ISBN 978-65-5954-096-9
A linguagem de crianças com a Síndrome
Congênita do Zika Vírus:
um guia para pais
Ana Cláudia Moreira Almeida-Verdu
Laila Guzzon Hussein
Nathani Cristina da Silva
Erlane Marques Ribeiro
Célia Maria Giacheti
(Autoras)
Universidades e Laboratórios envolvidos
Neste guia as autoras expli-
cam a linguagem como uma
forma de comportamento.
Explica-se os efeitos da lingua-
gem e os efeitos que ela tem
sobre o comportamento de
outra pessoa. As interações
estabelecidas entre pelo menos
duas pessoas por meio da
linguagem são dinâmicas,
havendo a troca entre quem
fala e quem ouve e compreende
durante a interação. Por isso,
compreender o que o outro diz
é algo muito importante para o
estabelecimento da linguagem.
As autoras exploram, na intera-
ção do dia-a-dia, outros com-
portamentos que podem indi-
car compreensão além da
linguagem oral, que são
comuns na população de crian-
ças com a Síndrome Congênita
do Zika Vírus. O guia também
explicita tipos de reações que
podem inibir qualquer compor-
tamento, inclusive os que tem
intenções comunicativas, discu-
tindo formas que podem inibir
essas ações e mostrando cami-
nhos alternativos. São apresen-
tadas, formas alternativas de
comunicação, que são impor-
tantes para crianças com atra-
sos no desenvolvimento cujos
repertórios de natureza verbal
(mas outros também) são defi-
cientes ou inexistentes, mos-
trando as adaptações necessá-
rias para que ocorra a aprendi-
zagem nessas crianças. Passo a
passo explica-se que pais e
demais familiares não precisam
de uma situação específica ou
materiais especiais para ensinar
habilidades comunicativas para
a criança. Basta interagir com
ela em qualquer situação do
cotidiano, na rotina doméstica,
e estarem atentos às reações da
criança, como para onde ela
olha, gritos, sorrisos, choro,
balanço de mão e pernas e
outras reações que ela pode
apresentar à sua fala.
Este guia apresenta informações para os pais e
demais familiares de crianças portadoras da
Síndrome Congênita do Zika Vírus. Apresenta
informações sobre atitudes simples do dia a dia,
que podem estimular a linguagem dessas crianças.
Entende-se que este guia não resolverá todos os
problemas de comunicação dessa população, nem
substituirá as terapias (fonoaudiológica, psicológi-
ca, entre outras), mas poderá minimizar os prejuí-
zos na comunicação em decorrência da Síndrome
Congênita do Zika Vírus, ajudará a identificar
pequenas conquistas e, ainda, valorizar cada
avanço, por menor que ele pareça. É sempre
importante lembrar: falar é uma habilidade muito
complexa para algumas crianças.
A linguagem de crianças com a
Síndrome Congênita do Zika Vírus:
um guia para pais
A     
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(A)
Marília/Ocina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2021
Universidades e Laboratórios envolvidos
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS - FFC
UNESP - campus de Marília
Diretor
Prof. Dr. Marcelo Tavella Navega
Vice-Diretor
Dr. Pedro Geraldo Aparecido Novelli
Ficha catalográca
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
Editora aliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Ocina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
L755 A Linguagem de crianças com síndrome congênita do Zika vírus : um guia para pais / Ana
Cláudia Moreira Almeida-Verdu ... [et al.]. – Marília : Ocina Universitária ; São Paulo :
Cultura Acadêmica, 2021.
52 p. : il.
Apoio: CAPES, CNPq, FAPESP
Inclui bibliograa
ISBN 978-65-5954-096-9 (Impresso)
ISBN 978-65-5954-097-6 (Digital)
DOI https://doi.org/10.36311/2021.978-65-5954-097-6
1. Infecção por Zika vírus. 2. Crianças – Linguagem. 3. Aquisição de linguagem –
Participação dos pais. I. Almeida-Verdu, Ana Cláudia Moreira. II. Hussein, Laila Guzzon. III.
Silva, Nathani Cristina da. IV. Ribeiro, Erlane Marques. V. Giacheti, Célia Maria.
CDD 616.8550083
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Este trabalho foi realizado sob o escopo do
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
sobre Comportamento, Cognição e Ensino
(INCT-ECCE, 2014). Processos FAPESP
2014/50909-8; CNPQ 465686/2014-1;
CAPES 88887136407/2017-00, com vigência
de 1/1/2017 a 31/1/2023.
