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Egito e Turquia no Século XXI
O tempo dos ditadores passou. [...] No entanto, a pequena margem
da vitória de Morsi, apenas 1 milhão de votos, contra um candidato
representando a antiga ordem, contra a qual o povo se levantou no
início de 2011, diz muito sobre a rejeição que a Irmandade Muçul-
mana suscita em uma parte da população e sobre as contradições
da transição em andamento. [...] Os resultados do primeiro turno
das eleições presidenciais haviam criado um choque no seio das for-
ças revolucionárias. Emparelhados, mas obtendo cada um apenas
um quarto dos votos, Morsi, o candidato da Irmandade, chegou
ligeiramente na frente, seguido do general Shak, testa de ferro de
Mubarak, Hamdin Sabbahi, candidato pouco conhecido de ten-
dência nasserista, reuniu mais de 20% dos votos – [...] Sabbahi e seu
partido se aliaram à Irmandade para as eleições legislativas. O quar-
to colocado, Abul Fotouh, obteve 17,5% dos votos
[4]
. Juntos, os
candidatos próximos da revolução, Sabbahi, Abul Fotouh e alguns
outros reuniram quase 40% da preferência, mas se encontravam eli-
minados do segundo turno. (GRESH, 2012a, não paginado).
O general Ahmed Shak e o Amro Musa representaram o an-
tigo regime, ou seja, a restauração, ainda que parcial, o Mubarakismo
sem Mubarak; Shak, os militares; Musa, os civis. Somados, eles tiveram
quase 35% dos votos, o que não pode ser desprezado em uma eleição.
Morsi, o candidato da Irmandade, teve pouco mais de um quarto dos
votos. Sabbahi, o revolucionário secular, teve cerca de um quinto. E
Fotouh, o dissidente da Irmandade que aderiu à revolução, teve pouco
mais de um sexto da votação. Ou seja, restauracionistas, dentre civis e
militares, conseguiram ser representados em uma das parcelas das elei-
ções presidenciais egípcias. Reformistas islâmicos tiveram também uma
clara indicação de representação, seja pela adesão à sua principal organi-
zação, seja pelos votos dados a um dissidente. Se juntarmos os votos de
Fotouh e Morsi no primeiro turno, podemos observar algo em torno de
42% dos votos para candidatos islâmicos.
Assim, 35% da população optou pela restauração; 42%, pelo
reformismo social-religioso; e 40%, pela revolução. Nenhuma das partes
obteve uma maioria preferencial, ou, uma hegemonia moral e intelec-
tual no conjunto da sociedade civil e política. Todos os grupos políticos
Para sermos mais exatos: no primeiro turno nas eleições presidenciais do Egito, Morsi obteve 24,8% dos
votos; Ahmed Chak, 23,6%; Hamdin Sabbahi, 20,7%; Abul Futuh, 17,5%; e Amro Musa, 11,1%.