
24,500
0,000
E
8,647
0,003
21,356
0,000
30,311
0,000
26,947
0,000
28,125
0,000
F
18,843
0,000
21,356
0,000
42,639
0,000
30,421
0,000
24,500
0,000
G
2,373
0,123
1,800
0,180
0,148
0,701
0,000
1,000
1,125
0,289
H
10,373
0,001
18,689
0,000
30,311
0,000
23,684
0,000
21,125
0,000
I
8,647
0,003
11,756
0,001
20,082
0,000
VC VC
J
14,294
0,000
27,222
0,000
27,557
0,000
8,526
0,004
4,500
0,034
K
14,294
0,000
13,889
0,000
33,197
0,000
23,684
0,000
28,125
0,000
L
18,843
0,000
16,200
0,000
42,639
0,000
26,947
0,000
28,125
0,000
M
8,647
0,003
9,800
0,002
27,557
0,000
12,737
0,000
15,125
0,000
N 16,490 0,000 33,800 0,000 36,213 0,000 34,105 0,000 24,500 0,000
Fonte: Do autor.
Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
Os dados permitem concluir que os itens I, no ano, e B e I, no
5º ano, não mensuraram adequadamente, uma vez que todos os
participantes acertaram esses itens. No item G, no 4º ano, metade dos
participantes acertou o item, e a outra metade errou. Esse item também
234
não mensurou adequadamente o construto. Esses itens que apresentaram
problema são exercícios que apresentam uma curva melódica composta por
notas próximas, sendo a diferença de 2º (duas notas vizinhas) e, no
máximo, de 3º. Os demais itens cumpriram sua função.
No caso da dimensão melodia, estavam em jogo o ritmo e
intervalos de notas associados entre si, em um período curto, para não
depender exclusivamente da memória musical (KRUMHANSL, 2006).
Esse conjunto que, como apreciação, também foi utilizado por Gordon
(1965; 2000; 2015), por acreditar na capacidade de compreensão da curva
melódica (sobe, desce e linearidade), é um aspecto importante do talento
musical.
A dificuldade dessa dimensão se encontra na capacidade de o
sujeito analisar o caminho realizado pela melodia e os elementos (ritmo e
notas musicais) como partes de um todo. Os dados revelam que os
participantes demonstraram êxito na realização dessa dimensão, superando
essa dificuldade de percepção.
A seguir, na Tabela 20 serão apresentados os resultados referentes
ao teste qui-quadrado (X
2
) utilizado nos resultados da rede particular na
dimensão “melodia”.
235
Tabela 20Resultado dos estudantes da rede particular no teste qui-quadrado
(dimensão melodia)
Itens
1º ano (n=22) 2º ano (n=34) 3º ano (n=37) 4º ano (n=30) 5º ano (n=32)
X
2
P
X
2
P
X
2
P
X
2
P
X
2
P
A
8,909
0,003
7,529
0,006
0,027
0,869
0,000
1,000
6,125
0,013
B
18,182
0,000
16,941
0,000
VC
19,200
0,000
28,125
0,000
C
6,545
0,011
5,765
0,016
0,676
0,411
0,533
0,465
0,500
0,480
D
11,636
0,001
14,235
0,000
VC
22,533
0,000
28,125
0,000
E
18,182
0,000
23,059
0,000
16,892
0,000
13,333
0,000
28,125
0,000
F
8,909
0,003
16,941
0,000
29,432
0,000
26,133
0,000
24,500
0,000
G
8,909
0,003
1,882
0,170
11,919
0,001
1,200
0,273
6,125
0,013
H
18,182
0,000
11,765
0,001
29,432
0,000
13,333
0,000
10,125
0,001
I
18,182
0,000
19,882
0,000
33,108
0,000
22,533
0,000
VC
J
VC
VC
11,765
0,001
3,270
0,071
2,133
0,144
0,500
0,480
K
18,182
0,000
23,059
0,000
29,432
0,000
16,133
0,000
24,500
0,000
L
18,182
0,000
9,529
0,002
25,973
0,000
16,333
0,000
28,125
0,000
M
11,636
0,001
23,059
0,000
9,757
0,002
6,533
0,011
0,125
0,724
N
VC
VC
16,941
0,000
29,432
0,000
16,133
0,000
28,125
0,000
Fonte: Do autor.
Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
Os resultados indicam que os itens B e D, no 3º ano, e I, no 5º
ano, não mensuraram adequadamente, pois houve acerto por todos os
participantes. Isso significa que esses itens são muito fáceis para esses
participantes. O item A, no ano, também não mensurou
adequadamente porque metade dos participantes acertou e metade errou.
Os itens G, no 2º e 4º anos, A, no 3º, C e J, no 4º, e M, no 5º ano são
itens que podem ser considerados mais complexos. O restante mensurou
adequadamente o construto.
Na dimensão intensidade estiveram em jogo o limiar de
audibilidade (inferior e superior) e a variação de sujeito para sujeito no
momento do processamento desses estímulos. Por isso, esta dimensão pode
ser considerada difícil no controle de suas nuances. Os resultados da Tabela
236
21 e 22 estão nesse contexto teorizado por Manning (1974), Mueller
(1977), Roederer (2002), Haroutounian (2002) e Willems (2011).
Tabela 21Resultado dos estudantes da rede pública no teste qui-quadrado
(dimensão intensidade)
Itens
1º ano (n=51) 2º ano (n=45) 3º ano (n=61) 4º ano (n=38) 5º ano (n=32)
X
2
P X
2
P X
2
P
X
2
P
X
2
P
A 5,667 0,017 13,889 0,000 36,213 0,000 20,632 0,000 24,500 0,000
B 21,353 0,000 18,689 0,000 42,639 0,000 30,421 0,000 21,125 0,000
C 1,588 0,208 13,889 0,000 27,557 0,000 15,158 0,000 12,500 0,000
D 7,078 0,008 1,800 0,180 0,803 0,370 6,737 0,009 2,000 0,157
E 4,412 0,036 8,022 0,005 20,082 0,000 15,158 0,000 18,000 0,000
F 12,255 0,000 16,200 0,000 30,311 0,000 17,789 0,000 24,500 0,000
G 0,490 0,484 3,756 0,053 13,787 0,000 10,526 0,001 21,125 0,000
H 7,078 0,008 0,556 0,456 2,770 0,096 3,789 0,052 0,500 0,480
I 10,373 0,001 9,800 0,002 20,082 0,000 20,632 0,000 24,500 0,000
J 0,020 0,889 0,556 0,456 0,016 0,898
1,684
0,194 4,500 0,034
K
12,255 0,000 11,756 0,001 24,934 0,000 26,947 0,000 28,125 0,000
Fonte: Do autor.
Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
Os resultados referentes ao item J, no 1º, 2º, 3º e 4º ano, indicam
que trata-se de um item difícil para os participantes, devido ao valor de p.
Demais itens que apresentaram dificuldade são: G e C, no 1º ano, H, no
2º, D, no terceiro, H e D no 5º. O restante dos itens demonstrou boa
mensuração.
237
Tabela 22Resultado dos estudantes da rede privada no teste qui-quadrado
(dimensão intensidade)
Itens
1º ano (n=22) 2º ano (n=34) 3º ano (n=37) 4º ano (n=30) 5º ano (n=32)
X
P
X
P
X
P
X P
X
P
A 6,545 0,011 23,059 0,000 29,432 0,000 26,133 0,000 18,000 0,000
B 8,909 0,003 23,059 0,000 29,432 0,000 26,133 0,000 24,500 0,000
C 4,545 0,033 23,059 0,000 22,730 0,000 22,533 0,000 24,500 0,000
D 6,545 0,011 1,059 0,303 0,243 0,622 3,333 0,068 4,500 0,034
E
4,545
0,033
9,529
0,002
25,973
0,000
22,533
0,000
18,000
0,000
F
4,545
0,033
11,765
0,001
19,703
0,000
19,200
0,000
15,125
0,000
G
1,636
0,201
19,882
0,000
16,892
0,000
16,133
0,000
15,125
0,000
H
8,909
0,003
0,471
0,493
7,811
0,005
4,800
0,028
10,125
0,001
I
11,636
0,001
5,765
0,016
25,973
0,000
26,133
0,000
24,500
0,000
J
0,182
0,670
2,941
0,086
2,189
0,139
6,533
0,011
18,000
0,000
K 11,636 0,001 23,059 0,000 29,432 0,000 22,533 0,000 18,000 0,000
Fonte: Do autor.
Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
De acordo com os resultados oriundos da rede particular, os itens
mensuraram adequadamente o construto. Apenas apresentaram aparente
dificuldade os itens J, no 1º ano, H, no ano e D, no 3º.
A dimensão harmoniapode ser considerada uma das mais sutis,
isso porque quando a criança ouve os pares de sons, dentro de cada
estímulo do par três notas musicais são executadas simultaneamente, destas
somente uma se altera. Essa nota não se localiza nas extremidades, mas no
meio, o que torna o discernimento mais complexo (GORDON, 1985;
KRUMHANSL, 2006). A Tabela 23 contém o desempenho dos
participantes da rede pública de ensino.
238
Tabela 23Resultado dos estudantes da rede pública no teste qui-quadrado
(dimensão harmonia)
Itens
1º ano (n=51) 2º ano (n=45) 3º ano (n=61) 4º ano (n=38) 5º ano (n=32)
X P X P X P
X P
X P
A 14,294 0,000 21,356 0,000 49,590 0,000 30,421 0,000
VC
B 16,490 0,000 21,356 0,000 13,787 0,000 15,158 0,000 21,125 0,000
C 7,078 0,008 16,200 0,000 15,754 0,000 1,684 0,194 2,000 0,157
D 36,255 0,000 24,200 0,000 27,557 0,000 30,421 0,000 10,125 0,001
E 14,294 0,000 2,689 0,101 4,738 0,030 0,105 0,746 3,125 0,077
F 18,843 0,000 33,800 0,000 36,213 0,000 17,789 0,000
VC
G 16,490 0,000 37,356 0,000 33,197 0,000 10,526 0,001
VC
H 24,020 0,000 5,000 0,025 4,738 0,030 3,789 0,052 0,500 0,480
I 10,373 0,001 24,200 0,000 36,213 0,000 26,947 0,000 28,125 0,000
J 16,490 0,000 18,689 0,000 11,951 0,001
1,684
0,194 6,125 0,013
K 14,294 0,000
16,200 0,000 39,361 0,000 30,421 0,000 28, 125 0,000
L 29,824 0,000 13,889 0,000 0,410 0,522 1,684 0,194 8,000 0,005
M 8,647 0,003 0,200 0,655 0,148 0,701 1,684 0,194 1,125 0,289
N 24,020 0,000 21,356 0,000 15,754 0,000 34,105 0,000 18,000 0,000
O 16,490 0,000 27,222 0,025 39,361 0,000 23,684 0,000 21,125 0,000
P 16,490 0,000 1,089 0,297
0,016 0,898 1,684 0,194 2,000 0,157
Q 16,490 0,000 27,222 0,000
30,311 0,000 12,737 0,000 28,125 0,000
R 21,353 0,000
3,756 0,053 10,246 0,001 0,947 0,330 4,500 0,034
S
8,647 0,003 8,022 0,005 5,918 0,015 0,105 0,746 3,125 0,077
T
29,824 0,000 37,356
0,000 36,213 0,000 30,421 0,000 24,500 0,000
Fonte: Do autor.- Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
Os resultados indicam que tais itens mensuraram adequadamente
o construto. Somente no 5º ano, todos os participantes acertaram os itens
A, F e G. Em relação à dificuldade, no 2º ano, M apresentou índices
discrepantes; no 3º ano foram os itens P, M e L; no 4º ano, os itens R e S,
e no 5º ano foram os itens H e M.
239
Na Tabela 24, a seguir, estarão os resultados no teste qui-quadrado
(X
2
) referente à rede privada na dimensão “harmonia”.
Tabela 24Resultado dos estudantes da rede privada no teste qui-quadrado
(dimensão harmonia)
Itens
1º ano (n=22) 2º ano (n=34) 3º ano (n=37) 4º ano (n=30) 5º ano (n=32)
X
2
P X
2
P X
2
P
X
2
P
X
2
P
A 11,636 0,001 19,882 0,000 29,432 0,000 19,200 0,000 24,500 0,000
B
VC
14,235 0,000 25,973 0,000 0,533 0,465 4,500 0,034
C 11,636 0,001 19,882 0,000 1,324 0,250 0,133 0,715 2,000 0,157
D 18,182 0,000 19,882 0,000 33,108 0,000 19,200 0,000 21,125 0,000
E 2,909 0,088 4,235 0,040 0,027 0,869 3,333 0,068 8,000 0,005
F
VC
19,882 0,000 33,108 0,000 16,133 0,000
VC
G 18,182 0,000 16,941 0,000 25,973 0,000 10,800 0,001 18,000 0,005
H 18,182 0,000 4,235 0,040 0,676 0,411 0,533 0,465 0,125 0,724
I
VC
19,882 0,000 33,108 0,000 6,533 0,011 21,125 0,000
J
VC
14,235 0,000 9,757 0,002
2,133
0,144 8,000 0,005
K
VC
11,765 0,001 33,108 0,000
16,133 0,000 24,500 0,000
L 8,909 0,003 14,235 0,000 7,811 0,005 0,133 0,715 1,125 0,289
M 14,727 0,000 4,235 0,040 0,676 0,411 3,333 0,068 18,000 0,000
N 18,182 0,000 23,059 0,000 33,108 0,000 10,800 0,001 10,125 0,001
O 18,182 0,000 23,059 0,000 19,703 0,000 16,133 0,000 21,125 0,000
P 14,727 0,000 11,765 0,001
0,027 0,869 3,333 0,068 8,000 0,005
Q
VC
26,471 0,000
29,432 0,000 16,133 0,000 21,125 0,000
R 11,636 0,001
7,529 0,006 0,676 0,411 0,533 0,465 0,000 1,000
S
8,909 0,003 4,235 0,040 1,324 0,250 8,533 0,003 10,125 0,001
T
18,182 0,000 26,471 0,000 29,432 0,000 19,200 0,000
VC
Fonte: Do autor. - Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
Com os resultados, foi possível concluir que no 1º ano, todos
erraram os itens B e J, mas acertaram os itens F, I, K e Q. O 5º ano acertou
240
todo o item F e T, mas acertou metade e errou metade do item R.
Portanto, esses itens não estão mensurando adequadamente. Há itens mais
complexos como E e P, 3º ano, C, E o L e os demais mensuram
adequadamente.
A dimensão agógicatambém apresenta complexidade, porque o
participante, nesse tipo de atividade, é instruído a discernir a métrica de
pares de fragmentos musicais, buscando a diferença ou a igualdade na
execução (LARGE; KOLEN, 1999; KRUMHANSL, 2006). Os
resultados na Tabela 25 contêm o desempenho dos participantes nessa
tarefa de discernimento auditivo.
Tabela 25Resultado dos estudantes da rede pública no teste qui-quadrado
(dimensão agógica)
Itens
1º ano (n=51) 2º ano (n=45) 3º ano (n=61) 4º ano (n=38) 5º ano (n=32)
X
2
P X
2
P X
2
P
X
2
P
X
2
P
A 0,020 0,889 3,756 0,053 7,230 0,007 8,526 0,004 21,125 0,000
B 3,314 0,069 1,089 0,297 1,328 0,249 5,158 0,023 4,500 0,034
C 14,294 0,000 1,089 0,297 10,246 0,001 15,158 0,000 21,125 0,000
D 10,373 0,001 0,200 0,655 8,672 0,003 3,789 0,052 3,125 0,000
E 3,314 0,069 0,022 0,881 4,738 0,030 6,737 0,009 1,125 0,289
F 2,373 0,123 2,689 0,101 1,328 0,249 3,789 0,052 4,500 0,034
G 0,961 0,327 0,200 0,655 1,984 0,159 0,947 0,330 2,000 0,157
H 7,078 0,008 1,089 0,297 1,984 0,159 1,684 0,194 2,000 0,157
I 5,667 0,017 0,556 0,456 1,328 0,249 0,105 0,746 8,000 0,000
J 0,961 0,327 8,022 0,005 7,230 0,007
6,737
0,009 18,000 0,000
K
2,373 0,123 0,200 0,655 0,803 0,370 8,526 0,004 8,000 0,005
L 12,255 0,000 11,756 0,001 13,787 0,000 8,526 0,004 10,125 0,001
M 4,412 0,036 8,022 0,005 13,787 0,000 0,000 1,000 4,500 0,034
N 5,667 0,017 0,022 0,881 3,689 0,055 1,684 0,194 6,125 0,013
Fonte: Do autor. - Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
241
A partir dos resultados foi possível analisar que os itens que não
estão adequados são: A, no 1º ano, D, E, G, K e N, 2º ano, e I e M no 4º
ano, itens cuja metade errou, e a outra acertou. O restante dos itens foram
respondidos adequadamente.
Na Tabela 26 estão os resultados referentes à dimensão agógica na
rede privada.