O CNPq também apoia as pesquisas da
primeira (processo #306535/2018-1) e última
autora (processo #310373/2018-2).
Pareceristas
Prof.ª Dr.ª Alessandra Turini Bolsoni-Silva
Docente Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências (FC) - UNESP/
campus de Bauru.
Copyright © 2021, Faculdade de Filosoa e Ciências Créditos sobre as imagens -Canva e Mind the Graph
S
Prefácio ------------------------------------------------------------------ 9
Introdução Geral --------------------------------------------------- 13
Causas da Síndrome Congênita do Zika Vírus -------------------- 15
Regiões mais afetadas -------------------------------------------------- 16
Diagnóstico ------------------------------------------------------------- 17
Características (fenótipo) --------------------------------------------- 17
Sobre a comunicação -------------------------------------------------- 18
Parte 1 – a lInGuaGem Pode ser ensInada ----------------------- 19
Linguagem, interação e reforço -------------------------------------- 22
6 |
Parte 2 – atItudes que Podem InIbIr o desenvolvImento da
lInGuaGem e alternatIva -------------------------------------------- 25
Obediência ao choro --------------------------------------------------- 27
Dar atenção a comportamentos não vocais ------------------------- 28
Desistência da interação vocal com a criança ---------------------- 28
Demora para atender por não saber o que fazer ------------------- 29
Parte 3 – dIcas Para ensInar a comPreender o que o
adulto fala ----------------------------------------------------------- 31
Ensinar a prestar atenção ---------------------------------------------- 33
Imitação gestual -------------------------------------------------------- 34
Ensinar a ouvir com compreensão ----------------------------------- 35
Apontar ------------------------------------------------------------------ 37
Parte 4 – dIcas Para ensInar a falar ------------------------------ 39
Funções da fala e dicas gerais ----------------------------------------- 41
Repetir a fala ------------------------------------------------------------ 42
Pedir (objetos, pessoas, eventos e lugares) -------------------------- 43
Nomear/descrever ------------------------------------------------------ 44
Comunicar-se ----------------------------------------------------------- 46
consIderações fInaIs ----------------------------------------------- 49
referêncIas ----------------------------------------------------------- 51
| 7
S  
ana cudIa moreIra almeIda-verdu
Psicóloga
Doutorado em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos
- UFSCAR
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
laIla Guzzon HusseIn
Psicóloga
Doutorado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem -
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
8 |
natHanI crIstIna da sIlva
Fonoaudióloga
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia -
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
erlane marques rIbeIro
Médica
Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte
celIa marIa GIacHetI
Fonoaudióloga
Doutorado em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade
Federal de São Paulo - UNIFESP
Livre-Docente em Diagnóstico Fonoaudiológico pela Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
| 9
P
No ano de 2016, fui convidada pela geneticista Dra. Erlane
Marques Ribeiro para participar do II mutirão de atendimento a crianças
residentes em Fortaleza (CE), que nasceram com microcefalia em decorrência
da Síndrome Congênita do Zika Vírus, e que não tinham, ainda, um ano
de idade. Quando participei do mutirão, atendi as mães e alguns pais de
crianças, e dentre muitas necessidades observadas estava a de comunicação.
Encantei-me, no entanto, com o sorriso delas e a grande disponibilidade dos
pais em responder a todos os questionamentos que fazia.
Respondi a algumas questões e orientei de maneira não formal
sobre como estimular a comunicação. Saí do mutirão com a sensação de
que mais aprendi com os pais e com os prossionais que participaram dos
atendimentos do que fui capaz de ensinar...
Participei de outros mutirões, z outras avaliações, convidei
outros prossionais, aprendi mais com a evolução das crianças e com as
narrativas dos pais, orientei cada um deles nos relatórios e verbalmente...
mas faltavam orientações mais sistemáticas sobre como agir para estimular
a comunicação de seus lhos.
https://doi.org/10.36311/2021.978-65-5954-097-6.p9-10
10 |
Espero que este guia cumpra o papel de auxiliá-los no dia a dia,
em atitudes simples, mas que podem ajudar a estimular a compreensão e
produção de fala dos seus lhos. Este guia foi construído com o mesmo
carinho e dedicação que vocês sempre nos passaram. Obrigada a vocês, pais,
mães, avós, que nos ajudaram de forma indireta na construção deste material.
