Intelectuais, cultura e pensamento social no Brasil
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como o Manifesto Nacional pela Democracia e o Desenvolvimento
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e o
Manifesto dos 1500: intelectuais e artistas pela liberdade
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.
A prisão de Ênio Silveira motivou a publicação de um manifesto
organizado por intelectuais contra a repressão, em maio de 1965. Numa
das ocasiões em que depunha para um IPM, foi preso com alegação de
que ele havia promovido em sua residência uma reunião com “agentes da
subversão comunista”, entre eles o ex-governador de Pernambuco, Miguel
Arraes, então prisão decretada pelos militares. Ênio foi detido no dia 26 de
maio de 1965 e sua prisão mobilizou um grande número de intelectuais,
prossionais da área cultural, cientistas, professores e amigos em torno
de um manifesto publicado como matéria paga nos principais jornais de
circulação nacional, no dia 30 de maio: Correio da Manhã, Jornal do Brasil
e Folha de São Paulo. Na época o caso foi ironicamente alcunhado pela
imprensa como o “IPM da Feijoada”, por conta da iguaria servida durante
a reunião que justicou a prisão do editor.
Esse manifesto, intitulado Intelectuais e artistas pela liberdade
(1965) apresentou assinatura de 600 nomes do meio artístico e cultural,
e trazia uma pequena descrição seguida da imensa lista de nomes que se
solidarizaram com o pedido de liberdade do editor:
Os intelectuais e artistas brasileiros abaixo-assinados pedem a
imediata libertação do editor Ênio Silveira, preso por delito de
opinião. Não entramos no mérito das opiniões políticas de Ênio
MANIFESTO à nação defende liberdade. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 14 de março de 1965. Segundo
Caderno, p. 32. Entre seus signatários estavam nomes de 107 pessoas como os de Paulo Francis, Carlos Heitor
Cony, Alceu Amoroso Lima, Antonio Callado, Anísio Teixeira, Barbosa Lima Sobrinho, Carlos Diegues, Cícero
Sandroni, Dias Gomes, Domar Campos, Edmundo Moniz, Edu Lobo, Fernando de Azevedo, Flávio Rangel,
Flávio Tavares, Florestan Fernandes, Fortuna, Hermano Alves, João do Valle, Joaquim Pedro de Andrade, José
Honório Rodrigues, M. Cavalcanti Proença, Márcio Moreira Alves, Mário Martins, Mário Pedrosa, Millôr
Fernandes, Moacyr Werneck de Castro, Nelson Pereira dos Santos, Oduvaldo Viana Filho, Oscar Niemeyer,
Oswaldo Gusmão, Otto Maria Carpeaux, Roberto Faria, Rui Guerra, Sérgio Buarque de Holanda, Sérgio
Cabral, eresa Cesário Alvim, entre outros. Neste manifesto, curiosamente, não guravam os nomes de Ênio
Silveira, Roland Corbisier, Nelson Werneck Sodré ou quaisquer outros envolvidos diretamente em inquéritos
policiais-militares.
UM DIÁLOGO incrível. Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2 caderno especial, p.254. Foi
uma espécie de carta aberta ao presidente de república. Esse manifesto foi preparado por alguns prossionais do
teatro e reuniu um número grande de assinaturas que se solidarizava não somente com o teatro contra a censura
a peças, mas com todos os produtores de cultura prejudicados pelo governo por conta do policiamento sobre
suas respectivas produções. Autores e atores de teatro foram sistematicamente inquiridos e, por m, muitos
acabavam com suas montagens censuradas ou proibidas. Dentre estes inquéritos, o mais curioso foi o da atriz
Glauce Rocha, interrogada acerca da montagem de Electra, de Sófocles, sob direção de Antonio Abujamra: o
responsável pelo interrogatório perguntara a ela se conhecia Sófocles, ao que ela respondeu que sim. E para
reforçar a informação foi lhe perguntado ainda se Sófocles era soviético e subversivo.