Tabela 26Resultado dos estudantes da rede privada no teste qui-quadrado
(dimensão agógica)
Itens
1º ano (n=22) 2º ano (n=34) 3º ano (n=37) 4º ano (n=30) 5º ano (n=32)
X
2
P X
2
P X
2
P
X
2
P
X
2
P
A
0,182
0,670
23,059
0,000
22,730
0,000
6,533
0,011
28,125
0,000
B
2,909
0,088
1,882
0,170
16,892
0,000
16,133
0,000
21,125
0,000
C
11,636
0,001
14,235
0,000
16,892
0,000
6,533
0,011
6,125
0,013
D
8,909
0,003
9,529
0,002
11,919
0,001
3,333
0,068
4,500
0,034
E
0,727
0,394
2,941
0,086
6,081
0,014
16,133
0,000
2,000
0,157
F 0,000 1,000 0,118 0,732 2,189 0,139 0,133 0,715 6,125 0,013
G 0,182 0,670 0,000 1,000 1,324 0,250 0,133 0,715 0,500 0,480
H 0,182 0,670 0,471 0,493 7,811 0,005 13,333 0,000 8,000 0,005
I 0,182 0,670 1,882 0,170 19,703 0,000 3,333 0,068 15,125 0,000
J 6,545 0,011 14,235 0,000 14,297 0,000
26,133
0,000 21,125 0,000
K
4,545
0,033
2,941
0,086
7,811
0,005
10,800
0,001
18,000
0,000
L
1,636
0,201
14,235
0,000
14,297
0,000
16,133
0,000
12,500
0,000
M 1,636 0,201 5,765 0,016 9,757 0,002 0,133 0,715 2,000 0,157
N
0,182
0,670
0,471
0,493
9,757
0,002
16,133
0,000
15,125
0,000
Fonte: Do autor.
Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
De acordo com os resultados, no 1º ano, metade dos participantes
acertou o item F, e a outra metade errou. No 2º e 3º anos, acontece a
mesma coisa, porém com o item G. Itens discrepantes, como F, H e N,
permitem inferir índice de dificuldade. Tanto o 4º como o 5º ano
242
apresentam dificuldades no item G, complementarmente, F e M
apresentam uma diferença pequena entre aqueles que acertaram daqueles
que erraram. Os demais itens mensuraram adequadamente.
A partir da dimensão duração até padrão-tmico a
pesquisadora pode analisar que os itens que foram gabaritados pelos
participantes eram aqueles com diferenças marcantes entro par de
estímulos, ou seja, itens muito fáceis. Aqueles que apresentaram valores
altos de p são aqueles com diferenças mínimas. Há itens que são difíceis
para o 1º ano, por exemplo, mas fáceis para o 3º ou 5º ano.
As dimensões duraçãoe padrão rítmicoestão ligadas ao aspecto
rítmico. Essas dimensões foram mais fáceis de controlar uma vez que
harmônicos não estão em jogo e, no caso do padrão rítmico, não estão
envolvidos a altura de nota (LARGE; KOLEN, 1999). Na dimensão
duraçãohá o uso da senóide, mas ela não varia. Por essa razão, o controle
dessas dimensões foi mais fácil se comparado as dimensões anteriores.
Na Tabela 27 estão os resultados da análise de item referente aos
estudantes da rede pública de ensino.
243
Tabela 27Resultado dos estudantes da rede pública no teste qui-quadrado
(dimensão duração)
Itens
1º ano (n=51) 2º ano (n=45) 3º ano (n=61) 4º ano (n=38) 5º ano (n=38)
X
2
P X
2
P X
2
P
X
2
P
X
2
P
A 14,294 0,000 16,200 0,000 30,311 0,000 20,632 0,000 21,125 0,000
B 0,176 0,674 6,422 0,011 33,197 0,000 23,684 0,000 28,125 0,000
C 0,961 0,327 5,000 0,025 30,311 0,000 20,632 0,000 21,125 0,000
D 12,255 0,000 3,756 0,053 3,689 0,055 10,526 0,001 2,000 0,157
E 4,412 0,036 11,756 0,001 8,672 0,003 12,737 0,000 6,125 0,013
F 8,647 0,003 3,756 0,053 0,410 0,522 0,421 0,516 0,125 0,724
G 0,961 0,327 0,200 0,655 2,770 0,096 1,684 0,194 3,125 0,077
H 1,588 0,208 9,800 0,002 17,852 0,000 12,737 0,000 21,125 0,000
I 0,961 0,327 2,689 0,101 7,230 0,007 6,737 0,009 8,000 0,005
J 0,961 0,327 3,756 0,053 27,557 0,000
17,789
0,000 21,125 0,000
K
0,020 0,889 2,689 0,101 20,082 0,000 15,158 0,000 12,500 0,000
L 16,490 0,000 8,022 0,005 15,754 0,000 6,737 0,009 12,500 0,000
M 2,373 0,123 11,756 0,001 30,311 0,000 20,632 0,000
VC
N 16,490 0,000 16,200 0,000 36,213 0,000 17,789 0,000 28,125 0,000
O 0,176 0,674 2,689 0,101 33,197 0,000 15,158 0,000 3,125 0,077
P 1,588 0,208 0,022 0,881
5,918 0,015 1,684 0,194 2,000 0,157
Fonte: Do autor. - Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
A partir dos resultados da dimensão duração, os itens B, K e O, no
1º ano, apresentaram resultados discrepantes, permitindo inferir
dificuldade em sua construção. No 2º ano, ocorreu o mesmo com os itens
G e P, bem como com o 3º e 4º em relação ao item F. Todos os
participantes do 5º acertaram o item M, o que permite concluir que ele
não mensurou adequadamente o construto. Os itens que os participantes
mais erraram são aqueles com distâncias próximas entre os pares, e os que
mais acertaram são itens com estímulos mais distantes ou diferentes.
Na Tabela 28 estão os resultados referentes ás respostas dos
estudantes da rede privada de ensino.
244
Tabela 28Resultado dos estudantes da rede particular no teste qui-quadrado
(dimensão duração)
Itens
1º ano (n=22) ano (n=34) 3º ano (n=37) 4º ano (n=30) 5º ano (n=32)
X
2
P X
2
P X
2
P
X
2
P
X
2
P
A 11,636 0,001 14, 235 0,000 22,730 0,000 16,133 0,000 10,125 0,001
B 4,545 0,033 19,882 0,000 33,108 0,000 26,133 0,000
VC
C 1,636 0,201 23,059 0,000
VC
13,333 0,000
VC
D 2,909 0,088 2,941 0,086 6,081 0,014 4,800 0,028 10,125 0,001
E 2,909 0,088 1,059 0,303 16,892 0,000 4,800 0,028 21,125 0,000
F 0,727 0,394 5,765 0,016 0,027 0,869 1,200 0,273 10,125 0,001
G 0,000 1,000 9,529 0,002 22,730 0,000 10,800 0,001 6,125 0,013
H 0,727 0,394 26,471 0,000 22,730 0,000 26,133 0,000
VC
I 0,000 1,000 1,882 0,170 9,757 0,002 13,333 0,000 21,125 0,000
J 0,727 0,394 11,765 0,001 33,108 0,000
19,200
0,000 28,125 0,000
K 0,182 0,670 11,765 0,001
33,108 0,000 8,533 0,003 15,125 0,000
L 6,545 0,011 7,529 0,006 25,973 0,000 2,133 0,144 21,125 0,000
M 0,727 0,394 16,941 0,000 33,108 0,000 16,133 0,000
VC
N 18,182 0,000 14,235 0,000 22,730 0,000 4,800 0,028 28,125 0,000
O 0,000 1,000 19,882 0,000 33,108 0,000 19,200 0,000 18,000 0,000
P 0,000 1,000 9,529 0,002
33,108 0,000 13,333 0,000 18,000 0,000
Fonte: Do autor. - Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
Com base nos resultados, metade dos participantes do 1º ano
acertou, e a outra metade errou os itens G, I, O e P, o que permite concluir
que tais itens não precisam de ajustes. O item K, no 1º ano, apresentou
resultados discrepantes, indicando problemas. Os demais itens estão
mensurando adequadamente, assim como os itens do 2º ao 5º ano. Porém
todos os participantes do 3º ano acertaram o item F, e todos os do 5º ano
acertaram os itens B, C, H e M.
245
Na Tabela 29 estão os resultados referente ás respostas dos
estudantes da rede pública de ensino.
Tabela 29Resultado dos estudantes da rede pública no teste qui-quadrado
(dimensão padrão-rítmico)
Itens
1º ano (n=51) 2º ano (n=45) 3º ano (n=61) 4º ano (n=38) 5º ano (n=32)
X
2
P X
2
P X
2
P
X
2
P
X
2
P
A 7,078 0,008 13,889 0,000 22,443 0,000 12,737 0,000 18,000 0,000
B 0,176 0,674 2,689 0,101 57,0,66 0,000 30,421 0,000 24,500 0,000
C 18,843 0,000 1,089 0,297 0,148 0,701 0,947 0,330 2,000 0,157
D 7,078 0,008 3,756 0,053 13,787 0,000 5,158 0,023 15,125 0,000
E 7,078 0,008 2,689 0,101 3,689 0,055 2,632 0,105 1,125 0,289
F 10,373 0,001 6,422 0,011 15,754 0,000 1,684 0,194 15,125 0,000
G 12,255 0,000 6,422 0,011 15,754 0,000 8,526 0,004 15,125 0,000
H 0,176 0,674 6,422 0,011 13,787 0,000 15,158 0,000 4,500 0,034
I 24,020 0,000 13,889 0,000 20,082 0,000 6,737 0,009 10,125 0,001
J 7,078 0,008 5,000 0,025 3,689 0,055
0,421
0,516 0,500 0,480
K
0,961 0,327 1,800 0,180 15,754 0,000 17,789 0,000 24,500 0,000
L 5,667 0,017 0,556 0,456 8,672 0,003 23,684 0,000 4,500 0,034
M 8,647 0,003 9,800 0,002 7,230 0,007 5,158 0,023 10,125 0,001
N 8,647 0,003 1,089 0,297 20,082 0,000 6,737 0,009 2,000 0,157
O 0,961 0,327 1,089 0,297 8,672 0,003 6,737 0,009 18,000 0,000
P 4,412 0,036 6,422 0,011
15,754 0,000 15,158 0,000 15,125 0,000
Q 3,314 0,069 0,200 0,655
22,443 0,000 20,632 0,000 15,125 0,000
R 21,353 0,000
11,756 0,001 20,082 0,000 8,526 0,004 12,500 0,000
S
12,255 0,000 18,689 0,000 24,934 0,000 15,158 0,000 18,000 0,000
Fonte: Do autor. - Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
Com base na Tabela 29, os itens B e H, do 1º ano, Q e L, do 2º,
C, do 3º ano, e J no 4º e 5º ano apresentaram valores discrepantes, o que
indica sua dificuldade. Os demais itens mensuraram adequadamente.
246
Estão em jogo três instâncias psicológicas: níveis cognitivo, motor
e afetivo (TEPLOV, 1966; KRUMHANSL, 2006). Além disso, estavam
garantidos os fragmentos rítmicos médio (não tão longo e tampouco curto)
e velocidade moderada da métrica, para não prejudicar o desempenho da
criança (GORDON, 2015). As tabelas X se fazem exemplos dos resultados
encontrados.
Na Tabela 30 estarão os resultados dos estudantes da rede
particular referente à dimensão padrão-rítmico.
Tabela 30Resultado dos estudantes da rede particular no teste qui-quadrado
(dimensão padrão-rítmico)
Itens
1º ano (n=22) 2º ano (n=34) 3º ano (n=37) 4º ano (n=30) 5º ano (n=32)
X
2
P X
2
P X
2
P
X
2
P
X
2
P
A 11,636 0,001 16,941 0,000 16,892 0,000 26,133 0,000 24,500 0,000
B 4,545 0,033 14,235 0,000 25,973 0,000
VC
28,125 0,000
C 4,545 0,033 1,882 0,170 4,568 0,033 10,800 0,001 8,000 0,005
D 4,545 0,033 2,941 0,086 22,730 0,000 16,133 0,000 24,500 0,000
E 0,182 0,670 0,118 0,732 11,919 0,001 13,333 0,000 10,125 0,001
F 2,909 0,088 4,235 0,040 7,811 0,005 13,333 0,000 3,125 0,077
G 6,545 0,011 9,529 0,002 6,081 0,014 0,133 0,715 2,000 0,157
H 4,545 0,033 4,235 0,040 22,730 0,000 19,200 0,000 21,125 0,000
I 2,909 0,088 14,235 0,000 22,730 0,000 3,333 0,068 24,500 0,000
J 2,909 0,088 1,059 0,303 2,189 0,139
0,533
0,465 3,125 0,077
K 11,636
0,001 11,765 0,001 29,432 0,000 26,133 0,000 24,500 0,000
L 4,545 0,033 0,471 0,493 25,973 0,000 22,533 0,000 24,500 0,000
M 2,909 0,088 1,882 0,170 4,568 0,033 0,533 0,465 15,125 0,000
N 2,909 0,088 16,941 0,000 19,703 0,000 4,800 0,028 10,125 0,001
(continua)
247
(conclusão)
O 2,909 0,088 7,529 0,006 29,432 0,000 19,200 0,000 24,500 0,000
P 1,636 0,201 19,882 0,000
25,973 0,000 16,133 0,000 24,500 0,000
Q 8,909 0,003 19,882 0,000
29,432 0,000 16,133 0,000 24,500 0,000
R 4,545 0,033
11,765 0,001 6,081 0,014 13,333 0,000 28,125 0,000
S
14,727 0,000 5,765 0,016 22,730 0,000 13,333 0,000 21,125 0,000
Fonte: Do autor.- Legenda: X
2
qui-quadrado; p > 0,05; VC variável constante.
Com base nos resultados da Tabela 30, os itens E, 1º e 2º ano, L,
2º ano, G, J e M, no 4º ano apresentaram valores discrepantes de p,
indicando problemas. Por outro lado, os itens B, no 4º ano e K, no 5º ano,
foram realizados por todos os participantes, o que significa que esses itens
são muito fáceis. Os demais mensuraram adequadamente.
A pesquisadora realizou na sequência o teste de confiabilidade,
utilizando o teste estatístico Alfa de Cronbach (PASQUALI, 2013). O
objetivo de realização deste teste estatístico é verificar a consistência interna
do teste, ou seja, a precisão dos itens. A Tabela 31 contêm os resultados
obtidos na rede pública de ensino nesta análise .
Tabela 31 Estatística de confiabilidade Alfa de Cronbach - resultados da rede pública
ITENS 1º (n=51) 2º (n=45) (n=61) 4º (n=38) 5º (n=32)
Timbre n=15
0,687
0,757
0,713
0,060
0,591
Altura n=18
0,562
0,592
0,614
0,688
0,792
Melodia n=14
0,039
0,243
0,412
0,096
0,460
Intensidade n=11
0,378
0,465
0,640
0,428
0,571
Harmonia n=20
0,113
0,465
0,540
0,582
0,645
Agógica n=14
0,135
0,369
0,513
0,394
0,470
Duração n=16
0,766
0,759
0,730
0,583
0,728
Padrão rítmico n=19
0,284
0,413
0,528
0,673
0,565
Fonte: Do autor.
248
O menor valor encontra-se na dimensão melodia (0,039), 1º ano,
enquanto o maior está na dimensão altura (0,792), 5º ano. Esses valores
adequam com os argumentos de Feitosa (2010), a qual teoriza que a
criança pequena expressar impulsivamente sua resposta nesse tipo de
situação de testagem, enquanto a criança mais velha tende a ouvir o
estímulo e pensar sobre ele, analisando-o antes de responder. Talvez a
qualidade das respostas dos participantes possam estar interferindo na
relação dos fatores o que permite concluir que será necessário pensar
formatos diferentes do PSHM para cada ano escolar.
A Tabela 32 contempla os resultados da consistência interna do
PSHM da amostra de participantes obtidas na rede particular de ensino.
Tabela 32 Estatística de confiabilidade Alfa de Cronbach - resultados da rede particular
ITENS 1º (n=22) 2º (n=34) (n=37) 4º (n=30) 5º (n=32)
Timbre n=15
0,225
0,495
0,650
0,463
-0,281
Altura n=18
0,591
0,715
0,731
0,769
0,577
Melodia n=14
0,394 0,244 0,384 0,608 0,535
Intensidade n=11
0,616
0,574
0,584
0,668
0,245
Harmonia n=20
0,419
0,553
0,513
0,536
0,679
Agógica n=14
0,338
0,432
0,689
0,659
0,175
Duração n=16
0,418 0,689 0,465 0,717 0,175
Padrão rítmico n=19
0,177
0,351
0,638
0,560
0,326
Fonte: Do autor.
Ao observar os resultados, verifica-se um valor negativo no 5º ano
(-0,281), na dimensão timbre, e o maior valor está no 4º ano (0,769) na
dimensão altura. O 5º ano pode ter apresentado esse valor negativo em
decorrência da dimensão timbre ser a primeira. Sobre a dimensão altura,
ela é a mais básica dentre as dimensões. Nesse contexto, as crianças
menores foram bem, apesar de alguns valores de confiabilidade serem
249
baixos. É preciso ressaltar que as escolas particulares contam com o docente
de música. Portanto, os resultados de Alfa de Cronbach estão sob essa
influência na rede particular de ensino.
Após analisar o desempenho do PSHM, tornou-se necessário
averiguar os participantes no teste. É preciso salientar que essa próxima
análise, bem como as anteriores, não contempla os estudantes que
participaram do projeto piloto, quando do refinamento da plataforma
PSHM.
A partir do escore geral e do percentual de acertos, foi possível
apresentar os resultados preliminares do desempenho dos participantes no
PSHM. Esse resultado preliminar foi dividido por rede, pública e privada,
em decorrência da presença do professor de música na rede privada, e com
base na diferença das idades e escolas.