Célia M. Giacheti
| 11
Espera-se que este guia cumpra seu papel de compartilhar informações
com os pais e demais familiares de crianças portadoras da Síndrome Congênita
do Zika Vírus sobre atitudes simples do dia a dia, que podem estimular a
linguagem.
Que seja útil e utilizado da mesma forma como o construímos: com
atenção, carinho, motivação e interação.
As autoras.
| 13
Introdução Geral
| 15
causas da síndrome conGênIta do zIka vírus
O mosquito Aedes Aegypti que transmite a dengue, a chikungunya
e a febre amarela é o mesmo que transmite o Zika vírus.
Quem pega zika vírus tem manchas vermelhas no corpo, olhos
vermelhos, febre baixa, dores no corpo e nas juntas.
Quem pegar zika vírus na gravidez poderá ter uma criança
típica. Mas também pode ter uma criança com atraso do desenvolvimento
neurológico ou uma criança com microcefalia, dentre outras características,
pois o vírus destrói os neurônios em formação.
BRASIL (2018)
16 |
reGIões maIs afetadas
Fonte: Registro de Eventos em Saúde Pública - RESP-Microcefalia
Dados extraídos em 5/10/2019, às 10h (horário de Brasília).
Este é o mapa do Brasil, e as áreas na cor roxo indicam os casos
conrmados de alterações no crescimento e desenvolvimento de crianças,
possivelmente relacionadas à infecção pelo vírus Zika e outras etiologias
infecciosas.
Quanto mais forte a cor, maior o número de casos; quanto mais
fraca, menor o número de casos.
O grande número de casos noticados
Fonte: O grande número de casos noticados foi entre os anos de
2015 e 2017. A região Nordeste foi a mais afetada.
| 17
dIaGnóstIco característIcas (fenótIPo)
O diagnóstico da Síndrome
Congênita do Zika Vírus
(SCZV) é realizado por um
médico a partir:
1. da história gestacional,
sintomas da infecção,
2. do exame físico que detecta
a microcefalia e outros sinais
de alteração neurológica,
3. de exames complementares
como a tomograa de crânio
ou exame laboratorial (IgM
ou PCR).
O quadro de SCZV é decorrente
das deciências neurológicas.
Pode afetar o desenvolvimento
cognitivo, motor, de linguagem,
o sistema auditivo e visual, a
deglutição, com diferentes graus
de gravidade (DESAI et al., 2017;
EICKMANN et al., 2016).
Outras características além da
microcefalia:
Choro difícil de consolar, nos
primeiros meses;
Diculdade para segurar a
cabeça;
Pode parecer durinha demais;
Fraqueza muscular;
Fraturas;
Estrabismo;
Diculdade para se comunicar;
Diculdade para se alimentar;
Diculdade para dormir
18 |
sobre a comunIcação
Durante os Mutirões Multidisciplinares de Zika Congênita no
município de Fortaleza (CE), foram realizadas avaliações da comunicação.
Os principais resultados estão nas duas guras que seguem.
Material de avaliação foi a Escala de Desenvolvimento da
Linguagem Oral - expressão e recepção (COPLAN, 1993).
Foram avaliadas 120 crianças que tinham entre 8 meses e 4 anos.
| 19
Parte 1
A   

| 21
a lInGuaGem Pode ser ensInada
A linguagem é feita de interações, entre no mínimo duas pessoas,
sendo que uma é quem fala (o emissor) e a outra é quem ouve e compreende
(o receptor).
Na interação, os papéis de quem fala e quem ouve são alternados.
22 |
lInGuaGem, Interação e reforço
A linguagem envolve diferentes habilidades que adquirimos e sua
função é comunicar (AMERICAN SPEECH-LANGUAGE-HEARING
ASSOCIATION, 1982)
Pode envolver gestos
Pode envolver a fala
E pode envolver a escrita
A habilidade de
compreender o que se ouve
e se expressar podem ser
apreendidas. A interação é a
chave para ensinar.
| 23
você sabe o que é "reforço"?
Os comportamentos são aprendidos e voltam a acontecer por causa
das consequências que têm.
Dar atenção, estar presente, valorizar atitudes comunicativas da
criança, aumentam a chance de ela ter essa atitude novamente!
E com a linguagem e intensão comunicativa acontece da mesma
maneira.
