A preocupação central de “Mo-
vimentos sociais e políticas educacionais
na Era da barbárie”, obra coletiva or-
ganizada por Henrique Tahan Novaes,
é ético-política: interpelar, pela ciência
da história, a barbárie do capitalismo de
hoje. É uma obra que enfrenta, coletiva-
mente, um complexo desao epistemo-
lógico: tornar pensáveis os fundamentos,
os determinantes, os veios profundos da
realidade educacional no país.
Se compreender e explicar as
profundas transformações no vasto cam-
po de estudos dos nexos trabalho e edu-
cação já constitui um desao de enorme
monta, a incitação é maior ainda quando
os temas da área são inscritos nos grandes
problemas dos povos. E esse é o escopo
da presente obra.
As pesquisas abrangem questões
estratégicas e vitais como, por exemplo,
a problemática socioambiental, os temas
da agroecologia, as transformações no
ensino médio e prossional, o protago-
nismo dos movimentos sociais, a exten-
são universitária e suas interações com os
movimentos, os contraditórios proces-
sos de expansão das universidades e das
modalidades de formação prossional, os
fundamentos da pedagogia do capital e
sua crítica e as experiências de autoorga-
nização dos trabalhadores associados.
Um emocionante mérito da obra
reside na compreensão de que as univer-
sidades devem forjar novas problemáti-
cas cientícas que “antecipem cenários”
alternativos de futuro. A expansão da
pesquisa no período da ditadura empre-
sarial-militar se deu sob fortíssima pres-
são e explícitos constrangimentos para
silenciar problemáticas que abordassem
os determinantes da desigualdade social,
da pobreza, da fragilidade das cadeias
produtivas, da especialização regressiva
da economia, do modelo energético, da
agricultura, entre outros. Em “Univer-
sidade Brasileira: reforma ou revolução”
Florestan Fernandes exortou “se não ti-
vermos coragem exemplar de varrer a
obra do regime ditatorial, que resultou
de um conluio do espírito conservador
com o controle imperialista de nossa vida
cultural” os fundamentos da heterono-
mia cultural não serão superados.
Os jovens pesquisadores do Gru-
po de Pesquisa Organizações e Demo-
cracia (GPOD/UNESP Marília) de-
monstram plena consciência de que a
herança da ditadura deve ser varrida em
prol da retomada das investigações das
problemáticas que – no vigente contex-
to de autocracia, de tectônica crise eco-
nômica e brutal pandemia, agravada por
políticas balizadas no darwinismo social
– abram as vias para a superação do capi-
talismo dependente. A omissão intelec-
tual robustece a via autocrática.
São estudos que pensam criado-
ramente um futuro que pode ser cria-
do. É uma leitura empolgante, justo por
pautar o que subjaz à ordem social des-
trutiva dos dias atuais e, como deixar de
mencionar, por conrmar que o pensa-
mento crítico segue pulsando nas novas
gerações.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
Os capítulos que integram o livro intitulado Movimentos sociais e políticas edu-
cacionais na era da barbárie, organizado por Henrique Tahan Novaes, apresen-
tam resultados de diferentes pesquisas desenvolvidas em trabalhos de douto-
rado, mestrado e iniciação cientíca, que têm como temática aglutinadora o
trabalho, a educação e a democracia nos movimentos sociais. A principal ca-
tegoria que perpassa os diferentes estudos é a do trabalho associado. O traba-
lho associado diz respeito a coletivos de trabalhadores que se auto-organizam
para produzir. Na auto-organização dos trabalhadores são vivenciadas novas
relações de trabalho e de divisão do poder que apontam para uma perspectiva
organizacional do trabalho anti-hegemônica.
Além da organização do trabalho, outro tema recorrente nos coletivos de
trabalho associado é o da educação, teorizada e praticada como uma educação
para além do capital.
O contato com este excelente livro trará, sem dúvida, uma leitura muito pro-
veitosa para as pessoas interessadas nas temáticas ligadas à educação democrá-
tica e ao trabalho associado.
Movimentos Sociais e Políticas Educacionais na Era da Barbárie
Movimentos Sociais e Políticas
Educacionais na Era da Barbárie
Henrique Tahan Novaes (org.)
ROBERTO LEHER - UFRJ
NEUSA MARIA DAL RI - UNESP/MARÍLIA
Rio de Janeiro, 29 de setembro de 2020
Precarização da vida... Destruição da mãe-natureza... Riqueza, fome, pobre-
za... Trabalho remoto, ensino remoto, vida remota. Morar e trabalhar na
rua... Medo de abraçar os amigos. Pandemias e pandemônios... Racismo es-
trutural. Necropolítica... Vida que segue? Renascer das cinzas para germinar
o quê?
“Socialismo ou barbárie”, assim diziam os clássicos do materialismo histórico!
E assim diz a vida! Como armou Henrique Tahan Novaes na apresentação
deste livro, “o capitalismo não tem mais absolutamente nada a oferecer para
a humanidade”, a não ser a possibilidade de seu m como modo de produção
da existência humana. Por isso, as pesquisas dos orientados/as de Henrique
consideram a materialidade histórica da produção destrutiva do capital, cujas
mediações históricas repercutem na “era da barbárie”.
Como o “novo” nasce no interior do “velho”, o Grupo de Pesquisa Organi-
zações e Democracia (GPOD) nos desaa a pensar a educação para além do
capital (Mészáros). Tendo em conta as contradições entre capital e trabalho,
os autores/as evidenciam as políticas educacionais, as potencialidades e desa-
os dos movimentos sociais. Boa leitura!
LIA TIRIBA - UFF