Como o PSHM conta com uma versão impressa e outra virtual,
foi realizada a análise comparativa pareada a partir do escore geral obtido
pelos participantes. Era preciso analisar se havia alguma diferença
significante entre os resultados. Para isso, foi utilizado o teste estatístico de
Wilcoxon. Os resultados poderão ser visualizados na Tabela 33, a seguir.
Tabela 33Aplicação impressa versus material virtual 1º ANO/Escola 8
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID
APLICAÇÃO 1
APLICAÇÃO 2
EG
%
EG
%
8
1
6
F
403
78
61,41
40
31,49
8
1
6
F
404
72
56,69
58
45,66
8
1
6
F
405
95
74,8
97
76,37
8
1
6
F
406
78
61,41
60
47,24
8
1
6
F
407
58
45,66
47
37
8
1
6
M
408
68
53,54
44
34,64
Fonte: Do autor.
250
Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=06 participantes. EG
Escore geral.
A análise pareada da aplicação do material impresso versus virtual,
no 1º ano da escola 8, utilizando o teste estatístico Wilcoxon, permitiu
encontrar p=0,0625, considerada diferença não significante. Na Tabela 32
estão os dados referentes à variação, mediana e dispersão dos resultados do
1º ano nas duas versões de aplicação do PSHM.
Tabela 34Desempenho dos participantes do 1º ano, escola 8, PSHM impresso
versus virtual
1º ANO
VARIAÇÃO
(MIN - MÁX)
MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
APLICAÇÃO IMPRESSA
58 - 95
75
69 - 78
APLICAÇÃO VIRTUAL 40 - 97 52,5 44,75 - 59,5
TOTAL - N=06
40 - 97
63,75
56,87 - 68,75
Fonte: Do autor.
Os resultados encontrados permitem concluir que há uma queda
pequena entre o desempenho na aplicação 1 e na 2. Porém, é considerada
estatisticamente não significante, mas é preciso destacar que o participante
que foi bem na primeira aplicação se manteve na segunda. Trata-se do caso
do participante 405. Ele obteve escore 95 (74,80%), na primeira aplicação,
na segunda obteve escore 97 (76, 37%). Ou seja, este participante
melhorou seu rendimento. Independentemente disso, ele foi o melhor
participante nas duas aplicações. Outro caso foi do participante 406. Ele
obteve escore 78 (61, 41%), na primeira aplicação, na segunda, obteve
escore 60 (47,24%). Embora seu rendimento tenha caído ele continuou
como melhor participante no rank do PSHM sucedendo o participante
251
405. Os demais participantes com rendimento mediano continuaram
nessa posição na aplicação 2, inclusive, declinaram no desempenho.
Na Tabela 35 estão os resultados preliminares de escore geral dos
participantes do 2º ano que realizaram o PSHM em suas duas
modalidades.
Tabela 35Aplicação impressa versus material virtual 2º ANO/Escola 8
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID
APLICAÇÃO 1 APLICAÇÃO 2
ED % ED %
8
2
7
M
409
56
44,09
49
38,58
8
2
7
M
410
81
63,77
52
40,94
8
2
7
F
411
93
73,22
52
40,94
8
2
7
M
412
48
37,79
62
48,81
8
2
6
M
413
89
70,07
39
30,7
8
2
6
F
414
80
62,99
66
51,96
8
2
7
F
415
76
59,84
41
32,28
8
2
7
M
416
93
73,22
72
56,69
8
2
7
M
417
94
74,01
85
66,92
8
2
7
F
418
78
61,41
52
40,94
8
2
6
M
419
83
65,35
36
28,34
Fonte: Do autor.
Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=11 participantes. EG
Escore geral.
Ao comparar os escores gerais do 2º ano, escola 8, utilizando o teste
estatístico Wilcoxon, se obteve p=0,0049, considerado muito significante
quando a modalidade impressa é comparada com a versão virtual do
PSHM de modo pareado. Observa-se que há uma queda no rendimento
dos participantes na versão virtual, segunda aplicação. Esse dado por estar
expressando alguma dificuldade dos participantes com o computador,
também, geralmente nas escolas, os participantes utilizam pouco o
252
laboratório de informática, as vezes em casa o contato também se torna
pequeno ou, em decorrência da influência da aplicação anterior, a qual
pode ter deixado uma impressão de cansaço para os participantes. Enfim,
não se tem como provar qual das variáveis pode estar interferindo, somente
as futuras aplicações do PSHM poderão constar o porquê desta diferença
no 2º ano.
Na tabela 36 estão presentes os resultados da variação, mediana e
dispersão dos resultados que foram apresentados na Tabela 35.
Tabela 36Desempenho dos participantes do 2º ano, escola 8, PSHM impresso
versus virtual
2º ANO
VARIAÇÃO (MIN -
MÁX)
MEDIANA
DISPERSÃO (Q1
- Q3)
APLICAÇÃO IMPRESSA
48 - 94 81 77 - 91
APLICAÇÃO VIRTUAL
36 - 85
52
45 - 64
TOTAL - N=11
36 - 94
33,25
61 - 77,50
Fonte: Do autor.
Há um dado relevante entre as duas aplicações. Os participantes
417 (aplicação1: escore 94/74,01%; aplicação 2: escore 85/66,92%) e 416
(aplicação 1: escore 93/73,22%; aplicação 2: escore 72/56,69%) foram
aqueles que obtiveram os melhores resultados nas duas aplicações do
PSHM. Embora tenham caído em rendimento da primeira aplicação para
a segunda, eles continuaram no topo do rank quando comparados aos
demais participantes do 2º ano.
A Tabela 37 traz os resultados de escore geral dos participantes o
3º ano da escola 8 que realizaram o PSHM nas duas modalidades.
253
Tabela 37Aplicação impressa versus material virtual 3º ANO/Escola 8
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID
APLICAÇÃO 1 APLICAÇÃO 2
ED % ED %
8 3 8 F 420
82
64,56
69
54,33
8 3 8 F 421
85
66,92
81
63,77
8 3 8 F 422
64
50,39
76
59,84
8 3 8 F 423
68
53,54
82
64,56
8 3 7 F 424
86
67,71
79
62,2
8 3 8 M 425
72
56,69
42
33,07
8 3 8 F 426
76
59,84
61
48,03
8 3 8 M 427
91
71,65
90
70,86
8 3 9 M 428
78
61,41
70
55,11
8 3 9 M 429
81
63,77
74
58,26
8 3 8 M 430
98
77,16
74
58,26
8 3 8 F 431
89
70,07
77
60,62
8 3 8 F 432
71
55,9
62
48,81
Fonte: Do autor. - Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=13
participantes. EG Escore geral.
Ao comparar os resultados de escore geral da modalidade impressa
versus a virtual, pareadas, utilizando o teste estatístico Wilcoxon, se obteve
p=0,0479, o que permite considerar significativa a diferença entre as
modalidades. Esse resultado coincide com o que se constatou no 2º ano,
anteriormente discutido.
Os resultados apresentados na Tabela 38 resultam do cálculo da
variação, mediana e dispersão a partir dos resultados que estão na Tabela
37.
Tabela 38Desempenho dos participantes do 3º ano, escola 8, PSHM impresso versus virtual
3º ANO
VARIAÇÃO
(MIN - MÁX)
MEDIANA
DISPERSÃO
(Q1 - Q3)
APLICAÇÃO IMPRESSA
64 - 98 81 72 - 86
APLICAÇÃO VIRTUAL
42 - 90 74 69 - 79
TOTAL - N=13
42 - 98 77,5 70,50 - 82,50
Fonte: Do autor.
254
Conforme aconteceu com as etapas escolares anteriores, 1º e 2º
ano, também no 3º o melhor participante se manteve no topo do rank
mesmo diante de uma leve queda de rendimento. Trata-se do participante
427, cujo escore foi de 91 (71,65%), na primeira aplicação, e 90 (70,86%),
na segunda. Esse dado permite concluir que, apesar da queda de
rendimento, o PSHM ainda consegue rastrear o participante com melhor
desempenho na acuidade auditiva.
A Tabela 39 traz os resultados dos escores gerais da modalidade
impressa e virtual correspondente ao 4º ano da escola 8.
Tabela 39Aplicação impressa versus material virtual 4º ANO/Escola 8
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID
APLICAÇÃO 1 APLICAÇÃO 2
EG % EG %
8
4
9
F
433
101
79,52
96
75,59
8
4
10
F
434
84
66,14
83
65,35
8
4
9
F
435
87
68,5
87
68,5
8
4
9
F
436
93
73,22
83
65,35
8
4
9
F
437
85
66,92
75
59,05
8
4
9
F
438
81
63,77
77
60,62
8
4
9
M
439
98
77,16
93
73,22
8
4
9
F
440
80
62,99
75
59,05
8
4
8
F
441
87
68,5
79
62,2
8
4
9
F
442
75
59,05
72
56,69
8
4
9
M
443
90
70,86
70
55,11
Fonte: Do autor.
Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=11 participantes. EG
Escore geral.
Ao submeter os resultados pareados de escore geral, no teste
estatístico Wilcoxon, se obteve p=0,0020, o que mostra ser muito
significativa a diferença entre as modalidades. O que mostra que pode
haver uma falta de intimidade com o computador ou um cansaço ao
255
realizar o teste. É preciso destacar que eles diminuíram o rendimento na
segunda aplicação. Infere-se que os participantes já conheciam a extensão
do teste, portanto, poderiam manifestar algum desânimo em realizar o
PSHM até o final.
A Tabela 40 apresentará resultados da variação, mediana e
dispersão com base no escore geral contemplado na Tabela 39.
Tabela 40Desempenho dos participantes do 4º ano, escola 8, PSHM impresso
versus virtual
4º ANO
VARIAÇÃO (MIN -
MÁX)
MEDIANA
DISPERSÃO (Q1
- Q3)
APLICAÇÃO IMPRESSA
75 - 101 87 82,50 - 91,50
APLICAÇÃO VIRTUAL
70 - 96 79 75 - 85
TOTAL - N=11
70 - 101
83
78,75 - 88,25
Fonte: Do autor.
Diante dos resultados, foi possível concluir que o participante que
apresenta o melhor desempenho na primeira aplicação continua sendo o
melhor na segunda aplicação, mesmo que seu desempenho venha
apresentar queda. Essa afirmação pode ser comprovada a partir dos
participantes anteriormente apresentados, em termos de rank, e com base
nos resultados do participante 433 que apresentou escore 101 (79,52%),
na primeira aplicação, e escore 96 (75,59%), na segunda.
A Tabela 41 contém os resultados dos escores do 5º ano referente
à realização do PSHM na modalidade impressa e virtual.
256
Tabela 41Aplicação impressa versus material virtual 5º ANO/Escola 8
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID
APLICAÇÃO 1 APLICAÇÃO 2
ED
%
ED
%
8 5 10 F 444 89 70,07 52 40,94
8
5
9
M
445
85
66,92
76
59,84
8
5
10
F
446
88
69,29
67
52,75
8
5
10
F
447
80
62,99
66
51,96
8
5
10
F
448
84
66,14
73
57,48
8
5
10
M
449
99
77,95
88
69,29
8
5
9
F
450
102
80,31
81
63,77
8
5
10
M
451
108
85,03
83
65,35
8 5 11 M 452 65 51,18 54 42,51
8
5
9
F
453
82
64,56
70
55,11
Fonte: Do autor. - Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=10
participantes. EG Escore geral.
Ao submeter os escores gerais ao teste estatístico Wilcoxon, se
obteve p=0,0020, considerado muito significante. Esse resultado foi o
mesmo do 2º ano ao 4º, conforme já foi discutido.
Na Tabela 42 é possível analisar os resultados da variação, mediana
e dispersão. Observa-se uma queda no rendimento dos participantes na
versão virtual, isso permite inferir a inexperiência dos participantes ou
cansaço por realizar o teste uma vez que os participantes haviam vivenciado
a versão manual 60 dias antes.
257
Tabela 42 – Desempenho dos participantes do 5º ano, escola 8, PSHM impresso
versus virtual
5º ANO
VARIAÇÃO (MIN -
X)
MEDIANA
DISPERSÃO (Q1 -
Q3)
APLICAÇÃO IMPRESSA
65 - 108 86,5 82,50 - 96,50
APLICAÇÃO VIRTUAL
52 - 88 71,5 66,25 - 79,75
TOTAL - N=10
52 - 108 79 74,37 - 88,12
Fonte: Do autor.
Os resultados do 5º ano também possibilitaram analisar que,
apesar da queda no desempenho dos participantes entre as aplicações 1 e
2, os melhores participantes se mantém com as melhores posições no rank.
O participante 451 atingiu o escore 108 (85,03%), na primeira aplicação,
e o escore 83 (65,35%), na segunda aplicação. O outro participante, o
segundo colocado no rank, obteve escore 102 (80,31%), na primeira
aplicação, e escore 81 (63,77%), na segunda. Portanto, apesar da queda de
rendimento, estes participantes continuam obtendo os melhores
desempenhos.
A respeito dos participantes com baixos rendimentos é possível
concluir que os resultados variaram. Houve participantes, considerando do
1º ao 5º ano, que apresentam baixo desempenho na primeira aplicação e
melhoram na segunda e há casos em que o participante apresentou baixo
rendimento na primeira aplicação e uma piora na segunda. Estes resultados
são diferentes com os que foram apresentados anteriormente. Portanto, foi
possível generalizar que o participante que apresenta bom desempenho na
primeira aplicação tende a ir bem na segunda aplicação. Em ambas as
situações estes participantes permanecem no topo do rank. Por outro lado,
quem apresenta baixo rendimento pode melhorar na segunda aplicação
bem como apresentar resultados piores na segunda aplicação quando são
comparados os resultados da primeira aplicação.
258
A partir da atribuição dos escores para as respostas, a pesquisadora
deu sequência à análise utilizando o teste estatístico W de Kendell, com o
objetivo de comparar as dimensões. Na Tabela 43, estão os valores do W
de Kendell de todos os anos, escolas públicas e privadas.
Tabela 43 Resultados do coeficiente de concordância de W de Kendell
Rede Ano W de Kendell Total de participantes
Pública
0,361
p=0,000
51
0,427
p=0,000
45
0,518
p=0,000 61
0,639
p=0,000
38
0,617
p=0,000
32
Particular
0,556
p=0,000
22
0,543
p=0,000
34
0,590
p=0,000
37
0,632
p=0,000
30
0,710
p=0,000
32
Fonte: Do autor.
Os resultados indicaram que existe correlação significativa entre as
dimensões, uma vez que o valor de p é menor que 0,05, conforme orienta
Field (2009) a respeito dos índices de significância de p na análise do
coeficiente de concordância do W de Kendall.
Essa hipótese corrobora os estudos sobre construção de testes
psicométricos em música discutidos nas obras de Teplov (1966) e Gordon
(2000), os quais também encontraram significância na correlação entre
elementos musicais percepto-sensoriais no rastreamento do talento
musical.
259
A etapa posterior foi realizar a análise fatorial exploratória, para
dados não-paramétricos, com o objetivo de verificar os agrupamentos de
variáveis analisando a correlação entre elas (FIELD, 2009). Na Tabela 44
estão os valores da análise fatorial.
Tabela 44Análise fatorial exploratória 1º ano da rede pública de ensino
COMPONENTES
1 2 3
Timbre
-0,07
0,90
-0,05
Altura
0,36
0,64
0,13
Melodia
-0,03
0,10
0,78
Intensidade
0,23
0,70
0,25
Harmonia
0,15
0,08
0,77
Agógica
0,86
0,11
0,10
Duração
0,84
0,36
0,08
Padrão rítmico
0,74
0,02
0,01
Fonte: Do autor.
Ao analisar a Tabela 44, no fator 1, agógica, duração e padrão
rítmico se correlacionaram, no fator 2, timbre, intensidade e altura e, no
fator 3, melodia e harmonia. Os valores de Eigenvalues, no fator 1, deram
um resultado de 37,06%, no fator 2, 16,28% e, no fator 3, 13,66%. A
rotação utilizada foi a varimax com normatização de Kayser.
A correlação, no fator 1, foi estabelecida porque as dimensões são
de natureza rítmica, ou seja, todas elas envolve uma condição rítmica
(LINSTER, 1992; KRUMHANSL, 2006).
Com relação ao fator 2 está em jogo o som e a sua característica em
relação à afinação e gradação de força, altura envolvia a afinação, ou seja,
agudo, médio e grave, enquanto a intensidade realçava a força, forte ou
fraco, e o timbre destacava instrumentos musicais. Os instrumentos
260
tendem a apresentar, embutido no seu som, qualidades como altura e
intensidade. Por exemplo, um piano, ao tocar a região aguda não se está
percebendo o som fino em si, mas o volume, o seja, o agudo de um piano
soa fraco e comparado a região grave que soa bem mais forte que o agudo
(ROEDERER, 2002).
A respeito do fator 3 foi possível inferir que a relação estabelecida
entre melodia e harmonia se deu possivelmente porque são dimensões mais
generalizáveis. Ou seja, elas trazem um contexto para as notas e ritmos. A
melodia é composta por frase e a harmonia por funções. Portanto, ambos
apresentam um sentido e estão contextualizadas, por isso, talvez, a
correlação entre elas (MORRONGIELLO et al., 1985; TEPLOV, 1966;
ROEDERER, 2002; PANTEV et al., 2003).
Na Tabela 45 são apresentados os valores da análise fatorial
referentes aos itens respondidos pelos participantes do 1º ano da escola
particular.