Esse tipo de atenção ou consequência chamamos de REFORÇO.
maneIras de reforçar (lIttle scHolars, 2020)
° Você está fazendo isso melhor ° Excelente ° Você é 10
° Você está aprendendo rápido ° Estou orgulhosa de você
° Você foi ótimo hoje ° Você está no caminho certo ° Valeu
° Jóia ° Incrível ° Bom trabalho lho ° Eu te amo
° Parabéns ° Muito bem ° Você está melhorando muito
| 25
Parte 2
Atitudes que podem inibir
o desenvolvimento da
linguagem e alternativas
| 27
obedIêncIa ao cHoro
Choramingos e gritos podem ser formas de fazer pedidos. Por
exemplo, a criança pode chorar para dormir ou gritar quando sente
dor ou desconforto.
Mas, ao atender e ser obediente ao choro, ele é valorizado (reforçado)
como forma de comunicação.
E se é valorizado, as chances de ele acontecer novamente aumentam.
alternatIvas
Dê atenção para outros comportamentos mais desejados do que o
chorar e o gritar. Isso fará com que eles aconteçam mais vezes.
Se não for possível não atender ao choro, enquanto atende a criança,
descreva o que ela pode estar sentindo.
exemPlos:
Se ela chora para dormir, explique "você está com sono, vamos
dormir". E coloque a criança para descansar.
Se ela chora porque o alimento fez mal, aponte onde dói (barriga),
diga que entende que ela sente dor, e dê o remédio indicado pelo
médico.
28 |
dar atenção a comPortamentos o vocaIs
Se a criança não fala, dar atenção para tentativas de outras formas de
comunicação, como o sorrir, o apontar, o olhar, o chorar.
Se a criança já emite alguns sons ou algumas vocalizações, você pode
solicitar mais dela.
Se os pais dão atenção somente aos comportamentos não vocais, será
mais difícil estimular o aparecimento da fala.
alternatIvas
Para que seu lho faça tentativas para tentar se comunicar oralmente,
sempre peça a resposta vocal.
Responda a seu lho atendendo o seu pedido, se for possível, e
descreva suas atitudes e as de seu lho.
desIstêncIa da Interação vocal com a crIança
Uma forma de desistência é quando a criança é quietinha e não chora.
Os adultos podem desistir de interagir e sem interação a linguagem
não é estimulada.
Outra forma de desistência é quando os pais se sentem aborrecidos
quando a criança chora demais e tentam terminar com o choro de
maneira ríspida, pedindo para car quieto, gritando, pedindo para
calar-se.
| 29
O maior problema é que essas atitudes não vão impedir o choro no
caso de uma criança com a Síndrome do Zika Vírus, mas podem
impedir a tentativa de comunicação.
alternatIvas
Mesmo com o choro excessivo, procure manter a calma.
Converse com a criança, mesmo que esteja quieta no carrinho, sem
desconforto.
Diga o que está fazendo no momento. "Agora vou fazer uma comida
gostosa!"
Se tiver outros lhos, coloque eles no meio da conversa. "Pega a
chupeta do seu irmão!"
Enquanto isso, sempre estimule e reforce as tentativas da criança de
se comunicar.
demora Para atender Por não saber o que fazer
No dia a dia, por causa de várias tarefas, a atenção dos pais para
qualquer tipo de barulho ou brincadeira com a voz demora a
acontecer.
Demorar para atender a criança não ajuda a desenvolver a linguagem.
30 |
E quando os barulhos com a voz acontecem, os pais podem perceber,
mas não sabem o que fazer.
alternatIvas
Apenas olhar e sorrir é um tipo de reação que ajuda na interação.
Pode observar para onde a criança olha e tentar identicar o que
chama a atenção dela.
Se descobrir o que chama a atenção da criança, diga o nome do
objeto (exemplo: "bola"), mesmo que ela não consiga repetir.
Pode perguntar "O que você quer?", diga o nome do objeto "Você
quer a bola?" e entregue o objeto a ela.
| 31
Parte 3
D   
    

| 33
quando ensInar?
Todas as situações de rotina dentro e fora de casa, de cuidados com a
criança, são boas oportunidades de interação. Aproveite-as!
Em uma brincadeira você pode dizer "olha o carro azul", imitar o
barulho que o carro faz "vrum vrum".