Tabela 45Análise fatorial exploratória 1º ano da rede particular de ensino
COMPONENTES
1
2 3
Timbre
0,20
-0,22
0,87
Altura
0,53
0,46 0,42
Melodia 0,23
0,67 -0,06
Intensidade
0,04
0,45
0,78
Harmonia
0,85
0,21 0,19
Agógica
0,91
0,04
0,02
Duração
0,06
0,79 0,30
Padrão rítmico
0,09
0,82
-0,04
Fonte: Do autor.
261
De acordo com a Tabela 45 no fator 1 se correlacionam agógica,
harmonia e altura, no fator 2 padrão-rítmico, duração e melodia e, no fator
3, timbre e intensidade. Os valores Eigenvalues foram, no componente 1,
40,68%, no 2, 17,86% e no 3, 14,73%. A rotação utilizada foi varimax
com normatização de Kayser.
Ao analisar os fatores e suas correlação, a pesquisadora observou e
concluiu que, no fator 1, a correlação pode ter se estabelecido porque, a
dimensão agógica, era formada por itens que traziam frases musicais
acompanhadas de suas respectivas tonalidades e funções harmônicas. Ao
analisar a dimensão agógica, a pesquisadora observou a presença da altura,
por meio dos intervalos de notas e, a harmonia, devido ao fragmento
musical apresentado. No fator 2, a melodia reunia duração e fragmentos
rítmicos associados por isso a correlação. Ou seja, as frases melódicas
apresentadas na dimensão melodia, reuniam elementos correlatos ao
padrão-rítmico e a duração. Em conclusão, timbre correlacionado a
intensidade. Novamente, quando o som de uma flauta transversal é
apresentada e o som de um trompete observa-se que a flauta é mais fraca
em sonoridade que o trompete. Por isso, talvez a correlação no fator 3
(TEPLOV, 1966; KARMA, 1973; KATZ, 1999; ROEDERER, 2002;
HAROUTOUNIAN, 2002; KRUMHANSL, 2006).
Com relação à correlação entre os fatores, especificamente, com
relação aos dados obtidos em relação à rede privada de ensino, é preciso
considerar a presença da disciplina de educação musical na grade destes
alunos. Ela é relevante nesse contexto que provocou uma organização
diferente das dimensões em relação aos fatores, ou seja, a correlação entre
os fatores comparando a rede pública versus a privada em termos de
disposição dos fatores é possível observar a diferença. Claro que o número
de participantes também é uma variável a ser considerada nesse contexto.
262
Na Tabela 46 serão apresentados os valores das respostas aos itens
dos participantes da rede pública de ensino.
Tabela 46Análise fatorial exploratória 2º ano da rede pública de ensino
COMPONENTES
1 2
Timbre
0,79
0,03
Altura
0,46
0,57
Melodia -0,24 0,75
Intensidade
0,71
0,09
Harmonia
0,48
0,62
Agógica
0,45
0,49
Duração
0,60
0,41
Padrão rítmico
0,27
0,75
Fonte: Do autor.
Na análise fatorial exploratória, no 2º ano, surgem dois fatores
apenas. Nessa análise o fator 1 é constituído pelas dimensões timbre,
intensidade e duração, enquanto o fator 2 é composto por melodia,
padrão-rítmico, harmonia e altura. Foi utilizado o método de rotação
varimax e os valores Eigenvalues foram: no componente 1, 42,40%, no 2,
14,07%, e, no 3, 11,03%.
Conforme foi mencionado timbre e intensidade, no fator 1, se
correlacionam em decorrência dos instrumentos musicais terem embutido
em suas características esses elementos, um piano, por exemplo, ao tocá-lo
o agudo aparentará mais fraco que o grave. Outro aspecto consiste na
duração, ou seja, quanto uma nota foi sustentada ou o quanto um som
durou. O fator 2 também se justifica na correlação, uma melodia
contempla altura e padrão rítmico bem como harmonia porque, na
melodia, estão presentes notas de acordos que induzem a função
263
harmônica (MORRONGIELLO et al., 1985; SCHOENBERG, 2001;
ROEDERER, 2002).
Uma outra análise importante tem por base os estudos de Teplov
(1966) e Kirnarskaya (2004). O fator 1 permite inferir a presença do
ouvido expressivo. Sua composição contém elementos sonoros básicos,
como qualidades dos sons, o que consiste no caso do timbre e, também, a
intensidade, forte ou fraco. O fator 2 já estaria mais voltado para o ouvido
analítico, Kirnarskaya (2004) discute como principal característica desse
tipo de ouvido a consciência da hierarquia dos sons e ritmos e suas possíveis
generalizações como é o caso da melodia, que contém diferentes elementos
musicais básicos em sua composição. Para Willems (2011) e Gordon
(2015), a melodia é a mais importante, em segundo plano ficaria a
harmonia.
Na Tabela 47 serão apresentados os resultados da análise fatorial
referente as respostas dos participantes do 2º ano da rede particular.
Tabela 47Análise fatorial exploratória 2º ano da rede particular de ensino
COMPONENTES
1 2
Timbre
0,44
0,19
Altura
0,41
0,47
Melodia
0,52
0,29
Intensidade
0,37
0,85
Harmonia
0,62
0,34
Agógica 0,19 0,37
Duração
0,48
0,37
Padrão rítmico
0,70
0,35
Fonte: Do autor.
Utilizando a rotação varimax os resultados no fator 1 foi: padrão-
rítmico, harmonia e melodia. No fator 2 houve correlação entre as
264
dimensões intensidade, altura e agógica. Os valores Eigenvalues foram: no
componente 1, 39,93%, e, no 2, 13,49%.
Os participantes da rede particular de ensino, no fator 1,
correlaciona três importantes elementos musicais, padrão rítmico,
harmonia e melodia. Os três estão sempre juntos em músicas de diferentes
estilos. Neste caso, torna-se evidente a presença da experiência musical dos
participantes devido a disciplina de educação musical estar na grade
curricular dos participantes do 2º ano. No fator 2 conta com uma
correlação mais reduzida. Altura se correlaciona com altura porque ao tocar
uma nota aguda e outra grave em diferentes instrumentos musicais
observa-se a pesquisadora notou que notas agudas tendem a induzir a
sensação de som fraco e a grave de som forte. Agógica, ao contar com
trechos musicais que mudavam de velocidade pode ter contato com o
mesmo efeito de mascaramento encontrado entre altura e intensidade
(HAROUTOUNIAN, 2002; ROEDERER, 2002;).
Na Tabela 48 serão apresentados os fatores obtidos na análise
fatorial exploratória a respeito das respostas dos participantes do 3º ano da
rede pública de ensino em relação aos itens do PSHM.
Tabela 48 – Análise fatorial exploratória 3º ano da rede pública de ensino
COMPONENTES
1 2
Timbre
0,41
-0,32
Altura 0,19 0,73
Melodia
-0,10
0,80
Intensidade 0,81 0,14
Harmonia
0,28
0,61
Agógica 0,53 0,18
Duração
0,88
0,14
Padrão rítmico 0,80 0,03
Fonte: Do autor.
265
A distribuição das dimensões ao longo dos fatores utilizando a
rotação varimax foi: fator 1, duração, padrão-rítmico, agógica e
intensidade. No fator 2 foram melodia, altura e harmonia. Os valores de
Eigenvalues foi 35,54%, no componente 1, e 19,32%, no componente 2.
Embora esses participantes do 3º não tenham a disciplina de
educação musical, foram capazes de correlacionar ordenadamente os
elementos rítmicos com outros rítmicos e os sonoros com sonoros. Por isso
o fator 1 poderia ser chamado de ritmo e o fator 2 poderia ser chamado de
som (WINISK, 1989; WILLEMS 2001; ROEDERER, 2002; SCHAFER,
2011).
Na Tabela 49 serão apresentados os valores da análise fatorial
exploratória referente ao 3º ano da rede particular.
Tabela 49 – Análise fatorial exploratória 3º ano da rede particular de ensino
COMPONENTES
1 2 3 4
Timbre
0,19
-0,08
0,87
-0,06
Altura
0,13
0,44
-0,05
0,68
Melodia
0,06
0,92
0,01
-0,03
Intensidade
-0,08
-0,18
0,05
0,89
Harmonia
-0,29
0,45
0,63
0,25
Agógica
0,34
-0,50
0,53
-0,05
Duração
0,85
-0,02
0,13
0,04
Padrão rítmico
0,87
0,02
0,04
-0,04
Fonte: Do autor.
A análise fatorial exploratória no 3º ano da rede particular gerou
quatro fatores. O fator 1 é composto por duração e padrão-rítmico. O fator
2 é composto por melodia e agógica. O fator 3 é composto por timbre e
harmonia. O fator 4 é constituído por intensidade e altura. A rotação
266
utilizada foi varimax e o percentual de variância foi 25,61% no
componente 1, 20,44%, no 2, 16,05%, no 3, e 13,83%, no 4.
A correlação no fator 1 é bastante pertinente uma vez que o ritmo
se constitui de durações de figuras rítmica ao longo de uma métrica ou
pulsação estabelecida (MILLER SCARBOROUGH; JONES, 1992). A
correlação no fator 2 pode ter ocorrido dada a semelhança entre os itens.
Os dois utilizam fragmentos melódicos, porém, um variava a notação
musical enquanto o outro variava a métrica, ou seja, fragmentos
semelhantes que variava em características distintas (TEPLOV, 1966;
MORRONGIELLO et al., 1985; GORDON, 2000). No caso do fator
3, a correlação pode estar ocorrendo porque alguns instrumentos são
harmônicos e, ao tocá-los, evidenciam-se os acordes. Por exemplo, o
violão, a guitarra e o piano (RUSSO, 1999).
Na Tabela 50 serão apresentados os resultados da análise fatorial
exploratória das respostas ao item dos participantes do 4º ano da rede
pública de ensino.
Tabela 50Análise fatorial exploratória 4º ano da rede pública de ensino
COMPONENTES
1
2
3
Timbre
0,11
0,08
0,89
Altura
0,20
0,83
0,09
Melodia
-0,10
0,75
-0,08
Intensidade
0,37
0,39
0,51
Harmonia
0,66
0,20
0,20
Agógica
0,88
0,17
-0,03
Duração
0,79
0,02
-0,06
Padrão rítmico
0,82
-0,13
-0,08
Fonte: Do autor.
267
Nessa análise os fatores foram ordenados da seguinte maneira: o
fator 1 é composto por agógica, padrão-rítmico, harmonia e duração. O
fator 2 é composto por altura e melodia e o fator 3 é composto por timbre
e intensidade. Para a realização da análise fatorial utilizou-se a rotação
varimax e os valores de Eingenvalues foi 35,65% no componente 1,
17,02%, no 2, e 13,79%, no 3.
O fator 1 traz a correlação entre quatro dimensões caracterizadas
pela métrica e pelos fragmentos rítmicos. É importante destacar a presença
da harmonia neste fator. Em música a harmonia localiza-se associada ao
padrão rítmico por ser considerada acompanhamento da melodia, por isso,
talvez, essa correlação no fator 1. No caso do fator e, toda melodia traz
elementos intervalares em sua constituição e há a presença de notas nas
regiões grave, médio e agudo. Como a melodia é composta por sobe e desce
de notas essa correlação torna se significativa. O fator 3 apresenta uma
situação de correlação discutida anteriormente (TEPLOV, 1966;
GORDON, 2000; ROEDERER, 2002; HAROUTOUNIAN, 2002).
Na Tabela 51 estarão os resultados da análise fatorial referente aos
participantes do 4º ano da rede particular.
Tabela 51Análise fatorial exploratória 4º ano da rede particular de ensino
COMPONENTES
1
2
3
Timbre
0,87
0,05
-0,03
Altura
0,34
0,13
0,53
Melodia
0,21
0,87
-0,09
Intensidade
0,17
-0,06
0,84
Harmonia
-0,03
0,64
0,44
Agógica
0,02
0,45
0,74
Duração
0,58
0,27
0,34
Padrão rítmico
0,66
-0,02
0,51
Fonte: Do autor.
268
Na análise fatorial exploratória do 4º ano os fatores se
correlacionaram da seguinte maneira: fator 1 é composto por timbre,
padrão-rítmico e duração, o fator 2 contém melodia e harmonia e o fator
3 é composto por intensidade, agógica e altura. A rotação utilizada foi a
varimax e o percentual de variância (Eigenvalue) foi de 38, 86%, no
componente 1, 14,74%, no 2, e 12,78%, no 3.
No caso do 4º ano da rede particular de ensino, os resultados
evidenciaram correlação, no fator 1, entre timbre, padrão-rítmico e
duração. No presente caso a dimensão timbre foi incluída devido a
influência dos instrumentos de percussão, os quais induzem a relação entre
padrão-rítmico e duração. No caso do fator 2, ocorre o mesmo que foi
mencionado anteriormente. Na melodia há notas que induzem a função
harmônica por serem notas de acordes. No caso do fator 3 a dimensão
agógica contém nuances melódicas que podem induzir a intensidade, forte
e fraco, e altura, grave,dio e agudo. A dimensão agógica trazia em todos
os seus itens fragmentos melódicos para o participante discernir a métrica.
Por tudo que se mencionou, a correlação entre os fatores se dá a partir das
aproximações e semelhanças entre os elementos encaixando-os conforme
as possibilidades de combinações (KOHLER, 1968; EICHERT
SCHMIDT,; SEIFERT, 1997; CASEY, 1999; GARDNER; MARTIN,
2003).
Na Tabela 52 estão os resultados referente à análise fatorial
exploratória realizada a partir dos resultados oriundos do 5º ano da rede
pública de ensino.
269
Tabela 52 – Análise fatorial exploratória 5º ano da rede pública
COMPONENTES
1 2
Timbre
-0,28
0,84
Altura
0,83
0,11
Melodia
0,84
-0,04
Intensidade
0,63
0,51
Harmonia 0,80 0,16
Agógica
0,72
0,25
Duração
0,47
0,70
Padrão rítmico
0,48
0,69
Fonte: Do autor.
A partir dos resultados da análise fatorial exploratória, o fator 1
contém as dimensões melodia, altura, harmonia, intensidade e agógica,
enquanto o fator 2 conta com timbre, duração e padrão-rítmico. Para a
realização da análise fatorial foi utilizado a rotação varimax e o percentual
de variância (Eigenvalue) foi de 50,92% no componente 1 e 17,98% no 2.
O eixo principal para a conexão entre as dimensões em termo de
correlação é o conceito de melodia. Esta engloba em sua estrutura notas de
referência harmônica ou notas do acorde, altura porque em uma melodia
consta o sobre e desce das notas contemplando diferentes regiões em uma
escala, intensidade que pode ser induzida pela altura, mas também, por
elementos ligados à dinâmica e a métrica (agógica). A respeito do fator 2,
ele pode estar sofrendo a influência da dimensão timbre por conta da
presença dos instrumentos de percussão, possivelmente, por isso, se
correlacionaram (KOHLER, 1968; GORDON, 2000; ROEDERER,
2002).
Na Tabela 53 serão apresentados os resultados do 5º ano da rede
particular obtidos a partir da análise fatorial exploratória na rotação
varimax com normatização de Kayser.
270
Tabela 53Análise fatorial exploratória 5º ano da rede particular de ensino
COMPONENTES
1
2
3
Timbre -0,19 -0,16 0,63
Altura
0,83
-0,23
0,08
Melodia
0,66
0,50
0,26
Intensidade -0,05 0,62 0,01
Harmonia
0,23
0,23
0,82
Agógica
0,82
-0,12
-0,06
Duração
0,65
0,35
-0,34
Padrão rítmico
0,03
0,79
-0,03
Fonte: Do autor.
A última análise fatorial exploratória distribuiu as dimensões da
seguinte maneira: fator 1 reuniu altura, agógica, melodia e duração, fator
2 reuniu padrão-rítmico e intensidade e fator 3 reuniu harmonia e timbre.
Com relação aos valores percentuais de Eigenvalue foi de 30,28%, no
componente 1, 17,96%, no 2, e 15,61%, no 3.
Ao analisar os resultados evidencia-se a experiência prévia em
música dos participantes. O fator 1 orienta-se pelo conceito de melodia
porque nela conta a presença da duração, de caráter rítmico, a métrica e o
sobe e desce das notas porque a melodia perpassa conceitos de tonalidade.
Com relação ao fator 3 a pesquisadora observou a presença da influência
dos instrumentos musicais harmônicos (KOHLER, 1968;
SCHOENBERG, 2001; ROEDERER, 2002; HAROUTOUNIAN,
2002; TRAMO et al., 2003; SCHAFER, 2011)
As etapas escolares se diferiram na forma como os fatores se
correlacionaram e possivelmente a presença da disciplina de educação
musical na grade curricular da rede particular também pode ter
influenciado os resultados de correlação. Não é foco de discussão nesta
271
tese, mas pode haver influências oriundas do conceito de Gestalt
110
,
conforme teoriza Kohler (1968), no modo como os participantes
interagem com as dimensões presentes no PSHM.
Na Tabela 54 estão os resultados referentes ao 1º ano, da rede
pública de ensino, os quais permitiram analisar preliminarmente que o
participante 175 (sexo masculino) é aquele que apresentou o maior
resultado em escore geral: 97 (76,37% de acertos) e a participante 177
(sexo feminino) apresentou o menor escore geral: 48 (37,79%). Ambos os
participantes pertenciam à escola 4.
Tabela 54 Desempenho preliminar dos participantes do 1º ano da rede pública de ensino
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
4 1 6 M 167 76 59,84
4 1 7 F 168 79 62,2
4 1 6 M 169 66 51,96
4 1 7 F 170 76 59,84
4 1 6 F 171 64 50,39
4 1 6 F 172 71 55,9
4 1 7 F 173 71 55,9
4 1 6 F 174 70 55,11
4 1 6 M 175 97 76,37
4 1 6 M 176 55 43,3
4 1 6 F 177 48 37,79
4 1 6 M 178 95 74,8
4 1 6 M 179 87 68,5
4 1 6 F 180 64 50,39
4 1 6 F 181 73 57,48
(continua)
110
Organização sensorial que busca aproximar os estímulos, em âmbito sensorial, por elementos e
características semelhantes (KOHLER, 1968).
272
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
4 1 6 F 182 66 51,96
4 1 6 F 183 81 63,77
4 1 6 F 184 65 51,18
4 1 7 F 185 88 69,29
4 1 6 F 186 78 61,41
4 1 7 F 187 75 59,05
4 1 7 F 188 67 52,75
4 1 6 F 189 74 58,26
4 1 6 F 190 54 42,51
4 1 6 F 191 63 49,6
4 1 6 F 192 65 51,18
4 1 6 F 193 67 52,75
4 1 7 F 194 85 66,92
4 1 7 M 195 91 71,65
4 1 6 M 196 57 44,88
5 1 6 F 296 63 49,6
5 1 6 M 297 63 49,6
5 1 7 F 298 89 70,07
5 1 7 F 299 80 62,99
5 1 7 F 300 76 59,84
5 1 6 F 301 60 47,24
5 1 6 F 302 72 56,69
5 1 7 F 303 67 52,75
5 1 6 M 304 64 50,39
5 1 6 F 305 69 54,33
8 1 6 F 355 62 48,81
8 1 6 M 356 61 48,03
8 1
6 F 357 88 69,29
(continua)
273
(conclusão)
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
8 1 6 M 358 56 44,09
8 1 6 F 359 72 56,69
8 1 5 M 360 65 51,18
8 1 6 M 361 63 49,6
8 1 6 M 362 51 40,15
8 1 5 M 363 51 40,15
8 1 6 M 364 58 45,66
8 1 6 M 365 56 44,09
Fonte: Do autor. - Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual, e N=51
participantes.
Ao comparar os resultados do escore geral de meninas versus
meninos, no teste estatístico Mann-Whitney, os resultados indicaram
p=0,0696, considerada uma diferençao muito significativa o que
permite inferir que não houve diferença nos resultados do PSHM
considerando os sexos.
Na Tabela 55 serão apresentados os resultados da distribuição dos
resultados entre meninos versus meninas.
Tabela 55 Distribuição dos resultados entre meninos versus meninas
1º ANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
MENINAS (N=33)
89 - 48 71 65 - 76
MENINOS (N=18) 97 - 51 63 56,25 73,5
TOTAL - N=51
89 - 48 67 60,62 74,75
Fonte: Do autor.
274
Os resultados da distribuição permitem concluir que o número de
participantes não permite uma generalização a respeito se meninos e
meninas de fato não diferem entre si em desempenho no PSHM. Há uma
diferença entre o número de meninos e meninas. Porém, nesta amostra a
diferença não se faz representativa estatisticamente o que requer cautela em
relação às generalizações.
Os resultados preliminares dos participantes do 2º ano da rede
pública de ensino, permitiram encontrar o participante 207 (do sexo
masculino), da escola 4, com o maior escore geral 111 (87,40% de acertos),
enquanto o participante 312 (do sexo masculino), da escola 5, apresentou
o menor escore 49 (38,58%).
Tabela 56 Desempenho preliminar dos participantes do 2º ano da rede pública de
ensino
ESCOLA
ANO
IDADE
SEXO
ID
ESCORE GERAL
% DE ACERTOS
4
2
7
M
197
83
65,35
4
2
7
F
198
77
60,62
4
2
8
F
199
87
68,5
4 2 8 M 200 95 74,8
4
2
8
F
201
80
62,99
4
2
7
M
202
89
70,07
4 2 8 M 203 102 80,31
4
2
7
F
204
52
40,94
4
2
7
M
205
92
72,44
4
2
7
F
206
67
52,75
4
2
7
M
207
111
87,4
4 2 7 F 208 85 66,92
4
2
7
M
209
93
73,22
4
2
8
M
210
64
50,39
4
2
8
M
211
77
60,62
(continua)
275
(conclusão)
ESCOLA
ANO
IDADE
SEXO
ID
ESCORE GERAL
% DE ACERTOS
4
2
7
F
212
59
46,45
4
2
7
F
213
75
59,05
4 2 8 F 214 87 68,5
4
2
7
F
215
74
58,26
4
2
7
F
216
94
74,01
4
2
7
F
217
88
69,29
4
2
7
F
218
85
66,92
5
2
7
M
306
79
62,2
5
2
7
M
307
93
73,22
5
2
7
F
308
64
50,39
5
2
7
F
309
66
51,96
5
2
8
F
310
61
48,03
5
2
8
M
311
76
59,84
5
2
7
M
312
49
38,58
5
2
8
M
313
72
56,69
5
2
7
M
314
77
60,62
8 2 7 M 365 68 53,54
8
2
7
M
366
71
55,9
8
2
7
F
367
69
54,33
8
2
7
M
368
60
47,24
8
2
7
F
369
69
54,33
8
2
7
M
370
86
67,71
8
2
7
M
371
78
61,41
6
2
7
F
460
68
53,54
6
2
7
F
454
84
66,14
6
2
7
M
455
89
70,07
6
2
7
M
456
87
68,5
6
2
7
F
457
69
54,33
6
2
7
M
458
53
41,73
6
2
7
F
459
79
62,2
Fonte: Do autor.
Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual, e N=45 participantes.
276
Ao comparar os resultados do escore geral, no teste estatístico de
Mann-Whitney, meninas versus meninos, os resultados obtidos foram
p=0,1338, considerado estatisticamente não significante. Este resultado
indica que não houve diferença entre o rendimento, no PSHM, dos
participantes do sexo masculino e feminino. Na Tabela 57 o resultado da
distribuição.
Tabela 57 Distribuição dos resultados entre meninos versus meninas
2º ANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
MENINAS (N=22)
52 - 97 74,5 67,25 84,75
MENINOS (N=23) 49 - 111 79 71,50 90,50
TOTAL - N=45
49 - 111 76,75 69,37 87,62
Fonte: Do autor.
Os valores resultantes da distribuição indicam que os meninos
variaram mais que as meninas em termos de valor máximo e mínimo e a
mediana foi maior para os meninos. Os quartis não apresentaram
diferenças discrepantes.
Os resultados preliminares referentes ao 3º ano da rede pública de
ensino, permitiram encontrar o participante 224 (do sexo masculino), com
o maior escore geral 107 (84,25% de acertos) enquanto a participante 243
(do sexo feminino) apresentou escore geral mínimo de 61 (48,03%).
277
Tabela 58 Desempenho preliminar dos participantes do 3º ano da rede pública de
ensino
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
4 3 8 M 219
63 49,6
4 3 8 M 220
86 67,71
4 3 9 F 221
89 70,07
4 3 8 M 222
100 78,74
4
3
8
M
223
94 74,01
4 3 8 M 224
107 84,25
4
3
9
M
225
88 69,29
4 3 9 F 226
88 69,29
4
3
8
M
227
101 79,52
4 3 8 F 228
84 66,14
4 3 8 M 229
94 74,01
4
3
8
F
230
66 51,96
4 3 8 M 231
94 74,01
4 3 8 F 232
85 66,92
4 3 9 M 233
83 65,35
4
3
9
F
234
80 62,99
4 3 8 M 235
95 74,8
4
3
8
F
236
75 59,05
4 3 9 F 237
83 65,35
4
3
8
M
238
85 66,92
4
3
9
F
239
91 71,65
4 3 8 M 240
105 82,67
4
3
9
M
241
88 69,29
4 3 8 F 242
89 70,07
4
3
9
F
243
61 48,03
4 3 8 M 244
97 76,37
4
3
8
F
245
72 56,69
4 3 9 F 246
94 74,01
4
3
9
F
247
81 63,77
5 3 9 M 315
104 81,88
(continua)
278
(conclusão)
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
5 3 8 F 316
66 51,96
5
3
9
F
317
65 51,18
5
3
9
F
318
83 65,35
5 3 8 F 319
84 66,14
5
3
8
F
320
97 76,37
5
3
9
M
321
80 62,99
5
3
8
F
322
97 76,37
5
3
8
M
323
101 79,52
5
3
9
F
324
92 72,44
5
3
8
M
325
84 66,14
5
3
8
M
326
97 76,37
5 3 8 F 327
63 46,6
5 3 8 F 328
99 77,95
5 3 10 M 329
84 66,14
5 3 8 F 330
80 62,99
5 3 8 F 331
96 75,59
5 3 8 M 332
73 57,48
5 3 9 F 333
92 72,44
5 3 8 F 334
87 68,5
5 3 8 F 335
90 70,86
5 3 8 M 336
77 60,62
5 3 8 F 337
91 71,65
5 3 8 F 338
84 66,14
5
3
8
M
339
75 59,05
5 3 9 M 340
82 64,56
5
3
8
F
341
70 55,11
5
3
8
M
342
69 54,33
5
3
8
M
343
84 66,14
5
3
8
F
344
101 79,52
8
3
8
F
372
87 68,5
6
3
8
F
478
93 73,22
Fonte: Do autor.Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=61 participantes.
279
Ao comparar os resultados do escore geral, no teste estatístico
Mann-Whitney, meninas versus meninos, o resultado encontrado foi
p=0,1630, considerado estatisticamente não significante. Entre os
participantes do sexo masculino e feminino não houve diferença
significante nos resultados no PSHM. Na Tabela 58 estão os resultados da
distribuição.
Tabela 59Distribuição dos resultados entre meninos versus meninas
3º ANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
MENINAS (N=34)
61 - 101 86 80 91,75
MENINOS (N=27) 63 - 107 88 82,50 - 97
TOTAL - N=61
61 - 107 87 81,25 94,37
Fonte: Do autor.
Embora haja uma diferenças, como se pode analisar nos resultados
da dispersão, foi comprovado que não é estatisticamente significante.
Ainda é preciso destacar o número de participantes e a quantidade de
meninos e meninas. São dados que precisam ser considerados antes de
qualquer generalização.
O resultado preliminar dos participantes do 4º ano da rede pública,
permitiram analisar que a participante 254 (do sexo feminino), da escola
4, e o participante 349 (do sexo masculino), da escola 5, estão empatados
com o maior escore geral 110 (86,61% de acertos). Com menor escore
geral, 76 (59,84%), estão empatados os participantes 266 (do sexo
masculino) e 270 (do sexo feminino), ambos da escola 4.
280
Tabela 60 Desempenho preliminar dos participantes do 4º ano da rede pública de
ensino
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
4 4 9 M 248
79 62,2
4 4 9 F 249
104 81,88
4 4 9 F 250
101 79,52
4 4 9 F 251
78 61,41
4 4 9 M 252
78 61,41
4 4 9 F 253
102 80,31
4 4 9 F 254
110 86,61
4 4 9 F 255
84 66,14
4 4 9 M 256
96 75,59
4 4 10 M 257
92 72,44
4 4 10 F 258
104 81,88
4 4 9 M 259
93 73,22
4 4 9 F 260
103 81,1
4 4 10 F 261
87 68,5
4 4 9 M 262
105 82,67
4 4 9 F 263
94 74,01
4 4 10 F 264
86 67,71
4 4 10 M 265
90 70,86
4 4 9 M 266
76 59,84
4 4 10 M 267
91 71,65
4 4 9 M 268
95 74,8
4 4 9 F 269
99 77,95
4 4 9 F 270
76 59,84
5 4 9 M 345
90 70,86
5 4 9 F 346
97 76,37
(continua)
281
(conclusão)
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
5 4 9 M 347
102 80,31
5 4 9 F 348
109 85,82
5 4 9 M 349
110 86,61
5 4 9 M 350
79 62,2
5 4 10 M 351
89 70,07
5 4 9 F 352
85 66,92
5 4 10 F 353
95 74,8
5 4 10 F 354
86 67,71
8 4 9 M 373
109 85,82
8 4 9 M 374
87 68,5
8 4 9 F 375
105 82,67
8 4 8 F 376
89 70,07
8 4 9 F 377
83 65,35
Fonte: Do autor.
Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=38 participantes.
Ao comparar os resultados do escore geral, no teste estatístico
Mann-Whitney, meninas versus meninos, o resultado encontrado foi
p=0,6279, considerado estatisticamente não significante. O que permite
concluir que não houve diferença nos resultados comparando os sexos
masculino e feminino. Na Tabela 60 o resultado da distribuição referente
aos escores de meninos e meninas.
282
Tabela 61 – Distribuição dos resultados entre meninos versus meninas
4º ANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
MENINAS (N=21)
76 - 110 95 86 - 103
MENINOS (N=17) 76 - 110 91 96 - 96
TOTAL - N=38
76 - 110 93 91 99,50
Fonte: Do autor.
Os resultados permitem analisar que a dispersão foi semelhante,
vantagem no valor da mediana para as meninas e, em termos de dispersão,
as meninas apresentaram maior amplitude. É preciso destacar a
disparidade na quantidade de meninas versus os meninos e o N total que
não possibilita generalização dos resultados.
A partir dos resultados preliminares dos participantes do 5º ano da
rede pública de ensino, é possível analisar que há um empate entre os
participantes 274 (sexo feminino) e 291 (sexo masculino), ambos da escola
4. Eles atingiram o maior escore geral de 113 (88,97% de acertos).
Enquanto que os participantes 378 (sexo masculino) e 379 (sexo
feminino), da escola 8, atingiram o menor escore geral de 70 (55,11%).
Tabela 62 Desempenho preliminar dos participantes do 5º ano da rede pública de
ensino
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
4 5 10 F 271
99 77,95
4 5 11 F 272
108 85,03
4 5 10 M 273
80 62,99
4 5 11 F 274
113 88,97
4 5 10 M 275
87 68,5
4 5 11 M 276
78 61,41
(continua)
283
(conclusão)
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
4 5 10 F 277
95 74,8
4 5 10 M 278
110 86,61
4 5 10 F 279
106 83,46
4 5 10 M 280
79 62,2
4 5 10 M 281
103 81,1
4 5 10 M 282
99 77,95
4 5 10 F 283
86 67,71
4 5 10 M 284
79 62,2
4 5 11 F 285
87 68,5
4 5 10 F 286
83 65,35
4 5 11 F 287
82 64,56
4 5 11 M 288
101 79,52
4 5 10 F 289
88
69,29
4 5 10 F 290
92 72,44
4 5 11 M 291
113 88,97
4 5 10 F 292
84 66,14
4 5 11 F 293
98 77,16
4 5 12 M 294
87 68,5
4 5 11 M 295
108 85,03
8 5 10 F 378
70 55,11
8 5 10 F 379
70 55,11
8 5 10 M 380
110 86,61
8 5 10 F 381
93 73,22
8 5 9 M 382
88 69,29
8 5 11 M 383
112 88,18
6 5 10 F 469
78 61,41
Fonte: Do autor.
Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=32 participantes.
284
Ao comparar os resultados do escore, no teste estatístico Mann-
Whitney, meninas versus meninos, o resultado encontrado foi de
p=0,2813, considerado não significante. Na amostra de participantes do
5º ano não houve diferença no rendimento dos participantes do sexo
masculino e feminino na realização do PSHM. Na Tabela 62 o resultado
da distribuição da análise do desempenho de meninos versus meninas.
Tabela 63 – Distribuição dos resultados entre meninos versus meninas
5º ANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
MENINAS (N=17)
70 - 113 88 83 98
MENINOS (N=15) 78 - 113 99 83,50 - 109
TOTAL - N=32
70 - 113 93,50 83,25 103,5
Fonte: Do autor.
Os resultados permitem concluir diferença entre meninos e
meninas, mas não são valores discrepantes. É preciso destacar o N de
participante, o qual não permite generalizações neste momento e sob a
ótica desta amostra.
Ao analisar os resultados das escolas particulares, 1º ano, foi
possível identificar o participante 20 (do sexo masculino) com o maior
escore geral, 101 (79,52% dos acertos). Já o participante 19 (do sexo
masculino) apresentou o menor índice de escore geral, 55 (43,30%). Na
Tabela 63 poderão ser encontrados outros resultados.
285
Tabela 64 Desempenho preliminar dos participantes do 1º ano da rede particular de
ensino
ESCOLA
ANO
IDADE
SEXO
ID
ESCORE GERAL
% DE ACERTOS
1
1
6
M
11
80
62,99
1
1
7
M
12
86
67,71
1
1
7
M
13
57
44,88
1
1
7
M
14
91
71,65
1
1
7
F
15
70
55,11
1
1
7
F
16
84
66,14
1
1
7
F
17
72
56,69
1
1
6
F
18
93
73,22
1
1
7
M
19
55
43,3
1
1
6
M
20
101
79,52
1
1
6
M
21
75
59,05
1
1
6
F
22
66
51,96
2
1
6
M
60
63
49,6
2
1
6
M
61
69
54,33
2
1
6
M
62
69
54,33
2
1
6
M
63
76
59,84
2
1
6
F
64
76
59,84
2
1
6
F
65
65
51,18
2
1
7
M
66
78
61,41
2
1
6
M
67
77
60,62
2
1
6
F
68
72
56,69
2
1
6
F
69
82
64,56
Fonte: Do autor.
Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=22 participantes.
Ao comparar o escore geral utilizando o teste estatístico Mann-
Whitney, meninas versus meninos, o resultado obtido indicou p=0,9733,
resultado considerado estatisticamente não significante. Com este
resultado é possível concluir que meninos e meninas não se diferem em
rendimento no teste PSHM. A Tabela 64 contém os resultados da
distribuição. Os meninos apresentaram maiores resultados na mediana e
maior variação que as meninas enquanto em termos de dispersão ambos
demonstram resultados semelhantes.
286
Tabela 65 – Distribuição dos resultados entre meninos versus meninas
1º ANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
MENINAS (N=09)
65 - 93
72
70 82
MENINOS (N=13) 55 - 101 76 69 - 80
TOTAL - N=22
55 - 101 74 69,50 - 81
Fonte: Do autor.
A Tabela 65 apresenta os resultados preliminares dos participantes
do 2º ano da rede particular. Os resultados encontrados permitiram
concluir que o participante 77 (sexo masculino), da escola3, foi aquele que
atingiu o maior escore geral de 108 (85,03% de acertos) e que a
participante 90 (do sexo feminino) obteve o menor escore geral 62
(48,81%).
Tabela 66 Desempenho preliminar dos participantes do 2º ano da rede particular de
ensino
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
1 2 7 F 23
94 74,01
1
2
8
F
24
73 57,48
1 2 7 F 25
79 62,2
1 2 7 M 26
87 68,5
3 2 7 F 71
73 57,48
3 2 7 F 72
99 77,95
3 2 7 M 73
99 77,95
3 2 7 M 74
80 62,99
3 2 8 M 75
84 66,14
3 2 7 M 76
75 59,05
3 2 8 M 77
108 85,03
(continua)
287
(conclusão)
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
3 2 8 M 78
97 76,37
3 2 7 M 79
83 65,35
3 2 8 F 80
76 59,84
3 2 8 F 81
86 67,71
3 2 7 M 82
83 65,35
3 2 7 F 83
103 81,1
3 2 7 F 84
88 69,29
3 2 7 M 85
90 70,86
3
2
7
M
86
83 65,35
3 2 7 F 87
76 59,84
3 2 8 F 88
94 74,01
3 2 7 M 89
77 60,62
3 2 7 F 90
62 48,81
3 2 7 F 91
89 70,07
3 2 7 F 92
63 49,6
3 2 7 F 93
86 67,71
3 2 7 F 94
86 67,71
3 2 7 M 95
91 71,65
3 2 7 F 96
89 70,07
3 2 8 M 97
106 83,46
3 2 7 M 98
91 71,65
3 2 7 M 99
92 56,69
3 2 8 M 100
101 79,52
Fonte: Do autor.
Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=34 participantes.
Ao comparar o escore geral, no teste estatístico de Mann-Whitney,
meninas versus meninos, os resultados alcançados foram p=0,1429,
considerado estatisticamente não significante. Portanto, não há diferenças
entre o desempenho de meninas e meninos no PSHM. Na Tabela 66 estão
288
os resultados da distribuição para que se possa visualizar diferença entre
meninos e meninas.
Tabela 67 – Distribuição dos resultados entre meninos versus meninas
2º ANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
MENINAS (N=17)
62 - 103 86 76 89
MENINOS (N=17) 75 - 108 90 83 - 97
TOTAL - N=34
62 - 108
88
79,50 - 93
Fonte: Do autor.
Os resultados oriundos do ano de escolas da rede particular
permitem analisar que o participante102, da escola 3, apresentou o maior
escore geral, 114 (89,76%), enquanto que o participante 123, da escola 3,
alcançou o menor escore geral, 82 (64,56%). A Tabela 67 se faz exemplo
dos resultados obtidos.
Tabela 68 Desempenho preliminar dos participantes do 3º ano da rede particular de
ensino
ESCOLA
ANO
IDADE
SEXO
ID
ESCORE GERAL
% DE ACERTOS
1
3
9
F
27
95
74,8
1
3
9
M
28
96
75,59
1
3
8
M
29
83
65,35
1
3
9
F
30
100
78,74
1
3
9
F
31
90
70,86
1
3
8
F
32
95
74,8
1
3
8
M
33
94
74,01
1
3
8
F
34
102
80,31
1
3
9
M
35
110
86,61
1
3
9
M
36
94
74,01
3
3
9
F
101
106
83,46
(continua)
289
(conclusão)
ESCOLA
ANO
IDADE
SEXO
ID
ESCORE GERAL
% DE ACERTOS
3
3
8
M
102
114
89,76
3
3
8
M
103
105
82,67
3
3
8
F
104
108
85,03
3
3
8
M
105
88
69,29
3
3
8
F
106
101
79,52
3
3
8
M
107
95
74,8
3
3
9
F
108
106
83,46
3
3
8
F
109
101
79,52
3
3
9
F
110
97
76,37
3
3
8
F
111
98
77,16
3
3
8
M
112
93
73,22
3
3
8
M
113
100
78,74
3
3
9
F
114
86
67,71
3
3
8
F
115
94
74,01
3
3
8
M
116
107
84,25
3
3
8
M
117
91
71,65
3
3
9
F
118
103
81,1
3
3
8
F
119
92
72,44
3
3
8
F
120
94
74,01
3
3
8
M
121
103
81,1
3
3
9
F
122
95
74,8
3
3
8
M
123
82
64,56
3
3
8
M
124
104
81,88
3
3
9
F
125
112
88,18
3
3
9
M
126
100
78,74
3
3
8
M
127
105
82,67
Fonte: Do autor.
Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=37 participantes.
Ao comparar o escore geral, no teste estatístico Man-Whitney,
meninas versus meninos, os resultados obtidos foram p=0,8194,
considerado estatisticamente não significante. Portanto, não houve
diferença entre o desempenho de meninos e meninas no PSHM. Na
Tabela 68 consta os resultados da distribuição.
290
Tabela 69 – Distribuição dos resultados entre meninos versus meninas
3º ANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
MENINAS (N=19)
86 - 112 98 94,50 102,50
MENINOS (N=18) 82 - 114 98 93,25 104,73
TOTAL - N=37
82 - 114 98 93,87 103,61
Fonte: Do autor.
Os resultados preliminares referentes ao 4º ano das escolas da rede
particular permitiram encontrar a participante 144 (sexo feminino), da
escola 3, com o maior escore geral de 117(92,12%) enquanto que, na
escola1, foi possível encontrar o participante 44 (sexo masculino) com o
menor índice de escore geral de 71 (55,90%). Na Tabela 69 estão os
resultados preliminares de todos os participantes do 4º ano da rede
privada.
Tabela 70 Desempenho preliminar dos participantes do 4º ano da rede particular de
ensino
ESCOLA
ANO
IDADE
SEXO
ID
ESCORE GERAL
% DE ACERTOS
1
4
10
M
37
100
78,74
1
4
9
M
38
111
87,4
1
4
9
F
39
98
77,16
1
4
9
M
40
89
70,07
1
4
9
M
41
85
66,92
1
4
9
F
42
97
76,37
1
4
10
F
43
102
80,31
1
4
9
M
44
71
55,9
1
4
9
F
45
86
67,71
1
4
12
M
46
86
67,71
1
4
10
M
47
73
57,48
3
4
9
M
128
93
73,22
3
4
10
M
129
101
79,52
3
4
10
M
130
101
79,52
(continua)
291
(conclusão)
ESCOLA
ANO
IDADE
SEXO
ID
ESCORE GERAL
% DE ACERTOS
3
4
9
M
131
93
73,22
3
4
9
M
132
95
74,8
3
4
10
F
133
101
79,52
3
4
9
F
134
88
69,29
3
4
10
F
135
107
84,25
3
4
9
F
136
102
80,31
3
4
9
F
137
104
81,88
3
4
10
M
138
96
75,59
3
4
9
F
139
111
87,4
3
4
9
M
140
112
88,18
3
4
9
M
141
116
91,33
3
4
9
M
142
113
88,97
3
4
10
F
143
110
86,61
3
4
9
F
144
117
92,12
3
4
10
M
145
96
75,59
3
4
10
M
146
99
77,95
Fonte: Do autor.
Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=30 participantes.
Ao comparar os resultados de escore geral, no teste estatístico de
Man-Whitney, meninas versus meninos, os resultados encontrados foram
p=0,1438, considerado estatisticamente não significante. Portanto, não
houve diferença no desempenho de meninas e meninos no PSHM. Na
Tabela 70 estão os resultados da distribuição mostrando a diferença entre
meninos e meninas.
292
Tabela 71 – Distribuição dos resultados entre meninos versus meninas
4º ANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
MENINAS (N=12)
86 - 117 102 97,75 107,75
MENINOS (N=18) 71 - 116 96 90 - 101
TOTAL - N=30
71 - 117 99 93,87 104,37
Fonte: Do autor.
Com os resultados preliminares dos participantes do 5º ano da rede
particular, foi possível encontrar com o maior escore geral a participante
58 (do sexo feminino), que atingiu o escore 120 (94,48%) do PSHM e,
com menor escore, a participante 56 (sexo feminino), a qual atingiu escore
90 (70,86%). Ambas as participantes pertencentes à escola 1. Na Tabela
71 estão os resultados preliminares dos participantes.
Tabela 72 Desempenho preliminar dos participantes do 5º ano da rede particular de
ensino
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
1 5 10 F 48
99 77,95
1
5
10
F
49
107 84,25
1 5 11 M 50
110 86,61
1 5 10 M 51
102 80,31
1
5
11
M
52
91 71,65
1
5
11
F
53
91 71,65
1 5 10 M 54
111 87,4
1
5
10
F
55
96 75,59
1 5 10 F 56
90 70,86
1 5 11 F 57
102 80,31
1
5
11
F
58
120 94,48
1 5 10 F 59
104 81,88
3 5 11 M 147
95 74,8
(continua)
293
(conclusão)
ESCOLA ANO IDADE SEXO ID ESCORE GERAL % DE ACERTOS
3 5 10 F 148
107 84,25
3
5
10
M
149
102 80,31
3
5
11
F
150
91 71,65
3 5 10 M 151
104 81,88
3 5 10 F 152
97 76,37
3 5 10 F 153
99 77,95
3 5 10 F 154
93 73,22
3 5 11 M 155
105 82,67
3
5
11
M
156
100 78,74
3
5
10
M
157
107 84,25
3 5 11 M 158
106 83,46
3 5 10 M 159
107 84,25
3 5 11 M 160
106 83,46
3 5 10 F 161
102 80,31
3
5
10
F
162
102 80,31
3
5
10
F
163
97 76,37
3 5 10 F 164
115 90,55
3 5 11 F 165
104 81,88
3 5 11 F 166
106 83,46
Fonte: Do autor.
Legenda: N=127 itens, para o cálculo do percentual e N=32 participantes.
Ao comparar o escore geral, no teste estatístico de Mann-Whitney,
meninas versus meninos, os resultados obtidos foram p=0,1903,
considerado estatisticamente não significante. Portanto, os resultados dos
escores entre meninos e meninas não se diferem estatisticamente.
294
Tabela 73Distribuição dos resultados entre meninos versus meninas
5º ANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
MENINAS (N=19)
90 - 120 102 96,50 105
MENINOS (N=13) 91 - 111 105 102 - 107
TOTAL - N=32
90 - 120 103,50 99,25 - 106
Fonte: Do autor.
Na etapa seguinte utilizou-se o teste estatístico Mann-Whitney
para analisar se haveria diferenças estatisticamente significante entre escola
pública e privada uma vez que, na escola privada, havia o profissional
especialista da área da educação musical.
Com relação ao 1 ano das duas redes de ensino, o resultado obtido
foi p=0479, considerada uma diferença significante. Diante disso, os
resultados permitiram concluir que a presença do educador musical é
notada nos resultados oriundos da rede particular de ensino com relação
ao 1 ano. Na Tabela 73 o resultado da distribuição.
Tabela 74Distribuição dos resultados entre 1º ANO (rede pública) versus 1ºANO
(rede particular)
1ºANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
PÚBLICO (N=51)
48 - 97 67 63 76
PRIVAD0 (N=22) 55 - 101 75,50 69 81,50
TOTAL - N=73
48 - 101
71,25
66 78,75
Fonte: Do autor.
295
Utilizando o teste estatístico Mann-Whitney, escola pública versus
a particular, comparando o 2º ano, considerando a presença do educador
musical na rede particular de ensino, os resultados obtidos foi p=0,0031,
considerado muito significante. Portanto, a presença do educador musical
contribui para um melhor rendimento no PSHM quando se compara
crianças com educação musical e crianças se a educação musical em sua
escolarização. Na Tabela 74 estão os resultados da distribuição.
Tabela 75 – Distribuição dos resultados entre 2º ANO (rede pública) versus 2ºANO
(rede particular)
2ºANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
PÚBLICO (N=45)
49 - 111 77 68 87
PRIVAD0 (N=34) 62 - 108 86,50 79,25 93,50
TOTAL - N=79
49 - 111 81,75 73,62 90,25
Fonte: Do autor.
A partir dos resultados obtidos com o teste estatístico Mann-
Whitney, escola pública versus particular, 3 º ano, o resultado obtido foi
p<0,0001, considerado extremamente significante. Portanto, foi possível
concluir que a presença do professor de música na rede privada contribuiu
para uma melhor condição de responder ao PSHM devido a experiência
dos participantes conquistada por meio da disciplina de educação musical.
Na Tabela 75 estão os resultados da dispersão.
296
Tabela 76 – Distribuição dos resultados entre 3º ANO (rede pública) versus 3ºANO
(rede particular)
3ºANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
PÚBLICO (N=61)
61 - 107 87 80 94
PRIVADO (N=37) 82 - 114 98 94 104
TOTAL - N=98
61 - 114
92,50
87 99
Fonte: Do autor.
Ao utilizar o teste estatístico Mann-Whitney, escola pública versus
particular, 4 º ano, o resultado obtido foi p=0,0487, considerada
significante. Portanto, a disciplina de educação musical, na rede particular,
influência o desempenho dos participantes no PSHM. Na Tabela 76 estão
discriminados os resultados da distribuição dos valores da rede pública de
ensino versus a particular.
Tabela 77 – Distribuição dos resultados entre 4º ANO (rede pública) versus 4ºANO
(rede particular)
4ºANO VARIAÇÃO (MIN - MÁX) MEDIANA DISPERSÃO (Q1 - Q3)
PÚBLICO (N=38)
76 - 110 92,5 86 - 102
PRIVADO (N=30) 71 - 117 99,5 93 106,25
TOTAL - N=68
71 - 117
96
89,5 104,12
Fonte: Do autor.
A partir do teste estatístico Mann-Whitney, escola pública versus
particular, nível do 5º ano, o resultado obtido foi p=0,0040, considerado
muito significante. Portanto, foi possível concluir que a presença do
educador musical na rede particular de ensino contribui para com o
desempenho dos participantes no PSHM. Na Tabela 77 estão
297
discriminados os valores da distribuição referente às diferenças entre escola
pública e particular no PSHM.
Tabela 78Distribuição dos resultados entre 5º ANO (rede pública) versus 5ºANO (rede
particular)
5ºANO
VARIAÇÃO (MIN -
MÁX)
MEDIANA
DISPERSÃO (Q1 -
Q3)
PÚBLICO (N=32)
70 - 113 90 82,75 – 103,75
PRIVADO (N=32) 90 - 120 102 97 – 106,25
TOTAL - N=64
70 - 120
96
89,87 - 105
Fonte: Do autor.
Diante dos resultados entre escola pública versus a rede particular
de ensino é possível inferir que, futuramente, será necessário um tipo de
escore para a rede pública e outro para a rede particular devido a presença
do educador musical e da disciplina de música nas escolas particulares.
Nesta pesquisa, todas as escolas contavam com o profissional da educação
musical em suas grades curriculares.
Outra análise realizada foi a utilização do teste estatístico Kruskall-
Wallis para verificar se haveria diferenças estatisticamente significante entre
os anos escolares. Ao realizar a análise, com base nos resultados oriundos
da rede pública de ensino (do 1º ao 5º ano), o resultado obtido foi
p<0,0001, considerado extremamente significante. Na Tabela 78 estão os
resultados da distribuição mostrando a diferença entre as séries.
298
Tabela 79Distribuição dos resultados entre os anos escolares na rede pública de ensino
ANO/PARTICIPANTES
VARIAÇÃO (MIN -
X)
MEDIANA
DISPERSÃO (Q1 -
Q3)
(N=51)
48 97
67
63 76
(N=45) 49 111 77 68 87
(N=61) 61 107 87 80 94
(N=38) 76 110 92,5 86 102
(N=32) 70 113 90 82,75 103,75
TOTAL - N=227
48 113 82,70 75,95 92,55
Fonte: Do autor.
Com relação à rede particular de ensino, o resultado obtido foi
p<0,0001, considerado extremamente significante. Os resultados de p
indicam a necessidade de estabelecimento de diferentes níveis de escores
considerando cada ano escolar. Na Tabela 79 estão os resultados da
distribuição, entre as séries, os quais explicitam a diferenças comprovando
que haverá a necessidade de escores específicos.
Tabela 80Distribuição dos resultados entre os anos escolares na rede particular de ensino
ANO/PARTICIPANTE
VARIAÇÃO (MIN -
X)
MEDIANA
DISPERSÃO (Q1 -
Q3)
(N=22)
55 101
75,5
69 81,50
(N=34) 62 108 86,5 79,25 93,50
(N=37) 82 114 98 94 104
(N=30) 71 117 99,5 93 106,25
(N=32) 90 - 120 102 97 106,25
TOTAL - N=155
55 120 92,30 86,45 98,30
Fonte: Do autor.