Durante o almoço, se a criança não gosta da comida e começar a chorar,
diga "entendi que você não gostou, vamos tentar outra comida?" ou
"que tal experimentar?" ou "vou comer! Hum, que delícia!".
No banho, diga "vamos tomar banho para car limpo"; enquanto
passa sabonete, diga "olha como você está cheiroso", "cadê o seu pé?"
ensInar a Prestar atenção
como Perceber se a crIança Presta atenção:
A criança deve acompanhar o objeto enquanto ele se move.
Deve encontrar de onde vem o som quando um objeto faz barulho.
Passos:
Sacuda o chocalho na frente da criança para chamar sua atenção;
Depois pergunte "onde está o chocalho?" e mova o chocalho para
um lado;
34 |
Espere a criança olhar;
Caso não olhe, sacuda o chocalho, repita a pergunta e gire a cabeça
dela na direção do chocalho;
Em seguida, dê o chocalho para brincar por alguns segundos.
ImItação Gestual
Imitar é importante!
Desde os movimentos mais amplos: bater palmas, erguer as mãos.
Até os movimentos mais renados: como os sons da fala (fazer bico,
abrir e fechar a boca), piscar.
Passos:
Garanta que a criança esteja motivada a trabalhar.
Utilize um objeto de que ela goste muito.
Não dê esse objeto a ela imediatamente.
| 35
Peça antes que ela imite o que você faz.
E só depois de alguma tentativa da criança de imitar, dê o objeto a
ela, mesmo que ela não faça exatamente igual a você.
ensInar a ouvIr com comPreensão
vantaGens:
Seu lho pode seguir instruções,
Entender o que o adulto fala,
Ser orientado.
como Perceber se a crIança ouvIu ou comPreendeu?
Observe algumas atitudes;
Leve em consideração o que a criança estava fazendo antes de você
ter falado com ela;
A mudança de atitude pode ser um indicativo;
Se ela estava agitada e, após você falar com ela, ela se acalma;
Se ela estava quieta e, após você falar com ela, ela passa a se movimentar.
A chave para ensinar a ouvir está em
fazer correspondências entre o que o
adulto fala e as ações, objetos, eventos.
36 |
exemPlos de coIsas que você Pode fazer
Antes de tudo, você precisa ter a atenção da criança, como contato
visual (como "olha para mim", "oi lho").
Imitação de movimentos pode ajudar, então se você pede "joga
beijo" ou "bate palma", mostre esse movimento.
Dizer o nome das coisas ou do que você faz enquanto trabalha na
rotina da casa (como "que banana deliciosa" enquanto amassa a
banana e dá para a criança comer).
Apontar objetos e dizer o seu nome e das coisas ao redor (dizer "olha
o piu-piu" enquanto aponta para o passarinho ou para partes do
corpo).
Faça pergunta tipo “Onde está a bola?”, “Aponta o pé!”, “Qual desses
é o pão que você gosta?"
tIPos de ajuda que você Pode dar
Caso a criança não responda, dê ajuda física: segure a parte do corpo
que poderia responder a sua pergunta e conduza para o movimento
desejado enquanto você fala.
Por exemplo, diga "Onde está o papai?", segure delicadamente no
queixo da criança e gire para a direção em que está o papai logo após
você ter feito a pergunta.
"O que você quer?" e dirija a mão da criança para a mamadeira ou
brinquedo desejado.
| 37
aPontar
A criança aponta para compartilhar seus pensamentos com outra
pessoa e até tenta inuenciá-la com um simples gesto. Quando
aponta, ela compartilha seu mundo com os outros.
Apontar ajuda a construir uma base para a comunicação.
Pode indicar o que a criança ouviu.
E pode ser interpretado como tendo intenção social quando aponta
para objetos que deseja.
A forma como o adulto se envolve estimulará o desenvolvimento
dessa habilidade na criança.
ensInando a aPontar
O Adulto deve reagir à ação da criança.
São tipos de ação: olhar xamente para um objeto, girar a cabeça
na direção do objeto, movimentar pernas ou braços na direção do
objeto.
Aceite como correta qualquer dessas ações para depois ensinar,
gradualmente, a apontar com o dedo a partir de ajuda física
(TOMASELLO; FARRAR, 1986).
A ajuda consiste em pegar na mão da criança ou seu dedo e apontar
dizendo "A! É isso que você quer? Aponte para mim." E dirija a mão
da criança até o objeto e depois entregue o objeto a ela.