299
Ao analisar a presença de músicos profissionais ou amadores na
família versus a não presença dessas pessoas, no teste estatístico Mann-
Whitney, 1º ano da rede pública de ensino, os resultados obtidos foram
p=0,6847, considerado não significante. Com relação ao 2º ano , da
mesma rede, o resultado encontrado foi p=0,4804, considerado não
significante. Com relação ao 3º ano da rede pública de ensino, o resultado
obtido foi p=0,7452, considerado não significante. A respeito dos
resultados do 4º ano, encontrou-se p=0,2539, considerado não
significante. Por fim, o resultado referente ao 5º ano, p=0,2737,
considerado não significante. Diante dos resultados de p referente a
presença de músicos, amadores ou profissionais, na família como forma de
influência, permitiu concluir que não há diferenças entre quem conta com
a presença de músicos na família e quem não conta com a presença desses
músicos. Isso, avaliando os participantes da rede pública de ensino. Na
Tabela 80 constam o resultado da distribuição.
Tabela 81 – Distribuição dos resultados referente à presença ou não de músico na
família
ANO
MÚSICO NA
FAMÍLIA
VARIAÇÃO (MIN -
X)
MEDIANA
DISPERSÃO (Q1 -
Q3)
(N=24)
MF
51 97 65,5 64 76,25
(N=27)
NMF
48 95 70 63 76
(N=24)
MF
59 111 75,5 67,75 85
(N=21)
NMF
49 102 79 69 89
(N=31)
MF
65 107 88 82,5 93,5
(N=30)
NMF
61 101 85 80 94,75
4º(N=20)
MF
76 110 94,5 88,75 103,25
(N=18)
NMF
76 110 89 86 96,75
(N=19)
MF
70 113 95 87 102
(N=13)
NMF
70 113 86 79 108
TOTAL - N=227
48 113 82,75 76,70 92,45
Fonte: Do autor. - Legenda: MF Músico na família; NMF Nenhum músico na família
300
Com relação a rede particular de ensino, utilizando o teste
estatístico Mann-Whitney, avaliando a presença de músicos, amadores ou
profissionais, na família versus a ausência de músicos na família, os
resultados, no 1º ano, foi p=0,0778, considerado não muito significante.
Com relação ao 2º ano o resultado encontrado foi p=0,2099, considerado
não significante. Os resultados do 3º ano permitiram encontrar p=0,1614,
considerado não significante. A respeito do 4º ano, o resultado encontrado
foi p=0,9123, considerado não significante. Por fim, os resultados
referentes ao 5º ano, p=0,0692, considerado um resultado não significante.
Na Tabela 81 estão os resultados da distribuição.
Tabela 82 – Distribuição dos resultados referente à presença ou não de músico na
família
ANO
MÚSICO NA
FAMÍLIA
VARIAÇÃO (MIN -
X)
MEDIANA
DISPERSÃO (Q1 -
Q3)
1º (N=15)
MF
55 91 72 65,5 76,5
1º (N=07)
NMF
69 101 80 73,5 89,5
2º (N=21)
MF
62 108 85,5 76,75 92,50
2º (N=13)
NMF
76 106 90 86 94
3º (N=28)
MF
82 114 100 94 105
3º (N=09)
NMF
83 110 95 90 98
4º(N=20)
MF
71 117 100 92 104,75
4º (N=10)
NMF
73 116 98 93,5 108,5
5º (N=20)
MF
90 110 102 96,75 104,5
5º (N=12)
NMF
91 120 106 100,75 108
TOTAL - N= 155
Fonte: Do autor.
Legenda: MF sico na família; NMF Nenhum músico na família
301
Diante dos resultados encontrados da análise comparativa entre
participantes com músicos na família e participantes sem a presença do
músico, foi possível concluir que a existência desse músico, seja ele
profissional ou amador, não se torna um fator determinante ou
imprescindível na manifestação do talento. Não se trata de uma regra para
que um sujeito se interesse pela música. Por outro lado, ter a presença de
músicos na família, para algumas pessoas, poderá ser um fator importante
na manifestação do interesse pela área. Por isso, não é possível generalizar
este resultado, principalmente, por conta do número de participantes
analisados nesta tese. Em aplicações futuras do PSHM e, em outras regiões,
esse fator será considerado e analisado para verificar se há repetição desse
tipo de resultado.
A partir dos dados qualitativos gerados pelo questionário foi
possível caracterizá-lo de modo específico e particular. Os questionários
contêm informações sobre os participantes em relação à música, as quais
permitiram traçar o perfil dos participantes que se destacaram e aqueles
que não se destacaram musicalmente.
O participante 175 (escore 97; 76,37%), o qual está no 1º ano da
rede pública, assinalou no questionário que gosta de música e costuma
ouvi-la em casa. Registrou que há em sua família alguém que toca
instrumento musical, destacou gostar de música sertaneja e registrou que
se houvesse oportunidade estudaria música. O participante 177 (48;
37,79%), também do 1º ano da rede pública, registrou que gosta de
música e que costuma ouvi-la em casa. Alegou não haver ninguém que toca
instrumentos musicais ou que canta em sua família e registrou que gostaria
de estudar música. O participante não registrou o nome de nenhum artista,
por, segundo ele, não haver um em especial.
No 2º ano da rede pública, o participante 207 (escore 111;
87,40%) registrou que gosta de música, costuma ouvi-la em casa, afirmou
302
ter alguém que toca instrumento musical em sua família, registrou que
gostaria de estudar música e destacou que sua música preferida advém dos
games. O participante 312 (escore 49; 38,58%) registrou que gosta de
música e a ouve com frequência em casa, mas afirmou não haver ninguém
em sua família que canta ou que toque algum instrumento, registrou que
gostaria de estudar música e que gosta de samba e pagode.
O participante 224 (escore 107; 84,25%), do 3º ano da rede
pública, gosta de música e a ouve com frequência, tem familiar que toca
instrumento e gosta de ouvi-lo. O participante sinalizou que estuda
música. Sua preferência é a música gospel. O participante 243, da mesma
série e rede, (escore 61; 48,03%) gosta de música e a ouve com frequência
em casa. Alegou não ter ninguém que toca instrumentos musicais em sua
família e declarou que gostaria de estudar música. Destacou que sua
preferência também é a música gospel.
No 4° ano da rede pública, os participantes 254 e 349 empataram.
Ambos atingiram o escore de 110 (86,61%). O primeiro declarou que
gosta e ouve música com frequência. Sinalizou que tem alguém que toca
instrumentos musicais em sua família e que gosta de apreciar quando essa
pessoa toca. Registrou que não estuda música, mas gostaria muito se tivesse
a oportunidade de estudar. O participante destacou que sua preferência
musical é o funk. O participante 349 gosta de música e a ouve com
frequência. Não tem nenhum músico em sua família. Registrou que
gostaria de estudar música se tivesse oportunidade e não se lembrou de
ninguém no momento de sinalizar sua preferência musical. Com escores
menores estão os participantes 266 e 270, que também empataram (escore
76; 59,84%). A participante 266 gosta de ouvir música com frequência,
tem músicos na família e aprecia vê-los tocar. Declarou que gostaria de
estudar música e sua preferência é a música gospel. O participante 270
303
gosta e ouve música com frequência, não tem músicos na família, gostaria
de estudar música e sua preferência musical é o funk.
No 5º ano da rede pública de ensino foi possível rastrear os
participantes 274 e 291 com o melhor escore. Ambos empataram no escore
113 (88,97%). O participante 274 declarou gostar e ouvir com frequência
a música, afirmou não ter músicos na família e também não estuda música,
mas se tivesse a oportunidade declarou que estudaria. Sua preferência
musical é a música pop americana. O participante 291 gosta de ouvir
música com frequência, tem pessoas que tocam em sua família, mas
declarou que não gosta, não estuda música, mas gostaria de estudar. Sua
preferência é a música pop atual colombiana. Com menores escores estão
empatados os participantes 378 e 379 (escore 70; 55,11%). O participante
378 gosta de música e ouve com frequência. Declarou que ninguém em
sua família toca e que não gostaria de estudar música. Sua preferência
musical é o funk. O participante 379 gosta e ouve música com frequência,
tem pessoas que tocam em sua família e gosta muito de ouvi-los, declarou
a participante. Gostaria de estudar música e suas preferências musicais são
o funk e a música sertaneja atual.
Na rede particular, 1º ano, o participante 20 (escore 101;79,52%)
gosta de música, mas não ouve com frequência, não tem pessoas em sua
família que tocam instrumentos musicais ou cantam e declarou não desejar
estudar música. Declarou que sua preferência musical é o funk. O
participante 19 (escore 55; 43,30%) declarou gostar de música, registrou
que ouve com frequência, disse estudar música e sua preferência musical
são as músicas internacionais.
O participante 77 (escore 108; 85,03%), do 2º ano da rede
particular, declarou que gosta de música e ouve com frequência, tem
pessoas que tocam em sua família e declarou que estuda música. Sua
preferência musical é o gênero pop internacional. O participante 90 (escore
304
62; 48;81%) declarou gostar de música, ouvir com frequência e declarou
ter pessoas na família que tocam. Declarou, ainda, que estuda música e sua
preferência musical é o pop internacional.
No 3º ano da rede particular, o participante 102 (escore 114;
89,76%) declarou que gosta e ouve música com frequência, tem pessoas
que tocam em sua família, gosta de-los tocar, estuda música e uma vez
na semana e sua preferência musical é o rock. O participante 123 (escore
82; 64,56%) declarou que gosta e ouve com frequência música, tem
pessoas que tocam em sua família. Declarou gostar de vê-los tocar e
sinalizou que estuda música uma vez na semana. Sua preferência musical é
o rap.
No 4º ano da rede particular, o participante 144 (escore 117;
92,12%) declarou gostar e ouvir música com frequência, tem pessoas que
tocam em sua família, disse gostar de-los tocar. Declarou que gostaria
de estudar música. Suas preferências musicais são artistas da música pop
americana. O participante 44 (escore 71; 55,90%) declarou gostar de
música e disse ouvi-la com frequência. Tem pessoas que tocam em sua
família e aprecia vê-las tocar. Declarou que gostaria de estudar música
formalmente e sua preferência musical é o funk.
A participante 58 (escore 120; 94,48%), declarou gostar de música
e alegou ouvir com frequência. Não tem ninguém que toca ou canta em
sua família e declarou que gostaria de estudar música formalmente. Suas
preferências são a música popular brasileira (MPB), funk e a música pop.
O participante 56 (escore 90; 70,86%) declarou gostar de música, ouve
com frequência, tem pessoas que tocam em sua família e gosta de ouvi-los.
Não estuda música, mas se tivesse oportunidade iria gostar, e suas
preferências são: sertanejo e funk.
305
É importante destacar que os estudantes com deficiência que
realizaram o PSHM se localizaram na faixa média do teste. O participante
219, com implante coclear, obteve escore 63 (49,60%), o participante 46,
com deficiência intelectual, obteve escore 86 (67,71%), o participante 47,
também com deficiência intelectual, obteve escore 73 (57,48%), o
participante 147, autista, obteve escore 95 (74,80%) e o participante 148,
com síndrome de Asperger, obteve escore 107 (84,25%). Esses
participantes foram os estudantes com deficiência que não foram
sinalizados pelas escolas. Os demais participantes com deficiência foram
sinalizados, devido ao grau de comprometimento, tanto que não
realizaram o PSHM até o final.
Dos participantes que realizaram o PSHM, na rede particular, 76
(49,03%) eram do sexo feminino e 79 (50,97%) eram do sexo masculino
em um universo de 155 participantes. Na rede pública, 159 (57,19%)
eram do sexo feminino e 119 (42,81%) do sexo masculino em um universo
de 278 participantes. Não fizeram parte dessa tabulação os participantes
do projeto piloto e aqueles que participaram da etapa de construção (etapa
da entrevista sobre o funcionamento e usabilidade da plataforma).
Ao analisar o item gênero musical favorito, no universo de 433
participantes que responderam ao PSHM, todos sinalizaram artistas ou
música da atualidade.
Diante do perfil dos participantes é possível inferir que o
rastreamento conseguiu capturar crianças com indicativos iniciais para o
talento musical, inclusive aqueles que estão estudando música
formalmente com especialistas. Tanto entre os estudantes com escore
elevado quanto aqueles que não, há pessoas que tocam instrumento ou que
têm músicos em suas famílias, também o gosto pela música e a frequência
da escuta ocorrem nos dois grupos. Nos testes de Gordon (2000) há
também esse tipo de perfil encontrado.
306
Os perfis dos participantes 58, 144 e 103 representam as variáveis
que os sujeitos com altos escores poderão apresentar. Em análises futuras
será determinante verificar em N maiores e esse perfil irá ser dominante
em sujeitos dessa natureza. Ainda haverá sujeitos como o participante 20,
que irá apresentar alto escore em relação a seus pares, mas declara não ter
interesse pela música. Esse é um outro tipo de perfil que necessitará de
sondagem em próximas testagens. Nos estudos de Koga (2017), uma das
participantes pontuou alto escore para o talento musical, mas, ao ser
entrevistada, ela disse não ter interesse de ser musicista. Na época, ela tinha
9 anos e seus pais eram músicos.
De modo geral, é possível inferir que o PSHM conseguiu rastrear
casos possíveis de talento musical. Portanto, a seleção foi um tanto rigorosa
quando analisa o perfil somente dos participantes com melhores resultados
por turma. Nesse sentido, os passos seguintes necessitarão de aplicações em
N maiores, com a finalidade de obter a nota de corte e outros
procedimentos que de fato permitam afirmar que ele de fato está
mensurando o talento musical preliminarmente. A capacidade de
rastreamento precisa ser avaliada para que se possa concluir que pelo crivo
estão passando mais sujeitos talentosos que não talentosos.
Conclusão das etapas de construção do PSHM
A estrutura do PSHM se assemelha a testes consagrados pela área
da música, a exemplo dos testes de Seashore (1938) e Gordon (2000).
Os resultados indicaram que o PSHM, na primeira etapa de
aplicação, se comportou bem, porém há itens que necessitarão de
reformulação e outros deverão ser refinados com aplicações futuras em
realidades diferentes.
307
Também, os dados indicaram que será necessário estruturar o teste
de modo diferente, pensando a faixa etária dos participantes. Há
dimensões que são difíceis para uma série, ao passo que para outra é fácil,
e assim sucessivamente.
A respeito da modalidade virtual, o PSHM necessitará de mais
testagens em decorrência da mudança na forma de apresentação do
material. Embora sejam os mesmos exercícios, os resultados indicaram um
declínio no desempenho de todos os participantes dessa modalidade. Sobre
isso Pasquali (2013) argumenta que o computador “substitui tanto o
material utilizado (folhetos do teste, folha de resposta, crivos de correção,
etc.), quanto o próprio psicólogo aplicador” (PASQUALI, 2013, p. 279).
De modo geral, o autor apresenta outras possibilidades geradas pelo uso
do computador, como: a forma de apresentação do teste, que, para ele,
pode ser melhor, modo de apresentação dos itens, a correção dos dados
livres de erro humano durante a tabulão, contribui na produção de
registros legíveis etc, além de possibilitar a motivação dos participantes,
uma vez que esse público é considerado nativo digital.
Utilizar o recurso do computador, no caso do PSHM, é tornar os
custos mais baixos do instrumento e seu uso prático e acessível às escolas.
Em relação ao custo, basta pensar nas folhas de respostas para todas as
crianças e o tempo para tabulação dos dados, na versão manual.
Os resultados indicaram uma queda no desempenho dos
participantes entre as versões do PSHM virtual e manual. Por isso, será
necesrio seguir validando e refinando os itens das duas versões, além de
verificar a usabilidade do PSHM tanto para os aplicadores, mas,
principalmente, para os participantes.
As questões em torno do estímulo e a resposta dada pelo
participante seguirão em análise também. Isso porque, de acordo com
308
Roederer (2002), os estímulos sonoros são complexos e de difícil controle.
Uma dimensão como timbrenão está efetivamente controlada, porque
ao apresentá-la enquanto estímulo para o sujeito, a intensidadepode ser
evocada, a depender do instrumento e sua natureza. O problema do tom
puro. Quando se trata de estímulos musicais, usa-se a onda senóide,
inviabilizando o controle completo do som como ocorre na área da
Fonoaudiologia, nos testes de audiometria.
Outro fator analisado consiste na resposta dada pelo sujeito, algo
de difícil mensuração. Como saber que o estímulo apresentado é o mesmo
apreendido e processado cognitivamente pelo sujeito?
Com o PSHM foi posvel constatar algo semelhante ao que ocorre
com o teste visual de Snellen
111
. Entre o PSHM e o teste de Snellen, a
diferença encontra-se na magnitude da abstração durante a apresentação
do estímulo. Porém, em nenhum dos casos é possível ter a certeza completa
de que o estímulo apresentado será o mesmo apreendido pelo sujeito, isso
Roederer (2002) teorizou exaustivamente. Portanto, segue sendo um
desafio para esse tipo de teste. A aplicação em números grandes de
participantes vai oportunizando o controle maior desse tipo de situação.
Isso foi feito por Gordon (2000) em seus testes de aptidão musical.
O PSHM criado no método Psicofísico e com a estrutura de
screening destinado à mensuração inicial do talento musical. Ele não foi
criado para rotular os sujeitos identificados, mas para desig-los. O
PSHM foi criado para gerar hipóteses a respeito da presença ou não de
possíveis casos de talento musical em uma sala de aula, os quais, uma vez
identificados, seguirão para procedimentos de avaliação mais completos e
resposta educativa para que possam desenvolver seu talento musical.
111
Como forma de exemplificar a apresentação dos pares de estímulo, Manning (1974) menciona
o teste de Snellen da área da Oftalmologia.
309
Mesmo com a existência do PSHM, de modo algum, seu uso isenta
a escola da oferta da educação musical para todas as crianças, enquanto
meio de acesso à cultura e ao desenvolvimento.
O PSHM não deve ser ministrado indiscriminadamente na
comunidade escolar e outras instituições interessadas. Também, o PSHM
está em fase de construção e refinamento, por isso, sua divulgação deverá
ocorrer após sua normatização e mensuração da fidedignidade dos
resultados gerados pelo PSHM. Um dos problemas apontados por Farias
e Weschler (2014) é a falta de validade dos instrumentos. Por isso, o
PSHM será submetido a novas testagens em massa e em número grande
de sujeitos de diferentes realidades. O seu uso irá possibilitar alcançar a
fidedignidade dos resultados.
O problema maior não está no uso dos testes psicométricos ou
psicofísicos, mas a forma como são utilizados, o propósito do uso e estar
ciente que testes desta natureza não produzem resultados absolutos que
determinam o futuro de determinado sujeito, mas hipóteses sobre seu
desempenho ou condição que permitam reflexões sobre a melhor maneira
de atender ao sujeito em sua necessidade educativa (MANNING, 1974,
MUELLER, 1977; FEITOSA, 2010; PASQUALI, 2010; 2013). No caso
do talento musical um teste, como o PSHM, pode contribuir, juntamente
com outros instrumentos de mapeamento, para dar uma resposta educativa
adequada ao sujeito talentoso em música.
Um destaque final volta-se para o desempenho das pessoas com
deficiência. Evidentemente eram sujeitos que apresentavam
comprometimento moderado, mas, independentemente disso, o PSHM
conseguiu ser utilizado, principalmente pelo estudante com implante
coclear. Há deficiência com grau elevado de comprometimento, por isso,
segue o desafio em adaptações futuras do PSHM, objetivando atender a
diversidade, seja ela qual for.
310
O PSHM evidentemente apresenta limites, mas seu uso, na
educação básica, permitirá seu refinamento e precisão a respeito da
mensuração do talento musical de modo inicial.
311
O que podemos concluir a respeito da
identificação do talento musical?
Pesquisar o talento musical no Brasil torna-se algo desafiador em
decorrência das demandas e necessidades atuais das áreas da educação
musical e educação especial. Há um atraso considerável referente às
conquistas relacionadas à educação musical, devido a sua auncia na
educação básica, principalmente na escola pública (FONTERRADA,
2008) e isso vem dificultando as discussões sobre o talento. Para
Fonterrada (2008), “[é] tempo de semear, e não de colher. Portanto, é hora
de arar e preparar o terreno” (FONTERRADA, 2008, p. 349), no caso da
área da música. Por essa razão, torna-se imprescindível que a educação
musical seja acessível a todos, mas, também, que ela possa contemplar as
necessidades educacionais de sujeitos talentosos em música, oportunizando
seu enriquecimento musical, como teorizou Renzulli (2014; 2018), e
práticas musicais com especialistas. Esses são certamente desafios atuais a
serem transpostos (ILARI, 2013).
Felizmente esse cenário vem se modificando, e as concepções
místico-sobrenaturais que existiam em relação ao talento musical, aos
poucos, vão sendo deixadas para trás (HAROUTOUNIAN, 2002). O
rastreamento do Estudo 1 evidencia um pouco dessa mudança.
Especificamente algumas das pesquisas brasileiras encontradas com
enfoque no talento musical foram constituídas e apresentadas em
Programas de Pós-graduação em Música. Certamente uma grande
conquista.
312
Entretanto, neste país de dimensões continentais e com tantos
contrastes a situação da maioria das pessoas talentosas em música é a
mesma enfrentada pelas pessoas com deficiência ou com talento em outras
áreas. Essas pessoas ficam à margem da aprendizagem, elas se frustram e
acabam desestimuladas, por não estarem aproveitando oportunidades que
as engajem em atividades criativas e produtivas (GARDNER, 2015;
RENZULLI, 2018). Os sujeitos talentosos e os deficientes sofrem com o
descaso da sociedade frente às suas necessidades educacionais.
A história da música brasileira permite observar a quantidade de
pessoas talentosas e de outras que alcançaram a genialidade nessa área,
desde o descobrimento do Brasil (HOLLER, 2010; MORAES; SALIBA et
al., 2010). Portanto, negar a existência dessas pessoas torna-se algo cruel,
porque na História e nas biografias estão registrados o que alguns sujeitos
talentosos fizeram de suas vidas, por não poderem contar com acesso a um
acompanhamento educacional especializado por parte de um profissional
da sica e da psicologia, além de outras possibilidades de atenção e
oportunidades. Há talentos que se perdem por não suportarem as pressões
ocasionadas em detrimento de sua capacidade criativa, sua dissincronia
interna e social, por não se sentirem parte da sociedade e por não serem
compreendidos por seus pares e, até mesmo por seus familiares que, muitas
vezes, exploram comercialmente seu talento (TERRASSIER, 2011;
FONSECA, 2016).
A partir das teorizações de Rubinstein (1967), se chega à conclusão
que designar uma pessoa talentosa é dar a ela uma oportunidade e
possibilitar seu engajamento em atividades de seu interesse. Seja uma
atividade de ordem mais física ou intelectual, designar uma pessoa como
talentosa é fornecer a ela utensílios e recursos para que possa produzir com
toda a sua criatividade e habilidade, inclusive, contribuir para a
constituição de sua personalidade por meio da atividade/trabalho. A esse
313
respeito, a contribuição de Renzulli (2014), através do seu processo de
enriquecimento, possibilita que a pessoa atinja a realização ou a conquista
que, a princípio é pessoal, mas que pode se estender ao coletivo quando ela
tem consciência de seu papel na sociedade, assim como deveria acontecer
com qualquer pessoa. Renzulli (2018, p. 40), então, conclui que “[a] maior
recompensa em focalizar a educação para superdotados na aprendizagem
investigativa e em usar o conhecimento sabiamente será um aumento
drástico da reserva de pessoas que irão usar seus talentos para criar um
mundo melhor”.
É preciso destacar que não se está defendendo que a pessoa
talentosa deva salvar a sociedade ou que ela tem o dever de modificá-la,
porque isso é compromisso de todos os cidadãos, mas, a partir de
Rubinstein (1967) e Renzulli (2018), foi possível refletir sobre a
importância de ajudar educacionalmente crianças, jovens e adultos
talentosos no desenvolvimento de suas personalidades e, sobretudo,
conscientizá-los sobre os seus talentos, para que decidam o que querem
fazer. Como na parábola dos talentos. Haverá talentos que se
multiplicarão, outros que só se desenvolvem um pouco, e outros que se
enterrarão por medo. A parábola não traz, mas pode haver um quarto
servo, aquele que irá utilizar seu talento para intervir na sociedade de modo
intencional, como menciona Renzulli (2018), denominando-os líderes
éticos.
Stalnaker (1971), anterior a Renzulli (2018), teorizava que “[...]
alunos talentosos devem ser introduzidos bem cedo no mundo das ideias,
aos livros, aos laboratórios e à alegria de aprender. [...] O estimulo inicial,
seguido de oportunidades educacionais superiores, é a chave”
(STALNAKER, 1969, p. 164). Algo semelhante também é defendido por
Teplov (1966).
314
Aparentemente a sociedade pode se perguntar diante de uma tese
como esta, e inclusive diante da própria legislação que contempla a
educação musical e o talento, como público da educação especial: por que
investir e dar oportunidade a pessoas talentosas em música? Que benefício
isso pode trazer para a sociedade? Com o Brasil e o mundo em crise, por
que investir em educação musical e no incentivo ao talento musical? Para
quê investir se hoje a internet e a mídia contribuem para a promoção e
revelação de novos talentos? Que relevância isso pode ter?
Os mais belos edifícios não são os úteis: um templo não é uma moradia.
Um ser humano de elevados e raros talentos espirituais, obrigado a
exercer uma ocupação meramente utilitária, [...] assemelha-se a um
precioso vaso adornado com belíssimas pinturas servindo de panela na
cozinha; [...] é como comparar tijolos com diamantes
(SCHOPENHAUER, 2015, p. 465).
Não se trata de encontrar utilidade para a educação musical ou na
descoberta do talento musical das pessoas. A grande questão é aquela
teorizada por Renzulli (2018). Quando uma pessoa descobre o que lhe
satisfaz, quando se depara com seus pontos fortes e quando a sociedade
possibilita que ela concretize, por meio do trabalho ou da atividade
criativa, aquilo que deseja e no qual vê sentido, essa pessoa constitui a si
mesma, ela forma sua personalidade. As pessoas desempenharão bem suas
atividades quando elas amarem o que fazem e quando encontrarem sentido
em suas vidas (TEPLOV, 1966; RUBIENSTEIN, 1967; PETERSON,
1971; RENZULLI, 2018).
Com base nas teorizações de Rubienstein (1967), Mackworth
(1971), Schopenhauer (2015) e Renzulli (2018), contribuir para a
efetivação da educação musical poderá permitir o resgate das raízes
315
culturais musicais brasileiras, e designar talentos musicais pode
proporcionar a esses sujeitos menos sofrimento e mais qualidade de vida.
A sociedade, por sua vez, se beneficiará, porque os feitos dessas pessoas
talentosas sempre a impactam.
Esta pesquisa chega a seu fim com a mesma conclusão de Vernon
(1971, p. 264), há tempos escrita:
[e]stamos na iminência de progressos extremamente excitantes e
controle do desenvolvimento intelectual e da personalidade [...]
observação direta e acompanhamento de crianças, estudos socio-
antropológicos, e trabalho como descrevi com testes mentais e análise
de fator. Mas não pretenderia ter feito mais do que arranhado a
superfície, e ter levantado mais problemas do que resolvido.
A designação do talento musical, por meio do PSHM, não é uma
tarefa fácil, mas é importante que ocorra, principalmente no Brasil. Ainda
são poucos os pesquisadores músicos preocupados com essa questão, mas
ela vem acontecendo paulatinamente.
O PSHM foi criado para ser um instrumento provisório. Porém,
no momento de redação e defesa desta tese, ele é importante para a
designação do talento musical em um período que a sociedade não tem um
olhar sensibilizado para essa condição e, quando tem, ocorre rodeada de
estigma, mitos ou da intenção de exploração oriundos da própria família,
escola, mídias comerciais etc.
O propósito do uso do PSHM é rastrear casos de talento,
inicialmente, com o objetivo principal de fornecer uma resposta educativo-
musical para que o sujeito talentoso possa ter a oportunidade de se
desenvolver musicalmente. Porém, o dia que a escola implementar a
316
educação musical, em sua grade curricular e em toda a extensão da
educação básica, o dia que o educador musical contar com a formação para
atender educacionalmente sujeitos talentosos e o dia que a sociedade
reconhecer o talento musical de fato, não como mercadoria comercial para
exploração, mas como condição humana, o PSHM poderá ser utilizado de
modo opcional nas escolas.
Em síntese, que o PSHM possa somar-se a outros instrumentos e
modalidades de rastreios disponíveis para as escolas, que ele possa ser útil
aos professores no rastreio do talento e, mais que isso, que os professores
se interessem pela música e que, principalmente, o PSHM não sirva
somente para ranquear as crianças e jovens mais talentosos em música, mas
para
[...] despertar cada comunidade para seus próprios talentos, a tornar a
educação superior um objetivo possível para muitos estudantes
promissores, e a criar um clima favorável à excelência intelectual. [...]
reconhecer e a encorajar o talento, objetivo que há muitos anos atrás
Bingham sabia que estava entre os mais importantes a serem
procurados pelos cidadãos de uma democracia. Nas palavras de John
Gardner: “... um talento não descoberto, uma capacidade
desperdiçada, uma capacidade mal aplicada é uma ameaça à capacidade
de sobrevivência de um povo livre” (STALNAKER, 1971, p. 165, grifo
do autor).
317
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347
Sobre a autora
Fabiana Oliveira Koga nasceu em 1984 em Marília SP. Cursou a
graduação em instrumento Piano e licenciou-se em Educação Musical pela
Unisagrado Bauru/SP. É psicopedagoga clínica pela Faculdade
Paulista/SP, mestre e doutora em Educação pela Faculdade de Filosofia e
Ciências, Unesp, campus de Marília/SP. Além de vários artigos publicados
em revistas qualificadas nas áreas da Música e Educação e capítulos de
livros, é autora do livro
Precocidade e Superdotação Musical
(Editora:
Juruá). Atualmente é docente no ensino superior, educadora musical, na
rede básica de ensino privado, e integra o Grupo de Pesquisa para o
Desenvolvimento do Potencial Humano (GRUPOH) na Universidade
Federal de São Carlos/SP.
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Normalização
Lívia Pereira Mendes
Diagramação e Capa
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Este livro, fruto de um intenso trabalho de pesquisa de Fabiana O. Koga,
traz uma contribuição original e ímpar para o estudo das altas habilida-
des/superdotação, ao evidenciar o talento musical, pouco valorizado no
cenário educacional atual, tendo em vista que a educação musical não
encontra espaço na maioria dos currículos escolares.
Ao percorrer os capítulos desta obra, é possível compreender a história
do ensino da música, o conceito de talento e talento musical bem como
o cenário das pesquisas nacionais e internacionais sobre este tema. A
autora ainda destaca o importante papel da escola na identicação de
estudantes com talento musical, para que seja oferecido o enriqueci-
mento ou o encaminhamento para projetos e instituições que fomentem
o pleno desenvolvimento destes potenciais. Deste modo, poderão ser
oportunizadas condições para que eles possam seguir no caminho da
prossionalização e da construção de uma identidade.
Assim, a construção do Protocolo para Screening de Habilidades Musi-
cais (PSHM), nas modalidades impressa e virtual contribuirá sobrema-
neira, pois dará visibilidade àqueles estudantes que demonstrem talento
musical conferindo urgência à reexão sobre as políticas públicas para a
educação musical e a educação especial e permitindo a estes indivíduos a
oportunidade de darem os primeiros passos rumos à sua autorrealização.
O livro ora apresentado ao leitor
é fruto da tese de doutorado da Profa. Fa-
biana O. Koga, a quem tive o prazer de
conhecer nas lidas da vida, ela musicista,
eu cientista político. Este estranho encon-
tro de áreas de conhecimento tão dispares
acabou resultando em muitas conversas
sobre os processos didáticos-pedagógicos,
nosso interesse comum. É deste ponto de
vista que escrevo, de modo que este pe-
queno tributo fala mais da autora que da
obra. Fabiana escolheu um tema de pesqui-
sa muito valorizado nesta quadra histórica:
desenvolver um instrumento de detecção
de talento, e o desenvolveu com talento.
O resultado lhe valeria um lugar ao sol no
mercado de educação, ávido por este tipo
de produto por, supostamente, permitir
valorizar o mérito.
Além disso, certamente, uma vez
conquistado o mercado, seu nome seria
inscrito entre concorrentes de melhores
práticas pedagógicas. Tudo isso são apenas
suposições no que se refere ao destino que
Fabiana poderia ter dado ao resultado ob-
tido. Dotada de grande sensibilidade peda-
gógica e social (onde há uma, outra; se
falta uma, também a outra), ela buscou in-
serir o resultado alcançado numa ação pe-
dagógica militante em favor do desenvol-
vimento das potencialidades do estudante,
arrancando-o da caixinha padrão das práti-
cas neoliberais: vantagem competitiva (ta-
lento), empreendedorismo (investimento
focado no talento), sucesso (superação do
concorrente).
Vale advertir que esta é uma leitura
minha; Fabiana não se propõe a examinar
esta relação. Em sendo assim, como ela se
afasta da prática pedagógica neoliberal sem
a isso se propor? Primeiro, porque ela não
trata o talento como dom, embora certa-
mente haja um elemento subjetivo indivi-
dual, mas como atributo que se desenvol-
ve socialmente, na medida em que, na sua
pesquisa, o talento é inserido nas condições
sociais através da comparação entre ofer-
ta ou não de educação musical, respecti-
vamente na rede privada e na pública;
segundo, porque ela não propõe vincu-
lação entre os resultados obtidos e o tripé
neoliberal (vantagem competitiva, empre-
endedorismo e sucesso), deixando aberta a
possibilidade de pensar o talento musical,
nas suas formas multimodais, como parte
do desenvolvimento integral do estudante.
Enm, a essas considerações se
deve acrescentar que é um trabalho bem
embasado estatisticamente, mas vale o re-
gistro de que este atributo pertence à qua-
licação da pesquisadora, que o mobiliza
para dar conta do seu interesse pedagógico.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
PROTOCOLO PARA SCREENING DE
HABILIDADES MUSICAIS (PSHM)
PROTOCOLO PARA SCREENING DE HABILIDADES MUSICAIS (PSHM)
Fabiana Oliveira Koga
DRA. DENISE ARANTES-BRERO - Psicóloga
Presidente do Conselho Brasileiro de Superdotação CONBRASD
JAIR PINHEIRO
Cientista político e professor da
UNESP/Marília