38 |
Faça perguntas diversas usando o seu dia a dia: "Onde está a tata?",
"Você quer banana ou bolacha?"
Reaja! Dê risada, concorde com a criança ou entregue à criança
coisas que ela pedir.
| 39
Parte 4
D    
| 41
funções da fala e dIcas GeraIs
Uma mesma palavra pode ter funções diferentes.
A função depende da situação em que a palavra é falada.
A fala pode servir para repetir o que os outros dizem, pedir objetos,
dizer o nome de objetos, nomear objetos, e para conversar com
outras pessoas.
Para ensinar as funções da fala é necessário saber em qual condição
cada uma delas é emitida e reproduzir essa condição para a criança.
E o que vai manter uma criança engajada em aprender a falar e
emitindo cada uma das funções da fala, é como o adulto vai reagir.
Reforce! Agrade!
42 |
funções da fala
rePetIr a fala
O adulto fala uma palavra ou uma parte dela: "Diga banana!", "Diga
carro!"
A criança, depois de ouvir, deve repetir a fala do adulto ou parte dela.
Valorize e aceite como correto cade pedacinho da fala da criança e tentativa
de repetir. Você pode começar pedindo "ba" ou "nana" para "banana".
Aos poucos, você pode pedir que ela diga a palavra correta.
A criança que é capaz de repetir a fala dos outros pode aprender
palavras e frases novas.
Aos poucos, vai aprendendo a falar tais palavras ou frases em outros
contextos com outras funções, como diante do próprio objeto (função
de nomear) ou no caso de uma necessidade (função de pedir).
| 43
Outra brincadeira de repetição de sons pode ser feita ensinando
a criança a imitar o som do índio, dando leves batidas na boca, pois pode
ajudar a emitir sons
PedIr (objetos, Pessoas, eventos, luGares)
São comportamentos que requerem uma necessidade.
Exemplo: fome, sono, querer um brinquedo, pedir pela mãe.
É necessário a presença de uma pessoa que atenda a essa necessidade.
Essa pessoa deve compreender as diferentes formas de pedir.
Pode ser na forma de gesto, fala, ou até por meio da entrega de uma gura.
O que mantém a criança fazendo pedidos é ter sua necessidade atendida.
44 |
- O choro pode ser atendido
- Perceba pelo que a criança chora
- Se o momento for adequado,
solicite uma resposta vocal mais
próxima da palavra desejada
- Use o recurso da repetição de
palavras antes de entregar o objeto
desejado
nomear/ descrever (mIGuel, 2016)
Ocorre diante de qualquer aspecto do ambiente nomeável.
São nomeáveis: guras, pessoas, objetos, eventos, sentimentos,
sensações físicas.
| 45
É necessário que a criança faça a relação entre o que ouve (nome) e
aspectos do ambiente (objetos, eventos, ações).
Também é necessário que ela repita as palavras que ela ouve outras
pessoas dizerem.
Dizemos que a criança nomeia quando ela diz o que ouviu e repetiu,
na presença do objeto.
nomear sentImentos e sensações
São exemplos de sentimentos e sensações: fome, dor, frio, medo,
alegria, insegurança, etc.
O adulto pode observar que dói o dente quando a criança franze a
testa ou leva a mão a boca.
Se a criança coloca a mão no estômago, este pode ser um indicativo
do que ela está sentindo.
46 |
Aprender a nomear acontecimentos pessoais, sensações do
corpo, pode ajudar outras pessoas (pais, professores, médicos)
a entrar em contato com o mundo que a criança percebe.
comunIcar-se
Envolve a troca de papéis entre quem fala e quem ouve.
Envolve fazer perguntas ou respondê-las na interação com alguém.
A resposta certa depende do que o grupo social deniu como correto.
| 47
Se o pai diz ao lho "futebol é o esporte que jogamos com a ..." e a
criança diz "bola", temos um exemplo de comunicação.
Outro exemplo, se a mãe diz ao lho "Quem é a criança mais linda
da mamãe?" e o lho ergue os braços como dizendo "eu".
Use a repetição como dica, caso a criança não saiba a resposta correta.
Em seguida, repita a pergunta.
dIca ImPortante:
Observe o que a criança faz e o que está acontecendo à sua volta,
reaja ao que ela faz, faça associações entre o que ela faz e os acontecimentos,
objetos e pessoas que estão em volta.
InteraGIr é reforçar!
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C F
As autoras entendem que este guia não resolverá todos os
problemas de comunicação dos seus lhos, nem substituirá as terapias
(fonoaudiológica, psicológica, entre outras), mas poderá minimizar os
prejuízos na comunicação em decorrência da Síndrome Congênita do
Zika Vírus, ajudará a identicar pequenas conquistas e, ainda, valorizar
cada avanço, por menor que ele pareça. Lembre-se: falar é uma habilidade
muito complexa para algumas crianças.
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R
AMERICAN SPEECH-LANGUAGE-HEARING ASSOCIATION. Language:
ASHA practice policy [Relevant Paper]. Rockville: American Speech-Language-Hearing
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Chicago, v.57, n.6, p.1454-1463, Dec. 1986.
cataloGação
Telma Jaqueline Dias Silveira
CRB 8/7867
normalIzação
Maria Elisa Valentim Pickler Nicolino
CRB - 8/8292
Denise Aparecida Giacheti
CRB - 8/6080
João Pedro de Carvalho Anunciação
caPa e dIaGramação
Gláucio Rogério de Morais
Produção GráfIca
Giancarlo Malheiro Silva
Gláucio Rogério de Morais
assessorIa técnIca
Renato Geraldi
ofIcIna unIversItárIa
Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
formato
16 x 23cm
tIPoloGIa
Adobe Garamond Pro
Papel
Polén soft 70g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250g/m2 (capa)
tIraGem
100
ImPressão e acabamento
2021
sobre o lIvro
ISBN 978-65-5954-096-9
A linguagem de crianças com a Síndrome
Congênita do Zika Vírus:
um guia para pais
Ana Cláudia Moreira Almeida-Verdu
Laila Guzzon Hussein
Nathani Cristina da Silva
Erlane Marques Ribeiro
Célia Maria Giacheti
(Autoras)
Universidades e Laboratórios envolvidos
Neste guia as autoras expli-
cam a linguagem como uma
forma de comportamento.
Explica-se os efeitos da lingua-
gem e os efeitos que ela tem
sobre o comportamento de
outra pessoa. As interações
estabelecidas entre pelo menos
duas pessoas por meio da
linguagem são dinâmicas,
havendo a troca entre quem
fala e quem ouve e compreende
durante a interação. Por isso,
compreender o que o outro diz
é algo muito importante para o
estabelecimento da linguagem.
As autoras exploram, na intera-
ção do dia-a-dia, outros com-
portamentos que podem indi-
car compreensão além da
linguagem oral, que são
comuns na população de crian-
ças com a Síndrome Congênita
do Zika Vírus. O guia também
explicita tipos de reações que
podem inibir qualquer compor-
tamento, inclusive os que tem
intenções comunicativas, discu-
tindo formas que podem inibir
essas ações e mostrando cami-
nhos alternativos. São apresen-
tadas, formas alternativas de
comunicação, que são impor-
tantes para crianças com atra-
sos no desenvolvimento cujos
repertórios de natureza verbal
(mas outros também) são defi-
cientes ou inexistentes, mos-
trando as adaptações necessá-
rias para que ocorra a aprendi-
zagem nessas crianças. Passo a
passo explica-se que pais e
demais familiares não precisam
de uma situação específica ou
materiais especiais para ensinar
habilidades comunicativas para
a criança. Basta interagir com
ela em qualquer situação do
cotidiano, na rotina doméstica,
e estarem atentos às reações da
criança, como para onde ela
olha, gritos, sorrisos, choro,
balanço de mão e pernas e
outras reações que ela pode
apresentar à sua fala.
Este guia apresenta informações para os pais e
demais familiares de crianças portadoras da
Síndrome Congênita do Zika Vírus. Apresenta
informações sobre atitudes simples do dia a dia,
que podem estimular a linguagem dessas crianças.
Entende-se que este guia não resolverá todos os
problemas de comunicação dessa população, nem
substituirá as terapias (fonoaudiológica, psicológi-
ca, entre outras), mas poderá minimizar os prejuí-
zos na comunicação em decorrência da Síndrome
Congênita do Zika Vírus, ajudará a identificar
pequenas conquistas e, ainda, valorizar cada
avanço, por menor que ele pareça. É sempre
importante lembrar: falar é uma habilidade muito
complexa para algumas crianças.